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DADOS DE ODINRIGHT

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Título Original: Aries
Copyright © 2019 por Gemma James
Copyright da tradução © 2020 por Editora Bookmarks.

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro


pode ser utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios
existentes sem autorização por escrito dos editores.

Tradução e diagramação: Andréia Barboza


Preparação: Laura Pohl
Revisão final e capa: Luizyana Poletto
Imagens de capa: @ Rozaliya / Depositphotos

Texto revisado segundo o novo Acordo Ortográfico da


Língua Portuguesa.

Direitos de edição em língua portuguesa, para o Brasil,


adquiridos por
Editora Bookmarks.
Caixa Postal: 1037 CEP: 13500-972
contato@editorabookmarks.com
facebook.com/editorabookmarks
instagram.com/editorabookmarks
twitter.com/editorabookmark
Índice
Sinopse
Playlist
Agradecimentos
Prólogo
01
02
03
04
05
06
07
08
09
10
11
Sinopse:
Doze homens. Uma rainha virgem. Um casamento
arranjado.
A primeira vez que encontrei os garotos da
Irmandade do Zodíaco, fui forçada a ficar de joelhos diante
deles para ser apresentada. Ainda lamentando a morte dos
meus pais, eu era uma rainha criança, uma garantia de
riqueza e lucro nas mãos do meu tio. Como meu tutor, ele
tinha autoridade para arranjar um casamento para mim no
meu décimo oitavo aniversário.
Esse primeiro encontro aconteceu há seis anos.
Agora, esses garotos são homens poderosos.
Doze homens viris que querem me possuir.
E vou precisar passar um mês com cada um.
Curvando-me e cedendo aos seus desejos e
comandos.
Perdendo a minha inocência aos poucos, enquanto
minha virtude permanece intacta.
Tudo isso porque querem uma rainha virgem quando
o último mês terminar, e meu tio planeja me vender em um
leilão para quem oferecer o melhor preço.
Dos doze homens, apenas um tem meu coração.
E apenas um pode reivindicar minha mão em
casamento.
Se ao menos fosse eu quem tivesse o poder de
decidir...
Playlist

1. Kings and Queens and Vagabonds – Ellem


2. Winter Bird – AURORA
3. Between Wind and Water – Hael
4. Wolves – Selena Gomez
5. I Found You – Ag Silver
6. Destroyer – Phantogram
7. California Dreamin – Sia
8. Outnumbered – Dermot Kennedy
9. Teardrop – Civil Twilight
10. Heartless – Dermot Kennedy
Agradecimentos
Agradeço aos leitores e blogueiros que fazem com que
escrever as histórias que surgem na minha cabeça valha o
suor e as lágrimas. Meus pensamentos brincam com o
conceito do zodíaco há alguns anos. Em janeiro, a história
da Novalee começou a se formar na minha cabeça. Pela
primeira vez em meses, me senti muito empolgada com
uma ideia. Muito obrigada por participarem dessa nova
série comigo. Espero ter feito justiça o suficiente a Áries
para que vocês permaneçam durante toda a jornada.
Algumas garotas maravilhosas merecem uma menção
especial por seu apoio e incentivo à criação de Áries:
gostaria de agradecer imensamente a Jaulisa por sua vela
mágica. Não posso expressar o quanto seu gesto me
comoveu. Agradeço a Christine por sua ajuda na revisão. A
leitura de Áries se tornou mais fluida por sua causa. E
obrigada a Ashley por ler os primeiros capítulos e me dar
um feedback. Sinto saudades de você!
Também quero agradecer a relações públicas Candi
Kane por todo o trabalho duro em colocar Áries nas mãos de
blogueiros e leitores.
Por fim, tenho que dar um alô aos Naughty Nookers, do
grupo Naughty Nook da Gemma. Aqui é um lugar onde não
há drama, tem leituras fantásticas e uma comunidade em
que nos apoiamos em vez de nos afastarmos. Vocês são os
melhores!
Prólogo
TRISTEZA ESMAGADORA. É tudo o que conheço. Tudo o
que sinto.
A dor atinge minha alma, pesando sobre meus ossos e
me transformando em uma versão distorcida da garota que
eu conhecia. Agora só existe um fantasma, uma criatura de
rosto pálido cujas tranças em tom de loiro muito claro
disfarçam uma maturidade aos doze anos. Prendo o ar, com
medo de respirar, como se o simples ato de inspirar e
expirar tornassem essa realidade trágica real.
Cada segundo passa em câmera lenta até meus
pulmões implorarem por ar. Não faço barulho conforme os
movimentos me cercam.
Os pés do meu tio batendo no chão em passos
preguiçosos e sem pressa.
A opressão do olhar de um estranho.
O pavor que contamina o ar.
— Você deve ser a Novalee — diz o estranho com os
sapatos pretos brilhantes que não reconheço.
Não reajo à afirmação, e tio Rowan ergue as
sobrancelhas em uma demonstração feroz de
desaprovação.
— Por favor, perdoe o comportamento retraído da minha
sobrinha. Receio que ela não esteja agindo de forma normal
desde que o acidente aconteceu.
— É bastante compreensível. Foi uma tragédia muito
repentina.
Eles falam de mim como se eu não estivesse aqui.
Como se meu coração partido não estivesse sangrando pelo
tapete que minha mãe amava quando era viva. Me
concentro no padrão debaixo da almofada que amortece
meus joelhos, seguindo o trançado marrom e azul royal
enquanto aliso o vestido que Rowan me fez usar com as
palmas das mãos suadas.
Branco para demonstrar pureza, eu o ouvi murmurar
quando achou que eu não estava prestando atenção.
Ele queria que eu estivesse bonita para o nosso
convidado e mesmo que eu não entenda por que sou
obrigada a me ajoelhar na presença desse estranho, não me
importo, porque assim posso fingir que ele não está aqui.
Posso ser invisível como as heroínas em meus livros de
fantasia favoritos, como se usasse uma capa de magia e
imaginação.
— Vamos ao que interessa? — o homem ao lado do meu
tio pergunta. Dou uma olhada rápida nele. É alto e forte, e
fico fascinada pela forma como seus cabelos acobreados
capturam a luz do sol que atravessa as janelas da sala de
estar. Nunca vi essa cor de cabelo em um homem antes.
— Claro. — Meu tio gesticula em direção ao corredor
que leva ao escritório onde meu pai passava a maior parte
de suas noites. — Por aqui, por favor.
Eles me deixam de joelhos, e eu ouço meu tio perguntar
ao homem se ele gostaria de tomar uma bebida. Pelos
próximos minutos, o tilintar de copos e vozes baixas
reverberam na sala de estar pela porta entreaberta, e
identifico palavras que fazem meu estômago doer de pavor.
Palavras como virgindade, leilão e casamento. Aperto
minhas coxas com as mãos, desejando poder andar pelo
jardim com pássaros e borboletas, mas não ouso me mexer
do local que me foi designado, prostrada sobre o tapete
adorado da minha falecida mãe.
Rowan é um homem rigoroso e não quero sentir o golpe
de seu cinto de couro, como aconteceu com Faye ontem por
desobedecer a uma ordem. Ela tem a minha idade e é filha
de uma criada, mas sempre foi como uma irmã para mim.
Crescemos juntas, brincando de esconde-esconde nas
inúmeras salas e corredores. Antes do avião em que meus
pais estavam cair, tínhamos livre acesso à mansão e aos
arredores.
Até tio Rowan chegar e mudar tudo.
Meus pais se foram há apenas uma semana, os túmulos
ainda cobertos com terra fresca e cheirando a flores do
enterro, mas meu tio começou a tomar conta das nossas
terras antes que o sol se pusesse no dia do velório. Sou filha
de um rei e agora que meus pais se foram, sou a rainha de
uma nação. Uma rainha criança e impotente, porque, sendo
meu guardião, Rowan detém todo o poder.
— Por que, em nome de Deus, você está ajoelhada? —
alguém pergunta atrás de mim, seu tom masculino e
insolente perturbando meu sofrimento. — Você não está na
presença do Chanceler, princesa.
Inclino a cabeça e vejo o reflexo do cabelo loiro
selvagem pela visão periférica.
— Meu tio disse que eu deveria me ajoelhar.
— Você sempre faz o que mandam?
Franzo o cenho.
— Você não?
— Para o desgosto do meu pai, não. Mas a sua
obediência é admirável.
— A obediência era importante para meus pais.
— Então imagino que você será uma esposa perfeita um
dia.
O desdém em sua voz desperta meu interesse e me
mexo para encará-lo. O olhar dele encontra o meu,
provocando uma estranha vibração de consciência em meu
peito. Ele parece estar na adolescência e, como eu
suspeitava, seu cabelo loiro escuro bagunçado emoldura o
rosto, caindo sobre a testa e ameaçando esconder os olhos.
Aqueles olhos azul-marinho se tornam a razão da súbita
falta de ar nos meus pulmões. Há algo no seu olhar que me
deixa em transe. Ele dá a volta ao meu redor, com passos
lentos e deliberados, e isso me faz lembrar de como um
leão examina uma presa em potencial.
— Você não quer se casar um dia? — pergunto, ainda
me questionando sobre seu tom estranho ao mencionar
casamento.
Seus lábios carnudos se curvam em uma careta.
— O que você sabe sobre casamento? Você é só uma
criança. — Ele gesticula para o meu peito. — Você nem tem
peitos ainda.
Minhas bochechas coram, e fico envergonhada.
— Que coisa inapropriada de se dizer!
— A verdade raramente é apropriada, princesa.
— Preciso lembrá-lo de que sou uma rainha, e você
deve me tratar como tal.
Seu risinho provoca uma sensação sombria na base da
minha coluna.
— Uma rainha de joelhos. Que... apropriado.
— Vá embora — respondo, odiando a petulância no meu
tom, mas incapaz de escondê-la. Ele me faz querer cerrar os
dentes, principalmente porque não consigo enfrentar sua
grosseria com os dois pés firmemente plantados debaixo de
mim.
— Deixe a doce menina em paz, Sebastian.
Me assusto com a presença de outro garoto. Ele para na
minha frente, vindo dos jardins, exatamente como o garoto
que ele chamou de Sebastian. Pela porta aberta, uma brisa
traz a música dos pássaros canoros e o doce aroma das
plantas e, mais uma vez, desejo fugir para o calor úmido do
exterior.
— Não recebo ordens suas — o garoto que me
atormenta responde com a mesma atitude irritada que
enfrentei há alguns minutos.
— Esse dia ainda vai chegar. — O cabelo acobreado do
menino denuncia quem é seu pai, assim como a autoridade
em seu tom. Ele parece mais velho que o amigo rude e tem
olhos azuis que aquecem meu corpo e causam um
formigamento estranho.
Desvio minha atenção para o tapete, assumindo que o
garoto mais velho é o filho do homem que está conversando
com meu tio na outra sala.
Alguém de grande importância.
Um líder.
É claro que   ouvi rumores sobre a ilha ao norte, onde
um grupo de homens poderosos reinava em uma torre
circular de doze andares. Não sei o motivo da visita, mas a
presença deles me assusta.
Um a um, a sala se enche de garotos cujas idades
variam do início da adolescência à idade adulta. Eles me
cercam com olhos cheios de curiosidade.
— Essa é a garota? — um adolescente de cabelos
escuros pergunta.
— Eu esperava que ela fosse mais jovem — diz outro.
Ouço risos pela sala, uma voz rouca e madura demais
para pertencer a um garoto.
— E eu esperava que ela fosse mais velha.
Encontro o olhar cor de esmeralda do garoto – não,
homem – que riu da minha idade. Ele deve ser uns dez anos
mais velho que eu.
E agora estou inquieta, enrolando as duas tranças loiras
em volta do dedo enquanto tento não me contorcer sob
seus olhares.
— Quando a rainha fizer dezoito anos — o garoto de
cabelos cor de cobre fala —, a diferença de idade não vai
mais importar.
Ele diminui a distância entre nós e cobre minha mão
com a sua, interrompendo meu movimento nervoso com a
trança. Levo as mãos ao colo e mordisco o lábio inferior
enquanto ele acaricia o topo da minha cabeça.
— O que vai acontecer quando eu completar dezoito
anos?
Ele segura meu queixo com dedos quentes e gentis.
— No seu décimo oitavo aniversário, minha rainha, você
pertencerá a nós.
01
Dias atuais, 21 de março

A ESTRADA SOB AS RODAS da limusine é suave, sem


solavancos criados por obstáculos ou buracos. Não que eu
saiba muito sobre isso. Fui cercada por tudo que há de
melhor desde o momento em que nasci. Móveis de madeira
artesanais de qualidade e couro refinado. Joias suficientes
para combinar com todos os tons de esmalte existentes.
Coleções de alta costura, com um guarda-roupa grande o
suficiente para precisar de sua própria ala.
Foram necessários vários baús para alojar um décimo
das minhas roupas. Tio Rowan disse que enviaria o restante
depois. Enquanto isso, prometeu uma tarde de compras
com minhas damas de companhia depois que nos
instalássemos na Ilha do Zodíaco. Talvez, se eu não
estivesse visitando a pequena nação com correntes
metafóricas, a perspectiva de novas roupas e joias me
empolgaria.
— É tão bonito — Elise comenta. Seu tom é de
admiração quando passamos pelos portões de ferro da
propriedade que abriga os doze membros da Irmandade.
Com os olhos arregalados de empolgação, ela empurra a
franja fina e loira para o lado para ver melhor.
A estrutura, que mais se parece com um castelo, fica no
topo de uma colina. Janelas em arco se alinham desde o
chão em fileiras perfeitas, encantando aqueles que olham
para a propriedade. Realmente é um lugar maravilhoso em
todos os detalhes, incluindo o trabalho em pedra de marfim.
Afasto o olhar da vista, sentindo um mal-estar na boca do
estômago.
— Parece uma prisão — Faye reclama e seus lábios,
pintados em tom de fúcsia, formam uma careta. Suas
palavras ecoam meus pensamentos.
Elise olha na minha direção com as bochechas coradas,
e os olhos azul claro se aprofundam com um pedido de
desculpas.
— Sinto muito. Foi uma coisa insensível de se dizer.
— Não se desculpe por apreciar a bela arquitetura. —
Cruzo o tornozelo direito sobre o esquerdo. — Temos que
tirar o melhor proveito da situação.
— É tão injusto — Faye reclama em um sussurro ríspido.
— Você não deveria ter que passar por isso.
Nenhuma de nós deveria.
Embora ela não tenha dito, as palavras passam pela
minha cabeça. Foi o que ela quis dizer, mas como uma das
minhas damas de companhia, foi treinada para me colocar
em primeiro lugar, afastando seus pensamentos,
sentimentos e opiniões pessoais em favor dos meus desejos
e necessidades.
Elise está extasiada com a perspectiva de conseguir um
marido na Ilha do Zodíaco, mas Faye está aqui contra sua
vontade, assim como eu. Ela foi forçada a deixar o amor da
sua vida para ter a chance de se casar com alguém de uma
posição mais privilegiada — uma oportunidade que não era
oferecida a muitos criados.
Enquanto seguimos pela longa entrada, as árvores
farfalham com a brisa em um campo coberto de grama em
ambos os lados. Os gramados são exuberantes e estão
verdes devido à chuva abundante pela qual a Ilha do
Zodíaco é famosa. Logo atrás da propriedade imponente e
depois dos penhascos, fica o oceano. O trecho interminável
de água é a única coisa que anima essa realidade para mim.
Nunca morei tão perto do mar. No caminho da pista de
pouso particular da Irmandade, vi as praias mais bonitas, as
águas em um tom de cobalto profundo com quilômetros de
areia, convidando todos os visitantes a procurar ouriços e
conchas.
Tio Rowan me prometeu que eu teria um pouco de
liberdade neste lugar abandonado por Deus. Teria a chance
de andar por aí e explorar. Em teoria, é uma ideia atraente,
mas não consigo deixar de sentir medo. Quanto mais me
aproximo de conhecer o Chanceler, com quem passarei o
próximo mês, mais meu estômago estremece com energia
nervosa. Nenhuma aventura em solo novo fará com que
esse casamento forçado valha a pena. Sem mencionar os
rumores sobre a Irmandade que correm desenfreados em
nível global.
Corrupção política.
Escândalos sexuais.
E o que mais me preocupa: a negligência profunda dos
direitos das mulheres.
Quando paramos na entrada principal, não posso negar
que o medo está me dominando. Com as palmas das mãos
úmidas, tento respirar fundo, mas falho.
Faye segura meus dedos e aperta.
— Apenas respire. Estamos bem aqui com você.
Conheço meu destino inevitável há seis anos. Seis
longos anos em que meu tio martelou isso na minha cabeça
a todo instante, tentando me preparar para que fosse mais
fácil de aceitar.
Não ajudou, e estou longe de estar preparada.
Paramos, e o motor é desligado. O silêncio que se segue
é tão perturbador quanto meus pensamentos. As outras
portas abrem, fecham e, segundos depois, tio Rowan abre a
minha. Eu o encaro através das lágrimas quentes que se
formam em meus olhos. Ah, como eu desprezo essas gotas
de fraqueza quando elas escapam pela minha armadura.
A postura dele é imutável, assim como sua
determinação.
— Enxugue os olhos, criança.
— Não sou criança.
— Tem razão. Você é uma mulher adulta e está na hora
de parar o teatro e se comportar como a rainha que eu te
treinei para ser.
— Não me obrigue a fazer isso. — Mordo o lábio para
não adicionar um “por favor” choroso no final da frase.
Apesar do que meu tio possa pensar de mim, não sou tão
patética.
Normalmente, não.
Mas estou desesperada... o que é patético por si só.
— O acordo foi feito há seis anos, Novalee.
— Desfaça-o.
— Essa não é uma opção.
O desejo de fugir é forte. Estico o pescoço e observo os
arredores, ainda no banco de trás do veículo. Os campos
parecem intermináveis de onde estamos, mas mesmo se eu
me escondesse entre as árvores por tempo suficiente para
fugir, para onde iria? Estou em solo estrangeiro, o terreno
não me é familiar e achar um estranho disposto ou estúpido
o suficiente para ir contra a Irmandade e me ajudar será
quase impossível.
E não é como se eu já não tivesse tentado fugir.
— Não tente, criança — tio Rowan me adverte em um
tom sombrio. — Fugir só vai atrasar o inevitável e vai te
deixar incapaz de se sentar. — Me agarrando pelo braço, ele
me arrasta para fora do veículo luxuoso antes de deixar a
porta bater com o caráter definitivo que inspira o ranger de
dentes.
Estou com raiva, indignada e desesperada para impedir
que as lágrimas escorram pelas minhas bochechas. Que
idiota fui em pensar que poderia passar por isso sem
desmoronar. Andei à beira de um colapso nervoso desde
que completei dezoito anos, há dois meses, quando meu tio
e seus homens frustraram minha última tentativa de fuga.
Nenhuma quantidade de pedidos me salvou de uma sessão
brutal com o chicote de Rowan, nem do que ele afirma ser
meu dever.
E ele se esforçou ao longo dos anos para garantir que
esse dia acontecesse, chegando ao ponto de afastar
qualquer um que pudesse ser aliado à minha causa.
Funcionários da cozinha, criados e até Angeles, o jardineiro
idoso que era como um avô para mim.
Todos se foram.
Tirando minhas damas de companhia, estou sozinha
nisso. Faye e Elise saem da limusine e ficam uma de cada
lado, e nós três somos como uma frente unida. A presença
delas é um conforto, mas ainda não posso deixar de desejar
que o chão se abra debaixo dos meus pés e me enterre.
Estou à beira do pânico.
Nunca fui tocada por um garoto e o pensamento de
estar à mercê de doze homens experientes é aterrorizante.
Minha única salvação são os termos do contrato que os
proíbem de tirar minha virtude até a noite do casamento.
Com uma expressão desagradável, Rowan me passa um
lenço.
— Você está prestes a conhecer o Chanceler Castle. Não
nos faça passar vergonha.
Arranco a oferta de sua mão e enxugo os olhos
molhados.
— Isso está errado. Meus pais não gostariam que esse
fosse meu futuro.
— Seus pais não estão aqui.
— Por que você está fazendo isso? É pelo dinheiro?
— Minha querida e inocente Novalee. O dinheiro é um
bônus, mas enquanto você estiver trancada aqui, servindo à
Irmandade, ficará fora de vista e dos pensamentos. Alguém
tem que governar nossas terras.
Depois de todas as vezes que pedi uma resposta, fico
chocada ao recebê-la agora, e é a confirmação do que eu
suspeitava ser verdade. Tio Rowan quer meu título e, se eu
estiver longe, ele tem mais chances de garantir a
transferência permanente de poder. Doze meses é muito
tempo de ausência, especialmente em meio a essa
incerteza política.
— Venha — ele fala, me pegando pelo braço quando
uma jovem aparece através das portas de ferro da
propriedade vestida com uniforme de empregada. — O
Chanceler nos aguarda. — Ele me incentiva a avançar e as
correntes imaginárias que me prendem se apertam a um
nível intolerável.
Está acontecendo.
Minhas damas não podem me proteger disso.
Meu tio se recusa a voltar atrás.
E as únicas duas pessoas que teriam feito qualquer
coisa para garantir minha felicidade, mesmo que isso
significasse mover céus e terras, morreram há seis anos.
Enquanto a criada nos leva à minha prisão pelos
próximos doze meses, não tenho escolha a não ser deixar o
destino me arrastar para dentro da sua cova.
02
PARA UMA PRISÃO, a propriedade do Zodíaco é nada
menos que deslumbrante. O grande hall de entrada é
aberto, claro e arejado e no meio há uma escada de pedra
branca. À minha direita, uma cachoeira cai sobre uma
parede rochosa.
— Uau — Elise murmura, e não posso deixar de
compartilhar sua admiração.
Inclino a cabeça e olho para os raios brilhantes que
surgem através da claraboia circular que atravessa o
vestíbulo e o átrio do segundo andar. O vitral é dividido em
doze partes, cada uma representando um signo do zodíaco,
desde o carneiro, que representa Áries, até os peixes. É
lindo, imaculado e...
— É muito frio — Faye reclama, arrancando a palavra da
minha cabeça.
Minha pele se arrepia e não tenho certeza de que é pela
brisa fria que entra no vestíbulo com a nossa chegada ou
pelo pensamento do que me espera atrás das portas
fechadas. Logo depois da parede de água borbulhante, vejo
um arco que leva ao que parece ser uma cozinha de
tamanho industrial. A criada nos conduz na direção oposta,
por uma porta à esquerda e um longo corredor, e entramos
em uma biblioteca. Arregalo os olhos com a quantidade
enorme de livros nas estantes: filas e mais filas de
lombadas, mostrando uma coleção variada e eclética.
Um homem se levanta de trás de uma mesa de madeira
pesada e escura com uma ponta de masculinidade, e tio
Rowan dá um passo à frente.
— Chanceler, tenho a honra de apresentar minha
sobrinha, Novalee Van Buren.
O Chanceler acena com a cabeça para mim em
cumprimento.
— Bem-vinda à Ilha do Zodíaco. Pode me chamar de
Liam.
Inclinando a cabeça em reconhecimento, eu o observo.
Seu cabelo cor de cobre desperta uma lembrança, revirando
as camadas do tempo até me fazer recordar da versão mais
jovem do homem diante de mim.
Aos doze anos, eu não conseguia entender a
sensualidade devastadora de Liam Castle, mas agora isso
me atinge por completo, e sinto seu olhar quente em cada
terminação nervosa.
— Se lembra de mim, Novalee?
— Sim.
— Você cresceu e se tornou uma mulher bonita. — Sua
atenção aquece a minha pele por baixo da saia e do suéter
brancos que tio Rowan insistiu que eu usasse.
— Obrigada.
Ele gesticula em direção à criada.
— Selma, acompanhe as damas da rainha até seus
aposentos para que elas possam se refrescar. O jantar será
servido às seis.
Olho ansiosamente para Faye e Elise. Eu as quero ao
meu lado, como um escudo entre este homem imponente e
eu.
— Prefiro que elas fiquem.
— Vocês se reencontrarão em breve. — O tom dele é
decidido. A palavra final. Um aceno autoritário da sua bela
cabeça coloca a criada em movimento, e ela acompanha
minhas damas pela porta da biblioteca. Uma inquietação
perturbadora me atinge até Liam gesticular em direção a
um conjunto de cadeiras de camurça. — Vamos nos sentar?
É quando vejo um envelope pardo sobre uma mesa.
Sem dúvida, é o contrato que meu tio assinou uma semana
depois que o avião de meus pais caiu, prometendo minha
mão em casamento à Irmandade do Zodíaco.
Rowan coloca a mão nas minhas costas, me
incentivando a dar um passo à frente. Depois de nos
acomodarmos nas cadeiras de frente para o Chanceler,
Liam remove vários papeis do envelope e coloca um na
mesa entre nós. O rabisco da assinatura de Rowan desperta
uma dor profunda no meu estômago. Essa tinta é um
lembrete de tudo que perdi.
Engulo em seco. Nem mesmo seis anos podem apagar a
realidade da morte de meus pais ou o buraco que a
ausência deles provocou em minha vida.
Liam tira uma caneta do bolso do terno caro cor de
carvão e a entrega a Rowan.
— Como combinado com meu pai há seis anos, ao
assinar este documento, você declara que Novalee
permaneceu virgem.
Prendo a respiração enquanto a mão do meu tio paira
sobre a linha na parte inferior. Um movimento de seu pulso,
um pouco de tinta, e toda a minha vida vai mudar para
sempre. Essa assinatura será o começo do fim.
Lutando contra as lágrimas, vejo meu tio rabiscar seu
nome no final da página. Ele pousa a caneta com cuidado,
prestando uma pequena homenagem à importância desse
momento e à destruição que abala meu coração.
— Excelente — Liam fala enquanto se levanta. — Antes
de você ir, preciso de uma demonstração da boa-fé vinda da
Novalee.
Estou tentando não murchar sob o olhar minucioso do
Chanceler quando meu tio faz a única pergunta na minha
cabeça.
— O que você tem em mente?
Os olhos castanhos claros de Liam não se afastam dos
meus.
— Um favor sexual como demonstração do seu
compromisso com o contrato. A virgindade dela
permanecerá intacta, é claro.
Fico de pé.
— Não farei tal coisa! — É uma reação instintiva,
absurda até, levando em consideração o que será esperado
de mim nos próximos doze meses.
— Você fará, pois estou exigindo. — Liam arqueia a
sobrancelha em desafio.
Meu tio está de pé, me lançando um olhar de aviso.
— Lembre-se do seu lugar, querida sobrinha.
— Meu lugar? — Cruzo os braços, incrédula, e olho para
os dois. — E qual é exatamente o meu lugar?
— Ajoelhada — Liam fala, se aproximando.
— Por quê? Por que você é o Chanceler? — eu o desafio
em um tom mordaz, sabendo muito bem que minha boca
vai me meter em sérios problemas com esse homem se eu
não tomar cuidado.
— Não, minha rainha. É uma questão de logística.
— Logística? — pergunto, incrédula.
— Sim. A posição proporcionará um uso mais eficiente
da sua boca.
Eu me viro para o meu tio.
— Você não pode permitir isso! — O apelo ecoa pela
sala, e tenho certeza de que todos no primeiro andar ouvem
minha explosão.
Rowan coloca a mão no meu ombro.
— Você deve obediência à Irmandade, Novalee. Ajoelhe-
se diante do Chanceler.
Endureço as pernas, me recusando a ser submetida a
isso, mesmo quando meus olhos queimam com a
impossibilidade das circunstâncias. Quero implorar
novamente, mas nenhum pedido fará com que a resolução
de qualquer um dos dois vacile.
Porque não há liberdade nesta ilha.
Não tenho qualquer direito como rainha de uma nação
estrangeira.
Não tenho nenhuma escolha.
O peso inflexível do aperto do meu tio me deixa de
joelhos. Meu peito se agita com indignação quando Liam
para na minha frente, com as mãos nas costas e
endireitando os ombros quando o volume em sua calça me
mostra o que vou enfrentar pelos próximos doze meses.
Doze homens.
Teimosos e viris.
E todos decididos a me possuir.
Rowan limpa a garganta.
— Peço desculpas pela falta de protocolo da minha
sobrinha.
Resisto à tentação de trincar os dentes.
— Ela vai aprender. — Liam acaricia minha cabeça como
se eu fosse um Lulu da Pomerânia premiado. — Vai levar
algum tempo, mas ela se vai se adaptar aos nossos
costumes.
— Bem, receio que Novalee seja uma jovem um tanto
obstinada.
— Garanto que é uma questão que pretendo abordar.
Lanço um último olhar suplicante para meu tio, mas a
linha severa de sua boca não me dá esperança.
— Vou esperar na sala de estar enquanto vocês se
conhecem melhor — ele fala e me sinto desamparada
quando vejo meu último fragmento de esperança
desaparecer pela porta. Meu tio a fecha ao sair, e eu
estremeço. O silêncio que se segue é muito invasivo. Ele me
consome.
A princípio, Liam não se mexe ou fala. Nem eu. Os
segundos passam enquanto eu observo sua calça cinza
escura, propositalmente mantendo o foco abaixo do zíper.
Sua respiração rompe o silêncio, o inspirar e expirar raso e
rouco, carregados com a sugestão do que eu acho que é
desejo.
Será que alguém já pareceu tão... estimulado na minha
presença antes? Ficou na minha frente dessa forma, cheio
de poder e apelo masculinos? Há seis anos, Liam o fez,
embora agora eu perceba que ele se conteve por causa da
minha idade.
— Olhos aqui em cima. — Seu tom de comando me
atinge e atrai meu olhar para o seu rosto. Não há como
negar o quanto ele é lindo. A mandíbula é forte, a barba
bem aparada e aquele cabelo acobreado é o que mais me
lembro de seis anos atrás, quando ele repreendeu o garoto
com o cabelo loiro. Esse homem me defendeu na época,
mas não será o caso desta vez.
— Você percorreu um longo caminho desde que te vi
ajoelhada — ele fala, como se nossos pensamentos
estivessem interligados. Ele segura minha nuca. — Não há
problema em se sentir insegura. Sei que você é intocada e
inocente. Estou honrado em ser o primeiro a tocar em você.
Só que ele fará mais do que me tocar. Mais uma vez,
minha atenção recai sobre sua calça e no contorno
perceptível da sua ereção.
Ereção.
Já sou familiarizada com a palavra. Sei como a anatomia
masculina funciona. Eu até sei o que é esperado de mim.
Como se quisesse confirmar minha suspeita, ele desafivela
o cinto e desabotoa a calça.
— Abra sua blusa, Novalee.
Meus dedos tremem visivelmente quando seguro o
primeiro botão, e são necessárias três tentativas antes que
ele se abra. Dois outros se seguem e olho para ele em
busca de instruções, esperando que ele me permita parar
de mostrar o decote.
— Continue.
Engolindo em seco, revelo mais da minha pele. As
partes reais, expondo o sutiã de cetim. Liam puxa a blusa,
com uma sobrancelha arqueada em comando silencioso, e
eu a deixo escorregar dos meus ombros.
— Tire a roupa de baixo também.
O desejo de implorar é intenso. Um apelo à minha
modéstia está na ponta da língua, e eu hesito um segundo a
mais.
— Não pedirei nada duas vezes — ele fala, me
segurando pelo queixo. — Vou facilitar isso para você, mas
esse é seu único aviso.
Seu tom é duro e é como se apunhalasse meu
estômago com uma faca. Antes que ele possa dar o
comando novamente e me punir por isso, tiro o último
pedaço de tecido que cobre meus seios. Uma corrente de ar
acaricia minha nudez, intumescendo meus mamilos. Nunca
me senti mais vulnerável, de joelhos e nua da cintura para
cima.
Liam respira fundo.
— Deslumbrante. — Ele agarra meus pulsos e força
minhas mãos no peito. — Brinque com seus mamilos.
— Por quê? — eu sussurro.
— Não questione.
Me sinto totalmente humilhada enquanto acaricio os
mamilos, rolando suavemente os picos sensíveis entre o
polegar e o indicador.
— Boa menina — ele murmura, segurando o tecido da
cueca boxer. Ele se expõe e arregalo os olhos.
— É grande.
— Você aprenderá a tomá-lo.
Não vejo como. Ele é grosso e longo, e seu punho não
cobre metade do comprimento quando ele cruza os dedos.
Não consigo esconder a respiração nervosa.
— Você vai ser gentil?
Ele segura meu rosto e acaricia minha bochecha com o
polegar.
— Comparado a alguns dos meus irmãos, serei
misericordioso.
E é aí que a delicadeza de seu toque para.
Segurando meu cabelo, ele puxa minha cabeça para
trás e a posição inclina meu rosto da maneira certa
enquanto seu aperto firme garante que eu não possa
escapar.
— Por favor — eu sussurro, me desprezando pelo
deslize. — Não sei como fazer isso.
— Sua inexperiência é o que me atrai. — Ele acaricia
seu comprimento, confiante em sua habilidade. — Aperte
seus mamilos.
Sigo o seu comando, adicionando mais pressão aos
pontos doloridos entre meus dedos. Um calor curioso flui
entre minhas coxas. Certa vez, eu me toquei, provocando a
mesma onda de formigamento que se espalhava por meu
corpo agora, mas a vergonha era muito forte e parei antes
que fosse mais longe.
— Mais forte. Quero que sinta dor.
Talvez, se eu fizer meus mamilos doerem, o calor entre
minhas pernas desapareça. Pressiono com força, o rosto se
contraindo pela dor que irradia pelos meus seios.
A ponta molhada da sua ereção empurra meus lábios.
— Me prove — ele fala, puxando meu cabelo até que eu
o toque com a língua.
O gosto é salgado, com uma pitada agridoce, e não
tenho certeza se gosto ou não do sabor. Umedeço os lábios.
Então sua ereção está lá novamente, pressionando minha
boca até que ela se abra e permita que ele entre. Meus
lábios se fecham ao redor da cabeça e ele respira fundo por
entre os dentes.
— Caramba — ele murmura. — Tão doce.
E então ele começa a se mexer. Sua voz rouca não para
de dar breves instruções de como chupar, não usar os
dentes e sufocar. Esse último comando me confunde, até
que ele empurra para o fundo da minha garganta.
Muito fundo.
O instinto entra em ação, e eu empurro a língua contra
o pênis quente.
— Não lute comigo — ele diz com um grunhido baixo,
tirando e batendo com o pau na minha bochecha. — Meus
irmãos não serão tão gentis e pacientes quanto eu. Eles vão
se cansar das suas provocações e se vão se divertir com
seu traseiro. — Ele enfia na minha garganta novamente, só
que desta vez, quando começo a engasgar, luto para
aceitar.
Aceitar Liam.
— Isso é para o seu próprio bem, minha doce menina.
Ele define o ritmo com estocadas rápidas e meu peito
dói com a vontade de vomitar em sua cintura. A humilhação
obstrui meu nariz, e a maneira com que ele está
reivindicando minha boca dificulta a respiração. Olho para
ele desesperada, e nossos olhares se encontram. Seus olhos
são mais escuros que uma noite sem lua e estão
entreabertos.
Ele parece... extasiado. Enfeitiçado. Um curioso senso
de poder toma conta de mim. Nunca senti nada parecido
antes.
E nunca vi nada tão bonito quanto a rendição de um
homem como Liam.
Ele aperta meu cabelo e com uma estocada final entre
minhas amígdalas, para.
— Engula — ele geme quando sua liberação quente
jorra na minha garganta. Engasgo um pouco à medida que o
líquido desliza para meu esôfago. Depois, ele se afasta e o
espaço entre nós fica estranhamente silencioso. Estou
paralisada enquanto meu cérebro luta para acompanhar o
que aconteceu.
Porque o Chanceler Liam Castle acabou de gozar na
minha boca e não sei como devo me sentir a esse respeito.
Enraivecida?
Empoderada?
Excitada?
Enojada?
Só consigo me sentir desconcertada. Com os olhos
ardendo, solto os mamilos e enxugo a umidade almiscarada
dos meus lábios.
— Eu te satisfiz, Chanceler? — A dureza em meu tom é
nítida, corajosa e ousada.
Em vez de discordar da minha atitude, ele parece achar
graça. Sua boca se curva em um sorriso malicioso enquanto
ele me puxa para ficar de pé.
— Me ouviu reclamar?
— Não — eu sussurro, sentindo as bochechas em
chamas enquanto olho para seu pescoço.
Ele levanta meu queixo.
— Gostou de me agradar?
— Não! — A negação é muito rápida. Ele sabe. E eu
também sei.
O sorriso dele se ilumina.
— Diga a verdade, Novalee.
Mordo o lábio inferior, hesitando.
— Não foi horrível.
Ele ri.
— Sua honestidade é maravilhosa.
— Você geralmente inspira a desonestidade nas
pessoas, Chanceler?
— É Liam. — Ele suaviza o tom. — A mulher com quem
pretendo me casar me chamará pelo nome. Está entendido?
— Sim... Liam.
— Assim é melhor. — Suas mãos ainda estão em mim. O
polegar roça meus lábios e os dedos deslizam por meus
cabelos. Agora que começou a me tocar, ele não consegue
parar.
E não encontro forças para não gostar disso.
— Para responder à sua pergunta... — Ele espera um
breve momento antes de continuar — as pessoas sabem
que não devem mentir para mim.
Não sei se ele diz isso em tom de aviso, mas tomo como
um.
Liam Castle não é alguém para quem se deve mentir.
Não é alguém que se deve desobedecer.
E, definitivamente, não é alguém por quem se
apaixonar.
— Então me diga, Novalee Van Buren. Gostou do sabor
do meu pau?
Pau.
Outra palavra que conheço, embora tenha a tendência
de jamais usá-la. É mais ousada e sacana que ereção ou o
pênis.
É obscena, imoral... sexy.
— Eu... não sei. É a primeira vez que provo um homem.
— Certamente não será a última. — Liam pega minhas
roupas do chão. — Selma irá te mostrar seus aposentos.
— Meus aposentos? — Visto a blusa e a abotoo.
— Sim, você terá seu próprio cômodo na cobertura.
Vamos compartilhar as refeições, é claro. — Depois que
estou vestida, ele segura a minha mão e me puxa em
direção à porta da biblioteca. — Você não esperava ter seu
próprio quarto?
— Achei... — Paro e engulo em seco, nervosa. Liam
encarna o espírito de um homem no controle de seus
impulsos e desejos, mas também parece ser alguém que te
quer à disposição e ao seu comando. — Acho que pensei
que você gostaria que eu compartilhasse sua cama.
Me fazendo parar a um metro da porta, ele me segura
pelo queixo, no que estou descobrindo ser a sua forma de
contato.
— Meus irmãos podem querer compartilhar a cama com
você, mas eu não sou masoquista.
Não estou preparada para a pontada de dor que sinto
peito e respondo antes de pesar minhas palavras.
— Você não me quer?
— Quem não gostaria de você, minha doce garota? —
Ele se aproxima e nossos lábios ficam a poucos centímetros
um do outro. Sinto seu perfume picante. — Mas conheço
meus limites quando se trata de te manter pura. Até que
você seja coroada como minha rainha, vou me satisfazer
com a sua boca, mas não terei você na minha cama.
03
A SUBIDA ATÉ O TOPO da torre é terrivelmente lenta.
Mal consigo manter a compostura. No momento em que
Selma me mostra meus aposentos, estou tremendo. Libero
a empregada antes de correr para dentro, desesperada para
ter um momento sozinha e poder processar o que
aconteceu no primeiro andar desta fortaleza.
Não percebo que minha expressão é de choque até que
Faye corre até mim, alarmada e com os olhos arregalados.
— O que aquele cretino fez com você?
Sua veemência e apoio inabaláveis me fazem ceder.
Soluço com as mãos no rosto e meus joelhos encontram o
chão. Nem sei ao certo por que estou assim.
Como Liam Castle mexeu comigo só com um boquete?
Não faz sentido. Tudo o que sei é que estou desabando e
não consigo parar.
— Novalee! Fale conosco. O que aconteceu?
— Não sei se posso fazer isso. — Olho para minhas
damas de companhia através das lágrimas que escapam
dos meus olhos.
— Ele foi cruel? — Elise pergunta, e a cautela se
acentua nas linhas da sua pele de porcelana.
Faye é mais direta.
— Ele te machucou? — Ela faz uma careta protetora. —
Porque se ele te machucou...
Ela não vai fazer nada. Somos mulheres em um lugar
estranho que não nos oferece os mesmos direitos que os
homens. Eles dizem que somos fracas e pouco inteligentes,
mas no fundo do meu coração, sei que isso não é verdade.
Porque é preciso força e inteligência para sobreviver a
um grupo de homens como os da Irmandade do Zodíaco.
Especialmente com um homem como Liam no comando.
— Ele não me machucou.
Faye permanece em um movimento fluido e gracioso,
embora os ângulos severos em seu rosto mostrem
exatamente o contrário. Ela me ajuda a ficar de pé.
— Tem certeza?
— Tenho.
— Mas aconteceu alguma coisa? — Faye nunca evita as
perguntas diretas, aquelas que ninguém quer responder. Ela
me tem como alvo agora. Não tenho vontade de
compartilhar o que aconteceu com minhas damas de
companhia, mas sou incapaz de encontrar uma maneira
graciosa de sair dessa situação.
— Ele me fez... — Eu a encaro enquanto Elise enrijece.
As duas são o mais próximo de irmãs que já tive. Já
conversamos sobre sexo no passado, mas a ideia de contar
o que Liam me obrigou a fazer, até o último detalhe
obsceno, deixa minhas bochechas em chamas.
Faye segura minha mão.
— Sabe que pode nos dizer qualquer coisa.
— Ele me pediu para... prová-lo. — Embora ele não
tenha pedido explicitamente, e eu tenha vergonha de
admitir o quanto estava impotente naquele momento.
Faye levanta uma sobrancelha.
— Você gostou?
— Bem, não... fiquei inteiramente... enojada.
Elise exala como se estivesse prendendo a respiração
pelo último minuto.
— Não nos provoque. Como foi?
Me encolho internamente com sua emoção perceptível,
mas essa é Elise: sempre sorrindo e mantendo as coisas
positivas. Desde o dia em que ela veio morar em nossas
terras, há três anos, sempre foi uma garota otimista. Ela
seria a primeira a oferecer um pote de sorvete de chocolate
e uma coleção de filmes românticos para me consolar caso
alguém me magoasse.
Faye estaria muito ocupada acabando com o homem
que me machucasse para participar da maratona de filmes.
As duas me protegeriam. Olho para minhas melhores
amigas, observando os rostos ansiosos e ouvindo a
pergunta silenciosa.
Como foi dar prazer a um homem como Liam Castle?
Assustador. Emocionante. Brusco. Provocante.
Vergonhoso.
— Preciso me preparar para o jantar — digo, evitando
completamente o assunto.
O suspiro de exasperação de Faye balança o cacho
escuro que cai sobre seu olho esquerdo.
— Tudo bem. Vamos deixar essa conversa para mais
tarde. — Ela quer me pedir mais informações sobre a arte
do sexo oral, mas não o faz. Em vez disso, se vira para Elise.
— Escolha um vestido para a rainha. Vou preparar o banho.
— Algo preto, por favor — digo a Elise enquanto sigo
Faye para o banheiro. A cor é apropriada para uma rebelião
e adequada para um funeral. É a armadura perfeita para
enfrentar doze predadores durante o jantar.
Vários minutos depois, estou afundando na água
quente, suspirando de alívio e com a espuma cobrindo
meus seios. Meus mamilos aparecem entre as bolhas,
sensíveis à mudança de temperatura, e a imagem do
Chanceler surge em meus pensamentos.
A confiança em seu toque.
O comando em sua voz.
A rendição em seu rosto quando gozou.
Um desejo estranho de me tocar se inflama dentro de
mim. Olho para Faye, que está sentada na penteadeira
esperando para oferecer ajuda caso eu precise.
Mas preciso de privacidade.
— Posso me vestir sozinha para o jantar. Você e Elise
devem se instalar em seus aposentos e se arrumar.
Com os olhos semicerrados, ela me observa como se
estivesse investigando tudo o que não estou dizendo.
— Tem certeza de que está bem?
— Tenho. Só preciso de um tempo sozinha.
— Claro.
Depois que ela me deixa com meus pensamentos
lascivos, não perco tempo em colocar a mão entre as
pernas. Nunca me senti tão depravada e pecadora. O vapor
sai da minha pele lisa, e eu fecho os olhos enquanto meus
dedos exploram, aumentando o ritmo quando pressiono um
local que é especialmente bom. Deixo aquelas imagens de
Liam voltarem aos meus pensamentos. Ouço sua voz nos
meus ouvidos. Finjo que o toque dos meus dedos é seu. Me
sinto ainda mais quente e meu batimento cardíaco acelera.
Nunca estive tão perto. Em vez de me esquivar como fiz
na última vez em que me toquei, aumento a pressão e a
velocidade, imaginando o chanceler se apoiando sobre mim
e o peito nu roçando meus mamilos.
Ele desbloqueou algo dentro de mim quando usou
minha boca daquele jeito. Algo travesso e primitivo. Um
desejo que não existia antes... a necessidade de saber como
é me render a mim mesma.
Me render a outra pessoa.
Empurro dois dedos para dentro da minha boceta e
imagino seu pau no lugar deles.
— Liam — gemo, deixando escapar um pedido por mais.
E é aí que alguém respira fundo.
Abro os olhos.
O homem das minhas fantasias está de pé, na beirada
da banheira, com os olhos cor de caramelo entreabertos. As
mãos estão fechadas em punhos ao lado do corpo.
Me endireito, cobrindo meu peito e a água escorre por
toda parte.
— O que está fazendo aqui?
— Eu moro aqui.
— Mas este é meu quarto.
— Você não encontrará um lugar nesta ilha ao qual eu
não tenha acesso. — Ele contorna a banheira e me puxa
para fora da água, me deixando parada diante dele,
mortificada e atordoada. — Você gozou?
Minhas bochechas ardem ainda mais.
— N-não.
A água escorre pela minha pele, pingando dos meus
cabelos e encharcando o tapete macio sob meus pés. O
sangue pulsa entre minhas pernas, um sensação
maravilhosa da qual não consigo desfrutar. À medida que o
descontentamento transparece em seus belos traços, não
posso deixar de lamentar o clímax que não aconteceu.
Como seria ultrapassar aquela barreira?
— O orgasmo é um presente — ele fala, apertando meu
pulso enquanto me puxa para fora do quarto e me leva para
o espaço compartilhado da cobertura. — Você nunca deve
tomá-lo sem permissão.
Estou tremendo enquanto ele me arrasta para seus
aposentos. O sol se pondo deixa o lugar às sombras e os
móveis pesados dão um tom de virilidade masculina. Uma
cama projetada para um rei fica em cima de uma
plataforma no meio do quarto, coberta com uma colcha azul
escura. Uma cor adequada para a realeza.
Ele me leva para longe da cama e gentilmente me
empurra em uma cadeira da mesa em frente a um conjunto
de portas francesas. Vejo uma varanda.
— Você não deve vir aqui a menos que eu te dê
permissão. Entendeu?
— S-sim — digo, batendo os dentes. — Por que estou
aqui?
— Coloque as mãos na mesa com as palmas para cima.
Obedeço, sabendo que agora não é hora de questioná-
lo. Com um aceno decisivo, ele atravessa a sala e pega algo
de uma prateleira na parede. Meu estômago se aperta
quando ele volta.
— Sabe o que é isso?
Ofego antes de responder.
— É um chicote.
— Sabe por que suas mãos estão nessa mesa agora?
Sem pensar, eu as tiro de lá.
— Não se mexa. — A ponta de couro do chicote faz um
estalo alto na mesa, pontuando seu comando.
Coloco-as de volta na posição, cada fibra do meu ser me
pedindo para correr. Mas até onde eu chegaria? Fora deste
quarto? Talvez eu quebre a porta da cobertura antes que ele
me alcance. Talvez eu conseguisse entrar no elevador para
poder atravessar a torre, tão nua quanto no dia em que
nasci.
— Você entende por que está sendo punida?
— Por que eu estava me tocando?
— Porque fez isso sem permissão.
— Você não está sendo justo. Eu não sabia que era
contra as regras.
— Você aprende com disciplina, Novalee. — Ele
gesticula para minhas mãos vulneráveis e expostas. — Se
mexê-las novamente, não terei escolha a não ser te levar
até nosso executor para punição. Confie em mim, nenhum
de nós quer isso.
A ameaça em seu tom me atinge, um acidente fatal de
raiva e medo. Ele me diz para confiar nele. Quero rir, chorar
e gritar com a ironia dessa ordem. Quando ele dá um passo
para trás e aumenta o chicote em um preâmbulo sinistro,
tento me lembrar de que já passei por coisa pior.
Precisei de cuidados médicos e uma almofada macia por
uma semana depois que tio Rowan me chicoteou por tentar
escapar.
— Você receberá cinco golpes em cada palma. — Sua
mão se contrai, prestes a me causar dor, e nossos olhares
se encontram. — Se prepare, minha doce garota.
Plaft!
Pulo, respiro fundo e outro ponto de raiva se forma na
minha armadura. Ele atinge minha palma esquerda com o
chicote.
Depois a direita.
Uma seguida da outra, avermelhando minha pele clara.
Fazendo meus olhos lacrimejarem.
Eu o encaro através das lágrimas não derramadas.
Antes do quinto e último golpe, ele para e respira fundo.
Meus braços tremem sobre a mesa e as mãos queimam por
causa dos golpes. Minha alma transborda de raiva, mas por
trás disso estou magoada. Odeio que meu coração se
aperte com a emoção traidora e que minha garganta doa
por segurar o choro.
Porque pensei por um instante que ele era diferente.
Acreditei que tínhamos uma conexão, apesar da realidade
da nossa troca de poder. Ele não sentiu a mesma coisa
quando estávamos na biblioteca com seu esperma ainda em
meus lábios?
Ele dá os dois últimos golpes, dessa vez com mais força,
e meus dentes rangem com a intensidade. Meus dedos do
pé se curvam e meus músculos enrijecem.
Não ouso mexer as mãos.
Não me mexo.
— Acabou. — Ele parece aliviado, o que é ridículo,
porque não foi ele quem sofreu um castigo físico. Colocando
o chicote de lado, ele me puxa para ficar de pé. — Não sou
sádico — ele fala, deslizando a mão pela minha bochecha.
— Não gosto de infligir dor.
— Você se excita com o controle.
Os cantos da boca dele se contraem. Uma sombra de
sorriso? Uma carranca? Ele é tão difícil de se ler.
— É provável que isso seja verdade, mas da próxima
vez, você vai pensar duas vezes antes de tocar no que é
meu.
Suas palavras me atingem como uma carícia física, e eu
aperto as coxas em resposta. A tonalidade de seus olhos se
aprofunda em um marrom escuro.
Tenho certeza de que ele sabe o efeito que tem sobre
mim.
— Acredito em você quando diz que não gozou. — Seu
polegar traça o contorno dos meus lábios. — Sua pele está
corada com a necessidade do orgasmo. — Ele dá um olhar
superficial para o meu peito. — E seus mamilos estão
implorando pela minha boca.
Um gemido escapa de mim. Não consigo resistir a
passar a língua para prová-lo.
— Caramba, você quer testar meu controle? — Ele enfia
o polegar na minha boca, e eu o chupo, lembrando a
maneira como engoli sua masculinidade. — Tão inocente,
mas tão aberta. Você é uma anomalia, uma orquídea
vibrante no auge do inverno. — Ele enfia o polegar na minha
boca três vezes, tocando minha língua antes de retirar. —
Você se toca com frequência?
— Não.
Suas narinas se expandem.
— Já teve um orgasmo?
— O que acha, Chanceler?
— Acho que você vai acabar no meu colo por se recusar
a usar meu nome.
Essa imagem não me inspira medo como deveria.
— Não quero te desobedecer.
— Então responda à pergunta.
— Nunca tive um orgasmo.
— Você é muito sensível para uma mulher que nunca
aprendeu a dar prazer a si mesma.
— Tentei uma vez.
— Não se divertiu? Porque parecia que você estava
aproveitando na banheira.
— Pareceu estranho na época. — Desvio o olhar. — Hoje,
não foi.
Hoje, tive a lembrança de chupá-lo como inspiração.
— Você não deve se divertir sem a minha permissão
novamente — ele fala, me segurando pelo queixo. — Está
claro?
Seu comando me faz estremecer.
— Sim.
— Seu primeiro orgasmo pertence a mim. Sua boceta
está fora dos limites para seus dedos até que eu decida te
dar esse presente.
Pela primeira vez desde que soube do meu destino, há
seis anos, experimento um emocionante sentimento de
antecipação.
04
DEPOIS DE NOS VESTIRMOS para o jantar, chegamos ao
primeiro andar. A saia de seda do vestido preto balança
contra as minhas pernas quando Liam me segura pelo
cotovelo e me leva por um amplo corredor. Estou encantada
com os enormes retratos de ambos os lados e observo com
os olhos arregalados as pinturas de quem imagino ser os
ancestrais da Irmandade.
— Posso te fazer uma pergunta?
— Claro.
— Como começou a Irmandade do Zodíaco?
Ele para no meio do corredor, prestando atenção no
retrato que me chamou atenção.
— Essa é Evangeline Castle. Ela era minha avó, de uma
longa linhagem de grandeza. E digo isso em todos os
sentidos da palavra. — Soltando meu braço, ele pega minha
mão, e eu disfarço um estremecimento, porque elas ainda
estão doloridas por sua punição. — Ela só tinha dezoito anos
quando partiu com um grupo de exploradores. Eles nunca
teriam descoberto a ilha sem suas habilidades incomuns.
— Incomuns?
Ele faz um gesto com a cabeça em direção ao retrato da
sua antepassada.
— Ela tinha um enorme conhecimento do céu, muito
mais que a maioria dos homens. As constelações, planetas
e suas posições dependendo da estação. A princípio, os
exploradores acreditavam que ela era uma alma
supersticiosa, mas depois que ela previu duas catástrofes,
começaram a ouvi-la. — Ele olha de forma superficial pelo
corredor. — Ela os trouxe até aqui e, ao fazer isso,
escaparam da morte em uma tempestade. Também ficaram
ricos no processo, porque a ilha era desabitada e abundante
em ouro.
Ele segue pelo corredor, me puxando até ficarmos
diante de um retrato de um grupo de homens do que parece
ser o século XVII.
— Estes homens são os exploradores?
— Sim. Evangeline era uma pensadora progressista.
Uma Amelia Earhart do seu tempo. Mas eles não podiam
negar que havia algo de especial nela. — Ele inclina a
cabeça e nossos olhares se encontram. — Havia doze
exploradores, um para cada signo do zodíaco.
— Isso é coincidência.
— Não acreditamos em coincidências aqui, Novalee. Os
exploradores também não. Evangeline se tornou a rainha,
compartilhada entre os doze, mas trancada em uma torre.
— Por que eles a trancaram?
— Ela queria sair da ilha. Eles, não.
— Então ela foi prisioneira deles? — Me sinto enjoada
com o pensamento.
— Prisioneira, rainha e também a mãe de seus filhos.
Eu o encaro atônita e com a cabeça girando ao pensar
nas implicações do que ele acabou de dizer.
— Ela não é apenas sua antepassada, é?
— Não. Os doze homens são descendentes de
Evangeline Castle.
— Mas só você leva o sobrenome dela.
— Ela assumiu o sobrenome do explorador nascido em
Áries. Diz a lenda que ela o favorecia.
— Então você está me dizendo que toda a ilha foi
fundada e criada por uma mulher? E o incesto?
— Os descendentes diretos de Evangeline sempre
traziam pessoas de fora para se casar. É a tradição, assim
como competir pela mão de uma rainha no início de uma
nova Irmandade.
— E como é escolhida a nova Irmandade?
Seus lábios se curvam em um sorriso.
— Você está cheia de perguntas, não é, linda menina?
— Só estou tentando entender tudo.
Lentamente, seguimos pelo corredor mais uma vez.
— A Irmandade troca de poder a cada vinte e cinco
anos, mais ou menos. Cada casa tem o dever de produzir
um herdeiro masculino nascido sob seu signo do zodíaco.
Quando os doze herdeiros atingem a maioridade, a tradição
se renova, e outra rainha virgem é encontrada. — Ele me
olha de lado. — Esta é uma informação privilegiada.
— Parece uma tradição baseada na superstição.
— Os homens testaram a tradição ao longo dos anos. Os
resultados nunca foram bons.
— Como assim?
— Doenças e mortes, principalmente. Quando seguimos
a tradição, prosperamos. Quando não...
Um arrepio toma conta de mim. Ou foi só uma corrente
de vento que bateu nas minhas costas? De repente, preferia
ter escolhido um vestido que não tivesse as costas nuas, ou
pelo menos ter deixado meu cabelo solto. Minha pele se
arrepia.
— Por que a rainha é sempre virgem? Evangeline não
era virgem para os doze.
— Ela era virgem de apenas um.
— Qual?
Uma sombra parece cruzar sua expressão.
— A casa de Leão.
Fico curiosa sobre o problema dele com Leão, mas não
quero arriscar encerrar esta conversa. Damos mais alguns
passos em direção às portas que conduzem à sala de jantar,
e espero o sulco entre as sobrancelhas escuras desaparecer
antes de fazer a próxima pergunta.
— O que acontece se uma das casas não puder produzir
um herdeiro?
— Se surgirem problemas de fertilidade, fazemos o
necessário para resolvê-lo. Barrigas de aluguel foram
usadas no passado. Assim como amantes.
Algo próximo a possessividade me atinge e imagino o
homem com quem me casarei na cama com outra mulher.
Não gosto dessa ideia. E não gosto de imaginar que o
homem seja Liam. Eu o conheço há apenas um dia, mas
estou ficando... apegada.
Como vou passar pelos próximos doze meses sem
estilhaçar meu coração no processo? O potencial para
aniquilação completa é muito alto. Não importa o resultado,
alguém vai se machucar.
Várias pessoas, na verdade.
— E se o membro da Irmandade for a pessoa com
problema de fertilidade?
Liam para e o olhar que ele me dá é tão intenso que fico
tentada a dar um passo atrás.
— Nunca aconteceu, Novalee. Isso é... improvável, na
melhor das hipóteses, e praticamente impossível. A tradição
ainda não nos decepcionou.
Ele me incentiva a avançar e chegamos à entrada da
sala de jantar, onde minhas damas estão esperando.
Enquanto Faye cumprimenta Liam com um ar frio, abaixo da
sua indiferença habitual, me lembro da conversa que tive
com ela antes do banho.
O banho.
Aquele em que ele me interrompeu e me puniu.
Como eu pude me esquecer, por um momento, o
quanto seu poder é absoluto? Ele me seduziu com sua lição
de história no salão, me encantando com o mistério das
origens da Irmandade. Liam estimula minha cabeça tanto
quando o meu corpo.
Uma combinação perigosa.
— Prontas para entrar, senhoritas? — Liam gesticula
para que entremos primeiro. Adentro a elaborada sala de
jantar, com minhas damas de companhia ao meu lado e
absorvo o espaço circular. Há um lustre enorme acima da
mesa redonda gigante. Não há janelas aqui, pois estamos
no meio da torre, no primeiro andar.
É um lugar sufocante, especialmente com os onze pares
de olhos que me encaram de seus lugares ao redor da
mesa.
Liam nos leva adiante, e eu percebo que a mesa está
dividida em doze partes. Ele pigarreia.
— Tenho o prazer de apresentar nossa rainha, Novalee
Van Buren, e suas damas de companhia, Faye e Elise.
Inclino a cabeça em demonstração de respeito. Liam
gesticula para eu me sentar e, em seguida, ele se senta na
cadeira à minha direita enquanto minhas damas se sentam
à esquerda. Estamos todos conectados a esta mesa. Um
círculo contínuo que nunca termina.
— Antes de fazermos as apresentações formais — Liam
fala —, gostaria de presentear Novalee.
Ele acena para Selma, que cruza o espaço carregando
uma bandeja com uma caixa branca redonda. Liam a pega e
abre a tampa antes de colocá-la sobre a mesa.
Um anel de diamante enorme brilha sob a luz do
ambiente.
Seus olhos castanhos são calorosos e há uma sugestão
de sorriso em seus lábios quando ele segura minha mão
esquerda.
— Cada membro da Irmandade lhe dará um presente
quando começar sua temporada com você. Este anel é o
meu. Simboliza o compromisso da Irmandade com você e
seu dever para conosco.
Ele desliza a joia no meu dedo anelar e não posso deixar
de ficar boquiaberta com o brilho da pedra. É linda e pesa
em minha mão tanto quanto os próximos doze meses
pesam sobre meus ombros.
Mas aprendi recentemente que coisas bonitas vêm com
responsabilidades difíceis.
— É deslumbrante — sussurro.
— Assim como você. — Ele leva minha mão aos lábios, a
mesma que ele puniu mais cedo, e a beija.
E ele diz que sou uma anomalia.
Liam é uma contradição entre dureza e afeto.
— Senhores — ele fala, encarando os homens à mesa
—, por favor, se levantem e se apresentem na ordem de
suas casas.
O homem sentado do outro lado de Faye se levanta. Seu
cabelo escuro é bem curto e a linha do nariz é aristocrática.
— Heath, Casa de Touro.
Há uma austeridade nele que me deixa desconfortável,
e já estou com medo do mês seguinte.
O próximo homem do círculo se levanta e semicerro os
olhos enquanto tento me lembrar de como o conheço.
Tecnicamente, conheci os doze há seis anos, mas esse, com
olhos cor de esmeralda e sorriso descontraído, parece
especialmente familiar.
— Landon, Casa de Gêmeos.
Então seu sorriso se amplia, e eu me lembro. Era o mais
velho dos doze e riu de mim, surpreso pela minha idade. Ele
ainda parece se divertir, com os olhos brilhando em virtude
de uma piada da qual eu não participo.
Um homem com um rabo de cavalo loiro se levanta a
seguir.
— Vance, Casa de Câncer. — O sorriso dele não é tão
convidativo quanto o de Landon, mas sinto uma gentileza
nele que me deixa à vontade. Vance volta a se sentar e
minha atenção se volta para o homem ao seu lado.
O cabelo loiro é bagunçando de um jeito descuidado e
suas roupas amarrotadas me fazem pensar que ele caiu da
cama e vestiu a primeira calça que encontrou. Há um ar de
tédio altivo sobre ele quando se levanta.
Fico surpresa com a hostilidade em seus olhos azuis.
Eles me encaram e me lembro da maneira como ele me
provocou na primeira vez que o vi.
— Sebastian, casa de Leão.
O leão. Eu deveria saber. Espero que ele se acomode
depois de se apresentar, mas ele não o faz.
— Como saberemos que ela ainda não abriu as pernas?
— o leão pergunta, dirigindo a pergunta ao Chanceler,
embora seu óbvio desgosto por minha existência destrua
minha alma. Minha boca se abre e estou prestes a protestar
quando Liam aperta meu joelho em um comando silencioso
para ficar quieta.
— Cuidado com a boca, Sebastian. A rainha não fez
nada para ganhar seu desprezo. Ela merece respeito.
— Respeito é merecido. Não é isso que nossos pais
sempre disseram?
— Essa conversa está encerrada.
— Mas você não respondeu à minha pergunta,
Chanceler. Só porque o tio dela nos prometeu uma virgem
não significa que ela não trepou com metade da população
masculina da sua nação.
Liam bate com o punho na mesa.
— Chega!
Vance pigarreia.
— Amanhã, vou examiná-la para confirmar a virgindade.
— E quanto à vontade dela de cooperar? — Sebastian
pergunta. — Não tenho interesse em cuidar de uma criança.
A raiva que flui de Liam é tangível.
— A obediência dela já foi testada.
— Preciso de minhas próprias garantias. — Assim que
ele diz as palavras, sinto que está tentando provocar o
Chanceler.
— Então você terá suas garantias — Liam retruca. —
Amanhã, durante o exame, todos vocês terão a chance de
confirmar a virgindade dela e testar sua complacência. Está
satisfeito?
Sebastian sorri.
— Por enquanto. — Ele se senta em sua cadeira com
uma vibração de presunção que me deixa indignada.
Mal consigo manter o foco, pois minha cabeça gira com
raiva do homem cujo olhar da cor de uma água-marinha
ainda está tentando abrir uma brecha em minha armadura.
Uma cadeira arranha o chão e uma voz me assusta com
a atenção.
— Vamos voltar às apresentações? Eu sou o Miles, Casa
de Virgem.
Então o próximo fica de pé.
— Pax, Casa de Libra.
Um por um, os membros restantes da Irmandade se
levantam e anunciam seus nomes e signos do zodíaco,
como se eu fosse capaz de me lembrar de todos depois da
discussão que acabou de acontecer.
Como se eu pudesse me concentrar em qualquer coisa
a não ser no ódio do homem sentado seis assentos à minha
esquerda.
Determinada a fazer exatamente isso, forço meu olhar
para cada um dos homens enquanto eles se levantam,
ignorando propositalmente o leão e sua demonstração de
desprezo.
— Ford, Casa de Escorpião.
— Tatum, casa de Sagitário.
As casas de Capricórnio, Aquário e Peixes fecham a
rodada de apresentações.
Oliver.
Hugo.
Sullivan.
Doze homens lindos, vestidos das mais variadas formas,
desde o caro terno Armani ao jeans Levi’s, e nessa mesa
redonda dominada por testosterona e poder, apenas mais
uma coisa além do zodíaco os une.
Eu.
05
— HORA DE SE LEVANTAR! O sol está brilhando e está
um dia quente. — Abro os olhos e encontro Selma abrindo
as cortinas, permitindo que a luz do dia se espalhe pelo
quarto. Escondo o rosto no travesseiro macio com um
gemido.
— Não dormiu bem? — ela pergunta.
— Na verdade, não. — Isso era um eufemismo. Depois
de Liam me acompanhar até minha suíte na noite passada,
pressionando os lábios na minha testa em um breve beijo
de boa noite, me revirei por horas na cama enquanto minha
cabeça não deixava de repassar as lembranças do meu
primeiro dia na Ilha do Zodíaco.
O controle confiante de Liam.
A crueldade casual de Sebastian.
— O Chanceler Castle está esperando por você na
varanda principal em vinte minutos.
Sento na cama muito rápido, o que me deixa tonta pelo
fluxo de sangue. Selma entra no closet adjacente ao quarto,
e vejo minhas roupas penduradas nos cabides e ocupando o
espaço nas prateleiras. Ela empurra vários cabides para o
lado, aparentemente procurando por algo específico.
— Onde estão minhas damas de companhia? Elas
geralmente me ajudam a me vestir.
— O Chanceler não deseja ser incomodado hoje. Ele deu
o dia de folga para elas.
Saio da cama e franzo a testa, sem gostar da arrogância
de Liam. Selma sai do closet, segurando um robe branco
que deixa pouco para a imaginação. Esse pedaço de pano
definitivamente não veio comigo para a ilha.
— O Chanceler Castle quer que você use isso no café da
manhã. — Ela o pendura em uma poltrona cor de vinho. O
couro escuro oferece um forte contraste com a pureza do
branco.
— E se eu não quiser usar?
— Bem, a escolha é sua, mas saiba que ele não deixa
nenhuma desobediência ficar impune.
Aperto as mãos, lembrando a ardência que sumiu
durante a noite, embora o fantasma da dor ainda
permaneça.
Enquanto Selma arruma a cama, pego a lingerie e vou
para o banheiro.
Alguns minutos depois, após diversas reflexões de
encorajamento, fico em frente ao espelho de corpo inteiro e
vejo meus mamilos rosados   parcialmente cobertos pela
renda. O robe termina nos joelhos, dando uma falsa
sensação de proteção devido ao tecido fino. Por baixo, estou
usando uma calcinha fio dental. Meu cabelo comprido é a
única opção para esconder um pouco mais, então eu o
coloco sobre os ombros para cobrir os seios.
Quando volto para o quarto, depois de escovar os
dentes e fazer xixi, eu o encontro vazio como estava em
minha chegada ontem. A parede externa é formada de um
painel de janelas enormes que revelam uma vista
deslumbrante do mar e, assim como nos aposentos de
Liam, um conjunto de portas francesas se abre para uma
varanda.
Sigo até o vidro, passando os dedos na superfície
impecável, e gostaria de poder ficar dentro deste santuário
particular o dia todo, a salvo da atenção lasciva de um
homem que me faz sentir coisas vergonhosas.
Mas uma olhada no relógio me assusta. Passei mais
tempo no banheiro do que imaginava, e agora já estou dez
minutos atrasada.
Isso não é bom.
É o único pensamento que tenho enquanto corro pela
sala de estar e vou para a parte principal da cobertura. O
cheiro da comida, uma mistura de canela e salsicha, flutua
pelas portas abertas da varanda, onde eu o encontro
sentado sozinho.
— Imagino que a Selma tenha te avisado que eu te
esperava em vinte minutos.
Ele não olha para mim enquanto faz a pergunta, e a
natureza do seu tom indiferente me deixa nervosa.
Fico tentada a mentir, mas não consigo. Não com ele.
— Sinto muito. Perdi a noção do tempo no banheiro.
Ele finalmente levanta a cabeça e vejo seus olhos
castanhos, um rico tom de caramelo como a luz do sol
quente. Uma leve brisa balança meu cabelo, fazendo com
que meus mamilos intumesçam. Sua atenção se desvia para
meus seios e ele franze a testa. Empurrando a cadeira para
trás, ele pega uma colher de madeira da mesa e eu
endureço, assumindo que ele vai usá-la para me punir. Em
vez disso, ele usa o cabo fino para prender meu cabelo em
um coque bagunçado no topo da minha cabeça.
— Incline-se sobre a mesa — ele fala, apontando para a
extremidade vazia. Quando não me mexo para seguir seu
comando, ele me segura pelo cotovelo e me leva para onde
me quer, e eu o sinto atrás de mim enquanto apoio as mãos
na superfície lisa. Meus seios são esmagados contra a
madeira.
— Por que está fazendo isso?
— Tenho zero tolerância para atrasos. — Seu sapato
bate na parte interna do meu pé. — Abra as pernas.
— O que você vai fazer? — pergunto, e minha voz treme
enquanto abro mais as pernas.
— Nada do que eu gostaria. — Ele roça os dedos na
parte de trás da minha coxa e lentamente levanta o robe,
deixando minhas nádegas nuas e expostas ao ar da
primavera. — Se você fosse minha e eu pudesse te comer,
faria isso aqui nesta mesa. — Ele faz uma pausa e sinto o
calor do seu olhar em mim, espalhando arrepios pelas
minhas costas.
Estremeço, embora eu não saiba se é pela temperatura
ou pelas palavras de Liam.
— Se você fosse minha — ele fala, pressionando minhas
costas enquanto leva os lábios ao meu ouvido —, eu te
deixaria excitada o suficiente para implorar, mas não
deixaria você gozar.
Ele empurra a parte de baixo do robe para a minha
cintura, deixando minhas costas vulneráveis a todos os seus
caprichos.
Engulo em seco.
— Não vou me atrasar novamente.
— Quando digo vinte minutos, quero dizer vinte
minutos. Entendido?
— Sim.
— Como você ainda está aprendendo seus limites, desta
vez não vou usar o cinto, mas vou te dar uma palmada por
cada minuto que você se atrasou.
A ideia da sua mão na minha bunda faz meu corpo se
encher de desejo.
— Um total de dez?
— Onze, Novalee. — Ele apoia a mão na nádega direita
e a aperta. — Mas estou me perguntando se minha mão vai
te punir ou te excitar. O que vai ser, minha linda menina?
Já estou excitada, mas o inferno vai congelar antes que
eu diga isso em voz alta.
Ele levanta a mão e um segundo depois, me atinge com
um estalo forte. Eu pulo, incapaz de segurar o grito, porque
o tapa dói mais do que imaginei. Ele dá outra palmada. E
mais outra, a força aumentando a cada golpe. Mordendo o
lábio inferior, aperto a mesa, esperando encontrar forças
para passar pelo restante da surra.
Sua mão desce novamente, e não posso deixar de
gritar.
— Você está me machucando.
— Sim. Essa é a ideia por trás de um castigo físico.
— Mas foram apenas dez minutos!
— Foram onze.
Ahhhhh!
Um gemido de lamento escapa dos meus lábios. Eu
nunca soube que uma surra poderia ser tão dolorosa ou que
poderia me humilhar dessa forma. Meu rosto queima e deve
estar tão vermelho quanto minha bunda.
Ele dá a última palmada, esta é especialmente forte, e
em seguida me faz sentar com as mão na mesa.
— Agora você vai esperar onze minutos para comer. —
Ele volta para o seu lugar e leva a xícara de café aos lábios
de maneira casual.
— Por que você é tão cruel? — Ele é melhor que isso,
melhor que Sebastian e sua personalidade ácida.
Liam encontra meu olhar zangado, e acho que percebo
um pedido de desculpas lá, algo que ele não quer admitir
em voz alta.
— O que você chama de crueldade, eu chamo de
consistência. Como o primeiro nesta torre a passar um
tempo com você, é meu papel garantir que entenda seus
limites. — Ele faz uma pausa, carregada de importância. —
Não estou sendo cruel, Novalee. Estou armando você contra
aqueles que levarão a disciplina e o controle a níveis
draconianos.
O medo floresce em meu estômago. É um sentimento
que não consigo controlar. Uma doença invasiva que não
posso curar.
— Você está me assustando — eu sussurro além do nó
dolorido na minha garganta.
— Estou com medo por você.
— Por quê? — pergunto, percorrendo os eventos do dia
anterior e as apresentações no jantar. — É Sebastian? Ele é
perigoso?
— Sebastian deve ser a menor das suas preocupações,
minha linda menina.
— Então com quem eu deveria me preocupar?
— Sinceramente? Todos nós, inclusive eu. — Ele pisca, e
algo próximo a hesitação cruza seu rosto. — Farei o meu
melhor para prepará-la, mas não posso te proteger depois
que você sair da minha casa.
— Por que não? Você não é o Chanceler?
— Meu poder só vai até certo ponto. Cada homem nesta
torre terá autoridade sobre você até o dia do leilão.
— Mas não tenho direito de opinar sobre com quem vou
me casar, não é mesmo, Chanceler? — O título escapa dos
meus lábios, assim como a nota impertinente no meu tom.
Não peço desculpas por isso e nem retiro o que disse. Estou
com muita raiva da situação que me foi imposta.
Ele me agarra pelo braço e me levanta da cadeira.
— Sua bunda não está vermelha o suficiente, minha
rainha?
A ameaça faz pouco para me colocar no meu lugar.
Estou muito ocupada lembrando do calor da sua mão nas
minhas costas. Seu castigo foi doloroso, mas a lembrança
não obscurece a maneira como esse homem me faz sentir
quando coloca as mãos em mim.
— Você não me assusta, Liam Castle.
— Não posso dizer o mesmo. — Ele solta meu braço e o
calor em seus olhos se aprofunda quando ele puxa o palito
de cabelo improvisado do coque. Meus cabelos loiros caem
em cascata sobre os ombros, e ele entrelaça os dedos
neles.
— Como eu posso te assustar? — É um conceito absurdo
que esse homem forte e confiante tenha medo de mim.
— Você tem mais poder que imagina. — Sinto sua
respiração contra meus lábios de repente, rápida e
superficial. Três segundos se passam, pesados de desejo
mútuo.
Então ele me beija com um gemido. Um suspiro me
escapa quando entreabro os lábios para sua língua
insistente. Seu beijo, profundo e intenso, queima minha
alma. Gemo em sua boca, segurando seu paletó com a
ponta dos dedos enquanto o calor inflama entre as minhas
pernas.
Nunca havia sido beijada. Nunca soube o que significa
ser inflamada por um homem até Liam acender o fósforo.
Ele geme de novo, e eu retribuo seu voto de rendição.
Ele me levanta sobre a mesa em meio à porcelana
barulhenta e se acomoda entre minhas coxas. Suas mãos
estão nos meus cabelos, sua boca quente devora a base do
meu pescoço e o pau duro se encaixa no centro molhado da
minha inocência.
Não me sinto mais inocente. Estou devassa de pecado,
destruída pelo desejo. Uma pontada de acusação atinge
meu coração, porque não estou sendo honesta comigo
mesma.
O desejo poderia se transformar em algo mais.
Eu poderia amá-lo, e isso me assusta mais do que
qualquer coisa que ele pudesse fazer comigo no nível físico.
Ele puxa as taças transparentes do sutiã e seus
polegares roçam meus mamilos.
— Se toque como você fez na banheira ontem.
— Você está me dando permissão?
— Para se tocar, sim. — Ele dá um passo para trás e me
mantém cativa em seu olhar. — Não goze.
Ele empurra minha mão entre nós, pedindo que eu
deslize os dedos por baixo da barreira da calcinha fina.
Um gemido me escapa e nossos olhos travam quando
agarro seu ombro. Os dele são lindos, sensuais e profundos,
cercados por cílios grossos. A maneira como Liam me olha
faz minha respiração parar.
— Você está molhada por mim? — Sua mão cobre a
minha, adicionando pressão ao local mágico que encontrei
ontem, sozinha na banheira.
— Sim.
Nossas mãos se movem em conjunto, criando uma
excelente fricção indutora de fogo. O tipo de atrito que me
deixa sem fôlego e incapaz de parar.
— Liam. — Seu nome abre caminho através do nó em
minha garganta.
— Diga de novo — ele sussurra.
Solto um gemido com seu nome quando estou prestes a
chegar ao clímax, mas ele arranca minha mão da calcinha,
me deixando pulsando quando o sangue corre em direção à
represa.
— Por favor — eu imploro, delirante e flutuando em um
espaço estranho. Tento colocar a mão de volta ao centro de
toda a pressão e calor, mas ele não deixa. Estou respirando
com dificuldade quando ele coloca   meus dedos em sua
boca.
Ele está me provando.
Me fazendo choramingar a cada toque da sua língua.
Impulsionando desejo em cada nervo do meu corpo.
— Por favor — digo novamente, dando um suspiro
trêmulo.
— Implorar não vai te fazer conseguir o que quer.
— O que vai fazer?
— Paciência. — Sua resposta parece gelo na minha pele
corada.
— Você gosta de me torturar?
— Se isso faz você ansiar pelo meu pau, então, sim.
Gosto de torturar você. — Ele dá um passo para trás, e eu
fico de pé. — Se apresse e tome seu café da manhã. Não
podemos nos atrasar para o seu exame médico.
06
A SALA É GRANDE, mas tem uma atmosfera
claustrofóbica, composta de quatro paredes sem janelas.
Várias pinturas do mar estão exibidas nas paredes e os
armários são feitos de madeira antiga, em um tom de areia
que complementa o tema do oceano. A decoração foi
projetada para parecer um ambiente informal que pudesse
acalmar e relaxar os presentes, mas isso é impossível
diante das doze cadeiras que formam um círculo ao redor
da mesa de exames.
Liam me incentiva a entrar.
— Não temos muito tempo antes que todos cheguem. —
Paramos na frente da mesa, e ele acaricia minha bochecha.
— Queria que fosse só um exame médico, mas é muito mais
que isso. Meus irmãos vão te tocar, Novalee.
— Por favor, não deixe isso acontecer. — Não assim, na
frente dele e com a lembrança do seu beijo na minha
cabeça.
— Preciso que você coopere. As coisas serão mais
rápidas e suaves se você fizer isso. — O polegar dele se
aproxima do canto da minha boca. — Isso também vale para
os meses seguintes.
Um ano inteiro nessa situação, seguido por uma vida
inteira de servidão ao homem que irá receber minha mão
em casamento. Se for alguém como Liam, gentil e justo,
sem considerar as punições que ele estabelece, o
casamento pode não ser tão horrível.
Mas se alguém como Sebastian vencer o leilão...
Estremeço com o pensamento.
Liam dá um passo para trás e gesticula para a saia na
altura do tornozelo que escolhi usar.
— Dispa-se da cintura para baixo.
Um grande mal estar atinge meu estômago. Ficar nua
na frente dele já era bastante difícil, mas me despir para
doze pares de olhos é impensável. Tiro a saia. Atendendo ao
seu pedido, não estou usando calcinha.
Ele pega a saia e a pendura em um gancho na parede.
— Suba.
Apoio as mãos no banco e me sento sobre o couro com
as pernas para fora.
— Vocês jantam juntos todas as noites?
— Não. O jantar da noite passada foi em sua
homenagem. Faremos isso no início de cada novo mês para
você.
Outra tradição.
Mas estou feliz por não ter que enfrentar os doze
homens todos os dias.
A porta se abre atrás de mim, me deixando com medo.
Sinto um calafrio, e minha pele fica arrepiada. Liam se senta
à minha esquerda. Inclino a cabeça e pelo canto do olho,
vejo os membros da Irmandade entrando e se acomodando
nas cadeiras ao meu redor.
Quando levanto o olhar, encontro Sebastian me
encarando. Seus olhos são do tom azul escuro mais
perturbador que já vi. Ele me encara sem pudores.
Pressiono as coxas nuas uma na outra, me agarrando ao
último fio de modéstia. Porque não há como escapar do seu
olhar analítico. Minha pele cora, afugentando o frio em
meus ossos.
Em seguida, lanço um olhar para Liam, mas sua atenção
se concentra em Sebastian, e os olhos escuros parecem
fuzilá-lo, uma mistura de raiva e ciúme. Uma das cadeiras
permanece vazia. Em vez de se sentar, o médico, da casa
de Câncer, para na minha frente e fala sem preâmbulos.
— Deite-se.
Faço o que ele manda, encaixando os pés nos estribos
que ele posiciona e uma corrente de ar acaricia a parte
interna das minhas coxas, provocando um arrepio violento.
Impulsionada por pudor e instinto, pressiono os joelhos um
contra o outro.
— Joelhos separados. Não posso examiná-la de outra
forma.
Hesito por muito tempo, e ele os força, me colocando
em exibição para metade da sala. Olho para o teto
enquanto a vergonha queima minha garganta. Ninguém
nunca me olhou desse jeito, muito menos me tocou.
Nem mesmo o médico da família.
Nem Liam quando pressionou sua mão sobre a minha
durante o café da manhã.
— Teresa, venha aqui, querida — o médico chama uma
criada que está presente. Posso vê-la pela visão periférica.
— A rainha pode precisar da sua mão.
— Sim, mestre Vance.
Mantenho o olhar focado no teto enquanto passos soam
vindo para o meu lado. Uma mão quente envolve a minha e
dedos apertam os meus em apoio silencioso.
— Não vai demorar muito — Vance fala enquanto se
acomoda entre meus joelhos. No primeiro toque de seus
dedos abrindo os lábios inferiores, cerro os dentes. Teresa
dá um aperto na minha mão, sentindo meu desconforto, e
acho que nós duas prendemos a respiração enquanto o
médico empurra gentilmente um dedo dentro de mim.
Eu gostaria de ter um relógio para ver os ponteiros
marcando cada segundo excruciante, ou até mesmo um
pontinho no teto para poder me concentrar enquanto Vance
me examina. Mas não há como escapar disso. Mordo o lábio
enquanto meus pés tremem nos estribos. O homem é
médico, e sei que as mulheres passam por isso todos os
dias, mas dadas as circunstâncias, me sinto totalmente
violada.
Não pedi por isso. Sequer dei minha permissão.
— Está quase terminado — Teresa fala.
Viro a cabeça para o lado e, sem querer, encontro
Sebastian. Sua mandíbula é uma linha com a barba por
fazer em um rosto marcado por força e sensualidade. Mas
aqueles olhos azuis...
Eles queimam através de mim. Ou talvez estejam
queimando por minha causa.
Quando nossos olhares se encontram, as narinas dele
se abrem. A mandíbula pulsa. Gostaria de ter um
decodificador para esse homem silencioso cujo olhar, de
alguma forma, me diz mais do que palavras podem revelar.
Há mais nele do que desdém e raiva.
Ele. Me. Quer.
A percepção transparece entre nós, e o feitiço não é
quebrado até que Vance termine o exame.
— O hímen está totalmente intacto. — Ele empurra a
cadeira, fazendo as rodinhas rolarem pelo mármore
reluzente enquanto acena com a mão na direção de Liam.
— Chanceler, o lugar é seu.
Teresa solta minha mão e desaparece, voltando para a
porta e a ser uma telespectadora discreta.
Respiro fundo e prendo o ar enquanto Liam se instala
entre minhas coxas. Ele insere um dedo em mim, e é a
primeira vez que me toca desse jeito. Odeio que ele esteja
fazendo isso sob a atenção vigilante de onze outros
homens.
Seu rosto é esculpido em granito e sinto o controle que
ele está mantendo. Sem cerimônia, ele retira a mão e recua
antes de gesticular para Heath.
— Continue.
Heath mal me toca. Ele também não me oferece mais
do que um olhar rápido.
Landon, da Casa de Gêmeos, quebra o gelo primeiro.
— Você era uma menina anos atrás. Eu estava cético,
não vou mentir, mas você amadureceu, não é mesmo,
Novalee? — Seu tom é ameno. Acho que não é
surpreendente para um geminiano.
— Sim.
— Se importa se eu tocar em você?
— Tenho escolha?
— Você tem razão, minha rainha. Ainda assim, gostaria
da sua permissão.
— Não posso dá-la em sã consciência, mas você tem
minha cooperação duvidosa.
— Você é danadinha — ele fala, rindo. — Vou ter que
aceitar sua palavra e o testemunho de meus irmãos como
prova da sua pureza. — Ele volta a se sentar e Sebastian se
levanta, o próximo na fila já que Vance foi o primeiro a
atestar minha virgindade durante o exame.
— Você ouviu a rainha — Sebastian fala com um sorriso.
— A cooperação dela é questionável. Eu a quero presa.
Liam faz uma careta.
— Isso não será necessário.
— Eu acho que é. — Sebastian estala os dedos para
Teresa. — Pegue um par de algemas de pulso e tornozelo na
masmorra.
Lanço um olhar assustado para Liam.
— Tem uma masmorra?
Ele estremece.
— Eu esperava te poupar dessa informação.
— Por que tem uma masmorra? — A pergunta ressoa
através da sala.
— Foi construída para o prazer — Liam fala.
— Não precisa protegê-la dessa forma. — O homem de
quem me lembro apenas como Libra ri. — A masmorra é
principalmente para punição, então lembre-se disso, para
que não caia nas minhas mãos, minha rainha.
Estou prestes a ter um ataque de pânico quando Teresa
volta com um par de algemas de couro. Sebastian não
perde tempo. Ele prende meus pulsos e tornozelos nas
pernas do banco. Ele testa as correntes que me mantem
cativa, depois me circunda, do mesmo jeito que fez há anos.
— Se você é a mercadoria e eu sou um potencial
comprador, acho que é necessário um pouco de esmero. —
Ele para próximo a minha cabeça. Seu sorriso é
acompanhado da carranca profunda de Liam.
Quase posso sentir a animosidade entre eles, e percebo
que não é por minha causa. Os dois têm problemas não
resolvidos, e sou o peão entre eles.
— Abra a boca, princesa.
— O que você está fazendo? — Liam grunhe.
— Exercendo o meu direito. Se ela se tornar minha
esposa, exigirei muito empenho oral todas as manhãs.
— Garanto que as habilidades orais dela são de primeira
qualidade — Liam fala entre dentes.
— Suas garantias não significam merda nenhuma para
mim. — Sebastian passa o polegar sobre meus lábios. —
Abra.
Eu abro, e ele empurra os dedos na minha boca,
provocando ânsia de vomito.
— Vai ser um encaixe apertado para o meu pau.
Mordo seus dedos, e ele os arranca da minha boca.
— Me parece que você está superestimando seu
tamanho — digo, olhando para ele.
Alguém ri.
Sebastian não está feliz.
— Boa sorte em encontrar uma mulher que tenha essa
reclamação. — Ele caminha até o final do banco e fica entre
as minhas pernas abertas. — Sua boceta é tão apertada e
pura quanto você diz?
— Por que você não me viola e descobre? — respondo
em tom de desprezo.
Alguém ri de novo.
— Ela é esquentadinha, não é?
Não sei quem está se divertindo às minhas custas,
porque não tirei os olhos de Sebastian. Quando ele põe a
mão entre as minhas coxas, pressionando dois dedos contra
a forte resistência da minha inocência, seu olhar azul
marinho inflama.
Meu peito sobe com um arquejo, e eu mordo o lábio
quando ele pressiona o polegar no meu clitóris. De todas as
mãos que invadiram minha inocência hoje, é a dele que me
causa uma reação. Pulso ao redor do seus dedos, meu corpo
inunda com calor e implora para que seu toque seja mais
profundo.
Que ele rompa a barreira da pureza e me reivindique.
Ele esfrega meu clitóris em círculos e me sinto
horrorizada com o gemido que escapa dos meus lábios.
— Chega! — A voz de Liam ecoa pela sala.
Eu me assusto com o som, mas Sebastian não reage, a
não ser para tirar os dedos e se afastar, ficando fora de
vista.
Mas não fica longe dos pensamentos.
Ouço o som de seus passos em retirada, seguidos pelo
bater de uma porta.
Ele acabou de partir.
Sem uma palavra.
Sem pensar duas vezes.
Porque sou irrelevante para ele. Alguém com quem ele
gosta de brincar para ganhar vantagem contra seu rival.
Seu toque me deixou em chamas, mas ele não sentiu nada.
— Alguém mais precisa continuar com essa farsa? — A
voz de Liam reverbera pela sala, com um aviso possessivo
para recuarem.
— Não, Chanceler. Acho que já vimos o suficiente. —
Landon sai da sala primeiro e um por um, os outros seguem.
Solto um suspiro de alívio quando a porta se fecha atrás do
último membro da Irmandade.
Liam permanece quieto enquanto solta as amarras. Ele
me entrega a saia, e eu me visto à medida que a tensão
entre nós aumenta.
— Você está aborrecido comigo? — pergunto, desejando
poder limpar a umidade entre as minhas pernas.
Limpar as evidências e apagar a lembrança do toque de
Sebastian.
— Por que eu ficaria chateado com você?
O calor atinge meu rosto e não consigo encará-lo.
— Por causa da minha reação quando Sebastian me
tocou.
— Você não pode evitar como seu corpo responde,
Novalee.
— Mas você parece bravo.
— Estou bravo comigo mesmo. — Ele passa a mão pelos
cabelos cor de cobre, bagunçando a perfeição. — Eu não
deveria ter permitido que isso acontecesse.
— Você mesmo disse que não pode me proteger.
— Não posso proteger você dos meus irmãos, mas
posso nos proteger de um envolvimento emocional maior.
— O que você quer dizer?
— Sabe o que aconteceu hoje na varanda? — Ele faz
uma pausa e o ar fica pesado com a lembrança do nosso
beijo. — Aquilo não pode acontecer novamente.
— Você não me quer?
— Já falamos sobre isso. Minha atração por você não
entra nessa conversa, mas eu não sou o único que te quer.
— Estou ciente do número de homens que querem se
casar comigo. Isso não significa que eles me queiram.
Eles só querem uma rainha que cumpra a tradição. Uma
conquista.
— Ao menos um deles quer. — Ele me segura pelo
queixo, seu toque é sensível . — E pelo jeito que você olhou
para ele, sei que a atração é mútua.
07

DEZESSEIS DIAS.
Dezesseis dias agonizantes que, de alguma forma,
passam rápido demais. Passo a maior parte deles escondida
na cobertura, com medo de encontrar alguém que não seja
Liam. Mas não consigo escapar da ironia da situação,
porque Liam está me evitando da mesma forma que tenho
evitado Sebastian.
Mal nos vemos, exceto pelas refeições. Exatamente
como no primeiro dia, só que sem a lingerie ínfima.
E ele não me toca.
Nunca.
Mas sei que ele quer.
— Isso é fantástico — Faye declara, estudando meu
esboço de um vestido de gala. O traje tem as costas nuas
com uma saia tipo sereia e, embora seja feito em carvão,
imagino um tom azul da cor da meia-noite, como a roupa de
cama nos aposentos de Liam.
— Está bom. — Pego um lápis e começo outro esboço.
— A saia poderia ser mais ampla.
— Acho que ficou perfeita. — Faye coloca o desenho em
cima dos outros. — Elise diria a mesma coisa.
Elise está viajando pela ilha com um pretendente, e
Faye e eu estamos deitadas em duas espreguiçadeiras na
sala principal. Só porque Liam se trancou em seus
aposentos, não significa que eu tenha que fazer o mesmo.
E se eu for sincera comigo mesma, talvez esteja
esperando vê-lo desde que uma reunião na sede da
Irmandade do Zodíaco o deteve durante toda a manhã. Ele
está em seu escritório desde que voltou, fiel à distância
crescente entre nós.
— Você é muito crítica consigo mesma — Faye retruca.
— Poderia começar uma linha de roupas com isso.
É um assunto sobre o qual falamos antes. Sem dúvida,
surgirá novamente, porque Faye é leal e solidária. Atrevida
e sempre cheia de opiniões. Enquanto eu me submeto, ela
segue em frente, se recusando a deixar alguém ficar no seu
caminho.
Ela quer que eu faça a mesma coisa,  já que é uma das
minhas damas e melhor amiga de anos.
— Ela tem razão — Liam fala, sua voz profunda me
assustando. Largo o lápis e me viro para encontrá-lo em pé
sob o arco que leva à sala de jantar. Ele caminha até a mesa
e pega um desenho. — Você tem talento. Deveria
desenvolvê-lo.
— Eu poderia fazer isso, se vocês não estivessem me
passando de mão em mão.
Faye ofega.
— Novalee...
Ela não está acostumada a me ouvir desrespeitar
ninguém com autoridade. Eu também não estou.
Liam franze o cenho.
— Preciso ver você nos meus aposentos. — Sem outra
palavra, ele se vira e sai.
Eu me levanto da cadeira.
— Continuaremos depois.
— Ele vai te machucar?
— Não.
— Tem certeza? — A dúvida transparece no rosto dela.
Escondo minha própria apreensão, porque não tenho
certeza do que esperar de Liam. Moramos nesta cobertura
nas últimas duas semanas, trocando apenas conversas
breves e educadas. Mas há mais entre nós, e essa
percepção só se intensificou.
Agora que ele exige minha presença em seus
aposentos,  não sei se estou animada ou intimidada.
— Está tudo bem, Faye. Aproveite a tarde.
Saio da sala antes que ela possa se opor, mas quando
chego à porta que impede minha entrada em seu quarto,
paro.
Ele vai me castigar por causa do meu atrevimento?
Vai usar o cinto dessa vez?
Este último pensamento dá um no em meu estômago.
Não estou pronta para conhecer o lado mais severo de
Liam.
Não tenho escolha. Tem que haver algo, porque ele não
pode me beijar do jeito que fez e depois me ignorar o
restante do tempo que vou passar em sua casa. Bato na
porta com mais força que pretendia. Ele a abre, e eu entro
em seu domínio íntimo.
— Sabe jogar xadrez?
A pergunta me pega desprevenida e me viro para
encará-lo, com os olhos arregalados em descrença.
— Xadrez? Você quer dizer o jogo de tabuleiro?
Um sorriso surge em seus lábios.
— Sim.
— Achei que você havia me chamado aqui para me
punir.
— Ah, eu ainda tenho essa intenção.
— Não entendo.
— Responda à pergunta. Você joga?
— Sim. — Não muito bem, mas não digo isso. Ele já tem
vantagem suficiente sobre mim.
— Podemos? — Ele gesticula em direção à mesa, que
fica na frente das portas francesas onde um tabuleiro de
xadrez nos espera. Enquanto nos acomodamos em cadeiras
opostas, eu o observo, tentando descobrir qual é o seu
verdadeiro jogo.
Porque não pode ser só xadrez.
Como estou sentada no lado das peças brancas, faço a
primeira jogada, movendo um peão dois quadrados para
frente.
— Sua vez, Chanceler.
Ele leva um peão para a frente.
— Hoje você está desejando minha mão, não é, minha
linda menina?
O pensamento da sua palma quente na minha bunda
nua faz coisas estranhas no meu estômago.
— Não sei do que você está falando. — Movendo um
cavalo, finjo inocência.
— Você sabe exatamente do que estou falando. — Ele
segue minha liderança e seu cavalo pula sobre um dos
peões. — Está sendo impertinente comigo porque está
chateada com a distância que coloquei entre nós.
— Que intuitivo da sua parte. — Movo outro peão.
— Você se sente rejeitada.
— Isso não é verdade.
É a mais pura verdade, e me odeio por essa fraqueza.
Não esperava me sentir assim, mas sinto, e isso está
provocando o caos na minha cabeça. Avançamos vários
peões, perdendo alguns ao longo do caminho, e então mexo
a rainha, sem prestar atenção.
Quando se trata dele, não tenho estratégia.
Sua torre devora a minha rainha.
Ele se recosta no assento, com o queixo apoiado no
punho.
— Não tenha pressa.
Soltando um suspiro de frustração, considero minhas
opções. Eu poderia tomar a rainha dele em dois
movimentos, mas ele só a protegeria. Os segundos passam
enquanto estudo o tabuleiro, procurando um curso de ação
vencedor que ainda não encontrei.
A paciência dele é interminável. Ele se senta na cadeira
como se fosse o dono do mundo, além de ser meu dono
neste jogo. Quando estou prestes a mover o bispo, ele
quebra o silêncio.
— Se você vencer, vou te fazer gozar.
Sua promessa faz meu corpo inteiro formigar,
provocando excitação nas minhas veias e estimulando um
líquido quente no ápice das minhas coxas. Levanto o olhar,
surpresa com o desejo em seus olhos castanhos sensuais.
— Está tentando me distrair?
Ele dá de ombros.
— Só estou dando um incentivo.
A promessa de suas mãos em mim é motivação
suficiente... se eu achasse que tinha alguma chance de
ganhar.
Mas não tenho, e ele sabe disso.
— Você me provoca, Chanceler.
Sua boca se contorce com a falha proposital.
— Vou ganhar de você em duas rodadas.
— Como pode ter tanta certeza?
— Eu sei como jogar, Novalee.
Com certeza, ele sabe. Me trouxe até aqui só para me
provocar. Em vez de mover um bispo, movo o cavalo,
pulando dois quadrados para frente e um para a direita, e,
como prometeu, ele me coloca em xeque. Só existe um
lugar para meu rei seguir.
E depois da minha vez, o jogo acaba, porque ele me
encurralou.
— Esta é a sua ideia de punição? — Levo meu rei à
rendição inevitável. — Me ver perder?
— Ainda não cheguei ao seu castigo. — Liam desliza sua
rainha para a posição. — Xeque-mate.
Seus olhos se enredam nos meus, cheios de calor. Não
consigo respirar, dominada pelo silêncio sedutor entre nós.
— Você ganhou — digo, engolindo em seco.
— Sim. — Ele se levanta, e estende a mão. O anseio é
nítido em seu rosto.
Apoio a na sua, sentindo meu corpo formigar em
antecipação. Estou nervosa e assustada ao mesmo tempo.
Hoje, ele não está tão arrumado, o cabelo está bagunçado,
as abotoaduras foram removidas e as mangas estão
enroladas até o cotovelo. Ele me leva até os três degraus da
cama e ordena que eu me curve contra ela. Enquanto tiro o
edredom, estou ciente de que é onde ele dorme.
Sozinho.
Provavelmente nu.
Ele se dá prazer entre esses lençóis?
Pensa em mim quando faz isso?
— Abra as pernas.
Com os batimentos cardíacos acelerados, separo as
coxas. Ele levanta a parte de trás da minha saia, e eu o
ouço respirar fundo.
Porque não estou usando calcinha.
— Cacete, Novalee.
Quero que ele me toque. De verdade. De forma
obsessiva. Só penso nisso nos últimos dezesseis dias
enquanto ele se afastava de mim.
Protegendo a nós dois, segundo ele.
— Por favor — sussurro, arqueando a coluna.
Ele estende a mão onde minhas nádegas se encontram
e as pontas dos dedos chegam perto de onde os quero.
Muito perto.
Mas ele não se mexe. Sua mão quente e pesada
permanece no meu traseiro, apenas uma provocação. Uma
promessa. Meu batimento cardíaco pulsa em meus ouvidos,
aumentando uma... duas... três vezes.
Então ele dá um tapa na minha bunda.
Não há grito ou choro de dor. Apenas um gemido de
necessidade quando a palma da sua mão se conecta com a
minha pele novamente, de forma suave e deliberada
enquanto aqueles dedos estão muito perto daquela parte
que dói por ele.
Estou pegando fogo e virando cinzas para esse homem.
— Por favor — digo novamente enquanto meus
membros tremem.
— Por que você está implorando?
Por tudo.
Não consigo verbalizar o que quero, pois estou incapaz
de formar as palavras. Elas são um apelo estranho na minha
língua.
Quero gozar.
Ele me bate de novo, e os dedos roçam a umidade entre
as minhas pernas.
Liam sabe o que eu quero e está brincando comigo.
Eu preciso gozar.
Está se formando dentro de mim, tão forte quanto um
tsunami. Tão intenso quanto o próprio mar.
— É isso que você quer, minha linda menina? — Seus
dedos se curvam, deslizando através da minha excitação, e
ele os mantém lá enquanto eu me contorço.
— Mais — eu gemo.
Seu polegar empurra pressiona meu ânus, adicionando
força suficiente para me fazer ficar quieta. Ele está me
segurando, se recusando a me dar mais. Seu torso cobre
minhas costas, e ele me puxa pelos cabelos.
— Como você esquece rápido. Você perdeu o jogo.
— Por favor — imploro, incapaz de respirar fundo.
Não do jeito que meu coração está acelerado.
Não enquanto seus dedos estão no meu clitóris. Uma
provocação implacável.
Digo seu nome em um suspiro, e ele estremece com a
respiração quente e a voz rouca no meu pescoço.
— Você não sabe o nível de controle que estou
precisando invocar agora. — Lentamente, seu polegar
invade meu traseiro, queimando... queimando...
Choramingo de novo, desta vez de dor.
— Você é mais sexy do que qualquer mulher com quem
já estive. Totalmente inocente e muito sensível. Já conheço
a sensação de estar dentro da sua boca, Novalee. — Seu
polegar avança mais um centímetro, e eu grito de agonia. —
Meu pau está morrendo de vontade de saber como é isso
aqui também.
— Pare!
Ele se afasta no mesmo instante. Por vários momentos,
fico apoiada na cama, com o peito arfando, aterrorizada
com o que ele sugeriu enquanto seu polegar violava meu
traseiro. Passos ecoam pelo quarto. Uma cadeira arranha o
chão. Me levanto do colchão e o encaro.
— Alguns dos meus irmãos não vão parar. — Seu olhar
fica sombrio, acompanhado por um vinco de raiva entre as
sobrancelhas. — Eles vão penetrar o seu traseiro, e não há
nada que eu possa fazer para detê-los, Novalee.
Sua declaração me abala profundamente. É dita com
uma verdade dura e uma pitada de frustração impotente, e
eu quase desmorono.
— Não quero te deixar.
Abandonando sua cadeira e diminuindo a distância
entre nós, ele emoldura meu rosto com as mãos quentes.
— Mas você precisa. Nosso tempo juntos está
diminuindo rapidamente. Preciso que você se comporte. O
Heath não vai tolerar sua atitude.
— Vou tentar.
— Você fará mais do que tentar. — Sua voz engrossa,
com o aviso. — Porque da próxima vez que você falar
comigo com tanto desrespeito, não vou te deixar com a
boceta pulsando. Vou deixar marcas na sua bunda. Está
claro?
Meus olhos se enchem de lágrimas, e eu pisco para
contê-las.
— S-sim.
— Pode voltar para seus aposentos. Você deve ficar lá
até o jantar.
08
A AMEAÇA DE LIAM fica na minha cabeça em um looping
estressante. Suas palavras duras atingiram meu coração,
provocando uma melancolia inevitável que só é exacerbada
pela chuva. Tento escapar da minha realidade iminente,
visitando as butiques na parte principal da ilha com minhas
damas de companhia.
O problema da realidade é que ela raramente pode ser
evitada.
Assim como a chuva, que cai torrencialmente. A
precipitação implacável tem sido um incômodo constante
há dias. Voltamos à torre encharcadas e cheias de compras.
O guarda-costas que Liam insistiu que deveria nos
acompanhar — um homem inexpressivo, com braços
musculosos e um pescoço grosso — abre a porta da entrada
principal, e nós entramos, espalhando água por toda parte.
— Hoje não foi o melhor dia para um passeio — Faye
diz, soltando as bolsas que estão em suas mãos.
— É um dia tão bom quanto qualquer outro. — Elise
coloca o resto das compras no chão. — Jerome disse que
aqui chove por pelo menos duzentos e cinquenta dias do
ano.
Jerome é o empresário rico que tem cortejado Elise nas
últimas semanas.
Faye revira os olhos.
— Jerome isso, Jerome aquilo.
Elise faz uma careta para ela.
— Você não precisa ser má comigo por isso.
— Me desculpe — Faye pede, envergonhada. — Vou
tentar me controlar.
Selma aparece.
— O Chanceler gostaria de vê-la na biblioteca — ela me
diz enquanto nos entrega toalhas.
— Sabe por que ele pediu para me ver?
— Não é um pedido. E não sei qual é o motivo.
Seco o cabelo, apalpando a combinação de fios soltos e
tranças, e um formigamento de excitação me atinge. Desde
o jogo de xadrez, as coisas ficaram repletas de inegável
tensão sexual. Ele não havia me procurado.
Até agora.
Me afasto das minhas damas de companhia e sigo pelo
longo corredor. O vestido gruda na minha pele molhada,
mas abandono a ideia de ir à cobertura para me trocar
primeiro, ansiosa demais para ver Liam. Ao passar pelos
retratos dos ancestrais da Irmandade, a pintura de
Evangeline Castle chama minha atenção. Como deveria ser
estar em sua posição, prisioneira e à disposição de doze
homens? Ela se apaixonou por algum deles?
Um?
Dois?
Três ou mais?
Não posso me imaginar apaixonada por dois homens,
mas não posso negar que estou atraída por Liam e
Sebastian.
A atração por Sebastian não faz sentido.
Viro em outro corredor e é aí que percebo que fiz o
caminho errado. Como se meus pensamentos conjurassem
sua presença, o timbre áspero de Sebastian soa no corredor,
vindo de uma porta entreaberta à esquerda.
— Lindo demais, Mona.
Uma voz feminina murmura palavras incompreensíveis
em resposta, e eu diminuo os passos, atenta para o que
está além daquela porta. Todos os ossos do meu corpo me
pedem para continuar, para não olhar para aquela sala e o
encará-lo. Para não dar a ele outra oportunidade de ser
cruel comigo.
Parece que gosto de punição. Prendendo a respiração,
espio pela fresta da porta, e a visão depravada diante dos
meus olhos rouba o ar dos meus pulmões. Expiro com força
e em silêncio.
Uma mulher está se exibindo em um salão, com os
cabelos de um profundo tom de vinho espalhadas sobre
seios nus e salientes. Mas é a pose que me deixa em transe.
Suas pernas estão dobradas e abertas. Sua feminilidade
depilada está em exibição orgulhosa. Ela não tem vergonha
ou pudor, e algo em sua confiança me chama atenção.
Sebastian está de costas para mim enquanto transfere a
imagem para a tela, e não posso deixar de observar a
amplitude dos seus ombros ou a maneira como seus
cabelos loiros escuros estão despenteados.
Ele é o oposto de Liam.
Descarado, enquanto o Chanceler é reservado.
Despreocupado em vez de controlado.
Sua imagem é sexy em comparação com o estilo mais
clássico de Liam.
O jeans baixo rouba minha atenção quando o pincel
atinge a tela com traços confiantes. O homem pinta tão
bem quanto preenche uma calça jeans.
— Bash — a mulher fala e quando volto minha atenção
para ela, encontro seus profundos olhos castanhos em mim.
Ela aponta na minha direção, e Sebastian se vira antes que
eu possa sair pelo corredor.
No instante em que seus olhos azuis encontram os
meus, fico paralisada, pega em flagrante e com as
bochechas quentes de vergonha. Uma vida inteira parece
passar enquanto nos olhamos. Meu pulso acelera. Ele ergue
as sobrancelhas. Passo a ponta da língua pelos lábios e
quando sua atenção se concentra ali, não posso deixar de
mordiscá-lo.
Ele franze a testa, solta o pincel, e é aí que me coloco
em movimento, correndo pelo corredor o mais rápido que
posso.
No entanto, ouço passos atrás de mim, acompanhados
por uma respiração profunda e dura. Uma mão grande e
quente aperta meu braço e me puxa para parar. Me viro
lentamente, sentindo cada batida tortuosa do meu coração
soar nos ouvidos quando encaro a acusação em seu olhar.
— Conseguiu ver bem?
— Eu-eu não quis...
— Não quis me espionar? — ele interrompe, invadindo
meu espaço pessoal. Ele não é tão alto quanto Liam, mas
sua presença é arrogante o suficiente. Enquanto tento me
afastar, seus dedos apertam meu braço, tornando a fuga
impossível.
— Eu não estava espionando.
— Liam sabe que você está aqui embaixo?
— Sim. — Embora eu tenha certeza de que o Chanceler
não ficaria feliz em nos encontrar assim, com a mão dele
segurando meu braço enquanto meu peito se agita contra o
seu.
O sulco entre as sobrancelhas de Sebastian se
aprofunda.
— Estou surpreso que ele tenha deixado sua pequena
companheira andar por aí.
— Ele solicitou minha presença na biblioteca.
— Esta ala está fora dos limites para você. É reservada
para o meu estúdio.
— Sinto muito. Eu não sabia.
— Bem, agora você sabe.
— Isso não vai acontecer novamente.
— Se certifique de que não aconteça. — Ele solta meu
braço e sinto falta do calor do seu toque, o que é uma
loucura, porque ele só me trata com desdém toda vez que
nos encontramos.
Mas não posso negar que estou acesa com a
intensidade em seu olhar, a seriedade em sua expressão e a
maneira como ele está apertando aquelas mãos grandes. Eu
as imagino segurando minhas coxas e coro ainda mais.
O que há de errado comigo?
Não é como se eu tivesse o costume de ficar tão sem
jeito na companhia de um homem.
Mas talvez esse seja o problema: Sebastian não é um
homem comum parado na minha frente. Ele é cem por
cento alfa e pode reivindicar legalmente minha vida.
Ele é o tipo de homem que pinta mulheres nuas por
diversão.
E em quatro meses, ele terá domínio total sobre o meu
corpo.
Um arrepio me percorre, carregado de excitação com o
pensamento intrusivo. Como se sentisse minha reação à sua
proximidade, ele dá um passo à frente novamente,
ocupando meu espaço pessoal. Centímetro por centímetro,
ele me empurra contra a parede. Minha coluna bate na
pedra fria, e eu suspiro quando algo duro pressiona minha
coxa.
Sebastian está ostentando uma ereção e, embora
estivesse pintando uma atraente mulher nua cinco minutos
atrás, estou certa de que o desejo dele é por mim.
— Você pode ser útil, já que interrompeu minha sessão
— ele fala com um murmúrio sexy enquanto enfia as mãos
em minhas mechas loiras.
— O que você quer dizer?
— Me dê um pouco de inspiração. — Seu corpo duro
empurra o meu, tentando minhas curvas suaves a se
moldarem contra o contorno dos seus músculos e as curvas
do abdômen.
Olho para os seus lábios.
— Não vou tirar a roupa para você.
— Você poderia se cobrir com o cabelo. Ele é incrível.
O elogio é inesperado, e eu gaguejo um agradecimento.
— Quis te pintar desde o primeiro momento em que a
vi.
Pisco e naquele milésimo de segundo, me imagino em
exibição na frente dele como a mulher que ele deixou na
outra sala. Sem roupas, com as pernas abertas ao seu olhar
enquanto ele captura como me vê na tela, com pinceladas
ousadas e seguras.
Sem cadeira de exames ou hostilidade.
Sem nenhum outro homem.
Mas ele me veria como menina ou mulher? Algo me diz
que seria como a última opção.
— Está pensando sobre isso, não é? Você abriria as
pernas e me deixaria pintar sua boceta, princesa? — Seus
olhos brilham com curiosidade divertida, mas a vulgaridade
de suas palavras desperta o oposto em mim.
— Me solte — exijo, empurrando seu peito.
A diversão desaparece da sua expressão, e ele se afasta
de mim em um segundo.
Como se eu o queimasse.
— Me perdoe — ele fala. — Por um momento, pensei
que seus seios totalmente formados significavam que você
havia crescido, que não era mais a rainha criança que
conheci há seis anos.
A indignação toma conta de mim. A última coisa que
quero é que ele me veja como criança.
— Tenho dezoito anos agora.
— Como eu disse. Uma criança.
Resisto ao desejo de bater os pés e discutir com ele,
pois tenho certeza de que esse tipo de comportamento só
comprovará sua percepção.
— Você é insuportável. Por que tem que ser tão idiota?
Com um suspiro, ele dá outro passo para longe de mim.
— Está no meu dna, princesa. Você é inocente demais
para ver a verdade.
— Devo lembrá-lo de que sou uma rainha.
Seus lábios se contraem com mais divertimento.
— Não é necessário qualquer lembrete. Tenho pressão
demais da minha família para garantir um casamento com
você.
— Você não parece feliz com isso.
— Eu já aceitei.
— Não sou o que você esperava?
Seu olhar viaja ao longo do meu corpo, me aquecendo
novamente.
— Não, minha rainha. Eu esperava uma menina
recatada e adequada, menos atraente que uma freira. Mas
você é a inocência envolvida no corpo de uma estrela pornô.
Cerro os dentes. Me deixar levar por sua provocação só
aumentará a tensão entre nós, porque Sebastian é fogo e
paixão concentrados em um homem incrivelmente lindo e
instável. Um movimento chama minha atenção, e um olhar
por cima do seu ombro revela a linda modelo parada na
porta do estúdio, com o corpo envolto em um lençol de
cetim preto.
— Você vai voltar, Sebastian?
A essência dela é pecaminosa por si só, e nunca invejei
outra mulher até agora. A atenção dela se desvia e quando
sigo a direção de seu olhar, encontro Liam parado nas
sombras do corredor, com braços cruzados e boca curvada
em sinal de desagrado.
09
O JANTAR É INSUPORTÁVEL. Tenso e silencioso. Apenas o
som dos talheres na porcelana quebra o silêncio. Ele disse
que não está chateado comigo.
Sebastian é o alvo de sua raiva.
Mas, no fundo, não acredito.
— Por que você queria me ver na biblioteca hoje?
Pela primeira vez desde que nos sentamos à mesa, os
olhos de Liam encontram os meus.
— Heath precisa tirar suas medidas para a coroa.
Eu pisco.
— Que coroa?
— É o presente de Heath para você. Haverá uma
coroação após o leilão.
Suas palavras são um lembrete duro e doloroso de que
meus dias com ele estão contados.
— Remarquei a reunião. Ele virá à cobertura amanhã. —
Ele me lança um olhar significativo. — Você deve se
comportar de forma adequada.
— Tudo bem. — Volto a empurrar o canelone pelo prato.
Os segundos que se seguem corroem minha
compostura e bato o salto do sapato no chão. A comida não
tem sabor quando desliza pela minha garganta.
— Não suporto o pensamento deles tocarem em você.
Assustada com a confissão, olho para ele.
— Eu também não.
Com exceção de um.
A tensão na mandíbula de Liam me diz que ele também
sabe disso.
— Você se sente atraída por ele. — Não é uma pergunta,
mas um fato que exibe o ciúmes em seu rosto.
— Prefiro estar aqui com você a qualquer outra pessoa.
— Só diz isso porque meus irmãos são um território
desconhecido. Você tem medo do que não conhece.
Provavelmente é verdade, mas não há como negar
minha atração por Liam, ou a conexão que sinto quando
estou com ele. Está lá desde o começo.
Ainda mais silêncio paira entre nós.
Pesado com as palavras ditas.
E com as coisas que não dissemos.
— Amanhã é o meu aniversário. — O anúncio rompe a
tensão crescente, oferecendo uma mudança de assunto
bem-vinda.
— Quantos anos?
— Vinte e quatro.
— Tem planos para comemorar?
— Todos eles envolvem você e muitas coisas que não
devemos fazer.
— Por que não devemos? — pergunto, mal conseguindo
respirar.
— Eu não sou um homem paciente, Novalee. Você sairá
de minha casa em alguns dias, e não poderei te tocar pelos
próximos onze meses.
— Mas você é o Chanceler.
— Sim, minha palavra detém a maior autoridade em
decisões políticas e de negócios, mas o contrato da
Irmandade a seu respeito está fora desse escopo. Minha
única vantagem é ter você primeiro.
Mordo o lábio, com medo de expressar minha próxima
pergunta.
— O que acontece se você... me tocar... quando eu
estiver sob a autoridade de outra pessoa?
— Tocar em você sem permissão? — Ele passa os dedos
pelos cabelos. — Punição física, na melhor das hipóteses.
— E na pior?
— Meu direito de participar do leilão pode ser revogado.
Meus pensamentos se voltam para o momento em que
Sebastian me colocou contra a parede.
— É por isso que você está furioso com Sebastian?
Porque ele me tocou?
— Ele passou dos limites, mas não se envolveu em um
ato sexual com você. — Ele faz uma pausa, batendo os
dedos na mesa com irritação. — Esse sou eu mostrando
minha propensão ao ciúme.
Gosto que ele esteja se sentindo assim. É uma coisa
vergonhosa de admitir, até para mim mesma.
— O que constitui um ato sexual?
— Caramba — ele murmura, soltando um suspiro. —
Tocar seus seios ou outras áreas íntimas, beijar, usar você
para ter prazer... — Ele olha para o teto como se estivesse
implorando por coragem. — E sexo.
— Liam. — A suavidade do seu nome nos meus lábios
traz seu foco de volta para mim, e sinto meu rosto ficar
vermelho de calor. — Quero essas coisas com você.
É uma confissão descarada, algo que não acredito que
coloquei em palavras.
— Se eu te tocar, se eu realmente te tocar, não sei
como vou manter minhas mãos afastadas até o leilão.
O jantar é esquecido na mesa, frio e sem gosto. A única
coisa que quero provar é ele. Me lembro do seu pau na
minha boca, e o desejo resultante é tão intenso que aperto
as coxas.
— O que está passando pela sua cabeça? — ele
pergunta como se sentisse a direção dos meus
pensamentos.
— Naquele primeiro dia na biblioteca, quando eu estava
de joelhos... — Faço uma pausa, hesitante em continuar. —
Estava pensando em como queria fazer isso de novo.
Murmurando um xingamento, ele se levanta.
— Você não consegue evitar de me provocar. — Ele
pega nossos pratos e se dirige para a cozinha, onde Selma
espera, fora do alcance da nossa voz para nos dar
privacidade. — Tenho trabalho a terminar antes de dormir.
Você deveria dormir um pouco também.
Essa é a última vez que o vejo pelo resto da noite. Tomo
um banho com o mais recente romance de fantasia que
estou lendo, mas nem a leitura sobre dragões e maldições
distrai minha cabeça de Liam Castle.
Estou tentada a deslizar a mão entre as pernas para
encontrar alívio, mas não o faço.
Porque ele me proibiu.
E quero que essa primeira vez seja com ele.
Quero que ele faça para que não seja com os outros.
Também quero que ele vença o leilão para que os outros
não tenham chance de tirar minha virgindade.
Não é fácil dormir. Me mexo e me viro por horas,
atormentada por imagens de doze pares de mãos me
tocando, me punindo, me usando para seu prazer.
A realidade é assustadora e as imagens na minha
cabeça são impossíveis de esquecer. Tenho certeza de que
ficarei acordada a noite toda, pensando em dever e
destino...
Até que algo na cama se mexe, e percebo que cochilei.
No começo, acho que estou presa naquele local estranho
entre sono profundo e parcialmente alerta. O tipo de sono
em que parece que alguém está sentado na cama. É uma
sensação esquisita, pois sei que estou sozinha.
A não ser que... eu não esteja sozinha.
Com um arquejo, sento na cama, e uma mão firme me
coloca deitada no colchão novamente.
— Sabe que horas são? — A voz de Liam paira apenas
alguns centímetros na escuridão, seu tom repleto do toque
lascivo de desejo.
Engulo em seco, pega de surpresa.
— Já é madrugada?
— Já passa da meia-noite.
Suas palavras são baixas, mais lentas que o normal e
sem inibição. Se eu não pudesse perceber por seus gestos,
o cheiro do uísque no ar já seria suficiente.
— Você está bêbado?
— Nunca bebo demais. Estou comemorando.
— Comemorando o quê?
— Meu aniversário.
Olho para a mesa de cabeceira e para o brilho verde dos
números no relógio que está lá. Já passou mesmo da meia
noite.
Observo o contorno do seu rosto no meu quarto escuro.
— Feliz aniversário, Chanceler.
O colchão se mexe novamente quando ele se senta e,
em seguida, ele leva as mãos ao meu peito e os dedos
roçam minhas costelas enquanto ele rasga a camisa do
pijama do peito ao umbigo. Os botões voam pelo ar. Ele me
levanta por tempo suficiente para tirar a blusa arruinada, e
meus mamilos endurecem como se estivesse esperando o
calor do seu olhar.
O calor da sua boca.
O toque dos seus dedos.
Suas mãos flutuam sobre os bicos sensíveis, e não
posso deixar de me arquear contra suas mãos quentes.
— Você se tocou sem a minha permissão, Novalee?
Balanço a cabeça, gemendo algo próximo de um não,
com o corpo implorando por mais. Implorando pelo que ele
se recusou a me dar.
— Se eu fizer você gozar, quero algo seu em troca.
Considere isso um pedido de aniversário.
— Qualquer coisa.
— Depois que você sair da minha casa e pelos próximos
onze meses, quero sua palavra de que você não vai se tocar
quando estiver sozinha.
— E se me ordenarem isso?
— Isso é algo fora do seu controle. Mas o que você faz
quando está sozinha... — Ele se apoia em mim, abaixa a
cabeça e a boca roça na minha orelha. — Isso é com você, e
quero que me prometa que seus dedos não entrarão em
contato com sua linda boceta.
— Você vai me fazer gozar?
— Durante a noite toda, minha linda garota.
Estremeço em seus braços.
— E se eu estiver pensando em você quando me tocar?
— Essas palavras são provocadoras. — Ele geme, e
então sua boca cobre a minha. O peso do seu corpo nos
pressiona contra o colchão enquanto ele captura minha
boca. Enfio os dedos em seus cabelos grossos, puxando os
fios enquanto envolvo as pernas em sua cintura. A posição
nos une de maneira explosiva, sua dureza contra a minha
suavidade.
Se afastando com um gemido doloroso, ele se arrasta
até o final da cama e agarra meus tornozelos. A próxima
coisa que sei é que estou deslizando no colchão. Ele me
levanta por cima do ombro e me carrega para seu quarto. A
porta mal faz barulho quando se fecha, nos levando ano
único lugar que não tenho permissão para ir.
O lugar onde ele dorme.
O lugar onde ele jurou que não me possuiria até depois
de nos casarmos.
Ele empurra a calça do pijama pelas pernas e tira o
resto das roupas. Fico paralisada, olhando seu glorioso
corpo nu. Guiada pelo luar, eu o toco dos braços definidos
às coxas musculosas.
E tudo no meio.
Nossas respirações estão ofegantes, e eu umedeço os
lábios com a ponta da língua. Suas narinas se alargam e um
grunhido baixo escapa da sua garganta. Ele está no seu
estado mais primordial, cru e animalesco, lutando para se
controlar.
— Se não fosse o contrato — ele fala, os punhos
cerrados ao lado do corpo —, eu faria você sangrar por mim.
Só por mim, Novalee.
Mas existe um contrato, e nós dois temos o dever de
respeitá-lo.
Liam se aproxima mais, diminuindo a distância entre
nós e o cheiro do seu perfume atinge meu nariz. Sua
respiração ofegante enche meus ouvidos. Giro o pescoço
para encontrar seus olhos.
— Sou sua... como você me quiser.
— Quero você nua.
Ele emite a ordem com paciência e calma, mas sinto a
sua urgência enquanto tiro a última peça roupa. É a mesma
necessidade desesperada que corre pelas minhas veias,
aquecendo meu sangue ao ponto de ebulição. Assim que
estamos sem roupas ou vergonha, sem reservas e sem
qualquer dúvida, eu fico de joelhos e o levo à boca. Não
penso nisso. Nem questiono.
Tudo o que sei é que desejo prová-lo novamente.
Seus dedos se entrelaçam em meu cabelo e, em vez de
me puxar para mais perto, ele me puxa para longe.
— Ainda não.
— Por quê?
— Quero ver você gozar primeiro. — Ele me puxa para
seus braços e me carrega até sua cama. — Você confia em
mim?
Minha resposta é imediata.
— Sim.
Ele me coloca na beirada da cama, e eu coloco as mãos
para trás, meu foco preso a cada movimento dele. De pé
entre as minhas coxas, ele envolve a mão em seu pau. A
sua imagem, uma silhueta dentro da noite, evoca a
semelhança de Adônis, o deus da beleza e do desejo.
Porque ele detém tanto beleza quanto sedução à
medida que esfrega a cabeça do pau entre minha vagina,
espalhando minha umidade.
O seu troféu.
— Liam — gemo, sentindo minha força se esvair,
tremendo e incapaz de me apoiar em meus braços. Caio no
colchão e agarro a roupa de cama. Minha pele fica quente.
Muito quente.
Estou prestes a entrar em combustão.
— O que você está fazendo comigo?
— Estou mantendo seu corpo puro. Sua cabeça e seu
coração são outra questão.
Com uma mão, ele se apoia sobre mim e aproxima a
boca da minha. O atrito glorioso entre nós se intensifica.
Suor e volúpia encharcam minha pele, e mal consigo formar
um pensamento. Tudo o que posso fazer é gemer seu nome
contra seus lábios várias vezes enquanto seu pau me leva à
loucura.
— Liam! — Seguro o cobertor e a parte superior do meu
corpo se ergue do colchão. Tudo abaixo da cintura é
propriedade dele.
— É isso aí — ele geme. — Goze no meu pau. Vamos lá,
minha linda garota.
Ele não para até que a última onda intensa me liberta.
Estou flutuando em uma nuvem etérea de prazer quando
ele me puxa pelos braços.
— Agora — ele diz com um aceno para baixo.
Destruída demais para ficar de pé, vou para o chão. Fico
de joelhos, e ele se empurra em minha boca, que está em
espera. O gosto de nós é um prazer proibido na minha
língua. Estou delirando quando ele se esforça para gozar,
esmagando a parte de trás da minha cabeça na lateral do
colchão. Apoio as mãos em suas coxas, enfiando as unhas
em sua pele.
Porque estou presa, prensada entre o colchão e a
necessidade furiosa de enfiar o pau dele na minha garganta.
— Droga — ele ofega, seguido por outra série de
palavrões que saem de seus lábios. Um arrepio atinge seus
músculos e as coxas ficam tensas sob minhas mãos.
Então ele se rende. O aperto no meu cabelo é uma
queimação dolorosa enquanto ele atira seu sêmen na minha
garganta.
E nunca pensei que testemunharia o dia em que Liam
Castle gemeria meu nome.
10
CORPOS NUS. Lençóis de cetim. Sinto satisfação quando
abro os olhos e encontro o olhar de Liam em mim. Me
estico, deslizando a perna entre as suas.
— Que horas são?
— Quase hora do almoço.
Não estou surpresa, já que ficamos acordados até de
manhã, descobrindo um ao outro. Agora sei que morder o
lóbulo da sua orelha o deixa duro. Passar a mão pelo
abdômen até o umbigo o faz ofegar. Arrastar um dedo ao
longo do comprimento do seu pênis faz com que ele se
contraia.
Colocá-lo na minha boca o faz perder a cabeça.
Eu o fiz perder a cabeça mais de uma vez.
Ele descobriu coisas sobre mim também. Coisas que
nem eu não sabia. Como quando ele acariciou minha aréola,
e senti cócegas em vez de me excitar. Ou como a
antecipação me fazia estremecer quando ele passava a
língua sobre a minha coxa. O quanto seu cabelo era suave e
sedoso enquanto eu o segurava entre minhas pernas.
Como eu pulsei em sua língua pelo que pareceu uma
eternidade.
Foi uma noite mágica, que eu gostaria que nunca
tivesse terminado, porque o tique-taque fraco do relógio é
um lembrete constante de que o tempo não diminui seu
ritmo para nada.
Me virando de costas, Liam me pressiona no colchão.
— Como vou deixar você ir?
— É só não deixar.
— Você sabe que não tenho escolha.
— Vou conseguir te ver depois que eu for embora? —
Acaricio a curva de seu ombro.
— Vou garantir que sim. — Uma sombra deixa suas
feições sombrias. — Mas não vamos poder nos tocar.
Definitivamente, não podemos fazer isso.
Ele pressiona seus lábios quentes nos meus, a língua
procurando entrada, e eu suspiro em seu beijo.
Como vou ficar onze meses sem ele? Parece uma
eternidade.
Liam interrompe o beijo, e eu faço a pergunta que mais
dói em meu coração.
— E se você não ganhar?
Não consigo pensar nos possíveis resultados. Em
nenhum dos doze.
Como pode ser alguém além dele?
— Não quero que você se preocupe com isso agora. —
Ele me segura pelo queixo. — Muita coisa pode acontecer
nesse período. Você pode se apaixonar por alguém que não
seja eu.
Um olhar azul desdenhoso invade minha cabeça,
indesejado e impertinente.
— É você quem eu quero.
— Você se sente confortável comigo. Mas não teve a
chance de conhecer meus irmãos.
Semicerro os olhos.
— Está repensando sobre vencer o leilão?
— Não. — Seu polegar toca meu lábio inferior. — Mas se
eu não for quem você quer quando o leilão chegar, não vou
competir para vencer.
— Não vale a pena lutar por mim?
— Vale, minha linda menina. — Ele se afasta e se senta
na beira da cama. — Mas sua felicidade vale mais para mim
do que vencer.
Eu me sento, puxando o lençol para cobrir os meus
seios, subitamente insegura e tímida. Ele não tirou minha
virgindade ontem à noite, mas não fazia diferença, pois
havia roubado um pedaço da minha alma que nunca vou
recuperar.
— Quero que seja você, Liam.
— Se você ainda se sentir assim daqui a onze meses,
farei tudo ao meu alcance para garantir que serei eu. — Ele
se levanta e dá um passo à frente, se mantendo de costas
para mim. — Preciso tomar banho e me vestir. Você deveria
fazer o mesmo. Heath estará aqui em uma hora.
Ele desaparece no banheiro e fecha a porta, e é como
se uma parede surgisse entre nós novamente.
11
VESTIDA COM UMA SAIA preta de chiffon e uma blusa
sem mangas, fico sentada na sala de estar principal.
Superficialmente, estou preparada para enfrentar o dia, com
a maquiagem impecável e os cabelos macios. Qualquer
pessoa que lançasse um olhar em minha direção, pensaria
que eu estava pronta para esta reunião com o homem que
reinará sobre mim nas próximas semanas.
Mas não estou.
— Pare de se remexer, linda menina. — Liam
gentilmente me repreende.
Só então percebo o movimento rítmico do meu pé,
cruzando um sobre o outro. Paro com o movimento nervoso
assim que Selma aparece na porta.
— Chanceler, o sr. Bordeaux está aqui para vê-lo.
Liam assente.
— Mande-o entrar.
Ela sai de vista e o homem que me lembro do jantar e
do exame médico toma seu lugar. Ele é mais alto que
Sebastian, e alguns centímetros mais baixo que Liam. Seu
terno preto caro, meticulosamente passado, não tem vincos
visíveis. Há uma seriedade inegável sobre ele, e uma frieza
que me faz tremer.
Seus olhos castanhos se concentram em mim.
— Minha rainha.
Inclino a cabeça.
— Não tenho certeza de como devo me referir a você.
— Sr. Bordeaux servirá. — Ele entra na sala e se senta
ao meu lado.
Liam não se mexe nem um centímetro. Ele está tão
inexpressivo quanto o homem ao meu lado.
— Acredito que o Chanceler tenha te informado o
motivo por trás dessa visita.
— Sim.
— Sim, Sr. Bordeaux — ele corrige, franzindo a boca. —
E espero que me receba de joelhos quando me
cumprimentar no futuro. — Ele lança um olhar irritado para
Liam. — Na verdade, ela deveria estar nessa posição agora.
As palavras dele me deixam arrepiada e antes que eu
tente responder, Liam o interrompe.
— Você não tem esse tipo de autoridade nesta casa.
— Em breve, minha rainha. — Heath pega uma fita
métrica do bolso. — Preciso tirar suas medições.
Ele gesticula para o topo da minha cabeça, e eu
permaneço imóvel enquanto ele passa a fita ao redor do
meu crânio.
Mas estou tremendo internamente e tentando me
segurar. Dentro de alguns dias, Liam não estará por perto
para me proteger desse homem.
— Minha rainha tem algum pedido com relação ao
design? — ele pergunta enquanto marca as medidas em um
portfólio preto.
— Sua rainha não tem. — Não posso evitar, o tom
sarcástico soa na minha voz antes que eu possa me
impedir, e sinto o suspiro de Liam em vez de ouvi-lo. O
arquear descontente das sobrancelhas escuras de Heath me
deixa com medo e corro para aliviar meu tom. — Mas
obrigada por me dar essa opção.
Ele fecha o portfólio com um estalo decisivo.
— Chanceler, acredito que você foi negligente ao lidar
com a senhorita Van Buren.
Liam não sai de sua posição. Sentado à minha direita
com o queixo na mão, ele nos observa de uma forma que
encobre qualquer indício do que está pensando.
— Lidei muito bem com ela.
— A atitude dela é inaceitável.
— Temos opiniões diferentes sobre o que é aceitável.
Heath se levanta, franzindo o cenho.
— Ela precisa de uma sessão de treinamento na
masmorra.
— Isso não acontecerá enquanto ela estiver em minha
casa.
Heath divide sua atenção entre mim e o Chanceler, com
o queixo rígido, frieza e olhos castanhos semicerrados em
frustração.
— Essa será a primeira coisa que ela receberá quando
estiver em minha casa.
Ele sai da sala de estar e quando a porta da frente bate,
eu me assusto.
Liam se levanta.
— Não posso deixar passar esse comportamento.
Inclino a cabeça com vergonha, porque ele havia me
avisado.
— Sinto muito.
— Desculpas não vão te salvar da masmorra. E não vão
te poupar agora. — O som de uma fivela de cinto me faz
erguer a cabeça. Fico triste ao vê-lo deslizar a tira de couro
grossa das presilhas da calça.
— Liam, por favor.
— Tire a saia.
Piscando para conter as lágrimas, levanto e deslizo a
saia até o chão. O tecido leve se acumula ao redor dos
meus pés e saio da poça de chiffon.
— Suba — ele fala, acenando para a cadeira que acabou
de desocupar. Ele coloca o cinto na palma da mão. — Você
pode se apoiar no encosto para obter apoio.
— Por favor — imploro novamente enquanto as lágrimas
escorrem.
— Faça como eu digo!
Seu tom estrondoso de barítono destrói o resto da
minha compostura, e eu sinto lágrimas quando subo na
cadeira. Não é a ameaça de dor que mais me incomoda.
É a traição que me invade, devastando meu coração no
caminho.
Abraço o encosto almofadado enquanto o ouço se
aproximar. Os passos propositais param atrás de mim, e ele
respira fundo. Aguardo, com os músculos tremendo
enquanto o arrepio percorre minhas costas.
Ele havia prometido vergões se eu não me comportasse
novamente.
Ele havia dito que era uma questão de consistência,
então sei que o primeiro golpe está chegando.
Ele é um homem de palavra.
Mais alguns segundos se passam, e eu prendo a
respiração enquanto o sal da sua traição escorre pelas
minhas bochechas.
Ainda assim... o primeiro golpe não vem.
— Merda, Novalee. — Algo bate no chão.
Estou paralisada na minha posição vulnerável, com
medo de acreditar que ele mudou de ideia.
— Desça. — Sua voz é baixa e derrotada.
Um soluço de alívio me escapa. Me viro para encará-lo
com os membros trêmulos, as bochechas banhadas em
lágrimas enquanto envolvo os braços ao meu redor.
— Você não conseguiu.
— Não. — Ele me segura pelo queixo. — O pensamento
de te machucar me deixa doente. — Seu aperto fica mais
firme, incongruente com suas palavras. — O Heath não
sofre do mesmo problema. As regras dele são rígidas,
Novalee. Ele vai te machucar quando você desobedecer.
— Por quê? — A pergunta é pouco mais que um sussurro
rouco. Limpo a garganta. — Por que ele iria querer me
machucar?
— Porque ele é assim. — Ele me solta e dá um passo
para trás, colocando distância entre nós. — E ele não muda
de ideia. Depois que decide algo, não há como escapar. —
Seu olhar arrependido dispara na direção da cadeira atrás
de mim. — Ele não vai mudar de ideia sobre a masmorra.
— Não quero ir.
— Você tem que ir. — Ele está tremendo e em farrapos
enquanto passa a mão pelos cabelos. — E quando for, não
vou poder te proteger.

Continua em Touro...
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Quando o pai de Reed Winston exige que ele tenha um


bebê  para assumir o controle da empresa da família ou a
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não ser encontrar uma mulher para ajudá-lo.
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Só há um problema... ele não imaginava que seguir as
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