Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
de Sebastien
Copyright © 2022, by IsBabi
Tento dar um passo para trás, não quero continuar a sentir o meu
corpo rígido, sinto um choque com o contato das nossas bocas,
quero terminar isso neste exato momento!
Mas quando ele percebe o que estou prestes a fazer, Sebastien
inicia um novo beijo duro e bruto.
Estou presa, aplausos novamente são ouvidos.
Nós nos separamos, e eu quero matá-lo com as minhas próprias
mãos, em vez disso somos fotografados pela imprensa e
observados pelos convidados.
Pouco me importa a reação da plateia, ele conseguiu o que
queria, dar-me seu sobrenome.
— Você acaba de fazer um juramento. — A voz de Sebastien
acende minha raiva.
Ele diz próximo da minha orelha.
— Eu fiz apenas um — rebato.
Matá-lo.
— Guarde-o para me dizer na festa — avisa ao pegar em minha
cintura.
Desço do altar ao seu lado.
Fui entregue ao sacrifício pela ganância descarada de papai.
A festa foi um presente dos meus avós e de todos da família
Lavigne, o local escolhido foi o clube, que está fechado
exclusivamente para o evento.
Sebastien, papai e todos os homens estão reunidos em uma das
grandes mesas redondas colocadas no jardim.
Há mais de dez.
A decoração é nas cores branco e azul, escolhi o branco, porque
é uma das minhas cores preferidas.
Azul foi escolhido por Sebastien, mas escolhi apenas a cor, meus
pais ainda têm controle sobre a festa, escolha de comida e bebidas.
Os funcionários estão levando os presentes que ganhei dos
diversos amigos de papai para um espaço reservado somente para
eles.
Sento-me em uma mesa vaga, espero pela minha irmã.
— Querida — diz Beatrice, ao se aproximar. — Parece que está
em um velório.
Ela não disfarça a satisfação em me ver nessa situação.
— E você está apenas aparentando estar bem com o meu pai. A
quem quer enganar, Beatrice? — provoco com um sorriso.
O ódio dela aparece.
— O meu presente para você é vê-la em um casamento não
desejado. Seu papai não poderá fazer nada, ninguém da sua
família, aliás, querida.
A maldita joga a sua praga, mas é tão burra que não consegue
ligar a situação.
Estou salvando a minha família, ou seja, a cabeça de todos com
essa união idiota.
— Tantas demonstrações de afeto me dão enjoo — reclama
Camille, sentando-se ao meu lado.
— Quer trocar de lugar comigo? — ofereço.
— Vovó perguntou sobre o meu casamento.
Dou risada.
— Papai encontrará alguém para você em breve, casar nós duas
é a maior pretensão dele junto à presidência.
Nossa conversa é interrompida quando Sebastien se aproxima
com um homem desconhecido.
O sujeito possui tatuagens como ele, é pardo e alto.
A única diferença é a barba pequena, Sebastien não tem.
Aparenta ser um pouco mais velho. Seus olhos castanhos são
impossíveis de ler.
— Essa é Louise, minha esposa — apresenta Sebastien. — E a
sua irmã, Camille.
Levantamo-nos para cumprimentar o sujeito.
Aperto sua mão.
— Marcelon Chevallier, é um prazer conhecer a esposa de meu
aliado. — Entrega a suspeita que senti ao vê-lo. É um mafioso.
— Prazer — digo não entregando sorriso ou confiança.
Minha irmã não entende a mão, apenas o cumprimenta.
— É um prazer.
Ele a estuda.
— Digo o mesmo, Camille.
O nome dela saindo dos lábios dele me causa uma sensação
estranha.
— Louise, bem-vinda. — A voz de Charlotte me desperta.
Em uma aproximação silenciosa ela entra em meu campo de
visão, Charlotte me abraça.
Não retribuo.
— Vai amassar o meu vestido — digo, olho para Sebastien e
Marcelon saindo em passos lentos.
— Não é fácil estragar um vestido de boa qualidade — afirma. —
Camille, está muito bonita.
— Igualmente, pensei que viria ao lado de papai — provoca a
minha irmã.
Charlotte sorri rapidamente.
— Os protocolos são essenciais, não quero prejudicar Michel,
porém, não nego que gosto do pai de vocês — revela.
— Até indicou uma equipe de maquiagem para ele — comento
sem esconder minha raiva.
Graças a essa preocupação idiota, estou casada com o sobrinho
dela!
— Eles cuidaram bem de você, essa é uma preocupação que
está presente na família. Aprenderá sobre isso. — Dá ênfase.
— Louise — diz Elisa, a esposa de Bernard. — Parabéns.
Ele está logo atrás com um pequeno menino.
— Obrigada, Elisa.
— Como vai? — Camille a cumprimenta.
— Filho, conheça a esposa do seu tio, Louise — revela Bernard
ao pequeno.
Ele tem traços dele, mas suas características em grande maioria
são de Elisa.
— Oi — ele diz, estendendo a mão.
Sorrio, pegando em sua mão.
— Muito prazer.
— Meu nome é Alexandre. Papai, ela é igual à tia Louise —
repara ao encarar Camille.
Elisa sorri.
— Sou irmã gêmea dela, Camille, muito prazer — explica.
— É muito legal. — Aproxima-se, olhando-me e depois a encara.
Fico surpresa, porque não sabia que Bernard já era pai.
— Filha — interrompe mamãe ao me chamar.
Saio andando em sua companhia.
— Estou tão feliz pelo seu casamento, lembro-me como se fosse
ontem, você dizia que iria se casar usando um belo vestido e com
um homem bonito — lembra.
— Alguém do meu nível — corrijo.
— Louise — repreende. — Não repita isso, podem ouvir.
Quando penso que ela vai continuar dizendo asneiras, a mão de
Sebastien encontra a minha cintura, uma música lenta e sensual é
tocada pelos músicos.
Caminhamos até o centro do jardim, uma das minhas mãos está
em seu ombro, a outra se encontra junto a dele.
— Qual foi o juramento que me fez? — pergunta, ansiando pela
resposta.
— Matar você — revelo, encarando-o.
Um brilho perigoso surge em seus olhos frios.
— Não tem consciência do que me entregou no altar — alerta. —
Quem não é leal aos meus e, principalmente, a mim, é sentenciado
com a morte.
O tom sombrio arrepia meu corpo.
— Não tenho interesse em saber nada — asseguro.
— Mas vai aprender, já ganhou o seu novo título, Louise —
reitera.
Esposa de um chefe da máfia, um título coberto de sangue e
ossos.
— Elisa — cumprimento-a.
Sento-me ao seu lado.
— Adorei o vestido, Louise — elogia.
— Está impecável, parece mais calma do que antes — analisa
Charlotte. — Irei apresentá-la para todos os membros importantes,
começando pelas senhoras da máfia, esposas dos principais das
famílias francesas — avisa ao se levantar.
— Ela irá trazer todos os convidados para falar comigo? —
questiono, arqueando uma sobrancelha.
Elisa ri.
— Uma apresentação mais rápida, pode ser que perguntem
sobre o seu casamento, mas aposto que responder perguntas não é
um problema para você — assegura.
Definitivamente não será problema.
Entretanto, não estou disposta a cumprimentar ninguém e
responder absolutamente nada.
Deveria estar no evento beneficente.
— Estou acostumada com isso de uma outra forma. Elisa, quero
beber água, não quero bebidas, a cozinha onde fica? — pergunto ao
ficar de pé.
— Podemos chamar um garçom...
— Prefiro beber longe de olhos curiosos.
— Basta seguir o corredor, na primeira porta à direita.
— Obrigada, volto logo — agradeço rapidamente.
Faço o caminho que ela havia dito, mas não entro na primeira
porta, vejo a saída dos funcionários na última porta do lado direito.
Ando apressada, abro a porta com rapidez.
O meu salto faz barulho conforme corro, preciso tentar passar
pelos seguranças ou inventar algo.
Termino de percorrer a lateral da mansão chegando à parte
principal, os seguranças não olham enquanto caminho sozinha.
Estranho esse comportamento, sinto que algo não está errado.
Só não contava com Charlotte saindo pela porta com um olhar
impaciente.
— Querida, você não poderia fugir nem se quisesse — zomba.
— Pode enganar Elisa, mas não sou idiota.
— Estou com dor de cabeça, iria esperar meu marido no carro —
digo. — Estaria correndo caso estivesse fugindo, não acha?
— A sua mentira não me convence, Louise. Sebastien está em
reunião, quando ele sair irei contar o que pretendia, e você vai
cumprimentar todos agora — reforça.
Aperto os olhos para ela.
— Diga para ele e acredite no que quiser. — Aumento o tom.
Ando ao lado dela, tentando me controlar.
— Coloque na sua cabecinha, não há como traçar um novo
destino quando ele já foi escrito.
— Não acredito em destino, Charlotte — respondo rapidamente.
— Como também não creio em diversas coisas.
A máfia estava na lista de crenças inexistentes, mas ela se
tornou real há pouco tempo.
— Sugiro que passe a acreditar agora mesmo que foi tomada
pelo meu sobrinho — aconselha em um sussurro.
Tomada.
A simples palavra arrepia o meu corpo inteiro.
Charlotte cumpriu a ameaça e contou para Sebastien que eu
pretendia fugir novamente.
Não a impedi ou implorei para não fazer.
Meu marido escondeu esse assunto durante o evento, o trajeto
até a mansão onde agora chamo de residência foi feito em silêncio.
Mas não será por muito tempo.
Quando entro no nosso quarto a calmaria dá lugar a tensão.
— Novamente quer me desafiar, a sua teimosia é irritante.
— Não queria fugir! — corrijo. — Queria ir ao evento beneficente,
não cumprimentar todos os convidados daquele lugar, ouvir os
conselhos de Charlotte, sair dali era isso o que eu queria fazer. —
Aumento o tom.
— Abaixe a voz — ordena.
— Não! Suas ordens são sufocantes, não vou ficar sentada
fazendo o que me pede! — grito, nervosa.
Sebastien se aproxima.
— Eu odeio gritos — diz, antes de me beijar.
Resmungo, depois empurro o seu peito.
A mão dele segura meus cabelos com firmeza, enquanto a outra
está na minha cintura, os lábios dele se chocam com os meus,
segundos depois.
Abro passagem para a língua,ele é bruto e duro, deixo sua boca
consumir a minha com brutalidade.
Minhas mãos saem do seu torso e vão para o seu cabelo, onde
aperto, retribuindo ao seu beijo.
O som do celular dele quebra o momento.
Ele afasta os lábios dos meus, tomando um pouco de fôlego,
meu peito sobe e desce, observo-o atender o celular, enquanto tento
assimilar o que acabei de fazer.
— Estava em um evento, acabo de chegar — informa ao se
afastar.
Sebastien sai do quarto.
Fecho os olhos com força, não acredito que retribui ao seu beijo.
Não consigo entender o poder das mãos dele sobre o meu corpo,
a boca capaz de consumir a minha.
Afasto esses pensamentos.
— Senhora — diz Florence.
Encontro-a atrás de mim.
— Algum problema? — indago, encarando-a.
— Os presentes do casamento, estão todos em um quarto de
hóspedes. Havia esquecido de avisá-la, tudo foi deixado no cômodo
ao lado — informa.
Os presentes, não lembrava deles, preciso mandar
agradecimentos para todos.
— Irei ver nesse exato momento, obrigada.
Saio do quarto indo até a porta ao lado, os presentes ocupam a
cama inteira, alguns estão no chão.
Passo a mão em algumas caixas, começo a abri-las, ganhei um
jogo de taças de cristais, talheres, estou entediada com tantos
presentes, afinal, já tenho tudo aqui, até que uma caixa vermelha
com um laço preto chama a minha atenção.
Puxo o laço, abro o presente, deparo-me com uma caixa de
chocolates de uma marca que estou acostumada a comer desde
pequena.
São deliciosos, trufas com recheio de calda de morango. Preciso
comer um pequeno pedaço.
Mordo o doce, mastigo lentamente sentindo a calda de morango
se espalhar, engulo logo em seguida.
Pego outra caixa em busca de abrir outro presente.
Sinto algo estranho com a minha garganta, abro a boca para
chamar Florence, mas tenho que forçar a voz.
— Flo... rence — digo rouca.
Começo a tossir, tento respirar, mas a sensação é de estar sendo
enforcada.
Ando até a porta, não consigo enxergar direito, tudo fica escuro.
Ouço um barulho e uma voz distante.
Um dia depois...
Fiquei mais um dia no hospital, o médico acompanhou de perto o
meu quadro após a lavagem.
O efeito do veneno passou totalmente quando recebi alta, horas
mais cedo, a recomendação foi uma boa alimentação e um certo
cuidado com a comida que chegará até a mim.
O trajeto para casa é feito em silêncio, assim que chegamos
Florence está a postos, ela sabe como seu patrão é. Com certeza
ele solicitará sua presença.
— Senhora, como está? — pergunta com um sorriso
entusiasmado.
Sinto que ela é verdadeira comigo.
Talvez a falecida esposa não conversasse com Florence.
— Bem, Florence — digo.
— Ela precisa comer bem e pelo que contou, Florence, Louise
mexia apenas na metade da comida — pontua meu marido.
— Estou acostumada com a comida de Marie, Sebastien...
Ele me interrompe.
— Ficará responsável pela comida, acompanhe o preparo
atentamente — orienta para a funcionária.
— Sim, senhor Cartier.
— Traga um suco para ela.
Florence se retira.
Enquanto caminho até a sala principal, sento-me no sofá, ele
olha o celular antes de se aproximar.
— O que é? — indago.
— Teremos visitas agora, está disposta a recebê-los aqui ou em
nosso quarto? — pergunta.
— Aqui está ótimo, não sinto mais nada.
Ele ajeita a almofada atrás de mim, deixando-a perfeita para
apoiar as costas.
Sebastien ficou no hospital ao meu lado durante os dois dias,
esperava que ele me deixasse com aqueles capangas.
Observo o paletó preto em seu corpo, a peça parece ser feita sob
medida.
A cena do banheiro do hospital está gravada na minha cabeça,
não consigo apagar a imagem de Sebastien quando me viu nua, o
seu olhar e o toque dele no meu corpo.
Ainda posso sentir o toque dele em minha pele descoberta.
Vejo-o caminhar até o corredor, quando ouço vozes
desconhecidas, engulo em seco, preciso ficar disposta.
Tento ignorar o fato dos meus seios inchados e o restante do
corpo pronto para ser tocado novamente.
Fico em pé para receber um casal, uma bela mulher de longos
cabelos escuros lisos, acompanhada por um homem com olhos
escuros como a noite.
Sebastien encontra o meu olhar.
— Minha esposa, Louise Cartier.
O homem me cumprimenta. Reparo na tatuagem de cobra em
seu pescoço.
— Cesare Salvatore, essa é a minha esposa, Isabel.
— Ouvi muito sobre você, prazer, Louise — diz com um sorriso.
— O prazer é meu, não lembro de vê-los em meu casamento —
comento, intrigada.
— Cesare é o Don da máfia italiana — explica Sebastien.
A Itália e a França?
Uma união extremamente vantajosa, em todos os lugares há a
mão de Sebastien.
— Nossa filha ficou doente, estava com febre e dor de garganta,
não pudemos vir — responde Isabel.
— Isabel e Louise poderão se conhecer melhor, enquanto
estivermos no escritório — comenta Cesare ao encará-la.
— Claro, amor.
Ele a beija antes de sair na companhia do meu marido.
Encaro Isabel com curiosidade.
— A filha do presidente, imagino que deve estar assustada
conosco, a máfia não é sutil.
Acho que jamais será.
— Você foi prometida para Cesare? O pouco que conheço sobre
os casamentos é que são uma forma de ligar famíliascomo os quais
estou acostumada — questiono.
Ela nega.
— Eu não fui prometida, mas sim a minha irmã.
— Sua irmã? — pergunto, confusa.
Ela assente.
— A máfia muitas vezes nos aprisiona com suas regras e
escolhas. Minha irmã, Giovanna, foi escolhida por ser a mais velha,
ela iria se casar com Cesare, mas Giovanna não queria e,
infelizmente, foi morta em uma emboscada. — O tom de Isabel é
frio. — Um soldado descobriu que ela tinha um caso com a filha
dele, motivado pelo preconceito ele assassinou ambas.
— Sinto muito por sua irmã, Isabel.
— Eu amava Giovanna, ela foi tirada de mim da pior forma. A
morte dela bagunçou tudo, pensava que Cesare tinha sido o
culpado, crescemos juntos e desde a infância fazíamos promessas
que ficaríamos juntos. Passei a odiar o meu marido, substituí a
Giovanna, casei com ele planejando matá-lo — confessa,
encarando-me.
— Pensei que as mulheres tinham mais voz, mas parece que
estou errada. Sua vida foi destruída, poderia ter matado ele.
Isabel aparenta ter um gênio forte, porém, quando olho para ela
e Cesare é difícil imaginar que ambos passaram por um momento
tempestuoso, a morte de Giovanna.
Onde ela planejava o que eu também queria, vingar-me de
Sebastien.
— O ódio e o amor estão ligados, os dois são os sentimentos
mais interessantes para mim — revela com um sorriso. — Agora me
conte sobre a sua história.
— Um casamento de aparências dos meus pais, onde tudo deve
ser perfeito, inclusive minha irmã e eu. Anos depois, ele se separa e
conhece uma mulher interesseira, quando menos espero, conheço
Sebastien, papai e ele fazem uma aliança com algo em troca —
comento, lembrando-me do dia que esbarrei nele.
E logo em seguida o vi em uma mesa, negociando com papai.
— Mafiosos são mais persistentes do que imagina — afirma. —
O casamento é um elo eterno que só acaba com a morte, como já
disse, queria matá-lo. Mas o amor venceu, hoje tenho dois filhos e
um marido, Cesare pensa na família em primeiro lugar — diz, com
um brilho especial em seu olhar.
— Sempre enxerguei casamentos como uma conveniência, mas
aqui o divórcio não é uma opção.
— Ele não existe para nós. Louise, imagino que Sebastien é
diferente dos demais homens que já conheceu — comenta.
Acho que nunca conheci algum igual, por isso não consigo defini-
lo.
Ouvimos passos e logo em seguida vozes de Cesare e
Sebastien pelo corredor, os dois aparecem rapidamente na sala
principal.
— Aconteceu alguma coisa? — Isabel pergunta.
Os dois homens se aproximam.
— Vai sair? — pergunto para Sebastien.
— Os vendedores da marca do veneno estão em um lugar,
Cesare irá me acompanhar — diz, olhando-me, depois a boca de
Sebastien encosta rapidamente na minha, como se fosse algo
comum entre nós.
— Desejo saber tudo depois — exige Isabel, olhando o marido.
Cesare sorri.
— Jamais terá segredos entre nós, saberá o que aconteceu
depois. Fique com Louise, volto em breve — pede, deixando um
demorado beijo nos lábios dela.
— Até mais tarde — digo para ambos.
Os dois logo somem da nossa vista.
— Quer comer ou beber algo, Isabel? — pergunto, olhando em
sua direção.
— Por enquanto não estou com fome.
— Você parece conhecer todos os assuntos que chega até as
mãos de Cesare, ele lhe conta tudo? — pergunto.
— A minha família foi criada na máfia, as mulheres não podiam
ter contato com armas, apenas apoiar o marido e cuidar do
casamento. Diferente das demais, queria aprender a atirar, não
ouvia tudo sobre os assuntos de meu pai, mas os deduzia, Cesare
compartilhava a maior parte comigo, ele foi preparado para ser Don
muito novo — explica. — Sebastien tem o controle de todos desde
os mais baixos, soldados até membros importantes como o próprio
irmão, que é o subchefe dele.
Informações demais para decorar.
— É bem diferente do que estou acostumada.
— Está entediada? — pergunta com um sorriso. — É uma
mudança brusca deixar de ouvir sobre a política, a sua postura e
saber como funciona algo tão grande.
— Sebastien diz que preciso aprender, aceitar o meu novo papel.
Descobrir coisas desconhecidas que preciso saber, porque casei
com ele.
— Seus olhos mostram um certo repúdio sobre os assuntos —
analisa. — Você deve se adaptar, não estou dizendo para pegar
uma arma e atirar em alguém, mas se aprofundar em assuntos
novos, não escolha ficar sentada e apenas ouvir — aconselha. —
Não seja inimiga de quem divide a mesma cama, o sobrenome dele
é seu e você também é. Uma hora ou outra estará nos braços dele,
Louise, você se tornou esposa, não é soldada ou uma funcionária,
ajudamos eles e somos o equilíbrio de um castelo, aliás, a peça
mais importante de qualquer jogo é a rainha.
Adentro o escritório.
As luzes acendem com a minha presença, encontro a garrafa de
uísque ainda no lugar junto aos dois copos.
Termino o que eu não havia bebido em uma conversa com
Cesare.
O símbolo de gelo na marca das minhas bebidas é uma palavra-
chave, glace não é uma mera palavra.
Ensinado há gerações como um código para matar.
Sento-me na cadeira, acendo um cigarro, preciso traçar um
plano, olho a fumaça saindo pelo meu nariz e depois a boca,
lembro-me de conversas com meu falecido pai anos atrás, quando
era pequeno, ele começou a instruir eu e meu irmão muito cedo.
Desde sempre queria concluir meus objetivos, isso não precisou
ser passado, eu já sabia o que fazer.
Esvazio os pensamentos ao encarar um ponto branco pelo canto
do olho, Louise entra no escritório usando um robe com plumas
brancas.
— Parece nervoso — comenta ao se aproximar.
Ela fica diante de mim, sua mão pousa sobre a mesa.
A cor branca abraça a pele dela, vejo os olhos azuis analisando
meu rosto e feições.
— Estou armando algo.
— Novidades sobre o veneno? — pergunta ao meu lado.
Observo seu rosto.
Poupée7.
7. Boneca
Louise desconhece o poder que tem sobre mim, com poucos
dias de casados, consigo ter a certeza de que ela não possui
defeitos, desde o seu despertar e ao dormir, não sou capaz de tirar
os olhos dela.
— Desconfia de alguém? — sondo.
Ela pisca antes de responder diretamente.
— Analisando minuciosamente, não vejo explicação para alguém
próximo do meu pai tentar me matar, mas sim contra a Camille, ela
não se casou, ainda é um problema do presidente — pontua.
— A pessoa por trás conhece a minha famíliae nossas tradições
— revelo.
— Um inimigo seu — conclui. — Será que não foram os
alemães? Você comandou um ataque. — Sorri irônica.
— Precisa aprender muito ainda sobre o lugar a que pertence,
Louise.
Termino o cigarro, deixando-o no cinzeiro.
Volto a encará-la, ela terá que aprender mais cedo ou mais tarde.
— O que eu não sei? Estou falando alguma mentira? —
questiona, próxima do meu rosto.
Em um movimento onde é pega desprevenida, coloco Louise
sentada na mesa, cerco-a ficando entre suas pernas, deixando uma
mão de cada lado.
— Fui ameaçado, revidei a provocação — reitero. — Tudo o que
acontece comigo respinga agora em você. Nosso problema é que a
pessoa por trás do pedido do veneno se apresentou como glace,
que é uma palavra-chave da minha família.
— Glace? O que ela significa? — pergunta, atenta.
— Um código para matar — explico, deixando uma das minhas
mãos em sua coxa descoberta.
— Quem acha que pode estar por trás? Alguém da sua própria
família?
A curiosidade está presente em seus olhos azuis.
— Uma traição é paga com a própria alma, a conduta é clara
para todos. Acredito que o problema seja causado por um renégat
— acrescento.
— Renégat?
— Crianças nascidas em um envolvimento com um membro da
máfia, mas que são renegados por serem gerados pela traição e
sem o puro-sangue mafioso.
— Como bastardos? — pergunta.
Estou vendo minha esposa querendo participar de um assunto
pela primeira vez.
Gosto de vê-la descobrindo como funciona o mundo que agora
ela faz parte.
— Sim.
— Há um tempo ocorreu um caso com um dos amigos de papai
que faz parte do partido dele, tudo foi planejado para esconder o
escândalo — comenta, olhando em meus olhos. — O que pretende
fazer?
Seguro sua cintura com as duas mãos, enquanto a encaro.
— Caçar o renégate matá-lo, ma poupée.
Desperto sozinha na cama.
A noite de ontem ainda está fresca na minha cabeça, observo o
lado de Sebastien vazio, as lembranças das cordas me prendendo,
os nossos corpos em sincronia e as palavras roucas dele.
Fecho os olhos com força, não me arrependo de nada em
absoluto, ontem à noite percebi uma brecha que sempre escondi
durante todos esses anos.
Nunca me senti importante, o meu papel sempre foi ser a perfeita
filha do governador da França, ter uma postura, buscar amizades
com pessoas iguais a mim, pensar apenas no melhor para a família,
mas no partido de papai, quem sou eu?
Ele está por trás de tudo, ditando como todos devemos agir.
Agora sinto que tenho um lugar, faço parte de algo na máfia
Cartier, pela primeira vez papai não está aqui conduzindo como
devo agir.
Sinto-me liberta das correntes que ele mantinha sobre mim.
Faço círculos no cobertor, quando uma batida à porta interrompe
meus pensamentos, sento-me na cama lentamente.
— Sim?
— Senhora, a sua irmã veio visitá-la — avisa Florence.
Camille vindo tão cedo?
— Peça para ela esperar um pouco, Florence. Logo descerei —
digo ao levantar da cama.
Entro no banheiro, retiro o robe e as peças íntimas, tomarei um
banho rápido antes de encontrar minha irmãzinha.