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SINOPSE
CAPÍTULO 01
CAPÍTULO 02
CAPÍTULO 03
CAPÍTULO 04
CAPÍTULO 05
CAPÍTULO 06
CAPÍTULO 07
CAPÍTULO 08
CAPÍTULO 09
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
EPÍLOGO
LIVRO 2
SANTA REFERÊNCIA
Para todas nós que sentimos todos os dias o peso do julgamento do
patriarcado. Não importa qual seja nossa escolha como mulheres ou como
mães, sempre seremos criticadas, julgadas e responsabilizadas.
SINOPSE
O sexo matinal adia meus planos de ir correr, mas tudo bem. Depois
de uma chuveirada rápida, enquanto Augusto se arruma para ir para o
trabalho, eu termino nossa refeição — passo café e faço as bananas toast
em fatias de pão sovado. Gustavo chora do quarto principal e ouço Augusto
gritar que cuida dele.
Ajeito a mesa e preparo o que Gustavo vai comer — uma papinha
de banana e mamão e um pouco de fórmula. Durante todo esse tempo,
posso ouvir o escândalo do menino. Penso em ir até lá e verificar o que está
acontecendo, mas me contenho. Instantes depois, quando tudo já está
pronto, Augusto surge dentro de um terno ajustado, meu sobrinho em seus
braços, usando só uma fralda e uma camisa branca.
— Eu não consigo trocá-lo — reclama, com um suspiro. — Gustavo
simplesmente não para de chorar e pedir por você.
Ao dizer isso, o menino se inclina para mim, chorando.
— Mamã… mamã…
Uma vez em meus braços, Gustavo parece se acalmar, escondendo o
rostinho no meu pescoço enquanto afago suas costas e converso baixinho
com ele.
— Ei, carinha — Augusto diz, cutucando as costas dele. Hesitante,
Gustavo se vira. — Vem comigo. — Gesticula com as duas mãos.
Emburrado, o pequeno move a cabeça em negativo e torna a
esconder o rosto em minha pele.
— Gustavo gosta mais de mim do que de você — debocho,
sentando-me no meu lugar à mesa.
— Ha-ha-ha. — Augusto se senta no seu, servindo uma xícara de
café para si. — Ele só está assustado porque acordou sozinho na nossa
cama. É natural que quisesse você.
Ajeito o pequeno no meu colo, que agarra a mamadeira de fórmula
assim que entrego para ele. Não tiro meus olhos do pequeno e nem de
acariciar suas bochechas enquanto, quietinho, ele suga o bico da
mamadeira. Esse peralta costuma ficar inquieto mesmo nos horários das
refeições, mas agora está comportado em meus braços.
— Quer que eu tome conta dele para você tomar seu café da manhã?
— Augusto oferece, colocando uma banana toast em seu prato.
— Mesmo se eu quisesse — sussurro, passando o indicador pelos
traços do Gu —, ele não ia aceitar. Está tudo bem. Você tem que ir para a
construtora, então coma sossegado. Eu consigo tomar conta dele e comer.
— Pego uma banana toast com a mão livre e dou uma mordida, sentindo a
canela, a textura da fruta e a cremosidade do doce de leite. — Viu? — digo,
a boca meio cheia.
Ele ri baixinho e acena.
Conversamos em torno da mesa até que uma ligação faz com que
Augusto tenha que estar quarenta minutos mais cedo na empresa. Ele
termina seu café às pressas e vem até nós antes de partir.
— Preciso deixar alguma coisa pronta para você comer quando
chegar do restaurante? — questiona, beijando minha têmpora.
— Não. Eu como algo por lá. Só chego de madrugada. Se quiser,
coloca o Gu pra dormir com você.
Ele sorri e acena.
— Tudo bem. — Augusto se inclina para Gustavo e o beija. — Até
mais tarde, campeão. — Gustavo está sentado em meu colo agora, comendo
a papinha de banana e mamão, e gosta do beijo que recebe, abrindo um
sorriso gostoso. — Tchau, Helô. — Carinhoso, ele me beija nos lábios.
Para nossa surpresa, uma mãozinha cheia de papinha de fruta nos
separa. Gargalhamos ao notar a carinha brava de Gustavo por causa do
beijo que trocamos.
— Isso é ciúmes, carinha? — Augusto me beija de novo. E de novo,
Gustavo coloca sua mãozinha entre nossos lábios, bravo. — Ei, a tia é sua,
mas a namorada é minha. — Ele tenta outra investida, mas o menino o
repele pela terceira vez.
Quando Augusto vai trabalhar, eu passo a manhã com Gustavo.
Primeiro troco sua fralda e coloco uma roupa mais fresca, já que o dia está
ensolarado. Com o auxílio do cercadinho e de um desenho na televisão,
consigo fazer algumas tarefas básicas dentro de casa — estendo algumas
roupas, arrumo os quartos e lavo a louça do café da manhã. Lá pelas dez, eu
o levo até o jardim e nos sentamos à sombra. Ele se distrai com um
brinquedo enquanto eu passo um protetor solar pelo seu corpo. O pequeno
ri e se diverte com o carinho, em especial quando eu o encho de beijos.
Quinze minutos mais tarde, volto lá para dentro com ele, sentindo o
cheirinho forte de fralda suja.
— Eita, como tem um intestino bom — brinco ao abrir sua fralda.
— Mamã — Gustavo ri, batendo as mãozinhas no colchão.
— Mamãe.
— Mamã-mamã.
Rio e o limpo, conversando com ele. É uma tarefa um pouco difícil
porque Gustavo simplesmente não para, mesmo que eu tente distrai-lo com
um brinquedinho. Apesar da dificuldade, eu me divirto com o momento.
Me alegra vê-lo girar de um lado a outro, ora tentando alcançar o
travesseiro, ora atraído por qualquer outra coisa.
— Quieto. — Puxo-o para mim, enfiando meus dedos nas suas
costelinhas. Gustavo ri, contorcendo-se ainda mais. — Como vou te trocar
se você não para um segundo?
Sua resposta é bater os pés e as mãos.
Consigo colocar a fralda e subo o short por suas pernas. Ajusto a
camisa branca em seu tronco e o pego em meu colo, apertando-o entre meus
braços, o que arranca uma risada sincera do menino. Aumento a pressão em
torno dele, deixando todo esse sentimento bom invadir o meu sistema.
Quando eu o afasto, Gustavo coloca as mãozinhas em minhas bochechas e
sem que eu espere, ele me beija. A atitude me pega de surpresa. Não é o
primeiro beijo que Gustavo me dá, mas é a primeira vez que o gesto é
espontâneo, que ele não está retribuindo nada.
— Mamã-mamã-mamã — balbucia, colando seus lábios pequenos
em mim outra vez, quase como se quisesse me dizer eu te amo.
Eu me comovo, o coração apertado de um jeito bom.
— Eu também te amo, Gu. — Sorrio e fecho os olhos, embalando-o
devagar, curtindo seu cheiro de bebê e do talco em sua pele. — Eu também
te amo muito.
CAPÍTULO 12
Augusto tem feito mistério desde que resolvemos fazer essa festa de
aniversário para o Gustavo. Ele fechou uns bons metros quadrados do
quintal dos fundos e trabalhou nas últimas quatro semanas no presente de
um ano do filho.
— Você não tentou espionar? — Conrado pergunta, olhando por
cima do meu ombro em direção à parte fechada do quintal.
Ele está me ajudando a servir os convidados, andando para cima e
para baixo com Mariah pendurada no canguru que tanto desdenhou e ainda
que eu tenha uma pequena equipe para essa tarefa. Na minha humilde
opinião, meu cunhado só está tentando evitar ficar perto da Laura, que,
tenho certeza, mexe com os sentimentos do Conrado.
— Não. Tive muita vontade, mas não quero estragar a surpresa —
respondo, colocado outro sanduíche na bandeja. Sorrio para o palito
espetado ali, com a silhueta de um dinossauro grudado na outra ponta.
Augusto escolheu o tema da festa e não me surpreendi que tenha
sido Jurassic Park. Meu noivo a vida toda foi apaixonado pela franquia e
tem feito de tudo para despertar o mesmo amor no filho. Não demora nada e
o quarto do Gu estará cheio de dinossauros e itens da saga.
— Você não é nada tóxica, né? Credo.
Eu rio e caminhamos cuidadosamente pelo jardim, oferecendo os
petiscos para os convidados espalhados por todo canto. Amo como a
decoração está muito linda. Olho ao redor, procurando o aniversariante —
encontro-o monopolizando o pula-pula a alguns metros longe,
supervisionado pelo pai. Gustavo usa uma fantasia de dinossauro que o
deixa uma gracinha e me faz sorrir. Logo atrás, uma fila de crianças espera
impacientemente.
— Oi, Laura — eu digo, quando ofereço o sanduíche.
— Oi, Helô. Obrigada pelo convite — diz, olhando ao redor e
acariciando os cabelos de Nicolas, seu filho mais velho. — A festa está
incrível — elogia, aceitando um sanduíche para o garotinho.
— Obrigada. Você ajudou bastante, sabe disso. — Ela sorri e acena.
Laura é promotora de eventos, então muita coisa aqui teve um olhar
criterioso dela.
— Querido, está mesmo tudo bem ficar com a Mariah?
Olho para o meu cunhado, suas bochechas um pouco vermelhas de
vergonha. Não sei pelo tom carinhoso em querido ou só por que está perto
dela. Conrado Monteiro corando, senhoras e senhores. Ele abre um sorriso
pequeno e beija os cabelinhos da menina.
— Claro, sem problemas, amor. Ela nem mesmo quer ficar com
você — aponta, bem-humorado. — Não viu o berreiro que aprontou quando
tentou pegá-la meia hora atrás?
Laura concorda com um sorriso divertido e um gesto de cabeça.
— Tudo bem, mas… uma hora vai quer entregá-la para mim.
Vicente não demora a acordar.
— Eu trouxe o carrinho duplo.
— Você não tem que dar conta de tudo, Con — ela diz amorosa.
— Eu tenho, sim — argumenta, convicto. Laura e eu trocamos um
olhar cúmplice, entendendo a motivação do Conrado. Ele bagunça o cabelo
de Nicolas e diz: — Ei, amigão, por que não está brincando com as outras
crianças?
— Estou com fome — o menino responde, de boca cheia. —
Quando vão cortar o bolo, tia Helô?
— Nico! — Laura o repreende em meio às risadas minhas e de
Conrado.
— Logo, logo, Nicolas.
Continuamos andando pelo jardim, mas sinto que Conrado está um
pouco tenso. Terminamos a rodada e vamos à cozinha trocar as bandejas. A
equipe está aqui, tomando conta de tudo, então eu o forço a ir em um
cantinho comigo.
— O que foi?
— Nada.
— Nada. Sei. Você está apaixonado de verdade pela Laura?
Ele olha para mim como se eu tivesse dito a maior besteira do
mundo. Rio quando Conrado tampa os ouvidinhos de Mariah, que é pouco
mais nova que o Gu, e sussurra:
— Está muito na cara?
— Você ficou corado perto dela.
— Droga.
— Não é uma coisa ruim, Conrado. Levando em consideração
que… — aproximo-me mais dele para murmurar: — vocês estão fingindo
que são uma família.
Conrado olha ao redor, em busca da assistente social que está no pé
dele. No começo de agosto, ele socorreu uma das estagiárias da construtora
em trabalho de parto. No hospital, descobriu que a menina, aos vinte e um,
queria entregar legalmente seu bebê para a adoção. E lá estava o Conrado,
disposto a adotar Vicente. O problema é que o escândalo que jogaram sobre
seus ombros pode ser um problema. Então ele achou que era uma boa ideia
dizer a assistente social que está noivo da Laura e eles formam uma família.
E Laura achou que era uma boa ideia aceitar essa maluquice do Conrado.
— Não fala isso em voz alta — pede, com um suspiro. — Olha, eu
não sei se é paixão ou só aquela palavra com T — menciona, censurando o
substantivo por causa da pequena. — Já faz mais de um mês que estou na
seca, Laura é bonita e não é de hoje que estou interessado em… Você sabe.
— Ele fecha os olhos e inspira fundo. — Não deve ser nada.
— Homens em geral, quando querem transar, ficam excitados, mas
você fica corado?
— Heloísa!
Eu rio, fazendo Mariah rir também.
— Não estou apaixonado — nega. — Não é nada. Vou ver como
Vicente está. Mamãe garantiu que o vigiaria esporadicamente, mas não
confio nela.
Conrado se afasta até o quarto do pequeno. Vicente completou um
mês há poucos dias e é um menininho lindo. Eu volto para a festa, para
continuar recepcionando meus convidados e garantindo que tudo está em
ordem. Ao longe, eu noto Cassandra. Nós ainda temos nossas diferenças.
Ela não gosta de mim, eu não gosto dela. Nós temos nos tolerado e não sei
como faremos com as festas de final de ano. Também não deixo Gu sozinho
com ela porque morro de medo de que ela comece a implantar coisas na
cabecinha dele desde cedo. Ela o visita e fico grata por ser zelosa com o
neto, mas não confio.
— Oi. — Guto aparece atrás de mim, plantando um beijo na curva
do meu pescoço. — Eu me viro e pego Gustavo de seu colo, chamando por
mim. Beijo suas bochechas e o aperto em meus braços. — Quero mostrar o
presente dele — diz. — Reúna os convidados.
Dez minutos mais tarde, todos estão à espera. Conrado e Augusto
desmontam a proteção — feita de placas de compensado — revelando, aos
poucos, uma estrutura de trilhos e um carrinho com quatro lugares, como
uma miniatura de montanha-russa.
— Surpresa! — Guto exclama, sob aplausos e assovios dos muitos
aqui presentes. — Agradeça por ter um papai engenheiro, Gu — diz,
pegando o menino no colo.
As crianças ficam malucas com o brinquedo no quintal enquanto
Guto afivela o filho no carrinho em formato de foguete, todo eufórico.
Augusto dá a primeira volta devagar, empurrando ele mesmo o brinquedo,
até que o menino esteja acostumado e sem medo. O circuito não percorre
toda a montanha-russa — com alguns sobe e desce e curvas sinuosas — e
foi adaptada para a idade do Gu. Conforme ele crescer, vai poder se
aventurar por todo o brinquedo e basta acionar uma alavanca para que os
trilhos se alinhem e o percurso fique completo. Depois da primeira volta,
Augusto empurra o carrinho e, movido pela energia mecânica, as rodinhas
deslizam pelo trilho, terminando no pé de uma pequena subida.
Gustavo gargalha durante os segundos que a brincadeira dura,
contagiando todo mundo à sua volta. Augusto ameaça tirá-lo do carrinho,
mas o menino protesta e chora, querendo se divertir um pouco mais. O pai
empurra o carrinho até o topo da subida, e a força da descida é o bastante
para carregar Gustavo pelo circuito.
Minutos mais tarde, Augusto consegue liberar a montanha-russa
para as crianças. Conrado bota ordem na casa falando alto com a garotada e
organizando uma fila para a brincadeira.
— Esse presente foi incrível, Guto — digo, abraçando-o pelo
pescoço.
Do outro lado, eu abro um sorriso para Laura, que supervisiona Gu e
Mariah brincando juntos.
— Eu sei.
Rio e belisco sua costela. Nós nos olhamos por um segundo e eu me
pego tão… mais apaixonada por esse homem. Mais do que já sou.
— Guto, se eu te disser que quero mais um filho, você ainda vai
querer se casar comigo?
Ele sorri, seus olhos brilhando.
— Pode encher nossa casa com um time de futebol que vou
continuar querendo me casar com você.
— Ainda não é o momento certo — murmuro, acariciando sua nuca,
e ele concorda. — Estou abrindo meu restaurante, Gu é pequeno e vamos
nos casar. Mas acho que podemos planejar para daqui a três ou quatro anos.
Quero uma menina.
Seus braços contornam meu quadril, amorosa e protetoramente.
— Em quatro anos é perfeito — murmura, alcançando meus lábios.
Ele me beija e nada mais ao nosso redor existe. Nem a música
infantil soando pelo sistema de som, ou as inúmeras conversas dos
convidados, ou os gritos das crianças na montanha-russa e brincando pelo
quintal. Abraço-o com toda minha força, e é uma das primeiras vezes que
faço isso sem me sentir culpada por amá-lo, por estarmos contando nossa
história e continuando de onde paramos. Não posso culpar a Mari por tê-lo
amado também, por tê-lo “roubado” de mim, e acredito que tudo aconteceu
como precisava acontecer. Talvez tivesse sido diferente se minha irmã
tivesse flertado com ele na academia, talvez tivesse sido diferente se eu
tivesse aparecido na barraca no beijo ou se eu tivesse lutado por ele, ao
invés de ter incentivado minha irmã a namorá-lo. Mas isso não importa
mais.
O que poderia ter sido não importa. O que importa é o que já
aconteceu e o que vamos fazer acontecer daqui em diante. Eu pretendo ser
feliz ao lado dele, fazê-lo feliz ao meu lado, sem remorso, ressentimentos
ou mágoas. Sei que ainda tenho que lidar com questões em minha mente e
em meu coração, mas estou me esforçando para superar tudo isso.
— Guto — murmuro contra seus lábios e ergo os olhos em sua
direção.
Ele sorri e dedilha minha coluna.
— Hum?
— Eu te amo.
Augusto se inclina para mim e me beija, sorrindo.
— Eu te amo.
Ele me toma em um abraço apertado e me tira do chão, me fazendo
rir. Nós nos divertimos durante a festa até que chega a hora dos “Parabéns”.
Batemos algumas fotos antes, incluindo algumas com o tio e os avós, e
assim que a algazarra começa, Gustavo se anima com as palmas, assovios e
cantoria, movendo-se alegremente no colo do pai, dentro da sua fantasia de
dinossauro. Nós estivemos ensinando o Gu a assoprar a vela e nessa hora,
ele faz como aprendeu, tendo um pouquinho da nossa ajuda.
Depois de entregar o pequeno tiranossauro para Conrado, Augusto
corta o primeiro pedaço de bolo lentamente. As piadinhas sobre esse
momento começam a surgir, assim como as apostas de quem será o
felizardo. Conrado tem certeza de que vai ser ele, um comentário sobre
Augusto ser egoísta e ficar com o primeiro pedaço surge, alguém menciona
a avó, e Maitê, mais nos fundos, diz que sou eu que devo recebê-lo. Por
fim. Guto se vira para mim, o pratinho com um pedaço generoso de bolo,
um cupcake dino, e dois docinhos.
— É claro que o primeiro pedaço vai para a mãe dele — alega,
esticando o prato em minha direção. — Por todo amor dedicado, por tudo
que passou, por todas as noites em claros e dias perdidos. Por todas as vezes
que se sentiu insegura, insuficiente e desmerecedora.
Ele dá um passo em minha direção e planta um beijo na minha
mandíbula.
— Guto… — digo, sem graça, enquanto os convidados aplaudem e
assobiam.
— Você merece por ser uma mãe maravilhosa, ainda que não ache
isso. — Ele acaricia minha bochecha e sorri. — Não precisa ser perfeita
para ser uma mãe incrível. Vou te lembrar disso todos os dias.
Meu rosto cora, ainda mais quando os assovios se intensificam.
Guto me beija, segurando meu rosto com as duas mãos, e então, damos
espaço para a equipe do buffet cortar e distribuir o bolo. Guto pega o
Gustavo com o tio e nós três nos sentamos no gramado do jardim com dois
pratinhos. Meu bebê come um cupcake, despreocupado.
— O pediatra do Gu vai morrer quando souber que demos açúcar
pra ele — digo com um sorrisinho, jogando uma bolinha de brigadeiro para
dentro da boca.
Augusto move a cabeça em negativo.
— Foi o primeiro bolinho dele. — Dá de ombros. — Gu também
sempre teve uma alimentação saudável e balanceada. Além disso —
sussurra, inclinando-se para mim —, pedi para fazer uma cota sem açúcar e
adoçados com frutas. Ele vai gostar.
Rio e beijo os lábios dele, em seguida, beijo as bochechas gordinhas
do Gustavo, todo lambuzado com chantili.
— Você acha que até o final do ano, aqueles dois formam uma
família de verdade? — Guto sussurra, indicando com o queixo em direção
ao irmão.
Eu me viro para trás e o encontro em sua mesa com as três crianças.
Enquanto Laura e Conrado conversam bastante animados, Nico está
sentado no colo dele, comendo sua porção de doces e bolos; a irmã, Mariah,
está no colo da mãe, que a alimenta cuidadosamente. Vicente está no
carrinho que meu cunhado embala bem devagar com o pé para manter o
menino dormindo. Sorrio frente à imagem, notando a felicidade que emana
dele.
— Acho que não vamos ter que nos preocupar em passar o Natal só
nós três — eu digo, virando-me em sua direção outra vez. — A família vai
crescer e bastante.
Ele ri e acena em positivo, apertando o menino em seus braços. Meu
coração transborda de felicidade pelos dois e às vezes, nem acredito que
seja real, que eu os mereço, que eu os ame. Augusto e Gustavo. Pai e filho.
Meu bebê e meu noivo.
Minha família.
EPÍLOGO
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SANTA REFERÊNCIA