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INFORMAÇÕES
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida
ou fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico
e mecânicos sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos
de citações, resenhas e alguns outros usos não comerciais
permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens,
alguns lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da
imaginação da autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou
mortas, ou eventos reais é apenas espelho da realidade ou mera
coincidência.
Sumário
Sumário
SINOPSE
CARTA DA AUTORA
PRÓLOGO | Leonard.
PRÓLOGO | Khloe.
1 | Leonard.
2 | Khloé.
3 | Khloé
4 | Leonard.
5 | Khloé.
6 | Khloé.
7 | Leonard.
8 | Khloé
9 | Khloé.
10 | Leonard
11 | Khloé.
12 | Khloé
13 | Leonard
14 | Khloé.
15 | Khloé.
16 | Leonard.
17 | Khloé
18 | Khloé
19 | Leonard
20 | Khloé
21 | Khloé
22 | Leonard
23 | Khloé
24 | Leonard
25 | Khloé
26 | Khloé
27 | Leonard
28 | Khloé
29 | Khloé
30 | Leonard
31 | Khloé
32 | Khloé
33 | Leonard
34 | Khloé.
35 | Khloé
36 | Leonard
37 | Khloé
38 | Khloé
39 | Leonard
40 | Khloé
Epílogo | Khloé.
Epílogo | Leonard
SOBRE A AUTORA:
AGRADECIMENTOS
"— Se você não me soltar, eu prometo que não vou
te soltar. Não me deixa sozinha.
Ele olhou em meus olhos com tristeza e um pequeno
sorriso nos lábios.
— Eu nunca vou te soltar, Khloé. É uma promessa.
— Ele entrelaçou nossos dedos."
LEONARD
SINOPSE
Com amor,
Mari Cardoso
Dez anos antes.
[1]
— Charlotte! — Ethan berrou pela minha irmã e eu ri. Eles
finalmente estavam em casa. Abri a porta do escritório e vi meu
cunhado passar, furioso. Moana latiu para mim, bati em minha coxa
e ela fez festa, ignorando o estresse do papai. — Apareça aqui!
Abaixei e ganhei beijos em forma de lambidas. Moana era o
terror dos funcionários do palácio. Ela não conseguia desviar das
mesas e sempre derrubava alguma coisa na correria pela casa. Era
cadela da princesa, então, ninguém tinha coragem de reclamar.
[2]
— Ela está com a Cat em algum lugar. Louis saiu cedo para
cavalgar… — falei com Ethan, que bufou, segurando um papel. — O
que minha irmã aprontou agora?
— Sua irmã ainda vai me fazer ter um ataque cardíaco. —
Esfregou o rosto. — Ela batizou um burro com meu nome e me deu
de presente. Disse que viu em uma série e achou que eu iria gostar
também.
Aquilo era algo que só a minha irmã poderia fazer e só o
marido dela teria paciência para aturar. Dei a ele um olhar
diplomático.
— É um presente adequado.
Ethan ficou vermelho, com uma expressão feroz.
— Eu odeio vocês dois! Louis é o único que me entende nessa
família esquisita — Ethan resmungou e voltou para o escritório dele.
Minha irmã apareceu no fundo do corredor, saltitando, alegre como
sempre ficava nos bastidores da nossa vida na realeza. Sorrindo
para mim, soprou um beijo e rodopiou até o marido.
Aqueles dois… quase me faziam acreditar que era possível ter
amor de verdade. Foi um casamento por acordo em que eu fui
contra, tentei impedir e busquei meios, mas ainda não era páreo
para a inteligência do meu pai. O rei estava anos luz na minha frente
em arquitetar planos e ser astuto. Ele queria Ethan e Charlotte
juntos por motivos que, politicamente, era capaz de compreender,
mas não deram a eles uma escolha e os condenaram a uma vida
sem amor.
Para minha completa surpresa, não só se apaixonaram
perdidamente, como eram uma dupla imbatível no trabalho. Eles
completavam minha posição de Príncipe Regente e aliviaram um
pouco do fardo que carregava sozinho desde os meus vinte anos.
Lottie era apenas uma criança quando fui nomeado. A diferença de
idade entre nós era grande, isso fez com que eu trabalhasse muito
como herdeiro e ela ficasse na posição de menina perfeita que os
pais tanto sonharam.
Charlotte era singular. Tinha um humor único e definitivamente,
não era a bonequinha que estava sempre pronta para ser idolatrada.
Atrapalhada, sem filtro verbal, pentelha e um desastre com duas
pernas, minha irmãzinha atraía atenção do jeito que nossos pais,
mais especificamente, minha mãe, não queriam. Ser príncipe e
princesa era tudo que sabíamos. Fomos criados para sermos
perfeitos, sem falhas, sem chance de planejar a nossa própria vida.
Eu quis e até tentei. Estudei fora, viajei o mundo com meus
amigos, me relacionei às escondidas, mas nunca desejei falhar com
a coroa que foi colocada em minha cabeça. Um dia, me tornaria um
rei, estava no meu sangue. Só não sabia como seria produzir minha
linhagem porque não me via casando por acordo, compartilhando
minha intimidade através de um contrato e não por um
relacionamento que evoluiu, chegando ao ponto de ter um
casamento e filhos.
Depois de Marina, não me envolvi seriamente com mais
ninguém. Quando conhecia uma mulher minimamente atraente, que
começava a nutrir sentimentos, me afastava. Era complicado pensar
na vida que daria a ela: luxo, riqueza, fama, mas um compromisso
incondicional com um governo, ataques dos oponentes, perseguição
da mídia, falta de privacidade, uma mãe intrometida e filhos que
teriam mais responsabilidades que qualquer criança normal.
Existia alguma louca deslumbrada que poderia gostar dessa
vida? Sim. Mas eu não queria outra mulher obcecada por holofotes
e perfeição. Minha mãe já era mais que o suficiente.
Trabalhei o dia inteiro ignorando os dois casais apaixonados
que me cercavam. Peguei o telefone diversas vezes para conversar
com Alicia, mas ela ainda estava pelo mundo, fora da área de
cobertura. Eu a apoiava incondicionalmente e estava feliz que
finalmente havia tirado os saltos e as roupas de grife para se
descobrir, mas sentia saudade de ter alguém com a cabeça no lugar
para conversar. Até mesmo Apolo, o mais complicado dos meus
amigos, estava felizmente casado, amando as cores do mundo e
esperando um bebê.
Durante o jantar, ouvi e falei pouco. Louis e Ethan entraram em
uma disputa imbecil que seria resolvida em uma competição de
moto. Cat e Lottie falavam sem parar, rindo de piadas que só
mulheres entendiam. Meu pai estava dentro da própria cabeça, de
vez em quando perguntava sobre os torneios de verão, quem
achávamos que iria ganhar e voltava a comer quieto. Ele estava
ansioso para que o evento corresse bem e sem escândalos, era
centenário, uma tradição que Rainland amava e isso refletia no
próprio rei.
Minha ala ficava reservada no palácio e era a única coisa
realmente agradável de ser um príncipe, porque eu podia ter um
pouco mais de privacidade. Dividia a garagem com a minha irmã,
mas isso não era um problema. Tínhamos entradas separadas e
depois que eles casaram, pedi que nosso jardim se tornasse um só,
assim podíamos nos reunir sem que nos observassem. Costumava
ser nosso ponto de encontro favorito.
A noite estava bonita demais para ficar no quarto. Com uma
calça de pijama, vesti o roupão por cima e preparei um drinque para
me ajudar a dormir.
Escolhi uma das poltronas do canto, ao lado de um sofá que
Charlotte gostava de se deitar.
— Sabia que ia encontrar meu irmão favorito aqui. — Lottie se
aproximou com seu pijama rosa claro. A calça parecia de alguém
duas vezes do seu tamanho. — Sim, é do Ethan, embora ele se
recuse a aceitar meu presente.
— Comprou uma calça rosa para o seu marido?
— Para dormirmos combinando. Ele tem falhas no senso de
humor. — Ela riu e se jogou no sofá. — Vim atrás de você. Tenho te
achado muito quieto. Está se concentrando para o evento amanhã?
— Em parte. É muito importante. Seu cavalo vai se comportar?
Lottie riu.
— Como vou saber? Ele tem muita personalidade.
— Fui ver a mamãe. A enxaqueca dela se chama não perder o
episódio novo da novela.
Trocamos um olhar e rimos.
— Acho que vou mandar para uma dessas contas de fofocas
que a rainha é viciada em novelas turcas. — Lottie pegou o telefone
e eu ri, tirando-o da mão dela. — Vai, irmão. Fala comigo. Você
sempre teve a tendência de guardar tudo para si e me proteger. Sou
adulta e casada — ela falou e dei um gole da minha bebida. —
Quase mãe.
Engasguei na mesma hora, ela riu e deu tapas fortes nas
minhas costas. Nunca perdia uma boa oportunidade de me bater.
— Estão tentando?
— Só quando terminar a faculdade. Falta pouquinho. — Ela
piscou.
— Vou amar ser tio.
— Eu sei, é um irmão incrível e será um tio mais ainda, mas eu
não quero que meu filho seja mais do que um príncipe. Que tal
casar e produzir um herdeiro para tirar a coroa da cabeça do meu
bebê?
— Vai me pressionar ao casamento também?
— Não. Quero que encontre um amor, Leonard. Amor de
verdade, de arrancar suspiros e te fazer ver a vida diferente. Eu tive
a sorte e o prazer de ter um marido incrível, um melhor amigo, mas
tudo poderia ter dado errado.
— Não se encontra amor na esquina. Se fosse verdade, com
quase quatro décadas de vida, eu seria um homem felizmente
casado. Amor não é assim, Lottie.
— Se você abrir seu coração, vai ser.
— Como posso arrastar alguém para essa vida? Ethan já era
alguém do meio, ele conhecia a pressão. Olha só o que Cat passa…
— Ela ama Louis e apesar de algumas coisas a magoarem, ela
sabia onde estava se metendo e aceitou fazer parte disso por amor.
Tudo precisa de um equilíbrio, a nossa vida não é completamente
ruim.
Eu não podia acreditar que minha irmã caçula, pentelha e
destemperada estava me dando conselhos amorosos. O mundo
estava fora do lugar. Antes que pudesse respondê-la, mesmo sem
saber ao certo o que dizer, fui salvo por passos suaves se
aproximando. Ethan apareceu com roupa de dormir e o rosto
amassado de sono.
— Você fugiu da cama, maluca?
— Vim ver meu irmão rapidinho. — Ela sorriu. Só pelo brilho
no olhar da minha irmã, eu podia dizer que ele era o homem que ela
amava. — Me carrega de volta para o quarto?
Ethan bufou, mas parou de costas para o sofá e permitiu que
ela pulasse em suas costas. Eu ri e ganhei um aceno divertido,
vendo-os sumir ao longo do corredor. Terminei minha bebida, voltei
para minha ala, deixei o copo na cozinha vazia e subi para o quarto.
Deitei e fiquei olhando para o teto, evitando pensar em coisas
complicadas para minha mente não me sabotar. Eu precisava
dormir.
Todas as coisas que Charlotte falou comigo ficaram me
atormentando. Tive uma péssima noite de sono e antes de ser
acordado por meu mordomo, já estava de pé e pronto para ser
vestido. Meu uniforme real era pesado. Medalhas e condecorações,
precisava de três pessoas para pendurar tudo na ordem e
perfeitamente alinhado. Eu não podia me mover até que todas as
abotoaduras fossem colocadas.
— Está um gato. — Charlotte entrou com roupa de montaria,
ainda sem a capa de princesa e o chapéu.
— Saia do meu quarto.
— Não. Tenho algo especial para você, engomadinho. — Ela
parou à minha frente e ergueu uma medalha. — Ethan e eu
decidimos que esse ano, é sua. Vovó estaria orgulhosa.
A medalha de honra da vovó era herança de Charlotte. Algo
que nós dois amávamos muito. Não me importei que minha
irmãzinha recebeu a maior parte desses itens emocionais, ela foi
quem mais sofreu no papel de princesa. Eu sorri, de verdade, feliz
por usar algo da mulher que me inspirava e me dava forças toda vez
que pensava em sua trajetória como rainha.
— Te amo, sua insuportável.
— Eu te amo muito mais. — Lottie sorriu e saiu correndo,
cantarolando.
A família, depois de pronta, parou por quase uma hora para o
ensaio fotográfico. Em seguida, fomos para a varanda, acenar e
assistir ao primeiro show.
— Estão prontos para a cavalgada? — Mamãe parou na minha
frente, ajeitando minha gola, mas perguntando a todos. Charlotte
acenou com um ar divertido. — Controle seu cavalo.
— Claro, alteza. — Minha irmãzinha riu.
Balancei a cabeça, ciente de que alguma coisa iria acontecer,
mas não discuti. Louis e Cat foram para a arquibancada, assistir do
camarote da família com meus pais. Eles eram nossos convidados
de honra. Era a primeira vez da namorada do meu primo nesses
eventos e ela parecia muito empolgada, querendo aprender tudo
sobre a tradição.
Por ordem, sendo mais velho e herdeiro, meu cavalo era o
primeiro. Ethan e Charlotte seguiriam alguns metros depois, lado a
lado. Depois, todos os competidores, em seus próprios cavalos ou
nas carruagens. O trajeto era por toda a cidade, durava quase
quarenta minutos e era televisionado. A cada dois metros, um novo
aceno. Um sorriso. Uma olhada para uma câmera.
Fazia aquilo há tanto tempo que eu não precisava mais
ensaiar.
Uma das poucas coisas que meu cavalo detestava era…
cachorros de raças pequenas. Eu conseguia controlá-lo sempre que
acontecia de encontrar com um, mas quando uma criança pequena
e um cachorro peludo invadiram a pista, ele não me obedeceu e
levantou. Com um comando, parou e ficou bufando no lugar.
Rapidamente desci e entreguei-o para meu cavalariço, correndo até
a criança que se assustou e estava com uma mulher, consolando-a.
Os guardas tentaram me cercar e sinalizei para que parassem.
Não parecia ter perigo ali.
— Vocês estão bem?
Ela virou e me olhou nos olhos. Dei um passo para trás, tonto.
Nós ficamos parados, encarando um ao outro e tudo se transformou
em paz. Minha mente e coração não conheciam o sabor daquele
silêncio gostoso.
A criança chorou, puxando a blusa dela e isso quebrou o
encanto.
— Seu cavalo poderia ter esmagado esse bebê! — Ela estava
irritada.
O quê?
— Sinto muito, mas isso aqui é um evento real. Caso esteja
perdida, hoje é um dia importante para esse país. E o responsável
por essa criança deveria segurá-la melhor!
— A avó dessa criança está neste momento lutando contra os
seus guardas estúpidos, que querem tirar a barraca de flores dela,
conhecida nesta esquina há trinta anos! Ela não tem como proteger
a mercadoria dos abutres reais e ao mesmo tempo segurar o neto!
— Ficou de pé, empinando o queixo. — Por Deus, não houve
danos! Ele está bem. Obrigada, vossa alteza!
Agarrando o menininho no colo, voltou correndo para a
multidão. O cachorro ficou sentado aos meus pés, balançando o
rabo. Peguei-o, ganhando lambidas e a multidão ofegou com a
minha aproximação. A mulher loira, bonita, de olhos
impressionantes, me parecia familiar, mas eu não podia ter certeza
já que, só de olhar para ela, meu coração acelerou. Ela virou-se
novamente, consolando a senhora e o bebê.
— Deixem a barraca aqui e façam o cordão depois dela —
ordenei aos guardas. — Eu sinto muito por todo transtorno, minha
senhora. Estou aqui para servi-la. — Entreguei o cachorro. — Peço
perdão por hoje.
— Oh, alteza! — A senhora parecia chocada por eu estar
falando com ela e secou as lágrimas. — Obrigada.
— Tenham um bom dia. — Afaguei a cabeça do menino e olhei
para a mulher. — Inclusive, você também.
— Ora seu… — ela grunhiu e dei as costas.
— Comprem todas as flores — cochichei com meu secretário,
que assistia toda a cena, divertido. Ele disfarçou a risada com uma
tosse, afinal, era raro uma mulher me enfrentar.
Voltei para o meu cavalo, ouvindo minha irmã bater palminhas
atrás de mim.
— Gostei dela. Bonita, furiosa e não tirou a calcinha para você
— falou baixo, sem mover os lábios para que ninguém entendesse.
Olhei-a sobre meus ombros, acariciei a cabeça de seu cavalo e sorri
de maneira doce. Ethan manteve a expressão séria, olhando para a
frente, mas os olhos denunciavam o quanto queria rir.
— Cale a boca, Charlotte!
2 | Khloé.
Nova Iorque.
— Oi! Querida! Estamos aqui! — Mamãe acenou no meio do
aeroporto e sorri. Pedir que meus pais fossem discretos quando
estavam com saudade era quase um crime contra a humanidade. O
segurança deixou que meu pai passasse para me ajudar com as
malas, e ele me abraçou apertado antes de tomar o carrinho e
começar a empurrar. — Minha menina!
— Ai, mãe! — gemi com seu abraço mortal. — Eu também te
amo!
— Ah, filha! Um ano sem te ver! Como isso pode ser saudável?
— resmungou, me fazendo rir. — Está linda! Deixe-me olhar para
você! — Tirou meu capuz, querendo analisar meu rosto. — Minha
super modelo famosa. Quem diria que a minha menininha tímida se
tornaria a modelo mais bem paga do mundo?
— Certamente, eu não seria essa pessoa — brinquei e soltei
um bocejo.
— Vamos para casa.
Casa. Era bom estar ali. Mesmo detestando os Estados
Unidos, meu lar e conforto era onde meus pais viviam. Meu refúgio
favorito. Morava em Londres desde o fim do ensino médio, quando
me tornei modelo e saí de casa para me aventurar na profissão mais
louca do mundo. Sair da proteção dos meus pais com apenas
dezessete anos me fez crescer, foi doloroso, mas eu não me
arrependia. Quando adolescente, pensava em ser jornalista, me
tornar uma escritora um dia.
Foi com dezesseis que um coração partido me fez tomar um
rumo. Entre toda perseguição da escola, fui estúpida o suficiente
para cair de amores pelo capitão do time da escola. Ele me fez
acreditar que me amava de volta e não se importava com o que
diziam, quando na verdade, só queria que o ajudasse a passar em
Exatas enquanto apostava com os amigos que tiraria minha
virgindade. Foi um dos piores momentos da minha vida, o meu
estopim para decidir que a América não era o meu lugar.
A irmã caçula da minha mãe era agenciadora de modelos,
então pedi que me transformasse em uma, já que sempre dizia que
eu tinha altura e corpo para estar nas passarelas. Não pensei em
mais nada, só na oportunidade de correr de Nova Iorque o mais
rápido possível. A sensação que eu tinha era que nunca iria superar
aquela dor e a vergonha de ter sido alvo de tantas risadas.
Meus pais ficaram um pouco chateados mas não me
impediram, contanto que eu conciliasse com os estudos. Me formei
em Jornalismo a duras penas, porque tive a sorte de me tornar a
queridinha das marcas em menos de um ano e estourar como um
dos rostos de marca de roupas íntimas. Equilibrar as viagens, as
fotos e as semanas de moda com a Universidade foi um pesadelo,
mas eu havia prometido aos meus pais que teria um diploma.
Quando me formei, decidi continuar em Londres e como
modelo. O dinheiro era muito bom, podia ajudar não só meus pais,
como minha irmã mais velha na criação dos meus sobrinhos. Desde
que o marido dela morreu, estava tentando sustentar a família com
o trabalho de corretora, mas eu sabia que não era simples manter
os filhos na escola, bem alimentados e com um fundo universitário.
Kourtney era muito batalhadora e me orgulhava dela.
Já Kimberly, minha irmã do meio, era um espírito livre. Viveu
em Londres comigo por um tempo, depois foi para a Itália e por fim,
decidiu construir a vida em Rainland, abrindo um bar. O local era
bem badalado e depois de dar muita dor de cabeça aos nossos
pais, ela parecia ter sossegado. Na verdade, eles estavam aliviados
que as três filhas estavam bem na vida.
Minhas irmãs eram as minhas melhores amigas. No meio que
vivia e trabalhava, era difícil encontrar amizades verdadeiras.
Quando se tinha contratos publicitários milionários em jogo, não
existia lealdade.
Pegamos um pouco de trânsito para chegar em casa. Dormi
quase todo o trajeto, ao entrarmos, senti cheiro de frango assado.
Papai preparou alguns cortes com queijo e um tempero de cebola
que eu amava. Era um dos meus pratos favoritos. Tirei o casaco que
usei para me esconder um pouco e lavei as mãos. Sem nenhuma
cerimônia e morrendo de fome, fiz o meu prato.
— Você não comeu no voo? — Papai me serviu com uma taça
de vinho branco.
— Só um pouco. Tentei dormir, mas havia uma senhora
nervosa ao lado e fiquei conversando para acalmá-la. Isso está
delicioso, papai. Esse vinho vai me ajudar a dormir.
— Não se preocupe com nada. Vá descansar. — Ele deu um
tapinha no meu ombro.
Com meu estômago cheio e um pouco induzida pelo álcool,
peguei minhas coisas com meus pais. Mamãe, afobada como
sempre, foi na frente, abrindo as portas e logo desforrando a cama.
Deixei minha mala de mão na poltrona.
— Seu quarto está limpo e organizado. Depois que descansar,
vamos desfazer sua mala. Sabe quanto tempo vai ficar? — Ela
parou na minha frente. Como eu a amava…
— Eu vou visitar a Kim no aniversário dela. Tentarei levar a
Kourtney, mas não sei se será possível. Só se nossos incríveis pais
ficarem com os meninos por uns dias. — Esfreguei seus braços e
ganhei apenas uma risada de volta, não uma resposta concreta.
Eles acabariam tomando conta dos pestinhas, mas gostavam de se
fazer de difíceis.
Sozinha, parei para perceber as sutis mudanças que eles
haviam feito enquanto estive fora. Ainda tinha as mesmas cores e
decoração de quando fui embora, mas não parecia mais um quarto
de adolescente, sem meus livros de fantasia, as notas coloridas
espalhadas na mesa de estudo e meu material escolar. O ursinho
que ganhei quando bebê e as almofadas coloridas ainda ficavam na
cama, que passou a ser de casal.
De tanto que chorei no outro colchão, as molas devem ter
aprendido a nadar nas minhas lágrimas. Eu vivia abraçada com o
travesseiro, me debulhando e sofrendo. Minha adolescência,
definitivamente, não foi memorável. Na faculdade, fiz poucos
amigos, sempre estava ocupada, não tinha tempo para fazer
amizades e me importar com o que pensavam. O mundo cruel da
moda me deu uma casca grossa, me ensinou a me defender e
moldou minha personalidade no ferro.
Sabia quem eu era. Era segura, dona da minha vida e apesar
de ter doído muito, meu crescimento me levou diretamente para
uma fase gostosa. Tinha meu apartamento, um bom carro, viajava o
mundo e experimentei várias culinárias. Aquela cama não
encontraria mais as minhas lágrimas.
Deitei para dormir e tive vários sonhos esquisitos, chegando a
pular no colchão como se estivesse caindo. Por dois dias, tive
dificuldade de me adequar aos horários, sofrendo com o jet-lag.
Papai foi bastante paciente com minhas cabeçadas de sono no café
e a energia de sobra no jantar. Mamãe tentou me acompanhar e
ficou cansada.
— Eu cheguei! — Kourtney gritou da cozinha no terceiro dia. —
Finalmente acordada, senhorita? — Se jogou em mim e quase caí
da cadeira. Os meninos foram correndo para minha mãe, pedindo
beijo e abraço. — Venham falar com a tia Koko!
— Ainda me sinto sonolenta, mas bem. Que saudade, irmã! —
Abracei-a de volta, apertado. Meus sobrinhos tinham cinco e três
anos, ambos uma misturinha perfeita da minha mãe.
— Zac! Você cresceu tanto, meu amor! — Peguei o menor no
colo. Ele riu e beijou minha bochecha. — Vem aqui, Jimmy. —
Estendi o braço para o outro. — Perdi tanto de vocês! Eram tão
bebês na última vez que senti esses cheirinhos gostosos!
— Quem diria que minha irmãzinha ia estampar os outdoors da
quinta avenida? Eu sempre grito: olha lá, é a minha irmã! — Kourt
sorriu, orgulhosa. Minha família era o meu principal fã-clube.
Conheci pessoas frias e que não se importavam com o outro. Meus
pais sempre foram acolhedores, do tipo que apoiavam tudo.
Mamãe era minha melhor amiga. Ela nos incentivava a sermos
melhores e com toda a zoação que sofri na escola, durante o
bullying que lentamente comeu minha confiança e autoestima,
nunca me desamparou. Não deve ter sido fácil me ver sofrer e se
manter forte.
Ficar em casa me deixou renovada. Comida de mãe, colo do
pai, mimo da irmã e brincando todos os dias com meus sobrinhos.
Depois de uma semana, Kourt e eu embarcamos para Rainland.
Estava empolgada por ter um longo tempo de folga em um lugar
tranquilo, mesmo que Kim vivesse em uma agitação, acreditando
que a vida era uma festa. Ela morava em um bairro calmo,
arborizado, com vizinhança antiga e muitos jardins floridos.
Rainland era um dos países mais lindos do mundo. A
arquitetura, as árvores, flores, as cidades nas pontas da ilha eram
tão belas que nem pareciam reais. Era a primeira vez que Kourt
viajava sem os meninos, não namorou ninguém depois do
falecimento do marido e não parecia pronta. Eu entendia. Eles
tiveram um amor adolescente avassalador e nunca se separaram.
Ele era bombeiro e sofreu as consequências de um incêndio.
Pousamos com tranquilidade. Kim estava ocupada no
reabastecimento do bar e por isso, pegamos um táxi no aeroporto.
Kourt ficou olhando pela janela, admirando tudo e ao mesmo tempo,
mordendo o lábio.
— Está nervosa? — Segurei sua mão e apertei.
— Não estar no modo mãe é muito esquisito. Tem algumas
horas que ninguém está me chamando, pedindo alguma coisa ou
meu chefe me ligando, dizendo que não podemos perder tal cliente
incrível. — Ela riu, demonstrando ansiedade. — Acho que vou levar
uns dias para relaxar.
— Vamos nos divertir. É a primeira vez que nos reunimos
desde que Zac nasceu. Está na hora de ativarmos a bagunça das
irmãs Green.
Kourt ergueu a mão e eu bati, pronta para festejar muito na
companhia de mulheres que me amavam de verdade.
3 | Khloé
Todo mundo brincava sobre os nossos nomes, por serem
parecidos com a escolha de uma matriarca de uma família muito
famosa de reality shows, mas mamãe sequer as conhecia até o dia
em que mostramos. Ela escolheu nossos nomes quando conheceu
meu pai. Fizeram uma lista de nomes de meninas e outra de
meninos, com dois meses de namoro.
Seria impossível encontrar um amor tão certo quanto o dos
meus pais. Um raio não cai duas vezes no mesmo lugar e a sorte
das irmãs Green não parecia muito boa quando o assunto era
homens. Apesar da minha independência na vida, eu era um pouco
retraída sobre o sexo masculino de modo geral. Tive poucas
oportunidades de me relacionar e nunca tive o real interesse de me
envolver, porque era difícil encontrar alguém que aceitasse minha
vida louca.
Ser modelo não duraria para sempre. Estava aproveitando
enquanto ainda era jovem, com o rosto sem retoques de botox e o
corpo em dia. Tinha o padrão certo, quase saindo do peso ideal
porque não era mais tão magra, apenas servia na modelagem e
mantinha meu corpo com os músculos trabalhados para ficar dentro
do que exigiam. Embora eu não concordasse com a pressão
estética, sabia que não ganharia tanto dinheiro fazendo outra coisa.
Sempre quis me sentir bonita, para curar o buraco que abriram
zoando minha aparência. Estar nas passarelas por muito tempo foi
como um afago ao meu ego que precisava de muita terapia. Eu
busquei me tratar, claro. Mas ainda precisava do dinheiro, seguindo
meu plano de carreira financeiro para poder me dedicar a outros
projetos em um futuro não tão distante.
Kimberly estava em cima de um freezer industrial quando
chegamos. Kourt e eu soltamos as malas e gritamos, dando um
abraço de irmãs.
— Minhas favoritas acabaram de chegar! — Ela gesticulou
para as garçonetes. — Olha só, gente! Minhas irmãs! Ai, meu Deus!
Nem acredito que estamos juntas novamente!
— Uau! O que fez com o seu cabelo? — Kourt segurou as
pontas, maravilhada.
— As mechas coloridas ficam incríveis na luz negra e chamam
a atenção dos clientes à noite!
Quando ela comprou o bar, morou por um tempo no
apartamento de cima, mas ele se tornou um local de descanso,
escritório e a outra parte, um depósito. Nós deixamos nossas coisas
ali enquanto ela precisava organizar tudo para a noite. Kourt e eu
acabamos sentadas no bar, bebendo drinques que estavam sendo
testados para o novo menu, comendo salgadinhos industrializados e
falando alto. Kim aparecia de tempos em tempos, prometendo que
nos daria atenção logo que se livrasse de alguns fornecedores.
— Você viu aqueles homens lá fora? — Kourt arregalou os
olhos e eu girei no banquinho, com meu canudinho na boca. Hum…
nossa. Simplesmente… uau! — Esse país produz homem gostoso
em massa?
— São os guardas reais. Alguns só ficam bonitos de uniforme,
mas tem outros que são uma delícia — a garçonete perto de nós
comentou. — Estão fechando as ruas para o torneio nacional. A
parte principal é aqui, na capital, mas os jogos são espalhados pelo
país. Acontece a cada dois anos. É de muita importância, porém, é
chato. Eles fazem verificações de segurança nos estabelecimentos
e tiram as vendinhas locais.
— Vamos assistir, certo? — Kourt me cutucou com um pouco
mais de força que o usual, derramando meu drinque e eu ri. —
Preciso parar antes que comece a passar vergonha.
— Só vou segurar seu cabelo e filmar para quando seus filhos
estiverem adolescentes, descobrirem que a mamãe não sabe beber.
— Ergui meu telefone e tirei uma foto. Ela estava com o cabelo
castanho claro para todo lado, as sobrancelhas bagunçadas e a
roupa torta.
— Eu sabia. Eles me fizeram desacostumar. Ficaram
pendurados nos meus peitos por anos. — Revirou os olhos. —
Quando for mãe, vai entender.
— Vai ser difícil engravidar por aqui. Para isso, precisa de sexo
e eu não faço um satisfatório desde a faculdade. Não consegui sair
com muitos depois que me formei. Um encontro chegou até os
amassos e outro foi beijo na porta. — Soltei um suspiro,
decepcionada com a minha vida amorosa fracassada. — Eu esqueci
de ligar para os dois. Até mandaram mensagem, mas estava
ocupada com as fotos e viajando.
— Sua carreira está no auge, o mundo te conhecendo, talvez
não seja o momento.
— Não quero ser modelo para sempre. Quero ter um nome, me
estabelecer como alguém confiável e formadora de opinião antes de
fazer essa transição de carreira. Até lá, vou juntando dinheiro. —
Dei de ombros, deixando meu copo vazio em cima do balcão. —
Evito pensar em homens e no amor de modo geral, ou me sinto
frustrada por nunca conseguir ir além. Ainda me sinto como a garota
idiota que teve o coração partido e nunca mais conseguiu se
recuperar — falei e parei, dando um estalo com a língua. Kourt
perdeu o marido e eu choramingando por um idiota que me magoou
no ensino médio. — Desculpe.
— Ei, pare. Sabe que não tem nada a ver. Sua dor não é
menos importante que a minha. John morreu, a morte dele me
machucou muito, mas ele sempre foi incrível comigo. — Ela mudou
de posição para ficarmos frente a frente. — Sei que está olhando
por mim e quer que eu seja feliz, mas com filhos, minha prioridade
sempre será a felicidade dos dois. Não consigo pensar em outro
homem na minha casa, fazendo parte da minha rotina. Está tão bom
ficar sozinha com os meninos, deito na cama e é tudo para mim. Eu
fico desarrumada, exercendo meu direito de ser feia em casa sem
julgamentos. Sem estar preocupada em manter a chama acesa. —
Kourt me deu um sorriso tranquilo. — Existe um lado bom em estar
sozinha, passamos muito tempo procurando o que nos completa no
outro, presas às regras de relacionamento e lidando com as
diferenças na convivência. Está tudo bem escolher ficar solteira.
Não quer dizer que está encalhada.
— Um brinde a isso. — Batemos nossos copos, mas eu comi
uma pedra de gelo, porque não tinha mais nada para beber.
Kim terminou o trabalho e nos resgatou antes de ficarmos
completamente bêbadas. Compramos comida tailandesa no
caminho de casa e Kourt ficou encantada com o quanto o lugar era
fofo, algo que não combinava com a personalidade maluca da nossa
irmã, mas ela tinha um lado doce em seu coração que não gostava
muito de exibir.
Comemos no chão, conversamos até o meio da madrugada e
nos reconectamos pessoalmente. Sempre fazíamos chamadas de
vídeo. Elas aguentavam meus horários malucos, minhas
mensagens durante voos ou enquanto tinha uma pausa para comer.
Minhas irmãs sempre estavam dispostas a nunca me fazer sentir
solidão.
********
— Acordem! É o dia do desfile! — Kim gritou na manhã
seguinte. — Vamos, senhoras!
Descobri minha cabeça, com os olhos ardendo. Kourt virou
para o outro lado, se escondendo e resmungou sobre precisar de
mais cinco minutos. Kim sempre teve mais energia que todas nós
juntas. Ela acordava cedo para malhar desde os quinze anos. Que
adolescente quer estar na academia antes de ir para a escola?
Puxando nossas cobertas e reproduzindo um som de corneta
no telefone, conseguiu nos fazer levantar. As ruas estavam cheias
quando saímos, só conseguimos estacionar nos fundos do bar, que
já estava aberto para atender a população.
— O que está havendo ali? — Kim questionou ao seu
segurança.
— Não sabíamos que a sra. Murphy não pediu a licença
especial para vender hoje. Ela está sendo impedida de colocar as
flores na calçada porque o local se tornou rota — ele explicou e
olhei para a senhora nervosa, segurando um menininho que não
deveria ter mais de três anos.
— E eles vão levar as mercadorias dela? — perguntei,
chocada.
— Se está operando ilegalmente, não tem muito o que fazer —
Kim lamentou. — Vou tentar conversar com os guardas.
— A comissão real está a um minuto daqui. — Kourt olhou em
seu telefone. Ela baixou um aplicativo para acompanhar tudo, já que
Kim queria que a experiência fosse completa.
— Já volto — avisei e segui Kim.
Nós tentamos argumentar com os guardas. O desespero da
mulher me fez até oferecer pagar a licença, para que ela pudesse
vender as flores.
— Por que eles são tão irredutíveis?
— Aqui não é um país democrático. — Kim me alertou
suavemente.
Merda. Eu estava acostumada com a diplomacia, não com a
monarquia absolutista. Moderei meu tom de voz e tentei usar o meu
dom da comunicação para levantar argumentos de que não custava
porra nenhuma liberarem uma licença para uma senhora. Que mal
ela faria com flores? Agrediria a família real com espinhos?
A multidão começou a gritar e bater palmas, ouvi o som dos
cavalos e virei para olhar. O cachorrinho que estava com eles se
agitou, latindo e balançando o rabo. Ele era pequeno e fofo, mas era
melhor que calasse a boca ou um dos guardas iria levá-lo, também.
De repente, a senhora gritou que o menino havia corrido. Foi muito
rápido. Em um segundo, vi a cabecinha do garoto entre os vasos de
plantas e no outro, ele estava atravessando a pista na frente do
cavalo.
Sem pensar, corri atrás. Agarrei a criança e tentei pegar o
cachorro, temendo que o cavalo me acertasse, mas uma poderosa
voz de comando o parou antes de um acidente fatal. Meu coração
batia muito forte no peito. Virei e me deparei com um belo par de
olhos impressionantes, cabelo loiro bem arrumado, sorriso de tirar o
fôlego, tudo isso em um uniforme real, como dos filmes de
princesas.
Eu quase fiquei sem reação. Quase. Ele era lindo e me tirou o
fôlego, perdi um pouco o rumo dos meus pensamentos e criei
milhares de fantasias. No entanto, o garotinho chorando ao meu
lado quebrou a nuvem encantadora que me rodeou.
— Vocês estão bem? — ele questionou numa voz…
Aquele homem podia falar o dia inteiro que pessoas
desmaiariam de prazer.
Como poderia perguntar se estávamos bem?
— Seu cavalo poderia ter esmagado esse bebê!
Ele pareceu perturbado e surpreso.
— Sinto muito, mas isso aqui é um evento real. Caso esteja
perdida, hoje é um dia importante para esse país. E o responsável
por essa criança deveria segurá-la melhor!
O quê?
— A avó dessa criança está neste momento lutando contra os
seus guardas estúpidos, que querem tirar a barraca de flores dela,
conhecida nesta esquina há trinta anos! Ela não tem como proteger
a mercadoria dos abutres reais e ao mesmo tempo segurar o neto!
— Levantei-me, empinando o queixo. — Por Deus, não houve
danos! Ele está bem. Obrigada, vossa alteza!
Furiosa, peguei o menino e voltei para a calçada. Para minha
surpresa, o príncipe se aproximou segurando o cachorro sujo de
terra, nós nos pelos e a língua para fora, portando um sorriso
diplomático. Pediu desculpas, me desmontando por completo e
ainda ordenou que os guardas deixassem a banca de flores na
calçada. Ele virou para todos com uma pose perfeita e me desejou
um bom dia, saindo de maneira elegante.
Meu sangue estava fervendo e mal sabia o motivo, apenas que
ele havia mexido tanto comigo que não conseguia me controlar.
Minha irmã me segurou, quase implorando em cantoria que
desacatar um membro da família real era crime no país. Cruzei
meus braços, indignada e o observei partir como se nada tivesse
acontecido.
LEONARD, PRÍNCIPE REGENTE DE RAINLAND
Está na cidade para eventos organizados por ONG.
Leonard é o herdeiro do trono de Rainland e sabe como ser
diplomático, mantendo a excelente boa relação entre os países. Nos
próximos dias, veremos o príncipe conciliando sua agenda como
regente e ao mesmo tempo, sendo um apoiador do trabalho de
caridade que a irmã mantém na cidade.
The Sunrise
4 | Leonard.
Londres.
— Ei, Grey — chamei meu secretário. — Sabe dizer se em
algum momento poderei respirar sem ter um próximo compromisso
urgente? Está com raiva de mim? — questionei ao olhar minha
agenda. — Eu mal terei uma hora para almoçar!
— Muito tempo para comer é superestimado — ele brincou,
pegando as folhas da minha mão. — Otimizei os compromissos
para que possa ter um dia de folga. Imaginei que gostaria de se
refugiar no campo sem interrupções.
— É por isso que o nosso relacionamento tem durado tanto
tempo. — Uni minhas mãos em agradecimento. Ele riu e ouvimos
uma batida suave na porta, a assistente dele abriu e nos olhou
timidamente. Ela era muito séria e profissional, além de tímida, o
que eu achava engraçado. Trabalhando comigo há cinco anos, já
deveria ter perdido o medo. Allegra informou que o meu próximo
compromisso já estava aguardando na sala de visitas.
A imprensa estaria presente. Era um encontro cordial com o
presidente de uma ONG que tinha sede em Londres, mas atuava
com força em Rainland. O trabalho em conjunto era muito
importante e dado às pesquisas na internet relacionando o país com
as inúmeras doações para caridade, aquele encontro era para
solidificar a união. Entrei na sala depois de ser anunciado,
cumprimentei a todos e me acomodei no lugar marcado.
Alguns jornalistas fizeram perguntas, que foram filmadas para
as postagens nas redes sociais da família real de Rainland.
Peguei alguns folhetos para ler e me deparei com a mulher do
desfile. A loira bonita de tirar o fôlego. Ela estava sorrindo, usando
uma camisa branca e um nariz de palhaço, em uma campanha para
financiar a construção de um hospital infantil. A imagem me fez
perder um pouco de tempo, me deixando intrigado. Voltei ao
assunto um pouco perdido mas rapidamente me inteirei, deixando a
folha de lado ou nunca mais conseguiria voltar a fazer meu trabalho.
Assim que o evento terminou, retornei para o meu escritório e
preparei uma bebida enquanto aguardava o almoço, me sentindo
desconcentrado. Abri um pouco a cortina clara, olhei para a rua, a
praça e do outro lado, notei que havia um outdoor eletrônico
passando diversos comerciais, inclusive um de roupas íntimas. A
primeira era de Catherine, tirei uma foto e mandei para Louis. Ele
respondeu quase que imediatamente com uma risada e disse que
ela estava em todo lugar com aquelas roupas.
A foto seguinte, era dela.
Parei para absorver a beleza da mulher. Então quer dizer que a
furiosa do desfile era modelo? Eu não a vi novamente, mas não
deixei de pensar nela. Seus olhos incríveis e a boca tentadora só
podiam ser os motivos pelos quais ainda estava na minha mente,
fora o fato de que, de repente, ela estava em todo lugar. Não sabia
seu nome, apenas que era muito bonita e havia mexido comigo.
Alguns dias depois, usei um dos carros mais discretos para
fazer minha fuga da madrugada. Não tinha uma residência não
oficial em Londres, por nunca ter encontrado uma real necessidade.
Antes da minha irmã ter uma casa enorme com várias alas, alugava
um apartamento. Estacionei na garagem, tirei minha pequena mala
e entrei.
Eles já estavam dormindo e evitei as áreas que costumavam
ficar, seguindo para o quarto que minha irmã separava para mim
com muito carinho. Não dormi muito tempo, antes de amanhecer,
deixei a casa e caminhei pelo campo, observando as cercas novas
que Ethan tanto se orgulhava e o celeiro reformado para os cavalos
da propriedade.
Eu nunca poderia viver muito tempo longe do palácio. Nem
eles viviam, para falar a verdade. Quando estavam em Londres, era
por causa do trabalho na empresa de Ethan, que apesar do título de
príncipe, tinha livre direito de produzir renda fora de Rainland, mas
nunca usando o país a seu favor e muito menos as informações
privilegiadas que obtinham. Meu país não fazia parte da carteira de
trabalho dele, que focava exclusivamente na Inglaterra.
Rainland estava enfrentando o que meu pai chamava de "onda
democrática". Parte do parlamento se levantava, com especulações
do tipo "se fôssemos um país democrático…" e assim começava um
burburinho enorme que incomodava. Havia um parlamentar em
específico que parecia odiar minha família a um nível pessoal.
Todos os ataques públicos dele me incomodavam, porque ele
não se atrelava apenas à política monárquica e sim a nós, como
membros. Era como se os problemas políticos do país fossem culpa
de cada integrante da família.
Não havia fome em Rainland. Apesar de sermos um país
capitalista, éramos pequenos comparados a outros e o nosso PIB
era um dos melhores. A monarquia nunca fez com que a população
passasse necessidade em prol dos nossos desejos. Muitos
migraram em busca de um lugar melhor para viver e encontravam
justamente isso.
Ouvi sons de passos e o barulho de uma coleira. Moana trotou
para o meu lado e bufou, se jogando no meu colo como se ainda
fosse pequena. Acariciei seu pelo, dando-lhe um bom dia e ela
bocejou.
— Está cedo demais. Quem te deu a guia para sair?
Charlotte assobiou por tê-la perdido e ergui minha mão, para
mostrar onde estávamos. Moana latiu e saiu correndo. Alguns
minutos depois, minha irmã sentou ao meu lado, envolvida com uma
colcha de pelinhos e pijama.
— Estou feliz com a sua visita.
— Eu vim descansar um pouco antes de voltar para Rainland.
Charlotte bocejou e deitou a cabeça no meu ombro. Moana
corria bem longe e voltava com um galho. Começamos a brincar de
jogar para que pegasse, mas ela nem sempre obedecia, entregando
o galho. Às vezes ela o jogava aos nossos pés e pedia por outro.
— O café deve estar pronto. Estou com fome. — Lottie se
levantou, limpando a bunda. Ela fez uma dancinha engraçada.
— Devo me preparar para alguma pegadinha?
— Não da minha parte. Nunca se sabe quando Ethan vai
revidar alguma coisa que eu fiz.
Felizmente, conseguimos comer sem nada voando ou que as
brincadeiras sem limites deles ferissem alguém. Tirei a tarde para
cavalgar. O sol estava se pondo entre as árvores, ainda iluminando
a estrada o suficiente para continuar meu caminho. Não era uma
rota com muitos passantes, só moradores locais ou frequentadores
da pequena igreja que havia sido reformada recentemente.
Ao fundo, vi um carro conversível cinza escuro encostado.
Parecia abandonado, até que cheguei perto e encontrei uma mulher
tentando trocar o pneu. Ela lutava bravamente contra o macaco,
fazendo força e o equipamento não parecia nem querer se mover.
— Olá? Senhora? — Desmontei do cavalo e me aproximei com
cuidado. Ela se levantou com uma chave de fenda na mão e eu ri ao
reconhecê-la. — Você de novo.
— O que está fazendo aqui? — Tirou o cabelo do rosto,
deixando um rastro de graxa na testa. — Vai dizer que é príncipe
aqui também?
— Não. Minha irmã tem uma propriedade não muito longe
daqui. — Apontei com o polegar para trás. Ela assentiu e voltou a
encarar o pneu furado. — Perdida?
Amarrei o cavalo na cerca e ele ficou arrastando as patas,
insatisfeito por ficar parado.
— Não. Eu vim ver uma casa que está para alugar e meu pneu
furou quando passei em alta velocidade por um buraco. Sorte que
não aconteceu nada além de subir nesse pequeno barranco.
Aproximei-me um pouco mais. Sozinha, tirou o pneu reserva e
todos os equipamentos, espalhou tudo na ordem de uso e ainda
tinha um limpador.
— Posso, senhora?
Ela mordeu o lábio, incerta e exausta.
— Tem certeza? Acho que está emperrado! Ele não se move…
— Irei resolver.
Rapidamente troquei o pneu, com bastante prática. Além de
um curso de mecânica que fiz durante a faculdade, eu costumava
desmontar alguns carros antigos desde novo. Quando adolescente,
era algo que fazia com meu pai e quando queríamos fugir do
mundo, nos escondíamos na garagem e ficávamos horas com
milhares de peças espalhadas entre nós. Nem sempre tínhamos
tempo. Minha vida adulta era muito mais corrida e disputada que a
dele.
Guardei tudo na mala dela.
— Caramba! Você realmente conseguiu! — Ela sorriu,
encantada. — Obrigada, alteza.
— Não precisa agradecer e por favor, me chame de Leonard.
— Estiquei minha mão e vi o quanto estava suja. — Ah… minhas
mãos estão muito sujas.
— As minhas também. — Ela riu e apertou. Seus dedos suaves
contra os meus estavam quentes. — Sou Khloé Green.
— Parece que o destino nos colocou no caminho um do outro.
— Inclinei minha cabeça para o lado, analisando-a cuidadosamente.
Ela usava um short jeans, tênis e uma camiseta larga. Khloé
colocou o cabelo atrás da orelha, com um sorriso tímido e lambeu o
lábio inferior.
— Talvez seja um empurrãozinho para que possa te pedir
desculpas pelo meu comportamento terrível. Estava muito chateada
com o fato daquela senhora não poder vender as flores e acabei
descontando em você. Sinto muito por ter sido tão rude. — Enfiou
as mãos nos bolsos, mudando de lugar, tímida sobre estar na minha
frente.
— Descontou na pessoa certa. Acredito que naquele momento,
eu era o único que podia resolver a questão. Além do mais, foi um
momento atípico.
— Sorte que a imprensa apenas noticiou sobre o garotinho.
— Vocês foram abordados? — Ergui meu olhar de sua boca
carnuda e parei em seus olhos. — A imprensa pode ser muito
desagradável.
— Eu, não. Acabei me escondendo e não apareci mais, sei que
a senhora foi e ela contou sobre sua gentileza em comprar todas as
flores. Obrigada por isso, afinal, foi importante para todos. — Khloé
riu. Sua risada era melodiosa e única. — Está ficando tarde e eu
preciso chegar à cabana antes do anoitecer. Obrigada mais uma
vez.
Abri a porta do motorista e fiz um gesto para que entrasse. Ela
me olhou com diversão antes de passar por mim. Ah, que perfume!
Fechei meus olhos, encantado com o cheiro. Antes de sair, ergueu a
capota, acenou com uma piscadinha e disparou pela estrada em
alta velocidade, levantando um monte de poeira. Peguei meu cavalo
para voltar para propriedade, quando reparei que ela estava
retornando.
Encostei na cerca, esperando.
Com o braço delicado para fora do carro, ela esticou seu
cartão, mordendo a boca de um jeito traquina. Peguei o pedaço de
papel e sem falar nem uma palavra, ela manobrou e voltou ao seu
destino. Observei seu número de telefone, e-mail e o nome escrito
de maneira elegante com o website abaixo. Montei no meu cavalo
novamente e trotei de volta para a residência da minha irmã,
pensando que talvez, meu tempo de descanso ali em Londres
pudesse ser mais agradável com companhia.
5 | Khloé.
Londres.
Eu não podia acreditar que entreguei o meu número de
telefone para um príncipe. Era maluquice acreditar que ele poderia
me ligar. Sua expressão divertida foi reflexo do meu movimento
maluco com o carro, não necessariamente por achar incrível minha
performance em lhe entregar meu telefone. Nunca fui do tipo de
chegar em um homem e mostrar que estava interessada.
Quer dizer, eu não tinha completamente certeza de que queria
alguma coisa.
Ele era atraente, educado, foi extremamente gentil nas duas
vezes em que nos encontramos, até mesmo quando fui uma cadela
furiosa. Leonard era um príncipe herdeiro, alguém totalmente fora
do meu ambiente, mas como meu pai sempre me dizia, um raio não
cai duas vezes no mesmo lugar, então, aquela era a minha
oportunidade de arriscar. Podia ser só um encontro divertido e nada
mais. Nós dois não tínhamos tempo para nada além de um jantar.
Imaginava que vivesse uma agenda muito corrida.
Cheguei até a cabana e era realmente agradável por fora,
parecia valer a pena o preço que estavam cobrando para o aluguel.
Eu estava buscando um refúgio fora da cidade e um amigo
costumava usá-la quando precisava fugir da loucura. Marc acenou
da entrada, ele era um dos fotógrafos mais requisitados da Europa e
nós nos dávamos bem desde o primeiro ensaio que fizemos juntos,
alguns anos antes.
— Você se perdeu?
— Meu pneu furou. Problema resolvido, desculpe o atraso.
Devem estar morrendo de fome, certo? — Saí do carro e peguei
minha mala e bolsa de mão no banco de trás.
Ele me ajudou com a mala mais pesada.
— Um pouco. Não íamos comer sem você.
— Íamos? Plural? Ele está aqui?
— Seja legal — Marc implorou baixinho.
Na cozinha, havia outro homem bonito e fomos apresentados.
Ele também era fotógrafo e o novo amigo mais íntimo de Marc. Seu
nome era Frank[3] e bastou cinco minutos para começarmos a
tagarelar sem nenhum freio. Adorei-o, encantada com o bom humor
e carisma dele. Trabalhava com uma modelo em ascensão, que
estava conquistando muito espaço na mídia e nas redes sociais. Ela
não trabalhava nas passarelas como eu, mas andava bem
requisitada.
— No dia em que conseguirmos unir Khloé e Catherine no
mesmo ensaio, a internet vai parar — Frank brincou com a taça de
vinho. Nós compartilhamos o delicioso espaguete com frutos do mar
no balcão, sem nos importarmos em sentar à mesa.
— Eu não a conheço completamente, sei que participamos da
mesma campanha, mas não tirei fotos com ela. Meu ensaio foi na
Austrália. Foi um encaixe na minha agenda — comentei, sentindo os
efeitos do vinho. — Estou exausta, senhores. Ainda vão ficar
bebendo?
Eles trocaram um olhar e riram.
— Bem, eu vou para a cama. Pode dizer ao corretor que irei
ficar com a casa — avisei, subindo a escada. Marc e Frank não
estavam mais prestando atenção em mim e era o melhor momento
para deixar os pombinhos em paz.
A cama do quarto principal era macia, deliciosa, um banho
quente e o conforto dela foram o necessário para me fazer dormir
feito uma princesa. Acordei sem ajuda de um despertador. Os sons
do campo e os pássaros eram confortáveis. Provavelmente
enlouqueceria morando ali de modo permanente, eu era uma garota
da cidade, amava as facilidades de um delivery a qualquer horário e
ter tudo por perto. No entanto, nem tudo eram flores.
Engarrafamento e os barulhos comuns estavam atenuando
meu estresse. Eu tinha pouco tempo em casa, não conseguir dormir
estava afetando meu apetite e rotina de treino. Uma modelo com
olheiras profundas não ficava bem em nenhum ensaio, mesmo com
retoques. Iria aproveitar minhas férias ali, sem me ausentar do país,
estando perto para qualquer trabalho rápido no centro e longe o
suficiente para respirar o ar limpo.
Troquei de roupa para tomar café e caminhar pelas
redondezas.
Marc e Frank ainda dormiam, deixei comida para eles e com o
friozinho da manhã, caminhei. Recebi um alerta de uma mensagem,
abri e era um número não identificado.
“Bom dia, Khloé. Achei que seria pertinente salvar meu
número. Leonard”.
Enquanto caminhava, respondi seu bom dia e informei que o
número estava seguramente salvo em meu telefone. Dois minutos
depois, recebi uma foto de um campo com um cachorro que parecia
ser da raça labrador ao fundo, com um galho na boca. Virei minha
câmera para a mesma direção das montanhas e fotografei também.
“Acho que isso é outro sinal para nos encontrarmos”.
Parei em uma cerca e encostei, tomando um pouco de sol
matinal. Abri meu casaco, olhando para o alto e pensei em uma
resposta evasiva que não soasse como uma negativa. Não queria
parecer afoita demais para dizer sim, até porque, não estava. Entre
querer e estar desesperada, havia um abismo enorme.
“É impressionante o quanto estamos sendo bombardeados por
sinais”.
Leonard mandou uma carinha rindo.
“Não devemos ignorar os sinais. Jantar amanhã à noite?”
Refleti sobre a loucura de sermos vistos em público em um
primeiro encontro. Seria desesperador e um tanto invasivo. Propus
jantarmos na minha cabana e deixei claro que era apenas pela
privacidade. Ele concordou prontamente, até seria melhor do que
irmos para a cidade, podendo ser vistos por qualquer um e as fotos
pararem nas redes sociais em um piscar de olhos.
A exposição podia se tornar um problema sem controle.
Combinamos um horário e simplesmente não paramos de nos
falar mais. Eu pensei que a conversa ficaria completamente
enfadonha, mas ele era inteligente, sempre com boas tiradas, capaz
de propor um assunto diverso, sem ser íntimo e ainda manter minha
atenção, que normalmente, desviava muito rápido por qualquer
coisa.
Voltei da minha caminhada, encontrando o casal de pombinhos
na maior diversão na cozinha. Eles iriam embora no final da tarde,
para me deixar sozinha com minhas férias. Provavelmente também
queriam ficar sozinhos em um ambiente romântico e mais privado,
sem uma amiga por perto a qualquer momento.
Conheci uma senhora que morava em uma casa não muito
distante. Ela vendia legumes e folhas frescas da própria horta, os
tomates pareciam deliciosos e gastei quase todo o dinheiro trocado
que tinha comigo em uma única conversa. Se ficasse ali mais um
pouco, a velha mulher me faria comprar sua casa e carro. Tinha
uma boa lábia, mas não era páreo para Frank.
— Tem certeza que não querem ficar aqui? Eu posso voltar
outro dia — ofereci aos dois.
— Temos outro lugar para ir. — Frank me abraçou. —
Descanse e aproveite bastante.
— Sabe o que significa férias, certo? Nada de ficar
respondendo os e-mails da agência, querendo conferir a locação de
fotografias ou pedindo para acertar detalhes em contratos. Férias é
para descansar, deixe que sua equipe cuide de tudo. — Marc me
deu um beijo barulhento na bochecha e saiu com Frank. Eles
combinavam. Esperava que dessem certo. — Te amo, querida!
Acenei, até que o carro sumiu na estrada. Algumas crianças
passaram correndo com uns cachorros e eu fui para os fundos,
sentar na grama e pensar no que prepararia para meu almoço. Uma
salada era certo. Havia tantas folhas que era preciso comer antes
que estragasse. Coloquei um biquíni e deitei no sol, não havia uma
piscina por perto e não era necessário, porque só queria me
bronzear um pouco.
Meu telefone vibrou algumas vezes, tentei ignorar, mas não
consegui. Li as mensagens das minhas irmãs e conversamos por
um tempo. Meus pais enviaram fotos de um cordeiro que estavam
marinando para um jantar com amigos e tinha uma não lida de
Leonard. Ele respondeu minha opinião engraçadinha sobre os filmes
de Star Wars. Pela maneira que defendeu, cutuquei um fã.
Apaguei a tela e me olhei no reflexo, suada e com os cabelos
para o alto, exercendo meu raro direito de não estar arrumada a
todo momento. Meu cabelo estava loiro, mas em sua maior parte,
era descolorante. Eu tinha uma raiz clara, mas eram castanhos cor
de água de salsicha naturalmente. Depois que fiz a cirurgia nos
olhos, não precisei mais dos óculos fundo de garrafa, já o aparelho
dentário, saiu no primeiro ano da universidade.
Sempre fui bonita, o problema da distorção de imagem é
simplesmente esse: você não é capaz de enxergar sua beleza.
Levei muitos anos na terapia para conseguir me ver como a mulher
bonita que diziam que eu era. Ainda me sentia uma adolescente
odiada. Meu corpo não era mais tão magro, ganhei peito o suficiente
para agarrar e uma bundinha agradável. Para quem não tinha nada,
meus glúteos redondos eram perfeitos.
Fiz as pazes comigo mesma. Foi difícil aceitar que aquele era o
meu corpo. Melhorei malhando, mas muita coisa foi cuidando da
minha mente e aceitando que nunca seria como as cantoras, com
curvas generosas nos lugares certos. Era alta e a maioria dos
homens não gostava de mulheres que não pudessem abraçar e
sentir o quanto poderiam ser protetores.
Com vinte e cinco, não tive nenhum namorado. Saí algumas
vezes, fui a encontros, a maioria organizados às cegas, e decidi,
pelo desastre da última vez, que nunca mais permitiria que um
estranho esquisito sentasse à minha frente para falar apenas de si
mesmo e esperar que eu ficasse babando pelos seus feitos
impressionantes na política. Definitivamente, foi uma tortura.
Naquela fatídica noite, liguei para minhas irmãs e tia, quase gritando
e querendo lavar meu cérebro.
Tirei uma foto, sem filtro, sem edições e postei nas redes
sociais. Meu gerente de carreira era obcecado pela minha imagem e
ficava maluco quando eu aparecia sem maquiagem e com os
cabelos naturais. Glenn queria que meu perfil fosse um portfólio,
uma extensão do meu trabalho sem falhas, mas eu queria passar
um pouco de humanidade ali. Era mais do que uma vitrine.
Abri meu aplicativo de música, selecionando minha lista de
reprodução favorita dos anos noventa e junto aos Backstreet Boys,
expulsei alguns pássaros de perto com a minha cantoria.
6 | Khloé.
Acordei assustada com o barulho de um caminhão e ergui o
rosto da cama. O quarto estava escuro, mas já era dia há muito
tempo lá fora. Quase hora do almoço. Com preguiça, me arrumei,
preparei uns ovos e olhei a geladeira praticamente vazia, pensando
no que poderia cozinhar para meu jantar de encontro mais tarde.
O tempo havia mudado completamente. O sol estava
escondido pelas nuvens densas, prenúncio de que iria chover, o
vento estava frio. Clima perfeito para um jantar romântico com a
lareira acesa, bom vinho e talvez massa. Organizei minha bolsa e
saí, me orientando pelas estradas até o mercado mais próximo. Ali
não parecia ser o típico lugar que as pessoas me reconheceriam,
mas eu optei por manter meu capuz levantado.
Peguei meu telefone e enviei uma mensagem para Leonard.
“O que acha de massa mais tarde?”
Ele respondeu.
“Acho incrível. Você fica linda de verde”.
Olhei ao redor e não o vi.
“Anda me perseguindo? Como sabe que estou de verde?”
Ele digitou.
“Olhe para a esquerda”
Virei meu rosto discretamente e o vi na sessão de vinhos,
segurando uma garrafa e com um carrinho vazio ao lado. Ele sorriu
e piscou, escondido com um casaco cinza escuro e óculos, tão
discreto que passava despercebido entre as prateleiras. Apesar do
local estar praticamente vazio, nós não podíamos nos aproximar.
Ainda de longe, mostrou a orelha com fones e eu peguei o meu,
colocando.
O nome dele apareceu na tela segundos depois.
— Olá! O que está fazendo aqui?
— Eu vim comprar vinho porque tenho um jantar com uma bela
dama essa noite. Seria pertinente saber se teríamos peixe ou carne,
estava quase ligando quando a mesma passou por mim.
— Bela dama? É uma maneira muito doce de se referir ao seu
encontro de hoje.
— Estaria sendo muito raso e leviano se apenas me referisse a
ela como um simples encontro. — Ele soou divertido e ergui meu
rosto. — Peixe ou carne?
— Eu não sei ainda. Alguma restrição alimentar? Estive
pensando em algum tipo de massa, carne assada e um molho bem
caprichado que dê até para comer com pão — falei enquanto olhava
as caixas de macarrão disponíveis na fileira.
— Sou um membro da realeza. Existem muitos alimentos que,
oficialmente, eu não posso comer, mas extra oficialmente, sou do
tipo que come o que estiver no meu prato. — Ele riu suavemente e
mostrou um vinho que adorava. Ergui meu polegar.
— Algo contra alho? Sou adepta a um bom pão de alho
acompanhando comida italiana. — Peguei alguns itens necessários
da receita e coloquei no carrinho.
— Falando assim, me faz ficar ainda mais ansioso para mais
tarde. Estou com fome agora.
— E a sobremesa? — Parei em frente a uma fileira repleta de
opções para cozinhar mais tarde. — Mousse ou torta?
— Gosto de qualquer coisa que tenha chocolate.
— Você é fã de chocolate?
— É o meu doce favorito. Esse azul na sua frente, derretido
com algumas frutas, é delicioso. Deixe essa parte comigo, talvez
possa te surpreender.
— Tudo bem. Jantar comigo, vinho e sobremesa com você. Te
espero às seis?
— Estarei lá em ponto. Não sou do tipo que se atrasa.
— Que bom. Eu adoro pontualidade.
Trocamos um olhar e eu sorri. Ele foi em direção a um caixa e
eu para outro. Evitamos contato visual, falando pouco no telefone e
só nos despedimos quando guardei tudo no carro. Ele estava com
um sedan preto, os vidros tão escuros que não era possível ver
muita coisa. Seguimos para lados opostos e quanto mais perto
chegava da cabana, mais ansiosa ficava.
Por questões de segurança, contei às minhas irmãs onde
estava e que teria um encontro com um homem. Não disse quem
era. Elas iriam surtar. Aguentei os sermões sobre estar me
arriscando sozinha com um desconhecido, mas só queria que
soubessem minha localização caso alguma coisa não fosse como o
esperado. Ele era um príncipe, mas era um homem que eu não
conhecia.
Lavei meu cabelo, escovei, me hidratei e ri das mensagens das
minhas irmãs mandando vídeos de mulheres batendo a gilete na
parede durante o banho. Tão idiotas. Eu tirei a maior parte dos pelos
do meu corpo em sessões a laser porque facilitava muito no
trabalho. Fiz uma maquiagem leve, iluminando algumas partes do
rosto, caprichando no tom saudável nas bochechas e um gloss não
muito melequento na boca.
Sem estar preparada para um encontro, usei o único vestido
que tinha. Era o meu preto básico para tudo, que combinava com
saltos e sapatos baixos, ficava perfeito com botas e tênis. Era até o
meio das coxas, com um pequeno lascado e um decote singelo,
bom o suficiente para olhar, mas sem estar completamente vulgar.
Escolhi ficar descalça, coloquei meu colar com um pingente de
gota, que brilhava entre meus seios, argolas médias e um relógio
delicado. Consegui conectar meu celular no sistema de som da
cabana e separei algumas toras bonitas apenas para decorar perto
da lareira, porque era elétrica. Arrumei a sala, coloquei o vaso com
flores frescas na mesa e deixei a cozinha impecável.
Minhas mãos suavam quando deu a hora. Estava tudo pronto.
Ouvi o som do carro e pela fresta da cortina, observei-o estacionar
na garagem, atrás do meu. Ficou discreto, se parasse na rua, que
era estreita, chamaria atenção. A maioria das cabanas ali eram de
férias, então, os moradores locais sabiam bem quem era visitante.
Esperei que batesse na porta e abri. A vizinha ao lado estava
regando as plantas e nos encarou. Leonard riu, mas evitou olhar.
Ele segurava uma bolsa de papel com as garrafas de vinho e uma
outra bolsa, com itens de sobremesa e flores. Fiquei sem fôlego
com a beleza dele, o perfume me invadiu e o sorriso fez com que as
borboletas do meu estômago ficassem enlouquecidas.
— Seus braços estão cheios — comentei, me sentindo tímida.
— É tudo para você. A propósito, você está linda.
Minhas bochechas pareciam pegar fogo. Soltei uma risada,
tremendo por dentro.
— Obrigada. Você está encantador.
Peguei as flores e indiquei que entrasse. Fechei a porta,
admirada com o buquê, que estava amarrado por um laço simples.
Pareciam ter sido colhidas, ainda cheiravam a campo e não tinham
o aroma artificial que algumas floriculturas usavam para vender.
— Seja bem-vindo. Aqui não é muito grande, tem dois quartos
em cima e o restante é tudo aqui embaixo. Vamos para a cozinha?
Leonard não parecia ser do tipo retraído, o que facilitou meus
nervos. Ele colocou as garrafas na adega para refrescar e
perguntou se queria ajuda com o preparo do jantar. Sendo
malandra, entreguei a ele os temperos, uma faca e uma tábua de
madeira. Coloquei as flores em um novo vaso, lavei minhas mãos e
coloquei a panela com água no fogo para poder começar o preparo
da massa.
— Quase trouxe alguns filmes para mudar sua opinião. É
comum ser equivocado sobre a saga — Leonard brincou ao cortar
alguns tomates.
— Meu pai é fã. Ele é nerd do tipo que tem milhares de
quadrinhos, fica na fila para comprar um ingresso e sempre que
pode, está indo nas convenções fantasiado. Eu assisti aos filmes em
todas as partes umas mil vezes e sim, há falhas. É como Indiana
Jones, a maior parte do filme poderia acontecer sem ele, que só
protagonizou para se ferir. — Dei de ombros e ele abriu a boca,
ofendido.
Eu sabia cozinhar, mas não tinha intimidade com a cozinha. A
peça de carne ainda precisava ser cortada e tirar a gordura
excedente. Ao tentar fazer isso, a carne escorregou do prato e a
faca rodopiou pelo balcão, espirrando sangue no mármore branco.
Leonard estava tentando não rir.
— Isso que dá ofender a clássicos do cinema com sua opinião
preconceituosa.
— Os filmes são ruins — falei lentamente, só para implicar. Ele
percebeu e mordeu o lábio, balançando a cabeça.
— Não sei o que fazer com você. Talvez te obrigar a assistir
tudo de novo. — Pegou a faca e me empurrou com suavidade para
o lado. — Eu fico com a carne. Não quero que nosso jantar vá parar
no teto. Fique com os temperos.
O que ele queria dizer?
— Eu sei cuidar de uma carne sozinha! Só precisava me
entender com ela, oras! — Coloquei a mão na cintura. — Como
acha que cozinhei a minha vida toda?
Leonard sorriu e olhou em meus olhos. Caramba… não
derreta, Khloé. Você é mais forte que isso. É só a droga de um olhar
bom o suficiente para te fazer suspirar.
— Não disse que não poderia, é uma mulher que parece saber
bem o que faz. No entanto, como um cavalheiro, não podia deixar
uma dama brigando com um pedaço de carne.
— Não seja fofo quando eu quero defender meus direitos.
— Eu sou fofo o tempo todo. — Ele riu e quis me jogar nele.
Reparei que suas mãos estavam com uns cortes suaves.
— O que aconteceu?
— O jardineiro estava de folga e nas proximidades não tem
floricultura. Meu cunhado e eu nos aventuramos sozinhos para
colhermos algumas flores. Vejamos, minhas habilidades não são as
melhores. — Ele sorriu e olhei para as flores, entendendo porquê
elas pareciam tão rústicas. — Pelo menos, sei escolher um bom
vinho e cozinhar.
Leonard colheu as flores? Aquilo parecia simples, mas era
lindo para mim. Sem pensar muito, apoiei a mão em seu ombro e
beijei sua bochecha. Ele era mais alto que eu, tinha mais de um
metro e noventa, era certo.
— Obrigada pelas flores.
Ele virou o rosto e passou o braço por minha cintura, beijando
minha bochecha de volta. Nós olhamos um para o outro, uma
tensão pairando no ar. Minha boca parecia necessitada pela dele.
Crazy do Aerosmith começou a tocar e olhamos juntos para o player
do som. O clima havia mudado, deixou de ser amigável para
simplesmente se transformar em uma faísca que a qualquer
momento se tornaria fogo.
Com a massa cozinhando, a carne assando e o molho pronto,
ele me puxou para dançar ao som de Soldier Of Love. Pearl Jam era
uma das nossas bandas favoritas. Eu ri da dancinha engraçada que
fez antes de me rodopiar. Voltei para os seus braços e quando
estávamos de frente um para o outro, ele desceu as mãos
suavemente das minhas costelas para um pouco abaixo da cintura.
Parei com uma das minhas mãos em seu ombro e a outra na nuca.
Não foi preciso muito. Um olhar e sim… estava pronta para o
beijo.
Foi perfeito. A boca dele era macia, quente e a língua tinha o
sabor único do vinho frutado que estávamos compartilhando. Soltei
um suspiro, extasiada, sorrimos e voltamos a nos beijar. Não
parecia interessante soltar nossos lábios. Foi como se eu nunca
tivesse beijado antes na minha vida.
Era o beijo certo.
Rainland enfrentará dificuldades?
Não é segredo que parte do parlamento não está feliz com as
reformas impostas pelo príncipe. Ele deseja melhorar e modernizar
áreas de ligações entre as comunas principais do país, o que traz a
preocupação sobre gastos em uma obra que pode tirar a
característica rústica de Rainland.
Muitos alegam que é hora do país deixar de obedecer à coroa e
eleger um presidente. No entanto, nós fizemos uma pesquisa com
nossos leitores e concluímos que Rainland está muito bem do jeito
que está.
Como será que Leonard, Alteza Real e Regente de Rainland, lidará
com as críticas de um projeto tão importante?
THE SUNRISE
7 | Leonard.
Beijar Khloé era tão bom que o jantar quase queimou. Nós
corremos ao perceber que a massa estava fervendo tanto que
vazou para o fogão. Corremos para lavar e parar o cozimento, o
molho da carne estava quase seco e eu joguei um pouco mais para
manter macia. Organizamos os lugares na mesa, acendendo velas e
servi mais vinho nas taças.
— A comida está cheirando deliciosamente bem. — Ela se
aproximou, satisfeita. — Quase perdemos tudo, mas foi por um bom
motivo.
— Excelente motivo. — Sorri contra sua boca, segurando seu
queixo e beijei os lábios suavemente, provocando, brincando com
seu desejo. Khloé sentou no meu colo, me abraçando. Seu vestido
subiu um pouco, exibindo as coxas bonitas, que não perdi tempo em
acariciar. Ela acompanhou meus dedos tocando sua pele e junto,
uma curva sensual surgia em seus lábios.
Arrastei meu nariz por seu pescoço, cheirando, o perfume era
gostoso e estava impregnado em mim. Khloé buscou minha boca.
Nós voltamos a nos perder um no outro, quase queimando o jantar
novamente. Dessa vez, ela mostrou habilidade com a faca e cortou
fatias perfeitas da carne, que estava em um ponto incrível.
— Eu não sabia que podia ficar tão macia assim — comentou,
comendo um pedacinho. — Tenho que assumir que sabe o que
fazer em uma cozinha. Não parece ser algo comum entre príncipes.
Vocês não costumam ter funcionários para tudo?
— Sim, sempre. Em todo momento tem alguém para me servir
ou quase dar a comida na minha boca. Quando era novo, não tinha
muita opção, depois fui estudar longe e com um tutor. Morei sozinho
na faculdade e reduzi meu quadro de funcionários a uma só, que me
ajudava na limpeza. — Organizei a massa no prato como Alicia me
ensinou uma vez. — Foi quando aprendi a cozinhar. Evitava me
expor e precisava me virar com a comida. Minha tia tem vários
restaurantes, ela enviou uma chef auxiliar para me dar algumas
aulas quando fiquei em Londres.
— Chegou a morar aqui? Desculpe soar um pouco perdida, eu
nunca fui de acompanhar membros da família real. — Ela ficou com
as bochechas vermelhas, sem saber que para mim, era
simplesmente incrível poder conhecer alguém que não sabia nada
da minha vida. — Não costumo ter muito tempo para ver revistas de
fofoca. Quando estou em casa, acabo colocando minhas séries em
dia e dormindo.
— Durante a faculdade até quase o doutorado, que comecei e
não terminei ao ser nomeado Príncipe de Rye, eu precisei voltar
para Rainland e assumir meu papel de governante com meu pai.
— Caramba! — Ela soou assustada. — Um dia você vai ser rei!
— Arregalou os olhos.
— Meu pai goza de boa saúde. Isso vai demorar. — Pisquei,
ganhando sua risada. — É esquisito pensar sobre isso?
— Me desculpa, sim! Quer dizer, um futuro rei estava com a
mão dentro do meu vestido! — Ela soou nervosa e divertida, o que
me fez soltar uma gargalhada bem alta. — Não ria!
— Meu beijo real te encantou, senhora? — Inclinei-me sobre o
balcão e beijei sua boca rapidamente. Khloé ainda estava rindo. Ela
se derreteu contra mim e o jantar era o único motivo que me fazia
manter as mãos longe dela, lembrando que era nosso primeiro
encontro e precisava segurar a cordialidade.
Levei os pratos para a mesa, sentamos próximos e com sua
coxa próxima do meu joelho, ela brincou de acariciar minha
panturrilha com o pé. A sobremesa durou dois segundos, bastou
uma fruta com chocolate, um beijo e tudo foi esquecido. Peguei-a
pela cintura, erguendo em meu colo e levei-nos para a sala. Khloé
me empurrou sentado e, sensualmente, subiu um pouco o vestido.
Agarrei suas nádegas, apertando e tomei sua boca desesperado.
A alça do vestido dela caiu, liberando um pouco mais do decote
e acompanhei cada pedaço de pele que era revelado com a minha
boca, explorando o quanto estava arrepiada com a minha língua.
Passei o polegar por seu mamilo, dando um suave belisco e voltei a
beijá-la. Rebolando contra mim, perdi um pouco as minhas
estribeiras com o prazer que percorria como fogo nas veias.
Khloé arranhou minha nuca, dando uma chupada na minha
língua que me fez pensar no meu pau em sua boca gostosa.
— Me diz que vamos fazer isso e que tem camisinha — ela
choramingou, esfregando-se em mim. Eu tinha camisinhas na
carteira e não lembrava há quanto tempo estavam ali, considerando
a última vez que consegui fugir para fazer sexo de maneira
discreta.
— Eu tenho duas camisinhas.
— Está bom para começarmos.
— Podemos ser muito criativos. — Mordi seu queixo.
Khloé saiu do meu colo e esticou a mão, me convidando para
subir. Aceitei e não perdi um mísero segundo longe dela. Seu cabelo
estava uma bagunça por conta das minhas mãos e a boca inchada
de tanto que havia beijado. Ela me beijou mais tranquilamente no
corredor e fomos andando para o quarto, meio que trombando pelas
paredes. Tirei minha camisa e ela puxou o vestido pela cabeça,
revelando os seios redondos com mamilos atiçados, implorando por
mim.
Agarrei sua cintura de forma rude, descendo minha boca e
chupando cada um deles, dando toda uma atenção especial só para
ouvir seus gemidos. Khloé me arranhou, se contorcendo e a levei
para a cama. Vê-la deitada, quase nua, era como um presente. A
mulher era perfeita e estava cheia de tesão. Sua calcinha pequena
de seda e renda estava molhada.
— Tire toda a roupa, Leonard — pediu, com desejo escorrendo
pelo tom de voz. — Quero… quer dizer… — Ela parou e sorriu. —
Eu preciso te ver nu.
O desejo dela era uma ordem. Abri minha calça e tirei junto à
cueca, sem cerimônias. Ela mordeu o lábio e ficou de joelhos, seus
seios contra meu peito nu, a boca se movendo contra a minha antes
de descer beijos pelo meu abdômen, dando uma mordida no meu
ventre. Olhando em meus olhos, tocou meu pau e lambeu a boca,
dando um beijo na cabeça antes de levá-lo completamente à boca.
— Puta que pariu! — Segurei seu cabelo, para que nada me
impedisse de assistir aquele espetáculo. Eu estava em êxtase.
Ela estava me enlouquecendo e me levando cada vez mais
perto de gozar. Sem querer fazer aquilo na boca dela pela primeira
vez e com a noite apenas começando, trouxe-a novamente para a
cama. Beijei sua boca de forma apaixonada, mostrando o quanto
estava louco por ela.
— Você quase me fez acabar com a noite só com essa boca
deliciosa…
— É impossível resistir. — Me deu um sorriso provocante.
— Vamos ver quem não vai conseguir parar agora. — Desci
mais um pouco e mordi a alça fina de sua calcinha. Ela me encarou
e puxei bruscamente, rasgando. Beijei onde o tecido beliscou sua
pele e acalmei o ofego, espalmando minha mão em sua barriga e
lambendo o clitóris.
Khloé puxou meu cabelo, frenética, correspondendo à minha
chupada com prazer. Ela gemeu, pedindo para que eu não parasse,
como se em algum momento eu pretendesse soltar aquela boceta
gostosa. Seu corpo era uma melodia perfeita. Ele cantou e mostrou
o momento em que estava chegando ao ápice, vermelho, arrepiado,
com tremores suaves e dedos curvados. Ela gozando era um show.
Minha boca brilhava com a umidade e ainda assim, trocamos
um beijo intenso. Procurei minha carteira, achando a camisinha,
enquanto meu pau doía para estar dentro dela. Ela colocou em mim,
me acariciando por mais tempo do que o necessário e eu prolonguei
em sua entrada, esfregando-o em suas dobras muito molhadas
antes de empurrar devagar.
— Oh Leonard, sim!
— É isso mesmo, baby. Só quero ouvir meu nome na sua boca!
— Entrei todo, debruçando-me sobre ela e a beijando enquanto
metia.
Ela rebolava, encontrando comigo a cada nova estocada. A
cama batia contra a parede e os travesseiros voaram longe.
Arranhando minhas costas, me beijou, mordendo minha boca antes
de gozar. Eu me deixei levar, estremecendo e gemendo em seu
ouvido.
— Que gemido gostoso… — Khloé me beijou com um sorriso
de bem fodida.
— Gostosa. Porra, isso foi incrível. — Deitei ao seu lado,
encarando o teto. Meu cérebro estava em pane completa.
— Mais do que incrível. — Ela riu e ergueu o rosto, toda
bagunçada e nua. A visão perfeita. — Ainda bem que temos mais
uma.
— Eu vou garantir que teremos mais nas próximas vezes.
Khloé mordeu o lábio.
— Isso significa que teremos mais vezes?
— Já cansou de mim? — Toquei meu peito, me sentindo
ofendido.
— Não. Eu vou te avisar quando cansar. — Rindo, me beijou.
Só por ser engraçadinha ganhou um tapa na bunda, mas não
reclamou, pelo contrário, mudou o beijo para algo mais intenso e
dali nos perdemos mais uma vez.
Na manhã seguinte, acordei com o sol no rosto. Khloé gemeu e
se escondeu, bufando sobre não querer acordar. Beijei seu ombro e
falei baixinho que precisava ir, mas que iria ligar para nos vermos
novamente. Ela abriu os olhos, com um beicinho de sono. Não
resisti e a beijei. Sonolenta, me observou vestir a roupa e pedi que
ficasse atenta ao telefone. Não queria que pensasse que estava
fugindo logo cedo.
Saí da cabana com as estradas cheias de neblina, mas era o
horário normal de um café. Eu tinha uma reunião por vídeo em trinta
minutos, precisava correr para poder ficar livre novamente. Ethan e
Charlotte estavam na cozinha tomando café e me pegaram entrando
pela porta, vestido com as mesmas roupas que usei no dia anterior.
Ele riu e disfarçou, voltando a ler o jornal. Charlotte parecia que
ia cair da cadeira. Nunca permiti que minha irmãzinha me visse com
qualquer mulher ou chegando em casa depois de uma foda. Eu
tinha casos esporádicos e sempre muito discretos. Tomava extremo
cuidado para não me envolver em um escândalo sexual, mesmo
sendo um homem jovem e solteiro.
Ela bateu com a xícara na mesa, entornando café.
— Me conta tudo, agora!
— Eu não tenho nada para te contar! — Passei direito e ouvi
seus passos atrás de mim.
— Você foi a um encontro? Como foi? Com quem? Ai, meu
Deus! Sei quem é? — Ela estava de boca cheia, tentando mastigar,
engolir e me seguir. — Espera! — Lottie deu um gritinho quase
caindo na escada e precisei segurá-la. — O jardineiro falou das
flores com Ethan! Você que pegou o segundo buquê?
— Sim, eu peguei.
— Puta merda! Ela ganhou flores! Por favor, irmão! Me conta
tuuuuudo! — Lottie bateu os pés no chão com os olhos brilhando,
como se a ideia de um encontro romântico na minha vida lhe
causasse muita felicidade. — Vão sair mais vezes?
— Espero que sim, depois conversamos. Tenho que ir
trabalhar. — Beijei sua bochecha.
Charlotte gritou para Ethan que eu tinha novidades e saiu
correndo. Eu ri e subi a escada, precisava trabalhar de verdade.
8 | Khloé
Espreguicei-me na cama, esticando os músculos e senti a
dorzinha pós movimentos que não estava tão acostumada a sentir.
Sentei-me, sem acreditar no quanto fui deliciosamente bem fodida
na noite anterior. O encontro começou bem, desenvolveu para ótimo
e terminou incrível. Dormi até quase a hora do almoço, meu telefone
estava cheio de mensagens, respondi as das minhas irmãs,
informando que estava bem e o encontro havia sido perfeito.
Não conseguia começar meu dia sem tomar banho, talvez por
estar muito acostumada em me preparar antecipadamente para
ensaios. Depois de trocar os lençóis e vestir uma roupa confortável,
arrumei a cozinha, lavando a louça e deixei a cabana organizada
novamente. Leonard me convidou para um passeio no final da tarde
prometendo que, daquela vez, iria me surpreender com o jantar.
Fiquei animada. Talvez não devesse ficar tão empolgada com
encontros casuais, afinal, nossas vidas não pertenciam ao mesmo
mundo. Fora da minha cabana, ele era um príncipe com deveres
reais, um governante ativo para seu país e eu, uma modelo, que
estava no auge da carreira e sendo conhecida mundialmente. Mas,
para curtir, a química entre nós era perfeita.
Cresci assistindo filmes da Disney, mas não necessariamente
acreditando em contos de fadas. Leonard era um príncipe de
verdade e eu não era uma princesa. Com o pensamento de que
meus pés estavam no chão para nossa realidade, me arrumei,
esperando-o chegar para me buscar. Escolhi um vestido preto com
flores vermelhas, meu par favorito de tênis brancos para ficar
confortável e um chapéu que ornava com toda a roupa.
Separei a garrafa de vinho que havia sobrado do dia anterior,
as frutas e o chocolate. Leonard era pontual. Ele estacionou em
frente à cabana e saiu do carro, segurando flores novamente. Dessa
vez, pareciam mais arrumadas do que as do dia anterior. Abri a
porta antes que batesse.
— Olá, linda. — Ele passou o braço por minha cintura e me
puxou para si. — Pronta para o nosso jantar de hoje?
— Prontíssima. — Sorri e o beijei. — Essas belas flores são
para mim? Sua irmã vai começar a cobrar se roubá-las do jardim a
cada novo encontro.
— Ela me deve, por ser tão chata e intrometida.
— Vou colocá-las em um vaso.
Organizei as novas mudas com as do dia anterior, coloquei-as
em água limpa, peguei minha bolsa e saímos. Normalmente, eu
estaria em pânico de entrar no carro de um homem desconhecido
sendo a segunda vez em que o via, mas não pensei no medo na
hora do sexo, então não daria um ataque por conta de um passeio.
Apesar de saber que evitaríamos locais muito cheios e públicos,
também me sentia segura. Ele dirigiu com calma, respeitando a
tranquilidade da região em que estávamos.
Eu passei por ali feito louca, acostumada a andar sozinha e
correr de um compromisso para o outro. Ele tocou minha coxa para
mostrar uns cães pastores correndo no campo e seguiu adiante,
peguei sua mão novamente, beijei e coloquei-a de volta na minha
perna. Passei meu dedo pelo pescoço dele, onde havia marcas da
nossa noite empolgada.
— Uma gata andou me arranhando e deixando alguns
chupões.
— Você não pode falar nada. Bancou o vampiro, meus mamilos
estão batizados.
Ele olhou para o meu decote com um sorriso safado.
— É mesmo? Permita-me conferir de perto?
— Quem sabe mais tarde te dê a oportunidade para tal coisa.
— Fingi abaixar um pouco o vestido, ele tentou dividir a atenção
com a estrada, mas não queria fazê-lo bater.
Leonard nos levou para um mirante que ficava pouco depois de
uma igreja praticamente abandonada. Era pura rocha, flores que
cresciam entre as pedras e uma visão espetacular dos campos que
permeavam as mansões antigas. Para chegarmos a um pedaço de
grama agradável, passamos por um campo florido que eu tive que
tirar fotos. Ele me fotografou com prazer, aguentando minhas muitas
poses e ainda carregando a cesta de piquenique.
Forrei a grama com o cobertor que, de tão enorme, foi
necessário dobrá-lo um pouco. Leonard fez outra viagem para o
carro, dizendo que havia feito o trabalho completo trazendo
almofadas. Mesmo curiosa, esperei para abrir a cesta. Tirei meus
sapatos e o chapéu, prendendo o cabelo. Ele arrumou tudo, bati
palmas e abrimos o vinho. O sol levaria um tempo para se pôr
completamente, estava um fim de tarde maravilhoso para aproveitar
o momento.
Com fome, ele me serviu com salada refrescante com frutas e
frango. Estava uma delícia, comi tudo e lambi os dedos. Bebi meu
vinho e olhei para o alto, o céu estava espetacular.
— Tem alguma coisa na minha boca? — Leonard me chamou e
parei, procurando o que havia de errado.
— Está sentindo algo diferente?
— Acho que estou fraco. Sinto como se o mundo estivesse
distante. — Ele me segurou e observei seu sorriso. O sacana estava
brincando comigo. — Preciso de respiração boca a boca. Por favor,
me beije para que esse mal-estar passe completamente.
Derrubei-o no cobertor e montei em seu colo, ele não
conseguiu bancar o mocinho passando mal por muito tempo.
Beijando-me como se a vida estivesse acabando, logo tudo ficou
quente, meu centro pulsava e a empolgação que quase me deixou
de seios de fora ganhou um freio quando lembramos que estávamos
em público.
— Não tem ninguém aqui. — Olhei ao redor, um pouco
frustrada. Era mais a vontade de transar falando do que qualquer
razão. Eu tive pouco sexo na vida, alguns foram bons, a maioria
foram insatisfatórios e confusos, principalmente nas primeiras
vezes. Com ele, foi incrível, do começo ao fim, sem constrangimento
ou momentos que me fariam querer morrer de vergonha alheia.
— Não faça essa carinha. — Ele me segurou e beijou. —
Minha irmã e cunhado já foram expostos em um momento assim e
eu não quero o mesmo para nós.
— Sério? Seguiram os dois até o meio do nada?
— Essa vida é nova para você, não é? — Leonard acariciou
meu rosto.
— Agora que estão começando a me fotografar em todo lado.
Peguei uma menina tirando fotos minhas debaixo da mesa, foi muito
esquisito, mas ainda não tem ninguém me perseguindo.
— Ainda. Quando começar a fama mundial de verdade, eles
farão loucuras para ter uma foto exclusiva e isso implica até em
acidentes.
Deitei minha cabeça em seu peito e refleti sobre o preço da
fama. Eu queria o dinheiro, era ambiciosa o suficiente para querer
ser tão rica quanto possível. Não nasci pobre, nunca havia passado
necessidade, mas meus pais economizavam cada centavo para nos
dar uma boa educação, comida na mesa e o material escolar em
dia. Eram médicos e pesquisadores, não ganhavam muito. Teriam
muito mais se fossem atendentes em um hospital, quase ninguém
reconhecia aqueles que buscavam a cura através do estudo.
Nós conversamos baixinho sobre nossas vidas. Leonard era o
filho mais velho, o herdeiro do trono e só o tom de voz que usava já
mostrava o quanto suas responsabilidades pesavam em todas as
decisões. Ele pensava em tudo, precisava estar sempre correto e
isso fazia com que tivesse fama de chato. Na verdade, não
suportava a ideia de sofrer um escândalo. Naquele momento,
pensei no quanto era uma prisão ter uma vida daquela. Leonard não
tinha liberdade para ser quem era.
— Ainda assim, ama ser um príncipe?
— Não imagino que possa fazer qualquer coisa além disso. A
coroa tem ônus e bônus. — Esfregou meus braços. — Como
começou a ser modelo?
— Não ria. Meu apelido na escola era patinho feio e eu queria
mostrar para todo mundo que era bonita. Mudei o que eles zoavam,
fiz alguns cursos e minha tia, que é do ramo, me lançou. No fundo,
queria apenas ganhar uma transformação e esfregar no rosto de
todo mundo, mas deu certo e sendo sincera, o dinheiro era
assustadoramente alto — falei baixo, brincando com um botão de
sua camisa. — Caramba, eu pude fazer faculdade sem que meus
pais suassem com isso! Depois, foi simplesmente para continuar
ganhando dinheiro, montando uma estrutura de vida que sendo
jornalista, só se eu me consagrasse como a nova Oprah ou coisa do
tipo.
— Você queria ser jornalista?
— Queria fazer a diferença com a minha voz. Poder ter uma
influência para mudar o mundo, mostrar que existe mais por aí, por
isso sou tão apaixonada pelas causas sociais que trabalho. Quero
que todos entendam e se apaixonem. Ser jornalista seria o meio
ideal, até porque, amo escrever.
— É mesmo? Sou naturalmente inclinado a odiar jornalistas,
principalmente os de fofocas, mas estou louco para ler algo que
escreveu. Tem alguma coisa para me mostrar? — Ele me apertou
em seus braços. — Vai escrever sobre coisas sérias e importantes?
— No futuro. Ainda tenho outros objetivos na frente. — Apoiei
meu queixo em seu peito. — E você? Trabalhar para ser o rei?
— Só serei quando meu pai falecer, o que espero que leve
bastante tempo, ou se abdicar ao meu favor, o que duvido muito que
irá fazer. Também espero que não faça, os motivos para um rei com
saúde fazer isso podem ser bem bizarros. Não acho que minha
família deva passar por isso — falou com tranquilidade e desceu a
mão para a curva do meu bumbum. — O sol está se pondo.
Viramos para o campo, vendo-o sumir entre as árvores e
ficando cada vez mais escuro. Coloquei minha perna em cima de
sua coxa, ele arrastou os dedos por minha pele arrepiada e foi
subindo por dentro da minha saia. Se estivéssemos sendo
observados, só um fotógrafo com lentes de visão noturna poderia
perceber que o príncipe certinho estava com os dedos safados na
minha boceta e a boca me dando beijos realmente pecaminosos.
9 | Khloé.
Um bom dia para mim começava com café gostoso, ioga e
quando no campo, uma caminhada no ar puro. Depois dos meus
encontros com Leonard, sexo matinal se tornou uma ótima maneira
de acordar. Era a quinta vez que nos encontrávamos. Não que
estivesse contando, mas era importante enumerar quantas manhãs
tive um prazer que melhorou meu humor completamente.
— Bom dia, linda. — Ele beijou meu pescoço depois de me dar
um orgasmo fenomenal.
— Sim, isso que eu chamo de um bom dia. — Suspirei,
acariciando seu braço. — O que vai fazer hoje?
— Nada. É meu último dia aqui em Londres e eu quero
aproveitar com você.
Palavras perfeitamente doces de se ouvir. Ele era um príncipe
em todos os momentos.
— Não tenho nada demais para fazer. Apenas ficar em casa,
aproveitar o dia e comer besteiras, meus dias de folga estão
acabando.
— Então, é isso o que faremos.
Levamos mais de uma hora para sairmos da cama, entre
cochilos e beijos, a fome finalmente venceu. Tomamos banho
separadamente, mas ele não achou necessário vestir mais do que
uma cueca. Fiquei com um biquíni na parte de cima, short jeans e
claro, música. Leonard mostrou seus dotes culinários ao preparar
torrada com frutas, café preto e ainda fez um show com seus
músculos, espremendo laranjas na mão para o nosso suco.
— Isso foi bem rústico.
— Eu sou seu herói, confesse. — Ele beijou minha bochecha.
Na cabana faltavam algumas coisas, ela tinha o básico, mas se
eu fosse usá-la para meu refúgio de folga, precisaria de mais alguns
itens necessários para ficar tranquila. Minha agenda estava muito
apertada nas próximas semanas, depois de uma viagem à Itália,
teria muito trabalho em Londres. Pelo menos, dormiria na minha
própria cama. Leonard precisava voltar para sua vida de príncipe.
Eu não sabia se nos veríamos novamente. Não falamos sobre
aquilo. Era apenas aqueles encontros, um refúgio de férias e nada
mais. Não era boba em fantasiar uma vida que não nos pertencia. A
realidade fora da simplicidade da cabana nos engoliria em um piscar
de olhos e tudo que queria era aproveitar cada minuto que tínhamos
juntos.
Uma parte da grama do quintal dos fundos estava com sol. Nós
escolhemos ali para forrar o cobertor. Tirei meu short, deitando de
bruços com meu biquíni branco e ele ficou ao lado, lendo um livro
sobre política que fazia parte da decoração da casa.
— Não vai precisar de um protetor solar? — ele questionou.
— Não está forte o suficiente para isso. — Soltei uma risada.
— Então, não precisa de um bronzeador? — insistiu, me
fazendo rir mais ainda.
— Só preciso que tire a parte de cima do meu biquíni e pode
ficar à vontade para ficar com as mãos em mim. — Tirei meu cabelo
do caminho, prendendo-o no alto. Ele deixou o livro de lado e fez a
difícil tarefa de soltar os laços, beijando da minha nuca até as
covinhas de vênus que ficavam acima do meu bumbum.
Fiquei toda arrepiada.
— Você é tão gostosa — ele sussurrou no meu ouvido. — Acho
que estou perdidamente apaixonado pela sua bunda. — Esfregou
um pouco sua empolgação em mim.
— É mesmo? — Virei um pouco o meu rosto e ele beijou minha
boca, a língua provocante junto aos dedos fazendo maravilhas nos
meus mamilos me deixaram excitada imediatamente. — Será
atentado ao pudor fazermos isso aqui?
— Os vizinhos podem considerar isso, mas podemos fazer não
muito longe, bem ali, na sala. — Ele apontou e eu fiquei de joelhos,
fazendo um show ao rebolar contra sua ereção antes de levantar e
entrar em casa. Leonard fechou as portas e me atacou, caímos no
sofá aos beijos, mordendo e deixando marcas de chupões onde
conseguíamos.
Ele segurou meu cabelo enquanto eu estava de quatro na
frente dele e meteu gostoso, batendo nas minhas nádegas para
deixar marca. Eu não estava me importando que lembranças do
seus dedos ficariam ali. Seria um souvenir do nosso período de
férias. Algo que começou sem que esperássemos e tomou nosso
tempo, consumiu tudo. Bastava um olhar e estávamos ali, transando
freneticamente.
Nós não vestimos mais roupas pelo restante do dia.
Cozinhamos, ouvimos música e bebemos todo vinho disponível.
Dormimos por pura exaustão. Na manhã seguinte, pesou no meu
coração a partida. Ele se vestiu tranquilamente e parou do meu lado
da cama, sentando na ponta. Segurou minha mão e deu um beijo.
— Eu sei que nós ignoramos todas as partes difíceis que a
nossa vida real implica.
— Acho que foi mais fácil assim. — Dei de ombros. Eu não era
conhecida por enfrentar meus problemas de frente, se pudesse
evitar. Minha personalidade era muito sobre evitar uma briga porque
quando entrava em uma, era difícil sair.
— Quero te ver de novo.
— Como faremos isso? Encontros secretos?
— Enquanto der certo sim, talvez, podemos resolver uma coisa
por vez. Estamos nos conhecendo, não precisamos de nenhuma
pressão, o que não significa que não podemos aproveitar o tempo
que tivermos. Estarei em Londres no próximo mês para um evento
importante da minha irmã, posso estender minha agenda por mais
uma noite.
Leonard parou esperando a minha reação e sorri.
— Eu vou adorar te encontrar. — Inclinei-me e dei um beijo
suave em seus lábios. — Minha vida é um pouco louca, nem
sempre consigo estar com meu telefone na mão, então, se eu
demorar a responder… não leve para o lado pessoal.
— Vou tentar, contanto que em algum momento, me responda.
Como era possível já estar sentindo saudade dele?
Leonard foi embora depois do café da manhã e eu arrumei
minhas coisas com mais calma. Guardei tudo no carro e deixei a
casa limpa antes de partir. Para espantar o sentimento estranho,
coloquei Alanis Morissette a toda altura, fui dirigindo e cantando
bem alto. Quando cheguei em Londres, abaixei só um pouco, ainda
assim uns homens de um carro ao lado me olharam como se eu
fosse louca. Dei a língua e a partida quase ao mesmo tempo,
chegando no meu prédio.
Era pequeno, charmoso e de apartamentos amplos. Retratava
palacetes, com a fachada antiga e por dentro, a única modernidade
que tinha era o elevador. No mais, tudo parecia fofo. Custou uma
pequena fortuna, mas eu amava morar ali. O mordomo do prédio me
ajudou com as malas, era muito gentil e cuidava de todas as
moradoras como um avô atencioso.
Duas eram modelos da mesma agência que eu. Não éramos
amigas, mas também não éramos inimigas. Convivíamos bem o
suficiente para dividir o mesmo carro de transporte em viagens e
como não brigávamos, escolhíamos ficar juntas quando a marca
não pegava um quarto para cada modelo. As outras duas
moradoras eram empresárias que viviam mais viajando do que em
casa.
Separei as roupas para lavar e recebi a mensagem de
intimação das minhas irmãs, querendo saber o motivo do meu
sumiço e se tive novos encontros com o bonito misterioso. Nunca fui
de esconder o nome dos meus pretendentes e decidi contar, porque
sabia que não contariam a ninguém. Kourt quase caiu da cama e
Kim, deixou um copo do bar virar em um cliente.
— Você simplesmente pegou o Príncipe de Rainland? — Kim
correu para seu escritório e estava pulando no lugar. — O homem é
cobiçado por muitas, sempre na lista de solteiros mais bonitos. Ele e
o amigo que casou, acho que o sobrenome é Megalos, eram de
deixar as calcinhas caírem quando passavam. Ele estar solteiro
causa muita revolta aqui em Rainland. O povo espera que ele se
case no próximo ano, principalmente porque precisa ter filhos.
— Ele tem trinta e poucos, não é um crime ser solteiro — Kourt
falou em defesa dele. — A coisa é séria?
— Claro que não! Estão malucas? São encontros, não um
namoro. O sexo é incrível, eu nem sei descrever o que acontece,
nunca imaginei que a coisa podia ser boa de verdade. Nós
gostamos do mesmo estilo de música, temos muito assunto e ele é
adorável, como um príncipe encantado.
— Que fofo! Será que minha irmã vai ser a futura Rainha de
Rainland?
— Cala a boca, Kim! — resmunguei. Não tinha nenhuma
graça.
Ignorei minhas irmãs fazendo piadas e conversamos sobre
outras coisas importantes para nossa família antes de encerrar a
chamada. Lavei as roupas e organizei o apartamento antes de
começar a cuidar da minha pele, para no dia seguinte bem cedo
voltar à minha rotina maluca, bem corrida. Cortei algumas frutas
para fazer um suco detox e coloquei-as no congelador.
Estava quase indo dormir quando meu telefone vibrou. Leonard
enviou uma mensagem. Meu coração chegou a pular no peito antes
de abrir.
“Estava experimentando um novo traje quando meu mordomo
gentilmente perguntou se eu precisava de pomadas para os
hematomas”.
Soltei uma gargalhada bem alta. Estava com novos chupões
nos meus mamilos e não reclamaria sobre.
“Ops! Existe alguma punição por deixar chupões no corpo de
um príncipe? Em minha defesa, ele era tão gostoso que não pude
resistir”
Leonard não demorou a mandar uma resposta.
“Se houvesse punição, com essa resposta, você seria
condenada a viver com a boca em mim”.
Safadinho.
“Trinta dias e contando para matar o desejo que você está
fazendo crescer agora”.
Ele mandou várias carinhas rindo e por último, um diabinho.
“Espere só para ver o que tenho preparado para os próximos
dias. Você vai ficar louca de saudade de mim, linda. Tanto quanto já
estou de você”.
Soltei um grito e me joguei para trás na cama, batendo as
pernas, empolgada com as borboletas causando estragos no meu
estômago. Deixei o telefone contra o meu peito, como se, de alguma
maneira, eu pudesse abraçá-lo à distância e transmitir toda loucura
que estava me fazendo sentir, quando pensei que meu coração,
adulto e incrédulo, nunca mais pudesse ser derretido por uma
paixão tão leve e jovem.
10 | Leonard
Rainland.
Estar em casa depois de tanto tempo era bom, mas daquela
vez, não houve o sentimento desesperador de buscar conforto nas
minhas coisas, porque estive mais do que bem nos últimos dias. Foi
um descanso de verdade. Como Apolo brincou em nossa chamada,
eu estava com o brilho de quem havia tirado as férias mais incríveis
da vida e foram apenas dias, em que eu encontrei uma mulher
maravilhosa para passar o tempo e esperava poder vê-la
novamente.
Era um fragmento de felicidade que eu estava me permitindo
viver por um tempo. Não era egoísta em arrastá-la para o inferno
que era minha vida. A exposição e cobrança poderiam levá-la à
loucura. Khloé não escondeu o quanto era livre e gostava de poder
fazer o que bem entendia. Era dona de si mesma, controlava a
própria carreira e tinha planos bem sólidos.
Mesmo que tudo desse certo, que a paixão fosse inevitável, ela
seria condenada a uma vida de sorrisos e acenos, uma coroa na
cabeça e mantendo-a no lugar a todo instante para governar um
país ao meu lado. Nenhuma mulher independente gostaria de abrir
mão da própria vida por isso. No entanto, ela era charmosa,
inteligente, cheirosa, dona de um sorriso lindo, que gemia gostoso
cada vez que eu metia e me abraçava de noite quando ouvia um
barulho estranho fora da cabana.
Ela tinha o dom de transformar qualquer assunto em algo
interessante. Eu podia passar horas observando-a falar sem perder
o foco, justamente porque sua boca era hipnotizante e eu um beija-
flor, querendo mais de seu doce. Cada minuto que passamos juntos
foi memorável. Eu já tive bons encontros e me envolvi brevemente,
sem profundidade, com mulheres memoráveis, mas Koko era única
em todos os sentidos da palavra.
Deitei para dormir e acordei muito cedo, fiz uma corrida pelas
trilhas ao redor do palácio e voltei a tempo do café da manhã com
meus pais. Era costume quando passava algum tempo fora de casa.
Meu mordomo deixou minha roupa separada e como sempre pedia,
me deu privacidade para me vestir e fazer minhas coisas sozinho.
Era comum ser vestido, principalmente se fossem trajes especiais,
mas eu gostava de ter um pouco de independência como um ser
humano normal.
Fui anunciado na sala principal e meus pais já estavam na
mesa com seus convidados.
— Leonard, querido! Seja bem-vindo! — Mamãe me abraçou
apertado. — Espero que tenha sido informado que a família
Lancaster passará a temporada de verão conosco.
O que ela estava aprontando?
— Duque e Duquesa, desejo uma ótima estadia na companhia
dos meus pais. — Dei a eles um sorriso.
— Oh, eles não estão sozinhos! Priscila deixou Londres,
terminou a faculdade e passará esse tempo conosco, também. —
Mamãe parecia muito feliz e eu entendi. Ela estava tentando bancar
a casamenteira de novo. — Ela está ansiosa para cavalgar pelos
campos ao redor do palácio e imagino que meu atencioso filho tirará
um tempo na sua agenda para atender a esse doce pedido. Não é
mesmo?
Eu não falei nada. A resposta que subiu e travou na minha
garganta não era educada para o horário. Desviei o assunto para
cumprimentar meu pai e ocupei meu lugar. Mamãe não foi nada sutil
em me colocar ao lado de Priscila, que chegou no café minutos
depois de mim, para ter uma entrada com bastante atenção.
Conhecia todos os truques, minha irmã foi orientada quando nova
para ser graciosa e atrair olhares em sua posição como princesa.
Isso se a minha própria mãe não tivesse dado alguns toques.
Não era mais segredo que a rainha estava desesperada para
casar o filho mais velho. Depois que deu o golpe juntando Charlotte
com Ethan, eu estava bem escaldado com seus truques.
Priscila era jovem, bonita, discreta, educada no meio e eu
podia imaginar o motivo pelo qual achavam que ela seria uma
esposa perfeita. Se estava ciente dos planos da minha mãe, era por
isso que a rainha estava empolgada. Mamãe queria que a nora
fosse alguém que pudesse manipular, que nunca aparecesse mais
do que ela e não atraísse tanta atenção, ofuscando seu papel de
rainha.
Minha primeira reunião do dia foi com meu pai. Aguardamos no
escritório seus secretários ficarem prontos. Enquanto ele falava com
Charlotte e tentava dar um pouco de juízo no trem desgovernado
que minha irmã se transformava quando queria algo, fiquei trocando
mensagens safadas com Khloé. Ela estava usando roupas íntimas
para um ensaio e me enviou algumas fotos bem interessantes.
— Espero que não esteja fazendo parte desse plano ridículo da
mamãe em tentar me juntar com a srta. Lancaster — falei com meu
pai.
— Eu disse a ela o mesmo. Aprendi a minha lição — papai me
respondeu com tranquilidade. Sabia que não estava mentindo
porque sempre que o fazia, piscava excessivamente. — Eu não
posso impedi-la de convidar pessoas. Estou tentando conversar,
mas está irredutível sobre o povo estar precisando de um noivado e
casamento para se distrair.
— Rainland não está enfrentando problemas. Nossa
popularidade está em alta e temos o apoio do povo nas mudanças.
Que tipo de distração ela quer causar?
— Sua mãe é uma pessoa independente de mim, Leonard. Ela
tem os próprios planos e pensamentos. Se você não quer um
casamento, não terá um.
Duvidava que fosse tão simples assim quando se tratava dos
planos ardilosos da minha mãe. Ela só pararia mediante uma briga
feia. Deixei o assunto de lado e foquei minha atenção na reunião,
alinhando os pontos que iriam a público no próximo mês e os
eventos que seriam oferecidos no palácio, com a demonstração dos
gastos exibidos na página de finanças da família real.
Falamos sobre o crescimento dos ataques da onda
democrática e expressei minha preocupação a nível pessoal. Por
mais que entendesse ser direito do parlamento criticar a reforma
que aprovei, também entendia que não havia razão para tanto ódio.
Decidimos emitir um comunicado para tranquilizar a população e
obviamente, expor e explicar muito bem todos os gastos.
Meu pai saiu e a equipe que cuidava da minha imagem na
internet entrou para mostrar as próximas postagens no meu perfil.
Eles estavam falando sobre métricas e alcance de comentários
quando Khloé finalmente me respondeu. Ela não mentiu quando
disse que podia levar horas para mandar uma simples carinha e
dizer que mais tarde me daria mais atenção.
Depois de um dia inteiro sendo observado, filmado e
fotografado, como era comum nas alas principais do palácio,
finalmente fiquei sozinho no meu escritório. Tinha cerca de quarenta
minutos para tomar banho e estar apresentável para o jantar. Eu
tinha a opção de não comparecer, mas não seria educado,
principalmente sendo a primeira noite dos convidados no palácio.
Tirei uns minutos para retornar a ligação de Louis. Ele estava
curioso sobre meu desaparecimento na minha folga. Furei um jantar,
por mal ter prestado atenção na mensagem que enviou.
— O que vai fazer agora? Continuar encontrando às
escondidas? — Louis estava apertando uma bolinha azul e olhando
para a tela.
— Por enquanto, sim. Cedo ou tarde iremos terminar.
— Então, o que vai fazer? Acabar se casando por contrato com
alguém que vai ter completa ciência do seu papel? Ou viver sozinho
pelo resto da vida?
— Ainda não penso em casamento. Deveria. Está chegando a
hora. Só não consigo aceitar a ideia de me casar por um acordo e
ao mesmo tempo, é completamente injusto, mesmo por amor, pedir
que alguém abra mão de toda sua vida para viver no inferno.
Louis ficou em silêncio.
— Espero que não esteja me julgando. — Adicionei com
acidez.
— Não. Apenas refletindo o fato de que você nunca amou de
verdade, porque só assim saberia sobre a força do amor. Não há
como explicar, vai precisar viver, só quero que me prometa que
quando acontecer… não desista pelo medo de ferir alguém. Existe
um caos na realeza, eu sei disso, mas se ela te amar de verdade e
estiver disposta, juntos vão poder passar por isso. — Louis parecia
muito sério. — Catherine estava afundando nos últimos meses, mas
nós dois conseguimos porque tínhamos a força um do outro.
Prometi, mas sem muita vontade. Louis encontrou o amor em
uma amiga. Catherine conhecia a vida louca de sua família, tinha
muitos irmãos e era uma mulher desprendida, além do título do meu
primo não lhe privar de nada. Ele abriu mão da vida na realeza para
ter liberdade. Eu não considerava essa possibilidade, porque
aceitava a coroa como parte de quem eu era.
Esfreguei minha nuca, me preparando mentalmente para ser
educado, evasivo e cordial o suficiente para não demonstrar
interesse. Preparei-me para o jantar, cheguei no horário e pude
pegar minha mãe sozinha, ainda ajeitando as flores.
— Você está fazendo planos. — Parei ao seu lado, ajudando-a
a cortar alguns galhos. — Apenas pare.
— O que custa conhecê-la melhor? Ela é tão adorável!
— Eu não me importo. Não dê esperanças a essa família e não
se atreva a me envolver em um noivado sem meu consentimento.
— Não farei isso. Um certo príncipe herdeiro fez barulho ao
revogar a lei que prendeu Charlotte a um casamento. — Ela tentou
soar brincalhona, mas o meu olhar sério a fez parar. — Tudo bem.
Eu quero sim, que a conheça. Priscila é encantadora e será uma
boa princesa, apenas isso. Você não parece interessado em mulher
alguma, achei que precisava de um empurrãozinho.
Definitivamente, não precisava da minha mãe me arrumando
encontros.
— A não ser que seja gay. — Ela arregalou os olhos. — Você
é, querido? Pode sair do armário com a mamãe.
— Sua falta de noção não é encantadora, querida. — Dei um
tapinha em seu ombro e me afastei quando papai entrou com a
família Lancaster. Eles devem ter se encontrado na entrada e foram
anunciados quase ao mesmo tempo, sem respeitar a formalidade.
Dessa vez, antes que todos sentassem, peguei um lugar entre
os meus pais. Assim, eu não precisaria manter nenhuma pessoa ao
meu lado completamente entretida ou ter que responder perguntas
para formalizar uma conversa. Mamãe ficou um pouco emburrada.
Ela odiava ser contrariada e não ter como contornar a situação a
seu favor, mas foi obrigada a disfarçar para que os convidados não
percebessem e, com isso, eu comi em paz, contando os minutos
para subir e ter minha troca de mensagens com Khloé.
11 | Khloé.
Acordei com o som da campainha e saí da cama muito
confusa, mal havia dormido, acabava de retornar da viagem à Itália,
que foi muito exaustiva. Com sono, fui trombando pelo apartamento
até a porta de entrada, onde o porteiro aguardava com cinco
entregadores, cada um deles segurando dois vasos enormes de
rosas brancas. Sem entender direito, deixei que entrassem para que
colocassem tudo na mesa para mim.
Eles entregaram tudo, pediram uma assinatura e deixaram um
envelope ornamentado muito bonito próximo de um dos vasos. Meu
apartamento parecia uma floricultura. Era lindo. Curiosa sobre a
marca que havia me mandado flores, fiquei completamente surpresa
ao descobrir que eram de Leonard. Em sua mensagem, me
desejava um bom retorno e que estava ansioso para me ver.
— Eu odeio que você seja tão fofo — falei sozinha. Como iria
proteger meu coração dele?
Era certo que não passaríamos de encontros diversos e
divertidos. Tudo que não precisava era me apaixonar e o pior de
tudo, Leonard não tinha noção do que estava fazendo. Ele não me
passava a energia de conquistador, apenas queria me agradar e me
fazer feliz, era algo da natureza dele. E eu adorava me sentir tão
paparicada.
Foi uma viagem exaustiva. Mal tive tempo para comer, acabei
perdendo peso ao ponto de não conseguir treinar. Felizmente, tanto
os desfiles, como as provas de roupas e as fotos, ficaram perfeitas.
Tiraria uns dias só para comer, cuidar do meu corpo, descansar e
organizar minha agenda de trabalho. Minha tia meio que deu uma
limpada para que eu pudesse me reconectar com a escrita. Fui
convidada para escrever uma coluna sobre lifestyle e moda para
uma grande revista, eles até me acompanhariam um dia inteiro.
Tirei umas fotos das flores e mandei para Leonard,
agradecendo. Ele me ligou quase que imediatamente.
— Bom dia. Já está em Londres?
— Olhando para a janela do escritório e imaginando a sua
reação ao receber as flores.
— Como está o evento da sua irmã?
— Começará em trinta minutos. Estou aqui para representar
Rainland, ou eu estaria aí, tirando sua roupa e fazendo coisas mais
divertidas.
— Amei as flores e amaria ainda mais comemorar o
recebimento delas montando em você.
— Hoje à noite. — Ele soou rouco, cheio de desejo.
— Sem falta — prometi.
Por trinta dias, ele foi a única pessoa que me fazia largar tudo e
pegar meu telefone. Marc percebeu o quanto fiquei distraída em
algumas fotos, querendo saber se uma nova mensagem havia
entrado. Eu passei várias noites acordada, em chamadas de vídeo
com ele. Nem sempre era uma conversa picante e sexo, a maior
parte, foi conhecendo o homem incrível que ele era. Tão doce,
educado, cheio de bons pensamentos e um desejo de fazer a
diferença através do próprio nome.
Um príncipe da cabeça aos pés. Íntegro e amoroso com o país,
que também tinha seus momentos de irritação e aparecia exausto
da maratona de trabalho. Ele amava filmes nerds, tinha coleção de
quadrinhos e se ofendia de verdade com qualquer piada sobre o
que gostava. Leu alguns dos meus escritos e me orientou em
trechos, sendo muito bom com coesão e ortografia.
Ele disse que eu colocava minhas emoções nos textos, algo
que meus professores tentaram tirar a todo custo. Quando era sobre
os trabalhos da universidade, conseguia me concentrar e sair ilesa
nas notas. Toda vez que escrevia o que estava no meu coração, era
sobre minhas emoções correndo por todo lado e sendo eternizadas
em um papel.
Organizei as flores pela casa e segui a minha rotina pós
viagem, me preparando para a noite. Kim me ligou, me enchendo o
saco sobre tirar minhas próximas férias em Rainland. Faltavam
quase oito meses e ela já queria se organizar. Entendia que, ao
planejar uma expansão no bar e vários eventos para atrair clientes,
ela gostaria de ter certeza de que me daria toda a atenção.
Seria infinitamente mais fácil se a minha família inteira morasse
no mesmo país, assim não precisaríamos de tanta logística para nos
vermos.
— Eu prometo que irei pensar.
— Aceito dividir sua atenção aqui com o príncipe gostoso —
ela brincou e ao fundo podia ouvir os copos batendo.
— Em oito meses? Claro que não estaremos juntos até lá!
Talvez sejamos amigos, porque imagino que poderemos ter uma
longa amizade, mas sabe das consequências.
Kim estalou a língua, completamente insatisfeita com a minha
linha de pensamento.
— Ser você deve ser tão chão, Koko. Sempre pensando no
melhor para todos e nunca na própria felicidade. Meu amor, tira a
calcinha, coloque a coroa na cabeça e monte no homem se é o que
o seu coração deseja. Ficar preocupada com o que os outros irão
pensar é perder tempo e energia que pode ser aproveitada em algo
bom, como o sexo incrível que disse que vocês dois têm.
Eu ri e só isso. Kim era uma sonhadora. Ela ficou pela Europa
com uma mochila nas costas querendo se encontrar e achou um lar
em Rainland, fez amigos e finalmente se estabeleceu. De todas as
minhas irmãs, eu era a mais centrada, pé no chão, sempre
buscando a realidade, talvez porque a vida tenha me ensinado da
maneira mais dura o quanto sonhar podia ser prejudicial. Desejar ter
algo a mais com Leonard só me machucaria.
De todas as coisas boas que estavam acontecendo entre nós,
ter meu coração partido não era exatamente o que eu precisava.
Deixei os pensamentos esquisitos de lado e preparei meu
apartamento para recebê-lo mais tarde. No coração de Londres, era
o último lugar que poderíamos nos encontrar sem sermos vistos. Fui
surpreendida mais uma vez com uma mensagem, pedindo para não
me preocupasse com o jantar e só me arrumasse para o nosso
encontro.
— O que vamos comer, engraçadinho? — questionei por áudio.
Ele adorava ser enigmático. — Fala sério, sou modelo, mas não
significa que não goste de comer.
Leonard riu ao ouvir minhas mensagens e somente isso.
Em nosso primeiro encontro, usei preto e em todos os outros,
as cores neutras que tinha na mala. Em casa, havia muito mais
opções para deixá-lo com a língua enrolada dentro da boca e
babando feito um cachorro. Escolhi um vestido vermelho de cetim,
sem sutiã, e apenas uma calcinha preta de renda por baixo que era
bem pequena. Como Leonard era alto, podia abusar do salto.
Estava colocando as joias quando ele mandou uma mensagem
pedindo para que eu abrisse a porta e em seguida, a portaria me
avisou que havia uma equipe de um restaurante na minha entrada.
Todos haviam sido verificados por seguranças da Lewis. Eu não
fazia ideia que empresa era Lewis, mas era a mesma que Leonard
havia dito por telefone.
Abri a porta e eles tomaram conta da minha cozinha,
preparando o jantar. Trouxeram panelas, pratos, organizaram a
mesa, de repente, estava tudo cheiroso e parecendo um restaurante
de luxo.
— Está tudo pronto. Deixamos a instrução de como manter
tudo aquecido e servir. Tenham uma boa noite. — A Chef sorriu e foi
embora com a equipe.
Caramba! Eu estava em choque.
Terminei de arrumar e ele chegou. A campainha tocou
diretamente porque deixei sua entrada liberada. Abri a porta e sorri.
Leonard estava gostoso, usando um conjunto de terno de três peças
com um colete em um tom de cinza mais escuro. Ele desceu o olhar
do meu rosto e lentamente foi me comendo com os olhos. Sem
perder tempo, segurou minha cintura e beijou meu pescoço.
— Porra… cheirosa. — Arrastou o nariz até minha bochecha,
parando bem pertinho da minha boca. — Linda é pouco para te
descrever.
— Sentiu minha falta?
— Cada maldito minuto. — Ele sorriu e me beijou. Ah, sim!
Aquele beijo era o que faltava nos meus dias. Agarrei-o e puxei para
dentro. Eu não tinha vizinhos de porta, mas não precisávamos dar
um showzinho no corredor.
Leonard fechou a porta com um chute, sem me soltar. Nos
beijamos até que fiquei completamente sem gloss e sentada em seu
colo, falamos um pouco sobre nosso dia. Ele estava com a agenda
muito cheia e passaria pouco tempo em Londres, então, me senti
muito importante por ele ter feito de tudo para passar um tempo
comigo.
— Estou me sentindo um pouco egoísta em estar aqui ao invés
de deixá-la descansar. Você parecia tão cansada ontem…
— Adorei seu egoísmo, tornou meu dia ainda melhor com as
flores e a surpresa do jantar. Aliás, sei que é um príncipe e
provavelmente tem contatos, mas como conseguiu isso?
— Minha tia é CEO de uma rede de restaurantes de luxo e eu
fiz um pouquinho de charme para conseguir atenção da gerente que
está no lugar dela. — Ele soou como um garoto travesso que fez
arte e não se arrependia. — Alicia deve me matar por isso quando
voltar. Detesta que a gente mexa com o trabalho dela.
— Jogando seu charme por aí, Leonard? — Dei um beliscão
suave em sua barriga.
— Só para ter o que preciso. Se for para agradar a minha
garota, eu realmente farei de tudo. — Beijou meu pescoço. Minha
garota! — Está com fome?
— Apesar do cheiro, não sinto fome de comida agora, só de
um certo cara gostoso… — Fui desfazendo o nó de sua gravata. Ele
relaxou no lugar, me deixando tirar sua roupa. Abri o botão do colete
e espalmei a mão em seu abdômen, puxando a camisa. — Passei
muitos dias longe do que eu queria para simplesmente sentar à uma
mesa e apenas ficar te olhando…
— É bem provável que eu derrube a mesa só para ter você.
— Um jantar nudista depois?
Leonard sorriu e mordeu o lábio.
— Eu quero você, Khloe. Quero tanto que meu coração chega
a ficar acelerado.
Parei ao sentir a verdade em suas palavras.
— Estou aqui, Leonard — garanti, olhando em seus olhos. —
Estou bem aqui e sou sua.
— Essa é a melhor coisa que ouvi hoje e provavelmente, será
sempre a melhor que ouvirei saindo de sua boca.
Emocionada, beijei-o com todo sentimento que jurei que não
deveria ter por Leonard. No entanto, permitiria que meu coração
sonhasse naquela noite. No dia seguinte, tudo estaria de volta ao
lugar.
12 | Khloé
Ergui meu rosto só para ver os lábios dele arrastando-se
suavemente pela curva da minha cintura. Ele me olhou e sorriu,
dando uma mordida pouco acima do osso do meu quadril e
espalmando a mão grande em minha barriga. Arranhei sua nuca,
ciente de que estava fazendo o caminho novamente para entre
minhas pernas, dessa vez com a boca.
A primeira rodada foi puro desespero. Estávamos mais calmos,
mas ainda com muito desejo. Ele afastou meus joelhos e, com o
polegar, acariciou meu clitóris sem desviar os olhos dos meus. Mordi
minha boca, sentindo prazer e ansiosa para ter sua língua entre
minhas dobras. Empurrei meu quadril para cima, em um convite
silencioso. Ele riu, abaixando o rosto e me dando uma deliciosa
chupada enquanto beliscava meu mamilo.
Fechei os olhos, segurando seu cabelo e puxando, minhas
pernas inquietas reagindo ao prazer que ele me causava. O
orgasmo foi crescendo e não o controlei, deixei explodir e caí para
trás, estremecendo. Leonard lambeu a boca antes de me beijar,
busquei sentir sua ereção, esfregando minha boceta molhada em
sua extensão. Ele agarrou meu cabelo, gemendo e tateou a cama
em busca de uma camisinha.
— Coloque em mim. Estou louco para te foder de novo — falou
com rouquidão. Sua voz pingava desejo. — Porra, eu amo sentir
suas mãos no meu pau.
— Tanto quanto gosta da minha boca? — Coloquei a camisinha
e mordi seu queixo.
— Seu boquete é espetacular. Tanto que estamos na cama,
não jantando. — Ele riu suavemente. Olhamos para onde nossos
corpos se uniam e gememos. A visão era esplêndida.
Com minhas pernas cruzadas em sua cintura, inclinei-me para
trás e o encontrei a cada estocada, rebolando. A cama estava
bagunçada, lençóis por todo lado, meu quarto cheirava a sexo e
nossos perfumes. Era o aroma mais sexy de todos. Cada vez mais
perto do orgasmo, nos beijamos. Mordi sua boca ao gozar e me
afastei para observar a expressão linda daquele homem chegando
ao ápice.
Ele sempre soltava o gemido mais foda de todos, me dava
vontade de começar tudo novamente. Deitando a cabeça suada
entre meus seios, olhei para o teto e sorri. Ele beijou um caminho
até minha boca, tirou a camisinha e jogou fora. Seus olhos
brilhantes atraíram a atenção dos meus. Seu estômago roncou, nós
nos encaramos e rimos.
— Acho que deveria ter te alimentado ao invés de atacá-lo. —
Sentei-me na cama, precisando de um banho. — Vou para o
chuveiro e então iremos comer.
— Eu não pensei em comida quando te vi. Posso invadir seu
banho?
Nunca havia compartilhado o banho com alguém e me vi
dizendo sim, com um sorriso safado. Ele me pegou e foi nos
empurrando para dentro do box. Debaixo da água, sem camisinha,
fomos criativos ao brincar. Já fora do banheiro, ele vestiu a cueca e
eu me enrolei em um roupão de cetim, sem sentir a necessidade de
usar algo por baixo. Leonard acendeu as velas e pegou o vinho,
lemos as instruções juntos e ao invés de seguir a cartilha com os
pratos, fizemos um só e experimentamos um pouco de tudo.
Peguei uma fatia do pão com molho e o ofereci. Ele mordeu,
me olhando.
— O que foi? Tem algo a dizer?
— Não posso admirar sua beleza?
— Você diz que sou linda o tempo todo, já deveria ter se
acostumado com meu rosto.
— O que posso fazer se sou sortudo de poder estar aqui?
— Galante. — Beijei-o e fui para o seu colo. Em algum
momento, precisaríamos falar sério sobre nós, mas não seria ali.
Parecia que fizemos um acordo em ignorar a realidade e vivermos o
quanto podíamos daqueles encontros secretos. — Sabe que adoro
quando banca o charmoso?
— Eu sou um poço de charme e formosura. Não tem outro
exemplar por aí, então aproveite.
Nós não dormimos muito naquela noite e nem em todas que
nos encontramos em Londres. Ele precisou voltar para Rainland um
pouco mais cedo e me comprometi em ir vê-lo. Leonard tinha uma
casa em uma cidade adorável, mandou me entregar as chaves e
minha irmã certamente me mataria se descobrisse que depois de
um trabalho na França, voaria direto para o país que morava e
sequer passaria na sua casa.
Era loucura de amor. Eu nunca encaixaria uma viagem
cansativa entre dois trabalhos importantes. Pior de tudo: não
conseguia me arrepender. Organizei minha mala para todos os dias
que passaria fora. O mordomo me ajudou com elas e o motorista
enviado pela minha agência já me aguardava.
— Oi, gata garota! — Tia Evelyn me abraçou no aeroporto.
— Oi, tia. Animada?
— Bastante! Você será capa de duas revistas e isso me faz
querer explodir! — Ela riu e pegou minha bolsa, entregando a um
dos funcionários para que carregasse. — Alguma novidade? Você
sumiu, sei que gosta de descansar, mas seu tio e eu ficamos
preocupados quando não apareceu para jantar depois da formatura
da Anna.
Abri um sorriso sem graça ao perceber que tinha esquecido
que minha prima mais nova estava se formando e iria se mudar para
a Escócia no ano seguinte.
— Desculpa, tia. Eu meio que me perdi nos compromissos
pessoais.
— Eu ficaria chateada se sua mãe não tivesse reclamado que
estava sempre dormindo nas suas folgas. Ela veio dar uma de irmã
mais velha e brigar comigo por estar te sobrecarregando de
trabalho. — Ela riu e respirei aliviada que não entramos na conversa
sobre: é algum namorado novo que deva me preocupar? Não era
uma boa mentirosa e logo saberia pela maneira que começaria a
gaguejar.
Nosso voo foi chamado e toda equipe sentou junto. Meu
gerenciador de imagem, Josh e Marc, meu fotógrafo favorito,
começaram a falar sobre os bastidores, como ficaria meu cabelo,
maquiagem e eu cobri meu rosto para tirar um cochilo antes de
pousarmos em terras francesas. Mal deu tempo de comer. Assim
que aterrissamos, colocaram uma marmita de salada crua na minha
mão, pegaram meu telefone e começaram a soltar os fios do meu
cabelo.
Assim que entrei no estúdio, não consegui terminar de comer.
Roubei um tomate, enfiando-o na boca. O cronograma estava
apertado. Lavaram meu cabelo e começaram a mexer nas minhas
unhas, um estica e puxa de cada lado até ficar pronta quando o
cronômetro marcou zero. Marc gritou que as luzes do estúdio só
precisavam da estrela principal.
— Isso aqui é uma calcinha, mesmo? Ela vai se perder na
minha bunda e eu nem tenho tanta assim! — Tirei o roupão e virei
de costas, aguentando o spray frio para que nada saísse do lugar.
A música ficava bem alta para não deixar minha animação cair.
Eu dancei e andei, fazendo as poses programadas, acostumada a
lidar com as luzes fortes, os cliques excessivos e até mesmo as
estripulias que os fotógrafos pediam, para que tivessem muito
material. Eu ia desfilar para aquela mesma marca e sempre era
chamada para usar a nova coleção.
— Koko! — Tia Evelyn me chamou no final do dia. Eu estava
exausta. — Esses são os novos acionistas da marca e estavam
ansiosos para te conhecer! Uma foto para a imprensa?
— Meu roupão, por favor? — pedi à assistente. Ela arrumou de
modo que mostrasse a renda do maior e o decote, jogando meu
cabelo para o lado e retocando o batom.
Eles foram gentis e cheios de mãos, querendo esticar aquele
encontro para um jantar. Depois das fotos, neguei gentilmente. Eram
os típicos que entravam para o mundo da moda, acreditando que
toda modelo bonita estava disposta a sentar em seus colos para
conseguir um novo trabalho. Eu sabia da existência do teste do sofá
e de muitos sacanas que abusavam da inocência das meninas para
obter sexo.
Tia Evelyn já havia me contado horrores de modelos que
chegavam até ela pedindo ajuda, que foram abusadas sexualmente
e exploradas em trabalhos. Eu tive muita sorte de tê-la sempre me
protegendo e agindo como um escudo. Entrei no camarim para
trocar de roupa, ansiosa para chegar no hotel, comer e dormir.
— Eu vou ter que apagar um chupão na sua virilha. Sei que a
maquiadora caiu na história de que você é estabanada, mas eu te
conheço. — Marc deu um tapinha na minha bunda. — Safada!
Koko, não sabia que tinha uma gatinha furiosa, aí.
— Cala a boca! Como vai Frank?
Marc parou de sorrir um pouco.
— Ele é incrível, uma bola de energia, sempre brincando e toda
vez que estou com ele, me sinto no lugar certo no mundo. Ele tem
pessoas que o amam e aceitam, muito diferente da minha família. É
esquisito estar em um ambiente acolhedor.
— E o que tem de errado?
— Não existe nada de errado, a não ser a nossa vida louca.
Está difícil conciliar as agendas. Em algum momento, um de nós
precisará abrir mão da carreira para poder acompanhar o outro.
Esse vai ser o momento de romper ou de cometer loucuras. — Marc
apertou meu ombro. — Não se preocupe com isso. Sei que vai se
apaixonar por um homem capaz de entender a sua carreira.
Ah… eu já estava enrolada por um que tinha uma vida pública
impecável e nossas agendas só estavam batendo porque
estávamos indo além, desviando de focos, mas aquilo não duraria
para sempre. Nem seria saudável estar o tempo todo planejando
viver às escondidas.
Não consegui esquecer a expressão preocupada de Marc
sobre uma decisão importante que ele teria que tomar com Frank.
Fiquei me questionando o que eu faria. Mesmo sabendo que não
seria modelo para sempre e por ter outros planos, era sério pensar
em uma mudança brusca de vida, ainda mais para uma como a de
Leonard.
O preço seria alto demais.
Pousei em Rainland alguns dias depois e esperei que o
funcionário dele me encontrasse. Havia um carro e um homem de
meia idade encostado nele, que se adiantou quando pisei na pista.
— Olá, srta. Green. Sou Arnold Grey, secretário da Vossa
Alteza Real, Príncipe Leonard de Rainland. É um prazer conhecê-
la.
— Olá, sr. Grey. Obrigada por vir me buscar.
— É uma honra. Irei levá-la para casa de veraneio, agora.
Eu sorri e esperei que pegassem minhas malas. A viagem foi
tranquila e silenciosa, não consegui dormir. A mansão, apesar de
linda e mostrar seu poder no meio de uma paisagem exuberante,
ficava em uma área discreta e longe dos olhos do público. Os
funcionários foram dispensados para nossa estadia. Agradeci ao sr.
Grey e fiquei sozinha, me ambientando, colocando as malas no
quarto para não deixar nada espalhado.
A geladeira estava abastecida, adega principalmente e eu
estava quase fazendo um lanchinho quando ouvi o barulho de um
carro se aproximando. Leonard parou dentro da garagem e passou
pelo corredor, abrindo a porta da cozinha com um sorriso. Nós
apenas nos olhamos e, sem falarmos nada, nossos pés foram de
encontro um ao outro.
— Oi, linda. Senti sua falta. — Ele me abraçou apertado.
Deitei minha cabeça em seu peito, finalmente me sentindo em
casa e em paz.
Leonard está pronto para ser rei.
Sabemos que ainda falta muito tempo para que ele assuma o
comando, mas nossa nota de hoje é para elogiar sua postura
exemplar diante dos ataques da onda democrática. Com classe,
educação, diálogo aberto e demonstrando muita fé em Rainland,
Leonard derrotou os argumentos contrários à reforma e venceu o
processo no parlamento.
Assim como seu pai não escondeu o orgulho, Rainland também
não. As redes sociais estão tomadas por figurinhas do príncipe em
sua pose imperial. Está registrado em nossa história! A monarquia
deixa claro que não impedirá o crescimento tecnológico do país.
THE SUNRISE
13 | Leonard
Rainland.
FIM
SOBRE A AUTORA:
Ela possui
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AGRADECIMENTOS
[1]
Charlotte e Ethan são protagonistas do livro O PRÍNCIPE QUE EU AMO.
[2]
Cat e Louis são protagonistas do livro O BEIJO DO PRÍNCIPE.
[3]
Frank é personagem do livro O BEIJO DO PRÍNCIPE
[4]
Uma Surpresa Para o Espanhol – Bebês Inesperados 2
[5]
Irmã do Ethan.
[6]
Irmã do Ethan.
[7]
Personagem do livro DIGA QUE ME AMA
[8]
A Noiva Inesperada do Sheik – Casamentos de Conveniência 2
[9]
A Herdeira Desejada Pelo Bilionário – Casamentos de Conveniência 4