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PERIGOSAS NACIONAIS

PERIGOSAS ACHERON
PERIGOSAS NACIONAIS

Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens,


lugares e acontecimentos descritos, são produtos
de imaginação do autor. Qualquer semelhança
com nomes, datas e acontecimentos reais é mera
coincidência.

Capa: Julia Menezes, sob a original de ML


Capas
Diagramação Digital: Julia Menezes
Revisão: Julia Menezes

Esta obra segue as regras do Novo Acordo


Ortográfico.

Todos os direitos reservados.


São proibidos o armazenamento e/ou a
reprodução de qualquer parte dessa obra,
através de quaisquer meios — tangíveis ou
intangíveis — sem o consentimento escrito da
autora.
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A violação dos direitos autorais é crime


estabelecido pela lei nº. 9.610. De Fevereiro de
1998 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.

Edição Digital | Criado no Brasil.

Copyright © Julia Menezes

PERIGOSAS ACHERON
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Sumário
Dedicatória
Capítulo Um
Capítulo Dois
Capítulo Três
Capítulo Quatro
Capítulo Cinco
Capítulo Seis
Capítulo Sete
Capítulo Oito
Capítulo Nove
Capítulo Dez
Capítulo Onze
Epílogo
Agradecimentos

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Sinopse:
Santiago Raffaelo, o herdeiro da máfia Raffaelo em
Boston que vinha crescendo cada vez mais.
Christina Loschiavo, a única herdeira de uma das
famílias que pertence a antiga Cosa Nostra, na
Sicilia.
Santiago esperava uma mulher submissa, reclusa e
séria para o seu casamento arranjado. Já tinha
aceitado o seu futuro num casamento de fachada,
mas não estava preparado para Christina. Com um
temperamento forte e doce Christina aproveitava
cada momento da sua vida como se fosse o ultimo e
queria mostrar a Santiago que existia mais alegria
na vida do que só o dever com a máfia.
Um casamento arranjado. Um amor épico. Um
amor eterno. Um adeus.

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Nota da Autora
Esse conto se passa muitos anos antes do
primeiro volume da série Meu Mafioso. Conta a
historia dos avós de Dominic Raffaelo, atual chefe
da máfia nos dias atuais.
A série está disponível na Amazon e o
primeiro volume pode ser comprado em breve em
físico diretamente com a autora em:
www.facebook.com/AutoraJuliaMenezes

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Dedicatória
Que o amor esteja presente na sua vida em todos os
momentos!

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Capítulo Um
BOSTON - 1980
SANTIAGO RAFFAELO II

Sai da sala de meu pai me mantendo sem


qualquer expressão. A noticia que eu teria que me
casar mexeu comigo, eu só tinha vinte e quatro
anos e queria me divertir ao máximo antes de
finalmente entrar num casamento de fachada, para
fins políticos como era previsto.
Meu pai estava comandando a máfia que
começou com meu avô, quando ainda era jovem, e
isso tem estado na família até hoje. Passaria para
mim já que eu era o filho único. Éramos donos de
diversos negócios limpos, mas uma vez que se tem
o poder na mão, é impossível a resistir e ansiar por
mais. Eu cresci para ter uma dupla identidade, por
um lado filho de um empresário e por outro o
herdeiro de uma máfia que vinha crescendo durante
os anos, com esse casamento arranjado,
juntaríamos forças com outra máfia e isso faria a

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máfia crescer ainda mais.


Meu pai comandava os negócios ilícitos a
mãos de ferro e era chamado de Santiago O
Carrasco, sim ele me batizou com o seu nome, eu
odiava, mas tinha que fingir honra-lo. Não
concordava com algumas atitudes dele, mas aprendi
com o tempo a me manter calado. Vi minha mãe
ser espancada por simplesmente fazer uma
pergunta no tempo errado, e não queria que
acontecesse comigo novamente. Eu jurei em sua
lapide que quando eu assumisse a máfia as
mulheres não seriam mal tratadas como ela foi. Eu
nunca levantaria a mão para uma mulher.
Passo por alguns soldados levantando o
queixo em saudação, mas sem sorrir, até que entrei
no meu quarto, fechando a porta com calma
repreendendo a minha vontade era batê-la com
força, para afastar um pouco da minha frustração.
Puxo o envelope contendo os dados da minha
futura esposa, por baixo da camiseta, era para ficar
tudo em sigilo absoluto.
Abro o envelope enquanto me sento na
cama. Christina Loschiavo. Filha de Joseph
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Loschiavo, o capo da família Loschiavo, da Cosa


Nostra. Sinto um arrepio me tomar, a Cosa Nostra é
a maior organização da máfia, foi criada na Sicilia
e tem o significado de assunto nosso. Eles não
gostam do termo ‘máfia’, usando família para fazer
a divisão, máfias de fora como a minha tem outro
nome. Simplesmente Máfia. Para os "homens de
honra" pertencentes à organização, não há
necessidade de um nome. Como a máfia de meu
avô era de fora desse mundo, a chamou de Máfia
Americana para proteger nosso nome, mas para as
pessoas de dentro todos sabem que quando se fala
Americana, na verdade está se dizendo Raffaelo.
Ele era orgulhoso demais para colocar outro nome
que não fosse o da família. Enquanto outros
colocavam outros nomes, ele queria ostentar nosso
nome, mas sem levar a policia a nos investigar.
Ver que meu pai está negociando só prova
que ele quer ainda mais poder, nós realmente não
deveríamos ser chamados de máfia, somos somente
criminosos da cidade, no nosso meio não tem tantas
leis como na Cosa Nostra ou honra. Levar esse
casamento só irá consolidar uma séria aliança que

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fará os Raffaelo façam parte da Cosa Nostra, com


novas leis e com o mais importante. Honra. Cada
vez mais estão aparecendo novas máfias por aqui e
é só uma questão de tempo até tentarem tomar o
nosso negócio, nos juntando a Cosa Nostra
estaremos protegidos. Seremos temidos.
Passo o olho por mais informações de
Christina e descubro que ela tem a minha idade,
como que aos vinte e quatro anos ela não se casou
ainda? Mulheres se casam muito mais jovens
dentro da máfia para consolidar laços e transações.
Passo para a ultima folha e ofego, há uma foto de
Christina. Ela não está sorrindo, mas seus olhos
brilham, como se alguém tivesse feito uma piada e
ela tivesse ao ponto de sorrir. Era bela e delicada,
daria uma boa esposa de fachada para posar para a
sociedade.
A porta do meu quarto foi aberta e meu pai
entrou fumando seu charuto.
— Já pensou sobre o assunto?
Eu acenei.
— Sim, irei me casar com Christina

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Loschiavo.
Meu pai sorriu como um tubarão, mesmo se
eu tivesse negado ele ainda sim teria me obrigado,
mas estava feliz que não precisou chegar a esse
ponto.
— Com esse negócio nos tornaremos ainda
maiores, meu filho. Seremos parte da família, e o
melhor de forma independente, sem precisarmos
reportar a ninguém, seremos os chefes. Os capos.
— riu. — Terminaremos de dominar toda a Nova
Inglaterra e seremos os maiores, com o apoio
podemos nos tornar a maior máfia dos estados
unidos. Com esse apoio teremos novas alianças e
ninguém poderá contra nós. Seus filhos serão
herdeiros dos Raffaelo e Loschiavo.
Me mantive quieto porque ele está correto,
depois do casamento tudo iria mudar.

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Capítulo Dois
SICILIA - ITALIA - 1980
CHRISTINA LOSCHIAVO
Corri com o meu puro sangue, amando
sentir o vendo no meu rosto com meus cabelos
balançando. Liberdade. Esse era o ultimo dos meus
momentos livres. Eu sabia bem como funcionava o
casamento dentro da família, mulheres dentro dos
papeis eram tratadas bem, mas na vida real elas
simplesmente seguiam a lei exigida pelos homens.
Ser cega, surda e muda. Sorrir quando for preciso e
algumas noites juntos até que gerasse o herdeiro,
então ele não lhe procuraria mais e ficaria com as
suas amantes. Tecnicamente isso não era faltar com
respeito às mulheres. Se apanhasse, elas mantinham
em segredo com medo de represálias ao seu marido
e consequentemente a elas depois que ele voltasse
pra casa.
Meu pai, Joseph Loschiavo era o capo da
nossa família e modéstia parte um dos melhores.
Ele era como aço com todos, mas comigo era o
melhor pai do mundo. Ele me ensinou a existir
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nesse mundo, apesar de minha palavra não valer de


nada. Ele também me manteve com ele o tanto
quanto conseguiu, o que foi muito já que já fui a
casamentos onde as noivas tinham quinze anos,
apesar delas alegarem a todos que foi por amor.
Papai escolheu a dedo o meu noivo, pelo o
que pude saber dele tinha uma máfia que estava
prosperando nos EUA e meu pai queria que o
sangue Loschiavo dominasse o mundo, assim como
os Raffaelo. Eu tinha ciência que teria que dar dois
herdeiros seguidos o quanto antes para ambos
tomarem seus lugares antes que meu pai se
aposentasse. Meu pai me teve com vinte anos,
então ele ainda era bem jovem para ser pai de uma
mulher de vinte e quatro anos.
Escutei um assobio alto, suspirei saindo dos
meus pensamentos e coloquei meu belo cavalo,
Arthur, para correr de volta para a mansão. Eu
queria ir até o vinhedo, adorava o cheiro das uvas e
nunca cansava de olhar. Quem sabe nadar na
cachoeira nua pela ultima vez.
Conforme o cavalo foi se aproximando eu
pude ver duas formas juntas, meu pai e Santiago
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Junior Raffaelo, o meu futuro noivo. Parei meu


alazão ao lado deles, mantendo o meu rosto
inexpressível, não poderia demonstrar o medo que
sentia nesse momento.
Meus olhos foram para meu noivo. Não
podia negar que Santiago era um homem atraente,
ele tinha olhos tão azuis que parecia que eu olhava
o céu ensolarado ao meio-dia, sua mandíbula era
bem marcada, seus cabelos eram pretos como a
noite, num penteado mullet bem arrumado que ia
até o pescoço. Duvido que se tivesse no meu alazão
ele manteria o penteado perfeito. Sem poder evitar
dou um pequeno sorriso, antes de voltar a ficar
séria. Eu tinha a franja estilo mullet em meu cabelo
longo com a franja repicada com a navalha que eu
mesma fazia, não sabia se ele me acharia atraente
nesse momento, pois meus cabelos estavam
completamente para o alto e indomável.
— Olá papa.
Desço do cavalo sem ajuda tomando
cuidado para não cair, apesar de já ter feito isso
milhões de vezes. Nesse momento estou com as
mãos tremulas de medo do futuro.
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Meu pai beijou a minha testa enquanto eu


segurava a sela do cavalo.
— Se divertiu? — papai perguntou sério,
mas eu podia ver que ele estava preocupado
comigo. Desde que a minha mãe morreu há cinco
anos, em seu leito de morte ela implorou para ele
cuidar de mim e me colocar acima da família, e eu
sabia que estava apesar dele não poder ter dito as
palavras em voz alta, seu olhar disse tudo. Ele
começaria uma guerra por mim.
— Sim. — me virei para Santiago. — É um
prazer conhecê-lo pessoalmente Santiago. — Fiz
uma reverencia exagerada.
Papai bufou e olhou para Santiago em um
pedido de desculpa. Ele por sua vez parecia tão
animado para esse casamento quanto eu.
— Me chame de Raffaelo, Santiago é meu
pai.
Eu acenei sem muito interesse.
— Porque você não vai guardar o cavalo
junto com Raffaelo enquanto eu converso com seu
pai? — papai sugeriu.
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Não era bem uma pergunta e eu comecei a


andar em direção ao estábulo. Meu pai e ele
trocaram mais umas palavras até eu o ouvir
correndo atrás de mim. Olhei para ele quando me
acompanhou lado a lado.
— Você cavalgou muito bem. — ele
elogiou.
Eu bufei.
— Não precisa de elogios, já vamos nos
casar mesmo.
Raffaelo parou de andar e me olhou sério.
— Se eu te elogiar tenha certeza que é real,
não por um titulo ou força até porque nós dois
sabemos que estaremos naquela igreja daqui a três
dias te elogiando ou não.
Eu abri a boca para rebater, mas voltei
fecha-la. Um olhar divertido passou pelo seu rosto.
— Diga o que ia falar.
Eu levantei as sobrancelhas.
— Tem certeza?
— Joga.
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— Que você é idiota de pensar que com um


simples elogio irá ganhar meu coração.
Santiago sorriu, seu sorriso era lindo.
— Eu não preciso de um sorriso para
ganhar seu coração.
Eu bufei querendo cruzar os braços, mas
isso eu faria puxar cavalo para cima de mim.
— E o que você precisa?
Ele deu um sorriso de lado.
— Me diga você.
Eu dei as costas e continuei a andar para
que ele não visse o meu sorriso. Depois de colocar
o cavalo no estábulo mesmo com os capatazes
estando perto para fazer por mim, tudo para ganhar
tempo e Raffaelo se cansar, mas ele parecia mais
interessado em me olhar.
— Pronto? — perguntou quando eu acabei
de dar uma maça para o cavalo.
— Precisa de ajuda para achar o caminho de
volta pra casa? — brinquei, acida.
Ele por sua vez não se importou.
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— Seu pai falou para encontramos eles


assim que acabássemos aqui.
Dando de ombros eu voltei a caminhar.
— Você é sempre mal-humorada assim?
Eu ofeguei olhando para ele.
— Só quando sou obrigada a me casar!
Voltamos para a casa em silencio. O
primeiro olhar para o pai de Santiago me trouxe
arrepios, seu olhar era duro, assim como o seu
apelido de carrasco. Raffaelo deve ter sentido o
meu medo porque colocou a mão nas minhas costas
me passando força. Troquei um olhar com meu pai
e percebi que ele pensava o mesmo dele, ainda bem
que Raffaelo parecia um pouco diferente, mas eu
poderia estar enganada.
— Olá senhor Santiago — cumprimentei
sem fazer qualquer sinal de me aproximar. O
homem acenou com a cabeça.
— Olá.
Pelo o que eu soube o sobrenome Raffaelo
vem dos avôs de Santiago Primeiro, que eram ítalo-
americanos, assim como eles são e ao se casar
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comigo assim serão meus filhos com Raffaelo.


Sento-me ao lado de meu pai sentindo
minhas mãos tremulas, Raffaelo me dá um leve
olhar antes de se voltar para seu pai mantendo a
expressão neutra sem qualquer vestígio do homem
doce que eu pouco conheci. A conversa não demora
e eu me mantenho em silencio já que mulheres não
tem voz na máfia.
Eu sonhava que no futuro as mulheres
tivessem mais voz do que agora, a minha volta as
mulheres em sua maioria mal falavam, eu era
espevitada, adorava falar e cantar tinha animação
em mim, até demais segundo meu pai. Queria que
as mulheres fossem soldados ou até mesmo capos.
Eu sabia manejar bem uma arma já que fui treinada
pelo meu pai junto com meu irmão gêmeo, Victor,
que morreu há seis anos. Minha vida foi repleta de
mortes e isso me marcou me fazendo viver cada dia
como se fosse o ultimo.
Quando volto a prestar atenção escuto o
final da conversa:
— Com os meus planos a minha máfia irá
crescer cada vez mais e quando o primogênito
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assumir será um verdadeiro império e o melhor de


tudo, sua autoridade será máxima, sem prestar
conta a ninguém. — Santiago disse orgulhoso,
enquanto dava outra tragada no seu charuto.
Dei rapidamente um olhar ao meu pai
perguntando se era uma boa ideia. Apesar da minha
família ser independente das outras nós tínhamos
laços com as outras e o respeito absoluto, nunca
invadiríamos outra áreas e cuidávamos das pessoas
que precisavam, será que Santiago faria o mesmo?
Será que dar todo esse poder em sua mão era uma
boa ideia?
Santiago estava perdido no seu devaneio de
poder, mas percebi que Raffaelo percebeu a nossa
troca de olhares, mas me surpreendendo ele sorriu.
— É bom não confiar cem por cento nas
pessoas. — ele disse em voz baixa perto do meu
ouvido, os meus pelos se arrepiaram e eu me
separei. Ele deu uma piscada com o seu sorriso de
lado e voltou à conversa.
Raffaelo parecia inteligente e não só um
playboy americano com um sorriso bonito. Ele
tinha conteúdo na cabeça e não só spray. Sorri com
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esse pensamento chamando a atenção de todos.


— É meio hippie, certo? — Santiago
perguntou me olhando especulativo e um pouco
enojado para meus cabelos bagunçados.
— Não hippie, só livre. Christina foi criada
livremente por esses campos e tenho muito orgulho
da mulher que ela se tornou. — Papai me elogia.
Santiago faz uma cara de pouco interesse e
o olha para o filho.
— Ela pelo menos sabe ficar quieta, molda-
la a seu modo não será tão difícil para você, né
filho?
Eu me mantive rígida, não ergui o olhar
para ninguém esperando a resposta de Raffaelo, no
meu interior eu queria que meu futuro marido me
defendesse, mas em vez disso ele riu.
— Com certeza.
Pouco depois papai me permitiu me
levantar e me deitar, subi as escadas com calma
apesar de a minha vontade ser correr e bater a porta
com força. Os seguranças que estiveram comigo a
vida toda me olharam tristemente. Todos da casa
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sabiam que esse seria o meu destino, adiando ou


não.
Me jogo na cama tampando o meu rosto
com as mãos. A essa medida de tempo eu já devia
ter aprendido que príncipes encantados não
existem. Que finais felizes não acontecem para
gente como nós. Nunca matei ninguém ou fiz mal,
mas acredito que todo esse poder trazido na força
trás consigo uma carga negativa em todos a sua
volta e eu não estaria imunizada a ele. Decidi não
deixar me abater e coloquei meu disco do Rei,
Elvis, para tocar enquanto eu me permitia sofrer um
pouco. Se eu tivesse nascido com um pênis entre as
pernas eu podia estar assumindo em vez de entregar
a máfia nas mãos de outra pessoa.
Suspirando eu abri a minha calça e olhei
dentro esperando aparecer um pênis. O pensamento
me fez cair numa risada incontrolável. Bateram na
porta do meu quarto e eu me levantei secando as
lagrimas do riso, em vez de lagrimas de tristezas
como eu pretendia. Sufoquei um suspiro ao ver
Raffaelo.
— Posso entrar?
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Eu levantei uma sobrancelha.


— Não acho que é uma boa ideia, tenho que
manter a minha virtude. — Brinquei asperamente,
mas abri a porta para ele entrar e a mantive aberta.
— Sua virtude está segura comigo. —
piscou e foi para a minha penteadeira, segurou o
pompom do meu pó de arroz e levou perto do nariz
para cheirar, espirrando em seguida. Passou seu
olhar pelo restante das minhas coisas, meus
perfumes e por fim no espelho com algumas fotos
minhas com a minha família.
— Esse era meu irmão. — disse quando vi
qual foto ele olhava. — Meu gêmeo.
Raffaelo virou o olhar para mim.
— Sinto muito por sua perda, tanto de seu
irmão quanto sua mãe. Não deve ser fácil.
Eu cruzei os braços protetoramente, me
sentindo nua.
— Obrigada, soube que você também
perdeu a sua mãe.
Raffaelo deu um pequeno sorriso.

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— Parece que nós dois temos muitas coisas


em comum.
Seu olhar desceu para a minha calça, seus
olhos azuis ficando ainda mais intensos.
— Estava brincando sem mim?
Desci o meu olhar só pra ver o botão e o
zíper da minha calça apertos. Rapidamente eu os
fechei, sentindo minhas bochechas corarem.
— Claro que não!
Raffaelo me deu aquele sorriso sensual de
lado.
— Pare com isso! — grunhi.
Ele levantou as sobrancelhas, surpreso com
a minha frase.
— Isso o que?
— Esse sorriso, esse olhar como se eu fosse
uma maça vermelha.
Raffaelo lambeu os lábios e se aproximou,
me fazendo afastar até que encostei na parede.
— Gata, você tem noção de como fica linda
quando cora, na verdade ainda mais. — Ele tira
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uma mecha que caiu no meu rosto e coloca atrás da


orelha acariciando a mesma. — Eu vou te beijar.
Eu começo a protestar, só pra perceber que
eu quero esse beijo, anseio por ele também. Seus
lábios abaixam para os meus e eu fecho os olhos
esperando ansiosamente o momento. Seu nariz
encosta no meu e eu prendo a respiração quando
nossos lábios finalmente se encaixam, borboletas
no meu estomago voam por todos os lados
enquanto eu acaricio sua boca com a minha.
Uma limpeza de garganta me faz dar um
pulo afastando-o de mim. Então eu percebo duas
coisas, ao fundo toca Elvis em Can't Help Falling
In Love e meu pai na porta de braços cruzados com
um olhar duro e divertido ao mesmo tempo.
— Acho que esse não é seu quarto
rapazinho.
Um riso me escapa por meu pai chama-lo
assim, Raffaelo lambe os lábios escondendo um
riso também.
— Sim senhor.
Raffaelo começa a sair, então se vira dando
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aquela piscada marota e saindo sem esconder um


sorriso aberto, feliz com o nosso primeiro beijo.
Papai fecha a porta atrás dele e me dá um pequeno
sorriso, demonstrando que não ficou chateado com
o que viu.
— Parece que o menino não é tão mal
assim, mas não deixe seu coração aberto assim
facilmente, florzinha, nem todos sabem regá-lo
para mantê-lo vivo e florido.
— Sim papa.
Ele se aproximou e beijou a minha testa.
— Gosto da ideia de te ver apaixonada, mas
será que ele também estará? Não quero que sofra.
Eu aceno, entendendo a sua preocupação.
Ele conseguiu me proteger por tanto tempo, mas
agora não havia mais como, eu precisava me casar
e estava feliz por Raffaelo não parecer tão mal
quanto o pai, na verdade ele era gentil.
— Ele parece ser uma boa pessoa, e gosta
de mim.
Papai sorriu acariciando a minha bochecha.
— É impossível não te amar, querida.
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Capítulo Três
SANTIAGO RAFFAELO II

Um beijo e eu soube que estaria perdido.


Christina Loschiavo era uma bela mulher, com
curvas e com uma alegria que transmitia a todos a
sua volta. Ela era um sopro de ar fresco no meio de
uma tempestade. Depois que ela saiu da sala eu
pude ver o quão chateada ela ficou e eu só queria
dizer a ela que só concordei com meu pai, pois era
a melhor opção. Vê-lo irritado não era uma coisa
bonita e eu não queria que ela tivesse perto se isso
acontecesse.
Durante os dias antes do casamento eu
estive passeando com ela por alguns lugares, ela era
o meu guia. Tentava fingir que não gostava de
mim, mas quando lhe estendi uma flor ela sorriu
abertamente. Eu não acreditava a sorte que tinha,
sabia que não conseguiria esposa melhor, não pelo
o que eu ganharia com isso, mas pelo o que ela era.
Se antes eu estava querendo sumir desse
casamento, agora eu contava as horas.
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— Para onde estamos indo? — ela


perguntou segurando a minha mão fortemente com
medo de cair. Ela estava vendada.
Decidi que queria que tivéssemos algo
nosso aqui nessas terras, algo para que quando
voltássemos pudéssemos ver. Algo para que
Christina soubesse que voltaríamos. Eu nunca
afastaria tudo isso dela. Chegamos ao ponto em que
estava tudo preparado, e só então desvendei seus
olhos.
— O que é isso? — ela perguntou sorrindo,
meio sem entender. Tinha uma muda de carvalho já
grandinho, até demais, como eu colaria aquilo na
terra sem morrer com o peso? Pás, adubo, e todas
as merdas de jardinagem.
— Nós estamos plantando uma arvore. —
anunciei e ela riu.
— Okay, mas por quê?
— Porque conforme formos voltando pra cá
veremos como ela vem crescendo. — Pisquei e ela
desviou o olhar, mas consegui ver que estava
emocionada.

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— Isso é muito legal da sua parte.


— Sim, é. Agora vamos plantar antes que
eu acabe desmaiando com esse calor.
Christina gargalhou, se abaixando. Juntos
nós cavamos um grande e fundo buraco, diga muito
fundo. O que me deu mais trabalho do que eu tinha
imaginado. Foi preciso toda a nossa força para
conseguir deslocar a muda para o buraco. O
carvalho tinha a minha altura e de jeito nenhum que
aquilo era uma muda de verdade, as raízes já eram
grandes. Os homens de Joseph Loschiavo me
pagariam por isso.
— Isso parecia bem mais fácil na minha
mente. — comentei quando abri o saco de estrume
e joguei sobre a arvore, misturando com a terra. —
E bem mais cheiroso.
Christina gargalhou de novo e me jogou um
pouco de areia.
— Ah, é? Vai ser briga de lama então!
— Com certeza.
Nós brincamos mais um pouco e acabamos
os dois fedendo, mas sorrindo.
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— Isso foi muito doce da sua parte. Nunca


me esquecerei disso, Raffaelo. Obrigada, esse é o
melhor presente que já recebi!
Ela me deu um selinho, já que meu rosto
estava com partes com terra. Eu sorri feito bobo.
— Não há de que.
***
— Então você está preparada para viver na
America? — perguntei enquanto andávamos até a
cachoeira para nos limpar da terra. Amanhã seria
nosso casamento e assim como eu ela também
deveria estar nervosa.
Ela se virou para mim.
— Quer a verdade ou que eu minta?
Eu sorri.
— A verdade, por favor.
— Estou curiosa, para dizer a verdade.
Nunca estive numa cidade grande. Eu mal saio das
terras do meu pai e será bom conhecer um lugar
novo, apesar eu ter a certeza que estarei presa em
outra gaiola. Uma menor e sem as coisas que eu

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amo. Uma gaiola fria.


Ela não esperou eu responder e saiu
andando mais rápido, entrando no meio de umas
arvores que cercavam a cachoeira.
— Que belezura! — falei encantado com a
beleza do lugar.
Christina sentou numa pedra e começou a
tirar suas botas.
— Essa é uma coisa que com certeza você
vai sentir falta, em Boston. Assim como o calor. —
Olhei para cima sentindo os raios de sol no meu
rosto.
— Desde que consegui montar sozinha no
meu cavalo, eu fugia para cá. Nadava por horas
antes de voltar para casa.
Eu sorri imaginando Christina pequena,
nadando sozinha.
— E o que está esperando? Vamos nadar
uma ultima vez antes de irmos embora, será o
ultimo banho gelado que você vai ter em muito
tempo.
Ela pareceu pensar, enquanto isso eu já
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retirava a minha camisa e calças.


— Onde você esconde a sua roupa de
banho? — perguntei olhando em volta, antes de
voltar o olhar para ela. Suas bochechas estavam
coradas. Eu sorri conhecedor. — Então quer dizer
que a florzinha nada pelada. Seu pai sabe disso?
— Raffaelo! — ela exclamou
completamente envergonhada. — Não fale assim.
Não vou entrar.
— Ah, então é medrosa? — provoquei.
— Não sou não, só não acho apropriado
entrar nua ai com você perto.
— Eu fecho os meus olhos, prometo. —
brinquei, fazendo-a pegar algumas pedrinhas e
jogar em mim. Terminei de retirar as minhas
roupas, ficando só de cueca e comecei a me afastar.
— Essa pode ser a sua ultima chance de entrar,
Christina.
Não esperei ela responder e corri para a
água, mergulhando sentindo o quão gelada a
cachoeira estava. Quando levantei a cabeça senti o
impacto e não escondi um sorriso ao ver Christina
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nadando em direção a uma pedra perto da quebra


d’água. Pude perceber que ela manteve as roupas
debaixo e sorri com isso.
Ela subiu na pedra e se sentou deixando os
raios de sol iluminar ela por inteiro, seus olhos
vieram para mim e ela sorriu.
— Você não parece ser um cara mal,
Raffaelo.
Subi na pedra ao seu lado e coloquei uma
mecha de seus cabelos para trás da orelha.
— Você tem mexido comigo, Christina.
Nunca conheci nenhuma mulher como você, estar
contigo é como estar em liberdade.
Meus olhos desceram para seus lábios
vermelhos, assim como suas bochechas coradas,
antes de irem mais abaixo para a seus seios com os
bicos duros, não sabia ao certo se era pelo meu
olhar ou pela água gelada combinada com o vento.
— Gata?
— O que? — ela perguntou ofegante.
— Eu vou te beijar.

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Avisei antes de colar meus lábios com os


dela, rapidamente ela retribuiu tão necessitada
quanto eu. Minhas mãos acariciavam suas costas e
cintura, a puxando mais para mim. Fui um pouco
mais ousado raspando a ponta do dedo no seu
mamilo, fazendo-a gemer antes de se afastar.
— Eu não posso fazer isso. — sussurrou,
sua testa colada na minha.
— Vamos nos casar logo, gata. Vamos?
Ela suspirou.
— Não, você não deve conhecer muito bem
a família. Nós temos regras a seguir, o lençol tem
que ser apresentado com o meu sangue se não serei
considerada impura perante o casamento.
Demorei um pouco para entender o que ela
quis dizer. Todos na manhã seguinte queriam a
prova de sua virgindade. Que porra é essa?
— Hey, não fique assim, são como as coisas
são. Se seu pai quer realmente prosperar deve
segui-las, mostrando respeito as nossas tradições.
— Porque você aceita tão bem essas regras?
Ela suspirou.
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— Na Cosa Nostra ou você segue ou você


morre. Não é muito diferente de como você segue
seu pai, certo? Vejo que você não concorda com
ele, mas mesmo assim o faz.
— É diferente. É preferível deixa-lo calmo
concordando, meu pai tem essa coisa com o poder
absoluto e quando não se segue as suas regras, ele
fica... enlouquecido.
— Como quando ele disse que você devia
me moldar e você concordou. Você vai me moldar
Raffaelo? — perguntou olhando para a água,
temendo a minha resposta. Saber que eu a
machuquei acabou comigo.
Coloquei a mão no seu queixo, o levantando
para mim.
— Concordei para o seu bem, ele acharia
um desafio se eu ou você respondêssemos ao
contrario. Não quero mudar nada em você
Christina. É perfeita demais para isso. — Ela
sorriu, e foi deslumbrante. — Mas eu quero que
você me prometa que não irá encara-lo, por favor.
Ela acenou hesitante.

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— Não irei, mas Raffaelo eu não gosto de


engolir sapos.
Vendo que o clima estava ficando tenso eu
beijei seu ombro nu.
— Estou doido para te ter nos meus braços.
Quando soube do casamento eu não queria, mas sei
que essa será a minha melhor escolha.
Ela beijou meus lábios e sorriu.
— Eu acho que esse casamento vai dar
certo. — Ela aproximou a boca da minha orelha. —
Quer dar um tapa antes de irmos?
Eu joguei a cabeça para trás rindo.
— Então a dondoca não guarda roupa de
banho, mas tem maconha escondida?
Ela solta uma risadinha.
— Prioridades.
— Broto, tu nasceu pra mim!

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Capítulo Quatro
CHRISTINA LOSCHIAVO

Finalmente o dia do meu casamento chegou,


eu estava nervosa, mas acreditava que Raffaelo era
um homem de bem que me faria feliz apesar dos
percalços que enfrentaríamos nesse mundo. Usava
o vestido de casamento da minha mãe, com as
mangas bem bufantes e bem armado, era tão lindo
que trouxe lagrimas aos meus olhos, estava tão
parecida com ela. Meu cabelo foi preso pelas
cabeleireiras apesar de eu ter pedido para mantê-los
soltos. Parece que Santiago havia dito que meus
cabelos ‘selvagens’ domados. Papai demonstrou o
pouco agrado quanto a isso, mas eu preferi não
discutir, como Raffaelo havia falado. Queria que
hoje fosse um dia feliz.
Raffaelo havia batido na minha porta na
noite anterior, pouco antes da meia noite, onde
seria proibida a sua entrada por ser uma regra. O
noivo não podia ver a noiva, após a meia noite na
noite anterior ao casamento.
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Ele tinha uma caixa em mãos.


— Algo novo. Espero que você goste. —
disse, um pouco incerto se eu gostaria, então
limpou a garganta. — Simboliza a nossa nova vida
se iniciando.
— Seja o que for, eu já amei.
Abri a caixa e ofeguei ao ver uma bela tiara,
com brincos e cordão. Havia diamantes que
refletiam por todo quarto.
— É magnífico. — O abracei e beijei sua
bochecha. — Eu amei.
— Também lhe traria algo azul, mas me foi
avisado por suas madrinhas que elas já lhe deram.
— Ele limpou a garganta me fazendo corar.
Minhas madrinhas me deram uma lingerie
branca de renda e uma cinta liga, com uma fitinha
azul amarrada.
— Não acredito que elas falaram isso. —
tampei o rosto o fazendo rir.
— Sim, elas também cometeram a gafe de
perguntar se minha mãe já havia lhe dado o seu
buque. — Minhas bochechas coraram. Até eu sabia
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da morte de sua mãe. — E também imaginei que


Santiago não faria tal coisa, então eu e seu pai
saímos e colhemos as flores no jardim. Espero que
goste, ele irá lhe entregar. Juro que irei aprender
mais sobre os seus costumes e...
Eu o beijei apaixonadamente, se Raffaelo
não tinha ganhado o meu coração antes agora o
fazia. Ele cuidou para que uma tradição do meu
país fosse seguida e não foi obrigado a fazer tal
coisa, fez por mim.
— Eu quero muito ser sua esposa, Raffaelo.
Ele sorriu e me deu um leve beijo antes de
se afastar.
— Até amanhã, te vejo no altar.
***
— Você está tão parecida com ela. — papai
disse entrando no quarto depois que fui deixada
sozinha pelas cabeleireiras, colocando uma caixa
em cima da minha cama. Não deixei que as
maquiadoras me maquiagem, eu mesma passei um
pouco de rouge e me senti bem só com isso. A
coroa que Raffaelo me deu me fazia parecer uma
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princesa. — Sua mãe estaria orgulhosa de você se


estivesse aqui hoje vendo a mulher que você se
tornou. Seu irmão também estaria.
Então eu chorei emocionada. Correndo para
meu pai, o abraçando apertado.
— Eu te amo e vou sentir saudade.
— Eu também Bambina, eu também.
Queria poder te proteger do mundo, mas eu não
posso. No futuro eu quero que as coisas sejam
diferentes, que as mulheres tenham mais direitos.
Ele segurou meu rosto entre as mãos.
— Mas eu te digo, se ele ou qualquer um
lhe fizer sofrer. Pedra sobre pedra não ficará em pé,
somos Loschiavo e colocamos a família em
primeiro lugar sempre!
— Sempre! — É algo que eu cresci ouvindo
e não abriria mão, era ditado da minha família.
— Aqui, filha. Algo velho. — Ele me
entregou um broche da minha mãe. Fazendo-me
voltar as lagrimas.
***

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Caminho pelo jardim da mansão, jardim


esse que eu cresci correndo e brincando de pique
esconde com meu irmão. É uma emoção gigantesca
estar casando aqui. Enquanto caminho até Raffaelo,
tenho o braço dado com meu pai. Olho para os
outros homens da família, acenando com respeito
para eles. Não estão todos aqui, mas um
representante de cada família que por si só já tomou
meu casamento inteiro, incluindo convidados que
eram ministros, juízos e entre outras autoridades
que também faziam parte da família. Havia muitas
máfias aqui na Itália e a Cosa Nostra é o maior clã
de famílias mafiosas italianas, e a maior
organização criminosa do mundo.
Olho para Raffaelo que está sério, mas seus
olhos demonstram tanto sentimento que me deixa
com falta de ar. Papai aperta minha mão e só então
eu percebo que parei de andar admirar Raffaelo.
Finalmente paro a sua frente e ele tira o meu véu do
rosto.
— Está tão bonita. Eu sou tão sortudo. —
ele sussurra, sem se importar que os outros vejam.
Nesse momento Raffaelo não se importa de parecer
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fraco, ele só precisa mostrar o seu apreço por mim.


— Você também está lindo.
Seu paletó era preto, mas usava umas
florzinhas brancas do bolso, o que o deixava com
um ar mais doce. Uma das madrinhas que eram
filhas de outras famílias estendeu a mão para eu lhe
entregar o meu buquê de tinha tanta emoção
contida ali. Meu pai e o meu futuro marido
colheram as flores para mim. Para alguns não seria
o arranjo mais bonito, mas para mim era perfeito.
O padre começou a falar suas belas
palavras, mas eu não conseguia me concentrar, só
olhava para Raffaelo. Uma vida nova começaria, eu
estava pulando sem saber se ele me seguraria, mas
tinha fé que o faria. Depois que os ‘sim’ foram
ditos, um novo juramento começou.
— Santiago Raffaelo II, promete honrar a
família, se tornando parte e cumprindo as regras e
deveres? Promete colocar a família em primeiro
lugar em qualquer situação e sempre almejar
crescer? Promete dar dois herdeiros seguidos para
que no futuro eles assumam os negócios?

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— Prometo.
O padre então pegou a mão de Raffaelo e
cortou assim meu pai o fez e os dois juntaram as
mãos. Uma promessa de sangue, tornando assim a
família Loschiavo ligada aos Raffaelo em uma só.
O padre foi bem claro que somente o herdeiro
poderia assumir as famílias, deixando claro que
Santiago não conseguiria tomar o poder dos
Loschiavo se esse fosse seu propósito oculto. Olhei
para ele e reparei logo de cara que essa era uma
opção dele, e que não estava nenhum pouco feliz de
ter sido cortada. A partir desse momento Raffaelo
era uma autoridade maior que ele.
Olhei para meu marido com medo, até o que
seu pai era capaz de fazer para conseguir poder?

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Capítulo Cinco
CHRISTINA LOSCHIAVO-RAFFAELO

Corremos recendo chuva de arroz enquanto


todos gritavam e cantavam em alegria. Raffaelo
estava encantado em conhecer um casamento
italiano.
— Você não viu nada, normalmente é ainda
maior por causa dos parentes, mas como meus pais
eram filhos únicos eu não tenho primos ou tios para
comemorar junto. — sussurrei.
Ele me olhou espantado.
— Não tem como isso ficar maior.
Eu ri.
— Bem vindo à Itália.
Eu estava surpresa que apesar de ter
descendência italiana ele não tinha qualquer ligação
com esse seu lado, esperava poder mostrar e trazer
ele para os nossos costumes.
Retirei um pouco de arroz dos seus cabelos
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o fazendo rir.
— O arroz é muito importante, Simbolizam
os votos de fertilidade, riqueza e alegria. — contei
e ele abriu um lardo sorriso.
— Isso ganhamos de sobra. — disse
balançando a cabeça fazendo cair arroz em mim.
Olhei para uma das minhas madrinhas com
o buque que eu joguei, me sentindo meio nostálgica
por não tê-lo mais.
— Porque essa cara?
Eu suspirei.
— Eu gostava demais do buque, foi lindo
que você e papai se uniram para fazê-lo para mim.
Ele sorriu beijando meus lábios.
— Sempre que puder vou te dar uma flor,
querida. Te prometo.
Pouco depois já passava da meia noite e
decidimos ir para o quarto. Eu estava muito
nervosa. E se eu não fizesse direito? E se ele ao
gostasse de mim? Ganhei de Nana, a cozinheira e a
mulher que me criou, uma bela camisola de cetim

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branco, um presente para completar a tradição.


Estava ansiosa para que Raffaelo me visse e ao
mesmo tempo temerosa.
Ao entramos no meu quarto ele fechou a
porta atrás dele. Papai havia cedido o maior quarto
da casa, o que ele dormia junto com mamãe. Desde
que ela morreu ele havia ido para outro por não
suportar a tristeza de não tê-la mais aqui. Eu olhava
para ele com nostalgia antes de ir para o banheiro
vestir a camisola e o robe, ao voltar para o quarto vi
que Raffaelo olhava para a bela lua no céu. Quando
se virou eu ofeguei com a sua beleza. Seus belos
olhos azuis estavam iluminados pela lua.
— Está nervosa? — me perguntou com a
voz grossa, olhando para meu corpo.
Eu acenei mordendo o lábio de leve. Ele
colocou as mãos na cintura pensando no que dizer,
até que ele focou na vitrola numa mesa do quarto.
Ele se aproximou e começou a mexer nos vinis
procurando algum. Ele queria escutar musica
agora?
— Achei!

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Elvis Presley em Can’t Help Falling In


Love, começou a tocar me arrancando um suspiro.
— Dance comigo. — pediu estendendo a
mão e eu aceitei. Quando nos juntamos, com o som
da musica ao fundo ele disse: — Quando nos
beijamos pela primeira vez, foi ao som dessa
musica. Desde então não consigo tira-la da minha
cabeça.
Eu sorri e o olhei.
— Eu a amo.
— Eu também curto ela. Muito. — piscou
maroto para mim e aproximou a boca do meu
ouvido cantando baixo.
Pegue minha mão
Tome minha vida inteira também
Porque eu não consigo evitar
Me apaixonar por você

Com movimentos lentos ele tirou o meu


roupão e aos poucos foi me levando para a cama.
Seus lábios encontraram os meus e sua mão
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passava pelo meu corpo com delicadeza. O tecido


de cetim aumentava ainda mais as sensações do
meu corpo. Quando finalmente estavamos nus eu
senti que era bem mais que isso, nossas almas
estavam em sintonia em absoluta e nesse momento
eu sabia conhecê-lo estava no meu destino. Quando
ele entrou em mim eu senti a dor, mas também
senti sua mão contra minha, suas palavras doces
contra meu ouvido e seu corpo quente colado ao
meu. Então o prazer veio desabrochando assim
como o amor por ele que era como uma flor
crescendo cada vez mais.
Como um rio que corre
Certamente para o mar
Querida, é assim
Algumas coisas estão destinadas a
acontecer

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Capítulo Seis
BOSTON
SANTIAGO RAFFAELO II

À volta pra casa é no mínimo estranho. Não


me sinto bem em trazer Christina para esse mundo.
Sei que é o que ela vive, mas lá todos respeitavam
seu pai e ele a protegeria. Como eu a protegeria se
eu mal me protegia do meu pai?
Nós morávamos numa mansão gigantesca
que era toda decorada como um verdadeiro palácio.
Eu gostava da casa e era uma das poucas coisas que
meu pai fez, mesmo que para seu próprio conforto,
ele construiu um lugar bacana que eu adoraria criar
meus filhos. Christina estava belíssima com uma
touca, sobretudo e luvas. Ela já estava com o nariz
vermelho no momento em que saímos do
aeroporto. Não tinha certeza se ela se adaptaria ao
clima e esperava com todas as forças que o fizesse.
— A acomode e venha ao meu escritório.
— Meu pai ordenou assim que entramos em casa.
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Os guardas traziam nossas malas. Coloquei


o braço nas costas de Christina a guiando pela
escada sem alterar a minha expressão em nada, até
estarmos sozinhos no quarto. Quando finalmente a
porta foi fechada eu colei meus lábios com os dela.
— Estou tão feliz que está aqui comigo.
— Eu também estou. — sussurrou se
livrando da touca e luvas. — Mas esse frio está me
matando.
— Eu prometo te aquecer. — Beijei seus
lábios uma ultima vez antes de descer até meu pai.
Ele já estava sentado, com o seu charuto na
mão me olhando sério.
— Nossos planos se concretizaram e agora
você precisa fazer a sua parte para solidifica-los.
Engravide logo essa mulher e nos garanta herdeiros
homens. — Seu olhar deixou claro que se Christina
e eu tivéssemos uma filha menina ela não iria
nascer.
— Nem tente nada, Santiago. Pois será a
sua cabeça a rolar antes de qualquer outra.
Seu olhar vacilou um pouco, como se não
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esperasse essa afronta. Logo a sua cara surpresa foi


substituída por uma sádica.
— Talvez eu devesse ir até ela e cuidar
disso.
Bati na mesa com tanta força que senti que
desloquei algum dedo, mas mantive a expressão tão
séria quanto à dele.
— Veja suas palavras, elas podem ser as
ultimas, papai.
Nós nos encaramos e por fim ele cedeu, me
surpreendendo.
— Essa passa, mas não volte a me desafiar.
Não quero ter que te mostrar o quão mal eu posso
ser. Agora saia daqui.
Me levantei e sai batendo a porta. Ao entrar
no nosso quarto vi que Christina arrumava suas
roupas no nosso armário.
— Não precisa fazer isso, temos
empregadas para isso.
Christina se virou para mim sorrindo.
— Minhas mãos não vão cair por arrumar

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minhas coisas. — Rolou os olhos. — Sem falar que


eu estou entediada.
Minha cabeça estava a mil com as ameaças
de meu pai. Sabia que em breve teria que escolher
entre ela e ele, e não precisava pensar um segundo
antes de escolhê-la acima de qualquer coisa.
Percebendo a minha cara, ela se aproximou
beijando meus lábios docemente.
— Não ligue para ele. — Ela envolveu seus
braços por volta do meu pescoço. — Que tal se
estreássemos a nova cama?
— Acho isso supimpa!
***
Na semana seguinte eu esperava meu pai
agir, durante toda semana ele esteve calado e
distante, sabia bem o que ele era capaz e apostava
minha mão direita que ele estava tramando algo.
Durante toda a semana não falou uma graça se quer
para Christina, o que a deixou mais calma e
relaxada. Ela assim como eu gostou da casa e nós
passávamos a noite imaginando nossos filhos
brincando pela casa.

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Essa noite, depois de revolver uns novos


contratos de proteção com empresas e restaurantes
fui até meu pai passar a nova lista de protegidos, o
meu ultimo dever do dia. Desde que a noticia se
espalhou sobre a nova parceria entre a Cosa Nostra
e os Raffaelo os números de pessoas procurando
nossos serviços aumentaram dez vezes mais,
tornando meu trabalho ainda mais exaustivo. Em
contestação os números cresceram o que nos trouxe
mais dinheiro e poder. Santiago viajou e fazia
reuniões com algumas famílias ricas, fechando
novas parcerias que seriam lucrativas para a gente.
Funcionava assim: Ele fechava acordo com
uma pequena máfia em um território diferente, essa
máfia compraria seus produtos diretamente com a
nossa, e receberíamos uma parte do lucro em troca
de proteção e poder, já que as máfias
continuamente eram derrubadas por outras máfias
querendo tomar o território e assim por diante. Mas
a ideia genial do meu pai foi fazer disso um
negocio muito maior, ampliando mais ainda o
nosso poder. Aquelas máfias seriam conhecidas
como nossas e os donos como Consiglieri. Ele

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estava usando a Cosa Nostra como base, fazendo o


mesmo modelo. Se meu pai conseguisse isso nós
poderíamos ser uma das maiores máfias americanas
num futuro próximo se os números continuassem a
crescer.
Bati na sua porta e depois que respondeu, eu
entrei.
— O que deseja?
— Vamos comigo a um clube de stripp.
Tenho interesse de adquiri-lo.
— Eu... — Fechei os lábios e acenei em
concordância. — Claro. Vou me arrumar.
Subi as escadas até o meu quarto fervendo,
o que diria a Christina? Nós ainda não brigamos e
nos entendíamos bem. Podia dizer que estavamos
em sintonia e em pouco tempo tomaríamos
coragem para revelar nossos reais sentimentos.
Como eu arriscaria tudo isso por causa de uma
ordem do meu pai?
Assim que entrei no quarto ouvindo o disco
do Elvis tocando enquanto Christina levantou o
olhar do livro que estava lendo para mim. Abrindo
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aquele belo sorriso.


— Seu pai lhe liberou? Queria ir ao cinema
hoje contigo.
Eu desviei o olhar dela, indo até o closet
vestindo um novo terno.
— Não acredito que seu pai te colocou pra
fazer outra coisa. É sábado a noite! — protestou,
revoltada.
— Eu sei, broto. Prometi te levar pra sair,
mas preciso ir com ele. Vou te recompensar, juro!
Ela suspirou e abotoou a minha camiseta me
fazendo sentir pior.
— Espero que não seja algo perigoso.
— Logo estou em casa.
Começo a me afastar e ela me puxa pela
gravata.
— Você está estranho.
Corri para fora do quarto não querendo
enfrenta-la, ou ver o olhar decepcionado no seu
rosto. Prometi a mim mesmo que nem olharia para
as strippers, faria o que tinha que fazer e sairia dali
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o quanto antes.
O tempo parece que nunca passa nesse
lugar. Meu pai não parece ter a menor pressa para
resolver os assuntos com o dono do lugar. Eles
conversam sobres as mulheres e as admirando
enquanto eu bebo.
— Que broto, temos aqui. — Uma das
mulheres seminuas diz subindo no meu colo.
Eu delicadamente a desço de mim.
— Não estou interessado. — Puxo uma nota
e lhe entrego.
— Não seja tolo, Raffaelo. — Meu pai diz,
claramente descontente. Ele se vira para o outro
homem. — Acabou de casar.
Os homens trocam risadas altas.
— O que acontece aqui fica aqui. Não é
como se sua mulher tivesse escolha não é mesmo?
— O homem fala e eu estou a ponto de mandar
tudo pra puta que pariu e acabar com o sujeito.
Meu pai, me lendo, gargalha.
— Pegue a mulher, filho. Christina não vai

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ligar.
— Não quero. — afirmo.
— Parece que a mulher deve ter uma bela
boceta. — O homem diz e eu perco a minha
paciência acertando-lhe um soco na cara.
Respiro fundo percebendo que era isso que
meu pai queria. Olho para ele vendo a vitória no
seu olhar. Agora ele sabe que Christina é mais
importante para mim do que eu deixo passar
quando ele está perto.
Chego em casa e corro para o quarto,
precisando sentir o carinho da minha esposa. Ao
abrir a porta eu paro ao ver Christina acordada
andando de um lado para o outro. Quando me vê
ela corre para mim.
— Me diz que é mentira e você não foi para
um puteiro! — Implora, mas para os passos a
poucos centímetros de mim. Seu olhar vai para a
gola da minha camisa e ela ofega dando um passo
pra trás. — Isso ai é batom?
— Chris, eu posso explicar...
— Non avvicinarti! — diz em italiano,
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exaltada. Não se aproxime. — Como pode me


trair?
— Eu não fiz isso, gata, acredite em mim!
Eu nunca lhe trairia! Eu te amo!
Ela ofegou colocando a mão no coração.
Seus olhos banhados de lagrimas.
— Se é assim o amor, eu não desejo ter esse
sentimento.
Me aproximei dela segurando seu rosto em
minhas mãos.
— Christina, eu te amo e nunca te trairia.
Santiago armou para mim, para nós.
Ela respira fundo e fecha os olhos. Eu junto
nossas testas.
— Eu acredito em você. — ela murmura
contra meus lábios. — Irei ficar mais atenta aos
planos dele e você deve fazer a mesma coisa. Não
quero que ele consiga destruir isso.
Eu suspiro aliviado.
— Sim, ele não vai conseguir. Vou fazer
qualquer coisa por nós. — Beijo sua testa e ela

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descansa a cabeça no meu ombro. — Vou tomar


um banho e depois voltamos a conversar.
Ela acena e eu me afasto caminhando até o
banheiro com a cabeça a mil. Como Santiago teve
coragem de tentar acabar com o meu
relacionamento com Christina. Em pouco tempo ela
se tornou meu tudo.
— Raffaelo. — Ela me chama e eu me viro.
— Oi princesa?
— Eu também te amo.
Ela me dá um sorriso e nunca esteve tão
bela, mesmo com o rosto vermelho, cabelos
bagunçados e lagrimas nas bochechas.

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Capítulo Sete
CHRISTINA LOSCHIAVO-RAFFAELO

Enquanto estar presente sobre o mesmo teto


que Raffaelo é o paraíso, estar no mesmo ambiente,
talvez mundo, que Santiago era o pior inferno.
Percebia de longe a inveja por seu filho estar feliz.
Ele procurava brechas para atormentar Raffaelo,
mas não conseguia. Meu marido era perfeito no seu
trabalho e apesar de briga com ele por, às vezes,
ficar horas e horas a mais no trabalho, ele me
recompensava. Santiago tentava implicar comigo
me chamando de selvagem sempre que podia, me
arrastando até encontros com outras senhoras de
primeira classe que me olhavam com desprezo, mas
perto de meu marido abriam sorrisos brilhantes. Eu
odiava esse meio, mas cresci nele e sabia me virar
muito bem.
Estavamos sentados no café da manhã,
Raffaelo me serviu, sabendo o que eu queria, sem
eu mesma precisar dizer. Ele queria ser amável
comigo, ontem eu chorei depois que o jantar
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terminou porque Santiago disse que eu não servia


nem para gerar bebês e que com certeza meu pai e
todos da família estariam decepcionados comigo.
Raffaelo havia reagido, gritando um alto basta, e
me arrastando para o quarto. Nós sabíamos que
teria represálias, mas ele não aguentou ver minhas
lagrimas.
Já estavamos casados há quase um ano e
nada de eu conseguir engravidar. As estações
passavam o clima aqui em Boston não mudava
muita coisa, o frio estava sempre presente.
— Agora virou empregada? — Santiago
disse, sem alterar a sua expressão olhando para o
prato que Raffaelo havia me servido. Seu olhar foi
para uma das serviçais. — Retire tudo da senhora
Loschiavo, ela está gorda e não grávida. Não
precisa engordar ainda mais antes que engravide.
Minhas mãos fecharam em punhos. Eu
realmente estava mais curvilínea. Não havia muito
que fazer aqui além de comer e ficar no meu
quarto. Não gostava de andar pela mansão sem a
presença de Raffaelo, não me sentia segura.
— Deixe a comida dela ai. Christina é
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minha esposa e ela pode comer o que quiser.


Eu olhei para Raffaelo pedindo em silencio
para que deixasse para lá. Santiago até agora não
havia feito nada pior e ele só esperava um pretexto
para fazer.
Santiago abriu um sorriso cheio de dentes.
— Se é assim que quer, mas as pessoas já
estão começando a falar. — Ele virou o olhar para
mim. — Mas tudo bem, dou-lhe mais três quilos
para ele encontrar a primeira amante.
Eu levantei da mesa com um pulo saindo
para o quarto. Não desconfiava de Raffaelo, mas
essas intrigas só corroíam a gente e era só questão
de tempo até que a semente de incerteza de
Santiago entrasse na nossa mente. Ele se sentia
ameaçado. Se eu não conseguisse gerar pelo menos
dois filhos os acordos não valeriam de nada e ele
perderia tudo. E se ele perder, Raffaelo perderia
tudo também, inclusive sua vida.
— Hey, princesa. Não ligue para o que ele
diz. Só quer te atingir. Você é e sempre será a
mulher mais bonita que já pus os olhos. Por dentro

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e por fora.
Eu levantei minha cabeça do travesseiro e
ele piscou para mim antes de se afastar indo até a
vitrola. Nossa musica começou a tocar e eu me
levantei já sorrindo. Com as tristezas e incertezas,
esquecidas. Coloquei minha mão sobre a sua e me
permiti curtir esse momento nosso.
***
Eu havia me tornado a esposa de fachada
que tanto temia. Indo a eventos de caridade,
sorrindo para todos, fingindo prestar atenção nas
fofocas e o mais importante, me mantendo na linha
para que Santiago não pudesse me atingir de novo.
Em quase dois anos de casamento eu havia
aprendido a subir uma casca sobre mim e a única
pessoa que podia ver além dela era Raffaelo.
Vi meu pai poucas vezes nesse tempo em
que estive aqui e sofri demais com a distancia.
Quantas vezes precisei de seu colo e suas palavras
para eu prosseguir. Não gostava de falar ao
telefone, ainda mais porque sabia que Santiago
escutava todas as palavras que eu falava, como
segurança que eu não arruinaria seu império em
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ascensão.
Acordei recebendo beijos pelo meu pescoço
me fazendo sorrir.
— Vamos querida. Você precisa acordar, já
está tarde.
— Só mais um pouquinho. — murmurei
ainda sonolenta. Sofri a noite inteira com enjoos
horríveis e precisava dormir mais um pouco.
— Já são quase duas horas da tarde, baby.
Precisa comer algo.
Isso me fez abrir os olhos, encarando seus
belos olhos azuis.
— Porque você não está no trabalho? —
perguntei me aconchegando em seus braços
quentes.
— Decidi ter uma folga hoje para ficar com
você.
Eu abri a boca para perguntar se seu pai não
ficaria zangado, então me lembrei que ele estava
numa viajem para a Alemanha para tentar fechar
parceria com uma máfia que tinha negócios aqui.

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— Sério?
Cada dia mais folgas eram impossíveis,
assim como saídas no fim de semana. Cada vez
mais Santiago arranjava planos para tira-lo de casa
e o fazer trabalhar até a exaustão.
— Odeio que você pareça tão surpresa e
esperançosa com isso. Sei que tenho sido
displicente contigo, mas isso vai mudar. Santiago
precisa da gente e não ao contrario.
— Ele vai retaliar, amor.
Raffaelo me olhou firmemente.
— Não vai não.
Eu não duvidei de suas palavras. Pouco
depois uma ânsia me tomou assim como a noite e
eu corri para o vaso. Quando terminei Raffaelo
estava ao lado, me apoiando. Depois de escovar os
dentes eu me virei para ele, sorrindo.
— Acho que conseguimos. Eu estou
grávida!
***
— Eu gosto de Arthur. — disse olhando

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para Raffaelo enquanto caminhavamos abraçados


pelas ruas de Boston. Tínhamos acabado de assistir
um filme e decidimos andar um pouco para
conversar, sem ter ouvidos perto da gente, como
era dentro de casa.
— Eu gosto de Victor. — Ele respondeu,
com vapor saindo de sua boca e respiração. Quando
um vento frio veio, ele me apertou ainda mais
contra ele. Eu estava com um grosso casaco, luvas,
cachecol e toca, mas nada me deixava tão quente
como o abraço de Raffaelo.
Eu sorri emocionada, por ele querer colocar
o nome do meu irmão no nosso filho. Ele piscou
para mim sabendo que me emocionou.
— Então agora temos uma questão: Qual
vai ser o nome de quem vir primeiro? — brinquei,
tentando controlar a emoção da minha voz.
Descobrimos recentemente que eu estava
grávida de gêmeos, dois meninos. Todos estavam
muito felizes com a noticia. Até mesmo Santiago,
mas eu tinha medo do que ele poderia vir a fazer
com meus meninos. Eu os criaria para serem
homens dignos e honrados como seu pai e não
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deixaria que o veneno de Santiago os envenenasse.


— Nós decidimos na hora, veremos quem
tem cara de quê. — Rio e me surpreendendo me
inclinou em seus braços como nos filmes. Me
fazendo rir. — Sabia que você me faz o homem
mais feliz do mundo?
Eu acariciei seu rosto com a sua barba por
fazer, que ele havia deixado para se esquentar mais
do frio.
— Sim, e você também me faz.
— Eu te amo tanto que não imagino minha vida
sem você.
Eu o beijei, sem me importar que as pessoas
daqui achassem indecente ou algo assim.
— Eu também te amo, amore mio.
***
Meus olhos se encheram d’água ao chegar
até meu pai, o abraçando apertado. Que saudade
que senti dele. Estava grávida de oito meses e um
dia Raffaelo chegou ao nosso quarto embalando
nossas coisas alegando que ficaríamos dois anos na
Sicilia, junto com meu pai. Eu não sabia como ele
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conseguiu tal coisa, mas era eternamente grata por


ter esse tempo para curtir meus filhos sem me
preocupar que Santiago pudesse rouba-los de mim.
Olhei por cima do ombro para Raffaelo,
sorrindo agradecida para ele. Ter meus filhos aqui
se tornou o meu maior sonho. Se eles pudessem
viver pelo menos um pouco, seriam tão livres e
felizes quanto eu fui ao crescer.
Naquela noite, durante o jantar eu observei
meu pai e Raffaelo conversando animados sobre os
negócios em Boston e como a máfia estava
prosperando lá. Um dos meus filhos seria o
herdeiro dela, enquanto outro tomaria o império
dos Loschiavo. Dois impérios. Fiz uma promessa a
mim mesma que meus filhos e suas famílias,
mesmo estando em lugares distintos, ainda
manteriam contato. Eu não queria dois impérios,
queria uma família unida.
De repente senti um chute forte, seguido de
uma dor intensa. Tentei manter a minha respiração
equilibrada. Meus meninos estavam prontos para
nascer.
— Raffaelo. — O chamei baixo, cutucando-
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o.
— O que foi Bambina? Quer a sua
sobremesa? — Sorri com ele me chamando pelo
apelido que meu pai me deu.
— Nossos bebês estão prontos para nascer.
Meu pai eu um pulo da mesa batendo
palmas e me enchendo de beijos no rosto.
— Meus netinhos querem nascer! — Gritou
feliz. Papai já havia arrumado o quarto deles assim
que soube que eram gêmeos, então tínhamos todo
enxoval pronto, assim como as coisas que trouxe de
Boston. — Vou chamar as parteiras! Meus netos
querem nascer! — Continuou gritando para todos
enquanto se afastava.
— Mio Angelo? — Chamei Raffaelo, que
ainda estava parado. Outra contração me tomou e
eu gemi o acordando.
— Eles querem nascer agora? — Ele
perguntou branco como um fantasma. Eu acenei. —
Mas eu não estou preparado, eles só tinham que vir
mês que vem.
— Parece que eles são livres como a mãe.
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— brinquei. — Vamos me ajude a ir para o quarto,


antes que as dores piorem.
Ele rapidamente me atendeu me segurando
nos seus braços me fazendo corar como uma
garotinha. Meu marido podia ser um homem
considerado frio pelos outros, mas era só uma
fachada de proteção. Comigo ele era tão doce e
carinho que eu sempre me pegava suspirando
quando pensava nele.
Pouco depois foi uma correria, as parteiras
vieram rapidamente. Eu as conhecia a minha vida
toda. Elora e Carlita trabalhavam no vinhedo de
dentro das nossas propriedades e eu sempre estava
lá provando as suas comidas e espremendo vinho
com os pés.
— Parece que foi ontem que te caçávamos
pelos vinhedos quando se perdia. — Carlita diz,
depois de colocar um pano frio na minha testa. Eu
já estava há cinco horas em trabalho de parto e já
estava começando a ficar exausta.
— Sim, se lembra de que a gente não podia
deixar tortas na janela, que elas sempre apareciam
com marcas de dedos? — Elora disse, acariciando
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minha perna. — Só mais um pouquinho Christina.


Eu comecei a chorar, porque estava tão
cansada e dolorida que pensamentos perturbadores
começaram a me rodear. E se eu não conseguisse?
Se eu e meus meninos morrêssemos? E Raffaelo e
meu pai, como ficariam?
A porta do meu quarto foi aberta e Raffaelo
entrou. Ele havia vindo algumas vezes durante
todas essas horas, mas sempre se descontrolava
quando eu gritava com dor, tentando empurrar
nosso filho para fora.
— Daqui eu não saio mais. — Anunciou e
se abaixou ao meu lado, ficando cara a cara
comigo. — Ei, você consegue. Vamos Bambina,
vamos ver o rostinho dos nossos meninos e
escolher quem vai ser quem?
Eu ri de leve lembrando da nossa conversa
antes que mais lagrimas me tomassem.
— Eu estou com medo. — sussurrei com a
voz quebrada.
— Não tenha. Pense que em breve
estaremos nós dois na cachoeira juntos. Você
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ensinando nossos filhos a andar de cavalo.


Eu sorri e outra contração me veio. Raffaelo
segurou minha mão e eu empurrei com toda minha
força. Eu conseguiria. Teria meus meninos nos
meus braços.
— Está coroando, continue a empurrar. —
Elora disse.
— Isso querida, você consegue! — Raffaelo
me elogiou, me olhando esperançoso.
Gritei quando senti a cabeça saindo de mim,
e fiz mais uma força sentindo os ombros saindo e o
resto do corpo deslizando. Um grito agudo cortou o
quarto e eu caio pra trás sorrindo ouvindo os berros
de meu filho.
Pouco depois ele foi posto em cima de mim
e quando eu o olhei, chorei.
— Vamos chamar esse rapazinho de Victor.
O que acha? — Raffaelo perguntou também
emocionado. Um pedaço do meu irmão sempre
estaria no meu coração e agora também teria um
filho com esse nome.
— Sim, nosso pequeno Victor. — Minha
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voz saiu embargada. Beijei a cabeça com uma


pelugem preta, como os nossos cabelos e sorri. —
Eu te amo, meu pequeno garoto.
Fotos foram tiradas distraídas nossas e em
seguida eu continuei com o trabalho de parto para
trazer Arthur ao mundo.
***
Um mês e meio se passou e eu estava
totalmente recuperada. Meus meninos eram
paparicados por todos, estavamos felizes e eu tinha
as pessoas que amava a minha volta. Raffaelo essa
manhã organizou tudo para nós fazermos um
passeio. Papai ficou mais que satisfeito de ficar
com os seus netos.
Nós fomos de carro até onde permitia antes
de continuarmos o caminho a pé. Eu ainda não
estava toda recuperada para andar de cavalo.
Raffaelo estava mais calmo desde que chegamos
aqui, como se seus problemas tivesse sumido e eu
estava feliz por ele estar em paz, ele merecia mais
do que só violência e sangue.
A distancia eu ofeguei ao ver a nossa

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arvore. Ela estava bem maior desde a ultima vez


que a vimos e já fazia um pouco de sombra.
— Olhe Raffaelo, olhe!
Ele riu e passou o braço pelos meus ombros
e beijou minha testa.
— Nosso filho ta crescendo. — brincou me
fazendo rir.
Nós nos sentamos no chão ao lado da arvore
sorrindo.
— Parece que foi ontem que plantamos essa
arvore né? — perguntei tocando as folhas.
— Sim, parece. Nunca me esqueci da sua
alegria.
Coloquei a cabeça no seu ombro.
— Ficar com você foi a melhor coisa que
me aconteceu, Raffaelo.
— Eu não sabia que estava na escuridão até
que te conheci e você me mostrou a luz.
Eu o olhei emocionada e ele beijou meus
lábios.
— Quero que esse lugar seja um símbolo do
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nosso amor, que nossos filhos e netos venham aqui


e sintam tudo que eu sinto por você Raffaelo.
— Eles irão.
Me levantei.
— Corrida até a cachoeira?
Ele se levantou e já começou a correr, eu
gritei reclamando e rindo enquanto o seguia.
— Não valeu!
Ele parou para tomar um fôlego quando
cheguei à cachoeira, mas eu não fiz o mesmo.
Comecei a tirar as roupas as jogando para todo lado
enquanto caminhava apressada até a água.
— O que está fazendo? — Ele perguntou
com a voz rouca.
Meu corpo estava mudado, com mais
curvas, quadril mais largo e seios maiores por causa
do leite. Gostei de saber que ainda atraia Raffaelo
do mesmo jeito.
— Indo nadar! — respondi inocente.
Me joguei na água gelada, submergindo em
seguida e o chamando com o dedo.
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— Você vem ou está com medo?

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Capítulo Oito
SANTIAGO RAFFAELO II

Ver meus filhos crescerem livres e felizes


foi a melhor experiência da minha vida. Durante
dez anos vivemos na Itália. Eu havia conseguido
fazer meu pai me deixar ir junto com Christina
grávida, depois que soubemos que outras máfias
não estavam felizes com a fusão e iriam tentar
matar Christina e a mim. Christina engravidou dois
anos depois de ter os gêmeos de Daniel, nosso
caçula. Foi um parto difícil e os médicos disseram
que ela não poderia voltar a ter filhos, pois corria
risco de morte.
Durante todos esses anos íamos juntos a
nossa arvore e cachoeira, levávamos nossos filhos e
os ensinávamos o que era o amor. Durante todos
esses anos juntos nosso amor só cresceu. Eu
comecei a trabalhar com o seu pai, com ele me
ensinando tudo que sabia me tornando um homem
temido e o mais importante, respeitado por todos.

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Arthur e Victor já eram ensinados a se


defenderem e serem homens honrados. Ambos
eram muito inteligentes e tinham sede de
conhecimento. Daniel, como caçula era mimado
por Christina, mas vivia querendo aprender as
coisas junto de seus irmãos.
Santiago veio algumas vezes durante os
anos para ver como os meninos estavam, os gêmeos
não gostavam muito dele, mas Daniel adorava o seu
avô. Isso preocupava a todos, não sabia como meu
filho conseguiu ver bondade em Santiago.
Hoje o dia amanheceu triste, teríamos que
voltar para Boston. A máfia Raffaelo - Americana -
cresceu o suficiente para nos proteger de qualquer
mal. Ninguém mais se metia com a gente. Christina
estava inconsolável, um dia antes, quando recebi a
ligação do meu pai nos mandando retornar foi
devastador ver a tristeza que a tomou. Levei todos
nós até o carvalho que já estava bem maior, e em
seguida a cachoeira, onde brincamos até o por do
sol.
— Então temos que morar lá em Boston, tipo
pra sempre? — Victor perguntou inconsolável. Ele
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sempre odiou o frio quando íamos para Boston,


mesmo em alguns momentos sendo verão.
— Só por um tempo, meu amor. — Christina o
consolou. Foi a primeira mentira que ela contou. —
No futuro, quando vocês se tornarem adultos
poderão viajar por todo mundo, assim podendo ir
para áreas tropicais.
Ele assentiu entusiasmado e trocou um olhar
com Arthur.
— O Victor pode assumir os negócios daqui,
mamãe. Eu não ligo tanto para o frio. — Arthur
comentou sorrindo para o irmão.
Era tão bonito ver como eles se defendiam.
Christina sorriu emocionada ao ver a interação
deles. Seus cabelos castanhos escuros pingavam da
água da cachoeira e suas roupas estavam
ensopadas, assim como as dos meninos.
— Eu também não ligo para frio. — Daniel
disse. — Gosto que mamãe me abrace para me
aquecer.
Christina se derreteu como de costume para
Daniel e o puxou para seu colo, o enchendo de
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beijos.
— Meu bebezinho. Mamãe vai sempre te
aquecer.
***
Meses foram se passando e voltamos a nos
acostumar com o frio de Boston. A casa de meu pai
não havia mudado em nada. Ele em comparação
estava mais louco do que tudo. O poder tinha
subido a sua cabeça e ele se tornou insuportável. Eu
via o jeito que ele olhava para Christina e isso me
incomodava demais. Ele a desejava. Minha mulher.
Contratei Donavan, um amigo como
segurança e meu principal homem de confiança, ele
estava novo com seus vinte e poucos, e era forte,
inteligente e ágil. Aos poucos, sem meu pai
perceber, formei a minha equipe de confiança
dentro da sua própria casa. Não confiava de deixar
minha mulher ou meus filhos sozinhos com ele. O
clima em casa era de hostilidade, sempre que eu
chegava em casa.
Hoje cheguei em casa e Christina correu
para mim desesperada.

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— Santiago pegou os meninos enquanto eu


tomava banho e os levou com ele.
Eu gelei sentindo todos os meus músculos
tensos. Orava para que eu estivesse errado. Que ele
não teria levado os meninos onde eu pensava. Logo
hoje eu havia saído tranquilo, Santiago estaria fora
resolvendo alguns problemas com traidores,
problemas esses que eu não queria estar presente.
Meu pai tinha o apelido de carrasco e não era difícil
descobrir o motivo, ele gostava de tortura.
Olhei em volta e avistei Donavan. Ele se
aproximou.
— Donatello está com eles, os meninos
estão seguros. Não tinha como negar os meninos a
irem, se assim fosse ele descobriria o que você está
fazendo.
Não era preciso dizer mais. Desde que
soube o que meu pai fazia com as pessoas que o
chateavam de alguma forma eu sabia que tinha que
para-lo. Saia matérias quase semanais de pessoas
desaparecida e de alguns cadáveres mortos de
forma horrível. No jornal ele era conhecido pelo
Carrasco De Boston. Saber que ele estava com
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meus filhos só tornava tudo pior. Uma das regras


do meu pai para a nossa máfia foi nunca matar um
parente, justamente porque ele esperava que em
alguma parte da vida eu me virasse contra ele. E
agora queria usar meus garotos contra mim. Os
ensinando a ser sanguinários como ele, e isso eu
não permitiria. Meus meninos teriam pulso firme
para tomar conta do negocio, mas jamais virariam
sanguinários.
Peguei Christina nos meus braços e ela
lutou.
— Eu quero meus meninos! Raffaelo você
prometeu protegê-los! — Ela me socava e chorava,
até que desfaleceu desmaiando em meus braços.
A deitei no sofá, sabendo que ela ficaria
ainda mais irritada se eu a colocasse no nosso
quarto. Olhei para Donavan.
— Agora me explique isso direito!
— Ele recebeu um telefonema há duas
horas e sorriu sádico. Eu esperava que ele saísse,
mas invés disso chamou as crianças que brincavam
na sala para irem com ele. Os gêmeos não queriam

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ir, mas quando Daniel aceitou eles quiseram ir para


não deixar o irmão sozinho. Estamos tentando ligar
para você direto, mas dava desligado.
— Acabou a bateria. — falo, puxando meus
cabelos.
Apesar de se o caçula, Daniel também foi
avisado antes de nos mudarmos para cá, que seu
avô não era um homem bom e que eles não
deveriam ficar sozinhos com ele de maneira
alguma. Daniel precisa aprender a me obedecer.
Christina retoma os sentidos e me olha
ressentida.
— Isso não pode acontecer novamente. Não
vou aceitar isso. Você prometeu proteger os meus
filhos!
A porta se abre e Santiago entra com um
charuto na boca. Arthur e Victor tem os rostos
pálidos e olhos vermelhos, como se tivessem
prendendo as lagrimas. Já a expressão de Daniel é a
que me assusta. Ele parece... feliz.
— Crianças subam para o quarto com a mãe
de vocês, eu vou em seguida. — falei sem tirar os
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olhos de Santiago.
As crianças não hesitaram seguir a mãe,
mas Daniel olhou para seu avô uma ultima vez. O
que Santiago fez?
— Não lhe dei permissão para levar meus
filhos a qualquer lugar. — Mantive minha voz fria.
Santiago deu um sorriso de lado.
— E desde quando eu preciso de permissão
para levar meus netos para passear?
Eu andei até parar na sua frente.
— Você precisa sim. Você não sai sem vim
falar comigo antes ou Christina.
— E o que vai fazer se eu não fizer isso?
Eu sorri de lado, tão duro quanto ele.
— Você se esquece de que eu sou um
Raffaelo, e eu consigo tudo que eu quero, a minha
maneira.
— E eu sou uma Loschiavo. Pedra sobre
pedra não parará em pé se você ousar tocar nos
meus filhos novamente. — Christina disse atrás de
mim, com a voz séria como nunca ouvi antes. —
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Não se esqueça de quem eu sou.


Isso fez o sorriso do meu pai cair. Ele
limpou a garganta e saiu sem olhar para trás. Eu me
virei para Christina, só para vê-la tremendo, mas
séria.
— Isso não vai se repetir, Raffaelo. — Suas
palavras deixaram bem clara a ameaça no ar. Ela
mataria para proteger seus filhos, assim como eu.
— Não irá.
Fomos para o quarto e nossos filhos
estavam de cabeça baixa, sentados na cama.
— Me digam onde foram e o que fizeram.
— falei assim que entrei no quarto.
Os gêmeos trocaram olhares e se
mantiveram em silencio. Protegendo Santiago?
Olhei para Christina que se abaixou, se ajoelhando
no chão e levantou a cabeça dos nossos três filhos.
— Digam para mim onde foram com
Santiago.
— Ele nos levou a um interrogatório de um
traidor. — Daniel começou.

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Christina assentiu, calma.


— Vocês ficaram vendo?
— Sim. — Victor disse, engolindo seco.
Arthur levou a mão à boca como se fosse
vomitar e Victor não estava muito diferente.
— Ah, meus meninos. — Christina pegou a
cabeça dos dois e os abraçou. Eu escutei o choro
baixo de ambos.
Olhei para Daniel e ele parecia divertido
com o choro dos seus irmãos.
— E você, filho, ficou onde? — perguntei e
ele abaixou os olhos.
— Eu também estava lá. — disse chutando
os pés, como se não fosse nada demais.
— Mamãe, ele é mau. Ele riu enquanto o
homem gritava e o vovô... — Arthur ficou quieto,
deixando a frase incompleta.
— Ele o que? — Christina perguntou com a
voz serena, tentando acalmar os meninos.
— Vovô perguntou se a gente queria ajudar.
Nós dissemos que não e tentamos pegar Daniel,
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mas ele quis ir lá. Cortou o dedo do cara. — Victor


completou e engoliu o vomito.
— Nós tentamos impedir, mamãe. Eu juro.
— Arthur suplicou.
A raiva subiu em mim, tanto de Santiago
quanto de Daniel, como ele teve coragem de fazer
isso? Era só um menino, mas já devia saber sobre o
certo e o errado!
Puxei o cinto e os olhos dele se arregalaram.
Não é a primeira surra que ele toma. Já bati umas
três vezes nele por ter aprontado, mas parecia que
esse menino não tinha jeito e a tendência era só
piorar. Por Deus ele ajudou a torturar uma pessoa,
aos oito anos!
— Mamãe, eu juro que não vou fazer mais
isso, não deixe ele me bater. — Implorou com
lagrimas nos olhos para ela.
Christina se levantou e me olhou. Ela estava
tão abatida.
— Não, nem tente defender esse garoto.
Você ouviu tão bem quanto eu o que os meninos
falaram!
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Ela segurou um soluço e se colocou na


frente de Daniel.
— Não vai bater nele, sabe que eu não sou a
favor da violência!
— Ele acabou de ajudar a torturar uma
pessoa Christina. Não pode ficar assim! — gritei.
A primeira pessoa que assisti a torturar foi
aos quinze anos e ainda tinha pesadelo com isso às
vezes. A primeira vez que eu tirei uma vida foi aos
dezoito como rito de passagem de um estuprador da
região. Mesmo sendo culpado, eu ainda sim
vomitei depois de ver a vida saindo dele. Quando
se mata você perde parte da sua alma e eu estava
vendo a do meu garotinho se esvair enquanto ele
ainda mal era um garoto.
— Sai da frente Christina!
— Não! — Ela gritou. — O que ele fez foi
muito errado, mas é preciso conversar e não bater.
Não vai tocar num fio de cabelo do meu menino.
Quando ainda morávamos na Sicilia. Daniel
uma vez havia jogado pimenta dentro do vinho,
fazendo todos nós passássemos mal. Outra vez ele
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cortou o rabo de todos os cavalos quando nós não o


deixamos passear sozinho. E a ultima vez que o
bati pra valer foi quando ele matou um papagaio só
porque ele imitava a todos menos ele. Eu não
queria crer que meu garotinho era mal, mas o
vendo agora eu sei que se não fizer algo ele será
igual ou pior que meu pai.
— Christina você está criando um monstro.
Não pode deixar as coisas por isso mesmo.
Seus lábios tremeram e as lagrimas
deixaram seus olhos.
— Não quero acreditar que meu menino é
mau. Ele não é. Só está confuso. Não é mesmo,
filho? — Ela olhou para ele e Daniel assentiu, com
medo nos olhos.
Olhei para meus outros filhos que
continuaram de cabeça baixa, sem fazer nenhum
movimento para proteger o irmão mais novo. Eles
sabiam que era o certo. Assim como Daniel eles
também aprontaram, mas sempre se arrependiam e
nunca era algo grave que machucasse outras
pessoas.

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— Você tem certeza que vai deixar as


coisas por isso mesmo, Christina. O que ele se
tornar vai ser responsabilidade sua.
Ela hesitou, mas assentiu.
— Sim, eu me encarregarei de Daniel. Ele
não ficará impune, mas me recuso a bater nos meus
filhos.
Eu acenei e joguei o cinto no chão com
força a fazendo tremer.
— Venham meninos. Vamos conversar. —
disse olhando para Arthur e Victor. Que me
seguiram dando beijos em sua mãe tremula. Eu lhe
dei um ultimo olhar antes de deixar o quarto,
vendo-a abraçar Daniel e dizer que tudo ficaria
bem. Eu não acreditei nessas palavras.
***
Meses se passaram e eu estava chegando em
casa quando vi uma movimentação grande dentro
de casa, rapidamente saquei uma arma e estacionei
o carro de todo jeito antes de entrar em casa já me
preparando para defender a minha família a todo
custo.
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Christina ao me ver correu para mim, ela


não tinha lagrimas nos olhos, só preocupação.
— O que houve, querida?
Ela colocou ambas as mãos no meu rosto,
me fazendo parar de olhar em volta para os quinze
seguranças espalhados pela sala, todos estavam de
cabeça baixa.
— Santiago foi pego numa emboscada. —
Ela começa a falar então a verdade me atinge. Meu
pai estava morto ou muito ferido.
— Como ele está?
O lábio dela tremeu de leve.
— Morto. Ele não resistiu. — Uma lagrima
deslizou de sua face. Ela não estava chorando por
gostar de Santiago, chorava por mim. Pois
querendo ou não ele era o meu pai. Mas nesse
momento eu só podia sentir alivio de não temer
chegar em casa antes que ele fizesse algo a meus
filhos ou Christina.
Christina foi doce em dizer somente isso.
Fui falar com meus homens e soube que uma máfia
chinesa estava tentando dominar uma das nossas
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regiões e o cercou. O torturaram e espalharam seu


corpo por toda cidade.
— Prepare os homens. Quero a cabeça do
mandante na minha mão.
E foi assim que eu virei o capo da Máfia
Americana. Faria o que meu pai não fez e seria
melhor do que ele, mostrando que para sermos
fortes não é preciso ser só temido, mas sim
honrado.
— Sangue por sangue. Espalhem a palavra.
Raffaelo está no controle e tudo irá muda.

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Capítulo Nove
CHRISTINA LOSCHIAVO-RAFFAELO

Acariciei os cabelos do pequeno Jace, filho


de Donavan, o segurança e amigo de Raffaelo. Que
tristeza houve com a sua esposa que morreu com
Jace ainda dentro de sua barriga. Donavan estava
inconsolável e sem nenhuma condição de cuidar do
filho. Eu não precisei nem pedir, Raffaelo chegou
um dia com o bebê nos braços e me deu. Mais um
garotinho para mim. Agora o pequeno Jace estava
com seus dois anos e era um menino tão doce, com
seus olhos cinza e cabelos claros como o sol.
Era tão bom ter um bebê em casa, agora que
Victor havia ido morar na Itália para ser treinado
por meu pai. Ele havia se casado com uma bela
mulher, Francesca, foi amor à primeira vista, eles
eram tão jovens. Eu já tinha meu primeiro netinho
Damieno, Damien como apelido. Ele tinha herdado
os belos olhos verdes de sua mãe, e as feições de
seu pai.

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Arthur era treinado por Raffaelo para que


no futuro pudesse assumir a máfia, ele não tinha
nenhuma presa para ter esposa. Gostava de ser livre
e ter várias meninas a seu dispor. Ainda morava
conosco e ainda era estranho ver meu garotinho
entrando em seu quarto com mulheres.
Ouvi a porta abrir e olhei para meu amor. O
tempo tinha sido cuidadoso com Raffaelo. Aos
quarenta e cinco anos, ele ainda era tão bonito
quanto foi há vinte anos antes. Seus cabelos
estavam somente um pouco grisalhos dos lados,
contrastando com seus cabelos negros. Os anos
tinham sido bons para ele, assim como para mim.
Nosso sangue italiano, também manteve a nossa
pele firme e bela. Seu rosto havia expressões duras
marcadas, já que ele havia assumido a máfia e com
ela toda a sua responsabilidade. Mas quando
estavamos só nós ele era todo sorriso.
— Como está nosso campeão.
— Dormindo feito um anjo. — disse e
inclinei meus lábios para os dele. A expressão de
Raffaelo não melhorou e eu o olhei com mais
atenção. — O que houve?
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— Daniel engravidou uma mulher.


Eu ofeguei.
— O que? Meu menininho?
Daniel tinha apenas dezessete anos, não
estava pronto para ser pai. Eu amava todos os meus
filhos igualmente, mas tinha algo em Daniel, uma
áurea negra que eu tentava afastar dele com todo
meu amor, mas a cada ano que passa ela parecia
aumentar. Ele só sabia beber e se divertir, não
gostava de nenhuma responsabilidade. Eu entendia
que ele era um adolescente, mas aquilo não era
normal. Não podia ser normal.
Ele atualmente estava de volta de uma
viajem a Itália para acudir Victor e meu pai, que
estavam enfrentando uma guerra no submundo de
lá. Isso me preocupava, mesmo que as coisas já
estivessem melhores. Papai já não era mais jovem e
eu temia por ele.
— E não é só isso.
Eu coloquei a mão sobre o meu coração me
preparando para o pior.
— A mulher que ele engravidou é
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Francesca. Parece que ambos estavam bêbados e


acabou rolando. Victor preferiu não nos dar o
desgosto, mas agora que descobriu que ela está
grávida, ele tem certeza que o filho não é dele.
Lagrimas desciam dos meus olhos. Meus
pobres meninos. O que aconteceria agora? E a
jovem Francesca? Sempre vi tanto amor nos seus
olhos para Victor. Porque o destino tinha que ser
tão cruel com eles?
***
Entrei no quarto de Daniel sem bater, ele
havia chegado a algumas horas de uma festa e
apagou de cansaço. Raffaelo saiu de casa, se
recusando a sequer olhar para a cara de Daniel,
assim como Arthur que estava com um ódio mortal
do irmão.
A porta fez barulho e ele levantou a cabeça.
— Oi mamãe. — Ele disse carinhoso
abrindo espaço na cama.
Eu me sentei ao seu lado e acariciei seus
belos cabelos.
— Porque você fez isso, meu filho?
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Sua face se endureceu antes que uma triste


tomasse o lugar. Agora eu enxergava o que todos
falavam. Meu menino não era bom como eu
pensava.
— Mamãe simplesmente aconteceu.
Lagrimas caiam dos meus olhos.
— Seu irmão podia ter matado você e eu
não poderia fazer nada para interferir.
Ele se sentou secando minhas lagrimas.
— Já acabou, eu estou aqui. — Ele sorriu.
— Não acabou. Você destruiu a vida de seu
irmão, a vida de Francesca. Tudo por uma noite
Daniel?
Ele deu de ombros se levantando sem se
importar.
— Merdas acontecem.
Eu observei meu filho entrar no banheiro e
respirei fundo pedindo misericórdia a ele e todos os
seus pecados que já fez e que viria a fazer.
Ao voltar para o meu quarto eu me deitei na
cama e me permiti chorar. Onde eu errei? Será que
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fui fraca demais e não passei os valores certos?


Será que fui displicente e passei a mão demais na
sua cabeça?
Senti braços me rodeando e sabia que era
ele.
— Me desculpe, mamãe. Eu não queria ser
assim, mas não posso evitar.
— Você pode, filho. A vida é feita de
escolhas. Hoje você me deu o pior desgosto da
minha vida.
Ele ofegou atrás de mim e eu senti suas
lagrimas caindo sobre mim.
— Me perdoe mamãe, por magoa-la.
Eu me virei para ele.
— Você se desculpa por ter me magoado,
mas não pelo o que fez com seu irmão?
Ele abaixou o olhar e não respondeu.
— Só vá, Daniel. Quero ficar só e saber
onde errei com você.
— Você não errou, mamãe. Eu sou
simplesmente assim. Algumas pessoas só nascem
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assim. — Ele beija minha cabeça, se levanta e sai.


Suas palavras terminaram de acabar com
meu coração. Não sei quanto tempo continuei a
chorar, mas senti Raffaelo acariciando meu rosto.
— Meu amor, não fique assim.
— Eu não sei se é a adolescência, Raffaelo,
mas isso não é normal. Ele não sentiu culpa pelo o
que fez. — Sequei meus olhos e segurei sua mão.
— Prometa-me que não irá desistir do nosso
menino, prometa que lutará para achar algo bom
dentro dele. Eu te imploro.
— Eu te prometo tentar até que não possa
mais. Até que eu não veja nenhuma bondade no
nosso menino.
***
Vejo Dominic e Jace correndo pelo quintal
atirando bolinhas de neve um no outro, é tão raros
vê-los assim. Agindo como crianças, Dominic está
com os seus treze anos e Jace quinze. Eu amo tanto
esse garoto, assim como a Jace. Eu e Raffaelo
somos pais para eles e eu tenho muito orgulho dos
homens que eles se tornaram. Pela primeira vez em
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meses desde a morte de Arthur, eu me permito


sorrir para esse momento. Meu peito tem estado tão
pequeno pela dor de perder um filho. Parece a
morte está sempre a minha espreita. Levou minha
mãe, meu irmão, meu pai e agora meu filho. Sei
que Deus tem planos grandiosos, mas me dói tanto
estar sem eles.
Acaricio os cabelos de Elena, no meio de
tantas mortes a pequenina chegou para nos dar
amor. Elena era outra filha de Daniel, desta vez
com uma prostituta. Hoje ela havia decidido sair e
deixou a menina aqui. Raffaelo não gostava do jeito
que sua netinha era tratada, mas não podia dizer
muito já que sempre que a víamos estava bem e
Daniel também dizia que a mãe dela era boa para
ela. Não que ele soubesse muito já que se recusou
assumir a mãe e só ia lá para ficar com ela às vezes.
— É querida, nós criamos bons garotos. —
Raffaelo disse se sentando ao meu lado e
acariciando os cabelos de Elena.
— Sim, nós o fizemos.
Ele segurou minha mão e a beijou. Seu
olhar também era triste.
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— Um dia iremos superar todas essas


mortes.
Eu o olhei, levantei a mão e acariciei seu
rosto.
— Sim, meu amor. Mais me dói tanto, estou
tão cansada de perder pessoas que eu amo.
Seus olhos se encheram de lagrimas.
— Eu também, mas precisamos seguir em
frente. Temos eles que precisam de nós. — Ele
olhou para Elena e para os garotos. — Também
temos Damien, Lorenzo e Lucca.
— Sim, nós temos muitos meninos e uma
bela princesinha para tomarmos conta. — Sorri e
beijei sua boca de leve.
Uma bola de neve voou sobre a gente e eu
olhei surpresa para os garotos que estavam parados
sem saber o que fazer. Raffaelo estava sério e
coberto de neve. Uma risada me escapou.
— Ah, seus moleques. Agora vocês vão se
ver comigo! — Raffaelo anunciou encantado com o
meu sorriso. — Vamos mostrar para eles, querida?
Eu sorri e também me levantei.
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— Claro que sim!


No final da tarde estavamos todos com
cobertores, perto da lareira e com chocolates
quentes para nos aquecer. Eu olhei para meus
meninos e minha menininha no colo de Raffaelo.
— Eu amo vocês com toda força.
Raffaelo sorriu e beijou meus lábios.
— Eu também te amo.
Elena sorriu encantada que eu tivesse dito
isso.
— Também te amo, vovó!
Dominic tinha olhos tempestuosos e
sombrios. Mas era um verdadeiro bom menino com
um bom coração, sorriu para mim dizendo sem
palavras que me amava também. Olhei para Jace
que estava com as bochechas coradas e um olhar
surpreso. Ele ainda se surpreendia quando eu falava
que o amava, mesmo fazendo isso sempre.
— Sim, Jace. Eu também te amo muito,
meu belo garoto.
Ele abriu um sorriso tão doce que eu

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suspirei encantada.
— Esse sorriso ainda vai encantar muitas
meninas. — disse.
— Também te amo Vó Christina.
Segurei a mão de Raffaelo e os olhei.
— Quero que todos os meus netos
encontrem o amor como eu encontrei o de seu avô.
Vocês querem ouvir a nossa historia?
Eles assentiram e Raffaelo beijou minha
testa.
— Conte a eles, meu amor.
— Tudo começou quando eu não sabia que
precisava de um anjo até que ele apareceu para
mim com um cabelo mullet e um sorriso que tomou
meu coração...

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Capítulo Dez
SICILIA - ITALIA
RAFFAELO

Caminhei lentamente ao lado de Christina,


até a nossa arvore. O carvalho estava tão grande
que produzia uma longa sombra embaixo dele. Me
sentei e ela sentou entre minhas pernas colocando a
cabeça no meu peito. Fizemos hoje trinta e seis
anos de casados e decidimos comemorar vindo para
o lugar onde fomos tão felizes e tivemos os nossos
melhores momentos. Estar com Christina é sempre
maravilhoso e esse momento não podia ser
diferente. Não estavamos tão jovens como
costumávamos ser, mas o sentimento que comecei
a ter por ela há trinta e seis anos atrás só cresceu e
gerou frutos.
— Esse lugar é tão belo, meu amor. —
Christina disse olhando para o carvalho e ofegou.
— Olhe ali. — Ela apontou para um pedaço
da arvore que estava marcada com as iniciais de
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Victor e Francesca. — Eles amavam tanto esse


nosso cantinho. Ela me contou como amou que
Victor apresentou esse lugar para ela.
— Sim, espero que nossos netos possam vir
aqui e sentir o nosso amor através desse lugar. —
disse lembrando de já termos ditos essas palavras
há tantos anos atrás.
— Sim. Eu quero que todos sejam muito
felizes. Que Daniel tome jeito, que Elena seja bem
cuidada. Tantas coisas que estão acima do meu
poder, mas mesmo assim eu desejo com todas as
forças.
Peguei sua mão e a beijei.
— Tudo irá se acertar, nós estaremos lá para
ajudá-los.
Ela riu de leve, mas era triste.
— Não sei se estarei viva até lá, meu anjo.
Eu virei o seu rosto para mim. Apesar tantos
anos Christina continuava a mesma menina que
tantos anos atrás.
— Você virá. Esqueceu que eu sou o duro e
você é mole. Eles precisam das duas coisas para
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darem certo.
Ela sorriu.
— Sim, mas o que eu estou dizendo é que
mesmo se eu não estiver aqui presente em corpo,
minha luz estará iluminando o caminho quando ele
se tornar sombrio.
Minha garganta se fechou com a emoção.
— Não sei se posso viver sem você,
Christina. Você é o amor da minha vida. A razão de
eu respirar e não me perder no meio da escuridão.
— Eu sempre estarei com você, Raffaelo.
Sempre.
Ela se levantou com um pouco de
dificuldade e soltou uma risadinha.
— Parece que a idade está chegando.
Eu ri de volta.
— Não vamos apostar corrida até a
cachoeira dessa vez. — Anunciei brincando.
Estendi o braço e ela aceitou.
— Vamos nos divertir como se esse fosse o
nosso ultimo dia.
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Nós dessa vez não entramos na água,


simplesmente nos sentamos no chão e curtimos o
momento. Relembrando dos velhos tempos e rindo
como adolescentes apaixonados. Mais tarde
Christina decidiu que devíamos voltar para casa,
não estava se sentindo muito bem. Ficamos por três
horas juntos deitados na nossa cama, nos olhando
sem dizer nada. De algum jeito eu sabia que algo
iria acontecer, mas nunca associei a algo de mal. O
sorriso de Christina me escondeu toda a dor que
viria a seguir. À noite nos reunimos todos para
jantar. Havia muitas risadas e animação, parecia
natal. Era difícil termos a família inteira junta.
Elena estava sentada entre Lucca e Damien, Lucca
puxou uma das tranças de Elena, de brincadeira e
Damien o repreendeu fazendo a minha pequena
menina suspirar. Apesar das desavenças até Daniel
estava aqui. Ele não dormiria na casa e estava bem
em só ficar para o jantar.
Victor estava construindo uma nova casa no
outro lado da propriedade e nos disse que deixaria
essa casa para Damien e sua futura esposa quando
chegasse a hora. Durante o jantar Christina contou

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de aventuras de sua infância nessa casa, de como


brincava e se escondia. Contava de seu irmão e pais
com alegria, sem toda a dor que sempre passava
quando falava deles. Ela parecia em paz.
Nos surpreendendo um pouco ela abraçou
cada um, como se fosse uma despedida. Eu
estranhei assim como todos, e depois dela ter
subido garanti a todos que tiraria essa ideia de
morte da sua cabeça.
Quando entrei no nosso quarto sorri ao ver
que ela estava terminando de ajeitar o disco de
vinil. Ela se virou para mim e eu ofeguei a olhando.
Christina brilhava tanto.
— Me concede essa dança, meu anjo?
Can't Help Falling In Love começou a tocar
eu coloquei a mão na suas costas e a outra na sua
palma.
— Se lembra na nossa lua de mel? Eu
estava tão nervosa e você dançou comigo. Foi
maravilhoso!
— Sim, meu amor, foi. Eu te amo tanto.
— Eu também te amo, querido. Quero que
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seja feliz.
Nós continuamos a dançar juntos, Christina
colocou a boca contra meu ouvido e cantava baixo
para mim:
Como um rio que corre
Certamente para o mar
Querido, é assim
Algumas coisas estão destinadas a
acontecer
Nos deitamos na cama e ficamos mais horas
conversando e relembrando mais momentos. Nossa
risada devia estar ecoando por toda casa, mas não
ligávamos, só continuamos falar até que caímos no
sono, dormindo de conchinha comigo acariciando
os cabelos suaves dela.
Quando a manhã chegou eu acordei
chorando e não sabia o porquê. Talvez a minha
mente já estivesse preparada para esse momento,
esperando. Tentei acordar Christina com beijos,
como costumava fazer. Sua pele estava fria, e eu
percebi que ela não dormia. Sua expressão era
suave, com um anjo.
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Naquela manhã ensolarada, Christina levou


meu coração junto com ela para o céu.

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Capítulo Onze
DOMINIC
Duas das pessoas mais importantes para
mim estavam nesse cemitério. Ambas morreram na
Itália, mas vieram a ser enterradas aqui. Meu avô
disse que não conseguiria ficar longe da minha vó,
que morrera há dois anos. Ele tinha o desejo que
depois que morresse, suas cinzas e as de minha avó
fossem jogadas na cachoeira lá na Sicilia, dentro da
nossa propriedade.
Meu avô é um cara sério pelas
circunstancia, mas ainda sim era o melhor avô para
mim, mais do que isso. Um pai. Deixo uma rosa
para minha mãe relembrando de uns bons
momentos com ela e em seguida vou até a lápide de
minha avó. Olho para o mármore escrito ‘’Amada
filha, esposa, mãe e avó. Estará para sempre nos
nossos corações. ’’. Coloco a rosa para ela e
sussurro com a voz embargada.
— Eu também te amo, vovó.
Um vento forte vem e eu olho para o lado

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para evitar que a geada me pegasse. E é quando eu


a vejo. Estava tendo um enterro há alguns metros à
frente, devia ser de alguém do exercito já haviam
muitas pessoas fardadas. Havia uma menininha
linda, não devia ter nem dez anos. Ela estava mais
afastada de todos e chorava baixo. De alguma
forma eu queria chegar até ela e dizer que tudo
ficaria bem, mas não podia. Então fiquei só a
olhando. Quando a menininha levantou o olhar para
mim foi como se eu tomasse um soco no estomago,
seus olhos eram tão vividos e doloridos, mas ao
mesmo tempo inocentes e gentis. Ela tinha olhos
impares, um claro quando o sol de verão ao meio
dia, enquanto o outro era escuro como a noite. Ela
me deu um pequeno sorriso, mesmo com lagrimas
caindo nos olhos, antes de desviar o olhar.
Eu precisava conhecer aquela bela menina e
tirar um pouco da sua dor.

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Epílogo
RAFFAELO

Respiro lentamente pelo respirador,


sentindo a movimentação pelo meu quarto. Sabia
que minha hora estava chegando e assim como
Christina eu precisava me despedir de todos, mas
não tinha tanta alegria como ela de fazer um belo
jantar de despedida. Meu corpo e mente ansiavam
em encontrar com ela. Eu estava pronto para partir.
— Cadê ele? — Escutei a voz da minha
menininha. Valentina havia crescido tanto, estava
uma mulher feita e casada. — Oh, vovô. O senhor
não pode ir agora. — ela colocou a cabeça no meu
peito e chorou.
Eu com a mão fraca coloquei sobre a sua
cabeça acariciando seus cabelos.
— Eu já estou centenário minha querida. —
falei em voz baixa.
Ela levantou os olhos para mim.
— Eu sempre disse que você viveria até os
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cem anos.
Eu sorri.
— Sim, minha querida. Eu estive aqui para
ver todos os meus netinhos crescidos. Está na
minha hora.
Ela chorou.
— Mas você é meu melhor amigo, vovô.
Não estou preparada para deixa-lo. Nem agora nem
nunca.
Eu sorri emocionado com as suas palavras.
— Setenta e sete anos.
— O que? — ela perguntou.
— O carvalho que eu plantei com Christina
já tem setenta e sete anos. Eles podem viver muito
mais do que isso, mas eu não. Eu quero encontra-la,
minha querida. Não posso adiar mais. Já cumpri a
minha promessa de ver todos felizes, já posso ir em
paz.
Ela sorriu entre as lagrimas.
— Então vá vovô. Vá em paz, que você
cumpriu sim a sua palavra. Todos nós estamos
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felizes.
Eu olhei em volta vendo todos reunidos no
quarto e sorri.
— Vou me encontrar com Christina. —
Sorri feito bobo. Olhei para meu filho Victor. —
Arthur e Daniel também estão lá.
— Estão meu pai. — Ele respondeu.
— Vou encontrar tanta gente querida. —
Suspirei sonhador. — Mas a pessoa que mais senti
falta é Christina.
Escutei alguns choros a minha volta e fechei
os olhos por um momento. Não queria que ninguém
sofresse por mim, eu estaria me reunindo com meu
amor.
— Crianças. — falei e eles responderam em
uníssono. — Não façam muita bagunça na casa,
mas se divirtam bastante. Quero que encham essa
casa de alegria.
— Sim, vovô! —Todos responderam me
fazendo sorrir.
— Sejam felizes. — Sussurrei e fechei os
olhos sentindo a paz me levar.
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Quando voltei a abrir estava de frente para o


grande carvalho. Olhei para cima sentindo o sol no
meu rosto e sorri de olhos fechados gostando da
sensação. Nunca senti tanta falta dela até agora.
Toquei a arvore relembrando dos belos momentos
que passei aqui com Christina.
Christina.
Sem pensar em mais nada corri
desembestado até a cachoeira. Quando estava
chegando ouvi a sua risada rica e doce. Parei os
passos vendo Christina sentada na pedra em que
nos beijamos tantas vezes. Ela tinha a mesma
aparência de quando tinha seus vinte e quatro. Só
que dessa vez brilhava bastante.
— Até que para um velho você correu bem.
— brincou abrindo um largo sorriso. — Você
demorou bastante. — Eu abri a boca para me
desculpar, mas ela soltou uma risada. — Que bom,
sabia que você só viria quando todos estivessem
bem.
— Eu poderia ter vindo antes. — disse,
retirando as minhas botas. Olhei para minhas mãos
vendo elas livres de rugas. Me aproximei da água
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vendo o meu reflexo, eu estava tão jovem quanto


Christina.
— Poderia, mas ainda precisavam de você
lá. — Ela se jogou da pedra para a água e
submergiu. — Eu estou tão feliz que você está aqui
comigo.
— Eu também querida. — Senti lagrimas
descendo meus olhos. — Sonhei tanto com esse
momento.
— Eu sei, eu estava lá. — Ela me chamou
com a mão. — Venha, a água está uma delicia. Mas
não podemos ficar muito.
— Por quê? — perguntei, existia outro
paraíso melhor do que aqui. Estar com ela.
— Nossos meninos estão fazendo corrida de
cavalo e temos que nos encontrar com eles.
— Nossos meninos? — perguntei com a
voz embargada me aproximando cada vez mais
dela.
Ela sorriu emocionada.
— Sim, Daniel finalmente encontrou a paz.
Ele precisava passar por tudo aquilo para
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finalmente descobrir a bondade dentro dele.


Finalmente cheguei até ela e segurei seu
rosto em minhas mãos.
— Isso é real?
— Claro que sim, bobinho.
— Nós vamos ficar juntos para sempre?
— Por toda a eternidade!

Fim ou só o começo?...

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Agradecimentos
Não podia deixar de agradecer a Deus em
primeiro lugar por ter tocado meu coração para
escrever esse conto. Estou emocionada até agora.
Era para ser algo simples, mas o amor de Christina
e Raffaelo me dominou.
Quero agradecer também a todas as minhas
leitoras, que estão sempre comigo, torcendo e me
dando força para continuar. Muito obrigada!

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A série Meu Mafioso:


Meu Eterno Mafioso - Livro 1

A única coisa que Isis Collins sempre quis


foi a tão sonhada liberdade, e quando ela
finalmente consegue dura pouco. Quando vê seu
mundo caindo aos pedaços e um misterioso e
sedutor mafioso, Dominic Raffaelo, aparece em sua
vida oferecendo a solução de seus problemas, será
que ela deve aceitar se livrar dos lobos para ficar ao
lado do leão?
Dominic Raffaelo sempre teve tudo o que
quis da vida, e quando vê Isis com sua beleza

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exótica com seus olhos com heterocromia e seus


cabelos dourados como o sol, ele soube que a
queria para ser sua rainha.
E tudo que Dominic Raffaelo quer, ele consegue.

E-book: https://www.amazon.com.br/Meu-Eterno-
Mafioso-S%C3%A9rie-Livro-
ebook/dp/B06XYXT7BJ/ref=cm_cr_arp_d_product_top?
ie=UTF8
Físico: Em breve livro estará disponível em todas
as livrarias do Brasil, publicado pela Editora
Pandorga, e também disponível diretamente com a
autora, autogrado e acompanhado de brindes
exclusivos.

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Meu Doce Mafioso - Livro 2

O que fazer quando só o amor não é mais o


suficiente? O que fazer quando as mentiras
soterram todo amor?
Carina Miller se vê numa encruzilhada,
viver infeliz ao lado de Jace Donavan com todas as
mentiras e omissões, ou tentar ser feliz sem ele?
Carina ainda o ama, mas não está disposta a dividir
sua vida com uma pessoa que mente e omite coisas
importantes.
Jace Donavan não sabe mais o que fazer
para ter sua antiga Carina com ele. Como as coisas
chegaram a esse ponto? Quando as luzes do olhar

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de Carina se apagaram? Ele a tentou proteger de


tudo, mas só a afastou mais. As mentiras e
omissões se tornaram impossível de aguentar, mas
agora ele está disposto a mover céus e terras para
ter sua Carina ao seu lado novamente.
Jace Donavan prometeu que nunca a
deixaria ir, e o que Jace promete, ele cumpre.
E-book: https://www.amazon.com.br/Meu-
Doce-Mafioso-S%C3%A9rie-Livro-
ebook/dp/B073WPZFYR/ref=pd_sim_351_3?
_encoding=UTF8&pd_rd_i=B073WPZFYR&pd_rd_r=3db8
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Meu Querido Consigliere -


Livro 1
(spin-off da série Meu Mafioso)

ATENÇÃO: O livro tem como tema o abuso


que a protagonista sofreu e pode conter gatilho.
Bella Parker está destruída, sem razão para
viver. Transmitindo dor que sente através de letras
de músicas. Ela precisa ser salva.
Apollo King, junto com seus irmãos Jack e
Josh, comanda boa parte de Las Vegas, assumindo
o lugar de seu pai que está doente. Ao ver uma
doce e quebrada menina cantando sua dor, ele
decide salvá-la, e ele tem certeza que vai conseguir.
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Ela está guardando um segredo que pode vir


a custar sua vida e de todos que ama, e Apollo quer
descobrir.
E ele está disposto a tudo para salvá-la.

* Atenção: Meu Querido Consigliere era um spin-


off que ocorre no final de Meu Doce Mafioso,
sendo assim apresentado os personagens naquele
livro, mas a autora decidiu transforma-lo numa
trilogia contando também a historia dos outros dois
irmãos King, que dividem o poder da sua máfia de
Las Vegas.
*O livro era um conto que se transformou numa
novela (livro curto)

E-book: https://www.amazon.com.br/Meu-
Querido-Consigliere-King-Livro-
ebook/dp/B07CW2BJMM/ref=pd_sim_351_4?
_encoding=UTF8&pd_rd_i=B07CW2BJMM&pd_rd_r=cd5
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Meu Bruto Mafioso - Livro 3

Elena Raffaelo não tem mais saída. Quando


percebe que não terá outra opção, cai nos braços de
Damien Loschiavo, seu primo. Mas não contava
que ele seria um homem vil e bruto, muito menos
que iria se apaixonar perdidamente por ele.
Damien Loschiavo se vê ganhando ao se
casar com Elena, pois fortifica os laços com seu
meio-irmão Dominic Raffaelo, assume a máfia
italiana, e de quebra ainda ganha uma esposa linda
e de fachada.
Damien não acredita no amor, e Elena está
disposta a mostrar que ele é real. Só não esperava

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que seria tão difícil, Damien não é um príncipe


encantado, ele é um bruto mafioso.
Damien a deseja, e tudo que ele deseja. Ele
toma.
E-book: https://www.amazon.com.br/Meu-Bruto-
Mafioso-S%C3%A9rie-Livro-
ebook/dp/B07831D9JZ/ref=pd_sim_351_1?
_encoding=UTF8&pd_rd_i=B07831D9JZ&pd_rd_r=cd5442
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Livro Único:
Amor In FIGHT

Jordan ‘Destroye’ McKenna, o vencedor


dos últimos undergrounds é considerado um dos
melhores lutadores da atualidade e uma grande
aposta, está no auge da sua carreira e falta pouco
para conseguir realizar um dos seus maiores
sonhos: Ser aceito de volta no UFC.
Katherine Blake, uma ex lutadora, está aos
poucos vencendo os demônios do passado e
vivendo o presente, mas tudo muda quando é
chamada de volta para casa depois que seu pai tem
um enfarto e assim acaba como treinadora de
Jordan McKenna. Kath jurou nunca mais pisar num
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ringue, mas é incapaz de dizer não a seu pai.


Juntando as suas coisas ela se vê obrigada a treinar
um lutador que é considerado divertido antes de
entrar no ringue e letal lá dentro.
Jordan nunca pensou que teria que aceitar
ordens de uma mulher, mas se vê numa sinuca de
bico e sem opções, quando conhece a sua nova
treinadora Katherine, a mulher dos seus sonhos, ele
a deseja intensamente. Já Katherine fez uma
promessa a si mesma de nunca mais namorar
lutadores.
No meio de muitas emoções, sentimentos e
revelações eles se veem obrigados a conquistar o
amor ou morrer tentando.

E-book: https://www.amazon.com.br/Amor-
FIGHT-luta-para-conquistar-
ebook/dp/B0771RZTPW?
qid=1528101408&refinements=p_27%3AJulia+Menezes&s
5&text=Julia+Menezes&ref=sr_1_5

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Próximos lançamentos:
Série Meu Mafioso:
Meu Quebrado Mafioso - Livro 4
Meu Estranho Mafioso - Livro 5

Trilogia Irmãos King:


Meu Amado Consigliere - Livro 2
Meu Devasso Consigliere - Livro 3

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