Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
PERIGOSO
2020
1º EDIÇÃO
© M.C Mari Cardoso
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
autorização. Nenhuma parte desta publicação pode ser transmitida ou
fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.
Damon deu um passo à frente, pensei que ele fosse pegar uma das
minhas malas, nervosa, acabei dando um passo atrás e ele esticou a mão
firme, tirando os óculos escuros. Mordi o lábio ao me dar conta que ele
queria me segurar. Sem graça, coloquei o meu cabelo atrás da orelha e
segurei a sua mão. Estava quente e me envolveu, puxando com cuidado.
Assim que me afastei das malas, os outros dois homens pegaram as bagagens
e levaram para a SUV.
Meu futuro marido me deu um sorriso enigmático, abriu a porta do
seu carro cinza chumbo e me ajudou a entrar. Estava usando um macaquinho
branco, com sandálias plataformas bem altas e ainda assim, ele ficou bem
mais alto que eu. Deveria ter um pouco mais de um metro e noventa. Damon
era muito bonito, moreno, forte, tatuado, usava o cabelo castanho cortado e
uma barba sempre a fazer.
Seus olhos eram escuros e pareciam carregar uma escuridão
assustadora. Estava me sentindo muito intimidada para falar qualquer coisa,
agradeci a sua ajuda, ele deu ordens em italiano para os homens seguirem
diretamente para o hotel e fiquei um pouco confusa. Não ia embora para
minha casa e ficar com os meus pais até o casamento?
Damon deu a volta, entrou no lado do motorista e me deu um olhar.
— Coloque o cinto, Giovanna. — Ordenou, assenti e tive
dificuldade para aprender o local certo. Com cuidado, ele puxou e tirei o meu
cabelo do caminho. — É assim, só pressionar.
— Obrigada. — Empurrei e ele ainda ficou com a mão em cima da
minha por mais um tempo e eu estava confusa. Ele costumava evitar me
tocar.
Não havia um local para enfiar a chave, ele apertou um botão e o
carro soltou um ronco alto, olhei pela última vez para o lugar que foi o meu
lar nos últimos anos e a escola rapidamente desapareceu de vista, porque o
carro estava em alta velocidade pela estrada. Não levou muito tempo para o
lago Michigan surgir no meu lado direito. Estudei em Naperville, cidade
próxima à Chicago.
Damon ficou em silêncio e eu também, apenas observando a
paisagem e matando saudades da cidade. Após o trânsito meio chatinho em
algumas avenidas, Damon estacionou em frente a um lugar com uma entrada
sofisticada, tapetes vermelhos e correntes douradas.
Ele saiu do carro com toda a sua elegância e classe. Reparei que
algumas pessoas pararam para olhar, não só para admirar o carro em seu
design único, mas para olhar o homem bonito que o contornava. A família
Galattore era famosa, havia sempre um fotógrafo ou outro tirando fotos deles.
Damon, como dono da maior parte dos clubes adultos e noturnos da cidade,
era muito conhecido e queridinho por ser um bad boy .
Nos últimos anos ele desfilou com uma quantidade insana de
mulheres enquanto estive reclusa em uma escola católica para meninas. Ele
deu uma boa diminuída quando o nosso noivado foi anunciado ano passado,
mas as suas “traições” estamparam muitas revistas enquanto o meu perfil nas
redes sociais era controlado por ele, mantendo a imagem doce e agradável.
Fiz algumas sessões de fotos ao longo do último ano por ordem dele,
para manter as redes sociais alimentadas, mas eram sempre no meu quarto,
pelo jardim ou em algum lugar próximo.
Ele abriu a minha porta e me ajudou a sair, reparei que estávamos
em um hotel muito luxuoso. O carro foi com o manobrista e o Damon ficou
segurando a minha mão, andando decidido até o elevador, sem nenhuma
pausa. Ele apertou o vigésimo andar. Estávamos no The Langham, um dos
hotéis mais caros da cidade e após um corredor amplo, tirou um cartão-chave
do bolso. Deu um aceno, cumprimentando um dos seus homens que estava do
lado de fora do quarto.
Entramos no quarto e duas mulheres ficaram de pé imediatamente.
Elas estavam próximas de algumas araras de roupa e sorriram, mostrando a
ansiedade em agradar.
— Só um minuto, senhoras. — Ele foi todo sedutor. Franzi o cenho
e olhei na sua direção, irritada, e elas imediatamente pararam de sorrir.
Damon me levou para o quarto e fechou a porta. — Aqui será a sua casa até o
casamento.
— Pensei que fosse ficar com os meus pais. — Olhei ao redor e era
um quarto muito bonito, luxuoso e aquela cama parecia um sonho comparado
à cama de solteira do quarto que dividia com uma amiga no internato.
Damon me encarou friamente.
— Não. Você não é mais responsabilidade deles. — Em outras
palavras, eu não pertencia mais à minha família. — Para preservar a sua
reputação, não é adequado que se mude imediatamente para a minha casa.
— Quem são aquelas mulheres lá fora? — Inclinei a minha cabeça
para o lado, analisando-o e pensando que se dependesse dos meus
sentimentos naquele segundo, esse casamento seria um completo fracasso.
— Você vai precisar de algumas roupas adequadas para os eventos
nos próximos dias. Sei que tem a prova do vestido, a aprovação do cardápio
do casamento e outros compromissos para me acompanhar. Elas trouxeram
algumas coisas até que você possa fazer compras para si mesma...
Arqueei a sobrancelha me perguntando como ele poderia dizer se
meu estilo era adequado ou não, se mal saía da escola e se mal o vi em um
ano (e antes disso).
— Seu aparelho de telefone? — Pediu e fui até a minha pequena
bolsa, pegando e ele esticou a mão. — Quando voltar, retornarei com seu
novo aparelho e número de telefone. Nós iremos ao médico assim que vier te
buscar e a noite temos um jantar para comparecermos como um casal. Volto
em duas horas.
Simplesmente saiu e levando o meu telefone.
Eu não encontraria com os meus pais até o casamento?
Voltei para a sala e as mulheres avançaram em mim, dizendo que só
tínhamos uma hora e meia para escolhermos roupas e elas tinham uma lista
dos eventos que eu tinha que comparecer e não sabia. Ignorei a maior parte
do que me foi oferecido, não me interessava o quanto a família era tradicional
em relação às mulheres e a minha posição com o casamento, me vestiria do
jeito que eu gostava e dentro da minha idade.
Escolhi a maior parte dos vestidos de verão coloridos, os mais justos,
shorts curtos, saias plissadas longas e curtas, camisetas, blusas diversas e
quase todas as calças jeans.
Entre as milhares de roupas adequadas para a minha mãe, encontrei
alguns conjuntos sociais e vestidos com cortes mais sofisticados que ficaram
bons em mim. Entre os sapatos, alguns scarpins, sandálias de salto fino e dois
outros modelos um pouco diferentes, em tons de nude. Apesar de ser apenas
o começo do verão, peguei dois casacos, porque Chicago era uma caixinha de
surpresas quando se tratava de ter ventos fortes. Quando elas foram embora,
arrumei as roupas no closet do quarto.
Estava na Regent Suit Master e era um quarto lindo. O banheiro era
todo em branco, com um pé de flor de cerejeira que precisei tocar para saber
se era verdadeiro de tão perfeito. Todas as paredes eram de vidro, a banheira
ficava de frente com uma visão incrível para a cidade. Era impressionante.
Aproveitei o tempo sozinha para desfazer as minhas malas,
guardando minhas coisas pessoais de higiene no banheiro e as roupas no
closet. Estava quase terminando quando ouvi uma batida suave na porta, abri
e me deparei com o garçom empurrando o carrinho com o meu almoço.
Deixei entrar e ele arrumou a mesa, o tempo todo sem olhar para mim e
agindo de maneira quase calculada sob o olhar atendo do meu segurança.
— Srta. Vacchiano, se precisar de algo mais, por favor, me avise.
Sou o Enrico.
Eu o conhecia de vista, de todas as vezes que me buscou no colégio
ou levou o fotógrafo até lá. Ele foi criado pelo Francesco Galattore e havia a
fofoca que era um filho bastardo, para ser bem sincera, ele era de pele clara,
cabelos mais claros e olhos claros, o oposto perfeito do Damon e a sua irmã,
Sandra.
— Obrigada.
Sem o meu telefone para me distrair, fiquei me perguntando se o
Damon conseguiria desbloquear para ler todas as minhas mensagens e
esperava que não. Não que tivesse falado mal dele, mas também não falei
muito bem e fiz alguns deboches com as minhas amigas sobre o casamento.
Eu tinha uma coleção completa de nudes, fotos de calcinha e outras sensuais
que eu nunca enviei, mas adorava tirar. Seria realmente constrangedor que ele
visse aquelas fotos...
Comi o meu almoço, um delicioso salmão grelhado, com um mix de
legumes grelhados com queijo e creme de leite. As batatas coradas estavam
uma delícia. Comi tudo, faminta e logo fui escovar os dentes e eu estava no
banheiro, terminando de me lavar quando ouvi passos dentro do quarto.
Damon apareceu na porta, com a mesma roupa de mais cedo.
— Terminei de comer agora, só vou buscar a minha bolsa. Que
médico nós iremos? — Sequei a minha boca e passei um gloss clarinho.
— Ginecologista. Quero que faça exames pré-nupciais para evitar o
constrangimento dos lençóis vermelhos no dia seguinte. Quero que ela passe
um método contraceptivo. — Explicou e levou tudo de mim para não revirar
os olhos.
— Ela? O que aconteceu com o Dr. Ferrari?
— Você não vai ser atendida por um homem. — Falou em tom
decisivo. Minha expressão me traiu, porque ele me deu um olhar duro. —
Alguma preferência pelo Dr. Ferrari?
— Sempre foi o médico da família, apenas isso. — Encolhi os
ombros.
— Sua família agora é a Galattore e o Dr. Ferrari atende a outros
tipos de ferimentos agora. Está na hora, precisamos sair.
Segui-o para fora do quarto, peguei a minha bolsa e andei
calmamente atrás por todo o corredor e fiquei ao seu lado no elevador, saindo
em uma garagem onde havia alguns manobristas. A SUV estava lá e ao invés
de dirigir seu carro luxuoso, abriu a porta do carro grande e preto, com vidros
tão escuros quanto a noite. Enrico e outro soldado, que eu não sabia o nome,
ocuparam os bancos da frente.
— Seu novo telefone. — Me entregou o aparelho. Ainda estava com
a película, provavelmente foi tirado da caixa no mesmo dia, era maior e uma
versão bem mais recente que o meu. Não achava necessário trocar. — Fotos
interessantes que você mantém na sua galeria. — Seu olhar era tão intenso
que senti o peso em mim. Minha pele ficou arrepiada. — Acho que não
preciso te lembrar...
— Nunca foram enviadas. — Cortei sua frase ao meio. — Eram
minhas e particulares, você não deveria ter mexido no meu telefone sem o
meu consentimento.
— Sem o seu consentimento? — Damon arqueou a sobrancelha e me
deu um sorriso muito debochado. — Eu fui atualizar a sua conta, elas
surgiram bem na tela do meu computador e fiquei surpreso.
— Surpreso? Por quê?
— Você tem esse jeitinho tão angelical... — Ainda estava sendo
meio irônico, ao mesmo tempo, parecendo querer colher o máximo da minha
reação.
— Nunca se deu o trabalho de me conhecer, não tem o direito de
ficar surpreso e para eventos futuros, não mexa no meu telefone sem a minha
autorização. Não importa se você pagou por ele. — Guardei na minha bolsa e
virei o meu rosto para a janela, encerrando o assunto. Por sorte, ele ficou
quieto.
Chegamos à clínica médica feminina de luxo, o ambiente era muito
requintado, todo decorado em tons pastéis com sofás rosa-chá de couro e
almofadas brancas. A Dra. De Luca era a filha mais velha do Subchefe de
Naperville, uma das poucas mulheres solteiras que tinham a permissão para
trabalhar. Talvez fosse a sua profissão tão importante no nosso meio e
certamente, a máfia bancou aquela clínica.
Fomos servidos com caffè espresso e biscoitos de manteiga
enquanto aguardávamos. Meu nome foi chamado e fiquei de pé, a Dra. De
Luca estava com uma enfermeira, me deu um sorriso profissional e eu olhei
para o Damon. Ele iria entrar no consultório comigo? Não mesmo.
— Sr. Galattore. — A Dra. De Luca o parou. — Nós iremos
começar pelos exames e em seguida, nos encontramos na cozinha. Devido ao
status da Srta. Vacchiano, a enfermeira irá nos acompanhar. — Ela me
ganhou com a coragem de colocar o Damon para fora da sala. Olhei para ele
e abri um sorrisinho, mordi o meu lábio para tentar suprimir a minha
satisfação e a expressão dura dele foi o indicativo que não gostou muito.
Dentro da sala, coloquei uma camisola hospitalar e me senti muito
bem com a Dra. De Luca porque ela foi franca, direta ao ponto e tinha um
arquivo com meus exames antigos, do verão anterior. Discutimos sobre os
métodos contraceptivos. Não falei abertamente que estava apavorada com a
noite de núpcias e se tivesse a opção, eu não faria sexo com o Damon até se
tornar inevitável, porque eu não o conhecia e não queria perder a minha
virgindade daquela maneira.
Eu não queria filhos imediatamente, na verdade, não tão cedo e o
quanto pudesse evitar. Ser autorizada a tomar pílulas me ajudaria com as
cólicas e evitaria filhos. A Dra. De Luca deixou claro que a minha próxima
menstruação seria possível que ainda sofresse um pouco, mas conforme o
meu corpo se ajustasse com os hormônios, sentiria alívio. Após passar alguns
exames de imagem necessários, voltei a me vestir e já saí do consultório com
as receitas na mão.
— Terminou? — Damon ficou de pé e pela maneira que ele estava
sentado, parecia impaciente. — E a consulta?
— Já terminamos. A Dra. De Luca é maravilhosa. — Sorri cheia de
indulgência. — Vamos? Eu preciso de um tempo para me arrumar para o
evento desta noite. — Passei por ele sem dar tempo de discussão. Sabia que
estava me seguindo porque parecia um touro, bufando. Enrico chamou o
elevador e parei, dobrando as receitas e colocando na bolsa.
— Que método contraceptivo escolheu? — Perguntou no elevador.
— Castidade.
— Giovanna... — Damon respirou fundo.
Ergui o meu olhar e sorri. Pelo reflexo, Enrico parecia lutar com a
risada.
— Pílulas.
— E vai lembrar de tomá-las?
— Claro que sim. Não vou precisar de uma babá para isso.
Damon não falou mais nada comigo e eu não puxei assunto, estava
um pouco cansada. Acordei muito cedo para terminar de arrumar as minhas
coisas, participar do meu café da manhã de despedida e em seguida, lutando
com a ansiedade sobre quem iria me buscar e o que iria fazer. Acabei
cochilando no carro e acordei com um toque suave no meu rosto, pisquei e
cobri a minha boca para bocejar.
— Nós já chegamos... — Damon arrastou o indicador pela minha
bochecha até os meus lábios. — Está cansada?
— Só um pouco, estou bem agora.
— Venho te buscar em algumas horas.
Damon saiu do carro para abrir a minha porta, ajeitei o short do meu
macaquinho que estava meio embolado e dois homens mais ou menos da
idade dele saíram de um carro esportivo, rindo um para o outro. Sorri para o
meu futuro marido e fui andando. Minhas amigas diziam que meu andar era
muito bonito, que eu tinha o catwalk que a maioria das modelos gostariam de
ter e eu não sabia exatamente da onde tirei o jeito de andar com um gingado
nos quadris, mas eu era italiana e eu tinha um quadril, assim como bunda,
apesar de ser uma garota magra com seios.
Amava os meus genes italianos e não negava.
O meu andar atraiu atenção dos homens. Eu vi o olhar do Damon
pelo reflexo das portas e a aproximação do Enrico não impediu que os caras
olhassem para minha bunda. Fiquei séria porque não queria dar a impressão
errada, mas, eu gostei que o Damon parecia arder, cruzando os braços. Os
homens iam entrar no elevador comigo, mas o Enrico impediu.
— Você é linda, garota. — Um deles disse quando as portas estavam
centímetros de fechar, impedindo o Enrico de sair e avançar neles.
Eu vi que ele digitou uma mensagem, não li o conteúdo e me
perguntei o que realmente aconteceria com os bonitinhos porém sem amor a
vida ao mexer com a noivinha da máfia. Cresci nesse meio, sabia como os
homens eram controladores e possessivos. O meu próprio pai me criou em
uma gaiola dourada. Eu podia ter absolutamente tudo que queria, mas eu não
tinha autorização para sair desacompanhada e sequer pude ir em uma rede de
fast food.
Sendo filha de um chefe de região já era extremamente protegida,
podia imaginar que sendo a esposa do chefe a minha vida seria cercada de
muita segurança.
Garotas comuns são extremamente sortudas porque sabiam o que era
ter liberdade.
02
Gio