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IMPÉRIO

PERIGOSO

2020
1º EDIÇÃO
© M.C Mari Cardoso
Informações
Esta é uma obra de ficção que não deve ser reproduzida sem
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fotocopiada, gravada ou repassada por qualquer meio eletrônico e mecânicos
sem autorização por escrito da autora. Salvo em casos de citações, resenhas e
alguns outros usos não comerciais permitidos na lei de direitos autorais.
Esse é um trabalho de ficção. Todos os nomes, personagens, alguns
lugares, casos envolvidos, eventos e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com pessoas vivas ou mortas, ou eventos reais é
apenas espelho da realidade ou mera coincidência.

Capa: Mariana Cardoso.


Imagem licenciada pela Adobe.
Título da obra: IMPÉRIO PERIGOSO

Copyright © 2020 por Mariana Cardoso

Este livro contém cenas de sexo e violência,


recomendado para maiores de dezoito anos.
Dedicatória
Para todas as minhas leitoras.
Eu amo vocês.
Prólogo.

O barulho dos meus saltos contra o piso de madeira alinhava com o


som das rodinhas das malas que empurrava ao meu lado. Olhei para trás e
acenei para as amigas que ainda estavam aguardando suas famílias ou a data
dos seus voos. Estava me sentindo estranha por estar quase fora dos portões
depois de três anos vivendo na escola. Passei algumas festas de fim de ano
em casa e tive a minha festa de noivado, quase um ano atrás, mas não fui para
casa nem mesmo nas férias.
Estava ansiosa e com medo do mundo lá fora. Nervosa sobre tudo
que poderia acontecer nas próximas semanas e sem saber exatamente o que
esperar.
Nasci na região do Palermo, na Itália. Pertencia a uma intensa e
tradicional família italiana bem no seio da máfia. Meu pai era chefe dos
cassinos e ele fez negócios realmente ruins, viciando no jogo, mesmo
sabendo que a banca sempre vencia – principalmente a banca da máfia
italiana. Ao invés de assumir os seus erros, ele resolveu fazer algo ainda pior:
roubar.
Devido a sua posição de prestígio e por ele ser fiel à família,
Francesco Galattore, o nosso chefe , decidiu que ele poderia pagar a dívida.
Sem dinheiro e sem alternativas, meu pai teve a incrível ideia de me dar como
pagamento. Eu tinha quinze anos quando a minha mãe entrou na nossa
biblioteca, chorando e se dizendo muito magoada, me contando que o meu
pai praticamente me embrulhou para o futuro chefe.
Damon Galattore.
Ele me assustava até a morte aos quinze anos. Era misterioso,
irritado, o perfeito bad boy da alta sociedade. Sendo oito anos mais velho que
eu, já era um homem quando ainda era uma menina, mas essa diferença de
idade no nosso mundo era nada. Era sorte que meu pai não arrumou um
marido trinta anos mais velho que eu, como a minha prima Bia, que foi
obrigada a casar com o pai de uma das nossas melhores amigas.
No nosso noivado, ele foi polido e distante, ficando próximo apenas
o socialmente aceitável e eu não podia decifrar se ele estava feliz, satisfeito
ou apenas resignado. E agora... Ele era o homem mais importante da nossa
família. Com a repentina morte do chefe de todos os chefes e a ascensão da
sua esposa, um momento de caos e confusão, Damon era o homem no poder.
E em algumas semanas... eu seria a sua esposa.
Os portões se abriram e ele estava do lado de fora, próximo a um
carro esportivo de luxo e havia uma SUV escura, também muito luxuosa,
com dois homens familiares vestidos de preto ao lado. Damon deu um passo
à frente, pronto para me levar definitivamente para a sua vida.
Pronto para me fazer a sua mulher.
01
Gio.

Damon deu um passo à frente, pensei que ele fosse pegar uma das
minhas malas, nervosa, acabei dando um passo atrás e ele esticou a mão
firme, tirando os óculos escuros. Mordi o lábio ao me dar conta que ele
queria me segurar. Sem graça, coloquei o meu cabelo atrás da orelha e
segurei a sua mão. Estava quente e me envolveu, puxando com cuidado.
Assim que me afastei das malas, os outros dois homens pegaram as bagagens
e levaram para a SUV.
Meu futuro marido me deu um sorriso enigmático, abriu a porta do
seu carro cinza chumbo e me ajudou a entrar. Estava usando um macaquinho
branco, com sandálias plataformas bem altas e ainda assim, ele ficou bem
mais alto que eu. Deveria ter um pouco mais de um metro e noventa. Damon
era muito bonito, moreno, forte, tatuado, usava o cabelo castanho cortado e
uma barba sempre a fazer.
Seus olhos eram escuros e pareciam carregar uma escuridão
assustadora. Estava me sentindo muito intimidada para falar qualquer coisa,
agradeci a sua ajuda, ele deu ordens em italiano para os homens seguirem
diretamente para o hotel e fiquei um pouco confusa. Não ia embora para
minha casa e ficar com os meus pais até o casamento?
Damon deu a volta, entrou no lado do motorista e me deu um olhar.
— Coloque o cinto, Giovanna. — Ordenou, assenti e tive
dificuldade para aprender o local certo. Com cuidado, ele puxou e tirei o meu
cabelo do caminho. — É assim, só pressionar.
— Obrigada. — Empurrei e ele ainda ficou com a mão em cima da
minha por mais um tempo e eu estava confusa. Ele costumava evitar me
tocar.
Não havia um local para enfiar a chave, ele apertou um botão e o
carro soltou um ronco alto, olhei pela última vez para o lugar que foi o meu
lar nos últimos anos e a escola rapidamente desapareceu de vista, porque o
carro estava em alta velocidade pela estrada. Não levou muito tempo para o
lago Michigan surgir no meu lado direito. Estudei em Naperville, cidade
próxima à Chicago.
Damon ficou em silêncio e eu também, apenas observando a
paisagem e matando saudades da cidade. Após o trânsito meio chatinho em
algumas avenidas, Damon estacionou em frente a um lugar com uma entrada
sofisticada, tapetes vermelhos e correntes douradas.
Ele saiu do carro com toda a sua elegância e classe. Reparei que
algumas pessoas pararam para olhar, não só para admirar o carro em seu
design único, mas para olhar o homem bonito que o contornava. A família
Galattore era famosa, havia sempre um fotógrafo ou outro tirando fotos deles.
Damon, como dono da maior parte dos clubes adultos e noturnos da cidade,
era muito conhecido e queridinho por ser um bad boy .
Nos últimos anos ele desfilou com uma quantidade insana de
mulheres enquanto estive reclusa em uma escola católica para meninas. Ele
deu uma boa diminuída quando o nosso noivado foi anunciado ano passado,
mas as suas “traições” estamparam muitas revistas enquanto o meu perfil nas
redes sociais era controlado por ele, mantendo a imagem doce e agradável.
Fiz algumas sessões de fotos ao longo do último ano por ordem dele,
para manter as redes sociais alimentadas, mas eram sempre no meu quarto,
pelo jardim ou em algum lugar próximo.
Ele abriu a minha porta e me ajudou a sair, reparei que estávamos
em um hotel muito luxuoso. O carro foi com o manobrista e o Damon ficou
segurando a minha mão, andando decidido até o elevador, sem nenhuma
pausa. Ele apertou o vigésimo andar. Estávamos no The Langham, um dos
hotéis mais caros da cidade e após um corredor amplo, tirou um cartão-chave
do bolso. Deu um aceno, cumprimentando um dos seus homens que estava do
lado de fora do quarto.
Entramos no quarto e duas mulheres ficaram de pé imediatamente.
Elas estavam próximas de algumas araras de roupa e sorriram, mostrando a
ansiedade em agradar.
— Só um minuto, senhoras. — Ele foi todo sedutor. Franzi o cenho
e olhei na sua direção, irritada, e elas imediatamente pararam de sorrir.
Damon me levou para o quarto e fechou a porta. — Aqui será a sua casa até o
casamento.
— Pensei que fosse ficar com os meus pais. — Olhei ao redor e era
um quarto muito bonito, luxuoso e aquela cama parecia um sonho comparado
à cama de solteira do quarto que dividia com uma amiga no internato.
Damon me encarou friamente.
— Não. Você não é mais responsabilidade deles. — Em outras
palavras, eu não pertencia mais à minha família. — Para preservar a sua
reputação, não é adequado que se mude imediatamente para a minha casa.
— Quem são aquelas mulheres lá fora? — Inclinei a minha cabeça
para o lado, analisando-o e pensando que se dependesse dos meus
sentimentos naquele segundo, esse casamento seria um completo fracasso.
— Você vai precisar de algumas roupas adequadas para os eventos
nos próximos dias. Sei que tem a prova do vestido, a aprovação do cardápio
do casamento e outros compromissos para me acompanhar. Elas trouxeram
algumas coisas até que você possa fazer compras para si mesma...
Arqueei a sobrancelha me perguntando como ele poderia dizer se
meu estilo era adequado ou não, se mal saía da escola e se mal o vi em um
ano (e antes disso).
— Seu aparelho de telefone? — Pediu e fui até a minha pequena
bolsa, pegando e ele esticou a mão. — Quando voltar, retornarei com seu
novo aparelho e número de telefone. Nós iremos ao médico assim que vier te
buscar e a noite temos um jantar para comparecermos como um casal. Volto
em duas horas.
Simplesmente saiu e levando o meu telefone.
Eu não encontraria com os meus pais até o casamento?
Voltei para a sala e as mulheres avançaram em mim, dizendo que só
tínhamos uma hora e meia para escolhermos roupas e elas tinham uma lista
dos eventos que eu tinha que comparecer e não sabia. Ignorei a maior parte
do que me foi oferecido, não me interessava o quanto a família era tradicional
em relação às mulheres e a minha posição com o casamento, me vestiria do
jeito que eu gostava e dentro da minha idade.
Escolhi a maior parte dos vestidos de verão coloridos, os mais justos,
shorts curtos, saias plissadas longas e curtas, camisetas, blusas diversas e
quase todas as calças jeans.
Entre as milhares de roupas adequadas para a minha mãe, encontrei
alguns conjuntos sociais e vestidos com cortes mais sofisticados que ficaram
bons em mim. Entre os sapatos, alguns scarpins, sandálias de salto fino e dois
outros modelos um pouco diferentes, em tons de nude. Apesar de ser apenas
o começo do verão, peguei dois casacos, porque Chicago era uma caixinha de
surpresas quando se tratava de ter ventos fortes. Quando elas foram embora,
arrumei as roupas no closet do quarto.
Estava na Regent Suit Master e era um quarto lindo. O banheiro era
todo em branco, com um pé de flor de cerejeira que precisei tocar para saber
se era verdadeiro de tão perfeito. Todas as paredes eram de vidro, a banheira
ficava de frente com uma visão incrível para a cidade. Era impressionante.
Aproveitei o tempo sozinha para desfazer as minhas malas,
guardando minhas coisas pessoais de higiene no banheiro e as roupas no
closet. Estava quase terminando quando ouvi uma batida suave na porta, abri
e me deparei com o garçom empurrando o carrinho com o meu almoço.
Deixei entrar e ele arrumou a mesa, o tempo todo sem olhar para mim e
agindo de maneira quase calculada sob o olhar atendo do meu segurança.
— Srta. Vacchiano, se precisar de algo mais, por favor, me avise.
Sou o Enrico.
Eu o conhecia de vista, de todas as vezes que me buscou no colégio
ou levou o fotógrafo até lá. Ele foi criado pelo Francesco Galattore e havia a
fofoca que era um filho bastardo, para ser bem sincera, ele era de pele clara,
cabelos mais claros e olhos claros, o oposto perfeito do Damon e a sua irmã,
Sandra.
— Obrigada.
Sem o meu telefone para me distrair, fiquei me perguntando se o
Damon conseguiria desbloquear para ler todas as minhas mensagens e
esperava que não. Não que tivesse falado mal dele, mas também não falei
muito bem e fiz alguns deboches com as minhas amigas sobre o casamento.
Eu tinha uma coleção completa de nudes, fotos de calcinha e outras sensuais
que eu nunca enviei, mas adorava tirar. Seria realmente constrangedor que ele
visse aquelas fotos...
Comi o meu almoço, um delicioso salmão grelhado, com um mix de
legumes grelhados com queijo e creme de leite. As batatas coradas estavam
uma delícia. Comi tudo, faminta e logo fui escovar os dentes e eu estava no
banheiro, terminando de me lavar quando ouvi passos dentro do quarto.
Damon apareceu na porta, com a mesma roupa de mais cedo.
— Terminei de comer agora, só vou buscar a minha bolsa. Que
médico nós iremos? — Sequei a minha boca e passei um gloss clarinho.
— Ginecologista. Quero que faça exames pré-nupciais para evitar o
constrangimento dos lençóis vermelhos no dia seguinte. Quero que ela passe
um método contraceptivo. — Explicou e levou tudo de mim para não revirar
os olhos.
— Ela? O que aconteceu com o Dr. Ferrari?
— Você não vai ser atendida por um homem. — Falou em tom
decisivo. Minha expressão me traiu, porque ele me deu um olhar duro. —
Alguma preferência pelo Dr. Ferrari?
— Sempre foi o médico da família, apenas isso. — Encolhi os
ombros.
— Sua família agora é a Galattore e o Dr. Ferrari atende a outros
tipos de ferimentos agora. Está na hora, precisamos sair.
Segui-o para fora do quarto, peguei a minha bolsa e andei
calmamente atrás por todo o corredor e fiquei ao seu lado no elevador, saindo
em uma garagem onde havia alguns manobristas. A SUV estava lá e ao invés
de dirigir seu carro luxuoso, abriu a porta do carro grande e preto, com vidros
tão escuros quanto a noite. Enrico e outro soldado, que eu não sabia o nome,
ocuparam os bancos da frente.
— Seu novo telefone. — Me entregou o aparelho. Ainda estava com
a película, provavelmente foi tirado da caixa no mesmo dia, era maior e uma
versão bem mais recente que o meu. Não achava necessário trocar. — Fotos
interessantes que você mantém na sua galeria. — Seu olhar era tão intenso
que senti o peso em mim. Minha pele ficou arrepiada. — Acho que não
preciso te lembrar...
— Nunca foram enviadas. — Cortei sua frase ao meio. — Eram
minhas e particulares, você não deveria ter mexido no meu telefone sem o
meu consentimento.
— Sem o seu consentimento? — Damon arqueou a sobrancelha e me
deu um sorriso muito debochado. — Eu fui atualizar a sua conta, elas
surgiram bem na tela do meu computador e fiquei surpreso.
— Surpreso? Por quê?
— Você tem esse jeitinho tão angelical... — Ainda estava sendo
meio irônico, ao mesmo tempo, parecendo querer colher o máximo da minha
reação.
— Nunca se deu o trabalho de me conhecer, não tem o direito de
ficar surpreso e para eventos futuros, não mexa no meu telefone sem a minha
autorização. Não importa se você pagou por ele. — Guardei na minha bolsa e
virei o meu rosto para a janela, encerrando o assunto. Por sorte, ele ficou
quieto.
Chegamos à clínica médica feminina de luxo, o ambiente era muito
requintado, todo decorado em tons pastéis com sofás rosa-chá de couro e
almofadas brancas. A Dra. De Luca era a filha mais velha do Subchefe de
Naperville, uma das poucas mulheres solteiras que tinham a permissão para
trabalhar. Talvez fosse a sua profissão tão importante no nosso meio e
certamente, a máfia bancou aquela clínica.
Fomos servidos com caffè espresso e biscoitos de manteiga
enquanto aguardávamos. Meu nome foi chamado e fiquei de pé, a Dra. De
Luca estava com uma enfermeira, me deu um sorriso profissional e eu olhei
para o Damon. Ele iria entrar no consultório comigo? Não mesmo.
— Sr. Galattore. — A Dra. De Luca o parou. — Nós iremos
começar pelos exames e em seguida, nos encontramos na cozinha. Devido ao
status da Srta. Vacchiano, a enfermeira irá nos acompanhar. — Ela me
ganhou com a coragem de colocar o Damon para fora da sala. Olhei para ele
e abri um sorrisinho, mordi o meu lábio para tentar suprimir a minha
satisfação e a expressão dura dele foi o indicativo que não gostou muito.
Dentro da sala, coloquei uma camisola hospitalar e me senti muito
bem com a Dra. De Luca porque ela foi franca, direta ao ponto e tinha um
arquivo com meus exames antigos, do verão anterior. Discutimos sobre os
métodos contraceptivos. Não falei abertamente que estava apavorada com a
noite de núpcias e se tivesse a opção, eu não faria sexo com o Damon até se
tornar inevitável, porque eu não o conhecia e não queria perder a minha
virgindade daquela maneira.
Eu não queria filhos imediatamente, na verdade, não tão cedo e o
quanto pudesse evitar. Ser autorizada a tomar pílulas me ajudaria com as
cólicas e evitaria filhos. A Dra. De Luca deixou claro que a minha próxima
menstruação seria possível que ainda sofresse um pouco, mas conforme o
meu corpo se ajustasse com os hormônios, sentiria alívio. Após passar alguns
exames de imagem necessários, voltei a me vestir e já saí do consultório com
as receitas na mão.
— Terminou? — Damon ficou de pé e pela maneira que ele estava
sentado, parecia impaciente. — E a consulta?
— Já terminamos. A Dra. De Luca é maravilhosa. — Sorri cheia de
indulgência. — Vamos? Eu preciso de um tempo para me arrumar para o
evento desta noite. — Passei por ele sem dar tempo de discussão. Sabia que
estava me seguindo porque parecia um touro, bufando. Enrico chamou o
elevador e parei, dobrando as receitas e colocando na bolsa.
— Que método contraceptivo escolheu? — Perguntou no elevador.
— Castidade.
— Giovanna... — Damon respirou fundo.
Ergui o meu olhar e sorri. Pelo reflexo, Enrico parecia lutar com a
risada.
— Pílulas.
— E vai lembrar de tomá-las?
— Claro que sim. Não vou precisar de uma babá para isso.
Damon não falou mais nada comigo e eu não puxei assunto, estava
um pouco cansada. Acordei muito cedo para terminar de arrumar as minhas
coisas, participar do meu café da manhã de despedida e em seguida, lutando
com a ansiedade sobre quem iria me buscar e o que iria fazer. Acabei
cochilando no carro e acordei com um toque suave no meu rosto, pisquei e
cobri a minha boca para bocejar.
— Nós já chegamos... — Damon arrastou o indicador pela minha
bochecha até os meus lábios. — Está cansada?
— Só um pouco, estou bem agora.
— Venho te buscar em algumas horas.
Damon saiu do carro para abrir a minha porta, ajeitei o short do meu
macaquinho que estava meio embolado e dois homens mais ou menos da
idade dele saíram de um carro esportivo, rindo um para o outro. Sorri para o
meu futuro marido e fui andando. Minhas amigas diziam que meu andar era
muito bonito, que eu tinha o catwalk que a maioria das modelos gostariam de
ter e eu não sabia exatamente da onde tirei o jeito de andar com um gingado
nos quadris, mas eu era italiana e eu tinha um quadril, assim como bunda,
apesar de ser uma garota magra com seios.
Amava os meus genes italianos e não negava.
O meu andar atraiu atenção dos homens. Eu vi o olhar do Damon
pelo reflexo das portas e a aproximação do Enrico não impediu que os caras
olhassem para minha bunda. Fiquei séria porque não queria dar a impressão
errada, mas, eu gostei que o Damon parecia arder, cruzando os braços. Os
homens iam entrar no elevador comigo, mas o Enrico impediu.
— Você é linda, garota. — Um deles disse quando as portas estavam
centímetros de fechar, impedindo o Enrico de sair e avançar neles.
Eu vi que ele digitou uma mensagem, não li o conteúdo e me
perguntei o que realmente aconteceria com os bonitinhos porém sem amor a
vida ao mexer com a noivinha da máfia. Cresci nesse meio, sabia como os
homens eram controladores e possessivos. O meu próprio pai me criou em
uma gaiola dourada. Eu podia ter absolutamente tudo que queria, mas eu não
tinha autorização para sair desacompanhada e sequer pude ir em uma rede de
fast food.
Sendo filha de um chefe de região já era extremamente protegida,
podia imaginar que sendo a esposa do chefe a minha vida seria cercada de
muita segurança.
Garotas comuns são extremamente sortudas porque sabiam o que era
ter liberdade.
02
Gio

O jantar que iria acompanhar o Damon não era nada além de um


jantar de noivado de uma prima distante, filha da prima do meu pai, que se
casaria com um dos soldados mais bem conceituados da família, ele deveria
ter um pouco mais de trinta anos e ela, uns vinte e poucos anos.
Madalena era muito bonita, umas das meninas solteiras mais bonitas
na minha opinião e era muito gentil. Foi ela quem me explicou para que
serviam as camisinhas que encontrei nas coisas do meu pai e me deu uma
aula completa sobre sexualidade, com paciência e carinho.
Minha mãe era muito amorosa e eu tinha lindas lembranças ao seu
lado, sentia saudades, mas ela era extremamente submissa ao meu pai e nós
não conversávamos sobre sexo. Nunca. Quando fiquei noiva, uma professora
sentou-se comigo e conversou o aspecto científico, mas eu já tinha lido
milhares de livros eróticos e conversado com as minhas amigas que não eram
nada virgens.
A maioria delas eram da família ou filhas de associados. Filhas de
associados não faziam parte do nosso círculo, algumas não faziam ideia quem
éramos, mas outras garotas como eu sabiam que uma moça não virgem seria
cruelmente castigada em seu casamento e traria muita vergonha para a sua
família.
Achava uma tremenda palhaçada e mesmo que eu quisesse perder a
minha virgindade com qualquer outra pessoa que não fosse o Damon, seria
impossível. Não dava um mísero passo sem ser acompanhada e eu só tinha
privacidade dentro do meu quarto – ou apenas no banheiro.
Como o meu cabelo estava lavado e bem seco, passei um mousse do
meio para as pontas, enrolando com firmeza no topo da minha cabeça e
prendendo para criar ondas. Abri a minha necessaire, tirando alguns produtos
de tratamento para pele que gostava de usar antes de me maquiar. Lavei o
meu rosto para tirar a maquiagem do dia e comecei o processo de esfoliação,
em seguida, apliquei a máscara de argila rosa.
Fiquei parada na frente do espelho, me encarando e eu era uma
garota bonita. Meus cabelos eram castanhos claros, longos e lisos até a altura
do meu sutiã. Meu nariz era arrebitado como de uma boneca e eu tinha lábios
bem preenchidos, olhos castanhos, cílios naturalmente atraentes e as maçãs
do meu rosto eram proeminentes fazendo com o que meu rosto tivesse um
formato harmonioso.
Tinha um jeitinho de menina, devido ao conjunto da obra, mas não
era exatamente um rosto infantil.
Precisava ficar com a máscara uns vinte minutos, ajeitei as minhas
unhas e peguei o cardápio, com vontade de comer um docinho, mas foi o
cardápio de vinhos que atraiu a minha atenção. Liguei para o serviço de
quarto, pedi uma garrafa de vinho rosé e um pedaço de torta de chocolate
belga.
A parte excelente de estar em um hotel de luxo era a agilidade que
eles atendiam os seus hóspedes, com isso, não levou dez minutos para o meu
pedido chegar. Abri a porta, enrolada no roupão e o rapaz uniformizado
olhou para o chão. Enrico estava se aproximando para averiguar o meu
pedido e antes que ele tomasse a garrafa de vinho, puxei o carrinho para
dentro e bati a porta, bloqueando a leitura digital por dentro.
A garrafa estava aberta, servi na taça e bebi quase tudo de uma vez
só, a segunda comecei a beber mais devagar, voltando para o banheiro.
Peguei o meu telefone e dei uma olhada nas fotos, parecia tudo igual – os
mesmos aplicativos, as fotos e as redes sociais que eu não tinha acesso antes.
Com isso, troquei os e-mails e as senhas de acesso. Apaguei algumas fotos,
deixei todas as que tinha com o Damon e era impressionante que ele tinha a
cara de pau de bloquear os comentários mais engraçadinhos que me
chamavam de corna para baixo.
Tirei a minha máscara, liguei a torneira da banheira e preparei o
banho de princesa que eu merecia. Tirei uma foto contra o espelho que ia do
teto ao chão, usando apenas um roupão, meu cabelo enrolado e o rosto limpo.
Postei no stories, bebi mais um pouco de vinho, enchi a taça novamente e
entrei na banheira. Me permiti relaxar, aproveitando a privacidade, o silêncio,
o vinho e tirei foto das minhas pernas apoiadas na banheira cheia de espuma.
Meu telefone começou a tocar e era o Damon. Rejeitei a chamada,
porque estava ocupada e olhei a sua visualização na minha conta do
instagram. Mordi o lábio enquanto ria, abri o aplicativo de mensagens e
mandei a foto das minhas pernas. Não mostrava nada além da metade das
minhas coxas para as pernas, meus pés e a água coberta por espuma.
Ele visualizou e levou um tempo para escrever.
“Cuidado com as fotos”.
Revirei os olhos e o ignorei por horas enquanto me arrumava para o
evento. Era o meu primeiro evento depois do meu noivado, que foi
extremamente privado – meus pais, o pai e a madrasta do Damon, sua irmã
com o marido e os filhos. Meu vestido foi escolhido pela minha mãe e eu me
senti uma senhora de sessenta anos. Não era bem assim que gostava de me
vestir e a minha escolha da noite era a prova disso.
Mantive o meu cabelo solto, com os cachos, passei spray para fixar
e prendi um lado com uma presilha de pedrinhas coloridas. Escolhi um par de
brincos de diamantes em forma de gota, muito discreto, que o Damon me deu
no meu aniversário de dezoito anos. Não coloquei nenhum cordão porque o
meu vestido era de cetim azul marinho, sem decote, de alças com um longo
decote em V nas costas. Ele delineava o meu quadril até os joelhos. A minha
bunda ficava perfeita dentro dele.
Pronta, me olhei com cuidado e parecia tudo certo. Estava sem sutiã,
porque o vestido não permitia um, mas os meus mamilos estavam a salvo
com o tecido grosso na região dos seios. Meus peitos eram de pequenos à
médios, então, não chamava muita atenção. A minha bunda era uma história
totalmente diferente e eu gostava muito disso. O vestido já era ousado o
suficiente, então, a minha maquiagem era mais discreta: batom matte rosa do
tom dos meus lábios, um delineado bem feito, cílios marcados com rímel e
um blush rosadinho.
— Giovanna! — Ouvi o Damon me chamar e bater à porta. — Abre
a porta!
Tão educado...
Liberei a entrada e parei, consumida com a sua beleza. Ele estava
todo de preto. Terno, camisa, calças e sapatos. Não havia nenhuma cor. As
tatuagens apareciam no seu pescoço e a barba estava feita. Cheiroso, ele me
comeu com os olhos, sem nem disfarçar. Sorri e dei espaço para passar.
— Você bebeu? — Olhou para a garrafa.
— Não o suficiente. — Andei até o quarto e ouvi um barulho estranho. — O
que foi? — Parei, confusa. O que ele tinha?
— Nada. Está pronta? — Seu olhar era intenso sobre mim.
Fui até a minha caixinha de joias, colocando a minha aliança de
noivado, não costumava usar todos os dias na escola porque não tinha a
mínima necessidade e chamava muita atenção. Eu não podia comparecer a
um evento da família sem ela. Com a minha carteira nude, preenchida com o
meu celular, batom e documentos, calcei os meus sapatos scarpin louboutin
nude.
Damon estava acertando o seu relógio quando retornei, abriu a porta
novamente e me permitiu passar. Por algum motivo, senti seu olhar sobre
minhas costas e andei na sua frente ciente que estava me seguindo com a
atenção fixa na minha bunda. Chamei o elevador. Enrico estava um pouco
mais atrás ao lado de um outro que eu ainda não sabia o nome, mas estava o
tempo todo com o Damon.
Nós ficamos lado a lado, em silêncio, e saímos na garagem. A SUV
estava estacionada bem próximo, entrei com cuidado e ele deu a volta,
entrando com rapidez. Tirei da minha carteira um pacotinho de balas de
menta, coloquei uma na boca e o ofereci. Ele olhou e aceitou.
Damon esticou a mão, passou o polegar no meu pescoço, com o
olhar no meu rosto, na minha boca e o encarei, admirando que a sua beleza
era realmente espetacular.
— Você está muito linda. — Seu polegar desceu do meu pescoço
para o meu colo.
— Obrigada, você também.
— Todos os olhos estarão em você e não na noiva. — Sorriu torto e
me senti corar. Ele pegou uma mecha do meu cabelo, enrolando no seu dedo
e quando dei por mim, vi que estava inclinada na sua direção, aceitando seu
carinho com muita facilidade. — Você trocou todas as senhas, mas sabe que
isso seria facilmente recuperado por mim, não sabe?
— Por que você não me deixa controlar as minhas redes sociais? O
que acha que vou fazer?
— Postar fotos como as que postou hoje.
— Eu só postei uma foto e a outra eu te enviei. A maioria das
minhas fotos é com você, ao contrário do seu perfil. Não precisa marcar o
território, todo mundo sabe que seu nome está praticamente escrito na minha
bunda. — Rebati meio mau humorada.
— Não seria uma má ideia considerando o quanto a sua bunda está
chamativa nesse vestido. — Sorriu torto e o olhei irritada. — Não faça essa
carinha. Você pode ficar com suas redes sociais, mas é sério, tenha
consciência do que vai postar. — Alertou e eu senti muita vontade de bufar,
mas ainda estava presa no que falou sobre a minha bunda.
— Terei muita consciência sobre o que irei postar. — Sorri sem
prometer absolutamente nada, apenas que saberia muito bem o que faria.
Damon segurou o meu queixo com delicadeza e colocou seus lábios
nos meus. Era a terceira ou quarta vez que ele me beijava, apenas selinhos
rápidos, mas aquele foi mais... intenso. Chegamos mais perto do outro e
apesar do meu batom, não impediu que o Damon aprofundar o beijo,
segurando a minha cintura e eu senti que ele estava tomando certo cuidado,
como se eu fosse uma bonequinha de porcelana preciosa entre os seus
braços.
Era o meu primeiro beijo de língua e foi tão gostoso, calmo...
explorativo. Segurei o seu rosto, levando a minha mão para o seu cabelo,
amando ser beijada daquele jeito. Desceu a mão da minha cintura para o meu
quadril, me pegando firme e puxando para ainda mais perto. Me senti um
pouco envergonhada com o gemido que escapou dos meus lábios e ele sorriu.
— Não sinta vergonha por reagir a mim. — Falou baixinho e senti o
carro parar. — Nos deem um minuto. — Enrico e o guarda-costas saiu do
carro e arregalei meus olhos ao lembrar da existência deles. Caramba... E
ainda me ouviram gemer. — Não se preocupe com eles.
Assenti e peguei o meu batom, retocando e ajeitando a minha
maquiagem. Damon saiu primeiro, dando a volta e falou alguma coisa bem
baixo com os seus homens. Enrico falou algo que fez o Damon reagir, ambos
riram. Fiquei curiosa, mas eles se dispersaram e então, Damon abriu a minha
porta, me ajudando a sair. Ele colocou a mão nas minhas costas, seria um
gesto normal, mas nós dois estremecemos com o contato direto na minha
pele.
Não podia ficar arrepiada cada maldita vez que ele me tocasse. O
homem que me beijou no carro, ficou lá dentro, aquele em pé ao meu lado,
estava sério, possessivo, com extremo controle de si mesmo e ciente que era
o verdadeiro poder no meio daquelas pessoas. Andamos até a porta, ele tocou
a campainha por educação, mas os pais da noiva já deveriam saber que ele
estava chegando, tanto que abriram a porta nem dois segundos depois.
Os homens se cumprimentaram com um aperto de mão firme. A
Sra. Rossi me deu um abraço muito contido e o Sr. Rossi beijou a minha mão
e eu lutei com o desejo de limpar. Ele era um dos nojentos que
acompanhavam o meu pai nos clubes de mulheres e traía a sua esposa com a
governanta – tinha até um filho com ela.
Passamos pelos anfitriões e fomos cumprimentar os noivos. Madah
abriu um sorriso imenso ao me ver e nosso abraço foi apertado, feliz e
ficamos mais tempo que aceitável juntas.
— Olha só para você! Está linda! — Madah sorriu e ela que estava
linda. Ao contrário de mim, ela era alta, loira, bem magra e parecia uma
modelo de passarela. — Como cresceu. — Se inclinou e cochichou. — Que
vestido maravilhoso, você está muito gostosa!
Soltei uma risada que atraiu atenção dos nossos noivos e de quem
mais estava ao redor. Damon colocou a mão na minha cintura de um jeito
bem possessivo e nos desculpamos, saímos de perto para não manipular a
atenção dos noivos e porque o Damon precisava permitir que outras pessoas
se aproximassem e o cumprimentassem.
Era impressionante o quanto havia respeito e reverência em quem
falava com ele. Recebi um pouco mais de atenção e eu sabia que estavam
falando sobre o meu vestido, a minha aparência e sobre como o Damon não
me deixou respirar a meio passo longe dele pelos primeiros quarenta minutos
do evento.
Quando a Madah me puxou para uma roda de mulheres, ele quase
disse que não, mas a atenção do seu conselheiro o impediu. Encontrei a
minha prima Bianca e fazia tempo que não nos víamos, falamos pelos
cotovelos. Aceitei uma taça de vinho, bebendo socialmente, mas eu pedi água
porque não queria ficar bêbada.
Houve uma batida constrangedora quando os meus pais chegaram.
Minha mãe parecia abatida. Ela usava um vestido magenta muito fechado que
não lhe favorecia em nada e seus cabelos estavam presos, em um coque que
lhe fazia parecer com setenta anos e ela mal tinha passado dos quarenta. Meu
pai estava ao seu lado, na sua pose arrogante e ele estava se achando por ser
pai da futura esposa do chefe .
Na verdade, ele perdeu o prestígio e as pessoas sabiam que se não
fosse o interesse do pai do Damon em mim, na beleza que os seus possíveis
futuros netos teriam, ele já estaria morto, a minha mãe arruinada e eu... Teria
sorte se um soldado me quisesse em casamento para me proteger e não me
levar para ser amante de um dos chefes.
O olhar da minha mãe se iluminou quando me viu e ela sorriu de um
jeito tão amoroso. Andei até ela, atravessando a sala e a abracei apertado,
morrendo de saudades. Reparei que ela estava usando muita maquiagem,
principalmente em um lado do rosto e eu sabia o que aquilo significava.
— Está tudo bem, mia bambola. Está tão linda... Fale com seu pai.
— Deu um passo para trás e ele estufou o peito, esperando uma espécie de
reverência ou sei lá o quê. Antes que precisasse falar com ele, com toda
atenção que os grupos estavam nos dando, Damon tocou a base das minhas
costas. — Damon, querido.
— Lucinda. Você está linda... — Damon beijou a mão da minha mãe
e eu gostava que ele a tratasse com carinho. — Vacchiano. — Falou
secamente. — Os homens irão se reunir na biblioteca agora, venha comigo.
— Foi uma ordem direta.
Meu pai se afastou sem falar nada. A sala ficou mais leve sem os
homens, a mulherada começou a falar sem parar, arrulhando sobre os anéis
de noivados e sobre o meu casamento que aconteceria em duas semanas. Era
o evento mais esperado e eu sabia que haviam muitas mães insatisfeitas,
porque as suas filhas eram perfeitas – não filhas de um ladrão. Damon não
parecia inclinado em escolher outra noiva e a sua irmã foi a pessoa
intermediária na organização do nosso casamento.
Na verdade, eu escolhi tudo. Absolutamente tudo. Só precisava
enviar o que eu queria que a Sandra fazia acontecer. Os quatro vestidos para
o final de semana do meu casamento, toda a parte de papelaria, flores, velas,
tecidos... Era provavelmente o casamento mais caro que Chicago ouviria
falar, mas o Damon me ganhou de bandeja em troca de uma dívida e não tive
a mínima escolha sobre isso.
Ele ia perder muito mais do que o meu pai roubou.
Pedi licença para ir ao banheiro após o delicioso jantar. Andei com
calma pelo corredor, não querendo errar a porta e encontrei o meu pai
fumando na varanda dos fundos.
— Oi, pai. — Me aproximei com cuidado e ele soltou a fumaça, me
olhando. — Reparei que a mamãe está usando um pouco mais de maquiagem
do que deveria... E eu espero que você ouça bem o que vou falar: não encoste
na minha mãe... nunca mais.
— Ou o quê, bambola ? — Abriu um pequeno sorriso atrevido, mas
prestando atenção nas minhas palavras.
— Ou ela se tornará viúva.
Meu pai ficou sério, sentindo o peso das minhas palavras.
— Giovanna! — Damon apareceu no fim do corredor. — Vamos
embora.
Olhei para o meu pai uma última vez antes de sair andando na
direção do meu futuro marido. Ele segurou a minha mão bem firme, me
mantendo ao seu lado e não parei para encarar quem nos observava sair,
mantendo a minha cabeça erguida.
Sempre aceitei que um dia me tornaria uma mulher como muitas
dessa família e levei três anos para me preparar para ser a esposa do chefe .
Eu ia agir como uma.
03
Damon.

Recostei no sofá, olhando a garota nua dançar no poste e ela abriu


bem as pernas, ciente que meus olhos estavam sobre ela. Meu telefone vibrou
e era uma mensagem do Enrico, avisando que estava de volta com a
Giovanna em seu quarto do hotel. Ela fez compras, foi ao mercado, teve a sua
última prova dos vestidos do casamento e a noite, nós iriamos jantar juntos.
Nosso casamento estava marcado para o final de semana e a cada
dia parecia que ela tinha mais coisas a fazer no meio dos preparativos. Tudo
que eu tinha que fazer era estar lá, de cabelo cortado e barbeado.
Desde que saiu do internato, Giovanna mostrou que tinha algumas
asinhas presas e um gênio um tanto terrível. Jamais imaginaria que ela
gostasse tanto de se exibir. Sempre foi muito tímida ao meu redor, bochechas
coradas e um olhar assustado. Mal falava comigo e eu entendia que sentisse
intimidação e medo. Nunca soube como quebrar o gelo entre nós e enquanto
ela estava na escola, não me preocupei em fazer tal coisa, vivendo a minha
vida normalmente até que o meu pai me pressionou para colocar um anel no
dedo dela e fazer o anúncio formal do noivado.
Giovanna nasceu no nosso meio e foi muito bem criada. A sua mãe
era uma das poucas mulheres da família que mereciam a minha completa
admiração. Sempre foi uma boa mãe e uma boa mulher. Vacchiano não
merecia a esposa e a filha que tinha, suas atitudes eram deploráveis, mas eu
não me metia porque não me interessava. Eu sabia que me casar com ela não
seria o fim do mundo, afinal, ela foi educada para ser uma boa esposa.
Aos quinze anos, meu pai a tomou como pagamento de uma dívida
e a colocou dentro de um colégio interno. Giovanna foi preparada para ser a
minha esposa. Educada para gerir bons eventos, receber pessoas, ser uma
mulher que soubesse se portar com evidência e era linda demais. A sua
beleza era de tirar o fôlego desde jovem, mas quando a vi um ano depois do
nosso noivado, eu sabia que, definitivamente, não seria um sacrifício. Nós
nunca fomos íntimos, de nenhuma maneira, mas eu não resisti ao impulso de
beijá-la intensamente no carro e beijei outras vezes.
Giovanna era uma caixinha de surpresas.
Tomei um susto ao ver as fotografias no seu telefone. O motivo pelo
qual peguei o seu aparelho era porque eu precisava dar a ela um aparelho
rastreável e que tivesse controle dos seus aplicativos, apenas por questões de
segurança, para evitar que sua linha fosse grampeada pela polícia ou que seus
aplicativos bancários fossem hackeados. Nunca ia imaginar a coleção de
fotos sensuais que ela tinha em sua galeria e fiquei de pau duro como um
maldito adolescente no meu escritório.
Era gostosa pra caralho. Um sentimento de posse explodiu nas
minhas veias que não conseguia me controlar e depois que a beijei,
enfeitiçado com aquele vestidinho que deixava as suas costas nuas e a bunda
em evidência, não havia nada na minha mente a não ser ela.
Ela seria a minha esposa em alguns dias.
Saí do meu lugar, subindo a escada para o meu escritório e olhei a
hora. A boate iria abrir em alguns minutos. Parei de frente a janela, olhando a
cidade e contemplei a beleza de Chicago a noite. Meu telefone vibrou e
atendi a chamada.
— Damon.
— Oi, Juliana.
— A carga foi roubada a caminho daí. — Falou e respirei fundo,
porra. — Segundo nossas fontes, foi um dos MC’s. Eliminaram os
transportadores, sem testemunhas.
— Certo.
— A segunda remessa chegará de trem em algumas horas, não vai
atrasar. — Sua voz era firme, mas distante. Juliana Rafaelli era uma mulher
que muitos subestimam e tudo o que ela via na sua frente era um intenso
desejo de morte.
— O prejuízo será recuperado mesmo que seja com sangue. Alguma
notícia?
Juliana suspirou.
— Nada.
— Algo que possa fazer?
— Ainda não... Mas em breve, sim. Estarei aí na próxima semana.
— Não precisa vir.
— Sei que você entenderá a minha ausência, mas as outras pessoas
vão entender que nosso relacionamento está enfraquecido, nesse momento,
não preciso de mais empecilhos . — Juliana parou de falar por um momento.
— As coisas na Itália estão tensas. Giovanni está mantendo o controle de
danos, mas não está recebendo muito efeito.
— Estarei lá em uma semana e colocarei ordem na casa.
— Obrigada por isso, Damon.
— Nós somos uma família acima da família. Cumprimos os nossos
deveres a favor do nosso sangue.
— Se o Enzo estivesse aqui, ele soltaria uma risada zombeteira...
— Quando ele esteve aqui, a última coisa que me disse foi que em
um casamento, não há espaço para medo e violência.
Juliana ficou quieta.
— Siga esse conselho . — Encerrou a chamada.
Guardei o meu telefone no bolso e saí da minha sala, ativando a
fechadura digital atrás de mim. Giacomo levantou do seu lugar e me deu um
aceno. Avisei a ele que a remessa chegaria atrasada e que ele deveria ficar até
verificar, mas que era para servir o estoque apenas na sala vip e vender o que
tinha no primeiro andar. Balançando as minhas chaves entre os dedos,
desativei o alarme do meu carro e dei a partida, andando em alta velocidade
até o hotel e não levei dez minutos para chegar lá.
Entreguei as chaves para o manobrista e ele parecia muito feliz em
pegar o meu carro, mesmo que fosse para levar para a entrada do
estacionamento bem ao lado.
Entrei no hotel e a recepcionista piscou, mordendo a ponta da caneta
e sorri. Ela achava que aquilo era sexy. Seria muito mais prático se Giovanna
já estivesse instalada no meu apartamento, no local que nós viveríamos
depois do casamento enquanto estivéssemos nos Estados Unidos, mas, ela
tinha uma reputação e eu não queria que absolutamente ninguém falasse
sobre isso.
A família exigia provas que as noivas eram virgens e eu não queria
que ninguém duvidasse da sua virgindade.
Enrico estava sentado em uma cadeira no corredor, porque só assim
ele poderia impedir as garrafas de vinho que a Giovanna pedia. Ainda assim,
ela conseguia pegar algumas garrafas. Como uma boa italiana, ela amava
bons vinhos e sabia exatamente o que pedir no cardápio. Não era sobre o
valor e muito menos sobre beber, mas ela estava sozinha em um quarto de
hotel e não era uma boa ideia ficar bêbada.
Entrei em seu quarto sem aviso e ela se assustou, deixando cair o
seu telefone. Fechei a porta, olhando-a de calcinha azul de renda que parecia
um shortinho, uma camisetinha preta, estava sem sutiã e com os cabelos
presos. Apesar de ser uma suíte com sala de estar, uma pequena cozinha, sala
de jantar, um quarto imenso e um banheiro espaçoso, eu podia sentir o cheiro
do seu sabonete em todo lugar.
— Acabou de sair do banho?
— Você não ia me avisar quando estivesse chegando? — Pegou o
seu telefone do chão e como havia um espelho ali, ela estava tirando fotos.
Joguei a minha chave na mesa, tirei a minha jaqueta e os sapatos.
— Esqueci. — Menti.
— Hum. — Deu de ombros e foi até o closet, pegando uma calça e
infelizmente, vestindo.
— Você poderia continuar do mesmo jeito. — Comentei tirando o
meu relógio. — Como foram os preparativos finais do casamento?
— Deve ser muito fácil para você que só precisa estar lá no dia. —
Retrucou secamente. — Foi tudo bem, está tudo pronto e levou um ano para
chegar até aqui, até parece mentira.
— Eu fui a todos os compromissos que me cabiam como noivo, mas
a minha irmã deixou claro que o casamento é sobre a noiva. Não sou eu que
estará com um vestido lá e sendo a pessoa mais esperada do evento. — Sorri
olhando para a sua bunda o tempo inteiro.
Giovanna virou e sorriu.
— Você ficaria muito bonito com uma saia de tule bem volumosa.
— Engraçadinha. — Me aproximei dela com calma e ela ergueu o
rosto para olhar em meus olhos. Segurei a sua cintura, abraçando-a e ela
ainda tinha uma enorme resistência entre ceder para sua timidez e o medo.
Não queria que a minha mulher tivesse medo de mim. Eu fazia
coisas realmente fodidas lá fora, mas não com ela. Não com a minha esposa.
Beijei a sua bochecha primeiro, em seguida, a pontinha do seu nariz e chupei
o seu lábio, avançando em um beijo calmo, chupando a sua língua deliciosa
e ela ficou na ponta dos pés. Desci as minhas mãos para a sua bunda,
apertando suas nádegas e ela gemeu baixinho contra a minha boca.
Ela beijava tão bem... Meu sangue fervia com a sua boca na minha.
— Agora sim... — Suspirei e me sentei na cama, colocando-a entre
as minhas pernas. Passou as mãozinhas no meu pescoço, puxando meu cabelo
e abaixou o rosto novamente, beijando a minha boca mais uma vez. Era a
primeira vez que ela tomava a iniciativa. Queria que quebrasse a timidez de
me tocar.
Apesar de não parecer, eu não queria que a Giovanna fosse como a
minha mãe e a minha madrasta foram. Esperava que existisse muito respeito
entre nós, que soubesse exatamente quando e onde poderíamos conversar,
mas não que se encolhesse completamente, morrendo de medo de mim.
Desci minhas mãos para a parte de trás dos seus joelhos e fiz com
que montasse no meu colo. A sua calça era larga, com o movimento, a sua
bunda ficou exposta com aquela calcinha linda e as minhas palmas coçaram
para dar um apertão que aquela bunda perfeita merecia.
— Minha calcinha está aparecendo. — Falou baixinho.
— Está com vergonha?
Mordeu o lábio, parecendo indecisa.
— Não sei. Nós vamos nos casar... Mas é estranho estar tão exposta.
Além das meninas da escola e médicos de modo geral, nunca fiquei nua na
frente de alguém. — Passei o meu polegar no seu queixo e ela tinha uma pele
muito perfeita. — Embora, em algum momento, isso irá acontecer entre nós.
— Não precisa ter vergonha de mim, nunca, para nada, não importa
o que seja. — Beijei o seu pescoço. — O que quer comer?
— Ainda não estou com fome. Podemos pedir pizza mais tarde?
Giovanna saiu do meu colo e engatinhou na cama, foi um
movimento inocente porque ela não tinha noção do quanto a sua bunda mexia
comigo. Tirei a camisa e as meias, ela não disfarçou o olhar quando apoiei
minha arma e o coldre em cima da mesa e tirei a faca da minha calça. As
cortinas estavam fechadas, todas elas, o que nos dava bastante privacidade.
Liguei a televisão e procurei um filme, eu tinha algumas horas para
passar com ela. Quando dormisse, voltaria para a boate porque tinha trabalho
a fazer e umas pestes para caçar. Verifiquei o meu telefone, enviando todos
os detalhes que a Juliana tinha sobre os bastardos que extraviaram a nossa
carga e mandei para os meus caçadores. Nova Iorque tinha uma aliança forte
com os dominadores do território de Los Angeles, mas isso estava irritando
alguns motoclubes ambiciosos que ficavam na rota.
Com a expansão dos territórios, mesmo que não concordasse com
essa sociedade, porque não eram pessoas da família, eu tinha que admitir que
meu primo foi muito esperto e isso inibiu os nossos inimigos e nos deu
rentabilidade. Mas, com a confusão atual, eu era o único segurando as pontas
do tradicionalismo e mantendo a nossa família com os mesmos elos.
Não prestei atenção na porra de filme que a Giovanna escolheu,
estava mais interessado nos beijos que ela estava disposta a dar. Eu tinha que
lembrar que ela tinha dezoito anos e estava com os hormônios à a flor da
pele, o peso de ser responsável estava todo sobre os meus ombros e não
importava a pressão que ela tinha nos ombros em me dar herdeiros, eu não
queria filhos agora. Não estava pronto para ser pai. Se acontecesse, encararia
a responsabilidade, mas ela era muito jovem e esperava aproveitar um bom
casamento juntos antes de inserir crianças.
Era por isso que eu fui exigente sobre as pílulas. Nada de filhos nos
próximos cinco anos ou mais. De preferência, mais.
De repente, Giovanna parou de me beijar.
— O que foi?
— Isso é você... — Olhou para baixo e estava confuso. Ela se moveu
e arregalou os olhos, o que me fez rir e ganhei um tapa. — É que você
nunca... Sempre tomou cuidado em não...
— Não queria te assustar, mas agora estava empolgado demais para
lembrar. E sim, isso é o meu pau duro.
— E fica assim só com uns beijos? É que os livros dão a entender...
— Não existe uma regra. Eu posso demorar a ficar excitado ou posso
ficar com ele bem duro só vendo algumas fotos bem safadinhas que a minha
noiva tem no telefone. Depende da mente, do corpo, da pessoa e sim, os seus
beijos me deixam excitado.
Giovanna sorriu satisfeita.
— Você não está?
Suas bochechas ficaram muito vermelhas.
— Sim... Eu estou sentindo.
Porra.
— Sentindo o quê?
— Sabe... molhado. — Chupou o lábio e a minha mente entrou em
queda livre. — Como você teve muita experiência e não disfarçou isso,
pensei que precisaria de um pouco mais para estar excitado. — Deu de
ombros.
Não queria falar de todas as mulheres que eu fodi até algumas
muitas semanas atrás, porque eram apenas fodas. Eu nunca estive em um
relacionamento ou com qualquer mulher que não soubesse exatamente o que
era para mim. Todas sabiam que a posição de primeira dama da minha vida
era da Giovanna. E eu não ia pedir desculpas por não ter bancado o monge
porque meu pai decidiu que minha noiva-bebê ficaria no internato até ter
idade para o casamento.
— Então você está molhadinha... — Pressionei o meu pau contra ela,
que fechou os olhos e suspirou. Foi um suspiro muito bom. Não fazia uma
transa seca desde que tinha treze anos, quando ainda era virgem e esqueci o
quanto aquilo era bom e muito melhor que nada, mas eu não ia gozar na
minha cueca.
Me dediquei a dar a ela prazer, para que tivesse a certeza de que tudo
entre nós seria muito bom. Ela afundou as unhas nos meus braços,
estremecendo e apesar de contido, sabia que tinha gozado. Beijei a sua boca
com tanto tesão que estava tonto. Giovanna se acalmou e eu precisava ir ao
banheiro... logo.
— O que foi? — Ela estava muito bonita, com os lábios inchados e o
cabelo bagunçado. Seus mamilos marcando a blusa era a minha tentação.
— Peça a pizza... Eu já volto.
Entrei no banheiro e não levou dois segundos de punheta para gozar.
Respirei fundo, olhando para o meu pau. Era oficial: me tornei um punheteiro
por causa do meu casamento. A ironia não passava despercebida.
04
Gio .
Parada em frente a parede de vidro do meu quarto do hotel, o meu
lar nas últimas semanas, segurava a minha caneca cheia de café e podia ouvir
o zumbido baixo das conversas. Madah e Bianca, minhas primas e amigas
mais próximas, foram autorizadas a passar o dia comigo. Eu estava muito
feliz, porque não queria ficar sozinha. Pelo reflexo, vi Damon se aproximar e
ele parou atrás de mim, bem próximo e passou o braço na minha cintura. As
meninas estavam em outro cômodo e não podiam ver a sua proximidade.
Ele plantou um beijo no meu pescoço e automaticamente dei mais
espaço para continuar. Eu estava me odiando por gostar de tudo o que ele
fazia, dos seus beijos e suas mãos poderosas me pegando com firmeza. Quase
todas as noites passamos um tempo juntos, conversamos um pouco, coisas
bem banais porque ele nunca – nunca mesmo – respondia minhas perguntas
sobre a família e suas decisões. Sempre ia embora depois que eu dormia, não
sabia se era para respeitar o nosso casamento ou se seria assim depois
também.
Logo cedo, ele mandou entregar flores e eu achei bem romântico e
inesperado, apesar de clichê. Ele poderia não fazer porque não havia
exatamente motivos para me conquistar – já era sua. Não haveria nada que
pudesse mudar isso. Após receber a notícia que as minhas primas poderiam
ficar comigo durante a minha arrumação para nosso segundo ensaio
fotográfico de casamento, ele chegou sem nenhum motivo aparente.
Sua mão subiu por dentro da minha blusa e parou antes que tocasse
o meu peito. Além da minha bunda, ele era bem contido nos seus toques e
embora os amassos fossem muito gostosos para mim, eu sabia que era pouco
para ele e não tinha ideia quanto tempo iria aguentar. Não estava pronta para
o sexo, por mais que tudo isso fosse gostoso, estava com medo e muito
nervosa. Ainda sentia muita vergonha e queria um tempinho para me
acostumar com o toque dele e a sua presença.
— Encontrarei com você no local das fotos.
— O que veio fazer aqui? — Ergui o meu rosto e me deparei com o
seu queixo e pescoço. Me inclinei e plantei um beijo ali, sentindo a sua pele
quente, a sua pulsação e seu perfume maravilhoso. Damon me deu um beijo
intenso que quase deixei a minha caneca cair. Ele se afastou com um sorriso
satisfeito.
— Te ver. — Piscou e foi embora.
Balancei a minha cabeça para sair daquela névoa sedutora, fui ao
banheiro usar um enxaguante bucal para tirar o gostinho do café da língua e
passei um gloss. Ajeitei a minha aparência pronta para sair. Estava com uma
calça clochard caramelo, uma blusinha preta de alças finas por dentro da
calça e meus sapatos nudes favoritos. Meu cabelo estava solto,
propositalmente desgrenhado e sem nenhuma maquiagem porque estava
saindo para o salão de beleza.
Estava bem arrumada porque cada vez que aparecia com o Damon,
mais as nossas imagens surgiam pelos sites. Vários títulos e matérias meio
tendenciosas, algumas até favoreciam o nosso relacionamento, mas a maioria
relembrava que estávamos noivos a um ano e que o noivo não foi
necessariamente fiel. Era muito irritante. Com os meus vestidos dentro das
capas, seguros e nos braços do Enrico, carreguei as caixas de sapatos e
minhas primas todas as bolsas com tudo que poderia precisar.
Na tarde anterior, Damon e eu fomos a um estúdio fotográfico fazer
algumas fotografias pré-casamento para enfeitar a nossa casa. O fotógrafo me
enviou quase todas as fotos essa manhã e estavam muito bonitas, consegui
relaxar depois de alguns incentivos e copos de vinho, como o noivo também
entrou na brincadeira, o resultado ficou maravilhoso. A imprensa sabia que o
nosso casamento aconteceria no final de semana e eu estava muito ansiosa.
Chegamos ao salão de beleza, sendo esperada, logo fui atendida.
Reservamos uma sala vip, onde faria meus cabelos, as unhas e me prepararia
para o ensaio na praia e no parque, retornaria e me arrumaria para o meu
jantar de ensaio. Na verdade, não iríamos ensaiar nada, seria apenas o jantar
com as nossas famílias e alguns convidados.
Foi muito divertido me arrumar com as meninas, era bom ter outras
mulheres ao redor para falar todas as besteiras do mundo sem controle.
— Quando você surgiu na minha festa de noivado, eu sabia que todo
mundo ia falar do seu vestido. As matriarcas estavam chocadas, eu adorei. —
Madah sorriu do seu lugar no sofá enquanto escovavam o meu cabelo. —
Todo mundo espera que você vá seguir os passos das suas antecessoras.
— Nada contra, mas não. — Fiz uma careta. A mãe do Damon
faleceu quando eu era criança, mas lembrava bem dela.
Não levou um ano para que o pai dele se casasse novamente e não
com a sua amante de longa data, mas sim com a filha de um dos seus chefes.
Ela não era muito jovem, mas também não era da idade dele. Francesco foi
assassinado há alguns meses e o Damon não quis cancelar o casamento,
porque ele se tornou o chefe e precisava estar casado o mais rápido possível.
As duas mulheres do Francesco eram quietas, reservadas e na minha
opinião, apagadas. Estavam sempre um passo atrás dele, fazendo de tudo para
estarem discretas para que ele ficasse em evidência. Damon já tinha evidência
e mulheres demais, estava na hora de dividir um pouco da sua atenção com
uma bela esposa ao seu lado.
Para o ensaio, meu cabelo ficaria solto, cheio de cachos feitos por
babyliss e com muito fixador para não desmancharem. As presilhas foram
colocadas com cuidado, eram de diamantes e pertenceram à avó do Damon.
Estavam na família há séculos e a Sandra me enviou para que pudesse fazer
parte das joias do casamento. Não economizei um centavo e ela fez
exatamente tudo o que eu queria. Damon não reclamou, mas não estava
sendo um casamento barato.
Meu vestido do pré-wedding era bordado com rendas e feito à mão,
então, ele custou uma pequena fortuna, mas era lindo e eu sonhei com
aquelas fotos. Enviei tantas inspirações para o fotógrafo que estava ansiosa e,
ao ficar pronta, me senti muito perto de tudo o que idealizei. Desci as escadas
do salão com cuidado, minhas primas iriam continuar no salão fazendo as
unhas e cabelos para mais tarde – adiantando parte dos processos de
arrumações para o dia seguinte, o dia oficial.
Enrico ficou surpreso ao me ver e desviou o olhar, abrindo a porta
do carro. Imaginei que seria muito para ele me elogiar. Entrei no carro com
cuidado e com o meu telefone na mão, enquanto ele dirigia até o ponto de
encontro, abri o meu aplicativo do instagram e postei uma foto que tirei
durante a arrumação.
Dei uma atualizada no stories com uma foto minha de hoje cedo e vi
a atualização da conta do Damon. Ele sempre postava fotografias das boates,
dos empreendimentos, das apresentações e poucas de si mesmo. Fiquei muito
surpresa ao ver que ele selecionou uma fotografia do ensaio anterior. Ele
estava de camisa preta, calça jeans, sentado no banquinho e eu estava de pé
entre as suas pernas, com as mãos nos seus ombros. Enquanto ele olhava para
mim, eu olhava diretamente para a câmera com um sorriso contido.
Não tinha legenda.
Curti a foto e comentei um coração. Haviam milhares de
comentários e para o bem da minha sanidade, decidi não ler.
Enrico estacionou e o Damon já estava lá, de óculos escuros,
encostado em seu carro e usando a roupa que escolhi. Não saí do carro até o
fotógrafo terminar de arrumar o seu material e Damon ficou olhando
fixamente para a minha janela.
Quando Enrico abriu minha porta, reuni meu vestido todo para cima
e coloquei os pés para fora primeiro, fiquei de pé e mantive a saia reunida
para não sujar. Damon desencostou do seu carro, tirou os óculos e me deu um
olhar muito apreciativo.
— Gio...bella. Você está de tirar o fôlego. — Seu sorriso me deu um
calafrio.
— Grazie. — Minhas bochechas coraram, dei uma boa olhada nele e
ele arqueou as sobrancelhas, me fazendo rir. — Você está gostoso.
— Eu te chamo de linda e você me chama de gostoso? — Mordeu o
lábio, contendo a risada e me deu um beijo tranquilo, para não me borrar.
Nós começamos o ensaio e as primeiras fotos era inevitável não ficar
travada, mas fluiu muito bem e eu estava feliz que o Damon não estava
negando os meus desejos. A maioria dos casamentos na família eram
extremamente tradicionais e muito fechados, sem nenhuma coisinha externa
bonita para alegrar. A maioria das noivas não ficavam muito felizes no dia
dos seus casamentos obrigados.
Me acostumei com o meu destino. Três anos me preparando
intensamente para esse dia, parecia surreal acreditar que estava acontecendo.
Terminamos o ensaio e voltei sozinha, toda suja de areia e com o
vestido molhado, mas valeu a pena. Bianca me ajudou no banho, porque
estava toda com grama e areia nas pernas. A equipe precisou refazer o meu
cabelo em tempo recorde e fiquei seriamente atrasada para o jantar. Meu
telefone não parava de tocar e as minhas primas precisaram ir embora para se
arrumar e encontrar com as suas famílias.
— Gio? — Sandra, minha cunhada, entrou no salão. — Sei que é
comum a noiva atrasar, mas não no jantar e sim no casamento.
Estava com o cabelo feito e a maquiagem, mas não conseguia entrar
no vestido sozinha. Ela me pegou de calcinha sem sutiã, com uma das
meninas do salão me auxiliando. Sandra era bonita como o seu irmão. Era do
tipo dona de casa sofisticada, seu marido era um dos homens mais bonitos do
alto escalão e ele tinha uma cara de safado, mas nunca ouvi rumores sobre ele
ser um traidor. Se tivesse uma amante, a fofoca já estaria rolando há tempos.
Sandra tinha o cabelo longo, liso, sempre escovado e comportado,
mas ela usava roupas mais adequadas para a sua idade. Seu nome era
Alessandra, como sua avó, não era um nome comum, por isso todos a
chamavam de Sandra. Foi a princesinha da máfia até o nascimento do seu
irmão. E agora, ela passou a coroa para mim com prazer.
— Uau! Damon vai esquecer o atraso e desmaiar. — Sandra me
olhou pronta. —Você vai mudar algumas coisas nessa família.
Sorri de nervoso e saímos porque não havia tempo para conversas.
Damon estava me ligando e eu não estava atendendo porque não
queria ouvir o seu piti . Enrico parecia aliviado quando me viu pronta,
provavelmente porque o seu irmão estava enchendo o saco. Ele dirigiu em
alta velocidade até a casa da Sandra, que era a anfitriã do nosso jantar. O
ideal seria que os meus pais oferecessem, mas o Damon afirmou que não
entraria na casa do meu pai como convidado a não ser que fosse inevitável.
Foi a última gota de esperança de que um dia teria jantares de
família com os meus pais e o meu marido. Damon não suportava o meu pai e
eu ficaria no meio dessa guerra. Meu pai querendo ser próximo e o meu
marido querendo distância.
Pela quantidade de carros pela garagem, muitos convidados já
estavam na casa, até que era bom, todos eles iriam ficar de queixo caído de
uma vez só. Sandra me ajudou a sair do carro dentro da garagem e o Enrico
me deu equilíbrio na escada, mantendo uma distância de quase um metro com
medo de estar perto demais.
Passei pelo corredor e o Damon virou a esquina, puto da vida, mas a
sua expressão mudou quando me viu. Ele estacou no lugar, deixando que o
Enrico e a Sandra fossem para a sala.
— Realmente... — Suas mãos passaram pela minha cintura, sentindo
o tecido e passou para a minha bunda. Soltei uma risada porque era um toque
muito possessivo. — Porra, Giovanna. Não tinha um decote menor? Um
tecido mais largo?
— Não. — Fiz um pequeno beicinho.
Meu vestido era branco, justo, com um decote em V profundo nos
seios. Estava com os meus cabelos soltos, com o par de brincos que ele me
deu e o colar que a minha mãe me presenteou quando criança. O pingente
pendurava entre os meus seios como um brilho suave ali. O zíper era
escondido nas costas e o vestido era bem justo, exibindo o meu corpo. Estava
chamativa e ao mesmo tempo sendo a noiva mais linda que a sociedade de
Chicago já viu.
— Temos que entrar, noivinho. Está pronto para me exibir por aí? —
Não sabia da onde estava tirando coragem para debochar dele, mas estava tão
irritado que não conseguia me conter. Ele riu da minha ousadia e me beijou.
Damon me segurou possessivamente ao seu lado e nós entramos na
sala e eu ri das expressões surpresas. A maioria das noivas escolhiam um
modelo mais tranquilo para o jantar de ensaio e tentavam não atrair cobiça
para si mesmas. Fiquei muito incomodada com os olhares de alguns dos
homens, os mais velhos e casados eram porcos, porque não podiam se conter
e sabia que deviam disfarçar muito bem quando o Damon estava por perto.
Abracei a minha mãe bem apertado, ela não estava com o rosto
excessivamente maquiado e parecia mais relaxada. Fiquei feliz que meu aviso
ao meu pai fez efeito. Descobri que era altamente capaz de fazer um inferno
na cabeça do Damon para que ele odiasse ainda mais o meu pai.
Conversei com as mulheres e as mais velhas não esconderam as
críticas sutis sobre a minha escolha de vestimenta e eu não estava interessada
no que elas pensavam.
Bianca me pediu uma voltinha e só para provocar, eu dei. Minha
mãe suspirou, me dando um olhar severo e só isso me fez parar. Ainda tinha
medo da mamãe. Ela nunca me bateu, muito menos o meu pai – para falar a
verdade, eu discordava da maneira que meu pai era como marido e o vício no
jogo, mas ele me tratava como uma princesa e nunca brigou comigo. A
mamãe era mais severa, mas nunca chegou aos extremos. Ela sempre soube
como impor respeito.
Exceto com o marido.
— Você está adorando o showzinho. — Damon cochichou no meu
ouvido quando a sua irmã nos levou para o jardim para fazermos as
fotografias da noite.
— Espere só até ver o meu vestido de noiva principal. — Sorri para
a fotografia.
— Giovanna...
Após o jantar, me preparei para ir embora e o Damon disse que
passaria no meu quarto em duas horas, mas eu disse que não. Ele não podia
me ver até o casamento e ao chegar no quarto, fiz questão de bloquear por
dentro, no painel digital. Eu me ferrei quando me dei conta que estava
sozinha para tirar o vestido. Estava louca para tomar um banho e tirar todo
creme, maquiagem e a gosma do meu cabelo.
Quando Damon tentou acesso ao quarto, a porta apitou e resignada,
abri. Ele sorriu convencido, achando que eu falei da boca para fora, mas na
verdade eu só precisava de ajuda. Não ia pedir para o Enrico abrir o meu
vestido e muito menos ligaria para a recepção do hotel para isso.
— O que foi?
— Preciso que abra o meu vestido.
Damon fechou a porta na hora.
— Essas palavras são as que eu mais gosto de ouvir, mas podemos
fazer algumas coisas sem precisar tirar o vestido. — Seu sorriso sacana me
fez revirar os olhos.
— É sério. Eu preciso fazer xixi. — Reclamei e virei de costas,
engolindo seco e ele deslizou o zíper para baixo.
Estava sem sutiã, então, tirei as alças do vestido e ele escorregou
pelo meu corpo. Minha calcinha era fio dental, muito pequena e eu estava
quente de vergonha. Minha prima Bianca passou o dia inteiro me
aconselhando a relaxar. Seu marido era muito mais velho e esperou até que
ela estivesse menos nervosa, que sem a mãe para aconselhar, aprendeu tudo
sobre sexo com o marido. Ela parecia feliz com ele. Era segredo de amigas e
eu jamais poderia contar para um homem ou a reputação do marido dela seria
arruinada.
Já sem minha sandália, tentei não correr para o banheiro, mas
mantinha os meus braços cobrindo os meus seios.
O banheiro não tinha porta, mas a área do sanitário era reservada em
uma cabine. Aliviei a minha bexiga, lavei as mãos e liguei a torneira da
banheira preparando o meu banho. Damon estava na cama, sentado, me
olhando fixamente andar de um lado ao outro. Ele não ia sair. Legalmente, já
era o meu marido. E eu... não estava me sentindo mal com aquele olhar. Era
desejoso e intenso, me fazia sentir gostosa.
Quando a banheira encheu, joguei o meu sabonete líquido e alguns
sais, tirei a minha calcinha. As cortinas estavam levantadas e eu estava nua
diante de uma parede de vidro. Elas começaram a descer e entrei na banheira,
ciente que o meu espectador não queria compartilhar a sua visão com mais
ninguém. Afundei na água, relaxando e deitei a minha cabeça no suporte.
Olhei para o lado e o Damon não estava na cama. Ele entrou no
banheiro, sem o terno, com a camisa aberta e segurando uma taça de vinho
bem cheia, apoiou no suporte e se inclinou, beijando a minha boca.
— Eu vou embora porque isso é tentação demais para um homem.
— Seu beijo se aprofundou e meus mamilos ficaram tão arrepiados que
endureceram. — Até amanhã, noiva.
— Até amanhã, noivo.
Damon saiu xingando e eu ri, porque ele ainda ficaria xingando por
mais algum tempinho. Esperava que ele não morresse de combustão e se ele
buscasse alívio em qualquer lugar, nunca encostaria em mim porque não iria
perdoar a sua traição.
05
Gio.

O dia do meu casamento amanheceu lindo.


Acordei com o nascer do sol e fiquei impressionada na beleza que eu
nunca vi, porque nunca estava acordada ao amanhecer. Eu tinha um dia
inteiro pela frente, para me tornar a noiva mais bonita que Chicago já ouviu
falar. Paparazzis fotografaram o pré-wedding no dia anterior e vazou na
mídia como água. Damon postou uma foto nossa do jantar, eu estava de lado,
com a mão no seu peito, ele tinha o braço na minha cintura e a mão na minha
bunda possessivamente. Sua outra mão estava com uma taça de espumante. A
foto estava muito bonita.
No meu, postei uma mais romântica, mas aquela foto definia bem o
idiota possessivo que ele era e nunca fizemos sexo. Depois da primeira vez,
ele vai me manter algemada ao seu lado. Era ele quem pulava a cerca
enquanto eu estava presa em uma escola católica. Não queria soar hipócrita,
mas nosso relacionamento era fantasioso, nós nunca ficamos juntos até
poucos dias atrás e era o que eu considerava.
Pedi o meu café da manhã, enrolando na cama e me levantei quando
ouvi uma suave batida na porta. Dei espaço para os funcionários do hotel
entrarem com os itens necessários para o meu dia da noiva.
Quando o café da manhã chegou junto com a equipe de beleza, eu
me perdi totalmente, uma hora me levavam para uma massagem e em seguida
para uma limpeza de pele. Quando a depiladora me perguntou como gostaria
das minhas partes íntimas, escolhi tirar tudo. Não era a primeira vez porque
costumava tirar com a gilete, mas na cera doeu muito. O resultado era muito
melhor, mas puta merda, chorei e não escondi.
Levei um tempo na massagem, relaxando e quando fui liberada para
comer, Damon me enviou uma mensagem dizendo que o seu primeiro
presente de casamento estava a caminho, comi a minha salada de fruta
ansiosa. Era comum na tradição italiana que o noivo enviasse presentes para a
noiva, assim como escolhesse o buquê e o tom das alianças, mas nós
ignoramos algumas porque escolhi o meu próprio buquê.
Uma batida na porta soou firme e pensei ser o Enrico. Abri enrolada
no roupão e gritei ao ver a minha mãe parada e com uma pequena bolsa, seu
vestido dentro da capa e um sorriso. Me joguei em seus braços, morrendo de
amor e alegria que poderia compartilhar o meu dia da noiva com ela. Não
cheguei a pedir para o Damon porque entendia que a família tinha regras e eu
não queria atropelar todas elas.
— Mama! Eu vou me casar!
— Ah, mia bambola!
Mamãe segurou o meu rosto e apertou as minhas bochechas, dando-
me um sorriso amoroso. Levei suas coisas para o quarto e pedi que
incluíssem a minha mãe no tratamento de beleza do dia. Terminei de comer e
a minha mãe estava na limpeza de pele. Quanto mais o dia passava, mais me
sentia com os nervos à flor da pele, louca de curiosidade para ver como o
salão do hotel estava com a decoração.
Sandra me enviou algumas fotografias, me garantiu que estava tudo
bem e correndo conforme o planejamento. Meu casamento estava marcado
para começar às 16h e o Damon exigiu que não houvesse atrasos, porque uma
da manhã nós estaríamos fora da festa sem nenhum minuto a mais.
Minha maquiagem e cabelo ficaram prontos na hora e minha mãe
ficou pronta antes de mim.
— Gio! Hora de se vestir! — A organizadora animadinha me
chamou e parou, levando as mãos ao rosto. — Você está linda! Uma noiva
maravilhosa!
— Obrigada.
Meu vestido finalmente foi revelado e a minha mãe arregalou os
olhos. Era um modelo de princesa, porque eu era uma, a parte de cima era
rendada, com um decote seguindo a mesma linha das mangas até o meio dos
meus seios. Meus ombros e pescoço estavam livres do vestido. A saia era
volumosa, mas não bufante. Por baixo, usava um espartilho branco sem alças
e uma calcinha de babados branca, junto com as meias da liga para usar com
meus sapatos brancos rendados.
— Seu marido vai ter um pequeno ataque com essa renda.
— Não dá para ver nada. — Rebati e ela seguiu fechando os botões.
— Sorria para as fotos, mamãe.
— Não seja uma esposa petulante, Giovanna. Seu pai e eu
observamos o seu crescimento e conhecemos a sua personalidade, sei que
você nunca escondeu o desagrado com algumas... rotinas dos homens da
família. — Mamãe me encarou pelo espelho. — Damon é o homem mais
importante e precisa ter uma esposa firme, resiliente e que o apoie em casa.
Se ele te trair, você precisa ignorar.
— Traição e violência não devem ser rotinas dentro de um
casamento, mamãe. Eu não me importo com o que o Damon faz, isso é sobre
a família, e todos precisam dele, mas ele não será o chefe quando estiver
comigo. Ele será o meu marido e vai me tratar com respeito ou ele não terá o
meu respeito e admiração. — Rebati sem desviar o olhar. — E por favor,
sorria. Não quero estragar as fotos. Eu amo você, mama. Amo muito, mas
você não vai me convencer a ser uma esposa oprimida.
— Cuide-se, mia bambola . — Mamãe me deu um beijo e voltou a
fechar a minha roupa. Nós falamos o tempo inteiro em italiano, mas a
fotógrafa percebeu que o assunto era tenso e voltou a fotografar quando
sinalizei.
Fiquei admirada comigo mesma. Estava absurdamente linda como
noiva. Com calma e cuidado, a fotógrafa me levou para algumas áreas do
hotel para me fotografar sozinha, em seguida com os meus pais e com as
minhas damas, que eram as lindas sobrinhas do Damon. Nunca o vi
interagindo com elas, mas eram muito fofas e eu morria de vontade de
morder as bochechas delas. As duas estavam lindas com os seus vestidos
brancos e laços lilás.
Enrico me levou para a igreja sozinha e aproveitei o tempo para
colocar os meus nervos para descansar ou iria surtar antes de passar pelo
tapete vermelho. Me casar na Capela de Saint James era o meu sonho de
menininha e tentei não chorar por realizar. A data que eu quis não estava
disponível, mas Sandra fez acontecer. Afinal, o que era negado à família?
Meu pai estava me aguardando e arrumaram as minhas saias,
segurei o braço dele e seu olhar para mim era de um pai emocionado ao levar
a sua filha ao altar. Na mente dele, me dar em troca de uma dívida foi a
melhor saída e quem eu queria enganar? Foi a minha salvação ou maldição.
Meus pais estavam vivos e eu, dentro da nossa sociedade muito machista,
com um excelente casamento.
Sendo ele um bom marido ou não.
As portas se abriram e haviam cerca de trezentas pessoas de pé, me
olhando, esperando entrar e eu respirei fundo, seguindo pelo corredor com o
meu pai até o Damon. Ele estava tão bonito com seu smoking creme, a barba
feita, o cabelo penteado e o sorrisinho sacana enfeitando o seu rosto. Ele não
agradeceu o meu pai pela minha mão, simplesmente me tomou com um
sorriso, tirou o meu véu do rosto e me deu um beijo na testa antes de me levar
até o padre.
A nossa cerimônia foi toda em italiano, se os convidados americanos
não estavam entendendo não era exatamente um problema nosso. Tivemos
todos os ritos tradicionais católicos e como nos casamos no civil no começo
da semana, foi um pouco mais curto quando só precisamos assinar os
documentos da igreja.
Após a benção, fomos declarados marido e mulher. Damon teve
autorização para me beijar. Pensei que o bastardo fosse fazer algum
showzinho, mas só me deu um beijo calmo e longo o suficiente para que as
pessoas aplaudissem.
Saímos juntos, sob a chuva de arroz e pétalas de rosas. Os carros
estavam buzinando, fazendo bastante barulho para afastar as energias
negativas durante a nossa chuva de amor e fertilidade. Enrico abriu a porta do
carro, para nos levar pela cidade enquanto os convidados seguiam para a
festa. Foi um pouco chato acomodar toda a minha saia, levamos vários
minutos e no final, ele ficou sem onde se sentar. Damon riu quando a porta
fechou, passando as mãos por baixo delas, tentando sentir as minhas pernas,
mas bati nele.
— Não me bagunce.
— Só você para usar a porra de um vestido transparente no nosso
casamento. — Trilhou as bordas da renda pelo meu braço, seguindo para a
barriga e arrastou o polegar nos meus peitos onde deveria estar os meus
mamilos, mas o tecido era bem grosso. — Quase tive um AVC quando te vi
entrar. Esse seu decote... — Chegou mais perto e parou com o nariz bem
pertinho do meu. — A noiva mais linda do mundo inteiro, Gio. Perfeição é
insuficiente para te descrever... — Me deu um beijo e o segurei perto.
Damon me assustava de muitas maneiras porque eu sabia do que ele
era capaz de fazer, as histórias não fugiam de nós e ele tinha muitas, por ter
começado essa vida muito cedo. Ele me atraía e por tantos anos sabendo
desse casamento, já nutria afeição, ciúme e um tanto de expectativas.
— Você está lindo, obrigada por não ir contra as minhas escolhas.
— Sabia que ficaria bonito. Você parece ter um prazer por me ver
bem gostoso. — Sorriu e mordeu o meu lábio. — Esse casamento está sendo
o mais caro que o Estados Unidos já ouviu falar. Acredite em mim, eu
pesquisei. Não vencemos na Europa por causa de um príncipe árabe qualquer.
— Não sabia que era uma competição. Só quis o melhor para o
nosso casamento. Além do mais, a nossa sociedade tem o costume de ter
casamentos bem medíocres porque a maioria dos pais são meio mão de vacas.
— Pisquei e ele sorriu torto. — O que isso te faz como chefe?
— Isso faz com que os pais comecem a competir sobre o casamento
mais caro, pode ser que eles fiquem mais ambiciosos com os seus negócios e
deixem de ser preguiçosos. Vão me fazer ainda mais rico.
De repente, me veio um pensamento ruim.
— Ei, o que foi?
— E se eles virem o casamento como uma exibição desmedida e
tentarem fazer a sua imagem de fraco?
Damon abriu um sorriso.
— Então eles vão saber quem sairá fraco no final e isso não deve ser
a sua preocupação. A minha é mimar a minha esposa. — Segurou o meu
rosto e me deu um beijo. — Não quero que se preocupe.
Enrico avisou que estávamos chegando e eu tentei arrumar o meu
vestido para sair com mais facilidade. Damon brincou que me puxaria pelos
braços, mas ele deu um jeito de segurar o tecido, sair e ainda conseguir me
tirar com facilidade. Meus pais já estavam nos aguardando, provavelmente
demos mais voltas para dar tempo e a minha mãe conseguiu arrumar a minha
roupa novamente.
O jardim do hotel foi aberto exclusivamente para nós. Era o lugar
mais bonito que já havia pisado e entendia porque aquele lugar era privado
dos demais hóspedes. Era perfeito.
— Você vai amar o jardim de casa... — Damon passou o indicador
no meu pescoço porque sabia que ficava arrepiada. Casa que ele se referia,
sabia que era a da Itália, onde passaríamos um mês (ou mais). Não tinha
detalhes, só não podia ignorar a sensação que não era só uma lua-de-mel.
Damon estava indo para colocar algumas coisas em seu devido
lugar.
Terminamos com as fotografias, ele me pegou no colo para passar
pelo portal de entrada e quando me colocou no chão, me deu um beijo bem
rude, marcando seu território e domínio sobre mim, me desafiou com o olhar
quando tentei abrir um sorriso zombeteiro e não segui em frente porque não
queria causar uma cena e muito menos desmoralizar o meu marido perante a
todos.
Nós seguimos para o dever matrimonial em receber abraços e
cumprimentos dos nossos convidados e isso levou uma eternidade. Alguns
fiquei realmente feliz, outros não conhecia e a maioria retribui por educação.
O jantar foi servido e o meu marido me levou para a mesa principal.
Estava linda e decorada como um casal de noivos merecem. A parte mais alta
estava com duas cadeiras destinadas a nós dois e a parte mais baixa, com
quatro cadeiras, para sua irmã e o marido de um lado e os meus pais do outro.
Devido a inimizade da Sandra com a madrasta, ela não estava na mesa
conosco.
Damon me explicou que eles não eram próximos e por isso não fez
questão nenhuma da presença dela. Apenas aceitei, não ia me intrometer em
briga de família e ela sempre me tratou de maneira desprezível.
Todo o cardápio do casamento era italiano, nas mesas foram
servidos os bolinhos de arroz recheados, antipasti variados e havia uma ilha
imensa com todo tipo de massa e acompanhamentos para que os convidados
pudessem montar conforme quisessem. O jantar era variado, havia risotto al
limone , brodetto , sopa de polenta e cordeiro cozido. Como estava faminta,
não neguei nenhum dos pratos, porque a história de não comer direito o dia
inteiro não era para mim.
— Alguém está faminta. — Damon me provocou e limpei minha
boca, todos estavam comendo, aquilo era a prática favorita dos italianos.
Havia muita comida e uma sala inteira cheia de barris de vinho, assim como
muitas garrafas de vinho Villa Valentinni, presente de casamento da Juliana e
do Enzo.
Ela não veio ao casamento e entendia muito bem. Ninguém sabia
que o Enzo sofreu um acidente de carro e morreu carbonizado há um mês.
Sabia disso porque quando conversei com o Damon sobre adiar a data do
casamento, não fazia cinco meses que o pai dele havia falecido, seria uma
interpretação de mal gosto, mas, ele optou por me contar que as coisas não
estavam muito agradáveis e ele precisava estar casado.
O casamento na vida de um chefe também era uma afirmação de
poder.
O fato de ele ser tão jovem era um incômodo para a maioria, mas o
Enzo assumiu e dominou muitos territórios sendo jovem, contudo, ele perdeu
um pouco do respeito por não ser casado, recuperando-se bem rápido após a
aliança com os napolitanos através do casamento. Juliana entrou na vida dele
para dar-lhe mais força como chefe de todos.
Damon não podia ficar atrás, na nossa família, ser jovem era
sinônimo de fraqueza. Ser jovem, não casado e chefe, era sinônimo de uma
família fraca e suscetível a ataques.
Meu noivo e eu não interagimos muito durante o casamento, ele
mantinha a clara posição de ter o domínio sobre mim, ao meu corpo, mas ele
também manteve a sua postura impecável, fria, distante, calculista e estava de
olho em todo mundo. Durante a nossa dança, seu olhar saiu do meu rosto
diversas vezes e discretamente, apontou coisas para Enrico ou para o
Giacomo. Àquela altura da festa, já tinha muita gente bêbada.
Dancei com o meu pai e como não havia um momento para dançar
com o pai do Damon, Sandra e eu decidimos colocar a foto do Francesco
Galattore no telão, em forma de respeito pela sua vida, engoli o meu desprezo
dançando com o tio do Damon por parte de pai, chefe da cidade de Chicago.
O avô materno dele era muito velho e assustador, não cheguei perto dele
além do necessário e o Enrico não deixou que nenhum dos homens que o
acompanhavam chegassem perto de mim.
Damon me encontrou no momento que consegui chegar perto das
minhas amigas e ficar sozinha com elas. Droga.
— É hora de trocar de roupa. — Damon cochichou no meu ouvido.
Achei bem estranho, mas não discuti. Estava realmente no momento ideal
para liberar a pista de dança para as músicas mais agitadas. Olhei para a
minha prima Bianca.
— Bia, pode me ajudar? — Reuni minha saia para andar melhor.
— Não precisa, iremos sozinhos. — Damon não deu tempo para
discutir, me levando para os elevadores e entramos junto com Enrico e o
Giacomo. Entramos no quarto e ele olhou ao redor, voltando para a saída. —
Volto em dez minutos. — Fechou a porta e fiquei puta, porque não existia a
possibilidade de trocar de roupa sozinha. Eram muitos botões e por isso pedi
a minha prima para me acompanhar.
Tentei sair, mas a porta estava travada. Procurei o meu telefone e
decidi que antes de pedir para Bianca subir, mandaria uma mensagem para
ele.
[Ok. Me espere voltar e não chame qualquer pessoa].
O que ele estava armando no dia do nosso casamento?
06
Damon.

Enrolei as mangas da minha camisa e sentei-me no banquinho,


olhando para o homem amarrado na cadeira. Ele estava suado, seu cabelo
desgrenhado e colado de sangue porque meus caçadores se empolgaram um
pouco na hora de pegá-lo se rastejando como uma cobra, me traindo no dia
do meu casamento.
— Interessante... Esposito. — Sorri e peguei a minha faca, olhando
a lâmina perfeita brilhando com a luz difusa acima de nós. — Pensou que a
presença do meu avô te ajudaria em alguma coisa? Pensou que a porra
daquele velho decrépito tem algum poder? Ele está vivo porque eu quero. —
Voltei a fitar a minha faca. — Sabe... Achei interessante. Enzo está fora do
país e vocês, ratos nojentos de porão, pensaram que poderiam criar um motim
começando bem na porra do meu casamento? — Cravei a faca na sua coxa e
ele gritou alto, esgoelando como uma garotinha. — Ah, porra. Era com esse
gritinho que você queria tomar o meu lugar?
Meus homens riram atrás de mim.
— Você traiu o seu juramento. — Furei outro lado da sua perna. —
Você beijou a minha mão. — Bati com meu anel no seu rosto. — E será o
primeiro a pagar pela traição. E a sua esposa... — Passei a minha língua nos
lábios.
Ele cuspiu sangue.
— Eles sabem que o Enzo está morto e não vão permitir que a
Juliana controle a família. Sabem que você está segurando as ações dela e das
empresas. — Abriu um sorriso. — Não vai demorar muito para que esse
império moderno que vocês querem implantar caia. Eu não sou o único.
Soltei uma risada e foi a última coisa que ele viu, porque rindo, abri
um belo sorriso na sua garganta, ficando todo sujo de sangue.
— Limpe essa bagunça. — Falei com o Giacomo e olhei para os
meus caçadores. — Peguem o restante que ouvimos nas gravações, não
façam alarde e não deixem um rastro. Não quero a família de nenhum deles
fora do radar.
Os quatro assentiram e saíram. Enrico surgiu no fim do corredor e
porra, Giovanna estava mais de vinte minutos fora da festa. Andei até ele,
entrei em um banheiro, lavei o meu rosto, tirei a camisa suja de sangue e
coloquei uma limpa que ele me entregou. Estava sem o meu terno do
smoking desde o jantar, só coloquei para a dança e não usei mais. Entramos
no elevador e desbloqueei a entrada do quarto com o código primário que
peguei do sistema do hotel.
Giovanna estava na cama, comendo chocolate, com o vestido todo
espalhado e a cena era um tanto engraçada. Ela não parava de comer. Os
bombons eram da caixa que mandei entregar cedo, junto com um buquê de
flores e o bracelete de diamantes que pertenceu à a minha mãe e ela estava
usando.
— Graças a Deus. Foi um desastre tentar fazer xixi com esse monte
de tecido aqui. Estou apertadíssima! — Reclamou e comecei a rir. Ela me fez
esquecer a porra do ódio que corria nas minhas veias em segundos. Quicando
no lugar, parecia uma bola com o vestido todo bagunçado.
Não tinha palavras para descrever o quanto ela estava linda, de tirar
o fôlego e seu vestido era romântico e ao mesmo tempo sensual. Uma
combinação que só ela conseguiu com maestria. Pensei que iria despi-la de
um jeito mais interessante e não às pressas porque ela queria ir ao banheiro.
Assim que se viu livre do vestido, minha mente entrou em parafuso.
Giovanna usava o conjuntinho de espartilho e liga mais sexy do
mundo, aquela calcinha de babados seria a minha morte. Foda-se se queriam
derrubar o meu poder na minha festa de casamento, ela ia me matar mesmo.
Ela foi para o banheiro e joguei o seu vestido na cama, mesmo
depois de ouvir a descarga, ela não voltou para o quarto e fui atrás dela.
Estava soltando o cabelo, peguei as presilhas que estavam no seu cabelo e
levei para o cofre, eram safiras verdadeiras. Ao voltar, seu cabelo estava solto
e parei atrás dela, cheio de tesão.
A sua bunda com aquela calcinha estava incrível.
— Não vem, romeu. Você sumiu por vinte minutos e os convidados
devem pensar que estamos adiantando a noite de núpcias. — Me empurrou e
voltou para o quarto. Ela tirou o espartilho, puxando os laços e o zíper. Mordi
o meu lábio, apreciando a visão e demorei a entender que ela precisava de
ajuda para fechar o top que colocou. Em seguida, veio outra saia, mas não era
um vestido. Era uma saia justa, com um lascado que ia até marca da sua
calcinha.
— Caralho... Giovanna! Não! Você não vai sair do quarto com essa
roupa!
— Claro que vou! É exclusivo, alô! Foi feito para o meu casamento!
— Me deu um olhar como se eu fosse um idiota.
— Esse lascado dá para ver a sua buceta!
Ela colocou as mãos na cintura, indignada.
— Não dá não! A minha calcinha é grande, como um shortinho!
Além do mais, você tem que tirar a minha liga. Estamos em cima da hora, eu
quero dançar! — Bateu o pé, ficando vermelha de irritação.
— Vou tirar a liga e você vai subir para colocar outra roupa. —
Ordenei e com os olhos arregalados, assentiu. Foda-se a minha vida, puta que
pariu.
Puto pra caralho, andei atrás dela e voltamos para a festa sob os
aplausos incitados pelo DJ e os gritos para nos beijarmos. Pétalas de rosas
foram jogadas em nós e a Giovanna sorriu, louca para dançar, mas eu fiz a
pausa dramática para jogar a sua liga e o Enrico pegou. Joguei na direção
dele porque era o meu irmão, melhor amigo e não deixaria nenhum idiota
segurar as meias da minha mulher.
Giovanna pegou o seu buquê. A mulherada se reuniu atrás dela. Fez
um monte de brincadeiras antes de jogar e uma prima dela, muito jovem
pegou e pareceu animada. Seu pai tirou o lenço do bolso e secou o suor. Ele
era chefe de um dos meus cassinos, mas não parecia muito animado com a
ideia de ter a filha se casando. Isso me fez rir. Adorava pegar as fraquezas
dos meus homens bem aleatoriamente.
Minha mulher começou a dançar com a minha irmã, suas amigas e
primas. Fiquei à beira da pista, olhando o quanto era linda e estava muito
gostosa. Sinalizei que era hora de subir e tirar a porra daquela saia e o que ela
fez? Virou de costas e começou a rebolar. A minha vontade foi de jogá-la
sobre os meus ombros e levá-la a força para colocar uma calça cobrindo
aquelas pernas torneadas muito bonitas.
Giacomo apareceu no meu campo de visão e vi o momento que o
meu avô, o bastardo filho de uma puta, saiu de fininho com seus capangas.
Andei até o Giacomo.
— Matem todos os capangas e coloque o meu avô no avião para a
Itália e só o solte quando chegar dentro de casa. Leve a sua equipe, nos
encontramos lá em alguns dias e assim que pousarem, Giovanni estará com
reforços. — Falei baixo em seu ouvido, ele assentiu e saiu.
Passei o meu polegar no meu lábio, com meu olhar esquadrinhando
o ambiente. Os filhos da puta... Avisei ao Enrico. Haveria uma reunião com
todos os chefes, subchefes e soldados às duas da manhã. Não daria tempo
para os babacas pensarem que tinham uma vantagem contra mim, eles sabiam
que eu gostava de sangue, mas agora veriam o banho que era capaz de fazer.
Os homens não duvidavam nenhum pouco da minha capacidade,
mas eu era jovem, recém-casado, Juliana estava retendo o que, tecnicamente,
era dela por direito, e apesar de Nova Iorque permitir que mulheres tivessem
posições de poder, não era aceitável uma mulher no topo da cadeia do
comando. Juliana não iria ficar. Ela não queria ficar e eu sabia o porquê, mas
ela não sairia até descobrir quem matou o seu marido.
Para mim, não só era importante apoiá-la nesse momento, porque
não estava interessado em lutar sozinho contra a organização, os russos, os
malditos orientais e a porra da minha própria família. Nova Iorque tinha uma
rede potente de aliados – e eles estavam do meu lado. Não era tão idiota e
sabia com quem podia lutar e quem podia me fazer ganhar mais poder. E
além do mais, estava muito interessado em saber quem foi o filho da puta
traidor que estava brincando de cavalo de Tróia dentro da família.
Se era só o Tio Alonzo, o meu avô ou todos eles... A luz do
entendimento precisava chegar e para isso, eles iam entender quem eu era.
Depois dessa noite, nunca mais me julgariam por ser jovem.
Enquanto a Giovanna dançava na pista, bebia com suas amigas,
alguns homens sentiram a tensão no ambiente. Outros sabiam que alguns
planos deram errado. Eu assisti o desenrolar do meu lugar no alto, sentindo a
porra de uma satisfação doentia. Cada minuto que passava era como um novo
risco de fósforo, aumentando a fogueira dentro de mim. Estava me sentindo a
própria peste.
— Hora de partir o bolo, maninho. — Sandra se aproximou com um
sorriso e logo fechou a expressão. — Hoje não, Dammie. É o seu casamento.
— Não se preocupe com isso. — Virei o meu copo de bebida.
— Dammie, por favor. — Ela tocou o meu braço.
— Baby, deixe o seu irmão. — Frank se aproximou e tocou o ombro
da sua esposa. Sandra saiu de perto de mim, meio emburrada, mas disfarçou
quando a Giovanna saiu do meio das suas amigas e andou até a mim.
Agarrei a minha esposa e beijei a sua boca, descendo minha mão
para o seu quadril. Ela me deu um olhar esquisito, mas logo ficou empolgada
com o bolo, esquecendo-se completamente de mim.
Partimos nosso bolo tradicional italiano e o bolo americano já estava
sendo cortado e servido. Aquilo significava o fim da festa. Giovanna foi
cumprimentar umas pessoas com a sua mãe e o seu pai estava no canto,
fumando um charuto.
Me aproximei dele cautelosamente.
— Não pense nem por um segundo que a sua vida está a salvo
porque você é pai da minha mulher. Eu ouvi o seu nome nas conversas e
parecia que você disse a eles que tinha informações importantes. Sabemos
que não sabe de porra nenhuma e eu entendo, um homem tem que se manter
no jogo. — Inclinei a minha cabeça para o lado. Ele soltou a fumaça. — Só
vou perguntar uma vez: o que tem para mim?
— A rota foi entregue no cassino e é tudo que eu sei. Uma das
meninas ouviu, eles perceberam e me procuraram.
Batia com que ouvi na escuta. Meu sogro apagou o charuto.
— Acredito que você saiba do que estavam falando...
— Vá para casa.
— Não preciso estar na reunião?
— Se você pensa que pode trair essa família, pode ir. Mas caso
contrário, vá para casa com a minha sogra. Não quero que a Giovanna saia de
uma festa de casamento para os preparativos de um velório, fui claro?
Vacchiano me encarou bem sério.
— Eu roubei, mas não traí e nunca trairia. Esse é o sangue que corre
nas minhas veias e será até o dia da minha morte.
Roubar era uma forma de traição . Olhando em seus olhos, ergui a
minha mão.
Ele beijou o meu anel sem pestanejar.
— Damon? Papa? — Gio se aproximou cautelosa. — Está tudo
bem?
Os olhos dele amoleceram para sua filha, de uma maneira
distorcida, ele a amava, mas não mais que a si mesmo. Um pai que realmente
amava a sua filha não a trocaria pela sua vida. Ele não era esse tipo de pai.
— Claro que sim, mia bambola . Você estava deslumbrante! A
noiva mais linda que esse mundo já viu. — Ele cantou para ela, fazendo-a rir
como uma menininha. — Ti amo, mia bambola . Preciosa. Seja feliz com o
seu marido. — Deu um beijo na testa da Giovanna e se afastou em direção a
mãe dela, que estava conversando com a organizadora do nosso casamento.
— Sobrou muita coisa e tem a caixa dos noivos, mas não acho que
seria ideal levar para o quarto. — Gio se aproximou.
— Enrico levará para o apartamento. Não precisamos de muita
comida em casa, distribua entre os funcionários do buffet e mande levar para
a nossa casa o que quiser. — Segurei o seu queixo e beijei a sua boca.
Giovanna se ocupou com o fim da festa e aproveitei a sua distração
para enviar algumas ordens e fazer ligações. Não levou muito tempo para o
salão ficar vazio, os funcionários começarem a recolher as louças, retirando a
decoração e eu fui até a minha mulher. Minha irmã me viu se aproximar e
avisou a ela, então, mudaram de assunto. Espertas.
— Agora você é minha. — Sorri e a peguei no colo. Giovanna
soltou um gritinho, segurando-se em mim. Acenei para minha irmã e
carreguei minha esposa para o elevador. Ela apertou o botão do nosso andar e
riu, me pedindo para não a derrubar. — Não vou te deixar cair. Nunca. — Era
uma promessa.
— Que bom...
Entramos no quarto e a coloquei no chão. Sabia que estava nervosa,
porque nem disfarçava e infelizmente, não poderia ter a minha noite de
núpcias porque tinha uns filhos da puta querendo me foder acreditando que o
casamento seria a minha distração. Ela tirou os sapatos, soltando um suspiro
de prazer e fui até ela, ajudando a sair da sua roupa complicada.
Seu rosto estava vermelho.
— Gio, fica calma. — Beijei a sua boca. — Por que não vai tomar
um banho para relaxar? Sei que está cansada.
Assentindo, saiu de perto e entrou no banheiro, optando pelo
chuveiro ao invés da banheira. Seu nervosismo era bonitinho e apesar de ser
um idiota, não queria que a sua primeira vez fosse apressada e jamais a
deixaria sozinha depois do sexo. Ela só precisava ficar calma e eu decidi
deixar a minha esposa relaxada. Tirei a minha roupa e entrei nu no banheiro.
Ela estava de costas, lavando o cabelo e a sua silhueta era perfeita. Tive
pensamentos profanos em segurar naquele quadril enquanto a comia firme
por trás.
— Damon... — Ela falou baixo.
— Acalme-se, posso ouvir as suas batidas do coração daqui. —
Abracei-a por trás. — Isso é só um banho. — Eu precisava vê-la nua. —
Você é linda, perfeita... — Eu ia continuar, mas ela soltou uma risada
sentindo cosquinha com minhas mãos nas suas costelas. Passei a mão de
novo e ela guinchou, tentando fugir. — Vou parar. Só quero ficar com você
um pouco antes de sair. — Confessei e ela ficou tensa entre os meus braços,
devagar, virou e me encarou.
— É a nossa noite de núpcias. — Havia uma pintada de chateação
na sua voz, mas ela não estava reclamando. Giovanna sabia das
consequências de se casar comigo. Ela se preparou por três anos e teve todo o
conselho da minha irmã, que como filha de um chefe e esposa de um
conselheiro, tinha muito a dizer.
— Eu sei, bella . Coisas precisam ser resolvidas.
Giovanna ficou na ponta dos pés e me abraçou. Não passou
despercebido que ela ignorou a nossa nudez, desejando apenas ficar peito-a-
peito comigo. Passou a mão no meu rosto, me olhando e a segurei bem perto
de mim, sentindo seus mamilos intumescidos contra o meu peito.
— É melhor você voltar... Não me faça uma mulher viúva na noite
de núpcias. — Fechou os olhos e me deu um beijinho tímido. — Volta para
mim.
Pela primeira vez na minha vida eu tinha alguém para voltar.
07
Gio.

De todos os cenários da minha noite de núpcias, passar a noite


sozinha não estava entre as opções. Damon não me deixaria sozinha se não
fosse inevitável. Era a nossa noite de núpcias, mesmo que estivesse muito
nervosa com a história do sexo, ele iria querer fazer alguma coisa interessante
– e eu não negaria, porque queria sentir uma conexão com ele. Se não
sentisse uma conexão, nunca me sentiria à vontade para o sexo.
Damon saiu após o nosso banho, eu não reparei muito a sua nudez,
estava nervosa e não era mais sobre o sexo, era sobre ele se machucar.
Demorei a dormir porque fiquei preocupada. Comi milhares de docinhos,
assisti dois filmes, ataquei a caixa de salgadinhos e apaguei quando estava
amanhecendo. Acordei sozinha, sem nenhuma mensagem e comecei a
arrumar as minhas coisas. Minhas malas estavam prontas, faltava apenas os
itens espalhados pelo quarto e não levou duas horas para terminar tudo.
Abri a porta pensando que encontraria outro soldado, mas o Enrico
estava no corredor, jogado no sofázinho e ficou de pé. Pensei que ele
estivesse com o Damon. Ele desceu com as bagagens primeiro e esperei no
quarto, verificando as mensagens no meu telefone e salvei algumas fotos do
casamento. Quando ele retornou, avisou que podíamos sair.
Enrico estava todo de preto e ele era muito bonito, chamando
atenção de quem passava. Andei ao seu lado usando uma calça de moletom
cinza, tênis preto, com uma camisetinha branca e sem o casaco do conjunto.
Minha mochila de couro preta estava com meus documentos e as minhas
coisas do dia-a-dia.
A SUV estava estacionada na frente do hotel com o manobrista
aguardando e o Enrico abriu a porta de trás. Não vi porquê não podíamos
sentar lado a lado, mas ele era muito quieto.
— Está tudo bem com ele? — Perguntei baixinho no carro. Enrico
me olhou pelo retrovisor.
— Ele sabe se cuidar. — Foi sucinto e mordi o lábio, preocupada. —
Em breve estará em casa com você.
Balancei a cabeça e olhei para a janela, observando a cidade em um
dia comum de verão, ensolarado. Enrico conduziu para um dos bairros
próximos à praia, vi um prédio novo, luxuoso, ele ligou a seta e entrou em
uma garagem escura, subindo algumas rampas antes de parar em uma
garagem no qual reconheci o carro do Damon. Haviam outras SUVs muito
parecidas com a que estava e mais alguns soldados conversando, uma sala
estava aberta e deu para ver uma parede de telas, parecia ser diversas partes
do prédio. Eles fecharam a porta quando nos viram.
Enquanto eles se dividiam carregando as minhas coisas em um
elevador de serviço, entrei no elevador social com o Enrico. Era a primeira
vez que estava ali e não fazia ideia o andar, qual apartamento, então, a minha
alternativa era seguir o meu quase cunhado. Enrico abriu a porta digitando
um código, revelando um hall de entrada bem claro, com um aparador bege,
um vaso para as chaves, uma orquídea e na parede, um quadro imenso com
uma foto minha.
Aquilo me deixou chocada.
Segui o Enrico para dentro, o apartamento era todo claro, com
paredes de vidro revezando com colunas. Não havia divisórias, apenas uma
parede de tijolos para a lareira e no fundo, a escada. Na minha frente estava
uma parede de vidro, com duas poltronas de couro, caramelo, almofadas
brancas e uma colcha. Para a direita o balcão da cozinha, todo em mármore
branco com seis banquinhos de couro preto. Esse balcão era espaçoso, com
um cooktop e atrás, os armários planejados, brancos, com a pia, o forno e o
micro-ondas. Os lustres eram lindos, com lâmpadas amarelas que eu amava.
A cozinha era muito bonita e por ser tão clara, não parecia algo que
o Damon escolheria. Ainda para a direita, após a cozinha, tinha um conjunto
de sofás cinza, um tapete branco, uma poltrona da mesma cor caramelo que
as outras duas à minha frente. O corredor dava para a escada e abaixo dela,
duas portas que estavam fechadas.
Para a minha esquerda, próximo às poltronas, havia uma mesa
redonda preta com seis cadeiras, em cima de um tapete redondo bege escuro.
Depois da mesa, vinha o que seria a sala de televisão, com um sofá branco,
uma mesinha de centro quadrada preta, duas poltronas brancas e um tapete
cinza lindo. Os sofás tinham almofadas pretas, marfins e a mesinha com
algumas revistas.
Deixei a minha mochila no sofá e fui para a varanda enquanto eles
subiam a escada com as minhas coisas. Me apoiei no parapeito, era alto e
nem na ponta dos pés conseguia olhar para baixo. Estávamos na cobertura.
Era muito alto. Enrico me avisou que eles tinham terminado e explicou que
morava no apartamento ao lado.
Esperei que ele saísse para fuxicar tudo.
Abri a geladeira, estava repleta de comida e com muita coisa do
casamento. Peguei uma garrafa de água, fechando a geladeira, abri as portas
de um pequeno corredor. Havia um lavabo bem amplo e me perguntei a
necessidade de algo tão grande, tinha até uma poltroninha. Abri a outra porta,
era um quarto que funcionava como armário das coisas da casa, como roupas
de cama, toalhas, panos de prato e coisas chatas. Achei a lavanderia e era
completa, muito bonita e tinha roupas dele dentro da secadora...
Hum... Ele lavava as próprias roupas?
Eu sabia lavar, cozinhar e passar porque no internato cada menina
cuidava das suas próprias coisas. A minha mãe sempre me ensinou a cuidar
da casa, principalmente a cozinhar, algo que eu gostava muito mais que todas
as coisas de limpar. Em casa sempre tivemos empregadas e cozinheira, porém
a minha mãe tomava conta de tudo. Esperava que o Damon não quisesse que
limpasse essa casa sozinha porque eu não iria fazer. Ele tinha dinheiro para
pagar por uma empresa.
Voltei para as portas próximo a escada, uma estava bloqueada com
uma fechadura digital e a outra tinha duas fechaduras. Porra, ia morrer de
curiosidade até conseguir olhar o que tinha dentro. Dei um chutinho na porta,
para ver se abria, mas o alarme disparou e subi a escada correndo.
Encontrei três portas, duas eram de quartos de hóspedes e a última
era do quarto principal. Minhas coisas estavam ali dentro e o quarto era muito
espaçoso.
A cama estava centralizada, com um edredom cinza escuro e as
fronhas pretas, com travesseiros e almofadas escuras. Na parede em cima da
cama tinha um quadro de montanhas e oceanos, era muito bonito. Em cada
lado tinham pequenos móveis aparadores com duas gavetas e uma chaise
long de couro preta, as paredes e portas eram só de vidros. Havia uma porta
para o banheiro e era lindo, a banheira e o chuveiro ficavam do mesmo lado.
Ao fundo, o espelho e do outro lado, as pias, com mais um espelho e um
armário com portas e gavetas.
Me vi tirando milhares de fotos naquele espelho, que ocupava a
parede inteira.
Os mármores rajados da pia e as portas brancas do armário, tornaram
aquele banheiro a minha parte favorita da casa, isso, até que abri a porta do
closet. Ah, que lindo! Era muito maior que o meu na casa dos meus pais.
Sempre quis um closet daqueles. Empolgada, aproveitei para arrumar as
minhas roupas e a parte boa de ter ficado no hotel, era que a maior parte das
minhas roupas estavam limpas.
Gastei o meu tempo dentro do closet e quando acabei, passava da
hora do almoço. Meu estômago faminto me alertou que se não comesse logo,
iria comer a geladeira inteira. Com as roupas sujas nos braços, coloquei no
cesto dentro da lavanderia e em seguida, abri a geladeira, peguei uma das
caixas do casamento. Esquentei um pouco de risoto, comi, lavei a louça,
peguei a minha mochila e voltei para o quarto porque ainda tinha muito o que
fazer.
Guardei os meus produtos íntimos e maquiagens nas gavetas vazias,
mexendo nas coisas do Damon e achei um monte de camisinha na sua gaveta
ao lado da cama. Esperava que aquele quarto não fosse o seu abatedouro. Os
lençóis pareciam limpos e bem cheirosos. Tomei banho, vesti um pijaminha
rosa e me deitei na cama com o meu telefone. Enviei uma mensagem, apenas
um emoji com a boquinha para baixo. Ele ficou online uma hora atrás, mas
não me sinalizou nada.
Conversei com a minha mãe por um tempo e peguei no sono no
meio da conversa. Abracei o travesseiro, ainda exausta, pensando que o meu
casamento foi perfeito, mas o desaparecimento do Damon no momento que
fui trocar de roupa, a tensão de alguns homens e os cochichos quando o avô
dele foi embora com seus soldados foi bem estranho. A ausência dele só me
deu a certeza que algo grave aconteceu.
Senti um par de mãos na minha cintura e abri os olhos, virando-me
na cama. Damon estava me abraçando, deitando-se atrás de mim. Me
puxando contra o seu peito, enfiou a mão na minha blusa, pressionando-se
contra mim e deu um beijo no meu pescoço, distribuindo beijos e virei o meu
rosto. Ele beijou a minha boca sem falar nada, avançando no beijo, nas mãos
e eu estava tentando acompanhar.
— Damon? — Chamei baixinho sentindo que ele não estava em seu
estado normal. Havia uma energia pesada sobre ele e apesar de estar sempre
alerta, não era assim. — O que aconteceu? — Coloquei a minha mão em
cima do seu coração.
— Eu voltei.
— Estou feliz por isso. Está tudo bem agora? — Olhei em seus
olhos, passei a mão no seu cabelo e estava molhado. Não o ouvi tomar banho
e ao sentir suas pernas nuas, não estava usando uma calça, nem uma
bermuda, mas não estava nu.
— Sim.
— Vai me falar o que aconteceu?
— Resumidamente, digamos que coloquei algumas coisas em seus
devidos lugares, fiz uma pequena limpa e agora, todos sabem quem é que
manda e não estão mais preocupados com as minhas supostas fraquezas.
— Você não dormiu? — Suas olheiras não estavam nada discretas.
— Cheguei agora, tomei banho lá embaixo e subi, peguei uma cueca
e vim te acordar. Não resisti, estava muito bonita dormindo e eu precisava te
beijar. — Voltou a me beijar. Ele avançou em mim, ficando por cima e me
levando para o meio da cama sem parar de me atacar.
Senti-lo tão intenso me fez tremer e corresponder o seu beijo, afastei
as minhas pernas e ele pressionou em mim de uma maneira tão deliciosa que
gemi. Damon enfiou as mãos na minha blusa, subindo para os meus peitos e
acariciou os meus mamilos.
Tímida, segurei a barra da minha camisetinha e puxei. Ele se afastou
para me dar espaço para tirar e eu mal encostei minhas costas na cama
quando ele agarrou meu peito, apertando e desceu a boca, chupando os meus
mamilos.
Uau! Agarrei os lençóis, surpresa e empurrei o meu quadril para
cima. Damon gemeu contra o meu seio, segurando o meu quadril e
literalmente se esfregando em mim. Seu pau estava muito duro e fiquei
nervosa, porque iria doer e eu não queria que doesse. Damon sentiu a minha
tensão, voltando a me beijar com calma, me tocando com cuidado e me
perguntei se ele queria sexo imediatamente. Como aquilo iria acontecer
assim?
— Gio? — Damon mordeu o meu lábio e acariciou meu braço
ternamente. — Calma... Nós não vamos pular para o sexo assim.
— Não? — O alívio ficou evidente no meu tom de voz.
— Gio, bella ... Você precisa estar mais relaxada e eu acho que
precisaria conhecer algumas coisinhas antes.
— Coisinhas? — Falei baixo, meio gemendo, porque ele voltou a
chupar o meu peito. — Que tipo de coisinhas?
Damon mordeu o lábio e me deu um sorriso muito maldoso.
— Quero chupar a sua buceta, ver a sua boquinha engolindo o meu
pau, te fazer gozar até ver estrelas e acariciar essa bucetinha até escorrer...
Ver você implorando por mim e quero esse olharzinho safadinho no meu pau
quando gozar em você. E aí, nós vamos fazer amor bem gostoso... — Deu
uma boa lambida no bico e pressionou seu pau ainda mais duro em mim. —
E quando você se acostumar, nós vamos foder muito gostoso. Entendeu?
Balancei a cabeça com a garganta seca. Para falar a verdade, meu
cérebro deu um giro de 360º completo. Lambi os meus lábios, meio ansiosa
com a ideia de experimentar algo com ele.
— E o que nós vamos fazer agora? — Minha voz era um sussurro.
— Tudo o que você quiser. O que quer que eu faça? — Meu coração
acelerou e as bochechas esquentaram. — Ou eu posso começar chupando
essa bucetinha linda?
Caramba! Olhei em seus olhos e apenas balancei a cabeça, bem, por
que não? Damon não conseguia esconder a satisfação. Pensei que ele fosse
direto lá embaixo, mas na verdade, ele voltou a me beijar e nos rolou de
modo que eu fiquei por cima. Dobrei as minhas pernas e montei no seu colo.
Apesar das mãos na minha bunda, ele ficou apenas me olhando por um tempo
antes de subir as mãos pelas minhas costas, passeando pelos braços, ombros e
descendo para os meus seios.
— A sua pele é perfeita...
Minhas mãos estavam apoiadas no seu peito. Damon tinha muitas
tatuagens, algumas orações escritas em italiano, o símbolo dos Galattore,
alguns números que não fazia ideia e ele não respondeu quando perguntei...
Haviam cruzes, caveiras, terços... Eram muitas tatuagens e de uma maneira
distorcida, eram bonitas. Seu peitoral era firme, todos os seus músculos eram
trabalhados – da cabeça aos pés. Ele não era do tipo forte em cima e magro
embaixo, era proporcional e alto.
Damon poderia ser um jogador de futebol americano se quisesse. Ele
era chamativo. A sua pele era bem morena comparada a minha, mas eu era do
tipo que ficava bronzeada fácil e logo não haveria diferenças entre nós.
Haviam marcas de cicatrizes no seu peito e na barriga, duas delas eram
claramente por ferimento a bala. Eu sabia como era, porque meu pai tinha
três e lembrava o quanto a mamãe cuidou dele. Me inclinei sobre seu peito e
beijei uma das suas cicatrizes.
Subi beijos pelo seu pescoço, beijos mais ousados, provocantes,
como ele fazia em mim com uma pitada de instinto. Parecia dar certo, porque
ele segurou a minha bunda e soltou uma respiração pesada, mas eu não ia
parar até arrancar um gemido. Eu merecia saber se o afetava ao ponto de
perder o controle. Chupei o lóbulo da sua orelha, devagar e rebolei contra a
sua ereção. Não era algo que eu sabia fazer com maestria, precisava vencer o
medo dentro da minha cabeça, mas era gostoso.
Não ganhei um gemido, mas ganhei uma virada brusca na cama. Caí
deitada e soltei uma risadinha nervosa. Ele engatou os dedos no meu short e
puxou pelas minhas pernas junto com a minha calcinha, jogando por cima
dos seus ombros e caiu longe.
— Você é tão linda, tão perfeita...
Mordi o meu lábio e olhei para sua cueca.
— Pode tirar? — Apontei discretamente.
— Quer que eu fique nu? — Arqueou a sobrancelha e assenti. Estava
nua e não queria me sentir estranha por isso, até porque a única oportunidade
que tive foi durante o nosso banho e eu estava tensa demais para poder
reparar tudo. Damon tirou a cueca e eu não desviei os olhos do seu pênis. Me
apoiei pelos cotovelos, olhando, estava muito duro, com a ponta brilhando e
as veias salientes... — Quer tocar? Meu corpo é seu, Gio. Você sempre pode
me tocar, sou seu marido. Não precisa ficar tímida, não comigo. — Olhei em
seus olhos e senti segurança nas suas palavras, sentando-me e segurei seu
pênis com calma, queria sentir como era e ele fechou os olhos, arrepiado.
Pensei que ele fosse me deixar explorar mais, porém, voltou a me
deitar na cama. Percebi que estava mais calma, as batidas do meu coração
estavam aceleradas pela excitação que corria nas minhas veias e não por
medo. Damon não iria me machucar como muitos maridos faziam com suas
esposas na noite de núpcias. Ele estava sendo calmo e gentil – do jeito dele .
Descendo beijos pela minha barriga, ele propositalmente beijou as
minhas costelas e sorri, tremendo e ficando arrepiada. Afastou os meus
joelhos, se encaixou entre as minhas pernas, lambendo meu umbigo e dando
uma suave mordidinha na minha pele, ergueu o rosto e mordeu o lábio.
— Afaste esses lábios para mim. — Pediu e eu pensei que minha
circulação sanguínea fosse explodir. Ele ia me matar. Desci minha mão e
afastei meus grandes lábios, sentindo a umidade. — Linda pra caralho... —
Caramba, eu estava pulsando.
Damon me lambeu, olhando em meus olhos e tudo o que um dia
pensei sobre como era o sexo oral, ficou esquecido no fundo da minha mente.
Era uma sensação totalmente nova, energizante, intensa e agarrei os lençóis,
com a mente em branco, incapaz de formar qualquer frase coerente com
aquela sensação borbulhante crescendo em mim. Já havia me masturbado
milhares de vezes, mas era diferente e a sua língua... Era como ele me
beijava, intenso, avassalador e explorando o meu clitóris com maestria.
Coloquei a minha mão no seu cabelo quando senti que estava
demais, mas era só uma coisa louca que me fazia contorcer, ele tocou a minha
entrada, brincando, quando empurrou dentro, foi desconfortável, mas não foi
fundo e não causou muita dor. Era muito mais prazer do que dor. O quarto
estava preenchido com meus gemidos e os sons da boca dele em mim, acho
que as paredes tremeram quando gozei. Foi muito mais intenso que todas as
outras vezes durante nossos amassos.
— Caramba... — Suspirei e ele estava parado, me olhando, mas seu
dedinho safado ainda brincava com o meu clitóris. — Por que está me
olhando assim?
— Você gozando é uma delícia, apenas isso. E agora, eu vou gozar
em você.
Eu estava, literalmente, com as minhas pernas bem abertas e ele
entre elas, inclinado sobre mim, apoiado com um mão e a outra, segurava o
seu pau e esfregou em mim, usando a sua cabeça para espalhar a minha
umidade, soltei um gemido e ele também, o que foi a coisa mais sexy e
erótica que ouvi na minha vida. Observá-lo tocando uma punheta, se
esfregando em mim e em seguida gozando, foi único.
Ele mirou para gozar bem em cima, como seria se fosse o resultado
de uma transa com penetração e eu sabia que ele daria um jeitinho de me
marcar como sua.
08
Gio.
Balancei as minhas pernas, sentada no balcão da cozinha, comendo
algumas uvas enquanto o Damon, vestido apenas com uma calça de pijama,
estava enfiado dentro da geladeira, procurando algumas coisas para
comermos. O apartamento estava quase todo escuro, nós descemos depois
que o estômago estava quase me comendo por dentro. Ficamos na cama por
um tempo e ele me fez gozar mais uma vez porque ainda não queria terminar
o nosso momento. Nos levantamos, tomamos um banho juntos e descemos
para comer.
Estava com uma camisola que deveria ter usado na minha noite de
núpcias, então, eu decidi que seria um desperdício deixá-la guardada para
outro momento porque merecia me sentir bonita na noite que eu quisesse.
Damon colocou alguns queijos no balcão, já tinha tirado a caixa do nosso
casamento e eu estava atacando o que tinha ali dentro. Ele foi até a dispensa e
pegou pães, mel e mostarda lacradas.
— Quer vinho?
— Sim, por favor. — Cruzei as minhas pernas e tentei cortar um
pedaço do queijo, mas aquele era muito duro, então, peguei uma fatia do brie,
joguei mel em cima e enfiei na boca. Delicioso. Damon abriu um vinho e
serviu nas taças, me entregando uma e pegou uma faca maior, cortando o
queijo muito duro com muita facilidade. — Eu quero um pedaço! — Ao
invés de comer o que cortou, me entregou e cortou outro para si. Não gostava
muito daquele queijo, era muito rançoso, mas eu estava com fome. —
Obrigada. — Beijei os seus lábios e ele me deu um sorriso raro.
Nós comemos um monte de besteira, bebi tanto vinho que já estava
soltando risadinhas por qualquer besteira. Damon descruzou as minhas
pernas, tentando não rir de mim e passei as minhas pernas na sua cintura
quando ele me puxou bruscamente para frente. Arrastei minhas mãos pelo
seu peitoral nu e beijei a sua boca, toda animadinha. Apertei a sua bunda e ele
saltou no lugar, surpreso.
— Você está muito soltinha.
— Culpa do vinho.
— Estou percebendo. — Provocou e voltou a me beijar.
Puxei-o muito bruscamente e quase derrubei a taça, mas deixei cair
algumas facas e torradas. Damon se afastou, riu e olhou a bagunça. Ignorando
o que caiu, me pegou no colo e subiu a escada comigo. Me jogou na cama e
deitou-se por cima, voltando a me beijar e depois, rolou para o lado, puxando
o edredom sobre nós porque o quarto estava na climatização perfeita para
dormir. Com o tanto de vinho que ingeri, acabei dormindo sem nenhuma
ajuda.
Era estranho acordar com outra pessoa na cama. Damon estava
dormindo com um braço atrás da cabeça e outro estendido, com a sua mão
descansando na barriga. Estava todo descoberto e olhei para o volume na sua
calça. Estendi a mão até lá e toquei. Ele abriu os olhos lentamente, como se já
estivesse acordado a um tempo e sorriu, com uma expressão sonolenta.
Colocou a mão em cima da minha e deu um aperto.
Com a minha palma, explorei seu comprimento, sentindo-o crescer
ainda mais com o meu toque. Beijei o seu ombro e ele virou, ficando de
frente e me deu um beijo calmo, agarrando a minha bunda e eu sabia que
definitivamente, a minha bunda era a sua fraqueza. Não conseguia manter as
mãos longe. Ergueu a minha perna, colocando na sua cintura e me apresentou
o que eu apelidei de versão favorita de bom dia.
Infelizmente, não me casei com um homem qualquer e ele precisou
sair logo após o nosso café-da-manhã, surpreso com as minhas habilidades na
cozinha. Conheci a Marcela, a mulher que cuidava do apartamento com
auxílio de duas outras mulheres, que não iriam naquela semana. Ela também
cuidaria das refeições. Damon não queria nenhuma empregada fixa e muito
menos morando conosco até que tivéssemos filhos, o que para nós dois, não
aconteceria tão cedo.
Marcela deveria ter a idade da minha mãe, era bem baixinha, gordinha,
usava os cabelos presos e tinha um sorriso fácil. Mal falou comigo em inglês
e deveria ser uma das muitas mulheres extremamente tradicionais em manter
a nossa língua ativa entre nós. Não era americana, nasci na Itália e vivi lá até
os meus quatro anos, quando meu pai foi convidado para uma posição de
respeito aqui em Chicago. As irmãs da minha mãe foram enviadas para se
casar com homens que já estavam aqui, era por isso que tinha alguns parentes
na cidade.
Meus pais tiveram um filho antes de mim, mas ele faleceu ao nascer
com uma doença cardíaca grave. Seu coração era muito grande para o seu
corpinho e apesar de todo tratamento, ele não resistiu. Minha mãe levou anos
para considerar a ideia de engravidar novamente, na verdade, havia uma
pressão para que eles tivessem filhos. Então, eu nasci. Uma menininha.
Marcela falava pelos cotovelos e eu percebi que estava muito curiosa
sobre mim, falou sobre o meu corpo porque estava de short jeans curtinho e
uma camiseta, isso me deixou desconfortável durante o almoço. Enrico
entrou para me entregar uma caixa e mandou a Marcela parar de me fazer
perguntas e ir trabalhar, que o Damon não teria dificuldade de trocá-la por
outra pessoa. Continuei comendo, fingindo que eles não estavam lá e subi as
escadas com a minha caixa e para fazer as malas.
Sentei-me no chão do closet, abrindo a caixa e havia um bilhete da
minha mãe dizendo que me enviou umas coisas do meu quarto que eu poderia
sentir falta. Peguei a minha caixinha de joias, olhando alguns cordões e anéis
que adorava usar, meus cadernos, canetas coloridas e um monte de livrinhos
que eu amava quando criança. Ela deixou os meus ursinhos e bonecas, acho
que a minha mãe não teve tempo para se despedir e lidar com a minha
ausência em casa. Fui tirada dela.
Esperava que o Damon não se incomodasse que fosse visitá-la de vez
em quando. Entendia a sua resistência com o meu pai, eu também tinha, mas
a minha mãe era uma mulher como muitas do nosso meio: extremamente
submissa e às vezes, omissa.
Guardei as minhas coisas e comecei a arrumar minha mala. Damon me
pediu para preparar uma mala pequena, porque era necessário comprar roupas
e itens pessoais para ficar na Itália já que estaríamos indo e vindo muitas
vezes nos próximos meses. Escolhi roupas para os primeiros dias, olhando a
previsão do tempo lá e me organizei para ir às compras em Milão, porque eu
era mimada e obrigaria o Damon a continuar me mimando.
Enviei uma mensagem e ele respondeu “ok, poderemos passar 2
dias em Milão e então, iremos para casa”. Quase gritei de alegria. Só por
isso, banquei a boa esposinha e arrumei a mala dele. Fui um pouco chata,
enviando algumas mensagens para ter certeza que estava tudo certo e não
queria que ele ficasse sem as coisas que gostava de usar. Estava sendo boba e
preocupada, talvez já estivesse me tornando o tipo de esposa idiota.
Deixei as malas arrumadas no canto, organizei a minha mala de mão
e a minha bolsa. Meus documentos e passaporte ele levou bem cedo, meu
sobrenome mudou, não era mais uma Vacchiano e sim Giovanna Maria Di
Galattore , mas os documentos novos chegariam em dez dias e seriam
enviados diretamente para a Itália.
Meu sobrenome não tinha tradução para o inglês e não tínhamos um
nome americano como a imprensa costumava chamar o meu marido de
apenas Damon Galattore, mas a escrita e pronúncia correta era Damon
Francesco Di Galattore e não éramos americanos, a nossa situação era legal
com o país, porque a Itália não pedia que os italianos abrissem mão da
cidadania para ter uma naturalidade em outro. Quando a minha família se
mudou, a famiglia já existia com muitas conexões e o processo para
imigrantes era muito mais rígido para países da américa central ou sul.
Meu telefone tocou e era a Bianca, minha prima.
— Oi, noivinha . — Sua voz estava calma.
— Como você está?
— Enjoada ainda. Giulio acredita que devo fazer um teste, mas eu
não quero. É simplesmente frustrante ter tantos negativos. Sei que para ele
não faz diferença, porque já tem dois filhos e a sua filha já lhe deu um neto,
mas eu não tenho filhos e sempre quis... — Reclamou um pouco e me
solidarizei por um tempo, mas eu não tinha ideia o que dizer. Bianca era mais
velha que eu apenas por dois anos e se casou com a minha idade. Não podia
imaginar a ideia de ter filhos. Talvez daqui a dois anos quisesse ou o marido
muito mais velho a preocupava. — Pensei que fosse te ver hoje no velório.
Foi bem triste. A Sra. Marrone estava desolada... Ouvi Giulio dizer que as
coisas ficariam mais calmas agora, mas eu não entendi nada. Marrone se
matou, mas o Esposito desapareceu e a Catarina não atende o telefone. Meu
pai me disse para dar um tempo... Esposito traiu a família. Me perguntei se o
Sr. Marrone se matou mesmo... — Bianca tagarelou sem parar. — Encontrei
com o seu marido no velório e ele disse que você estava indisposta, por isso
liguei. Está tudo bem?
Não sabia que o Sr. Marrone havia morrido. Ele era irritante, mas
gostava da esposa dele. Por que o Damon não me disse que homem morreu?
Houve traição na família. Então, se o velório foi hoje, o homem deve ter
morrido ontem ou... na noite do meu casamento, após a festa, porque eles
estavam lá.
— Sim, acordei me sentindo mal. Acho que exagerei em tudo que
comi no casamento e toda ansiedade dos preparativos. Damon optou por me
deixar descansando para que não me vissem abatida. — Menti meio confusa,
mas menti porque ainda não sabia por que ele escolheu não me levar e muito
menos não me contar. Pior de tudo, não podia dizer que a Bianca me contou
ou ele poderia dar um jeito de inibir o nosso contato.
— Faz um chá e descansa, você parecia uma pilha antes e durante a
festa, eu não tive metade da sua criatividade e disposição. Foi um casamento
memorável, todos estão falando muito bem, até as matriarcas mais chatas,
dizendo que finalmente a família teve uma festa onde todos puderam se
divertir, sem esquecer da nossa tradição e que o Damon foi muito generoso
como marido, permitindo que os convidados saíssem com tantas coisas... —
Bianca era muito cabeça de vento. Sim, Damon permitiu que os convidados
levassem muita coisa, mas parecia que alguns saíram sem a vida. — Claro
que os seus vestidos deram o que falar. Soltei muita risada com a mamãe
fazendo sinal da cruz sobre o quanto você estava sensual. Ela disse que a Tia
Lucinda te prendeu demais e quando você ficou solta, quis logo mostrar o
corpo.
Soltei uma risada alta, que ecoou no quarto e olhei para a porta.
Damon estava encostado na soleira, divertido e curioso. Como ele usava
preto o tempo todo, não sabia se era pelo velório ou a sua roupa do dia-a-dia.
— Bia, meu marido acabou de chegar. Nos falamos depois, tá? Te
amo, beijos! — Encerrei a chamada e olhei para ele. — Tudo bem?
— Era a Bianca?
— Sim. Estávamos falando sobre o casamento, a fofocada toda e os
comentários sobre os meus vestidos e enfim, aquele feedback de festa. —
Fiquei de pé na sua frente.
— Só isso? — Conferiu. Ele estava preocupado que soubesse o que
aconteceu?
— Sim, papo de mulher. Nossas coisas estão prontas, quando iremos
viajar? — Desviei o assunto para a nossa lua-de-mel.
Damon sorriu e colocou meu cabelo atrás da minha orelha, me
dando um beijo suave nos lábios. Abracei-o, derretida com o seu toque e
enfiou as mãos nos bolsos traseiros do meu short.
— Minha linda esposa quer fazer compras na cidade da moda, então,
nós teremos que sair um pouco mais cedo. Sairemos essa noite, iremos passar
dois dias em Milão e em seguida, vamos para a Sicília.
— Tenho o melhor marido do mundo. — Brinquei e fiquei na ponta
dos pés, beijando os seus lábios. — Ansiosa para voltar para a Itália, faz
tantos anos... Tenho tantos lugares para ir... — Suspirei, empolgada e olhei.
— O que fez o dia todo?
Damon ainda estava me avaliando.
— Trabalhei. — Me deu um sorrisinho torto e um tapa na bunda. —
Trouxe algo para você. Vem ver.
Na nossa cama tinha uma caixa preta enorme, com um laço dourado
e animada, porque eu amava ganhar presentes, pulei na cama e puxei a tampa.
Tirei os papéis seda, revelando uma bolsa Chanel linda e uma caixinha de
veludo, com um colar e soltei uma risada ao ver que o pingente era o nome
dele com várias pedrinhas.
— Não seria melhor uma tatuagem? — Olhei-o meio exasperada.
— Não quero nenhuma marca sobre a sua pele perfeita, mas eu
adoraria que usasse algo com o meu nome. — Seu sorriso era até
diplomático.
Só faltava me puxar pelos cabelos enquanto batia no peito gritando
MINHA MULHER de um jeito bem homem das cavernas.
— E o que você usaria com o meu nome? — Coloquei as minhas
mãos na cintura. Ele era tão engraçadinho.
Damon abriu um sorriso zombeteiro, abrindo a calça, tirou o cinto e
abaixou o zíper. Me perguntei se ele iria simplesmente colocar o pênis para
fora, mas, ele puxou a camisa de dentro da calça, abriu os botões e o idiota
estava fazendo suspense porque eu estava atenta. Não disfarcei o meu olhar
de prazer com o seu peitoral, mas um curativo me deixou preocupada. Ele se
machucou? Que diabos estava acontecendo?
Puxou o curativo e revelou uma tatuagem...
— Damon!
— Eu só te pedi para usar um colar. — Sorriu e bati no seu braço,
admirada com o meu nome. Ele escreveu “GIO” em letras maiúsculas e cada
uma tinha flores de cerejeira envolvidas. Apenas as flores eram coloridas, em
um rosa muito suave e apesar de não ser muito grande, ornou perfeitamente
com as tatuagens ao redor. — Gostou?
— Claro que sim, estava seriamente preocupada em como marcar
você, se bem que essas mulherzinhas que trabalham e frequentam os seus
clubes não se importam com nada.
Damon soltou uma risada alta e bati exatamente onde estava a
tatuagem. Ele continuou rindo e me derrubou na cama com um único
movimento. Prendeu as minhas mãos em cima da minha cabeça e imobilizou
as minhas pernas. Não estava me machucando e não fiquei assustada, só não
era justo. Ele desceu a boca no meu pescoço, me provocando e sorriu,
mordeu a minha blusa, puxando para baixo até o meu peito ficar exposto e
chupou o meu mamilo por cima do meu sutiã de renda, balançando a língua
de um lado ao outro.
— Você é ciumenta, Gio? — Chupou meu peito e soltou com um
estalo.
Um gemido escapou dos meus lábios e abri os meus olhos.
— Sim. E eu não sou como a maioria das mulheres dessa família. Se
você me trair, se tiver uma amante, fixa ou não, filhos fora do casamento ou o
seu pau, a sua boca e as suas mãos tocarem outra mulher eu vou matar você.
Vou me casar de novo e ainda o farei novo chefe .
Damon me olhou incrédulo por um momento e depois soltou uma
gargalhada, sentando-se na cama e cruzei os meus braços, cobrindo o meu
peito. Fiquei séria para ele entender que por mais que não tivesse tamanho e
nem peso para fazer tais coisas, eu estava falando muito sério.
— Entendi, bella . Nada de mulheres... — Esfregou o nariz no meu. —
Apenas você, mia belíssima moglie.
— Acho bom e não se ache por isso, porque não faz mais que a sua
obrigação. — Sorri e peguei a minha caixa de presente. — Obrigada por isso,
eu adorei. — Beijei a sua boca e saí da cama, deixando-o com as
sobrancelhas arqueadas e o olhar surpreso para trás.
09
Damon.
Desviei o olhar do homem sentado na minha frente para a Gio que
andava próximo ao parapeito do bar que estávamos. Ela lambeu a sua bola de
sorvete, aproveitando o sol e se inclinou para olhar para baixo. Seus cabelos
estavam presos no alto, embolados e sua franja caída no rosto. Estava linda
com uma blusa branca, justa e eu sabia que estava sem sutiã porque a vi se
vestir essa manhã. A sua saia rosa era cheia de flores, que ia da sua
cinturinha fina até os pés, como sempre, com um lascado até o meio da coxa.
De rasteirinhas, ficou na ponta dos pés para ver algo que lhe chamou atenção
no horizonte.
Nós passamos dois dias em Milão fazendo compras e eu pensei que ela
nunca teria o suficiente de roupas. Tentei acompanhá-la, mas em alguns
momentos precisei me afastar para verificar como andava os negócios na
cidade e me reuni com associados para o jantar enquanto ela ficou no hotel
descansando, e quando cheguei, estava dormindo tão pesado que não acordou
até o seu telefone despertar para tomar a sua pílula. Ela ficou feliz em me ver
ao seu lado e isso compensava a porra do estresse que a reunião me causou.
Nós viajamos para casa e a Giovanna ficou encantada com a casa da
minha família, apaixonada pelo nosso quarto e se dedicou em arrumar as
milhares de coisas que comprou e ainda havia uma quantidade que
encomendou pela internet. A casa passou por uma reforma intensa no último
ano e levou alguns meses, porque precisava de cuidados extremos. O lado
externo estava muito bonito, bem cuidado, com um jardim charmoso e a
piscina estava ainda melhor.
Ela ficou em casa na última semana, sem me acompanhar na rua, mas
chegou ao seu limite de tédio e como os meus compromissos do dia eram
tranquilos, deixei que me acompanhasse. Enrico a levou para passear em
pontos turísticos e nos encontramos para almoçar. Passeei com ela por duas
praças e me submeti a todas as fotografias que ela quis, porque a Giovanna
era até bem calma, não ficava me ligando, mandando mensagens ou sendo
grudenta. Ela se distraía muito bem sozinha.
Voltei a minha atenção para o homem na minha frente.
— Tio... Eu amo e respeito o senhor. — Bebi a minha água. — Mas eu
não poderia dar as costas a essa família nesse momento. Trair a Juliana seria
dar as costas a essa família. Parece que o senhor esqueceu que boa parte do
nosso dinheiro está relacionado com a Villa Valentinni.
— Eu amo a minha nora, mas ela é uma mulher. Mulheres não
mandam em nossas famílias... Elas nos dão filhos. — Ele fechou a mão em
punhos. — E tudo que ela quer fazer...
— E daí? O senhor trouxe estrangeiros para a nossa família! Se
associou a um psicopata que nos expôs no passado e ainda por cima, fez
negócios com Oliver King, nosso inimigo por anos! Você abriu precedente
para as mudanças e o meu primo fez acontecer, mas sem perder nossa cadeia
de comando! — Empurrei a minha taça, porque aquela conversa estava
terminando. — E eu vou deixar uma coisa muito clara... Espero que nenhum
de vocês esteja por trás de tudo isso. Ou não vai sobrar pedra sobre pedra.
— Não arquitetaria para matar o meu filho.
— Nós dois sabemos que não é bem assim. E se fosse para a Juliana
estar naquele carro? — Coloquei uma nota em cima da mesa.
— Seria a mesma coisa. Enzo e Juliana eram um só...
Não falei nada e simplesmente saí da mesa. Enzo desconfiava do seu
pai, mas não tinha como provar. Até o momento, nenhum de nós tinha. Meu
tio Lorenzo não se aposentou por livre e espontânea vontade. Ele foi
aposentado à força, porque trouxe para a família associados que sabiam
demais. Enzo assumiu o controle de danos e apesar de ter mantido todas as
sociedades e transformado em um negócio muito lucrativo, a maneira como
meu tio fez foi perigosa para todos nós.
Meu avô e os meus tios não esconderam que estavam irritados e
insatisfeitos com o Enzo. Era extremamente normal em uma família como a
nossa ter um monte de peste ambiciosa querendo o poder, traições eram
comuns apesar de irritantes. Só era fodido estar nesse meio e parecia que tudo
que meu avô e os meus tios queriam era nos manter brigando. Eu tinha a
breve desconfiança que havia uma sujeira grande que eles queriam esconder.
Seja lá o que realmente fosse, não fazia a mínima diferença agora e
era o momento de eliminar a ameaça: meu tio Alonzo.
Talvez assim, meus tios ficassem na sua e entendessem os seus
lugares. O tempo deles havia acabado. Ou eu poderia muito bem esquecer
que havia laços de sangue entre nós e eliminar um a um. Não tinha a
paciência e a diplomacia de Nova Iorque.
Meu tio saiu do bar com o seu guarda-costas. Para a segurança, meus
tios e avô estavam sendo monitorados. Juliana e eu decidimos investir pesado
em tecnologia para manter a velha guarda venenosa em rédea curta.
Na noite do meu casamento, ao invés de estar na cama com a minha
esposa, eu tive que fazer os meus soldados sangrarem para prometer lealdade
a mim. Fui obrigado a fazer com que chefes se matassem por pensar em me
trair. Tive que matar alguns filhos da puta por darem corda para as ideias
malucas de tirar o meu poder. Foi necessário lembrar a família que eu não me
intimidava com a morte.
Eu gostava dela.
Apesar de não ter um pingo de paciência com torturas, eu não me
importava em manter alguns filhos da puta gotejando sangue até abrir a boca
e falar o que eu precisava ouvir. Foi uma noite intensa e como estava muito
puto por perder a Giovanna em sua roupinha de núpcias, que era o meu
maldito direito como marido, passei muito tempo com muito macho chorando
e implorando pela sua vida.
Era o momento de ajustar os negócios na Itália, reafirmar o poder,
colocar alguns associados abusados no seu devido lugar e mostrar para a
família que apesar de termos uma mulher controlando o dinheiro, eu estava
no topo da cadeia de comando, a outfit era minha. Não dela, não do Enzo,
mas sim minha.
Passei a mão no meu pescoço e olhei para a beleza da minha mulher,
imediatamente me acalmando.
Giovanna estava apoiada no parapeito, olhando para a cidade e
lambendo a sua bola do sorvete. Parei atrás dela, abraçando o seu corpo e ela
me olhou, sorridente, com os lábios sujos de sorvete de baunilha. Lambi o
seu lábio, chupando um pouco do sorvete e a safadinha encheu a língua,
empurrando na minha boca. Aquela era uma excelente maneira de chupar um
sorvete de baunilha.
— Vamos embora?
Gio me deu um olhar animado.
— Podemos ir à praia? Só nós dois?
— Sim, podemos. — Beijei a sua bochecha e me afastei, segurando a
sua mão.
Nós andamos até o carro com Giacomo e o Enrico. Meu irmão me deu
um aceno que tudo estava bem e seguimos para a minha casa que ficava bem
afastada da cidade. Nós morávamos em um dos lados mais altos, próximo ao
mar, mas não das praias principais. Dava para ver o oceano do nosso quarto,
porém, era uma caminhada longa e não tinha acesso de carro.
— Quando criança, costumava tomar banho em uma pequena
enseada que se criava entre as pedras em uma das trilhas. Andava por trinta
minutos, mas, era muito divertido.
— E você ia sozinho?
— Na verdade foi a Sandra que me mostrou o caminho. Ela era
divertida nessa época, depois ficou insuportável e intrometida.
Giovanna me deu um tapinha na perna, rindo.
— Deixa a sua irmã, ela é adorável.
— Se isso significa ser intrometida.
Chegamos em casa e a Nina, a governanta da casa, nos recebeu com
alegria e dizendo que o jantar ficaria pronto às 21h como a Giovanna pediu.
Não sabia que a minha esposa tinha pedido um horário específico para o
jantar, mas eu não ia me meter nisso. Enquanto ela se vestia para a praia,
fiquei no escritório olhando os meus e-mails. Giovanna me gritou e bateu o
sino.
Inacreditável.
Apareci no corredor e ela riu, parando de tocar.
— Só terei poucas horas na praia, vá trocar de roupa! — Apontou para
a escada.
— O sino é para anunciar as refeições ou incêndios.
— Eu vou incendiar a casa se não for à praia. — Sorriu.
Subi a escada, entrei no closet e tirei a minha roupa. Vesti a sunga,
uma bermuda e enfiei uma faca atrás, a arma no coldre e separei um rolo de
dinheiro. Embora fossemos em uma praia deserta bem próximo, eu poderia
levá-la para comer alguma coisa se fosse necessário. Desci a escada e ela
estava ficando na ponta dos pés para tocar de novo.
— Te peguei! — Falei alto, ela pulou e quase caiu na varanda. —
Engraçadinha.
— Só para te apressar. — Andou até a mim praticamente pulando.
Usava um vestidinho azul e pegou a sua bolsa. — Dai, dai!
Peguei as chaves do carro e ela entrou no banco da frente, colocando a
sua bolsa nos pés, prendeu o cinto e colocou a perna para cima. Não levei
muito tempo para cair na estrada que levava a uma das praias mais vazias da
cidade e como era dia de semana, poderia estar bem deserta. Não era um
pedaço de areia grande e por isso, não ficava na rota da maioria dos turistas,
na verdade, só alguns moradores dos vilarejos locais que conheciam bem.
Estacionei bem próximo da descida e ela suspirou, encantada com a
beleza e o sol ainda estava firme naquele lado da pedra. Nós poderíamos
assistir ao pôr do sol antes de irmos embora. Isso era uma coisa bem
romântica e eu precisava me esforçar mais para ser atencioso. Não entendia
nada disso.
Giovanna sequer me esperou sair do carro, pulando fora e eu fui
atrás pensando que ela rolaria no barranco de tão rápido que chegou na
areia. Ela tirou duas toalhas de praia da bolsa, forrando lado a lado, pegou um
frasco de protetor solar e me deu um sorrisinho, pedindo para tirar a minha
roupa.
— Sério mesmo que vai ficar armado aqui? Não tem ninguém...
Apenas nós dois.
Olhei ao redor.
— Sim.
— Então você não vai entrar no mar comigo? — Arqueou a
sobrancelha.
— Vou guardar na sua bolsa quando for a hora.
— E como vou passar protetor solar em você? — Questionou e respirei
fundo, tirei a blusa, guardei a arma e a faca na bolsa dela, ainda desconfiado e
me sentindo desconfortável. Tirei a bermuda e fiquei de sunga. Ela se
aproximou e me lambuzou de protetor solar como se eu fosse uma criança. A
minha mãe nunca passou protetor solar em mim. Quando terminou, me deu
um beijinho nos lábios. — Minha vez!
Prendeu os cabelos usando um elástico que estava no pulso,
embolando todo no alto e tirou o vestidinho. Minha boca ficou cheia de água.
A parte de cima do seu biquíni era um tomara que caia verde escuro com
bolinhas brancas e a calcinha, de tiras muito finas e estava justinho na frente.
Peguei o frasco, enchendo a minha mão e espalhei com cuidado nos braços,
ombros, no peito e na barriga. Abaixei na sua frente para espalhar nas coxas e
pernas. Não queria que ficasse vermelha e ardendo.
Ela virou de costas e ficou com a sua bunda bem na reta do meu rosto.
Aquilo não era um biquíni, era uma calcinha fio dental enterrada entre
aquelas nádegas redondas perfeitas e ainda bem que estávamos sozinhos ou
eu ia atirar em quem olhasse para ela. Passei protetor solar da sua cintura para
baixo e dei um beijo em cada nádega. Espalhei nas suas costas até o pescoço.
Joguei o frasco na toalha e ela virou, me abraçando.
Giovanna quis tirar algumas fotos e ela era muito chata, puta que
pariu. Foi exigente sobre o ângulo, o lado que favorecia a luz e fez milhares
de poses. Com aquele micro biquíni, aquelas fotos não iriam para as redes
sociais e me ignorou quando disse que não era para postar. Ela foi para o mar
primeiro, soltando um gritinho com a temperatura, mas mergulhou de cabeça,
nadando de um lado ao outro, aproveitando o oceano naquela pequena praia.
Quando emergiu, eu fiquei hipnotizado. Levantei do meu lugar e dei
mais uma olhada ao redor antes de entrar no mar e ir até ela. Sorrindo, me
recebeu de braços abertos. Abaixei o suficiente para que montasse no meu
colo, fazendo com que prendesse as suas pernas na minha cintura. Naquela
profundidade, podia ficar de joelhos e virei de modo que podia ver qualquer
aproximação e dependendo do que fosse, seria fácil afundá-la.
— Esse lugar é lindo. — Ela suspirou, agarradinha em mim.
— Não tanto quanto você.
— Que clichê, marido.
— Você gosta... — Beijei o seu pescoço com as minhas mãos na
bunda dela. Giovanna me deixava maluco. Nós ainda não transamos e eu
estava louco para estourar a sua cereja, sentindo uma falta do caralho de sexo,
mas, ela era tão virgem quanto uma freira. Apesar de ter uma noção básica
sobre relações sexuais, não tinha nenhuma experiência.
Seria um hipócrita se quisesse que ela tivesse experiência, só a ideia
me fazia querer cometer um assassinato. Nos últimos dias, avançamos para
algumas bases orais, ela ainda não, mas estava quase lá. Cada vez mais sentia
que ela estava mais à vontade. Ela não sentia medo ou rejeitava o meu toque.
Ela gostava… e muito.
Começamos a nos beijar, entrando em uma pegação desenfreada
dentro do mar, meu pau ficou duro e cheguei a puxar o seu top porque não
podia resistir aos seus peitos. Giovanna estava muito excitada e mal pensando
direito. Parei antes que perdesse a cabeça, voltamos para a areia e ela ficou
deitada, com a bunda para o alto, se bronzeando. Peguei o meu telefone e tirei
uma foto dela e outra, com a minha mão na sua bunda. Enviei a foto para o
seu telefone só para provocar.
Giovanna ficava maluca com a minha possessividade.
Virando de barriga para cima, me deu um olharzinho antes de tirar a
parte de cima do seu biquíni e atirou na sua bolsa, com um sorriso satisfeito.
— Giovanna! — Peguei a minha blusa e joguei nela.
— Estamos sozinhos! — Reclamou e jogou de volta. — Não gosto de
marca de biquíni em cima, ou eu vou fazer isso aqui com você ou eu vou
fazer na piscina de casa com seus soldados andando por todo lugar.
— Ou não vai fazer em porra de lugar nenhum! — Cobri os seus
peitos.
Irritada, engatinhou na minha direção e sentou-se na minha frente,
encostando no meu peito, ainda com a minha camisa cobrindo os seus peitos.
Estava tão puto que queria quebrar alguma coisa, mas esperei que ela se
acomodasse para ver o que iria fazer.
— E se ficarmos assim? Eu vou estar com você e seu corpo me protege
da visão lá de cima e ainda posso me bronzear só um pouquinho antes de
irmos embora. E qualquer coisa, as suas mãos são bem ágeis em me cobrir.
— Fez um pequeno beicinho. Maldita manipuladora com aquela vozinha
doce, sendo manhosa.
Giovanna era extremamente mimada, ela amava ser idolatrada,
receber presentes e elogios. Os pais dela a criaram com todo mimo excessivo,
mesmo que o pai fosse um merda, ele foi o típico pai de menina – até ter o
seu rabo como alvo.
Ela tirou a minha camisa de cima dela bem devagar e eu não falei
nada. Deitada em cima de mim, ficou só com a calcinha do biquíni, com os
peitos em plena exposição até que o sol foi embora, o vento frio chegou e ela
estremeceu, vestindo a minha camisa e se embolando em mim. Fotografou o
pôr-do-sol e montou no meu colo, me beijando e tirou uma foto disso.
Decidimos ir embora quando o mar estava subindo e os mosquitos
atacando. Andei em alta velocidade pela estrada porque estava muito escura e
eu não queria ficar passeando. Giovanna não reclamou sobre estar sem
camisa, sem cinto e com a arma entre as minhas pernas por todo o caminho
até em casa. Ficou editando foto no celular e bocejando.
Chegamos em casa e a Nina já tinha se recolhido, deixando o jantar
pronto. Subimos para o nosso quarto, ela foi tomar banho e quando entrei no
banheiro, a primeira coisa que eu vi foi a marquinha na bunda. Ela se
bronzeava muito rápido. Tirei a minha sunga, entrando no espaço com ela e
pelo jeito letárgico que estava agindo, estava caindo de sono. Comemos um
delicioso spaghetti ai gamberi com vinho branco na varanda do segundo
andar. Dividimos uma sobremesa, lavamos a louça, a deixando para secar e
voltamos para o quarto.
— Você está com muito sono. — Empurrei-a suavemente para a cama.
— Estou. — Bocejou e deu uma longa piscada.
— Deita... Eu vou logo, prometo. — Beijei os seus lábios.
Giovanna trocou de roupa, vestiu uma camisola tentadora e se jogou
por cima dos lençóis, abraçando um travesseiro e fechou os olhos. Sorri e saí
do quarto para a varanda, pegando o meu telefone. Fiz uma ligação
importante.
— Está tudo pronto? — Juliana atendeu ansiosa. — Ele mordeu a
isca. Assim que saiu do seu encontro, foi direto para a casa do Cosimo e lá
ficou por duas horas. Uma hora depois, Giovanni percebeu uma
movimentação dos carros indo em direção ao aeroporto. Deve voltar para
Toscana.
— Seja como for, estou pronto.
— Tem certeza de que vai dar certo? — Ela parecia meio aflita.
— Você quer descobrir quem matou o seu marido ou não? Eu quero e
com isso, foder com o filho da puta que matou o meu pai.
— Fique seguro.
— Você também.
Encerrei a chamada e me perguntei se a Giovanna sentiria tamanha
devastação com a minha morte como a Juliana estava. A mulher não estava
apenas triste, ela estava tomada por desejo de ódio e vingança. Entendia e
apoiava, porque quanto mais furiosa ela ficasse, mais a banda podre
desapareceria e mais seguros ficaríamos com os nossos negócios. Juliana
estava grávida e sairia de cena logo que descobrisse quem matou o seu
marido – ou quando não pudesse esconder a gravidez.
Ela ficaria segura em um lugar que apenas três pessoas sabiam: uma
estava morta e em breve, eu faria as novas identidades da Giovanna. A
mulher de um chefe era um alvo quando ele morre ou é preso. A minha
esposa merecia a chance de ter uma vida fora desse mundinho. O meu primo
garantiu isso para a sua mulher e na época, precisou da minha ajuda porque
não podia confiar em ninguém.
Mais do que nunca, podia entender o sentimento.
Eu tinha pouco mais de uma semana de casado e já estava...
preocupado.
10
Gio.
Ouvi os sons dos pássaros cantando próximo à janela e abri os olhos
sorrindo. Joguei as cobertas para o lado, saindo da cama e estava sozinha,
mas isso não era um problema porque em duas semanas de casada, eu sabia
que o Damon acordava muito cedo e dormia muito pouco, com um sono
extremamente leve. Era muito comum entre os homens da família que foram
iniciados tão cedo quanto ele. Estava aprendendo a tomar cuidado com
alguns barulhos dentro do quarto para não o assustar.
Parei na porta que dava para a varanda, admirando a beleza. Era um
monte de verde, começando pelo jardim muito bem cuidado da propriedade,
algumas árvores que marcavam o fim do terreno, aí vinha um descampado
verde, alguns pés de uvas bem desenhados e eu podia ver até o fim do azul do
mar se juntando ao céu. Era perfeito. Encostei-me na porta, respirando o ar
puro e ainda mais apaixonada por aquele lugar. Não me importaria de morar
ali, era muita paz e tranquilidade.
Fui ao banheiro, seguindo a minha rotina matinal e escolhi vestir um
par de biquíni porque ficaria na piscina e sairia para explorar ao redor mais
tarde. Vesti um short jeans e uma camisa de praia que era bem larga, parecia
social, mas comprei em uma lojinha na beira da praia esses dias e ficou curta
e larga. Arrumei a minha bolsa com tudo que iria precisar e entre as muitas
mensagens não lidas, tinha uma do meu marido me desejando um bom dia e
mais uma vez, pedindo para não sair de casa.
Desci a escada e fui direto para a cozinha. A casa era enorme, antiga e
preservava a arquitetura antiga da Itália. Era um casarão de seis quartos,
todos suítes, milhares de salas, uma capela, um armazém de vinhos e um
subsolo de produção que atualmente servia para outras coisas... Eu era
proibida de pisar lá. Damon usou essas palavras, mesmo assim, as entradas
eram protegidas com senhas.
O escritório tinha a mesma entrada bloqueada como na cobertura, mas
o Damon costumava deixar a porta aberta sempre que eu podia entrar.
Quando estava fechada, era para mandar uma mensagem porque ele poderia
estar com alguns dos soldados lá dentro com uma conversa que não era do
meu interesse.
— Bom dia, Nina! — Entrei na cozinha animada.
— Bom dia, bambina . — Sorriu e estava com um peixe enorme em
uma travessa. — É para o jantar. Seu café da manhã foi servido na mesa do
quintal, onde você tem gostado de comer.
— Obrigada, Nina.
Sentei-me para comer, dividindo minha atenção com as mensagens,
respondi todas que estavam pendentes e olhei minhas redes sociais. As
minhas fotos do casamento estavam recebendo muitas curtidas e comentários.
Decidi que postei o suficiente, então, poderia começar a postar algumas que
tirei na Itália. Fiz um carrossel com as fotos de Milão. Postei no stories as
fotos de quando fui à praia com Damon e a última, era minha deitada e a mão
dele cobrindo a minha bunda.
Escrevi assim “imagina se eu não teria um marido possessivo” , só
para ser engraçadinha. Terminei de comer, recolhi as coisas e a Nina ficou
brigando comigo sobre lavar a louça, mas eu ficava me enchendo de coisas
para fazer porque senão ficaria entediada. Redecorei a casa, troquei móveis
de lugar, usei a impressora do escritório para imprimir um monte de fotos e
ainda me dei o trabalho de colocar películas em cada uma delas para durar
mais ao ficarem expostas ao sol.
— Vou ficar na piscina.
— Eu te chamo para almoçar, você demora muito a comer e isso não
faz bem. E aqui, congelei essa garrafa de água.
Nina estava comigo apenas alguns dias e já sabia que bebia pouca
água, simplesmente esquecia, bebia apenas quando sentia sede. Peguei a
garrafa congelada e levei para a área da piscina. Devido a minha ameaça –
que eu jamais iria cumprir – sobre tirar o biquíni na piscina, os soldados não
circulavam por lá quando eu aparecia. Enrico sinalizava e eles saíam. Tirei a
minha roupa e me deitei na espreguiçadeira sem passar o bloqueador.
Soltei as tiras, ficando de bruços, fiquei um tempo pegando sol, nadei
de um lado ao outro e me senti entediada. Damon me contou sobre uma
enseada que costumava brincar quando criança e pensei que seria impossível
me perder se o casarão era o único na região e não deveria ser perigoso se ele
quando criança andava por aí. Meu telefone estava carregando, fui à cozinha,
inventei que estava com fome, fiz um sanduíche, peguei mais água e algumas
frutas.
Enfiei tudo na bolsa, me vesti e calcei os chinelos, saindo pelos fundos.
Não foi difícil encontrar a trilha, mas ela não parecia ter fim e na metade
dela, fiquei sem sinal. Considerei voltar, mas porra, já tinha andado tanto
para desistir no meio do caminho. Deveria pelo menos chegar até lá, tirar
uma foto, dar um mergulho, recarregar as energias para voltar.
Minhas coxas estavam queimando, meus ombros ardendo e o suor
escorria pelas minhas costas. Comecei a sentir fraqueza e me escorei em uma
árvore, precisando de uma sombra. Por que escolhi um dia tão quente?
Respirei fundo, molhei o meu rosto, a nuca e voltei a andar. Quando cheguei
no alto da colina, fiquei maravilhada. Era uma enseada realmente pequena,
porque não caberia dez pessoas, mas a água era tão cristalina, apenas com
algumas marolas e era um local perfeito para brincar de mergulhar sem parar.
Desci as pedras com muito cuidado, quase no fim, escorreguei e cai,
ardeu muito e soltei um palavrão tão alto que os pássaros saíram voando com
o eco. Joguei a minha bolsa no canto, tirando a minha roupa e fui correndo
para a água, nadando como um peixinho de um lado ao outro. O oceano
estava delicioso... Tão calmo e tão bom de nadar. Minha perna não ficou
ardendo com o ralado nas pedras. Saí um pouco, bebendo água, comendo
algumas frutas e voltei para nadar.
Como demorava uma vida inteira para voltar e já estava mais de uma
hora ali, decidi sair antes que perdesse a noção e escurecesse. Subir foi muito
ruim e voltar todo o caminho foi extremamente cansativo. Demorei muito
mais que na ida, ia pedir ao Damon para comprar um carrinho que aguentasse
a trilha ou uma moto daquelas de competição. Quando avistei a casa, senti
um alívio sem tamanho.
Passei pelo portãozinho dos fundos, atravessando o jardim e eu vi um
soldado falar algo em seu comunicador, ignorei porque estava muito cansada.
Ouvi algumas vozes e uma gritaria, mas subi a escada, querendo tirar a roupa,
tomar um banho e dormir um pouco até o Damon chegar em casa. Meu
telefone ficou enlouquecido com o sinal, entrando milhares de mensagens
que olharia com calma depois do banho.
Entrei no quarto já tirando a roupa, deixando uma trilha de roupa e abri
o chuveiro no gelado mesmo, com a minha pele fritando.
— ONDE VOCÊ ESTAVA, PORRA? — Saltei de susto com o grito e
o estrondo da porta. Virei no box e tentei tirar o sabão do meu olho.
— Você está gritando com quem? — Me atrapalhei com o meu cabelo
e cuspi água. Senti as mãos do Damon me puxando contra ele e o empurrei,
sem entender, mas ele insistiu e pude sentir as batidas frenéticas do seu
coração. — Damon, o que aconteceu?
— Você sumiu, caralho! Foi isso que aconteceu!
Ele ligou o chuveirinho e lavou o meu rosto, puxei meu cabelo
molhado para trás. Olhei em seus olhos e mordi o lábio, ele estava tão
transtornado, cabelos desgrenhados e os seus olhos eram selvagens. Eu tinha
que tomar muito cuidado com o que iria falar, porque realmente não avisei
ninguém sobre onde iria, mas não foi exatamente por maldade. Apenas não
queria que me impedissem e não faria o Enrico me seguir na distância que eu
queria andar.
Se eu soubesse que era tão longe, talvez não fosse, mas não iria
acreditar se ele me dissesse.
— Qual a parte de que eu mandei você não sair de casa que você não
entendeu?
— Eu não fui à cidade... Fui à praia.
— Que praia, porra? — Damon parecia que ia explodir em segundos.
— Para a enseada que você me contou... — Falei bem baixinho.
Senti o tremor nas suas mãos.
— Giovanna... — Damon sussurrou. — Você andou pela trilha
sozinha? Tem noção que você poderia cair nas pedras e eu nunca te
encontraria?
— Não achei tão perigoso, você ia quando criança, então eu pensei...
— Não achou perigoso, caralho? Tem gente tentando me matar para
tomar o meu lugar, porra! Tudo é perigoso! Causar um acidente em si mesma
também é muito perigoso! Você está maluca? — Gritou e eu pensei em dar
uma joelhada nas suas bolas, porque eu odiava que gritassem comigo.
Fiquei quieta, porque metade daquela explosão era pelos problemas
externos e não exatamente porque eu sumi. Se eu soubesse que as coisas
estavam tão tensas, provavelmente não me arriscaria tanto. Damon saiu do
banheiro sem falar nada, batendo a porta do quarto com tanta força que ouvi
as janelas tremerem. Terminei o meu banho, passei bastante creme hidratante
e recolhi as minhas roupas, jogando no cesto de roupa suja. Não iria atrás
dele agora, porque queria jogar algo na sua direção e optei por dormir, minha
cabeça estava explodindo e a minha pele ardendo.
Não liguei o ar condicionado e acabei acordando com muito calor.
Abri os olhos e me deparei com o Damon sentado em uma das poltronas do
quarto, ela estava mais perto da cama que o costume e ele bebia um copo
cheio de uísque. A garrafa ao seu lado me dizia que não era o primeiro copo,
mas não estava totalmente vazia. Ainda estava no modo putinho e eu com
fome, bufei e dei as costas, me levantando da cama e indo para o closet. Vesti
a minha calcinha e ele apareceu no closet.
— Então você está irritada comigo?
— Por que não estaria? — Olhei-o enquanto procurava um sutiã.
— Foi você que sumiu e me fez pensar todas as piores coisas.
— Foi você que chegou do nada, gritando feito um babaca como se eu
soubesse que porra está acontecendo com essa família e os negócios. Você
não me falou nada além de ficar em casa, mas como poderia saber se era um
cuidado, uma preocupação ou apenas você sendo possessivo querendo me
manter em casa? — Coloquei uma mão na cintura. — Foi você que não me
contou que o Esposito e o Marrone morreram na noite do nosso casamento...
Eu só fui à praia. Não tive a mínima intenção de te causar uma preocupação,
não foi para chamar sua atenção, apenas estava em casa, entediada e procurei
alguma coisa para fazer. Não pensei que existiria algum perigo daqui até lá,
essa região é dominada pela família... E se eu soubesse que a própria família
está causando problemas, eu ficaria em casa!
Desisti de encontrar um sutiã, peguei o vestido e passei pela minha
cabeça. Estava morrendo de fome e não queria ter aquela conversa. Damon
continuou quieto e era muito melhor quando ele explodia do que quando
ficava fervendo as palavras dentro da sua cabeça. Saí do quarto e ele estava
me seguindo, a casa estava escura no primeiro andar e a cozinha apenas com
uma luz acesa. Acendi todo o restante, já levantando as tampas e hum, o
peixe estava assado e cheirava a algo deliciosamente gostoso.
Peguei um prato, me servi com bastante comida porque gastei muita
energia. Deixei meu prato na mesa, abri a geladeira à procura de um vinho,
enchi a taça até a boca e fui para o pátio. Damon não me acompanhou no
jantar e o ouvi jogar o copo de qualquer jeito na pia, mas não quebrou. Comi
tudo e bebi o meu vinho, lavei a louça e me servi com mais vinho, peguei o
livro que estava lendo na sala e procurei um cantinho fresco para ficar lendo e
apreciando a noite.
Li por um tempo, mas o meu sangue quente estava me implorando para
ir atrás do meu marido e xingá-lo um pouco mais. Quando eu gritava de
volta, ele ficava quieto? Que ódio! Coloquei a minha taça quase vazia na
mesinha.
— Você quer mais? — Me assustei com a voz dele.
— Há quanto tempo está me observando como um idiota?
— Tempo o suficiente para dizer que você é linda e que eu fui um
idiota, você pode me desculpa? — Damon se aproximou e sentou-se na outra
ponta do sofá que estava deitada. — Não é desculpa, mas eu fiquei
apavorado. Nunca me senti apavorado... — Falou olhando para frente. —
Cheguei em casa, perguntei por você e a Nina disse que estava na piscina,
então, você não estava... em lugar nenhum. Enrico estava concentrado em
uma tarefa que eu dei, nem podia matá-lo por perder você, não que fosse me
impedir se de fato... tivesse perdido. Não gostei do que senti, não pude
controlar... Sei que nós nos casamos agora, que pouco nos conhecemos, mas
eu não quero o seu mal e não quero te perder.
— Não me faça sentir peninha de você quando está sendo um idiota.
— Reclamei me arrastando até a ele, tirei o seu braço do caminho e subi no
seu colo.
Damon ensaiou um beicinho que me fez soltar uma risada alta.
— Você de beicinho... Isso tudo por um pedido de desculpas?
— É algo totalmente novo, acredite em mim. Eu nunca peço desculpas,
mas reconheço que passei dos limites. Mas por favor, quando pedir para não
fazer uma coisa, por favor , não faça. Pode ser que seja pelo meu gigante
ciúme, mas, existe a grande possibilidade que será por algo muito maior. —
Segurou o meu rosto e me deu um beijo firme, gostoso e quase desesperado.
— Não contei sobre os acontecimentos porque não queria manchar a noite do
nosso casamento com coisas ruins e eu... não vou te envolver diretamente nos
negócios. O que eu puder te preservar para ter uma vida tranquila, eu farei.
— Isso é meio estúpido, se você ficar me poupando, posso acabar
ignorando um problema real e cometendo um deslize como hoje. Se não quer
entrar em detalhes, tudo bem. Só me diga a verdade... Diz que “não é um
bom momento” de uma maneira que eu possa entender... — Me movi no seu
colo e fiz uma careta de dor.
— O que foi? Está machucada?
— Talvez não seja um bom momento para dizer que eu escorreguei
nas pedras, caí e me ralei um pouco... — Abri um sorrisinho.
— Porra, Giovanna!
— Só está ardendo, não foi nada demais e estou meio dolorida porque
nunca ia imaginar que era tão longe! Minhas coxas e panturrilhas estão
queimando e a minha pele... Suei como um sorvete fora da geladeira, mas lá é
tão lindo e tão gostoso... É incrível. Sabe o que você poderia fazer?
— Te amarrar em casa?
— Hum, em casa não. Mas eu gostei quando você me imobilizou para
me beijar e entre outras coisinhas, talvez eu deixe me amarrar na cama. —
Damon soltou uma risada, incrédulo comigo. — O que eu ia dizer era que
você poderia comprar uma moto de trilha... Eu poderia aprender e não
chegaria lá tão cansada!
Ele segurou o meu rosto me obrigando a olhar em seus olhos.
— Me prometa que você nunca mais irá lá sozinha, não importa se o
clima na família melhorar ou não. É perigoso, Giovanna. Se você cair, bater
com a cabeça e parar no mar, eu nunca vou te encontrar. — Falou bem sério e
achei meio exagerado, parecia a minha mãe brigando comigo se eu saísse
sem casaco iria morrer de pneumonia.
Quanto exagero!
— Ai, credo. Se eu não posso ir sozinha, você vai ter que me levar. Se
não quiser me carregar, dá um jeito de fazer o trajeto agradável e nessas
condições, eu prometo. Ah, salvo se lembrar algumas, porque estou cansada e
bebi duas taças de vinho...
— Cristo, cala a boca. — Me beijou encerrando de vez a nossa
conversa.
11
Gio.
Abri os olhos por causa da claridade e bocejei, me espreguiçando na
cama. Rolei para o lado, aproveitando o espaço na cama porque estava
sozinha nela. Fiquei surpresa com a silhueta do Damon sentado em uma
poltrona, com os pés para o alto e uma caneca de café saindo uma fumacinha.
Ele parecia calmo, seus ombros não estavam tensos como na noite anterior,
que mesmo após a nossa conversa no sofá, não relaxou totalmente. Ele me
trouxe para a cama porque estava com dor, com vinho nas ideias e cansada.
Nós não tivemos nenhum momento em comunhão e eu me perguntei se
o sexo iria aliviar o seu estresse. Se com tudo que estava acontecendo, ele
estava sentindo falta, apenas uma noite sem intimidade eu estava sentindo
saudades de ficar com ele, rolar aos beijos na cama e ter o meu corpo
explorado pela sua boca. Era inegável o quanto era gostoso. Me levantei de
fininho, fui ao banheiro, fiz xixi, me lavei, usei o enxaguante bucal,lavei o
meu rosto e escovei o meu cabelo rapidamente.
Voltei para o quarto e andei até ele, passando os meus braços pelos
seus ombros e deitei a minha cabeça no seu ombro, beijando o seu pescoço.
Ele segurou o meu pulso, subindo as mãos pelos meus braços, me acariciando
e senti certo friozinho, não sabia como estava aguentando ficar do lado de
fora sem camisa com a revoada de vento. O céu estava escuro no horizonte e
iria chover em algum momento.
— Buongiorno, amore mio. — Falei baixinho.
— Buongiorno, mia bella. — A voz dele estava rouca e me deu um
beijo. Aprofundei porque, apesar da minha irritação com ele, não conseguia
ficar longe e naquele momento, eu o queria. Damon captou a minha intenção,
segurando a minha nuca e correspondendo. Me afastei um pouco e ele sorriu.
— Que belo beijo de bom dia.
— Vem para cama comigo. — Convidei descaradamente. Ele sorriu e
ficou de pé, me afastei e tirei a minha camisola, jogando no chão. Empurrou
as portas fechadas porque eu fiquei toda arrepiada com o vento.
— O tempo vai fechar dentro e fora do quarto... — Sorriu torto e fiquei
na ponta dos pés, beijando sua boca. Damon se entregou aos beijos com
intensidade, do jeito que eu precisava e não me senti tímida porque eu
realmente precisava daquilo. — Dio, Giovanna. Porra... Que beijo gostoso.
— Odiei tudo o que aconteceu ontem e eu quero sentir que estamos
bem, quero sentir você. — Choraminguei e senti as suas mãos mais firmes na
minha cintura, me puxando para cima e me pegou em seu colo, agarrando a
minha bunda com vontade e me pressionou contra parede ao invés de me
levar para cama.
— Nós estamos bem. — Atacou meu pescoço com beijos, beliscando
os meus mamilos e chupou, com força, vontade e tesão. — Sempre vamos
ficar bem. — Grunhiu e arranhei as suas costas, o levando borda da loucura.
Me derrubou na cama e sorri, puxou a minha calcinha e jogou longe. — Sorte
a minha de ter uma mulher tão perfeita...
Sentei-me na cama e puxei a sua calça para baixo, não foi nenhuma
surpresa ele estar sem cueca, porque na mente dele, era um ou outro. Parado
na minha frente, me deu um olhar cheio de expectativas. Nos últimos dias
aprendi como tocar um homem e como ele gostava de ser tocado, então,
segurei a base do seu pênis e dei um beijinho na cabeça. Damon gemeu,
ansioso e usando todo o meu conhecimento baseado em pesquisas e gifs
eróticos, levei seu pau à boca com cuidado.
Percebendo a minha insegurança, foi me dando instruções calmas e
tranquilas, mas logo ele estava perdido, segurando o meu cabelo e parecendo
se controlar para não foder a minha boca rudemente. A sensação de chupar
não era ruim, a conexão e poder sobre ele era simplesmente incrível. Meu
marido parecia completamente fora de si e se afastou, dizendo que não queria
gozar na minha boca.
— Por que não? — Fiz um pequeno beicinho. — Eu gostei de fazer
isso...
— Estou ao seu dispor. — Piscou mordendo o lábio e me beijando, foi
me colocando na cama, me acariciando e levou a mão entre as minhas pernas,
gemi na sua boca e já sabia que o seu caminho de beijos iria parar onde ele
mais gostava de ficar. Damon me fazia sentir que me levaria à lua... Segurei o
seu cabelo e gemi, quanto mais ele me chupava, mais me sentia à beira da
explosão. — Damon! Eu quero... quero você.
— O quê, bella ? O que você quer? — Me incitou, empurrando seu
dedo de maneira suave na minha entrada, fazendo um movimento circular
muito gostoso. Não conseguia pensar direito. — Você me quer aqui, esposa?
— Pressionou meu clitóris com a língua e em seguida, chupou.
— SIM!
— Não vou perguntar se tem certeza de novo...
— Damon, cala a boca!
Não precisava que ele me deixasse nervosa ou com medo, se eu queria,
dane-se. Eu queria. Ele sorriu muito satisfeito e pairou sobre mim, me
beijando com o meu gosto explodindo na minha língua. Senti um pouco de
tensão com o seu pau passeando pela minha buceta, mas ele estava apenas
acariciando, brincando comigo, sua boca ainda estava na minha quando
acomodou seu pau e pressionou apenas um pouco. Treinei a minha mente
para relaxar.
Parei de beijá-lo, respirando fundo, ele olhou em meus olhos e foi,
lentamente, empurrando dentro e caramba, aquilo era como ser rasgada por
dentro. Enfiei as minhas unhas nos seus braços, fechando os olhos e ele parou
por um momento, me ajeitando e mesmo sem se mover, beijou diversas
partes do meu rosto e dobrei as minhas pernas, encontrando uma posição que
não doesse tanto. Ele voltou a se mexer e as primeiras vezes foi
simplesmente... doloroso.
Damon parecia no céu e aos poucos, apesar da dor ao fundo, podia
imaginar aquilo ficando bom no futuro. Consegui relaxar e aproveitar o
momento, amando a sensação de conexão, eu nunca poderia sentir aquilo tão
avassalador com nenhum outro homem além do Damon. Parecia ser algo tão
nosso, tão perfeito e seus beijos me fizeram sentir a mulher mais incrível e
mais preciosa do mundo. Ele repetia que era linda, perfeita, a mais gostosa e
a cada gemido me deixava completamente louca.
— Gio, eu vou gozar...
Sabia que não ia conseguir gozar e não estava chateada por isso,
porque foi a minha primeira vez e já estava emocionada só por passar por ela.
Senti-o gozar, seu gemido me fez querer gravar. Rolando para o lado, me
levou junto, me mantendo em seus braços e mesmo ainda recuperando o
fôlego, tomou a minha boca e me tocou intensamente até que estava me
contorcendo sem conseguir controlar o orgasmo.
— Você está bem? — Damon tirou os meus cabelos molhados de suor,
que estavam grudados no pescoço.
Apesar da dor entre as minhas pernas, estava me sentindo muito bem.
— Estou me sentindo perfeita. — Suspirei e ele me abraçou
apertadinho.
— Foi perfeito... você é perfeita. — Beijou a minha bochecha.
Nós saímos da cama para tomar banho e percebi que de pé, sentia
muito mais as nossas atividades e após o nosso banho, tomei um remédio.
Nina preparou um almoço leve, porque nós saímos bem tarde do quarto. Nós
quase não almoçamos juntos, então, foi muito bom estar com ele. Bebemos
uma garrafa de vinho, rindo e conversando.
Eu estava usando um vestido verde longo e com as minhas pernas
dobradas na cadeira. Damon estava todo jogado na cadeira, com as pernas
esticadas, contando de uma noite que ele decidiu pregar peças em todas as
pessoas da casa. Começando pela sua irmã até o seu pai, como ele tinha
costume de aprontar terrivelmente quando era mais novo, seu pai não saiu do
quarto atirando quando os alarmes da casa dispararam e já foi atrás dele,
escondido no escritório, rindo de se acabar dos soldados correndo pela
propriedade, tentando entender os gritos da Sandra toda molhada em seu
quarto.
— Meu pai me bateu naquela noite, me deixou de castigo por vários
dias, mas eu fiz outra merda mesmo de castigo. Meu papa precisou gastar um
pouco de tempo tentando me corrigir e fazer um homem. — Soltou uma
risada e ficou melancólica. — Apesar de tudo, de algumas situações fodidas
para me tornar um homem pronto para ser um chefe um dia, ele foi um bom
pai. Claro que eu não fui excessivamente mimado como a minha irmã, mas
tivemos bons momentos.
Ele virou o que tinha na taça e me inclinei sobre as nossas cadeiras,
beijando-o. Seu telefone vibrou e ele precisou se afastar para atender, se
refugiando no escritório. Peguei um pouco de sorvete para aplacar um pouco
do vinho. Sentei-me na cozinha com a Nina, aprendi a fazer gremolata, que
acompanharia o ossobuco com risoto de limão do jantar.
— Não vai experimentar a piscina aquecida do armazém? Seu marido
pediu para preparar depois que vocês chegaram, sei que adora ficar lá fora,
mas está ventando e vai chover, hoje é um bom dia para usá-la. — Nina me
incentivou a sair da cozinha, estava enchendo o saco dela, porque gostava de
cozinhar sozinha.
O armazém da piscina aquecida não ficava muito longe. Vesti um
biquíni preto, me enrolei em um dos roupões do Damon, peguei duas toalhas
grandes, o meu telefone para ouvir música e saí de casa. Enviei uma
mensagem para o meu marido avisando onde estava para ele não dar outro
ataque. A porta do armazém era muito pesada, acendi a luz e logo senti o
quentinho da piscina.
A luz azul estava acesa, deixando o ambiente climatizado e puxei uma
espreguiçadeira, em um tom mais escuro que as do lado de fora. Estendi a
minha toalha, deixei o roupão pendurado e peguei o meu telefone,
conectando no aplicativo de música e procurei uma playlist mais lenta,
sensual, porque estava no clima. Queria ligar para as minhas amigas e contar
que finalmente não era virgem, mas elas pensavam que isso já tinha
acontecido e não podia revelar que o meu marido esperou semanas para tirar
a minha virgindade e finalmente consumar o nosso casamento.
Não tínhamos previsão para retornamos a Chicago. Podia ser a
qualquer momento ou não. Dependia de muitas coisas, por mim estava tudo
bem tirar esse tempo fora. Damon me prometeu que nós ainda teríamos uma
lua-de-mel totalmente privada, sem a interferência de ninguém e seria logo
que as coisas se acalmassem.
Até o momento, estava amando estar na Itália, porque faziam muitos
anos e queria aproveitar. Minha mãe perguntou se eu iria visitar a minha avó,
ela não foi ao meu casamento por causa do meu avô que já era bem idoso e
eles estavam com muita vergonha do comportamento do meu pai. Não dei
certeza, eles moravam muito longe e eu não havia falado nada com o Damon.
Os pais da minha mãe faleceram quando eu era pequena.
Mergulhei na piscina, estava quentinha, agradável e nadei de um lado
ao outro, fazendo diversos tipos de nado e fiquei boiando, ouvindo a música e
quando começou a tocar uma playlist de músicas animadas, comecei a
dançar, rebolando e erguendo os braços. Damon entrou no armazém bem
mais silencioso que eu, com muito mais força e agilidade na porta pesada.
Continuei dançando e fiz sinal para ele vir até a mim, ele tirou a calça,
ficando nu... Por que fiquei surpresa? Ele tinha um problema com cuecas.
Me segurando pela cintura, foi me empurrando para dentro, até que a
água ficou na minha cintura. Já que ele estava nu, puxei o laço no meu
pescoço, depois atrás e joguei o biquíni na borda. Ele tirou a lateral da parte
debaixo e soltei a outra, me livrando da peça e ele jogou ainda mais longe.
— Então aqui eu posso fazer topless? — Provoquei e o abracei,
pulando em seu colo. Damon riu, chupou o meu peito e me manteve em seus
braços.
— Só pode comigo... Se fizer sol amanhã, vamos sair cedo e ir à praia.
Não choveu até agora, talvez o vento esteja levando a chuva para longe.
— Espero que faça muito sol porque eu amo ir à praia. — Dei um
beijinho no seu queixo e me inclinei para trás, para boiar, com as minhas
pernas bem firmes na sua cintura. Ele me deu apoio, só me olhando e quando
música trocou para My Boo, uma muito antiga do cantor Usher, ele me puxou
de volta, me beijando e me pressionou na beirada, com o azulejo nas minhas
costas, começou a dançar.
Duro, se movia contra mim e dancei de volta, com meus cotovelos
apoiados nos seus ombros, segurei o seu cabelo e não parei de beijá-lo.
Segurando a minha bunda, investiu contra mim e eu levei a mão entre nós,
tocando-o. Damon me empurrou para cima, me levando até a borda e me
afastei. Ele saiu da piscina pela lateral e foi realmente sexy vê-lo com seu
corpo perfeito, o pau duro e um mundo de gotas escorrendo pelo seu peitoral.
Paramos na espreguiçadeira, aos beijos, a música tocando e meu marido me
pegou de um jeito no meio do amasso que esqueci o meu nome.
Estava doloridinha, mas, o efeito do remédio e a água quente, meu
corpo estava relaxado e desejoso, pronto para ele. Damon olhou em meus
olhos enquanto empurrava para dentro devagar e soltei um gemido, meio de
dor e meio de prazer. Nós transamos ali mesmo, no meio do armazém
reformado, com a piscina emanando calor e foi muito dolorido e gostoso, não
consegui gozar porque ainda existia uma dor incômoda, mas ele me levou até
o orgasmo sem penetração.
— Vou precisar me controlar para não te atacar o tempo inteiro. —
Ele gemeu e com o indicador, brincou com o seu sêmen que escorria de
dentro de mim. — Não sabe o quanto isso é incrível... Você é minha.
— O que falei sobre as tendências de homens das cavernas? —
Ergui a minha mão e me dei conta que estava sem as alianças.
— Cadê as suas alianças? — Damon franziu o cenho.
— Sempre tiro para entrar na piscina, tenho medo de perder. — Sentei-
me e estremeci. — Hoje foi demais. Acho que não vou andar amanhã.
Ele mordeu o lábio com um olhar que dizia que não tinha nenhum
arrependimento. Nos enrolamos nos roupões e eu soltei um espirro logo que
saímos da área aquecida. Tomei um banho, me sentindo pegajosa de cloro e
com as outras atividades. Lavei o meu cabelo e ele foi tomar banho quando
me sentei em um banquinho para ligar o secador e escovar o meu cabelo,
porque não ia descer com ele molhado.
Observei-o andar nu de um lado ao outro, muito mais à vontade com
sua nudez na minha frente do que antes. Terminei de secar o meu cabelo,
procurei uma calça de pijama nas minhas coisas e uma camisa de manga
longa, fiquei sem sutiã e sem calcinha, porque não estava a fim de roupas.
Como ficamos na piscina, não lanchamos e ao descer, estava faminta para
jantar logo.
Nina sempre nos dava privacidade e até foi embora mais cedo,
servimos nossos pratos e comemos na cozinha, porque estava ventando do
lado de fora e a mesa da sala de jantar era muito grande.
— A Nina cozinha tão bem... — Gemi com a carne desfazendo na
minha boca. Comi muito rápido, terminando o meu prato em uma velocidade
impressionante. — Meu Deus, eu quero mais. — Roubei um pouco da
comida dele, ainda com fome.
— Alguém está com fome... — Damon me provocou me servindo um
pouco mais de ossobuco, risoto e salada. — Ainda tem a sobremesa. Pedi
para Nina fazer torta de sorvete com chocolate.
— Essa coisa toda de nadar e sexo gasta muita energia, pode deixar
que vai ter muito espaço para a sobremesa. — Bebi um pouco do meu vinho.
Terminei o meu segundo prato e servimos a sobremesa, comendo na
sala e eu estava apaixonada por aquela torta e proibi o Damon de comer toda.
Ele dormia muito pouco, às vezes, acordava de madrugada ou saía para
resolver algum problema, quando voltava, comia o que encontrava na
geladeira – inclusive o que a Nina guardava para mim. Ele comeu todos os
docinhos do casamento que eu trouxe em uma só noite.
Damon me fez ir para cama depois de duas horas, dizendo que eu
ficava irritante quando ficava com sono e era melhor ficar quieta. De
brincadeira, me deu uns tapinhas na bunda, cansado da minha tagarelice na
sua cabeça querendo saber o significado de cada uma das suas tatuagens ou
como ele ganhou as cicatrizes. Minha garganta estava doendo, talvez de tanto
falar, mas achava que eu era a única mulher a ficar gripada ao perder a
virgindade.
12
Damon.
— Você não deveria estar na cama? — Falei assim que vi a
Giovanna sair do quarto, ela estava com uma aparência melhor, ainda assim,
parecia doente.
— Estou em Nova Iorque, o que te faz pensar que ficarei na cama?
— A voz ainda era de alguém muito gripada.
— Se você não descansar, não vai melhorar. Além do mais, eu te
avisei que nós não viemos aqui a passeio. Você vai ficar aqui dentro e não vai
sair, não importa o que aconteça, a não ser que...
— Que seja um incêndio. — Ela terminou por mim.
— Não seja debochada.
—Não estou sendo, apenas mostrando que eu memorizei o que você
repetiu no voo até aqui e pelas últimas três horas. — Abriu um sorrisinho.
Meu telefone tocou e ela ficou séria. — É ela?
— Sim... Preciso encontrar com ela em uma hora. — Apaguei a tela
do meu telefone. — Enrico vai ficar aqui com você e o Giacomo lá fora, na
vigilância.
— E quem vai com você?
— Nós não podemos ir com muitas pessoas...
Giovanna sentou-se na mesa e cruzou os braços.
— Quem vai te proteger?
— Eu não preciso de proteção. — Retruquei firme. Era um momento
que não precisava de testemunhas. Estávamos quebrando o código de honra
da família. Íamos fazer uma troca... Cosimo pela Tia Amber. Iremos finalizar
a história com os russos. Parecia injusto fazer uma troca, mas foi o Cosimo
quem começou isso ao roubar os filhos da Kátia Rostov e criá-los como seus.
Apesar das atitudes ruins dos meus tios, Amber era mãe do Enzo, foi
pega pelos russos e graças a isso, Lorenzo abriu a boca e contou
absolutamente tudo.
Em uma das muitas disputas no passado, meu Tio Cosimo descobriu
que a filha do chefe da Bratva havia acabado de dar à luz. Ele invadiu o local
que ela estava e roubou seus filhos gêmeos. Um menino e uma menina.
Levou para a Itália e criou como os seus filhos, tendo para si um tesouro
roubado de uma mulher. Kátia, obviamente, jurou vingança e esperou por
anos. Ela realizou milhares de ataques, causou muitas mortes. Quando o Enzo
morreu, encontrou diversas fraquezas na nossa defesa e sequestrou a Amber.
Alonzo estava por trás de tudo, jogando com as nossas vidas como
jogava xadrez. Ele era um homem muito bem treinado, tinha o óbvio plano de
eliminar toda a família em vingança ao seu pai, ao que aconteceu no passado
e por ter a mente fodida e distorcida numa versão de certo ou errado.
Ele matou o meu pai – com o apoio dos seus irmãos, que até o
sequestro da Amber, acreditavam que o Alonzo só queria vingança por tudo o
que aconteceu com a aposentadoria forçada que o Enzo causou ao seu pai.
Ainda tinha minhas dúvidas que eles realmente não sabiam sobre os planos
do Alonzo de matar o Enzo, para eles, o plano era matar a Juliana, assim a
nossa família herdaria a Villa Valentinni.
Mesmo assim, não fazia sentido. Alonzo vendeu a localização do
Enzo quando o babaca do Jack manteve em seu computador particular,
pronto para armar para a família.
Meu pai não aceitou fazer parte disso e na manhã que ele iria me
contar tudo, foi assassinado no seu jardim. As imagens das câmeras de
segurança foram deletadas, mas um bilhete deixou claro quem foi o autor. Eu
estava contando os segundos para fazê-lo pagar por isso. Se ele achava que
todas as torturas que meu avô lhe aplicou durante a vida foram dolorosas e
lhe deixaram traumatizado, ele não fazia ideia de tudo que iria fazer com ele.
— Tenho que ir, bella . Volta para cama, você precisa melhorar.
— Tudo bem... Por favor, volta para mim. — Giovanna me segurou
pela camisa. — Vou ficar aqui te esperando. — Beijou a minha boca e eu não
me importei que ela estava gripada até o seu último fio de cabelo devido a
nossa aventura na piscina aquecida e em seguida, passando pelo vento gelado
para irmos para casa.
— Voltarei.
Sinalizei para o Enrico entrar e antes de sair, ele bateu o punho
contra o meu, sua maneira silenciosa de me dizer para ficar bem. Enrico e eu
crescemos juntos, sua mãe foi governanta da nossa casa, então, nós
brincamos juntos, fomos iniciados juntos e ele já protegeu as minhas costas, a
minha vida e era o irmão que a vida me deu. Bati de volta e ele sabia que era
a vida dele pela da Giovanna. Enrico era o único além de mim que daria a
vida por ela, quando ele tivesse uma esposa, seria o mesmo para mim.
Nós dois não compartilhamos o mesmo DNA, mas éramos sangue
pelo sangue.
Entrei no elevador, apertei o relógio marcando o horário e
efetivamente contando os minutos para voltar. Peguei o carro, um sedan de
luxo aparentemente comum e segui para um galpão fora da cidade, quase
chegando na Filadélfia. Juliana estava encostada em um carro, de braços
cruzados, usando jeans, camiseta e uma jaqueta. Angelo estava um pouco
atrás, Ilaria de braços cruzados, olhando fixamente para a tela de um
computador. Marcus, marido da Ilaria, fechou a porta do galpão quando
estacionei o carro.
— Será apenas nós essa noite. Emerson ficou com a segurança da
Carina e está vigiando os passos do Lorenzo. — Juliana se afastou do carro.
— Quanto menos, melhor. Já estamos fodidos o suficiente. Cadê
ele?
— No porta-malas. — Ângelo respondeu. — Quer falar com ele?
Não abriu a porra da boca para nada.
— Ele não me interessa e é melhor que a Kátia cumpra a parte dela,
ou eu vou matá-la sem me importar que a Rússia inteira vai estar aqui
amanhã.
— Estarei com você. — Ilaria resmungou.
Juliana olhou em seu relógio e verifiquei o meu.
— Precisamos nos separar. — Apontei para o carro. — Angelo e
Juliana irão com a carga preciosa. Vocês dois se dividam... É só uma troca,
mas qualquer sinal de perigo, atirem para recuar. Algo acontecendo,
voltaremos para cá para realinhar.
— É melhor todos vocês saírem de lá inteiros. — Juliana afirmou
antes de sairmos.
Voltei para o meu carro, saindo de ré em alta velocidade. Estava
com uma arma entre as minhas coxas, uma no tornozelo, uma nas costas e
outra no peito. Uma faca em cada lado, pronto para o que viesse. Era o meio
da madrugada e nós precisaríamos esperar o avião da troca pousar. Estacionei
no meu ponto, na escuridão e resisti ao impulso de pegar o meu telefone e
ligar para minha mulher, pela primeira vez, preocupado sobre não voltar para
casa.
A tensão estava dominando os meus ombros e eu estava com um
desejo de morte. Quarenta minutos mais tarde, o avião apareceu no horizonte
e as luzes automáticas do aeroporto começaram a piscar. Peguei o meu
binóculo de luz noturna e olhei o carro da troca. Juliana estava no volante,
Angelo deveria ter saído do carro para a sua posição.
Esperei o avião pousar e saí do carro, me escondendo atrás de uma
pedra, com a mira na porta. A porta abriu e Juliana ligou o carro,
aproximando-se devagar. Ela abriu a sua porta e ficou em pé atrás dela...
Apenas Kátia saiu, nada da minha tia. Filha da puta do caralho. Me
aproximei devagar, me escondendo atrás de alguns latões de sinalizações e
me arrastei até o mais próximo que consegui.
Juliana seguia atrás das portas blindadas. Ela sabia que não deveria
sair de trás delas, não importava o que fosse acontecer. Não era a vida dela
pela da Amber e todos sabiam disso. Não conseguia ouvir o que a Juliana
falou, porque estava muito longe e o meu telefone vibrando me fodeu a
atenção. Era um número desconhecido que não parava de ligar e por
um segundo, me ocorreu que poderia ser algo realmente importante.
— Quem é? — Atendi baixo.
— DAMON, É UMA ARMADILHA. MINHA MÃE ESTÁ COMIGO,
PORRA. TIRA A JULIANA DAÍ! — Ouvi a voz masculina gritando. — TIRA
MINHA MULHER DAÍ, PORRA.
— Enzo?
— CARALHO ELES VÃO PEGAR A MINHA MULHER, TIRA ELA
DAÍ!
— Porra, filho da puta! Me prova que é você!
— VOCÊ TEM UMA MARCA DE NASCENÇA NA NUCA COM O
FORMATO DA ITÁLIA. VOCÊ NASCEU NO DIA 22 E FOI REGISTRADO
DOZE DIAS DEPOIS PORQUE O SEU PAI NÃO QUERIA QUE NINGUÉM
SOUBESSE DO SEU NASCIMENTO! — Ele continuou gritando coisas que
apenas pessoas muito próximas poderiam saber. — 21 42 28 48.
Merda. Enzo estava vivo.
— É melhor ser você, filho da puta ou eu vou te matar.
Encerrei a chamada e quando os homens estavam perto da Juliana,
eu atirei na cabeça de um e depois na do outro. Com o meu tiro, Juliana
entrou dentro do carro. Angelo ou Ilaria, não sabia quem, atirou contra a
Kátia, mas ela recuou dentro do avião e mais carros surgiram da escuridão.
Eles não estavam sozinhos. Voltei correndo para o meu carro, ligando e
invadi a pista, atirando para dar a oportunidade para ela sair dali o mais
rápido possível.
Juliana travou o carro, atirando, dando cobertura para o Ângelo ir até
ela, porque ele estava no meio do fogo cruzado. Peguei o meu telefone e
liguei para Ilaria, pedindo para entrar em cobertura, mas ela estava surtada
gritando comigo que o Enzo estava vivo e com a Amber. Minha mente estava
em completo parafuso, mas era preciso seguir adiante e procurar um local
seguro.
Segui atrás da Juliana, mas um filho da puta estava atirando sem
parar no meu carro. Eu precisava dar espaço para Juliana fugir com Cosimo
na mala. Travei a pista, atirando nas rodas e na cabeça do motorista, então,
um utilitário comum veio por uma estrada de terra, bem na direção do nosso
galpão e pelas piscadas de faróis ritmadas, era alguém do nosso lado. Uma
pessoa correndo no meio da mata atraiu a minha atenção e era o marido da
Ilaria.
Destravei a porta para ele e atirei para dar-lhe cobertura. O utilitário
passou por mim e eu fiquei chocado por dois segundos. Era o Enzo e ele
seguia em alta velocidade atrás do carro da Juliana.
— Eu vou atrás. — Marcus gritou.
— Tem uma automática aí atrás, sobe aqui. — Apertei o botão para
abrir o teto solar. Ele se enfiou ali, atirando sem parar e impedindo que eles
nos seguissem.
— O avião está decolando, a piranha russa está fugindo. Que porra
aconteceu?
— Enzo está vivo! A Tia Amber está com ele, caralho! Não faço a
mínima ideia! — Gritei, estressado e eu vi a Juliana bater no utilitário que o
Enzo estava conduzindo, jogando-o para fora da estrada e acelerando até
quase sumir. — Se segura! — Apaguei os faróis e segui na escuridão da
estrada em alta velocidade até o galpão.
No momento que entrei dentro dele, Juliana estava, literalmente,
enfiando a porrada no Enzo. Era inacreditável vê-lo. Ilaria estava ferida, caída
no chão e o seu irmão estava pressionando a sua ferida. Seu marido saiu do
carro, correndo até ela e eu segurei a cintura da Juliana, afastando-a dos
golpes. Ela se debateu e me mordeu, coloquei-a dentro do carro e fechei a
porta.
— QUE CARALHO FOI ESSE? — Olhei para o Enzo. Ele estava
tão magro, o cabelo muito curto, como se tivesse raspado a sua cabeça e com
várias bandagens pelos braços. — Filho da puta! — Puxei-o para um abraço.
— Quem fez isso com você?
— É muito pior do que a gente imagina. Os russos me pegaram e
depois pegaram a minha mãe. Acho que foi o Alonzo em acordo com a Kátia.
Eu consegui fugir com a minha mãe, mas nós precisamos sair daqui com
urgência. Coloquei a minha mãe em um lugar seguro, mas Alonzo sabe
demais e estamos em perigo. — Enzo segurou os meus ombros.
Ele tinha razão, era hora de sair.
— Circulando, agora! Tem muitos corpos na estrada, vamos sair
daqui agora.
— E a carga? — Ângelo levantou sua irmã do chão e o Marcus a
pegou no colo.
— A decisão é sua. — Falei enquanto Enzo assumia a direção da
SUV que a Juliana estava. Ela abriu a porta e vomitou. Ao mesmo tempo,
Angelo olhou para a sua irmã e abriu a mala, atirando duas vezes e fechou
novamente. — Você precisa de alguma coisa? — Perguntei diretamente a
Juliana. Ignorei o olhar fuzilante do meu primo, mas quando ele soubesse que
seria pai em alguns meses, entenderia. Juliana negou e fechou a porta,
parecendo se recusar a sair dali.
— Vamos para a cobertura.
Meu telefone vibrou, era uma chamada desconhecida e ergui o
telefone. Enzo saiu do carro, parando ao meu lado. Juliana saiu mais devagar.
Atendi a chamada.
— Sim.
— A sua esposa é muito linda. Sentadinha no sofá... Com uma
camisetinha branca, um shortinho curto e as pernas muito bonitas esticadas
à sua frente. Ela está doente? Parece gripada. — Ouvi a voz do Alonzo e
senti um arrepio. — Você deveria ter ficado fora dessa, Damon. Essa é a sua
última chance.
Ele encerrou a chamada.
— Filho da puta! — Corri até o meu carro.
— Se livra da carga. — Juliana jogou as chaves para o Angelo. —
Leva Ilaria para a cobertura, o médico vai até lá!
Enzo entrou no lado do carona do meu carro e a Juliana atrás. Ela
recarregou as armas enquanto eu corria pela estrada com o dia amanhecendo.
Liguei para Enrico, chamando até cair, em seguida para o Giacomo e por fim,
para Giovanna.
— Damon? — A vozinha dela estava muito baixa e a sua respiração
ofegante. — Você está vindo? Estou com medo. — Ela chorou. — A cabeça
do Giacomo explodiu . — Fechei os meus olhos. — E o Enrico está perdendo
muito sangue... dói muito.
— Você está ferida?
— Na barriga... dói muito. Você está vindo?
— Gio, fica comigo. O que aconteceu?
— Os tiros vieram de fora... Enrico está em cima de mim, ele
desmaiou. Ele se jogou em cima de mim quando tudo aconteceu. Sinto a sua
respiração, mas ele não acorda. Mandou segurar a arma dele... Damon,
estou com medo.
Porra.
— Estou chegando, bella . Fica acordada, aguenta firme, por favor,
estou chegando. Eu prometo.
— Eu preciso que vocês levem o médico e reforços para a cobertura
do Damon agora mesmo! — Ouvi a Juliana falar comigo.
— Nós vamos chegar, primo. Estamos chegando. — Enzo falou
baixo e o meu coração estava disparado no peito.
— Gio?
— Estou aqui. Damon...
— Vai ficar tudo bem, bella. Estou chegando e vou fazer a dor
passar... Eu prometo. Estou chegando, amor.
— Eu acredito em você.
Fechei os meus olhos e rezei, implorando para que a Giovanna
ficasse viva.
13
Gio.
Olhei para o prédio da frente, sentindo uma angústia tão grande que
sequer conseguia dormir. Damon saiu no começo da madrugada para
encontrar com a Juliana. Ontem estávamos na Itália e amanhecemos em Nova
Iorque. Soubemos que a Amber, uma mulher que eu não conhecia
pessoalmente, mas sabia quem era, foi sequestrada pelos russos. Essa era a
única informação que me foi passada e meu marido passou o voo inteiro
reforçando a extrema necessidade de que eu não deveria sair do apartamento
até que ele voltasse.
Seu apartamento em Nova Iorque era pequeno, apenas um quarto, sala,
cozinha e banheiro. Ele disse que não era interessante ter algo maior na
cidade porque ele quase não passava por ali. Era território do seu primo e ele
era um convidado.
Fiquei muito gripada nos últimos dias, com febre, dor na garganta e
eu passei por muitos momentos mais grogue do que acordada.
A viagem foi horrível para mim, meu nariz congestionado, a pressão
do avião, minha cabeça doendo e o corpo. Assim que chegamos, fui
examinada por um médico que me passou um remédio para sinusite, para
gripe e outro para febre. Tomei e dormi o dia inteiro, precisava de um
repouso para melhorar e quando acordei, me sentei na cama com desespero
de ele ter saído e fiquei aliviada ao vê-lo na sala.
Damon me prometeu que iria voltar e eu fiquei vagando pelo
apartamento com o Enrico. Ele fez uma macarronada, chamei o Giacomo
para comer, jantamos juntos e me refugiei no sofá, ansiosa, observando os
dois para ter uma noção de quando o Damon voltaria porque não pretendia
dormir até ele voltar. Enrico estava jogando, perguntou se eu queria aprender
e concordei, ouvindo as suas instruções para matar o tempo.
Não sabia quanto tempo se passou quando de repente, o vidro da sala
quebrou e a cabeça do Giacomo explodiu, voando sangue nos meus olhos,
boca e me molhando toda. Não tive tempo de reagir, de repente, Enrico se
jogou em mim e me derrubou do sofá. Senti uma dor aguda e fui ficando
molhada, sem entender o que estava me molhando.
— Enrico... está doendo.
— Não se move. É um franco atirador, ele vai atirar novamente se nos
movermos. — Ele falou bem baixo. — Fui ferido, estou perdendo sangue e
não sei quanto tempo vou manter a lucidez. Você consegue pegar o seu
telefone ali? — Apontou e dentro da minha confusão, achei o meu telefone.
— Você é menor que eu... Mova-se devagar. — Orientou e eu fui me
esticando bem devagar, não só pelo pavor, mas pela dor dilacerante nas
minhas costas. Quando toquei no meu telefone e consegui puxar, Enrico
estava muito pesado. Ele não estava mais acordado e o sangue dele escorria
tanto que me sentia ensopada.
O telefone vibrou na minha mão e a foto do Damon olhando para mim,
na minha entrada do nosso casamento apareceu na tela. Arrastei para o lado,
falei com ele, mas não estava conseguindo ficar coerente. Minha mente
ficava indo e vindo. Ouvi a porta ser aberta e olhei para o Damon.
— Bella , estou aqui. — Damon me segurou.
— É um ferimento atrás. Ela deve ter caído em cima dos vidros. —
Ouvi uma voz feminina. — Precisamos sair daqui, não é um lugar seguro e
alguém vai vir aqui fazer a limpeza, mas temos que sair antes que a polícia
consiga entrar aqui. — Essa mesma mulher falou.
Confusa com as vozes, alguém tirou o Enrico de cima de mim. Damon
me pegou no colo e soltei um grito, mas ele me embalou em seu peito.
— Não deixe o Enrico. — Falei baixo, com a minha boca seca.
— Não vou deixar, Enzo está levando-o. — Damon respondeu e fechei
os meus olhos, confusa. O Enzo não estava morto? — Vai ficar tudo bem,
Gio.
— Você voltou. — Murmurei e ele beijou a minha testa.
— Melhor deitá-la de bruços, eu vou tentar mantê-la imóvel. — A
mulher estava falando e estávamos em movimento, um solavanco causou
uma dor estrondosa e me senti escorregando para a escuridão.
Acordei assustada, levantando a cabeça e estava deitada de bruços.
Minha cabeça estava pesada, mas, reconheci uma bandeja cirúrgica, alguns
itens e um suporte para soro. Meus olhos estavam ardendo, a boca seca e
tentei olhar ao redor, mas um braço me impediu, fiquei assustada, mas
reconheci o toque.
— Ei, está tudo bem. — Damon se aproximou e beijou o topo da
minha cabeça, virei o meu rosto na sua direção e nos aconchegamos juntos.
Lembrei do Giacomo, a cabeça dele explodindo e comecei a chorar. — Shh,
bella . Estou aqui, Gio.
— O Enrico está bem?
— Está sim, já acordou e até saiu da cama. Foi um tiro limpo, não
atingiu nenhum órgão. Ele perdeu bastante sangue, por isso desmaiou. Você
caiu em cima de um vaso quebrado, a força do impacto te causou um
ferimento, perdeu um pouco de sangue, foi um corte profundo e levou alguns
pontos, mas está tudo bem. — Me explicou e eu continuei chorando.
— Foi horrível.
— Posso imaginar, sinto muito.
— Vai me contar o que aconteceu?
— Eu vou, mas não agora. Você precisa comer alguma coisa... —
Damon desviou o olhar e eu sabia que ele iria me falar resumidamente.
Estava com vontade de fazer xixi, as minhas costas estavam doloridas e
fiquei de quatro na cama, tentando me levantar. Damon me ajudou com
calma e muito cuidado.
— Que lugar é esse?
— É a casa do meu primo em Hampton, no momento, é o lugar mais
seguro para ficarmos. — Entrou no banheiro comigo e devido a minha
tontura, me ajudou a sentar no sanitário e me apoiou para fazer xixi. Me
limpei e o Damon me levantou, lavei as minhas mãos. — Nós recebemos
uma pista muito boa e iremos sair para fazer um ataque.
— Damon, por favor.
— Eu tenho que ir, Giovanna. Nós não poderemos voltar para casa até
que...
Não queria discutir com ele.
— Tudo bem. — Suspirei e ele me abraçou apertado. — Só volta para
mim. — Meus olhos encheram-se de lágrimas. Damon beijou a pontinha do
meu nariz e os meus lábios. Minha cabeça estava muito pesada, me deram
algum remédio para cavalos, porque estava completamente tonta.
De mãos dadas, saímos do quarto e na escada, precisei me segurar nele
porque estava sem entender onde pisar, os degraus parecendo mais perto do
que realmente eram. Haviam algumas pessoas na sala e parei sem graça, me
sentindo um lixo, dolorida e eu vi a Juliana levantar-se do seu lugar ao lado
de uma mulher loira, vindo na minha direção.
— Oi, Giovanna. Você está sentindo-se melhor?
— Um pouco confusa. Minha cabeça dói. — Lambi os meus lábios
secos.
— É assim mesmo, você precisa comer algo e descansar, vai ficar
melhor. — Acariciou o meu ombro. — Não sei se você vai ter mente, mas
aquela é minha amiga, Linda. — Apontou para a mulher loira. — Minha
cunhada, Carina. — A garota da minha idade me deu um aceno, ela era
morena, mas tinha os cabelos loiros escuros e um sorriso que lembrava toda a
família. — Emerson, meu cunhado. O casal ao fundo, Ilaria e o Marcus.
Damon me apoiou quando oscilei.
— Vem, Enzo e Enrico acordaram agora e estão comendo.
Damon me levou para outro lugar e eu fiquei mortalmente zonza ao ver
o Enzo, de pé, no meio da cozinha. Olhei para o Damon, mas ele estava
puxando uma cadeira para mim e virei para a Juliana.
— É, ele está vivo. — Resmungou secamente.
— Olá, Giovanna. — Enzo falou comigo. — Espero que esteja melhor.
Você deixou o meu priminho bastante preocupado. Bem no tipo chorão.
Damon soltou uma risada debochada.
— Vá se foder, Sr. “DAMON, SALVE A MINHA MULHER.” —
Meu marido debochou imitando uma vozinha fina, soltei uma risada que saiu
bem engraçada. Juliana revirou os olhos e me sentei com cuidado. Senti a
pele esticar onde estava costurado e doeu um pouquinho. Juliana sentou-se ao
meu lado e me ajudou a firmar no lugar enquanto o Damon servia alguma
sopa em uma vasilha.
— Não sei se ela vai conseguir comer sozinha, mas o Dr. Erinch disse
que ela precisava comer logo. — Juliana falou ao meu lado, puxando a
cestinha de pães. Olhei para o Enrico e ele estava andando devagar, mas
parecia bem. Me deu uma piscada e um sorriso. Caramba... Ele pulou na
frente para me salvar.
Damon me deu comida na boca como uma criança, pensei que não
conseguiria comer, mas ao sentir o quentinho da sopa, foi agradável e
acalmou a ânsia do meu estômago. Comi duas torradas e quase a sopa toda.
Deitei minha cabeça no Damon e ele ficou escovando o meu cabelo e senti a
Juliana mexendo na minha camisa, erguendo e ela deveria estar olhando o
meu corte.
— Está perfeito, mas acho que ela deveria continuar deitada de
bruços...
— Quero voltar para a cama. — Murmurei, sentindo tanto sono que
queria me deitar naquela mesa e dormir, ao mesmo tempo, a cozinha parecia
girar. Damon me pediu para tomar dois remédios e beber um pouco de água,
em seguida me levou de volta para o quarto, onde nós nos deitamos e eu só o
abracei, usando o seu peito como travesseiro.
Acordei sozinha na cama, suada e o quarto estava todo escuro. Eram
três da manhã e não estava deitada de barriga para cima, sentei-me com
cuidado, não estava mais tonta e muito menos enjoada, me sentindo mil vezes
melhor que a primeira vez que acordei. Meu telefone estava na cabeceira e eu
peguei, olhando as mensagens, pulando todas e fui direto para a do Damon
dizendo que voltaria logo e esperava retornar antes que acordasse.
Levantei-me, fui ao banheiro e tomei um banho cuidadoso para não
molhar os pontos e virei de costas, olhando e não parecia um corte pequeno,
não era largo, mas era extenso. Tinha mais de nove pontos ali. Estava
vermelho em toda região ao redor e ao voltar para o quarto, encontrei as
nossas malas e bolsas, que estavam no outro apartamento que aconteceu
aquele caos. Peguei uma roupa limpa, uma calça de pijama minha e uma
blusa do Damon, que ficava bem grande em mim.
Saí do quarto, com sede e tentei adivinhar para onde ir. Encontrei a
escada, desci devagar, me apoiando no corrimão e um homem na sala ergueu
o rosto.
— Oi.
— Olá, está tudo bem?
— Hum, estou com sede. — Falei baixo, preocupada e meio
envergonhada com a presença dele.
— Eu sou o Emerson, irmão adotivo do Enzo.
— Onde estão todos?
— A maioria saiu. Minha irmã Carina está dormindo com a Juliana, a
minha namorada, a Linda, estava aqui e foi ao banheiro. Ilaria estava
acordada até alguns minutos atrás...
— Meu marido saiu também? E o Enrico?
— Eles saíram com o meu irmão e a maioria dos homens.
Olhei ao redor e era uma casa muito grande e muito bonita.
— Por que você ficou?
— Tomando conta das mocinhas. — Sorriu torto e desci os últimos
degraus. Ele manteve uma distância muito segura e respeitosa, afinal, eu era
mulher de um chefe de outra família. Um toque errado causaria uma guerra.
— Vem, eu vou te mostrar onde fica a cozinha.
— Pode deixar que eu mostro, baby. — Uma mulher loira virou o
corredor. — É que ele não deve sair do seu lugar aqui da frente. — Me
explicou. — Eu sou a Linda.
— Eu sou Giovanna... Di Galattore.
— Você é a rainha da outra metade do país.
— Ah... — O que eu ia dizer?
Segui a Linda até a cozinha, não estava com fome, apenas com muita
sede. Bebi duas garrafas de água e ela me ofereceu um chá, como estava
sendo muito prestativa, fiquei sem graça de negar. Acabei aceitando e
ficamos na cozinha, conversando amenidades e então, a Juliana apareceu. Ela
estava emburrada.
— Aquele figlio di una putana voltou hoje e me mandou ficar em casa!
— Puxou um banquinho e sentou-se. — Olha, Giovanna. Corta as asinhas do
seu marido, porque até depois de morto eles ficam impossíveis.
— Não está feliz que ele está vivo? — Olhei em seus olhos.
— Estou confusa. Quando o vi, sei lá, senti raiva, ódio, amor e uma
felicidade quase impossível, mas ainda é difícil com tudo o que lidei e senti
com a sua morte. Saber que ele planejou isso... É muito difícil de perdoar. —
Juliana pegou a minha caneca de chá e deu um gole. — Eu sei que eu deveria
simplesmente ficar feliz, mas eu... fiz coisas que sempre condenei para vingar
a morte dele.
— Ele fez de propósito?
Juliana me encarou e mordeu o lábio.
— Não exatamente. Ele me disse que estava planejando fazer algo
comigo, que me incluísse e eu não sei até onde você está inserida nas
informações dessa parte. — Seu olhar foi intenso no meu e eu percebi que
mesmo que a Linda fosse a sua amiga, era algo que ela não sabia e
provavelmente o Damon sabia e eu deveria saber como esposa dele.
— Tente perdoá-lo, a nossa vida já é muito violenta para vivermos em
guerra com quem amamos. Tente entender os seus motivos, o que realmente
aconteceu e tire isso do seu casamento, afinal de contas, vocês têm um futuro
chegando...
Juliana sorriu e bebi um pouco do meu chá. Linda parecia confusa e
com sono, não exatamente entendendo o que estávamos falando.
— Você é muito jovem para ser tão sábia.
— Na verdade, eu só repeti o que minha mãe diria.
Ela soltou uma risada.
— E o que você faria? — Juliana questionou, curiosa.
— Castração química, talvez. — Brinquei e rimos juntas.
Ouvi uma risadinha masculina e olhamos para trás. Enzo estava
encostado na porta, sua arma bem visível e ele tinha um sorriso cínico nos
lábios. Damon estava ao seu lado, com a sobrancelha arqueada e meu coração
explodiu de alívio em vê-lo tão bem, inteiro e divertido.
— Você está fodido, primo. — Enzo brincou e se aproximou da
Juliana com cautela. Ela girou no banquinho e o encarou. — A senhora
gostaria de um relatório agora?
— Está muito cedo para começarmos essa merda, Enzo. O que
aconteceu? — Juliana explodiu e soltei uma risadinha. Ela era muito
esquentadinha.
— Os seus amigos conseguiram encontrar as contas, os associados e
quem estava ajudando o Tio Alonzo nessa bagunça. Nós achamos três
esconderijos em terra e dois navios, as equipes estão lidando com isso com a
ajuda dos homens dos King. — Damon se aproximou de mim e me abraçou.
— Ele está sem dinheiro, sem apoio e sem meios para agir tão cedo.
— Ky colocou o rosto dele como um dos mais procurados e será difícil
se esconder, ou ter associados já que as agências federais também o terão
como alvo. — Enzo falou com a Juliana e deitei minha cabeça no peito do
meu marido, entendendo em parte o que estava acontecendo.
— Sem recursos e apoio, ele não deve ir longe, certo? — Ela
murmurou, ainda com certo receio e era totalmente compreensível.
— Enzo fodeu com os planos conseguindo fugir e explodindo o local
que os homens dele estavam se preparando para atacar. — O peito do Damon
vibrou com a sua voz.
— E a Kátia? O que faremos com ela? Sabe que ela virá atrás de mim e
eu... — Juliana mordeu o lábio. Enzo passou o braço no ombro dela e senti
que o Damon estava tranquilo. Quando se tratava de uma ameaça, seu corpo
sempre ficava tenso.
— Esse é um assunto que eu já encerrei essa noite, em breve eles irão
levantar outro líder, mas até lá, nós estaremos mais fortes. Por hora, nosso
foco é o Alonzo. — Enzo lhe deu um beijo na testa e ela pareceu aceitar com
amor. Damon me abraçou apertado e fechei os meus olhos, me sentindo
segura.
14
Gio.
Damon estava encostado na parede do consultório olhando fixamente
para o médico atrás de mim e mordi o lábio para sufocar a risada. A sua
expressão emburrada era fofa. Finalmente entendi o motivo de tanta
implicância com o Dr. Ferrari. Não era o mesmo homem, já senhor de idade,
que me atendia quando criança e sim o seu filho, que era muito bonito e
gostoso, puta que pariu.
Para a retirada dos meus pontos precisamos vir ao consultório dele, a
minha blusa estava levantada nas costas e o médico mal me tocava, tirando os
pontos da minha ferida que finalmente estava cicatrizada.
Levei alguns dias para me recuperar, além da gripe porque a minha
imunidade estava muito baixa, os pontos doeram muito. Damon passou
diversas noites fora de casa e a minha mãe foi autorizada a ficar comigo,
cuidando de mim com todos os seus remédios caseiros e comidas gostosas.
Mesmo com o amor da minha mãe e até um mimo do meu pai, toda
noite acordava suada e assustada, sem conseguir parar de chorar. Estava tão
apavorada que não conseguia dormir, sempre sonhando que em algum
momento um disparo seria feito e me mataria, mas os piores pesadelos
eram... quando eu acordava, era o Damon que estava morto ao meu lado.
Exatamente como Giacomo.
— Pronto, Sra. Di Galattore. — Dr. Ferrari se afastou. — Parece que
não terá nenhuma marca forte, os pontos foram muito bem feitos e a sua
cicatrização foi muito boa. Vou receitar uma pomada caso tenha alguma
coceira ou reação.
Abaixei a minha blusa antes que o meu marido fizesse.
— Todas as medicações para dor, já pode parar. Converse com a Dra.
De Luca sobre o efeito no seu método contraceptivo. — Orientou e arregalei
os olhos, assentindo. Ainda bem que nós não fizemos sexo nesse período ou
eu ficaria completamente surtada.
Como fiquei bem doente nas últimas três semanas, não tive muito
clima, nem cabeça, ele estava estressado, indo e vindo de Nova Iorque e foi à
Itália duas vezes sem mim, para que eu pudesse me recuperar.
— Obrigada. — Peguei a receita.
Damon e ele trocaram apenas um aceno e assim que virei de costas,
revirei os olhos. Meu marido me segurou ao seu lado e me manteve em seus
braços no elevador. Ergui o meu rosto e beijei os seus lábios, aproveitando
que estávamos sozinhos. De mãos dadas, saímos do prédio e o manobrista
devolveu o carro dele com um sorriso profissional. O homem que me casei
gostava de pisar no acelerador e parecia se divertir com isso, tirei uma foto
dele, parecendo um bad boy safado com óculos escuros.
Enviei uma mensagem para a Dra. De Luca e ela me orientou sobre
relações sexuais nos próximos dias, até a minha pílula voltar a fazer efeito.
— Pode manter a sua mente aberta? — Damon me cutucou e percebi
que não estávamos na direção do apartamento.
— Nasci nessa família, se isso não é ter mente aberta, eu não sei mais
o que pode ser. — Abri um sorrisinho.
— Estamos engraçadinhas, não é? Ainda bem que você melhorou,
doente é a porra de uma dor na bunda manhosa pra cacete . — Sorriu e quis
bater nele, mas fiz um beicinho. — Linda.
— Idiota. Então, o que tenho que manter a mente aberta? — Coloquei
a minha mão na sua coxa, acariciando e subindo até o seu volume, só para
provocar. Apesar de saber que o sexo ainda seria desconfortável por um
tempo, eu queria um pouco de sacanagem.
— Você vai ver, mãozinha safada.
— Eu posso ter a mãozinha safada em você. — Rebati com uma
piscadinha marota. A minha mão estava na sua coxa, ele pegou e a colocou
bem cima do seu pau, me fazendo rir e decidi que poderia deixá-lo duro e
desconfortável enquanto dirigia. Damon nos conduziu para um bairro
residencial de luxo no sul da cidade, bem próximo de onde a irmã dele
morava. — O que estamos fazendo aqui?
Sem falar nada, foi seguindo por casas e mais casas até termos uma
parte da estrada realmente vazia. Algumas famílias muito ricas da família
moravam por ali. Ele diminuiu a velocidade em frente a uma mansão imensa
que tinha a placa: Villa Bella . Deu a volta no chafariz e parou na frente e saiu
do carro, curiosa, fui atrás, olhando para o alto. Era linda, de pedras
mármores, uma mistura típica da arquitetura contemporânea de Chicago com
muitos detalhes da clássica arquitetura italiana.
— Que lugar é esse?
— Essa casa é minha. Herdei algumas coisas quando o meu pai morreu
e essa foi uma delas.
— Por que tenho a sensação de que a conheço? — Virei para a rua,
olhando ao redor.
Era uma vizinhança muito tranquila, com casarões de luxo como
aquele, mas os terrenos eram muitos grandes para que as casas fossem perto
da outra. A frente era murada, com um portão de ferro grande, pesado e a
placa na entrada. Era um terreno enorme, com mais de uma casa e me
perguntei qual era o tamanho real.
— Deve ter vindo aqui quando pequena. Nós moramos aqui até a
morte da minha mãe, depois, nos mudamos. Eu fui morar com a minha irmã e
o meu pai se casou novamente. — Damon foi até a porta, pressionou a digital
e ela abriu. Fiquei parada, sem reação e ele esticou a mão, me convidando
para entrar. — Sei que é uma casa muito grande para nós dois, mas, haverão
momentos que precisaremos ser anfitriões de festas e jantares... Além do
mais, a casa tem dois quartos do pânico, um porão que tem um túnel que leva
diretamente ao outro lado da rua. Acho que vai sentir-se mais segura aqui.
— Ah, Damon... — Suspirei, encantada que ele estava buscando uma
solução pelo meu pavor de ficar na cobertura sozinha.
Pulei nele, bem ali no hall da entrada e o abracei, beijando a sua boca.
Aceitei fazer o tour pelo lugar, que estava mobiliado e parecia muito limpo.
Alguns móveis eram lindos, antigos e outros aparentavam ser bem novos e
modernos. Damon disse que passou as últimas duas semanas organizando a
casa com a sua irmã. Sandra achou que eu amaria a surpresa e quis ajudar. A
minha cunhada era muito legal.
A casa era enorme, mas estava muito bonita, conservada e restaurada
em diversos lugares. Todas as paredes eram brancas, o piso de madeira e as
portas de madeira escura. Como ele sabia que eu não gostava de ambientes
escuros como ele, clareou os móveis planejados da casa inteira, deixando
apenas alguns ambientes com móveis de madeira muito antigos que eram
únicos.
Dois mil e seiscentos hectares de terreno, três andares de casa ou
quatro, se contasse com o porão. Da entrada, passava por um hall espaçoso,
com o teto redondo e vitrais como uma igreja, que eram iguais aos vitrais da
casa na Itália e achei a conexão muito bonita. Para a direita, havia a sala de
estar com sofás brancos, poltronas cinzas, tapetes felpudos em bege escuro e
almofadas na mesma paleta de cores.
O lustre era lindo, a lareira era imensa e os janelões que mostrava a
entrada eram enormes, de vidro, com grades pretas e redondas nas pontas. A
sala de estar era em formato de L e tinha um piano, ele não sabia tocar e
muito menos eu, sempre fui a garota zero ritmo, mas a mãe dele tocava e ele
não quis se desfazer.
Após a sala de estar, tinha um corredor muito discreto que levava
para a biblioteca e a uma sala de televisão. Damon explicou que equiparia a
biblioteca para ser o seu escritório para receber os homens em eventos, mas
que faria outro lugar da casa como o seu escritório privado.
No mesmo corredor, nós saímos em uma porta debaixo da escada que
se dividia em duas no hall de entrada, dali, fomos para a sala de jantar, que na
minha opinião, poderia ser chamado de salão. Era muito grande e a mesa de
madeira, com mais de quinze cadeiras, ocupava bem o espaço, com
aparadores, poltronas e lembrei de correr entre as pessoas em uma festa ali.
Fazia todo sentido a casa ser tão grande, foi construída para receber a família.
Voltamos para o hall e na outra porta debaixo da escada, em frente a
que saímos anteriormente, havia um corredor com um quarto e outro espaço
vazio. Dentro desse quarto tinha um closet que ficava o quarto do pânico.
Damon abriu outra porta e mostrou que o suposto banheiro dava para uma
escada que saía dentro do closet de um dos quartos em cima. Era uma espécie
de rota para um lugar seguro.
O espaço vazio, ele faria o seu escritório privado. O escritório da
cobertura era bloqueado e só entrei lá algumas vezes, porém, apesar de coisas
típicas de escritório, havia um armário com todo tipo de arma, faca e até
granadas... Nunca mais abri as portas. A curiosidade ali dentro era de matar
gato de verdade.
A cozinha era bem espaçosa, com a ilha dos meus sonhos, dois fornos,
um cooktop, armários do chão ao teto e duas pias com um balcão de
mármore. A mesa era redonda, com um aparador de madeira bem no centro e
ele girava. Era de seis lugares, de vidro e cadeiras acolchoadas em creme com
um vaso de cerâmica com o nome das sobrinhas dele, provavelmente foi a
Sandra que colocou ali.
A porta para a escada do porão era bem discreta. A adega era linda.
Estava vazia, era questão de tempo para o Damon encher de vinhos e me
mostrou o caminho do túnel. Eu me recusei passar por ele, mesmo que
devesse, mas era assustador e escuro.
Voltamos para a entrada e subimos a escada, dei uma olhada nos
quartos e ele me mostrou o seu antigo quarto com o Enrico e o da sua irmã.
Ambos eram bem pertinho da suíte principal e eu achei uma coisa muito fofa
que os pais dele, apesar da aparência externa de frios e assustadores,
mantinham os filhos por perto durante o crescimento. No futuro ali seria o
quarto dos nossos filhos.
A suíte principal era linda e tinha dois closets, um era tipicamente
feminino, com uma penteadeira antiga e um espelho maravilhoso que me
deixou quase histérica.
— Acho que te ganhei. — Ele riu da minha empolgação. Abri as
gavetas vazias, querendo olhar tudo e já podia imaginar as minhas coisas ali.
— Você me ganhou no momento que passamos pela entrada.
Damon me olhou confuso.
— Villa Bella. Você me chama de bella do amanhecer ao anoitecer, se
essa casa fosse um casebre, seria a nossa casa só por isso. — Sorri e ele ficou
meio tímido. — Ai que fofo! — Me joguei nele. Damon não queria ser fofo,
porque ele me pegou bruscamente e me colocou em cima da penteadeira,
ficando entre as minhas pernas e me beijando do jeito que ele não fez nas
últimas semanas.
— Eu vou te mostrar o quanto sou fofo mais tarde. Vem, ainda quero
te mostrar a melhor parte e onde a minha irmã quase me matou uma vez. —
Sorriu torto e me puxou.
Antes de sairmos da casa, ele me mostrou o sótão brevemente, onde
tinha prateleiras para ser o armário geral da casa.
A varanda principal do segundo andar tinha uma escada e nós
descemos por ali, seguindo pela lateral da casa até os fundos. Havia um
espaço agradável que eu poderia dizer que era gourmet, com móveis
específicos para eventos do lado de fora, com uma churrasqueira e fogão a
lenha. O pátio próximo à cozinha tinha uma mesa de pedra de mármore e
cadeiras de ferro como nos jardins dos filmes antigos.
A piscina foi construída em uma área bem reservada e após ela, as
pedras no chão marcavam o caminho para o jardim, que precisava de uns
cuidados para ter flores, mas tinha um gazebo fofo, um aviário e um
gramadinho para belas tardes de piquenique. A parte mais charmosa de toda a
propriedade era a praia privada. Foi ali que a irmã dele o afogou em um dia
que ele estava particularmente irritante e jogou alguma coisa gosmenta nela.
— Vamos nos mudar quando? — Parei no deck e tirei as minhas
sandálias, sentindo a areia gelada e quando fui para a água, Damon me
pegou. — Ei!
— Você acabou de melhorar. — Me colocou na grama e dei a volta
por ele, tentando voltar, ele abaixou, pegou as minhas sandálias e me
segurou, jogando sobre os ombros. Ainda me deu um tapa na bunda,
mandando parar de gritar, mas eu só conseguia rir com o sangue todo
concentrado na minha cabeça.
Nós fomos embora para casa e eu estava muito empolgada em fazer a
mudança. Como não seria preciso levar os móveis, não demoraria muito e
mergulhei na tarefa por toda a semana, levando nossas coisas pessoais,
habitando a casa, tomando conta de toda parte funcional em escolher
funcionárias (decidi não manter mulheres da família além da Marcela),
contratando empresas de limpeza e para cuidar do jardim. Alinhei tudo com o
Enrico, que se mudaria conosco e moraria na casa dele na propriedade.
A parte de transportar tudo era muito cansativa. Enrico era muito
paciente e não reclamava de nada. Damon tentou ajudar na tarefa, mas eu me
irritei com ele e mandei voltar ao trabalho. Era melhor lidar com tudo sozinha
fazendo as coisas do meu jeito do que estar com ele no meu caminho me
atrapalhando.
Enrico me levou para casa com algumas caixas e eu queria conhecê-lo
melhor, afinal, ele era praticamente o meu cunhado. Ele e o Damon falavam
muito, comigo, ele quase não abria a boca.
— Você vai se casar? — Andei atrás do Enrico, que carregava umas
caixas pela escada, levando para a suíte.
— Ainda não encontrei a eleita. — Ele foi conciso. Arrancar uma
informação pessoal dele era um sacrifício. Damon me pediu para não encher
o saco, mas eu era curiosa. — Aqui está bom?
— Está procurando?
Ele me deu um olhar impaciente.
— Não. — Mal humorado, soltou as caixas no chão e saiu.
Ignorei-o, olhei ao redor e parecia que a minha parte havia acabado. As
roupas do Damon estavam arrumadas, as minhas também e nossas coisas
pessoais em seus devidos lugares.
A biblioteca estava meio vazia e eu tirei um tempo para arrumar o
que a madrasta do Damon mandou entregar, muitas coisas que eram do pai
dele, livros, fotografias e quadros. Perto do piano, coloquei o quadro da mãe
dele. Era uma mulher linda. Lembrava dela, mas muito pouco, porém, o
Damon gostou de ter a foto da mãe dele na nossa sala e me agradeceu com
um beijo.
Voltei para o apartamento só para supervisionar se faltava alguma
coisa. Vivi muito pouco ali para sentir falta e estava muito ansiosa em
começar uma vida com o Damon em outro lugar. Não tive uma noite de sono
desde que voltamos para Chicago –a última semana não foi exatamente por
pesadelos. Meu marido quis mostrar a todo custo que não era nada fofinho.
Cada vez que a gente transava, percebia que era muito crua e tinha muito que
aprender.
De modo geral, a penetração ainda era bem desconfortável, melhorava
a cada vez e acaba ficando bem gostoso mesmo que as preliminares fossem a
minha parte favorita. A parte de fazer um boquete ainda era uma aprendiz, ele
dizia gostar e a cada vez que seguia suas dicas ou o meu próprio instinto, ele
gozava mais rápido.
Fechei o apartamento e o Enrico me levou para a Villa Bella . Ele foi
para a sua casa e eu entrei sozinha, subindo para o meu novo quarto. Liguei
para minha cunhada, combinamos um jantar – ela me ajudou muito e queria
cozinhar em forma de agradecimento. Queria ver as suas filhas, porque eu
adorava as meninas e elas eram tão fofas. Em seguida, liguei para minha mãe
para saber do que estavam falando sobre o meu casamento. Não teve uma
fofoca sobre a mudança porque eu explicitamente ameacei a Marcela sobre
não falar.
Ela entendeu o recado, podia ser jovem e ter cara de boba, mas eu não
ia tolerar fofocas sobre a minha casa. Comuniquei ao Damon que não sentia a
necessidade de termos alguém fixo, o dia inteiro e fiz um cronograma: ela
poderia me auxiliar na organização e nos dias em que a empresa de limpeza
estava agendada. Fora isso, pretendia manter a nossa casa e principalmente, a
nossa vida, a mais privada possível.
Apesar da minha alegria, senti que a minha mãe estava meio triste.
Pensei em ir até lá, mas teria que chamar o Enrico e o Damon iria encher o
meu saco se fosse dirigindo. Fechei a porta do quarto, tirei a minha roupa e
tomei banho, levei um tempo cuidando de mim mesma, apesar de ter feito
depilação, o cabelo e a sobrancelha no dia anterior, gostava de manter a
minha pele hidratada.
Entrei no closet, peguei uma calcinha preta, pequena, vesti e me olhei
no espelho. Meu cabelo estava preso e reparei que havia emagrecido um
pouco. As semanas que passei doente me deu zero apetite mesmo com a
minha mãe empurrando a comida na minha boca a cada duas horas. Não
gostava de ficar muito magra, perdia o meu volume nos seios e no quadril,
mas, com a garganta inflamada e um corte de dez centímetros nas costas, eu
não queria comer.
Ouvi a porta do quarto ser bruscamente aberta e o Damon passou
direto para o banheiro, fui atrás dele, curiosa e ele tirou a roupa, colocando as
duas armas em cima da pia e pelo baque pesado das peças eu sabia que
estavam molhadas...
Ao entrar no chuveiro, olhei para a tonalidade da água e dei meia volta.
Voltei para o meu armário, procurando algo confortável para vestir e pelo
barulho, ele estava no dele. Não resisti a curiosidade e devagar, entrei no seu
closet. Damon estava nu, pegando uma cueca e encostei na porta. Ele me viu
pelo reflexo do espelho. Sua expressão estava fechada, mas o seu olhar para
mim foi bem aquecido.
— Está tudo bem?
Desistindo da cueca, virou e andou até mim, abaixou o rosto e me
beijou. Apesar do seu beijo firme e mão no meu cabelo, senti o seu polegar
passar bem de leve na cicatriz nas minhas costas. Nos afastamos sem ar,
deitou a testa na minha, de olhos fechados e em seguida, me abraçou bem
apertado, com o rosto escondido no meu pescoço. Acariciei as suas costas,
beijando onde podia alcançar.
— Damon, o que foi?
— Eu sinto muito, Gio.
— Por quê? O que houve? — Tentei me afastar e ele não deixou. —
Damon Francesco, você está me assustando. — Seu olhar para o meu foi
pesaroso. — O que aconteceu?
— Seu pai... Ele morreu, bella . Sinto muito, cheguei tarde demais... —
Não fazia sentido, tentei empurrá-lo, precisando de um espaço. — Atacaram
o cassino. Seu pai estava no escritório... ele e o Leonardo tentaram se
defender, quando cheguei, já estavam mortos. Sinto muito.
Damon me abraçou apertado quando comecei a chorar, finalmente
entendendo o que tinha acontecido. Meu pai ... Ele se foi e eu nem sabia o
que pensar, mas sabia que estava doendo muito.
15
Damon.
Estava frio, garoando e o dia cinza como se soubesse que a família
estava reunida para o velório do Vacchiano. Eu não gostava dele, nunca
gostei. Achava que era um homem soberbo, que escorregava feito sabonete e
muito ambicioso. Apesar do seu vício no jogo e o seu roubo, o meu pai tinha
razão em uma coisa: Ele deu o seu sangue pela família, nunca nos traiu de
maneira grave e mesmo sendo um idiota, morreu lutando.
Vacchiano e Leonardo perceberam o ataque e foram defender o nosso
território como todos os homens iniciados nesta família foram treinados.
Apesar do sucesso em eliminar quem invadiu, eles foram gravemente feridos
e quando cheguei, era tarde demais. Imediatamente reuni a minha equipe e fui
até onde estavam os ratos do novo motoclube que estava tentando crescer na
cidade e invadi. Sangue por sangue, eles não me conheciam, eu não esperava
para atacar.
Não tinha um método. Ninguém nunca sabia quando ia reagir. Podia
agir de cabeça quente, de cabeça fria, com ou sem vontade. Além de ter
explodido o lugar, mandei as cabeças dos corpos mais inteiros de volta com
um recado: No meu território eles não entrariam. Os associados e chefes
contra-atacaram em pontos que sabíamos que estavam crescendo pelo país.
Foi um ataque no meu cassino – e eu devolvi em vários. Era assim que eu
respondia.
Enzo pediu para ir com calma porque os federais estavam na nossa
cola desde a merda que foi em Nova Iorque – muitos corpos russos
espalhados pela cidade em três dias. Tentamos limpar a bagunça, mas sempre
ficava um ou outro para trás.
Eu não gostava de ter calma e ignorei o pedido. Ele que lidasse com
a bagunça.
Giovanna estava ao meu lado, sua mão segurava o meu braço, usava
preto da cabeça aos pés, com um casaco longo, chapéu e óculos escuros. Sua
outra mão estava no ombro da sua mãe e as duas estavam abatidas. Na noite
anterior, minha esposa confessou que não gostava de muitas atitudes do seu
pai, recriminava abertamente e eles batiam muito de frente. Ela lhe fez
ameaças sobre bater na sua mãe e tinha um óbvio ressentimento por ter sido
dada em troca de um perdão, como se ela fosse uma mercadoria valiosa.
Ela era uma muito valiosa. Giovanna era uma das mulheres mais
bonitas da família. Se o pai dela não tivesse feito esse acordo com o meu pai,
ela seria muito disputada pelo casamento – e ele até enriqueceria. Giovanna
seria uma opção de casamento mesmo sem o acordo. Ela preenchia todos os
requisitos: era italiana (não somente descendente), cresceu no seio do alto
escalão da família, sabia se portar em público – embora ela tentasse me
causar um AVC com as suas roupas, era muito gentil com todos – e até então,
seu pai tinha uma posição de muito respeito.
Giovanna estava destinada a ser minha. Ela era uma princesa, criada
para ser a rainha e se tornou a minha senhora soberana.
No final do funeral, a mãe dela foi embora sozinha. Ela não queria que
a Giovanna a acompanhasse, porque deveria seguir comigo para a recepção
fúnebre. Mesmo de luto, a mulher não abria mão das tradições da família.
Seguimos em uma comitiva de carros até a casa onde a minha mulher
cresceu. Foi preparado um jantar para todos e a sala espaçosa ficou com um
vai e vem de pessoas, conversando baixo, preenchendo o livro de
condolências e falando sobre momentos com o falecido.
Giovanna ficou com sua mãe o tempo todo, assim como suas tias e
primas.
Ainda estava com raiva. Coisas assim aconteciam, não queria dizer
que eu não achava uma tremenda falta de respeito. Frank, meu cunhado e
conselheiro, parou do meu lado e olhou na mesma direção que eu. Sandra
estava tentando convencer Giovanna a comer alguma coisa, que não comia
direito há dois dias e quem a conhecia, sabia que era um feito e tanto.
Giovanna amava comer, mas perdia o apetite muito fácil em situações
extremas.
— Ele era um homem esquisito, mas sempre foi leal à família.
— Sim, não gostava dele, mas não era exatamente pessoal. Não
gosto da maioria deles. — Bebi o meu vinho. — Preciso de algo mais forte
que isso.
— Sei que é de péssimo gosto, mas precisamos de um substituto. A
reforma vai acabar em três dias, não podemos ficar muito tempo fechados e
eu já molhei as mãos certas para tirar o faro daquela policial insuportável do
que aconteceu.
— Eu vou pensar em alguém. Alguma sugestão?
— Tenho avaliado bem o Santini. O pai dele deve se aposentar em
breve, mas ele pode preencher a vaga enquanto outro nome não surge, bom
que podemos saber seus posicionamentos antes de ele virar o subchefe de
Northbrook.
— Faremos isso. — Concordei e olhei para Gio. Ela estava
cochichando com a sua prima cabeça de vento, a Bianca e sorriu de um jeito
traquina. Me senti curioso sobre o que poderiam estar falando. Percebi que o
Frank não tirava os olhos da minha irmã. — Já é casado com ela.
— Nunca vai deixar de ser um pirralho ciumento? — Me provocou.
Sorri lembrando que fiquei com muito ciúme da minha irmã quando eles
começaram a namorar. Enchi muito o saco. Eles já estavam juntos há dez
anos, significava que eu era um adolescente quando começaram com o
romance. — Sua irmã quer outro bebê...
— Se nascer outra menina, eu vou te matar, não vou ter soldados o
suficiente para protegê-las. — Resmunguei. As minhas sobrinhas eram as
meninas mais lindas do mundo inteiro. Elas cheiravam a morangos, tinham as
risadinhas mais suaves e eram perfeitas da cabeça aos pés. Minha irmã era tão
chata, não sabia que era capaz de dar à luz a dois anjinhos.
— Já decidi que irei trancá-las na Itália. — Frank sorriu. Ele odiava
a ideia de que elas cresceriam um dia e teriam homens atrás delas. Para falar
a verdade, a ideia me irritava também.
— É uma ótima ideia.
Giovanna não quis comer nada, ficou o tempo todo rejeitando comida.
Já entendi que quando ficava emocionalmente abalada, não era de chorar, de
dar crises, apenas ficava quieta e não tinha apetite. Queria ir embora, mas
esperei a sala esvaziar. Sua tia iria dormir com a sua mãe, que queria ficar
sozinha, mas elas não estavam respeitando.
— Gio? Precisamos ir, bella.
— Tudo bem... — Ela fez um pequeno beicinho. — Mamma…
— Giovanna, minha filha. Vá embora. — Lucinda se estressou. —
Eu quero tomar um remédio e dormir. Sei que o meu casamento com o seu
pai não foi perfeito, mas ele foi a pessoa que eu passei vinte e cinco anos da
minha vida. Só quero ter um tempinho sozinha para assimilar tudo, eu
prometo que não quero fazer nenhuma besteira, está bem? Vá para sua casa
com o seu marido. — Ordenou e Giovanna mordeu o lábio. — Você lembra
do que sempre te digo?
— A vida continua e tudo vai ficar bem.
— É exatamente isso. Seu pai se foi, mas a vida continua e nós
vamos ficar bem. — As duas se abraçaram. Lucinda virou-se para mim. —
Obrigada por tudo, Damon. Sua gentileza e carinho comigo e com minha
filha nesse momento foi muito especial. Você é um genro maravilhoso. —
Me deu um beijo maternal na bochecha e foi para a escada.
Giovanna segurou a minha mão e saímos da casa dos seus pais.
Estávamos morando a uns bons quarenta minutos do centro da cidade, mas
isso não era um problema, porque a tranquilidade da casa que cresci era
muito melhor que a do apartamento. Não considerei voltar a morar na casa
até que Giovanna não conseguia ficar no apartamento. Encontrei-a comendo
no chão atrás de um móvel ou assistindo televisão sentada no tapete ao invés
de no sofá. Ela manteve todas as cortinas fechadas e tinha pesadelos cada
maldita noite.
Ficou insuportavelmente doente, com febres altas, eu precisei da ajuda
da sua mãe ou eu não conseguiria colocar a nossa vida em ordem.
Herdei a casa do meu pai, mas, ela era grande demais para um casal.
Já achava que era grande para a minha família, mas, o lugar já era equipado
com um esquema de segurança que só precisou de uns ajustes e ela sentiu
mais segurança.
Não adiantava nada mantê-la em casa se ela não se sentia bem na sua própria
casa ao ponto de não conseguir deitar na cama e dormir em paz.
Estacionei o carro dentro da garagem e entramos pelos fundos. Ela foi
direto para a lavanderia e tirou o casaco, as meias e o sapato dentro da
lavanderia. Passou o vestido preto pela cabeça, arrancando calcinha e o sutiã,
jogando no cesto de roupa suja. Ela apoiou os sapatos na pia. Estavam sujos
da igreja, em seguida da capela e por fim, do cemitério. Segui o seu exemplo,
tirando com mais calma e pegamos os roupões do banheirinho que ficava ali.
Eram roupões para piscina, mas serviriam naquele momento.
Giovanna subiu na minha frente, passei no escritório e acionei os
alarmes noturnos da propriedade. Enrico estava na sua casa e ele tinha os
seus próprios alarmes se precisasse sair. Haviam sensores de movimentos,
câmeras em pontos específicos e alarmes em todas as portas e janelas. Não
estava com cabeça para fazer mais nada, precisava tomar um banho, comer
alguma coisa e dormir.
Ela já estava no chuveiro quando entrei no banheiro. Tirei o meu
roupão e invadi o espaço. A temperatura da água era quente o suficiente para
cozinhar legumes. Seu cabelo estava molhado, escorrendo nas costas e peguei
a esponja da sua mão. Recostando no meu peito, me permitiu passar a
esponja macia pelos seus braços, tomei com cuidado seus seios e virilha. Eu
amava ter as minhas mãos pelo seu corpo perfeito.
Virando-se, tomou a esponja e começou a me lavar. Nós estávamos
cheios de espumas e mãos bobas. Ela soltou uma risadinha e me empurrou
quando passei a mão na sua bunda, querendo atingir a minha parte favorita
por trás. Beijei a sua boca, distraindo a sua atenção e a empurrei contra a
parede, erguendo a sua coxa e toquei a sua bucetinha maravilhosa. Meu pau
adorou a sua atenção e cuidado, mas eu não queria sexo ali. Levei-a para
debaixo do jato de água e nos enxaguamos.
Peguei a toalha e Giovanna apenas tirou o excesso de água do cabelo
antes de me puxar e me beijar. Foi me conduzindo para o quarto, sem parar o
seu ataque e eu deixei, porque eu não queria que ela ficasse inibida. Aos
poucos estava se soltando, relaxando com a penetração e ainda era
surrealmente apertado. A primeira vez foi quase impossível e a cada vez ela
se descobria mais, se soltava e eu não estava perdendo a oportunidade de
ensinar todas as putarias do mundo. Algumas ela ficava toda vermelhinha de
vergonha, mas não negava.
De quatro ainda não era uma posição que ela gostava, entendia que era
muito invasivo e ela não estava 100% confortável com a penetração. Ela
adorava de lado pela manhã, e eu estava ficando surrealmente mal
acostumado em acordar com a sua bunda pressionada no meu pau. Às vezes
ela já começava a rebolar devagarzinho contra mim, mas na maioria das
vezes era eu quem começava.
Ficamos sem sexo enquanto estava se recuperando, quando ela
melhorou foi outra história. Eu era um babaca, mas não faria sexo com a
minha mulher doente.
— Gio... — Ela montou em mim, molhadinha e tentou me encaixar,
mas eu não tinha certeza se ela gostaria daquela forma.
— Quero tentar, me ajuda, por favor . — Ela ia me matar com
aquela vozinha manhosa, cheia de tesão. Apoiei suas mãos e deixei que
testasse, sentando devagar no meu pau e fechei os meus olhos. A maneira
como estava me engolindo lentamente era a tortura mais gostosa do mundo.
— Ah!
— Porra...
— É assim? — Rebolou meio incerta, olhando nos meus olhos.
— Está confortável?
— Sim... — Ela soltou um gemido diferente, que quase me fez
gozar. Segurei a sua bunda, incentivando-a a repetir os mesmos movimentos
e eu soube que estava tocando seu ponto G. — Damon... — Estava confusa,
porque certamente estava sentindo um prazer que não sentiu antes.
Nunca forcei o seu orgasmo através da penetração. Ela precisava se
conhecer e eu não queria machucá-la. Giovanna era virgem em muitos
sentidos e eu esperava que ela gostasse de transar tanto quanto eu, por isso
não tinha pressa. Em breve, estaria mais à vontade e nós dois tínhamos a vida
inteira para ter o outro.
— É assim mesmo... — Passei a mão pela sua barriga, beliscando o
seu mamilo, maravilhado com o seu corpo tomando o controle da situação em
busca do próprio prazer. Meu pau estava tão duro que parecia que ia explodir.
Minha bella estava rebolando gostoso, gemendo e eu soube exatamente
quando ela encontrou o próprio orgasmo. Foi a melhor visão da minha vida,
tê-la se contorcendo de prazer em cima de mim. — Que delícia, bella .
— Como isso aconteceu? — Seu olhar surpreso me fez rir. Sentei-
me e a mantive pertinho, ainda todo enterrado dentro dela. — Uau... —
Fechou os olhos.
— Quer deixar ainda mais intenso? — Encostei a minha bochecha
na sua. Sorrindo, apenas balançou a cabeça e seguiu as minhas instruções. Ela
montou em mim de costas, me dando a bela visão da sua bunda e gemeu
muito gostoso ao sentar de novo. Só que dessa vez, as minhas pernas estavam
dando-lhe apoio. Agarrei a sua bunda, intensificando os seus movimentos,
bem rude e cada rebolada, esfregava o clitóris na minha coxa.
Giovanna gozou de novo, muito mais intenso que a primeira e dessa
vez, gozei junto. Puta que pariu... Era tão bom. Minha mente entrou em
apagão completo por um tempo e acariciei suas costas. Estiquei as minhas
pernas e sentei-me, abraçando-a e saindo de dentro, deitamos juntos, de lado.
Ela se encolheu, virando de barriga para cima, respirando pesado e jogou as
pernas em cima de mim.
De lado, não conseguia desviar o olhar do seu rosto, beijei sua boca
repetidas vezes até prolongar o beijo, de um jeito calmo, não paramos de nos
beijar – ela gostava disso. Antes dela, não fui um homem de beijar, porque
tudo era sobre foder e não sobre ser carinhoso, ter uma conexão ou um
momento de intimidade. Era sexo cru. Com a Giovanna era diferente. Eu
precisava dos seus beijos como precisava respirar.
Não levou muito tempo para estar dentro dela de novo, de ladinho,
foi bem devagar e eu queria que ela gozasse mais uma vez e ao conseguir, me
deixei levar. Não fazia ideia porque estávamos tão necessitados.
Nós ficamos abraçados na cama, minhas mãos tinham vida própria e
eu não conseguia parar de tocá-la, amando que sempre que chegava perto dos
seus mamilos, ela se arrepiava. Seu olhar para o meu era o mais bonito, o
mais puro e era tão incrível a sensação de estar profundamente conectado a
outra pessoa. Conhecia seu cheiro, seu gosto e o seu corpo respondia ao meu.
Era tão intenso.
De repente, seu rosto amassou e ela começou a chorar. Cobriu com
as mãos e me assustei, pensando que ela estava sentindo dor, que talvez tenha
sido demais e por um momento, apenas fiquei em pânico.
— Gio, bella . O que foi, amore mio ? — Tirei suas mãos do rosto e
beijei seu dedo anelar com as suas alianças.
— Não quero que você morra, por favor, não me deixa. — Soluçou
baixinho, escondendo o rosto no meu peito. — Não quero te perder. Não
quero te ver dentro de um caixão... Por favor, não faz isso comigo.
Mesmo que fosse humanamente impossível prometer algo como
aquilo, Giovanna viu a sua mãe perder o seu marido, mesmo que ela não
gostasse do casamento dos pais, sabia que era uma dor, que ao estar casada
podia compreender. Beijei o seu rosto, acalmando o seu choro e mesmo com
os lábios inchados, a pontinha do nariz vermelha, os cílios e os olhos
molhados, era a criatura mais bonita do mundo inteiro.
— Não vou te deixar, mia bella . Serei para sempre seu e nós vamos
envelhecer juntos, eu provavelmente vou estar usando bengala antes de você.
Espero que não me deixe por um homem mais jovem. — Brinquei para
ganhar um sorriso.
— Você não é tão mais velho que eu assim, seu bobo. — Ela secou
o rosto, rindo. — Além do mais, você é capaz de matar o homem a
bengaladas.
— Isso é verdade. Serei sempre um idiota possessivo. — Provoquei
e ela revirou os olhos. Giovanna tentava conversar comigo todos os dias
sobre ser possessivo, e aí, ela saía de casa com um short que dava para ver o
seu útero com a sua bunda que não era nada pequena de fora e tinha a
população masculina torcendo o pescoço para acompanhar o seu andar. Era
impossível não ser ciumento.
— Quantas vezes teremos que conversar sobre isso? — Fingiu
brigar comigo. Dei um beijo de boca aberta no seu ouvido, fazendo um
barulho alto. — Caramba! Eu já te falei que odeio isso! — Eu sabia, por isso
que fiz. Sorri e ela bufou, enfiou o dedo na boca e para minha surpresa,
enfiou no meu ouvido. A Sandra fazia aquilo comigo desde que era um
moleque e eu odiava.
— Você está proibida de falar com a minha irmã! — Sacudi a
cabeça, todo arrepiado, odiava aquela merda. Giovanna tinha um sorriso
muito feliz no rosto e ataquei as suas costelas. Seu gritinho acordou os cães
em um raio de dez quilômetros, nem por isso parei, até que ela prometeu que
faria o meu prato favorito uma vez por semana.
— Idiota. Eu vou tomar banho. — Me empurrou, puta e saiu
batendo o pé. Fui atrás dela rindo, porque seu senso de humor mimado não
aguentava muita brincadeira. — Não vai tomar banho comigo!
— Vou sim, quem manda nessa casa sou eu. — Falei com a voz
grossa, só para ecoar no banheiro. Giovanna virou como se fosse a mulher do
filme O Exorcista . — É isso mesmo que você ouviu. Eu mando nessa casa e
em você. — Faltou sair fumaça dos seus ouvidos. Ela pegou o frasco do
xampu e arremessou em mim, tamanha a força, o vidro quebrou, explodindo
xampu pelo banheiro.
Caralho ... Ela tinha muita força com raiva. Comecei a rir, o que a
deixou ainda mais puta comigo e sem querer que me aproximasse. Ah,
Giovanna...
16
Gio.
Sonhar com sexo no meio de um chá para mulheres era pecado?
Porque eu estava sonhando com o sexo incrível com o meu marido.
Minha cunhada me cutucou porque provavelmente estava com uma
expressão muito entediada. Estava tentando ser doce, paciente e muito
simpática, mas aquele evento estava me dando sono e eu queria estar em casa
dormindo a tarde inteira. Como esposa do chefe, eu tinha que comparecer a
quase todos os eventos inventados pelas matriarcas e aquele chá sem
nenhum motivo aparente estava muito chato.
Ajeitei a gola da minha blusa de seda rosé e puxei um pouco da
minha saia de paetê rosa clarinho, cruzando as pernas.
Comi um biscoitinho e dei um gole do chá que estava frio. Minha mãe
parecia feliz por finalmente sair de casa, depois de mais de um mês após o
falecimento do meu pai. Estava toda de preto e achava muito blasé essa
roupa, mas ela estava se irritando à toa comigo, quase ranzinza,eu sabia que
era uma das fases do luto e estava respeitando. Não queria estar nesse evento,
era aniversário de vinte e sete anos do meu marido e eu estava ansiosa para
comemorar.
Enrico apareceu na sala e discretamente sinalizou para o seu telefone.
Entendi que era para pegar o meu e olhei, haviam milhares de mensagens do
Damon. Já estava esquentadinho porque não respondi, avisei a ele que o
telefone não ficava colado na minha mão. O estressadinho estava me
salvando de permanecer mais uma hora naquele evento, fui até a anfitriã, me
despedi e nem ofereci uma desculpa, porque era aniversário dele e ninguém
iria questionar.
Eu não precisava dar satisfação a ninguém.
Dentro do carro, tirei os meus sapatos e suspirei, balançando os meus
dedinhos. Enrico riu, me chamando de maluca por usar aqueles sapatos, me
deu um bombom e me levou para casa, estacionando na garagem e saí
descalça mesmo. Encontrei o Damon na cozinha, parecendo que havia
acabado de chegar, virando uma garrafa de água e me deu um olhar intenso.
Era sempre assim quando ele me via pela primeira vez no dia. Saiu quando
ainda estava dormindo, então, pulei em cima dele.
— FELIZ ANIVERSÁRIO, MARIDO! — Gritei e ele me pegou a
tempo e por sorte, se apoiou no balcão.
— Você é maluca. — Sorriu e beijei sua boca, ele enfiou as mãos
dentro da minha saia. — Que calcinha pequena, esposa. Não tinha uma saia
mais curta?
— Estou toda tapada em cima, tinha que compensar embaixo. Estou
linda, bem romântica e jovem.
— Essa calcinha não parece nada romântica. — Comentou contra a
minha boca. O safado queria sexo aquela hora do dia? Bem... era seu
aniversário. Eu estava pronta para mostrar a minha calcinha a ele quando seu
telefone tocou. Damon ficou sério. — Tenho que atender. — Me colocou no
chão e saiu, com o telefone no ouvido.
— Santo cazzo . — Murmurei meio frustrada.
Peguei a minha bolsa e fui para o nosso quarto. Pensei que ele fosse
subir, mas disse que precisava sair e nós nos veríamos a noite. Enviei uma
carinha brava, eu tinha um monte de paciência com a nossa vida, mas era o
primeiro aniversário dele como casados – ano passado, saímos para jantar
com a sua família e eu mal fiquei perto dele, mas pelo menos estava lá.
Mesmo se tivéssemos namorando dentro dos padrões normais, não
poderíamos ficar juntos.
Deitei-me para tirar um cochilo, mas pensei no último mês da minha
vida. Perder o meu pai foi um choque, fiquei meio sem saber o que sentir, me
senti muito mal e uma péssima pessoa por não ter sofrido como uma filha
decente sofreria. Eu ainda tinha tanta mágoa do meu pai que com o tempo,
meu amor por ele foi soterrado. Eu não confiava a minha vida ao meu pai,
porque ele provou que trocaria a minha pela dele muito facilmente.
A morte dele me abriu os olhos para a intensidade do elo de um
casamento: meus pais, apesar de tudo, passaram por muita coisa juntos. A
minha mãe viveu muito mais tempo com seu marido do que com os pais. Isso
me fez pensar no Damon, nosso casamento era tão jovem, estávamos apenas
a poucos meses juntos e eu já não me enxergava sem ele. Tudo que pensava
era em nós e ele me mimava tanto. Nas coisas mais bobas às mais
importantes.
Obviamente, ele era insuportável, queria poder sair mais com as
minhas amigas, ter tardes de besteiras, sair para praticar exercícios físicos – e
ele não deixava, dizia que era por enquanto, até que o Alonzo deixasse de ser
uma ameaça, mas eu tinha minhas dúvidas. Damon era ciumento, como eu
também era, estava tentando me controlar para poder cobrar controle dele,
mas era muito difícil quando ele ficava pelas casas noturnas até o amanhecer.
Ele me dizia que ele não estava lá para curtir, porém, a maior parte dos
empreendimentos eram de entretenimento adulto.
Ficava sem dormir quando ele avisava que estava no C Sex, era um
clube de sexo – legal – que oferecia festa de Swing, shows com mulheres
nuas, encenações de BDSM e a minha mente era muito fértil.
Iríamos comemorar o seu aniversário em um dos seus clubes de dança.
Era uma boate realmente luxuosa e muito disputada na cidade. Convidamos
algumas pessoas agradáveis e jovens. Damon me avisou que a festa teria
drogas e muita bebida, eu não deveria beber absolutamente nada fora do que
ele ou o Enrico me entregasse. Eu sabia que o Damon mataria qualquer um
que eu conversasse demais e planejava ficar quietinha, mas isso não
significava que não sairia de casa pronta para parar o trânsito.
Levantei-me na hora de me arrumar e caprichei no cabelo, deixando
ondulado com o babyliss e bastante spray, fiz uma maquiagem bem básica:
base, corretivo, blush, iluminador, delineador bem fino apenas para realçar o
olhar e bastante rímel nos cílios. Nos lábios, apenas um gloss de cereja, que
tinha um gostinho bom. Passei um hidratante perolado no corpo, meu
perfume favorito e o meu vestido...
Era rosê para dourado, de alças finas, com um decote agradável e
apesar de ser um pouquinho maior atrás, ia até o meio das minhas coxas.
Coloquei o colar escrito DAMON, minhas alianças, brincos pequenos e
minhas pulseiras de coração favoritas, que eram bem discretas porque o meu
vestido já era muito chamativo. Sentei-me na cama com cuidado, colocando
minhas sandálias brancas, de tiras e que me deixava muito gostosa. Fiz
algumas fotos na frente do espelho e uma selfie que o meu cabelo escondia a
minha roupa.
Avisei ao Enrico que estava pronta e fui para a garagem.
— Você quer que ele cometa um assassinato essa noite? — Enrico
bufou.
— Essa é a sua maneira de dizer que estou linda? — Provoquei e ele
ficou vermelho. — Relaxa, ele vai gostar. Além do mais, enviei uma foto
para ele. — Menti. Enviei a selfie, não a foto de corpo inteiro. Ele disse que
eu estava linda, pediu uma de corpo inteiro e eu não visualizei para não ter
que responder.
Era quase onze horas quando cheguei ao clube. Enrico parou o carro,
outro soldado levou o carro e alguns abriram caminho para mim na multidão.
A fila estava enorme. Não olhei para o lado, segurando nas costas do Enrico e
dentro da boate, fomos para um elevador privado, ao invés de seguirmos para
a escada que estava lotada.
Saímos em um andar mais vazio e era o terceiro da boate. O primeiro e
o segundo estava cheio, mas o terceiro tinha apenas os convidados do
aniversário do Damon. Madah não foi autorizada a vir porque não era casada,
mas a Bianca sim. Minha prima e cunhada estavam muito bonitas, mas ambas
usavam calças e blusas decotadas, no estilo de uma balada. Bianca cuspiu o
espumante quando me viu e a Sandra soltou uma gargalhada, pedindo para
dar uma voltinha.
Rodopiei até elas, abraçando as duas ao mesmo tempo. Acenei para os
homens conhecidos e mal olhei para os desconhecidos. O único que
realmente falei foi com o Frank, porque ele era meu cunhado e me olhava
como se fosse a sua irmã. Até o marido da Bianca escorregava nos sorrisos e
olhava demais, mas ele fazia isso com todo mundo – eu tinha a teoria que o
Damon discordava, que ele esquecia que estava olhando e ficava pensando,
sem desviar o olhar.
— Cadê o meu marido? — Perguntei para a Sandra.
— Desceu para fazer não sei o quê, estava na pista.
— Já avisou que cheguei? — Olhei para o Enrico e ele assentiu. Me
debrucei no parapeito, olhando para baixo e um grupo de caras começaram a
gritar, querendo chamar a minha atenção. Enrico apontou para onde Damon
estava e parecia cercado. Havia uma garota pendurada no seu ombro para
cochichar no ouvido dele.
— Pede para olhar para cima. — Cutuquei o Enrico, ele respirou fundo
e chamou no seu comunicador. Damon apertou um dedo no ouvido e olhou
para o alto. Seu olhar encontrou o meu. Nós ficamos sérios. Ele por ver a
minha roupa e eu por ter uma sem noção tentando se pendurar nele. Damon
falou algo no comunicador de volta.
— Ele pediu para te levar para o escritório.
Assenti, emburrada e o Enrico percebeu que eu estava fervendo. Andei
atrás dele, ereta, passamos por um corredor muito gelado e por fim, abriu
uma porta depois de digitar o código. Ele não entrou comigo, fechou a porta
atrás dele. Queria fazer a cabeça do Damon explodir, sem pensar direito, tirei
a minha calcinha e embolei todinha na mão. Escondi na primeira gaveta da
mesa que abriu, preservando a parte íntima para não tocar em nada. Me sentei
na sua mesa e cruzei as pernas.
Não levou dois minutos para entrar na sala e fechar a porta com força.
— Que porra é essa que você está usando?
Arqueei a sobrancelha.
— Quem era a vadia? — Rebati no mesmo segundo.
Damon sorriu maldoso.
— Uma bêbada cliente do clube.
— Parecia gostar do que ela estava falando.
Ele puxou o cabelo, me olhando com fogo nos olhos.
— Tanto que nem sei o que estava falando. Fica de pé.
Sorri, colocando o meu cabelo atrás da minha orelha.
— Não.
— Não? — Ele estava surpreso. — Giovanna, você acha que estou
brincando? Eu odeio essas roupas curtas, porra! Eu vi a sua calcinha lá
debaixo! — Berrou e soltei uma risada irônica, que provavelmente o levou a
beira da insanidade.
— Que calcinha? — Descruzei a minha perna e apoiei nas cadeiras à
minha frente. Meu coração estava martelando furiosamente no peito, mas ele
ia aprender sobre ter uma mulher falando no seu ouvido e ele dando
confiança.
Damon atravessou a sala tão rápido quanto um raio, parando entre as
minhas pernas e agarrou as minhas coxas, puxando para frente e arquejei com
o impacto. Ele agarrou o meu cabelo e quando ia falar alguma gracinha
possessiva, arranhei a sua nuca todinha, puxando o seu cabelo e diferente
dele, foi para doer. Ele fechou os olhos, todo arrepiado e mordi a sua boca.
— Você é meu marido. Meu marido. — Falei contra sua boca.
— Ciumenta do caralho. — Rosnou me beijando e agarrou a minha
bunda, me pressionando a ele de um jeito delicioso. Ele se afastou o
suficiente para enfiar a mão entre as minhas pernas. — Filha da mãe! Você
está sem calcinha, Giovanna!
— Você saiu quando estava prestes a ganhar sexo de aniversário, me
deixou em casa, doidinha por você e literalmente, chupando o dedo. —
Sussurrei manhosa, tentando abrir a sua calça, mas ele me empurrou.
— Quem vai chupar agora sou eu... A sala não é a prova de som. —
Disse e colocou a boca em mim, me chupando deliciosamente. Tentei me
apoiar na mesa, segurei o seu cabelo e os meus saltos estavam arranhando a
sua jaqueta. Damon ficou de pé, tirando a jaqueta e com pressa, abriu a calça,
abaixando a cueca e me pegou, metendo de uma vez só.
Vi estrelas com mais de uma sensação ao mesmo tempo. Foi o sexo
mais quente, cru e violento que tivemos. Percebi o quanto ele se segurava
mesmo nas noites que tínhamos um ritmo mais frenético. Apesar da
experiência nova, acabei gozando, mordendo o seu braço.
— Desce! — Uau, eu o empurrei demais. Desci da mesa e ele me
virou, levantando o meu vestido. — Curto demais... — Deu um tapa firme na
minha bunda e me inclinou para frente. Senti-o entrando por trás e puta que
pariu. — Caralho... Giovanna! — Segurou na minha cintura, metendo firme e
me puxou pelo cabelo, caramba, eu precisava irritá-lo mais vezes. — Você é
minha! — Mordeu o meu pescoço. — Minha mulher! Gostosa! — Fechei os
meus olhos, gozando de novo. Que porra estava acontecendo? — Isso, bella .
Goza gostoso... — Gemeu e tombei a minha testa na mesa, me sentindo fora
do mundo e ele gozou, senti seus impulsos dentro de mim porque aquela
posição me deixava incrivelmente sensível.
Damon me puxou para a cadeira, aninhando-me no seu colo e comecei
a rir.
— Olha só... Meu marido ficou louco. — Brinquei e beijei a sua boca.
— Você me deixa maluco... — Ele grunhiu, me abraçando. — Sou
louco por você, Giovanna. Não importa quantas mulheres apareçam na minha
frente, tudo que penso é em você.
— Eu também, Damon. Eu me visto assim porque quero te provocar, a
sua reação é a única que importa. E digamos, que a reação de hoje foi melhor
do que esperava. Caramba... Eu gozei sem que você me tocasse lá. Foi tão...
Quando podemos fazer de novo?
— Puta que pariu! — Ele começou a rir. — É só continuar assim que
vai ter mais. — Sorri e ele segurou o meu rosto, me beijando de um jeito bem
doce. — Você está linda. — Falou com sinceridade. — Muito gostosa... —
Abaixou o meu decote e chupou o meu peito. — Deliciosa... Eu te comeria
mil vezes com essa sainha balançando, brincando de pique esconde com a sua
bunda, mas por favor, não tente me matar no meu aniversário.
— Vou tentar, prometo.
Damon me levou para um banheiro e riu quando tirei a minha calcinha
da sua gaveta e ficou aliviado quando percebeu que era uma cuequinha que
cobria quase toda a minha bunda. Me ajeitei o máximo que consegui, meus
lábios inchados, o cabelo desgrenhado e o estado desalinhado que ele se
encontrava ficou muito óbvio para todo mundo que nós estávamos transando
ao invés de brigando.
— Amo ver meu irmão comendo na sua mão. — Sandra bateu sua taça
na minha. Eu ri, porque ela adorava perturbá-lo. Damon estava no sofá,
bebendo e falando com um homem que eu não conhecia bem e não tirava os
olhos de mim. Pisquei e soprei um beijinho, seu olhar brilhou e ganhei um
sorriso lindo de volta. — Assim vocês me matam!
Damon não ficou de palhaçada como achei que ficaria, todo o sexo
selvagem acalmou os seus ânimos, porque dancei com as meninas, bebi, tirei
fotos e ele ficou o tempo todo de olho. Sabia que não ficaríamos a noite toda,
porque ele queria ficar sozinho comigo, então, uma e meia da manhã, saímos
pelos fundos onde estava o seu Lamborghini huracán azul escuro, que tinha
um brilho apaixonante.
— Você está com fome? — Deu a partida no carro, o ronco deixando
um rastro na noite da cidade. — Quero te levar em um lugar, é um pouco
longe e acho que só vamos sair de lá de manhã.
— Então é melhor comprar algum lanche... — Encolhi os ombros.
Paramos em um Burger King, compramos um lanche e ele seguiu em
alta velocidade pela noite escura, com a música alta no carro e pela primeira
vez ele estava sendo apenas jovem, um pouco inconsequente, se divertindo
como um homem da sua idade e eu fiquei tão feliz de ter insistido em
comemorar o seu aniversário.
Nós saímos de Illinois e entramos na região oceânica de Indiana, não
passou uma hora de viagem e ele diminuiu a velocidade consideravelmente
ao passarmos por um bairro residencial e então, passamos por uma estreita
estrada que não dava para ver absolutamente nada em ambos os lados, fez
uma curva e parou no alto da praia. Era possível ouvir o mar e ver a espuma
branca na rebentação das ondas. A lua iluminava o suficiente para ver que era
uma praia grande, com algumas casas bem distantes, estávamos em um lado
deserto.
— Costumava vir aqui quando era criança e pensei que fosse gostar. —
Enfiou a mão atrás do meu banco e pegou uma garrafa de vinho e do porta
luva, dois copos plásticos.
— Isso que chamo de homem preparado. — Segurei os copos, ele
serviu até a metade de cada e deixou a garrafa no console. Puxou seu banco
para trás e bateu na sua coxa, querendo que me sentasse em seu colo e fui
com prazer.
Nós passamos a noite bebendo vinho, aos beijos, conversando e
quando estava quase amanhecendo, saímos do carro. Sentei-me no capô, para
admirar o nascer do sol, mas... eu nunca imaginei que um dia, na minha vida
de casada, faria sexo em cima de um carro de luxo, com o sol nascendo e
meu marido me mostrando mil e uma maneiras que poderíamos ter uma vida
louca, intensa e apaixonada... juntos.
17
Gio.
Damon parou do meu lado e colocou a mão na minha cintura,
efetivamente marcando a sua presença e intimidando o homem que tinha
idade para ser o meu pai que, descaradamente, não sabia se portar na
presença de uma mulher bonita e só a respeitava com o seu marido por perto.
No caso, o meu marido poderia atirar bem no meio da testa dele que eu não
me importaria, só por causa de tanto comentário nojento disfarçado de elogio
e risadas engraçadas.
Aquele idiota estava pensando o quê? Que eu trocaria a barriga
tanquinho do meu marido, seu pênis incrível, suas mãos poderosas por aquela
barriga de barril e dedos de salsicha? Respirei fundo e bebi mais um pouco
do meu espumante, saindo de perto logo que o Damon tomou controle da
situação. Se eu reclamasse com a minha mãe ou qualquer outra mulher, elas
colocariam a culpa em mim, porque estava usando um lindíssimo vestido
vermelho, de cetim, justo ao meu corpo, marcando bem a minha cintura e
longo até os pés.
O mais impressionante dele foi que o próprio Damon me deu de
presente. Em um dia da semana passada, ele ligou e perguntou qual era o meu
número, respondi e ele desligou na minha cara. Fiquei ligando de volta até
que chegou em casa com a bolsa da loja. A única coisa que ele me pediu foi
para fechar um pouco do decote, eu fiz, mas não muito. Não tinha culpa de
ter casado quando mal saí das fraldas, não ia me vestir como se tivesse
quarenta anos. Minha prima Bianca se vestia bem, mas parecia uma freira,
querendo equiparar a sua vestimenta com a idade do seu marido.
Definitivamente não era para mim.
Sorri para algumas pessoas no meu caminho e parei na mesa do buffet,
olhando se estava tudo certo e a minha cunhada parou do meu lado.
— Está tudo bem?
— Sim, seu irmão me salvou de cometer um assassinato no jantar de
aniversário dele e o meu primeiro evento como matriarca dessa família. —
Olhei para o salão e as pessoas pareciam satisfeitas.
— Não fica chateada, eles são uns abutres.
— Pensei que fosse dizer que a culpa é minha por estar bem
vestida.
— Sabe que não sou esse tipo de pessoa, Giovanna. Você é linda e é
jovem, tem a mente muito mais aberta que a maioria das mulheres e
convenhamos, culhões para enfrentar o seu marido. Até porque, sabe o mato
que tira lenha. — Piscou e pegou uma taça de espumante para mim, porque a
minha estava quase vazia. — Relaxa, está tudo perfeito! Você arrasa!
Minha cunhada saiu de perto e foi conversar com algumas mulheres,
uma das mais chatas das amigas da minha mãe se aproximou, com seu sorriso
puxado por botox. Olhei para o Damon do outro lado da sala e era melhor ele
estar do meu lado em dois segundos. Deus... eu não era boa com pessoas.
Meu marido não podia ser um contador chato muito antissocial? Não
aguentaria ser casada com um cara sem graça, mas pelo menos não me
encheria o saco ter que ser simpática com tanta gente chata.
Para melhorar, ela era esposa do homem que estava me irritando.
— Você cresceu e se tornou uma mulher tão linda. — Comentou
bebendo o seu vinho de um jeito bem elegante. — Está magnífica nesse
vestido lindo...
— Obrigada, Sra. Lombardi.
— Vocês dois formam um casal lindo... — Seu tom começou a ficar
ácido. — Desejo que tenham uma vida mais plena e longa juntos, afinal, seria
realmente terrível uma mulher tão jovem se tornar viúva e ser obrigada a se
casar novamente.
Virei-me de frente a ela bem devagar e apoiei minha taça na mesa ao
meu lado. Seus olhos se arregalaram quando me inclinei.
— Cuidado, Sra. Lombardi. Seria uma pena se o seu marido ficasse
viúvo e se casasse com uma mulher muito mais jovem e tivesse seu tão
sonhado herdeiro. — Peguei um martini que o garçom parou para nos servir.
Enfiei a azeitona na boca. — Vida longa a vocês dois! — Ergui a minha taça,
dei um gole e saí de perto.
Passei direto para a cozinha e virei toda a minha bebida de uma vez
só. Os garçons estavam arrumando as bandejas com alguns salgados finos,
peguei um pratinho, uma taça de vinho e saí pelos fundos.
Precisava de um tempinho sozinha. Me escondi no gazebo, para comer
em paz e poder beber meu vinho sem ter milhares de pessoas contabilizando
quantas taças bebi. Mordi uma quiche e gemi, merda, por que era tão bom?
Toda comida estava deliciosa. Tirei as minhas sandálias, esticando as pernas
no banco-balanço, comi tudo, coloquei o pratinho no chão e ficaria ali até
terminar o meu vinho...
Infelizmente, ele acabou rápido demais. Voltei para a festa e me
comportei como uma mocinha educada, Damon me olhou algumas vezes,
querendo saber se estava tudo bem comigo, mas eu não correspondia os seus
olhares e mantive a minha cabeça erguida até o último convidado sair.
Quando o Enrico sinalizou que iria vasculhar a propriedade para
verificar se estava tudo fechado corretamente, dei as costas para os dois e
subi as escadas. Entrei no meu quarto, fechei a porta, joguei as sandálias no
fundo do closet, arranquei o vestido, tomei um banho rápido e me joguei na
cama.
Senti o Damon me abraçar quando ele veio para cama, mas, estava
mais dormindo do que consciente e quando acordei na manhã seguinte, ele já
tinha saído. Era uma sexta-feira, então, ele tinha muito que fazer na rua.
Me arrumei para minha consulta médica e em seguida, faria compras
de mercado. Como ficava muito tempo em casa, acabava comendo muita
besteira de delivery e precisávamos de comida de verdade. Fazia um tempo
que dispensava o auxílio da Marcela, vistoriando e ajudando a limpeza da
casa sozinha.
Escolhi um macaquinho jeans, uma camisetinha cinza escura e meu par
de tênis all star favoritos. Arrumei a minha bolsa e desci a escada com a
minha pasta de exames nos braços. Mandei uma mensagem para o Enrico
avisando que precisava sair e não demorou dois minutos para aparecer na
cozinha.
— Não sabia que iria sair. — Ele estava com o cenho franzido.
— Tenho que ir na Dra. De Luca, estou com hora marcada.
Desculpa por não avisar antes. Vai poder me levar?
— Claro. Está tudo bem?
Sua preocupação me deixou confusa.
— Vou saber quando chegar lá. — Sorri e peguei um pacotinho de
pop-tarts e uma garrafinha de iogurte.
Saímos de casa depois de alguns minutinhos e fui comendo no
caminho, não levou muito tempo para chegarmos ao consultório. Enrico me
acompanhou na recepção, mas não entrou comigo no consultório.
A Dra. De Luca leu todos os meus laudos , estava tudo bem com os
exames de imagens e nós falamos sobre o quanto ficava insuportável no meu
período menstrual, exatamente como estava naquela semana. Devido a pílula,
nem todo mês a minha menstruação descia, quando vinha, era muito pouco e
não tive mais cólicas, exceto: dor nos seios, na cabeça, enjoo e um mal humor
que não me aguentava.
Rindo dos meus relatos assassinos, me receitou um calmante natural
para manter o equilíbrio e me aconselhou a não descontar na comida, ou o
enjoo não iria passar. Fazia todo sentido ficar enjoada se eu não parava de
comer doces... Ao terminar, Enrico estava em pé do lado de fora da porta, de
braços cruzados, olhando emburrado para a mulherada e eu vi uma delas
olhando-o de um jeito…
— Ah, fez sucesso.
— Podemos ir embora?
— Claro, vamos sair daqui antes que alguma delas decida ficar com
você. — Provoquei e ele foi saindo sem olhar para trás.
Saímos do prédio comercial e apenas na metade do caminho que ele
me avisou que o Damon me queria em seu escritório. Olhei a hora e suspirei,
dormi a manhã inteira, acordei quase na hora do almoço e levei tempo demais
na consulta. Ainda precisava fazer algumas coisas e o Damon não podia
estalar os dedos e me querer na sua frente. Já ficava muitos dias
completamente a sua disposição.
— Não vai dar, Enrico. Tenho que ir ao mercado e depois, preciso
levar algumas coisas na minha mãe. Vai ficar tarde. Por favor, me leva ao
mercado primeiro.
Avisei ao Damon que não poderia passar no escritório, me distraí
procurando a lista e ao chegar no mercado, esqueci de olhar a sua resposta.
Mercado era um evento que me estressava, metade do meu cérebro pedia para
ser responsável e a outra metade enchia o carrinho de besteira. Comprei
frango, peixes e pacotes de massas italianas tradicionais porque eu tinha
muita preguiça de fazer do zero.
— Enrico? Qual carne é mole? — Parei em frente ao freezer de
carnes. — Tudo parece igual e sangrento, como vou saber?
— Essa para ossobuco, essa para costela na panela de pressão e essa
serve para bifes, você pode assar que vai ficar muito bom. Essa aqui para
fazer ensopado... — Ele foi apontando e eu fui jogando no carrinho. Peguei
alguns temperos e empurrando o carrinho para pegar chocolates, encontrei
uma sessão de sementes e coisas para jardinagem.
Fiquei um tempão escolhendo sementes, cheguei a sentar no chão, pedi
informação e comprei um monte de coisa para plantar. Já que ficava muito
tempo em casa e tentei encontrar algum interesse para estudar, não ficando
empolgada com nada além de passar horas e horas rodando na internet, decidi
que tentaria a jardinagem. Poucas mulheres da família eram autorizadas a
fazer uma faculdade, até o internato, fui educada em casa.
Mesmo que me formasse em algo, não poderia exercer a profissão
devido a posição do Damon. Como sua esposa, era esperado que ficasse livre
para acompanhá-lo e convenhamos, não queria deixar de ir atrás dele porque
eu amava viajar. Já estava com saudades da Itália e esperava um retorno em
breve. Damon me prometeu que da próxima vez, poderíamos esticar alguns
dias em Paris, que era o meu sonho conhecer.
Só que, quando estávamos em casa, ficava boa parte do dia
desocupada, pensando merda, obcecada por cada matéria que saía o nome
dele e poucos dias antes do seu aniversário, dei uma crise de ciúme realmente
histérica com a capa de uma revista em que ele estava muito próximo de uma
modelo, dançando e falando algo que eu sabia que era sacana. O que o salvou
foi: Enrico estava poucos passos atrás e careca e a modelo estava fora do
país.
Fiquei um pouco envergonhada com a minha crise e me senti a
criatura mais imatura do universo, pedi desculpas e não falei mais sobre isso,
me ocupando com os preparativos do jantar.
Ao chegarmos em casa, estava exausta. Minha mãe falou tanto na
minha cabeça, assuntos tão diferentes que no final eu não fazia ideia qual era
o assunto de fato. Deixei as frutas que pediu e vim embora. Guardei as
compras, tirei os meus tênis e pensei em fazer um ravioli ao sugo com molho
de tomate caseiro fresquinho que a minha mãe me deu. Com tanto tempo
livre, ela estava com potes e potes de molhos na geladeira. Peguei dois de
cada, deixaria ao pesto congelado para outro jantar.
— Algo cheira muito bem aqui, hum... — Damon entrou na cozinha
e ergui o meu olhar da panela.
— Não te ouvi chegar. — Franzi o cenho.
Damon parou e enfiou as mãos no bolso, ficando sério.
— Cheguei tem dois minutos e entrei pela frente, passei no
escritório e vim aqui. Está bem?
— Claro... Normalmente você não vem em casa nas sextas-feiras.
— Estou de folga. Vou ficar em casa até segunda-feira a noite,
quando precisar olhar a contabilidade do final de semana. Só vou sair com
você ou se acontecer algo extraordinário...
Não consegui esconder a minha alegria. Final de semana era muito
difícil vê-lo em casa, o tempo todo na rua e eu não tinha pique para ficar indo
atrás dele na boate e ele não gostava que ficasse tão exposta na rua, nesse
quesito, tinha razão. Era um risco que corria desnecessariamente. Damon
sorriu e relaxou com a minha reação, deu a volta no balcão e me abraçou,
beijando a minha bochecha e eu não podia parar de mexer ou a massa iria
grudar na outra.
— Está tudo bem com você? Tenho te achado muito estranha...
Ainda está chateada com a revista? Foi uma armação de um idiota e eu já
resolvi. Hoje foi ao médico, não sabia que tinha uma consulta, o que está
acontecendo? — Enfiou as mãos dentro do meu macaquinho jeans e cruzou
na minha barriga.
— Não foi nada demais, apenas uma consulta de rotina e mostrar
exames, esqueci de avisar. Não estou chateada, acho que estou meio...
carente. Estou feliz que vai ficar em casa. — Ergui o meu rosto e beijei os
seus lábios.
— Se você estiver doente, promete que vai me contar? — Perguntou
bem baixinho. — Não importa o que for, me conta e nós vamos passar por
tudo juntos.
— Estou bem. Ela só pediu para comer menos doces no período
menstrual que vai aliviar o enjoo e me receitou um calmante natural para não
dar uma crise como aquela. — Sorri para aliviar o clima e ele queria que eu
dissesse as palavras. — Eu prometo, que se um dia ficar doente, irei te
contar.
— Obrigado. Ainda preciso fazer uma ligação para Nova Iorque.
— O jantar vai estar pronto em trinta minutos.
Assim que ele saiu, escorri o ravioli, lavei, deixei na travessa e o
molho ainda na panela. Cortei o queijo provolone e encaixei no ralador,
arrumei a mesa da cozinha mesmo, com a minha louça de porcelana
específica para a receita, taças de água e vinho. Desci para a adega,
procurando um merlot porque era leve e com boa acidez para acompanhar o
molho de tomate. Deixei tudo prontinho e subi correndo para o meu quarto,
tirando a minha roupa, tomei banho, vesti um conjunto de roupas íntimas
bem sexy que ganhei da minha cunhada e meu roupão de cetim.
Sexy e casual.
Desci a escada e ouvi a voz dele, estava subindo a escada por dentro do
quarto em frente ao seu escritório.
— Não sei realmente o que você vai fazer, mas essas são as duas
opções. Tenho que ir agora, nos vemos em alguns dias. — Sua voz foi
sumindo e liguei o fogo para voltar a aquecer o molho.
Damon entrou na cozinha usando uma calça de pijama, cheiroso e com
o cabelo molhado, exibindo o seu peitoral muito bonito. Terminei de montar
os nossos pratos, decorando com uma folhinha de manjericão.
— Ouvi o finalzinho da sua conversa, estava falando com quem? —
Coloquei os pratos na mesa. Damon deveria estar com fome porque mal
tirava os olhos da comida. — Abra o vinho, por favor.
— Estava falando com o meu primo. — Puxou a rolha, serviu um
pouco em cada taça, cheirou e bebeu. — Nós iremos para a Itália ou para
Nova Iorque em alguns dias.
— É mesmo? Algum evento em especial? — Me animei porque eu
não conhecia a cidade e queria ter a oportunidade de ir lá para passear.
— Sim. Iremos a um velório.
Fiquei confusa, mas não quis saber quem iria morrer. Eu não queria
assuntos tensos e nem ter informações demais no nosso final de semana de
folga. Aquele momento era sobre nós dois e não a família, deixaria para me
preocupar com quem iria morrer quando a pessoa morresse.
— Nossa, Giovanna. Está maravilhoso... — Damon não parava de
comer. — Seu molho de tomate está muito gostoso. A massa bem fina. —
Mordi o lábio, ainda bem que joguei fora a embalagem que comprei do
mercado e ele pensava que era a massa caseira que fiz semanas atrás.
Ainda bem que a do mercado estava tão boa quanto a minha. Não
mencionei que o molho era a minha mãe que fazia porque tinha vontade de
dormir só de pensar em escolher trezentos tomates e passar dois dias
cozinhando. Aceitei os elogios e não falei mais nada, ele não precisava saber
de todos os meus truques.
18
Damon.
O sol estava brilhando lá fora, mas não seria um dia quente. Deixamos
as portas da varanda abertas durante a noite, porque ao entrarmos, pensar em
fechar foi a última coisa que passou na minha cabeça. Foi uma noite fresca,
muito bonita e não precisamos ligar o ventilador ou o ar condicionado.
Afinal, estava chegando a época mais fria do ano. Olhei para o lado e
observei o rosto sereno, adormecido e lindo da minha esposa. Giovanna
parecia mais relaxada e feliz que na semana passada e eu estava me sentindo
mal por passar tanto tempo longe.
Giovanna ficava muito tempo sozinha. Frank me disse para termos
filhos logo ou dar a ela cachorros, porque ela precisava se ocupar com algo
ou começaria a fazer besteira. A mente dela era uma oficina de fazer merda.
Ciumenta, me deixava maluco com os seus beicinhos sobre qualquer mulher
em um raio de 500km. A maior parte do seu ciúme vinha do fato que o seu
pai traía muito a sua mãe. E provavelmente, isso era algo que machucava as
duas.
Traições e amantes eram comuns na família, a maioria dos homens
tinham o prazer em ter duas mulheres. Para ser honesto, eu não entendia.
Giovanna me deixava maluco, ela parecia ter personalidades o suficiente para
trinta mulheres, não podia me imaginar aguentando mais uma no dia-a-dia e
quanto ao sexo, a minha mulher era incrível em todos os sentidos da palavra.
Sorri para a maneira que ela fez um beicinho e se mexeu na cama,
descobrindo-se e expondo seus peitos perfeitos, que ficaram arrepiados e ela
suspirou, agitando os cílios e abriu os olhos. Seu olhar parecia meio perdido
por um tempo, sua mente ainda acordando e então a sua mão veio para o meu
peito subindo assim como o seu olhar, que ao encontrar com o meu, pareceu
muito feliz em me ver. Eu amava receber aquele olhar. Era um dos meus
favoritos e não perdia para o seu olhar depois de gozar.
Giovanna estava feliz em me ver na cama, porque normalmente ela
acordava tarde e eu já não estava ao seu lado há muito tempo.
— Buongiorno, bella .
— Hum... Você está na cama. É muito cedo? — Se aproximou e deitou
a cabeça no meu peito. Sua voz estava baixa e rouca, cheia de sono.
Não dormimos muito essa noite. Estava acostumado a dormir pouco, nunca
fui de ter muito sono, desde pequeno era agitado demais para dormir e depois
de iniciado, dormir significava estar de guarda baixa.
— Não, estava te esperando acordar. — Beijei a sua testa e ela colocou
a perna em cima da minha, tomando consciência que estávamos nus.
Giovanna apagou depois de todo o vinho e sexo, ela tomou banho já meio
letárgica e simplesmente deitou, dormindo dois segundos depois.
— Eu gosto disso. — Beijou o meu peito. Peguei a sua mão e beijei a
palma, escorregando na cama para o meu rosto estar próximo ao seu. — Amo
acordar com você. — Seu sorrisinho dizia que ela amava sexo pela manhã.
Beijei a sua boca, nos rolando na cama e fiquei por cima. Giovanna era fogo
e eu a gasolina, um toque e tudo explodia. Não levou muito tempo para
estarmos incendiando a cama, batendo contra a parede e fazendo um barulho
de um casal que gostava muito de sexo.
Estar dentro dela era o meu paraíso. Segurei a cabeceira, mantendo um
ritmo muito gostoso, quase gozando e me perdi completamente quando ela
olhou nos meus olhos e mordeu o lábio. Gozei forte e deitei a minha cabeça
entre os seus seios, ela passou a mão no meu cabelo, recuperando a
respiração e seu corpo ainda estava estremecendo... Sentei-me, só para vê-la
descer do seu orgasmo e parecer satisfeita. Sua bocetinha estava gotejando o
meu esperma, beijei o seu joelho e ganhei um sorriso amoroso de volta.
Ficamos na cama por horas conversando. Giovanna era dona das
ideias mais loucas e histórias sem fundamento, mesmo assim, gostava de
ouvi-la. Essa era uma das coisas que me assustava antes do casamento,
porque nunca fui de falar muito, não com mulheres. Meu contato com o sexo
feminino era com um propósito e eu nunca precisei falar muito para foder.
Casado era outra história e eu não tinha problemas em manter um
diálogo com a Gio. Ela tinha os seus momentos, que gostava de ficar na dela,
ouvindo música, assistindo um monte de série chata ou filmes de romance.
— Juro que se você rir de mim, eu vou te morder. — Ameaçou e a
olhei, divertido, esperando a bomba que viria a seguir. — Sua irmã foi me
visitar uns dias antes de fazer a minha prova para tirar a habilitação. Ela me
disse: vamos dar uma volta no meu carro novo. Eu fui toda empolgada...
— Sandra deixou você dirigir o carro dela sem habilitação? Que
responsável! — Ironizei.
— Eu tinha a autorização provisória, bobo. — Revirou os olhos. —
Nós ficamos em uma estradinha perto da escola mesmo, de repente, um
esquilo atravessou a ruazinha correndo e em seguida, o carro fez um
solavanco como se a roda tivesse passado em cima de algo. Comecei a gritar,
ela sem entender gritou também, esqueci da direção e nós caímos em uma
vala. Os soldados que estavam fazendo a segurança dela saíram do carro de
trás, já com a arma em punho e eu dei uma crise de choro porque tinha
matado um esquilo. Na verdade, passei em cima de uma pedra e quase nos
matei por causa disso.
— É por isso que não te deixo dirigir. — Provoquei, ela suspirou
dramaticamente e mordeu meu braço. As mordidas dela doíam muito. —
Bruta. — Bati firme na sua bunda.
— Eu vou tomar banho para irmos explorar ao redor. — Então, ficou
séria. — Será de mal gosto fazer isso?
— Acho que quem está de luto, não está na propriedade.
— Tudo bem! — Sorriu e foi empolgada para o chuveiro.
Vesti uma calça e fui para a varanda. Fiquei admirado com os campos
de uvas, bem desenhados e havia pessoas andando entre eles. Estava na Villa
Valentinni. Giovanna e eu desembarcamos na Itália no dia anterior pela
manhã, ela foi direto para a residência principal, ficar com a Juliana com
muitos soldados fazendo a segurança de ambas. Eu fui direto para a capela,
para o velório do meu Tio Lorenzo. Ocupei o meu lugar ao lado do Enzo e do
meu avô, Vicenzo Di Rafaelli.
Era o terceiro filho que ele enterrava, começando pela minha mãe, sua
única filha e caçula, mês passado foi o Cosimo, mas ele era o único presente
porque ninguém queria estar no enterro dele, afinal, foi o seu próprio “filho”
que o tirou a vida e agora, Lorenzo, que suicidou-se há três dias em sua casa
na Toscana.
Enzo e eu chegamos a um acordo: as coisas estavam uma completa
bagunça e eu não gostava disso, não queria entrar em uma guerra com o meu
próprio sangue. Em diversos momentos na nossa vida, apesar de sermos de
ligações diferentes da máfia italiana, pudemos contar com o outro. O acordo
de paz foi feito com o casamento dos meus pais e eu não queria ser aquele a
quebrar, então, alguma atitude precisava ser tomada. Pressionei o Enzo em
relação ao seu pai e não me arrependia.
Lorenzo ajudou o seu irmão Alonzo em planos que iam contra o maior
juramento de sangue da família. Arquitetou o assassinato do meu pai por não
ter concordado com os planos e estava perto de contar para mim e para o
Enzo. Lorenzo também sabia que o Alonzo tinha planos de matar a Juliana,
sua nora, e no final, soube que o Alonzo vendeu a morte do Enzo. Nós
estávamos muito felizes que o meu primo estava vivo, mas eu o conhecia
muito bem. Enzo poderia estar mais calmo, mas a besta ainda vivia dentro
dele.
Não precisávamos de mais problemas, apenas soluções. Para tirar-lhe o
peso, dei a ele duas opções: ou o pai dele tirava a própria vida ou eu iria tirá-
la. Lorenzo escolheu tirar a própria vida.
O velório não foi exatamente triste. Enzo estava bem, com o sorrisinho
irônico no rosto. Meu avô nunca demonstrava nada, sua cara enrugada era
dura e irritante. Tia Amber estava serena, como quem já sabia que aquilo iria
acontecer. Minha prima Carina estava lá apenas de corpo, a sua mente parecia
longe e o Emerson, não parecia se importar. Isso que dava ser um pai de
merda.
Fizemos toda a cerimônia fúnebre tradicional e ele foi enterrado no
cemitério da família. Juliana não foi ao enterro e a noite, Enzo e eu voltamos
para o vinhedo. Decidimos que podíamos conversar no dia seguinte, ambos
ansiosos para ficarmos com nossas esposas.
Giovanna estava na casa que nos foi oferecida, meu primo disse que
entendia que éramos recém-casados e quis nos dar toda a privacidade.
O vinhedo era um lugar lindo e podia entender porque a Gio estava
louca para sair.
Voltei para o quarto quando ouvi umas batidas de uma música
familiar, entrei no banheiro e a Giovanna estava dançando no chuveiro. Seu
quadril movia com perfeição, rebolando, de costas não via que estava quase
babando ao vê-la descer as mãos pelo corpo, cantando a música. Ela gostava
de ritmos sensuais, músicas que falavam de sexo explícito e a sua playlist era
sempre para maiores de idade.
— Não vou me importar se dançar assim para mim. — Encostei-me na
pia.
Giovanna virou e sorriu.
— Vem tomar banho, porquinho.
— Quando você sair. Se eu entrar aí, vou te comer de novo.
Casei-me com uma espertinha porque ela arqueou a sobrancelha.
— Tá com medinho de não aguentar? — Desafiou e tirei a minha
calça, foda-se. — Calma, era brincadeirinha. — Parou de rir quando beijei a
sua boca, pressionando-a contra parede.
— Quem não vai aguentar agora?
Quando nós finalmente saímos da casa, andamos de mãos dadas até o
casarão principal, passando pelas milhares de pessoas que viviam ali. Era
uma comunidade intensa. Enrico estava desconfortável, sabia que para ele e
para os meus soldados era muito difícil ficar entre tantas pessoas que eles não
confiavam, mas, até aquele momento estávamos do mesmo lado. Com a
morte de quase todos os patriarcas principais da família (faltando Alonzo),
era o momento de desenhar novas linhas.
Era o momento de um novo acordo de sangue ou... repartição total.
Entramos pelos fundos e encontramos Enzo e Juliana na mesa da
cozinha. Ele estava rindo e ela emburrada, parecendo ignorá-lo.
— Grazie à Dio ! Alguém para distrair essa criatura irritante! —
Juliana puxou a cadeira ao seu lado, para Giovanna sentar-se. — Tira o seu
primo de perto de mim. — Pediu e pelo seu rosto vermelho, estava irritada de
verdade.
— Você se casou com ele. — Encolhi os ombros.
— São os hormônios que estão em fúria. — Enzo continuava rindo.
Sabia que ele não tinha amor à vida mesmo, não era novidade. — Dormiram
bem, pombinhos? Pela hora, imagino que não tenham dormido muito.
— Dormimos bem. — Giovanna respondeu, tímida com as
insinuações.
— Dormiram? Esse lado ele puxou da família do pai dele, esses
Galattore’s... — Enzo suspirou e ignorei, ele era chato assim desde pequeno.
— Cala a boca, Enzo. — Juliana bateu nele. — Ignore. Ele gosta de
deixar todo mundo sem graça com suas insinuações sexuais.
— Vocês estão comendo agora, imagino que não dormiram muito. —
Provoquei e ele bufou. Juliana lhe deu um olhar de crítica.
— Gostaria de ter sido pelo mesmo motivo pelo qual a sua pele está
brilhando, mas a Amália odeia dormir. — Reclamou e eu ri.
— Essa é a paternidade. — Debochei.
— Quando o bebê nascer, sei que nunca mais irei dormir. — Juliana
grunhiu e nós rimos. — Ela chorou a noite toda... Só dormiu quando a
levamos para o quarto conosco, mas aí ela parece uma lutadora de karatê.
Chuta para todo lado, vira como uma estrela e uma coisinha pequena daquela
é capaz de ocupar a cama inteira.
— Um espirro de gente muito espaçoso. — Enzo serviu-se com mais
café. — Aproveitem.
— Hum... Espero que a gente aproveite bastante. — Giovanna não
parecia disposta a perder o seu precioso sono e eu estava muito grato.
Definitivamente não estava pronto para ser pai.
— Tenham um cachorro antes... Nós caímos de paraquedas nessa. —
Juliana comentou e passamos a refeição falando sobre o quanto a vida deles
mudou com a chegada da Amália. E falando nela, a menininha de cabelos em
pé e grandes olhos castanhos apareceu na cozinha chorando no colo de uma
senhora que a Juliana apresentou como sua tia.
As mulheres saíram, foram para o quartinho da menina. Giovanna
estava louca para brincar com a menina. Ela gostava de crianças, só não
queria ter filhos nos próximos anos. Era um problema para muitos,
principalmente que eu tinha que assegurar um herdeiro, mas eu não estava
preocupado e não traria uma criança ao mundo por isso.
— Já decidiram sobre ela? — Perguntei ao Enzo, referindo-me a
Amália.
— Sim... Já entramos com o processo de adoção e falei com as pessoas
certas, não vai levar muito tempo para que seja oficial. A coisinha é chorona
e não gosta de dormir, mas é bonitinha.
— Só você para chamar a sua filha de coisinha.
Enzo ficou em silêncio.
— É hora de começar um novo ciclo nessa família.
— Concordo plenamente. — Recostei-me na cadeira, olhando-o.
— Morrer me deu uma visão diferente da vida, se é que me entende. A
minha ausência me fez abrir os olhos para muitas coisas, sobre o impacto da
nossa vida nas nossas mulheres, o futuro dos filhos, minha irmã... Fomos
traídos pelo nosso sangue. Somos acostumados a ser traídos por muitos,
menos por aqueles que temos uma ligação genética.
— E o que vai ser agora?
— Você esteve ao lado da minha mulher mais do que qualquer pessoa,
se arriscou para salvar a vida da minha mãe e apesar do nosso parentesco,
poderia não se envolver e aproveitar o momento de fraqueza. Você se
mostrou família, Damon. A minha verdadeira família. Com isso, eu proponho
uma nova aliança, diferente da que foi feita com o casamento dos seus pais.
— Ele tirou um canivete do bolso, tirei o meu. Nós colocamos nossas armas
na mesa. — Seremos a mesma família. Prometo proteger a sua mulher e os
seus filhos com a minha vida assim como você protegeu a minha mulher e as
minhas filhas com a sua.
Arqueei a sobrancelha surpreso.
— O bebê é uma menina?
Enzo abriu um sorrisão.
— É, homem. Vou construir um forte. — Brincou e abriu o canivete.
— Aprendi que não posso fazer isso sozinho e não quero renunciar à minha
vida. Seremos dois ao invés de lutarmos com o outro para sermos um. —
Enzo cortou a palma da sua mão e apoiou o cotovelo na mesa. — Queimarei
no inferno se trair esse juramento de sangue.
Peguei o meu canivete e abri, cortando a minha palma.
— Família em primeiro lugar. — E nós apertamos nossas mãos sem
desviar o olhar do outro.
— Que bonitinho, vocês vão se beijar agora? — Juliana voltou para a
cozinha com Amália em seu colo. Enzo grunhiu e eu ri. Ela encontrou o
momento perfeito para debochar. — Guardem essas coisas, é aqui que nós
comemos e eu vou dar o almoço da Amália agora. — Castigou e ri mais
ainda. Giovanna me abraçou, em pé atrás de mim e pegou a minha arma,
enfiando na minha calça. Enzo fez o mesmo, meio emburrado, mas sorriu
quando sua esposa colocou a garotinha recém-banhada em seu colo. — Já
falou com ele?
— Acabamos de trocar fluídos sanguíneos, o que mais você quer? —
Provoquei o meu primo, que não tirava os olhos da menininha e beijou a
cabecinha dela. Juliana pegou um pote da geladeira e em seguida, uma
panela. Enzo sorriu para a filha e para mim.
— Para firmar ainda mais essa nova aliança, gostaríamos de saber se
vocês dois aceitam ser padrinhos da Amália. Ela será batizada na capela que
nós nos casamos, aqui mesmo, logo que seu nome mudar para Maria Amália
Di Rafaelli. O Maria é em homenagem à Giovanna, se ela aceitar.
Na dica, ela olhou para mim e exibiu um sorrisinho muito bonito.
Olhando para minha esposa, esticando os bracinhos.
— Tia Gio! — Chamou, querendo colo. Minha esposa não hesitou em
pegá-la e pela primeira vez, senti uma felicidade no peito ao vê-la segurando
uma criança com tanto carinho.
— Acho que não vai demorar muito para a Giovanna... — Enzo
começou e chutei a perna dele, para calar a porra da boca. — Engravidar. —
Continuou sem se abalar e a Gio ficou vermelha, saindo de perto com a
menina.
— Nós aceitamos, é uma honra. — Falei com a mão no meu coração.
19
Gio.
Encostada na soleira da porta da varanda do meu quarto, olhando o dia
se despedir e estava um friozinho. Bebi o meu chá e ouvi barulhos de carros.
Suspirei e fui na ponta dos pés para a varanda, porque o chão estava muito
gelado, na outra ponta conseguia ver parte da garagem, o armazém da piscina
e o telhado do armazém que tinha uma descida para o subsolo, era lá que
havia algumas coisas da família e as portas eram bloqueadas...
Sandro, um dos soldados que ficava bem próximo à casa, estava com
um homem apagado no ombro. Enrico e Mário andavam na frente, falando e
rindo. Damon estava atrás, mais devagar, brincando com o telefone e cruzei
os meus braços. Ele olhou para cima e me viu, dei as costas na mesma hora,
fechei as portas e as cortinas. Terminei o meu chá, tirei a minha roupa e
tomei um banho bem quentinho.
Estávamos na Itália para o natal. Na verdade, estávamos aqui há três
semanas, fiquei uns quatro dias com a minha afilhada Amália e a Juliana
enquanto Enzo e Damon viajavam juntos para mostrar a nova ordem e
aliança da família para os subchefes espalhados pelo território italiano e
associados.
Após a morte do avô deles, o velho asqueroso, eles anunciaram a
nova fórmula. Eu não fui ao velório, porque o Damon não quis. Juliana,
Amália e eu fomos levadas para uma casa segura. Ficamos três dias lá até que
estava tudo bem voltarmos para as nossas vidas.
Enzo não estava mais no topo da cadeia de comando sozinho. Damon
estava ao seu lado, elevando a família a um poder sério em locais que eram
apenas convidados, por associação, parceria e agora… era tudo um só.
Casamentos foram feitos para que os laços ficassem ainda mais estreitos.
Pelas conversas que capturei, o território estava igualmente dividido, mas, na
ausência de um, a ordem era do outro. Exatamente como foi na “morte” do
Enzo.
Eles tinham a promessa de sangue e a Amália era a nossa afilhada. Ela
era tão doce e cheirosa. Amava cada segundinho ao seu lado, sua risada e
tagarelice. Amália tinha todos na palma da mão, até mesmo o Damon. Ela
falava muito e deixava seu pai e o seu padrinho tontos em poucos minutos,
era bem engraçado de se ver. Mesmo com essa proximidade gostosa com ela,
meu lado maternal seguia adormecido, quase em coma.
Meu útero não coçava nem um pouco quando via bebês e só de
conversar sobre as “dores e delícias” de uma gestação com a Juliana, eu
sentia vontade de não transar só para não correr riscos.
É claro que essa “demora” (casei-me em Junho) em engravidar já
estava causando rumores na família, ainda não falavam muito, porque não
completei um ano, mas a maioria das mulheres da família engravidavam nos
primeiros meses. E quando isso não acontecia, começava a fofocada que ela
não era fértil o suficiente. Tinha medo de não poder engravidar, mas isso era
uma preocupação para o momento que começasse a tentar.
Damon e eu não estávamos preparados para sermos pais. Ele mal
ficava em casa e eu mal havia completado dezenove anos.
Terminei o meu banho, fiz todo o meu processo de beleza e hidratação,
deixando a maquiagem de lado. Com meu cabelo seco e escovado, entrei no
closet e peguei uma calcinha azul escura, era fio dental e de algodão, sem
costura, para não marcar a minha roupa. Na frente do espelho da penteadeira,
me inclinei para frente para passar o meu hidratante dos lábios porque o
tempo estava deixando todo ressecado.
Ouvi o barulho do Damon entrando no quarto e logo estava no closet.
Costumava fechar as portas, para poder ouvi-lo ou ele sempre me
surpreendia, sendo silencioso. Aprendi a criar empecilhos de barulhos pela
casa, mudando um móvel de lugar ou coisas barulhentas como sinos e
tapetes.
— É assim que gosto de encontrar a minha mulher. — Brincou e o
encarei, séria. — Giovanna...
— É natal.
— Eu sei, amor.
— O que eu te pedi sobre o natal, Damon?
— Nada de visitantes embaixo da terra e a minha atenção exclusiva.
Sinto muito, bella . Tem um rato precisando de uma correção por falar
demais por aí. E agora estou aqui, só para você, te dando toda atenção
especial do mundo. — Abriu um sorrisinho.
— Quando foi que você ficou tão cínico?
— Quando me casei, é uma tática de sobrevivência quando a sua
esposa quer te matar. Eu vou tomar um banho, já volto. — Soprou um beijo.
Ele não chegava perto de mim quando estava sujo das suas atividades.
Me vesti e olhei o meu vestido azul para a ceia de natal. Não era o
primeiro ano que não passava com a minha mãe, mas eu estava
particularmente chateada que ela escolheu viajar com a minha tia ao invés de
passar a noite comigo. O jatinho iria buscá-la, não haveria nenhum estresse.
Entendia que passou muito tempo presa, com meu pai ditando o que ela podia
ou não fazer. Só pensei que seria o primeiro ano que poderíamos fazer o que
bem entendêssemos juntas.
Para minha mãe, Damon era a minha família e tinha que ser a minha
prioridade. Sandra e Frank ficaram nos Estados Unidos e passariam a noite
com a família do Frank. Era o meu primeiro natal com Damon, dispensei a
Nina para ficar com a sua família. Enrico iria para a casa da sua mãe, aqui
pertinho e eu ficaria sozinha com o meu marido. Nós iremos visitá-la após a
missa no dia seguinte e ficar para o almoço.
Deixei-o sozinho no banho e saí do quarto, descendo direto para a
cozinha e encontrei o Enrico fuxicando tudo que preparei para o jantar.
— Você vai ficar?
— Sim... Os planos mudaram. — Ele roubou umas uvas.
Porra, o Damon estragou o natal de todo mundo.
— Vai jantar conosco?
— Não... Vou estar ocupado. — Apontou com a cabeça para fora.
— Vou deixar umas coisas para dividir com os rapazes.
Enrico saiu da cozinha e terminei de arrumar a mesa, aquecendo o que
precisava. Quando estava terminando, meu marido desceu as escadas, muito
cheiroso, descalço, com uma calça jeans e uma camisa azul clara. Franzi o
olhar na sua direção e me agarrou antes que pudesse fugir.
— Hoje é um dia especial, é proibido por lei ficar chateada com o seu
marido.
— Quem disse?
— A pessoa que criou a lei.
Suspirei, porque lá vinha gracinha.
— E quem criou a lei, marido?
— Eu. — Sorriu e me abraçou apertado, beijando o meu pescoço e
avançando no seu ataque até me jogar no sofá. Caí, rindo, com o meu vestido
todo levantado e o meu cabelo ficou preso entre as almofadas do encosto.
Uma bagunça. Para me fazer rir, começou um ataque de cosquinhas e bati
nele. — Um beijo, amor.
— Acha que está merecendo beijos?
— Eu vivo pelos seus.
O malandro me tinha nas mãos. Segurei o seu rosto e beijei a sua boca
com toda a minha paixão. Ah, como era apaixonada pelo Damon. Todos
esses meses de casados, apesar dos estresses, algumas boas brigas – e foram
muitas, viagens estressantes, noites que não dormi morrendo de medo que ele
não voltasse para casa, meu coração era dele.
Nós nos divertimos juntos, não só no sexo, como casal,
conversávamos, implicamos muito com o outro e ele sempre dava um
jeitinho de no meio da nossa vida muito louca fugirmos, para sermos um
casal jovem e despreocupado.
Damon parou de me beijar e olhou em meus olhos.
— Sei que você está sentindo falta da sua mãe e que essa data é
especial para estar com a família, mas eu quero que saiba que sou
especialmente grato por você estar sempre ao meu lado, não importa a data e
onde estejamos. Para mim, como marido e como pessoa, é muito importante
ter a sua companhia. Obrigado por ser uma esposa tão companheira. — Sua
fala suave me deixou mole e com algumas lágrimas emocionadas nos olhos.
— Não chora, bella .
— Estarei com você para sempre, atravessarei o fogo e a escuridão.
Você é meu e eu sou sua. — Abracei-o bem apertado.
Damon sorriu como se ouvir aquelas palavras fosse o maior presente
do mundo. Ficamos abraçados no sofá, sem falar nada, apenas trocando
beijos e algumas mãos bobas. Empurrei-o antes de nos empolgarmos porque
eu me esforcei muito para preparar tudo. Antes de jantarmos, fiz o Damon
levar comida para os seus homens e quando ele voltou, parou próximo a
mesa.
— Parece tudo delicioso, eles agradeceram de coração.
Segui as tradições, não deixando as massas de fora, mas sem carne
vermelha e a casa inteirinha estava decorada com luzes, uma enorme árvore,
presentes, um presépio e panetone. As decorações foram todas compradas nas
feirinhas da cidade. Nós jantamos pouco antes da meia-noite, só saímos da
mesa com as garrafas de vinho vazias e nos sentamos no chão da sala para a
troca de presentes.
Damon me deu um sapato lindo, Manolo Blahnik preto, maravilhoso,
uma bolsa da Chanel que eu escolhi e mandei o link para ele como quem não
queria nada. Sua última caixa de presentes me fez rir. Apesar de todo o
embrulho bonito e os papéis seda rosa bem chamativo, era um monte de
calcinhas de renda, pequenas, com dizeres engraçadinhos voltados para o
sexo.
— Você é tão idiota.
— O quê? Você adora calcinhas! — Se defendeu com um sorriso.
— Gosto, mas não de todas finas e sexys para ficar bem enfiadas na
minha bunda. — Ergui uma que não passaria pelas minhas coxas de nenhuma
maneira. Engordei alguns quilinhos, meu corpo mudou, estou com um pouco
mais de seios – nada realmente expressivo – uma bunda chamativa e coxas
grossas.
Minha mãe me disse que todo mundo engorda depois do casamento e era
verdade. Damon e eu vivíamos comendo, era impossível não engordar. Se
estávamos em casa atoa, era comendo besteira e assistindo televisão.
Algumas das minhas roupas não davam mais em mim e o Damon
estava cada dia mais fissurado com a minha bunda, enciumado com as
minhas roupas e biquínis e quanto mais intimidade tínhamos, mais tesão e
mais intenso ficava no sexo. Nós já transamos em vários lugares... E cada vez
foi realmente incrível e eu nunca esqueceria.
— Quer mais vinho? — Me ofereceu, concordei e puxei os meus
presentes.
— Eu não te dei cuecas apertadinhas, mas, comprei algumas coisas
realmente legais. — Empurrei a primeira caixa, muito ansiosa.
— Uau! Giovanna! Você é uma trapaceira bem malandra, disse que
não era para te dar nada muito caro.
— Não queria ofuscar o meu presente. — Sorri, porque eu passei
noites choramingando que só queria a bolsa e o sapato.
— Filha da mãe... — Ele estava maravilhado com o punhal de prata
puro com a insígnia da família desenhada a ouro na lâmina e o nome dele no
cabo, com algumas pedras de diamante decorando. Mandei fazer e foi muito
caro. — É muito lindo! Obrigado, bella . Eu amei. — Me deu um beijo doce
nos lábios. Em seguida, abriu a caixa do relógio. — Hum, adoro relógios e
principalmente aqueles que tem a foto da minha esposa no fundo.
— Para não esquecer de mim.
— Isso é impossível. Você é tudo o que está na minha mente o tempo
todo. — Segurou o meu rosto e me deu um longo beijo.
— Ah, e tem rastreio gps junto com essa pulseira que eu me dei de
presente com o seu nome. Tudo isso porque sou sócia-proprietária de uma
empresa de tecnologia. — Estava muito orgulhosa de mim mesma.
Damon e o Enzo compraram uma empresa de tecnologia chamada
B-Tech, era muito famosa nos Estados Unidos. Embora eles tivessem
dissolvido a empresa em muitas e colocado vários CEO’s no comando, não
ligados à família, a empresa era minha e da Juliana.
Eu tinha um rendimento que era depositado mensalmente na minha
conta e mesmo que o meu marido tivesse controle sobre o meu dinheiro, eu
tinha muita autonomia para fazer gastos e ele me perguntava só quando o
valor era muito alto, como por exemplo, quando paguei umas coisas da casa
da minha mãe sem falar com ele. Foi um valor realmente alto e o assustou.
Minha mãe relutou muito em aceitar a minha ajuda. Meu pai morreu e
a deixou sem nada para seguir a vida, apenas um dinheiro curto. Foi preciso o
Damon conversar com ela como o chefe para a teimosa aceitar. Se eu tinha
um marido rico, a minha mãe viveria no luxo. No mais, eu vivia muito bem
sem tê-lo me pentelhando financeiramente.
— Eu comprei outra coisa para você...
Damon me levou para a garagem e puxou a capa de um quadriciclo
ATV. Soltei um gritinho empolgado, pulando nele por ter um meio de
transporte para chegar a nossa enseada favorita. Fomos algumas vezes,
apenas para olhar, estava muito gelado para mergulhar, mas o caminho era
cansativo e eu vivia reclamando. Ele comprou o que pedi há meses. Ah, era
impossível não me apaixonar.
20
Gio.
— Giovanna, mais devagar. — Enrico segurou no painel. — Você
vai nos matar! É por isso que o Damon não te deixa dirigir! — Meu cunhado
berrou e comecei a rir, fazendo uma curva bem acentuada e mantive a
velocidade, ignorando o Enrico. Assim que entramos na parte mais
movimentada da cidade, diminui e o ronco do motor chamou atenção.
Nunca cheguei no centro da cidade tão rápido.
Peguei um dos carros potentes do meu marido para dar uma voltinha e
fazer uma visitinha surpresa no trabalho. Quando ficamos na Itália, eu o
tenho em casa mais tempo, mesmo que trabalhando no escritório, já quando
estamos em Chicago, quase precisava marcar hora na agenda. Para ser bem
sincera, se não fosse a minha mãe, estaria começando a odiar Chicago.
Gostaria que tudo fosse como na Itália.
Estacionei em frente ao novo escritório do Damon, ficava em um
prédio comercial de luxo – que era da família – e tinha algumas empresas que
eu sabia que também eram nossas, mas todo mundo fingia que não. Saí do
carro, com a minha calça preta justa, botas de cano médio e saltos quadrados
bem altos, um casaco creme e uma blusa de lã de gola alta por baixo. Meu
cabelo estava preso em um rabo de cavalo simples.
Enrico estava andando ao meu lado e no saguão, vi uma mulher de
preto e um homem saindo do canto se aproximando. Ignorei-os até que eles
bloquearam o meu caminho.
— Sra. Galattore? — A mulher ergueu a carteira e mostrou um
distintivo. — Gostaríamos de fazer algumas perguntas.
— Você tem um mandato? — Enrico se adiantou e eu só olhei,
mantendo a minha expressão doce e simpática no rosto.
— São apenas algumas perguntas, por que ela não poderia
responder? — O homem insistiu, com um sorriso cínico no rosto.
— Porque ela não é obrigada, então, saiam da frente.
— Algo a temer, cão de guarda? — A mulher provocou. Se ela
soubesse quem ele era de verdade, ficaria calada. Enrico era milionário. Eu vi
os documentos da conta bancária dele. Filho biológico ou não, ele herdou a
fortuna do meu sogro igual aos filhos biológicos. Ele era sócio do Damon em
muitas propriedades e empresas.
Enrico era quieto, mas não era um homem qualquer. Ele podia fazer
a minha segurança, mas eu sabia que era o executor da família. No passado,
esse papel era do meu tio, mas ele morreu. Na família de Nova Iorque, esse
papel era do Alessio. Antes, do Alonzo.
— Se vocês tivessem um mandato ou uma causa provável, nós
estaríamos tendo essa conversa bem aqui e ao contrário do que possa parecer,
essa é uma propriedade privada. Então, se não resta mais nada... — Enrico
apontou para a saída com um sorrisinho cínico.
A mulher decidiu apelar para mim no lado sentimental.
— Você é muito jovem e não precisa ficar nessa vida. Eu posso te
ajudar... me liga. — Esticou um cartão, que eu olhei como se não estivesse
entendendo sobre o que estava falando e os seguranças do prédio se
aproximaram. Continuei andando com o Enrico até o elevador, sentindo os
olhos da mulher, que mesmo do lado de fora, não parava de me encarar.
— Ela vai ficar me perseguindo?
— Não se for inteligente, mas não aparenta ser. Damon vai lidar
com isso.
— Por que eles querem fazer perguntas, Enrico?
Ele ficou quieto por um tempo.
— Faça essa pergunta ao Damon. — Encolheu os ombros.
Revirei os olhos para sua típica resposta e saímos no andar do
escritório. Damon tinha uma sala muito profissional, com uma assistente e
várias pessoas trabalhando nos negócios “legais”. A assistente dele ficou de
pé quando me viu, ela era uma mulher de mais de quarenta, ficou viúva
pouco antes do nosso casamento ano passado e era muito simpática.
— Olá, esposa. — Damon saiu da sua sala, com um sorriso muito
contido. Odiava estarmos em público.
— Olá, marido. Tem um minuto?
— Até dois.
Entramos em sua sala e ele fechou a porta, as persianas e assim que
estávamos livres da visão dos seus funcionários, sua boca estava na minha,
pressionando meu corpo contra a parede em uma urgência que nem parecia
que dormimos juntos, embora ele tivesse saído muito cedo.
— Por que a polícia está fazendo acampamento no saguão do
prédio?
— Por que eles são chatos e novatos, daqui a pouco entram no
sistema. — Sorriu contra os meus lábios. — Soube que veio dirigindo. Enrico
está bem?
— Provavelmente tomando um remédio para náusea.
— Dirija com cuidado. A que devo a honra da visita?
— Nada em especial, apenas te ver, desde que voltamos o tempo que
passamos juntos está ainda menor. E sair um pouco de casa... — Me afastei
dele e me sentei em sua mesa. — Damon, eu preciso fazer alguma coisa!
Comprei mil coisas de jardinagem e o jardineiro pediu para não cutucar mais
a terra e agora está nevando. Na Itália eu ainda consigo me ocupar um pouco
mais que aqui, sempre tem algo a fazer, um evento, uma viagem para ver a
Amália. Mas aqui? Eu fico o tempo todo sozinha e a minha mãe fica brigando
comigo porque eu tenho que ficar com você. E você…
— Estou o tempo todo ocupado. — Terminou por mim.
— Não estou reclamando dessa parte, me casei ciente que você era
muito ocupado e por isso valorizo cada minuto do nosso tempo. Mas eu
preciso fazer algo! Estou enlouquecendo... E se você falar que quando
tivermos filhos, estarei ocupada, eu vou te matar. — Avisei bem séria.
— E que tal cachorros? Baby, se você quiser se ocupar com um
bebê, podemos começar a treinar agora mesmo. — Damon estava me
provocando, porque ele sabia que estava recebendo pressão por todo lado
para termos um bebê. Além de não estar pronta, eu não queria ter um filho
para viver reclusa dentro de uma casa como Juliana estava vivendo até que o
Alonzo aparecesse.
— E se eu trabalhar? Sabe, deve ter alguma coisa muito fácil que
ocupe o meu tempo e que não exija uma universidade. Pode ser algo bem
simples, como tirar xerox e grampear documentos. Ou...
— Eu te dei milhares de empresas para ter o seu próprio rendimento.
— Você usou o meu nome para lavar dinheiro. — Rebati, irritada.
Damon riu.
— Também, mas o ponto é que você não precisa trabalhar. Tem a
mim, dinheiro, uma casa enorme e podemos ter cachorros. É isso, vem, pega
a sua bolsa!
— O quê? Eu não quero cachorros! — Falei entre dentes para não
gritar.
— Giovanna, eu não sei o que você pode fazer! Como que eu vou te
manter em segurança na rua o tempo todo? — Ele estava perto de perder a
paciência porque aquele assunto era irritante para nós dois, mas o que eu
podia fazer?
— Tudo bem... — Respirei fundo. — Na segunda-feira que vem é o
aniversário da Amália e... — Parei para pensar um pouco. — Com ou sem
você, estarei embarcando para a Itália no sábado. Não quero perder o
aniversário dela, ainda mais o primeiro como sua madrinha.
— Gio... — Damon suspirou.
— Não precisamos voltar em um assunto que não tem como mudar,
sou eu que preciso lidar com isso e pela primeira vez eu entendo porque todas
as mulheres da família engravidam tanto. — Saí da sua mesa e peguei a
minha bolsa. — O tédio enlouquece. Te vejo quando você puder ir para casa.
— Giovanna... — Damon não queria encerrar o assunto.
— Não vamos falar mais disso. — Abri um sorriso e logo saí da sua
sala, ele não faria uma cena.
Enrico me levou para casa, perguntou umas trinta vezes se eu queria
passear no shopping e cada vez que o seu telefone tocava, mesmo dirigindo,
ele olhava e me oferecia algo. Ignorei quando começou a me irritar. Ao
chegar em casa, entrei direto e o Damon me ligou muitas vezes e mandou
mensagens. Respondi que estava tudo bem, que definitivamente não
precisávamos falar sobre isso.
Tirei a minha roupa da rua, coloquei um pijama de pelúcia, me
enrolei no roupão e fiz um chá.
Parei de olhar o meu telefone ao dizer para o Damon que estava
dormindo. Obviamente, menti. Fiquei na cozinha fazendo um chá, minha mãe
disse que estava com potes de molhos e massas frescas para mim, agradeci
avisando que mandaria alguém buscar e coloquei o meu aparelho no
silencioso. Enfiei dois saquinhos de chá de camomila na caneca, bastante
açúcar e peguei um bloquinho, começando a escrever algumas coisinhas que
gostaria da rua.
A porta dos fundos abriu e o Enrico me olhou surpreso.
— Damon disse que estava dormindo. Vim abrir a porta da frente
para uma encomenda. — Explicou ao me ver com os olhos inchados e o rosto
todo vermelho.
— Para todos os efeitos, estou dormindo. Só fingir que não estou
aqui e isso é bem fácil. — Encolhi os ombros, bebendo o meu chá e finalizei
a lista. Enrico passou de volta e eu o parei. — Preciso que alguém busque
umas coisas na casa da minha mãe e compre isso aqui, por favor.
Enrico assentiu, pegou a lista e saiu. Não levou dois minutos para o
Damon voltar a me ligar. O dedo duro do Enrico deve ter dito que não estava
dormindo. Como havia feito as sobrancelhas, unhas e depilação no salão no
dia anterior, fiz uma esfoliação com argila rosa e depois, coloquei a máscara,
enchendo o meu cabelo de óleo de coco. Embolei bem no alto, sentindo que
estava longo demais e deveria cortar.
Fiquei no sofá, fazendo tratamentos faciais e quando os molhos
chegaram, estava com uma máscara de pepino para finalizar o meu
tratamento. Mário e o Enrico me olharam esquisito, colocaram tudo no balcão
e saíram bem rápido. Guardei tudo que era de geladeira e peguei uma barra
de chocolate, um saco de balas e as outras besteiras que pedi para comprar,
assistindo Uma Linda Mulher pela milésima vez.
Entre uma mordida de chocolate e outra, fui escorregando no sofá,
sentindo sono. Deveria comer algo mais saudável que um monte de doces e
salgadinhos de pacote, mas, estava com preguiça e provavelmente pediria
delivery para o jantar. Talvez pizza. Ou algum sanduíche. Com sono,
adormeci e acordei com um toque suave na ponta do meu nariz, abri os olhos
e o Damon estava sorrindo.
— Tem algo muito verde no seu rosto.
— Droga, esqueci de tirar a máscara. — Resmunguei, sonolenta e
olhei para a janela. Estava escuro lá fora e outra coisa passava na televisão.
Me desvencilhei dele, catando minha bagunça, desligando a televisão e fui
com o lixo para a cozinha. Peguei o meu telefone, tinha tanta notificação que
chegou a demorar quando apertei para limpar a tela. Já era madrugada,
horário que ele costumava chegar em casa quase todos os dias.
Subi a escada, ele estava me seguindo devagar, com o cenho
franzido como se não soubesse lidar comigo. Entrei no chuveiro, não poderia
deitar na cama com o cabelo ensebado e com uma máscara facial. Me sequei
e vesti o mesmo pijama. Damon entrou no banheiro nu, direto para o
chuveiro, parecia cansado e mesmo tomando banho, seu olhar estava no meu,
na pia, escovando os dentes.
Não gostava de dormir de cabelo molhado, normalmente acordava
meio congestionada, mas eu estava com preguiça de secar. Fiquei no meu
lugarzinho na cama e ele voltou para o quarto, apagando as luzes e estava só
de cueca. Cada um ficou de um lado da cama, meio emburrados e sonolentos,
mas, ele foi o primeiro a romper o silêncio.
— Gio? — Tocou a minha cintura. — Posso te abraçar?
— É claro que sim! — Me exaltei. Eu não estava repelindo o seu
toque, era tudo o que eu mais queria. Senti suas mãos em mim e fui de bom
grado para os seus braços. Em Chicago, esse era o horário que ele costumava
chegar, a maioria das vezes acordava e o recebia com todo meu amor, ou com
toda vontade do mundo de putarias. Beijei o seu braço, passando as mãos nos
seus músculos torneados e com o tempo, ele parecia ficar maior. — Você
voltou a malhar?
— Voltei a intensificar nos treinos de luta pela manhã, com as
viagens excessivas no último ano, me afastei da academia e lutar me acalma.
Assim como ficar com você... — Beijou a minha bochecha. — Sei que você
não quer falar sobre isso...
— Não adianta falar sobre o que não será possível resolver. Cresci
sabendo que um dia seria a esposa de alguém da família e qual seria o meu
lugar. Eu me preparei por três anos para ser a sua mulher... — Damon ia falar
algo e impedi. — Só que... Eu vou soar terrivelmente mimada e carente
agora, sinto sua falta. Estou me sentindo solitária, essa é a palavra. Quando
solteira, eu tinha amigas na escola e autorização para vê-las, mas casada...
Nós não podemos ficar juntas, tudo depende de um esquema de segurança
imenso e a maioria das mulheres dessa família são fofoqueiras. A Bianca está
muito ocupada tentando engravidar e a Madah descobriu que sexo é bom e
não quer soltar o marido.
— Não a julgue, você também ficou assim. — Damon falou rindo e
dei uma cotovelada nele.
— Devido a minha intensa vontade de ficar com você o tempo todo,
acho que ainda estou nessa fase. — Não resisti e acabei rindo. — Bem... Foi
só um dia de chateação e eu não queria ficar falando sobre isso porque você
tem um dia importante, é muito trabalho e não precisa gerir meus rompantes
mimados.
— É isso que me incomoda, eu sei que meu tempo quando estamos
aqui é muito curto, não quer dizer que você é menos importante que tudo. E
se nós não conversarmos, como iremos resolver nossos problemas? Não tem
que ficar quieta, com medo de me incomodar, porque você é a minha mulher.
— Puxou o meu cabelo para o alto. — E você não deveria dormir de cabelo
molhado.
— Tenho uma ideia.
— Não vou secar o seu cabelo, tenha misericórdia de mim. —
Resmungou porque às vezes, pedia que ele secasse e ele fazia, nas primeiras
vezes mal sabia segurar um secador.
— Na verdade... pensei que eu não precisava dormir enquanto ele
estiver molhado, mas você está cansado demais... — Bufei e ele me virou
bruscamente, rindo e me deu um beijo molhado, reclamando que estava
muito vestida e aquele pijama era muito inconveniente.
Nós começamos a fazer amor muito gostoso, eu amava estar por
cima, porque ele ficava tão louco, cheio de tesão e cada vez que rebolava,
fechava os olhos, tensionando o abdômen e gemendo bem gostoso.
— Cristo... Eu amo os seus peitos. — Torceu os meus mamilos, me
deixando louca e pertinho de gozar. — Ah... Dio , Giovanna! — Gozei,
caindo sobre o seu peito e ele agarrou a minha bunda, metendo sem parar até
gozar. — Você é tudo para mim.
Ficamos abraçados por um tempo e nós não dormimos aquela noite.
Gastamos toda a madrugada sobre nós, sobre reconectar e vimos o dia
amanhecer, nos deitamos em uma das salas, com vinho, água, chocolate,
pizza, sem roupa e ele até saiu mais tarde, depois que preparei um café da
manhã caprichado para nós dois.
Enrico entrou na cozinha e eu estava vestida, ele me deu um
sorrisinho sonolento e perguntou se tinha café.
— Posso te fazer uma pergunta? — Puxei um banquinho e me
sentei. Ele desviou o olhar da sua caneca e me olhou com a sobrancelha
arqueada. — Se você fosse casado, o que esperaria da sua esposa nessa vida
muito louca que nós fomos criados?
— É complicado... A minha esposa, provavelmente não teria
permissão para trabalhar em um dos empreendimentos da família. Eu
imagino que na sua posição, deve ser um saco ficar presa aqui o tempo todo.
— Enrico bebeu o café sem açúcar e estremeci, de jeito nenhum aquilo podia
ser bom. — Essa casa é o lugar mais seguro que você pode ficar, entende? Se
eu me casar, a minha casa será o lugar mais seguro para a minha esposa.
Damon me contou que um dia, Enrico assumiria o segundo lugar de
comando em Chicago, mas por enquanto ele agia como um soldado do alto
escalão.
— Sim, eu sei. Só sinto que não estou sabendo de tudo.
— Olha, eu gosto de você e não me coloque em problemas. As
mudanças não estão agradando a todos, não da nossa família e muito menos
de Nova Iorque, a carga ficou aliviada, mas essa aliança muito mais forte que
antes, irritou a família de Las Vegas e a da Calábria, os russos estão com sede
de vingança pela morte da líder deles e um novo movimento por parte da
polícia local, alguns federais, temos alguns na nossa folha de pagamento, mas
é diferente. — Enrico me explicou e assenti. — Damon e o Enzo estão se
desdobrando para alinhar a nova ordem, tranquilizar ou eliminar os
associados e lidar com essas ameaças enquanto o Alonzo ainda representa um
perigo. Tudo que ele realmente quer é que você fique segura.
— Caramba...
— E ainda tem a Yakuza, invadindo o continente com uma força
preocupante... Então, não é porque ele não quer estar em casa, mas porque ele
quer deixar esse lugar seguro para você. Damon não quer te isolar na Itália,
aqui, pelo menos, vocês se veem a noite.
Peguei um bolinho e enfiei na boca, pensativa e me sentindo péssima
por ter feito tanto beicinho quando ele tinha muito mais a fazer e
preocupações na cabeça. Eu podia lidar com o meu tédio e a falta do que
fazer em casa. Damon deveria ter me dito, mas ele tinha muito cuidado com o
que falava para mim porque não gostava de me deixar preocupada. Ele sabia
que não dormia quando acabava descobrindo que ele iria, especificamente,
fazer algo muito perigoso.
— Obrigada por me contar, Enrico. — Sorri e pedi licença, saindo
da cozinha.
Procurei o meu telefone e o achei entre os travesseiros do quarto.
Mandei uma mensagem romântica para o meu marido e a noite não dormida
cobrou o seu preço, o problema era que eu adorava dormir e fiquei o dia
inteiro fazendo isso ⁰ .
— Giovanna! — Damon estava me gritando pela casa e tomei um
susto. — Você estava dormindo, safadinha? — Entrou no quarto rindo e
parecendo incrédulo. — Estamos muito atrasados para o jantar de aniversário
da Sandra e ela já estava ligando, sendo insuportável. Não adianta de porra
nenhuma ser o chefe dessa família se a sua irmã ainda te trata como uma
criança pentelha. — Reclamou e revirei os olhos. Ele e a Sandra brigavam o
tempo todo.
Além de mim, ela era a única que não tinha medo dele e não se
importava com as explosões. Damon dava cada ataque que no começo, ainda
me deixava meio abaladinha, agora nem ouvia mais. Levantei para me
arrumar e ele ficou andando atrás de mim, falando sem parar e até esqueci
que tivemos uma noite maravilhosa, querendo enfiar o meu rímel no seu
olho.
Vesti uma calça preta, uma blusa preta com riscos brancos, um
trench coat azul marinho com grandes botões pretos e uma bota até os
joelhos, de salto fino. Meu cabelo estava todo bagunçado e fiz uma trança
para fazer um coque baixo, passando uma chapinha na franja e uma
maquiagem bem básica com um batom escuro.
Damon estava de preto, não era novidade, mas ele sempre ficava
lindo com uma camisa de manga longa, puxada até o cotovelo, calça jeans e
sua jaqueta de couro muito pesada. Escolheu o Jeep, com Sandro e Enrico no
carro atrás, nos seguindo, seu telefone tocou e seja lá o que foi, não ouvi
porque estava com o fone em um ouvido, acelerou pela rua escura e bati na
coxa dele por estar correndo demais.
— Estou ficando enjoada, Damon. — Reclamei, segurando o cinto.
— Sinto muito, bella . Estamos sendo seguidos e o Enrico não
conseguiu descobrir de quem é a placa. É falsa. — Explicou com uma voz
calma. — Vai ficar tudo bem, os outros carros vão nos encontrar na próxima
esquina e bloquear o caminho.
Assenti, com o olhar atento na estrada e quando passamos por um
cruzamento, quatro SUV's da família fecharam o caminho, Sandro passou em
alta velocidade por nós, entrando na nossa frente e olhei para trás, vendo que
estávamos cercados por carros da família, seguindo no mesmo ritmo e
velocidade. Quem estivesse nos seguindo, não conseguiria passar por aquela
barreira. Respirei aliviada e senti que minhas coxas até doeram, de tanto que
tensionei.
Damon entrou na casa da sua irmã, saindo do carro com rapidez e
deu ordens curtas aos seus homens para descobrir quem era até o fim do
jantar. Ele abriu a minha porta com o mesmo sorriso lindo que me deu antes
de sairmos de casa. Eu precisava de um HD externo mental para lidar com
essa família.
21
Damon.
— Segura bem a cabecinha. Isso, assim... Devagar, seu bruto. —
Giovanna me orientou e a menininha soltou um pequeno estalo, abrindo a
boca. — Olha só como ela é linda... — Gio falou bem baixo. Seu olhar
apaixonado encontrou o meu e sorrimos.
Voltei a olhar para a menininha enrolada em uma manta, com um
gorrinho de pelúcia na cabeça. Ela cheirava muito bem.
— É claro que puxou a mãe. — Comentei e o Enzo bufou atrás de
mim, contrariado. — Se fosse como o pai, não seria tão bonita. Esse gorro
ficou bonito.
— Só a Giovanna para colocar algo assim na minha filha. — Juliana
comentou do seu lugar no sofá, com a Amália dormindo em seu colo.
— É óbvio que ela se parece comigo. — Enzo ainda estava preso em
com quem ela parecia. — Olha só a perfeição e o cabelo dela é tão escuro
quanto o meu.
— Esse rostinho perfeito só pode ter puxado a mãe. — Rebati, ciente
que levaria segundos para ele explodir sobre elogiar a sua mulher.
— Se você falar que a minha mulher é linda mais uma vez, eu vou te
bater.
— Ignore o seu pai, Anna. Tio Damon vai te contar absolutamente
tudo sobre ele... — Falei com a bebezinha, ela estava com os olhos fechados
e abriu a boca, mostrando a língua. Giovanna não conseguia desviar os olhos,
hipnotizada e apaixonada. — Quer uma, amor?
— Não agora, espertinho. — Riu com as bochechas coradas.
— Acho que deveriam fazer como nós... Duas de uma vez só. —
Enzo passeou pela sala e pegou a Amália adormecida no colo. — Vou levá-la
para cama.
— Ela vai enlouquecer ao acordar com vocês aqui. — Juliana sorriu
e entreguei o bebê para a tia dela, que estava ansiosa em tomá-la dos meus
braços. — Aqui em casa está uma disputa sobre quem segura as meninas por
mais tempo. Elas nunca irão se acostumar com o berço se todos ficam
mimando. Amália dormiu comigo nesse finalzinho da gestação,
principalmente quando o Enzo não estava aqui, com o bebê, ela não quer sair
de cima.
— Como foi o parto? — Giovanna sentou-se ao lado da Juliana e
aquele assunto não me interessava, pedi licença e fui até o bar na outra sala.
Alessio, primo da Juliana, estava servindo-se com um copo de uísque e me
entregou, fazendo outro para si.
Enzo voltou e fez uma careta ao ouvir a palavra “minha vagina ficou
enorme, sabe?”. Fiquei arrepiado e a Giovanna parecia que ia vomitar com o
relato do parto da Juliana. Definitivamente, nada pronta para ser mãe. Enzo
começou a rir das duas e fechou a porta, virei a minha bebida de uma vez só,
para esquecer a imagem mental e o pavor que subiu pelas as minhas veias.
— Se você acha que não se assusta com nada, espera só a sua mulher
gritar por horas... — Enzo murmurou, enchendo o seu copo até a boca. —
Foram as horas mais longas da minha vida. Nós passamos pela banheira, pelo
chuveiro, pela estúpida bola que eu quis furar com o meu canivete e pela
cama. Teve gelo, teve cantigas, teve uma louca aqui da villa falando um
monte de poema sobre fertilidade... Foi estressante pra caralho.
— E por que você participou?
Normalmente, as mulheres da família quando tinham seus partos em
casa, os homens não participavam. No hospital, ficava a critério dos médicos
ou do casal. Era comum, o que no mundo chamava-se parto humanizado,
feito em casa com doulas, na presença da maioria das mulheres.
— Espere a Sra. Castração Química engravidar e você saberá. —
Enzo ergueu o copo e bebeu a metade. — E em um mês, a Anna mostra que é
minha filha. Dorme o dia todo... E a noite fica bem acordada.
— Um brinde as suas meninas. — Batemos nossos copos juntos. —
Vou construir um forte, colocar as minhas sobrinhas e as suas filhas.
— Minhas filhas nunca irão namorar. — Enzo era muito idiota. —
Nunca.
— Apoiado. — Alessio sorriu.
Nós bebemos algumas garrafas de vinho enquanto as mulheres
estavam desaparecidas pela casa. Enzo e eu nunca falávamos sobre negócios
dentro dos cômodos comuns da casa. Mesmo que Alessio fosse seu homem
de confiança e futuramente, seria o seu conselheiro, Juliana tinha algumas
regras e eu respeitava, porque a casa de um chefe, nunca seria dele e sim da
sua esposa. A minha mãe também tinha muitas regras e mesmo que meu pai
fosse muito controlador, ele respeitava.
Giovanna tinha algumas regras em casa, na Itália, nada de homens
debaixo da terra – era como ela se referia ao local de tortura – quando
tivéssemos convidados e em datas comemorativas. Refeições sempre à mesa,
sem telefones, sem interrupções e nada de sapatos sujos no quarto. Ela até
deixava na sala, mas normalmente eu tinha que tirar os meus sapatos na
lavanderia. Se a minha roupa estivesse suja de sangue, não podia passar da
escada, teria que tirar, jogar fora ou colocar para lavar.
E aquela visita não era sobre negócios, falávamos sobre isso quase o
tempo todo, era sobre o aniversário de três anos da Amália. Giovanna era
louca pela menina, compramos tantos presentes que foi difícil colocar em um
único carro após o avião. Para falar a verdade, Amália era uma criança linda e
eu tinha muita afeição e carinho por ela, o papel de ser o seu padrinho era
sério no meu coração. Esperava ter o privilégio de fazer parte da vida dela,
que Deus me conservasse em saúde.
No dia seguinte, no final da tarde, nós cantamos parabéns para a
menina. Ela pulava em cima de uma cadeira, rodeada pelos pais e ansiosa
para assoprar as velas. Amália tinha a família inteira na palma da mão,
inclusive, a mim. Após os parabéns e o bolo, correu pela sala, ganhando
arrulhos e chamando atenção para si mesma.
— Dindinho! — Esticou os braços e a peguei.
— Oi mia dolcezza .
— Eu quero o seu bolo. — Apontou e peguei o meu garfo, cortando
um pedaço e ela aceitou, mastigando com prazer. — Outro. — Pediu, do seu
jeito autoritário. Giovanna estava do outro lado da cozinha, conversando com
a minha prima Carina e me deu um olhar apaixonado.
— É o seu quinto pedaço de bolo, Amália! — Enzo limpou a sua
boca e a tirou de mim. — Você vai explodir, bambina.
Giovanna deu a volta na mesa, parando ao meu lado e me deu um beijo
na bochecha, me abraçando. Ela estava feliz. Giovanna tinha um humor
muito diferente quando estávamos na Itália. Eu sabia que não era fácil viver
presa em casa em Chicago, mas a nossa casa era uma fortaleza e lá, era o
único lugar que eu sabia, que se acontecesse algo, ela tinha muitas chances de
fugir. Aqui na Itália, a nossa casa era em uma região muito isolada e apesar
de não confiar totalmente, vivíamos cercados de familiares e a amplitude,
distância e todo solo dificultava qualquer ataque.
Passamos mais dois dias aproveitando a Amália. Giovanna a levou
para passear ao redor, fazendo um piquenique e passou horas brincando de
boneca. Acompanhei de longe, me dividindo entre resolver negócios
pendentes locais e dar a elas toda a minha atenção. Me senti ridículo sentado
para tomar chá de mentirinha, mas nós fomos obrigados. E Amália conseguia
tudo o que queria.
Quando voamos para a Sicília, minha mulher estava sorridente, com os
olhos brilhando e eu pensei no quanto a felicidade dela era muito importante
para mim. Gostava do ritmo da Itália, os negócios aqui eram mais
tradicionais e mais letais, não era nada sobre a política irritante dos Estados
Unidos, em manter as aparências e a porra do controle sobre tudo o tempo
todo.
Nós compramos três cachorros da última vez que estivemos ali e a
Giovanna ganhou uma cadela fiel que era apaixonada por ela. Enrico e eu
ficamos com os machos, os três estavam sendo treinados para proteger a
propriedade e principalmente, proteger a Giovanna. Cresceram muito rápido
desde a última visita. Gio tinha um pouco de medo dos machos, mas ela
adorava a Diana.
Com o tempo frio, era gostoso estar em casa, ainda mais com os
filhotes crescendo e querendo brincar o tempo todo.
— Damon! — Giovanna gritou do quarto. — Traz água para mim!
— Oi. — Enrico apareceu na sala. — Temos um problema.
Abaixei o jornal que estava lendo.
— O que aconteceu?
— Uma das garotas está grávida. É a Talia. — Respondeu e não
sabia exatamente qual era o problema porque as meninas não trabalhavam
mais com sexo, elas não eram prostitutas, na reforma dos negócios, seguimos
o padrão de quebrar a prostituição nos bordéis e mudar algumas meninas para
agências de luxo que possuímos ou para se tornarem garçonetes nos nossos
bares.
— Marido! — Giovanna gritou de novo.
— Um minuto, Gio! — Rebati e olhei para o Enrico.
— O que ela quer fazer? — Suspirei, chateado em ter que resolver e
eu não queria uma criança nascendo e vivendo nos meus clubes.
Enricou enfiou as mãos no bolso da sua calça jeans.
— Ela está dizendo para todo mundo que o filho é seu.
— O filho é de quem? — Giovanna parou na metade da escada.
Foda-se. — O que está acontecendo? Quem está grávida?
Enrico ficou quieto.
— Gio, depois falo com você sobre isso.
Ela terminou de descer as escadas e cruzou os braços.
— Quem está grávida, Damon? E por que nesse mundo está dizendo
que o filho é seu? Quem é Talia?
Sinalizei para Enrico sair, porque a Giovanna não ia parar e se deixá-la
com a sua mente fervilhando, ela vai inventar muita merda.
— Talia é uma das meninas de um clube de luxo que eu tenho na
cidade e ela era uma das fixas que eu ficava antes do nosso casamento.
Giovanna respirou de um jeito, parecendo que estava machucada e deu
um passo para trás.
— Gio, eu vou ficar profundamente ofendido se você considerar a
possibilidade. — Avisei, estressado com o ataque histérico que ela poderia
dar por algo que era impossível. — Eu não engravidei ninguém, não dormi
com nenhuma mulher além de você.
— Desde quando? — Seus olhos já estavam cheios de lágrimas.
— Desde o nosso casamento!
— Sabe o que é engraçado? Estamos juntos há quatro anos! Ficamos
noivos há exatos dois anos e tudo que você considera como fidelidade foi a
partir do dia do nosso casamento. Eu engoli isso, deixei passar porque nós
nunca ficamos sozinhos, nunca nos tocamos e não foi bem um
relacionamento convencional. — Ergueu a mão e apontou para mim. — Não
vou tolerar isso.
— Gio, você entendeu errado. Nós não tivemos um relacionamento,
era um compromisso e eu não ficaria no celibato apenas porque...
— Eu não fiquei? — Ela gritou completamente furiosa. — Eu fui
trancafiada na porra de um internato, longe da minha família e amigos e você
foi o único homem que tocou em mim. Por três anos, eu fui educada e
preparada para ser a sua esposa. E você? Sequer se preparou para ser o meu
marido! Você viveu a sua vidinha de playboy milionário com o maior
prazer!
— Eu não te traí!
— Talvez não nesse momento, mas antes foi traição sim! Eu deixei
para lá, porque não éramos casados, mas agora é muito diferente. Eu não
quero fofocas ou rumores sobre isso, não quero cochichos nas festas e não
quero que exista a mínima possibilidade dessa merda ir parar nos jornais!
Resolva isso, Damon. E resolva direito! — Seus olhos estavam cheios de
lágrimas, deu as costas e voltou para as escadas, subindo rapidamente e
depois, a porta do quarto bateu com tanta força que os lustres tremeram.
Irritado, apareci no pátio e Enrico estava me esperando contra o carro.
Obviamente, Giovanna não estava pensando se seria ouvida em um raio de
500km ou não.
— Traga a mulher aqui e coloque lá embaixo, não precisa ser
carinhoso, mas ela não é uma convidada. Quero ter uma conversinha
pessoalmente e é melhor que não tenha nenhuma escuta ou câmera.
— Claro. — Enrico saiu.
Se Talia estava querendo chamar atenção para me ver, ela conseguiria,
mas não ficaria muito feliz por isso. Logo que parei de aparecer, ela andou
perguntando por mim para alguns soldados. Todos sabiam que estava noivo.
Todo mundo sabia que um dia, me casaria com a Giovanna. Meu pai
não escondia que queria a Giovanna como nora, ele sequer disfarçava a óbvia
afeição por ela. De tanto querer que passou por cima da traição do
Vacchiano, que nas nossas leis significava a morte, para ter a Gio na família.
Desde novo, ouço do meu pai que a Giovanna era a menina mais bonita da
nossa família e que me daria filhos perfeitos.
Nunca fui contra, não só porque eu sabia que um dia meu pai
escolheria a minha esposa, mas eu nunca me apaixonei por ninguém, não me
aproximei de mulheres para isso. Talia era uma buceta e apenas isso. Assim
como existiam muitas outras nos outros lugares, comia quem eu queria e
agora, a minha vida girava em torno da Giovanna. Eu a amava, mesmo com
seus rompantes.
Subi a escada devagar e empurrei a porta do quarto, ela estava na
varanda, enrolada no edredom e me deu um olharzinho irado antes de
desviar.
— Eu sei que errei em não respeitar o nosso compromisso, em não o
levar a sério quando você tinha uma vida privada para ser minha. Confesso
que levou bastante tempo para que o casamento caísse a ficha para mim, foi
depois da morte do meu pai que eu me dei conta, que só tinha você, minha
irmã e o Enrico na vida. Um dia antes do meu pai morrer, foi a última vez
que eu fiz sexo com outra mulher. — Giovanna virou o rosto para mim,
confusa. — Sei que foram apenas alguns meses de fidelidade quando você
viveu para mim por anos. O nosso casamento foi um dos momentos mais
incríveis e importantes da minha vida e tudo que jurei ali, é verdadeiro para
mim. Eu te amo, Giovanna. Eu honro você como minha mulher e não vou te
trair.
Seu olhar encontrou o meu e um sorriso tímido pintou os seus lábios.
— Amor no nosso mundo é um ponto fraco e um alvo. Eu não
deveria te amar se quiser te proteger. Não deveria deixar que as pessoas
percebessem o quanto você é tudo para mim.
Ela saiu do casulo que criou com o edredom.
— Amar você é um perigo e eu não me importo. Não sei o que essa
mulher quer, sei que você tem muito ciúme, assim como eu também tenho e
entendo que sou muito mais insuportável e no seu lugar, a casa estaria no
chão, mas preciso que tenha a certeza que meu amor por você...
Ficando na ponta dos pés, colocou o dedo nos meus lábios e a abracei.
— Eu te amo, Damon. Te amo muito, acredito nas suas palavras e o
que passou antes do nosso casamento, não tem que ser uma briga agora. —
Me deu um beijo nos lábios e se afastou. — Acredito em você que o filho não
é seu, que não tocou naquela mulher fazendo a sua obrigação em respeitar os
votos do nosso casamento, mas eu já tenho fama de corna o suficiente. Sei
que pode parecer realmente bobo ou infantil da minha parte, mas isso me
machuca e não quero ter que aturar isso.
Segurei as suas mãos e apertei, beijando cada um dos seus dedos.
— Eu vou resolver e eu prometo que isso nunca mais vai acontecer.
— Obrigada, amor. — Sorriu e voltou para o seu lugar, se cobrindo,
ficando embolada como em um casulo. Deixei-a sozinha e desci, indo para o
subsolo com bastante calma. O lugar tinha um cheiro específico: madeira,
terra batida, vinho e morte. Ali, há muitos e muitos anos, era o local das
respostas, dos últimos suspiros e das dores mais intensas.
Conhecia cada canto como a palma da minha mão. Quando a Talia
chegou, não estava irritado, espumando ou furioso. Estava com um
sentimento horrível que as minhas atitudes no passado ou a falta delas,
machucavam a Giovanna a tal ponto.
Enrico a colocou sentada e já chorando, começou a pedir desculpas.
— Quem te mandou dizer isso? Não me faça perder o tempo que o
seu cérebro de azeitona foi burro o suficiente para pensar que eu acreditaria
em uma gravidez quando na verdade, não te vejo a meses. — Abaixei e
apertei o seu queixo com muita força, ela se debateu, com as lágrimas
escorrendo no rosto.
— Não sei o nome dele, mas ele disse que você saberia quem ele é.
— Talia gritou.
Alonzo estava muito perto.
22
Gio.
Damon estava há muito tempo dentro do armazém ruim e eu estava
começando e me sentir agoniada. Os cachorros da propriedade estavam
latindo, querendo sair e o Mauro abriu o portão que dava para a campina e
eles saíram disparados. Raramente chegava perto dos três, eram enormes e
me assustavam, eles sempre pediam muito carinho quando me viam, o
problema era que quase me derrubavam.
Fiquei vigiando os cachorros, porque eles não pareciam estar
brincando um com o outro, na verdade, pareciam perseguir algo. Zeus e o
Apolo pareciam furiosos, quando a Diana, em homenagem a mulher-
maravilha, parecia rosnar sem controle, mas na direção da minha sacada.
— Diana, vem aqui! — Chamei de cima e ela sacudiu o rabo,
mesmo com os pelos todos ouriçados. — Vem aqui, menina. — Bati na
minha coxa e ela disparou para dentro de casa. Não deu dois segundos para
ouvir suas patas pesadas contra o piso de madeira. Damon não gostava muito
que os machos ficassem perto de mim, porque eles eram meio voláteis devido
ao treinamento para atacar, mas eles nunca agiam de maneira estranha
comigo.
Diana era fêmea e elas costumavam proteger a casa. Agachei na
varanda, esperando o seu contato e veio trotando. Ela me cheirou e permitiu
que tocasse o seu pelo, mas ao ouvir o latido furioso do Apolo, ficou arisca.
Diana seguia tensa ao meu lado, acariciei as suas orelhas, com seu pêlo negro
ainda de pé e o olhar atento. Damon treinou com eles logo que os comprou,
cresceram em pouquíssimos meses e eram letais, mas costumavam dormir
com alguma peça de roupa minha para ter sempre o meu cheiro.
Tentei enxergar o que eles tanto perseguiam na mata e não parecia
ser bom.
— Mauro! Eles não estão brincando! — Apontei e na verdade, o
meu medo era que eles matassem algum bichinho. — Chame-os de volta, por
favor!
Ele assentiu, saindo pelos fundos e o Sandro subiu no muro,
gritando para que eles voltassem, então, o Mauro sacou a arma e disparou.
Sandro viu o que ele estava vendo, atirou também, da minha posição, nada
fazia sentido.
— Entra, entra! Agora! — Sandro gritou para mim do muro e falou
no seu rádio.
Fiquei congelada no lugar. Enrico saiu correndo do armazém,
sinalizando para entrar de maneira desesperada. Dei alguns passos para trás e
fechei as portas, meu coração retumbava no peito e minhas têmporas
latejavam, mas andei até o quarto seguro, abrindo a porta e não entrei.
Queria ir atrás do Damon. Não podia ficar segura sem ele. Diana
cutucou minhas pernas com o focinho, como se me incentivasse a entrar.
Não, Giovanna. Damon vai te matar se você sair no fogo cruzado
atrás dele.
Me sentindo uma covarde, segui para o closet e coloquei a minha
digital. A porta rolou para o lado e entrei, esperando que a Diana entrasse
comigo, mas ela se recusou, sentando-se na porta de costas para mim,
olhando fixamente para o corredor. O alarme disparou e a porta acabou
travando sozinha. Escorreguei para o chão com as pernas bambas e fiquei
sentada, com a cabeça escondida entre os meus joelhos, rezando sem parar.
Não conseguia ouvir nada do lado de fora e isso me deixava muito
mais assustada do que ouvir. Fiquei no chão, não sei por quanto tempo, mas o
suficiente para a minha bunda doer e a minha cabeça começar a latejar sem
parar. Ouvi o barulho das travas. Não tinha forças nas pernas para levantar,
porque estava tremendo e com a adrenalina a mil. A porta rolou e o Damon
apareceu, suado, um pouco sujo de terra, com um corte no braço e ajoelhou
na minha frente.
Diana passou por ele, me deu uma olhada e foi embora ao ouvir o
assobio de comando do Enrico.
— Está tudo bem, bella. — Meu marido me abraçou apertado.
Levou tudo de mim para não chorar e estava me segurando por um fio. O
alívio de vê-lo era tão forte que me deixava tonta. — Passou... Estou aqui,
está tudo bem.
— O que aconteceu? Quem era?
— Um olheiro enviado pelo Alonzo, na certa, testando as defesas.
— E as novas defesas deram certo? — Olhei em seus olhos para
capturar a verdade. Damon costumava diminuir os fatos. Custou muitos
milhões criar as defesas de segurança digitais e o treinamento dos soldados
para manter a região segura, ainda estava em processo, mas Damon estava
investindo pesado. Fiquei aliviada que mesmo incompleto, deu certo.
— Deram... Apesar de que foram os cachorros que farejaram o
perigo e capturaram dois dos homens. Mauro matou três e o Sandro dois,
mas, sobrou um para abrir a boca. E eu vou ter uma conversinha com ele
daqui a pouco. — Beijou a pontinha do meu nariz.
— É o Alonzo mesmo? — Meu coração chegava a disparar.
— Sim. Ele não deve estar com recursos para ter bons homens, são
mercenários e dos mais porcos. — Damon acariciou o meu rosto. — Você fez
o certo. Sempre se proteja.
Meu rosto aqueceu de vergonha.
— Eu quase fui atrás de você. — Confessei e ele ficou sério.
— Nunca, em hipótese nenhuma, faça isso. Eu sei me cuidar, fui
treinado para isso. Não estou te subestimando, sei que vai saber se virar se for
necessário, mas você não precisa me proteger. Proteja a si mesma e fique
viva. — Beijou a minha boca com carinho.
Não parecia certo para mim, mas não valia a pena discutir com ele,
não quando via a escuridão no seu olhar. Naquele momento, ele não estava
rasgando o que sobreviveu porque precisava me ver antes, mas eu sabia que
havia ondas de raiva e desejo de morte correndo por baixo da sua pele
marcada com a nossa vida. Cresci entre homens como ele, meu pai chegou
em casa transtornado muitas e muitas vezes. A maneira como ele olhava para
nós, era como se fossemos animais enjaulados e ele o nosso captor.
Às vezes, ele nos olhava como se fosse o predador e nós a presa e
muitas vezes fez a minha mãe a sua própria presa à mercê.
Saímos do chão e fomos para o nosso quarto. Ajudei-o com o
ferimento, foi o corte de uma árvore e foi preciso apenas uma limpeza.
Descemos de mãos dadas e na minha sala, estava a mulher que foi usada
como isca. Ela me deu um olhar desafiador, não me levando a sério como a
maioria das mulheres ao meu redor e apenas a encarei.
— Tirem essa mulher da minha sala e joguem a poltrona fora. —
Enrico e o Mauro ficaram surpresos, porque normalmente era muito
brincalhona e simpática, principalmente com os três soldados que mais
ficavam conosco. — Agora!
Mauro assentiu e o Enrico arqueou a sobrancelha divertido, pegando
a mulher pelo braço e saiu arrastando. Ela tropeçou um pouco e
choramingou, mas o meu cunhado não parou de puxá-la. Damon não falou
nada e era melhor assim. Eu não a julgava pela sua vida e muito menos a
culpava por ter dormido com o meu marido, nem criticava se fosse
apaixonada por ele. Não a conhecia. Mas eu não era obrigada a aturar o seu
deboche e muito menos passaria a impressão que abaixaria a cabeça para
qualquer pessoa.
Todo mundo elogiava a minha simpatia e beleza. Juliana ficava
implicando que ela era conhecida como a selvagem, nojenta e perigosa e eu
ficava com as flores e os elogios. Na verdade, nós duas éramos falsas com
noventa por cento das mulheres da família. Ela conseguia disfarçar menos do
que eu e o fato de não esconder que manda, irritava muita gente.
— O que vai ser feito agora? — Esfreguei os meus braços e vi o
Sandro recompensar os cachorros com petiscos, levando-os de volta para o
canil.
— Eu tenho isso. — Damon mostrou um telefone. — Enrico já tem
a localização do Alonzo. Ele sequer está na ilha no momento, ou, apenas
brincando conosco.
— Esse homem não comete uma falha?
— Cresceu aprendendo a ser invisível, sendo ignorado enquanto
seus irmãos recebiam mais atenção e mais poder. Ele é um Rafaelli e eles não
gostam de ser ignorados. — Damon encostou-se na parede. — Dizem que o
meu avô fez de tudo para que ele perdesse o que tinha de humanidade. —
Contou e puxei uma cadeira, me sentando. — Eu não sei se é verdade, mas,
as mulheres mais antigas da villa disseram para o Enzo que o nosso avô fez o
Alonzo escolher entre a família e a mulher que amava. Vicenzo o torturou até
que ele a matasse, porque ela era de uma família rival. — Não consegui
esconder o meu horror. Era muito sério. Vicenzo praticou terrorismo com o
próprio filho. — Enzo teve mais contato, conhece o Alonzo muito mais do
que eu e...
— Ele fez o filho matar a própria mulher? — Eu estava além do
pavor.
— Sim. Foi como parte do treinamento para fazê-lo escolher. —
Damon engoliu seco. — Eu não teria coragem. Ou ele não a amava o
suficiente ou a sua realidade estava muito distorcida no momento, o que não
é uma ocorrência incomum em jogos mentais. Meu avô era mestre nisso. —
Ele me deu um beijo. — Eu te amo muito, eu me mataria no seu lugar.
— Sei disso, Damon. Eu jamais duvido do seu amor e da sua
proteção. — Segurei as suas mãos. — Só estou chocada com o quão cruel
essa vida pode ser. — Meus olhos se encheram de lágrimas. — É por isso que
ele se voltou contra a família?
— Em D.C... a ordem era executar cada membro da família que
estavam envolvidos com os negócios, principalmente o Alonzo, que não se
importou com toda a exposição. Enzo quase foi preso, na época, ninguém
sabia que o Alonzo estava por trás das informações vazadas junto com outra
pessoa. — Damon me explicou. — A minha teoria é que ele soube que seu
irmão mandou executá-lo, por associação ao Enzo, que aposentou o pai à
força. Alonzo deve ter se sentido traído. Dentro dessa família tão desleal, ele
teve que fazer o seu próprio jogo e eu penso que terminar com tudo,
explodindo nossos negócios de dentro para fora virou o seu foco até que se
tornou uma obsessão.
— Não é impossível de compreender. Ele sempre foi ignorado,
jogado, julgado, não estou passando a mão nas atitudes dele, mas sim
enxergando a raiz de tanta escuridão. Ele não nos odeia, ele odeia a família e
vai acabar com isso. Dessa vez, ele não vai aceitar ser ignorado. — Refleti
com o coração cheio de preocupação.
Damon sentou-se ao meu lado.
— É isso que eu vou fazer. Ignorá-lo vai levá-lo à exaustão, ele não
tem conseguido aliados, estamos recebendo informações das suas tentativas e
ninguém quer mexer conosco agora, não com toda mudança na gestão
financeira e pelo alcance do nosso poder. — Damon explicou e foi
exatamente assim que ele e a Juliana controlaram tudo na ausência do Enzo.
Os plenos poderes de um chefe era o que assegurava a ordem.
— Eu sei, mas ele é um homem sedento por vingança. Parem de
subestimá-lo. Eu não quero ficar sem você... — Avisei severamente.
— Não estamos subestimando, eu prometo. Não vou seguir o jogo
dele... Agora, ele vai seguir o meu jogo. Confia em mim. — Beijou os meus
lábios.
Ouvi barulhos de carros do lado de fora e o encarei.
— Vai sair?
— Não da propriedade. Isso é uma surpresinha para você. — Damon
sorriu.
Pela porta da frente, Zara e Chiara, filhas da Sandra e minhas
sobrinhas pelo casamento, entraram correndo. Elas abriram os braços, felizes.
— Tia Gio! Tia Gio! — Agachei e agarrei as duas ao mesmo tempo.
— Ahhh! — Gritaram com as minhas cócegas. — Surpresa! — Zara, a mais
velha de seis anos sorriu. Chiara me deu um olhar engraçado antes de correr
até o Damon.
— Olá, família. — Sandra parecia tensa e colocou a bolsa em cima
da mesa. — Está tudo bem agora?
— Tivemos uma pequena visitinha, mas está tudo resolvido e a casa
de hóspedes está pronta para vocês. — Damon falou com sua irmã.
— Por que a casa de hóspedes? Temos espaço o suficiente aqui. —
Fiquei de pé e abracei a Sandra, em seguida, o Frank entrou em casa. Ele
trocou um olhar com o Damon, com certa tensão por parte de ambos e então,
sorriu da sua maneira agradável para mim.
— As meninas fazem uma zona sem fim e aqui tem muitas escadas,
sacadas sem proteção e eu não quero correr atrás delas o tempo todo. —
Sandra explicou e fazia todo sentido. — Como você está?
Com a presença da Sandra e do Frank, Damon ficava um pouco
mais emocionalmente distante e seja lá o que o Frank estava falando com ele,
o deixou tenso e um pouco irritado. Levei a minha cunhada e as meninas para
a cozinha, oferecendo um lanche e propus prepararmos o jantar juntas. Por
mais curiosa que estivesse, não era o meu dever questionar o Damon na
frente da sua família.
Mesmo que Frank fosse da família, ele era o conselheiro e a ordem
precisava ser mantida. A doçura das meninas eclipsou um pouco a minha
preocupação. Enrico fechou as portas, deixando apenas as janelas abertas e
manteve os cachorros soltos. Diana queria entrar, ela não conhecia a Sandra e
estava desconfortável, mas eu não sabia como poderia reagir perto de
crianças e não queria arriscar. Ela não era exatamente doméstica.
A minha cunhada era uma mulher fácil de conversar, mas o Damon
e o Enrico tinham razão quando diziam que ela se metia em tudo de maneira
maternal.
— Como estão as coisas entre vocês dois? — Sandra colocou a
lasanha no forno. As meninas estavam na sala, assistindo desenhos no iPad e
brincando com suas bonecas. De vez em quando a briga rolava e a mãe
precisava ir lá e separar.
— Estamos bem, Sandra. Seu irmão é um bom marido e ele me faz
feliz. — Servi vinho branco para nós duas.
— Fico aliviada... Sempre me preocupei. Damon é um tanto volátil,
mas nunca foi de extrema violência. Apesar de tudo que aconteceu com o
casamento dos nossos pais, minha mãe nunca sofreu violência, mas ela era
ignorada e queria mais atenção que o papai estava disposto a dar. Para ele, era
a sua mulher, uma peça bonita e era nítido o quanto papai se importava
apenas conosco. — Bebeu um pouco do seu vinho. — Quando comecei a
preparar você para o casamento, ficava me perguntando se o meu irmão seria
um marido presente.
— Entendo a nossa vida e a ausência dele com o trabalho, nem
sempre é fácil, mas ele se esforça para estar comigo. Quando estamos juntos,
cada momento de sacrifício vale a pena. — Comentei me perguntando se
poderia me abrir demais e por algum motivo, não quis. — Nós nos amamos.
— Fico feliz em ouvir isso, mas você ainda parece tão doce, tão
menina e mimada. Isso me preocupa, Gio. Não estou falando por mal, estou
apenas querendo dizer que você precisa sair do seu casulo perfeito. Damon te
mima excessivamente, faz tudo o que quer e isso é bom, mas em alguns
momentos da nossa vida, é ruim. — Sandra falou em tom maternal e sorri.
— Escolho as batalhas pelas quais lutar. — E a imagem que eu
queria passar. — Eu tenho dezenove anos, como poderia parecer mais? Isso
vai levar tempo.
Sandra percebeu que eu não estava me abrindo. Meu casamento era
sagrado. Eu a amava, ela foi a minha principal companhia e a minha maior
incentivadora nos três anos nos quais fiquei longe da minha família. Ela me
ensinou tudo que eu precisava saber para me tornar uma Di Galattore e
principalmente, a matriarca principal dessa família, mesmo tão jovem. Mas...
tudo sobre Damon e eu, gostava de manter entre nós.
A lasanha ficou pronta e nós jantamos. Não chamei ou liguei para o
Damon, respeitando que ele estava fora. As meninas amaram a comida e
repetiram. Ajudei a minha cunhada na hora do banho, a ler histórias e me vi
sendo a tia boba com canções para dormir. Enquanto elas dormiam seguras
no quarto da casa de hóspedes, Sandra e eu nos sentamos na sala que eu mal
havia pisado nos últimos meses.
Ouvimos o barulho dos carros entrando em alta velocidade na
propriedade, os cachorros se agitaram e as vozes masculinas eram altas.
Fiquei arrepiada da cabeça aos pés com o tom de voz sombrio do Damon.
Frank entrou em casa e ele estava suado, com uma expressão muito
irritada.
— Oi, Gio. — Me deu um sorriso tenso. — Oi, amor. — Beijou a
Sandra. — Giovanna... Acho melhor...
Ele não conseguiu falar porque ouvimos o som horripilante de
coisas quebrando.
— Talvez você deva dormir aqui enquanto… — Frank me deu um
olhar preocupado.
— O que aconteceu, querido? — Sandra colocou a mão em seu peito
e mesmo de longe, podia ver o peito do Frank subindo e descendo.
— Damon está daquele jeito. — Frank estava irritado. — Foi difícil
segurá-lo.
— O que catalisou? — Sandra estava preocupada e então, as portas
de ferro da cozinha bateram tão forte que a Diana rosnou.
Frank não respondeu e o Damon apareceu na porta da sala. Ele
estava banhado em sangue. Seu rosto tinha marcas de dedos ensanguentados
e seu olhar era selvageria crua, ódio e morte. Seus olhos eram castanhos
escuros, mas havia um brilho sombrio, uma vermelhidão e meu coração bateu
rápido, enchendo-se de pavor. Não por mim, mas sim pela monstruosidade
que ser um homem iniciado causava um pandemônio no meu marido.
— Vem, agora! — Seu rosto era puro desafio. Eu conhecia o
Damon, ele estava com raiva, queria brigar, queria um motivo para explodir e
destruir tudo ao redor. Ele estava tomado pelos horrores dessa noite. Não foi
algo “simples”. Foi intenso ao ponto de ser um catalisador. E pela quantidade
de sangue em suas roupas... — Eu quero que você venha agora.
— Tudo bem. — Falei com calma. Damon não me machucaria, mas
eu estava com medo de que ele se machucasse. Mais de uma vez eu vi o meu
pai surtar ao ponto de querer atirar na sua própria cabeça. Minha mãe tentava
esconder tudo de mim, não só para não me assustar, mas porque o papai não
gostava que o visse violento.
— Gio... Fique aqui. — Sandra me pediu, aflita.
— Não se mete! — Damon vociferou para a sua irmã. Frank deu um
passo protetor e possessivo, como se fosse me puxar para ele. — Não ouse
encostar na minha mulher. Eu vou te matar...
Ergui a minha mão para o Frank parar. Eu sabia que o meu tamanho
me fazia parecer um cordeirinho indo para o abate, mas o Damon nunca me
machucaria.
— Está tudo bem, boa noite. Nos vemos amanhã. — Garanti para a
Sandra com um sorriso tranquilizador. — Você precisa sair da porta para que
eu possa passar, amor. — Mantive meu tom de voz calmo.
Damon soltou as dobradiças e elas estavam amassadas com os seus
dedos e manchadas de sangue. Passei por ele, com calma e andei decidida até
em casa. Diana fungou na minha mão e rosnou para o Damon. Para ela, ele
era a minha ameaça. Meu marido passou por mim e eu senti vontade de matá-
lo ao ver a cristaleira da sala de visitas quebrada em milhares de pedaços no
chão, com cacos de vidro por todo lado.
Em silêncio, ele parecia um touro, bufando, tomado por uma fúria
que ao entrar no quarto, ele derrubou milhares de coisas. Saltei de susto
quando a porta do banheiro bateu contra parede e eu fechei a porta do nosso
quarto, trancando com a chave. Ele não ia sair dali para lugar nenhum e
destruir mais nada na minha casa ou eu seria obrigada a machucá-lo.
Damon arrancou as roupas, querendo sair delas, banhadas em
sangue e eu cobri a minha boca ao ver os cortes na sua pele. Dois deles
precisariam de pontos. Parei na varanda, para fechar as portas e vi o Enrico,
olhando para cima. Ele estava preocupado. Todos estavam. Eu nunca vi o
Damon daquele jeito e percebi que ele não voltava para casa imediatamente
quando coisas como aquela aconteciam. Era por isso que ele desaparecia em
Chicago. Meu marido escolhia me poupar e ele tinha medo de si mesmo.
Eu não tinha medo dele.
Com o quarto fechado, liguei o ar condicionado para deixar a
climatização suave e pulei as suas roupas molhadas no chão. Fiquei em
silêncio, ouvindo a sua respiração pesada e ele ligou o chuveiro. A água
escorria em um tom de marrom com vermelha, uma mistura de terra e sangue
que pintava a noite. Damon ficou parado de costas para mim, as tatuagens
sobre a família pareciam gritar comigo.
Seus músculos estavam tensos, olhei para a sua bunda firme,
admirando o seu corpo e senti o meu coração partir com a maneira que a
cabeça estava baixa, com a respiração ofegante.
Tirei a minha roupa, parei na frente do espelho e prendi o meu
cabelo. Com cuidado para não escorregar, pisei na área do box e parei atrás
dele. Toquei suas costas, com calma e mesmo assim, ele reagiu bruscamente.
Ainda de costas, beijei seus ombros, seus bíceps e onde mais podia alcançar,
envolvendo-o com os meus braços. Deixei que meus peitos encostassem nas
suas costas e na ponta dos pés, beijei a sua nuca.
— Eu te amo, te amo muito, te amo mais que tudo...
Damon soltou um som estrangulado, como um gemido de dor e
virou, me colocando entre ele e a parede. Encurralada, olhei em seus olhos,
havia uma expressão torturada que me quebrou em milhares de pedaços. A
sua humanidade lutava com a monstruosidade que os demônios da família lhe
causavam.
Toquei o seu rosto e ele fechou os olhos, aproveitei o momento para
beijar a sua boca. Foi como um catalisador, porque ele avançou em mim com
tudo. Não havia nada segurando-o. Arfei pela maneira brusca que minhas
costas bateram no azulejo frio e a sua boca me mordendo e chupando partes
diferentes do meu pescoço e colo. Damon agarrou meus peitos, chupando o
meu mamilo com força e deu uma mordida no meu biquinho, que me fez
sentir dor e prazer.
Suas mãos apertaram a minha bunda com brusquidão, então, deu um
tapa. Ardeu e não de uma maneira ruim. Estava tão excitada que puxei o seu
cabelo, arranhando seu couro cabeludo. Seu pênis já estava duro contra a
minha barriga e agarrei, bombeando, fazendo o que ele gostava, arrancando
gemidos fortes e intensos da sua boca maravilhosa. Ele me olhou tão
intensamente que senti o seu desejo no coração.
— Me chupa.
Escorreguei, ficando de joelhos e ele pressionou a cabeça do seu pau
na minha boca. Lambi, sentindo o gosto salgado e logo enfiei quase tudo.
Damon queria foder a minha boca, a maneira como ele estava trincando os
dentes era o indicativo que a sua violência estava pela borda, mas não queria
me machucar. Seus olhos em mim eram puro fogo e paixão.
— Eu amo o meu pau na sua boca. — Rosnou e chupei as suas
bolas. — Eu amo você, caralho. Quero gozar na sua boca e ver a minha porra
na sua língua.
Minhas bochechas não tinham mais a decência de corar porque já
tinha feito aquilo algumas vezes. Nem sempre engolia, nem sempre ele
gozava no boquete, querendo logo me comer, mas naquele momento ele
estava disposto. Gozando, mostrei a minha língua, ignorando o gosto, mas
vendo o seu olhar de posse.
23
Damon.
Giovanna estava na cama a minha frente, vermelha, com os pés
apoiados no meu peito e as mãos agarrando os lençóis, gemendo alto e com a
sua buceta engolindo o meu pau. Estoquei firme, explodindo de tesão, com a
minha pélvis batendo contra a sua bunda. O quarto estava preenchido com o
som das nossas carnes se chocando, o cheiro de sexo, seus gemidos e os seus
peitos perfeitos sacudindo. A sua expressão delirante de prazer me fez sair
lentamente do caos, da escuridão, do ódio, da vontade de matar e do desejo
de sangue.
Ela gritou, gozando e estrangulando o meu pau, se contorcendo na
cama, puxando o ar e abri as suas pernas, deitando-me sobre ela, sem parar de
meter e beijando a sua boca. Senti as suas unhas nas minhas costas, me
arranhando e impulsionou o seu quadril de encontro com o meu. Mordeu o
meu lábio bem forte e sorriu com o meu gemido.
Giovanna sabia que eu queria sentir dor e não estava me poupando.
— Te amo pra caralho, minha mulher. — Mordi o seu pescoço.
— Goza, amor. — Ela olhou em meus olhos. — Está tudo bem
agora, estou com você, nós estamos bem.
Foda-se .
Sua voz suave e confiante me atingiu como uma tonelada. Me liberei
dentro dela, forte e meu corpo inteiro estremeceu. Ficamos abraçados na
cama, suados, mas ainda não tinha acabado. Eu ainda precisava dela. Ainda
queria que perdesse os sentidos de tanto gozar e não poupei o seu corpo,
levando-a ao orgasmo mais uma vez. Virei-a de quatro, ainda trêmula e
confusa, ela me deu um olhar quente, excitado.
Empurrei o meu pau devagar, bem devagarinho , ela ficou toda
arrepiada, gemendo. Apertei as suas nádegas, dando tapas firmes, desci a
minha mão pelas suas costas perfeitas, louco com a visão deliciosa da sua
bunda redonda, cheia e a cinturinha fina. Agarrei os seus seios, empurrando
tão fundo quanto podia. Seus gritos de prazer encheram os meus ouvidos,
eram como música. Esfreguei o seu clitóris, mantendo o ritmo punitivo que
fazia com que as minhas bolas batessem firme nela.
Giovanna voltou a estremecer.
— Damon, baby. Damon... Amor. Ah, Damon! — Cantarolou,
perdendo-se em si mesma e meus músculos estavam queimando. Todo o meu
corpo parecia uma bola de incêndio. Giovanna gozou e eu em seguida,
tremendo, me sentindo vivo. Seu corpo ficou mole e com cuidado, deitei-a na
cama, ela estava apagada, com um sorriso nos lábios e acariciei seu rosto.
— Você apagou.
— Apaguei. — Gemeu e me abraçou, ficamos quietos e o meu
coração ainda parecia explodir no peito. Ela ouviu isso. — Damon?
— Não quero perder você. — Fechei os meus olhos. — Não posso te
perder, Giovanna.
— Você não vai.
— Eu preciso te proteger e não sei como fazer isso perfeitamente.
Eles chegaram perto demais e não quero que você seja tão manchada e
machucada com os horrores que os homens podem fazer com você.
Giovanna me deu um olhar confiante.
— Sei que você vai conseguir. — Me tranquilizou. — Confio na sua
capacidade, inteligência e liderança. Confio no seu amor por mim, serei
protegida, mas eu sou forte. Não vou quebrar tão fácil. Nasci para ser a sua
mulher, eu te amo e você não precisa temer por mim, porque...
— Você vai atravessar o fogo e a escuridão comigo.
— Para sempre, Damon.
— Você é a minha vida. — Beijei a sua boca, com todo meu amor e
ficamos juntinhos e eu não sairia dali. De manhã, desceria para interrogar o
meu convidado. No momento, Enrico estava mantendo-o vivo após algumas
rodadas com os meus homens e eu precisava da Giovanna para me manter
são, ou eu iria matá-lo e cortar em pequenos pedaços para dar para os meus
cães.
Odiei quando o dia amanheceu. Odiei romper a minha conexão com a
Giovanna e isso me deixou puto logo que abri os olhos. Levantei-me para
tomar um banho e ela me acompanhou, mas cada um de um lado. Me vesti,
me equipei e observei-a andar pelo quarto de calcinha, escolhendo uma calça
de moletom, uma blusinha verde e prendeu o cabelo em um rabo de cavalo.
Saímos do quarto juntos e antes de descermos, ela me parou na escada,
onde ninguém poderia nos ver ainda e me abraçou apertado. Não precisava
dizer nada, era só um recado, ela me amava, estava comigo e me esperaria
voltar. Beijei a sua testa e descemos. Nina estava no fogão fazendo algo
cheiroso. Ela me deu um aceno contido.
Sandra me olhou com cautela, mas não disfarçou o olhar de alívio ao
ver Giovanna bem. Dei a ela um sorriso provocante, bem perverso. O que ela
pensou? Que ia matar a pessoa mais importante da minha vida? Frank me deu
um olhar de aviso, sendo protetor com a sua esposa e eu bufei, que ele
tentasse. Nós dois sabíamos que ele nunca poderia contra mim e era por isso
que era a porra do meu conselheiro e não o meu capitão.
Giovanna serviu o meu café da manhã, não porque ela era minha
esposa e tinha o costume de fazer tal coisa. Ela fez como uma forma muito
sutil e educada de mandar o seu recado que era melhor que descesse bem
alimentado. Comi rápido e logo saí sem falar nada. Frank me acompanhou, o
tempo todo me olhando, esperando que eu virasse e gritasse como um louco.
A tensão rolava em mim em ondas. Antes que pudesse digitar o
código para entrar no armazém, ele bloqueou o caminho.
— Você está consciente?
— Claro que sim, porra.
— Damon, você lembra o que fez ontem? — Frank arqueou a
sobrancelha. — Parecia um completo animal, caralho. Foi um banho de
sangue e ninguém te controlava, nós precisávamos daquelas informações.
— Em primeiro lugar, aqueles ratos acharam que podiam me roubar,
organizar um ataque na minha casa, ameaçar a minha esposa, dizer que
foderiam a bunda dela e tudo por uma merda entregue pelo Alonzo? —
Coloquei a minha mão na porta. — E eu tinha que me acalmar? Não preciso
de informações. Eu segui o joguinho do Alonzo quando ele estava brincando
com o Enzo e agora, ele vai seguir o meu joguinho. Eu vou quebrar esse filho
da puta, a sua arrogância, o seu ego e vou fodê-lo com seu desejo de
vingança. Alonzo vai descobrir que o sangue Rafaelli que corre nas minhas
veias não é a minha pior parte.
— Guarde a besta para o momento certo. Giovanna tem mais
proteção que a própria realeza, ele não vai chegar perto dela. Nós não vamos
deixar. — Frank me agarrou pelo colarinho. — Eu não vou deixar que você
escorregue para a escuridão novamente. Da última vez, quase foi pego e foi
difícil limpar a bagunça de sangue. E o que aconteceu em Nova Iorque, com
você e o psicopata do Enzo juntos ainda está sendo uma dor na minha bunda.
Se concentra, caralho.
Entendia o estresse, afinal, ele era o único lidando com a polícia.
— Aquele agente do FBI não vai descansar. Eu ouvi que ele quer
fundar uma força tarefa para nos derrubar. Não importa o quanto nosso
acordo com o governo seja válido, precisamos ter cuidados. Combinado? —
Me olhou nos olhos.
— Combinado, meu amado conselheiro.
— Não me faça te dar um soco. — Frank bufou, me soltando.
Desbloqueei a porta e respirei fundo.
— Ah, o cheiro da morte! — Cantarolei alto, descendo a rampa com
a minha arma na mão. Enrico saiu da escuridão e olhou para o homem
amarrado, a transfusão de sangue estava quase acabando, ele estava lúcido,
arrebentado e chorando. — Acabei de chegar para a festinha e você já está
implorando? Não me decepcione...
— É só fazer “buh” que ele desmaia. — Enrico riu e me agachei na
frente dele.
— Ninguém te avisou na porra desse país a nunca mexer comigo,
caralho? — Puxei o seu cabelo, querendo ver os seus olhos e sorri para a sua
dor.
— Ele disse que não seria tão difícil quanto o outro lugar.
Merda. Villa Valentinni . Olhei para o Frank e ele saiu.
— É mesmo... — Torci o meu punho e sua cabeça foi para trás, ele
gritou. — O que mais? — Ele foi tão fácil de quebrar. Uma noite com o
Enrico e já tinha se mijado todo.
— Eu não sei, tudo que ele disse foi que era para nos dividir, pegar
as mulheres e crianças da casa principal. — Gritou e o meu sangue gelou com
a possibilidade que o monstro do Alonzo colocasse as mãos nas minhas
afilhadas. Tirei o meu canivete e furei a sua coxa.
— ONDE ELE ESTÁ, CARALHO?
— Eu não sei!
— Eu vou te servir com o seu pau se você não me disser... ONDE
ELE ESTÁ? — Furei a sua coxa repetidas vezes até que ele me disse o que
eu queria ouvir. Ofegante, sorri. — Não podíamos ter resolvido isso antes de
uma forma mais... civilizada? Poxa vida. — Fiquei de pé e sequei o meu
rosto sujo de sangue. — Termine com ele. — Apontei para o Sandro.
— Vem comigo. — Chamei o Enrico e saímos do galpão. — Vá até
a minha casa, pegue roupas limpas. Vou usar a sua casa porque a minha irmã
está na casa de hóspedes.
Enrico saiu e entrei na sua casa. Era muito limpa e organizada como a
de uma mulher. Enrico era maluco, ele só era quieto. Ninguém sabia a besta
que era e a curta paciência que tinha. Só Deus sabia como Giovanna não
atentou o juízo dele de maneira permanente. Eles se gostavam por um
milagre. Entrei em seu banheiro, tirei a roupa e tomei um banho rápido. Ele
entrou com novas roupas e parou ao fundo.
— Vamos sair hoje?
— Sim.
— Vamos deixá-la aqui? — Enrico parecia incerto.
Ergui o meu olhar.
— O que sugere? O que está sentindo?
— Eu não confio nesse filho da puta, ele gosta de brincar, de fazer
uma caçada doentia e o problema dele é com o Enzo... Com o sucessor da
família Rafaelli. — Enrico inclinou a cabeça para o lado.
— Ele me subestima, isso é um fato.
— Não significa que ele não vá usar a Giovanna como moeda de
troca, uma isca ou qualquer merda. Ele sabe do juramento de sangue, ele sabe
que o Enzo agora é um homem capaz de fazer qualquer coisa pela família.
Giovanna é família. Ela é madrinha das filhas dele. — Enrico falou sério. —
Ele te subestimar é a nossa vantagem e o elemento surpresa;de tão focado no
Enzo, não te percebeu. Você se escondeu por anos por trás da fachada fria e
distante da nossa família enquanto o Enzo fez questão de exibir a besta que é.
— Meus monstros escondidos não querem dizer que ele não vá usar
Giovanna. — Entendi o seu pensamento.
— Exatamente. — Enrico estava pensativo. — Se ele pegar a
Giovanna e exigir algo do Enzo, que ele vá negar e então, causar uma ruptura
em vocês? É uma intenção bem barata de conseguir. Quebrar o elo seria
quebrar a força.
Enrico tinha razão e eu precisava tirar a Giovanna do radar.
— Ela vai para o local seguro e vocês vão ficar lá até que eu volte.
Preciso fazer algumas ligações, descanse um pouco e faça as malas.
Enrico assentiu e eu saí da sua casa direto para a minha. Frank estava
saindo ao meu encontro.
— Mande preparar o avião, você precisa estar em Chicago ainda
hoje, no mais tardar amanhã. — Tirei o meu telefone do bolso e fiz uma
ligação. — Enzo.
— Já estou sabendo, seu conselheiro me ligou. Vou te encontrar lá.
— Falou e parecia fumar. — Elas vão .
— Sim.
— Ok. Até mais.
Estalei o meu pescoço, pensando em como explicar a Giovanna para
fazer as malas e ir para um lugar que eu não diria onde e não sabia quanto
tempo ficaríamos separados. Entrei no meu escritório, pegando seus
documentos e dinheiro. Saí do escritório e minha esposa estava na cozinha
com as minhas sobrinhas. Nina estava fazendo o almoço, cantarolando.
— Cadê a Sandra? — Parei na soleira.
— Frank precisou conversar com ela em particular e me ofereci para
ajudar as meninas a decorar os cupcakes do lanche. — Giovanna me
respondeu e capturou o meu olhar. — Meninas, eu já volto. Nina, você pode
olhar as duas, por favor?
— Claro. — Nina sorriu.
Minha esposa andou na minha direção e segurei a sua mão, subindo a
escada e levando para o meu quarto. Fechei a porta atrás de mim.
— Por que não estou gostando da sua expressão? — Giovanna
sentou-se na cama. Ela segurou as minhas mãos e beijei os seus dedos.
— Amor, nós precisamos ficar separados por um tempo. Dessa vez,
a caçada é real e eu temo que o Alonzo te use como isca ou moeda de troca.
Ele deixou claro a intenção de pegar vocês e as meninas... Então, vocês vão
para o lugar seguro até que isso acabe.
— Quanto tempo? — Sua voz saiu baixinho.
— Não sei, bella . — Fui honesto e as lágrimas escorreram pelo seu
rosto. — Prometo dar o meu melhor para voltar para você o mais rápido
possível. A essa altura, não confio em ninguém.
— E onde é esse lugar? — Seu olhar marejado encontrou o meu.
— Você vai saber quando chegar lá. — Beijei o seu rosto. — Precisa
começar a arrumar as suas coisas. Nós vamos fazer um esquema de distração
para o seu voo. Enrico irá com você.
— Não, Damon. Eu não quero ir. — Giovanna me segurou. — Não.
— Amore... Mia bella .
— Por favor, Damon. — Ela chorou forte contra o meu peito. — Por
favor.
Giovanna me beijou, subindo em cima de mim e nós rolamos na cama,
começando a fazer amor, com gosto de despedida. Era um até breve. Meu
coração estava fodido com suas lágrimas enquanto tomava banho e arrumava
uma mala. Não a deixei sozinha, resolvendo o que podia por telefone e nos
despedimos da minha irmã, que ficou agarrada em mim por mais tempo.
— Volta para casa, seu merdinha. — Sandra sussurrou no meu
ouvido e se afastou com o seu marido e filhas.
Giovanna ficou pronta com uma mochila, uma mala e uma bolsa
pequena. Usava jeans, camiseta e tênis de corrida, minha garota esperta e
preparada. Dei a ela uma bolsa de dinheiro, ela não precisaria usar onde
estaria, mas precisava estar preparada se coisas acontecessem no
caminho. Ela implorou para a Nina cuidar dos cachorros e ela nem gostava
muito deles, sempre tinha medo, mas ela e a Diana pareciam ter uma ligação
especial.
Diana era treinada para proteger a Giovanna.
Entramos no carro e dei um beijo na sua boca, um beijo intenso,
apaixonado e meu coração retumbava no peito enquanto seguíamos em um
comboio de treze carros pela cidade, em alta velocidade, se dispersando em
muitos caminhos, para que ninguém nos seguisse e ela embarcasse em
segurança. Chegamos ao aeroporto clandestino e ali, tinha dois aviões. Um
abriu a porta, onde o Enzo saiu com a Juliana e as suas duas filhas. Alessio
saiu em seguida.
Enrico levou as malas para o avião. Juliana e Enzo se despediram e
olhei para a minha esposa. Seus olhos vermelhos encontraram com os meus.
— Não morre. — Falou bem baixo. — Volte para mim. — Agarrou
a minha camisa. — Não posso e não quero viver sem você.
— Você não vai viver sem mim, eu te amo mais que tudo nesse
mundo.
— Eu te amo! — Giovanna chorou e o Enrico sinalizou que era hora
de ir. Levei-a até as escadas do avião e segurei a mão do meu irmão da vida.
Ele apertou e nossas tatuagens se tocaram. Ele sabia. Não era preciso
palavras. Era a vida dele pela dela.
Enzo e eu nos afastamos para que o avião pudesse decolar.
— Eu prometi à Juliana que depois daquilo, nós nunca ficaríamos
separados e por causa desse filho da puta, de novo, estou vendo a minha
mulher e filhas saírem. — Enzo afundou o punho no capô do carro. — Quero
ele morto.
Meu olhar estava preso no avião sumindo na imensidão. Minha
Giovanna longe de mim e eu não sabia se podia lidar com isso.
24
Damon.
Enzo estava dirigindo por uma estrada de chão batido, do seu lado
do motorista havia um descampado e do meu lado, uma praia. Meu primo
estava em silêncio e eu com o pensamento na Giovanna. Uma semana longe e
eu estava com saudades, sem nenhuma previsão de quando poderia voltar a
vê-la. Para melhorar, meu primo e eu estávamos fingindo que nada estava
acontecendo, não só publicamente como para a nossa família. Não era seguro
e não confiamos em ninguém.
— Acha que ele vai nos ajudar?
— O filho da puta basicamente me matou, ele me deve. — Enzo
rosnou. Ele estava com um humor horrível desde que o avião decolou e nós já
rolamos no soco mil vezes em apenas sete dias.
— Eu não confio nele.
— Caralho! Eu já entendi, mas precisamos de um hacker e eu não
vou envolver mais ninguém nessa história! — Ele berrou no volante.
— Só avisando, que se der merda, eu vou dizer “eu te avisei”. —
Encolhi os ombros e ele quase bateu com o carro para me dar um soco, mas
eu segurei o seu punho antes. — Não adianta ficar putinho.
Ele revirou os olhos e voltou com o carro para a estrada, entrando
em uma fazenda próxima à praia na minúscula cidade que o Jackson Bernard
nasceu e foi criado. Havia um menino correndo com uns cachorros, ele
parecia com o imbecil do Jack e era um pré-adolescente ou um pouco mais
velho que isso. Ele entrou correndo quando nos viu e não levou dois
segundos para uma mulher muito bonita sair.
— Oi, Alice. — Enzo saiu do carro. Ela estava séria.
— Oi, Enzo. — Falou desconfiada.
— Quero falar com ele. — Enzo foi direto ao ponto. — Relaxa, é só
falar. — Ele sorriu torto e ela ainda parecia tensa.
— Ele está no galpão, cuidando dos cavalos. — Apontou para um
celeiro.
Estava puto de ter que andar em um local com um espaço aberto e
indo me encontrar com um homem que eu não gostava. Dei o benefício da
dúvida para o Enzo. Ele me disse que o Jack tinha amor à vida e pela sua
família, então, eu estava seguindo o seu jogo porque por toda a semana ele
seguiu o meu próprio.
— Quem é vivo sempre aparece. — Jack cantarolou, escovando os
pelos de um cavalo e o meu dedo coçou no gatilho. Piadinha imbecil. —
Relaxa, Damon. Escovar cavalos é terapêutico, que tal pegar uma escova e
me ajudar?
— Só se for para escovar a sua cara. — Rebati, sem paciência.
— As mocinhas discutem depois, preciso da sua ajuda e vou pagar
pelo serviço. — Enzo inclinou a cabeça para o lado e sorriu.
— Não está preocupado com o que poderei fazer com a informação?
— Jack desafiou.
— Lindo lugar. — Enzo olhou ao redor. — Fácil de explodir.
Jack jogou a escova em um balde de ferro, fez um estrondo e
assustou os cavalos.
— Eu não tenho computadores em casa... Só coisa comum. — Jack
rebateu e eu estava surpreso. — Faz parte da minha nova reabilitação de vício
e porque eu tenho medo da minha mulher. O que vocês precisam?
— Descobrimos que o Alonzo teve uma mulher no passado e que
possivelmente, o homem que foi morto no meu lugar, é um parente. A
amostra não conseguiu definir o grau de parentesco, não sei se é mais um
irmão bastardo, um primo e enfim, pagamos por essa informação, mas
precisamos que alguém decifre os códigos.
— Certo. — Jack ficou pensativo. — Tem algum computador?
— No meu carro tem.
— Vou tentar, mas eu não vou sair daqui, então, se eu não
conseguir, não vou para outro lugar não importa o quanto implore. — Jack
passou por nós e eu olhei para o Enzo, louco para dar um tiro nas pernas
daquele abusado.
Seguindo-o pelo quintal, eu podia ver Alice observando da varanda
e ela bateu a porta com um estrondo quando o Enzo entregou ao Jack um
notebook zerado. Compramos antes de decidir procurá-lo. Ele enfiou o chip
no lugar certo e uma tela preta abriu. Jack ficou concentrado, digitando,
tamborilando os dedos no capô do carro e então, várias imagens e arquivos
escaneados apareceram na tela.
— Tem algumas informações sobre uma mulher que foi assassinada.
— Jack virou o computador e nós olhamos. Fazia mais de trinta anos que
uma mulher foi encontrada morta, em uma praça não muito longe da Villa
Rafaelli na Toscana. Eram reportagens que descreviam a maneira brutal que
ela foi assassinada.
Seu pai era um famoso contraventor e eu ouvi falar sobre essa
família. Eles não existiam mais, foram eliminados pelo executor da família e
na época, era o Alonzo. No mesmo arquivo, haviam fotos de um casamento e
era do Alonzo com a mulher. Aquele casamento deveria ser simbólico,
porque não havia registros que o Alonzo se casou oficialmente um dia. Era
verdade que ele foi obrigado a assassinar a mulher que amava.
Ele matou a própria esposa por lealdade à família e foi traído pelos
seus irmãos.
— Obrigado, Jack. — Enzo deu a ele um rolo de dinheiro.
— Vocês deveriam tomar cuidado. — Jack avisou e eu ignorei,
entrando no carro. — E fiquem longe, eu não quero esse monstro me
perseguindo porque ajudei vocês.
Enzo deu a ele o dedo médio e saiu de ré em alta velocidade.
— Será que eles tiveram filhos? — Continuei analisando os
arquivos. — Ele é nosso tio biológico, não seria estranho o DNA dar
positivo.
— Só existe uma maneira de descobrir, testando com o Emerson e
com outra pessoa. Eu vou fazer umas ligações assim que chegarmos em D.C.
— Essa tal de Sienna é confiável? — Continuei lendo os jornais da
época.
— É ela quem faz parecer que a nossa vida é completamente normal
e cria a nossa imagem de maneira perfeita. Quando eu estava morto, ela
ajudou a Juliana a criar todas aquelas histórias fakes e fez pessoas falarem
com as revistas que me viram em determinados lugares. — Comentou e
estava olhando para frente. — Sienna é uma associada valiosa e é leal. Ela já
teve motivos para nos trair e não o fez.
— Ela que era relacionada com o futuro subchefe de D.C?
— Ela mesma.
— Ok.
Nós chegamos na cidade, devolvemos o carro que alugamos com
uma identidade falsa e pegamos outro carro em outro lugar, dirigindo até
Boston por algumas horas. Enzo precisava parar em um lugar para falar com
um associado local. Ele estacionou no centro, próximo a um estacionamento
e ficamos na escuridão. Um homem se aproximou com as mãos enfiadas no
bolso e entrou no banco de trás.
— Oi, Callum. — Enzo estava tranquilo com ele, mas eu não o
conhecia pessoalmente. — Esse é o meu primo, Damon Galattore. —
Apontou e dei uma olhada desinteressada. O tal do Callum tirou um envelope
pardo do casaco e entregou ao Enzo.
— Não consegui muito, não tive tempo, mas encontrei essas
transações da época que o meu pai estava vivo. Bate com o que vocês
encontraram...
Enzo me deu um olhar exasperado. Quanto mais cavamos a história
da nossa família, mais parecíamos santos ao lado dos nossos antecessores.
Callum nos entregou documentos que provavam que o pai dele financiou o
Lorenzo pouco tempo depois da sua aposentadoria forçada. Callum saiu do
carro após uma rápida despedida e nós continuamos parados no mesmo lugar.
— Será que ele achou que o Alonzo concordou com a
aposentadoria?
— Não era como se eu tivesse dado opções. Alonzo era um executor
e ele fazia o que era ordenado. — Enzo deu de ombros. — Talvez o meu pai
tenha achado que o Alonzo o traiu, na verdade, o Alonzo era leal à família
até que percebeu que a família não era leal a ele.
— Faz todo sentido ele querer nos matar. Ele quer destruir a família,
o que ela significa e a traição que ele sentiu.
Enzo me entregou as folhas e ligou o carro. Nós tínhamos longas
horas na estrada até D.C. Estávamos evitando aviões e ficar muito tempo no
radar. Era importante ficar um tempo ausente. Enzo e eu tínhamos planos e
dinheiro à disposição para acabar com isso o mais rápido possível e voltar
para as nossas esposas. Ele estava mordido de ficar tão longe e eu não
conseguia descrever a minha saudade da Giovanna.
Paramos em um motel no meio do caminho e ficamos no mesmo
quarto. Cada um deitou em uma cama, olhando para o alto e ele pegou um
cigarro, olhando, considerando fumar, mas não fumou. Só ficou olhando.
Tirei a minha aliança, rodando em meus dedos e tentei cochilar, mas com a
cabeça tão cheia, não conseguia. Decidimos sair antes do amanhecer, desta
vez, dirigi e paramos no local combinado poucos minutos antes.
Kyra Bryant saiu de um carro todo preto e entrou no nosso.
— Você tem algo? — Enzo virou no banco.
— Ele está tentando rastrear a localização delas a todo custo. Já
descobriu que elas não estão na Itália e muito menos aqui, o que me faz
pensar que alguém contou.
— Pode ser qualquer pessoa estúpida da villa. Eles sempre contam
quando a Juliana viaja. — Enzo grunhiu. — Mas ele pegou qualquer dica da
localização delas?
— Não. Elas estão seguras. — Kyra garantiu. — Eu usei todas as
minhas fontes e contatos, ele está na lista de mais procurados, mas não está
em evidência.
— Colocar o rosto dele em todos os noticiários?
— Sienna acredita que pode fazê-lo estar nos jornais em algumas
horas e eu posso forjar milhares de atentados, colocando a culpa nele.
— O problema de ele estar nos mais procurados é a mínima
possibilidade de alguma agência realmente encontrá-lo e levá-lo em proteção
por todas as informações que ele sabe. — Cruzei os meus braços e eles
ficaram em silêncio. — Alguma coisa a mais?
— Um antigo associado do meu pai disse que o Alonzo o procurou
em Berlin na última semana. Ele realmente está fora da América. Não
descarto nenhuma possibilidade que o Alonzo consiga entrar no país
clandestinamente, porém, ele quer as mulheres e ele deve achar que elas estão
em algum lugar na Europa e está procurando associados que possam acatar os
seus planos. — Ela enfiou a cabeça entre os dois bancos. — Eu posso estar
em Londres na próxima semana e tem um amigo no MI6 me devendo um
favor.
— O que você vai querer em troca? — Enzo arqueou a sobrancelha.
— Esse homem morto até amanhã. — Nos entregou uma foto.
— Eu devo perguntar quem é ele ou...
— Ele está no caminho dos nossos planos políticos.
— Tudo bem. — Dei de ombros.
— Vejo vocês em Londres. — Kyra saiu do carro.
Liguei o carro novamente e chegamos a um centro comercial. Havia
um prédio de tijolos com uma placa elegante escrito Bianchi, Miller e
Associados. Parei em uma vaga para visitantes e saímos do carro. Puxei o
meu capuz e mantive a minha arma escondida. Entramos no local e parecia
um escritório comum de advogados. Um homem alto, parecia um irlandês
maldito, nos olhou bem sério e pareceu muito protetor quando uma mulher
baixinha com saltos enormes desceu as escadas.
— Enzo, seja-bem vindo. — Ela apertou a mão do meu primo e me
olhou. — É um prazer conhecê-lo, Sr. Di Galattore.
Ela sabia pronunciar o meu sobrenome corretamente.
— Lamento pela sua perda. — Falei em menção a morte do Nicola
Bianchi, o seu sócio e pelo que meu primo me contou, melhor amigo.
— Obrigada. Eu sinto muito pela maneira que perdeu o seu pai
também. — Ela foi gentil e abriu um sorriso profissional. — Vamos nos
reunir?
Sienna era responsável por equilibrar a nossa imagem. Como nós
ficaríamos desaparecidos por um tempo, ela precisava alinhar perfeitamente o
que seria publicado. Entregamos a ela milhares de fotografias e situações que
poderiam ser criadas. Ela gerenciaria as redes sociais e faria parecer que
estávamos vivendo normalmente, criando álibis para a nossa viagem.
— Boa sorte. — Ela nos desejou sinceramente e olhou nos meus
olhos. — Dê um um olá especial a ele por mim.
— Pode deixar. — Prometi.
...
Eu sabia que não seria fácil ficar longe da Giovanna, mas a
realidade era muito pior. Ficar tanto tempo com o Enzo me deixava à beira
da insanidade. Nós quase nos matamos, o primeiro mês foi o pior de todos.
Dois homens alfas precisando trabalhar juntos, sozinhos, sem reforços e
lidando com situações estressantes e de muito risco.
Cada maldito segundo longe de casa, passando por países com
culturas e temperaturas diferentes, era o meu pior tipo de tortura. Eu não
entrava em contato com a Giovanna e muito menos com o Enrico, porque não
podia correr riscos desnecessários. Alonzo estava viajando pelo mundo
reunindo o que podia, se associando a quem ainda tinha coragem, mas não
era o suficiente contra nós, que com dinheiro e disposição, compramos quem
encontramos no caminho.
Quando completou um mês e duas semanas longe de casa, eu estava
farto.
— Anna deve estar enorme. — Enzo refletiu, olhando para a janela.
— Amália deve estar deixando todo mundo enlouquecido. —
Murmurei, pensando na minha mulher que deveria estar tão deprimida quanto
eu me sentia.
Só estava em paz com a sua segurança porque eu sabia que o Enrico
jamais permitiria que ela se machucasse e parte do motivo que pedi que ele
ficasse era que se algo acontecesse comigo, Enrico precisaria assumir o meu
lugar. Biológico ou não, ele era o segundo filho do meu pai e merecia a
cadeira de comando na minha ausência.
— Ky. Está na hora. — Enzo falou em seu telefone. — Jogue a
merda no ventilador. — Ele jogou o celular na cama. — Agora é a hora. Ou
vencemos essa corrida para encontrá-lo ou ele vai nos entregar.
Olhei para o meu primo e assenti. Era a nossa chance de vida ou
morte.
A nossa vida e a morte dele.
25
Damon.
A televisão estava ligada e sintonizada em um canal de noticiário que
mostrava o rosto do Alonzo como o responsável pelo atentado à bomba em
D.C. Ele foi classificado como um mercenário, pago para espalhar bombas
nos eventos dos fuzileiros. A família Vaughn não estava feliz em ter o caso
exposto novamente, não tão perto das eleições, mas eles aceitaram e
entenderam o quão necessário era pegar o homem que de fato, estava por trás
do ataque.
O problema era que nós entramos na corrida contra milhares de
agências, principalmente que a Sienna, para fazer política em nome dos
Vaughn e pelo seu desejo de vingança, ofereceu milhões em recompensa pela
caçada. Já sabíamos que haviam milhares de agentes pela Europa caçando o
desgraçado e eu ia ficar muito puto se o filho da puta fosse morto por outra
pessoa e pior ainda, capturado com a proposta de imunidade e proteção para
revelar a nossa família ao mundo.
Nesse ritmo, Giovanna fixaria residência na ilha e eu nunca mais veria
a minha mulher, precisando comprar todo mundo para não ser preso.
— Você está pronto? — Enzo saiu do banheiro, secando o cabelo, com
a toalha enrolada na cintura. — Que menino obediente.
— Vai se foder! — Ele estava me irritando tanto que queria matá-lo.
Terminei de limpar as facas e espalhei nosso equipamento na mesa,
todas as pistolas estavam limpas e carregadas. Organizei conforme os nossos
gostos, já estava de saco cheio e eu queria buscar a minha mulher no fim do
mundo e voltar para as nossas vidas. Aguentar alguém como o Enzo era um
saco. Juliana merecia um prêmio.
Enzo disse que ia fazer a barba, que estava tão grande quanto a minha,
mas eu não estava com saco para me barbear. Seu telefone começou a vibrar
em cima da cama.
— Atende aí!
Estiquei a mão.
— O que é? — Murmurei sem vontade de falar com ninguém.
— Ele foi visto. — Kyra mencionou com tranquilidade. — Ele quis ser
visto. Andou pelo centro da cidade normalmente e olhou para todas as
câmeras de trânsito.
— Ele quer nos atrair para uma armadilha.
— Ele está na Villa Rafaelli.
— Ok.
Encerrei a chamada e o Enzo apareceu no quarto, de calça jeans, sem
camisa e a barba feita. Ele me encarou sem dizer nada. Não era preciso
palavras. Alonzo estava onde tudo começou.
— Ele está assumindo que perdeu ou tem um plano fodido, em todo
caso, ele quer um encerramento no local da sua escolha. — Enzo enfiou as
mãos no bolso.
— Não vai ser assim. — Fiquei de pé. — Ele gosta de brincar com
fogo, se não sair de lá, vai queimar.
— Você quer queimar a casa principal?
— Lá é perfeito para uma armadilha e fazem anos que não pisamos
naquele lugar direito. Ele tem a vantagem e estou cansado disso.
Uma batida na porta interrompeu o que iria fazer e o Enzo pegou a sua
pistola, indo até a porta e eu me posicionei, pronto para atirar, mas o meu
primo relaxou e abriu a porta. Kyra passeou para dentro do quarto com o seu
marido e mais um, que eu conhecia apenas de vista.
— Nós não íamos ficar de fora da festinha. — Ela sorriu para o Enzo e
me deu um aceno hesitante, porque sabia que eu não gostava de nenhum
deles. Não confiava.
— Oi, prazer em te conhecer, cara. — O grandão esticou a mão. —
Dominic King. — E eu apertei, aceitando o cumprimento. — Enzo fala muito
de você.
— Sei que fala mal, não precisa disfarçar. — Provoquei.
— Estamos planejando o que fazer, porque certamente é uma
armadilha. — Enzo fechou a porta. — Damon acha que teremos mais
vantagem se o expulsarmos do local.
Enzo puxou o notebook e conectou na planta baixa da casa principal
do nosso avô e os lugares que conhecíamos como de tortura. Haviam muitas
possibilidades. Após a morte de todos os Rafaelli, o local foi ficando vazio,
mantivemos apenas uma família cuidando dos jardins e da casa, mas eles não
viviam lá dentro. Todas as residências estavam vazias.
Algumas famílias foram abrigadas no meu território e outras, levadas
em lugares estratégicos pelo Enzo. Eu sabia que acolhi alguns homens que
poderiam alimentar uma revolta, principalmente na Catânia, o território com
um subchefe que me engolia e não me respeitava. Era questão de tempo até
que ele colocasse as asinhas de fora ou entrasse de vez no meu jogo.
— Podemos resolver isso com gás. Não vai sobrar um dentro da casa.
— Alex olhou pensativo para a planta que estava na tela do computador. —
Para onde o levaremos?
— Vamos matar qualquer pessoa que estiver com ele... E ele vai para a
minha gaiola, na minha casa, mas eu vou precisar de reforços da minha
família.
Dominic esfregou as mãos, parecendo muito ansioso para torcer alguns
pescoços e eu gostei dele. Nós nos arrumamos no quarto e me perguntei
como o Alex podia lidar com a sua mulher indo a uma situação perigosa sem
surtar. Eu estaria em pânico se fosse a Giovanna e sabia que o Enzo quase
arrancava a cueca pela cabeça cada vez que a Juliana dava uma de gângster.
Kyra era uma mulher muito pequena, com o corpo magro torneado e
ela estava vestida de preto. Na escuridão ao redor da villa era quase
impossível vê-la. Se não fossem os nossos binóculos de visão noturna, seria
impossível encontrá-la. Seus passos eram sussurros tão baixos que o vento
soava ainda mais alto.
— Vamos disparar no três. — Alex falou baixinho.
Kyra arremessou as bombas de gás pelas janelas e correu para fora da
nossa mira. Não levou muito tempo para que homens saíssem atirando para
todos os lados. Nós nos separamos, apesar do Alonzo ser um alvo, eu não
queria correr o risco que ele fosse morto na troca de tiros. Me aproximei da
casa, puxando a máscara de oxigênio que a louca da Kyra tinha no seu carro.
Eles viajaram prontos para uma guerra. Enzo me disse que era comum na
rotina deles.
Um casal bem atípico. Enquanto eu viajava cheio de bolsas de grifes e
sapatos, Alex tinha uma esposa que carregava granadas. Interessante.
Entrei na casa vendo o Enzo entrar por outro lado. Ele gritou, mas eu
fui atingido na coxa de raspão e mesmo assim, doeu pra caralho. Matei o
filho da puta, descendo a escada para o porão, mas estava vazio. Alguém
gritou que o Alonzo estava saindo. Ele preparou um grande circo, porque
alguns galpões explodiram enquanto corríamos atrás dele. De repente, um
vulto o derrubou no chão.
Enzo arrancou a máscara.
— Essa é a porra da vantagem de andar com um jogador de futebol
americano. — Tirei a minha máscara e me aproximei. Dominic estava o
imobilizando e ainda parecia completamente surreal que ele estava ali, de
cara para a terra, se debatendo contra o aperto firme que o Dominic dava a
ele. Alex o prendeu e o ergueu. — Oi, tio. É um prazer finalmente te
encontrar.
Alonzo não falou nada e assim continuou até que entramos na Villa
Valentinni. O silêncio dele era proposital, para nos enervar. Meu coração
estava batendo forte no peito e com o gosto amargo que ele praticamente se
entregou. Ele cansou e se rendeu, mas não antes de tentar nos matar uma
última vez. Enzo parou o carro nos fundos da residência, seu homem de
confiança, Giovanni, abriu a porta de trás e pegou o Alonzo com brusquidão.
Duas senhoras saíram da cozinha, agitadas, reconheci a tia da Juliana e
a governanta. Carina correu na nossa direção, me abraçando apertado e em
seguida, pulou no irmão, dando-lhe um beijo.
— Vocês pegaram o idiota? — Ela arregalou os olhos. — Alessio vai
poder voltar para casa? — Cochichou.
— O que você está fazendo aqui, sua peste? — Enzo reclamou.
— Eu cansei da casa segura. — Carina sorriu. — Acaba com isso logo.
— Deu um beijo no irmão e voltou para dentro de casa.
— Enquanto a minha saudade me faz querer matá-lo bem rápido, eu
não vou dar esse prazer a ele. — Enzo foi andando na frente. Resisti a
vontade de ligar para o Enrico, mas eu estava sangrando e precisando cuidar
do machucado.
Desci a rampa do armazém de tortura da Villa Valentinni. Peguei a
caixa com o kit de primeiros socorros, me sentei em uma mesa e rasguei a
minha calça onde estava ferido. Não foi bem um tiro de raspão, eu tinha que
tirar a porra da bala. Dominic se aproximou sem falar nada, ele estava sujo e
suado. Abriu uma pequena garrafa de vodka, vestiu luvas cirúrgicas, me
entregou a garrafa e dei uns bons goles antes de ele jogar na minha ferida,
limpar e tirar com uma pinça.
— Não parece ter fragmentado, mutante. Sabe-se lá como você está
andando...
— Não é o primeiro tiro que eu levo. — Bebi mais vodka.
— Certo. — Ele não falou mais nada enquanto limpava e fazia um
curativo.
— Obrigado.
— Não é o primeiro que cuido.
Alonzo estava sentado em uma cadeira, com os braços e pernas bem
amarrados. Ele não estava vendado e não tão machucado quanto eu gostaria.
Seu rosto tinha marcas nada sutis da sua vida. Muitas cicatrizes, rugas de
expressão, uma mancha de queimadura que impedia um dos seus olhos de
abrir corretamente. Era como se alguém tivesse ateado fogo em seu rosto.
Tudo que sentia por ele era ódio.
Com ou sem fundamento, era o fim para ele e para nós.
Puxei uma cadeira lentamente e parei na sua frente, sentando-me e ele
me encarou com um sorriso frio.
— O pequeno Damon não é tão frágil quanto o papai fazia parecer. —
Ele falou baixo e me senti à beira da ruptura por ele mencionar o meu pai.
Segurei um alicate cirúrgico. — Vocês são otários por ainda permitir que isso
aconteça. Essa família vai matar todas as pessoas que vocês amam.
— Você matou pessoas que nós amamos, não foi a família. — Agarrei
o seu dedo e puxei a sua unha. — Foi você, seu fodido doente.
Alonzo trincou os dentes para não gritar.
— Eu sei o que vocês vão fazer. — Ele riu, ignorando o seu dedo
sangrando. — Me torturar por semanas, me manter vivo com ajuda dos
médicos e depois, me matar. Fiz isso por tantos anos e fui eu quem ensinou a
vocês como fazer parte dessa família.
— Não me importo com o que você acha, vou fazer o que eu quero.
— Devo admitir, Damon. Seu joguinho nos trouxe até aqui. —
Arranquei outra unha. — Realmente não dei o crédito que você merecia. —
Sorriu torto e dei um soco na sua boca, quebrando um dos seus dentes. Ele
começou a rir, delirando de dor. — Tudo que fiz por essa família foi por
acreditar nela. Matar a Cara porque o Lorenzo queria... — E ele listou umas
mil mortes, falando sem parar, mas eu ainda estava preso no fato de que ele
matou a mãe da Juliana.
Com toda a história do Marcus ser irmão da Juliana e do Enzo, ficou
óbvio que a relação não foi consensual. Além de tê-la estuprado apenas
porque ela foi prometida a outro homem, ele a matou porque quis. Lorenzo
tinha a sorte de estar morto. Sorte de ser pai do Enzo e só assim teve uma
morte tão tranquila. Para o azar do Alonzo, torturá-lo não era mais sobre ele
sentir dor, era sobre me satisfazer tomando muito tempo destruindo-o pedaço
por pedaço.
Enzo e eu revezamos por dias, levando-o à exaustão, fazendo acreditar
que em algum momento ele finalmente iria morrer, mas nós simplesmente
parávamos e o deixávamos se fortalecer, até que percebemos que ele estava
desistindo de lutar pela sua vida. Alonzo não ia escolher quando ia morrer ou
não. Ele já tinha feito demais. Suas últimas palavras antes de fechar os olhos
foram que um dia, outra pessoa como ele se levantaria e tiraria de mim o que
eu mais amava.
Nós atiramos ao mesmo tempo. Enzo mirou na testa e eu no peito.
Ninguém esperava que fossemos os mocinhos. Nascemos do lado
obscuro da vida, fomos criados no pecado, com as mãos manchadas de
sangue. Nós não esperávamos a capa de heróis, éramos contraventores e
ganhamos muito dinheiro com a nossa vida avessa. Eu não ia pedir desculpas
por fazer o que fazia. Não me arrependia de ser quem eu era.
Alonzo podia ter perdido a sua humanidade por milhares de motivos.
Se ele queria derrubar a família por isso, era um problema dele.
— Eu tenho algo. — Kyra desceu a rampa. — Descobri quem era o
corpo queimado.
Enzo e eu olhamos para o Alonzo uma última vez e demos as costas.
Eu estava me sentindo tão esgotado que poderia cair no chão a qualquer
momento. A minha perna doía mesmo no processo de cicatrização, não
conseguia dormir longe da Giovanna e estava extremamente estressado.
Cobri os meus olhos ao sair na claridade e segui a pequena mulher até uma
mesa no pátio da vila.
— O corpo no carro é do Patrick Miller. — Apontou para uma foto. —
Ele foi entregue para adoção na Espanha para um casal de americanos e ao
recuperar dados de DNA, deu positivo com o Alonzo. Ele é primo de vocês e
a Kátia o pegou... — Kyra abriu um vídeo. — Saindo do trabalho em Seattle.
— Ele realmente tinha uma família e abriu mão dela por acreditar
nessa família. — Enzo se inclinou. — Kátia arrancou a cabeça dele para que
não fosse analisada a arcada dentária.
— Eu fiz o teste simples, é minha culpa. Não pensei em mais nada
quando vi o seu carro por satélite. — Kyra parecia derrotada.
— Não foi sua culpa. — Enzo passou o braço nos ombros dela. —
Acabou esse capítulo. Nós vencemos isso, levou anos, mas vencemos. — Ele
deu um beijo na cabeça dela. — Agora eu vou buscar a minha família.
Não romantizava a nossa vida e não esperava que o Alonzo seria o
único a se levantar contra nós. Eu ainda era jovem e existiriam muitos
homens sedentos para nos derrubar ou ocupar os nossos lugares. Só esperava
que fosse a primeira e última vez que eu seria obrigado a ficar tão longe da
Giovanna. Ela era a minha paz, meu sopro de esperança, o meu coração fora
do corpo e viver tantas semanas longe me fez crer o quanto eu a amava
intensamente.
Estava na hora de buscar a minha mulher.
26
Gio.
Olhei para a janela do avião e sequei o meu rosto molhado de
lágrimas. Esfreguei os meus braços e ouvi um suave resmungar, virei o meu
rosto e a Anna estava acordando. Juliana se debruçou no pequeno bercinho
acoplado ao banco e sorriu. Amália ainda estava adormecida e eu não fazia
ideia por quanto tempo. Já tinha perdido a noção de quanto tempo de voo,
porque estávamos há horas dentro do avião e o piloto só se comunicava com
o Enrico ou o Alessio. Eles eram os únicos que em caso de tortura, jamais
revelariam o lugar.
— Nós vamos pousar para o reabastecimento. — Enrico informou.
Juliana me deu um sorriso, ela estava quieta como eu, provavelmente tão
triste e chateada quanto, mas ela tinha filhas para pensar.
Recoloquei o cinto e verifiquei se Amália estava bem presa no seu
lugar, mesmo deitada no banco com uma colcha sobre ela. O pouso foi um
pouco tenso e saímos da aeronave para esticar as pernas, mas estávamos em
um aeroporto vazio, que parecia ser no meio do nada e eu nem podia ler o
que estava escrito, porque não fazia ideia de que língua era aquela. Enrico
nos comprou água, sanduíches e alguns biscoitos.
Comemos do lado de fora, sentados no chão, tirei o meu casaco
começando a suar pelo local quente. Amália correu ao redor e eu estava tão
triste, que a sua inocência, sem ter ideia do que estava acontecendo, me
deixou com o coração mais leve. Anna ficou acordada no colo da sua mãe,
atenta, com seu cabelo muito escuro escorrido e os olhos como da sua mãe,
avaliando do jeito que o Enzo costumava avaliar.
Nós embarcamos novamente e voamos por longas horas. Dormi e
acordei milhares de vezes, senti enjoo e o meu estômago estava torcido de
medo. A minha cabeça não parava de criar os piores cenários sobre nunca
mais ver o Damon e nunca mais ter a minha vida do mesmo jeito.
Só a ideia de o perder paralisava as minhas pernas.
Amália me deixou maluca nas últimas três horas de voo. No começo
ainda estava com paciência, mas manter uma criança de três anos dentro de
um avião sem muitas coisas para distraí-la era impossível. Quando o Alessio
saiu do banheiro e informou que iríamos aterrissar em breve, eu quase
ajoelhei e agradeci. Prendi o meu cinto e convenci a Amália a fazer o mesmo,
dando um tempo para a Juliana que mantinha a Anna nos seios, para aliviar a
pressão da cabine.
Foi um sacrifício fazer aquela viagem e quando saímos do avião,
meu coração explodiu no peito. Era um lugar lindo e provavelmente, muito
longe de casa, do outro lado do mundo.
Meu telefone estava sem sinal.
— Damon deve ter desligado o seu número. — Enrico avisou,
parando ao meu lado.
— Que lugar é esse?
— Bem-vinda à Polinésia Francesa. — Alessio passou por nós. —
Temos uma parte de hidroavião e não vai ser longa. É uma promessa. — Ele
apaziguou o olhar furioso da Juliana.
— Ainda mais? Amália vai derrubar o avião! — Juliana deu um
pequeno piti.
— Tudo bem, vamos lá. — Enrico não tinha um pingo de paciência
e me perguntei como seria lidar com duas crianças pequenas.
A última parte da viagem me fez passar mal. Quando o avião
pousou na água e flutuou pelas ondas até o píer, estava verde e a primeira
coisa que fiz ao pisar em terra firme foi vomitar. Juliana me deu um apoio,
segurando o meu cabelo e acariciando as minhas costas. Amália saiu
correndo do píer direto para o mar, de roupa e tudo. Alessio tentou correr
atrás dela, mas ele segurava a Anna, então, Enrico entrou na água e pegou a
menina, que se contorcia e gritava de prazer.
Ergui o meu rosto, um pouco zonza e aceitei o lenço para limpar a
minha boca.
— Por favor, não me diga que você está grávida logo quando os
filhos da puta nos prenderam no fim do mundo! — Juliana estava com os
olhos arregalados. — Merda, eu amamentei por horas e os meus peitos estão
vazando. — Reclamou e então nós olhamos ao redor.
O oceano era de um azul cristalino que parecia uma piscina. O mar
era calmo, uma coisa vista apenas na televisão e a areia era tão branquinha
que refletia o sol. Na nossa frente, tinha uma construção grande, que
lembrava muito as Maldivas, mas era um pouco diferente. Era um lugar
grande e espaçoso; quando entramos, estava limpo e reformado. Claramente
foi um hotel no passado, devido a disposição dos quartos, a cozinha
industrial, o restaurante, o saguão e ainda tinha muitos móveis bonitos,
arrumados.
— Quem mantém esse lugar? — Perguntei curiosa ao perceber que
havia comida, roupa de cama limpa e estava tudo limpo, cheiroso.
— Damon paga alguém da região para vir aqui. Do outro lado da
ilha tem habitantes, que trabalham na ilha principal do arquipélago. Eles vão
continuar nos ajudando com o abastecimento de comida e com a limpeza. —
Enrico me explicou. — Juliana deveria ficar com o quarto aqui embaixo, é
como um apartamento, tem dois quartos e as portas são travadas. As sacadas
em cima podem ser um perigo para a Amália.
— Obrigada, Enrico.
— Eu vou ficar com o quarto de serviço próximo delas. — Alessio
avisou e eles foram para um lado e o Enrico me levou para as escadas.
— Os elevadores estão desligados, só tem cinco andares, não
precisamos ligar. — Enricou me levou para um quarto muito espaçoso. —
Vou ficar no quarto ao lado.
— Tudo bem, obrigada.
Ele parou antes de sair e me olhou.
— Damon é incapaz de pensar friamente com você por perto, se
fosse qualquer outra ameaça, isso seria bom. Mas quando se trata da sua
segurança, isso não é bom. Ele precisa agir friamente para proteger você e
cuidar de si mesmo. Alonzo é uma ferida aberta muito perigosa, porque o
consome. — Parou na porta. — Primeiro a sua mãe e depois o pai dele.
Somando com tudo que aconteceu em Nova Iorque... Apesar do foco do
Alonzo ter sido o Enzo todo o tempo, ele feriu e machucou o Damon em
muitas maneiras.
— O que aconteceu com a mãe do Damon? Ela não morreu de
câncer?
— Sim. Ela estava com câncer e muito debilitada, porém, escondeu
de todo mundo. Ela optou por um suicídio assistido, mas de maneira ilegal.
— Enrico enfiou as mãos no bolso.
— Alonzo fez isso.
— Sim.
Algumas coisas faziam ainda mais sentido. Não queria chorar e
desmoronar na frente do Enrico, ele pareceu entender, então saiu, me
deixando sozinha com as malas. Eu não sabia se o Damon receberia ou não,
mas eu enviei uma mensagem, dizendo que estava bem, que o amava muito e
que precisava dele mais do que nunca.
Por quinze dias, a minha vida seguiu um ritmo melancólico.
Acordava cedo todos os dias, preparava o café da manhã, ajudava a Juliana
com as meninas e observei o crescimento da Anna bem diante dos nossos
olhos. Ficávamos na praia, brincando, pegando sol, nos dias que choviam
usávamos as coisas do hotel que estavam guardadas. Não havia acesso à
internet ou para telefonemas, todos os dias escrevia longas mensagens para o
Damon.
Algumas eram de raiva, outras de puro e intenso amor e outras de
tristeza, tomada por uma saudade sufocante que não conseguia falar. Quando
bateu trinta e dois dias na ilha, estava pronta para enlouquecer. Juliana
parecia muito melhor que eu, seu controle mental era focado nas meninas e
no quanto elas precisavam estar seguras, saudáveis e felizes, mesmo com o
papai longe e sem notícias.
A noite, eu precisava tomar um copo de vinho (ou quatro) para
dormir, ou era uma intensa madrugada de choro, suor e pesadelos. Não havia
ar condicionado, não podia gastar muita energia e às vezes o ventilador não
dava conta. Tubos e tubos de repelentes foram gastos, estava bronzeada, o
meu cabelo um completo cocô, meus lábios rachados e a minha cabeça longe
da sanidade.
Sentia falta de Chicago, da minha mãe, da Itália, dos cachorros, da
nossa casa e principalmente, sentia falta dele na cama, de senti-lo a noite e de
abraçá-lo quando precisava. Apesar de tentarmos ser uma companhia para o
outro, estávamos enlouquecendo na ilha. Era um lugar seguro, calmo, muito
bonito e uma visão esplêndida do amanhecer ao anoitecer. Ainda assim, eu
preferia estar no inferno se significasse estar com o Damon e com toda a
nossa família.
— Enzo deve estar se odiando. — Juliana comentou, olhando para
Amália construindo um castelo de areia com o Alessio. Era o final do dia, um
ventinho suave batia em nós. — Ele está perdendo tanto das meninas... Anna
já está erguendo a cabecinha de bruços e a Amália falando tanto, fazendo
tantas coisas e tão esperta. Era para ser o nosso final feliz. A nossa vidinha
perfeita. Eu sequer me importava se viveríamos na ponte aérea entre Nova
Iorque e a Itália.
— Não pode ser um final feliz... A nossa vida não acabou. —
Segurei a sua mão.
— Eu sei, mas eu pensei... Depois que ele supostamente morreu,
pensei que jamais ficaríamos separados.
— Sinto tanta falta do Damon. — Suspirei, querendo não chorar.
— Não chore, Gio. Vocês ainda têm a vida inteira juntos, eles não
quebram facilmente. Não será tão simples. — Juliana me consolou e bateu
palmas para o castelo da Amália. — Eles são dois homens criados para serem
monstros, com sangue de psicopatia correndo nas veias e alimentam suas
bestas com prazer. Não existem muitas partes boas. O Alonzo criou o seu
caminho...
— Ele vai pagar por tudo que fez. — Finalizei e abri os meus braços
para a minha florzinha mais linda me dar um abraço, toda molhada. — Você
é tão incrível. Será que teremos uma arquiteta na família?
— Eu quero ser uma médica.
— Uma médica? — Fiz uma expressão surpresa muito exagerada.
— Por quê?
— Porque eu quero furar pessoas e o papai disse que só posso fazer
isso se for médica. — Amália explicou. — Papai disse que serei dona da
porra toda mesmo . — Juliana pulverizou o suco, olhando para a filha.
— Seu pai tem razão, mas não fale palavrão, você é muito jovem
para falar essa palavra. — Beijei a pontinha do seu nariz. — Dindinha te ama
muito. — Abracei-a bem apertado.
A vida na ilha era muito tranquila. A noite, era um completo tédio,
depois que brinquei com a Anna e ajudei a Juliana fazer as meninas
dormirem, andei pela beira da praia, deixando o mar lamber os meus pés e a
lua estava muito bonita, brilhando no oceano. Meu coração estava apertado,
fechei os olhos, rezando para o meu marido estar bem. Tudo que eu mais
queria era vê-lo novamente e me refugiar em seus braços.
Se ele pudesse, me ligaria e o fato de não poder me deixava muito
preocupada. O que estava acontecendo no mundo lá fora?
Mais um mês se passou e eu estava no mesmo lugar, parada,
olhando para o oceano fixamente, querendo que aquele mar me desse alguma
resposta.
Tudo o que eu queria era uma resposta.
Ouvi passos se aproximando.
— Estou bem, Enrico. — Falei antes que me perguntasse.
— Não parece bem e eu não quero que você entre nesse oceano e se
afogue. — Parou do meu lado. — Eu teria que entrar e você sabe que isso vai
me irritar. Já basta todas as vezes que tenho que correr atrás da pestinha da
sua afilhada. Isso me faria falhar e o meu melhor amigo precisaria me matar.
— Estou desesperada, Enrico. E se ele está morto? Como iremos
saber se ele está vivo ou morto? — Meus olhos encheram-se de lágrimas.
— Ele não está morto.
— Como você pode saber? Como tem certeza?
— Eu simplesmente sei.
— Para de joguinhos! Já estamos aqui, o que vamos fazer? Como
será a ligação? O que está acontecendo?
— Vai ficar tudo bem. — Enrico me garantiu e saiu de perto. —
Não se afogue, é sério. — Avisou severamente e senti vontade de me jogar
no oceano só para contrariar.
— Claro que vai ficar tudo bem. — Bufei, irritada.
Sentei-me na beira, longe da espuma e fiquei abraçada com as
minhas pernas, só olhando para o horizonte. Ouvi um gritinho no hotel, mas
não olhei. Alessio costumava encher o saco da Juliana por pura diversão. Ele
estava entediado e implicar com ela em diversas maneiras o deixava muito
feliz.
Ouvi alguns passos na areia e suspirei.
— Caramba, Enrico. Eu não vou me matar. Não sem saber se o meu
marido está vivo ou não, dá para você me dar... — Virei, pronta para gritar
com ele e congelei. — Damon. — Respirei fundo, me enrolando para me
levantar e escorreguei na areia gelada.
— Oi, bella. — Damon sorriu torto, com os dedos encaixados nos
bolsos da sua calça jeans. Corri até ele, sem parar e rindo, me pegou a tempo.
Pulei nele, precisando tocá-lo em todo lugar para ter certeza de que era real.
— É tão bom segurar você, meu amor. — Era ele. Seu cheiro, seu corpo e ah
, beijei-o por todo rosto. — Eu senti tanto a sua falta, Giovanna.
Comecei a chorar, com tanto alívio, amor e saudade que não sabia o
que fazer.
— Eu te amo. — Chorei. Damon me beijou profundamente. —
Você voltou para mim. — Era inacreditável.
— Sim, bella . Estou aqui.
Me afastei e olhei em seus olhos. Ele parecia bem, inteiro, saudável,
mais forte ou era a sua camisa apertadinha. Passei as minhas mãos pelo o seu
corpo, ergui a sua camisa, procurando por ferimentos e ele riu, não me
impedindo.
— Acabou? — Olhei em seus olhos.
— Acabou. Alonzo está morto. — Damon me garantiu e os meus
olhos encheram-se de lágrimas de alívio. — Vamos voltar para casa. — Me
segurou e apertou os meus braços. — Meu Deus, você está tão magra! —
Esfregou os meus braços. — Posso ver a marca dos seus ossos... Giovanna...
— Comer não foi uma diversão nas últimas semanas. — Ofereci um
sorriso sem graça. — Será mais fácil engordar com você.
— Eu vou te alimentar e te engordar de novo. — Sorriu torto e o
abracei muito apertado. — Dio , seu cheiro é tão bom! — Suspirou e desceu
as mãos para a minha bunda. — Cada segundo longe de você foi como viver
em uma escuridão eterna. Você é a minha melhor parte, a minha verdadeira
luz.
Nós ouvimos risadas e olhamos para o hotel.
— Acho que o meu primo está se reconectando com a sua esposa.
— Damon sorriu e eu ri, envergonhada e o olhei. — E ele não será o único.
— Quero saber tudo...
— Amanhã, hoje eu só quero você.
— Sou sua para sempre.
Era a mais pura verdade.
Damon me tinha de corpo, alma, mente e coração.
27
Gio.
Dois anos depois...
Peguei uma garrafinha de água e joguei nas minhas costas, respirando
fundo, me esfriando e gemi com o alívio. Damon tirou os olhos do seu
telefone, mesmo de óculos escuros e tão sexy com sua sunga vermelha que a
minha boca enchia de água, sabia que estava me olhando com diversão. Ele
deu um aperto na minha bunda, dando tapinhas e me estiquei tentando
alcançar os seus lábios. Ele me deu um beijo muito gostoso, beliscando os
meus mamilos e suspirei.
Estávamos na nossa enseada favorita, deitados em grandes toalhas de
praia, pegando sol e deveríamos ir embora a qualquer momento. Chegamos
bem cedinho, tirei a parte de cima do meu biquíni logo que o sol esquentou.
Pedi para o meu atencioso marido me besuntar de óleo bronzeador e não me
encher o saco por estar com os peitos de fora e com um fio dental enterrado
na bunda.
— Esse biquíni é muito pequeno. — Damon enfiou o dedo na tirinha
na minha bunda e em seguida, deu um tapa firme na minha nádega.
— Você gosta do resultado. — Revirei os olhos. Era a mesma ladainha
sempre.
— Quando estamos no quarto e a sua bunda bem na minha frente, mas
eu definitivamente, não gosto do processo. — Fez uma pequena careta.
Ignorei, porque eu não me importava com as suas birrinhas.
— Três anos de casados e você ainda está com essa merda?
— Você sabe que sou cheio de merda. — Sorriu torto.
Olhei a hora e o meu estômago faminto soltou um ronco altíssimo.
— Vamos embora? — Ele riu com o meu ronco. — Estou morrendo de
fome também e quero aquela lasanha de três queijos do jantar. Sobrou
alguma coisa? — Verificou o seu telefone.
— Tudo depende se o Enrico não comeu tudo. — Damon fez uma
careta e sorri. Enrico devorava a nossa geladeira. Me vesti, não coloquei a
parte de cima do biquíni de volta, apenas o vestidinho vermelho. Recolhemos
nossas coisas e ele levou a maior parte do peso, olhando para a minha bunda
inclinada na sua frente, me chamando de gostosa. Damon sabia como
alimentar o meu ego.
Ele distribuiu o peso no ATV e montamos.
Damon gostava de dirigir aquela coisa como se fosse um dos seus
carros, correndo pela estradinha de terra e fazendo zigue-zague entre os
buracos, com uma diversão mal contida e um desejo de morte, porque sempre
ficava com raiva. Assim que chegamos, Sandro e Mauro saíram dos fundos
com um aceno, indo para a sala de descanso tirar um tempo já que estávamos
em casa.
A área da piscina era reservada e com o passar dos anos, os
jardineiros plantaram arbustos que o Zeus e o Apolo adoravam cavar.
— Eu vou dar um mergulho... — Apontei para a piscina, ainda
morrendo de calor.
— Eu vou soltar os cachorros e aquecer o almoço. Você quer beber
algo em especial? — Ele tirou as nossas coisas do ATV e colocou em cima
de uma das mesas da área da piscina.
— Preciso de água e quero um copo de Coca-Cola gelada, com três
pedras de gelo, 50ml de rum e duas rodelas de limão. — Falei docemente.
— Você tem sorte de ser bonita. — Me deu um olharzinho irritado. —
Não sou seu barman particular. — Avisou severamente e fiz um pequeno
beicinho, puxando o vestido e joguei longe, ficando com os peitos de fora e a
minha calcinha pequena.
Damon olhou ao redor e eu podia ver as suas veias incendiando e a
vontade possessiva de me jogar pelos ombros e me levar para dentro de casa,
antes que me afastasse pelos cabelos, mergulhei na piscina como um
peixinho. Ele diria aos seus homens para não saírem de suas casas e se eles
tivessem amor a vida, não sairiam.
Nadei de um lado ao outro, me refrescando, brincando um pouco ao
emergir, percebi que o Zeus e o seu irmão Apolo estavam me encarando, com
as línguas para fora e olhares felizes. Diana estava próxima as minhas coisas,
deitada em cima do meu vestido e eu não conseguiria vesti-lo novamente
antes de lavar. Ela enchia as minhas roupas de pêlo.
Meu marido voltou para a área externa com uma bandeja e eu precisei
afundar, ou iria rir na cara dele, por parecer tão doméstico e obediente. Ao
emergir, a expressão dele era “melhor não rir ”. Jogou-se na cadeira
confortável e ficou esparramado, com seu abdômen malhado, bronzeado e
pintado com a sunga exibindo o seu volume nada discreto. Ele estava
excitado. Abri um sorriso doce, saindo da piscina e ele esticou a sua camisa.
Vesti sem questionar para não lhe causar um infarto, bebi toda a garrafa de
água e ao invés de me sentar em uma cadeira, escorreguei para o seu colo.
Suas mãos posicionaram a minha bunda bem onde queria e antes de
dar um gole no meu drink, dei uma breve rebolada, olhando-o sobre os
ombros para encontrá-lo erguendo a minha blusa e olhando a minha bunda,
mordendo o lábio.
Meu safado favorito.
Alimentei-o e comi alguns pedaços, saciando a fome e bebemos os
nossos drinks, apreciando a tarde na piscina e eu estava meio alegrinha
quando subimos, fizemos sexo muito gostoso e desmaiei após o banho.
Senti um aperto suave na minha bunda e um beijo na minha nuca.
— Estou saindo, bella . — Damon arrastou os lábios pela minha
orelha, suspirei, ficando toda arrepiada. — Vai ficar dormindo? Você disse
que gostaria de sair hoje.
— Por que nesse mundo você se arrumou sem me acordar? — Virei de
barriga para cima, meio emburrada e mal humorada de sono.
— Porque eu faço o que eu quero. — Ele me atirou um olhar
brincalhão. — Eu ia sair cedo de todo jeito e o Enrico te levaria mais tarde.
Ele está de folga e gostaria de curtir um pouco. Sandro e o Mauro estão de
plantão. — Explicou e assenti, me espreguiçando. Damon abaixou o rosto,
beijou os meus lábios de uma maneira doce, apertando o meu peito e em
seguida, chupou os meus peitos, dando uma atenção especial para cada um,
me aquecendo e me deixando excitada. — Ou... nós podemos sair juntos mais
tarde.
— Você não tem um compromisso sério? — Sorri contra os seus
lábios.
— Apenas trabalho. Você é mais importante. — Mordeu o meu
queixo, levando a sua mão para entre as minhas pernas me acariciando,
espalhando a minha umidade. — Gostosa. Minha gostosa.
— Umazinha antes de sair? — Sorriu torto com a minha pergunta sem
fôlego, bombeando seus dedos e lambi os meus lábios.
Seu pau pressionava o jeans e abriu o cinto, saindo das calças com
pressa e veio para cima de mim, onde já estava pronta para recebê-lo. Três
anos casados, quatro anos com a sua aliança no meu dedo e seis ao todo
como a sua prometida, mas nunca me senti tão importante, tão amada e tão
incluída na sua vida como nos últimos dois anos, principalmente desde os
meses que eu fiquei na ilha com a Juliana.
Eu amava o jeito que o Damon sorria para mim. Depois da ilha, eu
parei de me sentir insegura, de ter ciúme por qualquer coisa e de tentar
desafiar o tempo. Cada minuto era precioso. Nunca mais queria ficar longe
dele. O período fora trouxe um ajuste ao nosso casamento, mais conversa,
mais tempo juntos – e ele parou com a obsessão em me manter em casa o
tempo todo.
Talvez porque não havia mais um perigo tão iminente.
Nós gozamos e tomamos banho juntos, ele se jogou na cama de cueca,
mexendo em seu telefone e eu me ocupei me arrumando. A festa iria atrair
bastante atenção da mídia, haveria um tapete vermelho, alguns famosos locais
e estrangeiros. A organização levou um tempo porque era uma nova
inauguração, mostrando a reforma que acompanhei de perto e queria estar
presente.
Escolhi um lindo vestido vermelho sangue porque o Damon ficava
louco quando usava aquele tom. Ele ia até o meio das minhas lindas coxas
bronzeadas. O decote estava mais preenchido que da última vez que o usei e
fiquei meio alerta. Apesar de todas as fofocas que eu era incapaz de conceber
– já que a Juliana e o Enzo estavam com três meninas, eu sabia a verdade e
estava bem com isso.
No começo, era muito cedo, nem o Damon queria. Nós aceitaríamos
com amor, mas não queríamos de verdade. Dois anos depois, sentia que o
Damon estava começando a escorregar quando nos perguntavam. Antes ele
era firme em dizer que não era a hora e agora ele dizia em breve. Quando
seria em breve? Porque apesar de começar a sentir cócegas no útero ao ver as
roupinhas de bebê e ficar com a minha terceira afilhada – a linda e adorada
Aria, eu realmente não conseguia pensar nos peitos doendo, nas noites sem
dormir, a minha barriga esticando e ter um bebê chorando sem parar sem
poder entregar para a mãe.
Pronta, dei uma voltinha quando meu marido pediu e sorri. Ele se
vestiu novamente e saímos de casa. Enrico estava puxando a sua moto
barulhenta sem ligar. Ele era maluco em montar naquela máquina da morte.
Damon ficou surtado querendo uma também e eu sabia que ele compraria,
mesmo com as minhas ameaças. Ajustei o meu vestido para entrar no
Maserati e os dois foram competindo como idiotas, quem corria mais com
Sandro e Mauro no carro atrás.
Vinte e cinco minutos mais tarde, paramos em frente à boate lotada.
— Quer entrar pelos fundos? — Damon sabia que eu evitava a
imprensa, apesar de ter as minhas fotos nas redes sociais e nas revistas, a
fama de corna me deixou traumatizada. Não falavam mais sobre isso, mas eu
não tinha esquecido.
— Podemos entrar pela frente. Sei que é importante para você.
Nós saímos de mãos dadas e ele amava me exibir, era um lembrete
claro que eu era linda, podia chamar atenção se quisesse, mas era dele. O
colar com seu nome brilhava no meu pescoço e ri de alguns gritos com
elogios. Aceitamos tirar algumas fotos e cercados pelos nossos soldados,
entramos na boate. Estava realmente lotada. Convites foram disparados,
apenas a bebida do bar seria vendida, mas toda comida – e drogas, eram
souvenir, bastava falar com as pessoas certas.
Nos últimos três anos, eu nunca vi um homem honrado da família usar
drogas. Eles vendiam, mas não usavam. Em hipótese nenhuma. Na verdade,
eles costumavam deixar as pessoas ao redor muito loucas e era por isso que
eu tinha um camarote privado e como o Enrico estava de folga, ele ficou
comigo, mas era questão de tempo para ele arrastar alguma mulher para o
banheiro ou se ela valesse a pena nos seus padrões, ele a levaria para casa.
Não a dele, mas sim a casa que ele levava mulheres para foder. Damon tinha
uma antes do casamento e eu simplesmente avisei que se soubesse que ele
estava lá, iria queimá-lo vivo.
Damon estava começando a avisar que ele escolheria uma esposa para
o Enrico. Não que ele estivesse preparado e muito menos quisesse.
— Quero um vinho rosé e duas garrafas de água. — Pedi para o Enrico
e ele avisou ao Sandro, incluindo os seus pedidos. — Está lotado aqui hoje.
— Olhei para o Damon cumprimentando algumas pessoas e eu percebi que a
sua expressão ficou muito perigosa com a proximidade de um garoto, que
deveria regular a minha idade, junto com alguns homens. — Quem é ele?
Enrico olhou na direção que eu estava apontando.
— Ele é filho caçula de um dos nossos chefes aqui da Sicília e o
moleque é problema sobre pernas. Cabeça quente, explosivo e
definitivamente não confiável. Damon não cortou a garganta dele porque o
pai dele é um subchefe muito forte e cuida do seu território com ferocidade.
— Enrico parecia pronto para pular do nosso camarote e matar o garoto. —
Só não sabe controlar o seu filho caçula.
— É o único herdeiro?
— Não. O mais velho é um soldado leal e letal, nem de longe parece
que tem um merdinha como irmão.
— O que o Damon vai fazer se ele continuar dando problemas?
— Damon poderia lidar com o moleque em dois tempos, mas não quer
arriscar um problema com o pai dele. Provavelmente, vai pressionar o velho
para controlar o filho. O irmão dele acabou de chegar. — Apontou e olhei,
era um homem bonito e parecia regular a idade do Damon. Os dois se
cumprimentaram com mais familiaridade e menos tensão.
Me distraí com a festa, dancei e bebi, fiquei sozinha em alguns
momentos e outros com o Enrico. Ele saiu diversas vezes e eu podia vê-lo
beijando algumas garotas pela boate, sumindo e voltando. Não era preciso ser
um gênio matemático para saber o que ele andou fazendo.
Quando o Damon se liberou das suas funções de anfitrião, ele
finalmente se juntou a mim e eu recebi o meu marido com uma dancinha. Ele
me abraçou, dando um aperto nada discreto na minha bunda e algumas
pessoas no andar debaixo gritaram. Ele fez de propósito e todo o vinho me
fez rir, porque normalmente tentaria dar um chute nas suas bolas.
Fiquei um pouquinho bêbada, dançando, me esfregando nele e ele
precisou sair do camarote pouco antes de irmos embora. Me recostei no
parapeito, olhando a multidão e então, o moleque que o Enrico me contou a
história estava olhando fixamente para cima. Enrico estava do meu lado,
apesar de parecer que estava muito perto, ele estava disfarçando o seu olhar.
Enrico era como um irmão mais velho para mim e ao longo dos
anos, nós desenvolvemos uma amizade muito sólida. Ele fazia absolutamente
tudo por mim e aprendi a lidar e aceitar seu vínculo com o Damon. Em
alguns momentos sentia muito ciúme, mas eles cresceram juntos, foram
criados como irmãos. Francesco não fazia diferença entre o Damon e o
Enrico, eles se protegiam e cuidavam do outro. Enrico era quem o Damon
daria a sua vida e a recíproca era verdadeira. Com o tempo, eu fui incluída e
para ser honesta, eu também daria a minha vida pelos dois e rezava que a
esposa dele chegasse para completar e não nos dividir.
O garoto ergueu o copo e isso atraiu a minha atenção, ele gesticulou
que eu era gostosa e me afastei do parapeito. Enrico me deu um olhar e nada
sóbrio, riu.
— Agora ele assinou a sua sentença de morte.
Ele ia sair do camarote pronto para fazer uma besteira.
— Enrico, vá arrumar alguém para... — Limpei a minha garganta. —
Você sabe, e esquece isso. Estão todos bêbados e pelas carreiras que o garoto
puxou, ele não tem noção do que faz com a própria vida.
— É melhor que ele não chegue perto de você.
— Ele não vai. Damon e eu vamos embora. — Garanti.
Damon voltou para o camarote e o Enrico não falou nada, muito mais
consciente que eu estava depois de tanta bebida. Ele sabia que o Damon
mataria o garoto só por me chamar de gostosa, então, ele optou por manter-se
quieto por causa do pai do menino. Por enquanto. Se o garoto continuasse
chamando atenção demais, Damon eliminaria a ameaça. Era assim que ele
lidava com os negócios agora. Sem conversa.
Depois do Alonzo, ainda tivemos diversos episódios que ele chegou
em casa sem controle. Eu sabia que ele me permitia ver aquele momento,
porque estava sofrendo e por precisar de mim. Existia uma parte do Damon
que gostava da morte. Eu não podia ignorar que nós nascemos manchados
com o pecado dos nossos pais e fomos criados nesse meio, sem questionar.
Quando ele perdia o controle, ele causava o caos e existia uma parte
dele que conflitava com suas emoções cruas e assassinas. Mesmo que o
Enrico ficasse rondando quando ele estava assim, Damon encontrava em mim
o seu refúgio para voltar ao seu estado normal. Cada vez que isso acontecia,
me assustava, porque tinha medo de ele passar mal de verdade.
Nós passamos por alguns altos e baixos, nada realmente relevante ou
complicado. Uma coisa era certa, meu marido era um homem letal e não fazia
mais joguinhos.
— Podemos ir embora? — Beijei o seu pescoço.
Damon me deu um sorriso maldoso.
— Sim, vamos.
Fiquei aliviada que ele iria embora para casa comigo. Ainda sentia
aflição e preocupação cada vez que ele saía podendo não voltar. Enrico iria
ficar, porque ele estava de folga e era solteiro. Descemos as escadas de mãos
dadas, passamos pelo segundo andar e eu não encarei o garoto atrevido. Seu
irmão me deu um aceno muito respeitoso, se afastando e fazendo com que os
seus homens abrissem o caminho para mim.
Damon olhou para o garoto com arrogância e poder. Ele podia. Ele era
o dono de tudo e inclusive, do direito do menino de viver ou não. Senti um
peso no estômago. Meu filho, quando nascesse, precisaria ser como o pai. Eu
sabia que um dia precisaria dar herdeiros e de preferência do sexo masculino,
já que o Enzo e a Juliana tiveram três meninas e não queriam ter mais. O peso
estava em mim e eu estava apavorada.
Amália, Anna e Aria nunca poderiam herdar a posição do seu pai. Se
eu só tivesse meninas como a Juliana, apenas os maridos das nossas filhas
mais velhas poderiam herdar e isso, no nosso mundo, era perigoso. Seria uma
conspiração política de poder e eu não queria que as meninas precisassem se
preocupar com os maridos que seus pais precisariam escolher.
No carro, a caminho de casa, olhei para o Damon, eu o amava e queria
ter filhos.
— Damon, você quer ter um bebê agora?
Ele desviou o olhar da estrada e sorriu.
— Sim... e não. Eu quero um filho, mas eu não sei a coisa toda de um
bebê. Em algum momento precisaremos pensar nessa logística porque a nossa
vida toda vai mudar. — Segurou a minha mão. — E você, está pronta?
Essa era a pergunta de um milhão de cada moeda existente no mundo.
28
Damon.
— Eu me sinto um fodido pedófilo. — Enrico puxou a gola da camisa
como se ela o sufocasse. — Ela tem dezessete anos, cacete.
— Ela só vai ser a sua esposa com dezenove, fique feliz com isso
porque os tios pareciam ansiosos em se livrar dela, mas eu não aceitei um
casamento com uma menor de idade. — Retruquei tentando não rir.
Giovanna estava com sua expressão doce de esposa troféu. Ela
estava observando os anfitriões da noite, conversando com a Juliana e o Enzo
só observava enquanto aguardávamos a descida da noiva do Enrico.
A fofoca sobre a minha incapacidade de domar minha esposa e o meu
segundo homem no comando se alastrou de maneira que estava me deixando
irritado. O fato de a Giovanna ainda não ter engravidado chamava atenção,
mas o Enrico não ser casado, era ainda pior. Ele precisava constituir família
para manter a sua posição. Não que os homens, soldados de ação, estivessem
remotamente preocupados com isso, mas os tradicionais eram insuportáveis.
Eu sabia que a tradição era algo que não podia ser quebrada. Enrico
aceitou o casamento, porque ele obedecia, mas ele não estava feliz que a sua
noiva era uma menina de dezessete anos. As opções não eram muitas. Em
Chicago só haviam meninas jovens demais e fora da idade do casamento e eu
não ia prometê-lo em casamento para alguém no qual ele teria que esperar
muitos anos, mesmo que fosse a sua opção.
Haviam senhoras viúvas, a maioria com filhos e não ficava de bom
tom para o primeiro casamento do Enrico. Em Nova Iorque tinha um
punhado de meninas solteiras, as negociações foram extensas, antes de
qualquer coisa, esse casamento era político. Após muitas reuniões e
conversas, Enzo e eu chegamos a um acordo e em seguida, um acordo com os
tios da menina. Os pais dela faleceram quando ela era jovem e foi criada por
eles.
A prima era mais jovem ainda, a primeira opção dos pais, que não
disfarçaram o desagrado com a escolha do Enzo, mas não falaram nada. Não
eram malucos. Ter a sua sobrinha se casando com um homem de tamanha
importância como o Enrico era uma honra. Eles aceitaram com um sorriso
muito falso.
A Sra. Maceratta apareceu ansiosa e todos olhamos para a escada. A
primeira a descer foi uma menina que não deveria passar de quatorze anos e
eu senti o meu estômago apertar com a ideia que os seus pais queriam casa-la
imediatamente. Olhei para o Enzo sem esconder a minha raiva e ele acenou,
entendendo o sentimento. Juliana colocou a mão no seu braço e a Giovanna
deslizou os dedos nos meus, olhei em sua direção e discretamente, me
mostrou o seu desagrado.
Olhamos para cima e uma jovem de cabelos loiros vestida com algo
que deveria ser da sua tia, desceu a escada devagar. Ela não parecia ter
dezessete anos, não com aquelas roupas, mas eu não podia expressar a minha
opinião em voz alta.
— Foda-se, eu vou te matar. — Enrico rosnou.
— Sorria. — Falei baixo.
— É um prazer apresentar a minha sobrinha, Luna Maceratta. — Sr.
Maceratta era um homem louco para subir em posição, aqui ou em Chicago.
— Ela é uma beleza, não é?
Babaca.
— Sim, é claro. — Enrico foi conciso. Se ele não sorrisse, a garota
não ia parar de tremer. Passou um minuto com os tios falando todas as
qualidades dela como se fosse uma mercadoria em exposição e ele deu um
passo à frente, cortando o assunto. — Gostaria de falar com ela a sós.
A Sra. Maceratta ficou um pouco incomodada, mas como o seu marido
autorizou, então, ela ficou quieta. Enrico seguiu o Sr. Maceratta até a
biblioteca com a sua noiva. Juliana e o Enzo se aproximaram. Nós apenas
trocamos um olhar, sem falar nada. Havia uma tensão de fazer uma conversa
simpática e não era exatamente a minha praia. Giovanna era muito melhor
nisso do que eu, porque era doce e paciente. Uma boa atriz, porque eu sabia
que ela estava irritada com a Sra. Maceratta.
Enrico retornou com a sua noiva, ao julgar pela aliança no dedo da
garota, deu tudo certo. Ele me deu um aceno. Estava quase explodindo e isso
me fez querer rir da cara dele. Lembrei exatamente o quanto ele riu da minha
ansiedade com o casamento e finalmente chegou a minha revanche.
— O casamento será após o seu aniversário de dezoito anos. —
Enrico anunciou em tom final. Muito mais cedo do que eu esperava e eu não
sabia por que ele havia tomado aquela decisão. — Ela ficará com um guarda-
costas de Chicago para a sua proteção.
— Então, vamos jantar. — Enzo finalizou. Ele não aguentava mais
aquele circo tanto quanto eu.
O jantar foi realmente gostoso, a Sra. Maceratta elogiou a sobrinha,
porque foi ela quem preparou e eu pensei que o Enrico estava feito com uma
esposa que sabia cozinhar. A garota parecia muito contida e eu não podia
imaginá-la ao lado dele, porque sua aparência frágil mostrava que seria
engolida pelo jeito bruto e reservado do Enrico. Giovanna se dedicou a
quebrar os muros dele e havia muito respeito entre ambos.
Enrico jamais olharia para a minha esposa de outra maneira.
Saímos de Nova Iorque no mesmo dia. Giovanna queria voltar para
casa imediatamente porque ela estava cheia de compromissos e não queria se
enrolar. No avião, a comissária nos serviu com bebidas e observei a minha
mulher sair do banheiro sem a roupa pomposa de antes, usando uma calça
confortável e uma camisa que era minha e ela pegou para usar.
— Então, vocês vão ficar se encarando como se estivessem prestes a
pular um no outro? — Giovanna sentou-se ao meu lado.
— Enrico quer pular em mim. — Sorri e bebi o meu uísque. — Ele
ainda tem um ano para o casamento e já está suando frio. — Zombei.
— Deixa de ser chato, o casamento funcionou para nós dois. — Gio
me bateu no braço. — Eu achei que ela é muito bonita, Enrico. A comida
estava maravilhosa e parecia ser muito educada, mas acho que uma reforma
deveria ser feita em sua casa.
Nós dois olhamos para o seu rosto.
— Por quê? O que tem de errado com a minha casa?
Enrico vivia em uma das casas dentro da Villa Bella .
— Ela é a sobrinha, não a filha. Vocês viram o quanto os pais não
deixavam de elogiar a filha mesmo que o foco devesse ser da noiva? — Gio
cruzou os braços. — Espero que o Enzo não autorize que os dois casem a
menina antes dos dezoito anos ou eles já teriam feito isso com o maior
prazer.
— E o que isso tem a ver com a minha casa? — Enrico era
extremamente impaciente, isso não era novidade, mas ele merecia um prêmio
por nunca alterar seu tom de voz.
— Ela é a sobrinha que está acostumada com restos. A roupa dela
era de alguém, seu cabelo estava preso de uma maneira que ela parecia
desconfortável. Pelo que vi nas redes sociais, ela não gosta muito de se vestir
assim. Ter uma casa bonita será uma boa maneira de esfregar na cara dos tios
o quanto ela se deu bem. — Giovanna sorriu. — Você é um partidão, Enrico.
Eu vou adorar ficar responsável pela reforma e decoração.
Enrico pensou por um momento.
— Que rede social? Eu pesquisei e os tios dela disseram que ela não
tinha uma. — Seu cenho franziu.
— Ah, eu pedi o instagram dela e ela me deu. Disse que deveríamos
ser amigas, já que vamos morar no mesmo lugar e passar muito tempo uma
com a outra.
Giovanna estava tão ansiosa para ter uma amiga que não estava
pensando em mais nada. Sorri para sua excitação e ela não deu o usuário da
menina, apagou e enviou apenas as fotos. Eu pude entender o motivo que elas
se afeiçoaram rapidamente. A garotinha com cara de santa era uma ninfa
bebê . Comecei a rir e não parei mais, quanto mais a veia do Enrico ficava
saliente, mais a risada rasgava no meu peito.
— Pare de rir, Damon. Ela é adorável. — Giovanna me bateu
suavemente.
— É melhor que ela não use a porra dessas roupas em público. — O
rosto do Enrico amassou em raiva.
— Já possessivo? — Provoquei. — Qual o problema de um pouco
de exibição?
— Eu vou te dar um soco. — Enrico rosnou.
— Para de provocar. Vocês dois são duas crianças! — Giovanna se
estressou.
Deixei o Enrico quieto o restante do voo. Não levei três minutos para
descobrir o usuário da menina. Era uma conta privada e se ela mantinha
assim, tudo bem. Enrico iria monitorar. As contas das redes sociais da
Giovanna foram monitoradas por mim até o casamento. Ela nunca me
pareceu inconsequente, mas não queria que a minha irmã a influenciasse a ter
qualquer atitude para me chamar atenção. A Sandra era a imprudente da
equação.
Giovanna seguia mantendo a sua conta com fotos que eu gostaria de
queimar, mas ela não mostrava nudez ou qualquer coisa ofensiva, eu tinha
que lidar que a minha esposa era linda de qualquer jeito. Olhei para ela e
beijei a sua mão, sorrindo. Quando dormiu, Enrico continuou emburrado
comigo, de braços cruzados e não abriu a boca até chegarmos em casa.
Estava tarde e eu não iria trabalhar, seguindo atrás da minha mulher
com prazer para encher o seu saco. Giovanna estava tão cansada que não me
deu confiança. Nós dormimos e no dia seguinte, acordou cedo e montou em
mim.
— Recarreguei as energias, o que você queria conversar ontem? —
Me deu um sorrisinho sonolento.
Seu cabelo estava mais curto do que quando nos casamos. Antes ia
até a cinturinha, agora batia nos ombros. Ela cortou e eu quase surtei, porque
amava o seu cabelo longo, mas ela ficava bonita de qualquer jeito. Seu corpo
mudou. Ela estava mais... adulta. Ganhou peso, o que definitivamente não era
um problema, sua bunda estava ainda mais incrível e os seus peitos também.
Mostrei exatamente que tipo de conversa matinal gostaria de ter com a
minha linda mulher. Deixei-a dormindo mais um pouco enquanto me
arrumava para sair. Eu tinha que passar nas boates e manter um olho ativo
nos negócios. Enrico sairia comigo, então, ele estava na minha cozinha
fuçando a minha geladeira.
— Fala para a Gio que eu levei as minhas coisas para o quartinho em
cima da sala de segurança, para ela procurar um arquiteto e fazer toda a coisa
feminina. — Tentei não rir, mas falhei. — Foda-se você.
— Não vou pedir desculpas, esse casamento é para o bem de todos.
E não de todo mal. — Ele me deu um olhar desconfiado. — Talvez a
diferença de idade seja um pequeno problema, porque eu tinha vinte e seis e a
Gio dezoito, ela se preparou para ser a minha esposa e nós acabamos por ter
muitos gostos em comum. Não é impossível se afeiçoar.
Enrico ficou em silêncio.
— Não quero ser um marido como o meu pai. — Falou olhando para
o seu café. — Eu não quero ser como o seu pai. Ele me criou como o seu
filho e eu sou muito grato, pela proteção e por nunca deixar a minha mãe
desamparada.
— Mas ele foi um marido de merda. — Terminei a sua sentença.
Não estava ofendido. Meu pai nos deu tudo, ele foi duro quando
precisava, nos punia porque aprontávamos e nos amou mesmo quando fomos
homens iniciados bem violentos. Ele nos treinou como homens que um dia
teriam um bom lugar na família. O pai do Enrico era um soldado leal, mas
não era de alto escalão. A sua mãe trabalhava na minha casa e por isso o meu
pai assumiu a criação dele quando o pai morreu após um ataque da Bratva
enquanto ele estava com sua amante e o filho bastardo. Os três morreram. A
Bratva não perdoava o sangue italiano, não importava se eram mulheres ou
crianças.
A mãe do Enrico, assim como a minha, sofria em silêncio, divididas
entre amor e o medo pelos seus maridos. Eu me perguntava como a minha
mãe era capaz de amar um homem que mal a olhava. Meu pai sempre teve
amantes, mas ele tomava muito cuidado porque só descobri quando adulto,
depois que a minha mãe morreu.
— Eu sei que sou um marido melhor que o meu pai e por isso sei
que você também vai ser.
Enrico me deu um aceno e dei as costas, indo para o meu escritório por
um momento. Antes de ligar o meu computador, olhei para a foto da
Giovanna tirada na ilha. Eu a tinha bem na minha mesa para lembrar que nós
nunca mais ficaríamos separados. Foram os dois meses mais longos, mais
loucos e mais violentos da minha vida. Dois meses andando pelo mundo,
cuidando dos negócios, da família, assegurando minha cadeia de poder e não
podia contar quantas vezes Enzo e eu, literalmente, caímos na porrada,
tentamos matar um ao outro tomados pelo estresse e a raiva.
Nós provocamos um ao outro intencionalmente, dois homens com
atitudes de liderança, putos, separados da família, perseguindo um psicopata.
Nós dois queríamos matá-lo e fizemos isso juntos. Foi na casa de infância da
minha mãe que nós o encontramos. Ele estava lá porque cansou de fugir, não
tinha abrigo e apoio em lugar nenhum do mundo. Gastamos rios e rios de
dinheiro, comprando quase todas as pessoas no caminho.
Alonzo não esperava que eu estivesse lá e eu vi a surpresa conforme
a vida ia esvaindo dos seus olhos. Fiz questão de mantê-lo vivo por uma
semana. Não queria um fim rápido. Ele não merecia. Sua força e
concentração estavam todas no Enzo, seu ódio enraizado no próximo
Rafaelli. Ele sempre subestimou a minha família, desprezou o nosso modo de
viver e as tradições. Para o Alonzo, nós éramos fracos e o seu pai, ao invés de
fazer uma aliança de casamento para selar a paz, tinha que nos destruir.
Nunca conseguiriam. Meu avô sabia disso. Ele preferiu nos ter ao lado.
Ele já tinha perdido muito território com o rompimento do Valentinni e as
demais famílias desejando desertar. Eles eram fracos. E ficaram fracos por
muitos anos, até Enzo assumir, as defesas da família estavam baixas, seus
homens desconfiados e a qualidade das drogas caindo. A minha família era
quem tinha laboratórios e a porra do dinheiro.
Alonzo tirou a vida da minha mãe e do meu pai. Eu tirei a sua vida. Na
sua caçada ao Enzo, ele colocou em risco a vida de muitas pessoas do meu
território, ameaçou a minha esposa e afilhadas. Ele teve o gostinho de ter
subestimado o homem que sempre ignorou.
Foi bom matá-lo. Me fez muito bem. Me deu um encerramento e a
oportunidade de me concentrar contra inimigos que não paravam de
proliferar. Matava dez e aparecia mais vinte. Estava acostumado a não
relaxar, porque o time que está ganhando atrai muita atenção. Ultimamente, a
corrida parecia bem louca, nada que não pudesse controlar.
Peguei as chaves do meu carro e saí.
Eu tinha um território para comandar.
Alonzo estava no passado. Era o fim dele e que viesse novos inimigos.
Eu estava pronto.
29
Gio.
Me senti satisfeita ao olhar para a sala de jantar perfeitamente decorada
para receber algumas mulheres da minha família e mais duas senhoras para
um almoço. Minha mãe estava insistindo muito e eu sabia que ela queria
fazer um pouco de cena para as suas amigas. Damon achou que seria muito
bom receber as damas e estreitar laços. Ele costumava reunir os homens em
um dos clubes.
Guardei o meu comentário sobre isso para outro momento e seria
bem breve.
Conferi a minha lista, preparei um antipasto com queijos, frutas,
azeitonas, azeite, pães e mel. Estava perfeitamente decorado com tomates,
flores e alguns potes de massas. Para o primeiro prato preparei um delicioso
gnocchi alla genovese , para o segundo prato minha nova receita favorita,
ossobuco alla gremolata acompanhado de uma salada de queijos, tomates,
mix de folhas verdes e azeitonas. Para a sobremesa, três tipos de gelattos com
frutas frescas.
Deixei os vinhos para o Damon escolher já que ele passou a manhã
inteira andando atrás de mim, querendo a minha comida, provando tudo, me
irritando e ficando no meu caminho. Quando o Enrico o chamou para treinar
na academia, dei graças à Deus. Ele era lindo, mas quando cismava de ficar
em cima era muito irritante.
Com tudo pronto, subi para tomar um banho caprichado, fiz o meu
preparo de pele, passei uma maquiagem básica e pronta, me olhei no espelho.
Meu rosto estava mais maduro, não tão mais de menina e eu gostava
da minha versão com mais de vinte anos. Meu cabelo mais curto me deu um
ar de maturidade e o meu corpo mais robusto, de mulher, ficava ainda mais
bonito com as minhas roupinhas. Meu vestido era branco, justo, parecia com
o da Audrey Hepburn no filme A Bonequinha de Luxo. De frente, parecia a
perfeita dona de casa e as costas nuas mostravam que não era uma mulher tão
“fechada”.
Separei as sandálias altas de salto quadrado mais confortável que tinha
para vestir pouco antes das convidadas chegarem. Minha cunhada foi
convidada também, sem as meninas, o que era uma pena. Estava com
saudades. Marcella e mais duas senhoras estavam na cozinha, uniformizadas
para me auxiliar com o almoço. Precisei pedir ajuda nessa parte ou não
conseguiria dar conta.
De chinelos, atravessei o gramado e empurrei a porta da academia. Os
sons da luta e o cheiro de suor me fizeram torcer o nariz. Damon estava
avançando no Enrico, eles se batiam com muita força. Qualquer pessoa
poderia acreditar que era real e não um treinamento. Um rock pesado
explodia nos altos falantes e fui até o player, desligando. Eles caíram no
chão, sem parar e de alguma maneira, Damon rolou de costas, passando o
braço no pescoço do Enrico.
Pensei que o Enrico fosse bater para acabar, mas ele não fez, foi
ficando vermelho, vermelho e se movimentando para buscar uma saída.
Damon soltou quando Enrico ficou mole.
— Você quis matá-lo? — Coloquei as minhas mãos na cintura.
Damon me deu um olhar de não se mete e eu arquivei. Ele ia levar
cada uma das suas gracinhas de volta bem no meio do focinho quando menos
esperasse.
— Posso te ajudar? — Ele foi irônico.
— Sim. Eu gostaria que você não aparecesse na minha reunião. Não
quero que as senhoras te vejam desalinhado e suado e muito menos bonito e
arrumado. Então, use as escadas do quarto de hóspedes. — Apontei para o
seu rosto suado. Ele jogou água no rosto do Enrico e ganhou um soco no
ombro de volta. Eles voltaram a lutar como se não estivesse ali. — Então,
quando os strippers que contratei chegar, por favor, não estraguem a festa. —
Falei bem alto e dei as costas.
Saí da academia ouvindo os passos firmes do Damon atrás de mim e a
risada caricata do Enrico – que era muito rara de ouvir. Olhei sobre os meus
ombros, sorri ironicamente e entrei na nossa casa, passando pela cozinha com
muita classe e subi as escadas. Sentei-me na cama, cruzando as pernas e ele
fechou a porta atrás dele. Suado, sem camisa, com uma calça de moletom
cinza que não escondia o quanto ele era gostoso.
— Strippers?
— Por que não? Você se reúne com os homens nos clubes com um
monte delas. — Encolhi os ombros. Ele veio para cima de mim e coloquei o
meu pé no seu peito molhado. — Estou pronta para receber as visitas, não vai
me bagunçar e espero que de homem suado, seja os bonitões que eu contratei.
— Giovanna... Se tiver homem aqui... — Damon avisou
severamente.
— Vai fazer o quê? — Arqueei a sobrancelha, mas a campainha
tocou.
— Conversaremos mais tarde. — Agarrou o meu rosto e me deu um
beijo duro. Fiquei toda arrepiada. — O único homem suado que vai tocar em
você sou eu, porque eu vou te foder tanto a noite que vai implorar um pouco
de misericórdia.
— Você sabe que eu vou implorar... por mais. — Dei uma
bitoquinha nos seus lábios e saí do quarto.
Calcei as minhas sandálias rapidamente e abri a porta. Minha mãe e
a minha tia Catarina foram as primeiras a chegar. Levei-as para a sala de estar
enquanto aguardava a Sandra, minha tia Maria e as minhas primas Madah e
Bianca. Em menos de quarenta minutos, todas nós estávamos reunidas ao
redor da mesa da sala de jantar.
Sandra estava contando a última arte da Sienna e as mais velhas dando
conselhos maternais não solicitados. Eu sabia que aquele assunto ia chegar
em mim e não demorou muito tempo.
— E você está fazendo algum tratamento, querida? Nós entendemos
que vocês dois quiseram manter a infertilidade em privado, mas nós somos a
sua família. — Tia Catarina me olhou com interesse. — Parece ser algo em
comum da família, infelizmente. — A acidez escorreu para Bianca. Em todos
esses anos de casada, ela foi incapaz de conceber e para piorar, o seu marido
encontrou uma amante fixa que lhe deu um bebê. Uma menina. Mesmo que
não fosse um herdeiro – e nunca seria por ser bastardo, para Bianca foi o
estopim.
Ela estava sofrendo, tomando milhares de remédios e hormônios que
lhe faziam emagrecer e engordar em um efeito sanfona sem fim. Estava
visivelmente miserável. Sentia tristeza por ela, por não saber o que fazer ou
como apoiá-la.
— Damon e eu não tivemos filhos ainda porque não quisemos. Não
foi por um problema de saúde, apenas queríamos ser um casal antes dos
filhos. — Falei calmamente. As expressões de choque que o chefe optou por
não ter filhos para aproveitar a vida com a sua esposa parecia um absurdo. —
Nós estamos conversando sobre isso. Em breve, quem sabe? — Abri um
sorriso e olhei para a Bianca me desculpando.
— Está tudo bem. — Bianca segurou a minha mão e apertou.
— Será maravilhoso se tiver um menino. Com Nova Iorque
produzindo meninas, o seu filho será a criança mais importante do mundo. —
Tia Maria comemorou.
Odiava quando desmereciam as minhas afilhadas. Elas não eram
menos importantes porque não herdariam a cadeira de comando do pai. Eu
não queria que a minha filha fosse menos importante para a nossa sociedade,
mas infelizmente, era assim que eles funcionavam e pareciam não se
importar. A expressão azeda da minha cunhada me deixou ciente de que ela
sabia muito bem como era o sentimento, afinal, por anos, ela foi filha única.
Ao fim do almoço, achei a Bianca estranha. Eu sabia que ela estava
mal, mas a maneira que me abraçou antes de entrar no carro com o seu
guarda-costas, meu coração apertou.
— Podemos sair juntas amanhã? — Segurei a sua mão antes de
entrar no carro.
Ela me deu um sorriso lindo.
— É claro. — Ela sorriu e foi embora.
Fiquei ocupada com a limpeza, guardando as minhas louças caras que
eu não queria que o Damon enfiasse no micro-ondas com qualquer besteira,
ele era dono de beber qualquer coisa no que encontrasse primeiro ao invés de
pegar um copo do uso diário. Não lembrava quantas louças ele quebrou nos
últimos anos e aprendi a minha lição de usar e guardar logo.
Fiz o pagamento das funcionárias, agradeci e terminei sozinha,
deixando a cozinha limpa. Já estava escurecendo quando subi, deixei o
Damon trabalhando e ao tirar a roupa, eu não conseguia não pensar na
Bianca. Não tomei banho para tirar a maquiagem, peguei uma calça jeans,
tênis e camiseta, descendo com meu celular no bolso e bati na porta do
escritório dele.
— Está muito ocupado? — Espiei dentro.
— Um pouco. O que precisa? — Ele franziu o cenho. — Vai sair?
— Acho que a Bianca não está muito bem. — Mordi o meu lábio.
— O marido dela deve estar em casa essa hora, não é um bom
momento para ir lá. — Damon conferiu o relógio.
— Eu sei, vai ser rápido.
— E se você atrapalhar a rotina do jantar?
— Damon? — Eu estava incrédula. — Ele tem uma amante e a
minha prima está sofrendo, estou pouco me fodendo com o jantar sagrado
dele! — Perdi a minha paciência.
— Eu sei, Gio. Calma... Estou apenas te lembrando que existem
certas...
Pelo meu olhar, ele calou a boca.
— Eu vou te levar lá e não importa o quanto ofereçam, não iremos
ficar muito tempo. — Avisou severamente e ignorei. Sempre ignorava
quando ele falava comigo como chefe. Ele era o meu marido antes de
qualquer coisa e o Damon estava cada vez mais estoico e dentro do seu papel.
Nós saímos de casa e por algum motivo, senti a necessidade de
segurá-lo o tempo todo. Bianca e o seu marido, Giulio Raffael, moravam em
um bairro de classe média onde noventa e nove por cento dos habitantes
pertenciam à família. Damon estacionou do outro lado da rua e saí do carro
sem esperar por ele, que precisou correr para me alcançar e empurrei o dedo
na campainha. Não levou muito tempo para a porta abrir e o marido da
Bianca parecer confuso, mas respeitoso.
— Sr. e Sra. Galattore. Aconteceu alguma coisa?
— Minha esposa precisa falar com a sua, Raffael. — O tom do
Damon foi cortante, sem espaço para discussão. Ele era o chefe, se ele
dissesse que eu queria a Bianca, seu marido poderia não gostar, mas
obedeceria.
— É claro. Bia está no quarto, descansando, mas acho que ela vai
ficar feliz em te ver. Chegou cheia de elogios do almoço. — Ele foi até
simpático e precisei engolir o meu desprezo. — A senhora se importa em
subir?
— Claro que não, vai ser rápido. — Sorri e olhei para o Damon. —
Já volto.
Dei uma olhada entre os dois e subi as escadas. Eu conhecia o caminho
para o quarto da Bianca. Bati na porta três vezes, a última um pouco mais
forte. Ela não respondeu. Respirei fundo e abri com cuidado, não querendo
perturbar o seu sono. Deitada na cama, achei esquisita a maneira que estava
posicionada. Quem tirava um cochilo daquele jeito?
— Bia? Bianca? — Chamei suavemente, me aproximando. —
Acorda. — Toquei a sua mão e me afastei assustada pela maneira que estava
fria. Um pavor me dominou. — Bianca? — Sacudi seu corpo e a sua cabeça
caiu para o lado. — BIANCA! SOCORRO! ALGUÉM ME AJUDA!
SOCORRO! — Gritei, sentindo a histeria borbulhar no meu peito. — Bia,
acorda. Bianca! — Ouvi passos firmes e apressados. Damon explodiu a porta
com a sua arma em punho. — Ela não acorda!
Giulio empurrou o Damon, se jogando na cama, sacudindo a esposa e
entrando em desespero. Eu não sabia o que aconteceu, mas o Damon me
puxou pela cintura, enquanto me debatia, chorando e não querendo ficar
longe dela quando acordasse. Então, eu me dei conta.
Ela não iria acordar.
— O QUE VOCÊ FEZ? — Me soltei e avancei no Giulio. Bati com
meus punhos no seu peito e ele não revidou, só se esquivou. — O QUE
VOCÊ FEZ? É SUA CULPA!
Um soldado pressionou Giulio contra parede e outro me manteve no
lugar. Damon assumiu o controle, tocou o pulso da Bianca e eu não
conseguia ouvir nada, tamanha a minha respiração errática e o meu coração
retumbando no peito. O tempo parecia algo completamente letárgico. Era
vazio. O corpo imóvel da minha prima na cama me deixou nauseada e eu
virei para o lado, vomitando nos sapatos de quem me segurava. Não
lembrava o nome dele.
Damon me tirou do quarto e estávamos descendo a escada quando o
Enrico entrava na casa com Mauro e o Sandro.
— Levem a Giovanna para casa. — Ordenou.
— Não...
— Sim, você vai. — Era uma ordem definitiva.
Mauro dirigiu em silêncio enquanto o Sandro me olhava de tempos
em tempos. Ao chegar em casa, eu estava... sem chão. Eu não sabia o que
pensar e muito menos o que fazer, apenas tomei um banho automático e
fiquei na cama, chorando, sem entender. O que diabos tinha acontecido?
Queria que o Damon me desse notícias, mas ele não estava atendendo as
minhas ligações e levou horas para dizer que estava chegando em casa.
Minha mãe estava inconsolável e eu não conseguia dizer nada.
Absolutamente nada.
Como alguém tão jovem quanto a Bianca poderia morrer assim?
Desci a escada no momento que o Damon estava arrancando a sua
roupa. Ele parecia meio nervoso e me pegou em um abraço antes que pudesse
dizer algo.
— Eu não vou me importar se nunca tivermos filhos. — Segurou o
meu rosto. — Você nunca vai ser insuficiente ou menos amada por mim por
isso.
Meu coração quebrou, não pelas suas palavras, mas pela realização...
— Bianca se matou?
— Sim. Ela encomendou um remédio controlado e tomou vinte
cápsulas após a reunião aqui. Raffael chegou do trabalho e jura que a
encontrou dormindo, ela poderia estar desmaiada e ele sequer percebeu,
deixando-a no quarto. Nós chegamos uma hora depois. — Damon me levou
para o sofá.
— Ele nem a acordou para dizer que chegou? — Minha voz era um
sussurro quebrado. Eu estava me sentindo moída.
— O casamento deles não estava muito bom, Gio. Raffael jurou e
mesmo após algumas perguntas bem persuasivas, ele não mudou a sua
versão. Além do mais, a Bianca deixou uma carta dentro da gaveta, ela só
pedia desculpas por falhar no seu papel de mulher. — Suspirou e eu endureci
no seu colo. — Parece que o estopim foi quando Raffael levou a amante e a
filha para viverem na casa dos fundos...
— Está de brincadeira comigo? Ele vai ser punido por isso?
Damon franziu o cenho.
— Não me diga que o filho da puta vai sair impune depois de
esfregar a amante e a filha na cara da esposa? — Saí do seu colo e ele me
puxou de volta.
— Não posso dizer aos meus homens como eles devem gerir a sua
casa. Ele era o marido dela, a decisão era dele. Eu não concordo, mas era a
casa dele. E isso não é exatamente uma prática incomum...
— Foda-se! Quantas esposas vão precisar se matar para que vocês
tirem a cabeça da bunda? — Meu tom brusco o fez me liberar do seu aperto.
— Sabe o que vai acontecer? Em meses, ele vai pedir autorização para se
casar com a sua amante e criar a filha, podendo até ter o seu tão sonhado
herdeiro! E a minha prima? A mulher fraca que não era capaz de conceber!
— Voltei a chorar, me afastando cada vez mais. — Ela era incrível, uma
mulher maravilhosa e essa vida a destruiu. Vocês a mataram! Todos vocês
com essa pressão e regras estúpidas sobre ter filhos, sobre o casamento e
sobre todo restante! Vocês são hipócritas! Exigem de todas as mulheres da
família uma perfeição, fidelidade, virgindade e recato, enquanto vocês vivem
rodeados de putas!
— Giovanna...
— Nada que você me disser agora vai aplacar a dor que estou
sentindo. Homens nessa família são autorizados a ter amantes, a esfregar na
cara das suas esposas, mas se uma mulher tiver um amante, ela é punida com
a morte.
Damon suspirou e me pegou novamente.
— Eu sei, sinto muito e eu te amo. — Beijou o topo da minha
cabeça.
— Isso tudo é real?
— Infelizmente, sim. E eu realmente sinto muito. — Me beijou
novamente, me encolhi no seu colo, tentando controlar a fúria e a dor que
crescia no meu peito, mas elas estavam me vencendo.
Não tinha forças para lutar contra tanto ódio e desalento.
30
Gio.
O funeral da Bianca foi um dos momentos mais tristes da minha vida.
Tentei ser imparcial, mas todos estavam reparando o meu ódio ao viúvo. Fui
incapaz de estar ao seu lado assim como eu não consegui falar com a Tia
Catarina. Se ela tivesse sido mais compreensiva e menos preocupada sobre o
que os outros poderiam pensar, se não exigissem tanto da Bianca, talvez a
minha prima fizesse um tratamento. Talvez ela pudesse aceitar que não era
imperfeita por não ser capaz de conceber.
Foi doloroso ver o seu caixão descer. Eu não tinha mais lágrimas, mas
sentia uma dor de cabeça quase impossível de lidar e por quase dois dias, mal
conseguia trocar uma palavra com o Damon. Estava ressentida, mesmo que
não pudesse fazer muito sem arriscar quase todos os subchefes descontentes,
levando a uma ruptura no seu poder e enfraquecendo a sua imagem.
Em Nova Iorque era proibido que as esposas soubessem sobre as
amantes e eles definitivamente não podiam ter a esposa e a amante no mesmo
ambiente.
Na recepção fúnebre, minha tia estava no canto, chorosa e eu não
conseguia encarar ninguém. Madah se aproximou com cuidado e me abraçou.
Nós ficamos abraçadas por um longo tempo e lutei para não desmoronar. Ela
teve um bebê no primeiro ano do seu casamento e estava grávida do segundo,
ela e o seu marido queriam ter quatro filhos e não escondiam o orgulho da
fertilidade.
Não estava magoada com a Madah, mas eu sentia que engravidar nos
próximos meses seria de completo mal gosto e um insulto à memória da
Bianca.
Damon me encarou do outro lado da sala e eu queria ir embora.
Assentindo minimamente, me despedi da minha mãe com um beijo na
bochecha. Ela sussurrou que seria de péssimo gosto ir embora tão cedo,
porque fazíamos parte da família, mas, eu era a esposa do chefe e precisava
tirar alguma vantagem disso.
— Você está bem? — Damon quebrou o silêncio do carro.
— Tão bem quanto poderia estar. — Dei de ombros.
Ao chegarmos em casa, tirei as roupas do funeral e coloquei para lavar
diretamente, tomei um banho quentinho, me enrolando no roupão e me joguei
na cama, sem ânimo para nada. Damon subiu depois, tomou banho e deitou-
se atrás de mim. Não consegui ficar longe dos seus braços, virei-me, beijando
o seu peito nu e ele me abraçou, acariciando as minhas costas.
— Convoquei uma reunião... A partir de hoje, os homens estão
proibidos de levar suas amantes para dentro de casa, para o lar de suas
esposas e reforcei a importância em respeitar a casa da família. A maioria
apoiou, porque gostam de manter a capa do tradicionalismo ou não faria
sentido tantas cobranças. Eu não posso proibir os homens de trair, muitas
esposas não gostam dos seus maridos e o sexo... é inexistente. A maioria dos
casamentos é por conveniência. Ter uma amante para a maioria das mulheres
é um alívio. — Damon falou baixinho e eu discordava, mas de certo modo,
ele tinha razão. A minha própria tia admitia não fazer sexo com seu marido
há mais de uma década. A questão era que se ela tivesse um amante, sequer
estaria viva. — Raffael está ciente que ele não tem autorização para se casar
com a sua amante nos próximos dois anos. Eu não posso impedi-lo de se
casar novamente, mas eu duvido muito que ele irá casar-se com ela.
Não era bem a punição que eu queria, mas não podia ser exigente.
Raffael seria falado por um tempo e isso me satisfazia, embora, com o passar
dos anos, a culpa seria da Bianca. Não tinha certeza se a minha tia estava
sofrendo pela morte da filha ou pela vergonha de que teve uma filha infértil
que tirou a própria vida. Não podia julgar a Bianca. Não sabia se lidaria com
a pressão somada com milhares de tentativas. Eu não a julgava como fraca.
Os meses seguintes passaram em uma lentidão irritante.
Eventualmente, voltei ao meu normal, embora ainda estivesse triste e com
saudades. Se não tivesse me comprometido com a reforma da casa do Enrico
e o preparativo do casamento, que aconteceria no quintal da nossa casa, teria
me escondido na Itália. Foi bom estar tão envolvida, porque ocupei a minha
mente e quando ia dormir, estava exausta.
Fizemos um jantar privado para o aniversário do Damon, porque o
meu fizemos uma grande festa, mas no dele, achamos que não havia clima.
Ele estava muito estressado com um agente do FBI que estava na cola da
nossa família e quando estava em casa, ficava apenas comigo, em cima de
mim como um chiclete.
A família passou por problemas sérios e ataques brutais da Bratva.
Meu marido fez novos acordos e precisou viajar pelo território por um tempo,
dando um aperto firme aos seus chefes e mantendo um olhar vivo nos
negócios.
Viajei à Nova Iorque para ver as minhas afilhadas e resolver
questões do casamento do Enrico, já que a tia da noiva estava acreditando
que era um casamento da realeza, precisei ser aquela a impor alguns limites.
Não que os noivos não mereciam, mas uma estátua de gelo e garçons vestidos
de prata eram bregas demais.
Perguntei à Luna o que ela realmente queria e me mostrou algumas
inspirações, com o olhar recriminador da sua tia, mal abriu a boca. Foi a
primeira vez que eu quis que o Enrico estivesse na conversa, assim a tia dela
não seria tão abusada e eu não seria obrigada a ser tão “esposa do chefe” .
Manter a minha cabeça nisso me ajudou a curar a ânsia e a divisão
na minha cabeça. Não tinha certeza se estava preparada para ser mãe, mas
duelava com o meu senso de dever e ao mesmo tempo me rebelava, porque
eu não devia nada a ninguém. Estava farta. Queria um bebê por amor.
Quando pensava em uma gestação sendo fruto do meu amor pelo Damon e o
dele por mim, me dava vontade de chorar e um sorriso involuntário crescia
nos meus lábios.
Eu podia ter um bebê nesses termos. Não podia me sentir na
obrigação de ter um filho que o sangue fervia. Damon achava que enquanto
pensasse assim, não deveríamos ter um bebê. Ele tinha medo de que me
ressentisse ainda mais e acabasse me afastando dele. Meu marido preferia não
ter filhos se isso significava a minha infelicidade e uma ruptura no nosso
casamento.
Não tinha problemas com o Damon, apesar de ele não ter sido fiel ao
nosso compromisso antes do nosso casamento, ele foi obrigado a aceitar esse
relacionamento. Ele jurava que me escolheria para ser a sua mulher mesmo
que não fosse obrigado, mas eu duvidava que ele fizesse isso antes dos seus
quarenta anos e no nosso mundo, significava que eu já estaria casada há
muito tempo.
Fui tirada de casa aos quinze anos, casada aos dezoito e eu tinha a sorte
de ter um marido que idolatrava o chão que eu pisava e me amava
incondicionalmente. Podia não ser assim. Damon e eu tínhamos muitos
rompantes, mas nós nos entendíamos e sempre estávamos juntos.
Quando voltei de Nova Iorque, Damon estava no aeroporto me
esperando.
— Você nunca mais vai viajar e passar uma semana longe, fui claro?
— Falou alto, bancando o estúpido e tirando onda de alfa na frente dos seus
soldados. Tudo porque eu disse que ele não mandava em mim e nem no
próprio nariz, mas eu aceitava ser mandada na cama.
— Sim, amor. — Falei baixinho, toda submissa. Ele sorriu
discretamente para a nossa brincadeirinha.
No carro, a tensão entre nós era tão grande que eu podia sentir o ar
pesado. Apertei minha mão sobre a protuberância da sua calça, deixando-o
duro, maluco e ele quase bateu com o carro quando enfiei a mão na minha
calcinha. Ao entrar em casa, não passamos da sala, morrendo de saudades do
outro e desesperados por uma conexão.
— Essa casa não é a mesma sem você. — Damon beijou o meu
pescoço.
— Sentiu a minha falta? — Não consegui esconder a minha diversão.
— Cada maldito segundo. Sabia que a casa ficou silenciosa também?
Eu trabalhei o dobro que o costume desde que nos casamos e isso me faz
pensar que você é espaçosa na minha agenda. — Seu sorrisinho torto me
deixava maluca.
— Cazzo .
— Não estou reclamando. Senti a sua falta.
Do jeito que ele me comeu contra a parede e o sofá, realmente sentiu a
minha falta. Beijei a sua boca e me levantei, recolhendo as nossas coisas e
fomos para o quarto. Damon tirou a noite para ficar comigo e eu pensei que
ficaria sozinha, então, não escondi a minha felicidade. Pedimos comida,
assistimos a um filme que foi ignorado na metade porque eu decidi que
precisava montar nele.
— Seus peitos estão maiores. — Ele agarrou, dando uma sacudida.
Imbecil.
— Eu vou menstruar, seria legal se parasse de apertar. — Revirei os
olhos.
— Ah, desculpe. — Abriu um sorrisinho.
— Então... Você chegou a pensar na possibilidade de uma gravidez?
— Precisava ter essa conversa novamente, porque deixamos de falar sobre
isso após a morte da Bianca. Damon não desviou o olhar, o que me deu muita
confiança.
— Talvez. — Assim ele me matava. Nunca era sim ou não, apenas
talvez, o que me dava a sensação que era mais sim do que não.
— Você vai amar o nosso bebê independente do sexo? — Arqueei a
minha sobrancelha e ele sentou-se bruscamente. Nossos rostos ficaram
colados no outro.
— Vou ficar muito assustado, porque eu não sou o exemplo americano
de homem, sou um assassino e trabalho vendendo drogas, mantendo clubes
de sexo, lavando dinheiro e sonegando imposto. Vou amar o nosso bebê pra
caralho. Talvez fique muito nervoso sobre como segurá-lo, você viu o
tamanho que a Anna e a Aria nasceram, elas eram minúsculas. — Refletiu e
mordi o lábio, achando graça do seu medo bobo. — Sendo menina, menino e
o que for... Eu vou amar e ser feliz. Será a nossa família. Eu te prometo que
não quero um bebê porque as pessoas esperam que tenhamos herdeiros. Eu
quero um bebê porque eu te amo.
Meus olhos se encheram de lágrimas e o abracei. Era por isso que eu
queria ser mãe: pelo nosso amor.
— Tudo bem. Eu vou conversar com o médico, porque eu não sei se
faço ideia se é só suspender o remédio...
— Ei, ei. Não é sobre a minha vontade. Gio, você precisa querer. Será
o seu corpo em uma completa transformação... Já te falei que vou esperar o
tempo que for preciso, somos jovens.
— Você nem tanto. — Impliquei.
— A mocinha acha que ainda tem a idade que nos casamos?
Espertinha.
— Eu quero e ao mesmo tempo, não quero. Mas não é o mesmo pavor
que eu tinha no passado, já consigo sorrir ao pensar em um bebezinho
crescendo no meu ventre. — Damon compartilhou um sorriso doce. Era tão
raro que beijei os seus lábios macios. — As noites de choros, trocas de fralda
e as dores nos mamilos ainda parecem um bicho de sete cabeças, mas não é
impossível aos meus olhos. Só que o meu lado rebelde entra em convulsão ao
pensar na satisfação que as pessoas terão com a minha gravidez.
— A nossa família é mais importante que a opinião do restante.
Passamos quase quatro anos de casamento ignorando completamente as
opiniões, eu considero que fomos felizes mesmo com os dias de problemas.
Viajamos, conhecemos novos lugares, transamos por aí, curtimos muita praia
e eu definitivamente não acho que será o fim. — Beijou a pontinha do meu
nariz. — Não tem que tomar uma decisão agora.
— Eu vou marcar uma consulta e tirar algumas dúvidas, depois,
podemos conversar novamente.
— Sempre irei proteger a você e ao nosso bebê.
Conversar com o Damon acalmou os meus ânimos, até dormi
tranquila. Não marquei a consulta imediatamente, protelando por
insegurança, falta de tempo e um pouco de teimosia mesmo. Damon não me
pressionou, ele nunca faria isso. Às vezes havia um monte de compromissos
para comparecer que isso era deixado de lado.
No dia de ação de graças, fomos convidados para o jantar do prefeito.
Todo ano éramos convidados e o Damon sempre negava o convite, do nada,
ele decidiu aceitar e eu não sabia o que estava armando. Ele não me
envolveria se fosse um evento perigoso.
— Por que nós vamos? — Coloquei o meu brinco e ele estava pegando
os seus sapatos. — Todo ano você diz que ele é insuportável. — Me olhei no
espelho. — Damon?
Ele suspirou, meio mal humorado.
— Ele pediu apoio na eleição e eu vou dar. Então, ele terá uma foto
comigo no jornal caso esqueça com quem está se envolvendo. Só um registro
sutil e nada inocente. — Seu sorriso foi seco.
— Por que está com esse humor? — Conferi através do espelho e ele
revirou os olhos como uma criança.
— Eu odeio esses eventos!
Soltei uma risada e ele me deu um olhar irritadinho, parei na sua frente
e beijei os seus lábios repetidamente. Damon desceu a mão para a minha
bunda, apertando e me virou de lado para conferir se o meu vestido era justo,
e era. Seus apertos estavam me fazendo rir.
— Sabe que esposa nenhuma tem uma bunda como essa, não sabe?
Aqueles putos velhos vão querer conferir a sua e serei obrigada a enfiar a
minha faca em seus olhos. — Deu um tapão forte.
— Não seja rude.
— As americanas costumam não ter bunda. — Comentou
aleatoriamente.
— Deixa de ser absurdo, Damon. E é uma coisa horrível de se dizer.
— Bati no seu braço e me afastei. — E você estará no seu melhor
comportamento. — Falei severamente.
Escolhi um vestido vinho escuro, transpassado na parte superior, bem
marcado na cintura e com uma saia plissada midi, sapatos pretos, salto fino e
uma clutch cinza escuro. Deixei os meus cabelos soltos, jogados para um
lado só, brincos discretos, um colar de correntinha fininha e um pingente de
diamante em forma de coração. Minha maquiagem era bem básica nos olhos,
apesar da pele bem feita, optei por um batom vermelho escuro quase do tom
do vestido.
Tirei uma selfie com o Damon e pedi que ele tirasse algumas
fotografias porque estava muito bonita para deixar passar. Enrico iria
conosco, como convidado, afinal, a nova posição dele era de muito prestígio.
Ao invés de ir em um carro sozinho, iria conosco com Sandro e Mauro em
um carro para segurança.
— Recebi uma foto da Luna na sua prova do vestido e ela estava
deslumbrante. — Comentei no carro e olhei para o banco de trás. — Você vai
ficar sem fôlego.
Enrico só me encarou sem demonstrar nenhuma reação até que o seu
olhar amoleceu um pouco. Ele sabia que não adiantava bancar o espertinho
comigo.
— E eu poderei ver? — Enrico me desafiou. Ele estava querendo
ignorar o casamento e eu estava forçando a barra.
— Não pode ver, dá azar e eu quero que você seja feliz no casamento.
Damon soltou uma risada do meu lado e bati no seu braço. Enrico
ficou encarando a janela. Esperava que ele não fosse tão seco, distante e
emocionalmente retraído no seu casamento. Ele me tratava como a sua
irmãzinha caçula muito irritante, mas havia carinho e um bom
relacionamento. Ele e o Damon eram das risadas ao soco em segundos e eu já
estava acostumada.
— Você envia mensagens para ela? — Conferi e ele... deu um mínimo
aceno. — Como?
— Isso é meio privado, Gio. — Damon tentou entrar no assunto.
— Tudo bem, desculpe. — Dei um olhar irritado para o Damon e o
Enrico suspirou. Eu não podia forçar a barra, mas o Damon sim e não me
ajudava em nada.
— Ela responde “sim”, “não” e “talvez”.
Não falei mais nada porque podia imaginar as perguntas que o Enrico
enviava, sem puxar um assunto ou criar um vínculo. Ele não podia fazer
nada, qualquer movimento além disso, a reputação da Luna estaria arruinada
e causaria um atrito direto entre o Enzo e o Damon.
Esperava que o Enrico entendesse que estava tudo bem ser um bom
marido. Não queria outra garota com a vida perdida e sem um amor de
verdade só porque nascemos na máfia. Não era justo com nenhuma de nós.
31
Damon.
Olhei para o homem morto na minha frente e permaneci em silêncio.
Não sabia dizer o que estava sentindo, era um sentimento agonizante que me
fazia tremer. Fechei os olhos e suspirei. Sinalizei para o médico da família
cobrir o corpo e me afastei. Enrico estava no fundo da sala, encostado na
parede e o seu olhar era um reflexo do meu. Vingança estava pintada em
sangue na minha mente.
— Vamos fazê-lo suar. Eles vão pagar por isso lentamente e será
doloroso. Dessa vez, eu não quero frieza. Quero estratégia e destruição. —
Falei com o Frank. — Elabore isso. Eu vou visitar a família. — Avisei e saí,
batendo a porta atrás de mim com um estrondo.
Dirigi para casa em alta velocidade e passei pelos portões com um
estrondo. Giovanna estava fazendo um boneco de neve e me deu um olhar
estranho quando o carro derrapou antes da garagem. Saí, bati a porta e
afundei minhas botas na neve. Ela estava com o nariz vermelho, uma toca
branca, os cabelos soltos, usando um conjunto de roupa de inverno azul
escuro. Parecia um anjo na imensidão branca.
— Não quero que fique resfriada.
— Não podia perder a oportunidade de fazer um boneco. Você saiu
muito cedo, o que aconteceu? Não atendeu nenhuma das minhas ligações.
— Sua mãe deve te ligar a qualquer momento, mas, o Gian morreu. —
Falei com pesar e Giovanna ficou de pé.
— Nossa... Ele tinha a minha idade. — Murmurou e me abraçou. —
Foi...
— Ele estava de guarda em um dos nossos armazéns no limite do
território... Tentaram invadir, conseguiram conter e ele foi o único ferido.
Não resistiu.
— A mãe dele vai ficar arrasada. Podemos vê-los mais tarde? —
Giovanna tocou o meu peito. Ela conhecia o garoto desde nova, eram
vizinhos e alguns até brincavam que eles seriam um casal. Ele era um
soldado leal, dedicado e trabalhava muito bem.
— Vamos entrar. — Puxei-a para dentro de casa, tiramos as roupas de
frio e ela foi para a cozinha.
— Quer um pouco de chá ou prefere café?
— Café. Preciso fazer algumas ligações.
— Tudo bem. — Me deu um sorriso e pegou duas canecas e as
cápsulas, para fazer um café fresquinho. Precisava de uma bebida, mas eu
queria ficar bêbado e faria isso mais tarde. Cafeína estava bom.
Entrei no escritório e fiz algumas ligações para uns chefes, reajustando
a segurança, mudando as entregas, havia uma nova remessa chegando nas
ruas essa semana e nada poderia dar errado. Apesar do inverno, as vendas
continuavam e os clubes lotavam ainda mais que no verão. Fiquei vinte
minutos no telefone e voltei para a cozinha, mas antes de aparecer, parei ao
ouvir a voz da Giovanna.
— Você pode assumir a minha segurança essa semana e talvez em
alguns dias depois? — Giovanna estava falando com o Enrico.
— Por quê? Algum problema com os seus guarda-costas? — Enrico
falou sério. — Se eles fizeram qualquer coisa, você tem que me falar agora.
— Não! Eles são ótimos, não é isso. — Giovanna se apressou. — São
extremamente respeitosos, eu juro. É que se eu for a um lugar e não contar ao
Damon, eles vão contar e eu preciso de um tempo... para falar isso.
— Não tenho segredos com o Damon. — Enrico foi enfático. O que a
Giovanna estava aprontando? — Você quer fazer alguma surpresa para ele?
Algo do tipo? Se for, é só dizer que é uma surpresa e ele vai respeitar.
Nós três sabíamos que era mentira, mas ele quis tentar.
— Preciso ir ao médico, não estou preparada para conversar com ele
sobre isso ainda e não sei como vai reagir. Preciso de um tempo para
assimilar o que está acontecendo...
Enrico me viu e eu fiz sinal para ficar em silêncio, tirando o meu
telefone do bolso. O que a Giovanna estava escondendo de mim?
— Está doente? — Ele perguntou conforme pedi por mensagem.
— Não vou te falar porque não quero que ele fique chateado com você,
mas preciso que me leve ao médico essa semana e nas próximas consultas
sem contar a ele. — Giovanna parecia firme na sua decisão e eu estava
fervendo que ela queria esconder algo de mim, quando prometeu que sempre
me contaria. Enviei uma mensagem para o Enrico concordar e queria saber
até quando isso duraria.
— Não gosto disso, mas sim. Me envia os detalhes por mensagens. —
Enrico pegou sua caneca de café e saiu da cozinha.
Me movi devagar no corredor e eu a vi, olhando para o balcão com
uma expressão triste. Esfregou o rosto e parecia solitária. Odiei aquilo. Odiei
que ela escolheu sofrer sozinha. Fiz um barulho proposital na porta e ela se
endireitou, virando de costas e entrei na cozinha.
— E o meu café? Ainda tem?
Giovanna virou com um sorriso.
— Sim, é claro. — Me serviu e me entregou.
— Obrigado, bella . Está tudo bem? — Sondei despreocupado e ela me
deu seu sorriso lindo, apaixonado, dizendo que sim, porque estava em casa
com ela. Sentou-se no banquinho e me puxou, desejando ficar perto e isso era
um alerta muito sutil sobre seu estado de espírito e pelo que estava tentando
esconder.
Após o café, me desculpei e disse que falaria rapidamente com os
guardas.
— Eu vou para o quarto assistir a um filme, se tiver tempo, junte-se a
mim e a noite sairemos. Pensei em pedir pizza essa noite, se ainda tiver
clima, podemos pegar uma bem grande na Romana. — Sugeriu e beijei os
seus lábios, um pouco mais demorado para um selinho e ela suspirou, com os
olhos fechados e a minha preocupação só cresceu.
Saí pelos fundos, atravessando o quintal e entrei na casa da segurança.
Os guardas se levantaram rapidamente, sinalizei que não era com eles e subi
as escadas, entrando no quarto do Enrico. A casa dele ainda estava em
reforma. Giovanna estava fazendo uma grande construção e não estava
disfarçando o seu prazer. Ainda bem que Enrico tinha dinheiro de sobra ou
ele iria à falência com a minha esposa em posse do seu cartão de crédito.
— Não começa. — Ele falou do seu lugar na cama, com as pernas
esticadas.
— Não começar o quê?
— Não tenho segredos com a sua mulher, ela é uma dor na bunda
irritante, mas nunca me pediu para esconder algo de você.
— É bom mesmo, mas não é isso. O que poderia ser?
— Será que ela está grávida? — Sugeriu com um encolher de ombros.
— Não. A menstruação dela veio esses dias... — Refleti, preocupado.
— O que quer que faça?
— Seja sutil e tente descobrir o que é, sei que não é do seu feitio fazer
perguntas, ela vai estranhar se você fizer muitas, mas preciso de uma
resposta.
— Claro. Conte comigo. Estou curioso, ela parecia preocupada. —
Enrico ficou ainda mais sério. — Será que é grave?
— Não quero nem pensar nessa possibilidade.
— Tudo bem, seja o que for, daremos um jeito. — Esse era o seu jeito
de me consolar. — Por que jogou nas costas do Frank o atentado desta noite?
— Porque eu posso.
De vez em quando era bom fazer os meus homens suarem e borrar a
cueca. Meu estado de espírito era sobre causar uma carnificina e no
momento, precisava agir de maneira mais diplomática, embora cada segundo
fosse como chupar limão. Eu odiava ser diplomático.
— Frank é família ou é apenas da família ? Existe uma óbvia
diferença. — Enrico mostrou a sua tatuagem. Apenas eu, ele e Enzo
tínhamos. Ainda estávamos decidindo se o Alessio teria uma.
— Não sei. Você sabe, se qualquer coisa acontecer comigo, ele não
vai hesitar em sentar-se na minha cadeira e não vai chorar por isso. — Virei
para a janela, olhando o quintal imenso cheio de neve. — Embora seja
perfeitamente normal, não é algo que me faz relaxar. Ele andou reclamando
com a minha irmã que estava volátil demais, ela me ligou toda histérica
dizendo que sou jovem para morrer e ela não quer ficar sozinha. Achei
escroto ficar deixando a Sandra preocupada. Sabe o que ela fez? Ligou para
Giovanna e o inferno começou.
— Não gosto disso. — Enrico era enfático.
— Eu sei.
— Não gosto dele. — Deixou claro. Ele nunca gostou, mas não falou
nada. Eu o conhecia desde que podia me lembrar, então, eu sempre soube que
o Enrico nunca gostou do Frank.
— Fique de olhos bem abertos, nunca se sabe quando alguém quer
colocar uma faca nas minhas costas. — Brinquei, mas ele levou a sério.
Assentiu e pegou o seu canivete, arremessando rápido na minha direção.
Desviei e ri. — Idiota. E a sua noivinha ninfa bebê?
— Pare de chamá-la assim.
— Por quê?
— Eu não quero que você a chame assim.
— Já está todo tomado? Você chamava a Gio de pequeno demônio o
tempo todo.
— Giovanna não calava a boca! Ela ainda tem dificuldades de ficar
quieta. Parece um pássaro piando no ouvido! E vai se foder, a garota tremia
da cabeça aos pés do meu lado e ao colocar a aliança no seu dedo, pensei que
fosse desmaiar. Você tem sorte que a Giovanna te conhece desde nova, ela te
conhecia a um nível um pouco mais elevado e ainda teve a Sandra como
ponte. — Enrico suspirou. — A minha garota está em Nova Iorque com
aqueles tios malucos.
— Você deveria ser mais gentil, assim ela não vai desmaiar na noite de
núpcias. Para elas, é algo realmente tenso e se aceitar um conselho, não vá
com sede ao pote ou ela nunca vai gostar de sexo com você. A não ser que
você queira um casamento de conveniência.
Enrico assentiu e seu telefone tocou.
— Giovanna me enviou informações da consulta médica.
— Certo.
Semanas se passaram e eu ainda não conseguia saber o que a Giovanna
tanto escondia. Ela foi a três especialistas ginecológicos, o que me deixou
apavorado. Tentei encontrar os seus exames, mas ela escondeu muito bem.
Enrico seguiu fingindo que eu não sabia de nada e ela nunca permitia que ele
passasse da porta do consultório. Sua mãe lhe acompanhou em algumas
consultas, a maioria ela saiu com os olhos vermelhos, provavelmente
chorando e todas as minhas ideias eram as piores.
Tivemos a nossa festa de natal e recebemos mais de cinquenta pessoas.
Ela estava linda em um longo vestido vermelho, sorridente, recebendo a
todos com sua graça e perfeição. Giovanna mudou muito ao longo dos anos.
Ela deixou de ser vista como a mulher bonita ao meu lado, ela tinha o seu
próprio poder e brilho. Sabia como ser doce e como ser perigosa. As
mulheres a respeitavam, tinham até certo medo e eu sentia muito orgulho pela
maneira que erguia o seu lindo rosto com poder e autoridade.
Ela era dona de tudo.
Era a minha dona, mas eu só deixava que ela tivesse esse poder na
cama. Adorava quando assumia o controle.
Seu olhar encontrou o meu do outro lado da sala e sorriu contida,
sem demonstrar os seus sentimentos por mim em público como eu nunca
fazia por ela. Giovanna ficava magoada no começo, agora entendia e
aprendeu a não demonstrar seus sentimentos por mim aos olhos do público.
Sem plateia, seu olhar de amor me fazia muito feliz.
Quando o último convidado foi embora, ela se despediu da sua mãe
com um abraço apertado. Elas achavam que ainda estava na biblioteca.
— Recebi os resultados, mamãe. — Giovanna falou baixinho.
— E o que é? Seja o que for, vamos superar juntas. — Lucinda falou
com carinho.
— Está tudo bem... nada de câncer, nada de infertilidade, nenhum
nódulo... Eu só preciso tomar alguns indutores. Foi um alarme falso, mamãe.
Estou tão aliviada! — Giovanna chorou e sua mãe imediatamente lhe abraçou
apertado.
— Você já contou ao Damon?
— Irei contar hoje a noite. Eu não queria esconder, mas eu não sei se
ele lidaria com isso muito bem.
— Não crie o hábito de esconder coisas do seu marido, fique bem.
Estou ansiosa para ser vovó. Feliz natal, mia bambola ! Eu te amo!
— Te amo, obrigada por tudo!
Lucinda saiu, entrei na sala e me servi com um grande copo de uísque
porque estava com tanta raiva da Giovanna que não queria vê-la. Como ela
teve coragem de esconder tamanha preocupação de mim? Ela levou um
tempo para aparecer, estava com o cabelo preso no alto, meio embolado e os
pés descalços. Parou ao meu lado e serviu um pouco de uísque em outro
copo, bebendo um golinho e me olhando. Me conhecendo como conhecia
muito bem, sabia que estava explodindo.
— Aconteceu alguma coisa? — Conferiu, me olhando com
preocupação.
— Não sei, diga-me você. — Coloquei o meu copo no balcão.
— Temos que conversar. — Deu um gole e fez uma careta pela
ardência. — Hum, há algumas semanas eu fui na Dra. De Luca e fiz um
exame, ela conversou comigo sobre a necessidade de fazer mais exames para
verificar minha contagem de bons folículos, a minha ovulação e em um dos
exames de imagens, pareceu que havia um nódulo. Isso me deixou meio
assustada.
— Por que você não me falou?
Giovanna percebeu o tamanho da minha ira só com o meu tom de voz.
— Eu queria ter certeza do que estava acontecendo antes de trazer mais
uma preocupação para o seu colo. Tem acontecido muitas coisas e você está
ocupado...
— Você me prometeu.
— Não quebrei a promessa, eu ia te contar, como estou fazendo agora.
— Você prometeu que nunca esconderia qualquer coisa referente a sua
saúde. Eu disse a você, não importa o que fosse, iremos passar por isso
juntos. Você pediu ao Enrico para mentir e contou para sua mãe. Não para
mim. Eu sou o seu marido, a sua família! — Bati com meu punho no balcão,
querendo explodir. — Isso era para ser sobre nós dois.
— Enrico te contou? — Giovanna perguntou baixinho.
— Achou que ele esconderia qualquer coisa de mim? Ao contrário de
você...
— Damon, para. — Ela me enfrentou. — Eu não escondi de propósito,
eu omiti porque precisava de um tempo. Não queria ser mais um peso de
preocupação com os russos atacando as fronteiras, vários soldados morrendo
e quando eu pensei em contar, passou a noite fora com um problema no clube
de sexo. — Mordeu o lábio.
— Isso não é desculpa.
— O quê? — Ela se afastou. — Acha que estou me desculpando?
Claro que não. Eu tenho direito de decidir o que fazer da minha vida, não sou
sua propriedade e definitivamente não sou obrigada a correr para você em
todos os meus problemas. Eu tentei ser compreensiva, ciente que você tinha
muito nas mãos e poderia não ser nada demais. Quis lidar com o que pudesse
sozinha, porque sou adulta e responsável por mim mesma.
— Você é a minha mulher, o que acontece com você é mais importante
que todo restante. Se não é uma desculpa, você deveria pensar bem no que
me promete.
Giovanna deu alguns passos atrás, parecendo ferida.
— Eu não sou a sua mãe... Você guarda segredos de mim o tempo todo
e eu não fico te infernizando porque é o meu marido. Você me jogou em uma
ilha sem explicações e faz coisas sem explicações, nem por isso te cobro
quando você quebra as suas promessas.
— Sempre é para te proteger. Quando você vai me perdoar por causa
da ilha?
— EU SEI! Só você pode me proteger? Eu não posso fazer o mesmo
por você? Sei que eu não sou a poderosa fodona que sabe lutar, atirar e é
cheia de dons de tortura. Sou a sua mulher e eu te protegi de um possível
problema! — Gritou apontando o dedo. — Você não saberia lidar com um
possível nódulo! Imagina com uma possível infertilidade? Não saberia!
— Não me diga o que posso ou não lidar. Não quando se trata de você!
Não é sobre o Enrico ou sobre a sua mãe, isso é sobre nós dois !
— E o que fiz para ferir a nós dois? Hum? Nada. Como sua esposa, eu
compartilhei o problema no momento que achei adequado assim como você
faz comigo o tempo inteiro e eu aceito.
— Estou com raiva de você, Giovanna. Como vou confiar que não vai
esconder coisas de mim? E se já não tem outras coisas?
Incrédula, colocou as mãos na cintura.
— É o que você acha? Que escondo as coisas de você aleatoriamente?
Se é, você não me conhece, o que é uma pena com quatro anos de casados
nas costas. Eu não posso fazer nada, lide com isso. — Deu as costas e foi
subindo as escadas.
— Giovanna! Não terminamos de conversar!
— Eu não sou os seus soldados, Damon. Grite o quanto quiser, não me
importo. — E foi embora para o quarto, batendo a porta.
Abri a porta em seguida, ela estava tirando o seu vestido e puxei o seu
braço, com o seu peito batendo no meu. Eu a abracei bem apertado, com meu
coração explodindo no peito e cheio das memórias terríveis da minha mãe
morrendo em uma cama, tomada pelo câncer.
— Me promete que você está bem. — Falei baixinho.
— Não preciso prometer. Estou bem, foi um susto, me deixou nervosa
e triste, mas passou e eu estou feliz em não ter te alertado tanto porque agora
tudo que precisamos fazer é praticar bastante. — Ela sorriu e beijei os seus
lábios, ainda segurando-a tão apertado que ela pulou em mim. — Eu te
protegi de ter esse olhar no rosto... Sei que está assustado.
— Estou e muito. — Não neguei, não fazia sentido. Estava apavorado.
— Estou bem e perfeitamente saudável para o nosso bebê.
— Porra, eu te amo. — Pressionei seu corpo contra a parede e a beijei
tanto que seus lábios ficaram inchados, vermelhos e me deu um sorriso sexy.
— Não precisa me proteger.
— Não vai me impedir de te proteger quando achar necessário. Eu te
amo muito, Damon. Se o diagnóstico fosse diferente, nesse momento estaria
te contando e certa de que você me daria todo apoio do mundo. — Esfregou o
nariz no meu e beijou a minha bochecha suavemente, lambeu os meus lábios
e mordeu, dando uma chupada. — Vamos comemorar os bons resultados.
— Não antes de saber o que está acontecendo.
— Está tudo bem, confie em mim. Eu já parei a pílula, vamos brincar
de roleta russa nas próximas semanas e talvez, se não acontecer, devemos
tomar um indutor. Eu não quero tomar até que seja inevitável, porque
acredito que seremos lindamente abençoados nos próximos meses...
— Então... — Beijei a sua bochecha e parei com a minha boca
próximo ao seu ouvido. — As próximas vezes que fizemos amor ou
fodermos feito coelhos pela casa, vai ser para fazer o nosso bebê?
— Sim, seu idiota.
— Um idiota que te ama muito.
— Eu não duvido, agora, me chupa. — Sorriu toda malandrinha e
mordi o seu ombro, levando-a para cama.
32
Gio.
Sufoquei a risada, correndo do Damon pela casa e derrapei no
corredor. Bati na parede, ri quando ele quase me pegou e desviei para a
escada. Pulei os degraus, dando a volta na sala, mas ele era tão rápido e forte
que não consegui ir muito longe. Me pegou pela cintura e me jogou no sofá.
Sem dó e muito menos piedade da sua amada esposa, atacou as minhas
costelas com cosquinhas. A maneira que ele prendia as minhas pernas me
impedia de me debater como gostaria.
— Diga que eu sou gostoso e tudo que você mais ama no mundo que
eu paro. — Damon deu uma pausa e eu respirei fundo, mordendo o lábio. —
Diga que sou gostoso e fodo muito bem. — Neguei e ele voltou, gritei,
ficando sem fôlego e quase fazendo xixi.
— TUDO BEM!
— Vai falar?
— Humpf. Foda-me. — Me recusava a ceder.
— Ah, eu vou te foder. Mas depois que você falar. — Seus dedos me
tocaram e comecei a rir histericamente. — Última chance, Giovanna.
Estava tão sensível que ele mal tocou em mim e já gritei.
— Você é gostoso e fode muito bem. — Falei baixinho.
— Não ouvi, bella .
— Você é gostoso e fode muito bem. — Falei um pouquinho mais alto.
— Ainda não estou satisfeito. — Alertou e para minha surpresa, rasgou
a minha blusa. — Giovanna Maria...
Arranhei o seu peitoral e puxei a sua nuca para baixo. Ele veio sem
dificuldade e beijei a sua boca. Damon mudou de posição, deitando-se por
cima e passei as minhas unhas nas suas costas e aproximei os meus lábios da
sua orelha.
— Você é gostoso e fode muito bem. — Sussurrei e chupei o lóbulo
molinho, provocando com a minha língua e ele pressionou a sua ereção
contra mim, descendo a boca e chupando os meus mamilos. Soltei um
gemido e agarrei seus cabelos. Conforme descia, beijava e empurrou a minha
saia para cima. Nem parecia que o chamei de babaca escroto antes de sair
correndo. — Ah, hum... Estamos na sala.
— Ninguém vai vir aqui.
— Sossega, esqueci que temos hóspedes! — Empurrei-o e me ajeitei,
me enrolando no que sobrou da minha blusa e voltei correndo para o quarto.
Damon veio atrás de mim rindo e eu esperava que a nossa hóspede
estivesse dormindo. Não que a minha gritaria tivesse ajudado qualquer coisa.
A pobre coitada deveria estar assustada. Damon completou a barulheira
batendo a porta e avançou em mim. Caímos na cama aos tropeços e o meu
relógio despertou.
— Estou na hora certa. — Murmurei e ele riu.
— Nenhum problema… esse bebê será feito hoje. — Damon tirou a
calça.
Nós fizemos sexo gostoso por toda tarde, nas posições certeiras para a
concepção. Ainda ficamos na cama, de preguiça, namorando e eu amava
quando o Damon tirava um tempo para mim e ele só estava “desocupado”
porque o casamento do Enrico aconteceria no dia seguinte e recebemos a
noiva em nossa casa. Damon e muito menos o Enrico confiavam nos tios da
Luna, então, eles foram hospedados em uma das casas da família com
funcionários a sua disposição.
Não haveria um jantar pré-casamento, normalmente, essa tradição
era abolida quando não havia muitos familiares. Perguntei ao Enrico e ele
disse que a família dele se resumia ao Damon e eu. Como o noivo não estava
com disposição de ficar na mesma sala que a família da noiva sem enfiar uma
faca no crânio de alguém, achei melhor pular essa parte.
Quando a Luna chegou, em dez minutos, os tios dela deixaram
Damon e o Enrico com muitos sinais de alerta e a noiva completamente
nervosa. Enzo não gostou nada dos comentários tratando a menina como uma
mercadoria barata e parecia que ele queria colocar uma bala na cabeça do seu
próprio homem. Eu não queria sangue no meu tapete e por isso acabei com a
breve reunião informando que a Luna era a minha convidada de honra.
— Farei uma despedida de solteira com a Luna. O que fará com o
Enrico?
— É esperado que ele vá a um dos clubes. Os homens irão se reunir lá.
— E o que vai acontecer? — Arqueei a sobrancelha.
— Nada demais, não comece a se estressar. — Damon avisou. Ele já
ficava todo na defensiva quando se tratava dos clubes. No começo, eu tinha
vergonha de entrar nas boates ou no clube de sexo, principalmente que as
dançarinas ficavam nuas. Não me importava mais e gostava de falar na
cabeça dele só para encher o saco. Ele me irritava de graça, reclamando das
minhas roupas e dos meus biquínis pequenos.
— Haverá mulheres nuas?
— É um clube, o que você acha? — Damon rebateu, se achando muito
espertinho. Dei um soco na sua barriga. — Seria ideal que vocês descansem,
para ficar com a pele bem descansada. — Deu um tapinha na minha bunda e
eu quis bater nele de novo. Ele estava querendo me irritar.
Mordi o meu lábio, pensativa.
— Que tal reservar um camarote para que possa sair com a Luna e a
Juliana? Nós não voltaremos tarde.
— Não sei se o Enzo vai querer que a Juliana fique exposta em um
território desconhecido e se o Enrico quer a noiva dele passeando por aí antes
do casamento. E antes que grite que é um absurdo, um verdadeiro ato de
machismo, mas eu não vou prender o noivo em casa e como ele me deu uma
festa de despedida, darei o mesmo a ele. — Sorriu torto e quis chutá-lo. — Te
amo, bella .
Babaca.
Ele correu da cama antes que o acertasse com a minha perna, balancei
a cabeça resignada e rindo, Damon ficava impossível de bom humor. Todo
sexo alucinante para dar o tiro certeiro estava deixando-o muito feliz.
Estávamos na produção de um bebê, porque decidimos começar a tentar de
verdade.
Após a nossa pequena briga, levamos um tempo sem fazer nada, não
tomei a medicação e muito menos fiz o tratamento no começo até que
simplesmente acordamos e decidimos fazer. Estávamos nas primeiras
semanas de tentativa e o meu ciclo estaria oficialmente atrasado a partir do
dia seguinte. O indutor era uma coisa de louco.
Organizei um calendário que calculava os melhores momentos para o
sexo e o Damon sincronizou com o seu, então, ele estava misteriosamente em
casa cinco minutos antes do alarme tocar. No meu período de ovulação, ele
estava em casa antes do jantar toda noite. Definitivamente não foi um
sacrifício as primeiras tentativas e esperava que não se tornasse um estresse.
Assim que ele saiu, me arrumei para ficar em casa mesmo, apesar de
querer sair eu não sabia se a noiva estaria confortável. Por mim e pela
Juliana, estaríamos na rua cheia de fogo no rabo, mas não era o nosso
casamento. Escolhi um vestido azul escuro, sem maquiagem, com os meus
cabelos soltos e timidamente bati na porta do quarto da Luna. Eu não queria
encher o saco ficando em cima, mas não queria que ela pensasse que
precisava ficar sozinha.
— Oi, está tudo bem? — Abriu a porta assustada.
— Sim, é claro. Eu... hum, sinto muito se atrapalhei seu descanso mais
cedo. Damon e eu não estamos habituados com outra pessoa. Ele saiu com o
Enrico e pensei que podíamos comer alguma besteira e beber um bom vinho,
o que acha? — Ofereci e seus olhos se iluminaram.
Luna era tão linda que eu queria colocá-la em um potinho.
Descemos a escada e fomos para a cozinha. Ela usava um vestido
longo, todo fechado e parecia que o intento era esconder o seu corpo.
Esperava que ela encontrasse um pouco mais de liberdade depois do
casamento, porque se vestir como uma freira não combinava muito com o seu
rosto bonito e o seu jeitinho. Algo me dizia que ela estava assustada e
retraída, mas não era realmente tímida.
Luna demonstrava um óbvio medo do Damon e eu entendia, se eu não
o conhecesse, também sentiria. Os rumores do que ele era capaz não ajudava
em nada. Estava preocupada que ela surtasse com o Enrico, mas eu sabia que
ele jamais a machucaria. Não intencionalmente. Enrico não demonstrava ser
fácil de lidar intimamente. Como meu cunhado, ele era intragável em alguns
momentos, podia imaginar que seria emocionalmente retraído como marido.
Escolhi algumas garrafas de vinho, pedi pizza e um monte de
besteira. Luna arregalou os olhos ao me ver derretendo chocolate para comer
com algumas frutas.
— Eu não sei se deveria comer algo assim antes do casamento...
— Você gostaria de uma salada? Eu comi pizza na minha despedida de
solteira, então, pensei que fosse gostar. Me desculpe. Que salada gostaria?
— Não! É que eu não tenho autorização para comer pizzas e
carboidratos de modo geral. Fiz uma dieta restrita desde o noivado, porque a
minha tia disse que o meu noivo estava insatisfeito com o meu peso.
— Isso é mentira! — Soltei completamente ultrajada. — Ele nunca
pediu que fizesse dieta e você pode comer o que quiser, bem, não sei como
vai ser na casa de vocês... — Então eu sorri. — A casa será sua. Ninguém
poderá te dizer o que você pode ou não fazer. — Peguei as taças e abri o
vinho, servindo generosamente. — Ao seu casamento.
— Ao meu casamento. — Ela soou tímida. Brindamos e sorrimos.
Avisei aos guardas que fiz alguns pedidos e dei a lista completa. O
meu telefone tocou e era o Damon avisando que a Juliana saiu da casa segura
sozinha com o seu guarda-costas e não estava atendendo ao Enzo. Quando
um carro parou no portão da minha casa, sabia que era ela. Juliana saiu do
carro e devolveu o telefone para o seu guarda-costas, que parecia muito
irritado.
— Em todos esses anos de casados, o meu marido ainda não aprendeu
que nada me segura. — Revirou os olhos. — Trouxe vinhos e presentes! Eu
queria chamar strippers, mas acho que eles não vão conseguir passar da porta,
então eu baixei Magic Mike e milhares de vídeos de homens seminus
dançando. — Sorriu e eu gritei de alegria enquanto a Luna parecia meio
receosa. — Relaxa, você vai se acostumar conosco.
Entramos em casa e a Juliana espalhou tudo que trouxe, montando o
seu iPad em cima do balcão. Ela conectou com o painel de som central da
casa e uma música suave começou a tocar. Servi mais vinho para a Luna e
peguei uma taça limpa para a Juliana. Não bebi novamente porque o primeiro
gole desceu mal. Elas não fizeram perguntas quando peguei uma garrafa de
suco na geladeira.
Juliana compartilhou um sorriso adorável e brindamos. Peguei uma
caixa no escritório do Damon e voltei para a cozinha, empolgada.
— Espero que não fique chateada, mas eu comprei um presente. Minha
cunhada me deu e eu adorei, então, pensei em fazer o mesmo com você. —
Entreguei-lhe a grande caixa. — Não sei se a sua tia conversou com você
sobre a noite de núpcias. — Luna abriu a caixa e sorriu para as lingeries finas
e de núpcias ali dentro. — Comprei um monte... Hum, na prova do vestido
percebi que suas roupas íntimas são bem recatadas. Eu gosto de roupas sexys
e no dia-a-dia fico a vontade em usar o que quero. Quando se vestir de noiva,
vai gostar de ter por baixo um conjunto legal.
— Gosto de calcinhas assim, mas a minha tia não deixava. Ela dizia
que uma mulher não pode se faltar o respeito desse jeito. — Luna comentou e
troquei um olhar com a Juliana. Se eu pudesse, atropelava a tia dela e não me
arrependeria.
Achei bem estranho e conclui que havia algo mais e queria descobrir.
— É mesmo? Então esse estilo de senhora não é o seu feitio?
— Não! Dio , não! — Alguns goles de vinho e ela estava mais
relaxada. — Minha tia começou com isso quando ganhei corpo. Ela é alta e
magra. Meu corpo é mais cheio, com mais formas e isso parecia irritar a
minha tia. Eu obedecia, precisava viver com eles e ela tinha um pouco de
ciúme do meu tio.
Juliana fez uma careta. O tio dela era horripilante.
— Espero que goste. — Não queria ofender os seus familiares.
— Eu adorei, irei usar. Obrigada.
Juliana deu a ela uma camisola de núpcias muito linda e a Luna ficou
empolgadíssima com isso. Eu não fazia ideia se o Enrico iria consumar seu
casamento na primeira noite, mas, ela parecia completamente aterrorizada
com a noite de núpcias. Decidi deixá-la beber um pouco mais para acalmar os
seus nervos. Apesar da minha “prisão” no internato, eu tinha amigas e
acesso à internet. A Luna parecia que foi muito vigiada vivendo com uma tia
extremamente conservadora e ciumenta para orientá-la sobre o sexo.
— Alguém pode me dizer onde posso comprar um homem como esse?
— Juliana estava hipnotizada no dançarino de algum vídeo de apresentação
em Las Vegas. — Antes do meu casamento, lá era território da minha família,
mas foi perdido. Adoraria ir lá e ver esse pacote pessoalmente.
— Eu duvido muito que eles irão recuperar apenas para que possamos
aproveitar essas belezinhas ao vivo. — Mordi o meu lábio pensando que o
Damon poderia dançar daquele jeito. Meu marido era bonito, mas tinha dois
pés esquerdos.
— Uau. — Foi tudo o que a Luna conseguiu dizer com as bochechas
vermelhas.
— Senhor... Esse homem é tudo. Se o Enzo me ver babando por um
dançarino assim, ele surta, mas, quem se importa? — Brincou e eu abaixei
um pouco o volume para poder conversar com a Luna sobre sexo.
— Então... alguém conversou com você sobre a sua noite de núpcias?
Luna me deu um olhar hesitante.
— Hum, ela disse para deitar e deixar o meu marido fazer o que achar
melhor. Eu vi alguns vídeos escondidos no celular de uma amiga na escola e
eu sei a mecânica, confesso que estou apavorada com as histórias que a
minha tia falou. Estou com medo de que possa desmaiar na hora.
— Sei que deve estar sendo assustador para você, a primeira vez vai
doer sim e algumas vezes depois será bastante dolorida, mas vai passar.
Definitivamente não vai doer para sempre. — Garanti e ela continuou
nervosa. — Eu conheço meu marido desde pequena. Passei dois anos
prometida a ele, em seguida, um ano de noivado e então, o casamento. Só
que... Damon já era o chefe e ele fazia as próprias regras, embora tenha
casado virgem, não me casei tão... perdida. Nós trabalhamos no meu corpo
para que eu pudesse conhecer a interação íntima e mesmo que tenha doído na
primeira vez, a ideia ficou confortável na minha mente e eu fiz por prazer,
porque eu queria.
— Me casei não-virgem. — Juliana soltou. — Enzo estava pouco se
fodendo para as regras tradicionais. Como eu não fazia ideia que vida nós
tínhamos, achei que estava tudo bem, eu até queria casar virgem, depois eu
desisti. Afinal, eu vivi no mundo normal, aleatoriamente ignorante que era
uma princesinha da máfia e que todos ao redor protegiam a minha pureza. A
primeira coisa que o Enzo fez ao chegar na Itália foi garantir que a minha
pureza fosse jogada pela janela. Claro que fizemos coisas antes do ato em si e
isso ajuda muito a familiaridade com o sexo. Se estiver com medo, por favor,
fale com o seu marido.
— O quê? — Luna quase gritou. — Tenho que cumprir o meu dever
matrimonial.
— Não, você não tem que fazer nada obrigada. Eventualmente irão
transar, mas a sua primeira vez cheia de medo e tensão não será uma boa
ideia. Você precisa estar relaxada e querendo.
— E se ele não aceitar?
— Desmaie! — Juliana soltou.
— JULIANA! — Gritei, rindo. — Não desmaie. Olha, eu não posso
dizer como o Enrico será como marido, mas use o seu poder como esposa e
como mulher. Acalme-o, aproveite os beijos, tente se conectar, mas se você
sentir que não pode fazer nada disso e que precisa de um tempo, diga que
não. Eu duvido muito que o Enrico irá forçar... Ele não te estupraria. — Ele já
estava perturbado por ela ser mais jovem que ele.
— Ele será o meu marido, não vai ser estupro.
— Nunca deixa de ser estupro. — Juliana foi bem firme. — Seu não é
não para qualquer pessoa, inclusive para o seu marido.
— Eu até penso que posso enfrentar as núpcias, me assusta, mas eu
acho que pode ser um alívio fazer logo e acabar com o medo. Acho que não
vou suportar se ele me rejeitar, não me achar bonita...
— O quê? Você é linda! Precisa parar de se esconder nessas roupas
que nem a minha avó usaria. — Juliana falou bruscamente e a empurrei.
— Olha, já assistiu pornô? Já se masturbou? Sabe... Se você não tiver
um telefone, posso emprestar o meu iPad e aí você pode assistir alguns. Pega
os mais românticos, tem uns para mulheres que são mais calmos para você
ver o que é... E ao se tocar, vai descobrir o seu próprio corpo, onde está o seu
prazer, não precisa imaginar o Enrico porque ele não te deu material para
isso... — Aconselhei na maior cara de pau e esperava que ela não ficasse
chateada.
— Hum... Eu tentei uma vez, mas não consegui. Fiquei meio perdida.
— Suas bochechas coraram. — Fiquei com medo da minha tia descobrir.
— Sorte a sua que ela não está aqui e só vai te ver na igreja.
— Um brinde à masturbação! — Juliana ergueu a sua taça. —
Caramba. Será que conseguimos um vibrador delivery agora?
A partir daí, não paramos de dar conselhos sexuais para a Luna, que se
pudesse, estava com um caderninho e aceitou o meu iPad porque a sua tia
tomou o seu telefone e ela não tinha mais um aparelho. Para ajudá-la,
buscamos alguns filmes e salvamos alguns links que achamos interessantes
que seria bom para iniciar. Dei a ela o meu fone, para não ficar constrangida
com os gemidos ou pensar que eu poderia ouvir com o Damon no nosso
quarto.
Elas estavam bebendo e eu no suco, ficamos discutindo tamanhos e
falamos dos equipamentos dos atores pornô para a Luna ter uma noção do
que esperar. Ouvimos a porta abrir. Desligamos os vídeos e por um momento,
pensei que eles pudessem ter ouvido os gemidos. Ficamos em silêncio até que
o Damon apareceu na cozinha e atrás dele estava o Enzo, olhando bem sério
para a sua esposa que estava para lá de bêbada. Nós três trocamos um olhar e
não conseguimos conter a risada. Se eles soubessem...
— As senhoras não deveriam estar descansando com máscaras no
rosto e pepino nos olhos? — Enzo perguntou olhando para a sua esposa. —
As mulheres modernas comem pizza e se entopem de vinho.
— E strippers! — Juliana bêbada gritou com alegria.
Senti o olhar do Damon em mim e tentei conter o riso. Nós três caímos
na gargalhada. Luna bebeu o seu vinho, evitando contato visual e eu não
conseguia parar de rir. Enzo pegou a sua esposa, ela reclamou que não queria
ir embora, então, ele a jogou por cima dos ombros. Ela acenou, rindo e ele
bateu a porta da frente.
— O que as mocinhas aprontaram?
— Nada. — Sorri docemente.
33
Gio.
Um casamento no nosso meio não era nada além de política e um bom
relacionamento. Mas eu sabia que eu fui muito abençoada com um marido
que me amava, mesmo com a sua posição. Amor era uma fraqueza entre
tantas relações perigosas. A verdadeira fraqueza que os homens iniciados
poderiam ter.
Enquanto via a Luna entrar tão esplêndida com seu vestido de noiva,
só podia desejar que ela tivesse amor. Seu olhar era de um cordeiro indo para
o abate. No meu lugar no altar, podia ver que o Enrico não demonstrava
absolutamente nada. Estaria em pânico por receber tanta indiferença. Ele me
deu um olhar e sinalizei para sorrir, assentiu e abriu um meio sorriso forçado.
Damon disfarçou a sua risada com uma tosse.
Luna estava linda, seu vestido não era bufante como de uma princesa e
evidenciava suas belas curvas. Seu cabelo loiro estava solto de maneira
elegante e brilhante devido as presilhas com diamantes que Damon e eu lhe
demos de presente. Seu véu era longo e usava joias discretas.
Adorei acompanhar o seu dia da noiva, foi muito mais divertido sem
toda a minha ansiedade e nervosismo. Me encarreguei de transformar o dia da
Luna em um dia feliz, não só porque o Enrico me pediu, mas porque estava
começando a gostar dela e esperava que fôssemos amigas.
Damon me deu um olhar penetrante do outro lado do altar e abri um
sorriso discreto. Desviei o meu olhar para o buquê de flores e prestei atenção
na cerimônia. Na hora de beijar a noiva, Enrico cuidadosamente removeu o
véu e se aproximou da Luna, inclinando-se e a beijou de verdade. Uau! Bati
palmas, emocionada e o Damon me deu o mesmo olhar exasperado desde que
comecei a organizar o casamento.
A igreja estava cheia, alguns convidados de alto escalão de Nova
Iorque estavam de um lado e a maioria de Chicago do outro. Saímos da igreja
em um cortejo, sem parar para cumprimentar os convidados porque faltava
pouco tempo para a recepção.
Os noivos foram em um carro, atrás de nós e estávamos em um
comboio de quatro carros. Eu queria chegar antes dos convidados, mas já
estava tudo pronto. O quintal estava decorado com as cores da bandeira da
Itália e o resultado ficou muito lindo. A Luna queria um casamento ao ar livre
e a minha casa era um dos lugares mais seguros para isso. Realizei o seu
desejo, afinal, eram mais de dois hectares de terreno, grama verde, beirando
ao lago com uma bela visão de água sem fim até a imensidão azul do céu.
— A ninfa bebê está uma noiva bonita. — Damon comentou me
ajudando a sair do carro. — Não mais bonita que você.
— Até que me deu vontade de me casar de novo.
— Dio , não. Quase abri falência aquela vez. — Sorriu e deu a
língua.
— Hum... Foi lindo.
— Foi sim, mas só porque você estava linda e maravilhosa. — Me
deu um beijo discreto. — Vamos... estou ansioso para deixar o Enrico perto
de um AVC hoje.
— Não quero brigas, é o dia da Luna e se ela tiver sorte, vai ter o
marido depois da festa. Eu tive que esperar o dia seguinte.
— Outch.
Nunca me senti tão orgulhosa com uma festa de casamento. Foi tão
bonita, com comidas deliciosas, bebidas ao extremo e alguns convidados
literalmente perderam a linha. Foi divertido, comi, bebi e eu desmaiei de
cansaço quando Damon me levou para cama a noite e só acordei no dia
seguinte, no final da tarde, para me despedir da Juliana e do Enzo, enviando
milhares de presentes para as meninas, estava morrendo de saudades.
Descansei bastante até o momento que o Damon me acordou para
viajarmos para nossa casa na Itália. Enrico e a Luna nos acompanhariam para
que pudessem ter uma espécie de lua-de-mel e eu estava feliz por ter uma
companhia feminina. A viagem foi muito tranquila, dormi a maior parte e
eles ficaram me zoando que eu mal fiquei acordada.
Mostrei para Luna a minha casa porque estava ansiosa para ficarmos
sozinhas. Ela ainda era muito tímida ao meu redor, principalmente se o
Damon estivesse por perto. Nós tínhamos autorização para sair se tivéssemos
uma comitiva de guardas, duvidava que a família real de Mônaco precisasse
de tanto. Felizmente, podíamos ir sozinhas na enseada, já que ela ficava
dentro da propriedade. Como o sinal de telefone celular não pegava direito,
Enrico nos deu um rádio para nos comunicar se fosse necessário.
— Você não tem um biquíni? — Questionei a Luna quando a
chamei para irmos à enseada.
— Não era uma prioridade. — Encolheu os ombros e aquele vestido
verde longo de gola alta estava me irritando.
— Eu vou te emprestar um, mas eu só tenho modelos pequenos na
bunda. Estaremos sozinhas, não vai ser um problema. — Garanti e fui até o
meu quarto, com ela atrás de mim e parou na porta, toda tímida. — Pode
entrar, Damon só vai chegar à noite. Ele e o Enrico foram para outra cidade.
— Ele te diz onde vai? — Luna parecia confusa.
— Se ele tem amor à vida, sim. Fica calma, você só tem uma semana
de casada. Enrico não está acostumado a dar satisfações, só a cobrar, com o
tempo, você vai sutilmente cobrando uma explicação. — Peguei um par
vermelho que ficaria lindo. — Aqui, está limpo e só usei uma vez.
— Obrigada.
— Quinze minutos é o suficiente? Se a gente demorar muito, o mar
vai subindo e a faixa de areia fica bem curtinha. Quero aproveitar o sol!
Vinte minutos mais tarde, Diana nos acompanhou até metade do
caminho e acelerei com o ATV com a bolsa cheia de biscoito, água, suco e
sanduíches. Além de protetor e bronzeador solar. Descemos para a enseada,
arrumei as toalhas e tirei o meu vestido, avisando por rádio que estávamos
bem.
Luna tirou a sua roupa timidamente.
— Porra, garota! Que corpo! — Soltei sem dó. Luna era linda.
— Obrigada. — Suas bochechas coraram e ela me deu um olhar
lisonjeado.
— Acho que o Enrico não teve problemas em não te achar bonita. —
Comecei a borrifar o bronzeador em mim. — Ele falou algo?
— Falar? Não. Mas olhou e por míseros segundos, pareceu gostar.
Só que ele é como uma pedra! Não consigo saber se está gostando, se está
bom ou ruim. O único beijo que trocamos foi no quarto, depois do
casamento, mas eu estava muito nervosa e ele se afastou. — Luna mordeu o
lábio. — Essas roupas ridículas não ajudam em nada e quando ele chega, fico
tão ansiosa que não consigo me aproximar e ele fala comigo, fico toda
nervosa, querendo agradar, acabo saindo toda atrapalhada e gaguejando. É
uma tragédia!
— Primeiro de tudo: você precisa ficar calma. E segundo...
Precisamos ir às compras. Enrico adora comer, ele gosta mesmo de comida,
sabe cozinhar?
— Sei sim, mas ele sempre chega com a comida. Acho que nem tem
em casa...
Damon deu de presente de casamento para o Enrico a segunda casa
principal, que tinha três quartos e antigamente, deveria ser do chefe do
vinhedo. Ela foi reformada junto com a casa principal. Sandra tinha a sua
própria residência aqui na Itália e por ser mulher, ela não herdou nada, afinal,
a sua família era a do seu marido.
— Hum... Faremos compras de mercado. A Nina costuma cuidar
disso, mas ela não vai fazer se o Enrico não pedir. Ele sempre foi reservado
com as suas coisas. — Refleti pensativamente. — Você vai ter que ganhar o
homem pelo estômago. Acho que deveria falar com ele sobre fazer compras
de roupas. Ele te deu um celular, certo?
— Sim, junto com um computador e um tablet parecido com o seu.
Eu não sei como pedir a ele para gastar dinheiro... Não tenho nada.
— E daí? Ele tem que te bancar e sem reclamar, se não temos
autorização para trabalhar, ele que se vire!
— Gosto de você, é ousada. — Luna aceitou o bronzeador. — Gosto
de roupas mais bonitas, saias curtas, vestidos... Sapatos altos. — Refletiu e eu
gostei que estava se abrindo. Tirei a parte de cima do meu biquíni e ela
arregalou os olhos — O que você está fazendo?
— Eu odeio a marca, você é mulher e tem peitos. Será um segredo
nosso... O Damon vai ter um ataque se souber que tirei o biquíni sem ele.
— Seu marido te deixa fazer topless na praia?
— Na mente dele só com ele e somente aqui. — Encolhi os ombros.
— Mas eu faço onde eu quero se for seguro. Juliana e eu fizemos em Ibiza.
Nossos maridos quase surtaram, mas foi tudo bem.
— Posso tirar também? — Seus olhos estavam arregalados e
brilhando.
— Luna... Eu não sou sua dona, se você é adulta para se casar, é
adulta para ficar com os peitos de fora!
Luna soltou o biquíni e deitou-se ao meu lado, fechando os olhos e
formulei um plano para fazer o Enrico perceber que ela precisava de coisas.
Iria falar com ele de um jeito sutil e assim, ele poderia entender quando ela
pedisse. Eu tinha autonomia de comprar roupas para ela, mas, não queria que
o Enrico ficasse ofendido. Era complicado me intrometer no relacionamento
de outra pessoa quando ele nunca meteu o nariz no meu. A diferença era que
eu nunca fui tímida para pedir o que precisava. Damon se virava para me dar
o que eu queria.
A minha mãe e a irmã dele ficavam irritadas pela maneira que eu
continuava sendo excessivamente mimada e eu não me importava.
Apesar de amar a companhia do Damon na praia, Luna era mais
divertida e nós até dançamos. Perto da hora do almoço, comecei a me sentir
mal e fiquei preocupada. Talvez fosse a fome. Decidimos voltar para
almoçar, guardamos tudo e subimos a rampa. Minha cabeça estava doendo e
conduzi o ATV bem devagar para casa. Parei próximo a garagem e ao ficar
de pé, a vertigem foi forte o suficiente para as minhas pernas cederem.
— Giovanna! — Luna largou as bolsas no chão e me segurou. — O
que você tem?
— Acho que preciso comer e de um teste de gravidez.
Ela ficou adoravelmente confusa.
— Ah... Ok! Hum, vamos para a cozinha?
Luna me ajudou a chegar na cozinha e Nina ficou toda agitada, me
dando água, colocando um prato enorme de comida na minha frente. Comer
me fez bem, mas me deixou bem enjoada. Luna ficou o tempo todo comigo,
preocupada e a Nina estava sorridente. Eu estava meio que feliz, mas sem
querer demonstrar qualquer felicidade ou esperança porque não tinha um
teste em casa. Em Chicago, minha gaveta estava cheia. Não porque eu
comprei, mas o Damon achou que seria bom ter aos montes. Se ele pudesse,
faria xixi no palitinho por mim.
Convenci a Luna a assistirmos um filme no cinema da cidade. Ela
ainda ficava meio preocupada de sair sem o Enrico, mas o Sandro concordou
em nos levar e assistir ao filme que quiséssemos. Cinema era uma coisa que a
maioria dos soldados se recusavam, mas os meus eram muito atenciosos
comigo e faziam o que eu queria.
Me arrumei animada para sair, porque o Damon não era muito fã de
filmes, agitado demais para ficar quieto e genioso demais para ficar em uma
sala escura. Escolhi um look confortável com calças jeans, tênis e uma
camisa listrada, renunciei usar maquiagem por causa do meu bronzeado.
Dei a Luna um vestido mais jovial, mais aberto e com um decote. Ela
era da minha altura e tinha mais bunda. Ficou um pouco justo atrás e ela
pareceu feliz com o meu presente. Usei aquele vestido apenas uma vez.
Com quatro guardas, entramos em um pequeno shopping comercial
que tinha várias lojinhas. Aproveitei o tempo antes do filme e fiz algumas
comprinhas de maquiagens para nós duas e ensinei por alto truques básicos,
me comprometendo em ensiná-la melhor nos próximos dias.
Entrei em uma farmácia e comprei dois testes de gravidez,
escondendo na bolsa. Luna me deu um sorriso empolgado e compartilhamos
esse olhar até que um grupo de meninos parou na nossa frente. Alguns deles
imediatamente se afastaram, assumindo uma posição respeitosa.
Um ficou e me encarou. O moleque merdinha.
— Giovanna Di Galattore... Que belo prazer. — Ele torceu a boca.
— As honras, sou Giovanni Savoia.
— Sei quem é você. — Falei friamente, odiando o seu olhar em nós.
Quem estava com ele, cutucou e disse para saírem. O garoto insistiu em olhar
para os seios da Luna e ela ficou tensa, dando um passo atrás e se escondendo
atrás de mim. O olhar dele me deixou enojada.
Sandro parou casualmente ao nosso lado, ele estava por perto.
— Se não quiser sair daqui com a língua no bolso como um recado
ao seu pai por falar demais, é melhor se afastar. — Ele puxou um canivete do
bolso e parecia muito afiado. A Luna segurou o meu braço, com medo e eu
não me movi. Ela não estava acostumada, mas iria se acostumar. Eu era a
mulher do chefe, aquele garoto não tinha o direito de me insultar.
— Não posso falar com a nossa senhora e muito menos com a nova
Sra. Fabrizzi? Ouvi dizer que era bela e é verdade. Ela é uma tentação.
Filho da puta!
— Você pediu por isso. — Sandro apontou e nos tirou de perto.
Cochichei com o Sandro que o pai dele poderia causar uma guerra
contra o Damon. Eu não deveria falar nada, mas não queria que o Sandro
fosse punido por tomar uma decisão explosiva e arriscar a política da família.
Irritado, enviou uma mensagem para o meu marido. Não sabia o que foi
decidido, mas pelo menos o Damon estava ciente e qualquer decisão que
fosse tomada não pesaria nas costas do Sandro, que só estava fazendo o seu
trabalho em me proteger.
— O que esse menino tem? — Luna perguntou quando nos
acomodamos dentro do cinema.
— Ele é muito abusado... Não sei exatamente qual é o seu problema,
mas parece querer desafiar a ordem. O pior de tudo é que ele sabe que o pai
dele tem uma excelente posição. Não sei que atitude o Damon irá tomar...
— Pipoca, senhoras. — Fabiano, um dos novos guardas, me deu um
pote enorme. — Os refrigerantes e as balas. — Entregou as latas e o saquinho
com doces.
— Muito obrigada. — Sorri e ele acenou e foi para o seu lugar.
— Ele deve ter a nossa idade. — Luna sussurrou.
— Damon me contou que foi iniciado aos quatorze anos e é muito
bom. — Enchi a minha boca de pipoca. — Maravilhoso... bem amanteigada.
— Dio ... Esqueci como comer besteira é bom. — Luna estava
deliciada com o refrigerante. — Não sei se a minha mente pode lidar com
tanto açúcar.
— Não vai dormir, isso é certo!
O filme não foi nada além de um romance bobo, sem sentido, mas
doce o suficiente para nos fazer chorar. Paramos em uma pizzaria muito
badalada e comemos uma pizza deliciosamente tradicional. Dividimos alguns
cannolis no carro até em casa.
— Foi um dia muito divertido, obrigada pelos presentes. — Luna me
deu um abraço apertado. Eu estava muito feliz por finalmente ter uma amiga.
Uma irmã.
— Espero que possamos nos divertir ainda mais. De vez em quando
a nossa vida fica meio maluca, ocupada com um monte de evento chato, mas
tem um monte de coisas legais que poderemos fazer juntas. — Devolvi o
abraço.
Ela foi andando sozinha para a sua casa e esperei que entrasse com
os cachorros para poder entrar na casa com a Diana me seguindo e precisei
dar toda atenção que ela precisava ou não pararia de me cutucar com seu
focinho gelado, ansiosa por carinhos que não recebeu durante o dia. Ela me
deixou cheia de pelos, babada e um pouco suada. Tomei banho depois de
levá-la para fora.
Voltei para o meu quarto e olhei para os testes. Me perguntei se
aquela era uma boa hora para fazer... Não custava nada fazer logo. Estava
com alguns sintomas simples, seios meio doloridos, inchados, mas eu estava
colocando como uma opção para a minha menstruação atrasada e não
exatamente por uma possível gravidez. Não queria ter esperanças e me
frustrar.
Fiz o teste com ansiedade, meu coração chegava a pular no peito e
esperei o resultado andando de um lado ao outro. Quando duas listrinhas
apareceram, pulei no lugar diversas vezes, soltando gritinhos contidos. Puta
merda! Estava grávida! Estava transbordando de felicidade. Coloquei minhas
mãos na minha barriga e suspirei.
— Oi bebê! Você está aí, caramba! — Falei sozinha, melhor
dizendo, com o meu bebezinho. Deveria ter comprado o teste com a
indicação de semanas assim o meu marido ficaria maluco.
Vesti uma camisola, deitei-me na cama e peguei o meu livro, não
querendo dormir para poder contar ao Damon. Ele poderia surtar se contasse
amanhã, já que ainda estava muito ressentido por ter escondido o meu surto
sobre possíveis problemas de fertilidade.
Assumia o meu erro em tirar dele a chance de estar ao meu lado, mas eu não
me arrependia em protegê-lo. Damon podia não assumir, porque um homem
como ele “não tinha traumas” , mas a morte da mãe dele deixou marcas. A
maneira como a mãe dele morreu o deixou com medo da morte. Medo de
amar alguém e perdê-la. Ele me amava e não queria me perder. Se ele fosse
uma pessoa que soubesse lidar com sentimentos de uma maneira normal, até
seria mais fácil.
Ele era o Damon. Fácil não fazia parte do seu vocabulário e pensando
nele, sorri ao vê-lo entrar no quarto, sempre tão silencioso que nem o ouvi
entrar em casa.
— Pensei que já estivesse dormindo. — Inclinou-se na cama e me
deu um beijo. — Preciso ir ao banheiro e tomar um banho, já volto. Não
dorme. — Pediu e foi arrancando a roupa. Me mantive no lugar, me
consumindo em ansiedade. — Foi um dia do caralho.
— Posso imaginar... Está muito cansado?
— Com disposição para muitas coisas. — Se jogou na cama e me
agarrou, jogando o meu livro bem longe.
— Calma, espertinho. — Empurrei-o e abri a gavetinha ao meu lado,
tirando o teste. — Parabéns, papai. — Falei baixinho.
— Sério? — Ele agarrou o teste. — Sério mesmo, porra? — Sacudiu
como se o resultado fosse mudar. — Caralho! — Ele me beijou. Comecei a
rir, porque a sua reação não poderia ser mais boca suja e divertida. Retribui o
seu beijo com todo meu amor. — Eu te amo, Giovanna. Obrigado por me dar
o melhor presente da minha vida!
— Eu te amo, marido e o presente é nosso. Fizemos juntos e com
amor, não por obrigação.
— Definitivamente teve muito prazer no processo... — Balançou as
sobrancelhas e levantou a minha camisola. — Oi, bebê! Papai aqui tem a
boca suja, mas se você for um menininho, sua mãe vai arrancar a sua língua
se repetir sem estar com a idade adequada. Agora, se for uma menininha, o
papai vai tentar segurar a boca. — Beijou repetidas vezes o meu ventre.
— Machista.
— Tente me parar. — Sorriu torto.
— Não vou te parar. — Sinalizei com o meu indicador e ele se
arrastou por cima de mim. — Chega desse assunto... Faça amor comigo.
— Sempre, bella. Somos três agora, que insano!
Era o começo da nossa família e eu não poderia estar mais feliz.
34
Damon .
Tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum, tum.
Aquele som era o mais importante da minha vida. Meus olhos estavam
grudados na tela, onde a médica mostrava o nosso bebezinho. Meu filho,
caralho . Era um menino. Giovanna estava com os olhos cheios de lágrimas,
porque era a segunda vez que fazíamos exame de imagens, agora com três
meses, fizemos um exame de sangue para descobrir o sexo. Descobrimos a
gravidez com quase dez semanas, ela sequer teve um sintoma forte.
— Ele é tão perfeito. — Giovanna chorou, segurando a minha mão.
— Ele é sim. — Meu coração estava explodindo no peito.
— Está tudo perfeito, Giovanna. — Dra. De Luca nos garantiu. — É
um menininho muito saudável. Parabéns. — Era visível que a Dra. De Luca
estava feliz pela Gio.
— Estou tão apaixonada. Você viu o formatinho do narizinho dele? —
Minha esposa me olhou e eu podia me derreter ali. Valeu a pena esperar a sua
felicidade em ser mãe. Ela respeitou o seu corpo e a sua mente, era uma
mulher tão forte e consciente que o meu coração se enchia de orgulho.
— Acho que o nariz dele será igual ao seu. — Dei um beijinho na
pontinha.
Giovanna se vestiu novamente e finalizamos a consulta, com os
exames impressos e eu estava com um sorriso colado no rosto. Saímos
escondidos do prédio comercial porque eu não queria que soubessem da
gravidez da Giovanna até que fosse inevitável. Nós decidimos que o bebê
nascerá na Itália e viemos até a Dra. De Luca que, prontamente, concordou
em ir até lá para o parto e se comunicará com a médica que irá nos atender
nas próximas consultas.
Giovanna esperava ter o parto em casa, embora discordasse
completamente, ela não queria um parto no hospital. Esperava mudar a sua
mente até lá. Essa ideia de humanizado me parecia uma completa loucura.
Entramos no carro e seguimos para casa. Era um dia quente de verão e eu
sabia que ela ficaria com pouca roupa em casa.
— Você quer que a sua mãe vá conosco para a Itália?
Giovanna desviou o olhar do seu telefone, pela foto, estava
conversando com a Luna. Apenas ela e o Enrico sabiam da gravidez, ainda
não contamos para os guardas mais próximos e só o faríamos na Itália.
— Não sei. Ela não vai guardar segredo, não importa o quanto implore
e ela vai sentir a necessidade de tripudiar das minhas tias porque estou
grávida e é um menino. — Comentou e voltou a digitar. — Podemos comer
pizza?
— Não.
O beicinho apareceu.
Entrei em casa em alta velocidade, parando o carro na garagem e ela
saiu emburrada, entrando pela cozinha e foi direto para a geladeira. Seu
apetite me deixava impressionado, entre alguns dias de enjoos e tonturas, ela
estava comendo o dobro. Tirou mil coisas da geladeira, lavou as mãos e
preparou um sanduíche com pão de centeio, maionese, mostarda, folhas de
alface, três tipos de queijo em fatia, presunto e salame.
— Caramba .
— Cala a sua boca. — Rebateu, puta da vida. Ela estava ficando
irritada com as minhas piadinhas sobre o seu apetite. — Eu só tomei café-da-
manhã antes da consulta e levamos horas lá, está na hora de um lanchinho.
Ainda acho que poderia almoçar um pedaço de pizza.
— Não. Já te avisei que não quero que coma fora de horário. A Dra.
De Luca já te chamou atenção sobre isso.
— Blá blá blá . — Murmurou de boca cheia e levou muito para não rir,
mas eu tinha que manter a expressão séria. Giovanna já era um pesadelo,
grávida estava com um humor cruel.
Parei atrás dela, abraçando-a enquanto comia e coloquei as minhas
mãos na sua barriga, por dentro da sua blusa. Apesar de termos vencido o
primeiro trimestre, ela estava visivelmente grávida. Pelo menos dava para
reparar o formato oval no seu ventre e eu nunca pensei que poderia ficar
ainda mais apaixonado por ela, pelo seu corpo se transformando bem diante
dos meus olhos por carregar o nosso menino.
— Você vai arrumar as malas hoje?
— Sim, estará tudo pronto para o nosso voo noturno.
— Enrico e Luna irão conosco?
— Não agora. Eles precisam ficar aqui para cuidar das coisas. Não
esqueça que ele é um homem casado. Tem a sua própria família para cuidar.
— Dei um beijo na sua boca e me afastei, indo para o escritório.
Precisava deixar algumas coisas organizadas e fiz algumas ligações
importantes para os meus contatos na polícia, precisando saber do reflexo dos
eventos da noite passada. Uns abatedores de um motoclube que estava
tentando se estabelecer bem perto da minha fronteira, tentaram interceptar a
minha carga, tiveram motos e partes de corpos espalhadas na estrada
enquanto meus homens simplesmente passaram por cima. Os novos carros
eram muito bons.
Giovanna e a Luna ficaram na piscina por toda a tarde enquanto
treinava com o Enrico. Percebi que ele estava distraído e me preocupei.
— Está acontecendo alguma coisa que precise saber? — Empurrei-o
contra a parede, ele estava suado e escorregou fácil do meu aperto.
— Nada relevante. É a Luna.
— O que tem? A ninfa bebê está torrando o seu juízo? — Provoquei e
ele me chutou com muita raiva.
— Quero foder aquela mulher! — Explodiu e me deu um soco no
rosto. Tão surpreso, não consegui revidar e me afastei. — Ela está me
enlouquecendo! — Puxou os cabelos e me sentei no chão, rolando de rir.
Enrico se jogou em mim, tentando me socar e me defendi, sem conter a
risada. Travei as minhas pernas nas suas e o coloquei de guarda, imobilizado.
— Desde que a Gio a levou às compras, a garota tem usado todo tipo de
roupa curta na minha frente, que me faz sentir um sujo tarado... E quando ela
coloca umas saias xadrez, parecendo uma colegial? Caralho!
— Sabe que a Luna tem um atrativo de uma irmãzinha para mim e
apesar de gaguejar até a morte na minha frente, acho que é uma mulher
adorável. A Giovanna a adora, ela é a sua esposa, então, ela tem que te
atormentar. Se ela souber o poder que tem sobre você...
— Esse é o problema, porra. Ela não faz ideia! Sabe o que me disse
ontem? Que eu não acho que ela é bonita. — Joguei a cabeça no seu queixo,
ele gritou de dor. — Filho da puta!
— E você tem problemas em achar a sua mulher bonita?
— Claro que não, porra! Ela é gostosa pra cacete! Só que eu sinto
medo de machucá-la, ela é inexperiente e fica nervosa. E pelo visto, tem um
monte de complexos que não tenho a mínima paciência para lidar.
Suspirei e me afastei.
— Enrico, eu nunca pensei que fosse dizer isso. Ao chegar em casa
essa noite, assim que encontrar a sua mulher, agarre-a e beije. Faz ela gozar,
ver estrelas, mostra para ela que você é bom nisso e que vocês podem ser
bons juntos... O que já fizeram?
Enrico sentou-se, com o peito arfando.
— Nada.
— Caralho... Você está casado com a versão pornô de uma pinup e não
fez nada? Você gosta de mulher? — Queria irritá-lo e deu certo. Ele se jogou
em mim com tudo.
— Claro que gosto, escroto. Não quero machucá-la, pensei em nos
conhecermos um pouco, mas eu sou péssimo nisso. O assunto não rende, ela
é tímida e parece que foi educada para não abrir a boca. A Giovanna tentou
falar comigo sobre isso, elas foram às compras e a Luna até pareceu mais
feliz, eu só... Caralho, nunca precisei conversar com uma mulher.
Abri um sorrisinho.
— Bem-vindo ao casamento! Você vai descobrir que elas amam
conversar. Tem dias que a Giovanna me espera acordada para simplesmente
conversar... E não é sexo. É para falar até que eu desejo arrancar as minhas
orelhas e ela me faz milhares de perguntas no mesmo minuto. Esse é o
casamento. E ah! Tem as brigas, quando a Giovanna está disposta, ela é
bastante eloquente. — Revirei os olhos.
— Gostaria que a Luna fosse do tipo tagarela, acho que facilitaria.
Olhei em direção a piscina e a Giovanna estava de lado, mostrando a
barriguinha e a Luna tirava uma foto.
— Então... Você ouviu o coração?
— Sim e eu acho que é o som mais bonito do mundo.
— Tomara que o moleque puxe a mãe. Se ele sair um atentado como
você, a segunda potência, será um caos.
— É foda. Espero que ele seja feliz... cresça saudável e que eu consiga
mantê-lo seguro... — Desviei o olhar da Giovanna.
— Ele ficará seguro, nós cuidaremos dele.
— Você poderia fazer um filho logo e eles poderão crescer como nós
dois.
— Idiota. Isso foi muito sentimental e eu vou embora antes que cresça
uma buceta na minha testa. — Enrico ficou de pé e dei uma banda, ele caiu
quase de cara no chão, mas seu reflexo ajudou e virou, me chutando.
— Só assim você veria uma buceta.
— Filho da puta! — Nós voltamos a lutar disparadamente, derrubando
alguns pesos e aparelhos da academia. Ficamos cada vez mais agressivos e
com mais força.
Nós paramos quando Sandro entrou na academia, sinalizando que
havia uma ligação esperando por mim. Enrico foi para sua casa tomar banho,
entrei na minha casa, suado, precisando beber água e a ligação era
importante, mas era apenas do Frank sendo insuportável com seus conselhos
sobre não fazer tanta bagunça em casa.
Giovanna passeou pela cozinha, usando um pequeno biquíni preto e
mordeu o lábio, me encarando... Ela sorriu e apontou para a escada.
— Já para cima.
— É uma ordem?
— Sim... É que você está aí todo suado, inchado de praticar exercícios
e tão gostoso... — Comentou e cutucou o meu abdômen. — Quero você, mas
eu não vou te chupar todo suado assim. Vai tomar banho.
— Agora!
Peguei a sua mão e literalmente a arrastei escada acima. Entrando no
banheiro, liguei o chuveiro, arrancando a minha calça de moletom e o seu
biquíni. Ela soltou uma risada com as minhas tentativas inúteis de puxar o
lacinho da sua calcinha, mas era falso e me atrapalhei ao puxar pelas pernas.
Como costume, dei um beijinho na barriga, meu bebê estava ali dentro e eu
não conseguia parar de idolatrar a sua barriga.
Não me importava que a maioria dos homens se afastavam das suas
esposas quando elas engravidavam, não me interessava que seria uma
fraqueza no meu mundo amar o meu filho. Isso era sobre Giovanna e eu.
Sobre uma história que tinha tudo para dar errado, e acabar em tragédias e
nós lutamos para estar aqui. Eu podia matar milhares de pessoas e destruir a
vida de outra metade, mas não me arrependia de amar a minha família.
Morreria por eles.
Quando anoiteceu, ela estava na cama, com a boca inchada – um
presente da gravidez -, e me olhando jogar algumas peças de roupas na mala
pequena, porque nós tínhamos um armário e muitas coisas na Itália.
— Eu pensei em pedir para a Luna me ajudar com o quartinho do bebê
aqui. Precisaremos de tudo em dobro...
— Quando ele nascer, voltaremos para casa e ele pode dormir conosco
aqui no quarto até resolver.
— Quando ele nascer, eu não vou querer montar porcaria nenhuma.
Vou estar muito ocupada descobrindo como ser mãe. — Revirou os olhos
como se eu fosse um idiota em pensar que ela gostaria de montar o quarto do
nosso bebê. Ainda não escolhemos o nome e por isso, não havia muitas
coisas. Giovanna comprou apenas algumas coisinhas, nada mais, porque já
pretendia ter a gestação longe dos olhos do público.
— Ok. Se a Luna puder... — Algo me dizia que ela ficaria bastante
ocupada quando o Enrico tirasse a cabeça da bunda.
— Ela já aceitou.
— Por que está falando comigo se já acertaram tudo?
— Só para você se sentir incluído nos planos. — Encolheu os ombros.
— Megera.
— Seu amor, não se esqueça.
Meu telefone tocou e era o Enzo. Ele estava ligando do seu número da
Itália.
— Chupa.
— Foda-se, você não vai gostar. — Enzo começou com a sua voz
rouca.
— Você vai morrer fumando assim.
— Não estou fumando, só comendo pra caralho e estou gripado .
— O que eu não vou gostar?
— Matei o merdinha encrenqueiro sem saber que era o merdinha
encrenqueiro .
Fechei os meus olhos, lívido.
— Por quê? — Trinquei os dentes.
— Ele andou passando em alta velocidade aqui pelas estradas...
Sinceramente, me irritou a merda que alguém estava me provocando no
lugar onde crio as minhas filhas. Não satisfeito, andou fazendo uma arruaça
no restaurante da Tia Malia.
— Que porra ele estava fazendo aí?
— Antes de morrer, ele disse que em breve, tudo aqui será da família
dele. Só depois que atirei que lembrei que você comentou sobre um merdinha
encrenqueiro. — Enzo falou como se fosse nada demais.
Saí do quarto, pensativo e me apoiei na varanda, olhando para o
quintal dos fundos. Aquilo não me soava nada bem.
— Sabe o que isso significa aos meus ouvidos? Conspiração. O filho
da puta do pai dele está armando algo, achando-se grande demais. Ah,
caralho. Estarei em casa amanhã e você deve ir ao meu encontro.
— Não vou deixar Juliana sozinha aqui, nem fodendo. Giovanni está
nos Estados Unidos e Alessio está em lua-de-mel com a minha irmã. — Enzo
reclamou.
— Giovanna está grávida e ela está com mais segurança que o papa.
Esteja lá em casa amanhã ou eu vou resolver essa merda sozinho. — Minhas
têmporas estavam doendo só de imaginar o problema que estaria me
aguardando na Itália e de nenhuma maneira deixaria Giovanna em casa.
— Finalmente colocou o bolo no forno. Estarei lá, até.
Joguei o meu telefone na cama e suspirei. Giovanna conseguiu sair do
quarto e voltar com um pote de sorvete sem que eu percebesse.
— Um problema sério, amor? — Sua boca estava cheia.
— Sim, mas a notícia boa: Enrico vai precisar ir comigo, então, você
terá a companhia da Luna e a Juliana chegará com as meninas amanhã. Enzo,
Enrico e eu precisaremos fazer uma viagem. — Murmurei e ela me ofereceu
uma colher.
— Será que você pode se estressar com isso só amanhã?
— Impossível.
— É mesmo? — Então, virou a sua colher de sorvete no colo dos
seios. Foda-se. Ela sabia como tirar completamente o meu foco do lugar e
atrair para si. Eu a amava.
35
Gio.
Damon estava arrumando a sua bolsa de facas, concentrado e fiquei
encostada na soleira da porta, pensativa. Chegamos na nossa casa na Itália no
começo da manhã e ele já iria sair. Algo estava acontecendo e era grave,
dessa vez, optei por pegar todos os detalhes com a Juliana porque o meu
marido iria me enrolar e decidi não me desgastar com ele.
— Você vai ter um filho. — Falei atrás dele. — Não seja
inconsequente.
— Não sou inconsequente há anos, desde que tenho uma esposa
bonita para voltar. — Fechou a sua mala. — Eu vou ficar bem, eu te amo.
— Prometa.
— Eu prometo.
Ficamos abraçados por um tempo até que o Enrico e a Luna entraram
em casa. Eles estavam de mãos dadas e eu não consegui esconder o meu
sorriso feliz com isso. Enrico estava sendo mais difícil do que todas nós
pudemos imaginar, mas de alguma maneira, achava que o seu bloqueio era
emocional.
Luna e eu demos as nossas mãos, assistindo-os arrumar os carros
quando uma comitiva de carros entrou na propriedade. Enzo saiu primeiro,
ele sempre me fazia parar uma batida porque era muito bonito. Ele veio na
nossa direção e me deu um rápido abraço, um aceno a Luna e voltou para o
carro para ajudar a tirar as meninas. As três estavam adormecidas, então, eu
peguei a Anna enquanto ele tirava a Amália. Juliana saiu com cuidado com a
Aria e parecia exausta. Eu podia imaginar o cansaço que foi viajar com três
pequenas garotas e toda tensão pelo motivo.
Entramos e deixamos os homens do lado de fora, resolvendo as
questões de segurança, se arrumando para sair. Separei um quarto para
Juliana e outro para as meninas, embora eu duvidasse que ela fosse dormir
sem elas ao alcance dos olhos, então, Luna e eu montamos dois berços
portáteis e a Amália dormiria na cama de casal com a sua mãe, mas esperava
tirar uma casquinha das minhas princesas.
Acariciei o cabelo loirinho da Aria. Ela puxou o tom de loiro escuro da
sua mãe, que provavelmente escureceria. Seu narizinho era lindo, porém, ela
era muito parecida com o Enzo. Os olhos verdes que se fixavam
intensamente, o semblante sempre sério e quando sorria, era de um jeito
zombeteiro. Anna era mais simpática, sorridente, quase uma miss simpatia.
Amália não era parecida fisicamente com os dois, ela se encaixava
com as meninas por causa do cabelo e os olhos castanhos como da Juliana. A
personalidade, no entanto, era do Enzo. Autoritária, cheia de si e aprontava
sem pensar. Ela adorava mandar e não escondia a sua satisfação em ser
obedecida.
Ela era perfeita da cabeça aos pés.
Com a babá eletrônica nas mãos, descemos as escadas e os nossos
maridos estavam na sala. Damon abaixou na minha frente, ergueu a minha
blusa e beijou o meu ventre várias vezes e em seguida, me deu um beijo
intenso, apaixonado, que me deixou quente, sem fôlego e excitada. Era
maldade me deixar tão louca com gostinho de quero mais. Ele me abraçou
apertado e não falou mais nada quando saiu.
— Ei, Luna, me acompanha no vinho? — Juliana sorriu
simpaticamente.
— É claro, acho que preciso de uma bebida. — Luna saiu da sala,
indo até a adega da casa, que ficava do outro lado da cozinha.
— Vem aqui, garota. — Juliana me abraçou do nada. — Parabéns
por esse bebê. Você está feliz?
— Muito. Mal consigo me conter... Ele é tão lindo!
Juliana arregalou os olhos.
— Ele? Caramba. Um menino? Ai que felicidade! — Me abraçou de
novo. Eu quis chorar, preocupada com o Damon e sentindo os meus nervos à
flor da pele. — Ei, nada de ficar tensa. Eles vão voltar, isso é nada diante de
tudo que já nos assustaram no passado. Eu vim com o Enzo perturbando a
Amália de lá até aqui, a Anna querendo brincar o tempo todo e a Aria
chorando, dando aquele olhar que ela é boa demais para estar conosco. Sinto
que elas serão três meninas geniosas que vão rolar como cães e gatos no
segundo que as duas menores começarem a andar direito.
— Enzo não deixa as meninas quietas, não é?
— Aprenda isso, enquanto eu solto um suspiro de alívio quando elas
dormem, ele fica angustiado querendo que elas acordem logo. Tem tanta
energia quanto elas, é impressionante.
— Vem, vamos para a cozinha. Não existe lugar mais reconfortante
que um bom lugar para comer e eu estou louca por uma boa pizza.
— Hum, eu também. Vamos fazer? Tenho evitado comer besteiras,
assim as meninas nos veem comendo legumes e acabam aceitando comer
também. É mais fácil. Amália questiona tudo e ela faz menos pergunta se ver
o nosso prato igual ao dela. — Revirou os olhos e a Luna apareceu com os
braços cheios de vinho.
Peguei três taças e para mim, uma garrafa de suco de laranja. Me
distraiu a mente preparar pizzas do zero, nós gastamos uma quantidade
imensa de material e conseguimos assar no forno a lenha nove pizzas,
distribuindo entre os soldados e espalhamos o que sobrou na cozinha entre
nós. Amália e Anna ficaram tomadas de molho de tomate e queijo,
mastigando com felicidade.
— Vocês vão ter que me ajudar com essas criaturas, em casa, tenho
a minha tia que é uma avó maravilhosa assim como a Martina, que mesmo
com a idade avançada, cuida das meninas comigo. A minha sogra ainda age
muito timidamente ao meu redor, ela se culpa pelo marido ter tentado me
matar. Talvez ela seja uma avó mais presente quando a Carina engravidar, o
que para a minha cunhada, será no dia de São Nunca. — Juliana não tinha
filtro nenhum.
Luna arregalou os olhos, chocada e eu ri. Nós a atualizamos sobre a
história maluca da vida da Juliana. Para a Luna e eu era um completo absurdo
que o pai da Juliana tenha conseguido criá-la como uma garota normal, super
protegida, mas normal. Luna e eu nascemos neste mundo e sabíamos desde...
não lembrava se existia algum momento em que não sabia quem nós éramos.
As crianças da máfia são educadas em uma bolha e para ser honesta,
entendia porquê tínhamos tantas regras para as crianças. Essas regras
protegem nossos pequenos de ataques externos. Era bom para que não fossem
inocentes e confiassem em qualquer um e muito menos se colocassem em
posição de se tornar uma moeda de troca muito eficaz entre qualquer pessoa
que quisesse atingir a máfia.
Afinal, havia muitos loucos lá fora. Não apenas nós.
— Anna! Não! — Juliana impediu a sua filha de jogar um dos
vasinhos de vidro, que deveria ser um cinzeiro, mas coloquei uma suculenta
dentro. — Oh, garotinha. — Beijou a pontinha do nariz. — Vá com a sua
madrinha. — Apontou na minha direção e a minha sapequinha veio correndo,
com os braços abertos, toda suja. — Ela precisa de um banho.
— Okay! — Beijei a sua bochecha suja de molho.
— E você vai com a Tia Luna enquanto a mamãe dá banho na Aria e
a mamadeira para ela dormir. Depois a mamãe é toda sua. — Juliana
conversou com a Amália, que aceitou subir com a Luna.
Com a Anna nos braços, decidi que o chuveiro seria melhor que a
banheira. Tirei as nossas roupas e levei um tempo esfregando as marcas de
canetinhas, limpando o que estava sujo de comida, lavando o seu cabelo e a
mãe dela entrou no banheiro no momento que estava enxaguando o xampu.
Ela tirou uma foto nossa, que ficou divertida e terminei com a Anna. Juliana
disse que a Aria dormiu no meio da mamadeira, a coitada deveria estar
esgotada com toda essa mudança.
Após o meu banho, pedi que a Luna dormisse em um dos quartos da
casa. Seria melhor ficarmos na mesma casa. Coloquei a Diana para dentro,
fechei todas as portas e janelas, acionando o alarme porque não sairíamos
mais e interfonei para a casa dos guardas, avisando que iríamos dormir. Dei
boa noite para todo mundo e com a Diana atrás de mim, entrei no quarto. Ela
subiu em um sofá, deitando e me encarando com expectativa.
Me joguei na cama, exausta, com a barriga cheia e sentindo a
ausência do Damon ao meu lado. Peguei o meu telefone e enviei uma
mensagem, mandando a foto do meu banho com a Anna. A foto não mostrava
nenhuma nudez , porque os meus braços cobriam os meus seios e as suas
partes. De lado, aparecia as suas pernas gordinhas e a formação da minha
barriguinha.
Estava quase dormindo quando o meu telefone vibrou ao meu lado.
“Me faz querer ter uma menininha também, pare com isso”.
Sorri apaixonada. Só o Damon para brigar comigo por lhe dar
vontade de ter uma filha. Dei uma resposta engraçadinha e fechei os olhos,
adormecendo profundamente. Acordei assustada com o rosnado baixo da
Diana em direção a porta. Uma batida muito baixa soou.
— Giovanna! Acorda! — Sandro falou meio alto. Sai da cama,
desconfiada.
— Não abra a porta, Giovanna. — Ouvi a Juliana falar.
— Sra. Rafaelli, eu sou fiel ao Damon, darei a minha vida pela
Giovanna e nós iremos sofrer um ataque em alguns minutos. Preciso levá-las
para o quarto seguro imediatamente.
— Vire-se contra a parede e não tente nenhuma gracinha, eu
costumo atirar primeiro e perguntar depois. — Juliana continuou falando
baixo e então, a maçaneta girou. Ela estava de costas para mim, com a arma
apontada para a testa dele e a outra na mão. — Eu sei que você tem uma faca
na cintura e outra dessa aqui — Sinalizou para a 9mm — no tornozelo. Se
você piscar, eu vou te matar.
— Preciso levá-las para o quarto seguro. — Sandro insistiu e me
olhou, quase implorando para acreditar.
Ergui o meu olhar e o alarme silencioso estava piscando.
— O alarme está piscando. — Apontei e ela mal pareceu se mexer.
— Vou te dar o benefício da dúvida. — Abaixou a arma. — Não
gosto de homens que rastejam pela escuridão em uma casa cheia de mulheres.
— Sinto muito, mas se eu fosse um perigo, a Diana estaria me
atacando. — Sandro apontou e a minha cadela parecia decidir se o atacaria ou
não. — Os sensores detectaram a aproximação de vinte homens em lados
diferentes da propriedade. Os homens estão se preparando para a defesa. —
Sandro explicou. — A Giovanna precisa entrar no quarto seguro.
— Tudo bem, nós iremos. Mas você precisa ficar lá embaixo, entre a
escada e o corredor. Tem que impedir qualquer um de subir, fui clara? Eu
vou matar você se algo acontecer com as minhas filhas. — Ela foi severa. —
E onde posso conectar com a defesa da casa?
— Meu tablet tem o aplicativo. — Corri de volta para o quarto,
ligando meu aparelho e logo conectando.
— Porra. — Juliana grunhiu. — O que está acontecendo em Catânia
é mera distração para tirá-los de casa. Ou é um golpe, eliminam eles lá e
eliminam as esposas aqui. Com o bônus dos herdeiros. — Murmurou, de
surpresa, jogou o tablet em mim e pressionou o Sandro contra a parede,
abatendo-o pelo joelho, em seguida, agarrando as suas bolas. — Se eu
arrancar o seu dedo agora, você vai jurar fidelidade? Eu posso alimentar você
com o seu pau antes que morra de tanta dor.
— Você pode me matar e sempre serei fiel a essa família. — Sandro
grunhiu, controlando a dor.
— Ótimo. Você vai me dar cobertura. — Juliana se afastou e ele
agarrou as bolas.
— Cobertura? Todas vocês para o quarto do pânico agora! —
Sandro rugiu.
— Você é louco? Eles esperam que irão atacar pelo chão e eu vou
atacar pelo alto. Ou você sabe como usar um rifle a longa distância? — Ela
arqueou a sobrancelha.
— E como a senhora saberia?
— Eu sou Juliana Rafaelli, meu querido. Sou a chefe, embora meu
marido tenha uma opinião diferente sobre isso. — Virou-se para mim. —
Gio, onde o Damon guarda as armas boas? Eu sei que ele não seria burro de
manter tudo no escritório. — Ela olhou para o Sandro. — E você aí, mande
mais um entrar aqui.
Sandro saiu silenciosamente, acordamos a Luna e eu abri o
esconderijo de armas do Damon. Eu sabia a senha por saber, porque não
costumava mexer. Juliana pegou um rifle com familiaridade, recarregando e
montando como se estivesse vestindo uma calcinha. Luna estava muito
assustada e eu não queria pensar ou iria desmaiar. Era hora de agir e como
uma de nós sabia o que estava fazendo, eu ia seguir o comando. Sandro me
deu um roupão e eu reparei que estava com uma minúscula camisola,
agradeci com as bochechas pegando fogo.
— Por favor, vá para o quarto com a Luna e as crianças. — Sandro
me segurou antes de seguir a Juliana para o sótão.
— Não posso deixá-la sozinha e o sótão é tão seguro quanto o
quarto, por favor, deixe o Mauro com a Luna e as meninas. Vem conosco.
Sandro parecia conflituoso, mas a Juliana sabia mesmo o que estava
fazendo. Ela montou o equipamento exatamente quando ouvimos o primeiro
disparo. Meu coração estava explodindo no peito. Ela estava com um
binóculo de visão noturna acoplado ao rifle, Sandro agachou ao lado dela e
eu saltei no lugar com o primeiro disparo. Olhei para as cápsulas caindo no
chão e me encolhi no cantinho. Diana estava comigo, sem se abalar com o
barulho e colocou o focinho no meu ombro.
Parecia que era muito distante, não conseguia enxergar nada, mas a
agitação no pátio da villa mostrava que não era coisa da nossa cabeça.
— Eles não estão conseguindo avançar em nenhum lado. — Sandro
sussurrou no rádio. — Tem um grupo à esquerda.
— Dois parecem rastejar pela trilha para o desfiladeiro, eu vejo o
movimento, mas não tenho mira. — Juliana comentou e deu mais dois
disparos.
Abracei os meus joelhos, incrédula e assustada. Ela era astuta e com
um sangue muito frio. Juliana era trinta vezes mais perigosa que o seu
marido, só não demonstrava. Fechei os meus olhos, me concentrando na
respiração ofegante da Diana e no “tec, tec, tec” das cápsulas caindo contra o
piso de madeira do sótão. Estiquei a mão quando a Juliana pediu mais
munição, mas por um momento, houve silêncio.
Os guardas estavam vasculhando o terreno, que não era pequeno e
reforços da cidade chegaram. Em pouco tempo, meu quintal estava cheio de
homens e eu podia ouvir a voz do Damon explodindo nos altos falantes dos
seus rádios.
— Eu não acredito que as meninas dormiram com tudo aquilo. —
Juliana suspirou com a babá eletrônica ligada.
— Não deu para ouvir muito. — Luna comentou e olhou para os
homens. — Eles estão me deixando nervosa.
— Eu sei, nada vai acontecer. Eles são fiéis. — Segurei a sua mão.
— Você está bem? Sentindo qualquer coisa? — Juliana parou do
meu lado.
— Fiquei bem nervosa, mas, não foi como em Nova Iorque... —
Meu lábio tremeu. — Não sou como você, Juliana. Não sou fria
e... calculista.
— Quando o Enzo “morreu”, eu me tornei o que sempre tive medo,
então, por favor, não seja como eu. Você vai encontrar o seu próprio caminho
e a sua força para se proteger e manter os seus filhos a salvo. E você tem
homens que são leais a você e não somente ao Damon, isso é muito mais do
que eu tive quando o Enzo foi sequestrado. — Juliana olhou para os meus
guarda-costas parados dentro da cozinha, olhando para o quintal com
desconfiança. Pela primeira vez, homens de Chicago trabalharam com os
homens de Nova Iorque.
— Espero que sim.
— Espere só até empurrar a cabeça gigante dessa criança pela sua
vagina que você vai ver as loucuras que será capaz de fazer. — Me provocou
querendo arrancar um sorriso e conseguiu. — Além do mais, eu só me meti
porque vi que eles estavam longe, cerca de um quilômetro da casa e isso foi
uma vantagem enorme. Fez valer a pena o custo desse sistema de defesa, caso
contrário, eu mataria o Enzo por investir nisso.
Meu telefone vibrou em cima do balcão e era o Damon me ligando
em chamada de vídeo. O telefone da Luna vibrou também e o da Juliana.
Cada uma foi para um lado para ter privacidade para atender. Sentei-me em
um dos sofás na sala, aceitando a chamada.
— Você está bem? — Damon parecia estar dirigindo em alta
velocidade. Eu podia ouvir Enrico e o Enzo falando baixo também.
— Estou perfeita e estamos seguras.
— Ok.
Ele encerrou e eu sabia que ele ligou para me ver e ouvir a minha
voz, para assim ter a certeza de que estava bem porque não acreditaria por
mensagem. Na frente dos seus companheiros, ele jamais seria tão doce e
romântico como era, por hora, estava bem. Nós ficaríamos bem. Aquele era o
resultado de uma vida como a nossa.
— Eu não sei vocês, mas vou voltar a dormir. — Juliana falou como
se nós tivéssemos acabado de lidar com uma infestação de ratos e não uma
quase invasão. Luna me olhou meio incerta sobre a sanidade mental da nossa
companheira e sorri. Afinal, quem era realmente são entre nós?
36
Gio.
Uma semana após o ataque, a minha casa ainda estava dominada por
mulheres e as meninas eram o centro do nosso universo. Não aconteceu
absolutamente mais nada e todos descobriram que a família que comandava
Catânia estava com planos bastante ambiciosos em tomar toda a ilha da
Sicília. Como se isso fosse possível com o poder que o Damon exercia no
território... A primeira estupidez foi contar para o filho caçula e a segunda
estupidez foi achar que o filho mais velho concordaria.
O subchefe da Catânia foi traído pelo próprio filho mais velho, que
juntou os soldados que não concordavam com a traição e deu o golpe no pai.
Quando Damon chegou lá, havia um caos generalizado na cidade e o velho,
sem saber que o filho caçula havia morrido em Nápoles dois dias antes,
ordenou um ataque silencioso ao casarão, ciente que existiam defesas, mas
não sabiam quais e o plano era surpreender e matar o Damon. Até que foi
bem arquitetado, só não foi bem sucedido.
Damon ainda estava por lá, junto com o Enrico e o Enzo. Com a casa
sem os homens, nós aproveitamos bastante a dominância feminina. Os dias
foram repletos de sol, muita comida e brincadeiras com as meninas. Amália
nadava como um peixinho porque seu pai lhe ensinou e a Anna não tinha
medo da água, então, o cuidado era redobrado.
— Você demorou uma vida para colocar um biquíni, o que foi?
Dormiu? — Provoquei a Juliana, que desfilou para fora com seu corpão. Ela
nem parecia que pariu duas crianças em um curto espaço de tempo entre elas.
— Estava me depilando. Poderia me perder ao tentar achar o meu
clitóris. — Murmurou e eu ri. Luna revirou os olhos do seu lugar na piscina,
segurando a Anna na boia e vigiando a Amália com as bonecas na parte rasa.
— Eu me depilei antes de vir, está tudo tranquilo por aqui.
— Vocês se depilam por que gostam ou por que os maridos de vocês
pedem? — Luna estava curiosa. Juliana bufou e eu ri. Se a Luna
soubesse...
— Enzo que se depile se ele não gosta de pelos, faço isso quando
estou a fim. Prefiro sem, não totalmente sem, mas bem aparada, lábios
depilados e as vezes vario entre um retângulo fino como uma pista de pouso
ou um triângulo. No começo do meu casamento eu ainda me preocupava,
mas depois... — Sorriu torto. — Ele que se dane. É engraçado o quanto a
gente casa cheia de ideias. Eu tive uma criação de que o meu corpo era para
agradar o meu marido. Eu era muito paranoica com a minha imagem e o meu
peso, hoje em dia é a última coisa que eu penso. Coitado do Enzo se fizer
qualquer comentário.
— Damon nunca me pediu nada, nunca falamos sobre isso. Acho
que ele sabe que eu vou depilar a bunda dele com cera quente se exigir que
esteja depilada. Gosto sem, mas se não fizer por estar ocupada ou com
preguiça, ele nunca falou nada. Tenho costume de me depilar, mas eu já
fiquei semanas sem depilar a minha perna por pura preguiça e ele nem ligou.
Por que? Enrico pediu para depilar?
— Como se ele tivesse visto algo lá. — Luna revirou os olhos. — Só
para saber. Eu não tenho nenhum parâmetro de como agir, fico perdida. Se
ele me pedir, o que vou dizer? Ele é o meu marido.
— Mande-o chupar um...
— PAPAI! — Amália gritou.
Olhei para trás e os três estavam parados na porta. Enzo abaixou
para pegar a sua filha, toda molhada e Aria ergueu o rostinho sonolento de
entre os meus seios, olhou para o pai, bocejou e voltou a dormir. Eu amava
essa menina.
— Silenciosos filhos da puta. — Juliana falou baixinho, me fazendo
rir. Luna estava de costas e a cutuquei com o pé, para relaxar.
— Mandar chupar o quê, Juliana? — Enzo se aproximou, olhando
para a esposa como se ela sentisse medo dele. Enrico estava com o cenho
franzido, olhando para Luna, que fingia que ele não existia. Damon parecia
prestes a falar merda e lhe dei um olhar de aviso. Ajoelhando-se ao meu lado,
me deu um beijo doce nos lábios.
— Assunto de senhoras não é da conta de senhores. — Juliana
rebateu sem se abalar. — Oi, marido.
— Oi, esposa. — Enzo estava com as duas filhas no colo. Aria não
estava inclinada em acordar para falar com o pai. — Essa aí puxou a mãe.
Pensei que fosse chegar e ter a minha esposa correndo para os meus braços...
— Suspirou todo dramático.
— Você é tão chato. — Juliana estava se fazendo de difícil porque o
joguinho funcionava para os dois. Eu estava mais que feliz em estar nos
braços do Damon.
— Ei, principessa . Você não vai acordar? — Damon acariciou a
cabecinha cabeluda da Aria. Ela abriu os olhos, tomada de sono e foi um dos
momentos mais doces da minha vida. Se possível, estava ainda mais
apaixonada. — Tão perfeita. — Damon cheirou a sua cabecinha. — E o
nosso príncipe?
— Perfeito aqui dentro. — Sorri contra os seus lábios. — Está tudo
bem agora?
— Tudo no lugar certo.
Juliana e o Enzo foram para o quarto com as meninas e eu quase
sufoquei para não rir quando Luna saiu da piscina e o Enrico se deu conta do
biquíni minúsculo que ela usava. Damon fingiu beijar o meu pescoço, mas
estava rindo das veias salientes do seu irmão. Enrico pegou uma toalha e
ofereceu para sua esposa, envolvendo-a de maneira possessiva e a levou para
casa. Hum... Ele iria surtar até que a barreira entre os dois se rompesse de
vez.
Meu marido se afastou e olhei para os seus olhos. Estavam brilhando.
Seja lá o que tivesse acontecido, agora ele estava bem, feliz e eu imaginava o
quanto o coitado do Enrico sofreu preso entre os dois primos idiotas que
tinham um senso de humor distorcido e pioravam ainda mais em situações
extremas. Damon se inclinou e me deu um beijo. Estava surpresa que ele não
me cobriu na frente dos dois homens, mas ele parecia orgulhoso em me
exibir.
O retorno dos nossos maridos foi celebrado com muita comida,
bebida, conversas e risadas que não parecia possível no nosso meio. Sentada
no colo do Damon, observei as meninas brincando em um cobertor no chão.
Pizzas e outros tipos de massa espalhadas na mesa com garrafas de vinho,
taças, sucos, frutas e muito queijo. Podia imaginar muitas noites como aquela
e no futuro, o meu bebê estaria nos meus braços.
...
Damon me prometeu uma gestação tranquila e ele cumpriu a sua
promessa. Foram as trinta e oito semanas mais tranquilas da minha vida.
Fiquei um pouco estressada quando finalmente contei para a minha mãe
sobre a gravidez e ela imediatamente pegou um avião, chegando com malas e
todas as suas manias maternais antigas. Minha mãe nos deixou malucos, mas
a chegada dela foi divertida. Damon tinha mais alguém para encher o saco e
eu para descontar o meu humor esquisito.
Fiquei apaixonada por mim mesma na gestação, porque me senti
linda e toda a minha percepção de vida mudou. Quanto mais a minha barriga
crescia, o bebê mexia, mais o Damon oscilava entre um sentimento de
proteção intenso, ciúme e uma paixão arrebatadora. Quando a notícia que
estávamos esperando um menino vazou – porque até então, minha mãe
conseguiu guardar segredo – eu estava com oito meses, com uma barriga
enorme, pés inchados, um humor de cadela e as pessoas corriam de mim.
O único que aguentava com amor era o Damon. Ele aceitava os meus
rompantes com uma risadinha insolente que me dava muita raiva.
Quando ele ficava longe - precisando estar em Chicago -, morria de
saudades, meus hormônios me faziam acreditar que a vida estava acabando,
mas quando ele voltava, era um dia só de paz e amor. Logo ele começava a
implicar, me chamando de adorável mamute , porque eu fiquei enorme ou de
linda hipopótama , porque estava muito bruta e pesada. Não era brincadeira
quando dizia que fiquei enorme.
Enrico adorava sentir o bebê mexer, mas ele morria de nervoso da
minha barriga esticada. Ele e a Luna levaram um longo tempo, mas eu podia
dizer que ele amava a sua mulher mais do que tudo e nós formamos uma
família singular muito bonita.
Por tradição, Enzo e a Juliana eram os padrinhos do meu bebê e eu não
me importava que era visto como algo político, porque eles me deram os três
presentes mais lindos do mundo e eu tinha o amor daquelas meninas.
— Ei, bella. — Damon deitou-se na cama. — Como está sentindo-se
hoje? Adoravelmente grande, irritada ou apenas bem?
— Adoravelmente planejando a morte do meu marido. — Murmurei
sonolenta.
Ele riu atrás de mim e me deu um beijo no braço, deitando-se e
colocou a mão na minha barriga esticada. Já não usava mais roupas de
dormir, apenas um top de ginástica e calcinha, porque era inútil manter
roupas que me incomodavam e me deixavam calorenta mesmo com o tempo
frio. O bebê se mexeu com o pai falando sem parar com ele, pressionando
onde chutava e estava vendo estrelas a cada movimento.
Não estava me sentindo muito bem, estava com uma sensação de
cansaço, uma dorzinha nas costas e passei o dia inteiro deitada. Eu ameacei a
vida do Damon se ele não estivesse presente no nascimento do nosso bebê,
podia perdoar a noite de núpcias, o nascimento do bebê não. Eu o queria ao
meu lado no parto, não me importava que estava cheia de exigências, apenas
não queria passar pelo parto sozinha.
Adormeci com seu carinho e acordei com uma sensação dolorosa na
barriga. Fiquei quieta, esperando o que ia acontecer e quando senti uma
contração e a minha calcinha muito molhada, assim como a cama, sabia que
era o meu trabalho de parto começando.
— Damon...
— Oi, bella. — Ele acordou. Nunca fui tão grata que ele tinha o
sono leve. — Hum, a cama está molhada?
— A bolsa rompeu. — Falei baixinho, sentindo que a dorzinha se
transformou em uma bola de neve que estava quase me engolindo. — Preciso
de uma toalha, me ajude a sentar, ligue para a Dra. De Luca e por fim, acorde
a minha mãe e a Luna porque elas querem passar o trabalho de parto comigo.
— Pode levar horas.
— Pode não levar e pelo que estou sentindo, por favor, vamos rezar
que não leve horas... — Grunhi e apertei o lençol. Cristo Jesus, o que era
aquilo? — Meu Deus.
Damon agiu rápido, correndo para o lado com agilidade e eu registrei a
Luna entrando no meu quarto, toda descabelada, enrolada em um roupão e
ajeitou os travesseiros atrás de mim. Minha mãe chegou com toalhas, bacias,
garrafas de água e sentia que ia do céu ao inferno, consciente do que estava
acontecendo ao meu redor, mas confiante em todas as pessoas no quarto.
Tomei um banho para me refrescar e acalmar, fui amparada pelo
Damon e nua, ele me segurou na bola, porque parecia ridículo, mas aquilo
ajudava mesmo.
— A próxima vai ser cesárea. — Reclamei com lágrimas escorrendo
nos olhos.
— Você não vai querer. — A Dra. De Luca brincou. — Esse
momento, por mais doloroso que seja, é mágico.
Eu não podia discordar. Era mágico o meu corpo em completa
transformação para o nascimento do meu filho. Damon me abraçou,
beijando-me e eu lembrei do nosso primeiro beijo... Cinco anos
compartilhando a vida em todos os sentidos práticos da palavra. Ajoelhado na
minha frente, com as mãos me equilibrando, usando toda a sua força física e
mental para me dar apoio. Olhei em seus olhos e apenas chorei.
— Eu te amo tanto. — Gritei de dor. — Ai meu Deus.
Damon me deu um olhar apaixonado que renovou as minhas forças.
— Você é tão forte, isso é tão incrível... — Ele não estava chorando,
mas eu podia sentir a emoção na sua voz. — Você me enche de orgulho... Eu
te amo, Giovanna. — falou muito baixo, mal consegui ouvir e sorri. — Em
pouco tempo estaremos com ele em nossos braços.
Voltei para cama para ver a minha dilatação e estava pronta para
empurrar. Escolhi uma posição meio sentada, meio de cócoras, com o Damon
me segurando atrás. Luna estava responsável por fotografar todo o trabalho
de parto, porque eu gostaria de relembrar os momentos com calma e escrever
no meu diário de gravidez toda a minha experiência. Minha mãe ficou de
lado, me dando apoio e a Dra. De Luca, assim como duas enfermeiras-
parteiras estavam no quarto.
Damon contratou duas ambulâncias, uma neonatal e outra comum, de
ponta, com todos os equipamentos necessários para salvar a mim ou ao bebê
se fosse necessário. Ele também insistiu em um ambiente esterilizado, que
seria dentro da ambulância, para um pediatra - que já deveria estar
aguardando o nascimento -, examinar o nosso menino assim que nascesse.
Não sabia de onde estava tirando forças para empurrar, mas eu
conseguia cada vez que era necessário, com Damon sussurrando palavras de
incentivo e me segurando tão próximo que poderíamos ser confundidos com
um só. Naquele momento ele não era o homem capaz de matar todas aquelas
pessoas em um piscar de olhos. Ele era um marido e um pai.
— Só mais uma vez. — A Dra. De Luca incentivou, empurrei com
tudo que tinha e senti uma pressão esquisita na barriga até que ouvi o choro
estridente do meu filho. Não podia acreditar na criança que foi colocada em
cima de mim. Ele estava todo gosmento, tinha tanto cabelo que me deixou
surpresa e até aquele momento, me fazia lembrar do seu pai. Sua boca estava
aberta, gritando e consternado.
— Oi, meu amor. — Chorei segurando. — A mamãe está aqui...
sempre estarei aqui, meu filho. — Segurei a sua mãozinha. — Você é tão
perfeito! — Meus olhos não paravam de escorrer lágrimas.
Olhei para o Damon e ele estava congelado. Seu olhar era intenso na
criança em cima de mim e então, ele sorriu. O sorriso que me dizia “eu te
amo” sem palavras, que me fazia sentir a mulher mais incrível e poderosa do
mundo. Nós dois sorrimos para o fruto do amor tão intenso que construímos
ao longo dos anos.
A Dra. De Luca precisou terminar comigo e eu pedi para o Damon
acompanhar o nosso bebê na consulta e a minha mãe assumiu o seu lugar.
Estava exausta, mas a dor não existia mais, só um gigante desconforto. Os
lençóis foram trocados, a cama arrumada e eu tomei um banho com apoio,
me sentindo incerta. A Dra. De Luca me deu uma medicação e soro,
alegremente satisfeita que eu estava me sentindo tão bem quanto poderia
estar após horas de trabalho de parto.
— Está tudo bem com o bebê? — Perguntei para a Luna.
— Até onde sei, sim. Eles te avisariam se algo estivesse errado. —
Me confortou e assenti, me sentindo ansiosa por estar longe.
— Teremos que ir ao hospital? — Questionei a minha médica.
— Não por mim, você está sem hemorragia, reagindo perfeitamente
bem e lúcida. Vou te observar nas próximas horas e agora, tudo o que você
precisa é do seu bebê.
Nina e outras mulheres da família entraram para abrir o quarto e fiquei
chocada que estava de dia. Enquanto estava concentrada no parto, não vi a
hora passar. Elas limparam tudo, sem fazer parecer que houve um nascimento
ali. Estava quase levantando quando Damon voltou com o nosso menino
envolvido em uma manta azul escuro, limpo e calmo.
— Ele foi pesado, examinado, lavado e cutucado, mas como é um
Galattore, é forte como um touro... — Sorriu de um jeito traquina. — E tem
um pau enorme. — Me provocou e revirei os olhos, esticando os braços.
Todos saíram para nos dar privacidade. — Giovanna...
Damon colocou o nosso menino em meus braços.
— Não tenho palavras para dizer o quanto essa experiência foi única
e avassaladora. Nunca mais vou duvidar o quanto você é forte, corajosa e
apaixonada. Obrigado por dar à luz ao meu filho. Te amo muito. — Me
beijou e minhas lágrimas voltaram a cair como cachoeira. — Olhe só para
ele...
— É tão perfeito. — Segurei a sua mãozinha.
— Ele é... assim como o pai. — Soltou e fiquei bem séria. — Tá
bom, como a mãe. — Bati no seu braço.
— Meu filho... Vai se acostumando, seu papai tem um humor muito
estranho. — Beijei a sua cabeça. — Quanto cabelo...
— E então? Qual vai ser o nome, você ficou de me dizer a sua
escolha quando ele nascesse... — Me olhou cheio de expectativas. Damon e
eu separamos milhares de nomes, brincamos com a grafia e a pronúncia.
Chegamos a duas opções que ele gostava muito e eu fiquei com o desempate.
— Nino Francesco Di Galattore.
— Eu vou te ensinar a pegar garotas e a chutar bundas. — Damon se
inclinou e pegou o pezinho do Nino, que estava acordado, mas calmo. Ele
abriu os olhos para o nosso deleite. — Sabia que ia gostar de ouvir isso.
— A mamãe vai te ensinar a não ouvir o seu pai.
Aquele era só o começo de muitos momentos da nossa família. A
verdadeira família .
Epílogo
Damon.
A risada infantil e gorgolejante do meu filho me fez desviar os olhos
do oceano para a sua forma minúscula andando de um jeitinho engraçado
com as mãos sujas de areia e as pernas gordinhas afundando na areia fofa. Ele
era um menino robusto, mas bem grandinho para sua idade.
Com pouco mais de um ano, Nino mostrava a sua personalidade
extremamente exigente, o humor volátil e o sorriso fácil. Ele tinha muito de
mim, o que era assustador e irritante. Mais do que nunca entendia o motivo
pelo qual os meus pais eram tão estressados.
Meu filho era parecido comigo, mas tinha os olhos da sua mãe. Seus
cabelos eram escuros e a pele morena, mas o castanho era mais claro que o
meu, como o dela. Ele tinha poucos momentos de gentileza, a sua natureza
era bruta e ele tinha a sua mãe como objeto de adoração e por mim, estava
tudo bem. Giovanna era o meu objeto de adoração também.
Além dela, ele idolatrava a sua Tia Una e era apaixonado pelo Tio Ico.
Mesmo pequeno, ele entendia a nossa conexão familiar e era amado por
todos.
Nino sorriu, pegando uma concha e quis enfiar na boca. Giovanna
falou um não firme, bem baixo, abaixando a mãozinha dele. Com raiva,
jogou a concha longe. Suspirei. Oh criatura que mal tinha nascido e tinha um
gênio. Giovanna me encarou com a sobrancelha arqueada e encolhi os
ombros. Pisquei e soprei um beijo.
Ela estava linda com seu biquíni azul escuro e seu corpo
maravilhoso.
Giovanna emagreceu muito rápido após a gestação. Todo processo
da amamentação, as noites sem dormir e a falta de habilidades com um bebê
recém-nascido, ela perdeu muito peso, ao ponto de deixar a sua médica muito
preocupada. Minha mulher era a criatura mais teimosa do universo, a
maternidade a deixou intensa, extremamente ansiosa e isso fez mal à
dinâmica da nossa casa.
Não que o Nino não nos fez ser intensos. Nós não dormimos os
primeiros meses. Ele era o bebezinho mais lindo do mundo e a coisinha mais
terrível também. Todas as técnicas pareciam não dar certo e era como se ele
zombasse da nossa cara, dizendo “pensaram que ia ser fácil? ”.
Giovanna não lidava bem com a frustração e a privação de sono a
transformou em um monstrinho. Ainda bem que a mãe dela veio ao nosso
socorro e todas as vezes que precisamos, a Luna tomou conta do bebê com
amor. Minha cunhadinha ninfa-bebê era uma parceira e tanto nas noites sem
dormir. Até a minha irmã bancou a babá para que pudéssemos dormir.
Sabia que um homem não derrubaria o meu comando, mas um bebê
sim. Nino me deixou tão estressado que eu estava muito volátil no trabalho.
Quando ele começou a dormir a noite toda, começou o inferno dos dentes
coçando. Cada vez que superamos uma fase que não parecia ter fim, aparecia
outra. Felizmente com o tempo, Giovanna voltou a engordar, alcançou o seu
peso e ficou mais segura com a maternidade.
Superamos tanto que estávamos pensando em mais um. Tínhamos
sérios problemas porque com a Luna quase parindo, seria loucura ter outra
criança, mas quem se importava?
Nino gritou de alegria quando uma onda estourou e saiu correndo
para o mar. Sua mãe o puxou de volta pela sunga recheada de fralda. Ele
protestou, batendo as pernas e virou para ela com um olhar irritado. Giovanna
o agarrou e espremeu nos braços, enchendo-o de beijos que ele não fazia
outra coisa a não ser rir e se deleitar de amor.
Amor.
Pensei que essa palavra me levaria ao caixão, mas ela me deu vida e
muita força. Por amor a eles, eu me tornei um homem diferente, um homem
capaz de dar a vida pela família e fazer sacrifícios inimagináveis.
Entre alguns ataques aqui e ali, nós estávamos sobrevivendo,
mantendo o nosso território e os nossos negócios em funcionamento. Cada
dia que passava, me tornava mais forte e eu sabia que essa força vinha de um
pequeno serzinho, que atualmente tentava correr da mãe para o oceano que
ele tanto amava.
A pequena enseada era o nosso lugar favorito do mundo.
Nino amava o mar e eu lembrava a primeira vez que entrei com ele,
com a Giovanna quase morrendo na areia, querendo arrancar a criança dos
meus braços e sair correndo, mas ela confiou em mim. A minha leoa.
Giovanna se tornou ainda mais feroz depois do nascimento do Nino.
Diana ergueu a sua cabeça do canto, na sombra e ela passou a nos
seguir logo que descobriu o caminho. Não importava a distância, ela ficava
onde a Giovanna ficava. A conexão era impressionante. Alguns dos soldados
relataram que ela ficou muito agitada durante o trabalho de parto da
Giovanna e a cadela era tão forte, que protegia o Nino. Zeus e o Apolo
chegavam perto dele com o aval dela. Qualquer soldado que se aproximasse
do Nino sem acariciar a Diana primeiro, ela avançava.
Ou a Giovanna avançava. A mordida das duas doía.
Olhei a hora e peguei o pote com a papinha de frutas dele.
— Vem aqui, Nino. — Chamei e ao ver a comida, correu, caindo de
joelhos e se levantou, se jogando em mim.
— Papai!
— Oi, bambino.
— Ida .
— É, comida. — Enchi a colher e lhe dei. Aceitou de bom grado,
mastigando os pequenos pedaços e sorriu, logo que engoliu.
Giovanna suspirou, toda apaixonada e olhei em seus olhos.
— Não importa quanto tempo passe, sempre irei amar vocês dois
assim. — Sorriu e ergueu o rosto, apreciando o sol.
— Não importa o quanto o tempo passe... eu sempre vou te amar.
Ela se inclinou sobre mim e me deu beijo.
— Para sempre.
Fim.
Agradecimentos.
Serei eternamente grata a todos que transformaram Perigoso Amor nessa
história tão grande ao ponto de gerar ainda mais histórias. Em breve, teremos
mais. Obrigada a todas vocês, minhas leitoras fiéis e apaixonadas.
|Sobre a autora|

Mari Cardoso tem 28 anos, nasceu em Cabo Frio e


atualmente mora no Rio de Janeiro com sua mãe, uma gata e um
cachorro. Formada em fotografia, trabalha como fotografa e design
gráfico, possui uma loja de papelaria personalizada.
Até o momento, tem algumas histórias publicadas na Amazon
e estas são:
Em Outra Vida
A Valentia do Amor
Caminhos do Coração
Legalmente Apaixonados
Bem Me Quer
Uma Segunda Chance Para o Amor
O Melhor Presente
Apenas Entre Nós
Curvas do Destino
Alguém Como Você
Diga Que Me Ama
Perigoso Amor
Suas redes sociais:
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