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2022

Nome da obra: COMO CASAR COM SEU PRÍNCIPE


Preparação de Texto e Revisão: Dani Smith Books
Diagramação: MAVLIS
Capa: Mavlis
Nome do autor: Mari Cardoso
http://www.maricardoso.com.br/

Copyright © 2022 por Mariana Cardoso

INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida
ou fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico
e mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos
de citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais
permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens,
alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou
mortas, ou eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera
coincidência.
Sumário
Sumário
SINOPSE
CARTA DA AUTORA
PRÓLOGO | Leonard.
PRÓLOGO | Khloe.
1 | Leonard.
2 | Khloé.
3 | Khloé
4 | Leonard.
5 | Khloé.
6 | Khloé.
7 | Leonard.
8 | Khloé
9 | Khloé.
10 | Leonard
11 | Khloé.
12 | Khloé
13 | Leonard
14 | Khloé.
15 | Khloé.
16 | Leonard.
17 | Khloé
18 | Khloé
19 | Leonard
20 | Khloé
21 | Khloé
22 | Leonard
23 | Khloé
24 | Leonard
25 | Khloé
26 | Khloé
27 | Leonard
28 | Khloé
29 | Khloé
30 | Leonard
31 | Khloé
32 | Khloé
33 | Leonard
34 | Khloé.
35 | Khloé
36 | Leonard
37 | Khloé
38 | Khloé
39 | Leonard
40 | Khloé
Epílogo | Khloé.
Epílogo | Leonard
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
"— Se você não me soltar, eu prometo que não vou
te soltar. Não me deixa sozinha.
Ele olhou em meus olhos com tristeza e um pequeno
sorriso nos lábios.
— Eu nunca vou te soltar, Khloé. É uma promessa.
— Ele entrelaçou nossos dedos."

LEONARD
SINOPSE

Leonard não acreditava que encontraria um amor e se


recusava a ter um casamento de conveniência. Em sua posição
como príncipe herdeiro, era cobrado diariamente por matrimônio e
filhos. Ele preferia viver só do que se submeter a uma vida de
mentiras.

Khloé conquistou sua liberdade com a carreira de modelo.


Homens não estavam em seu planejamento, por conta da carreira,
exposição e independência. Ela preferia ficar sozinha do que se
envolver superficialmente.

Um encontro inusitado em Rainland colocou Khloé no


caminho de Leonard e depois, o destino uniu essas duas vidas
muito distintas em uma paixão avassaladora e uma surpresa
inesperada no caminho.

Resta saber se Khloé conseguirá deixar sua liberdade para


acompanhar Leonard em uma vida cheia de regras da realeza.
Afinal, só o amor basta para um conto de fadas?
CARTA DA AUTORA

Chegar ao fim de um ciclo é uma das coisas mais deliciosas


e preciosas que um autor pode passar. Eu estou aliviada por
encerrar essa aventura dos oito silenciosos, que entre altos e
baixos, dores e decepções, aprendi muito e me blindei de muita
coisa. Posso dizer seguramente que foi uma experiência com
surpresas e agora, só tenho a agradecer a todas as minhas leitoras
queridas que embarcaram nessas histórias comigo.
Começamos com Abdar mudando sua vida ao conhecer
Rawan, passamos para Eduardo e seu jeito único de ser
apaixonando-se pela Clara. Conhecemos um dos Megalos
complicados e sei que muitas se encantaram com o boy magia que
manda bilhetes com trechos de livros. E agora... Leonard.
É o momento dele contar sua história e eu vou adiantar aqui,
para aquelas que enchem demais o balãozinho da expectativa. Se
espera uma mocinha jovem e virgem, não vai encontrar. Khloé é
uma mulher de vinte e cinco, independente e acredita que nunca
encontrará um homem que a ame devido aos traumas do passado.
Leonard é um príncipe em todos os sentidos da palavra. Não
é a coroa em sua cabeça que lhe faz ser um dos personagens mais
incríveis que escrevi na vida. Ele não quer um relacionamento por
contrato e pensa que em sua vida tão complicada, ficará sozinho
para sempre.
O encontro desses dois é tudo. É um romance, com um final
feliz e apesar de pincelar sobre bullying, distorção de imagem e
vingança, é gostoso e fluído de ler. Desejo que a mensagem sobre
amor, superação e companheirismo toque o seu coração.

Com amor,
Mari Cardoso
Dez anos antes.

Senhoras de toda Rainland.


Atenção ao que esta bela colunista tem a dizer: Príncipe Leonard
está apaixonado!
Durante o aniversário de sua irmã caçula, a adorável e muito
atrapalhada Princesa Charlotte, nós avistamos esse belíssimo rapaz
na companhia de seus amigos e depois, passeando com uma dama
desconhecida da alta sociedade no jardim. Os pombinhos trocaram
beijos intensos e bastante indiscretos para a realeza.
Ainda não conseguimos descobrir quem é a felizarda que poderá se
tornar nossa princesa. Acompanhe meu canal para mais novidades
sobre Rainland.
Lady Daisy Mail
PRÓLOGO | Leonard.
Li a nota, sem acreditar que a fofoqueira da Daisy tinha mais
olhos e ouvidos dentro do palácio do que eu imaginava. Marina
terminou de ler e crispou os lábios, nem um pouco satisfeita que
nosso rápido encontro no jardim tivesse se tornado uma nota no
jornal. Não deveria ser um problema tão grande assim, porém,
considerando sua expressão irritada, não parecia muito feliz.
— Não fique chateada. Quando assumirmos para todos, a
novidade deixará de ser interessante. — Segurei sua mão e apertei,
peguei o jornal e joguei na lareira. Minha cabana ficava afastada da
cidade e nos dava muita privacidade. Era o nosso refúgio.
— Acho que isso é um pouco demais para mim. — Ela virou no
sofá, me encarando. — No fundo, sempre soube que jamais estaria
preparada para ser sua namorada oficialmente.
— O que está querendo dizer?
— Eu não posso assumir nosso relacionamento. Tenho uma
carreira, meu próprio nome a construir e a que vou ser reduzida? A
uma mulher misteriosa que beijou no jardim? Vão dissecar toda
minha vida e serei obrigada a aceitar a exposição?
— Você sempre soube que eu era um príncipe e com isso,
havia responsabilidades, além das consequências.
— Foi fácil ignorar isso aqui ou no meu apartamento, mas… —
Ela colocou o cabelo atrás da orelha. — Uma mulher para ficar ao
seu lado precisa estar disposta a um mundo que eu não quero fazer
parte. Gosto da minha privacidade, meu direito de ir e vir e ser eu
mesma sem ter que seguir milhares de protocolos. Eu te amo,
Leonard. Amo muito, mas eu também…
— Isso é um término. — Soltei uma risada, pensando que
planejei todo um fim de semana e ela já sabia que queria acabar
com o nosso relacionamento.
— Cheguei a um momento em que preciso fazer uma escolha
sobre a minha vida. — Marina olhou em meus olhos. — Me perdoa,
Leo. Eu nunca quis te machucar.
— Entendo. Tudo vai ficar bem.
Por dentro, não estava nada bem. Parecia tudo quebrado,
amassado e jogado longe. Eu a amava e planejava apresentar para
minha família, levá-la para os jantares, ligar para Alicia e dizer: “ei
tia, o amor me pegou”. Oficializar para todos o que nunca deveria ter
sido um segredo, porque Marina e eu, na minha cabeça, éramos
perfeitos juntos. Ela tinha uma carreira bem sucedida e eu,
continuaria sendo um príncipe com deveres reais.
Era difícil aceitar que não estávamos destinados a ficar juntos.
O pior de tudo, realmente a entendia. Ser parte de uma família
real era simplesmente um pesadelo. Aquela era a minha sina, ser
um herdeiro da coroa era algo que levaria por toda a minha vida,
meus herdeiros também. A mulher que ficasse ao meu lado
precisaria entender, aceitar e principalmente, amar a realeza e
Rainland tanto quanto eu.
Seria possível encontrar um amor de verdade?
Minha mãe vivia dizendo que pessoas como nós precisavam
colocar o dever acima do coração. Eu odiava dizer que estava certa.
E nunca era um bom presságio dar razão às loucuras da Rainha
Victória.
PRÓLOGO | Khloe.

As lágrimas caíram do meu rosto e pingaram na mesa.


Sequei rapidamente, passando as costas das mãos nas bochechas.
Virei minha cadeira da escrivaninha para o espelho, tentando deixar
meu rosto apresentável, não de uma garota boba que estava
chorando porque as pessoas eram más. Eu não aguentava mais ser
fraca e me importar com a zoação.
Ouvi uma batida na porta e fingi estar estudando quando papai
enfiou a cabeça dentro, olhando antes de entrar completamente. Ele
parou contra a parede, as mãos enfiadas nos bolsos.
— Sua mãe disse que comeu pouco e logo se trancou no
quarto.
— Tenho que estudar. — Dei de ombros, sem encará-lo. —
Teve um bom dia de trabalho hoje?
— Foi bom, cheguei em casa para ficar com as minhas
meninas favoritas e não encontrei todas elas na sala de jantar. Não
vai comer conosco?
— Perdi a noção do tempo aqui dentro. — Guardei minhas
canetas no estojo e fiquei de pé. Papai seguia no mesmo lugar, com
o olhar de amor e compreensão que me deixava maluca de raiva. —
Não quero falar sobre isso.
— Sobre o quê?
— Sobre o meu rosto inchado. — Fiz um pequeno beicinho.
Papai riu e me abraçou. Foi o suficiente para que eu voltasse a
chorar. Não precisava dizer que ainda estava sendo perseguida
pelas garotas populares, que tive chiclete grudado no meu cabelo e
um pouco de tinta no meu armário.
Estava muito difícil me adaptar a uma escola americana e
principalmente, tentar me enturmar. Meus pais receberam uma
excelente promoção na empresa que trabalhavam, então nos
mudamos de Londres para Nova Iorque. Deixar minha casa, meus
amigos e nossos parentes foi difícil, porém, estava sendo muito
mais complicado lidar com as diferenças culturais.
O sotaque era motivo de piada, o aparelho nos dentes, o
cabelo longo e claro… nada combinava com os óculos de armação
preta fundo de garrafa.
Meu rosto era pequeno devido ao meu baixo peso, com isso,
não havia armações bonitas para o nível do meu grau. As garotas
eram cruéis com quem não se encaixava no perfil de gostosa em
um uniforme de líder de torcida. Faltava tudo: peito, bunda, coxas…
elas disseram que meus joelhos ossudos assustariam os
torcedores.
Eu dancei bem, mas fui escolhida para ser a mascote do time.
Meu corpo magricelo como o de uma criança não era bom o
suficiente.
Não reclamava porque meus pais estavam felizes, morávamos
em um ótimo apartamento duplex, em um dos melhores bairros e
eles finalmente estavam sendo reconhecidos em suas pesquisas.
Eram médicos pesquisadores, dedicaram a vida para os estudos e
para dar a melhor vida para minhas irmãs e eu.
Fui jantar com minha família e eles me fizeram sentir amada,
acolhida, ali era meu lugar de paz e refúgio. Depois que lavei a
louça com minha irmã mais velha, me despedi. Meu quarto estava
aberto e em cima da cama, uma caixa com um laço bonito em cima.
Peguei e abri. Dentro havia um caderno de couro, com folhas
pautadas meio amareladas e uma caneta de ponta fina. A nota dizia:
"Toda grande mulher tem a sua história registrada. Uma grande
jornalista saberá o momento certo de guardar suas notas. Com
amor, papai e mamãe".
Caros leitores e apreciadores de uma boa notícia.
Rainland está em festa.
É tempo do centenário campeonato esportivo nacional e o que mais
empolga todos os cidadãos desse país são os eventos com as
participações mais que especiais dos membros da realeza. Hoje a
celebração é sobre uma tradição que se mantém mesmo com tantas
mudanças no mundo e também, poderemos ver se a Princesa
Charlotte finalmente conseguirá controlar seu cavalo e o nosso
amado e muito idolatrado Príncipe Regente com toda sua glória em
um uniforme real.
Estamos todas ansiosas por esse momento, senhoras!
Lady Jones
The Sunrise - Rainland
1 | Leonard.

[1]
— Charlotte! — Ethan berrou pela minha irmã e eu ri. Eles
finalmente estavam em casa. Abri a porta do escritório e vi meu
cunhado passar, furioso. Moana latiu para mim, bati em minha coxa
e ela fez festa, ignorando o estresse do papai. — Apareça aqui!
Abaixei e ganhei beijos em forma de lambidas. Moana era o
terror dos funcionários do palácio. Ela não conseguia desviar das
mesas e sempre derrubava alguma coisa na correria pela casa. Era
cadela da princesa, então, ninguém tinha coragem de reclamar.
[2]
— Ela está com a Cat em algum lugar. Louis saiu cedo para
cavalgar… — falei com Ethan, que bufou, segurando um papel. — O
que minha irmã aprontou agora?
— Sua irmã ainda vai me fazer ter um ataque cardíaco. —
Esfregou o rosto. — Ela batizou um burro com meu nome e me deu
de presente. Disse que viu em uma série e achou que eu iria gostar
também.
Aquilo era algo que só a minha irmã poderia fazer e só o
marido dela teria paciência para aturar. Dei a ele um olhar
diplomático.
— É um presente adequado.
Ethan ficou vermelho, com uma expressão feroz.
— Eu odeio vocês dois! Louis é o único que me entende nessa
família esquisita — Ethan resmungou e voltou para o escritório dele.
Minha irmã apareceu no fundo do corredor, saltitando, alegre como
sempre ficava nos bastidores da nossa vida na realeza. Sorrindo
para mim, soprou um beijo e rodopiou até o marido.
Aqueles dois… quase me faziam acreditar que era possível ter
amor de verdade. Foi um casamento por acordo em que eu fui
contra, tentei impedir e busquei meios, mas ainda não era páreo
para a inteligência do meu pai. O rei estava anos luz na minha frente
em arquitetar planos e ser astuto. Ele queria Ethan e Charlotte
juntos por motivos que, politicamente, era capaz de compreender,
mas não deram a eles uma escolha e os condenaram a uma vida
sem amor.
Para minha completa surpresa, não só se apaixonaram
perdidamente, como eram uma dupla imbatível no trabalho. Eles
completavam minha posição de Príncipe Regente e aliviaram um
pouco do fardo que carregava sozinho desde os meus vinte anos.
Lottie era apenas uma criança quando fui nomeado. A diferença de
idade entre nós era grande, isso fez com que eu trabalhasse muito
como herdeiro e ela ficasse na posição de menina perfeita que os
pais tanto sonharam.
Charlotte era singular. Tinha um humor único e definitivamente,
não era a bonequinha que estava sempre pronta para ser idolatrada.
Atrapalhada, sem filtro verbal, pentelha e um desastre com duas
pernas, minha irmãzinha atraía atenção do jeito que nossos pais,
mais especificamente, minha mãe, não queriam. Ser príncipe e
princesa era tudo que sabíamos. Fomos criados para sermos
perfeitos, sem falhas, sem chance de planejar a nossa própria vida.
Eu quis e até tentei. Estudei fora, viajei o mundo com meus
amigos, me relacionei às escondidas, mas nunca desejei falhar com
a coroa que foi colocada em minha cabeça. Um dia, me tornaria um
rei, estava no meu sangue. Só não sabia como seria produzir minha
linhagem porque não me via casando por acordo, compartilhando
minha intimidade através de um contrato e não por um
relacionamento que evoluiu, chegando ao ponto de ter um
casamento e filhos.
Depois de Marina, não me envolvi seriamente com mais
ninguém. Quando conhecia uma mulher minimamente atraente, que
começava a nutrir sentimentos, me afastava. Era complicado pensar
na vida que daria a ela: luxo, riqueza, fama, mas um compromisso
incondicional com um governo, ataques dos oponentes, perseguição
da mídia, falta de privacidade, uma mãe intrometida e filhos que
teriam mais responsabilidades que qualquer criança normal.
Existia alguma louca deslumbrada que poderia gostar dessa
vida? Sim. Mas eu não queria outra mulher obcecada por holofotes
e perfeição. Minha mãe já era mais que o suficiente.
Trabalhei o dia inteiro ignorando os dois casais apaixonados
que me cercavam. Peguei o telefone diversas vezes para conversar
com Alicia, mas ela ainda estava pelo mundo, fora da área de
cobertura. Eu a apoiava incondicionalmente e estava feliz que
finalmente havia tirado os saltos e as roupas de grife para se
descobrir, mas sentia saudade de ter alguém com a cabeça no lugar
para conversar. Até mesmo Apolo, o mais complicado dos meus
amigos, estava felizmente casado, amando as cores do mundo e
esperando um bebê.
Durante o jantar, ouvi e falei pouco. Louis e Ethan entraram em
uma disputa imbecil que seria resolvida em uma competição de
moto. Cat e Lottie falavam sem parar, rindo de piadas que só
mulheres entendiam. Meu pai estava dentro da própria cabeça, de
vez em quando perguntava sobre os torneios de verão, quem
achávamos que iria ganhar e voltava a comer quieto. Ele estava
ansioso para que o evento corresse bem e sem escândalos, era
centenário, uma tradição que Rainland amava e isso refletia no
próprio rei.
Minha ala ficava reservada no palácio e era a única coisa
realmente agradável de ser um príncipe, porque eu podia ter um
pouco mais de privacidade. Dividia a garagem com a minha irmã,
mas isso não era um problema. Tínhamos entradas separadas e
depois que eles casaram, pedi que nosso jardim se tornasse um só,
assim podíamos nos reunir sem que nos observassem. Costumava
ser nosso ponto de encontro favorito.
A noite estava bonita demais para ficar no quarto. Com uma
calça de pijama, vesti o roupão por cima e preparei um drinque para
me ajudar a dormir.
Escolhi uma das poltronas do canto, ao lado de um sofá que
Charlotte gostava de se deitar.
— Sabia que ia encontrar meu irmão favorito aqui. — Lottie se
aproximou com seu pijama rosa claro. A calça parecia de alguém
duas vezes do seu tamanho. — Sim, é do Ethan, embora ele se
recuse a aceitar meu presente.
— Comprou uma calça rosa para o seu marido?
— Para dormirmos combinando. Ele tem falhas no senso de
humor. — Ela riu e se jogou no sofá. — Vim atrás de você. Tenho te
achado muito quieto. Está se concentrando para o evento amanhã?
— Em parte. É muito importante. Seu cavalo vai se comportar?
Lottie riu.
— Como vou saber? Ele tem muita personalidade.
— Fui ver a mamãe. A enxaqueca dela se chama não perder o
episódio novo da novela.
Trocamos um olhar e rimos.
— Acho que vou mandar para uma dessas contas de fofocas
que a rainha é viciada em novelas turcas. — Lottie pegou o telefone
e eu ri, tirando-o da mão dela. — Vai, irmão. Fala comigo. Você
sempre teve a tendência de guardar tudo para si e me proteger. Sou
adulta e casada — ela falou e dei um gole da minha bebida. —
Quase mãe.
Engasguei na mesma hora, ela riu e deu tapas fortes nas
minhas costas. Nunca perdia uma boa oportunidade de me bater.
— Estão tentando?
— Só quando terminar a faculdade. Falta pouquinho. — Ela
piscou.
— Vou amar ser tio.
— Eu sei, é um irmão incrível e será um tio mais ainda, mas eu
não quero que meu filho seja mais do que um príncipe. Que tal
casar e produzir um herdeiro para tirar a coroa da cabeça do meu
bebê?
— Vai me pressionar ao casamento também?
— Não. Quero que encontre um amor, Leonard. Amor de
verdade, de arrancar suspiros e te fazer ver a vida diferente. Eu tive
a sorte e o prazer de ter um marido incrível, um melhor amigo, mas
tudo poderia ter dado errado.
— Não se encontra amor na esquina. Se fosse verdade, com
quase quatro décadas de vida, eu seria um homem felizmente
casado. Amor não é assim, Lottie.
— Se você abrir seu coração, vai ser.
— Como posso arrastar alguém para essa vida? Ethan já era
alguém do meio, ele conhecia a pressão. Olha só o que Cat passa…
— Ela ama Louis e apesar de algumas coisas a magoarem, ela
sabia onde estava se metendo e aceitou fazer parte disso por amor.
Tudo precisa de um equilíbrio, a nossa vida não é completamente
ruim.
Eu não podia acreditar que minha irmã caçula, pentelha e
destemperada estava me dando conselhos amorosos. O mundo
estava fora do lugar. Antes que pudesse respondê-la, mesmo sem
saber ao certo o que dizer, fui salvo por passos suaves se
aproximando. Ethan apareceu com roupa de dormir e o rosto
amassado de sono.
— Você fugiu da cama, maluca?
— Vim ver meu irmão rapidinho. — Ela sorriu. Só pelo brilho
no olhar da minha irmã, eu podia dizer que ele era o homem que ela
amava. — Me carrega de volta para o quarto?
Ethan bufou, mas parou de costas para o sofá e permitiu que
ela pulasse em suas costas. Eu ri e ganhei um aceno divertido,
vendo-os sumir ao longo do corredor. Terminei minha bebida, voltei
para minha ala, deixei o copo na cozinha vazia e subi para o quarto.
Deitei e fiquei olhando para o teto, evitando pensar em coisas
complicadas para minha mente não me sabotar. Eu precisava
dormir.
Todas as coisas que Charlotte falou comigo ficaram me
atormentando. Tive uma péssima noite de sono e antes de ser
acordado por meu mordomo, já estava de pé e pronto para ser
vestido. Meu uniforme real era pesado. Medalhas e condecorações,
precisava de três pessoas para pendurar tudo na ordem e
perfeitamente alinhado. Eu não podia me mover até que todas as
abotoaduras fossem colocadas.
— Está um gato. — Charlotte entrou com roupa de montaria,
ainda sem a capa de princesa e o chapéu.
— Saia do meu quarto.
— Não. Tenho algo especial para você, engomadinho. — Ela
parou à minha frente e ergueu uma medalha. — Ethan e eu
decidimos que esse ano, é sua. Vovó estaria orgulhosa.
A medalha de honra da vovó era herança de Charlotte. Algo
que nós dois amávamos muito. Não me importei que minha
irmãzinha recebeu a maior parte desses itens emocionais, ela foi
quem mais sofreu no papel de princesa. Eu sorri, de verdade, feliz
por usar algo da mulher que me inspirava e me dava forças toda vez
que pensava em sua trajetória como rainha.
— Te amo, sua insuportável.
— Eu te amo muito mais. — Lottie sorriu e saiu correndo,
cantarolando.
A família, depois de pronta, parou por quase uma hora para o
ensaio fotográfico. Em seguida, fomos para a varanda, acenar e
assistir ao primeiro show.
— Estão prontos para a cavalgada? — Mamãe parou na minha
frente, ajeitando minha gola, mas perguntando a todos. Charlotte
acenou com um ar divertido. — Controle seu cavalo.
— Claro, alteza. — Minha irmãzinha riu.
Balancei a cabeça, ciente de que alguma coisa iria acontecer,
mas não discuti. Louis e Cat foram para a arquibancada, assistir do
camarote da família com meus pais. Eles eram nossos convidados
de honra. Era a primeira vez da namorada do meu primo nesses
eventos e ela parecia muito empolgada, querendo aprender tudo
sobre a tradição.
Por ordem, sendo mais velho e herdeiro, meu cavalo era o
primeiro. Ethan e Charlotte seguiriam alguns metros depois, lado a
lado. Depois, todos os competidores, em seus próprios cavalos ou
nas carruagens. O trajeto era por toda a cidade, durava quase
quarenta minutos e era televisionado. A cada dois metros, um novo
aceno. Um sorriso. Uma olhada para uma câmera.
Fazia aquilo há tanto tempo que eu não precisava mais
ensaiar.
Uma das poucas coisas que meu cavalo detestava era…
cachorros de raças pequenas. Eu conseguia controlá-lo sempre que
acontecia de encontrar com um, mas quando uma criança pequena
e um cachorro peludo invadiram a pista, ele não me obedeceu e
levantou. Com um comando, parou e ficou bufando no lugar.
Rapidamente desci e entreguei-o para meu cavalariço, correndo até
a criança que se assustou e estava com uma mulher, consolando-a.
Os guardas tentaram me cercar e sinalizei para que parassem.
Não parecia ter perigo ali.
— Vocês estão bem?
Ela virou e me olhou nos olhos. Dei um passo para trás, tonto.
Nós ficamos parados, encarando um ao outro e tudo se transformou
em paz. Minha mente e coração não conheciam o sabor daquele
silêncio gostoso.
A criança chorou, puxando a blusa dela e isso quebrou o
encanto.
— Seu cavalo poderia ter esmagado esse bebê! — Ela estava
irritada.
O quê?
— Sinto muito, mas isso aqui é um evento real. Caso esteja
perdida, hoje é um dia importante para esse país. E o responsável
por essa criança deveria segurá-la melhor!
— A avó dessa criança está neste momento lutando contra os
seus guardas estúpidos, que querem tirar a barraca de flores dela,
conhecida nesta esquina há trinta anos! Ela não tem como proteger
a mercadoria dos abutres reais e ao mesmo tempo segurar o neto!
— Ficou de pé, empinando o queixo. — Por Deus, não houve
danos! Ele está bem. Obrigada, vossa alteza!
Agarrando o menininho no colo, voltou correndo para a
multidão. O cachorro ficou sentado aos meus pés, balançando o
rabo. Peguei-o, ganhando lambidas e a multidão ofegou com a
minha aproximação. A mulher loira, bonita, de olhos
impressionantes, me parecia familiar, mas eu não podia ter certeza
já que, só de olhar para ela, meu coração acelerou. Ela virou-se
novamente, consolando a senhora e o bebê.
— Deixem a barraca aqui e façam o cordão depois dela —
ordenei aos guardas. — Eu sinto muito por todo transtorno, minha
senhora. Estou aqui para servi-la. — Entreguei o cachorro. — Peço
perdão por hoje.
— Oh, alteza! — A senhora parecia chocada por eu estar
falando com ela e secou as lágrimas. — Obrigada.
— Tenham um bom dia. — Afaguei a cabeça do menino e olhei
para a mulher. — Inclusive, você também.
— Ora seu… — ela grunhiu e dei as costas.
— Comprem todas as flores — cochichei com meu secretário,
que assistia toda a cena, divertido. Ele disfarçou a risada com uma
tosse, afinal, era raro uma mulher me enfrentar.
Voltei para o meu cavalo, ouvindo minha irmã bater palminhas
atrás de mim.
— Gostei dela. Bonita, furiosa e não tirou a calcinha para você
— falou baixo, sem mover os lábios para que ninguém entendesse.
Olhei-a sobre meus ombros, acariciei a cabeça de seu cavalo e sorri
de maneira doce. Ethan manteve a expressão séria, olhando para a
frente, mas os olhos denunciavam o quanto queria rir.
— Cale a boca, Charlotte!
2 | Khloé.
Nova Iorque.
— Oi! Querida! Estamos aqui! — Mamãe acenou no meio do
aeroporto e sorri. Pedir que meus pais fossem discretos quando
estavam com saudade era quase um crime contra a humanidade. O
segurança deixou que meu pai passasse para me ajudar com as
malas, e ele me abraçou apertado antes de tomar o carrinho e
começar a empurrar. — Minha menina!
— Ai, mãe! — gemi com seu abraço mortal. — Eu também te
amo!
— Ah, filha! Um ano sem te ver! Como isso pode ser saudável?
— resmungou, me fazendo rir. — Está linda! Deixe-me olhar para
você! — Tirou meu capuz, querendo analisar meu rosto. — Minha
super modelo famosa. Quem diria que a minha menininha tímida se
tornaria a modelo mais bem paga do mundo?
— Certamente, eu não seria essa pessoa — brinquei e soltei
um bocejo.
— Vamos para casa.
Casa. Era bom estar ali. Mesmo detestando os Estados
Unidos, meu lar e conforto era onde meus pais viviam. Meu refúgio
favorito. Morava em Londres desde o fim do ensino médio, quando
me tornei modelo e saí de casa para me aventurar na profissão mais
louca do mundo. Sair da proteção dos meus pais com apenas
dezessete anos me fez crescer, foi doloroso, mas eu não me
arrependia. Quando adolescente, pensava em ser jornalista, me
tornar uma escritora um dia.
Foi com dezesseis que um coração partido me fez tomar um
rumo. Entre toda perseguição da escola, fui estúpida o suficiente
para cair de amores pelo capitão do time da escola. Ele me fez
acreditar que me amava de volta e não se importava com o que
diziam, quando na verdade, só queria que o ajudasse a passar em
Exatas enquanto apostava com os amigos que tiraria minha
virgindade. Foi um dos piores momentos da minha vida, o meu
estopim para decidir que a América não era o meu lugar.
A irmã caçula da minha mãe era agenciadora de modelos,
então pedi que me transformasse em uma, já que sempre dizia que
eu tinha altura e corpo para estar nas passarelas. Não pensei em
mais nada, só na oportunidade de correr de Nova Iorque o mais
rápido possível. A sensação que eu tinha era que nunca iria superar
aquela dor e a vergonha de ter sido alvo de tantas risadas.
Meus pais ficaram um pouco chateados mas não me
impediram, contanto que eu conciliasse com os estudos. Me formei
em Jornalismo a duras penas, porque tive a sorte de me tornar a
queridinha das marcas em menos de um ano e estourar como um
dos rostos de marca de roupas íntimas. Equilibrar as viagens, as
fotos e as semanas de moda com a Universidade foi um pesadelo,
mas eu havia prometido aos meus pais que teria um diploma.
Quando me formei, decidi continuar em Londres e como
modelo. O dinheiro era muito bom, podia ajudar não só meus pais,
como minha irmã mais velha na criação dos meus sobrinhos. Desde
que o marido dela morreu, estava tentando sustentar a família com
o trabalho de corretora, mas eu sabia que não era simples manter
os filhos na escola, bem alimentados e com um fundo universitário.
Kourtney era muito batalhadora e me orgulhava dela.
Já Kimberly, minha irmã do meio, era um espírito livre. Viveu
em Londres comigo por um tempo, depois foi para a Itália e por fim,
decidiu construir a vida em Rainland, abrindo um bar. O local era
bem badalado e depois de dar muita dor de cabeça aos nossos
pais, ela parecia ter sossegado. Na verdade, eles estavam aliviados
que as três filhas estavam bem na vida.
Minhas irmãs eram as minhas melhores amigas. No meio que
vivia e trabalhava, era difícil encontrar amizades verdadeiras.
Quando se tinha contratos publicitários milionários em jogo, não
existia lealdade.
Pegamos um pouco de trânsito para chegar em casa. Dormi
quase todo o trajeto, ao entrarmos, senti cheiro de frango assado.
Papai preparou alguns cortes com queijo e um tempero de cebola
que eu amava. Era um dos meus pratos favoritos. Tirei o casaco que
usei para me esconder um pouco e lavei as mãos. Sem nenhuma
cerimônia e morrendo de fome, fiz o meu prato.
— Você não comeu no voo? — Papai me serviu com uma taça
de vinho branco.
— Só um pouco. Tentei dormir, mas havia uma senhora
nervosa ao lado e fiquei conversando para acalmá-la. Isso está
delicioso, papai. Esse vinho vai me ajudar a dormir.
— Não se preocupe com nada. Vá descansar. — Ele deu um
tapinha no meu ombro.
Com meu estômago cheio e um pouco induzida pelo álcool,
peguei minhas coisas com meus pais. Mamãe, afobada como
sempre, foi na frente, abrindo as portas e logo desforrando a cama.
Deixei minha mala de mão na poltrona.
— Seu quarto está limpo e organizado. Depois que descansar,
vamos desfazer sua mala. Sabe quanto tempo vai ficar? — Ela
parou na minha frente. Como eu a amava…
— Eu vou visitar a Kim no aniversário dela. Tentarei levar a
Kourtney, mas não sei se será possível. Só se nossos incríveis pais
ficarem com os meninos por uns dias. — Esfreguei seus braços e
ganhei apenas uma risada de volta, não uma resposta concreta.
Eles acabariam tomando conta dos pestinhas, mas gostavam de se
fazer de difíceis.
Sozinha, parei para perceber as sutis mudanças que eles
haviam feito enquanto estive fora. Ainda tinha as mesmas cores e
decoração de quando fui embora, mas não parecia mais um quarto
de adolescente, sem meus livros de fantasia, as notas coloridas
espalhadas na mesa de estudo e meu material escolar. O ursinho
que ganhei quando bebê e as almofadas coloridas ainda ficavam na
cama, que passou a ser de casal.
De tanto que chorei no outro colchão, as molas devem ter
aprendido a nadar nas minhas lágrimas. Eu vivia abraçada com o
travesseiro, me debulhando e sofrendo. Minha adolescência,
definitivamente, não foi memorável. Na faculdade, fiz poucos
amigos, sempre estava ocupada, não tinha tempo para fazer
amizades e me importar com o que pensavam. O mundo cruel da
moda me deu uma casca grossa, me ensinou a me defender e
moldou minha personalidade no ferro.
Sabia quem eu era. Era segura, dona da minha vida e apesar
de ter doído muito, meu crescimento me levou diretamente para
uma fase gostosa. Tinha meu apartamento, um bom carro, viajava o
mundo e experimentei várias culinárias. Aquela cama não
encontraria mais as minhas lágrimas.
Deitei para dormir e tive vários sonhos esquisitos, chegando a
pular no colchão como se estivesse caindo. Por dois dias, tive
dificuldade de me adequar aos horários, sofrendo com o jet-lag.
Papai foi bastante paciente com minhas cabeçadas de sono no café
e a energia de sobra no jantar. Mamãe tentou me acompanhar e
ficou cansada.
— Eu cheguei! — Kourtney gritou da cozinha no terceiro dia. —
Finalmente acordada, senhorita? — Se jogou em mim e quase caí
da cadeira. Os meninos foram correndo para minha mãe, pedindo
beijo e abraço. — Venham falar com a tia Koko!
— Ainda me sinto sonolenta, mas bem. Que saudade, irmã! —
Abracei-a de volta, apertado. Meus sobrinhos tinham cinco e três
anos, ambos uma misturinha perfeita da minha mãe.
— Zac! Você cresceu tanto, meu amor! — Peguei o menor no
colo. Ele riu e beijou minha bochecha. — Vem aqui, Jimmy. —
Estendi o braço para o outro. — Perdi tanto de vocês! Eram tão
bebês na última vez que senti esses cheirinhos gostosos!
— Quem diria que minha irmãzinha ia estampar os outdoors da
quinta avenida? Eu sempre grito: olha lá, é a minha irmã! — Kourt
sorriu, orgulhosa. Minha família era o meu principal fã-clube.
Conheci pessoas frias e que não se importavam com o outro. Meus
pais sempre foram acolhedores, do tipo que apoiavam tudo.
Mamãe era minha melhor amiga. Ela nos incentivava a sermos
melhores e com toda a zoação que sofri na escola, durante o
bullying que lentamente comeu minha confiança e autoestima,
nunca me desamparou. Não deve ter sido fácil me ver sofrer e se
manter forte.
Ficar em casa me deixou renovada. Comida de mãe, colo do
pai, mimo da irmã e brincando todos os dias com meus sobrinhos.
Depois de uma semana, Kourt e eu embarcamos para Rainland.
Estava empolgada por ter um longo tempo de folga em um lugar
tranquilo, mesmo que Kim vivesse em uma agitação, acreditando
que a vida era uma festa. Ela morava em um bairro calmo,
arborizado, com vizinhança antiga e muitos jardins floridos.
Rainland era um dos países mais lindos do mundo. A
arquitetura, as árvores, flores, as cidades nas pontas da ilha eram
tão belas que nem pareciam reais. Era a primeira vez que Kourt
viajava sem os meninos, não namorou ninguém depois do
falecimento do marido e não parecia pronta. Eu entendia. Eles
tiveram um amor adolescente avassalador e nunca se separaram.
Ele era bombeiro e sofreu as consequências de um incêndio.
Pousamos com tranquilidade. Kim estava ocupada no
reabastecimento do bar e por isso, pegamos um táxi no aeroporto.
Kourt ficou olhando pela janela, admirando tudo e ao mesmo tempo,
mordendo o lábio.
— Está nervosa? — Segurei sua mão e apertei.
— Não estar no modo mãe é muito esquisito. Tem algumas
horas que ninguém está me chamando, pedindo alguma coisa ou
meu chefe me ligando, dizendo que não podemos perder tal cliente
incrível. — Ela riu, demonstrando ansiedade. — Acho que vou levar
uns dias para relaxar.
— Vamos nos divertir. É a primeira vez que nos reunimos
desde que Zac nasceu. Está na hora de ativarmos a bagunça das
irmãs Green.
Kourt ergueu a mão e eu bati, pronta para festejar muito na
companhia de mulheres que me amavam de verdade.
3 | Khloé
Todo mundo brincava sobre os nossos nomes, por serem
parecidos com a escolha de uma matriarca de uma família muito
famosa de reality shows, mas mamãe sequer as conhecia até o dia
em que mostramos. Ela escolheu nossos nomes quando conheceu
meu pai. Fizeram uma lista de nomes de meninas e outra de
meninos, com dois meses de namoro.
Seria impossível encontrar um amor tão certo quanto o dos
meus pais. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e a sorte
das irmãs Green não parecia muito boa quando o assunto era
homens. Apesar da minha independência na vida, eu era um pouco
retraída sobre o sexo masculino de modo geral. Tive poucas
oportunidades de me relacionar e nunca tive o real interesse de me
envolver, porque era difícil encontrar alguém que aceitasse minha
vida louca.
Ser modelo não duraria para sempre. Estava aproveitando
enquanto ainda era jovem, com o rosto sem retoques de botox e o
corpo em dia. Tinha o padrão certo, quase saindo do peso ideal
porque não era mais tão magra, apenas servia na modelagem e
mantinha meu corpo com os músculos trabalhados para ficar dentro
do que exigiam. Embora eu não concordasse com a pressão
estética, sabia que não ganharia tanto dinheiro fazendo outra coisa.
Sempre quis me sentir bonita, para curar o buraco que abriram
zoando minha aparência. Estar nas passarelas por muito tempo foi
como um afago ao meu ego que precisava de muita terapia. Eu
busquei me tratar, claro. Mas ainda precisava do dinheiro, seguindo
meu plano de carreira financeiro para poder me dedicar a outros
projetos em um futuro não tão distante.
Kimberly estava em cima de um freezer industrial quando
chegamos. Kourt e eu soltamos as malas e gritamos, dando um
abraço de irmãs.
— Minhas favoritas acabaram de chegar! — Ela gesticulou
para as garçonetes. — Olha só, gente! Minhas irmãs! Ai, meu Deus!
Nem acredito que estamos juntas novamente!
— Uau! O que fez com o seu cabelo? — Kourt segurou as
pontas, maravilhada.
— As mechas coloridas ficam incríveis na luz negra e chamam
a atenção dos clientes à noite!
Quando ela comprou o bar, morou por um tempo no
apartamento de cima, mas ele se tornou um local de descanso,
escritório e a outra parte, um depósito. Nós deixamos nossas coisas
ali enquanto ela precisava organizar tudo para a noite. Kourt e eu
acabamos sentadas no bar, bebendo drinques que estavam sendo
testados para o novo menu, comendo salgadinhos industrializados e
falando alto. Kim aparecia de tempos em tempos, prometendo que
nos daria atenção logo que se livrasse de alguns fornecedores.
— Você viu aqueles homens lá fora? — Kourt arregalou os
olhos e eu girei no banquinho, com meu canudinho na boca. Hum…
nossa. Simplesmente… uau! — Esse país produz homem gostoso
em massa?
— São os guardas reais. Alguns só ficam bonitos de uniforme,
mas tem outros que são uma delícia — a garçonete perto de nós
comentou. — Estão fechando as ruas para o torneio nacional. A
parte principal é aqui, na capital, mas os jogos são espalhados pelo
país. Acontece a cada dois anos. É de muita importância, porém, é
chato. Eles fazem verificações de segurança nos estabelecimentos
e tiram as vendinhas locais.
— Vamos assistir, certo? — Kourt me cutucou com um pouco
mais de força que o usual, derramando meu drinque e eu ri. —
Preciso parar antes que comece a passar vergonha.
— Só vou segurar seu cabelo e filmar para quando seus filhos
estiverem adolescentes, descobrirem que a mamãe não sabe beber.
— Ergui meu telefone e tirei uma foto. Ela estava com o cabelo
castanho claro para todo lado, as sobrancelhas bagunçadas e a
roupa torta.
— Eu sabia. Eles me fizeram desacostumar. Ficaram
pendurados nos meus peitos por anos. — Revirou os olhos. —
Quando for mãe, vai entender.
— Vai ser difícil engravidar por aqui. Para isso, precisa de sexo
e eu não faço um satisfatório desde a faculdade. Não consegui sair
com muitos depois que me formei. Um encontro chegou até os
amassos e outro foi beijo na porta. — Soltei um suspiro,
decepcionada com a minha vida amorosa fracassada. — Eu esqueci
de ligar para os dois. Até mandaram mensagem, mas estava
ocupada com as fotos e viajando.
— Sua carreira está no auge, o mundo te conhecendo, talvez
não seja o momento.
— Não quero ser modelo para sempre. Quero ter um nome, me
estabelecer como alguém confiável e formadora de opinião antes de
fazer essa transição de carreira. Até lá, vou juntando dinheiro. —
Dei de ombros, deixando meu copo vazio em cima do balcão. —
Evito pensar em homens e no amor de modo geral, ou me sinto
frustrada por nunca conseguir ir além. Ainda me sinto como a garota
idiota que teve o coração partido e nunca mais conseguiu se
recuperar — falei e parei, dando um estalo com a língua. Kourt
perdeu o marido e eu choramingando por um idiota que me magoou
no ensino médio. — Desculpe.
— Ei, pare. Sabe que não tem nada a ver. Sua dor não é
menos importante que a minha. John morreu, a morte dele me
machucou muito, mas ele sempre foi incrível comigo. — Ela mudou
de posição para ficarmos frente a frente. — Sei que está olhando
por mim e quer que eu seja feliz, mas com filhos, minha prioridade
sempre será a felicidade dos dois. Não consigo pensar em outro
homem na minha casa, fazendo parte da minha rotina. Está tão bom
ficar sozinha com os meninos, deito na cama e é tudo para mim. Eu
fico desarrumada, exercendo meu direito de ser feia em casa sem
julgamentos. Sem estar preocupada em manter a chama acesa. —
Kourt me deu um sorriso tranquilo. — Existe um lado bom em estar
sozinha, passamos muito tempo procurando o que nos completa no
outro, presas às regras de relacionamento e lidando com as
diferenças na convivência. Está tudo bem escolher ficar solteira.
Não quer dizer que está encalhada.
— Um brinde a isso. — Batemos nossos copos, mas eu comi
uma pedra de gelo, porque não tinha mais nada para beber.
Kim terminou o trabalho e nos resgatou antes de ficarmos
completamente bêbadas. Compramos comida tailandesa no
caminho de casa e Kourt ficou encantada com o quanto o lugar era
fofo, algo que não combinava com a personalidade maluca da nossa
irmã, mas ela tinha um lado doce em seu coração que não gostava
muito de exibir.
Comemos no chão, conversamos até o meio da madrugada e
nos reconectamos pessoalmente. Sempre fazíamos chamadas de
vídeo. Elas aguentavam meus horários malucos, minhas
mensagens durante voos ou enquanto tinha uma pausa para comer.
Minhas irmãs sempre estavam dispostas a nunca me fazer sentir
solidão.
********
— Acordem! É o dia do desfile! — Kim gritou na manhã
seguinte. — Vamos, senhoras!
Descobri minha cabeça, com os olhos ardendo. Kourt virou
para o outro lado, se escondendo e resmungou sobre precisar de
mais cinco minutos. Kim sempre teve mais energia que todas nós
juntas. Ela acordava cedo para malhar desde os quinze anos. Que
adolescente quer estar na academia antes de ir para a escola?
Puxando nossas cobertas e reproduzindo um som de corneta
no telefone, conseguiu nos fazer levantar. As ruas estavam cheias
quando saímos, só conseguimos estacionar nos fundos do bar, que
já estava aberto para atender a população.
— O que está havendo ali? — Kim questionou ao seu
segurança.
— Não sabíamos que a sra. Murphy não pediu a licença
especial para vender hoje. Ela está sendo impedida de colocar as
flores na calçada porque o local se tornou rota — ele explicou e
olhei para a senhora nervosa, segurando um menininho que não
deveria ter mais de três anos.
— E eles vão levar as mercadorias dela? — perguntei,
chocada.
— Se está operando ilegalmente, não tem muito o que fazer —
Kim lamentou. — Vou tentar conversar com os guardas.
— A comissão real está a um minuto daqui. — Kourt olhou em
seu telefone. Ela baixou um aplicativo para acompanhar tudo, já que
Kim queria que a experiência fosse completa.
— Já volto — avisei e segui Kim.
Nós tentamos argumentar com os guardas. O desespero da
mulher me fez até oferecer pagar a licença, para que ela pudesse
vender as flores.
— Por que eles são tão irredutíveis?
— Aqui não é um país democrático. — Kim me alertou
suavemente.
Merda. Eu estava acostumada com a diplomacia, não com a
monarquia absolutista. Moderei meu tom de voz e tentei usar o meu
dom da comunicação para levantar argumentos de que não custava
porra nenhuma liberarem uma licença para uma senhora. Que mal
ela faria com flores? Agrediria a família real com espinhos?
A multidão começou a gritar e bater palmas, ouvi o som dos
cavalos e virei para olhar. O cachorrinho que estava com eles se
agitou, latindo e balançando o rabo. Ele era pequeno e fofo, mas era
melhor que calasse a boca ou um dos guardas iria levá-lo, também.
De repente, a senhora gritou que o menino havia corrido. Foi muito
rápido. Em um segundo, vi a cabecinha do garoto entre os vasos de
plantas e no outro, ele estava atravessando a pista na frente do
cavalo.
Sem pensar, corri atrás. Agarrei a criança e tentei pegar o
cachorro, temendo que o cavalo me acertasse, mas uma poderosa
voz de comando o parou antes de um acidente fatal. Meu coração
batia muito forte no peito. Virei e me deparei com um belo par de
olhos impressionantes, cabelo loiro bem arrumado, sorriso de tirar o
fôlego, tudo isso em um uniforme real, como dos filmes de
princesas.
Eu quase fiquei sem reação. Quase. Ele era lindo e me tirou o
fôlego, perdi um pouco o rumo dos meus pensamentos e criei
milhares de fantasias. No entanto, o garotinho chorando ao meu
lado quebrou a nuvem encantadora que me rodeou.
— Vocês estão bem? — ele questionou numa voz…
Aquele homem podia falar o dia inteiro que pessoas
desmaiariam de prazer.
Como poderia perguntar se estávamos bem?
— Seu cavalo poderia ter esmagado esse bebê!
Ele pareceu perturbado e surpreso.
— Sinto muito, mas isso aqui é um evento real. Caso esteja
perdida, hoje é um dia importante para esse país. E o responsável
por essa criança deveria segurá-la melhor!
O quê?
— A avó dessa criança está neste momento lutando contra os
seus guardas estúpidos, que querem tirar a barraca de flores dela,
conhecida nesta esquina há trinta anos! Ela não tem como proteger
a mercadoria dos abutres reais e ao mesmo tempo segurar o neto!
— Levantei-me, empinando o queixo. — Por Deus, não houve
danos! Ele está bem. Obrigada, vossa alteza!
Furiosa, peguei o menino e voltei para a calçada. Para minha
surpresa, o príncipe se aproximou segurando o cachorro sujo de
terra, nós nos pelos e a língua para fora, portando um sorriso
diplomático. Pediu desculpas, me desmontando por completo e
ainda ordenou que os guardas deixassem a banca de flores na
calçada. Ele virou para todos com uma pose perfeita e me desejou
um bom dia, saindo de maneira elegante.
Meu sangue estava fervendo e mal sabia o motivo, apenas que
ele havia mexido tanto comigo que não conseguia me controlar.
Minha irmã me segurou, quase implorando em cantoria que
desacatar um membro da família real era crime no país. Cruzei
meus braços, indignada e o observei partir como se nada tivesse
acontecido.
LEONARD, PRÍNCIPE REGENTE DE RAINLAND
Está na cidade para eventos organizados por ONG.
Leonard é o herdeiro do trono de Rainland e sabe como ser
diplomático, mantendo a excelente boa relação entre os países. Nos
próximos dias, veremos o príncipe conciliando sua agenda como
regente e ao mesmo tempo, sendo um apoiador do trabalho de
caridade que a irmã mantém na cidade.
The Sunrise
4 | Leonard.
Londres.
— Ei, Grey — chamei meu secretário. — Sabe dizer se em
algum momento poderei respirar sem ter um próximo compromisso
urgente? Está com raiva de mim? — questionei ao olhar minha
agenda. — Eu mal terei uma hora para almoçar!
— Muito tempo para comer é superestimado — ele brincou,
pegando as folhas da minha mão. — Otimizei os compromissos
para que possa ter um dia de folga. Imaginei que gostaria de se
refugiar no campo sem interrupções.
— É por isso que o nosso relacionamento tem durado tanto
tempo. — Uni minhas mãos em agradecimento. Ele riu e ouvimos
uma batida suave na porta, a assistente dele abriu e nos olhou
timidamente. Ela era muito séria e profissional, além de tímida, o
que eu achava engraçado. Trabalhando comigo há cinco anos, já
deveria ter perdido o medo. Allegra informou que o meu próximo
compromisso já estava aguardando na sala de visitas.
A imprensa estaria presente. Era um encontro cordial com o
presidente de uma ONG que tinha sede em Londres, mas atuava
com força em Rainland. O trabalho em conjunto era muito
importante e dado às pesquisas na internet relacionando o país com
as inúmeras doações para caridade, aquele encontro era para
solidificar a união. Entrei na sala depois de ser anunciado,
cumprimentei a todos e me acomodei no lugar marcado.
Alguns jornalistas fizeram perguntas, que foram filmadas para
as postagens nas redes sociais da família real de Rainland.
Peguei alguns folhetos para ler e me deparei com a mulher do
desfile. A loira bonita de tirar o fôlego. Ela estava sorrindo, usando
uma camisa branca e um nariz de palhaço, em uma campanha para
financiar a construção de um hospital infantil. A imagem me fez
perder um pouco de tempo, me deixando intrigado. Voltei ao
assunto um pouco perdido mas rapidamente me inteirei, deixando a
folha de lado ou nunca mais conseguiria voltar a fazer meu trabalho.
Assim que o evento terminou, retornei para o meu escritório e
preparei uma bebida enquanto aguardava o almoço, me sentindo
desconcentrado. Abri um pouco a cortina clara, olhei para a rua, a
praça e do outro lado, notei que havia um outdoor eletrônico
passando diversos comerciais, inclusive um de roupas íntimas. A
primeira era de Catherine, tirei uma foto e mandei para Louis. Ele
respondeu quase que imediatamente com uma risada e disse que
ela estava em todo lugar com aquelas roupas.
A foto seguinte, era dela.
Parei para absorver a beleza da mulher. Então quer dizer que a
furiosa do desfile era modelo? Eu não a vi novamente, mas não
deixei de pensar nela. Seus olhos incríveis e a boca tentadora só
podiam ser os motivos pelos quais ainda estava na minha mente,
fora o fato de que, de repente, ela estava em todo lugar. Não sabia
seu nome, apenas que era muito bonita e havia mexido comigo.
Alguns dias depois, usei um dos carros mais discretos para
fazer minha fuga da madrugada. Não tinha uma residência não
oficial em Londres, por nunca ter encontrado uma real necessidade.
Antes da minha irmã ter uma casa enorme com várias alas, alugava
um apartamento. Estacionei na garagem, tirei minha pequena mala
e entrei.
Eles já estavam dormindo e evitei as áreas que costumavam
ficar, seguindo para o quarto que minha irmã separava para mim
com muito carinho. Não dormi muito tempo, antes de amanhecer,
deixei a casa e caminhei pelo campo, observando as cercas novas
que Ethan tanto se orgulhava e o celeiro reformado para os cavalos
da propriedade.
Eu nunca poderia viver muito tempo longe do palácio. Nem
eles viviam, para falar a verdade. Quando estavam em Londres, era
por causa do trabalho na empresa de Ethan, que apesar do título de
príncipe, tinha livre direito de produzir renda fora de Rainland, mas
nunca usando o país a seu favor e muito menos as informações
privilegiadas que obtinham. Meu país não fazia parte da carteira de
trabalho dele, que focava exclusivamente na Inglaterra.
Rainland estava enfrentando o que meu pai chamava de "onda
democrática". Parte do parlamento se levantava, com especulações
do tipo "se fôssemos um país democrático…" e assim começava um
burburinho enorme que incomodava. Havia um parlamentar em
específico que parecia odiar minha família a um nível pessoal.
Todos os ataques públicos dele me incomodavam, porque ele
não se atrelava apenas à política monárquica e sim a nós, como
membros. Era como se os problemas políticos do país fossem culpa
de cada integrante da família.
Não havia fome em Rainland. Apesar de sermos um país
capitalista, éramos pequenos comparados a outros e o nosso PIB
era um dos melhores. A monarquia nunca fez com que a população
passasse necessidade em prol dos nossos desejos. Muitos
migraram em busca de um lugar melhor para viver e encontravam
justamente isso.
Ouvi sons de passos e o barulho de uma coleira. Moana trotou
para o meu lado e bufou, se jogando no meu colo como se ainda
fosse pequena. Acariciei seu pelo, dando-lhe um bom dia e ela
bocejou.
— Está cedo demais. Quem te deu a guia para sair?
Charlotte assobiou por tê-la perdido e ergui minha mão, para
mostrar onde estávamos. Moana latiu e saiu correndo. Alguns
minutos depois, minha irmã sentou ao meu lado, envolvida com uma
colcha de pelinhos e pijama.
— Estou feliz com a sua visita.
— Eu vim descansar um pouco antes de voltar para Rainland.
Charlotte bocejou e deitou a cabeça no meu ombro. Moana
corria bem longe e voltava com um galho. Começamos a brincar de
jogar para que pegasse, mas ela nem sempre obedecia, entregando
o galho. Às vezes ela o jogava aos nossos pés e pedia por outro.
— O café deve estar pronto. Estou com fome. — Lottie se
levantou, limpando a bunda. Ela fez uma dancinha engraçada.
— Devo me preparar para alguma pegadinha?
— Não da minha parte. Nunca se sabe quando Ethan vai
revidar alguma coisa que eu fiz.
Felizmente, conseguimos comer sem nada voando ou que as
brincadeiras sem limites deles ferissem alguém. Tirei a tarde para
cavalgar. O sol estava se pondo entre as árvores, ainda iluminando
a estrada o suficiente para continuar meu caminho. Não era uma
rota com muitos passantes, só moradores locais ou frequentadores
da pequena igreja que havia sido reformada recentemente.
Ao fundo, vi um carro conversível cinza escuro encostado.
Parecia abandonado, até que cheguei perto e encontrei uma mulher
tentando trocar o pneu. Ela lutava bravamente contra o macaco,
fazendo força e o equipamento não parecia nem querer se mover.
— Olá? Senhora? — Desmontei do cavalo e me aproximei com
cuidado. Ela se levantou com uma chave de fenda na mão e eu ri ao
reconhecê-la. — Você de novo.
— O que está fazendo aqui? — Tirou o cabelo do rosto,
deixando um rastro de graxa na testa. — Vai dizer que é príncipe
aqui também?
— Não. Minha irmã tem uma propriedade não muito longe
daqui. — Apontei com o polegar para trás. Ela assentiu e voltou a
encarar o pneu furado. — Perdida?
Amarrei o cavalo na cerca e ele ficou arrastando as patas,
insatisfeito por ficar parado.
— Não. Eu vim ver uma casa que está para alugar e meu pneu
furou quando passei em alta velocidade por um buraco. Sorte que
não aconteceu nada além de subir nesse pequeno barranco.
Aproximei-me um pouco mais. Sozinha, tirou o pneu reserva e
todos os equipamentos, espalhou tudo na ordem de uso e ainda
tinha um limpador.
— Posso, senhora?
Ela mordeu o lábio, incerta e exausta.
— Tem certeza? Acho que está emperrado! Ele não se move…
— Irei resolver.
Rapidamente troquei o pneu, com bastante prática. Além de
um curso de mecânica que fiz durante a faculdade, eu costumava
desmontar alguns carros antigos desde novo. Quando adolescente,
era algo que fazia com meu pai e quando queríamos fugir do
mundo, nos escondíamos na garagem e ficávamos horas com
milhares de peças espalhadas entre nós. Nem sempre tínhamos
tempo. Minha vida adulta era muito mais corrida e disputada que a
dele.
Guardei tudo na mala dela.
— Caramba! Você realmente conseguiu! — Ela sorriu,
encantada. — Obrigada, alteza.
— Não precisa agradecer e por favor, me chame de Leonard.
— Estiquei minha mão e vi o quanto estava suja. — Ah… minhas
mãos estão muito sujas.
— As minhas também. — Ela riu e apertou. Seus dedos suaves
contra os meus estavam quentes. — Sou Khloé Green.
— Parece que o destino nos colocou no caminho um do outro.
— Inclinei minha cabeça para o lado, analisando-a cuidadosamente.
Ela usava um short jeans, tênis e uma camiseta larga. Khloé
colocou o cabelo atrás da orelha, com um sorriso tímido e lambeu o
lábio inferior.
— Talvez seja um empurrãozinho para que possa te pedir
desculpas pelo meu comportamento terrível. Estava muito chateada
com o fato daquela senhora não poder vender as flores e acabei
descontando em você. Sinto muito por ter sido tão rude. — Enfiou
as mãos nos bolsos, mudando de lugar, tímida sobre estar na minha
frente.
— Descontou na pessoa certa. Acredito que naquele momento,
eu era o único que podia resolver a questão. Além do mais, foi um
momento atípico.
— Sorte que a imprensa apenas noticiou sobre o garotinho.
— Vocês foram abordados? — Ergui meu olhar de sua boca
carnuda e parei em seus olhos. — A imprensa pode ser muito
desagradável.
— Eu, não. Acabei me escondendo e não apareci mais, sei que
a senhora foi e ela contou sobre sua gentileza em comprar todas as
flores. Obrigada por isso, afinal, foi importante para todos. — Khloé
riu. Sua risada era melodiosa e única. — Está ficando tarde e eu
preciso chegar à cabana antes do anoitecer. Obrigada mais uma
vez.
Abri a porta do motorista e fiz um gesto para que entrasse. Ela
me olhou com diversão antes de passar por mim. Ah, que perfume!
Fechei meus olhos, encantado com o cheiro. Antes de sair, ergueu a
capota, acenou com uma piscadinha e disparou pela estrada em
alta velocidade, levantando um monte de poeira. Peguei meu cavalo
para voltar para propriedade, quando reparei que ela estava
retornando.
Encostei na cerca, esperando.
Com o braço delicado para fora do carro, ela esticou seu
cartão, mordendo a boca de um jeito traquina. Peguei o pedaço de
papel e sem falar nem uma palavra, ela manobrou e voltou ao seu
destino. Observei seu número de telefone, e-mail e o nome escrito
de maneira elegante com o website abaixo. Montei no meu cavalo
novamente e trotei de volta para a residência da minha irmã,
pensando que talvez, meu tempo de descanso ali em Londres
pudesse ser mais agradável com companhia.
5 | Khloé.
Londres.
Eu não podia acreditar que entreguei o meu número de
telefone para um príncipe. Era maluquice acreditar que ele poderia
me ligar. Sua expressão divertida foi reflexo do meu movimento
maluco com o carro, não necessariamente por achar incrível minha
performance em lhe entregar meu telefone. Nunca fui do tipo de
chegar em um homem e mostrar que estava interessada.
Quer dizer, eu não tinha completamente certeza de que queria
alguma coisa.
Ele era atraente, educado, foi extremamente gentil nas duas
vezes em que nos encontramos, até mesmo quando fui uma cadela
furiosa. Leonard era um príncipe herdeiro, alguém totalmente fora
do meu ambiente, mas como meu pai sempre me dizia, um raio não
cai duas vezes no mesmo lugar, então, aquela era a minha
oportunidade de arriscar. Podia ser só um encontro divertido e nada
mais. Nós dois não tínhamos tempo para nada além de um jantar.
Imaginava que vivesse uma agenda muito corrida.
Cheguei até a cabana e era realmente agradável por fora,
parecia valer a pena o preço que estavam cobrando para o aluguel.
Eu estava buscando um refúgio fora da cidade e um amigo
costumava usá-la quando precisava fugir da loucura. Marc acenou
da entrada, ele era um dos fotógrafos mais requisitados da Europa e
nós nos dávamos bem desde o primeiro ensaio que fizemos juntos,
alguns anos antes.
— Você se perdeu?
— Meu pneu furou. Problema resolvido, desculpe o atraso.
Devem estar morrendo de fome, certo? — Saí do carro e peguei
minha mala e bolsa de mão no banco de trás.
Ele me ajudou com a mala mais pesada.
— Um pouco. Não íamos comer sem você.
— Íamos? Plural? Ele está aqui?
— Seja legal — Marc implorou baixinho.
Na cozinha, havia outro homem bonito e fomos apresentados.
Ele também era fotógrafo e o novo amigo mais íntimo de Marc. Seu
nome era Frank[3] e bastou cinco minutos para começarmos a
tagarelar sem nenhum freio. Adorei-o, encantada com o bom humor
e carisma dele. Trabalhava com uma modelo em ascensão, que
estava conquistando muito espaço na mídia e nas redes sociais. Ela
não trabalhava nas passarelas como eu, mas andava bem
requisitada.
— No dia em que conseguirmos unir Khloé e Catherine no
mesmo ensaio, a internet vai parar — Frank brincou com a taça de
vinho. Nós compartilhamos o delicioso espaguete com frutos do mar
no balcão, sem nos importarmos em sentar à mesa.
— Eu não a conheço completamente, sei que participamos da
mesma campanha, mas não tirei fotos com ela. Meu ensaio foi na
Austrália. Foi um encaixe na minha agenda — comentei, sentindo os
efeitos do vinho. — Estou exausta, senhores. Ainda vão ficar
bebendo?
Eles trocaram um olhar e riram.
— Bem, eu vou para a cama. Pode dizer ao corretor que irei
ficar com a casa — avisei, subindo a escada. Marc e Frank não
estavam mais prestando atenção em mim e era o melhor momento
para deixar os pombinhos em paz.
A cama do quarto principal era macia, deliciosa, um banho
quente e o conforto dela foram o necessário para me fazer dormir
feito uma princesa. Acordei sem ajuda de um despertador. Os sons
do campo e os pássaros eram confortáveis. Provavelmente
enlouqueceria morando ali de modo permanente, eu era uma garota
da cidade, amava as facilidades de um delivery a qualquer horário e
ter tudo por perto. No entanto, nem tudo eram flores.
Engarrafamento e os barulhos comuns estavam atenuando
meu estresse. Eu tinha pouco tempo em casa, não conseguir dormir
estava afetando meu apetite e rotina de treino. Uma modelo com
olheiras profundas não ficava bem em nenhum ensaio, mesmo com
retoques. Iria aproveitar minhas férias ali, sem me ausentar do país,
estando perto para qualquer trabalho rápido no centro e longe o
suficiente para respirar o ar limpo.
Troquei de roupa para tomar café e caminhar pelas
redondezas.
Marc e Frank ainda dormiam, deixei comida para eles e com o
friozinho da manhã, caminhei. Recebi um alerta de uma mensagem,
abri e era um número não identificado.
“Bom dia, Khloé. Achei que seria pertinente salvar meu
número. Leonard”.
Enquanto caminhava, respondi seu bom dia e informei que o
número estava seguramente salvo em meu telefone. Dois minutos
depois, recebi uma foto de um campo com um cachorro que parecia
ser da raça labrador ao fundo, com um galho na boca. Virei minha
câmera para a mesma direção das montanhas e fotografei também.
“Acho que isso é outro sinal para nos encontrarmos”.
Parei em uma cerca e encostei, tomando um pouco de sol
matinal. Abri meu casaco, olhando para o alto e pensei em uma
resposta evasiva que não soasse como uma negativa. Não queria
parecer afoita demais para dizer sim, até porque, não estava. Entre
querer e estar desesperada, havia um abismo enorme.
“É impressionante o quanto estamos sendo bombardeados por
sinais”.
Leonard mandou uma carinha rindo.
“Não devemos ignorar os sinais. Jantar amanhã à noite?”
Refleti sobre a loucura de sermos vistos em público em um
primeiro encontro. Seria desesperador e um tanto invasivo. Propus
jantarmos na minha cabana e deixei claro que era apenas pela
privacidade. Ele concordou prontamente, até seria melhor do que
irmos para a cidade, podendo ser vistos por qualquer um e as fotos
pararem nas redes sociais em um piscar de olhos.
A exposição podia se tornar um problema sem controle.
Combinamos um horário e simplesmente não paramos de nos
falar mais. Eu pensei que a conversa ficaria completamente
enfadonha, mas ele era inteligente, sempre com boas tiradas, capaz
de propor um assunto diverso, sem ser íntimo e ainda manter minha
atenção, que normalmente, desviava muito rápido por qualquer
coisa.
Voltei da minha caminhada, encontrando o casal de pombinhos
na maior diversão na cozinha. Eles iriam embora no final da tarde,
para me deixar sozinha com minhas férias. Provavelmente também
queriam ficar sozinhos em um ambiente romântico e mais privado,
sem uma amiga por perto a qualquer momento.
Conheci uma senhora que morava em uma casa não muito
distante. Ela vendia legumes e folhas frescas da própria horta, os
tomates pareciam deliciosos e gastei quase todo o dinheiro trocado
que tinha comigo em uma única conversa. Se ficasse ali mais um
pouco, a velha mulher me faria comprar sua casa e carro. Tinha
uma boa lábia, mas não era páreo para Frank.
— Tem certeza que não querem ficar aqui? Eu posso voltar
outro dia — ofereci aos dois.
— Temos outro lugar para ir. — Frank me abraçou. —
Descanse e aproveite bastante.
— Sabe o que significa férias, certo? Nada de ficar
respondendo os e-mails da agência, querendo conferir a locação de
fotografias ou pedindo para acertar detalhes em contratos. Férias é
para descansar, deixe que sua equipe cuide de tudo. — Marc me
deu um beijo barulhento na bochecha e saiu com Frank. Eles
combinavam. Esperava que dessem certo. — Te amo, querida!
Acenei, até que o carro sumiu na estrada. Algumas crianças
passaram correndo com uns cachorros e eu fui para os fundos,
sentar na grama e pensar no que prepararia para meu almoço. Uma
salada era certo. Havia tantas folhas que era preciso comer antes
que estragasse. Coloquei um biquíni e deitei no sol, não havia uma
piscina por perto e não era necessário, porque só queria me
bronzear um pouco.
Meu telefone vibrou algumas vezes, tentei ignorar, mas não
consegui. Li as mensagens das minhas irmãs e conversamos por
um tempo. Meus pais enviaram fotos de um cordeiro que estavam
marinando para um jantar com amigos e tinha uma não lida de
Leonard. Ele respondeu minha opinião engraçadinha sobre os filmes
de Star Wars. Pela maneira que defendeu, cutuquei um fã.
Apaguei a tela e me olhei no reflexo, suada e com os cabelos
para o alto, exercendo meu raro direito de não estar arrumada a
todo momento. Meu cabelo estava loiro, mas em sua maior parte,
era descolorante. Eu tinha uma raiz clara, mas eram castanhos cor
de água de salsicha naturalmente. Depois que fiz a cirurgia nos
olhos, não precisei mais dos óculos fundo de garrafa, já o aparelho
dentário, saiu no primeiro ano da universidade.
Sempre fui bonita, o problema da distorção de imagem é
simplesmente esse: você não é capaz de enxergar sua beleza.
Levei muitos anos na terapia para conseguir me ver como a mulher
bonita que diziam que eu era. Ainda me sentia uma adolescente
odiada. Meu corpo não era mais tão magro, ganhei peito o suficiente
para agarrar e uma bundinha agradável. Para quem não tinha nada,
meus glúteos redondos eram perfeitos.
Fiz as pazes comigo mesma. Foi difícil aceitar que aquele era o
meu corpo. Melhorei malhando, mas muita coisa foi cuidando da
minha mente e aceitando que nunca seria como as cantoras, com
curvas generosas nos lugares certos. Era alta e a maioria dos
homens não gostava de mulheres que não pudessem abraçar e
sentir o quanto poderiam ser protetores.
Com vinte e cinco, não tive nenhum namorado. Saí algumas
vezes, fui a encontros, a maioria organizados às cegas, e decidi,
pelo desastre da última vez, que nunca mais permitiria que um
estranho esquisito sentasse à minha frente para falar apenas de si
mesmo e esperar que eu ficasse babando pelos seus feitos
impressionantes na política. Definitivamente, foi uma tortura.
Naquela fatídica noite, liguei para minhas irmãs e tia, quase gritando
e querendo lavar meu cérebro.
Tirei uma foto, sem filtro, sem edições e postei nas redes
sociais. Meu gerente de carreira era obcecado pela minha imagem e
ficava maluco quando eu aparecia sem maquiagem e com os
cabelos naturais. Glenn queria que meu perfil fosse um portfólio,
uma extensão do meu trabalho sem falhas, mas eu queria passar
um pouco de humanidade ali. Era mais do que uma vitrine.
Abri meu aplicativo de música, selecionando minha lista de
reprodução favorita dos anos noventa e junto aos Backstreet Boys,
expulsei alguns pássaros de perto com a minha cantoria.
6 | Khloé.
Acordei assustada com o barulho de um caminhão e ergui o
rosto da cama. O quarto estava escuro, mas já era dia há muito
tempo lá fora. Quase hora do almoço. Com preguiça, me arrumei,
preparei uns ovos e olhei a geladeira praticamente vazia, pensando
no que poderia cozinhar para meu jantar de encontro mais tarde.
O tempo havia mudado completamente. O sol estava
escondido pelas nuvens densas, prenúncio de que iria chover, o
vento estava frio. Clima perfeito para um jantar romântico com a
lareira acesa, bom vinho e talvez massa. Organizei minha bolsa e
saí, me orientando pelas estradas até o mercado mais próximo. Ali
não parecia ser o típico lugar que as pessoas me reconheceriam,
mas eu optei por manter meu capuz levantado.
Peguei meu telefone e enviei uma mensagem para Leonard.
“O que acha de massa mais tarde?”
Ele respondeu.
“Acho incrível. Você fica linda de verde”.
Olhei ao redor e não o vi.
“Anda me perseguindo? Como sabe que estou de verde?”
Ele digitou.
“Olhe para a esquerda”
Virei meu rosto discretamente e o vi na sessão de vinhos,
segurando uma garrafa e com um carrinho vazio ao lado. Ele sorriu
e piscou, escondido com um casaco cinza escuro e óculos, tão
discreto que passava despercebido entre as prateleiras. Apesar do
local estar praticamente vazio, nós não podíamos nos aproximar.
Ainda de longe, mostrou a orelha com fones e eu peguei o meu,
colocando.
O nome dele apareceu na tela segundos depois.
— Olá! O que está fazendo aqui?
— Eu vim comprar vinho porque tenho um jantar com uma bela
dama essa noite. Seria pertinente saber se teríamos peixe ou carne,
estava quase ligando quando a mesma passou por mim.
— Bela dama? É uma maneira muito doce de se referir ao seu
encontro de hoje.
— Estaria sendo muito raso e leviano se apenas me referisse a
ela como um simples encontro. — Ele soou divertido e ergui meu
rosto. — Peixe ou carne?
— Eu não sei ainda. Alguma restrição alimentar? Estive
pensando em algum tipo de massa, carne assada e um molho bem
caprichado que dê até para comer com pão — falei enquanto olhava
as caixas de macarrão disponíveis na fileira.
— Sou um membro da realeza. Existem muitos alimentos que,
oficialmente, eu não posso comer, mas extra oficialmente, sou do
tipo que come o que estiver no meu prato. — Ele riu suavemente e
mostrou um vinho que adorava. Ergui meu polegar.
— Algo contra alho? Sou adepta a um bom pão de alho
acompanhando comida italiana. — Peguei alguns itens necessários
da receita e coloquei no carrinho.
— Falando assim, me faz ficar ainda mais ansioso para mais
tarde. Estou com fome agora.
— E a sobremesa? — Parei em frente a uma fileira repleta de
opções para cozinhar mais tarde. — Mousse ou torta?
— Gosto de qualquer coisa que tenha chocolate.
— Você é fã de chocolate?
— É o meu doce favorito. Esse azul na sua frente, derretido
com algumas frutas, é delicioso. Deixe essa parte comigo, talvez
possa te surpreender.
— Tudo bem. Jantar comigo, vinho e sobremesa com você. Te
espero às seis?
— Estarei lá em ponto. Não sou do tipo que se atrasa.
— Que bom. Eu adoro pontualidade.
Trocamos um olhar e eu sorri. Ele foi em direção a um caixa e
eu para outro. Evitamos contato visual, falando pouco no telefone e
só nos despedimos quando guardei tudo no carro. Ele estava com
um sedan preto, os vidros tão escuros que não era possível ver
muita coisa. Seguimos para lados opostos e quanto mais perto
chegava da cabana, mais ansiosa ficava.
Por questões de segurança, contei às minhas irmãs onde
estava e que teria um encontro com um homem. Não disse quem
era. Elas iriam surtar. Aguentei os sermões sobre estar me
arriscando sozinha com um desconhecido, mas só queria que
soubessem minha localização caso alguma coisa não fosse como o
esperado. Ele era um príncipe, mas era um homem que eu não
conhecia.
Lavei meu cabelo, escovei, me hidratei e ri das mensagens das
minhas irmãs mandando vídeos de mulheres batendo a gilete na
parede durante o banho. Tão idiotas. Eu tirei a maior parte dos pelos
do meu corpo em sessões a laser porque facilitava muito no
trabalho. Fiz uma maquiagem leve, iluminando algumas partes do
rosto, caprichando no tom saudável nas bochechas e um gloss não
muito melequento na boca.
Sem estar preparada para um encontro, usei o único vestido
que tinha. Era o meu preto básico para tudo, que combinava com
saltos e sapatos baixos, ficava perfeito com botas e tênis. Era até o
meio das coxas, com um pequeno lascado e um decote singelo,
bom o suficiente para olhar, mas sem estar completamente vulgar.
Escolhi ficar descalça, coloquei meu colar com um pingente de
gota, que brilhava entre meus seios, argolas médias e um relógio
delicado. Consegui conectar meu celular no sistema de som da
cabana e separei algumas toras bonitas apenas para decorar perto
da lareira, porque era elétrica. Arrumei a sala, coloquei o vaso com
flores frescas na mesa e deixei a cozinha impecável.
Minhas mãos suavam quando deu a hora. Estava tudo pronto.
Ouvi o som do carro e pela fresta da cortina, observei-o estacionar
na garagem, atrás do meu. Ficou discreto, se parasse na rua, que
era estreita, chamaria atenção. A maioria das cabanas ali eram de
férias, então, os moradores locais sabiam bem quem era visitante.
Esperei que batesse na porta e abri. A vizinha ao lado estava
regando as plantas e nos encarou. Leonard riu, mas evitou olhar.
Ele segurava uma bolsa de papel com as garrafas de vinho e uma
outra bolsa, com itens de sobremesa e flores. Fiquei sem fôlego
com a beleza dele, o perfume me invadiu e o sorriso fez com que as
borboletas do meu estômago ficassem enlouquecidas.
— Seus braços estão cheios — comentei, me sentindo tímida.
— É tudo para você. A propósito, você está linda.
Minhas bochechas pareciam pegar fogo. Soltei uma risada,
tremendo por dentro.
— Obrigada. Você está encantador.
Peguei as flores e indiquei que entrasse. Fechei a porta,
admirada com o buquê, que estava amarrado por um laço simples.
Pareciam ter sido colhidas, ainda cheiravam a campo e não tinham
o aroma artificial que algumas floriculturas usavam para vender.
— Seja bem-vindo. Aqui não é muito grande, tem dois quartos
em cima e o restante é tudo aqui embaixo. Vamos para a cozinha?
Leonard não parecia ser do tipo retraído, o que facilitou meus
nervos. Ele colocou as garrafas na adega para refrescar e
perguntou se queria ajuda com o preparo do jantar. Sendo
malandra, entreguei a ele os temperos, uma faca e uma tábua de
madeira. Coloquei as flores em um novo vaso, lavei minhas mãos e
coloquei a panela com água no fogo para poder começar o preparo
da massa.
— Quase trouxe alguns filmes para mudar sua opinião. É
comum ser equivocado sobre a saga — Leonard brincou ao cortar
alguns tomates.
— Meu pai é fã. Ele é nerd do tipo que tem milhares de
quadrinhos, fica na fila para comprar um ingresso e sempre que
pode, está indo nas convenções fantasiado. Eu assisti aos filmes em
todas as partes umas mil vezes e sim, há falhas. É como Indiana
Jones, a maior parte do filme poderia acontecer sem ele, que só
protagonizou para se ferir. — Dei de ombros e ele abriu a boca,
ofendido.
Eu sabia cozinhar, mas não tinha intimidade com a cozinha. A
peça de carne ainda precisava ser cortada e tirar a gordura
excedente. Ao tentar fazer isso, a carne escorregou do prato e a
faca rodopiou pelo balcão, espirrando sangue no mármore branco.
Leonard estava tentando não rir.
— Isso que dá ofender a clássicos do cinema com sua opinião
preconceituosa.
— Os filmes são ruins — falei lentamente, só para implicar. Ele
percebeu e mordeu o lábio, balançando a cabeça.
— Não sei o que fazer com você. Talvez te obrigar a assistir
tudo de novo. — Pegou a faca e me empurrou com suavidade para
o lado. — Eu fico com a carne. Não quero que nosso jantar vá parar
no teto. Fique com os temperos.
O que ele queria dizer?
— Eu sei cuidar de uma carne sozinha! Só precisava me
entender com ela, oras! — Coloquei a mão na cintura. — Como
acha que cozinhei a minha vida toda?
Leonard sorriu e olhou em meus olhos. Caramba… não
derreta, Khloé. Você é mais forte que isso. É só a droga de um olhar
bom o suficiente para te fazer suspirar.
— Não disse que não poderia, é uma mulher que parece saber
bem o que faz. No entanto, como um cavalheiro, não podia deixar
uma dama brigando com um pedaço de carne.
— Não seja fofo quando eu quero defender meus direitos.
— Eu sou fofo o tempo todo. — Ele riu e quis me jogar nele.
Reparei que suas mãos estavam com uns cortes suaves.
— O que aconteceu?
— O jardineiro estava de folga e nas proximidades não tem
floricultura. Meu cunhado e eu nos aventuramos sozinhos para
colhermos algumas flores. Vejamos, minhas habilidades não são as
melhores. — Ele sorriu e olhei para as flores, entendendo porquê
elas pareciam tão rústicas. — Pelo menos, sei escolher um bom
vinho e cozinhar.
Leonard colheu as flores? Aquilo parecia simples, mas era
lindo para mim. Sem pensar muito, apoiei a mão em seu ombro e
beijei sua bochecha. Ele era mais alto que eu, tinha mais de um
metro e noventa, era certo.
— Obrigada pelas flores.
Ele virou o rosto e passou o braço por minha cintura, beijando
minha bochecha de volta. Nós olhamos um para o outro, uma
tensão pairando no ar. Minha boca parecia necessitada pela dele.
Crazy do Aerosmith começou a tocar e olhamos juntos para o player
do som. O clima havia mudado, deixou de ser amigável para
simplesmente se transformar em uma faísca que a qualquer
momento se tornaria fogo.
Com a massa cozinhando, a carne assando e o molho pronto,
ele me puxou para dançar ao som de Soldier Of Love. Pearl Jam era
uma das nossas bandas favoritas. Eu ri da dancinha engraçada que
fez antes de me rodopiar. Voltei para os seus braços e quando
estávamos de frente um para o outro, ele desceu as mãos
suavemente das minhas costelas para um pouco abaixo da cintura.
Parei com uma das minhas mãos em seu ombro e a outra na nuca.
Não foi preciso muito. Um olhar e sim… estava pronta para o
beijo.
Foi perfeito. A boca dele era macia, quente e a língua tinha o
sabor único do vinho frutado que estávamos compartilhando. Soltei
um suspiro, extasiada, sorrimos e voltamos a nos beijar. Não
parecia interessante soltar nossos lábios. Foi como se eu nunca
tivesse beijado antes na minha vida.
Era o beijo certo.
Rainland enfrentará dificuldades?
Não é segredo que parte do parlamento não está feliz com as
reformas impostas pelo príncipe. Ele deseja melhorar e modernizar
áreas de ligações entre as comunas principais do país, o que traz a
preocupação sobre gastos em uma obra que pode tirar a
característica rústica de Rainland.
Muitos alegam que é hora do país deixar de obedecer à coroa e
eleger um presidente. No entanto, nós fizemos uma pesquisa com
nossos leitores e concluímos que Rainland está muito bem do jeito
que está.
Como será que Leonard, Alteza Real e Regente de Rainland, lidará
com as críticas de um projeto tão importante?

THE SUNRISE
7 | Leonard.

Beijar Khloé era tão bom que o jantar quase queimou. Nós
corremos ao perceber que a massa estava fervendo tanto que
vazou para o fogão. Corremos para lavar e parar o cozimento, o
molho da carne estava quase seco e eu joguei um pouco mais para
manter macia. Organizamos os lugares na mesa, acendendo velas e
servi mais vinho nas taças.
— A comida está cheirando deliciosamente bem. — Ela se
aproximou, satisfeita. — Quase perdemos tudo, mas foi por um bom
motivo.
— Excelente motivo. — Sorri contra sua boca, segurando seu
queixo e beijei os lábios suavemente, provocando, brincando com
seu desejo. Khloé sentou no meu colo, me abraçando. Seu vestido
subiu um pouco, exibindo as coxas bonitas, que não perdi tempo em
acariciar. Ela acompanhou meus dedos tocando sua pele e junto,
uma curva sensual surgia em seus lábios.
Arrastei meu nariz por seu pescoço, cheirando, o perfume era
gostoso e estava impregnado em mim. Khloé buscou minha boca.
Nós voltamos a nos perder um no outro, quase queimando o jantar
novamente. Dessa vez, ela mostrou habilidade com a faca e cortou
fatias perfeitas da carne, que estava em um ponto incrível.
— Eu não sabia que podia ficar tão macia assim — comentou,
comendo um pedacinho. — Tenho que assumir que sabe o que
fazer em uma cozinha. Não parece ser algo comum entre príncipes.
Vocês não costumam ter funcionários para tudo?
— Sim, sempre. Em todo momento tem alguém para me servir
ou quase dar a comida na minha boca. Quando era novo, não tinha
muita opção, depois fui estudar longe e com um tutor. Morei sozinho
na faculdade e reduzi meu quadro de funcionários a uma só, que me
ajudava na limpeza. — Organizei a massa no prato como Alicia me
ensinou uma vez. — Foi quando aprendi a cozinhar. Evitava me
expor e precisava me virar com a comida. Minha tia tem vários
restaurantes, ela enviou uma chef auxiliar para me dar algumas
aulas quando fiquei em Londres.
— Chegou a morar aqui? Desculpe soar um pouco perdida, eu
nunca fui de acompanhar membros da família real. — Ela ficou com
as bochechas vermelhas, sem saber que para mim, era
simplesmente incrível poder conhecer alguém que não sabia nada
da minha vida. — Não costumo ter muito tempo para ver revistas de
fofoca. Quando estou em casa, acabo colocando minhas séries em
dia e dormindo.
— Durante a faculdade até quase o doutorado, que comecei e
não terminei ao ser nomeado Príncipe de Rye, eu precisei voltar
para Rainland e assumir meu papel de governante com meu pai.
— Caramba! — Ela soou assustada. — Um dia você vai ser rei!
— Arregalou os olhos.
— Meu pai goza de boa saúde. Isso vai demorar. — Pisquei,
ganhando sua risada. — É esquisito pensar sobre isso?
— Me desculpa, sim! Quer dizer, um futuro rei estava com a
mão dentro do meu vestido! — Ela soou nervosa e divertida, o que
me fez soltar uma gargalhada bem alta. — Não ria!
— Meu beijo real te encantou, senhora? — Inclinei-me sobre o
balcão e beijei sua boca rapidamente. Khloé ainda estava rindo. Ela
se derreteu contra mim e o jantar era o único motivo que me fazia
manter as mãos longe dela, lembrando que era nosso primeiro
encontro e precisava segurar a cordialidade.
Levei os pratos para a mesa, sentamos próximos e com sua
coxa próxima do meu joelho, ela brincou de acariciar minha
panturrilha com o pé. A sobremesa durou dois segundos, bastou
uma fruta com chocolate, um beijo e tudo foi esquecido. Peguei-a
pela cintura, erguendo em meu colo e levei-nos para a sala. Khloé
me empurrou sentado e, sensualmente, subiu um pouco o vestido.
Agarrei suas nádegas, apertando e tomei sua boca desesperado.
A alça do vestido dela caiu, liberando um pouco mais do decote
e acompanhei cada pedaço de pele que era revelado com a minha
boca, explorando o quanto estava arrepiada com a minha língua.
Passei o polegar por seu mamilo, dando um suave belisco e voltei a
beijá-la. Rebolando contra mim, perdi um pouco as minhas
estribeiras com o prazer que percorria como fogo nas veias.
Khloé arranhou minha nuca, dando uma chupada na minha
língua que me fez pensar no meu pau em sua boca gostosa.
— Me diz que vamos fazer isso e que tem camisinha — ela
choramingou, esfregando-se em mim. Eu tinha camisinhas na
carteira e não lembrava há quanto tempo estavam ali, considerando
a última vez que consegui fugir para fazer sexo de maneira
discreta.
— Eu tenho duas camisinhas.
— Está bom para começarmos.
— Podemos ser muito criativos. — Mordi seu queixo.
Khloé saiu do meu colo e esticou a mão, me convidando para
subir. Aceitei e não perdi um mísero segundo longe dela. Seu cabelo
estava uma bagunça por conta das minhas mãos e a boca inchada
de tanto que havia beijado. Ela me beijou mais tranquilamente no
corredor e fomos andando para o quarto, meio que trombando pelas
paredes. Tirei minha camisa e ela puxou o vestido pela cabeça,
revelando os seios redondos com mamilos atiçados, implorando por
mim.
Agarrei sua cintura de forma rude, descendo minha boca e
chupando cada um deles, dando toda uma atenção especial só para
ouvir seus gemidos. Khloé me arranhou, se contorcendo e a levei
para a cama. Vê-la deitada, quase nua, era como um presente. A
mulher era perfeita e estava cheia de tesão. Sua calcinha pequena
de seda e renda estava molhada.
— Tire toda a roupa, Leonard — pediu, com desejo escorrendo
pelo tom de voz. — Quero… quer dizer… — Ela parou e sorriu. —
Eu preciso te ver nu.
O desejo dela era uma ordem. Abri minha calça e tirei junto à
cueca, sem cerimônias. Ela mordeu o lábio e ficou de joelhos, seus
seios contra meu peito nu, a boca se movendo contra a minha antes
de descer beijos pelo meu abdômen, dando uma mordida no meu
ventre. Olhando em meus olhos, tocou meu pau e lambeu a boca,
dando um beijo na cabeça antes de levá-lo completamente à boca.
— Puta que pariu! — Segurei seu cabelo, para que nada me
impedisse de assistir aquele espetáculo. Eu estava em êxtase.
Ela estava me enlouquecendo e me levando cada vez mais
perto de gozar. Sem querer fazer aquilo na boca dela pela primeira
vez e com a noite apenas começando, trouxe-a novamente para a
cama. Beijei sua boca de forma apaixonada, mostrando o quanto
estava louco por ela.
— Você quase me fez acabar com a noite só com essa boca
deliciosa…
— É impossível resistir. — Me deu um sorriso provocante.
— Vamos ver quem não vai conseguir parar agora. — Desci
mais um pouco e mordi a alça fina de sua calcinha. Ela me encarou
e puxei bruscamente, rasgando. Beijei onde o tecido beliscou sua
pele e acalmei o ofego, espalmando minha mão em sua barriga e
lambendo o clitóris.
Khloé puxou meu cabelo, frenética, correspondendo à minha
chupada com prazer. Ela gemeu, pedindo para que eu não parasse,
como se em algum momento eu pretendesse soltar aquela boceta
gostosa. Seu corpo era uma melodia perfeita. Ele cantou e mostrou
o momento em que estava chegando ao ápice, vermelho, arrepiado,
com tremores suaves e dedos curvados. Ela gozando era um show.
Minha boca brilhava com a umidade e ainda assim, trocamos
um beijo intenso. Procurei minha carteira, achando a camisinha,
enquanto meu pau doía para estar dentro dela. Ela colocou em mim,
me acariciando por mais tempo do que o necessário e eu prolonguei
em sua entrada, esfregando-o em suas dobras muito molhadas
antes de empurrar devagar.
— Oh Leonard, sim!
— É isso mesmo, baby. Só quero ouvir meu nome na sua boca!
— Entrei todo, debruçando-me sobre ela e a beijando enquanto
metia.
Ela rebolava, encontrando comigo a cada nova estocada. A
cama batia contra a parede e os travesseiros voaram longe.
Arranhando minhas costas, me beijou, mordendo minha boca antes
de gozar. Eu me deixei levar, estremecendo e gemendo em seu
ouvido.
— Que gemido gostoso… — Khloé me beijou com um sorriso
de bem fodida.
— Gostosa. Porra, isso foi incrível. — Deitei ao seu lado,
encarando o teto. Meu cérebro estava em pane completa.
— Mais do que incrível. — Ela riu e ergueu o rosto, toda
bagunçada e nua. A visão perfeita. — Ainda bem que temos mais
uma.
— Eu vou garantir que teremos mais nas próximas vezes.
Khloé mordeu o lábio.
— Isso significa que teremos mais vezes?
— Já cansou de mim? — Toquei meu peito, me sentindo
ofendido.
— Não. Eu vou te avisar quando cansar. — Rindo, me beijou.
Só por ser engraçadinha ganhou um tapa na bunda, mas não
reclamou, pelo contrário, mudou o beijo para algo mais intenso e
dali nos perdemos mais uma vez.
Na manhã seguinte, acordei com o sol no rosto. Khloé gemeu e
se escondeu, bufando sobre não querer acordar. Beijei seu ombro e
falei baixinho que precisava ir, mas que iria ligar para nos vermos
novamente. Ela abriu os olhos, com um beicinho de sono. Não
resisti e a beijei. Sonolenta, me observou vestir a roupa e pedi que
ficasse atenta ao telefone. Não queria que pensasse que estava
fugindo logo cedo.
Saí da cabana com as estradas cheias de neblina, mas era o
horário normal de um café. Eu tinha uma reunião por vídeo em trinta
minutos, precisava correr para poder ficar livre novamente. Ethan e
Charlotte estavam na cozinha tomando café e me pegaram entrando
pela porta, vestido com as mesmas roupas que usei no dia anterior.
Ele riu e disfarçou, voltando a ler o jornal. Charlotte parecia que
ia cair da cadeira. Nunca permiti que minha irmãzinha me visse com
qualquer mulher ou chegando em casa depois de uma foda. Eu
tinha casos esporádicos e sempre muito discretos. Tomava extremo
cuidado para não me envolver em um escândalo sexual, mesmo
sendo um homem jovem e solteiro.
Ela bateu com a xícara na mesa, entornando café.
— Me conta tudo, agora!
— Eu não tenho nada para te contar! — Passei direito e ouvi
seus passos atrás de mim.
— Você foi a um encontro? Como foi? Com quem? Ai, meu
Deus! Sei quem é? — Ela estava de boca cheia, tentando mastigar,
engolir e me seguir. — Espera! — Lottie deu um gritinho quase
caindo na escada e precisei segurá-la. — O jardineiro falou das
flores com Ethan! Você que pegou o segundo buquê?
— Sim, eu peguei.
— Puta merda! Ela ganhou flores! Por favor, irmão! Me conta
tuuuuudo! — Lottie bateu os pés no chão com os olhos brilhando,
como se a ideia de um encontro romântico na minha vida lhe
causasse muita felicidade. — Vão sair mais vezes?
— Espero que sim, depois conversamos. Tenho que ir
trabalhar. — Beijei sua bochecha.
Charlotte gritou para Ethan que eu tinha novidades e saiu
correndo. Eu ri e subi a escada, precisava trabalhar de verdade.
8 | Khloé
Espreguicei-me na cama, esticando os músculos e senti a
dorzinha pós movimentos que não estava tão acostumada a sentir.
Sentei-me, sem acreditar no quanto fui deliciosamente bem fodida
na noite anterior. O encontro começou bem, desenvolveu para ótimo
e terminou incrível. Dormi até quase a hora do almoço, meu telefone
estava cheio de mensagens, respondi as das minhas irmãs,
informando que estava bem e o encontro havia sido perfeito.
Não conseguia começar meu dia sem tomar banho, talvez por
estar muito acostumada em me preparar antecipadamente para
ensaios. Depois de trocar os lençóis e vestir uma roupa confortável,
arrumei a cozinha, lavando a louça e deixei a cabana organizada
novamente. Leonard me convidou para um passeio no final da tarde
prometendo que, daquela vez, iria me surpreender com o jantar.
Fiquei animada. Talvez não devesse ficar tão empolgada com
encontros casuais, afinal, nossas vidas não pertenciam ao mesmo
mundo. Fora da minha cabana, ele era um príncipe com deveres
reais, um governante ativo para seu país e eu, uma modelo, que
estava no auge da carreira e sendo conhecida mundialmente. Mas,
para curtir, a química entre nós era perfeita.
Cresci assistindo filmes da Disney, mas não necessariamente
acreditando em contos de fadas. Leonard era um príncipe de
verdade e eu não era uma princesa. Com o pensamento de que
meus pés estavam no chão para nossa realidade, me arrumei,
esperando-o chegar para me buscar. Escolhi um vestido preto com
flores vermelhas, meu par favorito de tênis brancos para ficar
confortável e um chapéu que ornava com toda a roupa.
Separei a garrafa de vinho que havia sobrado do dia anterior,
as frutas e o chocolate. Leonard era pontual. Ele estacionou em
frente à cabana e saiu do carro, segurando flores novamente. Dessa
vez, pareciam mais arrumadas do que as do dia anterior. Abri a
porta antes que batesse.
— Olá, linda. — Ele passou o braço por minha cintura e me
puxou para si. — Pronta para o nosso jantar de hoje?
— Prontíssima. — Sorri e o beijei. — Essas belas flores são
para mim? Sua irmã vai começar a cobrar se roubá-las do jardim a
cada novo encontro.
— Ela me deve, por ser tão chata e intrometida.
— Vou colocá-las em um vaso.
Organizei as novas mudas com as do dia anterior, coloquei-as
em água limpa, peguei minha bolsa e saímos. Normalmente, eu
estaria em pânico de entrar no carro de um homem desconhecido
sendo a segunda vez em que o via, mas não pensei no medo na
hora do sexo, então não daria um ataque por conta de um passeio.
Apesar de saber que evitaríamos locais muito cheios e públicos,
também me sentia segura. Ele dirigiu com calma, respeitando a
tranquilidade da região em que estávamos.
Eu passei por ali feito louca, acostumada a andar sozinha e
correr de um compromisso para o outro. Ele tocou minha coxa para
mostrar uns cães pastores correndo no campo e seguiu adiante,
peguei sua mão novamente, beijei e coloquei-a de volta na minha
perna. Passei meu dedo pelo pescoço dele, onde havia marcas da
nossa noite empolgada.
— Uma gata andou me arranhando e deixando alguns
chupões.
— Você não pode falar nada. Bancou o vampiro, meus mamilos
estão batizados.
Ele olhou para o meu decote com um sorriso safado.
— É mesmo? Permita-me conferir de perto?
— Quem sabe mais tarde te dê a oportunidade para tal coisa.
— Fingi abaixar um pouco o vestido, ele tentou dividir a atenção
com a estrada, mas não queria fazê-lo bater.
Leonard nos levou para um mirante que ficava pouco depois de
uma igreja praticamente abandonada. Era pura rocha, flores que
cresciam entre as pedras e uma visão espetacular dos campos que
permeavam as mansões antigas. Para chegarmos a um pedaço de
grama agradável, passamos por um campo florido que eu tive que
tirar fotos. Ele me fotografou com prazer, aguentando minhas muitas
poses e ainda carregando a cesta de piquenique.
Forrei a grama com o cobertor que, de tão enorme, foi
necessário dobrá-lo um pouco. Leonard fez outra viagem para o
carro, dizendo que havia feito o trabalho completo trazendo
almofadas. Mesmo curiosa, esperei para abrir a cesta. Tirei meus
sapatos e o chapéu, prendendo o cabelo. Ele arrumou tudo, bati
palmas e abrimos o vinho. O sol levaria um tempo para se pôr
completamente, estava um fim de tarde maravilhoso para aproveitar
o momento.
Com fome, ele me serviu com salada refrescante com frutas e
frango. Estava uma delícia, comi tudo e lambi os dedos. Bebi meu
vinho e olhei para o alto, o céu estava espetacular.
— Tem alguma coisa na minha boca? — Leonard me chamou e
parei, procurando o que havia de errado.
— Está sentindo algo diferente?
— Acho que estou fraco. Sinto como se o mundo estivesse
distante. — Ele me segurou e observei seu sorriso. O sacana estava
brincando comigo. — Preciso de respiração boca a boca. Por favor,
me beije para que esse mal-estar passe completamente.
Derrubei-o no cobertor e montei em seu colo, ele não
conseguiu bancar o mocinho passando mal por muito tempo.
Beijando-me como se a vida estivesse acabando, logo tudo ficou
quente, meu centro pulsava e a empolgação que quase me deixou
de seios de fora ganhou um freio quando lembramos que estávamos
em público.
— Não tem ninguém aqui. — Olhei ao redor, um pouco
frustrada. Era mais a vontade de transar falando do que qualquer
razão. Eu tive pouco sexo na vida, alguns foram bons, a maioria
foram insatisfatórios e confusos, principalmente nas primeiras
vezes. Com ele, foi incrível, do começo ao fim, sem constrangimento
ou momentos que me fariam querer morrer de vergonha alheia.
— Não faça essa carinha. — Ele me segurou e beijou. —
Minha irmã e cunhado já foram expostos em um momento assim e
eu não quero o mesmo para nós.
— Sério? Seguiram os dois até o meio do nada?
— Essa vida é nova para você, não é? — Leonard acariciou
meu rosto.
— Agora que estão começando a me fotografar em todo lado.
Peguei uma menina tirando fotos minhas debaixo da mesa, foi muito
esquisito, mas ainda não tem ninguém me perseguindo.
— Ainda. Quando começar a fama mundial de verdade, eles
farão loucuras para ter uma foto exclusiva e isso implica até em
acidentes.
Deitei minha cabeça em seu peito e refleti sobre o preço da
fama. Eu queria o dinheiro, era ambiciosa o suficiente para querer
ser tão rica quanto possível. Não nasci pobre, nunca havia passado
necessidade, mas meus pais economizavam cada centavo para nos
dar uma boa educação, comida na mesa e o material escolar em
dia. Eram médicos e pesquisadores, não ganhavam muito. Teriam
muito mais se fossem atendentes em um hospital, quase ninguém
reconhecia aqueles que buscavam a cura através do estudo.
Nós conversamos baixinho sobre nossas vidas. Leonard era o
filho mais velho, o herdeiro do trono e só o tom de voz que usava já
mostrava o quanto suas responsabilidades pesavam em todas as
decisões. Ele pensava em tudo, precisava estar sempre correto e
isso fazia com que tivesse fama de chato. Na verdade, não
suportava a ideia de sofrer um escândalo. Naquele momento,
pensei no quanto era uma prisão ter uma vida daquela. Leonard não
tinha liberdade para ser quem era.
— Ainda assim, ama ser um príncipe?
— Não imagino que possa fazer qualquer coisa além disso. A
coroa tem ônus e bônus. — Esfregou meus braços. — Como
começou a ser modelo?
— Não ria. Meu apelido na escola era patinho feio e eu queria
mostrar para todo mundo que era bonita. Mudei o que eles zoavam,
fiz alguns cursos e minha tia, que é do ramo, me lançou. No fundo,
queria apenas ganhar uma transformação e esfregar no rosto de
todo mundo, mas deu certo e sendo sincera, o dinheiro era
assustadoramente alto — falei baixo, brincando com um botão de
sua camisa. — Caramba, eu pude fazer faculdade sem que meus
pais suassem com isso! Depois, foi simplesmente para continuar
ganhando dinheiro, montando uma estrutura de vida que sendo
jornalista, só se eu me consagrasse como a nova Oprah ou coisa do
tipo.
— Você queria ser jornalista?
— Queria fazer a diferença com a minha voz. Poder ter uma
influência para mudar o mundo, mostrar que existe mais por aí, por
isso sou tão apaixonada pelas causas sociais que trabalho. Quero
que todos entendam e se apaixonem. Ser jornalista seria o meio
ideal, até porque, amo escrever.
— É mesmo? Sou naturalmente inclinado a odiar jornalistas,
principalmente os de fofocas, mas estou louco para ler algo que
escreveu. Tem alguma coisa para me mostrar? — Ele me apertou
em seus braços. — Vai escrever sobre coisas sérias e importantes?
— No futuro. Ainda tenho outros objetivos na frente. — Apoiei
meu queixo em seu peito. — E você? Trabalhar para ser o rei?
— Só serei quando meu pai falecer, o que espero que leve
bastante tempo, ou se abdicar ao meu favor, o que duvido muito que
irá fazer. Também espero que não faça, os motivos para um rei com
saúde fazer isso podem ser bem bizarros. Não acho que minha
família deva passar por isso — falou com tranquilidade e desceu a
mão para a curva do meu bumbum. — O sol está se pondo.
Viramos para o campo, vendo-o sumir entre as árvores e
ficando cada vez mais escuro. Coloquei minha perna em cima de
sua coxa, ele arrastou os dedos por minha pele arrepiada e foi
subindo por dentro da minha saia. Se estivéssemos sendo
observados, só um fotógrafo com lentes de visão noturna poderia
perceber que o príncipe certinho estava com os dedos safados na
minha boceta e a boca me dando beijos realmente pecaminosos.
9 | Khloé.
Um bom dia para mim começava com café gostoso, ioga e
quando no campo, uma caminhada no ar puro. Depois dos meus
encontros com Leonard, sexo matinal se tornou uma ótima maneira
de acordar. Era a quinta vez que nos encontrávamos. Não que
estivesse contando, mas era importante enumerar quantas manhãs
tive um prazer que melhorou meu humor completamente.
— Bom dia, linda. — Ele beijou meu pescoço depois de me dar
um orgasmo fenomenal.
— Sim, isso que eu chamo de um bom dia. — Suspirei,
acariciando seu braço. — O que vai fazer hoje?
— Nada. É meu último dia aqui em Londres e eu quero
aproveitar com você.
Palavras perfeitamente doces de se ouvir. Ele era um príncipe
em todos os momentos.
— Não tenho nada demais para fazer. Apenas ficar em casa,
aproveitar o dia e comer besteiras, meus dias de folga estão
acabando.
— Então, é isso o que faremos.
Levamos mais de uma hora para sairmos da cama, entre
cochilos e beijos, a fome finalmente venceu. Tomamos banho
separadamente, mas ele não achou necessário vestir mais do que
uma cueca. Fiquei com um biquíni na parte de cima, short jeans e
claro, música. Leonard mostrou seus dotes culinários ao preparar
torrada com frutas, café preto e ainda fez um show com seus
músculos, espremendo laranjas na mão para o nosso suco.
— Isso foi bem rústico.
— Eu sou seu herói, confesse. — Ele beijou minha bochecha.
Na cabana faltavam algumas coisas, ela tinha o básico, mas se
eu fosse usá-la para meu refúgio de folga, precisaria de mais alguns
itens necessários para ficar tranquila. Minha agenda estava muito
apertada nas próximas semanas, depois de uma viagem à Itália,
teria muito trabalho em Londres. Pelo menos, dormiria na minha
própria cama. Leonard precisava voltar para sua vida de príncipe.
Eu não sabia se nos veríamos novamente. Não falamos sobre
aquilo. Era apenas aqueles encontros, um refúgio de férias e nada
mais. Não era boba em fantasiar uma vida que não nos pertencia. A
realidade fora da simplicidade da cabana nos engoliria em um piscar
de olhos e tudo que queria era aproveitar cada minuto que tínhamos
juntos.
Uma parte da grama do quintal dos fundos estava com sol. Nós
escolhemos ali para forrar o cobertor. Tirei meu short, deitando de
bruços com meu biquíni branco e ele ficou ao lado, lendo um livro
sobre política que fazia parte da decoração da casa.
— Não vai precisar de um protetor solar? — ele questionou.
— Não está forte o suficiente para isso. — Soltei uma risada.
— Então, não precisa de um bronzeador? — insistiu, me
fazendo rir mais ainda.
— Só preciso que tire a parte de cima do meu biquíni e pode
ficar à vontade para ficar com as mãos em mim. — Tirei meu cabelo
do caminho, prendendo-o no alto. Ele deixou o livro de lado e fez a
difícil tarefa de soltar os laços, beijando da minha nuca até as
covinhas de vênus que ficavam acima do meu bumbum.
Fiquei toda arrepiada.
— Você é tão gostosa — ele sussurrou no meu ouvido. — Acho
que estou perdidamente apaixonado pela sua bunda. — Esfregou
um pouco sua empolgação em mim.
— É mesmo? — Virei um pouco o meu rosto e ele beijou minha
boca, a língua provocante junto aos dedos fazendo maravilhas nos
meus mamilos me deixaram excitada imediatamente. — Será
atentado ao pudor fazermos isso aqui?
— Os vizinhos podem considerar isso, mas podemos fazer não
muito longe, bem ali, na sala. — Ele apontou e eu fiquei de joelhos,
fazendo um show ao rebolar contra sua ereção antes de levantar e
entrar em casa. Leonard fechou as portas e me atacou, caímos no
sofá aos beijos, mordendo e deixando marcas de chupões onde
conseguíamos.
Ele segurou meu cabelo enquanto eu estava de quatro na
frente dele e meteu gostoso, batendo nas minhas nádegas para
deixar marca. Eu não estava me importando que lembranças do
seus dedos ficariam ali. Seria um souvenir do nosso período de
férias. Algo que começou sem que esperássemos e tomou nosso
tempo, consumiu tudo. Bastava um olhar e estávamos ali, transando
freneticamente.
Nós não vestimos mais roupas pelo restante do dia.
Cozinhamos, ouvimos música e bebemos todo vinho disponível.
Dormimos por pura exaustão. Na manhã seguinte, pesou no meu
coração a partida. Ele se vestiu tranquilamente e parou do meu lado
da cama, sentando na ponta. Segurou minha mão e deu um beijo.
— Eu sei que nós ignoramos todas as partes difíceis que a
nossa vida real implica.
— Acho que foi mais fácil assim. — Dei de ombros. Eu não era
conhecida por enfrentar meus problemas de frente, se pudesse
evitar. Minha personalidade era muito sobre evitar uma briga porque
quando entrava em uma, era difícil sair.
— Quero te ver de novo.
— Como faremos isso? Encontros secretos?
— Enquanto der certo sim, talvez, podemos resolver uma coisa
por vez. Estamos nos conhecendo, não precisamos de nenhuma
pressão, o que não significa que não podemos aproveitar o tempo
que tivermos. Estarei em Londres no próximo mês para um evento
importante da minha irmã, posso estender minha agenda por mais
uma noite.
Leonard parou esperando a minha reação e sorri.
— Eu vou adorar te encontrar. — Inclinei-me e dei um beijo
suave em seus lábios. — Minha vida é um pouco louca, nem
sempre consigo estar com meu telefone na mão, então, se eu
demorar a responder… não leve para o lado pessoal.
— Vou tentar, contanto que em algum momento, me responda.
Como era possível já estar sentindo saudade dele?
Leonard foi embora depois do café da manhã e eu arrumei
minhas coisas com mais calma. Guardei tudo no carro e deixei a
casa limpa antes de partir. Para espantar o sentimento estranho,
coloquei Alanis Morissette a toda altura, fui dirigindo e cantando
bem alto. Quando cheguei em Londres, abaixei só um pouco, ainda
assim uns homens de um carro ao lado me olharam como se eu
fosse louca. Dei a língua e a partida quase ao mesmo tempo,
chegando no meu prédio.
Era pequeno, charmoso e de apartamentos amplos. Retratava
palacetes, com a fachada antiga e por dentro, a única modernidade
que tinha era o elevador. No mais, tudo parecia fofo. Custou uma
pequena fortuna, mas eu amava morar ali. O mordomo do prédio me
ajudou com as malas, era muito gentil e cuidava de todas as
moradoras como um avô atencioso.
Duas eram modelos da mesma agência que eu. Não éramos
amigas, mas também não éramos inimigas. Convivíamos bem o
suficiente para dividir o mesmo carro de transporte em viagens e
como não brigávamos, escolhíamos ficar juntas quando a marca
não pegava um quarto para cada modelo. As outras duas
moradoras eram empresárias que viviam mais viajando do que em
casa.
Separei as roupas para lavar e recebi a mensagem de
intimação das minhas irmãs, querendo saber o motivo do meu
sumiço e se tive novos encontros com o bonito misterioso. Nunca fui
de esconder o nome dos meus pretendentes e decidi contar, porque
sabia que não contariam a ninguém. Kourt quase caiu da cama e
Kim, deixou um copo do bar virar em um cliente.
— Você simplesmente pegou o Príncipe de Rainland? — Kim
correu para seu escritório e estava pulando no lugar. — O homem é
cobiçado por muitas, sempre na lista de solteiros mais bonitos. Ele e
o amigo que casou, acho que o sobrenome é Megalos, eram de
deixar as calcinhas caírem quando passavam. Ele estar solteiro
causa muita revolta aqui em Rainland. O povo espera que ele se
case no próximo ano, principalmente porque precisa ter filhos.
— Ele tem trinta e poucos, não é um crime ser solteiro — Kourt
falou em defesa dele. — A coisa é séria?
— Claro que não! Estão malucas? São encontros, não um
namoro. O sexo é incrível, eu nem sei descrever o que acontece,
nunca imaginei que a coisa podia ser boa de verdade. Nós
gostamos do mesmo estilo de música, temos muito assunto e ele é
adorável, como um príncipe encantado.
— Que fofo! Será que minha irmã vai ser a futura Rainha de
Rainland?
— Cala a boca, Kim! — resmunguei. Não tinha nenhuma
graça.
Ignorei minhas irmãs fazendo piadas e conversamos sobre
outras coisas importantes para nossa família antes de encerrar a
chamada. Lavei as roupas e organizei o apartamento antes de
começar a cuidar da minha pele, para no dia seguinte bem cedo
voltar à minha rotina maluca, bem corrida. Cortei algumas frutas
para fazer um suco detox e coloquei-as no congelador.
Estava quase indo dormir quando meu telefone vibrou. Leonard
enviou uma mensagem. Meu coração chegou a pular no peito antes
de abrir.
“Estava experimentando um novo traje quando meu mordomo
gentilmente perguntou se eu precisava de pomadas para os
hematomas”.
Soltei uma gargalhada bem alta. Estava com novos chupões
nos meus mamilos e não reclamaria sobre.
“Ops! Existe alguma punição por deixar chupões no corpo de
um príncipe? Em minha defesa, ele era tão gostoso que não pude
resistir”
Leonard não demorou a mandar uma resposta.
“Se houvesse punição, com essa resposta, você seria
condenada a viver com a boca em mim”.
Safadinho.
“Trinta dias e contando para matar o desejo que você está
fazendo crescer agora”.
Ele mandou várias carinhas rindo e por último, um diabinho.
“Espere só para ver o que tenho preparado para os próximos
dias. Você vai ficar louca de saudade de mim, linda. Tanto quanto já
estou de você”.
Soltei um grito e me joguei para trás na cama, batendo as
pernas, empolgada com as borboletas causando estragos no meu
estômago. Deixei o telefone contra o meu peito, como se, de alguma
maneira, eu pudesse abraçá-lo à distância e transmitir toda loucura
que estava me fazendo sentir, quando pensei que meu coração,
adulto e incrédulo, nunca mais pudesse ser derretido por uma
paixão tão leve e jovem.
10 | Leonard
Rainland.
Estar em casa depois de tanto tempo era bom, mas daquela
vez, não houve o sentimento desesperador de buscar conforto nas
minhas coisas, porque estive mais do que bem nos últimos dias. Foi
um descanso de verdade. Como Apolo brincou em nossa chamada,
eu estava com o brilho de quem havia tirado as férias mais incríveis
da vida e foram apenas dias, em que eu encontrei uma mulher
maravilhosa para passar o tempo e esperava poder vê-la
novamente.
Era um fragmento de felicidade que eu estava me permitindo
viver por um tempo. Não era egoísta em arrastá-la para o inferno
que era minha vida. A exposição e cobrança poderiam levá-la à
loucura. Khloé não escondeu o quanto era livre e gostava de poder
fazer o que bem entendia. Era dona de si mesma, controlava a
própria carreira e tinha planos bem sólidos.
Mesmo que tudo desse certo, que a paixão fosse inevitável, ela
seria condenada a uma vida de sorrisos e acenos, uma coroa na
cabeça e mantendo-a no lugar a todo instante para governar um
país ao meu lado. Nenhuma mulher independente gostaria de abrir
mão da própria vida por isso. No entanto, ela era charmosa,
inteligente, cheirosa, dona de um sorriso lindo, que gemia gostoso
cada vez que eu metia e me abraçava de noite quando ouvia um
barulho estranho fora da cabana.
Ela tinha o dom de transformar qualquer assunto em algo
interessante. Eu podia passar horas observando-a falar sem perder
o foco, justamente porque sua boca era hipnotizante e eu um beija-
flor, querendo mais de seu doce. Cada minuto que passamos juntos
foi memorável. Eu já tive bons encontros e me envolvi brevemente,
sem profundidade, com mulheres memoráveis, mas Koko era única
em todos os sentidos da palavra.
Deitei para dormir e acordei muito cedo, fiz uma corrida pelas
trilhas ao redor do palácio e voltei a tempo do café da manhã com
meus pais. Era costume quando passava algum tempo fora de casa.
Meu mordomo deixou minha roupa separada e como sempre pedia,
me deu privacidade para me vestir e fazer minhas coisas sozinho.
Era comum ser vestido, principalmente se fossem trajes especiais,
mas eu gostava de ter um pouco de independência como um ser
humano normal.
Fui anunciado na sala principal e meus pais já estavam na
mesa com seus convidados.
— Leonard, querido! Seja bem-vindo! — Mamãe me abraçou
apertado. — Espero que tenha sido informado que a família
Lancaster passará a temporada de verão conosco.
O que ela estava aprontando?
— Duque e Duquesa, desejo uma ótima estadia na companhia
dos meus pais. — Dei a eles um sorriso.
— Oh, eles não estão sozinhos! Priscila deixou Londres,
terminou a faculdade e passará esse tempo conosco, também. —
Mamãe parecia muito feliz e eu entendi. Ela estava tentando bancar
a casamenteira de novo. — Ela está ansiosa para cavalgar pelos
campos ao redor do palácio e imagino que meu atencioso filho tirará
um tempo na sua agenda para atender a esse doce pedido. Não é
mesmo?
Eu não falei nada. A resposta que subiu e travou na minha
garganta não era educada para o horário. Desviei o assunto para
cumprimentar meu pai e ocupei meu lugar. Mamãe não foi nada sutil
em me colocar ao lado de Priscila, que chegou no café minutos
depois de mim, para ter uma entrada com bastante atenção.
Conhecia todos os truques, minha irmã foi orientada quando nova
para ser graciosa e atrair olhares em sua posição como princesa.
Isso se a minha própria mãe não tivesse dado alguns toques.
Não era mais segredo que a rainha estava desesperada para
casar o filho mais velho. Depois que deu o golpe juntando Charlotte
com Ethan, eu estava bem escaldado com seus truques.
Priscila era jovem, bonita, discreta, educada no meio e eu
podia imaginar o motivo pelo qual achavam que ela seria uma
esposa perfeita. Se estava ciente dos planos da minha mãe, era por
isso que a rainha estava empolgada. Mamãe queria que a nora
fosse alguém que pudesse manipular, que nunca aparecesse mais
do que ela e não atraísse tanta atenção, ofuscando seu papel de
rainha.
Minha primeira reunião do dia foi com meu pai. Aguardamos no
escritório seus secretários ficarem prontos. Enquanto ele falava com
Charlotte e tentava dar um pouco de juízo no trem desgovernado
que minha irmã se transformava quando queria algo, fiquei trocando
mensagens safadas com Khloé. Ela estava usando roupas íntimas
para um ensaio e me enviou algumas fotos bem interessantes.
— Espero que não esteja fazendo parte desse plano ridículo da
mamãe em tentar me juntar com a srta. Lancaster — falei com meu
pai.
— Eu disse a ela o mesmo. Aprendi a minha lição — papai me
respondeu com tranquilidade. Sabia que não estava mentindo
porque sempre que o fazia, piscava excessivamente. — Eu não
posso impedi-la de convidar pessoas. Estou tentando conversar,
mas está irredutível sobre o povo estar precisando de um noivado e
casamento para se distrair.
— Rainland não está enfrentando problemas. Nossa
popularidade está em alta e temos o apoio do povo nas mudanças.
Que tipo de distração ela quer causar?
— Sua mãe é uma pessoa independente de mim, Leonard. Ela
tem os próprios planos e pensamentos. Se você não quer um
casamento, não terá um.
Duvidava que fosse tão simples assim quando se tratava dos
planos ardilosos da minha mãe. Ela só pararia mediante uma briga
feia. Deixei o assunto de lado e foquei minha atenção na reunião,
alinhando os pontos que iriam a público no próximo mês e os
eventos que seriam oferecidos no palácio, com a demonstração dos
gastos exibidos na página de finanças da família real.
Falamos sobre o crescimento dos ataques da onda
democrática e expressei minha preocupação a nível pessoal. Por
mais que entendesse ser direito do parlamento criticar a reforma
que aprovei, também entendia que não havia razão para tanto ódio.
Decidimos emitir um comunicado para tranquilizar a população e
obviamente, expor e explicar muito bem todos os gastos.
Meu pai saiu e a equipe que cuidava da minha imagem na
internet entrou para mostrar as próximas postagens no meu perfil.
Eles estavam falando sobre métricas e alcance de comentários
quando Khloé finalmente me respondeu. Ela não mentiu quando
disse que podia levar horas para mandar uma simples carinha e
dizer que mais tarde me daria mais atenção.
Depois de um dia inteiro sendo observado, filmado e
fotografado, como era comum nas alas principais do palácio,
finalmente fiquei sozinho no meu escritório. Tinha cerca de quarenta
minutos para tomar banho e estar apresentável para o jantar. Eu
tinha a opção de não comparecer, mas não seria educado,
principalmente sendo a primeira noite dos convidados no palácio.
Tirei uns minutos para retornar a ligação de Louis. Ele estava
curioso sobre meu desaparecimento na minha folga. Furei um jantar,
por mal ter prestado atenção na mensagem que enviou.
— O que vai fazer agora? Continuar encontrando às
escondidas? — Louis estava apertando uma bolinha azul e olhando
para a tela.
— Por enquanto, sim. Cedo ou tarde iremos terminar.
— Então, o que vai fazer? Acabar se casando por contrato com
alguém que vai ter completa ciência do seu papel? Ou viver sozinho
pelo resto da vida?
— Ainda não penso em casamento. Deveria. Está chegando a
hora. Só não consigo aceitar a ideia de me casar por um acordo e
ao mesmo tempo, é completamente injusto, mesmo por amor, pedir
que alguém abra mão de toda sua vida para viver no inferno.
Louis ficou em silêncio.
— Espero que não esteja me julgando. — Adicionei com
acidez.
— Não. Apenas refletindo o fato de que você nunca amou de
verdade, porque só assim saberia sobre a força do amor. Não há
como explicar, vai precisar viver, só quero que me prometa que
quando acontecer… não desista pelo medo de ferir alguém. Existe
um caos na realeza, eu sei disso, mas se ela te amar de verdade e
estiver disposta, juntos vão poder passar por isso. — Louis parecia
muito sério. — Catherine estava afundando nos últimos meses, mas
nós dois conseguimos porque tínhamos a força um do outro.
Prometi, mas sem muita vontade. Louis encontrou o amor em
uma amiga. Catherine conhecia a vida louca de sua família, tinha
muitos irmãos e era uma mulher desprendida, além do título do meu
primo não lhe privar de nada. Ele abriu mão da vida na realeza para
ter liberdade. Eu não considerava essa possibilidade, porque
aceitava a coroa como parte de quem eu era.
Esfreguei minha nuca, me preparando mentalmente para ser
educado, evasivo e cordial o suficiente para não demonstrar
interesse. Preparei-me para o jantar, cheguei no horário e pude
pegar minha mãe sozinha, ainda ajeitando as flores.
— Você está fazendo planos. — Parei ao seu lado, ajudando-a
a cortar alguns galhos. — Apenas pare.
— O que custa conhecê-la melhor? Ela é tão adorável!
— Eu não me importo. Não dê esperanças a essa família e não
se atreva a me envolver em um noivado sem meu consentimento.
— Não farei isso. Um certo príncipe herdeiro fez barulho ao
revogar a lei que prendeu Charlotte a um casamento. — Ela tentou
soar brincalhona, mas o meu olhar sério a fez parar. — Tudo bem.
Eu quero sim, que a conheça. Priscila é encantadora e será uma
boa princesa, apenas isso. Você não parece interessado em mulher
alguma, achei que precisava de um empurrãozinho.
Definitivamente, não precisava da minha mãe me arrumando
encontros.
— A não ser que seja gay. — Ela arregalou os olhos. — Você
é, querido? Pode sair do armário com a mamãe.
— Sua falta de noção não é encantadora, querida. — Dei um
tapinha em seu ombro e me afastei quando papai entrou com a
família Lancaster. Eles devem ter se encontrado na entrada e foram
anunciados quase ao mesmo tempo, sem respeitar a formalidade.
Dessa vez, antes que todos sentassem, peguei um lugar entre
os meus pais. Assim, eu não precisaria manter nenhuma pessoa ao
meu lado completamente entretida ou ter que responder perguntas
para formalizar uma conversa. Mamãe ficou um pouco emburrada.
Ela odiava ser contrariada e não ter como contornar a situação a
seu favor, mas foi obrigada a disfarçar para que os convidados não
percebessem e, com isso, eu comi em paz, contando os minutos
para subir e ter minha troca de mensagens com Khloé.
11 | Khloé.
Acordei com o som da campainha e saí da cama muito
confusa, mal havia dormido, acabava de retornar da viagem à Itália,
que foi muito exaustiva. Com sono, fui trombando pelo apartamento
até a porta de entrada, onde o porteiro aguardava com cinco
entregadores, cada um deles segurando dois vasos enormes de
rosas brancas. Sem entender direito, deixei que entrassem para que
colocassem tudo na mesa para mim.
Eles entregaram tudo, pediram uma assinatura e deixaram um
envelope ornamentado muito bonito próximo de um dos vasos. Meu
apartamento parecia uma floricultura. Era lindo. Curiosa sobre a
marca que havia me mandado flores, fiquei completamente surpresa
ao descobrir que eram de Leonard. Em sua mensagem, me
desejava um bom retorno e que estava ansioso para me ver.
— Eu odeio que você seja tão fofo — falei sozinha. Como iria
proteger meu coração dele?
Era certo que não passaríamos de encontros diversos e
divertidos. Tudo que não precisava era me apaixonar e o pior de
tudo, Leonard não tinha noção do que estava fazendo. Ele não me
passava a energia de conquistador, apenas queria me agradar e me
fazer feliz, era algo da natureza dele. E eu adorava me sentir tão
paparicada.
Foi uma viagem exaustiva. Mal tive tempo para comer, acabei
perdendo peso ao ponto de não conseguir treinar. Felizmente, tanto
os desfiles, como as provas de roupas e as fotos, ficaram perfeitas.
Tiraria uns dias só para comer, cuidar do meu corpo, descansar e
organizar minha agenda de trabalho. Minha tia meio que deu uma
limpada para que eu pudesse me reconectar com a escrita. Fui
convidada para escrever uma coluna sobre lifestyle e moda para
uma grande revista, eles até me acompanhariam um dia inteiro.
Tirei umas fotos das flores e mandei para Leonard,
agradecendo. Ele me ligou quase que imediatamente.
— Bom dia. Já está em Londres?
— Olhando para a janela do escritório e imaginando a sua
reação ao receber as flores.
— Como está o evento da sua irmã?
— Começará em trinta minutos. Estou aqui para representar
Rainland, ou eu estaria aí, tirando sua roupa e fazendo coisas mais
divertidas.
— Amei as flores e amaria ainda mais comemorar o
recebimento delas montando em você.
— Hoje à noite. — Ele soou rouco, cheio de desejo.
— Sem falta — prometi.
Por trinta dias, ele foi a única pessoa que me fazia largar tudo e
pegar meu telefone. Marc percebeu o quanto fiquei distraída em
algumas fotos, querendo saber se uma nova mensagem havia
entrado. Eu passei várias noites acordada, em chamadas de vídeo
com ele. Nem sempre era uma conversa picante e sexo, a maior
parte, foi conhecendo o homem incrível que ele era. Tão doce,
educado, cheio de bons pensamentos e um desejo de fazer a
diferença através do próprio nome.
Um príncipe da cabeça aos pés. Íntegro e amoroso com o país,
que também tinha seus momentos de irritação e aparecia exausto
da maratona de trabalho. Ele amava filmes nerds, tinha coleção de
quadrinhos e se ofendia de verdade com qualquer piada sobre o
que gostava. Leu alguns dos meus escritos e me orientou em
trechos, sendo muito bom com coesão e ortografia.
Ele disse que eu colocava minhas emoções nos textos, algo
que meus professores tentaram tirar a todo custo. Quando era sobre
os trabalhos da universidade, conseguia me concentrar e sair ilesa
nas notas. Toda vez que escrevia o que estava no meu coração, era
sobre minhas emoções correndo por todo lado e sendo eternizadas
em um papel.
Organizei as flores pela casa e segui a minha rotina pós
viagem, me preparando para a noite. Kim me ligou, me enchendo o
saco sobre tirar minhas próximas férias em Rainland. Faltavam
quase oito meses e ela já queria se organizar. Entendia que, ao
planejar uma expansão no bar e vários eventos para atrair clientes,
ela gostaria de ter certeza de que me daria toda a atenção.
Seria infinitamente mais fácil se a minha família inteira morasse
no mesmo país, assim não precisaríamos de tanta logística para nos
vermos.
— Eu prometo que irei pensar.
— Aceito dividir sua atenção aqui com o príncipe gostoso —
ela brincou e ao fundo podia ouvir os copos batendo.
— Em oito meses? Claro que não estaremos juntos até lá!
Talvez sejamos amigos, porque imagino que poderemos ter uma
longa amizade, mas sabe das consequências.
Kim estalou a língua, completamente insatisfeita com a minha
linha de pensamento.
— Ser você deve ser tão chão, Koko. Sempre pensando no
melhor para todos e nunca na própria felicidade. Meu amor, tira a
calcinha, coloque a coroa na cabeça e monte no homem se é o que
o seu coração deseja. Ficar preocupada com o que os outros irão
pensar é perder tempo e energia que pode ser aproveitada em algo
bom, como o sexo incrível que disse que vocês dois têm.
Eu ri e só isso. Kim era uma sonhadora. Ela ficou pela Europa
com uma mochila nas costas querendo se encontrar e achou um lar
em Rainland, fez amigos e finalmente se estabeleceu. De todas as
minhas irmãs, eu era a mais centrada, pé no chão, sempre
buscando a realidade, talvez porque a vida tenha me ensinado da
maneira mais dura o quanto sonhar podia ser prejudicial. Desejar ter
algo a mais com Leonard só me machucaria.
De todas as coisas boas que estavam acontecendo entre nós,
ter meu coração partido não era exatamente o que eu precisava.
Deixei os pensamentos esquisitos de lado e preparei meu
apartamento para recebê-lo mais tarde. No coração de Londres, era
o último lugar que poderíamos nos encontrar sem sermos vistos. Fui
surpreendida mais uma vez com uma mensagem, pedindo para não
me preocupasse com o jantar e só me arrumasse para o nosso
encontro.
— O que vamos comer, engraçadinho? — questionei por áudio.
Ele adorava ser enigmático. — Fala sério, sou modelo, mas não
significa que não goste de comer.
Leonard riu ao ouvir minhas mensagens e somente isso.
Em nosso primeiro encontro, usei preto e em todos os outros,
as cores neutras que tinha na mala. Em casa, havia muito mais
opções para deixá-lo com a língua enrolada dentro da boca e
babando feito um cachorro. Escolhi um vestido vermelho de cetim,
sem sutiã, e apenas uma calcinha preta de renda por baixo que era
bem pequena. Como Leonard era alto, podia abusar do salto.
Estava colocando as joias quando ele mandou uma mensagem
pedindo para que eu abrisse a porta e em seguida, a portaria me
avisou que havia uma equipe de um restaurante na minha entrada.
Todos haviam sido verificados por seguranças da Lewis. Eu não
fazia ideia que empresa era Lewis, mas era a mesma que Leonard
havia dito por telefone.
Abri a porta e eles tomaram conta da minha cozinha,
preparando o jantar. Trouxeram panelas, pratos, organizaram a
mesa, de repente, estava tudo cheiroso e parecendo um restaurante
de luxo.
— Está tudo pronto. Deixamos a instrução de como manter
tudo aquecido e servir. Tenham uma boa noite. — A Chef sorriu e foi
embora com a equipe.
Caramba! Eu estava em choque.
Terminei de arrumar e ele chegou. A campainha tocou
diretamente porque deixei sua entrada liberada. Abri a porta e sorri.
Leonard estava gostoso, usando um conjunto de terno de três peças
com um colete em um tom de cinza mais escuro. Ele desceu o olhar
do meu rosto e lentamente foi me comendo com os olhos. Sem
perder tempo, segurou minha cintura e beijou meu pescoço.
— Porra… cheirosa. — Arrastou o nariz até minha bochecha,
parando bem pertinho da minha boca. — Linda é pouco para te
descrever.
— Sentiu minha falta?
— Cada maldito minuto. — Ele sorriu e me beijou. Ah, sim!
Aquele beijo era o que faltava nos meus dias. Agarrei-o e puxei para
dentro. Eu não tinha vizinhos de porta, mas não precisávamos dar
um showzinho no corredor.
Leonard fechou a porta com um chute, sem me soltar. Nos
beijamos até que fiquei completamente sem gloss e sentada em seu
colo, falamos um pouco sobre nosso dia. Ele estava com a agenda
muito cheia e passaria pouco tempo em Londres, então, me senti
muito importante por ele ter feito de tudo para passar um tempo
comigo.
— Estou me sentindo um pouco egoísta em estar aqui ao invés
de deixá-la descansar. Você parecia tão cansada ontem…
— Adorei seu egoísmo, tornou meu dia ainda melhor com as
flores e a surpresa do jantar. Aliás, sei que é um príncipe e
provavelmente tem contatos, mas como conseguiu isso?
— Minha tia é CEO de uma rede de restaurantes de luxo e eu
fiz um pouquinho de charme para conseguir atenção da gerente que
está no lugar dela. — Ele soou como um garoto travesso que fez
arte e não se arrependia. — Alicia deve me matar por isso quando
voltar. Detesta que a gente mexa com o trabalho dela.
— Jogando seu charme por aí, Leonard? — Dei um beliscão
suave em sua barriga.
— Só para ter o que preciso. Se for para agradar a minha
garota, eu realmente farei de tudo. — Beijou meu pescoço. Minha
garota! — Está com fome?
— Apesar do cheiro, não sinto fome de comida agora, só de
um certo cara gostoso… — Fui desfazendo o nó de sua gravata. Ele
relaxou no lugar, me deixando tirar sua roupa. Abri o botão do colete
e espalmei a mão em seu abdômen, puxando a camisa. — Passei
muitos dias longe do que eu queria para simplesmente sentar à uma
mesa e apenas ficar te olhando…
— É bem provável que eu derrube a mesa só para ter você.
— Um jantar nudista depois?
Leonard sorriu e mordeu o lábio.
— Eu quero você, Khloe. Quero tanto que meu coração chega
a ficar acelerado.
Parei ao sentir a verdade em suas palavras.
— Estou aqui, Leonard — garanti, olhando em seus olhos. —
Estou bem aqui e sou sua.
— Essa é a melhor coisa que ouvi hoje e provavelmente, será
sempre a melhor que ouvirei saindo de sua boca.
Emocionada, beijei-o com todo sentimento que jurei que não
deveria ter por Leonard. No entanto, permitiria que meu coração
sonhasse naquela noite. No dia seguinte, tudo estaria de volta ao
lugar.
12 | Khloé
Ergui meu rosto só para ver os lábios dele arrastando-se
suavemente pela curva da minha cintura. Ele me olhou e sorriu,
dando uma mordida pouco acima do osso do meu quadril e
espalmando a mão grande em minha barriga. Arranhei sua nuca,
ciente de que estava fazendo o caminho novamente para entre
minhas pernas, dessa vez com a boca.
A primeira rodada foi puro desespero. Estávamos mais calmos,
mas ainda com muito desejo. Ele afastou meus joelhos e, com o
polegar, acariciou meu clitóris sem desviar os olhos dos meus. Mordi
minha boca, sentindo prazer e ansiosa para ter sua língua entre
minhas dobras. Empurrei meu quadril para cima, em um convite
silencioso. Ele riu, abaixando o rosto e me dando uma deliciosa
chupada enquanto beliscava meu mamilo.
Fechei os olhos, segurando seu cabelo e puxando, minhas
pernas inquietas reagindo ao prazer que ele me causava. O
orgasmo foi crescendo e não o controlei, deixei explodir e caí para
trás, estremecendo. Leonard lambeu a boca antes de me beijar,
busquei sentir sua ereção, esfregando minha boceta molhada em
sua extensão. Ele agarrou meu cabelo, gemendo e tateou a cama
em busca de uma camisinha.
— Coloque em mim. Estou louco para te foder de novo — falou
com rouquidão. Sua voz pingava desejo. — Porra, eu amo sentir
suas mãos no meu pau.
— Tanto quanto gosta da minha boca? — Coloquei a camisinha
e mordi seu queixo.
— Seu boquete é espetacular. Tanto que estamos na cama,
não jantando. — Ele riu suavemente. Olhamos para onde nossos
corpos se uniam e gememos. A visão era esplêndida.
Com minhas pernas cruzadas em sua cintura, inclinei-me para
trás e o encontrei a cada estocada, rebolando. A cama estava
bagunçada, lençóis por todo lado, meu quarto cheirava a sexo e
nossos perfumes. Era o aroma mais sexy de todos. Cada vez mais
perto do orgasmo, nos beijamos. Mordi sua boca ao gozar e me
afastei para observar a expressão linda daquele homem chegando
ao ápice.
Ele sempre soltava o gemido mais foda de todos, me dava
vontade de começar tudo novamente. Deitando a cabeça suada
entre meus seios, olhei para o teto e sorri. Ele beijou um caminho
até minha boca, tirou a camisinha e jogou fora. Seus olhos
brilhantes atraíram a atenção dos meus. Seu estômago roncou, nós
nos encaramos e rimos.
— Acho que deveria ter te alimentado ao invés de atacá-lo. —
Sentei-me na cama, precisando de um banho. — Vou para o
chuveiro e então iremos comer.
— Eu não pensei em comida quando te vi. Posso invadir seu
banho?
Nunca havia compartilhado o banho com alguém e me vi
dizendo sim, com um sorriso safado. Ele me pegou e foi nos
empurrando para dentro do box. Debaixo da água, sem camisinha,
fomos criativos ao brincar. Já fora do banheiro, ele vestiu a cueca e
eu me enrolei em um roupão de cetim, sem sentir a necessidade de
usar algo por baixo. Leonard acendeu as velas e pegou o vinho,
lemos as instruções juntos e ao invés de seguir a cartilha com os
pratos, fizemos um só e experimentamos um pouco de tudo.
Peguei uma fatia do pão com molho e o ofereci. Ele mordeu,
me olhando.
— O que foi? Tem algo a dizer?
— Não posso admirar sua beleza?
— Você diz que sou linda o tempo todo, já deveria ter se
acostumado com meu rosto.
— O que posso fazer se sou sortudo de poder estar aqui?
— Galante. — Beijei-o e fui para o seu colo. Em algum
momento, precisaríamos falar sério sobre nós, mas não seria ali.
Parecia que fizemos um acordo em ignorar a realidade e vivermos o
quanto podíamos daqueles encontros secretos. — Sabe que adoro
quando banca o charmoso?
— Eu sou um poço de charme e formosura. Não tem outro
exemplar por aí, então aproveite.
Nós não dormimos muito naquela noite e nem em todas que
nos encontramos em Londres. Ele precisou voltar para Rainland um
pouco mais cedo e me comprometi em ir vê-lo. Leonard tinha uma
casa em uma cidade adorável, mandou me entregar as chaves e
minha irmã certamente me mataria se descobrisse que depois de
um trabalho na França, voaria direto para o país que morava e
sequer passaria na sua casa.
Era loucura de amor. Eu nunca encaixaria uma viagem
cansativa entre dois trabalhos importantes. Pior de tudo: não
conseguia me arrepender. Organizei minha mala para todos os dias
que passaria fora. O mordomo me ajudou com elas e o motorista
enviado pela minha agência já me aguardava.
— Oi, gata garota! — Tia Evelyn me abraçou no aeroporto.
— Oi, tia. Animada?
— Bastante! Você será capa de duas revistas e isso me faz
querer explodir! — Ela riu e pegou minha bolsa, entregando a um
dos funcionários para que carregasse. — Alguma novidade? Você
sumiu, sei que gosta de descansar, mas seu tio e eu ficamos
preocupados quando não apareceu para jantar depois da formatura
da Anna.
Abri um sorriso sem graça ao perceber que tinha esquecido
que minha prima mais nova estava se formando e iria se mudar para
a Escócia no ano seguinte.
— Desculpa, tia. Eu meio que me perdi nos compromissos
pessoais.
— Eu ficaria chateada se sua mãe não tivesse reclamado que
estava sempre dormindo nas suas folgas. Ela veio dar uma de irmã
mais velha e brigar comigo por estar te sobrecarregando de
trabalho. — Ela riu e respirei aliviada que não entramos na conversa
sobre: é algum namorado novo que deva me preocupar? Não era
uma boa mentirosa e logo saberia pela maneira que começaria a
gaguejar.
Nosso voo foi chamado e toda equipe sentou junto. Meu
gerenciador de imagem, Josh e Marc, meu fotógrafo favorito,
começaram a falar sobre os bastidores, como ficaria meu cabelo,
maquiagem e eu cobri meu rosto para tirar um cochilo antes de
pousarmos em terras francesas. Mal deu tempo de comer. Assim
que aterrissamos, colocaram uma marmita de salada crua na minha
mão, pegaram meu telefone e começaram a soltar os fios do meu
cabelo.
Assim que entrei no estúdio, não consegui terminar de comer.
Roubei um tomate, enfiando-o na boca. O cronograma estava
apertado. Lavaram meu cabelo e começaram a mexer nas minhas
unhas, um estica e puxa de cada lado até ficar pronta quando o
cronômetro marcou zero. Marc gritou que as luzes do estúdio só
precisavam da estrela principal.
— Isso aqui é uma calcinha, mesmo? Ela vai se perder na
minha bunda e eu nem tenho tanta assim! — Tirei o roupão e virei
de costas, aguentando o spray frio para que nada saísse do lugar.
A música ficava bem alta para não deixar minha animação cair.
Eu dancei e andei, fazendo as poses programadas, acostumada a
lidar com as luzes fortes, os cliques excessivos e até mesmo as
estripulias que os fotógrafos pediam, para que tivessem muito
material. Eu ia desfilar para aquela mesma marca e sempre era
chamada para usar a nova coleção.
— Koko! — Tia Evelyn me chamou no final do dia. Eu estava
exausta. — Esses são os novos acionistas da marca e estavam
ansiosos para te conhecer! Uma foto para a imprensa?
— Meu roupão, por favor? — pedi à assistente. Ela arrumou de
modo que mostrasse a renda do maior e o decote, jogando meu
cabelo para o lado e retocando o batom.
Eles foram gentis e cheios de mãos, querendo esticar aquele
encontro para um jantar. Depois das fotos, neguei gentilmente. Eram
os típicos que entravam para o mundo da moda, acreditando que
toda modelo bonita estava disposta a sentar em seus colos para
conseguir um novo trabalho. Eu sabia da existência do teste do sofá
e de muitos sacanas que abusavam da inocência das meninas para
obter sexo.
Tia Evelyn já havia me contado horrores de modelos que
chegavam até ela pedindo ajuda, que foram abusadas sexualmente
e exploradas em trabalhos. Eu tive muita sorte de tê-la sempre me
protegendo e agindo como um escudo. Entrei no camarim para
trocar de roupa, ansiosa para chegar no hotel, comer e dormir.
— Eu vou ter que apagar um chupão na sua virilha. Sei que a
maquiadora caiu na história de que você é estabanada, mas eu te
conheço. — Marc deu um tapinha na minha bunda. — Safada!
Koko, não sabia que tinha uma gatinha furiosa, aí.
— Cala a boca! Como vai Frank?
Marc parou de sorrir um pouco.
— Ele é incrível, uma bola de energia, sempre brincando e toda
vez que estou com ele, me sinto no lugar certo no mundo. Ele tem
pessoas que o amam e aceitam, muito diferente da minha família. É
esquisito estar em um ambiente acolhedor.
— E o que tem de errado?
— Não existe nada de errado, a não ser a nossa vida louca.
Está difícil conciliar as agendas. Em algum momento, um de nós
precisará abrir mão da carreira para poder acompanhar o outro.
Esse vai ser o momento de romper ou de cometer loucuras. — Marc
apertou meu ombro. — Não se preocupe com isso. Sei que vai se
apaixonar por um homem capaz de entender a sua carreira.
Ah… eu já estava enrolada por um que tinha uma vida pública
impecável e nossas agendas só estavam batendo porque
estávamos indo além, desviando de focos, mas aquilo não duraria
para sempre. Nem seria saudável estar o tempo todo planejando
viver às escondidas.
Não consegui esquecer a expressão preocupada de Marc
sobre uma decisão importante que ele teria que tomar com Frank.
Fiquei me questionando o que eu faria. Mesmo sabendo que não
seria modelo para sempre e por ter outros planos, era sério pensar
em uma mudança brusca de vida, ainda mais para uma como a de
Leonard.
O preço seria alto demais.
Pousei em Rainland alguns dias depois e esperei que o
funcionário dele me encontrasse. Havia um carro e um homem de
meia idade encostado nele, que se adiantou quando pisei na pista.
— Olá, srta. Green. Sou Arnold Grey, secretário da Vossa
Alteza Real, Príncipe Leonard de Rainland. É um prazer conhecê-
la.
— Olá, sr. Grey. Obrigada por vir me buscar.
— É uma honra. Irei levá-la para casa de veraneio, agora.
Eu sorri e esperei que pegassem minhas malas. A viagem foi
tranquila e silenciosa, não consegui dormir. A mansão, apesar de
linda e mostrar seu poder no meio de uma paisagem exuberante,
ficava em uma área discreta e longe dos olhos do público. Os
funcionários foram dispensados para nossa estadia. Agradeci ao sr.
Grey e fiquei sozinha, me ambientando, colocando as malas no
quarto para não deixar nada espalhado.
A geladeira estava abastecida, adega principalmente e eu
estava quase fazendo um lanchinho quando ouvi o barulho de um
carro se aproximando. Leonard parou dentro da garagem e passou
pelo corredor, abrindo a porta da cozinha com um sorriso. Nós
apenas nos olhamos e, sem falarmos nada, nossos pés foram de
encontro um ao outro.
— Oi, linda. Senti sua falta. — Ele me abraçou apertado.
Deitei minha cabeça em seu peito, finalmente me sentindo em
casa e em paz.
Leonard está pronto para ser rei.
Sabemos que ainda falta muito tempo para que ele assuma o
comando, mas nossa nota de hoje é para elogiar sua postura
exemplar diante dos ataques da onda democrática. Com classe,
educação, diálogo aberto e demonstrando muita fé em Rainland,
Leonard derrotou os argumentos contrários à reforma e venceu o
processo no parlamento.
Assim como seu pai não escondeu o orgulho, Rainland também
não. As redes sociais estão tomadas por figurinhas do príncipe em
sua pose imperial. Está registrado em nossa história! A monarquia
deixa claro que não impedirá o crescimento tecnológico do país.
THE SUNRISE
13 | Leonard
Rainland.

Koko estava na cozinha da minha casa de verão, usando um


short curto e um top fora do lugar porque eu não conseguia controlar
minhas mãos. O cabelo estava preso no alto e as bochechas
coradas de termos ficado no sol por um tempo. Eu não podia
acreditar que ela estava ali, que fez a loucura de encaixar na sua
agenda dois dias para ficarmos juntos. Por um instante, pensei que
receberia sua mensagem dizendo que não daria.
Deixei as chaves dos fundos apenas na intenção de que
conseguisse. Era loucura e muita estupidez da minha parte
prolongar o inevitável. Nossas agendas não batiam, assim como
nossas vidas, mas caramba, por que fiquei tão atraído pela mulher
mais difícil de todas? Seria muito mais prático encontrar alguém
como meus pais queriam: que se encaixasse no papel real esperado
para uma princesa e futura rainha.
Minha vida nunca foi fácil.
Por que seria diferente quando se tratava do coração?
Eu me recusava a pensar no fim, porque seria doloroso. Não
era bom com términos, principalmente quando nós sequer
falávamos sobre o elefante branco. Apenas ignorávamos. Fingíamos
que nosso mundinho de ficar seminus na cozinha, experimentando
novas comidas, bebendo vinho e ouvindo músicas da década de
noventa era a nossa realidade. Ela ser uma supermodelo e eu um
príncipe fazia parte de um sonho.
— Eu vi uma foto sua circulando nas redes sociais, ontem.
— Sério? Algum ensaio foi liberado? — Ela continuou
concentrada em abrir as latas de milho. — Imaginei que você não
fosse do tipo que acompanha aplicativos.
— Não sou, mas desde que certa modelo bonita começou a
fazer parte da minha vida, me vi olhando o explorar ou talvez
pesquisando seu nome.
— Stalker — brincou e virou o milho na vasilha de salada. —
Gosta de queijo junto ou prefere frango?
— Prefiro os dois.
— Que foto viu?
— Uma com uns caras de terno quase babando no que é meu.
Khloé ergueu o rosto e me olhou com um sorrisinho.
— O que é seu?
— Você.
— Eu sou sua? — Ela soltou o limão e parou na minha frente.
— Sabe que sou louco por você, não faz nenhum sentido não
ser minha. — Segurei sua cintura e beijei a boca. Desci as mãos
para sua bunda e apertei, ela riu e voltou a me beijar, provocante.
Nós transamos a noite inteira e ainda assim, nunca parecia que
seria o suficiente.
— Ciumento, alteza real?
— Fiquei um pouco, sim.
Ela riu. Khloé levou meu ciúme na esportiva ou não acreditou
sobre o quanto eu podia ser ciumento.
— Eu não dei confiança. Não existe nenhum outro homem
ocupando minha mente.
O sorriso que surgiu no meu rosto não passou pela minha
mente evitar. Eu era tudo que estava na cabeça dela e porra, se
tivesse sorte, no coração também.
— Acho bom, srta. Green.
— Se eu não estivesse com fome iria pular em você de novo.
— Posso esperar. — Sorri, roubando um beijo rápido.
Ela voltou a preparar sua super salada gostosa enquanto o
frango estava assando e decidi abrir um vinho refrescante para
acompanhar nosso almoço. Organizei os lugares na cozinha
mesmo, não estávamos muito inclinados a bagunçar mais cômodos
do que o necessário. Dei um tour a ela, apresentando a casa que
herdei com dezoito anos e era um dos meus refúgios no país.
A mídia sabia que eu usava a casa para férias, mas eles não
costumavam invadir minha privacidade porque a área era protegida
pelos militares. Não era tão simples passar pelas estradas sem
autorização. Era por isso que podíamos passear pela manhã e
ainda olhar um pouco das flores silvestres que estavam crescendo
nos campos dos fundos.
Depois de comermos, ela recolheu os pratos e encostou contra
a pia.
— Minha agenda vai ficar completamente louca. As marcas
querem agendar as fotos das novas coleções para as estações
frias.
— Corrida, como sempre. Por que estamos entrando nesse
assunto?
— Eu sei que não quer falar sobre, mas, nós precisamos nos
ajustar em algum momento.
— Quando esse momento chegar…
— Desde quando se tornou um homem que foge de assuntos
sérios? — Ela cruzou os braços. — Se formos pegos, o que
faremos? O que diremos?
— Só fujo de assuntos que não posso resolver no momento.
Por que vamos dar um fim se ainda nem sabemos se deve acabar?
— Saí do meu lugar e toquei seus braços, desfazendo a postura
defensiva. — Sei que estar no limbo incerto pode nos machucar, só
que em pouco tempo, chegamos ao ponto em que terminar hoje ou
daqui a vinte dias será doloroso da mesma maneira.
Ela relaxou contra mim, soltando um suspiro.
— Estar com você é tão bom que eu não quero ir embora.
— É só não ir. Estou aqui e Deus sabe o quanto quero que
nossas vidas se encaixem. — Beijei sua testa e não falamos mais
sobre o assunto ruim.
Foram dois dias mágicos. Consegui levá-la de madrugada no
aeroporto particular de Rainland e nos despedimos com um beijo
cheio de saudades. Eu não fazia ideia de quando iria vê-la
novamente, considerando que no próximo mês, todos os meus
compromissos eram em Rainland, e não viajando. Charlotte e Ethan
estariam em casa para os eventos de verão, participando
ativamente dos projetos e assim morriam minhas “desculpas” para ir
a Londres sem motivo.
Cheguei no palácio ao amanhecer e fui informado de que
estava sendo esperado no café da manhã. Evitei meus pais tanto
quanto pude e não participei de nenhuma das tentativas da minha
mãe de me juntar com a srta. Lancaster.
— Bom dia, irmão favorito! — Charlotte invadiu minha ala
enquanto ainda me arrumava. — Estava em algum refúgio de amor?
— Balançou as sobrancelhas.
— Por que veio mais cedo?
— Um passarinho me informou dos planos da mamãe de te
juntar a uma certa senhorita que está hospedada sem nenhuma
necessidade aqui no palácio. — Ela me rodeou, pegando meus
perfumes e olhando de perto. — Então, como uma boa irmã, que
não quer que o irmão case por um acordo porque sabe que ele está
apaixonado por outra, vim conversar com a srta. Sonsa.
— Sonsa?
— Ah, fala sério! Quem fica com o cabelo perfeito e um sorriso
no rosto o tempo todo sem ser muito sonsa? — Charlotte explodiu.
— Fui às compras com ela.
— E como foi?
— Ela é legal, muito quieta e o tempo todo calculando as ações
para parecer perfeita. — Lottie se jogou na minha cama. — Devo
dizer que é o produto perfeito para a realeza. Sorriso lindo, postura
sem igual, se veste bem sem ser muito chamativa e não vai ofuscar
o brilho da rainha. Foi comedida nos gastos, não entrou em nenhum
assunto polêmico e eu quase soltei alguns bocejos. Em todo caso,
ela não serve, porque você não a ama e no que depender de mim,
os próximos dias serão muito divertidos.
— Comporte-se. — Olhei-a pelo espelho. — Sua mãe planejou
tudo com carinho.
— Inclusive, te ter noivo até o fim do verão.
— Isso não vai acontecer.
Pelo menos não com a srta. Lancaster.
Charlotte ficou de pé e parou ao meu lado.
— Eu amo Ethan, de todo o meu coração, o contrato foi a
melhor coisa que nos aconteceu. Mas isso não é regra. Casamento
por contrato pode ser uma infelicidade sem fim, então, se você se
apaixonar pela srta. Sem Sal, eu vou aceitar, agora, se noivar
porque é o melhor para Rainland… — Ela fechou a expressão. —
Eu vou infernizar a sua vida, Leonard. Não será infeliz somente por
um casamento sem amor, terá que me aguentar sendo a pior
pessoa da sua convivência.
— Pior do que já é? — questionei com um sorrisinho.
Charlotte socou meu braço e me mordeu, tentei me esquivar,
mas lutar contra Ethan deu a ela força e agilidade. Foi difícil me
soltar. Prometi que não me casaria naquele verão por nenhum
contrato e nem mesmo por amor à Rainland.
Ethan nos encontrou no meio do caminho, ele nunca pedia
para Charlotte se controlar. O marido da minha irmã era o seu
incentivador número um e defensor. Estava disposto a tudo. Aquilo
eu considerava um amor raro de se ver.
Minha irmã estava pronta para a guerra. Ela cochichou com o
mordomo e rapidamente, fui colocado entre os dois, e não ao lado
da srta. Lancaster. Mamãe se atrasou e quando percebeu, apenas
franziu o olhar. Eu não consegui fugir do passeio no jardim, todos
iriam e na primeira metade, Ethan se ofereceu para mostrar as
esculturas a Priscila. Eu andei com minha irmã, que falava tanto que
achei que meus ouvidos começariam a sangrar.
Na segunda metade, minha mãe deu um jeito de colocar
Priscila junto a mim. Eu não iniciei nenhum assunto complicado e
ela era do tipo que seguia a liderança, falava sempre que
necessário e de maneira comedida.
Ela era bonita, sim, de tirar o fôlego e não havia imperfeição,
mas não mexia comigo em nada. Não só porque parecia uma
menina que foi criada para ser esposa de um homem importante,
mas simplesmente porque não havia faísca entre nós. Não havia
nada. Passear com ela ou sozinho teria o mesmo efeito e por um
instante, pensei na vida ao lado de alguém que eu não amava.
Não queria aquilo.
Eu amava Rainland, mas não o suficiente para sacrificar o meu
coração pelo país.
Era melhor passar a vida inteira sozinho.
14 | Khloé.
Londres.
Amsterdã foi incrível. O resultado do trabalho me deixou muito
satisfeita, eu estava animada, o que refletiu nas fotos e vídeos.
Voltei para Londres, ainda me sentindo ligada na tomada de tão
feliz. Ao invés de dormir, lavei as roupas dançando e organizei o
apartamento com música alta. Meus pais acharam engraçado a
minha energia, quando normalmente, eu sempre dormia.
Troquei mensagens com Leonard, cheia de saudade, mas ele
estava ocupado nos eventos de verão de Rainland. Kim também. O
bar estava lotado de turistas que queriam uma bebida gelada e uma
boa refeição entre uma atração e outra. Kourt foi a única que pôde
me dar um pouco de atenção, mas era madrugada em Nova Iorque
e ao contrário dos nossos pais, ela acordava cedo com os meninos.
Fiquei em casa nos primeiros dois dias, trabalhei em contratos,
conversei com minha tia sobre ajustar meu cachê e tive reuniões
online com a equipe para mudar meu website para algo mais sóbrio,
maduro e com espaço para um blog, já que eu queria inserir a
escrita como algo comum para os meus seguidores. Descansada,
aceitei um convite de Marc para sair com ele e Frank.
Era uma balada muito famosa em que só entrava pessoas vips.
Eu queria dançar. Leonard brincou e disse que queria ver a minha
roupa antes de sair. Pensei que fosse para dar uma crise, mas ele
elogiou e devolveu com uma foto na frente do espelho só de cueca.
— Muito bem, ele sabe que é gostoso — falei para mim mesma
e guardei o telefone na carteira de mão, de couro vermelha.
O motorista chegou na hora programada, era o mesmo de
confiança que sempre usava. O local estava cheio e eu não precisei
esperar na fila, um segurança perguntou meu nome quando saí do
carro e me conduziu para o lado de dentro. Subi as escadas para o
camarote fechado que Marc estava e ele acenou feliz quando me
viu. Frank gritou, empolgado, dançando com uma mulher bonita que
reconheci como Catherine.
Ela estava acompanhada de ninguém menos do que o primo
de Leonard. Quando contei a Leonard sobre Marc e Frank, ele riu
dizendo que o mundo era pequeno. Explicou que Frank trabalhava
para Cat, que era namorada de seu primo, Louis. Fui apresentada a
todos. Pela maneira que Louis sorriu para mim, ele sabia. Disfarcei
o embaraço pedindo uma bebida.
— Pensei que fosse uma festa, lá fora está muito cheio e o
restaurante parece que vai explodir pessoas pelas janelas —
comentei, meio gritando com Marc.
— A festa é tudo isso, só achei que poderíamos nos divertir
melhor sem tanta gente, aproveitando o mesmo DJ. O show deve
começar daqui a pouco — ele gritou de volta.
Assenti e peguei meu drinque. Senti uma presença ao meu
lado.
— Será que cheguei tarde demais para pagar uma bebida para
a senhorita? — Leonard falou baixinho no meu ouvido. Eu virei,
gritei e pulei nele, ganhando uma risada alta. — Surpresa, linda.
— Ai, meu Deus! Como?
— Eu fugi de Rainland. Só posso passar a noite, tenho que
voltar cedo.
— Ah, caramba! — Segurei seu rosto e o beijei, sem me
importar que havia outras pessoas conosco. — Tornou a minha noite
infinitamente melhor. Deve estar exausto de toda viagem!
— Eu pousei e me arrumei na casa do meu primo. Na verdade,
ele mandou o avião, só assim poderia sair de Rainland sem ter que
prestar conta de gastos.
Olhei para Louis e agradeci. Se conseguisse soltar Leonard, eu
o abraçaria. Voltei para meu príncipe e o beijei de novo. Marc e
Frank estouraram champanhe, dando um viva e eu mal dei atenção,
concentrada demais no meu homem para comemorar qualquer
coisa além dele.
— Então, por baixo dessa roupa, tem aquela cueca sexy e todo
pacote?
— Tem tudo e é seu. — Ele sorriu contra a minha boca. —
Pena que eu não ganhei nenhuma amostra do que esse vestido
está protegendo.
— Só uma calcinha. Sabe que não sou do tipo que usa sutiã —
falei em seu ouvido.
— Ah… e eu amo isso pra caralho. — Ele apertou minha
bunda. Estávamos no escuro e ninguém nos encarando. — Vamos
socializar e sair daqui o mais rápido possível.
— Combinado!
Frank me chamou para dançar Bad Romance em cima de um
pequeno palco. Leonard me ajudou a subir e Cat agarrou uma
garrafa de cerveja vazia, usando de microfone. Nós dançamos, em
cada refrão um era a diva principal. Marc filmou, já que ele não era
de dançar e definitivamente tinha menos energia que o namorado.
Dancei e bebi, mas quando Leonard sinalizou que para ele
estava bom, eu simplesmente peguei minha bolsa e acenei. Saímos
escondidos pelos fundos, esperamos meu motorista em um beco
escuro na lateral e Louis nos ajudou para não sermos vistos.
— Estou simplesmente tão feliz que você veio me ver!
— Não sabe que tipo de loucura sou capaz de fazer para ter
você. — Ele beijou minha bochecha. — Estava com tanta saudade
que não consegui ficar longe. Não saber quando te veria novamente
estava me torturando.
Meu coração estava tão encantado que eu queria me jogar
nele bem ali no carro. Beijei sua boca discretamente, deitando
minha cabeça em seu ombro. Ao entrarmos no meu apartamento,
estava tudo escuro, tirei as sandálias e deixei minha bolsa em cima
da mesa. Diferente de todas as outras vezes que nos encontramos
rapidamente, não nos atacamos.
Ele foi abrindo a camisa, botão por botão, me olhando com
intensidade. Sentei na beira da cama, apreciando o showzinho
particular. Deslizei o zíper lateral do meu vestido, deixando frouxo.
Leonard ficou só de cueca, ajoelhou na minha frente e tocou meu
rosto com as pontas dos dedos.
— Quando estou longe, tudo que penso é em você. — Ele me
beijou com carinho.
— Quero estar com você o tempo todo.
Leonard lambeu o lábio, mordeu e me deu um sorrisinho
irresistível. Encostei minha testa na dele antes de beijar uma
bochecha e ir levando minha boca até seu ouvido.
— Te quero a cada minuto do dia.
Ele ergueu meu vestido, puxando pela minha cabeça e fiquei
só de calcinha na sua frente.
Mesmo se eu vivesse um milhão de anos, eu não poderia
descrever a intensidade do amor que fizemos naquela noite. Era
saudade, uma vontade louca de estar junto, um desejo de aproveitar
nosso tempo contado até o último segundo. Leonard preenchia algo
no meu coração que me tirava o fôlego, me fazia sentir mulher,
poderosa e transbordando com tantos sentimentos que eu não
poderia definir um a um.
Foi difícil deixá-lo ir na manhã seguinte. Eu queria amarrá-lo na
minha casa mesmo que isso significasse ser presa por sequestrar
um príncipe.
— Nos vemos em breve. Eu te prometo. — Ele me beijou antes
de sair.
Fechei a porta e me encostei contra ela. Ainda cansada, voltei
para a cama. Meu telefone ficou na bolsa que saí na noite anterior e
eu nem lembrei de pegá-lo. Dormi o dia inteiro, acordei com uma dor
de cabeça enorme e eram dez da noite. Meu estômago clamava por
algo para comer. Coloquei o aparelho para carregar e vasculhei a
geladeira em busca de comida.
Preparei uns filés de frango com salada, suco natural e comi
lendo um livro. Assim que liguei meu telefone, todas as mensagens
pendentes pularam na tela. Era muita gente me procurando, mas
como Kim me ligou de todos os números que tinha, assim como
Kourt, eu dei prioridade a elas, preocupada que algo tivesse
acontecido com os nossos pais.
— Oi, eu estava dormindo! O que houve?
— Leia as mensagens que te mandei! Me desculpa, Koko! Eu
não acompanho fofocas, você sabe que não tenho tempo! Olha as
mensagens! — Kim pediu, um pouco agitada. Ainda na ligação, vi a
capa de uma revista de fofoca. A manchete dizia: PRÍNCIPE
LEONARD DANÇA COM LOIRA MISTERIOSA EM BOATE DE
LUXO.
Abaixo foi o que quebrou meu coração.
Pulada de cerca? Enquanto Rainland espera notícias do
noivado, Príncipe Leonard é visto aos beijos com outra mulher em
Londres.
Noivado? Em seguida, minhas irmãs fizeram o trabalho
completo em destrinchar toda internet e achar matérias sobre uma
tal de Priscila Lancaster, que estava hospedada no palácio desde o
começo do verão. Ela e Leonard foram fotografados passeando no
jardim, sentados lado a lado em um jantar social e sempre próximos
nos eventos públicos. Até a irmã dele foi vista fazendo compras com
a filha de duques, alguém que a realeza se relacionava.
Alguém que pertencia ao mundo deles.
Como Leonard teve coragem de vir e dizer que ficar longe de
mim era uma tortura? Será que ele pensava que eu seria aquela
que veria às escondidas e ficaria com a garota perfeita nos braços
em público? Fechei meus olhos, sentindo dor. Encerrei a chamada
com as minhas irmãs sem conseguir falar nada. Minha garganta
estava tão fechada que parecia que alguém me sufocava.
Usei a busca pelo nome deles e havia muito mais revistas em
Rainland reproduzindo que Priscila Lancaster era a futura princesa.
Todo o povo acreditava que o noivado seria formalizado até o fim do
verão enquanto isso, tentavam descobrir quem eu era a todo custo.
Esperava que ninguém me reconhecesse, ou ganharia a fama da
garota que beijou um príncipe que estava prestes a subir ao altar
com a noiva que todos queriam.
Larguei meu telefone, sentindo falta de ar.
Encostei na parede e escorreguei para o chão, lutando com os
pensamentos de que estava acontecendo de novo. Dor dilacerante
que me fazia sentir fraqueza. Eu me apaixonei, droga. Me apaixonei
e estava com meu coração partido de novo e se fosse descoberta,
seria alvo de piadas no centro de um furacão doloroso. Era o
pesadelo começando novamente e eu odiei me sentir a adolescente
usada.
— É só um ataque, você é mais do que isso, vai ficar tudo bem
— falei baixinho comigo mesma. A tela do meu telefone acendeu e
era Leonard. Ele havia me ligado quase o dia todo e mandado
mensagens que não abri.
Peguei e respondi pela tela de bloqueio, mesmo.
“Me esqueça”.
Eu não podia permitir que ele me machucasse ainda mais.
15 | Khloé.
Londres.
Por uma semana, eu apenas segui o fluxo. Não atendi mais
meu telefone e depois de contar tudo para a minha tia, recebi dela
um aparelho provisório, só para que não ficasse incomunicável e
trabalhamos em alerta para que eu não fosse reconhecida. Não
queria falar sobre Leonard, muito menos com ele. Em algum
momento, teria que agir como uma mulher adulta e enfrentá-lo, mas
eu não queria porque nem toda terapia do mundo parecia ter curado
a garota que foi alvo de risadas no ginásio da escola.
Prometi que assim que me acalmasse, pegaria o telefone e
ligaria para ele. No fundo, essa cortesia, ele não merecia, mas era
por mim. O encerramento que precisava. Minha mãe me perguntou
se Leonard não tinha o direito de se explicar, de dar o lado dele da
história e Kourt concordou, mas Kim me apoiava em estar com raiva
e respeitar meu tempo.
Talvez não fosse completamente culpa dele o fato de eu ser
insegura e surtada, mas não faltaram oportunidades para que ele
me contasse sobre Priscila, até mesmo se estava considerando
casar com ela por ser perfeita para o papel de princesa. Eu não me
encaixava na vida dele, sempre soube daquilo, só merecia um
pouco de consideração em ser comunicada.
— Você está bem hoje? — Tia Evelyn entrou no meu
apartamento com a chave que tinha e me encontrou deitada no
sofá. — A dor de cabeça diminuiu?
— Um pouco. Dormi melhor essa noite. Trouxe o teste?
— Sim, basta fazer, tirar a foto e vamos mandar anexo ao
contrato. Se eles insistirem, faremos um de sangue por formalidade.
— Ela me entregou o pacote.
Aproveitei que estava com vontade de fazer xixi e fui para o
banheiro. Meu apartamento estava um reflexo da minha vida, uma
confusão e todo bagunçado. Minha aparência era de quem estava
sem pentear o cabelo, com o rosto pálido e os olhos inchados. Tudo
que fazia era chorar e dormir. Sempre fui do tipo que aproveitava
qualquer oportunidade para dormir, mas ultimamente estava além
do normal.
Ignorei o espelho, o pijama que não estava nada agradável e
fiz xixi em todos os potinhos, colocando os bastões dentro. Me
limpei, lavei as mãos e aproveitei o tempo de espera para escovar
meu cabelo e tentar parecer um pouco mais normal. Assim que
terminei, guardei tudo na minha bolsa de mão, porque tinha
planejado tirar uns dias na cabana e melhorar.
Recolhi tudo e olhei para os testes.
— O quê?
Agarrei as caixas e fui diretamente na legenda.
Porra, não.
— Eu não acredito nisso — sussurrei com o coração
acelerado.
Coloquei a mão na minha boca e me encarei no espelho, ainda
mais pálida e parecendo que ia desmaiar. Olhei os testes e meus
dedos tremiam.
— Koko, amor! Está tudo bem aí dentro? — Tia Evelyn bateu
na porta.
Abri.
— Acho que o contrato precisará ser cancelado. E todos os
outros também — sussurrei, me sentindo gelada. Encostei na
soleira para não cair.
Ela ficou confusa.
— Do que está falando, querida?
Entreguei a ela os testes e passei direto para a minha cama,
sem acreditar ou conseguir explicar que estava grávida. Todos
deram positivo. Abracei minhas pernas, ouvindo minha tia falar que
estava tudo bem, poderíamos nos reunir com calma depois, o
importante era marcar uma consulta médica o mais rápido possível
para fazer todos os exames necessários.
— Vá para a cabana e eu te encontro lá com seu tio, você
precisa sair desse apartamento e ficar bem. Gravidez não é o fim do
mundo. Muitas modelos fazem pausas na carreira para terem filhos
e depois retornam normalmente. — Ela abaixou na minha frente. —
Sei que está triste, confie em mim, vai ficar tudo bem.
— Eu sei. Realmente quero ir para o campo e colocar minha
cabeça no lugar. Agora, mais do que nunca, vou precisar ligar para
Leonard.
Eu estava tremendo. Olhei novamente para os testes, sem
acreditar que estava grávida. Não sabia quanto tempo, nós usamos
camisinha, fomos cuidadosos e definitivamente não planejamos.
Sem conseguir me mover, tia Evelyn arrumou minhas coisas que
faltavam. Eu tinha mesmo que sair, o apartamento estava com uma
dedetização agendada e em seguida, havia uma viagem planejada
para a Austrália, só não sabia como conciliaria minha agenda com
uma gravidez.
Queria ser mãe um dia, não naquele momento, não sem
planejar e não com o pai do bebê sendo um príncipe que precisava
ter ao seu lado uma esposa que o reino aprovasse.
E se ele estivesse noivo de verdade? Meu bebê seria um
bastardo?
Ele seria reconhecido? Eu faria aquilo sozinha?
Minha crise não parecia ter fim. Dirigi atenta porque me sentia
prestes a cair de um precipício. Parei para fazer compras e o
mercadinho me trouxe uma nova onda de lágrimas. A menina do
caixa me ofereceu lenços e perguntou se eu queria ajuda. Agarrei
uma barra de chocolate e fui comendo por todo o caminho.
A cabana estava arejada, por sorte não havia chovido muito,
esqueci uma das janelas do segundo andar meio aberta. Guardei as
compras e com preguiça de guardar as roupas, deitei-me no sofá
com meu chocolate e ali fiquei por horas. Meus dois telefones
estavam em cima da mesinha de centro, apenas um ligado, mas
poucas pessoas sabiam sobre ele.
Olhei para o teto.
— Puta que pariu. O que eu vou fazer? — questionei a mim
mesma, colocando minha mão na barriga. — Como posso estar
grávida?
Bem, eu sabia como fiquei grávida, só não estava acreditando
que de todas as coisas que podiam acontecer comigo…
Um bebê.
Esperava que fosse um só.
Quando anoiteceu, a fome me chutou do sofá e eu precisava
tomar banho. Meu rosto estava molhado de lágrimas e minha
aparência nojenta de novo. Peguei um pacote de macarrão com
queijo, coloquei água no fogo para esperar e automaticamente,
pensei em beber vinho. Cheguei a ir até a adega, parei a tempo de
lembrar que grávidas não podem beber.
Enchi um copo de suco de uva. Entendi o motivo de estar
torcendo o nariz para suco de laranja de garrafa, só conseguia
beber o natural e mesmo assim, com um pouco de dificuldade. Um
carro parou próximo, como não estava esperando visitas, ignorei,
porém, a batida na porta que veio em seguida me deixou alerta.
Se fosse um bandido, ele não bateria, certo?
As taxas de criminalidade por ali eram nulas, mas eu estava
sozinha e algumas pessoas desconhecidas me viram passar.
Desconfiada, me aproximei da porta e olhei pela janela antes
de abrir. Era um casal e eu não conhecia nenhum dos dois. Abri a
porta e os encarei.
— Oi, Khloé. Nós não nos conhecemos. — A mulher deu um
passo à frente. — Sou Charlotte e esse é meu marido, Ethan. Sou
irmã de Leonard.
Uma princesa na minha porta!
— Ah… — falei e mordi o lábio. — Em que posso ajudar?
— Acabei de pousar de Rainland e fui no seu apartamento,
expliquei a situação para sua tia e ela disse que você havia saído de
férias. Meu irmão comentou sobre um lugar perto da nossa casa e
nós viemos olhando, procurando, até deduzir que era aqui, por
causa do seu carro — explicou rapidamente. — Podemos entrar
para conversar?
— Tudo bem. — Dei passagem a eles, fechei a porta e apontei
para o sofá. — Está tudo bem com ele?
— Mais ou menos. Fisicamente, sim. Ele está preso com o
trabalho e não pode sair de Rainland, mas, meu irmão está
desesperado para esclarecer um mal-entendido e eu vim aqui fazer
isso, para que mesmo que decida terminar, que seja ciente da
verdade. — Ela foi incisiva. — Leonard não está noivo. Ele nunca
teve nada com Priscila Lancaster. Tudo era especulação da mídia
porque minha mãe está forçando a barra para acontecer um
noivado, ainda mais com alguém que ela tanto quer, mas não
corresponde aos sentimentos do meu irmão.
Meu coração acelerou no peito.
— Ele não está noivo?
— Não e não consegue te falar isso porque você não o atende
mais.
Suspirei, recostando no sofá e passando a mão no meu rosto.
— Eu sei que errei em não conversar com ele e sinto vergonha
de estar sendo tão infantil, mas é mais difícil explicar meus
sentimentos. Ficou tudo tão confuso e abriu um buraco no meu
peito, trazendo situações e lembranças do meu passado. — Segurei
meu cabelo. — Não consegui lidar. Fiquei apavorada com a foto na
revista e como aquilo poderia repercutir na minha carreira. Não foi
uma semana muito fácil.
— Imagino. Nós dois sabemos como é ser atacado pela mídia
assim e o quanto pode machucar. Existe alguma parte no seu
coração capaz de dar uma chance para conversar com meu irmão?
— Ela inclinou-se para a frente. — Leonard está muito chateado e
preocupado.
Eu olhei para o casal, eles estavam com as mãos unidas e me
olhando com expectativa.
— Ele realmente não está noivo?
— Não e nunca esteve perto de estar — Charlotte garantiu.
Mordi o lábio, ansiosa.
— Que bom, seria um problema se ele estivesse, porque eu
estou grávida.
Charlotte saltou de pé e deu um gritinho. Ela uniu as mãos,
dando pulinhos no lugar e disparou a falar sem que eu conseguisse
compreender uma palavra de verdade. Ethan levantou também, mas
ele foi até a janela e fechou todas as cortinas.
— O que houve? — Ela parou de gritar.
— Fomos seguidos. Vamos ficar bem enquanto eles não
puderem nos ver aqui dentro — ele garantiu e engoli seco. Eram
fotógrafos do lado de fora da minha casa?
— Você precisa ir a Rainland contar a ele pessoalmente e tirar
meu irmão dessa miséria.
Além de ter julgado mal, agi como uma idiota infantil, não dei a
ele o benefício da dúvida e ainda apareceria grávida na frente dele?
— Ele vai entender, sabe, é só culpar o bebê. Na verdade,
existe a grandíssima possibilidade de que todas as suas reações
foram dominadas pelos seus hormônios em fúria. — Charlotte
colocou as mãos na cintura. — Podemos voltar para Rainland,
praga? — Ela virou para o marido. Ele riu e apenas encolheu os
ombros. — Ótimo! Organize tudo! Vamos levar a mãe do meu futuro
sobrinho ou sobrinha para Rainland e dar a eles um bom encontro.
— O quê? Não! Tenho um trabalho na Austrália em alguns
dias…
— Vamos resolver isso depois! Primeiro, Leonard. Depois,
trabalho. — Ela determinou e parecia muito segura de si, mas a sua
atitude em simplesmente me chamar de mãe de seu sobrinho sem
sequer questionar a paternidade ou duvidar da minha índole me fez
confiar nela.
Era isso.
Eu iria para Rainland contar a Leonard que ele seria pai nos
próximos meses.
Casamento real ou fake?
Depois de quase termos certeza de um enlace entre nosso futuro rei
e a filha única do Duque e da Duquesa de Lancaster, essa colunista
não tem certeza se de fato havia algo verdadeiro ali. Em Londres,
há uma corrida para saber quem é a mulher loira que o príncipe foi
visto aos beijos.
Alguma aposta?
Lady Daisy Mail
16 | Leonard.
Rainland.

Eu olhei para as revistas e matérias impressas na minha


frente, desejando atear fogo. Andei de um lado ao outro, esperando
minha mãe entrar na sala de reuniões. Ela estava demorando de
propósito, sabia que desde que explodiu na mídia que eu teria um
noivado com Priscila, meu humor estava no limite. Aquilo era
inadmissível e ela teria que dar um jeito de retratar.
— Oi, querido. — Ela entrou, toda arrumada. — Tenho um
passeio com a Duquesa em alguns minutos. Teremos que ser
rápidos.
— Rápidos? Não. — Minha voz saiu dura. — Sente-se,
mamãe.
— A essa hora já procurando briga? — Ela fez uma pausa
dramática e olhou para a mesa. — E por causa da fofoca? Não é
possível que tenha ficado tão incomodado com um rumor. —
Revirou os olhos.
— Conserte isso. Negue tudo. E por Deus, mamãe! É melhor
que não seja você alimentando a mídia com essas fofocas e dando
esperanças à família! Estou te avisando, você vai passar muita
vergonha se continuar!
— Isso é uma ameaça? Me respeite, Leonard! Eu sou sua
mãe!
— Então, seja uma! Pare de agir como uma louca delirante
achando que seus filhos são peças de um jogo! Por uma semana,
estou trabalhando nas mudanças do governo e sendo infernizado
com essas perguntas estúpidas sobre um noivado que nunca vai
acontecer! Você não faz ideia do que isso me causou pessoalmente
e estou tão furioso, que mal consigo olhar na sua direção! — Bati
em cima das folhas. — Você tem até o final do dia para que todas
essas notícias desapareçam!
Mamãe arregalou os olhos.
— É sobre a loira? Eu vi a matéria e não acreditei, porque
esteve aqui o tempo todo, mas pensando bem, te perdi de vista por
alguns dias e conhecendo seus dons de entrar e sair sem ser
visto… não duvido que foi à Londres. — Ela me analisou friamente.
— Quem é? Neta de algum duque? Não lembro de ninguém do
nosso círculo que seja loira, mas são muitas pessoas. É um namoro
sério?
— Você prestou atenção no que te pedi? Se sim, é somente
isso que te interessa.
— Eu não controlo os jornais, Leonard. Admiro que pense que
tenho tanto poder com a mídia, mas farei o que puder para aplacar
esses rumores. — Ela ajeitou a saia, me deu um sorriso e saiu. Eu a
conhecia. Estava lutando para não mostrar chateação.
Mamãe julgou mal meu amor e dedicação à Rainland. Ela
esperava que a pressão pública me fizesse abrir os olhos sobre a
importância do casamento e considerando o quanto era cobrado em
ter uma esposa perfeita para ser a rainha. Ela se enganou comigo.
Peguei meu telefone e quase quebrei. Eu queria matar Khloé.
Como ela podia me jogar fora de sua vida na primeira fofoca, porra?
Ao mesmo tempo, não a culpava, afinal, eu sabia os estragos que
fofocas podiam fazer na vida de um membro da realeza. Por uma
semana, pensei em todas as possibilidades que a machucaram e
nenhuma delas era boa.
Estava desesperado, mas sentia que ao ligar mais uma vez, eu
seria condenado como um idiota. Eduardo[4], meu amigo de longa
data, passou por uma separação semelhante e me disse que seu
maior arrependimento foi não ter ido atrás de Clara antes. Eles eram
felizes juntos e eu tinha uma secreta esperança de que podia ter a
mesma felicidade com a mulher pela qual estava profundamente
apaixonado.
Até confessei para minha irmã. Charlotte ficou chocada por um
total de cinco segundos antes de levantar e dizer que me ajudaria.
Ela faria com que Khloé me ouvisse.
Fui até o bar da irmã dela no meio da noite e fui retribuído com
fúria, porque segundo Kimberly, Khloé se isolou e não falava direito
com ninguém desde que soube. A irmã dela queria me matar e não
quis me ouvir completamente. Desisti de insistir, focando em como
poderia encontrar com Koko sem parecer um príncipe relapso,
abandonando as reuniões importantes e televisionadas do governo
para ir à Londres.
Tomei um susto com uma ligação. Era Apolo. Não estava
atendendo meus amigos direito, mal respondia às mensagens,
porque não tinha cabeça. Eles sabiam que sempre fui discreto,
mesmo na fase em que todos nós podíamos ser chamados de bad
boys, prezava por manter minha vida longe do interesse do público.
Enviei uma mensagem de volta, me desculpando por não
poder atender e que conversaríamos depois. Minha vida parecia de
cabeça para baixo. Por mais que doesse pensar em um fim com
Khloé, com toda a mágoa que sentia por ela sequer me ouvir, eu
queria acertar as coisas. Queria me justificar e pedir desculpas pelo
sofrimento que foi causado sem o nosso controle.
— Sei que está sem cabeça, mas estão todos prontos. A
previsão é de seis horas na sala, o quanto antes começarmos… —
Grey falou suavemente.
— Sim, eu já vou.
Respirei fundo, ajeitei minha roupa e coloquei a cabeça no
lugar.
Quando entrei na sala, todos ficaram de pé e aguardaram em
posição de respeito até a entrada do meu pai. Ele ocupou o lugar de
maior destaque, eu abaixo e assim, a reunião orçamentária
começou sem muitas delongas porque não era a primeira vez que
debatíamos o assunto incansavelmente.
Era difícil manter minha postura com a mente cheia.
Lord Neelson sabia que estava me irritando. Eu podia ter
conseguido aplacar a onda democrática, ainda assim, ele não se
dava por satisfeito. Já havia assumido que seria o meu principal
desafeto no governo, pronto para questionar todo meu trabalho
cheio de privilégios.
Tivemos uma pausa de cinco minutos para a troca do escrivão
e Grey se aproximou com um bilhete da minha irmã, pedindo para
que fosse à ala dela imediatamente após o fim da reunião.
Ela estava de volta? Mal ficou um dia em Londres! O que a
louca queria?
— Está tudo bem, Leonard? — papai me chamou baixinho.
— Sim, pai. Vamos continuar.
Assentindo, sinalizou para que a reunião voltasse ao tópico.
Quase oito horas depois, deixamos a sala de reuniões e eu
pedi meu jantar na minha ala. Estava com fome, sono e muito
irritado. Em meu telefone, nenhum sinal de Khloé. Ela achava
mesmo que iria esquecê-la como havia pedido?
— Senhor. — Grey estava na porta. — Creio que a sua irmã
tenha solicitado uma visitante para sua ala. A reunião levou mais
tempo e a senhora em questão, precisava descansar. Devido à
natureza, imaginei que não haveria problemas e peço perdão por ter
tomado a decisão antes de comunicá-lo.
— Que visitante, Grey?
— A srta. Green chegou em Rainland essa tarde — ele me
respondeu e passei direto.
Subi a escada correndo até os quartos de hóspedes,
procurando e a encontrei deitada em um sofá, usando uma colcha
para se cobrir e o jantar quase intacto na frente. Khloé dormia
pacificamente. Nem parecia estar causando um transtorno dentro de
mim por não me responder.
Ajoelhei na frente dela e toquei seu rosto, querendo saber se
era real. Ela abriu os olhos e se agitou, sentando rapidamente e
tentando ajeitar o cabelo, passando as costas da mão na boca.
— Oi, Leonard — falou baixinho.
— Oi, Khloé. O que está fazendo aqui?
Ela torceu os dedos, nervosa e seus olhos se encheram de
lágrimas.
— Eu vim conversar e me explicar…
— Se explicar?
— Quando soube que estava noivo, foi como se meu conto de
fadas tivesse se tornado uma bola de cristal e alguém havia
chutado. A foto me colocando como uma pulada de cerca trouxe
inseguranças do passado e abriu uma mágoa que não consegui
controlar. — Ela ergueu o olhar do colo para o meu rosto. — Eu sei
que, oficialmente, não tínhamos nenhum compromisso, mas aquilo
doeu. Magoou. Me senti usada e enganada. Não consegui controlar
minhas ações a partir daquilo e não quis falar com você com medo
de ouvir que era verdade.
— Como poderia ser verdade se eu passei a noite com você,
Khloé?
— Você sequer me falou que havia uma mulher hospedada
aqui e que sua mãe tinha planos sobre um noivado. O que queria
que acreditasse? Tinham fotos de vocês passeando! Sentados
juntos em um jantar! — Ela se alterou um pouco, ficando vermelha.
— Como não me falou sobre isso? Se era porque não tínhamos
nada oficialmente, eu também não tinha a obrigação de te ouvir
depois.
— Parece que você veio no modo culpado, juiz e carrasco.
Terei oportunidade de falar?
Khloé cruzou os braços e deu de ombros, irritada.
— Eu errei em não ter falado sobre a srta. Lancaster e em
minha defesa, não foi para esconder, mas por simplesmente não
considerá-la importante o suficiente para sequer mencioná-la. Não
estava dando crédito ao plano da minha mãe, nem confiança,
porque para mim, nunca existiu a possibilidade. — Peguei sua mão
e a obriguei a olhar em meus olhos. — Não estou noivo e a única
mulher que estou envolvido é você. Ninguém mais.
— Eu surtei de ciúmes e raiva. Fiquei possessa e magoada.
Queria te pendurar no meu teto e bater, ao mesmo tempo, gritar
muito.
— Prefiro que grite comigo do que me ignore. Preciso que
acredite em mim, porque matérias tenebrosas irão sair, coisas serão
inventadas e eu… — Parei de falar ao perceber que ela estava
chorando. — Não, por favor, sem lágrimas.
— Me desculpe, elas têm vida própria. — Secou o rosto
rapidamente.
— Khloé, me perdoe por não ter falado sobre a srta. Lancaster
e por não termos conversado abertamente sobre o quão importante
era o nosso relacionamento, me desculpe.
— Me desculpa por não ter te ouvido e talvez com calma,
possa explicar tudo que senti. Na hora, fazia muito sentido te
ignorar.
Toquei seu rosto, com tanta saudade que estava disposto a
deixar tudo de lado.
— Veio até aqui só para conversarmos?
— Sua irmã bateu na porta da minha casa e quase me colocou
dentro da mala. Devo dizer, você tem uma defensora e tanto. —
Koko sorriu e imaginei Charlotte passando por cima dela como o
trator que era. — Achei que seria justo depois de tudo, falarmos
pessoalmente e você está em dias importantes…
— Eu queria largar tudo e ir.
— Só pioraria as coisas. Eu entendo o seu trabalho.
— Obrigado por vir. — Beijei os nós dos seus dedos. — Por
que não comeu tudo? Estava ruim? Posso pedir uma salada ou eu
mesmo desço para preparar.
— Não, estava ótimo. É que eu fiquei enjoada e parei de
comer.
— Enjoada?
— Leonard, eu não sei como dizer isso, mal assimilei a
informação…
— O que foi? Você está doente? — Alarmei-me pela expressão
de quem poderia vomitar a qualquer momento. — O que aconteceu,
Khloé?
— Estou grávida.
17 | Khloé
Leonard ficou pálido. Ele arregalou os olhos e caiu sentado no
chão, com a boca entreaberta, olhando para minha barriga como se
visse um fantasma. Eu riria se não estivesse muito nervosa com a
reação dele. Era um momento muito delicado, sua rejeição me faria
ter um colapso. Não era como se estivesse soltando fogos de
felicidade por estar grávida, mas não precisava ser apedrejada por
isso.
— Quando descobriu? Ia me contar, certo? — Ele soou rouco.
— Claro que sim, eventualmente. — Fui honesta.
Provavelmente não contaria de imediato, principalmente se ainda
acreditasse que estava noivo. — Descobri ontem e ainda estou…
chocada.
Ele engoliu em seco.
— Acho que também estou. Quer dizer, tem um bebê aí! —
Apontou para minha barriga e riu. — Nós fizemos um filho! Isso é
muito assustador e puta merda… precisamos resolver tanta coisa!
Temos que marcar médico, fazer os exames e ver a data do parto.
Tenho que ajustar minha agenda, ver qual o melhor quarto para ser
do bebê. — Disparou a falar e cobri sua boca.
— Calma. A única coisa que preciso saber agora é se vamos
fazer isso juntos. — Olhei em seus olhos e ele franziu o cenho,
ofendido.
— É claro que sim! Esse bebê é tão meu quanto seu, então,
sim! Vamos fazer isso muito juntos! — Ele segurou meu rosto e
pensei que fosse me beijar, mas ao invés disso, desceu o rosto para
minha barriga e o encostou ali. — Essa era a última coisa que
pensamos em fazer juntos.
— Sexo tem consequências, cresci ouvindo isso dos meus pais
e achei que era exagero. Usamos camisinha, nós nem brincamos
sem uma por perto e não praticamos o coito interrompido. Não sei
de quantas semanas estou, mas o teste que sua irmã me deu
aponta para o dia em que eu usei o vestido vermelho…
Ele me olhou confuso e depois sorriu, lembrando perfeitamente
do dia, voltando a deitar a cabeça no meu colo.
— Foi um dia incrível. Melhor dizendo, uma noite incrível. Foi
tão bom que fizemos um filho — falou baixinho e eu ri, um pouco
mais relaxada.
Ouvimos uma batida leve e um sino suave tocou na porta.
Leonard levantou e foi até ela, aceitando o carrinho de comida que
um senhor trouxe. Ele agradeceu e fechou a porta novamente, indo
até a mesa e desembalando a comida, que estava muito cheirosa.
Era um cardápio diferente do meu, em que o vinho usado para
temperar o molho do frango quase me fez vomitar.
— Quer comer comigo? Tenho peixe, purê… acho que vai
agradar mais o seu paladar do que coq au vin. — Ele puxou uma
cadeira para mim. Aceitei e me sentei.
— Não precisa dividir. Eu não sei se vou conseguir comer. —
Peguei um garfo e provei um pouco do purê. — Achei que estava
enjoada da comida porque costumo comer sempre as mesmas
coisas, mas até suco de laranja embrulhou meu estômago.
Confesso que na última semana, culpei você.
— Eu meio que sou culpado sim, de um modo geral. —
Leonard pegou minha mão. — Coma mais um pouco.
— Eu realmente sinto muito. Minha terapeuta me disse que por
mais que a gente supere algumas coisas do passado, existem
situações que são gatilhos e eu me deixei levar pelo sentimento
novo. Tudo era novo, inclusive, estar apaixonada. Só senti isso
quando adolescente e foi um desastre, aí quando eu vi a revista,
voltei para dentro daquele pesadelo novamente. — Eu o olhei,
sentindo as lágrimas outra vez. — Por mais que estivesse certa em
estar com raiva, agora sinto culpa por não ter te ouvido.
— Bem ou mal, nós não nos conhecemos cem por cento.
Estamos nesse processo, foi falha da minha parte não ter sido claro
sobre a presença da srta. Lancaster. — Ele secou meu rosto,
inclinando-se na minha direção. Quis sair do meu lugar e me
refugiar em seu colo. — Por favor, linda. Pare de chorar. Eu sou
apaixonado pelo seu sorriso. Agora vem, vamos comer. Amanhã
será um longo dia.
Leonard praticamente me obrigou a comer metade do prato e a
comida desceu com um pouco de dificuldade porque ainda estava
nervosa. Nós não tínhamos nos acertado de fato, não parecia que
tudo ficaria bem. Quando cheguei, fui colocada em um quarto de
hóspedes, fui até ele, tomei banho e vesti um pijama. Eu já havia
conhecido palácios em visitas turísticas, mas era bizarro saber que
Leonard vivia em um. Tudo era enorme e lindo, impressionante e me
deixou intimidada.
Ele saiu do banheiro e sentou na pontinha da cama, sem
camisa e com uma calça de pijama. O cabelo molhado estava
despenteado e pela maneira que apontava em todas as direções,
dava para entender que sua mão passou por ali mais de uma vez.
— Está tudo bem? O banheiro tinha tudo que precisava?
— Estava tudo perfeito.
Ele olhou para a cama e depois para mim.
— Você quer dormir aqui ou comigo?
— Quero ficar com você, mas eu não sei se dormirmos juntos
vai infringir alguma regra. Charlotte comentou algo sobre casais não
casados juntos, mas eu não tinha certeza se estava brincando, sua
irmã fala muito.
Leonard soltou uma risada bonita e eu fiquei encantada.
— Ela fala mais do que qualquer um possa acompanhar, mas
sim, o país é muito católico e é contra as regras do palácio. No
entanto, já fizemos um filho. Dormir junto é o de menos. Se você
quiser, minha cama é toda sua.
Mordi meu lábio.
— E você ainda é todo meu?
Ele ficou de pé e me agarrou. Soltei um risinho, feliz por estar
em seus braços.
— Nunca deixei de ser. — Ele me beijou do jeito que eu estava
precisando, morri de saudades. — Vamos para a cama e dessa vez,
só para dormir. Amanhã será um longo dia.
De mãos dadas, atravessamos o corredor. O quarto de
Leonard era ainda maior e mais bonito do que o que eu estava
alojada. Era todo branco com detalhes em dourado, as poltronas em
um tom verde-escuro no modelo imperial francês e a cama enorme
no meio. Ele disse que me daria um tour completo no dia seguinte,
meus olhos estavam pesados mas eu não queria dormir.
Ele deixou uma luz suave no outro cômodo acesa, deitamos no
encaixe perfeito em que estávamos acostumados e dessa vez,
colocou a mão na minha barriga como se precisasse sentir que o
bebê era real. Sorri, mais tranquila ao ver que não era a única com a
sensação de estar fora de órbita. Leonard beijou meu ombro.
Peguei no sono melhor do que em qualquer outro dia. Ali era
tudo silencioso, calmo, mal vi o dia amanhecer. Sozinha na cama e
com um pouco de frio, puxei um pouco mais a colcha. Leonard
estava no banheiro e ao ver o tênis no canto do quarto, deduzi que
havia saído para correr. Sem se preocupar em vestir roupas, saiu
nu, meio molhado, secando-se e me deu um beijo.
— Está bem?
— Estou com frio e fome. Foi correr?
— Precisava. Mal consegui dormir pensando no bebê.
— Eu sei, minha cabeça ainda parece que vai explodir.
— Vamos conversar depois que comer, está bem? Quer que eu
busque suas coisas?
— Não. Eu vou até lá sozinha, ainda sei andar — brinquei e
beijei sua bochecha, saindo da cama rapidamente. Foi uma péssima
ideia, porque me senti zonza e precisei me apoiar nele. Leonard me
segurou. — Calma, isso é normal! Movimentos bruscos, estou bem,
já volto.
— Fique aqui, teimosa.
— Eu não vou cair, só preciso me acostumar a ter mais
cuidado. — Saí de seus braços.
Encontrei o outro quarto com facilidade, abri minha mala e
considerando o local que estava, peguei uma saia midi bonita e uma
blusa de mangas transpassadas que estava no auge da tendência,
separei presilhas para meu cabelo e montei rapidamente um estilo
simples, porém, arrumado e bom o suficiente para me aquecer.
Levei quase quarenta minutos para ficar pronta. Leonard
chegou a aparecer na porta para verificar se estava tudo bem.
— Nós vamos a algum lugar?
— Sei que está acostumado a me ter de calcinha e
descabelada, mas aqui é um palácio, eu não vou ficar bagunçada.
— Coloquei algumas pulseiras. — Está bom?
— Está incrível. — Ele sorriu e segurou minha cintura, me
puxando para si e me beijando com cuidado para não borrar meu
batom. — Gostinho de cereja. Eu amo quando usa isso.
— Uso porque sei que não consegue parar de me beijar.
— Essa saia é boa de apertar sua bunda. — Ele agarrou
ambos os lados.
— Não faça isso em público.
Leonard não prometeu nada. Segurando minha mão, me levou
para a sala de jantar principal de sua ala e fui apresentada à
governanta, a sra. Esra e em seguida, o mordomo foi cordial ao
dizer para chamá-lo apenas de Guilherme.
— É uma variação latina para William, certo?
— Algo como isso, senhora. Meus pais são brasileiros e vieram
para Rainland antes do meu nascimento. — Ele me deu um sorriso
adorável.
— E o Grey, você já conheceu. — Leonard passou o braço por
minha cintura. Seu secretário particular me deu um sorriso. —
Teremos uma reunião depois do café.
Grey deu um aceno e saiu. Leonard puxou uma cadeira para
mim, peguei o guardanapo e coloquei no colo, reparando que havia
mais utensílios do que pessoas.
— Por quê quatro lugares?
— Você vai saber em minutos. — Leonard foi para seu lugar.
Na dica, a porta grande de madeira foi aberta bruscamente e
Charlotte entrou sorridente, desejando bom dia, reclamando de
fome. — Ficou até tarde acordada?
— Estou atrasada em um monte de aulas da faculdade e
precisava terminar um trabalho. Ethan ficou me ajudando e consegui
mandar a tempo. Fui dormir quase três da manhã. — ela explicou e
me olhou, mais tímida. — Desculpa por não ter voltado. Quando
soube que meu irmão estava aqui, achei melhor dar privacidade.
— Sem problemas. Nós conversamos e já contei a ele.
— Parabéns, irmão! — Charlotte se jogou nele, dando um beijo
barulhento. — Estou tão feliz!
— Obrigado e se controle, ainda temos que conversar sobre
todos os detalhes. Fique calma.
— Estou calma, estou feliz também.
Ethan entrou com mais tranquilidade, nos desejou bom dia e
não resistiu em parabenizar Leonard, também. Assim como eu, ele
ficou feliz com a felicidade da irmã e cunhado. Ainda não tinha
contado para as minhas irmãs. Eu faria pessoalmente com Kim,
ligaria para Kourt quando saísse do trabalho e pensaria em uma
maneira de falar com meus pais sem matá-los do coração.
Eu não sabia que chá tomar, se faria algum mal, o cheiro do
café me deixou nauseada e li em algum lugar que cafeína fazia mal
ao bebê. Tomei um pouco de suco de morango, comi ovos sem sal,
queijo e biscoitos, nada em grandes quantidades.
— Você come pouco mesmo ou está enjoada? — Charlotte
soou preocupada.
— Ela come mais do que nós dois juntos. — Leonard riu.
Bati em seu braço, envergonhada. Comia bem, o que é
diferente de comer muito.
— Eu não estou enjoada, mas já tem uns dias que a comida
não parece ser atraente. Eu não sei se posso beber café, que tipo
de chá não faz mal à gravidez e não estou suportando sentir cheiro
de suco de laranja.
Charlotte pegou um copo de suco e cheirou.
— Sei que é bizarro, mas eu sinto o cheiro. — Abri um sorriso,
me desculpando por parecer maluca. — Estou satisfeita.
— Vamos buscar um médico e saber como lidar com a sua
alimentação a partir de agora. — Leonard me tranquilizou e
ofereceu um bolinho de chocolate. Dei uma pequena mordida,
experimentando, e achei tão gostoso que acabei comendo tudo.
Grey apareceu discretamente no fundo da sala e moveu o
relógio. Leonard assentiu e percebi que era o momento em que
deveríamos sentar, conversar e descobrir como nossas vidas iriam
mudar completamente a partir daquele instante.
18 | Khloé
Charlotte e Ethan saíram depois do café e a mesa foi
recolhida enquanto Leonard e eu seguimos para um conjunto de
sofás. Ele segurou minhas mãos e olhou em meus olhos com um
sofrimento que me deixou profundamente preocupada. Não era
comum seus olhos azuis, sempre leves e divertidos, mostrando
qualquer medo. Ou talvez, não o conhecesse completamente.
— Você está me deixando nervosa.
— Temos que falar sobre o bebê e o nosso futuro. É algo bem
sério e vai mudar tudo, trazer um peso ao nosso relacionamento,
que até então, tínhamos o acordo de evitar. — Ele acariciou minha
palma. — Para que possa assumir o bebê e fazer parte da vida dele,
ele terá que ser reconhecido oficialmente como meu herdeiro. Para
isso, precisamos nos casar.
Puta merda.
Arquejei e não consegui falar nada.
— Sei que estamos apaixonados agora e ainda assim, o
casamento é algo tão assustador quanto criar um filho.
Principalmente, com o peso que ser minha esposa vai trazer para
sua vida. Se tornar a Princesa de Rye, significa abrir mão da sua
vida como modelo, terá que se converter ao catolicismo e obedecer
todas as regras da família real e de Rainland. — Ele entrelaçou
nossos dedos porque eu me sentia em choque. — Deixará de ser
Koko Green para se tornar Khloé, Princesa de Rainland e trabalhará
para o governo com amor e dedicação, porque fará um juramento à
coroa.
— Leonard…
— Eu sei, me perdoe. — Os olhos dele brilhavam. — Tudo que
menos quis foi te arrastar para esse inferno e me dói tanto o que a
minha vida vai causar na sua… Eu até cogitei a possibilidade de te
deixar livre para criar nosso bebê sem mim, mas isso significaria
que não poderia ser o pai dele. Eu não posso viver com isso, Khloé.
Não quero abrir mão da vida dele. Eu o sou pai.
— Não quero que abra mão da vida dele, mas eu…
— Não quer abrir mão da sua — ele concluiu por mim.
Comecei a chorar, sentindo desespero. Não consegui controlar os
soluços. — Ei, se acalme. Eu posso lidar com a segunda opção, só
quis deixar claro que nunca será o meu desejo.
— Não é isso! É muita coisa da noite para o dia, sei que não
seria modelo para sempre e pelo amor de tudo que acredito, eu
quero que meu bebê tenha o pai! Cresci com o meu e não vou tirar
isso dele, não sou tão egoísta assim, mas caramba! É muita coisa!
— Segurei seu rosto, querendo que me entendesse. — Leonard, eu
não nasci na família real. Nunca precisei me portar como uma
princesa. Tudo que queria era ter dinheiro para viver bem e poder
escrever todas as coisas que sinto. Como vou governar ao seu
lado? Como serei uma princesa? Eu nasci no interior da Inglaterra!
— Ah, linda. — Ele me beijou, secando minha bochecha e
fechei os olhos. Deitei minha cabeça em seu ombro. — Confie em
mim, vamos ficar bem, só por favor, confie em mim. Não quero viver
sem você e o bebê.
— Eu sei, nem eu quero. Tenha paciência comigo. A decisão é
difícil de tomar, mas qualquer outra, vai me rasgar ao meio.
— Você vai ficar?
O que eu iria fazer? Pensar em me afastar e criar meu filho
como um segredo sujo da realeza não era o que queria e nem
aceitaria. Leonard e eu não fizemos nada errado.
— Eu não quero ter esse bebê sem você — falei baixinho.
Leonard chorou. Ele estava sentindo muita dor e não cansava
de repetir que a culpa era dele. O abracei, confortando-o. Não me
arrependia de me apaixonar, muito menos de tudo que vivemos, o
bebê foi uma surpresa e nós não podíamos pagar como se fosse um
pecado.
— Se você não me soltar, eu prometo que não vou te soltar.
Não me deixe sozinha.
Ele olhou em meus olhos com tristeza e ao mesmo tempo, um
pequeno sorriso nos lábios.
— Eu nunca vou te soltar, Khloé. É uma promessa. —
Entrelaçou nossos dedos.
Nós ficamos abraçados por um tempo, até que Grey nos
chamou gentilmente e Leonard me conduziu a uma sala onde
estava sua equipe. Eles foram comunicados sobre a gravidez e tudo
deveria ser tratado com extremo sigilo até que contássemos para
nossas famílias. Foram organizadas as minhas idas ao médico sem
que soubessem, assim como o noivado e o casamento, que
precisaria acontecer em um piscar de olhos.
Leonard segurou minha mão a todo momento. Quando
precisava escrever, colocava em sua coxa, mas nunca me deixou
longe. Eu estava tentando acompanhar a rapidez com que eles
conseguiam encaixar tudo para evitar um escândalo. Já seria um,
porque ninguém sabia do nosso relacionamento e com os rumores
tão fortes de um noivado com a srta. Lancaster, eu estaria
inevitavelmente no olho do furacão. Seria preciso alinhar com minha
equipe a minha imagem para diminuir os discursos de ódio na
internet.
Eu era o oposto da srta. Lancaster.
Posava seminua, desfilava com os seios de fora e apenas
adesivos cobrindo meus mamilos, sem contar os diversos ensaios
que deixariam a igreja católica chocada.
Assim que a reunião acabou, pedi licença e fui ao banheiro
vomitar. Ajeitei minha aparência e retoquei o blush enquanto
Leonard me esperava lá fora.
— Quer comer alguma fruta? Qualquer coisa?
— Não, estou bem de comida.
Ele apenas segurou meu rosto e beijou minha testa por um
longo tempo.
— Posso permitir que a sra. Esra coloque suas coisas no meu
quarto?
— Claro, sem problemas. Não tem nada demais na minha
mala. O que faremos agora? Você tem trabalho a fazer, certo?
— Em três horas. Charlotte deve vir aqui, ela não vai te deixar
em paz.
— Bom que terei companhia, mas na verdade, queria saber se
posso ver a minha irmã. Quero contar a ela tudo que está
acontecendo. Quando irei conhecer seus pais?
— Amanhã. Depois das fotografias. Quero ter o anúncio do
noivado pronto.
— Tem certeza? Eles não vão ficar chateados?
— Meu pai vai me entender e minha mãe é uma mulher muito
difícil. Ela é ardilosa e complicada, temos que ter diversos planos
com ela para que não nos atrapalhe em nada.
Conhecer a mãe dele estava me assustando muito.
Leonard me abraçou e ficamos quietos, contemplativos um
com o outro, quando ouvimos a porta abrir. Eu soube que era o pai
dele pela semelhança.
— Opa, filho. Desculpa. Não sabia que estava com uma visita.
— Ele estava nitidamente sem graça. — Eu vim ver se queria
caminhar comigo antes da próxima reunião.
— Sem problemas, pai. — Leonard me virou de frente. — Eu ia
apresentá-la amanhã e se puder guardar segredo, quero que
conheça a mulher por quem estou profundamente apaixonado.
— Olá, querida. Eu sou David, pai dele. — Ele esticou a mão
para mim.
— Eu sou Khloé. — Apertei, me sentindo um pouco tímida.
— Seja bem-vinda à Rainland. E por que temos que guardar
segredo? — Ele nos olhou com interesse e desviei o olhar, não
queria começar a relação nora e sogro com uma mentira.
— Mamãe ainda não sabe sobre meu relacionamento com
Khloé e devido aos recentes acontecimentos, quero contar amanhã.
Khloé está grávida e nós ficaremos noivos. — Leonard jogou. Eu
pensei que o pai dele fosse ficar bravo, mas ele simplesmente pulou
e abraçou o filho de supetão, rindo de felicidade.
— Você está me dando um neto ou neta?
— Caramba, pai! Sua reação é uma completa surpresa. —
Leonard riu junto.
— Você já passou dos trinta, estou bem em ser avô. Tudo bem
que preferia que fosse depois de um casamento, mas parece que já
tem planos de fazer a coisa certa. Eu confio no homem que eu criei,
sei que é um príncipe que honra Rainland e o nome da nossa
família. — David deu um tapinha na bochecha de Leonard.
Para o pai, era natural como a luz do dia Leonard fazer a coisa
certa e corresponder às expectativas do povo. Para mim, era uma
pressão surreal de se lidar.
— Quanto a sua mãe… sim, amanhã. Deixe tudo organizado e
conversamos à noite.
David saiu para sua caminhada e voltei a encarar Leonard.
— Ele vai conversar comigo mais seriamente. Sem ninguém
por perto, fará perguntas como pai e rei, é normal, algo que
esperaria dele por se importar comigo. Nada que deva se preocupar.
— Ele esfregou meus braços. — Quer que te leve na sua irmã
agora?
— Vai me buscar mais tarde?
— Quando terminar com meu pai, vou pessoalmente.
Eu sorri e beijei seus lábios. Peguei minha bolsa e ele avisou a
Grey dos nossos planos. Foi feito um rápido esquema para que
pudéssemos sair sem atrair atenção, com carros blindados e muito
escuros. Grey foi na frente com o motorista e um carro da
segurança, garantindo que não estávamos sendo seguidos. Não
avisei à minha irmã da minha chegada. O carro parou em um beco e
um dos guardas bateu nos fundos.
Um funcionário de Kim apareceu, meio assustado e a chamou.
Minha irmã surgiu usando um vestido preto, saltos altos, com o jeito
de que estava pronta para um encontro.
— Até mais tarde. — Beijei Leonard nos lábios.
— Eu volto antes do jantar — ele prometeu, sentindo
ansiedade em ficarmos separados.
Abri a porta e Kim fez uma expressão de choque antes de
sorrir. Ela abriu os braços e corri para eles, necessitada do conforto
e amizade que só uma das minhas irmãs poderia me oferecer
naquele momento. Eu estava tão assustada que não tinha mais
lágrimas para chorar. Os carros partiram e para não atrair atenção,
subimos a escada diretamente para o andar de cima, onde encontrei
o caos em uma zona de roupas.
— Eu tenho um encontro quente hoje, estava experimentando
as roupas — ela me explicou e limpou um lugar. — O que está
fazendo em Rainland? Vocês se acertaram? Ele está noivo ou não?
— Ainda dará tempo de ir e sim, nós nos acertamos. Leonard
não está noivo. Foi tudo um desencontro de informações e falhas na
nossa comunicação, estamos bem, nos ajustando agora que
surgiram problemas maiores. — Sentei-me na cadeira e ela tirou as
sandálias, me olhando com expectativa. — Está preparada para ser
tia de um príncipe ou de uma princesa?
Kim abriu a boca e ficou congelada no lugar.
— Você está grávida? — sussurrou em choque.
— Estou. A semana foi um bom caos por causa da gravidez,
também. Hoje foi um dia difícil, eu vim aqui comer, chorar e receber
um pouco de colo porque realmente preciso.
Minha irmã morava em Rainland e mais tempo do que eu,
sabia das regras e o que implicava ser um membro da família real.
Ela conhecia a minha vida. Provavelmente, era a única que podia
compreender o furacão que estava acontecendo dentro de mim.
Quando as primeiras lágrimas caíram, ela me abraçou apertado.
19 | Leonard
Meu pai estava do outro lado da mesa, me encarando com
diversão. Ele parecia achar divertido que eu estava feliz por estar
com Khloé e triste por tudo que precisaríamos passar para ficarmos
juntos. Ele fez as perguntas que esperava: se a amava de verdade,
se ela faria os juramentos e se aceitaria o papel de extrema
importância, de ser Princesa de Rye. Como pai, estava preocupado,
porém, confiando em mim. Como rei, ele tinha que assegurar o
futuro do país.
— Será um caos, filho. Sabe como a mídia pode ferir
pessoalmente cada um de nós e para sua namorada, dada a vida
que ela tinha antes, será ainda pior. Se é isso que querem, estamos
juntos e terá meu apoio. — Ele inclinou-se para a frente e me deu
um sorriso tranquilo. — Espero que seja feliz. Ser pai mudou a
minha vida. Vamos lidar com o que vier.
— Estou nervoso com isso. Eu sempre soube que seria pai um
dia, mas sem aviso é muito apavorante. — Passei a mão no cabelo,
parando na nuca e olhei a hora. Precisava buscar Khloé na irmã em
alguns minutos. Ela foi cedo e já estava com saudade.
— Eu sei. Sua mãe e eu planejamos, ainda assim, foi bem
assustador. Vocês vão precisar conhecer um ao outro e confiar
muito, não podem permitir que ninguém se intrometa na vida a dois.
Eu sei que sua mãe é incontrolável a maior parte do tempo. — Ele
suspirou. — Ela não tem uma relação com vocês que aprovo.
Espero que Khloé seja uma mãe exemplar para os seus filhos e que
vocês dois sejam felizes como marido e mulher. Essa parte não
deixa de ser importante depois dos filhos e com todos os deveres
reais.
Por algum motivo, a fala dele acendeu um alerta de que o
casamento dos meus pais estava de pé só porque eram reis. Ele
nunca me falaria. Não era do tipo de se abrir sobre seus problemas
com minha mãe, sempre tentava apaziguar as brigas e criar um
campo neutro para que a família permanecesse unida.
— Tenho que ir, pai. Obrigado por todo apoio. — Apertei seu
ombro.
Mais cedo, quase fui seguido pela imprensa que ficava
acampada nas saídas principais do palácio e por isso, usei a de
funcionários, com um carro comum e todo escuro para não ser
reconhecido. Sem um segurança por perto para não chamar a
atenção, a irmã de Khloé me orientou a parar no estacionamento
dos fundos e subir uma escada de ferro que ficava acima da
cozinha.
Olhei ao redor antes de sair do carro e subi rapidamente,
batendo na porta. Kim abriu e me deu um olhar de quem poderia
pular no meu pescoço… para arrancá-lo fora. Dei o meu melhor
sorriso, aquele que eu sabia que derretia as mulheres.
— Não tente me deslumbrar. Você já enfeitiçou uma Green. —
Ela soou ameaçadora. — Não me importo de ser presa e vou fatiar
suas bolas se fizer minha irmã chorar novamente.
— Nunca foi minha intenção fazê-la chorar.
— É melhor mesmo. Vem, entre. Ela está jantando.
Khloé estava em cima de uma cama de casal cheia de roupas,
com uma vasilha de salada, o que eu imaginava que era a mistura
que mais gostava. Sentei ao seu lado, ganhei um sorriso e um beijo
rápido. Ela estava comendo pouco, muito mais por nervoso do que
enjoo e a partir daquele momento, decidi que precisaríamos tomar
muito cuidado com a alimentação.
— Passou o dia bem?
— Conversar me ajudou a colocar alguns dos meus
sentimentos no lugar e estou mais calma. — Ela me deu um sorriso
tranquilo. — Dia agitado?
— Estou feliz que os compromissos acabaram.
— Como foi a reunião com seu pai?
— Ele expressou as preocupações que já conversamos e disse
que está do nosso lado. Amanhã será um dia de grandes
revelações.
— Já escolheu o anel? — Kim entrou na conversa.
— Eu imagino que Khloé e eu possamos fazer isso juntos.
Pensei em um, mas será algo que ela vai usar a vida inteira, então
precisa ter afinidade.
— Estou ansiosa para vê-lo. — Koko sorriu, aparentando estar
mais tranquila. — Liguei para minha tia e ela estará vindo para
acertamos todos os detalhes jurídicos da minha carreira. Quebrar
alguns contratos vai me fazer perder quase todo o dinheiro que
tenho.
— Não se preocupe, os advogados vão cuidar de tudo e
chegaremos aos melhores acordos.
— Não se estresse com nada, Koko. Tudo vai ficar bem, o
importante é cuidar da sua saúde para que o bebê nasça saudável.
— Kim apertou a mão dela.
Assim que ela terminou de comer, nós fomos embora, para não
ficarmos até tarde na rua. Cansada de um dia emocionalmente
exaustivo, ficou controlando os bocejos no carro e tentando não
dormir durante o trajeto. Em todas as vezes que passamos a noite
juntos, ela sempre era a primeira a pegar no sono e a última a
acordar, grávida, só podia considerar que sono não seria um
problema.
Entramos na minha ala e meus funcionários já estavam
recolhidos. Bloqueei o acesso, apenas para o caso de receber
alguma visita indesejada. Não era costume entrar na ala do outro
sem aviso, apenas Charlotte passava pela minha, mas ela não
apareceria enquanto estivesse acompanhado.
— Já comeu? — Ela tirou os brincos. — Preciso tomar um
banho e tirar essa maquiagem.
— Jantei com meu pai. Saímos da reunião com muita fome.
— Sua banheira parece incrível. — Khloé comentou, tirando a
roupa.
— É nossa agora, quer usar?
— Só se você estiver dentro. — Seu sorriso sacana me pegou
de jeito.
Quase gritei que sim, porque nós mal estávamos nos tocando,
ainda em um clima estranho depois do mal-entendido. Estar nu e
com o corpo molhado dela, era a melhor maneira de encerrar um dia
cheio. Preparei um banho morno, com sais e ajudei que entrasse na
água.
Ela recostou na banheira e me observou tirar a roupa com o
olhar safado que me enchia de vaidade. Joguei minhas roupas no
cesto de qualquer jeito e me sentei, ela se moveu para ficar no meu
colo, com as pernas esticadas e na semi-escuridão do banheiro,
Khloé suspirou.
— Se para cada dia de caos, tivermos um encontro assim, a
vida vai valer a pena.
— A minha vida já vale a pena só de poder olhar para o seu
rosto.
— Eu amo seu jeito galante. Às vezes, sei que está forçando
ser brega para me fazer rir e outras, é seu jeitinho mesmo. O último
romântico. — Ela acariciou meu peito. — Sempre foi assim?
— Não. Quando novo, tudo que me interessava era em estar
por aí com meus amigos, festas em barcos, baladas em lugares
exóticos para me divertir. Levei muito tempo para me apaixonar pela
primeira vez, tipo, gostar de alguém.
— É mesmo? Você teve um primeiro amor?
— Namorei uma menina escondido e eu achei que era ela a
mulher que apresentaria em casa, mas com a exposição e o nível
em que as coisas absurdas acontecem na vida da realeza, ela ficou
assustada e tinha outros planos para a vida dela. É por isso que sei
o quanto é difícil para você. Nunca quis isso para nós…
— Não quis que a gente evoluísse para um relacionamento
sério? — Ela soou magoada.
— Eu queria que a gente fosse feliz.
— Acha que não seremos felizes? — Fez um pequeno
beicinho.
— Sim, seremos. Você não está entendendo o que quero dizer.
O término do relacionamento com Marina me fez enxergar o quão
sacrificante é a vida na realeza para quem não nasceu nela. Já é
difícil normalmente, entende?
— Sim, entendo. Você teve seu coração partido?
— Na época, sim.
Depois que a conheci, o que senti por Marina foi uma mera
paixão, um recorte da minha vida. A dor que me engoliu somente
com a possibilidade de não estar mais com Khloé durante a última
semana, mostrou que não era só a minha mente que era dela, meu
coração também.
Khloé mudou de posição para que pudesse olhar em meus
olhos.
— Não sou do tipo que corre de coisas assustadoras, ou eu
não teria saído de casa ainda adolescente. Entenda que a gravidez,
um casamento às pressas e me tornar uma princesa não foi o que
planejei, mas estou grávida e o momento de tomar uma decisão é
agora. Eu decidi que não vou criar meu bebê sem o pai e não quero
terminar o nosso relacionamento. — Ela fez uma pausa para
respirar fundo. — Como mulher, vou aguentar as consequências
disso, porque não sou criança. É assustador e eu não sei onde
estou pisando, mas irei enfrentar.
— Você se sente maluca por desejar coisas que parecem ser
cedo demais?
— Como casar, ter filhos e planejar uma longa vida a dois? Se
for, sim. Fiquei um pouco mortificada de assumir para minha irmã
que por mais louco que seja, pensar em não viver tudo isso com
você dói no meu coração — ela confessou baixinho e eu exalei
aliviado. — Se é loucura, então, somos loucos juntos.
— Não me importo de compartilhar a loucura, também.
Khloé abriu um sorriso apaixonado e se jogou em mim. Nós
jogamos água por todo lado, eu ri da bagunça e a beijei. Montada no
meu colo e não mais querendo aconchego, moveu o quadril,
mostrando exatamente o que pretendia. Trilhei um caminho com a
ponta dos meus dedos pelo meio de sua coluna, seguindo a trilha da
espinha e em seguida, agarrei seu bumbum, posicionando-a onde
podia me sentir.
— Sabe qual é meu desejo agora? — Ela parou com a boca a
centímetros da minha e eu estava louco para beijá-la, como não
fazia desde que nos vimos a última vez, ainda em Londres.
— Não.
— Descobrir o quão finas são as paredes do palácio. — Soltou
um risinho.
— Eu não sei, vamos descobrir essa noite. — Segurei sua
nuca e tomei a boca com paixão.
20 | Khloé
— Está com frio? — Leonard questionou ao perceber que
balançava minhas pernas. — Ou nervosa?
Estávamos sozinhos na sala de exames do consultório. Fui
muito bem atendida por um médico que não foi nada além de
incrível. Paciente com a nossa ansiedade, nervosismo e as milhares
de perguntas. Ele quase ergueu as mãos e pediu para termos
calma. Fiz um outro teste, que deu positivo, colhi material para fazer
exame de sangue e me pesei.
— As duas coisas. Aqui está bem gelado.
Leonard me abraçou para aquecer e aproveitei que estava
disposto a fazer minhas vontades para bancar a manhosa. Beijei
seu pescoço, ganhando um sorrisinho e finalmente a porta foi
aberta. O médico entrou para fazermos a primeira ultra e estava
ansiosa para o que seria revelado. Fui orientada a deitar, ele me
posicionou corretamente e Leonard segurou a minha mão.
Na tela, não entendi de primeira o que estava acontecendo.
— Vamos lá. Duas coisas importantes, a primeira delas, é que
está grávida de sete semanas.
Leonard e eu olhamos um para o outro, apavorados.
— Eu sabia que não podia confiar na porra da camisinha velha
— ele resmungou, beijando minha testa e ri porque, bem, era a que
tinha e nós não hesitamos em usar.
— Consigo ver claramente dois embriões. Eles dividem o
mesmo saco gestacional, o que significa que terão o mesmo sexo e
serão idênticos.
Leonard me encarou de cenho franzido.
— São… gêmeos? — ele gaguejou.
— Sim, gêmeos. Ainda é muito cedo para saber o sexo por
imagem e aconselho esperar mais algumas semanas para tentar por
sangue. As medidas estão perfeitas e o desenvolvimento dentro do
esperado. — O Dr. Heigh continuou falando normalmente. Minha
boca estava aberta e assim ficou.
Gêmeos? Duas crianças?
— Você tem certeza? Seu aparelho é novo, certo? — Quis
saber, apenas no caso de ele estar redondamente enganado. —
Como é possível ter duas crianças? Nós estávamos tentando nos
acostumar com uma só.
— Bem… o destino quis dois. — O médico riu. Leonard apertou
meus dedos. — Certamente, há uma genética favorável.
Eu mal ouvi o que foi dito no final da consulta, precisava voltar
em breve e havia um mundo de novas recomendações para
gestação gemelar. A sensação que tinha era de que estava fora de
órbita. Fiquei quieta, porque meu coração estava acelerado e minha
pressão arterial elevada, por esse motivo, precisei ficar deitada em
uma maca com os pés para o alto.
— Não adianta surtar. — Leonard inclinou-se em cima de mim.
— Tem dois aí, nos resta aceitar e duplicar tudo.
— Dois, Leonard. Nós nunca seguramos UM bebê —
cochichei, sem querer chamar a atenção da enfermeira de que
estava quase tendo um colapso.
— Eu segurei os filhos dos meus amigos. — Ele deu de
ombros.
— Por cinco minutos não é a mesma coisa do que carregar um
o tempo todo. Um não, dois! Ah, meu Deus!
— Vamos aprender. Agora é o nosso momento de
transformação. — Ele beijou meus lábios e colocou a mão na minha
barriga. — Os dois são bem vindos e amados.
— Eu sei, eles já são amados. Ou elas.
— Já pensou? Duas coisinhas parecidas com nós dois
correndo pelos corredores?
Por um momento, me deixei viajar em como os bebês seriam,
como eu ficaria grávida e fui invadida por um ar sonhador que
ajudou muito a me acalmar. Quando fomos liberados para ir embora,
Charlotte já estava nos aguardando com um cenário pronto para as
fotografias que Leonard e eu faríamos para anunciar o noivado.
Ela chamou uma equipe de confiança para preparar meu
cabelo e maquiagem. Kim pegou um vestido com uma estilista em
ascensão de Rainland, que estava louca para ter um pouco de
atenção. Era azul claro, um tom romântico e precisou de ajustes no
busto, o que a sra. Esra conseguiu dar um jeito sem que a roupa
precisasse fazer uma viagem pela cidade.
Fiquei pronta quase duas horas depois.
— Mamãe quase entrou aqui, ela está achando estranho nosso
afastamento com tantos convidados no palácio, mas peguei um dos
muitos motivos que temos para brigar e soltei meus cachorros. Ela
vai ficar longe por enquanto. — Charlotte apareceu, um pouco
ofegante. — Corri até aqui para saber sobre seus brincos. Todas as
suas joias precisam ser pensadas. Como a mamãe não sabe, ela
não vai emprestar nada, talvez mesmo se soubesse.
— Joias são importantes assim? — Toquei meu pescoço nu.
Eu tinha algumas coisas, nada digno da realeza, mas para aquela
viagem não havia separado nada. Boa parte dos meus itens
pessoais minha tia traria para ficar mais um tempo sem fazer minha
mudança.
Ignorei o pensamento de que precisaria deixar meu
apartamento e mudar de país.
Noiva e casada em dois meses.
— Significam aprovação — Charlotte me explicou com calma.
— Eu peguei alguns brincos e pulseiras que herdei da minha avó,
que imaginei que combinassem com você e com a roupa. Posso
permitir que os guardas entrem? Nós não podemos tocar nelas, eles
colocam e tiram.
Assenti e ela foi até a porta. Dois guardas entraram segurando
caixas transparentes e depositaram na penteadeira à minha frente,
com cuidado. Charlotte apontou qual peça pertenceu a quem e a
história por trás delas, chegamos à conclusão que deveria usar os
brincos de diamante de sua avó e uma pulseira delicada que fazia
parte do espólio da família há um século.
— Ficou perfeito! — Ela bateu palmas. — Acho que está
pronta. Deixei Ethan e Leonard conversando com o fotógrafo. Ele
costuma fazer todas as nossas fotos e está mais do que
acostumado com a confidencialidade necessária.
— Diga a Leonard que estou pronta para a coisa do anel.
— Tudo bem. — Charlotte saiu e esperei o irmão dela
aparecer.
Sentia a cabeça cheia, parecia que meus pensamentos não
tinham uma ordem para surgir. Grávida, gêmeos, noivando,
mudando de país e em breve, me tornando esposa e princesa. Eu
não conseguia acreditar que tudo aquilo estava acontecendo na
minha vida. Se alguém me perguntasse como casar com um
príncipe? Eu diria: entre na frente do cavalo dele e deixe que o
destino faça o restante, porque tudo mudou muito rápido.
Leonard entrou no cômodo que me foi apresentado como
quarto de vestir e os ruídos na minha cabeça silenciaram
completamente. Ele estava lindo usando cinza-escuro, a barba feita
e o cabelo tão cuidadosamente penteado que quis bagunçar de
tanto beijá-lo.
— Fazer a coisa do anel? É assim que vai chamar nosso
noivado? — questionou com um ar brincalhão.
— Eu nunca fui pedida em casamento antes, me desculpe por
não saber como nomear.
— Mais tarde vamos conversar sobre isso. — Ajoelhou na
minha frente e primeiro, deu um beijo no meu ventre. — Oi,
crianças.
Ele ia me matar de fofura falando com os dois grãos de feijão
que estavam dentro de mim.
— Oi, papai.
— Escolhi esse anel para a mamãe, vocês gostam?
Ele abriu a caixinha e abri a boca em choque. Puta merda! Era
simplesmente lindo! Cobri minha boca e encarei Leonard sem
esconder que estava…
— Isso é sério? Eu vou perder essa coisa e vou ser presa!
Ele soltou uma gargalhada.
— Não vai ser presa e sei que não vai perder. — Tirou da
caixinha e entreguei minha mão. Leonard colocou a joia no meu
dedo com um sorrisinho. — Depois das fotos, vou precisar de volta,
para que o palácio registre como seu anel de noivado.
Tudo tinha burocracia.
— Entendi, tudo bem. A quem pertenceu esse anel?
— Ah, minha bisavó. Ela usou até o dia de sua morte, o
casamento deles durou quase cinquenta anos e tiveram quatro
filhos.
Pelo menos a aliança tinha uma boa história por trás da
existência e eu só podia encarar aquilo como bom presságio. Ficou
perfeito na minha mão e como engordaria nos próximos meses,
achamos melhor não fazer nenhum ajuste. De mãos dadas,
seguimos para onde as fotos seriam feitas, em uma linda sala na ala
de Charlotte, que tinha tons românticos e flores pintadas nas
paredes.
Acostumada a posar para as lentes, sabia exatamente que tipo
de expressão colocar no rosto, mas quando o fotógrafo pediu para
olharmos um para o outro, não foi fingimento. Eu estava tão
apaixonada por Leonard que passaria por aquela ponte dolorosa de
transição para que pudéssemos ser uma família de verdade. Em
alguns meses, seríamos pais de dois.
— Você é tão linda, sou tão louco por você — ele falou
baixinho e sorri, sentindo as bochechas coradas. Nós trocamos um
beijo suave e eu queria bem mais.
Assim que as fotos terminaram, o fotógrafo correu para
começar a editar as principais. Leonard e eu éramos contra o uso de
photoshop, pedimos apenas que cuidasse da luz e tons de
contraste, nenhum retoque além disso.
Estava nervosa para conhecer a rainha. Ela vivia do outro lado
do palácio e nós iriamos participar do almoço com todos os
convidados de honra que estavam hospedados ali. Charlotte me
convenceu a não trocar de roupa, ela também estava muito
arrumada e usando joias, então, não me senti estranha. No meu
mundo, estar vestida daquela maneira, só em festas de casamento.
— É permitido andar de mãos dadas? — Parei ao lado de
Leonard. Se ninguém me entregasse um livro de etiquetas, nunca
saberia como agir.
Ele entrelaçou nossos dedos.
— Não em eventos religiosos, fora isso, sim, é permitido.
Charlotte é a princesa real, depois que fizer o juramento, sempre
que ela passar na sua frente, você terá que fazer uma reverência,
isso até o casamento. Depois, as duas devem andar lado a lado se
estiverem sozinhas — explicou baixinho enquanto descíamos a
escada. Reparei que os funcionários pararam e foram mudando de
posição conforme Charlotte passava com Ethan.
— E quanto a sua mãe? — cochichei, ainda observando que os
empregados me olhavam com curiosidade. Dei um sorriso e fui
retribuída com surpresa, risinhos e acenos. Não era permitido falar
com eles?
— Ela é a rainha consorte sem patronos, então, como minha
noiva, precisará cumprimentá-la tocando seu coração e abaixando a
cabeça suavemente. Depois do casamento, você será patrona de
Rye, é direito da minha esposa e por esse motivo, não precisará se
curvar a ninguém além do rei, quando ele passar. Papai só pede
que façamos isso em público e com visitantes no palácio.
— Entendi. E agora? Ainda não fiz o juramento. Como devo
cumprimentá-los?
— Uma suave reverência com a cabeça como alguém que tem
o conhecimento da importância dos reis aqui no país. — Leonard
desceu alguns degraus na minha frente. — Não precisa ficar
nervosa, vai ficar tudo bem. Estou com você. — Ele me deu um
beijo e relaxei um pouco.
Ethan e Charlotte foram formalmente anunciados e entraram.
Em seguida, Leonard e eu. O salão devia ter umas trinta
pessoas no máximo, todos muito bem vestidos e, aparentemente,
com dinheiro, glamour e o famoso sangue azul. Leonard
cumprimentou alguns à distância, parando em um lugar estratégico
e manteve nossas mãos unidas. Deixei meu olhar passear pelo
ambiente e reparei em uma família. A mais jovem, sabia que era
Priscila, ela estava bem, linda em um vestido rosa-escuro e os
cabelos soltos. O pai dela tinha uma pose altiva e a mãe me olhava
com tanta intensidade que causou arrepios na minha espinha.
Priscila me encarou também, mas seu olhar não quis dizer
nada. Deu um sorriso a Charlotte e voltou a ficar como se seus
pensamentos estivessem longe dali.
Rei David e sua rainha, Victória, foram anunciados. Meu
coração acelerou e o estômago torceu. Eu queria sair correndo. O
pai de Leonard parou à nossa frente e sorriu, me dando um afetuoso
beijo na testa como sinal de aprovação. A rainha estava me
encarando com a boca entreaberta. Ela olhou para Leonard e
depois para mim, aturdida até lembrar de sorrir.
— Mamãe, quero que conheça Khloé, minha noiva — Leonard
falou baixo. Ela desceu o olhar para minha mão apoiada no braço
dele e a aliança. Por um segundo, achei que iria desmaiar. — Sorria,
lembre-se das câmeras. — Ele a provocou e apertei seu braço
suavemente.
— Olá, Khloé. Seja bem-vinda à Rainland — foi tudo que ela
disse antes de seguir adiante.
Se seu olhar pudesse matar… eu estaria morta.
21 | Khloé
O almoço foi tranquilo. Todas as conversas eram fúteis e sem
nenhum fundamento, apenas para que as pessoas continuassem
falando. A rainha adorava ser o centro das atenções e cada vez que
Charlotte abria a boca, risadas explodiam em todo lugar. Ela era
doce até na maneira de alfinetar. Ethan conversou comigo diversas
vezes e Leonard nunca me deixou sozinha, nem mesmo quando os
homens tentaram arrastá-lo para uma conversa sobre carros.
Mais de uma mulher reparou no meu anel de noivado, elas
cochicharam e não falaram nada demais. Poucas puxaram assunto
comigo, parecia que eu era a intrusa ruim e Priscila, a coitada, que
foi jogada para escanteio. Havia uma proteção feminina ao redor
dela e eu sequer havia feito algo. Antes da sobremesa, Leonard
recebeu a confirmação de que a foto oficial do nosso noivado foi
postada no perfil oficial do rei, que sempre era o primeiro a noticiar
eventos da família.
O pai dele também recebeu, nos deu um sorriso e voltou a
comer.
Minha torta era de laranja. Leonard olhou para o prato e riu
discretamente. Eu dei com o cotovelo nele, impedindo-o de trocar.
Iria chamar atenção.
— Essa torta é uma delícia! — Charlotte fez um beicinho. —
Troca comigo, cunhada?
— Claro! — Dei a ela meu prato e Ethan colocou a de
chocolate na minha frente.
Deus salve Charlotte!
— Ethan acaba de receber a notícia de que Louis vai embarcar
para nos dar apoio. Meus tios também vêm. Cat está na Itália e vai
chegar amanhã com Frank — ela cochichou. — Teremos um time de
apoio. Minha sogra e Ediwa[5] estarão em casa para o jantar.
Daphne[6] seria mais indicada, porque ela é má e coloca todo mundo
para correr.
— Não fale assim da minha irmã — Ethan resmungou.
— Ela é má e todo mundo sabe disso, é uma das minhas
melhores amigas, mas é ácida como limão. — Charlotte soltou
risadinhas.
Ethan fingiu uma expressão emburrada, mas ficou nítido que
ele queria rir também. Quando o almoço encerrou, todos foram
convidados para um passeio no jardim. Charlotte e eu fomos trocar
de roupa, entreguei as joias aos guardas e o anel para que Leonard
pudesse fazer o registro.
— Você sabe fazer aquelas tranças bonitas? — Charlotte
estava mexendo no cabelo, na frente do espelho. — Queria alguma
coisa legal, está calor lá fora e eu não vou aguentar ficar com o
cabelo solto. Minha mãe vai morrer se eu fizer um coque e prender
no alto. Hoje é dia de Leonard matá-la, não eu.
— Achei que ela fosse ter um ataque. — Peguei um pente e
comecei a separar o cabelo. — Será que vai ficar muito brava?
— Termine a trança e vamos descobrir. — Ela me deu um
sorriso traquina.
Fiz uma trança espinha de peixe, com alguns fios de sua franja
soltos e usei minhas presilhas coloridas. Combinava com o vestido
roxo que ela colocou. Eu estava usando um dos meus vestidos
favoritos que ganhei quando desfilei para Isla Edwards[7]. Era em um
tom de vermelho-escuro, perfeito para usar com botas mais brutas e
também sapatos delicados, como foi a minha escolha, uma sandália
plataforma delicada com chapéu do mesmo tom. O caimento nos
joelhos era lindo.
— As senhoras estão prontas? — Ethan bateu na porta. —
Estão todos aguardando para ir ao museu da família.
— Ah, que legal! Você vai ver o meu vestido! — Charlotte se
animou. — Antes, vamos ouvir a mamãe! — Ela agarrou minha mão
e me puxou.
Leonard estava entrando na sala antes do quarto e não
entendeu nada, mas nos seguiu mesmo assim. Charlotte empurrou
uma porta que parecia ser do corredor dos funcionários, entendi ser
a maneira pela qual eles andavam pelo palácio sem serem vistos e
subimos uma escadinha estreita.
— EU ATUREI AQUELE DUQUE BÊBADO E A DUQUESA
ASQUEROSA PARA LEONARD ESTAR NOIVO DE OUTRA
PESSOA? — a mãe deles estava gritando. — UM ANÚNCIO DE
NOIVADO SEM O MEU CONSENTIMENTO!
— Eu sou o rei, querida. E dei o consentimento e Leonard é um
homem adulto.
— Ele é um príncipe herdeiro e tem que fazer o melhor para
Rainland! Como você pôde ter autorizado um casamento com uma
modelo? Ela tem fotos nua na internet! — gritou novamente, porém,
parecia mais distante. Deveria estar do outro lado do cômodo.
Minhas bochechas ficaram vermelhas pensando em todo meu
trabalho sendo motivo para ser diminuída, sendo que não fiz nada
de errado.
— Eu não me importo com a profissão dela — David falou mais
baixo. — Pare de gritar, Victória! Estou perdendo toda minha
paciência com a sua obsessão! Estou farto! Cansado! Caramba!
Tenho que me esforçar para manter nossos filhos por perto!
— É a única coisa que você se esforça. Rainland e seus filhos.
— Quer discutir sobre nosso casamento agora? Quer
realmente ouvir os motivos pelos quais chegamos até aqui?
Ethan e Leonard acharam que era melhor pararmos de ouvir.
Estava me sentindo mal que os pais deles estavam brigando por
minha causa e entendi que tinham problemas maiores do que previ.
Chegamos ao jardim e seguimos com o grupo para o museu,
pareciam todos relaxados e felizes, caminhando tranquilamente
pelas salas. Eu não lembro de ter visto nada sobre o casamento de
Charlotte, mas não era do tipo que acompanhava a mídia.
— Foi um dia bem bonito. Minha irmã estava deslumbrante —
Leonard comentou atrás de mim.
— É fofa a maneira que fala dela.
— Ela é chata — resmungou. Charlotte ouviu e deu a língua. —
Sinto muito pelo que ouviu da minha mãe.
— Não me envergonho da minha profissão. Nunca senti
arrependimento de ser modelo e sei que vão usar isso contra mim.
— Eu não me importo, apenas para deixar registrado. — Ele
passou o braço por minha cintura. — Algumas fotos são realmente
sexys e eu gostaria de espalhar por todo meu escritório, mas tenho
a sorte de ter a modelo nos braços. Imagino o que irão pensar:
aquele cara lá está com a modelo mais gostosa do mundo — falou
baixinho no meu ouvido, eu ri em um misto de embaraço e
agradecimento. Ele me deixava boba.
— Não lembro de ser nomeada a mais gostosa.
— Só mais bem paga.
— Pelo menos não vão me acusar de dar o golpe da barriga —
retruquei secamente. — Como ficarão meus bens pessoais?
— Eu também tenho bens pessoais, herdei da minha família
materna e até mesmo a fortuna dos meus avós paternos, só
precisamos esclarecer os gastos como em qualquer lugar. — Beijou
meu ombro e segurei seu braço. — Em algumas semanas será você
de branco.
— Que louco… ontem você me ajudou com um pneu e logo
estarei caminhando na sua direção para ser sua esposa.
— A vida nunca é do jeito que planejamos. Às vezes, ela é
melhor.
Soltei um suspiro.
— Eu já vou me casar com você, príncipe. Pare de me deixar
mais apaixonada.
— Nunca vou parar — falou pausadamente no meu ouvido.
Seu telefone vibrou e fomos informados que minha tia e Marc
estavam na ala de visitantes, do lado dele do palácio. Ethan e
Charlotte aproveitaram nosso retorno para nos acompanhar. Grey
estava lá, o que me deixou tranquila sobre minha família ter sido
bem recebida.
— Quanta reviravolta, menina. — Tia Evelyn me abraçou. —
Seu tio mandou um beijo. Eu liguei para nosso advogado, quero ter
certeza de que estará segura em toda transação que será feita a
partir de agora. Já começamos as análises dos contratos, recebi um
informativo enorme do que poderá ou não ser vinculado com a sua
imagem nos próximos meses.
— Obrigada, tia. Muito obrigada. Estou tão assustada, com
medo, feliz e apaixonada.
— Eu imagino, mas você está escolhendo o amor e uma
família, não tem como dar errado.
— São dois bebês — falei baixinho. Ela arregalou os olhos,
tocou minha barriga e abriu a boca. — Meus pais vão enlouquecer!
Estou contando os minutos para contar a eles!
— Ai, querida! Dois? Felicidade em dobro!
— O que tem em dobro? — Marc se aproximou e tocou meu
ombro. — Como está?
— Tentando assimilar. Está sendo um dos momentos mais
loucos da minha vida. Obrigada por vir e me ajudar a cuidar de tudo.
— Frank e eu organizamos sua mala e montamos uma
sequência de estilo. Amanhã chegará outra mala, pegamos algumas
roupas com estilistas amigos e aquela produtora que trabalhou nas
fotos de inverno disse que ia reservar as tendências para te mandar
bem vestida. Até o final da semana teremos tudo. — Ele disparou a
falar e colocou a mão no coração. — Você vai morar aqui?
— Segundo eles, é só uma ala de visitantes. Eu não consigo
aceitar que algumas coisas são reais… me sinto tão fora do lugar.
Leonard é uma pessoa tão simples quando estamos sozinhos que
não faz sentido ele ser um príncipe — comentei e olhei na direção
do homem que era dono do meu coração. — Acho que ainda dá
tempo de nos reunirmos e passarmos alguns pontos importantes.
Somente amanhã os advogados de Rainland darão um retorno
sobre os contratos.
Allegra, a assistente de Grey, tinha tudo alinhado e foi mais
fácil passar presencialmente para minha equipe. Eles já haviam
deletado todas as fotos nuas do meu perfil, de calcinha e outras do
tipo na semana anterior, quando solicitei a alteração da minha
imagem para começar a transição de carreira. Deixaram todas de
família e de trabalhos mais maduros, nem imaginava que viria a
calhar tão rápido.
Antes de postar uma fotografia do noivado, Leonard e eu
escolhemos uma das nossas músicas favoritas para pegar uma
frase e adicionei a mais bonitas. Ele estava deitado no chão do meu
apartamento, ainda de camisa e eu sentada ao lado, usando um
vestido vermelho. Tínhamos várias fotos, mas na maioria ele estava
sem roupa e eu de biquíni na cabana.
— Como está a notícia do noivado na mídia?
— Como uma bomba. Os telefones não param de tocar e a
rede estatal quer saber quando poderá enviar a jornalista para a
entrevista oficial — Grey me respondeu e respirei fundo. — A
assessoria de imprensa do príncipe elaborou um release da história
que combinamos. As perguntas serão baseadas nisso.
— Temos dois meses para o casamento e rezando para que a
barriga não apareça. Separei estilistas com quem já trabalhamos. —
Tia Evelyn me entregou a lista. — Vamos atrás daquela que tiver
data. Tem algum modelo em mente?
— Eu aconselho que tudo do casamento remeta a um conto de
fadas. O público precisa amar vocês dois. — Grey entrou no
assunto.
— Será, sim, de contos de fadas. É um casamento de verdade.
Apesar de toda correria, Khloé e eu temos sentimentos envolvidos.
É a nossa família e a nossa vida, então, não será uma fantasia. É
real para nós — Leonard garantiu e segurou minha mão, falando
baixinho para que eu não ficasse nervosa.
Em algum momento, Grey sinalizou que a conversa precisaria
ser sigilosa. Allegra conduziu Marc e minha tia para os aposentos,
eles estavam cansados e retomaríamos no dia seguinte. Eu ia sair,
mas Leonard me impediu.
— Não teremos segredos. Eu errei em não falar da srta.
Lancaster e não quero, nunca mais, qualquer falha de comunicação
entre nós. Como ainda estou aprendendo essa coisa de falar sobre
tudo, prefiro que fique e seja uma decisão mútua. — Ele olhou em
meus olhos, implorando para que eu entendesse e assenti. — É
sobre o acordo nupcial. Meu pai já assinou, mas ele só quis adiantar
o lado dele. Nós temos o costume de proteger nossas fortunas em
prol de herdeiros. Nunca se sabe quando um golpe de estado pode
acontecer, se precisarmos sair do país ou se perdermos a coroa.
— Sério? Vocês precisam se proteger disso?
— Sim. É formalidade. Rainland ainda parece muito feliz com a
monarquia. — Ele me acalmou. — Há uma vantagem no nosso
casamento, assim como o da minha irmã. Você e Ethan não
nasceram na linha direta de uma família real e por isso, podem ter
bens sem justificativa, apenas mantendo-se dentro das leis fiscais.
Com isso, o acordo nupcial é voltado para os filhos, em caso de
divórcio, as porcentagens para os pais são de dez por cento para
cada e noventa por cento para os filhos.
Li todo o documento sobre a fortuna adquirida após o
casamento e concordei. O que eu tinha permaneceria sendo meu,
assim como o que ele tinha, também, mas no fim, tudo iria para
nossos filhos.
— E agora?
— Vamos nos preparar para a avalanche do casamento. —
Grey nos deu um sorriso.
Leonard e eu nos olhamos e trocamos um riso nervoso.
Sinto cheiro de matrimônio.
E não é com quem a mídia insiste em noticiar.
Depois, me digam se estou errada ou não, só o tempo provará meu
ponto.
Em falar nisso, alguém cale a boca do Lord Neelson?
Ninguém aguenta mais seus delírios democratas.
Lady Daisy Mail
22 | Leonard

Khloé foi levada por Charlotte logo que saímos da sala de


reuniões. Eu pensei que minha mãe me chamaria para conversar,
mas meu pai disse para que não me preocupasse com nada além
dos preparativos do casamento. Fiquei curioso se eles chegaram a
brigar ao ponto de ela ficar calada. Não haveria um jantar social, os
convidados poderiam ficar à vontade para comer nas alas em que
estavam hospedados. Eu aproveitei a abertura na agenda para fazer
uma surpresa para minha noiva.
Era bizarro pensar que estava noivo. Mais louco ainda era
saber que dentro dela havia dois bebês. Não sei como não desmaiei
na sala de exames, porque mal conseguíamos falar de um bebê
sem ter uma crise de riso nervosa, imagina dois? Ela ficou pálida, se
recusando a acreditar. Pois estavam ali, firmes e rezava para que o
crescimento deles fosse saudável. Para isso, a mamãe precisava
ser feliz e eu daria tudo para que fosse.
Contar aos meus amigos que seria pai e marido nos próximos
[8]
meses foi engraçado. Apenas Abdar acreditou em mim e Apolo[9],
porque segundo ele, já desconfiava que eu estava apaixonado.
Eduardo gravou áudio rindo até perder o fôlego, porque sim, eu
impliquei com todos eles quando se apaixonaram e estavam prontos
para a revanche. Todos os sete me entenderam, foram acolhedores
e mandaram mensagens incríveis de apoio.
Eu tinha os melhores amigos do mundo.
— Cheguei na hora certa? — Louis apareceu atrás de mim. —
Eu me instalei em um quarto de hóspedes. Ouvi dizer que é a ala
onde os casais podem dormir juntos antes do casamento.
— Vai se foder.
Ele riu e bateu no meu ombro.
— Parabéns, primo. Já contou a Alicia?
— Ela está deixando a Tailândia com o namorado. Devem
aparecer aqui a qualquer momento. — Soltei uma risada. —
Obrigado por vir. Todo apoio é importante agora e espero que aceite
ser meu padrinho.
— Não vai ser um dos seus amigos?
— Deixa de ser ciumento, mulherzinha. Eu não sei se todos
poderão vir por conta do curto espaço de tempo. O casamento terá
que ser rápido, por causa da gravidez inesperada e você é meu
primo, tão amigo quanto e preenche os requisitos.
— Sei, sou católico.
— Vai aceitar ou não, porra?
— Ih, alguém está de TPM? — Louis me provocou. — Claro
que vou aceitar, idiota. Ethan e eu?
— Sim. Khloé disse que as duas irmãs não são
comprometidas, então, elas podem ser damas de honra, mas as
madrinhas serão minha irmã e Catherine, se aceitar. Não são
casados, mas estão quase, assim poderão formar um par —
expliquei e ele assentiu.
— Cat vai aceitar. Ela entende como funciona a nossa família.
Grey apareceu, informando que tudo estava pronto. Eu sabia
que Khloé iria casar comigo, ela estava embarcando na loucura,
sacrificando-se de tal maneira que deixava meu coração partido.
Não conseguia explicar o quanto ela era importante para mim e
formar uma família era a realização de um sonho que não me
permitia alimentar. Não era para ser assim, correndo, com planos
articulados. Era para ser diferente e justamente por isso que decidi
pedi-la em casamento da maneira tradicional.
Charlotte sabia do plano, por isso a levou na desculpa de que
precisavam se preparar para o jantar e iria ajudá-la com a roupa e
maquiagem. Louis ficou e eu desci a escada em direção ao jardim,
parando no meio das flores e esperando.
Khloé saiu pela porta principal da minha ala, confusa e sorriu
quando me viu.
— O jantar será aqui fora?
— Pare aí, por favor — pedi e ela me olhou como se fosse
louco, mas parou.
— Nós não vamos nos atrasar para o jantar?
— Não há um jantar. Quer dizer, tem, sim. Nós vamos comer
algo, afinal, preciso alimentar minha futura esposa. — Enfiei minha
mão no bolso e tirei o anel. — Eu só queria um momento para te dar
esse anel. Você merece mais do que um acordo. Você merece o
mundo inteiro.
— Ah, Leonard! O que vai fazer?
— Quando te vi pela primeira vez, minha mente ficou em
branco. — As luzes dos jardins e do palácio ficaram brancas. —
Você estava brava e com razão, foi uma das primeiras pessoas que
teve coragem de enfrentar um homem fardado e usando uma coroa.
Isso é parte da sua personalidade que admiro, a sua coragem de
lutar pelo que acredita e em defender os necessitados. Depois, o
destino deu um jeito de nos colocar na mesma estrada, no mesmo
horário e era fim de tarde. Os campos verdes estavam molhados e o
sol descia ao fundo, era um misto de cores lindas ou talvez, meus
olhos apaixonados me fizeram ver aquele momento como ainda
mais belo. — Conforme falava as cores, as luzes mudavam. —
Quem diria que seria a mesma mulher do desfile precisando de
ajuda para trocar um pneu? Ali, você pediu desculpas e mostrou o
seu bom coração, capaz de enxergar os limites e ser gentil.
— Você está me fazendo chorar.
— O tom de verde do seu casaco no dia do nosso primeiro
encontro me deu esperança de que tudo poderia ser diferente.
Todas as vezes que estivemos juntos, pude ser eu mesmo. Eu me
senti amado, acolhido e fui salvo. Não havia pressão de ser perfeito
ou de estar vigiando meus movimentos para não ser mal
interpretado. Você me trouxe liberdade. Tirou o aperto que existia no
meu peito apenas por sorrir e ouvir o que tinha a dizer com todo
carinho. — Eu me aproximei da escada e estiquei a mão, ela aceitou
e desceu os degraus. — Você me salvou. Estava me afundando em
ceticismo e mágoas sem nem perceber. O sopro de ar puro que
tanto buscava nos campos, estava, na verdade, em você. Quero ser
seu marido, pai dos seus filhos, seu companheiro e melhor amigo.
Quero ser seu homem e o príncipe do felizes para sempre. Khloé
Green, você aceita casar comigo?
— Ai meu Deus, é claro que sim! — Ela chorou e me abraçou.
— Oh, Leonard! Eu já sou sua. Meu coração, meu corpo e minha
alma. Não menti quando disse que não havia mais ninguém no
mundo para mim. Só você.
— Eu te amo, minha princesa.
Ela sorriu, apaixonada.
— Eu te amo, meu príncipe. Digo sim hoje e direi sim no dia do
nosso casamento.
Coloquei a aliança de volta em seu dedo. Ela ainda estava
sorrindo e se assustou com a mudança das luzes para rosa-claro e
o primeiro estouro de fogos no céu. Ethan, Charlotte, Louis e Kim
saíram de onde estavam escondidos com champanhe, taças e a
cidra para comemorarmos nosso noivado. Kimberly estava com
Kourt e os pais de Koko por chamada de vídeo, filmando tudo. Eles
choraram nos desejando felicidades.
— Você é inacreditável! — Khloé me abraçou apertado e beijei
sua boca. — Eu amei a surpresa. Obrigada por fazer do nosso
noivado algo tão lindo! Foi criativo, eu amei muito! Espero que
tenham filmado, nossos bebês precisam ver o quanto o pai deles é
maravilhoso.
— Tenho certeza que alguém filmou.
Nós assistimos os fogos com brindes. Meu pai apareceu
rapidamente e nos desejou felicidades. Eu sabia que minha mãe
não viria. Ele não falou sobre ela e eu também não queria ninguém
estragando a nossa felicidade. Marc e a tia de Khloé se
aproximaram para nos cumprimentar e minha irmã fez questão de
tirar diversas fotos.
— Gosto de termos várias fotos para nosso primeiro álbum de
família.
— Será que antes de jantarmos, posso ter uma dança com a
minha noiva?
— Todas elas, por favor. — Ela pegou minha mão e fomos para
um local mais distante da mesa.
Começou a tocar a música de uma cantora pop americana que
Charlotte amava, eu ia pedir para trocar quando minha irmã disse
que não, que a letra era linda e combinava conosco. Eu não sabia
que música era, mas era boa para dançarmos juntos e ela tinha
razão.
A mulher cantava sobre quando não havia luz para quebrar a
escuridão e sobre não poder encontrar o caminho para casa,
bastava olhar para o amor. Era verdade. Khloé me fazia sentir o
mais piegas de todos os homens. Era o retorno do universo por
todas as vezes que eu debochei do amor e dos meus amigos
apaixonados. Na minha visão incrédula, era impossível outra pessoa
dominar tanto a ponto de que amar fosse como viver em um sonho.
Ela cantou uns trechos da música bem baixinho. Segurei seu
queixo e beijei sua boca macia, desejando aqueles lábios com gosto
de cereja.
— Eu te amo, Koko.
As covinhas de seu sorriso eram lindas.
— Eu te amo, Leonard.
Aquilo era a verdadeira música para os meus ouvidos.
— Não sei como te agradecer por estar passando por tudo
isso… — Segurei sua mão e beijei a palma. Ela me deu um olhar
marejado.
— É por nós, Leonard. Nada me impediria de lutar por nós. Eu
me afastaria completamente se estivesse noivo e com uma vida
pronta, mas isso é um caminho livre para nossa felicidade. —
Paramos de dançar. — O que estiver ao meu alcance, farei. Sei que
sofre por mim, que está com medo de que eu não aguente a
pressão que suporta todos os dias. Já te disse, enquanto estiver
comigo, estarei com você.
— Tenho medo de que se arrependa. Você é uma mulher livre
e independente, a vida na realeza pode ser uma prisão dolorosa.
— Você é um líder, Leonard. Eu amo ser modelo, me deu
dinheiro e estrutura, mas entre nós dois, quem tem chances de fazer
algo bom para uma população é você. Se fosse o contrário, se eu
fosse uma governante, teria que abrir mão da sua vida. Faria isso?
— Eu abandonaria minha vida agora se você pedisse.
— Não faça isso, lindo. Há um poder no seu destino e não
tirarei isso. Eu e os nossos bebês iremos nos encaixar. Tenho fé que
depois da tempestade, seremos felizes como os príncipes e
princesas dos filmes. — Acariciando minha nuca, dei-lhe um beijo.
Todos começaram a bater palmas. — Estamos sendo observados!
Vamos jantar?
— Vamos.
Segurei a mão dela e prometi nunca soltar.
23 | Khloé
O dia amanheceu e parecia que eu estava de ressaca.
Apesar de não ter bebido, festejei meu noivado até o meio da
madrugada. Amei a surpresa de Leonard, foi doce, atenciosa e
apaixonante. Diria sim para aquele homem despindo a alma e
mostrando o quanto estava comprometido comigo mil vezes. Ele
estava se doando muito por mim, enfrentando a mãe e disposto a
confrontar o povo.
Virei na cama, soltando um gemido e esfreguei as têmporas.
Leonard se moveu também, me abraçando e senti sua nudez. Se
meu corpo colaborasse, poderia aproveitar, mas parecia que não
mandava mais em mim mesma. Ele beijou meu pescoço, ficando
quietinho e fechei meus olhos novamente. Peguei no sono,
pensando não haver pressa para levantar, esquecendo
completamente de que a vida na realeza não tinha folga.
Pontualmente, o relógio tocou e os funcionários estavam a
postos para nos auxiliar com a arrumação matinal. Meu café foi
fartamente servido no quarto, próximo à varanda enquanto a agenda
do dia foi repassada por Allegra e Leonard saía para se exercitar
com Grey, falando de trabalho no mesmo período.
— Obrigada por sua atenção, Allegra.
— Uma última coisa. A senhora gostaria de acrescentar
alguma prática de exercícios físicos na sua agenda? Li que faz bem
durante a gestação e nós precisamos fazer uma pesquisa prévia de
quem for acompanhá-la. Pode levar alguns dias e até semanas —
explicou timidamente.
— Costumo praticar ioga, porém, não perguntei ao médico
sobre. Vou ver alguma recomendação e te procuro para buscarmos
um profissional.
— Tudo bem, por hoje é isso, nos vemos nas próximas
reuniões.
Ela saiu, com calma e tranquilidade, fechando a porta em um
clique suave. Terminei de comer e fiquei olhando para a varanda.
Estava um dia lindo lá fora, decidi deixar de ser covarde e peguei
meu telefone, buscando ler o que falavam sobre mim. O que tinha
na internet era um misto de choque, porém, parecia haverem
comprado a história de que nós já estávamos juntos há meses.
— Claro que a narrativa que eu sou a outra iria ganhar força —
murmurei para mim mesma, lendo os comentários sobre eu estar
atrapalhando o perfeito romance entre Priscila e Leonard. As
montagens eram horríveis. Apaguei a tela e deixei meu telefone na
mesa. — Me dê forças para passar por isso, preciso de força para
aguentar calada…
Recebi um e-mail da minha equipe, resumindo o que estavam
falando sobre mim. Eles já estavam trabalhando para reverter a
porcentagem negativa sobre o noivado. Até quanto ganhava por
ensaio estava rolando nos sites de fofoca. Agradeci o empenho de
todos e não falei mais nada. Não havia muito o que dizer. Sequer
podia me pronunciar. A realeza nunca respondia os rumores e não
rebatia fofocas diretamente.
Nunca falar.
Nunca reagir.
Eu ia morrer entalada. Como Leonard aguentava tudo isso sem
soltar um pio? Ele era um santo!
— Sua primeira roupa do dia já está pronta e passada. — A
governanta me informou com um sorriso. — Gostaria de algo mais
para seu desjejum?
— Não. Obrigada. O bolo estava uma delícia.
— Tenho certeza de que a nossa cozinheira irá adorar ouvir
isso. Transmitirei o recado. — Ela pegou a bandeja. — Volto em
breve, estou disponível para o que precisar.
Eu tinha que me acostumar com a vida de ser servida.
Marc fez um excelente trabalho organizando meu armário de
roupas. Ele trouxe todas de alta costura, dentro do meu estilo e foi
pensando nos eventos que fui previamente informada que
participaria. Seria preciso fazer compras para manter a rotatividade
de roupas. Meu gerente de imagem chegaria a qualquer momento
para criarmos uma estratégia sobre o que minha vestimenta iria
dizer para o público.
Fui para o chuveiro, abrindo a torneira da água quente, e fiquei
na pia fazendo minha rotina matinal de skincare. Passei o pré-
shampoo no cabelo, pensando que, pelo menos, podia manter
minha aparência arrumada como gostava. Havia um protocolo até
para o tamanho do cabelo de uma princesa, não era possível que
ninguém se sentia sufocada com tantas regras.
Tomei um banho tranquilo, parecia que não havia tanta pressa
naquela manhã, embora eu tivesse que buscar estilistas para fazer
um vestido de casamento com urgência.
— Já terminou? — Leonard apareceu na porta e havia um
tanto de vapor. — Não desligue o chuveiro, vou entrar aí!
— Tudo bem… — Temperei um pouco melhor a água ou ele
iria reclamar que estava muito quente. Me envolvi na toalha e
peguei o frasco do meu óleo corporal. Leonard entrou nu e foi para
debaixo do jato, se lavando. Trocamos um olhar e ele não parou
mais de me observar passar a mão na minha pele.
Apoiei meu pé no banquinho.
Leonard saiu do chuveiro, não se importou em se secar direito
e parou atrás de mim. Pegou o óleo e assumiu a tarefa de passar no
meu corpo. Ele beijou meu pescoço, descendo as mãos pelos meus
braços, passando nos meus mamilos e beliscou. Soltei um suspiro e
joguei a cabeça para trás, sua boca pairou em cima da minha
pulsação, ele beijou e chupou.
— Toque-se. Eu quero assistir — pediu baixinho e levei minha
mão para entre minhas pernas, fazendo um showzinho antes de
começar a me tocar. Gemi baixinho, arrepiada pela sensação
incrível que sentia e não parei de provocar meu ponto sensível. —
Que gemido gostoso... — Ele mordeu meu ombro, pressionando sua
ereção na minha bunda e mostrei o quanto estava molhada.
Agarrando meu dedo, chupou o que tinha ali. — Eu te quero tanto…
Sorri, provocante e me inclinei para a frente, empinando a
bunda. Leonard mordeu o lábio, dando o olhar safado pelo qual eu
era apaixonada e bateu na minha bunda, apertando minhas
nádegas com desejo e esfregando a cabeça do pau na minha
entrada. Ele meteu devagar e exalamos juntos, com tesão.
Definitivamente, era tudo que precisava para começar o dia.
Rebolei, encontrando-o a cada estocada, com seus dedos
apertando meu quadril. O banheiro era tudo sobre vapor, sons dos
nossos gemidos e sua pélvis encontrando minha bunda. Gozei,
dando um tapa no mármore, ele puxou meu cabelo e me fez encará-
lo pelo espelho enquanto continuava metendo. Mordi minha boca,
pedindo mais, atiçando-o ainda mais. Leonard estava quase
perdendo a cabeça. Ele puxou fora, gozando nas minhas costas só
para deixar marcas.
— Eu gosto dessa parte de morar junto. — Ele me puxou para
um abraço. Eu adorava aquela parte. — Você está bem?
— Estou incrível. Acho que precisava disso e nem sabia. —
Recostei em seu peito. Eu amava o fato de Leonard ser mais alto
que eu, o suficiente para me aconchegar em seus braços.
Nós ficamos prontos para o dia e liberamos o quarto para
limpeza. Tia Evelyn já estava me aguardando com nossa equipe
completa e Allegra, para falarmos sobre o casamento. Leonard e eu
escolhemos o modelo do convite rapidamente, encontramos um que
era a nossa cara, elegante e com um envelope verde claro.
— Será que todos os detalhes serão tão rápidos assim? — Tia
Evelyn brincou. — Temos que passar pelas cores e as flores, a festa
será no salão principal do palácio. Fui informada sobre todos os ritos
tradicionais e Allegra disse que vai nos ajudar.
— Eu tenho um manual completo, ganhei quando comecei a
trabalhar aqui e podemos segui-lo. Ouvi dizer que a assistente da
princesa também manteve o mesmo.
— Minha irmã poderá ajudar no que precisar — Leonard
comentou e seu telefone vibrou. — Tenho que atender. Eu já volto.
Allegra mostrou um vídeo de como eram os casamentos em
Rainland. Leonard e eu teríamos um encontro com o padre pela
tarde. Eu não era religiosa, não fui criada dessa maneira, meus pais
eram médicos cientistas e não se ligavam em coisas que não
pudessem provar. Minha avó por parte de mãe era católica e a por
parte de pai, anglicana. Minhas irmãs e eu acreditávamos em Deus
e sempre soubemos como rezar, apenas não frequentávamos
nada.
Eu fui batizada na igreja católica, minhas irmãs não foram,
apenas um reflexo de que meus pais realmente não se importavam
com religião. Pelo menos, o fato de já ser batizada facilitava minha
vida, assim minha conversão oficial como princesa e o curso de
noivos não teria empecilhos.
A porta foi aberta e eu fiquei surpresa ao ver a mãe de Leonard
ali. Ela usava um conjunto vermelho, para mostrar sua soberania, e
me olhava de maneira altiva.
— Então, é aqui a reunião do casamento? — ela cantarolou se
aproximando e pegou o exemplo do convite, fazendo uma careta. —
Verde? Sério? Se existir algo mais brega, me avise. E você é a
noivinha. A mulher que entrou na minha casa, usou as joias da
minha família e pretende se casar com meu filho sem sequer ser
apresentada a mim oficialmente.
— Creio que não tivemos a oportunidade, senhora — falei com
tranquilidade.
— E não te faltou tempo para agarrar meu filho? — Ela riu e
senti um arrepio. A mulher estava furiosa. — Acabei de saber que
toda essa correria não é nada menos do que um golpe da barriga.
Isso é tão clássico que me admira Leonard, um homem tão
inteligente, cair nessa.
— Ele não caiu nessa. Não fiz o filho sozinha e coube a ele
assumir a responsabilidade dessa gravidez tanto quanto eu. —
Fiquei de pé, cansada de sentir que a diferença de altura entre nós
a colocava em vantagem. Victória ergueu o rosto. — Adoraria
conhecer a senhora sem que tivesse tanto pré-julgamento e
preconceito de quem eu sou. Até agora, tudo que ouvi sobre sua
pessoa, não foram coisas boas. Se estou disposta a ignorar a sua
fama, por que está me tratando dessa maneira, já que não fiz nada
de errado?
— Eu não me importo com o que dizem sobre mim, no final,
continuo sendo a rainha de Rainland, nascida uma princesa. Você
não é o que sonhei para o meu filho. Alguém que se expôs e vendeu
o corpo por dinheiro…
— Cuidado com o que fala! — cortei-a imediatamente. — Tome
muito cuidado. Eu sei que é a rainha e a mãe do homem que eu
amo, mas você não vai me tratar do jeito que quer. Eu exijo que me
respeite. Se não gosta do casamento e não quer gostar de mim,
tudo bem. Nesse momento, eu também não gosto de você.
Victória sorriu.
— Esse casamento não vai acontecer.
— O que está falando, mãe? — Leonard voltou para a sala e
ela deu um passo para trás, surpresa com a presença dele. — Não
acredito que veio até aqui somente para atacar minha noiva!
— Eu vim até aqui impedir esse circo! — Ela berrou com ele. —
Leonard! Como pode estar noivo da noite para o dia? Como isso foi
acontecer?
— Aconteceu de um relacionamento que eu não quis abrir para
a minha família! Aconteceu que conheci Khloé, me apaixonei e não
devo satisfações, muito menos desculpas sobre isso! — Ele
avançou e toquei em seu braço. — Você não precisa aceitar.
— Eu sou sua mãe e a rainha deste país. Não quero e não vou
tolerar esse ultraje! Eu não tenho explicações a dar aos convidados,
principalmente à família Lancaster!
Leonard ficou tão vermelho que pensei que iria explodir.
— Por favor, se acalme — pedi baixinho, mas ele não me
ouviu.
— Eu sou o Príncipe Herdeiro! Tenho o dever de governar este
país ao lado do meu pai, e minha mulher será a princesa de Rye.
Seremos mais que consortes com uma coroa na cabeça! — ele
gritou tão alto que tive certeza que todos ao redor ouviram. Oh, puta
merda! Ele simplesmente disse que a mãe dele e nada eram a
mesma coisa. David entrou na sala, parando na porta e Charlotte
trombou nas costas dele, querendo ver a confusão. — Você
alimentou uma cobra que quase matou minha irmã. Você me
mandou para longe quando tudo que queria fazer era viver aqui.
Você nunca soube como amar os seus filhos como uma mãe deve,
fez a minha vida e da Lottie um inferno. O que te faz pensar que sou
uma criança ainda? Acha que vou permitir que me machuque e
controle minha vida? Seus desejos sobre quem vou casar são
apenas desejos, eles nunca vão se transformar em realidade. Se
orgulha tanto de ser uma rainha e eu, como príncipe, ordeno que
porte-se como uma.
— Leonard… — David o chamou com calma. Ele se
aproximou, mas não podia conter meu noivo. Acho que ninguém
poderia. — Vamos conversar como uma família, sem usar nossos
títulos. Por favor, filho. Me ouça…
Meu futuro marido riu de um jeito sombrio, o tamanho de sua
raiva era simplesmente incontrolável.
— Eu quero que a Rainha Victória de Rainland, consorte do Rei
David, envie uma aprovação pública do meu casamento. Essa é
uma ordem do Príncipe de Rye.
Victória abriu a boca e fechou, constrangida de receber uma
ordem do próprio filho na frente de todos. Ela encarou o marido, que
parecia derrotado. Ali ele não era rei, era um pai querendo manter a
família unida a todo custo.
— Eu nunca quis machucar sua irmã. Ela sabe disso…
— Então, por que continua agindo da mesma maneira? — ele
retrucou, inclinando a cabeça para o lado. — Acredito que sua nova
e inseparável assistente, que deve estar no corredor, ouviu a minha
ordem. Quero que seja feita até o final do dia.
— Pois bem, Leonard.
Victória saiu como um trovão, furiosa e um silêncio reinou na
sala. Caí sentada na cadeira, com uma dor de cabeça insuportável e
um enjoo difícil de controlar. Puxei a lixeira e vomitei, começando
novamente outro pandemônio.
24 | Leonard
O médico que estava de plantão no palácio saiu do meu quarto
e imediatamente fiquei de pé. Precisei sair do quarto por estar
surtando com Khloé passando mal, com a pressão arterial elevada
devido ao estresse. Nosso médico particular alertou que
precisávamos ficar atentos sobre diabetes e eclâmpsia. Após
pesquisar, fiquei muito assustado.
— Ela está bem?
— Está cansada, mas bem. A pressão normalizou — ele me
respondeu com tranquilidade. — Recomendo que fique na cama
hoje, de repouso.
— Sim, ela ficará. Obrigado pelo rápido atendimento. — Apertei
sua mão, realmente grato.
— Podem me chamar se for necessário, estarei no consultório.
— Viu, vai ficar tudo bem. Você pode se acalmar agora. —
Papai me puxou para um abraço. — Eu sinto muito, filho.
— Não deveria ter explodido com mamãe daquela maneira.
Perdi tudo, a paciência, a educação e até um pouco da noção, mas
ela sabe como apertar todos os meus botões. — Suspirei, ainda em
seu abraço. — Sinto muito, pai. Desculpe pela situação em que te
coloquei. Entendo se revogar minha ordem.
— Eu não vou revogar, você será rei um dia e é a primeira vez
que usa o seu poder como príncipe. É um excelente líder, Leonard.
Você tem compaixão, carinho, carisma, lealdade e amor por
Rainland. Sua paixão é admirável e eu não posso punir um homem
por defender a família. — Ele apertou meu ombro. — Sua mãe
acredita que não existem limites até para pessoas como nós. É o
contrário. Somos governantes e mais do que nunca, temos que
conhecer todas as linhas. Ela fará a declaração para apaziguar as
fofocas. Você se apaixonou, filho. É esse caos amar alguém.
— Foi assim com a mamãe?
— Eu amei sua mãe tão intensamente que fechei meus olhos
para muita coisa e isso fez com que nosso casamento se
equilibrasse em uma linha muito fina. Não repita meu erro. — Papai
me deu um beijo na bochecha e saiu.
— Podemos entrar? — Charlotte enfiou a cabeça pela porta e
atrás dela havia uma multidão. — Cat e Ediwa estão aqui. Louis e
Ethan querem saber se está tudo bem. Evelyn foi com Marc e Frank
em uma estilista que indiquei. Kim foi junto, porque conhece bem o
gosto da Khloé. Nada sobre o casamento parou e assim, a noiva
pode descansar.
Porra, eu tinha a melhor família do mundo.
— E por coincidência, sua sala de visitas está cheia de flores e
presentes que seus amigos mandaram. A esposa de Abdar
simplesmente mandou uma coroa de rosas vermelhas com colares
de ouro. Acho que Khloé vai desmaiar quando ver. — Charlotte riu.
Eu também tinha os melhores amigos.
Antes que pudesse responder, Khloé saiu do quarto, meio
pálida e cambaleante.
— Leonard?
— Ei, volte para a cama. — Segurei-a, preocupado que caísse.
— Não. De jeito nenhum — ela resmungou e se apoiou em
mim. — Vou repousar, farei tudo sentada, mas não vou ficar deitada
como se precisasse de uma bolha de vidro ao meu redor. Estou
grávida, não doente. Prometo me cuidar.
— É assim que fala, garota. — Charlotte entrou e abraçou
minha noiva. — Quer comer alguma coisa? Eu pedi para minha
cozinheira fazer tudo que uma festa do pijama precisa. Acho que vai
adorar Cat e Ediwa, podemos sentar, comer, ver as coisas do
casamento e falar besteira.
— Eu adoraria. — Khloé sorriu e me olhou. — Tudo bem para
você se eu for com a sua irmã?
— Quero que se divirta. — Dei-lhe um beijo e elas foram
embora.
Eu me joguei no sofá, exausto. Louis colocou um copo de
uísque na minha mão e se jogou na poltrona. Ethan encostou a
porta e sentou também, me encarando. Minha cabeça parecia
querer explodir. Queria virar a garrafa inteira, mas não podia. Era
possível morrer de dor de cabeça? Era para ser uma manhã feliz,
não um completo pesadelo porque a minha mãe era louca. O que
ela pensou que Khloé faria? Sairia correndo?
— O que você vai fazer?
— Eu já volto. Preciso esclarecer algumas coisas…
Era necessário cortar o mal pela raiz. Determinado, segui até
onde a família Lancaster estava hospedada. O funcionário na porta
avisou que eles estavam reunidos na sala tomando chá e
conversando, então, pedi que fosse anunciado e que precisava falar
com eles. Me olhando no reflexo do vaso, ajeitei a roupa e entrei
quando permitido.
— Boa tarde. Peço desculpas por interromper o momento em
família.
— É sempre bem-vindo, Alteza. — O Duque de Lancaster fez
uma reverência. — A que devo a honra?
— Estou aqui formalmente para me desculpar sobre todo mal-
entendido. Conhecendo minha mãe, acredito que ela deu
esperanças infundadas sobre um possível relacionamento.
— Sim, Alteza. — A Duquesa de Lancaster parecia irritada. —
Ela nos fez acreditar que no último baile, quando dançou com a
minha filha, se encantou por ela.
Eu nem me lembrava de ter dançado com a garota, isso porque
era comum que eu puxasse várias damas para a pista de dança.
— Eu sinto muito, mas isso não é verdade. Estou
comprometido com minha noiva e não compartilhava das mesmas
intenções de minha mãe que, sonhadora, só queria que o filho mais
velho finalmente encontrasse um amor para passar a vida. —
Adocei um pouco, para não a vilanizar demais. — Espero que
possam perdoar minha família por todo esse mal-entendido. Nunca
foi do nosso desejo brincar com o destino.
— Agradecemos pelo esclarecimento. — O Duque sorriu, a
esposa ainda não parecia satisfeita e a filha estava completamente
indiferente à conversa, com uma expressão excessivamente doce,
muito perfeita.
— Tenham um bom dia. — Sorri e dei a meia volta, saindo e
mudei de corredor, pedindo permissão para entrar onde meus pais
viviam.
Quase não passava por ali. Morei pouco tempo em um dos
quartos, depois fui enviado para estudar fora e por mais que me
ressentisse, porque eu queria ficar, ao mesmo tempo, foi bom.
Encontrei amigos que acompanharam minha vida e tivemos
aventuras memoráveis. Retornei no momento certo, pronto para
assumir meu papel, mas fui morar em outro lugar.
Bati na porta do quarto dos meus pais e esperei.
— Se veio continuar com sua tortura, não estou com
disposição — mamãe falou logo que entrei.
— Acho que não precisamos conviver dessa maneira. Por que
não pode simplesmente ceder e entender meu lado?
— Ceder implicaria estar errada sobre você chegar com uma
noiva, já ter feito fotos e…
— Eu não precisaria fazer isso se confiasse em você. Me
encontrei em uma situação que não podia acreditar que aceitaria
sem retaliações.
— Sempre eu, a vilã.
— Saia desse papel, mãe! Deixa de ser tão intransigente! Olha
a confusão que armou com os Lancaster, toda fofoca e o furacão
que me colocou porque tem esses planos malucos! Não queria me
casar até o fim do ano? Pois bem, conseguiu! O único ponto é que
não tem que ser com quem você quer. Qual o problema em aceitar
Khloé?
— Eu sonhei com uma princesa vivendo ao seu lado! Ela é
modelo, desfilou com os peitos de fora e…
— Ela é uma mulher generosa que doa metade do que ganha
para alimentar crianças em situações críticas, é voluntária em um
hospital infantil quando tem folga, para animar crianças no leito, é
apaixonada em tudo que faz e amorosa. Eu a amo, mãe. Não vou
pedir desculpas por me apaixonar e muito menos por estar
construindo uma família. — Ela me deu um olhar triste. — Khloé e
meus filhos serão a minha família, agora. Você será avó e somente
o seu comportamento vai ditar a participação na vida das minhas
crianças.
Eu percebi que ela não entendeu que seriam gêmeos e chorou,
me pedindo desculpas. Aceitei seu abraço, porém, sabia que não
seria tão simples assim. Mamãe era mais difícil de ser dobrada.
Algumas pessoas não mudam porque não acreditam que estão
erradas, não tem nada a ver com a disponibilidade do coração em
aceitar mudanças.
Saí de lá ainda sentindo que não era o fim de uma guerra
dentro de casa. Ainda bem que as festividades de verão estavam
acabando e assim os convidados iriam embora. Reencontrei Ethan
e Louis por mais um tempo, trabalhei no escritório resolvendo todas
as pendências e respondi as mensagens de Khloé, pedindo minha
opinião sobre a decoração do casamento. Antes de encontrar com o
padre que realizaria nosso casamento, tirei um tempo sozinho para
agradecer aos meus amigos por todos os presentes.
Na ligação com Abdar, que sempre estava calmo, perguntei se
tinha algum conselho para me dar.
— Entenda que mulheres vivem em um universo
completamente diferente do nosso. Seus pensamentos e desejos
possuem mais detalhes, por fim, carecem de mais atenção. Por
mais difícil que seja, acredite em mim, é muito difícil, ouça a sua
mulher. — Ele deu uma risada. — Mulheres são comunicativas.
Quando estão quietas, estão pensando besteira ou já desistiram de
conversar. Nunca permita que sua esposa acredite que falar com
você é uma perda de tempo. Isso significa que ela já não é mais
sua.
— Ela é tão forte… Por menos, sei que muitas já teriam
corrido.
— Só correriam aquelas que não deveriam fazer parte do seu
destino. As linhas da vida não se enganam, Leonard. Khloé está
com você porque quer e ela vai lutar.
— Obrigado por me ouvir. Eu vou ver se ela está bem e nos
falamos depois.
Abdar encerrou a chamada, guardei meu telefone no bolso e
avisei a Grey que não voltaria mais para o trabalho.
Khloé estava sentada no sofá entre Marc e Frank, com alguns
tecidos no colo e paletas de cores. Suas bochechas estavam
vermelhas e o olhar brilhante para Cat e Charlotte desfilando com
vestidos, que só podia supor que eram de madrinha. Kimberly
estava no chão com um papel, parecia ser uma lista, provavelmente
de convidados.
— Nós temos o melhor exército para planejar um casamento.
— Minha noiva me olhou feliz e aquilo acalmou meu coração.
— Está indo bem?
— Temos quase tudo planejado.
— Depois que encontrarem com o padre, vamos jantar e ter
uma noite de karaokê. Precisamos disso para aliviar o estresse e
voltar para Londres. — Charlotte ergueu a saia do vestido. — Eu
gostei desse modelo, não importa a cor, quero que seja assim.
Estou sexy nele.
— Está, mesmo. — Ethan piscou de seu lugar. — Se for
laranja, parecerá uma cenoura.
Charlotte deu-lhe um chute, mas logo começaram os beijos.
— Ai, por favor, não comecem — gemi.
— Agora você tem a sua mulher e eu vou reclamar a cada
demonstração de afeto. Preciso me vingar, você é chato. — Minha
irmãzinha apertou minha bochecha e correu da minha tentativa de
fazer cosquinha. — Precisam ir. O quanto antes terminarem, melhor
para mim, quero começar minha cantoria.
— Eu vou escolher minhas músicas! — Cat agarrou o catálogo.
— Deus salve os cristais — Louis brincou.
Estiquei a mão para minha futura esposa e ela pegou, saindo
rapidamente do sofá e se refugiando em meus braços. Eles estavam
discutindo, jogando amostras um no outro, falando sobre convidar
ou não uma tia que morava na França e tudo que me importava era
ela. Olhando nos olhos um do outro, era como se a balbúrdia das
pessoas que amávamos não existia. Ela silenciava meu mundo,
aplacava meu caos e me tirava do pesadelo.
Apenas ela tinha o dom de me transportar de onde estivesse
para um mundo novo.
25 | Khloé
Tia Evelyn puxou meu cabelo para cima, em um dos muitos
testes de penteado que precisava fazer para combinar com o
vestido. Allegra deu sua opinião e eu queria algo que soasse mais
angelical, porque independentemente do que as pessoas diziam
sobre mim, aquele era o meu casamento e eu queria que fosse
romântico. Meu vestido foi definido e estavam trabalhando nele a
todo vapor para que ficasse pronto a tempo da cerimônia.
Fiz três tipos de teste de maquiagem, conseguindo escolher
um, embora ainda estivesse insegura. Meus nervos com o
casamento só aumentavam a cada dia. Com o fim dos eventos de
verão, Charlotte e Ethan foram embora, assim como Louis e Cat.
Frank ficou para ajudar Marc, e eu fiquei grata porque precisava de
todo apoio possível. Conheci a tia de Leonard, Alicia. Ela não foi
nada além de muito gentil comigo, mas era irmã da rainha e eu
fiquei com meus pés atrás.
Depois do encontro com o padre, começamos o curso de
noivos e em uma cerimônia privada, jurei lealdade ao Rei David e a
Rainland, assim me tornando apta para casar com Leonard e
receber o título de princesa, além da investidura de Rye. Ainda
estava sendo discutido em quais áreas eu trabalharia e em que
seria patrona, mas o palácio já estava criando meu escritório e um
horário com flexibilidade. Apesar da gravidez ser um segredo,
ninguém questionou.
Claro que a mídia especulava os motivos de um casamento tão
rápido, mas Ethan e Charlotte tiveram dois meses de noivado e isso
aplacou um pouco as fofocas. O palácio conseguiu travar os
comentários ácidos da Duquesa de Lancaster e depois que Priscila
postou nas redes sociais que estava indo para a Escócia colocar a
cabeça no lugar, recebi uma nova onda de ataques de ódio.
Minha família estava sofrendo com o que diziam sobre mim na
internet. Meus pais apoiaram meu casamento porque era o que eu
queria, até pareciam gostar de Leonard e estavam dispostos a fazer
parte da nossa vida. Ansiosos em serem avós novamente, me
ligavam dando o amor que sempre recebi. A força deles me
mantinha de pé, porque não era fácil. De vez em quando, ler tudo
aquilo, me lembrava a garota que fui, sofrendo tanto bullying nos
corredores da escola ao ponto de fazer xixi nas calças.
A rejeição era muito dolorosa.
A mãe de Leonard não me aceitou e eu fingia que ela não
existia. Ela perguntou qual cor desejava que usasse no casamento
e, através da secretária, mandou os modelos para minha aprovação.
Nada além disso. Alicia tentou nos reunir em um jantar com o
namorado. Victória falava sempre que eu ficava quieta, isso foi me
fazendo retrair na cadeira e no fim, eu me odiei por estar ali.
Leonard estava em um estágio de estresse que eu não sabia o
que fazer. Queria confortá-lo, mas não entendia nada da realeza
para saber o que dizer.
— Está tudo pronto para sairmos? — Grey conferiu da porta,
sem entrar.
— Estou terminando o cabelo — respondi e prendi com o
grampo as partes finais.
Depois do teste de penteado, era hora de enfrentar o meu
primeiro evento público como noiva de Leonard. Nós iríamos a uma
feira orgânica em uma cidade próxima, na qual os moradores das
vilas locais se reuniam para expor os produtos que produziam em
suas pequenas fazendas. Era uma atração turística forte, teria um
show de uma banda famosa e outras atrações.
Estava pronta, mas não podia usar minha bolsa em público, ela
ficaria com Allegra. Eu usava um vestido verde claro, para induzir as
cores suaves do casamento, tudo pensando na imagem de pessoa
gentil. Se usasse roupas ousadas, a mídia poderia me julgar como
vilã e maldosa. Assim como roupas minimalistas, que me fariam
parecer psicopata, o tipo de pessoa que tem tudo planejado.
Desci as escadas com a equipe e esperei por Leonard. Ele
apareceu às pressas.
— Desculpa o atraso. A reunião levou mais tempo do que o
esperado. — Ele deu um sorriso a todos e segurou minha mão,
entrelaçando nossos dedos. Estávamos na entrada principal do
palácio, o que significava que todos na rua podiam nos ver.
Fui orientada a não encarar ninguém especificamente
enquanto não tivesse a simpatia do público. Passava a maior parte
dos dias sendo treinada para não falhar e cometer algum deslize
que atrairia a fúria coletiva. Leonard acenou polidamente e em
seguida, me ajudou a entrar. Dei a ele um sorriso, me acomodando
no lugar e ele deu a volta. Rapidamente, a comitiva saiu do palácio
e pegamos a estrada.
— Como foi com o penteado?
— Ainda de beicinho porque não pode ver nada sobre minha
aparência do dia do casamento?
Ele fez um pequeno beicinho, soltei meu cinto e o beijei. Era
irresistível.
— Eu estou louco para te ver de noiva. A mulher da minha vida
— falou baixinho, galante e por ele, tudo aquilo valia a pena. —
Como estão meus bebês?
— Deixando a mamãe muito tranquila hoje. E a reunião com
seu pai?
— As obras da nova ponte têm atraído um pouco de irritação
no planejamento de gastos. Temos parlamentares barulhentos
falando besteira na internet.
— Imagino que com o casamento…
— Um pouco. Quando meu pai anunciou que estaremos
usando nossas fortunas pessoais para os gastos da festa e ele
estava nos presenteando com a decoração, cortejo e cerimônia,
muitos se acalmaram. Em sua maior parte, só querem clareza nos
gastos, raramente compram uma briga quando se tem transparência
— explicou e voltei para meu lugar, prendendo o cinto. O carro
estava em alta velocidade e eu não era maluca de andar solta.
— Estou um pouquinho nervosa. E se não gostarem de mim ao
ponto de vaiarem?
— Prefiro acreditar que a população de Rainland é um pouco
mais educada do que isso. — Ele segurou minha mão e apertou. —
Espere e veja que todos irão te amar. Não tanto quanto eu te amo,
mas vão te adorar.
— Eu te amo.
— Eu sei, baby. — Ele sorriu, encantador e beijou minha mão.
Meu estômago parecia que tinha uma bola de cimento para ser
digerida. Ficamos no carro por trinta minutos antes de sermos
anunciados no evento. Primeiro fomos cumprimentar os
organizadores, que para meu alívio, foram simpáticos e
profissionais. Todo público acenava para Leonard. Eles queriam
apertos de mão e conversar. Se eu já o admirava por sua dedicação
a Rainland, naquele momento, foi um pouco mais. Paciente e gentil,
foi amoroso com cada pessoa, indo de um a um, me apresentando
como sua noiva e respondendo as milhares de perguntas.
— São flores para minha noiva? — ele perguntou a um
garotinho, com diversão.
— Ah, muito obrigada, pequeno cavalheiro! — Agachei com
cuidado e aceitei o ramo de flores mistas que pareciam ter sido
colhidas pela festa.
— Você está em um bom caminho. Algumas damas ficam
adoráveis quando recebem flores — Leonard falou com ele. — Um
dia, vai encontrar alguém como eu encontrei e todas as flores mais
belas do mundo não serão o suficiente.
A mãe do menino soltou um risinho afetado e eu disfarcei
minha vontade de gargalhar com uma tosse discreta. Olhei para
Leonard e pisquei.
Foi um bom evento. Eu senti vontade de comer absolutamente
tudo. Algumas coisas não podíamos provar, porque era protocolo,
mas um bolo de nozes me deixou com água na boca. Nunca pensei
que a coisa de sentir desejo era real, apenas algo que as grávidas
inventavam para justificar a comilança. Fomos embora e eu tinha
lágrimas nos olhos porque a equipe não me deixou comer.
— Ah, amor. — Leonard estava dividido entre seguir as regras
e me agradar. — Não sabemos os ingredientes e por mais que não
tenha uma alergia comprovada, é dever deles evitar quaisquer
problemas.
— Mas é um bolo! — Fiz um beicinho. — Ainda sinto o cheiro
dele!
— Me desculpa, linda. — Segurou minha mão.
Continuei chorosa e com raiva, era incontrolável. Eu queria um
bolo de nozes.
— Se você rir, eu juro por Deus que vou casar viúva!
— Eu não estou rindo. — Ele jurou, a boca curvada em um
sorriso.
Puta, cruzei meus braços e fiquei olhando pela janela.
Chegamos no palácio, fui para o quarto descansar, tomei banho e
vesti um pijama confortável. O jantar seria servido ali mesmo e o
tanto que andamos era o equivalente a dez passarelas no mesmo
dia com milhares de idas e voltas. Leonard entrou depois, foi para o
banheiro, me deixou quieta e tentei me entender com o painel da
televisão para conseguir assistir a um filme.
A governanta mandou o jantar, pequenos sanduíches de queijo
bem tostados, sopa de batata com frango, e legumes cozidos. Leve
e gostoso. Comi tudo e lambi meus lábios.
— Alguém estava com fome e talvez não só de bolo de nozes.
— Leonard pegou minhas pernas e colocou-as em seu colo. —
Satisfeita?
— Muito. E por mais que tenha ingerido quase dois litros dessa
sopa incrível, eu ainda quero o maldito bolo e estou com raiva que
não me deixaram comer. — Cutuquei sua barriga com meu pé, ele
riu e massageou meu calcanhar. — Eu não sei se terei mais desejos
grávidos, mas se acontecer, não poderei ser presa por matar quem
inventou todas essas regras estúpidas. Eu vivi em Nova Iorque
comendo cachorro quente de barracas de rua e agora não posso
comer um bolo na feira! Isso me deixa mais ultrajada do que não
poder cortar meu cabelo!
— Uau! Que mulher agressiva! Pensei que a regra que te
irritaria mais seria das calcinhas.
— Essa, eu ignorei. — Abaixei a calça do meu pijama e mostrei
que estava usando uma das muitas pequenas que tinha no armário.
— A governanta deve ter ficado horrorizada quando arrumou minhas
coisas, mas eu ainda não estou pronta para as calcinhas de vovó.
Usarei short por baixo e uma anágua, mas calcinhas grandes, não.
— Eu adorei isso aí. Posso ver melhor?
— Só se me der bolo de nozes. — Abri um sorrisinho com um
dar de ombros.
— É mesmo? — Leonard arqueou a sobrancelha. — É uma
promessa?
— O que você aprontou?
Ele se inclinou e beijou minha boca.
— Achou mesmo que deixaria minha mulher chorar de desejo?
Daqui a pouco a cozinha vai entregar um pedaço da melhor torta de
nozes de Rainland, aprovada pela nossa chef para consumo.
Meu coração chegou a falhar e me deu vontade de chorar. Ele
percebeu minha expressão, provavelmente meu nariz vermelho
indicou que estava sendo massacrada pelos meus hormônios e
gargalhou. Bati em seu ombro, tentando mordê-lo. Eu ri da maneira
que fui parar em seu colo e ele me levou para a cama, desligando
as luzes e deixando só a televisão.
O bolo foi servido discretamente, já era tarde.
— Eu nunca te vi comer nada assim — Leonard comentou.
Ofereci um pedaço. — Vai compartilhar, mesmo?
— Estou tentando ser educada.
— Não quero não, linda. Tudo para você. — Beijou meu ombro.
Terminei a torta com um sorriso no rosto.
— Meu herói.
Leonard sorriu, orgulhoso de ter me feito sorrir em um dia que
poderia ter terminado em um completo desastre.
26 | Khloé
— Essa mulher é uma filha da puta! — Leonard grunhiu ao
ver um perfil de fofoca que criou uma história em que ele ficou
dividido entre a mocinha inocente para ser princesa e a loira fatal,
no fim, decidiu ficar comigo, partindo o coração da outra. — Eu
nunca tive nada com a srta. Lancaster, porra!
— Pelo menos, eles me chamaram de gostosa — comentei por
cima dos ombros dele. — Estou tentando fazer piada. Acho que já
estou ficando anestesiada.
— Não é justo. — Ele esfregou a nuca, cansado.
— Eu sei que não é. Estou na expectativa da entrevista.
Quando pudermos contar a nossa história, você vai poder desmentir
todos esses boatos com a srta. Lancaster. Não é culpa sua que a
duquesa acreditou na sua mãe e saiu espalhando que a filha dela
seria princesa. — Abracei-o e beijei seu ombro.
— Hoje você acordou tão… — Ele suspirou e sorri, fazendo
pose contra a janela e ainda dei uma voltinha, soprando um beijo.
— Acho que é o dia do brilho da gravidez!
Leonard me pegou e me puxou para seu colo, virei-me para
montá-lo. Estávamos em um dos nossos momentos sozinhos, que
eu intitulava como os favoritos. Eram momentos em que podíamos
ser as duas pessoas que se apaixonaram perdidamente, sem
regras, sem posições perfeitas e sorrisos no rosto.
— Se hoje é o brilho, o que foi aquilo ontem? O inferno da
gravidez? Seu humor estava intragável! — Ele me cutucou e dei a
língua. — Tenho algo mais útil para fazer com isso daí.
— Já te disse que não consigo controlar. Suas crianças estão
me amolecendo.
— Elas estão te deixando linda.
— Ah, meu amor! Você me deixa tão boba! — Agarrei suas
bochechas em uma crise de fofura. — Preparado para mais um
ensaio infinito do casamento? A cerimônia precisa durar isso tudo?
— Vai passar rápido no dia, é que estamos nervosos e
queremos que tudo saia perfeito.
— Nervosa? Eu? — Fingi costume. Ele riu e cutucou minhas
costelas. — Ninguém está mais nervoso do que eu para que esse
casamento seja perfeito. Felizmente, todos os detalhes estão indo
bem, ainda me preocupo que algo possa dar errado, mas ao mesmo
tempo, estou confiante. Vai ser o nosso dia, não importa o que
aconteça, se no final do dia me tornar sua esposa, já serei feliz.
— Você vai ser minha, não importa o que aconteça.
— Vamos ensaiar.
Animada, encontrei quase todos os participantes da cerimônia
na capela do palácio. Era menor do que a igreja principal, mas tinha
a mesma organização e ajudava a entender como funcionava a
ordem de tudo. Pela primeira vez, a mãe de Leonard apareceu para
ensaiar. Ela não olhou na minha direção e ficou séria, mas fez o seu
papel sem errar e não soltou nenhum comentário. Passado o último
teste da cerimônia, fomos para o salão treinar as danças.
Eu nunca havia valsado antes. Quando meus pais chegassem,
precisaríamos ensaiar de novo. Não era possível visualizar meu
amoroso pai dançando com Victória. Mamãe e o rei eram pacíficos,
conseguiriam ficar na presença um do outro tranquilamente. Papai
estava furioso e tentando não me defender na internet, seguindo o
protocolo do palácio sobre nunca rebater as críticas.
A mãe de Ethan estava no salão com Alicia. Elas foram muito
legais em todo momento em que as encontrei, mas não avancei em
conhecê-las porque não sabia o que pensavam de mim.
— Por muitos anos, meu pai e o pai de Ethan deixaram de ser
melhores amigos para travar uma guerra irritante entre alfinetadas,
críticas políticas e birras. Chegou a ameaçar a boa relação entre
Rainland e a Inglaterra — Leonard cochichou enquanto os pais
dançavam. — Eles só voltaram a se falar quando o pai de Ethan
descobriu um tumor cerebral. Foi um momento muito triste.
— Ele faleceu?
— Sim. Pelo menos, a mãe de Ethan pode estar aqui e ela é a
única que consegue domar a minha. Tenha certeza de que esse
silêncio e calmaria é porque as duas devem ter conversado
bastante. — Ele tocou minhas costas. — Alicia gostaria que
passássemos o final de semana na casa de veraneio. Ela quer te
conhecer melhor e acredita que está tensa porque é irmã da minha
mãe.
— Confesso que sim, um pouco. Eu não sei se ela gosta de
mim ou se quer defender a irmã.
— Alicia segue apenas a própria opinião e de ninguém mais.
Ela é minha tia, mas é minha amiga.
— Se é importante para você…
— Não quero que conheça ninguém que não queira, não é
assim que funciona, estou apenas transmitindo o convite e contando
quem ela é para mim. Sei que no seu mundo, irmãs defendem as
outras com unhas e dentes, mas não é assim com elas. — Ele olhou
em meus olhos e assenti. Que bom que eu poderia conhecer a tia
dele sem julgamentos. — Chegou a nossa vez.
Esperava lembrar os malditos passos.
Leonard foi para uma ponta do salão e eu para a outra. Meu
vestido era longo o suficiente para fazer a dança segurando a saia
para dar volume. Nós começamos e mesmo sendo um ensaio, meu
coração batia forte no peito, sem querer errar. Ele sinalizou para
olhar em seus olhos e obedeci. Ouvi a música e não me
desconcentrei dele.
Nos braços dele, tudo parecia mais fácil. Me perdi em seu
olhar, na melodia suave da valsa e com as luzes focadas em nós,
não via mais nada. Tudo que importava era nós dois.
— Se eu voltasse no tempo e contasse para mim mesma que,
no futuro, estaria me casando com um príncipe, acho que iria rir —
falei.
— Eu super acreditaria se falasse comigo, mesmo no passado.
Seria algo como: ei cara, você vai casar com uma modelo muito
gostosa — ele retrucou, me fazendo rir. — Leonard do passado,
adolescente cheio de hormônios, iria para o chuveiro feliz.
Bati em seu ombro, rindo.
— Você era um punheteiro?
— O que acha? Claro que sim! Todo adolescente é, o que
disser que não, está mentindo. Depois, veio a fase das garotas e
aí... parei de entupir ralos.
— Cala a sua boca, Leonard! — Soltei o riso pelo nariz. —
Simplesmente não fale essas coisas quando não posso rir em
público.
— Vou tentar. É difícil não pensar que seria incrível voltar no
passado e dizer que vou me casar com uma mulher gostosa. Todos
sentiriam inveja. Acho que estou com inveja de mim mesmo.
Ele era inacreditável quando queria me distrair e elevar meu
ego ao mesmo tempo.
Nós esquecemos dos outros ao ponto que a música havia
acabado e continuamos indo de um lado ao outro, conversando
baixinho. Allegra nos chamou suavemente, informando que era hora
de trocarmos de par. Ensaiei dançar com o pai dele e finalmente,
não pisei em seus pés, como nas primeiras vezes. Ninguém podia
me culpar por nunca ter dançado valsa tradicional antes.
Leonard precisou ir para o escritório e eu fui provar meu
vestido de noiva. Depois que escolhi a estilista, não parei mais de
receber modelos exclusivos, mas aquele era exatamente como um
dia me imaginei de noiva e não queria trocar. Minha saia era
volumosa, mas não muito. Ser alta facilitava bastante não parecer
um bolo em formato de noiva.
Por tradição, a rainha escolheria qual coroa eu deveria usar,
mas ela não respondeu nenhuma das notas que minha equipe
enviou. Leonard perdeu a paciência e me levou até a exposição da
família para escolhermos uma. Era maravilhosa. Minha próxima
prova do penteado seria com ela e o véu. Estava ansiosa para me
ver pronta.
— Sua mala para o final de semana já está pronta — a
governanta me informou.
— Nós vamos hoje? — Olhei-a pelo espelho, confusa, afinal,
ainda era quinta-feira.
— O príncipe solicitou para hoje.
— Obrigada, sra. Esra.
Eu ainda não estava com muita barriga. Como conhecia meu
corpo, sabia que a formação que surgia no meu ventre era dos
bebês. Dava para esconder com qualquer roupa, principalmente no
vestido e o modelo era justamente para isso, para que ninguém
percebesse. Depois do casamento, Leonard e eu iríamos viajar por
duas semanas para uma ilha privada e no retorno, quando somasse
um mês do casamento, a gravidez seria anunciada sem informar de
quantas semanas eu estava.
— Está tudo certo com as medidas, agora vamos finalizar e
fechar. — A costureira que estava com a estilista confirmou o que
esperava.
— Obrigada.
Troquei de roupa e procurei por Leonard. Bati na porta de seu
escritório antes de entrar. Ele estava de óculos, parecendo um
professor sexy, lendo um livro grande e grosso.
— Eu gosto disso, se tirar a camisa, vai ficar ainda melhor. —
Encostei na soleira e cruzei os braços. Ele riu e relaxou na cadeira.
— Soube que iremos sair mais cedo. Algo a dizer sobre isso?
— Quero cozinhar com minha futura mulher, usando cueca e
bebendo algo bom. Algum pecado?
— Não. É um sonho. Estou pronta, irei à biblioteca.
— Passo para te buscar em trinta minutos.
Soprei um beijo e virei na direção oposta. O palácio tinha uma
biblioteca principal que era como dos filmes. Era aberta para
visitação escolar durante o primeiro semestre do ano e para turistas
no verão. Fora esses meses, era possível usufruir dela com um
pouco de privacidade. A bibliotecária sorriu quando me viu entrar e
disse que os livros que pedi já estavam separados.
Tomei um chá de maçã na companhia dela, lembrando do
tempo da escola que me esconder em um lugar como aquele
significava que meu dia seria bom. Nenhum popular passava da
porta e assim me deixavam em paz.
Ela precisou atender a governanta do rei com alguns pedidos e
me afastei, indo até a janela. Dali era possível ver o jardim. Ao
longe, pude ver Victória conversar com uma mulher que eu não
conhecia. Ela parecia irritada, gesticulando e a mulher a acalmava.
Não consegui desviar o olhar, uma parte de mim sentiu um pouco de
pena por vê-la sofrer, outra parte sabia que seus motivos não eram
completamente plausíveis.
— Espiando, princesa? — Leonard parou atrás de mim.
— Fui pega. Desculpe. — Minhas bochechas coraram. — Sabe
quem é?
— A psiquiatra. De tempos em tempos, a terapia é ao ar livre.
— Faz tempo que sua mãe começou um tratamento?
— Depois do casamento da minha irmã, meu pai meio que
obrigou, mas ela parou um tempo e voltou quando ficamos noivos.
— Ele pegou meus livros. — Não é só por nossa causa. Está bem
óbvio que meus pais estão em um momento muito ruim no
casamento. Nem tudo que reluz é ouro dentro desse palácio.
— Vamos?
Leonard quis ir dirigindo e a comitiva de segurança seguiria até
a entrada. Fiquei observando a paisagem, em silêncio.
— Você está muito quieta. Quer compartilhar seus
pensamentos?
— Estou pensando que enquanto nós estamos nos casando,
seus pais enfrentam uma crise. Eu sei que sua mãe não é fácil e
não gosta de mim gratuitamente, mas imagino que eles viveram
muitas coisas juntos.
— Meu pai me disse que por amá-la demais, foi permissivo, ele
não queria fazê-la infeliz e brigar por todos os motivos que
causavam atritos. — Ele buscou minha mão. — Eu fiquei com isso
na cabeça.
— Existe um equilíbrio entre ter paz e razão. Nós vimos o
quanto uma falha de comunicação pode causar danos irreparáveis.
Se eu não estivesse grávida, nós nunca nos falaríamos novamente.
Ele ficou olhando para a frente.
— Acha mesmo que eu não iria atrás de você?
— Se eu neguei contato…
— A última coisa que permitiria é que nosso término fosse por
um mal-entendido. Não ficaria preso em Rainland para sempre e
quando pudesse, iria atrás onde estivesse. — Ele pegou minha mão
e beijou. — Eu tentaria de tudo para consertar meu erro de nunca
ter lhe contado sobre a presença de Priscila no palácio e esclarecer
os rumores. Não iria embora até que acreditasse em mim.
— Gosto de saber que não desistiria de nós tão fácil quanto eu,
que surtei completamente. Fui tão imatura quanto uma adolescente,
quando penso, me irrito e sinto vergonha. Ainda bem que sua irmã é
corajosa, ela foi lá por você. — Suspirei e toquei minha barriga com
a mão livre. — Estava em pânico. Somando com descobrir a
gravidez, foi um surto completo.
— A fofoca não tocou em uma ferida minha e sim, na sua.
Assim como sei que todo ódio que está acontecendo na internet e a
rejeição da minha mãe te magoa.
— A rejeição da sua mãe não me magoa, me deixa frustrada,
porque não existe um motivo. Fico preocupada em te colocar no
meio de uma guerra desnecessária, afinal, ela é sua mãe. Eu amo a
minha e ficaria arrasada se ela não gostasse de você.
— Eu conheço a mãe que tenho, não se preocupe. Sei que a
guerra é unilateral.
— E quanto a internet… — Eu olhei para a janela. — Estou
tentando não me culpar por aquilo que não tenho controle. O
julgamento está neles, não em mim. Estou fazendo de tudo para
passar uma boa imagem e mostrar quem sou. Minha única
esperança é que, com o tempo, isso passe.
Leonard diminuiu um pouco a velocidade quando entramos na
área militar e piscou os faróis para um soldado abrir a passagem.
— Eles vão ver a princesa maravilhosa que estão ganhando de
presente.
Eu queria que o mundo me enxergasse com os olhos de amor
de Leonard.
Caros leitores, estou muito interessada na opinião de vocês.
Nós amamos ou odiamos a futura princesa?
A opinião desta coluna é que precisamos ainda vê-la em ação, no
governo e não precisamos nos preocupar com o romance. Afinal,
uma mulher deixar a carreira por amor? Somente em um conto de
fadas.
Se vai durar? Nós não sabemos… afinal, tudo que começa rápido,
também termina ainda mais rápido.
Lady Daisy Mail
27 | Leonard
Tudo que precisava era de uma pausa na loucura. Eu não
gostava de demonstrar a Khloé o quanto os ataques estavam me
afetando, porque não queria que ficasse triste, mas a vontade que
tinha era de explodir o mundo apenas para silenciar o ódio contra a
mulher que eu amava. Ela implorava para que eu não perdesse
minha cabeça, porém, para um homem protetor como eu, vê-la
sofrer era um castigo. Legalmente, estava fazendo tudo que podia
como príncipe, mostrando para Rainland a mulher incrível que ela
era.
Estar na casa de veraneio era meu momento de descanso.
Desci as escadas sem roupas, minto, apenas com uma cueca. Fui
em direção à cozinha e minha futura mulher estava com o shortinho
curto de cetim que sentia falta e um top. Seus cabelos estavam
lavados, secando naturalmente e com isso, tinham ondas
bagunçadas que ao prender no alto, caíam sem ordem pela cabeça.
Ela mexia algo na panela, muito concentrada, e cheirava muito bem.
Incapaz de ficar longe, parei atrás e beijei sua nuca antes de passar
a mão em seu ventre.
— O que é isso?
— Molho de queijo. Pensei em fritarmos carne e frango, tem
torradas, podemos comer fazendo um pouco de bagunça. Separei
vinho para você. — Ela continuou mexendo para alcançar o ponto
certo. — Quer algo mais?
— Não. Parece delicioso, está atiçando minha fome.
— Então, pegue seu vinho e coloque música. — Khloé me deu
um beijo.
Bati em sua bunda, enchi minha taça e peguei seu telefone. O
aparelho dela sempre era um caos de notificações e mensagens,
ela nunca abria tudo, o que me dava nervoso com vontade de ler e
responder uma a uma. Khloé tinha um filtro mental que a fazia
responder por ordem de importância e o que não era, ficava no
limbo. Liguei o painel de som e conectei o aplicativo de música,
selecionando nossas bandas favoritas.
— Quer alguma salada para acompanhar? — Ela me ofereceu
e neguei. Naquela noite, queria comer besteira, nada saudável.
Comecei o preparo das carnes logo ao lado, usando fogo baixo para
não nos queimar. — Ai! Aumenta! Eu amo essa música! — gritou e
peguei o controle do painel para que Khloé usasse a colher de pau
como microfone, cantando uma música muito antiga. — Minha mãe
ouvia direto! Eu adoro Torn!
— A letra é meio triste, apesar da batida — comentei,
prestando atenção.
— Eu cantei muito quando estava com meu coração partido. —
Virou o molho de queijo em uma vasilha e foi cortar o pão para fazer
torrada.
— Adolescente?
— Sim. Foi humilhante o que ele fez comigo na frente da
escola inteira e depois a namorada dele fez com que as líderes de
torcida me acertassem com balões cheios de farinha e água. Eu
estava com a roupa do mascote, mas todos sabiam quem era ali e o
motivo. — Sentou no banquinho. — Eu colocava as músicas bem
alto e chorava abraçada no meu travesseiro. Hoje eu sei que não foi
ele que me machucou, estava apaixonada, foi o conjunto todo que
me devastou.
— Eu sinto muito, baby. Não posso imaginar o quanto foi ruim
para você.
— Eu tratei muito desses problemas na terapia, mas sabe, a
cura é um processo lento. — Deu de ombros. — E você? Como foi
na escola?
— Estava com ódio de estar lá. Quer dizer, nada contra
ninguém, muito menos a instituição, mas Rainland é conhecida por
ter uma excelente educação. Minha mãe queria se exibir e me
enviou para longe… — Tirei o frango e coloquei a carne vermelha.
— Eu estava furioso e não fui simpático. No meu primeiro dia, se
lembro bem, dei um soco em um idiota que me chamou de
engomadinho e disse que Abdar era um cuzão. Ele riu e me chamou
para sentar com eles. Eduardo entrou na escola semanas depois…
— E assim criaram um grupo?
— Cada um tinha o seu motivo particular e uma história por
trás. Foi bom crescer com eles, além das diferentes culturas entre
nós, todos tinham grandes responsabilidades no futuro e
rapidamente aprendemos a nos divertir enquanto podíamos. —
Soltei uma risada.
— Bom que você foi diferente na escola, assim nossos filhos
serão brilhantes e descolados.
Dei a ela um olhar.
— Eles estudarão aqui em Rainland e morarão conosco até a
faculdade, certo?
— Eu não pretendo mandar nossas crianças para lugar algum,
a não ser que queiram fazer algum intercâmbio para aprimorar os
estudos. E se eles quiserem nunca sair de casa, tudo bem, o palácio
parece ser bem grande. — Ela riu adoravelmente e deixou meu
coração tranquilo. — Estou ansiosa para vê-los de novo na próxima
consulta.
— Ainda sem noção de qual seja o sexo?
— Não sei. Não quero ficar falando e acabar sendo algo
diferente.
— Vai querer saber?
— Depois que revelarmos ao público nossa gravidez, podemos
fazer o exame e descobrir.
Uma nova música começou a tocar e era boa o suficiente para
dançar agarradinho. Desliguei o fogo e a puxei sem aviso. Khloé me
abraçou, deitando a cabeça no meu peito e balançamos de um lado
ao outro. Ela estava calma e feliz, reflexo de como me sentia. O
mundo lá fora parecia que ia nos devorar, mas ali... era apenas
sobre nós e o amor que sentíamos pelo outro.
Nós comemos, conversamos até tarde e fomos deitar para
assistir a um filme porque era nossa folga. Alicia e Ford chegariam
na tarde seguinte e faríamos programas de casal. Queria muito que
minha noiva e minha tia fossem amigas, mas entendia o receio.
Minha mãe era tenebrosa.
No meio da madrugada, ainda estava assistindo a um filme que
perdi no lançamento enquanto ela dormia pacificamente, com a
bunda virada na minha direção. Seus pés se moveram contra os
meus, suspirou e a olhei para ver se estava bem. Percebi que
acordou e toquei seu bumbum, apertando um pouco. Khloé se virou,
com o rosto amassado de sono e o cabelo despenteado.
— Ainda acordado ou perdeu o sono? — Olhou para a tela
rapidamente. Eu era um tarado, não consegui manter minha mão
longe de seu peito e arrastei o polegar pelo mamilo.
— Ainda estou assistindo televisão. O que foi? Está sentindo
alguma coisa?
— Sim, tesão. Eu quero você. — Puxou a coberta de cima de
mim.
Porra, sim. Khloé montou em meu colo, me beijando
desesperada. Ela deve ter tido um sonho muito bom e picante,
estava excitada e me querendo a todo custo. Atacando meu
pescoço, agarrei sua bunda e puxei sua calcinha para o lado,
tocando sua boceta por trás. Molhada, gemeu baixinho, querendo
mais. Eu a fodi com meu dedo, ouvindo o barulhinho delicioso do
seu canal apertado, escorrendo por mim. Pressionei sua outra
entrada, ela ergueu o rosto e riu.
— Não me atente.
— Minha vida é te provocar. — Mordi seu lábio. — O que você
quer, baby?
— Seu pau.
Decidida, desceu pelo meu peito e puxou minha cueca. Pensei
que ia simplesmente sentar, o que seria ótimo para mim, mas ela
sempre me surpreendia quando queria me chupar. Tocando uma
punheta gostosa, desceu a boca em mim e me fez gemer alto.
Cuspindo, bombeou com a mão e olhou em meus olhos.
— Não se controle. Me fode. — Riu, sombriamente excitada.
Agarrei seu cabelo e fodi sua boca. Khloé me enlouquecia. Trinquei
meus dentes, com meu pau muito duro em sua boca quente e o
abdômen contorcendo, querendo desesperadamente gozar.
— Oh, baby! Vem aqui, gostosa! — Puxei-a e tomei sua boca.
— Vira, empina a bunda, senta e rebola.
Khloé empinou a bunda e me deu a visão deliciosa de sua
boceta. Toquei a mim mesmo, ela se olhou sobre os ombros
enquanto descia. A sensação foi tão intensa que bati minha cabeça
contra a cabeceira, voltei a olhar e estapeei ambas as nádegas até
ficarem um pouco vermelhas. Arranhando minhas coxas, a mulher
arrancou meus gemidos mais intensos e precisei agarrar seu quadril
quando gozou, me apertando ao ponto que perdi o rumo dos meus
pensamentos.
Ela me conhecia e me tinha tão na palma da mão, que quando
ficou de joelhos no centro da cama e empinou completamente a
bunda, nós sorrimos um para o outro. Brinquei com sua boceta
pingando antes de voltar a fodê-la rudemente até gozar.
Caímos deitados, ela virou de barriga para cima e riu.
— O que foi isso, baby?
— Eu estava sonhando que você fazia coisas incríveis em mim
em uma praia deserta, acordei e te olhei, não havia muito o que
pensar depois disso.
— Por favor, tenha mais sonhos e me acorde — falei olhando
para o teto, com meu coração acelerado. Khloé riu e se arrastou
para cima de mim, me dando um beijo e rindo do quanto me deixou
acabado. A gravidinha ainda estava cheia de disposição e querendo
foder a noite toda.
Eu não seria o idiota a negar.
Pela manhã, ela estava plena na cozinha, com uma vasilha
fazendo massa de panquecas, comendo as frutas que cortei e
exalando uma felicidade linda. Suas bochechas coradas, o sorriso
encantador pelo qual me apaixonei, o pijama rosa claro de quem
não estava disposta a trocar de roupas… Eu nunca morei com outra
pessoa antes e tinha as referências dos meus amigos, mas nós não
falávamos de coisas íntimas.
Eu imaginei que fosse diferente. Khloé e eu recebíamos
diversos ataques durante o dia. Ela da mídia, em parte eu também,
mas o que me afetava mais eram os políticos. Quando estávamos
juntos, era como se o mundo lá fora perdesse a força e fosse
completamente silenciado. Adorava entrar no quarto e sentir seu
cheiro, ficar na cama em um papo eterno de travesseiro. Havia dias
em que fazíamos sexo no sofá, outros, um amor gostoso depois de
conversar.
Dias que ainda bem que ninguém vivia conosco, porque eu
duvidava que as paredes conseguissem conter os barulhos. Claro
que havia noites que nós só olhávamos um para o outro e
dormíamos. Era impressionante o quanto parecia que tínhamos
anos juntos ao invés de poucos meses. Tudo entre nós era intenso,
nos divertíamos como dois bobos e conseguíamos falar muito sério
nos momentos certos.
Ela não era do tipo indecisa, tinha pensamentos coerentes e
definidos. Eu adorava a maneira doce de falar, nunca ofensiva, me
conquistava com a inteligência e cada dia revelava uma nova
faceta.
— Quer banana, mirtilo ou morangos na massa da panqueca?
— Banana e um beijo.
— Seu beijo, agora. — Ela me puxou pela camisa e tomou
minha boca. — Agora pegue as bananas, gostoso.
Julguei mal todas as pessoas que se apaixonaram antes de
mim. Achava insuportável que, além de muito ocupados com o
trabalho, meus amigos desapareceram depois que encontraram as
esposas. Alicia e Ford que me perdoassem, mas eu não conseguiria
ser educado e ficar longe da minha mulher naquele final de semana
e pelo visto, em nenhum outro pelo resto da minha vida.
28 | Khloé
— Está nervosa? — Kim me entregou um copo de suco e
pelo tremor das minhas mãos, percebeu. — Vai dar tudo certo. Será
o casamento mais lindo de todos.
— Como está a cobertura da mídia?
— Não é para se preocupar com nada — Kourt falou, sentada
na cadeira ao meu lado.
Era o grande dia. Meu casamento chegou em uma rapidez
impressionante. Não era como se tivéssemos muitas semanas para
planejar, mas tudo parecia indo bem. Leonard e eu tivemos nossa
noite de despedida de solteiros no palácio, ele com os homens em
um lado e eu com as mulheres do outro. Minha mãe participou, ela
não era do tipo pudica, mas foi embora quando minhas irmãs
começaram a pegar pesado na putaria.
Meu noivo me encontrou comendo um pirulito de chocolate em
formato de pênis com um creme branco na ponta, observando as
loucas das minhas madrinhas e damas de honra completamente
bêbadas. A única sóbria comigo foi Alicia. Ela ficou preocupada que
eu precisasse de alguma coisa e ninguém pudesse ajudar. Nem
mesmo minha tia, tão na dela, conseguiu vencer a determinação de
Charlotte em fazer com que todas virassem shots de tequila.
Terminamos relativamente cedo, para dar tempo de curar
qualquer ressaca e eu dormi até o último minuto possível para
começar meu dia da noiva. Meu cabelo estava pronto, já havia feito
a massagem e terminavam minhas unhas. Meu vestido estava no
quarto ao lado com três seguranças, apenas uma preocupação do
meu noivo, caso alguém conseguisse chegar perto e causar um
estrago em uma das peças mais importantes do dia.
— O véu está pronto! — Charlotte anunciou, já arrumada. —
Eu verifiquei pessoalmente! O vestido segue intacto e ninguém
chegou perto dele desde que chegou.
— Acham mesmo que tentariam rasgar o vestido? — Kim
questionou, preocupada.
— Nunca é demais tomar cuidado. — Alicia passou um batom.
— Todas nós estamos prontas? Então, vamos dar espaço para Koko
se arrumar com a mãe e nos encontramos na sala.
Eu abri minha boca para falar e fui cortada por Charlotte.
— Verificarei se está tudo bem e te dou um retorno, se acalme.
Assenti, mordendo o lábio e tirando uma pele, todas elas
gritaram e parei na mesma hora. Nós rimos. Cat passou um
hidratante labial em mim antes de sair e eu não podia ser mais grata
ao time de madrinhas e damas que aceitaram a loucura de fazer
parte daquele casamento organizado em semanas. Todo mundo
tinha uma agenda louca, com carreiras importantes e por serem da
família, abriram mão por amor a Leonard e eu.
Alicia e eu nos demos muito bem no final de semana e foi o
suficiente para enxergar nela uma amiga leal. Ela não tinha nada a
ver com a irmã. A mãe de Louis chegou dois dias antes e foi ainda
mais gentil, carinhosa, mimava Cat excessivamente, mas de um
jeito fofo. A presença dela ajudou a aplacar um pouco a rainha e
assim, Leonard teve a mãe presente nos últimos eventos do
casamento.
— Estou aqui, filha.
— Mamãe! Você está linda! — Girei a cadeira e cobri minha
boca. — Uau! Mãe da noiva!
— A noiva mais linda! — ela brincou. — O dia da Kourt foi tão
louco, que estou feliz que poderemos ter um momento mãe e filha
antes de se casar. Você está bem? E as crianças?
— Estou nervosa e as coisinhas estão me fazendo sentir fome.
— Não chame os bebês de coisinhas! — Ralhou e deu uma
limpadinha no meu nariz. Coisa de mãe, só porque eu havia
chorado um pouco antes.
— Coisinhas é unissex. Quando me refiro como eles ou elas,
sinto culpa. Leonard chama de amores do papai e eu de coisinhas,
assim não nos referimos a nenhum sexo especificamente.
A maquiadora entrou com a fotógrafa, assim começaram a
finalizar a maquiagem, fazendo a pele e sombra. Eu não quis nada
pesado e nem cílios postiços. A intenção era manter um ar
angelical, reforçando minha beleza natural e dando evidência ao
vestido. De calcinha, corpete e meias, coloquei as joias, deixando a
coroa e o véu por último.
Mamãe orgulhosamente me ajudou com o vestido e para
fechá-lo, precisamos do auxílio da estilista. Fiquei parada na frente
do grande espelho sem acreditar que a minha versão noiva era
simplesmente irresistível. Eu amei o resultado final de tudo. Abanei
meu rosto para conter a emoção, não podia chorar, por mais
emocionante que fosse, era melhor manter meus nervos sob
controle para não chegar na igreja toda bagunçada.
Esperei alguns minutos até a confirmação do cortejo e de que
meu pai estava pronto para as fotografias. Minhas damas e
madrinhas simplesmente gritaram quando me viram. A reação delas
me fez gargalhar.
Papai começou a chorar. Ele tirou o lenço do bolso, ficando
com o rosto vermelho. Todo mundo reagiu com um misto de fofura e
risada. Dei um abraço nele, com cuidado para não me amassar toda
e esperei que se acalmasse para tirarmos as fotografias antes de
sair. Com o cortejo pronto, estava na hora de seguirmos para a
igreja.
Foi difícil ignorar a comoção e gritaria do lado de fora do
palácio, de milhares de pessoas querendo um vislumbre meu. Os
vidros do carro ficaram cobertos na parte de trás para que ninguém
me visse até a entrada da igreja. Esperei a entrada das madrinhas e
junto às minhas irmãs, fui arrumada para entrar com meu pai ao
som do coral, com harpas e violinos.
Apertei o braço do meu pai, nervosa com tantos convidados de
pé, me encarando, mas quando vi Leonard, tudo passou. Ele usava
um uniforme branco com vermelho, o cabelo cuidadosamente
penteado e o rosto vermelho, segurando o choro, porém, seus olhos
denunciavam tudo. Eu sorri e mal consegui me conter.
— Você está tão linda. — Leonard se adiantou antes que
chegássemos no lugar.
— Ansioso?
— Quero logo dizer sim e poder te beijar muito — falou
baixinho.
Eu ri e segurei seu braço, agradecendo a meu pai. Eles se
abraçaram e seguimos para a cerimônia. Nós ensaiamos tantas
vezes que a parte real foi infinitamente mais longa do que imaginei.
Leonard e eu optamos por trocar votos reais e mais íntimos quando
estivéssemos sozinhos, na frente de todos, seriam os tradicionais.
Ser declarada esposa dele foi uma das frases mais incríveis
que ouvi na minha vida.
— Agora você é minha para sempre na lei de Deus e dos
homens — Leonard sussurrou antes de me beijar. Quando ele iria
perceber que me tornei dele desde o primeiro encontro?
Com o casamento, não só me tornei esposa, perdi meu
sobrenome para ser apenas Khloé de Rainland, Princesa de Rye.
Recebi um broche, que representava minha entrada para a família e
que foi colocado em mim pela mãe de Leonard. Ela era tão boa
atriz! Na frente de todos, sorriu e me abraçou levemente, com a
graça e cordialidade de uma rainha gentil e adorada por todos.
Esperava que minha expressão não tivesse me traído, porque ela se
recusou a fazer aquilo nos ensaios e não sabia o que esperar de
uma atitude no casamento.
Alguma coisa atraiu Leonard na multidão de convidados e
segui seu olhar discretamente, percebendo que Priscila estava em
uma posição de destaque, com um lenço e o rosto meio molhado.
Filha da mãe…
Até no meu casamento ela passaria pela mulher trocada?
Fingi que não vi e mantive o sorriso no cortejo de saída. Ela
sorriu para a rainha e foi ignorada, me perguntei se foi por causa
das câmeras, para não ter uma indisposição com Leonard, ou
alguma outra opção que não estava enxergando porque ser da
realeza tinha mais intrigas e conspirações do que nos bastidores de
um desfile.
Leonard me ajudou a subir na carruagem para dar a volta na
cidade e assim todos poderiam nos ver e cumprimentar. Fiquei
extasiada que com tantos ataques de ódio, no entanto, havia muitas
pessoas felizes na rua, jogando flores, acenando e gritando para ter
um pouco de atenção. O trajeto levava quase trinta minutos.
Quando a carruagem parou em frente ao palácio, Leonard
segurou minha mão e me conduziu pela escadaria, seguindo o
caminho marcado para a sacada.
— Eu não imaginava que apareceriam tantas pessoas.
— Pessoas amam casamentos e acredito que todos estavam
curiosos para vê-la de noiva. — Ele tocou minha cintura e olhei para
seu rosto. — Nada me preparou para o quão bela está. É como um
sonho.
— Você também está irresistível. Será que podemos pegar
esse uniforme e levar na lua de mel?
— Se for por algum fetiche, com toda certeza. — Ele riu e a
pedidos do público, trocamos nosso beijo como marido e mulher na
sacada principal do palácio.
Ainda precisávamos aguardar mais de uma hora para a festa
de casamento começar. Nossa família aguardava para as fotos
oficiais. Primeiro seria com meus pais, depois com eles, todos
juntos, separados por irmãos… enfim, uma eternidade. Foi divertido.
Com Alicia comandando tudo, Charlotte relaxando os nervos e
Frank, sim, ele era meu herói particular. Não havia secretário real,
chefe de estado, assessor de imprensa e de casamento páreo para
ele. Marc, apesar de mais calmo que o namorado, era meu escudo.
— Você tem um time e tanto, querida — David brincou. Era
esquisito pensar que o pai do meu marido era rei. — Se exércitos
tivessem generais assim, não haveria guerras.
— Uma foto do noivo com a mãe — O fotógrafo pediu.
Leonard foi até a mãe, charmoso e fez uma pose engraçada
para convidá-la a se sentar na cadeira enquanto ele ficaria em pé,
ao lado. Ela riu e pela primeira vez, foi algo normal de uma mãe
achando a bobeira do filho divertida. Eu tinha uma pontinha de
esperança de que pudéssemos ser civilizadas uma com a outra a
longo prazo.
Fui até meus pais e os abracei. Se eu tinha a cabeça no lugar e
sabia o que era amor, foi porque eles, as pessoas mais realistas do
mundo, que só acreditavam naquilo que podiam provar e dedicaram
as vidas para a ciência e medicina, me ensinaram como amar.
Quando todos foram conduzidos para a festa, Leonard e eu ficamos
sozinhos, para trocarmos de roupa e termos a nossa entrada
“triunfal” de noivos.
— Tem mesmo que sair desse vestido?
Ele me rodopiou no gramado e me fez rir. Nós começamos a
dançar agarradinhos, mesmo sem música.
— Nós temos que usar a outra roupa, ou seria uma perda de
tempo completa escolher esses trajes. Posso garantir que meu
próximo vestido é tão lindo quanto esse.
— Eu vou pagar pra ver. — Ele beijou minha testa. — Não
saberia explicar o quanto hoje é o dia mais feliz da minha vida.
— Das nossas vidas — corrigi suavemente. — Tudo que
preciso está bem aqui. Nós e os bebês. Essa é a nossa família.
Daqui a um ano, estaremos com eles ou elas aqui nesse jardim.
— Eu nunca sonhei com isso, é impressionante como
absolutamente nada, nenhuma realidade alternativa, parece ser
melhor que isso. — Ele segurou meu queixo e ergueu meu rosto.
Olhei em seus olhos, sorrindo. — Eu te amo, Khloé de Rainland,
minha princesa.
— Eu te amo, meu marido, melhor amigo e príncipe.
29 | Khloé
— O que está lendo? — Leonard espiou pelo meu ombro. —
Fofocas do casamento?
— O voo é longo e eu quero saber o que estão dizendo.
— Não vazou nenhuma foto da festa, vazou?
— Não. Ninguém publicou nada, bem que disseram que os
convidados costumavam ser discretos e é verdade. Só tem notas da
imprensa de supostas coisas que aconteceram, tem uma que não
duvido. — Mostrei a ele e circulei com o dedo. — A crise de choro
de Priscila com sua mãe próximo a uma sacada. Tem uma pequena
foto granulada. Está vendo?
— Ah, pelo amor de Deus! Será que ainda acreditam nela?
Deixei claro na entrevista que nós nunca tivemos nada!
— Ela pode estar chorando pela esperança que sua mãe deu a
ela. — Dei de ombros. — Isso alimenta a mídia, gera retorno para o
sobrenome da família dela e continuará dando um burburinho.
— Não sei mais o que fazer. — Ele estava frustrado.
— Vamos deixar que isso vai passar. Nossa entrevista foi
positiva, o casamento foi lindo e só vejo coisas boas. Todos dizem o
quanto parecemos apaixonados e não é mentira. — Apaguei a tela e
deixei no outro banco, soltando um bocejo. — Estou exausta. Ainda
bem que casaremos só uma vez, eu não aguentaria esse ritmo com
frequência.
— Espere só chegar a temporada de bailes de inverno — ele
murmurou baixinho e eu ri. Parecia que os bailes eram o pesadelo
do meu então marido.
— Você é um homem casado, agora. Não precisa mais dançar
com as moças solteiras e ser simpático com todo mundo. Só precisa
estar com sua esposa e ninguém mais.
— O casamento me parece melhor a cada minuto. — Leonard
riu baixinho.
— Te livrei do ataque das mães esperançosas por um
casamento. Agradeça-me depois. — Deitei minha cabeça em seu
ombro e fechei os olhos, querendo dormir um pouco.
O problema de estar grávida era que não conseguia medir o
tempo de um cochilo. Podia durar quarenta minutos ou longas
horas. Fui acordada para comer e porque minha bexiga estava
cheia. Nós estávamos indo para a Polinésia Francesa ficar em uma
pequena ilha, que pertencia a um complexo de hotel de luxo,
presente dos amigos de Leonard. O local contava com muita
privacidade, assim ninguém nos fotografaria e enviaria para a
imprensa.
Estava ansiosa para colocar um pequeno biquíni, tomar sucos
tropicais e atentar meu marido. Olhei para o conjunto de alianças no
meu dedo, pensando sobre o casamento. Foi mágico. A festa,
depois que acabamos com a formalidade, foi divertida. Dancei, comi
bastante, me diverti com pessoas que amava e certamente, os
convidados vão demorar para esquecer.
— Quero ver as fotos do casamento.
— Seu telefone quase não tem mais espaço de tanta foto…
— Essas são as não oficiais que nossas irmãs tiraram. Eu
quero as oficiais.
— Não seja ansiosa. O fotógrafo não costuma demorar muito,
ele já deve ter entregue as principais para que a conta oficial do
meu pai possa publicar — comentou e desembalou um sanduíche
para mim. — Coma um pouco. Está enjoada?
— Não. Estou bem. — Dei uma mordida. — Não sou fã de
comida de avião, acho que foi minha refeição por muito tempo e
acabei ficando meio enjoada. Essa é boa, não tem gosto de algo
industrial. Não sei explicar.
— Acha que vai sentir falta da vida agitada?
— Não sei se vou sentir falta do trabalho como modelo, mas
você não pode dizer que a vida em Rainland não é agitada, porque
é mentira. Tudo lá acontece muito rápido, são muitas regras e os
compromissos bem apertados. Em um minuto, um vídeo que está
sendo gravado para uma escola, no outro, precisa sair para atender
algum evento ou reunir com a equipe. — Eu ri de sua careta. —
Bem que disse que mal tinha tempo para namorar.
— A parte boa é que podemos tirar férias e alguns finais de
semana são bem tranquilos.
— Isso eu não tinha quando era modelo. — Roubei umas
batatas do prato dele. Leonard não ligava de dividir a comida, eu era
quem ficava meio irritada. Ele tinha a terrível mania de dizer que não
queria comer e quando eu estava comendo, pegar a maior parte
para beliscar. — Está com medo que ache a vida em Rainland um
tédio?
— É tudo muito diferente. Eu cresci nisso e sei que é foda.
— Sim, é. Entre aprender quarenta mil protocolos, decorar
duzentas regras, mergulhar em novas leis, me portar dentro das
etiquetas, parir duas crianças e saber como ser uma princesa
governando ao seu lado, eu acho que estarei bastante ocupada. —
Inclinei-me para frente e roubei um beijo. — Pare de se preocupar.
— Sempre vou me preocupar. É estranho, parece que foi saber
da gravidez, que a minha mente não para. Acredita que já pesquisei
quais escolas são realmente boas em Rainland? Eu também penso
se serão felizes, se vamos conseguir criar um lar amoroso e ao
mesmo tempo que entendam a importância do papel deles para o
país. O mundo anda tão louco…
— Se continuar nesse ritmo, seus lindos cabelos loiros ficarão
brancos como os de um vovô.
Leonard sorriu e beijou minha barriga. Ele não se importava.
Só queria o melhor para os nossos filhos ou filhas. Caramba, como
estava ansiosa para saber o sexo.
A ilha era um lugar mágico. Assim que chegamos, exploramos
a casa rústica, que era do hotel e tinha ligação direta com a areia, o
mar calmo e límpido. Era lindo. Nós arrumamos nossas coisas
rapidamente e trocamos de roupa, desejando aproveitar o final da
tarde e o começo da noite na praia. Leonard correu para o mar, eu
fui mais devagar, desconfiada, testando a água, mas por fim, me
rendi ao mergulho.
Em nossa primeira noite, ao contrário da crença popular de
uma lua de mel quente e safada, nós jantamos e dormimos. Estava
exausta, com a cabeça doendo e precisando ficar deitada. Foi a
primeira noite que ouvi Leonard roncar, a mistura da mudança do
clima, com o cansaço, foi letal para meu marido. Ele sequer se
moveu em todas as vezes que fui ao banheiro.
Perdi o sono mais cedo, ainda não havia amanhecido e decidi
dar uma olhada na internet. As fotos que a imprensa recebeu do
casamento, assim como as não oficiais estavam em todo lugar.
Alguns convidados deram pequenas entrevistas dizendo que nunca
viram nada tão lindo, que foi como um conto de fadas, que eu
parecia reluzente e nós, muito apaixonados.
Não consegui me conter e fui para o lado negro: as críticas e
falas negativas. Precisava saber o que estavam dizendo. A primeira
matéria que apareceu foi uma foto perfeita de Priscila, chorando no
casamento. Alguns disseram que era emoção, outros, coração
partido. No entanto, se ela queria gerar pena acabou ganhando um
pouco de “Pelo amor de Deus, mulher! Tenha um pouco de orgulho.
Foi para o casamento chorar?”
Várias internautas respondendo nos comentários.
— O que será que ela quer? — murmurei e olhei para meu
marido. Não prestei muita atenção na família dela no casamento.
Soube por Alicia que Priscila cumprimentou Leonard, mas ele não
estava sozinho e logo saiu com Ethan para buscar mais bebidas.
Era arriscado continuar levando a narrativa de que ele foi tirado
dela, sendo que nunca aconteceu nada entre os dois. Por um curto
momento, eu podia até duvidar da palavra dele, mas Leonard não
era mentiroso. E se fosse, todas as pessoas ao redor também
estariam mentindo? A própria Victória deixou claro que ela estava
tentando juntá-los.
Para o mundo, era extremamente chocante eu ter abandonado
o mundo da moda, minha “liberdade” e independência para viver em
Rainland com Leonard. Talvez meu coração estivesse tranquilo
porque eu o amava. Ninguém sabia como éramos sozinhos. Isso
pertencia apenas a nós dois. Ninguém conhecia o lado amoroso,
apaixonado, entregue e muito carinhoso do meu marido.
Leonard me conquistou com o bom coração e simplicidade,
não pela coroa que tinha na cabeça. Suas responsabilidades eram
assustadoras para mim, ainda tinha o sentimento de que falharia na
minha nova missão ou pelo menos, cometeria alguns erros no
caminho. Esperava que tivessem paciência com meu aprendizado,
não nasci princesa e muito menos em Rainland, desconhecia a vida
na realeza.
Por amor a ele, estava disposta a tudo.
Toquei minha barriga, no meu ventre mudando de formato. Em
breve, seria difícil esconder a gravidez de todos, mesmo com roupas
largas.
Queria viver uma gestação tranquila. Não foi planejado. Por
mim, teria filhos depois dos trinta anos, já fora da profissão de
modelo, estabilizada o suficiente para poder parar tudo e me dedicar
à maternidade. Veio muito mais cedo do que imaginei e ainda
sequer tinha ideia de que tipo de mãe seria, ainda mais com
crianças nascendo com muitas responsabilidades nos ombros. O
bebê mais velho dos gêmeos seria rei ou rainha um dia.
Como educar um futuro governante? Como mantê-los
seguros?
Como produzir um ser humano decente e agradável?
Seria minha responsabilidade (e do pai, obviamente) educá-los.
Isso era mais assustador do que o parto, que eu estava morrendo
de medo. Todo mundo me perguntava coisas que mal consegui
pensar no último mês. Entre descobrir a gravidez, deixar de ser
modelo, mudar para Rainland e organizar um casamento, não
pensei sobre nada a longo prazo. Não tive tempo.
— Perdeu o sono? — Leonard virou na cama e me abraçou. —
Nossa lua de mel é como férias, por favor, durma.
— Isso é um clamor de um marido cansado?
— Exausto. Parece que foi só deitar que senti todo o cansaço
do mundo — ele resmungou, fechando os olhos. Enfiei minha mão
em seu cabelo, bagunçando ainda mais. Quando estávamos
sozinhos, Leonardo podia ser quem quisesse, não tinha o penteado
perfeito ou a roupa engomadinha. Era a nossa perfeita versão
particular, onde nos apaixonamos e reafirmávamos nosso amor.
Era a nossa verdadeira essência.
Senhoras, ainda de luto?
Eu estou. O príncipe casou.
E foi lindo! Ouvi dizer que o modelo do vestido de noiva será
referência pelos próximos dez anos. Tudo estava impecável e foi
como um sonho. Nem mesmo os filmes conseguiriam reproduzir
tamanha beleza.
E os noivos? A paixão foi o ingrediente principal.
Quanto tempo vai durar? Ainda não sabemos, afinal, uma mulher
livre e independente submetendo-se às regras da realeza não vai
aguentar muito tempo.
Já vimos isso acontecer antes e não terminou bem.
Lady Daisy Mail
30 | Leonard

Khloé estava passando um pouco de bronzeador entre os


seios, sem a parte de cima do biquíni, parecendo confortável no sol.
Minha vontade era de tirar uma foto, mas eu não arriscaria de
nenhuma maneira ter algo comprometedor dela em meus aparelhos
ou computador. Sempre tentavam invadir a segurança virtual do
palácio, seria idiotice acreditar que poderia sair ileso. As fotos
provocantes que ela me mandava, via e apagava na hora.
Sempre tomamos cuidado em nunca aparecer o rosto quando
mandávamos qualquer imagem que poderia ser considerada
minimamente comprometedora. Se tivesse o dom da arte, pintaria
minha esposa. Ela estava ainda mais bonita do que quando a
conheci. Seus sorrisos eram tranquilos, os olhos brilhantes e as
bochechas coradas. Eu adorava quando não precisava estar
arrumada.
— Está me paquerando? — Ela me deu um olhar engraçado.
— Você está vermelhinho.
— Eu e o sol não somos bons amigos. — Peguei o protetor
solar e reforcei.
— Tomatinho.
— Não sei como você fica bronzeada.
— Eu sou abençoada e tenho melanina no meu corpo e você,
branquelo de Rainland, não tem. — Esfregou um pouco de óleo nos
braços e me deu a língua, divertida.
— Quer uma bebida agora?
— Um suco fresco cairia bem. — Voltou a deitar e fechou os
olhos.
Deixei meu livro de lado e entrei, pedindo para cozinha do
hotel, suco e algumas frutas frescas para comermos antes do
almoço. Peguei chocolates no pote e vi que meu telefone estava
cheio de mensagens. Estava lendo por alto coisas importantes e
não mergulhando no trabalho, era meu direito tirar aqueles dias para
me afastar e focar na minha esposa. Toda minha agenda precisou
ser mudada, principalmente para incluir eventos que não cobria
antes por não ser casado.
Grey não me enviaria nada que não fosse importante o
suficiente para minha atenção.
Abri e me encostei na parede, ligando de volta imediatamente,
sem me importar com a diferença de fuso-horário.
— Como assim ela recebeu ameaças de morte?
— Não foram ameaças explícitas, mas a segurança do palácio
optou por classificar assim — Grey me respondeu com rapidez. —
Foram captadas conversas que deram a entender uma intenção de
rapto ou vingança.
— Em sites normais ou no mundo obscuro da internet? Algum
rastreio de ip?
— A solicitação de mensagem partiu de Rainland, sem
especificação da região e sim, foi como uma encomenda. Estamos
monitorando e tudo se mantém tranquilo, sem a necessidade de
segurança extra. Seu pai pediu que a equipe permanecesse no
arquipélago, estão a doze minutos de distância e não possuem uma
visão de vocês para manter a privacidade.
— Me mantenha informado, não importa a hora do dia.
— Manterei. Aproveite sua lua de mel.
Esfreguei minha nuca, pensando em como relaxar depois de
descobrir que foram encontradas ameaças contra a vida de Khloé.
Não era a primeira vez que a segurança do palácio capturava
palavras que ativassem os alertas do sistema. Charlotte já foi alvo
de ondas de ódio muito fortes, gerando obsessão de determinadas
pessoas que queriam machucá-la.
Fiquei sem dormir quando foi com minha irmã e parecia que
com a minha esposa, poderia infartar. Não queria contar a ela, mas
Khloé me mataria ao descobrir e seria um problema que nós não
precisávamos enfrentar naquele momento. Era muito tentador não
falar.
Observei-a tão feliz e decidi que contaria em outro momento.
Ali era o nosso refúgio feliz. Faltavam sete dias para irmos embora,
era tudo sobre tranquilidade, conexão, e justamente por esse
motivo, sentia meu coração pesar. Prometi que contaria no avião
durante a nossa volta. Tecnicamente, ainda seria na lua de mel,
tarde o suficiente para estragar tudo e ainda a tempo de ela não
ficar com tanta raiva.
— Leonard? Traz água! — ela gritou de seu lugar.
— Não sou seu escravo! — gritei de volta, só para brincar. Ela
sabia que pegaria o que quisesse, até mesmo a lua. Levei uma
garrafa de água até ela, sentando ao lado. Enquanto ela bebia,
toquei sua barriga. Estava ficando linda, crescendo bem diante dos
meus olhos e ansiava pelo momento em que sentiria seus chutes.
Khloé sentia algumas coisas, como uma suave vibração.
— Obrigada. Estava com sede.
— Quer entrar para esperar o pedido?
— Não. Estou bem, logo vai acabar e eu não sei quando
poderei me bronzear de novo.
Demos um mergulho juntos, tê-la nua a maior parte do tempo
ou com biquínis era a minha versão do paraíso. Um homem de
verdade se torna adepto à nudez sem inibições quando encontra
uma mulher linda e se casa com ela. Para que vestir roupas?
Facilitava muito o sexo fantástico. Como príncipe e princesa de
Rainland, nossa residência oficial precisava ser o palácio. Eu até
pesquisei se poderíamos viver mais afastado, para ter nossa casa e
privacidade.
O problema era chamar a atenção para uma mudança quando,
por séculos, todos viveram no palácio. Sorte que minha família tinha
o costume de respeitar o espaço um do outro. Khloé e eu decidimos
criar a nossa rotina e participar dos eventos com moderação, dentro
da nossa disposição pessoal, sem priorizar qualquer coisa no tempo
livre.
*******
Nosso tempo na ilha foi maravilhoso. Muito mais sobre dormir e
comer, do que para sair e explorar. Queríamos voltar renovados. Até
a licença maternidade, nós tínhamos muitos compromissos.
— Por que sinto que está inquieto? — Khloé questionou
enquanto arrumávamos as malas para voltar. — Já tem uns dias
que percebo que você resmunga dormindo e fica olhando o telefone
o tempo todo.
— Estou apenas verificando se está tudo bem. — Dobrei
algumas camisas.
— Apenas isso, Leonard?
— O que você tem? Humor de mamãe, agora?
— Nada — ela resmungou e foi para o banheiro com passadas
duras.
De vez em quando, virava uma chavinha e ela parecia um
cachorro pequeno, bonitinho e pronto para morder. Depois,
choramingava que eu ficava quieto e não estava perto dela. Ainda
bem que convivi com Charlotte, a criatura mais louca e com
mudanças de humor sem nem mesmo estar grávida. Eu estava
vacinado contra loucura.
Khloé ainda ficou emburrada por horas e eu queria dizer que
seu sexto sentido estava errado, mas seria uma mentira que pioraria
minha situação.
— Por que eles estão mais próximos que o normal? — ela
questionou enquanto aguardávamos a última etapa de voo até
Rainland. — Na ida, ficaram dispersos, parecia que estávamos
sozinhos.
— É um novo protocolo de segurança.
— Sabia! Aconteceu alguma coisa, não é? — Ela virou no
banco bruscamente. Estávamos em uma sala privada no aeroporto,
comendo docinhos e bebendo, ela suco e eu água com gás. Segurei
sua mão, passando meu polegar por cima da aliança de casamento
dela e beijei o dorso, dando uma mordidinha no dedo mindinho. —
Leonard?
— A segurança do palácio captou palavras que alertaram a
equipe. Algo sobre te machucar, sem definição, mas que saiu de
Rainland. Foi na dark web e segundo a última informação que
recebi, obtiveram respostas de um mercenário profissional. — Ergui
meu olhar e encontrei sua expressão fechada.
— Caramba! Me odeiam tanto assim?
— Não tem nada a ver com você e sim sobre a obsessão
maluca que algumas pessoas têm com a família real. Se for por
esse motivo, não tem muitos detalhes, mesmo assim é protocolo
apertar a segurança.
Depois que Charlotte foi perseguida pela imprensa e acabou
sofrendo um acidente de carro, o palácio não estava tolerando
quaisquer falhas. Khloé ficou quieta por um tempo e de repente,
parecia que alguma coisa havia feito sentido em sua mente.
— Quando soube disso?
Oh, merda.
— Há alguns dias.
— E não me falou nada? — Colocou as mãos na cintura.
— Sabia que fica linda quando está com raiva?
— Eu ainda não estou com raiva, estou brava, esperando a
excelente desculpa que meu marido vai me dar por não ter me
falado absolutamente nada sobre ameaças contra a minha vida —
ela falou lentamente, os dentes trincados. — Você tem alguma
desculpa, Leonard?
— Tenho. Estávamos em lua de mel, descansando, mantendo
nossas cabeças fora do trabalho. Eles só me falaram porque sou o
príncipe e escolhi não te falar pensando no melhor.
— Não me falar que havia um problema? — Ela lutou para
alterar o tom de voz.
— Um problema em que estávamos seguros. — Esfreguei seus
braços. — Amor, nós não precisamos brigar por isso. Eu só quis te
proteger e irei sempre, com todas as minhas forças!
— Não sei se vamos brigar, estou digerindo a informação, no
momento, quero torcer seu pescoço. Vou ficar quieta. — Virou para
a frente de braços cruzados e me ignorou. Excelente clima para
voltarmos da nossa lua de mel.
Khloé dormiu o voo inteiro e quando acordou, comeu quieta,
lendo seu livro e sendo muito boa em fingir que eu não existia.
Pousamos em Rainland e, exaustos, aguardamos os protocolos
para finalmente chegarmos ao palácio. Nossos funcionários
estavam a postos, como era tradição, para nos receber, pegar as
malas e oferecer uma refeição.
Para minha surpresa, meus pais estavam nos aguardando
também e perceberam que Khloé não estava no modo simpática.
— Parece que o clima de lua de mel acabou antes mesmo de
começar — Mamãe comentou. Dei a ela um olhar exasperado. — O
que foi, querido? Seja bem-vindo de volta. Espero que tenham feito
uma boa viagem.
— Foi excelente. Khloé está chateada com as ameaças.
— Ah! — Mamãe fez um gesto com as mãos. — Faz parte
quando se torna um membro da realeza. Logo tudo ficará bem.
As duas trocaram um sorriso muito falso. Elas nunca seriam
amigas, eu não podia cobrar um bom relacionamento entre elas se
nem eu mesmo conseguia conviver com minha mãe sem brigas.
Quando Charlotte ainda morava ali, tentava me controlar, para não
deixá-la nervosa e sentindo-se ainda mais culpada. Mamãe fazia
minha irmã acreditar que ela era o motivo pelo qual nós não
conseguíamos viver em harmonia.
— Vamos deixá-los descansar. Conversamos amanhã. —
Papai apertou meu ombro, deu um beijo na testa de Khloé e
saíram.
— Boa comida e uma alfinetada, isso que chamo de boas
vindas. — Koko sentou no sofá e cruzou as pernas. — Estou com
um pouco de medo.
— Esse foi o motivo pelo qual não contei na lua de mel. —
Sentei na mesinha à sua frente. — Queria que fosse um momento
feliz, era único, não teríamos outra oportunidade.
— Eu entendo que quer sempre me proteger, mas isso tem a
ver comigo e eu quero que me conte. Assim poderei lidar com a
notícia, subir no seu colo, pedir um abraço e depois vou ficar bem.
Tipo agora, quero subir aí e não posso, porque estou com raiva por
ter escondido de mim.
— Ah, linda! — Sentei ao seu lado e fui desarmando-a com
beijinhos em seu ombro. — Você pode vir e continuar com raiva.
Quer me morder?
Bufando, mudou para o meu colo e nos abraçamos.
— Vai ficar tudo bem. Ninguém vai te machucar. — Esfreguei
suas costas, sentindo que a respiração havia mudado para um ritmo
de choro. — Você e nossas crianças ficarão bem. Em pouco tempo,
irão conhecê-la e passarão a defendê-la ao invés de feri-la.
Charlotte recebeu muitas ameaças como essa, até mesmo a minha
mãe. Geralmente acontece com um desagrado ou uma atitude que
possa gerar discordância coletiva.
— Como as pessoas podem agir assim? Quando não gosto de
alguém ou de alguma coisa, simplesmente ignoro, é como se não
existisse. Por que ir para a internet destilar ódio e até procurar
profissionais para isso?
Acariciei seu rostinho lindo com uma expressão indignada.
— Se eu conseguisse explicar isso, se alguém conseguisse, o
mundo não teria guerras. É difícil compreender a necessidade do
ser humano em odiar.
Ela fez um beicinho.
— Deve ser por isso que os estúdios passaram a vender filmes
com mocinhos e vilões com o slogan de que o bem e o amor
sempre vencem. — Khloé inclinou-se para trás e sorriu provocante.
— Falando a verdade… o amor vence, ou nós não estaríamos aqui.
Só te amando para não torcer seu pescoço.
— Já te disse que fica linda quando está brava? — Segurei seu
rosto e esfreguei meus lábios suavemente contra os dela. A crise já
havia sido abortada.
— Diga novamente, para que possa te perdoar…
31 | Khloé
Leonard pegou o envelope com as fotos do último exame de
imagem que fiz e foi mostrar ao pai. Eu o observei atravessar o
pátio, indo em direção a ele e sorri para a maneira com que eles
compartilharam aquela felicidade. A mãe se aproximou e olhou as
fotos, ela sorriu de verdade, sem o ar intolerante e falso, dando um
beijo em Leonard. O problema dela era comigo e não com as
crianças, o que aliviava só um pouquinho a minha apreensão.
Desde que retornamos da lua de mel, pouco a vi e quando nos
encontramos, fomos civilizadas. Jantamos juntas e fomos a um
evento no qual foi puro teatro. Sorrimos lado a lado, aceitamos
flores e participamos de um chá com senhoras da alta sociedade. A
mídia noticiou como o encontro perfeito. Nós chegamos e saímos
em carros separados, sequer nos falamos direito, mas eu fiz porque
era responsável com o papel que assumi.
Eu jurei que seria uma boa princesa e estava me entregando.
Nunca fui do tipo de fazer nada pela metade e não seria por causa
da rejeição dela que me comportaria de maneira não profissional.
Rainland havia noticiado pela manhã que Leonard e eu estávamos
esperando nosso primeiro bebê. Levariam algumas semanas para a
notícia de que seriam gêmeos, quando descobríssemos o sexo.
Ainda de longe, acariciei minha barriga e me afastei. Leonard
tinha raros bons momentos com os pais e eu desejava que
aproveitasse. Charlotte estava chegando e a noite, a família se
reuniria para o jantar. Voltei para a ala que morava e conversei com
meus pais por chamada de vídeo por quase uma hora. Kim me
ligou. Ela ganhou acesso ao palácio, mas a coitada da minha irmã
vivia obcecada com a expansão do bar, que passaria a ter dois
ambientes, um de pub e outro, em uma área mais lounge, um
restaurante.
— Koko? Baby? — Leonard voltou, assobiando.
— Sim? No escritório!
Ele entrou e eu suspirei. Caramba. O homem me tirava o
fôlego a todo instante e algumas vezes precisava me beliscar para
acreditar que éramos casados. Sorri, apaixonada, coração
palpitando e ganhei um beijo. Podia passar o dia inteiro apenas
olhando-o e sendo grata que nossa história de amor era doce e
linda.
Nossos filhos iriam ouvir e acreditar que encontrariam o par de
suas vidas.
— Ei, sabe o que acabou de ser entregue? — Girou a minha
cadeira, animado e vasculhei a minha mente, procurando se
havíamos comprado alguma coisa na internet.
— Não. Estávamos esperando encomenda?
— O mobiliário do quarto deles.
Levei minha mão ao coração e, feliz, praticamente saí
correndo. Ele riu e me segurou, querendo cobrir meus olhos para
fazer surpresa, mordi seu punho e fomos nos trombando até o
quarto. Dois berços, duas poltronas e uma cama de solteiro ainda
sem colchão. Tudo em madeira clara, já podia sonhar com o tapete
e a decoração na parede. As roupinhas ficariam no quarto de vestir
ao lado. Tínhamos poucas coisas, a maioria eram presentes.
Esperamos a notícia sair para podermos fazer compras sem o
medo da informação vazar e gerar burburinho. Estava liberada para
soltar a mamãe louca e montar meu enxoval.
Leonard me abraçou por trás e ficamos em silêncio
contemplando que em alguns meses, nossos bebês estariam ali.
Provavelmente chorando, nos fazendo questionar nossa sanidade e
fazendo coisas muito fofas para nos explodir de amor.
— Estive pensando na decoração e eu não quero algo
exatamente focado em rosa ou azul, mas sim que represente a nós
dois. — Coloquei minhas mãos em cima das dele, que
descansavam na minha barriga redondinha. — Nós dois amamos o
significado das cores, então, que tal as cores de Rainland
combinando com os tons do campo que nos reencontramos?
— Cores de Rainland para representar o país e ao mesmo
tempo o dia em que nos vimos pela primeira vez? — Virei em seus
braços, para observar melhor sua reação. Leonard era um gênio
galante com as palavras e escondia muito as emoções, mantendo
sempre a postura de príncipe.
Ele parecia ter gostado.
— Sim. Acho que vai ficar perfeito e com bastante
representatividade sobre nós dois, como nos apaixonamos e
basicamente o momento em que foram feitos. — Soltei uma
risadinha e ele me acompanhou.
— Ainda é absurdo na minha cabeça que engravidamos na
primeira noite. E se nós decidíssemos que não queríamos mais nos
ver? E se fosse só um encontro casual?
— Bem que minha mãe me disse para transar depois de ter um
relacionamento. — Dei de ombros, ele apertou minha bunda. —
Sorte a minha, acho que deixei o príncipe encantado de joelhos.
— Definitivamente, baby. Eu não conseguia pensar em
nenhuma outra coisa. — Balançou as sobrancelhas, me fazendo rir
alto. Cobri minha boca para não chamar atenção. — Gostosa, com
uma rebolada dos deuses e um boquete… — Fingiu desmaiar.
Belisquei sua barriga.
— Então foi só pelo sexo que ficou? — Fingi ultraje.
— Não. Foi pelo beijo, também. — Mordeu meu lábio
suavemente.
— O beijo? E a minha inteligência somando com a incrível
personalidade encantadora que possuo? — Arregalei meus olhos,
ele estava com um sorrisinho provocante que eu adorava.
— Quando te beijei pela primeira vez, foi único. O beijo que
não dava vontade de parar. Queria te beijar o tempo todo. — Ele se
inclinou e fechei meus olhos, esperando seus lábios e a sensação
incrível que chegava junto. Leonard me beijou e sempre era como a
primeira vez. Intenso, desejoso e que me aquecia por dentro. Fiquei
na ponta dos pés, querendo mais. — Esse beijo. Eu me apaixonei
no primeiro beijo.
— Eu te amo e eu quero transar agora. — Soltei um suspiro e
arrastei minhas unhas por seu peitoral, querendo puxar a camisa
dele de dentro da calça e começar a abrir os botões.
— Seu romantismo também foi o que me encantou.
— Não temos tempo, não é?
Eu odiava o lado da vida adulta e responsável.
— Serão dez minutos passeando para que possam te
fotografar nos jardins e confirmar a gravidez. Depois, eu vou tirar
sua roupa, lamber sua boceta e te foder.
Arquejei, ficando sem fala e sorri, porque sim… aquilo era um
plano excelente.
Parei na frente de um espelho para retocar o batom clarinho
que usava e calcei os sapatos para andar do lado de fora. Nós
demos as mãos e fomos para o jardim da frente, fazer uma
caminhada e permitir que quem estivesse ali pudesse me ver
grávida. Com os recentes ataques, a segurança não ficava longe,
eles simplesmente andavam atrás de mim o tempo todo.
O parque em frente ao jardim era muito frequentado e algumas
pessoas se aproximaram para nos ver passar. A imprensa ficou
gritando perguntas, mas nem tudo dava para entender. Não iriamos
responder. Meu vestido era um pouco larguinho, passei a mão para
mostrar a ondulação e acenamos. Leonard conversou com um casal
de senhores, que vivia em uma área do palácio, mas não eram
parentes e nem possuíam títulos.
— Eles trabalharam aqui por muitos anos, meu pai não quis
que fossem embora quando se aposentaram e mandou organizar
uma casa para que tivessem conforto. Ela foi babá do meu pai —
Leonard explicou quem eram depois que nos afastamos.
— Ai, que fofo. Seu pai tem um bom coração.
— Ele tem, sim, muito focado em Rainland a maior parte da
minha vida, mas sempre presente como pai. Nunca me senti
deixado de lado.
— Talvez porque entenda a importância do reinado. Sua irmã
também é muito comprometida, mas por ela ter sofrido tanto aqui,
precisava desse escape em Londres. Também por Ethan, que tem a
vida toda lá. Eu admiro muito o companheirismo dos dois em tudo.
— Segurei seu braço e entramos no túnel de flores, era a minha
parte favorita. Tiramos algumas fotos ali e pedi que ampliassem
para colocar na sala.
Curiosamente, a mãe dele também pediu uma dessas fotos
para colocar no escritório oficial do palácio. Os pais de Leonard
decoraram uma das salas com várias fotografias da família no dia,
ficou muito bonito e dada a animosidade dela comigo, pensei que
não tomaria tal atitude. Talvez ela apenas gostasse de implicar
porque eu não era a escolhida dela.
Assim que o passeio terminou, Grey chamou Leonard com
urgência e mal consegui esconder minha expressão de frustração.
Tirei meus sapatos e aceitei o lanchinho que a sra. Esra me
ofereceu na sala de jantar. Aproveitei para responder meus e-mails
e fiquei muito feliz que a maioria das marcas com quem terminei o
contrato haviam aceitado o acordo da doação do meu cachê
pendente para instituições de caridade. Eu sabia que perderia
dinheiro, mas não queria sair queimada.
Fiz com que acreditassem no marketing positivo dessa ação e
o quanto seria bem visto pelo público. Tia Evelyn entrou com seu
dom de transformar um lixão em um campo de flores e deu certo.
Era um alívio. Meu dinheiro pessoal estava assegurado em uma
conta bancária, com aplicações e rendimentos. Assim que recebi a
minha parte de vários contratos, transferi uma quantia enorme para
que minhas irmãs ficassem bem e criei um fundo para meus pais.
Com minha família podendo viver tranquilamente, eu estava
em paz. Também dei a chance do Marc poder trabalhar com Frank,
assim, ninguém precisaria fazer uma escolha difícil. Se eu estava
feliz no amor, meu amigo também seria.
A pequena sala antes do meu quarto estava repleta de flores.
Leonard deixou um bilhete junto a um vaso, dizendo o quanto me
amava e estava feliz pelos nossos filhos. Ele ficou emocionado no
último exame, ouvir o coração e vê-los era mágico. Uma das coisas
mais bonitas da vida. Estávamos ansiosos com a gravidez e lendo
tudo que podíamos, pegando conselhos com meus pais, porque
tudo era novo.
— Olha que lindo! — Allegra entrou na sala. — Trouxe suas
correspondências. Eu abri todas, exceto a da sua irmã, achei que
era muito pessoal. — Ela me entregou um envelope. — Passou na
verificação de segurança, também.
Dei uma olhada e coloquei em cima da mesa.
— Minha irmã nunca me mandaria uma carta. Eu acho que
desde que a era digital começou Kim não havia sequer tocado em
uma caneta. Ela jamais assinaria como Kimberly e não perderia
tempo mandando alguma coisa que poderia ser resolvida em uma
chamada de vídeo.
Allegra arregalou os olhos.
— Eu vou chamar meu chefe.
— Ele está com Leonard. Chame os dois — pedi e ela saiu
correndo.
Voltei a encarar o envelope, me perguntando o que diabos
havia ali e sentia que não era bom.
32 | Khloé
Eu nunca estive na presença de tantas pessoas usando terno
ou fardadas. Estava sentada na sala de reuniões ao lado de
Leonard, enquanto todos discutiam um envelope que passou pela
verificação de segurança do palácio e continha uma carta com uma
ameaça de morte para mim. O conteúdo foi enviado para uma
análise forense, mas a discussão era sobre os grupos de ataque de
ódio que estavam na mira da investigação.
— Temos diversos comentários negativos na internet, mas isso
é uma articulação clara para mostrar falhas na monarquia. Ameaças
dentro do palácio novamente? Isso é bem barato e ótimo para
produzir barulho. — Grey bateu suavemente na mesa.
— O sistema de segurança do palácio é insuportável. Allegra
deixou claro que passou no risco biológico, só não foi aberto por ser
de cunho pessoal — comentei, recostada na cadeira. — Eu acho
que não é mais sobre mim, é apenas alguém usando a oscilação da
minha popularidade para agir. Quer dizer… quem comenta essas
coisas absurdas na internet não vai se dar ao trabalho de enviar
uma carta sem deixar digitais e buscar assassinos em locais
perigosos.
— A maioria dos comentários contra a princesa vem de
adolescentes e donas de casa. — Um secretário que eu não sabia o
nome comentou no fundo da sala.
— Alguém que sabe que as cartas pessoais não são
verificadas integralmente, passam no raio-x, somente. — Grey olhou
para o chefe da segurança. — Quebre esse protocolo. Todas as
cartas serão abertas, até mesmo as notas internas. Não haverá
privacidade no palácio até que isso se resolva.
— E quanto a visitantes externos? Eu tenho a informação de
que a srta. Priscila Lancaster retornará como convidada de honra
para a temporada de inverno no começo de dezembro — Stefan
respondeu e eu olhei para Leonard. Aquilo era sério? A mulher
voltaria para o palácio na reta final da minha gravidez? — Ainda não
recebi todos os convidados da rainha.
— Se não houver convidados de honra, a mídia especulará que
algo está errado.
Grey e Leonard trocaram um longo olhar. Era impressionante o
quanto eles se conheciam.
— Peça uma lista à rainha e todos os convidados serão
cuidadosamente analisados. Faremos um novo esquema de
segurança e todas as portas terão travas com senhas. — Grey
virou-se novamente. — Amanhã cedo, quero uma reformulação de
segurança. Tudo será trocado. Vamos mudar a maneira como
agimos e assim saberemos se há, novamente, alguém aqui dentro
facilitando ataques externos.
A reunião encerrou e como Leonard não se moveu até que
todos saíssem, continuei quietinha no meu lugar. Dessa vez,
controlei minhas emoções e me mantive calma porque não queria
passar mal. Minha pressão arterial elevada era uma preocupação
constante dos meus médicos e eu não queria ficar na cama de
repouso, por isso, tinha que ficar calma pelo bem dos meus bebês.
Não que fosse uma tarefa fácil. Era preocupante e muito
esquisito pensar que alguém, em algum lugar obscuro, desejava a
minha morte ou machucar a minha família.
— Quero refazer a lista de potenciais inimigos do país —
Leonard falou com Grey.
— Acho que cheguei em um bom momento. — Ethan entrou na
sala. Grey ficou de pé e reverenciou meu cunhado, que agradeceu.
Nós não podíamos dispensar reverências de ninguém, não era
educado. Segundo o protocolo, a pessoa poderia entender que nós
não o achávamos digno de nos cumprimentar como mandava a
etiqueta. — Acredito que deva inserir desafetos políticos, também.
— Que parlamentar pagaria o preço de se levantar contra nós
dessa maneira? É pena de morte. — Leonard se esticou na cadeira.
— Talvez aquele que acredite que pode derrubar a monarquia
ou não torná-la absolutista. Sabe que está havendo conversas para
diminuir a onda democrática e começarem a falar de um primeiro-
ministro. Querem nos tornar decorativos aqui, não mais chefes de
Estado. — Ethan puxou uma cadeira. Charlotte entrou mais
devagar, ela estava com o rosto inchado e parecia ter chorado. — O
que foi?
— Nada demais. Apenas já me irritei com a mamãe.
— Eu irei providenciar essa lista o mais rápido possível. —
Grey reuniu suas coisas e pediu licença para sair.
— Obrigado, Grey. — Leonard soou meio desanimado e toquei
suas costas, acariciando. — Vocês sempre chegam aqui no olho do
furacão.
— É verdade, faz parte da nossa vida, não que as coisas em
Londres estejam calmas. — Ethan puxou a cadeira de Charlotte
para mais perto. — Já teve um embate com a sua mãe?
— Infelizmente. Não consegui controlar minha boca. —
Suspirou e toquei sua mão. — Como ela vai colocar novamente
dentro do palácio o motivo pelo qual Khloé é odiada?
— Não brigue com sua mãe por isso, é uma causa que não
vale a pena. Leonard e eu vivemos em nosso cantinho, mal veremos
a Priscila.
— Sequer ficarei no palácio. — Leonard bufou. — Se você não
se incomodar, podemos viver no castelo. Ethan e Charlotte gostam
de ficar lá mais do que eu. Posso usar a desculpa que quero ficar
perto das comunas para as reformas, até será bom e você poderá
ter uma gestação mais tranquila.
— Podemos ir se for o melhor para você, caso contrário, não
sairei da minha casa para que Priscila possa ficar. Ela nem deveria
estar aqui. Todos os bebês dessa família nasceram no mesmo
hospital e ficaram aqui, os meus não terão nada diferente. —
Leonard virou um pouco mais na cadeira para ler minha expressão.
— Posso lidar com sua mãe e principalmente com Priscila. Se ela
acha que estando aqui vai me intimidar, não me conhece. Não estou
errada, não fiz nada de errado, sou sua mulher e agora, princesa.
— Eu adoro modelos agressivas — Charlotte brincou. Marc
sempre me ensinou a não abaixar a cabeça quando me atacassem
nos bastidores das passarelas, foi doloroso, mas eu aprendi. Não
permitiria que me intimidassem ali também. — Está certa, Khloé.
Você não tem que sair, aqui é a sua casa por direito, como Princesa
de Rye. Eu também estarei aqui o máximo que conseguir para
apoiá-los.
— Tem certeza, amor?
— Sair só vai fazê-la pensar que tem o poder para me
incomodar. Estou cansada de me encolher, Leonard. Estava
tentando ser aceita, não quero mais, você me amando já é o
suficiente. É por isso que estou aqui, porque te amo e quero ter uma
família com você. — Ele pegou minha mão e beijou. — Sua mãe e
seja quem mais, não vão me impedir de ser feliz.
— Eu te amo. — Leonard me deu um beijo e a irmã soltou um
coro de “awn”, me fazendo rir. Ela era a nossa fã número um. —
Deixa de ser boba, garota.
— Eu sei que vocês são fofos, mas eu vim ficar com a minha
cunhada, também. Cat mandou as cores do casamento e temos que
correr para encontrar vestidos. — Charlotte me puxou para longe de
Leonard. — Noite das meninas?
— Sim, por favor.
Eu estava desesperada para ter uma conversa feminina. Kim
fazia o seu melhor em estar presente no meio do caos vivia naquele
momento, mas eu sabia que ela estava correndo atrás dos sonhos
dela.
— Estou tão feliz que eles estão esperando um bebê! — Fiquei
de pé, apoiando-me na mesa. — Bom que minhas crianças terão
um primo ou prima com idade próxima para brincar.
Nós saímos de braços dados, deixando os homens sozinhos
na sala. Leonard vivia conversando com os amigos, eu os conheci
por vídeo e poucos pessoalmente no casamento, mas todos eram
agradáveis, gentis e enchiam meus bebês de presentes.
— Vocês são tão rápidas e eu que casei primeiro. — Charlotte
soltou uma risada. — Ainda não sei se tenho maturidade para ter
um bebê. Eu quero terminar a faculdade e pensar nisso. Está muito
difícil conciliar os estudos e o trabalho.
— Você é jovem e tem muito tempo. Eu não planejava
engravidar logo. Mesmo se seu irmão e eu começássemos um
relacionamento sério, essa história de filhos não iria acontecer tão
cedo — comentei e paramos ao encontrar com Victória. — Olá.
— Olá, meninas! Passeando?
— Nós vamos comer besteiras e conversar. Já sabe da
novidade? Louis e Cat estão noivos e esperando um bebê —
Charlotte comentou com ela. Victória abriu um sorriso.
— Sim, eu sei. Minha irmã me ligou para contar. As modelos
estão invadindo a família. Pedi que minha assistente enviasse flores
a Cat…
— Até depois, mãe. — Charlotte me empurrou, para continuar
andando. — Hoje eu decidi que não quero ser legal. Vou tentar ser
uma filha melhor amanhã.
— Está com o direito de tirar uma folga.
Nós estávamos quase chegando no topo da escada quando os
guardas levantaram bruscamente, todos agitados e olhando em
seus aparelhos. Eles nos cercaram, conduzindo-nos para uma sala,
assim como Victória. Ficamos sem entender o que estava
acontecendo. De longe, podia ouvir Leonard gritar, mas era
impossível compreender.
— Eu exijo que me deem respostas agora! — Victória estava
tentando descobrir o que estava acontecendo. Não entendi o que o
guarda falou que a fez se calar imediatamente. Charlotte correu até
ela.
— Mãe! O que eles disseram?
— Protocolo Blackbird. Nós seremos conduzidas para o quarto
seguro.
Vasculhei minha mente, buscando o que aquele significava e
saí do lugar.
— Quem está ferido? — Acariciei minha barriga. — Foi dentro
do palácio?
— Eu não sei! Meu filho e meu marido não estão aqui! —
Victória gritou comigo e começou a chorar. — Ethan estava com
Leonard?
— Nós deixamos os dois na sala. Se fosse com eles, teríamos
ouvido alguma coisa! — Charlotte abraçou a mãe e trocou um olhar
comigo. David. Ele estava viajando com a comitiva nos últimos dias
e deveria retornar naquele dia. — Sente-se, mamãe.
— Seu pai. Eu não falo com ele tem duas horas — Victória
sussurrou, sentando-se devagar. — Ele disse que estaria aqui para
o jantar e que deveríamos comer juntos. Eu pedi que preparassem
seus pratos favoritos.
— Está tudo bem. Nós vamos descobrir o que aconteceu. —
Toquei seu ombro.
— EU QUERO RESPOSTAS AGORA! — Leonard gritou
próximo a porta e ela foi aberta. Meu marido estava vermelho, meio
desalinhado e com lágrimas nos olhos. Ethan continuava ditando
ordens do lado de fora, diretamente a Grey e a um dos
comandantes que ficavam posicionados no palácio. Atrás, vi os
militares se unindo aos guardas reais.
Conhecia o olhar dele e me sentei, porque a notícia não era
boa.
— A comitiva do papai foi atingida por uma bomba. Eu ainda
não tenho notícias dele. — falou devagar. — Há mortos e feridos.
Por protocolo, nós temos que nos isolar e o palácio sofrerá uma
varredura.
— Bomba? Como um atentado? — Charlotte estava em
choque. — Nunca tivemos um atentado em Rainland.
— Ainda não tenho informações. Vocês serão isoladas em uma
única ala do palácio, preciso que escolham, para que possam
trabalhar.
Leonard estava agindo como chefe da família e não nos daria
mais detalhes.
— Vamos ficar na principal, para que mamãe possa ficar
confortável. Está tudo bem por você, Khloé? — Charlotte me
encarou. Ela estava lutando para não chorar.
— Claro. Eu peço para minha governanta buscar minhas
coisas.
Victória levantou no automático. Nós tínhamos que ficar em fila,
uma cada dois guardas, andando em ritmo até que tudo fosse
verificado. Sentamos na sala, em completo silêncio e eu tremi ao
ouvir o sistema de alarme trancando todas as portas e janelas, nos
fechando completamente em um único lado.
Sem notícias do que realmente havia acontecido, comecei a
rezar. Era tudo que podia fazer.
33 | Leonard
Esperar era o pior para quem não tinha respostas.
Esperar para saber se meu pai estava vivo.
Esperar para descobrir quem nos machucou.
Esperar, esperar e esperar era a maior dor. Não saber o que
havia acontecido estava me matando lentamente e eu não podia
fazer nada. O país estava em colapso e eu me vi na frente do
espelho, usando meu uniforme real, para dar à população palavras
de conforto que eu mesmo não tinha.
Como explicar que um país pacífico teve o seu primeiro
atentado? Houve uma única guerra para que Rainland se tornasse o
país que era e nunca mais tivemos problemas. Uma ilha no mar
celta, um país que todos amavam. Uma bomba? Conflitos? Eu sabia
que nosso exército era preparado, assim como todos os poderes.
Possuíamos tecnologia o suficiente para descobrir quem queria nos
ferir.
E eu tinha que focar em Rainland.
— Está pronto, Alteza? — Grey bateu na porta.
Não falei nada, apenas apareci e segui a comitiva até a sala de
conferências para começarmos a transmissão a nível mundial.
Sentado na cadeira principal, olhei para a câmera e não precisei
usar a tela de apoio com a mensagem para falar com o país. Eu
estava falando como Príncipe de Rye, herdeiro do trono. Era o
momento de deixar o filho preocupado sem notícias do pai fora da
sala e ser adulto.
Assim que a luz apagou, não relaxei meus ombros, ouvindo
que meu pai estava a caminho do centro médico militar e ainda não
sabiam a gravidade dos ferimentos. Seu secretário havia falecido e
o motorista estava com ferimentos graves. Eu não obtive
autorização do palácio para sair, porque não sabiam se haveria
outro ataque. Meu pai precisaria ficar lá, em um local protegido e
teria o melhor tratamento.
— A varredura do palácio terminou?
— Ainda não — Grey me informou. — O jantar está sendo
levado para a residência da sua mãe. Elas ainda não foram
informadas do seu pai. Ethan achou melhor esperá-lo.
— Ele fez bem. Quero contar pessoalmente. — Afrouxei os
punhos do casaco. — Eu quero que eles me mantenham informado.
Dê um jeito de abrir a comunicação. Sei que é protocolo, porque é
necessário nos manter seguros, mas eu preciso saber do meu pai.
Ele é o rei e é meu pai.
— Farei o meu melhor, senhor — Grey prometeu e saiu
rapidamente na direção oposta.
Pela primeira vez, a frente do palácio de Rainland estava
fechada.
Não havia ninguém nos jardins.
Houve um toque de recolher.
Ethan estava do lado de fora da residência dos meus pais e
ficou de pé quando me viu. Ele estava com um olhar preocupado,
querendo saber se tudo estava bem.
— Acabei de falar com Louis. Parece que seu avô entendeu
que sua mãe estava junto e passou mal. Eles estão se reunindo.
— Toda família precisa ficar segura agora. — Empurrei a porta
aberta. Charlotte foi a primeira a ficar de pé. Khloé endireitou a
postura. — Onde está a mamãe?
— O médico lhe deu um calmante. A pressão arterial estava
elevada, ela começou a passar mal aqui e eu não sabia o que fazer.
Está deitada no quarto, completamente apagada. — Minha irmã
correu para me abraçar. — Me diga que tem notícias do papai.
— Ele está no hospital e não sei a gravidade dos ferimentos. —
Abracei-a de volta e beijei seus cabelos. — Teremos fé que está
bem. Não tenho muito tempo, estou no comando até o papai voltar.
Tentarei dar notícias e espero que esse pesadelo termine logo.
— Você vai se sair bem. Tenho orgulho de você, não sei o que
faria agora. — Ela chorou um pouco e limpei suas lágrimas.
Charlotte saiu dos meus braços e foi para seu marido.
Ajoelhei na frente de Khloé. Pelas pálpebras inchadas e a
maquiagem sutilmente borrada, chorou antes da minha chegada.
Ela se fez de forte, me entregando um sorriso encorajador e um
abraço confiante. Escondi meu rosto em seu pescoço, buscando
força e conforto. Minha mente estava dispersa. Meu pai precisava
sobreviver.
— Acredito no seu potencial como governante, é um excelente
príncipe herdeiro e seu pai logo estará em casa para sentir orgulho
dos seus feitos — falou baixinho e eu assenti, aceitando suas
palavras e levando-as para o meu coração. — Te amo, estou aqui
com você.
— Eu te amo.
— Leonard? Temos que voltar — Ethan chamou baixinho. Ergui
meu dedo, só mais um minuto com minha esposa. Ele se virou para
Charlotte. — Amor, estarei com seu irmão para dar apoio. Me ligue
se precisar de mim.
— Ficarei bem aqui com a Koko. Vou monitorar mamãe e
aguardo notícias — Charlotte o respondeu e eu fiquei de pé,
beijando minha esposa e me afastei com dificuldade.
Ethan e eu retornamos para a sala de conferências, dessa vez
para nos reunir com os líderes das comunidades de Rainland, a
capital e o representante da câmara dos cavalheiros. Todos eles
estavam agitados, querendo falar ao mesmo tempo, quase
esquecendo a formalidade. Nossas forças militares estavam pelas
ruas, em defesa do povo e prontos para qualquer novo ataque.
A varredura no palácio terminou e não foi encontrado nada
perigoso. Para que não houvessem especulações, foi reduzido o
número de funcionários e o chefe da hotelaria assumiria o comando
no lugar de um dos secretários do meu pai que faleceu no ataque.
Os mordomos se reuniram para definir como lidariam com poucos
empregados à disposição. Felizmente, não havia convidados, ou
seria bem pior.
O mundo inteiro estava noticiando o que havia acontecido em
Rainland. Meus telefones não paravam de tocar e embora os
corredores do palácio estivessem vazios, era possível ouvir que
ninguém estava dormindo. As horas da madrugada foram as mais
torturantes, porque não havia o que fazer, a não ser esperar.
Assim eu voltava para o sentimento agonizante de que não
estava fazendo nada para salvar a vida do meu pai.
— Tem certeza de que não quer dormir um pouco? — Khloé
me serviu chá, para me acalmar. Eu só tomaria um pouco para não
ferir seus sentimentos. Ela estava tentando cuidar de mim.
— Eu gostaria que você descansasse. — Segurei sua mão, ela
parou na minha frente com seu doce olhar. — Precisa dormir, amor.
Beijei sua barriga. Ah meus bebês, como eles me davam força
e nem sabiam.
— Você também deveria. Ao amanhecer, vão te chamar e
precisa estar bem. — Ela acariciou minha nuca. — Uma soneca?
— Eu vou apenas verificar a segurança e volto para deitar com
você. Vá na minha frente, prometo que volto. Não estou te
enrolando.
Khloé ergueu meu queixo e me deu um olhar severo.
— Irei atrás de você — prometeu. Dei um sorriso. Eu sabia que
ela iria mesmo, principalmente por estar determinada a me fazer
parar. Fiquei de pé, roubei um beijo dos seus lábios mesmo com sua
pose de esposa brava e saí do quarto. A ala central dos meus pais
ficava no lado maior do palácio, de frente para avenida principal e os
tapumes na janela me deixaram um pouco incomodado.
Digitei o código para sair e desci a escada principal
silenciosamente. Parei ao ouvir sussurros, olhei para o lado e um
dos militares vestido de preto sinalizou para que eu fosse até ele
com calma. Eu obedeci. Ele me puxou para trás dele.
— O que está acontecendo?
— Meus alarmes dispararam na ronda noturna. Alguma ala foi
invadida — explicou baixinho e subimos a escada. — Pássaro azul
está fora do ninho.
— Árvore foi violada. — Foi a resposta que ele recebeu.
Merda! Minha família! Olhei para a escada, pensando se havia
tempo de correr até eles sem chamar atenção.
— Mantenha pássaro azul por perto. São cinco indivíduos,
conhecem o palácio, estão usando os corredores de empregados.
Olho ativo no ninho.
— Siga-me, senhor. Vamos subir e nos posicionar. — Ele fez
com que segurasse sua camisa grossa e nós subimos pela escada
dentro da biblioteca menor, passando pela lateral de uma sala de
chá e parou bruscamente, me segurando para não avançar. De
longe, vi três pessoas encapuzadas saindo de uma das portas do
corredor dos funcionários. — Ataque ao ninho.
Khloé…
Implorei aos céus que nada acontecesse com a minha família.
— Alvos na mira. Permissão para conter, senhor?
— Simultaneamente. — A ordem veio e eu observei todos
serem atingidos nas pernas, ao cair, houve um avanço da equipe
retirando as armas, virando e prendendo os braços com
braçadeiras. — Levem o pássaro azul para o ninho.
Fui puxado para dentro da ala dos meus pais e a porta foi
trancada à distância. Depois, não ouvi muita coisa. O rádio da
equipe que entrou comigo ficou em silêncio. Eles se posicionaram
estrategicamente perto da escada, portas e janelas.
— Leonard? — Khloé parou no meio dos degraus. Senti alívio
ao vê-la bem, mesmo sabendo que nada havia acontecido. — O que
está acontecendo?
— Eu te explico daqui a pouco. Volte para o quarto — pedi.
Percebendo a gravidade da situação, ela não discutiu, subiu
novamente.
— Há alguém a mais no ninho.
Eu virei e antes que pudesse correr, ouvi o grito feminino e em
seguida, um baque forte. Nós subimos correndo e encontrei Khloé
parada na porta do quarto, segurando um dos vasos nas mãos e
pernas caídas na frente dela. Era um deles. Ela se afastou e deixou
o vaso cair. Assustada, bateu as costas na parede.
— Khloé! — Puxei-a para meus braços. — Você está bem?
Ela soltou um gritinho histérico e disparou a falar, ofegante e
com os olhos cheios de lágrimas. Agarrou minha camisa e me
puxou para perto.
— Eu o vi pelo espelho e me assustei, eu não sei, acho que
bati nele!
— Está ferida? Está sentindo dor?
— Não e não. O que está havendo? Quem são essas
pessoas? — Puxou meu braço, querendo se fundir em mim e
acariciei suas costas, olhando para o guarda.
— Invasão contida, senhor.
— Leonard? — Ethan e Charlotte, que estavam mais próximos
da minha mãe, derraparam no fim do corredor. — Mamãe disse que
ouviu um grito e viemos ver. O que houve? — Charlotte olhou para a
pessoa no chão. — É alguém morto?
— Invadiram o palácio. Conseguiram entrar aqui e ainda não
sei como, mas estamos bem.
Mamãe apareceu usando pijamas, ela não se preocupou em se
cobrir e quis saber se estávamos feridos. Pela primeira vez, se
dirigiu diretamente para minha esposa.
— Os bebês estão bem, Khloé?
— Sim, eu acho que estou assustada, não sei. De onde ele
surgiu? — Khloé estava nervosa demais para conseguir focar em
uma única coisa. Pensando em seu estado, levei-a para o quarto
dos meus pais com minha mãe e irmã. Ethan vestiu uma camisa,
pois estava deitado só de jeans e meias, calçou os sapatos e me
acompanhou até a sala de segurança para obter respostas.
34 | Khloé.
— Charlotte! Eu já disse que estou bem! — Bati em suas
mãos, querendo colocar o aparelho de pressão digital do pai dela
em mim. — Para de mexer nas coisas dos seus pais, garota!
— O médico não pode chegar até nós, não até que Leonard
seja anunciado como chefe de Estado, até seu pai se recuperar. O
palácio está no controle dos militares e eles só pensam na
segurança, vão nos isolar novamente. — Victória saiu do banheiro.
— Apenas afira a pressão para sabermos se está tudo bem.
Respirei fundo e deixei que Charlotte colocasse o aparelho em
mim. Ela aferiu e felizmente, estava tudo bem, apesar do meu
coração acelerado. Eu queria saber o que estava acontecendo do
lado de fora. Foi muito assustador me deparar com um homem
saindo por uma porta estreita que ficava disfarçada no quarto de
vestir. Deveria ser onde levavam as roupas sujas antigamente.
O palácio era cheio de entradas e saídas discretas, outras
eram tão escondidas que pareciam secretas. A maioria ficava
disponível para uso, descritas nos mapas eletrônicos espalhados
em todo lugar, mas eu não tinha familiaridade com o lado que meus
sogros viviam e por isso, não esperava ninguém ali. Não deveria ter
qualquer pessoa ali.
— Eu só queria saber do meu marido. — Victória sentou em
uma poltrona.
— Ele está bem, mamãe. Tenho certeza que os militares só
querem garantir nossa segurança e evitar mais sustos. — Charlotte
sentou ao seu lado e pegou sua mão. — Está gelada. Quer um
casaco?
— Não, filha. Obrigada. — Victória chorou um pouco.
Entendia seu sentimento de agonia. Estaria devastada se
Leonard estivesse ferido em um lugar longe de mim, sem poder
saber notícias e principalmente, estar ao lado dele. Não existiria
castigo pior para uma esposa. Meus sogros estavam em um
momento delicado do casamento, mas se amavam, tinham dois
filhos e uma vida inteira juntos.
Pela manhã, fui trocar de roupa acompanhada por um guarda e
retornei para o quarto. Nosso café foi servido pelas nossas
governantas, elas falaram baixo o tempo todo, respeitando nosso
momento delicado e saíram rapidamente. Ethan entrou, sua
expressão era de alguém exausto, mas ele estava vestido de forma
impecável.
— Leonard acaba de ser empossado como chefe de Estado na
ausência do rei.
— Por quanto tempo? — Victória questionou.
— Três meses.
Ela parou para pensar um pouco.
— Então, o estado de David é grave? Quando poderei vê-lo?
— Ainda não sabemos. Ele obterá respostas agora que está no
comando, mas antes, precisa fazer um pronunciamento oficial e
acalmar os ânimos da população.
— Como a mídia local está noticiando os acontecimentos?
— Local e internacional mantém a linha da solidariedade,
repudiando a violência e sempre relembrando o histórico pacífico do
país. Se foi um ataque arquitetado pela onda democrática, o tiro
saiu pela culatra. — Ethan foi até Charlotte e beijou seus cabelos. —
Nossa popularidade subiu novamente. Estão todos preocupados. Há
flores em todos os muros do palácio e muitos querem um boletim
médico do rei.
— Que pesadelo… — Charlotte fechou os olhos. — Estou
confiante que o papai está bem. Ele é forte, sempre foi. Não será
isso que irá nos derrubar.
Liguei a televisão para ouvir o que Leonard tinha a dizer, queria
poder estar nos bastidores e apoiá-lo, mas certamente ele nos
manteria em segurança. Pelo que li em um dos muitos protocolos
que foram entregues, eu sabia que haveria grandes mudanças nos
próximos dias. Seria um pouco caótico para nós e os funcionários,
desconfortável a nível de mudar tudo.
Nós paramos para ver Leonard e o sentimento foi agridoce. Ele
seria um excelente rei no futuro, havia muito do pai nele, mas a
essência amorosa e honesta era única. Sabia medir a política com o
amor ao país. No entanto, ainda não era o momento dele. David
tinha uma boa idade e muitos anos de reinado antes do meu marido
assumir.
Victória desligou a televisão e fomos autorizadas a sair do
quarto, circular pelo ninho, como os militares chamavam. Nós
ficamos na sala e levantei quando Leonard entrou. Ele
imediatamente me puxou para seus braços, beijando minha testa, a
pontinha do nariz, os lábios e por fim, minha barriga.
— Papai passou por uma cirurgia para conter uma hemorragia
interna, sofreu queimaduras nos braços e no momento, está na
unidade intensiva para recuperação. O prognóstico é bom, ele está
fora de risco, mas precisa de cuidados — ele anunciou e nós
exalamos de alegria. David estava vivo e fora de perigo, era como
um presente. — Já pedi que preparem o carro. Você deve sair em
vinte minutos, mãe.
— Ai, graças a Deus! Vou buscar minha bolsa! — Victória
ergueu as mãos aos céus e saiu correndo para as escadas. Abracei
Leonard apertado.
— Nós poderemos vê-lo? — Charlotte soou esperançosa.
— Apenas quando for movido para um hospital mais próximo,
no final da recuperação. Ele precisa de cuidados e eu não quero
causar nenhum dano à saúde dele agora. — Leonard esfregou
meus braços e beijou o topo da minha cabeça. — Ouvir que a
cirurgia foi um sucesso e que ele está fora de perigo acalmou meu
coração. Ele vai sair dessa e se recuperar.
— Nunca duvidei da força do papai. — Charlotte sorriu com
lágrimas nos olhos.
Leonard ficou ocupado naquele dia e nos seguintes. Eu mal o
vi. Ele entrava e saía para trocar de roupa, comia rápido, e sempre
uniformizado, porque o país estava em um momento delicado.
Durante as madrugadas, se reunia com a equipe e mal dormia.
Senti falta dele, mas não me senti solitária e muito menos fiquei
desocupada. Como princesa, eu tinha muito a fazer. Tive coragem
de fazer um pronunciamento a nível nacional para falar diretamente
com a população sobre a presença dos militares nas ruas e que não
deveriam temer.
Era para nossa segurança coletiva.
Assumi a agenda de Victória, me reunindo com líderes
femininas e dando sequência a alguns projetos. O palácio estava o
tempo todo monitorado, principalmente porque os homens que
invadiram, confessaram que foram pagos para sequestrarem
qualquer membro direto da família real e não sabiam o mandante.
Por enquanto, parecia um caminho sem respostas, mas o caos
trouxe um pouco de paz aos ataques de ódio e criou-se um
movimento contrário.
Coisas boas sobre nós estavam em todo lugar. Até mesmo
aqueles que sempre criticaram duramente a monarquia e me
pegaram como alvo favorito nos últimos meses, estavam elogiando
nossa postura diante da situação delicada.
Estava esperançosa que David tivesse uma recuperação
rápida. Ele acordou bem da cirurgia e Victória gravou o momento
em que abriu os olhos, chamando por ela, por nós. Quis saber
imediatamente se estávamos bem, se houve algum outro ataque e
sorriu amorosamente para a esposa. Talvez a situação ruim também
ajudasse o casamento deles. Algumas pessoas precisavam de um
susto a mais para enxergar os erros e buscar mudanças.
Eu esperava que sim, mas não podia controlar o coração
alheio. Apenas o meu.
Duas semanas depois do ataque, nós pudemos voltar a circular
pelo palácio livremente e voltar para o meu quarto, minhas coisas e
dormir na cama que me acostumei como minha foi incrível. Tive uma
noite de sono maravilhosa. Pela manhã, Leonard saiu cedo para
correr. Ele disse que estava com muita tensão, que precisava
relaxar. Deixei-o ir, com a intenção de melhorá-lo de outra maneira.
A mente inocente do meu marido não buscou sexo.
Estava estressado e irritado. Ele não me procurou em
momento algum nos últimos dias e conhecendo-o como conhecia,
era por não estar bem, seu mecanismo de defesa era se afastar.
Não me tratou mal, nem deixou de ser amoroso comigo, mas uma
coisa que estava aprendendo no casamento era que nem tudo é
como um namoro. Altos e baixos, mau humor, respostas
atravessadas sem querer, coisas fora do lugar e diariamente, era
preciso paciência e companheirismo, mas sem compreensão, não
existiria paixão o suficiente para suportar.
Só o amor era capaz de trazer o combo necessário para
equilibrar um casamento.
Ele entrou direto para o chuveiro, saí do quarto de vestir e
sentei na pontinha da cama, esperando-o. Leonard saiu nu, me
chamando e parou com a toalha no cabelo.
— Eu ia te chamar e já até esqueci o motivo. Você usou isso aí
na nossa lua de mel e o resultado foi a cabeceira caindo da parede.
— Ele sorriu de lado, jogando a toalha longe.
— Pensei que fosse me chamar para o banho.
— Sei que me ama, mas eu não estava cheirando muito bem.
— Acariciou minhas coxas. — Vermelho fica muito bem em você.
Eu adoro esse sutiã.
— Ficou ainda melhor agora que tenho peitos.
A gravidez estava me transformando em uma grande gostosa.
Eu ganhei quadril, ainda mais bunda ao ponto de não caber nas
minhas calças, e peitos. A barriga todos diziam que não parecia de
gêmeos, mas o médico disse que era normal meu crescimento e
quando menos esperasse, ela pularia para fora. Leonard estava
apaixonado pelas mudanças do meu corpo e eu decidi abusar de
roupas provocantes na nossa privacidade, para aproveitarmos
muito.
— Deixe-me ver de perto. — Ele agarrou ambos e beijou,
dando um belisco suave nos mamilos. Inclinei-me para trás,
permitindo que puxasse a renda para baixo. — Não vou tirar. Hoje
vai ser com tudo.
Leonard puxou alguns travesseiros para apoiar minhas costas
e só chegou minha calcinha para o lado. Uma vez, me disseram que
homens que gostavam de chupar suas parceiras só existiam nos
livros. Eu gostaria de dizer que mulheres não deveriam aceitar
menos do que serem idolatradas na cama, tendo cada parte dos
seus corpos beijados e adorados. Eu nunca imaginei que sexo
poderia ser tão gostoso.
Agarrei os lençóis, sentindo prazer e me contorcendo. Ele não
parou, no meio do orgasmo incrível, meteu gostoso. Sentir seu
corpo por completo só aumentou as sensações inebriantes, que me
levavam para um mundo de estrelas explodindo em todo lugar. Nós
nos beijamos, apaixonados, sentindo a intensidade, entregues ao
nosso momento de amor.
— Porra, Khloé! — Soltou um grunhido. — Eu te amo tanto! —
Leonard gemeu ao gozar.
— Eu te amo mais.
Rainland terá uma rainha no futuro?
Estamos ansiosos para que o palácio revele o sexo dos bebês que a
princesa espera. Superado o choque de uma gravidez tão rápida em
um casamento repentino, Rainland torce para que os dois novos
membros da família cresçam com saúde.
Devido aos recentes ataques e a recuperação do rei longe dos
holofotes, precisamos de uma boa notícia. Parece que finalmente
encontramos a paz e que toda aquela violência, não nos encontre
nunca mais. Esse é o meu espírito de final de ano, senhoras!
Com amor,
Lady Daisy Mail
35 | Khloé
Era minha primeira vez fora do palácio em um mês. Eu estava
tão ansiosa para sair, ver minha irmã pessoalmente, conversar com
outras pessoas, que me empenhei em me arrumar. Leonard e eu
tivemos uma consulta médica e finalmente, conseguimos ver o sexo
dos nossos bebês. Meu rosto estava inchado de tanto chorar ao
descobrir que teríamos duas meninas. Ele riu de mim, dizendo que
estava me transformando em uma boba, mas tirei foto do olhar dele
brilhando pelas lágrimas não derramadas.
Duas garotinhas cresciam no meu ventre. Tia Evelyn e Marc
fariam as melhores compras de roupas e se empenhariam de
transformar o armário das minhas princesas. Já podia vê-las com
roupinhas de babados e lindos sapatinhos.
Kim, que ficou do lado de fora esperando, deu uns pulinhos no
lugar quando cochichei em seu ouvido. Finalmente, meninas na
nossa família. Não que eu tivesse a mínima esperança que elas
fossem mais tranquilas que os pestinhas dos meus sobrinhos. Cada
vez que ligava para Kourt, ela estava gritando com um, já sem
paciência e depois chorava, dizendo que era uma péssima mãe por
não conseguir controlar os nervos. Mamãe costumava ficar com a
coluna dolorida quando tomava conta deles. Quanto mais cresciam,
mais terríveis ficavam.
No carro, Leonard foi na frente com nosso segurança.
Estávamos entre dois carros, dentro de um blindado e Kim ao meu
lado, mexendo em seu telefone, olhando as redes sociais. Estive tão
ocupada no último mês que estava perdida no que aconteceu no
mundo. Só li matérias políticas e foquei no trabalho. Em pouco
tempo, iria tirar minha licença maternidade e até lá, havia muito que
fazer.
Victória tirou licença para cuidar de David. Eles estavam fora
do palácio, em outro, que parecia mais um castelo, a primeira
residência da família real de Rainland há muitos séculos. A família
costumava usar o local para férias e ficava do outro lado do país.
— Você sabe que a Kourt se aproximou muito da Daphne, irmã
do Ethan, certo? — Kim comentou, ainda olhando para a tela. Eu
estava distraída sentindo minhas meninas, que pareciam estar
chutando uma à outra e a olhei.
— Sim, eu fiquei muito feliz que ela esteja fazendo novas
amizades e saindo mais. Ela vivia no mundinho dela com as
crianças, sem tentar se aproximar dos amigos antigos e sem ânimo
para novos.
— Eu sei que todo mundo me alertou que Daphne era má. Ela
é ácida e gostei dela, também fiquei feliz.
— E o que tem?
Era um milagre Kim não estar reclamando de ciúme. Ela
cismou que eu gostava mais de Charlotte do que dela, era pura
birra. Sempre foi assim.
— Acho que existe um gavião rondando o ninho dela —
cochichou e eu ri, olhando a foto do homem. Era bonito. Alto, forte,
cabelos pretos e um sorriso com covinhas de matar. — Gostoso! É
tudo que posso dizer!
— A vaca não vai contar nada!
— Não. Ontem o Zack a dedurou sobre um tio ajudando na
cozinha e ela mudou de assunto como se não fosse nada demais.
Tentei brincar e ganhei um corte digno de sushiman. — Kim soltou
uma risada que atraiu a atenção de Leonard. — Não seja curioso.
— Eu não perguntei nada! — Ele virou para a frente de novo.
Kim gostava de fazer Leonard suar. Ele não se preocupava
com meu pai ser bravo, apenas ficava receoso com as minhas
irmãs. Elas eram bravas com ele de propósito e eu não falava nada
porque alguém tinha que provocá-lo. Meu marido tinha o dom de
organizar suas emoções e lidar com os problemas da melhor
maneira possível. Costumava brincar que eu era a única com o dom
de tirá-lo do sério. Ele casou comigo por isso.
Minha irmã foi para casa e eu descansei um pouco. Estava
muito bem esticada na poltrona, com os pés para o alto, quando ele
entrou assobiando. Vê-lo mais relaxado enchia meu coração de
alegria, porque a versão tensa e mal-humorada era difícil de
aguentar. Leonard no modo chefe da família e do país, algumas
vezes me dava orgulho, outras, uma vontade enorme de chutar as
bolas e mandar parar de putaria por estar enchendo o saco.
— Será que devo comprar focinheira para sua irmã? — Sentou
ao meu lado e beijou minha barriga, falando baixinho com nossas
meninas.
Ah, meninas! Estava aliviada em ser mãe de duas garotas, não
fazia ideia de como criar meninos. Kourt não conseguia entender o
mundo selvagem que eles criavam para destruir a casa com
aventuras. Eu fui uma criança emotiva e ainda lembrava das fases
da minha vida, poderia entendê-las melhor. Leonard foi criado longe
de casa e preparado para ser um rei. Uma delas seria rainha um
dia, mas não deixariam de ser minhas menininhas.
— Ela rosna e não morde.
— Não morde você. — Ele riu e acariciou meu rosto. — Feliz?
— Muito e você?
— Tão feliz que bati boca com Lord Neelson e ainda estou
sorrindo.
— Discutiram de novo? Esse homem está perdendo a postura!
— Eu sei, gosto disso, assim todos estão vendo que o
problema dele é comigo e unilateral. — Leonard relaxou no lugar.
Fiz uma ligeira careta. — O que foi?
— Não acha esquisito? — Peguei a mão dele e brinquei com
seus dedos, meio incerta. Pesquisei a vida inteira do Lord Neelson
sem que Leonard soubesse. Meu pai me ensinou que para entender
uma pessoa, devemos estudá-las. Era assim que eles mapeavam o
comportamento de uma nova doença para descobrir a cura. — Ele
seguiu a mesma linha de estudo, escola, universidade, o mesmo
curso e voltaram para Rainland iniciando a carreira política quase ao
mesmo tempo. O pai se aposentou, ele assumiu a cadeira na
câmara e decidiu ser oposição.
Ele ficou quieto, refletindo sobre o que havia falado.
— Acredita que vem do passado? Nós estudamos juntos na
Suíça, mas eu não lembro muito dele. Talvez Ricco lembre… ou
Eduardo. O espanhol sempre foi o mais simpático de todos nós.
Falarei no grupo, na esperança de que algum deles me dê uma luz,
mas duvido muito. Sempre fomos fechados. — Ele enfiou a mão no
bolso para pegar o telefone de uso pessoal. O de trabalho estava
proibido de entrar na área de descanso porque ele sabia que era
louca o suficiente para jogá-lo pela janela. — Daqui a pouco
começam a responder.
— Coloque a mão aqui. — Apontei para um lado da minha
barriga. — Sua filha será uma boa chutadora.
— Eu vou colocá-la para aprender a jogar futebol logo que
aprender a lutar.
— A outra é sempre mais quieta. — Acariciei do outro lado. —
Agora que sabemos o sexo, podemos escolher os nomes. Estou
cansada de chamar de bebês. Já escolheu algum?
— Você vai seguir chamando de coisinhas? — ele me
provocou. Ninguém entendia que coisas, grãos, pedacinhos e
pãezinhos era uma forma de carinho.
— É um apelido fofo e não, vou chamá-las pelos nomes e
outros apelidos.
— Como iremos escolher? — Ele me olhou com interesse.
— Gosto de Gail, é uma variação de Abgail, um dos nomes da
sua avó materna.
— Ela vai enlouquecer em ter uma bisneta com o nome. —
Leonard sorriu, empolgado em nomear nossas meninas. — Acha
que Zara combina? Gail e Zara, Princesas de Rainland.
— Eu gosto. São dois nomes que estavam na nossa lista e
combinam perfeitamente, fortes o suficiente para a posição que
ocuparão no futuro. É isso?
— É isso. Nossas meninas têm nomes! — Ele se inclinou e me
beijou, segurei seu rosto, apaixonada, aprofundando o beijo porque
vivia necessitada por mais. Meu vício eterno. Leonard se inclinou e
com um pouco de tempo, decidiu conversar com elas, que estavam
acordadas e muito ativas. Uma bem mais que a outra.
Nós aproveitamos nosso momento em família e à noite,
recebemos o convite de jantarmos com Ethan e Charlotte. Eles
haviam acabado de voltar, passaram as últimas três semanas em
Londres e por conta de um evento importantíssimo, decidiram estar
presentes para apoiar Leonard. Era a primeira vez dele no lugar do
pai.
Charlotte estava em seu estágio normal, mas de repente,
parecia ter engolido uma bateria de caminhão, andando de um lado
ao outro, trocando cochichos com Ethan. Me distraí com Moana, ela
cheirava e tentava lamber minha barriga. Pressionou o focinho bem
onde Gail chutava e soltou um ganido, me fazendo rir.
— Ei, vocês! Podem vir comigo? — Minha cunhada apareceu
na sala agitada.
— O que deu em você hoje, garota? — Leonard riu,
acariciando Moana.
— Estava bem até que recebi uma missão importante e isso
me bagunçou toda. Vem, venham ver algo especial! É muito
importante! — Ela me pegou pela mão e tentou puxar, mas com sua
cadela pesada em cima era impossível me mover.
Moana saiu a contragosto e levantei, indo até uma das
varandas da frente. Leonard me abraçou por trás e sem saber o que
deveríamos olhar, aguardamos. De repente, as luzes principais do
parque apagaram, as pessoas estranharam e ficaram de pé e então,
luzes rosas foram acendendo nos postes.
— Rei David está de repouso, mas fez questão de noticiar para
Rainland que está à espera de duas netas na próxima estação. —
Charlotte anunciou com carinho.
Fogos de artifício explodiram no céu, a maior parte em tons de
rosa, colorindo a noite em um espetáculo lindo. Ao mesmo tempo,
um anúncio formal foi postado nas redes sociais. Eu observei as
pessoas assistindo, comemorando e acenando em felicidade pelas
minhas filhas.
— Ai meu Deus! Isso é lindo!
— Aquele velho na cama ainda consegue me surpreender! —
Leonard riu.
Eu cheguei a pensar que elas seriam um pouco rejeitadas por
não serem do sexo masculino. Algumas famílias tradicionais
poderiam considerar que elas não mereciam tanta comemoração.
Rainland era um país moderno, tecnológico, mas ainda era muito
católico e com valores que poderiam ser considerados antigos em
outras civilizações.
Ainda existia muitos comentários negativos, eles tentavam me
tirar do sério provocando minha aparência, meu trabalho como
modelo e deturpando minhas falas para causar ainda mais ódio. Até
fizeram um levantamento do meu passado, falando sobre como eu
fui no colegial e pela primeira vez, a ferida parecia cicatrizada. Eu
achei que tinha sido como modelo que me tornei segura da minha
aparência, mas estava enganada.
Foi um degrau necessário que me ajudou a chegar até ali,
casada com um homem que me mostrou que o mundo era muito
maior do que imaginava. Me tornando uma princesa que tinha voz
para mudar a vida de muitas pessoas e transformar o que
acreditava em realidade. Eu não era mais o patinho feio por ter me
tornado uma mulher bonita. Deixei de ser o mascote alvo de piadas
porque me tornei uma mulher segura.
Eu finalmente poderia dizer com muita sinceridade às minhas
filhas que não é o que vemos no espelho que importa e sim o que
temos no coração. Nossas ações são jogadas no universo e, sejam
elas boas ou ruins, retornam. Aquela era a volta que eu pedi, ainda
adolescente, chorando na minha cama de solteiro na casa dos meus
pais.
Não foi muito um conto de fadas.
Foi quase.
36 | Leonard
— Passe o vídeo novamente — pedi ao chefe da segurança.
— Quero analisar melhor a rotina deles aqui no palácio.
Ele fez o que pedi e anotei algumas coisas. Era muito tempo em
tela, verificando um a um que invadiu o palácio e eles conheciam
cada canto, porque passaram um ano trabalhando na hotelaria.
Faziam uma espécie de trabalho pesado, como trocar camas de
quarto, mudar mobiliários, carregar os fardos pesados de roupas de
cama e auxiliar as camareiras no que fosse preciso.
Era por isso que souberam como entrar. Já estavam ali, apenas
trocaram de roupa e agiram como se tivessem invadido. Foi um
plano bem arquitetado, que se estivéssemos mais distraídos,
poderia ter sido fatal. Eles até sabiam que todos seriam colocados
na mesma ala, era um protocolo de segurança interno. Todos foram
reconhecidos, tiveram as fichas levantadas e passaram doze meses
estudando o palácio. Com as falhas e com a distração do atentado,
atacaram.
Nenhum investigador conseguiu concluir uma ligação entre os
dois eventos. Afinal, ninguém assumiu a bomba. Não foi externo.
Era uma insatisfação interna que gerou o atentado. Todos os nossos
apontamentos levavam para os líderes da onda democrática, porém,
sem provas. Eu estava exausto de analisar todos os ângulos e agir
como se aquilo não tivesse abalado nosso governo. A popularidade
estava em alta e não havia uma movimentação oficial para romper
os poderes, mas eu estava com um nó entalado na minha garganta.
Meu pai se recuperava bem e todos os dias agradecia por isso.
Ele estava lidando bem com as queimaduras nos braços e seguindo
o tratamento. Toda vez que minha mãe ligava, relatava que era um
bom paciente e nunca esquecia os remédios. Apenas algo tão ruim
colocou os dois em harmonia e ela, sem tempo para fazer merda.
— O tempo está passando. Eu preciso de respostas.
— Mantenha a temporada de inverno como a atração de todo
ano. Rainland precisa de uma festa para esquecer as últimas
semanas. — Grey me aconselhou. Ele tinha razão, eu que não
estava no espírito natalino e muito menos com humor para ser o
anfitrião.
— Organizem tudo. Khloé e eu iremos abrir as portas para os
convidados verificados. Eu quero um esquema de segurança muito
apertado, pente fino em todos e por favor, reduzam a quantidade.
Não precisamos do salão de bailes cheio, será falta de respeito com
o estado do meu pai — pedi ao meu secretário. Todos saíram e
continuei ali, apenas assistindo aos vídeos. Um ano… tanta coisa
havia acontecido. Quem poderia estar por trás de tudo?
Era muito tempo para um motivo fútil. Um sequestro era
doloroso para a família e arriscado para quem cometia. Eles
queriam dinheiro? Um membro da família real certamente valia
muito, mas, em que buraco conseguiriam se esconder? Era mais do
que isso. Talvez mostrar nossas falhas? Nos levar para a posição de
decorativos e não mais governantes. Era isso que a oposição mais
falou no último ano, queriam nos enfraquecer a todo custo.
Não conseguiram e não iriam conseguir.
— Posso entrar? — Khloé enfiou a cabeça pela porta e me deu
um sorriso.
— Olá, minha senhora. Você sumiu o dia todo. Quase pedi para
agendar um horário para te ver — brinquei, ela entrou e tirou os
sapatos. — Está muito inchada, amor. Precisa desacelerar.
— Estou chegando no último trimestre e prometo que irei parar.
Ao invés de permitir que sentasse em uma cadeira, puxei-a para
meu colo. Khloé tentou protestar. Ela absorveu tanto as regras que
mal relaxava fora do nosso ambiente. Mostrar intimidade nas áreas
comuns do palácio era proibido, porém, uma regra que meus pais
ignoravam, então, minha irmã e eu também ignorávamos com
nossos parceiros. Já estávamos casados, por que não podíamos
trocar uns beijinhos?
— Ainda analisando os vídeos?
— Não consigo olhar para mais ninguém aqui dentro e confiar.
É como se todas as pessoas fossem nos trair mesmo sabendo que
isso não é verdade. — Beijei seu ombro. — Você está tão bonita
hoje.
— Só hoje?
— Sempre está, mas roxo é a cor que lhe favorece. Eu amo
esse vestido.
— Estou na fase de me sentir uma bola, para quem sempre foi
muito magra, estou descobrindo que meu corpo pode se tornar uma
única forma. — Esfregou a barriga com um ar de frustração. Khloé
deixou o corpo magro de modelo no terceiro mês de gestação, ela
sempre foi incrível e atraente aos meus olhos, mas grávida? Puta
merda! A mulher estava um pecado com longas pernas
maravilhosas. — Meus pés inchados me fazem sentir um mau
humor de cadela.
— Estou aqui para apanhar. O que te deixou chateada?
— Ah! Eu simplesmente odeio me reunir com o comitê de
mulheres e sentir que algumas me julgam por deixar minha carreira
de modelo para ser princesa. Quer dizer, elas acham mesmo que
meu trabalho é me reunir com elas e tomar chá? Aquilo é um dos
compromissos, além do mais, quem escreve as pautas? Eu. Quem
estuda e cria os projetos? Eu. Por que menosprezar meu trabalho?
— Fez um beicinho e sorri.
— Tenho certeza de que não deixou que elas apenas te
criticassem.
— Claro que não. — Revirou os olhos e eu suprimi a risada. —
Meu trabalho tem que ser respeitado. É muito mais do que ser
bonita com uma coroa na cabeça. — Bufou e soltei uma risada,
ganhando uma cotovelada de volta. — Nossa, soei como uma miss
americana. Seria um prato cheio para sua mãe pegar no meu pé.
— Soube que vocês rosnaram uma para outra no telefone mais
cedo.
— Ela está de folga, por que diabos está se metendo? Seu pai
consegue respeitar suas decisões mas ela não, tem que perguntar
tudo, tentando me controlar! E ainda adicionou que acha que ganhei
peso demais. Como assim?
— Meu pai disse que ela ficou reclamando no ouvido dele e
depois, dormiu.
Khloé me olhou ultrajada. Oops…
— Ela me deixou falando sozinha para reclamar e dormir? Ah,
isso não vai ficar assim! — Tentou sair do meu colo e a segurei,
rindo e aguentando seu beicinho. — Vamos deixar sua mãe de lado.
Estou com fome e ainda temos que ensaiar sobre os convidados de
inverno. Eu não cancelei a família Lancaster. — Khloé abriu um
sorrisinho.
— Por que sinto que está aprontando alguma coisa?
— Nada. Priscila finalmente terá o que tanto quer. — Seu olhar
brilhando me deixou curioso.
O telefone dela tocou e vi que era o grupo das esposas dos
meus amigos. Elas falavam muito, puta que pariu, não dava para
acompanhar. Se elas se reunissem, não haveria um palácio que
ficasse de pé. Khloé sorriu para as mensagens e começou a digitar,
me ignorando por um tempo. Mesmo com ela no meu colo, terminei
de trabalhar e depois, levei-a para jantar no jardim de inverno.
A sala estava com as cortinas abertas, o que nos dava uma
visão linda para as pedras e as flores.
— Temos um encontro romântico hoje?
— Alguém de péssimo humor?
— Estou grávida e ranzinza. — Ela me ofereceu um sorriso de
desculpas. — Sinto muito, amor. Está tudo perfeito.
Khloé raramente reclamava da gravidez. Em alguns momentos
o humor ficava um pouco delicado, mas imaginava que ter duas
crianças se movendo dentro dela, a barriga pesando e os pés
inchados o tempo todo, não permitia que ficasse feliz toda hora. Não
era falta de amor por nossas filhas, nem mesmo por mim, apenas
uma condição que exigia muito de seu corpo.
Ela sempre ria, pulando de nervoso quando as meninas se
moviam. Minhas garotinhas já demonstravam serem agitadas.
Minha avó disse que Khloé deveria dormir, para que elas fossem
dorminhocas, mas até eu era acordado à noite com elas provocando
um caos.
— Não sei como você não está com olheiras se eu levanto a
noite toda para fazer xixi.
— Eu consigo ficar bem com poucas horas de sono, acho que
estou acostumado a lidar com qualquer um me acordando
precisando de um posicionamento. Agora você sempre teve seus
períodos para dormir, mas elas não sossegam.
— Quando param, soluçam. — Khloé riu e apontou para um ovo
na lateral da barriga. — Elas estão fazendo o quê?
— Brigando pelo mesmo lado, eu acho. Gail é a mais atrevida.
— Puxou Charlotte. — Ela brincou e pegou minha mão. — Sei
que ando chata, mas nunca fui tão feliz. E sabe o que me fez
mergulhar nessa loucura com você?
— O sexo incrível?
Ela revirou os olhos.
— Não só isso, que também é importante, porém, desde o
primeiro minuto você nunca pestanejou em assumir essa
responsabilidade comigo. Nós não nos conhecíamos e você, na
posição que tinha, poderia criar uma situação muito desconfortável.
Nunca me fez sentir culpa por ter engravidado, nem me deixou
sozinha em cada etapa da gravidez. — Seus olhos começaram a
brilhar e a pontinha do nariz ficou vermelha. — Eu estava com tanto
medo, Leonard. Apavorada. Você também, mas colocava uma
expressão corajosa e foi protetor. Foi homem para assumir o que
fizemos juntos. Isso me fez te amar ainda mais. Foi além do
encantamento inicial que estávamos um pelo outro, foi mais que a
paixão arrebatadora que me tirou o fôlego. Foi você. Sinto muito
orgulho da sua integridade e te amo ainda mais a cada dia pelo
marido que está aprendendo a ser.
— O casamento é uma aventura, não é? — Beijei sua mão,
emocionado com as palavras.
— Nossa, sim. Eu nunca pensei que fosse tão difícil. Tem dias
que amanheço te amando e de noite, quero dormir para não te
matar, ainda assim, não existe um mísero segundo da minha vida
que me arrependa de ser sua esposa.
Trocamos um olhar e rimos. Só nós dois sabíamos as loucuras
do dia a dia. Ser um marido era muito difícil. Conviver com outra
pessoa era uma tarefa para os fortes e isso porque tínhamos muito
em comum. Sorte que nos apaixonamos e casamos na correria por
amor, se fosse por contrato, sem amá-la como amava muito, já
estaria vivendo do outro lado do palácio com um casamento de
aparências.
— Eu não sabia que era capaz de tudo isso, foi natural, nada
pensado. Acho que foi instinto. Você, minha mulher e grávida,
passando por tantas transformações ao mesmo tempo, meu dever
era te proteger. Acreditar que terminaria o ano casado e
apaixonado? Nunca. A vida que temos era completamente irreal
para mim e sou grato por poder viver essa benção. — Inclinei-me
para frente e segurei seu rosto. — Você me salvou, Khloé. Me tirou
da solidão e do medo de nunca ter o que todos ao redor tinham.
Pensei que seria mais difícil amar alguém e na verdade, estou grato,
porque apesar de um dia ter me decepcionado, me sinto honrado de
ter te encontrado. O amor veio de chute na porta, me derrubando no
chão.
Ela me deu um olhar divertido.
— Nada se compara à sua queda de bunda quando contei que
estava grávida.
Gargalhamos juntos. Aquilo foi surpreendente. Eu ainda me
pergunto como fiquei de pé nos minutos seguintes, consegui comer
um pouco e dormir. Talvez estivesse em choque. Se pudesse voltar
no tempo, eu não mudaria nada. Continuaria na escola com meus
oito amigos, que com o tempo, encontraram suas companheiras e
viveram suas histórias de amor. Nada poderia ser diferente em cada
capítulo das nossas vidas, porque esse trajeto de altos e baixos, um
pouco de espinhos, medos e dores, me trouxe Khloé e minhas
filhas.
A felicidade chegou trazendo plenitude.
37 | Khloé
A temporada de inverno parecia mais assustadora do que a
de verão, porque não havia muitas atividades externas devido ao
frio do lado de fora e as que tinham, eram lotadas. A caça da árvore
perfeita, competições de comidas quentes, feiras de artesanatos e
festas temáticas em todas as comunas tornava a agenda do palácio
um pouco mais difícil de gerenciar.
Pedi que os cavalos fossem levados para o estábulo mais
distante, para ficarem aquecidos, tranquilos e sem que nenhum
convidado achasse interessante sair com eles no clima gelado de
fim de ano. Com Victória ainda ausente, foi o meu primeiro ano no
palácio já responsável pela decoração natalina.
Leonard e eu viajamos para vê-los no dia de ação de graças.
Almoçamos e à noite, recebemos meus pais e irmãs, porque não os
via desde o casamento e queria muito ter fotos com eles ainda
grávida. Marc e Tia Evelyn também vieram me visitar, junto com
Frank, meu tio e primas.
Victória me deixou à própria sorte e eu tive o apoio das
governantas, me ajudando em tudo, além do bom gosto das minhas
irmãs. O palácio estava impecável e pronto para convidados.
Parecia muita loucura receber pessoas estranhas quando havia
uma investigação sobre o atentado e a invasão, mas Rainland era
um país movido por eventos e se alimentava da aparente felicidade
decorada nas ruas. Depois de uma explosão assustadora que
deixou o rei fora do trono e em uma cama, o povo necessitava de
uma festa para ter esperanças de que continuávamos sendo um
país pacífico.
Eu não nasci ali e até meses antes, mal havia pisado, mas
vesti a camisa do país. Era o lugar que meu marido amava e fazia
parte da essência dele, assim como seria o local onde criaria meus
filhos. Me chateava ser chamada de estrangeira ocupando o trono e
por isso, dava o meu melhor em todas as oportunidades que tinha,
para provar que estava ali de corpo, alma e coração.
— Preparada para receber os convidados? — Charlotte desceu
as escadas. Ela havia passado as festas do ano anterior com Cat e
Louis, mas Cat estava tão grávida quanto eu naquele ano e não
viajou. Os sogros estavam mimando-a.
— Ansiosa e mais do que preparada.
— É isso mesmo que a terceira família é a Lancaster? — Ela
conferiu a lista que estava com o mordomo na entrada. — Fez de
propósito? Você poderia tê-los desconvidado quando papai sofreu o
atentado. Ninguém acharia estranho.
— Eu sei, mas eles precisavam estar aqui.
Charlotte não entendeu nada e abriu um sorriso quando a
primeira família chegou. Leonard e Ethan juntaram-se a nós,
entregamos os presentes que David e Victória prepararam para
justificar a ausência das festividades e aguardamos a próxima, até
que chegou a vez de quem eu mais esperava. O Duque estufou o
peito ao falar com Leonard, mas o reverenciou como mandava a
etiqueta. Priscila estava com a expressão solene de doce menina
inocente de sempre.
A mãe dela parecia haver chupado limão ao ser obrigada a
falar comigo.
— Estou muito feliz que tenham aceitado o convite de estarem
aqui novamente. Lamento que, dessa vez, Victória não possa estar
presente, mas eles precisam desse momento de recuperação
enquanto Rainland comemora a chegada do fim do ano com paz e
amor. — Dei um passo à frente, inclinando a cabeça para cochichar
de forma conspiratória. — E não se preocupe, Priscila. Estou com o
mesmo propósito da minha sogra. Convidamos diversos rapazes
incríveis para nossas festividades e garanti que sentasse ao lado
dos melhores. — Pisquei, adorando seu rubor. A mãe ficou
desconcertada. — Acho que podemos começar novamente. Nós
duas sabemos que você e meu marido nunca tiveram nada, não
passou de uma intenção e apesar da mídia ter nos jogado em lados
opostos, quero que encontre o mesmo amor e felicidade que eu.
Charlotte tossiu atrás de mim. Eu sabia que estava disfarçando
a risada. Priscila não sabia o que fazer, o rosto estava natural
devido à quantidade de maquiagem, mas o pescoço vermelho
mostrava o embaraço. A mãe não conseguiu esconder os olhos
arregalados.
— Sairá daqui noiva. Sejam bem-vindos! — falei a última parte
mais alta para que a governanta designada a eles pudesse se
aproximar.
Depois que eles se afastaram, Leonard apertou minha cintura,
balançando a cabeça. Eu finalmente estaria podendo me vingar de
todas as postagens de músicas de coração partido e lágrimas de
crocodilo que a mídia fez para infernizar minha vida como
destruidora de lares. Decidi que ela provaria do próprio veneno com
a seleção incrível de homens solteiros. Se aguentasse o ritmo, sairia
noiva, caso contrário, iria embora no dia seguinte.
— Você é terrível, minha princesa — ele sussurrou no meu
ouvido.
Mantive o sorriso no rosto, fingido que não estava entendendo
porque eles estavam rindo, afinal, minha intenção era a melhor de
todas. Rainland precisava de um novo casamento, por que não com
a queridinha deles e no próximo ano?
Com os convidados acomodados e as primeiras festividades no
dia seguinte, segui Leonard até o escritório para ouvir as novidades
da investigação. Ele estava ansioso para saber quem arquitetou
tudo, mas as pistas davam em pagamentos feitos em dinheiro,
paraísos fiscais, locais pouco iluminados e sem muitas câmeras.
Parecíamos estar caminhando para um beco sem saída.
— Não é possível que temos três forças potentes desse país
investigando um atentado terrorista contra o rei e ainda não
obtemos respostas! — Leonard esbravejou. — Façam o que tiver
que fazer, eu lido com as consequências, quebrem sigilos, invadam
a privacidade! Contanto que eu tenha um culpado e ele seja preso,
julgado e condenado, não me importo com as consequências.
Seria um escândalo enorme se a população soubesse que o
chefe de Estado autorizou invadir a privacidade, protegida por uma
lei que dava um limite ao acesso de dados pessoais, conversas
telefônicas, contas bancárias e transações financeiras
internacionais. Mas eu o entendia, não era para descobrir um
segredinho sujo particular. Era para condenar um culpado por
crimes cometidos.
Crimes graves.
Nós fomos para o quarto descansar, estava frio, eu queria
comer algo quentinho e me deitar. O terceiro trimestre estava dando
seu olá e me fazendo sentir desconfortável mais vezes do que
conseguia tolerar.
— Ainda tenho medo que seja apenas o começo. Quem
planeja algo assim, não desiste fácil. — Leonard começou a tirar a
roupa para tomar banho. Eu me joguei na poltrona, colocando os
pés para o alto. — Gastaram dinheiro planejando tudo isso por
muito tempo e não obtiveram êxito, então por que desistiriam agora?
— Não faz sentido desistir.
— É por isso que não quero você andando sozinha no palácio.
Apesar do novo controle de segurança, não confio, então, quero que
mantenha seu telefone por perto para que possa sempre saber onde
está e não fique desacompanhada — pediu bem sério e concordei.
Costumava andar livremente pelo palácio e esquecia meu telefone
facilmente, Allegra e a sra. Esra enlouqueciam me procurando pelos
cômodos. — Nada de passeios nos jardins, além de escorregadio, é
um local de fácil acesso.
— Leonard?
— O que estou falando? Eles ficaram aqui dentro por um ano e
entraram em um dos quartos de vestir. O que é um jardim? — falou
para si mesmo, de forma irônica e frustrada, indo para o banheiro.
Não fui atrás porque era seu momento sozinho.
Levei um tempo para entender que nem sempre a minha
presença era necessária. Ainda no mesmo lugar depois de quase
meia hora, em que fiquei conversando com minhas filhas e elas
estavam quietas, ele apareceu na porta do banheiro.
— Quer vir tomar banho comigo?
— Não quer ficar sozinho? — Sorri suavemente, acariciando
minha barriga.
— Eu pensei e decidi que não. Nada vai mudar se eu ficar
fritando meu cérebro com isso essa hora e teremos pouco tempo
juntos nos próximos dias. — Esticou a mão, me convidando com um
beicinho e eu levantei. Ele nem ousava ficar me ajudando a levantar,
me irritava e eu não podia explicar o motivo de ficar furiosa. — Não
me olhe assim, não tentei te levantar, sei que está grávida e não
doente!
— Eu não falei nada, amor!
— Pensou. Conheço esse olhar emburrado, aí.
Joguei minha cabeça para trás, rindo.
— Estou tenebrosa, não é? Desculpa, meu marido. — Abracei-
o apertado. — Dizem que depois do puerpério, vai passar e voltarei
a ser a Khloé doce e divertida pela qual se apaixonou.
— Ainda tem mais depois da gravidez? — Arregalou os olhos
de brincadeira. — Eu te amo, sério. Pode me usar de saco de
pancadas porque sei que são seus hormônios. Ainda te acho
controlada. Se fosse o monstro da minha irmã…
— Não fale assim dela. Charlotte é a melhor cunhada que
alguém poderia ter. Eu amo a amizade de vocês e isso se estendeu
a mim. — Parei, com dificuldade de tirar minha calça. — Pode me
ajudar, por favor?
Leonard riu e não falou nada, apenas ajoelhando na minha
frente e tirando-a com cuidado. Conforme a barriga foi crescendo,
todo mundo começou a me tratar como se eu fosse uma inútil, sem
me deixar fazer nada sozinha. Ele quase ia ao banheiro comigo,
mas ainda era cedo para esse tipo de coisa. No último trimestre,
talvez precisasse de mais atenção, enquanto isso, queria me sentir
tão normal quanto possível com uma barriga esticada chegando
primeiro do que eu nos lugares.
— Viu? Eu sei o momento de pedir ajuda.
— Eu sei disso, mas gosto de te mimar e te ver feliz, bem
cuidada. Isso me faz…
— Não tinha parado para pensar por esse ângulo. Vou tentar
ser menos chata com seus mimos. Ainda amo ser surpreendida com
suas flores e principalmente, quando manda comida para mim no
meio do dia. Nunca pare. Uma mulher ama ser surpreendida com
comida. — Dei um tapinha em seu peito e o beijei. Leonard sorriu e,
no banho, me mimou, lavando meu corpo com sabonete de lavanda,
depois passou o óleo e ainda ganhei uma massagem.
Fizemos amor antes de dormir. Acordamos diversas vezes,
conversamos, comemos algumas frutas e matamos o tempo juntos.
Pela manhã, ele saiu da cama primeiro e fechou a porta de ligação
entre os quartos para que o mordomo pudesse entregar suas
roupas. Ao retornar, estava vestido como o homem poderoso que
era.
Ele se inclinou e me deu um beijo suave nos lábios. Toquei seu
rosto recém-barbeado, olhando em seus olhos.
— Tente não perder a postura com Lord Neelson. Ele não
merece a atenção que recebe. — Aconselhei com carinho.
— Ainda terei que ter esse merda aqui no palácio para as
festividades de inverno. — Fez uma expressão irritada. O homem o
tirava do sério de verdade.
— A família dele é conceituada, não podemos dar alimento às
fofocas, a animosidade é da parte dele, não da nossa. — Beijei-o
novamente. — Vá tornar Rainland um lugar melhor.
— Eu te amo.
— Eu sei, eu te amo também. — Sorri e o observei sair.
Toquei minha barriga, sentindo um desconforto e suspirei.
Talvez precisasse descansar um pouco mais. Não queria preocupar
Leonard em um dia importante, mas avisei à sra. Esra que não me
sentia bem e pedi que ficasse por perto enquanto Charlotte
estivesse ocupada com Leonard. Ela respondeu que sim
imediatamente e me tranquilizei, voltando a deitar e pedindo
baixinho para que as meninas não inventassem de nascer antes do
tempo.
38 | Khloé
O desconforto só aumentou nos dias seguintes e não
consegui esconder mais de Leonard. Ele ficou irritado comigo e com
razão, então, aguentei calada seu sermão.
— Sério, Khloé? Achou que ficaria tudo bem manter o ritmo
passando mal?
— Não mantive o ritmo. Se reparou, fiquei mais tempo sentada
e até mesmo com as pernas esticadas. Nenhuma das senhoras me
criticou por ficar no chá com os pés para o alto — argumentei
baixinho. Ele me deu um olhar e fechei minha boca.
— Usou saltos, subiu e desceu as escadas, ficou em pé
recebendo convidados no jantar. Estamos no comecinho do terceiro
trimestre, é natal, o que você quer?
— Manter a agenda e ao mesmo tempo, cuidar para que elas
fiquem aqui dentro até o tempo certo? — Sugeri com um sorrisinho.
— O médico só pediu para desacelerar. Não estou com dilatação e
sem sangramento. Estou bem.
— Eu sei, amor. Quero que vocês fiquem bem. — Ele abaixou
na minha frente e me beijou. — Fiquei preocupado ao te ver pálida.
Sempre nos avisaram que seria uma gestação mais delicada e que
deveria tirar uma licença no terceiro trimestre.
— Prometo que depois do ano novo, eu paro de trabalhar
completamente.
Leonard suspirou. Nosso maior medo era um parto muito
prematuro. Poderia acontecer, mas rezávamos para que as meninas
ficassem no forninho até a idade certa do nascimento. Ele me deitou
e me cobriu com carinho. Meu marido era um príncipe em tudo, até
aguentava minhas teimosias sem surtar completamente. Quem diria
que poderia ser mais fofo?
— Tudo bem. Agora fique aqui e descanse um pouco. — Beijou
minha testa.
Aproveitei que as meninas ficaram quietas para tirar um
cochilo. Eu estava cansada. Acordei com fome e meu telefone
vibrando, mas ele estava longe. Rolei para o lado, precisando fazer
xixi antes de qualquer coisa e meio cambaleante, fui ao banheiro.
Sentei-me no sanitário um pouco tonta e fiquei mais tempo do que o
necessário sentada porque não conseguia levantar.
— Ei, amor? Tudo bem? Posso entrar? — Leonard bateu na
porta.
— Sim, me ajuda aqui — pedi baixinho. Ele me ajudou a
levantar e abaixou meu vestido. — O que foi? Dormi sua reunião
inteira?
— Sim, por isso vim te ver. — Leonard riu e me abraçou. —
Acho que alguém precisava descansar. Quer comer alguma coisa?
— Estou faminta. Meu telefone estava vibrando.
— O meu também. Grey disse que precisava falar comigo com
urgência, mas eu não dei confiança, passando direto para te ver.
O sorriso cresceu nos meus lábios e não contive. Ele prometeu
que nunca me soltaria nessa aventura assustadora que era a
gravidez e todos os dias mostrava que era um homem que não
usava sua palavra em vão. A maior redenção de Leonard era essa,
o medo de nunca amar e ser amado, ter o coração partido ou que a
nossa vida fosse infeliz devido ao inferno que a mídia podia causar,
era subjugado todos os dias com a dedicação dele em ser o melhor.
Beijei sua bochecha e fomos para a sala, esperar a comida.
Belisquei alguns biscoitos de leite enquanto aguardava e
observei a expressão de Leonard mudar completamente ao olhar o
telefone.
— O que aconteceu, Leonard? Não diga que eu fiz alguma
besteira.
Eu estava nervosa em estar comandando os eventos. Sem
Victória, contava com a ajuda das governantas e as dicas precisas
de Charlotte, mas ela também nunca esteve à frente de nada. A
mãe controlava tudo e nunca foi de ensinar o que fazia. Sem
experiência e com coragem, me joguei de cabeça, mas isso não
significava que não poderia cometer um deslize grave, ofendendo
algum costume ou esquecendo um detalhe importante.
— Não, baby. Não fez nada. — Ele engoliu em seco e apagou
a tela do telefone. — Como está se sentindo agora?
— A tontura passou um pouco, apenas com fome. Não vai me
falar? É segredo do governo?
— Não é isso. — Leonard riu de puro nervoso. — Estou com
medo que passe mal.
Deixei o pote de vidro na mesa e me preparei, ele pegou o
telefone e mostrou uma foto. Era dele e de Priscila em um corredor
do palácio. O ângulo não era muito favorável, mas não estavam se
beijando ou coisa do tipo. A matéria dizia: O encontro secreto do ex-
casal.
Fechei meus olhos, lívida, sentindo um arrepio descer por
minha espinha e um instinto assassino subir à borda. Agarrei a
cadeira, querendo gritar. Leonard tocou em mim e tremi.
— Que porra você ficou sozinho com essa mulher, Leonard? —
quase gritei, mas fiquei sem fôlego, minha voz saiu estrangulada de
tanta raiva incontrolável.
— Não passei dois segundos na presença dela. Eu saí da sala
em que os homens estavam conversando e batemos de frente, ela
disse que estava perdida, Grey saiu em seguida e deu as direções
para ela. O pai dela estava lá dentro com os outros convidados, eu
ia para o auditório de conferências, para uma reunião rápida com a
equipe de segurança. — Ele tocou meu queixo. — Khloé, eu sei que
é o ciúme e todo histórico, mas por favor, não duvide de mim.
— Não acho que me traiu, está maluco? Já teria voado no seu
pescoço se o pensamento cruzasse por minha cabeça, mas estou
furiosa que essa merda não acaba! Vai começar outra narrativa, que
inferno! Minhas filhas vão nascer com essa porcaria de história
rolando de novo? — Dessa vez, consegui gritar e sem querer,
assustei Allegra, que entrava timidamente. — Consiga um bom
advogado porque eu vou matar essa garota!
— Khloé… — Leonard tentou me conter. — Calma, pare com
isso!
Eu ia gritar de novo e parei, agarrando o telefone e analisando
a fotografia. Não li o texto para não ter um colapso completo.
— Como conseguiram fotografar dentro do palácio? As janelas
estão parcialmente cobertas desde o atentado. Não tem como ter
sido um fotógrafo profissional, não tem grandes ruídos e a
iluminação está boa. — Devolvi o aparelho. Ele me deu um sorriso
tímido, provavelmente chegando à mesma conclusão e mal lhe dei
oportunidade de falar. — Como vamos resolver isso, Leonard?
— Pedirei a Grey para enviar à imprensa o vídeo do momento.
É apenas um corredor, não será um problema expor que o palácio é
todo monitorado por câmeras, agora. Provavelmente a segurança
poderá encontrar quem fotografou e iremos resolver. — Ele segurou
minha mão. — Pode se sentar novamente?
— Sim, eu posso — resmunguei e voltei para a cadeira. —
Allegra, pode deixar a refeição entrar. Eu não vou ficar com raiva e
com fome ao mesmo tempo.
— Claro. Devo solicitar as filmagens?
— Sim, por favor — Leonard falou com ela com suavidade.
Voltei para meu lugar. — Ainda vai explodir?
— Não me culpe por estar puta da vida. Estou cansada dessa
vaca!
— Eu sei, mas nossas filhas são mais importantes que essa
louca. — Ele se inclinou e me beijou. — Vou acabar com isso.
— Não. Quero que publique o vídeo, não só para acabar com
os rumores, mas porque prometeu que seria um governante
transparente. O que me faz pensar, uma fofoca de traição
justamente quando está substituindo seu pai. Não acha esquisito?
— A família Lancaster não apoia a onda democrata.
Dei a ele um olhar.
— Não seja inocente. — Beijei seus lábios. — Eu cuido de
Priscila. Acredite em mim, ela vai desejar cavar um buraco para se
enfiar quando terminar com ela.
— Khloé…
— Eu sou a princesa, não sou? Agora, vou agir como uma!
O telefone dele tocou e era a mãe, ele atendeu e fiquei rindo
dela desesperada querendo provar para Leonard e David que
daquela vez, não tinha nada a ver com ela. Só provou que, antes,
tudo que aconteceu teve os dez dedos dela. Comi com um humor
melhor e graças a minha impossível sogra. Ela até quis falar
comigo, para deixar bem esclarecido, mas não respondi muito por
estar de boca cheia.
— Acho que seus pais precisavam disso. Estarem sozinhos
para ajustar o casamento. Não digo que sua mãe vai deixar de ser
maluca, isso é dela e não vai mudar, mas talvez passe a enxergar o
que é importante — comentei com Leonard.
— Se quase perder o amor da vida dela não fizer com que ela
mude, não existirá redenção para as loucuras da minha mãe.
Obviamente, com a coroa na cabeça, continuará obcecada. Já estou
casado e minha irmã também, o que ela iria querer?
— Talvez te pressionasse por netos, mas deu um jeito de dar
logo duas para calar a boca dela.
Leonard soltou uma gargalhada. Nossos telefones tocaram ao
mesmo tempo e era a confirmação do pronunciamento de Grey,
como secretário do governo, esclarecendo os rumores que estavam
tomando uma proporção bizarra e desfavorável em pouquíssimo
tempo. Charlotte entrou agitada, com o rosto vermelho, perguntando
se eu queria a pá para ajudar a cavar a cova de Priscila. Eu amava
minha cunhada. Ela era uma irmã e tanto.
Sem pressa, me arrumei com esmero para o evento noturno
das mulheres e o momento que teria uma conversinha preciosa com
a mocinha. Charlotte me encontrou pronta e ouviu as
recomendações do irmão dela sobre me deixar com os pés
elevados, não comer doces e beber água. Revirei os olhos
discretamente, ele viu e soprei um beijo, disfarçando.
— Eu te encontro em um minuto! Tenho que deixar uma
pegadinha para Ethan! — Charlotte voltou correndo. Ela me
alcançaria. Andando em um ritmo de lesma por causa da barriga,
deixava para desfilar quando as câmeras da imprensa focavam em
mim. Fora isso, não tinha pressa para nada.
Sozinha, não fazia tanto alarde e deve ter sido por isso que não
fui ouvida. Ao fundo, depois da escada, em um canto escuro,
encontrei Priscila discutindo com Lord Neelson. Ele a pegou firme
nos braços, sacudindo e ela chorou. Eu ia intervir, mas resolvi pegar
o telefone e enviei uma mensagem para Charlotte, pedindo que
corresse. Alertei a segurança, também.
— O que está havendo aqui? — Me fiz presente. Eles se
assustaram. — Precisa de ajuda, srta. Lancaster?
Antes que ela me respondesse, vi seus olhos se arregalarem e
senti um tranco forte na minha lateral. Perdi o equilíbrio e caí pela
escada, sentindo uma dor explosiva na cabeça antes de tudo ficar
escuro.
39 | Leonard
Sempre odiei hospitais. O cheiro de álcool e limpeza, os
corredores brancos, as enfermeiras apressadas e os médicos
passando sem dar notícias me deixavam com o estado de nervos
alterado. Eu estava sentado no corredor esperando notícias da
minha mulher. Só de pensar que podia perdê-la, não ter nossas
meninas, meu coração parecia esmagado no peito. Eu queria estar
lá. Que fosse eu naquela cama de hospital. Daria tudo para trocar
de lugar com Khloé.
Ela foi jogada da escada.
Atacada dentro da nossa casa.
Eu soube que ela alertou a segurança e imediatamente saí de
onde estava, correndo pelos corredores e a encontrei caída na
escada. Apenas Priscila estava lá e gritando por ajuda, pensei que
havia sido ela a ter empurrado minha esposa, mas não foi. Apesar
da garota fazer parte de todo o esquema, segundo as primeiras
informações que recebi, as imagens revelaram outras pessoas
envolvidas.
Tudo fez sentido e eu tentava não amargar em uma grande
raiva, mas o que minha atenção conseguia computar naquele
momento era a minha esposa dentro de uma sala médica e ninguém
me dizia como estava. Ethan sentou ao meu lado e eu quase chorei.
Doía muito. Olhei para a porta novamente, pronto para implorar e
uma enfermeira saiu às pressas, o que me deixou devastado.
Levantei e andei de um lado para o outro. Vi meus pais se
aproximarem devagar. Mamãe dava apoio para meu pai andar de
bengala na minha direção. Eles me abraçaram ao mesmo tempo e
não consegui falar nada. Apenas chorei. Estava com tanto medo de
perdê-las. Papai me agarrou de volta, jurando que tudo ficaria bem e
senti as mãos da minha mãe em mim.
— Eu a amo tanto, pai. Não posso viver sem ela.
— Sei que seu amor é o mais puro e genuíno. — Papai
segurou meu rosto. — Deus vai olhar para isso. Estou aqui para te
apoiar e te dar forças.
— Estamos aqui, meu filho. Khloé sairá dessa com as meninas,
você terá a sua família pela qual tanto lutou. — Mamãe me abraçou.
Eu estava com raiva dela, tanta raiva, que mal consegui ficar em
seus braços. — Sei que é minha culpa, me perdoe.
Não era completamente culpa dela. Foi uma vítima caindo em
uma teia de armações. Foi usada porque todos sabiam que era
louca, ambiciosa e obcecada. Se ela tivesse mais noção do que
fazia e do quanto isso poderia machucar outras pessoas, talvez toda
essa história com Priscila nunca teria força, jamais faria sentido.
— Você… você… — comecei a falar e Ethan me puxou,
contendo minha fúria com os braços. Ele disse que não era o
momento, me abraçando e me puxando para longe dos meus pais.
— Só quero Khloé. Por que estamos passando por isso? Eu só
quero voltar para a manhã em que ela estava bem, na nossa cama,
em segurança. Eu deveria tê-la impedido de descer.
— Isso não é sua culpa. — Ethan tocou meu rosto. — Nada do
que aconteceu é sua culpa.
Engoli em seco, sem acreditar nele e o empurrei, andando sem
rumo pelos corredores do hospital até que encontrei uma capela.
Charlotte estava lá dentro, ela olhava para frente e rezava baixinho.
Sentei ao seu lado e minha irmã tocou minha coxa, não dizendo
uma palavra porque sabia que eu não queria ouvir nada. Apenas
olhar para frente e implorar com todo o meu ser que elas ficassem
bem. Meu interior queimava. Era fogo puro descendo por minha
garganta, consumindo meus órgãos e me deixando sem ar.
Fiquei sentado por horas, apenas agarrado a um fio de
confiança que me mantinha de pé e esperando sem sair quebrando
tudo.
— Leonard? Os médicos querem falar com você! — Ethan
falou suavemente e saltei de pé, quase derrubando o banco. Passei
por ele correndo e derrapei antes de trombar com a dupla de azul e
toucas que estavam cuidando de Khloé.
— Nós optamos por esperar a paciente acordar para poder
observar suas reações, conversar com ela e monitorar as duas
meninas com a mãe ativa. Khloé ainda não está fora de risco, ela
pode ter um parto prematuro a qualquer momento e será preciso
mantê-la internada para que isso não aconteça antes de trinta e sete
semanas, sendo muito otimista. — O primeiro falou com firmeza.
— Temos um quadro clínico para manter. No momento, ela
está lúcida, cansada e com dor de cabeça, mas seus exames
retornaram relativamente bem. Como meu colega disse, não está
fora de risco, precisa de cuidados intensivos e muita atenção.
— E minhas filhas?
— Estão ativas, coração batendo forte, oxigenação completa e
a bolsa não foi rompida, nem há sangramentos, mas o estado pode
ser temporário. Não podemos ignorar que existem chances do
quadro piorar. — Ele olhou em meus olhos. — Você poderá vê-la
agora.
Exalei e entrei no quarto, quase caindo de alívio. Khloé estava
pálida, com a mão na barriga e mesmo na cama, ela sorriu. Seus
olhos brilharam ao me ver e me aproximei, segurando sua mão e
beijando. Toquei a ondulação que as meninas causavam ali e
agradeci.
— Ei, amor. Não precisa chorar — ela falou baixinho. — Nós
três vamos ficar bem.
— Eu sei, já estão bem, vamos sair dessa juntos — prometi,
secando meu rosto e beijando a testa. — Fiquei assustado e com
medo, mas só de te ver aqui acordada e falando comigo, enche meu
coração de alívio. Eu te amo tanto, Khloé.
— Eu também te amo. — Ela passou a mão no meu queixo. —
A Duquesa de Lancaster me empurrou da escada. O que ela
queria? Por que Priscila estava com Lord Neelson?
— Depois, amor. Ela foi pega e está presa. Todos estão. —
Acariciei suas mãos. — Só se preocupe em se cuidar. Tudo que
vamos focar é na sua recuperação e em manter as meninas aí até o
momento certo. Elas vão nascer com saúde. Tudo vai ficar bem —
prometi e ela assentiu, cansada, fechando os olhos.
A enfermeira disse que estava tudo bem dormir um pouco,
reduzindo as luzes e eu observei as máquinas. Khloé estava ligada
a muitas, que apitavam, faziam um barulho informando que ela
estava viva. Não saí do lado dela por nada. Meus pais entraram
rapidamente e disseram que cuidariam de tudo, afinal, eu ainda era
chefe de Estado e tinha pouco tempo de folga, mas enquanto
pudesse, cumpriria a minha promessa de não sair do lado da minha
mulher.
Eu disse que jamais soltaria a mão dela.
Charlotte ficou comigo o tempo todo. Ela cuidou de tudo. Minha
irmãzinha que aprontava muito e parecia ter uma cabeça de vento
era a pessoa mais empática que conhecia. Sua capacidade de
compreender a dor do outro me deixava ainda mais encantado e
orgulhoso de ser seu irmão. Ela dormiu com Khloé nas noites que
não pude, trouxe roupas, trabalhou ao meu lado e me manteve de
pé.
Khloé era amada pela minha família, porque até meus avós e
tios compareceram para vê-la internada. Cat e Louis ligavam
sempre. Cat não podia viajar mais por conta da gravidez e Louis não
queria colocá-la em risco. O apoio deles era importante.
Quando foi transferida da UTI para um quarto, senti que podia
respirar melhor. Ela estava irritada em não poder ir para casa, nem
mesmo sair da cama. Sendo ativa e independente, estar em um leito
hospitalar era a sua maior tortura. Cada dia, um novo choro e
lágrimas que partiam meu coração.
— Pelo menos daqui eu posso ver o jardim. — Fez um
pequeno beicinho.
— E tem novos livros. — Apontei para a pilha de novas
histórias que escolhi pessoalmente para distraí-la. — Sei que ama
ler. Não comece a ficar ranzinza.
— Vou me tornar uma bibliotecária se continuar lendo tanto —
resmungou, cruzando os braços e suprimi a risada. — Quando
vamos falar sobre o que aconteceu comigo? Acho que estar nesse
quarto significa que a minha saúde melhorou o suficiente para
falarmos disso.
— Será? Não quero que sua pressão aumente.
— Olha, Leonard. Não me faça jogar esse livro na sua cabeça!
— Ela fingiu pegar o mais pesado. — Soube que não foi bonito.
Charlotte desligava a televisão o tempo todo. Me diz o nível de
escândalo?
— Pense em algo muito alto e coloque a linha do seu nível lá,
linda. Foi a porra de um caos, ainda está sendo um pouco, mas não
como antes. — Puxei uma cadeira e sentei ao lado da cama. —
Lord Neelson era quem estava por trás de tudo. A bomba, manter
funcionários infiltrados dentro do palácio, a invasão e até mesmo
Priscila. No entanto, ele esperava que ela conseguisse se casar
comigo para ter uma informante dentro da vida íntima da família.
— Caramba! Tudo para derrubar a monarquia?
— Começar a envenenar o país contra nós e, talvez, em alguns
anos, nos deixar fracos o suficiente para sermos destituídos por um
novo tipo de poder. Ele não confessou, mas acredito que seria o
principal interessado nessa corrida.
— Como a Duquesa de Lancaster se envolveu nisso tudo?
Eles apoiavam a onda democrática?
— Ela sim, o marido não, ele passava a maior parte dos dias
bêbado. Priscila estava naquilo pelo dinheiro e joias, queria ganhar
fama e ter engajamento, não pareceu em seu depoimento que tinha
noção do que estava fazendo.
Khloé ficou em silêncio.
— A mulher tentou me matar. — A tristeza em seu tom de voz
quase me fez chorar. — Me aproximei para socorrer a filha dela, que
estava sendo sacudida e agarrada à força por aquele homem
odioso. Ela me empurrou da escada.
— Eu sinto muito, Khloé.
— Não sinta, não é sua ou minha culpa. Não temos nada a ver
com esse tipo de gente, que passaram todo esse tempo nos ferindo
e nunca passou pela nossa cabeça agir de modo tão vil. — Ela
balançou os dedos, para que eu segurasse sua mão. — Como será
agora? Eles vão ser julgados?
— Sim, julgados e condenados. Atentaram contra nossa vida e
vão pagar por isso.
— E Rainland está reagindo a isso de que maneira?
— Alguns que apoiavam a onda democrática voltaram atrás,
outros seguem dizendo que esses atos não os representam e o
consenso é que todos devem rezar pela sua recuperação.
Politicamente, não abalou a nossa popularidade.
— Tudo vai ficar bem. — Ela suspirou, recostando na cama, já
cansada da conversa. — Minha cabeça dói um pouco. Acho que é
muito para assimilar.
— Eu sei.
— Lord Neelson te odeia desde a escola.
Mordi meu lábio, pensativo.
— Sim. Odeia porque em algum momento, que nenhum dos
meus amigos conseguem lembrar, ele tentou se aproximar. Não foi
por mal, Khloé. Apenas nos unimos porque nenhum de nós estava
bem, todos feridos e jogados em uma escola para crescer. —
Esfreguei minha nuca, ainda incomodado por não me lembrar dele.
— Não éramos cruéis. Não prendemos ninguém em armários ou
jogamos na lixeira, nós apenas…
— Viviam juntos em silêncio. Eu entendo crescer com raiva da
rejeição, no meu caso, ainda teve o bullying, mas eu nunca quis ferir
ou perseguir qualquer um que tenha me ferido. — Ela franziu o
cenho e depois abriu um sorrisinho. — Claro que fico super feliz ao
pensar que eles devem se rasgar quando me veem na televisão,
primeiro como a modelo mais bem paga do mundo e depois, como
princesa de um país lindo. Mas isso é o máximo que eu posso ir.
— E não te faz uma pessoa ruim.
— Sinto muito por toda essa dor. Você passou por isso sozinho
enquanto estou aqui nessa cama. Imagino que não deve ter sido
fácil.
— Eu tive ajuda. Estar sem você foi ruim, mas não por isso,
apenas porque qualquer minuto longe já é uma completa tortura.
Khloé inclinou a cabeça para o lado e, de repente, colocou a
mão na testa.
— Oh, não! Que dor terrível! — Pulei da cadeira, quase
virando-a no chão. Ela riu e me fez parar no meio do susto. — Eu
acho que preciso do beijo do meu marido para me curar.
— Você quer me matar?
— Apenas quero um beijo do meu amor — cantarolou com um
sorrisinho maroto.
Khloé era tão linda que era impossível ficar irritado.
— Todos os meus beijos serão sempre seus. — Inclinei-me na
cama e beijei os lábios macios.
Ela estava viva, bem e nós teríamos o nosso felizes para
sempre.
40 | Khloé
— Escolha uma carta — Kim pediu, segurando o baralho. —
Eu vou te dizer qual escolheu sem olhar — garantiu. Kourt, que
estava dobrando as roupinhas das minhas meninas, tentou espiar
pelo ombro dela e riu.
— Desde quando está tentando fazer mágica?
— Desde agora, anda. Escolhe! — Ela estalou a língua.
— Alguém já te disse que é muito impaciente? — Puxei uma e
escondi. — Se vira para descobrir qual é agora.
Kim ficou confusa quando falou que era uma e eu revelei outra,
quis começar o truque do zero, lendo as instruções. Sorri para seu
embaraço e irritação. Ela odiava perder. Kourt tentou ajudá-la e
começaram uma pequena discussão, que mamãe encerrou logo que
entrou no quarto com um copo de suco para mim. Finalmente tive
alta, minhas filhas ainda estavam na barriga e pude passar os
últimos dias com minha família.
Estava com trinta e oito semanas, de repouso, aguardando o
momento em que minhas pequenas gostariam de nascer. Fiz
questão de estar com eles, porque não puderam passar muito
tempo no hospital e sofreram longe de mim. Os protocolos de
segurança não puderam ser quebrados porque foi uma tentativa de
assassinato. Não havia nenhuma outra desculpa que ela pudesse
dar para dizer que não tentou me matar.
Ser empurrada da escada em uma condição normal poderia
me machucar seriamente, mas grávida, pela graça divina não foi
letal e minhas filhas estavam bem. Tivemos vários dias de
preocupação, sentia tanta dor que não aguentava respirar e chorava
de medo. Tentei ser forte e em outros momentos só quis deitar com
Leonard, porque não havia nada além dos braços dele para me
trazer conforto.
— Sua bolsa maternidade está pronta — Kourt anunciou com
alegria.
— Você fez isso tão rápido! Charlotte e eu lemos a lista trinta
vezes e nos atrapalhamos em todas elas. — Sorri e olhei para
minha cunhada no canto da sala, sentada no chão com meus
sobrinhos e Moana. A cadela estava de barriga para cima e os
meninos faziam carinho. — Eles vão adorar ter um cachorro.
— Só se eu puder colocar uma coleira neles, também — Kourt
murmurou com um sorrisinho. — Deixe-me conversar com minhas
meninas. — Sentou na ponta e se inclinou. — Façam muita bagunça
porque eu não posso ser a única mãe louca nessa família.
— Eu acho que serei uma mãe bem doida. — Arrastei minha
mão pela ondulação que Gail fazia. — Minha barriga não parece
grande o suficiente com essas duas aqui. Elas chutam e vejo
estrelas. Acho que não serão muito quietas.
— Confesso que já vi grávidas bem maiores e sua barriga ficou
menor do que a minha com um só, essa merda é bem injusta.
— Você ficou com a barriga enorme porque engordou quase
trinta quilos. — Kim adicionou atrás de nós e soltei uma gargalhada
com a expressão ofendida de Kourt. — Não teve nada a ver com o
tamanho do bebê.
— Alguém já te disse que é uma vaca?
— Senhoras? — mamãe chamou a atenção de novo. —
Estamos com algum problema hoje?
— Nenhum, mãe. — Falamos juntas.
Leonard se aproximou com um sorriso. Ele adorava ver Kim
sendo castigada. Sentou ao meu lado e imediatamente me refugiei
em seus braços. Ganhei beijos e muito carinho, tudo que precisava.
Meu pai parecia em uma conversa incrível com meu sogro. Ethan e
Victória jogavam xadrez, um movimento civilizado onde ela estava
tentando. Nós não nos falávamos, mas decidimos ficar perto uma da
outra, em paz, para o bem da família.
Eu não tinha grandes ressentimentos com ela, porque quando
inventou a história toda da Priscila, não sabia da minha existência.
Quando fomos apresentadas, seu doce jeito de ser não me
conquistou, muito pelo contrário. Soubemos que o retorno de
Priscila ao palácio se deu por uma pequena chantagem que Victória
cedeu, por medo de uma nova história explodir e Leonard acreditar
que ela ainda estava tentando juntá-los.
Prometeu à família Lancaster que encontraria um marido bem-
conceituado para Priscila e assim, eles puderam estar ali com a
entrada garantida para executar mais um dos planos baixos.
Fizeram parecer que Leonard e ela estavam em um caso,
queimando a imagem dele como chefe de Estado, não sendo mais o
príncipe herdeiro em quem todos confiavam pela índole. Enquanto
isso, Lord Neelson continuaria causando estragos na opinião pública
sobre nós.
Eu não diria que Victória mudou. Ninguém muda se não
acreditar no erro. Ela aceitou que o casamento era mais importante
do que as brigas, que ficar perto dos filhos e dos netos valia mais a
pena, mas nós duas dávamos choques por qualquer motivo.
Trabalhar junto a ela era um pesadelo. No entanto, nunca afastaria
Leonard da família e com moderação, poderíamos conviver.
Nós nos reunimos na sala de jantar, espalhados com comida e
conversa boa. Leonard me colocou em um sofá confortável.
Charlotte montou meu prato com um pouco de tudo.
— Está tudo bem? — ela questionou ao me ver pressionar a
barriga.
— Aquelas contrações chatinhas. — Suspirei e furei um
pedaço de batata com meu garfo.
— Essa parte da gravidez me assusta.
— Pensa em ter filhos? — Kim arregalou os olhos. Minha irmã
era do tipo livre, ela não pensava em crianças ou casamento, estava
vivendo a vida tranquilamente, sem se importar com a pressão da
sociedade de que deveria viver um romance. Seria bem-vindo se
acontecesse.
— Por que, não? — Charlotte ficou ultrajada. — Serei uma boa
mãe!
— Você vai fazer pegadinhas com suas crianças, também?
— Claro. Eles serão do meu time e vamos nos unir contra o pai
deles. — Minha cunhada abriu um sorrisão, me fazendo gargalhar
ao imaginar um time de pequenos perseguindo Ethan com as artes
que a mãe inventaria.
Rir causou uma pressão na minha barriga e eu imediatamente
senti algo molhar tudo. Toquei entre minhas pernas e fiz uma careta,
alardeando todo mundo que a bolsa havia rompido. Leonard ficou
pálido inicialmente, mas depois que olhou bem nos meus olhos e viu
que estava bem, se acalmou e tomou o controle da situação. Nós
fomos para o hospital e os médicos nos acolheram com a calmaria
que pedi.
Minha vida foi muito agitada nos últimos meses, eu só queria
parir com tranquilidade. Fui preparada e na sala de parto, estava
com meu marido e minha mãe. Eles ficaram ao meu lado o tempo
todo.
Leonard segurou minha mão.
— Você está pronto, amor? — Olhei para seu rosto
emocionado. — Não comece a chorar antes de mim.
— Caramba, elas vão nascer! Estou pronto, você está?
— Vamos trazer essas meninas para nossos braços.
Ele me beijou, encostou a testa na minha e compartilhamos
uma oração.
Gail foi a primeira a nascer. Ela chorou alto e forte, movendo as
pernas da mesma maneira que sentia na minha barriga. Quase
derreti no lugar ao vê-la com um beicinho consternado. Leonard foi
o primeiro a segurá-la depois do médico, ele me mostrou e registrou
o nascimento da futura rainha de Rainland. Cinco minutos depois,
minha princesa Zara nasceu. Ela saiu mais tranquila, chorosa, meio
emburrada, mas não foi como a irmã.
Quando a tempestade do parto acabou, horas depois, pude
estar com minhas meninas nos braços. Elas mamaram e dormiram.
Foi mágico fazê-las dormir e mais incrível ainda, poder observá-las
por horas sem ter que devolvê-las para ninguém.
— Elas são tão iguais — Leonard brincou. — O dia que
quiserem brincar de trocar de lugar, teremos que ser muito bons.
— Elas vão ter diferenças. Do contrário, vamos marcá-las com
canetinhas — brinquei baixinho.
— São perfeitas.
— Percebeu que Gail foi a única gritando para trocar de roupa?
Ela será barulhenta e opinativa. Zara ficou quieta, acho que não
entendeu muito o que estava acontecendo.
— Por que eu mereci outra Charlotte com uma mistura de Kim?
— ele resmungou, me fazendo rir. Gail parecia ser como nossas
irmãs. Zara era mais sobre Leonard e eu, tranquilos, observadores.
— Veja bem, Charlotte e Ethan podem ter uma pequena versão
da Daphne.
— Deus me livre. — Ele bufou, não contive a risada de novo.
— Não quero soltá-las nunca mais.
Leonard beijou minha cabeça e eu olhei para seu rosto,
apaixonada.
— Não precisamos, elas são nossas. Você foi tão forte e tão
corajosa nas últimas semanas, demonstrou força, fé e carinho a
cada momento, não pestanejando mesmo nos dias ruins. — Ele
segurou meu rosto. — Tenho muito orgulho de você, amor. Meu
coração é só felicidade desde que te encontrei, fui presenteado com
um amor e filhas. Sou um homem infinitamente melhor com você.
Obrigado por me transformar em um marido e um pai.
— O melhor marido e o melhor pai. Não teria forças sem seu
apoio. Eu te amo. — Beijei-o, lembrando da primeira vez que nos
beijamos na cabana. Quanta coisa havia acontecido até ali? Parecia
um filme e tivemos o nosso final feliz. — Somos uma família, agora.
Nossa família foi autorizada a entrar para conhecer as meninas
que, por segurança, sequer passaram muito tempo na enfermaria.
Elas precisavam de alguns cuidados, como passar a noite na
incubadora para observação, mas ambas respiravam bem e tiveram
um excelente APGAR. Todo cuidado era por precaução.
Ver meus pais segurando minhas filhas me fez chorar. Leonard
e eu observamos David chorar ao pegar as netas e até pensei que
Victória seria indiferente, mas pela primeira vez, descobrimos quem
de fato tocou seu coração. As meninas. Ela se derreteu
completamente. Vi em seus olhos uma paixão que nunca percebi
em nada.
— Acho que minha mãe encontrou os amores da vida dela.
— Essas meninas serão tão mimadas — Ethan brincou ao meu
lado.
— Eu serei a primeira a ensinar como fugir da vovó. Olha só
pra ela, não consegue nem deixar Kourt segurar Gail em paz —
Charlotte brincou. Eu queria que minhas filhas fossem amadas e
aceitas, me doeria se sofressem rejeição da avó porque ela não
aceitava meu casamento. — Sim, elas serão muito mimadas. Ainda
bem que moramos a maior parte do tempo em Londres porque
senão, nossos filhos não teriam um pingo de educação. Entre nós
dois sem maturidade para crianças e meus pais, eles seriam
intragáveis.
— Minha mãe é severa. Qualquer coisa, chamamos Daphne.
Ela vai educar nossos filhos. — Ethan deu de ombros, nos fazendo
rir. Eles queriam começar a tentar, mas ainda pareciam gostar da
vida a dois sem mais preocupações.
Dois dias depois pudemos levá-las para casa. Minha barriga
ainda era de grávida, mas eu conseguia andar tranquilamente.
Exceto pelos seios doloridos, os mamilos pegando fogo, uma
vontade de chorar a cada minuto e o medo de não conseguir
desvendar cada choro delas, eu estava indo bem. Leonard ficava de
madrugada para que eu pudesse dormir. Apesar da ajuda de uma
enfermeira, nós dois não conseguíamos ficar despreocupados, nem
mesmo para tomar banho.
Leonard entrou no quarto de fininho, mas eu estava acordada.
— Elas dormiram de novo?
— Zara mamou praticamente dormindo. A menina é um anjo.
Já Gail ficou com os grandes olhos focados em mim, meio
julgadores porque me atrapalhei e demorei a colocar o bico na boca
dela. — Ele riu. Gail era muito escandalosa. — Espero que ela se
acalme antes de ter uma coroa na cabeça, ou vai incendiar o país.
— Ela vai crescer e ter maturidade.
— Sério? Você acha mesmo? Não tivemos muito sucesso com
minha irmã. — Ele me fez rir e cobri a boca para não acordá-las. —
Quem diria que bebês seriam a causa da minha ruína? Estou
exausto.
— Eu sei. Vem dormir. — Bati ao meu lado, nós nos
aconchegamos debaixo das cobertas e eu queria dizer que tinha
espírito para dar-lhe um beijo, mas significava sair da posição
perfeita que havia encontrado para pegar no sono. Mas nós sequer
ficamos ali muito tempo.
Gail chorou e daquela vez, parecia estar morrendo. Em todas
as vezes, meu desespero me fazia acreditar que ela podia engasgar
com as próprias lágrimas. Saímos correndo e nos dividimos, eu com
ela no seio e ele acalmando Zara, que acordou assustada com o
choro da irmã. Quase uma hora depois, elas estavam calmas
novamente, trocadas, alimentadas e, finalmente, dormindo.
Leonard me abraçou.
— Ainda fico me perguntando se elas são reais. São tão lindas
e perfeitas...
— Sabe que você vai precisar deixar de ser babão, um dia elas
vão crescer, namorar…
— Bla bla bla — ele resmungou. — Minhas filhas sempre
poderão contar comigo, com meu colo e com meus punhos para
socar qualquer um que as magoar.
Eu não esperava nada menos do que a devoção completa dele
como pai.
Epílogo | Khloé.
Um ano e alguns meses depois.
Gail agarrou uma pequena flor que estava no chão do jardim
e esticou o braço gordinho para a avó, Victória. Minha sogra sorriu,
fazendo um charme de que estava encantada e aceitou. Zara estava
no colo do avô, apontando para os pássaros que voavam em
conjunto, de uma árvore a outra. Uma adorava andar e ser
independente, a outra amava ser carregada e mimada. Elas eram o
centro das nossas vidas e exigiam muita atenção.
Virei meu rosto e observei Ethan sentado com Moana,
brincando com alguns galhos e ainda mais longe, Leonard andar
abraçado com Charlotte. Ela chorava e meu coração doeu pela
maneira que minha cunhada estava sofrendo. Ela não queria abrir,
por ser teimosa, mas Leonard simplesmente soube o que havia de
errado com a irmã pela ligação maluca que eles tinham.
— Você vem conosco, mamãe? — Victória me chamou e
levantei, pegando a outra mãozinha de Gail e fomos andando
devagar.
Minhas filhas trouxeram a união que a família inteira precisava.
Meus pais decidiram se aposentar e tinham mais tempo para estar
em Rainland comigo e com Kim. Kourt estava feliz em Nova Iorque
e não pretendia se mudar, só não insistia que meus pais viessem
morar perto para que ela não ficasse sozinha na cidade. Ela
também precisava deles, eu tinha uma rede de apoio enorme.
Kim estava exultante com o sucesso dos empreendimentos.
Ela abriu mais um restaurante com o investimento de Alicia. Eu
ainda me perguntava como duas forças da natureza conseguiam
trabalhar juntas, mas a parceria dava muito certo. Ford era o ponto
de equilíbrio e eu acreditava que o irmão dele, que passou a ficar
muito tempo em Rainland, tinha a ver com o sorriso de orelha a
orelha que minha irmãzinha de cabelos coloridos ostentava.
Ela não era do tipo de dar rótulos a um relacionamento. Eles
deveriam estar transando e sendo felizes sem preocupações.
Aquela fase havia passado para mim. O casamento era uma
montanha-russa de emoções, problemas e filhos eram uma adição
incrível aos choques do dia a dia. Leonard e eu tínhamos tantas
coisas a fazer com o trabalho, elas tomavam nosso tempo e houve
um período que ficamos meio esquisitos um com o outro. Não durou
muito tempo. A força que nos uniu inesperadamente, deu um
jeitinho de nos ligar de novo e prometemos nunca mais permitir que
a rotina nos afastasse.
— Você vai ficar bem com a vovó? Vai? — Beijei a bochecha
de Gail.
— Elas vão ficar bem, pode ir tranquila — Victória garantiu.
Em alguns finais de semana, as meninas ficavam com os avós.
David e Victória simplesmente não nos chamavam para nada.
Passavam o dia ou ficavam para dormir. Era a folga maravilhosa em
que Leonard e eu conseguíamos simplesmente colocar as malas no
carro e fugir. Coloquei todas as melhores peças para enlouquecer
meu homem na mala.
— Está pronta, linda? — ele chamou da sala. — Grey e eu já
terminamos.
— Pode vir buscar as coisas.
A primeira vez que saímos, eu chorei o caminho inteiro por
estar longe delas e voltamos no dia seguinte pela manhã. Não
aguentei ficar longe das meninas e nem ele, depois, fomos testando
aos poucos e até fizemos viagens a trabalho sem elas, o que ajudou
a lidar com a distância. Tudo entre nós aconteceu tão rápido que eu
demorei a voltar a me sentir mulher, não somente mãe.
Esperei que ele se distraísse guardando as roupas, para tirar
da minha mala o que iria vestir para atentá-lo. Na frente do espelho,
ajeitei o sutiã rosa escuro e amarrei as tiras da calcinha, me
envolvendo no roupão de cetim curtinho. Prendi o cabelo no alto,
tirei toda maquiagem e desci antes dele. Separei os vinhos, queijos
e coloquei música.
Por coincidência, Leonard entrou quando tocou a mesma
música que tocou no nosso casamento. Ele riu e imediatamente me
pegou em seus braços.
— Acho que isso é um sinal. — Coloquei minhas mãos em
seus ombros.
— De que devo beijá-la muito?
— Também, óbvio. Acredito que fará isso quando descobrir o
que tenho por baixo.
Ele riu e, antes de espiar, me beijou de supetão.
— Eu vou te beijar independentemente do que está vestindo
para tirar meu pouco juízo. — Rodamos lentamente na cozinha e ele
me parou próximo ao balcão. — Sinal do quê? Casar novamente?
Renovar os votos? Ter mais filhos?
— Ter mais filhos? — Arregalei os olhos. Ele havia batido com
a cabeça? Gail valia por dez crianças. — Sério mesmo?
— Eu acho que gostaria de ter mais.
— Imediatamente ou vai me dar um tempo para assimilar
isso?
— Tem todo o tempo do mundo, se não quiser, tudo bem. Sou
feliz com as meninas.
— Então quer dizer que o discurso de nunca mais vamos
passar por isso passou e agora foi picado pela febre do bebê de
novo?
— Nós fizemos crianças lindas. Não podemos proibir o mundo
desse dom — ele brincou e me colocou sentada no balcão. —
Temos bastante tempo para pensar nisso e ensaiar. Acho que
deveríamos começar agora.
Apoiei meus pés nos banquinhos à minha frente, inclinando-me
para trás e puxei o laço do roupão. Leonard desceu o olhar
lentamente pelo meu corpo, lambendo os lábios e me devorando
com os olhos. Ele beijou meu ombro, terminando de empurrar o
roupão para fora do seu caminho e foi arrastando os lábios para os
meus seios, no modo turbinados de amamentação, sustentados por
um sutiã lindo.
Ele beijou abaixo do meu umbigo antes de puxar o lacinho da
calcinha, com a ponta da língua me causando arrepios. Passando o
braço por trás da minha cintura, me puxou para si e me pegou no
colo, levando-nos para a sala. Nos beijamos ao cair no sofá.
— Você quer isso lento para começarmos o dia ou um pouco
mais brusco?
— Estamos atendendo a pedidos hoje? Muito bem… — Fingi
pensar, batendo o dedo no queixo. — Quero que meu sexy marido
me chupe e depois, me foda. Depois… ele vai ficar à minha mercê o
dia inteiro.
— Gosto da ideia de ser seu escravo de prazer. — Ele sorriu e
me deu um beijo molhado, gostoso e provocante. Fiquei arrepiada.
Jesus, o homem me tinha nas mãos. Soltei um gemido, querendo
mais. Leonard provocou meu corpo com beijos intensos, pequenas
chupadas e mordidas antes de parar entre minhas pernas,
brincando com o indicador no meu clitóris. Ah! Sim! — Eu te amo,
gostosa.
Segurei seu cabelo, jogando minha cabeça para trás,
pensando que aquela era uma boa maneira de começar nosso fim
de semana.
Leonard e eu crescemos muito ao longo do ano. Nosso
relacionamento meteórico me ensinou a ser uma mulher mais forte.
Eu me tornei alguém que tinha voz e podia inspirar e mudar outras
vidas. Consegui enxergar minha força, encontrei a segurança que
nunca tive, fui aceita e acolhida. Todos os dias, recebia mensagens
e perguntas sobre como uma garota que nasceu no interior da
Inglaterra, foi parar em Nova Iorque, se tornou modelo e de repente,
uma princesa.
Como casar com o seu príncipe? Pois bem, acredite no amor e
em si mesma. Corra atrás dos seus sonhos, se permita viver
aventuras, se jogue em novas oportunidades e se liberte dos
padrões que nos são impostos desde que nascemos. Mulheres
nascem cobradas e julgadas, mas nós temos força, inteligência e
sagacidade para mudar nosso destino.
Eu não trocava nada do meu passado, porque tinha orgulho da
minha trajetória.
Epílogo | Leonard
Três anos depois.
Saí de uma reunião e ouvi o barulho da festa no salão de baile.
Era aniversário das minhas meninas e elas mereciam a
comemoração mais bonita do mundo. Minhas princesas estavam
correndo com amiguinhos, filhos dos meus amigos, que sentaram
juntos em um grande grupo em uma área mais reservada.
Acenei para Apolo, de pé, olhando Atlas em um brinquedo e
avisei que logo me juntaria a eles. Era um prazer ter todos ali, com
esposas e filhos. Eles eram uma parte muito importante da minha
vida e compartilhar a comemoração do aniversário das minhas filhas
era incrível. Quem diria que estaríamos juntos e com uma amizade
sólida ao longo de tantos anos?
E melhor ainda: casados e com famílias adoráveis. Olhando
para o passado e a maneira em que nos conhecemos, o que o
futuro nos reservou, nos altos e baixos, era muito melhor do que
ousamos imaginar. Abdar, Kaled, Eduardo, Ricco, Rodrick, Apolo e
Vicenzzo me ajudaram a me tornar um homem, foram meus amigos
em todos os momentos e suas histórias me prepararam para viver a
minha. E então, Khloé chegou e caramba… mal lembrava de quem
eu era antes dela. A mulher era minha paixão ardente.
Pensando nela, procurei-a pela festa, mas não a encontrei.
— Papai! Olha os balões! Você está vendo? — Gail agarrou
minha mão e apertou. — São todos meus e da minha irmã!
— São os mais bonitos! Vocês gostaram?
— Nós amamos!
— E cadê a mamãe? — Ajoelhei à sua frente. Zara estava
alegremente sentada no colo do meu pai, comendo bolinhos de
queijo com o guardanapo como babador. Gail olhou pela festa e
sorriu.
— Ela deve ter ido vomitar de novo. — Revirou os olhos, de um
jeito teatral que me fez rir, mas a informação fez sentido na minha
mente e fiquei preocupado. — É o bebê. Segredo. Xiiii. — Minha
filha colocou o indicador na boca e assoprou com um pouco de baba
junto.
É o bebê? O que ela estava falando? Gail saiu correndo para
brincar e Khloé voltou com um sorriso, dizendo que foi verificar o
buffet com a nossa governanta. Ela parecia bem. Me deu um beijo e
sua boca tinha gosto de menta, mas havia balas nas mesas e ela
poderia ter chupado uma. Deixei o pensamento de lado para dar
atenção aos convidados e às meninas.
Nós nunca fizemos uma festa tão grande, não era nosso
costume comemorar aniversários chamando tanta atenção da mídia,
mas elas estavam na escola, com amiguinhos que tinham
comemorações estrondosas e pediram por uma. Khloé e eu
estudamos a possibilidade de preparar tudo sem causar problemas
ao governo, tentando realizar o sonho das meninas e mantendo o
equilíbrio com nossas funções.
Alicia resolveu a questão dando a festa de presente. Ela era
muito babona com minhas filhas, não só ela como toda minha
família. Foi mágico e eu pude brincar com as duas, correr pelo pátio,
ir em brinquedos e ganhar as melhores risadas. Elas estavam
felizes e não havia nada melhor para o coração de um pai. Khloé
exalava felicidade, seus olhos chegavam a brilhar.
Minha mulher era uma mãe exemplar e me inspirava todos os
dias com a dedicação à Rainland como princesa. Sua voz era ativa
nas causas que acreditávamos, entregue ao trabalho e
transformando vidas como sempre sonhou. Sua força e coragem de
enfrentar o que era preciso pelos nossos ideais era meu
combustível diário. Eu nunca mais senti o peso da coroa me
afundando na vida porque ela chegou e trouxe equilíbrio.
Aprendi a ser mais do que um príncipe. Eu era marido e pai.
Todos os meus papeis coexistiam de maneira saudável porque
Khloé era sábia o suficiente para nos manter unidos e em paz. Ela
tinha um coração bom o suficiente para perdoar minha mãe
enquanto eu levei anos para engolir tudo que havia acontecido.
Madura para conviver com pessoas que nos atacavam na internet e
eram convidados do palácio em eventos. Sua classe e sabedoria
eram elogiados, conhecida como a princesa amada, ela deixou de
ganhar o ódio coletivo quando perceberam a mulher incrível que
era.
— Por que passou a maior parte da festa me olhando como um
bobo? — ela questionou ao tirar as sandálias. Nossas filhas
dormiam no sofá, de camiseta, calcinha e meia. Apagaram
esgotadas depois do banho e do chororô por doces.
Khloé e eu só permitíamos um pouco e em dias especiais.
— Talvez porque eu sou um bobo apaixonado.
— Foi memorável. Nunca poderei agradecer a Alicia por essa
festa! Ela fez tudo do melhor!
— Essa é a minha tia. — Sentei ao seu lado e peguei seus pés,
para massagear. — Tem alguma coisa para me contar?
— O que quer dizer? — Pegou uma almofada e deitou. —
Estou exausta. As festinhas delas normalmente não me dão tanto
trabalho.
— Khloé…
Ela parou de falar e fez um beicinho. Bufando, contrariada, saiu
do lugar e foi até nosso quarto, voltou em seguida segurando um
saquinho e me entregou. Não demorei a perceber que era um teste
de gravidez, meu sorriso cresceu antes mesmo de ver que havia
dado positivo. Olhei para seu rosto, não comentando nada e ri,
ficando emocionado ao mesmo tempo.
— Você me mata sendo um bobão!
— Vem aqui, vem aqui, para de rir! — Puxei-a para os meus
braços. — Estamos grávidos?
— Eu estava me preparando para dizer que deveríamos tentar
de novo. Já tem um tempo que quero, desde que Peter nasceu,
fiquei com essa coisa de ter mais um, mas a vida estava muito
corrida. Esperei o tempo passar e a vontade não passava — ela
comentou, segurando o teste. — Eu desmaiei na academia e
percebi outros sintomas, como o enjoo que não tive na gravidez das
meninas. Bem mais forte. Qualquer coisa está fazendo meu
estômago revirar.
Peter era o bebê fofo da minha irmã. Ele aprenderia a
perseguir as primas e pregar peças antes mesmo de andar.
— Quando descobriu?
— Tem uma semana. Queria comprar um sapatinho e fazer a
surpresa que não pude na primeira vez. Foi tudo tão corrido e
intenso com elas, que quis algo diferente. Como desconfiou?
— Gail. Achou que ela guardaria segredo?
— Fofoqueira como a Kim, puta merda — Khloé xingou
baixinho. — Está feliz?
— Estou exultante! Foi por isso que quis parar o remédio?
— Fiquei com medo de não conseguir engravidar no tempo que
queríamos, de ter protelado demais, não sei, bateu muita paranoia e
no fim, nem precisamos tentar de novo. Acho que não somos
confiáveis só na camisinha.
A primeira vez foi culpa da camisinha velha que deveria estar
furada. A segunda… algum descuido para colocar ou nas vezes em
que simplesmente esquecemos. Era difícil saber naquele momento.
— Farei vasectomia. Três é um número muito bom. — Acariciei
suas coxas.
— Isso se for um só. — Soltou uma risadinha insolente.
Fechei meus olhos, pensando que o raio não ia cair no mesmo
lugar. Três parecia um número ótimo para mim. Khloé me abraçou
ao perceber que a ideia de ter gêmeos novamente me perturbava
um pouco e ficou rindo. Ela estava se divertindo, enquanto eu não,
mas foi a única a quase desmaiar no médico da primeira vez.
Ter filhos em dose dupla era incrível. As meninas nasceram no
começo da primavera, tivemos um inverno com medo de um parto
muito prematuro, mas felizmente, resistiram firmes na barriga. Khloé
ficou de cama, internada devido ao ataque, recuperando os
ferimentos e tendo paciência. Daquela vez, seria diferente. Teríamos
paz.
No passado, tive medo que a minha vida pudesse fazê-la
infeliz. Khloé era livre e independente, ao se casar comigo, teve que
mudar toda a vida. Eu achei que estaríamos destinados a uma
prisão, que no futuro, seríamos infelizes com as escolhas que
tomamos. Ao invés disso, ela me mostrou que podíamos bater asas
e voar mesmo sendo membros de uma família real tradicional. Ela
me libertou dos medos e soltou as amarras que coloquei nos meus
pulsos por ser um príncipe.
Seu espírito amoroso me levantou e eu me tornei um homem
inteiro, não apenas a sombra do que deveria ser. Uma vez minha
avó me disse que um homem como eu só poderia ter ao lado uma
mulher que fosse forte. Eu pensei que era pressão demais para
colocar nos ombros de alguém que não havia nascido no meio.
Khloé e eu encontramos um ponto de equilíbrio e o lugar perfeito
para vivermos nossa história, junto a nossas filhas.
E com mais um a caminho.

FIM
SOBRE A AUTORA:

Mari Cardoso nasceu no início da década de noventa, na


região dos lagos do Rio de Janeiro. Incentivada pela mãe, que
lia histórias bíblicas e entre outras, sempre teve aguçado o
amor pelos livros.
Em 2008, passou a se aventurar no mundo das fanfics da
Saga Crepúsculo até que, anos mais tarde, resolveu começar
escrever originais. Em 2019, iniciou a carreira como autora
profissional e hoje tem duas séries em destaque: Elite de Nova
Iorque e Poder e Honra, dezessete livros publicados e algumas
milhares de leituras acumuladas.
Tornou-se autora best seller no ano de 2020 com o
romance Perigoso Amor – Poder & Honra.

Ela possui
Suas redes sociais:
www.instagram.com/autoramaricardoso
www.twitter.com/eumariautora
www.mcmaricardoso.com.br
Grupo do Facebook.
AGRADECIMENTOS

Este trabalho não seria possível com a incomparável ajuda


profissional da revisora Dani Smith, da betagem sensível da Paula
Guizi. Agradeço imensamente o apoio dessas mulheres no período
de construção da história. Não poderia deixar de fora a torcida das
minhas leitoras nos grupos de contato e o carinho excepcional (e
paciência) da minha amada mãe nos dias de muito trabalho.
Gratidão eterna.

[1]
Charlotte e Ethan são protagonistas do livro O PRÍNCIPE QUE EU AMO.
[2]
Cat e Louis são protagonistas do livro O BEIJO DO PRÍNCIPE.
[3]
Frank é personagem do livro O BEIJO DO PRÍNCIPE
[4]
Uma Surpresa Para o Espanhol – Bebês Inesperados 2
[5]
Irmã do Ethan.
[6]
Irmã do Ethan.
[7]
Personagem do livro DIGA QUE ME AMA
[8]
A Noiva Inesperada do Sheik – Casamentos de Conveniência 2
[9]
A Herdeira Desejada Pelo Bilionário – Casamentos de Conveniência 4

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