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Copyright © 2021 Gabriela Bortolotto

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É proibida a reprodução total e parcial desta obra de qualquer forma
ou quaisquer meios eletrônicos, mecânico e processo xerográfico,
sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos na obra são produtos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com nomes e acontecimentos reais é
mera coincidência.
 
DIAGRAMAÇÃO E
EDITORAÇÃO DA CAPA
Larissa Chagas
 
REVISÃO
Lara Silva
 
 
 
Bortolotto, Gabriela
FOUND: porque ele foi destinado a amá-la - Série Encontros
Inesperados, Livro Dois [recurso digital] / Gabriela Bortolotto. – 1ª
Ed. 2021.
442 págs.; 16x23
1. Romance Contemporâneo 2. Literatura Brasileira 3.
Romance Jovem Adulto 4. Ficção I. Título
 

 
 

 
NOTA DA AUTORA
GLOSSÁRIO
PRÓLOGO
1
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EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS

 
 
 
 
 
 
 
 

OUÇA A PLAYLIST DE
FOUND: PORQUE ELE FOI
DESTINADO A AMÁ-LA
NO SPOTIFY
 

 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 
 

 
Para os meus pais e minha irmã,
porque tenho a sorte de tê-los
comigo nessa caminhada;
Para Gabi, pelos motivos de sempre,
sua amizade é muito importante para
mim;
Mas principalmente para Bia, que
teve coragem de ler esse livro em
primeira mão, antes de qualquer
revisão. Amiga, você merece essa
versão melhorada.
 
 
 
 
 
 
ALERTA: esse livro pode conter gatilho de abandono parental
(capítulo 14) e relacionamento abusivo (não entre os dois
personagens principais) além de não ser recomendado para
menores de 18 anos por conter cenas descritas de sexo e
palavras de baixo calão.
 
A história do Joshua e da Chelsea supostamente começou
como uma grande comédia romântica, mas acabei descobrindo que
nem tudo é como parece e nem todas as pessoas sorridentes tem
vidas perfeitas. Não, pode ficar tranquilo, a Chels que vemos aqui é
aquela mesma loirinha do primeiro livro, mas adentramos um pouco
mais a fundo na vida dela em Found, descobrimos algumas partes
feias da sua vida. Como experiencia pessoal, foi bastante
complicado e exigiu de mim algumas pesquisas, conversas com
pessoas que passaram por situações parecidas, para conseguir
chegar a uma personagem que não tratasse disso de forma
supérflua. Eu nunca passei por isso e seria injusto tratar o assunto
sem tentar o meu melhor para não deixar isso passar batido, como
se fosse uma situação normal que aconteceu com ela.
Sobre o relacionamento abusivo, como já deixei claro ali em
cima, podem ficar tranquilos, isso não diz respeito ao Josh e Chels.
Não especifiquei os capítulos onde aparecem pequenos traços
desse relacionamento, porque Sarah é trazida na história em
diversos momentos, mas fiquem atentos. O relacionamento da
Sarah e do Josh não foi um dos mais profundos nessa questão,
foram pequenas coisas, pequenas atitudes, direcionamentos da vida
dele que ele foi deixando que ela tomasse, momentos em que ele foi
se deixando para viver conforme os desejos dela, tudo em razão
ficar do lado dela. Dentro da história ⸺ e desculpe mas isso pode
ser um pequeno spoiler, porém não quero que julguem o meu
menino sem compreender isso aqui ⸺ o Josh ainda não vê isso
dessa forma. Ele compreende que seu relacionamento com ela não
foi um dos melhores, porém ainda vê que tudo o que fez, fez porque
quis, como uma escolha dele de seguir tudo o que ela queria. Por
favor, entendam que as vezes demoram alguns anos, dias, meses,
para percebermos com clareza, para distinguir as coisas.
 
 
 
 
 
 
Em Found você vai encontrar algumas palavras que podem ser
estranhas, alguns termos em inglês, algumas palavras do futebol
americano, sobre faculdades norte-americanas e afins. Por esse
motivo, resolvi concentrar todos esses termos aqui. Espero que
ajude!
 
NYU – New York University, ou Universidade de Nova York
UCLA – University of California, Los Angeles, ou Universidade da
Califórnia, localizada em Los Angeles
JUILLIARD – Juilliard School é uma escola de ensino superior de
Música, Dança e Dramaturgia, localizada em Nova York
TISCH – Escola de artes da NYU
NFL – National Football League, é a liga de futebol americano dos
Estados Unidos
RUNNING BACK – Uma posição ofensiva dentro do futebol
americano, é um dos jogadores mais à frente no campo
QUARTERBACK – Também uma posição ofensiva dentro do futebol
americano, dentro do time ofensivo, o Quarterback lidera o time,
ficando atrás da linha central, no meio da linha ofensiva.
TOUCHDOWN – Consiste na forma de conseguir a maior pontuação
dentro de um jogo de futebol americano, o jogador precisa
ultrapassar com a bola o campo adversário até a última linha (end
zone)
JARDAS – É uma unidade de medida e também o que demarca do
campo de futebol americano. O campo tem 120 jardas, divididas em
pequenas áreas de “ataque” de 10 jardas.
LITTLE BEE – Abelhinha
BABY BOY – Na tradução literal seria como menininho ou bebê
menino, na história é um apelido dado pela Chelsea ao Josh, já que
ele é um menino (boy) mais novo que ela (baby)
MOTHER HEN – Uma pessoa que tem comportamentos protetores
como uma mãe
TRASH FOOD – Comida lixo, que no caso seriam comidas
gordurosas e bem calóricas como hamburgueres, batata frita,
salgadinhos, frituras no geral
SUGAR MOMMY – Em uma tradução popular seria uma mulher
mais rica que banca um garoto, normalmente mais jovem, bastante
bonito e atraente
QUEBRE A PERNA – É uma expressão usada no meio artístico,
break a leg, como um desejo de boa sorte
COLLANT – Parte da vestimenta de um bailarino, no estilo maio,
desenhado para dar maior flexibilidade aos bailarinos
ARABESQUE – Uma posição do balé, onde o dançarino fica com a
perna de apoio no chão e outra estendida para trás, ambas retas
BRAS AU REPOS – Posição preparatória dentro do balé, onde os
braços estão arredondados, com as mãos quase tocando as coxas
e ambos os pés no chão
 
 
 
 
 
EU PODERIA FACILMENTE PENSAR EM CEM maneiras de como passar as
próximas nove semanas enquanto meu pai servia aquela taça de vinho
vagarosamente. Talvez eu merecesse o castigo, mas nunca em cem anos eu
iria admitir tal coisa. Ainda mais, eu acho sua reação exasperada e nem um
pouco necessária.
E daí que eu tinha quase vinte e seis anos e estivesse vendo todas as
minhas melhores amigas se formando enquanto eu ficava para trás? Não que
eu pudesse colocar Angel naquela linha dado os acontecimentos do último
ano, mas tudo bem, deixando tudo isso de lado, todas as pessoas com as
quais convivi a vida toda estavam a dois passos de agarrar o diploma, ou com
ele na mão.
E aqui estou eu, ainda com alguns bons créditos para serem
cumpridos antes de conseguir esse feito. Por mim, tudo bem.
Mas para o cabeça dura sentado na outra extremidade da mesa isso
era o fim. E, até certo ponto, era o fim para mim também. Meu pai estava
determinado que eu precisava me formar até o inverno, e seis meses eram o
suficiente para cumprir as matérias finais que precisava e quitar todas as
horas que eu devia dentro da faculdade de artes da NYU.
Isso significava o fim das festas, dias em spa, tardes de compras e o
fim dos inúmeros casos de três horas que eu tinha. Santo Deus, esperava
mesmo que não fosse o fim para essa última parte porque eu não conseguiria
aguentar seis meses sem sexo.
Antes de qualquer pensamento equivocado, não, eu não sou
ninfomaníaca. Só aprecio mesmo uma companhia masculina para aquecer a
cama, ou meu corpo, dada minha não preferência exclusiva pelo uso da
cama, durante alguns minutos. Além disso, sexo é desestressante e não que
eu tenha muitas coisas com as quais me preocupar na vida, mas isso é um
não ainda.
Sexo é bom, ponto. Todos nós merecemos nossa dose disso, alguns
mais que os outros.
Em toda sua graça, porque mesmo com os cinquenta batendo super
perto na sua porta, meu pai ainda conseguia ser um homem extremamente
charmoso, ele pousou a garrafa de vinho na mesa e me fitou enquanto bebia
o líquido roxo. Quase quis soltar um suspiro impaciente, mas me contive, ele
sempre era bom para mim e nem sempre merecia meus ataques mimados.
Além disso, era uma discussão perdida, ainda que eu odiasse admitir isso.
Odiava com todas minhas forças perder no geral.
“Está feito, Chelsea!” Ele diz por fim, enquanto nossa empregada vem
da cozinha com seu sorriso amável para recolher os pratos. Nenhum de nós
comeu muito e eu duvidava que os motivos do meu pai fossem os mesmos
que os meus. O sorriso da Sra. Price foi acolhedor em tantos momentos da
minha vida, mas agora nem isso foi capaz de trazer um pouco de calma para
mim. No momento em que ela saiu, meu pai voltou a falar. “Eu sempre cedi à
suas vontades, little bee, agora está na hora de fazer isso por mim.”
Aquilo era jogo baixo. Usando meu apelido de infância, que ele sempre
me chamava com aquela voz terna e super protetora que só meu pai poderia
ter. Sim, sempre fui a abelhinha dele, hoje em dia não sei mais se o apelido
vem das minhas roupas de bailarina e fios loiros ou se é mais sobre minhas
costumeiras ferroadas.
E o apelido foi o de menos. Ele quis dizer sobre como ele me deixou
escapar por entre os dedos do nosso turbulento mundo dos negócios,
esgueirando para as artes. Mas eu amava música e nunca consegui me ver
fazendo nada além disso.
Quer dizer, vi. Pura influência dele, claro, afinal era chique que seus
filhos de classe alta fizessem, pelo menos, aulas de dois instrumentos
diferentes. Ao contrário de Angel, Becks e Daphne, eu tinha me afeiçoado
pelo piano e pelo violino, provavelmente as únicas coisas que traziam calma
ao meu corpo, junto com o balé.
Quem via o furacão Capri nunca imaginaria que eu fosse tão afeiçoada
por música. Instrumentos clássicos para ser mais exata, mas sei tocar violão
também. Além disso, ninguém esperava que a única herdeira de Cyrus Capri
virasse uma artista.
Honestamente, ninguém esperava que eu me tornasse qualquer coisa
na vida, era a filha fútil do dono de uma companhia de hotéis luxuosos ao
longo de toda a costa leste.
Não sou exatamente uma artista também.
Eu estou bem ciente da minha boa aparência, longos fios loiros com
algumas variações do tom que me deixam com um ar patricinha mimada e
mulher poderosa, ao mesmo tempo. Os olhos num tom profundo de azul
ajudam muito, ainda mais com os longos cílios que eu herdei, e alongados
profissionalmente, e as sobrancelhas claras que também definem meu rosto.
Meu corpo não é nada mal, apesar de muitas vezes eu desejar algumas
curvas a mais, sei que é pura vaidade excessiva pela pressão social, estou
satisfeita com o que tenho.
Viu só? Não só uma loira burra.
Não que eu seja mega inteligente, como Becks ou Daphne, mas eu
tenho meus momentos. Eu sou boa em música e no balé, apesar de isso às
vezes ser mais para inflar meu próprio ego do que qualquer outra coisa.
Findo minha taça de vinho e meu pai me observa com um olhar de
águia de sempre.
“Não quero te pressionar, Chels, mas sabe que precisa se formar logo,
ou vou precisar burlar algumas regras morais para que você não jubile.” Em
minha defesa, eu me formaria, se tudo desse certo, em quatro anos.
Talvez quatro anos e meio, mas e daí? Odeio também quando papai
faz o jogo de moral comigo. Ambos somos falsos moralistas.
“Eu vou me formar até o inverno, não é esse o trato?” Eu podia sentir o
teor venenoso de minhas palavras e como isso o atingia. A gente nunca
briga, e chega a ser irritante a forma como sempre entramos em um
consenso sobre tudo.
“Não quero que seja só pelo trato.” É sobre muitas outras coisas.
Eu nem mesmo sei o que vou fazer depois que me formar. Diferente
das minhas amigas, eu nunca tive todo um plano pela frente, uma carreira em
vista, algo totalmente certo. Eu só quero fazer o que gosto, mas não sei que
isso incumbe em um trabalho de fato. Não posso viver para sempre sendo a
menininha do papai? Isso sempre me coube tão bem.
“Tudo bem.” Eu falo por fim, tentando alcançar a garrafa de vinho na
mesa para encher de novo minha taça. Mas meu pai a colocou para longe,
tínhamos tomado meia garrafa só na última hora e isso era anormal. Nós mal
bebíamos tanto no meio de semana.
“Então, eu posso confirmar sua matrícula?” Um desagradável lembrete
do porquê eu queria tanto beber mais umas três taças antes de ir me deitar.
Bufando, volto a encostar minhas costas na cadeira estofada da nossa
mesa de jantar. Como uma criança de três anos mimada, e não uma de vinte
e cinco anos e sete meses, ainda que fosse tão mimada quanto. Era uma
briga perdida, eu sabia desde o início.
“Chelsea, vai ganhar o dobro de créditos e isso faz com que não
precise fazer duas matérias, só essa. E ainda é de curta duração.”
Claro, é porque vai arruinar minhas férias, meu sol do Hamptons e
boas festas em mansões com meus ex-colegas de escola que estavam
ficando cada dia mais gostosos nessa vida de ricaços solteirões.
Meus pensamentos não poderiam ser proferidos em voz alta. Endireito
minha postura e jogo uma mecha do meu cabelo para trás do ombro,
retomando a pose de uma mulher da alta sociedade, como eu sou.
“Tudo bem, eu disse.” Repito e recebo um olhar de advertência. “É o
melhor a se fazer, não é mesmo?” Suavizo, dando-lhe um olhar de boa filha.
Falsos moralistas, lembra?
Meu pai usou contatos do golfe e cortesias para conseguir uma vaga
para mim na matéria de algo sobre arte que fosse me valer o dobro de
créditos do que o normal. Talvez eu merecesse algo para me punir por passar
os últimos quatro anos só seguindo Rebecca em seus créditos de
administração que serviam para quase nada na minha grade de dança e
depois, na grade de música.
“Little bee, sabe que eu não quero seu mal, certo?” Ele pergunta com
um suspiro e se levanta da cadeira.
Meu pai se aproxima até beijar o topo da minha cabeça, deixando um
carinho gostoso no meu couro cabeludo. Isso sempre me faz ficar com
vontade de voltar a ter seis anos para me deitar no seu colo até ele me fazer
dormir enquanto mexe em suas pastas com a outra mão e cuida do nosso
futuro. Essa foi a minha vida infantil e não tenho nenhuma reclamação sobre
isso.
“É, eu sei.” Levanto o olhar.
Seu rosto é bonito e maldita seja a genética para que eu chegasse aos
cinquenta assim. Mas eu podia ver as crescentes bolsas mais escuras
acumulando-se embaixo dos seus olhos, além de rugas cada dia mais
evidentes. Me preocupo de que seja parte dos motivos por ambas as coisas.
Eu sou ingrata pra caralho e sei disso, porém não faço nada para mudar.
“As aulas começam na quarta.” Sua voz soa como um sussurro antes
dele começar a se afastar para voltar ao escritório.
Deixo escapar um gemido frustrado antes de baixar a testa na mesa.
Frustrada é a melhor definição para mim nesse momento. Quero caminhar
até seu escritório e pedir para cancelar a matrícula no minuto seguinte.
Quarta-feira eu estaria no Hamptons, ou eram os planos.
Felizmente, eu não estou tão animada assim para esse ano já que
minha melhor amiga vai sair amanhã cedo para uma viagem romântica ao
redor do país com seu namorado. Claro que eu adoro e apoio os dois, ainda
mais depois do que ela passou com Oliver, e eu quase ter estragado tudo
entre os dois, ajudei depois, óbvio.
Mas, caramba Zach, super inconveniente tirar minha melhor amiga de
mim em pleno verão.
Eu sobreviveria a um verão sem minha melhor amiga, não um verão
estudando. Pintura ou algo do tipo, diga-se de passagem.
“Chelsea?” A Sra. Price me chama. Vejo seus pés se aproximando e
levanto a cabeça. “Tá tudo bem?”
“Claro, nada com o que se preocupar.” A não ser a queda da minha
vida social badalada com férias que seriam substituídas por aulas. Eu, no
máximo, ficaria boas tardes na piscina, nem perto de ser Hamptons.
Me levanto da mesa, colocando um sorriso amarelo antes de marchar
escada a cima, controlando a vontade de bater a porta do meu quarto ao
entrar. Meu pai não se sentiria nem um pouco afetado, nem deveria. Eu que
lidasse com minhas consequências, ou algo assim. Você logo fará vinte e
seis anos, Chelsea, pegue algumas responsabilidades para você, mesmo que
seja um mero curso de verão que vai acabar com a maior diversão do ano.
Talvez não seja para tanto, eu sei.
Meu corpo cai jogado na cama macia e pego meu celular para ver as
mensagens de Becks.
 
Becks: Vamos sair amanhã bem cedo, não entendo a obsessão de
Zach por isso, mas vamos lá.
Becks: Não prometo muitas fotos, espero estar beeeem ocupada.
Chelsea: Eu prefiro não saber sobre sua extra vida sexual ativa no
momento
Becks: seria vida sexual extra ativa, para começo de conversa
Becks: E por quê? Achei que você fosse a que tivesse isso do grupo.
Daph: Ei, eu tenho uma boa vida sexual também, tá bem?
Chelsea: Eu odeio quando vocês me corrigem
Chelsea: E você consegue enganar absolutamente ninguém com esse
papinho, advogada metida.
Becks: Talvez Matt possa te arrumar alguns amigos bons agora que
ele vai mudar para Boston…
Chelsea: Meu pai me pediu para fazer uma matéria de verão, por
causa dos meus créditos extras baixos
Becks: Não soa tão empolgante, mas pode ser legal
Chelsea: Matt vai se mudar para Boston?
Daph: Que eu me lembre, Drake, sua vida era pouco empolgante
antes do Zach, Oliver nunca teve cara de ser um homem de ouro na cama
Becks: Sim, mestrado, meu irmão ama estudar ou algo tão cansativo
quanto.
Becks: Oliver não era mesmo, não comparado a Zach e seu homão de
ouro na cama e em vários outros lugares da casa.
Chelsea: UGH!!!!! não quero saber detalhes sobre você e o camisa 10
Daph: Faço das vontades da Chels as minhas, pela primeira vez na
vida. Controle-se Rebecca.
Chelsea: EI!
Becks: Ele é camisa 9, era.
Becks: E ok, puritanas. Agora preciso ir, mando fotos assim que puder.
Amo vocês!!!
Daph: Puritana? Disse a que não falava sobre sua vida sexual até a
dela virar extra ativa e interessante.
Chelsea: Ou a performance do Oliver era decepcionante a ponto de
ser horrível de se compartilhar
Daph: Chels tem um bom ponto.
Daph: Boa viagem
Chelsea: Amamos você e boa viagem.
 
Com um sorriso no rosto, algo que minhas melhores amigas sempre
arrancam de mim, desligo o celular para deixá-lo de lado mais uma vez. Não
me sento no ânimo de responder nenhuma daquelas mensagens de algum
caso de três horas agora, nem de fazer algo novo.
Daphne também não vem para o verão, está preocupada demais com
o novo emprego em uma agência importante de advocacia em Boston.
Zapeeio pelos canais e não sei até que horas assisto uma competição boba
de culinária até dormir. A semana seria longa, mesmo que eu estivesse
exagerando.
 
 
 
 
 

 
EU TINHA FEITO, PELO MENOS, ALGUMA ANOTAÇÃO decente? Não que
eu fizesse, normalmente, muitas anotações. Mas, normalmente, as aulas de
música eram bem mais interessantes. Claro, não era como se eu fosse a fã
de carteirinha de Beethoven, ainda que amasse Mozart. Você pode algumas
vezes me pegar andando na rua com fones de ouvido tocando uma trilha
completa dele nos alto falantes. Isso ou Beyoncé.
Porém, as aulas de música são bem mais interessantes que essa.
Releio alguns tópicos que coloquei no caderno, bem a tempo de notar
que todos fecham e guardam suas coisas. Faço o mesmo, claro. Nossa
atenção volta a ser chamada pelo homem desprovido de cabelos em cima do
tablado do mini auditório quando ele bate palmas.
Quem bate palmas para chamar atenção?
Contenho uma virada drástica de olhos e foquei-os no professor, com a
cabeça um pouco inclinada. Meu tédio estava claro para qualquer um que
olhasse, não que muitos olhassem. Existem peças mais interes-santes na
aula de artes plásticas criativa do que uma menina normal, apesar de
incrivelmente linda.
“Gostaria de lembrá-los, mais uma vez, sobre nossa avaliação final.”
Ele faz uma pausa para lá de dramática e desnecessária, já que todos os
olhos já estão virados para ele. “Não haverá nenhum outro tipo de avaliação
além dela. Setenta por cento será avaliado em técnica, e trinta por cento
pelos olhos dos demais colegas. Lembrando que na técnica será avaliado
tanto as obras quanto a habilidade de, juntas, passarem a história.” Que
diabos ele estava falando? Eu devia estar perdida na foto fofa de Becks no
momento que ele explicou isso.
“Poderão ser grupos de dois, três ou quatro pessoas, tanto faz. Só não
façam individualmente.” Ele dá de ombros, continuando. Esse cara parece ter
vindo direto de uma aula de teatro meia boca. “Precisam apresentar o projeto
inicial, um esboço, em duas semanas e o trabalho final na última semana de
aula, em agosto.” O professor dá alguns passos no tablado. “Precisam ser no
mínimo seis telas, quadros, desenhos, o que preferirem. Recontagem de
clássicos, quaisquer que sejam. Eu aprovarei o que chamam de clássico em
duas semanas, de qualquer forma.” E como se já não tivesse sido o
suficiente, ele bate palmas duas vezes de novo, antes de pousar ambas as
mãos na cintura. “Estão liberados!” Graças, porque eu estou com fome.
Começo a colocar os pertences faltantes na minha bolsa maxi da
Gucci que combina com meu conjunto a lá Cher Horowitz, mas vamos lá, é
verão. Nada é chique, sofisticado, clichê e fresco. Ainda que eu devesse ter
dispensado o blazer hoje mais cedo.
“Senhorita Capri, você pode ficar um instante?” Sua voz quase sibilou,
enquanto eu respiro fundo e me virando com um sorriso amável do lugar
onde eu estou, no corredor para a saída, pronta para me libertar e quem
sabe, ainda poder aproveitar um pouco de sol da piscina após o almoço.
Caminho em direção ao professor com calvície a passos longos, tão
longos quanto meus saltos da Louboutin permitem. Só quero sair daqui o
quanto antes.
“Sim, senhor Collins?” Pergunto assim que a maioria dos alunos já
deixou a sala, próxima o suficiente do homem. Ele parece mais baixo quando
olhado de perto, isso que o tablado do mini auditório bate na altura dos meus
joelhos.
“Tente prestar mais atenção na aula da próxima vez. Assim posso
pensar se não revejo com seu pai um método mais simples de avaliação para
a senhorita.”
Eu sou estúpida ou esse homem está tentando me chantagear na cara
dura? Não que ele tenha conseguido muita expressividade no meu rosto
como reação das suas palavras. O sorriso branco e perfeito permanece
intacto nos meus lábios.
“Acredito que não será necessário. Sou capaz o suficiente para
atender as qualificações exigidas no currículo da matéria, caso contrário, não
teria acertado com meu pai de participar da mesma.” Não chego nem perto
de estar qualificada com um pincel na mão, mas sou orgulhosa o suficiente
para não deixar que um homem como ele tente utilizar-se de suas conexões
com o diretor do centro de artes e suas amizades com meu pai para me
rebaixar.
Sou Chelsea Capri, herdeira de mais hotéis na costa leste do que
caberiam para contagem nos meus dedos de ambas as mãos.
“E sobre minha atenção, posso lhe garantir que estava atenta a todas
as partes importantes, sobretudo aos detalhes da avaliação final, e única, da
disciplina.” Bato meus longos cílios.
Daphne me chamaria de diabo de saias naquele exato momento. Mas
quem pode me provar que o diabo não é uma mulher de fato?
“Hm, claro. Qualquer dúvida, basta me consultar, sendo assim.” Ele
parecia um pouco arrependido naquele momento, e provavelmente estava
arrependido do que me disse a pouco. “Vamos manter isso entre nós, não
quero que achem que não vou pegar pesado com você só pela minha
proximidade com seu pai.” A proximidade do diretor com meu pai, você quer
dizer. Mas eu só sorrio e dou um suave aceno de cabeça.
“Claro.” Digo por fim. “Era só isso?” Posso sentir meu estômago
pedindo por um prato refinado de um dos melhores chefs da cidade, aquele à
frente de um dos nossos restaurantes no hotel a só cinco quadras daqui.
“Sim, só isso. Aproveite o dia, senhorita Capri.”
“O senhor também.”
E não fico nem mesmo um segundo a mais dentro daquela sala. Não
posso dizer que não me senti um tanto humilhada pela atitude, mas não era
como se eu não estivesse acostumada a ser taxada daquela forma. Sempre
foi assim.
Meu pai tinha contatos e todos achavam que sabiam mais de mim
mesma do que eu. Eu poderia mesmo me aproveitar de uma forma mais
simples de avaliação, porém, sou orgulhosa demais para ceder e para admitir
aquilo para o meu pai. Posso lidar com essa avaliação, seja lá como ela for.
Quando voltei ao miniauditório na segunda seguinte, após uma breve
passagem do final de semana em Hamptons, descobri que conseguia me
arrepender cada dia mais dessa aula. Seria cansativo demais conseguir ficar
indo e voltando todos os finais de semana, apesar da curta distância. Ou
seja, nada de finais de semana no Hamptons para mim daqui para frente.
Além disso, assim que eu tivesse que começar o maldito trabalho,
precisaria focar bem mais do que estou me focando nessa matéria agora. Tic-
toc Chelsea, você tinha dez dias para achar um grupo e um projeto.
Quando descobri que os encontros semanais seriam em dobro até
meados de julho para se tornarem nulos até a metade de agosto, não soube
bem como reagir. Mas agora, precisando ouvir a voz do Sr. Collins às duas da
tarde, e quase fazendo com que meu almoço faça o caminho de volta do meu
estômago, eu soube que me encontrar com ele na segunda à tarde era tão
ruim quanto encontrá-lo nas quartas de manhã.
Tendo isso em dobro, era mais do que terrível.
Mas eu podia sobreviver.
Estou tomando notas, reais dessa vez, sobre o trabalho final o qual ele
tinha feito anotações sobre no grande quadro branco. Esperava que ele não
fizesse isso todas as aulas ou vou desejar nunca mais ouvir falar sobre o
assunto. Não que planejasse ficar em muito êxtase no futuro a respeito disso,
mas seria um trabalho de, no mínimo, seis pinturas ou desenhos, em grupos
de até quatro pessoas, que precisassem formar, ao fim, uma exposição de
releitura de algum clássico, podendo ser fiel a obra ou não.
Era bastante coisa para ser esquecida com muita facilidade.
“Vejo que finalmente resolveu se juntar a nós, Senhor Crawford.” Claro
que assim como toda a turma, meus olhos viraram para o rapaz que estava
longe de ser chamado de senhor que tinha entrado no auditório.
O tom de voz de Collins deixava claro que sua intenção era
constranger o outro e isso era tão típico para um professor como ele, ainda
que pouco usual ali nas academias de artes. Collins era bem diferente da
maioria dos professores encontrados por ali, bem mais presunçoso e
grosseiro.
Não consigo evitar franzir o cenho sozinha para a atitude dele e encaro
o recém-chegado.
É uma bela peça, mesmo que parecesse saído de um filme teen. Um
calouro, eu quase podia sentir o cheiro no ar. Seus jeans, um pouco
desgastados e a camiseta de listras finas, são muito fofos, preciso admitir
isso. Ele é fofo por inteiro, na verdade.
Os cabelos em um tom entre o castanho médio e o mel, bagunçados,
mas isso também pode ser dado pelo fato de serem ondulados com alguns
poucos cachos se formando na ponta dos fios. Parecem macios, mesmo de
longe, e isso me faz ter uma vontade insana de correr meus dedos ali.
Eu devo estar com algum tipo de crise por abstinência, só pode ser
isso, afinal, o possível calouro cheira também a perigo. Menor de idade,
provavelmente. Nenhum garotinho de dezoito anos para essa quase titia de
vinte e cinco aqui. Meu pai poderia me expulsar de casa com uma infração
grave assim, ainda que eu pudesse garantir que fosse consensual.
Entretanto, o tal Crawford tem um quê de calouro tardio, ou talvez seja
só a aparência um pouco mais velha do que um garoto acabado de sair do
ensino médio. Tem alguns músculos escondidos nas mangas curtas da
camiseta, nada que saltasse gritante, mas acredito que seriam confortáveis
de se ter envolta da cintura.
Seus olhos correm a sala e eu paro de fitá-lo como um pedaço de
carne, como deveria estar fazendo como uma louca tarada, no momento que
os olhos castanhos escuros repousam em mim rapidamente, antes de voltar
ao Collins. Estou próxima o suficiente do fim da sala para perceber que as íris
são castanhas escuras, mas não pretas, porém desejo conseguir fazer uma
inspeção ainda mais próxima.
“Desculpa pelo atraso, Senhor Collins.” Ele fala quase em um sussurro
antes de se acomodar em um assento na fileira atrás de mim, mantendo
alguns bons assentos de distância de todos a sua volta.
Ele parece tímido, porque suas bochechas ainda coram mesmo depois
que o professor voltou a dar sua aula chata.
Tento não olhar muito, porque ficaria torcendo o pescoço, mas foi
complicado ignorar sua presença nos minutos que se seguiram. Também não
queria parecer uma psicopata, stalkeando enquanto ele escrevia
furiosamente em seu caderno. Preciso também mostrar um pouco de
interesse na aula ou ouviria mais uma leva de palavras doces do Collins no
fim da aula.
Com um grupo de uma só pessoa que não sabe como desenhar
bonecos de palitos, eu posso usar de alguns conhecimentos sobre arte
também.
O fim da tarde parecia nunca chegar até que o homem de meia-idade
em cima do tablado finalmente pontuou o encerramento da aula. Quase solto
um gemido de satisfação quando pude começar a guardar minhas coisas de
volta na pequena bolsa branca em forma de saquinho, que ainda está na
moda graças a praticidade.
Ouço um pigarro atrás de mim, franzo o cenho antes de me virar e dar
atenção ao som. Preciso me controlar para suavizar a expressão e não a
agravar ao notar que é o cheiro de Calouro Problema, com seu cabelo que
também parece macio de perto, que chama pela minha atenção. Dou uma
delicada olhada ao redor, confirmando se de fato é a mim que ele chama,
ainda que isso devesse ser óbvio já que ele está sentado no assento atrás do
meu.
“Oie!” O novato diz um pouco eufórico demais, e percebo o rubor subir
rapidamente em suas bochechas. Ele cora como um calouro, mas é um
pouco fofo.
“Oie.” Cumprimento de volta, nem com metade do entusiasmo dele.
Arqueio uma sobrancelha em sua direção, afinal, incentivando-o a prosseguir
e dizer seja lá o que ele deseja.
“Ah, sim… Posso pegar suas anotações da última aula? Ou pelo
menos sobre esse trabalho que ele anotou no quadro.” Ele aponta com a
caneta as anotações que Collins apaga nesse mesmo momento.
“Claro.” Não posso deixar de admitir que há um certo estranhamento
na minha voz enquanto estendo minha caderneta para ele.
Não me lembro a última vez, desde que entrei na faculdade, que
alguém pediu minhas anotações. O Calouro Problema rabisca em seu bloco
com a mesma fúria que notei mais cedo, me oferecendo um sorriso assim
que termina. Volto a guardar minhas coisas apesar de ainda sentir os olhos
incertos dele em meus movimentos.
Se eu fosse uma inexperiente de dezoito anos, provavelmente me
sentiria nervosa com seus olhos castanhos brilhantes sobre mim, mas ao
longo dos anos percebi que atenção nunca me incomodou.
“Mais alguma coisa?” Pergunto assim que me coloco de pé para
caminhar até o corredor central que levava a saída.
“Sou Josh!” Ele estende a mão e nem mesmo vacila quando eu lhe
dou uma olhada que provavelmente não foi a mais simpática.
Ainda assim, arrumo minha bolsa no ombro antes de apertar
brevemente sua mão. Está quente, mas não suada ou algo do tipo, pelo
menos. Tive minha cota da vida de mãos suadas, principalmente de homens
velhos pouco saudáveis e com bolsos razoavelmente cheios. Mas Josh é
uma peça e tanto.
Percebo que ele espera por algo, porque seguimos parados um
olhando para o outro por mais tempo do que o necessário.
“Chelsea.” Falo de volta.
É um pouco estranho precisar disso, metade de Nova York sabe quem
eu sou. Talvez até mais do que isso. O que me deixa com uma opção que
Josh não era da cidade.
Volto a fazer meu caminho até o corredor de saída e ele me
acompanha em silêncio. Eu posso quase sentir que Josh está prestes a dizer
algo que fica na linha entre o constranger ou me constranger, o que é uma
tarefa complicada. Mas seus lábios se apertam um contra o outro com força,
parecendo tensos.
“Se quer dizer algo, diga. As pessoas em Nova York não têm tendência
em ficar esperando qualquer coisa por muito tempo. Primeira lição nova-
iorquina, baby boy.” Não seguro, mas sinto uma pontinha de algo, um
sentimento, que não consigo descrever. É quase como um arrependimento.
“Como sabe que não sou daqui?” Ele pergunta virando os olhos
brilhantes para mim, porém logo parece se arrepender da pergunta e volta a
encarar o carpete gasto daquele mini auditório sob nossos pés. “Deixa pra
lá… Eu queria saber se…” Ele hesita assim que chegamos ao corredor do
lado de fora da sala. A caminhada se segue em silêncio até deixarmos o
prédio e eu paro para encarar Josh assim que sinto a brisa do verão bater em
minhas pernas nuas.
Fito enquanto Josh cogita as palavras que deve dizer, por tempo
demais diga-se de passagem.
“Se eu tenho um namorado? Não. Se pode ter meu número? Eu
provavelmente não poderia te convidar para um bar sem ser presa, então isso
também seria um não.” Era o que 90% dos caras que me paravam
aleatoriamente queriam saber, o ajudei nisso. Não que isso me fizesse uma
santa, porque no momento em que os olhos dele voltam para o chão, eu
quase bufo em frustração.
Ele é muito quieto para o meu gosto.
Eu sou boa aos olhos, sei disso. Ele poderia pelo menos fingir que
sabe disso também e agradar meu ego. Com seus alguns centímetros mais
altos que eu, eu poderia dizer que alguns rapazes baixavam o olhar para
conferir minha comissão de frente, mesmo que eu saiba que ela é um pouco
mixuruca, mas ele definitivamente não estava com os olhos ali. Tecnicamente
bom.
“Na verdade, queria saber se sabe algum grupo que ainda tem vaga,
ou se você já tem algum parceiro… para o trabalho.” Ele acrescenta
rapidamente, levantando o olhar para algum ponto no meu nariz, não os
olhos.
“Ah…” Não consigo evitar meu espanto. Inesperado, de fato. Mas não
deveria, dado a matéria que estamos fazendo. “Para isso é um não também.
Até agora não pensei nisso.”
“Mas não precisamos entregar o esboço do projeto na próxima
quarta?” Ele parece um pouco confuso com a minha falta de interesse com o
trabalho final, o que é até plausível.
“Sim, gosto de viver no limite e essas coisas.” Brinco cerrando um
pouco os olhos ao falar e conseguindo um sorriso satisfatório dele.
“Então… quer fazer juntos?” Ele pergunta, e no fundo eu acho que
essa pergunta é um pouco para ele também. Como se não estivesse certo do
seu convite.
Dado a minha falta de habilidade de comunicação com qualquer outra
pessoa dentro da aula nas duas primeiras, e falta de qualificações para
pintura, desenho e coisas do tipo, poderia dizer que estava desesperada e
que não deveria pensar tanto assim. Josh podia ser tão ruim quanto eu, mas
quatro mãos eram melhores que duas, não é mesmo?
“É, pode ser.” Agora era eu quem estava falando mais comigo mesma
do que com ele.
Poderia manter minhas mãos para mim durante as próximas semanas
trabalhando junto com um corpo assim? Ele é mais forte do que parecia
quando olhado de perto, apesar de ainda ser um tipo de cara magro com
músculos do que um homem feito com muitos músculos de sobra e ego
inflado por causa disso.
“Eu tive algumas ideias sobre alguns clássicos que poderiam ser
usados para uma releitura. Poderia te mostrar alguns esboços que fiz, apesar
de precisar descartar alguns, agora que entendi melhor do que se trata o
trabalho de fato. O e-mail que ele enviou não foi muito claro.” Ele começa a
falar parecendo confortável, ou quase, pela primeira vez durante a conversa.
Seus jeans contrastam com meu vestido de verão branco de tecido
leve transparente com flores rosas bordadas, por cima da fina camada branca
de um tecido não transparente que me cobria. Tinha substituído os saltos por
um chunky sneakers perfeitamente branco naquele dia. Entretanto, dentro da
faculdade de artes da NYU, me sinto confortável de andar ao lado de alguém
que não tenha um estilo super excêntrico. Nós dois éramos poucos ali dentro.
“Você quer discutir o projeto agora?” Pergunto sentindo uma nota de
humor no meu tom de voz.
Ele olha para o relógio, não notando o pequeno sarcasmo. Não é um
Rolex ou nada feito para impressionar de cara. Josh parece um cara simples.
“Tenho meia hora antes de entrar no trabalho, se quiser, podemos
discutir agora.” Seus olhos voltam para mim em um sorriso bonito que me faz
sorrir de volta.
Simples assim.
“Acho que você não vai querer se atrasar e eu estou com a cabeça
cheia de pintores o suficiente por hoje.” Puxo meu celular da bolsa. “Então,
vai me dar o seu número e podemos discutir isso… amanhã?” Eu poderia
usar uns três dias de descanso sem pensar na faculdade, mas considerando
que dali dois temos aula de novo, discutir sobre esse trabalho o quanto antes
pode ser útil.
Ele segura meu celular nas mãos. Suas mãos são bonitas, dedos
longos, provavelmente jogava futebol no ensino médio, ainda que não tenha
a empáfia de um jogador. Salvo o número assim que o celular é devolvido e
logo envio uma mensagem para que ele salve meu número. O bolso dele
vibra e Josh envolve o próprio aparelho com uma mão.
“Parece que agora eu vou ter seu número.” Ele brinca e eu acabo
soltando um riso breve e baixo, surpresa com aquilo.
Não sei bem qual das duas coisas fez com que o sangue subisse até
as orelhas dele, forçando-o a se concentrar no celular em mão ao invés de
mim.
“Ousado, gostei.”
Sem dizer muito mais, Josh me dá um aceno que eu devolvo, e
seguimos em direções opostas.
 
 
Apesar disso, desse pequeno lapso de ousadia, Josh não me mandou
mensagem para falar sobre suas ideias e eu não tinha problema algum em
fazer o primeiro movimento.
Quando mandei mensagem na tarde seguinte, enquanto quebrava a
cabeça para terminar uma música que estou trabalhando a mais tempo que o
necessário, ele demorou umas boas horas para responder. O que me fez
largar de vez o piano e começar a buscar formas de fazer esse trabalho
funcionar. Estou deitada na cama, com anotações medíocres me cercando e
nenhuma ideia em mente quando ele me responde.
Josh: Oi, desculpe a demora. Um colega da noite acabou ficando
doente e peguei o turno dele.
 
Tentei me lembrar no que ele trabalhava, mas percebi que não me
esforcei o suficiente ontem para saber mais sobre ele. Além disso, eu não
frequento muitos lugares próximos do campus, então, provavelmente não
conheceria de qualquer forma.
 
Josh: Sobre as ideias, estive pensando hoje que algumas são muito
bregas e comuns, acho a que menos ficaria cansativa foi uma mistura entre o
clássico Frankenstein com o mito de Pigmaleão, apesar de esse ser muito
usado já. Algo como a criação se apaixona por si mesmo, com toda a
questão do não querer se deixar matar.
 
Minhas ideias estavam mais em torno de clássicos Disney com
princesas e algo brilhante, mas a ideia de Josh parece mais conceitual e
sólida do que qualquer coisa que eu tenha pensado. Assim que leio a
mensagem, alcanço meu computador de volta e pesquiso sobre o conto. Não
é algo que eu conhecia.
Deixo o celular apoiado na tela enquanto me arrumo na cama, sentada
com as pernas cruzadas. As mensagens chegam, mas eu me concentro em
ler do que se trata o mito de Pigmaleão primeiro. O escultor que tentou criar a
mulher perfeita e se apaixonou pela estátua, é um pouco estranho, mas
poderia ser uma boa ideia.
 
Josh: A criatura seria bela como a criação de Pigmaleão por fora, mas
obscura como o monstro de Frankenstein por dentro, quase como uma
metáfora a yin-yang em uma mesma forma. Pela sua beleza, acabaria
enrustido em uma vaidade e um amor pela própria forma ainda que o criador
possa ver o monstro que é no fim
Josh: o criador tentaria destruir o monstro temendo qualquer mal que
possa ser ocasionado pela sua crueldade interna e beleza externa, mas isso
sairia do controle do criador. Como em Frankenstein
 
Eu deveria mesmo prestar mais atenção em alguns filmes que assisti
durante a vida porque estou nesse exato momento pesquisando sobre algo
famoso como Frankenstein pelo simples fato que não consegui mais
acompanhar o raciocínio.
Josh: sem o criador, o monstro veria uma vida sem compaixão, amor
ou qualquer símbolo de afeto, porque a beleza não é sinônimo de amor e isso
o sucumbiria a feiura interna.
Chelsea: Ok, não parece uma ideia ruim apesar de eu ainda não ter
captado direito o que quer dizer, mas o mais importante de tudo, como
pretende passar isso para o trabalho?
Josh: quadros
Josh: eu pinto, pensei que poderíamos usar isso
Josh: eu fiz alguns esboços do que poderia ser cada um, talvez
acabássemos em sete ou oito telas. isso se não preferir outra coisa
Chelsea: Telas são ótimas, minhas habilidades que não são
 
Josh demora para voltar a me responder e me acomodo melhor na
cama.
 
Josh: eu poderia te ensinar algumas coisas…
 
Estou quase dormindo sentada quando sua mensagem chega. Mas
não consigo captar muito mais além daquilo, porque meus olhos pesam e
preciso de esforço para conseguir tirar as coisas da minha cama entre uma
mensagem e outra dele.
Josh demora para responder. Não que isso me incomode, só dá
brecha para que o sono fique cada vez maior. Envio um mero “ok” a ele antes
de desligar o celular e cair na cama.
 
 
 
 
 
NEM MESMO SEI O QUE ME ATROPELOU, mas na manhã seguinte eu
quero poder jogar o meu celular na parede para ver se isso resolvesse minha
vontade de ficar na cama o resto da manhã. Isso que do tipo que gosta de
acordar cedo.
Ao invés disso, levanto e me arrumo antes mesmo que o nosso
motorista tenha a chance de me lembrar que estamos atrasados nem sequer
uma vez. Josh não mandou nenhuma mensagem depois do meu “ok”, o que
era relativamente muito bom. A última coisa que eu preciso nesse momento é
me preocupar com um trabalho chato e um colega com uma queda por mim.
É um pouco prepotente da minha parte, mas acontece com bastante
frequência. Ainda mais um colega que eu tenha noventa por cento de certeza
que não passa dos vinte anos.
Porém, até o momento Josh não se mostrou muito interessado, o que
ainda não decidi se me agrada ou me entristece.
Sento no meu lugar habitual, ou o que três aulas poderiam deixar ser
chamado de habitual, com orgulho da minha pontualidade. Meu colega de
trabalho chega quase atrasado demais, o que lhe resulta outra chamada de
atenção assim como uma conversa com Collins no fim da aula. Josh não
parece ser do tipo aluno ruim, entretanto seus tropeços contínuos para dentro
do mini auditório com minutos de atraso parecem estar se tornando
frequentes.
Pensando bem, ele deve ser o sonho de genro. Simpático sob medida,
vestido na média, bonito e tímido, o que significa que não deve dar trabalho
no quesito fidelidade, apesar de ter uma aparência muito agradável aos
olhos. Preciso mesmo parar de pensar sobre os bíceps flexionados dele
enquanto se apoia na mesa do Sr. Collins e como eles ficariam bem
acomodados em volta da minha cintura.
Do meu corpo inteiro no geral.
Novamente, eu não sou nenhuma tarada ou louca, Josh só seria um
bom pedaço de mal caminho, muito bem feito.
Meus pensamentos estão vagando pelo meu possível almoço e salivo
cogitando um risoto de camarão, pronta para ir correndo para o restaurante
enquanto caminho para fora da sala. Mas a voz de Josh me alcança antes
que eu chegue na porta de saída e paro no lugar, esperando para que seu
corpo ofegante chegue até mim.
“Eu fiz aqueles esboços que te falei ontem, mas esqueci de pegar hoje
cedo.” A vida corrida de Nova York provavelmente não está sendo de fácil
adaptação para ele. “Mas se quiser, podemos ir lá ver agora e já trabalhar no
projeto para apresentar na próxima semana.” Porque Collins tinha sido um pé
no saco o suficiente a ponto de estender seu trabalho a um projeto escrito de
duas páginas, e uma explicação sobre as obras para ser entregue ao fim de,
no mínimo, doze.
Minha arte de enrolar poderia ser finalmente utilizada para algo.
“Agora?” Me controlo para não dar uma boa olhada no relógio e dize-lo
que são quase onze horas da manhã e mundialmente esse é conhecido por
ser o horário de almoço, embora eu por vezes corte qualquer refeição muito
balanceada para esse momento.
“É. Moro há umas cinco quadras daqui então vai ser rápido. Claro, se
não tiver coisa mais importante para fazer.” Quis falar para ele que é verão,
logo haveria sempre uma piscina ou algum clube para ir, mas não precisava
ser tão vaca assim.
Além do mais, eu não tenho assim uma infinidade de coisas para fazer.
Meus amigos mais próximos estão passando a temporada entre o Hamptons
e os escritórios lotados de seus pais, e minhas melhores amigas estão a bons
quilômetros de distância.
“Por que não?” Digo com um estalar de lábios e uma erguida de
sobrancelha.
Ele me aponta o caminho e sigo ao seu lado. Fico esperando que ele
acabe me chamando para almoçar depois disso, mas Josh anda ao meu lado
sem dizer nenhuma palavra durante quase duas quadras. E o silêncio não é
meu melhor amigo.
“O que Collins tem contra você? Além dos atrasos.” Pergunto após um
tempo, recebendo um pequeno gemido de insatisfação dele antes de
atravessarmos a rua.
Josh é do tipo que olha para ambos os lados, apesar das indicações
dos sinaleiros.
“Acho que, como sua parceira de trabalho, eu preciso saber se posso
acabar me ferrando por tabela.”
“Bom ponto.” Ele fala com dá de ombros.
Agradeço ao fato de usar um short jeans claro com uma bata branca
de mangas longas com poucas aplicações em bordado, não é um dia quente,
mas a roupa ajuda com o calor e o sol do meio-dia. Assim como meu cabelo
preso de forma arrumadamente desleixada em um rabo de cavalo frouxo com
um lenço amarelo e azul, e as sapatilhas confortáveis.
Nem só de salto se vive uma mulher bem vestida.
Josh também toma cuidado para não andar tão rápido, apesar de suas
pernas serem mais longas que as minhas, um fato que achei atencioso da
parte dele. Precisei notar também que ele não parece nem um pouco
incomodado com o calor.
“Minha mãe e o Dexter, ou senhor Collins, eram amigos na faculdade.
Ela ligou para ele e pediu se podia conseguir algum curso de verão apesar de
ser calouro. Ele conseguiu uma vaga na própria matéria. Eu precisava sair de
San Diego então...” Seus olhos fitam o horizonte percebo que talvez tenha
mais.
Tipo o fato de precisar sair de um lugar, sua própria cidade. Como um
fugitivo, mas duvido que Josh seja capaz até mesmo de levantar a mão para
um filhote na rua. As aparências às vezes enganam, não sou tão tola assim.
Porém, não evito que minha curiosidade me leve a imaginar coisas.
“Ele sempre teve uma queda pela minha mãe, mas ela acabou com
meu pai. Acho que parte da marcação vem daí.”
“Oh, você quase foi um Collins.” Brinco com ele, apesar de não ter feito
conseguido efeito o suficiente para que eu ganhe um sorriso.
“Tecnicamente, se minha mãe casasse com Dexter, não teria como sair
eu disso…”
“Nerd demais! Se explicar muito perde a graça, Josh. Não seja um
desmancha-prazeres.” Corto sua fala com um riso preso na garganta, pela
forma cética dele de ver o assunto. Agora, pelo menos, consigo um sorriso
dos seus lábios.
“Então, é, basicamente. Acho que o fato de eu ser filho do meu pai
com a mulher que ele ainda deve ter uma queda facilita no pequeno ódio
dele.” Ele me indica para virarmos a esquina. “Além dos eventuais atrasos.
Mas isso não é culpa minha.”
“Ainda se acostumando com o horário?” Chuto.
“Sim. E meus melhores amigos que sempre demoram mais que o
habitual no banheiro que dividimos.”
“San Diego, hm?”
“Nascido e criado.” Ele responde colocando as mãos nos bolsos da
calça jeans. Josh não é muito bom em jogar conversa fora e isso fica óbvio
pelo tempo que demora a jogar a pergunta de volta. “Você?”
“Nova-iorquina pura. Você mora em uma… república?” Meu choque e
curiosidade devem estar estampados porque ele acaba por soltar uma risada.
Em minha defesa, Josh tem cara de menino certinho demais e
normalmente esses acabam nos dormitórios ou em um apartamento estúdio
sozinho. Eu conheci meninos certinhos o suficiente para poder elencar essa
pesquisa.
“Com outros três caras, meus melhores amigos. Somos colegas desde
a escola, quando a vaga surgiu na casa, eles me avisaram. O cara que
morava antes se formou há menos de um mês.” Ele explica e outra dúvida me
surge.
Ele é um calouro, mas aparentemente não acabou de sair do ensino
médio. Seguro minhas perguntas, porque posso ter interpretado errado e
também porque parece um pouco íntimo demais sair perguntando coisas
pessoais a estranhos, a não ser que tenha alguma intenção de prosseguir o
contato por longo tempo.
Acho meio complicado conseguir segurar toda a minha curiosidade. O
silêncio e a demora dele para continuar a conversa não ajudam muito.
“Você deve morar com seus pais.”
“Meu pai só.” Respondo simplesmente, não é como se a ausência da
minha mãe ainda pese na minha fala todas às vezes que me lembro do fato.
“Você pinta?”
“Desde os quatro anos.”
“Mas não tem exatamente um curso para isso na Tisch.” Não que eu
soubesse pelo menos.
“Não, por isso entrei em cinema.” Isso explica a natureza criativa desse
menino. “Você faz qual área?”
“Fiz um ano e meio de dança antes de entrar na música. Quebre a
perna foi sério demais.” Zombo com o fato de ter me acidentado e torcido o
tornozelo, o que me impediu de seguir até o fim. Não que eu estivesse
empolgada com o assunto. “Teatro musical, para ser mais exata. É uma área
legal.” Pelo menos era o que eu me convencia, embora faça isso mais por
uma obrigação do que de fato por querer.
Daí talvez venha a demora para terminar tudo e pegar um diploma de
prateleira. Eu gosto de tocar, vivo pela música, mas não dessa forma.
“Não é o lugar mais famoso da cidade para isso.” Ele comenta
simplesmente.
“Disse o cara que veio estudar cinema em Nova York ao invés de ficar
na UCLA, terra hollywoodiana.” Zombo revirando os olhos quando o olho.
“Todos nós temos um motivo para fazermos o que fazemos.” Dou de ombros,
enquanto ele abre a porta para que eu entre na casa de dois andares. “Todos
meus melhores amigos foram para NYU, queria ficar por perto. Não fazia
sentido ir para Juilliard.” Também nunca achei que eu fosse ter potencial pra
tudo isso. “Você?”
“Encurtando a história longa, eu…”
“Crawford…” Um rapaz com cabelos loiros e olhos num cinza profundo
se aproxima, dando o típico bater de ombro másculo em Josh antes de me
avaliar dos pés à cabeça e o caminho de volta enquanto parávamos
estranhamente na entrada.
“Ethan.” Josh joga de volta.
O tal de Ethan me lança um sorriso e volta para onde deveria estar
indo no primeiro momento, até chegarmos. Pula no sofá e entrega uma
cerveja a outro rapaz, cabeça quase raspada e com muitas tatuagens.
Músculos por toda parte. Parece vagamente familiar, principalmente quando
seus olhos focam em mim e em Josh quando atravessamos a sala.
“O garoto Crawford trouxe a herdeira Capri pra casa em menos de
uma semana. Sorte grande ou grande tacada. Ou ambos.” Ele zomba do
sofá, voltando os olhos para a tela da TV e despausando o jogo.
Não sei dizer o que me incomodou mais: os sobrenomes, o “herdeira”
ou a empáfia. Ou os três juntos. Talvez eu conhecesse esse cara de alguma
festa bastante ruim.
“Herdeira Capri?” Josh questiona, franzindo o cenho em minha
direção.
O jogo foi pausado mais uma vez, assim como nossos passos que
param a dois metros da escada. Os dois rapazes sentados no sofá nos
olham.
“Vamos lá, Josh. Você não sabe mesmo quem é ela? Nem mesmo se
deu ao trabalho de ler meia revista de fofoca nova-iorquina?" Ethan caçoa.
“Ela ainda está no cômodo." O desgosto é claro em minha voz,
principalmente pelo fato que eu quase posso sentir as barreiras de Josh se
erguendo mais uma vez depois da conversa quase civilizada e interessante
que tivemos. Não que eu me importe muito.
Ser tratada como um ser diferenciado me incomoda.
“O pai dela poderia comprar metade da costa leste e ainda ter dinheiro
para comprar um lote inteiro de Jack Daniels.” Ethan é um tanto empolgado
nas coisas, mas não é inteiramente inverdade.
“Meu pai é dono de alguns hotéis ao longo da costa leste.” Corrijo-o
com os olhos semicerrados e um olhar que poderia arrancar um braço. “E não
bebe Jack Daniels.”
“Hotéis de luxo.” O tatuado completa, desnecessariamente.
Pude ouvir um pequeno som de surpresa vindo da boca um pouco
aberta de Josh. Ele me olha e há algo ali. Uma diferença ou um
reconhecimento. Seus olhos voam para minhas roupas caras e bolsa de grife,
assim como para as simples joias que eu uso.
Ouro, baby.
Ele limpa a garganta e volta os olhos para os colegas.
“De qualquer forma, vou mostrar algumas coisas rápidas para Chelsea.
Estamos em um projeto do curso juntos.” Ele parece necessitar frisar nossa
não tão grande relação.
Não poderia me importar menos. Não iria colocar um outdoor sobre
nossa parceira, Crawford. Penso um pouco irritada por ser tratada com tanta
condescendência.
“Esses são Ethan e Scott.” Eu dou um simples aceno de cabeça, que
poderia ser usado como cumprimento.
Nós subimos para o andar de cima e a casa parece relativamente bem
organizada e cheirosa, dado ser a residência de quatro integrantes do sexo
masculino. Isso significa algumas coisas interessantes, que eu poderia
começar a reunir sobre quem é Josh Crawford, caso eu quisesse reunir muito
caso em cima dele. A casa é ampla e arejada. Cheira a pinho e isso pode ser
pelo produto de limpeza usado há pouco tempo.
O andar de cima é composto por cinco portas, o que mostra que,
provavelmente, ninguém compartilha quarto por aqui. Ainda que eu não seja
do tipo que faz contas mentais, posso pensar que a condição financeira deles
é ok, pela casa grande e bem localizada. Entretanto, Josh mantém um
emprego, o que pode ser por luxúrias ou experiência. Claro que pensar sobre
essa segunda opção é bastante estranho para mim.
Ele manteve seus passos à minha frente, colocando certa distância
entre nós novamente até que abriu a porta do quarto no fim do corredor. A
primeira coisa que pude ver assim que entrei foi uma janela francesa que dá
para a rua da frente da casa com um banco embaixo. Um lugar de leitura.
Para alguém que acabou de se mudar, Josh conseguiu o lugar de
sorte. Apesar da maravilha da janela, que ilumina muito bem o quarto, o
espaço não é tão grande. Uma cama queen-size está posta no meio do
quarto, entre a janela e um guarda-roupa embutido. Na frente da cama, uma
escrivaninha pequena e uma TV pendurada na parede.
Mas a parte mais interessante do quarto é o contraste entre o branco
clean cru de todas as coisas com o canto, ao lado da escrivaninha e próximo
à janela. Um cavalete, jornais no chão protegendo o piso, pincéis de diversos
tamanhos em latas penduradas por parafusos na parede. Um cesto com
muitos tubos e potes de tintas, duas paletas estão no chão, com dois quadros
em branco, e um pela metade apoiado no cavalete.
É um pequeno caos no meio da organização.
E é bonito, a certo ponto.
Josh segura a porta para que eu entre. Não tentando fazer o tipo sexy
e se apoiando nela para que seus músculos do braço fiquem saltados ou com
que sua camiseta se levante e mostre se ele tem um pacote de seis, ou de
oito, ou uma curva V bem acentuada.
Depois de um pequeno tempo ao lado dele, notei que, ou ele era
imune a qualquer grande charme que eu tenha, ou somente não faz do tipo
garoto chato de faculdade que eu lido normalmente.
Vamos dizer que eu até estou interessada em algo novo. Diferente.
Não que eu vá me jogar na sua cama bem feita com lençóis azul-
marinho.
“Não repara a bagunça?” Ele diz incerto, enquanto vai até à mesa
depois de entrarmos.
Não fechando a porta nem nada.
“Isso está mais organizado que cem por cento dos quartos masculinos
que eu já entrei. E isso são muitos.” Deixo escapar com um rolar de olhos, um
pouco cansativo toda essa história repetitiva de conhecer novos ambientes.
Josh fica levemente mais tenso, me lançando um olhar que não
consigo descrever muito bem. Constrangido? Receoso?
“Vamos lá, Crawford Boy, achei que a gente estava começando a se
dar bem. Não sou do tipo que imploro então pare de ser tão estranho de novo
depois que seu amiguinho foi estraga prazeres.”
“Eu não estou fazendo nada. E isso no sentido literal. Só parado no
meio do meu quarto, princesa Capri.” Ele fala com um tom de humor de volta,
levantando as mãos em sinal de rendição antes de se virar e sentar atrás da
escrivaninha.
“Estava me dando um olhar de cachorro abandonado, com uma
mistura de como se eu fosse te morder a qualquer momento.” Digo dando um
passo na sua direção. “Eu não mordo, a não ser que peçam com jeitinho.”
Provoco chegando ao lado dele e dando uma piscadela para o seu olhar
chocado. Quase me deliciando com suas bochechas coradas que logo se
desviam para fixar o olhar na mesa. “E é herdeira Capri.” A última parte sai
em um murmuro enquanto me inclino para observar os papéis que ele
espalha pela escrivaninha.
“Ok, foco.” Ele me dá um olhar de advertência antes de puxar três
folhas e colocar elas uma ao lado da outra.
São desenhos, esboços, com lápis em um grafite mais forte.
Eu quase posso compreender aquilo se juntar com a explicação dele
de ontem à noite. Retomo algumas das minhas leituras feitas ontem e hoje
cedo, quando troquei minha checagem diária no Instagram por algumas
pesquisas de Wikipedia dentre outros sites.
Josh pega um lápis e começa a adicionar alguns detalhes enquanto
me explica sobre o sentido do que eu estou vendo e como isso se encaixaria
no nosso projeto, quando um alarme em seu celular toca. Ele desliga
rapidamente e acelera no restante da última folha antes de se levantar.
“Eu preciso ir trabalhar, mas podemos conversar mais sobre isso a
noite. Caso ainda não tenha entendido muito, ou caso queira mudar a ideia.”
Ele diz enquanto vaga pelo quarto, pegando uma camisa no armário. “Dois
minutos.” Josh pede, indicando com os dedos antes de correr para uma porta
no corredor, provavelmente o banheiro, e me deixando de pé no meio do seu
quarto.
Tomo esse tempo para observar a pintura não acabada. Uma mulher.
Loira e com olhos azuis marcantes, ainda que houvesse uma grande pitada
de fúria nos traços e na forma como a possível beleza dela foi desfeita com
pinceladas incertas. Quase cronometrado, Josh volta ao quarto, mais
cheiroso ainda e com os cabelos furiosamente despenteados.
Esse garoto de semblante pacífico parece ter muita coisa furiosa em
sua vida ultimamente.
Apesar de ter notado o que eu olhava, ele só seguiu com um olhar
triste, o que não explicou muito mais. Talvez a tela tenha algum valor
sentimental demais para ser compartilhado. Silenciosamente, me convida
para descermos de novo.
“Eu gostei do projeto. Honestamente, não poderia ter pensado em algo
elaborado para isso. Sou um desastre com a pintura, mas posso ajudar com a
parte financeira, obviamente, e com a parte escrita.” Faço uma pausa
enquanto descemos as escadas, precisando retomar um pouco de fôlego.
Está quente e úmido como um típico verão, e Josh nem mesmo parece ter
um traço de suor em sua pele. Eu não vejo a hora de estar de volta ao ar
condicionado, um banho gelado e talvez uma piscina. “Posso começar a
trabalhar nisso antes do final de semana e te mando até domingo.” Continuo
assim que chegamos de volta ao andar debaixo. “A parte escrita, no caso.”
Scott e Ethan seguem jogando no sofá, nos lançando só um olhar
ocasional quando atingimos a sala, caminhando até a saída.
“Tudo bem. Posso elaborar algumas coisas, se quiser.”
“Não, pode confiar em mim com as palavras, Baby Crawford. Te
mando no domingo e você revisa.” Falo tranquilamente antes de aproximar-
me dele e, como uma mother hen, levo a mão até seu cabelo, testando minha
teoria sobre como os fios são super macios, e arrumando alguns fios no lugar
da melhor forma possível. “Enquanto isso, você se ocupa com toda a parte
prática e, sei lá, elabore os desenhos.”
“Maior parte do trabalho.” Ele bufa, mas não parece exatamente
zangado com isso. Volto a abaixar minhas mãos para as laterais do meu
corpo.
“Hey, loirinha!” Ethan chama do sofá e paramos nossa trajetória até a
porta. “Devia vir na sexta à noite, vamos comemorar a maioridade oficial
desse bebezão aí e preferencialmente deixar ele bêbado. Pode querer estar
por perto.”
Um grande sorriso falso se forma no meu rosto enquanto vou até à
porta aberta que Josh segura para mim. Seu rosto tem a encarnação de uma
expressão de desconforto.
“Vou ver.” Respondo apesar de já ter quase certeza do meu veredito
sobre o assunto na sexta.
É um dia meio… diferente.
Dando as costas para finalmente sair, ainda não estou completamente
fora da casa e ainda posso ouvir a voz debochada de Scott:
“Provavelmente uma festinha Hamptons de bundas mole para ir no
quatro de julho.”
Prefiro ignorar, lançando um sorriso simpático a Josh antes de dizer
“tchau” e ir finalmente devorar meu risoto de camarão, confortavelmente
sentada em uma cadeira pomposa estofada num ambiente bem fresco. Me
contendo para manter Scott e sua afirmação mesquinha longe da minha
mente.
Não que fosse algo muito fácil, principalmente quando desço para a
sala de jantar na sexta à noite e encontro meu pai com seu copo de uísque
na mão, olhos baixos e tristes.
 
 
 
 
 

 
EXISTE ALGUMA MANEIRA MAIS EMBARAÇOSA DE se acordar na
primeira manhã com vinte e um anos do que com uma puta ressaca?
Claro, acordar com pessoas estranhas na sua cama. Duas meninas,
para ser mais específico sobre o embaraço.
Não, se está esperando do tipo babaca que vai dizer que nem lembra
como foram parar ali ou quem são elas, procure em outro lugar. Anna e
Kacey foram parar ali depois de algumas brincadeiras, um monte de body
shot e com um convite.
O que fizemos é outra história, uma que me lembro muito bem, até
porque tenho algumas pequenas marcas do que aconteceu pelo meu corpo e
alguns pacotes vazios de camisinha no chão.
Droga.
Descobri porque nenhum dos meninos estava empolgado sobre esse
quarto. Por que meu eu bêbado tem uma séria dificuldade em fechar as
cortinas toda a vez? O sol parece agredir meus olhos de umas dez formas
diferentes, apesar de eu já ter me acostumado com a claridade.
Faço um esforço para deslocar o corpo de Kacey para fora do meu.
Ela está nua, assim como eu. Que ainda ostento uma semi ereção matinal
mostrando que a empolgação de ontem à noite segue viva, embora minha
cabeça tenha girado em três sentidos diferentes quando me levanto.
Fecho as cortinas e escuto gemidos de agradecimento vindo das
meninas. Pego uma toalha e roupas antes de me enfiar no banheiro,
utilizando mais litros de água fria que o necessário para tentar lavar a
bebedeira de mim.
Recobrar os sentidos sobre ontem à noite não é muito satisfatório,
apesar de toda a festa ter sido legal. Ethan, Scott e Nick se esforçaram para
dar algo grande, mesmo que mais da metade dos amigos deles estarem fora
da cidade. São férias de verão, afinal. Além disso, foi a primeira vez que eles
fizeram algo na casa, dado que o último companheiro, do qual eu tomei o
lugar, era um grande pé no saco.
Palavras deles, não minhas.
Me sentindo levemente mais digno, desço até a cozinha, aproveitando
para já juntar alguns copos e garrafas no caminho. Faço meu caminho até a
cafeteira e enquanto aprecio o cheiro de café se arrastando pela cozinha,
começo a cuidar do lixo. Sirvo uma boa xícara e passo a recuperar a minha
dignidade cada vez mais a cada gole. O andar de baixo também passa a ser
mais habitável de novo à medida que vou enchendo os sacos de lixo.
Organizo a cozinha antes de fazer ovos mexidos e perceber que estou com
muita fome.
Kacey desce as escadas com os cabelos negros presos no topo da
cabeça de forma desajeitada e uma das minhas camisetas.
Vergonhosamente, me lembro que acabei rasgando a que ela usava ontem à
noite.
Um pouco sem jeito.
Um pouco selvagem bêbado.
Ela é bonita, com os olhos grandes verdes e a pele bronzeada.
“Hey, bom dia. Isso aqui estava apitando como se o mundo fosse
acabar a qualquer momento.” Ela diz levantando meu celular entre os dedos.
“Isso é café?”
“Quer uma xícara?”
“Por favor.” Kacey se arrasta nas palavras enquanto senta na única
banqueta remanescente da nossa bancada da cozinha, deixando meu celular
na superfície.
Sirvo ela com uma generosa quantidade de café antes de terminar os
ovos mexidos, separando-os em dois pratos. Procuro outro banco e logo
acho na sala. Sento ao lado de Kacey e comemos com alguns suspiros e
gemidos de fome. Finalmente alcanço meu telefone deixando um som de
pura frustração me escapar quando vejo as mensagens que resultaram nos
apitos incessantes que Kacey se referiu.
“Está em apuros, neném?” Ela pergunta com humor antes de levar a
xícara aos lábios. “Ou problema com garotas? Você disse que não tinha
nenhuma namorada ontem à noite.”
“Eu não tenho namorada, apesar de não saber exatamente se isso não
é um problema com garotas já que se trata de uma garota.”
“Josh, você é muito elaborado para um dia pós bebedeira.”
Nenhum de nós se importa muito em levar aquilo para frente depois do
pequeno riso compartilhado. Termino meu café da manhã e deixo as coisas
na pia antes de encarar as mensagens.
 
Chelsea: que?
Chelsea: Você realmente me mandou mensagem bêbado?
Chelsea: baby boy, atingimos o fundo do poço com menos de uma
semana de… conhecimento
Chelsea: Eu te mandei uma mensagem de feliz aniversário ontem
Chelsea: você tem direito nenhum de vir falar que eu sou uma grossa
Chelsea: ela tinha até um emoji, francamente baby boy
Chelsea: De qualquer forma, espero que tenha aproveitado bem a sua
noite, infelizmente não consegui trabalhar ainda no nosso projeto, mas até
segunda-feira te mando
 
Quase reviro os olhos com o comentário dela. Achei que Chelsea
não fazia o estilo cem por cento profissional. Sem perder tempo com a
mensagem, ligo para ela, que atende depois de três toques.
“Pelo menos ele está vivo.” Escuto sua voz um pouco rouca do outro
lado e, apesar do comentário, não sinto o humor das outras conversas em
seu tom.
“Claro que eu estou vivo.” Vejo Anna descendo as escadas e, com um
leve cumprimento de cabeça, aproveito minha brecha para voltar ao meu
quarto, fechando e trancando a porta atrás de mim.
“Você me mandou quase sessenta mensagens, Josh. A maioria delas
em códigos.” Abro a cortina e a janela. Esse quarto precisa ser arejado
urgentemente.
“Eu achei que tivéssemos algo em especial e que entenderia.” Faço
uma careta sozinho no quarto.
Que coisa mais idiota de se dizer, ela deve ter alguns anos a mais que
você. Não é uma menina de colegial com quem você flerta idiotamente,
caramba Josh.
Minha cabeça faz sempre todo o caminho para me deixar
envergonhado. Entretanto, a risada de Chelsea do outro lado quase
compensa meu rosto quente. A risada dela é gostosa, do tipo que consigo
imagina-la virando a cabeça para trás enquanto ri de mim.
“Ok, o que te fez pensar isso?”
“Acha que eu abro meu coração sobre meus projetos estranhos para
todo mundo? Foi exclusividade para você.” Digo apoiando o celular entre o
ombro e a orelha para começar a dar um jeito no meu quarto.
“Que fofo! Seria melhor se eu conseguisse realmente captar todo esse
seu coração, porque me sinto totalmente sem sentido escrevendo nosso
projeto.” Ela está frustrada. “Não que seja ruim. Na verdade, quanto mais
penso, mais faz sentido, só não consigo passar isso para o papel.” Problemas
acadêmicos comuns entre todos nós, meros mortais, Chelsea Capri.
“Mudando de assunto, porque eu vou me virar nesse, eu não sabia que
minha presença era importante tanto assim.”
“Não é para tanto…”
“Você disse três vezes que estava chateado que eu não tinha ido, que
me considerava uma das suas amigas em Nova York e que isso incluía uma
pequena lista. O que te fez parecer um pouco triste. Ah, e você soletrou
chateado errado as três vezes, completamente bêbado, provavelmente.”
Agora lembro o porquê de eu ter evitado ler o que eu mandei ontem à noite,
apesar de Chelsea ter deixado bem claro nesse momento em palavras.
“Não é triste assim.” Comento enquanto jogo embalagens vazias de
copos e preservativos no lixo da escrivaninha. “Eu cheguei aqui faz uma
semana, não é como se eu tivesse tido muito tempo.”
“Se não é triste, por que está dando desculpas para isso?” Ela está
certa, mas agradeço ao fato de não esperar resposta para seguir falando. “Eu
tinha compromisso com meu pai, mas espero que tenha aproveitado.” Ela
não soa arrependida ou como se tivesse me dando explicações.
“Foi legal.”
“Vamos lá, Josh. Foi sua primeira festa universitária em sua pequena
república. Seus filhos vão esperar algo além de um foi legal.” Solto um riso
me deitando na cama desfeita.
“Não vou dar detalhes, você nem estava interessada em vir, de
qualquer forma.” Eu sei que devo ter parecido totalmente com um menino de
dezesseis anos agora, mas não me importo muito. Só sinto por não ter surtido
o efeito desejado, já que Chelsea somente diz:
“Eu disse, estava ocupada.”
Eu esperava uma mínima risada.
Um pequeno silêncio se acomoda e eu fecho meus olhos enquanto
escuto a respiração dela do outro lado da linha. Não estou chateado com o
fato de ela não ter vindo, apesar de ser uma das poucas pessoas com as
quais me relacionei desde que cheguei em Nova York. Ou a única além dos
meus colegas de trabalho e os meninos, que são meus amigos de infância.
Eu esperava que ela viesse, isso é fato. Mas ela deve ter uma vida
bem mais animada e empolgante do que comparecer a celebrações de
aniversário/festas em casas de meninos com muitas pessoas desconhecidas.
E ela se importou o suficiente para mandar uma mensagem, ainda que fosse
somente um Feliz aniversário com um emoji de confetes.
“Chelsea?”
“Sim.”
“Venha ao café onde eu trabalho segunda à tarde e eu posso te ajudar
com minhas ideias que não fazem sentido no papel.” Meus olhos ainda estão
fechados e sinto um pouco das poucas horas dormidas fazendo efeito.
“Nós temos aula.”
“A mãe do Collins teve uma crise ontem à noite e foi internada. Ele
deve estar indo para San Diego, ninguém faz uma viagem de sete horas de
avião para passar um dia. Minha mãe me contou ontem.” A mãe de Dexter já
é uma mulher de idade muito avançada e com alguns problemas no coração
e pulmões, apesar de ser uma senhora simpática sempre que conseguia sair
de casa.
Espero alguma fala engraçada ou algo do tipo, mas Chelsea só fala:
“Tudo bem.” Antes de mais um curto silêncio se seguir. “Josh?”
“Sim.”
“Hm… Eu preciso ir. Vá curar sua ressaca. Até segunda.”
“Ok, até segunda.” Ela não espera muito além disso antes de desligar
o celular. Deixo o aparelho cair no travesseiro e viro para o lado, minhas
pálpebras pesando muitos quilos e um sono profundo me atingindo com
força.
 
 
Acordo mais tarde, o sol já começou a se pôr do lado de fora e apesar
da janela bem ventilada, o quarto está quente. Fecho as janelas e ligo o ar
condicionado do quarto antes de sair para mais um banho gelado, querendo
tirar o suor do meu corpo.
Quando faço minha aparição no andar de baixo, tudo parece em
ordem mais uma vez. Ethan e Nick se empurram no sofá durante uma partida
de um jogo que não estou familiarizado e Scott está com o telefone na mão.
“Crawford, pizza?” Ele pergunta me apontando o próprio telefone.
"Pepperoni." Digo e recebo um aceno de cabeça antes de ir para a
cozinha para pegar com bom copo de água e alguma aspirina.
Assim como os outros caras, visto somente um short de moletom
cinza. O andar de baixo está com o ar ligado e a sala quase congela, mas a
sensação é ótima. Me jogo na poltrona solitária e pego meu celular para
trocar algumas informações básicas do meu dia com meus pais, que
decidiram começar aula de dança de salão.
“Você se divertiu ontem, não é mesmo?” Ethan zomba, me
direcionando suas palavras.
“Nem começa.” Dou-lhe um olhar antes de digitar uma resposta rápida
e travar meu celular.
“Não se preocupe, não compartilhamos informações sórdidas por aqui,
e duvido que você seja o primeiro a querer começar essa tradição.” Ethan
sempre é quem faz mais a parte da falação.
Ele é meu melhor amigo mais antigo, o quarterback perfeito para o
running back que eu era. Sempre juntos, nos chamavam de inseparáveis e
basicamente éramos. Ou somos. Nossas mães amigas, por isso crescemos
juntos. Scott se juntou a nós quando veio para San Diego no fim do ensino
fundamental e Nick foi transferido de outra escola quando já estávamos no
ensino médio. Nick faz parte do time defensivo, um cara quieto, mas bem-
apessoado. Os pais têm dinheiro pra caramba, porém ele nunca se impôs em
ninguém por isso. Ele e Ethan ainda jogam no time da faculdade, vieram
direto depois de se formarem quando conseguiram impressionar um bom
olheiro da NYU.
Scott chegou quase um ano depois, veio por causa de uma
oportunidade de ganhar mais trabalhando, conseguiu vaga no curso que
queria e começou a faculdade em janeiro. Scott fazia parte do time ofensivo,
meu parceiro nas linhas de frente, sempre fomos imbatíveis. É o mais durão
no nosso meio, mesmo que isso pouco intimidasse a mim ou qualquer um
dos meninos.
Parecíamos sempre os mesmos de seis anos atrás, sentados na
minha garagem ou no sótão do Ethan, nos nossos melhores momentos na
casa da piscina de Nick. Scott tem a pele coberta de tatuagens. Braços,
costas e parte do peito. Às vezes elas não fazem sentido, às vezes elas
fazem.
“Acho que sem começar tradições por mim hoje.” Reviro os olhos,
rindo para eles.
“Bom, porque se não Scott poderia começar a compartilhar as histórias
que ele tem com sua amiga.” Ethan fala com tranquilidade enquanto ele e
Nick seguem jogando. O que mostra que ele não falou na maldade apesar de
receber um olhar muito feio de Scott, coisa ele nem mesmo nota.
“O que quer dizer?” Me vejo perguntando apesar de não querer bem
saber a resposta.
“Não compartilhamos histórias, cara.”
“Ah, claro Ethan, você jogou lenha na fogueira e não quer que eu me
explique para o Josh.” Scott diz carregado de sarcasmo quando se joga no
sofá do outro lado da sala.
Ele parece irritado, ainda que normalmente qualquer pessoa possa
dizer que Scott está irritado, sei que esse não é seu humor normal.
“Não, tá tudo bem. Só fiquei curioso mesmo.” Tento parecer normal e
indiferente, dando de ombros. Mas Scott solta um bufo audível da onde está
sentado e cruza os braços.
“Nós ficamos duas vezes. Mas Chelsea não é das que fica nesse tipo
de assunto. Eu sabia. Isso foi há um tempo, logo que eu cheguei aqui.” Isso
seria menos de um ano atrás. “Conhecendo Chels, e a reputação dela
precede, ela nem deve lembrar.” Dou um breve aceno de cabeça.
Não estou interessado em Chelsea de qualquer forma, ou estou? Não,
essa é a resposta segura para a pergunta. Não estou, somos parceiros. Ela é
bonita, mais do que isso, totalmente segura de si e fala algumas
obscenidades vez ou outra como quem fala sobre o clima. Mas nem somos
compatíveis.
“Quer um relatório total?” Ele pergunta coçando a nuca.
“Claro que sim. Metade da cerveja que esse cara bebeu ontem foram
dedicadas a Chelsea Capri e o fato de sua bunda não ter vindo.” Nick diz e
prefiro não me envergonhar ainda mais tentando desmentir aquilo.
“Ok, vamos lá. Capri é do tipo garota rica e selvagem, ela adora uma
boa festa e é fácil achar ela em uma, com ou sem os amigos riquinhos. O pai
dela é dono de muita coisa, a garota é meio que protegida pelo mundo num
contexto geral. Não que as pessoas sejam gentis com ela pelas costas. Ela
sempre, ou na grande maioria das vezes, acaba a noite levando alguém pra
casa, não exatamente pra casa. Nas vezes que ficamos, ela me levou para a
cobertura da melhor amiga dela, porque acabar sem querer conhecendo
Cyrus Capri está fora dos limites de uma ficada qualquer.” Minhas pesquisas
recentes apontam que o homem citado é o pai de Chelsea. “Ela… quer
mesmo saber tudo?” Ele pergunta olhando para mim. “Que se foda.
Continuando, ela é quase incansável na cama, o melhor sexo que eu já tive
na vida, se quiser saber, e eu tive alguns ao longo dos anos. Tem um ótimo
apetite sexual. Mas ela não namora, nunca. Nem fica sério. Nunca vi uma
pessoa falar que conseguiu segurar ela por mais que quatro ficadas. Ela
simplesmente não está interessada no assunto e todos sabem disso.” Ele dá
de ombros e agradeço imensamente pela campainha tocar nesse exato
momento, anunciando que as pizzas chegaram.
No resto da noite, o assunto é esquecido e eu não acho isso ruim.
Comemos falando sobre algumas proezas da festa de ontem e
passamos a véspera do quatro de julho sem comoção nenhuma, apesar de
combinarmos fazer um churrasco no dia seguinte no quintal. Eu começo a me
sentir em casa, o que Nova York vai ser pelos próximos anos e quando o pior
assunto acaba virando tópico, e isso nem chega perto de ser Chelsea, Ethan
logo desvia, o que me alivia. A última coisa que preciso é lembrar o motivo
que deixei San Diego.
 
 
 
 
 

 
TENTO DIZER A MIM MESMA PARA DEIXAR DE ser tão carente.
O final de semana foi ruim, sempre é. Papai e eu tomamos mais vinho
do que normalmente e ficamos em silêncio na mesa do jantar. Pude ouvir o
choro dele do outro lado da porta trancada do escritório e chorei sozinha no
quarto. Presos nas nossas tristezas e inseguranças do passado. Como se
sempre houvessem fantasmas para nos atormentar. Daphne e Beck fizeram
uma chamada de vídeo mais tarde naquela noite e me entreterem com coisas
triviais.
Nunca poderia ter amigas melhores.
É sempre um péssimo dia para eu lembrar que tenho sentimentos.
Mas talvez tenha sido por esse motivo, estar sentimental demais, que
concordei com a sugestão de Josh no sábado. Ou talvez foi pelas sessenta
mensagens engraçadas e bêbadas, e a ligação sem uma desculpa de fato,
que me fez rir, ainda que eu ache que o álcool estivesse no seu sistema dado
a forma solta como conversamos.
Independentemente do que seja, ele estava certo, porque mais cedo
recebemos um e-mail sobre o cancelamento dessa tarde e agora acabei de
ser deixada em frente a cafeteria que ele trabalha.
Na verdade, é algo meio cafeteria meio bar, tanto faz.
Desço as escadas que levam a entrada do lugar. Não é nada atípico
para um mundo universitário, ambiente escuro com janelas na altura da
cabeça, apesar de serem poucas. Alguns quadros decorativos típicos de um
lugar assim, mesas com bancos estofados, luminárias amarelas pendendo do
teto, deixando o lugar com um quê de conforto.
Meus olhos acham Josh sem muita dificuldade. Atrás do balcão. Calça
jeans, camiseta branca e um avental preto com o nome do lugar. Mãos
hábeis preparando alguma bebida e braços flexionados pelos movimentos.
Ele sorri de algo que seu colega lhe conta, e com um sorriso bonito e essa
cara de bom moço, consigo contar quatro meninas no ambiente que lhe dão
mais olhares do que normalmente se dá a um atendente.
Óbvio que ele está totalmente alheio a essa atenção.
Infelizmente, me vejo sorrindo sozinha com esses atos ingênuos do
garoto. Não seja esse tipo de estúpida, Chelsea. Você não tem uma bolsa
Chanel que combine com esse comportamento bobo.
Escolho uma mesa mais no canto, ainda que não seja do tipo que fuja
da vista de ninguém. Me esconder nunca esteve no meu cardápio. Até
porque eu estou usando um macacão pantacourt de linho, bem acinturado e
com as costas inteiras expostas, pele demais sempre traz mais de um olhar,
além das pessoas saberem quem eu era e se perguntassem o que eu estava
fazendo ali.
Eu também quero saber.
Arrasto meus pés calçados com um mule de couro preto até a mesa,
descansando a pasta que tenho em mãos e minha bolsa em cima da mesa.
Tiro meu IPad com o teclado e arrumo na mesa. Espalho alguns dos
papéis dos quais eu preciso lidar ainda hoje e não sei quantos minutos se
passam até que um frappuccino e um prato com dois muffins são colocados
na minha frente.
“Isso não parece muito com nosso projeto.” Josh está de pé ao meu
lado, franzindo o nariz enquanto olha para os papéis.
“Estou encarregada de uma noite beneficente que vai ser oferecida no
Magni no fim do mês.” Pego um dos bolinhos e dou uma mordida. Um gemido
me escapa porque estou faminta.
“Você almoçou?”
“Não exatamente.” Respondo com sinceridade, já que comi uma
barrinha de cereal há duas horas, que seria o horário de almoço. “Estava um
pouco ocupada fazendo algumas visitas para fazer isso acontecer.” Aponto
para os papéis.
“Magni?”
“O principal hotel do meu pai.” Pelo jeito, ele não fez suas pesquisas
tão bem assim. “Mas eu trabalhei no nosso projeto. Temos quinze linhas até o
momento.” Digo como se fosse grande coisa e ele ri.
“Ok, vou pedir algum almoço para você e já te ajudo nessa parte.”
Antes que eu possa falar qualquer preferência, ele dá as costas e volta para
trás do balcão.
Devoro meus dois muffins enquanto termino de selecionar as toalhas
de mesa, jogo de talheres, copos, taças e pratos, além de montar a paleta de
cores para o evento antes de tudo.
Quando estou no fim do meu frappuccino, Josh volta com um prato de
frango grelhado, purê de batata inglesa, aspargos e algumas folhas de
salada.
“Você não é vegetariana, né?” Ele pergunta, enquanto abro espaço
para meu prato. Cheira tão bem que eu quase salivo para começar a comer.
“Não. Amante de comida japonesa e frutos do mar aqui.” Talvez fosse
esperado que eu dissesse hambúrguer e costelas, mas honestidade é tudo.
Ele deixa o prato na minha frente e me entrega os talheres.
“Suco ou coca?”
“Suco.” Respondo cortando o frango. Ele sai e volta em um segundo,
com uma garrafa de suco de laranja.
Josh me pede para olhar o trabalho quando se senta na minha frente e
eu abro no Ipad para ele, entregando-lhe com o teclado. Enquanto eu como,
Josh digita e apaga várias vezes, me pergunta sobre algumas partes e eu
respondo com acenos de cabeça. Não me importo em não parecer totalmente
uma dama recatada e delicada enquanto como, porque isso é baboseira.
Adoro comer.
Finalizo meu almoço, deixando um pouco de comida no prato que
deve ser resultado dos dois muffins comidos antes. Ele retira o prato e eu me
volto para ver o que foi mudado no nosso trabalho.
“Eu fiz algumas alterações no que escreveu e adicionei várias coisas,
deixei aberto algumas referências para te ajudar. Minha pausa acabou, mas
eu saio daqui a duas horas.” Ele diz olhando no relógio de pulso. “Isso se não
tiver mais nada para fazer, claro. Pode me chamar ou me esperar para
terminar, se quiser.” Às vezes é fofo a forma como ele se importa tanto, às
vezes é irritante. Ando ficando mais com a definição fofa hoje.
“Tudo bem, acho que posso seguir daqui.” Ele deixou tudo mastigado
para mim, não vai ser complicado terminar. “Mas eu posso esperar, assim
fechamos o projeto juntos. Preciso lidar com alguns fornecedores de qualquer
forma.” Não pareça carente, Chelsea.
Mas ele sorri e me dá um aceno de cabeça antes de voltar ao trabalho.
Josh provavelmente é mais solitário, porque eu sei que não sou uma boa
companhia, apesar das minhas amigas me amarem.
 
 
Não demorei muito para fechar o nosso projeto, com a facilidade que
Josh deixou as coisas, logo eu estava de volta a ligações intermináveis e
selecionando os artigos para decorar o espaço. Mandei algumas fotos para o
meu pai e recebi alguns elogios, outras coisas ele simplesmente disse que
confiava em mim para fazer o melhor trabalho.
“Vocês não têm tipo mil funcionários que adorariam o trabalho?” Josh
pergunta quando chega novamente na mesa, sem o avental. Olho para o
relógio e percebo que já são quase seis horas da tarde.
“Sim, mas essa é a minha forma de me envolver. E do meu pai dizer
que ele está bem comigo não fazendo nada para estar próxima da
administração dos negócios.” Dou de ombros. “Eu monto alguns eventos, vou
a eles e converso o suficiente com as pessoas certas. Continuam me vendo
como a herdeira de tudo. Me envolvo socialmente com vários eventos,
inclusive fazendo-os. As pessoas se sentem especiais quando são
convidadas para um evento que foi planejado por um dos donos do lugar. Ou
quando digo que irei me envolver na organização dos eventos deles. E com
isso quero dizer que doam mais, deixam mais dinheiro nas sociedades. Ficam
mais mão aberta.”
“Interessante.” Ele diz sentado na minha frente e coloca dois
milkshakes na mesa. “Morango ou baunilha?”
“Baunilha, óbvio.” Pego o meu milkshake escolhido.
“Graças, estava morrendo de medo que você escolhesse o de
morango.” Ele sorri com a própria brincadeira, pegando o copo rosa e
bebendo um bom gole pelo canudo. “Então, você é todo o pacote de
socialite?”
“O que seria isso?”
“Rica, loira, bonita, festeira, eventos sociais, causas beneficentes,
casas em Hamptons, pais problemáticos. Coisas que a gente vê em filmes.”
Embora fosse uma clara crítica, ele sorria como se estivesse debochando da
sua própria fala.
“Esqueceu as sacolas de marca. Mas vamos lá, rica, loira, bonita sim,
e obrigada pelo elogio, ainda que seja óbvio. Festeira, sociais e eventos
beneficentes sim também. Uma casa no Hamptons só e não, somos só eu e
meu pai, e nós nos damos muito bem.” Respondo listando nos dedos os
tópicos. “E você? Como poderia definir?” Finjo pensar sobre o assunto
enquanto começo a guardar minhas coisas. “Classe média, jogador de futebol
americano, pais são o típico casal fofo de filmes pelo seu comportamento,
vida tranquila, amigos de infância, teria chutado que faria algo dentro da
música, mas já sei que não. Se não ficasse vermelho por causa de qualquer
coisa, eu diria que foi popular no ensino médio. Calouro, apesar de ter vinte e
um anos e não dezoito, o que me diz que existe algo aí talvez, ou talvez não.”
Afinal, eu tinha entrado de forma bem tardia também. Ele parece um pouco
impressionado até, o que acaricia meu ego.
“Acertou várias coisas. Ex-jogador, machuquei meu tornozelo e meu
ombro no ano passado e isso me tirou qualquer chance de tentar outra
oportunidade de bolsa. Meus pais são ok, minha vida também. Nick, Scott e
Ethan são meus amigos de infância e eu fui popular no ensino médio. Difícil
se ter um grupo de amigos, e todos fazerem partes do principal time da
escola, e não ser pelo menos um pouco popular.” Ele dá de ombros como se
não pudesse fazer nada sobre aquele fato.
“Ok, então vamos lá. Namorava uma líder de torcida, do tipo casal
mega fofo? Faz parte do combo jogador.” Provoco ele, mas seu sorriso se
transformou em uma carranca. Eu estava certa. “Acertei na mosca.” Minha
voz sai um pouco baixa. Não fico triste, talvez só um pouco ressentida por ter
acertado.
Pela primeira vez em que podia me lembrar, me senti mal por colocar o
dedo na ferida de alguém. Termino de guardar minhas coisas na minha
mochila pequena de couro.
“É, acertou.” Ele fala simplesmente enquanto nos levantamos.
Josh recolhe os copos vazios de milkshake e os joga no lixo. Deu
“tchau” aos seus colegas de trabalho enquanto caminhamos até a porta.
“Eu não paguei.” Lembro-o, e ele só balança a cabeça em negação,
pegando minha bolsa e a colocando em seu ombro. Acabo achando graça da
visão que fica, mas não recuso o cavalheirismo dele.
“Eu paguei.” Josh responde enquanto segura a porta aberta para mim.
“Sério mesmo? Pacote jogador e cavalheiro completo? Precisa
escolher um.” Zombo dele.
“Acho que fico com o de cavalheiro, já que estou atualmente com zero
atribuições do pacote jogador.”
“Eu não diria isso.” Brinco levando a mão ao braço malhado dele e
arrancando a reação que esperava, um olhar confuso e maçãs do rosto
coradas. “Ok, vou começar a me controlar antes que você inclua tarada
maluca no meu pacote socialite.”
“Tudo bem, quer dizer, é só porque você faz essas coisas com tanta
naturalidade. É um pouco… demais. Mas não sinto que esteja invadindo o
meu espaço pessoal.” Ele parece sempre falar de forma tão cética sobre os
assuntos, como se preferisse deixar as coisas claras.
“A namorada líder de torcida não fazia bom proveito desse corpinho?
Pena para ela.” E para mim, pelo visto. Mas vamos deixar essa última parte
salva para alterações ainda.
Josh faz uma careta, o que me diz que talvez eu deva parar de falar
sobre a menina, mas não me contenho. Eu nunca tive muitos limites ou
consegui fechar a boca quando necessário. Estou curiosa para saber o que
mais ele esconder.
Além disso, estamos andando para não sei exatamente onde. Poderia
parecer suspeito e perigoso, mas acho que minha curiosidade sobre ele está
gritando mais alto e depois de virarmos uma esquina percebo que não
estamos muito longe da sua casa.
E eu também estou a um botão de distância de um motorista/guarda-
costas.
“Chelsea Capri come comida gordurosa?” Josh quebra o nosso
pequeno silêncio com sua pergunta.
“Só se me deixar pagar dessa vez.”
“E o pacote cavalheiro?” Ele me fita com a sobrancelha arqueada.
“Acho que podemos excluir essa parte. Você trabalha, eu não. Posso
ser a sugar mommy aqui sem muito esforço.” Ele sorri e isso vira reação em
cadeia, me fazendo sorrir também.
Passamos mais um bom tempo em silêncio e a companhia de Josh se
mostrou boa, apesar de não falar muito, o que definitivamente contrastava
com a minha natureza tagarela. Eu quase conseguia ver sua cabeça
funcionando enquanto ficamos poucos minutos esperando nosso pedido ficar
pronto numa lanchonete no caminho. Ele pode não falar muito, mas sinto que
tem vontade.
"Sugar mommy, hm?” Seu tom saí baixo, talvez pela recente falta de
uso.
“Sim.” Me arrasto com as palavras enquanto voltamos a andar na
calçada, seguindo a direção para a casa dele. “Essa é a sua forma de me
perguntar quantos anos eu tenho?” Dou risada enquanto pesco uma batata
frita de dentro do saco de papel pardo.
“Muito ruim? Estou tentando treinar minhas habilidades sociais na
cidade grande.” Ele aponta para o saco com o braço em que carrega os
copos e eu lhe dou uma batata também.
“Você morava em San Diego, não é uma cidade pequena.”
“Mas eu já tinha todo o meu grupo de amigos formado.” Isso é
verdade.
“Acho que está indo bem, me chamou logo de cara. Fez seu alvo e foi
até ele.” Pesco mais algumas batatas do saco, eventualmente colocando uma
ou outra na mira da boca dele.
Hoje me senti o mais normal do que um dia pude pensar em me sentir.
Mundana. Não uma garota rica. Comendo comida gordurosa e dividindo com
um cara, um amigo talvez, no caminho a pé até sua casa. Eu tenho amigos,
óbvio. Matteo e eu sempre fomos muito próximos por causa da idade,
acabamos amigos, antes mesmo de eu me juntar a Rebecca.
Além das minhas duas melhores amigas. Mas nós ainda éramos
sempre crianças ricas fazendo programas acima do orçamento para qualquer
outra pessoa.
“Não me bata, mas você parecia a única pessoa sem ninguém naquela
turma. Sozinha e tudo mais.” Ele responde depois de um tempo. “Foi o alvo
mais… certeiro que eu pude tentar fazer.”
“Não tem porque cometer nenhuma agressão. É apenas a verdade.
Pode dizer que eu era o alvo mais fácil, não vou ficar ofendida.” Andamos
mais um pouco em silêncio e estou aprendendo a me habituar com ele.
“Ainda não me disse sua idade.” Josh insiste, sorrindo de forma
travessa e eu reviro os olhos.
“Vinte e cinco. Vinte e seis em menos de cinco meses.” Respondo
quando chegamos à frente da porta dele.
Não tinha pensado muito sobre o fato de vir aqui de novo, nunca gostei
da frequência de estar com alguém. Mas também foi um ato impensado.
Éramos mesmo amigos? Porque se não fosse só isso ou colegas de projeto,
já podia me sentir sufocada pela possível relação.
Mesmo que Josh me faça bem com seu pouco jeito social e sua
inexperiência, não consigo evitar o pensamento e esse sentimento
claustrofóbico a respeito de me envolver com alguém além do platônico.
E nem mesmo nisso sou boa.
Ele abre a porta e me dá uma sobrancelha arqueada, porque espera
que eu entre. Sei que tenho uma testa franzida, um pouco presa nos meus
pensamentos de antes, mas seu olhar convidativo faz com que dê meus
passos para dentro da casa. Tento afastar todo o sentimento sufocante que
cogita se alojar em meu peito.
“Relaxa, sugar mommy, a casa não morde. A não ser que você peça
ou peça com jeitinho.” Ele sussurra para mim enquanto eu entro, antes de
fechar a porta atrás de si.
Josh se controla muito para segurar uma risada explosiva, mas eu não
sou tão boa como ele e minha gargalhada acaba chamando atenção das
pessoas na sala. Levo a mão à boca, tentando suprimir meu volume, o que é
inútil agora. Olho para Josh com certa advertência, ele está vermelho como
tomate, provavelmente por ter ousado me provocar assim. Ou pela risada
suprimida.
“Engraçado, porque eu costumo pedir.” Retruco em voz baixa
levantando uma sobrancelha, só para ver o rubor crescer ainda mais e
retribuir sua provocação. Ele se arrepende de tentar me zombar, mesmo que
tenha um brilho no olhar ainda. “Apesar de ter ideias melhores, e bocas mais
interessantes, do que um imóvel para fazer tal pedido.” Pisco para ele antes
de encarar o pequeno público da sala.
Caminhamos, porque seria necessário passar por ali antes de
subirmos de qualquer forma. Ethan e Scott acenam da sala, assim como
outro rapaz que parece em casa e julgo ser o terceiro companheiro de
moradia. Ele tem cabelos castanho-avermelhados e olhos castanhos, como
os de Josh, além de uma barba bem preenchida.
“Você conheceu Scott e Ethan…” Fala apontando para os amigos,
parando ao meu lado. “Nick.” Josh continua, confirmando minhas suspeitas.
“Lucy e Carol.” Ele indica as duas meninas sentadas no sofá
confortavelmente.
Eu aceno para elas com um sorriso e ganho um de volta, apesar de
também receber algumas perguntas em seus olhares. As apresentações
acabaram ali, e eu não achei ruim.
“Você não é tão velha.” Josh volta ao assunto anterior enquanto
subimos as escadas.
“Não, só tecnicamente passada para todas as atividades que cumpro
atualmente. Ou pelo menos, se pensarmos sobre o que é aceito socialmente
como a idade certa para as coisas.” Comento de volta. Ele me olha por cima
do ombro com questionamento. “Minhas três outras amigas…” Não que eu
considere Angel de fato amiga ainda, porém posso a incluir nas estatísticas.
“Uma está bem formada, com um namorado e morando junto com ele
enquanto dirige uma das companhias do pai dela em Atlanta. Outra com o
diploma de direito da Harvard e um emprego dos sonhos em um escritório de
advocacia em Boston, e a última está quase casada, caso ainda esteja noiva,
tem a vida feita no direito.” Sim, Angel e Oliver resolveram se refazer, e eu
sinto um pouco mal pela minha antiga amiga. Ainda mais pelas idas e vindas
tóxicas do relacionamento deles. “Elas são todas mais novas que eu.”
“Quem liga? Não existe um papo motivacional sobre cada um ter seu
tempo e coisa assim? Tipo, o socialmente bem aceito não é exatamente o
melhor tempo para as coisas.” Entramos no seu quarto e ele fecha a porta
dessa vez.
“Honestamente, eu não ligo. Mas gostaria de pelo menos ter minha
vida encaminhada na minha mente.” Acho que essa é a primeira vez que
admito isso em voz alta. E foi para alguém que mal conheço.
Talvez, esse seja o exato motivo. Josh não conhece meu mundo a
fundo, nem as pessoas à minha volta. Ele é novo e, infelizmente, na minha
mente ainda faz parte do nicho descartável, embora esteja se tornado cada
vez menos no dia de hoje. Mesmo assim, ainda é alguém que provavelmente
não vai ficar, não que seja algo bom sair contando suas inseguranças para
desconhecidos, mas parece mais fácil.
Ele arruma uma toalha de banho em cima da cama antes de
começarmos a tirar as embalagens de comida de dentro. Óbvio que ele não
iria deixar os lençóis engordurados, é muito certinho.
“Eu tinha minha vida planejada e isso foi uma droga porque grande
parte deu errado então…” Ele deixa a frase morrer e dá de ombros enquanto
me convida silenciosamente para me juntar a ele na cama. “Onde estão suas
amigas tão bem sucedidas? Quer dizer, você já disse onde elas estão, porém
acho que a pergunta seria o porquê você está aqui em Nova York. Fazendo
um curso de verão, ainda por cima.”
“Preciso me formar, simples assim.” Respondo pegando meu
sanduíche e abrindo o papel oleoso. “Meu pai tolera bem que eu não tenha
feito um curso clássico para assumir os negócios e que eu não tenha
interesse em tocar isso por conta própria. Ele ama minha música e todo o
resto das coisas que eu faço, me apoia nisso, mas acho que estou entrando
em um prazo de validade.” Dou uma generosa mordida e mastigo antes de
prosseguir. “Posso terminar a faculdade e acabar sendo um pouco mais útil
para ele. Produzindo mais eventos como o que estou fazendo agora, por
exemplo. Cuidando de algumas partes pomposas. Além disso, também estou
enrolando demais para pegar um diploma.”
Josh já comeu quase metade do seu lanche em duas mordidas e ele
limpa a boca com guardanapo antes de engolir e dizer:
“Pessoas são únicas, não são? Acho que você seguiu o caminho que
quis, mas ainda se sente… insegura sobre isso, como se não confiasse
totalmente nos seus desejos. Se julga por não escolher algo dentro do padrão
das suas amigas. Pelo visto seu pai não parece se importar tanto, você quem
faz isso sozinha.” Ele diz como se fosse a coisa mais simples de se ler do
mundo. “Quer dizer, entendo que ele possa estar querendo que termine a
faculdade, mas o que você pensou para esse depois? Não quer mesmo
trabalhar na área? Não gosta de música a esse ponto?” Sei que as
indagações são para que eu faça a mim mesma, mas acabo respondendo.
“Eu gosto, mas nunca pensei sobre.” Largo meu sanduíche pela
metade e bebo alguns goles da Coca-Cola não tão gelada. Deixo o copo de
lado e acabo fazendo algo ansioso que odeio: morder o lábio. “Acho que
nunca precisei pensar sobre isso. O que me faz parecer mais fútil ainda. Mas
é que… eu queria algo fora da linha porque queria algo que gostava. Agora
eu tenho quase vinte e seis anos, tenho um quase diploma em algo que eu
amo, mas não tenho ideia do que fazer com isso. Fiz vinte anos de balé, mas
desisti da academia de dança e depois houve meu acidente como se fosse
algum sinal. E, honestamente, se não fosse pela insistência do meu pai, e eu
sei que devo isso a ele, teria desistido do curso musical também.” Digo em
um grande lamento, me sentindo uma menininha mimada de dezessete anos
prestes a precisar encarar a vida universitária.
Acho que estou precisando é encarar a minha vida adulta com mais
seriedade.
Pesco algumas batatas-fritas, mas não tenho mais fome.
“Eu não consigo dar um fim a nada que eu começo. Nunca vou até o
fim de qualquer forma.” Engulo a bola que se forma em minha garganta
porque não existe chance alguma para que eu resolva chorar agora. Meu
final de semana difícil não pode se tornar uma semana difícil.
“Você toca o quê?” Ele pergunta e quase me sinto ofendida pela troca
repentina de assunto.
“Piano, violino e violão.”
“São vários instrumentos. Compõem também?”
“Sim, tenho algumas melodias autorais e outras que peguei
emprestado, e modifiquei só pela graça.” Não que eu fosse toca-las em algum
lugar de qualquer forma, pouco importava.
“E dançava?”
“Às vezes ainda tento alguns movimentos para não perder totalmente a
forma de bailarina. Não mais em alguma academia.”
“E planeja os eventos para o seu pai? Os beneficentes.” Entendo onde
ele quer chegar e solto um riso pelo nariz, segurando os cantos dos lábios
que querem sorrir largamente.
“Ok, eu entendi. Eu faço algumas coisas até o fim.”
“A única coisa que faz de errado é colocar as expectativas dos outros
em você.” Josh levanta os ombros.
“Você é tipo aquelas pessoas que fazem aquelas palestras
motivacionais? Meu pai contratou você?” Debocho antes de pegar mais
algumas batatas.
“Não, até porque descobri quem era seu pai esses dias. E, vai comer
esse lanche ou não?”
“Acho que não, satisfeita com essas batatas meio murchas.” Seguro
uma das batatas palito que cai para baixo entre meus dedos, mostrando meu
ponto sobre estarem murchas. Coloco na boca antes de pegar o sanduíche e
lhe oferecer. “Pode comer, baby boy.”
Ficamos em silêncio enquanto findamos a comida na cama e vejo a
hora no relógio digital da escrivaninha dele. São nove já e eu mal percebi o
tempo enquanto dividimos vagarosamente as batatas.
“Acho melhor eu ir.” Digo depois de voltar do banheiro, também bem
limpo como o resto da casa. Josh está arrumando nossa pequena bagunça.
“Tudo bem.”
“Obrigada por hoje, sabe… pela conversa motivacional que eu deveria
estar te dando e não ao contrário.” Falando isso parada no meio do quarto
dele me sinto um pouco patética e jovial, mas acho que Josh tem esse efeito
de me deixar sempre parecendo uma menina ao seu redor. Ainda não posso
classificar se é algo bom ou ruim. “E pela ajuda no trabalho, o almoço e por
me mostrar um dos lanches mais trash food que já comi em Nova York.” Não
que eu comesse muito, minha comida gordurosa se resumia a hambúrgueres
artesanais de lugares chiques. Tenho um gosto refinado.
“Sempre que precisar.” Ele me dá um daqueles sorrisos que teria me
feito derreter alguns anos atrás apesar de causar bem menos impacto hoje
em dia.
Quer dizer, espero que esteja me causando bem menos impacto.
Percebo que acabamos parados olhando um para o outro sem muito
motivo e me dirijo até a cadeira da escrivaninha, pegando minha mochila que
Josh deixou ali. Peço um carro pelo aplicativo, afinal, não faria muito sentido
esperar trinta minutos ou mais para que meu motorista viesse de casa até
aqui.
“É… se quiser testar suas habilidades sociais…” Começo apesar de
ainda não estar certa do convite. “Sei que você trabalha, mas estava
pensando que talvez pudesse trocar seus turnos com alguma pessoa, não sei
bem como essas coisas funcionam e...” Eu estou mesmo falando essas
coisas? O que raios eu estou falando, na verdade? “Ir comigo para uma festa
no Hamptons. É verão e a maioria das pessoas está lá. Tem uma festa na
quarta à noite, comemoração do quatro de julho sem tanta pompa de um
evento social formal.”
Afinal, as festas chiques ficavam reservadas para o dia quatro, porém
eram totalmente monótonas e chatas. Muito sociais e feitas para negócios.
Essa seria como todas as outras, mas haveria mais diversão que o normal.
Ou era o que eu esperava.
“Podemos ir na quarta depois do almoço e voltarmos quinta à tarde ou
na sexta de manhã. Quer dizer, eu tenho uma casa lá, se pudesse
passaríamos o final de semana tomando o delicioso sol do Hamptons, mas
acho que não pode ficar tantos dias.” É uma suposição. Além disso, poderia
ser um pouco demais passar quatro dias ao lado de um menino que eu não
conheço tão bem.
Mas fiz o convite em um momento impulsivo. Porque me sinto bem na
companhia dele e pareceu certo fazer o convite, pareceu uma boa ideia meio
minuto atrás. Hamptons sempre é algo que as pessoas fantasiavam de
qualquer forma, não? Seria como um programa turístico.
“Tudo bem, vou ver se consigo trocar alguns turnos com alguém, mas
precisamos voltar até sexta porque todos querem se livrar dos turnos do final
de semana.” Dou um aceno de cabeça e meu celular vibra na minha mão.
Uma mensagem que o motorista está lá embaixo.
“Ok. Me avise.” Digo chegando na porta do quarto. “E eu posso descer
sozinha, desapegue um pouco do pacote cavalheiro.” Brinco com ele.
“Difícil, mas vou tentar.” Reviro os olhos, dando-lhe uma última olhada
antes de descer apressada as escadas e não me permitir nada além de um
distante “tchau” para as mesmas cinco pessoas na sala antes de sair pela
porta da frente.
 
 
 
 
 

 
“TOTALMENTE BEM, MÃE, MAS SE VOCÊ PERGUNTAR mais uma vez eu
posso acabar não ficando mais bem.” Brinco com minha mãe, enquanto nos
falamos pelo telefone no meu caminho de volta para casa na terça-feira.
“Ok, tá bem, Joshua. Me culpe por ser uma mãe preocupada.” Ela
dramatiza e posso até ver minha mãe jogando os braços para cima do outro
lado da linha.
“Como estão as coisas por aí?”
“Tranquilas. Seu pai tem trabalhado demais e eu estou tentando
terminar uma pintura. Me deixaram expor três quadros na próxima exposição
da galeria.”
Minha mãe deixou o trabalho com teatro para seguir o sonho da arte. É
curadora de uma galeria de médio porte em San Diego. Papai segue sendo
roteirista, apesar de nunca poder fazer um roteiro sozinho e ganhar nome
nesse meio.
“Isso é ótimo. Quando vai abrir a exposição?” Esperançosamente, eu
poderei prestigiar minha mãe.
Esperançosamente.
“Metade de setembro até o começo de dezembro. Talvez possa vir no
feriado de Ação de Graças e ir ver.” Pelo menos minha mãe tem as mesmas
esperanças.
“Vou tentar economizar para ajudar nas passagens.” Fico grato por
minha mãe não relutar nesse assunto, faz as coisas ficarem mais fáceis.
Além disso, sempre tentei ajuda-los, não seria novidade. “Vou com uma
amiga para o Hamptons por três dias.” Solto depois de um curto período de
silêncio.
“Oh!” É a única reação da minha mãe por um tempo. “Hamptons não é
tipo…”
“Lugar de gente rica? Sim, mas vamos ficar na casa dela lá, então, não
teremos gastos.” Esperançosamente, de novo.
“Hm, sua amiga é gente rica.” Minha mãe tenta parecer indiferente,
mas sei que isso não é tudo. “Você tem um jeito especial de atrair esse tipo
de garota.” Aí está, uma nota de desprezo pela minha ex-namorada. Solto um
suspiro audível. “Desculpa, querido, é só que…”
“Chelsea e eu somos só amigos, mãe. E parceiros de trabalho. Ela só
quer me ajudar a enturmar.” Pelo menos é isso que eu espero que seja.
“Além disso, ela é uma sênior. Logo já está indo embora.”
“Não se apaixone por pessoas que vão embora, Josh. Sei que não
preciso te dar esse aviso, mas sou sua mãe e o darei de qualquer forma.”
“Anotado!”
Ela é mais velha, não devo chegar nem perto de ser o tipo de Chelsea,
pelos comentários de Scott, e além de tudo, ela deve me ver quase como um
irmão mais novo desorientado.
Totalmente fora de cogitação.
“Só… se cuide, querido. Sabe que confiamos em você mais do que
tudo, mas gosto de não precisar perder muitas noites de sono com meu único
filho do outro lado do país.”
“Tudo bem, não há com o que se preocupar. Estou bem mesmo e está
sendo um ótimo começo.” Tento tranquilizar minha mãe mais uma vez e ela
fica em silêncio. No fundo, sei que ela dá um aceno com a cabeça. “Como
está a senhora Collins?” Mudo de assunto para que minha mãe não pense
muito sobre isso.
“Melhor. Dexter pegou um voo hoje cedo para Nova York. Acho que
vou fazer um bolo de carne para levar amanhã a ela.”
“Assine meu nome no cartão de melhoras, quem sabe o Collins pegue
menos no meu pé.”
“Ele vai, eventualmente.” Nós, Crawfords e nossa esperança sem fim
no lado bom das coisas e pessoas. “Preciso ir, querido. Logo seu pai deve
chegar e preciso cortar os legumes para a janta. Seu pai vai fazer o yakisoba
dele esta noite.”
“Ok, agora me deixou com inveja. Mas garanto que meu queijo quente
deve ficar tão bom quanto.” Zombo da minha janta.
“Alimente-se direito, Joshua!” Ela me repreende.
“Eu estou comendo bem.”
“Aham, não sei se acredito nisso. Preciso ir mesmo, me mantenha
atualizada. Te amo.”
“Também te amo.”
Desligo a ligação e guardo o celular no bolso, já pegando as chaves de
casa apesar de ver as luzes da sala ligadas, o que significa que a porta deve
estar aberta.
Giro a maçaneta e empurro sem dificuldades, o que mostra que estou
certo. Deixo minhas chaves na mesa que fica no nosso mini corredor de
entrada e alinho meus sapatos com os outros na porta. Nick é o único, além
de mim, que busca por uma mínima organização constante.
“Olá?” Pergunto em voz alta, querendo saber quem está em casa. É
terça, fim de tarde. Provavelmente, todos já voltaram de treinos e trabalho.
Paro na sala e encontro meus três melhores amigos sentados no sofá,
apoiados contra a guarda e olhando para mim. “Vocês estão bem?” Pergunto
franzindo a testa, sentindo algo vindo.
“Sim.” Eles respondem em uníssono.
“Ok, o que aconteceu?” Dou alguns passos na direção a eles. Ethan e
Nick desviam o olhar e Scott solta um bufo.
“Vocês são tão panacas.” Ele fala para os dois antes de voltar para
mim. “Capri veio aí, com várias sacolas. Subiu, ficou uma meia hora e foi
embora.”
“Oh!” É a única coisa que sai da minha boca.
“Daí, a gente ficou se perguntando se vocês estão tendo algo e ficou
com medo de nos contar. Porque ontem vocês subiram e ficaram um tempão
lá em cima, ouvi umas risadas até. Porta fechada e tudo mais, você não
costuma fechar sua porta. Eu gostaria de saber se meu melhor amigo tá
pegando uma das mulheres mais cobiçadas de Nova York, simples assim.”
Ethan não se segura.
Reviro os olhos com sua tentativa de dramatização do melhor amigo.
“Só estávamos conversando! E não. Mais uma vez, somos só amigos
e estamos fazendo um trabalho juntos.”
Qual seria a dificuldade de entender que eu consigo fazer amigas
bonitas, ricas e bem faladas por aí? E tudo isso por conta própria.
Recebo três olhares com sobrancelhas levantadas. A resposta deles
parece ser que dificilmente eu conseguiria fazer isso sozinho.
“O que foi?” Minha voz sai um pouco falha enquanto dou de ombros.
“Nada, tudo certo por aqui, garotão, sem necessidade de se alterar.”
Ethan zomba.
Reviro os olhos para eles mais uma vez antes de seguir o caminho e
subir as escadas. Entro no meu quarto e fecho a porta atrás de mim, me
surpreendendo com a quantidade de objetos e sacolas colocados
precisamente em cima da minha cama.
Deixo a minha mochila no chão ao lado da porta antes de caminhar até
a cama. Algumas telas em diferentes tamanhos estão plastificadas ainda,
uma caixa bem decorada com laços está aberta com várias tintas e outros
artigos de pintura se espalham pela cama. Pego o cartão escrito à mão que
foi deixado e não consigo evitar um pequeno sorriso.
 
“Feliz aniversário atrasado, baby boy. Odeio ser tão pouco original ao dar um
presente, mas é o que posso fazer no momento. Espero ter comprado coisas certas
porque descobri que eu não sei muito sobre pintura. Também espero que goste e esses
são para uso pessoal, me faça uma lista do que vai precisar para o nosso trabalho. De
preferência uma lista bastante específica.
Sinto por não ter vindo no sábado, fiquei sabendo que estava mesmo esperando
minha presença entre outros detalhes que os meninos compartilharam sem eu pedir.
Obrigada pelo dia de ontem. Mais uma vez, foi ótimo ter sua companhia.
Feliz 21 e 3 dias! E é melhor começar a fazer as malas logo.
Chelsea C., apesar de saber que antes de chegar aqui em cima já sabe que fui eu
quem deixei tudo.”
 
Deixo o papel na cama e ligo para ela, deixando a ligação nos fones
de ouvido. Chelsea atende no segundo toque enquanto já estou começando
a guardar um pouco daquelas coisas, tentando organizar a quantidade de
coisa nova no meu pequeno canto de pintura.
“Pelo jeito você acabou de chegar em casa.” Ela fala animada assim
que atende. Escuto alguns barulhos ao fundo, mas se tornam distantes a
cada segundo.
“Isso significa sem ligações espontâneas sem motivos realmente
plausíveis?” Encaixo o meu novo suporte de pincéis que vai junto ao cavalete
e coloco o novo conjunto de diversos tamanhos que acabei de ganhar ali.
“Céus, você fala como a Daphne. Você é do tipo de amigo que faz
ligações espontâneas? Acho que vamos ter que rever isso aí. Além do mais,
sempre encontra seu jeito de achar motivos plausíveis.”
“Não sou o melhor me expressando corretamente por mensagens.”
Dou de ombros ainda que ela não possa me ver. “Esse é o conceito de uma
lembrancinha de aniversário no seu mundo?”
“Primeiro, vivemos no mesmo mundo com algumas diferenças de
adaptações. Segundo, não, isso é o que a gente chama de presente mesmo.”
Dou um leve riso enquanto me movimento pelo quarto. “Você gostou?”
Apesar de saber que isso soa como loucura de minha cabeça, quase sinto
uma insegurança na voz de Chelsea sobre ter sido a escolha certa.
“Isso é uma possibilidade?” Brinco empilhando as telas novas em uma
prateleira segura dentro do meu armário. “Eu adorei, de verdade. Muitas das
minhas coisas que fui acumulando ao longo dos anos ficou em San Diego...
foi o presente perfeito. Obrigado. De verdade.”
“Estava com medo de baixar minhas estatísticas de pessoa que
sempre dá ótimos presentes.”
“Ok…” Digo de forma arrastada, debochando do convencimento dela.
“Sobre o trabalho, inclusive, estou pensando em começar a trabalhar com os
quadros assim que voltarmos. Assim podemos ter tempo caso tenhamos
algum contratempo.” Coloco as últimas bisnagas novas de tinta na minha
caixa e vou até o armário pegar minha mala de mão.
“Tudo bem. Você é tão certinho! Nós não teremos contratempos.”
Prefiro não começar uma longa lista de coisas que podem acontecer e seriam
grandes problemas que atrasariam nosso trabalho. Ou como tudo vem
fugindo do meu controle ultimamente. Chelsea provavelmente iria rir do meu
negativismo. “Tudo certo para amanhã?”
“Arrumando minha mala agora mesmo.” Respondo enquanto escolho
algumas camisas nos cabides. “Inclusive, quais são os planos exatamente?”
“Não gosta muito de surpresas, não é mesmo?” Ela bufa.
“Só gosto de estar preparado.”
“Gosta de estar no controle, isso sim. Tenho três melhores amigos que
são exatamente desse jeito então não adianta nem tentar me dizer o
contrário.” Fico imaginando se, no fundo, ela não é assim também, já que
acaba atraindo pessoas parecidas para sua vida. “Pensei em irmos buscar
suas coisas depois da aula e podemos almoçar na minha casa. Posso pedir
para a Sra. Price deixar algo pronto. E depois, combinei com o motorista de
sairmos por volta das duas, assim chegamos antes do fim da tarde lá. A casa
fica em Southampton.” Ela explica e não consigo deixar de soltar uma risada.
“O quê?”
“Nada, é só que, a gente não pode ir um pouco mais como pessoas
normais? Se não for muito incômodo.” Porque não me vejo na posição de
pedir muitas coisas para essa viagem.
“O que isso significa?”
“Podemos ir dirigindo. É um percurso curto pelo que pesquisei.
Acredito que seja ainda mais rápido se for assim.”
“Dirigindo?”
“Sim, sabe, é o que o motorista faz.” Brinco com ela.
“Eu entendi, Josh.” Óbvio que Chelsea ficaria ressentida com minha
sugestão.
“Não fica brava. É só que, sei lá, acho que é esquisito demais ter um
motorista se eu sou apto a fazer isso. Sei que é normal pra você, mas pra
mim não.” Coloco calças e bermudas na minha mala antes de começar a
empacotar alguns calçados. Opções vão ser úteis porque tenho a sensação
que Chels vai implicar com todas minhas primeiras opções.
“Tudo bem.” Ela fala depois de um período em silêncio. “Vou avisar e
pedir para deixarem um carro preparado.” Ela faz uma pausa. “Um carro
confortável, não vai ser dessa vez que vai me obrigar a viajar em um
esportivo pequeno.”
“Chelsea Capri, você é a primeira pessoa do mundo que eu conheço
que se atreve a falar mal de um carro esportivo.”
Eu nem mesmo tinha pensado que haveria uma gama de opções.
Devo ter esquecido com quem estou falando por um momento, ainda que não
seja o maior conhecedor da fortuna Capri.
“Existe uma primeira vez pra tudo.” Ela implica.
“Ah, claro, eu concordo. Mantenha isso em mente, inclusive.”
“Não ouse colocar minhas palavras contra mim!” Mas apesar do tom
de voz duro, logo escuto sua risada do outro lado da linha. “Preciso desligar,
estou organizando algumas coisas com os fornecedores da festa que estou
planejando. Eles vieram olhar e arquitetar o espaço só agora.” Ela parece um
pouco frustrada e entendo o que quer dizer, já é de noite e isso deve ser a
última coisa que Chelsea Capri planejava para uma noite de terça-feira.
“Tudo bem, boa sorte com seus fornecedores. Até amanhã.”
“Até amanhã.”
Escuto o leve som de que a ligação foi finalizada e termino de dobrar
algumas coisas antes de colocar a mala quase pronta ao lado da cama.
Separo uma roupa e vou tomar banho antes de descer para a sala, onde
encontro meus melhores amigos na mesma posição que estavam quando eu
cheguei. Me sento na poltrona vazia e abro meu celular para responder
algumas mensagens.
“Ok, vamos fingir que não estamos nem um pouco curiosos com o que
a loira deixou lá em cima.” Ethan diz erguendo os ombros e alternando entre
a tela, onde ele e Scott disputam uma partida de futebol no videogame, e eu.
“Tá bem.” Respondo entre risos.
“Credo, Josh. Não custa nada. Achei que éramos uma espécie de
família nessa casa.” Ele dramatiza, o que acaba levando com que o time dele
leve um gol por causa do seu descuido.
“Achei que não estavam curiosos.” Dou de ombros, soltando meu
celular no colo e prestando atenção neles.
“Se não queria contar, deveria ter ficado lá em cima.” Nick revira os
olhos. “Devia agradecer por termos respeitado sua privacidade porque a
gente podia ter ido lá e visto tudo por conta. Antes de você chegar.” Ele inclui
com ênfase.
“Ah, claro. Muito obrigado Ethan, Nick e Scott por não invadirem o meu
quarto e fuçarem nas minhas coisas. Super gentil da parte de vocês.” Ironizo.
“A gente ficou curioso, tá bom? Durante esses dois anos que estou
aqui, a única coisa que as nova-iorquinas me deram foram festas malucas e
pés na bunda.” Ethan diz antes de pausar o jogo para focar somente em mim.
“Daí meu melhor amigo chega e nem duas semanas depois já tá com uma
amiga gata, e rica, que vem na nossa humilde casa comer hambúrgueres do
restaurante da esquina e trazer sacolas, provavelmente presentes. Em dois
dias separados, devo dizer.”
“Foram presentes, e, ei, ela é humana também, beleza?” Começo. “Ela
deve ter ficado sentida por causa da festa de sexta, e resolveu me dar
algumas coisas de pintura. Inclusive fiquei sabendo que algumas pessoas
abriram a boca sobre os ocorridos pouco memoráveis daquela noite.”
“Ela é humana, mas Scott e os sites de fofocas fazem ela parecer
intocável. Mas, ei, às vezes as fontes mentem, não é mesmo? Principalmente
Scott, no caso.” Ethan mal teve tempo de fechar a boca antes que uma
almofada voasse em sua direção.
Um pequeno silêncio, formado pelos meus três melhores amigos me
olhando atentamente, foi quase ensurdecedor. Eles me analisam, tentando
tirar qualquer informação na minha expressão facial, qualquer coisa que eu
não estivesse dizendo a eles. Fiz minha melhor cara de indiferença,
levantando os ombros.
“Artigos de pintura?” Scott pergunta como se precisassem de outra
confirmação que Chelsea não havia deixado algum tipo de aliança de
compromisso que firmaria algum papel de idiota que eu deveria fazer caso
estivesse gostando dela.
“Sim!” Respondo em uma grande exclamação e outro silêncio segue.
“Ok, já que ninguém quer falar, eu falo.” Nick começa, levantando-se
do sofá e indo em direção a cozinha aberta, nas costas do sofá. Isso faz com
que todas nossas cabeças se virem para ele. “Nós não queremos que seja
enganado de novo por outra pessoa como você sabe quem. Não conheço
Chelsea, e não sei se ela tem esse potencial ou é a intenção dela, mas você
se apaixona fácil, cara. As coisas ficam intensas com você em questão de
uma semana. Você vai começar o primeiro ano de verdade em dois meses,
não queremos aguentar você por outros muitos dias obscuros nos quais você
cheira mal pelo desleixo e chora escondido.”
“Eu não namorei Voldemort, vocês podem citar o nome de Sarah. E eu
não chorei tanto assim.” Retruco em minha própria defesa.
“As comparações não passam tão longe.” Ethan assobia, dando de
ombros e lanço um olhar feio para ele.
“Pelo menos ele não tentou desmentir a parte da escassez de banho.”
Scott zomba e eles trocam olhares divertidos enquanto tento me manter
ofendido.
Nick coloca algo na panela e um cheiro incrível de tempero sobe na
casa. Ele é nosso cozinheiro oficial e tem mãos que fazem milagres até
mesmo quando a quantidade de alimentos parece uma mistura bem mal feita
de compras aleatórias.
“O ponto é que…” Ele diz enquanto coloca uma travessa no balcão da
cozinha, não precisando nos convidar para irmos sentar nas banquetas do
outro lado da nossa bancada e começar a devorar os pães de alho caseiros e
torradas com molhos feitos por ele. Aperitivos para seja lá o que ele está
preparando. “Estamos tentando te proteger de qualquer estrago precoce.”
“Poderia tentar soar menos cirúrgico, Nick.” Ethan rola os olhos antes
de enfiar uma torrada inteira cheia de molho na boca.
“Essa piada perde a graça depois de um tempo.” Scott bate na nuca
dele. Nick cursa medicina, e isso é o suficiente para que o estoque de piadas
sobre a profissão seja feito na casa. “Mas se você ficar assim de novo, vamos
estar aqui de novo por você.” Ele coloca a mão no meu ombro antes de voltar
a atenção para a comida. Nick mexe nas panelas com maestria, colocando
alguns legumes cortados na tabua para a frigideira.
“Momento afetivo do mês, check.” Ele fala antes de se virar para gente
e apoiar-se no balcão de frente para nós três. “Então… se tiver alguma coisa
para contar, é a hora. Alguma coisa?”
“De novo, nós não ficamos ou coisa do tipo. Céus, quando teríamos
feito isso?” Era uma pergunta retórica, mas Ethan não podia deixar escapar a
oportunidade de falar demais.
“Olha, eu consigo pensar em pelo menos cinco momentos diferentes
que poderiam ter feito alguma coisa.” Ele dá de ombros como se não fosse
grande coisa.
Talvez para ele não fosse, mas para mim era. Diferente do ocorrido no
final de semana, eu não era do tipo sair e transar em lugar aleatório com
alguém que mal sabia o sobrenome. Na verdade, minha longa lista de
pessoas com quem transei não podiam servir muito de base também.
“Ok, eu prefiro mesmo não saber ou vou começar a imaginar coisas.”
“Você quase faz sexo parecer ruim, Josh.” Ele joga de volta.
“Com ela, vocês fizeram parecer aterrorizante. Obrigado, inclusive.” Os
três fogem do meu olhar.
“Talvez sejam só rumores.” Nick tenta aliviar, mas capturo a careta dele
enquanto desligava uma das chamas ao dizer isso. Duvido que fosse para a
comida que cheirava maravilhosamente bem. Olho para Scott e todos
entendem a deixa. “É…” Nosso cozinheiro fala arrastado e com isso
preferimos voltar a nos concentrar somente na comida.
“Desculpa, cara. A intenção foi prevenir, não assustar.” Ele parece um
pouco arrependido.
“Tudo bem, não é como se eu estivesse com os pensamentos lá, de
qualquer forma.” Digo para tranquilizar a consciência de Scott e ganho uma
pequena leva de suspiros aliviados. Limpo a garganta, ainda que não precise
fazer isso de fato, mas como uma forma de me preparar para o que diria a
seguir. “Mas vamos fazer uma pequena viagem juntos amanhã.”
“O que?” Esse foi Nick.
“Tá maluco?” Ethan.
“Merda!” Scott foi um pouco mais gentil enquanto todos gritavam, ao
mesmo tempo, no meu ouvido. Se não os conhecesse tão bem,
provavelmente não teria conseguido saber o que veio da onde.
“Não é nada de mais. Ela me convidou para passar dois, talvez três,
dias na casa dela no Hamptons para que fossemos em algumas festas de
ricos. Quer dizer, para que eu fosse nas festas que os ricos estão dando
porque ela é rica...” Deixo o pensamento morrer no ar com um dar de ombros,
evitando os três pares de olhos que planejam queimar minha pele ou algo tão
agressivo quanto.
Estavam quase atingindo o objetivo.
“Tá bem, a garota vai te levar para a casa dela no Hamptons.” Ethan
joga com deboche.
“São só festas, não é como se eu não tivesse acostumado a ir nessas
sociais que eles fazem.” Eles sabem ao que eu me refiro. Sarah e eu íamos
nos eventos do pai dela o tempo inteiro. “Por favor, nenhum comentário que
vá fazer com que eu de para trás ou me sinta inseguro!” Anuncio antes que
qualquer um deles pudesse dizer alguma coisa.
Scott e Ethan abrem e fecham a boca, Nick revira os olhos para eles
antes de falar.
“Não vamos fazer grande caso disso, tudo bem?” Sua fala foi mais
direcionada aos outros dois do que para mim. “Festas, isso é bom. Além
disso, pode ser algum tipo de compensação por não ter vindo no sábado.
Mesmo que talvez ela não seja o tipo de pessoa que se redima tanto assim.”
Ele pondera sozinho a última parte. “Talvez ela só esteja querendo apreciar
sua companhia também.” É o que ele fala antes de voltar a sua atenção a
nossa janta.
“É.”
A voz de Ethan não passava exatamente a tranquilidade que deveria,
por isso, trato de desviar o assunto e logo estamos empolgados falando
sobre a pré-temporada dos caras e comendo o frango marinado em algo e
assado com alguma coisa, junto com os legumes grelhados e purê de batatas
de Nick.
Minha mãe não precisa se preocupar nem um pouco sobre a minha
alimentação enquanto eu estiver vivendo com esse cara.
 
 
 
 
 

 
COM O COTOVELO APOIADO NA JANELA DE VIDRO escurecido pelo
insulfilme, Chelsea é uma visão e tanto da onde estou, atrás do volante. Seus
olhos azuis, presos ao lado de fora, me deixam ter alguns olhares furtivos
sobre como ela parece adorável, sentada com uma das pernas cruzadas no
banco e a outra dobrada para cima, com o pé em meias brancas apoiado no
banco.
Ela está com um short alto na cintura e curto nas pernas, não que eu
estivesse olhando, mas ela tem belas pernas torneadas. Talvez pelo balé, ela
disse que tinha feito alguns bons anos antes de machucar o tornozelo. E uma
camisa branca para dentro do short de forma folgada e aberta, provavelmente
com o intuito de mostrar a peça rendada do sutiã também branco. Não que
eu fosse de comparar, mas tinha estado no quarto de Sarah a vendo entrar e
sair de roupas por tempo o suficiente para reconhecer algumas coisas sobre
moda.
Assim que entramos no carro, uma Mercedes-AGM G63 para ser mais
específico, provavelmente experiência única na vida, ela jogou seus fios
loiros de uma forma quase ameaçadora e prendeu com um elástico de cabelo
em uma espécie de coque, e isso me dava uma visão melhor do rosto dela
concentrado nos carros das outras vias e paisagem da estrada.
Faz um tempo que estamos na estrada, trinta, talvez quarenta minutos
desde que saímos da casa de Chelsea. Uma mansão de muitos metros
quadrados com guarda no portão e uma entrada em forma de U para uma
casa de dois andares com mais cômodos do que eu poderia contar com os
dedos das duas mãos. Conheci alguns do andar de baixo e já me senti
emocionado demais para um só dia.
Ela tentou não debochar, mas tenho quase certeza que Chelsea ria
internamente da minha expressão de choque enquanto entrávamos na casa e
sentávamos na mesa da sala de jantar para o almoço muito bem servido.
Nossa passada não foi demorada, almoçamos, colocamos as coisas no carro,
ou o empregado de Chelsea fez isso, e logo partimos.
Uma música calma toca no conjunto multimídia do carro, o que me faz
vez ou outra, bater os dedos no volante ao ritmo da música. Olho de novo
para Chelsea e ela segue na mesma posição. Seu rosto vira para mim no
momento que volto a atenção à pista e vejo de canto ela levantando os
óculos escuros.
“Eu posso quase sentir o cheiro da sua vontade de perguntar algo,
Josh. Então, fale.” Ela fala um pouco mais ríspida do que o habitual, o que faz
a pergunta somente crescer em proporções em minha mente.
“Você tá bem? Parece chateada com alguma coisa. Se arrependeu do
convite? Podemos dar meia volta e acredito que ainda chegue a tempo.”
Minha voz sai mais tranquila do que estou. O pensamento dela ter se
arrependido de ter me chamado magoa mais do que devia.
Mas vamos lá, talvez eu mesmo tenha sido idiota demais em aceitar o
convite que pode ser sido feito por pena.
“Não, claro que não. Eu já teria falado, caso fosse a situação. Não se
preocupe, eu sou uma pessoa relativamente sincera.” Recebo um projeto de
sorriso, quando os cantos de seus lábios se erguem um pouco, mas não o
suficiente.
“Relativamente.” Brinco com ela. “E então, o que foi?” Ela muda a
posição, abaixando o pé no chão do carro para poder virar o máximo que o
cinto de segurança permite na minha direção.
“Estou um pouco… nervosa, sobre o evento que estou planejando. É
um evento grande de caridade, muitas pessoas importantes vão estar
presentes.” Insegurança provavelmente não é algo que está no vocabulário
dela.
“Mas você provavelmente deve conhecer mais da metade deles e suas
preferências, não é?” Levanto os ombros antes de espiar rapidamente a
expressão dela, pensativa mais uma vez. “Acho que conhece bem o que as
pessoas esperam de eventos assim. Tenho certeza que vai se sair muito
bem.” Tento ajudar com essas palavras e Chelsea parece um pouco mais
suave em suas expressões enquanto mede o que digo. “E já fez isso antes
pelo que me disse, não é mesmo? Garanto que vai ficar ótimo.”
“Não eventos importantes assim. É um de gala. Nunca fiz um evento
de gala antes.” Ela leva as mãos para os cabelos, alisando os fios presos.
“Ok…” Penso um pouco no que devo dizer, algo errado pode só
aumentar a pressão dela sobre si. “O que exatamente aconteceu? Me parecia
tudo bem ontem quando nos falamos no telefone.” Um longo suspiro sai pelos
seus lábios.
“Eu provavelmente estou exagerando ou algo assim. Um fornecedor
deu para trás com parte da decoração. É super em cima da hora para
conseguir outro da mesma forma, mas podemos dar um jeito nisso. Preciso
ser confiante, não?” Seus olhos em mim quase queimam.
Não acho que ela de fato precise da minha aprovação. Quer dizer, ela
é Chelsea Capri e eu não sei se algum dia cheguei a ir à uma festa de gala,
não tenho muito a dizer sobre o assunto. Mas independente de precisar ou
não na minha aprovação, com toda a certeza eu vou dar isso a ela. Porque
sou uma pessoa positiva, esperançosa, e tenho a confiança que Chelsea vai
conseguir fazer isso.
“Claro. Tenho certeza que entre todas as lojas de artigos decorativos e
empresas de decoração de Nova York, e devem ser algumas muitas, uma
delas vai ter tudo o que precisa e vai ficar ainda melhor do que ficaria antes.”
Digo como se tivesse total certeza disso.
“É. Está certo. Eu sou Chelsea Capri!” Ela fala com certeza em sua voz
e aguardo alguns instantes pelo que viria a seguir, mas não vem.
“Jurava que você tinha um bordão. Feliz que não haja nada depois do
‘sou Chelsea Capri’. Algo talvez como ‘sou Chelsea Capri e tenho Nova York
na palma das mãos’.” Zombo de Chels tentando imitar sua voz e consigo
arrancar uma leve risada e um tapa dela em meu braço. “Ok, agora que
conseguimos eliminar isso do caminho, posso te fazer uma pergunta
pessoal?” Tento segurar meu sorriso, focando na estrada à frente.
Provavelmente, estou em ânimo para brincadeiras. A última coisa que
quero é receber sua honestidade de que não me quer aqui e nem mesmo sei
porque isso me incomodaria tanto a ponto de eu voltar a pensar sobre o
assunto.
“É você quem não é um livro aberto sobre seus segredos, baby boy,
então pode.”
“Que roupa vai usar hoje à noite?” Solto antes de começar a rir e ser
acompanhado por uma gargalhada explosiva de Chelsea, que enche o carro
com um som que parece vir do fundo, totalmente verdadeiro.
Sua risada é algo bom de se ouvir.
“Isso foi baixo, pessoal demais. Não compartilho essas informações.
Sempre preciso ser a estrela da noite, Crawford.” Chelsea finge ficar ofendida
com a intromissão, e encena como a perfeita garota popular do colégio de
elite, que ela provavelmente deve ter sido poucos anos antes. “Não é uma
ocasião, é só uma festa normal em uma casa na praia. Eu não te convidaria
para nada exagerado sem avisar sobre qualquer dress code, não sou má
assim.”
Eu sorrio para sua resposta antes de a espiar de canto de olho.
Chelsea morde brevemente o lábio inferior, como se estivesse segurando
alguma fala e prefiro não perguntar o que é. Ela me avisaria se houvesse
algo de muito chique, não é mesmo? Chelsea Capri não parece fazer do tipo
garota má que tem por hobbie humilhar pessoas.
Ou que vá gostar de ter uma companhia ao seu lado que não esteja à
altura.
“Não respondeu minha pergunta.”
“Respondi, sim. Eu não compartilho.” Ela segue firme, ou tenta pelo
menos. “Um vestido verde água com chiffon com uma estampa floral por
cima, gola fechada, mangas longas e soltas, bem acinturado e com saia
solta. Precisa de muitas informações?”
Sei que ela provavelmente deveria ter revirado os olhos bem naquele
momento e acabo rindo. Chelsea conseguia ser bem específica sobre roupas
e acho que isso se deva pelo fato de sempre estar bem vestida.
“Acho que tenho o suficiente, obrigado.”
 
 
Chegamos alguns minutos depois. A pequena distância faltante
pareceu nada após o humor habitual de Chelsea voltar e passarmos o resto
do tempo conversando sobre assuntos não profundos.
Ela me falou sobre os seus anos de balé e sobre a música, como isso
sempre foi um lugar seguro. Falei sobre a pintura e como isso me ajudou em
vários momentos no ensino médio, e como desde a infância meus pais
sempre me pegavam furtando algo do estúdio da minha mãe em casa. Ela
falou sobre os melhores amigos dela, dois pares de irmãos, Mike e Daphne;
Matteo e Rebecca. Falei sobre como conheci os meninos.
Quando entramos na cidade, ela logo foi me ditando o caminho até
uma casa na praia. Não era uma construção exibicionista, eu precisava dar
esse crédito a eles. Não que não seja bonita e enorme. Pintada em uma cor
bem próxima do branco, a casa tem dois andares. Entrada aberta com um
jardim bem feito e cuidado dava o ar de uma casa normal.
O andar de baixo era como um enorme salão aberto dividido em sala
de jantar, cozinha bem equipada e sala de estar confortável. Tudo muito
espaçado e com uma decoração que deixaria minha mãe olhando os
detalhes por horas. Nada parecia não ser feito para o mais puro conforto por
ali.
A parte de trás, na direção oposta da porta de entrada, é uma enorme
parede de vidro que dá para o lado de fora. Uma piscina e espaço gourmet
estão acomodados em um deck antes de as escadas descerem diretamente
para a praia, onde o mar está há alguns metros de distância.
Um corredor do lado direito dá para algumas portas fechadas,
provavelmente salas espaçosas pelos meus cálculos de tamanho da casa do
lado de fora, e ao lado esquerdo a escada subia ao andar de cima.
“Chelsea!” Uma mulher de meia-idade chama, pouco antes de
começarmos a subir as escadas.
Chelsea abre um sorriso ao ser chamada, que poderia iluminar uma
sala inteira escura e fechada. Ela quase corre para abraçar a mulher e o
homem, de mesma idade, que a acompanha atrás.
“Achei que chegariam mais tarde.” O homem diz enquanto toma a loira
para um abraço.
“Acabamos saindo antes do horário que disse a vocês.” Ela responde e
olha para mim. “Josh, esses são Julia e Emmett. Eles moram aqui e qualquer
coisa que precisar, eu provavelmente não terei ideia de onde está ou onde
comprar, mas eles sabem.” Sua voz está carregada de um grande carinho
pelas duas figuras apresentadas enquanto ela passa os braços pelos ombros
dos dois.
“Ok, e é um prazer.” Um sorriso alarga-se em meu rosto enquanto
ando em sua direção para um breve aperto de mãos.
“O que precisar, estamos à disposição. É só bater na porta no fim do
corredor.” Julia me indica, me tirando um pouco da curiosidade sobre aquelas
portas. Dou um aceno de cabeça, agradecido. “Vamos deixar que vocês se
estabeleçam. Precisam de ajuda com as malas?”
“Não precisa, posso carregá-las tranquilamente. Obrigado.” Recebo
um sorriso doce de Julia.
Chelsea tinha uma mala média e eu uma mala de mão, não seria
problema.
Além disso, parece mimado demais que eu peça para qualquer um
daqueles dois quase senhores que carreguem malas escada acima quando
tenho braços para isso.
Estalando beijos na bochecha de ambos, Chelsea e Julia trocam
sussurros e Emmett revira os olhos antes que ele e a… esposa?, bem ele e
Julia, voltem para o lugar indicado previamente pela senhora.
Voltando a segurar as malas deixadas no pé da escada, subimos os
degraus. Os seus olhos azuis me fitam enquanto eu observo a parte superior
da casa.
São quatro portas ao todo, o que mostra que não é bem uma casa
para receber inúmeras visitas. Duas dão para a frente da casa e duas dão
para o mar. No meio dos quartos que dão para o mar, portas duplas
francesas se abrem para um terraço enorme que acomoda uma banheira de
hidromassagem, algumas espreguiçadeiras almofadadas e cadeiras cestas
no chão, uma pequena mesa com três poltronas e um sofá com vista direta
para o mar.
“Uma vista e tanto!” Digo parado no batente da porta, onde eu devo
estar babando há um tempo por esse terraço.
Chelsea solta uma risada baixa, parando ao meu lado.
“Meu pai nunca quis nada luxuoso. Se quisesse isso, poderia sempre ir
para uma das suítes das coberturas dos nossos hotéis, então ele fez essa
casa aqui para ser conforto. Ele e minha mãe vinham com frequência. Ele
adora esse lugar, só não tem mais tanto tempo. Não é modesto, eu sei disso,
mas é aconchegante.” Aquilo não passava da mais pura verdade.
Ainda é luxuoso, mas tinha um ar de conforto. Muito semelhante ao
que vi da casa dela em Nova York. Grande, bonito e elegante, mas que
transmite um aconchego.
Com um aceno de cabeça, viro de volta para ela que já abre a porta do
quarto ao lado esquerdo do terraço.
“Eu fico aqui.” Ela aponta e deixo sua mala ao lado da porta. “E esse é
o seu.” Chels diz antes de abrir a porta do quarto a frente. “A vista não é tão
boa quanto. Gostamos das visitas, mas nem tanto assim.” Sua brincadeira sai
juntamente com uma risada.
Imaginei que o outro quarto deva pertencer aos pais, ou pai, já que
aquela fora a primeira vez que Chels mencionou a mãe. Não posso deixar de
ficar curioso sobre o assunto, mas consigo compreender que provavelmente
esse não é um tópico do qual Chelsea fala muito abertamente.
Ou pelo menos não teve a vontade de comentar comigo.
Entro no quarto. Uma suíte com uma cama king, televisão e raque bem
equipado. É maior que meu quarto na casa com os caras. Bonito e bem
decorado com cores claras e alguns artigos de decoração para as paredes e
mesa de cabeceira. Minha mãe chamaria de moderno. A janela do quarto dá
do teto ao chão e está parcialmente aberta, me proporcionando a vista da
pacata rua de entrada da casa.
“Fique à vontade e qualquer coisa é só bater no meu quarto.” Escuto a
voz de Chelsea e me viro para encontrar seu corpo apoiado no batente da
porta. “Nos encontramos em uma hora? Talvez menos. Ou mais, se quiser
descansar um pouco. Imagino que talvez queira, por causa da viagem.”
“Não, por mim está tranquilo. Uma hora, ou menos.” Digo e ela sorri
antes de fechar a porta e sair do quarto.
 
 
Depois de organizar minhas coisas no armário, na esperança de não
amassar muito as camisas, tomei um banho longo e vesti uma bermuda cáqui
e uma camisa de botões casual azul-marinho escuro. Deixo as alpargatas
próximas da porta e vou de chinelos até o terraço.
A porta de Chelsea ainda está fechada e prefiro não ser o cara que
apressa. São amigos dela, afinal. Sento no sofá e observo o mar enquanto o
sol termina de se pôr, deixando o céu com tons bonitos de fim de tarde.
Mando mensagem para minha mãe e para Ethan, avisando que chegamos e
alguns detalhes sobre a casa.
Minha mãe fica encantada com as fotos da praia logo abaixo que
mandei para ela e recebo uma selfie de volta. Ela e meu pai sentados à mesa
de jantar, erguendo suas garrafas de cerveja, como se brindassem com a
câmera, e o jogo de cartas pela metade na mesa. Provavelmente, é o dia de
folga dele, afinal, em San Diego é início da noite ainda.
“Me diga que essa é sua irmã e não sua mãe.” Chelsea diz ao meu
ombro, chegando como um fantasma atrás de mim e me assustando a ponto
de quase me custar um celular novo.
Me recuperando, dou risada e aproximo a foto para que ela veja mais
de perto.
“É minha mãe e ela provavelmente faria algum elogio como ‘filho
tranquilo’ ou ‘vida feliz’.” Meu sorriso é um pouco saudoso de casa já.
“Sua mãe é linda e não duvido mesmo que tenha sido um filho
tranquilo. Provavelmente era do tipo chato que nem precisava ser pedido
duas vezes para fazer a lição ou lavar as mãos antes do jantar.” Ela debocha
e eu dou risada, sem poder negar de fato.
Guardo meu celular no bolso e me coloco de pé, frente a figura loira
com cabelos ondulados, rosto iluminado pela maquiagem, diferente da que
estava mais cedo, um vestido azul bebe com flores e sandálias bege sem
salto que amarram seu tornozelo. Ela está linda, mas isso não é novidade
alguma.
“Você está muito bonita.” E isso faz com que ela jogue os cabelos
pelos ombros, se exibindo.
“Você é um amor dando elogios, baby boy.”
Há um brilho extra em seu olhar ao receber o elogio e percebo isso
com certo orgulho por não ter deixado passar minha fala. Não é como se
fosse qualquer sacrifício elogia-la, de qualquer forma. Caminhamos de volta
para dentro e ela me analisa dos pés à cabeça no caminho.
“Não está nada mal também.” Reviro os olhos entrando no quarto para
trocar os calçados.
“E você precisa melhorar os seus.”
“Não mesmo! Acho os meus elogios ótimos.” Chelsea parece sempre
tão certa de si que não posso deixar de pensar que momentos como os de
mais cedo, a pequena insegurança sobre a festa de gala, devem ser relapsos
bem raros na sua personalidade. Mas eu gosto disso, é como uma balança
na nossa amizade. “É a terceira casa à esquerda, se importa de irmos
andando?” Ela pergunta uma vez que chegamos à porta da frente. “O tempo
parece ótimo para uma breve caminhada.”
“Claro que não me importo.” Digo enquanto seguro a porta para que
ela saia.
Chelsea fez um pequeno apanhado sobre onde estamos indo e quem
são os donos da casa, aproveitando para um breve resumo sobre de que tipo
de amigos do círculo eu encontraria por ali e ficou animada quando disse que
dois dos seus melhores amigos estavam ali, Daphne e Mike.
Quando chegamos na casa, percebo que é o dobro do espaço dos
Capri e bem mais ornamentado. A área dos fundos, onde a festa está
acontecendo, é um amplo deck onde pessoas se aglomeram. Mesas nas
extremidades dão ideias de comidas e bebidas, assim como os garçons
circulando. Fico agradecido de Chelsea permanecer ao meu lado assim que
chegamos, me apresentando as pessoas que se aproximavam animados
dela.
 
 
Meu relógio indica que fazem umas três horas que estamos aqui.
Apesar de fazer um tempo desde a última vez que olhei para meu relógio.
Com uma garrafa de cerveja cara na mão, já devo ter bebido quatro ou cinco,
e de barriga cheia com todos os petiscos oferecidos, uma conversa animada
com um cara do qual não conseguia lembrar direito o nome, Keyton?
Clarkson? Clarke?, é onde estou agora.
A última temporada da NFL é o ponto alto. Ele é ex-jogador, formado
esse ano sem ter tido ambições no profissional. Um advogado, o que parecia
ser o curso em alta na festa.
Estou no meio de um comentário sobre o running back da atual equipe
campeã quando meus olhos focalizam na figura tão conhecida pelos meus
olhos. As palavras terminam com um esforço inimaginável enquanto eu tento
me manter tranquilo para meu novo amigo. Mas meus olhos não conseguem
desviar dos cabelos dourados pelo deck, recém chegada e de braços dados
com um cara que eu não faço noção de quem seja.
Seus olhos não encontram os meus, ainda está ocupada demais
cumprimentando as pessoas. Com uma frase agradável, digo que preciso ir
encontrar Chelsea e recebo alguns elogios sobre nossa conversa antes de
sair quase em disparada para a única pessoa que pode me salvar de
qualquer tragédia eminente.
E bastante triste.
 
 
“ELES SÃO AMIGOS IMPORTANTES DA FAMÍLIA, claro que meus pais nos
arrastariam para isso.” Daphne revira os olhos com uma força absurda antes
de levar a mão para algumas mechas de cabelo que voaram em seu rosto.
Seus fios castanhos escuros com uma mistura também no tom mel,
tudo natural, davam inveja em qualquer pessoa que tentasse quimicamente
aquilo. Ela sempre foi a mais ousada, mas ainda assim na linha.
Principalmente nos últimos anos e com sua entrada no mercado de
advogados renomados de Boston.
Daph é como um yin-yang junto numa mesma pessoa.
“Negócios em primeiro lugar, sempre.” Era o mantra de toda família
como as nossas. “Mas não vi Mike ainda.”
“Ele é mais esperto, um covarde esperto e pouco humano que deixa
sua irmã nesses eventos enquanto consegue se esgueirar meia hora depois
de chegar de volta pra casa.” Ela responde fazendo biquinho antes de ambas
rodarmos os olhos pelas pessoas presentes ali.
Mantive Josh sempre a vista, caso ele precisasse ser salvo. Mas
depois de poucos minutos, ele e sua graça conseguiram arrumar algum grupo
de menos chatos para conversar e ele parecia até estar aproveitando.
“Ele é maior de idade, certo? Eu acabei de pegar meu diploma e
espero que meu primeiro caso grande não seja defesa de assédio sexual da
minha melhor amiga.” Daph zomba olhando Josh dos pés à cabeça algumas
vezes antes de voltar-se para mim.
Nem Daphne consegue sair imune ao belo corpo e a cara de anjo,
misturado em um sorriso tímido e olhos pequenininhos quando sorria.
Difícil mesmo, amiga.
“Claro que sim, e de qualquer forma, não estamos ficando nem nada.
Mais uma vez, somos só amigos.” Respondo antes de sugar pelo canudo o
resto da minha quinta pina colada.
Elas descem como uma beleza e são deliciosas.
“Claro!” Daph não pareceu tão convencida.
O garçom não demora para me entregar um novo copo e recebo um
sorriso charmoso do cara que deveria estar na casa dos vinte e cinco, como
eu. E eu, não demoro em retribuir o sorriso. Impossível não devolver um
sorriso para esses olhos azuis.
“Angel e Oliver?” Pergunto tentando mascarar o pequeno desgosto.
No fundo, me sinto mal por Angel. Desconfio que a mente ruim por trás
sempre foi Ollie, principalmente pela forma como ele tinha seguido
incomodando a Becks depois do término que ele mesmo provocou, mesmo
estando com Angel.
O amor muitas vezes é unilateral e eu conheço muito bem isso.
“Chegam amanhã pelo que fiquei sabendo. Para a festa. Mas estão
separados. Pelo jeito Angel vai se mudar para o outro lado do país.
Provavelmente cansou de toda essa brincadeira que Oliver acha que pode
fazer com a vida das pessoas.” Ela comenta bebendo mais um gole do seu
martini.
“Espero que o Oliver se mude para a Europa sendo assim.” Digo e
Daph somente solta um suspiro diante do meu desejo. “Tem falado com o
Matt?”
“Não exatamente. Ele pediu pela minha ajuda para alugar um lugar,
mas não tenho conseguido ser de tanta ajuda ultimamente. O começo oficial
no escritório é bem diferente do estágio. Não estou mais como secretária de
um dos advogados chefes, agora sou uma advogada subjugada total.”
Ela ri dando de ombros e eu acompanho porque pelo menos ela está
feliz com seu trabalho. Um que conseguiu sozinha devido ao seu próprio
esforço e não só porque os pais eram grandes nomes na região.
Pais esses que não mereciam o renome que ela iria criar em breve.
“Além disso, as aulas dele começam só em agosto, ele ainda tem uma
folga.”
Enquanto eu luto para finalizar meu curso, Matteo já está indo para um
doutorado. Tudo bem que, até onde eu saiba, ele não é bom com nenhum
tipo de arte, a comparação não é justa.
“Depois que todos me abandonarem aqui, pelo menos vocês vão tem
um ao outro em Boston.” Com Becks em Atlanta, Matt e Daph em Boston e
Mike sabe-se lá onde, eu estaria sozinha em Nova York, mas não pretendia ir
para longe tão cedo.
“Mike ainda deve ficar por aqui.”
“Mike abandonou a própria irmã gêmea em uma festa com nem cem
pessoas, imagine o que ele pode fazer com sua simples melhor amiga em
uma cidade com mais de um milhão?” Arqueio uma sobrancelha e ela levanta
as dela, como se me dissesse que eu tenho um bom ponto.
“Seu garotinho vem aí.” Ela anuncia, olhando para minhas costas com
um sorriso maldoso.
“Ele não é meu garotinho.” Foi o que consegui sussurrar antes que
Josh tocasse meu braço de leve.
Me viro para ele, ficando ombro a ombro com Daphne. Josh parece um
pouco pálido, mas pode ser a bebida que eu não estava controlando e pensei
que ele pudesse. Seu sorriso também não está tão estonteante como
normalmente estava nos últimos dias para mim.
Talvez fosse a presença de Daph.
“Ei, você parecia empolgado ali.” Comento abrindo um sorriso.
"É, o futebol americano sempre une as pessoas.” Ele dá de ombros.
“Josh, essa é a Daphne, de quem eu falei. Daphne, oficialmente
apresentada a Josh.” Aponto de um para o outro, eles apertam as mãos.
“Eu preciso ir, espero encontrar meu irmão e conseguir convence-lo a
me levar em sua fuga rápida e misteriosa caso ele ainda não tenha a feito.”
Minha amiga solta um suspiro correndo os olhos na festa mais uma vez. “Foi
um prazer te conhecer, Josh, espero que nos vejamos em breve.” Os dois
trocam um sorriso. “Me mande mensagem amanhã!” Soa como uma ordem e
foi exatamente o que Daphne quis ao dizer aquilo para mim antes de plantar
um beijo na minha bochecha e ir embora.
“Você está bem?” Minha pergunta vem junta com um cenho franzido e
um toque gentil em seu braço.
Já comentei como essa camisa abraça com perfeição nunca vista
antes os músculos não tão ridiculamente grandes do bíceps dele?
Provavelmente não, mas aqui fica minha ressalva.
E não, essa não foi a única intenção, nem mesmo a primeira, que eu
tinha em mente ao fazer o movimento de tocar seu braço. Josh realmente não
parece muito bem.
“Sim.” Mas seu sim é nada convincente. “E você?”
“Agora eu estou preocupada com você, então não estou totalmente
bem.” Inclino um pouco a cabeça, tentando ler a expressão dele. “O que
aconteceu? Alguém te disse algo errado?” Eu sei que pareço como uma mãe
preocupada com seu filho triste após o primeiro dia de aula, mas não queria
que isso tudo acabasse como um problema para ele.
A intenção era justamente aproveitar tudo.
“Não, está tudo bem. É… você acharia muito ruim se eu voltasse para
casa mais cedo. Estou um pouco cansado, mas não quero atrapalhar sua
diversão.” Ele diz me dando um sorriso gentil no final, o qual ele parecia
saber que batia em uma barreira de derretimento dentro de mim que não
deveria bater.
São três mentiras. Ele não parece cansado, nem estava há trinta
minutos, quando perguntei sobre isso na mesa de canapés. Eu não estou
tendo muita diversão nessa festa, está parada demais. E, ele nunca parecia
atrapalhar nada.
“Eu posso ir com você.” Me ofereço, fitando seu rosto através dos nem
10cm de diferença que devemos ter.
Olhando ele assim, acabo captando uma pessoa se aproximando por
cima do seu ombro.
“E, ei, tem uma menina se aproximando como se fôssemos conhecidos
de longa data e eu não tenho noção de quem seja.” Digo antes de voltar
meus olhos nos dele e ver uma pitada de dor ali. “Talvez devêssemos…”
“Josh! Que surpresa te ver por aqui.” A menina aparece com um
sorriso largo no rosto, interrompendo meu sussurro para ele.
Josh se vira e naquele momento ela lança seus braços no pescoço
dele, que abraça a pela cintura.
“Uma surpresa te ver por aqui também. Achei que estaria se
preparando em Los Angeles.” Mas ele não tem metade da empolgação dela
quando volta ao meu lado.
“O convite apareceu e, por que não?” Ela dá de ombros.
Seus cabelos loiros estão lisos como seda, os olhos são em um verde
quase inebriante. Nossa convidada não tão desejada veste um macacão leve
preto que marca sua cintura extra fina e mostra as pernas malhadas e
bronzeadas.
Alguém tinha conseguido aproveitar o verão até o momento.
Depois de alguns segundos em uma encaração sinistra, estava pronta
para lançar a mão e cumprimentá-la quando ela faz isso primeiro.
“Oie, sou a ex-namorada do Josh!” Ela diz e aperto a mão estendida,
sem conseguir abafar totalmente o riso que me escapa.
Tanto pelo cumprimento quanto pelo olhar pretensioso que ela me
lança, como se me desafiasse e eu tivesse uns quatro anos a menos.
“Vocês da Califórnia têm um jeito estranho de se apresentar.” Falo com
um sorriso. “Oie, a pessoa com quem Josh veio aqui.” Zombo dela um pouco
descaradamente. Talvez pudesse voltar a ser a abelha rainha territorialista do
ensino médio e atuar muito bem nesse papel. “Sou Chelsea!”
“Ah, desculpe. Achei que fosse ligar os pontos.” Ela continua com um
sorriso simpático no rosto apesar de não estar sendo tão simpática.
Sorrio de volta e tento meu melhor olhar autoexplicativo para que ela
me diga o seu nome, como é previsto em apresentações normais. Preciso
controlar o riso debochado, em respeito a Josh, porque qualquer que fosse a
coisa que ela estava tentando fazer, não estava dando certo em ponto
nenhum. Ele parece desconfortável, e eu prestes a explodir em uma
gargalhada pelo papel que a outra está se prestando.
“Chels, essa é Sarah.” Josh intervém após o curto silêncio, um pouco
retraído. Como depois das minhas brincadeiras em nossos primeiros
encontros.
“Sarah.” Repito como uma forma de memorizar.
“Sarah! Achei que tivesse te perdido já! Seu pai me mataria.” Louis, um
antigo conhecido, chega até nós, colocando-se ao lado dela. “Capri!” Ele sorri
largo ao me ver e não tarda em se aproximar para um abraço breve.
“Achamos que não poderíamos contar com sua presença esse verão.”
“Eu estava aqui há dois finais de semana, Lou. Além disso, eu…”
“Sou Chelsea Capri e ‘festa’ é meu nome do meio.” Ele me completa e
ambos rimos. Até Josh tem um sorriso bem humorado no rosto enquanto olha
para mim. “E seu sobrenome poderia facilmente ser traduzido como
diversão.”
“Isso é por sua conta!” Reviro os olhos antes de me virar para Josh.
“Esse é meu bordão.” Digo mais baixo, piscando para ele ao me lembrar de
nossa conversa mais cedo. Ele solta um riso cúmplice. “Louis, esse é Josh.
Josh, Louis. Fomos colegas no ensino médio.” Explico para o meu
acompanhante e eles se cumprimentaram com um aperto de mão antes que
um silêncio desconfortável se siga como antes. “Espero que não se importem,
mas estávamos de saída.” Digo como um lamento, apesar de não ser.
“Mas isso aqui mal começou.” Sarah diz animada.
“Tivemos um longo dia. Aulas e viagem não combinam tanto com
festas até tarde. Mas quem sabe não nos vemos amanhã.” Eu espero que
não.
A companhia de Louis não é tão agradável depois do minuto cinco. E a
presença de Sarah retrai Josh ainda mais. Duas coisas que eu poderia
dispensar com toda a certeza.
Sorrisos e acenos de cabeça são trocados antes que eu e Josh
começássemos a nos dirigir para a saída. Toco o braço dele mais uma vez.
“Você está bem?” Pergunto, já começando a me sentir um pouco
insistente e preocupada demais, mas não podendo evitar.
Ele e a garota tinham alguma história pelo que captei em nossas
conversas antigas e ainda havia algo ali. Josh nunca quis exatamente falar
sobre sua ex-namorada do ensino médio todas as vezes que lhe provoquei e
isso devia dizer algo em relação ao que aconteceu entre eles.
“Estou, só não esperava mesmo ver Sarah aqui.” Ele fala quando
chegamos a rua e começamos a voltar para casa. “E obrigado por… bem por
ter sido simpática quando ela não foi. Não sei o que deu nela. Realmente
nunca foi assim. Ela costuma ser gentil.” Não que ele precisasse se desculpar
por ela, mas dou um aceno.
“Está tudo bem, acho que como causadora da situação, meu papel era
ajudar.” Dou de ombros. “E a falta de gentileza provavelmente se chama
ciúmes, ameaça e essas coisas.”
“É, talvez.” Ele não parecia nem um pouco certo disso, apesar de eu
poder ver.
O comportamento de Sarah não é algo que eu alguma vez cheguei a
fazer na vida. Nunca ter se relacionado sério com alguém por tempo o
suficiente para nutrir sentimentos profundos trazia isso como bônus. Mas isso
não significava que eu não podia reconhecer o ciúme.
Após andarmos quase uma quadra em completo silêncio, sinto a
necessidade de tentar amenizar o clima.
“Está cansado ou não cansado demais para uma hidromassagem?” A
ideia não era das melhores, mas eu tenho um histórico de impulsividade.
Acelero alguns passos na frente dele, andando de costas para poder
encará-lo com olhos de cachorrinho. Josh dá risada e seu rosto se ilumina.
Talvez tenha sido por esse motivo ou foi a pedra que prejudicou meu
andar para trás, me proporcionando uma cena derretida de qualquer filme de
romance porque no momento que me desequilibro para trás, Josh se inclina
para frente abraçando minha cintura e me firmando no lugar. Antes de me
colocar de volta ao seu lado para andar de frente, ele balança a cabeça em
negação, com se me repreendesse.
“Cuidado.” Ele diz depois de me soltar por completo.
Eu poderia ter usado um pouco mais daquele abraço forte e
confortável ao meu redor por alguns segundos a mais. Não custava nada
para ele.
“Não respondeu minha pergunta.” Eu insisto enquanto viramos para
entrar na fachada bem iluminada de casa.
“Acho que posso gostar desse tipo de relaxamento um pouco.” Ele dá
de ombros como se não fosse muita coisa.
 
 
Vinte minutos depois, ele está em um calção de banho que me
mostrava como ele era por completo um ex-jogador de futebol e eu tenho
meu biquíni roxo claro favorito. Seu corpo está de frente para o meu e preciso
de certo esforço para não parecer muito tarada.
Vinho e um prato com chocolates rodam de mim para ele e talvez a
mistura de bebidas não seja minha melhor amiga amanhã, mas vinho é o que
combina com tarde da noite em uma hidromassagem com um cara que, em
qualquer outro momento da minha vida, eu não estaria chamando de só
amigo.
Na verdade, com meu histórico, não estaria chamando de nada. Então
é ponto positivo para Josh.
“Julia e Emmett passam o ano inteiro aqui?” Ele pergunta preenchendo
nossa rara falta de assunto.
“Sim, eles trabalham com meu pai há anos. Quando resolveram se
aposentar e sair de Nova York, meu pai ofereceu para virem para cá. Eu
ainda era pequena quando isso aconteceu. É um pouco mais tranquilo, é uma
casa bonita, salário bom e não viemos aqui com tanta frequência.” Respondo
antes de colocar um chocolate na boca.
A verdade que poderia ser acrescida era de que eu, quando venho
sozinha, prefiro ficar com Becks ou Daphne, virando uma visita de tarde para
os dois em minha própria casa.
Não que eu me importasse com isso.
Meus pensamentos tomam alguns segundos de silêncio e Josh bebe
um gole do vinho antes de pousar a taça ao lado da banheira. Minhas pernas
estão esticadas do lado dele e suas mãos encontram meu pé embaixo
d’água. Seu olhar não deixou o meu e a sobrancelha levantada demonstra
um pedido de permissão silencioso que eu logo dou. Suas mãos começam a
massagear meu pé esquerdo de forma quase pornográfica de tão bom.
Isso que eu nem estou com dores por causa de saltos.
“Isso é muito bom.” Murmuro inclinando a cabeça para trás, apoiando
na borda da banheira e lutando para não fechar os olhos.
Um suspiro me escapa pelos lábios e ele segue com os movimentos
por mais algum tempo até que eu ouça sua voz de novo.
“A gente namorou por quase quatro anos.” Ele fala e volto minha
atenção mais uma vez para o seu rosto esculpido. “Eu era um Junior quando
ela entrou no colégio. Já sabia quem ela era, meu pai chegou a trabalhar com
o pai dela algumas vezes. Ele é diretor de cinema.” Josh explica e me recordo
de quando me contou que seu pai tem papel fundamental na montagem de
roteiros. “Eu me apaixonei logo de cara, eu acho. Ela entrou para as líderes
de torcida e ficou ainda mais fácil de ver ela quase todos os dias.
Começamos a namorar antes de novembro do mesmo ano.” Isso dava mal
dois meses depois que se conheceram. “Com direito a pedido após um jogo
no meio do campo e tudo mais.”
Aquilo era algo que eu conseguia vê-lo fazendo. O tipo de cara
romântico que faz coisas românticas, demonstrações de afeto bonitas e
grandes.
Ele apoia meu pé na sua perna e pega o direito, repetindo os
movimentos da massagem deliciosa.
“O típico casal de ensino médio. O jogador de futebol e a líder de
torcida. Sempre fomos bons juntos, combinávamos e todas as coisas que um
casal perfeito tem. Ainda combinamos, eu acho, porque não sei o que bem
mudou no meio. A gente era firme um sobre o outro, quando eu fui chamado
para uma entrevista com a certeza de uma bolsa aqui na NYU, eu disse não
porque a gente falava de ir juntos para a UCLA, nos formarmos, morarmos
juntos, e todo o resto do futuro perfeito.”
Tento manter minha expressão neutra, mas uma bolsa é uma grande
chance na carreira de qualquer jogador, eu sei disso por tabela. Ainda mais
para uma das grandes como a NYU. Ele estala os lábios em uma expressão
que mostra totalmente sua decepção sobre o assunto.
“Eu combinei com meus pais e eles sempre me apoiaram, eu tirei dois
anos sabáticos. Os caras enlouqueceram. Dois anos era coisa demais para
um jogador ficar parado, mas um dos olheiros da UCLA me disse que, se
mantivesse meu treino pesado e contínuo, poderia tentar um teste em dois
anos. E foi o que eu fiz.” Seus dedos param por alguns instantes antes de
voltar.
“Você não precisa me contar se não quiser. Não só porque eu a
conheci.” Digo depois de um pouco de silêncio. Minha curiosidade inflama
dentro de mim, mas não quero que ele se sinta obrigado a me contar as
coisas da sua vida.
“Não estou contando só por causa disso. Há um tempo você tocou no
assunto, achei que seria… interessante contar.” Venho querendo descobrir
mais sobre o assunto desde segunda-feira mesmo. Dou-lhe um aceno e Josh
continua. “A gente estava bem, ela estava terminando o seu último ano. Eu
estava trabalhando, guardando dinheiro para faculdade. Arcar qualquer gasto
para ajudar meus pais. Parecia um trato justo com eles. Trabalhando em
tempo integral e estudando a noite para as provas e admissões, acabei
ficando relapso, eu acho. Em janeiro deste ano, um acidente com uma
escada e um piso molhado me tirou de qualquer outra temporada que eu
fosse jogar na vida. Machuquei o tornozelo e a clavícula, o que comprometeu
meu braço direito inteiro para qualquer futura pancada que eu fosse levar e
elas são inúmeras quando se está em campo.”
Eu sabia daquilo. Os jogos são violentos, e às vezes eu ficava com dó
de Mike e Matt por estarem em campo, embora eles nunca tivessem se
machucado tão sério. Matteo vivia reclamando dos ombros por causa dos
arremessos, mas era algo como dor muscular.
Imagino que talvez fosse como estar em alta em uma companhia de
balé e machucar o pé. Te tirava para sempre. Não estava em alta, mas soube
que depois que machuquei meu tornozelo, nunca mais poderia cogitar a vida
profissional. O desgaste era grande. Tentei imaginar a dor que Josh possa ter
sentido por isso ter tirado ele da jogada tão pouco tempo antes de ele poder
finalmente voltar a campo.
“Mas eu estava levando. Sarah e eu continuávamos fazendo planos,
ela sonhava comigo no profissional no fim da faculdade. Um bom draft
poderia ter sido meu futuro, muitas pessoas diziam isso. Mas não podia
competir com uma fratura séria. O médico falou que podia se tornar constante
eu ficar fraturando o ombro, tirando o braço do lugar, não seria bom.” Ele
deveria ser um ótimo jogador, não conseguia duvidar disso nem por um
segundo.
“Eu nunca sonhei com isso realmente, mas deixava levar pela
animação dela. As aulas dela acabariam dali poucos dias e já estávamos até
mesmo fazendo planos de irmos para Los Angeles ver alguns lugares.
Seguimos estudando e daí, um dia antes do envio final das aplicações na
maioria das universidades, ela disse que não funcionaríamos mais. Algo
sobre a faculdade e experiências, e que a gente devia aproveitar a vida. Se
fosse pra ser, íamos voltar um dia, mas eu nunca entendi direito isso. Tipo,
hm, nos amamos, mas vamos dar um tour completo por outras pessoas e
então voltamos.” Josh ironiza e eu posso ver a mágoa que há em seus olhos
e no tom da sua voz. “Acho que não é meu tipo de amor, talvez.”
Ele dá de ombros por um instante antes de tomar uma respiração e
voltar a falar.
“Todo o sofrimento deve ter me rendido uma carta perfeita porque
minha aplicação feita em menos de 24 horas para a NYU foi aceita com uma
possibilidade de bolsa.” Seu riso saiu sem muito humor. “Pelo menos eu
tentaria vir para o lado dos meninos.”
Seus melhores amigos deveriam ter sido de grande ajuda, depois de
ver seus sonhos serem levados embora e sua menina decidir que não te quer
mais sem motivos aparentes, ou não contados, não devia ter sido o melhor
momento da vida dele. Ele sorri de canto, tristonho, e algumas lágrimas que
brilham em seus olhos são afastadas.
“As pessoas começaram a falar sobre como eu tinha sido tosco e eu
queria fazer de tudo para sair de lá. Consegui fazer minha entrevista para a
bolsa em uma videoconferência, porque minha mãe estava tentando uma
vaga na matéria de verão com seus contatos. Ela foi uma aluna com muitos
méritos. O quarto vagou na casa dos meninos, foi a oportunidade perfeita
para fugir da Califórnia, das rodas de conversa, das fotos animadas de Sarah
em redes sociais alheias. Eu esperei dois anos por ela e fui chutado por
experiências com outras pessoas e trocas de energias novas na faculdade.”
Ele zomba.
Josh tomou algumas longas respirações. Se não é fácil para mim
escutar isso, sei que não deve ser a melhor coisa do mundo relembrar tudo o
que ele passou há não muito tempo.
“Eu não estou dizendo que ela não pode ter os motivos dela, ela só
não foi muito clara quanto a isso. Além disso, o momento pareceu
conveniente e talvez eu esteja me deixando levar pelo que os caras falam,
mas é o que parece.”
“De fato.” Minha boca parece seca e não sei bem o que falar, ou se
devo falar algo.
Josh me solta de seu toque e mais uma vez sinto falta de uma
proximidade que nunca gostei de verdade. Seria melhor me afastar mesmo
de qualquer forma, a zona que estávamos não me permitia ser uma Sarah ou
algo parecido, o que era bom para nós dois.
Eu teria uma boa chance de ser do tipo que quebra corações.
“Foi isso que aconteceu. Porque estou aqui, agora, tão longe, dois
anos depois e longe das jardas do campo.” Outro encolher de ombros, como
se ele pudesse se esconder. “O médico disse que eu podia seguir com
atividades físicas, mas não na intensidade necessitada pelo campeonato.”
Ele fala e isso explica sua boa forma mesmo depois de precisar ser afastado.
Ficamos em silêncio por um momento, porque nunca fui boa em
consolar as pessoas, mas sinto que devo encontrar algumas palavras
melhores para o momento. Ele se abriu para mim, parece justo.
“Eu sinto muito, pelo seu acidente. Não posso dizer isso sobre Sarah
porque não sinto empatia nenhuma por ela agora. Ela foi mesmo uma vaca
chutadora de boas bundas então, foda-se a Sarah.” Digo a última parte um
pouco alto, exaltando minha revolta sobre a situação.
“Foda-se a Sarah, que fodeu com meu futuro.” Ele fala, não tão alto,
mas infinitamente com mais chateação que eu. “Eu não teria te conhecido, se
fosse diferente.” Josh me fita depois de um certo tempo e um calor não
originado pela água morna da hidromassagem me sobe.
“Talvez tivesse, caso tivesse vindo para cá desde o princípio.”
“Talvez, mas talvez não.” Como se nosso encontro compensasse todo
o resto.
“Eu não sou tão boa assim.” Brinco, apesar de achar que eu sou sim
boa desse tanto.
Josh ergue aquele sorriso, que derrete aquela parte que devia estar
sólida como uma rocha dentro de mim.
“Talvez você seja.”
 
 
 
 
 

 
SAIO DA ÁGUA BALANÇANDO OS CABELOS PARA TIRAR o excesso de
água e caminho até a cadeira de praia onde deixei minhas coisas. No espaço
de praia, logo na saída da casa, algumas espreguiçadeiras e guarda-sóis
foram colocados e acredito que pertençam aos Capri. Passo a toalha pelo
corpo, apesar de estar quase seco já pelo sol que se mostra bem brilhante no
céu.
Com a toalha nos ombros, junto meus pertences e vejo que tenho
duas ligações de Chelsea no meu celular, assim como vejo que mal passam
das nove da manhã. Subo as escadas que ligam a praia e a casa, tiro a areia
dos pés na ducha instalada perto da piscina e entro. Um cheiro maravilhoso
de bacon e ovos é sentido assim que abro a porta e uma visão que eu nunca
esperaria toma a frente dos meus olhos.
Vestida com uma roupa mundana demais, maiô e short jeans, Chelsea
está andando de um lado para o outro na cozinha. Pondo a mesa e mexendo
nas panelas.
“Você poderia, por favor, não parecer tão surpreso?” Ela fala com um
sorriso sem de fato olhar para mim.
“Mas eu estou muito surpreso.”
Me aproximo da mesa, examinando tudo. Jarra de suco de laranja,
café e leite, um prato com biscoitos, cesta com torradas e vários tipos de
geleias e cremes para serem passados. Um prato com panquecas está ao
lado do pote de mel.
“Julia me ajudou nas panquecas, nunca acerto o ponto.” Ela diz como
se somente esse ponto fosse chocante. “Cozinhar é terapêutico, às vezes.
Julia e a Sra. Price foram as figuras femininas que pude ter por perto o tempo
todo e para ter o tempo delas, isso exigia algumas visitas frequentes à
cozinha.” Chels traz xícaras e copos para a mesa.
Apesar de não ter contado com intuito de receber algo em troca,
esperava que depois de compartilhar algo pessoal, Chelsea pudesse me falar
um pouco sobre a mãe. Não queria demonstrar que minha curiosidade era
gritante e acabar sendo grosseiro sobre isso, mas eu estou muito curioso.
Ela havia falecido? Isso me parecia o mais provável e não conseguia
imaginar a dor que isso deveria ser. De qualquer forma, sabia que eram
coisas diferentes, a minha história e a dela.
“Fiquei com medo que tivesse ido embora.” Seu tom é baixo e viro meu
rosto para ela. “Depois de ontem, talvez preferisse voltar para Nova York.
Longe de Sarah.” Uma lasca de vulnerabilidade existente em sua voz me faz
aproximar do balcão, única divisória entre a cozinha e a sala de estar e jantar.
“Eu teria te avisado. Não sairia sem dar satisfação.” Não era o tipo de
pessoa que somente ia embora. “Desculpe, deveria ter deixado um bilhete te
avisando.” Digo arrumando a toalha em um dos ombros. “Fui correr de manhã
na praia e depois tomei um banho de mar.” Explico.
Ela dá um aceno de cabeça, virando para me olhar antes de pegar
pratos no armário.
“Tudo bem.”
“Vou subir e tomar um banho, volto em dez minutos. Me espere para
tomar café.” Falo me afastando da cozinha e indo até à escada.
“Ok. É… Josh?”
“Sim.”
“Eu posso ter entrado no seu quarto para verificar se estava acordado
e se não tinha ido embora.” Ela faz uma careta franzindo o nariz. “Não mexi
em nada, mas queria falar. Pra não sentir que invadi sua privacidade ou algo
assim.”
“Tudo bem.” Digo não conseguindo evitar um riso. “Eu ainda estou aqui
e não pretendo ir embora. Foda-se a Sarah, lembra? Não vou deixar que isso
estrague meu final de semana sem social com Chelsea Capri.” Brinco e
recebo um aceno com um sorriso antes que eu suba as escadas.
Minutos depois, desço com uma bermuda e camiseta para a cozinha e
Chelsea está colocando os pratos servidos na mesa. Nos sentamos um de
frente para o outro na mesa.
“Quais são os planos para hoje?” Pergunto servido café.
Ela faz uma careta depois de uns segundos e isso me faz parar a
torrada com ovos mexidos no meio caminho até a boca, pousando-a no prato.
Olhando fixo para ela, arqueio uma sobrancelha e noto que é a primeira vez
que vejo o rosto de Chelsea totalmente limpo, sem nenhuma maquiagem.
Surpreendentemente lindo, como de qualquer outra forma.
Ela nem mesmo parece precisar se esforçar para ser bonita.
“Chelsea?” Chamo quando ela tenta desconversar, voltando a dar
atenção a comida em seu prato.
“Em minha defesa, o convite aconteceu ontem ao meio-dia e não
queria te deixar todo… ansioso como sempre. Mas eu já dei um jeito nisso.”
Ela fala, colocando o cabelo para trás dos ombros.
“Convite?”
“Uma festa de noivado!?” Chels se encolhe e eu apoio as costas na
cadeira.
“Uma festa de noivado?” Repito. “Não prometeu que ia avisar sobre
dress code e essas coisas?” Não quero parecer chateado, mas
definitivamente não estou com vontade de parecer o amigo pobre ao lado
dela. Já tinha passado muitos eventos sendo o namorado pobre e não que
minha condição me incomodasse, mas os olhares incomodavam.
“Não precisa ir, se não quiser.” Ela nota meu tom de voz, mas não
parece chateada. Na verdade, soa mais como um desafio furioso com tom de
voz suave. “E eu disse que dei um jeito nisso.” Chels corta suas panquecas e
as enfia na boca parecendo uma criança mimada que teve algo negado.
“Ok.” Solto um suspiro. “Deu um jeito nisso?”
“Pedi algumas peças para você. Devem chegar antes do almoço.”
“Isso é bom.” Digo antes de voltar para minha comida. Prefiro não
perguntar muito sobre, mas provavelmente não serão peças de lojas de
departamento baratas, como grande parte das minhas roupas.
Estávamos finalizando quando Julia e Emmett passam pela sala, nos
desejando “bom dia” e dizendo que iriam para o centro fazer algumas
compras para casa. Me levanto para tirar minhas louças e colocá-las na
máquina de lavar. Chelsea vem logo atrás e fico encarregado de passar água
nas coisas ante de colocar na máquina enquanto ela retira a mesa.
“Que horas é a festa?” Pergunto colocando o sabão e programando.
“Às oito.”
“Hm, ok. O que faremos à tarde?”
“Pensei em aproveitarmos a praia um pouco, ou ficarmos na área da
piscina. Fingir que estamos em um dia normal de verão e não precisamos
voltar para o Collins, seu trabalho e minhas organizações.”
“Parece uma ideia muito boa.” Me apoio de costas na bancada da pia,
virando de frente para onde ela está.
“Se preferir, podemos ir almoçar em um restaurante do centro,
conhecer a cidade um pouco.” Ela inclina a cabeça, me analisando ao parar
na minha frente.
“Por mim, podemos ficar por aqui mesmo. Podemos preparar alguns
lanches para comermos durante o dia.” Sugiro e ela concorda.
O celular dela vibra na bancada e Chelsea lê uma mensagem antes de
sair da cozinha para o hall de entrada.
“Nossas encomendas chegaram!”
Fico parado um pouco atrás dela enquanto um homem diz o nome de
uma loja que desconheço, e ele e Chels trocam amenidades. Ele entrega dois
cabides cobertos por sacos de proteção pretos e uma sacola larga e logo se
despede. Quando fecha a porta, Chelsea parece tão animada como se
tivéssemos ido fazer comprar de fato.
“Vamos subir para que você veja.” Se ela tivesse com as mãos vazias,
tenho quase certeza que bateria palmas de empolgação.
E sem esperar uma resposta, ou uma oferta de ajuda, ela já está no
meio da escada. Acho graça da sua empolgação toda e a única coisa que
posso fazer é ir acompanhando atrás dela até chegarmos ao meu quarto.
Abro, esperando-a passar antes de ir junto, como um bom seguidor. Chelsea
apoia os sacos com cuidado na cama e abre o zíper de ambas,
desembrulhando e descartando os sacos de proteção.
O primeiro é composto por uma calça de alfaiataria azul-escuro, uma
camisa social de algodão branca e um blazer bege claro, com duas opções
de lenço. O segundo é um conjunto de calça e blazer, ambos em um bege um
pouco mais escuro. E mais dois lenços de bolso. Chelsea já está tirando duas
caixas de sapato da sacola, colocando cada uma em sua respectiva
combinação.
“A camisa serve para ambos.” Ela explica e para satisfeita ao meu
lado.
“Qual a cor do vestido que usará?” Pergunto pensativo e ela me olha
um pouco surpresa.
“Isso é sério? Que atencioso.” Chels sorri de canto. “Rosa-claro.”
“Acho que o conjunto bege vai ficar melhor.” Digo apontando para a
roupa na cama. “E são alguns anos de prática.” Digo sem muito humor, afinal,
Sarah era quem insistia para sempre não estarmos totalmente combinando
ou totalmente destoante quando íamos a eventos sociais do seu pai.
“Ah.” É o que sai da boca de Chelsea antes de começar a guardar o
conjunto descartado, atentando-se para pegar a camisa branca. Penduro
minha roupa no guarda-roupa, a fim de não amassá-la e escolho o lenço mais
discreto antes de entregar o outro a ela.
 
 
“Você ainda dança, além de fazer alguns movimentos?” Pergunto para
Chelsea depois de mastigar um mini sanduíche que Julia fez para nós.
Já devia ter passado da hora do almoço quando ela apareceu com
uma cesta cheia de comidas. Doces, salgadas e frutas. Eu e Chelsea
tínhamos descido para a praia com um cooler que encontramos na parte
externa cheia de gelos, garrafas de cerveja e água. Agora, o sol já está
começando a esfriar e meu celular aponta que já passam das cinco da tarde.
Chelsea está deitada em uma espreguiçadeira ao meu lado, uma
canga fina enrolada na cintura substituiu o short jeans depois que
começamos nossos mergulhos no mar. Ela senta, cruzando uma perna em
cima da cadeira e deixando a outra pender no chão. Levanta os óculos
escuros para os fios loiros e me olha com desconfiança.
“Você citou que dançava balé, que dançou por muitos anos. Sei que
um tornozelo machucado não nos limita totalmente de fato. Ainda dança?”
Repito a pergunta e seus olhos voltam para o mar, pensando sobre a
resposta, provavelmente.
“Não tanto quanto gostaria.” Ela fala com uma pausa. “Depois de certa
idade, ou você vira profissional em alguma companhia, ou prefere a carreira
de professora em alguma escola de balé. Ser profissional nunca passou pela
minha cabeça, mesmo antes de me machucar, ainda que eu ame dançar.
Então, só… me aposentei, não sei qual seria o termo adequado. Depois que
torci o tornozelo, fiquei muito tempo parada e quando voltei, não foi bem a
mesma coisa. Ainda danço, temos uma sala de dança montada em casa, mas
não consigo dançar tanto assim. Uma vez por semana, ou nem tanto. Nem
por muito tempo.” Ela dá de ombros e volta seu olhar para mim.
“E nunca pensou em ensinar outras pessoas? Ser uma professora de
balé?” Tomo um gole da minha cerveja e Chels me olha como se eu tivesse
falado o maior absurdo do mundo. “O que? Isso é tão ruim assim? Se não
fosse por uma pessoa ter pensando assim, você nunca teria aprendido.”
“Não, isso não é uma coisa ruim.” Ela suspira. “Eu só nunca me
imaginei assim. Nunca me imaginei fazendo nada, na verdade. Acho que não
teria a capacidade para ensinar crianças. Provavelmente seria processada
por algum pai insatisfeito.”
“Ah.” É o que falo, apesar de ter vontade de brincar com o fato de ela
nunca se achar capaz de exercer nada. Além disso, desacredito que ela seria
ruim assim dando aulas.
Talvez foi a falta de necessidade de precisar pensar em trabalhar.
Chelsea tem uma vida perfeita, a fortuna do pai deve dar um futuro ótimo
para ela e se contratar alguém bom para tocar a rede de hotéis, poderá viver
disso por muitas gerações depois que o pai morrer.
“E você? Sente falta de jogar?”
“Um pouco. É diferente quando você está no campo. Sinto falta de
toda a sintonia com os outros jogadores, em ouvir Ethan chamando as
jogadas, correr até meus pulmões arderem para fugir dos marcadores.
Marcar um touchdown e receber a aclamação da torcida. É um sentimento
diferente. Mas não é como se eu tivesse tido ambições de ir para o
profissional.” Dou de ombros e deixo meus pensamentos viajarem para meus
tempos de running back, a euforia jogos, os títulos.
“Mas ainda assim, teriam sido mais quatro anos, pelo menos.” Ela fala.
Apesar de eu esperar um pouco de pena, vejo que ela parece um pouco
chateada por mim, como ficou ontem à noite, enquanto eu contava para ela
sobre minha lesão. “Ainda vai poder viver um pouco disso estando com os
rapazes. Eles jogam, não?”
“Nick e Ethan, sim. Scott acabou não podendo vir no primeiro ano e
perdeu a oportunidade de entrar no time. Éramos uma dupla de ataque bem
perigosa, Scott e eu.” Comento sem um motivo.
“Se você tivesse vindo para cá há dois anos, poderia ter te visto em
campo com Matt e Mike, talvez.” Ela diz com animação.
“Duvido que colocariam um calouro para jogar tão fácil. Ethan está
dando de tudo para entrar como titular nesta temporada, dois anos depois
que chegou. Nick só conseguiu a vaga porque o jogador da posição dele
pediu transferência de última hora no ano que eles chegaram, ele reveza a
vaga com outro cara que era banco.” Não que eu queira acabar com a
imaginação dela, mas teria sido difícil nos ver atuando em campo juntos.
“É, talvez.”
Ela continua sorrindo enquanto seus olhos se voltam para o mar,
provavelmente imaginando algo que eu não seria capaz de adivinhar em mil
anos. Ela respira fundo ao fechar os olhos por alguns instantes.
É uma sensação incrível. Temos um pedaço de praia basicamente só
nosso, o som do mar é quase o único escutado dado a distância entre as
casas vizinhas. O sol começou a se pôr, alaranjando o céu nas costas de
Chelsea.
“É uma vista tão bonita, nem sempre me dou o prazer de admirar.” Ela
fala.
“Realmente, é uma vista linda.” Parecia uma pintura, tanto o mar
quanto ela. Volto os olhos para o horizonte, observando de fato o que ela fala.
“Sinto falta da calmaria daqui às vezes.”
“Achei que fosse uma típica garota da cidade.” Zombo-a, arrancando
um riso.
“Eu sou, mas gosto de um pouco de tranquilidade também. A balança
da vida.” Ela toma mais uma longa inspiração. “Acho que devemos entrar.
Não quero que cheguemos muito atrasados.” Concordo com um aceno de
cabeça e nos levantamos, começando a juntar nossos pertences.
Coloco as garrafas vazias no cooler para serem descartadas e
Chelsea guarda o resto das comidas na cesta. Subimos para a casa quase às
seis horas e, sem muitas palavras, vamos cada um para o seu quarto.
 
 
 
 
 

 
MEU VESTIDO CAI COM PERFEIÇÃO NO MEU CORPO. Não que eu
achasse que isso não fosse acontecer. É um rosa-bebê, o vestido de baixo
tem duas fendas altas nas pernas e a parte de cima o tule cobre essas
fendas, apesar da transparência. A parte de cima tem aplicações de flores em
alguns lugares em um rosa um pouco mais escuro. O decote em v me
favorece, assim como as costas expostas, onde duas finas tiras que compõe
as alças trançam em x até a cintura.
Pulseiras, anéis e brincos delicados, assim como um par de sandálias
de salto bege, que me dão uns dez centímetros a mais, completam minha
combinação. Assim como uma maquiagem simples rosé com toques de
dourado, que destacam meus olhos azuis. Meus cabelos caem em ondas
loiras bem feitas nas costas e estou satisfeita com o que vejo no espelho de
corpo no quarto.
Quase sempre estou satisfeita.
Batendo o batom matte nude claro nos lábios mais algumas vezes,
pego minha bolsa de mão, colocando o batom lá dentro, e saio do quarto.
Assim como no dia anterior, Josh me espera no terraço, apesar de hoje
estar apoiado no parapeito, me dando uma boa visão de como sua bunda fica
incrivelmente bem colocada dentro dessa calça de alfaiataria bege.
Como se percebesse minha chegada, e talvez eu tenha anunciado
pelo bater dos saltos no piso, ele se vira de frente.
Ainda mais bonito do que de costas. Ele parece uma visão muito linda,
e me parabenizo por ter acertado em cheio as medidas dele. A camisa branca
abraça sua cintura muito bem, fazendo parecer que ela e o paletó de cima
tenham sido feitos exclusivamente para Josh. A forma como as mangas
destacam seus braços me faz desejar tocá-los e por um minuto acredito que
meu desejo tomou conta porque meus pés se aproximam dele.
Deixando dois botões abertos na camisa ele me deixa espiar parte
daquele peitoral trincado do qual já tive ótimas visões hoje mais cedo e ontem
à noite. Um pacote de seis completo, bem malhado que me deixam com
vontade de arrastar as unhas por ali. A linha em v expressiva que levava a
outro pacote que deveria ser tão bom quanto o resto, apesar de essa parte
ter sido deixada a me atormentar nos sonhos nessa noite.
Algo do qual não me orgulho, mas foi totalmente inconsciente.
Impressionada demais com a minha visão, mal noto que Josh está
com a boca levemente aberta e isso me agrada mais do que o normal. Sorrio
largo para ele, enquanto seus passos largos fazem o resto da distância e ele
foca meus olhos antes de sorrir.
“Você está… encantadora.” Ele toma a minha mão para fazer um giro
clichê e eu acabo rindo no meio do caminho. “Realmente muito linda.” Josh
fala ao me parar de frente para ele mais uma vez.
“Você está muito charmoso também, eu fui muito bem na escolha
dessa roupa.” Bato os lábios enquanto apoio minha mão no meio do peito
dele.
“Viu só? Já melhorou os elogios.” Ele brinca, mas vejo um lampejo de
bochechas coradas pelo elogio. “Acho que devemos ir, já são oito horas.”
Josh verifica as horas no seu relógio de pulso. Um num estilo vintage com
pulseira de couro marrom.
“Claro.” Me viro e ele me segue.
Josh oferece a mão para me ajudar na escada e aceito de bom grado
a gentileza enquanto divido a outra mão entre a bolsa fina e segurar o vestido
para não acabar estragando o tule.
Nos poucos dias convivendo com Josh, não consegui deixar de
perceber como ele tem gestos simples e automáticos, como abrir portas e
segurá-las para que eu passe, ajuda em escadas, limpar minha cadeira da
areia na praia, abrir minhas garrafas. Alguns toques atenciosos feitos sem
pensar e que não me desagradam nem um pouco.
A única vez onde ele pensou antes de agir, foram as duas que notei
quando ele recuou a mão antes de colocá-la nas minhas costas enquanto
andávamos. Íntimo e próximo demais, fiquei feliz dele não fazê-lo.
O carro nos esperava na frente da porta e a viagem até o lugar da
festa não foi tão demorada. A festa é simples, mas elegante. Mary e Aiden
são um casal bonito e simpático. Os pais de Mary são do grupo próximo do
meu pai, e pais dos meus melhores amigos. Josh fica ao meu lado ao
passarmos pela recepção, onde informei meu nome e entramos. A música lá
dentro passa o clima de sempre, um ambiente agradável e fino.
Avisto Daphne em uma das mesas, com Mike e Matteo.
“Vem, tem algumas pessoas que gostaria de te apresentar.” Digo para
Josh com um sorriso e sem pensar no movimento, tomo a mão dele, guiando-
nos até o bistrô onde meus amigos estão de pé.
“Graças! Uma companhia.” Mike foi o primeiro a me ver, apesar de seu
humor ameno não ter se alterado muito enquanto ele me abraça e beija
minha cabeça.
Sendo irmão gêmeo de Daphne, ambos compartilham muitas
características físicas, mas as semelhanças acabam por aí. Não posso dizer
que a personalidade deles é nem um pouco parecida.
“Eu estava à beira de um colapso tentando evitar que esses dois
começassem a falar de trabalho. A propósito, sou Mike.” A última parte é
direcionada a Josh, com quem ele troca um aperto de mão.
“Josh!” Um sorriso tímido acompanhou a apresentação.
“Chelsea dá o ar da sua graça, atrasada como sempre.” É a recepção
calorosa que tenho de Matt, quem me puxa para um abraço forte. “Você está
linda.” Ele sussurra no meu ouvido. Apesar de termos a mesma idade, por
inúmeras vezes me sentia a irmã mais nova de Matteo, talvez por passar
tempo demais com Becks, e sentir sua falta é inevitável.
“Não fui em quem virei um cara que não tem mais tempo para amigos
e só para o trabalho.” Bufo, revirando os olhos enquanto me afasto, indo
cumprimentar Daph.
“Deve nevar no verão, porque Chelsea Capri tem um acompanhante.”
Matteo aproveita a distância entre nós, ou eu provavelmente teria batido nele
naquele momento, esquecendo uma série de regras de etiqueta.
“Um amigo, e não há necessidade nenhuma de espantá-lo, Matteo.”
Repreendo de longe.
“Isso vai depender se vou ter meu cargo ameaçado.”
“Impossível qualquer pessoa atingir seu nível de chateação, pare de
bobeira.” Ele dá risada com minha fala antes de estender a mão para Josh e
os dois se cumprimentarem.
“Eu esqueço totalmente como vocês dois parecem crianças um ao lado
do outro.” Daphne reclama depois de Josh aproximar-se dela e trocarem
apertos de mão.
Deixo minha bolsa no bistrô redondo e olho para a festa, não consigo
ver o casal em lugar algum e provavelmente preciso ir até eles dar minhas
felicitações. Ambos têm minha idade ou estão próximos a ter, e fico feliz por
não haver nenhuma senhora casamenteira por perto ou Matteo e eu
seríamos alvo de listas infinitas de candidatos por temos a mesma idade dos
noivos.
Afinal, se alguém da sua idade casou, você também deve.
Um garçom passa e Josh pega uma taça para mim e uma para ele.
Agradeço com um sorriso e percebo o olhar desconfiado com um sorriso de
Daphne do outro lado da mesa.
“Já viram Mary ou Aiden?” Coloco um assunto na mesa antes que
Josh possa notar qualquer olhar mal-intencionado de minha melhor amiga.
“Disseram que vão fazer uma grande entrada, provavelmente não deve
demorar.” Mike responde sem muito ânimo.
“Por outro lado, a persona non grata acaba de passar pela porta.
Espero que ele não tenha a cara de pau de se aproximar.” Matteo fala entre
dentes e como estou de costas, me viro para ver a imagem de Oliver
cumprimentando algumas pessoas.
Felizmente, mantendo nossa noite agradável, ele não se aproxima de
nós. Ou talvez sejam os efeitos dos olhares pouco simpáticos que damos a
ele.
 
 
“Quer dançar?” Josh sussurra para mim enquanto os meninos e
Daphne conversam, estendendo a mão aberta para mim por baixo da mesa.
Fomos realocados para uma mesa bem decorada em dourado e
branco pouco antes da entrada graciosa do casal. O prato de entrada e
principal já haviam sido servidos e alguns convidados deixavam o salão,
apesar de estarmos animados demais com a quantidade de espumante
consumido para tal coisa. Está sendo uma noite bastante agradável com
todos eles.
O paletó dele foi deixado de lado uma vez que o ar condicionado do
ambiente não deu conta do abafamento de tantos convidados. As mangas da
camisa branca estão dobradas até a metade dos antebraços.
Uma visão graciosa.
“Claro!” Um sorriso me toma os lábios enquanto pouso a mão sobre a
dele.
Josh se levanta e me ajuda a sair da mesa, me guiando até a pista
onde músicas lentas tomam conta do som a um tempo. Ele me gira
levemente, um movimento totalmente esperado dele, antes de me tomar nos
braços. Não consigo deixar de achar graça pelo ato quando coloco a mão no
braço de Josh que abraça minha cintura.
“Você realmente é o pacote completo, até mesmo com os clichês.”
Digo olhando para seu rosto quando começamos a nos movimentar com a
música.
“Eu sabia que estava um pouco atrasado nos lançamentos. Preciso
renovar minha cota de filmes de comédia romântica.” Ele torce o nariz antes
de voltar a sorrir. “Você parece achar engraçado.” Josh faz uma espécie de
dar de ombros antes de puxar a minha mão que está na dele até o seu peito,
segurando-a ali e nos deixando ainda mais próximos.
A naturalidade com a qual ele faz tais movimentos me faz invejar um
pouco Sarah, por ter tido isso para si com tanta facilidade.
Apesar de gostar da proximidade, provavelmente mais do que
normalmente gostaria, sinto falta de poder olhar nos olhos dele. Josh é uma
pessoa muito expressiva, quase todas suas emoções passam pelo seu rosto
antes de saírem através de palavras. Isso facilita minha leitura do que devo
ou não dizer.
Isso quando as palavras saem.
“Não engraçado, acho atencioso.”
“Atencioso?”
“Sim.” Respondo, precisando de alguns momentos para formular
melhor.
Nunca tive um acompanhante antes, Matteo sempre fez esse papel
com perfeição. Becks e Oliver sempre foram um casal, Mike e Daphne
estavam ocupados demais com outras coisas logo acabavam um na
companhia do outro. Matteo era a pessoa que me tirava para dançar e era
meu par em festas e bailes escolares.
Angel sempre foi do tipo que tinha uma lista de pretendentes, assim
como eu ou as meninas. Mas nunca quis estar com alguém, alguém de
verdade. Nunca quis levar a jantares de família, tardes de filme com alguém
ou uma companhia na cama a noite para dormir. Era próximo demais e a
proximidade a certo ponto me deixa nervosa.
Preciso pensar antes de o responder porque fazer o papel de menina
carente não está no meu currículo, nem mesmo é algo que eu sou. Apesar de
sentir a falta de estar com meus amigos nesse verão, ainda os tinha. Nunca
precisei implorar por uma companhia masculina e no momento em que as
coisas começam a ficar complicadas demais, eu sempre pulo fora sem
pensar duas vezes.
Preciso pensar porque coisas atenciosas para mim, podem ser
comuns em qualquer mundo do qual eu não vivi.
“Tá bom.” Josh sussurra após não receber mais respostas.
Talvez fosse a forma que eu sentisse que de fato estava tudo bem. Se
eu não dissesse nada, estaria tudo bem. Josh não parecia me pressionar e
isso me fazia querer contar inúmeras coisas a ele. Só pela possibilidade de
fazer isso porque eu queria e pronto.
Pela primeira vez, em anos, quis falar sobre a minha mãe. Ontem à
noite e hoje a tarde. Me sinto confortável o suficiente ao lado dele para
pensar sobre isso. Faz muitos anos que não comento sobre o assunto com
ninguém. Papai ainda tem mágoa o suficiente para si. Meus amigos sabem
que, se eu não falasse, o assunto fica melhor guardado do que exposto.
Mas senti vontade de contar sobre aquilo para ele, para que conheça
mais essa parte de mim. O que é uma loucura, porque não nos conhecemos
há nem um mês, duas semanas e olhe lá. E aqui estou eu, pronta para
despejar assuntos pessoais demais, convidando-o para eventos e viagens
sem pensar muito sobre o assunto. Não que eu já não tivesse muitas atitudes
impulsivas no currículo.
“Você escolheu sua roupa hoje com base no meu vestido, elogia
mesmo sem procurar por algo em troca, chama para dançar e faz toda a cena
fofa. Não acho engraçado, acho atencioso.” Respondo de forma mais
completa que posso. Sua mão na minha cintura, que desenha círculos
carinhosos com o polegar, para por um instante antes de retomar.
“Deveria me desculpar ou algo assim?” Ele parece realmente sério ao
fazer essa pergunta.
“Não, claro que não. É algo muito legal. Um traço positivo da sua
personalidade.”
“Hm, ok.” Josh fala com pausa. “Achei que seria legal vestir algo que
não ficasse tão destoante, fez sentido para mim. Por que deveria procurar
algo em troca? Elogios são o que são. Você está deslumbrante essa noite,
ponto final. Não tem muito a ser debatido sobre isso.” Pela pausa abrupta,
não preciso olha-lo para saber que deve ter corado levemente.
Honesto demais.
Às vezes, ainda acho que Josh tem medo de mim, talvez tenha sido
por isso que eu tenha parado com alguns comentários indiscretos. Afastá-lo
não parece uma ideia bem aceita pelo meu cérebro, nem mesmo a longo
prazo.
“E eu também queria dançar. Achei que não teria aceitado o convite se
não quisesse.”
“Não precisa ficar explicando suas ações. São coisas boas, Josh,
relaxe.” Corro meus dedos para cima e para baixo no braço dele duas vezes
antes de parar. “Obrigada, pelo elogio e pela dança.” Um perfeito cavalheiro,
quase algo de outro mundo.
O que me faz pensar que deve haver algum defeito grande. Precisa ter
para que eu fique a salvo.
A música tinha sido trocada, mas seguimos dançando até que uma
mão toca os ombros de Josh, nos fazendo parar e virar.
Estava prestando atenção demais nele para até mesmo notar sua
aproximação.
Uma figura indesejada surge na minha vista, servindo perfeitamente
para ser o fantasma do passado. Seu sorriso branco parece mais gentil hoje.
Apesar de estarmos um ao lado do outro, o braço de Josh continua em minha
cintura, assim como sigo com um toque leve na lateral do seu corpo.
É Sarah, eu planejava ficar assim por um pouquinho mais de tempo.
Estava sendo um momento muito agradável da minha noite. Obrigada.
“Estava esperando que pudesse ter uma dança.” Seus olhos estão em
mim, mas eu observo Josh, tentando descobrir se devo ou não ir.
Contrariando meus pensamentos de antes, agora é um dos momentos em
que sua expressão está lisa como seda. “Velhos tempos e tudo mais.” Volto
para ela e ela olha para Josh, que retribuiu de canto o sorriso.
Alguém está definitivamente sobrando.
“Claro.” Falo, colocando certa distância entre nós antes de sair da pista
com um aceno de cabeça para os dois. Não entendo o porquê disso me
incomodar mais do que normalmente costuma.
 
 
 
 

 
ÓTIMO MOMENTO PARA PARECER UM PESO MORTO.
Sem saber falar ou fazer qualquer movimento que fosse útil. Claro que
a última coisa que eu queria no mundo era a proximidade de uma dança com
Sarah. Claro que eu ainda tenho sentimentos por ela, e muitos. Muitos
mesmo. Sabe aquela visão de família feliz, casa cheia de pirralhos gritando e
alguém pra ter ao lado até o fim? Essa imagem ainda tem a cara dela no
meio.
Podemos pensar que isso se dá pelos longos quatro anos de
relacionamento, mas também pelo término sem razão aparente.
Aparentemente, terminar sem uma razão é pior do que qualquer outra
coisa, mas não tive tantas experiências assim para poder dizer. Apenas
gostaria que Sarah tivesse um motivo, alguma atitude, ou dissesse algo sobre
ser melhor para nós dois, que não estávamos dando certo. Tecnicamente, ela
disse que precisávamos curtir a vida, mas 1) poxa, podia ter tido um timing
que não fosse esmagador para mim e 2) não senti totalmente a verdade
nessa fala dela, na ocasião do término.
Agora chegamos à pergunta crucial, por que eu não fiz nada para
impedir que ela estivesse colocando a mão no meu pescoço e encaixando a
outra na minha? Eu chamaria de burrice, mas também sou dado a reações
lentas.
Provavelmente o choque tomou minhas emoções. Ainda não estou
totalmente nos meus melhores sentidos.
Minha mão está na cintura de Sarah e estamos dançando no ritmo lento
da música. Ela tem uma expressão quase tranquila no rosto, mas eu a
conheço mais que isso. Sei que algo está incomodando no fundo, só não
posso descobrir mais o que é.
E não sei nem se quero tentar.
Reabrir essa ferida só traria coisas amargas que estou tentando deixar
de lado. Monte uma vida nova em Nova York, eles disseram, mas
esqueceram da parte na qual você dá de cara com o passado que quer fugir.
Não que eu tenha querido fugir de Sarah, mas é complicado. Ainda
tenho sentimentos demais, memórias vívidas demais. E estando assim é
quase como se eu pudesse me inclinar e sussurrar sobre um chapéu
escandaloso que vi mais cedo. Ela riria disso agora de forma discreta, mas
lembraria do momento mais tarde quando estivéssemos deitados um
enroscado no outro, olhando para o teto e relembrando dos melhores
momentos da noite.
Porque era isso que a gente sempre fazia.
“Você tá bem?” A expressão dela está focada em mim, com a testa
levemente franzida. Os cabelos foram arrumados em um rabo de cavalo loiro
e isso me permite uma visão melhor do seu rosto.
“Claro.” Respondo rápido, porque não deveria haver nada de errado.
“E você?” Sei que isso não é uma troca de amenidades, mas fica mais fácil
assim.
“Eu também.” Ela responde antes de desviar os olhos dos meus e
aproveito para fazer o mesmo.
Do ponto onde estamos, não consigo ver a mesa onde Chelsea deve
estar sentada com os amigos e nem mesmo sei o porquê estou procurando
por ela, mas, involuntariamente, estou.
“Não sabia que estava aqui. Desse lado do país.” Ela diz.
“Faz algumas semanas que estou em Nova York. Curso de verão.”
“Ah.” Sarah aperta os lábios por alguns instantes. Desde quando não
tínhamos mais assuntos para conversar? Sempre foi algo que tínhamos de
sobra. “NYU?”
“Sim. Era o plano desde o começo.” Eu disse isso para machucar um
pouco, esperando que tivesse efeito e sim, foi infantil, mas foi o que eu falei
nesse momento.
“Pensei que tivesse sido aceito na UCLA.” Claro que o pai dela devia
ter descoberto isso com nem dois telefonemas.
“Optei por Nova York, assim poderia estar junto com os meninos.” Ela
me dá um aceno de cabeça. “Ficou com a UCLA mesmo?”
“Sim, vamos levar a mudança em agosto. Estou tentando uma vaga
em uma fraternidade. Na verdade, meu pai já está certo que serei aceita pelo
meu histórico, mas prefiro manter o pé no chão.” Estranho o pensamento dela
estar assim agora. Morar em uma fraternidade ou alojamento compartilhado
sempre deu nos nervos de Sarah, ela sempre falava de dividirmos um
apartamento tranquilo.
Achei que fosse seguir com essa ideia, morando sozinha.
“Fraternidade, hm?” Não consigo evitar minha curiosidade.
“Achei que podia ser uma boa ideia. Entrosar com pessoas logo de
cara.”
“Ou fazer inimigos.” Brinco e ela ri, me dando um leve tapa no braço.
“Não seja pessimista, Joshua!” Sarah revira os olhos antes que ambos
seguíssemos a dança em um compasso estranho e em um silêncio alto.
“Você e Chelsea, hm?” Ela coloca o tópico e posso ver que estava ansiosa
para fazer a pergunta, apesar de não entender muito o porquê. “Ela é bem
falada, as pessoas adoram sua… energia.”
“Ela é realmente animada, é difícil ficar parado do lado dela em
situações normais.” Sorrio lembrando de alguns momentos mais cedo na
praia, onde ela se recusava a me deixar muito tempo deitado quieto. “É difícil
não conversar com ela. Chelsea fala bastante, e não de uma forma ruim. Na
verdade, é ótimo já que eu não sou uma pessoa que fala muito, como sabe.”
“É.” Sarah solta sem entusiasmo. “Na verdade, a pessoa só precisa
saber fazer você se soltar.”
“Acho que ela consegue ligar meus botões nesse quesito, sendo
assim.” Dou de ombros.
A música acaba e Sarah indica para o bar.
“Uma bebida?”
“Você teoricamente não pode estar bebendo, não é mesmo?” Ela
completou dezenove anos no começo do verão.
“Drinks sem álcool.” Duvido que seja em todas as ocasiões,
conhecendo-a, mas não aperto Sarah sobre isso enquanto nos dirigimos até
o bar lado a lado. “Não respondeu minha pergunta?”
Franzo as sobrancelhas, olhando para ela. “Qual seria?”
“Se estão juntos.” Um riso sem humor lufa pelos meus lábios assim
que escuto as palavras dela e levanto as sobrancelhas quase em surpresa
pela persistência,
“Não, somos amigos.” Não há porque mentir, afinal.
Peço por uma garrafa de água, precisando amenizar os ânimos e
Sarah um copo de suco. Me apoio no balcão do bar e ela senta na banqueta
ao meu lado, algumas pessoas estão acomodadas por ali, conversando
animadamente e apertando mãos.
“Eu também não estou com ninguém. Louis é um amigo, filho de um
parceiro do meu pai.” Aceno com a cabeça para ela, feliz por não ter sido a
pessoa a perguntar, apesar de feliz em saber. “Também não fiquei com
ninguém nesse meio tempo.” Não consigo fazer nada além de beber um
pouco da minha água após dar outro aceno com a cabeça.
Um peso da culpa se aloja no meu peito, maior do que gostaria que
fosse, afinal, não fiz nada de errado. Ela terminou comigo, quase um mês
depois eu fiquei com alguém.
Alguéns.
Não que eu esteja contando de fato.
Mas não fiz nada de errado para que me sinta culpado assim. Tenho
vontade de confessar o que aconteceu no final de semana passado, mas
controlo minha língua a ponto de quase precisar a engolir para isso. Foco em
pontos no salão, as pessoas dançando, outras indo embora, o casal de
noivos abraçados perto da mesa com doces.
A verdade é que o que tivemos não vai embora rápido e sinto que
ainda amo Sarah forte demais, um sentimento que ainda é um pouco
avassalador. Ou pelo menos é o que penso ser, amor.
Desisti de muitas coisas por ela e isso é algo que só se faz por alguém
que se ama muito, e eu amava; talvez de uma forma juvenil, mas
acreditávamos sermos para sempre. E talvez a culpa venha de uma
esperança boba que tudo não passe de um desentendido, que vamos voltar a
ficar juntos.
Esperança boba.
Seja lá o que for, Sarah não se arrependeu. Esse não foi um
sentimento que consegui ver nela essa noite, ou na passada, quando nos
encontramos. Não era saudade, foi surpresa. Se houve saudade, ela não
pensou em expressar isso. Apesar de achar que não sou a melhor pessoa
em demonstrar sentimentos, todos costumam dizer que sou um livro aberto,
tenho certeza que isso foi algo que Sarah pode ver essa noite.
A dança foi quase cruel. A proximidade entre nós com o toque que não
foi suficiente. Isso não é algo que eu consegui suportar bem. Era fácil girar no
salão com Chelsea, tê-la perto. Não havia sentimento, não esse sentimento.
Ela nunca me veria da forma que eu vejo Sarah e que um dia Sarah me viu.
É fácil, é leve, sem precisar pensar muito. Porque, no fundo, essas são
as características de Chelsea, ela é leve. Uma companhia que sempre coloca
um sorriso no seu rosto. Não exige esforço para estar por perto.
Com Sarah foi diferente. Precisar suportar a vontade de traze-la para
perto, a vontade de beijar o topo de sua cabeça e dizer como ela está linda
nesse vestido vermelho-escuro, apesar de saber que sua vontade foi passar
uma ideia de ser mulher mais velha com isso. É engraçado vê-la nessa
posição, porque sempre fui eu quem tentava demais, ela só era ela. Isso não
era ruim.
Fingir ser amigos, estar de boa, ainda é cedo demais. Eu só… não
posso fazer isso. Talvez não ainda. Não consigo ser assim tão logo.
“Eu preciso ir.”
“Talvez devêssemos ir para meu hotel…” Dizemos ao mesmo tempo, e
a proposta dela me faz soltar um riso triste.
“É, eu realmente preciso ir.” Tomo o resto da minha taça antes de
pousa-la no balcão e tentar sorrir de forma amigável para o barman que a
recolhe prontamente.
“Eu quero conversar.” Ela toca meu braço, querendo me impedir de
voltar para a minha mesa.
“Conversar?” Sei que minha voz não sai forte ou debochada como
deveria. É baixa e carregada de mágoa. “Agora?”
“Você simplesmente foi embora.” Ela me acusa, levantando as
sobrancelhas.
“Duas semanas depois e, porque alguns de nós não conseguem fingir
que está tudo bem, e assistir festas e diversão como se estivesse tudo bem.”
Falo exasperado, desviando discretamente do seu toque. “Eu não estou
julgando você, Sarah. Só… às vezes dói, sabe?” Engulo em seco, respirando
fundo. “Fui aceito, minha mãe conseguiu essa vaga, o quarto vagou na casa
dos meninos, Ethan me enviou várias vagas de emprego. Por que ficar?” Dou
de ombros.
Não preciso de resposta, porque não existe. Ela não me prendia em
San Diego, mas era a razão maior para que eu ficasse lá. Meus pais sempre
quiseram que eu seguisse meus sonhos, e eu os segurei porque queria estar
ao lado dela. Porque Sarah fazia parte desses sonhos também.
Ela pressiona os lábios em uma linha e balança a cabeça algumas
vezes, como se entendesse, mas vejo que minha resposta não agrada. Não
gosto de ver a chateação no rosto dela, porém não posso mentir sobre o que
sinto e o que senti. Doeu, me afastei, melhorou um pouco.
Eu não estava perto, os meninos me mantiveram distraído, Chelsea
apareceu e se tornou uma ótima companhia. Essa foi a razão pela qual eu
consegui me manter bem nas últimas semanas.
“Desculpa, mas eu não posso. Eu não posso ir com você, eu não
posso conversar. Não posso me dar essa esperança nesse momento porque
estou indo bem. Por que no fim da noite o resultado ainda será o mesmo.”
Digo e Sarah pisca algumas vezes. Dói vê-la assim, mas por que ir para esse
pequeno ciclo que vai se tornar vicioso? Faz pouco tempo, um mês, cinco
semanas. Não o suficiente para isso. Não para mim. Ir conversar, algo que
não nos levará a nada. “Obrigado pela dança, eu realmente preciso ir.”
“Tudo bem.” Ela diz simplesmente, mas eu me demoro um pouquinho
mais antes de virar as costas e voltar para a mesa. Porque uma pontinha de
mim quer que ela fale mais que isso.
Mas ela não fala. E eu passo o caminho inteiro até minha cadeira
tentando fingir que está tudo ok, melhorar meu humor. Porque estava sendo
uma boa noite.
“Está tudo bem?” Chelsea me pergunta com sua voz de preocupada,
chamando minha atenção ao repousar a mão na minha perna depois de certo
tempo que estou de volta ali.
“Está.” Digo tentando lhe dar um sorriso aceitável.
“Eu não sabia que ela estava na lista, desculpa. A gente não precisava
ter vindo de fato se eu soubesse, poderíamos ter ido a outro lugar.” Eu
realmente devo estar com uma cara de merda. Não que Chelsea seja do tipo
coração gelado, mas sua preocupação é… grande.
“Está tudo bem, não tinha como você saber.” Pego a mão dela entre as
minhas. “E de qualquer forma não é sua culpa que ela esteja aqui e que
tenhamos terminado há um tempo. Está tudo bem, de verdade.”
Beijo o nó dos seus dedos antes de soltar sua mão. Ela franze o nariz,
porque não compra minha resposta. Chels não tem oportunidade de dizer
mais nada, porque Matteo solicita sua opinião sobre algo relacionado a irmã
dele e eu volto a tentar prestar atenção na conversa, tentando me distrair.
 
 
“Eu nunca tive amigas.” Digo depois de um certo tempo, relembrando
nossa conversa mal acabada de mais cedo, precisando excluir o ocorrido de
depois da mente. “Talvez, parte disso tudo, seja porque não sei bem como
tratar uma amiga.” Dou de ombros uma vez que sua atenção se volta
totalmente para mim. “Eu tive duas namoradas e isso foi tudo.”
“Eu nunca tive um namorado, então não sei como é ser tratada como
tal. Acho que pode… ficar tranquilo?” Ela diz e franze o nariz de uma maneira
adorável antes de beber mais um gole curto da sua taça. “E também nunca
tive amigos. Quer dizer, os meninos sempre foram como parte da família, não
é como se eu tivesse precisado de muito esforço para construir essa
amizade. Simplesmente cresci sabendo que estaríamos ali uns pelos outros.”
Ela sorri sem olhar para nada em específico. Provavelmente o mesmo sorriso
que eu posso acabar tendo nos lábios todas as vezes que falo sobre os
meninos.
“Está precisando de esforço para construir a nossa amizade?” Não
consigo deixar de perguntar porque a dúvida acaba sendo mais alta que
qualquer outro pensamento.
Não quero que Chelsea ache que é obrigada a ser minha amiga
porque estamos em um trabalho junto. Só estamos em um trabalho juntos
porque éramos iguais em uma sala de verão quase lotada. Duas pessoas
parecendo totalmente perdidas entre as demais, achei que seria uma boa
ideia.
Não que a amizade dela seja algo que eu não esteja gostando, mas
não quero que ela se force a isso.
Ela revira os olhos quando as duas piscinas azuis focam em mim mais
uma vez e sorri como se eu tivesse dito algo extremamente tolo. O tipo de
sorriso que acabo reconhecendo depois de receber com certa frequência.
Talvez eu deva precisar parar de falar coisas estúpidas.
“O que eu quis dizer, é que estamos no mesmo barco.” Ela não
responde de fato muito a pergunta, que provavelmente ficará na minha
cabeça por muitas horas e dias. Ela suspira alto e fecha os olhos por alguns
segundos. “Vamos para casa? Estou um pouco cansada, mas se quiser, pode
ficar. Mando o motorista de volta.”
“Não há necessidade, vamos juntos. Estou cansado também é melhor
estarmos descansados para amanhã.”
“Que horas precisa estar de volta?” Ela se levanta e eu faço o mesmo.
“Peguei o turno que começa às seis.” Respondo enquanto
caminhamos até a saída.
Encontramos os noivos, Matteo, Daphne e Mike no meio do caminho,
nos despedimos de todos e Daphne parece animada para me ver de novo,
apesar de eu não ter certeza que isso vá acontecer. Os amigos de Chelsea
são diferentes do que eu pensei que fossem e talvez houvesse certo conceito
prévio sobre eles baseado em vivências passadas.
Fiquei feliz em me decepcionar.
“Esses saltos mataram meus pés.” Ela exclama jogando os sapatos
para longe assim que passamos pela porta de entrada da casa silenciosa,
após um caminho tão quieto quanto.
“Quer uma massagem?” Ofereço enquanto subimos para o andar de
cima.
Chelsea sorri para mim. Provavelmente anotado como um dos gestos
atenciosos pela atenção recebida dela.
“Acho que melhor não. Bebi muito espumante, vou capotar de roupão
assim que tomar banho.”
Tente não visualizar a cena!
Tente não visualizar a cena!
Tente não visualizar a cena!
Falha total.
Visão totalmente agradável.
Eu não deveria ser um pervertido.
Esse vestido ficou totalmente perfeito nela.
A moldura dos seios, a curva da cintura, as costas nuas, as fendas
escondidas.
Alguém também bebeu espumante demais.
Ou só me permiti abrir a porta onde tenho mantido esses pensamentos
desde que a vi deslumbrante nesse vestido mais cedo.
“Josh?” Chelsea chama do outro lado do corredor, da sua porta do
quarto. “Céus, eu não deveria ter deixado você beber muito. Não sabia se
tinha experiência com isso.”
“Não, não, estou bem.” Falo um pouco rápido demais quando ela
ameaça começar a se aproximar. Minha garganta está seca e devo estar com
a maior cara de tolo do mundo. “Só precisando de um banho e um bom
sono.” Ou um bom senso.
“Tudo bem.” Mas seu cenho franzido me diz que sou um péssimo
mentiroso.
Pelo menos espero passar a imagem de bêbado e não adolescente
excitado.
“Se precisar de alguma coisa, pode me chamar.” Ela diz e agradeço
por ter sido a imagem de bêbado que venceu a visão dela. Dou um aceno de
cabeça. “Saímos após o almoço?”
“Sim, se chegarmos por volta das quatro ainda consigo entrar no
trabalho com folga.” Considerando uma passada em casa antes disso.
“Ok.” Ela balança a cabeça. “Boa noite.”
“Boa noite, Chels.” Sorrio para ela e recebo algo próximo a um sorriso
cansado, antes dela desaparecer atrás da porta.
 
 
 
 
 

 
“NÃO FOI EXATAMENTE O FINAL DE SEMANA QUE eu planejei, mas
espero que tenha valido a pena para você.” Digo desviando meus olhos da
janela para ele, atrás do volante. “Apesar de tudo.” Completo.
“Foi bom.” Ele diz simplesmente e quase reviro os olhos com as poucas
informações que recebo. Odeio precisar insistir em algo, mas minha
curiosidade está aflorada desde a noite passada.
Josh não parecia muito contente quando retornou a mesa. Eu podia ver
que algo tinha abalado ele. Mas eu, de uma forma um pouco egoísta, não
queria tentar conversar ontem. Quando, momentos depois, ele voltou no
assunto que discutíamos durante a dança, já não estava mais com o mesmo
humor. Torcia para não ser do tipo que expunha meus sentimentos através
das minhas feições, como ele.
Mas depois de tantos anos sempre mascarando qualquer sentimento
em tantos eventos sociais, acredito que sou capaz de mascarar também
aquele sentimento que bate no fundo da minha cabeça em ritmo constante e
insistente. Sentimento do qual não estou me sentindo preparada para
descobrir do que se trata, ou somente não quero descobrir o que é.
“Tirando pelo fato que encontrou sua ex-namorada nas duas noites
que estivemos lá.” Empurro um pouco mais.
Eu estou chateada, ok? Sendo honesta, não gostei muito do que
aconteceu ontem à noite, mas quem sou eu para monopolizar a atenção de
Josh? Ainda mais diante da ex-namorada, que parece mexer muito com ele
ainda. Eu nem mesmo me apego fácil as pessoas.
Logo isso vai embora.
Josh me dá uma olhada de canto e tento seguir indiferente.
“É, isso foi desagradável, mas o resto foi bom.” Ele diz mudando de
faixa para uma ultrapassagem. “Foi bom ter alguns dias do que deveria ser
minhas férias antes da faculdade.” Continua com um leve levantar de ombros.
“Acho que deu um pouco errado meu objetivo final.”
“O que?” Franzo a testa, sem entender do que se trata e ele parece se
demorar para formular, ou só aproveita o suspense.
Esse tempo é suficiente para que eu imagine vários objetivos finais
bem gostosos. Pelo menos seria o que eu faria se fosse tirar férias antes da
faculdade. No caso, o que eu fiz nas minhas férias antes de entrar para
faculdade há pouco mais de quatro anos.
“Eu sai de San Diego com o intuito de me afastar de Sarah e duas
semanas depois eu a encontro aqui. É como se eu tivesse falhado
miseravelmente no meu plano.” Um riso pouco humorado sai pelos lábios
dele e eu faço uma careta, fixando os olhos na estrada. Não era mesmo o
que eu esperava.
Tecnicamente, isso foi culpa minha. Mas não me arrependo de ter
chamado dele, ainda que o pretexto de final de semana festivo, ou dias da
semana no caso, não tenha dado nem um pouco certo. Ambas as festas que
fomos foram mais paradas que tudo, mas tivemos bons momentos sozinhos.
Por isso, acabo apenas dando um pequeno aceno com a cabeça.
“De qualquer forma, não saiu bem como planejado.” Repito, querendo
deixar o assunto morrer por ali. Se seguisse, ficaria perguntando sobre coisas
que talvez não queira ou precise saber.
“Você por acaso planejou algo?”
“Não exatamente.” Torço o nariz e ele ri. “Mas eu achava que seria
mais divertido, as duas festas foram um porre. Definitivamente nada do que
eu pensei que seria, nada animador.”
“Não foi ao todo ruim. Já falei. Além disso, conheci Daphne, Matteo e
Mike, eles são pessoas legais e foi até que animado quarta. Pomposo
demais, porém legal.”
“Definição de algo muito, mais muito mesmo, meia boca.”
“Não seja tão crítica.” Josh tranquiliza, porém ainda faço uma careta
mimada.
“Só esperava mais.”
“Ok. Quem sabe da próxima vez que vier vai ser melhor.” Reviro os
olhos, porque essas expectativas sempre são coisas das quais odeio me
apegar.
“Mudando de assunto.” Solto um longo suspiro, como se mostrasse
que aquilo estava mesmo encerrado agora. “Você fez a lista do que precisa
que eu compre? Para começar as telas.”
“Hoje cedo fiz uma lista, mas não sei muito o que posso precisar, então
talvez só algumas telas de sobra e caso vá precisando de tintas, você vai
comprando. É difícil fazer algo muito específico, acho que é melhor eu ir
usando o que tenho e vamos repondo, o que acha?” Josh me lança um
rápido olhar enquanto dirige, parecendo incerto.
Ele tem isso de parecer sempre achar que está dizendo algo errado ao
meu redor. Às vezes, acho fofo, às vezes me sinto uma pessoa horrível da
qual os outros precisam constantemente se controlar quando está ao meu
lado.
Depois que você conhece, ou pelo menos acredito que conheça um
pouco Josh, descobre que ele não é tão tímido e retraído como aparentou
nas primeiras conversas. Ou talvez ele só tenha se soltado mais comigo.
Afinal, não trocou tantas palavras assim com meus amigos. Na verdade,
depois de mim, acredito que a sua conversa mais longa foi com a Sarah
nesse final de semana.
“Como preferir. Eu não sei mesmo nada sobre isso.”
Ele dá um leve aceno de cabeça, abrindo e fechando a boca duas
vezes.
“Diga, baby boy.”
“Eu poderia te ensinar algumas coisas, se quiser. Como propus outra
vez. Ou pelo menos tentar. Não tenho nenhum curso e tudo que aprendi foi
tentando algumas reproduções, antes de começar a criar as imagens
sozinho.”
Penso por alguns instantes. Seria interessante, apesar de eu não
pensar que realmente possa ter talento para tal coisa. Porém, seria algo a
mais para fazer. Esse é o último final de semana de Daphne e Matteo antes
de irem de volta para Boston definitivamente, Mike disse que estava
planejando viajar por algumas semanas, honestamente acho que, no fundo,
ele só planeja fugir um pouco. Com Becks fora do radar, seria bom ocupar um
pouco mais a mente.
Talvez assim eu pudesse fugir um pouco de tomar algumas decisões.
“É, pode ser uma boa ideia.”
“Foi só um convite.”
“E eu aceitei.” Retruco.
“Claro.” Foi o mais longe de uma emoção ruim que tive de Josh ao
longo das duas semanas. Ele parece pouco convencido e levemente
estressado, mas bem levemente mesmo. Já é algo. “Vamos direto para minha
casa e depois você pega o caminho até a sua?” Ele pergunta quando vemos
alguns sinais da cidade de Nova York despontando não tão longe.
“Eu não dirijo.” Nunca foi algo do qual me envergonhei, não tem
porque começar agora. Óbvio que como todas as pessoas, Josh me deu um
olhar estranho. “O quê? As pessoas não podem mais? Eu tenho carteira e
tudo mais, só opto por nunca dirigir, principalmente em um trânsito de fim de
tarde em Nova York.”
“Tá bem.”
“Vamos para minha casa e peço para o motorista te levar, ou posso
chamar um carro se preferir.” Ele só dá um aceno de cabeça e quase bufo
com a falta de escolha. “Acredito que não vá chegar atrasado de qualquer
jeito, ainda tem tempo.”
“Sim, não estou preocupado com isso.” Ele batuca os dedos no volante
por alguns segundos antes de me olhar algumas vezes de canto de olho.
Talvez mais do que deveria, dado que é o motorista. “Você está bem?”
“Por que eu não estaria?”
“Fiz a pergunta primeiro.” Ele retruca infantilmente.
“Você realmente consegue fazer eu me sentir como uma adolescente
de novo.” Apesar de bufar e revirar os olhos, sei que tenho um lapso de
sorriso nos lábios.
“Isso não é ruim dado a suas muitas rugas de expressão pela idade.”
Josh diz baixo, como se não fosse para eu ouvir, mas eu deveria ouvir. Uma
clara provocação. Olho para ele chocada com o comentário quase ácido. “É
você quem faz parecer que temos um salto enorme de idade, Chelsea, não
eu. Fez isso muitas vezes ontem, com seus amigos.”
“Porque são cinco anos, Josh.” Um pouco menos, mas não é como se
importasse. Além disso, não falo tanto assim do assunto.
“Só quase cinco anos. E para quem é esse lembrete constante? Eu ou
você?” Agora eu consegui fazer com que ele foque realmente chateado. Não
que eu já não tivesse notado suas caretas todas às vezes que toco nesse
assunto. “Realmente não entendo o ponto disso tudo.” Ele diz, tentando
parecer mais calmo mesmo que não tenha alterado a voz em momento algum
de fato. Outro ponto positivo.
“Por que mesmo que estamos falando sobre isso?” Me encosto no
assento do carro, trazendo as pernas para cima e dobrando-as embaixo do
corpo.
“Porque você não respondeu minha pergunta, mas agora eu já sei a
resposta, de qualquer forma.” Ele revira os olhos.
“Eu estou bem, já disse isso.” Majoritariamente bem. “Você nem
mesmo me conhece para dizer como eu estou me sentindo.” Boa, Chelsea,
muito bem.
“Muito madura.” A voz de Josh se arrasta pela frase.
E, claro que depois de uma quase discussão, ficamos em silêncio pelo
que pareceu uma eternidade até entrarmos na cidade.
Os dedos dele seguiam batucando incansavelmente no volante, nem
mesmo acompanhando o ritmo da música que tocava no rádio, só
nervosamente. Apesar de tentar me concentrar só na vista fora da janela,
acabava me pegando vez ou outra entrando em uma posição na qual
conseguia vê-lo de canto.
Entramos na minha casa ainda em um silêncio que me irritava e Josh
ajuda a tirar as coisas do caso. Não falamos nada muito elaborado enquanto
fazemos isso. Ele diz que já chamou um carro pelo aplicativo e eu só dou um
aceno.
“Você está certa. Eu realmente não te conheço o suficiente, me
desculpa por acabar pensando o contrário. Talvez tenha perdido o tato de
conhecer as pessoas. Obrigado pelos dias, foram realmente legais. Não quis
invadir seu espaço com qualquer suposição sem noção.” Essa foi a
despedida que eu recebi assim que um carro prata estacionou na entrada.
“Até segunda-feira."
Sinto muito, você não está errado. Eu adorei passar esse tempo com
você, por favor, não se afaste. Eu realmente não estou bem e não sei o
motivo pelo qual estou tão estressada desde ontem. Provavelmente não é
sua culpa e sou meio que idiota por estar descontando em você.
Mas isso fica só na minha cabeça.
“Até.” Me despeço quando ele entra no carro após colocar sua mala de
mão no porta-malas.
 
 
Me sentindo uma pessoa totalmente insensível, entro em casa e puxo
minha mala até o pé das escadas, sem muita coragem de levar para cima.
“Chelsea?” Escuto meu pai me chamando alto e caminho em direção
ao corredor. “Estou no escritório, venha aqui, por favor.” Como se ele já não
soubesse que eu deveria estar indo.
Deixo meus ombros caírem por um momento. É bom, e fácil
demonstrar sentimentos na frente dele. Sempre fomos nós contra o mundo,
independente do que acontecesse.
“Voltou mais cedo.” Sorrio quando entro na sala aberta, raramente vi
seu escritório fechado. Como um aviso que eu sempre posso entrar.
“Consegui terminar tudo e resolvi tentar passar um pouco mais de
tempo com você.” Ele indica a cadeira na frente da mesa e eu me jogo nela.
“Little bee? O que aconteceu? Você tem uma expressão triste no rosto.”
Cruzo os braços e solto um longo suspiro.
“Não é nada. Só me sentindo um pouco cansada mesmo.” Levanto os
ombros.
“Não seja tão dura consigo, pequena.” Ele coloca o computador de
lado e se apoia na mesa. “Sabe que sempre pode falar comigo.”
“Eu estou fazendo literalmente nada, pai, como posso estar pegando
pesado comigo mesma?” Sai como um resmungo triste, provando qualquer
teoria que meu pai tenha.
“Isso é também um problema?”
“Não, não exatamente. Eu estou pensando em algumas coisas.” Ele
franze a sobrancelha para mim, não duvidando, mas curioso. Um assunto que
infelizmente precisaria tratar em outro momento.
“Ok, falaremos sobre isso em outro momento, sendo assim.” Ele fala
como se pudesse ler meus pensamentos. Na verdade, ele pode me ler muito
bem, esse é o caso. “Mas sabe que eu estava falando sobre não ser tão dura
consigo aqui.” Ele põe a mão sobre o peito. “O que aconteceu?”
“Eu posso ter chateado uma pessoa que… uma pessoa, vamos
colocar assim, porque não consigo… falar.” Tenho vontade de levantar e sair,
porque realmente faz pouco sentido o que estou falando agora. Muito menos
falar sobre isso com meu pai, que deve ter mais a fazer.
“Entendi.” Ele diz, entretanto, suavizando sua expressão e cruzando
nos dedos em cima da mesa. “Uma pessoa que está se tornando
importante?”
“Talvez…” É, isso é um sim, definitivo.
“É algo que possa ser reparado?”
“Não foi algo tão sério assim.” Minha voz saí como de uma menina
mimada, que sou. Relembro nossa micro discussão no carro, a pergunta que
não entendi e o que eu falei depois. “Pode ser reparado.”
“Então…” Meu pai se inclina, me dando seu sorriso de coach.
“Repare, ok, eu sei as regras. Mas eu simplesmente não consegui.”
Puxo minhas pernas para cima e as abraço contra o peito.
“Porque você é minha filha e não consegue pedir desculpas
facilmente.” Olho feio para ele, odeio quando meu pai coloca como se minhas
características ruins viessem dele, quando obviamente não vem.
“O que te faz pensar que eu preciso pedir desculpas?” Volto a minha
compostura natural, desafiando-o e meu pai solta um riso que preenche o
escritório.
“Porque faz duas semanas e você ainda fala sobre ele, esse menino
deve ser algum tipo de santo. Primeiro deslize dele e você não estaria se
questionando sobre isso.” Seu sorriso é totalmente convencido, porque ele
está certo. Mesmo assim, protesto:
“Pai! Eu não sou essa pessoa horrível.” Digo apesar de sorrir de canto.
“Ok, está certo, eu já teria deixado ele ir e saído da sua vida. E inclusive,
como sabe que se trata de Josh?”
“Você é minha menina favorita no mundo, minha pessoa favorita. Você
não é horrível, só é muito dura.” Suas feições são gentis e eu nunca poderia
negar ser totalmente a garotinha do papai. “E você acabou de chegar de uma
viagem com ele, little bee, de quem mais estaria falando? Matteo? Mike?
Com certeza não com tanto receio que eles pudessem partir. Sei como os
dois te adoram incondicionalmente e como o sentimento é mútuo. Sempre faz
seu caminho de volta quando briga com eles ou as meninas.” Meu pai dá de
ombros e volta a encostar as costas na cadeira.
“Faz sentido e, primeiro, eu sou a única garota da sua vida, inclusive
estou começando a cogitar um aplicativo de encontros. Faz tempo desde a
última mulher que cogitou te convidar para um encontro.” Zombo dele, eu já
ganhei essa batalha. Levanto da cadeira, não querendo mais tardar a ida do
meu pai para a cama mais tarde, e isso significa deixar que ele trabalhe. “E,
segundo, eu não estou com medo.” Mas minha voz me trai um pouco e não
sai tão confiante como deveria.
“Chelsea…” Ele chama quando chego a porta do escritório. “Deixe as
pessoas entrarem, nem sempre elas vão embora. Sei que não é a coisa mais
fácil do mundo, mas tente pelo menos.”
Com um pesado suspiro, e um aceno de cabeça que não deve ter
convencido nem um pouco meu pai, saio.
 
 
De banho tomado e me sentindo levemente dentro dos meus sentidos
novamente, deito na cama sem exatamente ter vontade de organizar o que
preciso. Alguns toques finais precisam ser dados para que tudo esteja
perfeito na quinta-feira à noite. O evento beneficente será algo muito
importante. Me concentrarei nele amanhã de manhã, sem distrações na
mente ou qualquer coisa que possa me atrapalhar.
Pego meu celular, desviando a atenção do livro que leio. Não é como
se tivesse conseguido findar a página em uma leitura sucinta. Odeio me sentir
assim. Leio mais uma vez a mensagem enviada, mas ainda não lida.
 
Chelsea: Podemos nos encontrar hoje à noite?
 
Já estou de pijamas e confortável, porém não me importaria de trocar
de roupa. Como se sentisse meus olhos queimando na mensagem, recebo
uma resposta.
 
Parker: Desculpe, Chels. Saí da cidade hoje cedo. Consegui um
trabalho de verão na cidade de um tio.
Parker: Nos vemos em setembro ;)
 
Solto um grunhido insatisfeito e me viro na cama.
Eu realmente precisava de uma distração que ocupasse minha mente
o suficiente para deixar o assunto passar. Um pouco de diversão e uma
transa boa. Parker é um conjunto completo, além de não vir com um selo ou
qualquer cobrança.
Começamos a ficar casualmente antes que minha melhor amiga e o
companheiro de quarto dele resolvessem namorar. Na verdade, isso
aconteceu um tanto por nossa causa.
Acabamos parando por um tempo, quando Parker decidiu investir em
uma menina, o que não deu muito certo e pode ser que ele tenha sido traído
em algum momento pelo que entendo. Voltamos a ficar depois disso.
Mandamos mensagem sempre que queremos nos encontrar e assim
fazemos.
Claro, conseguimos manter conversas boas. Ele é uma das pessoas
de fora com quem eu consigo manter uma longa conversa, mas nada
profundo demais. Nunca nem mesmo senti vontade de revelar algo profundo
demais.
É bom e leve.
 
Chelsea: Ah, ok, bom trabalho de verão, nos vemos em setembro ;)
 
Antes que eu pudesse rolar minha lista de contatos atrás de outra
pessoa porque sair para procurar uma distração rápida em uma festa está
fora de cogitação essa noite, recebo uma chamada de vídeo em grupo.
Daphne.
“Eu realmente senti que o mundo podia acabar hoje.” Zombo assim
que atendo, não me surpreendendo ao saber que o grupo seria eu, ela e
Beck.
“Daphne, chamada em grupo e em vídeo não parecem tão bem assim
numa mesma frase. Algo completamente obscuro aconteceu em Nova York?”
Beck ri, parecendo a pessoa mais leve do mundo. Sua franjinha, cortada há
pouco tempo, já cresceu o suficiente para começar a ser deixada de lado. Um
Zachary vestindo uma camisa aparece atrás dela e beija sua cabeça.
“Obrigada Hudson, sempre minha visão favorita. Muito quente.” Reviro
os olhos para a cena e escuto os dois rindo.
“Tudo por você, Chels.” Zach abaixa até que seu rosto fique ao lado do
de Beck na câmera. “Becca vem fazendo bom proveito. Ah, oie Daph.” Becks
cora, apesar de tentar se fazer indiferente. Daphne acena para ele. Zachary
deposita um beijo rápido nos lábios da namorada. “Tchau meninas.”
Escuto uma porta abrir e fechar. “Obrigada Chelsea por vangloriar o
belíssimo corpo do meu namorado. Realmente fazendo uso dele, ainda mais
quando ele segue indo para a academia todos os dias possíveis.” Becks ri,
sem muita vergonha agora. “Temos tipo uma hora livre, se não quiserem
opiniões do Zach. E eu preciso ir buscar nossa janta em vinte minutos.”
“Está nos dispensando, Rebecca?” Daphne se fingi indignada e me
arrumo sentada na cama para acomodar o celular em uma pila de
travesseiros contra a cabeceira.
“Com certeza não. Estou morrendo de saudade. Mas, curiosa. Que tipo
de meteoro caiu?”
“Curiosa também.” Digo.
“Chelsea tinha um acompanhante para os últimos dois dias, sabia
disso, Rebecca?” Daphne solta e eu reviro os olhos.
“Um acompanhante?” Becks diz exaltada ao mesmo tempo que eu
falo:
“Um amigo!”
“Você devia ver os dois juntos, Becks. Um casal fofo. Ele é uma graça,
você o adoraria.” E Daph começa realmente fofocar da minha vida enquanto
ainda estou na chamada. “Gentil, cavalheiro, muito bonito, mais novo. Eles
dançaram, foi uma graça. Chelsea até sorri perto dele.”
“Eu sempre sorrio! Céus, eu não sou amarga igual você.” Falo para
Daphne.
“Mais novo? Pode fazer mesmo muito bem a nossa querida solteirona.”
Beck levanta as sobrancelhas.
“Isso foi mesmo tudo o que você pegou? Eu estava tentando fazer um
resumo aqui.” Daphne bufa.
“Ele tem vinte e um, e, novamente, é um amigo. Inclusive, posso
passar seus elogios, Daph, Josh está solteiro.” Nem, em um milhão de anos,
estou arrumando-o para uma amiga minha. Não mesmo. Posso amar Daphne
e ela realmente merece um cara legal como Josh, mas não mesmo.
“Josh. Ele tem um nome fofo.” Beck coloca pensativa.
“Tente não parecer tão ciumenta, Chels. E, Beck, ele é uma graça, por
completo. Eu acho que posso ter visto algo, como um relapso de um futuro.
Afinal, Chelsea Capri com um acompanhante. Primeira vez que vi nos meus
vinte e três anos.”
“Isso é verdade. Um acompanhante, hm, Chels?”
“Beck, a Daphne está exagerando, para começar.” Digo. “Ele é
realmente uma ótima pessoa e eu meio que furei com ele no dia do seu
aniversário, parece que isso foi algo importante para ele, já que sou a única
pessoa de fora que ele conhece. Foi meio para me redimir. Dois dias no
Hamptons pareceram boa ideia.”
“Chelsea, estou há muitos quilômetros de distância, pode parecer
menos misteriosa? Estou curiosa. Pessoas de fora?” Solto um suspiro,
sabendo que perdi essa discussão que nem iniciou. Becks está com isso na
cabeça e não vai tirar, graças a Daphne. Vai querer saber todos os detalhes
sobre o baby boy.
Mas é bom conversar sobre coisas mundanas e bobas com minhas
melhores amigas.
“Ele veio de San Diego, vai começar a faculdade oficialmente em
setembro, ficou dois anos parado, mas resolveu pegar um curso de verão pra
adiantar.” Os motivos para que Josh fizesse isso são dele para compartilhar.
“Ele mora com três amigos de infância, que vieram de San Diego também,
mas já moram aqui há um tempo.” Explico. “Acho que isso é tudo.”
“Não é nem metade de tudo, Chelsea.” Rebecca fala.
“Precisamos de mais.” Daphne dá o suporte.
“Não tem mais o que dizer.” Dou de ombros. “Mal nos conhecemos.”
Recebo um olhar das duas que queima até mesmo com tanta distância entre
nós. “O quê? Eu não estou namorando com um cara que conheci há duas
semanas. Somos amigos, mal isso talvez. Nem mesmo ficamos.”
“Ah, obrigada.” Beck coloca a mão no peito, fingindo estar tocada. “Eu
e Zach estávamos em um namoro falso em duas semanas que nos
conhecíamos oficialmente. Estou muito feliz com ele agora.” Ela não parece
chateada com o meu comentário de fato, só quer provar um ponto.
“Mas é diferente. Vocês tinham faíscas desde o primeiro encontro.
Num corredor de um dormitório, onde Rebecca Drake nunca teria pisado se
não fossem eventualidades do destino.” No caso essas eventualidades
seriam eu, Parker e uma rapidinha.
“Coisas acontecem, Chels, e nem sempre temos controle delas.”
Becks dá de ombros.
Ela parece mesmo feliz com Zach, seu apartamento junto em Atlanta e
sua viagem de carro pelo país. Ela parece ter tudo o que precisa no alcance
das mãos, com um cara que mal conhecia há um ano, mas por quem é
incrivelmente apaixonada e quem ama ela de maneira tão recíproca quanto.
“E talvez eu tenha visto algumas faíscas.” Daphne brinca, quebrando o
pequeno silêncio da chamada.
“Você não viu nada.” Repreendo ela.
“Mesmo que eu ame vocês mais que tudo, preciso mesmo ir buscar o
jantar antes que seja muito tarde. Vamos sair amanhã cedo.” Beck fala.
De certa forma, fico grata por não precisar continuar falando sobre o
assunto Josh, principalmente quando não fazem nem cinco horas que
tivemos uma pequena briga.
“Também preciso ir me arrumar, vamos sair direto daqui para Boston.”
Como se Daphne já não estivesse com tudo pronto.
“Vai com Matteo?” Becks pergunta pelo irmão.
“Sim.”
“Ok, mandem notícias. Preciso mesmo ir, amo vocês.” Rebecca diz
mandando beijos.
“Amamos vocês.” Digo.
“E mande mais fotos.” Daphne consegue obrigar as pessoas com esse
tom de voz facilmente.
“Ok, e Chels, viva a vida. Dê algumas chances ao incerto. Eu arrisquei
e não poderia estar mais feliz, às vezes isso pode dar muito certo também.”
Beck fala.
O também vem porque ela sabe que, para mim, o pensamento
negativo para isso ocorre primeiro.
“Ok.” Falo para encerrar o assunto.
Uma leva de beijos e tchaus são ditos antes de todas desligarmos.
Solto um longo suspiro enquanto deixo o celular na mesa de cabeceira
depois de ajustar um alarme e desisto de qualquer ideia de ir a algum lugar
ou encontrar alguém. Dormir com meus pensamentos parece a melhor opção
agora.
Quem diria, Chelsea Capri contente por estar passando a noite de
sexta-feira em sua própria cama, sozinha.
 
 
 
 
NÃO RECEBI NEM SEQUER UM SINAL DE FUMAÇA que fosse de Chelsea
durante o final de semana inteiro. Não que eu tenha achado isso totalmente
ruim. Com o trabalho em turnos duplos para cobrir meus colegas com quem
troquei para ir viajar, tinha coisas o suficiente para lidar.
Tentei responder de forma mais neutra e contente o possível as
perguntas dos meninos sobre a viagem, apesar de estar levemente chateado
com Chelsea. Não queria que eles provassem seu ponto sobre ela.
Não queria que eles estivessem certos. Eu queria estar certo. Algo
estava errado na sexta e ela estava agindo diferente porque algo a
incomodou. Eu sabia. Embora também soubesse que não era alguém de
tamanha importância na vida dela a ponto de poder pressionar sobre o
assunto.
Ainda que eu também ache que eu tinha participação no fato dela
estar mal-humorada. Chelsea não é do tipo que conversa direito. Ela fala,
bastante, e eu gosto disso. Mas ela deixa muitas coisas importantes de fora.
Queria poder chegar nessas partes importantes.
Além disso, tinha todo aquele papo insistente sobre idade e foda-se
que ela tivesse quase vinte e seis anos. Eu não estava de fato contando suas
linhas de expressão pela idade. Não que ela tenha uma para ser contada, de
qualquer forma.
Claro que precisei falar a respeito dos ambos encontros com Sarah e
foi uma leva de “tive mesmo um pressentimento ruim sobre essa viagem”
como se todos tivessem agora algum nível de clarividência. Isso foi um pouco
irritante e pulei algumas partes da conversa para não receber repreensões
graves sobre como eu demonstro muito meus sentimentos e como Sarah
podia facilmente chegar até mim sempre que queria porque eu deixava.
Conversa desnecessária, se quer minha opinião.
Eu realmente estava tentando melhorar nesse ponto. Estar longe de
Sarah, ou me esforçar para estar, era uma prova disso.
Então, segunda-feira chegou e eu achava que estaria tudo em um
certo nível de tranquilidade. Mas Chelsea esqueceu completamente de me
mandar quaisquer que fossem as telas em branco que tinha prometido. Não
que eu tivesse tido tempo de pensar em começar nosso trabalho, porém
achei irresponsabilidade dela e isso pode ter aumentado um pouco minha
chateação sobre tudo.
Ainda que tudo estivesse mais referido ao fato de que ela nem mesmo
pensou em enviar qualquer mensagem sobre qualquer coisa a respeito do
que disse na sexta.
Claro, eu poderia mandar algo, mas não. Eu não a conhecia, logo, não
tinha motivos para qualquer coisa, não é mesmo? Ou talvez eu só estivesse
querendo um sinal de que ela se importa, e tudo isso só sinaliza que ela não
se importava tanto assim.
Eu provavelmente era só uma passagem por uma matéria da qual ela
não era boa e da qual eu podia salvar sua bunda com um pouco de
facilidade.
Na segunda-feira à tarde, quando você vai pensar que ela vai dizer
algo, afinal, presencialmente é uma boa oportunidade. Chelsea chega
atrasada para a aula, senta-se cadeiras a frente demais. E nem mesmo noto
se ela alguma vez pensa em olhar para trás e me cumprimentar.
Ok.
Somos dispensados em cima do horário de saída e começo a arrumar
minhas coisas quando a vejo se aproximar pelo corredor de saída. Seu visual
hoje é bastante formal, apesar de ela usar um top branco ao invés de uma
camisa social, está com uma saia e blazer que são da mesma cor, um
marrom médio. Ela colocou presilhas com pedras para prender os fios loiros
logo acima das orelhas.
Uma visão e tanto, como sempre.
“Oie.” Ela chama depois que a encaro por alguns instantes.
“Oie.” Respondo enquanto saio pelas cadeiras.
“Meu final de semana foi um pouco corrido para terminar de organizar
as coisas para o evento, acabei não conseguindo ir comprar o que me pediu.
Mas até amanhã à tarde deixo na sua casa.” Ela explica quando começamos
a andar lado a lado até a porta de saída da sala.
“Tudo bem, não tive muito tempo de mexer com isso de qualquer
forma. Mesmo que tivesse os materiais.” Abro a porta e seguro para ela, que
me agradece com um sorriso.
“Ok.” Ela diz simplesmente e quase tenho uma síncope por sua falta
de palavras.
Além disso, seu semblante é sério, como se estivéssemos falando
sobre a morte de alguém. Ou a bolsa de valores.
Tenho uma leve impressão que Chelsea poderia falar sobre o segundo
assunto com tanta facilidade quanto andava naquelas botas de saltos
incrivelmente altos.
“Collins elogiou nosso projeto. Conversei com ele um pouco antes da
aula começar.” Digo, porque cheguei com antecedência em alguma
esperança juvenil. Abro a porta que dá para o lado externo para que Chelsea
saia e eu a siga.
“Isso é bom. Comprei um livro que tem alguns detalhamentos sobre o
livro da Mary Shelley, acho que ele pode ajudar bastante para alguns
conceitos. Não tive muito tempo para desenvolver a leitura ainda, mas estou
tomando algumas notas.” Realmente parecia uma conversa super formal.
“Bom, me mande suas anotações se puder.” Peço virando de frente
para ela. Estamos parados na calçada ao lado da porta.
“Posso te mostrar agora se preferir, estou com o tablet.” Eu gostaria
mesmo de poder aceitar aquela oferta, porque, talvez tivesse imaginado, mas
sentia uma pontinha de empolgação dela sobre aquilo.
“Estou quase atrasado para o trabalho.” Preciso dizer, porque é
verdade. Não convido ela para ir mais tarde me encontrar no café ou em
casa, não acredito que ela aceitaria de qualquer forma.
Devo ter cruzado alguma barreira que ela não queria que eu cruzasse
e regredimos um pouco. Tudo bem, o que posso fazer? Ela é tão certa sobre
tudo a sua volta, não é como se eu tivesse uma chance na discussão.
Ou uma chance em qualquer coisa.
“Ah…” Ela deixa escapar. “Tudo bem. Vou deixar você ir, sendo assim.”
Chels coloca um sorriso de canto no rosto e faço o mesmo.
“Melhor eu ir mesmo.” Digo dando alguns passos para trás. “Qualquer
coisa, me mande mensagem.” Que estúpido, Joshua. Você é mesmo um
grande cara nada a ver.
“Ok, eu mando.” Ela fala e não posso esperar por mais. Dou as costas
e sigo em passos apressados até o café.
 
 
E ela não manda mensagem.
Mais uma vez.
Talvez o que mais me chateie seja que Chelsea desencadeia
sentimentos que eu raramente tenho. Não sou o tipo de pessoa que me
estresso com facilidade, muito menos que fico chateado por pouco, mas a
indiferença dela me afeta bastante.
É a única pessoa, além dos rapazes, que eu conheço de verdade em
Nova York, acho que me deixei levar pelos sentimentos que atribui a nossa
amizade. Ela é uma boa amiga, do tipo de te puxa a fazer algumas coisas
que nunca faria. Ela nunca fez isso exatamente comigo, nunca me forçou a
algo, mas sua espontaneidade me encanta de certa forma a ponto de me
deixar levar por ela. Chels não parece do tipo que planeja tudo, só faz o que
bem quer.
E a primeira vez que eu fiz isso, que fui impulsivo, foi o que me trouxe
até aqui.
“Você teve visitas hoje de novo.” Nick me diz assim que entro em casa
e passo pela cozinha, de onde um cheiro maravilhoso vem. Provavelmente
ele está preparando nosso jantar.
Paro no caminho até as escadas e dou meia volta até me apoiar no
balcão da cozinha com as sobrancelhas quase juntas de tão franzidas.
“Chelsea passou aí. Acho que ela queria te esperar, mas precisava
fazer alguma coisa, eu suponho, e saiu não faz muito.” Ele fala enquanto se
mexe pela cozinha.
Checo as horas no meu relógio e vejo que são pouco depois das sete.
Se eu não tivesse me atrasado no trabalho, poderia ter encontrado ela aqui
ainda talvez.
“Ela é simpática, diferente do que achei.” Ele me oferece uma cerveja,
como a que está bebendo e aceito, sentando em uma das banquetas.
“Desceu e ficou aqui comigo enquanto esperava. Parecia curiosa sobre o que
eu estava cozinhando.”
“Vocês conversaram?” Nick pelo menos é o mais santo de todos. Mais
tranquilo, quieto, não tem o costume de se intrometer na vida alheia, como
Ethan fazia ao seu jeito, nem desgostava dela por motivos anteriores, como
Scott.
“Acho que podemos falar isso. Mas ela falou mais do que eu, se estiver
contado.” Nick dá de ombros.
“É, entendo como é. Ela sempre acaba fazendo a maior parte da
conversa.” Sorrio porque eu a categorizaria como uma tagarela nata, que
nem mesmo precisava se esforçar para isso e acabava envolvendo tanto as
pessoas que mal percebiam que ela já estava falando tanto até momentos
depois.
Apesar de quase nunca ter falado sobre coisas muito aprofundadas da
sua vida, ela sempre fala mais que eu. Poucas vezes que monopolizei as
conversas, falei sobre meu passado e coisas que eu considerava íntimas
demais para alguém que não conhecia há tanto tempo saber. Mas também
não acho que Chelsea seja totalmente contra a intensidade, talvez contra
esse tipo, afinal, ela é uma pessoa intensa ao todo.
“Devo perguntar o porquê de ela estar aqui?” Ele pergunta me
entregando uma toalha para pôr a mesa. “E não fale sobre o maldito trabalho,
Josh. Eu sou um pouco mais esperto que os meninos.” Nick revira os olhos
quando abro a boca para dar minha resposta padrão.
“Tirando o trabalho, não acredito ter nenhum outro motivo para ela ter
vindo.” É a verdade, não teria mesmo. Achava que éramos, ou estávamos
começando a ser, amigos, mas fui jogado na zona do só colega de novo.
“Bem, acho que ela realmente queria falar com você. Ficou esperando
uns vinte minutos, mesmo eu dizendo que não sabia se não tinha pegado o
turno da noite também. E só foi embora porque recebeu uma ligação e disse
que precisava ir.” Nick me passa os pratos e talheres.
“Onde estão os meninos?” Tento mudar de assunto.
“Scott logo deve chegar do trabalho e Ethan está na academia.” Ele
responde.
“Não devia estar com ele?” A pré-temporada começa em poucos dias.
“Fui hoje cedo, obrigado treinador.” Ele revira os olhos. “Acho que vai
querer subir antes que eles cheguem. Ela trouxe algumas sacolas.” No fundo,
Nick parece curioso sobre isso, mais do que eu até;
“Deve ser os materiais que eu pedi pra ela.”
“Nunca vi materiais de pintura com selo Emporio Armani.” Franzo a
testa para ele, sem compreender o que aquilo quer dizer. “Pelos meus
conhecimentos e tamanho dos pacotes, ela te trouxe um terno. E sapatos.”
Ainda com a expressão confusa em meu rosto, subo até meu quarto
na velocidade mais rápida que posso e encontro do que Nick está falando.
Um longo saco preto com a logo da loja de grife está esticada na
minha cama. Junto com uma caixa de sapatos da Dolce&Gabbana.
Provavelmente o preço do meu quarto inteiro está dentro só dessa caixa.
Vejo que as telas em branco empacotadas foram colocadas perto da
janela. Pego a nota deixada na caixa e leio.
“Sinto muito pelo outro dia. Eu estava chateada por coisas que
não posso controlar ou posso te explicar. Mas você estava certo e eu
não devia ter descontado qualquer frustração em você. Você é uma boa
companhia, e não quero acabar afastando isso por não saber lidar com
a situação. Eu realmente não sou boa nisso, pedido de desculpas, e
relações amenas e boas. Porém quero dar uma chance, porque você é
uma pessoa boa na minha vida. E nem mesmo estou falando só sobre
nosso trabalho. Eu também sou péssima expressando meus
sentimentos e não sei o que isso virou.
Mas acho que o que quero dizer mesmo é que sinto muito por ter
dito o que disse na sexta. Honestamente, você me conhece mais do que
eu deixei qualquer pessoa fora do meu círculo me conhecer nos últimos
muitos anos.
Espero que aceite o convite, baby boy.
Estou ansiosa para te ver nesse terno.
Chelsea C.”
Um envelope pomposo está por baixo, rompo o selo bonito e abro para
me deparar com o convite mais chique que já vi na vida. Letras delicadas
estão impressas em dourado, com as informações sobre o baile beneficente
de quinta a noite. Um mini grampo prende outro bilhete.
“Apesar de você não precisar de convite, é o acompanhante da
senhorita Capri.”
Sorrio com aquilo, porque acho graça em imaginar que aquele título
poderia me fazer entrar em alguns lugares muito pomposos. E isso leva meus
pensamentos a outras coisas que eu não deveria pensar nesse momento,
quando tinha recuperado a amizade não tão perdida com Chelsea. Um
acompanhante é muitas coisas, dentre elas um amigo. Como eu tinha sido
dias antes no Hamptons.
Leio o bilhete mais uma vez, talvez querendo captar alguma coisa que
não tinha antes, e solto na mesa de cabeceira quando percebo o que estou
tentando fazer de fato.
Abro o saco que envolve o cabide aveludado e um terno de três partes
se revela. Calça, colete, gravata e paletó pretos, uma camisa branca que
quase dói os olhos e um lenço de bolso vermelho. O que estranho pela cor,
mas resolvo não me apegar ao detalhe da escolha de Chels. Os sapatos são
formais e preto verniz.
Puxo o celular do bolso para ligar para ela, pegando o convite de cima
da cama e guardando o envelope em uma das gavetas da escrivaninha.
Antes que possa fazer o movimento, noto uma caixa que não tinha notado
antes.
Uma caixa de couro, pequena.
Não sei porque acabo surpreso ao abrir e encontrar um par de
abotoaduras pretas, em uma pedra que eu não saberia dizer o nome, e um
relógio com pulseira de couro bege.
Todo o conjunto do que Chelsea chamaria de presentinho deveriam
ser as coisas mais caras que eu tive em minha posse em toda a vida. Eu mal
sei dizer o quanto acho que essas coisas custaram e provavelmente discutir
preço com ela não seria uma ideia válida.
Ela tem um bom gosto para roupas masculinas, o que eu também não
deveria estar surpreso com. Provavelmente deve ajudar seu pai sempre e,
além disso, era uma mulher muito refinada.
“Estou começando a gostar de te presentear.” Ela diz assim que
atende a ligação no quarto toque.
“Pessoas não costumam agradecer no geral?” Afinal, é o mínimo que
posso fazer.
“Elas costumam, por mensagem ou cartões.”
“Ok, posso te mandar uma carta da próxima vez.” Brinco com ela.
“Isso significa que você vai?”
“Posso recusar?” Deixo um riso escapar logo depois, mas ele acaba
morrendo quando escuto ela um pouco tensa.
“Oh, eu não quis te pressionar nem nada. Só queria que estivesse
preparado, caso aceitasse, mas não precisa vir.” Ela limpa a garganta e
recompõem a voz. “Quer dizer, foi um convite, negar sempre é uma opção.”
“É, mas ouvi dizer que querem me ver de terno, é o tipo de pedido que
não posso negar.” Tranquilizo.
“Posso confirmar o motorista para quinta?”
“Terei até um motorista?” Pergunto surpreso. “Claro que eu vou ter um
motorista, vou ser o acompanhante da organizadora da festa, o
acompanhante de Chelsea Capri.” Completo rapidamente quando o
pensamento me ocorre.
Não digo isso como se fosse algo ruim. Na verdade, poderia sentir que
isso seria equivalente a ter um dia de princesa. Um dia de príncipe. Se
pudesse cogitar qualquer sentimento amoroso da parte de Chelsea, afirmaria
com todas as letras que seria o tipo de príncipe sortudo ao lado dela.
“Ok, o carro estará aí às oito. Preciso ir, estamos começando a
organizar o salão. Te vejo na quinta.” Ela diz e desliga antes que eu possa me
despedir ou perguntar porque não iremos nos ver amanhã, mas imagino que
a aula não esteja na programação quando se tem um evento de luxo para
planejar.
“Josh, o jantar está na mesa.” Ethan chama assim que chega a minha
porta. “Furacão Capri?” Ele pergunta apontando para a cama e antes que
possa fazer menção de entrar, levanto e empurro ele para fora, fechando a
porta atrás de nós.
“É.” Respondo simplesmente. “Vamos, ou Nick vai comer nossas
cabeças se a comida esfriar.”
“Você já foi mais detalhista, sabia?” Ele implica enquanto descemos.
“Ela me convidou para o baile beneficente que está organizando.”
Explico.
“Ei, Nick, eu aposto duas semanas.” Ele aponta para o nosso
cozinheiro enquanto sentamos na mesa.
“Eu acho que cinco dias será o suficiente.” Ele responde enquanto
serve nossos pratos.
“Cinco dias?” Falo chocado, sabendo que provavelmente suas apostas
são quanto a mim e Chelsea ficarmos de fato. “Isso é tipo, domingo.”
“Exatamente.” Ele levanta as sobrancelhas quando me olha
rapidamente. Como se aquilo fosse óbvio. “Quando é o evento?”
“É feio escutar as conversas alheias e quinta-feira à noite."
“Não é escutar conversas alheias, é que Ethan fala gritando.” Scott diz
ao entrar na sala de jantar e tomar seu lugar. “E eu disse a vocês…” Ele
aponta para Nick e Ethan. “Ele é do tipo que namora, não passaria dois
meses sem arrumar alguém novo. Se apaixona fácil.”
“Ele ainda tá aqui.” Aponto levantando a mão. “E não me apaixono
fácil.” Retruco.
“Apaixona sim.” Os três dizem em um lindo coro.
“E eu vou num meio termo. Até a próxima sexta, esse é o tempo
necessário.” Scott coloca antes que os barulhos de talheres preencham o
cômodo.
“Vocês são três babacas, sabiam?” Digo enquanto termino de mastigar
um pedaço do meu filé à parmegiana.
“Não sou eu quem estou ficando caidinho pela solteira mais cobiçada,
festeira e talvez mais rica, de Nova York.” Ethan fala me apontando o garfo.
“Isso faria de mim um babaca?” Pergunto curioso, apesar de já saber a
resposta deles.
Meus três melhores amigos se entreolham, como se estivessem
resolvendo se ainda acordam sobre aquele assunto. Nick balança a cabeça
em negação.
“Depois de conhecer ela pessoalmente hoje? Não. Ela parece uma
pessoa legal.” Claro que ele não iria dar mais, Nick é o tipo de pessoa que se
precisa arrancar as palavras. Ele não falaria de bom grado o que acha ou não
de Chelsea, pelo menos não com muitas palavras. Legal é o máximo que eu
teria em defesa dela ali.
“Depende, está planejando mesmo se apaixonar por ela?” Ethan
questiona.
“Que tipo de pergunta é essa? Não é como se pudesse prever algo
assim.” Digo.
“Acho que temos nossa resposta.” A voz de Scott sai em um murmuro
antes dele colocar um pedaço de batata na boca.
Solto um longo suspiro, porque é uma discussão perdida. Se eles
colocaram isso na cabeça, assim será.
Se alguém me perguntasse de fato, não, eu não estou planejando me
apaixonar por ela, mas não é do tipo de coisa que se controla. Sim, eu estou
gostando de ter Chels na minha vida, porém não acredito que sou capaz de
prendê-la comigo como um namorado.
Eu não tenho nenhum quesito que ela parece querer.
Claro, sou auto consciente que tenho um corpo bonito e não me
considero feio, mas não tenho muitas atribuições interessantes na
personalidade. Além de ser uma pessoa consideravelmente caseira, mesmo
que goste de ir a uma festa ou outra.
Eu não tenho nenhum atributo para ser o namorado de Chelsea Capri
e isso incluía a atenção dela para esse tópico de fato.
“Acho melhor não trazer mais esse assunto. Se ele quer, não podemos
impedir. Além disso, ela pode ser bem diferente de quando eu a conheci, e a
relação deles é bem diferente. Ela não é um monstro, eu acho.” Scott coloca
depois de beber um longo gole de água.
“No fim, sempre estaremos aqui de qualquer forma.” Ethan dá de
ombros.
“Ninguém aqui tem uma vida amorosa exemplar então talvez o
namoradeiro traga algumas boas novas para cá.” Nick se serve de mais carne
e os três se entreolham mais uma vez, todos com a testa franzida.
“Não.” Dizem juntos antes de explodirem em risos e eu acompanho,
apesar de revirar os olhos. “É melhor ele não trazer boas novas pra cá.” Scott
complementa.
“Vocês são mesmo babacas.” Não consigo evitar de dizer.
 
 
 
 

 
DOIS DIAS DEPOIS, QUANDO CHEGO DO TRABALHO NA quinta-feira, vou
direto para o banho. Chelsea não compareceu mesmo na faculdade ontem de
manhã e acabei me sentindo um pouco estranho por estar sentindo falta da
presença dela por perto.
É uma energia diferente.
É bom.
Fico encarando minha figura no espelho do banheiro por algum tempo.
Faz uns bons dias que não me barbeio, talvez desde sábado de manhã, e
isso fez com que minha barba esteja crescida um tanto.
Não é um visual feio, só algo que não estou habituado.
Me acostumei a manter meu rosto limpo, apesar de sempre ter tido um
crescimento bom de barba. Sarah costumava reclamar que incomodava o
rosto dela, e desde então nunca pensei em deixar crescer. Olhando agora,
cogito o que fazer e, como a maioria das decisões que tomo, saio do
banheiro com a toalha na cintura e desço as escadas.
“Planejando um strip tease surpresa e está querendo ensaiar?” Ethan
está jogado no sofá com o celular nas mãos, mas não demora para levantar
os olhos para mim assim que entro no cômodo aberto do piso inferior.
Nem ele, nem Scott usam barba também. Só Nick que mantêm uma
curta e rente ao rosto, bem preenchida, assim como a minha está agora.
“Acham que devo tirar?” Aponto para o meu queixo.
Claro que antes de analisarem criticamente a situação, os três dão
risada e Scott precisou até pausar o videogame para não bater seu carro em
um muro qualquer. Nick saiu da cozinha e caminhou até nós, na sala,
também rindo muito.
“Meu voto é não.” Ele indica para começar a contagem.
“Também acho que vai ficar legal com todo o visual de playboy de
evento chique.” Scott diz me olhando com o cenho franzido, provavelmente
avaliando mesmo depois do veredito.
“É, te dá meio ano a mais, melhor deixar.” Ethan responde por fim, sem
poder perder a oportunidade de zombar um pouco da situação.
“Beleza.” Concordo com a cabeça algumas vezes antes de dar as
costas e subir as escadas correndo.
Não demoro muito para me vestir e fico impressionado com como a
roupa me serve perfeitamente. É um modelo slim, ou seja, mais acinturado.
Demoro um pouco com as abotoaduras, porque nunca usei nada assim. Na
verdade, usei uma vez, mas tive ajuda. E também tomo tempo para conseguir
encaixar a gravata bem por baixo do colete sem parecer amassada e dobrar
o lenço vermelho reto o suficiente para encaixar perfeitamente no bolso.
Um tanto vaidoso, mas não quero envergonhar ninguém essa noite.
Ou talvez, eu esteja querendo impressionar, mas não quero entrar em
detalhes.
Cortei meu cabelo ontem, antes de entrar no trabalho, as laterais estão
mais curtas e uso uma pomada para arrumar os fios mais compridos que se
desenham em cachos um pouco grossos. Faço uso bem medido do perfume
francês que Sarah me deu de Natal no último ano, que deve ter sido usado
somente umas três vezes.
Ocasiões especiais, é claro.
Pegando celular e carteira, saio do quarto e paro alguns instantes na
frente do espelho que temos no corredor. É o maior espelho da casa e fica
em um lugar para uso compartilhado.
Nada mal, é o que penso ao olhar para minha figura tão bem vestida
assim.
Tento não pensar muito em quantos mil dólares estão juntos nessa
roupa, como uma forma de me tranquilizar, antes de descer as escadas.
Tenho medo de andar e simplesmente rasgar meu salário do ano inteiro.
Paro na frente dos meus três melhores amigos, que comem jogados
no sofá.
O cheiro da comida, como sempre, é atrativo. Mas comi pouco antes
de sair do serviço e tenho a impressão que esses eventos sempre vêm com
muita comida extra, só não tanto quanto álcool.
Teatralmente, dou uma volta para que eles me observem e os três
pousam os talheres e se entreolham, chegando a algum acordo.
“Realmente está tentando impressionar a loirinha, hm?” Ethan se
pronuncia primeiro. Reviro os olhos. “Está nada mal.” Os outros dois só
balançam a cabeça.
Checo as horas no relógio e estou pontualmente pronto.
“Você tem alguma abóbora mágica ou nem sabe se dorme em casa?”
Ethan pergunta quando estou começando a me dirigir para o hall de entrada.
“Pretensioso.” Scott fala de forma arrastada e os dois dão risada antes
de trocarem um high-five.
“Não sei que horas volto, se é isso que querem saber.” Respondo,
notando que um carro já está estacionado na frente de casa. “Se ficarem
muito preocupados com a minha vida, posso mandar mensagem, mães.”
Nem mesmo merecem tal título, uma vez que minha própria mãe não disse
nada além de se cuide e boa festa.
“Já que vai ser de má vontade, não queremos.” Scott fala.
“Vejo se aviso.” Pego minhas chaves no porta-chaves na parede. “Não
sintam minha falta, crianças.” Zombo antes de sair.
O motorista está bem trajado, como no outro dia que o vi na casa da
Chelsea, e me espera do lado de fora. Nos cumprimentamos rapidamente
antes que eu entre na parte de trás, me sentindo muito estranho apesar de
estar acostumado com pegar carros nos aplicativos de transporte.
O local não é muito afastado, fica no Upper East Side, como fui
apresentado ao bairro pelo motorista. Paramos na frente de um hotel de luxo,
Magni como diz em placas luminosas muito bonitas. Sou levado para dentro e
acompanhado até portas duplas no fim do hall principal. Infelizmente não
tenho muito tempo para observar a decoração luxuosa, os lustres enormes e
os adornos de ouro com pedras em algumas pilastras.
O lugar é um sonho e preciso me concentrar para não parecer tanto
alguém de fora.
As portas duplas do que provavelmente é o salão de eventos do lugar
estão abertas e vários convidados já circulam o espaço com roupas de gala.
Vestidos bordados, com pedras e transparência, ternos caros formais e
alguns outros mais ousados e estampados.
Não escuto muito bem o que a moça bem vestida que me trouxe até
aqui diz a outra que está recepcionando os convidados, só algo sobre a
senhorita Capri e sem demoras me dizem para entrar.
Não preciso dar muitos passos para encontrar Chelsea. Ela é uma
visão em vermelho.
Linda pra caralho.
Seu sorriso é brilhante enquanto ela conversa com um casal bem mais
velho. Seus cabelos estão em um coque bem elaborado, com alguns fios
projetados bem para cair nas laterais do rosto, fazendo-o parecer ainda mais
desenhado. Sua maquiagem parece oscilar entre o dourado e toques de
vermelho, mesmo de longe consigo ver que não é só pela maquiagem que
ela parece brilhar no salão.
Seu vestido tem o que, se não estou muito esquecido, é chamado de
corpete. É bem acinturado e em tule com o que parecem ser pétalas de
tecido bordadas. Da cintura para cima, é só esse tecido que cobre seu corpo,
o tule com os bordados. Seus seios estão bem desenhados com um arco de
sustentação e as alças são finas. Da cintura para baixo, um tecido também
vermelho cobre as pernas dela por trás do tule, e ambos vão até o chão, não
me dando ideia do que ela calça por baixo, mas imagino que os saltos não
devem ser pouca coisa.
Ela está além de qualquer coisa que eu poderia pensar. Parece
delicado, mas ousado em uma mesma forma. O vermelho contrasta em sua
pele branca e cabelos loiros, além de destacarem os olhos azuis tão bonitos.
Percebo que estou há um tempo encarando-a parado e mexo os
ombros para me recompor. Porém já fui notado por Chelsea, que se despede
dos seus convidados pelo momento e caminha até mim. Faço o caminho para
ela com alguns passos e não consigo evitar o sorriso quando seus olhos e
seu sorriso estão focados somente em mim.
Provavelmente me sentindo o cara mais sortudo da noite por ser o
acompanhante dela.
E a gente nem mesmo é nada além de amigos.
“Você está um pedaço de mal caminho, baby boy, mais que
normalmente.” Ela diz assim que fica a poucos centímetros. Acabo de boca
aberta pelo elogio. Não só para o momento, mas de que sou sempre um
pedaço de mal caminho. Ela acaba soltando um riso leve. “Não fique tão
chocado ou não vai conseguir superar essa noite. Solteiras e casadas vão se
jogar em você nesse terno.” Chelsea continua.
“Eu só estou… sem palavras mesmo, para você no geral no caso.”
Sorrio de canto indicando-a com um aceno de mão. “Acho que está
realmente aprendendo a usar melhor os elogios comigo.” Dou um breve
maneio de cabeça. “Você está deslumbrante mesmo, nenhuma pessoa
poderia chegar perto de qualquer competição ao seu lado.”
Ela mexe os ombros, convencida por saber de toda sua beleza.
“Estou tentando melhorar, mas não foi tão difícil hoje à noite. Está
realmente lindo.” A loira traz a mão para meu peito e ajusta o meu lenço
dobrado, percebo agora que combina exatamente com a cor do vestido dela.
“Achei que gostaria que estivéssemos combinando.” Chelsea brinca me
dando um olhar.
“Você não pareceu ter achado ruim da última vez. Se me recordo bem,
atencioso foi a palavra que usou.” Me dou por convencido quando recebo um
sorriso ainda mais largo.
“Você precisa mesmo parar de usar minhas palavras contra mim. É
humilhante.” Ela me dá um aceno, indicando para nós comecemos a andar.
“Está tudo magnífico!" Elogio dando uma boa olhada pela primeira vez
no salão em si.
Não precisava disso para saber que estaria tão impecável como
qualquer outra coisa fora dele. Chelsea caprichou na decoração, é elegante,
mas com algumas pitadas de verão.
“Ainda sinto que algumas coisas estão faltando.” Ela corre os olhos
pelo lugar e torce os lábios em uma careta momentaneamente. “Mas acho
que vou ficar com o elogio para não me sentir mal.” Então, o sorriso volta.
Ela pega duas taças da bandeja de um dos garçons que circula pela
festa e me entrega uma. Mal tenho tempo de agradecer quando um homem
na faixa dos cinquenta nos para no meio do caminho.
“Chelsea, uma beleza como sempre.” Ele a toma pela mão livre e beija
o torso. Chelsea não parece estranhar o movimento e cumprimenta
simpaticamente o homem.
“Vaugh, espero que esteja aproveitando todos os detalhes. Meu pai
pede para que eu deixe seus cumprimentos e desculpas, acabou precisando
fazer uma viagem de última hora hoje cedo e não conseguiria voltar a tempo.”
Fico um pouco chocado em como ela parece tão formal e natural ao mesmo
tempo. Preciso me lembrar que isso é o habitual de Chelsea.
“Cyrus, sempre trabalhando além da conta.” O homem parece entrar
em uma pequena brincadeira interna sobre o fato. “E está tudo perfeito, seu
talento é sempre notável. Tive sorte de aceitar a minha proposta. Mande
meus cumprimentos ao seu pai, por permitir o evento aqui no Magni.” E,
como se eu tivesse surgido somente agora, o homem nota minha presença.
“Não sabia que estava acompanhada.” Não soa como uma pergunta quando
ele me dá um olhar, soltando a mão de Chelsea.
“Senhor Lewis, esse é Josh Crawford.” Ele me estende a mão e eu
aperto.
“É um prazer, senhor.” Digo com um sorriso agradável apesar de não
saber o porquê seria um prazer.
“Vocês, meninas, estão mesmo se desprendendo do nosso círculo,
não é mesmo?” Ele brinca dando uma gargalhada explosiva depois de soltar
minha mão. Percebo que o sorriso de Chelsea se tenciona, apesar de
manter-se agradável.
“Josh é um amigo, Vaugh.” Talvez eu devesse ficar chateado com o
comentário, mas é a verdade.
Além disso, Chelsea não fala como se isso fosse um livramento, mas
sim porque parece amenizar o olhar de... desprezo do tal Vaugh.
“Claro. Melhor.” O homem fala pausadamente antes de encontrar outro
grupo para atormentar e logo se distanciando de nós.
Chelsea parece demorar meio segundo para se recompor, soltando um
longo suspiro e piscando os olhos antes de focá-los em mim e sorrir um
pouco triste.
“Zachary tem, tipo, o dobro de educação que os três filhos dele juntos.”
Sua voz demonstra muito bem que ela está chateada.
“Zachary?” Não compreendo o rumo da conversa.
“Ele estava falando da Becks, que está com alguém de fora e se
desprendeu do círculo.” Ela frisa um pouco raivosamente as palavras. “Ainda
temos pessoas vivendo dois séculos atrás intelectualmente.” Soltando outro
suspiro antes de beber um longo gole da sua taça, Chels quase finda o
conteúdo parecendo um pouco estressada. “Vamos, quero te apresentar ao
pai do Matteo e da Rebecca, uma pessoa simpática.” Chelsea toma minha
mão e me leva pelo salão.
 
 
Apesar de Theodore ser um homem muito simpático, me lembrando
um pouco meu pai com suas piadas não tão engraçadas, que se tornam
engraçadas por esse fato, e toda a conversa sobre o futebol americano, ele
não é a maioria. Não foi fácil ignorar o fato que quase todos os comentários
de outras pessoas na noite são ácidos como os de Vaugh Lewis.
Mesmo vestido de forma tão adequada e similar, sou o único completo
desconhecido da noite. E isso parece estampar uma bandeira na minha cara
de que sou o que eles consideram como alguém de fora.
Após um tempo juntos, Chelsea começou a ficar chateada demais com
a situação e nem mesmo tentava amenizar qualquer fala. Isso fez com que
depois de algumas voltas e cumprimentos, minha mão já tinha sido amassada
pelo aperto dela inúmeras vezes até que perguntasse se eu não preferia ficar
na mesa com o senhor Drake.
Estava certo ao dizer que sim, porque foi algo bom para ambos.
Entretanto, Chelsea seguiu bebendo algumas taças longas toda vez
que algum comentário desagradável era dito, e depois de um tempo, notei
que era para disfarçar as caretas que ela queria dar.
Mal notei a hora passar enquanto conversava com Theodore, que
parecia o pai mais orgulhoso do mundo, sempre se referindo a um dos feitos
dos filhos. Ou o cara mais normal do mundo falando sobre seu time que não
ganhava o campeonato há anos.
Meu relógio de pulso caro diz que já passam das duas e meia da
manhã. Faz um tempo que o Drake foi embora e eu acabei por ficar sozinho
na nossa mesa. Observar as pessoas em silêncio é mais relaxante do que
interagir com elas, além de ser um bom exercício para conhecer as pessoas
de longe. O que elas são quando acham que ninguém observa.
O salão começou a se esvaziar e meus olhos encontraram Chelsea
sem dificuldade alguma, e eu provavelmente não teria dificuldade de
encontrá-la também se o lugar estivesse completamente lotado. Levanto da
cadeira e caminho até ela, que parece desconfortável em uma conversa com
dois rapazes e uma moça. Assim que chego do seu lado, descanso a mão
em sua cintura para chamar sua atenção. Seu rosto parece se iluminar assim
que ela me encontra, como se eu fosse sua salvação ali.
Ela quase descansa o corpo contra o meu, provavelmente cansada
demais por ficar tanto tempo de pé. Mas mesmo o mais leve compasso para
perto de mim parece ter sido notado como algo de grande tamanho pelos
olhos semi arregalados da menina. Os três não demoram muito para
acabarem se despedindo da festa, nos deixando sozinhos com mais duas
dúzias de convidados ali.
“Você precisa esperar todo mundo ir embora?” Pergunto a ela.
“Na verdade, não. Desculpa te prender aqui. Poderia ter ido mais cedo.
Eu achei que o evento seria um pouco melhor e que eu poderia ter te dado
mais atenção.” Chelsea suspira e deixa a cabeça descansar de vez no meu
peito, apoiando a bochecha e fechando os olhos por alguns segundos.
“Tudo bem.” Passo o braço ainda mais ao redor da cintura dela.
“Vamos, então? Eu te levo pra casa.” Ela me olha com divertimento. “Eu te
acompanho até sua casa enquanto o motorista dirige.” Corrijo e recebo uma
risada breve.
“Você não precisa.”
“É, mas eu quero.” Ela concorda depois de uns segundos, me dando
um aceno de cabeça. “Trouxe bolsa?” Pergunto e ela aponta para um canto
do bar, onde uma bolsa pequena e dourada com pedras está. “Tá bem, vai na
frente que logo te encontro lá na entrada.”
Digo isso e em um movimento mais involuntário do que poderia prever,
deixo um beijo no topo dos fios loiros ainda bem arrumados no penteado.
Chelsea parece cansada demais para qualquer emoção e se desvincula de
mim dando mais um aceno de sim com a cabeça, indo até à saída. Caminho
até o bar, pegando a bolsa e cogitando que tipo de segurança nas pessoas
Chelsea tem para deixar sua bolsa assim.
“Essa é a bolsa da Chelsea, certo?” Questiono para o bartender que
limpa alguns copos dentro do balcão.
“Da senhorita Capri, exatamente.”
“Pode me dar uma garrafa de água, por favor?” Peço e o homem não
demora para me entregar a garrafa. Com um agradecimento, saio para
encontrar Chelsea me esperando na porta de fora. O carro estaciona logo
que chego e abro a porta para ela.
“Você me faz imaginar cada coisa, baby boy.” Ela diz assim que está
acomodada com o cinto.
“Eu quero saber o quão fértil é a sua imaginação?” Brinco com ela,
abrindo o lacre da garrafa e entregando para Chelsea.
“Prometo que não são pensamentos com conotação sexual. Não
dessa vez.” Sua voz está levemente arrastada desde quando a encontrei
mais cedo com seus amigos, ou o que supus serem seus amigos.
“Não dessa vez, hm?” Zombo e ela dá de ombros inocentemente antes
de beber um pouco da água. “Acho que a mistura do espumante e do
cansaço faz você ainda mais engraçada.”
“Está fazendo graça com a minha situação?”
“Quis dizer no sentido de dizer coisas engraçadas.” Ela pensa um
pouco no que falo enquanto me entrega de volta a garrafa, como se fosse
minha função segurar para água.
Dou uma espiada na janela, Nova York não parece quieta nem mesmo
de madrugada. Fico pensando se esse tipo de situação é comum, pois não
lembro de passar para o motorista que iriamos direto para a casa dos Capri e
tento afastar rapidamente isso da mente.
“Engraçado que ache engraçado, eu acho um pouco assustador.”
Encaro ela com uma sobrancelha arqueada. “Essa noite não foi legal. A festa
estava linda, e fiquei feliz por ter sido a cabeça grande por trás disso, mas
não gostei de como as pessoas achavam que seria a coisa mais bizarra do
mundo caso fossemos um casal. Eu entendo, não somos compatíveis…” Ela
me encara, como se pedisse uma confirmação.
“É, não somos tão semelhantes assim.”
“É.” Ela pensa por alguns instantes antes de prosseguir. Seus olhos se
desviam para a paisagem lá fora e não parece mais falar exatamente comigo.
“Mas eu sinto que é um cenário certo, sabe? Ter você do meu lado. Como se
tivesse esperado todo esse tempo pra isso, por alguém como você.” Ela para
abruptamente e penso que vai dar alguma risada alta e brincar, mas seus
olhos azuis piscina estão focados mais uma vez em mim. “Não, por você
mesmo.”
Ela fica pensativa e sorrio gentilmente, apesar de sentir uma enorme
bola na garganta e meu pulso acelerar pra caralho. Mas tento evitar meu
nervosismo adiantado, ou evitar que ela mexa comigo assim, porque não
posso negar que ouvir isso mexe comigo.
“Acho que você realmente bebeu bastante, está falando coisas que
provavelmente vai se arrepender amanhã.”
“E eu acho que ainda sou capaz de distinguir meus pensamentos. Mas
tudo bem.” Ela vira de lado e fica de bico como uma criança mimada de dois
anos, uma graça que me faz soltar um riso e receber um olhar furioso.
“Chels?” Chamo estendendo a mão para ela do outro lado do banco,
tocando seu rosto. Ela inclina a cabeça de bom grado para minha palma,
fechando os olhos.
“É uma sensação tão boa, mas tão assustadora.” Sua voz sai em um
sussurro quase inaudível, desencadeando reações conhecidas pelo meu
corpo. Ela respira fundo e se afasta, se recompondo. Puxo o braço de volta
para o colo. “Você vai ficar? Quer dizer, não precisa voltar essa hora. A casa
é bem grande, pode ficar bem distante se quiser.”
Não consigo evitar achar graça da sua fala. Dou alguns acenos de
confirmação.
“Tudo bem, acho que posso ficar sendo assim.”
Provavelmente chegaria em casa com o sol já querendo começar a
raiar, e seria provável que acabasse encarando a tela pela metade no
cavalete, jogando fora e começando outro esboço, num infinito círculo
vicioso.
O trânsito até calmo nos faz demorar bem menos do que seria o
habitual para chegar na residência Capri. Seguro a porta aberta para que ela
saia, com a sua bolsa e a garrafa de água na mão ainda. Ofereço a segunda
opção para ela enquanto entramos pela enorme porta de entrada e Chelsea
finda a água com poucos goles, jogando em uma lixeira perto da escada.
Não hesito de subir atrás dela e seguir até o que acredito ser seu
quarto. A decoração é muito bonita, elegante e delicada, como ela, com
alguns traços em rosa e roxo em algumas peças de decoração.
Ela se joga sentada na cama e vou atrás, deixando a bolsa na
penteadeira. Tiro o terno, já cansado da peça pesada e quente para um dia
de verão e me abaixo na frente de Chels. Puxo seus pés para fora da saia do
vestido, percebendo que seus sapatos são dourados e finos, além de bem
altos.
“Chelsea?” Pergunto e ela senta com um gemido. “Vou tirar suas
sandálias, tá bem?” Ela balança a cabeça, em confirmação e trabalho no
fecho dos dois pés, deixando-os no chão ao pé da cama antes de me
levantar. “Talvez seja melhor você tomar um banho, vai ajudar a dormir
melhor.” Ela sorri com certa malícia e eu dou risada. “Fico feliz em saber que
seu pai não está em casa, ou poderia ser um cara morto se ele visse você
comigo agora. Ele poderia achar que sou um bastardo aproveitador por trazer
a princesa dele para casa.”
“Nah.” Ela fala, abanando a mão. “Acho que ele gosta de você, queria
estar lá hoje à noite para te conhecer. Foi ele quem sugeriu que eu te
convidasse essa noite.” Franzo as sobrancelhas com a revelação dela,
apoiando as mãos na cintura. Meu ego fica acariciado ao saber que Chelsea
fala de mim para o seu pai. “E o que tem de errado em eu imaginar que isso
foi um convite para se juntar a mim no banho?”
“Chelsea!” Tento repreende-la, apesar de um riso estar preso nos
meus lábios.
É engraçado a forma como ela fala sobre isso com tanta naturalidade
porque sei que, mesmo que isso possa ser resultado de cansaço e bebida,
devo estar vermelho até as orelhas por causa da minha imaginação fértil.
“Josh!” Ela me imita.
“Sabe, meu nome completo na verdade é Joshua, acho que nunca te
falei isso.” Desvio o assunto enquanto ofereço as mãos para que ela levante.
“Eu sei, é formal. Descobri por causa do trabalho, quando assinou seu
nome no projeto.” Ela dá de ombros, pegando minhas mãos. Dou impulso
para que ela fique de pé, agora novamente com seus bons centímetros a
menos que eu. “Isso é um sim ou um não para o banho?”
“Um não, Chelsea.” Está ficando cada vez mais complicado lidar com a
risada, ainda mais com ela tão manhosa. Parece mesmo uma menina
mimada e não a mulher feita de sempre. Talvez ela se encaixe bem nas duas
coisas. “Achei que soubesse que eu não me aproveitaria da situação.” Ela
apoia as mãos no meu peito, ignorando qualquer distância que eu planejasse
manter.
“Zíper.” Seu pedido quase me faz revirar os olhos, porque sei que ela
consegue abrir o vestido sozinha. “Então... se eu te fizer essa proposta
amanhã, qual seria sua resposta?” Seus olhos me fitam com atenção e
preciso desviar o meu olhar para sua pele exposta do ombro, enquanto tateio
o zíper do vestido atrás e puxo para baixo.
O vestido segue firme em seu corpo por causa das alças bem justas.
“Você não vai fazer a proposta amanhã.” Respondo.
“A resposta seria sim.” Ela sorri convencida e rolo os olhos. “Eu posso
ver, você me olhou a noite inteira e antes disso. Você gosta do que vê.”
“Chelsea, eu tenho olhos. Você é uma das mulheres mais bonitas que
já conheci, mas você não é só bonita. Satisfeita?” Deixo meus braços
penderem sozinhos nas laterais do meu corpo, necessitando não tocá-la
enquanto ela me olha assim e diz essas coisas.
Você pode ter controle do seu corpo. Não tanto dos sentimentos, mas
do corpo você pode.
Ou também não pode ter total controle sobre seu corpo.
Ela balança a cabeça em negação, com um sorriso divertido.
“Não satisfeita? Infelizmente, vai ficar só com isso.” Ela me encara com
olhos de cachorrinho que nunca achei poder ver em alguém com a postura
dela, o que me faz rir. “Chelsea?” Ela resmunga. “Banho.”
Seus olhos azuis reviram teatralmente e ela se afasta indo em direção
a uma porta branca, onde deve ser o banheiro. Me viro para começar a
arrumar a cama para ela.
“Josh?” Ela chama e viro novamente em sua direção. Com o sorriso
mais sexy que eu já vi na vida, ela larga o vestido, de costas para mim e me
viro imediatamente antes de poder visualizar seu corpo sair do vestido.
Eu sou a porra de um adolescente excitado porque me mexo
desconfortável em minhas calças justas por causa dos últimos minutos e da
visão das costas nuas de Chelsea, e do traço da sua calcinha branca
rendada.
Por alguns segundos, tento me convencer que devo ter bebido demais.
Álcool sempre me deixa muito excitado. Mas se eu tivesse bebido muito,
talvez pudesse fazer algumas loucuras como há dois finais de semana,
apesar de a desejar sem precisar de nem as duas taças de espumante que
bebi hoje.
Me lembro que isso deve ser o efeito da Chelsea Bêbada e não seus
desejos sem a bebida, como ela mesmo pareceu deixar um tanto claro para
mim. Somos amigos, estamos bem assim.
Ela parece gostar e se importar com a minha amizade. Eu não
estragaria isso porque ela é linda e atraente pra porra e eu gostaria muito de
provar cada canto do seu corpo impecável.
Além disso, ela provavelmente se arrependeria muito disso amanhã e
eu nem mesmo sei se sou capaz de dar o que Chelsea quer. Esses
pensamentos são o suficiente para acalmar a pulsação agitada enquanto
levanto as cobertas e fecho as cortinas que tem vista para o lindo jardim dos
fundos da casa.
Ela sai do banheiro em um conjunto adequado, para minha mente, de
cetim. Seu rosto está limpo, sem a maquiagem, e ela parece mais composta
apesar de ainda mais cansada. Seu cabelo segue ostentando o penteado.
Termino de ajustar o ar condicionado antes de voltar a olhar para ela.
“Senta ali, vou tentar desfazer seu penteado.” Aponto para a cadeira
da penteadeira e ela obedece. “Está se sentindo melhor?” Pergunto ao me
colocar atrás da cadeira e começar a tirar os grampos.
“Sim.” Ela responde arrastado. Os fios loiros caem macios do coque e
assim que termino, ou acredito tirar todos os grampos, pego a escova de
cabelo dela. “Você também não é só bonito e atraente, gostoso e tudo mais.”
Ela fala fechando os olhos enquanto penteio seus cabelos sem muita prática.
“Você é o pacote completo. É melhor mostrar algum defeito o mais rápido
possível. Por favor.” Apesar de achar que é uma brincadeira, seus olhos se
abrem e me fitam com uma intensidade que não entendo pelo espelho. Solto
a escova sem mais palavras e me afasto.
Chelsea caminha até a cama e se joga, puxando os cobertores no
corpo.
“Você não precisa ir para o quarto mais longe.” Ela murmura enquanto
ajeita os travesseiros. “Pode deitar comigo ou… por perto.”
Pedindo assim fica complicado de negar.
“Tá bem. Vou usar seu banheiro primeiro, tudo bem?” Ela acena com a
cabeça e tiro os sapatos, gravata e colete, além de abrir alguns bons botões
da camisa.
Tento o máximo fazer minha higiene com o que encontro pelo balcão
dela, e isso inclui, graças, uma escova de dentes fechada em um pacote.
Quando volto para o quarto, a respiração dela já é tranquila. Adormecida.
Não consigo evitar um sorriso para essa visão de Chelsea Capri.
Pego alguns travesseiros e me acomodo o sofá longo perto da janela,
não me demorando a dormir assim como ela.
 
 
 
 

 
ACORDO COM UMA DOR DE CABEÇA QUE NEM MESMO espera eu abrir
os olhos para gritar por atenção. Minha cabeça parece que vai explodir e
meus pés doem. Com um gemido alto rolo na cama e é nesse momento que
percebo que deveria ter companhia. Meus dedos tateiam os lados da cama
antes de eu criar coragem para abrir meus olhos.
Vergonha nunca me caiu bem, para ser honesta. Nunca precisei me
envergonhar dos meus atos ou me desculpar por eles. Nas raras exceções
que isso aconteceu, foram com pessoas próximas o suficiente para que eu
não precisasse dizer muitas palavras. Por isso tenho medo de abrir meus
olhos essa manhã e olhar para os olhos castanho médio de Josh.
Vamos lá. Eu, talvez, hipoteticamente, tenha falado coisas demais
ontem à noite, das quais não me lembro com total exatidão. Não sei se culpo
a bebida, o fato de eu estar agitada demais ontem à noite ou a vergonha que
sinto, que pode ter apagado algumas coisas para melhorar minha imagem na
minha mente.
O que fica difícil de esquecer, claro, é como fui rejeitada não somente
uma, mas pelo menos umas três vezes. Eu posso ter ultrapassado os limites,
mas meu ego foi um tanto quanto ferido ontem. Talvez não tão
inconscientemente assim, eu queria obter alguma reação dele.
Está sendo um pouco difícil manter essa relação totalmente na
amizade, ainda mais quando todo dia pareço descobrir algo novo e ainda
mais atraente sobre Josh, seu corpo e sua personalidade.
O quarto está escuro, apesar de um pouco de iluminação passar pela
cortina fechada. Escuro e vazio. Me acomodo melhor, sentando com as
costas na cabeceira e noto os travesseiros bem arrumados com uma manta
dobrada em cima no sofá perto da janela. Pelo menos não fui completamente
abandonada. Ou fui, porque lembro de sair do banho e ter meus cabelos
penteados por Josh e depois disso um apagão de sono.
Antes disso temos um borrão de lembranças.
Suspiro quando noto que meu celular ainda deve estar na minha bolsa,
na penteadeira e tenho que ir até lá para pegá-lo. Um pouco relutante,
levanto e coloco os pés nos chinelos fofos que estão no pé da cama. Confiro
minha imagem no espelho da penteadeira primeiro.
Pelo menos lavei meu rosto e não tenho maquiagem borrada. Além
disso, desfazer o penteado ontem à noite foi de grande ajuda para que não
acordasse com uma juba enorme, embaraçada e com muito frizz hoje.
Noto pelo espelho o bilhete escrito à mão deixado em cima de alguns
itens de maquiagem.
“Não queria te acordar, parecia estar bom seu sonho, mas
precisava ir. Meu turno começa às quatro e ainda preciso passar em
casa. Tome o comprimido e coma alguma coisa, com tantas pessoas
achei que não precisaria que eu deixasse nada pronto.
Espero você hoje à noite, saio às oito.
Baby boy.”
Dou risada da sua assinatura e isso me resulta em uma pontada aguda
na cabeça. Não demoro em pegar a cartela de comprimidos e tomar dois de
uma só vez com a água do copo de foi deixado ao lado.
Novamente, atencioso.
Mesmo que eu tenha ultrapassado alguns limites ontem.
Não posso nem mesmo usar a desculpa que estava bêbada porque,
primeiro, odeio ela, e segundo eu não tinha bebido nem quatro taças quando
prometi a ele que tentaria ajudar com a segunda tela hoje à noite. Isso levou
ele a oferecer algumas dicas para que me ensinasse a pintar algumas coisas.
Ou seja, preciso me livrar de qualquer sentimento de vergonha até às oito da
noite.
Vergonha realmente não combina com Chelsea Capri e esse
sentimento está sendo tão incômodo como os que expus para Josh ontem à
noite.
Decidida a não pensar mais muito sobre o assunto, desço as escadas
ainda de pijama, depois de pegar meu celular na bolsa. Me surpreendo
quando encontro meu pai parado no balcão da cozinha, comendo a torta que
cheira maravilhosamente no ambiente. Seus braços mal se abrem quando já
estou o abraçando forte.
“Você está em casa.” Digo contra seu peito antes de o soltar.
“Infelizmente não por muito tempo, little bee.” Ele parece um tanto
chateado por aquilo e a Sra. Price logo me entrega um prato com um pedaço
generoso da torta.
“Aconteceu alguma coisa?”
“Não, tudo ocorreu bem, mas tinha me esqueci das bodas dos Timber
hoje à noite. Logo estou saindo para lá e devo ir depois direto para a
Califórnia.” Resmungo porque me esqueci desse evento também e meu pai
abre um sorriso tranquilizador. “Não precisa ir. Inclusive, como foi ontem?”
“Cansativo.” Respondo sem precisar dar muitos rodeios. Meu pai me
olha com uma sobrancelha arqueada, alguns fios brancos destoam ali. “Sabe
como é, às vezes esses eventos são sempre mais do mesmo. Alguns dias
estamos menos dispostos que nos outros.” Não é bem a verdade e eu não
sou uma boa mentirosa ao lado do meu pai.
“Foi só isso? Josh foi?”
“Foi.” Desvio um pouco da sua pergunta. “Inclusive achei que poderia
ter cruzado com ele.” Olho para o relógio no celular e percebo que são quatro
e quinze. Ele não deve ter saído há tanto tempo, eu acho.
“Ele passou a noite, hm? Devo me preocupar com o rapaz ou preparar
um jantar de apresentações?” Entendo seu deboche.
Sempre fui cuidadosa com trazer pessoas aqui, honestamente nunca
trouxe nenhum cara com quem fiquei. Algo sobre respeitar meu pai e não
querer dar o tipo de falsa esperança. Além de, depois de alguns
acontecimentos, você sempre fica receoso de trazer qualquer pessoa para
dentro.
“Ele me trouxe, e era tarde, disse que podia ficar.” Opto por deixar
alguns detalhes que podem ser considerados fundamentais, mas, bem, esse
é meu pai no fim das contas. “Ele é só um amigo.” Friso mais uma vez.
“É mesmo? Todas as vezes que fala isso vai soando cada vez mais
deprimida sobre o assunto, além de parecer tentar convencer a si mesma.
Estou certo?”
“Não mesmo.” Nego com rapidez. “Você quem está tentando me
empurrar para qualquer um e se livrar da sua filha velha, abandonada e
solteirona.”
“Primeiro que nunca vou me livrar da minha filha e segundo, ela nem é
tão velha assim, muito menos abandonada e solteirona.” Ele solta um suspiro.
“Mas, ainda assim, traga o rapaz um dia que eu estiver, ele parece uma
pessoa interessante. Além disso, é um amigo da minha filha favorita.” Reviro
os olhos.
“Sou sua única filha.” Afirmo contra a brincadeira dele e com toda a
certeza do mundo, porque segredos não têm muito espaço entre nós. Além
disso, se papai tivesse descoberto um filho perdido, nenhuma cria Capri
ficaria longe da casa por muito tempo.
“Infelizmente não tenho muitas opções, como pode ver.” Ele zomba.
“Talvez possa conseguir alguma concorrência se instalar algum
aplicativo de namoro no seu celular. Califórnia no verão deve estar lotado de
boas senhoras.” Levanto os ombros. “E sim, não estou aceitando ninguém
com menos de trinta e cinco.”
“Não precisa se preocupar com idade, little bee, seu velho aqui está
fora do mercado oficialmente há anos e sem planejamento de volta. Desista
dessa ideia.” Ele afaga meus cabelos antes de ir colocar a louça no lava-
louças. “Além disso, tenho uma linda e trabalhosa filha e espero que num
futuro não tão distante assim, ganhe dois ou três netos para tomarem meu
tempo.” Olho para ele incrédula quando seus olhos tão azuis quanto os meus
pousam na minha figura indignada. Claro que ele está rindo sozinho. “O quê?
Espero um dia te ver passar pelo que eu passei.”
“Eu sempre fui uma boa filha.”
“Nunca disse o contrário, mas você perseguia as meninas mais novas
no balé, Chelsea. Eu sentava mais na cadeira da professora que qualquer
bailarina com tutu indisciplinada.” Dou risada lembrando desses
acontecimentos.
“Ok, talvez seja verdade. Talvez eu tenha rasgado uma ou cinco
roupas de algumas coleguinhas.” Faço minha melhor cara de inocente e isso
rende risada de nós dois.
“Falando em balé, faz tempo que não vejo você dançar.” Não é uma
cobrança ou algo parecido, meu pai só adora me ver dançar, fala que serei
para sempre sua bailarina. E atualmente ele é o único público que tenho.
“Na verdade, pensei em descer no estúdio daqui um pouco e treinar
um pouco para passar o tempo.” Será mais relaxante que sentar em frente ao
piano para não conseguir terminar a melodia que venho me dedicando ao
longo do mês, e falhando.
“Uma pena que não vou poder ficar.” Meu pai se lamenta, pegando
uma garrafa de água na geladeira. “Vai sair essa noite?” Confirmo com um
aceno de cabeça, colocando meu último pedaço de torta na boca e já me
sentindo completamente eu de novo. “O rapazinho?” Ele pergunta como um
fofoqueiro curioso.
“Céus, você é pior que Daphne e Becks.” Com todas aquelas
insinuações e conselhos furados. “Mas sim, vamos trabalhar no nosso projeto
da aula hoje à noite.” Explico, roubando a água ainda fechada dele. “Ele só
sai do trabalho às oito, tenho três horas ainda.”
“Não tinha comentado que ele trabalha.” Talvez porque eu não passei
todas as informações que você não precisa saber para não ser munido contra
mim, pai.
“Sim, em um café meio bar perto da faculdade.”
“Interessante.” Ele fala simplesmente pegando outra garrafa de água
para ele. “Bem, não volte muito tarde.” Mas o que ele quer mesmo falar é que
não devo voltar sozinha e isso significa sem o motorista.
“Tudo bem. Já vai?”
“Sim, ou não chego lá a tempo de não me atrasar tanto.” Ele olha o
relógio. Lá é Hamptons, porque eventos íntimos da alta sociedade acontecem
em sua quase totalidade lá durante o verão. Meu pai deixa um beijo no topo
da minha cabeça. “Se cuida, little bee. Eu te amo mais que tudo.”
“Você também, me mande notícias da viagem e do processo de
compra na Califórnia.” Ele tem tentado expandir os negócios para a costa
oeste desde o ano passado. “Eu te amo mais que tudo.” E isso é algo nosso.
Começou quando ainda era pequena e nunca questionei, sempre foi nossa
forma de dizer.
Porque, mais que tudo, significa que ele é a minha pessoa favorita do
mundo e eu sou a dele, acima de qualquer outro fator. Acima de qualquer
coisa, qualquer pessoa.
Meu pai deixa a cozinha e me sirvo mais um pedaço, me sentindo
faminta. Sento na bancada baixa da cozinha para comer e vejo algumas
notificações no meu celular. Incluindo muitos elogios para o casal. Josh e eu
tiramos algumas fotos ontem quando escapamos um pouco dos convidados
incômodos e realmente formamos um par muito bonito.
Olhando a foto que postei, lembro de como ele estava bonito naquela
roupa. Quase me deixando sem palavras. Eu parecia ter medido o corpo
dele, e talvez meus olhos fizessem isso o suficiente por mim, mas todas as
peças se encaixavam com perfeição. Além dele parecer o homem mais lindo
do salão, embora houvesse poucos com menos de vinte e sete para competir
com sua beleza.
Ainda que nada tenha saído bem, pareceu bom tê-lo por perto e
esperava que isso não fosse um pensamento egoísta. Todas as vezes que
uma conversa ficava ruim, constrangedora ou chata demais, sempre que
meus olhos buscavam por ele, encontrava um sorriso gentil a disposição e
isso bastava. Mesmo que eu não entendesse o porquê bastava.
Josh é encantador da cabeça aos pés e isso incluía o conteúdo
interno. É simpático, atencioso, me faz rir com certa facilidade, é gentil e
muito cavalheiro, apesar de não ser do tipo chato. Não hesitou em me seguir
pelo salão enquanto cumprimentávamos convidados apesar de grande parte
deles ter feito algum comentário indesejável sobre nossas figuras juntas. Ele,
mesmo assim, seguiu simpático até que não aguentei mais e sugeri que
ficasse com o tio Theo.
Não lembrava que meu círculo fosse tão crítico assim. Fiquei chateada
por acabar levando Josh para dentro disso. Novamente, parecia ser, em
poucas grosseiras e hipotéticas palavras, minha culpa por não conseguir, ou
não querer, ficar muito longe dele.
Afasto o pensamento, fechando a aba e mandando uma mensagem
para ele. Mesmo sabendo que é cedo.
 
Chelsea: Deveria ter me acordado, eu dormi até agora a pouco.
Chelsea: Me avise quando já estiver em casa
 
Sem esperar uma resposta, porque sei que ela dificilmente virá durante
seu horário de serviço, findo minha água antes de subir as escadas. Tomo um
banho rápido para vestir meu collant com a saia baixa de malha e a sapatilha
meia pata. Prendo meu cabelo desajeitadamente e desço para o estúdio no
andar de baixo.
A sala grande e equipada para meus exercícios de balé é branca com
detalhes em preto. Espelhos cobrem do chão ao teto duas das paredes da
sala, a terceira tem ampla vista com janelas grandes para o jardim da casa,
além da parede lisa onde fica a porta de entrada. Ligando meu celular no
aparelho de som da sala, começo a me alongar antes de escolher uma das
minhas músicas favoritas para treinar.
Mesmo tendo deixado a academia há tantos anos, e com meu
tornozelo sem sua total capacidade, o balé sempre foi meu ponto de fuga,
junto com a música. Sempre amei criar performances. Às vezes gostava de
criar melodias para depois ensaiar e performar em cima delas. Era um
processo demorado, mas me sentia completamente satisfeita ao ser parte
fundamental no processo desde cada pequena peça, como a música, até o
compasso final.
Fico uma hora rodando o salão e fazendo bom uso da barra para me
exercitar e treinar algumas vezes, quase conseguindo a perfeição na
performance nas duas últimas vezes que passei. Com filetes de suor
escorrendo pelas laterais do meu rosto e nas minhas costas, faço um
relaxamento antes de subir para meu quarto e ficar alguns minutos na
banheira.
Aproveito esse tempo para pensar se devo dizer algo sobre ontem a
noite com Josh quando nos encontrarmos e resolvo decidir isso quando nos
encontrarmos de fato. Planejar essas conversas nunca foi meu forte, sempre
acabo dizendo coisas que não devo ou que posso me arrepender no fim de
uma forma ou de outra. Não que eu, de fato, costume me arrepender muito
do que falo.
Lavo meus cabelos no chuveiro depois e seco os fios loiros com
secador ainda enrolada no meu roupão fofo. Sento na minha penteadeira e
aplico minhas habituais camadas de maquiagem.
Um hábito criado ao longo dos anos, apesar de ter uma boa pele. Me
maquiar é um ato relaxante e metódico, como se me ajudasse a seguir os
demais passos do dia. Com a pele feita, sorrio depois de aplicar a última
camada de rímel, agradecendo ao alongamento de cílios quase natural que
fiz há poucas semanas.
Vou para o closet com minha roupa pronta na cabeça, outro hábito que
criei. Ao me maquiar, poupo o tempo de rodar no closet atrás de uma
combinação visualizando antecipadamente o que vou usar. Pego uma calça
jeans skinny com lavagem clara e visto com uma regata branca de alças finas
e decote reto na altura do meu peito. Meus seios ficam bem nessas blusas
muito coladas ao corpo, realçam seu tamanho mediano.
Escolho um cinto preto da Gucci para acentuar ainda mais a calça de
cintura alta e calço os tênis brancos impecáveis na poltrona do closet.
Escolho um cardigan de mangas largas, aberto e sem botões num tom
de cinza claro, porque o vento da noite está um pouco mais gelado que o
habitual e porque completa bem o visual. Apanho uma das bolsas no estilo
mochila e volto para o quarto, colocando o que preciso lá dentro. Quando
saio para descer as escadarias e avisar Vicent que precisarei que ele me
leve, ainda não são nem sete e vinte da noite.
“Chelsea.” Meu motorista me cumprimenta assim que chega na SUV
preta e abre a porta para mim. “Boa noite, senhorita.”
“Boa noite, Vicent.” Dou um sorriso agradecido antes de entrar e
colocar o cinto.
É estranho, mas positivo, não perder alguns hábitos de educação.
Vicent, a senhora Price e vários outros funcionários estão conosco há tantos
anos que mal me lembro de algum dia da minha infância sem eles. Sou grata
por serem parte tão importante para nós. E pelos bons anos de serviços leais
e gentis.
“Vamos para o mesmo endereço que apanhou Josh ontem.”
“Claro, Chelsea.” Ela diz ligando o veículo e saindo da garagem para o
portão com guarita, que se abre imediatamente. “A noite ficou agradável com
esse clima, não é mesmo?”
“O verão não parece o mesmo sem férias. Inclusive você tira as suas
na próxima semana, não é?” Me lembro do meu pai ter comentado sobre
isso.
“Sim, no fim do mês, eu e minha esposa vamos para a Flórida.” Ele diz
contente.
“Vão ficar em algum dos hotéis do papai?”
“Eu não queria abusar da boa vontade, mas minha esposa achou que
seria engraçado vivermos uma semana no luxo de um dos hotéis.” Ele dá
risada e eu acompanho.
“Não discordo nem um pouco da sua esposa.” Adoro acabar indo vez
ou outra para o luxo exagerado dos hotéis.
Ficamos em silêncio por mais uma parte do caminho e checo meu
celular de novo. O tempo está passando mais vagarosamente do que
planejado.
“Vicent?”
“Sim, senhorita Capri?” Não o corrijo, porque sei que é força do hábito,
apesar de quase sempre me chamar pelo nome e quase me agoniar o fato de
ouvi-lo me chamando com tamanha formalidade.
“Podemos passar na minha pizzaria favorita no caminho?”
“Claro!” E ele vira a próxima esquina.
Demoramos vinte minutos para fazer tudo o que precisávamos, ou que
eu queria, e quando estamos retomando o caminho para às três quadras até
a casa de Josh, recebo uma mensagem dele.
 
Josh: Você estava tão fofa, parece uma criança dormindo, teria sido
um pecado.
Josh: Os meninos acabaram de chegar, se quiser já pode ir, devo
chegar em uns quinze minutos.
Chelsea: tá bem, espero que não tenham jantado.
 
Mando antes que Vicent estacione na frente da casa sem portão de
dois andares. Sei que a porta provavelmente está aberta e minha teoria de
que ninguém sabe a função de uma porta nessa casa se atesta certa quando,
com as mãos carregadas de sacolas da conveniência, abro a porta de
madeira sem dificuldades. Vicent me ajuda, descarregando as caixas do
carro.
“Deveríamos começar a te incluir no aluguel?” Escuto a voz de Ethan
debochando do seu lugar comum jogado no sofá.
Caminho até a mesa da cozinha.
“Muito engraçado. E quanta receptividade para quem trouxe seu
jantar.” Gostaria de poder jogar meus longos fios loiros para trás do ombro
para completar minha fala convencida. Vicent deixa as cinco caixas de pizza
grandes na mesa sem dificuldades. “Pode voltar para a casa, e aproveite o
dia amanhã com sua esposa. Eu pego um Uber mais tarde.” Falo para ele o
levando de volta para a saída, como se pagasse o aluguel do lugar mesmo.
“Tudo bem, Chelsea, mas pode me ligar se precisar.” Dou um aceno
de cabeça e sorrio enquanto ele se afasta.
Fecho a porta para sentir agora o aroma muito masculino, de
desodorante, perfume e muita testosterona misturada, junto com o prazeroso
cheiro das pizzas.
“Você não sabe mesmo chegar aqui sem carregar sacolas?” Scott
desce as escadas com uma calça de moletom e ostentando um peitoral
definido, e delicioso, coberto de tatuagens escuras e algumas coloridas. Ele
não parece intimidado e eu não desvio o olhar até finalizar minha análise.
“É um hábito.” Zombo e ele termina de secar os cabelos com uma
toalha que joga de volta na escada antes de puxar uma camiseta pela
cabeça.
“Ela tá falando sério?” Nick, com quem conversei na terça, tira os olhos
de um jogo de futebol que passa na televisão grande da sala.
“Está sim.” Ethan já está ao meu lado na mesa da sala de jantar, quase
ousando abrir uma caixa.
“Não mesmo! Vamos esperar o Josh chegar.” Desfiro um tapa na mão
dele, que afasta rapidamente.
Dou um bom olhar de advertência aos outros dois que também se
aproximaram. Puxo os engradados de cerveja para fora das sacolas,
deixando as com doces separadas no balcão da cozinha, esperando que não
sejam atacadas.
“Veio com o pacote completo, hm?” Ethan pega uma cerveja. “Ou só
quando o Josh chegar também?” Reviro os olhos para a insolência dele e
distribuo as garrafas, indo colocar as demais na geladeira.
“Sempre anda como se fosse dona dos lugares também?” Scott puxa
uma cadeira para se sentar, me olhando em desafio. Não pego qualquer
provocação.
“Scott!” Nick dá um olhar para ele e entra em uma breve conversa
mental.
Não me importo com aquilo enquanto tiro minha bolsa e casaco.
Também não me importo em subir sem permissão e fazer o que parece ser
algo natural para mim já, afinal o caminho que mais sei é para o quarto de
Josh. Deixo minhas coisas por ali e fico tentada a espiar por baixo dos panos
que cobrem duas telas, uma no cavalete e outra no chão, mas não o faço e
desço.
Chego no andar de baixo no momento em que ele, Josh, entra pela
porta.
“Hm, pizza.” Ele geme tirando os sapatos na porta.
Sorrio no pé da escada, contente por ter acertado a pedida para a
noite e nem sabendo porque acabo me gratificando por isso.
“Presentes da visita.” Nick fala, bebendo um gole da cerveja e me
apontando com a mesma.
“Achei que tínhamos entrado em um consenso que ela não é mais
visita.” Ethan abre as caixas.
“Oie pra você.” Josh diz em um meio riso, me olhando enquanto ele faz
o caminho até dentro da cozinha e eu me sento na mesa. “Espero que não
tenha precisado passar tanto tempo com os grosseiros.” Ele frisa a última
parte enquanto lava as mãos na pia.
“Somente momentos de qualidade.” Ironizo e pego uma fatia de
pepperoni.
“Em minha defesa, nós mal conhecemos ela.” Scott parece mais bem-
humorado, mesmo que da sua própria forma de ser bem-humorado.
“Isso é verdade.” Ethan concorda com a boca semi cheia, quando Josh
se senta ao meu lado na mesa, depois de pegar uma cerveja. Scott e Ethan
encaram Nick, que parece focado na sua comida para dar importância a
conversa.
“O que? Eu a conheço, passamos alguns bons minutos conversando
terça-feira e ela conseguiu fazer e responder, ao mesmo tempo, uma
infinidade de perguntas.” Nick não parece ter a intenção de me ofender
dizendo isso.
Na verdade, sua honestidade parece ser o único tom que ele sabe
usar.
“Eu não falo tanto assim.” Me defendo e olho para Josh que baixa o
olhar e finge demora para escolher um sabor. “Josh!” Exclamo encostando as
costas na cadeira.
Tenho vontade de cruzar meus braços, mas estou segurando minha
pizza e uso ela para uma grande mordida frustrada.
Josh se vira para me olhar com aqueles olhos bonitos, carregados de
paciência e gentileza, como se estivéssemos tratando de algo super delicado
e eu precise de atenção. O assunto é delicado, porque eu não sou faladora
assim, e eu preciso da atenção, dele no caso.
“Você, às vezes, fala um pouquinho, mas não é algo negativo.” Ele
levanta os ombros como se isso explicasse tudo e morde um pedaço da sua
comida.
Termino o meu pedaço antes de voltar a minha posição inicial e eles
não parecem se incomodar tanto com a minha falação quando começam a
contar sobre casos da adolescência deles. Principalmente enfatizando as
vergonhas maiores de Josh, que alterna entre rir, dar olhares aos rapazes e
corar se virando para mim e falando que não foi bem assim. Não se
incomodam quando apoio meus antebraços na mesa, em curiosidade e com
várias perguntas.
 
 
Pensei que tanta pizza seria muito, mas percebo que a hora passou e
devoramos as cinco caixas, assim como quase todas as garrafas dos quatro
packs que comprei estão alinhadas, vazias, no meio da mesa.
Meus tênis estão jogados embaixo da mesa e minhas pernas dobradas
em cima da cadeira escutando sobre quando tentaram dar uma festa na casa
de Nick, mas os pais dele voltaram antes do planejado e pegaram tudo uma
bagunça. Típico adolescente.
Josh está ao meu lado, quase na ponta da mesa, e seu braço
descansa no encosto da minha cadeira para que ele se incline em direção
aos meninos na conversa. Ethan está do meu outro lado, e é o mais
debochado do grupo. Nick é cético e controlado, apesar de ser uma simpatia,
e até mesmo Scott com seu senso de humor diferente é um cara
interessante.
Me sinto uma observadora da primeira fileira vendo eles interagirem
com tanta cumplicidade um com o outro, penso se eu, os Drake, Mike e
Daphne também somos assim. Mas provavelmente somos, temos infinitas
histórias, como eles e definitivamente entramos em um mundo só nosso
quando conversamos. Isso me faz sentir falta das nossas reuniões semanais,
todas às quartas, com meus melhores amigos.
Tudo parecia tão descomplicado antes de Oliver e Angel resolverem
namorar e noivar dois meses depois de Oliver terminar com Becks, ou antes
de Ollie decidir que era uma boa ideia brincar com os sentimentos não só da
Rebecca, mas da Angel também.
Antes de Daphne se mudar para Boston e Matteo ficar muito ocupado
no trabalho, suprindo a ausência da namorada falecida. Becks encontrou seu
caminho agora também com Zach, mas sei que, no fundo, posso contar com
eles sempre, até mesmo com Mike, que me lembra um pouco Scott,
pensando agora. Ou o contrário.
Espero que os meninos não percam isso tão cedo, a relação deles me
faz imaginar uma casa com quatro crianças, quatro meninos, todos irmãos.
Deve ser algum tipo de terror para as mães, ainda mais se forem como esses
quatro.
E depois eu quem falo demais.
“Ok, acho que a Chelsea não veio aqui gastar o dinheiro dela pra nos
escutar listando alguns bons momentos da vida do Josh. E das nossas.” Nick
diz antes de esvaziar sua cerveja. “Garanto que eles têm algo a fazer.” Sua
voz indica coisas para a imaginação e preciso controlar meu olhar de quem
dera, Nick. Porque sei que não é meu lugar dar imaginação sobre nossa só
amizade para os amigos dele.
“Na verdade, íamos trabalhar no nosso projeto da aula.” Josh me olha
e sei que seu tom é de uma pergunta silenciosa.
“Eu dormi até às quatro da tarde, mas se quiser descansar, podemos
combinar outro dia.” Falo com um dar de ombros, apesar de querer ficar um
pouco mais. Odeio esse papel de não dizer exatamente o que eu quero, mas
sei que é para um bem maior. A amizade. “A noite já valeu a pena de
qualquer forma.” Porque é verdade e também porque não quero pressioná-lo
a trabalhar mesmo cansado.
“Então, tá bom.” Ele diz e se levanta, me chamando.
Pego a sacola com alguns doces que comprei na conveniência em
cima do balcão da cozinha e distribuo uma barrinha de chocolate para cada
um dos meninos na mesa.
“Josh, por favor não traga ela com frequência, tenho treino amanhã
cedo e com certeza vou estar dez vezes mais lento que o natural por causa
da loirinha.” Ethan fala, mas apesar do lamento, já está devorando seu
chocolate.
Josh dá de ombros para ele, como se não pudesse controlar e, apesar
de poder, espero que possamos ter mais jantares assim. A noite de hoje já foi
imensamente mais agradável que a de ontem em questão de convidados.
Afasto o pensamento negativo da cabeça
 
 
Josh abre a porta e me espera passar antes de fechar. Pergunta se
posso esperar até ele tomar banho e eu digo que sim. No momento que a
porta se fecha me sinto um pouco estranha por estar no quarto dele sozinha,
mas esse tipo de estranheza não combina comigo, por isso pego um pacote
de confetes do saco e deito em sua cama. Vou colocando um por um na
boca, observando algumas coisas que não tinha notado mais cedo.
Ele colocou algumas fotos da família e com os meninos na parede.
Todas são polaroids e tenho a impressão que foram tiradas por ele e não
somente impressas daquela forma. Josh volta para o quarto em uma calça de
moletom preta e secando os cabelos com a toalha, que ele coloca em um
gancho atrás da porta antes de pegar uma camiseta limpa no armário e vestir
pela cabeça.
“Nenhum comentário?” Ele pergunta debochado antes de se jogar de
barriga para baixo ao meu lado na cama. Reviro os olhos brava para ele
antes de desfazer em uma cara de arrependida. “Chels, nem começa.” Ele
senta, provavelmente sabendo o que vou falar.
“Nem começa o caramba. Te devo um pedido de desculpas por ontem
à noite." Ofereço o pacote de confetes já no fim que tenho em mãos e ele
pega alguns. “Em modo geral. Primeiro, pelos convidados grosseiros…”
“Estou acostumado.” E prefiro não levar minha mente até lá porque sei
que o porquê de ele estar acostumado não vai me agradar.
“Em segundo lugar, porque bebi além da conta. Faço isso quando
estou estressada e é um péssimo hábito.” Faço uma careta e ele sorri,
vasculhando o nosso saco de doces e pegando jujubas. “Depois por você ter
que me levar para casa…”
“Era algo que tinha planejado desde o começo.” Ele dá de ombros e
não consigo tomar um momento para observar seu rosto bonito com um
sorriso quase bobo nos lábios, essas coisas são tão naturais para ele.
“Ainda assim. E depois eu fiz o pior de tudo.” Começo pensando em
como usar as palavras.
“Foi engraçado.” Ele brinca, mas olho para ele séria.
“Não foi. Você disse não e eu continuei insistindo, isso foi errado e eu
me aproveitei além da conta da sua gentileza. Ultrapassei os limites.” Respiro
fundo antes de falar mais uma vez para ele as palavras que não saem com
tanta facilidade. “Por favor, me desculpe.” Ele sorri com gentileza e acena
com a cabeça.
Parece que estou ficando acostumada a dizer essas palavras para
Josh.
“Está tudo bem. Também enchi seu celular de mensagens quando
estava bêbado.” Ele lembra, mas não é a mesma coisa.
“E obrigada por dormir por lá, e por deixar o remédio e o bilhete hoje
cedo. E por ter vindo ontem a noite comigo.” Termino a longa lista, pelo
menos para mim.
“Eu gostei, foi até interessante. E você fica bastante manhosa, até
dormindo. Fala durante o sono também, apesar de não falar exatamente uma
língua conhecida.” Fico chocada com ele ter a coragem de falar sobre isso e
bato com um pacote vazio de confetes em seu braço enquanto Josh ri. “Além
disso, nada de sair sem deixar bilhetes mais, não é?” Ele deve estar
lembrando do episódio da praia e dou um aceno com a cabeça, como uma
menina pidona que não gosta mesmo que ele não avise.
“Mas você realmente estava bonito ontem à noite. Quatro meninas
pediram seu número depois que descobriram que não estávamos juntos
como um casal real.” Todas as quatro receberam um olhar bem furioso e eu
inclusive pensei em dizer as duas últimas que sim, ele era meu namorado.
Quem dera!
Pra mim só no caso.
“E você passou?”
“Claro que não. Usei a desculpa que não estava com meu celular,
apesar de ser verdade. Mas se estivesse, pensaria em outra coisa.” Confesso
sem vergonha alguma e ele ri de novo.
“Não seja tão ciumenta, Chelsea Capri. Você vai ser para sempre
minha primeira pessoa nova-iorquina.” Acho graça da minha classificação.
Melhor achar graça do que pena da minha grande frustração sexual. Ele
come mais algumas jujubas e, então, se levanta. “Vamos, que estou
pensando mesmo em usar da sua ajuda.”
Josh mata a minha curiosidade sobre o quadro no chão e me mostra
nossa primeira pintura, fico bons minutos elogiando o talento dele e ele diz
que aquele foi o segundo que pintou até que conseguisse chegar no que
desejava. Josh pega o quadro coberto de cima do cavalete e parece nervoso
quando coloca atrás dos materiais, no chão, ainda coberto.
Minha curiosidade só atina.
Mas depois disso, sentamos no chão do quarto dele e falamos sobre
nosso projeto, Josh me conta um pouco das suas referências e desenhamos
em folhas. Ele é bem melhor que eu. Mas fico orgulhosa quando consigo
chegar a uma boa ideia, horas depois, enquanto ele começou a me ensinar
alguns traços para pintar um fundo de tela que estou cobrindo com azul e
preto em uma técnica que acho o máximo.
Sei que pareço uma criança, sorrindo para um quadro médio, sentada
no banco em frente ao cavalete, com as mãos cobertas de tinta que respinga
na camiseta preta com alguns pingos antigos que Josh insistiu que eu usasse
por cima das minhas roupas. Ele está de pé na escrivaninha, me olhando
trabalhar, mas estou totalmente presa no meu trabalho. Faço o fundo para
que ele execute todo o resto depois, apesar de achar que o depois vai ser
amanhã, dado o horário.
Prendi meus cabelos em um coque com um lápis, para não acabar
sujando-os de tinta ao passar a mão desatenta e tenho certeza que tenho
alguma mancha azul na bochecha de quando fui com o dorso tirar um fio de
cabelo do rosto. O cheiro de tinta acaba invadindo o quarto pela pintura,
apesar das janelas francesas estarem bem abertas e tenhamos um ventilador
portátil rodando vento pelo quarto.
Estou concentrada em uma mistura no meio quando escuto o clique da
máquina que me tira a atenção. Viro o rosto e respondo a minha pergunta
sobre as fotografias. Ele mesmo as tira com uma máquina instantânea.
Josh sorri para mim de modo travesso e eu fico ansiosa pela foto, mas
não sem que antes eu dê mais duas pinceladas na tela. Ele bate a foto no ar
e logo a imagem se revela. Josh fica contente com o resultado e vira para
mim quando me aproximo. Não fico insegura com fotos surpresas, confiante o
suficiente na minha aparência, eu sei.
Mas percebo com a foto que a camiseta está mais larga que imaginei,
além de que eu de fato pareço mesmo uma criança com brinquedo novo
enquanto pinto.
“O que você não faz?” Pergunto e ele ri.
“Danço ou toco.” Ele pisca para mim, porque são as minhas coisas, e
se vira para prender a foto junto com as demais na grade que tem na parede
da escrivaninha.
Tento não ficar muito feliz, mas eu fico, porque aquilo parece significar
bastante e eu, no fundo, num lugar que ando sem coragem de mexer e
descobrir, quero significar bastante. Mesmo que seja na nossa amizade.
Porque Josh se tornou uma parte de mim que eu gosto, uma parte de mim
que me vê em uma lente nova, e isso me renova sobre algumas coisas que
achei estarem perdidas.
“Espero que não se importe.” Ele diz quando se vira pra mim de novo.
“Não, ficou boa. Você tem um bom olho.” Afinal, a iluminação do quarto
pareceu outra do ângulo que ele tirou. “Mas vou precisar de uma sua e posso
escolher um momento bastante oportuno para tirar.” Provoco ele, que
provavelmente imaginou várias coisas porque os tons das suas bochechas se
aquecem um pouco, não mais tanto quanto antes.
“Não sei se estou ansioso ou com medo.” Ele caminha até a frente da
tela que está secando com minha pintura um pouco desajeitada, mas que
Josh faz parecer uma obra de arte com aquele olhar. “Ficou ótimo, acho que
você realmente nasceu para ser do tipo artista completa.”
“Ficou meia boca, mas vou aceitar de bom grado os elogios, apesar de
você nunca ter me visto exibir qualquer outro tipo de arte.” Sento na cama
dele.
“Você parece bem ardilosa com convites, quem sabe um dia não tenho
a honra.” Acabo soltando um riso, porque gosto quando ele fala essas
pequenas coisas que poderiam ser provocações, e sei que deveria me
envergonhar, mas não acontece. De fato, não foi um não-convite.
“Gostaria?” Pergunto depois de um tempo, curiosa.
E ele dá de ombros enquanto começa a organizar um pouco da nossa
bagunça. Nem me ofereço, entendi que ele é um pouco metódico com seus
materiais.
“Vou ficar feliz em aceitar o convite, caso um dia faça de fato.”
O jeitinho que ele fala toda vez, como se nunca pensasse em me
pressionar sobre assunto nenhum, é algo que aquece meu peito. Porque
sinto que está tudo bem se eu não quiser. Espaço que eu não lhe dei ontem à
noite.
“Podemos pensar sobre isso. Tenho trabalhado em uma performance
sempre que arrumo um tempo, quem sabe pode me ajudar a aperfeiçoar.
Sempre é bom ter um olho de um público.” E a ideia de dançar para ele me
anima mais do que o normal. Mantenho comigo que é por causa da falta de
espectadores que tenho nos últimos tempos.
“Está bem tarde.” Ele fala, se aproximando de mim na cama. “Acho
que posso trabalhar nossas ideias amanhã, meu turno começa só no fim da
tarde.”
Josh segura meu rosto que está virado para cima para que eu consiga
olhar seu rosto e sinto uma vontade estranha de me inclinar ainda mais para
perto dele quando suas palmas tocam minhas bochechas de forma tão gentil.
Seu polegar passa algumas vezes na minha bochecha e sei que está
tentando tirar a manchinha que eu criei mais cedo.
“Sei que não temos um sofá aqui, mas se quiser, pode ficar até
amanhã. Posso dormir lá embaixo ou com um dos meninos.” Seus olhos não
estão nos meus e eu inclino a cabeça um pouco para o lado para captar
daquelas duas maravilhas castanhas.
“Seria um pouco cruel demais te tirar duas boas noites de sono
seguidas.” Ele sorri de canto. Aquele sorriso sabe? Aquele todo gentil que me
faz sentir tão… bem. “Além disso, nem é tão tarde assim.”
“Chels, são três da manhã quase.” Eu suspiro, pensando que não
quero mesmo deixa-lo desconfortável mais uma noite, sem nem ter a
desculpa de estar bêbada e carente, mesmo que sempre me sinta carente
com ele atualmente. Ainda mais quando ele está me olhando assim e
segurando meu rosto. “Se quiser… e não se importar… podemos, hm, dividir
a cama.” Ele desvia o olhar de mim para a cama onde estou sentada, com
bastante hesitação. “Você deve ser uma companhia menos espaçosa que
Ethan.” Ele dá de ombros e eu sorrio.
“Por mim… não me importo.” Na verdade, a ideia me soa tão boa e
isso nem mesmo foi uma proposta. Preciso limpar essa parte da minha
mente. “Mas acho que é você quem poderia se importar.” Ainda mais depois
de eu ter agido como uma tarada ontem. “Realmente posso pegar um táxi,
Uber ou algo assim. Não me importo.”
“Tá bem, então.” Ele se afasta e caminha até o seu guarda-roupa.
Sinto falta das suas mãos em mim e me sinto um pouco triste quando
ele desiste da ideia tão rápido. Me afundo ainda mais na cama e alcanço meu
celular no bolso de trás para chamar um carro. Mas o aparelho é arrancado
das minhas mãos antes que eu abra o aplicativo. Josh sorri para mim como
se me achasse um caso perdido e devo ser porque ele segura uma muda de
roupa na minha direção.
“Realmente achou que eu ia deixar você atravessar a cidade sozinha
uma hora dessas. Pensei que tivesse dado a dica ontem, e sei que deve
saber se cuidar e tudo mais, mas posso fazer o bom papel de amigo.” Pego
as roupas da mão dele. “Tem toalhas limpas no armário da pia e uma escova
nova na segunda gaveta, eu acho. Também tenho quase certeza que Ethan
usa um sabonete de rosto caro, provavelmente não vai se importar se você
usar um pouco, caso queira. Deve ser toda das skincare.” Eu poderia beijar,
entre outras coisas, ele agora só por ser tão fofo. Cogito que todos esses
seus cuidados possam ter uma razão do passado.
Sarah, você fez um bom trabalho, sorte da próxima.
Que me vejo desejando, sem pensar muito, que seja eu.
Eu nunca quis namorar na vida.
Atordoada com os pensamentos, mas com um sorriso bobo nos lábios,
deixo o quarto e vou até o banheiro no corredor. Tranco a porta e tiro minha
calça, a camiseta com tinta de Josh e minha regata, que uso sem sutiã. Visto
a camiseta branca que ele me deu, deve ser maior do que ele normalmente
usa porque fica bem grande, batendo na metade das minhas coxas.
Acabo dispensando o banho. Talvez seria estranho demais fazer isso
aqui. Lavo meu rosto com o sabonete caro de Ethan, e escovo meus dentes,
mantendo minha escova junto com as minhas roupas dobradas para levar de
volta ao quarto.
Prefiro não dar o azar de compartilhar escova por engano com alguém
amanhã cedo.
Tento desembaraçar meu cabelo com um pente que encontro e desisto
para fazer a tarefa com os dedos. Visto a calça de moletom dele e fico uma
visão engraçada, é larga e quente demais para o meu gosto de uma noite
tranquila. Não gosto de calças pra dormir nem no inverno, ainda que as use.
Mesmo assim, saio do banheiro e volto para o quarto, que está vazio.
Deixo minhas coisas na cadeira da escrivaninha e não consigo evitar de olhar
mais uma vez para a minha foto presa na parede. Como a boa curiosa que
sou, meus olhos pousam em cima da mesa e vejo que ele manteve meus
dois bilhetes. Além do convite da festa de ontem.
Percebo que mesmo de uma forma desajeitada, me desculpei com ele
logo de cara e nem mesmo me lembro de ter pensado muito sobre o assunto.
Ele ficou tão chateado que não vim em sua grande festa para comemorar os
vinte e um em grande estilo em uma república, mal nos conhecíamos, mas
acabei me sentindo mal por ser a única pessoa que ele conhecia por aqui,
tirando seus melhores amigos, e eu não pude vir. Não que seja do tipo que
recusa festa, sei que ele sabia disso e só aumentou sua chateação.
As mensagens diziam muito sobre isso também.
A porta do quarto se fecha e percebo que estou lendo minhas palavras
escritas para ele com atenção que mal percebi sua entrada. Talvez porque eu
soe carinhosa nas duas cartas e nunca fui assim com outras pessoas de fora,
como Josh é. Mas mesmo assim, não consigo ver outra forma de tratar ele.
Ele é sempre tão bom para mim, não é exatamente uma coisa nova, mas é
novo a forma que eu me sinto sobre isso quando é com ele.
Pessoas me dão atenção, me deram a vida toda, mas eu nunca quis
retribuir a intensidade e agora sei como é estar do outro lado. Porque,
enquanto observo ele parado na porta fechada, com uma calça de pijama
xadrez vermelha e uma camiseta branca, sinto vontade de coisas que nunca
pensei que sentiria.
Ele sorri para mim, me olhando engraçado e devo dar crédito as
roupas frouxas, apesar de ter feito um bom trabalho com os cordões da
cintura da calça.
“Quer que eu tranque? Caso os meninos entrem sem bater. Acontece
às vezes.” Ele se explica e isso é algo que sempre me pega, porque é como
se ele sempre fizesse questão de não deixar nada passar estranho.
Novamente, sempre atencioso.
Preciso achar outra definição para esses gestos fofos dele ou vou
começar a soar repetitiva.
Dou um aceno de cabeça e ele fecha. Prefiro manter o comentário que
não sabia que o quarto dele tinha chave já que sempre está com a porta
aberta para quem quiser entrar, embora essa pessoa intrometida seja só eu,
provavelmente.
Sei que a forma como venho pensando sobre ele pode me fazer
parecer carente e talvez eu esteja, mas esse sentimento estranho e novo
está se tornando cômodo no meu peito. E não é ruim. Apesar de eu saber
que as intenções dele passam longe das minhas.
Além de eu não saber onde estão, de fato, meus pensamentos.
Josh continua me olhando com um riso preso nos lábios e me viro para
ele colocando as mãos na cintura.
“Está engraçado mesmo, não é?” Abaixo meus olhos para meu corpo
nas roupas dele. “Podemos nos livrar dela?” Pergunto puxando o tecido
folgado da calça.
“Tudo bem, acho que tenho dois cobertores.” Ele diz começando a
ajustar o ar condicionado do quarto e arrumar a sua cama, pegando outro
cobertor no guarda-roupa enquanto eu tiro a calça de moletom e dobro,
colocando junto com minhas coisas na cadeira.
“Você guardou os bilhetes.” Comento, talvez querendo saber alguma
coisa sobre o porquê.
“Gosto de guardar lembranças. Você tem oficialmente entrado nessa
caixinha.” Ele sorri terminando de arrumar a cama e indo fechar as cortinas.
“Isso aqui é agressivo aos olhos de manhã cedo. A manhã seguinte do meu
aniversário que diga.” Mas ele para a frase abruptamente e mesmo quando
caminha de volta para a cama, ainda está queimando em vermelho.
Sorrio, achando graça de que provavelmente ele deve ter feito algo
muito além do seu habitual naquele dia, além das mensagens, muitas
mensagens, para mim.
Ficamos em silêncio e assim que ele se arruma de um lado, vou até o
outro.
“Eu era bem pequena. Tinha quatro anos.” Começo e não me dou
conta do que quero contar até começar. Mas me sinto confortável e tenho
vontade de dividir essa parte de mim com ele há mais de uma semana. “Nós
sempre comemorávamos o quatro de julho juntos na casa do Hamptons, era
o lugar favorito dos meus pais. Eles sempre pareciam tão apaixonados e meu
pai sempre foi tão devoto a ela. Minha mãe por escolha preferiu a vida de
esposa, apesar do meu pai sempre incentivar ela na carreira de arquiteta,
minha mãe dizia que preferia a calmaria para poder ser essa calmaria para o
marido.” Respiro fundo.
Meus olhos focam na parede de frente para a cama enquanto minhas
costas se apoiam na cabeceira.
“Meu pai sempre quis filhos, minha mãe não, mas ele aceitou essa
decisão. Mas quando ela ficou grávida, até se empolgou com a ideia. E eu
nasci, porém não era como nos sonhos dela. Talvez porque ela não quisesse
de fato ter um filho, mas também nunca fui uma criança fácil.” Vejo ele abrir
um sorriso de canto, provavelmente imaginando que não era muito diferente
de hoje em dia.
Odeio chorar, mas como segurar o choro para isso? Tento controlar
quando meus olhos se enchem. É uma lembrança dolorida demais ainda.
“Eu era um bebê, mas dizem que dava mais trabalho que o comum,
cresci e me tornei um pequeno ser humaninho implicante com tudo, cheia de
porquês e algumas birras constantes. Meu pai sempre tentava acalmar ela,
dizendo que seria uma fase. Mas aquele olhar de desaprovação a gente
nunca esquece, sabe?” Engulo em seco e limpo a lágrima singular que cai.
“Eu podia ver ela parando de me amar aos poucos, não teria como esquecer.
Independente de eu ser muito nova para isso. Era julho e estávamos nos
preparando para ir para a casa na praia. Eu tinha uma apresentação no balé,
minha primeira para um público além dos pais...” E essa parte também dói,
era uma criança de quase cinco anos dando seus primeiros passos no balé e
tudo que queria era…
“E meu pai tinha uma reunião nos dias dois e três, de manhã. Verão é
uma temporada agitada. Mas ela insistiu em ir antes para preparar tudo.
Mesmo que tivéssemos um batalhão de funcionários. Meu pai não comprou a
discussão, acho que já não queria se cansar sendo que sempre perdia.” Não
chegavam a ser brigas, mas talvez não fossem porque meu pai não deixava
chegar a tal.
“Ele estava lá. Cyrus Capri, todo engravatado, que adiou a reunião das
oito para às dez, para comparecer a minha apresentação. Ele estava lá
sozinho e me olhava como se eu fosse a coisa mais preciosa do mundo. Ele
fez isso, mas ela não adiou a viagem dela em duas horas para me ver.” Odeio
chorar, mas não tem respiração profunda que me evite derramar lágrimas.
Fungo antes de continuar e agradeço que Josh segue parado onde está, é
mais fácil assim. “Então, dia dois de julho de 2000, minha mãe partiu logo no
raiar do dia para o Hamptons, para arrumar a casa para nossa chegada dali
dois dias. E no mesmo dia, antes do pôr do sol se completar, meu pai
recebeu uma ligação da Julia dizendo que ela não estava na casa. Que
minha mãe tinha partido.”
E apesar de preferir que ele não fale ou faça nada, quando sua mão
alcança a minha agarrada ao lençol da cama e ele suaviza a minha pressão
no tecido com um carinho irregular de se polegar no meu dorso, me sinto bem
com o toque. Encaro os olhos dele, mas ainda que veja um fundo de pena,
como todas as pessoas me olharam por anos, esse não é o sentimento
predominante.
“Ela nos deixou com uma carta curta de despedida.” Dou a ele um
levantar de ombros. “Acho que eu não era merecedora de muito mais. Ela
dizia algo sobre saber que nunca daria conta de uma menina assim, que essa
vida não era o que ela pensava que fosse e que isso não estava no pacote de
senhora Capri que ela queria.” Eu nunca cheguei a ler o bilhete, sei que meu
pai o destruiu quando comecei a ter idade o suficiente para pedir a carta,
então imagino que foi daí para pior. “Minha mãe me abandonou porque eu
era uma criança difícil. Ela provavelmente não conseguia entender como meu
pai me amava, porque ela não deve achar que isso é possível. Mas eu sei
que é sabe?”
Olho para ele com os olhos cheios, precisando de uma confirmação.
“Eu sei que eu posso ser amada, porque eu tenho as meninas, os
meninos, a família deles, e eles me amam. Mas por tantos anos as pessoas
sempre me olharam com aquele olhar de essa é a menina que foi
abandonada pela mãe porque a mulher não podia amá-la. E é difícil pensar
que eu não me importo com isso, porque minha própria mãe não conseguiu
me amar, e às vezes me pego pensando em quem pode. Meu pai realmente
tentava afastar e lidar com qualquer pessoa com a língua maldosa, por isso
que eu sinto tanto sobre ontem, sei que eles são muito. E Matteo entrou em
algumas brigas infantis o suficiente para tentar me proteger ao longo dos
anos.”
Éramos os únicos com idade o suficiente para entender tudo antes que
a história fosse quase abafada. Isso me faz soltar um riso triste e olhar para
os olhos dele por trás das lágrimas que embaçam os meus. Josh
provavelmente percebe o que acabei de me dar conta e aperta minha mão.
Provavelmente notou isso antes que eu.
“Chelsea, não.”
“Você nasceu no exato dia que minha mãe me abandonou...” E eu não
consigo terminar, porque o choro se prende na minha garganta como uma
bola, uma pedra enorme.
Não consigo dizer que desde esse acontecimento o dia é como um
grande buraco em nossas vidas. Como tiro esse dia para me sentir a pior
pessoa do mundo, porque é isso que devo ser para nem mesmo minha mãe
ter conseguido gostar de mim.
Tento controlar meus soluços porque não quero acordar a casa inteira.
É por isso que odeio chorar, odeio me sentir fraca, insegura, sozinha. Odeio
quando esse sentimento de insuficiência preenche meu peito. Porque sei que
não é verdade, sei que ela não tá certa. Mas em momentos como esse é
difícil ter essa certeza. Em muitos dias é difícil acreditar que não é ela quem
tem razão sobre mim.
Fica mais fácil abafar o som do meu choro quando Josh me puxa
contra ele e me abraça da mesma forma que as pessoas que eu mais amo no
mundo sempre me abraçam quando se trata disso. Como se quisesse me
proteger desse sentimento de não ser o suficiente.
E por mais que eles tentem e que eu não queira deixar que minha mãe
me afete vinte e um anos depois, é difícil quando é lembrada quase
constantemente ao longo de muitos desses anos que você é a criança que foi
abandonada. As pessoas parecem não conseguir esquecer isso como eu
gostaria.
Ela nem mesmo suportava o suficiente para ficar pelo dinheiro, para
ficar pelo meu pai que ela tanto amava. Minha mãe provavelmente me
culpava por ter tirado isso dela. Eu não sou uma criança difícil, eu só sou
assim. Não é tão difícil assim gostar de mim dessa forma.
Estou enroscada em seu peito, agarrada a sua camiseta com tanta
força que meus nós dos dedos doem, mas não quero soltar. Não quero deixá-
lo ir também. Suas mãos me abraçam e acariciam minhas costas e meus
cabelos, e eu procuro seu consolo, mesmo que sempre tenha evitado isso em
outras pessoas. Josh me puxa com ele até ficarmos deitados.
Não sei quanto tempo ficamos assim, porque em algum momento
minha mente me leva para um lugar perigoso, onde penso que talvez essa
data seja fatídica para mim. Porque me pego pensando que talvez eu nunca
vá conseguir ser amada por aquele que nasceu nesse exato dia também,
porque depois de muito pensar, me deixo admitir no fundinho da minha mente
que é isso que quero.
Quero ser amada por ele, eu quero o pacote completo que nunca quis
antes porque ele me faz acreditar às vezes que eu sou merecedora disso,
ainda que eu mesma pense o contrário. Mas eu quero isso, quero merecer
esse sentimento vindo de Josh e nem mesmo sei o porquê. Quando me
canso de fazer essas perguntas a mim mesma, porque ela não pode me amar
e porque desejo tão arduamente o amor dele, e as lágrimas deixam meus
olhos pesados, meus dedos afrouxam sua camiseta e eu me permito fechar
os olhos definitivamente.
E imagino já estar dormindo quando escuto ele dizer baixinho no meu
ouvido antes de beijar minha testa duas vezes.
“Você pode ser amada. Espero ter nascido para te provar isso.”
 
 
 
 

 
O SOM CHATO E CONTÍNUO DO CELULAR DO JOSH na mesa de
cabeceira me desperta. Claro que eu sei que é o dele porque nunca faria isso
comigo mesma em pleno sábado de manhã. Não sou o tipo dorminhoca, mas
isso é quase um pecado. Meu celular deve estar na escrivaninha dele e
provavelmente no silencioso. Sem pensar em perturbar o sono alheio.
Acabo precisando tomar meu tempo para notar onde estou em uma
situação geral. Eu provavelmente adormeci depois de tanto chorar e tento
não ficar arrependida por ter contado o que contei para Josh ontem. Não
preciso me arrepender, porque foi algo que eu quis compartilhar. Essa é uma
parte de mim que não gosto de mostrar pra ninguém, mas quis mostrar para
ele e tento me acalmar lembrando que ele é uma boa pessoa e não vai fazer
uso errado disso.
Além disso, duas cobertas uma ova. Adormeci ontem estava, nos
braços dele, e Josh não parece ter querido fazer muito esforço para sairmos
disso. Apesar de ele ter se livrado da camiseta, provavelmente ficou
ensopada pelo meu choro, mas não pegou outra. Minhas apostas eram que
estava difícil de se desvencilhar dos meus braços.
Estou mais que confortável.
Minha bochecha toca o peito dele, que se move em um ritmo constante
e calmo. Com a minha vasta experiência, pode até ser esperado que eu
soubesse como é essa sensação de acordar nos braços de alguém, mas eu
não sabia até o momento e não sei se é bom assim no geral ou é pelo fato de
ser ele. Apesar de nada de mais realmente ter acontecido, me sinto
aconchegada muito bem.
Seu braço passa pelas minhas costas e sua mão abraça minha cintura,
me trazendo para perto. O que funciona bem, afinal, meu corpo está
encaixado no dele e uma das minhas pernas descansa no meio das de Josh.
Sempre imaginei que essa posição trouxesse algum desconforto e estava
completamente errada. Um dos meus braços está embaixo da minha cabeça,
servindo de apoio, enquanto minha mão toca algo entre o pescoço e o rosto
dele, pelo que sinto. A outra descansa em seu peitoral. Ele segura esse meu
pulso em seu peito com sua mão livre de forma gentil, como se para manter
por ali.
Me perco um pouco no meu conforto porque seu celular já desligou e
começa a tocar de novo.
“Desliga isso, Chels.” Ele fala preguiçosamente contra meus cabelos e
tenho a impressão que ele não está realmente acordado porque apesar do
pedido, Josh me abraça ainda mais perto, prendendo-me contra seu corpo.
Preciso me desdobrar para dobrar o braço que tenho em seu rosto
para trás e tatear a mesa de cabeceira. Depois de algumas batidas no vazio,
pego o celular dele e recebo um pequeno balde de água fria.
O nome de Sarah aparece na tela, e eu não hesito em rejeitar a
chamada, deixando uma partezinha de mim falar mais alto. Vejo que ela
deixou mais duas mensagens, preciso me controlar para só passar os olhos e
descobrir que nenhum diz S.O.S. ou urgente.
Por isso coloco o celular no silencioso e deixo na cama, nem um pouco
afim de fazer a manobra de novo. Solto um longo suspiro e volto para minha
posição, apesar de agora todo e qualquer sono já ter sido evaporado.
Deixo meus dedos brincando na pele dele em um toque totalmente
estranho para mim em situações assim, o toque carinhoso. E meus
pensamentos acabam passando por inúmeros lugares, como, por exemplo,
se eles vêm se falando constantemente. Talvez isso tenha começado depois
do encontro no Hamptons. Ou antes, porque nunca pensei em perguntar e
afasto completamente qualquer pensamento ciumento de algo que
definitivamente não me pertence, apesar dos meus fortes desejos.
Pelo menos não fui chamada por outro nome a recém, isso é um ponto
positivo, não? Ele está consciente que estou aqui e que está abraçado a mim
e não a ela.
Isso me conforta um pouquinho, mas não o suficiente, porque
estamos, Sarah e eu, em posições incomparáveis na vida de Josh. Eles
tiveram história, namoraram, e eu sou só uma boa e divertida amiga, com
uma história um pouquinho profunda que o contei ontem a noite.
Solto mais um suspiro e percebo depois de certo tempo que as
chances de eu voltar a dormir são mínimas, apesar de eu também não estar
com vontade de sair dos seus braços. Mesmo assim, tomo meu tempo para
me desvencilhar do seu confortável aperto e deixo um beijo em sua testa
quando finalmente saio da cama. Josh está dormindo tão calmamente, seus
cabelos estão uma pequena bagunça e tudo dele parece ainda mais bonito
desse ângulo.
Antes que eu desista e volte para onde eu quero estar, sorrio para meu
baby boy e vou até a sua mesa, pegando meu jeans dobrado na cadeira e
vestindo por baixo da camiseta dele que estou usando. Percebo que está um
pouco chorosa de ontem à noite também e decido dar um pouco mais de
trabalho para Josh na lavanderia porque caminho até seu armário com
passos leves para procurar, e achar, uma camiseta lisa preta e limpa lá
dentro.
De costas para ele, tiro o tecido branco e substituo pelo preto. Espio
para conferir que ele está dormindo profundamente antes de pegar minha
escova de dentes e meu celular, e sair do quarto parecendo que estou
fazendo uma fuga, por evitar fazer qualquer mínimo barulho.
Depois de lavar meu rosto e fazer minha higiene no banheiro deles,
desço para a cozinha e, como me dito ontem, caminho como se também
pagasse o aluguel do lugar. Sirvo um copo de água e bebo inteiro antes de
checar as horas e ver que são nove da manhã.
Ótimo, fui arrancada cedo da cama pela ex-namorada de Josh. Em
pleno sábado, preciso acrescentar.
Resolvo fazer o café da manhã e separo o que acho ser ingredientes o
suficiente para alimentar esses quatro.
Estou terminando de picar alguns pimentões para colocar com os ovos
quando meu celular se acende e percebo que meu pai liga. Atendo o telefone
e apoio entre o ombro e a bochecha, procurando uma frigideira grande.
“Sabe que depois de quase vinte e seis anos a última coisa que você
espera é começar a se preocupar com sua única cria.” Ele fala em tom calmo,
porque sabe que no fundo não precisa se preocupar. “Little bee?” Meu pai
chama e eu coloco o celular no viva-voz em volume reduzido, apoiando no
balcão para começar a bater os ovos.
“As pessoas caem da cama no sábado sempre aí na Califórnia para
fazer ligações?” Pergunto com um suspiro.
“Sabe o que senti quando descobri que você passou a noite fora e não
foi para Daphne nem para a Rebecca e que ainda por cima dispensou o
motorista?” Meu pai faz um drama enorme e reviro os olhos. “Mas daí,
lembrei que tinha me dito que iria pra casa do rapazinho e provavelmente
deveria ainda estar por lá. Estou certo?”
“Bem na mosca.” Digo como se ele tivesse acertado na loteria.
“Acabamos ficando até muito tarde presos com o trabalho e fiquei por aqui.”
Explico.
Na verdade, acho que a ligação foi mais para confirmar algo que ele já
sabia do que para, de fato, saber sobre meu paradeiro.
“Está bem, deixe um aviso para Price ou para mim da próxima vez.”
Dou um aceno de cabeça, apesar de ele não estar me vendo. “E não cai da
cama, cheguei há pouco aqui, estou indo descansar agora antes da reunião
da tarde. Mas me deixou curioso sobre que californiano que te arrancou da
cama cedo para esse mau-humor, little bee.” Meu pai tem um jeito diferente
para zombar de mim.
Não foi bem o californiano que eu queria.
“Como foi a viagem?” Mudo o assunto enquanto despejo os ovos
depois de fritar os pimentões e começo a pegar os ingredientes para seguir a
receita de panquecas da Julia.
“Foi boa, mas sabe que não consigo descansar nos aviões. Trabalhei a
noite inteira.” Claro que trabalhou. “O que está fazendo?”
“O café da manhã. Vai ficar até a próxima semana mesmo?” No
calendário dele, essa viagem para a costa oeste dura até a próxima sexta. E
talvez se estenda para o final de semana, já que sempre tem algum evento
que requer sua presença.
“Você nunca mais cozinhou para mim.” Ele provoca e quero dizer que
fiz isso na última semana, ou pouco antes disso. Porque não faz tanto tempo
assim. “Sim, se tiver qualquer mudança eu te aviso, mas é pouco provável.
Devo ir direto para San Francisco depois com o Theodore, estamos fechando
uma grande parceria por lá.”
“Achei que tivessem conseguido esse negócio em maio.” Me lembro de
como o pai da Becks ficou receoso com essa parceria e a compra da
empresa filial em Atlanta.
“É, mas adiamos porque ele não queria correr riscos altos.” Mexo um
pouco os ovos e vou em busca de outra frigideira para colocar as panquecas
doces.
“Espero que consigam dessa vez.”
“Nós vamos. Inclusive, preciso que compareça na reunião de terça a
tarde. É uma reunião administrativa para algumas daquelas discussões e
repasses chatos. Pode fazer isso por mim?” Ele até parece precisar pedir.
Nunca hesitei em ajudar meu pai no que posso e mesmo não gostando, mas
não significa que eu não saiba sobre negócios.
“Claro, papai.” Escuto um barulho e me viro, notando que Scott entrou
na cozinha e me olha estranho. “Preciso ir agora, tudo bem? E você precisa
descansar. Me mande mensagem quando sair da reunião. Te amo.”
“Tá bem, little bee, preciso ir e descansar um pouco também. Só
queria checar como está. Te amo mais que tudo, filha. Tchau.”
“Tchau.” Falo alongando a palavra e desligo a chamada com um
sorriso no rosto que meu pai sempre me deixa. Com esse humor, tento
manter um sorriso simpático quando comprimento Scott. “Bom dia!”
Realmente precisava ser o que menos gosta de mim a acordar primeiro?
“Bom dia.” Ele contorna a cozinha para pegar um copo de água e me
concentro em não grudar os ovos mexidos e as panquecas.
“Não tinha a intenção de te acordar.”
“Não me acordou.” Ele responde e espero que seja mau-humor
matinal. “Preciso sair para trabalhar daqui uma hora.” Um pouquinho menos
seco.
“Ah.” Deixo escapar e vou procurar o pó de café para colocar a
cafeteira em ação.
“Naquela prateleira ali.” Scott me indica e percebo que está sentado
em um dos bancos altos do balcão. “Não queria escutar a conversa dos
outros, mas estava entrando no banheiro e ouvi falar sobre receber uma
ligação da Califórnia logo cedo. Não parecia um mau-humor direcionado ao
papai.” Faço uma careta porque ele tem um olhar de quem sabe do que
estava falando e tento pensar em boas mentiras enquanto coloco o pó na
cafeteira.
“Não é meu segredo pra contar.” Ele sorri balançando a cabeça.
“Tudo bem.” Scott bebe seu copo de água. “Você é diferente do que
quando te conheci.” Desligo os ovos e começo a colocar nossa grande
porção em uma tigela.
A fala dele me faz o fitar por alguns instantes e devo ficar com uma
cara bem engraçada de choque quando me dou conta do que ele está
falando porque Scott solta um riso.
“Sabia que não lembrava, mas nem estou falando nesse sentido.”
“Céus…” Fico tão absorvida em meu choque que quase perco o tempo
de tirar uma panqueca pronta e colocar outra. “Eu realmente não me
lembrava, não fiz por mal. Juro mesmo. Isso foi há um ano? Mais? Eu não
costumo me apegar muito as pessoas, não é você, no geral.” Me apoio no
balcão de frente para ele, tentando justificar meu esquecimento e quase me
sentindo culpada.
“Algo assim, foi quando cheguei aqui. Faz um bom tempo, não duvido
que tenha esquecido.” Ele dá de ombros como se não se importasse, mas sei
que essas coisas machucam o ego das pessoas.
Sabia que aquele corpo bonito não me era estranho e qual azar eu
daria de já ter ido pra cama, duas vezes se me lembro bem, com um dos
melhores amigos de Josh? Pelo visto minha chance foi bem alta. Novamente,
em minha defesa, ele é bonito pra caralho, do tipo bad boy completo, com a
cara fechada, o corpo todo musculoso e tatuado, e o humor sério.
“Mas, estava falando que achava que você fosse mimada, mesquinha,
um pouco fútil. Não porque foi estúpida nas vezes que ficamos, na verdade
você costumava ser uma pessoa bastante física nesse sentido.” Ele dá de
ombros mais uma vez e eu sorrio, realmente sou bastante física. Conversas
ficam para outro momento.
Não sou do tipo sentimental.
“Mas…?” Incentivo-o. Sim, eu estou ansiosa para receber alguns
elogios.
“Ontem à noite foi… legal. Não esperava que você fosse do tipo que
comprava pizza, ainda que seja da melhor pizzaria da cidade, ou que era do
tipo que ri gritando. Até mesmo compartilhou algumas das suas histórias
embaraçosas ontem.” Dou um olhar para ele e logo concordo, algumas
histórias não me permitiram controlar meu riso. “Além disso, não sabia que
era do tipo que passava a noite e aparecia na manhã seguinte… assim.” Ele
aponta para mim. “Está mesmo fazendo café pra casa inteira?” A pergunta
vem quando coloco mais uma panqueca na segunda pila que já acumula em
um prato largo.
“O que? Vai ficar chocado também que eu gosto de cozinhar? É um
pouco calmante. E normal” Só porque sou bonita, bem endinheirada e todo o
resto, significa que preciso ser totalmente sem conhecimento sobre como
fazer coisas que tenho muitos empregados para fazer?
“Só estou impressionado. Está mesmo se esforçando para ganhar a
casa inteira.”
“Vocês são um grupo divertido e muito interessante.” Eles são mesmo
e me pego pensando que provavelmente passar um ou outro dia naquela
casa ao lado dos meninos pode ser mais divertido que um verão inteiro sem
meus melhores amigos que passaria no Hamptons.
“É, mas acho que sua intenção maior, pelo menos no começo, foi
passar mais tempo ao lado do seu amigo.” A forma como ele fala, com um
sorriso tão convencido nos lábios me deixa com a boca entreaberta,
precisando de um tempo para elaborar uma boa resposta.
Mas não tenho tempo, porque a porta da frente de abre. Nick e Ethan
não demoram para aparecer, colocando algumas sacolas na mesa de jantar e
parecendo dois mortos de sede ao se agarrarem em garrafas de água da
geladeira.
“Você está cozinhando? Trouxemos café da manhã pra você.” Ethan
parece bastante chocado enquanto recupera o fôlego pela água tomada
rapidamente.
Ambos estão com suas roupas de ginástica e imagino que estivessem
na academia.
Em pleno sábado de manhã, quanto empenho.
“Estou.” Respondo com um sorriso largo.
“Vocês sabiam que ela estava aqui?” Scott pergunta.
“Passei mais cedo para chamar o Josh pra ir com a gente e encontrei a
porta dele trancada, nem sabia que ele sabia da existência de uma chave.
Minhas apostas não precisaram ir tão longe.” Nick responde. “Compramos
pão, alguns croissants e outras coisas com carboidratos demais.” Ele me fala
e estreitando os olhos para Ethan. Imagino que a dieta aqui seja rigorosa.
“Que foi? Você viu como ela comeu pizza ontem? Não achei que dois
biscoitinhos de nada fosse matar a fome da loirinha, ainda mais com vai
saber o que lá aconteceu naquela porta fechada.” Ele me olha e sua
afirmação é quase como uma pergunta. Os três viram para mim, curiosos e
eu dou risada, cobrindo a boca com a mão para não acordar Josh no andar
de cima.
“Vocês são piores que minhas melhores amigas.” Tiro a última
panqueca. “O que vocês acham que aconteceu?” Provoco eles, pegando as
tiras de bacon.
“Nada.” Nick responde e olha para os outros dois, mas isso não os
cala.
“Tenho algumas ideias.” Scott fala pensativo.
“Talvez algumas amostras do que vimos ontem.” Arqueio a
sobrancelha para Ethan, curiosa para saber o que eles viram ontem.
Talvez muito curiosa, mas estou tentando manter a compostura. Nick o
cala com um tapa no braço.
“Se vier com aquele papo de magia e faíscas de novo, igual uma
criança com livros de princesas, juro que vou aumentar sua parte do aluguel
mês que vem.” Nick adverte e não consigo evitar rir da situação. “Temos
quinze minutos para um banho?”
“Sim, ainda preciso fritar esses e arrumar a mesa.” Mostro as tiras de
bacon e sem precisar dizer mais, os dois correm escada acima.
Scott se coloca a me ajudar com a mesa, colocando a toalha e
arrumando os pacotes que os meninos trouxeram. Temos pães, biscoitos
cobertos de chocolate, um bolo simples, croissant, além dos ovos mexidos
com pimentões, panquecas e bacon. Ele coloca o leite, café e cereal na
mesa.
Fico cuidando o relógio para que ele tenha tempo de comer direito
antes de sair para o trabalho. Ethan e Nick demoram dez minutos para
descerem com cabelos molhados e espalharem ainda mais aquele cheiro de
perfume e desodorante masculino. Josh desce atrás deles, puxando uma
camiseta pela cabeça antes de chegar no andar de baixo.
“Você está fazendo o café da manhã?” É a primeira coisa que ele fala
quando estou tirando as últimas fatias do óleo.
“Se mais alguém aparecer e se chocar com isso, juro que vou comer
tudo sozinha.” Digo brava e os quatro dão risada. Josh se aproxima de mim,
me dando um leve abraço por trás, passando os braços pelos meus ombros,
e beijando minha cabeça.
“Bom dia.” Ele diz baixinho. “Dormiu bem?” Não preciso olhar para ele
para saber que quer muitas respostas para aquela pergunta.
Josh rouba uma tira já frita do papel toalha e leva aos lábios. Como
previsto, tem aquele olhar. Provavelmente está com medo que algo mude
porque me abri sobre um assunto pessoal, mas não me arrependo de contar
sobre minha mãe para ele. Apesar de precisar falar sobre isso com meu pai,
porque é um segredo nosso, e pedir que não compartilhe com ninguém.
“Bom dia.” Desligo o fogão. “Sim, dormi.” Entrego o prato para ele levar
à mesa, onde os meninos estão conversando e respeitosamente esperando
que todos estejam sentados para atacar.
“Bom… Acordou cedo.” Ele vem atrás de mim quando vou até a pia
lavar minhas mãos. Lhe dou um olhar que parece dizer tudo e Josh faz uma
careta, entendendo que eu acordei cedo porque Sarah resolveu ligar
incansavelmente às nove da manhã. “Disse para não mimar eles.” Josh muda
de assunto quando estamos indo para a mesa.
“Mas olhe para essas carinhas.” Brinco apontando para os meninos e
os três olham para nós parecendo três abandonados e esfomeados. Dou
risada e tomo meu lugar. “Não tinha muito o que fazer, além disso, a Chelsea
antiga está orgulhosa. Olha só, uma mesa com quatro jogadores de futebol
acima da média incrivelmente gratos pela minha presença.” Claro que a parte
final sai como uma ordem e todos eles agradecem com a boca cheia de
alguma comida distinta.
“E a Chelsea nova não está orgulhosa? Achei que a gente tinha te
pegado de vez.” Ethan diz fingindo decepção.
“Não pelos mesmos motivos que a antiga estaria.” Ainda que não
fizesse mal algum poder adicionar o nome deles na longa lista, apesar de o
de Scott já estar lá, não consigo imaginar que poderia ser melhor ter eles
receosos e chateados depois de uma ou duas ficadas.
Prefiro esse sentimento confortável que estou sentindo, porque quero
poder vir aqui mais vezes. O sentimento de que estou virando amiga deles.
“E acho que vocês me pegaram de vez depois de tantas confissões
ontem a noite.”
“Ethan tem certa dificuldade de manter a boca fechada.” Scott
murmura.
“Pelo menos agora pode adicionar que é amigo de Chelsea Capri no
seu currículo, e eu sou o motivo.” Ethan diz amuado.
“Hm, não acho que você seja o motivo, Ethan.” Nick se inclina para o
amigo ao dizer isso e um pequeno silêncio se instala por alguns momentos
até que ele toma um longo gole de café e pigarreia. “Deveríamos retribuir o
favor. Jantar na terça?” Ele me olha e demoro para entender o que quer dizer.
Josh lança um olhar para Nick, mas não afeta o amigo, que dá de ombros. “O
que foi? Ela disse que é nossa amiga agora também. Pode ter o favoritismo,
mas podemos convidar ela para jantar.” Dou risada porque eles sempre
acabam em uma conversa como se eu não escutasse essas interações.
“Eu adoraria.” Dou uma olhada para Josh, querendo ver em sua
reação se ele vai se importar e espero que não.
Porque Scott está certo quando diz que estou tentando meu melhor
para ficar por perto. Ele sorri para mim, parecendo feliz que eu aceitei. Como
se eu tivesse coisa melhor para fazer do que aproveitar essas quatro
companhias.
“Deveria fazer a lasanha, tipo uma despedida.” Ethan fala para Nick e
os outros dois concordam.
“Despedida?” Pergunto antes de pegar mais uma panqueca e colocar
no prato.
“Os treinos oficiais começam na quinta-feira e a partir de então, é só
comida da tabela e temos um carrasco em casa. Inclusive, se quiser…” Ethan
começa, mas a frase não é acabada porque ele leva uma suave cotovelada
de Nick por debaixo da mesa.
Claro que minha curiosidade fica atinada para descobrir o que ele
falaria, porém prefiro não insistir, uma das poucas vezes da minha vida.
“Será lasanha mesmo.” Nick declara e terminamos o café da manhã
em conversas que não incluem nenhuma cotovelada ou olhares feios.
 
 
Estou pegando minhas coisas no quarto de Josh enquanto ele arruma
a cama. Seguro minha regata para ir no banheiro trocar e encaro ele por
alguns segundos.
“Tudo bem mesmo se eu vir na terça?” Apesar de tudo, tenho um
pouco de senso e sei que apesar do convite, posso não ser ao todo bem-
vinda e estaria tudo bem. Mesmo que na verdade não estivesse.
“Claro!” Ele não demora em responder e parece surpreso. “Claro, só
fiquei com medo que pudesse… não sei o que pensei.” Reviro os olhos. Ele
senta na cama arrumada e me olha. “Não quero que fique se sentindo, não
sei, talvez pressionada, a ficar vindo aqui sem o pretexto do trabalho.” Ele
indica com o queixo a tela que eu pintei ontem.
“Não quero que ache que estou me intrometendo demais. Sendo uma
colega.” Dou de ombros enquanto me aproximo dele, como se estivéssemos
quites nesse quesito.
“Claro que não. Não é só uma colega… é uma amiga. Gosto de ter
você por aqui e os meninos parecem gostar também.”
“Eu realmente me esforcei naquelas panquecas.” Brinco quando paro
na frente dele, ficando no meio das suas pernas.
Embora esteja com os olhos focados no rosto desenhado dele, vejo de
canto que ele levanta os braços como se pensassem em me abraçar pela
cintura. Mas voltou a apoiar as mãos na cama.
“Obrigado por isso, inclusive.” Ele sorri de canto e não acredito que
seja possível querer tanto alguém assim.
Agradeço por minhas mãos segurarem minha blusa, assim controlo o
desejo de tocá-lo. Estamos sempre perto demais, mas não nos tocando, ou
pelo menos não o suficiente. Quero estar mais uma vez no conforto dele,
como hoje cedo, como me senti segura ontem a noite. Mas eu fiz a oferta e
preciso entender o espaço dele.
Deus, nunca pensei que fosse tão difícil isso. Nunca achei que fosse
ter complicações em me afastar de um cara.
“E obrigado por ontem à noite, pela pizza, pela ajuda e por me contar
algo tão seu. Prometo que pode confiar em mim.” Dou um leve aceno de
cabeça e pressiono os lábios, porque quero nada mais do que me abaixar e
tocar os lábios dele. “Pode ficar com ela se quiser, me trazer outra hora.” Ele
desvia seus olhos de mim para a camiseta dele que uso. Demoro um pouco
para retomar meus sentidos.
“Ah, claro.” Respondo de forma monótona. Respiro fundo e me afasto,
procurando outra coisa para me distrair que não a minha vontade de tê-lo
para mim. “Se quiser, podemos ir levando os quadros para minha casa, assim
não te ocupa muito espaço.” Algo que eu tenho de sobra na mansão.
“Claro, acho que é uma boa ideia. Menos perigo de acabar
acontecendo alguma coisa com elas.” Ele concorda com alguns acenos de
cabeça e levanta da cama quando começo a colocar minha blusa na bolsa.
“Eu deveria ir.” Procuro minhas meias para calçar os tênis que trouxe
lá de baixo.
“Se é o que diz.”
“Não quero abusar da hospitalidade.” Odeio essa frase tão clichê que
sai dos meus lábios.
“Sabe que não está abusando.” Ele responde.
“Sei?”
“Deveria saber.”
É um pouco difícil seguir o que estou fazendo depois daquele olhar
dele, mas eu continuo, porque não sei se ele significa o que eu quero que
signifique. Além disso, se não decidir que preciso ir embora, posso acabar
sendo interrompida mais uma vez do meu pequeno sonho para me lembrar
de coisas que não quero lembrar. De alguém que não quero lembrar.
E também, se ficar, estarei dizendo a mim mesma que esse sentimento
que eu tenho, um pouco menos escondido que antes, é real.
“Tudo bem. Agora sei.” Falo colocando os pés nos tênis. “Mas acho
melhor mesmo eu ir. Você deve precisar ir trabalhar mais tarde também,
não?”
“Sim, as duas.” Já são quase onze. Realmente me estendi bastante.
“Melhor eu te deixar para descansar ou trabalhar na tela sem
distrações.” Levanto e pego minha bolsa mochila.
“Você é uma distração boa.” Ele diz em um sussurro, mas escuto.
Sorrio com todo o jeito manhoso dele, além da confissão, apesar de
fingir que não ouvi. Josh me segue escada abaixo, Ethan e Nick estão no
sofá, como de praxe.
“Já vai, loirinha?” Ethan me olha por cima do celular.
“É, acho que se passar mais horas aqui, Nick pode querer me colocar
pra pagar o aluguel. Parece algo muito sério na divisão da casa.” Brinco com
ele.
“Tudo bem, te vemos terça?” Mas Ethan está olhando para Josh, e não
consigo entender aquele olhar entre os dois.
“Claro, terça à noite estarei aqui. Estou curiosa para essa lasanha tão
bem falada.” Afinal, os três pareceram babar quando Nick disse que faria a
receita. “Talvez eu possa pegar algumas dicas. Meu conhecimento na
culinária vai só para o café da manhã e alguns doces.” Apesar de eu saber
fazer alguns pratos, não é uma longa lista.
“Claro.” Nick responde com um sorriso antes de eu me despedir dos
dois.
“Vicent já deve estar chegando.” Olho para Josh, porque ele não
precisa ficar aqui esperando comigo.
E sim, me sinto horrível de tirar Vicent da folga que eu mesma dei para
ele, mas ele insistiu em me levar para casa, sentindo-se culpado apesar de
eu não entender porquê.
“Tudo bem. Acho que vou tentar finalizar o quadro hoje e amanhã. Já
estou com o terceiro na cabeça. Te mando como está ficando.” Ele fala e dou
um aceno de cabeça.
A SUV estaciona na frente da casa e vejo pelo vitral transparente ao
lado da porta.
“Vicent chegou.” Anuncio e Josh estende a mão para mim.
Seguro a mão e meus olhos estão nele. Dou um sorriso de canto e ele
me puxa para perto, me envolvendo nos seus braços. Fico escondida contra
o seu peito enquanto envolvo minhas mãos nas costas dele e fecho os olhos
por alguns segundos, respirando fundo o cheiro dele.
Uma mistura amadeirada, com um pouco do meu perfume doce no
fundo, seu aroma característico de pintura, sabonete de ervas e Josh. Ele
cheira a conforto. Sua mão segura minha nuca e por um instante eu me sinto
fraca, esperando ansiosa. Mesmo odiando essa sensação, com ele pareço
odiá-la menos que o habitual, como se me permitisse ficar assim ao lado
dele.
Odeio me sentir vulnerável dessa forma porque algumas vezes o am…
esse sentimento, não vem pro bem. E a última coisa que eu quero é acabar,
mais uma vez, sendo abandonada.
Ele deixa um beijo demorado na minha testa antes de nos afastar e me
recomponho rápido o suficiente para não ser notada.
“Até segunda.” Ele diz quando abre a porta para mim.
“Até, tchau.” Dou uma última olhada para o seu sorriso antes de
cumprimentar Vicent e entrar no carro.
 
 
 
 

 
“SÉRIO MESMO? SE VOCÊ NÃO PRETENDE FICAR COM ELA, deveria
dizer logo.” Ethan fala no momento em que fecho a porta depois do carro
partir. “Quer dizer, eu até estava pensando que seria uma boa ideia ver você
sendo solteiro por algum certo tempo, mas pelo jeito que vocês dois se
olham, é difícil até mesmo querer sua solteirice.”
Olho para Nick confuso e ele dá de ombros. Me jogo no sofá com eles.
“Você está falando bobagem.” Retruco pegando meu celular no bolso.
“Não está, não. Até Scott concorda.” Nick diz sério enquanto… ele está
lendo um livro. Ele precisa mesmo ser a semente totalmente certa entre todos
nós?
“Vocês vêm falando da minha vida pessoal agora em segredo? Achei
que sempre convocassem a reunião de condomínio.” Apesar de não
morarmos em um condomínio e, na verdade, temos conversas diárias durante
as refeições para discutirmos uns as vidas dos outros.
“Desde que você estava ocupado no seu quarto trancado com a
loirinha, apesar de ela dizer que nada aconteceu, precisamos fazer as
reuniões sem você.” Depois dessa, Nick até fecha o livro para escutar mais
atentamente o que Ethan diz. “Sério, se não está pronto, deveria pelo menos
esclarecer um pouco a amizade de vocês, apesar de eu achar que não é bem
isso que você queira. Esclarecer a amizade.” Ele senta no sofá e cruza as
pernas ao se virar pra mim. “Vocês ficam bem juntos, todo mundo consegue
ver as…”
“Faíscas e magia.” Nick completa com desgosto. “Cara, ele tá mesmo
se referindo ao seu relacionamento com a Chels pela terceira vez assim.” Ele
balança a cabeça incrédulo depois de me dizer isso.
“Eu acho que vocês dois, vocês três, estão surtando.”
Vamos aos fatos. Ontem à noite foi incrível, ela parecia tão natural ao
redor dos caras e não posso deixar de dizer que isso me pegou, porque
Sarah nunca se deu bem com meus amigos. E eu me odiei pela comparação,
porque elas são muito diferentes de maneira geral. Chelsea consegue ser a
pessoa mais tranquila que pode ser e, ao mesmo tempo, a menininha
mimada super intensa.
Apesar de já ter visto ela em seu estado natural durante um evento e
também a vi pacífica na praia e aproveitando o dia, fiquei um pouco surpreso
ontem. Claro, surpreso em um ótimo sentido, quando ela chutou os tênis para
debaixo da mesa para dobrar as pernas no estofado fofo da cadeira da mesa
de jantar, totalmente à vontade.
Quando ela apoiou os cotovelos na mesa para escutar atentamente as
histórias que Ethan contava, comeu quase uma pizza inteira sem vergonha
alguma e bebeu provavelmente muito mais cerveja que qualquer um de nós.
Ou quando ela se inclinava para trás rindo, me olhando depois de saber mais
alguma gafe da minha adolescência e apoiando a cabeça no meu braço, no
encosto da cadeira dela, ou no meu peito.
Ou quando ela parecia uma criança descobrindo algo novo quando
conseguiu pegar o jeito para pintar o fundo da tela e gostou. Foi adorável
ensiná-la, principalmente depois que ela acabou até com a mancha de tinta
no rosto. Como eu queria ter podido tirar um álbum de fotos inteiro de como
ela parecia ainda mais bonita fazendo algo que tanto amo. E como eu quero
terminar o mais rápido possível a tela dela na praia para pôr em prática a
minha visão de ontem à noite, porque pintar Chelsea estava virando algum
hobbie que nunca tive antes.
Ela pareceu tão animada quando disse que adoraria vê-la dançar
porque só a imagem já é perfeita na minha cabeça. E, apesar de todo aquele
sentimento que ela guardava dentro de si, eu não acho que Chelsea consiga
ficar mais amável e perfeita. Ela tem tudo, embora não seja tudo de fato. Ela
tem tudo o que precisa pra ser perfeita da forma que é.
Além disso, não pude sentir mais raiva da mãe dela, ainda que saiba
que sem ela Chels não estaria aqui, e odeio me sentir assim. Uma mãe que
abandonava uma filha com as desculpas que ela usou não poderia
desencadear nada diferente em mim.
Chelsea merece tudo o que queira da vida, não é bem a garota
mimada que esperava, fútil ou qualquer coisa assim. Ela quis fazer algo que
gostasse, sabendo que provavelmente não seria levada a sério dentro do
mundo em que vivia, porque o que ama não é considerado como algo
importante ou bom o suficiente.
Também não posso desconsiderar como ter o corpo dela encaixado no
meu foi uma sensação de estar em casa tão bom. Enrolar os braços ao redor
do corpo dela, sentir sua respiração contra minha pele, seus fios loiros
espalhados pelo meu braço e pelo travesseiro, as mãos dela tão sutis em
mim. Mesmo quando ela me acordou duas vezes no meio da noite, falando
no sonho, não me importei. Mas me importei quando ela acabou sendo tirada
de mim cedo pela manhã por ligações e mensagens inoportunas.
Apesar de preferir resolver isso outra hora.
“Você está pensando muito.” A voz de Ethan me afasta dos meus
devaneios. “Olha, faça o que bem entender ser o certo, porque estaremos
aqui sempre, como deve saber, mas Chelsea é bem diferente do que eu
achava que ela fosse. E, independentemente de qualquer histórico dela com
os outros caras, não acredito que ela mereça qualquer falsa esperança, ou
seja lá o que for.”
“Nós ainda estamos mesmo do lado do Crawford, certo?” Nick
pergunta pra ele e nós três damos risada.
“Acho que vocês estão imaginando coisas. Ela é demais pra mim.
Além disso, parece satisfeita com nossa amizade.” Eu quase implorei para
que ela ficasse mais um pouco, pelo menos foi o que pareceu para mim.
“Eu penso que a forma como ela age ao seu redor diz outra coisa, mas
você quem decide. E ela é uma pessoa normal, não foi você mesmo quem
pediu para lembrarmos disso há alguns dias?” Claro que Ethan se lembraria
disso.
“Tá bem.” Finalizo o assunto.
“Mudando de uma loira para outra, inclusive, você claramente tem um
tipo. Achei que tivéssemos bloqueado o número de Sarah do seu celular.”
Nick começa. “Scott falou que escutou Chels falando algo sobre ter sido
tirada da cama logo cedo por ligações californianas enquanto conversava
com o pai e, palavras de Scott, pelo humor dela, ele duvida que ela estivesse
falando sobre algum ex-ficante do estado.”
Vamos do início, eu posso ter desbloqueado o número da Sarah na
noite do meu aniversário na esperança que ela mandasse algo, fiquei só no
desejo, claro. Outra, eu entrei oficialmente nas conversas de Chels com seu
pai? Se sim, em qual categoria? Que tipo de coisa o pai dela deve pensar
sobre mim? Algumas preocupações corriqueiras quando o cara pode comprar
uma boa parte de Nova York com um cartão de débito e eu nem mesmo o
conheci ainda.
“Parece que acertou.” Digo com desânimo. “Ela deixou algumas
mensagens e ligou duas vezes essa manhã.” Coço a nuca e respiro fundo
antes de contar o que eles esperam saber e de receber todas as críticas. “Ela
vai estar em Nova York no começo da semana e pediu pra me encontrar.”
“Sério mesmo?”
“Ela é louca.”
“Não é possível que ela não se toque.”
“Te perseguiu pelo país afora.”
“Ela não estava toda felizinha nas festanças dela?”
“Puta que pariu, ela podia largar de ser uma grande empaca foda.”
Nick, Ethan, Nick, Ethan, Nick e foi Ethan quem finalizou as gentilezas,
que foram até curtas. Apesar de não no sentido literal, Sarah realmente é um
pouco empaca foda. Porque eu estava confortavelmente em um sonho bom,
abraçado a uma pessoa incrível, que só quer ser minha amiga, mas acho que
ambos estavam aproveitando o momento ali, respirando seu adorável
perfume adocicado até que as ligações estridentes de Sarah acabassem com
o momento.
Quando acordei e fui checar as horas, quando percebi que Chels não
estava na cama, jurava que ela tinha ido embora depois daquilo e foi certo
alívio ver as coisas dela no quarto ainda. Porque eu tive a genialidade de
desbloquear o número de Sarah mesmo? Ah, é, estava realmente na fossa.
O que é engraçado pensar que, uma semana atrás, eu realmente
estava muito mal por causa dela e, incrivelmente rápido, as coisas mudaram
um pouco. As ligações de hoje não me afetaram tanto quando eu pensei que
iriam.
“Não está cogitando de fato fazer isso, né?" Nick está tão sério que
quase tenho medo. Dou de ombros.
“Joshua!” Ethan me dá um tapa na testa, que dói. “Você é mesmo um
otário.”
“Valeu.” Digo indignado. “Pensei em falar para ela ir até o café, local
público e tudo mais.”
“Pra quê?” Nick parece incrédulo.
“Sei lá, escutar o que ela tem a dizer, seja o que for, e colocar um
ponto final de vez nisso.” Levanto os ombros e alterno o olhar entre os dois
que parecem igualmente chocados.
“Que tipo de doce Chels deve gostar?” Ethan pergunta e arqueio a
sobrancelha em confusão para ele.
“Algo que realmente possa te entupir por dentro, refletindo sobre todas
às vezes que vi ela comendo algum.” Respondo mesmo assim. “O que isso
em a ver?”
“Ela merece algo de sobremesa junto com a lasanha, por ter operado
esse milagre.” Ele responde e cai na risada com Nick enquanto eu bufo. “Ok,
mesmo que não tenha sido ela sozinha, estou em choque ainda por escutar
essas palavras.”
“Acho que… algumas coisas não compensam mais. Sarah realmente
colocou minha vida de cabeça para baixo e nem mesmo se importou no fim.
Já passei pelo suficiente. Estou em um novo lugar, com meus amigos de
novo, com novas pessoas. Bola pra frente, não?”
“Totalmente de acordo com esse avanço de jardas.” Nick faz outra
piada fajuta com o futebol americano e isso parece um vício nosso.
“Não quero acabar sentindo algo negativo sobre o que a gente teve,
porque isso provavelmente não vai me fazer bem algum. Então, melhor
terminar tudo, fechar este capítulo, antes de piorar mais.” Uma sequência de
frases totalmente óbvias do tipo que se vê nas redes sociais, mas é verdade.
Além disso, depois de vê-la nos dois momentos em Hamptons, vi uma
pessoa totalmente diferente daquela com quem namorei. Não quero seguir
construindo a imagem de Sarah na minha cabeça como essa pessoa
estranha que ela é no papel de ex-namorada.
“Você tem passado muito tempo com Nick, tá falando igual ele.” A
careta do meu melhor amigo é engraçada e acabamos rindo.
“Estou orgulhoso do nosso bebe.” Nick diz para Ethan depois de um
tempo.
“Eu também.”
“Ei, achei que os momentos amorosos do mês já tinham estourado a
cota e Scott nem tá aqui, espero que não me traiam assim pelas costas!”
Alerto apontando para os dois.
“Não desde que você chegou.” Nick diz pensativo.
“Tá bem, assim eu compreendo.” Digo e me levanto do sofá. “Agora se
me permitem, preciso ir finalizar uma tela.” E com isso, subo as escadas e me
empenho na pintura até precisar me arrumar para o trabalho, satisfeito por
faltarem só alguns detalhes antes que eu finalize a número dois. Deixo
algumas mensagens para Chelsea e respondo Sarah, lhe dando um
endereço e horário.
 
 
Quando chego mais tarde do serviço, um cheiro incrível de carne na
chapa chama minha atenção e encontro meus melhores amigos reunidos no
nosso pequeno quintal dos fundos, fazendo uso da grelha. Eles estão com
cadeiras de madeira e Scott está rindo histericamente quando saio pela porta
dos fundos. Nick logo me oferece uma cerveja do cooler que eles têm ali,
apesar da geladeira estar há poucos metros.
“Chegou na hora certa, baby boy.” Ele zomba com o apelido que
descobriram ontem que Chelsea tem para mim. “Ethan está tentando dar o
calote no Nick. Eles fizeram uma aposta sobre a herdeira.”
“Aposta?” Pergunto, me sentando na cadeira livre e bebendo um longo
gole da cerveja.
“Sobre hoje cedo.” Solto um grunhido quando ouço a resposta e isso
incentiva Nick a seguir. “Eu disse que ela ficaria, Ethan que ela iria embora
antes de você acordar. Agora esse bonitão aí me deve vinte pratas.”
“Você nem mesmo precisa do dinheiro.” Ethan resmunga.
“Aposta é aposta.” Scott e eu dizemos em sintonia, gostando de ver
Ethan sofrer na mão de Nick. “Sério mesmo que achou que ela fosse ir
embora?” Pergunto para ele.
“Não achei que ela fosse do tipo que faz a caminhada da vergonha no
dia seguinte, mas ela definitivamente deve arrasar nisso também.” Ethan se
explica e reviro os olhos.
“Chelsea Capri fazendo a caminhada da vergonha? Mais fácil o Josh
aqui acabar nessa emboscada.” Scott aponta com o pegador para mim. Ele
está na frente da grelha hoje à noite.
“Acho que vamos descobrir em breve.” Nick dá de ombros, como se
fosse questão de horas. Ou se isso fosse algo que fosse acontecer de fato.
“Pelo menos ele não nega mais.” Ethan comenta como se eu não
estivesse no ambiente. “Mas sabe, acho que não vai haver uma caminhada
da vergonha de fato.” Ele bebe um gole da garrafa pensativo.
“É disso que estou falando.” Exalto, porque não vai haver mesmo.
“Acho mais fácil os dois saírem de lá agarrados ou nem saírem
mesmo. Do jeito que estão, algo muito errado precisa acontecer para que a
caminhada aconteça.” Ele continua, fazendo os outros dois darem risada e eu
bufe alto.
“Estão fazendo apostas muito altas.” É a minha vez de resmungar.
“Falando em apostas, Nick também perdeu uma.” Scott coloca alguns
bifes na tábua e começa a cortar. “Amanhã já é domingo e a não ser que
exista alguma reviravolta, o baby boy aí e a loirinha não ficaram dentro dos
seus cinco dias esperados.”
“Por que não apostamos dinheiro nessa?” Ethan continua reclamando
mesmo depois de colocar um pedaço de carne na boca.
“Posso estender meu prazo em dois dias? E, se eu perder, dou
cinquenta pra cada.” Nick propõe apontando para Scott e Ethan, que
concordam. “É isso, terça-feira.” Puts, terça-feira.
Terça-feira é o dia do jantar.
“Vai fazer lasanha afrodisíaca ou algo assim?” Scott debocha.
“Não, só não acredito que, do jeito que eles estão, vão aguentar mais
do que isso.” Nick explica como se fosse óbvio. Tão convencido.
“É isso é verdade. Espero que, caso ganhe, isso não envolva meu
dinheiro.” Ethan aponta para ele e recebe o apoio de Scott. Nick concorda
com os termos.
“Josh?” Scott está me oferecendo a carne e eu pego um pedaço,
colocando na boca, de modo automático. Fico em silêncio por um tempo,
porque agora que a conversa boa passou, preciso contar sobre outras coisas.
“Desembucha.” Scott diz quase convidativo.
“Sarah chega na cidade terça de manhã.” Explico.
“Ah, é, Scott não sabe dessa.” Ethan se adianta. “A bonita mandou
mensagem e quer encontrar ele, mas nosso baby boy, honrando a casa,
disse que vai encontrar ela para dar um ponto final na história.”
“Precisa ser necessariamente na terça?” Nick pergunta. “Se trouxe ela
aqui sabe que vai ser três contra um e espero que não ouse defender ela.”
“Combinei de ela me encontrar no café, pra conversarmos na minha
folga.” Explico. “Quanto antes acontecer, esperançosamente, antes ela vai
embora.”
“Pensando por esse ponto.” Nick murmura.
 
 
A aula cancelada de segunda-feira à tarde, o que seria nossa última
aula com o Collins e, graças, a última vez que teria que ver o rosto dele até o
encerramento da matéria no próximo mês, acabou não me dando um motivo
para ver Chelsea. Ainda que eu tenha aproveitado o tempo para começar a
terceira tela do nosso trabalho e finalizar a que fiz dela.
Fiquei feliz com o resultado, apesar de saber que nunca conseguiria
colocar toda a beleza daquele pôr do sol refletido no rosto dourado dela.
Acabo passando a terça-feira inteira tenso e ansioso, porque, no
fundo, estou torcendo muito para que as apostas de Nick estejam certas de
fato. Torço para que Chelsea resolva voltar a me fazer alguma das suas
propostas que sempre me deixam lembrando da noite do baile beneficente, e
de como aquele mesmo corpo estava agarrado ao meu, duas noites antes.
Suas pernas finas e nuas abraçadas a minha. Seu corpo tão pequeno e
magro dentro das minhas roupas.
Enquanto limpo algumas mesas, finalizando meu horário antes de
entrar o turno para um colega, me peguei desejando que ela dispensasse o
motorista hoje de novo, como me contou que fez sexta. E que, quando eu
pedisse para ela ficar, ela ficaria.
Porém, antes disso, preciso resolver algumas pendências inacabadas.
Pendencias essas que também estavam atrasadas. Depois que termino meu
expediente, sento em uma mesa do canto e checo meu celular. Sarah não
mandou nenhuma mensagem até agora e já se passaram vinte minutos. Me
digno a esperar até trinta minutos de atraso e quando ainda sigo sentado
sozinho depois disso, me levanto bufando, um pouco frustrado com a falta de
educação e pontualidade.
Envio uma mensagem para Chels, confirmando sua ida às sete e meia,
ansioso, e passo pela porta. Estou quase na esquina da quadra do café
quando meu nome é gritado. Viro para a voz e encontro Sarah se apressando
em minha direção. Assim que ela me alcança, um pouco sem fôlego, espero
que ela se recomponha para que comece suas desculpas.
“Desculpa o atraso, fiquei presa.” Arqueio a sobrancelha para aquela
sentença dela. “Algumas lojas de Nova York fazem você perder a cabeça.”
Ela sorri largo como se aquilo fosse uma boa justificativa e solto um riso,
porque Sarah sempre foi maravilhada, apesar de seu pai ser um diretor de
sucesso. Ela se inclina para me cumprimentar com um beijo na bochecha e
eu permito o movimento.
“Bem, eu já estava indo para casa. Tenho compromisso mais tarde.”
Indico o caminho, convidando-a para me acompanhar. “Podemos ir
conversando no caminho, o que acha? Assim não me atraso.”
“Claro.” Ela está em um vestido solto de verão, florido, que cai bem
nela, além de tênis, o que deve facilitar a caminhada. “Os meninos estão em
casa?” Sarah pergunta hesitante.
“Acredito que sim.” Afinal, Nick precisava começar a preparar o jantar
em breve.
“Está bem.” Ela diz e caminhamos lado a lado em silêncio por duas
quadras.
Quando paramos em uma rua, esperando os carros pararem no sinal,
olho para Sarah, que segue em silêncio.
“Pensei que talvez pudéssemos deixar a conversa para a casa.” Sarah
explica e solto um longo suspiro cansado para aquilo.
Acabo achando engraçado como as coisas mudaram. A presença de
Sarah hoje não me afetou, e percebo isso só agora quando pareço cansado
demais para discutir. Só quero poder acabar isso de forma breve, de
preferência breve o suficiente para não estragar minha noite agradável que
vou ter com Chelsea e os meninos.
Não que Sarah não esteja a mesma de sempre, acho que a mudança
aconteceu comigo. Não sinto mais as mesmas coisas, é diferente. Ainda
tenho certo sentimento por ela, como um carinho pelo nosso namoro, que foi
bom de forma geral.
Tivemos inúmeros momentos incríveis e experimentei muitas coisas
com ela. Mas ela acabou com tudo, eu me mudei para sair disso, comecei
coisas novas. Além disso, me senti menos tentado a qualquer coisa depois
da conversa que tivemos na festa de noivado no Hamptons, quando ela fez
parecer que nossa relação era fácil a ponto de podermos passar uma noite
um com o outro tranquilamente. Já não era mais a mesma pessoa, pelo
menos não ali, e eu prefiro manter a boa imagem dela na cabeça.
“Sabe, eu sinto muito por como agi naquela primeira noite que nos
revemos. Mas realmente fiquei surpresa de te ver, ainda mais com alguém.”
Ela começa quando estamos nas últimas quadras do trajeto.
“Você também estava acompanhada, Sarah. Não que isso seja algum
motivo.” Respondo. “Chelsea é uma boa pessoa que apareceu na minha vida,
uma amiga.” Pela aposta de Nick, a qual eu estou torcendo, só até essa
noite.
Será por isso que estou tão ansioso o dia inteiro? Não é como se eu
tivesse planejado de fato algum movimento para fazer essa noite. Talvez
precise começar a pensar. Ou talvez eu esteja com medo, afinal, ela nunca
citou o assunto dessa forma antes ou depois do acontecido na quinta, talvez
tenha sido um ato irracional de bêbada.
“É, isso não justifica mesmo. Louis também é um amigo, como disse.
Nossos pais são amigos e ele me convidou para passar alguns dias por aqui.
Achei que seria interessante, e apesar de surpresa, estava torcendo para
poder te encontrar.” Ela diz e isso me faz a olhar com a testa franzida.
“Entende como isso faz pouco sentido né? Você que terminou comigo
e queria me encontrar?”
“É.” Ela responde simplesmente.
“Acho que não fez algo bom, se quer saber minha opinião. Existiu um
motivo para eu ter me afastado de San Diego, sabe disso.” Ela me dá um
aceno de cabeça.
“Sim, eu sei. E desculpe se acabei invadindo seu espaço, mas talvez
tenha cometido um grande erro em um impulso. Por isso estava torcendo
para te encontrar.” Coço a minha nuca, incomodado com as palavras dela e
me controlando para não perder a boa educação que meus pais tanto
velaram em me dar.
“E demorou dois meses para descobrir isso?” Sei que soo um pouco
debochado, ainda mais pelo olhar triste que ela me dá. “Desculpa, Sarah, não
quis te ofender, mas entende que eu virei minha vida de cabeça para baixo
por causa disso.”
“Está me culpando?” Ela parece indignada.
“Não, porque eu sei que fui eu quem fiz minhas escolhas, mas foram
por sua causa.” Digo parando na frente de casa e, por hábito, procuro as
chaves no bolso.
“É, tudo bem. Eu cometi alguns erros, o termino inclusive, mas estava
me sentindo culpada depois do que tinha acontecido com Jackson, queria
amenizar a situação, mas não achei que você fosse surtar e…” Ela está
falando enquanto abro a porta, que nunca está trancada, nós entramos e
quando ela se dá conta do que fala, cobre a boca com a mão e eu fecho a
porta atrás dela.
Mas antes que eu possa ficar incrivelmente furioso com as perguntas,
um cheiro doce e familiar me preenche e o som profundo da melhor risada
que tenho escutado nos últimos tempos invade nossa casa.
 
 
 
 

 
DESLIGO A CHAMADA COM MEU PAI DEPOIS DE dar um longo
detalhamento sobre a reunião de hoje. Ele diz que odeia essas reuniões e
está certo, nada de novo foi passado. Tudo estava nos malditos arquivos que
passei a noite estudando. Não houve uma nova proposta e me senti obrigada
a, depois de um aconselhamento com meu pai hoje cedo, interferir em um
orçamento duvidoso em um dos nossos restaurantes.
Claro que isso irritou o diretor financeiro, porque a filha do chefe pediu
para que aquela conta fosse refeita e entregue até o fim de quinta-feira.
Apesar de ser eu quem ficava irritada, já que eles sempre me achavam
incompetente para estar até que fosse em uma reunião e eu sempre provava
o contrário para esses patifes do conselho administrativo.
Saio do escritório do meu pai e entro no elevador. Talvez eu irrite por
conseguir ser tão impecável assim e ainda ter intelecto o suficiente para
argumentar com qualquer um deles. Parece que esquecem que sou, no fim
das contas, filha única de Cyrus Capri.
E quando digo impecável, é porque realmente me elaborei para hoje.
São ótimas oportunidades de usar a parte social do meu closet. Uma calça
social branca, de cintura alta e fecho em zíper discreto na lateral, desce nas
minhas pernas em uma boca mais larga, que dá pouca visão para meu
scarpin branco. Um blazer sem botões e lapela grossa, combina com o
branco da calça e dos sapatos. Mas o charme de verdade está no body preto
rendado que uso para completar o visual, apesar de ter algumas partes com
sua transparência, é uma renda bem comportada até.
Arrumo meu rabo de cavalo bem feito no espelho antes de sair do
elevador. Cumprimento todos os funcionários que vejo no caminho até a porta
de saída do prédio e busco pelo meu celular dentro da grande bolsa que
carrego. Talvez eu tenha usado a desculpa que estou desde hoje cedo fora
de casa para trazer alguns itens comigo hoje, caso acabe virando rotina
passar a noite na casa dos meninos.
Estou torcendo para isso talvez.
Entretanto a reunião foi mais curta do que eu achei que seria, não que
eu esteja reclamando. Provavelmente precisarei arrumar alguma ocupação
até as sete.
Assim que encontro o celular, procuro o número de Daphne, mas antes
de conseguir começar a ligação, uma voz me chama de não tão longe. Vejo a
figura de Nick se aproximando e sorrio, guardando meu celular e tirando os
fones sem fio do ouvido para guardá-los também.
“Tem um guarda-roupa completo mesmo, loirinha.” Ele me olha dos
pés à cabeça e passo a mão pelo meu rabo de cavalo, exibida.
“Você também.” Nick está em uma calça de alfaiataria bege e uma
camisa social azul bebe que fica incrível nele.
“É, todos temos nossos negócios.” Ele faz uma careta e prefiro não
incomodar perguntando do que se trata. “Estava indo lá pra casa?” Ele
pergunta.
“Achei que talvez fosse cedo para isso.” Olho em meu relógio de pulso
dourado e mal são cinco horas ainda. Devo estar lá só às sete e meia.
“Tem planos?”
“Ir para casa passar o tempo? Talvez escolher algo mais casual e
beber uma ou duas taças de vinho para esquecer a reunião chata que acabei
de ter.” Respondo porque provavelmente faria aquilo mesmo.
“Estou indo passar no mercado que tem aqui perto e comprar algumas
coisas frescas e depois vou para casa, começar a preparar nosso jantar.
Quero fazer um molho caseiro para a carne.” Ele explica e estou surpresa por
Nick estar mantendo conversas com longas frases, sempre foi quieto demais.
Acho que esse pelo menos eu ganhei. Isso conta dois. “Se quiser, podemos
comprar esse vinho e você pode ter aquelas dicas.” Ele sorri de canto e dá de
ombros. “Josh deve chegar logo também.” Como se precisasse de mais
aquilo para me convencer.
“Tudo bem, parece um bom plano. Estou mesmo curiosa sobre esse
molho.” Um sorriso fácil sai dos meus lábios. “Estou com meu motorista,
podemos ir com o carro.” Nick concorda, e retomo o meu lugar de tagarela da
conversa, papel que venho aceitando nos últimos dias.
 
 
Uma hora e meia depois, já estamos com taças de vinho na mão, e
aprendi que Nick é um pequeno apreciador da bebida. Dei minhas dicas para
ele e acabamos por optar comprar três garrafas, além de engradados de
cerveja para os meninos. Abandonei o blazer e a bolsa na sala. Quando
Ethan entrou, pouco tempo depois que nós, e me viu descascando alguns
tomates, insistiu que eu usasse o avental que Nick nunca aceitou.
Chefe da casa está estampado ao lado de alguns desenhos de um
chefe engraçado em um avental preto que cobre até quase meus joelhos e
protege minha calça branca, preocupação de Ethan. Ele e Scott se juntaram
no balcão da cozinha depois de chegarem de seja lá onde estavam e
tomarem banho. Nenhum dos dois se ofereceu para ajudar eu e Nick na
cozinha.
Estou preparando o molho bolonhesa enquanto Nick mexe com o de
queijo para a segunda lasanha. Ethan se ocupa me contando sobre sua
primeira festa grande em Nova York e a série de acontecimentos inoportunos
que aconteceram com ele, preciso controlar a risada para engolir o vinho que
tenho na boca antes de explodir em uma gargalhada.
Escuto a porta da frente abrir e fechar e sei o que isso significa, me
deixando ainda mais ansiosa.
“Você está em casa.” Josh fala assim que seus olhos pousam em mim
e ele tem uma expressão estranha.
“Sua casa, mas sim estou.” Digo com um sorriso quando ele se
aproxima da cozinha, mas é seguido de perto por uma figura conhecida e
preciso me segurar para manter o sorriso aberto. “Sarah!” E isso chama a
atenção dos três outros rapazes na cozinha, que estão de costas para ela.
Quase me arrependo porque os três olham feio para a outra loira ali.
“Talvez eu devesse ir embora.” Ela me olha, mas logo seus olhos
parecem implorar para que Josh diga para ela ir. O que é estranho.
“Não mesmo, acho que você tem algumas poucas explicações para
dar antes de ir embora.” Josh parece bastante irritado e estranho seu tom de
voz. Ele pigarreia e olha para ela mais calmo. “Você pode me esperar na sala,
por favor.” Ela suspira e dá um aceno, sumindo na sala.
“Sério, Josh?” Nick é o primeiro a declarar sua insatisfação assim que
Josh entra na nossa área da cozinha.
“Algum de vocês sabe quem diabos é Jackson?” Ele pergunta em voz
baixa e os meninos balançam a cabeça, negando. Aproveito para voltar a
minha tarefa e mexo o molho no fogão. “Pois é, eu estou prestes a saber e,
porque ele tem alguma parte na história e na culpa que Sarah sente sobre o
erro que cometeu.”
“Pelo jeito não vai ser um ponto final tão pacifico assim.” Ethan
comenta baixinho e me sinto uma leve intrusa ali, então tento não deduzir
coisas que vem na minha cabeça sobre essa conversa num geral e sigo
mexendo o molho no fogo baixo.
“Isso vai depender do que aconteceu.” Josh responde e caminha na
minha direção. “Chefe da casa, hm? Eu não te disse para não dar folga para
eles?” Seu humor muda e ele parece um pouco mais leve quando me abraça
pelos ombros com um braço e deixa um beijo na minha têmpora. “Me
desculpa por tudo isso. Não era o planejado para a noite.” Ele sussurra para
mim antes de se afastar.
“Tudo bem.” Respondo depois de um longo suspiro porque não
entendo o que isso significa e talvez ele se sinta culpado porque isso tem um
grande potencial de estragar nossa noite, em âmbito geral. “Talvez deva subir
e tomar um banho. Parece um pouco chateado demais, é melhor se acalmar
antes que diga alguma coisa que possa se arrepender.” Até a mínima
grosseria, sei que afetaria ele, porque não é dos seus modos.
“A loirinha tem razão.” Scott nos aponta com a garrafa. “A gente cuida
para que ela não acabe indo embora sem explicar.” Sua fala termina com um
longo gole da cerveja.
“É, isso é verdade.” Ele diz e me dá mais um olhar antes de sair da
cozinha, parando antes na bancada pelo lado de fora, no meio de Ethan e
Scott. “Pensei que seria vocês quem fossem cozinhar para Chels, lembram,
agradecimento e tudo mais.” Os meninos dão um riso antes que Josh
desapareça escada acima.
Nick começa a trabalhar na montagem das lasanhas e eu me afasto do
fogão, tirando o avental e servindo mais um pouco de vinho. Dou um longo
gole antes de dizer.
“Talvez devêssemos oferecer algo para ela. Parecia um pouco tensa.”
“Nem por um milhão de dólares.” Diz Ethan.
“Nem se eu queimasse no fogo do inferno.” A voz de Nick sai mais
como um resmungo e Scott, por mais estranho que pareça, sorri para mim de
canto.
“Fico com as duas opções juntas.” Reviro os olhos para os três e saio
da cozinha com minha taça na mão, mas antes escuto Scott dizer baixo ainda
para os meninos. “Droga, sabe que o Crawford vai comer a gente no jantar
por deixar isso acontecer, né?”
Me aproximo de Sarah, que está sentada como uma criança
comportada no sofá, digitando algo no celular e definitivamente tensa.
“Sarah.” Chamo sua atenção e ela se vira para mim, me olhando da
cabeça aos pés e sei que isso é como um elogio. “Gostaria de alguma coisa?
Água, suco, cerveja ou uma taça de vinho.” Digo a última opção apontando
para a minha em mãos. “Isso se for maior de idade…” E, então, me viro um
pouco em choque para os meninos olhando a cena da cozinha. Porque nunca
cheguei a pensar em fazer essa pergunta para eles nos outros dias. Josh fez
vinte e um há não muito tempo.
“Sim, loirinha, somos todos homenzinhos com idade o suficiente para
beber. Baby boy é literalmente o baby boy da casa.” Ethan responde a minha
pergunta e eu dou um sorriso largo.
“Eu tenho algum letreiro na minha testa?” Pergunto debochando.
Mesmo que eu espere não precisar de nada parecido hoje à noite, me sinto
protegida por aqueles três bonitinhos na cozinha para defender de qualquer
coisa que possa acontecer.
“Você nos deu aquele olhar Chelsea Capri. E pelo visto, o letreiro não
é grande o suficiente.” Não entendo exatamente ao que Ethan se refere e
volto minha atenção para Sarah. “Mas ela tem dezenove.” Ele completa e
faço uma careta.
“Vou ficar com a água, obrigada.” Ela me dá um sorriso amarelo e não
demoro para trazer sua água. O que acaba por findar nossa conversa.
Depois disso me ocupo em pôr a mesa, já que Nick avisa que por
causa da massa fresca, em vinte e cinco minutos o jantar estará servido. Josh
parece tomar todo esse tempo para tomar um banho. Coloco seis lugares na
mesa, contra o gosto dos três meninos, subindo as escadas em seguida para
procurar por ele.
Baby boy está sentado na cama do quarto com a cabeça entre as
mãos. Sento do seu lado e ele não ergue o olhar para saber que sou eu.
“Devia ter deixado isso quieto. Não deveria ter respondido e
concordado em encontrar com ela. A noite estaria sendo bem mais
agradável.”
“Você me disse, há um tempo, que queria entender.” Lembro da nossa
conversa no dia da hidromassagem, de tudo que ele contou para mim
naquela noite. “Às vezes é melhor ter respostas do que perguntas.” E isso é
algo que digo por experiência própria.
Josh parece entender porque dá um leve aceno de cabeça e me olha.
Apesar de achar que ele estava com o rosto manchado de lágrimas, sua
expressão só mostra muita chateação.
“Só quero acabar com essa conversa logo, mas não sei se quero
descobrir o que ela pode me dizer.”
“Então, devemos descer lá, comer a deliciosa lasanha que eu fiz.
Fiquei encarregada da bolonhesa, diga que essa vai estar melhor para
aumentar meu ego.” Brinco e arranco um sorriso dele. “Depois vocês
conversam.”
“Os meninos não vão…” Ele provavelmente falaria gostar da ideia, mas
interrompo seu pensamento.
“Já coloquei o lugar dela na mesa e lidei com os meninos.” Lidar é uma
palavra muito forte, mas eu consegui fazer com que eles não falassem nada.
“Você vai ficar depois?” Ele pergunta me fitando com certa intensidade.
“Isso é um pedido ou uma pergunta?” Ele parece pensar um pouco,
aproveito para me levantar e oferecer a mão para que ele faça o mesmo.
Josh me segue em certo silêncio e quase acredito que não vai mais
responder quando finalmente diz algo quando já estamos na metade das
escadas.
“Um pedido.”
“Sendo assim, minha resposta é sim.” Josh sorri de canto para mim e
vejo que Nick começou a tirar as travessas do forno.
Caminho até a sala e Sarah está na mesma posição.
“O jantar está na mesa.” Falo para ela que me olha com uma
sobrancelha arqueada. “Se estiver com fome, pode se juntar a nós.” Digo e
estou me virando para ir até a mesa de jantar quando percebo que ela não
sai do lugar. “Sarah? Não foi exatamente um pedido. E eu não gosto de falar
as coisas duas vezes.” Sei que pareço uma megera, mas o que custa ser um
pouquinho grata e tentar amenizar as coisas sentando na mesa e comendo
meio pedaço?
Dou um sorriso um pouco cínico quando ela se levanta e me segue.
Ocupo o meu lugar que tem se tornado habitual na mesa e deixo a ponta
vaga para Sarah. Ajudo Nick a servir os pratos dos esfomeados que querem
dois pedaços por vez e quando entrego o prato para Ethan, dou a ele um
olhar cúmplice e aponto com a colher grande.
“Sim, sem nem mesmo comer, tenho certeza que a sua está melhor.”
Ele diz rindo para mim e não consigo evitar rir também.
“Esse é o meu garoto.” Digo
Isso parece aliviar um pouco a tensão na mesa, porque estamos todos
com sorrisos nos lábios e ainda fica melhor quando Nick tenta dar um olhar
bravo para o amigo.
“Que foi? Você é um carrasco no café da manhã. Estou tentando ser
mimado algumas outras vezes na refeição mais importante do dia com
aquelas panquecas maravilhosas.” Meu olhar encontra o de Sarah nesse
exato momento, quando estou entregando o prato servido dela.
“Definitivamente não é o melhor assunto a se abordar, Ethan.” Digo em
tom baixo para ele, me arrependendo um pouco de ter feito a brincadeira.
Não acho que o que Sarah precisa agora é saber que ando transitando
a ponto de fazer o café. Felizmente, para ela, o ex-namorado resolveu me
colocar na zona do amigo com força e estou nela há alguns dias de forma
penosa, desejando para que haja mudanças.
Sim, passei a admitir isso a mim mesma.
Na verdade, nem mesmo sei porque estou tentando aliviar as coisas
para ela um pouco, talvez seja por ter percebido que ela não significa mais
uma grande ameaça, ou talvez nunca tenha sido de fato.
Não tem como considerar a ex uma ameaça quando você mal chega
perto do objetivo final, que seria ficar com Josh. Além disso, apesar dos
sentimentos fortes, Josh parecia determinado a deixar isso para trás, ou
quase. Hoje essa determinação pareceu mais clara, além de ter toda a
conversa de querer colocar um ponto final que ouvi dos meninos na cozinha.
“Os treinos da pré-temporada começam essa semana, não é mesmo?”
Eu sei que sim, na quinta, mas preciso arrumar um assunto mais tranquilo a
ser conversado.
Passei por eventos sociais com momentos constrangedores o
suficiente para aprender a usar a arte de tagarelar de forma pacífica. Toda a
situação de bocas mastigando e talheres batendo só deixa tudo ainda mais
tenso.
Logo uma conversa, a mais próxima de uma ambientação amistosa, se
instala e eu quase suspiro aliviada. Quando o jantar termina, já devo ter
bebido uma garrafa de vinho sozinha, ou mais, para tentar aliviar minha
própria tensão.
E depois de dizer mais uma vez para o baby boy que, sim, eu vou ficar
mais um pouco, e de receber seus sorrisos gentis, me ocupo em tirar a mesa
com Scott, para me manter ocupada. Nick e Ethan subiram para seus quartos
e Josh fica na sala, conversando com Sarah Não consigo evitar olhar para o
pedaço da sala que vejo da cozinha, onde Scott me entrega a louça depois
de passar água nos itens e os encaixo no lava-louças. Não consigo evitar
minha curiosidade para saber o que está sendo conversado há poucos
metros de mim.
 
 
 
 

 
AO FUNDO, ESCUTO CHELSEA E SCOTT RETIRANDO os pratos e sei
que, apesar de Nick e Ethan adorarem ela, é ele quem consegue ficar sem
acabar tentado a se intrometer na sala. Meus outros dois melhores amigos
fizeram seus esforços essa noite, mas foi mais pela loirinha do meu lado do
que pela que estava na ponta da mesa. Sei que fiz errado ao traze-la aqui e
planejava mesmo terminar essa conversa antes de entrarmos, porém, depois
de escutar o que Sarah deixou escapar, preciso saber do resto, preciso de
verdade.
Talvez ajude ainda mais no ponto final.
Apoio minha segunda cerveja da noite, que está pela metade, na mesa
de centro da sala quando me sento na poltrona e observo Sarah se acomodar
na ponta do sofá, como se quisesse fugir.
“Obrigada pelo jantar.” Ela diz colocando as mãos no colo.
“Claro.” Mas acredito que o agradecimento deveria ter sido feito para
Chelsea e Nick, quem de fato fez o jantar.
“Chelsea é… legal.” Sarah fala um pouco incerta sobre as palavras e
sei que ela desejava falar outra coisa. Legal nem começa a definir Chels,
aprendi isso. “Sei que ela precisou manter os ânimos no jantar.”
“Não acho que Chelsea seja o real assunto aqui, Sarah.” Porque ela já
ficou até tarde demais e provavelmente não vai ser bom se ficarmos
enrolando nessa conversa por muito tempo. Sarah é uma desconhecida da
cidade para transitar tarde da noite. E tenho a impressão que não vou acabar
nos meus melhores modos cavalheiros com ela essa noite.
“Direito ao ponto.” Um riso não humorado sai pelos seus lábios e
escuto os movimentos dos saltos nas minhas costas, conseguindo saber que
são Scott e Chelsea subindo as escadas. “Nunca quis que você se mudasse
para o outro lado do país.”
“Sabe que antes de te conhecer esse era o plano inicial.” Começo. “Eu
e os meninos sempre pensamos em vir para cá e morarmos juntos.”
“E depois eu fiz você se afastar deles e mudar seu destino para Los
Angeles.”
“Já disse que essa foi uma escolha minha, Sarah.”
“Tudo bem.” Ela diz, me fitando em seguida por alguns instantes. “Eu
sinto muito mesmo, pelo que aconteceu, de modo geral. Eu pensei que
pudesse simplesmente apagar isso, que terminar seria uma coisa que
ajudaria a apagar o que aconteceu, e que logo poderíamos voltar. Mas eu
estava errada e se soubesse, não sei se seguiria com essa ideia.”
Quanto mais Sarah fala, mais nosso termino parece ser uma grande
incógnita para mim.
“Mas quero que saiba que nunca quis te magoar, você sempre foi
muito bom para mim. Nosso relacionamento sempre foi algo que eu nunca
esperava e mesmo assim foi um sonho. Você é a pessoa dos sonhos para
qualquer um, Josh.” Sarah solta um suspiro pesado. “Algumas semanas
antes da formatura, você começou a pegar turnos naquele restaurante para
juntar mais grana.” Eu queria dar um presente de formatura para ela,
planejava irmos uma semana antes para Los Angeles e fazermos todos os
passeios que ela sempre sonhava em fazer, mas o pai nunca se importou em
levar a filha. “Tivemos uma pequena reunião na casa do Henry.” Seus olhos
me perguntam se eu me lembro e dou um aceno. Henry era um amigo nosso,
jogador que treinava na minha posição depois que sai do time. “Você não
quis ir porque estava trabalhando e depois estaria muito cansado, mas eu fui
com as meninas.”
“Sim, eu saía tarde nos finais de semana, então não queria acabar
estragando a noite porque logo iria querer ir pra casa.”
“Eles decidiram que deveríamos fazer uma brincadeira, porque
estávamos só entre amigos.” Éramos um grupo de dez pessoas, contando eu,
e costumávamos fazer essas pequenas reuniões na casa de um dos amigos
de Sarah nos finais de semana. Apesar de já não estar mais na escola com
eles, às vezes entrava na onda das brincadeiras bobas. “Eu achei que seria
inofensivo.” Sempre eram coisas idiotas e todo mundo costumava respeitar
nosso relacionamento. “Mas eu sabia que as meninas estavam comentando
há alguns dias com Henry que não acreditavam que iria mesmo seguir em
frente nos nossos planos, afinal, você nem mais poderia ser um jogador…
desculpa, isso foi insensível.” Um pouco, mas balanço a cabeça pedindo para
ela prosseguir. “Eu não devia ter entrado na brincadeira. Foi apenas um
beijo.”
Como está previsto que você deveria reagir quando tem a confirmação
sobre uma traição? É isso que ela acabou de me falar não foi?
Provavelmente com algum escândalo ou choro, mas passei o jantar inteiro
cogitando inúmeras coisas, e isso ajudou a me acalmar um pouco.
Porque acho que me habituei com a ideia de que era a opção mais
óbvia. Além disso, sofri bastante no nosso término. Meus sentimentos por
Sarah sempre foram gritantes demais e, depois de inúmeras conversas com
os rapazes, notei que nem mesmo era um amor saudável. Eu abdiquei não
só o futebol, Nova York, uma bolsa de estudos e os meninos. Houveram
outras pequenas coisas que deixei de lado por causa dela. Coisas minhas.
Sarah e seu pai não queriam que eu fizesse nada no ramo das artes, e
depois do acidente, ficaram um pouco mais incisivas as conversas sobre
algum curso na área de negócios. Eu sempre relevei, porque o pai dela
sempre falava demais. Ela sempre arrumava uma forma de me convencer a
fazer alguma coisa, inclusive demorou quase um ano para que pudesse falar
para os amigos que eu estava trabalhando enquanto esperava por ela e não
tirando um ano sabático literalmente de folga.
Não estou julgando-a agora por isso. Assim como descobri essas
coisas que abdiquei, também percebi que nunca me impus no nosso
relacionamento, só ia na onda dos acontecimentos e ela aproveitava os
momentos que eu só concordava. Tenho uma parte de culpa. Inclusive sobre
esconder o fato que tinha começado a ganhar meu próprio dinheiro.
Eu nunca tinha trabalhado de verdade antes de me formar no colégio,
mas depois disso, achei que seria justo ajudar e desde então não consigo
pensar em não ter esse dinheiro comigo. Meus pais não precisam se
preocupar com os gastos de moradia e mesmo que enviem algum dinheiro
toda semana para o que falam ser a alimentação, Nick poucas vezes divide a
conta do supermercado.
Nunca passamos por problemas, mas o orçamento nunca foi assim tão
espaçado, foi bom poder tirar um peso para eles poderem viver mais
confortáveis. Além disso, não é como se o curso fosse muito barato também,
apesar da bolsa.
Mas também não estou culpando-a, porque apesar de eu ter abdicado
de algumas coisas, acredito que todas foram por escolhas próprias.
Pensando nela, mas fui eu quem fiz isso.
“Foi só uma vez? Um beijo? Em uma brincadeira?” Porque eu tinha
imaginado coisas infinitamente piores.
Claro, isso não anula o fato de que Sarah me traiu e grande parte dos
meus amigos ficaram sabendo, mas não se dignaram a me avisar sobre.
“Sim.” Ela confirma rapidamente. “Chegamos a ficar de novo, mas já
estávamos separados.” Vejo que ela se arrepende de dizer, mas deve estar
imaginando que dizer a verdade é a melhor coisa a se fazer agora.
“Então, você mentiu.” Ela me olha com a testa franzida. “Me disse há
uns dias que não tinha ficado com mais ninguém.”
“Você não disse isso de volta.”
“Prefiro calar do que mentir, Sarah.” Um riso cínico para a forma como
ela trata a situação sai pelo meu nariz.
“Chelsea?”
“Está ficando repetitiva nesse assunto. Mais uma vez, não.” Sarah
parece arrependida de perguntar e coloca o cabelo para trás da orelha. “Você
deveria saber que podia ter falado comigo. Se não tinha significado nada
além de uma brincadeira, poderia me contar.” Ela levanta o olhar um pouco
chocada para mim. “Mas, ou você não me conhecia o suficiente para saber
que eu entenderia, ou não foi algo sem significado e aposto minhas fichas na
segunda opção.” Nós namoramos quatro anos, não é possível que ela
realmente não me conhecesse aquele ponto.
Sarah se cala e entendo que minhas fichas estão certas.
“Estou falando agora.” Sua voz sai num sussurro.
“É, Sarah. Está me contando agora, mas as coisas estão muito
diferentes.” Me mantenho calmo porque realmente não faz parte das minhas
boas maneiras me estressar ou me exaltar com alguém. Mesmo nessa
situação, me arrependeria muito amanhã de falar algo grosseiro para ela.
“Estão?” Ela pergunta se aproximando, sentando na extremidade mais
próxima de mim e me olhando com certa esperança. “Sabe que podemos
consertar esse erro, meu pai consegue sua vaga da UCLA, sei que ele pode
fazer isso. Podemos seguir nossos planos. Nós somos tão bons juntos, Josh.
Eu esperava que pudéssemos deixar isso para trás.” Olho para Sarah
incrédulo. “Eu pretendia… tentar voltar nosso… namoro, mas você foi embora
e tudo escapou dos meus planos.”
“Espera um pouco.” Balanço a cabeça em negação e passo a mão
pelos meus cabelos. “Ao invés de me contar, você preferiu esconder de mim,
terminar nosso namoro para acobertar a mentira, passou as semanas depois
disso curtindo sua vida muito bem, como se não se importasse que
estávamos separados…”
“Porque não era para estarmos separados pra sempre.” Ela me
interrompe se explicando.
“E daí planejava simplesmente voltar comigo depois, como se tudo
pudesse ser simplesmente apagado e consertado? Ainda sem planejar me
contar a verdade sobre o que tinha acontecido?” Sarah toma alguns segundo
e concorda com a cabeça, como se fosse algo natural brincar com os
sentimentos de alguém assim. “Isso é um pouco sádico, Sarah. Achou que
podia fazer o que quiser comigo e eu aceitaria?” Eu provavelmente teria se
ela tivesse me pedido quando ainda estava em San Diego, embora isso fosse
ignorar todos os discursos ruins sobre ela que os meninos fizeram.
“Não… Não, não foi isso. É… eu imaginava que éramos maiores que
qualquer término bobo. Que íamos passar por isso.” Solto um riso seco e me
levanto da poltrona.
“Acho que você deveria ir, Sarah.” Minha ex-namorada me encara em
choque. “De verdade.” Ela se levanta também.
“Acho que eu deveria ficar, podemos conversar mais, sei que podemos
resolver isso. Não devia jogar tudo o que tivemos juntos por uma vida que
está encantado e uma pessoa que logo vai se cansar.” Ela tenta se
aproximar, mas desvio o caminho para ir até a porta.
“Sarah, acredito que essa conversa já acabou, de verdade. O que mais
pode falar? Talvez detalhar como realmente planejava me jogar de um lado
para o outro da sua vida como se eu fosse algum tipo de namorado
fantoche?” Ela vem atrás de mim, agarrada em sua bolsa. “Por favor, não
mande mais mensagens, ou ligue.” Peço abrindo a porta.
“Você vai se arrepender. Logo vai perceber que era melhor termos
dado uma chance agora, antes que seja tarde demais para você.” Ela para no
batente da porta e me olha, como se me desafiasse a realmente deixa-la ir.
Estou chocado em como as coisas mudaram subitamente e mal sinto
conhecer essa pessoa mais.
Infelizmente essa percepção machuca mais do que eu gostaria que
machucasse, porque parece que tudo foi uma farsa, mas não quero pensar
assim.
“Acho que não vou me arrepender de ser feito de idiota de novo.”
Ainda mais depois que ouvir que ela realmente acredita que poderia me
influenciar dessa forma, brincar comigo assim. “Se cuida.” Digo antes dela dar
as costas para mim e sair da casa.
Meu lado gentil não me deixa subir até que ela entre em um carro, que
provavelmente pediu em um aplicativo. Mesmo que a última coisa que eu
queira agora é ser gentil com ela.
Suspiro pesadamente, me sentindo muito pesado por causa da
situação e levo minha garrafa pela metade até a cozinha, esvaziando na pia e
jogando fora. Bebo um longo copo de água e tento não me afetar. Mas meus
ombros parecem ter uma tonelada ao invés de eu me sentir mais leve com
isso. Provavelmente porque eu esperava colocar um ponto final pacífico em
tudo, e não descobrir que fui quase um boneco com o qual ela pensou que
poderia brincar.
Está acabado, não está? Só acrescentei um pequeno item à lista de
porquês e isso me deixa arrasado, na verdade. Pequeno é o grande
eufemismo do ano. Porque saber que não significou só uma brincadeira e
isso foi o porquê Sarah escondeu, machuca bastante.
Também achava que nosso relacionamento era maior que muita coisa,
porque sempre passamos por várias coisas juntos. Raramente brigávamos
porque sempre tínhamos uma forma de contornar a situação sem precisar
agravar tudo. Mas acho que, se ela não pode confiar em mim e quebrou
minha confiança a esse ponto, nosso namoro não era realmente tudo isso
que eu pensei que fosse. Confiança é o pilar mais forte, não é mesmo?
Nunca cogitei que teria motivos para precisar duvidar dela e provavelmente
fui inocente demais durante todo esse tempo.
Pego uma garrafa de água e as coisas de Chels que ficaram na sala e
subo as escadas. Ethan, Nick e Scott me espiam pelas suas portas, curiosos.
“Podemos conversar sobre isso amanhã?” Peço e eles acenam,
concordando.
“Talvez seja melhor ficar sozinho essa noite, não?” Nick diz, parecendo
preocupado.
Dou um sorriso triste porque não sei bem se posso escolher isso, não
sou eu quem tem esse direito de escolha. Além disso, a única coisa que
consigo pensar é que preciso escutar Chels tagarelando sobre qualquer coisa
e rindo escandalosamente. Sem dar a ele uma resposta, abro a porta do meu
quarto no fim do corredor e encontro ela deitada na minha cama, com as
costas encostadas na cabeceira, digitando algo no celular.
Seus olhos se levantam para mim e ela deixa o celular na mesa ao
lado. Chels está completamente vestida, nem mesmo quis tirar os saltos
altos. Ela é uma visão dentro de qualquer roupa, mas está incrível nessa
calça social com essa parte de cima rendada preta. Caminho até o fim da
cama, sentando ao lado dos seus pés e ela dá um longo suspiro depois que
nota que eu não vou dizer nada.
“Por que não me fala do seu dia? Duvido que tenha se vestido assim
só para nos ver.” Ela sorri para mim e tiro os saltos dela, os deixando no chão
ao lado da cama.
“Foi um grande porre. Ugh, não sei como consigo ter melhores amigos
metidos em coisas como administração de empresas e leis, são um saco.”
Começo a massagear os pés dela e Chelsea solta um gemido baixo em
resposta. “Estou desde às oito da manhã correndo nessas belezinhas e
fazendo algumas coisas para o meu pai. Mas, também fiz algo que foi você
quem me inspirou.” Olho curioso para ela e ela solta um riso breve. “Vou
deixar para o final, assim mantenho sua atenção.” Como se ela precisasse de
tanto.
Tenho vontade de verbalizar isso, que ela sempre tem minha atenção.
Mas só sigo olhando para seus olhos azuis enquanto ela prossegue. É
estranho pensar que essa mulher, que poderia ser tida como um furacão em
pessoa, restaura o pouco de paz que tenho no momento, que é quem me
acalma agora.
“Tive uma reunião sobre os repasses de tarde e é incrível como nosso
consultor financeiro consegue ser um porre completo. Além disso, passei três
horas escutando do administrativo um detalhamento sobre a semana e o
evento beneficente, como o cliente ficou satisfeito e isso trouxe popularidade
para nós. O que não é de fato o que visamos, mas é bom de qualquer modo.”
Eu acomodo as pernas dela em cima das minhas coxas e continuo apertando
os dedos nos seus pés.
“Eu fiquei me perguntando como foi feito o beneficente daquela noite.”
Afinal, não houve nenhum leilão ou qualquer coisa propriamente dita.
“Todos os convidados foram selecionados e precisavam deixar alguma
doação, além de toda a publicidade do evento que também trouxe retorno
financeiro. Haviam algumas coisas sendo leiloadas discretamente, como
ações de empresas e royalties de companhias. Vamos conseguir destinar os
lucros para quatro instituições diferentes. Pessoas acabam fazendo doações
duplas depois de alguns goles de champanhe e incentivos. Um dos motivos
de ter aproveitado aquela noite tão pouco do seu lado.”
Sorrio de canto com essa última parte, porque percebo que ela
também queria ter tido mais momentos juntos naquele dia. E continuo sem
entender como isso funciona na questão das doações, mas pelo menos
alguém seria ajudado.
“Isso é delicioso, sabia? Ainda mais depois daquelas belezinhas ali me
matarem.” Ela aponta para os saltos brancos.
“Não vou nem perguntar o porquê de os usar, porque sei que deve ser
algo sobre a essência do visual, estou correto?” Ela sorri e pisca para mim.
“Você gosta de ser vista.” Deixo escapar, mas ela não considera isso como
algo ruim, só dá de ombros.
“Depois de um tempo aprendi que se as pessoas te olham com
admiração, respeito e medo é melhor que quando olham com pena. Uma boa
roupa ajuda a montar o personagem que quiser.” Chelsea ostenta um sorriso
de canto. “Eu sei o que as revistas falam sobre mim, o que as pessoas
cochicham. Mas não ligo mais.”
“Porque não é nada daquilo?” Suponho.
“Porque é isso que eu permito que elas vejam. Mas também sou tudo o
que elas falam, só não sou só isso.” Ela explica.
“É muito mais mesmo.” Descanso minhas mãos nos tornozelos dela
por cima da calça. “Você é a pessoa que intermedia um jantar que tem
absolutamente tudo para dar errado.”
“Tenho alguns anos de prática.” Ela levanta os ombros.
“Obrigado por hoje, pelo jantar e por ter ficado.” Ela me dá um aceno
de cabeça.
“Eu não sou muito boa nisso. Se não quiser falar sobre, precisa me
dizer.” Chelsea senta na cama se aproximando até que esteja com as pernas
cruzadas encostadas na minha. Balanço as pernas para fora da cama. “Você
não precisa dizer o que aconteceu, só preciso que me avise se quer
conversar sobre isso ou não.”
“Você acha que sou influenciável?” Pergunto olhando para seus olhos
azuis confusos. “Acha fácil me dizer o que fazer?”
“Eu não costumo ser tão mandona assim.” Ela é um pouquinho. “Mas
espero que não, pelo menos espero que todas as coisas que fez comigo
foram porque você quis e não porque te influenciei a isso. Eu posso ter
ajudado na decisão, admito.” Chelsea sorri como uma criança travessa e sei
que se refere aos presentes e cartões.
“Não, não nesse sentido. Tudo que fiz com você foi porque quis, gosto
de estar ao seu lado.” Admito e ela sorri de canto. “Sarah fez algo errado e
achou que seria simples me ter de volta, como se pudesse terminar comigo e
saber que eu voltaria depois tranquilamente. Ela fez parecer que isso seria a
coisa mais fácil do mundo de se fazer e fiquei pensando se sou tão otário
assim.” Ela parece achar graça do que falo.
“Josh…” Sua voz tem uma gentileza fofa e ela coloca a palma da mão
na minha bochecha. Me inclino no toque. “Você é uma pessoa boa e as
pessoas tendem a querer tirar proveito disso. Não acho que a Sarah tenha
pensado isso por mal, ela só está acostumada com essa boa pessoa que
você é.” Chels me olha por alguns instantes antes de continuar. “Não que eu
tenha ouvido muito sobre, mas pelo que me contou e ouvi os meninos falando
sobre ela hoje cedo, você era um pouco do tipo que fazia as vontades dela.”
“Porque eu amava ela, gostava de ver ela contente.” Me justifico e isso
arranca um leve riso dos lábios fechados dela.
“Eu sei que deve ter tido seus motivos, mas digamos que possa ter
mal-acostumado ela, por isso Sarah achou que seria fácil terminar e voltar
com você.” Ela parece pensar por alguns longos instantes. “Relacionamentos
não são coisas fáceis, pelo que ouvi falar.” E me lembro dela me dizer que
nunca teve um de fato. “Ainda mais os mais longos, quando você amadurece
ao lado da pessoa. Você às vezes se acomoda onde está, dentro do
relacionamento, e não consegue aceitar quando as coisas mudam. Ou até
mesmo quando o sentimento muda.”
“O que quer dizer com isso?” Levanto uma sobrancelha para ela.
“Tem certeza que quer saber?” Ela começa a afastar a mão do meu
rosto e seguro sua palma ali, incentivando-a. “Acho que Sarah se acostumou
a ter você por perto, mas acabou ludibriada pela vida pós ensino médio. Essa
lacuna entre decidir a sua vida e finalmente estar livre da escola é fascinante,
se aproveitada do jeito certo. Acredito que ela pensou que poderia aproveitar
isso apropriadamente e depois voltar para o conforto dos seus braços.”
Chelsea fala maneando a cabeça algumas vezes. Seu polegar acaricia minha
bochecha. “Não desacredito que ela te ame ou algo assim, apesar de ser
uma maneira muito estranha de se gostar de alguém. Imagino que ela só
queria um tempo, cogitar as opções, coisas nesse sentido.”
Cogitar as opções? Então, eu não era a melhor para início de
conversa. Faço uma careta com o pensamento porque nunca cogitei opções
quando estava com Sarah.
“Mas… eu não sou a melhor pessoa para falar sobre relacionamentos,
talvez não devesse me escutar.” Ela desvia seus olhos dos meus.
“Você já começou, termine de falar o que quer. Não é assim a pior
pessoa em conselhos.”
“Está bem.” Ela hesita um pouco. “Não estou querendo insinuar nada,
mas já vi isso acontecendo em outras situações. Ela pode também ter ficado
incomodada com o fato de ter seguido em frente. Você fugiu do controle,
entende? Se mudou, pra valer, começou uma nova etapa, a possibilidade de
conhecer alguém novo é enorme. Deixou rapidamente de ser a opção fácil
dela.”
Me incomodo um pouco com o fato de que ela não se inclui nisso,
porque eu conheci alguém novo que mudou meus pensamentos a respeito do
meu relacionamento passado e o que eu sentia por Sarah. Gostaria de poder
ver o que os meninos veem, porque me sentiria melhor sobre esse assunto,
de querer que ela se inclua nessa lista, uma vez que eu a coloco ali.
Honestamente, criei algumas outras amizades por aqui, mas penso em
Chelsea como minha nova pessoa.
“Você está pensando demais.” Ela diz, saindo do meu domínio e
descansando as mãos juntas no meio das pernas.
“Sarah me traiu.” Conto e ela se choca.
“Ousada e bastante burra, se quer minha opinião.” E isso me faz sorrir
para Chelsea, que dá de ombros. “Você é o pacote completo, lembra?”
“Você não pensa assim o tempo todo.” Porque apesar de dizer isso, a
única vez que ela realmente tentou pensar em querer parte do pacote
completo foi quando bebeu espumante pra mais. “Mas sim, foi isso que
aconteceu. Com um amigo do nosso antigo, ou meu antigo, grupo de amigos.
Bem, um cara do grupo de pessoas que costumávamos estar juntos. Na
verdade, não conheci ele bem. Ela falou que foi só um beijo, mas ficaram
outras vezes depois, acho que se você não gosta ou se não significa nada,
não tem porque querer repetir a dose.” Ela concorda comigo. “Acho que foi
bom.”
“Ela te trair? Está maluco?” Ela me dá um tapa no peito e isso me faz
rir.
“Não. Ela ter me contado. Porque preenche a lacuna do porquê. E me
ajudou a fechar de vez essa parte.” Explico para ela.
“É, novas oportunidades. Você mal começou a faculdade de fato, ainda
vai poder viver bastante.” Mas recebo um sorriso um pouco triste ao escutar
as palavras saindo da boca dela.
“O que foi?”
“Nada.” Ela respira fundo e joga as pernas para fora da cama. “Talvez
eu devesse ir, antes que fique tarde demais.” Chelsea puxa os saltos e
começa a colocá-los no pé. Levantamos juntos da cama.
“Chelsea.” Ela parece focada demais em ir embora que preciso tocar
de leve seu braço. Ela me olha com aqueles olhos azuis e parece… frágil?
Chelsea não é do tipo que parece frágil. “Pensei que poderia ficar de novo,
ainda não me falou sobre aquela novidade.”
“Posso falar sobre isso outra hora, não é tão importante.” Ela dá um
sorriso de canto. “Não acho que seja uma boa ideia ficarmos fazendo… essa
coisa… eu ficando aqui.” Sua mão penteia os fios impecáveis do seu rabo de
cavalo.
“Seria tão ruim assim?” Pergunto, porque estou cansado demais para
qualquer outra coisa e quero mesmo ficar com ela mais um pouco, mais uma
noite, ou pelo menos preciso que ela desenhe essa linha da nossa amizade.
“Não seria?” O tom dela me diz que isso não é uma pergunta retórica e
franzo a testa, balançando a cabeça negativamente.
“Não. Não mesmo.” Balanço a cabeça mais algumas vezes, dando um
passo em sua direção quando ela parece perto de sair. “Mas se quiser ir
embora, não acho que posso realmente te impedir.” Levanto os ombros e fito
o rosto sério dela.
“Josh…” Meu nome sai um pouco sussurrado pelos seus lábios e isso
me dá um pouco mais de coragem para tomar mais um passo em direção
dela. Chels fecha os olhos por alguns instantes, e percebo que a expressão
dela é definitivamente frágil. Quando os abre, algo parece diferente. Chelsea
deixa a bolsa cair no chão em um baque e espero que não tenha quebrado
nada, apesar dela não se importar tanto com isso porque dá um passo para
frente e ficamos cara a cara. “Você tem dois segundos para repensa…” Mas
não a deixo terminar a frase.
Levo minha mão para sua nuca e coloco meus lábios nos dela.
Chelsea solta um suspiro e isso me incentiva a abraçar sua cintura com o
outro braço e juntar nossos corpos. Das bocas fundidas as pernas coladas.
Ela segura meu rosto quando passo a língua pelos seus lábios e os abre para
mim. Chels me beija na mesma calma que eu a beijo. Deixando que nossas
bocas se toquem sem desespero, que minha língua sinta o gosto dela sem
pressa nenhuma.
Ela tem gosto de vinho e provavelmente é o melhor que eu posso
provar na vida. A sensação é melhor do que poderia imaginar, é como se
fosse a única coisa certa a ser feita no momento e penso que poderia passar
bons dias da minha vida perdido no beijo suave dela. É como uma calmaria
depois de um pouco de turbulência. E o toque é tão suave e exploratório que
me deixo sonhar um pouco com isso, imaginando que, assim como eu, ela
também deseja isso há muito tempo.
Seus dedos se entrelaçam no meu cabelo e isso envia alguns arrepios
por todo meu corpo, o que me faz sentir a necessidade de a apertar um
pouco mais contra mim. Sou agraciado por um leve gemido contra os meus
lábios e ela muda a intensidade do movimento de nossas bocas, mais
urgente que antes. Chelsea chuta os saltos para longe e preciso me inclinar
um pouco para continuar capturando a boca dela o que me faz quebrar nosso
contato brevemente.
Seus lábios inchados parecem combinar perfeitamente com seu rosto
de porcelana e olhos azuis tão intensos que me olham naquele momento.
Coloco minhas mãos por baixo das lapelas do blazer que ela acabou de
colocar e antes que possa pensar muito sobre isso, Chelsea deixa os braços
caírem ao lado do corpo para me auxiliar no movimento de escorregar o
tecido para fora dos seus ombros. A peça não termina de cair no chão antes
que eu traga seus lábios nos meus de novo de forma mais voraz agora.
É como se agora, o desejo acumulado de antes não tivesse mais a
paciência para a calma, para o beijo suave. Preciso da sua boca na minha
quase tanto quanto preciso do ar que respiro.
Chelsea não parece querer reclamar quando reivindica minha língua e
lábios ou quando começa nos inclinar em uma caminhada até a cama. Passo
minhas mãos pelo corpo bem delineado dela até chegar em suas coxas e ela
entende o movimento. Dou um impulso atrás das suas pernas e ela as enrola
em volta da minha cintura com facilidade. Deixo minhas mãos espalmadas
em sua bunda firme enquanto faço os passos até a cama e me sento com ela
no colo.
Desço meus lábios pelo seu pescoço e Chelsea não se importa em
inclinar a cabeça para trás, me dando mais espaço para beijar uma trilha até
o vale dos seus seios bem empinados dentro daquela peça rendada. Eles
provavelmente têm o molde perfeito para minhas mãos e boca. Sua roupa
colada e um pouco sensual parece bem mais tentadora agora do que mais
cedo. Corro meus dedos para cima e para baixo em suas coxas que me
envolvem enquanto deixo suaves chupadas e mordisco seu pescoço.
O perfume que me invade tem um aroma caro, algo floral e
incrivelmente erótico também. O que combina bem com ela.
Seus lábios entreabertos deixam escapar suspiros aos meus toques e
ela se move inquieta no meu colo, o que é o suficiente para que minhas
boxers e calça jeans comecem a ficar apertadas para minha ereção. As mãos
de Chelsea passeiam pelo meu tronco até puxarem minha camiseta para
cima e não demoro a levantar os braços e ajuda-la. Volto a beijar seus lábios
bem rosados e puxo ela mais para cima da cama comigo, invertendo as
nossas posições e colocando Chels deitada nos travesseiros.
No movimento não tão planejado, ela acaba deitada em cima do meu
laptop, que usei mais cedo para algo que não consigo me lembrar
exatamente o que era enquanto estou preso aos seus lábios. Mas ela se
afasta por um momento e tira uma das mãos do meu peito para puxar o
aparelho das costas e empurrá-lo para a mesa de cabeceira, sem prestar
muita atenção e derrubando a taça de vinho vazia que ela trouxe mais cedo
para cima.
O vidro se despedaça no chão em um barulho típico e Chelsea ri
baixo, me dando um olhar traduzido em um “ops” e eu devolvo seu sorriso.
Logo isso se transforma em um cheio de malícia quando percebe que não
estou pensando em sair de onde estamos para limpar nossa bagunça tão
cedo. Ela puxa minha nuca e continua me provando com ansiedade,
passando as mãos pelas minhas costas até chegarem na minha bunda e a
apertar, me trazendo para mais perto.
Um gemido abafado é dado em conjunto por nós quando minha ereção
se encaixa no meio das pernas dela, que ainda estão abraçadas em mim. Um
lugar muito perfeito para se estar se não fosse a quantidade exuberante de
roupas entre nós.
Tateio a procura do fecho da calça social dela e Chelsea usa uma das
mãos para me ajudar a achar o zíper discreto na lateral. Estou puxando-o
para baixo quando escutamos batidas da porta. Me distancio dos lábios dela
de súbito, assustado pelas batidas e mantenho uma mão espalmada na pele
recém descoberta pela abertura do zíper.
Escuto um pigarro atrás da porta e torço por todas minhas forças que
esse seja um momento que a privacidade da qual nunca pedi nessa casa,
seja respeitada e ninguém abra a porta.
“Josh? Está tudo bem mesmo? A gente pode ter aquela conversa
agora se quiser.” É a voz de Nick que fala.
“Prometemos que não vamos te julgar por nada.” Ethan parece pela
primeira vez em muito tempo atencioso e preocupado.
“Só não quebre a casa.” Scott finaliza.
Meus olhos estão focados em Chelsea, que parece prestes a explodir
em uma gargalhada a qualquer momento, apesar de estar contendo bem com
uma mão tapando seus lábios. Lábios que eu preferia ainda estar beijando.
“É… hm… estou bem.” Digo em voz alta, tentando ao máximo usar
meu tom de voz para tranquilizá-los. “Eu só tive… hm… um acidente com um
copo.” A loirinha na minha frente volta a ocupar suas mãos comigo,
arrastando suas unhas em uma trilha perigosa pelo meu abdômen enquanto
comprimi os lábios. “É... não entrem no quarto. Eu o quebrei perto da porta e
está cheio de cacos de vidro.” E isso parece ser o suficiente para Chelsea
porque seu corpo vibra embaixo do meu, apesar de estar com um dos braços
apoiados na cama para não jogar meu peso em cima dela.
E o som da sua risada pode ser ouvido, ainda que não seja do tipo
explosivo, como gosto de ouvir.
“Chelsea ainda está aqui? Achamos que ela tivesse ido embora.” Nick
parece curioso.
“Lembrando que ela é a única opção possível que pode estar aí dentro
ou Nick prometeu que é você quem vai pagar o aluguel da casa pelos
próximos três meses sozinho.” Ethan alerta e isso gera outra risada de
Chelsea.
Ela coloca as mãos no meu rosto e não preciso de muito para saber
que devo estar vermelho. Não é minha situação ideal que meus três melhores
amigos estejam na porta fazendo algumas confissões enquanto eu poderia
estar fazendo outras coisas.
“Sim, Chelsea ainda está aqui.” Ela diz reprimindo seu divertimento
com um sorriso.
Há um silêncio, escutamos alguns cochichos inaudíveis e aproveito o
momento para roubar um beijo rápido dela. Seu cabelo está bagunçado no
rabo de cavalo por causa dos travesseiros, ela ostenta um sorriso tão lindo
quanto todos os outros que já me deu e percebo que depois de começar, vai
ser difícil me desapegar dela e dos seus olhos que me encaram com graça e
malícia. Além desse sorriso. Provavelmente nunca vou achar um sorriso tão
bonito quanto esse.
“Tudo bem, desculpa incomodarmos. Estamos indo agora.” Nick diz
apressado e escuto os passos se afastando no corredor. Chelsea me puxa
para mais um beijo, que não demora muito para acabar quando ela se
distancia.
“Acho que deveríamos limpar nosso acidente perto da porta.” Ela
zomba de mim e desce as pernas da minha cintura. “E eu preciso de um
banho gelado, porque as coisas ficaram um pouco quentes aqui, baby boy.”
Chelsea coloca uma das pernas no meio das minhas para se acomodar
melhor embaixo de mim. “E você continua ostentando essa belezinha para
mim mesmo depois de termos quase sido pegos no flagra pelos seus três
melhores amigos.” Ela escorrega as mãos pelas minhas laterais antes de
pararem perigosamente no fim do meu abdômen.
“Você continua deitada lindamente embaixo de mim.” Admito em seu
ouvido, beijando a lateral do seu pescoço. “Ostentando tudo bonito.”
“Então, acho que eu devo ir para aquele banho logo antes que as
coisas fiquem intensas de novo.” Ela dá leves chupadas no meu pescoço que
isso é o suficiente para fazer minha meia ereção voltar a ser completa. Me
inclino para olhá-la nos olhos e ela ri levemente. “Não vamos fazer isso hoje.”
Chelsea diz e tira suas mãos de mim, fazendo um rápido movimento para fora
do meu domínio e rolando na cama. “Céus, nunca achei que fosse dizer isso
um dia.” Ela coloca os pés para fora da cama do lado contrário onde a taça
está quebrada. “Acho que muito já aconteceu hoje e você não precisa de
mais isso para te confundir.” Ela parece sincera, apesar de estranhar um
pouco a forma como fala isso.
Não me sinto confuso sobre ela, pela primeira vez em alguns dias.
Mas Chels levanta da cama e vai até à bolsa no chão, ao lado da
porta. Saio da cama pelo mesmo lado parando para ver o nosso pequeno
estrago. Chelsea coloca sua bolsa na minha escrivaninha e tira uma
necessaire de lá.
“Vou limpar isso antes que alguém se machuque.” Falo quando ela
para ao meu lado para analisar também.
“Tá bem. Vou para o banheiro enquanto isso.” Ela fala.
Me sento na ponta da cama, admirando a figura dela tirando alguma
coisa da bolsa e colocando na necessaire e depois caminhando
cuidadosamente até meu armário, pegando uma camiseta limpa. Pela
primeira vez, me permito cair na hipnose de não tirar meus olhos dela, como
sempre precisei me recompor para não fazer. Ela organiza seus itens na
mesa, se virando para mim em seguida com um sorriso diabólico no rosto.
“Mas… vou te dar essa visão, porque sou uma boa pessoa.”
Entretanto, quando ela escorrega a calça social branca aberta pelas
pernas, passando as mãos pela bunda para tirar o tecido, a última coisa que
penso é que ela é uma boa pessoa. Chelsea está somente em um body preto
rendado, parada na minha frente, dizendo que vai tomar um banho, sozinha.
Isso deve ser acrescido na lista de pecados cometidos por ela. Já a vi em um
maiô e em um biquíni, mas desejo ela muito mais agora, sabendo que não
preciso de muita culpa ao fazer isso.
Além disso, ela fica completamente mais sexy nessa peça.
“Isso é realmente muito mal.” Falo levantando da cama para me
aproximar dela. “Mas definitivamente uma visão muito boa.” Completo antes
de puxar sua cintura e beijar sua boca de forma ainda mais necessitada que
antes. Porque sinto o meu corpo quase arder de tanto pulsar de desejo por
ela.
Essa proximidade é algo que posso começar a me acostumar bem
mais. Passo minhas mãos pelas costas dela e deixo um pequeno aperto em
sua bunda ao colar seu corpo no meu antes de solta-la, não querendo passar
tanta tentação sabendo que nada vai acontecer. Hoje.
Nada irá acontecer hoje.
Sou mesmo um adolescente excitado por essa mulher muito mais do
que só bonita.
Ela ri quando se afasta, puxando minha camiseta pela cabeça e fico
feliz porque não quero que algum dos meninos tope com ela no corredor
usando essa peça que fica tão linda e sensual nela.
Mas quando ela sai do quarto, lembro, porque minha mente adora me
pregar peças, que Scott já viu aquilo, e muito mais.
E acabo limpando nossa bagunça um pouco irritado com meu melhor
amigo por ele já ter tido algo que eu estou desejando tanto. Depois, esse
sentimento se transforma em medo que isso não passe de simplesmente uma
ficada, porque não quero mesmo pensar em deixar Chelsea ir tão cedo.
Mesmo que as palavras tenham saído escapadas dos meus lábios há
quatro dias, me pego realmente desejando que ela me permita entrar de
verdade e dar a ela o sentimento que Chelsea merece mais que tudo.
 
 
 
 

 
ENTRO NO BANHEIRO SENTINDO EMPOLGAÇÃO E UM pouco de
nervosismo. Tranco a porta e observo minha imagem bagunçada no espelho
com apreço. Quase dou pulinhos infantis de felicidade. Meus cabelos estão
querendo sair do rabo de cavalo, minha boca está um pouco inchada e
minhas bochechas levemente irritadas pela barba áspera que Josh começou
a deixar, ele fica incrivelmente delicioso com ela. Meu pescoço está
levemente vermelho, apesar de já estar recuperando o tom natural da minha
pele.
Me dispo, saindo da camiseta dele e do meu body rendado, me
sentindo um pouco frustrada comigo mesma por ter sido racional e findado o
contato que poderia me levar a momentos muito bons e ansiados. Porém,
quando me lembro do porquê quis ser racional, meu banho gelado não serve
mais somente para me ajudar a livrar da excitação que sinto, mas também
dos pensamentos que tenho.
Suas atitudes foram baseadas em desejo próprio ou pelos sentimentos
feridos ao descobrir que foi traído? Talvez internamente ele considere isso
uma pequena vingança contra Sarah e eu não passo de um tapa buraco.
Claro que tento lembrar a mim mesma que esse tipo de atitude
definitivamente não combina com Josh, mas é um pouco complicado me
manter sã nessa segurança. Além disso, eu tenho um ótimo histórico de
sempre estragar com tudo, quem me diz que terei a chance de o provar mais
uma vez e levar isso ao fim?
Porque o medo já começa a tomar lugar enquanto deixo a água
escorrer pelo meu corpo e realmente me sinto tentada em ir embora antes
que eu bagunce mais a vida de Josh quando isso é a última coisa que ele
merece nesse momento. Ele precisa de calma, tranquilidade e, se quiser,
uma pessoa que traga esses sentimentos para ele.
Chelsea Capri nunca foi sinônimo de calmaria. Sou propensa a coisas
erradas, apesar de estar estranhamente muito calma no momento.
Qual foi mesmo a primeira coisa que fiz em uma das vezes que cogitei
pensar no baby boy de qualquer outra forma além de um amigo? Isso
mesmo, mandei mensagem para outra pessoa. Quem me confirma que não
farei os mesmos erros que Sarah e não o deixarei ainda mais magoado do
que já está? Muita coisa mudou desde então, sei disso. Ainda assim, eu
definitivamente não sou a pessoa certa para recuperar corações quebrados,
apesar de odiar pensar que sou só isso para ele no momento.
Saio do box e procuro pela minha calcinha dentro da bolsa para
emergências que tenho na necessaire. Mesmo com um ciclo completamente
regulado pela pílula, algumas neuras nunca deixam de ser hábitos, apesar de
eu esquecer isso algumas vezes. Coloco a camiseta dele de novo e sinto o
cheiro de seu perfume e amaciante se espalhando mais uma vez. Faço minha
rotina noturna e agradeço a escova de cabelo de mão que mantenho na
bolsa para poder lidar com alguns nós dos meus fios.
Saio do banheiro com um humor bem diferente do que entrei. Para
quem adora viver com a onda do destino e seja lá o que for acontecer, estou
muito presa no que pode acontecer nos próximos dias e desejo voltar ao
começo do verão quando minhas preocupações eram as inúmeras formas
que fazer uma matéria nesse período iria estragar meu cronograma de
Hamptons e se conseguiria um horário no spa na próxima semana.
Se bem que ainda estou preocupada se lembrei de agendar minhas
massagens terapêuticas e a hidratação capilar na semana que vem. Mas não
sou do tipo que se arrepende do que faz, é melhor arcar com qualquer
consequência dos beijos maravilhosos de Josh e como suas mãos passeiam
tão bem pelo meu corpo.
Só espero mesmo que isso não tenha sido um erro irreparável. Não
estou pronta para dizer adeus a nossa amizade, é realmente bom ter alguém
novo para conversar. Não que meus melhores amigos não sejam o suficiente,
mas é bom conseguir deixar novas pessoas entrarem. Deveria ter seguido os
conselhos do meu pai antes. Apesar de gostar do pensamento que esperei
pelo momento e pela pessoa certa.
Virei um clichê ambulante dos quais passo longe.
O quarto dele está vazio, mas vejo que Josh limpou os cacos do chão.
Dobro minhas roupas e coloco elas na cadeira da mesa, junto com minha
necessaire. Não sou do tipo que costuma passar a noite, embora nem
tenhamos transado de fato, e espero que não tenha entendido essa parte
errado. Também não acredito que Josh vá me expulsar da casa quase uma
da manhã.
Deixo uma mensagem para o meu pai, dizendo que não vou passar a
noite em casa de novo e para que avise a senhora Price amanhã cedo,
depois que receber a ligação dela. Meu pai me responde com uma carinha
piscando. Escuto a porta do banheiro sendo fechada já que esse é o único
barulho da casa além dos sons do lado de fora. A rua deles é até bastante
movimentada.
Acabo caminhando pelo quarto, pensando em como eles conseguiriam
uma casa tão bem localizada e, apesar de não saber muito sobre, penso que
o aluguel não deve ser dos mais baratos. Confiro se as janelas estão
fechadas por trás da cortina, que já estava fechada, e começo a arrumar a
cama, perdida na minha pequena saudade da minha melhor amiga.
Mesmo estando feliz em saber que Zach a faz mais feliz que qualquer
cara meia boca como Oliver poderia fazer, sinto saudade de passar as noites
sentada no seu sofá, bebendo algum vinho caro e zombando de como ela era
tão certinha. Não somos parecidas e sempre pensei que Daphne nos
completa por ser um meio-termo entre Becks e eu. É certinha como Rebecca,
mas um pouco doida, como eu.
Escuto a porta do quarto fechar e a chave ser virada dessa vez. Me
viro e Josh está me olhando de forma estranha. Tento driblar qualquer
insegurança, que insiste em achar que tem espaço na minha personalidade,
e dou um sorriso de canto para ele quando seus olhos passam rapidamente
pelo meu corpo. Não posso dizer que não fiz o mesmo, já que hoje ele
dispensou logo de cara o uso da camiseta e gosto da visão do seu abdômen
bem definido, que combina bonitinho com seu rosto fofo.
“Está pensando demais, baby boy.” Ele balança a cabeça uma vez e,
então, foca seus olhos nos meus, me dando um sorriso de lado e
caminhando até onde estou. “Admirando abertamente?” Apesar de ser uma
provocação, quero mesmo que goste do que vê.
“Com certeza.” Ele passa uma das mãos pela minha cintura e coloca a
outra na minha cabeça, me puxando para um beijo e não consigo evitar um
sorriso contente antes de mergulhar minhas mãos nos fios macios dele.
Tive minha cota de beijos por uma vida, admito, e não vou mentir
falando que nunca encontrei algo assim, porque já beijei caras com
habilidades incríveis com a língua, mas há algo de diferente quando minha
língua toca a dele. Algo que não tive antes e que muda a forma como anseio
pelos seus lábios, que conseguem tocar os meus de forma gentil e urgente
ao mesmo tempo. Josh tem o gosto refrescante da pasta de dente e não me
lembro de ter tido algum beijo assim. Estou habituada a beijos com gosto de
álcool, após festas ou jantares.
Até mesmo com Parker costumávamos beber uma ou duas cervejas
antes, depois de um tempo ficando, enquanto ele me falava sobre alguma
coisa do curso e compartilhávamos os professores que estávamos desejando
esquecerem das aulas. Acho que deveria considerar Parker um amigo, de
foda, mas um amigo. Apesar de, enquanto desço uma das mãos pelas costas
de Josh, estar desejando não precisar ver Parks outra vez para o que
estamos acostumados.
Josh nos gira no lugar e senta na cama, cortando nosso contato.
“Você ainda não me contou sobre a novidade.” Ele inclina a cabeça
para trás, me olhando de pé, enquanto passa as mãos na parte detrás das
minhas coxas, subindo não o suficiente da barra da camiseta dele que bate
pouco abaixo da minha bunda.
“Está realmente curioso sobre isso?” Porque até mesmo eu já havia
esquecido sobre o fato e estou com a mente distraída nesse momento para
me lembrar de outra coisa que não nas mãos dele em mim.
Josh me dá uma confirmação com a cabeça, colocando as mãos atrás
do meu joelho, para que eu suba na cama com ele.
Não tenho vontade alguma de não obedecer e ele nos acomoda
sentados, suas costas estão na cabeceira e eu estou sentada nas suas
pernas. Minhas mãos seguram seu rosto tão bonito e ele me olha, me
esperando falar. Nunca tinha notado, mas seus olhos têm pelo menos três
tons de castanho diferentes, apesar de um ser tão escuro que pode ser preto.
Seus dedos traçam a pele exposta das minhas pernas dobradas dos dois
lados dele, das coxas até os tornozelos.
“Fui hoje cedo na agência que costumamos contratar para fazer os
eventos no Magni. Fui recebida pela gerente geral.” Começo, deixando
minhas mãos descansarem com as palmas abertas em seu peito. “Nós
conversamos. E eu perguntei sobre o que ela achava, a Zoey, que gerencia
tudo e coordena as pessoas nos serviços, das minhas organizações. Ela me
disse que sempre alcançamos o desejado nos eventos que planejam no
Magni, e estou sempre envolvida em vários, em todos dos últimos seis anos.”
Explico a ele, que me escuta atentamente. “E eu segui seu conselho. É algo
que gosto de fazer, me sinto realmente muito feliz quando tudo dá certo e o
resultado final é um evento incrível. Eu perguntei para ela se eu poderia ter
potencial na área.”
Josh me dá um sorriso e coloca uma mexa do meu cabelo para trás do
meu ombro. Inclinando a cabeça enquanto me olha.
“E então?” Sua pergunta me incentiva a prosseguir.
Solto um longo suspiro porque não foi bem a resposta que eu queria e
não estou acostumada a não ter o que quero, mas Zoey pelo menos me deu
uma esperança.
“Ela disse que eles não têm costume de trabalhar com alguém que não
seja da área de relações públicas.” O sorriso dele murcha um pouco. “Mas,
me falou que, se eu quiser, pode me chamar para co-projetar alguns eventos
com algum outro funcionário formado.”
“Isso é bom, não é?” Ele parece tão contente por mim e me lembro
como me senti, um pouco decepcionada, mas muito feliz ao ouvir a proposta
dela mais cedo.
“Ela falou que eu deveria pensar sobre o assunto, porque eu terei que
atender aos desejos dos clientes e estou acostumada a atender ao meu
desejo quase sempre. Porque os eventos são deixados nas minhas mãos.
Me falo que eu deveria pensar e voltar com uma resposta até o fim da
semana.” Digo, desenhando algumas formas inanimadas com os dedos no
peito dele. “Zoey falou que eu tenho um olho para coisa e poderia ser uma
peça especial na agência, um serviço diferente para clientes que querem algo
mais refinado.” Porque eu de fato sou mais refinada. “Isso provavelmente não
seria um serviço necessitado com tanta frequência, dado que nem todo
mundo poderia estar disposto a pagar por ele. Mas que ainda iria fazer vários
eventos como os que estou acostumada a ir, eventos do meu círculo de
conhecidos. Que são clientes mais dispostos. Porém, posso acabar ficando
para auxiliar outros processos, se eu quiser.” Explico para ele minha conversa
com Zoey mais cedo. “Além dela imaginar que algumas noivas poderiam
requerer o olho de Chelsea Capri em seu casamento. Consegue imaginar
isso? Eu, planejando um casamento?” Apesar de incrédula, estou empolgada
com a possibilidade.
“Consigo imaginar que pode fazer o que quiser.” As palavras dele são
tão doces que aproveito a oportunidade para deixar um beijo nos lábios de
Josh, já que posso fazer isso quando quero, pelo menos essa noite. Ele
segura minha cintura com ambas as mãos. “Mas isso é verdade. Você é boa
nisso, não duvido que possa planejar um casamento dos sonhos para
qualquer noiva ou qualquer evento chique.”
Meu sorriso aumenta, assim como minha confiança e ele aperta um
pouco minha cintura por cima do tecido da camiseta antes de perguntar.
“Isso não é uma pergunta com… hm, um… um fundo, mas nunca
pensou em planejar seu próprio casamento?” Acabo rindo da forma como
Josh fica nervoso ao me fazer a pergunta, porque a última coisa que pensaria
é que tem a intenção de se casar comigo com ela.
“Na verdade, nunquinha.” Admito com um dar de ombros. “Nunca me
vi em um relacionamento forte o suficiente para que eu pensasse em montar
uma vida com a pessoa. Nunca cogitei um dia me vestir de branco e ser
levada ao altar.”
“Sério mesmo?” Ele pergunta com um sorriso, parecendo não acreditar
muito em mim e eu confirmo com a cabeça.
“Angel e Becks sempre tiveram essas ideias, eu e Daph éramos as
viradas para isso. Mas Daphne sempre foi por se focar demais no futuro, na
sua carreira, na profissão. No meu caso foi mais por nunca me apegar a
ninguém e aproveitar a vida ao máximo. Quase vinte e seis anos e nenhum
namorado. Não posso dizer que foi por falta de pretendentes, sei que estou
entre as solteiras cobiçadas.” Brinco com ele, mas recebo um riso um pouco
tristonho.
Talvez tenha sido por isso que não cogito perguntar a mesma coisa
para Josh, a disparidade das respostas poderia nos colocar em uma posição
que não estou a fim de encarar por agora. Josh parece o tipo de cara certo,
que gosta de relacionamentos sérios, quer casar e formar família. Eu só
consigo pensar que prefiro não me arriscar a dar a um filho o mesmo que
recebi da minha mãe, porque ainda tenho medo da hereditariedade.
“Estou feliz por você, talvez só precisasse de um empurrão.” Ele acaba
com o silêncio que começa a ser constrangedor.
“Sim, talvez eu só precisasse disso. Estou feliz por estar tentando pelo
menos…” Deixo a frase morrer no ar, porque ainda não fiz todas as coisas
que queria relativas a isso. Ainda tenho mais um plano a executar essa
semana antes que feche minha ideia com Zoey.
“Ok, o que mais tá se passando?” Josh pergunta, desligando a luz do
quarto no interruptor ao lado da cama e deixando só a luz do abajur nos
iluminando.
“Também estou pensando…” Hesito, pressionando os lábios com uma
superstição boba de temer estragar as coisas caso fale sobre isso sem ter
confirmação se vão dar certo.
Ele me abraça e nos deita na cama, me deixando por cima dele e eu
me ajeito até estar deitada em seu peito, da mesma forma que estava há
alguns dias.
“Sim...?” Ele diz enquanto beija minha testa depois que eu inclino meu
rosto para cima, a fim de olha-lo.
“Se der certo, eu te conto. Não quero que outra pessoa fique
decepcionada comigo além de eu mesma, se eu não conseguir.” Digo e ele
sorri, plantando um beijo demorado nos meus lábios.
“Tudo bem, vou estar torcendo para seja lá o que for, que dê certo.”
Ele fala e percebo que seu tom de voz indica que o cansaço está deixando
abater ele.
Josh estica o braço para apagar o abajur e ficamos no escuro. Ele me
abraça ainda mais forte depois de puxar a coberta para cima dos nossos
corpos e me beija mais uma vez.
Sua respiração fica calma e percebo que ele dormiu em segundos
enquanto sigo passando o polegar pela sua pele quente, desejando que ele
não vá embora tão cedo, e que eu me comporte o suficiente para que ele
deseje ficar.
 
 
 
 

 
ME ESPREGUIÇO PELA CAMA E AFUNDO O ROSTO EM um travesseiro
com o cheiro gostoso de Josh para perceber que não tenho seus braços em
volta de mim. Com um gemido insatisfeito, viro de barriga para cima e noto
que estou sozinha na cama. Meu celular indica que passam das nove e
agradeço que Collins tenha resolvido nos dispensar de vez a partir dessa
semana porque, de qualquer forma, não me sentiria culpada em ficar horas
enrolada nos lençóis com cheiro de Josh e matar aula.
Eu nunca me senti culpada por matar aula de modo geral, mas agora
teria um bom motivo. Apesar de uma pequena bolinha querer se formar na
minha garganta por acordar sozinha, sei que ele não poderia de fato fugir de
mim e da própria casa. Coloco as pernas para fora da cama e me estico.
Resolvo me intrometer um pouco mais no armário dele e procuro por uma
calça de moletom, como a que ele me deu no outro dia. Faço meu melhor
para não parecer tão patética e aperto bem as cordinhas da calça na minha
cintura. Amarro a camiseta com um nó pouco abaixo nos seios.
Quando chego no banheiro para fazer minha higiene matinal, percebo
que sou até boa nisso.
Desço as escadas lendo as mensagens do meu pai, dizendo que iriam
ter a reunião final para decidir o detalhe das negociações hoje, mas que ele
estava sentindo que conseguiriam fechar. Deixo um “boa sorte” com emojis
de dedos cruzados quando chego na cozinha. Josh está lidando com o cheiro
bom de café da manhã, Scott e Ethan estão sentados com suas xícaras de
café.
“Bom dia.” Digo para eles assim que percebem no meio da sua
conversa animada que estou no cômodo.
“Bom dia, loirinha.” Ethan vira na banqueta que está para me olhar.
“Você definitivamente sabe como usar roupas masculinas e ainda arrasar
nisso.” Josh se vira do fogão para dar um olhar feio ao amigo enquanto
coloca os ovos mexidos em quatro pratos.
Mas o comentário me faz rir e faço charme para Ethan, que assobia.
Os olhos de Josh viram para mim pela primeira vez e ele sorri antes de voltar
a fazer o resto do café. Percebo que não tinha notado, mas nenhum dos três
de fato usa uma camiseta e é uma visão atraente para uma cozinha. Ethan e
Scott estão com calções de moletom e Josh está com a roupa que dormiu.
“É difícil alguma coisa não ficar boa nesse corpo.” Digo jogando o
cabelo para trás do ombro antes de entrar na cozinha para pegar uma xícara
de café.
Josh me oferece uma de prontidão depois de colocar o bacon pra fritar.
Seu olhar é curioso enquanto me entrega a xícara e eu arqueio a sobrancelha
para ele antes de me virar para pegar a jarra da cafeteira. Mas Josh continua
só me encarando enquanto pega os waffles para colocar na máquina.
“Quer alguma ajuda?” Pergunto a ele, me colocando ao seu lado do
balcão, de costas para os meninos que voltaram a conversar, quase alheios a
nossa presença do outro lado da bancada. Josh nega com a cabeça e tira
seus olhos de mim. “Quer alguma outra coisa?” Pergunto baixinho um pouco
incerta em relação às demais pessoas no cômodo. Levo meu café aos lábios
e recebo um olhar contente dele, com um sorriso travesso nos lábios.
Me controlo para engolir meu café antes de rir e largar minha xícara de
volta no balcão.
Estou prestes a puxá-lo para mim quando Nick entra na cozinha
parecendo péssimo.
“Como você consegue estar tão bem assim? Quem disse que seria
uma boa ideia beber vinho com você?” Ele, então, vira para os meninos. “Me
protejam desse mal da próxima vez por favor.” Nick aponta para mim e tento
não gargalhar alto para aumentar sua ressaca, mas os seus melhores amigos
não são tão bonzinhos. “Parece que tem uma manada andando na minha
cabeça em muitas direções diferentes.” Ele fecha os olhos massageando a
cabeça antes de ir pegar água na geladeira e secar a garrafa rapidamente.
“O segredo são anos de prática.” Respondo ele, servindo outra xícara
de café para entregá-lo quando ele senta do lado de Scott. Recebo um
obrigado murmurado.
“Estava supondo que o motivo era outra coisa, mas acho que isso
serve.” Ethan me fala e dá uma piscadela para mim. Reviro os olhos.
“Porque ao invés de ser engraçadinho você não vai vestir uma roupa.”
Nick está mesmo mal-humorado. “Temos visita.” Ethan e Scott se levantam e
eu peço para se sentarem de novo com um aceno.
“Está tudo bem.” Me encosto de costas em uma parte livre da bancada
da pia e observo Josh dividindo nosso café em cinco pratos agora, colocando
o bacon e empilhando os waffles em um separado antes de distribuir um
prato para cada.
Pego impulso e me sento na bancada, que é mais baixa, e Josh fica de
pé ao meu lado enquanto os meninos comem nas três banquetas.
“Por que vocês dois estão agindo tão estranhos um com o outro?”
Ethan aponta para nós com o garfo.
“Ethan, às vezes, você precisa mesmo saber quando manter suas
perguntas para você.” Scott dá uma cotovelada nele e é quase impossível
passar uma refeição ao lado deles sem que a comida desça com uma risada.
Nick murmura algo que não consigo ouvir de onde estou e dá um
sorriso para os outros dois que resmungam tristes. Termino meus ovos e
desço da bancada para atacar os waffles, colocando bastante mel neles.
Finalizo meu café de pé rapidamente antes de ir colocar minhas coisas no
lava-louças. Josh vem atrás de mim e abraça minha cintura enquanto coloca
o prato dele lá dentro também.
“Vai fazer alguma coisa hoje?” Ele pergunta beijando meu pescoço.
“Tenho um compromisso às quatro.” E só de pensar meu estômago
revira um pouco com certa ansiedade. “Vai trabalhar hoje?” Nem mesmo sei
se ele tem um diazinho de folga.
“Entro às quatro.” Ele passa o outro braço em volta de mim. “Talvez
possa ficar mais um pouco?” Sua pergunta vem de forma tão fofa, apoiando o
queixo no meu ombro e me arrancando um sorriso pela sensação nova e
gostosa que sinto, nem mesmo cogito dizer não.
Quando ele pega a minha mão e se afasta para subirmos, finjo não
notar que três pares de olhos disfarçam muito mal que não estavam
prestando atenção na nossa interação. Mas ao mesmo tempo fico feliz em
saber que nenhum deles faz alguma objeção quanto a nós dois
 
 
Estou com o laptop de Josh no meu colo, o mesmo que usei para
derrubar a taça ontem à noite, e um vídeo de uma apresentação de balé
passa na tela. Estou tentando ter criatividade para inovar em algumas partes
da coreografia que tenho feito para a melodia que não consigo terminar no
piano. Mas recebi uma mensagem de Becks, uma foto dela e de Zach em
uma cabana ao norte do país e ela manda um pequeno texto com notícias de
como passaram os últimos dias.
Fico tentada a ligar para minhas melhores amigas, mas é quarta à
tarde e Daphne provavelmente está no trabalho, assim, prometo a mim
mesma que vou ligar para elas mais tarde. Meu baby boy está finalizando o
nosso terceiro quadro e chegamos à metade do trabalho, apesar de ele ter
planejado sete telas ao todo. Josh parece todo focado, de costas para mim,
curvado na pintura. Belas costas, inclusive.
Belo tudo.
Ficamos um tempo na cama até ele falar que poderia usar minha
inspiração para terminar e a partir desse momento estou dividida entre a tela
do computador, meu celular e seu lindo corpo na minha frente. Já passam do
meio-dia quando ele parece se cansar e guarda o pincel. Eu já deixei o
computador dele fechado de volta na escrivaninha e deito esparramada em
sua cama. Vez ou outra, conversamos rapidamente sobre alguma coisa, mas
Josh acabava sempre me pedindo desculpa por não estar escutando
totalmente.
Ele para de pé na frente da tela, colocando as mãos na cintura e me
arrumo na cama para espiar mais uma de suas obras de arte. Tem traços
mais fortes e pesados, que demonstram os sentimentos obscuros do nosso
Frankenstein.
“O que acha?” Josh pergunta se virando para mim. Observo por alguns
segundos, tentando fazer uma análise crítica.
“Parece muito propício para mim.” Respondo e ele olha mais uma vez
para o seu trabalho para finalmente concordar, se jogando na cama ao meu
lado.
Não demoro para me aproximar dele e beijar sua boca, gostando
dessa pequena, e nova, dinâmica. Ele enrola os dedos nos meus fios e envia
alguns arrepios com aquele toque mais urgente no meu corpo. Mesmo ontem,
no auge da nossa pegação, o toque dele ainda é gentil e cuidadoso.
Aproveito para subir em cima dele, colocando minhas pernas nas laterais do
seu corpo e me inclinando na sua boca.
Uma das suas mãos segura meu pescoço, agarrando meus fios loiros,
e a outra desce pelas minhas costas, pousando bonitinho na base, acima da
minha bunda. Faço um pequeno favor para nós e coloco minha mão na dele,
guiando até que seus dedos estejam apertando meus músculos que tanto
trabalhei no balé e na academia. Ele solta um pequeno gemido nos meus
lábios e eu aproveito para me empinar um pouco mais em seu colo.
Sua boca está colada na minha, e ele se esforça para continuar me
beijando com a mesma voracidade enquanto nos gira na cama. Com ele por
cima, sua mão solta meu cabelo para que se apoie na cama e eu não tiro as
minhas dele. Meus dedos aproveitam entrelaçados nos fios mais longos do
cabelo de Josh, e eu uso isso para mantê-lo na minha boca. Com a outra
mão, desço suas costas com as unhas de leve e isso me faz ganhar um som
indecifrável dos seus lábios. A ponta dos dedos roçam na sua pele pelo lado
de dentro da sua calça de moletom e aperto ele contra mim, sentindo sua
excitação evidente no meu ventre.
Sua mão sobe da minha bunda até parar onde a camiseta está presa
pela amarração. Josh se afasta de nosso beijo para me olhar e sei que ele
quer algum sinal qualquer que não deve fazer aquilo, mas eu não poderia
estar dando mais sinais de que, sim, quero que ele tire toda e qualquer peça
de mim. Quando me inclino para que ele volte a me beijar e suas mãos estão
subindo a bainha do tecido, escutamos uma batida rápida e alguém gira a
maçaneta para entrar.
Claro que a porta está aberta.
O que custa esperar uma resposta, rapazes?
O que custa não me atrapalhar nos melhores momentos?
Estou realmente tentada a fazer algum trato com esses três estraga
prazeres.
Josh é rápido ao afastar sua boca da minha e gritar:
“Ninguém te convidou para entrar, Ethan.” E escuto a porta se fechar
de volta.
“Como sabe que sou eu?” Ethan pergunta através da porta fechada.
“Você é o único que não tem a decência de esperar.” Josh responde,
escorregando sua mão até parar de volta na minha cintura. Ele descansa a
cabeça no meu ombro. “Às vezes eu me arrependo profundamente de dar
tanta intimidade para esses três.” Seu resmungo é baixinho e somente para
mim antes que ele role para o lado da cama. “O que você quer?” A pergunta
é direcionada para Ethan.
“Queria saber se vão almoçar. Scott foi trabalhar e Nick recebeu uma
mensagem misteriosa e saiu.” Josh me olha e dou de ombros, percebendo
que estou com um pouco de fome.
“O que tem em mente?” Josh pergunta para Ethan. Me levanto da
cama para voltar para minhas roupas, sabendo que preciso ir embora logo.
Os olhinhos do baby boy se viram tristes para mim enquanto permanece
deitado. Ethan responde às opções que são; comida japonesa ou
hambúrguer. “Comida japonesa?” Ele pergunta e dou um aceno de cabeça.
“Pede comida japonesa, estamos descendo daqui um pouco.” Sua resposta é
alta o suficiente para que o outro escute e ouço os passos de Ethan
descendo a escada.
Desamarro a calça e a deixo cair nos meus pés. Separo meu body e
minha calça de ontem. Tiro o nó da camiseta e a puxo pela cabeça, e Josh
não me surpreende ao ficar paradinho deitado na cama, nas minhas costas.
Tão comportado e nem mesmo querendo me espiar só de calcinha na frente
dele.
Puxo o body pelas pernas e não demoro a estar completamente
vestida de novo. Organizo minhas coisas na bolsa grande e quando vê que
estou pronta pra descer, ele levanta, parecendo infeliz.
“Talvez possa ir amanhã para minha casa.” Sugiro e as palavras saem
estranhas para mim.
Tá aí uma oferta que nunca pensei em fazer para um cara. Nunquinha
mesmo. Nem mesmo senti a mínima vontade que isso acontecesse. Posso
contar nos dedos quantas pessoas, rapazes, além de Matteo, Mike e Oliver
estiveram na minha casa e isso contabiliza Josh somente, para a viagem do
Hamptons e quando me levou depois do baile beneficente.
“Parece uma boa ideia.” Ele fala e sei que está incomodado pelo Ethan
ter nos atrapalhado. Me aproximo dele e Josh não demora para abraçar
minha cintura. “Seu pai vai estar lá?” Sua pergunta sai pouco nervosos e dou
risada.
“Não.” Respondo deixando um beijo breve nos seus lábios antes de
me afastar. Ofereço a mão a ele, convidando-o para descermos. “Pode
relaxar quanto a isso amanhã. Nada de conhecer meu pai de surpresa.”
Essa foi provavelmente a interação mais estranha que já tive e apesar
de nunca ter sentido vontade em ter alguma proximidade desse nível com
alguém, parece ruim estar longe do toque de Josh. Como se eu desejasse
que ele me abraçasse sempre que desse ou colocasse a mão na minha
perna, ou qualquer coisa como passar o braço pela minha cadeira quando
nos sentamos minutos mais tarde para comer a barca que Ethan pediu.
Pela primeira vez na minha vida também, eu dividi a conta de alguma
coisa. Apesar de ter insistido em pagar sozinha, perdi a discussão para os
dois na frente do entregador.
Quando Vicent chega, perto das duas da tarde, passei tempo não o
suficiente com minhas pernas em cima das dele no sofá enquanto
debochávamos das poucas habilidades de Ethan no jogo de carro que ele
estava tentando quebrar o controle ao jogar. Ethan parecia curioso com a
situação, mas percebi que conteve as perguntas depois de um tempo
enquanto Josh passava os dedos para cima e para baixo nas minhas coxas.
Que apesar de ser um carinho fofo, estava me enviando sensações
que me fizeram querer subir para o quarto com ele mais uma vez,
preferencialmente trancado.
E quando ele me beija antes de abrir a porta, ouço a risada abafada de
Ethan no sofá, o que me faz sorrir porque estou deixando Josh sozinho com o
mais cruel dos interrogadores da casa. Mas feliz por todas as perguntas que
ele iria responder, porque isso significava que tínhamos firmado, quase
definitivamente, alguma coisa real.
 
 
 
 
“CUSTAVA ESPERAR MAIS UM DIAZINHO?” Ethan me ataca assim que
fecho a porta. Dou a ele um olhar feio, mas ele não se importa muito. “Sério,
o que custava esperar e me deixar cinquenta pratas mais rico?” Eu volto para
o sofá e ele continua. “E então? Estão juntos?”
Estamos? Porque eu não sei. Ficamos ontem à noite e realmente foi
difícil deixa-la ir embora hoje. E eu sei que sou um cara de relacionamentos,
mas Chelsea não é. Não sei se posso colocar qualquer rotulo nisso. Além do
mais, não posso evitar o medo de que seja só algo passageiro porque
imagino que eu e minhas experiências fulas vão a entediar rapidamente. Mas
Chels me chamou para ir na casa dela amanhã, isso supostamente significa
algo, não? Talvez que possamos finalmente terminar o que fomos
interrompidos duas vezes.
“Pergunta estúpida, claro que estão. Pareciam um casalzinho a
recém.” Ele diz como se fosse a coisa mais óbvia do mundo.
“Ok, vamos às perguntas mais fáceis tipo, acha que existe alguma
chance de eu ter a minha privacidade recuperada?” Pergunto e a porta se
abre.
Nick não parece muito melhor que hoje cedo, só mais bagunçado.
“Recuperar o quê?” Ele pergunta tirando os tênis em chutes.
“Josh está estressado porque atrapalhei alguma coisa e, ei, onde você
foi?” Não precisamos de muitas respostas já que além de estar mais
bagunçado, está também com a camiseta do avesso.
Ethan também nota e nenhum de nós consegue segurar o riso.
“É, ele sai de casa pra ter alguma privacidade.” Infernizo ainda mais
Ethan, dando um soco no braço dele que é o suficiente para que pare de rir.
“Meu dia não foi melhor que o seu, se isso te consola.” Nick parece
infeliz quando se joga no sofá. “Mas pode confirmar mesmo que não perdi
cem dólares?”
“Não sei, não pude arrancar a confirmação ainda.” Ethan fala e os dois
se viram para mim.
“Não podem sair por aí fazendo mais apostas sobre a minha vida,
precisam prometer isso. É constrangedor.” Começo. “Mas sim, Nick não
perdeu nem sequer uma moeda.” Preciso controlar antes que acabe sorrindo
igual um idiota lembrando de ontem à noite.
“Ficaremos sabendo o que foi o acidente do copo?” Ethan tenta imitar
a cena do gato de botas, com os olhinhos brilhando para mim, mas dou um
tapa na testa dele.
“Não mesmo.”
“Você não fez isso só por causa do que seja lá o que Sarah tenha te
falado né?” Nick está sério quando me pergunta. “Falei que sou seu amigo,
mas gosto mesmo da companhia da Chels.”
“Sério que está me fazendo essa pergunta, Nick?” Olho para Ethan,
buscando apoio que não recebo. “Claro que não!”
“E daí? O que aconteceu ontem?” Ele pergunta ainda sério.
“Primeiro com Sarah e depois com a loirinha.” Ethan completa, mas
sua frase poderia fazer pouco sentido, uma vez que as duas são loiras.
“Primeiro, eu vou morrer antes de falar sobre qualquer coisa que
aconteceu com a Chelsea para você.” Semicerro os olhos e ele sorri.
“Olha só, Nick, já está até ciumento. Completou nem vinte e quatro
horas de ficada.” Ethan me zomba.
“E Sarah disse o esperado.” Continuo. “Ela me traiu com Jackson
durante alguma brincadeira em uma reunião na casa do Henry, pouco antes
da formatura. E ao invés de me contar, preferiu terminar comigo no dia
seguinte da festa de formatura. Mas o pior, adivinhem?” Não deixo de fato
espaço para que eles respondam. “Ela achou que poderia resolver voltar
comigo algum tempo depois e seguirmos o planejado.”
“Ela deve achar que você é babaca mesmo.” Nick fala irritado e não
me deixo consumir de novo por aquele sentimento.
Já me magoei o suficiente por causa dela, estou mesmo decidido a
deixar isso passar. Mesmo que ainda me sinta muito mal toda vez que lembro
que isso é exatamente o que Sarah pensou que eu fosse.
“Honestamente, ela poderia ter facilmente feito isso se não fosse
nossa ajuda fazendo com que Josh se mudasse pra cá.” Ethan dá de ombros
e olho para ele incrédulo. “Que foi, Crawford? Você realmente fez algumas
besteiras por ela.” Ele se defende e nem mesmo tenho muito a dizer para me
defender.
Prefiro o silêncio a precisar mentir.
“Resumidamente foi isso.” Não que nossa conversa tenha sido de fato
muito extensa e eu fiquei imensamente grato por esse fato. Não estava com
muita vontade de conversar com ela, o que pode parecer estranho. “Estou…
bem, por isso ter acabado de vez.” Os dois me olham com atenção. “Tipo,
independente de qualquer coisa, não queria acabar encontrando um motivo
para voltar com ela, e sei que poderia encontrar. Agora não fico com vontade
nem mesmo de procurar um motivo.” Dou de ombros. “Não vejo mais ela
como a mesma pessoa de antes, ou ela é a mesma ainda e eu quem não
notava essas atitudes. Também me senti mal quando a gente se encontrou lá
no Hamptons, as coisas que ela me falou. Eu não sinto saudade do que a
gente tinha. Foi bom, mas acabou. Só me sinto mal por ter passado quatro
anos do lado da Sarah e hoje olhar para ela e não conseguir reconhecer mais
a pessoa que ela é. Acho que, depois de ter percebido que ela não é a
mesma pessoa que eu gostava tanto, foi mais fácil realmente deixar para
trás.”
Os dois seguem me olhando e engulo em seco, para continuar.
“Não que isso signifique que não tenha mais sentimentos. Quer dizer,
não sei se existe ou não, mas já não penso sobre isso do mesmo jeito. Ainda
me sinto chateado pelo fato dela ter conseguido seguir em frente logo depois
tão fácil, como se nosso relacionamento não tivesse sido grande coisa. Além
disso, ela me disse algumas coisas ontem que me fizeram pensar que,
mesmo deixando que ela me conhecesse tanto, ela ainda não me conhecia
de fato.” Franzo a testa, porque sei que isso ficou bastante confuso e Nick
toma a palavra para me ajudar.
“Entendo o que quer dizer. Você a deixou entrar muito e no fim, parece
que ela não conhecia você o suficiente para saber o que faria e o que não
faria. Como se sentiria a respeito de algo e como iria agir sobre isso.”
Concordo com a cabeça e Ethan olha para ele, provavelmente se
perguntando como Nick sabe como é aquele sentimento e penso o mesmo.
“Acho que agora… cada um para o seu lado, certo?” Pergunto um
pouco incerto, na verdade.
“Sim.” Eles respondem juntos. “Acredito que, independentemente de
ter Chelsea ou não, sua vida agora é outra aqui. Novas oportunidades.” Nick
repete a mesma coisa que Chelsea me disse ontem.
Um longo período de silêncio se acomoda na sala até que eu pergunte
o que tanto ronda minha cabeça.
“Acham que Chelsea pode, um dia, querer um relacionamento sério?”
Nick solta um riso abafado, como se eu tivesse dito a maior besteira do
mundo e sei que soou infantil.
“Ela parece disposta.” Ethan responde, pela primeira vez sendo a
pessoa séria em uma conversa.
“Disposta?”
“Ela parece não se incomodar com o fato.” Ele me responde.
“Mas não pressione sobre esse assunto.” Nick diz, contendo o riso.
“Chelsea não é como uma das garotas que conhecia em San Diego. Sei que
não preciso te dizer isso, mas ela não deve ser do tipo que sai por aí taxando
relacionamentos. Ela é uma mulher… certa sobre si. Se ela quiser algo, vai
vir pegar. Não foi assim?” Sua pergunta tem um fundo de curiosidade e os
olhos de Ethan também grudam em mim, até eu entender o que ele quer
dizer.
“Não.” Respondo para o choque dos meus amigos. “Ela não parecia
tão disposta assim a vir pegar. E essa conversa realmente está piorando
meus aspectos de confiança, sabiam?” Me levanto do sofá e vou até à
cozinha pegar água, preciso distrair minha mente desse pensamento.
“Mas não foi rejeitado, pense por esse lado.” Nick fala quando os dois
me seguem.
“Nem ontem, nem hoje.” Ethan acrescenta.
Solto um suspiro profundo e bebo minha água.
“Tá bem, acho que não quero mais ficar falando sobre esse assunto
com vocês, são péssimos em conselhos e motivações.”
E aproveitando que ela é a única coisa que consigo pensar, vou
acabar os detalhes da melhor pintura que já fiz nos últimos tempos enquanto
fico preso ao cheiro do perfume adocicado de Chelsea que preenche meu
quarto.
 
 
Na quinta-feira, estou arrumando as telas para que Vicent pegue mais
tarde quando Scott para na minha porta e fica me olhando. Coloco elas duas
a duas, já que além das três telas prontas para nosso trabalho, estou levando
também a de Chelsea que terminei. Uma tela de costas para a outra, antes
de cobri-las com um pano, para proteger a pintura.
“Quer ajuda?” Scott pergunta quando começo a levar duas lá para
baixo.
“Seria de bom uso. Pegue elas assim.” Explico para ele e Scott me
acompanha escada abaixo.
Deixo as telas no hall de entrada, encostadas pela ponta
cuidadosamente na parede antes de voltar para cima e pegar minha mochila
com algumas coisas para caso passe a noite na casa da Chelsea.
Posso estar me precipitando, eu sei, mas não consigo controlar
algumas atitudes, além do mais, sempre posso arrumar alguma desculpa.
Chelsea não é do tipo que explica as coisas com precisão e quando trocamos
mensagens mais cedo, ela somente confirmou seu convite mais uma vez e
avisou que pediria para o motorista me pegar.
Avisou.
Não posso dizer que acho muito ruim não precisar pagar pelo longo
trajeto até o bairro de luxo onde ela mora. Ethan e Nick estão no sofá,
estudando algumas partidas quando volto para sala.
“Vicent, o motorista da Chelsea, vai passar aqui daqui um tempo, umas
duas horas, para pegar isso aqui.” Falo para eles, apontando para as telas.
“Peçam pra ele colocar delicadamente no carro sem que acabe encostado
totalmente em nada. Desse jeito que está aqui.” Os dois acenam com a
cabeça, preocupados em acabar estragando minhas preciosidades.
“Vai para lá?” Nick pergunta.
“Sim, depois do trabalho. Aviso se não voltar pra casa.” Falo e ganho
mais dois acenos antes de ir até à porta.
Scott e eu saímos juntos, já que o turno dele começa no mesmo
horário que o meu, apesar de ele trabalhar em um restaurante chique nas
proximidades.
“Acha que consegue uma vaga para mim no turno da noite no café?”
Ele pergunta quando começamos a andar. “Vou ser dispensado na próxima
semana.” Scott fala com uma careta.
Sei que o emprego dele é melhor, e mais bem pago, que o meu. Um
restaurante chique, ele trabalha todos os dias, alternando entre servir durante
o almoço e jantar. Tem até um uniforme enquanto o máximo que eu coloco é
um avental.
“Posso perguntar sobre vagas hoje.”
“Fui conversar sobre conseguir meus turnos fixos à noite e ganhei um
grande pé. Com o começo das aulas, vai ficar difícil ajustar meus horários de
trabalho com as aulas sem acabar me atrasando.” Ele explica quando
viramos a rua.
“Acho que ouvi o pessoal lá do café falar sobre aquele bar, Charp. Eles
sempre procuram novos funcionários para o começo de setembro. Talvez
compense passar lá.” Levanto os ombros com a sugestão, mas o rosto de
Scott está com uma expressão estranha, sei que isso só pode significar uma
coisa. “O que aconteceu? É sobre sua mãe?” Ele puxa o canto da boca em
uma careta.
“Ela precisou voltar a fazer o tratamento. O orçamento está cada vez
mais apertado e não queria precisar voltar, ela também não quer que eu
volte. Os remédios estão mais caros e apesar de saber que em setembro vou
começar a receber a bolsa de novo, quando as aulas voltarem, ainda vou ter
os livros, que são caros pra cacete, e não gosto que Nick banque a gente.”
Acompanho sua careta, porque também odeio quando Nick
simplesmente finge que algumas das contas não apareceram. Sabemos que
ele e Ethan dividem algumas, mas ele paga a maioria dos gastos extras. Não
ligo se os pais dele são médicos renomados ou não, apesar de isso aliviar
muito para mim e para Scott.
“Sinto muito por ela, mas talvez seja melhor falar com os caras. A
gente pode pensar em alguma solução.” Sempre resolvemos os problemas
juntos, somos melhores amigos no fim das contas. “Mas vou ver o que posso
fazer por você, te mando qualquer vaga que achar.” Ele parece um pouco
mais contente com a segunda opção e me agradece antes de se despedir
para entrar na lateral do prédio do restaurante e eu seguir mais duas quadras
até o café.
 
 
Passo minhas três horas de trabalho atento a qualquer oportunidade
que posso, apesar de nada de novo aparecer. Pergunto para Alycia, que está
no turno comigo, e ela me indica outro café além das vagas do Charp. Envio
uma mensagem para Scott, com todas as vagas que consigo achar entre
cartazes no mural de avisos e as que Alycia me fala.
Mando também uma mensagem para Chelsea depois que termino de
limpar o balcão no fim do meu turno, pergunto se ela quer que eu leve
alguma coisa, mas não tenho resposta. Preparo um café só para mim e assim
que saio pelo balcão com o copo fumegante em mãos, noto que a SUV preta
já aguarda do lado de fora.
Vicente me espera atrás do volante e abro a porta do passageiro antes
que ele possa sair do carro. Me sento, colocando minha mochila no chão e
afivelando o cinto. Dou uma olhada no banco de trás, onde os quadros estão
e assim que volto os olhos para frente, ele me dá um cenho franzido.
“Tudo bem se eu sentar aqui na frente, certo?” Pergunto bebendo mais
um gole do meu café. Deveria ter pensado em fazer um para ele, apesar de
ser contra sua ética beber no volante. Vicent parece do tipo de cara super
certo.
“Tranquilo.” Ele responde, mas ainda demora mais alguns segundos
para sair com o carro. “Chelsea realmente conseguiu arrumar alguém
totalmente diferente dela.” Ele diz com um sorriso.
“O que quer dizer?”
“Não estou criticando nenhum dos dois, mas Chelsea tem suas
manias.” Vicent se explica. “Só não faça nada de errado, a Capri é uma
pessoa de ouro. Os dois, o pai e ela, são.”
“Trabalha há muito tempo com eles?” Pergunto curioso.
“Chelsea tinha sete, quase oito anos, quando comecei.” Vicent
começa. “Apesar de sempre entrar no carro furiosa depois das aulas, ou
quando eu ia buscar ela por causa de alguma intriga, ela sempre foi toda
sorrisos com todos os funcionários da casa. Acho que somos a família dela
de certo modo. Não todos os patrões são bons assim. Poderia dizer que isso
foi porque Cyrus não foi um pai presente, mas o patrão moveria o mundo pela
filha.” Percebo o carinho em seu tom de voz.
“Ela era mesmo tão encrenqueira assim?” Lembro das histórias sobre
destruir a roupa de algumas crianças no balé.
“Um pouco. Mas nunca entrou em nenhum problema grande. E ficou
mais tranquila depois dos doze. Daphne e Rebecca sempre foram um bom
porto para acalmá-la. O Matteo também. Chelsea sente muita falta dos
amigos.” Pelo jeito que ele fala, parece sentir falta também. “Mas estou feliz
que a senhorita Capri achou você. Todos já estão falando que são sérios.” Ele
admite e isso aguça minha curiosidade. Tento não parecer uma criança
ansiosa ao me arrumar no banco.
“Sérios?” Quero parecer indiferente, mas me vem outra pergunta que
faz ficar difícil disfarçar. “Todos?”
“Os funcionários da casa. Chelsea nunca levou ninguém para lá, e não
é a primeira vez que fazemos esse caminho juntos, Josh. Você deve ser
alguém especial na vida dela, independente da vaga que ocupa. Além disso,
não conte que fiz fofoca, mas ela dispensou todos os funcionários até
amanhã à noite, quando o patrão volta.”
“Prometo manter essa conversa entre nós se me contar mais sobre
Chelsea.” Proponho e Vicent ri dentro do veículo.
“Pelo menos são iguais nas barganhas ruins.” Entretanto, ele não diz
mais nada, só sorri ocasionalmente consigo mesmo até que o carro entre na
residência Capri.
Vicent me ajuda a levar as telas para dentro, e deixamos elas em uma
sala no extremo direito do salão de entrada. Uma sala de estar bem decorada
e sem tv, o que não consigo deixar de achar estranho, mas não é como se
não tivesse visto duas dessa na casa de Nick em San Diego.
Tomo algum tempo olhando ao redor. Quando passei pela casa na
última semana, estava tarde e não tive muito tempo para ficar observando. É
uma casa enorme, claro, bem decorada e até sem extremos luxos que
enfeiam qualquer lugar. Algo entre o rústico, clássico, e o sofisticado, com
janelas quadriculadas amplas, deixando a casa muito bem iluminada.
“Sabe onde Chels está?” Pergunto para Vicent quando ele está indo
em direção a saída.
“Última vez que a vi, antes de sair, estava no estúdio.” Ele aponta para
um corredor. “Siga reto e vire à esquerda, não vai ser difícil achar. Se ela
estiver lá, vai escutar a música.” Agradeço antes que ele comece a sair da
casa.
Deixo minha mochila no sofá e vou na direção onde Vicent indicou.
Não é mesmo difícil. Assim que dobro a esquerda, a melodia bonita que
parece um pouco triste chega até mim. Sigo até a porta do que Vicent
chamou de estúdio.
É um salão amplo, piso de madeira, com janelas enormes em uma
extremidade e as outras duas paredes estão cobertas de espelhos que vão
do teto ao chão. A única parede limpa, pelo que vejo no reflexo do espelho, é
a da porta. Mas ela está coberta de algumas fotos e certificados.
Quais são as chances de uma bailarina comum conseguir ter um
estúdio de dança equipado desse tamanho? Pelo jeito, a que rodopia na
minha frente, com a roupa de bailarina, saia de tule e tudo mais. Chelsea está
uma graça nesse rosa bailarina e parece alheia a minha chegada até que seu
giro a faz ficar de frente para o espelho e ela se desequilibra ao abrir os
olhos.
Não é nada mal para uma pessoa que machucou o pé há pouco mais
de dois anos.
Dou um passo para frente, querendo me aproximar para segura-la,
mas ela consegue permanecer de pé, se virando para mim. Chels caminha
até um canto da sala e desliga a música.
“Não queria te assustar.” Digo quando sua atenção retorna a mim.
“Nem percebi a hora passando.” Ela me responde com um sorriso. “E
não me assustou. Estou tentando voltar a usar essas maravilhas, mas mesmo
depois de todo o aquecimento, ainda não consegui fazer nenhuma série
perfeita em cima delas.” Chelsea se senta no banco encostado na parede e
começa a tirar as sapatilhas de ponta quadrada. “Costumo treinar com a que
não tem essa ponta.” Ela me explica e eu agradeço internamente pela
explicação.
Sou bastante leigo em balé.
“Ah.” Deixo escapar pelos meus lábios enquanto ando em sua direção.
Seus cabelos presos no rabo de cavalo descem quando ela abaixa a cabeça
para desamarrar as sapatilhas. “É bonito te ver dançar. Pelo que pude ver,
pelo menos.” O que não foi muito, infelizmente. “Nunca fui a uma
apresentação de balé.” Admito com um dar de ombros.
Mas a forma como Chelsea girou no chão e rodopiou em seus pés, os
movimentos com quanta graça, me fizeram quase desejar que tivesse tido
essa experiência.
“Prometo que da próxima vez fico um pouco mais, mas nem sei
quantas horas se passaram desde que eu desci.” Ela tira as duas sapatilhas,
deixando-as de canto e começa a tirar a faixa e a meia. Seus pés estão bem
vermelhos e quando me pega olhando, ela dá um sorriso de canto. “É normal,
é a segunda vez que volto as sapatilhas de ponta. Até me acostumar de novo
a usá-las de vez em quando, vão lastimar meus pés mais que o habitual.”
Chels levanta e mesmo que continue sorrindo para mim, vejo que está com
um pouco de dor.
“Você coloca gelo?” Pergunto preocupado.
“Mais tarde. Vai melhorar daqui um pouco, não seja tão preocupado
assim.” Ela anda até mim e abraça meu pescoço enquanto passo meus
braços na sua cintura.
“Atencioso, lembra?” A saia dela pinica meus braços e minha pele por
trás do tecido da minha camiseta.
“Sim. Atencioso, verdade.” Ela puxa meu rosto até o seu e me beija.
Não hesito em beijá-la de volta, porque a sensação da sua boca na minha é
incrível. Chelsea sorri contra os meus lábios quando percebe que estou
procurando alguma forma de abaixar sua saia e leva as mãos até a cintura,
fazendo um movimento para descê-la até os pés. “Melhor assim, não é?”
Concordo e deixo mais um beijo nos seus lábios.
“E então? O que faremos?” Pergunto quando ela pega seu celular no
banco antes de segurar minha mão na sua, me guiando para fora da sala.
“Ah, eu tenho uma surpresa pra você.” Digo descansando meu braço em
volta da sua cintura enquanto andamos. Seus passos são mais lentos e
cuidadosos que o normal e chuto que o motivo são esses sapatos de balé
assassinos.
“Uma surpresa?” Ela se vira empolgada, me dando um sorriso enorme
que poderia fazer qualquer humor mudar.
“Sim, um presente, na verdade.” E isso só aumenta seu sorriso quando
voltamos à sala. “Vem.” Chamo ela, guiando-a até o sofá.
“Podemos levar esses depois para o estúdio, assim ficam seguros. Ou
para o outro escritório.” Ela aponta para as telas cobertas. Solto sua mão e
caminho até as telas. “Podemos fazer isso depois.” Ela repete fazendo
biquinho. “Estou pensando sobre meu presente agora e um longo banho
depois. Estou definitivamente cansada de suar por hoje. A não ser que você
seja o motivo.” Chelsea me dá uma piscadela e não consigo evitar corar
apesar de compartilhar seus desejos. E também, apesar de falar isso e todo o
esforço no estúdio, ela não tem nada além de uma pequena camada fina de
suor cobrindo seu pescoço.
“Não seja tão ansiosa.” Zombo ela e procuro pelo quadro com sua
pintura.
Isso faz com que ela fique com o cenho franzido enquanto busco pela
certa que está debaixo do segundo pano que levanto. Quando finalmente
revelo a tela para ela, os olhos de Chelsea brilham no azul mais bonito que já
vi.
“Você me pintou?” Ela parece um pouco hesitante e emocionada.
Meu sorriso não poderia ter sido maior. A imagem dela, banhada pelo
pôr do sol, de frente pro mar e com aquela expressão de paz no rosto estaria
sempre presa a minha mente, assim como ela sentada com meus pincéis,
fazendo o que eu mais amo. A imagem dela dormindo nos meus braços
também compete. Ou quando inclina a cabeça um pouco para trás, com os
olhos enrugados, quando solta meu som favorito, da sua gargalhada. Ou
como ela estava incrivelmente linda naquele vestido vermelho. E tem a
imagem dela agora também, me olhando com os olhinhos brilhando,
parecendo uma criança que ganhou seu melhor presente.
“Você gostou?” Pergunto inseguro, apesar de sua expressão me dizer
tudo o que preciso saber.
“Eu amei. É lindo!” Ela se aproxima, com os olhos colados na pintura.
“É tão lindo, Josh.” Suas íris azuis me fitam com algo que interpreto como
gratidão e vejo alguns brilhos de lágrimas.
Estendo em sua direção e Chelsea segura a tela nas bordas,
parecendo com medo de estragar.
Preciso admitir que realmente é um dos meus melhores trabalhos, a
mistura dos tons de azul do mar com o dourado do sol e do cabelo dela,
deram um contraste bonito para a pintura. Sei que não cheguei nem à
metade da beleza que meus olhos tiveram naquele dia. Chelsea toma alguns
bons segundos para observar seu presente e eu tomo os meus para observa-
la, o que está virando um dos meus passatempos favoritos dos últimos
tempos.
Seu rosto desenhado, com maçãs altas levemente coradas ainda pelo
esforço feito no estúdio, a boca redonda, não tão carnuda, mas na pedida
perfeita para se encaixar na minha, num tom rosa profundo. Os olhos azuis
piscina, rodeados pelos cílios longos e grossos que chamam atenção apesar
de serem no mesmo tom loiro das sobrancelhas bem delineadas. Ela é
bonita, eu soube disso no momento que coloquei meus olhos nela há um
mês. Chelsea é a mulher mais linda que meus olhos viam em um bom tempo.
Com os contornos que ela faz com a maquiagem, o que a deixa com o ar
elegante que ela também carrega por si só, ou com o rosto lavado, cansada
depois de alguns passos de balé.
Eu podia amar Sarah o quanto fosse e ela também era uma menina
bonita, com o nariz arrebitado, olhos grandes em um verde profundo que
hipnotizava. Mas ela não era a pessoa mais bonita que eu conheci, nem
mesmo enquanto namorávamos, sempre fui apaixonado pela minha ex-
namorada e isso mudava qualquer que fosse meu olhar para outra pessoa
além dela. Além disso, a loirinha na minha frente tem algo além da beleza,
sua personalidade e presença faz ser difícil não virar o rosto para admirá-la
quando entra em um cômodo.
Chelsea coloca a tela delicadamente no chão apoiada no sofá e salta
para os meus braços, me surpreendendo. Ela salpica beijos por todo o meu
rosto e sorrio como um bobo enquanto a abraço.
“Esse é o presente mais lindo que já ganhei!” Ela fala sem fôlego,
quando termina seus beijos e me olha, abrindo um sorriso quase tão largo
quanto o meu. “É lindo mesmo, Josh, obrigada. Nem mesmo sei onde vou
colocar.” Chelsea se vira em meus braços, encostando as costas no meu
peito para olhar ao redor. “Definitivamente no meu quarto ou no estúdio. Ou
na sala de música!” E ainda temos uma sala de música? Abafo meu riso com
esse pensamento na curva do pescoço dela, deixando um beijo ali. “Preciso
mesmo de um banho, não é?” Ela diz se afastando.
“Não era exatamente o que passava pela minha cabeça.” Chelsea me
olha com um sorriso malicioso e não poderia ser mesmo mais diferente de
mim. Não que isso não tenha passado pela minha cabeça. “Vocês têm uma
sala de música?”
“Meu pai não aguentava trabalhar enquanto eu ainda só arranhava o
violino, então fez uma sala com bom isolamento acústico.” Ela levanta os
ombros e pega minha mão, para seguirmos nossa caminhada até o andar de
cima. “Vou pensar sobre essa belezinha mais tarde.” Ela aponta para a tela
com um sorriso e pega minha mochila no sofá. Suas passadas ainda são
cautelosas e não consigo evitar dar um olhar para os pés, ainda vermelhos,
dela.
“Tem certeza que isso vai melhorar?”
“Vai sim!” Ela me diz com um olhar, fechando o assunto.
Quando chegamos no pé da escada, passo um braço pelas costas
dela, me surpreendendo, mais uma vez, com a leveza do corpo de Chelsea
quando a puxo do chão nos meus braços. Ela ri quando que ajeito um braço
atrás dos seus joelhos e outro nas costas, mas não demora a colocar um
braço no meu pescoço enquanto o outro segura minha mochila contra seu
corpo fino.
“Demonstrações de que ainda está em forma, baby boy?” Ela debocha.
“Treino pelo menos duas vezes por semana ainda com os meninos. Eu
estou em forma.”
“Hm, vantagens de namorar um jogador de futebol?” As palavras saem
com tanta facilidade da sua boca que eu quase me engasgo sozinho quando
chegamos na metade dos lances. “Ok, retiro a palavra com n se essa for ser
sua reação.” Ela levanta brevemente os braços com uma careta e parece
uma criança falando palavra com n. “Mudando de assunto, pensei em
fazermos um risoto de camarão mais tarde e sei um vinho da adega que vai
combinar perfeitamente com isso.” Chels começa e uso a desculpa que estou
ocupado carregando-a para não precisar falar, mas estou mesmo pensando
se vou começar a ser apresentado assim ou se ela costuma usar o termo
namorado com facilidade. Afinal, estamos juntos há dois dias.
Pareço eu uma criança todas as vezes que me apego a esses
pequenos detalhes, mas, tecnicamente, posso ser comparado quase a um
adolescente de dezessete anos.
“Depois pensei que poderíamos… não sei, não planejei muito a partir
daí e o que tenho em mente definitivamente não é ser incomodada.” Apesar
disso, ela parece achar graça de como somos sortudos. “Talvez eu possa te
mostrar o isolamento acústico da sala de música.” E não posso evitar pensar
em como poderíamos fazer isso. Meu sangue sobe e Chelsea escova os
dedos na minha bochecha enquanto coloco ela no chão. “Olha quem não
estava pensando sobre música agora.” A loira parece se divertir com meu
constrangimento, como sempre.
“Foi o peso.” Me defendo, apesar de ela saber que não. Chelsea joga
minha mochila na sua cama, ser virando para me olhar em seguida.
“Vou tomar meu banho.” Ela anuncia, colocando as mãos na cintura.
Sem a saia e nessa peça única que cobre até dois dedos depois da
virilha, consigo ver todo o desenho do seu corpo, mas minha felicidade não
dura muito, porque ela logo some no banheiro e escuto a água correndo.
Chelsea volta logo depois, colocando alguns grampos no seu rabo de cavalo
e o transforando em um coque.
“Vou ficar um pouco na banheira, para relaxar os pés. Fique… a
vontade.” Ela franze o nariz ao dizer isso. “Ah, mas não abra a segunda
gaveta da mesa de cabeceira.” Ela aponta e eu concordo. Não que eu tivesse
pensado nisso antes, mas agora me soa algo totalmente curioso de se fazer,
apesar que invadir a privacidade dela não estar na minha lista de afazeres.
“Chelsea?” Chamo quando ela está prestes a entrar no banheiro de
volta.
“Sim?”
“Você nunca fez aquele convite de novo. Que deveria fazer quando
estivesse sóbria.” Grande jogada, Crawford. Por que raios eu disse isso?
Devo considerar sorte igualmente grande quando ela estende o braço
com um sorriso de canto incrivelmente sensual e eu pego a sua mão,
tentando não hesitar. Deixo meus tênis do lado da porta antes de entrar no
banheiro com ela. Chelsea desliga a água da banheira e coloca uma espuma
de banho enquanto eu sigo toscamente parado. Ela sorri quando se aproxima
de mim.
“Você precisa realmente pensar menos sobre algumas coisas.” Ela
coloca as mãos por baixo da minha camiseta e puxa para cima. Levanto
meus braços e logo o tecido está no chão do nosso lado. “Relaxa.” Ela deixa
um beijo rápido nos meus lábios antes de descer suas mãos por mim,
parando no botão da minha calça.
Sua reação sobre meu corpo é quase tão forte quanto a fresta de
nervosismo que sinto. Não me senti assim quando estávamos na minha casa,
parecia mais relaxado. Mas talvez não chegamos mais perto do que minhas
mãos quase tirarem a roupa dela, duas vezes. Quase.
“Não é virgem, certo?” Ela continua me olhando com um pingo de
divertimento nos seus olhos azuis enquanto desabotoa meu jeans e puxa o
zíper para baixo. Balanço a cabeça em negação. “Sabe que é sexo, certo?
Prazeroso, muito bom, e todas as coisas.” Ela coloca as mãos nas laterais e
desce minha calça no chão. Prazeroso, muito bom e todas as outras coisas.
Mas não estou tecnicamente acostumado a só sexo. “Além disso, achei que
fossemos só tomar um banho. Olha quem está novamente pensando em
outras coisas.” Ela sorri para mim, franzindo o nariz e deixando seus olhos
pequenos.
Acabo relaxando um pouco e deixo um beijo nos lábios dela.
“Pela sua preocupação...” Ela começa quando se afasta e se vira de
costas para mim, andando em direção a banheira. “...sei que não vai me
querer dar aquela massagem incrível nos pés.” Chelsea me olha por cima do
ombro antes de escorregar as alças daquilo que defini como body de
bailarina, conhecimentos não tão extensos sobre peças de roupas de
dançarinos, eu sei, e desce a peça pelo corpo. “Mas o que acha de uma
massagem nas costas?”
Minha boca fica seca, porque dessa vez posso encarar sem pudor e
desejar o corpo dela. E é exatamente isso que faço.
Suas costas têm algumas pintas pequenas, contei quatro, e sua pele
parece extremamente macia, e é, porque já corri meus dedos por ali algumas
vezes. Sua bunda é empinada, apesar de pequena, mas se encaixou
perfeitamente nas minhas mãos quando coloquei ali ontem. Sua pele é
branca, quase pálida, e ela provavelmente deve achar que precisa de algum
sol para bronzear, mas é tão bonita assim.
Chelsea se demora para entrar na banheira, de costas para mim e sei
que esse movimento é mais para mim do que para ela. Poderia facilmente
entrar em erupção só de vê-la nua. Me livro das minhas boxers, sentindo o
sangue pulsar cada vez mais nas veias do meu pau antes de me aproximar
da banheira.
Seu corpo está coberto pela água e uma fina camada de espuma.
Entro atrás dela, no espaço em suas costas que Chelsea deixou para mim e
quando sento, apoiando minhas costas na banheira e ela aproxima a bunda,
quase encostando as costas em mim, sei que vai ser impossível controlar
qualquer sentimento.
 
 
Minhas pernas estão por fora das dela e Chelsea passa seus dedos
para cima e para baixo nas minhas coxas, fazendo difícil meu trabalho de
conter minha ereção. Ela não parece muito incomodada com o fato do meu
pau cutucar suas costas um pouco e apesar de querer uma distração, o
melhor que faço é escorrer a água com espuma pelos seus ombros e
estamos assim há um tempo.
Beijo seu pescoço exposto e ela solta um suspiro baixo. Passo minhas
mãos pelos seus braços antes de voltar aos ombros e começar a massagem
que ela pediu.
Descobri que isso virou algo relaxante para mim, Chels sempre fecha
os olhos por alguns segundos quando começo a massageá-la, apreciando a
sensação e esse movimento me fez adorar fazer massagens nela. Ficamos
nisso por algum tempo até que eu comece a descer mais minhas mãos nas
suas costas, distribuindo um beijou e outro no seu pescoço e ombros.
“O que tem na segunda gaveta?” Pergunto curioso, deixando meus
dedos da mão esquerda contornarem sua cintura e subir pela barriga lisa de
Chelsea.
“Tentando a tática de me distrair para conseguir informações?” Ela
pergunta e eu subo mais. Seus lábios entreabertos deixam escapar um
suspiro quando traço o contorno de baixo dos seus seios.
Sua pele é incrivelmente macia e o toque por baixo da água me faz
conter um suspiro, porque quero poder me deliciar com seu corpo nu na
minha frente, sem barreira alguma.
“Talvez eu precise um pouco mais para me convencer.” Chelsea
provoca e eu levo meu polegar até seu mamilo, enrijecido e provavelmente
não é pela água morna.
Brinco com o polegar e o indicador e ela encosta a cabeça no meu
ombro brevemente. Tirando coragem de todo meu corpo, alterno para o outro
seio e levo a outra mão até sua perna, acariciando sua coxa. Observar seu
rosto enquanto ela fecha os olhos e morde o lábio inferior é ainda mais
sensual do que eu pensei que isso pudesse ser. Seus seios cabem tão bem
na minha mão que eu poderia passar muito tempo ali.
Não consigo deixar de não ansiar por saber a cor dos seus mamilos
quando passo o dorso do indicador de um lado ao outro, provocando até eu
escutar sua boca entreaberta soltar um som quase sem fôlego.
“E agora?” Pergunto antes de levar minha boca até seu pescoço
mordiscando e chupando sua pele, que logo fica avermelhada pelo contato
com minha boca e barba não bem aparada.
Aperto a parte interna da sua coxa, incentivando-a.
“Ainda não convencida o suficiente.” Chelsea quase me faz rir contra a
sua pele.
“Talvez devêssemos mudar de assunto.” Sussurro no seu ouvido e
coloco ambas as mãos comportadamente em sua cintura. Ela bufa em
frustração.
“E se eu prometer que te conto mais tarde.” Ela inclina o pescoço para
me olhar e é quase impossível dizer não para ela, ainda mais quando ela se
esfrega levemente em mim e me deixa ainda mais duro.
Chelsea é impossível, eu nem mesmo estou tão curioso a respeito do
que tem dentro da tal gaveta, mas brincar dessa forma com ela, provocando,
é mais gostoso do que pensei. Ainda que todas minhas inseguranças estejam
presentes, não preciso fazer muito esforço para querer seguir nisso, nessa
provocação deliciosa com ela enquanto seu corpo se esfrega contra o meu e
eu passo as minhas mãos sem pressa pela sua pele delicada.
“Posso pensar sobre essa possibilidade.”
“Deixo você me perguntar qualquer coisa, qualquer coisinha mesmo.
Além disso, claro. Nem é nada tão importante.” Chelsea está toda manhosa,
quase parecendo implorar, e eu começo a desenhar círculos com o polegar
logo acima do seu umbigo.
“Minha mente não está funcionando com cem por cento da capacidade
curiosa no momento.” E não está mesmo, nem com dez por cento. Só
consigo pensar em como meu corpo está totalmente consciente do dela.
“Céus, você pode matar uma mulher.” Ela aperta minhas coxas e sinto
suas unhas quase gravando na minha pele. Isso é melhor do que poderia
imaginar e meu pau pulsa tanto com a proximidade que acredito que irei
explodir de desejo a qualquer momento. “Nunca desejei ser mais interessante
como estou desejando agora.” Chelsea resmunga.
“Só para constar, você é muito interessante.” Falo voltando a passar o
polegar pelos seios dela. “Você canta?” Meu indicador e médio passam pelo
seu abdômen e param embaixo do seu umbigo quando me surge a pergunta.
Porque sei que ela toca várias coisas.
“Não para alguém ouvir. Meu pai foi o único.” Ela responde e desço um
pouco mais, sentindo sua pele macia.
“Por quê?” Meu indicador encontra o começo da sua fenda e ela geme
abafado.
“Não gosto da minha voz.” Chelsea se mexe e sei que está tentando
fazer com que meus dedos desçam mais e eu obedeço.
Passo o dedo por ela, abrindo-a um pouco mais e ela descansa as
pernas em cima das minhas para me ajudar, se abrindo ainda mais para mim.
Isso é bom, essa proximidade, sua falta de vergonha para o momento que faz
com que eu me sinta mais desinibido. A forma como ela responde aos meus
toques, suprimindo pequenos gemidos ansiosos.
“Eu gosto mesmo do som da sua voz. Qualquer som que você faça, na
verdade.” Belisco seu mamilo e ela se contrai em um gemido. “Por que não
dirige?” Continuo as perguntas. Descanso meu polegar em seu clitóris,
esperando sua resposta.
“Nunca senti a necessidade…” Sua voz sai entrecortada pelo prazer e
é delicioso a ver perdendo o tom.
Círculo seu ponto mais sensível com suavidade até que seus
movimentos comecem a querer encontrar com os meus e eu aplique um
pouco de pressão, ganhando uma arfada com isso.
“Sempre tive motoristas e medo de acabar fazendo alguma burrada.”
Ela termina sua resposta e eu continuo os movimentos.
Chelsea comprimi os lábios quando coloco meu indicador na sua
entrada. Aperto seu seio contra minha palma e ela se contrai contra mim.
“Por que ficou receosa para me contar sobre sua reunião misteriosa de
ontem?” Me demoro um pouco mais provocando sua entrada antes de
colocar um dedo dentro dela e ouvir Chelsea gemer.
“Não podemos mesmo falar sobre isso depois?” Sua voz sai em um
resmungo cortado com gemidos enquanto movimento meu dedo dentro dela
vagarosamente, descendo minha outra mão pelo seu corpo para seguir
tocando seu clitóris.
“Não, pensei que pudesse perguntar qualquer coisa.” Coloco outro
dedo nela e suas paredes se contraem ao meu redor quando ela arfa em um
meio gemido e fecha os olhos. Suas mãos se agarram tão forte nas minhas
pernas e vê-la ir perdendo o controle faz com que eu me sinta inchado e
latejante demais. Seu quadril de movimenta para acompanhar o lento vai e
vem que faço com os dedos
“Céus…” Ela sussurra. Aperto seu corpo mais contra o meu, querendo
que ela sinta todo meu pau ereto contra suas costas. Beijo seu pescoço,
deixando meus dentes arranharem levemente sua pele e ela se inclina, me
dando mais espaço para isso também. “Fui até meu antigo estúdio de balé.
Pensei que poderia… porra…”
“Que poderia…?”
“Você realmente sabe como fazer isso, porra.” Suas unhas cravam em
minha coxa quando seu quadril começa a se movimentar mais frenético,
querendo acelerar as coisas.
Apesar de estar realmente adorando dar prazer para ela, ver seus
olhos se fechando com força e os gemidos escaparem pelos seus lábios, não
deixo de sentir minhas orelhas esquentarem com aquele elogio. Nunca
pensei que fosse bom assim nisso. Tento não me perder na minha vergonha,
continuando os movimentos com meus dedos dela e voltando a dar atenção
aos seus seios.
Ela geme em frustração antes que eu segure seu mamilo entre os
dedos e Chelsea se contraia em um som de prazer.
“Que poderia...?” Repito, porque a conversa me cria uma boa distração
também, além de ser bom manter essa pequena brincadeira.
Sempre gostei de fazer algumas coisas mais… ousadas, talvez por
isso todo e qualquer jogo de sedução e palavras maliciosas que Chelsea me
diz, me deixam tanto excitado como envergonhado. Nunca tive uma banheira,
mas sexo em uma sempre foi parte de uma pequena lista de desejos
reprimidos e ver Chels se contorcer gemendo enquanto aumento as
estocadas dos meus dedos nela, realiza com sucesso esse item.
Na verdade, acho que cada nova coisa que descubro ao seu lado se
torna a coisa mais sensual que já vi e tive. Porque Chelsea é incrivelmente
sensual só existindo, mas gemendo por minha causa, e meu nome, faz tudo
parecer ainda melhor.
“Que poderia começar a… dar algumas aulas… você me deixou
pensando que poderia… caramba… fazer várias coisas… Josh.” O som do
meu nome nos seus lábios em uma leve arfada enquanto seus dedos cravam
em minha coxa é delicioso. “Ela me disse que posso… auxiliar com as
crianças… três… três vezes na semana.” Coloco um pouco de pressão do
meu polegar em seu clitóris quando suas paredes começam a se apertar
cada vez mais em torno dos meus dedos e sua cabeça cai em meu ombro.
Seus olhos se fecham enquanto ela arfa cada vez mais, perdendo as
palavras no meio do caminho. Chelsea morde o lábio quando finalmente faço
ela chegar em seu estupor de prazer antes de deixar um gemido satisfeito
sair pela sua boca. É perfeito, o som baixinho, sua mão que aperta meu
braço no meio das suas pernas quando ela chega ao seu clímax, seus olhos
pressionados enquanto ela se entrega ao prazer. Mantenho movimentando
minha mão nela, deliciado pelos seus leves espasmos até que seu corpo
passe a relaxar e amolecer contra mim.
Quando seu aperto em mim cessa, deixo mais alguns círculos em seu
clitóris antes de tirar meus dedos de dentro dela. Beijo sua clavícula e faço o
caminho até o pescoço enquanto abraço sua cintura e espero Chelsea
recuperar a respiração.
“Isso foi…” Ela começa.
“Acho que ainda prefiro que não me classifique.” Completo, apesar de
estar desejando saber se isso foi bom.
Porque no momento que a pele ofegante do rosto dela volta a tomar os
tons pálidos, volto a me sentir inseguro sobre transar com ela, porque ela
supostamente é um pouco selvagem e incansável e eu devo ser um cara na
média. Odeio mesmo sempre voltar a esse pensamento.
“Você tá pensando demais de novo.” Ela diz se virando o máximo que
consegue para mim. “Porra Josh, isso foi mais do que bom. Foi maravilhoso.”
Chelsea diz entre algumas arfadas. Me atenho a isso quando me inclino e
beijo seus lábios de forma urgente, querendo aproveitar qualquer pedaço que
ela esteja disposta a me dar, mesmo temendo ter um prazo de validade.
Me seguro nas palavras dela mais cedo, quando o termo namorado
saiu tão facilmente pelos seus lábios. Quando ela se afasta com um sorriso
travesso nos lábios, sussurrando em meu ouvido que isso foi mesmo incrível,
antes de começar a me beijar de novo, me agarro também nessas palavras.
 
 
 
 

 
TOTALMENTE INCRÍVEL. Não que eu estivesse esperando algo diferente ou
tivesse pensado em fazer alguma medição. Mas a forma como meu corpo
ansiava tanto pelo toque dele, foi totalmente novo e muito excitante. As
pequenas provocações me fizeram escapar sons de urgência e ter Josh no
comando foi diferente. Ousado e muito bom.
Incrivelmente excitante a ponto de me deixar facilmente saciada. Não
tão facilmente, mas me sinto quase exaurida ainda pelo meu estupor recente.
Mesmo que seu beijo continue me fazendo aquecer e desejar por mais, meu
corpo me trai quando percebo a água fria que leva uma pequena onda de
arrepio pelos meus braços. Seus dedos passam tão carinhosamente pela
minha pele antes dele afasta sua boca da minha.
“Talvez devêssemos sair. A água esfriou.” Ele me abraça contra si
quando puxa nossos corpos de pé e sua ereção ainda bate grossa e dura no
meu estômago, me fazendo ficar tentada a abaixar os olhos e espiar seu
comprimento que parece bem acima da média comum.
Faço isso quando ele me ajuda a sair da banheira, porque meu corpo
também acaba incendiado pelo seu olhar antes que ele pegue as toalhas.
Grande, maior que a maioria, grosso e bastante ereto. Quero retribuir o favor
rapidamente, ainda que ele não pareça querer exigir isso.
Sua bunda, virada para mim agora, também não é nada mal, apesar
de ter tido um bom gosto disso ontem. Josh tem definitivamente um corpo
esculpido pelos deuses dos jogadores de futebol. Mal posso esperar para tê-
lo inteiro para mim.
Ele me abraça com a toalha depois de amarrar uma na cintura. Não
parecendo muito incomodado com a ideia de que não recebeu nada em
troca, embora eu possa resolver isso em poucos segundos ao empurrá-lo na
cama. Mas seu olhar e sorriso, aquele mesmo gentil de sempre, que me
derrete, me dizem muito quando ele beija meus lábios com um carinho que
não estou acostumada.
“Espero que saiba fazer um risoto de camarão tão bom quanto o de
Nick.” Ele fala contra os meus lábios e eu sorrio contra os dele.
“Se for comparar minha comida com a dele, posso cogitar pedir algo
por telefone.” Me afasto um pouco para olhar seu rosto e ele finge pensar um
pouco.
“Não, acho que prefiro novas experiências.” Mais um beijo estalado é
colocado contra minha boca antes que ele nos conduza em um abraço para
fora do banheiro.
“Precisa esvaziar a banheira.” Lembro e ele me solta.
Faço o caminho até o closet e quando saio de lá vestida em um
vestido de verão azul, encontro ele sentado na minha cama com o celular em
mãos em uma bermuda jeans e camiseta.
“Algo errado?” Pergunto ao me aproximar da cama e notar seu
semblante sério.
“Não, só meus pais.” Ele guarda o celular no bolso e apesar da
curiosidade me atinar, deixo passar. Seus braços me puxam e ele beija minha
cintura pelo tecido do vestido antes de se levantar, já sorrindo para mim mais
uma vez.
Se ele quisesse falar, falaria, não?
Descemos para a cozinha e não consigo evitar de olhar novamente
para o meu mais lindo presente na sala. Estou cogitando mesmo colocar no
estúdio, ficaria bonito e ganharia destaque, apesar de ser um lugar onde só
eu poderia ficar admirando por horas os traços bem feitos de Josh na tela.
Vou até à adega ao lado da cozinha e pego um dos meus vinhos favoritos.
Ele já se ocupou em organizar a bancada e está cortando alguns temperos
que deixei separado mais cedo.
Seu rosto continua sério enquanto passa a faca nos alimentos. Sirvo
duas taças, colocando uma ao seu lado e nem mesmo recebo um olhar.
Franzo a testa sozinha enquanto lavo as mãos, pensando no que posso ter
falado de errado, mas nada me vem à mente. Apesar de eu nunca conseguir
enxergar com facilidade meus erros de qualquer forma. Lavo os camarões já
descascados e começamos um trabalho silencioso demais.
Acabo ficando inquieta e esvazio minha taça de vinho com mais
rapidez que normal, tentando ocupar minha boca com alguma coisa. Não
falar não é muito minha praia, apesar de sempre acabar em algum assunto
fulo.
“Você tá pensando demais.” Josh fala quando lava as mãos depois de
terminar de picar as coisas e estou preparando para começar o arroz.
“Está tudo bem?” Pergunto mexendo a panela, ele me serve de mais
vinho e bebe um gole minúsculo da sua taça. “Se não gostar, tem outras
coisas.”
“Só não estou acostumado, mas é delicioso.” Ele deixa a taça na
bancada e abraça minha cintura enquanto sigo cozinhando. “Está tudo bem,
por que não estaria?” Honestamente, não sei porque, mas me vem pelo
menos uns cinco motivos diferentes pelos quais as coisas poderiam não estar
bem e essa pequena agonia de decidir um só deve ter ficado evidente porque
Josh ri levemente contra a minha nuca. “O que tá se passando na sua
cabecinha?” Ele beija minha cabeça e começando a lidar com os camarões
no tempero.
“Eu não sei, você parece estranho e eu não sei o quão ruim isso
significa ou se aconteceu outra coisa para que simplesmente tenha mudado.
Foi algo que aconteceu lá em cima, ou algo que disse, ou não tem nada a ver
com isso?” Pego a água e despejo na panela, indo pegar uma frigideira. “Eu
sou péssima em adivinhação então se tem alguma coisa errada ou te
incomodando, precisa me falar. Não sou do tipo namorada.” Ele faz uma
careta rápida, provavelmente nem notando. “Esse é o problema?”
Ele fica em silêncio e quase bufo de frustração enquanto começo a
fritar os camarões. Tento respirar fundo, porque não preciso de um chilique
mimado agora para piorar ainda mais a situação e foco em organizar nosso
jantar. Aprendi com o pouco tempo ao lado do Josh que é necessário dar a
ele tempo o suficiente para formular o que quer me dizer, apesar de isso me
dar nos nervos já que gosto das coisas imediatas.
“Você está estressada.” Ele aponta, encostando no balcão do meu
lado e me olhando com cautela.
“Só quero que fale comigo, porque você está incomodado com algo, e
eu não consigo entender o porquê. E se não me falar, fico pensando…”
Várias coisas, como, por exemplo, que ele está arrependido e quer ir embora,
mas é gentil demais para me deixar aqui sozinha.
“É só que… Céus, estou me sentindo como uma criança agora.” Ele
sorri nervoso e eu estendo minha mão, descansando-a no peito dele e sua
mão sobrepõe a minha. “Você é… experiente. E fico pensando… não sou
bem o cara mais experiente do mundo.” Um sorriso desponta dos meus
lábios.
“Esse é o problema? Você parecia suficientemente experiente lá em
cima.” Apesar de preferir me deliciar com a lembrança, preciso não queimar
nosso jantar. As bochechas de Josh coram e ele fica ainda mais fofo. “Não
deveria ficar se importando com isso.” Ele me ajuda a temperar o camarão na
frigideira e eu continuo. “Se formos pensar assim, não sou experiente nisso
de estar com alguém e você tem uma carga extensa.”
“É, mas você não faz o tipo insegura.”
“Você me faz sentir um pouco insegura quanto a isso.” Admito para ele
com um dar de ombros.
“Por quê?” A ideia parece de outro mundo pela expressão chocada
dele.
Deixo as panelas cozinhando nosso jantar em fogo baixo e subo na
ilha, sentando enquanto Josh se coloca entre as minhas pernas. Bebo um
pouco de vinho, talvez esperando tomar um pouco de coragem.
“Honestamente, não sei. Odeio comparações e sinto que você vai
acabar me comparando com Sarah o tempo inteiro e eu provavelmente não
sou a melhor nisso. Isso me deixa um pouco…” Faço uma careta. “Insegura.”
Josh sorri e beija a ponta do meu nariz e esses momentos cobertos de
ternura derretem algo bem sólido dentro de mim. “Agora eu fiquei parecendo
uma criança.” Falando isso, me dou conta de uma coisa. “Deus, eu sou quase
dez anos mais velha que a Sarah.”
“Precisamos mesmo parar de ficar falando sobre a Sarah ou voltarmos
para esse assunto de diferença de idade.” Suas mãos seguram minhas coxas
nuas e me puxam até que eu enrole minhas pernas ao seu redor. “E eu não
acho que possa ficar comparando. Vocês são bem diferentes. São épocas
diferentes da minha vida. Além disso, passei quatro anos com ela, ainda
estamos completando o terceiro dia.” Ele levanta os ombros e desvia os olhos
de mim. “Você provavelmente vai se cansar cedo de mim.”
“Nos conhecemos há um mês.” Dou um tapa no ombro dele. “E isso
deveria contar, nunca tinha deixado alguém chegar tão perto.”
Ficamos em um silêncio e peço para Josh se virar para desligar a
panela do arroz, retirando a tampa.
“Não acho que vou me cansar de você.” Apesar da minha confissão,
seus olhos ainda me fitam com dúvida. “É verdade, você é cheio dessas suas
coisas e pedacinhos de você que me deixa descobrir aos poucos. Não acho
que vou me cansar disso. Você sempre fez eu me sentir… diferente.” Seu
sorriso se alarga quando ele dá um aceno de cabeça e fico agradecida por
não perguntar muito sobre a forma como me sinto com ele, porque ainda não
sei bem definir.
“Nunca nem mesmo teve um… rolo? Alguém que gostava, nem
mesmo quando mais nova?”
“Não, nada mesmo. O máximo é um amigo…” Como definir Parker
para Josh? “Amigo de foda.” Sei que não são as melhores palavras e a forma
como Josh torce o nariz me diz muito sobre o assunto. “Mas faz um tempo
desde que vi ele. Não é de Nova York, então saiu de férias agora no verão.”
“Quando foi a última vez que esteve com alguém?” Começo a pensar e
isso faz com que eu mesma me impressione com o fato.
“Um dia antes do seu aniversário. Nossa, esse foi o tempo mais longo
que passei sem sexo desde… desde muito tempo.” Não consigo mesmo me
lembrar. Isso completa três semanas já e no máximo acabava ocupada
durante uma semana inteira com algum projeto ou evento para aproveitar o
final de semana devidamente.
“Sério mesmo?” Ele arqueia uma sobrancelha e eu desço da bancada
para desligar a frigideira. “Nunca passou tanto tempo assim sem sexo?”
“Ah, olha quem fala. Depois que você e Sarah transaram, duvido que
passassem muito tempo longe um do outro. E outra, nem um mês depois que
terminaram, estava bastante soltinho em Nova York. Menos de um mês
depois disso, aqui está você, e eu espero não demorar muito para provar
desse seu jeito soltinho em Nova York.” Me divirto ao provar meu ponto para
ele, que faz uma careta.
“É, isso é verdade.” Josh me ajuda a misturar e finalizar nosso risoto
na travessa. Terminamos nosso trabalho em silêncio e coloco a mesa de
jantar.
 
 
Mantemos uma conversa tranquila enquanto comemos e quase
terminamos com a garrafa de vinho quando finalizamos com a louça. Depois
que perguntei sobre seus tempos de jogador, Josh pareceu encantado me
contando sobre os campeonatos que disputou e como ele, Ethan e Scott
eram o trio de ataque perfeito em campo.
Meus conhecimentos do esporte são mais elevados do que para as
demais competições, apesar de nunca ter torcido ou acompanhado a liga
nacional. Gostava de me vestir para torcer pelos meninos sempre que
jogavam, Becks até tentava, mas não era também uma das melhores com
futebol americano, porém definitivamente conhecíamos mais que Daphne.
“Vencemos o campeonato estadual com uma campanha larga no meu
último ano. Por isso choveu olheiros. Recebemos propostas antes mesmo de
levantarmos a taça.” Ele conta quando subimos as escadas de volta. Seguro
meu pote com jujubas e confetes no braço e minha taça cheia de vinho nas
mãos. Josh traz uma garrafa de água que leva aos lábios.
“Você se arrepende?” Pergunto quando chegamos de volta ao meu
quarto. “De ter… desistido do seu plano inicial?”
“Não. Quer dizer, me sinto mal toda vez que penso sobre o assunto e
como estou teoricamente atrasado, mas foi uma escolha que fiz e fiz essa
escolha bem feliz.” Deito na cama, apoiando a taça na mesa de cabeceira.
“Minha mãe sempre falou que precisamos arcar com nossas escolhas,
porque, influenciados ou não, não vamos ter como mudar. Podemos mudar
depois, mas isso não desfaz o que aconteceu. Conviver tranquilamente com
as suas escolhas faz com que sinta menos arrependimento daquilo que não
pode mudar. O máximo que pode fazer é procurar uma boa forma de se
redimir.” Ele deita ao meu lado e me puxa para seus braços.
“Sua mãe é bem esperta. Compensa bem mais pensar assim mesmo.”
Me aconchego nele, colocando o pote de doces de lado. “Não costumo me
arrepender das coisas que eu faço, por isso pedir desculpas é algo que é
difícil de conseguir de mim.” Josh assente, plantando um beijo no topo da
minha cabeça. “Depois que minha mãe foi embora, eu me dividia entre
procurar por encrencas, chegar em casa e me desculpar com meu pai. Às
vezes até mesmo por coisas bobas. Talvez eu ficasse pensando que esse
comportamento era a justificativa da minha mãe. Ele sempre dizia que essa
era quem eu era, e que ele me amava assim, então eu não precisava pedir
desculpas por ter rasgado a saia da menina que implicou com a Daphne, ou
por falar coisas feias para quem falasse coisas feias para mim primeiro. Ele
falava que isso era malvado, mas que ele ficava feliz em saber que eu sabia
me proteger de quem era malvado comigo ou com meus amigos. Não que
isso deveria ser motivo para que eu me tornasse uma pessoa malvada.”
Conto para ele.
“Você era realmente encrenqueira assim?” Ele sorri.
“Um pouco. Ainda sou, mas estou sob controle.” Brinco de volta. “Acho
que só parei de me importar tanto, na verdade. No começo foi mais difícil e
depois de crescer, li a respeito das teorias horríveis que fizeram. Algumas
colocavam meu pai como um homem ruim. Aprendi a conviver e parei de me
importar. Eventualmente, perde a graça para os outros comentarem sobre o
assunto. Hoje, antes de você, não lembro há quanto tempo alguém não
perguntava sobre a minha mãe. Não que tenha perguntado, mas o tópico
acabou entrando no assunto.”
“Desculpa.” Seus lábios são uma linha reta e séria e eu planto um beijo
suave ali.
“Na verdade, está tudo bem.” Ele acaricia gentilmente meus braços.
“Foi estranho, porque eu tinha esse sentimento, de querer contar para você,
querer que você soubesse sobre esse fato da minha vida. Nunca tive isso
antes.” Era como se eu precisasse que Josh fizesse parte da minha vida a
ponto de eu ter coragem de compartilhar isso, e eu estou feliz em ter falado
sobre esse assunto com ele.
É um sentimento de paz, como se meu coração e mente estivessem
em calmaria constante ainda que meu corpo se acendesse toda vez que ele
está por perto e que minha pulsação acelerasse com seu toque. Era um
pouco avassalador, apesar de ser bom. E não consigo evitar o pensamento
de que esse sentimento é esmagador e tenho medo que acabe me deixando
arrasada a qualquer momento. Nunca me deixei levar pelos sentimentos
assim, mas, honestamente, nunca tive sentimentos de forma tão expansiva
como os que tenho por ele.
“Obrigado por me contar isso.” Josh fala depois de um tempo. “Por me
contar tudo, na verdade. Me disse que não é do tipo que compartilha muito
sobre quem você realmente é, ou sobre coisas pessoais.”
“Algumas pessoas realmente fazem valer a pena.” Levanto os ombros
antes de me virar no abraço dele, quase deitada em cima do seu corpo forte,
para admirar seu rosto um pouquinho.
Talvez seja a forma como seus olhos sempre parecem tão bons
comigo, ou como sua boca levanta o canto direito involuntariamente quando
ele me olha sempre. Faz com que não haja sentimento melhor do que estar
em seus braços.
“Estou feliz em saber que faço parte desse grupo seleto.” Ele sussurra
aproximando sua boca da minha e me puxando até que eu fique totalmente
em cima do seu corpo.
Seus beijos aquecem minha pele e o que eles não fazem por inteiro,
suas mãos tomam para si o trabalho ao passearem comportadas pelo meu
corpo. Apoio os joelhos nas laterais do seu corpo, me sentando em cima
dele.
Josh coloca a mão nos meus cabelos, soltos mais cedo depois do
banho, e puxa levemente até sua boca se desfazer da minha e ele comece
beijar, lamber e mordiscar meu pescoço, eu nem hesito ao lhe abrir espaço
para isso. Minha pele se arrepia e arqueio um pouco meu corpo enquanto
sua boca explora minha pele tão sensível. Quando seus olhos me observam,
vejo claramente o desejo ali e sei que devo refletir aquele olhar. Sua outra
mão trabalha apertando minha coxa, subindo meu vestido solto até firmar os
dedos na minha bunda.
Puxo sua camisa e Josh se afasta só a tempo de eu passar a peça
pela sua cabeça. Trago seus lábios para os meus com mais urgência, desço
minha boca para o seu pescoço e continuo o caminho, fitando-o enquanto me
abaixo beijando seu corpo. Seu abdômen se contraí com o contato, vejo os
pelos bem finos de arrepiando pelo caminho enquanto meus lábios exploram
a pele depilada um pouco áspera.
Ele tem tudo o que eu poderia desejar na questão física, não há
exagero em seus músculos, sua beleza me faz ficar um pouco perdida às
vezes e Josh, com seus olhos fofos, consegue ficar ainda mais delicioso do
que eu pensei que fosse possível.
Aproveito a abertura para fazer algo que desejo desde o primeiro dia
que o vi sem camisa e passo minha língua por todos os seis gomos bem
definidos do seu abdômen, recebendo um gemido em retribuição. Arrasto
meus dedos por ali, traçando sua pele com a ponta das unhas enquanto
continuo descendo. A respiração dele fica descompensada e trabalho com as
mãos para me livrar da sua bermuda antes de chegar na cintura com a boca.
Sua boxer preta já está esticada pela sua ereção, e apesar de não ser
minha coisa favorita do sexo, quase salivo de pensar em tê-lo em minha
boca. Nunca fui de gostar de fazer boquetes, recebê-los é infinitamente
melhor, mas desde hoje cedo só consegui pensar em como desejava chupar
todo o seu comprimento, sentir seu gosto contra minha língua, experimentar
seu tamanho com meus lábios.
Toco ele por cima do tecido e escuto uma arfada, sua cabeça está
inclinada para trás antes que seus olhos voltem a focar em mim. Beijo mais
alguns pontos da sua curva V bem desenhada, fazendo meu caminho antes
de puxar o cós da boxer para baixo. Ele me ajuda a tirar a peça e fico
maravilhada quando seu pau salta aos meus olhos. Corro o dedo pela base,
a ponta brilhando com o pré-gozo e sinto suas veias em uma pulsação
latejante.
“Chelsea…” Ele geme quando passo o polegar pela gota brilhosa,
espalhando a umidade cabeça aveludada do seu pau antes de fechar meus
dedos em volta dele, movimentando lentamente apesar de controle não ser
exatamente o que tenho em mente. “Porra…” Josh murmura quando aumento
a pressão dos movimentos gradativamente.
Sua respiração fica cada vez mais falha, uma de suas mãos segura o
lençol da cama e a outra afasta meus fios loiros para que ele tenha uma boa
visão do meu rosto, provavelmente estou contemplando toda sua
graciosidade com um olhar faminto. Quando paro os movimentos, ele me olha
com pesar até que eu aproxime a boca e o prove com a língua por toda a
extensão. Sua pele febril só é um incentivo
“Chel…” Mas meu nome morre em seus lábios em um gemido quando
coloco ele quase todo na boca.
Seu gosto salgado e a forma como seus dedos se apertam no meu
cabelo gentilmente me excitam e incentivam ainda mais. Quando começo a
movimentar, sugando-o em minha boca e usando minha língua no movimento
para escutar seus gemidos constantes. Seguro meus dedos em torno da sua
base, estimulando-o onde minha boca não alcança.
Desço meus dedos livres pela sua pele até alcançar suas bolas e meu
toque ali faz com que um grunhido não contido saia pelos lábios de Josh, ao
mesmo tempo que ele vem de encontro à minha boca com seus movimentos.
Com a aprovação dele para o movimento, continuo a massagear o local,
deixando que minha boca seja guiada pelo ritmo tranquilo ditado por ele,
trazendo sua cintura de encontro a minha boca e segurando meus cabelos
com suavidade demais.
Sua pulsação em minha boca aumenta, parecendo um latejar ainda
mais constante e eu sigo com ainda mais ênfase meus toques dele até que
Josh gema meu nome mais uma vez antes de afastar minha cabeça.
Bombeio seu pau mais duas vezes com a mão até que o gozo se espalhe
pelo seu estômago e pela minha mão. Seus dedos se tornam uma carícia em
meu cabelo quando ele joga a cabeça para trás no travesseiro, recuperando
sua respiração.
“Caralho.” Ele solta baixinho.
Sorrio enquanto subo de volta para a cabeceira, mas antes que eu
possa alcançar alguns lenços na mesa de cabeceira, Josh me puxa pelo lado
e beija minha boca com uma urgência que nunca vi antes. Não consigo evitar
gemer contra seus lábios, me derretendo em suas mãos que seguram meu
rosto delicadamente. Ele se afasta de mim sorrindo tão lindamente que chega
fico atordoada enquanto seus polegares passam pelos meus lábios,
provavelmente inchados.
Josh me solta e eu me permito seguir o que estava fazendo,
entregando-lhe alguns lenços que rapidamente são descartados no banheiro.
“Você é realmente perfeita ou eu logo eu vou encontrar um defeito?”
Deixo um riso leve escapar ao lembrar que essas palavras foram ditas por
mim alguns dias atrás e sigo procurando algo errado nele.
“Ei, eu coloco algum esforço nisso, então espero que não ache
nenhum.” Apesar de poder citar um ou dois defeitos dos quais não me
importo tanto.
Josh se aproxima de mim na cama ostentando toda sua glória nua e
com isso digo obrigada aos deuses dos jogadores de futebol e garotos
sarados porque até mesmo o que não parece perfeito, parece gostoso.
Poderia passar o dia inteiro contemplando seu corpo, adorando a forma como
ele parece um pouquinho mais desinibido andando pelado pelo meu quarto.
Espero mesmo ter isso mais vezes.
“É uma visão muito boa, sabia?” E apesar de esperar que suas
bochechas fiquem vermelhas pelo elogio descarado, acabo recebendo um
beijo esfomeado quando ele chega na cama de novo. Seu corpo sobrepõe o
meu em segundos.
“Eu também adoro a minha.” Ele sussurra em meu ouvido com uma
voz rouca que me deixa arrepiada. Sua mão encontra a bainha do vestido e
sobe ele mais uma vez.
Josh é, definitivamente, alguém bem mais ousado quando se trata de
sexo, apesar de demorar um pouco para se soltar a princípio e ceder aos
desejos, mas eu adoro quando me toca igualmente gentil, cauteloso e
provocativamente. Tudo ao mesmo tempo. É atrevido ao me explorar com
seus dedos, mas ainda assim parece sempre delicado ao fazer isso. Não
posso deixar de dizer que estou completamente pronta para o toque dele pelo
meu corpo inteiro de novo.
Ele deve transar forte e fofinho, ao mesmo tempo, e estou ansiosa
para descobrir.
Suas mãos sobem meu vestido até a cintura e ele segura até que
minhas pernas se enrolem nele. Quando voltam a subir o tecido, seus dedos
param por algum tempo, enrijecendo ainda mais meus seios através do
vestido que chega a doer de tanto que quero sua boca ali. Josh não demora a
puxar o vestido pela minha cabeça. Sua boca traça beijos pelo meu colo até
tomar um dos meus seios na boca, e não posso ficar ainda mais excitada.
Incrivelmente ótimo nisso também.
Ele parece não precisar de muito além de alguns toques, beijos
gostosos e olhares profundos para me fazer ficar totalmente acesa e quente,
desejando por ele.
“Josh…” Minha voz sai carregada de desejo quando meus dedos
entrelaçam seus cabelos. “Eu realmente preciso de você, em mim, agora.” A
urgência em minha voz faz com que a única peça de roupa entre nós, minha
calcinha, acabe longe em segundos.
Sou grande fã de preliminares e poderia ficar horas nisso, mas não
consigo evitar a gritante vontade que tenho por o ter no meu corpo.
Realmente venho ansiado por esse momento por muito além de três dias e
toda essa coisa de envolver sentimentos, ao invés de me deixar assustada
agora, me deixam ainda mais urgente por Josh.
Seus lábios alternam entre um mamilo e outro, brincando com a língua
e dentes enquanto sua mão desce para o meio das minhas pernas, não me
encontrando nada além de muito molhada e pronta para tê-lo dentro de mim
o mais rápido possível. Ele me excita de uma forma que nunca tinha ficado
antes, ainda mais quando, ao me tocar, levanta os olhos castanhos para mim
juntamente com um sorriso malicioso pra caramba.
Adoro sexo, sempre adorei. Mas a forma com que preciso dele agora é
algo diferente do que já senti. Não é só desejo ou carência, ou qualquer coisa
puramente carnal. Seus olhos se escurecem antes que ele beije meus lábios
mais uma vez e tateie a procura de uma camisinha na sua mochila, do lado
da cama. Ele toma seu tempo me provocando com os dedos mais um pouco,
colocando pressão não o suficiente no meu clitóris e me deixando ainda mais
pulsante.
Josh entra em mim com dois dedos e resmungo em um gemido não
contido quando seus movimentos não são rápidos o suficiente e ele segura
meu corpo na cama, não me deixando tentar ter mais. Tudo não parece o
suficiente agora, porque quero ele inteiro para mim. Não controlo meus
gemidos enquanto Josh se demorar em suas estocadas lentas, provando
com calma de toda minha excitação até que finalmente vestir a camisinha.
Seus lábios salpicam beijos pela minha pele enquanto ele se posiciona
na minha entrada e eu seguro seus ombros fortes. Desço minha mão até sua
cintura, apertando sua bunda tentando me fazer entender, porque suas
provocações estão matando uma mulher, eu, de tesão.
“Josh…” Falo arrastando minhas unhas pela sua pele, sendo
finalmente preenchida por ele. A sensação é tão boa que fecho os olhos
momentaneamente com um gemido alto.
Suas mãos ainda estão no meu corpo. Um dos seus antebraços se
apoia na cama ao lado da minha cabeça e essa mão toca gentilmente meu
rosto, apesar dos seus movimentos firmes contra minha pele. Ele entra em
mim em estocadas duras e me preenche o máximo que pode até sair
vagarosamente antes de voltar, me trazendo um prazer inebriante.
Sua outra mão se dedica em seguir provocando arrepios contra meu
corpo e é impossível não fazer todos os sons de prazer possíveis. Seus
toques são carinhosos na minha pele ainda que seu corpo se movimente em
um ritmo rápido. Agarro seu corpo contra o meu, usando uma mão em suas
costas e outra em sua bunda firme, me inclinando aos movimentos duros
dele.
Seus gemidos abafados em meu ouvido, roucos e totalmente sensuais,
me deixam ainda mais excitada com tudo aquilo. Ele não parece querer muito
reprimir seus sons maravilhosos e fico ainda mais necessitada, se possível.
“Mais.” Peço em um sussurro e ele obedece.
Seu corpo parece uma obra de arte enquanto transa comigo, com os
músculos contraídos e sei que esse menino pode me levar à loucura, porque
o prazer que sinto é diferente, mil vezes ampliado. Guio sua mão dos meus
seios até o meio das minhas pernas e Josh não demora a começar acariciar
meu clitóris. Arrasto minha boca pelo seu pescoço e até um pouco abaixo,
deixando sua pele vermelha e sua mão passa de carinhos gentis em meu
rosto a uma segurada firme em meu cabelo quando me inclino para ele.
Agarro minhas pernas firmes em volta da sua cintura, dando a ele
ainda mais abertura ao entrar em mim e gememos juntos quando Josh atinge
um ponto ainda mais profundo com seu pau lá dentro. Nossos corpos se
fundem tão forte, com sua mão em nosso meio, minhas mãos e pernas
agarrando-o. Sua boca mordisca meu lóbulo da orelha e uma onda de prazer
intensa me percorre, fazendo com que eu sugue seu peito, onde distribui
beijos e lambidas pelos últimos instante, ainda mais forte.
Os movimentos de Josh ficam ainda mais intensos, quase
descontrolados e isso me leva a um nível de loucura bem grande,
acompanhando-o. Meu ventre vibra, e seu pau lateja dentro de mim, seu
grunhido escapa sem qualquer abafamento, quase algo primitivo, mas muito
gostoso. Seus lábios encontram meu pescoço enquanto ele solta um
xingamento enquanto goza.
Estou entorpecida em como seus movimentos finais, duros contra mim,
e seus dedos estão me levando às alturas e quando o orgasmo me atinge.
Agarro seus ombros com força, querendo prolongar ao máximo essa
sensação. Josh ainda tem folego para estocar outras duas vezes em mim, me
levando ao extremo do estupor do prazer antes de descansar a cabeça no
meu ombro enquanto relaxo meus dedos na pele dele.
Seus lábios procuram pelos meus em um beijo gentil e desajeitado,
acalmando nossas respirações. Josh se demora um pouco mais antes de
desgrudar seu corpo do meu, saindo de mim e me deixando com a sensação
de súbito vazio.
“Minha linda.” Sua voz sai em um sussurro bom enquanto ele está
ofegante, assim como eu, com as bochechas um pouco vermelhas pela
energia consumida. Não posso achar Josh ainda mais lindo do que agora,
passando seus dedos gentilmente pelas laterais do meu rosto.
Sinto falta do seu calor nos segundos que ele demora para descartar o
preservativo no banheiro, mesmo que ainda esteja entorpecida pelo prazer.
Quando Josh volta, sorri antes de deitar novamente ao meu lado, me
puxando firme contra si.
Josh acaricia meu cabelo depois de me aconchegar em seus braços,
começando a deixar beijos preguiçosos pelo meu pescoço. Nunca fui de ficar
aconchegada em alguém, essa é sempre a parte que saio ou parto para outra
rodada. Mas o seu cheiro de suor, sexo e Josh me deixam inebriada e não
consigo cogitar qual outro lugar eu poderia estar além dali.
Quando traço meus dedos pelo seu corpo, acreditando que Josh está
pegando no sono, sua respiração fica irregular e sua ereção lentamente
começa a se fazer presente de novo. Meus olhos se levantam para ele e
cansaço não é o que vejo por ali.
O que é bom, porque meu corpo parece, assim como minha mente,
não se cansar nunca dele. Nunca ter o suficiente.
 
 
 
 

 
“EU NUNCA VOU ME CANSAR DISSO.” Confesso com um sorriso bobo,
completa pelo prazer que acabei de receber antes mesmo que possa tomar
meu banho matinal. Seu corpo descansa ao meu lado, com um sorriso
satisfeito nos lábios e respiração ainda ofegante. Ele está de barriga para
baixo, apoiado nos antebraços e me dando aquela visão maravilhosa do seu
corpo lindo.
Totalmente impressionante e inesperado.
Não tão inesperado, entretanto o sexo com ele me surpreendeu ainda
mais positivamente do que eu achava.
Joshua Crawford deve enganar bem pelo exterior, mas depois de
ontem à noite e agora, vi uma faceta que me deixa ainda mais ap…
Já disse que preciso do meu banho matinal?
Josh planta um beijo no meu ombro antes que eu jogue as pernas para
fora da cama.
“Você acorda cedo todos os dias?” Não sou a pessoa mais matutina
possível, ou pelo menos nunca me considerei. Mas também não passo muito
das nove na cama, ainda que nos últimos dias eu venha acordando cedo com
certa disposição extra. Dou risada quando ele tenta me alcançar e abraça os
travesseiros quando eu levanto. “É sexta-feira, quase final de semana e você
não deveria estar basicamente de férias?” Sua voz sai arrastada e abafada
pelos travesseiros. Diferente dele, me sinto ainda mais animada depois do
que tivemos ali.
Entro no chuveiro e quando saio, encontro-o na mesma posição.
Coloco um jeans claro desfiado, com um top rendado rosa-pink, visto uma
camisa branca aberta e amarro ela em um laço na cintura.
“Se não descer em dez minutos, sabe que posso acabar comendo o
café inteiro sozinha.” Sussurro em seu ouvido uma vez que me aproximo da
cama de novo, depois dos seus olhos me seguirem pelo quarto enquanto eu
me arrumava.
Aquela seria uma imagem que eu guardaria bem na minha memória,
se não fosse por saber que ele sairia se eu pegasse o celular, teria até tirado
uma foto. Josh está deitado com o peito na cama. Suas costas estão
flexionadas por ele passar os braços fortes em volta do travesseiro que eu
estava deitada. A coberta branca cobre parcialmente sua cintura e não me
deixa ver sua bunda perfeita, mas dá uma visão perfeita das pernas fortes e
cintura marcada. Além disso, Josh pela manhã consegue ficar ainda mais
adorável com os cabelos desarrumados e rosto ainda mais fofo com a
sonolência.
Quase soltando um suspiro, saio do quarto e desço para a cozinha.
Por pouco não fico muito relutante em voltar a me juntar a ele na cama e ao
seu corpo quente e delicioso.
Alguns minutos se passam até que eu escuto passos se aproximarem,
olho no relógio e sorrio.
“Você está quase atrasado.” Digo com um riso nos lábios enquanto
coloco os ovos nos pratos.
Poderia ter deixado que Price fizesse nosso café da manhã, mas tem
algo no Josh que me faz gostar de fazer coisas básicas como o café da
manhã, ou o jantar. Gostei mesmo de cozinhar com ele ontem à noite e, além
disso, gosto de pensar que estamos sozinhos, com a casa só para nós para
muito além de só refeições.
“Acho que quis dizer que estou bastante adiantado.” A voz profunda
soa atrás de mim. Me arrancando do meu sonho bonito sobre estar sozinha
com Josh em casa. “Mas não sei porque estou com o sentimento que minha
filha não está fazendo o meu café da manhã.”
“Pai!” Minha voz sai estridente e eu viro agarrando o cabo da frigideira
com força porque acho que poderia deixa-la cair junto com o meu próprio
corpo. Se não fosse o choque, eu já estaria nos braços da minha pessoa
favorita no mundo. Mas meu pai ri de mim, sentando nos bancos da nossa
ilha.
“Senti sua falta também, little bee.” Ele zomba de mim e largo a panela
de volta, indo abraçar meu pai e recebendo um beijo na testa. “Melhor dividir
aqueles ovos em três porque eu posso ter esperado alguns bons anos para
ver você ser pega no flagra e ficar com essa cara.” Bato no braço dele.
“Você não deveria ser um pai ciumento?”
“Depois de tantos anos desisti da ideia de jogar algum rapaz saidinho
pelo jardim. Acho que agora já estou velho demais para isso e você também.”
Ele dá de ombros e eu concordo. “Será que vou saber quem é ou posso
deixar minha imaginação fluir para o único nome possível?”
“Único nome possí…”
“Minha linda, não vou poder ficar para o café, resolveram me avisar
que mudaram meu turno de hoje quando já estou quase atrasa…”
Não posso finalizar minha pergunta porque sou interrompida por Josh
entrando na cozinha, passando uma camiseta pela cabeça. Ele pode ter uma
ou duas marcas em seu peito forte e musculoso, que eu deixei bonitinhas por
ali, mas eu aperto meus olhos, consumida pela vergonha nada natural para
mim, não querendo saber se meu pai vê o mesmo que vejo. Ele vai manter a
promessa de não jogar ninguém pelo jardim, não é? Josh também não
termina a sua frase, porque assim que ele termina de se vestir, encara meu
pai ao meu lado com olhos arregalados.
Mas é óbvio que Cyrus Capri está se divertindo com minha vergonha e
o rosto vermelho vivo de Josh.
“Como eu disse, essa era a opção.” Ele cochicha para mim antes de se
levantar. “Então, é você quem estava querendo roubar meu café da manhã?”
“Pai!”
“Não, senhor.” Ele engole em seco e meu pai precisava mesmo fazer
uma cena? “Chelsea, tem algo queimando!” Josh olha para mim pela primeira
vez.
“O bacon!” Corro para desligar o fogo, não tirando meus olhos dos
dois.
“Josh, certo?” Meu pai estende a mão para ele, e respiro aliviada
quando vejo seu sorriso simpático tomar conta. Ele nunca aguentaria
qualquer teatro por muito tempo.
“Josh Crawford, senhor Capri.” Meu baby boy aperta a mão do meu pai
e quando retorno para perto deles, fico incerta do lado de quem devo parar.
“É um prazer conhecê-lo!" Ele é tão fofinho.
“Posso dizer o mesmo, Josh. Sinto por não ter ido ao evento
beneficente da semana passada, fiquei sabendo que fez ótima companhia
para minha little bee.” Sorrio para meu pai. “E me chame de Cyrus. Você
parece um convidado, parece mais justo.”
“Claro. Foi um prazer acompanhar Chelsea.” Josh me olha e sei que
provavelmente meu estado bêbado passe na sua cabeça.
“Devo supor que as telas na sala são de sua autoria.” Meu pai me
lembra de como estávamos tão ocupados ontem que esquecemos de guardá-
las. “Chelsea ficou bonita pelos seus olhos.” E eu poderia morrer de tanto…
esse sentimento explosivo no meu peito quando vejo meu pai olhando para
Josh desse jeito, como se fossem conhecidos de longa data. Josh sorri
abertamente, provavelmente orgulhoso de si, mas é merecido. “Posso querer
uma também.”
“Claro senhor, ficarei feliz em fazer outra…” Ele começa, me olhando
de uma forma intensa, e seus olhos me fazem ficar dando voltas por dentro.
“Na verdade, já tenho até o momento perfeito.”
“Espero poder colocar a pintura no meu escritório, Josh.” Isso foi o
máximo de sermão que meu pai deu e os pensamentos de Josh foram para o
mesmo lugar que os meus porque ele voltou a ficar da cor de um tomate.
Murmurando um claro senhor, ele abaixa os olhos por alguns instantes.
“Enfim, estava dizendo que está atrasado, não deixe que eu lhe atrase ainda
mais. Espero que possamos conversar com mais calma em breve.” A última
parte é direcionada unicamente para mim, junto com um olhar.
Tá bom papai, posso ver a agenda para jantares.
“Espero também, sinto muito por não ficar para o café, mas preciso
mesmo entrar em dez minutos.” Josh parece mesmo sentir muito.
“Pediria para que Vicent o levasse, mas ganhou férias hoje pela
manhã. Então pegue um dos carros, realmente não nos fará falta e não quero
que se atrase ainda mais.” Meu pai fala e olho para ele com o mesmo choque
que Josh, porque só o dono dos mais luxuosos hotéis da costa leste e sócio
dos da costa oeste, para oferecer um carro considerado de luxo para o… o
menino da sua filha. “Você tem carteira, certo?” O olhar penetrante de Cyrus
Capri para mim pergunta silenciosamente se Josh tinha idade para aquilo e,
por favor, ele nem mesmo parece ter menos de dezenove, quem dirá
dezesseis.
“Claro.” Josh fala com veemência. “Claro que tenho carteira, senhor.”
“Vou levar Josh na porta.” Intervenho antes que meu pai engate em
outra fala e pego a mão de Josh, segurando-a até o hall de entrada.
Puxo uma das chaves da longa mesa de vidro, sem me demorar muito
para escolher o que Josh irá amar dirigir.
“Ele não é sempre assim, pode ser mais legal.” Digo colocando a
chave na mão dele. Meu pai foi simpático o suficiente, mas sei que todo esse
encontro inesperado ainda não arrancou o melhor do seu comportamento.
Ele estava feliz tirando graça comigo. “E vai ficar chateado de verdade de
souber que tomou bronca por causa dele. Ele é muito certinho.” Característica
que não puxei do meu pai, pelo visto. “Além disso, nem vai sentir falta
mesmo.” Recebo um olhar do tipo sei que são muito ricos de Josh. “Quem
sabe não acaba arrumando um motivo para voltar final de semana para
seguirmos o que eu tinha planejado para hoje.” Sussurro com malícia no seu
ouvido, passando os braços em volta dele, que abraça minha cintura.
“Tentado a faltar o trabalho.” Suas palavras saem contra meus lábios
antes de um beijo rápido.
“Não ficaria tanto depois de meia hora com meu pai. Acho que ele está
tentado a usar os anos sem um genro para torturar tudo com você.”
Parcialmente verdade, eu podia sentir aquilo e talvez tenha evitado, e
vou evitar, qualquer jantar por algum bom tempo ainda. Não quero que Josh
se assuste com o comportamento muito casual do meu pai.
“É o conversível, BMW, divirta-se. Mas tenha cuidado!” Seus olhos
brilham mesmo que ele ainda hesite em segurar a chave firme nas mãos.
Josh deixa mais um beijo nos meus lábios antes de sair.
“Chelsea…” Ele me chama antes que eu feche a porta, já em direção a
garagem aberta. “Você é incrível. Obrigado por ontem, e por hoje.” Ostento
um sorriso bobo antes de me despedir dele.
Fecho a porta e não dou nem dois passos antes que meu pai coloque
a cabeça para fora da sala de jantar. “Espero que ele tenha mesmo carteira.”
“Você nem mesmo sentiria falta.” Do dinheiro ou do carro. Completo
para mim. “E ele tem vinte e um!” Jogo para o meu pai, porque sei que ele
ficou se fazendo essa pergunta.
Divido rapidamente nosso café não queimado nos pratos e vamos para
a mesa comer.
“Ele parece um bom rapaz.” Suspiro, porque tagarelar foi uma
característica paterna. Ele parece estar tendo o divertimento do ano. “Até
cozinhou para ele. Estou impressionado com os efeitos desse menino sobre
você. Vou pedir algumas dicas.”
“Não seja ingrato. Mas, sim, ele é incrível. E nós não estamos
conseguindo muito tempo juntos.” Não tem julgamento em minha voz, porque
sei que o trabalho de Josh vem sido pesado ultimamente.
Além disso, também nunca me importei em fazer comida com meu pai,
ele cozinha muito bem também e aprendi alguma das coisas que sei com ele.
O jantar sempre foi um momento sagrado na casa e acabamos por
dividir a cozinha quando eu era mais nova, porque eram horas que meu pai
conseguia focar sua atenção totalmente em mim e eu nele. Perdemos um
pouco do hábito ao longo dos anos. Mas ainda é algo que gosto de fazer para
ele. Quando vê minhas panquecas no lanche da tarde, seus olhos brilham
dentro do escritório em casa.
E eu amo nossa dinâmica.
 
 
Josh voltou no domingo, e passamos a tarde inteira emaranhados nas
poltronas da sala de cinema, fingindo que assistíamos a um filme, mas eu
estava sempre distraída pela sua presença. Eu me sinto sempre diferente ao
lado dele, e isso nem mesmo era algo ruim. Meu pai estava fora por outra
semana e a companhia de Josh não era exatamente sobre estar sozinha e
sim por querer estar com ele.
Acabamos ficando alguns dias na minha casa, sozinhos. Com as aulas
paradas para que nosso foco ficasse no trabalho, aproveitei meu tempo livre
para trabalhar na parte escrita do nosso trabalho enquanto Josh
encaminhava nossos quadros.
Podia ver sua frustração quando algo não chegava na perfeição que
ele queria e tinha visto-o jogar uma tela recém pintada de canto para ser
colocada fora, enquanto eu passava um tempo na sua cama antes dele
precisar ir para o trabalho. Adorava meu tempo sozinha com ele, Josh se
mostrou uma ótima companhia na cama e fora dela, e isso sempre me deixa
ansiosa sobre estar com ele. Nem mesmo sei o que significam esses
sentimentos que se aglomeram no meu peito.
Além disso, eu tenho outros sentimentos estranhos no peito e estes
dizem respeito ao meu mais novo trabalho. Aceitando as aulas de balé e na
agência de eventos, me contentei com o cargo de assistente em ambos
lugares e estou ansiosa para finalmente colocar a prova que eu posso ser
capaz de fazer isso. Mas as aulas no estúdio voltam em setembro e isso me
dá ainda um mês até lá.
Julho se aproxima dos seus últimos dias e teremos um evento em
duas semanas. Uma menina prestes a fazer seus vinte e um está nervosa
demais e isso significa mudanças pela segunda vez no pedido de adereços
da mesa principal. Não tenho um escritório ou uma mesa só para mim, mas
Melissa, minha chefe direta e uma mulher de trinta e poucos anos, é
simpática e disse que eu poderia trabalhar no escritório do meu pai, a poucas
quadras da agência e eu só precisaria estar sempre à disposição para vir a
agência quando necessário. A companhia de hotéis Capri tem um escritório
baseado em Nova York, ocupando um andar inteiro no prédio onde o pai da
Rebecca, tio Theo, tem sua holding.
Apesar de nem mais cogitar a ideia, eu tenho uma sala lá dentro,
embora sempre prefira o escritório menos cru do meu pai ao meu. Me ocupei
essa semana com a compra de alguns móveis e a personalização do espaço
que ficará completo na próxima semana. É sexta-feira e quando choco minha
lista de afazeres da semana que Melissa determinou para mim, me sento
satisfeita de ter completado tudo. Nunca cogitei que ficaria com esse
sentimento por trabalhar.
Nunca tinha cogitado trabalhar de fato.
Ainda não são cinco horas e mando mensagem para Rebecca e
Daphne, checando se também estão livres, enquanto fecho meu computador.
A resposta de Daphne veio em uma afirmação por mensagem e Becks não
demorou em fazer a chamada de vídeo. Ajeitando meus fones de ouvido sem
fio, sorrio para a câmera ao ver minhas duas lindas melhores amigas
aparecerem na tela.
“Daphne está trabalhando em casa e Chelsea em um escritório. O
mundo está mesmo indo para o fim.” Becks exaspera e eu rolo os olhos.
“Quase rude, Rebecca.” Repreendo ela e isso não encaixa bem em
mim, o que ocasiona em uma risada das três.
“E então? Como está sua rotina de trabalho?” Daphne pergunta
curiosa.
“Acho que estou me adaptando, não posso dizer que não gosto de ter
uma ocupação, mas ainda é estranho para mim tudo isso. Além do mais,
tenho medo de isso não passar de uma euforia de momento e eu cansar no
fim. Como sempre faço com tudo.” Parcialmente verdade, dado a minha alta
taxa de desistência de projetos ao longo da minha vida.
“Não fale assim tão descrente, Chels. Você é mais do que capaz, ainda
que tenha nos tomado anos para fazer você acreditar e só alguns dias com
Josh para aceitar a ideia.” Daphne me repreende e Becks concorda com
acenos de cabeça.
“Ei, não é só por causa dele.” Apesar de ter sido um grande incentivo.
Ter alguém que me conhecia há poucos dias acreditando na minha
capacidade de fazer qualquer coisa que eu quisesse me deixou empolgada.
“Falando nele, como estão as coisas? A última vez que falou com a
gente, se não me engano escutei sobre achar que estava namorando e
sorrisos bobos.” Rebecca faz questão de me envergonhar, apesar de só
permitir que elas vissem esse lado de mim.
“Ótimo!” Me animo e dou um sorriso bobo. “Sinto como se precisasse
dele o tempo todo do meu lado e me sinto tão bem do lado dele, como se
toda a coisa pequena fosse incrível e isso é tão bobo. Tenho quase vinte e
seis anos, não deveria estar agindo como uma adolescente.”
“Preciso dizer que você parece mais nova com todo esse amor
flutuando à sua volta.” Becks diz e eu acabo estancando para a palavra.
“Chelsea, se permita sentir tudo. Não há nada de errado em querer amar
alguém e se eu precisar te dar esse discurso mais uma vez, vou pagar
alguém para lhe entregar por escrito todo santo dia.”
“Não é isso… é só que, já se passou uma semana e continua bom, e
eu tenho medo de acabar pisando na bola porque é isso que eu faço sempre.
É como se eu já esperasse que eu vá fazer algo de errado.” Odeio esse
sentimento de ser insuficiente porque sei que sou boa e que posso me dar o
prazer de gostar de ter Josh do lado.
“Às vezes a gente erra, olha o que aconteceu comigo e com Zach, e eu
não poderia me sentir mais feliz. Eu pisei na bola, mas conseguimos fazer
nosso caminho de volta.” Becks fala e a uma voz grossa ressoa no fundo.
“Vamos deixar claro sobre a parte que o erro foi dela porque eu
permaneci lá esperando ela voltar aos sentidos para voltar para mim. Chelsea
é prova disso.” Zach se defende e dou risada, antes de a tristeza me abater.
“Eu pisei na bola no relacionamento de vocês. Se tivesse mantido
minha boca fechada…” Mas não consigo terminar porque a figura do
namorado de Rebecca toma a tela do seu celular.
“E você me ajudou a consertar isso. Mesmo que essa lindeza aqui…”
Ele bagunça a franja da namorada e mesmo ali posso ver o amor flutuar entre
os seus olhares. “Resolveu fazer outras coisas naquela noite antes de vir
lindamente atrás de mim para fazer as pazes.” Ele beija a têmpora dela antes
de se afastar da câmera.
“Mas, e se eu não for boa para reparar meu próprio relacionado?”
“Primeiro precisa arruinar isso, Chels, e se manter as coisas bonitas e
agradáveis, não vai precisar querer reparar nada.” Daphne diz com sua voz
de advogada firme.
“Tudo bem, vou tentar.”
“Quais são os planos para hoje?” Becks arruma sua franja.
“Precisa mesmo perguntar Rebecca? Provavelmente vão ser tão
românticos e sexuais quanto os seus planos com Zachary.” Daph bufa e
damos risada.
“E eu achava que com Matteo por aí, ele poderia te apresentar a
alguns advogados bonitões e jovens.” Beck rola os olhos. “E meus planos são
mesmo bons assim, espero que Chels aproveite a noite dela na boa
companhia do namorado dela e quem sabe você não arruma algumas taças
de vinho e um corpo quente para a noite.”
“Sou só um corpo quente, meu amor?” Zachary segue participando das
nossas chamadas.
“Claro que não!” Ela responde cética antes de se virar para nós.
“Definitivamente um corpo muito quente.” E até mesmo Zachary ri ao fundo
junto conosco.
“Espero que Josh seja menos intrometido que o Hudson.” Daphne
reclama, provocando ele que torna a aparecer na câmera.
“Sinto muito, estava planejando levar minha bela namorada para jantar
antes dela dizer que precisamos deixar a reserva esperando por causa da
chamada de amigas.” Ele beija a bochecha dela, como se não conseguisse
nunca arar de tocar Becks. Seu tom de voz também diz que ele não está
incomodado com isso nem um pouco, muito pelo contrário.
Zach sempre parece satisfeito de fazer as vontades de sua Becca,
como ele a apelidou desde o primeiro dia. Ele deixa mais um beijo em sua
bochecha e sussurra algo no ouvido de Becks antes de acenar um tchau e
logo ouvirmos a porta fechando.
“Vocês parecem bem.” Falo.
“Estamos ansiosos para a mudança. Acho que é o nosso passo final
como casal.” Ela tem um brilho nos olhos.
“Achei que isso fossem filhos.” Daphne ri. “Fico feliz por vocês dois,
mas depois de todo esse tempo viajando juntos, imagino que não vão ter
nenhum problema em dividirem a casa.”
“É, mas ainda tenho medo que…”
“Rebecca, ele parece que vai se ajoelhar a qualquer momento e pedir
você em casamento. Não pegue meus medos para você, vocês parecem
apaixonados ao extremo a todo segundo.” Corto ela e Beck nos dá um sorriso
bobo.
“Eu amo tanto ele. Poderia muito bem ser eu a me ajoelhar.” Ela diz
como se não precisasse falar isso para nós, mas só constatasse esse fato
mais uma vez para si.
“Mudando do assunto relacionamentos, tem visto Matt com
frequência?” Direciono minha pergunta a Daph. Agora que os dois estão em
Boston, com a mesma formação, talvez acabasse mais próximos de novo.
“Para ser honesta, a última vez que vi ele foi quando viemos juntos
para cá. Ele deve estar ocupado com o começo dos projetos no doutorado e
eu estou trabalhando minha bunda naquele escritório.” Ela responde com um
dar de ombros.
“Não sei qual dos dois é mais workaholic, é estressante até de longe.”
Zombo.
“Espero que meu irmão possa acabar seguindo em frente e montando
sua vida de novo.” Rebecca tem certa tristeza em sua voz e sei que isso é por
causa do longo período de luto que Matteo ainda parece estar
sentimentalmente depois de perder sua noiva há pouco mais de um ano.
“Preciso mesmo desligar, me mandem mais mensagens. Eu amo vocês e
sinto saudade todos os dias.” Becks diz mandando beijos e nos despedimos
antes de encerrar a chamada.
Aproveito meu celular em mãos e envio uma mensagem para Josh,
esperando ganhar uma resposta entre um café preparado e outro.
 
Chelsea: Os meninos gostam de comida árabe?
 
Poucos minutos depois, quando termino de organizar minha mesa, ele
responde.
 
Baby Boy: Não acho que eles não gostam de alguma comida.
Chelsea: Jantar por minha conta hoje então.
Não espero a resposta para pedir nosso jantar no meu restaurante
árabe favorito. Um longo pedido. Passo no banheiro para retocar minha
maquiagem e não precisar esperar muito tempo atoa até nosso pedido ficar
pronto. Coloquei um conjunto de short e blazer crepe alfaiataria azul-marinho
hoje, que combinam com meus olhos. O short vai até pouco acima da metade
das minhas coxas, é um pouco solto e tem um detalhe de cinto embutido na
mesma cor. Uma regata branca colada e de alças finas está para dentro do
short. Meus fios loiros estão soltos nas ondas que fiz mais cedo com o
babyliss e continuam intactas.
Esse visual me deixa com um ar de socialite profissional, eu adoro
vestir versões de terninhos.
Passo no escritório uma última vez para pegar minha enorme bolsa,
colocando meu laptop e as pastas lá dentro. Desço e encontro Marshall, o
funcionário que tomou o lugar de Vicent durante suas férias, pronto já para
me levar; sorrio para ele e digo que passaremos primeiro para pegar o jantar.
Mais de meia hora mais tarde, estacionamos na frente da casa dos meninos.
Já passam das seis e Josh provavelmente está chegando.
Desço equilibrando a bolsa em um ombro e uma mochila média de
couro na outra, onde coloquei meus itens básicos para passar a noite e a
manhã muito bem acomodada do lado do meu baby boy. Pego algumas
sacolas de comida e Marshall me ajuda com as outras.
Não precisamos de esforço porque a porta da frente se abre e Ethan
nos dá um largo sorriso. Minha impressão é que isso é dado pela comida não
pela minha chegada.
“Pode deixar amigão, eu ajudo a loirinha.” Ele diz quando segura a
porta para nós, estalando um beijo na minha bochecha assim que entro e
pegando as sacolas de Marshall.
Dispenso meu motorista e digo que pode aproveitar o seu dia de folga,
já que devo voltar para casa só amanhã à noite, quando o turno de Josh
começar. Vim para cá na terça e Josh passou a noite de ontem comigo, essa
nossa rotina é perfeita para mim.
Apesar de adorar nosso silêncio e privacidade que podemos ter na
minha casa vazia e enorme, passei a admitir para mim que adoro estar aqui
com os outros três, que nunca mais hesitaram em ser receptivos e parecem
gostar da minha companhia também. Eu espero.
Nick desce com os cabelos meio ruivos molhados quando estou
tirando as coisas das sacolas, me ajudando a colocar a mesa enquanto Ethan
busca os pratos e talheres na cozinha. Ele passa a mão pela minha cabeça e
fecho os olhos para receber meu beijinho no topo dos cabelos, posso sentir o
seu cheiro de banho recém tomado e muito másculo bem presente.
“Está nos fazendo ter trabalho duplo na academia.” Ele fala, mas tem
um sorriso enquanto pega minhas bolsas e some no andar de cima de novo.
Parece que fazemos isso há anos e não há uma semana como
realmente é, mas adoro a naturalidade com que eles me tratam. Meus
melhores amigos nunca serão substituídos e esses são os de Josh, mas eu
me sinto bem com eles. Terminamos de arrumar a mesa e lavo minhas mãos
na cozinha antes de puxar uma taça do armário e servir o vinho que deixei
pela metade terça-feira. Nem ofereço para Ethan ou Nick, jogadores são tão
focados, ou pelo menos esses dois são.
Josh entra em casa nesse momento e me sinto acender por dentro,
apoiando o corpo contra a bancada da cozinha com minha taça em mãos.
Seus olhos não demoram para me achar e ele segura meu rosto assim que
está na minha frente plantando um beijo demorado contra meus lábios.
“Senti sua falta.” Ele diz com a boca na minha ainda e gostaria de
entender o porquê pareço sempre dar um sorriso bobo quando ele fala coisas
que nem são tão trabalhadas assim, como essa frase.
“Eu também.” Digo quando passo o braço livre ao redor dele e deixo
seu cheiro me invadir.
Um pouco de café, seu perfume masculino e Josh. Essa mistura só
não é minha favorita como quando o café é substituído pelo cheiro de tinta
acrílica ou o cheiro forte da de óleo, as quais já me acostumei e não ardem
mais meu nariz como na primeira vez que estive em seu quarto ou pintei.
“Casal, eu tô com fome.” Ethan fala manhoso e nos viramos abraçados
para ele.
“E o Scott?” Pergunto, porque Ethan sabe a regra de todos na mesa
antes de atacarmos a comida e não deixarmos para o coleguinha que chega
tarde.
“Não sei. Ele saiu de tarde para algumas entrevistas, mas não mandou
mensagem sobre que horas volta.” Nick parece um pouco chateado e
entendo que é por causa de Scott não estar conseguindo vagas livres depois
de ser despedido do último emprego. Não posso dizer que entendo a
situação ou o sentimento de Scott, mas me sinto mal por ele.
“Ele vai conseguir algo.” Josh fala firme, como se quisesse que aquilo
atraísse as oportunidades.
“Tudo bem. Vamos nos sentar e começar a comer. Mas vou vigiar suas
mãos esfomeadas, Ethan.” Aponto para ele enquanto eu e Josh saímos da
cozinha para a sala de janta. “Ele merece uma boa comida depois de passar
horas em entrevistas.”
Nos acomodamos no que parece ser nossos lugares habituais e
começamos a comer. Nem mesmo terminei meu primeiro pão sírio que
recheie e enrolei com kibe cru quando a porta da frente se abre e Scott entra
com uma péssima cara. Preciso lhe dar o crédito de melhorar a expressão
assim que olha para os amigos, mas percebo que isso só foi feito para não
entristecer ninguém e a atitude é fofa. Ele passa por nós e afaga minha
cabeça antes de ir para a cozinha.
“Oie, Chels.” Sua voz está deprimente e me sinto triste. “Comida
árabe, hm?” Ele tenta desviar qualquer assunto antes mesmo de começar,
uma vez que todos os olhares da mesa estão nele depois que se senta de
volta com as mãos lavadas. Provavelmente está ciente do tópico que todos
temos em mente.
“Uma culinária diferente por dia.” Sorrio para ele que me devolve o
sorriso. Sempre acabo trazendo a janta e na terça-feira comprei comida
chinesa para nós. “Josh me assegurou que vocês gostavam.” Aponto para
meu namorado do meu lado e ele dá de ombros.
Não posso deixar de estranhar a facilidade como penso nele como
namorado, ainda que não tenha mais deixado as palavras escaparem em voz
alta depois de quinta passada.
“Gostamos mesmo. E qualquer escapada do carrasco do Nick em suas
refeições saudáveis são mais que válidas.” Scott ainda é o único que
conversa de volta comigo e os meninos estão olhando atentos para ele, como
se esperassem alguma reação anormal do nada. “Eu não consegui nada,
podem parar de me olhar assim.”
E uma pequena atmosfera tristonha toma conta do jantar pelos
próximos quinze minutos, enquanto comemos com conversas amenas, e não
consigo deixar minha mente tentar encontrar uma solução. Estou comendo
um falafel, já cheia de comida, mas ainda saboreando aquelas delícias que
estão se encaminhando para o fim, quando tenho uma ideia.
“Scott?” Chamo assim que termino de mastigar e quatro pares de
olhos se viram para mim.
“Sim?”
“Você está fazendo bacharelado em negócios, certo?” Ele acena com
a cabeça, apesar de eu já ter sabido disso pelo que Josh me contou. “Tentou
vagas de estagiário?”
“Ainda não tenho muitos créditos então acaba que nem mesmo as
empresas menores têm interesse em me dar um emprego.” Ele responde
com desânimo e sinto o olhar de Josh com sua sobrancelha arqueada para
mim.
“Chegou a mandar algo para a Drake Co.?” Pergunto e ele dá uma
risada abafada, me olhando com graça.
“Chels, eu disse empresas pequenas. Nunca nem sonharia em obter
um não como resposta de lá. Nem abririam meu currículo.” Scott me
responde como se eu fosse inocente no assunto e dou um olhar desafiador
para ele que logo fica sério. “Caralho, Chelsea. Óbvio que você ia falar da
Drake, é melhor amiga da Rebecca.” Ele me olha incrédulo, mas vejo um
brilho nos seus olhos. “Não me diga que Theodore Drake é…”
“Meu padrinho!” Deu de ombros, porque amo o tio Theo e ele é mesmo
um empresário muito grande. “Inclusive Josh conheceu ele.” Me lembro do
baile beneficente e me viro para o baby boy.
“Você conheceu Theodore Drake?” A pergunta e a expressão de
choque de Scott estão direcionadas ao melhor amigo agora.
“Sim, ele realmente adora falar sobre esportes.” Josh responde,
parecendo se lembrar agora e fazer as relações. “Pensei que ele fosse rico,
mas não sabia que ele era tipo, seu ídolo.” Ela brinca com Scott e os meninos
dão risada.
“Ele conseguiu reerguer a empresa como se nunca houvesse crise no
mundo.” Scott responde como se isso explicasse sua admiração.
“Adoraria trabalhar para ele, certo?” Pergunto para confirmação.
“Claro, seria um sonho.” Ele responde sorrindo largo antes de juntar os
lábios em uma linha. “Mas não quero só porque você conseguiu a vaga para
mim.”
“Acho que tem potencial e tio Theo tá louco para um novo projeto
agora que Matt tá em Boston e Becks foi pra Atlanta.” Aponto para ele do
outro lado da mesa. “Me dê dois dias, e consigo uma entrevista direta com
ele. Sei que você é o perfil de estudante que ele gosta de ter na empresa.
Becks costumava fazer algumas seleções e eu acabava sabendo de tudo por
tabela.” Respondo e ganho um aceno bobo de cabeça de Scott. “Podem
combinar horários flexíveis por causa das suas aulas. Theo é um homem
justo e bondoso, não sei como ele e meu pai seguem boas pessoas nesse
meio. A maioria das pessoas se torna corrupta e suja depois de um tempo.”
Isso infelizmente incluía alguns vários conhecidos na minha volta.
“Isso é sério mesmo?” Ele ainda parece incrédulo.
“Claro. Não me custa nada tentar te ajudar e, além disso, parece bem
triste pelas últimas entrevistas não terem dado certo. Converse com ele e
quem sabe, se não tiver como entrar na Drake Co., ele te indica em alguma
de um amigo.” Apesar de duvidar que tio Theo vá deixar Scott passar quando
o pedido for feito por mim.
Ele não o contrataria só por isso, mas uma indicação especial pode
fazer a diferença na hora que meu padrinho for ler o currículo. E Scott tem
mesmo o perfil pelo que conheci, parece determinado além de muito certinho
no que diz respeito ao trabalho.
O restante do jantar segue em um ânimo bem melhor e vejo como
Scott parece animado com a ideia de poder trabalhar como estagiário. Ele me
olha com gratidão durante o jantar e mais tarde quando nos acomodamos
nas poltronas e sofá para assistirmos a um filme, o clima parece bem melhor
mesmo.
Josh passeia os dedos pelas minhas coxas, que estão entre as dele e
seu outro braço envolve minha cintura, me mantendo perto o suficiente para
que eu possa deitar em seu ombro. Apesar de seu toque me deixar quente,
me deixo levar pelas carícias e em algum momento do filme acabo cochilando
com seu cheiro fresco do banho tomado após o jantar. Apesar de ter perdido
alguns minutos, quando acordo e vejo o final do filme de ação, não me
surpreendo muito.
“Vamos pro quarto?” Embora soe como uma pergunta, acho que Josh
fez mais um pedido em meu ouvido e dou uma confirmação com a cabeça.
Nos levantamos e desejamos boa noite para os meninos antes de subir.
“Vou tomar um banho, vim direto do trabalho.” Ele sorri quando digo a
última parte como se também achasse uma graça que agora estou colocando
a mão na massa.
Pego minhas coisas e uma das camisetas dele, porque faz pouco
sentido trazer um pijama se posso ficar totalmente envolta pelo cheiro dele, o
que é mil vezes melhor. Além disso, espero não ficar muito tempo vestida de
qualquer forma.
Vinte minutos mais tarde, depois de um bom banho, lavar meu rosto
com o meu sabonete caro e escovar os dentes, volto para o quarto. Josh já
está na cama, sentado contra a cabeceira, com as cobertas até a cintura e
digitando algumas coisas no celular. Organizo minhas coisas na bolsa.
“Obrigado mesmo pelo que fez hoje, não é meu segredo para contar,
mas isso vai ir muito além de experiência profissional para o Scott.” Ele joga
as pernas para fora da cama, apoiando o celular na mesa de cabeceira e
focando seus olhos em mim.
“Você é muito importante para mim.” Admito me aproximando. “E os
meninos são muito importantes para você. Honestamente, gosto deles
também.” Sorrio enquanto me coloco de pé no meio das pernas dele. Suas
mãos não demoram para estar em mim, subindo na parte detrás das minhas
coxas até levantarem o tecido da camiseta e se instalarem na minha bunda.
“Você é muito importante para mim também, e não posso falar como
estou feliz que vocês se deem bem. Os meninos te adoram.” Ele passa suas
mãos por mim até segurarem minha bunda com as mãos por dentro da minha
calcinha, deixando meu corpo agitado e cada vez mais necessitado de mais
daquele toque.
“Você consegue mesmo me distrair com essas conversas.” Brinco
fechando os olhos momentaneamente enquanto seus dedos começam a
passear pela minha pele. Mas os castanhos dele continuam intensos me
fitando quando abro.
 
 
 
 

 
OS OLHOS AZUIS DE CHELSEA ESTÃO focados em mim com tanta
intensidade, que posso ver o desejo por eles enquanto coloco minhas mãos
por dentro da sua calcinha, agarrando sua bunda. Eu arrasto a peça para
baixo, que logo cai no chão. Sua excitação fica um pouco mais evidente
quando percebo que seus mamilos endurecem por baixo do tecido da minha
camisa fina e fico ainda mais duro com o pensamento que ela está totalmente
nua por baixo de uma roupa minha.
Chelsea desencadeia um sentimento de possessão em mim toda vez
que estamos juntos. Quando me deixo levar pelo pensamento que sou seu
primeiro namorado, provavelmente o primeiro cara com quem ela se permite
intimidades com qualquer sentimento, além da procura por prazer. Isso me
deixa com ainda mais vontade de tê-la, tocar sua pele pálida, colocar meus
dedos em seus cabelos e beijá-la.
Embora estejamos, tecnicamente, juntos de verdade há só uma
semana, ela me mostrou um lado do que um relacionamento pode ser que
nunca vi antes e mesmo que eu adore nossos momentos fofos juntos, adoro
ver a pele dela se arrepiar no meu toque, a forma como sua boca geme meu
nome e como o desejo se acende em seus olhos. Essa intimidade sexual é
diferente.
Há algo ainda mais excitante do que existia antes para mim. É como
se estivesse achando partes de mim ainda que nunca tinha visto e adoro
essas descobertas porque Chelsea as faz parecer ainda melhor. Ela parece
adorar minha inocência em algumas coisas e quando me permito, com muita
vergonha, tentar algumas outras. Por isso a conversa não é exatamente para
distraí-la, e sim mover minha mente em duplo sentido. Posso me focar no
corpo bonito dela e como adoro tocá-la enquanto me distraio do meu
nervosismo ouvindo sua voz até que suas palavras não façam mais tanto
sentido através de gemidos e arfadas.
“Muito distraída ou pouco distraída?” Pergunto apertando minha mão
esquerda em sua pele enquanto trago a outra para o meio de suas pernas,
acariciando a parte interna da sua coxa.
“Distraída.” Ela fala controlando sua respiração. Sua boca ostenta um
sorriso satisfeito. “Como você consegue?” Chels me pergunta enquanto
começo a subir minha mão esquerda pelo seu corpo, passando os dedos
pela sua barriga lisa.
“O que?” Pergunto nunca tirando meus olhos dela, passo meu
indicador por baixo dos seus seios e no meio deles, sem tocar onde ela quer
de fato. E onde eu também quero.
“Não me tocou, nem sequer um beijo, e estou excitada e molhada.
Você consegue ser incrivelmente excitante só de ficar parado aí me dando
esse olhar.” Ela passa os dedos pela minha nuca.
“Estou te tocando.” Retruco com humor.
“Josh…” Ela choraminga se mexendo um pouco e dou um sorriso
antes de mover minha mão direita e passar meu indicador pelos lábios de sua
abertura, provando o quão molhada ela está. É um pouco gratificante saber
que excito uma mulher como Chelsea dessa forma, porque estou dolorido de
tanto que meu pau está duro dentro das boxers. “Por favor.” Ela pede
baixinho e eu movo meu dedo mais uma vez, espalhando toda sua umidade e
tocando sua entrada suavemente com a ponta do indicador.
Seguro seu seio com a mão esquerda, passando o polegar pelo seu
mamilo e ela solta um som gostoso com a garganta. Belisco leve sua pele
enrijecida ali ao mesmo tempo que dou atenção ao seu clitóris pulsante sob
meu polegar. Chelsea solta um gemido abafado e gostaria que estivéssemos
sozinhos porque os sons dela sob meu toque são ainda melhores quando
não contidos.
Massageando seu ponto latejante, coloco o indicador na sua entrada e
Chelsea rebola na minha mão, mordendo o lábio inferior e essa é uma visão
perfeita. Não consigo me segurar de penetra-la com dois dedos de uma vez,
começando a movimentá-los para dentro e para fora, sem conter meu próprio
gemido para a umidade quente dela tão deliciosa contra minha mão.
Mantenho um ritmo bastante devagar, apesar dos protestos dela,
aproveitando para seguir leves pressões circulares em seu clitóris.
Movimento a minha mão esquerda entre seus seios e meus olhos
estão fixos em seu rosto bonito se contorcendo em gemidos enquanto seus
dentes gravam em seu lábio inferior. Uma tentativa de se conter e não faço
muito para ajudá-la. Seus olhos estão cerrados e Chelsea se mexe contra
minha palma, querendo mais.
“Eu preciso de você." Ela fala. “Quero sua boca em mim.” Estanco
meus movimentos e ela geme em frustração, mas ao invés de tirar minhas
mãos do lugar, permaneço parado com os dedos dentro dela. “Josh?” Chels
abre os olhos e inclina meu rosto para me encarar.
“Eu…” Como dizer para essa mulher gostosa, semi nua e muito
excitada que não posso lhe dar o que quer? “Eu nunca fiz… eu nunca desci
em alguém.” Mas ao invés de sua frustração crescer, ela dá um sorriso de
canto e passa sua mão pelos meus cabelos. “Eu tentei, duas vezes, mas ela
sempre se sentia… constrangida.”
Deveria ir direto para o inferno por trazer minha ex-namorada e suas
vergonhas para um momento íntimo com minha atual, mas Chelsea dá um
aceno de cabeça, como se entendesse. Tiro meus dedos dela e descanso
ambas as mãos em suas pernas nuas, ela solta um pequeno protesto mesmo
assim. Acho que deveria ir para o inferno por ter cortado o clima também.
“Mas…” Começo olhando para seus olhos azuis, querendo decifrar o
que ela pensa da ideia. “Gostaria de tentar.” Chels morde o lábio inferior em
um sorriso. “Poderia me… ensinar?” Pergunto incerto, porque dar prazer a ela
é algo que descobrir que adoro e isso seria algo que acresceria nossa lista.
“Porra, Josh.” Ela diz fechando os olhos por um momento com um
sorriso malicioso nos lábios. Suas pernas sobem na cama até que ela esteja
sentada em cima de mim e o contato da sua umidade com minha ereção
ainda vestida me faz soltar um pequeno gemido. Quero tantas coisas com ela
que deveria ser pecado. “Eu vou amar te ensinar.” Chelsea diz antes de me
beijar com força, sua língua buscando pela minha com urgência.
Não hesito em retribuir o contato, abraçando sua cintura enquanto
seus dedos agarram meus fios de cabelos mais longos. Seguro a barra da
camiseta e puxo pela sua cabeça, deixando-a totalmente nua e tomo meu
tempo para apreciar seu corpo perfeito antes de voltar a beijá-la. Os beijos de
Chelsea são perfeitos, e me fazem somente deseja-la ainda mais. Sua boca
quase esfomeada contra a minha, me dando beijos lascivos e mordiscando
meu lábio inferior são tudo o que mais preciso.
Puxo ela em meu colo até posicionar nós dois na cama, me virando até
ficar sobre ela. Chelsea Capri deitada completamente nua na minha cama,
com seus cabelos espalhados nos travesseiros, lábios inchados, vermelhos e
com um sorriso malicioso é a visão da perfeição. Apoio meu peso em um
antebraço e corro os dedos da outra mão pelo seu corpo que vai se
arrepiando ao longo da minha trilha.
“Você é tão boa.” Sussurro contra a pele dela, beijando seu pescoço,
sugando a pele e arranhando ali com os dentes.
Desço meus toques até seu colo e, com um olhar para o seu rosto me
fitando cheia de desejo, tomo seu seio na boca, sugando a pele macia,
passando a língua pela ponta enrijecida do seu mamilo. Sinto como seu
corpo está quente com a boca, tomando meu tempo em lambidas vagarosas.
Chupo até que ela comece a se contorcer embaixo de mim e eu passe o
dorso do indicador no outro mamilo, igualmente rígido e num tom claro do
rosa. Seus seios parecem ter sido feitos para que eu os toque, com as mãos
ou a boca, porque se encaixam tão bem que poderiam passar um bom tempo
apreciando seus gemidos enquanto trabalho neles.
Me inclino ainda mais para baixo na cama, trilhando beijos pela sua
barriga no caminho e ela suga a respiração em antecipação. Sua pele está
quente e seus olhos atentos em mim. Termino embaixo do seu umbigo,
mordiscando a pele ali até depositar alguns na parte inteira da sua coxa.
Seguro sua perna até deixá-la em meu ombro, colocando Chelsea totalmente
exposta para mim que o mínimo sopro da minha respiração, tão perto da sua
intimidade, a faz soltar um barulhinho estridente.
Sua carne inchada ainda brilha pela excitação, me deixando com mais
vontade de sentir seu gosto. Deixo beijos na parte interna da sua coxa
apoiada em mim mais uma vez, da altura do joelho até que meus lábios
estejam próximos de novo do seu centro. Apesar de apreciar a visão, porque
parece deliciosa, subo meu olhar até que estejam no rosto de Chelsea.
Não posso dizer que não sei nada sobre isso, gastei meu tempo
procurando sobre quando mais novo, sempre apreciei sexo ainda que fosse
do tipo novato. Aprendi algumas coisas ao lado da minha primeira namorada,
com quem compartilhei minha primeira vez, apesar de que a ideia de eu
chupá-la ser algo que ela não apreciasse. Sempre imaginei como seria prová-
la, mas me contentava com seu sabor em meus dedos.
Ter Chelsea assim, exposta e desejando pelo meu toque, era um nível
diferente de intimidade e prazer para mim. Me sinto quase sedento para
finalmente colocar minha boca nela. Lambo os lábios e ela mexe levemente a
cintura. Uma das minhas mãos está na sua perna ainda e a outra segura sua
bunda, elevando seu corpo na minha direção.
Levo minha cabeça para mais perto e corro a língua por toda sua
extensão. Ela solta um choramingo, pedindo por mais e acabo desviando o
olhar para o meio das suas pernas. Ela é deliciosa, seu gosto em minha boca
quase me faz gemer porque quero ter mais disso. Seu ponto inchado pede
atenção e fecho meus lábios ali, sugando um pouco e quando volto para
apreciar Chelsea abafando um gemido contra meu travesseiro, ela desce
suas mãos para me segurar, mas eu seguro seus pulsos em um momento
rápido contra sua barriga.
“Não. Vai precisar me dizer o que fazer.” Digo contra sua pele molhada
e ela solta mais um choramingo, mas acena. Não faço nenhum movimento
para solta-la, mas não recebo reclamações quanto a isso.
“Você sabe mesmo como torturar de forma muito prazerosa.” Ela
respira fundo, seus olhos em mim. “Isso que estava fazendo, me chupar onde
estou mais sensível, é muito bom, quando passa sua língua em mim,
também. Pode ficar próximo da abertura, se quiser…” Sua voz morre quando
eu lambo ela mais algumas vezes, adorando seu gosto na minha boca.
Experimento algumas formas diferentes me atento primeiro próximo de
sua entrada, depois voltando ao seu clitóris em beijos suaves e chupando
enquanto ela se revira contra mim. Meus movimentos vagarosos fazem com
que ela pareça inquieta e acaricio sua coxa quando ela ameaça se fechar
contra mim involuntariamente, ainda mantendo seus pulsos firmes em sua
barriga.
Dou uma atenção especial ao seu clitóris, tomando-o entre os lábios,
circulando minha língua ao seu redor, pressionando-o com a língua e
sentindo sua textura suave. Chelsea morde o lábio inferior com força
enquanto contém seus barulhos deliciosos. Começo a movimentar minha
língua próximo de sua entrada e ela aperta seu calcanhar nas minhas costas,
tentando me levar mais para perto enquanto joga seu quadril pra frente. A
essa altura, posso quase sentir meu pau furar a cama de tão duro e não sei
como ainda não gozei sozinho porque tudo isso, ela, é melhor do que poderia
imaginar.
“Josh... por favor.” Ela pede em um sussurro necessitado.
“Quer isso?” Pergunto antes de colocar minha língua dentro dela e tirar
em seguida.
“Mais.” Chelsea pede e não é como se eu pudesse resistir a ela.
Enfio minha língua nela novamente, passo a entrar e sair em um ritmo
que eu aprecio e pelo jeito Chelsea também. Senti-la se comprimindo contra
meu pau é perfeito, mas sentir isso em minha língua é uma experiência
diferente e ótima. Experimento mover minha língua lá dentro e isso me resulta
em uma arfada contra o travesseiro. Seus olhos estão fechados,
pressionados, e seu rosto mostra como ela está totalmente entregue no
prazer que eu espero estar dando. Torço a língua e Chelsea solta um gritinho,
seus olhos se abrem.
“Isso foi, porra, muito bom.” Ela fala me fitando.
Sua língua passa pelo lábio inferior e essa mulher, em quem estou
enterrado no meio das suas pernas, é a coisa mais linda e sexy que já vi. Isso
me faz ficar ainda mais empenhado. Saio de dentro dela e volto a lamber seu
clitóris. Paro minhas carícias em sua perna e trago os dedos até sua carne
molhada, provocando com o indicador e o médio, lubrificando-os antes de a
penetrar de novo.
Os gemidos de Chelsea se intensificam assim como os barulhos
molhados de meus dedos tão envoltos em sua umidade. Levo-os até o fundo,
tirando-os quase inteiros antes de voltar. Ela fica ainda mais frenética e mais
alguns segundos trabalhando com a boca e a mão, começo a sentir suas
paredes internas pulsarem com a chegada eminente do seu clímax.
“Josh…”
A forma como meu nome sai dos seus lábios, algo entre um
choramingo e um desejo, combinado com a forma como seu corpo começa a
movimentar-se ainda mais necessitado contra mim, sei que ela está vindo e
estoco meus dedos mais duas vezes antes de substituí-los pela minha língua
de novo, querendo que ela goze com a minha boca. Seu corpo vibra meio
sem controle enquanto eu saboreio seu gosto antes que Chelsea seja envolta
na nuvem de satisfação.
Provo todo seu orgasmo, me satisfazendo por deixar ela assim. Solto
seus pulsos antes de deixar um beijo na sua fenda sensível quando seus
movimentos frenéticos param. Lambo os lábios antes de trilhar alguns beijos
molhados até que meu rosto esteja na altura do dela de novo.
“Achei que não soubesse como fazer isso.” Ela murmura com os olhos
fechados ainda, abraçando meu corpo contra o dela.
“Posso ter lido uma ou outra coisa e você é uma ótima professora.”
Sorrio satisfeito comigo e beijo os lábios dela brevemente. “Isso significa que
foi bom?” Não foi perfeito, sei disso, posso melhorar de um iniciante para um
intermediário com algumas outras vezes, mas espero que tenha sido ao
menos satisfatório.
“Mhm.” Ela geme contra minha boca. “Você gostou?” Chelsea abre os
olhos e me fita enquanto eu afasto alguns fios do rosto dela, grudados pelo
suor.
“Sim, é… bom? Não sei como definir. Mas foi gostoso, e gosto de ver
você. Assistir você recebendo prazer é satisfatório. Você é bastante gostosa.”
Admito, sabendo que minhas bochechas devem estar vermelhas porque
conversa de sexo não é meu melhor momento. Ela escova os dedos pela
minha pele, sorrindo. “Foi bom mesmo? Não precisa mentir para me agradar.”
Peço, porque foi minha primeira vez. E nem acredito na minha coragem por
estar pedindo que ela avalie.
“Sete de dez, poderia ser oito se não me torturasse tanto.” Ela faz
biquinho e eu beijo ali.
“Ok, posso lidar com isso. Talvez da próxima vez ganhe um oito, com
tortura.” Ela sorri e parece impossível não acompanhar.
Chelsea parece tão satisfeita e linda, ainda um pouco entorpecida pelo
prazer, uma bagunça de fios loiros pela minha cama, os quais afasto do seu
rosto bonito. Às vezes fica complicado conter alguns sentimentos e na última
semana, estando tão próximo dela, ficou ainda mais difícil. Mas não quero ser
o cara das esperanças falsas e ela não merece nada além de tudo.
O que eu ficaria mais do que feliz em dar, porque ela é tudo. Cada
partezinha dela é perfeita, dentro, fora, qualquer lugar. E nunca achei que
poderia me sentir assim, tão completo, em pouco tempo. San Diego parece
anos atrás, porque Chelsea me renovou de formas que pensei que não
seriam possíveis a longo prazo. Odeio passar por cima de algumas coisas,
mas não acredito que me arrependeria de pular algumas etapas com ela e
nosso início. Porém, também me sinto bem por cada pequeno pedaço dela
que Chelsea está disposta a dar. Mesmo que vagarosamente.
Ela traça os dedos pelo meu rosto com carinho, contornando minhas
sobrancelhas um pouco franzidas e me observando como eu a observo. Um
sorriso ostenta em seus lábios e solto um suspiro leve para a imagem dela
assim, abraçada comigo de forma desajeitada.
“Está pensando demais, baby boy.” Ela diz estalando os lábios. Mas
são seus olhos que eu fito, porque poderia me perder naquele azul, todas as
tonalidades que se sobrepõem ali. “O que foi?” Sua cabeça se inclina um
pouco na cama e ela franze a testa, ainda sorrindo para mim de canto.
Tenho vontade de falar que estou cada dia mais apaixonado por ela,
porque não precisei de qualquer contato físico para me sentir muito bem do
lado de Chelsea, como sempre a procurei em todos os lugares e como
desejava sua presença do meu lado muito antes de provar seus lábios. Que
sinto isso de forma tão expansiva no meu peito e às vezes me pego
pensando se não fui destinado a amar essa garota na minha frente desde o
dia em que nasci. Não porque meu destino seja dar a ela algo que foi
perdido, mas para mostrar que ela merece tudo o que desejar, e que eu
posso provar que ela merece tudo isso.
Mas as palavras parecem uma paranoia na minha cabeça, porque
ninguém ama fácil, e o que sinto por ela deve ser algum tipo de paixão
avassaladora, porque sua presença é avassaladora na minha vida.
Expansiva, mas adorável. Por isso, solto o ar pelo nariz e balanço a cabeça
negativamente, dando um sorriso antes de beija-la com vontade. Um riso
escapa de Chels antes que retorne meu beijo.
Suas pernas se enrolam em mim e mostram que minha meia ereção
pode subir em tempo recorde. Ela geme contra meus lábios quando sente
meu volume contra sua barriga e desce a mão para segurar meu
comprimento ainda na boxer. Solto um grunhido pelo seu toque e Chelsea se
livra da última peça de roupa que nos separa. Ela se esfrega em mim quando
retorna a levantar as pernas nas minhas costas. Suas unhas passam pelo
meu peito e deixam minha pele arrepiada antes de envolver meu pau com a
mão e começar a me masturbar enquanto me beija com voracidade.
“Preciso estar dentro de você.” Murmuro contra seus lábios, descendo
uma das mãos, encontrando-a molhada e pronta de novo.
Passo meus dedos pela sua abertura lubrificada enquanto Chelsea se
ocupa em tatear pelo preservativo na mesa de cabeceira e desenrolar em
volta do meu pênis.
“Josh…” Ela solta um choro enquanto chupa minha pele no peito,
balançando o quadril contra meu aperto.
Me posiciono na sua entrada e giro círculos gentis em seu clitóris
enquanto penetro ela. Chelsea abafa seus gemidos em minha pele com uma
mordida que faz meu pau latejar dentro dela. Tento fazer com que meus sons
saiam o mais baixos possível enquanto seguro sua bunda mais alta, me
proporcionando mais acesso a ela.
Abraço seu corpo contra o meu e paro minhas estocadas enquanto
giro nossos corpos na cama, deixando Chelsea sentada em cima de mim e
essa virou minha mais nova posição favorita há uns dias. Ela sorri quando
começa a cavalgar meu pau, apoiando as mãos no meu peito e não pode
haver visão mais sensual que ela com esse sorriso enquanto joga os cabelos
loiros para o lado.
Suas mãos aranham minha pele suavemente e envia arrepios por todo
o meu corpo. Aperto forte minhas mãos no quadril dela, me movimentando
junto enquanto ela rebola de uma forma muito deliciosa contra mim e parece
impossível que eu aguente muito mais. A visão é muito boa e meu pau sabe
disso, assim como parece adorar estar dentro da umidade quente que ela
oferece. Eu pulso com o orgasmo que vem muito forte, quase tirando toda a
força do meu corpo e Chels se movimenta mais algumas vezes antes de
arfar, mordendo o meu ombro quando goza poucos segundos depois que eu.
Ficamos nessa posição, recuperando do estupor do sexo e espalmo
sua bunda com um aperto.
“Você é até bastante safado, sabia?” Ela diz e subo minhas mãos,
apertando os dedos em sua cintura.
Minhas bochechas queimam e não acho que é somente pelo cansaço
do sexo. Chels apoia os braços no meu peito, para me olhar e ri em uma
gargalhada boa que se espalha pelo quarto.
“Isso é muito bom. Posso dizer que tenho um bom menino como
namorado e só eu saber como ele é um pervertido na cama.” E todo o resto
do meu corpo queima com vergonha, é o que eu acredito. Sua gargalhada
segue e ela planta um beijo nos meus lábios. “Teoricamente não só eu, mas
atualmente só eu.” Chels completa depois de um tempo, não exatamente
com alguma nota de ciúmes ou rancor, mas só colocando um fato. Tenho
vontade de dizer a ela que pouco disso pode ser comparado a minhas
experiências anteriores.
Me sinto amolecer ainda em seu interior e puxo meu pau pra fora em
um movimento, mantendo nossa posição com ela deitada em mim.
“Quem sabe não goste de bater e amarrar também?” Ela fala e arqueio
a sobrancelha, um pouco surpreso com aquilo.
Dou um sorriso travesso e aperto sua bunda com força, e ao invés de
protestar, Chelsea solta um gemido baixinho. Preciso reunir toda coragem
restante no meu corpo e posso dizer que com ela me olhando desse jeito me
sinto realmente corajoso, para afastar minha mão e dar um leve tapa na
bunda firme dela, ainda sentada em mim. Chelsea solta outro som baixinho.
“Gosta disso, então?” Pergunto sem conseguir evitar a vergonha que
passa pelo meu corpo, o que me faz acariciar a carne onde acabar de bater,
apesar de saber que não foi nada forte. “No geral, quis dizer.”
“Mhm.” Ela murmura um pouco incerta.
“Pode me falar sobre o que gosta.” Tranquilizo ela, porque após certo
tempo, aprendi que essa acaba sendo a melhor forma de tornar o sexo ainda
melhor dentro de um relacionamento. Chelsea não precisa necessariamente
se sentir envergonhada a respeito disso, pode falar comigo sobre suas
preferências. Além do mais, eu acabo gostando do pensamento de amarra-la
enquanto lhe dou prazer, como fiz mais cedo, segurando seus pulsos, e isso
me faz ficar um pouco envergonhado.
“Não é algo frequente, mas gosto da ideia. Me excita.” Ela dá de
ombros, se recuperando do seu breve momento. “Tipo agora. Estou mesmo
pensando sobre uma segunda, ou terceira rodada.”
Não consigo evitar um sorriso e o sangue começa a voltar a correr de
forma mais latejante lá embaixo.
“Gosto que me diga o que gosta, ou que me diga o que fazer, o que
quer.” Admito. Ela parece surpresa, mas acena. “Gosto do seu jeito mandão.”
E ela não protesta quanto a isso quando se deita em cima de mim.
Ficamos mais um tempo assim, suas mãos afagando meus cabelos e
eu acariciando seu corpo, até ela rolar para o lado e eu me livrar da
camisinha, embrulhando em um lenço antes de colocar no lixo ao lado da
escrivaninha. Chelsea liga o abajur do lado da cama e eu desligo a luz do teto
antes de voltar a deitar com ela, que não hesita em trazer seu corpo para
perto do meu e me abraçar.
Beijo sua testa e deixo meus pensamentos me levarem para como
esse é o maior estado de paz que estive há mais de um ano, mas acabo me
sentindo mal pelo pensamento, porque meu relacionamento com Sarah não
estava ruim. Mas percebo que isso não tem a ver com ela, e sim em como
Chelsea entra na vida das pessoas. Posso me sentir tranquilo com meu
antigo relacionamento, que não teve o final mais agradável, mas ainda assim
me sentir contemplado pelo meu atual.
Quando a respiração de Chelsea fica mais pesada contra o meu peito,
apago o abajur para que ela durma mais tranquila e acaricio seu corpo
abraçado o meu por mais um tempo antes de também fechar os olhos e
provavelmente continuar sonhando com ela em um estado adormecido.
 
 
 
 

 
É QUARTA-FEIRA À NOITE, COMEÇO DE AGOSTO, quando Josh termina
nossa quinta tela do projeto e eu finalmente consigo alcança-lo de maneira
satisfatória em nosso trabalho escrito. Quando ele se vira para mim, com
algumas manchas de tinta no abdômen definido, tem um sorriso satisfeito.
Ontem à tarde tive o prazer de ver como ele mantém esse corpo de forma
impecável, quando passei na academia que ele e os meninos estavam
treinando no meu caminho para o escritório depois de uma reunião na
agência. Tomei meu tempo para admirar meu namorado por alguns
segundos, ainda que infelizmente não fosse a única.
Ciúmes nunca foi algo para mim, mas ontem definitivamente quis
marcar Josh de forma que afastasse qualquer olhar desejoso, ou pelo menos
alguma cobiça. Apesar de sentir um pouco de gratificação por notar que ele
não retribuía nenhum olhar. Não que eu tenha conseguido ficar mais que um
minuto admirando, de qualquer forma. A última coisa que queria é ser pega
como stalker.
Bem, ele se vira para mim com seu sorriso ainda sentado no banco de
madeira. Deixo o computador de lado para prestar atenção nele também.
Seus dentes puxam o lábio inferior e sei que ele quer me perguntar algo,
apesar de sempre ficar nervoso com isso. Coloco um sorriso nos lábios e
rastejo na cama, subindo meu vestido de verão verde-água até que esteja
sentada na ponta da cama, de frente para ele.
“Diga.” Falo e ele se aproxima mais com o banco e franzo a testa.
“Josh?” Suas mãos seguram meu rosto com delicadeza e eu arqueio a
sobrancelha.
“Como pode ser tão linda?” Ele brinca e dou gargalhada, sendo
acompanhada por ele.
“Ok, isso não é o que queria perguntar.” Retruco depois de respirar
fundo, me inclinando na sua palma.
“Foi só uma coisa boba que veio na minha cabeça.” Ele maneia
negativamente aquela cabecinha linda. Incentivo ele a continuar, mas ele
solta meu rosto. “É sobre sua mãe, mas não quero falar sobre isso.” Porque
ele sabe que sempre fico chateada com o assunto.
Embora não me importe mais tanto assim, ela ainda tem efeito em
mim.
“Pergunte.” Eu digo depois de certo tempo, quando ele levanta, mas
seguro sua mão. “E penso se quero responder ou não.”
“Tudo bem.” Ele senta de novo. “Seu pai chegou a procurar ela?
Depois de tudo?” Não estou tão surpresa com isso, porque é uma pergunta
quase óbvia, entretanto quase ninguém a faz com frequência, porque
ninguém sabe a verdade sobre a partida da minha mãe.
Levanto os ombros.
“Sim.” Tiro os olhos da tela pronta, onde estou divagando inebriada
pelo cheiro de tinta acrílica fresca. “Um ano depois, porque ele queria ter
certeza que ela não voltaria nunca mais para nossas vidas.” Ele parece um
pouco confuso quando leio sua expressão. Solto um suspiro, mas não porque
estou irritada ou entediada, só buscando as palavras certas. “Nós sofremos
muito, sei que não foi só eu. Meu pai perdeu o amor da vida dele também.
Acho que depois de certo tempo, qualquer sentimento é substituído por uma
mágoa. Hoje me sinto assim sobre ela. Mas para o meu pai começou antes
eu acho. Muito antes. Então ele procurou por ela e não foi assim tão difícil.” O
investigador não demorou nem um mês para achar minha mãe. “Ele preparou
os documentos e fez ela assinar um divórcio, no qual saiu sem um sequer
centavo, e um processo de guarda, para que ela não pensasse em um dia
usar o fato de compartilharmos sangue para tirar algo de mim.” Faço uma
careta. “Acho que, na época, meu pai fez isso para me proteger, hoje vejo
isso, porque não sei o que faria se ela aparecesse quando eu tinha uns
dezesseis por aí. Ou o que faria hoje em dia. Apesar de doer um pouco,
gosto de saber que tem um documento guardadinho e assinado que impede
ela de se aproximar.”
Josh passa a língua pelos lábios, provavelmente escolhendo palavras
para o que for que quiser dizer. Passa alguns segundos e ele acena com a
cabeça.
“Achei que fosse me perguntar se eu gostaria de encontrar ela de novo
algum dia.” Porque também me parece uma pergunta óbvia.
“Imagino que a resposta para isso seria não. Ela é ninguém na sua
vida hoje, nada além de uma memória ruim. Se quer a minha opinião,
acredito que ela nem mesmo mereceria tal encontro.” Ele fala e eu concordo,
mas arqueio a sobrancelha para a última parte e Josh prossegue. “Ela não
tem direito de conhecer a mulher que você se tornou, porque nada disso tem
a ver com ela. Ela desistiu. Você não pode desistir do processo e depois
querer apreciar o sucesso final. Você tomou seu tempo e se tornou alguém
incrível da sua própria forma, até mesmo com as coisas que ela desaprovava.
Você é mimada, teimosa e sempre consegue um sim, mas isso é algo sobre
quem você é. Assim como o fato que se importa muito com as pessoas à sua
volta, da sua maneira, e mesmo desacreditando de tudo, tem o potencial de
fazer qualquer coisa pequena se tornar incrível, mesmo que não seja de
coisas pequenas ao todo.”
Contenho as lágrimas, porque isso foi tão gentil, mas vindo dele, eu
nem mesmo deveria me chocar. Ele coloca sua mão no meu rosto e
novamente me inclino nela, Josh acaricia minha bochecha com o polegar,
erguendo o canto da boca em um meio sorriso. Ele está focado em mim, mas
não acho que seus pensamentos estão aqui de fato. E tenho a certeza disso
quando ele murmura, como um pensamento em voz alta.
“Sei que acha que não foi merecedora do amor dela, mas acho que foi
ela quem não merecia a pessoa incrível que você é.” Seus olhos castanhos
tão certos disso focam em mim. Uma lágrima cai pela minha bochecha e é
pega pelo polegar dele no meio do caminho.
Pulo no colo de Josh, quase nos derrubando do banco, e abraço seu
corpo com força. Seus braços me abraçam de volta, segurando minhas
pernas em seu colo jogadas pra o lado e minhas costas. Enterro minha
cabeça em seu pescoço, desejando poder morar nessa sensação e me deixo
chorar algumas lágrimas quando percebo que estou mesmo apaixonada por
ele.
Desde o primeiro instante seria uma mentira a se dizer, mas ao longo
de um mês e meio, Josh se mostrou ser a pessoa mais compreensível,
tolerante, amável, altruísta e gentil que eu poderia pedir para amar. Eu nem
mesmo sou metade disso para o merecer, mas ainda assim sou egoísta
porque o quero tanto só para mim.
Mas não sei colocar isso em palavras, porque sou ruim com
sentimentos e tenho medo de acabar sempre estragando tudo. Respiro fundo
e limpo as lágrimas que caíram, enquanto Josh beija meu ombro com toda a
paciência do mundo, porque ele sempre tem tanta paciência comigo e
definitivamente deve ser a pessoa mais madura desse relacionamento.
Alguém bate na porta e depois de uma olhada em mim, Josh deixa
Nick abrir a porta. Ele nos olha com estranheza e eu fungo baixo antes de
levantar do seu colo.
“Josh?” Ele pergunta sério para o melhor amigo, preocupado, e dou
um sorriso para Nick.
“Está tudo bem.” Vou até à cama guardar minhas coisas.
“Tudo bem…” Mas Nick não parece tão certo sobre isso. “Scott está
feliz pelo novo trabalho e comprou sorvete, vim oferecer.” Ele indica um pote
de Ben&Jerry’s e eu quase salivo.
“Eu disse que ele conseguiria!” Falo convencida enquanto Josh se
levanta para pegar o pote.
“Obrigado por isso, Chels, é realmente importante.” Nick fala e lhe dou
um sorriso enquanto coloco meu computador na minha bolsa.
“Onde pensa que vai?” Josh para do lado de Nick no batente da porta
quando coloco meus saltos.
“O salão de eventos é do lado da minha casa e preciso estar lá
amanhã cedo para um teste de luzes e som. Além de teste de cores para as
toalhas de mesa.” Digo, ficando em pé de novo e pegando minha bolsa.
“Cedo quero falar às sete e meia, pretendo não acordar de madrugada para
chegar lá a tempo. E sei que tem um turno amanhã de manhã, não quero que
você precise pular da cama se for dormir comigo ou se eu ficar.”
“Faria isso com vontade.” Ele murmura e Nick ri antes de deixar o
quarto, falando algo sobre esse cara é apaixonado demais. Josh me puxa
para seus braços quando chego na porta. “Está tudo bem?”
“Claro que está.” Coloco uma das mãos no seu peito nu e a outra em
seu rosto. “Eu…” Mas as palavras trancam na minha garganta e fecho os
olhos com força, soltando um bufo frustrado. Volto a olhar para sua
expressão gentil antes dele plantar um beijo na minha testa. “Você é uma das
partes de mim que eu mais gosto.” Admito de forma fajuta o que eu sinto,
sem nem mesmo conseguir fazer isso olhando nos olhos dele e aproveitando
enquanto seus lábios tocam minha pele.
“Eu também.” Mas não estou certa sobre qual parte ele está falando.
Apesar de, quando seus olhos fitam os meus por alguns segundos, sei sobre
o que o “eu também” se trata. Acabo sorrindo boba com aquela descoberta.
“Eu também, de verdade.” Ele diz antes de beijar meus lábios, provando da
minha língua vagarosamente, de forma tão carinhosa e cheia de afeto que
meu coração quase explode com o sentimento que guardo por ele.
Meu celular vibra na bolsa e sei que é Marshall avisando que já está
me esperando. Provavelmente junto com algo como quando a senhorita
estiver pronta, mesmo que saiba que odeio deixá-lo esperando.
“Preciso ir,” Falo contra os lábios dele, aproveitando para pegar o seu
inferior entre os meus antes de me afastar.
Me despeço dos meninos, não vendo Scott para parabenizá-lo, e estou
quase saindo quando me lembro.
“Ah, pode vir jantar amanhã à noite?" Pergunto me virando para Josh.
“Meu pai vai estar na cidade e volta a viajar só no final de semana, mas quer
usar a oportunidade para um jantar. Queria saber se vai estar disponível.”
Josh estanca por um momento antes de soltar o ar.
“Claro.” Sua resposta sai em um guincho antes dele limpar a garganta.
“Claro, só me avise o horário. Meu turno vai só até após o almoço.”
“Perfeito.” Estalo um beijo em seus lábios, porque a forma como ele
tenta disfarçar o nervosismo é adorável. “É só um jantar normal, e é só meu
pai. Às oito. Posso pedir para Marshall vir te pegar, se preferir. E se quiser,
passe a noite.” Ele me olha em choque e eu solto um riso, cochichando em
seu ouvido. “O quarto do meu pai fica bem longe.”
“Você quem é a pervertida.” Josh sussurra e dou de ombros.
“Não posso contradizer isso.” Pisco para dele, beijando mais uma vez
seus lábios de forma breve, saindo para encontrar Marshall com um sorriso
de canto nos lábios enquanto me cumprimenta e abre a porta do carro.
 
 
Ajusto o cinto Gucci preto na minha cintura e checo meu cabelo loiro
claro que cai em ondas bem feitas nas minhas costas, contrastando leve com
o meu vestido bege médio, que bate na metade das minhas coxas, em duas
camadas. Sua gola é alta no peito, circulando meus ombros com leveza e tem
um babado vertical na frente dos meus seios, do colo a cintura. As mangas
cumpridas combinam com a noite amena, e um elástico no tecido as ajustam
nos meus pulsos, deixando um babado descer pelas minhas mãos. Completo
o visual com um salto médio, também em um tom claro de nude, e uma
maquiagem básica.
Para um jantar em casa, eu poderia estar exagerando, mas sou
Chelsea Capri, afinal de contas.
Desço as escadas e encontro meu pai e Josh conversando em pé na
sala de jantar, ao lado do pequeno bar que meu pai montou em um dos
cantos.
“Little bee, está linda.” Meu pai beija minha bochecha quando me
aproximo e dou a ele um sorriso de quem sabe que é a garotinha do papai,
antes que eu passe os braços pela cintura de Josh e seu braço descanse
hesitante nos meus ombros.
“Vejo que já está bem acomodado. Não sabia que já tinha chego.” Me
direciono para Josh, que acaba plantando um beijo na minha testa quando
inclino a cabeça para encará-lo.
“Faz só alguns minutos. Seu pai já estava por aqui e acabou me
falando sobre a viagem dele para a Califórnia.” Josh maneia a cabeça e volta
a olhar para o meu pai.
“Nunca dê a ele a chance de falar dos seus bebês favoritos ou ele
nunca vai parar de falar sobre os hotéis.” Provoco meu pai que ri enquanto
me serve uma taça de vinho.
Ele bebe uísque e Josh tem uma cerveja em mãos. Fico feliz por não
ter entrado na onda do meu pai. A última vez que fiz um tour pelas suas
garrafas de líquido marrom quase morri passando mal no dia seguinte.
“Mentira total, começando pelo fato de que não são meus bebês
favoritos. Você ocupa de longe essa posição, querida.” Meu pai me entrega a
taça com uma piscadela. “Estávamos só conversando. Não sei se chegou a
me falar sobre o fato dele ser de lá.”
“Posso ter comentado, mas estava ocupado nas últimas semanas
talvez tenha esquecido.” Meu tom de voz não tem julgamento pela possível
desatenção do meu pai, e ele me dá um sorriso grato por compreender.
“Vamos nos sentar? Estou faminta para saber o que Sra. Price preparou para
nós.” Sento ao lado de Josh e ao invés de se sentar na ponta, meu pai senta
na minha frente na mesa, tendo melhor visão de nós dois.
Josh está ainda mais bonito, caso possível, nessa camisa social
branca e uma calça jeans de lavagem clara. E mesmo com meu pai há
menos de dois metros, não vejo a hora de tirar aquilo dele.
“Me disse que começou agora a faculdade, mas tem vinte e um certo?”
Meu pai pergunta e Josh acena enquanto Price começa a colocar os pratos
cheirosos na mesa. “Ano sabático ou estava trabalhando em algum projeto
pessoal? Chelsea me disse que suas obras não são exceções, acredito que
pinte por mais que prazer, quem sabe?”
“Só por prazer, Cyrus.” Ele diz hesitante, mas meu pai sorri e Josh
continua. “Acabei envolvido em algumas outras coisas e fiquei em San Diego,
trabalhando, nesses anos.” Meu pai compreende que não é um assunto a se
perguntar muito mais, por isso direciona a conversa para outro lugar
enquanto nos servimos.
“Pretende pintar para algo além do prazer? Suas obras são bonitas e
vejo talento, não hesitaria em comprar algumas. Talvez aqui para casa ou
para as decorações do hotel.” Sorrio largo enquanto coloco purê no meu
prato, sei que a gentileza do meu pai não é dita da boca para fora e sei como
isso pode ser sentido positivamente para Josh.
“De verdade, senhor?” Baby boy pergunta animado.
“Claro, rapaz. Inclusive, espero que esteja trabalhando naquele que
pedi, pretendo pagar pelo meu retrato da minha bela filha. Honestamente,
essa obra de arte fui eu quem fiz.” Os olhos azuis dele, de quem eu puxei, me
fitam com apreciação e sorrio em agradecimento pela gentileza.
“Pai, acho que Josh está um pouco envolvido no trabalho na cafeteria
e no nosso projeto da aula.” Porque não quero que Josh se sinta
pressionado.
“Está tudo bem, se não tiver muita pressa, posso prometer entregar até
o fim do mês. Podemos discutir depois o tamanho que prefere.” Josh levanta
os ombros antes de colocar um pedaço da carne assada na boca.
“Querida, conseguiu resolver o problema como a decoração que
estava falando ontem?” Meu pai pergunta. Ocupo alguns minutos detalhando
sobre meus problemas resolvidos e sobre como estou contente de tudo estar
quase ajustado para a festa da próxima semana.
Josh fala um pouco sobre seus pais e sua vida em San Diego, meu pai
reconhece dois filmes dos quais o pai dele teve participação no roteiro e vejo
que baby boy fica orgulhoso do próprio pai, como eu sempre fico das
conquistas do meu. Para o gosto do meu pai, Josh o acompanhou em alguns
minutos de conversas sobre negócio, como ele planejava algumas mudanças
em algumas parcerias na Califórnia e que esperava logo expandir suas
sociedades para San Diego.
Fiquei contente nos dois verem meu relacionamento com Josh a longo
prazo e no fim da noite, quando fomos levados pelo meu pai até o bar dele
montado em um cômodo próximo do estúdio. Com vista aberta para o jardim,
móveis escuros e toda a vibe de bar moderno, o ambiente era perfeito.
Minhas taças de vinho começaram a fazer efeito com meu cansaço. Os dois
seguem conversando animadamente em pé, enquanto eu, sentada na
banqueta, apoio minha cabeça no ombro de Josh, que me abraça com
tranquilidade.
Não me incomodo muito em participar da conversa, muito encantada
com os dois parecendo quase amigos de longa data. Meu pai falou de
assuntos que nunca tem retorno de mim pelo desconhecimento, e explicou
algumas coisas sobre seus investimentos para Josh, que pareceu curioso o
tempo todo. Ele é tão bom nisso de conhecer o pai da sua garota que quase
me esqueci que não sou sua primeira garota. Não esperava nenhuma atitude
diferente do meu pai, honestamente. Cyrus Capri é um bom homem, o melhor
que eu conheço, por isso esperava conversas amenas e animadas, não
intimação e grosserias.
Ele estava mesmo querendo conhecer Josh há um tempo. Ficou
impressionado com o cara que tinha me feito deixar de lado minha vida
agitada de festas e corpos quentes diferentes toda semana para me assentar
ao lado de uma pessoa por um mês sem nem mesmo ficar com ele. Quando
penso muito sobre o assunto, quase acredito que meu relacionamento com o
baby boy começou muito antes do que duas semanas atrás. Começou
quando eu me senti mal por fazer coisas, que sempre fiz, com ele. Por pedir
desculpas pelos meus atos ruins com frequência e quando quis tentar reparar
meus erros.
Quando ele se abriu para mim e como me preocupei que ele me
deixasse sem aviso também, e como o mero pensamento disso doeu, ainda
que eu mal o conhecesse muito ainda. Mas Josh sempre fez questão de que
eu o conhecesse, porque nunca hesitou muito em responder minhas
perguntas ou explicar sobre sua vida, me contando sobre os pais, sobre os
meninos. Além de me fazer acreditar no meu potencial e falar que, se
desistisse de tudo, porque essas coisas não me cabiam, eu poderia porque a
vida é minha e sou Chelsea Capri.
Depois que Josh entrou na minha vida, fiz muitos novos experimentos.
Começando por ele em si. Sempre preferi caras com experiência, que
pudessem me dar o que eu queria sem precisar pedir. Que me saciassem
sem mais. Ele tem experiência e realmente se mostrou incrivelmente safado
em alguns momentos no quarto, mas sempre tem um quê de vergonha
quando me pede algumas coisas ou quando falo o que quero. Não que ele
hesite, porque acho que, no fim, também agrada ele.
Tipo quando me pediu para ensiná-lo a me dar um boquete. Foi a
coisa mais sensual que alguém já me propôs, eu acho. Embora no fim, ele
tenha dado conta muito bem sem precisar que eu dissesse muito.
Josh é tímido, dentro e fora da cama, com ou sem roupas.
A timidez é algo que ele tenta contornar pelos seus desejos e a forma
como ele faz isso, me distraindo do momento, sempre me deixa ainda mais
excitada com a situação. Timidez nunca foi meu forte, nem comigo, nem com
os outros, mas acabei aprendendo a lidar com a espera que preciso ter até
que ele consiga expor o que sente e o que quer. Nunca pensei em me
envolver com ninguém, entretanto ele me fez rever esses conceitos mesmo
que eu ainda não me ache o tipo namorada ideal de qualquer forma.
Nunca quis trabalhar e nunca achei que teria aptidão para algumas
coisas, mas estou animada com a agência de eventos e ansiosa para
começar a auxiliar nas aulas de balé. Ainda mais depois que descobri essa
semana que ajudarei com as turmas iniciantes e ver uma criança começar no
balé é gratificante, porque foi um porto seguro para mim. Sei que, às vezes,
não demonstro como ele merece, não sou boa com sentimentos. É mais
seguro para mim escondê-los do que expor e acabar vendo isso se voltar
contra mim, mas estou feliz do lado de Josh, mais do que isso, estou em paz
ao lado dele. Confortável com esse sentimento no meu peito como não achei
que estaria tão fácil qualquer dia na vida.
“Acho melhor deixar vocês, ou terá que carregá-la para cima.” Meu pai
brinca com Josh, batendo em seu ombro antes de deixar um beijo na minha
bochecha. “Vá dormir, little bee.” Ele fala antes de apertar a mão de Josh.
“Obrigado pela noite, foi uma conversa agradável, Joshua.” Meu pai passou a
usar o nome dele completo assim que descobriu, parece a única coisa formal
entre eles. “Vou encontrar os Hawthorne amanhã para o almoço, quer se
juntar a nós?” Meu pai pergunta para mim antes de finalizar seu copo de
uísque.
“Angel vai estar lá?” Pergunto com uma careta.
“Provavelmente.”
“Te aviso de manhã.” Preciso pensar se quero ver a cara dela, que só
não é pior do que a cara de Oliver para mim.
“Josh vai ficar?” Meu pai direciona a pergunta para ele, mas os olhos
castanhos repousam em mim com uma pergunta.
“Sim.” Respondo manhosa. Meu pai nos deseja boa noite com um
sorriso e sai do cômodo. “Vai ficar mesmo né?” Pergunto uma vez que
estamos sozinhos e desencosto minha cabeça dele. Josh fica na minha frente
de pé e abraça minha cintura, deixando sua garrafa de cerveja no balcão.
“É impossível dizer não pra você.” Ele sorri e beija meus lábios. O
gosto do meu vinho e da sua cerveja se misturam quando nossas línguas se
movem com lentidão. “Vamos subir? Você parece cansada.” Josh diz contra
meus lábios.
“Por favor! Estou de pé desde às seis da manhã.” Provavelmente já
deve passar das dez. Ele me ajuda a descer da banqueta. “Estou mesmo
morta.” Digo assim que meus pés tocam o chão. Josh mantém uma mão nas
minhas costas enquanto subimos até meu quarto.
“Deixei minhas coisas lá embaixo, já volto.” E quando ele desaparece
na porta vou para o closet separar um pijama.
Pego meu celular e respondo algumas mensagens das meninas, chuto
os saltos para um canto. Ainda estou parada no meio do closet sem me
aprontar para dormir, olhando para algumas fotos de Becks com Zach na
praia quando escuto a porta fechar e Josh aparece atrás de mim.
Ele abraça minha cintura por trás e beija meu pescoço.
“Acho que seu pai gostou de mim.” Desligo a tela e olho ele pelo
espelho na nossa frente.
“Ele parecia encantado. Te falei que ele era uma pessoa tranquila.”
Acaricio seu braço na minha cintura. “Estou feliz que tenham se dado bem.”
Porque espero que você fique por muito tempo, completo na minha cabeça.
“Sim, também estou feliz.” Ele fala com um sorriso antes de beijar
minha bochecha. “Você está linda hoje, não pude te dizer isso mais cedo.
Sabe, de tirar o fôlego, mais que o habitual.” Meus olhos focam na minha
figura e realmente não estou nada mal, mas receber os elogios fofos dele
sempre me deixam feliz.
“Você também está muito gato hoje.” Ele acabou dobrando as mangas
da camisa até o alto dos antebraços e isso o fez ficar ainda mais bonito
naquela roupa, mostrando seus braços malhados.
“Preciso fazer certo esforço para ficar bem ao seu lado. Minha
namorada é tipo uma modelo, preciso estar à altura." Josh brinca e, apesar
de pensar sempre nele assim sempre, me sinto como uma adolescente com
borboletas no estômago ao ouvir Josh se referir a mim dessa forma pela
primeira vez.
“Você está sempre a altura. Ficamos perfeitos um do lado do outro.” E
realmente podemos fazer o estilo casal modelo pelo que o espelho reflete.
Involuntariamente, abro a câmera do meu celular, porque não tenho
nenhuma foto dele. Josh não parece se importar, dando até um sorriso
quando tiro uma foto nossa. Gostaria de poder te ter para sempre, penso
olhando para seu rosto no espelho antes de tirar outra foto, mas Josh coloca
o rosto no meu pescoço, me arrancando um riso e é exatamente esse
momento que capturo com a câmera.
Me viro para ele e abraço seu pescoço. Ele ainda me olha com aquele
sorriso e olhos cheios de afeto e por um instante me pergunto em qual
momento acabei virando a mais nova sortuda do mundo. Seus lábios beijam
minha testa.
“Deveria se trocar, sei que está cansada.” E meu corpo realmente está
pesado, assim como meus olhos.
Dou um aceno com a cabeça, imaginando como pude passar tanto
tempo longe de alguém tão certo para mim assim, tão paciente e gentil e
acho que nunca vou me cansar de citar todas as qualidades dele, porque
Josh é definitivamente perfeito.
Ele deixa um beijo em meus lábios antes de sair do closet. Coloco um
pijama de cetim com renda preto e quando passo para o banheiro, Josh está
terminando de escovar os dentes. Faço minha higiene noturna e baby boy já
está só em sua boxer branca terminando arrumar a cama, parecendo muito
mais do que irresistível. Mas meu corpo está cansado e estou quase
dormindo em pé, ainda que deseje ele em mim de todas as formas possíveis.
Deito na cama com um gemido satisfeito e Josh se encarrega de
apagar as luzes. Puxo as cobertas até a cintura, apreciando o alto
funcionamento do ar condicionado. Logo seu corpo se aproxima do meu, me
abraçando por trás e arrumando meus cabelos antes de enterrar o rosto na
curva do meu pescoço, beijando minha pele. Relaxo em seu abraço,
entrelaçando meus dedos nos dele que abraçam minha cintura.
Josh dorme antes que eu, apesar do meu cansaço. Acabo me virando
em seus braços, abraçando seu corpo de frente contra o meu e ele me
arruma contra si mesmo inconscientemente. Respiro fundo seu cheiro,
acariciando seu peito e assim que meus olhos se ajustam no escuro, consigo
distinguir os contornos bonitos do seu rosto e a paz na sua expressão ao
dormir.
Eu te amo.
Digo em pensamentos, desejando ter coragem de falar isso em voz
alta. Mas mesmo esse pequeno passo, admitir isso, me faz sorrir sozinha no
escuro antes de finalmente cair no sono.
 
 
 
 

 
JÁ ESTAVA MORRENDO DE SAUDADES DO MEU NAMORADO quando ele
entra pela porta do estúdio de balé com o celular no ouvido. Nos vimos há
dois dias, na terça, mas eu nunca tenho o suficiente dele. Com um
movimento labial, ele me fala que são seus pais quando paro minha série
para olha-lo. Josh senta no sofá de canto da sala e fica me observando
enquanto conversa sobre alguma reforma da casa com os pais.
Ensaio a mesma música duas vezes até que meus pés finalmente não
aguentem mais. Ele desliga a ligação enquanto estou tirando as sapatilhas,
meus pés já não estão mais com os machucados de antes e eu agradeço,
porque as bolhas me impedem de usar meus saltos favoritos. Não significa
que ainda não deixem a pele avermelhada. Estou usando um collant preto e
uma saia baixa da mesma cor.
“Você fica tão bonita com essas roupas de bailarina.” Josh fala me
observando.
“Não são as mais bonitas do mundo, mas obrigada.” Me aproximo dele
e beijo seus lábios. “Chegou mais cedo.” Puxo sua mão e saímos da sala de
balé.
“Peguei uma hora a menos de turno hoje, passei em casa e vim pra cá.
Trouxe as duas últimas telas. Ainda estou incerto sobre a sétima, mas se
resolver fazer uma nova, te aviso.” Ele entrelaça seus dedos nos meus
enquanto seguimos para fora do corredor até a área central da casa.
“Planejando algum tipo de aula?” Josh pergunta se referindo a performance
que fiz no estúdio. Não é a primeira vez que ele me pega trabalhando nela.
“Não exatamente, é muito complicado para meninas iniciantes, mas
tenho pensado em acabar sugerindo algumas coisas para as demais
professoras. É uma música minha, fiz ela especialmente para ser dançada no
balé. Pode ser interessante.” Explico. É uma gravação misturada entre o
piano e o violino, que terminei há algumas semanas só, mas já se tornou meu
melhor trabalho até o momento.
“É linda. A dança.” Ele elogia com sinceridade. “Nunca tocou para
mim.” Josh parece se dar conta desse fato só agora.
“Posso tocar mais tarde, se quiser.” Olho para ele enquanto subimos
as escadas e seu sorriso se alarga.
“Sério?”
“Não tem nada de mais, não sou nenhuma musicista ótima. Além
disso, não tinha percebido que não tinha feito isso ainda. Vou adorar tocar
algo para você.” Ele me abraça por trás assim que chegamos no andar de
cima e beija meu pescoço enquanto dou risada. “Eu adoro a forma como é
tão animado com as coisas pequenas.” Uma das razões pelas quais eu te
amo.
Mas mesmo depois de já ter me confessado isso sozinha, ainda não
consegui ter a coragem de falar em voz alta.
“Mas, ainda assim, vou amar ver você tocando. E não são coisas
pequenas, é a minha namorada muito artista.” Ele beija minha bochecha uma
última vez quando entramos no quarto. Vejo que já deixou suas coisas aqui
em cima. “Quais são os planos?” Apesar de nunca planejarmos nada especial
realmente.
“Primeiro, pensei em um banho delicioso com meu namorado
igualmente delicioso.” Digo colocando minhas mãos por baixo da sua
camiseta branca e levantando até que ele a tire pela cabeça. “Pensei em
pedirmos comida japonesa hoje à noite, com um vinho branco.” Puxo ele pelo
cós da calça até o banheiro e Josh chuta os tênis para longe nesse meio
tempo.
“Parecem ideias ótimas. Na verdade, estou bastante curioso sobre
esse banho.” Suas mãos passeiam pelo meu corpo e sei que está procurando
uma forma de tirar minha roupa. Dou risada, desamarrando a saia na lateral
antes de abrir a calça dele. “Linda, mas nada prática.” Josh brinca quando
começo a tirar a peça pelas alças.
Meu collant não tem abertura e preciso puxa-lo para baixo inteiro. Josh
se ocupa em tirar sua calça jeans e meias. Arrasto o tecido fino da minha
calcinha até o chão vagarosamente, adorando o olhar faminto dele no meu
corpo. Me aproximo e coloco as mãos dentro de sua boxer azul escura,
apertando sua bunda antes de puxar para baixo.
Josh traz meu rosto até o seu e me beija com força antes de agarrar
minha bunda, me puxando para cima. Coloco minhas mãos em seu pescoço
antes de tirar os pés do chão e abraçar sua cintura com as pernas.
“Sexo no chuveiro? Gosto do jeito que vem pensando, baby boy.”
Murmuro contra seus lábios quando sinto sua ereção crescer.
Um dos seus braços sustenta minha bunda e o outro abraça minha
cintura enquanto ele começa a andar até o chuveiro. Mesmo com tão pouco,
seus beijos molhados e urgentes fazem com que eu me sinta incrivelmente
pronta e necessitada de tê-lo dentro de mim. Seus braços me apertam forte
quando me movimento, me esfregando nele.
“Preciso ir no quarto pegar um preservativo.” Josh fala puxando meu
lábio inferior com uma mordiscada em seguida.
“Josh…” Choramingo agarrando seus cabelos.
“Chelsea.” Ele precisa ser o mais responsável também? Só quero suas
mãos em mim e que ele transe comigo logo.
“Eu tomo a pílula e fiz exame de rotina na última semana. Cem por
cento ok.” Fazia alguns dias que vinha com vontade de trazer o assunto, mas
acabei não tendo a oportunidade.
Quero sentir a pele dele em mim, sem nada no meio, mesmo que usar
preservativo nunca tenha me incomodado. Acho que essa vontade vem junto
com os sentimentos, porque estou quase me esfregando contra ele quando
entramos na água morna do chuveiro. Além do mais, não poderia confiar
mais em Josh para isso.
“Só estou dizendo. Se também estiver limpo e quiser, eu não me
importo.” Me afasto um pouco, olhando-o para mostrar que realmente
significo isso. “Não precisamos fazer sem só porque eu quero.” Força-lo não
está nas minhas opções.
“Não, é só que...” Josh fica vermelho e acaricio sua bochecha com o
polegar, esperando-o decidir o que falar. “Só me pegou de surpresa.” Ele
beija meu pescoço. “Além de… Sarah, e você, só fiquei com outras duas
pessoas. Mesmo com as provas, elas me confirmaram que usamos
camisinha depois.” Não consigo deixar de soltar uma risada e entender a
vergonha dele. Tem a ver com a festa de aniversário, que ele ficou bêbado e
acabou com duas meninas. Fiquei sabendo essa pelos meninos. “Não
deveria rir, passei o dia seguinte inteiro morto de vergonha e ressaca.”
“Queria poder ter visto isso.” Apesar de dizer com zombaria, faço uma
leve careta, beijando seus ombros. Josh agora entende o porquê eu não
estive lá.
“Teve seus motivos.” Ele diz sempre tão compreensível.
“Acho injusto que tenha me visto bêbada e eu não tenha tido o
privilégio.” Tanto no noivado no Hamptons, onde meu mau-humor por causa
de Sarah me levou a beber quanto no dia do baile beneficente. “Deve ficar
ainda mais ousado.” Falo como um pensamento enquanto ele me coloca com
as costas na parede. A ducha tem várias fontes e nos molha por todos os
lados, mas não me importo nem um pouco com isso, ainda mais depois que
os dedos dele traçam meu corpo.
“Planos de me fazer beber pra mais, senhorita Capri?” Ele pergunta
todo sério quando alcança meu seio, beliscando meu mamilo enrijecido
enquanto sua língua passa na curva do meu pescoço.
“Pensando se pode ser ainda melhor do que isso.” Respondo com
honestidade quando suas mãos descem ainda mais, encontrando o meio das
minhas pernas.
Estou aberta para ele, com as pernas envoltas em sua cintura, e isso
deixa muito espaço para que seus dedos brinquem comigo como ele parece
tanto gostar. Seus toques são calmos, exploratórios e torturantes, nunca me
dando o suficiente do seu toque em meu clitóris ou seus dedos dentro de
mim. Me provocando até que eu acabe quase implorando para ser penetrada.
Quase implore por mais, muito mais.
“Tenho algumas ideias.” Ele fala beijando minha boca com força e
afastando seus dedos.
Mal tenho muito tempo para sentir falta do contato quando ele entra
em mim. Arfo em seus lábios e ele segura minhas pernas firme contra si,
seus dedos apertando minha pele enquanto ele começa suas estocadas
duras. Minhas costas arranham um pouco na parede e agradeço por ser de
mármore liso e não qualquer outra pedra com vincos.
Meus dedos agarram seus cabelos e suas costas, sem saber ao certo
o que fazer enquanto me sinto completamente perdida em seus movimentos
contra mim, suas mãos apertando minhas pernas. A força aplicada é perfeita
para dar atrito da sua pele da pélvis com meu clitóris. O contato da sua pele
direto com a minha é diferente, ainda mais gostoso e enterro minha boca em
seu pescoço, tentando abafar meus gemidos altos.
Ele geme contra minha pele enquanto beija e chupa meu pescoço.
Suas mãos auxiliam os seus movimentos enquanto entra e sai de mim, e o
aperto em minha pele me deixa ainda mais excitada porque sei que suas
mãos deixaram marcas. Adoro como seus toques se tornam um pouco
descuidados enquanto ele está inebriado pelo prazer junto comigo, se
deixando levar pela pequena loucura do sexo. Não é agressivo, mas a
pequena brutalidade que Josh adere quando transa comigo combina
perfeitamente com ele.
Seus dedos agarrando minha pele com força, seus lábios chupando
meu pescoço com descuido que deixam marcas, suas mãos nos meus
cabelos entrelaçando seus dedos nos meus fios. Seu aperto quando
transamos sempre me deixam ainda mais excitada.
Colo meus lábios nos dele e ele solta um gemido prolongado na minha
boca enquanto sinto ele gozar em mim. Josh se desmancha um pouco, com
um grunhido delicioso e diminui um pouco o ritmo de suas estocadas,
empurrando dentro de mim por mais alguns instantes até que eu também me
desmanche com ele. Meu orgasmo vem em um espasmo e um choramingo
alto, me deixando mole no corpo dele. Seus braços me seguram contra o seu
peito firme por mais alguns instantes, nos recuperando do estupor.
Josh sai de mim antes de me firmar no chão, beijando meus lábios. Ele
tem sua expressão cansada pós sexo de sempre e seus cabelos estão um
pouco úmidos pela água misturada com suor. Mas ele ostenta um sorriso
lindo e eu coloco minhas mãos no seu rosto. Sua barba está rala e Josh vem
ficando em um vai e vem com ela. Deixando-a crescer por uma semana e
então tirando tudo ao invés de só aparar. Sua aparência vai do sexy para
ainda mais sexy, apesar de eu não ter decidido qual é o que ainda.
Ele é simplesmente bonito demais e tudo nele parece simplesmente se
encaixar tão bem. Seus olhos castanhos gentis, o sorriso bonito bem
alinhado, os fios ondulados sempre em uma pequena bagunça perfeita. Seu
corpo delicioso que contrasta com a cara de bom moço. Josh poderia fazer
um estrago com as mulheres, mas sou sortuda por ele ter decidido me
escolher, e ele faz um estrago bem gostoso comigo.
“Ideia, hm?” Pergunto para ele curiosa lembrando do assunto anterior.
Josh nos leva até debaixo do chuveiro, pegando o sabonete e a bucha
macia antes de me colocar na água, esparramando-a pelo meu corpo.
“Quero tentar algumas coisas mais tarde.” Ele fala não me olhando nos
olhos e consigo imaginar ao que estão relacionadas essas coisas, mas não
consigo distinguir exatamente o que possam ser.
Não posso dizer que não estou ansiosa demais para descobrir do que
se trata e contenho minha ansiedade para não perguntar mais sobre o
assunto.
Josh começa a lavar meu corpo, fazendo camadas de sabão antes de
soltar meu cabelo do coque. Seu toque é tão bom e delicado que me deixo
levar. Ele me conta sobre o dia de trabalho e como Scott vem ficando cada
dia mais animado com o trabalho na Drake Co., além de falar sobre a reforma
que seus pais pretendem fazer, enquanto lava meu cabelo de forma
incrivelmente deliciosa. Fecho os olhos quando seus dedos massageiam meu
couro cabeludo com o shampoo e eu posso me acostumar com isso.
Me sinto preguiçosa e manhosa enquanto passo minhas mãos pelo
seu peito e braços, ensaboando-o e Josh sorri de forma igualmente
preguiçosa enquanto suas mãos encontram as minhas no meio dos
movimentos. Nos demoramos nos toques e nos beijos, e parece uma
perfeição que nunca tinha alcançado.
Quase uma hora depois, saímos do banho enrolado nos roupões
felpudos brancos e peço nosso jantar antes de colocar um vestido de verão
laranja e ele uma bermuda caqui com uma camiseta azul escuro. Deixo meus
cabelos secarem ao natural, preferindo aproveitar meu tempo com ele ao
invés de me aprontar. Josh deixa um beijo na ponta do meu nariz antes de
irmos para o andar de baixo.
Olhando para ele, não consigo imaginar como poderia ficar ainda mais
apaixonada, mas Josh constantemente me surpreende, me mostrando como
isso é possível. Me pego desejando poder ficar infinitos dias descobrindo
cada pequena parte dele, me deliciando com ele dia após dia. Me
apaixonando cada vez mais.
 
 
 
 

 
ESTOU ABRINDO NOSSO SEGUNDO VINHO e percebo que me tornei mais
resistente ao álcool nessas três semanas com Chelsea. Não porque ela me
força a beber com ela, mas sempre acabo bebendo da sua taça e no fim,
servindo uma. Ela segura nossas taças com uma mão e pega a minha com a
outra, me levando até a sala de música. Fica no corredor oposto do que o
estúdio de balé.
“Qual instrumento aprendeu primeiro?” Pergunto quando ela abre a
porta.
“Piano, talvez por isso é o que mais gosto de tocar.” Ela me leva
justamente até ele. É uma sala elegante, sem muitos móveis.
Um piano preto e cintilante é o que mais chama a atenção. Um banco
estofado está atrás. Muitas partituras estão espalhadas, nas demais
poltronas, em livros de partituras em uma pequena estante no canto. Dois
violinos repousam em um canto, ao lado de uma poltrona branca com folhas
em cima. Tem um violão e um baixo do outro lado e uma arpa toma conta de
um espaço mais esquecido da sala.
“Não consegui ir bem na arpa, apesar de saber tocar algumas coisas
com pouca excelência. Estou tentando o baixo, mas na verdade faz uns bons
meses que não pratico.” Ela coloca as taças na minha frente e sirvo as duas.
“Tocando tantas coisas, fico até com medo do que é a sua excelência,
porque tenho certeza que é ótima.” Não consigo imaginar que, sendo boa em
três instrumentos complexos, ela não seja minimamente boa com a harpa e
com o baixo. “Estou impressionado.” Falo admirado, seguindo-a até o piano.
Pego minha taça e bebo um gole, Chelsea faz o mesmo antes de sentar no
banco.
“Ainda bem, tenho feito meu esforço para isso.” Ela sorri e fica ainda
mais bonita com suas bochechas coradas pelo álcool. Seus cabelos secaram
em ondas desparelhas e algumas mechas mais lisas, e descobri que amo
esse visual dela também. Parece impossível que ela fique algo que não
incrível. “Está me olhando estranho.” Ela diz, levantando a tampa do teclado.
“Só pensando em como é linda.” Ganho um sorriso convencido com
uma jogada de cabelo.
Deixo a garrafa de vinho na estante antes de me aproximar do piano.
Me encosto na lateral, observando-a se acomodando no instrumento.
Beberico mais um pouco da minha taça e Chelsea passa os dedos pelas
teclas com suavidade antes de começar a tocar.
A primeira nota é forte, ou grave, seguida por algumas leves e depois
uma variação entre o grave. Seus dedos passam de um lado do piano para o
outro compondo a melodia que preenche o espaço e logo ela fecha os olhos.
Cada mão está em uma extremidade do piano, seus dedos correm pelas
teclas brancas e pelas pretas, a melodia parece triste, profunda e a forma
como ela maneia a cabeça, sei que possui letra, mas Chels não chega abrir
os lábios.
Estou fascinado pela forma como ela parece entregue a música e
como o som pode parecer tão doce e triste ao mesmo tempo. As notas mais
estridentes, mais alegres, participam só uma ou duas vezes entre as mais
graves, que são mais presentes ali. Os movimentos se aceleram próximos ao
fim e as últimas notas são tocadas de forma decrescente, ainda mais
profunda. Depois que seu dedo toca a última, ela ainda demora um tempo
para abrir os olhos. Um sorriso é direcionado para mim e não consigo achar
palavras.
“É…” Abro a boca e fecho. “É muito… bonito, e um pouco triste. E você
toca tão bonito. Estou mesmo sem palavras.” Levanto os ombros, soltando
um riso baixo.
“Você é tão adorável. Obrigada. É algo que tento trabalhar tanto
quanto o balé.” Ela bate no banco ao lado dela e me sento. “Me sinto
relaxada. Comecei com oito anos as aulas de verdade, mas sempre foi algo
que gostei. Tinha professor particular, mas não me importei muito com a
música até os oito.” Ela pega sua taça em cima do piano e bebe um gole.
Puxo sua mão livre e beijo. “Sempre falei que eram hobbies, mas, na
verdade, sempre soube que eram coisas que me faziam esquecer. Depois de
um tempo, o balé virou algo além, como se eu precisasse ser a melhor,
porque queria provar que era capaz, mesmo que ela não tivesse querido me
ver dançar. E então, essa raiva acumulada passou.” Chelsea suspira.
Sua mão aperta a minha um pouco antes de continuar.
“Eu ainda guardo algumas coisas dela.” Chelsea admite e tento não
parecer tão surpreso, mas falho. “É, eu sei. Meu pai não concordou quando
ficou sabendo, eu já era bem crescida, ele não fez muito além de dizer que
eu não deveria.” Ela continua e eu acaricio sua mão com meu polegar. “É isso
que eu tenho na segunda gaveta. Às vezes gosto de brincar e pensar que é
algo mais interessante, algo além da minha impossibilidade de esquecer ela
totalmente. Mas tenho só uma gaveta com memórias. Fotos dela grávida,
comigo no colo, a aliança dela, o perfume que ela usava. Coisas que ela
deixou para trás. Algumas delas peguei antes do meu pai jogar tudo fora. Eu
tinha oito ou nove anos na época.”
Lembro de ter pensado exatamente isso, fiquei curioso sobre a gaveta,
pensando sobre o que ela poderia ter ali. Agora vejo que essa nem mesmo
foi a primeira vez que Chelsea escondeu sobre seus sentimentos com alguma
brincadeira e sorrisos fáceis. Talvez seja mais fácil assim para ela.
“Você costuma olhar com frequência?” Pergunto passando meu braço
pela sua cintura e Chelsea não demora a se aconchegar contra mim. Ela
balança a cabeça negativamente. Beijo seus cabelos loiros, reunindo um
pouco de coragem no seu cheiro adocicado. “Já pensou em jogar fora?”
“Sim.” Ela sussurra. “Mas não consegui. Eu deveria. Já faz vinte e um
anos que ela foi. Nem mesmo saberia reconhecer ela, mas simplesmente não
consigo.”
“Está tudo bem não conseguir deixar ela ir totalmente, minha linda.”
Ela me abraça com um braço, me puxando mais forte contra si antes de
respirar fundo e se afastar, se recompondo em sua postura impecável.
“Quer aprender alguma coisa?” Chelsea muda de assunto, apontando
para o piano.
Aceno com a cabeça e ela larga sua taça de volta em cima do
instrumento, bebendo um gole antes. Faço o mesmo e passamos a próxima
meia hora tocando, ou pelo menos Chelsea tentando me fazer aprender. Ela
sorri quando consigo juntar quatro notas, damos risada quando tentamos
tocar juntos e erro as únicas duas notas que ela pede para eu tocar em certo
intervalo dos movimentos dos seus dedos no teclado.
Outra meia garrafa de vinho branco se foi quando resolvemos subir.
Chelsea coloca um filme na sua televisão e deitamos abraçados na cama.
Seu corpo está parcialmente apoiado em cima do meu. Ela responde
algumas mensagens e passo meus dedos pela lateral do seu vestido,
subindo o tecido.
“Não está prestando atenção.” Brinco com ela quando meu toque
provoca arrepios.
“Becks está em Albuquerque, só chegou no hotel agora.” Ela responde
terminando de digitar uma resposta e bloqueando o celular. Noto seus
movimentos de canto de olho ainda com os olhos na tela, apesar de também
não estar prestando muita atenção. “Eles vão passar alguns dias na mãe do
Zach, em Austin, e depois ir para Atlanta. Ela começa a trabalhar em
setembro.” Subo minha mão até expor a pele acima de sua cintura,
recebendo uma boa visão da lingerie preta dela. Parece sua cor favorita para
roupas de baixo e ficam incrivelmente bem em Chelsea, contrastando com
sua pele branca.
“Becks é a irmã do Matteo?” Pergunto já ignorando o filme e colocando
ela sentada em cima de mim.
“Essa mesma, não chegou a conhecer ela.” Aceno com a cabeça,
confirmando.
Passo as mãos pelas suas coxas e Chelsea se movimenta em cima de
mim, provocando meu pau que começa a ficar duro só de pensar no que isso
vai virar. Puxo seu vestido para cima e ela me ajuda, jogando o tecido florido
laranja no chão.
Chelsea sorri com tanta malícia toda vez que a dispo que só faz com
que o ato seja ainda melhor. Seu conjunto é todo preto, o sutiã tem uma
renda quase transparente que me dá uma ótima visão de seus seios. Tão
linda.
“Então, eu estava pensando…” Começo, rolando com ela na cama.
“Talvez a gente possa experimentar algumas coisas hoje.” Me ocupo beijando
seu pescoço, sua clavícula, os seios por cima do tecido do sutiã para deixá-
los duros. Sugo sua pele junto com o tecido e ela arqueia um pouco as
costas.
“Sim?” Ela pergunta curiosa.
Beijo sua boca antes de me levantar e ir até o closet, deixando
Chelsea com uma sobrancelha arqueada e uma expressão bem frustrada.
Meio minuto depois, volto e ela está exatamente na posição onde deixei.
Subo em cima dela de novo colocando minhas pernas ao lado do seu corpo,
mostrando o que fui buscar.
“Isso é do meu robe?” Ela sorri, provavelmente entendendo o que
pretendo e me dá um aceno de cabeça, ansiosa.
Ela me puxa em um beijar e percebo pela sua urgência que está
animada com a ideia. Não posso dizer o contrário, apesar de estar nervoso.
Suas mãos estão no meu pescoço e eu logo as puxo para cima de sua
cabeça, juntando seus pulsos. Me inclino para cima, passando a fita de cetim
larga que amarra um dos robes dela e amarro seus pulsos.
Olho para cima e vejo que o plano não foi tão bem pensado porque
sinto falta de uma cabeceira mais útil, como a minha, do que a sua estofada.
Chelsea aproveita o momento em que estou atento a minha amarração,
inclinado para cima dela, para passar a língua no meu peito que ela despiu
mais cedo e acorda ainda mais meu pau.
“Pensei em te vendar, mas gosto de te ver assistir o que eu faço.” É
bastante prazeroso ver seus olhos se enchendo de desejo.
“Eu adoro assistir.” Ela retruca.
Volto a trabalhar com a boca na parte de cima do seu corpo,
vagarosamente beijando seu rosto, sugando seus pontos sensíveis no
pescoço e esses são logo abaixo da orelha, em um ponto com uma veia
pulsante. Chelsea abaixa os braços amarrados e eu os coloco de volta para
cima.
“Em cima, não posso contar com a ajuda da cabeceira.” Digo deixando
um beijo nos lábios e ela concorda com a cabeça. Volto para seu pescoço,
descendo até o vale dos seus seios. “Deveria ter tirado isso antes.” Fecho os
lábios em seu seio por cima do sutiã, porque agora vai ser difícil me desfazer
da peça. “Mas pode comprar um novo, não é?” Provavelmente nem mesmo
vai sentir falta.
Assim que Chelsea me dá um aceno, forço uma das alças até ela
ceder e rasgar. Ganho uma arfada surpresa quando o tecido se rompe e abro
o fecho atrás da peça, puxando-o para o lado e expondo seus seios rosados.
Ocupo minha boca ali por um tempo, tomando entre os dedos,
beliscando, provocando, lambendo e sugando, até que seu corpo comece a
ficar inquieto e eu desça minha boca. Beijo sua barriga lisa, os pontos altos
da sua costela que saltam quando ela suga a respiração pela ansiedade.
Beijo o osso da sua cintura de ambos os lados enquanto desço sua
calcinha, sugo a pele logo abaixo do seu umbigo e desço a ponta dos meus
dedos até encontrar o meio das suas pernas. Chelsea está molhada e se
arqueia quando encosto em sua pele aveludada. Mordo seu quadril de leve,
suprimindo um gemido de sentir como ela está em meus dedos e ganho um
choramingo da boca dela, entreaberta.
Apesar de saber que ela não está de fato presa, a visão dela
vulnerável, ou quase, é muito deliciosa. Seus olhos me observam com
atenção enquanto passo meu polegar lentamente pela sua carne molhada,
trago o dedo nos lábios e chupo seu gosto em mim. Chelsea solta outro
barulho e, porra, ela é deliciosa. Volto minha mão para sua intimidade,
abrindo seus lábios e correndo o polegar mais uma vez antes de aplicar um
pouco mais de pressão em seu clitóris, movimentando meu dedo em círculos
e semicírculos, ritmando de formas diferentes para apreciar seus sons.
Um gemido mais alto sai pelos seus lábios quando desço meus dedos
até sua entrada, sem penetrá-la de fato, e coloco minha boca em volta do seu
clitóris inchado. Me guio pelos gemidos e arfadas dela, e adoro esses sons.
Coloco um dedo dentro e mesmo que seu corpo rebole nas minhas mãos e
boca, mantenho um ritmo calmo, querendo levá-la ao limite devagar. Adoro
isso, ver Chels perdendo o controle por causa da minha boca e dos meus
dedos, tanto quanto amo estar dentro dela.
Chelsea abaixa as mãos e as sobe de volta duas vezes, tentando se
controlar para não me tocar.
“Chels?” Pergunto ainda enterrado no meio de suas pernas, deixando
lambidas suaves da entrada até seu clitóris, sugando esse ponto com os
lábios mais uma vez.
“Mhm.” É a única resposta que ganho antes de levantar a cabeça e
tirar minhas mãos dela.
“Vou te colocar de joelhos.” Ela acena com a cabeça e giro seu corpo
de forma delicada na cama. Ela fica de quatro e beijo suas costas nuas.
“Peito na cama.” Peço e ela obedece. Quando volto para o meio das suas
pernas, minha visão é ainda melhor e não demoro para plantar um beijo ali.
Minha ereção pode estourar meu short a qualquer momento de tão
dura. Seu corpo está todo exposto para mim, com a bunda empinada na
minha direção, as pernas abertas perfeitamente para me dar visão dela
inchada e molhada. Volto a trabalhar com minha língua nela, colocando em
sua entrada algumas vezes antes de subir meus dedos de volta ali e penetra-
la com dois agora. Toda vez que sinto Chelsea próxima do orgasmo, diminuo
o ritmo e seus gemidos se tornam em uma arfada insatisfeita. Desabotoo
minha bermuda e tenho quase dificuldades para desça-la junto com a cueca
para o chão. Escuto um riso breve quando ela escuta minhas roupas caírem
e sua bunda rebola na minha cara.
Não há nada mais excitante que essa mulher.
“Josh, preciso de você.” Ela choraminga e mais uma vez, é complicado
dizer não. Seguro sua cintura, para coloca-la de volta deitada, mas Chelsea
protesta. “Assim.”
“Você definitivamente sabe como fazer isso ficar ainda melhor.”
Sussurro me posicionando em sua entrada. Coloco minha cabeça dentro dela
e Chelsea empurra sua bunda para trás.
Solto um gemido quando preencho ela até o fim, porque, caralho, é
perfeito. Me inclino sobre seu corpo enquanto entro nela o mais lento que
consigo. Sentir suas paredes apertarem meu pau sem nada no meio é uma
das melhores sensações possíveis, precisei me controlar para não gozar de
primeira quando fizemos isso mais cedo. Além disso, essa posição parece me
dar ainda mais acesso, preenchendo-a ainda mais, até mais fundo.
Começo a me movimentar dentro dela e puxo seu corpo até que ela
esteja apoiada nos antebraços, não querendo machucar seus seios com a
fricção. Coloco seus cabelos de lado e beijo seu ombro. Ela se movimenta
comigo e o nosso encontro é delicioso. Coloco minha mão entre suas pernas,
abraçando seu corpo no movimento, e massageio seu clitóris em um ritmo
lento, que contrasta com minhas investidas rápidas.
Transar com Chelsea eleva tudo a um patamar incrível. Seu corpo se
movimentando contra o meu, me levando a loucura é a melhor sensação que
poderia ter no momento. Entro duro nela, e ela não se preocupa em gemer
alto quase todas às vezes que nossas peles se grudam tão perto, emitindo
um barulho que só mostra o quão delicioso isso está. Sua bunda bate em
mim com força quando eu puxo seu quadril ao me movimentar para frente e a
sensação dela se contraindo inteira contra mim me faz ficar à beira do clímax
mais rápido do que o habitual.
O orgasmo de Chelsea vem poucos segundos antes do meu,
provavelmente por ter estado perto dele tantas vezes nos últimos minutos.
A forma como ela se aperta em volta do meu pau faz difícil que eu
demore muito mais e chupo a pele do seu pescoço enquanto encontro meu
estupor saciado. Outra maravilha é gozar dentro dela, parece ser ainda mais
forte e prazeroso. Me movimento mais duas vezes antes de puxar meu pau
para fora e rolar para o lado, deitando na cama exausto, satisfeito e ao
mesmo tempo querendo ela de novo.
Com uma puxada, desamarro a fita de cetim e ela deita do meu lado.
Passo meus braços ao redor do seu corpo e beijando a parte de trás do seu
pescoço. Chels aconchega seu corpo no meu de costas, ainda com o peito
na cama.
“Baby boy, você realmente me impressionou hoje.” Ela fala
recuperando a respiração e acaricio suas costas.
“Desculpa por isso.” Passo os dedos em cima de uma faixa vermelha
que notei em suas costas e que deve ser resultado de empurrá-la contra a
parede mais cedo.
“Não pode transar forte comigo e se desculpar depois.” Ela brinca e
vira a cabeça para beijar meu peito. “Está tudo bem, foi muito gostoso. Acho
que nunca tive um orgasmo tão forte como o de agora. Tudo você, baby.”
Aproveito o estupor do sexo que me deixa vermelho para corar com seu
comentário, me sentindo satisfeito por poder dar isso a ela. Gostaria de
conseguir ser como Chelsea e falar como também achei muito gostoso, mas
não consigo. “Você me surpreende cada dia mais, gosto disso mais do que
deveria.” Ela sussurra depois de um tempo e continuo a acariciar seu corpo.
“Por quê?”
“Você não entenderia.” Sua resposta sai bastante tempo depois, com
um suspiro. Franzo minha testa, mas deixo passar pelo momento, porque
odeio pressionar Chelsea.
Ficamos assim até o filme que não assistimos termine e depois vamos
para o chuveiro em uma ducha rápida antes de deitarmos de novo. Chelsea
dorme em meus braços, mas fico pensando o que aquilo pode significar e
todas as opções me deixam com um sentimento ruim no peito, porque não
quero ter que pensar em perde-la tão rápido.
Porque Chelsea também se tornou uma parte de mim que gosto muito.
Desejo poder dizer que a amo, porque é isso que sinto, mas tenho medo que
seja demais e não quero que ela se afaste porque forcei qualquer coisa.
Quero respeitar ela, o seu tempo e o que ela quer me dar. Mas, ao mesmo
tempo, não posso evitar sentir isso, e saber que eu a amo.
 
 
“Chels vem hoje?” Ethan me pergunta quando estamos jogados no
sofá no sábado à noite.
“Não. Hoje é o primeiro evento que ela ajudou a organizar, ela deve
sair de lá bem tarde. O local da festa é do lado da casa dela quase então
seria pouco prático ela vir dormir aqui.” Respondo, fazendo um gol no time
dele pelo videogame.
“Ótimo, sem garotas essa noite.” Nick exaspera da onde está sentado
fazendo com que Ethan e eu troquemos um olhar entendedor.
“Alguém tomou um não essa noite.” Scott traz quatro cervejas da
cozinha e distribui entre nós. “Esse alguém não foi Josh.”
“Não tomei um fora.” Nick se defende bebendo a cerveja.
“Disse que tomou um não, não que levou um fora.” Scott dá um tapa
na cabeça dele antes de se sentar.
“Quando vamos conhecer a misteriosa?” Pergunto curioso, já faz mais
um mês que Nick sai do nada de casa e sabemos que tem uma garota
envolvida.
“Pelo jeito, nunca.” Ele murmura.
“Existe uma garota colocando Niccolas Williams para escanteio,
pessoal, acho que ela merece aplausos.” Ethan zomba pausando o jogo e
todos nós, exceto Nick, aplaudimos.
“Vocês são uns babacas. Acho que ela tá fazendo isso até em sua
própria defesa.” Nick esbraveja e damos risada do mau-humor dele.
“A loirinha nos adora.” Ethan diz com um dar de ombros e concordo,
porque é algo que me faz adorá-la ainda mais. Voltamos a jogar com um
clique.
“Vou pedir pizza.” Scott anuncia com o celular em mãos.
Depois de certo tempo ele estrala os dedos, e todos olhamos para a
porta, pensando ser a pizza, mas Scott olha para mim.
“Josh?”
“Sim.” Respondo voltando minha atenção ao jogo fazendo mais um gol
no time do Ethan e ganhando a quarta partida.
“Sabia que Sarah ainda está na cidade?” Ele pergunta com
indiferença, porque todos sabem que nunca mais falei com ela desde aquela
noite.
“Não mesmo.”
“Acabei topando com ela ontem indo para o escritório.” Ele fala.
“Espero que ela tenha esquecido o caminho até aqui.” Nick diz, ainda
de mau-humor.
Passamos a noite bebendo, revezando os controles remotos e
comendo pizza. Não posso deixar de estranhar o fato de Sarah ainda estar
na cidade, mas não ocupo meus pensamentos com isso tempo o suficiente,
porque não preciso mais pensar sobre ela. Apenas desejo não dar o mesmo
azar que Scott e encontra-la de novo, ou que ela apareça por aqui.
Passa da uma da manhã quando resolvo ir dormir, cansado do meu
turno estendido de trabalho hoje. Tomo um banho relaxante e quando deito
na cama, vejo a tela começada no cavalete, a que pretendo dar ao pai de
Chelsea. Quase me sinto tentado a levantar para continuá-la, só para poder
ocupar minha mente ainda mais com minha loirinha. E como se previsse meu
pensamento nela, recebo uma mensagem que para meu coração no peito.
 
Baby girl: Acho que precisamos conversar.
Baby girl: posso ir aí?
 
Engulo em seco antes de responder, descendo as escadas e
encontrando meus amigos no mesmo lugar.
 
Josh: Aconteceu alguma coisa?
Josh: Claro que pode
Josh: Chelsea?
 
“Josh? O que foi?” Ethan pergunta do sofá, ainda estou parado no pé
da escada. Relaxo minha expressão para não os assustar.
“Chelsea.” Respondo, me sentando do lado dele de novo.
“Algo errado?” Scott pergunta preocupado.
“Espero que não.”
 
Baby girl: estou indo
 
 
 
 

 
ARRUMO MEU RABO DE CAVALO MAIS UMA VEZ, ele é alto e passei uma
faixa de cabelo em volta da amarração. Uso um vestido dourado brilhoso,
colado em meu corpo e que acentua tudo o que pode. Suas alças finas são
feitas de brilhantes e meus saltos médios são de uma sandália dourada que
amarra em meus tornozelos. Minha maquiagem é igualmente brilhante e
tentei segurar a mão para não acabar roubando qualquer atenção da
aniversariante, minha cliente.
Estamos nós duas no banheiro da festa, que ainda não começou e ela,
junto com a maquiadora, terminam os últimos retoques. Meu celular brilha
com uma nova mensagem na pia e meu novo protetor de tela é uma foto que
tirei de Josh ontem de manhã enquanto pulava em cima dele para acordar
meu namorado zero pessoa matutina. A coberta branca desce até o V do seu
abdômen definido, seus cabelos estão bagunçados e ele sorri com os olhos
fechados para mim, rindo da minha atitude infantil.
É uma foto linda, porque meu namorado é lindo. Mas me arrependo de
não ser uma pessoa que deixa a barra de notificações lotada porque a única
mensagem que chega não cobre a foto e os olhos da aniversariante e da
maquiadora descem para minha tela, deixando zero privacidade para mim.
Pego meu celular o mais rápido que consigo, me aproximando da pia, com
aquele sentimento de ciúmes.
Deveria ter deixado a foto onde ele está me agarrando.
Mas, poxa, Josh ainda está com alguns chupões vermelhos em sua
pele. Aquilo fui eu. Além disso, nem sei porque estou com ciúmes, seu corpo
nu estava na minha cama.
“Ele vem?” A mais nova pergunta depois que a maquiadora finaliza e
me obrigo a sorrir simpática, culpando as três taças de champanhe que ela
bebeu recentemente.
“Não.” Estou enganando alguém com esse sorriso? “Achei que não
seria bom trazer meu namorado para meu trabalho.” Friso bem a parte do
meu namorado me sentindo uma possessiva maluca. “Preciso ir checar a
recepção.” Digo e me retiro antes de resolver perder o emprego.
Custava nada cobiçar alguém disponível.
 
Baby boy: Boa sorte hoje, me conte tudo amanhã.
E então outras duas assim que leio.
Baby boy: Vamos passar a noite em garotos, Nick levou um pé e tá
puto.
Baby boy: Sentindo sua falta.
Chelsea: Coitado. Iria dizer que há maneiras melhores de se superar,
mas não sei se gosto da imagem de você ajudando-o a superar um pé das
formas como penso.
Chelsea: Também estou com saudade
 
Depois de um tempo sem receber resposta, sei que deve estar
entretido com os meninos e guardo meu celular, indo atrás de Melissa para
auxilia-la no que for preciso.
A festa não demora a começar lotar e conheço alguns rostos aqui e ali.
Ando mais de mil passos por hora, de um lado para o outro no salão,
ajudando com alguma decoração, falando ordens para o barman e DJ e até
mesmo ajudando na reposição de comidas na mesa. Existem três trocas de
roupa da aniversariante e isso também me toma tempo. Mas tudo corre
perfeitamente bem e enche meu peito de orgulho.
Melissa me avisa perto da meia-noite que sua filha está passando mal
e me pede para ficar até pelo menos às duas, não hesito em dizer para ficar
tranquila e que me mande notícias da sua filha. Criamos um vínculo ao longo
das últimas semanas e não posso dizer que não adoro sua companhia.
Estou encostada no bar, bebendo um grande copo de água e
mantendo um olho no evento, para que nada saia do lugar, quando uma
figura loira e esbelta para do meu lado, pedindo uma gin tônica. Sua voz
chega a mim antes que meus olhos a reconheçam. Arqueio uma sobrancelha
para Sarah em um vestido bufante vermelho, que fica bonito nela, como
basicamente tudo que ela veste.
Josh tem um bom gosto do caralho.
“Não tem só dezenove?” Pergunto de forma audível e vejo que o
barman economiza no gin da taça.
Meu celular vibra na minha mão e puxo até meus olhos, lendo a
mensagem de Becks sem perceber o que isso proporciona a Sarah quando
ela estica o pescoço.
“Não eram só amigos?” Sua voz é carregada de ironia e quase sinto o
ataque.
Péssimo dia para mudar o protetor de tela, Chelsea.
“Estamos juntos há três semanas.” Respondo sem ter certeza do
porquê defendo a situação.
Josh não deve nada a ela há mais de dois meses. Se quisesse causar
a cena que ela parece querer, poderia ainda esclarecer que ela tardou
algumas horas o ocorrido, uma vez que ficamos pela primeira vez no infeliz
dia que ela apareceu na casa dos meninos. Mas não sou assim tão irritante.
Além disso, Sarah parece querer uma cena porque não somos amigas para
ficarmos conversando, mas mesmo assim ela pega sua bebida e suga o
canudo se apoiando no balcão confortavelmente.
“Está tudo bem, não vai durar de qualquer forma.” Essa menina
precisa mesmo apertar meus botões?
“Perdão?”
Sou Chelsea Capri, tenho quase vinte e seis anos e não preciso me
fazer de sonsa para ela, mas também não quero decepcionar Melissa. De
qualquer forma, isso deve ser um pouco de inveja, porque agora tenho o que
ela queria recuperar e me atenho a esse pensamento mais calmo.
“Você não tem o que é suficiente.” Ela morde o canudo. Essa foi
ousada. “Não é o suficiente para ele tanto quanto logo vai perceber que ele
não é o cara certo para você. Josh não gosta de festas extravagantes,
sempre acaba do lado dos meninos, prefere tudo simples e é mais novo.
Eventos assim não são a praia dele. Tímido demais para grandes aparições.
E li sobre você, Chelsea, além de ter descoberto que temos vários
conhecidos em comum. Você definitivamente não é o tipo dele e ele não é o
seu. É total das grandes aparições. Você gosta das loucuras, é imprudente e
pode estar fingindo que é isso que quer agora, mas sabemos que, assim que
o ano letivo voltar, as festas em fraternidades voltarem, você vai largar ele e
voltar para a sua vida. É disso que gosta, não é mesmo? Esbanjar, festas e
garotos diferentes. Uma vida divertida e sem rótulos.”
Exatamente tudo o que eu sempre deixei que as pessoas pensassem
sobre mim. Exatamente tudo o que eu era e ainda sou um pouco no fundo.
Sou mesmo imprudente e um pouco louca, além de amar minha vida
divertida. O que estou tendo ao lado do Josh, não é mesmo?
“É mimada e não leva um não como resposta, algumas pessoas te
descreveram até como impossível de lidar.” Tento parecer indiferente ao seu
discurso, mas meu sangue ferve por dentro. Engulo em seco aquela
resposta, porque isso aperta e enfia o dedo fundo na minha ferida.
Sabe o que é pior? No fundo, acredito nela. Porque eu sou mesmo
uma pessoa impossível, não foi por isso que minha mãe foi embora? Porque
não conseguia lidar com meu temperamento. Eu gosto de festas, mas aprecio
mesmo uma noite ao lado de Josh. Não gosto de esbanjar, mas é isso que
conheci minha vida inteira. Respiro fundo, tentando me segurar nesse
pensamento, porque estou mesmo tentando melhorar minhas maneiras, mas
ela continua.
“Além disso, acha justo gastar seu tempo de experimentos na vida de
alguém como ele? Todos sabemos que vai quebrar o coração de Josh no final
das contas. Cedo ou tarde. Acha justo fazer com que ele perca seu ano de
calouro, e muito além, por causa de uma pessoa que nunca vai levar isso
adiante? Porque duvido que até mesmo você acredite nisso. São tão
diferentes. Não faz do tipo namorada.” Sarah toma um gole da sua taça e me
pergunto quantas dessa ela tomou, porque quero acreditar que isso é o
álcool, mas eu não bebi nada e sei que não é tão mentira.
Isso é tudo o que venho evitando pensar nos últimos dias, porque
estar com ele é egoísta da minha parte, nem mesmo sou boa para ele e
merecedora de toda sua gentileza comigo. Isso não é um experimento, eu
realmente gosto de estar com ele, mas nem mesmo consigo dizer com todas
as palavras. Até quando minhas ações fajutas vão ser o suficiente? Quanto
tempo até eu fazer algo que vá bagunçar ainda mais os sentimentos dele?
“Sabe, Chelsea, acho que, no fundo, você vai ser boa para ensinar um
pouco sobre a vida na cidade grande para o Josh.” Ela continua, seus olhos
estão na pista de dança, como se estivéssemos falando sobre o clima. “Que
as coisas vêm e vão, e que ele não deve se apegar. Assim quem sabe acabe
aproveitando bem seus anos de faculdade, como você aproveitou. Afinal,
passou longos quatro, ou foram mais?” Ela divaga por um momento. “Bem,
quatro longos anos se divertindo ao máximo e agora aparece alguém e
simplesmente vai privar ele de finalmente aproveitar por causa de um
relacionamento com data de validade? Você definitivamente não é do tipo
que namora, não existe sequer uma pessoa que diga o contrário. Está
apenas aproveitando suas férias chatas para brincar com algo novo." Sarah
termina sua taça e coloca no balcão. "Bem, não cabe a mim decidir de
qualquer forma. Mas se realmente gosta dele, ou acha que gosta dele, deixe-
o ir antes que seja tarde demais para reparar o erro. E sabemos que vai
acabar cometendo um, não é mesmo? Josh não merece mais uma garota
quebrando seu coração em mil pedaços. Ele parece bem encantado com
você e, com toda essa vida nova, não é difícil entender o porquê. Acredito
que ele merece um pouco de liberdade e diversão. Percebo isso agora." Ela
suspira, como se estivesse presa em pensamentos, e me dá um olhar como
se me notasse só agora. "Tchau." Me dando um sorriso largo, ela arruma os
fios loiros, indo embora em seguida.
Meu coração bate a mil, porque sei que ela está certa. Eu não sou nem
de longe a pessoa certa e apesar de querer ele para sempre do meu lado, sei
que só basta tempo até que eu estrague tudo, porque eu sempre estrago
tudo. Embora não pense que estou só brincando com algo novo, algo que
nunca tive.
Sou mimada, tenho temperamento difícil. Josh é a calmaria, é tudo de
bom que eu poderia ter pedido e é por esses exatos motivos que eu não o
mereço. E sei que amá-lo é meu ato egoísta, porque não mereço. Não sou a
pessoa que encaixa, quem vai dar a ele todas as coisas boas de volta.
Sou somente alguém por quem é fácil se deixar levar com todo esse
estilo de vida, provavelmente ele só se encantou por isso e não é justo deixar
que entre de cabeça em uma pessoa que é só isso. Uma vida pomposa.
Respiro fundo e pisco rápido, evitando as lágrimas antes de checar as
horas. Sem pensar muito sobre isso, envio uma mensagem para ele. Assim
que recebo a confirmação, chamo Vicent porque se esperar para amanhã,
não terei mais coragem, porque não vou conseguir afrouxar o aperto, porque
vou querer continuar com meu egoísmo por mais tempo. Nunca me cansaria
dele, sei disso. Mas Josh não merece perder todas as coisas boas porque eu
fui a primeira a aparecer.
A primeira a brilhar nos seus olhos e nem mesmo sou o tipo de garota
que presta para o que ele quer. Não é justo com ele.
 
 
Vicent me pergunta algumas vezes se estou bem no caminho e tento
dar a ele um olhar tranquilo. Sua testa se franze ainda mais através do
espelho quando peço para que ele me espere, que não vou demorar, quando
paramos na rua de Josh.
Os minutos parecem passar de forma escorregadia entre meus dedos,
mas ainda assim, demorados e dolorosos enquanto me peno com meus
pensamentos, que tomam rumos cada vez piores. Entro na casa, porque a
porta está aberta como sempre e encontro Josh sozinho na sala, mas há
traços de que não há muito tempo os meninos estiveram ali.
Os meninos.
Meu coração pesa porque também adorei meus dias com eles, e ficar
longe de Josh significa ficar longe deles também. Apesar de nada ser pior do
que imaginar ficar sem ele. Estanco na porta antes de fechá-la atrás de mim.
Porque assim que ele nota minha presença, se levanta e sorri daquela forma
que tanto me faz perder o chão. Não é nem um pouco fácil deixar ir algo que
é tão importante, talvez eu prefira quando isso é arrancado de mim, embora
goste de ter o controle da minha vida.
Ele é importante, e prefiro que siga assim antes que eu estrague tudo.
“Minha linda…” O apelido fofo. Preciso respirar fundo para me manter
certa do que vou fazer, porque é fácil ceder aos egoísmos quando ele é tão
perfeito comigo. “Está tudo bem?” Josh me abraça e beija minha testa, deixo
uma lágrima singular cair, mas limpo antes que possa ser vista.
Respiro seu cheiro bom que sempre traz essa sensação boa em meu
peito. Quero me agarrar a tudo que poderei levar comigo quando sair pela
porta.
“Precisamos conversar.” Minha voz não sai firme como gostaria, mas
ele assente e me leva até o sofá.
“Está magnifica hoje.” Seu sorriso de canto é fofo quando ele me olha
dos pés à cabeça enquanto me sento de frente para ele.
“Josh…” Mas ao invés do pedido malicioso por trás, hoje é como se o
seu elogio doesse. “Acho que não deveríamos mais fazer isso.” Meu tom é
choroso e fungo para evitar o choro de fato.
Prefiro não dar voltas e acabar voltando atrás, direto ao ponto é mais
certo. É o correto. Arrancar o band-aid o mais rápido possível, não é mesmo?
“Não deveríamos ficar mais juntos.” Suas sobrancelhas se juntam,
confusas e desejo poder ter conseguido fazer isso por mensagem. Mas ele
sempre vai merecer mais do que uma mensagem estranha e um bloqueio.
“Chelsea…” Ele começa, mas eu continuo, interrompendo Josh.
“Não podemos ficar juntos, não posso ficar gastando o seu tempo.
Você merece alguém que vai ser bom de verdade com você, e eu não sou
assim. Isso é a exceção, não a regra. Provavelmente… só fui egoísta desde o
princípio para notar isso. Não é como se eu não fosse achar uma maneira de
conseguir estragar tudo isso rapidamente. Não mereço tomar mais tempo da
sua vida com alguma coisa que não posso te prometer, mesmo que eu
queira, porque não sei se vou poder cumprir e não quero acabar
decepcionando mais ninguém que eu…” As palavras travam, como em todas
às vezes.
Dessa vez parecem ainda mais grossas, porque minha garganta se
fecha e preciso respirar fundo algumas vezes, retomando a frase só na minha
cabeça para conseguir tirar esse nó dali.
Mas não posso decepcionar mais alguém que amo.
“Você tem muitas coisas novas para viver e eu vivi isso, não quero
acabar estragando novos começos porque não consigo te deixar ir fácil.
Porque sou egoísta em querer te prender.” Dou a ele um sorriso triste. “Você
é tão cheio de... tudo. Você é tudo o que qualquer pessoa poderia querer e
não mereço isso. Não sou a pessoa certa. Sou imprudente e difícil. Você é
muito jovem e tem tanto ainda. É gentil, paciente, é… tudo o que eu não
mereço. Não quero ser mais alguém a te tomar algo da vida. Ela está certa,
somos muito diferentes, eu iria acabar fazendo alguma burrada também.
Sempre estrago as coisas, meu passado diz muito.” Viro o rosto para não ser
pega com os olhos marejados.
“Chelsea, o que aconteceu? Quem é ela?” Ele pergunta e não sei
porque prefiro que se atenha a esse ponto da nossa conversa.
“Não importa.” Balanço a cabeça. “Não posso ser tão egoísta e você é
tão importante para mim, não seria justo.”
“Chelsea, não faz isso. Sabe que não é verdade. Você é muito
importante para mim também.” Seus olhos brilham com lágrimas e desvio o
olhar. “Me fala o que aconteceu.”
“Eu só... só não posso ser ingênua, não posso fazer isso com você.
Sou apenas a primeira garota um pouco legal que conheceu, alguém bem
mais incrível e que vai ser bem melhor para você pode vir nos próximos anos,
nos próximos dias.” Isso foi um grande e dolorido tapa na minha própria cara
e não consigo nem mesmo suportar o pensamento. “Sempre acabo
bagunçando a vida das pessoas a minha volta e a última coisa que quero é
bagunçar ainda mais a sua, e que isso faça com que você se afaste porque
não aguenta mais.”
“Chels…” Sua voz sai em um sussurro tão triste que não consigo
segurar as lágrimas. “Então, por que você está indo?”
“Porque é melhor agora do que quando o estrago for ainda maior. Te
ver machucado de verdade vai ser algo que não vou conseguir superar e sei
que vou te machucar.” Porque isso é algo que eu sempre faço, sempre afasto
e machuco as pessoas que devo manter por perto e que me amam. “Eu não
quero ser outra pessoa a quebrar seu coração.”
“Linda, não faz isso.”
“Baby boy, eu deveria mesmo ir.” Mas doí para levantar dali, ainda
mais porque ele segura minha mão. “Josh.”
“O que tem de errado?” Ele me pede, me implora, buscando meus
olhos, mas não posso olhar para aquela ternura castanha, ao invés disso
beijo sua cabeça. Arrancando mais um pedacinho que quero guardar dele.
“Eu.” Ele solta meu braço, muito confuso, mas me deixa ir e saio dali o
mais rápido possível.
Sou eu quem estou e sou errada. Quem sou egoísta e tenho atitudes
que nunca vão condizer com o que ele precisa. Não sou o par perfeito para
uma pessoa tão perfeita quanto ele. Sou feia por dentro, esse é o motivo
pelas pessoas nem mesmo tentarem entrar de verdade, como ele quis entrar.
Esse é o motivo pelo qual minha mãe desistiu de tentar consertar minha
feiura. Porque não pode consertar o defeituoso. Seria questão de tempo para
ele notar todos esses defeitos.
Ele não merece alguém quebrado e defeituoso. Ele merece tudo o que
há de melhor. E eu não sou essa pessoa.
Choro durante o caminho inteiro até em casa e sei que Vicent quer,
mas ele não pergunta nada. Vou direto para o quarto e não sei em que
momento me acalmo a ponto de dormir, mas sei que me agarro aos
travesseiros com o cheiro dele porque parece que gosto de cravar um pouco
mais fundo a faca no meu peito. Depois que minha mãe se foi, essa foi a
segunda coisa mais difícil que me aconteceu, mesmo que ele tenha
aparecido na minha vida há pouco tempo.
Agora sou crescida o bastante para sentir a perda de forma tão
consumidora.
Josh foi a primeira pessoa com quem me abri sobre muitas coisas,
tantas que nem mesmo cogitei pensar duas vezes, porque ele sempre se
mostrou tão disposto a estar ali. Essa é uma das razões pelas quais não seria
justo seguir ao lado dele. Ele é demais, e mesmo que pensamentos sobre
inferioridade não sejam algo para mim, sei que sou de menos para ele.
Chegaria um momento que isso provavelmente pesaria, não é mesmo? O
fato de eu não poder ser tudo o que ele iria querer de mim, ainda que nunca
tenha pedido muito, ou tenha pedido qualquer coisa de mim. Acho que essa é
uma das coisas mais difíceis de deixar alguém entrar em sua vida, porque um
dia elas podem precisar sair, e quando isso acontece é a parte mais dolorida.
E, embora eu saiba que isso faz parte dessa coisa chamada viver, choro
também por pensar que queria ter me protegido melhor de Josh, me
protegido melhor de todo esse amor que sinto hoje por ele. Esse amor que
faz essa perda doer ainda mais.
 
 
Não preciso nem mesmo encarar minha figura no espelho para saber
que estou horrível. Meu cabelo está embaraçado, meus olhos inchados e
essa figura não combina com Chelsea Capri. Não sei que hora são quando
finalmente tomo coragem de levantar na cama no domingo, indo direto para o
chuveiro.
A água fria não escorre tudo o que eu gostaria que ela escorresse e
me sinto danificada por dentro, algo faltando. Me sinto cruel e nunca me senti
assim antes, nem mesmo quando fiz alguma maldade no passado com
alguma menina no balé ou impliquei com as líderes de torcida. Sei o que
falta, sei o que me deixa me sentindo vazia e sei porque me sinto cruel.
“Little bee?” Meu pai bate na porta do quarto antes de abrir uma fresta
e entrar.
Estou na cama, enrolada com meu roupão e com uma toalha em meus
cabelos. Meu pai me dá um olhar preocupado e tento sorrir para ele, não
preciso adicionar filha chorosa após término na lista de problemas de Cyrus
Capri.
“Não tente parecer bem.” Qualquer tentativa desaba bem aí e me deixo
parecer triste e chorosa de novo. Ele segura uma bandeja. “Trouxe café.”
Meu pai se senta na cama ao meu lado e coloca a bandeja no meio de nós.
“Quer conversar?”
Trago a xícara aos lábios e bebo um gole do meu cappuccino.
“Não sei.” Respondo em um murmuro, porque realmente não sei se é
melhor falar ou guardar para mim.
“O que aconteceu?” Depois de tantos anos sendo só eu e ele, é difícil
não gostar de conversar com meu pai, seus conselhos sempre acabam me
pegando desprevenida e por isso jogo em cima dele tudo o que aconteceu
ontem à noite.
Minha conversa com Sarah, eu indo de madrugada na casa de Josh
porque precisava fazer isso o mais rápido para não desistir. Enquanto cuspo
meus defeitos com certo desprazer, meu pai me olha sério, com a testa
franzida e junta minhas poucas lágrimas que caem.
Me sinto como uma menininha, ainda mais quando ele me puxa para
um meio abraço desajeitado na cama e beija minha cabeça de forma
protetora. Meu pai fica em silêncio por alguns segundos e fungo, bebendo
suco de laranja e colocando um pedaço de fruta na boca, me sentindo um
pouco melhor agora que contei para alguém.
Fiz a coisa certa. Apesar de não parecer ser a certa nesse momento,
quando ainda dói.
“Todos temos defeitos, sabe disso não é mesmo, Chelsea?” Eu dou a
ele um aceno, concordando. “E de todos os que citou, seu maior defeito é
não deixar as pessoas entrarem em sua vida. Deixar que elas vejam seus
defeitos e te amem mesmo assim.” Paro de mastigar por um segundo,
olhando incrédula para ele antes de engolir. “Não vou falar sobre a situação
de ontem à noite, mas é isso, filha. Você não deixa as pessoas entrarem e no
momento em que se permitiu gostar de verdade do Josh, acabou presa ao
pensamento que algo daria errado, porque precisava de um porto para se
segurar no pensamento que nunca daria certo. Porque tem medo.” Não é
bem o que eu queria ouvir.
“Mas eu sei que não daria, somos muito diferentes, pai. Josh a recém
completou vinte e um, e mal chegou em Nova York.”
“Pelo jeito você não vai dar a oportunidade para sabermos se dariam
certo ou não, de fato. Além disso, essa parece ser a única grande diferença e
nem mesmo é tão grande assim. Vocês combinam mais do que qualquer
coisa, ele fez você fazer coisas que venho tentado te provar há anos. Ele
parece se iluminar com você por perto e raramente te vi sorrindo tanto ao
lado de alguém que não seus amigos tanto quanto te vi sorrindo ao lado dele.
Gostar de Josh é uma reação espontânea do seu corpo, daqui.” Meu pai
aponta para o próprio coração com um suspiro e meu celular toca na mesa de
cabeceira com uma ligação das meninas, não me dando tempo de respondê-
lo. “Bem, de qualquer forma, é crescida para saber o que fazer, mas sabe
minha opinião.” Ele beija minha testa antes de sair. “Pense nisso.”
Pego meu celular e atendo a ligação de vídeo, ignorando muitas
notificações que aparecem na minha aba.
“Bom dia!” Rebecca é a única super feliz, mesmo que não seja uma
pessoa matutina e noto que já passam das dez. “Você parece chorosa, Chels.
O que houve?” Daphne esfrega os olhos e nos olha com atenção.
“Chelsea?” Ela chama e estranho que nossa advogada tenha estado
na cama até agora. “É sobre Josh?”
Não me aguento e desabo em lágrimas, contando a história pela
segunda vez na manhã e me sentindo cada vez mais quebrada quando
percebo que realmente foi o nosso fim. Odeio pensar nisso, mas ao mesmo
tempo, sei que foi o certo a se fazer. Porque ele merece alguém que seja
bom para ele, completamente bom.
Minhas amigas são bem mais falantes que meu pai, mas acabo
aceitando as críticas.
Porque mereço todas elas.
 
 
 
 

 
“ELA ENDOIDOU!” Ethan exclama e olho para Nick.
“Alguma coisa deve ter acontecido.” Ele diz com sua voz da razão. Em
seguida, meus olhos pousam em Scott, que não disse nada ainda e segue
virando os bifes na chapa.
Tínhamos combinado de fazer churrasco no domingo e Chelsea
deveria estar aqui. Sei que não sou o único que esperava que ela mudasse
de ideia porque mesmo que nenhum de nós coma tanto assim, Nick fez a
salada favorita dela e quando Scott foi comprar bebidas mais cedo, comprou
garrafas da bebida gelada de limão que Chelsea adora tomar quando está
muito quente.
Como hoje.
“Concordo com Nick, alguma coisa aconteceu. Não acho que ela faria
isso do nada.” Ele começa a cortar as tiras da carne. “Ela tinha um olhar com
você, não é algo do tipo vou desistir do nosso relacionamento amanhã.”
“Exatamente!” Ethan exclama roubando uma tira. “Por isso penso que
ela só pode ter ficado maluca.”
“Alguma ligação?” Nick pergunta e aperto a tecla do meu celular pela
vigésima vez desde que estamos sentados ali, para ver nenhuma notificação
dela sobre meu papel de parede, uma foto nossa.
“Nada.” Destravo para responder as mensagens da minha mãe e digo
que ligo para ela mais tarde. Provavelmente vai ser horrível precisar contar a
eles também, mas minha mãe sabe farejar meu humor do outro lado do país.
“Acham que eu deveria ir até lá?” Mas os três se entreolham na hora e é
Scott quem toma fôlego para responder depois de o que pareceu cinco
minutos de espera dolorida.
“Não.” Ele busca apoio e os meninos acenam, concordando. “Deve dar
o tempo dela de colocar os pensamentos no lugar, ele vai perceber que fez
besteira. Além disso, vai dizer o que? Tentou conversar com ela ontem. Ela
não pareceu adepta a ideia. Só se for para algum tipo de humilhação, e sei
que você não é totalmente contra a ideia, mas prefiro impedir.” Meu último
término foi um pouco mais drástico e eu lidei muito mal, mas acredito que
chorar e me trancar mal alimentado não vai trazer Chelsea de volta, como
não trouxe Sarah. Embora fique tentado a testar a teoria de ir até ela. “Ela
precisa colocar a cabeça em ordem.”
“Espere ela mandar alguma coisa. Como Scott falou, ela vai voltar aos
sentidos, é melhor dar o espaço. Não acho que vá demorar muito.” Nick diz
bebendo sua cerveja. “Mas sigo acreditando que alguma coisa aconteceu.”
“Ontem na festa.” Ethan completa. “Porque senão ela não teria
atravessado a cidade só para terminar com você, poderia ter ido dormir
primeiro.” Acabo rindo um pouco triste da forma como ele coloca, mas é
verdade.
Algo deve ter acontecido. Ou ela poderia ter feito isso ontem à tarde,
ou ontem de manhã. Ou ainda essa manhã, porque tínhamos combinado de
passar o dia juntos.
“Acham que ela ficou com alguém?” Meu peito aperta.
“Não!” Os três respondem juntos. “Não faz o tipo dela. Se quisesse,
teria terminado primeiro, ou até mesmo falado com você. Ela faz esse tipo de
honestidade.” Scott fala.
“Então, o que pode ter acontecido?” Pergunto passando as mãos pelos
cabelos.
“Alguém ter falado algo para ela?” Ethan parece incerto.
“Quem poderia mexer com a cabeça de Chelsea Capri nesse nível?
Não acho que ela simplesmente faria algo assim do nada.” Nick diz, mas nos
entreolhamos, porque Chelsea é um pouco impulsiva sim. “Tudo bem, ela
poderia, mas o que foi falado pra deixá-la desse jeito?”
“Queria saber também.” Falo e comemos em silêncio por algum tempo.
“Ela disse algo, acho que conversou com alguém.” Tento me lembrar das
suas palavras exatas e me dói voltar a noite passada. “Que a pessoa disse
que éramos diferentes, algo assim.”
“De fato, são.” Ethan coloca. Scott aponta para ele com o pegador,
para completar:
“Mas não de uma maneira ruim.” Ele diz antes de colocar mais carne
na chapa.
“Vocês eram bonitos de ver juntos. Eram opostos, mas se davam bem.
Se completavam. Ela trouxe um pouco de coisas novas para você e não
posso dizer que não acho que fez o mesmo com ela.” Ethan diz, fazendo uma
careta em seguida. “Super romântico.” Nós damos risada e quando o som
cessa, Nick me fita por um tempo.
“Como está?” É a sua pergunta e meus três melhores amigos me
olham enquanto solto um suspiro.
“Bem mal, zero fé no amor e me sentindo como se tivesse perdido
algo, e perdi. Mas acho que… acho que Chels tem muito mais do que seu
sentimento sobre nós dois para resolver. Tem muito mais, sei que não é fácil
para ela, mas não sei se o que posso fazer vai ajudar muito.” Não sei como
faze-la entender que pode me deixar entrar, porque tenho absolutamente
nenhuma vontade de ir embora.
Ou, pelo menos, não tinha até ter sido deixado sozinho.
Eu a amo, e deixei isso claro em mais de uma oportunidade, apesar de
nunca ter querido assustá-la com as palavras, porque sei que isso é algo
pesado para Chelsea. Eu sei que quero mostrar que estou aqui para tudo o
que ela quiser, mas primeiro ela precisa resolver algumas coisas por dentro.
Como deixar que as pessoas cuidem dela. Se algo desse errado,
poderíamos dar conta juntos, mas, para isso, ela precisaria aceitar primeiro
que eu não iria embora na primeira oportunidade, que eu ficaria para darmos
um jeito.
Os meninos me olham por um tempo antes de tentarem guiar a
conversa para outro rumo. Passamos o domingo inteiro em casa e assistimos
a alguns jogos reprisados na TV. Sinto os olhos deles o tempo inteiro em mim
e tento garantir que não vou cair no chão e chorar a qualquer momento, e no
fundo não quero.
Acho que isso mostraria que eu realmente aceitei que ela se foi, e não
quero pensar nisso tão cedo. Se ela não queria me deixar ir tão cedo, isso faz
de nós, dois. Porque toda vez que lembro que ela não vai entrar do nada pela
porta, com mil sacolas, uma roupa de marca e um sorriso radiante, tomando
conta da nossa casa e da minha vida, meu peito afunda mais no peito e a
tristeza me consome.
 
 
Na quarta-feira à tarde, estou jogado no sofá. Peguei meu turno na
manhã e no momento em que Scott entra pela porta, todo engomado com
sua camisa e calça social, meu celular apita na guarda do sofá. Preciso olhar
duas vezes a notificação antes de ter a certeza do que vejo. Estou no
segundo, ou terceiro estágio, do término. Dessa vez os estágios são
diferentes.
Fiquei tranquilo nos dois primeiros dias, porque achei que ela voltaria
domingo ou segunda, mas segunda à noite acabei chorando na cama
sabendo que tinha acabado e porque doía. Os meninos fizeram plantão na
minha porta até terça à tarde, porque desde ontem depois do serviço,
comecei o terceiro estágio e estou muito frustrado por ela ter desistido como
se não tivesse havido nada entre nós.
Estou bem chateado mesmo. Usei isso como desculpa para ter
passado a madrugada de ontem para hoje trabalhando na tela com uma
pintura dela, em sua roupa de balé rosa, dançando. Porque ela é a coisa
mais linda que meus olhos já viram e mesmo com raiva de sua desistência,
ainda espero que retorne minhas ligações.
Que retorne para mim.
“Um e-mail!” Quase grito em frustração e mostro o celular para meus
amigos. “Ela mandou um e-mail!”
“Sério mesmo?” Nick aparece da cozinha, onde prepara nosso jantar.
“Bastante profissional.” Scott arqueia a sobrancelha, pensativo, e se
aproxima.
Os três ficam ao meu redor enquanto abro o e-mail e leio.
“Segue em anexo o trabalho final, com últimos ajustes no texto. Não
submeti ainda, deixei para que o fizesse caso queira adicionar qualquer
mudança. Vicent irá levar todos os quadros empacotados no plástico, como
sugerido, na próxima segunda no horário previsto por Collins. Já avisei que
não estarei presente e acordamos sobre minha nota. Não seria de grande
uso de qualquer forma, mas precisarei atender a um evento em Long Island
na mesma tarde, o que motiva minha ausência. Espero que tudo ocorra bem
e sei que consegue fazer uma ótima apresentação. Boa sorte.” Termino, dou
um olhar para eles e mostro o fim do e-mail. “É isso.” Mal consigo acredita
que foi a minha Chelsea quem escreveu isso, mas lembro que não existe
mais isso de minha Chelsea.
“Isso?” Ethan pega o celular indignado e depois de olhar, meu telefone
passa pelas mãos de Nick e Scott. “Ela foi mesmo formal o bastante.”
“Sem sequer uma frase sobre qualquer coisa substancial.” Scott diz
chocado.
“Ela nem sequer vai me encontrar semana que vem. Não duvido que
tenha até mesmo pensado em desistir da matéria por causa disso. Já que o
mero pensamento de se encontrar comigo é tão péssimo assim.” Bufo como
uma criança contrariada e me jogo no encosto do sofá.
“Ou talvez ela realmente precise trabalhar.” Mas nem Ethan consegue
acreditar no que está dizendo.
“Não consigo acreditar nisso.” Nick começa, voltando para a cozinha e
como habitual, o seguimos para nos sentar nos bancos do balcão. “Ela
realmente sentia alguma coisa, era óbvio. Além disso, ela não era tipo a
bruxa má do coração gelado? Nada disso estava presente sempre que você
entrava em um cômodo."
Faço uma careta, porque o que ele diz faz muito sentido e acabo
lembrando dos nossos momentos juntos. Na casa dela, quando tocou para
mim há uma semana, as sessões de filmes ou jogos com os meninos.
“Para.” Nick estrala os dedos na minha frente. “Está se martirizando
com seja lá o que está pensando.”
“Ela surtou, essa é minha opinião final.” Ethan comenta sério, cruzando
os braços.
“Será que ela já… seguiu em frente?” Pergunto fitando minhas mãos
no balcão.
Scott suspira de forma audível e coloca a mão no meu ombro, ele abre
a boca para falar algo, mas assim que seus olhos encontram os dos meninos,
ele desiste.
“O que?”
“Scott ia dizer alguma coisa positiva e não achamos que seja o ideal.”
Ethan murmura mal-humorado. “Se ela quer simplesmente bancar a estranha,
que seja. Mas ela devia ser melhor que simplesmente entrar e sair da vida
das pessoas como se fossem nada.” Por alguns segundos sei que não está
falando só de mim.
Ele também adorava a companhia da Chelsea e são bastante
parecidos até, provavelmente está chateado. Não tanto quanto eu, mas
chateado.
“Scott, fala!” Peço para ele e ele dá de ombros para os meninos.
“Essa é a Chelsea que eu conheci.” Ele aponta para Ethan, se
referindo a sua fala. “Mas a que andava aqui como se fosse dona do lugar,
que fez todas essas coisas, que quase parecia meiga toda vez que estavam
juntos, embora Chelsea e meiga não combinem em uma frase, essa era outra
pessoa. Mas parecia a mais verdadeira. Alguma coisa aconteceu, mas não
pode ficar se culpando por isso para sempre. Vocês tiveram momentos legais
e, honestamente, gostei de conhecer esse lado dela que provavelmente
pouquíssimas pessoas podem conhecer. Se apegue a isso.” Ele fez uma
pausa. “Apesar de tudo, ela continua sendo quem é, se remoer ou qualquer
outra coisa, não vai adiantar de nada. Não acredito que nem mesmo ir atrás
dela possa funcionar. Quando ela superar qualquer coisa que tenha
acontecido, ela vai pensar se deve ou não voltar para a sua vida. Não pode
querer sempre consertar as pessoas, porque não acho que seja algo a ver
com você em específico. Quando ela conseguir, Chelsea sabe encontrar o
caminho de volta.”
Sei que ele está certo, porque apesar de querer, não posso consertar
qualquer coisa que tenha acontecido, o melhor que posso fazer é ficar aqui
até que ela encontre seu caminho de volta para mim, mas espero mesmo que
não demore. Esperar para sempre é algo que faço, mas não quero precisar
de todo esse tempo ficando sem ela.
“Ei, quando se tornou a voz sábia do grupo? Eu trabalho muito por
essa posição.” Nick quebra a tensão e todos damos risada. “Mas Scott tem
razão, nunca conheci ela antes, mas não foi algo que parecia temporário.
Porém, também não acho que tenha muito o que você possa fazer, além de
esperar.” Dou um aceno com a cabeça. “Poderia usar da sua ajuda aqui.” E
eu logo entro na cozinha para cortar alguns legumes.
“Mas não espere para sempre.” Ethan fala ainda do seu estado mal-
humorado, acabo sorrindo.
“Não vou fazer nada, só seguir.” Falo e eles me olham. “Logo as aulas
vão começar de verdade e preciso me focar nisso, e no trabalho. Vou só…
deixar estar.” Eles balançam a cabeça em concordância comigo. “Não se
preocupem comigo.” Digo engolindo em seco antes que possa deixar os
sentimentos saírem e sigo cortando os pimentões.
“Josh, não precisa fingir que está bem também.” Nick fala em voz
baixa, mas sei que os meninos escutam.
“Não estou fingindo. É difícil, mas já…”
“Não, você não passou por isso. Chelsea é muito diferente de Sarah, e
o que tiveram foi bem diferente. Mas, se realmente está bem, ok. Estaremos
aqui de qualquer forma.” Ethan me repreende e dou um aceno.
Logo a conversa muda de rumo e eu agradeço, como venho feito
desde domingo.
 
 
Na segunda-feira seguinte, faço a exposição sozinho e não sei se isso
foi algo ruim ou bom. De fato, a presença graciosa de Chelsea poderia ter me
feito esquecer tudo que precisaria falar, mas, por outro lado, queria usar essa
oportunidade para conversarmos e quem sabe eu conseguir entender o que
aconteceu no domingo passado. Depois de uma semana inteira esperando,
achei que era hora de realmente parar de esperar por qualquer sinal.
Ela provavelmente, ou não se lembrava mais, ou já tinha seguido pra
frente. Não foi como se tivéssemos tido um longo relacionamento de qualquer
forma, ainda que dois meses junto com ela tenha parecido muito mais do que
isso.
Precisei me controlar para não acabar curiosamente perguntando para
Collins o que ela disse para conseguir escapar, mas preferi deixar o assunto
guardado uma vez que ele nem mesmo tinha cogitou mencionar a falta dela
aqui. Tomou a tarde inteira para que todos os grupos fizessem suas
apresentações, não que fôssemos muitos alunos, mas o professor se alongou
mais do que o necessário em seus comentários em um grupo antes de
passar para o próximo. O mais criativo havia sido as mini esculturas, apreciei
a paciência e o talento.
“Você tem o mesmo talento da sua mãe.” Collins se aproxima
enquanto estou guardando minhas coisas na mochila para sair.
As telas ficariam para um acervo do prédio por alguns meses e não me
importo. Preferiria esquecer os últimos dois meses e fico feliz em não precisar
lidar com sete quadros médios que me lembrassem constantemente do seu
processo de criação. Não que eu queira esquecer Chelsea, só seria mais fácil
não ter um lembrete constante dela.
“Basicamente tudo que aprendi, foi com ela.” De fato, minha mãe foi
quem me introduziu na pintura, mas eu tenho alguns traços diferentes, além
de não termos o mesmo gosto pelo o que pintar. Minha mãe prefere algo
mais paisagem, eu amo pintar pessoas mesmo que de forma mais abstrata.
“Acredito que isso seja um elogio.” Dado o histórico de Collins e sua paixão
pela minha mãe no passado, não acredito que iria criticá-la abertamente.
“Claro, sua mãe é uma artista incrível.” Dou a ele um olhar de quem
deixa a entender que é bom findar seus elogios por aí mesmo. “Senhorita
Capri de fato ajudou ou só fez sua graça, como é conhecida de fazer?” Estou
quase na porta quando ele pergunta e dou alguns passos para trás. Os
últimos alunos saem da sala e ficamos só nós dois.
“Sua nota máxima no trabalho escrito diz muito sobre a graça que ela
fez.” Levanto ambas as sobrancelhas para ele, nem mesmo sabendo porquê
estou defendendo Chelsea. “Ela realmente ajudou.” Aponto para duas telas.
“Inclusive a pintar aquelas duas.”
“Chelsea Capri colocando as mãos na massa?” Ele parece chocado,
soltando um riso em seguida. “Deveria contar seu segredo para o mundo,
Joshua.”
“Não existe segredo nenhum.” Porque não teve mesmo, não fiz nada
além de fazer a minha parte e ser eu mesmo.
“Tudo bem, terei que ser confiado com suas palavras.” Dou um aceno,
esperando ele dizer mais alguma coisa. “Mas ela ficará com um B, por não ter
vindo hoje.”
“Ela precisava estar no trabalho.” Mas sei tanto quanto ele sobre esse
assunto. Talvez até menos. “Um B deve servir para ela, de qualquer forma.” É
algo monótono a se dizer, mas não tenho mais nada diferente, porque não sei
mais sobre a vida de Chelsea. “Posso ir agora?”
“Claro. Até mais, Joshua.” Eu aceno para Collins antes de sair da sala.
Estou plugando os fones de ouvido quando meu celular toca.
“Não pode nem mesmo esperar quinze minutos até eu chegar em
casa? Estou ficando preocupado com a sua dependência, Ethan.” Falo assim
que atendo.
“Como é engraçado, Crawford.” Ethan boqueja do outro lado da linha.
“Estamos no Charp, vem para cá. Vai ser bom. Estamos aproveitando a
semana de folga até a volta às aulas. Scott disse que vai pagar uma rodada
generosa hoje.” Mas ouço Scott protestar no fundo.
“Tudo bem. Em cinco minutos estou aí.” Digo e desligo o telefone para
não precisar escutar qualquer deboche de Ethan.
Mas não posso evitar de receber as piadinhas tardias assim que me
sento na mesa com eles, poucos minutos depois.
“Eu estava apostando que não viria.” Ethan abre espaço para mim na
mesa.
“Eu falei que ele era um homem crescido.” Nick bate no meu ombro e
reviro os olhos.
Estou cansado, peguei um turno a manhã inteira no café e passei a
tarde ouvindo Collins falar as mesmas coisas. Porém, é bom sair com eles. É
a segunda vez que saio com os meninos desde que cheguei em Nova York,
sempre preferimos nossos programas caseiros que envolvem muita comida e
jogos.
“Aqui está.” Scott deixa quatro cervejas na mesa e se senta. “Como foi
hoje?” Ele pergunta, mas seu tom curioso sugere outra coisa.
“Bem, consegui a nota máxima. Collins quase puxou o saco, mas foi
tudo bem. Acho que comecei bem a faculdade.” Levanto os ombros e bebo
um gole de cerveja.
“É, deve ser algum bom sinal.” Scott fala uma vez que os outros dois
só acenam. Ele sempre acaba fazendo o papel corajoso para falar as coisas
mais sérias, embora Nick seja o calmo e centrado do grupo.
“Eu não vi a Chelsea hoje.” Digo depois de um tempo, e os três
suspiram. Sei que estavam se remoendo para quem iria fazer a pergunta.
Pedimos batata com queijo extra e muito bacon e tentamos parecer
civilizados enquanto comemos, mas estou faminto. Conversamos sobre o
começo do ano letivo e os meninos falam sobre todos os lugares onde
desejam me levar e como os jogos são de vibrar o estádio, me deixando
animado para essa nova fase da minha vida. Por alguns momentos, consigo
até esquecer o peso no meu peito que é a falta de Chelsea, e assim que me
lembro dela, tento afastar rápido o pensamento.
É difícil pensar que não vou voltar para ela, porque toda noite ainda
preciso relembrar disso. Me habituei a estar constantemente com a presença
esmagadora dela, com sua energia que sempre fazia um cômodo virar de
cabeça para baixo. Meus dois meses em Nova York foram assim, como uma
adição final que por três semanas passei os meus dias e noites com ela.
No período do que gosto de chamar de nosso breve namoro, breve
demais inclusive, quase todos os dias eu estava na casa dela ou ela na
minha. Estava acostumado com acordar com seu cheiro me preenchendo e
seu corpo no meu, seus sorrisos largos de quem sempre acordava cedo e
sua disposição radiante.
Sento de volta na mesa com um suspiro, pegando minha nova cerveja
e bebendo um gole. Aproveitei minha ida ao banheiro para passar uma água
no rosto e parar de desejar que toda loira que cruza nossa mesa seja ela. Por
hábito, acabo olhando para a tela vazia do meu celular, é óbvio que ela não
mandou uma mensagem só porque sentiu que estou pensando nela. Se
fosse assim, já teria mandado dias atrás.
“A cara de cachorro abandonado realmente chama a atenção feminina,
não é mesmo?” Ethan olha ao redor enquanto termino o que deve ser minha
terceira ou quarta cerveja antes dos seus olhos se viraram para o meu rosto.
“O que?” Pergunto passando a mão na minha barba crescida, que
estava atrasado demais hoje para tirar hoje cedo, procurando por alguma
sujeira. Estou um pouco alheio a conversa deles para entender do que se
trata seu olhar.
“Acho que ela começou quando o baby boy resolveu crescer pelos
faciais.” Scott fala zombando e passa a mão no meu rosto. Faço uma careta
quando ele usa o apelido que passaram a usar desde que Chelsea o disse
pela primeira vez. Apesar de preferir sempre a ternura na voz dela do que a
zombaria na deles, mas acredito que vou ter que me acostumar.
“Estão falando de mim?” Aponto para meu próprio peito, soltando a
cerveja na mesa.
“Quem mais fez três garotas girarem o pescoço no caminho do
banheiro para cá?” Ethan revira os olhos e eu levanto as sobrancelhas.
“Ah!” É a única coisa que sai pelos meus lábios, porque nem mesmo
percebi qualquer movimento.
“Aberto para novas oportunidades, não?” Ethan pergunta porque ele é
o menos #teamchelsea da mesa, sei disso. Sua saída repentina da nossa
vida, assim como foi sua entrada, o magoou um pouco.
“Claro.” Mas minha voz sai um pouco guinchada porque não é o que
quero.
“Claro que não precisamos forçar nada abaixo no garoto ainda, não é
mesmo, Ethan? Ele já teve mais diversão em dois meses do que teve nos
últimos quatro anos.” Scott quase grunhe para Ethan, querendo dar um aviso
e eu bato no braço dele.
“Eu namorava, e tinha minha diversão. Não precisamos mais ficar
amaldiçoando meu relacionamento com Sarah, isso já está bem atrás na
linha do tempo.” Aviso os três.
“Sim, tipo três meses.” Nick se pronuncia pela primeira vez em um
tempo, ele ficou ainda mais quieto depois que recebeu uma das mensagens
misteriosas.
Nós três damos risada do mau-humor dele.
“Ainda assim, parece um bom tempo.” Digo por fim.
“Acho que não sei como passamos tanto tempo sem você por aqui,
Crawford. Realmente é bom te ter por perto.” Ethan passa a mão no meu
rosto e me inclino fazendo cena.
“Que palavras doces. Achei que era pra isso que serviam os melhores
amigos.” Respondo e ganho um tapa na testa.
“Sabe como estragar um momento. Mas de verdade, não pense em ir
embora, ou vamos ir atrás de você e… fazer alguma coisa.” Ele retruca e
consegue fazer até mesmo Nick sair de sua cara fechada para rir.
“Não pretendo ir a lugar nenhum pelos próximos anos. Estou feliz de
estarmos todos juntos de novo.” Sorrio olhando para meus três melhores
amigos.
Me sinto em casa ao lado deles, porque, independentemente de
qualquer coisa, estar em Nova York com esses três parece fazer com que
nada possa me atingir.
Ethan ainda mantém meu pé no chão com sua mágoa de Chelsea,
Nick ainda é esperançoso sobre a volta dela e Scott está dando mais
conselhos céticos do que em qualquer outro momento desde que nos
conhecemos. Olhando de fora, não tem muito que nos une, fisicamente
somos bem diferentes em pontos importantes, e nossas personalidades são
bem distintas. Mas, antes mesmo dos meus pais, são esses caras que
procuro há anos quando as coisas dão errado.
“Momento fofo do mês, apesar de agosto ter sido um mês muito
afetivo.” Nick diz.
“É a minha presença.” Dou de ombros. “Sou um cara fofo, é o que
dizem.” Os três gargalham alto com aquilo, mas todos sabemos que sou o
apaixonado do grupo, eles diversas vezes se referem a mim assim.
“Fofo e dono da próxima rodada.” Scott diz assim que esvazia sua
cerveja. Ethan e Nick fazem o mesmo e me levanto, pegando as garrafas.
Coloco elas no balcão para serem recolhidas e peço mais quatro para
o atendente.
“Uma amiga pediu para entregar.” Um guardanapo com um número
rabiscado é estendido para mim e, as pessoas realmente fazem isso?
Levanto meu olhar surpreso da minha carteira até a morena na minha
frente. Sua pele oliva é bonita em combinação com seus olhos esverdeados.
Dou um sorriso simpático para ela, com uma sobrancelha arqueada. Tento
procurar o que devo responder, mas ela muda o peso de pé e preciso me
virar para entregar o dinheiro e pegar as cervejas.
“Está demorando demais.” Ela maneia a cabeça para o papel e um riso
breve me sai dos lábios.
“Me desculpa…” Comprimo os lábios, ainda fitando o número.
“Comprometido?” Ela pergunta e como eu gostaria.
Adoraria ter tido tempo de planejar passar um anelzinho de prata
bonito que combinasse com Chelsea Capri pelo seu dedo.
“Não exatamente.” Faço uma careta. “Não interessado, eu acredito.
Desculpe.”
“Nem mesmo sabe quem é.” Ela fala como se isso fosse fazer enorme
diferença na minha decisão final e entendo que às vezes faz.
“Só não estou no clima. Mas…” Pego o guardanapo da mão dela. “Vou
pegar isso e sua amiga não precisa saber que não estou interessado.”
Porque não tenho uma agenda de chatear garotas. A morena me olha com
interesse.
“Estranho.” Ela murmura. “De qualquer forma, voltamos hoje para a
cidade, vamos dar uma festa mais tarde. Scott sabe onde é, ele costuma
frequentar algumas. Estão convidados e, quem sabe, acabe mudando sua
opinião.” Difícil, fico tentado a dizer a ela, mas a morena já girou os
calcanhares e saiu andando.
Não espero para ver em qual mesa ela se senta e quem é a possível
amiga, seguro as cervejas e volto para o lado dos meninos.
“Melody já fez um movimento atacando o baby Crawford.” Scott diz
com um riso preso.
“Esse é o nome dela? Disse mesmo que te conhecia.” Solto as
garrafas.
“Até mesmo conseguiu um número.” Ethan fita com curiosidade o
guardanapo enquanto me sento.
“Uma amiga, pelo menos foi o que ela disse.” Guardo o papel no bolso,
porque não quero que a menina esteja me observando e me veja fazer
qualquer grosseria com seu número, como jogá-lo fora ou usá-lo como um
guardanapo de fato. Posso esperar para isso quando chegar em casa. “Ela
falou que vão dar uma festa mais tarde.”
“Elas sempre dão festas.” Scott diz e toma um longo gole da cerveja.
“Estou dentro.” O tom de Ethan é animado e Nick o segue com um
aceno de cabeça.
“Acho que essa é a minha última, já estava pensando em ir embora de
qualquer forma. Estou morto.” Maneio minha garrafa, porque depois de doze
horas fora de casa, ou até mais, só penso na minha cama. “Quem sabe da
próxima eu vou.” Digo porque isso vai os tranquilizar, não quero estragar a
noite de nenhum dos três.
Finalizamos nossas cervejas e quando saímos as meninas já não
estão onde estavam, dizeres de Scott. Me despeço deles na porta e vou para
casa enquanto eles rumam um pouco mais de diversão em plena segunda-
feira.
Scott acaba prometendo que não voltam tarde e sei que isso tem mais
a ver comigo do que com o fato que ele trabalha amanhã à tarde. Eles não
têm querido me deixar sozinho e quando digito uma mensagem para Chelsea
no caminho de casa, sei o porquê.
Eu sinto sua falta.
Digito e apago, digito e apago. Entro em casa, deixando o celular o
mais longe possível no quarto, apesar de isso acabar sendo na escrivaninha
e o movimento me faz dar uma olhada nas duas fotos dela que tenho ali. Sei
que devo, não as tiro e vou para mais um longo banho frio, como se a água
tivesse o poder de tirar Chelsea da minha cabeça.
 
 
 
 

 
ESTAMOS NA SEGUNDA SEMANA DE SETEMBRO, quando Scott para na
porta do meu quarto depois do jantar. Estou debruçado em algumas
atividades que não preciso entregar até o próximo mês, mas me soam como
boas distrações. Procurei pelos longos cabelos loiros durante todos os
últimos dez dias que pisei dentro da faculdade de artes da NYU, e em
nenhuma delas consegui achar quem eu queria. Deveria nem mesmo me
sentir mais tão frustrado a esse ponto.
“Faz alguns dias que não te vejo pintando.” Scott encosta no batente
da porta, seus cabelos crescidos estão molhados e parece um grande
contraste vê-lo vestido tão casual.
Suas roupas ultimamente se resumem a camisas sociais e calças bem
passadas.
“Acho que estou com algum tipo de ressaca criativa.” Meus olhos
miram a tela no cavalete, maior do que o tamanho habitual que pinto, coberta
pelo tecido branco. A verdade é que não me sinto animado em refrescar
minha memória pintando Chelsea. “Logo volto, não consigo ficar longe muito
tempo.” Volto a olhar para Scott no batente e ele sorri de canto para mim,
dando um aceno. “Algo errado?”
“Tenho algo para te contar.” Ele franze o cenho, pensando. “Mas
primeiro preciso saber se quer escutar.” Um riso me escapa e arqueio uma
sobrancelha para ele. “É sobre a loirinha.”
“Ah!” O som sai estranho da minha boca e penso se quero saber,
porque minha mente me leva a pensar que ela está com outra pessoa,
vivendo sua vida perfeitamente sem mim. O que, na verdade, não devia ser
problema algum, mas meu peito aperta e não sei porque minha boca profere
as palavras. “Pode falar.”
Scott hesita, mas segue em sua posição na porta, me viro na cadeira
para encará-lo de frente.
“Vi ela hoje.” Ele diz e eu dou um aceno. “Ela estava no escritório, de
tarde, com Rebecca e outra menina também morena.”
“Provavelmente, a Daphne, outra melhor amiga.” Mas mesmo assim
franzo o cenho, porque Daphne mora em Boston e Rebecca se mudou há
pouco tempo para Atlanta com o namorado.
“Elas parecem mais assustadoras em bando.” Ele murmura. “Ela não
parecia bem, para os padrões Chelsea Capri. Acho que ela sente sua falta,
não conseguiu me encarar nos olhos e Chels tem a confiança para olhar
qualquer pessoa nos olhos. Ela quase podia se misturar com os outros.”
Tanto Scott quanto eu sabemos que isso é algo muito estranho para alguém
como ela, porque a sala inteira sempre notaria sua presença. “Não sei se é
algo que gostaria de saber, porque sei que também ainda sente a falta dela.
Mas pensei que seria um pouco acalentador saber que não é o único que não
superou.”
“Então, porque ela não voltou?” Minha voz sai em um sussurro.
“Suponho que ela seja orgulhosa demais. Chelsea é uma pessoa que
sempre teve tudo e ela teve você, apesar de ter relutado no começo.” Arqueio
a sobrancelha novamente e ele bufa sorrindo. “Ah, por favor, sempre houve
alguma coisa entre vocês, mas acho que tanto você quanto ela negaram o
máximo de tempo que conseguiriam.” Dou um sorriso, pensando em como
ela sempre me fez sentir algo diferente. “Como te disse há uns dias, a Chels
que esteve com você, não conhecia ela de nenhum lugar, era alguém mais
leve, não tentava parecer dura e aérea a sentimentos.” Ele pressiona os
lábios, mas não diz mais nada.
“Acha que eu deveria ir atrás dela?”
“Não cabe a mim decidir isso. Só precisa saber que, caso vá atrás,
pode nem sempre acabar tendo a resposta que quer. Não te contei isso para
que no fim se frustrasse ainda mais, só achei que seria interessante saber.”
Ele termina e dou um aceno, Scott gira os calcanhares e sai do quarto me
deixando com pensamentos demais.
 
 
Termino o mais rápido possível o que faço na noite, porque meus
pensamentos estão a mil e quando deito na cama, a última coisa que passa
pela minha cabeça é dormir. Levanto e acendo a luminária da escrivaninha,
virando-a para meu canto de pintura. Puxo o tecido e ele revela minha última
pintura inacabada.
Fico um tempo de pé, admirando o que já fiz antes de me sentar. Ela é
o foco do estúdio, está em um só pé na sapatilha de ponta, o collant e saia de
tutu são no rosa bebe, termos que aprendi em meu tempo ao seu lado. Seus
cabelos loiros estão em ondas pelos ombros e costas, e está virada de perfil
para mim.
Seu sorriso é algo bonito e essa é uma das telas mais realistas que já
pintei, porque não achei que seria justo me desfazer de qualquer traço de seu
corpo pelas minhas pinceladas.
Alguns raios de sol já estão começando a despontar lá fora, quando
finalmente finalizo todos os mínimos detalhes que quero e nem mesmo me
atrevo a olhar o horário quando caio na cama exausto e inebriado com o
cheiro de tinta.
Quarta-feira é meu dia de folga da faculdade e meu turno só começa
às quatro da tarde. Por isso durmo até a hora do almoço. Quando desço na
cozinha a casa está vazia. Os meninos têm aulas, treinos ou trabalho. Como
alguma coisa que acho na geladeira e subo para tomar meu banho.
Três horas, peço um carro pelo aplicativo e desço com a tela envolta
em um lençol, porque não poderia plastificar ainda com qualquer saco. A
pintura secou bem pela posição na janela e não arrisco que acabe
estragando qualquer traço sem a certeza que está cem por cento seca já.
Quando chego ao prédio, sei que estou tentando a minha sorte, mas
assim que caminho até recepção, a atendente me dá um sorriso e
provavelmente se lembra de mim. Estive por ali há um mês algumas vezes
com Chelsea.
“Hey, boa tarde. O senhor Capri está?” Pergunto assim que ela termina
sua ligação.
“Claro.” Ela franze o cenho. “Nome.”
“Josh Crawford, diga que vim entregar o pedido dele, serei breve.”
Digo e recebo um aceno de cabeça enquanto ela coloca o telefone no ouvido.
Pode parecer bobo, mas estou me sentindo feliz por esse pequeno
movimento. Pode parecer estúpido que eu tenha finalizado o quadro e esteja
aqui para entregar para quem o pediu, mesmo que ver o pai de Chelsea não
seja o tipo de plano que qualquer pessoa normal costuma fazer. Me pareceu
certo, porque eu prometi e cumpro promessas, apesar de saber que há um
sentimento muito além do que só isso.
Além disso, sei que preciso entregar isso hoje, porque se me demorar
muito, perderei a coragem.
“Pode subir, ele estará lhe esperando. Décimo quarto andar, a
secretária lhe mostrará o caminho.” Ela fala colocando o telefone de volta no
gancho e eu agradeço antes de seguir para o enorme elevador, elegante
como tudo no prédio.
Scott tem sorte de trabalhar em um lugar bonito assim, embora
também deva ser um porre lidar com caras de negócios.
Apesar dos olhares estranhos, não me intimido. Carregar uma tela
virou parte do meu dia a dia desde muito novo e sei que estranham um cara
andando em um prédio como esse com um quadro 90cm por 60cm, é grande,
mas foi o que Cyrus pediu.
Pintar esse quadro me fez perceber muitas coisas. Como, por
exemplo, que sim, eu amo Chelsea e foi estranho a forma como esse
sentimento se espalhou rápido mesmo que eu sempre tenha acreditado
fielmente que isso fosse algo que se constrói com muito tempo. Meus pais
não precisaram de tempo, mas nunca pensei muito sobre isso, mas agora
percebo.
Penso sobre esse fato agora, enquanto subo os catorze andares e
quando sou direcionado até a sala do pai de Chelsea. Meus olhos acabam
me traindo quando chego à sala dela, vazia, como previsto.
Vejo que amor não é algo que precisa de tempo, porque não é uma
coisa que se controle e independente do meu sentimento por Chelsea, não
posso forçar que seja mútuo. E hoje, depois de uma noite inteira deixando
com que ela tomasse meus pensamentos, decidi que, ainda que não queira
isso completamente, preciso parar de sofrer sobre o que aconteceu.
Tivemos ótimos momentos e fui bobo em pensar que poderia ter a
chance com alguém como ela. Apesar de todo dizerem que os sentimentos
pareciam mútuos, não são de fato, e acho que todos esses pensamentos que
fico tendo repetidamente sobre ela não me façam bem, nem mesmo a ela.
Minha mãe sempre me fez acreditar que pensamentos tem poder e depois de
três semanas desejando que ela voltasse, ela não voltou. O pensamento de
deixar Chelsea ir não me agrada, prefiro pensar que irei esperar de longe,
sem me pressionar e sem pressiona-la.
Porque acredito que fui destinado a achá-la.
Porque acredito que ela foi igualmente destinada a me achar.
E nunca senti isso antes, não com Sarah, não com ninguém. Não
esperar não é uma opção.
Mas antes de ir fazer isso de longe, preciso resolver algumas questões
e insistir mais uma vez. Uma última.
“Josh! Não esperava te ver por aqui, mas que ótima visita.” Cyrus me
cumprimenta assim que abre a porta de sua sala. Eu entro e deixo a tela em
uma das paredes para apertar sua mão esticada.
“Desculpe vir sem avisar antes, mas não sabia como poderia ter feito
isso.” Não sabia se precisava marcar um horário ou algo assim e,
honestamente, fui na sorte de que iria encontrá-lo. Algo está a meu favor
hoje.
“Golpe de sorte. Estou partindo amanhã cedo para a Califórnia.” Ele
sorri e me oferece para sentar, eu me sento e ele toma sua cadeira. O
escritório de Cyrus é sofisticado. Madeira, couro e algumas fotos de Chelsea,
bela como sempre, espalhadas pelas estantes e pela mesa dele são o que
compõem a decoração. “Ela não está.” Cyrus coloca quando me pega
admirando sua filha, porque parece algo que faço muito.
“Eu sei, ela tem aulas no estúdio de balé. Por isso eu vim.” Não tinha
nenhum plano de acabar encurralando-a ali, de qualquer maneira.
“Vocês... vocês estão se falando?” Ele pergunta quase esperançoso,
se inclinando na mesa.
Balanço a cabeça negativamente.
“Tenho boa memória. só isso. Guardo algumas informações.”
Como o fato de que ela tem aulas de balé nas terças de manhã,
quartas e quintas após às três da tarde. Trabalha sem horário fixo na agência,
dependendo dos eventos. E que só pegaria aulas segundas e quartas de
manhã e terças a tarde. Assim teria tempo de trabalhar e estudar. Me
questiono como ela tem lidado com a rotina.
“Então, o que lhe traz aqui? Novamente, é uma boa surpresa, fico feliz
em vê-lo.”
“Digo o mesmo, Sen... Cyrus.” Me corrijo sorrindo quando recebo um
olhar bondoso dele. “É bom te ver. E vim trazer sua tela. Não me esqueci que
prometi o presente.” Levanto e caminho até a tela.
“Lembro de ter prometido pagar pelo serviço também.”
Finjo não escutar e levanto o quadro, escorando-o em meu braço
enquanto tiro o pano de cima com a outra mão. Assim que arrumo a pintura
nos olhos dele, Cyrus Capri abre a boca em algo que me parece choque.
Alguns segundos se passam enquanto tento ler a expressão dele. O pai de
Chelsea se levanta e aproxima a passos lentos de mim, no meio da sala,
segurando a tela nos braços.
“Josh, é magnífico!" Ele parece emocionado e quando seus olhos
encontram os meus, sorrio, porque amo quando a arte tem essa reação nas
pessoas, trazendo à tona sentimentos tão profundos. “Você tem um olhar
perfeito dela.” Ele sussurra, voltando a olhar para a pintura de sua filha
dançando balé.
“Ela tem graça dançando, não é tão difícil assim.” Mas sei que minha
voz sai mais triste do que deveria.
Respiro fundo e Cyrus me pede para sentar de volta, deixando o
quadro novamente escorado na parede.
“Vou lhe fazer um cheque.” Abro a boca para protestar, entretanto
tenho um pensamento que ele não iria aceitar não pagar. Espero quieto
enquanto ele escreve, checo as horas e preciso me apressar, mesmo que
não queira acabar sendo grosso com ele. “Aqui.” Ele me passa o papel e eu
arregalo os olhos.
“Senhor Capri, isso é demais.” Devolvo o cheque na mesa, balançando
a cabeça em negação. “Não posso ficar com tudo isso.”
“É o que vale!”
“Tire pelo menos um zero. Não posso aceitar essa quantia. É além do
que vale. Por favor, nem mesmo precisava estar pagando, realmente foi algo
que fiz porque quis. Sabia que seria algo que gostaria de ter por perto e me
sinto honrado de alguém pensar em adquirir algo meu, mas isso é demais.”
Eu explico e ele toma um tempo antes de pegar o papel, rasgando, e
começando um novo. A quantia nova é muito menor do que do outro. “Posso
aceitar isso.”
“Sua arte vale muito, rapaz. Você tem o talento, o olhar necessário
para pintar. Não se subestime tanto.” Ele sorri, dando conselhos de pai.
“Estou apenas começando, não posso querer tão além.” Ele dá um
aceno, me compreendendo. “Me perdoe, mas preciso mesmo ir. Não quero te
atrapalhar mais e preciso estar no trabalho em vinte minutos.” Levanto da
poltrona de couro e ele faz o mesmo.
“Claro, por favor, não desejo te atrasar. Foi ótimo te ver mais uma vez.
Obrigado pelo presente.” Ele estende a mão e eu aperto.
“Você pagou, não foi um presente.” Dou um sorriso brincalhão que é
retornado.
“Você fez muito antes disso, muito que foi um presente grande para
mim.” Arqueio a sobrancelha, mas ele não diz mais nada. Tomo a brecha para
voltar a me direcionar até a porta. Minha mão está na maçaneta quando ele
me chama de volta. “Joshua?”
“Sim?” Me viro no lugar para encará-lo.
“Obrigado, de verdade. Chelsea nunca tinha se aberto assim para
ninguém antes. Não são coisas minhas para contar, mas não seja duro sobre
sua demora. Ela precisa compreender os sentimentos. É mais complicado do
que só isso.” Dou um aceno, calado. “Se não puder esperar, não posso te
pedir para fazer isso. É jovem, afinal de contas. Mesmo assim, se não puder
esperar, você já fez muito, e sou grato por ter aparecido na vida dela.”
“E eu sou grato por ela ter me encontrado.”
Não digo mais nada, mas recebo um sorriso antes de deixar a sala.
Suas palavras ecoam em minha mente, assim como as de Scott e passo meu
turno inteiro do trabalho pensando sobre isso. Talvez tenha sido ainda mais
tolo do que pensei ter ido até Cyrus e cumprido minha promessa.
A presença dela ainda é esmagadora em minha vida e me sinto mais
incerto agora se realmente quero que ela vá embora da minha vida. Não
quero precisar esperar para sempre, porque sinto sua falta e gostaria de
poder conversar com ela, saber o que aconteceu de errado e ajustarmos isso
juntos, porque gosto da ideia de estarmos juntos. Sei que Chelsea tem muito,
sua carga é grande, porque muito aconteceu no seu passado para que ela
acredite que isso não daria certo, mas sei que pode dar.
Por isso, quando deito na cama mais tarde naquele dia, depois de uma
noite de pizza e assistindo futebol com os meninos, pego meu celular. Minha
última mensagem daquele domingo ainda paira sobre nossa conversa, mas
sei que se não tentar pelo menos mais uma vez, não conseguirei esperar de
longe em paz.
Porque, na verdade, sei que ela merece que alguém insista por ela
todos os dias, porque Chelsea é uma das pessoas mais incríveis que já
conheci na vida. Ainda que, no fundo, saiba que ela não é tão certa sobre
isso.
Me recordo de uma promessa que fiz há tempos, quando ela me
contou sua história e me sinto ainda mais certo sobre isso depois de tudo o
que aconteceu conosco. Se ela prefere pensar de outra forma, não posso
mudar sua mente, mas gosto de pensar que fui destinado a encontrá-la e
ama-la porque ela merece todas as coisas boas do mundo. Principalmente o
amor de todos aqueles que a cercam. Então, envio a mensagem mais tosca e
simples, e verdadeira, que poderia mandar.
 
Joshua: Sinto sua falta pra caralho. Podemos conversar?
 
 
 
 

 
Terça feira
 
“DEFINITIVAMENTE, COMBINOU COMIGO!” Daphne manda um beijo para
seu reflexo no espelho e isso me faz sorrir.
Não poderia expressar o quanto acabei grata quando vi minhas duas
melhores amigas na porta da minha casa hoje cedo. Mesmo que elas voem
de volta para suas respectivas casas amanhã à noite, me sinto feliz em tê-las
por perto hoje e amanhã. Sei que tirar Daphne e Rebecca do trabalho não é a
coisa mais fácil do mundo, e sinto que isso tudo foi uma preocupação
exagerada.
Eu nem estava tão chorosa assim nas últimas três semanas.
Talvez algumas lágrimas todos os dias durante os dez primeiros dias, e
uma tristeza profunda desde então. Junto com arrependimento que fiz a pior
coisa da minha vida e que provavelmente não posso remediar tão fácil. Nem
sei se posso remediar ou se devo.
Tirando todos esses sintomas claros de um término, que descobri por
diagnóstico das duas que estava finalmente tendo um após vinte e cinco
anos, ainda que elas preferissem que eu não tivesse feito a burrada de
terminar com Josh. Bem, tirando todos esses sintomas, eu não estou assim
tão terrível. Não no meu melhor momento da vida, mas estou tentando não
parecer tão ruim também.
E essa era a opinião de Daphne e Rebecca, embora tenham dito isso
só uma vez e quando perceberam que eu não voltaria atrás tão fácil, porque
também não sabia lidar com o sentimento expansivo que tenho no peito, não
falaram mais sobre o assunto. Elas acham que fiz uma grande burrada em
terminar tudo.
Nunca passei por qualquer coisa parecida na vida. Era muito pequena
para sentir a falta da minha mãe nessa intensidade, apesar de isso ter me
perseguido a vida inteira. O peso que tenho no peito por deixar Josh ir é bem
mais pesado, porque dessa vez sei exatamente o que fiz para isso acontecer.
“De fato, combina mais com você do que comigo.” Becks diz enquanto
abre o vinho e sei que minha ressaca amanhã vai ser pesada. E pensar que
terei o dia cheio.
“Não esperem que eu seja a próxima.” Digo exasperada, fazendo-as
rir.
Estamos falando de franja. Becks cortou a sua pouco antes de ir
embora, em junho, e claro que ficou lindo nela. Mas seu cabelo cresceu o
suficiente nos últimos três meses para que agora já estejam abaixo da linha
do seu nariz os fios da franjinha, deixando-a com algo mais emoldurando seu
rosto doce do que uma franja de fato.
Por outro lado, nossa advogada resolveu hoje que deveria cortar a
franja, e assim fez. Diferente da que Rebecca fez, mais aberta entre os fios,
Daphne foi total na franja bem preenchida que cai na sua testa agora
enquanto ela passa a mão repetidas vezes.
“Acho que ficaria uma graça.” Becks coloca a taça do meu lado no
balcão e beija meu ombro antes de ir sentar do outro lado da cozinha, nos
bancos. Daphne não demora a se juntar a ela.
Estamos na cobertura de Rebecca, depois de uma tarde no salão, que
de fato me fez sentir um pouco mais revigorada e mais eu mesma. Viemos
direto para cá com vinho o suficiente para uma semana inteira. Estou
encarregada de fazer nosso jantar, porque gosto da distração e elas
merecem um macarrão a carbonara feito por mim. É um dos meus melhores
pratos. O ar condicionado do lugar está funcionando o suficiente para que a
quantidade de taças de vinho ingeridas não nos faça passar tanto calor como
fazem normalmente no fim do verão.
“Preciso dizer que acho que meu cabelo está ainda mais loiro.” Maneio
com o ombro, jogando uma mecha para frente. Meus fios dourados estão
bem mais brilhosos além de parecerem mais loiros do que nunca. Mudei meu
corte mais reto por um U. As mechas mais a frente começam na altura dos
seios e findam o comprimento quase um palmo acima da minha bunda. As
ondas ficam bem mais graciosas nesse corte.
“Ainda bem que não falou algo sobre achar que está ainda mais bonita
ou eu poderia precisar da garrafa de vinho para beber no bico. Você é uma
visão deusa total até mesmo acordando.” Daphne resmunga e rimos.
“Fala como se fossem menos que isso.” Reviro os olhos e bebo da
minha taça.
Rebecca tem seus fios castanhos médios e olhos igualmente
castanhos que a deixam tão linda em contraste a pele pálida. Ela parece uma
boneca. Daphne é uma junção entre nós duas, meus olhos azuis estão
presentes nela, mas sua cor de cabelo natural é castanho, o que abre um
contraste bonito, ainda mais agora com a franja. Qualquer semelhança acaba
por aí, nossos traços e corpos são tão diferentes que nunca vou entender o
porquê de um dia, quando éramos pequenas, cogitarem que éramos
parentes.
“Tá bem.” Daph fala. “Poderia nos dar um pouco de atenção.” Ela
implica com Becks que está no celular, provavelmente conversando com
Zach.
“Desculpe, já falei que preciso parar de responder. Mas passamos o
dia longe, isso é algo estranho.” Ela choraminga saudosa do namorado e eu
me concentro no molho que acrescento uma pitada de creme de leite para
ficar ainda melhor.
Sei o que Beck está sentindo, porque também sinto saudade de
passar meus dias ao lado de Josh. Faz um mês desde o fatídico domingo que
deixei sua casa e apesar de termos passado três semanas juntos de fato,
foram dois meses ao lado dele. Passava metade dos dias das semanas, e
depois até mais, ao lado de Josh. Me acostumei com sua presença sempre
por perto e é difícil pensar que não estou mais vendo ele, e isso
provavelmente não vai mudar tão cedo. Pego os pratos para começar a
montagem e um silêncio toma conta da cozinha.
"Chels, converse conosco." Rebecca fala e fico com medo dela se
privar de falar do próprio namorado, o que eu não quero de jeito algum.
Ela e Zach são ótimos um para o outro e não posso nem mesmo
pensar em pedir para que evite falar sobre ele só porque o meu coração está
em pedaços. Sou feliz pelos dois estarem juntos.
“Só…” Solto um longo suspiro. “Não sei o que falar.”
“Vamos pelo básico.” Daphne começa. “Está sentindo a falta dele, não
é?”
“Muito, mas nos primeiros dias era mais complicado.” Ambas me
olham e sei que preciso elaborar. “Foi difícil dormir todas as noites sozinha e
sei que isso me faz parecer extra carente, mas é a verdade. Passávamos
muito tempo juntos então as duas primeiras semanas foram terríveis, mas
essa já começou a melhorar um pouco.”
“Melhorar um pouco.” Beck repete baixinho.
“E isso não te faz parecer carente, ele estava por perto e acabou se
acostumando. Não se martirize por sentir saudade.” Daphne coloca e dou um
aceno, bebendo mais um pouco do meu vinho.
“Eu sinto muito a falta dele, em várias coisas durante o dia. Queria
poder contar sobre coisas simples, tipo quando comecei com as aulas.
Porque sei que é parte por causa dele que tomei coragem para fazer coisas
que gosto. Nunca tinha cogitado voltar para o balé de qualquer forma fora de
casa e me sinto tão bem, menos ruim e inútil, quando estou ajudando as
menininhas a fazerem uma parada simples. E não, isso não é qualquer lado
maternal aflorando. Gostaria de poder contar que as coisas estão dando certo
pelo menos nesse âmbito da minha vida. Sinto falta de ouvir ele falar sobre o
dia de trabalho e sobre alguma coisa boba que os meninos fizeram. Eu sinto
falta até de estar com os meninos.” Porque todos os quatro me pegaram de
jeito, ainda que seja Josh que ocupe meus pensamentos todas as horas do
dia, contando os meus sonhos. “Talvez gostaria de falar que estou empolgada
planejando meu primeiro casamento, porque ele achou graça quando disse
que nunca me imaginei planejando o casamento de ninguém, muito menos o
meu.”
“Acho que ele planejava para vocês dois.” A voz de Daphne sai um
murmuro contra a taça, onde ela bebe um longo gole até perceber meus
olhos e os de Becks nela. “O quê? É a verdade. Honestamente, estou
esperando o vinho fazer efeito para poder falar algumas coisas. Fazer efeito
em mim e em você.” Ela me aponta enquanto levo os pratos até o balcão.
“Acho que prefiro ouvir o que for dizer enquanto ainda estiver sóbria.”
Me sento ao lado dela, mas apesar de falar isso, sirvo de novo minha taça e a
delas.
“É só que acho que demoraram muito para perceber que deviam ficar
juntos.” Ela dá de ombros.
“Essa é a parte que odeio por morar longe.” Becks diz antes de colocar
o macarrão na boca. “Elabore, Daphne, preciso ficar a par. O que significa
demoraram para perceber?” Ela fala de boca cheia e olho para ela, porque
Rebecca é definitivamente a mais sofisticada de nós três. Ela leva o
guardanapo à boca com um sorriso de canto. “Me desculpem.” Tenho quase
certeza que esse seu lado mais tranquilo e desleixado é algo que Zach está
fazendo ela ter e adoro o brilho nos seus olhos com tanta leveza.
“Hamptons! Ele te procurava pelo salão nas duas noites e você fazia o
mesmo.”
“Ele não conhecia ninguém, eu precisava manter o olho, não queria
que ele se sentisse mal no meio das pessoas.” Me defendo, mas fico
tentando lembrar se fiquei mesmo procurando tanto por ele assim.
Claro que fiquei.
“É, então podemos começar por aí. Esse garoto entrou na sua vida e
uma semana depois estava se desculpando por uma atitude rude. Rebecca,
por favor, quando Chelsea se importou assim com alguém além de nós?” Ela
busca apoio e Becks concorda com um aceno.
“Me faz parecer uma pessoa má.” Faço um bico antes de começar a
comer meu macarrão.
“Não é uma pessoa má, só sempre foi extra desapegada com as
pessoas, principalmente caras.” Rebecca intermeia. “Não é como se saísse
por aí sendo do tipo afetiva, e realmente se sentiu mal por causa do
aniversário dele, mesmo que todos saibamos o motivo de não ter ido. Não era
como se precisasse se explicar ou tentar remediar.” Beck levanta os ombros
ao fim da fala e sei que ela está certa. “Ele entrou na sua vida já fazendo a
diferença.”
“E daí, resolveu leva-lo para Hamptons e sei que já iria para lá de
qualquer forma, mas sei que fez isso para, não sei, talvez completar um
pouco todo o ato do sinto muito.” Daphne gesticula. “Pareciam confortáveis
um do lado do outro, e como explicar toda aquela atração enquanto
dançavam? Pareciam o casal mais bonito da noite e nem mesmo eram um
casal. E todo respeito aos noivos da noite. Mas estavam mesmo perfeitos.”
Daphne continua e suspiro, porque dançar com ele realmente virou uma das
minhas coisas favoritas. Seus braços ao redor de mim sempre foi uma das
minhas coisas favoritas. “E temos todas as idas na casa dele. Você até
mesmo aprendeu a pintar, Chelsea!” Ela exalta e Rebecca parece igualmente
chocada. “Convidar ele para o evento beneficente.” Daphne segue listando.
“Quase estou me arrependendo de ter contado tudo para vocês.”
Resmungo e elas dão risada. “Não posso negar que meus olhos bateram
nele e me senti atraída. Ele é lindo e gostoso e tem todo aquele ar de bom
moço, com tanta paciência e calma. Um pedaço de mal caminho total e nem
mesmo preciso começar sobre como ele é dentro do quarto e não, não estão
autorizadas a concordar sobre o fato dele ser gostoso e muito maravilhoso e
nem me perguntar sobre o que quis dizer sobre ele ser incrível no quarto.”
Aponto para elas que continuam gargalhando.
“E Chelsea sendo ciumenta? Nunca achei que veria isso na vida.”
Rebecca zomba e acabo sorrindo também.
Ter Josh me desencadeou esse ciúme e odeio pensar que ele pode
estar com outra pessoa. Não é como se não houvesse uma fila de pessoas
prontas para se apaixonarem pela pessoa maravilhosa que ele é.
“Tudo bem, ele é todo seu.” Becks complementa.
“Mas ele é uma gracinha, sim, Beck.” Daphne provoca e dou um
tapinha nela. “Que foi? Ele é mesmo. Vocês são um casal lindo.”
"Éramos." Friso para ela, que revira os olhos.
“Bem, não o conheci além das fotos, mas ele parece mesmo ser um
amor. E conquistou o coração de Chelsea, o que já é um ponto muito
positivo.” Rebecca volta a falar e comemos um pouco em silêncio. “Você…”
Ela hesita enquanto levanta da bancada. “Você ama ele?”
Sei o porquê essa pergunta é tão cautelosa quando sai dos lábios de
Becks. Porque não costumo falar a palavra com frequência. Para mim, ela
tem muito efeito. Suspiro e termino de mastigar minha última garfada. Bebo
um gole de vinho e dou de ombros, porque já disse isso tantas vezes para
mim mesma, não pode doer dizer isso em voz alta mesmo que não tenha tido
coragem de dizer isso diretamente para ele.
“Sim. Eu amo ele. Amo muito.” Admito baixinho e um pequeno silêncio
se segue.
“Já disse isso a ele?” Rebecca pergunta e eu balanço a cabeça,
negando. “Deveria.” Dou um olhar feio para ela, mas minha melhor amiga dá
de ombros. “É a verdade, deveria ter dito.” Ela suspira enquanto eu tiro meu
prato e o de Daphne, levando para o lava-louça. “Depois que descobri o que
sentia por Zach é como se eu precisasse dizer isso a ele todos os dias para
provar para mim e para ele que nosso sentimento pode nos ajudar a passar
por qualquer coisa que seja. Então, acho que deveria ter dito, independente
do que aconteceu depois.”
E o pior é que Rebecca está tão certa que dói. Ele deveria ter sabido
dos meus sentimentos, porque mostraria o quanto ele fez a diferença e o
quanto é importante.
“Vou dizer o que acho, tudo bem? Não deveria achar que pode prever
tudo o que vai acontecer e ficar dizendo que iria estragar a vida dele.
Chelsea, como pode prever que estragaria tudo se essa situação é
completamente nova para você? Vá se danar com toda essa história de
egoísmo. Esse é o último momento em que deveria pensar em não ser
egoísta.”
“Estou de acordo com tudo o que Beck vai dizer, só para deixar claro.”
Daphne fala enquanto andamos até o sofá.
Sinto que um sermão elaborado vem por aí.
“Você ficou com medo de toda a situação, essa é a verdade, Chels. Me
desculpa se isso te magoa, mas é a única verdade. Está tudo bem, claro, mas
você ficou com medo do que estava sentindo e do que Josh fez com você, a
influência dele na sua vida. Isso é novo e assustador, mas não é ruim. Ele
virou sua vida de cabeça para baixo, porém nunca tinha te visto tão feliz, com
todo aquele brilho no olhar. Sei que é assustador, honestamente, morri de
medo quando Zach chegou e eu sabia que precisava ceder também, não era
só ele. Porque precisava fazer isso para que nosso relacionamento seguisse
funcionando. Sei que você tem um problema com admitir seus sentimentos e
isso é um problema do passado, mas ele realmente parece gostar de você,
pelo que nos contou e as fotos dizem muito. O brilho no olhar é mútuo. Não
pode tentar controlar algo que está além de você. Não pode querer controlar
o que ele sente, porque é algo que acontece naturalmente.”
“Chels…” Daphne começa quando nos sentamos, Beck puxa a manta
em nossas pernas e cada uma me abraça de um lado. Não poderia me sentir
mais amada e sortuda por ter minhas melhores amigas. “Você já o deixou
entrar na sua vida, acho que a última coisa que tinha que ter feito era deixá-lo
sair. Nem mesmo sabe quais eram as vontades dele. Às vezes o que ele
queria não eram festas e sei lá o que mais acha que ele vai esperar da
faculdade, às vezes a única coisa que ele queria era ficar do seu lado.”
“Suponho que é um pouco tarde para pensar sobre isso agora.” Digo
tristonha.
“Nunca vai saber se não fizer alguma coisa.” Rebecca fala com um
levantar de ombros. “Isso, é claro, se ainda quiser ficar com ele.”
“Não consigo pensar em mais nada além disso.” Minha voz sai baixa e
elas me abraçam forte. “Como isso foi acontecer justamente comigo?”
“Não estamos todas protegidas do amor.” Beck diz.
“Daphne está.” Rebato.
“Eu ainda não achei um cara interessante o suficiente, só isso.”
Daphne se defende e ela tem um ponto, porque sempre se envolve com as
pessoas, mas nenhum relacionamento acaba indo para frente. Não é como
se ela não tentasse pelo menos.
“Ok, vou pensar sobre o assunto, mas primeiro vou aproveitar vocês.”
Sorrio me jogando em cima delas. “Estou mesmo feliz que estejam aqui.”
“Não teríamos lugar nenhum para ir quando nossa neném está
sofrendo de amor.” Daphne aperta minhas bochechas.
“Eu sou a mais velha!”
“Nossa bebê do amor ela quis dizer.” Rebecca explica e gargalhamos.
“Eu amo muito vocês.” Falo depois de um tempo nos abraçando,
porque embora já tenha dito isso para elas em outros momentos, as palavras
sempre saem com muita dificuldade pelos meus lábios.
Até mesmo quando digo para o meu pai. E essas duas merecem todo
o amor que eu posso dar e dizer.
 
 
Na quarta-feira, passo todo meu tempo disponível com as meninas e
quase choro quando deixo as duas no aeroporto, porque gostaria que elas
pudessem ficar para sempre. Estar longe é difícil embora seja preciso. Cada
uma tem a sua vida agora, em Atlanta e em Boston, e sei que posso sempre
visitá-las, além das conversas diárias por telefone. Fico até o começo da noite
no estúdio, treinando alguns passos junto com minha antiga professora e
estou finalmente me sentindo voltar a forma de bailarina de fato, apesar dos
movimentos um pouco limitados quando meu tornozelo pede minha piedade.
Eu e meu pai saímos para jantar a noite, porque amanhã cedo ele sai
para outra longa viagem pela Califórnia. Sei que sua intenção é que eu não
note, mas conhecendo Cyrus Capri como eu conheço, sei que há algo lhe
incomodando e que ele ainda não decidiu se quer ou não falar comigo.
Muitas vezes o que ele mais quer é podermos esquecer sobre qualquer
trabalho e termos um bom tempo pai de filha. Não nos pressionamos sobre
assuntos que o outro não quer falar. Ele nunca mais me pressionou sobre
Josh e não o importuno sobre o trabalho. Então, falo sobre minhas aulas,
estou pegando minhas últimas três matérias para concluir meus créditos e
tenho a esperança de me formar ainda esse ano.
Quando chego em casa mais tarde, vou direto para o quarto. Me
arrumo na banheira para apoiar meu laptop no suporte que encaixo nas
bordas e passo meus próximos trinta minutos relaxando em um banho de
espuma e organizando algumas distribuições com fornecedores para agendar
amanhã antes do balé. Quando começo a confundir o fornecedor de doces
com o de convites, desligo o computador e saio da banheira. Deito na cama e
pela primeira vez em dias durmo como um anjo, apesar de meus sonhos
ainda serem preenchidos pela sua figura bonita.
Na quinta, enquanto arrumo minhas coisas para ir para o escritório e
depois para o estúdio, decido que precisamos conversar. Josh e eu. Porque
eu sinto a falta dele mais do que qualquer coisa e não acho mais tão justa a
minha decisão unilateral. O que faz pouquíssimo sentido quando me lembro
que fui eu quem fiz toda a burrada sozinha e agora estou pensando em voltar
atrás em tudo.
Sei que já se passou um mês desde que tudo aconteceu, ou quase
isso, mas antes tarde do que nunca. Porque Daphne e Rebecca estão certas,
eu já o deixei entrar na minha vida e deveria ter agarrado essa oportunidade
de poder ter alguém tão incrível comigo ao invés de surtar e afastá-lo. Apesar
de impulsiva, ainda tenho raciocínio lento e tento não me julgar quanto a isso.
Relacionamentos não são coisas das quais estou acostumada e pensar que
poderia magoar Josh foi algo esmagador na minha mente.
Além do mais, Beck está certa quando disse que meu medo está me
privando de seguir vivendo as melhores coisas que já passei nos últimos
anos. Nunca tive o que Josh me deu e isso me assustou, porque nunca
pensei no amor não platônico como algo totalmente positivo. Meu pai amava
minha mãe, e ela o deixou. Tinha medo de cometer os mesmos erros e, sem
nem mesmo pensar, eu fiz o que fiz. Eu o deixei mesmo que amasse Josh.
Que coisa mais estúpida de se fazer, Chelsea!
Hoje eu farei algo a respeito do meu erro. Preciso dar a todas as
coisas que ele me faz viver pelo menos uma chance. Ainda que torça que
não seja tarde demais já.
Embora ter uma infinidade de coisas para fazer antes, infelizmente.
Acabei virando mesmo algo tipo uma mulher compromissada. Uma
mulher de negócios.
Entro no décimo quarto andar e depois de alguns sorrisos simpáticos,
vou até a minha sala e começo as minhas intermináveis ligações. Melissa me
deixa alguns avisos de última hora da noiva e nunca achei que gostaria de
arrumar o casamento de alguém que mal conheço. Almoço no escritório e
penso durante esse tempo sobre mandar uma mensagem para ele. Mas
quando penso de novo, resolvo que não é a melhor jogada.
Próximo das duas da tarde, arrumo minhas bolsas para ir ao estúdio.
Uma mala de academia tem minhas roupas para a aula e para depois, minha
bolsa de ombro é larga para manter algumas pastas, tablet e laptop ali.
Nunca senti tanta falta das sacolas de compras ao invés disso aqui.
Tranco a minha sala e lembro quase chegando no elevador sobre os
documentos que meu pai pediu ontem a noite para que eu assinasse em seu
escritório. Sobre um acordo do Magni e como uma péssima super acionista,
eu precisava sempre dar minha assinatura em documentos importantes de
negociações. Dou meia volta até chegar em passos rápidos na sua sala.
Talvez agora eu devesse me envolver mais nas reuniões e transações
da companhia. Apesar de não conseguir imaginar em que momento poderia
fazer mais isso.
Destravo com minha chave e caminho até sua cadeira de couro. Estou
procurando pela pasta que ele descreveu quando meus olhos acabam na tela
na minha frente. Ainda não foi pendurada e definitivamente não estava aqui
quando vim na terça de manhã. Minha boca seca, porque sei o que é aquilo.
E é definitivamente a coisa mais linda que meus olhos podem ver pelo que
parece.
A memória me vem na mente sem dificuldades, porque foi a terceira
vez que consegui fazer um arabesque completo com a sapatilha de ponta de
novo. Ele está sentado no canto da sala, me olhando terminar meu treino
enquanto espera, seus olhos estão tão focados em mim e isso deixa ele
ainda mais bonito aos meus olhos. Além de me fazer sentir que sou o centro
do seu mundo. Depois de alguns passos, paro a perna de apoio no chão e
subo a outra, completando o passo com os movimentos graciosos com os
braços. Capturo seu choque de canto de olho e viro da minha posição,
virando para ele até que esteja com o rosto focado no seu.
Sorrio, porque assim como todas as vezes que seu rosto entra em
foco, eu sempre dou um sorriso. Ele murmura algo impressionado antes de
eu descer do arabesque até que fique na posição bras au repos, saúdo Josh
com um cumprimento e caminho até sua posição sentado.
Essa é exatamente a cena que ele retratou na pintura, meus cabelos
estavam soltos naquele dia, como estão em uma mistura dourada de cores
no quadro. Roupa rosa e um sorriso bonito nos lábios. Poderia dizer que isso
pode ser qualquer bailarina, mas sou eu. O rosto tem meus traços, meus
olhos e meu cabelo. Seria muita coincidência. Além disso, sei que ele tinha
prometido o quadro para o meu pai, só não acreditei que ainda o pintaria
mesmo depois de termos nos separado.
Ele precisa mesmo parar de ser esse tipo de cara super surpreendente
e perfeito. Não entendo como não me apaixonei antes. Boba demais com
todo esse medo dos sentimentos bonitos que ele desencadeia em mim.
Era o último empurrão que eu precisava.
Um sorriso não deixa mais meus lábios porque acho que é a faceta da
esperança. Se ele ainda me retratou de forma tão bonita, significa que ainda
existe algo nele, não é mesmo? Quando Vicent me deixa na porta do estúdio,
digo que não é necessário que me espere. Vou a outro lugar logo após a aula
e a casa dele é três quadras de distância do estúdio, posso fazer o caminho a
pé, sem precisar de um motorista. É bom para espairecer no fim das contas.
Meu humor está relativamente o melhor de todos desde que comecei
minhas assistências no estúdio. Amarrando minha saia de ensaio e ajudando
algumas meninas a fazerem o mesmo. Aproveito o momento do alongamento
das pequenas para mandar uma mensagem para as meninas. Assim que
entro na área de mensagens, uma nova aparece no topo da tela. É de ontem
à noite e percebo que uma atualização desconectou minhas mensagens
desde mais ou menos a hora do jantar do dia anterior. Tenho feito bem mais
ligações do que qualquer outra coisa ultimamente.
Mal notei que essa área do meu celular estava com defeito.
 
Baby boy: Sinto sua falta pra caralho. Podemos conversar?
Meu coração palpita tanto que chego a acreditar que todos na sala
escutam. Sorrio de forma tão boba quanto uma adolescente quando leio
aquilo. Como posso o amar menos do que muito? Me sinto a mulher mais
sortuda do mundo porque meu peito quase explode de felicidade. Meu baby
boy ainda não perdeu as esperanças nessa pessoa totalmente bagunçada
que eu sou. Ele é definitivamente a pessoa mais certa que eu poderia ter
encontrado para amar.
Sou requisitada porque a aula já vai começar e meus dedos tremem
enquanto digito. Precisando tentar me recompor um pouco para não sair
gritando e pulando por aí e ir correndo para o meu lugar certo. Os braços de
Josh.
 
Chelsea: Eu também, estou indo na sua casa mais tarde.
 
 
 
 
O DIA ESTÁ INFERNAL. Nem mesmo sei por onde começar para explicar o
porquê.
Aulas ruins, apesar de ter conseguido minha primeira nota máxima das
atividades entregues. Meu turno, que começou a uma, se estendeu muito
além das seis da tarde porque a chuva atingiu grande parte de Nova York
depois das cinco e o novato que tomaria meu lugar no balcão não conseguiu
sair de casa. Não me lembro o nome dele, o que mostra que minha memória
tem se degradado nos últimos tempos, mas também não me importei em
cobri-lo até que conseguisse chegar.
Claro, se não fosse o fato que os nova-iorquinos ficam malucos com a
chuva e o café lotou durante duas horas até a chuva afinar, depois das sete e
meia, e todo mundo perceber que não precisa mais tanto assim de um café.
Ganho uma caixa de donuts antes de ir embora, porque deveria ter saído às
sete depois que Mark chegou, o novato que tem o nome no crachá, graças,
mas ajudei com o movimento até às oito. Espero ganhar uma bonificação no
meu salário do final de semana também. Não só uma placa de funcionário do
mês.
E ainda me chamaram de bobo quando cheguei com um guarda-chuva
mais cedo. É precavido que chama e olhei a previsão do tempo. O que pelo
visto não é algo comum em Nova York. Plugo os fones de ouvido assim que
respiro o ar fresco das ruas da cidade e assim que o faço, uma ligação brilha
minha tela. Minha mãe.
“Espero que tenha pelo menos uma desculpa pelo fato de não ter
atendido as outras duas ligações.” Minha mãe começa. “Oie, querido.” Sua
voz amacia.
“Oie, mãe, é bom ouvir sua voz também e tenho, o café ficou uma
loucura e acabei ficando duas horas a mais.”
“Indo para a casa agora?”
“Sim. Mas é bom ter companhia.” Porque ela tende a desligar a ligação
toda vez que digo isso. “O que tem feito?”
“Pintando, sentido falta do meu único filho, dando ideias para o seu pai
e cozinhando biscoitos. Virou meu mais novo hobbie pelo visto.” Ela faz uma
pausa para um riso. “E você?”
“Espero conseguir provar esses biscoitos em breve.” Preferimos não
determinar data depois de um tempo, porque o dia de viagem até San Diego
é caro e longo. “Aulas e o trabalho, não tenho muito além para fazer.”
“Como estão as aulas?”
“Melhores do que imaginava. Não é bem minha área preferida, mas
tenho gostado de aprender um pouco mais sobre o cinema e teatro, quem
sabe papai não me dá algumas dicas no futuro ou vice-versa.” Olho a rua, já
que o trânsito ficou ainda pior pela chuva, antes de atravessar. “Como está o
papai?”
“Envolvido com o trabalho, como sempre. Ele está em um novo projeto
de fantasia e está bem animado, é o primeiro dele no gênero. Está
trabalhando dia e noite porque precisam entregar o roteiro até novembro.” Ela
começa e passa os próximos três minutos me dando mais detalhes, quando
peço, sobre a história. Depois fala um pouco sobre o que tem pintado. “E
você, trabalhando na pintura?”
“Não exatamente.” Faço uma pausa. “Depois do trabalho para a
matéria do Collins, acabei dando um tempo até voltar a pintar essa semana.
Finalizei um quadro na terça. Mas não estou com muita inspiração mais.” Dou
de ombros sozinho na rua.
“Hm.” Ela fica em silêncio por algum tempo. “Tem falado com ela?” Às
vezes me arrependo de ter pedido conselhos para minha mãe, porque pelo
menos duas vezes por semana ela me faz essa mesma pergunta
esperançosa.
“Não. Não exatamente. Mandei uma mensagem ontem à noite e
depois de ficar igual um bobo checando por uma resposta, precisei desistir da
ideia e o café virou uma bagunça hoje. Mas não acredito que ela tenha me
respondido. Se não respondeu até agora, não é mesmo? Talvez foi bobeira
da minha parte achar que ela poderia responder. Melhor tentar deixar isso
para trás de vez.” Pense em algo complicado de conseguir fazer vai ser
deixar tudo isso para trás.
Fecho o guarda-chuva que me protegeu da garoa assim que chego na
marquise de frente de casa.
“Mas tudo bem, aconteceu. Tenho que pelo menos ficar feliz pelo que
passamos, não? Porque foram experiências legais.” Minha voz sai tão triste
quanto me sinto por ter me submetido a mais essa.
Legal também nem começa a descrever meus momentos com
Chelsea. Mas deveria saber que não é fácil amar Chelsea Capri. É pior ainda
não ser correspondido.
“Josh…” Minha mãe se arrasta enquanto abro a porta de casa. “Não
seja tão pesado consigo em relação a essas coisas. Sinto muito por ela não
ter respondido. Ainda. Pelo menos tentou.” Tiro os sapatos na porta e deixo o
guarda-chuva dentro do balde onde os meninos colocaram os deles.
“Ainda?” Eu não sei se quero ainda ter tanta esperança, porque por um
lado vem me feito mal pensar nela de forma tão excessiva assim. Fui avisado
que Chelsea gostava de curtir a vida e afins. Esperava poder ser algo mais
duradouro na curtição dela só.
Mal percebo o que estou pensando até me dar conta que esperava ser
duradouro e não só mais duradouro. Não queria ser só uma curtição.
“É, ainda. Acho que ela ainda te responde. Não consigo acreditar que
você gosta tanto dela assim e ela nem um pouquinho de você. Conheço as
mulheres e meu filho. Te criei para ser o típico príncipe que é.” Dou risada
passando pela sala e os meninos estão todos olhando estranho para mim.
Aponto para os fones e gesticulo com a boca que é minha mãe. “É a verdade,
Josh.”
“Tá bem mãe, não acredito que nada vai mudar tão repentinamente e
já se passou um bom tempo.” Continuo indo até a cozinha para colocar a
caixa com os donuts. “Não fique tão esperançosa.”
“Ela seria uma nora tão linda.” Minha mãe pensa alto do outro lado.
“Mãe!” Mas minha repreensão sai com um riso. Porque é linda mesmo.
“Seria mesmo, acho que é uma pena para nós, pobres Crawfords.” Lavo as
mãos e pego meus três melhores amigos sentados nos bancos da bancada
me olhando. Nem mesmo notei que me seguiram. Franzo a sobrancelha, mas
eles só se entreolham. “Mãe, cheguei em casa já, vou desligar. Qualquer
coisa me mande mensagem. Conversamos melhor mais tarde.”
“Tá bem, você também. Mande um beijo para os meninos. Amo você
filho, eu e seu pai amamos.”
“Eles também mandam beijos de volta.” Me inclino na bancada para
que entendam a ordem silenciosa.
“Claro.” Diz Nick ainda perdido.
“Te amamos, tia Crystal.” Ethan tem mais emoção em sua voz.
“Amamos mesmo.” Scott repete de forma monótona.
“Morro de saudade de todos vocês.” E minha mãe parece mesmo
muito saudosa pelo seu tom de voz.
“Mais de mim, eu espero.” Mas ela ri com o que digo. “Amo vocês,
tchau.” Assim que ela desliga a chamada, tiro os fones e puxo o celular,
deixando ambos na bancada e indo pegar uma das rosquinhas. “Podem
comer também.” Aponto a minha mordida para eles que ainda tem aquele
olhar estranho.
“Chegou tarde.” Nick fala e arqueio a sobrancelha.
“Precisei cobrir um colega. Depois ajudei por causa do movimento.”
Respondo. “Tínhamos algo planejado para hoje?” Espero não ter virado o
amigo relapso.
“Não.” Scott tem um tom sério.
“Nos diga você, tinha algo planejado?” Ethan diz incitando algo e dou
risada antes de deixar meu donut pela metade na tampa da caixa.
“O que aconteceu?” Ainda estou rindo quando me inclino de novo na
bancada, do lado oposto deles. “Ok, estão me assustando.” Porque eles se
entreolham duas vezes.
“Você tem visita.” Nick finalmente solta e estanco no lugar.
“Eu tenho...” Aponto meu indicador para meu próprio peito ainda
confuso com o significado daquilo.
Ethan desvia o olhar e Scott revira os olhos antes de responder.
“Chelsea está aqui.”
Eu poderia ter gritado de felicidade se não estivesse em choque.
Levanto ambas as sobrancelhas, ainda parado na bancada porque não sei
que reação ter. Abro a boca algumas vezes, pensando no que devo falar, mas
não tenho ideia do que sinto ou do que dizer. Não sei se estou preparado
para isso. Apesar de ter esperado muito por esse momento.
Os três me olham, provavelmente esperando algum tipo de reação,
mas não sei como reagir. Pego meu celular da bancada e percebo que ela
me mandou mensagem mais cedo, avisando que viria. Mostro a tela para os
meninos, mas ainda ficamos em silêncio.
“Ela… tá lá em cima?” Pergunto apontando para as escadas.
“Disse que ia te esperar lá.” Ethan diz dando de ombros.
“Falei para ela trocar de roupa, porque estava molhada da chuva.” Nick
completa e dou um aceno.
Continuo onde estou, olhando para a escada.
Ela pegou chuva para vir até aqui? Está me esperando há quanto
tempo? Será que realmente sente saudade ou só mandou a mensagem de
forma vazia? Vai que está querendo só um pouco de diversão. Sou capaz de
dizer não para ela? Provavelmente não. Amo essa mulher tanto que me sinto
quase fraco só de saber que ela está no mesmo lugar que eu.
“Quer falar com ela?” Scott pergunta me arqueando a sobrancelha.
“Sim, só estou… tendo um momento.” Engulo em seco e começo a sair
da cozinha.
Pego minha mochila que joguei em um canto e subo as escadas como
se elas pudessem quebrar antes de eu chegar lá em cima. Ou eu pudesse
quebrar. Meus passos são automáticos, porque minha mente está sugando
toda a energia do meu corpo com tantos pensamentos.
Quando chego no andar de cima, está tudo escuro e sem nem um
mínimo barulho, estranho. Caminho até a porta do meu quarto que está
encostada. O lado de dentro está com a luz apagada e por um momento
penso que Chelsea foi embora sem que os meninos percebessem. Mas
assim que finalmente abro a porta, vejo seu corpo deitado na cama, todo
enrolado.
Meu coração deve perder todo o jeito de bater porque sinto algo
estranho dentro de mim e, porra, ela é tão linda e sua presença me enche
tanto. É esmagadora e me pergunto como consegui passar um mês sem
olhar para ela, ainda que me preocupa a forma como ela está toda enrolada
nos meus lençóis, com expressão tão séria.
“Chels?” Deixo minha mochila no canto e me aproximo dela, ligando a
luz no caminho. Sua testa está franzida e os olhos fechados.
Me aproximo até tocar a pele exposta do ombro dela, para acordá-la.
Mas nada acontece e a pele de Chelsea está fervendo. Toco outro ponto do
seu braço e então suas bochechas e testa. Está queimando. E ela não faz
mais do que gemer com meus toques e minhas chamadas. Preocupação me
enche enquanto saio aos tropeços do quarto e chego no topo da escada.
Sem saber direito o que fazer.
“Nick! Venha aqui rápido, por favor!” A urgência em minha voz faz com
que eu escute os três subindo as escadas, mas já voltei ao lado da cama e
me ajoelho ao seu lado.
Afasto os cabelos que colam em seu pescoço e percebo que ela treme
um pouco.
“O que aconteceu?” Scott fala quando eles chegam na porta. Mas é
Nick quem eu olho.
“Quando eu cheguei, ela estava assim. Sua pele está bem quente.” Ele
se aproxima e toca a pele dela. Seu olhar preocupado me faz ficar ainda mais
preocupado. “Nick?”
“Ela está com febre.” Mas ele parece um pouco estranho, adotando
uma postura séria. “Vou pegar o termômetro. Cubra ela por agora, para
ajudar os calafrios no momento.”
E antes que ele saia do quarto eu já estou tirando os saltos de Chelsea
e puxando o cobertor em seu corpo.
“Abra um pouco a janela, para ventilar o quarto.” Nick pede para Ethan
assim que entra de novo no quarto com uma bolsa pequena de primeiros
socorros. Uma das muitas que ele tem. “Vou medir a temperatura dela.
Precisa tirar a roupa molhada e o ideal seria que ela conseguisse tomar um
remédio.” Ele me diz. “Pegue uma toalha e alguma coisa com água fria.” Sua
ordem é para Scott.
Todos começam a se movimentar para seguir suas ordens e mesmo
que esteja maluco de preocupação, sei que não sou o único. Pelo menos
Nick tenta se manter mais calmo, como sempre, nos dizendo o que fazer e
ficando ao lado de Chelsea.
Assim que o termômetro eletrônico apita, Scott já está de volta no
quarto com um pote redondo médio com água fria, que Nick testa, e duas
toalhas de rosto.
“Ela está com uma febre alta, 39.2ºC. É melhor vocês dois voltarem lá
para baixo, quanto mais arejado o quarto ficar, melhor.” Os meninos
obedecem. “Ela não vai morrer, tire esse olhar perdido da cara. É uma febre.”
Ele brinca, mas sua expressão ainda é séria. “Vamos tirar a coberta e depois
mudar a roupa de cama, está tudo molhado. Depois disso precisa trocar a
roupa molhada dela, coloque algo fresco, só uma camiseta vai bastar. Se ela
tiver muitos calafrios, podemos colocar um lençol em seu corpo além da
coberta fina. Mas o ideal é que fique… fresca.” Nick continua em seu tom
clinico. “Depois disso, precisa passar a toalha com água fresca na testa e nos
pulsos. No pescoço também é bom. Ajuda a melhorar a febre mais rápido.”
Dou acenos com a cabeça.
“E o remédio?”
“Ela não vai conseguir tomar agora, está totalmente capotada por
causa do seu sistema de defesas. Também não sabemos qual e que horas foi
sua última refeição, melhor não arriscarmos uma rejeição do estômago.” Ele
deixa o termômetro na minha mesa de cabeceira. “Se tudo for bem, sua febre
vai baixar daqui uma hora, um pouco mais ou um pouco menos.” Ele diz
olhando no relógio de pulso. Devem ser quase nove da noite. “E então ela
deve acordar se sentindo melhor. Vou preparar uma sopa para que ela tome
assim que isso acontecer e daí pode tomar o remédio.” Ele passa a mão nos
cabelos dela, sei que Nick se apegou a Chels também. “Ela vai ficar bem.”
“Deve ter pego muita chuva.” Murmuro com uma careta.
“Não acho que tenha sido exatamente só por causa disso.” Ele se
levanta e faço o mesmo. “Segura ela que eu troco a roupa de cama.” Ele já
está tirando os travesseiros extras. Tiro a coberta do corpo de Chels e deixo
em um canto do quarto.
“Nick, elabore.” Digo enquanto arrumo seus braços na barriga antes de
colocar uma das mãos em suas costas e a outra atrás dos joelhos. Seu corpo
está suado, ou molhado.
Mas ainda assim, a sensação do seu corpo perto do meu é muito boa.
Sua cabeça se inclina em mim e é difícil tirar meus olhos dela.
“Estou dizendo que, se pegasse uma chuva qualquer agora, ficasse
quinze minutos com as roupas molhadas, pegaria febre. Ou nem mesmo
ficaria resfriada. Mas poderia acabar com uma febre também sem fazer
nada.” Ele puxa os lençóis e acumula junto com a coberta. “Acho que ela
podia estar ansiosa, talvez não esteja se alimentando muito bem, parece
pálida. Pode estar tendo sono de má qualidade também, fadiga ajuda os
problemas acumularem e, assim que abaixa a guarda, tudo te atinge. E tem
outro ponto.” Ele explica enquanto coloca o lençol limpo. “Ela poderia estar
com… algo, relacionado ao que está sentindo e se isso estava sendo ruim
para ela, ter vindo aqui foi um divisor de águas. Sua febre por ser um pouco
sobre o que está dentro. Como uma intoxicação.” Franzo a testa.
“Pode estar relacionado a mim?” Digo enquanto a deito de volta na
cama e ele acena, trocando as fronhas. “Mas a última coisa que eu iria querer
é que ela ficasse doente.” Falo arrumando sua cabeça nos travesseiros.
“Às vezes você consegue virar um gênio.” Ele ironiza. “Não tem a ver
com o que quer ou não. Acontece.”
“Não sou o mini doutor aqui.” Faço uma careta para ele. Nick pega as
roupas de cama retiradas.
“Vou levar isso para lavar. Troque as roupas dela, tome um banho e
volte para cuidar dos panos.” Ele me indica. “Vou preparar uma sopa.
Qualquer alteração, me avise.” Ele chega na porta. “Quando voltar, pode
fechar as janelas e colocar o ar em uma temperatura agradável.” Ele aponta
para o dispositivo de regulagem na parede. “Josh?” Ele chama já na porta e
me viro para ele de novo. “Se não queria que ela ficasse doente, o que pode
fazer para ajudar com que ela fique melhor é cuidar dela. Se mantenha perto.
Vai ser bom pra ela sentir isso.” Apesar disso me confundir ainda mais, dou
um aceno e Nick sai do quarto, fechando a porta.
Vou até às cortinas e as fecho. O corpo de Chelsea segue parado na
cama. Noto agora que ela trouxe duas bolsas que estão do lado da
escrivaninha. Deve ter vindo direto do balé. Vamos lá. Penso comigo mesmo
quando me aproximo dela. Despir uma pessoa desacordada deve contar
como algum tipo de pecado, mesmo que não seja para nada ruim. O zíper da
sua calça social azul marinho é do lado e puxo ele para baixo sem precisar
tocar nela. Sei que o ideal vai ser eu levantar um pouco seu quadril, para
puxar a peça sem acabar trazendo sua calcinha junto e é isso que faço.
Tentando não olhar sem permissão aqui, Chelsea.
Precisava mesmo de algo totalmente rendado e preto? Odeio a visão
periférica às vezes. Deixo suas calças no canto do quarto e passo para a
regata branca. Seu blazer foi tirado antes e está na minha cadeira. Puxo o
tecido pela sua cintura até precisar abraçá-la contra mim, meio sentado, para
puxar o tecido pela sua cabeça.
Vê-la assim, tão mole contra mim é um pouco dolorido, gostaria de ser
abraçado de volta e ver seus olhos azuis que estou tanto sentindo falta.
Parecer frágil e muito não Chelsea. Suas roupas estão muito molhadas e mal
consigo imaginar como estavam quando ela chegou.
Pego uma camiseta no meu armário e me ocupo colocando-a no corpo
de Chelsea. Ela consegue ainda parecer a coisa mais linda que já vi, mesmo
com os cabelos úmidos desgrenhados e a pior parte é ver seu rosto apático,
não dormindo tranquilamente como estou acostumado. Assim que termino de
puxar o tecido para a sua cintura, percebo pequenos círculos de umidade se
formando por causa do sutiã e faço uma careta. Muitos pecados.
“Espero que não fique brava comigo.” Digo antes de me sentar na
cama e abraçar seu corpo até que esteja meio sentada também, ela suspira
enquanto encosta a bochecha no meu ombro. Subo minha mão pelas suas
costas vestidas até achar o fecho do sutiã e abro em um movimento. A peça
sem alças desce até sua cintura. “Desculpa, juro que não fiz nada de errado.”
Falo para ela enquanto coloco sua cabeça descansando nos travesseiros de
volta. Deixo um beijo na sua testa antes de dobrar suas roupas molhadas em
um canto do quarto.
Tomo um banho rápido depois disso. Com medo que alguma coisa
aconteça na minha ausência e quando volto, ela segue dormindo, mas virou
para o meio da cama. Arrumo minha camiseta para baixo em seu corpo e
faço o que Nick indicou.
Fecho as janelas e ligo o ar em uma temperatura boa. Sento do outro
lado da cama e começo a passar a toalha molhada na água fria em sua testa
e pescoço. Chelsea inclina seu corpo mais para perto do meu, e não consigo
evitar acariciar seus cabelos quando sua cabeça se deita desajeitada no meu
colo.
Desço as costas um pouco da cabeceira até que ela consiga ficar
deitada no meu peito. Suas mãos se agarram em mim e tento não me
importar com suas unhas apertando minha pele, porque o cheiro dela me
inebria. Assim como sua presença. Noto que ela cortou seu cabelo enquanto
mexo em seus fios dourados e depois de quase meia hora, deixo o pano
gelado pousado na testa dela por alguns minutos antes de trocar pelo outro.
Faço isso algumas vezes, me perdendo em seus traços, sua beleza e
na minha saudade dela.
 
 
 
 

 
DEVO TER ADORMECIDO PORQUE ACABO ME assustando quando
Chelsea se move mais na cama. Estou abraçando seu corpo e ela abraça o
meu. Afasto os cabelos do seu rosto e beijo sua cabeça antes de pegar o
pano que caiu em meu peito e trocá-lo por outro fresco. Alcanço o termômetro
na mesa de cabeceira quando noto que já são quase dez e meia. Coloco no
seu braço novamente, precisando fazer uma boa manobra para atingir a
dobra do seu braço.
Movimento não muito bem pensado, porque quando o pequeno alarme
de aviso soa e eu demoro a conseguir tirar o termômetro, checando que sua
temperatura baixou para 38,1ºC, os cílios de Chelsea tremulam e ela respira
fundo.
“Você está aqui.” Ela murmura quando seus olhos se abrem um pouco
e me fitam, logo se fechando de volta.
Ela se enrola mais em mim e penso que não haveria outro lugar onde
eu deveria estar.
“Chels, precisa acordar.” Sussurro em seu ouvido, removendo o pano
molhado.
Passo os dedos pela sua nuca e ela reage um pouco, enfiando sua
cabeça no meu peito e murmurando algo que acredito ser um não. Mas agora
que sei que ela está um pouco consciente, preciso aproveitar a oportunidade
para que se medique.
“Precisa sim.” Passo meus dedos pelo seu pescoço e viro gentilmente
seus olhos para mim. Beijo sua testa e ela começa lentamente a acordar.
“Precisa tomar um remédio e comer algo. Estou preocupado com você.”
“Eu estou bem agora que está aqui.” Sua voz ainda sai abafada pelo
sono.
“Minha linda, eu realmente vou adorar se me disser isso quando não
estiver sonolenta e doente.” Sussurro. Ela começa a se mexer um pouco
mais, começando a se desvincular de mim até que seus olhos se abram e
entrem em foco. “Chels?”
Seus olhos correm ao redor do quarto parando em mim por fim.
Provando toda sua sonolência até a recém. Um meio sorriso se abre antes
dela se sentar devagar na cama. Seus olhos se franzem quando nota as
pernas nuas, parecendo bastante confusa. Ela respira fundo.
“O que aconteceu? Eu vim aqui falar com você e… não me lembro
muito bem.”
“Você tomou chuva e deitou com as roupas molhadas. Teve um pouco
de febre, mas está melhorando.” Explico, olhando com cautela para ela.
“Precisei tirar suas roupas, porque estavam encharcadas, juro que não fiz
nada de errado.” Ela acena com a cabeça. “Não vi nada.” Completo e seus
olhos encontram os meus.
“Já viu bastante um dia.” Mas sua pitada de humor sai um pouco triste.
“Estava dormindo, não seria gentil.”
“Você é realmente perfeito.” Ela passa os dedos no meu rosto e me
inclino no seu toque. “Vim direto do balé, já tinha dispensado Vicent. Não
sabia que choveria. Sinto se causei algum transtorno.” Chelsea baixa suas
mãos de volta no colo.
“Ficamos preocupados. Como está se sentindo?”
“Cansada e sonolenta.” Ela faz uma careta. “Suada e pregando. Tem
muito mais, quer que eu fale agora?”
“É sobre seu estado febril?” Pergunto porque seu olhar me denunciou
que não. Ela nega com a cabeça, confirmando meus pensamentos. “Então
podemos deixar para quando estiver melhor.” Chelsea acena, quieta demais,
e sorrio de canto, desejando segurar seu rosto com as mãos, sentir sua pele
macia.
“Posso tomar banho?” Ela parece incerta.
“Claro, é até bom. Tome um banho morno, vai ajudar com a febre.”
Levanto e ela faz o mesmo.
“Devo ter alguma coisa aqui.” Ela fala para si enquanto caminha em
passos hesitantes até a mala de academia que trouxe consigo. Chelsea
parece um pouco fraca por causa da febre. “Roupa do balé, roupa do dia…”
Ela diz colocando alguns saquinhos de lado.
“Pode usar minhas coisas, se quiser.” Minha voz sai tão estranha que
até eu franzo a testa para mim. Chelsea se vira para me encarar com um
meio sorriso e olhos azuis confusos. “Você não vai ir embora de qualquer
forma.” Ela sorri de uma maneira tão fofa que tenho vontade de pular a parte
da conversa para beijar aquele sorriso.
“Tudo bem.” Ela se agacha e pega sua necessaire enquanto caminho
até a porta.
“Toalhas no mesmo lugar de sempre.” Falo, olhando para o corredor,
vazio, antes de abrir a porta para ela. “E vou estar no corredor, se precisar de
qualquer coisa, é só gritar.”
Assim que ela vai para dentro do banheiro, volto até o quarto e separo
uma calça de moletom e uma camisa limpa. Segurando as peças dobradas
na mão, espero até que o chuveiro desligue para bater na porta.
“Trouxe as roupas.” Ela demora um pouco para abrir a porta e colocar
a cabeça na fresta, pegando as roupas da minha mão com um
agradecimento rápido.
Alguns minutos depois, ela sai vestida nas minhas roupas e sou
teletransportado para um mês atrás. Seu cabelo está em um coque no alto da
cabeça e ela parece bem melhor já. Um pouco menos abatida.
“Nick fez algo para você comer, deveríamos descer.” Ela dá um aceno
e espero na escada enquanto seus passos rapidamente entram e saem do
quarto para deixar sua bolsinha.
Todo esse silêncio dela é algo que não estou acostumado, me sinto
estranho com essa situação, ainda que preocupado que ela não melhore
totalmente. Acho que deveríamos ir a um médico, não que eu desconfie dos
talentos de Nick, mas estou preocupado. Descemos em silêncio e ligo a luz
da cozinha.
A sopa cheira bem. Chelsea deve pensar o mesmo porque respira
fundo. Pego dois pratos fundos e sirvo a sopa para nós.
“Vamos para a sala de jantar.” Convido já me direcionando e ela me
segue.
Chels está muito quieta e isso me deixa nervoso, porque não sei se é
alguma indicação de que não está bem ou que só está agindo estranha perto
de mim. Deixo-a comendo e faço um chá para ela. Trago-o de volta para a
mesa junto com água. Suas colheradas são vagarosas, mas ela já parece
bem melhor agora do que mais cedo.
“Você quer perguntar alguma coisa.” É uma afirmação, e não uma
pergunta.
“Está bem?” A esse ponto, já deixei a minha sopa pela metade de
lado. “De verdade. Fiquei preocupado com você, por que não avisou que
estava se sentindo mal?”
“Porque eu não estava.” Ela solta um suspiro. “Sai do estúdio e,
mesmo que não tivesse me respondido ainda, eu vim. Começou a chover no
caminho, nada muito forte, mas eu não podia correr de saltos. Além do mais,
chuva nunca me fez mal.” Ela levanta os ombros. “Quando cheguei, eles me
deixaram subir e minha intenção…” Ela hesita e toma outra colherada.
“Chelsea, continue a frase.”
“Minha intenção era deixar um bilhete e sair. Até que me respondesse
pelo menos. Vi o quadro que fez para o meu pai e a sua mensagem e,
honestamente, fiz algo tão burro que nem sei como explicar. Tomei uma
decisão que, no fim, só me fez ser hipócrita. Então queria conversar, mas
pensei em deixar um bilhete.” Ela respira fundo. “Quando vi que ainda
mantinha minhas coisas, fotos e cartas e até mesmo o convite, eu percebi
que seria mais certo esperar, conversar de verdade. Eu sentei na cama,
porque estava muito cansada de uma hora para outra, e a próxima coisa que
me lembro é que acordei agora a pouco.” Ela indica o relógio na parede e
percebo que é perto da meia-noite. “Não tinha a intenção de atrapalhar
qualquer coisa ou ter que fazer você cuidar de mim.”
“Precisa parar mesmo com essas coisas de bilhete.” Falo depois de
um tempo, enquanto ela termina sua sopa. “Prefiro muito mais quando fala
comigo, quando me fala o que tá sentindo.” E isso também se refere ao dia
que ela terminou comigo, porque teria sido muito melhor que tivéssemos
conversado e resolvido as coisas, juntos, que eu tivesse pelo menos a
chance de dizer algo. “E sabe que não é um fardo, nunca foi e não é agora.
Corta essa, Chels.” Ela dá um aceno com a cabeça, mas não confio muito
que realmente acredita em mim.
“Vou comer mais.” Chelsea se levanta e volta para a cozinha. Nick
desce as escadas e vem para a sala de jantar. “Está uma delícia, muito
obrigada por cuidar de mim, Nick.” Chels fala assim que se senta de volta na
mesa.
“É parte da família.” Ele diz sem hesitar ou fazer uma careta depois.
Como se fosse a coisa mais natural. “Como está se sentindo?”
“Melhor.” Chelsea responde.
“A febre baixou um pouco, ainda não tá ideal, mas acho que tomando
remédio agora, dormindo uma boa noite, amanhã deve acordar bem melhor.
Ela tomou um banho morno, isso deve ajudar também, não?” Digo para Nick
que dá um aceno.
“Deixei o remédio no seu quarto já.” Ele me diz e seus olhos pousam
de novo em Chelsea comendo seu segundo prato de sopa quieta. “Está
mesmo se sentindo melhor?” Ela acena com a cabeça, por causa da boca
cheia.
“Provavelmente deveria ganhar uma estrela de ouro na minha ficha de
paciente do Doutor Nick no futuro. Sou uma paciente que cura rápido.” Essa
mulher ainda consegue ânimo para brincar, dando um sorriso totalmente
travesso para nós e não consigo explicar o quanto senti falta dela. Disso tudo,
nós dois, suas brincadeiras, seu sorriso, seus olhos.
“Bem…” Nick começa segurando um riso. “Pretendo ir para a área da
pediatria ou ginecologia obstetrícia, então não acredito que quer mesmo ter
uma ficha com estrela de ouro com o Doutor Nick.” Mas então ele olha para
ela sério, arqueando as sobrancelhas. “Não é mesmo?” A pergunta de Nick
tem um tom tendencioso e acabo arregalando os olhos quando noto o que ele
está perguntando para Chelsea, ela solta uma risada.
“Ok, sem fichas para o momento. Nenhum bebê por aqui, tive meu
período semana passada. Nada grávida.” Ela afirma de forma obediente com
um sorriso, e ele relaxa, apesar de eu demorar alguns segundos para
conseguir fazer o mesmo. Não desejo mesmo ser pai aos vinte e um.
Quem sabe em algum momento no futuro? Casa bem cheia e essas
coisas. Sempre tive vontade. Não com vinte e um. Não antes de conseguir
recuperar minha garota e todas essas coisas. Me formar quem sabe?
Conseguir pagar algumas contas com minha arte.
“Bem, se precisarem de mim, podem me chamar. Vou ficar mais um
tempo estudando ainda.” Nick se levanta. “Tire a manhã de folga amanhã.
Tente ficar de repouso pelo menos até depois do almoço.” Ela dá a ele um
aceno de cabeça bem comportada, pegando o resto da sopa na colher.
Nick nos deixa ali e volta para o andar de cima.
“Fiz chá para você também.” Aproximo a xícara enquanto pego o prato
dela e levo de volta para a cozinha, colocando no lava-louças e guardando a
sopa restante. “Como está se sentindo?” Pergunto mais uma vez quando
volto para a sala de jantar.
Chelsea está com um pé apoiado na cadeira, joelho para cima,
bebendo seu chá. Realmente quieta demais, o que está me dando nos
nervos.
“Se vocês me perguntarem isso mais uma vez, eu acho que vou
começar a surtar.” Ela sorri. “Estou melhor, de verdade. Não me sinto mais
tão cansada fisicamente, apesar de pensar que ainda tenho sono. O banho
ajudou na parte suada.” Ela levanta com a xícara em mãos. “Posso terminar
de beber lá em cima.” Aceno e pego as duas garrafas de água.
“Por que demorou para me responder?” Não seguro a pergunta
quando chegamos na metade da escada.
“Ugh…” Ela faz uma careta sorrindo. “Meu celular pode não ter
entregado sua mensagem até hoje de tarde.” Chelsea solta um riso enquanto
se vira para me olhar culpada. “Mas eu ia vir antes disso. Antes da sua
mensagem.”
“Ia?” Pergunto fechando a porta do quarto. Estou realmente muito
surpreso com essa, além de curioso e meu peito bate numa velocidade
extremamente descompensada.
 
 
 
 

 
“OK, EU POSSO TER DEMORADO UM POUCO PARA perceber algumas
coisas.” Digo me sentando na cama e tomando mais um gole do meu chá. Me
sinto mil vezes mais eu mesma agora que tomei um banho e comi. “Não sou
boa com essas coisas.” Ele fica em silêncio enquanto pega algo na
escrivaninha e me entrega.
“Precisa tomar o remédio.” Pego um comprimido da cartela e bebo
com o chá.
Ele se senta ao meu lado. Seu silêncio é algo com o qual consegui me
acostumar ao longo do tempo, porque ele toma alguns segundos sempre
para colocar os pensamentos em ordem e dizer. Mas dessa vez, o
comprimido chega descer meio torto pela minha ansiedade. Imagino que é
agora que ele diz que posso parar por aqui, porque não quer mais nada então
posso poupar minhas palavras.
Odeio me sentir assim, mas sei que foi algo que eu mesma fiz. Foi um
buraco que eu mesma cavei para mim. O silêncio, a distância, nossa
separação. Só porque ele finalizou o trabalho com o quadro para o meu pai e
está cuidando de mim agora, não significa que ainda queira algo comigo.
Josh é gentil demais, provavelmente faria essas coisas por causa do
seu bom caráter.
A mensagem pode ter sido um leve desvio. Sei como ele tende a
acabar empolgado com o telefone quando bebe, pode ter sido o caso. Mesmo
que eu prefira pensar que suas palavras são verdadeiras e que ele está me
perguntando sobre a demora porque realmente ficou esperando uma
resposta.
“E então?” Ele finalmente fala e posso ter suspirado aliviada.
“Já disse que tomei uma decisão bem burra, e eu realmente não sou
boa expressando meus sentimentos, espero conseguir trabalhar essa parte.”
Porque acredito que você mereça mais do que minhas palavras ruins.
Gostaria mesmo de poder ser um pouco melhor com elas, talvez me ajudasse
a conseguir meu baby boy de volta mais facilmente. “Também sinto muita a
sua falta, mas preciso que entenda que sou totalmente horrível nessa coisa
de ser namorada e é a única coisa que me faz ser insegura porque estou
constantemente achando que vou fazer algo de errado. Sou boa em sempre
fazer as coisas erradas.” Torço o nariz em uma careta. “E no medo de fazer
algo de errado eu acabei cometendo o pior erro de todos. Sou um pouco
impulsiva, mas estou trabalhando nessa parte de mim. Não quero ficar
errando em coisas bobas que só fazem tudo ficar pior.”
Respiro fundo, contendo meus olhos cheios.
“Tenho trabalhado, ou pelo menos tentado, porque você merece a
coisa inteira. Merece alguém que tente mais para estar do seu lado, porque
você se esforça muito em tudo isso. E sei que é mil vezes melhor se
conversarmos sobre um assunto, mas tenho realmente dificuldade em
expressar meus sentimentos. Eu nunca deixei ninguém entrar porque a
pessoa que eu amava tanto, que me dediquei tanto, ela me abandonou. E
independente de ter tantas pessoas incríveis na minha vida, essa continua
sendo a coisa que mais tenho medo no mundo.”
Continuo falando, não dando espaço para ele dizer qualquer coisa,
nem mesmo sei se está me olhando, porque fito a parede do seu armário na
minha frente. Preciso continuar porque me agarrei no resto de coragem que
me resta.
“Mas eu percebi que isso não é algo que posso controlar. Você entrou
na minha vida e foi a melhor coisa que me aconteceu em muito tempo. E eu
estou cansada pra caralho de negar essas coisas então não ligo se isso me
faz parecer egoísta ou não, contanto que você também queira, não pretendo
te deixar ir de novo tão fácil. Quero você por inteiro para mim, todas as
partes. Porque eu te amo.” Viro meu rosto para ele e dou um breve aceno
quando percebo que seus olhos me fitam em um castanho bonito, com
emoção. “Eu amo, de verdade. Desculpa por ter demorado tanto para
descobrir isso.” Não demorei tanto tempo assim, só me tomou muita coragem
para poder finalmente dizer isso para ele. “E tudo bem se não…”
“Eu não fui a lugar algum.” Franzo a testa para ele, deixando as
palavras morrerem na minha boca. “Não vai me deixar ir a lugar algum de
novo porque, na verdade, eu nunca fui a lugar nenhum. Sempre estive aqui.
Esperando para você perceber que eu era seu. E não pretendo mesmo ir a
lugar nenhum em breve, ou a longo prazo.” Largo a xícara na mesa de
cabeceira e me viro, sentando de frente para ele. “E acho que devo ser
egoísta também porque me sinto da mesma forma e gostaria mesmo que
tivesse falado comigo sobre isso logo no início. Conversar nos ajuda a manter
as coisas juntas e claras, Chelsea. Eu poderia mesmo ter dito isso para você
naquela noite se tivesse me dito o que aconteceu e é muito bobagem achar
que só quero muito estar com você porque foi a primeira pessoa que me
apareceu. Não quero que apareça mais alguém, porque quero você por quem
é. Precisamos mesmo trabalhar a parte da insegurança, porque quero que
sabia que pode confiar em mim sempre, e que eu confio em você, e que eu
não vou ir a lugar algum. Mas eu acredito que seja total o tipo namorada.” Ele
faz uma pausa, sorrindo em seguida de uma força travessa. “De preferência a
minha. Não tem nada que eu queira mais.”
Josh dá um maneio de cabeça e não me aguento mais. Abraço seu
pescoço e o trago para perto de mim, precisando desse sentimento me
preenchendo de novo.
“Deveria tomar isso como um sim ou algo assim?”
“Fui eu quem fiz a proposta.” Falo em seu pescoço.
Inspiro fundo seu cheiro, senti tanta saudade disso, de estar aqui.
“Não ouvi uma de fato.” Ele brinca e nos afasto até poder fitar seus
olhos.
Ainda mantendo meus braços ao seu redor e sem vontade alguma de
soltá-lo.
“Volta para mim, por favor.” Peço, passando a mão no rosto dele. Ele
se inclina contra meu toque com meu sorriso preferido nos lábios, seus olhos
castanhos brilham e eu não posso parar de pensar agora no quanto eu o
amo. O quanto sou a pessoa mais sortuda do mundo por ter isso para mim.
“Seja meu namorado.”
“Sempre fui seu, não existe lugar melhor do que do seu lado.” Ele
segura meu rosto com carinho. “Eu realmente te amo, e você não precisa ter
medo dos meus sentimentos. Porque eu não vou a lugar algum e posso te
prometer isso.” Eu poderia chorar nesse momento e de fato uma lágrima
escorre, estava segurando-as por um bom tempo agora.
“Você me faz uma pessoa tão melhor.” Em todos os sentidos, completo
em pensamentos.
“Provavelmente porque estava treinando durante a minha vida inteira
até você finalmente me encontrar.” Ele diz e não posso pensar em algo mais
certo do que isso.
Meus lábios sobem em um sorriso largo, Josh aproxima meu rosto e
me beija. Não pensei que poderia sentir tanta falta de alguma coisa como
senti falta de estar em seus braços, sentir seus lábios nos meus, esse
sentimento de estar finalmente completa. Abraço seu pescoço e puxo ele até
que estejamos deitados, ele em cima de mim. Seu calor me preenchendo.
Seus lábios provam dos meus de forma tão vagarosa, poderia dizer que é a
saudade porque também não quero terminar isso nunca. Poderia passar o
resto da minha vida nesse lugar e de fato acabo imaginando isso.
Pela primeira vez, o pensamento de passar a vida do lado de alguém
não me assusta. Porque não acho que um dia eu possa me cansar de Josh.
Mas ele provavelmente pode facilmente se cansar de mim. E vou tentar o
meu melhor para não fazer isso acontecer em nenhum dia em breve ou a
longo prazo.
“Você deveria descansar.” Sua voz é rouca e tenho muitas ideias do
que fazer ao invés disso. Mas sei que, no fundo, ele está certo.
Dou só um aceno e ele beija meus lábios rapidamente antes de se
levantar para pegar um cobertor no armário. Josh estende a peça por cima de
mim e tiro a calça de moletom, deixando-a do lado da cama. Me sinto bem
melhor agora, sem a fadiga da febre apesar de não totalmente bem ainda.
Ligo o abajur antes dele apagar as luzes do quarto e quando volta para cama,
não demoro nem sequer um segundo até estar abraçada nele de novo.
Nunca quero precisar estar longe de novo.
“Eu senti muita falta disso. Você nos meus braços.” Ele sussurra.
“Senti falta de estar aqui.” Admito.
Josh apaga o abajur com um toque. Seus braços me abraçam e eu
faço o mesmo, enterrando o nariz em seu peito. Passo as mãos por debaixo
da sua camiseta, sentindo sua pele macia e musculosa. Josh não demora
para puxar a peça pela cabeça e largá-la de lado, me oferecendo ainda mais
acesso a sua pele macia.
“Baby boy…”
“Porra, como senti falta de ouvir você me chamar assim.” Ele sussurra
contra meus cabelos, o qual solta cuidadosamente do meu coque. “Diga.”
Nossa conversa é baixa no escuro do quarto e ficamos escutando a
respiração um do outro enquanto eu traço sua pele com a ponta dos dedos
por um tempo.
“Obrigada por ter me encontrado.” Minha voz já sai um pouco
sonolenta, provavelmente efeito do remédio para diminuir a febre.
“Foi a melhor coisa que eu fiz na vida.” Ele responde, beijando meus
cabelos, que devem estar embaraçados e um pouco sujos pela chuva e suor,
o que afeta um pouco minha vaidade. “Aqui é onde pertence.” Ele me aperta
mais forte contra ele.
“Eu sei.” Beijo sua pele. “Agora eu sei.” Mas embora esteja cansada e
em êxtase de felicidade, acabo um pouco inquieta.
Me agarro a ele porque ainda tenho medo de que isso possa acabar,
que seja algum tipo de sonho engraçado e maluco da minha mente que quer
mexer comigo. Odeio esse sentimento de incerteza, ser tão insegura quanto
minha posição na vida dele, o sentimento que posso não ser o suficiente.
Pela primeira vez na vida, odeio minha mãe por me fazer ser essa menina
para sempre.
“Minha linda?” Josh levanta meu rosto quando sente as lágrimas
molharem seu peito. Passo a mão ali, limpando.
“Me desculpe.” Odeio quando essas palavras saem da minha boca
sem motivos maiores, detesto ainda mais a forma como minha voz está fraca.
“O que aconteceu?” Seus olhos procuram os meus e estão com tanta
preocupação, percebo isso mesmo no escuro. “Fala comigo.” Ele pede
gentilmente, passando os polegares pela minha bochecha.
“Detesto me sentir frágil.” Admito, respirando fundo e me recompondo
um pouco.
“Está se sentindo assim por que…?” Ajusto meus olhos no escuro para
distinguir a forma do seu rosto. “Tem a ver com ficar comigo?”
“Não. Não, não mesmo.” Passo as mãos pelo seu rosto. “Não acredito
que estar em um relacionamento vá me fazer fraca, na verdade, estando com
você me sinto em uma versão melhorada de mim mesma.” Porque me amo
ainda mais quando estou com ele. “É só que…” Engulo a bola enorme que se
forma em minha garganta.
“Ainda tem medo. Isso?” Dou um aceno com a cabeça e ele respira
fundo.
“Não sei se é algo que posso conseguir tirar de mim. Pelo menos não
tão cedo.” Explico.
“Tudo bem.” Ele beija minha testa. “Melhor começar a se acostumar
então, porque não vou deixar você ir a lugar nenhum e vou trabalhar muito
para te provar que não precisa ter medo.” Ele me aperta contra ele. “Acho
que vou ficar muito feliz em trabalhar em tempo integral para isso.” Acabo
deixando um riso escapar e Josh beija meu rosto em vários pontos. “Agora
precisa mesmo descansar, planejo ficar o dia inteiro amanhã assim e vai ser
bem melhor se estiver bem.” Dou um aceno de cabeça.
“Nunca me senti melhor.”
Porque não sinto mais o cansaço ou peso da febre, ainda que esteja
com sono, mas pode ter algo a ver com ter passado o dia inteiro trabalhando
e a tensão de temer que ele não voltaria para mim. Medos e inseguranças.
Inclino a cabeça para beijar seus lábios de forma prolongada antes de voltar
a me acomodar em seus braços.
“Boa noite, baby boy.”
“Boa noite, minha linda.”
 
 
“Desliga isso.” Digo com a voz abafada de sono.
O barulho incessante do despertador está me matando e pela primeira
vez na vida devo estar tendo algum tipo de reação preguiçosa de manhã,
porque a única coisa que consigo pensar é voltar a dormir. Sinto o frio
repentino quando o corpo de Josh se afasta e sorrio sozinha pensando que
isso ainda deve ser um sonho. Muito bom por sinal.
O barulho para e ele volta a me abraçar por trás. Puxo seus braços
ainda mais ao meu redor, entrelaçando seus dedos nos meus. Poderia ficar
aqui para sempre, tenho certeza disso. Não me importaria mesmo de passar
o dia na cama com ele, de todas as formas possíveis. Josh não parece
discordar muito. Sou acordada por uma leve protuberância que encosta na
minha bunda e muitos beijos suaves no pescoço e rosto.
Sorrio antes de me virar um pouquinho, proporcionando a ele mais
acesso ao meu rosto e sou agraciada com seus lábios nas minhas
bochechas, testa, queixo, nariz, olhos e um selinho nos meus lábios.
“Achei que não fosse preguiçosa pela manhã.” Ele diz e abro os olhos
para fitar seu rosto lindo. Coloco a palma na sua bochecha e ele se inclina no
meu toque, sorrindo.
“A proposta de ficar na cama hoje é bem melhor.” Ele me mima mais
um pouco, com mais beijos e seus dedos acariciam minha cintura.
“Eu senti mesmo muita saudade de você.” Josh sussurra contra meus
cabelos e faz minha pele arrepiar.
“Como eu vivi todo esse tempo sem você.” Me aninho em seus braços,
passando os meus em volta dele e o abraçando de frente. “Você me deixa
ainda mais mimada.”
“Definitivamente, sua característica mais adorável.” Josh nem mesmo
hesita ao falar isso.
“Ninguém nunca me caracterizou como adorável.” Falo depois de um
tempo e ele demora para responder, o que me faz acreditar que dormiu de
novo, encostado no meu ombro.
Nem mesmo sei que horas são. Passo os dedos pelos cabelos dele,
seus fios estão longos e alguns cachos mais grossos se formam mesmo
desgrenhados.
“Você quase me faz ser possessivo.” Ele murmura e me inclino para
trás, para olhar seu rosto. “É sério, retenho muitas primeiras vezes da sua
vida, estou me sentindo com um ego cada vez maior.” Josh fala sério me
fazendo explodir em uma gargalhada, inclinando a cabeça para trás. Ele beija
minha garganta e acho esse gesto fofo. “Tudo bem, vou achar algo melhor
que adorável.” Ele continua depois que meu riso se transforma em um sorriso
bobo.
“Tudo bem. Contanto que não saia por aí falando que sou adorável,
está tudo bem. Tenho uma reputação a zelar.” Aponto para ele que dá um
aceno. “Coração de gelo, princesa mimada, solteira badalada e cobiçada.”
Começo a citar alguns títulos que já recebi pela mídia. “Chanel Capri,
realmente adorei essa. Temos também o loira fútil, que é clássica.”
“Nunca se importou com isso?” Ele pergunta preocupado. Balanço a
cabeça, negando.
“Não sou totalmente essas coisas, ou pelo menos se sou, não preciso
me importar que as pessoas saibam.” Dou de ombros e ele inclina um pouco
a cabeça.
“Deveríamos levantar.” Faço uma careta, mas mesmo assim ele se
desvincula de mim e senta na beirada da cama. Apoio meu cotovelo no
colchão e minha cabeça na mão, admirando seu corpo de costas enquanto
ele se espreguiça.
“Você tem um corpo muito bonito, sabia?” Ele vira da onde está para
me olhar e dou um aceno. A pouca luz que vaza da cortina não me permite
ver com clareza seu rosto, mas poderia apostar alto, pela forma como ele me
olha, que suas bochechas estão coradas. “Não só o corpo, mas acho que
nunca te disse isso.” Ele dá um sorriso e levanta da cama.
Jogo as pernas para fora do meu lado também e me espreguiço. Josh
abre a porta para o corredor e a luz de fora entra.
“Chels?” Ele chama do batente.
“Sim.” Levanto da cama e caminho até minha bolsa, parando no meio
do caminho para encará-lo.
“Ex-solteira cobiçada.” Ele sorri travesso e agradeço a luz que
preenche o quarto por ter uma boa visão de Josh agora.
“Ok, precisamos mesmo mudar para namorada badalada.” Balanço a
cabeça em afirmativa, tentando manter o semblante sério.
“Isso, bem melhor.” E com isso ele sai pela porta, logo escuto a do
banheiro se fechar.
Procuro minhas roupas de ontem cedo e logo encontro a saia de
algodão xadrez cinza e branca. Pego minha necessaire e tento dar um jeito
no meu cabelo antes de vestir a saia. Dou um nó na camiseta que uso na
altura da cintura e prendo o cabelo em um coque pretensiosamente
desarrumado.
Quando Josh volta, já estou bem mais apresentável. Bem mais
Chelsea.
Pego a necessaire e me ocupo uns bons minutos no banheiro, ficando
ainda mais apresentável. Passo meu protetor solar e maquio minha pele para
ficar com um ar saudável. Preciso mesmo tomar um pouco mais de sol.
O quarto está vazio quando volto, por isso pego meu celular dentro da
bolsa antes de sair. Espero não ter estragado nenhum dispositivo por causa
da chuva de ontem e torço para que todos tenham sido protegidos pelo tecido
de couro falso da bolsa grande. Diferente das coisas que ficaram fora dos
sacos separadores dentro da minha mala de ginástica.
A recém passam das dez e envio uma mensagem para Melissa
enquanto desço as escadas. Aviso que vou mandar a lista dos fornecedores
para ela agora por e-mail, mas que só vou poder ir trabalhar hoje à tarde.
Envio também uma mensagem para me pai, contando em breves palavras as
últimas doze horas. Josh se ocupa fazendo nosso café da manhã e a forma
como tudo cheira maravilhosamente me faz perceber que estou com fome.
Assim que sento na bancada, com uma resposta positiva de Melissa, ele
coloca uma xícara com café na minha frente.
“Não tem aula hoje?” Pergunto para ele, porque é sexta-feira e a casa
está vazia, o que significa que os meninos provavelmente estão na faculdade.
“Faltei por motivos maiores.” Olho séria para ele, que se vira de volta
para o fogão com um sorriso nos lábios. “Sou um aluno exemplar, posso lidar
com uma falta porque fiquei cuidando da minha namorada manhosa.” Eu não
posso ser descrita como uma aluna exemplar, embora me esforce e ter
ótimas notas, falto tanto quanto não deveria.
“Ok.” Talvez o certo seria falar que ele poderia ter me acordado para
que eu fosse embora ou que não precisava ficar comigo. Mas gosto de ele ter
ficado. E gosto como a palavra com n está saindo com tanta facilidade da sua
boca.
Eu definitivamente tenho um namorado agora.
Um lindo, gentil, carinhoso e muito gostoso. E atencioso!
“Preciso avisar Nick que está melhor. E os meninos. Ficaram
preocupados também.” Ele coloca dois pratos na bancada, com ovos, bacon
e torradas antes de pegar o seu celular.
“Agradeça ele por ontem.” Peço enquanto ele se senta do meu lado.
Provo da comida e solto um gemido de satisfação, Josh me olha sorrindo.
“Isso tá muito bom.”
“De nada.” Ele digita e começa a comer. “Preciso sair para o trabalho
às onze, se quiser pode ficar mais um tempo. Ethan e Nick devem voltar para
casa depois do almoço, mas tem treino mais tarde.” Ele fala e dou um aceno,
terminando de mastigar minha comida.
“Preciso ir trabalhar daqui um pouco. Estou montando meu primeiro
casamento.” Falo animada para ele e conto alguns detalhes sobre o evento e
como já conhecia a noiva, uma ex-colega de escola.
Josh parece animado comigo e sorri para mim o tempo todo. Me pego
pensando em como voltamos a nossa naturalidade tão rápido e como fui
realmente muito estúpida por pensar que poderia viver sem ele. Minha vida
parece melhor agora de infinitas formas diferentes.
Como se ele fosse capaz de adicionar a todas as coisas o seu brilho e
me sinto tão apaixonada quando penso assim sobre ele. Nem mesmo me
sinto mal com isso. Na verdade, é como se me sentisse ainda mais feliz.
Depois que terminamos de comer, ficamos mais tempo na cozinha
enquanto ele me fala sobre as aulas, mas não muito tempo depois precisa
subir para se aprontar para o trabalho. Nunca pensei que poderia sentir tanta
falta de coisas simples como essa pequena rotina que desenvolvemos em
agosto, quando estávamos juntos. Sempre acabava por aqui ou ele na minha
casa. Seus horários de trabalho e meus projetos de organização.
Estou esperando no quarto quando ele volta com os cabelos molhados
e a toalha na cintura. Seu rosto está liso e posso sentir o aroma do pós-barba
delicioso que ele usa. Até mesmo de coisas bobas, como esse cheiro ou a
mistura de tintas do seu quarto, me fazem perceber o quanto estava com
saudade. Dou um sorriso com o pensamento, porque realmente percebo
como estava sendo muito boba de pensar que ficar longe dele seria melhor
do que estar perto.
Josh me faz uma pessoa melhor, e nunca achei que alguém pudesse
ter esse poder em mim. Mas o pensamento já não me assusta tanto quanto
antes.
“O que foi?” Ele pergunta com um sorriso, abrindo as portas do
armário.
“Só pensando que estou feliz por estarmos juntos de novo.” Admito
com um dar de ombros. Ele vira de frente para mim e sorri, aproximando-se.
“E como gostaria que não precisasse ir trabalhar.” Gostaria de poder matar a
saudade do seu corpo também, é o que penso enquanto pouso as mãos em
seu abdômen bem feito, pegando algumas gotículas de água que escorrem.
“Deveria usar minha folga em cima da hora?” Ele sugere arqueando a
sobrancelha e dou risada, puxo Josh pela toalha amarrada para mais perto, e
ele não oferece resistência alguma.
“Não. Hoje não.” Ele me olha com curiosidade e um sorriso lindo nos
lábios. Trago ele ainda mais para cima de mim, Josh se coloca entre as
minhas pernas e impulsiono para trás, deitando na cama. “Tire o dia de folga
amanhã, e passe o dia inteiro comigo, baby boy.”
“Proposta irresistível, minha linda.” Ele me beija e abraço seu corpo
contra o meu, passando minhas pernas pelas suas costas.
Josh passa a mão por uma das minhas coxas, subindo o tecido da
minha saia ainda mais e apertando minha pele. Solto um gemido saudoso
contra seus lábios, empurrando meu corpo ainda mais contra o dele enquanto
agarro seus fios molhados com uma mão e passo a outra pelo seu torso nu.
O beijo terno logo exprime toda a urgência que tenho de matar toda a
saudade e Josh solta um suave grunhido antes de afastar sua boca da
minha, deixando um selinho ali. Ele me encara com intensidade por alguns
segundos, provavelmente o mesmo desejo que tenho no olhar, antes de
levantar o canto dos lábios em um sorriso.
“Eu amo você de verdade.” Abro um largo sorriso bobo quando as
palavras saem da sua boca porque posso ouvir isso o dia inteiro. Meu peito
se enche e isso se dá porque acredito muito nas palavras dele.
“Eu também te amo. Obrigada por ter me encontrado.” Passo as mãos
pelo seu rosto, acariciando suas bochechas.
“Estava destinado a encontrar.” Josh parece tão certo de suas palavras
que não consigo imaginar qualquer outra coisa além disso. Me inclino e o
beijo de novo. “Preciso mesmo ir?” Ele murmura contra os meus lábios
quando me afasto um pouco.
“Amanhã.” Prometo para ele.
“Ok, vou ficar com muita saudade até lá, mas tudo bem.” Ele fala e dou
risada. “Amanhã.” Ele me promete de volta e passa os dedos pelo meu rosto,
como se estivesse perdido nos meus traços. “E todos os outros dias.” Sua
voz sai sussurrada, como uma promessa que precisa ser dita. Seus olhos
encontram os meus e dou um leve aceno, quase imperceptível.
“Amanhã e todos os outros dias.” Repito.
 
 
 
 
Começo de novembro do mesmo ano.
 
“NÃO ACREDITO QUE VAMOS CHEGAR ATRASADOS NO meu primeiro
encontro com seus pais.” Chelsea fala mais uma vez e sei que está nervosa,
mesmo que não consiga admitir isso até agora.
“Meus pais sabiam que íamos atrasar um pouco.” Asseguro para ela
mais uma vez, aproveitando a parada no sinal para colocar uma mão em sua
coxa. Ela coloca a sua por cima e entrelaça nossos dedos. “Eles vão te
adorar de qualquer forma.” Tento tranquilizar, mas não acho que está com
medo disso.
Puxo nossas mãos entrelaçadas e deixo um beijo no seu torso. Ela e
minha mãe se adoram e tenho quase certeza que conversam mais do que
minha mãe fala comigo.
“Deveríamos ter saído mais cedo do casamento.” Ela abaixa a viseira
do carro e checa sua maquiagem quando o carro volta a se movimentar.
“Minha linda, é o seu trabalho. Eles entendem isso. Além do mais,
estamos uma hora atrasados, nem isso.” Olho para o relógio no painel do
carro.
Meus pais completam vinte anos de casados hoje. Sim, vinte, filhos
vem primeiro nessa linha do tempo. E resolveram fazer uma pequena festa
com os amigos, alugaram um espaço com jardim para refazerem os votos
como há vinte anos. Chelsea e eu planejamos essa viagem desde que tudo
foi decidido no mês passado. O único problema foi cair na mesma data do
casamento que ela estava fazendo pela agência de eventos. Apesar de
termos pensado em todos os detalhes, alguns imprevistos fizeram com que
saíssemos meia hora depois no jato particular do pai dela.
É muito melhor voar em um avião particular, preciso admitir. Não posso
falar que fiquei chocado quando essa foi a sugestão dela logo no início e
cogitei algumas vezes se Chelsea um dia andou em um comercial. Claro que
com isso e atrasos de pouso, o que deveria ser uma chegada às cinco da
tarde no horário de San Diego, foi para às seis, exato horário que o evento
começou. Bônus de viajar em um jato particular? A viagem é mais curta e
você tem coisas tipo um banheiro enorme, onde Chelsea se arrumou.
Bônus de fazer qualquer viagem com ela? Além da companhia incrível,
sempre tem alguém um passo na sua frente para oferecer os serviços e evitar
atrasos.
Assim que pousamos, ambos vestidos e prontos, precisamos só
descer nossas malas para os três dias que vamos passar aqui e entrar no
carro alugado e pronto para pegarmos ele. Apesar de, tirando o atraso que
meus pais sabiam que podíamos ter, tudo está indo completamente bem, mas
Chelsea está inquieta no banco ao meu lado. Porque é a primeira vez que
conhece meus pais, enquanto eu já sou basicamente de casa nos olhos do
pai dela.
Mas ela está completamente perfeita. Mesmo que eu ache isso todos
os dias quando meus olhos pousam nela de manhã cedo. Seu vestido é
estampado em preto e branco, que eu jurei ser um xadrez simples, mas ela
insistiu que não, um cinto preto Gucci clássico Chelsea acentua sua cintura
fina, comecei a dar esse nome depois que percebi que ela tem uns vários no
closet. O vestido vai até abaixo de seus joelhos e é solto em seu corpo.
Mangas longas porque provavelmente já é uma coleção de outono/inverno,
apesar de um decote mais aberto e profundo em V, me dando uma leve visão
do vale dos seus seios empinados. Adoro passar a língua ali. Um salto preto
fecha tudo porque dificilmente vi essa mulher sem salto.
Isso é tudo o que se consegue aprender sobre moda em quase quatro
meses namorando Chelsea Capri.
Estou com uma calça social e paletó azul-escuro, uma camisa social
branca com dois botões abertos. Claro que foi ela quem escolheu minha
roupa para hoje, e eu adoro quando faz isso, porque aprendeu a nos
combinar perfeitamente, embora eu ache que a forma como a gente sempre
combine não tem a ver com o que estamos vestindo.
“Viu, só quarenta e cinco minutos.” Afirmo para ela quando estaciono
no local, onde alguns carros já estão. Desço rapidamente e giro até abrir sua
porta. Ajudo Chelsea a descer da SUV alugada. Ela segura uma bolsa preta
muito pequena de mão.
“Você está um pedaço de mau caminho, baby boy.” Ela diz arrumando
minha camisa e então beija meus lábios. “Tudo meu.” Dou risada enquanto
ela me seca dos pés à cabeça.
“Todas as partes.” Confirmo para ela e ganho uma faísca ainda mais
brilhante em seu olhar. “E você está de tirar o fôlego." Ela me dá um sorriso e
joga uma mecha do cabelo loiro ondulado para trás do ombro.
“Vamos, estou ansiosa para conhecer seus pais.” Ela entrelaça nossos
dedos antes de caminharmos até a entrada.
“Sabe que não precisa ficar assim, né?” Brinco com ela, apertando sua
mão na minha.
“É a minha primeira vez conhecendo pais. Estou nervosa sim. Mesmo
que seus pais sejam um doce.” Beijo sua bochecha, porque entendo qualquer
nervosismo, ainda que não tenha nada que possa dar errado.
Passamos pela entrada, um arco com luzes e flores, e ela aperta forte
minha mão. O local está bem decorado, algo quente com luzes amarelas e
flores de outono, apesar de San Diego não ser a cidade mais fria na estação.
Meus pais não demoram a nos ver entrando e vem de nosso encontro.
Chelsea aperta seus dedos ainda mais nos meus e resolvo pela minha
própria segurança passar meu braço pela sua cintura, do que segurar mãos.
“Chelsea, é ainda mais radiante pessoalmente.” Minha mãe fala se
aproximando e o sorriso da minha namorada cresce ainda mais quando
minha mãe segura seu rosto de forma terna. “Seja bem-vinda.” Elas se
abraçam e me ocupo em abraçar meu pai.
“Senti sua falta, cara.” Ele diz me apertando.
“Infelizmente preciso dizer o mesmo, papai.”
“Mas não posso dizer que não aproveitamos a casa.” Ele fala e damos
risada, apesar de não conseguir evitar uma revirada de olhos ao me afastar.
“Menos detalhes.” Peço e ambos rimos ainda mais. Às vezes, é difícil
manter nossa relação só pelo telefone, sempre adorei ter a presença dos
meus pais na minha vida de forma tão espaçosa. Porque no fim, tinha meu
espaço só meu também. “Mãe, olá para você também. Seu filho aqui, depois
de quatro meses.” Implico com ela, porque segue segurando Chelsea, mas
ambas parecem igualmente felizes em se conhecer.
“Josh, não seja ciumento, sua namorada só é a beleza em pessoa
além de ter toda a graça do mundo.” Elas se desvencilham.
“Não se conhecem há, tipo, três minutos ou menos?” Zombo das duas
e Chelsea levanta os ombros. Suas bochechas devem doer de tanto sorrir.
“Nos falamos muito. E sua mãe é a pessoa mais graciosa aqui.” Minha
loirinha diz antes de abraçar meu pai e eu, minha mãe.
“Está linda!” Sussurro para ela, que está em um vestido longo azul-
claro que fica magnífico com seus cabelos castanhos cacheados. Minha
herança.
“Ela me mandou o vestido semana passada.” Minha mãe parece mega
empolgada. “É de um designer, modelo único. Estou me sentindo uma
princesa atrasada.” Ela ri contra o meu ombro e deixo um beijo no topo da
sua cabeça antes de me afastar. “Senti tanta sua falta, querido.” Suas mãos
seguram meu rosto.
“Eu também. E você não é uma princesa atrasada. Falaria algo sobre
ser uma rainha muito magnifica.” Pisco para minha mãe e recebo um riso leve
com um balanço de cabeça.
Chelsea volta para o meu lado, apesar de estar empolgada em uma
conversa com meu pai, que conta que já fez gravações nos hotéis da rede
Capri. Passo meu braço de novo pela sua cintura e ela se inclina contra mim,
ainda conversando com ele. Meus pais nos levam até mais adentro no salão
e cumprimentamos algumas pessoas, porque parece que muitas perceberam
meus quatro meses de falta como se fosse muito mais que isso.
É estranho voltar para San Diego depois de tanto tempo, ou nem tanto.
Mas parece que muito mais se passou, porque muitas coisas aconteceram
nesse espaço de tempo. Uma delas é a belíssima mulher que tenho ao meu
lado hoje, que sabe mesmo mexer com a vida das pessoas.
Mesmo com todo o movimento no salão, não consigo tirar meus olhos
dela, seu sorriso radiante, a forma como se inclina no meu ombro, ficando
ainda mais próxima de mim, e coloca sua mão sobre a minha ou em meu
peito.
O segundo movimento, em especial, sempre me deixa um pouco
nervoso. Tento planejar para que Chelsea sempre fique em meu braço direito,
ainda que meu nervosismo me faça pensar agora que não planejei direito
essa noite. O que é um fato, porque pensei nesse momento para daqui
alguns dias, para o aniversário de vinte e seis dela.
Mas hoje, antes de ir encontrá-la para viajarmos, pensei que não
haveria sentido esperar por algo que quero fazer há muito tempo. Porque eu
a amo. Então, como se fosse influenciado pelo nosso tempo juntos, agi um
pouco impulsivamente.
“Você é a pessoa mais magnífica no salão.” Sussurro no ouvido dela
depois de um tempo.
A festa já acontece há algumas horas e meus pais já trocaram seus
votos, o que arrancou alguns sentimentos muito emocionados de Chels. E
não só dela. Estamos parados perto do bar que foi montado em uma
extremidade. Seu rosto se vira para o meu e ela abre um sorriso largo, não
consigo deixar passar a forma como os olhos azuis cintilam e isso me faz ser
a pessoa mais sortuda existente.
“Eu me esforcei no vestido da sua mãe.” Ela brinca.
“Obrigado por isso. Ela está linda, de fato, e você ajudou muito nesse
dia. Ela está se sentindo com um vestido como aquele.” Findo minha cerveja
e deixo em uma mesa na nossa frente. “Mas ainda é a pessoa mais linda nos
meus olhos.”
“Você consegue melhorar ainda mais toda essa história de elogios.”
Ela diz e levanto os ombros, porque só deixo explícito a verdade. “Meu
presente. Para ela.” Chelsea coloca sua mão na minha, quando estendo em
um convite silencioso para uma dança. “Consegui um original do roteiro do
filme favorito do seu pai. E uma edição limitada de um uísque.” Ela completa
como se a segunda opção fizesse mais sentido para um presente.
“Como conseguiu?” Pergunto impressionado, porque ainda me choco
com a influência dela. “Primeiro, como sabe qual o filme favorito dele?”
“Sua mãe, e tenho muitos contatos mesmo. Meu pai conseguiu para
mim.” Entrelaço nossos dedos, puxando-a para perto e rodeando o outro
braço em sua cintura. Chelsea coloca sua mão em meu braço antes de
começarmos a dançar. “Espero que ele goste. Sua mãe me contou que o
vestido de noiva dela foi escolhido às pressas. Porque o original rasgou um
dia antes. Me disse que seu vestido era azul, então achei que nada seria
mais interessante do que ela comemorar vinte anos casadas com um vestido
perfeito, e azul.”
“Sabe, agora você está definitivamente atrelada a essa família, não
tem mais como sair. E nem posso deixar.” Brinco e ela inclina a cabeça para
trás, rindo.
“Ah, sério? Agora?” Chelsea arqueia suas sobrancelhas loiras para
mim.
“É, agora. Minha mãe ficaria muito chateada se eu deixasse você ir.”
Levanto os ombros e ela segue rindo baixo.
“Ainda bem que eu não planejo ir a lugar nenhum.” Ela leva sua mão
até meu rosto, acariciando minha bochecha por cima da barba e me inclino
em seu toque, como sempre faço. “Eu te amo.” Ela diz depois de um tempo
dançando assim.
“Eu te amo.” Digo de volta e beijo seus lábios de forma breve. “Namora
comigo?” Já entramos na nossa segunda dança e Chelsea sorri como se eu
dissesse uma bobagem.
“E não estamos namorando? Não acredito que estou sendo enrolada
há quatro meses.” Ela zomba, dando um tapinha no meu peito. Mas o
movimento estanca quando ela atinge o que guardo no bolso.
“É, estou sendo totalmente sério sobre isso, minha linda.” Ela solta um
riso nervoso e eu trago nossas mãos entrelaçadas para beijar a dela. Chelsea
parece um pouco nervosa e tento ver isso pelo lado bom, porque ela continua
me olhando com carinho e sorrindo.
“Você não fez isso!” Ela diz incrédula, ainda com a mão no meu peito.
“Eu fiz.” Não consigo evitar o riso. A esse ponto já estamos parados no
meio da pista, porque não consigo lidar com as emoções e manter o ritmo ao
mesmo tempo. “Se a resposta for não, melhor falar logo porque estou bem
nervoso aqui e se demorar muito posso acabar fazendo uma cena impulsiva
e me ajoelhando. Todo mundo vai pensar que estou te pedindo em
casamento e apesar de pensar nisso, estou pensando em esperarmos alguns
anos ainda.” Minha voz sai bem mais trêmula do que o esperado e preciso
tomar uma respiração antes de continuar. “Pretendia fazer algo muito mais
romântico, mas posso pensar em surpresas bonitas para fazer isso de novo
quantas vezes quiser. Porque se a resposta for sim, posso fazer isso quantas
vezes quiser. Além do mais, não tem como voltar atrás nessa minha decisão,
porque eu não posso te amar menos a partir de agora. O sentimento só
cresce, então realmente gostaria de fazer o pedido, como você merece. Seu
primeiro namorado.” Mal termino de falar para que Chelsea coloque os braços
ao redor do meu pescoço e eu passo os meus pela sua cintura.
Essa mulher nos meus braços é algo perfeito de se ter.
“Sim, eu quero muito namorar com você, baby boy. Mesmo eu já esteja
amando fazer isso nos últimos meses. Mas vou adorar que coloque um anel
no meu dedo.” Ela beija meus lábios em vários selinhos e acabo sorrindo,
porque sou mesmo um cara de sorte por ela ter me escolhido. “Eu amo você
e é tão bom falar isso.” Sua voz é sussurrada contra meus lábios e beijo ela
de verdade.
Chelsea segura meu rosto contra o dela enquanto nos beijamos com
calma.
“Josh… eu sou ansiosa.” Ela murmura antes de se afastar. “Céus,
estamos fazendo uma cena na festa dos seus pais.” Chels encosta sua
cabeça no meu ombro rindo quando percebe que temos plateia. Mas seus
olhos azuis não demoram a encontrar os meus de novo.
“Acho que eles não estão achando tão ruim.” Porque vejo meus pais
dançando pelo canto do olho, mas atentos em nós. “Agora, seu anel,
senhorita.” Beijo ela rapidamente uma última vez antes de colocar uma mão
por dentro do paletó. “Isso é mais pesado do que parece.” Brinco, mas estou
falando sobre a sensação de estar há mais de sete horas com isso no peito.
Abro a caixinha aveludada azul-escuro, percebendo que combina
perfeitamente com minha roupa, e os olhos de Chelsea brilham. Não é nada
de mais, apesar de ser algo super difícil comprar um anel a altura da minha
namorada. O conjunto de prata é simples e fino, porque queria algo delicado
para combinar com ela e todas as roupas que fosse usar. Romanticamente,
coloquei nossos nomes gravados na parte interna. Junto com a aliança dela,
comprei um anel conjunto, também na prata, no modelo solitária, apesar de o
conceito no qual estou entregando a ela ser bem diferente. A pedra é simples
e com um fundo azul, para lembrar seus olhos.
“É lindo, Josh.” Ela fala com os olhos vidrados e não consigo deixar de
sorrir.
Retiro os dois anéis dali e estendo a mão. Chelsea me dá um sorriso
lindo quando coloca sua mão na minha e eu deslizo as alianças no seu dedo
anelar da mão direita. Ela admira um pouco com a mão esticada antes de eu
lhe oferecer o meu anel e estender minha mão. Ela encaixa a aliança e me
abraça mais uma vez.
“Sou, definitivamente, uma mulher comprometida agora.”
“E eu, definitivamente, sou um cara de sorte.” Ela me beija e seus
olhos têm algumas lágrimas que ela não solta, provavelmente com medo de
arruinar sua aparência perfeita. Passo os dedos pelas suas bochechas com
carinho. “Amanhã e todos os outros dias.” Repito a frase que disse a ela
meses atrás, no dia da nossa reconciliação, porque realmente quero estar do
lado dela amanhã e todos os outros dias, e muito além disso. Não tenho
dúvida alguma desse sentimento.
“Amanhã e todos os outros dias.” Ela diz de volta antes de pousar a
mão no meu peito e fitar sua aliança. Fica ainda mais bonita assim.
“Preciso te devolver um anel que peguei emprestado para ter seu
tamanho. Nem mesmo notou a falta nessas duas semanas.” Lembro depois
de um tempo, quando voltamos a dançar. Ela ri, me olhando enquanto
balança a cabeça.
“Ah, Josh, fiquei mesmo pensando como tinha adivinhado. Por isso
encaixou perfeitamente.” Chels encara seu dedo mais um tempo antes dos
seus olhos subirem para os meus. “Assim como você na minha vida.”
 
 
 
 
 
 
 
Primeiramente, muito obrigada a você, leitor que chegou ao fim
dessa história. Espero que tenha aproveitado a jornada e gostado
de conhecer a história da Chelsea e do Josh tanto quanto eu amei
escrever. Eles têm um espaço muito especial no meu coração,
porque apesar de ser o segundo livro de Encontros Inesperados,
Found foi finalizado bem antes de Fixed. História engraçada, eu sei,
mas é a verdade. Quando cheguei na metade de Fixed, que
supostamente seria livro único, a história da Chelsea e seu baby boy
me surgiu na cabeça e eu não conseguia parar de pensar nela.
Por ter sido o primeiro livro que terminei na vida, tenho um
carinho especial por essa história, por esses dois. Acho que mostra
um pouco que, apesar de querer, a gente também precisa se
permitir amar e ser amado. Escrever essa história foi surpreendente
e preciso confessar que também foi uma loucura. Não planejei
absolutamente nada, fui fazendo anotações durante a escrita, para
me lembrar de datas e acontecimentos, mas escrevi Found sem
roteiro nenhum (e quando digo roteiro, por favor compreenda que
meus roteiros são baseados em anotações mínimas e
planejamentos desleixados porque meus personagens parecem ter
voz própria e se encarregam de muito). Uma das coisas que nunca
planejei foi que choraria tanto escrevendo.
Se não chorou, sorte a sua, sou chorona e nunca pensei que
minha Chelsea teria essa história, mas coube nela de uma forma
espontânea que não pude fazer nada além de escrever. Foi desse
livro que veio a ideia dos livros três e quatro, então talvez tenha sido
Chelsea e Joshua que fizeram a série nascer. Mas vamos aos
agradecimentos de fato!
Novamente, quero agradecer a quem leu Found do começo
ao fim. Se está aqui por causa de Fixed, fico feliz por ter te cativado
e espero que nos encontremos novamente em Bonded e Taken
(também conhecidos como livros três e quatro). Obrigada por
confiarem em mim. Se não leu Fixed, recomendo a leitura viu!?
Também quero deixar um muito obrigada grandão para um
tanto de gente. Meus pais e minha irmã, de novo. Se não fossem
esses três, acho que nada teria saído do papel. Sou muito grata por
todo o apoio que recebo, amo vocês mais que tudo. Provavelmente
verão esse nome daqui até o último livro que publicarei, mas
deixarei novamente aqui um agradecimento a Gabriela Gomes, com
quem compartilho bem mais do que só o nome, mas sim infinitas
ideias de livros que só sairão em 2025. Ela coloca fé em todas as
minhas paranoias e pouco seria possível sem todas as ajudas e
conselhos. Você é uma amiga boa demais.
Tem vários amigos para colocar aqui na lista também. Milena,
Carol, outra Milena, e outra Carol, Bianca, Betina, Matheus, Mirian,
Rafa, e provavelmente muito mais amigos dos quais não lembrarei o
nome porque sou bem ruim nisso kkkkk
Um último grande obrigada vai para minha revisora, que se
tornou amiga e foi uma das maiores marketeiras de Fixed mesmo
sem querer. Englantine, ou Lara, você é tudo! Obrigada por a)
escrever livros que inspiram; b) ter me ajudado tanto quando a
gente mal se conhecia; c) ter me ajudado ainda mais depois que a
gente virou amiga; d) ter colocado sua mão mágica aqui e ter feito
com que Found fosse lapidado para algo muito melhor do que era
no começo. Obrigada!
É isso, eu acho. Você pode me encontrar no instagram
(@bortolotto.gabi) e ficar por dentro dos próximos lançamentos, no
twitter (@bortolottogab) onde compartilho alguns spoilers, um pouco
sobre minha escrita e também pode achar um pedacinho de Found
no meu pinterest (@fly_ingangel), Chelsea e Josh tem uma pasta
belíssima de inspirações por lá.

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