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© Copyrigth 2022 by R.

Machaddo

Capa e diagramação por: R. Machaddo


Revisão por: Carina Barreira

Todos os direitos reservados,


Esta é uma obra de ficção. Seu intuito é entreter as pessoas.
Nomes, personagens, lugares e acontecimentos são produtos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com nomes, datas e
acontecimentos reais é mera coincidência.
São proibidos o armazenamento e/ou a produção de qualquer
parte dessa obra, através de quaisquer meios – tangíveis ou
intangíveis – sem o consentimento escrito da autora.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorias é crime
estabelecido na lei nº .9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código
Penal.

Esta obra segue as regras da Nova Ortografia da Língua


Portuguesa. Fugindo à regra apenas nos diálogos e
nas particularidades apresentadas pelos personagens.

Edição Digital – Criado no Brasil


Casar não estava nos planos de Diana. Muito menos se o marido
em questão fosse Lorenzo Clifford.
Os dois são inimigos declarados há mais de vinte e cinco anos. Na
escola, ninguém se aproximava ou tentava deixá-los por perto, pois sabia
que era perigoso, agora, os dois com quase trinta anos, não deixam
palavras sobre palavras.
Só que o destino dá a sua rasteira, e o que deveria ser apenas um
contrato, se torna algo maior.
Diana precisa de dinheiro.
Lorenzo de uma esposa.
Por que não unir o útil ao (des)agradável?
Isso pode e vai ser perigoso, mas no final, muito mais gostoso.
Sinopse
Dedicatória
Agradecimentos
Playlist
Epígrafe
Prólogo
Capítulo 01 – Diana
Capítulo 02 – Lorenzo
Capítulo 03 – Lorenzo
Capítulo 04 – Diana
Capítulo 05 – Lorenzo
Capítulo 06 – Diana
Capítulo 07 – Lorenzo
Capítulo 08 – Diana
Capítulo 09 – Lorenzo
Capítulo 10 – Lorenzo
Capítulo 11 – Diana
Capítulo 12 – Diana
Capítulo 13 – Lorenzo
Capítulo 14 – Diana
Capítulo 15 – Lorenzo
Capítulo 16 – Diana
Capítulo 17 – Diana
Capítulo 18 – Lorenzo
Capítulo 19 – Diana
Capítulo 20 – Lorenzo
Capítulo 21 – Diana
Capítulo 22 – Lorenzo
Capítulo 23 – Diana
Capítulo 24 – Lorenzo
Capítulo 25 – Lorenzo
Capítulo 26 – Diana
Epílogo – Lorenzo
Conheça também
Para aqueles que sabem amar incondicionalmente e que não
esperam nada em troca.
E principalmente para você Jullye Emanuelle, minha
companheirinha de sempre<3
Gratidão, em especial a Deus, por não ter me abandonado quando
mais precisei, por ter me dado uma luz, quando achei que me perderia no
escuro e por me amparar em todos os momentos da minha vida, por mais
doidos que eles possam cer.
Aos meus pais e minha irmã, por estarem comigo, mesmo não
fazendo ideia do que tanto faço sentada em frente ao computador.
À minhas amigas, que me deram apoio para continuar, que me
incentivaram mesmo eu querendo desistir. Sem esse apoio, eu jamais
teria chegado até aqui.
As minhas maravilhosas leitoras que mais uma vez estão
embarcando comigo, que sempre me apoiam e me incentivam a cada
novo lançamento, obrigada de coração por estarem comigo.
E obrigada a você, que está aqui apoiando a literatura nacional.
Graças a esse apoio, estamos cada vez mais ganhando espaço, saiba
que tem um mundo incrível de histórias te esperando!
Fiquem com Deus.
Gratidão <3
Para ouvir a playlist de “Casando com o Inimigo” no Spotify, abra o
app no seu celular, selecione buscar, clique na câmera e posicione sobre
o code abaixo

OUÇA AQUI
Eu nunca tive medo
De montanha russa
Mas, do jeito que você tá me olhando assusta
Eu já não sou o mesmo

É que essa fase adulta


É menos frio na barriga e mais medo de altura
E a gente não pula por medo de cair
Não mergulha por medo de afogar
A gente não ama por medo de sofrer
Mas não vive enquanto não amar

Então me ama
Ferra minha vida
E faz voar borboletas na minha barriga
Então me ama
Do jeito que quiser
Hoje eu te quero mais menina e menos mulher

Ferra minha vida - Raffa Torres


“Quando a vida te der limões, faça uma limonada”. Foi isso que
minha avó me disse, assim que meu pai anunciou a nossa falência, só
que ela esqueceu que quanto mais limões, mais azedo a limonada fica, e
foi isso que aconteceu quando o senhor José anunciou que estávamos
quase perdendo a nossa casa.
Às vezes eu queria ter a paciência de dona Venécia e a fé da dona
Marta, minha avó e mãe, respectivamente, pois tenho certeza de que
minha vida se resolveria muito mais rápido, mas tudo o que tenho são
dores de cabeça, muita fome e pouca paciência.
— Como eu vou casar desse jeito, mamãe? Thomas está
começando agora a faturar nos ringues, mas tem muitos gastos — minha
irmã diz exasperada e reviro os olhos.
É sempre assim: Emília chora, minha mãe fica com pena e vende
alguma coisa para bancar o luxo da caçulinha. Tenho a impressão de que
nasci apenas por nascer, já que sou sempre a esquecida.
Emília, com seus quase um metro e noventa e cinco, fez muito
sucesso dos sete até seus vinte e cinco anos, quando se deitou com o
homem errado e acabou sendo expulsa da agência, depois disso nunca
mais conseguiu um emprego na área de modelo. Com tudo o que ela
faturou nos quase vinte anos de trabalho, hoje ela poderia viver bem, só
que ela é daquele tipo que não pode ver uma nota de dois reais que não
sossega até gastar tudo. E ela puxou nosso pai nesse quesito. Seu José
não sossegou até torrar nosso último centavo e agora estamos aqui,
tentando decidir quem vai para a mesa de cirurgia para vender os rins, o
fígado e o coração. Acredito que nem assim iremos conseguir pagar todas
as dívidas.
— Mamãe, diga à sua filha, que o casamento terá que esperar um
pouco — falo calmamente e me levanto, arrumando a saia do meu vestido
lilás. — A menos, é claro, que quando ela se casar, leve todos para morar
com ela, já que vamos perder a casa para o banco.
— Pensei que Thomas fosse morar conosco — minha avó se
intromete e eu bufo.
— Estamos a dois segundos de perder a casa e a senhora quer
mais inquilinos? Francamente, dona Venécia — murmuro e ela ri, exibindo
sua dentadura de ouro.
Outra extravagante que gastou mais do que tinha, fazendo os
últimos três maridos morrerem infartados. Meu avô fugiu com outra
mulher, quando minha mãe nasceu, deixando para trás uma mulher com
uma criança e um monte de cachorro.
— Ele pode pagar aluguel — dona Marta diz e Emília vira a cabeça
como a menina do Exorcista[1].
— Mamãe, ele vai ser meu marido...
— Isso, seu — aponto o dedo. — Mas se morar aqui, vai ter que
contribuir.
— Da mesma forma que você contribui?
— Sim. Da mesma forma que eu me mato de trabalhar naquela
clínica veterinária — falo alto e seus olhos castanhos se enchem de
lágrimas.
— Está vendo como ela me trata, mamãe? Sempre jogando na
minha cara que eu não trabalho. Diana não percebe que passei os últimos
três anos correndo atrás de serviço?
— Falei para você correr atrás de homem. Rico de preferência. —
Vovó se intromete e nossa mãe a olha chocada. — Não me olhe assim,
Marta, se tivesse me ouvido não teria casado com o pé-rapado do José, e
hoje você e suas filhas teriam uma vida de rainha. Mas já que se
apaixonou, que pelo menos uma das suas filhas tenha juízo e case com
um homem rico.
— Thomas vai ser rico.
— Ainda vai? E se não for? — vovó pergunta com a mão na
cintura. — Vai ficar esquentando a barriga no fogão e esfriando no tanque,
enquanto ele sai à procura de emprego, sendo que, na verdade, está
trabalhando na boceta de outra?
— Nem todos os homens são como o vovô — Emília diz com a voz
rouca pelo choro.
— Tem razão, mas noventa por cento, sim. Principalmente se a
mulher for bonita e o homem, um atropelado de caminhão. Acha mesmo
que você, linda desse jeito, merece uma vida simples? — Minha irmã
nega. — Então, vai mesmo desperdiçar suas chances com aquele
homem? Nos jantares, vimos que inteligência não é o ponto alto dele, ele
não faz ideia de como diferenciar marcas de cerveja, vai mesmo conseguir
manter patrocinadores? Pense, Emília, não seja burra como sua mãe foi.
Engulo em seco e volto a sentar no sofá branco, enquanto minha
irmã processa as palavras da matriarca. Pudim, minha gata de pelagem
escura que se assemelha a calda do pudim, pula em meu colo e se
aninha em meus braços.
— Por que eu tenho que me sacrificar? Eu amo o Thom e ele me
ama, vovó.
— Ótimo. Mas quando estiver pançuda e morando embaixo da
ponte, espero que esse amor encha a barriga de vocês — fala irritada e
sai com toda a graciosidade que seus quase oitenta anos permitem.
Meus dedos deslizam pela pelagem macia e ouço minha irmã
respirar fundo, nossa mãe vem e se joga na poltrona velha, que dona
Venécia ama mais que tudo nessa casa.
— Mamãe endoidou de vez. Querer que vocês se casem por
dinheiro. — Olha-me com os olhos marejados. — Não foi esse futuro que
pedi a Deus quando nasceram. Não foi.
Seus olhos se fecham com força e as linhas de expressões, que
não veem botox há três anos, aparecem marcando praticamente todo seu
rosto. Emília agacha à sua frente e novamente sou uma mera
telespectadora da cumplicidade entre mãe e filha.
— Nós vamos dar um jeito, mamãe. Eu vou me casar com o Thom,
e vamos continuar nessa casa. — Seus olhos castanhos como terra
molhada se voltam na minha direção e Pudim me arranha.
— Filha, é muito dinheiro...
— Nós vamos dar um jeito. Eu não vou me casar por dinheiro, mas
a Diana vai — fala firme e um arrepio sobe pela minha espinha.
— Não. Definitivamente não — falo começando a ficar irritada e
minha irmã se levanta.
— E eu já até sei com quem. — Seus olhos passam de mim para
minha mãe, que abre a boca esperançosa.
— Quem?
— Lorenzo Clifford, eu só preciso saber como. Mas você vai se
casar com ele, Diana— responde, me deixando sem chão, sem ar, sem
tudo. Minha cabeça pesa e o gosto amargo toma conta da minha boca.
Nem morta eu me caso com esse playboy dos infernos.
Nem morta!
Uma semana que Emília está tentando me fazer ceder à sua ideia
maluca de me casar com aquele idiota. Eu não vou ceder. Nunca!
Uma coisa é morar embaixo da ponte, outra, morar com o
secretário do diabo.
— Bom dia, Diana! Como está sua dor de cabeça? — Francisca,
minha atual chefe, pergunta, parada na frente do balcão.
— Bom dia! Estou melhor, obrigada pela preocupação. — Sorrio e a
mulher negra arruma o jaleco e joga os cabelos alisados para trás.
— Eu só quero o bem-estar dos meus funcionários — diz e dá um
sorriso sem mostrar os dentes. — Bom, vamos começar os atendimentos.
Qualquer emergência, sabe onde me encontrar.
Fecha um dos olhos, tentando piscar, mas acaba ficando estranho
e ela desiste, me deixando sozinha e subindo para o segundo andar.
A clínica Coração e Patas, atende diversos cãozinhos, inclusive o
cão do secretário do Diabo, que por ironia do destino, é o dono deste
prédio. Hades é o nome do pitbull de pelos negros e olhos azuis que
aparenta ser perigoso, mas mal consegue correr de tanto que está gordo.
Joshua é quem sempre o traz para as consultas, mas pelo visto,
hoje, o diabo deu folga para o secretário, penso quando o perfume forte
chega até mim, antes mesmo da porta da clínica ser aberta.
O sininho toca e meu coração bate forte e pesado, acompanhando
seus passos que ressoam pelo piso. Seu corpo grande e musculoso
ocupa uma boa parte da recepção da clínica, forço um sorriso, vendo-o
parar à minha frente e apoiar o braço no mármore branco.
— Bom dia, Diana Maria! — Sorri de lado e desejo ter uma faca ao
meu lado para destruir esse maldito sorriso. — Vai babar muito?
— Claro, quem sabe assim você não escorrega e desaparece da
minha frente. — Pisco meus longos cílios e me inclino para olhar Hades,
que usa uma coleira de couro preta com detalhes em dourado, deixando-o
ainda mais poderoso.
— Oi, bebezinho lindo! — Estico a mão e coço sua cabeça, e sua
boca se abre em correspondência.
Um pigarreio ao meu lado me faz recolher a mão e voltar a ser a
profissional que sou há mais de cinco anos.
— A vista até que é boa, mas tenho mais coisas para fazer.
— O diabo deve mesmo sentir falta de todo esse seu mau humor —
falo baixinho pegando o telefone e discando para a doutora.
— O que disse, coelhinha?
Olho-o de cara fechada e antes que o mande a merda, Tiffany
atende.
— Hades acabou de chegar — aviso e ela pede para que o leve até
a sala. — Em dois minutos, Doutora.
Coloco o telefone no lugar e deixo meu espaço, indo até a frente e
estendendo a mão para pegar a guia. Lorenzo me olha estranho, não
cedendo.
— Preciso levá-lo.
— Eu faço isso, ele pode te estranhar — diz, e estreito os olhos.
— Faço isso há mais de um ano, não acha que hoje, só porque o
dono está junto ele vai me atacar — coloco a mão na cintura, irritada e ele
retira os óculos escuros, revelando as írises azuladas.
— Coelhinha, o Hades pode te confundir com uma presa...
— Me dê essa guia — peço entredentes segurando o metal, que se
assemelha a correntes. — E pare de me chamar assim, ou juro que
esqueço que estou no meu local de trabalho e cometo um assassinato.
— Você brava é uma coisinha muito fofa. — Seus olhos se tornam
mais escuros. — Mas não tenho medo de você, então, eu levo o meu
cachorro.
Respiro fundo e puxo a corrente da sua mão, pegando-o
desprevenido, fazendo seu corpo balançar para frente. Hades está entre
nós dois, sentado, como se não estivesse prestes a presenciar a décima
briga entre nós.
— Então é assim que você joga, coelhinha? — Puxa mais forte e
meu corpo vai para frente, quase me desequilibrando. — Dois podem
jogar.
— Você é muito petulante. Irritante. Eu preciso trabalhar, pode
soltar a droga da guia? — peço olhando fixamente em seus olhos e meu
estômago borbulha em uma sensação esquisita.
— Não, não posso. Já disse que ele vai te...
Para de falar quando o sininho faz barulho e sou obrigada a me
afastar, soltando a guia. Olho por cima do seu ombro, encontrando
Gustavo e forço a memória, tentando lembrar se Timoteo — seu gatinho
siamês — tem consulta hoje.
— Atrapalho? — A voz mansa e divertida do homem de quase
quarenta anos chega até mim, como um vento leve.
— Não, só estou pegando Hades para levar ao consultório da
doutora. Volto em um segundo. — Sorrio e finalmente consigo pegar a
guia da mão de Lorenzo, mas esse gesto faz com que nossos dedos se
toquem e que ele me prenda em seu olhar por três segundos.
Balanço a cabeça e levo Hades a sala dois, encontrando a doutora
lendo alguns papéis.
— Está entregue, garotão. — Acaricio sua cabeça. — O dono está
aqui, quer que mande entrar?
— Não. Se ele quiser, pode ver pelo vidro. É muito para mim ter
que lidar com um Clifford pela manhã. — Faz careta e pega a guia da
minha mão. — Vamos lá, gordinho, seu pai deve estar te dando o que não
deve. Parece mais gordo que semana passada...
Ouço quando estou fechando a porta e pelo vidro que ocupa
metade da parede, a vejo colocá-lo em uma balança. Tiffany e Lorenzo
são primos, por isso confia de olhos fechados em deixar Hades a sós com
ele.
Volto para a recepção e encontro um clima estranho, sento-me na
cadeira preta e volto minha atenção para Gustavo, que têm dois copos em
mãos.
— Timoteo está bem?
— Sim. — Aproxima-se do balcão e coloca o copo sobre ele. —
Estava passando por aqui e lembrei que gosta de chá preto, resolvi
trazer.
Os olhos escuros do homem mais velho me avaliam enquanto um
sorriso surge em meus lábios. A pele clara e os cabelos parcialmente
grisalhos chamam a atenção, principalmente pelo seu estilo jovial.
— Obrigada! Acabei acordando atrasada e não consegui passar na
lanchonete. — Aceito timidamente e um pigarreio quebra o clima. —
Senhor Clifford, Hades está sendo tratado na sala dois. O senhor tem
permissão para assistir os exercícios do lado de fora, através dos
espelhos.
— Prefiro esperar aqui, para não atrapalhar. — Estala a língua no
céu da boca e olho para Gustavo, que encara Lorenzo de uma maneira
estranha.
Bebo um pequeno gole do meu chá, odiando-o por estar frio, mas
engulo a careta e começo a trabalhar no computador.
— Posso te trazer outro amanhã, Diana?
— Oi? — Subo os olhos da tela azul para Gustavo. — Desculpe,
estava conferindo os horários.
— Sem problemas. Amanhã conversamos. — Concordo e ele sorri,
batendo os dedos no balcão. — Tenha um bom dia, Diana.
— Você também. — Sorrio e ele deixa a clínica, volto minha
atenção para o computador, me sentindo incomodada pelo olhar de
Lorenzo.
— O senhor precisa de alguma coisa? — Uso minha voz mais falsa
e viro o rosto na sua direção, me arrependendo.
O rosto quadrado bem marcado pela barba rala está sério, seus
olhos estreitos na minha direção e o maxilar trincado, como se estivesse
segurando algo entre os dentes. Os cabelos castanhos claros estão
bagunçados, deixando-o ainda mais com a aparência de descontrolado.
— Lorenzo?
— É assim que recebe todos os donos de pet? — Franzo a testa
sem entender e ele apoia os dois braços sobre o mármore. — Sorrisos e
gentilezas, enquanto o dono do estabelecimento é recebido a patadas?
— Olha, levando em conta que o dono é um pé no saco, não estou
fazendo nada demais.
— Isso poderia dar justa causa.
— Mas não vai, porque sabe que sou boa no que faço. — Sustento
seu olhar.
— Não me teste, coelhinha — murmura com os dentes cerrados e
em instantes pega meu chá. — Você odeia chá preto, ainda mais frio.
Dizendo isso, joga o copo no lixo e sai da clínica, me deixando
perplexa pela sua ousadia.
Mas isso não vai ficar assim. Nunca ficou.
Só me aguarde, senhor Clifford.
Odeio incompetência e odeio muito mais distrações em momentos
sérios de trabalho. Diana me tira do sério com sua pose de boa moça,
sorrindo e sendo gentil para todos, eu sei que ela não é assim.
Adquiri a clínica há quase três anos, e de lá para cá ampliamos a
área, sendo consultórios para atendimentos na parte de cima, na parte de
baixo duas salas de treinamento e a sala com piscina e mais alguns
aparelhos, tudo para ajudar na recuperação dos animais. Minha prima e
sua sogra — Francisca — são as responsáveis por tudo, deixando comigo
apenas a parte financeira.
Diana Maria trabalha aqui de segunda a sábado, e na época de
campanha, aos domingos. Detesto concordar com meu irmão, mas ele
está certo em dizer que Diana é boa no que faz.
— Mas se continuar tão sorridente, perderá o emprego fácil, fácil,
coelhinha.
— Algum problema, senhor Clifford?
— Não, Mathias, só pensando alto — informo meu motorista que
assente e volta a olhar para frente. — Mathias, pode comprar um café
para mim? Hades deve demorar mais um pouco e vou aproveitar para
revisar algumas cláusulas do novo contrato.
— Claro, como o senhor prefere? — pergunta e meus olhos se
voltam para a clínica com paredes de vidros e detalhes em verde neon.
Daqui consigo ver Diana concentrada no computador, o que é uma merda,
já que eu não deveria estar vendo-a.
O antigo proprietário foi enganado e colocaram os vidros ao
contrário, sendo assim, ela não vê nada aqui de fora, mas eu vejo tudo.
— Senhor?
— Com leite e uma fina camada de nata. Compre um para o senhor
também — falo e ele balança a cabeça, deixando o carro e meus olhos se
voltam para a loira.
Diana Maria, o meu tormento diário há mais de vinte e cinco anos.

Perto das onze da manhã, vejo Hades parar próximo ao balcão e


se esforçar para ficar só nas patas traseiras, ganhando um afago da loira.
Saio do carro e atravesso a rua em segundos, entrando na clínica que
cheira a cachorro molhado.
— Aqui, garotão, foi um bom menino — Diana coloca um petisco na
boca e Hades come, quase pegando a sua mão.
— Eu disse que ele te engoliria — murmuro me aproximando e
Tiffany me estende a guia. — Bom dia, prima, como vai o casamento?
— Melhor se meu marido não tivesse que passar mais horas com
você do que comigo. — Sorri mostrando os dentes brancos. — Às vezes
acho que ele só casou comigo para ficar ao seu lado.
— Que culpa eu tenho se sou irresistível. — Pisco um olho e Diana
força uma tosse, provavelmente querendo esconder a risada. — Não é,
coelhinha?
— Nossa, muito — responde irônica. — Um homem desses, digno
de ser secretário do capiroto, é o sonho de consumo de qualquer planta.
— Diana, Joshua vai amar esse apelido novo. Só não deixe minha
sogra ouvir — minha prima fala e seus olhos claros encontram os meus.
— Preciso ir, porque adivinha só, finalmente poderei almoçar com meu
marido. Preciso correr, antes que o secretário chame o ajudante.
— Eu posso te demitir — anuncio em bom-tom quando ela corre
para a sua sala, balançando os cabelos ruivos.
— Mas não vai. Como eu, não existe nenhuma outra. — Pisca e
fecha a porta, me deixando a sós novamente com a coelhinha.
— Precisa de algo, senhor Clifford?
A forma como pronúncia meu sobrenome, mexe com a minha
mente e tudo o que faço é olhar dos seus olhos para a sua boca, subindo
novamente para seus olhos, vendo-a corar.
Não é difícil fazer ela ficar vermelha, na maioria das vezes é de
raiva, mas quando a faço corar, me sinto estupidamente feliz.
— O que eu preciso, você não pode me dar. Não agora. — Meu
tom é baixo e seus lábios pequenos e cheios se abrem de surpresa. —
Tenha um bom dia, coelhinha.
Saio me sentindo vitorioso por tê-la deixado sem resposta,
atravessamos a rua e Hades sobe com preguiça no carro.
— Para onde, senhor?
— Para a empresa, Hades vai passar o dia comigo.
— Está mesmo na hora de colocar os filhos para trabalhar — diz
brincalhão e concordo, prendendo meu cachorro na cadeirinha especial.
O trajeto até a empresa é rápido e Mathias o faz em silêncio,
estacionando na frente e aviso que estarei pronto a partir das cinco da
tarde para irmos embora. O homem de meia-idade concorda com a
cabeça e subo as escadas com Hades ao meu lado.
Hades só tem um ano e meio, é uma verdadeira criança
atrapalhada que come tudo o que vê pela frente e o seu sobrepeso está
ligado ao fato que o danado estragou a parte de trás do pote de ração, e
eu só fui ver quando era tarde demais.
— Se comporte, nada de latir e assustar as pessoas — falo ao
entrarmos no elevador e ele senta, me olhando com carinha de pidão. —
Falei para não latir, não para ficar com essa carinha de quem quer
carinho. Vamos, Hades, mostra que você é feroz.
Ele me ignora respirando pesado, balanço a cabeça sem acreditar
que me prometeram um cão perigoso e feroz, e veio isso, um carente que
sempre quer deitar quando vê um sofá, ou deitar no meu colo.
Chegamos ao andar da presidência a qual divido com meu avô, o
velho Antony. Sou o primeiro neto e consequentemente, o primeiro na
linha para comandar a empresa quando o velho se aposentar.
— Bom dia, Mariana! Pode me passar meus compromissos por e-
mail?
— S-Sim — gagueja olhando para Hades.
— Não precisa ter medo, já disse a senhora que ele não morde —
garanto empurrando a porta da minha sala e Hades entra primeiro,
pulando no sofá.
— Seu avô quer vê-lo. — Diz se recompondo e seu rosto ganha um
tom avermelhado de vergonha.
— Avise meu avô que o encontro para o almoço, e por favor,
informe que Hades está aqui.
Ela balança a cabeça, pegando o telefone para avisar a secretária
do velho Antony e entro na minha sala, respirando fundo, vendo Hades
deitado com a cabeça em uma almofada azul e com o restante do corpo,
esparramado no estofado.
— É, amigão, se alguém te pega babando assim, acaba com a
nossa fama de mau — murmuro deixando minha pasta sobre a mesa.
Alongo-me e finalmente me sento na cadeira da vice-presidência,
imaginando daqui uns anos, sentado na da presidência, comandando todo
o império Clifford.
No horário do almoço, meu irmão e o velho Antony entram na
minha sala. Pedi para que Mariana pedisse comida e Hades resmunga no
sofá, babando nas almofadas que em breve terão que ser trocadas.
— Eu disse para você encontrar uma esposa e ter filhos, mas você
me apareceu com esse monstrengo que só dorme — vovô diz com a voz
carregada de indignação e senta em uma das cadeiras, e meu irmão faz o
mesmo.
— Bom, o senhor falou que queria alguém correndo pela casa, não
especificou como esse alguém deveria ser — digo em tom de brincadeira,
ganhando um olhar duro. — Vovô, estou novo para pensar em só uma
mulher.
— Na sua idade eu já pensava em três mulheres, sendo minha
finada Germânia e as minhas duas dores de cabeça: Magda e Florinda, e
um ano depois, veio seu pai. — Suspira e olha para o meu irmão. —
Espero que tenha juízo e se case com Diana.
— Não seria casamento, seria carma — falo rápido demais e tenho
dois pares de olhos em mim. — Diana é horrível! Pelo amor de Deus, meu
irmão não merece...
— Eu acho ela legal, é bonita e pelo o que sei, está solteira — meu
irmão comenta e olha para nosso avô. — Vou chamá-la para sair. Se o
cupido bater, prometo que o primeiro bisneto terá seu nome, vovô.
Fecho a mão em punho, olhando de mandíbula trincada para meu
irmão, que ignora meu olhar e começa a conversar com nosso avô,
fazendo planos e mais planos para quando se casar com a coelhinha.
Meu avô me olha com a sobrancelha elevada e minha raiva apenas
aumenta, deixando todo meu corpo tenso.
Viro meu pescoço e o estralo é ouvido por todos, que se calam e
começam a desfrutar da massa italiana que Mariana arrumou para o
almoço.
Joshua não vai se casar com a coelhinha. Eu não vou deixar.
Basta tê-la como funcionária, cunhada seria demais e eu não quero
saber qual de nós dois vai gastar primeiro seu réu primário.
Diana Maria não vai ser uma Clifford, disso eu tenho certeza.
Seus cabelos loiros caem pelo meu peito assim que seu corpo
encontra o ápice. Agarro sua cintura fina empurrando contra seu quadril,
indo até o talo, sendo abraçado pelo seu calor, escorregando com
facilidade pelo seu canal.
— Eu... não — geme fincando as unhas em meus ombros.
— Não o quê, coelhinha? — provoco agarrando suas costas e em
um instante a coloco de costas sobre o colchão branco. — Não aguenta
meu pau? É isso?
Resvalo para fora e entro com tudo, fazendo seus peitos medianos
e com auréolas rosadas saltarem com o impacto. Separo suas coxas,
tendo-a aberta completamente para mim, aumentando o ritmo das
estocadas.
— Lorenzo! — O gemido rouco salta da sua boca pequena e vejo
seus olhos se fecharem com força.
Trago o polegar para o meio das suas pernas, tecendo movimentos
ritmados sobre o nervo pequeno e duro, que pulsa sob meu dedo. Vejo-a
agarrar os lençóis e se contorcer, arfando e suas pernas tremem ao meu
redor, enquanto sua boceta pequena esmaga meu pau.
Prendo a respiração, controlando ao máximo para não gozar.
Preciso tê-la de quatro, com a bunda empinada só para mim, recebendo
meus tapas. Deito sobre seu corpo, fechando a mão em seu pescoço fino
e seus lábios se entreabrem mais.
— Gosta quando te fodo assim, coelhinha? — sussurro próximo ao
seu ouvido, arrastando minha barba pelo seu ombro. — Gosta de receber
meu pau até o talo, né, safada?
— Lorenzo... por... favor! — Lágrimas saltam dos seus olhos e seu
rosto é tomado pela vermelhidão.
Deixo uma mordida em sua orelha, encontrando sua boca e suas
mãos escorregando pelo meu corpo, arranhando-me. Nossas línguas são
um emaranhado, aquecendo mais nossos corpos e acabando com os
meus últimos pensamentos coerentes.
Meu quadril se movimenta para trás e para frente, em um ritmo
lento, e minha boca engole todos os seus gemidos. Busco pelas suas
mãos colocando acima da sua cabeça, entrelaçando nossos dedos, e me
afasto sugando seu lábio inferior.
— Lorenzo, por favor — murmura de olhos fechados. — Acaba com
essa agonia. Acaba comigo. — As duas írises azuis se abrem, intensas e
impactantes como as palavras que saltam da sua boca: — Me fode
gostoso, Lorenzo.
Meu autocontrole vai para o espaço e meu corpo se choca contra o
dela com força, em um ritmo frenético. Nosso suor se mistura e
novamente nossas bocas se buscam. Um grito gutural deixa o fundo da
sua garganta e seu corpo inteiro estremece sob o meu, a pressão da sua
boceta em torno do meu pau, é meu ápice. Esporro gostoso para dentro
dela, urrando contra seus lábios, sentindo todo meu corpo se contrair.
Fecho os olhos encostando minha testa na sua, tentando controlar
minha respiração e um novo arrepio sobe pela minha coluna, me fazendo
abrir os olhos, assustado, encontrando tudo vazio.
— Que porra! — praguejo vendo a lambança sobre minha barriga e
nos lençóis, percebendo que tudo não passou de um sonho. —
Desgraçada!
Esfrego as mãos em meus cabelos olhando para o meu pau, e
praguejo novamente por ter dormido sem roupa. É a segunda vez que
tenho esses sonhos, ou melhor, pesadelos com aquela coelhinha dos
infernos, e o pior é que parece real, mas eu não quero que seja real.
Diana Maria é uma pedra no meu sapato, deve ser algum tipo de
castigo eu sonhar com ela.
Irritado, bato a mão na porcaria do despertador que toca ao meu
lado e me levanto, caminhando pesado para o banheiro.

Chego na empresa e a primeira pessoa que encontro é meu irmão,


que segura um copo de café em uma das mãos e na outra a pasta preta,
seus olhos verdes como os da nossa mãe parecem cansados e percebo
que a noite do desgraçado foi bem melhor que a minha.
— Mau humor logo pela manhã? — Olho feio e ele engole o líquido.
— Não enche, Joshua. Tive pesadelos a noite inteira — murmuro e
as portas se fecham.
— Deixe-me adivinhar. — Encaro-o pelo espelho e o infeliz tem um
sorriso malicioso nos lábios. — Começa com Dia e termina com na. Ela
anda frequentando muito seus sonhos, irmãozinho, será que não rola
nada?
— Rola ódio.
— A mamãe diz que o amor e o ódio andam lado a lado, já a Diana,
diz que é um trio.
— Um trio? — pergunto curioso e ele assente.
— Amor, ódio e uma faca bem afiada — diz sorridente e o elevador
para no quinto andar. — Tenha um bom dia, irmãozinho. Te vejo no
almoço e boa sorte com seus sonhos, eles sempre têm algum significado.
Sai fazendo graça e minha vontade é deixar o elevador e ir atrás
dele para arrancar sua orelha, da mesma forma que fazia quando criança.
Joshua é uma peste, mas não posso negar que minha vida seria mais
chata sem ele por perto.
O elevador para no andar da presidência e saio, encontrando
minha secretária concentrada na tela do computador, que me deseja um
rápido bom dia e atende o telefone. Sei que o dia vai ser cheio ao ver o
velho Antony sentado na minha cadeira e respiro fundo, desejando uma
boa dose de cafeína, de preferência pura.
— Vovô, que honra tê-lo aqui, mas devo avisar que se não se
levantar da minha cadeira, serei obrigado a pegar a do senhor. — Faço
graça e ele sorri, balançando o bigode.
— Joshua acabou de me ligar e disse que estava de mau humor,
vejo que mentiu.
— Joshua sempre mente — minto deixando minha pasta de lado e
me aproximo para pedir a benção.
Sempre tento deixar meu mau humor de lado para conversar com
meu avô e com meus pais, eles não têm obrigação de me aturar assim, já
meu irmão tem.
— Que bom que quer minha cadeira, foi por isso que vim até aqui
— diz após aceitar minha bença e me sento na cadeira à frente da mesa.
— Aconteceu alguma coisa?
A preocupação toma vez em minha voz e o homem baixinho e
calvo nega em um suspiro.
— Não, só estou cansado. Acho que já fiz mais do que imaginei
pela empresa e acredito que chegou a hora de você tomar as rédeas. —
Engulo em seco enquanto seus olhos prendem os meus. — Eu te treinei,
Lorenzo, estudou nas melhores escolas e se formou com honra na
Columbia, sei que está apto a comandar.
— Tem um mas, não é?
— Sim. Na sua idade eu já tinha uma família formada e não me
arrependo. Vivi os melhores anos com sua avó, e agora que ela não está
mais aqui, me contento com a família que formamos, só que você só tem
um cachorro. — Abro a boca para contestar e ele me cala com a mão. —
Não estou desmerecendo aquele monstrengo, só estou tentando te
mostrar que a vida é mais que ele.
— Vovô, o Hades me entende como ninguém.
— Eu acredito. Tive um cachorro quando me casei com sua avó,
ele era meu melhor amigo, apesar de vira-lata, me defendia e me entendia
com o olhar, o problema é que ele não me aconselhava, não me
respondia com palavras e muito menos me abraçava e dizia que tudo
ficaria bem quando um contrato não saia como o planejado. — Batuco os
dedos na mesa. — Os animais são anjos em nossas vidas, mas ainda
assim, eles não são capazes de falar e nos fazer entender o que é certo e
errado. Para eles tudo bem um contrato ter dado certo ou errado, porque
isso não é importante para ele, mas uma mulher, a mulher certa sabe que
é importante.
— Vovô...
— Essa é a minha condição. — Seus olhos endurecem. — Tem
seis meses para aparecer com uma mulher. Mas não tente me enganar e
contratar uma, só para conseguir o que quer.
— Mas vovô...
— Mas nada! — Interrompe-me e fica em pé. — Se você não me
apresentar alguém em seis meses, ou eu acreditar que não tem amor na
que me apresentar, deixo a presidência e você não irá sentar na minha
cadeira. Me convença que é por amor, e não por interesse.
— Se eu não sentar, quem vai?
— O conselho é quem vai decidir, mas garanto que não vai ser
você.
Deixando a bomba armada, o senhor Antony deixa a minha sala e a
raiva se junta à minha indignação, fazendo minhas veias pegarem fogo e
minha mente borbulhar de dor com um único pensamento:
Onde eu vou arranjar uma mulher que parece minimamente
apaixonada por mim? E pior, como vou fingir estar apaixonado por ela?
A semana começou estranha com meu pai fugindo de mim e da
minha mãe, seus olhos escuros estavam manchados por lágrimas e pelos
dez segundos que o vi, parecia estar com hematoma na lateral direita.
Minha avó disse que ele deveria ter se metido onde não devia, e por isso
não precisávamos nos preocupar. Só que é impossível não se preocupar
quando ele gastou tudo o que tínhamos em jogos ilegais.
— Diana, pode me mandar a lista dessa semana? — Tiffany, uma
das únicas mulheres que considero minha amiga, mesmo conversando
pouco por conta do trabalho, pede e me olha com certo carinho. — Você
está bem?
— Sim. Estou ótima! — Sorrio para confirmar e seus cabelos ruivos
se desprendem do alto. — Hoje a senhora tem duas fisioterapias. O
Pantera e o Paçoca — falo olhando para a planilha à minha frente.
— Quando o Pantera chegar, pode mandar o dono entrar. E não
esqueça de me mandar a lista completa.
— Sim, farei isso agora mesmo — garanto já abrindo a planilha.
A doutora faz seu caminho para dentro da sala e meus olhos param
sobre Hades Clifford, que está agendado para terça-feira e na sexta-feira.
Solto um suspiro longo e começo a trabalhar sobre as teclas do
computador, compartilhando a planilha com a doutora, assim, se tiver mais
algum agendamento ou desistência, ela ficará a par.
— Diana, que bom que te encontrei — doutor Frederico diz parando
na frente do balcão. — Preciso que me envie as cópias dos prontuários
dos cachorros da última semana. Meu computador enlouqueceu e não
consigo acessar, amanhã é o dia que o filho do patrão vem.
— Antes de ir embora configuro tudo para o senhor — digo solícita.
— Mas se for urgente, dona Francisca está em descanso. Ela pode
resolver o problema do acesso para o senhor.
— Ah, ótimo. Vou falar com ela.
— Vou enviar os prontuários e qualquer coisa eu cuido disso antes
de ir embora. — Sorrio e o senhor de cinquenta anos retribui, batendo os
dedos no mármore.
— Até mais, senhorita.
— Até mais, doutor — murmuro vendo-o subir para o segundo
andar e volto minha atenção para o computador.
É sempre assim, desde que comecei a trabalhar aqui, faço de tudo
um pouco. Jurei que esse emprego seria temporário, mas aconteceu que
não achei um emprego na área que me formei. Ter conseguido esse
trabalho sem experiência nenhuma foi uma grande jogada de sorte, e
mesmo não gostando muito, não consigo me ver longe daqui. E além do
mais, Pudim tem plano de saúde, o que facilita minha vida em muitos
aspectos.
Envio o que o doutor pediu e o telefone sobre minha mesa toca,
atendo no segundo toque com um sorriso no rosto, mesmo que a pessoa
do outro lado não possa ver.
— Bom dia, Clínica Coração e Patas, em que posso ajudar?
Mais cansada que o normal, chego em casa e estranho por
basicamente todas as luzes estarem apagadas. Encontro minha avó e
minha mãe, sentadas no sofá de mãos dadas, enquanto minha irmã chora
silenciosamente, procuro por Pudim, ao não ser recepcionada pelo seu
miado caloroso.
— Cadê a Pudim?
— Filha... — Meu pai surge da cozinha com o rosto inchado e as
mãos trêmulas. — Preciso que fique calma e sente aqui para me escutar.
— Claro, eu só quero a minha gata — digo caminhando até o sofá
e a procurando no colo da minha mãe. — Pudim, amorzinho, a mamãe
chegou e trouxe petiscos — grito, chamando-a e minha avó solta um
lamúrio baixo, e então se levanta, encarando meu pai com raiva.
— Veja só o que a sua ignorância e ganância fez. Eu disse a você,
Marta, que esse homem só traria desgraças para a nossa família. Eu
avisei!
— Mamãe, por favor, pare! — minha mãe pede, também ficando
em pé e meus olhos se enchem de lágrimas.
— O senhor não vendeu a minha gata, vendeu? — O medo estala
em minha língua e meu pai abaixa a cabeça, culpado. — Cadê a minha
gata? Mamãe?
— Minha filha, ouça seu pai...
— Ouvir? Eu já o ouvi um milhão de vezes. Dei a porcaria do meu
apartamento e meu carro para quitar dívidas, mas a minha gata, nunca! —
Olho para ele. — Para quem você vendeu? Você vai buscá-la!
— Abaixa seu tom, ele ainda é seu pai. — Minha mãe se intromete
indo para perto do marido. — Seu pai não vendeu aquela bola de pelos
que só dá despesas.
— Despesas? Que despesas? Trabalho que nem uma condenada
naquela clínica, tudo para que não falte nada para vocês e é a minha gata
que dá despesas? — Bato as mãos nas coxas, irritada. — A ração dela é
comprada com o meu dinheiro. Ela toma banho sempre com o meu
dinheiro, vacinas, consultas e tudo mais, é com o MEU DINHEIRO —
aponto para meu próprio peito e meu pai suspira. — Agora me diga, onde
está a MINHA GATA.
— Não eleve o tom de voz, mocinha — fala grosso e aponta o dedo
na minha cara. — Não admito falta de respeito embaixo do meu teto.
— Teto que vai cair em breve na nossa cabeça — minha avó diz e
vem para o meu lado. — Mas agora se acalme que seu pai vai contar a
merda da vez.
Deixo que ela me puxe para o sofá e minha irmã continua
chorando, encolhida, como se nada mais a afetasse.
— Primeiro quero que saiba que as coisas saíram do controle...
— E quando não saem? Você é um banana, José. Um banana —
minha vó diz e a veia do pescoço dele salta.
— Cala boca, velha! Não deveria nem estar aqui, e sim em um
asilo.
— Pague um e eu vou com gosto — fala toda pomposa e volta a
segurar meu braço. — Mas antes, quero ver minhas netas livres de um
estrupício como você.
— Mamãe, por favor — dona Marta pede e minha avó resmunga.
Volto meus olhos para o meu pai que se agacha à minha frente,
estalando os dedos.
— Eu fiz umas dívidas no jogo e não consegui pagar, então fiz um
empréstimo. — Engulo em seco, não gostando do tom manso da sua voz.
— Não chora, Diana, não é para tanto. É só uma gata.
Tenta tocar meu rosto, mas me esquivo e ele fica em pé, girando no
próprio eixo, antes de prender o ar e me olhar firme.
— Eu me envolvi com agiotas.
Cinco segundos é o que demora para o meu cérebro processar
suas palavras, e o gosto sobe com tudo em minha boca.
— Levaram a sua gata como garantia que vou pagar. — Solta o
restante e meu corpo treme.
— Quanto? — Seus olhos se arregalam pela minha voz grave soar
alta demais. — Quanto você está devendo?
— Cento e cinquenta... mil. — Solta depois de uma longa pausa e
meu peito se aperta. — Tenho até quarta para pagar, ou matam sua gata
e vem atrás de nós.
Levanto com fúria e não me importo com mais nada, fechando a
mão e acertando em cheio seu nariz.
— Seu lixo. Eu te odeio, José! Te odeio! — grito esbofeteando seu
peito. — Você morreu pra mim. Eu juro que vou salvar a minha gata e
nunca mais vou olhar na sua cara, nunca mais!
— Filha...
— Me dê a porcaria do contato desse agiota. — Ele nega e passo o
braço pelo meu rosto, limpando as lágrimas. — Agora, porra!
— Diana, minha filha...
— Minha filha nada. Eu quero a merda do contato, e ouça bem... —
Aproximo-me dele que me encara com os olhos lacrimejados —, porque
vai ser a última vez que vai ouvir eu te chamar assim, papai.
Seu choro salta doído e não me importo, me afasto e pego minha
bolsa que caiu próxima ao sofá e rumo para as escadas virando para os
quatro.
— Assim que eu descer é bom terem arrumado a droga do contato,
ou você não vai gostar nada do que sou capaz de fazer.
E sem mais nada para dizer, subo as escadas, sentindo meus
pulmões expandirem, esmagando meu coração que bate cada vez mais
desesperado ao imaginar o quanto Pudim deve estar desesperada.
— Mamãe vai te buscar, meu amor. Eu juro que vou — murmuro
tocando a tela do meu telefone, onde o corpo gordo dela preenche a tela.
— Eu não vou sossegar até te trazer de volta, e então nós vamos embora
daqui.
Eu e você, juntas, sempre meu Pudinzinho.
Custe o que custar, eu vou trazê-la de volta, nem que eu tenha que
vender a merda da virgindade que não serve mais para nada, já que não
tenho planos de me casar e ser feliz.
Talvez puta de luxo seja uma ótima opção e eu aceito tudo,
contanto que minha gata volte para casa em segurança.
Jogo-me na minha cama e olho para o quadro de tulipas que pintei
quando tinha sete anos, e uma luz se abre em minha mente. Pego o
quadro e coloco sobre o colchão, abrindo a lateral e tirando a escritura da
casa.
— Amanhã mesmo eu arrumo o dinheiro. Mamãe vai te buscar,
Pudim!
Cheguei a empresa antes do sol nascer, encontrando tudo escuro e
uma pilha de contratos para revisar. Clifford é uma grande revendedora e
montadora de automóveis, e sempre no início do mês os contratos
chegam até mim para serem avaliados. Um processo cansativo, mas que
nos poupa dor de cabeça no futuro.
Três anos atrás os contratos eram revisados pelo meu avô, mas
então ele decidiu passar para mim, segundo ele, para ir me acostumando,
como se eu já não estivesse acostumado com o ritmo puxado e acelerado
da empresa. Na época que eu estudava na Columbia, revisava os
contratos enviando-os por e-mail, e em cinco anos morando fora, acabei
errando apenas dois, por conta do estresse dos estudos, mas nada muito
grande para me colocar para fora da empresa. Foram erros pequenos,
que o senhor Antony consertou e me mostrou, dizendo que eu deveria ter
mais atenção.
Foi em uma das festas do Campus que conheci Gabriel, atual
marido da minha prima. Éramos um trio imbatível: eu, ele e Joshua, que
mesmo sendo dois anos mais novo, conseguiu se destacar na escola,
terminando o ensino médio antes e ingressando na universidade comigo.
Passei cinco anos fora voltando apenas para as festas de fim de
ano, e foi numa delas que Tiffany conheceu Gabriel, homem negro de
apenas um metro e sessenta, que curte pagode e acha que não existe
nada melhor que caipirinha. Eu discordo, mas ele não ouve ninguém além
da esposa.
Foram os cinco anos mais loucos da minha vida, mas que valeram
muito a pena.
— Acordou com as galinhas hoje? — Assusto-me com a entrada
repentina de Gabriel e o olho com raiva. — Não me olhe assim que
esqueço que sou casado.
— Eu ainda não acredito que deixei você casar com a minha prima.
Deveria ter embarcado sem você.
— Confesse, Lorenzo, você não vive sem mim — gaba-se
sentando à minha frente. — Terminando a releitura?
— Sim. Preciso apenas de mais alguns minutos em silêncio —
aviso olhando para as letras miúdas do papel.
Gabriel fica em silêncio e assim que assino o papel ele se mexe na
cadeira, apoiando os braços sobre a minha mesa.
— Pergunte, Gabriel. — Relaxo na cadeira e meu melhor amigo
sorri, exibindo os dentes.
— O que o velho queria? Veio testar se a cadeira estava boa?
— Veio apenas falar que pretende se aposentar. — Dou de ombros,
querendo contar a ele a condição, mas bem sei que ele vai correndo
contar para a esposa.
Não seria um problema, se Tiffany soubesse ficar calada.
— Só isso?
— O que você quer mais? Um desfile e uma estátua em minha
homenagem?
— Não seja sarcástico comigo, sou seu melhor amigo e te aturo de
mau humor — diz ficando sério e suas sobrancelhas grossas quase se
fundem. — Você está estranho. Tem algo rolando que eu não sei?
— Talvez. Será que tem? — Jogo e ele estreita os olhos.
— Você não me esconderia algo importante, esconderia? — nego
sorrindo e ele bate a mão na mesa. — Bastardo traidor. Você engravidou
uma pobre moça e agora não quer contar, porque vai levar o Josh para
padrinho. Você é terrível, Lorenzo Antoniel.
— Use meu segundo nome novamente e ficará sem a minha
amizade — aviso com o dedo em riste e ele faz pouco caso. — E não tem
mulher grávida. Por falar em grávida, você não deveria estar fazendo
filhos com a minha prima?
— Falou certo. Deveríamos, mas ela teve que sair de madrugada
para atender um cachorro que foi atropelado e me abandonou, pronto e
pelado na cama.
— Detalhes demais, Gabriel.
— Certo. Mas voltando a você e deixando a minha mulher gostosa
de lado... — Suspira e sei que vem algo catastrófico. — Você bem que
poderia arrumar uma mulher para sairmos em casal. As amigas da Tiffany
são péssimas amigas e ficam dando em cima de mim, menos a Diana, ela
é uma fofa que só sabe planejar a sua morte. Bem lenta, isso é gostoso
de ouvir.
— Achei que fosse meu amigo. — Jogo minha caneta em seu
peito.
— Eu sou, isso significa que eu a ajudaria a esconder seu corpo e
ainda ajudaria nas buscas. — Sorri largo e estreito meus olhos, não
querendo pensar na coelhinha, que mais uma vez invadiu meu sonho,
transformando-o em pesadelo. — Brincadeiras à parte, vou descer porque
sou um mero assalariado e preciso bater meu ponto. — Levanta e fecha o
paletó, passando a mão no topetinho crespo e sorrindo.
— Você parece um pinguinzinho dentro desse terno, andando todo
robótico — murmuro e ele fecha a cara.
— Eu te odeio — resmunga caminhando até a porta. — Lorenzo
Antoniel, o almoço é por sua conta.
Reviro meus olhos e fico em pé, me alongando. Faz mais de cinco
horas que estou sentado aqui, preciso de uma dose de cafeína, e como
eu sei que hoje Mariana irá chegar mais tarde, o recurso é eu mesmo ir
buscar meu café.
A cada passo até a copa, meus pensamentos me levam à proposta
do meu avô. Eu poderia contar aos meus amigos, mas sei que isso pode
estragar os planos de enganar o velho Antony, já que ele sempre come
pelas beiradas antes de dar o bote final.
Preciso pensar em alguém, e para ajudar, estou há dois meses sem
sair com alguma mulher, o que pode ser bem útil na hora de ser
convincente com meu avô, só preciso encontrar alguém que tope.
Um ano de relacionamento por contrato. Um casamento de seis
meses e no fim, um divórcio vantajoso para ambos os lados.
Mas quem vai aceitar isso?

— Mariana, pode enviar esses arquivos para o meu irmão e peça


para que ele venha à minha sala no fim da tarde. — Deixo a pasta sobre
sua mesa e ouço o barulho do elevador.
— A senhorita Castro gostaria de uma hora com o senhor, disse
que não tinha horário, mas pelo jeito subiu mesmo assim — anuncia
olhando para a área do elevador. — Vou chamar a segurança.
Viro e me surpreendo ao encontrar Diana dentro de um vestido
rosê, de corte reto que vai até o meio das suas pernas e decote mínimo
entre os seios.
— Mariana! — Olho para minha secretária que está com o telefone
no ouvido — Eu vou conversar com ela, me avise assim que faltar cinco
minutos para a reunião com os acionistas.
— Sim, senhor. — A contragosto coloca o telefone no lugar.
Meu avô arranca meu couro se descobrir que não dei atenção à
filha do seu grande amigo, José.
Volto meu olhar para Diana, que parece determinada, seus cabelos
lisos estão batendo em seu ombro, e parece receosa em dar um passo na
minha direção.
— Tenho trinta minutos para a senhorita. Espero que seja breve —
anuncio e parece que ela volta a si, caminhando até mim.
— Bom dia, senhor Clifford, acho que houve um engano, pois
gostaria de falar com seu avô.
O profissionalismo em sua voz me surpreende e a olho de cima a
baixo.
— Meu avô foi para Nova York, mas deve retornar na sexta —
aviso e seus olhos azuis se arregalam. — Vamos conversar, quem sabe
eu posso ajudá-la.
Surpreendendo-me novamente, Diana assente com a cabeça. Seus
olhos marejam e sem dizer mais nada, a conduzo para a minha sala,
estranhando seu silêncio.
Diana Maria não é silenciosa, muito menos quando se trata de ficar
sozinha comigo. Ela sabe ser desaforada e provocante, me tirando do
sério com seus risinhos e humor ácido.
— Por favor, sente-se — peço e minha língua coça para chamá-la
de coelhinha, mas me concentro em ser o mais profissional possível. —
Como posso ajudá-la?
— Seu avô gostaria de comprar a minha mansão, quero ouvir a
proposta dele — fala séria, erguendo a cabeça.
— Sua mansão?
— Sim. As escrituras da casa e do terreno estão em meu nome —
fala segurando com força a bolsa. — Pode ligar para ele? Quero agilizar
isso.
— Diana, não é assim — termino de dizer e o barulho dos seus
saltos batendo no chão começa a me incomodar. — Esse tipo de venda
demora um pouco, principalmente porque precisamos demarcar e medir
todo o terreno.
— Duzentos mil e ele leva. — Sua voz beira ao desespero e a
encaro.
Seus olhos azuis parecem cansados, e entorno deles, ligeiramente
inchados. Sua boca pequena e cheia, parece maior, também inchada.
Sendo sincero, o rosto inteiro parece inchado, como se ela tivesse
passado a noite chorando.
— Está bom para vocês?
— Diana. — Solto o ar lentamente e cruzo as mãos sobre a mesa.
— Coelhinha, a propriedade ao todo, deve valer mais de duzentos
milhões.
— Eu só preciso de duzentos mil. Vai querer comprar ou não?
— O que está acontecendo? Se é só duzentos mil que precisa,
posso muito bem te emprestar...
— Não vou ter como te pagar, meu chefe é um muquirana que não
paga bem. — Quase sorrio aliviado ao ver a provocação escapando dos
seus lábios, mas o sorriso pequeno dos seus lábios morre. — Quero
vender a propriedade por duzentos mil, pode me pagar agora?
— Diana, que merda você bebeu pela manhã? Não é assim que
uma venda acontece, isso pode demorar semanas. — Sou áspero e me
arrependo vendo seus olhos marejados. — Merda, desculpe, não precisa
chorar.
Desespero-me ao ver suas lágrimas e deixo minha cadeira, indo
até ela e a virando para mim.
— Diana, coelhinha... pelo amor de Deus, não é para tanto. — Uso
o polegar para secar suas lágrimas e espero que ela comece a rir da
minha cara, mas não acontece. — Diana, o que aconteceu?
— A Pudim...
— Você quer pudim? É tpm?
— A minha gata. Roubaram ela... — Soluça fechando os olhos com
força. — Pegaram a minha gata, e agora querem duzentos mil até
amanhã ou vão matá-la. Eles vão matar a minha Pudim.
— Ei, olhe para mim. — Seguro seu queixo e seus olhos abrem
devagar, revelando a tempestade em sua mente. — Me conte o que
aconteceu e prometo dar um jeito de te ajudar. Confie em mim. Sei que
não somos amigos, mas você cuida do meu cachorro e administra bem a
clínica.
— Não, Lorenzo...
— Pela época que nos demos bem. — Jogo sujo e ela suspira,
levantando a cabeça na tentativa de controlar as lágrimas. — Me conte
como aconteceu.
— Promete não comentar com ninguém? Eu não tenho mais a
quem recorrer. — A dor em sua voz faz um bolo subir em minha garganta.
— Levaram a Pudim, porque... porque o José deve para agiota.
Solta tão baixo, que se não estivesse por perto, não a ouviria.
Puta merda! Penso vendo as lágrimas caírem pelo seu rosto mais
forte que antes, e sem saber o que fazer, volto para o meu lugar,
esperando que se acalme para conversamos e chegarmos a uma
solução.
Porque nem que eu vá para o inferno, eu resgato essa gata.
Meu peito arde enquanto basicamente me humilho para Lorenzo.
Estou quase implorando para que compre a mansão e me dê o dinheiro.
Ontem, após um banho, desci e encontrei o contato do tal Dom, que me
garantiu que cuidaria da minha gata, eu só precisaria desembolsar mais
cinquenta mil reais.
— Aqui, beba isso. — Entrega-me um copo com água e a quentura
da sua mão contra a minha, me deixa inerte, da mesma forma que me
deixou minutos atrás quando tocou meu rosto com carinho e
preocupação.
Nunca nos demos bem e ele sabe disso, mas no momento não
importa, porque tudo o que eu preciso é de dinheiro.
— Vai me ajudar? — questiono engolindo a água. — Lorenzo, por
favor!
— Vou. Mas preciso que você fique aqui enquanto vou para a
reunião, não devo demorar mais que duas horas. — Seus olhos azuis
buscam o meu. — Ligue para a clínica e avise que está doente.
— Eu não posso, não tem ninguém para me cobrir.
— Eu pago a Francisca para cuidar de tudo aquilo, você está
doente e vai faltar — exalta-se e a veia em seu pescoço salta. — Quer
saber, eu mesmo ligo.
E sem me dar chance para rebater, sai da sala me deixando
sozinha. Engulo em seco e giro na cadeira, olhando a sala. As janelas de
vidro que cobrem boa parte da parede, deixam a cidade ainda mais
bonita, trêmula, deixo o copo sobre a mesa e me aproximo com cautela da
janela.
Não gosto de altura, mas se não olhar para baixo, não tem perigo.
Espalmo as mãos sobre o vidro e um frio na barriga me toma, minha
pulsação acelera e sem que eu espere, a porta é aberta brutamente, me
assustando.
— A reunião foi cancelada, querem meu avô presente — anuncia,
parado na porta. — Vamos, vou te levar para tomar café.
— Lorenzo, não precisa. Eu só preciso do dinheiro. — Sou sincera
e sustento seu olhar. — Me empresta, faça a transferência e eu me viro.
— Vamos tomar café e conversamos — diz sem se abalar e se
aproxima de mim. Prendo a respiração e minhas costas tocam no vidro,
fazendo o medo subir pela minha garganta, travando todo o meu corpo.
O perfume amadeirado, que é uma mistura de madeira recém
cortada com couro. Um cheiro gostoso, que me persegue há quase vinte
anos.
— Diana, vamos? — Nego tendo seu corpo próximo demais. —
Coelhinha, não é o momento de brincar de estátua.
— Eu vou cair. — Solto em um suspiro baixo e seus olhos se
arregalam.
— Merda, Diana! — Enlaça minha cintura, me puxando com força,
prendendo-me ao seu corpo. — Você tirou o dia para me testar —
murmura e a porta é aberta, só que Lorenzo não é rápido o suficiente para
me soltar e acabamos de rosto colado, olhando na direção da porta.
— Desculpe, eu não quis... Vocês dois?
Nego voltando a mim e afasto o corpo de Lorenzo, caminhando até
minha bolsa que está caída no chão.
— Joshua, nunca! — falo erguendo a cabeça, com o coração
acelerado, mas a respiração calma. — Seu irmão só é um carrapato que
quando gruda, não desgruda mais.
— Você pareceu gostar do carrapato aqui — diz sorrindo de lado e
alcanço meu sapato, jogando contra o seu rosto.
Lorenzo desvia e meu salto bate com força no vidro, fazendo Josh
se engasgar em uma risada.
— Se contar a alguém o que viu, juro que te dou uma injeção na
próxima vez que for à clínica — aponto o dedo na direção do moreno, que
para de rir e fica sério. — E você, devolva o meu sapato.
— Venha buscar, não mandei jogar. — Balança os ombros como
um adolescente rebelde.
Preparo-me para jogar o outro, mas então lembro que sou uma lady
e após levar meus cabelos curtos para trás, caminho mancando até meu
salto, pegando e sentando sobre sua mesa, tendo seus olhos ferozes
sobre mim.
— Coloca para mim — peço com a voz fofa, olhando-o de baixo e
vejo quando Lorenzo engole em seco.
Sem dizer uma só palavra, ele pega o sapato e ficando de joelhos,
toca meu tornozelo direito escorregando a palma da mão pela sola,
limpando-a e então encaixa o sapato em meu pé. Arfo com o olhar
predador, sua mão quente toca meu tornozelo novamente e sem controle,
prendo a respiração, vendo-o se levantar.
Uma aura estranha nos cerca, meus lábios ressecam e quando
deslizo a língua sobre eles, Lorenzo acompanha com o olhar, fazendo um
arrepio estranho percorrer meu corpo.
— Cof, cof! — Josh força uma tosse quebrando o clima e salto da
mesa, batendo contra o corpo forte e bronzeado do secretário do diabo.
— Preciso ir — falo quase desesperada.
— Nós vamos — anuncia com a voz rouca pegando uma pasta. —
Depois converso com você, Joshua, e se falar um A, a conversa será no
RH.
Sem me despedir, passo por Josh e continuo meu caminho até o
elevador, ouvindo-os trocarem farpas atrás de mim.
Que merda você estava pensando, Diana Maria? Foca na sua
gata.
A Pudim precisa de você! Reforço em pensamento e entro no
elevador, sendo seguida por Lorenzo e seu perfume.
Beberico meu café preto, sendo aquecida pelo líquido forte, fecho
os olhos e meu celular vibra. Ao desbloquear, encontro uma foto da minha
gata, deitada dentro de uma caixa de papelão e meu peito se aperta com
seus olhos amedrontados.
— Já falei com o meu gerente — Lorenzo fala quebrando o clima e
tomando o celular das minhas mãos. — Ela também precisa de dieta.
— Não seja mal-educado com a Pudim — brigo pegando meu
celular de volta. — Quanto de juros vai querer?
— Nada. — Solta levando a caneca de café com leite até a boca.
— Nada?
— Isso — reforça, aumentando minha desconfiança. — Amanhã eu
vou com você, entrego o dinheiro e depois acertamos um dia para o
pagamento. Sem juros, sem cobrança. Você me paga quando puder.
— Por que está sendo bonzinho comigo? — Estreito meus olhos e
ele ri, deixando a caneca – agora vazia – de lado.
— Não estou sendo bonzinho, coelhinha...
— Já falei para parar de me chamar assim — murmuro entredentes
e ele ri.
Um som bonito e naturalmente sexy, que me deixa vermelha de
raiva.
— A minha proposta é simples: eu levo o dinheiro, resgato sua gata
e fim. Bom, fim não, já que você vai ter uma dívida comigo. — Sorri de
lado.
— Eu levo o dinheiro.
— Nem a pau. Acha mesmo que eu vou deixar você ir no meio de
um monte de homens barbados e bandidos carregando uma maleta de
dinheiro? Nem morto! — Sua voz se torna forte e um vinco se forma entre
as sobrancelhas escuras. — Eu levo o dinheiro e se quiser pode ficar no
carro.
— Lorenzo, você não entende...
— Você é quem não entende, Diana. Podemos não ser amigos,
mas não vou deixar você ir para o seu homicídio.
A forma que fala e me olha, faz uma sensação incômoda nascer
em meu estômago.
— Mas você pode ir?
— Eu sou homem. É muito mais fácil eles me respeitarem, do que
respeitar você. — Estende a mão na minha direção. — Vai aceitar minha
condição?
Pondero por longos segundos, olhando da sua mão grande e forte
para a mesa esbranquiçada.
É pela Pudim, penso apertando sua mão.
— Só mais uma coisa, você me deve um favor.
Sorri, e esse sorriso chega aos seus olhos, trazendo um estouro
estranho em meu estômago.
Estou na mão do secretário do diabo, mas se esse for o preço a
pagar para resgatar minha gata, eu acho justo.
Olho para nossas mãos juntas e subo o olhar para o seu rosto,
sendo arrebatada pela imensidão azul, o gosto amargo do café sobe e
retiro minha mão, voltando minha atenção para o café.
É só uma dívida. Uma dívida com o secretário do coisa ruim, mas é
por uma boa causa, repito mentalmente engolindo uma quantidade
generosa de café.
Chego ao local indicado e desligo o carro. Diana está apreensiva
no banco do carona e seus olhos estão carregados de lágrimas. Desde
que a peguei na esquina da sua casa, ela tem estado calada, e não a
julgo, se tivessem sequestrado o meu cachorro eu já teria feito o inferno
vir à terra.
— Tem certeza de que vai lá? — Sua voz é baixa e assinto, me
virando para pegar a mala preta.
— Não demoro. Não saia do carro para nada — instruo e ela solta
a respiração quente contra o meu rosto.
Nos encaramos por longos segundos, percebo suas pálpebras
trêmulas e me afasto desconcertado pelo seu hálito de morango.
— Eu já volto com a pulguenta.
— Pulguento é você — devolve dando um pequeno sorriso e me
sinto feliz por ter conseguido esse feito.
Tranco-a dentro do carro com medo de que faça alguma burrada, e
caminho até o prédio velho. Já na entrada, encontro dois homens vestidos
de preto, usando fuzis.
— Para onde playba[2]?
— Acerto de dívida com o Dom — informo e ele retira das costas
um rádio comunicador.
— Em nome de quem?
— José de Alencar Ferreira. — O homem de quase dois metros
assente e passa a informação.
A alça da mala machuca meus dedos pelo peso, mas continuo
segurando-a firme, como se minha vida dependesse disso, e no fim,
depende mesmo.
— Vamos! — Bate a mão em meu ombro. — Pode ficar tranquilo,
playba, só estamos garantindo que chegue ao seu destino.
O deboche na voz é um estimulante para que eu saia correndo,
mas continuo caminhando na direção que ele me indica. Passamos por
alguns corredores e o cheiro de cigarro e álcool se mistura ao ar, tornando
o ato de respirar uma missão quase impossível.
Paramos em frente a uma porta de metal, o homem baixinho que
me acompanhou dá três batidas na porta, que é aberta por outro homem,
dessa vez maior que o que passou o rádio.
— Tá entregue, playba, te aguardo aqui. — Bate novamente em
minhas costas e entro no que descubro ser um quarto.
Não olho para os lados, foco meu olhar no homem negro com os
cabelos raspados e piercing na boca e no nariz, que está sentado em um
trono de prata, me olhando como se fosse a porra do dono de mundo.
Caminho de cabeça erguida e postura ereta, mostrando minha
confiança e o deixando ainda mais intrigado.
— Você que é o Dom? — questiono em alto e bom som, ouvindo
murmúrios atrás de mim. — Estou em nome da dívida de José Ferreira.
Você está com uma coisa que pertence à filha dele, vim buscar.
— Achei que a filha dele fosse vir. Afinal, ela teve peito para me
chamar de merda — fala e fica em pé, com três passos se aproxima de
mim. — A vadia não me avisou que mandaria alguém, até pensei em fazer
uma festa para recebê-la.
Ele parecia ser alto sentado como a merda de um rei, e ao parar à
minha frente, percebo que dá abaixo do meu ombro. Engulo a vontade de
socá-lo, e me mantenho sério, o encarando.
— Você é o quê dela? — Mexe o pescoço me olhando de cima a
baixo e a tatuagem de cobra que cobre seu pescoço parece se mexer de
verdade. — Marido? Namorado?
— Segurança — minto e seus olhos castanhos brilham em
divertimento. — O dinheiro que pediu está aqui. Agora a gata.
— Calma aí, meu chapa. — Bate em meu ombro e o encaro feio. —
Preciso ver se está tudo certo. Sabe como é, negócios são negócios.
— Claro! Onde posso colocar o dinheiro? — pergunto apressado,
querendo deixar o ambiente que fede a mofo, cigarro e uísque barato.
— Cabeção, traz a mesa de metal aqui — pede e em menos de um
minuto uma mesa é colocada entre nós dois. — Não ligue para o sangue,
está seco. Essa é a minha mesa da verdade, tentou me enganar, só tem
um caminho e é sem volta.
A ameaça dança pelo ar, assim como o piercing em seu lábio
dança de um lado para o outro. Não digo nada e coloco a mala, abrindo-a
e retirando os maços e deixando-os sobre a mesa.
— Cada maço tem dez mil reais.
— Paçoca, a máquina — manda ansioso, pegando as notas e
levando ao nariz. — Rápido, incompetente!
— Aqui, senhor. — Coloca a contadora de dinheiro à frente do
chefe e outro traz uma cadeira alta.
— Pode começar, playba, e traga aquela bichenta até aqui. — Olha
para mim deixando uma arma sobre a mesa. — Para dar um incentivo e
não tentar me enganar.
Um outro homem traz a gata, que parece assustada dentro da
caixa de transporte e mia sem parar, volto meu olhar para o Dom, que
sorri faceiro.
— Continue, playba.
Não o respondo, apenas continuo tirando o dinheiro sabendo que
está tudo aqui, eu mesmo fiz questão de conferir antes de sair de casa.
O silêncio só é quebrado pelos miados e pelo som da máquina, que
trabalha incansavelmente. Deixo todos os montantes sobre a mesa e
aperto minhas mãos na frente do corpo, me mantendo na postura e
olhando o seu trabalho.
Quase vinte minutos depois, ele passa o último montante e meu
coração bate forte no mesmo ritmo que a máquina conta as cédulas.
— Duzentos mil. Certinho. — Sorri e só agora percebo que seus
dentes são revestidos por uma camada de ouro. — Entregue a gata. Sem
a caixa, quero ver ele levar esse bicho.
Os homens à minha volta riem e me aproximo da bolsa, pegando
dois mil dólares.
— Pela caixa transportadora. — Jogo sobre a mesa e os risos
cessam.
— Você sabe mesmo negociar.
— Eu apenas imaginei fora da caixa. Então, posso levar a caixa? —
pergunto calmo e o homem olha da caixa para mim.
— Que seja, com isso aqui eu posso comprar muito mais. — Pega
os dólares e cheira, fechando os olhos. — Que porra cheirosa. Acho que
vou começar a cobrar em dólares.
Pego a caixa preta e a gata se agita, encaro Dom, que prepara uma
carreira de pó e após cheirar, me olha.
— Foi bom fazer negócios com o senhor José, mande lembranças
a ele. Agora tirem esse playba daqui! — manda, e caminho até a porta.
O caminho de volta é mais rápido e só respiro direito depois de
atravessar a rua.
— Pudim! — É a primeira coisa que ouço assim que entro no
carro.
Diana pega a caixa e a abre, encontrando sua gata de pelagem
caramelo. Sento-me atrás do volante com as pernas trêmulas e retiro
meus óculos escuros, jogando-os sobre o painel.
— Você está bem?
— Estou. Coloque o cinto, quero sair logo daqui — mando, já
dando partida no carro, deixando o beco para trás.
Diana passa o caminho beijando e abraçando a gata, que parece
estar mais calma no colo da dona. Meus olhos fixam no asfalto e só me
sinto melhor ao chegar na esquina da casa dos Castro.
— Lorenzo! — Começa baixinho e puxo o freio de mão, a
encarando. — Obrigada! Se não fosse você, eu não sei o que teria
acontecido com a Pudim.
Fico sem jeito com seu agradecimento, Diana Maria não é de me
agradecer. Nunca!
— Eu te procuro para falarmos do pagamento — falo, saindo do
mar embaraçoso que nos metemos.
— Claro. Mais uma vez, obrigada. — Então sorri de verdade e
deixa o interior do carro, carregando sua bolsa rosa e a bola de pelos no
outro braço.
Sinto-me estranho com a forma doce que me agradeceu, mas não
paro para pensar nisso, preciso ir para minha casa tomar um banho e
queimar essa roupa.
Preciso esquecer esse dia, e lembrar que Diana Maria tem uma
dívida comigo, melhora meu humor, principalmente porque o resgate da
gata a deixa na minha mão.
É, Diana Maria, vou fazer valer a pena o apelido que me deu:
secretário do capiroto. Você vai comer na minha mão.
— Olha só, conseguiu recuperar a gata — José diz assim que entro
na mansão e lhe dou o meu melhor olhar enraivecido.
— Filha, tudo terminou bem. Não olhe assim para o seu pai.
— Mamãe, se não quiser que a esqueça, acho bom tentar parar de
tentar forçar algo que não tem mais volta. Esse homem que você diz que
é meu pai, colocou a nossa família em risco — aponto o dedo em sua
direção e minha mãe se cala. — E se ao invés da Pudim, tivessem levado
uma de nós? Ou melhor, já pensou que poderia ter sido a sua princesinha
Emília? Pois é, mãe, pense no que o seu marido fez e engole a sua
vontade de ter uma família unida, porque graças ao José, não vai
acontecer.
— Não seja malcriada, Diana. — José levanta falando grosso e
reviro os olhos. — Eu sou seu pai, você querendo ou não.
— Pois é, infelizmente não se pode escolher a família.
— Diana Maria Ferreira de Castro, desça já aqui e peça desculpa
ao seu pai — minha mãe diz com a voz estrangulada e dou a ela meu
melhor olhar de foda-se. — DIANA! — diz meu nome, entredentes e volto
a subir as escadas, ignorando todos. Ao entrar no meu quarto, coloco
minha gata sobre a cama, mas ela não para e gruda as unhas em mim,
querendo colo.
— Aqueles malvados te machucaram, meu amor? — Esfrego meu
rosto no seu. — Mamãe vai te levar todo dia para trabalhar, não vai mais
ficar aqui, sozinha. — Determino e lembro da caixa de transporte que ela
estava, não lembro o que Lorenzo fez, mas espero que tenha jogado fora
ou colocado fogo.

— Diana, que bom que chegou — dona Francisca fala séria sem
me olhar. — Preciso que arrume tudo. Isso virou um caos sem você,
anotei no papel e você passa para o computador. Preciso do prontuário
dos pacientes da semana. Acho que apaguei alguns, você vê isso e refaz
o que for preciso.
Sinto vontade de chorar, mas coloco um sorriso no rosto e vejo a
mulher me deixar sozinha com Pudim, que está quietinha desde que
saímos de casa.
— Diana, você apareceu — Tiffany diz parando na minha frente. —
O que houve? Você não é de sumir e não acreditei quando meu primo
ligou e falou que você estava doente.
— Sequestraram a Pudim. — Encontro a voz e ela olha para a
caixa rosa que estou segurando. — Seu primo me ajudou, estava
desesperada.
— Sinto muito. Como ela está?
— Assustada. Não quis deixá-la em casa e a trouxe para levá-la ao
pet shop depois. — Olho para a minha gata. — Ela vai ficar quietinha
comigo.
— Deixe que dou banho nela. Sei cuidar de animais traumatizados,
não precisa ter medo — fala carinhosa e toca meu braço. — Eu já tive um
cachorrinho quase na mesma situação, mas ao contrário da sua gata, ele
foi abandonado e estava assustado. Vou examiná-la.
— Ela está assustada. Pode se machucar e te machucar. — Busco
algo para não ficar longe da minha gata.
— Diana, eu sou uma profissional, se ela estiver muito agitada, vou
sedá-la e fazer os exames. Precisamos descobrir se não está machucada
por dentro, talvez esse medo todo não seja só medo e sim dor. — Alcança
a alça da caixa. — Confia em mim, amiga, Pudim está bem. Me envie o
prontuário dela e você a terá no fim do dia, cheirosinha — garante e
assinto, mas não deixo que ela pegue a caixa. Levo até a sala e deixo
Pudim sobre a mesa, acariciando sua cabeça e converso com ela,
dizendo que está tudo bem. Deixo um beijo em sua cabeça e saio da sala,
sentindo meu peito se apertar. Não gosto de ficar longe dela, mas sei que
ela está bem.
Minha gata está bem e salva, e isso é tudo o que importa.
Ao me sentar na cadeira de trabalho, solto um lamúrio alto vendo a
bagunça que Francisca deixou e estalo os dedos, sem saber por onde
começar.

ALGUMAS SEMANAS DEPOIS

Pudim se esfrega nos meus pés antes de entrar na caixa para tirar
sua soneca. Hoje faz um mês que ela foi resgatada, acabou ganhando
mais peso e está mais manhosa que nunca, e não nos separamos nem
mesmo para que eu vá ao banheiro.
Vi Lorenzo algumas vezes nesse meio tempo, e para não perder o
costume, as nossas trocas de farpas aconteceram, mesmo que não
estando tão animada para isso, já que ele salvou o ser mais importante na
minha vida.
O clima na mansão está horrível, minha mãe insiste para que eu
converse amigavelmente com José, que voltou a jogar e perdeu o único
carro da família. Minha avó jogou tudo na cara da filha e antes, disse em
alto e bom-tom que só não deixa a casa porque a dona sou eu, e isso fez
uma nova guerra se iniciar, mas dessa vez entre mim e minha irmã, que
não acha justo a casa e o terreno serem meus.
Não tenho culpa se minha avó achou uma boa ideia eu ser a dona,
ela que discuta com dona Venécia.
— Diana, os relatórios estão errados — Francisca joga na minha
cara a pasta. — Refaça e me entregue em duas horas.
— Não tem nada de errado nos relatórios. Tiffany mesmo viu e
assinou — falo indignada e a mulher me olha sob os óculos de grau.
— Está chamando sua chefe de mentirosa? — Nego e ela batuca
os dedos sobre o mármore. — Não é porque você está saindo com o dono
disso aqui, que você tem voz. Você é uma mera secretária, que se não
refazer os relatórios em duas horas, vai ser demitida. Está avisada.
Engulo em seco e abro a pasta, vendo que não tem nada de
errado.
— Não gostei da fonte usada — fala em bom-tom já me deixando
sozinha.
Respiro fundo e busco pela cópia do documento, mudando a fonte
e mudando algumas coisas de lugar. O sininho da porta me desconcentra
e ao virar, encontro Gustavo com dois copos de bebida e um sorriso falso
nasce em meus lábios.
— Boa tarde, Diana! — Sorri me estendendo um copo. — O dia
está friozinho, resolvi passar para te deixar um chá quentinho.
Ele tem feito muito isso nas últimas semanas.
— Que gentileza sua. — Sorrio pegando o copo e agradeço por ele
estar quentinho. — Como Timoteo está?
— Bem. Amanhã é a consulta dele. — Sorri e apoio o braço no
balcão. — Ele está com saudades dos seus afagos.
— Ah, que fofo! — murmuro engolindo o líquido quente e sentindo
meu estômago protestar pelo gosto amargo.
— Diana — ergo os olhos encontrando os deles brilhantes —,
estive pensando, se qualquer dia desses você não gostaria de almoçar
comigo?
O convite chega junto com o barulho do sininho e meu sorriso
morre ao ver Lorenzo e Joshua entrando juntos. Os olhos azuis de
Lorenzo passam de mim para Gustavo, que espera minha resposta.
— Então, Di, o que acha?
— Claro, vou adorar almoçar com você — minto e sinto um frio na
barriga com o olhar sério de Lorenzo.
— Então é assim? — A voz de Lorenzo chega forte me assustando.
— A gente tem uma briguinha boba e você já corre para outro?
Sinceramente, Diana Maria, achei que fosse me perdoar.
— Do que você está falando, Lorenzo? — questiono entrando em
desespero e ele se aproxima do balcão, expulsando Gustavo.
— Como do quê, meu amor? Do nosso mesversário de namoro que
acabei esquecendo. — Encara-me com intensidade. — Eu pedi
desculpas, não quis te magoar.
— Lorenzo! — Meu tom é de aviso, mas ele não se importa.
— Nunca achei que fosse se vingar assim. Agora entendo o motivo
de não me atender... — Vira-se para Gustavo — Já estava com outro na
mira.
— NÃO! Pare de ser mentiroso, Lorenzo. — Olho para o Gustavo.
— Nós não temos nada. Eu o odeio do fundo da minha alma. Lorenzo e
eu somos inimigos há vinte e cinco anos... É tudo mentira dele para
estragar minha felicidade.
— Mentira? — Lorenzo diz e o olho com raiva. — Não é isso que os
sites de fofoca dizem.
E sem esperar, ele coloca o celular na frente do meu rosto, onde
tem uma foto nossa e a seguinte legenda: Coração do grande empresário
Lorenzo Clifford foi fisgado?
— Isso é mentira! — murmuro e olho para ele. — Seu desgraçado,
isso aqui é mentira. Eu nunca iria querer ter algo com você.
— Amor, chega de fingimentos. — Suspira dramático e sinto
vontade de socá-lo. — Todo mundo já sabe e estão felizes por nós. Não
precisamos mais fingir essa inimizade.
Aperto o aparelho entre minhas mãos e Josh força uma tosse, só
ouço o barulho do sininho e ao olhar, vejo Gustavo sair correndo.
— Chá de novo, Diana Maria? — Pega meu copo e joga na lixeira.
— Você detesta chá. Deveria ter falado a ele, e ainda bem que te salvei
desse almoço, já pensou se ele te leva para comer comida japonesa?
— Seu desgraçado, por que está fazendo isso? — questiono com
raiva e jogo o celular sobre seu peito, o qual ele pega sem nem fazer
careta. — Josh, ligue para a sua mãe e avise que ela vai ficar sem um
filho hoje, porque eu vou matar o Lorenzo. Matar e comer o coração.
— Assim que as mulheres de antigamente demostravam seu amor
pelo marido. — Faz graça e bato as mãos na mesa, fazendo minhas
canetas caírem. — Diana Maria, pelo amor de Deus, já chega desse
fingimento, meu amor. Todos já sabem sobre nós.
— Não existe nós — murmuro entredentes e ele sorri se
aproximando e espalmando as mãos sobre o mármore.
— Existe sim. Chega de fingimento, coelhinha. — Pego meu
bloquinho e jogo em seu rosto. — Você tem uma dívida comigo — fala tão
baixo que assim que processo a informação, deixo a minha pedra cair no
chão, fazendo um barulho.
Meu coração vai parando de bater aos poucos e meu corpo cai
sobre a cadeira, miro o sorriso vitorioso no rosto do Lorenzo e sinto
vontade de morrer. Esse desgraçado nasceu para ferrar a minha vida.
Josh força uma tosse e meus olhos vão para ele, que parece mais
perdido que eu nessa história toda. Sinto vontade de chorar e tudo piora
ao ouvir a voz de Francisca:
— Diana, os relatórios, ou quer ser demi... — Sua voz morre ao ver
Lorenzo parado. — Senhor Clifford, não sabia que viria hoje.
— Pois é, passei para dar um oi para a minha namorada — fala
cínico.
Prefiro sumir do que ser namorada do secretário do capeta.
Ai, meu Deus, dai-me sabedoria para me livrar dessa história, ou
ainda vou parar na cadeia por assassinato.
Não lembro ao certo quando Diana começou a me considerar seu
inimigo mortal. Talvez desde sempre? Não faço ideia, mas a questão é
que agora parece realmente que ela vai me matar, e posso ter dado
motivos, mesmo que sem querer.
Porra, vou fazer trinta anos semana que vem e acabei de agir como
uma criança birrenta que estava perdendo seu doce. Mas não importa
mais, porque espantei o vovozinho que lhe dá os chás que tanto odeia.
— Senhora Francisca, será que podemos conversar sobre os
relatórios? Também tive umas ideias para atrair mais clientes — meu
irmão diz ao sentir o clima estranho e a mulher baixinha apenas assente
intercalando o olhar entre mim e Diana, que segura com força um lápis.
— Na verdade, terão que fazer isso aqui porque preciso conversar
a sós com a minha namorada — repito a palavra e os olhos azuis estão a
dois segundos de pularem em meu rosto. — Josh, cuide de tudo, volto em
meia hora.
— E se ele não voltar, não se preocupe em procurá-lo, estará
jogado em uma vala qualquer — Diana diz e é possível sentir a verdade
em sua voz. Mantenho-me calmo por fora, tentando manter tudo em
ordem. Vejo-a sair de trás do balcão e respiro aliviado ao vê-la entregar a
corrente da gata para o meu irmão.
— Mamãe volta logo, e dependendo de como as coisas aconteçam,
teremos que virar fugitivas — murmura olhando para mim e a gata mia
alto, aprovando a ideia da dona.
— Vamos, querida, ainda preciso ir trabalhar. — Cutuco a coelhinha
com vara curta e novamente seus olhos dobram de tamanho.
Sem dizer uma só palavra, deixamos a clínica para trás e
caminhamos até a lanchonete. Deixo que Diana escolha a mesa mais
afastada e vou até o balcão fazer o pedido, voltando em segundos e a
encontrando ainda mais brava.
— Você tem merda na cabeça?
— Isso não é jeito de falar com seu namorado — murmuro olhando
para os lados e vendo se tem alguém prestando atenção em nós.
— Namorado? Bebeu urina? Deus, se eu tivesse uma faca...
— Diana Maria — falo sério e sua respiração se altera, ficando
mais forte. — A questão aqui é de suma importância e espero que deixe
de ser criança e me ouça.
— Criança? Você entra na clínica estragando meus esquemas e a
criança sou eu? Que ideia foi essa de dizer que somos namorados? Que
matéria era aquela? — Bate as mãos na mesa e a garçonete aparece com
nosso café. — Fez toda aquela cena ridícula, me fez passar vergonha...
Agradeço, pois o meio segundo que a mulher parou ao lado da
mesa, serviu para me manter longe da fúria de Diana.
— Lorenzo, você tem um minuto para me explicar a merda que fez
ou vou te matar com o meu café. — A firmeza das suas palavras me pega
desprevenido e sei que ela é capaz disso, até porque quando tínhamos
doze anos, ela avisou que se eu não parasse de atormentá-la trocaria
meu shampoo por xixi, mas acabou que ela trocou meu shampoo por tinta
verde fluorescente.
Fiquei quase dois meses brilhando.
— Certo, apenas me ouça. — Coloco a mão sobre a mesa e
diminuo meu tom de voz, olhando em volta. — Preciso de uma namorada
e vai ser você. Nem abra a boca para negar, você tem uma dívida comigo,
afinal, resgatei sua gata.
— Eu iria...
— O dinheiro veio da minha conta pessoal e não estou te cobrando
juros, então, fica quieta e me ouve — peço um pouco irritado e me
arrependo pela brutalidade das minhas palavras.
— Fale, seu minuto está quase acabando.
— Você sabe que desde sempre a empresa é meu sonho de
consumo. Sentar no topo e comandar, estudei e me dediquei para isso. —
Vejo-a levar o café até os lábios. — Meu avô quer se aposentar, e para
que eu fique no cargo que é meu por mérito e direito, preciso querer
construir uma família.
— Onde eu entro nisso?
— Como minha namorada e futuramente esposa. — Ela tosse e me
apresso em bater em suas costas. — Não vamos chegar a nos casar, só
vamos fingir que estamos fazendo planos e tudo mais. Em seis meses no
máximo, você me dá um pé na bunda e fim de romance. Eu sofro na
presidência e você sai como a destruidora de corações.
— O que te faz pensar que eles vão acreditar? — pergunta com a
voz rouca pela recente crise de tosse.
— Bom, o seu ódio mortal por mim é que não. — Faço graça e me
arrependo. — Todos dizem que vamos ter alguma coisa desde que temos
dez anos, e você me jogou na piscina só porque te olhei por três
segundos.
— Você me encarava como um psicopata e falou que meu biquíni
era feio. — Lembra e acabo sorrindo com a lembrança. Foi uma tarde e
tanto, tirando a parte de eu quase morrer afogado.
— Que seja! Minha mãe te adora, meu avô considera muito seu pai
e tem umas fotos nossas rodando pela internet. Você está sendo
apontada como meu grande amor. — Faço drama e ela revira os olhos. —
Faz quase três meses que não saio com nenhuma mulher, Gabriel mesmo
espalhou pela família e logo as fotos de nós dois no dia do resgate
surgiram. Acho que tinha algum paparazzi na frente da sua casa.
Ela me olha desconfiada e opto por não contar que a ideia foi
minha, ela não precisa saber todos os passos do meu belo plano para
conseguir a cadeira da presidência.
— O que eu ganho?
— Um namorado lindo, bom de cama e que vai te mimar...
— Eu vou te matar — murmura entredentes. — Não vamos transar,
se tocar em mim com segundas intenções, faço picadinho de você,
Lorenzo. Se quer mesmo que eu entre nessa, vai ter que se contentar
com meus beliscões e em ser fiel. Serão seis meses de celibato.
— Você é muito carinhosa com os outros, já com o seu namorado,
fala até em greve, que feio! — Tento novamente fazer graça e só ganho
mais um olhar irritado. — Certo, vamos falar como dois adultos.
— Até que enfim, e pode agilizar? Sabe como é, meu chefe é um
pé no saco que só me dá mais trabalho, sem aumentar meu salário —
alfineta me fazendo sorrir.
— Diana, você precisa pagar a dívida e eu preciso de uma
namorada para enganar meu avô. Será um acordo vantajoso, se aceitar
eu cobro apenas a metade do valor que te emprestei e ainda te dou o seu
apartamento que comprei por uma mixaria.
— Meu apartamento? — Concordo e seus olhos ganham um brilho
diferente. — Um apartamento e um carro zero na garagem?
— Isso está saindo mais caro — murmuro e ela finge não me ouvir.
— Um apartamento, um carro zero na garagem e mais um closet
com roupas, sapatos e bolsas do ano? Acho que posso topar.
— Diana, eu quero uma namorada não uma golpista. Não vou
ceder ao que você quer.
— Vai sim, porque eu mereço, afinal, vou ter que te aturar. — Sorri
e estende a mão na minha direção. — Eu quero um contrato. No fim disso
tudo, saio com cem mil a menos de dívida, meu apartamento, um carro e
uma pensão gorda por seis meses.
— DIANA MARIA! — Trinco o maxilar e sua mão continua
estendida.
— É pegar ou largar, Lorenzo. Veja pelo lado bom, eu quis a
pensão, não as roupas.
Respiro fundo e sem alternativas aperto sua mão, selando nosso
acordo e sentindo que isso vai dar muito errado, mas está feito.
— Que eu não me arrependa até o fim.
— Que eu não te mate até o fim. — Pisca os grandes cílios e volta
a tomar seu café como se nada tivesse acontecido.
O que eu não faço pela minha cadeira?
Olho-me uma última vez no espelho e saio do quarto, encontrando
meu cachorro esparramado em meu sofá. Moro a duas quadras da casa
dos meus pais, meu avô e meu irmão moram com eles. Ganhei essa
mansão quando fiz dezoito anos, foi o último presente de dona Germânia
e só vim morar aqui, depois que adotei o Hades.
— Ei, se comporte — falo e ele continua roncando com a boca
fechada e a língua para fora, com as quatro patas viradas para cima. —
Hades? Cachorro preguiçoso, estou saindo.
Balanço as chaves e ele dá um pulo, me olhando atentamente.
— Seu safado! Quer ir passear na casa da vovó? — Boceja vindo
para perto de mim. — Vai ter que se comportar e nada de ficar pedindo
carinho. Hoje a família vai saber que eu e a coelhinha estamos juntos.
Não estrague meus planos. — Arrumo sua coleira e pego a guia — E vá
até ela pedir carinho. Só até ela, mostre que está acostumado com ela.
Entendeu?
Hades me responde com um bocejo e beijo sua cabeça,
acariciando seu pescoço gordo.
— Apenas ela, Hades, ou mando a Tiffany aumentar sua dieta.
Como todo bom animal, Hades ignora e caminha apressado até a
porta. A casa é grande, por isso tenho algumas empregadas, que apenas
acenam quando saio. Arrumo Hades na cadeirinha e pego meu celular,
vendo se minha falsa namorada não me enviou algo, e tenho apenas as
mensagens visualizadas.
Desde que selamos nosso acordo, ela não quis mais olhar na
minha cara, isso tem cinco dias, mas hoje vai mudar. Josh é quem mais
me incomoda sobre esse relacionamento, tentando entender como
aconteceu e apenas o ignoro, não combinamos nada e pelo andar da
carruagem, não iremos combinar, será tudo no improviso.
— Esteja gata e gostosa, coelhinha. — Envio o áudio e entro no
carro, dando partida e deixando minha mansão para trás.

— Meu menino, ficando mais velhinho. — Dona Caroline me abraça


assim que passo pela porta. — Parabéns, meu amor, tenho certeza de
que está entrando na melhor fase da sua vida.
Deixa um beijo em cada lado do meu rosto e pega a guia de Hades,
levando-o para dentro, como se eu não fosse nem um pouco importante.
Acompanho-a até a sala, encontrando todos os convidados reunidos e
meus olhos se demoram em Diana Maria, que usa um vestido de tecido
claro e saia soltinha, justo na parte de cima, revelando uma parte do seu
busto.
— O aniversariante da noite finalmente chegou — minha mãe
anuncia e tenho os olhos de todos em mim. — Venha, querido, sente
perto da vovó — diz ao meu cachorro e meu irmão ri, ganhando um olhar
enraivecido da nossa mãe.
— Hades está tão magrinho, tem certeza de que receitou a dieta
certa, Tiffy?
— Sim, tia, eu tenho. E Hades ainda está gordinho — minha prima
avisa e Hades se torna o centro das atenções.
Meus olhos fixam em Diana que ri de algo que a irmã diz antes de
finalmente me olhar, aponto com a cabeça para a cozinha e ela revira os
olhos, voltando a atenção para a irmã.
Respiro fundo e peço licença, caminhando para a cozinha. Sei que
meu avô está de olho em mim, só hoje ele foi na minha sala umas duas
vezes, assim como meu pai, que foi o primeiro a me desejar feliz
aniversário, me dando uma passagem para o Havaí como presente. Na
verdade, ele disse: para você curtir com a sua garota. O que só reforça
que todos estão sabendo do meu caso fictício com Diana Maria.
— Achei que demoraria mais — murmuro vendo-a pelo reflexo da
geladeira. — Precisamos conversar.
— Lorenzo, eu te odeio — fala, e viro para encará-la.
— Me conte uma novidade, coelhinha.
Seus cabelos estão ondulados e caem pelo seu ombro, as mechas
escuras deixam seu rosto com aspecto de mulher mais madura, mesmo
que eu esteja vendo a adolescente de dezessete anos que chutou o meio
das minhas pernas em uma noite qualquer.
— Eu vou te matar! — Seus olhos faíscam.
— Coelhinha, isso não é modo de falar comigo. — Dou um passo
na sua direção, olhando fixamente para sua boca.
— Eu odeio esse apelido.
— Eu sei, por isso fica melhor de usar. — Prendo-a contra a mesa
e seus olhos encontram os meus. — Você está linda, meu amor.
— Enfie seus elogios no seu...
Ela se cala quando meus dedos tocam seu pescoço e sua boca se
abre em surpresa. Dedilho meus dedos pela pele macia, subindo para
perto da sua orelha, meus olhos ora presos no seu olhar, ora em sua boca
pequena e pintada de rosa.
— Lorenzo, o quê...
Não a aviso, apenas fecho a mão em seu pescoço e puxo seu rosto
para perto do meu, tocando nossos narizes. Sua respiração quente bate
em meu rosto e suas pálpebras tremem, prontas para se fecharem.
— Você precisa parar de agir na defensiva ao meu lado —
murmuro sobre seus lábios, sentindo seu hálito de morango. — Não vai
ser bom para o seu acordo.
— Você precisa me soltar. — Traz as mãos para o meu peito e sua
língua passeia pela minha boca, de maneira provocante.
— Tentando me seduzir, coelhinha? — Puxo de leve seu pescoço
para trás, separando nossas bocas. — Eu sou bom nisso, Diana.
— Eu também sei jogar, Lorenzo. — Sorri e agarra minha gravata,
puxando meu rosto. — E eu só jogo para ganhar.
Perdido nas suas pupilas dilatadas, levo minha mão esquerda ao
seu quadril, apertando de leve e grudando ainda mais nossos corpos.
Roço minha boca contra a sua, e sinto quando estremece, provoco-a com
os dentes e antes que a beije, ouço uma tosse que nos afasta com
ligeireza.
— Vovó, tudo bem? — Apressa-se em dizer, passando a mão pela
nuca e ficando de costas para mim.
Meus olhos descem pelas suas costas nua e a tatuagem de
serpente me chama atenção, mas antes que eu me aproxime, dona
Venécia entra no meu campo de visão.
— Sim, minha querida. Só essa tosse desgraçada. — Os olhos da
velha param em mim. — Lorenzo, não tinha te visto aí. Já estavam se
matando?
— Só para não perder o costume — murmuro me virando para a
geladeira, tentando não ser pego pelo volume em minha calça. — A
senhora precisa de algo?
— Só de um toalete, mas acabei me perdendo — fala com um
sorriso e a vejo olhar da neta para mim e balbuciar algo que não escuto.
— Eu levo a senhora — Diana se oferece e em segundos estou
sozinho na cozinha.
Penso nos contratos, mas o perfume doce que Diana usa ainda
está no ar e posso sentir seus lábios contra os meus. E por Deus, estava
a dois passos de enfiar minha língua na sua boca e fazê-la gozar em pé.
Preciso lembrar que é só um contrato, que não teremos contato íntimo.
— Filho? — Encontro minha mãe com um sorriso largo no rosto. —
Eu vi.
— Eu também vi a senhora me trocando por Hades. — Faço drama
e ela se aproxima.
Puxo uma cadeira e me sento, colocando as mãos sobre a mesa.
— Eu vi você e a Diana. — Engulo em seco. — Vi os olhares
quando você apareceu na sala. Então é verdade o que os sites de fofoca
andam falando.
— Não sei ao que está se referindo, mãe. — Tento sair e ela senta
à minha frente.
Dona Caroline segura minha mão e me olha com os mesmos olhos
do meu irmão, tentando decifrar minha alma e isso me faz engolir em
seco, porque na minha alma não tem nada de bom, além de trabalho.
— Vejo o amor nos olhos de vocês.
— Mamãe...
Ela nega e seus cabelos negros caem pelas suas costas.
— Você e a Diana fingiram tão bem. Nos enganaram por tanto
tempo, mas eu sempre soube.
Soube que ela queria me matar e não fez nada. Respondo em
pensamento e minha mãe sorri, afagando minha mão.
— Mamãe, a senhora está vendo coisas onde não tem.
— Os olhos de vocês não negam, estão carregados de amor.
Amor? Diana Maria me odeio desde que nos conhecemos na
escolinha. E olha que só tínhamos cinco anos.
— Mãe, eu e a Diana Maria...
— Seus olhos brilham ao falar o nome dela — interrompe-me e
respiro fundo.
Brilham de raiva.
— Fico tão feliz que vão se casar...
— Dona Caroline, a senhora está...
— Faça o pedido hoje, vai ser mais uma comemoração ano que
vem. Já imagino você com meu netinho, cantando parabéns — diz
esperançosa e meu coração parece que vai parar. — Não tenha medo,
meu filho, está só a família, faça o pedido.
— Mãe, ainda é recente. Estamos curtindo sem a família — minto e
ela nega.
— Bobagem, seu avô tem um presente para você. — Olha para o
lado e o velho Antony aparece sorrindo, como se soubesse que tudo é
mentira. — Dê a ele, meu sogro. Encoraje-o.
— Mamãe, não é assim. Estamos só no começo, queremos ir com
calma. — Tento, mas o olhar do meu avô denuncia que ele sabe mais do
que eu.
— Calma? Meu filho, hoje você está completando trinta anos, para
quê calma?
— Sua mãe tem razão, Lorenzo. Se eu fosse ter calma, vocês não
estariam hoje aqui — Senta na outra cadeira e coloca uma caixinha preta
sobre a mesa. — Eu e sua avó nos casamos só um mês depois de termos
nos conhecido e foram os melhores cinquenta e cinco anos da minha vida.
Não perca mais tempo, sua mãe tem total razão em dizer que seus olhos
brilham ao falar o nome da Diana. Vamos, seja homem e a peça em
casamento.
A forma como fala é recebida como um desafio e pego a caixinha,
abrindo e encontrando um solitário.
— Era da vovó. — Engulo em seco e meu avô assente.
— Ela iria gostar que desse a Diana, Germânia sempre adorou a
loirinha e sabia que as implicâncias acabariam no altar.
Fico em silêncio olhando para a peça de ouro branco, com um lindo
diamante rosa no topo, como se realmente fosse para Diana Maria, já que
a mesma adora essa cor.
— Faça o que o seu coração mandar, meu filho. — Minha mãe toca
minha mão. — Eu sei que ele vai mandar você fazer a coisa certa.
Ela e meu avô ficam em pé e guardo o anel na caixinha, também
ficando em pé.
— Vamos, tudo já está pronto no jardim.
— Será uma noite e tanto, minha nora — meu avô diz e olha para
mim.
É pela minha cadeira. Só por ela. Penso andando até o jardim,
encontrando uma mesa de mais de dez lugares posta bem no centro, que
está enfeitado com bolas amarelas e velas brancas.
Diana ri de algo que meu pai diz e o som parece aquecer meu peito
e pesar o meu bolso onde o anel está.
Será só por seis meses. Eu posso fazer isso.
Sento-me ao lado dela que para de rir e todos à mesa se calam, me
olhando. Viro o rosto em sincronia com o de Diana Maria e nos
encaramos, engulo em seco lembrando da sensação de calor dos seus
lábios e a aliança se torna chumbo em meu bolso.
Serão só seis meses. Repito em pensamento e desvio o olhar,
então minha mãe manda que o jantar seja servido e ganho mais um
tempo.
Mesmo que tempo seja a última coisa que eu tenha, segundo o
olhar de gavião do meu avô que está sentado na ponta da mesa.
Eu devo ter bebido água na lata do lixo, porque não é possível que
eu tenha cogitado beijar o secretário do diabo. Minha avó percebeu que
tinha algo de errado, mas não fez nenhum comentário desnecessário,
diferente da minha irmã que além de fazer piadinhas, agora está a ponto
de tirar o silicone do peito e esfregar na cara do Lorenzo, que está trêmulo
ao meu lado.
— Eu vi as notícias que está saindo com a minha filha — José diz
levando uma taça de champanhe aos lábios e afasto meu prato, perdendo
a fome.
— Quais as suas intenções com ela?
— Acho que isso só diz respeito a nós dois — respondo recebendo
o olhar de quase todos os presentes.
— Eu só quero cuidar de você, princesa — fala cínico e limpa a
boca no guardanapo. — A vida é assim mesmo, a gente cria os filhos e
eles se tornam isso. Parecem bichos que só falta nos engolir vivos.
— Minha neta tem razão, se ela e Lorenzo tem algo, é só deles.
Não tem porquê se intrometer, José, ela é crescida e sabe o que faz —
minha vó diz e sinto a mão quente de Lorenzo encontrar a minha,
apertando-a.
— Ai, vovó, quando Lorenzo iria querer algo com a minha irmã? Por
favor, sejamos realistas. — O desdém de Emília me afeta mais que o
imaginado.
— Achei que o jantar era para comemorar os trinta anos do meu
neto, não se Diana é boa ou não para ele — senhor Antony diz, calando
todos. — Os dois são crescidos, meu neto é um homem de verdade que
sabe o que faz. Não é, Lorenzo?
— Sim. — Força um sorriso e nos olhamos.
O mesmo frio na barriga de mais cedo volta e meu corpo arrepia.
Engulo em seco e desvio o olhar para frente, encontrando Tiffany e Josh
me olhando, intrigados.
— Gostaria de dizer algumas palavras, meu filho, antes de
prosseguirmos para o bolo? — dona Caroline pergunta, solícita, e não
disfarça o sorriso ao nos ver de mãos dadas.
Repito mentalmente que tudo é por conta do contrato que eu nem
assinei ainda.
— Não, mãe, podemos cortar o bolo, sem parabéns. — A voz rouca
de Lorenzo rompe o vento frio que chega me fazendo tremer.
Odeio o frio!
— Não seja mal-humorado, quero ver Diana mergulhar sua cara no
bolo — Josh fala, fazendo todos rirem e me encolho com frio.
— Falei para trazer um casaco, o clima está mesmo para chuva —
minha avó diz e minha mãe concorda, mentindo para dona Caroline,
dizendo o quanto dou trabalho e não a escuto.
Por Deus, por que ela não fala que o marido enfiou todo mundo em
uma vala e estamos só esperando sermos enterradas?
Abraço meu corpo, afastando a mão quente de Lorenzo e dona
Caroline pede para que os pratos sejam recolhidos e que o bolo seja
trazido à mesa. Em um ato simples, Lorenzo coloca o paletó sobre meus
ombros, encaro seus olhos buscando respostas e ganho apenas um
sorriso de lado e seu dedo resvala pela minha bochecha gelada.
— Eu disse que tem algo rolando — José diz quebrando o clima. —
Quero saber quando o casamento sai.
Abaixo a cabeça sem saber o que responder. Vamos apenas fingir
um namoro, nada de casamento.
— Posso preparar tudo em duas semanas — minha sogra de
mentira diz e meus olhos se arregalam. — Posso começar amanhã
mesmo.
— Mãe, está assustando a Diana Maria.
— Ele é tão fofo chamando-a assim — minha vó diz e meus piores
sonhos começam a acontecer.
Coloco minha mão no bolso do paletó e encontro uma caixa
quadrada, ao retirar do bolso, volto a colocá-la de volta, prendendo a
respiração.
— Lorenzo, eu vou te matar — murmuro entredentes e todos
ouvem.
— Diana Maria, eu posso explicar. — Apressa-se em dizer e José
fica em pé, pegando uma sacola preta.
— Bom, eu sempre soube que esse dia chegaria, por isso, gostaria
que recebesse esse humilde presente em nome de toda família Castro. —
Estende a sacola e puxo a mão de Lorenzo, antes que ele aceite.
— Fale por você — falo irritada ao ver que se trata de um relógio
que vale mais que temos. — Precisamos conversar. — Olho para Lorenzo,
ao ficar em pé. — AGORA!
Ao sair pisando duro, posso ouvir ao fundo Gabriel e Josh tirando
sarro de Lorenzo, mas não paro de caminhar até chegar à área da piscina
aquecida.
— Diana Maria...
— Casamento? Em duas semanas? Que porra você tem na
cabeça? — Viro-me irritada e a respiração dele está ainda mais acelerada
que a minha. — Lorenzo, isso não estava no nosso acordo.
— Eu sei, porra! — exaspera e passa a mão pelos cabelos escuros.
— Acha que eu quero casar? Pelo amor de Deus, Diana Maria, eu só
tenho trinta anos.
Sento-me no banco e olho para o seu reflexo na água azul da
piscina. Prendo o ar e busco a caixinha novamente, abrindo e me
surpreendo pelo diamante rosa.
— Era da minha avó. — Assusto-me com sua aproximação. — Ela
amava rosa, assim como você.
Pego o anel da caixinha e ele pega minha mão direita, deslizando
sem delicadeza alguma, o anel pelo meu anelar. Engulo em seco,
sentindo meus lábios secos e os olhos marejados.
— Ficou perfeito em você! — sussurra e seu rosto toca o meu. —
Sei que não foi o que combinamos, mas pode fazer isso? Pode ser minha
esposa?
O pedido inusitado faz meu peito se apertar e o coração bater mais
forte, olho em seus olhos e sem controle, minhas mãos sobem para o seu
rosto, sendo espinhadas pela barba recém-feita.
— Diana, coelhinha... pode... pode fazer isso? Pode ser minha?
— Lorenzo... — Solto o ar pela boca devagar e novamente, nossas
respirações se misturam.
Lentamente nossas bocas se encontram e Lorenzo abraça minha
cintura, me puxando para mais perto antes de subir a mão para a minha
nuca e aprofundar o beijo. Fecho os olhos, entregue à sua língua quente e
lábios experientes, deslizo as mãos para suas orelhas arranhando a área
de leve, antes de subir para os seus cabelos, transformando o beijo
quente e úmido, em mais selvagem.
Meu corpo vibra, aquecendo em uma velocidade assustadora. Tudo
se torna um borrão, quando sua mão sobe pela minha coxa arranhando
de leve minha pele, me perco nas sensações, esquecendo por um
momento em que lugar estamos, e solto um gemido rouco.
O ar se torna escasso e nossas bocas se separam com pequenos
beijos, Lorenzo segura as laterais da minha cabeça e prende meu lábio
inferior entre os dentes, se afastando e descansando a testa contra a
minha.
Continuo de olhos fechados, sentido o formigamento tomar conta
da minha boca e só recobro a consciência quando seu riso frouxo explode
pelo local.
Assustada, me afasto e fico em pé, passo a mão pela minha boca.
— Desgraçado!
— Diana, eu...
— Beije-me novamente e juro que arranco sua língua.
— DIANA! — murmura e meus passos se tornam ligeiros para fora
da área privada.
Encontro todos conversando em silêncio, dona Caroline me olha,
sorrindo ao mirar minha mão e então percebo que cometi o erro de deixar
o anel.
— Ela aceitou! Veja, seu Antony, ela aceitou! — Bate palmas e
Hades vem para minhas pernas, se esfregando.
— Não, dona Caroline... eu e seu filho...
— Duas semanas, mãe. — Lorenzo para sem fôlego atrás de mim,
colocando a mão em minha cintura. — Tem duas semanas para organizar
o melhor casamento da cidade.
Piso em seu pé, assustada pelo olhar de todos, principalmente do
senhor Antony, que parece desacreditado. Viro o rosto para Lorenzo
ganhando um beijo na bochecha e seus lábios escorregam para a minha
orelha.
— Sorria, coelhinha, em quinze dias você vai ser uma Clifford e aí
sim, vai saber como o secretário do diabo trabalha.
Engulo em seco e pulo assustada com o flash da câmera de
Gabriel.
Que bagunça a minha vida acabou de virar?
Não foi um sonho. É tudo o que sei ao acordar com uma puta dor
de cabeça e uma aliança enorme no meu dedo.
— Pudim, o que eu fiz da minha vida? O que eu aprontei na vida
passada para estar recebendo esse castigo? — questiono, passando a
mão pela pelagem da minha gata, que apenas mia voltando a fechar os
olhos.
Passo a mão pela minha testa e ergo a outra para olhar de longe a
aliança, o rosado da pedra mais o prateado do círculo, contrastam
perfeitamente com a minha mão branca, deixando uma ligeira sensação
de calor em meu ventre.
Como que um jantar de aniversário, que deveria terminar com eles
descobrindo o namoro falso, acabou comigo noiva, e pior, de um homem
que odeio.
Odiar é uma palavra muito calma para a tempestade que sinto
quando estou perto demais daquele ser humano. Lorenzo consegue
despertar meu lado assassino com um simples respirar, e juro, que se não
fosse tão difícil esconder um corpo, eu já teria cometido uma loucura.
Quando ele exibe aquela boca cheia de dentes brancos e
pronuncia: coelhinha, sinto minha boca espumar de raiva.
As coisas seriam mais fáceis se eu pudesse esquecê-lo de vez,
mas nem a temporada fora do país ajudou nessa missão, pelo contrário,
só fez o sentimento dentro de mim expandir.
Meu despertador toca, tornando o pesadelo mais real e sou
obrigada a deixar o calor da minha cama. Odeio ter que trabalhar, ainda
mais no frio, e odeio muito mais aquele que se diz meu pai, por ter jogado
o patrimônio da família no lixo, por puro egoísmo. Ele nunca quis que eu
ajudasse, mas adora jogar na minha cara que se não fosse por ele, eu
não teria passado na faculdade de contabilidade.
Olho-me no espelho tentando encontrar a mulher que um dia quis
ser e só encontro decepção.
— Cadê a Diana que queria ser médica? Aquela que olhava para si
e desejava ser a melhor doutora do mundo? Onde foi que eu me perdi?
Meu reflexo parece rir de mim e em um suspiro longo, abro a
torneira enfiando o rosto na água gelada.

— Bom dia, doutor!


— Bom dia, Diana! Parabéns pelo noivado. — Forço um sorriso e
me jogo na cadeira, vendo-o subir para o segundo andar.
— Ouviu essa, Pudim? Está todo mundo sabendo — cochicho para
a minha gata que continua lambendo a pata.
O barulho do sininho me faz voltar a postura inicial e quase choro
ao ver a mulher bem vestida à minha frente. Dona Caroline usa um
terninho azul e seus cabelos pretos estão em um penteado reto, para trás
dos ombros, uma verdadeira dama da sociedade que por imbecilidade do
Lorenzo, vai ser minha sogra.
— Bom dia, querida! Agradável aqui. — Sorri e batuca os dedos no
mármore. — Minha sobrinha já chegou?
— Ainda não, senhora — respondo e seus olhos descem para a
minha mão. — Sobre ontem, eu queria pedir desculpas...
— Não precisa pedir desculpas, estou feliz que você e meu filho
finalmente fizeram as pazes e se entregaram a esse amor que queima
sempre que vocês se olham.
Fico sem reação pela sua fala e ela toca meu rosto, me
assustando.
— Não precisa ficar envergonhada, no fundo todos sabiam que a
história de vocês terminaria assim. — Sorri gentilmente e recolhe a mão.
— Hoje vamos almoçar juntas, precisamos conversar sobre o vestido, as
flores, o buffet... — Suspira emocionada — Vai ser o casamento mais
lindo de todos.
— Vai sim. — Apenas concordo, sem saber o que dizer e dona
Francisca aparece com cara emburrada.
— Diana, quero um café preto descafeinado. Tem cinco minutos. —
Passa direto sem se dar o trabalho de cumprimentar e vejo dona Caroline
fazer careta. Engulo em seco e pego o telefone para fazer o pedido,
odiando minha chefe, pois ela faz questão de estacionar o carro na frente
da lanchonete, que a uma hora dessas, está praticamente vazia.
— Simpática a sua sogra, Tiffy — Assusto-me com a fala de
Caroline e levanto o olhar, vendo a ruiva parar próximo à tia.
Finalizo o pedido do café enquanto ouço as duas mulheres
conversarem.
— Nem me fale, tia, ela é a simpatia em pessoa. — Ri beijando a
tia nos dois lados do rosto. — Bom dia, noiva. Não deveria estar em casa,
curtindo meu primo?
— Eu gosto do meu emprego, e se ficarmos muito tempo juntos, é
perigoso enjoar. — Forço um sorriso.
Melhor longe ou vocês não terão um casamento para ir, e sim um
velório.
— Vou levar minha norinha para almoçar, está convidada, Tiffy.
Vamos falar sobre o casamento, e como organizei o seu, poderá ajudar
Diana com algumas coisas. O que acha?
— Por mim tudo ótimo! — Olha para mim e confirmo com a
cabeça.
— Ótimo! Pego vocês duas às onze e meia. Vou ligar para a sua
mãe, ela vai querer participar também. — Coloca óculos escuros e sorri
para nós duas. — Beijinhos, meninas, vejo vocês mais tarde.
— Minha tia é meio doida, mas é uma ótima cerimonialista —
concordo e Tiffany coloca a mão sobre o balcão. — Deixe-me ver de perto
essa aliança — pede, e toda sem jeito estendo a mão. Tiffany olha de
perto e afasta minha mão, assobiando e me mostrando a dela.
— Foi Lorenzo quem pagou. Gabriel estava mais quebrado que o
chão da sala da minha sogrinha — fala baixo olhando para a escada que
leva ao segundo andar. — A bruxa tá solta hoje, não é? Provavelmente
brigou com o namoradinho trinta anos mais novo e ficou revoltada.
A porta faz barulho e o cheiro de café chega até mim, puxo minha
mão e Tiffany me olha estranho.
— Preciso levar para a dona Francisca, pode atender a Pudim por
um minutinho — peço em pé e o entregador vai embora, levando o
dinheiro e uma gorjeta.
Não espero uma resposta e saio em disparada para o andar de
cima, rezando para que o café esteja quente o suficiente para que eu não
precise ficar ouvindo mais tarde.

— Essas aqui são as cores para a mesa. Qual você gosta mais?
— Rosa. Irá combinar com os vestidos das madrinhas e com todo o
resto — respondo cansada e minha sogra assente animada.
Passar por essa tortura de ter que escolher entre um e outro não
estava no contrato e juro que vou fazer o idiota sentado ao meu lado
pagar.
— Então, cunhadinho — minha irmã coloca os peitos falsos sobre a
mesa quase exibindo-os por completo e sinto uma raiva descomunal, que
acabo descontando na perna de Lorenzo com um beliscão.
— Diana Maria, meu amor, não gostou desse tom? — pergunta
segurando minha mão e aponta para um tom de rosa claro, meio
brilhante.
— Lorenzo — Emília chama sua atenção novamente. — Como foi
que se apaixonou pela Diana? Ela é tão...
— Ela — responde e o olho. — A pergunta não é como me
apaixonei, e sim, por que não antes?
Os olhos azuis miram os meus e um frio estranho se instala na
minha barriga.
— Diana, cada uma das suas madrinhas vai escolher um vestido,
ou quer todos iguais?
— Eu quero escolher o meu, Diana não tem um pingo de senso. Já
até sei qual vai ser o seu vestido de noiva, vi um lindo — minha irmã fala
levando a taça de suco à boca.
— Emília, sem senso é você — minha avó diz olhando feio para a
neta e minha mãe se dói, olhando feio para a mãe. — O casamento é da
Diana, guarde suas opiniões para o seu.
— A Diana não tem...
— Quero os vestidos iguais. Um rosa claro, meio opaco. As flores,
as mais delicadas e em tons de branco e rosa. — Sorrio e dona Caroline
anota. — Estava pensando em casar no Pallece. O que acha, querido?
Um final de semana de festas?
— Esse hotel é caríssimo! — Minha mãe abre a boca.
Os dedos de Lorenzo apertam minha cintura e Tiffany percebe,
escondendo um sorriso.
— Lorenzo, meu filho, responda sua noiva. Participe, será um
momento de vocês — dona Caroline ralha e o aperto em minha cintura
diminui, aproveito sua distração e novamente o belisco na coxa.
— A conta pode ficar um pouquinho salgada. — Uso meu tom mais
brando e olho para Lorenzo. — Mas merecemos depois de tantos anos
brigando e guardando esse amor no fundo de nossas almas.
Ele me encara como se quisesse fechar as mãos em meu pescoço
e Marta consegue fazer eu desejar isso após abrir a boca:
— Seu pai vai amar entrar com você.
— Não. Vou entrar sozinha. — Sou seca na resposta e viro para a
minha sogra. — Veremos o local em outro momento, preciso ir para o
trabalho antes que meu chefe encontre motivos para me demitir.
— Ele não faria isso.
— Ah, eu faria, mamãe — responde e esfrega a barba em meu
ombro. — O que eu não daria para ter Diana o dia todo ao meu lado, mas
também preciso trabalhar.
Meu rosto esquenta pelo olhar das cinco mulheres e sem querer
prolongar mais, me despeço delas, saindo de mãos dadas com Lorenzo.
Solto-me assim que chegamos ao seu carro e abro a porta de trás para
pegar Pudim.
— Diana Maria, hotel Pallace? Tá maluca?
— Maluco está você ao querer negar algo à sua noivinha. — Toco
sua mandíbula. — Você não queria uma noiva? Agora aguente. Obrigada
por ficar com a Pudim, seu Mathias, até mais — murmuro para o homem
que sorri pequeno. — Não se atrase para o trabalho, querido, nosso
casamento não sairá por menos de duzentos mil reais.
Dou as costas com Pudim em meus braços e caminho de volta
para a clínica veterinária, pensando em diversas formas de me vingar.
O tão temido dia do casamento chegou e contrariando minhas
expectativas, estou uma pilha de nervos. Gastei mais do que o imaginado
com esse casamento falso, não quero nem imaginar o quanto vou gastar
no dia que me casar de verdade.
Diana Maria contratou até um adestrador, tudo para que Hades e a
gata entrassem com as alianças, confesso que imaginei Hades correndo
para longe com as alianças presas no pescoço, por isso, minha mãe
achou mais prudente ele levar meus votos.
— Nervoso? — Assusto-me com a entrada repentina do meu pai e
solto o ar pela boca. — Eu não estava tão nervoso, como você. Não vá
desmaiar, toda a família está aí.
— Achei que seria algo pequeno.
— Acredite, para a sua mãe e sua noiva, está tudo pequeno. — Ri
e coloca a mão no bolso. — Como foi a sessão de fotos?
— Calma. Não achei que Gabriel e Josh apareceriam vestidos de
noiva — comento lembrando de ver os dois com vestidos bufantes para a
sessão de fotos.
Isso sem contar nas duas horas que passei fazendo poses sem vê-
la, nem tem necessidade de tudo isso, mas sei que se negasse algo, meu
avô desconfiaria. E o que são algumas fotos, comparada a minha cadeira
na presidência?
— Olha se não é o noivo que escondeu todo o jogo. — O velho
Antony entra sorrindo. — Confesso que achei que demoraria mais.
— Deveria demorar mais, só que foi na pressão — comento e ele ri.
— Diana queria esperar mais, estão comentando que ela está grávida.
— Eu também espero que isso não demore a acontecer — meu pai
fala e o suor desce puro gelo pela minha testa. — Um mini Antony Júnior
neto.
— Pelo amor de Deus, pai. — Solto o ar devagar. — Será Lorenzo
Junior. Chega de Antony nessa família.
— Não fale assim, Lorenzo Antoniel. — Meu avô faz graça.
— Está na hora — minha mãe anuncia entrando no quarto. — Está
tudo tão lindo, meu filho. Não estrague seu penteado, pois quero tudo
registrado desse momento. Estão gravando também, então não se
preocupe com nada, apenas foque na sua noiva que está linda.
— Mãe, ela não fugiu, não é?
— Não. Até te mandou esse bilhetinho. — Entrega-me um papel e
caminho até a janela.
Observo só convidados sentados, conversando, o juiz de paz
conversando animadamente com dona Venécia, e tento relaxar meu
corpo.
É só um casamento. Um evento qualquer.
“SE EU NÃO ENTRAR EM DEZ MINUTOS, NÃO ME PROCURE,
EU FUGI”
Balanço a cabeça sabendo que ela não vai fazer isso, já que
assinou um contrato na semana passada, alegando que se casaria
comigo e que ficaríamos juntos por seis meses, até ela me chutar para
fora. Confesso que imaginar Diana Maria pedindo o divórcio, sem nem ao
menos termos casado, traz uma sensação estranha no meu estômago.
— Vamos, Lorenzo?
Confirmo com a cabeça e guardo o papel no meu bolso,
caminhando até a minha mãe, que sorri emocionada.
O jardim da mansão está magnífico, minha mãe fez um verdadeiro
milagre em duas semanas e tenho certeza de que ela conseguiria fazer
dez vezes mais luxuoso se tivéssemos dado um tempo maior.
Graças a Deus a agenda do hotel estava lotada, com uma vaga só
para daqui dois meses e por isso, minha mãe convenceu Diana a casar na
mansão, que foi palco de muitas brigas de infância e discussões na nossa
adolescência.
A marcha nupcial começa a tocar e meu nervosismo se triplica,
paraliso ao vê-la dentro de um vestido simples, mas elegante. O tecido
branco cobre quase todo seu corpo, deixando um pouco do busto e os
ombros de fora, o decote em forma de coração faz minha boca se abrir em
desejo.
Porra!
Diana Maria caminha lentamente, o buquê com flores brancas,
rosas e roxas não se destacam tanto quanto seus lábios pintados de rosa
claro. Ela não usa véu, seus cabelos estão longos, com um penteado
trançado e em seu pescoço, o colar de pedraria azul que minha mãe
emprestou. Nossos olhares se encontram e os convidados evaporam,
minha garganta prende em um bolo e dou um passo na sua direção.
Ao estender minha mão em sua direção, sinto meu coração bater
mais forte e o sorriso nos lábios da minha coelhinha, me diz que ela
também sentiu.
— Está linda! — murmuro e seu rosto ganha um tom avermelhado.
Paramos em frente ao juiz de paz e não consigo desgrudar nossas
mãos.
— Boa tarde a todos, é com imensa alegria que celebro o amor
entre esses dois jovens...
Olho de canto de olho para Diana e suspiro, vendo a pele exposta
arrepiada. Não consigo controlar meus lábios que sobem em um sorriso e
volto minha atenção ao homem baixinho e careca, que continua falando
sobre o amor.
— Lorenzo Antoniel Clifford, é de livre e espontânea vontade que
recebe Diana Maria Ferreira de Castro como sua esposa?
A pergunta ecoa e a olho. Seus olhos azuis expressivos me
prendem e o sim sai alto o suficiente apenas para que ela e o juiz ouçam.
— Diana Maria Ferreira de Castro, é de livre e espontânea vontade
que recebe Lorenzo Antoniel Clifford como seu esposo?
— Sim — murmura umedecendo os lábios.
Viramos um de frente para o outro e seguro suas duas mãos,
sentindo a maciez e calor da sua pele. Diana parece tão afetada quanto
eu, e dos seus olhos, lágrimas finas escorrem pelo rosto, fazendo um
caminho sobre a maquiagem.
— Seus votos, Lorenzo — meu irmão diz fazendo todos rirem.
Assobio e Hades aparece correndo, não conseguindo frear e se
atrapalhando na cauda do vestido, que só agora percebi.
— Ei, garotão. — Contrariado, solto a mão dela e me abaixo
próximo ao meu cachorro. — Foi muito bem, agora vai lá com a vovó —
mando após pegar o papel e acaricio sua cabeça. Hades me obedece e
vai para perto da minha mãe, pulando na cadeira e sentando bonitinho, e
ao seu lado está a Pudim, que se recusou a entrar andando, o que
atrasou a cerimônia.
Limpo a garganta e olho para as palavras no papel, encaro Diana
que agora, me encara com expectativa.
— Tínhamos só cinco anos quando você chutou a minha canela,
aos dezessete, foi uma joelhada que quase me impossibilitou de ter filhos
— falo e todos riem, mas ela continua séria. — Aos vinte nos separamos,
para nos reencontrarmos com vinte e seis, e por Deus, como a menina
magrinha que odiava pentear o cabelo se transformou em um mulherão
que carrega o deboche como melhor amiga? Quando te encontrei, não
conseguia enxergar a Diana da minha infância e adolescência, mas sim a
Diana Maria, a que virou minha vida de cabeça para baixo. A que me tira
do sério e que tem uma gata que me odeia, mas se ela te faz feliz, o que
eu posso fazer? — pergunto olhando no fundo dos seus olhos. — Eu não
consigo ver outra mulher senão Diana Maria, a minha confidente e hoje,
mulher. E mal posso esperar para saber o que o futuro nos reserva,
querida, só quero que saiba que estarei ao seu lado em todos os
momentos.
Levo a mão ao seu rosto secando sua lágrima e escorrego a mão
para sua nuca, puxando sua cabeça de leve e beijando sua testa.
— Lorenzo, o secretário do capiroto — murmura se afastando. —
Se te chutei, foi porque me provocou. Se te acertei, foi para que nenhuma
outra te quisesse, se te atormentei a infância e adolescência, foi para ficar
marcada a vida inteira em sua vida. Quando foi embora para estudar,
achei que minha vida teria paz, mas não teve. — Lágrimas mais grossas
descem pelo seu rosto e continuo com o polegar, tentando secar. — Você
é insuportável, e passo a maior parte do tempo querendo te matar, mas
confesso que eu também não saberia fechar os olhos e saber que você
não está por perto. Seus olhos me acalmam, seu perfume, que eu gritava
aos quatro ventos que era horrível, se tornou meu lar, junto do seu abraço
quente. Você se tornou meu lar, Lorenzo, e mesmo que você me
atormente o resto da vida, eu não quero outra, senão com você.
— Diana — murmuro emocionado e ela traz sua mão ao meu
rosto.
Nossas testas se tocam novamente, fecho meus olhos não
compreendendo a guerra de sentimentos dentro de mim.
Uma guerra que só Diana Maria desperta e cessa.
Uma guerra, que eu tenho certeza de que vou perder.
Olho para a aliança de ouro ocupando um espaço singelo no anelar
esquerdo e suspiro. As coisas saíram do controle.
Os votos, aqueles votos, não eram os meus. Eu tinha escrito algo
bonitinho, mas ouvi-lo me fez esquecer o papel e improvisar. Improvisei e
escancarei meu coração na sua frente.
E o beijo? Simples, mas carregado de sentimentos.
— Minha esposa, me daria a honra da primeira dança? — Sua voz
rouca em meu ouvido me arrepia e assinto, girando em seus braços. —
Não acho que se esconder do marido esteja no contrato.
— Não seja idiota no meu casamento — murmuro deixando que ele
me conduza para a pista de dança, improvisada.
A orquestra que dona Caroline fez questão de contratar começa a
tocar uma música de Marron 5 e Lorenzo coloca uma mão em minha
cintura e eleva a outra. Respiro fundo antes de colocar minha mão em seu
ombro e aceitar que me conduza em uma valsa lenta e apaixonante.
Nossos olhares estão presos um no outro, e meu coração bate
esmurrando tudo à volta. Mantenho a cabeça erguida ao rodopiar em seus
braços, esquecendo onde estamos. Lorenzo me conduz com firmeza,
sorrindo e mantendo sempre os olhos em mim, ora desviando para meus
lábios que parecem dormentes pelo beijo que me deu após trocarmos a
aliança.
Após o último giro, Lorenzo faz meu corpo deitar para trás e nossos
narizes se tocam. Deslizo a mão pelo seu rosto e nossos lábios se
encostam de leve, em um beijo mais calmo que o antigo. Ao me subir,
abraça minha cintura e uma salva de palmas surge, nos assustando.
— Nossa vida de casados está só começando, Diana Maria Castro
Clifford. Senhora Clifford — sussurra e Josh aparece pedindo uma dança.

Sem lua de mel, a desculpa foi: muito trabalho para poucos dias de
descanso, então ficou acordado para dona Caroline, que supostamente
iremos sair de férias em seis meses e curtir uma viagem de casal. Mal
sabe a mulher que em seis meses estarei pedindo o divórcio, e não
curtindo a Grécia.
— Bem-vinda ao seu lar — Lorenzo fala abrindo a porta da frente e
me encarando.
— Legal — murmuro soltando Pudim, que entra na mansão e se
espreguiça, e Hades vem para perto dela, cheirando-a.
— Esse animal não vai machucar meu cachorro?
— Esse animal é a Pudim e ela não é agressiva. Tem que cuidar se
o seu animal não vai engolir a minha gata — aponto para seu peito e ele
respira fundo.
— Hades só come comida premium.
Fecho a mão em punho, mas sorrio e o ignoro, olhando em volta. O
casamento ocorreu à tarde, e a hora do sim aconteceu bem no horário do
pôr-do-sol, e segundo dona Caroline, as fotos ficaram lindas.
— Não vai entrar?
— Você não me convidou para entrar — digo elevando uma
sobrancelha e ele bufa, esfregando as mãos pelo rosto.
O vento frio da madrugada bate em meu corpo e sem que eu
espere, tenho meu corpo suspenso e Lorenzo está entrando dentro da
casa.
— Os funcionários olham a câmera de segurança, não seria legal,
estarmos brigando no primeiro dia de casados — justifica e começa a
subir as escadas.
Fico em silêncio sendo preenchida pelo seu perfume e fecho os
olhos quando ele empurra a porta do quarto.
— Nós não vamos dormir juntos — falo ao ser colocada na cama.
— Pode ir para o outro quarto e foda-se as empregadas, elas não têm
nada a ver com a vida dos patrões.
— Tem razão, mas elas vão correndo contar para o meu avô. —
Livra-se da gravata e começa a desabotoar a camisa. — Vamos dividir o
quarto por uma semana, depois vemos o que faremos.
— Lorenzo, isso não estava no contrato.
— Foda-se o contrato. — Livra-se do sapato e abre o cinto de
couro. — Eu só quero dormir.
— O sofá é seu. — Fico em pé e também começo a me livrar da
minha roupa.
Primeiro meus sapatos, e depois chego na parte mais difícil: os
botões da parte de trás. Eu queria algo mais simples, mas minha sogra
não encontrou.
— Pode me ajudar? — peço me virando e sinto os dedos de
Lorenzo em minha pele.
— Gostei dos cabelos novos.
— Que bom, paguei com o seu cartão — falo e começo a tirar os
grampos. — Eu também gostei, estava sentindo falta dos meus cabelos
longos.
— Você fica linda de qualquer maneira e não leve a mal. Vamos
ficar casados por seis meses, devemos pelo menos ter uma boa
convivência — concordo, mesmo sabendo que tudo o que não teremos é
isso.
Não tenho tempo para agarrar a parte da frente e o vestido cai, me
deixando nua da cintura para cima e ouço Lorenzo praguejando alto atrás
de mim.
— Boa convivência, lembre-se disso — falo agarrando a parte da
frente e tentando me cobrir. — Pode fechar os olhos?
— E perder de ver sua bunda branquinha mal coberta por uma
calcinha? Nunca. Pelo amor de Deus, Diana, cinta liga e meias?
— Você é um idiota, Lorenzo. Deus, que vontade de te jogar pela
janela. — Caminho para uma porta que descubro ser o closet, e minhas
roupas já estão penduradas nos cabides.
— Correndo do seu marido, que feio.
— Feio você vai ficar quando eu te picar com o meu salto — grito
pegando uma camisola.
Coloco o vestido de lado e o olho, sorrindo. É um modelo simples,
mas que paguei com o suor do meu trabalho. Não era o que eu queria,
mas ficou lindo em mim do mesmo jeito, minha irmã que engula a sua
opinião.
— Coelhinha? — Vejo sua mão com a camisa branca, em sinal de
paz. — Posso entrar?
— Claro, já estou saindo — falo e seu corpo quase nu, entra.
A pele bronzeada e com uma fina camada de pelos negros no
tórax, é uma verdadeira paisagem digna de uma pintura. A barriga
trincada e com as duas entradinhas na lateral, apontando para o meio de
suas pernas, que pela minha virgindade, deve ser maior que os meus
brinquedinhos.
— Você fica com a cama e eu com o sofá — fala e eu assinto,
prendendo a respiração.
Aguentei trinta anos sendo virgem, posso aguentar mais seis
meses. Que merda você está pensando, Diana?
— Eu vou colocar comida para a Pudim — aviso e saio do closet,
tropeçando na minha malinha pequena.
A escondo embaixo da cama e deixo o quarto a passos largos.
Lorenzo não pode ver o que tenho naquela mala, porque eu acho
que se ele ver, vai ser o fim da tal boa convivência.
— Pudim, mamãe... — Paro de falar ao ver a porta aberta e
nenhum sinal do Hades ou da Pudim. — LORENZO. EU. VOU. TE.
MATAR!
Eu vou ficar viúva sem nem completar uma semana de casada,
disso eu tenho certeza!
Sempre soube que casar era uma tarefa difícil, mas nunca imaginei
que casando com Diana Maria, eu pagaria todos os meus pecados. Desde
que moro aqui, Hades nunca fugiu, mesmo com a porta aberta, ele nunca
sentiu curiosidade em sair correndo, mas foi só a gata ir, que ele achou
uma boa ideia ir atrás.
Cinco da manhã, eu com um sono da porra e com quarenta por
cento do corpo embriagado, procurando por aqueles dois fujões. Minha
sorte foi ter encontrado os dois na cabine da segurança, o que rendeu
muita zoação, já que segundo manda a tradição, eu deveria estar
aproveitando minha lua de mel, e depois de mais um ato heroico com a
gata, fui obrigado a dormir no sofá.
Diana Maria, minha esposa, me fez dormir no sofá.
Tudo bem que eu mereci, afinal, inventei que deveria dormir no
quarto dela por conta das empregadas, sendo que ninguém sobe para
essa área, senão a senhora Edna, minha governanta.
Foi o pior começo de casamento da história.
É um falso casamento, mas ainda assim, um casamento.
— Vai trabalhar? — questiono após engolir meu café. — Foi uma
simples pergunta, não precisa me olhar assim.
— Te olhei normal, se está com medo é porque tem culpa no
cartório — responde levando um pedaço generoso de pão à boca.
— Almoçamos juntos?
— Não. Basta ouvir seus roncos, ter que almoçar já é um caminho
muito longo para mim. — Sorri falsamente. — Vou deixar a Pudim, preciso
resolver umas coisas no banco.
— Edna irá cuidar dela, deixe-a com coleira, caso ela pense em
fugir novamente — peço ficando em pé. — Vai querer carona ou vai pedir
um carro?
— Carona — responde engolindo o restante do pão. — Vou apenas
escovar os dentes — grita saindo correndo e volto a me sentar, vendo que
ela esqueceu o celular de capa rosa sobre a mesa. Balanço a cabeça,
cansado e com uma puta dor de cabeça, fico em pé, caminhando até o
banheiro do andar de baixo.
Dois dias de casamento e eu nem sei por que estou querendo
felicidade, Diana Maria me odeia mesmo. Não sei por que eu ainda tento
ser amigo dela. Não sei!

DUAS SEMANAS DEPOIS

Finalizo a planilha no instante que Mariana bate na porta e anuncia


que meu avô está à minha espera na sala de reuniões. Desde que me
casei, não conversei mais que dez minutos com o velho Antony, pois
sempre uso a desculpa que preciso ir buscar Diana Maria no trabalho, o
que não deixa de ser verdade.
Nossa convivência é sem pé nem cabeça, e juro que não sei onde
eu estava com a cabeça quando disse que nos casaríamos. Claro que
daria errado.
— Vovô, queria falar comigo? — pergunto entrando na sala vazia e
o encontrando de pé, próximo à janela.
— Como está a vida de casado?
— Sinceramente? — concorda sem me olhar e me aproximo,
olhando para fora. — Uma loucura. Acho que errei em apressar as
coisas.
— Se arrepende de ter casado com Diana?
— Não. Só da rapidez com que tudo aconteceu. Estávamos juntos
há poucos meses e então bum, mal nos assumimos e nos casamos. É
muito para assimilar — minto e ele deixa escapar um suspiro dolorido.
— O início é sempre assim, nem sempre o amor basta. Às vezes,
precisamos de tempo. — Olha-me e toca meu ombro. — Por que não tirou
férias? Deveria estar viajando com sua esposa, fazendo bisnetos.
— Vovô! — Limpo a garganta não querendo lembrar que a peste
fica desfilando de calcinha e camiseta toda noite. — Diana Maria quer
passar a lua de mel na Grécia, combinamos de ir na alta temporada para
que ela aproveite tudo. E também, poderemos organizar com mais calma,
já basta um casamento às pressas.
Seus olhos fixam nos meus e um frio estranho sobe pela minha
coluna. É tão estranho estar diante do meu avô, sabendo que ele está
tentando me decifrar sem nem disfarçar.
— Sabe, estou esperando o momento que vai me contar a
verdade.
Engulo em seco e o encaro, confuso, tentando não me entregar
logo de cara.
— Que verdade?
— Como que verdade? Você sabe muito bem, Lorenzo Antoniel —
ralha alto e caminha até a mesa, puxando uma das cadeiras.
— Vovô... — me livro do aperto da gravata, começando a suar frio.
— Achou mesmo que poderia me enganar? Sou velho, não burro.
— Arrumo a postura e trinco o maxilar, vendo-o negar com a cabeça. —
Só apressaram o casamento por conta do bebê.
Solto o ar lentamente, sentindo minha alma voltar para o corpo e
puxo uma das cadeiras pretas e me sento, como se o peso em meus
ombros tivesse sido tirado tudo de uma só vez.
— Não tem gravidez, vovô. Bom, não por enquanto. — Conserto,
vendo-o sorrir satisfeito com minha resposta.
— É assim que se fala, meu garoto. Estou tão orgulhoso que ouviu
meu conselho e se entregou ao amor. — Suspira e toca meu rosto. — Um
homem sem uma mulher de verdade ao seu lado, é apenas um moleque e
agora eu vejo o quanto você está maduro e pronto.
— Pronto?
— Sim, para assumir o meu lugar. — Meu coração erra duas
batidas. — Não se preocupe, não será agora. Pode curtir mais um pouco
seu casamento, quando for a hora certa eu te aviso.
— Ok! — É tudo que consigo dizer e ele fica sério, pegando uma
pasta.
— Não esqueça que Magda deve ir embora amanhã, e quer você e
a sua esposa em um jantar lá em casa. Sua mãe convidou sua esposa,
mas ela não deu uma resposta, disse que falaria com você. — O olhar
duro me faz engolir em seco. — Sua tia tem um presente para vocês,
tenho certeza de que vão adorar. Agora, sobre o último balanço, eu acho
que podemos...
Desligo a mente focando apenas na parte em que tia Magda tem
um presente. Os presentes dela não são convencionais e só Deus sabe o
quanto de camisinha colorida e com sabores eu ganhei de presente de
aniversário.
Tomara que Diana tenha uma boa desculpa para não irmos.

Diana Maria não tinha a droga de uma desculpa e me arrastou para


a mansão. Agora estou aqui, ouvindo Josh contar como foi sua noitada e
sentindo uma puta inveja, porque tudo o que tenho são caras feias e um
perfume doce me perseguindo por cada canto.
— Irmão, a loira era um paraíso na terra — conta sorrindo e trago o
uísque até a boca. — Mas me conta, se ainda está vivo é porque a gata
não fugiu.
— Diana Maria não tem porquê fugir de mim.
— Eu estava me referindo ao animal, mas sua esposa é realmente
uma gata. — Sorri de lado e olha para Diana que conversa animada com
minha mãe.
— Se a olhar assim novamente, eu acabo com você — aviso e
Gabriel se junta a nós.
— Eu tenho uma fofoca para vocês — anuncia e meu irmão esfrega
as mãos, animado. — O velho Antony vai se aposentar e a cadeira vai ser
desse camarada. Em seis meses, ou bem menos, teremos o nome de
Lorenzo Antoniel na sala mor.
— Seis meses? — confirma e olho para Diana, que se vira, como
se soubesse de algo.
Engulo o restante do meu uísque, lembrando que o nosso acordo
acaba em seis meses.
— Vai lá, para de babar daqui — meu irmão fala me empurrando e
aceito sua sugestão, chegando perto dela.
Minha mãe se afasta com uma desculpa qualquer e coloco a mão
sobre a coluna de Diana, a trazendo para perto do meu corpo.
— Se quiser ir embora.
— Acabamos de chegar. — Arregala os olhos e dou de ombros. —
Lorenzo, sua tia quer falar com a gente.
— Errado, ela quer constranger a gente. Tia Magda é um amor de
pessoa que sabe dar os melhores presentes — minto vendo-a parar atrás
de mim. — Mas não conte a ela.
Beijo a bochecha de Diana que me olha confusa e viramos,
encontrando a ruiva de cabelos cacheados. Ela é bem mais baixa que
Diana, e o corpo mais volumoso, cheio de curvas, que segundo ela, foram
percorridas por grandes velocistas.
Juro que não queria ter entendido.
— Tia, estávamos indo te procurar — minto, colocando Diana à
minha frente e fechando minha mão sobre sua barriga. — Não é,
querida?
— Claro!
— Eu tenho um presente para vocês, antes de voltar para a África.
— Sorri tirando uma chave de trás do bolso. — É do meu chalé na
montanha. Lorenzo sabe onde fica, é um lugar lindo. E como vocês não
viajaram de lua de mel, pensei que poderiam gostar de ficar uns dois dias
longe de tudo.
— Reformou o chalé, mamãe? — Tiffany pergunta e a mãe
confirma sorrindo.
— Terminou semana passada e eu estive lá, está um sonho. Eu
daria a chave para você e seu marido, mas os dois detestam mato, o que
é contraditório, já que dona Tiffy ama os animais.
— Mamãe, uma coisa não tem nada a ver com a outra. E prefiro
mesmo ir para a África com a senhora. — Beija o rosto da mãe e me olha.
— O chalé vai pegar fogo, primo.
— Tiffany, comporte-se — peço vendo o rosto da minha esposa
pegar fogo.
— Se divirtam lá. — Tia Magda pisca o olho e sai puxando a filha,
nos deixando com a chave.
Diana e eu trocamos um olhar, antes de eu guardar a chave no
paletó.
— O jantar será servido, por favor, venham antes que esfrie —
dona Caroline diz e minha mão busca a de Diana.
Ao entrelaçarmos os dedos, meu peito se acalma e um sorriso
pequeno nasce em meus lábios ao sentir a aliança dourada que grita
minha.
Minha esposa. Minha coelhinha. Minha Diana Maria Clifford.
Casar nunca esteve nos meus planos, já me livrar de Lorenzo sim,
desde que ele me beijou atrás da escola. Naquele momento eu quis
esganá-lo e agora, com sua mão em minha coxa, quero a mesma coisa.
— Quando pretendem viajar? — dona Caroline pergunta e engulo o
risoto a seco, que desce queimando minha garganta e juntando lágrimas
em meus olhos.
— Em algumas semanas, precisamos organizar algumas coisas,
não é, querida? — Balanço a cabeça e sua mão desce pela minha perna.
Coloco a mão sobre a dele e belisco de leve, vendo seus olhos
azuis se arregalarem.
— O amor de vocês é tão... mágico, se entendem pelo olhar —
Magda diz em um sorriso. — É as estrelas alinhadas. Aconselho vocês
irem esse final de semana, os astros estão alinhados, propícios para uma
gravidez farta.
Engasgo e Lorenzo também, com a mão trêmula pego a taça com
água gelada, bebendo um gole generoso.
— Mãe, pelo amor de Deus!
— Não me olhe assim, Tiffy, se você e o seu marido não tem uma
mini Magda a culpa é total de vocês — acusa e vejo Tiffany ficar mais
vermelha que a salada de pimentão. — Se vocês me ouvirem, terão uma
casa cheia de crianças correndo. Será uma benção para essa família, não
é, papai? Antony Junior, diga aos seus filhos que deseja netos. Jogue ao
universo.
Gostaria de me afundar e voltar para o início de toda essa loucura,
mas tudo o que faço é sorrir de nervoso.
— Às vezes só precisamos jogar para o universo que ele faz o
resto. Caroline, você tem os incensos que eu te dei no Natal passado?
— Tia — Lorenzo a chama e segura a minha mão. — Se a minha
esposa pedir o divórcio, acho bom ter muitos incensos. Está deixando-a
assustada.
— Se ela não se assusta em acordar ao seu lado, nada mais a
abala, irmão.
— Josh, calado — minha sogra pede e uma discussão inicia.
Continuo bebendo a minha água até ter a respiração quente de
Lorenzo próximo ao meu ouvido.
— Quer fugir ou continuar aqui?
O sussurro acaricia minha pele me arrepiando por completo, viro o
rosto de leve e encontro suas irises brilhando em expectativa. Olho para a
família que parece animada demais em uma discussão por política e
sorrio para Lorenzo, aceitando sua proposta.

— Lembra quando te trouxe aqui?


— Como esquecer. Você derrubou sorvete no meu cabelo — falo
recordando do episódio e nos sentamos na pedra que tem na entrada do
condomínio. — Você falou que queria conversar comigo, eu iludida achei
que era algo importante e era só para você me jogar sorvete.
— Eu realmente queria conversar com você. — Senta ao meu lado
e coloca o paletó em meus ombros. — Não sei por que você sai quase
sem roupa, se quase morre de frio.
— Conversar sobre o quê? — sorrio me sentindo aquecida.
— Sobre nós — diz sério e olha para frente. — Naquela época eu
tinha muita coisa para falar com você, mas meu nervosismo fez eu
derrubar o sorvete de morango em seus cabelos. Juro que foi sem querer.
— Não importa mais, já faz quinze anos.
— Claro que importa! — Suspira e coloca as mãos no bolso. —
Mas se você não quer falar, tudo bem, vou respeitar.
Olho para cima encarando a lua cheia que está coberta por uma
nuvem escura, indicando que a chuva deve chegar a qualquer momento.
Acabamos de entrar no inverno, a pior época para mim, que detesto frio.
— Quer ir ao chalé? Sempre foi muito bonito e com a reforma, deve
ter ficado ainda mais. — Olho para ele e assinto.
— Pode ser uma boa, fugir dessa loucura toda de casamento.
Ainda não acredito que estamos casados, dividindo a mesma casa e o
mesmo quarto.
— No chalé você vai poder dormir sozinha. Tem dois quartos. —
Sorrio agradecida pela informação. — Só não vai poder levar a Pudim, ou
vai acabar perdendo-a. Eu também não vou levar o Hades, vou colocá-lo
em um spa.
— Vou pedir para a minha avó ficar com ela — murmuro e
estremeço só de pensar em alguma coisa acontecendo com a minha gata,
então mudo de ideia. — Acha que sua mãe pode cuidar dela?
— Você tem medo que seu pai...
— Ele não é mais meu pai. — Corto e pulo da pedra, arrumando o
paletó em meus braços. — Aquele homem que te deu um relógio de
quase cinquenta mil reais, e para o resgate não deu nada, não é meu pai.
— Eu sinto muito.
— Não sinta, eu mesmo já parei de sentir há muito tempo — falo e
só me dou conta que choro, quando Lorenzo desliza o polegar
carinhosamente pelo meu rosto.
— Você não precisa ser forte o tempo inteiro, Diana Maria, tem
pessoas por você.
— Pessoas? Não me diga que você seria uma delas — falo com
desdém e me afasto da quentura da sua mão. — Nosso casamento é
mais falso que nota de três, não diga que vai estar aqui por mim, porque
não vai. Não me iluda, Lorenzo. Isso é baixo até mesmo para o secretário
do diabo.
— Por que acha que eu vou te iludir?
Porque você já fez isso uma vez quando me trouxe aqui dias
depois do nosso primeiro beijo!
— Podemos ir embora? Está tarde e estou com frio — desconverso
desviando o olhar. — Marque um final de semana e me avise sobre o
chalé.
Caminhamos em silêncio para a mansão. Como as casas são
próximas, não havia necessidade de virmos de carro, e confesso que
agora estou muito arrependida pela escolha. Meus pés estão doendo
dentro do sapato e minhas pernas geladas por conta do frio, mas não abro
a boca para reclamar, já aguentei coisa bem pior que uma caminhada de
quinze minutos.
— Diana! — Segura meu braço antes de entrarmos em casa. —
Não sei que merda aconteceu para te deixar tão calada, mas porra, fala
algo.
Encaro seus olhos expressivos e sinto vontade de gargalhar, mas
tudo o que eu faço é tirar seu paletó e entregá-lo, entrando em casa e
sorrindo triste falo:
— Boa noite, Lorenzo.
Não espero uma resposta, muito menos um olhar preocupado,
apenas subo as escadas, entrando no quarto de hóspedes e trancando a
porta, me sentindo sufocada pelas lembranças que ele provocou essa
noite.
— Lorenzo deveria ser preso por me desestabilizar tão fácil —
murmuro entregue às lágrimas.
Abro os olhos, assustada, sentindo meu corpo pegar fogo, tento
puxar minhas mãos e encontro-as amarradas na cabeceira da cama.
— Oi, coelhinha, querendo fugir de mim? — Os olhos azuis miram
os meus e o corpo parcialmente nu, paira a centímetros do meu,
deixando-me mais quente.
— Lorenzo, o que pensa que está fazendo?
— Primeiro, eu vou beijar a minha esposa. — A rouquidão presente
em sua voz faz meus pelos eriçarem. — Depois, vou beijar cada
centímetro do seu corpo e tomar com a boca o que é meu por direito.
— O contrato...
— Foda-se o contrato, coelhinha. Você quer isso tanto quanto eu.
— Sua mão sobe pela minha coxa, enviando arrepios que se concentram
em meus peitos. — Eu não paro de imaginar como é o seu gosto. — Leva
os dedos para o meu centro. — Como é o som dos seus gemidos. Da sua
cara ao gozar...
— Lorenzo! — Umedeço os lábios e ele me toca por cima da renda.
— Deveria ser crime você usando vestidos.
Fecho os olhos, entregue à pressão dos seus dedos em meu nervo.
Lorenzo remexe-os com precisão, arrancando suspiros baixos de nós
dois, sinto seu dedo levar a renda para o lado e então seu dedo mergulha
em minhas carnes úmidas de desejo.
Agarro as correntes que prendem minhas mãos e gemo alto, me
entregando ao prazer que ele me proporciona. Seus dentes pressionam o
mamilo sob o tecido e isso se torna meu fim, me fazendo gozar como
nunca antes.
Rápido. Quente. E dolorosamente delicioso.
— Eu disse que você me desejava. Foi só eu te tocar que se
desmanchou em meus dedos... — Leva os dedos à boca e geme em
apreciação. — Você é deliciosa, coelhinha. Deliciosa.
— Lorenzo! — Embriago-me em seu olhar e nossos rostos se
aproximam.
— Diana. Minha. Seja minha, Diana. — Resvala os dedos pelos
meus lábios e fecho meus olhos concordando, ouvindo suas súplicas. —
Seja minha, Diana. Somente minha.
Abro os olhos e não o encontro mais, olho para minhas mãos e me
sento sobre a cama, percebendo que tudo não passou de um sonho. Um
sonho que me deixou ofegante e com o centro das minhas pernas
latejando de desejo.
— Foi só um sonho. Só um sonho — repito tentando acalmar as
batidas do meu coração, mas tudo piora com o perfume dele espalhado
pelo quarto.
Ele esteve aqui. Esteve e provavelmente me ouviu chamar seu
nome. Merda, o que eu faço agora?
Aparentemente, Lorenzo não viu ou ouviu nada, ou já teria
comentado algo, ele nunca deixou nada quieto, mas se formos considerar
desde que nos casamos, mal nos falamos ou trocamos farpas direito,
parece que andamos pisando em ovos e que apenas nossos olhares
conversam de verdade.
— Vai me dar carona?
— Claro! — responde sério e abre um jornal, me ignorando por
completo, coisa que ele nunca faz.
Solto a respiração lentamente e Pudim vem correndo da sala, com
Hades atrás. Os dois têm uma amizade estranha, se um está quieto o
outro vai lá e mexe, vivem como cão e gato, literalmente.
— Lorenzo? — chamo e ele apenas vira a página do jornal. —
Vendo as notícias para levar ao seu chefe?
— Não deveria estar escovando os dentes? Se eu levantar daqui e
não estiver pronta, te deixo para trás — coloca as folhas na mesa e me
encara.
— Ui, como se eu tivesse medo de você. — Trago a xícara até a
boca, me deliciando com café preto. — Você está me ignorando, por que
exatamente?
— Sentindo falta dos meus olhos em você?
— Só queria sua opinião para a minha roupa. — Fico em pé e giro
para que ele veja minhas costas nua, exibindo minha tatuagem de
serpente. — Você é o chefe da minha chefa, acha que é uma boa roupa
para o ambiente de trabalho?
Seus olhos se prendem no meu decote e sorrio vitoriosa. Se esse
infeliz me atormenta nos meus sonhos, eu posso atormentá-lo na vida
real.
— A saia está muito curta? — Toco a barra subindo um pouco do
tecido de malha e ele desce os olhos para os meus movimentos. — Então,
marido, muito curta?
— Diana Maria. — Solta o ar lentamente e fica em pé. — Tem cinco
minutos para trocar de roupa...
— Ou o quê, maridinho?
— Eu vou te pegar pelos cabelos, te colocar de quatro — se
aproxima com o semblante fechado e me empurra contra a mesa —, e
comer sua boceta sem dó. Você não vai conseguir respirar direito sem
lembrar de mim.
Desce as mãos para as minhas coxas, tocando a barra da saia e
em um rompante, rasga o tecido.
— Está avisada.
— Lorenzo! — Solto ofegante quando ele está se afastando com o
maxilar trincado e os cabelos bagunçados pelos seus dedos. — Eu tô sem
calcinha.
Pisco um olho e jogo o tecido no chão, correndo nua da cintura
para baixo até o quarto. Tranco a porta ao ouvir seus passos e tampo a
boca com a mão, controlando a risada.
— Diana Maria, eu vou fazer você pagar por isso. — Bate o punho
na porta. — Esteja ciente que quando menos esperar, eu vou te pegar. E
se apresse, Mathias vai te levar.
E com isso, o silêncio reina do outro lado e meu coração parece
que vai correr para fora da boca.
— Parabéns, Diana Maria, acabou de provocar, aguente as
consequências. — Rio caminhando até o closet.
Dizer que estou fugindo do Lorenzo é eufemismo. Ele mal chega
em casa e meu corpo desliga completamente sobre a cama, em um falso
sono, que quase me entrega quando ele toca meu rosto com a mão
gelada e fala alguma coisa que não compreendo.
Ele tem passado mais tempo na empresa do que em casa, saindo
cedo e voltando depois das oito, Tiffany disse que Gabriel está no mesmo
ritmo, já que o velho Antony vai se aposentar e precisam de todos os
papéis para que Lorenzo seja efetivado como presidente.
Ele está conseguindo o que tanto deseja e estou afundando em
lembranças, medos e sonhos quentes com Lorenzo.
Eu nunca transei com um homem, mas isso não significa quase
nada, pois eu sei me virar sozinha com meus dedos e com os
brinquedinhos que comprei pela internet, a uns anos atrás.
Sou virgem, não santa.
Pudim arranha minhas pernas pedindo colo, e me desconcentro da
ideia inicial, me abaixando para pegá-la, fazendo meu mega hair cair
sobre meus peitos.
— Diana Maria! — Ouço assim que o sino toca e ao levantar,
encontro meu marido com Hades que fica nas duas patas para que eu
acaricie sua cabeça. — Senti saudades, coelhinha.
— Não me chame assim — peço entredentes e Francisca aparece
trocando sua cara de nojo, por um sorriso falso, mas amigável.
— Senhor Clifford, algum problema por aqui?
— Não, a não ser que seja um eu querer falar com a minha esposa,
que também é dona disso tudo. — Sou pega de surpresa pela sua frase e
acho que a doutora também. — Mas a senhora tem visto algum
problema? Pode relatar a Diana Maria, tenho certeza de que ela vai trazer
até mim e vamos solucionar.
— Cl-Claro! — Olha-me estranho. — Só vim buscar um café.
Ah, hoje descobriu o caminho para pegar café?
— Certo, minha prima está? — Confirmo com a cabeça no mesmo
instante que Gustavo sai da sala, trazendo o gato de pelagem escura. —
O vovozinho.
— Nos vemos em quinze dias — Tiffany fala e olha para a
recepção, encontrando o olhar sério do primo. — Lorenzo, quanto tempo.
Ei, Hades, vem cá — chama o cachorro, que diferente de todas as vezes
não vai, rosna ao ver Gustavo se aproximando. Sinto o suor descer
gelado pela minha espinha e só solto a respiração, quando Lorenzo
acalma o cachorro.
Hades não é violento, mas a fama da sua raça e o modo como
acabou de agir, não deixam muito para a imaginação.
— Pode agendar novamente — pede sorrindo e concordo. — Você
gosta mesmo de chá.
— Ah, não é chá, é café — corrijo sem graça, ganhando um sorriso
pequeno de Gustavo.
— Minha esposa passou a noite acordada — Lorenzo fala cínico,
cheio de segundas intenções e o peso de papel me parece uma ótima
opção para arremessar contra ele. — Eu disse que não havia necessidade
de vir trabalhar hoje, mas sabe como as mulheres são...
— Lorenzo! — Olho feio para ele e volto a encarar Gustavo. — Não
o escute, Lorenzo é só desnecessário.
— Não foi bem isso que ouvi ontem, esposa. — Meu rosto queima
de raiva e finalizo o agendamento, me despedindo rapidamente de
Gustavo.
— LORENZO, EU VOU TE MATAR — murmuro quando Gustavo
deixa a clínica. — Fazer picadinho da sua língua. Você bem sabe que te
chamei de imprestável ontem à noite, nem deveria se gabar disso.
— Imprestável? Achei que fosse mais.
— Tiffany, se eu matar esse idiota, você é minha testemunha, ele
está me tirando do sério — aponto e ele apenas ri.
Uma risada descontraída e gostosa que faz meu ventre se apertar,
porque é essa maldita risada que me visita nos sonhos, que a cada noite
estão ficando mais quentes.
— Vocês são estranhos.
— Só na frente dos outros, prima. Mas no fundo, Diana Maria me
ama.
Estremeço com a constatação e meu coração salta dentro do peito.
Francisca volta com um copo de café nas mãos e não me olha, mas
encara bem meu marido e sinto uma raiva descomunal, que faz meu peito
doer.
— Você não queria falar com sua prima? Apresse-se, ela tem mais
pacientes — falo impaciente, me surpreendendo.
— Eu só preciso de um spa, eu e a minha esposa. — Olha-me com
um largo sorriso, que eu vou tirar no tapa daqui a pouco. — Vamos viajar
hoje, no mais tardar, em cinco minutos.
— Não.
— Sim. — Sorri e volta a olhar para a prima. — Vamos deixar os
bebês, os papais precisam de um descanso.
Eu vou matar Lorenzo e se não for agora, vai ser nessa viagem.
Essa é a minha única certeza!
Principalmente se ele não calar a droga da boca.
— Eu tenho o lugar ideal para os bebês, não se preocupem — Tiffy
sorri e eu fecho os olhos, odiando ainda mais o Lorenzo.
O caminho até o chalé da tia Magda é feito em silêncio, com Diana
trocando mensagem com dona Venécia, que pelo que entendi, está
expulsando o genro de casa e Diana está apoiando totalmente. Não a
julgo, se tivessem colocado a vida do Hades em risco, eu nunca mais
olharia na cara.
— Pronta para entrar? — Puxo assunto entregando a chave. —
Mathias trouxe nossas malas, disse que deixou no quarto próximo à
porta.
— Quem fez a minha mala?
— A Tiffy — respondo simplesmente e ela se vira para mim. — Não
me olhe assim, tia Magda passou os últimos dez dias me atormentando
sobre o chalé — minto um pouco e ela me olha desconfiada. Diana Maria
não precisa saber que eu estava louco por essa viagem.
— Até o final dessa viagem eu fico viúva — fala respirando fundo e
colocando a chave na porta.
Sinto um arrepio estranho ao ouvir a porta ranger, mas não falo
nada e Diana também não. Ela para e fica estática, olhando para frente.
— Uma.cama.no.meio.da.sala — fala pausadamente e empurro
mais a porta. — LORENZO!
— Não tenho nada a ver com isso, eu juro — defendo-me e
entramos no chalé, que não passa de um quarto bem espaçoso.
Tem uma minicozinha na parte de trás, uma lareira ao lado direito,
com um sofá, tapetes e mantas. A cama enorme bem no meio, encostada
no pilar que antigamente servia para dividir os cômodos, e no outro canto,
a porta do banheiro, que parece bem maior.
— A cama é minha — falo rápido e Diana me olha, brava. — Dormi
quase um mês naquele sofá, sua vez de provar do veneno.
— Mas é frio. — Balanço meus ombros vendo a mala preta. — Eu
te odeio, Lorenzo Antoniel! Eu te odeio!
— Você fica fofa toda brava, coelhinha — provoco e caminho até
ela, apertando suas bochechas e roubando um selinho.
— Lorenzo! — Limpa a boca como se estivesse com nojo, mas eu
vejo o desejo em suas irises.
— Eu ainda não esqueci o que vou fazer com você, coelhinha. —
Pisco caminhando até nossas bolsas. — Pedi para que abastecessem a
cozinha, fique à vontade. Vou estar no banho, se quiser me acompanhar.
— Nunca! — Sua negativa vai por água baixo quando seus olhos
descem pelo meu corpo.
Solto um riso baixo e caminho para o banheiro, tirando a camisa.
Alguns dias na paz, mesmo que com Diana cuspindo fogo, isso é
melhor que aturar o estresse da empresa, que se tornou um caos depois
que meu avô anunciou sua aposentadoria.

Deixo o espaguete escapar do garfo ao ver Diana Maria saindo do


banheiro, usando nada mais, nada menos que uma camisola rosa, quase
transparente, que deixa o bico dos seios e a calcinha minúscula
aparecendo.
— Diana, eu sei que somos casados de mentira e que temos a
merda de um acordo, mas porra... Porra, Diana Maria! — Exaspero-me e
ela pula assustada. — Por favor, coloca outra coisa.
— Não tem outra coisa — responde entredentes. — Sua prima só
colocou minhas camisolas e umas calcinhas inúteis.
Praguejo vendo que o feitiço virou contra o feiticeiro.
— Pega meu moletom — aponto para a blusa sobre a cama. —
Céus, não tem como você fazer um vestido com a cortina? — questiono
fascinado pelas suas pernas longas e bem definidas. Não é a primeira vez
que a vejo nua, e porra, daquela época para cá, as coisas só
melhoraram.
— Lorenzo — grita e deixo meu prato de lado. — O que você fez
para comer?
— Macarrão com salsinha. — Ela me olha espantada. — É a única
coisa que eu sei fazer.
— Senhor, uma única cama e agora, vou ter que sobreviver
comendo macarrão e salsinha.
— Cozinhe algo.
— Olhe para mim, Lorenzo, acha que eu sei fazer algo? — Olho de
cima a baixo e minha boca saliva com o que ela pode fazer. — Seu idiota!
— Desculpe, é que na mansão eu tenho para onde correr, aqui
não. — Sou sincero e a lenha da lareira estrala, aumentando o clima.
Vejo Diana engolir em seco e o movimento da sua garganta, deixa
meu pau dolorido sob a calça de moletom, me mexo desconfortável e
desvio o olhar.
— Eu vou dormir — anuncio ficando em pé e vejo seus olhos
caírem para o meio das minhas pernas. — O sofá é todo seu.
Praticamente corro para dentro do banheiro me trancando e
tentando lembrar as cláusulas do contrato, e tudo o que tenho na minha
mente são as pernas longas de Diana. Por Deus, preciso pensar com a
cabeça de cima, antes que isso não tenha mais volta.
Sou um homem de trinta anos, posso me controlar. Eu vou me
controlar. É um casamento de mentira, não tem porquê eu não me
controlar!

O vento ricocheteia na janela e Diana se mexe de um lado para o


outro no sofá, a luz do abajur ilumina pouco, mas já a luz que a lareira
emana, deixa quase todo o quarto iluminado. Consigo vê-la daqui se
encolhendo mais e mais, em uma tentativa de se aquecer.
Nunca entendi como Diana Maria consegue sentir tanto frio.
Sinto-me culpado, por estar deitado e bem coberto na cama, mas
não abro a boca para nada, apenas continuo ouvindo o vento forte que
passa pela fresta da porta e que balança as cortinas, Diana se senta e se
encolhe, seus dentes batem com força e eu também me sento na cama.
— Diana, vem aqui — chamo-a e ela nega. — Você vai morrer
congelada aí, nem mesmo a lareira vai te aquecer. Deita aqui, eu juro que
vou manter uma distância considerável.
— Lorenzo — murmura com os lábios trêmulos.
— Vem cá, coelhinha. As cobertas são pesadas e a cama está
quente. — Seus olhos encontram os meus e ela fica em pé, correndo até
a cama e se enfiando embaixo dela.
— Se encostar em mim, eu te mato.
— Se você não morrer antes. — Dou risada e me deito, encostando
a cabeça no travesseiro e a encaro.
Diana fecha os olhos com força e seu corpo treme, assim como
seus lábios. Levo minha mão ao seu rosto, sentindo a pele fria e nossos
olhares se encontram.
— Chega mais perto — peço baixinho e ela se esgueira para mais
perto. — Por que tirou a blusa?
— Não consigo dormir de blusa — responde trêmula fechando os
olhos.
— Quer que eu te abrace?
Nega com a cabeça e sinto suas mãos pequenas em meu peito,
enviando uma onda de arrepio pelo meu corpo. Diana me olha e vendo
que não faço nada, desce as mãos geladas e as infiltra pela minha
camisa.
— Porra! — Trinco os dentes, com o toque gelado.
— Desculpe, só estou com muito frio. — Solta com a voz
entrecortada e coloco minha mão em sua cintura, empurrando a manta
para longe do seu corpo. — Lorenzo, o quê?
— Só vou fazer o que um bom marido faz, aquecer sua esposa. —
Subo a camisola e deixo que minha mão quente toque seu corpo. — Você
está gelada.
— Sua culpa — acusa e desce as unhas pelo meu peito.
— Então eu vou resolver isso. Quer? — Nossos olhares se
encontram e vejo o desejo refletido nas irises claras.
Diana morde o lábio com força e desço meus dedos, tocando o
elástico da calcinha.
— Quer ou não, que eu te faça pegar fogo?
A incerteza passa de relance pelo seu rosto, mas então ela assente
timidamente, me surpreendo ao se esticar até deitar o rosto no meu
travesseiro.
— Como vai fazer eu pegar fogo, Lorenzo? — O sussurro faz meu
pau pulsar e subo a mão que estava em sua cintura para seu rosto
pequeno e redondo.
— Comendo sua bocetinha até o talo, te deixando pronta para
entrar em combustão. — Aperto de leve sua mandíbula. — Mas primeiro,
eu vou te beijar. E depois, seu corpo vai ser meu. Quer isso, Diana Maria?
Quer ser minha?
Esfrego minha boca contra a sua, recebendo um gemido fraco
como resposta.
— Quer que eu te faça gozar, coelhinha? Eu faço, é só pedir.
— Lorenzo... — choraminga, fincando os dedos na minha pele.
— Peça, meu amor, peça que eu faço o que você quiser.
Afasto nossas bocas e a encaro com intensidade. Diana sorri de
lado, mordendo o cantinho da boca e mentalmente imploro para que ela
peça.
— Lorenzo — Engulo em seco pela suavidade e sensualidade da
sua voz. — Me faça gozar.
Três palavras que causam uma explosão dentro de mim, não
espero por um arrependimento, ataco sua boca descendo a mão para sua
bunda redondinha e a trazendo de encontro ao meu corpo.
O gosto de creme dental se mistura ao meu, quando nossas
línguas se encontram, puxo sua perna esquerda para cima da minha e
desço os dedos traçando o caminho da calcinha, encontrando seu centro
úmido. Provoco-a por uns segundos, até voltar e agarrar seu pescoço,
separando nossas bocas.
— Vire, fique de ladinho — mando e ela me olha assustada por
breves segundos.
— Lorenzo, o que você vai fazer?
— Vou te fazer gozar, Diana — afirmo com a voz rouca e seus
lábios se abrem em um O perfeito.
Sem esperar muito, minha esposa se afasta e dividindo o mesmo
travesseiro, empurra os cabelos para cima, deixando seu pescoço livre
para minha boca. Lentamente, deslizo meus lábios pela área, assoprando
de leve e sentindo seu corpo arrepiar sob minha mão.
Mordisco sua orelha e ela arfa, empurrando a bunda ao encontro
da minha ereção. Subo as mãos que estavam em sua barriga para seus
seios pequenos e fartos, fechando a mão em concha, sentindo a pele
arrepiada. Diana geme baixinho e minha boca continua em seu pescoço,
descendo para o seu ombro, enquanto minhas mãos brincam com os
peitos pesados.
— Posso passar o resto do final de semana assim.
— Lorenzo, por favor — murmura apertando as pernas e rebolando
contra mim.
— Eu vou fazer você pegar fogo. Vai gritar e implorar por mais —
garanto, prendendo os mamilos entumecidos entre os dedos. — Você não
vai mais esquecer de mim, Diana Maria. Nunca mais.
— Você fala demais, Loo... — Sua fala se transforma em um
gemido longo, quando escorrego uma das mãos para o meio de suas
pernas.
Sua umidade mela meus dedos, empurro meu pau de encontro à
sua bunda, e ela geme, agarrando minha mão.
— Se livre dessa camisola, eu quero você nua — mando, me
afastando.
Livro-me da minha camisa em tempo recorde e Diana faz o mesmo
com a camisola, jogando-a no chão e deitando de costas. Nego com a
cabeça, mas não peço para que volte à posição anterior, apenas deslizo a
ponta do dedo pelo seu pescoço, descendo por entre seus seios e
parando sobre seu umbigo.
— Você é maravilhosa! — elogio e busco sua boca, em um beijo
calmo.
Nos separamos com pequenos selinhos e desço a boca para seus
peitos empinados, que parecem implorar pela minha boca. O vento do
lado de fora continua forte, e o pouco que entra não é o suficiente para
acalmar o nosso calor.
Fecho a boca sobre o mamilo e a vejo fechar os olhos, trazendo a
mão para os meus cabelos. Mamo como um animal faminto, ora rodando
a língua, ora sugando com força, fazendo-a se espremer na cama.
Dou a mesma atenção para o outro e quando estou satisfeito, me
coloco às suas costas e nos cubro com a coberta. Diana tem os olhos
assustados e apenas dou um beijo em seus lábios.
— Respire, amor, você ainda nem começou a ferver.
Pisco o olho, beijando-a novamente com mais força e desejo.
Lorenzo mapeia meu corpo com as mãos enquanto sua língua
ocupa um espaço gostoso em minha boca. Solto um gemido fraco e seus
lábios sobem em um sorriso sincero e safado, ao separar nossos lábios,
Lorenzo suga o meu lábio inferior e me coloca de lado, afastando meus
cabelos e deixando um beijo dolorido em meu pescoço.
— Ainda sente frio, Diana Maria?
— Muito frio — respondo com a voz mais baixa que a dele.
Encaixando o corpo atrás do meu, Lorenzo toca meus peitos e o
gelado das suas mãos, me arrepia por inteira. Fecho os olhos, deixando
que a pressão sobre os mamilos, envie ondas de calor para todo o meu
corpo.
— Coloque a perna direita sobre a minha — manda ofegante e
obedeço rapidamente, fazendo novamente seus lábios se curvarem em
um sorriso safado.
Lorenzo puxa os mamilos entre os dedos antes de escorregar uma
mão para o meio das minhas pernas. Com calma, resvala apenas a ponta
dos dedos pela minha pele, me deixando nervosa, sedenta pelo seu
toque.
Pelo toque que sinto há tantos dias em meus sonhos.
— Lorenzo, por favor...
— Quer meus dedos na sua bocetinha? Quer, Diana? — pergunta e
não respondo, apenas prendo a respiração quando seus dedos invadem
minha calcinha. — Que gostosa!
Desliza dois dedos pelas minhas dobras e meu corpo estremece
com a força que ele insere com a palma da mão sobre meu clitóris.
— Porra, como eu quero te comer gostoso — murmura com a
respiração entrecortada e abro mais minhas pernas, empurrando a bunda
contra sua protuberância.
— Então come — falo perdida nas sensações que crescem mais e
mais no meu peito. — Me faz sua, Lorenzo.
— Caralho, Diana! — Insere de supetão dois dedos em meu interior
e o ar falta em meus pulmões. — Você usa contraceptivos? Responde,
Diana — pede em tom de desespero e tombo a cabeça para trás, tendo
seus lábios sobre meu pescoço.
— Não.
— Merda! — pragueja aumentando a velocidade dos dedos dentro
de mim.
Sua outra mão aperta meu seio esquerdo e a pressão da palma,
me faz gritar. Lorenzo pragueja atrás de mim e empurra o quadril ao
encontro do meu, sinto seu membro em minha bunda, tão duro e quente
que me faz arfar.
Levo a mão e o sinto tão grosso e de veias saltadas, que meus
pensamentos se perdem. Ouço Lorenzo gemendo em meu ouvido,
enquanto minha mão sobe vagarosamente pelo seu comprimento,
descendo mais lento.
Um tapa em minha boceta me faz saltar na cama e Lorenzo agarra
minha mão, me fazendo soltá-lo.
— Lorenzo?!
— Apenas sinta — manda e seu pau toma espaço entre minhas
pernas.
Seu comprimento se esfregando entre minhas dobras, os
movimentos de vai e vem terminando com ele estimulando meu clitóris,
choramingo, reconhecendo os sinais do meu corpo e quando Lorenzo
esfrega a glande em meu nervo, meu corpo se desmancha em um
orgasmo.
Puxo o ar com força para meus pulmões e Lorenzo dá mais um
tapa em minha boceta, fazendo todo meu corpo saltar.
Em um movimento rápido, Lorenzo se vira de barriga para cima e
me puxa para cima do seu corpo. Tão rápido quanto um piscar de olhos,
estou aberta sobre suas coxas, com seu pau ereto, tocando minha
barriga.
— Lorenzo, eu nunca...
— Não vou poder me enterrar em você, mas isso não significa nada
— murmura me puxando pela nuca. — Você vai deslizar pelo meu pau e
vai gozar de novo, e de novo. Só vamos parar, quando você estiver
desmaiada de calor.
— Lorenzo... — Fecho os olhos, arrepiada com a intensidade das
suas palavras.
Ele joga as cobertas para longe e meu corpo eriça pela mudança
brusca de temperatura. Com as mãos na minha cintura, Lorenzo me
coloca sentada sobre seu membro. Espalmo as mãos em seu peito e
rebolo, tendo a cabeça rosada do seu pau, roçando meu nervo.
Olho em seus olhos e continuo rebolando. Vejo-o fechar os olhos
com força e enterrar os dedos na carne do meu quadril, Lorenzo joga a
cabeça para trás e a veia do seu pescoço salta, aproveito e passo a
língua, deitando sobre seu corpo.
Meu marido movimenta meu quadril, arrancando gemidos longos
de nós dois. Uma das mãos sobe agarrando meus cabelos e a outra
encontra minha coxa em uma palmada ardida, que faz meu interior se
contrair em desespero.
— Diana... — murmura entredentes e abraça minha cintura,
empurrando com mais força.
A pressão dos meus seios contra seu peito duro, e o roçar da
cabeça do seu pau contra meu clitóris, traz a sensação novamente, só
que dessa vez muito mais intensa. Agarro-me aos seus ombros e busco
desesperadamente pela sua boca, sentindo minhas pernas trêmulas e um
frio estranho desce pela minha espinha, se concentrando na minha
boceta, que aperta e então pulsa, trazendo lágrimas aos meus olhos.
Grito contra seus lábios e ele urra, apertando minha bunda e a
empurrando para baixo, gozando e fazendo uma bagunça entre nós.
Somos suor, gemidos e fluidos.
O desespero das nossas bocas é tanto, que nossos dentes se
chocam, subo as mãos para seus cabelos e me afogo em seus gemidos,
sentindo suas mãos em cada canto do meu corpo, me apertando, me
fazendo choramingar em seus lábios.
— Diana... — ofega mordendo meu lábio.
— Lorenzo! — Abro os olhos encarando-o.
— Quente o suficiente, coelhinha? — Leva uma mecha do meu
cabelo para trás da orelha e acaricia a área.
— Não. — Sorrio maliciosamente e seu coração bate mais forte sob
minha mão.
— Perfeito, porque estamos só começando — garante, voltando a
me beijar.

Acordo sozinha e olho para a bagunça, tentando saber se foi real


ou apenas um sonho bom, onde tive mais orgasmos do que estou
lembrada. Vejo o travesseiro amassado ao meu lado e um suspiro deixa
meu peito, em uma confirmação lenta.
Foi real.
Foi real e foi bom.
Melhor do que em meus sonhos e eu nem faço ideia de que horas
fomos dormir. Lorenzo me virou do avesso com sua boca atrevida e com
seus dedos ligeiros, sem falar na pressão gostosa de sentir seu pau
contra a minha boceta, mesmo que não tenha tido penetração.
Solto mais um suspiro e fico em pé, sentindo meu corpo arrepiar
dos pés à cabeça pelo vento frio. Visto sua calça de moletom que estava
jogada no chão e a blusa que retirei antes de me deitar no sofá, e
caminho para o banheiro, estranhando o silêncio no chalé.
Perdida em pensamentos, faço minha higiene e olho para o
chuveiro, desistindo do banho assim que pingos grossos de chuva batem
contra o telhado. Volto para a parte principal decidida a dar um rumo na
bagunça, e acabo ficando envergonhada ao ver minha calcinha jogada no
chão.
— Pensando em mim? — grito trazendo a mão ao meu peito e
encontro Lorenzo na minicozinha. — Desculpe, não quis te assustar.
— Onde você estava?
— Fui comprar algumas coisas e uma roupa para você — fala se
aproximando. — Minhas roupas não são apropriadas para um passeio,
por mais gostosa que você fique nelas.
— Passeio?
— Sim — confirma com os lábios próximos dos meus.
— Saiu só para comprar uma roupa para mim? — Não me
responde e seus olhos azuis brilham. — Lorenzo, o que mais você
comprou?
— Preservativos. — Sorri de lado. — Estou louco para me enterrar
em você.
— Você é um... Urgh!
— Apesar de você ficar linda toda vermelha de braveza, prefiro
quando você fica vermelha depois de me beijar.
— Você não presta, Lorenzo. — Bato em seu ombro, sentindo-me
relaxada. — Achei que tinha me abandonado.
— Jamais! — Aperta-me mais em seus braços. — Você é minha
esposa e tem uma boceta suculenta e gulosa.
— Lorenzo!! — Esquivo-me ouvindo sua risada gostosa. — Vamos
tomar café e depois vamos para o passeio.
— E o meu beijo de bom dia?
— Sem beijo de bom dia para você — digo chegando na cozinha e
encontrando uma pequena bandeja cheia de sanduíches e com dois
copos de suco.
Olho para ele que se aproxima um tanto envergonhado e me
abraça por trás, descansando o queixo em meu ombro.
— Não tinha pó de café e nem lugar para comprar, vai ter que
servir.
— É perfeito! — respondo com sinceridade, pois eu juro que
imaginei um começo de dia bem diferente enquanto escovava meus
dentes.
Pego a bandeja e caminhamos até o sofá, Lorenzo coloca mais
uma tora na lareira e vem para o meu lado, acariciando meu rosto com as
costas do dedo e beijando de leve minha bochecha, fazendo meu
estômago se apertar em uma mistura de sentimentos.
Encaro-o comendo o sanduíche e tento buscar na memória alguma
implicância, mas deixo de lado a fim de finalmente aproveitar a paz ao seu
lado.
Uma paz que eu achei que ele nunca me proporcionaria, mas que
agora, eu quero para sempre.
Chegamos a cachoeira meia hora depois e mesmo com a chuva
fina, o lugar está lindo. Decidi trazer Diana para conversarmos e
resolvermos o problema do passado que a fez me odiar, e que pode ser
um empecilho quando voltarmos para nossa rotina, amanhã.
— Queria poder nadar — comenta parando ao meu lado e a olho.
A calça jeans emoldura sua bunda com perfeição, e mesmo não
tendo acertado no tamanho da camiseta, ela ficou linda com a minha
blusa. Os cabelos loiros estão presos em um rabo de cavalo e seu rosto
está vermelho pelo esforço para subir na pedra.
— Aqui é tão lindo!
— É. Muito — murmuro olhando para ela, que sorri e me encara.
— Diana Maria, por que você me odeia?
— O quê? — Confusão passa pela sua íris e eu respiro fundo.
— Vou ser sincero com você, quero você na minha cama todas as
noites, mas para que isso aconteça fora daqui, preciso saber o que eu fiz
para ter seu ódio por tantos anos. — Compreensão passa pelos seus
olhos. — Então, se estiver pronta para ser minha, precisa colocar para
fora. Preciso saber por que eu fui seu saco de pancadas por tantos anos?
— Saco de pancadas? — Confirmo e ela me olha enfurecida. —
Você começou tudo. Não lembra? Cheguei na escolinha e do nada você
começou a puxar minhas maria-chiquinhas, fez eu estragar o meu
desenho do dia das mães.
— Você me chutou — aponto e ela coloca as mãos na cintura.
— Porque você puxou meus cabelos. Eu fiquei de castigo. — Seus
olhos enchem de lágrimas. — Eu cheguei em casa com aquele desenho e
minha mãe rasgou e jogou no fogo. Ela nem se deu o trabalho de dizer
algo, apenas rasgou e queimou. Sabe a única coisa que ela disse? —
Nego vendo suas lágrimas. — Que para mim ser bonita como a minha
irmã, eu deveria melhorar muito. Que aquele desenho era a prova do
quanto meu futuro seria perdido. Eu só tinha cinco anos, e aquilo me
marcou.
— Eu não lembro de ter puxado... me perdoa — peço dando um
passo na sua direção. — Me perdoa mesmo.
— Eu fiquei três anos sem festa de aniversário, porque minha mãe
achava que eu não era merecedora. — Seus lábios tremem. — Quando
eu perguntava, ela falava do desenho que você arruinou.
Meu peito se aperta e puxo-a para os meus braços.
— Eu tentei me livrar desse ódio, Lorenzo. Juro que tentei. —
Soluça me apertando. — Mas sempre que eu tentava, você fazia algo e
destruía o que podia ser bom.
— Eu sinto muito. Não justifica, mas nunca soube agir perto de
você. — Sou sincero e seu choro aumenta. — Você sempre destruiu
minha paz com um sorriso, coelhinha. Sempre.
— Eu quis te esquecer quando foi embora, mas você voltou. Voltou
e me olhou daquela maneira. — Apoia o queixo em meu peito. — Eu não
sei controlar a raiva que sinto de você.
A veracidade das suas palavras me acertam em cheio e levo
minhas mãos ao seu rosto, levando os fios curtos para trás.
— Não controle, desconte em mim. Desconte tudo em mim. —
Esfrego meu nariz no seu. — Desconte tudo em forma de desejo, porque
não negue, você me deseja tanto quanto eu te desejo.
Seus olhos brilham pelas lágrimas e nossas bocas estão a menos
de um centímetro de se tocarem, Diana Maria fecha as pálpebras e puxa o
ar com força.
— Lorenzo — me encara com intensidade —, me beije novamente
e me deixe descontar tudo na sua boca.
Sorrio, e sem dar tempo para arrependimentos, grudo nossas
bocas, sentindo o maldito frio na espinha quando nossas línguas se
enroscam e o gosto doce me invade, e só tenho uma certeza enquanto
afundo a mão em seus cabelos: estou ferrado e viciado.

Deslizo o dedo pela sua espinha arrancando uma gargalhada


gostosa de Diana, que me faz sorrir. Estamos deitados em frente à lareira,
ela usando apenas um sutiã rosado e calça de moletom, enquanto uso
apenas uma box preta.
— Qual a história dessa tatuagem? — questiono, contornando o
traço fino e ela fica em silêncio.
Depois dos nossos beijos, a chuva caiu com força e fomos
obrigados a voltar correndo para o chalé, e prometi trazê-la quando o dia
estiver claro para que ela possa nadar. Saber que fui o culpado de tanto
ódio, me fez repassar todas as minhas atitudes, que na época da escola
era puramente para vê-la brava, mas que na adolescência, foi só para ter
sua atenção em mim.
— Lorenzo — chama-me baixinho e sorri. — Faz fondue de
chocolate para gente?
— Faço, mas só se me ajudar. — Aproximo-me do seu rosto. — Eu
comprei pudim, quando fui comprar sua roupa. Tinha uma senhorinha
vendendo — murmuro e seus olhos se arregalam de desejo.
— Você comprou pudim? — Confirmo e ela fica em pé. — Cadê?
— Depois. Agora vamos fazer fondue. — Fico em pé e pego sua
mão, puxando-a para a cozinha.
Encontro todos os ingredientes e coloco Diana para cortar a barra
de chocolate, o que ela faz com rapidez. Não sou um mestre na cozinha e
fondue, café e macarrão com salsinha, são as únicas coisas que sei
preparar.
— Edna comprou morango e uva — fala abrindo a geladeira,
provavelmente buscando o pudim.
— Pega o conhaque para mim — peço ignorando seu olhar de
curiosa.
Misturo o creme de leite ao chocolate picado e mexo em fogo
baixo, Diana olha em todos os armários e continuo fazendo o que ela me
pediu, sabendo que estou torturando-a por conta do doce.
— Pega ali embaixo — aponta com o pé para o armário de baixo e
ela vai sorrindo. — Esse mesmo, o aparelho. Minha tia tinha comentado
que comprou um para deixar aqui.
O sorriso dela morre e ela volta para o sofá, derrotada, depois de
deixar o aparelho sobre o balcão. Arrumo tudo e pego os morangos, a
encontrando olhando séria para o fogo, seus peitos sobem e descem
rapidamente sob o tecido grosso do sutiã e minha boca saliva em desejo.
— Diana Maria?
— Você está mentindo. — Olha-me e eu me sento sobre o tapete
felpudo. — Não tem pudim. Está só me enganando.
— Tem sim, agora senta aqui ao meu lado — peço a puxando pela
mão. — Senta aqui e vamos comer esse doce primeiro, depois eu tenho
outra coisa para comer e só então, você ganha o seu pudim.
— Eu te odeio, Lorenzo — resmunga sentando ao meu lado.
Com uma ideia na cabeça, me sento à sua frente e mergulho o
morango no chocolate, testando antes para saber se não está muito
quente. Diana repete meu gesto, e quando morde o morango, solta um
gemido de satisfação, que faz meu pau pulsar.
Ela está me provocando e ao lamber os dedos, tenho a
comprovação.
— Abre a boca — mando e coloco o morango encharcado de
chocolate próximo à sua boca.
A fruta está tão molhada, que pingos marrons caem em seu corpo,
sujando-a.
— Lorenzo! — Seus olhos escurecem e as pupilas dilatam.
— Eu limpo — garanto e ela fecha a boca, não recebendo o
morango.
Lentamente, deslizo a fruta pelos seus lábios e escorrego pelo seu
pescoço, descendo até o meio dos seus peitos. Abro o fecho frontal e os
mamilos aparecem apontados, prontos para a minha boca. Mergulho o
morango novamente no chocolate, — que está quase frio por eu ter
esquecido de ligar o aparelho para manter aquecido, — e esfrego na
aureola.
— Lorenzo... — Solta fraco, lambendo os lábios e trago o morango
até minha boca, o sugando, antes de comê-lo.
Aproximo-me de Diana, ficando entre suas pernas e agarro sua
nuca, trazendo sua boca de encontro à minha, fazendo o gosto de
morango se misturar ao chocolate. Com calma, meus lábios descem,
fazendo o mesmo caminho que o chocolate, e tenho Diana gemendo
baixo quando minha língua encontra o bico durinho do seu peito.
Não tenho pressa, faço tudo com calma, mantendo meus olhos
presos nela, vendo a satisfação e o prazer dominarem seu rosto. Dou a
mesma atenção para o outro seio, prendendo-o no dente e esfregando a
ponta da língua, fazendo-a se arrepiar e arfar.
Diana segura meu rosto entre as mãos e me puxa para cima,
atacando minha boca com fome. Nossos corpos se alinham ao tapete e
desço a mão para o vão de suas pernas, encontrando-a úmida e pronta
para me receber. Dedilho seu clitóris engolindo seus gemidos, tendo-a
cada vez mais pronta para mim.
Insiro um dedo em seu canal, seguido de outro, e mais outro. Diana
agarra meus braços e remexe o quadril de encontro à minha mão, desço a
boca para seu pescoço e esfrego a palma sobre o nervo, as paredes
internas da sua boceta se contraem e seu corpo tenciona, liberando seu
primeiro orgasmo.
Busco sua boca e suas mãos descem pelas minhas costas,
parando em minha bunda, onde ela aperta fazendo meu pau esfregar em
seu centro. Separamos o suficiente para que eu a livre da calça e para
pegar o preservativo, desenrolo o látex sobre meu comprimento, tendo os
olhos ávidos de Diana, presos em meus movimentos.
— Tudo bem, amor? — confirma com o olhar e busco sua boca
com a minha, deitando-o novamente sobre o seu corpo.
Afasto o suficiente para conduzir meu pau à sua entrada e olho em
seus olhos, que se fecham assim que nossos corpos se conectam.
— Diana, porra — murmuro um pouco assustado percebendo o
quanto é apertada e as lágrimas em seus olhos.
— Shiu — toca meus lábios. — Está tudo bem, só continua.
Aceno com a cabeça e beijo seus lábios com carinho.
Centímetro a centímetro, a faço minha.
Solto o ar pela boca e ela sorri de lado, abraçando meu pescoço
com os braços e minha cintura com as pernas, nossas testas se tocam e
vagarosamente começo a ama-la.
Nossos olhares se fixam e as três palavras param na ponta da
língua e eu as engulo, beijando-a, tendo Diana Maria completamente para
mim.
Acordar abraçada ao Lorenzo, nunca passou pelos meus planos,
nem mesmo quando eu sonhava com ele, ou na adolescência, quando ele
ficou absurdamente lindo e inteligente. Mas as suas manias de me tirar do
sério, acabaram com a quase paixonite. Sinto meu corpo dolorido pela
noite anterior, que foi mais do que imaginei.
Não doeu como esperava, a dor foi pouco, comparada ao fogo do
desejo que corria friamente pela minha veia. Não sei por que esperei tanto
tempo para fazer.
Você estava atarefada demais sustentando a casa.
Minha consciência acusa e me recordo das noites em que eu
passava estudando e trabalhando. Não era a inteligente da turma de
contabilidade, mas tirei um bom dinheiro fazendo trabalho para os que
eram mais burros e preguiçosos que eu.
Deslizo a ponta dos dedos pelo braço do Lorenzo, lembrando das
noites que passei planejando sua morte, bem lentamente, tudo porque ele
estragou meu desenho quando tínhamos cinco anos. Ter falado em voz
alta, foi como ter tirado um peso enorme dos meus ombros, e me deu uma
luz no túnel, já que sempre o culpei pelo afastamento da minha mãe.
Dona Marta nunca quis ser a minha mãe, e o episódio do desenho
foi o que mais me marcou, e eu sei que se buscar bem no fundo da minha
mente, vou encontrar episódios bem piores.
— Pensando em mim, coelhinha? — O sussurro gostoso contra
meu pescoço me faz encolher em seus braços.
— Só pensando na Pudim — minto e ele prende meus pés entre os
seus. — Quando vamos voltar?
— Hoje à noite. Tem previsão de chuva forte para a madrugada e
corremos o risco de ficar aqui. — Beija meu pescoço. — Não que seja
uma má ideia ficar preso com você.
— Lorenzo — ralho ao sentir seu pau duro entre minhas pernas.
— Ninguém mandou ser tão gostosa, coelhinha. — Esfrega o rosto
em meu pescoço, me fazendo rir. — Vamos dormir mais cinco minutinhos
e levantamos, certo?
— Certo — concordo em um bocejo e ele me vira na cama, ficando
sobre meu corpo. — Lorenzo, você não queria dormir?
— Queria, mas preciso saber, por que não contou sobre sua
virgindade?
Meu rosto esquenta e sem coragem, desvio o olhar.
— Ei, não precisa ter vergonha, só queria te proporcionar a melhor
noite — sua voz é um carinho doce próximo ao meu rosto.
— Foi a melhor noite — garanto olhando em seus olhos. — Não
mencionei, porque achei que você não perceberia.
— Achou que eu não perceberia? — concordo e ele bufa, beijando
minha bochecha e deitando novamente ao meu lado. — Não sei se
percebeu, Diana Maria, mas sobre você, eu sempre percebo tudo.
Com isso, ele me abraça, fazendo minhas costas grudar em seu
peito nu. Seus dedos deslizam pela minha barriga em desenhos sem
sentidos, enquanto a respiração quente bate contra meu pescoço.
— A cobra, foi só um momento de rebeldia — revelo e ele ri,
murmurando que é a minha cara fazer isso.
Ficamos em silêncio, e quando eu penso que ele dormiu, sou
surpreendida.
— Lorenzo, o que está fazendo? — pergunto ao senti-lo roçar seu
pau em minha bunda.
— Estava tentando dormir, mas como eu posso fechar os olhos
sabendo que você está nua ao meu lado? Porra, Diana Maria, você só
fode o meu juízo! — gira meu corpo novamente, ficando sobre mim. —
Está muito dolorida?
Nego com a cabeça e com isso ele mergulha a mão em meus
cabelos e a língua em minha boca, dominando o beijo.
E eu me afundo.
Deixo que me conduza, porque, parando para lembrar, ele sempre
fez isso muito bem.

Chegamos na mansão por volta da meia-noite, o silêncio foi tomado


pelos nossos passos ligeiros até a suíte principal, onde Lorenzo me
colocou contra a parede e me fez gozar em seus dedos.
Tão rápido e quente, ele estava dentro de mim, ocupando seu
espaço e acabando com todo meu fôlego, me deixando mole a cada
investida. Agora estamos prontos para sairmos para trabalhar, mas antes,
devemos passar na casa da dona Caroline para buscar Hades e Pudim.
— Sua mãe não deveria ter ido buscá-los — falo aceitando sua
mão estendida.
— Deixa ela, dona Caroline é impossível. — Puxa-me para perto e
desce a mão para a minha bunda. — Ela quer aproveitar os netinhos,
deixa ela.
Beija meu rosto e paramos perto do carro, Lorenzo abre a porta
para mim e cumprimento o senhor Mathias, que como sempre está de
terno e um chapeuzinho. O homem fica sério assim que o carro deixa a
propriedade e sinto meu estômago gelar ao lembrar que hoje vou almoçar
com minha mãe e irmã.
Quando minha avó não está por perto, é porque elas vão me pedir
algo, e eu já posso até imaginar o que vai ser.
— Coelhinha, tudo bem? — A mão dele paira em minha coxa.
— Tudo. Só um pouco cansada — minto e ele traça um caminho
para o interior da minha coxa, me fazendo segurar sua mão.
— Falei que poderia ficar em casa, Francisca cuida de tudo na sua
ausência. — Seus olhos encaram os meus enquanto fala e só forço um
sorriso.
Se ele soubesse que a minha chefa espera eu aparecer para pedir
seu cafezinho e que não dá um passo sem que eu esteja por perto, ele
não falaria para eu ficar em casa.
— Não pense, coelhinha. — Segura meu queixo e cola sua boca na
minha.
Suspiro e volto a olhar para fora, tendo sua mão sobre a minha em
um aperto firme, que passa toda confiança que eu preciso para que esse
dia seja bom.

Pudim deita em meu colo e minha mãe força um sorriso, assim


como Emília. As duas pediram o que tinha de mais caro no cardápio e
deram a entender que quem irá pagar por tudo serei eu.
Como sempre!
— Então, como dona Venécia está? — questiono trazendo o copo
de suco até a boca.
O cheiro de maracujá me faz recusar e chamo o garçom, pedindo
para que troque meu pedido por um outro.
— Vovó está ótima. Bom, ela finge que está. — Emília funga e
minha mãe segura sua mão. — Ela está doente. Os médicos não sabem o
que ela tem e o plano de saúde...
— Está em dia porque nunca deixei de pagar — corto-a e ela
engole em seco. — E eu sei que ela não foi em médico nenhum, porque é
para mim que ligam para confirmar a consulta. Então parem com esse
teatrinho e vão direto ao ponto — peço, ignorando as caras que as duas
fazem. Estou cansada e de tpm, e a madrugada foi tão curta, que não vejo
a hora de chegar em casa e dormir.
— Diana, isso são modos de falar com a sua irmã?
— Mamãe, eu sei que minha avó está bem, quem deveria ter
modos é a sua filha, que fica chamando doença para a família. —
Estresso-me e meu novo copo de suco chega. — Então, em que buraco
José se meteu?
— Nenhum — dona Marta responde rápido demais. — Emília
precisa se casar.
— Felicidades — brindo e beberico o líquido sabor acerola.
— Eu estou grávida. Quase três meses. — Solta e o líquido embola
na minha garganta. — Thomas e eu precisamos nos casar.
— Por quê? — questiono desconfiada e ela suspira.
— Porque eu sou uma moça de família e não pega bem estar
grávida sem estar casada. — Olha-me com desdém. — Diferente de você
que deu para meio mundo, eu me resguardei.
— Se resguardou tanto que está grávida antes de mim, sendo que
estou casada há um mês — pontuo e ela me olha de cara feia. — Desejo
felicidades a você e ao meu cunhado, e principalmente a essa pobre
criança que não sabe a família que vai nascer.
— Diana Maria — minha mãe fala com toda a sua classe. —
Estamos aqui, porque você como irmã mais velha...
— Não sou o pai da noiva — corto secamente, sabendo onde isso
vai chegar. — O meu casamento foi pago pelo meu noivo, e não tenho
coragem de pedir para que ele banque nada.
— Diana, eu sou sua irmãzinha...
— Pois é, mas você esquece que eu também sou sua irmã e que
suas palavras me machucam. — Encaro-a, magoada.
— Diana, você é a mais velha. Você foi feita para aguentar...
— Aguentar? — questiono e uma lágrima escapa dos meus olhos.
— Eu não fui feita para aguentar, mas aguentei. Aguentei a atenção sendo
toda sua. Aguentei suas festas de aniversário enquanto eu mal tinha um
bolo. Aguentei suas trocas de namorados, seus gastos exagerados.
Aguentei e me privei de muita coisa, mas agora não tenho mais obrigação
nenhuma.
— Mamãe, olha o jeito da Diana — fala como uma criança birrenta
de três anos e respiro fundo.
— Nem abra a boca, dona Marta. A preferida da família sempre foi
Emília, o seu orgulho, não é? — Ela não confirma, mas me olha firme. —
Então dê seu jeito para pagar esse casamento. Eu não tenho obrigação
nenhuma.
— Diana, seu pai...
— Eu não tenho pai. — Fico em pé e Pudim arranha meu braço. —
Quando tiver uma data, me envie o convite, faço questão de te dar um
jogo de panelas, o mesmo que você me deu, sabe como é, eu não uso.
Jogo meu mega hair para trás e caminho para fora do restaurante,
segurando minha gata e minha bolsa como se fossem meu bote salva
vidas.
— Você viu a forma como dona Marta me olha? Hein, Pudim? Você
viu o desprezo nos olhos dela? — questiono andando rápido pela rua. —
Eu não sei o que eu fiz para ela, mas sei o que não vou fazer. Não vou
ceder. Não vou!
Beijo a cabeça peluda da Pudim e atravesso a rua, determinada a
não me sentir mais assim, diminuída.
ALGUNS MESES DEPOIS

Faço carinho na cabeça de Hades, que dorme babando na


almofada, enquanto sua amiga assassina: Pudim, se lambe sentada na
minha poltrona. O que Hades tem de calmo, Pudim tem de estressada e
acho que é uma das coisas que ela adquiriu da mãe, que hoje está
demorando mais que o normal para se arrumar.
Emília e o tal Thomas se casam hoje, no mesmo dia que eu e a
minha esposa completamos cinco meses de trepação. No próximo sábado
será a festa da Clifford, onde irei assumir tudo e também comemorar seis
meses de casamento.
Estou nervoso, mas confiante e realizado, afinal, terei minha
cadeira e ainda uma esposa gostosa ao meu lado. Não que Diana Maria
não tenha outras qualidades, mas sempre me perco no seu corpo
maravilhoso e no sorriso que consegue ganhar qualquer coisa de mim.
— Coelhinha, você é convidada não a noiva — grito e Hades ronca.
— Diana Maria, você não precisa se atrasar hoje.
Olho para a gata que parou de se limpar e me olha como se me
julgasse.
— Estou indo, só tinha perdido meu cílio esquerdo — fala e olho
em direção à escada, perdendo o ar.
Diana Maria está maravilhosamente linda dentro de um vestido
rosa escuro. O decote profundo na frente, não deixa muito para a minha
imaginação e eu já quero voltar para dentro do quarto e esquecer essa
porcaria de casamento.
— Uau! — balbucio me aproximando da escada. — Caralho, Diana,
você está perfeita!
— Obrigada! — Sorri e seus olhos brilham. — Você também não
está nada mal.
— Me esforcei ao máximo para estar à sua altura nesse
casamento. — Seguro sua cintura. — Porra, se você quiser voltar para o
quarto e inventar uma desculpa qualquer, eu topo.
— Não podemos, prometi à minha avó que estaria lá. — Arruma a
gola do meu smoking e sorri. — Vamos. Ficamos só na cerimônia e depois
vamos para a casa da sua mãe.
— Eu ainda prefiro a ida ao quarto — brinco e ela me beija de leve.
— Coelhinha.
Choramingo como uma criança birrenta e ela ri alto, fazendo meu
estômago se apertar com o som. Eu amo esse som. E amo ainda mais ser
o responsável por ele.
— Então vamos logo — digo derrotado. — Hades cuide de tudo, e
você Pudim, se arranhar minha cortina, teremos uma nova conversa séria.
Aponto o dedo para a gata que mia alto e volta a lamber a perna
traseira, levantando-a quase como em uma performance musical.
— Vamos, amor.
Diana me chama e meu coração quase para ao perceber que ela
me chamou pela primeira vez de amor, mas não demostro e dou meu
braço a ela, que aceita e então saímos de casa.
O casamento não aconteceu.
O noivo fugiu assim que entramos e posso jurar que o conheço de
algum lugar, Emília está se afogando em lágrimas enquanto o padre e a
mãe tentam acalmá-la e a avó balança a cabeça em negação, pronta para
soltar sua frase mais icônica: eu avisei.
Desde que a conheço, sempre que ela fala essa frase é porque
realmente está certa.
Agarro a cintura da minha esposa que encara a cena abismada e
quando seus olhos miram os meus, estão carregados de divertimento.
— Achei que a noiva fugiria — comenta baixinho. — Eu tive essa
ideia no dia do nosso casamento — confessa me surpreendendo e meus
olhos se arregalam.
— Quer fugir de mim?
— Não mais, Lorenzo. — Segura meu rosto e nossas bocas se
encontram. — Acha que eu deveria ir até lá?
— Não. Acho que devemos ir para a casa da minha mãe almoçar
— falo sério e olho para o altar, vendo o padre jogar água benta na Emília.
— Isso que dá casar antes do almoço. Talvez o noivo tenha fugido de
fome.
— Lorenzo! — Bate em meu ombro.
— Coelhinha, você é terrível com fome. Tenho certeza de que
fugiria se não estivesse com a barriga cheia. — Ela me olha feio e dona
Venécia vem para perto de nós.
— Vovó, e agora?
— Agora nada — resmunga e passa a mão pelo pescoço, irritada.
— Eu disse que aquele homem não valia nada. Nunca gostei daquelas
pratas na cara dele e ainda vem dizer que é lutador. Eu avisei a sua irmã,
mas ela não me ouviu. Ninguém me ouve.
— Vovó, eu a ouço — Diana toca a mão da avó carinhosamente.
— Só você, minha menina, só você. — Sorri e olha para mim. —
Estou ficando cada dia mais velha, cadê meus bisnetos? Não me diga que
não funciona mais.
— Vovó! Quem deixou a senhora beber?
— Só com muita cachaça para aguentar essa vergonha. — Solta o
ar e o cheiro de álcool puro bate em meu rosto. — Sua irmã fez um
escândalo pelo casamento, passou quase cinco meses organizando tudo
para ficar no altar, chorando e com uma menina dentro da barriga.
Sinceramente, não sei como vamos sustentar mais uma boca. O
imprestável do seu pai perdeu tudo, não que tivéssemos algo.
— Eu posso vender a propriedade e comprar uma casa menor —
Diana fala preocupada e a avó nega com a cabeça.
— Sua mãe não quer uma casa menor, e sua irmã, com síndrome
de princesa recatada, também não, e agora não quer saber de trabalhar.
Comigo, não se preocupe, estive vendo um lar de idosos. — Diana a olha
de boca aberta e eu também. — Minha missão já está cumprida com você
sendo feliz.
— Mas, vovó, não precisa ser assim.
— Precisa sim, só vou precisar que pague a primeira parcela para
que eu possa ter um quarto e depois eu me viro. — Sorri largamente. —
Quem sabe eu não ache um velho rico por lá.
— Dona Venécia, a senhora só não dá nó em ponta de faca,
porque não tem uma faca — brinco e a mulher gargalha chamando a
atenção dos convidados, que aguardam informação.
— Cuide da minha neta e eu te mostro como dou nó. Agora vão
para casa e façam bisnetinhos lindos, eu adoro a Pudim, mas ela não fala
e nem me chama de vovó. — Respira fundo. — Gata ingrata.
Com isso ela nos dá as costas e sai reclamando. Aperto os lábios
escondendo o riso e Diana Maria me olha.
— Vamos, amor, treinar bisnetos — murmuro beijando sua
bochecha. — Relaxe, adoro sua avó, podemos pagar a suíte desse lar de
idosos.
Garanto e a puxo para fora da igreja. Encontramos Mathias nos
esperando do lado de fora, entramos no carro e Diana Maria senta no
meio, e como sempre, descanso minha mão em sua coxa, sentindo o
cheiro gostoso dos seus cabelos.

Minha mãe serve o almoço e me olha com um sorriso largo, meu


avô faz o mesmo e posso ver o orgulho nas irises claras. Josh conversa
animado com a minha esposa, falando sobre o gatinho que resgatou e
Diana responde animada cada uma das perguntas, parecendo até uma
médica veterinária.
Meu pai puxa assunto sobre a empresa e mergulho, sempre
tocando minha esposa e a fazendo dar pequenos sorrisos. Gosto disso,
de ser o responsável pelos seus sorrisos mais bonitos.
— Lorenzo, precisamos conversar — o velho Antony diz se
levantando e faço o mesmo, deixando um beijo nos cabelos de Diana, que
está interessada demais em comer seu pudim.
Acompanho meu avô até o escritório, reconhecendo o cheiro de
couro, é o mesmo do escritório na empresa.
— Você está feliz meu neto?
— Muito. Nunca achei que casamento fosse tão complicado e
mágico ao mesmo tempo — respondo sincero me sentando no sofá e ele
senta ao meu lado. — Diana Maria é teimosa, mas quando sorri e me
pede algo, eu não sei como negar.
— Estava me referindo à empresa, porque sobre sua esposa, está
na cara a felicidade e o amor de vocês. — Sorri e fico sem graça. — Ela
sabe sobre a condição que vai receber a presidência?
— Sim, e acho que por isso aceitou casar tão rápido — minto não
querendo lembrar do nosso acordo. — Diana Maria queria esperar um
pouquinho mais, fazer as coisas com calma.
— Ela está bem em saber que você vai passar mais horas dentro
da empresa do que em casa?
— Sim, vovô — minto e sem querer recordo que a partir da próxima
semana, ela pode querer dar entrada no divórcio.
— Estou mesmo muito feliz por você. Confesso que minha atitude
foi errada, mas foi o empurrão que precisava para você abrir os olhos para
o amor que estava bem à sua frente. — Bate em meu joelho. — Estou
feliz que não me odeie.
— Por que o odiaria?
— Por te fazer casar. Bom, eu mandei você me apresentar uma
mulher e não uma certidão de casamento. — Faz graça e eu acabo
sorrindo. — Quero que você e a menina Diana sejam muito felizes e que
encham essa casa de crianças.
— Com calma, vovô, vamos completar seis meses de casados
ainda. — Sinto-me nervoso e ele se levanta.
— Eu sei, mas com esse tempo sua avó já tinha pão no forno. — Ri
e prepara uma dose de conhaque. — Mas vamos parar de falar disso e
focar no trabalho. Preciso que você veja o novo contrato, quero te dar
umas dicas de como lidar com aquele homem.
Concordo prontamente ficando em pé. Meu pai — o novo Antony —
entra na sala com um semblante sério, assim como meu irmão.
— O que aconteceu?
— Acabaram de prender o pai da Diana. — Engulo em seco
sentindo o sangue correr mais rápido. — E o noivo fujão da irmã.
Não espero mais informações e saio atrás da minha esposa,
encontrando-a segurando um copo de água, que cai das suas mãos assim
que me vê.
— Vai ficar tudo bem, amor. Eu prometo — murmuro abraçando-a
com força, e seu choro se torna mais forte, fazendo meu peito se apertar
em desespero.
— Vai ficar tudo bem. Eu vou cuidar para que fique, confie em
mim.
Dizem que devemos fazer uma limonada quando a vida nos dá
limões, mas esquecem que o limão não é tudo na bebida. Minha mãe me
olha com ódio nos olhos processando o que acabei de falar, e Emília
segura a barriga enorme de quase oito meses, já dona Venécia é a única
que mantém um sorriso curto nos lábios.
— Você fez o quê, Diana?
— Vendi a propriedade e vocês têm um mês para sair daqui —
repito e os olhos de dona Marta dobram de tamanho.
Hoje faz cinco dias que José foi preso e apesar de uma parte minha
estar feliz, outra se remói em desespero, e pensando nisso, Lorenzo me
ajudou a vender a propriedade por um preço bem vantajoso.
— Uma parte do dinheiro será para pagar a fiança do José, a outra
para dar entrada em uma casa menor. Vocês terão que trabalhar e pagar
as contas...
— Estou grávida. — Emília me interrompe e olha para nossa mãe.
— Mamãe, olha o que a Diana quer fazer conosco.
— Ela ainda está sendo generosa. — Minha avó se intromete. — A
propriedade é dela, ela nem deveria usar esse dinheiro para tirar o traste
da cadeia. Deveria deixá-lo lá, apodrecendo junto com o genro. Céus, de
lutador para agiota. Você e seu pai, só se metem em encrenca — fala
olhando com severidade para minha irmã, que se encolhe.
— Ele queria dinheiro — justifica e acabo rindo, lembrando que a
minha gata foi levada por ele.
— Você sabe que ele correu do casamento porque reconheceu o
meu marido, não é? Lorenzo quem resgatou a Pudim, se não fosse por
ele, minha gata teria sido morta e você carregaria a culpa.
— Você é só uma imprestável, invejosa, Diana. — Minha mãe se
levanta, brava. — Morre de inveja da sua irmã, sempre foi assim. Nunca
serviu para nada, além de abrir as pernas para homens ricos. Saia da
minha casa e não volte. Não precisamos do seu dinheiro, muito menos da
sua pena. SAIA!
— Eu vou sair e voltar, porque a casa é minha. — Fico em pé e a
encaro. — Eu nunca entendi tanto ódio por mim, mas quer saber, fique
com a sua princesinha e esqueça que sou sua filha...
— Você não é a minha filha. — Solta e meu peito se aperta. —
Você é a filha de uma empregada qualquer que seu pai comeu. Ela te
abandonou aqui, e eu com pena, cuidei de você, se soubesse a
imprestável que se tornaria...
— CHEGA, MARTA! — minha avó grita e minha mãe ri.
— CHEGA? Eu nem comecei ainda. — Olha-me apontando o dedo
em riste. — Você nunca percebeu que ninguém te ama, além dessa
velha? Todo mundo sabe que você e o Lorenzo só estão juntos porque
vocês assinaram um contrato. Todo mundo sabe que ele escolheria a
Emília, que é uma princesa de verdade. Você é só um lixo que ninguém
quis e eu peguei porque tive pena. Aposto que foi por isso que Lorenzo te
quis, por pena.
Meus olhos ardem pela verdade que voa da sua boca e tudo à
minha volta fica um borrão.
— Você não é ninguém, Diana Maria...
— Clifford — murmuro encontrando minha voz. — Diana Maria
Clifford, e vocês têm uma semana para sair do meu imóvel ou eu chamo a
polícia.
— Você não tem coragem — duvida com a voz baixa e consigo
sorrir em meio às lágrimas.
— Fique e arquem com as consequências. — Ela se afasta e minha
avó vem para perto de mim. — Sobre o seu marido, rode a bolsinha na
esquina e consiga o dinheiro.
— Diana, isso é modo de falar com a nossa mãe?
— Você acabou de ouvi-la dizer que não é minha mãe, que eu sou
apenas um lixo que ninguém quis — repito as palavras sentindo meu peito
doer. — Pois então, minhas obrigações com vocês acabam aqui. Boa
sorte a todos, e vovó, passe mais tarde em minha casa, meu marido e eu
queremos conversar com a senhora — digo e ela assente com a cabeça,
beijo sua testa e pego minha bolsa, deixando a casa em silêncio e de
cabeça erguida.
Nunca mais vou me rebaixar. Nunca mais!

— Diana Maria — ouço a voz divertida que se transforma em


preocupação assim que me vê. — Amor, o que aconteceu?
— Me abraça, Lorenzo. Me abraça — peço e não demora meio
segundo para ter seus braços em volta do meu corpo.
Saí sem rumo da casa dos meus pais, que no fim, não são mais
nada meus. Meus pensamentos se colidiram e tudo o que eu mais queria,
era Lorenzo, meu marido e meu grande amor.
— Mariana, avise meu avô que irei me atrasar um pouco. Conte
que minha esposa está aqui — pede e me leva para a sua sala.
O cheiro do seu perfume fica mais forte e só nos separamos para
ele sentar na cadeira e me puxar para o seu colo.
— Coelhinha, o que aconteceu? Amor, olha pra mim — pede
carinhoso, tocando meu rosto. — Diana Maria?
— Ela não é a minha mãe — balbucio abrindo os olhos. — A Marta
não é minha mãe. Ela disse com todas as letras.
— Como assim?
— Ela disse que o José ficou com uma empregada e que eu sou
fruto dessa relação. Que a empregada não me quis e ela ficou com pena
de mim. — Seus dedos traçam o caminho das minhas lágrimas. — Ela
disse que ninguém me suporta. Que estão comigo por pena...
— Estamos aqui há seis meses, acha mesmo que eu não te
suporto? — Encara meus olhos com carinho. — Amor, sua mãe está falida
e desesperada para te machucar. Não fique assim, não gosto de ver suas
lágrimas.
— Lorenzo, mas...e...se for... verdade? — Soluço e seu polegar
desliza pelo meu queixo. — E se ela realmente não for?
— Eu vou descobrir. Meu avô e o seu pai tem negócios, estávamos
indo à delegacia — conta e suspira. — Levante-se, eu vou buscar água e
ver se tem pudim na geladeira do Josh.
— O Josh tem uma geladeira?
— O desgraçado tem quase uma minicozinha na sala dele —
comenta sorrindo e me deixa sentada em sua cadeira. — Você fica uma
delícia sentada aí. Não se mexa, eu já volto.
Segura meu queixo e beija rapidamente meus lábios, saindo da
sala. Ouço ele pedir para que Mariana me traga uma xícara de café e
estremeço, olhando perdida para sua mesa.
Tento pensar na clínica, lembrando da Jussara — a funcionária
nova — que dedurou Francisca ao meu marido e que acabou criando uma
pequena confusão, que foi cessada com Gabriel demitindo a mãe e
Lorenzo assinando a carta de demissão.
Fungo e meus olhos encontram uma pasta vermelha, a mesma
pasta do nosso contrato e um arrepio estranho sobe pela minha espinha.
Tentada, pego-a e a solto quando Mariana entra deixando meu café e se
retirando.
Novamente sozinha, pego a pasta e ao abrir encontro o contrato
que assinei a seis meses atrás. Nele há uma cláusula dizendo que eu
posso pedir o divórcio assim que completarmos seis meses e uma
semana de casamento. Os seis meses completam depois de amanhã, e
se Lorenzo está revendo o contrato é para se preparar.
Engulo em seco vendo algumas anotações a lápis e o que faz meu
coração se despedaçar está no topo: como fazer Diana se separar de
mim?
Ele quer a separação!
Eu nem deveria estar sofrendo, mas estou, porque eu amo aquele
idiota, só que ele não me ama. Fui apenas uma peça para o trono e assim
que ele conseguir, serei uma peça fora do tabuleiro.
Burra, Diana Maria. É isso que você é, burra.
Se apaixonou e se entregou, achou que tinha achado alguém que
te completasse e no fim, vai ter que catar os caquinhos sozinha.
Escondo a pasta no meio da bagunça de papeis e ele entra na
sala, sorrindo com um pote em mãos.
— Seu pudim, amor.
Amor? Por que essa palavra doí tanto?
Chego em casa e Edna me informa que minha esposa está no
quarto. Dou um afago na cabeça do meu cachorro e quando tento fazer o
mesmo com a gata, ela me arranha, então a deixo, amaldiçoando
baixinho. Subo as escadas e não a encontro no quarto, entro no banheiro
e vejo-a de olhos fechados dentro da banheira.
Livro-me da minha roupa, tendo-a ainda de olhos fechados e
somente quando entro, seus olhos azuis encontram os meus.
— Em seis meses de casamento, nunca dividimos a banheira —
comento e ela me encara cética. — Posso dividir com você, esposa?
— Pode — murmura e finalmente sorri.
Sento-me na ponta e a chamo com o dedo, ela demora, mas vem
se encaixando entre minhas pernas.
— Como você está, coelhinha? — questiono afundando o nariz em
seu pescoço e ela ri, reclamando de cócegas.
— Nunca entendi o motivo de você me chamar assim. — Afasta-se
e enrolo uma mecha do seu cabelo em meu dedo. — Lorenzo, como foi
na delegacia?
— Tudo certo. Ele abriu mão dos negócios, e sobre o seu assunto...
— Seus olhos me encaram com expectativa. — Ele garantiu que Marta
está mentindo, que apesar de tudo nunca traiu sua mãe. Você pode pedir
um teste de DNA.
— Não quero. Minha avó vem e vou pedir que conte a história. —
Suspira e desliza despreocupadamente a ponta dos dedos pela minha
perna.
Ficamos em silêncio, Diana passeia com a mão pela minha perna
enquanto a minha desliza pelas suas costas. A água quentinha relaxa
meus músculos e os pequenos gemidos de Diana acende meu corpo.
— Está com frio, coelhinha? — sussurro próximo ao seu ouvido e
seus olhos se fecham.
— Você é feliz? — Surpreendo-me ao ser questionado e ela
encaixa as costas em meu peito.
— Claro que sou! — respondo fechando as mãos ao redor da sua
barriga, descansando o queixo em seu ombro. — Tenho tudo o que eu
quero, por que não seria feliz?
— A empresa vai ser sua.
— Ela já é minha, coelhinha. — Beijo sua bochecha. — Meu avô
assinou os papeis no dia do nosso casamento, mas só me informou dias
depois.
— Você tem tudo o que deseja?
— Tenho — murmuro deslizando os dedos pela sua barriga,
imaginando um filho nosso, mas não dou voz aos meus pensamentos e
ela se vira mantendo uma distância considerável. — Por que isso agora?
— Vamos fazer seis meses de casados. — Confirmo mesmo que
não seja uma pergunta. — Só queria saber se fui uma boa esposa.
— Quase a melhor — respondo com o pau ereto, e seus olhos
caem para ele. — Para ser a melhor, tem que me deixar te comer de
quatro nessa banheira.
— Lorenzo — geme manhosa e suas mãos seguram a base do
meu pau. — Acho que você é um marido muito malvado.
— Só por que eu guardei seus brinquedinhos? — Confirma
deslizando a mão pelo meu comprimento. — Eles estão na gaveta,
podemos usá-los mais tarde.
— Mais tarde?
— Mais tarde — confirmo em um gemido e ela esfrega a palma da
mão sobre a glande sensível. — Agora eu quero você sentada no meu
pau.
Sou sincero e Diana Maria me olha com a maior cara de safada,
sem que eu espere, ela fica de costas e a água bate em sua cintura.
Minha esposa coloca os pés ao lado da banheira deixando minhas pernas
juntas e então sobe, mexendo a bunda, a qual seguro com as duas mãos.
— Porra, Diana...
— Lorenzo... — Olha-me sobre o ombro. — Mete em mim.
Três palavras, uma ordem bem dada e cumprida com satisfação.
Sorrio em resposta escorregando dois dedos por entre sua bunda,
até chegar em sua entrada. Afundo dois dedos em seu canal e ela geme
alto, empurrando o quadril. Desço a outra mão até seu clitóris, brincando
com o nervo duro e dedilhando-o com lentidão.
— Loren... Porra! — murmura quando um terceiro dedo a invade.
Giro-os dentro dela, sentindo as paredes internas me apertarem,
Diana agarra as bordas da banheira e seus cabelos caem pelas suas
costas, aperto o nervo entre os dedos e suas costas arqueiam e ela grita,
encontrando seu prazer.
Retiro meus dedos, e sem dar tempo para ela se recuperar, enfio
meu pau, que desliza facilmente, sendo abraçado centímetro a centímetro
pelo seu calor. Seguro sua cintura e Diana volta a apoiar as mãos na
banheira, me olhando por cima do ombro e começa a rebolar.
Contraindo sua boceta, ela sobe e desce tão lentamente, que se
torna impossível aguentar muito tempo. Diana sobe e sem tirá-lo por
completo, contrai, pressionando a glande e enviando ondas de calor pelo
meu corpo.
Finco os dedos em seu quadril quando ela repete o gesto pela
terceira vez, e a puxo com força, fazendo a água pular para fora da
banheira. Agarro-a, subindo as mãos para seus seios os apertando e
instigando com os dedos. Nossos gemidos se tornam altos, se misturando
ao barulho da água cada vez que ela senta sobre mim.
— Por que está me torturando, coelhinha? — questiono enterrando
o nariz em seu pescoço e Diana continua suas sentadas.
Cada vez mais rápidas e fortes, sinto meu orgasmo chegar e
apresso meus dedos em seu clitóris, instigando-os. Diana grita, se
contorcendo sobre mim e com uma última sentada, suas pernas tremem e
meu pau pulsa, esporrando tudo para dentro dela. Meus dedos continuam
sobre seu nervo pulsante e ela deita a cabeça em meu ombro, buscando
ofegante pela minha boca.
Nossas línguas se encontram em uma explosão de desejo, deslizo
a mão pelo seu corpo, chegando ao seu pescoço, apertando de leve e ela
geme manhosa, se afastando em seguida.
— Agora eu sou uma boa esposa? — pergunta com os lábios
brilhantes e eu nego, segurando seu rosto.
— Você sempre foi uma boa esposa. Numa escala de zero a dez,
você é cem. — Sou sincero e ela me encara estática. — Você é a melhor,
Diana Maria Clifford. A melhor — garanto e nossas bocas voltam a se
encontrar em um beijo calmo, repleto de sentimentos não ditos.

Agarro a cintura de Diana, não querendo ir trabalhar. Estou


sentindo ela tão distante desde que apareceu na empresa — dois dias
atrás — que parece que estou perdendo-a entre meus dedos.
— Lorenzo, seu avô está te esperando.
— Ele que espere — respondo e ganho seu riso como resposta. —
Quero você bem relaxada hoje. Minha mãe deve estar chegando e vocês
vão para o spa.
— Vamos nos ver no salão? — Nego enfiando o nariz na curvatura
do seu pescoço.
— Eu venho te buscar. Quero todo mundo babando na minha
mulher — Sorrio e mordisco a área, antes de encará-la. — Por favor, não
se atrase e nem use aquele vestido vermelho, ou não sairemos daqui.
— Achei que sua nomeação fosse importante demais para você se
atrasar.
Ajeita minha gravata e sorri pequeno, ao me ver sério.
— A festa é importante, mas me enterrar na minha esposa, é muito
mais — garanto e ela trava. — Achei que soubesse que é importante para
mim, Diana.
— É que eu.... PUDIM! — grita e se afasta, vendo a gata sair
caminhando como se não tivesse acabado de arranhar a dona.
— Vamos levá-la para um padre benzer — falo sério e Edna passa
por mim, rindo, indo abrir a porta. — Minha mãe chegou e você está em
boas mãos, te vejo mais tarde, coelhinha.
Beijo-a de leve e dona Caroline aparece batendo seus saltos, e
mandando me afastar.
Contrariado, me afasto, e com uma sensação de vazio, deixo a
mansão, pensando seriamente em voltar e gritar para Diana Maria o
quanto a amo, e que ela é muito mais importante que qualquer outro
compromisso. Mas não faço, pelo contrário, entro no carro e Mathias parte
rumo à empresa.
E a cada quilômetro de distância, a sensação de vazio em meu
peito aumenta.
— Diana, amor, vamos? — grito ao pé da escada e Hades é o
primeiro a descer correndo, parando próximo a mim para um carinho, e
então sai correndo e se joga no sofá, quase caindo. Ele late e então se
arruma no sofá, deitando a cabeça sobre a almofada, volto minha atenção
vendo a gata descer as escadas, e sem me olhar, corre até a poltrona,
deitando preguiçosamente.
Olho para o relógio na parede e sentindo a ansiedade me consumir,
olho novamente para a escada e perco a fala.
Não tenho palavras para descrever o que sinto ao vê-la descer as
escadas, apoiada no corrimão. O vestido salmão marca todas as suas
curvas com um longo decote, que deixa metade dos seus peitos
aparecendo. A saia do vestido é longa, apertada em cima e solta abaixo
dos joelhos, e por Deus, ela está com os cabelos presos, deixando seu
lindo pescoço à mostra.
— Como estou? — Noto o nervosismo em sua voz e sorrio.
— Maravilhosa! — Tiro o braço de trás das costas e entrego o
buquê de rosas vermelhas. — Comprei para você.
— Obrigada, são lindas. — Leva-as ao nariz e me apresso em
pegar o outro presente. — Lorenzo, não...
— Sim — confirmo abrindo a caixa do colar. — Comprei semana
passada, pensando exclusivamente no quanto você ficaria linda com ele.
Suas unhas pintadas de rosa clarinho tocam os pequenos
diamantes e ela suspira. A peça é delicada, com trinta pedras de
diamantes, que juntas formam um coração.
— Posso colocar em você? — confirma timidamente e me apresso
em cumprir minha missão.
Não demoro mais que dois minutos, e planto um beijo em sua nuca,
que a deixa completamente arrepiada.
— Depois vamos comemorar — aviso pegando o buquê de suas
mãos e chamando Edna. — Coloque em um vaso por favor, não devemos
demorar muito.
— Lorenzo é a sua festa...
— Que vai ser comemorada aqui, mais tarde. — Fico com a boca
próxima à sua orelha. — Com você usando esses saltos e o colar. Apenas
isso.
Vejo seu rosto ganhar mais cor e nos despedimos dos nossos
animais, saindo da mansão em seguida. Deixo que Diana Maria caminhe
à minha frente, tudo para que eu possa admirar sua bela bunda.

Discursar nunca foi um problema para mim, mas se tornou desde


que Diana parou próximo ao palco e me encara com aquelas duas esferas
azuis. Sei que todos estão esperando eu começar a falar, pois meu avô
pigarreia ao meu lado e dou um sorriso a ele.
— Boa noite, juro que tinha um discurso decorado quando saí de
casa, mas ele simplesmente evaporou quando minha esposa sorriu
orgulhosa para mim. — Ouço suspiros e uns risinhos. — Quem pode
culpar um homem apaixonado?
Vejo-a engolir em seco e seu rosto ganha mais um tom de
vermelho. Os flashes explodem por todo lado e respiro fundo, desviando o
olhar para o pequeno público.
— Estar à frente da Clifford sempre foi meu maior desejo. Trabalhei
muito para conquistar a confiança do velho Antony, comecei de baixo, e
mesmo que muitos julguem a minha nomeação agora, estou com a
consciência limpa, sabendo que fiz o melhor para estar aqui. — Olho para
meu avô que assente com a cabeça. — Meu plano de expansão já está
em andamento, em até cinco anos a montadora Clifford estará em todo
canto do globo.
Continuo falando sobre os planos e ao final agradeço pela
presença de cada um. Ao entregar o microfone, trazem os papeis para
que sejam assinados e assim que meu nome preenche a linha, a
sensação de estar vazio me invade. Busco com os olhos pela minha
esposa, encontrando-a parada no mesmo lugar, só que sem seu lindo
sorriso.
Apresso-me em tirar as fotos e desço do palco após cumprimentar
as pessoas, caminhando apressado até Diana Maria, que me dá as costas
e sai se desvencilhando por entre os convidados.
A agonia toma conta do meu corpo quando tento passar e sou
parado por alguns conhecidos, que querem me parabenizar pela
conquista, quando finalmente me livro deles, olho para todos os lados
buscando pela minha esposa, só encontrando meu irmão.
— Aconteceu alguma coisa?
— Diana. Ela saiu correndo — falo e ele solta um palavrão
baixinho.
— Ela foi em direção às escadas. Acho que subiu para o terraço.
— Obrigado! — agradeço e olho para as pessoas. — Distraia-os,
até eu voltar com a minha coelhinha.
— Pode deixar, mano. — Bate em minhas costas e meus pés se
movem apressados na direção que Josh me informou.
Cada passo é como andar em areia movediça, que me suga a cada
instante. Chego ao terraço ofegante e a encontro parada se segurando no
concreto e olhando para cima.
— Amor, o que aconteceu? Diana? — questiono baixinho e ela ri.
— Não finja que se importa com o que aconteceu. — Seus olhos
me encontram. — Acabou, não precisa mais mentir.
— Mentir? Diana, do que você está falando? — Paro ao seu lado e
ela se abraça, por conta do vento.
— Chega, Lorenzo, você não precisa mais mentir e fingir que se
importa comigo. Nosso contrato acabou hoje, você conseguiu o que tanto
queria. — A mágoa explode em seus lábios e minha mão vai ao seu
rosto.
— Eu consegui tudo o que eu queria — confirmo, deslizando o
dedo pelo caminho das suas lágrimas. — Você está aqui comigo.
— Para de mentir.
— Não é mentira. — Dou um passo colando nossos corpos. — Eu
me importo com você, Diana Maria.
— Mentiroso!
— Eu me importo, porque — elevo seu rosto até que nossos
olhares estejam na mesma altura —, porque eu te amo.
— Lorenzo — umedece os lábios —, não precisa mentir assim.
— Você me conhece melhor do que ninguém, acha mesmo que eu
mentiria? Acha que me casaria com você só por conta de uma cadeira na
presidência? Meu amor, eu sou louco por você desde que te beijei a
quinze anos atrás. — Sou sincero e ela se afasta.
— Mentiroso! Se você fosse mesmo louco por mim, não teria fugido
— acusa e encolho os ombros.
— Eu não sou mentiroso, mas naquela época fui covarde, assumo.
— Encosto-me no concreto relembrando a tarde que a beijei. — Porra,
Diana Maria, eu era um moleque que até então fazia de tudo para te
atormentar, e quando seus lábios tocaram os meus, eu surtei. Surtei e sai
correndo, mas me arrependo dia após dia.
— Por que se arrepende? — Sua voz baixa chega suavemente e
viro o rosto para olhá-la.
— Porque perdi muito tempo longe da minha mulher. — Vejo sua
boca se abrir em surpresa. — Porque passei muito tempo tentando
esquecer você, e no fim, só serviu para te amar ainda mais.
— O contrato?
— Não me arrependo. — Sou sincero e ela se aproxima de mim,
arrepiada de frio. — Não me arrependo, porque tenho você aqui comigo.
Eu nunca deixaria você desamparada, e só uni o útil ao agradável. —
Toco sua cintura, puxando-a para os meus braços. — Meu avô queria que
eu apresentasse alguém que eu amasse, mas nunca foi preciso
apresentações, porque no fundo, eles sempre souberam que era você.
— Mas as cláusulas... Tudo... Lorenzo. — A desconfiança em sua
voz me faz rir.
— As cláusulas foram exigências suas, por mim, nós teríamos
corrido do nosso casamento logo após o sim. — Aperto-a em meus braços
quando o vento fica mais forte. — Nunca foi minha intenção te soltar.
— Eu vi a pasta, onde você tentava achar soluções para o nosso
divórcio. — Olha-me e seus olhos cintilam medo.
— Eu só queria estar preparado, caso eu não conseguisse.
— Conseguisse?
— Fazer você me amar. — Solto na lata e ela prende o lábio entre
os dentes, fechando os olhos e encostando a testa em meu peito. —
Coelhinha, eu amo você.
— Lorenzo... — Estremece abrindo os olhos e sorri pequeno. — Eu
amo você.
— Isso significa que meu plano deu certo. — Dou um sorriso de
lado escorregando a mão para sua cintura e subindo a outra para o seu
rosto.
De leve nossas respirações se misturam, até ter seus lábios
gelados sobre os meus. O vazio de antes é preenchido pelo encaixe
perfeito das nossas bocas, e o sentimento de vitória se intensifica com a
sua entrega.
Quero gritar de felicidade, mas tudo o que faço é enfiar minha
língua em sua boca e intensificar o nosso beijo, não deixando nenhuma
dúvida que ela é minha maior conquista, o meu maior desejo.
Acordo sentindo pequenos beijos em minhas costas e dou risada,
sentindo cócegas.
— Ei, dorminhoca, vamos tomar café. — A voz rouca chega fria e
me viro na cama, encontrando Lorenzo me encarando com um largo
sorriso no rosto.
Depois de ontem, toda a declaração e explicação, voltamos para
casa e comemoramos como ele disse antes de sairmos.
— Boa tarde, coelhinha — sussurra beijando meus lábios e volto a
fechar meus olhos, afundando a cabeça no travesseiro. — Precisa
levantar, minha mãe está nos esperando.
— Está frio, Lorenzo — resmungo manhosa, e ao me virar na
cama, encontro Pudim me olhando com julgamento.
Depois que ela começou a andar com Hades, só me olha assim,
me julgando. Parece que esqueceu que fui eu quem cuidou dela e quase
se matou de trabalhar para comprar ração premium.
— Amor, por que está olhando assim para essa assassina? Ela
estragou mais uma cortina — fala com pesar e deita ao meu lado,
beijando meu ombro nu. — Eu vou mandá-la para um internato de gatos.
— Não fala assim com a nossa filha — brigo e tento passar a mão
no pelo dela, mas ganho um arranhão. — Pudim, isso são modos?
Ela mia alto e então desce da cama, como se não tivesse feito
nada demais.
— Eu disse que ela é uma assassina. — Pega minha mão e beija o
pequeno arranhão que logo fica vermelho. — Vamos levá-la para Tiffy dar
um diagnóstico, mas agora vamos levantar.
— Lorenzo, está cedo. — Bocejo e ele ri.
— Amor, são quase três da tarde. — Com isso me sento na cama,
ouvindo sua risada.
— A gente tinha que ir almoçar na sua mãe. Por que não me
acordou mais cedo? — brigo levantando e ganho um tapa estalado na
bunda. — LORENZO!
— Não tenho culpa se sua bunda é gostosa. E sobre te acordar
mais cedo, não tinha como. — Suspira e me olha com carinha fofa. — Eu
também perdi a hora.
— Ai, que vergonha — murmuro e corro para o banheiro, sem me
importar com minha nudez.
Escovo os dentes e uso o sanitário, antes de me enfiar embaixo da
água quentinha. Não demora muito e Lorenzo aparece com a cara de
safado e entra no box, me empurrando contra a parede e mergulhando a
boca na minha.

Chegamos à mansão por volta das cinco da tarde, estou me


sentindo um caco porque Lorenzo não teve muita compaixão de mim na
hora do banho. A palma da sua mão está estampada na minha bunda e
se eu fechar os olhos, lembro com precisão do seu pau me invadindo com
força, enquanto sua mão agarrava meu cabelo.
— Está tudo bem, Diana?
— Tudo ótimo, dona Caroline — respondo envergonhada por estar
lembrando de safadeza enquanto tomamos um chá.
— Meu filho me falou que sua avó gostaria de ir para um lar de
idosos. Se quiser, posso te ajudar a escolher o melhor. — Sorri simpática
e aceito. — Fiquei sabendo sobre Marta, sinto muito.
— Está tudo bem, nada que eu não supere. — Forço um sorriso e
meu marido aparece com o semblante fechado.
Engulo o restante do chá e fico em pé, vendo-o se despedir da mãe
e me dando uma olhada, estende a mão para mim.
— Filho, o que aconteceu?
— Pergunte ao seu filho — murmura seco e belisco seu braço. —
Desculpe, mãe, mas é que Josh foi um tremendo irresponsável. Pergunte
a ele, nos vemos no próximo domingo — garante e beija a testa da mãe
uma última vez antes de sairmos da mansão. Ao entrarmos no carro,
Lorenzo pragueja socando o volante e então me olha.
— O meu irmão está com a sua irmã. — Solta e o cinto volta com
tudo, batendo em minha mão. — Bem provável que a nossa sobrinha,
seja ainda mais nossa sobrinha.
— Você tem certeza?
— Josh não tem certeza sobre a paternidade, mas está disposto a
fazer o exame de DNA.
— Vai dar tudo certo, não precisa ficar assim. — Esfrego seus
ombros com a palma das mãos e beijo seu rosto. — Vai ficar tudo bem,
agora vamos para casa. A gente conversa melhor lá.
— Conversar? — Olha-me com um brilho diferente, esquecendo o
assunto anterior. — Meu amor, a última coisa que vai sair dessa boquinha
linda, vai ser uma conversa civilizada.
— Lorenzo! — Esfrego uma perna na outra e ele fica sobre meu
corpo, puxando o cinto.
— Eu vou te comer gostoso na nossa cama, meu amor. Temos
muito o que colocar em dia.
As pontas dos seus dedos resvalam pela minha coxa e me arrepio,
ele volta a se acomodar atrás do volante e em segundos coloca o carro
em movimento.

Puxo meus braços e Lorenzo sorri de lado, pegando o pequeno


sugador de clitóris e subindo na cama. Mal chegamos em casa e ele me
prendeu na cama, prometendo se vingar das noites que usei o vibrador
escondido, enquanto ele dormia no sofá.
— Eu devo prender suas pernas?
— Sim — concordo e ele nega. — Lorenzo, por favor.
— Você não manda aqui, coelhinha. — Suspira ligando o
aparelhinho.
Agarro as correntes e ele sorri, deixando o aparelho rosado sobre
minha barriga, suas mãos agarram minhas coxas e vagarosamente, ele
sobe com as mãos pela minha pele. Sinto minha boceta encharcar sob
seu olhar predador.
— Você gostava de me provocar, não é, coelhinha?
— Sim — ofego e ele pega o aparelhinho.
— Tem noção do quanto eu ficava puto de ouvir seus gemidinhos?
De ouvir sua respiração ofegante, e principalmente em ouvir você soltar o
ar lentamente após gozar? — Esfrega o polegar sobre meu nervo, seus
olhos sempre em mim. — Mas hoje eu vou me vingar de você.
— Eu duvido — provoco perdendo o raciocínio ao sentir o aparelho
ao encontro do meu clitóris.
A pressão sobre meu nervo se intensifica com a língua ligeira de
Lorenzo em meu mamilo. O desejo percorre minhas veias em uma
velocidade assustadora, vibrando intensamente quando ele morde o
pequeno monte antes de passar para o próximo.
Remexo abaixo dele, gemendo e murmurando coisas desconexas.
Lorenzo sorri contra a minha pele e desce os lábios pela minha barriga,
substituindo o aparelho pela sua boca.
Seus dedos me invadem e sua boca me come como se fosse seu
doce preferido. O barulho da sucção e dos seus dedos entrando, saindo e
girando, faz meus pensamentos se perderem e meu corpo explodir em
pedacinhos.
Grito, enlouquecida pelo calor da sua língua me lambendo e
sugando. Lorenzo não dá trégua ao meu corpo, me penetrando
lentamente e voltando a pressionar o aparelho sobre meu clitóris.
Não tenho forças para manter meus olhos abertos. Lorenzo sai por
completo e empurra tudo até o talo, me fazendo revirar os olhos, sentindo
meu corpo pegar fogo de dentro para fora.
Abro os olhos, encontrando-o parado, olhando para a nossa
junção. Um arrepio sobe pela minha espinha quando ele sorri, e em
questão de segundos, agarra minha cintura e arremete sem dó.
Prendo a respiração e seu quadril bate forte, me levando ao delírio.
Meus dedos dos pés retesam, minhas costas arqueiam e me perco
novamente, chamando pelo nome de Lorenzo, que agarra minha bunda e
empurra fundo, afundando o rosto em meu pescoço, praguejando baixinho
ao pé do meu ouvido.
Estremeço com a esfregação e minhas pernas trêmulas se
prendem em sua cintura.
— Caralho, Diana — murmura se afastando para me olhar nos
olhos. — Caralho!
Solto uma risada que é interrompida pela sua boca faminta, que me
leva novamente ao céu.
Com Lorenzo, eu sempre estou no céu!
ALGUM TEMPO DEPOIS

Diana ri apertando Hades em seus braços e o cachorro fecha os


olhos, gostando do carinho meio bruto da minha esposa, que hoje está
maravilhosa dentro de um vestido rosa bebê, e os cabelos compridos
presos em uma trança simples.
Observo os dois brincando e me sento ao lado de Pudim, a gata
que está com a barriga arrastando no chão, porque foi brincar de namorar
o gato que meu irmão adotou. Josh anda uma pilha de nervos por saber
que vai ser avô e porque também deu um neto à nossa mãe. Realmente,
o bebê de Emília é dele.
Os dois estão em uma convivência sob pressão, tudo pelo bem-
estar da pequena Luana que nasceu há cinco meses.
— Ei, amor, também quero atenção — brinco e Diana ri, se
levantando. — Estava com saudade de você — confesso a puxando para
o meu colo.
— Também estava com saudade. — Beija meus lábios e se afasta,
sorrindo. — Tudo pronto para viajarmos?
— Tudo. Já preparou a mala? — Confirma encostando a cabeça
em meu ombro. — Prometo que vai ser o primeiro melhor aniversário de
casamento.
— Eu sei que vai. — Sorri me beijando novamente.
Estar ao lado de Diana é uma verdadeira montanha-russa de
sentimentos. A loira de um metro e sessenta que me conquistou aos cinco
anos de idade, consegue virar meu mundo de cabeça para baixo com um
simples olhar.
Depois que o exame de DNA saiu confirmando que ela é filha da
Marta com o José, ela estremeceu. Ficou alguns dias longe, até que
voltou para mim, decidida a ser alguém melhor e voltou com tudo para a
faculdade de medicina veterinária, e acabou transformando sua antiga
mansão em um lar de cachorros, que é administrado por dona Venécia,
que realmente encontrou um velho rico no lar de idosos, o senhor Laercio.
Marta e José trabalham no centro com vendas, já o tal Dom,
acabou sendo morto na cadeia uma semana antes de ser solto.
Minha vida está nos trilhos, com uma mulher gostosa, um cachorro
atrapalhado e babão, e uma gata assassina que acaba com as minhas
cortinas, mesmo tendo um monte de brinquedos bem mais interessantes.
Talvez a minha vida pudesse ser mais animada? Talvez, mas não
troco essa paz por nada.
— Lorenzo! — Encaro seus olhos azuis. — Eu amo você.
— Também te amo, coelhinha. Muito!
— Nunca entendi o motivo do apelido. — Enrola o dedo na gola da
camisa e sorri. — Vai me contar?
— Não hoje. — Roubo um beijo e ela fecha a cara. — Você fica
ainda mais linda toda brava.
Sem me responder, Diana Maria se levanta e corre para dentro da
casa com Hades em seu encalço. Olho para o lado encontrando Pudim
com seu olhar julgador e levo a mão para passar em seus pelos
castanhos, mas ela me para com a mão levantada.
— Perto da sua dona você é quase um anjo, mas eu vou te contar
um segredo — reclamo e ela mia. — Sabe por que eu a chamo de
coelhinha? Porque quando ela entrou na sala de aula, a vinte e cinco anos
atrás, ela usava um vestido cheio de coelhos — relembro o chute na
canela e trago a mão à boca. — Quando ela fez quinze anos, eu quis dar
um coelhinho para ela, mas minha mãe não deixou.
Levo a mão novamente e passo de leve, sentindo a maciez dos
pelos.
— Hércules era o desenho favorito dela, na verdade, ela só assistia
pelo Hades — confesso e a gata mia, deitando de barriga para cima. —
Eu sempre ouvia ela conversando com as meninas da escola. Acho que
sempre a amei. Será que ela também me amou?
Esfrego a mão pela barriga e ela mia lambendo a pata, como se
confirmasse a minha pergunta e a pego no colo, entrando em casa.
— Amor, a Pudim me deixou trazê-la — falo sorridente e Diana me
olha curiosa.
— Quase um ano depois, estão se entendendo. Isso é maravilhoso!
— É sim, mas não vamos adotar mais gatos. — Corto sua
animação e novamente ela fecha a cara. — Já basta o que a Pudim vai
ter.
— Uma namorada para o Hades? Quem sabe a Perséfone? —
Tenta me persuadir sorrindo.
Nego com a cabeça, deixando a gata sobre a poltrona e vou para
perto da minha esposa, segurando seu rosto.
— Sem animais por enquanto. Quem sabe mais para frente.
— E um bebê? — pergunta séria, sustentando o olhar. — O que
acha de um bebê?
— Está me dizendo que... — Engulo em seco vendo as lágrimas
inundarem seus olhos. — Porra, Diana Maria! Um bebê? Nosso bebê?
— Hurum! — As lágrimas pingam.
Desvio o olhar para sua barriga e sorrio largamente, levando uma
mão ao seu ventre.
— Eu acho que teremos que aumentar essa casa.
É a única coisa que falo, antes de atacar seus lábios com fervor.
Porra, eu vou ser pai!
— LORENZO! — briga comigo quando derramo brigadeiro em seus
peitos.
Estamos novamente no chalé da tia Magda, comemorando um ano
de casamento e aproveitando o nosso filho em segredo. Minha vontade é
ligar para minha mãe e contar, mas vou respeitar a decisão da minha
esposa.
— O quê? Só estou tentando te alimentar.
— Minha boca é aqui em cima. — Escorrego a colher pela sua
pele, ignorando seu olhar.
— Mas aqui embaixo é mais gostoso. — Esfrego-a sobre o mamilo
e levo minha boca ao monte entumecido.
Sugo-o olhando em seus olhos e vendo o brilho safado cintilar,
limpo toda a área com a ponta da língua e então me sento, deitando
Diana, ofegante e com o rosto avermelhado.
— LORENZO, EU VOU TE MATAR SE NÃO CONTINUAR — diz
entredentes e dou de ombros, levando uma colherada de brigadeiro à sua
boca.
— Você não saberia viver sem mim, coelhinha. — Sorrio
convencido e ela bufa, pedindo mais brigadeiro. — Eu achei uma coisa
hoje, enquanto arrumava alguns papeis no cofre — conto e ela prende a
colher entre os dentes.
— O quê? — Ajeita-se sobre o tapete e o fogo da lareira faz
barulho, a assustando.
— Nossos contratos. — Entrego a pasta vermelha. — Acho que
alguém me deve cem mil reais e mais juros.
— Você disse sem juros — devolve a colher e pega os papeis. —
Faz um ano que assinamos isso, imaginou que chegaríamos aqui?
— Não exatamente aqui, eu preferia você em cima de mim —
brinco e ela ri. — Nossa história começou de verdade aqui, achei que
seria bom, darmos um fim aqui.
— Um fim? — Confirmo pegando a pasta. — Lorenzo, você quer
terminar?
— Quero. Quero terminar essa relação por contrato e começar uma
outra. — Olho para ela e depois para o fogo. — Você quer isso também?
— Só nós dois, sem contrato?
— Só o de casamento, porque eu faço questão de me casar com
você novamente. — Levo uma mecha do seu cabelo loiro para trás da
orelha. — Quero ter o prazer de te deixar nua na nossa lua de mel.
— Está me pedindo em casamento, novamente?
— Estou. — Ela sorri e segura a pasta.
— Joga logo isso no fogo — pede e vem para perto de mim,
sentando entre minhas pernas. — Queima logo a minha dívida, agora
estou desempregada.
— Mentirosa, você é uma das donas da clínica. Tem muito trabalho
lá — reclamo e ela balança os ombros.
Jogamos a pasta no fogo, que não demora a virar cinzas. Abraço
Diana, descanso o queixo em seu ombro e as mãos em sua barriga ainda
plana.
— Eu amo você, Diana Maria Clifford.
— Eu sei. — Ri buscando meus lábios. — Eu também amo você,
Lorenzo Antoniel.
Diana faz meu corpo deitar sobre o tapete e avança sobre meus
lábios, me beijando com desejo. Retribuo perdido em seu corpo, em seus
lábios.
Perdido na minha mulher.
KLAUS - Trilogia KLA - LIVRO 01
Ele estava com a vida tranquila, até ver seus planos mudarem.
Klaus Lehmann sempre foi centrado, traçando objetivos e
concluindo-os com vigor. O alemão de um metro e setenta, agora se vê
em uma encruzilhada de romance, erotismo e mistério.
Angelina Hathaway tem tudo o que deseja, e não mede esforços
para conseguir o que quer. Dona de um sorriso invejável e de uma conta
bancária com zeros a perder de vista, ela vê uma mulher entrando na vida
do seu homem, disposta a tudo para tê-lo.
Klaus e Angelina são opostos, mas que se atraem com extrema
facilidade.
Ele tem bom coração, apesar da cara fechada.
Ela é considerada por muitos uma mulher mimada, mas que
esconde grandes feitos.
Eles têm sonhos e planos, eles são não terão paz.
Será que o amor é capaz de superar tudo? Até onde a confiança
pode ir?
Até onde a maldade vai, sem fazer estragos?

Um paisente de Natal
Ethan tem tudo que um homem de quase trinta anos pode querer:
estabilidade financeira, uma empresa para chamar de sua, mulheres, o
carro do ano, uma família amorosa (apesar de intrometida e fofoqueira)
Bom... Ele acha que tem tudo.
Como CEO de uma construtora, ele se vê obrigado a passar mais
de cinco horas dentro de um carro; tudo para convencer a dona da
floricultura que sua proposta de compra é irrecusável. Só não imaginava
que se esbarraria em uma maluca de sorriso fácil, olhos castanhos e
língua sem freios. Também não esperava conhecer o pequeno Oliver.
Ethan jura de pé junto que nunca vai ter um relacionamento e que
está para nascer a tal mulher da sua vida. O que não sabe é que, talvez,
ela já tenha nascido.
Só nos resta descobrir se ele chegará inteiro até o final.
Não entendeu o que eu quis dizer? Então, venha conhecer a minha
“maluca”! Eu te garanto boas risadas.
Dia dos Namorados - Conto
Ethan e Lili estão de volta, e dessa vez mais apaixonados que
nunca.
Em uma história recheada de risadas e amor, vamos descobrir
como os dois pombinhos pretendem passar o primeiro Dia dos
Namorados, e mais, vamos dar uma espiadinha em como as coisas em
Alegria do Norte estão.
Um sonho de Namorado é apenas um bônus para comemorar o
amor e deve ser lido após “Um paisente de Natal”, porque vai haver
spoiler e algumas referências ao primeiro livro.
Bom, espero que se divirtam, se apaixonem e curtam muito esse
casal.

A saudade que há em mim


Por quanto tempo um coração aguenta sofrer?
Cinco meses, um ano… décadas?
Quando perdemos alguém, o que fazer?
Se fechar ou tentar seguir em frente?
Chorar ou fingir que está tudo bem?
Ana Augusta perdeu alguém. Anos sofrendo e chorando, mas
surge uma oportunidade de voltar a viver.
Venha descobrir se ela irá aceitar essa oportunidade ou a deixará
passar.

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[1] Faz referência ao filme “ O Exorcista" de 1973.


[2] Apelido para playboy.

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