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Copyright © 2022 Vanessa Secolin

Capa: Will Nascimento


Diagramação: Vanessa Secolin
Revisão: Isadora Duarte
Leitura crítica: Carla Freitas
Está é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e acontecimentos
descritos são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com
nomes, datas e acontecimentos reais é mera coincidência.
Todos os direitos reservados. Este ebook ou qualquer parte dele não pode
ser reproduzido ou usado de forma alguma sem autorização expressa, por
escrito, da autora, exceto pelo uso de citações breves em uma resenha do
ebook.
Criado no Brasil. A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na
lei nº 9.610/ 98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Descobrindo o Prazer – Livro 2
Pleasure Club
Vanessa Secolin
1ª edição – 02/2022
Todos os direitos reservados.
ÍNDICE

SINOPSE
DEDICATÓRIA
PLAYLIST
NOTA DA AUTORA
PRÓLOGO
CAPÍTULO 1
CAPÍTULO 2
CAPÍTULO 3
CAPÍTULO 4
CAPÍTULO 5
CAPÍTULO 6
CAPÍTULO 7
CAPÍTULO 8
CAPÍTULO 9
CAPÍTULO 10
CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12
CAPÍTULO 13
CAPÍTULO 14
CAPÍTULO 15
CAPÍTULO 16
CAPÍTULO 17
CAPÍTULO 18
CAPÍTULO 19
CAPÍTULO 20
CAPÍTULO 21
CAPÍTULO 22
CAPÍTULO 23
CAPÍTULO 24
CAPÍTULO 25
CAPÍTULO 26
CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28
CAPÍTULO 29
CAPÍTULO 30
CAPÍTULO 31
CAPÍTULO 32
CAPÍTULO 33
CAPÍTULO 34
CAPÍTULO 35
EPÍLOGO
AGRADECIMENTOS
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
SOBRE A AUTORA
SINOPSE
Pleasure Club é uma série de livros que pode ser lida
separadamente, embora contenha spoilers dos livros anteriores.

Após lidar com a pior de todas as perdas e passar por um momento


traumático, Melissa fugiu para uma cidade totalmente desconhecida.
Sem ninguém no mundo, apenas uma prima distante que ela nunca
soube da existência, Mel acabou se tornando babá do filho de um dos
solteiros ricos mais cobiçados da cidade.
Danilo Gomes Ribeiro não era apenas o dono do Pleasure Club, ele
também era um homem sexy e misterioso, que dominava os pensamentos
da Melissa.
Eles eram opostos:
Ela era luz, e ele a escuridão;
Ela era pura, e ele um sádico controlador;
Ela era um anjo, e ele um demônio criado pelo próprio diabo.
Mas nem isso foi capaz de afastá-los.
Uma babá virgem;
Um dominador experiente;
Uma noite no clube de sexo;
Venha conhecer esse romance BDSM apaixonante.
DEDICATÓRIA

Para todos que mesmo com as


dificuldades da vida, lutam até o fim.
PLAYLIST
Bishop Briggs – River
Rita Ora feat Liam Payne – For You
AC/DC – Back In Black
Christian e Cristiano – Fã
Harry Stiles – Watermelon Sugar
NOTA DA AUTORA
Oi, agradeço por baixar meu livro e dar uma chance a ele, espero
que o pequeno Gael, a Melissa e o Danilo conquistem o seu coração assim
como conquistaram o meu.
Eu irei deixar uns avisos antes da leitura:
Esse livro é um romance erótico, contém cenas de sexo BDSM;
Pode conter gatilhos emocionais e é recomendado para maiores de
dezoito anos;
Se passa em uma cidade fictícia chamada Vale de Lótus, essa cidade
nasceu no primeiro livro dessa série (Jogando com Prazer) com o intuito de
eu, autora, poder fantasiar meu próprio tipo de lugar, me aprofundar em
diversos assuntos e não deixar você, leitor, confuso. É uma cidade
brasileira, com mais de um milhão de habitantes, que possui suas próprias
leis e regras, um lugar que tem como objetivo misturar as diversas culturas
que o nosso Brasil possui. Espero que se encantem por essa cidade, assim
como me encantei ao criá-la;
Outro detalhe é o uso do dialeto apelidado carinhosamente de
Mineirês, teremos o uso dele aqui nos diálogos, não na narração. Confesso
que adorei escrever esses personagens, me identifiquei muito com eles, já
que tenho descendência mineira e moro coladinha com o estado de Minas
Gerais que tive o prazer de visitar duas vezes, é um encanto de lugar;
Sem mais, espero que aprecie a leitura e que venha no meu
Instagram contar o que achou (@autoravanessasecolin).
Um grande beijo, Vanessa Secolin!
PRÓLOGO
Quase nove anos antes...

Danilo
Cada parte do meu corpo tremia enquanto Carolina falava e falava
sem parar, apenas algumas palavras sendo predominantes entre todas as
outras:
Enjoos;
Gravidez;
Esse bebê é seu.
Naquele momento, eu desliguei a minha mente do que ela dizia, ou
melhor cuspia com ira na minha cara, como se a culpa fosse unicamente
minha, tudo servindo como um gatilho para as minhas piores lembranças e
eu apenas travei, revivendo toda a minha infância em um intervalo de
poucos minutos: as surras que eu e o meu irmão mais novo levávamos; o
medo de cometer qualquer erro e ser punido; o péssimo exemplo de pai que
tivemos e tantas outras atrocidades que aquele sádico cometia conosco.
Fechei os olhos respirando fundo e só voltei a pensar com clareza
quando aquela maldita palavra deixou os lábios dela, aborto.
Sempre foi claro que eu não desejava ter um filho, nunca, não tive
um exemplo de pai dentro de casa e sempre temi ser parecido demais com
ele e acabar com a infância e a vida de um ser inocente que não pediu para
nascer, mas abortar? Não permitiria isso.
— Você não vai fazer um aborto, porra nenhuma! — exclamei em
alto e bom tom, atordoado ainda, mas pensando com clareza o suficiente
para não ultrapassar esse limite.
Ela me olhou com ódio.
— Não quero essa criança, e você tampouco. Aborto é a melhor
decisão — ponderou, fria, sem emoções nos olhos e no tom de voz.
Apertei as têmporas e tentei pensar, sempre existia outra saída.
— Não, não é a melhor decisão — retruquei, firme.
— Fala isso porque não é o seu corpo que será destruído —
vociferou.
— Então esse é o problema? Seu corpo? Pelo amor de Deus,
Carolina! Estamos falando de uma criança inocente — exasperei-me.
Ela encarou o chão.
— Uma criança que você também não quer, Danilo — ressaltou o
que sabíamos que era verdade.
Esse momento da minha vida estava uma loucura, a finalização do
projeto Pleasure Club garantia um início promissor na minha carreira,
transformar o casino do meu falecido pai em um clube de sexo, era o que eu
e o meu irmão sempre desejamos.
— Não precisamos ficar com o bebê depois que nascer — falei uma
das opções.
Ela rolou os olhos e eu continuei pensando em outras maneiras de
sair dessa sem precisar recorrer a um aborto.
Demorou semanas para chegarmos em um acordo. De início, seria a
adoção, e eu ficaria responsável por toda a burocracia, mas com o passar do
tempo, acompanhando as consultas, ouvindo os batimentos do
coraçãozinho, cada dia eu me acostumava mais com a ideia de ter um filho
e me apegava mais ao bebê, então mudei de decisão.
Realmente a paternidade não era algo que estava nos meus planos,
eu tinha acabado de completar vinte e oito anos, tinha tudo planejado para a
minha vida, mas conforme o tempo passava e eu pensava sobre isso, algo
crescia dentro do meu coração e foi quando eu decidi ser pai solteiro e ter
toda a guarda da criança.
Carolina não foi contra os meus planos, mas fez da minha vida um
inferno antes de assinar os papéis passando a guarda legal para mim, foi
preciso uma longa negociação e após conseguir uma pensão mensal
altíssima e que eu pagasse todos os gastos necessários para recuperar o seu
corpo com cirurgias do tipo mommy makeover[i], ela assinou os papéis e eu
me tornei o único responsável legal pela criança que ainda lutava para
nascer.
Sim, lutava, porque a mãe era pura irresponsabilidade e eu quase
tive que morar com ela para garantir que não fizesse nenhuma loucura.
Ainda faltavam dois meses para o parto, mas naquele fatídico dia,
Carolina teve um sangramento, e Gael nasceu por causa do deslocamento
da placenta.
Olhar para aquele pequeno rostinho dentro da incubadora na UTI
neonatal, foi assustador e apaixonante, na mesma medida: assustador por
temer os riscos do nascimento prematuro e o medo de errar tanto quanto o
homem que me criou; apaixonante por finalmente dar um rosto para aquele
bebê, por enfim descobrir o amor paterno, até hoje o mais puro e sincero
que já senti.
Apenas recordar de que por um certo tempo eu não o desejei, me
corroía por dentro.
Mesmo com as dificuldades da gestação causadas pela mãe, a
pessoa que mais deveria amá-lo, Gael provou ser forte e por meses lutou,
foi guerreiro o bastante para sobreviver e, por fim, pude pegá-lo nos braços
e senti-lo. A minha vida mudou completamente naquele dia, enquanto ele
encarava tudo ao redor com genuína curiosidade, eu percebi que o amava
ainda mais, que ele era a pessoa mais importante do mundo para mim e
mesmo sem querer, ele chegou na minha vida e mudou tudo, por completo e
para melhor.
CAPÍTULO 1
Dias atuais...

Danilo
O parto prematuro de Gael era um dos principais motivos de eu ser
sempre superprotetor com ele, por isso estava no meu escritório no Pleasure
Clube até tão tarde, encarando os inúmeros currículos e não sabendo quem
contratar, com medo de colocar uma desconhecida para cuidar do meu bem
mais precioso.
— Você não sabe o que eu fiz — Daniel, o meu irmão mais novo,
falou, entrando na minha sala sem bater.
Ele vestia apenas a calça social, acostumado a andar pelo clube
assim todas as noites. Estava visivelmente bêbado.
— Deixa eu adivinhar... — Fingi pensar. — Pegou uma das suas
assistentes como submissa de novo?
Sim, ele era irresponsável a esse ponto e misturava negócios com
prazeres, mesmo tendo que enfrentar os problemas que isso sempre
resultava.
— Ainda não deixei a última, algo nela me fascina. — Piscou,
sorrindo, um riso depravado e ébrio.
Estranhei, ele normalmente não se apegava às garotas e já fazia uns
seis meses que estava com a mesma, mas desviei minha atenção dele e
voltei a analisar os inúmeros currículos.
O fato de sermos donos do Pleasure Club juntos não tornava as
coisas mais fáceis para mim, pelo contrário, eu sempre precisava arrumar as
merdas que o meu irmão fazia e estava torcendo para ter paz ao menos essa
noite.
— Criei um anúncio para o clube — contou, orgulhoso e senti meu
corpo gelar.
Como assim anunciou o clube?
— Você o quê? — questionei, encarando-o e perdendo todo o meu
sossego.
Meu irmão mais novo sentou-se no sofá modelo chesterfield que
decorava a minha sala e cruzou uma perna em cima da outra, rindo como se
tivesse feito a coisa certa.
Ele estava rindo da minha cara, só pode.
Daniel sabia o quanto eu prezava pela reputação do clube, por isso
criei infinitas regras quando começamos a criar o projeto e as seguíamos à
risca, elas eram justamente para evitar que pessoas curiosas e possivelmente
loucas para vazarem conteúdo sobre o Pleasure Club, se associassem.
Peguei meu telefone e entrei em contato com Rodolfo, o chefe da
TI.
Não me importei que já era madrugada, meus funcionários eram
muito bem pagos para resolverem os problemas da empresa, independente
do horário que surgissem.
Os olhos do endiabrado do meu irmão estavam em mim, ainda
rindo.
— As coisas por aqui andam tão sem graça, precisamos de novos
membros — retrucou após Rodolfo garantir que o anúncio ficou no ar por
poucos minutos, sem maiores danos.
— Não dessa forma, se começarmos a aceitar pessoas aleatórias,
tudo isso pode ruir — alertei o que já tinha dito inúmeras vezes.
A maioria dos nossos associados eram pessoas de renome,
poderosos da cidade que prezavam pela discrição e anonimato, mas se algo
acontecesse e informações pessoais vazassem, seria o fim do Pleasure Club,
tínhamos contratos que eram altíssimos.
Daniel rolou os olhos diante da minha resposta, como uma criança
mimada e não como o homem de trinta e dois anos que era.
— Tudo bem, senhor certinho, eu vou voltar para a diversão porque
aqui o clima está muito tenso, você precisa marcar uma sessão com
urgência — provocou. — Giovanna não está mais dando conta?
— Cala a boca! Alguém aqui deve trabalhar — disse antes que ele
fechasse a porta.
Eu não vivia preso nesse escritório, também aproveitava o clube e
tudo o que ele tinha para me proporcionar. Antes mesmo do Pleasure Club
existir, encontrei nas sessões de BDSM a melhor forma de buscar e dar
prazer. Eu adorava estar no comando, dominar, isso se tornou uma parte
importante da minha vida e da do Daniel também, às vezes sentia que ele
precisava ainda mais do que eu.
Há mais ou menos dez anos, descobrimos por acaso essa paixão em
uma festa particular, daí surgiu a ideia de abrir o nosso próprio lugar, onde
todas as fantasias sexuais dos membros poderiam acontecer com segurança.
Detestava admitir, mas Dan estava certo, eu precisava de uma sessão
essa noite para relaxar, sabia que com um telefonema, Gio estaria
disponível para mim, mas não conseguiria enquanto não resolvesse essa
questão da babá.
Novamente fui distraído com duas batidas na porta, permiti que a
pessoa entrasse.
— Ei Dani, Ana mandou te entregar — Evelyn falou, segurando
uma bandeja com um lanche, só nesse momento percebi que ainda não tinha
comido nada.
Ana era a minha assistente pessoal e Evelyn uma das bartenders do
clube, mas seria por pouco tempo, estava prestes a ser promovida a gerente
do bar.
— Obrigado, Eve, pode deixar em cima da mesinha — respondi,
apertando levemente a têmpora, mania que tinha sempre que ficava nervoso
ou preocupado.
— Um dia daqueles no clube? — perguntou, fazendo o que pedi.
— Hoje não, estou analisando novas funcionárias para cuidar do
Gael — contei, desanimado.
— E a última que contratou? Tem o quê? Uns dois meses? — Ela
me olhou, confusa.
— Nós dois sabemos o quanto o Gael pode ser difícil às vezes. Por
isso não quero colocar qualquer uma para cuidar dele — esclareci.
Evelyn deixou um sorrisinho gentil escapar.
— O menino tem o seu gênio, queria o quê?
Uma sombra de sorriso surgiu no meu rosto, sabendo que ela tinha
razão. Eu não era um homem de muitos sorrisos, mas quando se tratava de
Gael, eu mudava por completo.
— Quer mais alguma coisa? Preciso voltar para o bar.
— Não, obrigado.
Evelyn era uma das mais antigas funcionárias que tínhamos no
Pleasure, era de minha extrema confiança.
Antes de sair pela porta, ela olhou para trás e disse:
— Vê se descansa, Dani.
Assenti com a cabeça, mas ambos sabíamos que eu não faria isso,
não quando era o meu filho que estava envolvido. Enquanto eu não
encontrasse a melhor entre todas as candidatas, eu não conseguiria um
segundo de paz.

Alguns dias depois, eu descobri que a brincadeira sem graça do


Daniel, resultou em um novo cadastro no clube e como só aceitamos novos
associados quando eles são indicados por algum membro frequentador, eu
ignorei a inscrição da mulher por um tempo, mas depois de ler as respostas
que ela colocou no questionário obrigatório para todos os novos associados,
eu fiquei intrigado.
Quem responde essas perguntas com tanta sinceridade?
Ela foi extremamente sincera em algumas respostas, colocou até o
tempo que estava na seca, com essas mesmas palavras e eu me diverti com
isso. Por isso marquei de encontrá-la, queria analisá-la pessoalmente, tirar
minhas próprias conclusões e deixar esse estranho interesse de lado, mas
assim que entrei na sala de reuniões no horário marcado e a vi de costas,
encarando a vista que o alto do segundo andar do prédio do clube
proporcionava, a única coisa que consegui pensar foi: uau, eu a quero
submissa a mim. Já estava com Gio há quase dois meses, passava da hora
de mudar.
O corpo recheado de curvas, naquele jeans poderia enlouquecer
qualquer homem, inclusive a mim e eu era rigoroso quando o assunto era
meus interesses em uma nova submissa, ela precisaria ser uma submissa
experiente e eu gostaria de saber tudo sobre ela e o que sabia sobre Juliana
Salomão[ii], a beldade que estava parada na minha frente, era escasso
demais, não era o bastante.
— Uau, tem piscina e tudo — disse, a voz dela era suave de um jeito
sexy.
— Sim, hidromassagem, sauna, tudo o que os associados têm direito
— falei, evidenciando a minha presença.
Daquele momento em diante, trocamos flertes e quanto mais eu a
conhecia, mais interessado ficava, por isso resolvi aceitá-la como membro
do clube, estava intrigado e queria desvendar aquela mulher que parecia
tímida e inocente, uma perfeita sub para mim, mas ela também possuía um
fogo curioso no olhar.
Por sorte, Ana nos interrompeu avisando que Gael tinha chegado e
evitou que eu assustasse aquela desconhecida com propostas que
provavelmente ela nunca recebeu.
Deixei que Ana a ajudasse com todos os preparativos iniciais para se
associar ao clube e fui até a minha sala, quando entrei, Gael estava sentado
na minha cadeira, rodando-a com velocidade.
— Ei Campeão, como foi a aula de música? — perguntei como
sempre fazia.
— Hoje foi piano, muito chata — disse, sincero, parando de rodar.
— Prefiro de guitarra.
Sorri, acariciando os cabelos lisos e castanhos dele, idênticos aos
meus.
Os olhinhos dele se fixaram nos currículos e fotos de novas
candidatas a babá, nenhuma ficava mais de três meses no cargo.
— De novo? — perguntou com um bico contrariado.
— Sim, não seria necessário se você não tivesse feito o que fez com
a última — alfinetei e ele teve a decência de ficar sem graça.
— Não tive culpa, ela que escorregou no slime — falou, sua
expressão tão inocente que qualquer um cairia nessa, menos eu, conhecia
muito bem a figura.
Abaixei na altura dele e o olhei com seriedade.
— Foi errado o que você fez, nossa sorte foi que ela não se
machucou, mas e se o tombo tivesse sido grave? E se ela quebrasse um osso
ou se saísse muito sangue e ela precisasse ir ao hospital? Você precisa
entender, filho, já está grande para ficar aprontando essas coisas.
Ele mordeu o lábio inferior, desde o dia do ocorrido ele já estava
arrependido, só não gostava de dar o braço a torcer, gênio dos Gomes
Ribeiro e eu não podia culpá-lo.
— Sei que foi errado, mas ela me beliscava e gritava comigo quando
ficávamos sozinhos — contou dos maus-tratos só agora.
— Por que não me disse antes? Eu mesmo a teria demitido —
perguntei, estava irritado comigo mesmo por não ter percebido nada. Será
que eu estava trabalhando demais e sendo leviano com a criação do meu
filho?
Gael deu de ombros e se distraiu com o meu grampeador.
— Promete me contar caso a próxima te maltrate? — pedi, tocando
o seu queixo e erguendo o pequeno rosto com carinho.
— Sim, prometo — falou, encarando os meus olhos.
— Bom garoto, mas ela te maltratar não justifica o que você fez,
filho, no mundo sempre existirão pessoas ruins, que poderão fazer maldade
para você, mas isso não significa que terá que fazer o mesmo, sempre
damos aquilo que temos aqui dentro. — Toquei o peito dele indicando o
coração.
Gael jogou os bracinhos no meu ombro me abraçando apertado e eu
retribui, sorrindo. Ele sempre despertava o melhor de mim.
Cada dia que passava, eu aprendia coisas novas com ele e a
principal delas era que eu nunca seria como o meu pai, nunca.
CAPÍTULO 2

Melissa
Minhas mãos tremiam tanto que tive que apertar as alças da minha
mochila de costas. Olhei para trás antes de subir na balsa, certificando-me
que não estava sendo seguida por ele. Usava toca e cobria parte do rosto
com o cabelo para evitar ser reconhecida, tudo o que eu não precisava era
que algum conhecido testemunhasse a minha fuga e soubesse qual caminho
segui.
Precisava fugir dali, daquela cidade e daquela casa que há um mês
deixou de ser um lar para se tornar um tormento.
Boa parte do percurso pelo rio passei enjoada, só voltei a pensar
com clareza quando finalmente pisei em terra firme e entrei em um ônibus,
quanto mais quilômetros de distância eram colocados entre nós, mais calma
eu conseguia ficar. Fecha os olhos, inspira e expira.
Nunca mais voltarei para aquele inferno!
Meu único amuleto da sorte, ou meio de fuga, era aquele bilhete
amarelado de tão velho e o endereço que estava escrito nele, eu o encontrei
dentro da bíblia da minha mãe, sabia que ele não tinha visto, nunca sequer a
tocou, não era um crente.
Eu estava de mãos atadas, não tinha outra opção, ou aceitava o que
ele queria, ou fugiria como fiz.
Nunca ficaria lá e o deixaria destruir as minhas preciosas
lembranças, nunca me tornaria o que ele desejava tanto, nunca me tornaria
sua cúmplice.
Encarei o papel temerosa. As palavras ali escritas eram objetivas
demais, não tinha demonstração de carinho ou qualquer enrolação, podia
até arriscar que tinha um toque de arrogância, mas era o sinal que eu
precisava.
Antes de encontrar o bilhete, eu não sabia o que fazer, estava
perdida em uma cidade que todos acreditavam que ele era bom e perfeito,
ninguém nunca acreditaria em mim, mas então, enquanto arrumava as
coisas da minha mãe para doação, o papel literalmente surgiu no meu colo
ao cair da bíblia e a pequena frase me chamou a atenção.
“Se desistir da Melissa, traga-a para mim, cuidarei dela como se
fosse minha filha.”
Eu sabia que era loucura e por isso não pensei demais nos meus atos
ou desistiria de ir, apenas peguei minha mochila, enfiei nela meu precioso
caderno, umas poucas roupas, documentos tanto os originais quanto a
identidade falsa que usava para entrar em festas com as minhas colegas da
escola, dinheiro que economizei por anos e tudo o que julguei importante e
valioso, principalmente as fotografias, então fugi sem ser vista.
Se esse endereço não desse em nada, eu não saberia para onde iria
ou o que faria, mas eu precisava tentar, ainda mais quando a minha outra
opção era ficar ali no mesmo teto que ele.
Respirei fundo e desci na rodoviária de três cidades à frente,
deixando o Norte do país para me aventurar no Sudeste, quanto mais longe
do Amazonas, melhor.
Foram três dias e mais algumas longas horas de viagem, subindo e
descendo de ônibus diferentes, quando necessário, apresentando a minha
identidade falsa, tentando apagar um rastro que temia que ele seguiria.
Agradecia a minha colega da época que encomendou com um conhecido
que fazia quase idêntica a verdadeira, precisaria ser muito perito para notar
a irregularidade do documento.
Seguindo as instruções do motorista do último circular que peguei,
desci no ponto que era o mais perto do endereço que constava no bilhete.
Caminhei na direção que ele informou e parei em frente a um pequeno
prédio de cinco andares, minhas mãos suavam frio de nervoso.
— Posso ajudar, senhorita? — Deixei de encarar o prédio assim que
a voz aguda do porteiro chamou a minha atenção.
— Eu estou procurando uma pessoa — falei baixinho, mas pelo
visto ele foi capaz de ouvir.
Eu nem fazia ideia de quem estava procurando, mas depositei todas
as minhas esperanças nesse pedaço de papel.
— Quem? É um morador daqui do prédio? — questionou,
destravando o portão.
— Eu não sei, só tenho esse endereço. — Estendi o papel para ele.
O homem de altura mediana que beirava a meia-idade, pegou o
papel da minha mão trêmula.
— Não está assinado, mas o número do apartamento é o da
senhorita Evelyn, a conhece? — perguntou, dando-me novamente o pedaço
de papel, minha preciosa fuga.
Evelyn? Nunca ouvi falar de nenhuma Evelyn.
Neguei com a cabeça e ele me analisou por inteira, preocupado.
— Você não parece bem, quando foi que se alimentou pela última
vez? Vamos sair desse sol quente, vou arrumar uma coisa para você comer e
ligarei para a Eve, vamos ver se ela te conhece. — Amparou-me em seus
braços e me deixou entrar no prédio. Só então percebi a minha fraqueza.
Eu realmente não estava me sentindo muito bem, não me recordava
da minha última alimentação adequada, só comi uma barrinha de cereal que
estava na bolsa, economizei o máximo que pude para chegar até ali com o
pouco que tinha e a viagem tomou quase tudo de mim.
O sanduiche natural e o refresco que ele me deu ajudaram a passar
um pouco da minha tremedeira e dor de cabeça, estava finalizando quando
ouvi alguém perguntar:
— Rone, me explica essa história direito, quem é a garota que
procura por mim? Onde ela está? — A voz era feminina e um pouco rouca.
Caminhei curiosa para a porta da saleta do senhor Rone.
— Ela está terminando de comer, Eve, apareceu com um papel
escrito o seu endereço — falou, gentil e indicou com a cabeça ao me ver.
Foi nesse momento que ela me olhou, parada no batente da porta da
salinha do porteiro, eu me senti pequena, uma invasora, uma pessoa
indesejada, mas então os olhos dela se iluminaram com o sorriso bonito que
ela deu para mim, não era de reconhecimento, porque eu tinha certeza de
que nunca nos vimos antes, mas era de gentileza.
Analisei-a com curiosidade, era alta, morena clara, tinha grandes
cabelos castanhos como os meus, olhos esverdeados, um pouco puxados e
lábios marcantes. Ela era linda.
— Eu não conheço você — falou, confusa, mas ainda sorria para me
tranquilizar.
— Meu nome é Melissa... Também não te conheço, mas... encontrei
esse endereço nas coisas da minha mãe e era a minha única saída — contei,
indicando o papel entre os dedos.
Ela se aproximou ainda mais de mim, só então percebi que seus pés,
com as unhas pintadas de vermelho sangue, estavam descalços, confortáveis
no saguão.
Ao ler as palavras do bilhete, suas sobrancelhas franziram.
— É a letra da minha mãe — falou e eu respirei aliviada, só então
tendo a certeza de que toda a minha viagem, angústias e medos não tinham
sido em vão. Ao menos, não ainda.
— Eu não faço ideia de quem ela seja — eu disse a verdade,
necessitava de ajuda e não começaria mentindo.
Evelyn deixou de olhar o papel e me analisou com mais atenção.
— Acredito que sei quem você é. Onde estão as suas coisas? Vamos
subir, assim podemos conversar melhor — sugeriu.
— Eu só tenho essa mochila.
Ela me olhou com pesar.
— Então vamos subir, assim você pode tomar um banho e depois
conversamos.
— Obrigada, senhor Rone, pelo lanche — agradeci e sorri para ele,
foi um anjo me ajudando.
— Não tem de quê, senhorita Melissa.
Nós duas caminhamos para o elevador, vi que o porteiro estava
curioso em relação a mim, mas não perguntou nada.
Evelyn realmente só se sentou para conversar comigo depois do
banho, enquanto as minhas roupas sujas estavam na máquina de lavar.
— Eu sinto muito por invadir assim a sua casa, as coisas ficaram
difíceis depois que a minha mãe faleceu, eu aguentei o máximo que pude,
mas chegou uma hora que não deu mais — desabafei e ela segurou as
minhas mãos, compadecida.
— Não se desculpe, Melissa. Sei quem você é, ou acredito que sei,
minha mãe também já faleceu, tem uns anos, mas ela sempre falou de você,
da filha que o irmão mais novo dela teve.
Pisquei atordoada.
— Meu pai tinha uma irmã? — perguntei, confusa.
— Sim, acredito que tenho um retrato dos dois em algum lugar por
aqui — olhou ao redor —, depois procuro para confirmarmos, mas esse
bilhete já mostra quem você é.
— E por que a minha mãe nunca me contou que eu tinha uma tia... e
uma prima? — perguntei mais para mim mesma do que para Evelyn, mas
ela me surpreendeu respondendo.
— Nossas mães não se davam bem, a minha nunca perdoou a sua
por fazer o único irmão se mudar para tão longe, aquela era a cidade natal
da sua mãe, enquanto a vida do seu pai era aqui em Vale de Lótus. Os dois
irmãos eram muito unidos e só tinham um ao outro, segundo o que a minha
mãe me contou, eles brigaram feio e ele foi embora mesmo assim. Essa
briga foi o maior arrependimento dela nessa vida.
— Meu Deus! Eu nunca imaginaria, durante a viagem, cogitei que
fosse uma amiga distante. Como sabe de tudo isso?
— A minha mãe me contou, ela sempre falava sobre isso, agora sei
que era para proteger você caso um dia aparecesse na minha porta, por isso
te digo... prima, você é bem-vinda aqui, pode ficar o tempo que precisar. —
Abraçou-me apertado e eu desabei em lágrimas.
Fazia um mês que minha vida tinha virado ao avesso, em uma certa
manhã, minha mãe estava alegre na nossa cozinha, na outra, ela já não
estava mais, um acidente e tudo mudou.
Não queria ser um peso na vida da Evelyn, eu era apenas uma prima
distante, aquela que a vida inteira ela nunca conheceu, nem sequer viu, não
tinha dever nenhum comigo, mas nada disso impediu o meu coração
angustiado, me joguei nos braços dela e chorei como não pude desde que
um motorista bêbado matou a minha mãe, a pessoa que eu mais amava no
mundo.
Evelyn não me encheu de perguntas, ela apenas me abraçou
apertado e ficou em silêncio enquanto eu soluçava sem forças para parar.

Acordei com batidas na porta do quarto, nem me lembrava de como


fui parar nele.
— Mel, preciso ir trabalhar, você ficará aqui, certo? — ela
perguntou do outro lado da porta, corri abrir.
— Sim, vou te esperar aqui. Você trabalha à noite? — perguntei
genuinamente.
— Sim, em um clube. Amanhã te explico melhor, pode ficar à
vontade, tá bom? Se precisar de qualquer coisa, tem dinheiro na gaveta da
cozinha e Rone sabe os melhores lugares para pedir comida.
— Não se preocupe comigo, eu me viro.
— Não vai ficar sem comer, viu? Chegou aqui pálida de tão fraca —
repreendeu-me e meu coração aqueceu por saber que alguém se preocupava
com meu bem-estar.
— A viagem custou todas as minhas economias, isso me faz lembrar
que preciso de um emprego, não quero ser um peso para você.
— Você não é um peso, Mel, não se preocupe com isso, pode ficar
aqui o tempo que precisar, eu ajudarei você. — Ela olhou no relógio de
pulso. — Realmente preciso ir agora.
Concordei com a cabeça e caminhei até a porta com ela, assim que
Eve saiu, fui até a sacada do prédio, do alto do quarto andar que era o dela,
observei a cidade que agora sei que era o lugar onde meu pai nasceu.
Vale de Lótus.
Tomei todo o cuidado para chegar até aqui sem deixar rastros e farei
desse lugar o meu recomeço.
Sentei-me na cadeira da mesinha que tinha ali e encarei as inúmeras
luzes que pareciam sem fim, hoje mais cedo, estava tão atordoada, com
medo do que seria da minha vida e do que o futuro me reservava, que nem
desfrutei da vista da cidade, só percebi que ela era grande, muito maior que
a cidade que eu morava antes.
Olhando o céu estrelado, abracei os meus joelhos e fiz uma prece,
que ele nunca me encontre, ou não sei o que seria de mim e do meu futuro.
CAPÍTULO 3

Danilo
Ser pai solteiro não era fácil, não almejei que fosse também, sabia
que Gael tinha entrado na minha vida para mudar tudo, mas segurá-lo nos
braços enquanto assistíamos juntos pela enésima vez o seu filme favorito
me fazia temer o mundo e tudo o que poderia acontecer com ele.
— A febre já passou? — minha governanta perguntou, olhando-o
com preocupação.
Os créditos já subiam pela tela da televisão e Gael já tinha se
entregado ao sono.
— Sim, Rosa. Finalmente. — Eu a olhei agradecido, não sei o que
seria de mim se ela não existisse na minha vida.
Após receber a sua ligação e descobrir que Gael estava com febre
alta, deixei tudo para trás no clube e no caminho para casa liguei para
Renan, um amigo de infância e que é pediatra do meu filho.
— Graças a Deus, o que o doutor Menezes disse? — questionou,
colocando o dorso na mão na testa do Gael.
— Renan garantiu que é a garganta inflamada, por precaução não
mandarei ele para a aula amanhã — contei o que pediatra havia dito mais
cedo, a inflamação na garganta resultou na febre alta e na falta de apetite.
— É melhor mesmo, ficarei de olho nele o restante da noite, vá
dormir, filho — ordenou naquele tom que não aceitava recusa, mesmo
assim neguei com a cabeça e olhei o relógio, eram quase duas da
madrugada.
— Não, Rosa, você deve descansar e tire a manhã de folga — pedi,
sabendo que ela não o faria.
— Não acho que seja necessário. — Tentou negar, mas eu não era
um tirano e prezava pelos meus funcionários, ainda mais por ela que era
mais do que uma simples governanta.
— Eu acho, ficou até tarde com o Gael, apenas descanse, não irei ao
clube essa manhã — avisei e me levantei do sofá da sala de cinema,
pegando Gael adormecido nos braços e começando a caminhar para o
quarto dele, dando o assunto por encerrado.
— Tudo bem, então boa noite! — desejou prestes a se retirar
também.
— Boa noite!
Não preguei os olhos a noite toda, permaneci sentado na poltrona
velando o sono tranquilo do meu menino, com medo da febre voltar.
Quem não me conhecia, poderia me julgar rude pela minha
expressão fechada e o meu porte físico, ou até mesmo pelas minhas
inúmeras tatuagens, mas a verdade era que a dura infância que tive me fez
assim. Acredito que eu e meu irmão nos tornamos o que somos hoje por
tudo o que passamos com o nosso pai, se é que ele poderia ser chamado
assim. Se não fosse a Rosa e os nossos tios, não sei o que seria de nós dois.
— Bom dia, papai! — A voz de Gael, levemente rouca por causa da
inflamação, me resgatou de pensamentos sombrios da minha infância,
nunca que o meu genitor se preocuparia assim comigo, como estou com ele.
— Bom dia, filhão! Como se sente? — perguntei, levantando e me
espreguiçando. Aproximei minha mão da testa dele e respirei aliviado ao
notar que não estava mais quente que o normal.
— Bem e com fome, muita fome — falou, passando a mãozinha na
barriga.
— Resultado de não se alimentar ontem, vamos resolver isso assim
que escovar os dentes — ordenei e ele assentiu, animado.
Enquanto Gael cuidava da sua higiene matinal, fiz o mesmo e
verifiquei com Ana se estava tudo em ordem no clube, precisaria me
ausentar essa manhã e Daniel não era a melhor opção para estar no
comando. Ela garantiu que me avisaria caso algo desandasse e relaxei por
ora.
Caminhei até a cozinha e vi Rosa próxima ao fogão.
— Bom dia, dona teimosa! — provoquei e ela se virou segurando
uma colher de pau na mão. — E a folga?
— Bom dia, menino! Se eu sair, quem cuidará de vocês dois? —
perguntou com um leve tom de petulância, marca registrada dela.
— Eu posso cuidar — falei, firme, erguendo um pouco os ombros.
— É mesmo? Se bem me lembro, você é um péssimo cozinheiro e
Gael precisa de uma alimentação reforçada, ainda mais agora que está
doente — ressaltou em um tom protetor.
Abaixei a cabeça, dando-me por vencido.
— Tem toda a razão e eu não sei o que seria de nós dois sem você,
nós três, na verdade, porque Daniel vive mais aqui que na casa dele. —
Beijei-lhe o topo da cabeça e ela voltou ao fogão, mas notei seu sorrisinho
satisfeito.
— Conseguiu dormir? Sua cara está péssima.
— Não precisa ser tão sincera, ainda mais quando sabe que não
consigo dormir se Gael estiver doente, e você, descansou? — questionei e
caminhei até a mesa posta.
Rosa sabia tudo o que Gael e eu adorávamos comer e nossa
preferência era fazer as refeições na mesa da cozinha, usávamos a sala de
jantar apenas se tivéssemos convidados na casa.
— Descansei o suficiente — respondeu.
— Bom dia, Rosinha do meu coração! — Gael desejou, entrando na
cozinha e se sentando no seu lugar de sempre, estava sorridente e não
parecia o mesmo menino que me assustou um bocado na noite anterior.
Servi suco natural de laranja para ele e café puro e sem açúcar para
mim, enquanto eles tagarelavam sobre a felicidade do meu menino em não
precisar ir ao colégio.
— Não se empolgue, é apenas hoje — avisei e ele me olhou de
cenho franzido, muito parecido comigo quando fazia isso.
— Tava bom demais para ser verdade, né Rosa? — reclamou e
mordeu sua torrada.
Eu me enxergava nele quando fazia essa expressão de contrariado,
mas também via traços de Carolina, o formato dos olhos por exemplo e
sempre que pensava sobre isso, sentia um aperto no peito, ela estava
perdendo tanto e ele sofria com isso também, infelizmente eu não podia
mudar quem o gerou, mas podia fazer o possível para vê-lo sorrindo mesmo
sem ter a mãe por perto.
— Não quer crescer e comandar todo aquele império que irá herdar?
— Rosa perguntou retoricamente, já que sabíamos a resposta. — Então
precisa estudar muito ainda e comer bastante para ficar bem forte.
Gael sorriu orgulhoso e estufou o peito.
— Quero muito, quero ainda mais descobrir o que tem lá que não
me deixam ver, por que sempre alguém me busca na recepção e me manda
para o último andar? O que tem nos outros, papai? — perguntou com
olhinhos curiosos e eu me engasguei com o café.
— É cedo demais para termos essa conversa — comecei o que
sempre falava, mas fui cortado pela entrada repentina do meu irmão mais
novo.
— Eu posso responder isso garotão, mas só se você jurar que eu sou
o melhor tio do mundo, posso até mostrar para você o que é que te
escondem — Daniel falou com tranquilidade.
Rosa e eu o encaramos, ela abismada, e eu enraivecido.
—Você é o melhor tio do mundo — Gael disse, animado.
— Mais que a tia Rosane e o tio Rômulo? — Meu irmão sentou-se
na minha frente, ao lado do sobrinho e começou a se servir.
— Mais que todas as pessoas do mundo — completou Gael, em
busca de sanar a curiosidade.
— Ei! — reclamei.
— Menos que o papai, é claro. — Fez um gesto de pouco caso com
a mãozinha, como se eu não contasse como pessoa.
— Sendo assim, eu não conto. — Daniel piscou para mim e eu o
fuzilei com o olhar.
— É muito cedo para nos assustar assim, Dan — Rosa reclamou, ela
sempre soube dos nossos planos para o casino quando herdássemos e
sempre nos apoiou, mas nunca colocou os pés lá dentro.
— Sim, muito cedo — concordei, dando o assunto por encerrado,
mas sabia que a visita repentina do meu irmão era por seu interesse próprio,
fosse para comer ou por outra coisa.
— Quem era aquela de vermelho que estava com você ontem à noite
no clube? — perguntou e lá estava o porquê de aparecer aqui logo cedo.
— Não te interessa — respondi sem rodeios.
Ele me olhou surpreso e mordeu uma maçã ruidosamente, um
sorriso curioso surgindo no seu rosto enquanto mastigava.
— Gael, diz para o seu pai que é bonito dividir. — Meu filho,
inteligente como era, não se meteu na conversa.
— Ela é diferente das que estamos acostumados, espero que fique
ciente disso. — Levantei-me, queria desfrutar do meu dia com Gael e não o
perder com essa conversa.
— Se a sua intenção era me desmotivar, sinto irmão, mas não deu
certo — debochou. — Vou tentar a sorte.
— Sorte? Ainda bem que sabe que vai precisar — provoquei
também.
Amava o meu irmão, isso era um fato, mas detestava a forma como
ele via um desafio em tudo.
— Não tenho tanta certeza disso, viu a forma que ela me olhou
ontem? — referiu-se ao interesse de Juliana, a nova associada do Pleasure
Club, ao vê-lo em um ménage com duas mulheres.
— Você estava dando um showzinho grátis para ela que nunca tinha
visto algo daquele tipo, você pareceu grande coisa — desdenhei.
— Bom, meninos, já terminaram? Vou retirar a mesa. — Rosa se
meteu entre nós dois.
— Vamos jogar vídeo game? — Gael perguntou, olhando para nós
dois.
Assenti concordando e para a minha surpresa, Daniel negou.
— Não vai dar, preciso resolver umas coisas, mas prometo
compensar no fim de semana, acaba com o seu pai por mim.
Gael concordou, animado e Daniel nos deixou. Curti o máximo
possível do dia com meu filho, mas quando a noite chegou, tive que deixá-
lo e ir para o clube.
CAPÍTULO 4

Danilo
Frustrado, era assim que me sentia mesmo depois da sessão que tive
essa noite com a Giovanna, minha submissa atual.
— Aconteceu alguma coisa? — Evelyn perguntou quando me sentei
na banqueta do bar, a luz do sol começando a entrar pelas grandes janelas,
recordei do dia tenso que tive.
Nessa noite, o clube estava movimentado, como sempre acontecia
nas noites que antecedem o final de semana. Tinha acabado de organizar as
pendências que a minha ausência causou e ligado para saber como Gael
estava, Rosa garantiu que bem, a febre não voltou.
Aliviado, troquei mensagens com a Juliana, detestei ter de deixá-la
na noite anterior e não cumprir com o combinado, mas Gael sempre seria a
minha prioridade.
Estava curioso para saber o que ela achou e se voltaria a frequentar,
mas não obtive respostas. Mulher intrigante, quanto mais difícil era, mais
interessante se tornava.
Estava atraído por ela e sabia que Daniel também, percebi isso essa
manhã, ele estava disposto a conhecer e possivelmente conquistar a nova
associada, ela era a diversão que ele procurava quando anunciou o clube, e
eu não temia isso, nem me incomodava, estávamos acostumados a dividir
nossas submissas. Na verdade, só achava que Juliana era sonhadora e
inocente demais para o mundo que estávamos acostumados.
Na minha vida, não existia espaço para romance, o meu lado escuro
predominava entre quatro paredes, o sádico que me criou acabou deixando
marcas mais profundas do que cicatrizes de surras e foi dominando que eu
descobri o prazer. Porém ao contrário do que parece, eu não saio por aí
maltratando as mulheres que se submetem a mim, eu me dedico a elas por
prazer. É disso que se trata, ela é submissa por gostar, e eu domino porque é
o que me agrada.
Sou rigoroso e controlador com quase tudo na minha vida e
sexualmente não seria diferente, gosto de submissas experientes, de
mulheres que saibam o seu lugar e não criem caso ou que procurem mais do
que estou disposto a dar, mesmo assim, não ficava com elas por mais de
dois meses, talvez fosse receio de alguma começar a cobrar por algo que eu
nunca daria, meu único objetivo era o prazer mútuo, dominar o prazer que
eu, e principalmente ela, sentíamos naquele momento, nada mais.
Minha tensão diária não aliviou ao estar no corredor negro com
decorações vermelhas e silencioso, onde as portas trancadas guardavam os
segredos mais sombrios da elite de Vale de Lótus, alguns casados, que
queriam fugir da rotina e do sexo baunilha que tinham com os cônjuges,
outros que preferiam estar ali com os próprios companheiros, desfrutando
do que ambos sentiam ou queriam explorar sexualmente.
Abri a porta vermelha do quarto que era só para meu uso e como de
costume, Giovanna já estava me esperando, usando a linda coleira de couro
no pescoço delgado, nua e sentada sobre os joelhos no meio da imensa
cama vermelha, caminhei pelo quarto, essa era a minha última sessão com
ela, já tinha passado de dois meses e o alerta começava na minha cabeça,
mesmo tendo um contrato, nada garantia que ela não poderia virar dor de
cabeça.
— Boa noite, Gio! — desejei.
— Boa noite, meu amo! — respondeu, tranquila, olhos baixos e sem
trocas de muitas palavras, era assim que eu gostava e assim ela obedecia.
Diferente do meu irmão, eu gostava de ter tudo assinado e com isso
evitava mulheres ao meu encalço, coisa que ele não conseguia com
frequência, vivia tentando fugir delas.
— Como tem passado? — perguntei.
— Bem, meu senhor, e você?
— Não tão bem, mas acredito que possamos melhorar. Deite-se —
ordenei e comecei a tirar a minha camisa.
Os olhos dela não me encararam, mas eu sabia que eram tão negros
quanto o tom lindo da sua pele, os cabelos cacheados estavam rebeldes e se
esparramaram pelo travesseiro vermelho vivo.
Giovanna era experiente, por isso estava tranquila e confiante, usava
as mãos para alisar o corpo em busca de antecipar o prazer.
— Pare. — Voltei a ordenar quando os dedos pequenos alcançaram
o seu centro. Eu daria prazer a ela e não o contrário.
Ela estancou a mão no lugar, poucos milímetros longe do pontinho
sensível que brilhava para mim.
Peguei as algemas e comecei pelos calcanhares, prendendo-os
firmes, mas sem machucá-la, logo depois foi a mão ousada e a prendi na
cabeceira de ferro da cama, em seguida, a outra e encarei a minha bottom[iii]
completamente aberta para mim.
Não sei se ela estava ousada por saber que era a nossa última vez
juntos, mas isso não justificava nada.
Com os prendedores de mamilo em mãos, os posicionei, recebendo
um gemido suave em resposta.
— Tem permissão para se expressar, Gio, quero ouvir seus gemidos
— disse.
— Sim, meu senhor! — Ofegou quando acariciei sua barriga lisa
com o couro frio do chicote, descendo pela coxa grossa e novamente
subindo, devagar.
Continuei observando-a enquanto me despia.
— Olhe-me — exigi e assim ela fez, seus olhos brilhavam com a
luxúria e o meu tesão apenas aumentou. — Diga o que você quer —
mandei.
— Quero o senhor... — falou sem rodeios.
— Onde? — Olhei seu corpo todo.
— Em todas as partes, meu amo.
Sorri, perverso e me juntei a ela na cama, deslizei o dedo pela sua
fenda molhada e ela arquejou o corpo, buscando mais. Penetrei-a com dois
dedos e Giovanna gritou, receptiva a mim, sabendo que tinha permissão
para se expressar.
Nossa noite foi prazerosa, mesmo que Gio não necessite de
aftercare[iv], fui zeloso quando finalizamos, era a nossa última vez juntos e
queria garantir que o prazer dela tivesse sido ainda mais que o meu nesses
meses juntos.
— Você está com uma cara péssima — Eve voltou a falar,
resgatando-me das minhas lembranças.
— Preocupações, apenas isso — desabafei.
Tinha garantido para mim mesmo que não relaxaria até encontrar
alguém de confiança para cuidar do Gael, mas não estava mais aguentando
o meu péssimo humor e precisava finalizar as coisas com Giovanna, uni o
útil ao agradável e me distrai por algumas horas, mas não podia aproveitar
tanto da Rosa, ela era paga para cuidar da casa, não do meu filho.
— Algo que eu possa ajudar além desse uísque? — perguntou,
colocando o copo com a bebida na minha frente e começando a limpar o
balcão, o clube já estava vazio, só nós dois ali.
— Se você quiser deixar de ser bartender para cuidar do meu filho,
irá me ajudar muito, é de minha extrema confiança, tem uma paciência
incrível e Gael te adora — enumerei, bebendo um gole do uísque puro logo
em seguida.
Ela deixou o pano de lado e me olhou de cenho franzido.
— Não estou falando sério — acrescentei.
— Não, fico feliz em saber que confia em mim para cuidar do seu
filho, Dani, mas sobre o que você disse, acho que posso te ajudar. — Quem
ficou intrigado agora fui eu.
— De forma alguma, Ana me mataria se eu tirasse você daqui, é
quem comanda e mantém o bar em ordem.
— Nem eu gostaria de sair. É outra coisa que tenho em mente —
comentou, pensativa.
— O que seria? — questionei, deixando meu copo de lado e dando
toda a minha atenção para ela.
Se o assunto era para me ajudar a resolver a questão da babá, estava
inteiramente interessado.
— Eu tenho uma prima, faz uns dias que ela chegou na cidade, ela
está procurando emprego — começou a contar.
— Confia nela? — Isso era o mais importante para mim.
Confiança era a chave para todo tipo de relacionamento dar certo, se
ela não existisse, nada seria consolidado.
— Nos conhecemos recentemente, mas sim, Melissa é uma boa
menina — falou com bastante certeza.
Mas eu ainda estava receoso, afinal se tratava do Gael.
— Ela tem experiência com crianças? — perguntei, queria saber
mais antes de dar uma resposta.
— Não sei, mas você poderia entrevistá-la sem compromisso,
apenas para tirar suas próprias conclusões, ela está procurando um emprego
e as coisas estão difíceis. — Favoreceu o lado da prima.
Mordi o lábio, pensativo.
Por que não tentar?
— Tudo bem, peça para ela vir para a entrevista, começarei amanhã
à tarde, Ana te passará melhor os detalhes. — Olhei o relógio de pulso. —
Agora tenho que ir, preciso deixar o Gael no colégio.
— Obrigada, Dani — agradeceu com um imenso sorriso.
— Obrigado por indicar, espero que ela seja contratada, sua
indicação é um grande ponto a favor para ela — falei antes das portas do
elevador se fecharem.
Era verdade, saber que alguém que eu confio, confia nela, já era um
bom começo.
Melissa
Estava terminando de lavar a louça do café da manhã quando
Evelyn chegou do trabalho.
— Hey gata, bom dia! — desejou, animada, ela sempre chegava de
bom humor.
Desde que comecei a procurar um emprego, quase não nos víamos,
eu saia muito cedo e voltava para casa quando Evelyn já tinha ido trabalhar.
— Bom dia, muito cansada? — perguntei, começando a secar a
louça.
— Não muito, a noite foi uma loucura, mas estou acostumada. —
Sentou-se na banqueta do balcão.
— Deixei seu café da manhã dentro do micro-ondas, estava
finalizando aqui para sair novamente em busca de emprego — disse,
tentando ser confiante, mas estava tão difícil. Desde que cheguei, comecei a
procurar algo, mas não era tão fácil quanto imaginei.
Na minha inocente cabeça de menina do interior, uma cidade grande
como Vale de Lótus seria cheia de oportunidades, mas estava percebendo da
pior maneira possível que não era bem assim.
Quanto maior, mais pessoas e mais concorrência.
Para piorar tudo, eu não tinha experiência alguma, só o ensino
médio completo e ninguém queria me dar a primeira chance. Como vou
adquirir experiência se ninguém contrata sem a bendita?
— Não precisa ir hoje, acho que encontrei algo para você — falou
com um sorriso bonito.
— É mesmo? Onde? — Já estava animada, expectativa dominava o
meu corpo.
— Falei com o meu chefe, é apenas uma entrevista, mas acho que
você tira de letra, garota.
Quase deixei cair o prato que secava.
— Falou com seu chefe? — perguntei um pouco assustada.
Evelyn tinha me contado que trabalhava em um clube, no início,
acreditei que fosse uma boate comum, mas ela me explicou que lá não tem
isso de flertes, era um clube de sexo, onde as pessoas iam para saciarem os
seus desejos. Ela não entrou em muitos detalhes, mas o pouco que disse, me
escandalizou.
— Não precisa fazer essa carinha assustada, Mel. — Ela riu,
divertindo-se com o meu transtorno.
Não que eu estivesse julgando-a, nunca, não sou esse tipo de pessoa,
para mim, cada um ganhava a vida como queria, se o chefe dela era
milionário sendo o proprietário de um clube de prazeres, ótimo, bom para
ele. Mas eu não era o tipo de garota que conseguiria trabalhar em um lugar
assim.
— Não sei se conseguiria trabalhar com pessoas andando nuas na
minha frente — falei a verdade, sentindo todo o meu rosto esquentar.
Evelyn pegou uma banana e começou a descascá-la.
— Nem sempre estão nuas — contou, fazendo pouco caso. — Mas
tem alguns que não se importam em trepar na frente das pessoas do bar.
Arregalei os olhos.
— Você os vê nessa... na... — gaguejei, me sentindo ridícula.
— Transando? Quase todas as noites — ajudou-me a formular a
pergunta.
Ela parecia extremamente sincera.
— Se tornou natural para mim, nunca estranhei, na verdade. Qual é
o seu medo? Se apaixonar por alguém que você viu nu? — brincou. —
Confesso, não é tão ruim quanto imagina, tem uns benefícios.
— Tipo quais? — questionei, curiosa.
O sorrisinho safado que ela deixou escapar provou que falaria
sacanagem.
— Tem uns caras gostosos e nunca precisamos flertar para conseguir
um bom sexo, sem contar que dá para conferir o pacote sem precisar
desembrulhá-lo e se frustrar depois — falou e abocanhou quase toda a
banana, soltando logo em seguida uma gargalhada com o meu espanto.
Juro, se eu estivesse bebendo algo, teria me engasgado agorinha.
Entendi perfeitamente o que ela quis dizer e tenho certeza de que ela
maneirou nas palavras para não me chocar ainda mais.
— Esse seu jeitinho inocente não combina com o clube mesmo,
prima, pode ficar tranquila, não é lá o emprego.
Soltei a respiração, aliviada, nem percebi que estava prendendo-a.
Será que eu sou tão atrasada assim? Morei na mesma cidade
pequena por vinte e um anos, namorei alguns rapazes na época da escola,
mas nunca cheguei ao contato mais íntimo, sabia que eles queriam, mas
quando estava para acontecer algo sempre dava errado, já Eve, era o oposto
de mim.
Somos como vinho e água, ela o vinho é claro.
— Não é? — Quis saber mais.
Evelyn pegou outra banana, mas começou a comer essa
normalmente, seu sorrisinho ainda me provocando.
— Danilo tem um filho e está precisando de uma babá — contou.
Algo nasceu dentro de mim, a bendita esperança.
— Eu sempre me dei bem com crianças — falei.
— Ainda bem, ele me perguntou isso hoje mais cedo, mas eu não
sabia como responder.
— Quando vai ser a entrevista? — perguntei, finalizando a limpeza
da pia, de repente eu estava tão animada.
— Ele disse amanhã à tarde, mas passei o seu número novo para a
Ana, ela é assistente do Dani, acredito que logo vai te ligar.
Ao fugir da minha cidade natal, não trouxe comigo nada além dos
meus documentos, o caderno, dinheiro e poucas roupas, meu celular de
última geração ficou lá, não queria um meio de ser rastreada e sem contar
que foi presente dele no meu aniversário, quando eu ainda não desconfiava
das suas intenções.
Então, assim que comecei a procurar emprego, umas das regras do
currículo era um número para contato, foi quando Eve me emprestou um
dos seus antigos aparelhos, a tela estava trincada, mas ele possuía wifi e
estava funcionando perfeitamente, só precisei comprar um novo chip que
não foi registrado no meu nome, mas sim no da minha prima.
Toda discrição era bem-vinda e Evelyn não questionou meu pedido
para ela registrar o número para mim. Aqui em Vale de Lótus, eu estava
usando o meu nome verdadeiro, mas por toda a viagem do Norte ao Sudeste
usei a identidade falsa. Continuar usando a falsa aqui resultaria em
perguntas que eu não estava pronta para responder, já que Eve sabia meu
nome verdadeiro e de onde eu vim.
Caminhei para o quarto e olhei a roupa que tinha separado em cima
da cama, calça do modelo rasgada no joelho e regata, não tinha nada melhor
para vestir e da última vez que tentei usar algo da Evelyn, só encontrei
couro e roupas minúsculas. Iria com essas roupas mesmo na entrevista de
amanhã.
— É, não tem outro jeito — falei, dando-me por vencida.
Estava suada da limpeza da casa, por isso resolvi tomar um banho,
mas não desgrudei do celular com medo de perder a ligação e quando
estava com os cabelos cheios de espumas, ele começou a tocar. Era sempre
assim.
— Oh droga!
Peguei a toalha e sequei as mãos e os olhos.
— Alô — disse assim que consegui pegar o aparelho para atender.
— Bom dia! Gostaria de falar com a senhorita Melissa Mendes de
Alcântara. — A voz do outro lado era calma, quase um sussurro suave e
gentil.
— Bom dia! Sou eu mesma. — Fechei o registro do chuveiro e
deixei toda a minha atenção nas palavras seguintes da mulher que se
apresentou como Ana, assistente do senhor Gomes Ribeiro.
Ela me explicou por alto como seria a entrevista, mas não me deu
muitas informações sobre como seria o trabalho, disse que era o senhor
Danilo que gostava de conversar pessoalmente com as candidatas e por fim,
pediu para eu levar uma cópia atualizada do meu currículo já que fui uma
indicação de última hora e eles não possuíam os meus dados.
— Pode anotar o endereço e horário? — questionou.
— Sim, um segundo. — Corri para o quarto e anotei no meu
bloquinho de papel as informações.
— Alguma dúvida? — perguntou quando estávamos quase
desligando.
— Na verdade, sim, Evelyn é minha prima como deve saber, ela
trabalha à noite no clube e acredito que terei que cuidar do menino à noite
também, não é? — Quis saber.
— Sim, principalmente à noite que é quando o trabalho exige mais
do senhor Gomes Ribeiro. Caso seja contratada, se mudará para a mansão,
essa é uma exigência do trabalho. — Ana esclareceu com um tom
preocupado.
Mas isso não era um problema para mim, resolveria dois problemas
de uma única vez, teria um emprego e não abusaria mais da hospitalidade
da Evelyn, sem contar que economizaria muito mais morando no trabalho.
— Se isso for um problema... — começou a falar devido ao meu
silêncio, mas a cortei com educação.
— De forma alguma, para mim é até melhor.
— Sendo assim, desejo boa sorte na entrevista amanhã, Melissa. —
Finalizou a ligação sendo muito gentil.
— Obrigada, Ana.
Sorte, sim, eu precisava e muito dela.
CAPÍTULO 5

Melissa
No dia seguinte, assim que cheguei em frente ao enorme portão da
residência Gomes Ribeiro, eu senti meus dedos suarem ainda mais de
nervoso.
Eu preciso tanto dessa vaga, senhor, me ajude!
Fiz a prece ao atravessar o portão e caminhar por entre o imenso
jardim, seguindo a direção que o segurança indicou como a entrada para as
candidatas ao cargo de babá.
Candidatas, no plural. A pulga do medo e da ansiedade se apossou
de mim.
Atravessando o caminho de pedras que dividia o jardim em duas
partes lindas, vi que em uma extremidade um pouco mais distante havia um
parquinho, mas estava vazio.
Quando comecei a me aproximar o bastante da propriedade, notei
um carro parar um pouco mais à frente, próximo onde acredito ser a
garagem. Do veículo, desceu um homem vestido de terno escuro, usava
óculos de sol. Ele não notou a minha presença, estava ocupado com o
celular e não levantou o olhar ao atravessar a porta principal da casa.
Perdi o fôlego.
Será que esse é o meu futuro chefe?
Ele era tão lindo, não dava para não perceber.
— Você é uma das candidatas ao cargo de babá? — Uma voz
feminina chamou a minha atenção.
Olhei na direção do tom e sorri sem graça, fui pega admirando o
homem bonito que desceu do carro, uma senhora sorriu tranquila para mim
enquanto aguardava a minha resposta.
— Sou, sim — respondi, forçando o tom, queria parecer confiante e
não uma enxerida.
— Pois venha comigo, foi a primeira a chegar. — Indicou o
caminho na sua frente.
Antes de entrar, olhei a enorme casa, possuía três andares, muitos
cômodos em cada andar, era linda.
— Eu sou Rosa, governanta da casa — apresentou-se.
— Sou Melissa, futura babá se tiver sorte — falei com um sorriso
contido.
— Assim que se fala. Pode aguardar aqui, logo o menino virá
entrevistar você, boa sorte! — disse deixando-me sozinha em uma sala de
estar bem decorada.
O menino? Ela nitidamente o adorava e pela intimidade, o
sentimento era mútuo.
Sentei-me, mas sempre fui inquieta, então comecei a verificar com o
olhar cada canto daquele cômodo da mansão, era ainda maior e mais
luxuosa do que a minha antiga casa, que digamos, era um exagero para uma
cidade tão pequena. Nessa a decoração, puxava o tom claro, alguns lustres
em cantos estratégicos, mas o que me chamou a atenção foi o porta-retrato
imenso que havia na parede, era um garotinho sorridente, existia a janelinha
entre os dentes e seu tom de pele era tão claro que possuía algumas sardas
salpicadas no pequeno nariz.
— Que lindo! — exclamei, encantada.
Um pouco mais tarde, mais candidatas chegaram e assim que Ana
começou a chamar, acreditei que seria a primeira, mas para o meu azar, não
era por ordem de chegada. De uma a uma, fui ficando para trás, meu
nervosismo cada vez maior.
Elas estavam socialmente vestidas, algumas bem mais velhas, outras
na meia idade, eu era a mais nova, a vestida de forma inapropriada, o foco
das atenções e dos burburinhos delas.
Perdi a vaga, tenho certeza.
Quando a última saiu, Ana me olhou e chamou com um sorriso no
rosto.
— Trouxe a cópia do currículo que pedi? — perguntou.
— Sim, está aqui. — Mostrei o envelope pardo.
— Ótimo, boa sorte Melissa, saiba que a indicação favoreceu muito,
agora é com você. — Piscou.
— Obrigada. — Sorri, porque desde que nos falamos da primeira
vez, eu gostei dela.
Entrei no escritório que estava com a porta entreaberta, meu foco foi
diretamente nele, era o mesmo homem que vi descendo do carro mais cedo.
Estava de costas para mim, encarando o céu, pensativo, parecia
tenso, um pouco cansado. Analisei-o com interesse, aproveitando que ainda
não tinha sido notada. Era alto, cabelos cheios, lisos e castanhos. As costas
largas e tinha tatuagens, dava para ver porque a camisa social estava com as
mangas arregaçadas até os cotovelos, revelando a linda arte colorida por
toda a pele exposta.
— Boa noite, senhor Gomes Ribeiro! — Com o coração acelerado,
obriguei-me a falar, poderia ficar olhando-o a noite toda, mas já era tarde e
eu pretendia ir embora no transporte público, ainda tinha medo de andar à
noite por essa cidade.
Eu não estava preparada quando ele se virou, as mãos no bolso da
calça, a barba bem-cuidada e os olhos castanhos-esverdeados profundos em
mim, fixamente, analisando-me como se eu fosse um cervo suculento e ele
um leão faminto. Algo dentro de mim formigou, florescendo.

Danilo
Eu estava exausto, era a vigésima candidata que eu entrevistava,
Ana sugeriu fazer isso, mas neguei como sempre, quando se tratava do Gael
e de quem seria responsável por ele na minha ausência, eu gostava de
entrevistar pessoalmente e tirar minhas próprias conclusões.
— Ana, mande a última entrar — falei, notando que a pilha de
currículos já tinha acabado e só faltava entrevistar a única que não deixou
um para eu analisar antes.
A prima da Evelyn.
Virei de frente para a janela da mansão, dando-me conta do quão
tarde já era, o céu estava escuro e as estrelas brilhavam chamando a
atenção.
Sempre fazia as entrevistas para o cargo de babá aqui em casa, o
clube não era um dos melhores lugares para receber mulheres que, muitas
das vezes, não pisariam ali por nada no mundo, e não era bom ficar
recebendo desconhecidas no local que eu lutava tanto para manter protegido
de curiosos.
Perdi toda a tarde e parte da noite entrevistando candidatas ao cargo
e não ficando satisfeito com nenhuma delas. Umas mais experientes, a meu
ver, eram duras demais. Outras com muito estudo e pouca experiência,
pareciam temer a própria sombra, como seriam rígidas com meu filho
quando necessário? Não era o que eu tinha em mente, queria alguém que
cuidasse do Gael com mãos firmes, mas que ao mesmo tempo, se divertisse
com ele. Acredito que considerar isso em uma babá era um erro, nenhuma
delas seria como uma mãe para o meu filho, mas eu também não queria
uma déspota cuidando dele.
— Boa noite, senhor Gomes Ribeiro! — A voz suave e macia
chamou a minha atenção, principalmente na parte do senhor.
Virei-me devagar, ainda com as mãos nos bolsos da minha calça
social e olhei para o ser pequeno na minha frente, diferente das anteriores,
essa era bem jovial, ela usava uma calça jeans rasgada nos joelhos e camisa
regata branca, os cabelos longos presos em um rabo de cavalo.
Assim que seus olhos se fixaram nos meus, eu senti cada partícula
do meu corpo se arrepiar, eram de um tom de azul tão claro e cintilante que
me vi preso neles, duas esferas cristalinas e hipnotizantes.
Olhei-a de cima a baixo, analisando suas roupas. Já dava para
imaginar o quão responsável era por vir vestida assim para uma entrevista
de emprego.
— Boa noite! Sente-se — indiquei a cadeira na frente da minha
mesa, mas permaneci em pé próximo à janela, olhando-a. Meu tom saiu
mais rude do que imaginei.
Acredito que ela notou meu desagrado e, por isso, disse com
rapidez:
— Desculpe... Eu não sabia que teria que vir com roupa social —
gaguejou um pouco e isso atraiu a minha atenção para seus lábios pequenos,
delicados e rosados em formato de coração.
Instintivamente molhei os meus e respirei fundo, mas que caralho, o
que estava acontecendo comigo? Desde quando eu reparo na porra dos
lábios de uma mulher?
— Na sua cabeça, é assim que deve se vestir para uma entrevista de
emprego? — questionei, estava irritado e não era por causa do que ela
vestia, eu tampouco sabia o porquê.
Ela se sentou ereta, parecia tensa.
— Mais uma vez, peço desculpa, senhor, fui informada
recentemente da vaga e eu não tinha mais o que vestir, tenho poucas roupas
aqui na cidade — respondeu, fugindo do meu olhar, assustada.
Voltei a respirar fundo para tentar me acalmar.
Desde quando eu me tornei tão obsoleto?
— Aqui está o meu currículo — disse, estendendo o envelope na
minha direção. — Como eu disse, fui indicada recentemente e não tive
como entregar antes.
Caminhei para perto, seu cheiro adocicado dominando todo o meu
escritório, coisa que eu não deveria notar, tampouco sentir um desejo
incomum de inalar fundo e apreciar a fragrância.
Peguei o envelope e verifiquei, focando a minha atenção nele e não
na menina que nervosa, secava as mãos na calça jeans.
Constatei que ela era a Melissa Mendes de Alcântara, indicada pela
Eve. Currículo em branco, nem um trabalho registrado ainda.
Deixei o papel de lado e isso pareceu preocupá-la um pouco.
— Não tem experiência alguma — pontuei e ela retesou ainda mais
o pequeno corpo.
— Não no currículo, mas já fui babá muitas vezes na cidade onde eu
morava. Adoro crianças e costumo me dar bem com elas, se me der essa
oportunidade, prometo não desapontar o senhor. — Atropelou as palavras
de tão veloz que as pronunciou.
Analisei-a mais intensamente, parecia sincera, mas por experiência
própria, eu sabia que aparência e caráter eram duas coisas distintas, cresci
com um homem que para os de fora era íntegro, bondoso, mas dentro de
casa e com os próprios filhos, era um monstro.
— Costumava trabalhar com crianças de qual idade? — questionei e
os olhos dela ganharam um brilho diferenciado, parecia saudosa.
— Cuidei desde recém-nascido até doze anos, normalmente por uma
noite para os pais passearem, mas sempre fui muito dedicada e responsável
— disse com firmeza na voz, mas percebi suas mãos trêmulas.
— Está nervosa? — perguntei, curioso.
Ela desviou o olhar, um pouco constrangida.
— Sim, senhor. — Mesmo tímida e inquieta, ela foi sincera.
— Por quê? — Eu queria saber.
Ela olhou nos meus olhos e outra vez desviou, algo dentro de mim
me alertando do quanto ela parecia submissa a minha pessoa. Um pequeno
sorrisinho cruel desapontou na minha face, um lado meu erguendo-se das
sombras e querendo dominar a situação e como consequência ter essa
garota a minha mercê.
— Sinto que já comecei mal, não vim vestida adequadamente como
as mulheres que passaram na minha frente, eu não tive tempo de me
preparar para a entrevista, soube muito em cima da hora. — Sua voz doce
me puxou da obscuridade que estava sendo fantasiada na minha mente.
— Sua roupa é o que menos importa agora, Melissa, o que me
preocupa é a sua falta de experiência aqui. — Apontei para o papel.
Ela molhou os lábios com a pontinha da língua e por uma razão
desconhecida, os meus olhos se fixaram no ato.
Merda! Onde eu estou com a cabeça?
— Sempre foram trabalhos informais, às vezes eu nem recebia por
cuidar das crianças, era como um favor para os amigos da minha mãe e do
meu padrasto.
Se esse fosse o caso, realmente não teria sentido ter registro.
— Você está ciente de que se for contratada, será em período
integral? Precisarei de você ainda mais à noite, é quando o meu trabalho
exige mais de mim, por isso você teria que morar aqui — esclareci antes de
prosseguirmos.
— Sim, eu já sabia, a sua assistente me disse.
Ana sempre com um pé na frente.
— Bom, tenho algumas perguntas. Por que se mudou para Vale de
Lótus? — questionei, se ela considerava o emprego, teria de me contar e
com sinceridade.
— Perdi a minha mãe recentemente, me mudei em busca de um
recomeço — falou, olhando-me.
Sentia que ela me escondia algo ainda, estava tão intrigado com essa
menina.
— Evelyn te indicou, disse que apesar de se conhecerem há pouco
tempo, ela confia em você.
Eu fui atingido em cheio quando um sorriso iluminou todo o seu
rosto que já era encantador, mesmo tenso.
— Nos conhecemos há pouco, e sou muito grata por ela me indicar,
se eu conseguir o emprego, não desapontarei nenhum de vocês — garantiu.
— Tem alguma prioridade? Estudos, namorado, ou algo que faça
com que me deixe na mão quando eu mais precisar?
Mesmo que eu precisasse ter certeza de que Gael seria a sua
prioridade no horário de trabalho, também estava interessado na resposta,
mais do que gostaria de admitir.
— Não tenho, nem um e nem outro — respondeu com firmeza.
Assenti, uma parte minha muita satisfeita com isso.
Eu ainda estava em dúvida se a contratava, existiam muitos contras
e poucos prós, somado ao fato de eu estar parecendo um adolescente desde
o segundo que a vi, fantasiando coisas que não deveria.
— Se o senhor me der essa chance, prometo dar o meu melhor —
suplicou de forma inocente.
Porém meu lado perverso quis interpretar um duplo sentido nas
palavras dela e isso ferrou com a minha mente.
Merda, eu estava sendo influenciado por aquele tom suave e quase
hipnótico.
Por que não tentar?
Mesmo uma parte minha alertando que aquela garota seria uma
encrenca e das grandes, eu não conseguia simplesmente dispensá-la.
— Pode vir amanhã à tarde para conhecer o Gael? Dependendo, a
vaga será sua. — Fui direto, já que era a vida do meu filho em jogo, eu
gostaria de saber se ele iria gostar de Melissa.
Cometi o erro no passado em contratar sem antes checar como ele
reagiria à babá e resultou nele sendo maltratado, nunca mais erraria em
relação a isso.
— Estarei aqui, com certeza — respondeu com um sorriso alegre
nos lábios.
Estendi a mão para me despedir e quando os dedos pequeninos
tocaram os meus, senti o quanto estava fria e trêmula, mas nem isso
impediu o ardor na minha pele com o toque dela.
Nunca fui um homem emocional ou sensitivo, ser racional era o que
sempre me salvava de problemas. Mas tocar Melissa me causou uma coisa
estranha, assim como encarar aqueles olhinhos brilhantes.
Porra!
O que foi todo esse interesse inicial?

Melissa
Durante a entrevista, cada vez que ele abria a boca para perguntar
algo, ou me olhava daquela forma intimidadora, eu me sentia apavorada,
não era medo dele em si, era medo de perder a vaga para o emprego que eu
tanto precisava.
Assim que entreguei o meu currículo nas suas mãos, notei as minhas
trêmulas e suadas.
A entrevista já estava sendo um fiasco a meu ver, e tudo piorou
quando ele perguntou o motivo de me mudar para Vale de Lótus. Eu fugi da
minha cidade natal para nunca mais voltar, mas não podia responder isso,
tampouco diria o motivo. Falei parte da verdade.
Ele me analisou ainda mais desconfiado, mas continuou com seu
interrogatório, eu faria o mesmo se fosse o meu filho em jogo.
Para a minha surpresa e felicidade, ele me mandou voltar para
conhecer o pequeno Gael, não antes de se certificar que eu não tinha um
empecilho entre minha vida pessoal e o trabalho. Não tinha e nem pretendia
ter.
Alegria me dominava, eu estava tão contente que precisava contar
para alguém, por isso tomei a mais insana das decisões e fui para o clube, o
local que Eve tinha passado o endereço, nem sabia se me deixariam entrar,
mesmo assim, fui saltitando sempre que podia.
Quando cheguei perto do portão do clube, mal dei dois passos e um
homem grandão parou na minha frente, os braços cruzados, as sobrancelhas
quase unidas em uma expressão maldosa.
— Não pode entrar, senhorita — falou com firmeza.
— Eu gostaria de falar com uma pessoa que está lá dentro —
informei, apontando com o polegar o prédio.
— É mesmo? Você e muitos outros gostariam de entrar, mas não vão
— proferiu, bravo.
Remexi meu corpo, inquieta.
Que tolice a minha pensar que seria só chegar entrando.
Peguei meu celular e liguei para Evelyn.
— Hey garota, tudo bem? — perguntou assim que atendeu.
— Sim, estou na entrada do clube, queria te contar da entrevista,
mas um grandão aqui não quer me deixar entrar — falei, olhando para o
monumento de homem, apesar da rudeza na sua expressão, ele era muito
bonito.
— O Dante? Passe o telefone para ele — mandou.
Estendi o aparelho para o homem e ele o pegou um pouco
desconfiado.
— Gata, não precisa gritar, vou deixá-la subir, mas se der problema
com o chefe é por sua conta — falou naquela voz imponente de tão grossa.
Não sei o que Eve disse ao grande homem, mas funcionou e ele
liberou a minha entrada direto até o bar apenas, percebi que todos os outros
andares eram restritos e eu precisaria de um cartão de acesso, não me
importei, não estava ali para espionar.
Assim que entrei no ambiente sensual, a música alta dominou os
meus ouvidos, naquele instante, percebi que sentia falta da minha playlist
favorita, tocava Bishop Briggs – River, e eu nunca me senti tão deslocada.
Era decorado em preto e vermelho, bem ao centro do lugar tinha um sofá
redondo, que dava visão da mulher mascarada e quase nua no poli dance.
Havia outros sofás em cantos mais privados e escuros.
Uma das paredes era cheia de bebidas de todo o tipo e foi lá que
avistei a minha prima.
— Consegui a vaga Eve. Ele é um pouco rude, quase me matou de
medo no interrogatório que fez, mas entre muitas, eu fui contratada, graças
a sua indicação — falei, aproximando-me do balcão.
— Estou muito feliz por você, prima. Sua presença fará bem para o
pequeno Gael — falou com um imenso sorriso no rosto.
— Não vejo a hora de conhecê-lo, tudo vai depender dele amanhã,
mas parece que passei na entrevista — disse, focando toda a minha visão
nela e o sorrisinho sacana estava lá no bonito rosto.
Poucos dias juntas, mas ela já me conhecia bem.
— Melissa aqui, isso sim é uma coisa estranha — sorriu ao falar.
Rolei os olhos.
— Nem tanto assim. — Ousei olhar ao redor e era impossível não
perceber algumas pessoas nuas. Deus, foi realmente uma ideia insana vir
aqui.
Só que, de repente, todas as pessoas pareceram sumir e o único foco
da minha visão era ele, deixando o elevador com a camisa social aberta, o
peito definido e com os músculos a vista para qualquer um, uma perdição
em corpo de homem. Para piorar ainda mais, quando ele me viu ali, sentada
no bar, sua expressão se fechou e ele começou a caminhar na minha
direção, parecia furioso e eu só conseguia encarar seu corpo tatuado
exposto.
CAPÍTULO 6

Danilo
Um peso pareceu deixar meus ombros.
Finalmente tinha resolvido a questão da babá, ou acreditava que
sim, já que tudo dependeria de como Gael reagiria à menina, mesmo uma
parte minha cogitando a encrenca que ela poderia ser. Melissa, à primeira
vista, pareceu ser uma boa pessoa, mas o teste de alguns dias que eu
pretendia fazer provaria se eu estava ou não enganado.
Como deixei todo o resto de lado, dando prioridade ao meu filho,
assim que pisei no clube desejando uma sessão, percebi que não teria como,
estava sem uma submissa fixa e detestava arriscar com alguma disponível.
Controlador? Sim, confesso, mas isso sempre evitava que eu
entrasse em problemas.
No elevador, descendo para beber, desabotoei os botões da minha
camisa e tentei relaxar como podia, não seria da maneira como estava
acostumado, mas logo pela manhã, resolveria esse detalhe, já tinha uma
lista de pré-candidatas e só precisava resolver os pormenores.
Assim que pisei no bar, senti um arrepio diferente no meu corpo
todo, algo novo, coisa que só senti uma vez, quando encarei aqueles olhos
tão cristalinos quanto um mar vespertino da Melissa.
Não demorou muito para meus olhos se fixarem nos dela, como
magnetismo, meu corpo antes relaxado, dominou-se por tensão.
O que caralho ela está fazendo aqui?
Caminhei com passos decididos até ela, tentando evitar a mistura
que se passava nos olhos da menina, um pouco de curiosidade, receio, mas
acima de tudo, enxerguei a luxúria.
Deixei que apreciasse o quanto quisesse, os olhinhos claros
pareciam querer me desvendar, mas possuía um quê de inocência tão
profunda que me deixou intrigado, inquieto.
Sentia na pele o seu olhar, era um arder suave que, ao invés de seus
olhos, pareciam seus dedos me tocando a cada parte observada.
— O que faz aqui, senhorita Mendes de Alcântara? — perguntei
quando seu olhar se fixou com os meus, ela levemente corada pela análise
nada discreta no corpo do seu futuro chefe.
Ousada e ao mesmo tempo tímida, Melissa era uma incógnita para
mim.
— Senhor... — falou meio que gaguejando, já que notou o quanto
eu estava furioso com sua presença aqui.
Porra, o respeito na voz dela me fazia imaginar coisas que eu não
deveria, não poderia.
Desde o instante que a vi, pequena, tímida e completamente
submissa aos meus olhos, senti um interesse inicial, uma parte minha
desejando-a como minha próxima garota, mas essa atração não seria levada
em consideração se ela fosse contratada, eu não me relaciono com
funcionárias ainda mais uma das principais na vida do Gael.
Arqueei a sobrancelha, esperando uma explicação.
— Só vim contar para a Eve que deu certo na entrevista —
comentou com cautela, parecia se dar conta só agora de onde estava.
Olhei zangado para Evelyn.
— Qual parte do proibimos a entrada de não associado você não
entendeu ainda? — rugi a pergunta.
Essa era uma regra do clube e deveria ser respeitada por todos.
— Não a culpe, eu vim por conta própria — Melissa se intrometeu,
defendendo a prima que me olhava culpada.
— É uma regra e eu quero que ela seja cumprida, da próxima vez,
não teremos mais essa conversa. — Fui rude.
Evelyn assentiu, preocupada, sabia que eu estava falando sério.
Esse lugar não era para a Melissa.
— Desculpe, chefe, não poderia deixá-la lá fora tão tarde. —
Colocou um copo de uísque puro na minha frente.
— Conversaremos sobre isso depois, espero que não se repita.
Percebi que Melissa evitava olhar ao redor. Estava deslocada,
mesmo sendo iniciativa dela vir aqui.
Notei quando um dos membros se aproximou dela no balcão, não o
bastante para tocá-la, mas o suficiente para me irritar ainda mais, não tenho
certeza do motivo, mas prefiro acreditar que seja pela presença não
autorizada dela aqui e não por ele estar nu, quase roçando nela.
Melissa correu os olhos pelo corpo do homem e de repente virou a
cabeça na minha direção, os olhinhos um pouco fechados e as bochechas
muito vermelhas.
Era como se ela nunca tivesse visto um homem nu e só agora
perdera de vez a sua inocência em relação a isso.
— Ei! — Eu a toquei no queixo, por sabe se lá qual motivo,
fazendo-a levantar a cabeça e me encarar.
Ela abriu os olhos azuis, fixando-os nos meus.
A porra do meu coração deu um salto involuntário no peito.
Mas que merda essa garota estava fazendo comigo?
— Não deveria estar aqui — falei num tom rouco.
Ela piscou algumas vezes, meus dedos formigando onde a tocava.
— Eu já estou indo embora.
Ela saltou da banqueta, afastando nosso contato.
— Vou te acompanhar e garantir que saia sem ter acesso a outros
andares. Não gosto que fiquem bisbilhotando o meu clube.
— Não estou aqui para bisbilhotar, Eve também não tem culpa —
protestou.
Evelyn já tinha abandonado a prima e voltado ao trabalho, mas vez
ou outra, seus olhos protetores se fixavam nela, preocupados com a menina.
— Não importa, Melissa. Vou tirá-la daqui. — Pela primeira vez,
usei o meu tom dominador com ela e a segurei pelo cotovelo, guiando-a ao
elevador.
Com os olhos baixos, ela me acompanhou, não foi necessária uma
explicação, ela sabia se portar com submissão e isso estava me fascinando
ainda mais.
No elevador, olhando-a através do espelho lateral, peguei seus olhos
em mim mais de uma vez.
Ela será sua funcionária, Danilo, nem pense nisso!
A voz da razão salientava na minha cabeça, mas eu só conseguia
pensar no magnetismo que senti desde o primeiro momento.
— Senhor... — falou naquela vozinha doce, quase jogando o meu
autocontrole na casa do caralho.
— Diga, Melissa — autorizei, já que ela parecia pedir permissão
para falar.
— A minha presença aqui hoje não muda o fato de eu já estar quase
contratada, não é? — Mordeu o lábio, nervosa.
Toda a minha atenção se fixou nos dentes retos e brancos que
prendiam aquele lábio vermelhinho e perfeito.
— Se quer saber se está demitida antes mesmo de ocupar o cargo,
não, não está dispensada, mas... — Molhei meus lábios, levemente secos ao
imaginar que eu prendia aquela boca na minha.
— Mas? — Ela se virou de frente para mim, encarando meus olhos
com curiosidade.
Porra! Um segundo atrás estava rendida, no outro, adquiria uma
coragem surpreendente. Poucas são as mulheres que me encaram como ela
o faz.
— Mas se continuar me olhando, como está me olhando, não terei
outra opção, Melissa. — Fui sincero.
Ela engoliu em seco, voltando a desviar o olhar e ficou tensa,
afastando-se de mim o máximo que o pouco espaço do elevador permitia.
— Olhando-o como? — perguntou em dúvida.
Dessa vez, fui eu quem ficou de frente para ela, segurei outra vez o
seu queixo e ergui seu rosto com gentileza. Nossos olhares fixos.
— Me encarando como se eu fosse a porra de um homem que você
deseja.
Ela piscou, parecia se obrigar a não desviar mais os olhos dos meus,
mas foi impossível, eu também encarava a boca em formato de coração,
rosadinha, que facilmente poderia ser a perdição de um homem. A minha
perdição.
— De qualquer modo, você é inocente demais e minha funcionária,
e eu não me relaciono com elas, nunca. — Fui firme na resposta, disposto a
não deixar brechas para segundas intenções.
Mas o que ela falou me desestabilizou por alguns instantes.
— Não sou tão inocente assim e nem sua funcionária ainda, serei
amanhã.
Porra!
Encrenca era pouco para o que essa menina seria ao estar na minha
vida por um tempo indeterminado.
Meus olhos caíram para a boca dela, tão receptiva para a minha.
— Não faz diferença se você cobrar algo de mim depois. — Quis
ser rude no tom, mas a minha voz saiu como um pedido para que isso não
acontecesse e eu pudesse fazer o que bem entendêssemos hoje.
— Não vou — garantiu em um sussurro.
O meu lado controlador, aquele obcecado por manter tudo garantido
com um contrato, foi empurrado para bem longe e o meu lado irracional,
que há anos não sabia o que era dominar o meu corpo e a minha mente,
entrou em jogo e com um movimento rápido, eu parei o elevador.
Os olhos luxuriosos de Melissa não deixaram os meus e quando a
segurei firme na nuca e a puxei para mim, o mais próximo humanamente
possível, o corpo pequeno dela se moldou ao meu corpanzil.
Tentei ignorar a sensação de que era perfeita para estar nos meus
braços, e foquei nas mãos pequenas que tentavam me tocar.
Segurei firme seus punhos com minha mão livre, mantendo-os para
trás de seu corpo e com a outra mão que ainda envolvia sua nuca, a puxei e
colidi as nossas bocas.
Melissa arfou e eu engoli o seu hálito gostoso, ao mesmo tempo que
empurrava a minha língua na sua boca molhada e receptiva, sendo recebido
com o mesmo anseio e gana.
O meu juízo? Se já não existia antes, ao provar o gosto dos lábios
dela, ele se dissipou ainda mais.
Porra de boca deliciosa!
Empurrei-a para a parede espelhada do elevador e aprofundei o
beijo, fodi a boca dela com a minha língua ao mesmo tempo que ela fazia o
mesmo com a minha, chupando, acariciando, mordendo. Foi quase brutal de
tão selvagem e delicioso.
Enfiei minha mão pela sua camisa, subindo por sua barriga até
encontrar o seu delicioso monte de prazer, o biquinho estava eriçado de
tesão e isso fez meu pau pulsar ainda mais na calça, querendo-a o quanto
antes.
Seus gemidinhos me deixavam ainda mais sedento e eu só percebi
que tinha soltado as mãos dela, quando senti os dedinhos ágeis tocarem o
meu abdômen, acariciando os gominhos enquanto nossas línguas ainda
dançavam em uma sincronia perfeita.
O toque, ao qual acreditei que repudiaria, foi o contrário, eu queria
mais, queria ser explorado por seus lábios, língua e dentes, queria ela toda
em mim e pela primeira vez, essa vontade insana me assustou.
Afastei nossos lábios e um gemido em protesto saiu da garganta
dela.
Olhei-a com atenção, o que ela tinha de especial que me fez perder a
cabeça assim?
— Tudo bem? — perguntou, receosa, as mãos ainda em mim, a voz,
antes suave, agora rouca de desejo.
Fechei os olhos em busca de clareza para a minha mente, mas
quando os abri, enxergar desejo cru naquelas íris claras me deixou ainda
mais atordoado.
Eu precisava fodê-la, com força do jeito que eu gostava, isso ainda
essa noite ou acabaria enlouquecendo de vontade.
— Vamos para o meu escritório — falei, autoritário, e ela assentiu
apenas, não a levaria para a seção de BDSM, Melissa se assustaria.
Liberei o elevador e mudei o andar, enquanto subíamos para o
último, sentia o arder dos olhos dela em mim, mas evitei olhá-la, ou não
chegaríamos lá com roupas, não bastava o showzinho que já demos para os
seguranças no elevador, não a deixaria nua ali.
A demora para subir esses andares nunca foi tanta, mas quando
fechei a porta do meu escritório, trancando nós dois ali dentro, a única coisa
que fiz foi o que desejei assim que coloquei meus olhos nela.
Agarrei Melissa com força, tanta que a ergui do chão e a coloquei
sobre a mesa, as pernas dela se abriram automaticamente.
Puxei a sua regata branca e ouvi o estalo do tecido rasgando, ela
pareceu não se importar, os dedos trêmulos livraram-me da minha camisa
que estava aberta enquanto eu a tirava daquele jeans justo e me livrava da
calça e sapatos.
Melissa estava na minha frente, apenas com uma lingerie branca,
parecendo um anjo no meu mundo de escuridão. Ela soltou o fecho do sutiã
e eu fui presenteado com seios médios, as aréolas rosadas e pequenas, os
biquinhos tão eriçados que pareciam maiores do que deveriam ser.
Abocanhei um deles e quando mamei sem delicadeza, Melissa
gemeu, afiando as unhas nas minhas costas.
— Porra, honey[v], você é deliciosa! — A referência ao diminuitivo
do seu nome saiu tão rápido e fez tanto sentido.
Ela era doce como um mel.
Chupei os dois seios com destreza, saboreei como se fosse um doce
único, raro, algo que só teria uma vez e sabia que Melissa era exatamente
isso.
— Ahhh, só não pare de fazer isso — exigiu, meio que suplicando.
Só então percebi que perdi todo o controle da situação, percebi que
eu estava prestes a foder sem as algemas, chicotes e apetrechos que antes
me davam mais prazer. Estava com uma mulher nos braços e ela não se
importava se precisava ou não de permissão, ela só pedia e eu estava
obedecendo como um louco sedento por sexo.
Meus dedos desceram para a sua calcinha, afastei para o lado e
introduzi um dedo na sua carne macia e encharcada enquanto acariciava o
seu clitóris com o polegar.
Melissa fechou os olhos com força, os espasmos do orgasmo
começando a dominar seu corpo, sua boca buscava a minha para sufocar
seus gemidos altos.
Quando ela contraiu, apertando ainda mais meu dedo ao explodir
com o clímax, eu tentei introduzir o segundo dedo, querendo prolongar a
sensação, mas ela era tão apertada, quase como se fosse virgem.
Constatar isso me fez afastar um pouco e olhá-la alarmado.
— Você já transou antes, certo? — questionei, estava usando apenas
a cueca boxer, mas os olhos dela pareciam me despir, os cabelos
desgrenhados e o rosto vermelho do recente orgasmo a deixavam ainda
mais linda, selvagem.
— Não — confidenciou baixinho.
Explodi, voltando para a realidade, só então percebendo que eu
estava prestes a fodê-la tão forte que doeria demais, prestes a arrastá-la para
o meu mundo escuro, sombrio e sem vida.
Melissa estranhou quando voltei a me vestir.
— Isso é um problema pelo visto — falou, o tom um pouco
ressentido.
— Com certeza, é — afirmei.
Perdi o controle, mas não ao ponto de desvirtuá-la.
Decepcionada, ela começou a se vestir também.
Merda! Eu não deveria ter deixado ir tão longe.
— O que mudou? Achei que me queria.
E como eu queria, ainda quero como um viciado deseja a próxima
dose.
— Queria quando achava que você já tinha fodido antes, Melissa,
não quero cobranças como você já sabe e ser o seu primeiro me trará
exatamente isso — menti e passei as mãos pelos cabelos, frustrado.
Ela negou com a cabeça.
— Não...
— Nem tente negar, a primeira vez de uma mulher é importante,
marca para sempre a memória dela, impossível que na nossa rotina diária
não surja um incômodo. Sem contar que eu não sou a pessoa certa para te
foder pela primeira vez — proferi, cortando-a, mas a ideia de outro homem
com ela me deixou doente.
Nunca, na minha vida toda, eu senti o gosto amargo do ciúme
insano.
Foda-se, se eu não podia ter aquela virgindade, nenhum outro
homem podia. Eu era um fodido mesmo por pensar assim.
Ela parecia dividida entre duas opiniões, mas não se esforçou para
se explicar. Entendia o seu impasse, poderia perder o emprego se
discutíssemos por isso.
— Já está muito tarde, eu vou para casa — falou e olhou para o
relógio negro que havia em cima da minha porta, já passava da meia-noite.
Olhei a regata rasgada, mostrando uma parte do sutiã branco de
renda e da pele clara dos seus peitos. Nunca deixaria que ela fosse embora
sozinha nesse horário, ainda mais vestindo aquilo.
— Vou levar você — avisei.
— Não precisa, senhor, eu posso ir de ônibus — respondeu com
indiferença, completamente diferente da menina de instantes atrás.
Nem fodendo!
— Não foi um pedido, Melissa, está tarde e é perigoso. Além do
mais, pelo horário você já é minha funcionária, então deve acatar as minhas
ordens. — Fui rude, naquele tom que dominava o ambiente.
Ela semicerrou os olhos, mas não protestou.
A única coisa que eu pedia enquanto o elevador descia para o
estacionamento, era que, prestes a ficar com ela no meu carro, eu não caísse
em tentação e arrancasse essa deliciosa virgindade, para possuir o seu
pequeno corpo como ansiava.
CAPÍTULO 7

Melissa
Quando acordei na manhã do sábado, meu corpo ainda ardia como
se as chamas do desejo o dominassem.
Foi uma loucura estar nos braços do senhor Gomes Ribeiro, eu sei,
no momento que percebi já era inevitável, ele parecia tão inalcançável que
quando possuiu a minha boca com tanta vontade, eu não fui forte o bastante
para me afastar.
Nunca tinha beijado tão bem antes, na verdade, meus beijos foram
com garotos da minha idade, não com um homem como ele.
Danilo era como um vulcão em erupção, que queimava todos que
estavam por perto, comigo as queimaduras eram causadas pelo desejo
irracional que sentia por ele desde que o vi.
Fechei os olhos embaixo do jato de água fria que caia do chuveiro,
mas nem isso acalmou as inéditas sensações no meu corpo. Os bicos dos
meus seios estavam intumescidos de desejo. Se eu fechasse os olhos, seria
capaz de sentir os lábios dele ali, a barba roçando a minha pele em uma
carícia deliciosa, os dentes mordendo-me como se eu fosse um delicioso
doce.
— Oh, estou ferrada! — Suspirei quando meus dedos tocaram o
meu ponto sensível e pulsante, que desejava por ele.
Eu me entreguei ao prazer, imaginando-o ali comigo, concluindo o
que ontem não foi capaz. Estava tão gostoso, eu só teria uma chance e ser
virgem tirou ela de mim, mas sua rejeição me magoou, serviu para me
colocar no lugar e percebi que dentre as diversas mulheres que ele tem, uma
virgem, prestes a ser funcionária dele, não tinha nada em especial.
Eu precisava tanto do emprego que decidi passar uma borracha na
noite anterior, fingir que nada aconteceu, que eu não me toquei na manhã
seguinte gozando seu nome e desejando mais do proibido. Precisava dar um
fim a algo que nem começou. Minha prioridade teria que ser o meu
emprego e não essa vontade insana que surgiu em mim desde o segundo
que o vi.
“Sai da entrevista e vim direto para casa, apenas pensando no
quanto eu tive sorte em ser contratada”. Talvez se eu continuasse
mentalizando isso o dia todo, tudo se tornasse menos real.
Quando pisei na cozinha, Evelyn já tinha chegado e seu humor não
estava um dos melhores.
— Você me colocou em uma baita enrascada, tomei uma bronca do
Danilo que perdi até a reta — falou diretamente.
— Ele falou com você depois que me deixou em casa? — perguntei,
curiosa.
Achei que o assunto da minha entrada no clube já tinha sido deixado
de lado, mas, pelo visto, isso era uma regra que Danilo não gostava que
quebrassem.
— Ele voltou para conversar comigo. Mel, você não pode mais
aparecer por lá, sua entrada está proibida e eu perderei meu emprego se
deixar que entre — contou o que eu já imaginava.
— Desculpe, minha intenção não era ter te colocado nessa situação,
eu só estava tão feliz que quis dividir com você. — Fui sincera, estava
preocupada com a possibilidade de tê-la prejudicado no emprego.
A expressão de Eve se suavizou, ela caminhou para perto de mim e
enlaçou meu ombro com um sorrisinho.
— Quem nunca levou bronca no trabalho? Não esquenta com isso,
Danilo é, sim, rigoroso, mas se eu não fizer novamente, ficarei bem.
— Ele é um chefe ruim? — questionei, começando a temer um
futuro que ainda nem era garantido.
— Ruim como? — perguntou, caminhando para a cafeteira.
— Tirano — esclareci e ela riu pelo nariz.
— Não, longe disso, ele é gente boa, só não podemos quebrar as
santas regras dele. — Revirou os olhos, desdenhando. — O homem
administra aquele clube com mãos de ferro.
Eu me peguei pensando no quanto deveria ser difícil ser responsável
por um lugar como aquele, deveriam ser muitas responsabilidades, segredos
sujos para guardar a sete chaves ou famílias seriam destruídas.
— É compreensível, já que o irmão mais novo dele, o Daniel, não
esquenta a cabeça com nada. Com aquele lá, você deve tomar cuidado —
Eve continuou devido ao meu silêncio.
Eu me juntei com ela na mesa, faria o desjejum e me arrumaria para
conhecer o Gael.
— Por quê? — indaguei, confusa e com um pouco de medo.
Ela deixou um risinho de lado escapar, como se lembrasse de coisas
que aconteceram entre os dois.
— Ele flerta com qualquer uma, você, com esse seu jeitinho de
menina do interior inocente, claramente é o tipo dele.
Arregalei um pouco os olhos.
— Qualquer uma? Até as funcionárias? Ontem o Danilo comentou
que não se relaciona com quem ele contrata.
Evelyn deixou a sua atenção toda no meu rosto, um sorrisinho
sabichão embelezando-a ainda mais.
— Comentou é? E como surgiu esse assunto? — Ela quis saber, só
então percebi que eu tinha falado demais.
Droga! Eu e essa minha boca grande.
Mordi a minha torrada com geleia de morango, ganhando tempo
para pensar em alguma resposta coerente e que não resultasse em mais
perguntas.
Não entendia o motivo, mas queria deixar o que aconteceu na noite
passada apenas entre nós dois.
Nada aconteceu, bobinha, um lado sarcástico da minha mente fez
questão de ressaltar.
— Eu perguntei se vocês dois já tiveram algo — falei com cautela,
olhando-a nos olhos.
Depois do que Eve disse sobre o Daniel, fiquei com essa dúvida, uni
o necessário com o curioso e matei os dois.
— É claro que não, Danilo realmente não se relaciona com as
funcionárias, ele sabe que é dor de cabeça e evita problemas maiores. Mas o
irmão dele é o oposto, já deu em cima até de mim.
— E vocês tiveram algo? — perguntei, corando.
Evelyn jogou a cabeça para trás gargalhando.
— Não, não por falta de vontade da minha parte, mas ficar com o
chefe é a pior burrice que alguém pode fazer, somos sempre as prejudicadas
no final. — Piscou confiante e eu engoli em seco.
Uma parte minha murchou, preocupada, eu fui uma tola, precisava
colocar o meu emprego antes do meu desejo e por isso decidi que fugiria do
senhor Gomes Ribeiro, assim evitaria consequências ruins ao meu ato
impensado de ontem.

Rosa, a mesma senhora simpática que me recebeu na entrevista,


abriu a porta para mim e sorriu, gentil.
— Bom dia! Vim conhecer o Gael — falei, confiante.
Tudo dependeria desse nosso primeiro contato.
— Bom dia! Claro, entre menina, o Danilo está no escritório
resolvendo um problema do trabalho que surgiu de última hora, mas em
breve a receberá. — Deu passagem para eu entrar, mas olhei para o lindo
jardim que ontem não tive chance de explorar.
— Será que posso aguardar no jardim? Amo flores e ontem estava
tão nervosa que nem aproveitei essa vista linda. — Fui sincera e ela me
analisou por inteira, avaliando se me deixar ir seria um problema.
— Pode aguardar, sim, quando o Danilo se desocupar eu a chamarei
— disse, gentil e eu desci os degraus animada.
Estava fascina pelas variedades de flores, os tons tão vibrantes, um
sorriso brotou no meu rosto, poderia ficar horas aqui, a paz que esse lugar
me transmitia parecia surreal. Rodei naquele cenário lindo, deixando que o
sol de verão aquecesse a minha pele, foi quando vi o garotinho na outra
extremidade do jardim, próximo ao parquinho.
Curiosa, caminhei até ele, que com um pedaço de madeira cutucava
alguma coisa no galho da árvore, não conseguia distinguir o que era, mas
ele parecia obstinado a derrubar aquilo.
Caminhei com rapidez e foi quando vi o que ele tanto cutucava, era
um pequeno ninho, a mistura de gravetos e felpas de plantas estava quase
caindo do galho, que mesmo baixo, faria um desastre com a casinha dos
passarinhos.
— Oi — falei, cautelosa, não queria assustá-lo.
O menino estancou o graveto no lugar, tenho certeza de que essa
última batidinha teria despencado o ninho da árvore. Quando ele se virou e
me olhou, vi a versão fofa e mirim do meu chefe, poucos detalhes os
diferenciavam.
Os olhinhos castanhos me encararam duvidosos.
— Oi — respondeu, virando-se outra vez para o ninho na árvore, o
graveto quase o tocando para derrubar.
— O que temos aqui? — perguntei, chegando perto, ergui-me nas
pontas dos pés e consegui ver dois ovinhos cinzas lá dentro.
— Não vi ainda, por isso quero derrubar. — Foi direto, novamente
apontando para o ninho com o pedaço de madeira.
— Mas não precisa derrubar para ver. Se eles caírem, vão se
machucar, a queda pode até rachar os ovinhos, ou pior. Você gostaria que
isso acontecesse? — questionei, olhando-o, curiosa.
O pequeno negou com a cabeça e largou a madeira tão rápido como
se ela estivesse quente e ferisse a sua pele.
— Venha aqui — chamei e ele veio com passos pensados,
analisando-me ainda. — Quer que eu te erga para você ver? — perguntei e
ele assentiu um pouco mais animado.
Eu o peguei no colo, era muito pesado, mas ainda assim consegui e
seus olhos curiosos se fixaram nos ovinhos.
— Tem dois e são tão pequenos — comentou, sorrindo.
— São, sim, mas vão nascer ainda e se tornarão lindos pássaros, mas
para isso você não pode destruir a casinha deles, esse ninho é para protegê-
los enquanto a mamãe cuida para eles nascerem fortes — expliquei e ele
ouviu cada palavra muito atento.
Coloquei Gael no chão e ele assentiu.
— Promete que vai deixá-los aqui quietinhos? — pedi.
— Mas e quando eu quiser olhar? — questionou, desanimado.
— Bom, pede para algum adulto te erguer, mas não os derruba, ou
os machucará. Combinado?
— Sim, combinado — concordou, o tom animado dele me fez sorrir.
Tinha quase certeza de que esse era o Gael, mas não tive chance de
perguntar, já que a voz imponente do senhor Gomes Ribeiro surgiu nas
minhas costas.

Danilo
Meu irmão mais uma vez aprontou, só que não consegui conter a
situação sozinho, precisei envolver nossos advogados do clube, tinha
acabado de finalizar a chamada com um deles quando saí do escritório.
Dessa vez as inconsequências de Daniel quase nos custaram um
processo de uma das nossas ex-funcionárias, ter o clube sob investigação
seria o pior dos meus pesadelos, não tínhamos nada a esconder, mas eu
prezava pela discrição do lugar e um processo jurídico atrairia a atenção da
imprensa.
Assim que Rosa me viu, ela informou que Melissa já tinha chegado
e estava esperando no jardim, quando ela ameaçou ir chamar a menina,
neguei, faria isso eu mesmo, só que eu não estava preparado para a cena.
A mesma mulher que me deixou confuso de tanto desejá-la, estava
com meu filho nos braços, os dois encarando algo na árvore com tanta
atenção que fiquei intrigado.
Assim que Gael sorriu e a olhou tão atentamente e admirado, eu
soube que ela já o tinha conquistado, eu nem ao menos tive tempo de
apresentá-los.
Mas não me surpreendi, quando o assunto era a Melissa, tudo
acontecia fora do meu controle.
Eu me aproximei e ouvi toda a interação dos dois, mesmo sem saber
que era exatamente isso que eu procurava em uma babá, Melissa me provou
ser capaz.
Ela ensinou o que era certo para o meu filho sem ser rude.
— Vejo que já se conheceram — comentei, detestando ter quebrado
esse momento que parecia único para os dois.
Eles viraram os rostos para mim.
— Não sei o nome dela ainda, papai, você chegou bem quando eu ia
perguntar isso — Gael falou bem rápido.
Melissa o olhou um pouco surpresa.
— Eu sou a Melissa e você só pode ser o pequeno Gael.
Meu filho assentiu, mas eu sabia que logo falaria alguma proeza só
dele, Gael era assim.
— Melissa — ele repetiu, testando o som.
— Pode me chamar de Mel, eu prefiro — ela cochichou a última
parte, como se fosse um segredo.
— Mel como o das abelhas? — questionou, pensativo.
Eu permaneci observando a interação dos dois, Melissa tinha o dom
com crianças, tinha certeza disso por ter visto eles sozinhos.
— Bom, eu nunca usei essa comparação, mas, sim, Mel como das
abelhas.
— Hum, legal, eu vou te chamar de Abelhinha então, posso? —
perguntou.
Gael adorava colocar apelido nas pessoas, raramente as chamava
pelo nome, o fazia apenas se não se sentisse confortável com alguém.
— Claro que pode, e como você quer que eu te chame? — ela
questionou e ele colocou a mãozinha no rosto, como se estivesse pensando.
— Pode me chamar do que quiser, menos de Campeão, porque só o
papai me chama assim.
Sorri com isso, amava essa nossa intimidade.
— Pode deixar que pensarei em um apelido que faça jus a você. —
Melissa passou o dedo no pequeno nariz dele, Gael sorriu, sapequinha.
— Eu gostei de você, Abelhinha. Você gosta de tocar guitarra?
Ela ficou momentaneamente confusa, por isso esclareci, outra vez
me intrometendo na conversa dos dois:
— Guitarra é o instrumento favorito dele, tem algumas no quarto.
— Hum — ela resmungou, evitando o meu olhar.
Merda! Por que estava me incomodando tanto a nossa distância?
Não era exatamente isso que eu queria?
— Eu não sei tocar, mas tenho certeza de que você é um excelente
professor — Melissa completou.
— Eu posso, papai? — Gael perguntou para mim e com isso os
olhos claros de Melissa se fixaram nos meus, também esperando uma
resposta.
A droga do meu coração acelerou, mas me obriguei a responder de
forma firme, quase fria.
— Não hoje, irá almoçar agora e Melissa está de saída.
Os dois pareceram desapontados.
— Ela não vai ficar para cuidar de mim? — Gael perguntou com um
leve biquinho.
Eu tinha comentado com ele sobre Melissa na noite anterior, que ela
viria conhecê-lo.
— Não hoje, Melissa começará na segunda-feira, hoje ela precisa
trazer as coisas dela e se acomodar na casa e domingo todos os funcionários
estão de folga.
Tanto Gael, quanto ela, sorriram, contentes.
— Obaaaa, segunda irei te ensinar, Abelhinha, não vejo a hora.
— Estou ansiosa também.
— Agora vai tomar um banho, está todo suado e depois vai almoçar
— pedi e Gael estava prestes a sair correndo, mas parou de repente e
abraçou as pernas da Melissa.
Ela ficou momentaneamente surpresa, mas retribuiu o carinho com
um bonito sorriso no rosto.

Melissa
O abraço do Gael me pegou de surpresa, logo de cara percebi que
ele era uma criança curiosa e que não media esforços para suprir esse anseio
por explorar tudo o que quisesse, mas por ser fisicamente muito parecido
com o pai, não imaginei que ele seria do tipo espontâneo que demonstrava
afeto, pelo visto, me enganei.
Quando envolvi meus braços no corpinho pequeno, foi impossível
não sorrir como há um bom tempo eu não fazia, ele era um doce de criança
e eu faria de tudo para que o nosso dia a dia fosse divertido e muito
proveitoso.
Enquanto ele caminhava de volta para casa, comecei a ficar nervosa,
ficaria outra vez sozinha com o meu chefe.
— Vamos até o meu escritório? — Danilo perguntou e foi
impossível não recordar dessa mesma frase na noite anterior.
Apenas assenti, não estava tão confiante com a minha voz.
Ao entrarmos na casa, Rosa estava descendo as escadas que dava
acesso aos outros andares.
— Rosa, preciso conversar a sós com a Melissa, pode cuidar do
almoço do Gael quando ele descer?
— Claro, menino, deixa comigo.
Ela virou as costas e voltou para o preparativo do almoço, que
estava cheirando divinamente pela casa toda. Eu sabia que Rosa era
talentosa na cozinha, no dia anterior, ela serviu lanchinhos para as
candidatas ao cargo e eu me deliciei com vários.
Segui Danilo, alguns passos atrás, aproveitando para apreciar seu
corpo sem ser notada.
Ele era atraente demais, alto, acredito que beirava os um metro e
noventa, costas e ombros largos, pernas definidas, bumbum perfeito,
postura rígida, quase severa. O que mais me atraia nele era a cara de
malvadão.
Ele virou o rosto no segundo que o olhei dos pés à cabeça, pega em
flagrante a única coisa que fiz foi corar vergonhosamente.
Fugir, Melissa, lembra? Ser rejeitada uma vez não foi o suficiente?
— Entre, senhorita Mendes de Alcântara — mandou e eu obedeci,
desviando do seu olhar impetuoso.
Sozinha com ele, com as portas fechadas e sentindo o seu maldito
perfume — maldito de tão bom que era —, eu precisei me concentrar para
não deixar que um gemidinho de aprovação saísse dos meus lábios.
Quando o olhei, ele estava encarando a minha boca, mas eu sabia
que ele nunca cederia ao desejo que brilhava em seus olhos.
A babá virgem não era boa a bastante para um homem como ele.
Pensei, sentindo o gosto ruim da mágoa.
— Pelo visto Gael também gostou de você. — Notei o advérbio,
mas ignorei de propósito.
— Ele é um menino adorável — falei, sincera.
— Sim, é. — Eu o vi sorrir tão abertamente. — Mas espere até
criarem intimidade, ele se torna terrível.
Foi impossível não rir também.
— Pode buscar as suas coisas e se acomodar ainda hoje? Como já
disse, domingo é a folga de todos da casa, começará na segunda no período
da tarde, Gael estuda cedo, todas as suas manhãs serão livres, desde que
fique atenta ao celular caso eu precise de você.
Assenti.
— Rosa lhe mostrará tudo assim que você retornar e lhe apresentará
os outros funcionários da casa. Alguma dúvida? — Ele se levantou ao
questionar.
— No momento, não.
Deixei a mansão dos Gomes Ribeiro com um sorriso alegre no
rosto, poucos dias atrás, eu estava fugindo de casa e agora eu estava
começando no meu primeiro trabalho, sair da minha bolha pode ter sido a
minha melhor decisão.
Assim que destranquei a porta do apartamento da Eve, primeiro ouvi
a música For You do Liam Payne com participação da Rita Ora, logo depois
escutei uns gemidos vindo da sala e por isso olhei para o sofá, foi quando vi
a bunda durinha de um homem completamente nu.
— Meu Deus! — exclamei, acredito que alto demais, porque o
espécime masculino saiu de cima dela em um pulo e correu para tapar o
corpo exposto com uma almofada do sofá, mas já era tarde demais, eu já
tinha visto tudo, absolutamente tudo.
Evelyn se levantou também, mas não se importou com sua nudez.
— Mel... Achei que chegaria tarde — falou, estava um pouco rouca,
parecia surpresa, mas não envergonhada por eu os ter pegado durante o
sexo.
— Eu... eu... — Não consegui falar nada, estava petrificada na porta,
igual uma boba, enquanto a música ao fundo encerrava.
Minha prima gargalhou, os olhos claros do homem se arregalaram,
só então o reconheci, era o mesmo segurança grandão que me permitiu
entrar no clube, Dante, acho que era esse o nome.
— Para rir em momentos assim, é louca mesmo, tenho certeza agora
— ele falou, o tom que me recordo bem, já era imponente, agora estava
mais ainda.
— Não sei por que o espanto dos dois, é só sexo, Melissa já viu um
pau, pode ficar tranquilo.
Evelyn não tinha freio na língua, só pode. Sexo para ela era tão
natural quanto escovar os dentes.
— Desculpem, eu não queria atrapalhar a... a... o... momento de
vocês, só vou pegar as minhas coisas e irei embora, rapidinho. — Apressei
os passos para o quarto.
Estava terminando de guardar os itens de higiene pessoal quando ela
se encostou no batente, já estava vestida.
— Pelo visto, o emprego é seu — constatou o óbvio.
Concordei com a cabeça, ainda envergonhada do flagrante.
— O Dante hein? — perguntei para tentar quebrar o gelo.
— Sabe como é, ele é gostoso, bem-dotado e depois de uma noite
toda em um lugar que só tem sexo, eu fiquei com vontade.
— Ai meu Deus, você usou o homem? — perguntei de olhos
arregalados.
— Usar é uma palavra tão forte, Mel. — Riu pelo nariz e o pouco
que a conhecia, sabia que fazia isso quando ficava nervosa.
Arqueei as sobrancelhas e ela cedeu.
— Tá bom, tá bom. Foi uma usada mútua, ele também queria sexo e
pronto, fizemos. — Deu de ombros, como se não tivesse importância
alguma.
— Desculpe atrapalhar — pedi novamente.
— Não atrapalhou, tínhamos acabado e eu estava pensando em
alguma maneira de expulsá-lo sem parecer uma megera.
Dessa vez, eu que sorri.
— Você é terrível! Não pretende namorar um dia? Sei lá, tentar um
relacionamento sério? — Quis saber, Evelyn era uma alma livre, mas até
quando seria assim?
— Pensa comigo, por que me prender a um homem se eu posso ter
vários? Não é isso o que eles fazem? Pegam geral para só então sossegar e
ainda por cima querem uma puritana que nunca transou, para então trair a
coitada.
Pensei nas palavras dela, pareciam um pouco rancorosas.
— Aconteceu alguma coisa? — perguntei, confusa.
— Nada, só o Dante que disse algo que me incomodou, mas nada
que tenha que se preocupar. — Fez um gesto de pouco caso com a mão.
Semicerrei os olhos, mas deixei que ela ficasse à vontade para me
contar quando quisesse.
— Você se importa se eu continuar usando seu celular antigo até
comprar um novo? — perguntei, ainda me restava um pouco de dinheiro,
mas não era o suficiente para a compra de um celular.
— Claro que não, já disse que te dei.
— De forma alguma, eu peguei emprestado, devolverei em breve,
mas agora preciso ir, ainda tenho que comprar roupa de banho, Ana disse
que eu precisaria caso fosse à piscina com Gael e vou aproveitar e comprar
algumas roupas normais com o pouco de dinheiro que ainda me resta.
— Quer um pouco mais? Eu tenho aqui.
— Não, de jeito nenhum, você já me ajudou demais me dando um
teto e ainda me arrumando um emprego, serei eternamente grata a você,
prima. — Eu a abracei apertado, as lágrimas já pinicavam os meus olhos.
— Não ouse chorar, garotinha, sabe que me conquistou nesse pouco
tempo e que te considero uma irmãzinha mais nova, só fiz por você o que
tenho certeza que faria por mim.
— Com certeza, eu faria.
— Irei sentir sua falta — falou com a voz embargada.
— Virei te visitar sempre que possível — prometi.
— Só quero ver.
Não chorei, mas meu coração estava apertado por estar me
mudando, só que ainda assim estava animada com a nova perspectiva de
vida que eu estava tendo.
CAPÍTULO 8

Danilo
Precisei vir ao clube e por isso não a vi chegando em casa com as
suas coisas, mas fui alertado por um dos meus seguranças que ela já estava
lá e que Rosa estava fazendo um tour indicando cada cômodo.
Rosa era minha governanta e cozinheira, não resistíamos aos pratos
dela e por isso a renumerava bem o bastante para permanecer comigo a vida
toda se fosse possível, mas sabia que era exaustivo, a propriedade era
imensa para se administrar sozinha, por isso estava considerando incluir,
entre os funcionários da casa, um mordomo. Assim ela não ficaria tão
sobrecarregada.
Já contávamos com quatro empregadas, uma delas sendo diarista,
uma vez por semana nas limpezas mais intensas; um jardineiro; um zelador
que cuidava da piscina; um motorista e duas profissionais que lavavam e
passavam as roupas. E agora tem a Melissa.
O encanto daquela menina só podia ser um feitiço e dos bons, era só
pensar nela e esse desejo insano parecia fluir pelas minhas veias como fogo.
A pequena feiticeira conquistou o Gael no primeiro instante e
deixou o meu menino sorrindo o tempo todo, como nunca antes. Já comigo,
ela tomava posse dos meus pensamentos nos momentos mais inoportunos.
Estava preocupado com o possível processo e com as consequências dele,
mas Melissa ainda assim dominava a minha mente, seus olhos, seu sorriso,
o jeito doce que tratou Gael...
Porra!
— Tá pensando no quê? — Daniel questionou, entrando no meu
escritório sem bater.
Bufei, detestava essa mania dele.
— Em como vou resolver a merda da vez que nos colocou —
proferi.
Ele nem se incomodou com meu tom irado.
— Já resolvi, ela só queria atenção, dei isso a ela, o processo não vai
seguir adiante — comentou, cheio de prepotência.
Levantei-me, irado.
— Como você consegue colocar tudo isso em risco por causa de
uma foda? Custa legalizar tudo e manter a paz? — questionei.
— Diz o homem que fez um showzinho no elevador na noite
passada — desdenhou, olhando para as unhas tranquilamente.
Mas que caralho!
— Você nunca toma conta de nada, no dia que eu cometo um
deslize, você está assistindo de camarote?
— Você acha que eu nunca tomo conta de nada, e eu nunca fiz
questão de mudar esse seu pensamento, mas eu observo as coisas, salvo
esse clube tantas vezes quanto você.
Dessa vez eu gargalhei, mas sem humor, era puro deboche, quase
desejando quebrar o nariz dele.
— Diga de uma vez, para que veio aqui? — perguntei, voltando a
me sentar.
— Vim ver se vai comigo na inauguração da galeria da Helô —
falou.
Heloísa era a melhor amiga de Rosane desde a escola infantil,
nossas famílias sempre foram muito próximas.
— Eu me esqueci completamente disso, acho que não irei. — Sabia
que seria um descaso não ir, mas tinha trabalhos demais pendentes e
precisaria ficar no clube até muito tarde.
— Porra, Rômulo tá parecendo uma mulherzinha de coração
partido; você um viciado em trabalho; Rosane não vai comparecer por
causa da viagem para a Índia e nossos tios também não irão. Quem vai
representar a nossa família além de mim? Sabe o quando a Helô é
importante para todos nós.
Apertei a têmpora, um lado meu querendo negar para terminar todo
o trabalho e correr para casa, mas existiam deveres dos quais não podíamos
simplesmente correr.
— O que o Rômulo tem? Mirela ainda? — Aquela ex maldita do
meu primo o traiu com o chefe, um idoso agenciador de modelos.
Daniel riu com escarneio.
— Aquela megera já é passado, ele tá caído por uma mulher e não
quer me contar quem é, conheceu por acaso. Só que às vezes, eu acho que
ele nem a conhece — ponderou, pensativo e como um estalo, eu entendi
tudo.
Na primeira noite de Juliana no clube, Rômulo estava aqui.
As coisas relacionadas à babá me mantiveram afastado do Pleasure
Club resolvendo apenas os assuntos mais urgentes, como não procurei antes
com quem Juliana se relacionou? A inocente associada foi completamente
esquecida, um grande erro meu.
Mandei um e-mail para Ana e em segundos, ela confirmou a minha
suspeita, por um equívoco da minha assistente, Juliana entrou na suíte do
meu primo, Rômulo, que tinha acabado de descobrir o chifre, e os dois
estão se encontrando desde então.
— Interessante — pensei alto e Daniel me olhou intrigado.
— Sabe quem é a garota misteriosa? — Caminhou até o meu lado e
tentou ler meu e-mail.
— Você saberia se realmente observasse as coisas que acontecem
nesse clube — acusei, fechando o notebook com mais força do que o
necessário.
Daniel rolou os olhos, como um garotinho birrento.
— Que seja! — reclamou, e eu sorri com crueldade.
Conhecia o meu irmão desde o seu nascimento, ao contrário de
mim, que analiso as coisas por um todo antes de fazer algo, ele sempre foi
inconsequente, cabeça quente e explosivo. Ele só sabia do que aconteceu
entre mim e Melissa no elevador porque algum dos seguranças contou. Ele
nunca se atentou a esse tipo de coisa.
— Sobre a galeria, irá comigo? — voltou a questionar.
— Irei, pedirei para alguém trazer uma roupa de casa, infelizmente
não tenho tempo para ir me aprontar lá.
— Eu posso dar um pulo lá, já dou uma olhada no Gael — sugeriu.
— Não é necessário — neguei no mesmo instante.
Daniel semicerrou os olhos para mim, desconfiado.
— Estou perdendo alguma coisa? — indagou, interessado.
— Nada de mais, só que Gael está com a tia Ruth hoje, a casa está
vazia — menti.
Queria pensar que não tinha nada a ver com a Melissa lá sozinha, já
que provavelmente Rosa foi embora, mas apenas imaginar meu irmão, com
olhos cobiçosos em cima da garota, me causava um ódio anormal.
— Beleza então, vou te esperar no saguão do clube para irmos
juntos ao evento. — Deixou a minha sala.

Exausto, era assim que me sentia quando entrei em casa na


madrugada de domingo.
A inauguração da galeria foi um sucesso, mal tive tempo para
parabenizar a Helô pelo trabalho incrível, mas tinha certeza de que meu
irmão fez isso por nós dois. Minha cabeça estava explodindo, por isso,
caminhei sem fazer muito barulho e fui até a cozinha, precisava de um
analgésico com urgência.
Ao entrar no cômodo, mesmo pela penumbra, eu senti a presença
dela, o arrepio que já se tornava familiar dominou meu corpo.
Acendi a luz e a vi, estava na pontinha dos pés, o pequeno pijama
subiu mais do que deveria.
— Melissa, o que faz aqui tão tarde? — questionei quando ela se
virou assustada.
— Senh... senhor... não sabia que estava aqui — falou com os
olhinhos um pouco arregalados.
Eu a olhei intrigado.
— É a minha casa, onde eu deveria estar? — perguntei, mesmo não
querendo ser rude.
O maldito pijama era transparente demais, conseguia ver com
perfeição os biquinhos eriçados dos seus seios apontando para mim, como
se estivessem me chamando.
— Claro que aqui, é que a Rosa me disse que o senhor passa as
noites no clube — comentou com um certo receio, apertando os dedinhos
da mão.
— O que faz aqui? — perguntei novamente, caminhando para mais
perto e pegando, sem nenhuma dificuldade, a mesma caixa de remédios que
eu precisava.
— Eu estou com dor, Rosa me mostrou a casa mais cedo, disse que
eu poderia pegar remédio caso precisasse.
— Já estava passando mal de dia? — questionei, o tom preocupado
explícito.
— Começou agora à tarde, mas não contei para ela. — Deu de
ombros.
Eu a analisei dos pés à cabeça, com muita atenção.
— O que você tem? — Precisava saber para ajudá-la.
Melissa corou, tão forte, ficando ainda mais linda.
— Nada grave, senhor, irei me deitar. — Estava para fugir de mim,
mas a segurei pelo braço, senti como um simples toque nos mudava.
Era eletrizante, ao mesmo tempo que me assustava, me deliciava.
— Diga, Melissa, o que há? — sussurrei dessa vez, nossos corpos
muito próximos.
Instintivamente ela colocou uma das mãos no baixo ventre.
— Sinto todos os meses, não se preocupe, mas como acabei de
chegar à cidade, não fui na farmácia comprar o remédio que estou
acostumada, por isso vim aqui ver se tinha. — Enrubesceu.
Percebi que ela estava envergonhada por estar com cólica.
— Venha aqui — pedi e ela obedeceu, aquele jeitinho doce que me
deixava louco.
Acreditava que não havia remédios para dores menstruais, mas
orientei que procurasse.
Mordendo o lábio inferior, ela negou com a cabeça ao não encontrar.
Fiz uma nota mental de pedir para Rosa lotar a casa com o
medicamento dela.
— O que costuma fazer quando não tem? — questionei,
preocupado, meu tom tão suave que me deixava confuso.
— Eu tomo um banho bem quente e chá bem forte de camomila —
falou, estranhando a minha pergunta.
— Então vai tomar banho, irei fazer o chá. — Soltei o braço dela,
mas não antes de fazer uma leve carícia.
— Desculpe perguntar, mas, o senhor sabe fazer? — questionou
com o rosto ainda rosadinho de vergonha.
— É claro que eu sei. — Sorri. — Sou péssimo cozinheiro, mas para
um chá é só ferver a água.
Não era?
Ela sorriu abertamente, tão linda que me peguei querendo mais
desse sorriso.
— Precisa adoçar também, o senhor sabe onde fica o sachê?
O sachê?
— Bom... Acho que na despensa — soei confuso e aquele sorrisinho
lindo surgiu novamente no rosto dela.
— Agradeço a sua boa intenção, senhor, mas não precisa se
preocupar comigo.
— Isso é impossível, Melissa. — Acariciei o rosto dela ao falar.
Mel fechou os olhos e suspirou baixinho, o ar deixando a sua boca
foi tentador.
Não esqueci do gosto dos seus lábios desde o instante que eu provei.
Aproximei um pouco mais, prestes a cometer o maior erro da minha
vida, afinal ela já era minha funcionária.
Mas por que eu me sentia tão ligado naquela menina inocente?
— Vá tomar um banho, então — pedi, poucos centímetros longe
dela.
— Tudo bem. — Ela quase correu de mim, parecia lutar para fugir
assim como eu.
Minha pequena feiticeira.

Fiz o chá, confesso que precisei pesquisar no google como fazer e


levei alguns minutos para encontrar a caixinha com os sachês. Subi as
escadas equilibrando a bandeja, bati na porta ao lado do quarto do Gael, era
onde todas as babás dormiam na casa, bem pertinho, caso ele necessitasse
de algo no decorrer da noite.
Melissa abriu a porta com o rostinho confuso, os cabelos lisos
estavam desgrenhados e presos no alto da cabeça, linda, já não usava mais o
pijama, estava com um roupão e eu deixei um quase sorriso dominar meu
rosto por ela ter me obedecido.
Eu sempre adorei estar no controle e com ela, parecia ainda melhor.
Ela era tão submissa que eu precisava me concentrar para não a pegar para
mim de uma vez por todas.
— Eu fiz o chá — comentei, orgulhoso.
Ela olhou para a xícara que saia fumaça e sorriu.
— Obrigada, senhor, não precisava se preocupar. — Deu um passo
para frente para pegar a bandeja, mas não deixei.
— Deite-se, vou colocar na mesinha de cabeceira — mandei,
Melissa piscou algumas vezes, mas fez o que pedi.
Notei os olhos marejados dela e algo ardeu no meu peito, era
parecido com quando o Gael ficava doente, queria tirar a dor e pegar para
mim, mas estava de mãos atadas.
— Não chore, se continuar com muita dor, levarei você ao hospital.
— Sentei-me ao seu lado na cama e afaguei o rosto dela, que fechou os
olhos.
— Não é pela dor — sussurrou, ainda sem me olhar. — A última
vez que cuidaram assim de mim, foi a minha mãe.
Recordei que ela comentou na entrevista a perda da mãe.
— Sinto muito.
— Não por isso, eu que deveria me desculpar por estar dando
trabalho no meu primeiro dia aqui.
— Só começará na segunda, mas de qualquer forma não é um
trabalho. Agora beba o chá antes que esfrie — novamente mandei.
Levantei-me da cama o mais rápido que pude.
Não estava me reconhecendo nas minhas próprias ações.
Quando foi a última vez que eu fiz um chá para uma mulher? Porra,
um chá, nunca fiz na vida.
— Trouxe adoçante caso precise de mais — falei e ela negou com a
cabeça.
— Está ótimo assim. — Ela me olhou duvidosa, como se
questionasse saber o que eu realmente estava fazendo ali.
Até eu me questionava isso, que vontade esquisita era essa de querer
cuidar dela?
— Ficarei aqui até que tome tudo — disse, meio que tentando
explicar a minha presença.
Ela olhou para a bolsa térmica azul que também estava na bandeja e
depois me encarou com as sobrancelhas arqueadas.
Cocei a nuca meio sem jeito.
— Li na internet que uma compressa de água quente ajuda também,
só colocar ela no baixo ventre — sugeri.
Melissa a pegou e colocou em cima do roupão, mas como o tecido
atoalhado era grosso, sugeri:
— Melhor por baixo, já que não esquentei muito para não te
queimar — expliquei.
Ela olhou para o nó do roupão e depois para mim, permaneci no
mesmo lugar, olhando-a, instigando-a a pedir que eu saísse ou me virasse,
mas ela não o fez.
A xícara de chá quase vazia foi deixada na bandeja e ela desfez o
nó, os dedinhos trêmulos, assim que partes do seu corpo foram expostas,
senti o meu reagir, desejando-a.
Eu só posso ser um sádico mesmo para desejá-la mesmo com dor.
— Hummm! — Quando a bolsa tocou sua pele, ela deixou um
gemidinho satisfatório escapar e isso só piorou a minha situação.
— Agora feche o roupão — mandei e dessa vez ela não me
obedeceu tão rápido, parecia que adorava me provocar.
Melissa sabia que eu estava vendo mais do que um chefe deveria ver
de uma funcionária, e ao mesmo tempo que estava corada, provocava-me
com luxúria no olhar.
Porra! Foda-se, eu preciso me aproximar, nem que seja apenas para
beijá-la.
Dois passos e eu já estava com ela, tocando-a com intimidade.
Ela arfou e aproximou um pouco o corpo do meu.
— Você faz de propósito, não é? Sabe que me excita e o faz —
sussurrei, aproximando o rosto do pequeno pescoço, inalando o cheiro dela
como um viciado.
Eu a desejava, mesmo não querendo, eu a desejava demais.
Melissa aproximou-se mais, deixando o corpo exposto para mim.
Subi a mão pela sua perna lisinha, quando parei na coxa, encarei
seus lábios.
— Estou louco para beijá-la — confessei.
Ela fixou os seus olhos azuis nos meus.
— Não precisa pedir — sussurrou, a voz doce fez meu pau pulsar
ainda mais na calça.
Subi um pouco mais a mão, parando próximo da sua intimidade e a
puxei pela nuca com a outra mão, selando sua boca na minha.
Senti tanta falta.
Ela me correspondeu com a mesma ganância.
O que era para ser só um beijo se transformou na porra do momento
mais prazeroso da minha vida, puxei Melissa para o meu colo, sentir a
intimidade dela me pressionar era a minha perdição.
— Não podemos, honey, você está naqueles...
— Não ainda, essa cólica é a que precede os dias — ela me cortou
rouca, esfregando-se ainda mais na minha ereção.
— Ainda assim está com dor — teimei.
E é virgem, uma vozinha alertou dentro de mim.
— Não tanto quanto imagina — suplicou e eu detestei ter de negar o
que ela me implorava.
A virgindade da Melissa era o maior empecilho entre nós, eu não
conseguiria fodê-la devagar e apenas cogitar machucá-la me apavorava.
Nunca estive com uma virgem antes, nem sei se saberia ser
cauteloso, já que não costumo ser.
Com um esforço desumano, a afastei de mim, nossos lábios
inchados do beijo.
— Preciso dormir um pouco e você descansar — pedi de forma
autoritária.
Os olhos claros dela brilharam, pelo visto estava chateada.
— Tudo bem. — Ela desceu do meu colo.
No mesmo segundo, senti falta das suas pernas me rodeando, da
minha menina gulosa me pressionando.
Porra! Eu estava perdido.
— Você está certo, há limites que não devemos ultrapassar, agora
você é o meu patrão — falou, não sei se tentando convencer a mim ou a si
mesma.
Porém eu detestei isso.
— Não fale assim — pedi.
— Mas é, não é? Se algo acontecer, se eu me entregar ao senhor,
quem garante que tudo não vai dar errado? Você é um homem vivido e eu
sou só eu. Nem sei onde estou me metendo, nem sei onde eu estava com a
cabeça — falou sem pausar.
— Melissa, não se menospreze, você não tem a menor noção do que
está dizendo, eu a quero, muito, mas sei que não devemos. Como você
mesma disse: há limites que não devemos ultrapassar. Mas isso não tem
nada a ver com a sua virgindade.
Pelo contrário, parecia que era o que mais me puxava para ela. Era
como um teste de resistência e eu estava falhando miseravelmente, por isso
deixei seu quarto sem olhar para trás, ou não conseguiria sair dali sem tê-la
submissa a mim.
CAPÍTULO 9

Danilo
Raramente eu passava o domingo trabalhando, esse era o dia para
ficar com Gael, fazíamos tudo o que desejávamos e por fim dormíamos
assistindo uma animação qualquer na sala de cinema, mas bem hoje ele
estava com a tia Ruth e só chegaria no início da noite, por isso me refugiei
no clube.
Confesso, pela primeira vez na vida eu estava fugindo de uma
mulher. Estava usando o trabalho como desculpa para não passar o dia
sozinho com Melissa em casa. Meu autocontrole não era tão grande assim.
Com a lista de potenciais submissas nas mãos, olhei as informações
sem muito interesse. Essa era a primeira vez que eu não me sentia extasiado
em escolher uma nova garota.
Todas as minhas selecionadas eram experientes e tinham mais de
trinta anos, beirando a minha idade, era assim que eu gostava.
Jaqueline S’atana, 33 anos. Era a minha primeira opção e mandei o
nome dela para Ana, mas a sensação incomoda permaneceu comigo desde
então.
Minha assistente resolveria os pormenores com eficácia e rapidez,
possivelmente na noite seguinte eu já poderia extravasar esse desejo louco
em uma sessão.
Mas não com a Melissa, essa menina não era para esse meu mundo
escuro e cruel.
Melissa era o oposto de mim:
Ela era luz, e eu a escuridão;
Ela era pura, e eu um sádico controlador;
Ela era um anjo, e eu um demônio criado pelo próprio diabo.
Melissa era tudo o que eu nunca poderia ter.
Virgem;
Nova demais;
Muito inexperiente;
Com certeza sentiria medo de mim se descobrisse o modo que eu
gostava de extravasar os meus prazeres.
Nunca fui leve, romântico, carinhoso, do tipo que leva para jantar e
dá flores. Nem mesmo antes de conhecer o BDSM e ser dominador,
simplesmente não fazia o meu tipo. Eu sou o oposto, bruto demais para ela.
Já era quase o fim da tarde e sem mais poder evitar o regresso para
casa, deixei o clube e fui para a casa dos meus tios buscar o meu filho.
Estacionei o carro em uma das vagas da garagem e atravessei a casa
pela lateral, vi Gael brincando com aquele cão pelo jardim, no mesmo
instante cortei caminho e entrei na mansão.
Minha tia estava na sala de estar, falando no celular, encostei na
parede em silêncio, dando privacidade para ela finalizar.
Quando seus olhos se fixaram nos meus, ela sorriu genuinamente.
— Oi filho, não o ouvi chegar — falou, caminhando para perto de
mim e me envolvendo em um abraço acolhedor.
Desde sempre tia Ruth chamava a mim e Daniel de filhos, nos
tratava com o mesmo amor que sempre tratou os que gerou, Rômulo e
Rosane.
— Não quis atrapalhar a sua ligação — falei, retribuindo o abraço.
— Era Rosane, falo com ela todos os dias, detesto a ideia dela
sozinha na Índia.
— Ela já é uma mulher adulta, sabe se cuidar — proferi, tentando
ajudar minha prima.
— Eu sei, as aulas de defesa pessoal que vocês sempre fizeram me
deixa mais tranquila, mas ainda assim me apavoro apenas em imaginar algo
acontecendo a um dos meus cinco bebês.
Senti o peso da sinceridade no tom dela, cinco porque ela sempre
incluía Gael na lista.
— Rosane é durona, tia, fica tranquila. — Tentei, mas nem eu estava
tranquilo.
Minha prima sofreu demais no passado após terminar um noivado
de longos anos, depois disso, mudou cem por cento, deixou a doce e
ingênua menina para trás e se transformou na porra de uma mulher feroz e
decidida a nunca mais ferir seu coração. Desde então viaja pelo mundo
fazendo o que sempre amou, fotografar.
— Papai — Gael gritou, correndo de braços abertos na minha
direção.
— Campeão, senti sua falta — falei, agarrando o seu corpinho e
inalando o cheirinho gostoso de banho recém-tomado.
— Estava brincando com o Pudim antes de ir embora, mas não me
sujei, vó, fica tranquila — ele contou, olhando para tia Ruth, que sempre
ficava com os olhos lacrimejantes quando ele a chamava de vó.
Nunca foi uma exigência, mas Gael a tratava assim desde que
aprendeu a falar, via naquela mulher amorosa a avó que nunca teria, já que
minha mãe se foi quando eu ainda era pequeno e toda a família de Carolina
era distante.
— Esse é o meu garoto. — Tia Ruth fez cocegas nele.
O cachorro ao lado do meu filho abanava o rabo olhando na minha
direção, mas apenas o ignorei, revivendo momentos terríveis da minha
infância, Pudim era um dos motivos de eu evitar vir na minha tia, detestava
cachorros no geral, todos eles.
— Papai, eu ainda não posso ter um cachorro? — meu filho
perguntou, olhando-me com olhinhos suplicantes.
Não gostava de falar não para ele, mas a ideia de ter um cachorro
em casa era ainda mais angustiante.
— Não. — Fui firme e tia Ruth estava prestes a protestar a favor do
menino, mas a entrada de Rômulo a impediu de prosseguir.
— Ei, rapaz, já estava indo embora e nem se despediria de mim? —
perguntou a Gael, que correu na direção dele, abraçando-o.
— Achei que tinha saído, você não ia se encontrar com a sua
garota? — meu filho questionou e eu olhei confuso para Rômulo.
Ele e Juliana já estavam nesse patamar? Ao que sabia, os dois nem
ao menos se conheciam fora dos quartos escuros do clube.
— Vou tentar estar com ela hoje — falou, enigmático.
— Perdeu o evento da Helô ontem — acusei, sabia que ele estava no
clube na noite de sábado, mas Juliana estava na inauguração da galeria.
— Tive um compromisso, mas no fim levei um bolo — disse, dando
de ombros, só que parecia chateado.
— Compromisso com a sua garota imagino? — tia Ruth comentou,
um sorrisinho brincando no rosto dela.
Rômulo prendeu os cabelos loiros e longos em um coque, evitando
responder tão depressa a mãe.
— As coisas entre mim e ela ainda estão complicadas, nem sei se
vai rolar algo — comentou, mas estava evidente que ele queria muito
continuar o que quer que estivessem tendo.
Não aguentei, deixei um riso escapar e cruzei os braços.
Rômulo me encarou, ele percebeu que eu sabia quem a garota era.
Tia Ruth olhou de mim para ele, curiosa, tentando pegar algo no ar,
mas antes que eu acabasse cometendo o erro de deixar a identidade de
Juliana escapar, chamei Gael para irmos embora.
Nós nos despedimos de todos, e meu filho ficou completamente
calado no caminho até a nossa casa, eu imaginava o motivo, era sempre
assim.
Desde que aprendeu a expressar e logo depois falar as suas
vontades, ele me pedia um cão como animal de estimação e a resposta era
sempre um não, sem opção de teimosia.
Desceu do carro ainda com um biquinho e não me olhou mais,
estava chateado.
Atravessei a entrada principal e o vi subindo as escadas de cabeça
baixa, olhando cada degrau. Foi nesse momento que nós dois juntos vimos
Melissa, ela estava no alto da escada, um pouco despenteada, usava um
shorts jeans que cobria metade das suas coxas e uma camisa de manga curta
branca. Linda, mesmo estando casualmente vestida e com o rosto limpo de
maquiagem.
— Você já está aqui, Abelhinha. — A voz de Gael voltou em um
passe de mágica e toda a animação de antes também, ele correu para ela e a
abraçou.
Melissa correspondeu o gesto e sorriu na minha direção, apenas
acenei com a cabeça, notando o sorriso dela morrer aos poucos.
Ela mesmo disse que há limites que não devemos ultrapassar, eu
estou apenas respeitando isso.
Quanto mais cedo perceber que devemos ficar distantes, melhor será
para nós dois.
— Cheguei ontem à tarde e Rosa me disse que você dormiria na sua
tia — falou com o menino.
— É verdade, eu adoro ir para lá, ela tem um cachorro, o Pudim —
Gael contou e seus olhinhos se fixaram em mim, cautelosos e ainda
chateados.
Respirei fundo.
— Hora de se limpar, filho, vou pedir o jantar. Você pode comer
conosco se quiser, Melissa.
Gael olhou para ela.
— Sim, Abelhinha, nos domingos pedimos pizza e assistimos
filmes, normalmente somos só o papai e eu, as babás não ficam aqui na
folga, quer assistir com a gente?
Ela negou com a cabeça.
— Não, meu lindinho, não vou atrapalhar o programa de vocês.
Meu filho me olhou, parecia pedir para eu insistir.
— Não vai atrapalhar, não é papai? — teimou.
— Não mesmo, sem contar que você deve estar com fome — falei,
pegando meu celular e pedindo a pizza, fingindo não dar muita atenção para
ela e Gael, mas, na verdade, eu estava atento a cada palavra dela.
O pequeno insistiu tanto que ela aceitou, era difícil dizer não ao
Gael, eu estava fazendo isso há anos em relação ao cachorro e ele sempre
insistia.
Juntos foram para a sala de cinema enquanto eu subi para tomar um
banho rápido.
Ao descer, eu estava usando apenas uma bermuda folgada na cintura
e Melissa me olhou dos pés à cabeça, mas logo disfarçou.
Gael escolheu o filme Hotel Transilvânia 3, era um dos seus
favoritos.
Para a minha surpresa, ele me abandonou e se juntou a ela no sofá
maior, sentando-se ao lado dela meio tímido.
Começamos a assistir assim que a pizza chegou e cada movimento,
riso ou suspiro dela, eu notava. Meu corpo reagia àquela menina mesmo
quando ela não fazia esforço algum para chamar a minha atenção.
Já tínhamos comido e Gael se aconchegou nela, deitando a
cabecinha em seu colo e ganhando cafuné. Eu estava na poltrona, conseguia
ver os dois com perfeição e ela me olhou receosa quando meu filho se
aninhou no seu corpo.
Parecia temer que eu não gostasse da aproximação dos dois, encarei
seus olhos azuis, se me perguntassem em qual parte do filme estávamos, eu
não saberia responder. Ela era toda a minha atenção, tentei deixar um riso
de lado escapar, mas acho que foi mais uma careta do que uma expressão de
aprovação.
Ele, desde que nasceu, nunca se soltou rápido assim com alguém; e
ela, mesmo sem ter muita convivência, o conquistou.
— Tudo bem? — Mel perguntou baixinho e só percebi por estar
encarando-a como um idiota.
Assenti e dessa vez meu sorriso saiu mais verdadeiro.
Os dois se dariam bem e esse era o meu maior medo, se Gael se
apegasse demais e ela fosse embora, ele sofreria muito. Por isso, naquele
instante, eu decidi que me afastaria de vez dela, não podia magoar meu
filho, não quando me relacionar com Melissa poderia se tornar um
problema maior se resultasse na partida dela.
CAPÍTULO 10

Melissa
Eu estava sentada no jardim da mansão enquanto Gael não chegava
da escola, aproveitando para dar ainda mais vida à Ayane, minha
personagem de uma história infantil, meu caderno e caneta em mãos, os
olhos fixos nas palavras que escrevia.
Eu sempre fui amante de escrever, comecei muito pequena,
rabiscando nos meus cadernos da escola, escrevia versos, poemas e, às
vezes, ousava tentando mudar os contos infantis. Por que a maioria das
princesas precisavam de um príncipe para salvá-las? Era idiotice, elas eram
fortes o bastante para se salvarem sozinhas.
Um dia, quando contei isso para minha mãe, ela me deu um caderno
novo e disse: crie a princesa que não precisa de um príncipe para ser salva,
escreva aqui suas ideias sempre que essas histórias te frustrarem, mas não
se esqueça de uma coisa, minha florzinha: o amor, porque a sua princesa
pode, sim, ser empoderada, brava e uma guerreira digna de matar um
dragão sozinha, mas ela, assim como todos nós, também precisa aprender a
amar.
Eu tinha oito anos e escrevi, de uma maneira muito inocente, o meu
primeiro conto infantil.
Detestava o fato de ter deixado todos os meus cadernos na minha
antiga casa, não conseguiria trazer todos eles, eram muitos, peguei apenas
um, o que estava comigo agora, o mais recente de todos.
A capa era preta e tinha um coração em relevo, não um coração
normal como costumamos desenhar, mas um coração humano, lindo,
dourado e brilhante. Foi um presente da minha mãe, ela já tinha lido todos
os meus manuscritos, era a minha mais fiel fã e quando me deu esse
caderno, disse que era porque eu deixava uma parte do meu coração em
cada livro escrito.
Após a morte da minha maior incentivadora, eu fiquei semanas sem
escrever, não conseguia, era doloroso demais saber que ela não leria o final
do meu livro, não veria Ayane conquistar o mundo e se tornar a princesa
mais empoderada de todas, ao lado dela, Benício, o príncipe consorte, um
camponês plebeu que a conquistou com sua simplicidade.
Minha mãe já tinha lido meus capítulos iniciais, estava na parte que
o rei, pai de Ayane, a expulsou do castelo por ela ter se apaixonado por um
plebeu. Junto ao seu amado, deixaram a terra natal dos dois e se
aventuraram pelo mundo. Ele usando o seu charme e simplicidade a favor;
ela usando a sua inteligência e sagacidade ao lado dele, nunca um a frente
do outro, eram sempre lado a lado, lutando para conquistar o futuro que
tanto sonharam. O reino, aquele lugar que ela amara um dia, ficou para trás.
Ayane era independente agora. Deixara de ser a princesa herdeira do reino
Sol Nascente para se tornar a esposa de Benício, um simples cuidador de
ovelhas...
— Veja o que temos aqui, quem é você? — A voz grave me
assustou.
Deixei a caneta cair no chão gramado e coloquei a mão no peito,
alarmada.
Olhei na direção do tom e vi um homem moreno alto, a barba por
fazer, os cabelos desgrenhados dando um ar rebelde para o rosto bonito.
— Meu Deus, você me assustou — falei, fechando o meu caderno,
que era alvo do seu olhar, interessado no que eu escrevia.
— Essa não era a intenção, bonita, eu sou Daniel, você é? —
perguntou, no mesmo instante lembrei do que Eve disse sobre o caçula dos
Gomes Ribeiro.
Ele era charmoso, e era com isso que eu deveria tomar cuidado.
— Eu sou Melissa, a nova babá do Gael — informei com cautela.
O homem, com pouca noção de espaço pessoal, se aproximou mais,
abaixou e pegou a minha caneta, estendendo-a para mim.
— O que escrevia? Estava tão concentrada que nem percebeu que eu
te olhava por longos minutos.
Eu detestava essa vulnerabilidade que sempre ficava ao escrever.
— Nada importante — respondi e peguei a caneta dos seus dedos.
— Parecia algo bom já que você sorria tanto — contou.
Cocei a garganta.
— O senhor é irmão do meu chefe, não é? Eu sou prima da Evelyn,
a bartender do clube.
Notei o reconhecimento nos olhos dele quando citei Eve.
— Faz sentido agora Danilo ter te contratado — falou casualmente.
— Como assim? — Levantei-me e comecei a caminhar para a casa,
não queria ser vista ali, sozinha com ele.
Daniel era lindo, isso era um fato, sua beleza era intimidante, assim
como a de Danilo, mas com o mais velho eu sentia um magnetismo que não
me permitia recuar, coisa que com esse era completamente o contrário.
Olhando no fundo dos olhos de Daniel, eu sentia vontade de fugir o mais
rápido possível. O sorriso cafajeste desse Gomes Ribeiro escondia coisas
mais escuras do que ele gostaria de contar.
— Meu irmão é ranzinza, só colocava mulheres bem mais velhas
para cuidar de Gael, dizia que elas eram mais pulso firme, mas como foi
indicada por alguém de confiança... — Deixou o resto para eu entender
enquanto caminhava ao meu lado.
Sim, eu já sabia que Danilo não me contrataria sem essa indicação,
o que um homem como ele veria de potencial em alguém como eu? Uma
jovem sem experiência alguma no currículo, ele mesmo ressaltou que isso o
preocupava.
Por isso estava determinada a ser a melhor entre todas as babás que
Gael já teve, faria dos meus dias nessa casa os mais proveitosos possíveis.
— Você aqui nesse horário? Achei que estaria dormindo como o seu
irmão — Rosa disse quando nos viu entrando pela porta lateral que dava
direto em sua cozinha.
— Ainda não preguei os olhos, passei aqui para roubar um pouco da
sua comida, minha despensa está zerada e estou sem funcionárias —
contou, nem um pouco sem graça ao pegar um pedaço do rosbife que Rosa
estava fazendo para o almoço.
— Quer que eu mande a Yolanda para lá essa semana? Ela poderá ir
ao mercado e ajeitar as coisas — sugeriu, pegando um prato e estendendo
para que ele se servisse.
Eu tinha tido o desprazer de conhecer Yolanda essa manhã, a garota
era uma megera, assim que me viu, me mediu dos pés à cabeça e foi muito
antipática. De todos os funcionários que eu conheci, ela foi a única que não
gostou de mim, a minha sorte era que ela só aparecia nas segundas para
uma faxina mais intensa na casa.
— Ela não fará falta aqui? — ele questionou.
— Não mesmo, Yolanda só vem nas segundas e comentou hoje de
manhã que está sem emprego para os outros dias, isso vai ajudar a menina
também — Rosa disse.
— Sendo assim, mas avisa a ela que não pode entrar no meu quarto.
Rosa assentiu e eu franzi o cenho confusa, por que não entrar no
quarto dele? O que tinha lá que a faxineira não poderia ver?
Não tive tempo de pensar demais nisso, já que Danilo apareceu na
cozinha, usava apenas um moletom caído no quadril, no rosto a expressão
de quem acabou de acordar, bem tranquilo, mas assim que seus olhos se
fixaram nos do irmão, ele mudou.
— O que faz aqui? — perguntou, ignorando completamente a minha
presença.
— Vim comer e acabei conhecendo a Melissa. — Piscou para mim,
e eu sorri, corando.
Ainda bem que olhos não tinham laser, ou eu estaria mortinha, já
que Danilo me olhou irritado.
— Não vou conseguir buscar o Gael na escola hoje, Melissa, tem
como ir buscá-lo? — Pareceu uma pergunta, mas, na verdade, foi uma
ordem, bem direta, para que eu saísse logo da cozinha.
— Claro senhor — falei, cautelosa.
Notei quando Daniel me analisou com outros olhos, predadores,
quase como se apenas nesse momento algo tivesse passado pela sua mente.
Danilo quebrou o nosso contato visual entrando no meio de nós
dois.
— O motorista vai te levar, agora. — Ressaltou a última palavra.
Estranhei, já que ainda era um pouco cedo, mas caminhei para fora
da cozinha mesmo assim e fui capaz de ouvir o que Daniel disse:
— Em breve nos veremos, bonita.
Bonita, que coisa, era a segunda vez que ele me chamava assim.

A escola de Gael não era muito longe da mansão, poucos minutos de


carro e logo eu estava acenando para ele, que assim que me viu, correu na
minha direção.
— Abelhinha? Por que meu pai não veio hoje?
— Ele teve um imprevisto, não gostou de me ver? — perguntei,
fingindo um biquinho enquanto pegava a mochila de costas dele.
— Adorei, só fiquei confuso, meu pai nunca deixa de me trazer e
buscar na escola.
Eu passei o restante do dia pensando nas palavras de Gael, será que
pela primeira vez Danilo fez isso apenas para me afastar do irmão dele?
Não, claro que não.
Quando sugeri ajudar Gael no banho, o menino corou,
envergonhado e disse que tomava banho sozinho desde os quatro anos, que
cabeça a minha, eu ainda estava pegando o jeito da nova rotina.
Na cama, prestes a colocá-lo para dormir, olhei ao redor.
Era um quarto lindamente decorado, três das paredes eram azuis
claras e uma era azul marinho. No chão, um grande tapete em formato e
desenho de uma bola de futebol, havia também um vídeo game de última
geração acoplado a uma imensa televisão que ficavam na parede mais
escura, junto das várias opções de guitarras e da estante de livros que era
decorada por alguns bonecos de super-herói.
Caminhei para perto da estante, olhando com interesse os vários
livros infantis.
— Quer que eu leia algum para você dormir? — questionei com
cautela, depois do furo em relação ao banho, eu estava receosa em
perguntar coisas que ele poderia achar infantis demais, já que “era um
menino grande”, palavras dele.
— Tanto faz, já li todos eles e sei a maioria das falas. — Deu de
ombros.
Deixei a cabeça cair para o lado, curiosa.
— É mesmo? Se eu pegar um aqui agora e ler um trecho, você
saberá a continuação? — questionei.
— Sei a maioria, não todas, mas tente. — Animou-se e se sentou de
perninhas cruzadas em cima do edredom branco, usava uma fantasia do
Homem de Ferro, fresquinha e boa para dormir.
Analisei as lombadas e escolhi O Pequeno Príncipe, abri o livro e li
em voz alta o primeiro trecho que vi:
— Mas os olhos são cegos...
— É preciso procurar com o coração — Gael completou e eu fiquei
de boca aberta.
— Nossa.
— Foi muito fácil. — Ele riu.
— Bom rapazinho, se não quer que eu leia nada, o que costuma
fazer antes de dormir? — perguntei, curiosa.
— Nada, eu fico encarando o teto. Você sabe inventar histórias?
Olhei para as minhas mãos, ponderando se estava preparada para
dividir os meus livros com uma pessoa que não era a minha mãe.
Respirei fundo e encarei Gael, que tinha os olhinhos brilhantes na
minha direção, ansioso por uma resposta.
— Sei — sussurrei. — Sei, sim, você quer que eu leia uma delas? —
perguntei, meu coração batendo forte.
— Leia? Achei que viesse da cabeça quando se inventa —
comentou, confuso.
— É, sim, mas eu escrevo as minhas em um caderno — contei.
— Então eu quero que leia — falou rápido.
— Tá bom, eu vou buscar o meu caderno, mas me promete que esse
será o nosso segredo? Eu não costumo compartilhar os meus livros com
ninguém, apenas a minha mãe lia e desde que ela morreu, não deixei mais
ninguém ler — comentei com a voz baixa, fazendo força para segurar as
lágrimas.
Fiquei surpresa quando Gael jogou os bracinhos no meu ombro, me
abraçando apertado.
— Será o nosso segredo, Abelhinha — ele prometeu, enlaçando o
seu dedinho no meu.
Fui buscar o meu caderno e juntos concordamos em cada noite ser
lido um capítulo do livro da princesa Ayane e do camponês Benício.
Ao contrário do que imaginei, Gael perdeu totalmente o sono, estava
eufórico e fazendo muitas perguntas assim que terminei o primeiro capítulo.
Questionou desde qual era a sensação de dar vida a personagens até o
porquê de eu não mostrar os meus escritos para ninguém. Fui sincera em
todas as respostas e longos minutos de papo depois, ele se rendeu ao sono e
eu fui para o meu quarto.
Estava ostentando um sorriso no rosto ao me deitar, porque mais
uma pessoa além de mim e da minha mãe tinha se apaixonado pelos meus
livros.
CAPÍTULO 11

Melissa
Já fazia mais de um mês que eu tinha sido contratada, Gael e eu
estávamos construindo uma boa relação, quanto mais os dias se passavam,
mais próximos ficávamos e nossa rotina se tornava divertida e cheia de
aprendizado para ambos.
O menino era ótimo em espanhol e me ensinava diversas palavras,
estava sendo tão bom professor que já trocávamos diálogos com mais
facilidade, sem contar as aulas de guitarra, eu me divertia demais quando
ele imitava os cantores de Rock e jogava os cabelos que estavam levemente
compridos e começando a cachear para frente e para trás, dizendo que seria
um guitarrista quando crescesse e que sua banda faria turnê por todo o
mundo.
— Isso mesmo, nunca se deve colocar limites nos nossos sonhos. —
Acariciei os cabelos dele e joguei a cabeça para frente e para trás como ele,
deixando que a música Back In Black da banda AC/DC guiasse meus
movimentos assim como o pequeno de oito anos fazia na minha frente.
Ele era apaixonado por essa música e me contou que a ouviu pela
primeira vez no filme Megamente, que assistiam com frequência já que era
um dos preferidos dele e do Danilo.
Quando o Rock acabou e o sistema de som ficou mudo por alguns
instantes, Gael me encarou com olhinhos brilhantes e deixou a sua guitarra
em cima da cama.
— Mel? — chamou um pouco receoso.
— Oi, meu menino brilhante. — Eu tinha apelidado ele assim umas
semanas atrás, era o que mais fazia jus a ele, tão novo, mas tão inteligente
que chegava a ser brilhante.
Ele sempre sorria quando eu o chamava assim.
— Promete que nunca irá embora? Que sempre vai estar aqui
comigo? — pediu, as lágrimas ameaçando deixar os seus olhos e rolarem
pelo seu rostinho.
Sim, estávamos muito apegados um ao outro, eu já tinha aprendido a
amá-lo, mas infelizmente, isso era algo que eu não podia prometer cem por
cento.
— Meu lindinho, existem coisas nessa vida que não estão apenas em
nosso controle, sim, eu tenho vontade de ficar aqui com você para sempre e
prometo tentar estar sempre ao seu lado. — Fui cautelosa e o rostinho
tristonho apertou meu peito.
Não era o que ele queria ouvir, mas era o que precisava ser dito.
Estava pensando em mais uma resposta prudente e sincera, mas fui
cortada por um pigarro.
— Hum-hum! — Olhei para a porta do quarto de Gael que estava
aberta e vi Danilo encostado no batente, o terno alinhado ao corpo deixava-
o muito atraente.
Estranhei a presença dele aqui, não ficava na casa em sábados à
noite.
— Pai? — Gael questionou, mas ao contrário de mim, ele não
estava confuso e muito menos surpreso.
— Oi filho, pode descer para a sala de jantar? Logo Melissa e eu te
acompanharemos.
Gael não teimou, parecia saber algo que eu não fazia ideia.
Quando ficamos sozinhos, Danilo fechou a porta e encarou os meus
olhos.
Há um mês não ficávamos sozinhos assim e percebi que ele estava
me evitando desde a nossa primeira noite na sala de cinema, não forcei a
minha presença, mesmo sentindo falta do pouco que vivemos. Eu estava
ocupando o meu lugar aqui na casa, o único, o de babá do Gael, eu não
podia simplesmente querer ter algo que não estava ao meu alcance.
— Você não deveria prometer isso a ele, Melissa, não sabe se estará
sempre aqui — falou, pelo seu tom, percebi que estava zangado.
— Eu prometi tentar estar, não disse que estaria — defendi-me,
receosa.
Ele me olhou como se eu fosse patética.
— Nem isso deve prometer, não sabemos o dia de amanhã,
simplesmente não quero que Gael se apegue tanto em você para depois
partir o coração dele com a sua ida — disse de forma direta, olhando para
mim de um modo tão frio.
Engoli em seco, Danilo estava sendo muito grosso com as palavras e
mesmo não desejando, me magoei.
Ainda mais hoje que era um dia especial e ao mesmo tempo triste
para mim.
— Desculpe, senhor Gomes Ribeiro, não farei mais isso — disse
rápido demais, evitando olhar para ele e tentando ser fria também.
Encarei o chão claro do quarto de Gael, sentindo as lágrimas
brotarem nos meus olhos.
— Vamos descer, tem uma coisa para você lá. — Não foi um
pedido.
Acatei a ordem e passei por ele de cabeça baixa.
Antes de descer as escadas, sequei meus olhos.
Gael estava animado e olhava para o lindo bolo em cima da mesa de
jantar, em cima da cobertura de chocolate descansavam as velinhas
indicando vinte e dois anos.
— É seu, Abelhinha, feliz aniversário — meu menino comentou,
alegre e eu sorri, tentando demonstrar uma alegria que, na verdade, não era
tão sincera.
A bronca que levei no quarto, ainda fresca na minha mente.
Durante todo o decorrer do dia, Gael me parabenizou e me abraçou
infinitas vezes, naquela animação que as crianças sentem em aniversários.
Toda a atenção do pequeno amenizou um pouco a dor de não ter a
minha mãe me acordando com um pequeno cupcake e uma velinha, nossa
tradição.
— Feliz aniversário, Melissa. — A voz nas minhas costas, amistosa,
em nada se parecia com a de pouco tempo atrás no quarto.
— Não precisava de um bolo, senhor — falei, virando-me para ele,
mas não fui capaz de encará-lo por muito tempo.
— Claro que precisava, Abelhinha, aniversário deve ter bolo,
sempre e sempre — Gael ressaltou, muito animado, alheio ao conflito
interno que eu estava lutando.
Há um pouco mais de um mês, nessa casa, fui cuidada com afeto
pelo mesmo homem que passou a me evitar dias depois e agora ele me
comprou um bolo, mas antes me deu uma bronca danada por nem prometer
nada concreto para o seu filho.
Danilo me confundia, cada dia mais.
— Não vai assoprar e fazer um pedido? — Gael perguntou após seu
pai acender as velas e cantarmos uma música tradicional de parabéns.
Assoprei...
Desejei...
Mas sabia que isso eu nunca teria.
Um ano antes, meu aniversário foi uma grande festa, com muitos
colegas de infância, com a minha mãe presente, mas a vida mudou tão
drasticamente depois da morte dela que eu nunca me imaginaria aqui, nessa
mansão, tendo como companhia esse menino encantador e o pai dele.
O bolo era o meu preferido, floresta negra, acredito que Rosa quem
fez, ela já sabia da maioria dos meus gostos por comidas.
Assim que terminamos de comer, Gael estendeu uma pequena
sacola de papel na minha direção.
— Agora o seu presente, Abelhinha — falou, animado.
Sorri, se o bolo foi uma surpresa, um presente foi ainda mais.
Abri o pacote com ansiedade, imaginando o que poderia ser de tão
especial para o meu menino me olhar com esses olhinhos tão brilhantes.
Quando peguei a joia na mão, senti meu coração errar uma batida,
era uma pulseira, com vários berloques delicados.
— É linda — falei, olhando com atenção cada pingente.
Tinha um que a menina segurava a mão de um menino bem menor,
no caso representando a mim e ao Gael; um com um coração escrito “eu
amo a minha mãe”; outro com uma flor de pétalas coloridas, representando
o meu amor por flores e seus diversos tons; havia clave representando a
música; chocolate; cachorro e tudo o que Gael sabia que eu gostava.
— Só não entendi o da caneta, Gael fez questão de colocar esse
quando o viu na loja — Danilo falou realmente confuso e meu coração
acelerou.
Pelo visto Gael tinha mantido o nosso segredo.
— Tô com sono, papai, será que podemos dormir? — Gael
perguntou e assim que Danilo concordou, o garotinho piscou sapequinha
para mim.
Eu não disse que ele era brilhante?
— Vou aproveitar que estou em casa hoje e colocar você na cama,
filho.
Aproximei a minha mão do rostinho de Gael e afastei o cabelo
comprido que já começava a bater nos olhinhos.
— Boa noite, pequeno. Obrigada, eu amei as surpresas.
Ele sorriu e coçou os olhinhos, era verdade que estava cansado.
— Boa noite, Abelhinha. Amanhã vamos tomar banho de piscina,
né?
Antes que eu respondesse, Danilo o fez:
— Amanhã é folga da Melissa, Gael.
— Eu sei, mas ela disse que não vai sair e que podemos tomar
banho de piscina.
Os olhos castanhos esverdeados do meu chefe se fixaram nos meus.
— Sim, iremos — concordei com um sorriso.
Os dois subiram e eu aproveitei para limpar a pequena bagunça.
Estava terminando de colocar os pratos na lavadora quando senti o
arrepio na nuca, era característico dele.
— O pingente de caneta é alguma coisa que eu deva me preocupar?
— Danilo questionou, eu ainda estava de costas, por isso fechei os olhos.
Sabia que ele não deixaria passar e era cedo demais para falar sobre
isso.
— Nada que precise se preocupar, senhor. — Eu tinha me divertido
essa noite, mas não tinha esquecido da bronca que levei no quarto, mantive
distância dele, ainda estava magoada.
— Você desenha ou algo assim? — teimou.
— Ou algo assim, mas nada que vá prejudicar o seu filho, pode ficar
tranquilo.
Eu me virei e o olhei nos olhos por poucos segundos.
Danilo permaneceu parado no mesmo lugar, seus olhos tentando
desvendar nas entrelinhas o que eu não estava disposta a contar.
— Obrigada mais uma vez por tudo — agradeci, querendo fugir.
— Não precisa agradecer, na verdade, a ideia foi do Gael, estávamos
planejando desde o início da semana. Até o presente ele escolheu — falou e
toquei a pulseira.
— Eu amei. — Sorri com sinceridade.
Caminhei para mais longe de Danilo, pronta para deixar a cozinha,
mas ele foi mais rápido e segurou o meu punho. Apenas um toque e eu senti
todos os pelos do meu corpo se arrepiarem, era surreal o que eu sentia
sempre que nos tocávamos.
Virei devagar, tentando entender aquele contato depois de semanas
me tratando de forma tão fria.
— Você está triste demais para alguém que faz aniversário hoje,
percebi isso desde cedo — comentou, encarando os meus olhos.
Merda! Não era para os meus olhos ficarem marejados, era para eu
erguer o rosto e mentir que estava tudo bem e desmoronar apenas quando
estivesse sozinha no meu quarto, mas o olhar dele parecia exigir apenas a
minha sinceridade e era exatamente isso o que eu daria.
— É o primeiro sem a minha mãe, ainda dói muito. — Desviei o
olhar, mas não por muito tempo, já que ele pegou o meu queixo e me fez
encará-lo.
— Eu pareço um disco arranhado dizendo que sinto muito, mas é
verdade, eu mudaria isso se estivesse ao meu alcance.
Engoli em seco, em um momento ele era um fofo, no outro um ogro
sem coração. Por isso optei por fugir, já estava uma confusão de
sentimentos por dentro, não dava para tentar entender o que sentia por
Danilo, não hoje.
Eu me refugiei no meu quarto por horas, só que tarde da madrugada
e ainda sem sono, desci para o jardim, lá era um lugar que me trazia uma
paz inexplicável.
Sentei-me no banco que já se tornava habitual para mim, puxei os
joelhos para cima e descansei o rosto neles, deixando as lágrimas caírem.
— Oh mãe, a senhora não imagina o quanto está sendo difícil sem
você, nem ao menos posso visitar o seu túmulo.
O que começou com fracas lágrimas, se tornou um choro torrencial.
Sequei os olhos e apurei os ouvidos quando achei escutar alguém
mergulhando na piscina que ficava próxima. Só estávamos, Gael, eu e
Danilo na casa, alguns seguranças também, mas eles ficavam mais
distantes, próximos à entrada.
Levantei-me e caminhei pelo jardim até chegar na área da piscina,
foi quando vi Danilo, nadando.
Sabia que não deveria ficar olhando o meu chefe naquele momento,
mas algo me prendia ali.
Ele dava várias braçadas, alcançando o outro lado da piscina em
poucos minutos.
O que será que o fez perder o sono a ponto de ir nadar de
madrugada?
Permaneci ali, o olhando por muitos minutos, notei quando ele saiu
da água usando apenas uma sunga branca e caminhou para o chuveiro,
deixando que o jato de água tirasse o cloro da piscina do seu corpo, os olhos
fechados e...
— Uau — sussurrei assim que ele se despiu da sunga.
Eu nunca o tinha visto totalmente nu. Ele era grande, bem mais do
que imaginei.
Mordi o lábio inferior desejosa, sentindo um fogo incontrolável se
apossar de mim.
Todos os meus desejos reprimidos há semanas estavam agora em
ebulição, cada partícula do meu corpo clamando pelo dele.
Continuei olhando-o, os dedos das suas mãos estavam no seu
membro, acariciando-o para cima e para baixo.
Eu deveria sair daqui, pensei, mas não me movi. Danilo era uma
tentação.
Quase tive uma síncope quando os olhos dele se abriram e se
dirigiram na minha direção, fixos nos meus.
Eu estava estancada no lugar, olhando-o se dar prazer, as minhas
coxas unidas tentando aplacar um pouco do meu desejo.
Danilo não parou, pelo contrário, ele intensificou os movimentos.
Olhos nos olhos.
Corações acelerados.
Respirações irregulares.
Deus, socorro. Preciso sair daqui antes que...
— Melissa — disse meu nome ao jorrar seu prazer.
Não consegui desviar o olhar do homem lindo na minha frente, mas
além do desejo, eu sabia que precisava subir para o quarto e fingir que isso
nunca aconteceu. Nesse mês, Danilo deixou muito claro qual era o meu
lugar aqui.
Dei passos cautelosos para trás, mas sua voz me parou:
— Espere, não quero que fuja de novo. — Seu tom estava
entrecortado, denunciando a respiração errática.
— Eu não entendo você... — sussurrei, deixando a frase morrer.
— O que não entende? — questionou, colocando a sunga
novamente, cada movimento dele sendo capturado pelos meus olhos.
Ele se aproximou de mim, apenas um passo e estaríamos colados
um ao outro. Enquanto ele era grande e viril, eu era pequena e delicada.
— Você me ignorou por semanas, passava do meu lado e fingia não
me ver, então hoje me deu uma bronca, depois me deu um bolo de
aniversário e agora estamos aqui — comentei, eu queria entender isso.
Danilo molhou o lábio inferior, pensativo.
— Você causa isso em mim, Melissa, essa confusão toda começou
desde o segundo que você entrou no meu escritório com aquela expressão
de menina inocente e ao mesmo tempo decidida. Me cativou desde aquele
maldito dia. — Ergueu a mão e capturou o meu rosto com ela, deslizando o
polegar pelo meu lábio inferior.
Engoli em seco, não esperava por tanta sinceridade.
— Finjo não te ver porque cada vez que meus olhos caem sobre
você, sinto vontade de te pegar nos braços e fazer coisas que sei que ficará
morrendo de medo — acrescentou com a voz rouca.
— Como pode ter tanta certeza de que terei medo? — questionei,
aceitando a aproximação que ele tanto pedia ao me puxar para perto, pouco
me importando com as gotículas de água sortudas que escorriam por seu
abdômen.
— Sei que terá, você não está preparada para isso — falou rouco, de
olhos fechados, nossos lábios a poucos centímetros de se tocarem.
— Então me ensine — pedi movida pelo desejo, Danilo abriu os
olhos e encarou os meus.
— Porra, não faz isso comigo, honey, estou há um mês nessa
angústia. — Seu olhar estava carregado de desejo.
Acabei com a distância que havia entre nós e mordi seu lábio
inferior forte o bastante para doer e logo em seguida, passei a língua como
em uma carícia.
Talvez essa fosse a forma de eu tentar castigá-lo por ser tão cabeça
dura, mas na verdade era eu que merecia um castigo, por ter ultrapassado
essa barreira. Ele era meu chefe, mas a única coisa que eu conseguia pensar
era nos nossos momentos juntos.
Danilo me agarrou com força, erguendo meus pés do chão e fazendo
com que eu enlaçasse a sua cintura com as pernas.
— Foda-se, eu quero você e não vou mais lutar contra isso.
Era tudo o que eu precisava ouvir para beijá-lo.
CAPÍTULO 12

Danilo
Eu estava enlouquecendo e a culpada disso tudo era uma garota
quase quinze anos mais nova que eu, que estava virando a minha cabeça de
uma maneira que nunca aconteceu antes.
Melissa, era uma pequena tentação.
Foi uma tortura estar com ela em casa todos esses dias sem
realmente tê-la. Via nos olhos dela o quanto ficava chateada quando era
ignorada por mim, mas era sem sucesso, toda a minha atenção estava nela,
mesmo que meus olhos não a encarassem.
Tudo piorou quando Daniel começou a aparecer em casa com
frequência, sem nenhum motivo, apenas para ficar babando na garota, que
corava com qualquer cantada barata que ele falava.
Meu irmão notou o meu comportamento possessivo, e confesso, o
meu ciúme, quando mencionava a possibilidade de convidar Melissa para
uma sessão no clube com ele.
Ódio corria pelas minhas veias ao imaginá-lo tirando a virgindade
que tenho desejado e ao mesmo tempo tenho fugido. Se eu não era inteiro o
bastante para ter a menina, Daniel era ainda pior, ele era mais quebrado que
eu, só que escondia seus reais sentimentos por trás de deboche e sorrisos
cafajestes.
Eu sei que um pouco da minha luz voltou no momento em que Gael
nasceu, ele me deu mais motivos para lutar contra a escuridão que às vezes
ameaçava se apoderar de mim, mas Daniel, mesmo amando o sobrinho, não
tinha a conexão da paternidade, ele ainda não tinha encontrado uma
maneira de encarar seus traumas da infância, nem eu tinha, mas Gael me
ajudava muito.
E agora havia a Melissa, que ocupava os meus pensamentos na
maioria das vezes e em algumas noites, deixei de ter os pesadelos habituais
para sonhar que ela estava na minha cama.
Merda, estou ferrado.
A menina estava magoada e eu ainda piorei tudo quando
conversamos no quarto do meu filho, era aniversário dela, sei que eu não
deveria ter agido como um ogro, mas eu tinha medo de que essa
aproximação com Gael o machucasse, eu sabia lidar muito bem com as
perdas, mas meu filho sofreria e eu não queria isso, ele sempre seria a
minha prioridade.
Tarde da noite, após a comemoração, eu encarava o teto do meu
quarto tentando controlar a vontade de bater na porta do dela e acabar com
todo esse tesão reprimido.
Mas Melissa não merecia ser usada a ponto de saciar o meu desejo,
ainda mais com a questão da virgindade. Por isso fui para a piscina,
exaustão era minha companheira ultimamente e me ajudava a dormir, mas
nem isso diminuiu a minha ereção.
Eu estava a tempo demais sem sexo, a minha última submissa foi
Giovanna. Eu não tinha sentido interesse por mais nenhuma desde que
coloquei os olhos em Melissa, tentei com Jaqueline e com outras mais,
porém as sessões pareciam não ter mais sentido, não quando a pequena
feiticeira era a única que meu pau desejava loucamente.
Caralho, Melissa seria a minha ruína.
E quando ela me pegou batendo uma punheta, eu nem me dei ao
trabalho de fingir, ela era a razão disso estar acontecendo e ela merecia ver
e desejar assim como eu. Só que a porra do desejo explícito nos olhos dela
acabou com o meu juízo.
Não queria pensar nas consequências, eu só a queria, toda para mim
e assim que coloquei as mãos no seu corpo, soube que dessa vez não teria
mais volta. Nada mais me impediria de tê-la. Estava nos meus braços agora,
roçando a sua virgindade no meu pau que pulsava por ela.
Foi uma vida subir para o meu quarto, mas era lá que tinha que
acontecer, era lá que eu tinha tudo o que precisaríamos. Ao trancar a porta,
acariciei o rosto dela, querendo que ela sempre me olhasse daquele jeito:
uma mistura de desejo, curiosidade e inocência.
— Tem certeza? Ainda dá tempo de voltar atrás — falei, mais para
mim do que para ela, mas se Melissa negasse, eu pararia no mesmo
instante.
— Tenho — sussurrou, olhando-me com determinação e luxúria.
Eu ainda não tinha certeza se ela estava preparada para conhecer a
minha escuridão.
— Precisa saber de uma coisa antes, eu gosto de mandar na hora do
sexo, Melissa, gosto mais ainda que acatem as minhas ordens. — Passei a
língua pelos lábios, estava mais ansioso do que quando perdi a minha
virgindade na adolescência.
Tudo com Melissa parecia me levar ao extremo, era diferente e fora
do controle.
— Mandar? Mandar como? — sussurrou a pergunta, mas não
parecia estar com medo, só confusa.
— Se eu mandar não me tocar, você não me toca. Se eu mandar
você ficar quieta, você fica. Coisas assim — expliquei um pouco, tentando
não a assustar demais.
Melissa respirou aliviada.
— Tudo bem, eu entendi. — Mordeu o lábio inferior e aproximou a
mão da minha sunga, pronta para tirá-la.
Quando os dedinhos trêmulos tocaram a peça, segurei seus punhos e
disse:
— Antes de fazer qualquer coisa, tem que me pedir permissão.
Ela engoliu em seco, olhou nos meus olhos e perguntou baixinho:
— Eu posso?
— O que, Melissa? Seja mais específica — exigi.
Minha pequena feiticeira molhou bem os lábios, colocou uma
mecha do cabelo atrás da orelha e desviou os olhos dos meus para encarar a
minha ereção escondida apenas pelo tecido fino da sunga.
Eu achei que ela pediria para me despir, mas não, Melissa sempre
me surpreendia.
— Eu posso te provar?
Porra!
Que caralho, eu não estava esperando por isso.
— Provar onde? — perguntei, a voz quase irreconhecível de tão
rouca de desejo.
— Aqui. — Segurou o meu membro nos dedos por cima da sunga
de uma maneira que quase me fez gozar.
— Pode — concordei, estava na beira do precipício.
— Eu nunca fiz antes, se estiver errado me ensine — pediu,
ajoelhando-se na minha frente.
Nesse segundo, foi quando a escuridão do precipício me abraçou, a
queda foi tão grande que eu temia pelos estragos que ela poderia me causar.
Melissa abaixou a minha sunga, os olhos se arregalaram um pouco
quando meu pau a saudou. Os dedinhos trêmulos seguraram a minha
extensão.
— Molhe bem os lábios, depois tente começar — mandei e ela
obedeceu como uma boa menina, levando embora a sanidade que eu já nem
tinha direito.
Os lábios rosinhas eram pequenos, mas me abrigaram todo dentro.
— Não use os dentes. — Dei a última orientação antes de perder a
voz.
Melissa me sugou, meio sem saber, testando a sensação de ter toda a
extensão da sua boca coberta pelo meu pau. Os olhinhos azuis se ergueram
para mim, quase me levando ao inferno por amar aquela visão.
Minha, naquele instante, ela passou a ser só minha, de mais
ninguém.
Os movimentos deixaram de ser tímidos e cada vez ela ganhava
mais espaço, ora acariciando com os dedos, ora aprofundando até quase se
engasgar. Semanas na mão, sem sexo e eu me derramaria todo nela em
minutos, mas era cedo demais para isso.
Puxei seu cabelo para cima, tomando sua boca com urgência.
— Tire toda a sua roupa e deite-se na cama — ordenei, era assim
que eu recuperava o controle que ela pareceu sugar de mim.
Primeiro ficou confusa, mas não demorou para me obedecer.
A visão de Melissa se despindo no meu quarto era tudo o que eu
queria e não deveria ter.
Só fui para o meu closet depois de a ver completamente nua na
minha cama. Quando peguei o preservativo, meus olhos se fixaram nos
chicotes, algemas, vendas, mordaças, coleiras, cordas, prendedores de
mamilo e diversos outros acessórios, por uma razão que eu ainda não
entendia, deixei tudo o que amava usar para trás.
Só desejava ter Melissa nos meus braços, os apetrechos pela
primeira vez não eram uma prioridade no sexo.
Nesse momento, percebi que estava perdido, com ela não era uma
sessão qualquer; com ela apenas dois meses não seriam suficientes, Melissa
chegou na minha vida para mudar a porra toda.
Quando voltei para o quarto, vi que seus dedinhos curiosos
acariciavam os seus mamilos eriçados, apertando-os de olhos fechados, uma
perna se esfregando na outra.
— Porra, Melissa, continue — mandei, olhando-a com satisfação.
Ela abriu os olhos claros, que brilhavam uma curiosidade tão pura.
Eu era um filho da puta sortudo por poder ensiná-la.
— É a primeira vez que se toca? — perguntei em um fio de voz.
— Não, já me toquei pensando em você — confessou.
Aquilo foi o ímpeto que eu precisava para quebrar a distância entre
nós, sentei-me na beirada da cama.
— Mostrei-me como você fez quando se tocou pensando em mim
— exigi.
— Eu estava no chuveiro... — contou, deslizando a mão pequena
pela sua barriga, abrindo um pouco as pernas ela tocou seu clitóris —
imaginando que eram as mãos do senhor no meu corpo.
Não aguentei mais, tomei o lugar que já tinha decretado como meu.
— Assim? — perguntei, afastando a mão dela e acarinhando eu
mesmo o seu ponto sensível e brilhante de desejo.
Melissa arquejou as costas, soltando um gemido alto de prazer. A
pele ficou um pouco corada com o barulho que fez, me olhando assustada.
— Isolamento acústico, ninguém vai nos escutar — garanti. — Hoje
não quero que se prive. Expresse o seu prazer, quero que me dê tudo.
— Sim, senhor — respondeu, isso foi motivador.
Abri as pernas dela o máximo que consegui, expondo a sua vulva
encharcada e virgem para mim. Com a boca, suguei tudo o que Melissa me
proporcionava.
Gostosa, pra caralho.
Ela era como o mais puro dos méis, doce como um inferno de bom.
A cada lambida, mordida ou penetração da língua, Melissa se
expressava mais, pedia por mais.
O orgasmo a atingiu violentamente, quase me fazendo gozar apenas
por chupá-la.
Não estava aguentando mais, precisava dela.
— Honey, isso vai doer, estou tentando ser cauteloso, no segundo
que mandar, eu paro — falei, protegendo o meu membro.
Melissa ergueu um pouco o corpo, curiosa para ver como seria a
nossa junção pela primeira vez.
Coloquei apenas a cabeça, deixando que ela se acostumasse com a
sensação.
Suor brotava na minha testa, eu não era assim, arremetia de uma
vez, pronto para saciar o que queria, mas apenas cogitar machucar a minha
menina me causava aflição.
As suas paredes vaginais se contraíram, quase levando-me à
loucura. Entrei mais um pouco, sentindo as unhas de Melissa cravadas nas
minhas costas.
Quando a barreira do hímen ficou entre a nossa conexão completa,
olhei em seus olhos azuis.
— Me pede para parar e eu juro que paro. — Quase supliquei.
Melissa merecia alguém muito melhor do que eu.
Ela ergueu a mão, acariciou o meu rosto e respondeu:
— Sabia que seria com você desde aquela noite no elevador, não
quero estar com mais ninguém. Faça-me sua — pediu.
Arremeti com mais intensidade, rompendo o hímen.
Melissa gritou, grudou as unhas grandes em mim, apertando sem
pena.
— Oh! — Era como um choramingo.
Ameacei sair, mas ela me prendeu com as pernas.
— Fique, está ardendo, mas nada que eu não aguente.
— Não quero machucar você, minha linda. — Beijei seus lábios,
depois seu pescoço, descendo para os seios rosadinhos.
— Não está, você está sendo muito romântico.
Meu coração acelerou, romântico, tudo o que eu acreditei nunca ser
capaz.
Tentei sair um pouco e entrar novamente, testando a sua dor e
Melissa gemeu, dessa vez com mais prazer, continuei, calmo, delicado.
— Quero mais, Danilo — pediu, meu nome sendo pronunciado com
urgência.
Foda-se o senhor, nunca foi tão bom ouvir o meu nome da hora do
sexo como está sendo agora.
Meti mais forte, mais rápido e só me permiti gozar depois de
Melissa, que mais uma vez gritou o meu nome.
— Honey, agora você é só minha — falei, atingindo o ápice do
prazer também.

Melissa
Eu nunca imaginei que seria tão gostoso, tinha pavor da dor que
minhas colegas do colégio falaram que sentiram, mas Danilo deixou sua
natureza de lado para fazer amor comigo, porque foi isso o que fizemos,
não foi só sexo para mim e tinha a sensação de que com ele era o mesmo,
foi muito mais do que isso.
Ele foi atencioso o tempo todo, pensando no meu bem-estar acima
do dele, ajudou a me limpar quando finalizamos e, após notar que fiquei
assustada com o sangue no lençol, disse que era normal o sangramento após
a primeira vez, me acalmando.
Danilo estava me surpreendendo cada vez mais.
Ele era um homem acostumado com sexo brutal, cru, selvagem.
Eu era virgem, não aguentaria tudo isso de primeira.
— O que está pensando? — ele questionou.
Eu estava deitada nos seus braços, contornando com o dedo a
tatuagem escrito Gael bem em cima do seu coração.
— No quanto estou ansiosa para experimentar o seu jeito de fazer
sexo. — Fui sincera.
— Tá me querendo de novo, menina? — perguntou em tom jocoso.
Fazia poucos minutos que estávamos aqui, tentando nos recuperar.
— Eu sempre te quero — respondi e senti meu rosto esquentar.
Danilo mordeu a minha bochecha, bem em cima de onde eu corei.
— Eu sei bem como é, mas hoje não, senão amanhã estará dolorida
demais.
Fiz um bico, preocupada, o amanhã era o que eu mais temia, ele
poderia simplesmente voltar a me ignorar.
— Não faz essa carinha, linda, juro que teremos mais oportunidades.
Agora você precisa dormir, nós dois precisamos.
Assenti, ameaçando me levantar, mas seus braços me mantiveram
fixa no lugar.
— Onde pensa que vai? — questionou, encaixando o rosto no meu
pescoço e inalando o meu cheiro.
— Para o meu quarto — sussurrei.
— Não quer ficar aqui?
Com certeza eu queria, mas tinha o Gael e eu não queria confundi-
lo.
— Não quero que o Gael me veja saindo daqui de manhã, isso pode
confundir a cabecinha dele — falei e Danilo levantou a cabeça procurando
o meu olhar.
Achei que ele ficaria carrancudo, mas ele sorriu.
— Tem razão, fico feliz que pensa nele antes de nós dois.
Acariciei a barba dele.
— Gael conquistou meu coração, independente do que aconteça
entre nós dois de agora em diante, eu nunca farei nada de propósito para
machucá-lo.
Danilo beijou meus lábios com ternura antes que eu deixasse o seu
quarto.
CAPÍTULO 13

Melissa
Eu já tinha conhecido quase toda a família Gomes Ribeiro desde que
comecei a trabalhar como babá do Gael, mas faltava um deles, a Rosane,
não nos conhecemos antes porque ela estava viajando para a Índia,
fotografando a trabalho.
Ruth e o seu marido, Ruan, foram um amor quando me conheceram,
assim como o filho mais velho, Rômulo, já Daniel nem se fala, ele me
tratou muito bem desde o primeiro instante.
Eles eram uma família pequena, mas muito unida. Conhecê-los só
fez a saudade que sinto da minha mãe aumentar.
— O que foi? Você parece nervosa — Danilo tocou meu rosto ao
perguntar, fazendo um carinho gostoso.
Desde a noite anterior, quando tivemos a nossa primeira vez juntos,
ao contrário do que imaginei, não fui ignorada, todos os momentos que eu o
olhava, Danilo estava com os olhos em mim e sempre deixava aquele quase
sorriso dele surgir. E sempre que uma oportunidade de ficarmos a sós
surgia, ele me tocava e me beijava.
Era um sonho, eu só precisava me lembrar de manter os pés no chão
para não me esborrachar com tudo assim que a realidade voltasse a bater na
minha porta. Já que tudo isso estava influenciando para eu piorar ainda mais
a minha situação, já estava atraída por ele antes da nossa primeira vez
juntos, mas agora, eu temia me apaixonar.
— Rosane é uma pessoa ruim? — perguntei, fugindo dos meus
receios.
— Claro que não, ela é o oposto disso — garantiu e eu fiquei mais
aliviada. — Por que a pergunta?
— Eu não quero ser uma intrusa no jantar de vocês, ela acabou de
voltar de viagem — confessei a minha insegurança, olhando no mais fundo
dos olhos dele.
— Você não precisa se preocupar com isso, honey, eu te garanto. —
Ele beijou meus lábios com carinho.
Honey, eu adorava quando ele me chamava assim, na primeira vez
estávamos juntos no clube, eu estava tão embriagada de prazer com suas
carícias nos meus seios que nem me importei tanto, eu só queria que ele
continuasse com os lábios em mim, causando aquele frisson gostoso
demais.
Ultimamente essa era a forma que ele estava se acostumando a me
chamar e todas as vezes que o apelido saia em um inglês fluente dos lábios
dele, sentia meu corpo inteiro se arrepiar.
Nós nos afastamos ao ouvirmos os passos do Gael ao descer os
degraus da escada porque era melhor mantermos tudo entre nós em segredo,
não queria criar expectativas demais na cabecinha de Gael e depois feri-lo.
— Peguei, vamos? — perguntou sorridente, erguendo o casaquinho
de frio que pedi para pegar caso esfriasse na volta.
Enlacei seus ombros e caminhamos para o carro na frente, deixando
Danilo para trás.
Abri a porta e Gael e eu entramos juntos.
— Sabia que é a primeira vez que uma das minhas babás vai a um
jantar na tia Ruth? — ele perguntou quando Danilo se sentou do outro lado,
deixando o nosso menino entre nós.
— É mesmo, por quê? — questionei, mas meus olhos estavam no
pai dele.
— Pois é, por que, papai? — Gael questionou em um tom diferente,
humorado e um pouco perspicaz.
— Porque você não gostava de nenhuma das outras para levá-las —
Danilo falou, dando de ombros, os olhos dele entregando mais do que as
palavras.
Será que era por causa do que estava acontecendo entre nós?
— E a tia Ruth convidou a Melissa — garantiu, mas acredito que ele
tenha dito isso para me aliviar da tensão de ser uma intrusa em um jantar de
família.
Gael, por incrível que pareça, não fez mais perguntas durante todo o
caminho, ele encostou a cabecinha no ombro do pai e ficou olhando para a
rua pensativo.
Eu estava tensa, não consegui relaxar nem quando Danilo esticou o
braço e ficou acariciando o meu ombro desnudo por causa da minha regata.
A casa dos tios dele era linda, não tão grande quanto a do Danilo, mas ainda
assim luxuosa e repleta de flores. Em todo cantinho que você olhava, havia
uma, principalmente orquídeas.
— Que bom que chegaram, Rosane ainda está no banho, vamos
entrar. — Ruth nos recebeu na porta principal com um imenso sorriso.
Entrei com os olhos baixos, envergonhada, e a primeira coisa que
ouvi foi a voz de Daniel de forma provocativa.
— Você trouxe a Melissa? O jantar acabou de ficar mais
interessante.
Ouvi um riso rouco e levantei a cabeça, vendo Rômulo sentado na
poltrona próxima ao aparador de bebidas, Daniel estava em pé, com um
copo cheio de uísque na mão.
— Nem começa... — Danilo iria reclamar, mas calou-se assim que o
cachorro da Ruth entrou na sala de estar e começou a pular nas perninhas de
Gael.
O menino era apaixonado pelo cão, vivia me falando que queria
muito um e o pai não o deixava ter, nesse momento, tudo fez mais sentido,
Danilo parecia detestar, mas analisando bem a expressão dele, parecia que
algo mais profundo habitava o seu olhar.
Não tive tempo de pensar demais sobre isso, já que Rosane desceu
as escadas correndo e agarrou Gael.
— Saudades que eu senti do meu bebê — falou, cheirando o
pescocinho dele.
— Não sou bebê, tia, sou um menino grande. — Ele tentou, mas seu
sorriso denunciava o quanto adorava ser paparicado por ela.
— Sei, só me abraça bem apertado porque eu senti muita falta do
seu cheirinho — a loira mandou.
Ele obedeceu, agarrando o pescoço dela.
— Trouxe presente para mim? — Gael perguntou com interesse.
— Alguma vez já deixei de trazer? Hum? Está lá no meu quarto,
vamos pegar depois do jantar e só se você comer os brócolis.
Ele olhou para mim, dessa vez sem o biquinho de nojo que fazia
antes.
— Eu como agora, Mel me explicou por que é importante comer
brócolis, mesmo eu os detestando.
Sorri orgulhosa dele e de mim por ter conseguido esse feito sem
grandes artimanhas.
Os olhos claros de Rosane subiram para os meus, analisando-me
como uma mãe faria com a babá de um filho, instantaneamente o sorriso
dela surgiu no rosto limpo de maquiagens.
Ela era muito mais linda do que nas fotos, as diversas fotografias
espalhadas pela imensa casa não faziam jus a mulher na minha frente.
— Como você fez isso? Tentamos fazer ele comer brócolis desde
sempre e nunca, nunca conseguimos.
Sorri também, piscando para Gael.
— É o nosso segredo, né meu menino brilhante? — A minha
personagem, Ayane, me ajudou muito nessa, lendo o capítulo após o
primeiro jantar que ele não quis os brócolis, eu improvisei, ressaltando o
quanto era bom e que a mocinha heroína era forte por causa dos vegetais,
Gael questionou muito essa parte, batendo o pezinho que poderia ser forte
sem comer, mas acabei convencendo-o, desde então ele come.
— Já gostei dela — Rosane comentou quando abraçou Danilo,
depois saiu abraçando a todos, inclusive a mim.
Ela estava usando um jeans simples e regatas, tão trivial quanto eu.
— O jantar está servido, crianças — Ruth comentou alto, de onde
acredito ser a sala de jantar.
— Ainda bem. — Rômulo foi o primeiro a se levantar.
— Por que a pressa? — Danilo questionou, provocativo, parecia
saber mais do que todos os presentes.
— Tenho um compromisso hoje. — Deu de ombros, mas ostentava
um sorriso grande.
— Tem um encontro? Quem é a sortuda? — Rosane perguntou,
animada, empoleirando no ombro do irmão caminhando com ele.
Não fui capaz de ouvir a resposta, já que fui com Gael lavar as
mãos.
Eu tinha conseguido me acalmar e apreciava o salmão ao molho de
maracujá que Ruth mesma fez, ela comentou que era um dos preferidos de
Rosane, estava uma delícia, mas quase engasguei quando Daniel me fez
uma pergunta:
— Você gostaria de conhecer o nosso clube, Melissa? — Os olhos
dele fixos nos meus, aparentando estar muito interessado na minha resposta.
Molhei meu lábio inferior antes de respondê-lo.
Gael estava sentado ao meu lado, parecia alheio a conversa, mas eu
sabia que isso era só fingimento, ele estava prestando mais do que atenção.
— Eu já estive lá — falei, cautelosa, olhei em seguida para Danilo e
ele já estava me encarando.
Lembranças daquele dia voltaram com tudo, me deixando corada.
— Faz todo o sentido agora — Daniel comentou, um sorrisinho
sabichão embelezando ainda mais o seu rosto.
Merda! Acho que a parte do segredo acabou de ser quase revelada.
— O que faz sentido, tio? — Gael se intrometeu.
— A...
— Nem ouse — Danilo cortou o irmão, o tom de voz ameaçador.
— Não diria nada demais ao menino, mas um dia ele terá que
conhecer o clube — defendeu-se.
— Não hoje, ele ainda tem oito anos.
— Vou fazer nove no mês que vem — Gael disse, animado, o
peitinho ereto e estufado em orgulho.
— Danilo tem razão, Dan, ainda é cedo para isso — Ruth se meteu
entre os dois, apaziguando a situação como a boa mãe/tia que era.
Daniel encerrou o assunto por ora, mas ainda estava com aquela
expressão de que nos pegou no pulo, Rômulo e Rosane também começaram
a nos analisar com mais atenção. Quando voltamos para casa, coloquei Gael
na cama sem ler do meu caderno porque Danilo estava nos observando e ele
ainda não sabia esse detalhe.
— Eu acho que deixei muito evidente o que rolou entre nós no
clube, todos pareceram perceber — comentei, ao fechar a porta do quarto
do pequeno.
— Gael não percebeu, isso é o que importa. — Ele enlaçou a minha
cintura, impedindo-me de ir para o meu quarto.
— O que está fazendo?
— O que eu queria desde o segundo que acordei hoje de manhã, vou
beijar você e te levar para a minha cama — falou, colando seu corpo no
meu, pressionando a ereção no meu baixo ventre.
A sensação gostosa me arrepiou, antecipando ainda mais o meu
prazer.
No quarto, percebi que mais uma vez ele estava se segurando, por
isso propus:
— Por que você não me mostra do que gosta? — Eu queria que ele
confiasse em mim a esse ponto.
Sou uma leitora voraz, leio de tudo um pouco, e por isso, imaginei
que Danilo era um dominador, ainda mais quando ele disse sobre mandar e
eu ter de obedecer.
— Ainda não é o momento — respondeu, voltando a deslizar o dedo
pela minha perna nua.
— Sei do que você gosta, Danilo, ou acredito que sei, só quero que
me confirme.
— O que você acha que sabe? — questionou, concentrado, dessa
vez afastando as mãos de mim.
Sentei-me em cima dos meus tornozelos, nua, olhando-o.
— Quando disse que gostava de mandar e que obedecessem, eu
percebi que era sobre dominação.
Surpresa atingiu o rosto dele.
— E como, uma menina que até ontem era virgem, percebeu isso de
primeira?
— Eu sou curiosa e leio bastante. — Dei de ombros, sentindo o meu
rosto esquentar.
Ele negou com a cabeça, mas o sorriso típico cruel dele estava no
seu rosto bonito.
— Você sempre me surpreendendo, quer mesmo conhecer o meu
mundo, Melissa?
Queria ser parte dele, mas apenas me limitei a assentir.
— Então venha comigo, vou te permitir escolher o que usar em
você. — Estendeu a mão ao falar, analisando meu rosto com ansiedade.
Entrelacei meus dedos nos dele e o segui até o closet, eu nua, ele
usando apenas a cueca boxer preta.
Danilo abriu o closet e em uma das divisórios, colocou sua digital
para um reconhecimento biométrico e ela abriu com o acesso liberado.
— Escolha. — Indicou com a mão.
Soltei nossos dedos e me aproximei, olhando com atenção tudo o
que tinha lá dentro.
Peguei um apetrecho pequeno, cromado de tão brilhante, que tinha
duas pontas, uma com uma joia estilo diamante e na outra ponta um
formato oval, meio comprido, havia vários modelos e formas dessa mesma
coisa.
— Isso é para quê? — questionei, estava realmente curiosa e a
melhor forma de aprender era com ele.
— É um plug anal, não usaremos em você hoje — disse de forma
direta.
— Por que não? — Eu o olhei nos olhos.
— Você quer? — questionou, os olhos negros de desejo.
Assenti confirmando, eu queria experimentar tudo com ele.
Danilo molhou os lábios antes de se aproximar de mim.
— Você não tem ideia do quanto me agrada saber que você quer, eu
também quero e muito, mas não hoje, você ainda tem muito o que aprender
antes de tentarmos o anal, Melissa.
Ele tinha razão, por isso deixei o plug de lado e voltei a analisar o
restante das coisas.
— Tenha em mente que é a sua primeira vez e você precisa começar
com algo que não te assuste tanto — alertou.
— Eu não estou assustada. — Não estava mesmo, estava excitada e
com muita, muita expectativa.
Peguei na mão uma das algemas e uma venda negra com detalhes
rendados.
— Você já usou essas coisas em alguém antes? — questionei sem
pensar.
Quase me enfiei no closet depois disso.
— Não, essas são exclusivas aqui de casa, comprei faz pouco tempo
e nunca trouxe ninguém aqui, você é a primeira.
— Então por que as tem aqui?
— Você está muito curiosa hoje — respondeu, pegando os que
escolhi das minhas mãos.
Voltamos para o quarto e eu ainda não tinha uma resposta, mas
Danilo soube me distrair bem, suas carícias pareciam ser nos lugares certos,
ele sabia ler o meu corpo melhor do que eu mesma. Minhas mãos foram
presas na cabeceira da cama, os olhos dele fixos nos meus enquanto fazia
isso.
— Amo o tom azul dos seus olhos quando você está com tesão, eles
ficam quase marinhos.
Molhei os lábios, ansiosa, perdendo completamente o dom de falar
depois de uma declaração dessa.
— Preciso que você escolha uma palavra caso queira que eu pare.
— Não quero que pare. — Forcei a voz a sair.
Tudo o que queria era que ele continuasse com seus toques.
Ele sorriu de lado, daquele jeito dele de sorrir.
— Mas tem que escolher mesmo assim, minha linda, mesmo que
hoje seja tranquilo, quero ter a certeza de que você poderá nos parar quando
bem entender.
— Tudo bem, azul — escolhi sem pensar demais nisso, estava
ansiosa.
— Azul? — questionou.
— Sim, referente ao que disse dos meus olhos.
Ele se aproximou, sem tocar meu corpo, só o bastante para capturar
meu lábio inferior nos dentes e o morder.
— Boa escolha. Agora quero que fique em silêncio, não tem
permissão para falar nada além da palavra de segurança, apenas quero que
você sinta e que gema — mandou, e eu instintivamente fechei as pernas
tentando encontrar prazer naquela fricção.
Assenti.
— Boa menina, agora vou colocar a venda nos seus olhos.
O tecido frio cobriu completamente a minha visão, deixando-me
ainda mais desesperada por seus toques e carícias.
Pela audição, notei que ele se afastou alguns passos.
— Porra, honey, a visão que estou tendo de você agora é de tirar o
juízo de qualquer homem. Abra as pernas para mim.
Sorri, obedecendo.
— Abra mais, o máximo que conseguir.
Mais uma vez obedeci, ansiando pelo contado do seu corpo com o
meu.
Danilo começou distribuindo beijos pela minha perna, subindo cada
vez mais, quando chegou na coxa, eu arquejei desejosa.
Bem em cima da minha intimidade, que clamava por atenção, ele
apenas respirou, o ar quente acariciou o fogo que eu sentia ali, me deixando
de pernas bambas. Ele continuou subindo, distribuindo beijos e mordidas,
brincou com meus seios, chupou meu pescoço, roubou-me um beijo com
direito a chupada na língua e mordidas nos lábios.
Mais uma vez, voltei a tentar sanar o meu desejo, dessa vez o
enlaçando com as pernas e tentando subir o corpo para friccionar a minha
vulva na sua ereção.
Danilo riu rouco no meu ouvido.
— Calma, temos muito tempo ainda.
Queria reclamar, mas o infeliz me proibiu de falar e eu sabia que
isso era um teste para ver se eu era uma boa submissa. Ele continuou com a
tortura, por um bom tempo, saboreando cada parte do meu corpo que ele
desejava, quando finalmente a sua boca acariciou os meus lábios vaginais,
eu soltei um gemido alto, todas as estruturas do meu corpo ameaçando
desmoronar de prazer.
Com a visão e o toque das mãos limitados, todo o resto ficou
aguçado, intensificando ainda mais a sensação deliciosa do oral que ele
estava fazendo com maestria.
— Oh Deus, que delícia! — falei, perdida na sensação gostosa,
quase gozando.
Danilo parou no mesmo instante, frustrando-me.
— Proibida de falar — alertou.
— Desculpe, senhor — ressaltei o modo como imaginei que ele
gostaria que eu o tratasse.
Daria tudo para vê-lo nesse momento.
Danilo não respondeu, pelo contrário, ele me virou de bruços na
cama, sem machucar meus braços presos e desferiu um tapa estalado no
meu bumbum.
— Ai! — falei e veio outro, dessa vez segurei a voz.
A mão grande dele acariciou o lugar, que não ardia muito, isso só
serviu para me deixar ainda mais louca por ele. A língua quente deslizou da
minha fenda molhada até a minha entrada traseira, onde ele estimulou com
a língua. Sem vergonha nenhuma, eu me empinei, dando ainda mais acesso,
dessa vez, ele me deixou gozar, meus gemidos sendo abafados pelo
travesseiro.
Danilo me penetrou assim, de bruços, entrou devagar até que eu me
acostumasse com a sua invasão, depois começou a arremeter forte o
bastante para a cabeceira bater na parede e eu querer mais. Se o sexo com
ele era tranquilo assim, eu precisava e queria muito saber como era ainda
mais intenso.
Gozamos juntos, dessa vez senti o líquido viscoso escorrer pela
minha perna.
Com o lenço umedecido, ele me limpou, estava estranhamente
quieto.
— O que aconteceu? — questionei, confusa.
Tinha sido tão maravilhoso, por que ele parecia tão incomodado?
— Você toma anticoncepcional? — questionou. — Sei que deveria
ter perguntado antes de gozar dentro de você, mas mais uma vez perdi o
controle, acontece sempre que estou com você.
Acariciei os seus cabelos.
— Eu tomo desde os dezesseis quando veio a minha primeira
menstruação, pode ficar tranquilo.
— Eu estou limpo, Melissa, faço exames com frequência por causa
do clube.
— Como você já deve saber, eu também estou. — Sorri, tive que
fazer os exames iniciais como todo o emprego exige.
— Não ficou chateada comigo?
Neguei com a cabeça.
— Você não é o único aqui que perde o controle — confessei.
CAPÍTULO 14

Danilo
Eu estava louco para levar a Melissa ao Pleasure Club, queria que
ela conhecesse a seção de BDSM, que começasse a considerar ser minha
submissa fixa não só no meu quarto, mas também no clube, só que nos dias
que se seguiram, eu optei por não arriscar, meu irmão a veria e aquele seria
o fim do nosso segredo. Ainda mais depois do jantar em que todos
pareceram desconfiar.
Daniel percebeu que eu já não passava mais as noites no clube e
começou a perguntar o motivo, alegar cansaço não estava mais dando certo.
O real motivo era que o meu interesse estava todas as noites em
casa, em um corpo pequeno e delicado, que parecia se moldar ao meu com
perfeição, coisa que nunca aconteceu antes. Ela estava se tornando mais do
que eu gostaria de confessar, ela não só alegrava os dias de Gael, como
também aquecia mais do que apenas a minha cama. Ela dava vida a um
local que eu nunca percebi que sentia falta de uma presença feminina.
Melissa ao mesmo tempo que possuía aquela inocência cativante,
era curiosa, pedia por novidades todas as noites que ficávamos juntos.
Nosso sexo passou do suave ao mais intenso desde a segunda vez que
fizemos, ela queria que eu mostrasse tudo, mas eu estava fazendo aos
poucos, com os apetrechos que tinha em casa e que foram comprados
pensando exclusivamente nela.
Eles estavam no meu closet desde a manhã que ela começou a
trabalhar para mim, era como um aviso de que não adiantava adiar o
inevitável. Essa pequena feiticeira sabia me deixar surpreso, quando ela
pegou o plug anal na mão, os olhos azuis tão curiosos e ao mesmo tempo
confiantes, foi a porra do sacrifício mais difícil que já fiz, queria tanto, mas
era cedo demais.
De manhã, no meu escritório no clube, concentrado no meu
notebook, ao invés de estar trabalhando, eu escolhia uma coleira
personalizada, fantasiando com ela usando para mim. Melissa impregnou
nos meus pensamentos de uma maneira insana, ela conseguia tirar o meu
foco mesmo estando longe. Foi nesse momento que Rômulo invadiu meu
escritório sem bater.
— A que devo a honra dessa visita? — questionei, mas eu já sabia a
razão de ele estar ali.
Era a Juliana. Soube que não se encontraram nos últimos dias e,
possivelmente, ele iria querer descobrir a identidade dela, já tinha deixado
uma pasta com os dados dela prontos para ele, mas queria vê-lo sofrer um
pouco.
— Não finja, quero saber quem ela é. — Cruzou os braços, irritado.
Fechei a página antes de concluir a compra da coleira para a Mel e o
encarei.
— Rosane passou pela sua casa ontem, eu presumo — pontuei, já
que ele estava com várias trancinhas nos cabelos longos, coisa que minha
prima adorava fazer e ele detestava.
— Vai me contar quem é ela? — teimou, ignorando o que acabei de
falar.
Daniel entrou nesse momento, sem bater também, estava virando
palhaçada isso.
— Ela quem? — questionou, bastante interessado no assunto.
— Isso que eu estou tentando descobrir — Rômulo reclamou.
— Se apaixonou por ela nessas poucas semanas? É compreensível,
ela é encantadora, diferente da Mirela que é desprezível — citei a ex dele de
propósito, para ele finalmente perceber a diferença entre Juliana e a modelo
insignificante que só estava com ele por puro interesse.
— Então sabe de quem estou falando — rosnou, denotando o ciúme.
Deixei um sorriso de lado escapar, ele estava de quatro por ela.
— Meu Deus, é mais sério do que imaginei! — Daniel se jogou no
sofá do meu escritório, assistindo a nossa conversa com satisfação.
Ele sabia que Rômulo estava de rolo com uma mulher misteriosa,
mas nunca se esforçou para descobrir quem era.
— Claro que eu sei quem ela é, mas abaixa a bola porque não
tivemos nada, saí da jogada no segundo que soube que estavam se
encontrando nos quartos escuros há dias e com exclusividade — esclareci
antes que ele viesse para cima de mim, já que me olhava com pura raiva. —
Só não imaginei que se apaixonaria cara, não a ponto de pedir para que eu
quebre um dos contratos do clube.
— Você não pode me julgar, não quando está tão ou mais atraído
pela babá do Gael — falou, direto.
Claramente revelamos mais do que gostaríamos naquele jantar.
— Não estou atraído por ela — menti rápido demais.
Os dois infelizes, que tinham o meu sangue nas veias, começaram a
rir da minha cara.
— Eu só gosto de como ela faz o meu filho feliz, eu não o via
sorrindo tanto faz muito tempo — tentei acrescentar parte da verdade, mas
foi ainda pior.
— Se é nisso que quer acreditar. — Rômulo deu de ombros.
— Essa é a verdade, a menina é uma criança ainda — disse com
firmeza, tentando sair logo desse assunto.
Melissa podia ser tudo, mas criança ela não era. Daniel levantou-se
e caminhou para mais perto de nós, falando petulante:
— Criança? Só se for para você, estou tentado a pegá-la como
minha submissa — implicou.
Antes que eu pudesse evitar, já tinha grunhido com ódio.
— Não ouse! — rosnei.
— Só não fiz ainda porque você a protege como se fosse um
cãozinho abandonado.
Eu me levantei e caminhei para perto dele, encarando-o nos olhos.
— Você não vai tocar nela — rugi e Daniel apenas sorriu.
— E ainda diz que não está atraído pela garota — zombou da minha
cara.
— Não é atração, só estou protegendo-a. Melissa é inocente demais
para esse nosso mundo. — Estar com ela em segredo estava se tornando
cada vez mais difícil.
— Vai me dizer que não está louco para pegá-la como sua
submissa? A menina te olha como se o mundo dela estivesse prestes a
desmoronar e você fosse o seu salvador. — Suspirei, passando a mão no
rosto, irritado com esse assunto.
Precisaríamos ser mais discretos ainda, só que a tarde que planejei
na praia com os dois não colaborava com a discrição que precisávamos.
— De qualquer forma, quero a identidade da minha garota. Vai me
dar ou não? — Rômulo mudou de assunto para o meu alívio.
Sorri cruelmente, imaginando o que pediria em troca.
— Não tão fácil assim, não vou quebrar um contrato em troca de
nada.
— O que quer? — perguntou, bufando.
— Vai ficar me devendo uma — afirmei, no momento não estava
precisando de nada, mas Rômulo era influente e esse favor poderia ser útil
alguma hora.
— Eu aceito — ele disse com rapidez.
Peguei o dossiê na gaveta, estendendo para ele. Rômulo leu cada
informação com atenção e quando pegou a foto da Juliana na mão, vendo-a
fisicamente pela primeira vez, sorriu.
Ele tá ferrado, sabia disso e ainda assim sorria como um homem
apaixonado.
Melissa
Estava com Gael no jardim, olhando o ninho dos passarinhos que
evitei que ele derrubasse assim que nos conhecemos. Ele tinha acabado de
voltar da aula, estávamos apenas esperando Danilo finalizar algumas
pendências do clube para passarmos o dia na praia.
Os ovinhos dos passarinhos já tinham sido chocados e os pequenos
pardais estavam ganhando penas e peso. Todos os dias analisávamos o
desenvolvimento deles, e quando os ovinhos começaram a rachar, até
Danilo veio ver após Gael o chamar de tão empolgado que estava.
— Abelhinha, será que eu posso ficar com eles para mim? —
perguntou, olhando encantado para os passarinhos.
Pensei em como responder de uma forma simples que não o
magoasse.
— Você os deixaria onde? — questionei de volta, porque imaginava
a resposta.
— Em uma gaiola, talvez — ponderou, os dedinhos no queixo
pensando.
— Seria muito triste deixá-los presos, ainda mais quando nasceram
para voar, você não acha?
Ele analisou a questão, demorou muitos segundos para responder e
assim que o fez me surpreendeu.
— Tem razão, eu não iria gostar de viver em uma gaiola.
Sorri para ele, acariciando os seus cabelos.
— Por isso vamos deixá-los crescer para ficarem grandes e
aprenderem a voar, vai ser mais divertido do que os deixar presos para
apenas olharmos.
Ele assentiu, animado.
— Agora vamos entrar, daqui a pouco o seu pai chega para irmos —
alertei e saltitando ele voltou para a mansão, muito animado.
Gael era apaixonado por água, vivia na piscina, contou que adorava
a praia e que não ia há um tempo, mesmo sendo apenas meia hora de carro
de distância.
Meu celular ainda era o que Eve me emprestou, Danilo teimou em
me dar um novo, alegando que era benefício de ser funcionária da casa, mas
bati o pé até ele desistir e eu tampouco quis gastar meu salário em um novo,
precisava economizar para uma eventual emergência.
Peguei o aparelho com a tela trincada e mandei uma mensagem para
Evelyn, sempre nos falávamos, mas eu sentia falta de vê-la, a última vez
que estive lá foi quando a vi com Dante, desde então, ela nunca mais
mencionou o homem, era como se fugisse do assunto.
“Obrigada mais uma vez pelos biquinis”, escrevi, ela tinha me
mandado quatro novos de presentes, dentre eles o azul marinho que eu optei
por vestir hoje, era o mais discreto.
Evelyn e discrição eram duas coisas distintas, ela amava mostrar o
corpo enquanto eu era o oposto.
“Acredite, você não fica nada bem naquele maiô preto ridículo que
comprou”, a resposta chegou sincera e com risos.
Eu tinha comprado apenas essa peça para ficar na piscina com Gael,
era discreta, barata e muito útil, mas quando Eve viu a foto, ela contou o
que ninguém tinha dito, o maiô era horrível.
“Ele é ótimo para quem está trabalhando, eu não gosto de me
expor”, fui sincera.
“Sim, mas hoje vai estar na praia, prima, não no trabalho.
Aproveite seu dia, eu preciso dormir um pouco antes do turno”
“Bom descanso”.
Bloqueie a tela e fui auxiliar Gael com a mochila.
Colocamos toalhas, protetor solar, um par reserva de roupas, sunga.
— Estamos esquecendo algo? — questionei, analisando ao redor.
Ele fez o mesmo, um biquinho atento no seu rostinho bonito.
— Óculos de sol — falamos juntos quando vimos o dele em cima do
aparador que ficava o abajur.
Gael os pegou animado.
Antes de descer, passei no meu quarto e peguei a minha mochila,
não ia para a praia há anos, a última vez foi antes de minha mãe resolver se
casar outra vez.
Meu celular tocou assim que pisei no último degrau da escada.
— Oi — atendi com um sorriso nascendo naturalmente no meu
rosto.
Danilo sempre tirava o melhor de mim.
— Oi, honey, estão prontos? Estou saindo do clube agora —
perguntou e eu conseguia ouvir ao fundo uma música alta.
— Sim, quer que eu pegue as suas coisas? — questionei, tentando
não focar na curiosidade que estava crescendo em mim nesses dias.
Eu queria conhecer o clube como uma submissa dele o faz, queria
ver como era, queria tentar, mas como Danilo nunca sugeriu me levar até lá,
eu optei por deixar as coisas como estavam.
— Já estão no meu carro, em poucos minutos estou aí. — Finalizou
a ligação.
Gael e eu fomos para a cozinha falar com Rosa, que fez sanduiches
para levarmos.
— Não precisava, poderíamos comer por lá — falei, pegando a
cesta.
— De jeito nenhum, vão levar e se deliciar com meus lanchinhos
naturais — reclamou.
— Ela acha que a gente não vai chupar nem picolé? — Gael
perguntou, animado, quando deixamos a cozinha.
— Acredito que sim, mas será nosso segredo, só precisamos voltar
com esse cesto vazio e ela ficará feliz — brinquei.
— Eu estou ouvindo vocês dois — Rosa gritou da cozinha, nos
fazendo gargalhar.
Nesse momento, Danilo entrou, já estava vestido com roupas leves
para o dia que teríamos. O brilho nos olhos dele ao ver que nos divertíamos
era de pura aprovação.
Ele analisou meu corpo dos pés à cabeça, nem um pouco sutil para
quem tentava manter em segredo a relação.
Optei por um shorts de lavagem clara que comprei recentemente e
uma regata preta, chinelos de dedos e muito protetor no rosto limpo de
maquiagens.
— Estão prontos? — questionou ao pegar das minhas mãos a cesta
com os sanduiches.
— Simmmm — nosso menino respondeu, animado.
— Então vamos, o dia está ótimo.
No caminho, Gael encostou a cabecinha no meu braço e aproveitei
para acariciá-lo.
Ele conquistou meu coração por inteiro.
Assim que vi o mar começando a desapontar em sua magnifica
beleza, meus lábios se abriram. Era uma praia tão linda, a areia clarinha e a
água parecia tão cristalina. Havia bastante movimento, mas para uma tarde
agradável como essa era normal. Após estender as toalhas, novamente lotei
protetor por todo o corpo de Gael, ele era muito branquinho e um descuido
seria péssimo.
— Por que não o traz com frequência? — perguntei, quando Danilo
e eu ficamos sozinhos, Gael já tinha corrido para o mar.
— Não tenho muito tempo, sei que isso é péssimo, mas é a verdade.
— Deu de ombros.
— Não é tão péssimo assim, só precisa colocar como uma das
atividades de fim de semana, Gael ama esse lugar.
— Ama mesmo. — Um pequeno sorriso de lado nasceu no rosto
dele.
Danilo estava um espetáculo, tinha tirado a camisa branca quando
chegamos e usava apenas a bermuda e óculos de sol, um cotovelo apoiado
no chão, um pouco deitado, olhando Gael de longe.
— Quer que eu passe protetor em você? — ele perguntou quando
peguei o produto fechado nas mãos.
Olhei para onde Gael estava, chutando as ondas que vinham na sua
direção.
— Sim — respondi baixinho.
Ele pegou a embalagem da minha mão e esperou eu me levantar
para me despir, o shorts foi a primeira peça que tirei e consegui ouvir o
resmungo dele.
— Porra, achei que viria com aquele maiô preto — falou ao tomar
todo o cuidado me besuntando com o protetor, ele levantou as alcinhas e
passou por toda a pele.
— Não sabia que tinha notado meu maiô. — Virei de lado com um
sorriso.
— Notei, pode ter certeza de que sim, foi naquele dia da piscina que
eu percebi que estava perdido, fiquei duro te vendo vestida naquela coisa
nada sexy.
Joguei a cabeça para trás rindo.
— Às vezes você é tão sincero.
— Não posso mudar quem sou. — Sem conseguir evitar, ele se
aproximou de mim e beijou meu ombro.
Fechei os olhos respirando fundo, eu estava apaixonada por esse
homem. Foi a minha vez de passar protetor por ele todo e quando Danilo
ficou apenas de sunga, eu detestei alguns olhares que ele recebeu. Era um
espetáculo para os olhos e apenas uma tola não apreciaria a visão. A sunga
era vermelha, sim, nada discreta, o corpo definido e tatuado já chamava a
atenção demais, não precisava ser nesse tom.
Molhei os lábios ao acariciar a pele dele espalhando o produto. Era
algo íntimo demais.
— Quem é aquele com Gael? — questionei no segundo que vi meu
menino falando com um estranho.
Já estava me levantando para me aproximar deles, mas Danilo me
tranquilizou.
— É o Renan, pediatra dele.
Fiquei aliviada.
Renan era alto, cabelos castanhos claros desgrenhados, barba curta e
bem desenhada e tinha o corpo definido, era tudo o que eu conseguia notar
de longe. Quando ele e Gael começaram a se aproximar de nós, vi a cor dos
olhos do pediatra.
Caramba, eram de um azul turquesa que me deixaram boquiaberta,
nunca tinha visto aquele tom antes. Notei que seus olhos se fixaram em
mim e no Danilo, um sorriso bonito desabrochou no rosto do médico.
— Você novamente aqui, Gomes Ribeiro, e tão bem acompanhado
— falou em um tom jocoso, os olhos passando por mim toda. O biquini que
eu usava parecia não esconder nada diante do olhar dele.
— Milagres acontecem — Danilo respondeu com um tom não muito
amistoso.
Achei que eram amigos, Rosa comentou uma vez que eram.
— Prazer, eu sou Renan, você deve ser a babá que Gael acabou de
me contar — ofereceu a mão e eu aceitei o gesto, levantando o braço já que
estava sentada.
— Sim, me chamo Melissa — confirmei.
— Um nome muito lindo — comentou, galante.
Eu ruborizei.
— Não era para você ter consulta essa tarde? — Danilo questionou,
sentando-se com a postura mais tensa.
— Essa tarde é minha folga, sempre tento encaixar uma para
relembrar nossos velhos tempos aqui.
Nossos, então eles eram amigos.
— Ele contou que você adorava surfar, papai, por que parou? —
Gael questionou ao se sentar ao lado do Danilo.
— Foi na minha adolescência, filho, esse lugar era como uma
válvula de escape para mim e para o seu tio.
Válvula de escape de quê? Ou de quem?
Analisei o rosto dele, mas parecia que eu estava sendo evitada.
Renan não nos acompanhou por muito tempo, despediu-se com
aquele sorriso galante e ainda ousou dar um beijo no meu rosto.
— Nos vemos em breve, Melissa.
Provocando? Talvez, mas eu não tinha certeza.
— Por que o Renan ficou sorrindo para você, Abelhinha? — Gael
questionou de repente.
Arregalei os olhos, desde quando ele percebe essas coisas?
— Ficou? Não notei. — Sorri sem jeito, sentindo os olhos do Danilo
em mim.
— Ficou, sim, toda vez que se olhavam, ele sorria — acrescentou o
menino observador.
— Eu percebi isso também — Danilo falou dessa vez, seus olhos
fixos nos meus.
— Eu acho que ele gostou da Abelhinha, papai.
Tossi, tentando fugir desse assunto.
— Ele só estava sendo gentil — falei.
— Demais, pelo visto — Danilo reclamou.
Era a primeira vez que ele demonstrava ciúmes, mas não tive tempo
para pensar sobre isso, já que tínhamos uma linda tarde para apreciar e Gael
queria sorvete.
CAPÍTULO 15

Melissa
Quando busquei Gael no colégio hoje, ele carregava nas mãos um
lindo desenho que era um presente para Danilo.
— Será que podemos entregar agora? — perguntou, os olhinhos
fixos nos meus.
Estávamos com o motorista, voltando para casa. Haveria problema
ir ao clube com ele?
— Vou telefonar para o seu pai e perguntar se podemos ir — sugeri,
pegando o celular, mas os dedos de Gael pararam-me antes da ligação ser
feita.
— Eu queria fazer uma surpresa para ele — disse com os olhinhos
brilhantes.
Meu coração se encheu de alegria.
No desenho, Gael fez questão de retratar Danilo em uma prancha de
surfe, fazendo o que o ajudava a fugir da realidade na adolescência,
surfando com um bonito sorriso no rosto.
— Você tem talento com desenhos — elogiei.
Era a verdade, os traços eram perfeitos, muito acima da média para
a idade dele.
— É né? Eu posso ser tatuador quando crescer, assim posso fazer as
tatuagens do meu pai, do meu tio e as minhas — falou, pensativo.
— Não quer mais ser um guitarrista famoso? — questionei, ele
queria ser isso da última vez que falamos do futuro.
— Um tatuador e guitarrista famoso, acho que consigo ser os dois
— disse bem sério, como se tivesse mesmo essa vontade.
— Claro que consegue, você consegue ser o que quiser —
incentivei.
Eu estava tentando mudar de assunto, não queria levar o menino ao
clube sem a permissão do pai dele, mas Gael era muito inteligente e mais
uma vez voltou a questionar:
— Vamos então ao clube?
Mandei uma mensagem para a assistente pessoal do Danilo,
perguntando, Ana disse que não teria problemas, ele adorava receber Gael
lá e como o acesso era limitado, estava tudo bem.
— Vamos — confirmei, animada.
O pequeno abaixou o vidro que nos separava do motorista e pediu
para ele nos deixar no clube.
Passamos pela entrada principal do Pleasure e vi Dante, acenei para
ele com um sorriso e recebi um manejo de cabeça em resposta.
Oh homem sério! Será que nunca sorri?
Na recepção, enquanto eu olhava tudo com atenção, já que era a
primeira vez que eu entrava ali de dia, uma calmaria em controversa com o
turbilhão noturno, descuidei de Gael por um instante e o sapeca fugiu de
mim, só fui capaz de o ver entrar correndo no elevador liberado para o
acesso de sabe se lá que andar.
— Meu jesus amado, Gael vai me matar, ou fazer eu perder o
emprego — falei, correndo, assustada atrás dele, mas o elevador se fechou
antes de alcançá-lo.
Droga!
Peguei o telefone com as mãos trêmulas, olhei o visor do elevador,
segundo, terceiro, quarto, ele parou no quarto andar.
Liguei para Danilo, era uma das únicas pessoas que eu tinha certeza
que estava no clube e que podia controlar a situação.
— Mel, está tudo bem com o Gael? — questionou, preocupado
assim que atendeu.
Respirei fundo.
— Sim, ele estava bem, mas resolvemos vir ao clube te fazer uma
surpresa e ele fugiu de mim, entrou em um elevador que estava liberado
para o quarto andar — contei, preocupada.
Sabia o quanto Danilo evitava que uma coisa dessas acontecesse, e
logo eu fui cometer esse deslize.
— Fugiu de você? Como deixou isso acontecer? — A voz estava
estranhamente baixa.
— Foi um deslize. Coisa de poucos instantes — defendi-me.
Ouvi a respiração alterada dele.
— Quarto andar você disse? Já bloqueei os elevadores, ele vai ficar
preso lá, estou descendo pelo meu privado e você sobe pelo segundo, é o
único que vou deixar livre — ordenou.
— Tudo bem... — Ele desligou antes que eu pudesse dizer qualquer
outra coisa.
Danilo obviamente estava muito bravo e com razão.
Estou lascada.
Subi, meus dedos gélidos de nervoso.
Quando vi Gael, sentadinho no balcão com um copo de água na
mão, o analisei séria.
— Você quer que seu pai me demita? Por que fugiu? — perguntei.
Ele me olhou, culpado.
— Eu só queria ver o que tanto me escondem. — Deu de ombros.
Evelyn estava atrás do balcão, eu não sabia que ela estaria aqui
nesse horário.
— Tivemos um problema com o fornecedor de algumas bebidas, por
isso fiquei até tão tarde, foi quando vi Gael entrando — ela comentou.
— Toda a história do desenho era mentira? — perguntei a ele de
braços cruzados, estava muito nervosa.
— Não, eu realmente quero entregar — falou baixinho, pelo menos
estava envergonhado do que fez.
— Sei — disse, chateada.
— Não queria te deixar triste, nem em encrenca, desculpa — pediu
com um biquinho que quase amoleceu o meu coração, quase.
— Estou chateada, mas vamos falar sobre isso depois, agora eu terei
que enfrentar a fera que é o seu pai — comentei, temerosa.
Quando o assunto era controle, Danilo detestava perder, ainda mais
quando o filho estava relacionado.
— Ele não precisa saber. — Gael deu de ombros.
Abaixei na altura dele.
— Precisa, sim, é muito feio mentir.
— Tecnicamente, não é mentira se não contarmos — respondeu.
Esse menino às vezes me surpreendia tanto.
— Ele já sabe, liguei para ele quando vi você no elevador.
Cabisbaixo, Gael permaneceu sentado.
Por sorte o bar estava vazio, só nós três aqui. Quatro agora, já que o
barulho do elevador denunciou a chegada de alguém e eu tinha certeza de
que era a do meu chefe.
— O que você estava pensando? — Danilo perguntou em um tom
muito bravo.
Olhei para ele com receio.
— Papai, eu só quero entender por que me escondem as coisas. —
Os olhinhos marejados ao dizer.
O homem passou a mão pelo rosto, estava completamente tenso.
— Porque você ainda é uma criança, tem coisas que não deve saber.
Mais uma vez o menino ficou cabisbaixo.
— Promete que nunca mais fará isso, filho? E assim eu te mostro
um pouco mais do clube.
— Agora? — Gael questionou, interessado.
Danilo olhou para mim, a expressão fechada.
— Sim, agora, sabe que promessas são dívidas, se prometer nunca
mais fazer isso, eu te mostro um pouco mais, não tudo, ainda é cedo.
— A Mel tá encrencada por minha causa? — Gael questionou ao
invés de responder.
— Não, ela não está. — O tom dizia o contrário.
— Só prometo se não mandar a Abelhinha embora — barganhou,
como se tivesse algum direito nesse momento.
Danilo contraiu o maxilar, os olhos mais uma vez se fixaram nos
meus.
— Não vou mandar Melissa embora, pode ficar tranquilo, mas se
continuar abusando da minha boa vontade, ficará de castigo pelo restante do
ano — ameaçou, era a primeira vez que eu o via tão bravo com o filho.
Gael arregalou os olhos em surpresa e preocupação.
— Tudo bem, eu prometo. Me desculpa, Mel, por ter fugido.
Assenti, mordendo o lábio bem forte. Não sabia bem como lidar
com essa situação.
— Melissa pode voltar para casa com o motorista, ficarei com Gael
agora — mandou, sem um segundo olhar.
Eu me despedi da Evelyn com um aceno discreto e sai do clube
sentindo um peso nos ombros.
Eu cometi um erro, Gael era uma criança, se ia ao clube era para ser
totalmente vigiado.
Passei o restante do dia pensando sobre isso, os dois retornaram bem
tarde, Danilo o colocou para dormir e me dispensou.
No meu quarto, sem conseguir dormir, vesti meu roupão e fui
verificar Gael dormindo, cobri seu corpinho com o lençol fino. Atravessei o
corredor e bati duas vezes na porta que eu já estava acostumada a
frequentar.
Danilo abriu, ele estava com uma bermuda, cabelos molhados do
recente banho.
— Podemos conversar? — questionei.
Ele deu passagem para eu entrar.
— Sobre o que aconteceu hoje no clube... — comecei.
— Iria conversar com você amanhã de manhã, está muito tarde
agora — ele me cortou.
— Eu sei, só não consigo dormir. Eu não deveria ter sido
descuidada.
— Não, não deveria. — Ele se afastou, se sentou na cama e apoiou
os cotovelos nos joelhos, me olhando, cansado. — Como eu vou confiar em
você para ficar com ele de agora em diante? — perguntou.
Aquilo doeu mais do que eu gostaria.
— Foi um erro.
— Sim, Melissa, um erro, mas Gael é e sempre será a minha
prioridade, o meu bem mais precioso, não posso deixar que esse seu erro
passe assim.
Engoli em seco, ele estava falando muito sério, não era mais o meu
companheiro de todas as noites, era o meu chefe, me colocando no meu
lugar dentro dessa casa.
— Você está certo, mas estávamos no clube, um lugar
completamente seguro, nunca me descuidaria dele na rua...
— Em um clube de sexo, Melissa, ele com oito anos poderia ter
visto qualquer coisa. A sorte foi que o movimento hoje estava tranquilo —
voltou a me cortar.
Mordi o lábio, sentindo meus olhos arderem.
— Não vai se repetir — garanti.
— Não vai mesmo, você não tem mais permissão para voltar lá com
o Gael. Quando ele quiser ir, avise à Ana, ela está preparada para recebê-lo.
Mordi a parte interna da minha boca.
— Claro — confirmei em um fio de voz.
Doía saber que ele confiava mais na Ana do que em mim. Cometi
um erro, eu sei, foi o primeiro que cometi nessas semanas que estou aqui, o
primeiro deslize e ele não pegou leve.
— Você quer mais alguma coisa? — perguntou, sentado ainda no
mesmo lugar.
Queria ter evitado tudo isso, mas não tem como.
— Não, mais nada — respondi rapidamente e deixei o quarto.
Pelo visto, as coisas foram piores do que eu tinha imaginado.
CAPÍTULO 16

Danilo
Dias se passaram desde a minha tensa conversa com a Melissa que
serviu para me mostrar o que eu sempre soube, mas que ela me fez
esquecer: nunca se deve misturar negócios com prazeres.
Desde então, eu estava sendo evitado por ela.
Ela era uma funcionária de dia, e uma companhia na minha cama à
noite, então quando Gael aprontou estando sob responsabilidade dela, eu
precisei ser o chefe e não o amante, mesmo que aquilo a magoasse.
As perguntas que me assombraram desde aquele dia eram as piores:
E se estivessem em um lugar movimentado longe dos seguranças?
E se alguém o levasse e ele sumisse?
E se ele se ferisse com gravidade em um deslize como esse?
Eu precisava confiar na pessoa que ficava responsável pelo meu
filho na minha ausência e infelizmente, depois disso, Melissa perdeu uns
pontos.
Sei o filho que tenho, ele é peralta, sapeca e possui uma inteligência
incomum, mas ainda assim, ela era a adulta que deveria cuidar dele.
Após o nosso retorno do clube, onde ele conheceu a recepção do
terceiro andar e as seções que estavam completamente vazias, nada
impróprio para a sua pouca idade, ele notou que o clima em casa estava
diferente, se sentir culpado por isso foi bom, assim aprendeu a lição.
Mas agora, a frieza dela estava me incomodando. À noite, eu não
tinha mais interesse de ficar no clube, mas passei a permanecer lá, bebendo
ou trabalhando, era melhor do que ficar em casa com ela tão próxima e
inalcançável.
Aquela discussão nos afastou de vez e Melissa optou por ser a babá,
não mais a submissa.
Minha presença já estava confirmada no leilão beneficente em prol
do hospital de câncer infantil da cidade, um evento anual que era muito
importante para a minha família, um dos itens leiloados era um colar de
ouro, com um delicado pingente de abelha, soube que aquela poderia ser a
resposta para as nossas pazes, mas uma senhora teimosa estava tentando
levar a joia embora para a neta.
Nem fodendo.
Arrematei a peça por vinte mil reais, assim que peguei meu prêmio,
ostentei um sorriso orgulhoso, tinha certeza de que ela iria gostar.
Já era madrugada quando retornei, Gael dormia profundamente e,
após um banho, eu não esperei mais e bati na porta dela. Melissa abriu
segurando um livro, os cabelos presos no alto de uma forma desorganizada,
mas estava tão linda, as bochechas rosadas e os olhos muito brilhantes.
— Oi — falou, confusa. Eu não batia aqui há dias e ela também não
ia ao meu quarto, estávamos sendo cortês um com o outro e nada mais.
— Comprei uma coisa para você — falei, relaxado, colocando as
mãos no bolso da minha calça do pijama, a única peça de roupa que eu
usava.
— O quê? — perguntou, duvidosa, passando os olhos pelo meu
corpo todo
Deixei o presente guardado no quarto porque a intenção era levá-la
para lá, foda-se, me julguem.
— Está no meu quarto, quer ir comigo buscar? — Os olhos claros
dela foram até a minha porta, depois voltaram para mim.
— Melhor não — falou diretamente.
Essa distância estava matando apenas a mim pelo visto, ela parecia
tranquila demais.
— Por quê? — questionei.
Melissa molhou o lábio inferior pensando no que responder.
— Ultimamente estive pensando, acho que é melhor parar de
misturar as coisas, eu preciso do emprego, você precisa da babá, não
devemos continuar nos encontrando à noite. — O tom dela não denotava
nenhuma emoção, mas seu lábio inferior tremia.
Parar de misturar as coisas! Porra, com outra eu agradeceria, com
ela eu queria evitar o fim.
— Está dizendo que não me quer mais?
— Não quero perder o emprego e às vezes precisamos abrir mão de
algumas coisas.
Aproximei um passo, e ela não recuou, pelo contrário, ergueu a
cabeça me encarando.
Toquei seu rosto, acariciando o lábio inferior rosado.
Por que eu não conseguia simplesmente virar as costas e voltar para
o quarto? Por que eu não conseguia renunciar a ela? Por que todo esse
desespero só em pensar em nunca mais tê-la nos meus braços?
Aproximei meu rosto, desejando beijá-la, mas Melissa se afastou.
— Não sei se é uma boa ideia — ela disse com receio.
— Está com medo de não resistir, honey? — provoquei.
— Essa distância é o que nós dois queremos — falou em um
sussurro.
— Quem disse que eu quero isso? — perguntei.
— Não foi necessário dizer. Nesses últimos dias, você não tentou se
aproximar...
— Nem você — eu a cortei.
— Você esteve no clube todas as noites, achei que estivesse
acompanhado.
— Não estive com mais ninguém desde que te conheci, Mel,
comprei aqueles acessórios pensando só em você, para usar em você, por
isso eles estavam na minha casa e não no clube. — Fui sincero.
Sem aguentar mais, a segurei pela nuca e a puxei para mim,
moldando nossos corpos.
— Isso é o que você faz comigo, menina, desde o primeiro instante,
eu fico duro só em te olhar. Não pense que quero me afastar de você —
falei, roçando minha ereção nela.
Ela abriu a boca um pouco surpresa e eu aproveitei para beijá-la.
Porra, que saudades!
Melissa deixou o livro cair no chão, a ergui, enlaçando suas pernas
na minha cintura e ela se entregou ao beijo.
— Senti sua falta — confessei de olhos fechados, mantendo o corpo
dela pressionado na parede.
Ela abriu os olhos, encarando-me.
— Danilo... eu estava falando sério quando disse que era melhor
pararmos.
Caralho! Eu quase me sucumbindo ao desejo e ela querendo
terminar tudo.
— Não, não estava, seu beijo continua o mesmo, você ainda me
quer — constatei o óbvio.
Ela queria, eu sabia, mas estava chateada com a situação.
— Não posso prometer que nunca brigaremos, seria hipocrisia,
ainda mais quando Gael estiver envolvido, mas se você desistir de tentar na
primeira vez, nunca saberemos se daria certo.
Eu a desci do colo pensando no que fazer se ela teimasse com essa
história.
— Vem, quero te dar o seu presente. — Estendi a mão que ela
encarou em dúvida. — Prometo não fazer nada que você não queira.
Ela enlaçou seus dedos nos meus, deixando seu quarto ao meu lado.
Isso era um bom começo. Eu daria um jeito de normalizar as coisas, estava
apostando nos presentes, mas Melissa sempre me surpreendia, então pela
primeira vez, estava inseguro quando peguei a caixinha aveludada.
— Abra — pedi.
Ela abriu com cuidado excessivo e assim que viu o colar sorriu.
— É lindo. — Tocou o pingente da abelha adornada com brilhantes.
— Lembrei de você quando o vi. Gostou? — questionei, passando o
polegar pelo pescoço dela.
— Adorei, você coloca em mim? — perguntou, olhando-me.
— Depois, agora quero outra coisa no seu pescoço.
Ela me analisou, confusa.
— Mais um presente para mim?
— Diria que é mais para mim que para você, mas só se você quiser
usar. — Peguei a embalagem e quando Melissa viu o que era, seu rostinho
angelical ficou ainda mais surpreso.
Eu podia estar atropelando as coisas, ainda mais depois de ela
sugerir que parássemos, mas porra, eu só conseguia fantasiar com ela
usando isso.
— Quer que eu use uma coleira? — questionou, o tom
demonstrando um pouco de animação me deixou aliviado.
— Quero — afirmei.
Ela analisou com atenção a peça de couro negro, com honey escrito
em um tom de prata chamativo. Eu tinha conseguido comprar faz uns dias,
mas apenas hoje sugeri que ela usasse.
Mel estendeu para mim e se virou de costas, segurando o cabelo
comprido para eu colocar.
— Isso significa que você quer continuar o que temos? —
questionei, distribuindo beijos por toda a extensão do seu pescoço.
Ela me olhou de lado.
— Quero, mesmo receosa, eu quero você — confessou e aquilo foi
um alívio no meu desespero em perdê-la.
Cada dia que passava, eu tinha mais certeza de que ela era uma
pequena feiticeira, não existia outra explicação para como eu me sentia
diante dela.
Não coloquei a coleira de imediato, primeiro distribui beijos por
cada parte exposta do seu corpo, despindo peça por peça do pijama,
matando a saudade que estava. Quando ela ficou totalmente nua na minha
frente, coloquei a coleira, segurando um pouco, ainda ficava folgada o
bastante.
— Lembra a sua palavra de segurança? — questionei.
— Sim, azul.
— Ótimo, agora sim podemos começar.
— O que quer que eu faça? — perguntou na minha frente, os joelhos
no chão.
Porra, perfeita demais.
— Me dispa e me chupe — mandei.
Melissa sorriu em aprovação, parecia adorar a ideia ainda mais que
eu.
Ela já não tremia ao me despir, estava ganhando experiência e isso
só me excitava ainda mais, quando seus lábios bem molhados se fecharam
na minha circunferência, fechei os olhos, segurei a coleira, guiando o
movimento.
Ela aprendeu rápido a me enlouquecer em um oral.
Puxei ela para cima, levando-a até a cama para se ajoelhar e ficar de
quatro, toquei sua intimidade enxarcada e sem enrolação a tomei para mim.
Forte.
Fundo.
Cada arremetida nos levando ao limite do prazer.
Puxei-a para cima pela coleira e sussurrei rouco no seu ouvido:
— Minha, você é só minha.
— Só sua — ela concordou, rebolando no meu pau, completamente
entregue.
Porra!
Cada vez com ela era uma descoberta nova.

Melissa
De todos os finais que eu imaginei para essa noite, estar aqui nos
braços dele não era um deles.
Depois da nossa conversa daquele dia, eu optei por ficar na minha,
não correr atrás e como ele fez o mesmo, acreditei que já tivéssemos posto
um fim no nosso curto tempo juntos, mas Danilo me surpreendeu batendo
na minha porta e me falando coisas que eu não estava preparada para ouvir,
mesmo chateada, foi impossível resistir ao desejo que sentia por ele.
Agora deitados nus, ele me apertava em um abraço, enquanto
acariciava meus cabelos com uma das mãos.
— Posso te fazer uma pergunta pessoal? — sondei, mapeando as
tatuagens dele com os dedos.
Eu tinha uma curiosidade tão grande em perguntar sobre todas elas,
os motivos de ter feito tantas, mas sempre desistia com medo de ser
intrometida demais.
— Pode. — A voz rouca denunciando ainda o nosso estado pós
sexo.
Esses dias distantes foram ruins demais, mas a reconciliação
compensou a demora.
— Por que você não deixa o Gael ter um cachorro? O aniversário
dele está chegando e ele adoraria ganhar um.
Senti o corpo dele antes relaxado, se tensionar.
Danilo ameaçou se levantar, mas forcei ainda mais o corpo, o
mantendo deitado, apoiei minhas mãos em seu peito tatuado e encarei seus
olhos.
— Não fuja de mim, só tente contar o motivo.
— Não gosto de animais — mentiu.
— Isso é mentira, você adorou ver o ninho dos pássaros com a
gente.
— Não...
— No jantar da Ruth, vi como você olhou para o Pudim, o que
fizeram com você? Esse medo é um dos motivos de você, na adolescência,
fugir para surfar na praia? — questionei com cautela.
Ele fechou os olhos, fugindo do meu olhar, notei o quanto estava
angustiado. Era horrível ver o homem que costuma ser uma fortaleza se
desfazer aos poucos, tudo graças ao passado que acredito que ele teve.
Montei no seu colo, acariciando sua barba.
— Gael costuma comentar comigo que você é como o super-
homem, cuida de todos, mas quem cuida de você? Eu só quero te ajudar,
talvez conversar melhore.
Aos poucos, ele foi se rendendo aos meus carinhos e com os olhos
novamente abertos, ele confessou:
— Eu fugia do meu pai, não de um cachorro. — A voz distante,
quase inaudível.
— Então por que tem medo?
— Não diria medo, eu só não gosto da ideia de ter um aqui em casa
o tempo todo.
— Gael ama cães, poderíamos dar uma chance a ele de crescer com
um pet, isso só faz bem às crianças.
— É tão injusto você me pedir isso nessa posição, Melissa, quem
resiste? — Abocanhou um dos meus seios.
Mesmo sabendo que ele estava tentando mudar de assunto, molhei o
lábio com um grande sorriso.
— Então podemos dar um cachorro para ele de presente? —
perguntei, mais animada.
— Não disse isso, mas vou pensar no assunto.
— Vai pensar com carinho?
Danilo riu, os lábios nos meus.
— Vou, agora vem aqui que eu tenho planos para o restante da noite.
— É mesmo? Quais? — Quis saber.
Dei por encerrado o assunto nesse momento, não queria pressioná-lo
demais, ainda mais agora tendo uma maior noção do que ele viveu no
passado, possivelmente o pai dele era cruel e havia muitas coisas que eu
ainda não sabia, mas queria e faria o melhor possível para incentivá-lo a
buscar ajuda profissional.
— O primeiro deles é a forma que vou te castigar por sugerir que
terminássemos e por me pressionar dessa maneira tão deliciosa.
O fogo característico que sentia quando ele sugeria e me castigava,
dominou meu corpo, cheio de expectativas. Nunca era um castigo para
mim. Danilo sabia como eu gostava e sempre fazia de uma maneira que eu
era a mais satisfeita sexualmente.
Ele era perfeito para mim.
Por incrível que parecesse, eu adorava o sexo dominante com ele e
adorava estar em seus braços. Não me via com outra pessoa, aprendi a amar
cada momento.
Quando ele voltou para o quarto, com a venda, as algemas e a
chibata, eu tremi em expectativa.
Dessa vez meus tornozelos foram presos também, mantendo-me
imóvel e totalmente aberta, a venda ocultava a minha visão. Senti o gélido
da tira de couro deslizar pela minha pele pálida, e quando ele bateu com ela
no meu clitóris, eu gemi pedindo por mais.
Sem vergonha.
Sem receio.
Com ele, mesmo sendo a submissa, eu me sentia dona de mim, era
contraditório, delicioso.
Danilo sugou meus seios, eriçando-os ainda mais, foi quando senti a
fisgada forte e gostosa.
— São prendedores de mamilos — contou.
— Eu quero mais, quero você — falei manhosa, quase suplicando.
Não conseguia me tocar para sanar aquele desejo absurdo que estava
sentindo.
— Eu sei, e você terá, mas no meu tempo.
Arquejei as costas, a tensão entre as minhas pernas apenas
aumentava. Quando ele abocanhou a minha intimidade, sugando com
volúpia, eu gemi alto, alucinada. Gozando rápido.
Danilo me penetrou forte e ao mesmo tempo, puxou um dos
prendedores do mamilo, causando uma onda quase elétrica pelo meu corpo
todo, tremi, ele me manteve no lugar, arremetendo-se dentro de mim.
Caramba! Era delicioso.
O outro prendedor foi puxado também e isso me levou novamente
ao céu, o orgasmo mais intenso que já tive. A sensação era embriagante,
deixando o corpo todo leve. Ele me acompanhou e se liquefez dentro de
mim.
— Durma, honey, logo te levo para o seu quarto — falou rouco,
acariciando e beijando os meus punhos e tornozelos ao me soltar.
Eu estava tão sonolenta que apenas fechei os olhos e apaguei.
CAPÍTULO 17

Melissa
Despertei ouvindo batidas na porta e senti um peso na minha coxa,
abri os olhos e não era no meu quarto que eu estava.
— Merda! — Levantei-me em um pulo, o peso era o braço do
Danilo me prendendo no lugar.
Ele despertou com o meu rompante.
— O que aconteceu? — perguntou rouco de sono.
— Tem alguém na porta — sussurrei e mais uma vez voltaram a
bater.
— Deve ser o Gael.
Peguei meu pijama pelo chão, olhando ao redor se não estava
esquecendo nada.
— Vou ficar no banheiro, dá um jeito de o distrair — sugeri.
— Não acha melhor contarmos o que está acontecendo entre nós?
— ele perguntou, sentando-se nu na cama.
Contar para o filho dele era um passo muito grande.
Eu não estava tão segura assim.
— Detesto esconder as coisas dele — falou por fim.
— Não gosto também, mas ele será o mais prejudicado se as coisas
não derem certo.
A batida na porta voltou mais forte.
— Tem razão — disse, vestindo a calça do pijama.
Corri para o banheiro enquanto Danilo abria a porta.
— Bom dia, filho! Aconteceu alguma coisa?
— Bom dia, pai! Você viu a Abelhinha? Eu não a encontro em lugar
nenhum.
Vi Danilo passar a mão pelos cabelos e coçar os olhos.
Coitado, nem acordou direito.
— Hoje é folga dela, talvez ela tenha saído.
Gael entrou no quarto e eu me escondi atrás da porta entreaberta.
— Não, ela disse que iria na festa da vovó Ruth e do vovô... O que é
isso? — Gael perguntou em um tom confuso.
Oh Deus, será que eu esqueci alguma coisa?
— Nada importante, que tal você esperar pela Mel no quarto, eu irei
ligar para ela — Danilo respondeu, parecia assustado.
— Tá escrito honey, será que é da Abelhinha?
Puta merda, ele achou a coleira.
Gael não precisava ser tão bom em outros idiomas.
— Eu... — Danilo gaguejou, claramente desconfortável em mentir.
Comecei a me vestir em silêncio.
— Se é dela por que está aqui na sua cama?
Comecei a hiperventilar de nervoso.
— Ela veio aqui ontem, você ganhou uma aliada sobre querer um
cachorro na casa.
Oh merda!
Tomara que ele não encha o nosso menino de esperanças apenas
para fugir do assunto principal dessa manhã.
— Vai deixar eu ter um, papai? — Gael perguntou quase em um
grito de tão animado.
— Ainda não sei, mas no momento eu só quero tomar um banho e
me arrumar para a festa, que tal você fazer o mesmo?
— Queria a Mel — falou, manhoso.
— Eu sei, vou achá-la para você — garantiu.
— Quer que eu entregue isso para ela?
— De jeito nenhum, Gael, pode deixar que eu faço isso.
Ouvi a porta sendo trancada novamente e saí do banheiro.
— Meu Deus, nunca passei por uma situação tão embaraçosa na
minha vida — ele falou, estava um pouco pálido.
Gargalhei, sabia que o isolamento acústico não revelaria a minha
presença aqui.
— Você se saiu bem, só não devia ter mencionado a coisa do
cachorro.
— Eu sei, fiquei sem saída.
— Agora terá que pensar com mais carinho ainda.
Danilo me puxou para ele, abraçando meu corpo bem apertado.
— Acabei pegando no sono e não te levei para o quarto.
— Tudo bem, já aconteceu, agora olha o corredor para ver se eu
posso escapar.

A mansão cheia de flores estava ainda mais linda com a decoração


da festa, era a bodas de rubi da Ruth e Ruan.
Gael, desde que ficou sabendo que eu estava tentando convencer
Danilo a permitir um cachorro em casa, estava muito empolgado e ansioso,
tanto que nem questionou sobre a minha ausência dessa manhã.
— Será que ele vai deixar eu ter um cachorro, Abelhinha? —
perguntou, enquanto acariciava atrás da orelha de Pudim, que abanava o
rabo com alegria.
— Não sei, vamos torcer que sim.
— Tomara que deixe, daí eu vou colocar o nome de Pipoca,
combina com macho e fêmea.
Meu Deus, ele já estava pensando no nome.
— Por que vocês gostam de colocar nome de comida nos pets? —
perguntei e ele riu, sapequinha.
— É legal, não é? Pudim tem esse nome porque quando o vovô
Ruan o deu para a vovó, ela estava comendo pudim.
Gargalhei, eu não fazia ideia disso.
— Criativa ela. Por que pipoca no seu?
— Porque eu adoro pipoca — falou como se fosse óbvio. — Antes
eu tinha pensado em Ayane ou Benício, mas então decidi que quero esses
quando tiver irmãos, não cachorros — sussurrou o nosso segredo, olhando
para os lados.
Engoli em seco, eram os nomes dos meus personagens, o casal
expulso do reino que conquistou o mundo com mérito próprio, Gael tinha se
encantado pelo livro do início ao fim.
— Como assim quando tiver irmãos? — perguntei.
— Não sei se terei, mas eu gostaria muito. — Deu de ombros, mas
eu sentia que ele me escondia algo.
Será que Gael me viu essa manhã? Será que estava desconfiando de
alguma coisa? Eu tomei todo o cuidado ao sair, tinha certeza de que
ninguém me viu deixando o quarto do Danilo. Deixei esse assunto de lado
quando Ruth acenou para mim da sacada do seu quarto pedindo ajuda, ela
não queria que Ruan a visse antes do momento ideal e Rosane estava
recebendo o pessoal do buffet.
Entrei na suíte do casal receosa, nunca estive ali antes.
— Entre minha filha, não precisa ficar com vergonha — falou,
animada, já estava lindamente vestida, só precisava que eu subisse o zíper
do vestido.
— Melissa, sei que não é da minha conta, Danilo é um homem
adulto e sabe o que faz, mas percebi que está rolando alguma coisa entre
vocês, estou certa? — ela perguntou ao se virar para mim assim que fechei
o vestido.
Arregalei os olhos, surpresa, era a primeira pessoa que me
perguntava isso diretamente.
Eu não conseguiria mentir.
— Está — falei, abaixando o meu olhar.
Estava com medo de ela me menosprezar por ser apenas uma babá,
uma que ultrapassou limites ao se deitar com o chefe.
— Você está apaixonada por ele? — perguntou, indicando o lado
dela na cama e eu me sentei.
— Sim, tenho certeza de que sim, mas é tudo tão complicado —
desabafei, pela primeira vez rotulando esse sentimento avassalador que
sinto por Danilo.
— Por causa do Gael?
— Não só por isso, tem a diferença de idade que parece incomodar
o Danilo, tem também o meu trabalho, o meu... — parei de falar,
percebendo que diria mais do que deveria.
— O seu? — incentivou.
— O meu medo de não ser correspondida. — Inventei qualquer
coisa e ela pareceu acreditar, já que sorriu.
— Não se preocupe com isso, está sendo recíproco o que existe
entre vocês, nunca vi o Dani olhar para alguém como ele te olha, é amor,
Melissa, e dos mais lindos que existe.
Eu queria tanto que isso fosse verdade, que ele realmente me
amasse, mas Danilo tinha o jeito dele de expressar suas emoções e às vezes
não era nada claro e evidente, eu precisava tirar minhas próprias
conclusões.
— Rômulo e Danilo estão apaixonados, você eu já aprovei desde o
primeiro instante que a vi, agora falta conhecer a Juliana, Rosane falou
tanto dela que estou muito curiosa.
— Ela estará aqui hoje? — perguntei, levantando-me, não estava
preparada para essa conversa sobre amor.
Ruth fazia perguntas que há semanas eu estava evitando.
— Sim, ela é dona do buffet.
Assenti, tinha visto as vans da empresa dela chegarem.
— Precisa de mais alguma coisa? Vou procurar pelo Gael —
desconversei, querendo fugir dali o quanto antes.
— Pode ir, agora já sei tudo o que precisava saber.
Ruth era como uma mãe para o Danilo e estava agindo como uma,
queria sondar o terreno para ver se seu filho não se machucaria.
— Mel, só tente não machucar os dois, Gael sofre até hoje com a
ausência da Carolina e Danilo, bom... ele nunca foi de se entregar aos
sentimentos.
Concordei com a cabeça antes de fechar a porta do quarto dela e
respirar fundo.
Carolina era a mãe biológica do Gael, sabia disso porque ele
mencionou o nome dela algumas vezes, sempre Carolina, ela era a primeira
pessoa que eu notei que ele não apelidava. Ele sentia a falta dela, disse que
a viu poucas vezes, mas que Danilo nunca escondeu quem era sua mãe, ele
sempre soube e sabia também que ela não estava interessada em nada
relacionado a ele. Era pai e filho, apenas. Os dois lutando contra o mundo.
Não entendia como alguém podia não se apaixonar por Gael, ele era
especial, possuía um brilho único.
Rosane me apresentou a famosa Juliana, que era um espetáculo de
linda, e mesmo eu estando envergonhada, consegui perceber que ela era
uma pessoa maravilhosa por dentro e por fora. Mais tarde, infelizmente, a
festa foi cancelada, porque a ex do Rômulo atentou contra a vida da Juliana.
Danilo levou a mim e Gael para casa, nosso menino estava muito agitado,
foi difícil conseguir fazê-lo dormir naquela noite.
— Como ela está? — perguntei ao entrar no quarto.
— Liguei para o Rômulo, está fora de perigo, mas os nossos
advogados estão fazendo de tudo para manter a louca da Mirela na cadeia.
Ela poderia ter matado a Juliana ao atropelá-la.
— Graças a Deus não foi tão grave — falei, aliviada.
— Eu estive pensando Mel...
— No quê? — questionei assim que ele ficou minutos em silêncio.
— No que você disse sobre falar dos meus traumas.
— Não precisa ser comigo, podemos procurar uma ajuda
profissional, talvez o sigilo médico e paciente te deixe mais confiante para
falar — sugeri, meu tom carregado de esperanças.
— Comecei a fazer uma pesquisa de bons profissionais, mas no
momento eu só quero tentar... tentar permitir que Gael tenha um cão, ele
não merece ser privado disso porque eu sou quebrado.
Aproximei-me dele, enlaçando a sua cintura com carinho.
— Quando eu era pequeno, minha mãe tinha um Beagle chamado
Boston, ela era apaixonada por aquele cachorro e todo o amor dela foi
transferido para mim, que não dormia sem ele aos pés da minha cama, mas
depois que ela morreu no parto do Daniel, toda a luz da nossa casa se foi,
ficou apenas Boston e eu, com um recém-nascido que só chorava. Meu pai
se transformou após a perda, e eu foquei todo o meu amor no cão, só que
um dia, ao acordar, ele estava caído no jardim, a boca espumava, tinha sido
envenenado.
Pisquei algumas vezes, assustada.
— Quem o matou? — Meu tom foi menos que um sussurro.
— Meu pai o matou, meu pai matou o cão que minha mãe e eu
amávamos, ele disse que não suportava olhar para o bicho, que ele trazia
lembranças que nunca mais voltariam. Eu tinha quatro anos e lembro
daquele dia como se fosse hoje, talvez seja um trauma, eu não sei bem, mas
jurei que nunca mais teria outro, não quando a dor da perda era tão forte. Eu
já estava de luto pela minha mãe e pouco tempo depois, perdi o que estava
sendo como uma âncora para mim.
Eu começava a entender muito mais agora.
— Só que depois do que você me disse, eu passei a pensar mais
sobre isso, Gael merece uma infância normal, uma na qual eu não vá me
lembrar da minha e com isso fazer com que ele se prive, não quero ser esse
tipo de pai.
Acariciei o rosto abatido dele.
— Você não é esse tipo de pai, todos erram, mas o importante é que
agora você percebeu.
— Vou comprar um cachorro para ele de aniversário — falou,
decidido.
— Concordo com a parte de presenteá-lo no aniversário, mas
comprar? Para que comprar se há muitos para serem adotados?
Danilo analisou meu rosto.
— Conhece algum lugar na cidade?
— Não que eu já estivesse pesquisando antes de ter certeza — sorri
culpada —, mas conheço sim.
Danilo envolveu ainda mais o meu corpo no dele, inalando fundo o
meu cheiro.
— Você sabia que eu permitiria, não é?
— Eu torcia que sim, caso não conseguisse, eu continuaria tentando.
— Ah, Melissa, às vezes eu não sei o que fazer contigo, você tira o
que há de melhor em mim. Você é a luz na minha escuridão.
Inalei seu delicioso cheiro também, fechando os olhos com um
sorriso no rosto.
— Você, Gael e Eve surgiram na minha vida quando eu estava
perdida, o luto, o... a mudança, era tudo tão novo, vocês três me ajudaram a
perceber que eu não estava sozinha, eu ainda tinha pessoas que gostavam de
mim, no fim, acho que acabamos encontrando um ao outro. Nós dois
precisávamos um do outro — falei, selando os lábios dele nos meus.
Eu estava perdidamente ferrada, passei a amar o meu chefe e não
tinha mais volta, Danilo seria sempre o dono do meu coração.
CAPÍTULO 18

Danilo
Como era sábado, Rosa ficou com a difícil missão de ficar com Gael
enquanto Melissa e eu íamos em busca do cachorro, saímos bem cedo e ele
ainda não tinha acordado. Desde que tomei a decisão de deixar, eu tive
quase um mês para me adaptar a ideia de ter um cão em casa e ainda não
estava cem por cento preparado.
A instituição Por Amor Adotamos ficava na periferia de Vale de
Lótus, a responsável pelo lugar nos recebeu muito gentil.
— Eu sou Fabíola Ferro, responsável pela instituição, vocês têm
interesse em qual animal?
— Prazer, Fabíola, somos Melissa e Danilo, queremos adotar um
cachorro para o nosso menino — Mel respondeu, empolgada.
— Tenho certeza de que o filho de vocês irá amar o presente,
venham comigo.
Melissa não a corrigiu, ela apenas me olhou muito animada e
enlaçou seus dedos nos meus.
Eu estava inquieto, vendo aquele monte de cachorro no mesmo
lugar.
— Alguns são adultos que foram abandonados, outros filhotes das
fêmeas que chegaram prenhas, são tantos casos tristes. Tem preferência
entre filhote ou adulto? — Fabíola perguntou, olhando com atenção o
tablet.
Melissa e eu nos encaramos, pelo olhar, optamos por não ter.
— Vamos levar o que conquistar o nosso coração — ela falou.
O lugar era limpo, muito bem administrado e os animais todos bem
tratados.
— Não dá vontade de adotar todos? — Mel questionou quando
ficamos mais distantes da mulher, olhando com atenção cada um deles.
Vi no canto, deitado com as patinhas nos olhos um filhote de
labrador caramelo.
— Olha aquele parece bem calmo, talvez devêssemos tentar com
ele, os outros são tão agitados — disse, receoso.
Mel olhou para onde eu apontava e sorriu.
— Ele tem cara de Pipoca, sim, vamos levá-lo então.
Depois de preencher a documentação e assinar o termo de
responsabilidade, Melissa já estava com o novo integrante da família nos
braços que a lambia animado enquanto Fabíola me orientava na compra da
caixa de transporte. A própria instituição tinha uma loja integrada que era
composta por doações de grandes empresas e voluntários, a venda dos
produtos ajudava no orçamento mensal do local.
Escolhemos o melhor meio de transporte do Pipoca e tudo o que
achamos necessário para a estadia dele em casa, deixei uma boa doação
para a instituição, coisa que surpreendeu a responsável pelo local que me
agradeceu infinitas vezes. Coloquei todas as compras no porta-malas,
Melissa optou por ir no banco de trás do carro com o Pipoca. Ela aprecia
muito empolgada. Quando nossos olhares se cruzavam no espelho interno,
ela sorria tão linda. Merda, aquela menina tinha entrado na minha vida para
mudar tudo.
Começou com aquele interesse imediato e o nosso envolvimento no
clube;
Gael a adorando logo de cara;
Eu perdendo o interesse em novas submissas e nas noites no clube;
Ela conseguindo me fazer sorrir e sentir em tão pouco tempo;
A mudança na nossa rotina;
Os encontros secretos e as confidências que nunca tive coragem de
fazer com outra pessoa;
E agora a chegada do cão.
Deus, Melissa estava transformando a minha vida para algo melhor
e parecia nem fazer ideia disso, eram os vestígios da luz dela começando a
dominar o meu mundo.
— Será que ele vai gostar? — perguntei quando parei em um
semáforo, fugindo das reflexões intensas sobre a ter na minha vida.
— Você ainda está inseguro? Gael irá amar muito.
Assim que voltamos, Rosa nos avisou que ele ainda não tinha
acordado, isso foi ótimo, assim poderíamos surpreendê-lo.
Mel tirou Pipoca da caixa de transporte e subimos a escada lado a
lado.
Quando adentramos o quarto do Gael, o pequeno ressonava
baixinho.
— Vamos mesmo acordá-lo? — ela perguntou com pena.
— Sim, sempre o acordo no aniversário trazendo o presente, é como
uma tradição.
Sentei-me na cama ao lado do ser que era a razão de eu lutar todos
os dias e toquei o rostinho dele.
— Ei, Campeão, olha o que temos aqui para o menino que acabou
de fazer nove anos — falei, animado, primeiro ele mexeu as pernas, depois
virou de frente para mim com os olhos ainda fechados, nesse segundo
Pipoca latiu.
Gael abriu os olhos rapidamente, procurando de onde vinha o som.
— Meu Deus, é um cachorro, pai? — perguntou alto.
— É, sim. Feliz aniversário, Campeão! — desejei, emocionado.
Gael saiu da cama em um pulo e pegou o cão dos braços da Mel.
Ele vestia um pijama azul marinho cheio de naves espaciais, os
cabelinhos todos desgrenhados e ostentava o sorriso mais lindo que eu já vi
na vida, naquele momento eu soube que tinha tomado a decisão certa.
Enfrentar um dos meus medos resultou nessa alegria dele.
— Feliz aniversário, meu menino brilhante! — Ela o abraçou de
lado, os olhos azuis lacrimejantes de emoção.
— Obrigado, esse é o melhor aniversário de todos. — Ele esticou o
bracinho para mim, mantendo a mim e Mel no abraço enquanto tentava
segurar o cachorro.
Não existia companhia melhor nesse momento, Melissa e Pipoca já
eram parte da nossa família também.

Melissa
A casa estava enfeitada com o Super-Homem por todos os lados,
crianças, barulho, comida feita pelo buffet da Juliana, tudo perfeito, mas o
que deixava o dia mais encantador era o sorriso do Gael ao exibir o Pipoca
para todos os convidados.
Ele tinha amado o cachorro desde o primeiro instante que o viu.
— Por que está sorrindo tão linda? — Danilo perguntou ao parar do
meu lado na cozinha.
— Estava vendo a alegria dele, chega a ser contagiante — falei,
olhando Gael pela janela, agora ele estava na piscina brincando com os
amigos.
— Sim, de todos os aniversários esse parece que é o que ele mais
sorriu.
— Por causa do Pipoca, certeza — disse, mas Danilo negou.
— Não, Pipoca ajudou, sim, mas é por sua causa, percebeu que ele
procura você com o olhar sempre?
Eu tinha percebido, tanto que acenava animada todas as vezes.
— Ele se apegou em você de uma maneira que não era nem com a
Rosa que o viu crescer.
Eu sabia bem, Gael e eu meio que nos adotamos, cada um com a
ausência de alguém importante na nossa vida.
— Foi como um encontro de almas e eu o amo tanto. — Fui sincera.
— Eu sei e agradeço muito por fazê-lo feliz, por nos fazer felizes.
Danilo não se aproximou, não me tocou, não fez nada que
denunciasse a nossa relação para os convidados, mas seus olhos me fizeram
promessas tão intensas que meu coração acelerou.
Quebramos nosso contato visual quando Daniel entrou para buscar
mais cervejas.
Sim, a festa estava bem intimista, não chegamos a contratar a equipe
do buffet da Ju, apenas as comidas.
— O que fazem aí parados? — ele questionou, olhando-nos com
curiosidade e um sorrisinho de lado.
— Espero que não volte dirigindo a sua moto como um louco, está
bebendo demais — Danilo repreendeu, fugindo da pergunta.
Os dois, na maioria das vezes, implicavam um com o outro, mas eu
já tinha percebido que se amavam muito, que existia uma ligação forte entre
eles que só eles entendiam, não sei se era o passado difícil com o pai, ou
outra coisa, mas eles se entendiam.
— Vou deixá-la aqui e pegar carona com alguém, talvez com a Eve,
ela acabou de chegar — falou com um sorrisinho sem vergonha, tentando
equilibrar as garrafas.
— Vou cumprimentar a Eve, quer ajuda com isso? — perguntei.
— Aceito, bonita, meu irmão é um inútil — provocou.
A carranca do Danilo, quando Daniel me chamava de bonita era
demais, ele claramente detestava que o irmão flertasse comigo a cada
oportunidade.
Peguei algumas das cervejas e deixamos a cozinha juntos,
caminhando para o grupinho de pessoas sentados próximos à edícula, sorri
para Eve que já estava lá sentada ao lado da Ana.
— Ei Mel, sente-se aqui com a gente, o Rômulo vai cantar uma
música — Rosane convidou, animada.
Mesmo envergonhada, caminhei até minha prima e me sentei ao seu
lado, Danilo chegou logo depois.
Enquanto as crianças se divertiam na piscina, nós ficávamos de olho
e discutíamos qual música tocar primeiro.
— Já que não escolhem uma, eu mesmo escolho — Rômulo falou,
começando a dedilhar as cordas do violão, um sorriso bonito no rosto do
homem que encarava a Juliana ao começar a cantar.

Guarde o seu sorriso só pra mim


Que eu te dou o universo em meu olhar
Se sentir na pele um arrepio
São meus dedos te tocando pra te contar

Sou fã do seu jeito


Sou fã da sua roupa
Sou fã desse sorriso estampado em sua boca
Sou fã dos teus olhos
Sou fã sem medida
Sou fã número 1
E com você sou fã da vida

[...]
Quero convencer seu coração
Que o meu amor foi feito pra você
Quero te dizer que esta paixão
Não encontra outra forma pra dizer

Sou fã do seu jeito


Sou fã da sua roupa
Sou fã desse sorriso estampado em sua boca
Sou fã dos teus olhos
Sou fã sem medida
Sou fã número 1
E com você sou fã da vida

Caramba! A voz rouca dele deixou a música ainda mais linda. Ele
cantava olhando tão apaixonado para ela que parecia perdida em um mundo
só dos dois.
Olhei para Danilo e ele já estava com os olhos em mim, sorrindo
daquele jeito dele de sorrir, quase imperceptível.
— Irmão, você apaixonado é uma coisa linda — Rosane falou,
animada, quando ele terminou a música.
— Sou uma sortuda, não sou? Eu te amo — Juliana disse,
emocionada.
Também, o cara cantou uma música para ela, quem não se
emocionaria?
— Eu também te amo. — Ele a puxou para os braços e selou os
lábios dos dois.
Pelo visto, eles não se importavam em demonstrar o sentimento em
público.
Nesse momento, o celular dela tocou.
— Preciso atender — disse, levantando-se. — É a Solange, ela está
uma pilha de nervos desde que a mãe dela veio da Espanha.
A Ju se afastou do grupo e eu me assustei quando Rômulo deu um
tapa na nuca do Daniel.
— Para de secar a bunda da minha mulher — mandou.
Daniel passou a mão no local que foi agredido.
— Eu não estava olhando para a bunda dela, foi só o que ela disse
sobre a Solange, será que aconteceu alguma coisa?
Eu não fazia ideia de quem Solange era e Rosane pareceu perceber a
minha confusão.
— A Sol é a melhor amiga da Ju, ela é editora chefe da revista
Beleza Feminina e pelo visto é o novo interesse do Daniel — provocou o
primo ao mesmo tempo que me explicava.
— Deus me livre, não é não — ele respondeu, fazendo uma careta.
— Eu vou comer, vamos Mel? — Evelyn perguntou e eu concordei,
estava faminta e nem fazia tanto tempo que tinha me alimentado.
— Não sei o que a Ju colocou nesses minis cupcake, mas não
consigo parar de comer — disse.
Era a verdade, acho que já tinha devorado uns seis.
— Não só neles, ela tem algum segredo, impossível — Eve
concordou, comendo uns minis hot dogs. — Esse biquini ficou lindo em
você, espero que tenha jogado aquele maiô horrendo fora.
Gargalhei.
— Não joguei, mas estou considerando a ideia.
Passamos a tarde toda na piscina, nos divertindo e na hora de cantar
os parabéns para Gael, ele surpreendeu a todos quando respondeu de quem
era o primeiro pedaço do bolo.
— Eu posso dar para dois? — questionou, o rostinho estava
vermelho de tanto que se divertiu, os cabelinhos um pouco suados.
— Claro que pode, o aniversário é seu — uma menininha um pouco
menor que ele, coleguinha das aulas de música respondeu, animada.
— Sendo assim, vai para o meu pai e para a Abelhinha.
— Oh! — exclamei, surpresa.
Todos da família estavam presentes e ele me achava uma das mais
importantes.
Aceitei e o abracei bem apertado.
— Amo você, meu menino brilhante — sussurrei.
— Eu amo mais ainda — respondeu, me apertando no abraço.
Deus, o que era aquilo que eu sentia no peito todas as vezes que ele
demonstrava o quanto eu era amada?
Era um sentimento novo, nunca sentido antes.
Danilo só observava nós dois, parecia não querer se meter e estragar
a nossa conexão.
Mesmo diante das inúmeras vozes e do som da música animada, eu
sentia que ali com eles eu estava em casa, finalmente.
CAPÍTULO 19

Melissa
Quando acordei essa amanhã ouvindo no meu despertador a voz do
Harry Stiles cantando Watermelon Sugar, eu não imaginei que acabaria
aqui, no escritório do Danilo no meio da tarde, com os olhos questionadores
dele em mim.
Era sexta à tarde e Gael estava na aula de Espanhol.
— Oi, Rosa disse que mandou me chamar — falei com receio,
assim que minha entrada foi autorizada.
Ele quase nunca me chamava aqui e mesmo sabendo que a nossa
relação noturna estava cada vez melhor, eu ainda temia ser demitida da
função de babá e como Danilo era mestre em ocultar seus reais sentimentos,
eu não fazia ideia do que se passava pela cabeça dele.
— Oi Mel, feche a porta, por favor — pediu e eu fiz no automático.
Com um gesto de mão, ele indicou a cadeira à sua frente, a mesma
que sentei aqui meses antes para fazer a entrevista de emprego.
— Eu tenho uma proposta para te fazer — falou, segurando uma
caneta preta elegante na mão, os olhos fixos nos meus.
— Uma proposta? — perguntei, confusa.
— Sim, quero que se torne minha submissa. — Foi direto ao
assunto.
— Eu achei que já era.
— Nesses meses que estamos juntos nada ficou claro, as coisas
foram simplesmente acontecendo. Só que eu quero ir adiante com isso,
quero você comigo no clube também, lá as coisas costumam ser mais
intensas e por isso pedi essa conversa antes. — As palavras dele, junto
daquele olhar me fizeram arrepiar, existiam promessas demais ali.
— Eu terei que assinar um contrato? — questionei, pensando no
quanto aquilo poderia me expor.
Desde que Danilo me contratou, tem sido muito difícil manter o
sigilo, tanto que a questão de assinar a minha carteira de trabalho estava se
tornando uma tensão entre nós, ele falava sobre o assunto e eu
desconversava como podia, na maioria das vezes recorrendo ao desejo que
ambos sentimos, mas o assunto estava sempre entre nós. A cada dia que
passava, ele parecia mais irredutível, uma hora ou outra eu teria que falar o
motivo para ele. Já legalizar um contrato do porte Dominador e Submissa
chamaria mais atenção do que eu gostaria.
— Formalidades, não precisa se não quiser. — Isso me aliviou
muito.
— Daniel não nos veria no clube?
— Não, sem motivo algum, ele viajou de última hora — comentou a
última parte em um tom exausto.
Eu sabia o quanto Danilo se preocupava com o irmão, mesmo este
sendo um homem já criado.
— Certo, e eu seria sua submissa fixa no clube só pelo tempo que
ele viajou? — perguntei, estava com tantas dúvidas.
— Normalmente o meu contrato tem durabilidade de dois meses,
nunca mais que isso.
— Mas já estamos há mais de cinco meses nos encontrando... —
pensei alto.
— Com você, as coisas não costumam ser como o planejado, Mel
— afirmou.
— A única coisa que mudaria é que passaríamos a nos ver no clube
e não aqui? — Tentei entender melhor.
Danilo sorriu daquele típico jeito cruel dele, um repuxar de lábios
sexy.
— Passaríamos a nos encontrar lá também, mas eu nunca deixaria
de ter você aqui em casa.
Caramba! As palavras dele foram como brasas no meu corpo que
ansiava cada dia mais pelo dele.
Ultimamente eu estava uma bagunça por dentro, um turbilhão de
emoções, já suspeitava o motivo, mas tive medo de confirmar, tanto que os
testes estavam na minha bolsa há dois dias.
— Sim — respondi com certeza.
— Sim, o quê? — ele questionou com aquele sorrisinho, não
deixaria as coisas serem fáceis para mim.
— Sim, eu quero ser sua submissa aqui, no clube, quero ser sua em
qualquer lugar — confessei, meu rosto esquentando, eu estava ruborizando.
Danilo mordeu o lábio inferior de uma maneira sexy demais e se
levantou caminhando para perto de mim, parou na minha frente e segurou
meus dedos nos seus, guiando-me para que eu me levantasse.
— Sua palavra de segurança será a mesma lá? — perguntou, só para
confirmar.
— Sim, azul.
Ele segurou meu rosto, tocando suavemente, quase como se temesse
machucar-me.
— Você é pura demais para mim, honey, é a luz que sempre faltou
na minha vida, mas eu sou egoísta para abrir mão de você, a quero em todos
os lugares. Fico fantasiando com você no clube, a minha mercê. Só espero
que você não tenha medo de mim após isso. — A voz dele estava carregada
de preocupação.
— Por que eu teria? Você se tornou uma das pessoas que eu mais
confio no mundo, nunca terei medo de você — garanti.
Ele selou nossos lábios em um beijo calmo, como se precisasse
daquele momento para provar a si mesmo que conseguia ser mais do que
um bruto dominador.
— Você me quer no clube, eu também quero estar lá, mas quem
cuidará do Gael? — questionei.
— Não estaremos lá todas as noites, te levarei ao clube quando a tia
Ruth levar Gael para dormir na casa dela.
Ruth pegava Gael, ao menos, uma vez por mês para ele passar o fim
de semana com eles.
— Quando será?
— Parece que está mais ansiosa que eu — ele falou, provocativo.
Eu realmente estava muito ansiosa nesses últimos dias.
— Ela virá buscá-lo hoje no início da noite. Podemos ir para o clube
às dez.
Assenti, concordando.
— Gael está quase retornando da aula, preciso ir ou ele e o Pipoca
destruirão a casa — comentei, jocosa.
A expressão do Danilo foi a melhor.
— Aquele cachorro me enganou direitinho, achei que ele era o mais
calmo de todos, mas é terrível.
O novo integrante da família era um travesso, do tipo que carregava
tudo para todos os lados, ele destruiu a própria caminha de dormir.
— Arrependido? — perguntei, preocupada.
— Não, de maneira nenhuma, nunca vi meu filho tão feliz como
estou vendo ultimamente, sei que não é só pelo cachorro, ele gosta muito de
você também.
— E eu dele — falei, prestes a deixar o escritório.
— Outra coisa, Melissa, no clube eu não serei o Danilo, serei seu
amo ou senhor — avisou, os olhos em mim, atentos a cada reação minha.
Caramba! As palavras dele me excitaram ainda mais.
— Não vejo a hora — disse, saindo e fechando a porta.
Deus, o que será dessa nossa noite no clube?

Encarei os três testes, neles, as duas faixas vermelhinhas indicavam


o sim para o que eu mais temia.
Estou grávida do meu chefe.
Todos sabem que as pílulas anticoncepcionais não são cem por cento
seguras, ainda mais quando se esquece e por isso eu sempre fui muito
regrada na hora de tomar, era uma rotina, tomava antes de dormir todas as
noites, mas na vez que Danilo se esqueceu de me acordar para voltar ao
quarto, eu não tomei. Só percebi no dia seguinte quando peguei a cartelinha
e já era tarde, descartei a pílula e continuei tomando o restante, mas não
imaginei que uma falha resultaria em gravidez, não imaginei que seria
assim tão rápido.
Olhei o meu reflexo no espelho, minha barriga ainda estava plana,
eu usava um vestido justo que escolhi para ir ao clube e nada além dos
testes denunciavam a minha gestação.
Não tive nem um sintoma, apenas a fome que aumentou demais e
nesse último mês a menstruação que não veio, resultando na minha
desconfiança.
— Grávida do meu chefe — falei baixinho, tocando a barriga.
O que será que ele vai dizer quando eu contar?
Será que vai pensar que foi proposital?
Deus, nós nem tínhamos uma coisa definida ainda.
Será que ele pretendia ter outros filhos?
Não era mais como se tivesse uma escolha, já tinha outro a caminho
e não existia a chance de eu desistir dessa vida que crescia em mim. Nunca.
Ou ele estava comigo ou eu faria sozinha.
Mesmo sendo um pai incrível para o Gael, Danilo não parecia o tipo
de homem que um dia se relacionaria com uma única mulher e eu nunca
abriria mão da guarda do meu filho, teríamos que chegar em uma solução
na qual os dois pudessem fazer parte da vida do bebê.
Ouvi o toque na porta do meu quarto e logo depois, ela sendo aberta,
guardei os testes na gaveta do gabinete e ajeitei o meu cabelo antes de
deixar o banheiro.
Precisaria contar para ele, mas queria ter a certeza com um exame
de sangue.
Às dez horas em ponto, nós deixamos a mansão no seu carro.
Era a terceira vez que eu estava no Pleasure Club, na primeira foi
quando Danilo e eu nos beijamos no elevador e subimos para o seu
escritório, onde ele descobriu que eu era virgem, na segunda foi no dia em
que Gael fugiu de mim e eu levei uma baita bronca e agora, na terceira vez,
eu pretendia que fosse melhor que a segunda e mais memorável que a
primeira.
No elevador privativo, Danilo segurava meus dedos de forma
carinhosa.
— Nervosa? — ele perguntou com um sorrisinho de lado.
Molhei os lábios antes de responder.
— Um pouco, não pelo local em si e nem por estar prestes a
conhecer a seção de BDSM, mas você tem certeza de que ninguém nos viu
chegando? — questionei.
Os vidros do carro que viemos eram totalmente pretos e quando
estacionamos, a vaga era bem em frente a esse elevador privativo de uso
exclusivo dele e do Daniel, mas ainda assim, eu estava com receio.
— Ninguém nos viu, Mel, a única pessoa que poderia estragar os
meus planos está a quilômetros de distância — falou, relaxado.
Sabia que era do irmão que ele falava.
— Você ainda não descobriu o motivo da viagem dele?
— Não, ele não quer me contar, tenho quase certeza que é por causa
de alguma mulher.
— Será? Ele não parece alguém que entra em um relacionamento
sério.
— Por quê? — Danilo questionou, dessa vez encarando meus olhos
intensamente, como se quisesse me desvendar.
— Oras, ele é um dos donos de um clube de sexo, um dominador
que vive trocando de submissas... — enumerei, mas fui cortada.
— Também sou, então você acha que eu sou o tipo de cara que só
quer diversão? — inqueriu de cenho franzido.
Era exatamente o que eu achava, tanto que hoje, quando fiz os testes
e confirmei a minha suspeita de gravidez, eu só consegui pensar no tempo
que ainda teríamos juntos.
— Você mesmo disse que seus contratos não duram mais de dois
meses — sussurrei.
— Isso porque eu ainda não tinha encontrado uma que valesse mais
do meu tempo — respondeu um pouco frio.
Engoli em seco, estava na hora de mudar de assunto e a chegada do
elevador me salvou desse momento embaraçoso. Entramos em um corredor
negro com decorações e portas vermelhas, Danilo guiou-me até uma das
portas e a abriu. Meus olhos se arregalaram quando vi o quarto, tinha tanta
coisa ali que eu nunca tinha visto antes, nem imaginava para que servia.
Entrei analisando tudo, o quarto era predominante no tom negro
com vermelho, no centro ficava a enorme cama rubi, com lençóis de seda,
na cabeceira da cama e acima dela, havia uma barra de metal para
amarração. Em um dos cantos, havia algo parecido com três poltronas que
formavam um estranho sofá, logo em cima dele, um fixador com correntes.
— Isso é uma guilhotina? — perguntei, olhando para a outra peça.
Danilo estava encostado na porta fechada, deixando que eu analisasse tudo.
— Sim — confirmou e eu toquei o couro.
Era parecido com uma cadeira, mas com uma abertura no meio
onde, acredito, colocam a cabeça e possuía amarras. Havia também um pole
dance, chumbado do chão ao teto. Olhei na parede oposta e vi um grande X
revestido em couro vermelho, com suporte em metal para algemas de mãos
e pés, e com uma mordaça.
Mordi o lábio inferior, imaginando como seria estar ali, presa, sob o
domínio de outra pessoa.
Senti os dedos do Danilo deslizarem pela minha pele do braço, até
chegar na minha mão onde ele deixou a minha coleira.
— Tire a sua roupa no banheiro, fique com a lingerie, a coleira e os
sapatos, volte apenas quando eu chamar — mandou, pelo visto a minha
análise pelo restante do quarto teria que ser adiada.
— Sim — respondi, mas recebi um tapa estalado na bunda. — Sim,
senhor — corrigi-me, era assim que deveria tratá-lo quando estivéssemos
aqui.
Deixei o quarto e os outros móveis estranhos para trás, me despi no
banheiro, coloquei a coleira e olhei para o meu reflexo no espelho, estava
corada, os lábios muito vermelhos de tanto que eu os mordia, meus olhos
mais brilhantes do que nunca.
Ouvi Danilo me chamar e voltei, ele tinha acabado de organizar os
apetrechos no aparador próximo à cama, notei que eram os comprados para
usar apenas comigo, ele teve a delicadeza de trazer de casa.
Os olhos castanhos-esverdeados dele me analisaram dos pés à
cabeça, eu estava como ele mandou, a lingerie era preta e minúscula, a
coleira escrita honey. Nos pés, sandálias de salto que comprei recentemente,
também preta, e os cabelos compridos, soltos pelas costas.
Com um suave toque de mãos, ele me guiou para o grande X, olhei
aquilo com curiosidade.
— Essa é uma cruz de Santo André, serve para deixar o submisso
preso pelos braços e tornozelos — falou, tocando as algemas. — A mordaça
não usarei em você hoje.
Danilo virou-me de frente, tocando seus lábios nos meus com
ternura.
— Lembre-se, no segundo que disser azul, eu pararei — garantiu.
Eu não diria, não estava com medo e queria aquilo tanto ou mais
que ele, eu queria testar tudo.
Primeiro minhas mãos foram presas, depois os pés, mantendo-me de
pernas abertas. Encarei os olhos dele e tudo o que vi foi desejo.
— Você confia em mim?
— Sim, senhor — respondi, firme.
Queria que Danilo entendesse que eu o amava como ele era, amava
a escuridão que habitava dentro dele e amava ainda mais o homem
maravilhoso que ele era quando estava livre dela, eu o amava por ser quem
era. Ele se afastou para buscar alguma coisa no aparador, o segui com o
olhar, ainda estava totalmente vestido, desfrutando do momento.
Quando voltou, segurava nas mãos duas presilhas de mamilos, uma
chibata e um bastão, que eu ainda não sabia para que servia, deixou-os
próximo de nós dois em uma poltrona erótica. Queria perguntar como ele
colocaria as presilhas em mim já que eu usava a lingerie, mas não foi
preciso, ele abaixou a peça com um puxão, expondo um dos meus seios que
estavam eriçados de desejo.
Ele colocou meu seio na boca encarando-me, chupando e raspando
os dentes o que causava ainda mais fricção na pele sensível. Já estava
acostumada com a fisgada do prendedor de mamilo, mas ainda assim gemi,
dessa vez estavam um pouco mais apertados. Com outro puxão, liberou
meu outro seio, rasgando o sutiã que caiu no chão, fez as mesmas carícias
antes de prendê-los.
Desceu beijos pela minha barriga e outra vez rasgou a última peça
que eu usava, expondo a minha intimidade.
— Você acha que estou contigo por diversão? — perguntou,
parecendo bravo.
— Oi?
— Responda sim ou não, Melissa. Você acha que eu quero apenas
diversão com você? — questionou novamente, enquanto se livrava do terno
e da camisa social.
— Na...ão — respondi a mentira.
Vi quando bateu com a chibata no meu seio, em cima da presilha.
Gemi, a mistura de dor e prazer me confundindo e excitando.
— Não quero que minta, nunca mais — exigiu.
— Sim, senhor, eu acho que sim.
Encarei seus olhos e vi o quanto isso mexeu com ele.
— Há mais de seis meses você entrou no meu escritório totalmente
linda e inocente, eu a quis aqui desde aquele momento, presa na cruz,
olhando-me com esses olhos azuis repletos de desejo. Você, Melissa, se
infiltrou na minha vida como uma droga em um organismo, quanto mais eu
tenho de você, mais eu quero. Então não diga que isso é diversão, não
quando se passaram cinco meses e eu ainda continuo louco por você.
Estamos entendidos?
Engoli em seco, ele estava falando e olhando diretamente nos meus
olhos, os cabelos desgrenhados e as tatuagens o deixando quase selvagem.
Essas eram as palavras mais intensa que ele já tinha me dito.
— Sim, senhor — respondi num fio de voz.
Danilo deixou a chibata de lado e abaixou-se diante de mim.
— Lisinha, do jeito que eu gosto — ronronou, tão perto de onde eu
mais o desejava, mas sem tocar.
Fechei os olhos tentando forçar as pernas, mas era em vão, senti o
tapa forte próximo à bunda.
— Fique quieta — mandou e eu assenti, concordando.
Com a língua, ele brincava de vai e vem em mim, deixando-me na
beira do precipício. Gritei quando o bastão foi posicionado no meu clitóris,
dando um suave choque delicioso. Então era isso que ele fazia.
— Oh meu Deus! — falei alto, abrindo os olhos desfocados de
prazer com o orgasmo.
Danilo fez mais uma vez e outra e outra, causando uma intensa onda
elétrica por todo o meu corpo, não notei quando ele se despiu do resto da
roupa, estava embriagada demais. Senti quando ele me invadiu, os olhos
nos meus, a boca sugando a minha, as mãos segurando no meu pescoço sem
me apertar demais. Se era aquilo que ele temia que eu tivesse medo, estava
equivocado, meu único medo era nunca mais o ter.
Mais uma vez gozei com ele, estranhando o líquido que esguichei
pela primeira vez, fazendo-o sorrir.
— Isso é a ejaculação feminina, honey — explicou rouco no meu
ouvido, enquanto tentava se recuperar do próprio prazer.
Fui desprendida e carregada até a cama, ele tirou meus saltos
enquanto acariciava meus pés.
— Você trouxe o plug anal — constatei, olhando para o aparador.
— Sim, hoje usarei em você — afirmou, pegando uma barra
vermelha com tornozeleiras de couro presas nela.
Colocou nos meus tornozelos, impossibilitando que eu fechasse as
pernas.
Os pulsos foram amarrados na cabeceira da cama com uma corda
fina.
— Quero você em cada parte desse quarto, marcada para sempre na
minha memória — falou, passando o que acredito ser lubrificante no plug,
molhei os lábios, ansiosa.
Os dedos dele deslizaram no meu anel de músculos, lubrificando-o
também, a peça fria invadiu meu corpo, deixando-me tensa, mas logo toda a
tensão se dissipou quando ele acariciou meu clitóris com a língua, dando
choquinhos com o vibrador.
Fechei os olhos, perdida nas sensações.
— Quero que veja cada momento, está proibida de fechar os olhos
— mandou, sorri mordendo o lábio inferior.
— Sim, senhor.
Danilo mais uma vez me possuiu com força, levando-me ao clímax
rapidamente, e antes de atingir seu próprio prazer, ele me virou, deixando-
me de bruços, as mãos ainda amarradas e as pernas separadas pelo
distanciador, segurou-me pelos cabelos e manteve um ritmo torturante.
— Minha, Melissa, nunca mais duvide disso — ordenou, era o mais
próximo que eu receberia de uma declaração dele.
— Sim, meu lindo, sua — ronronei.
Ele atingiu o ápice, puxando meus cabelos nas suas mãos.
CAPÍTULO 20

Melissa
Minha primeira vez no clube tinha sido a mais intensa das vezes que
ficamos juntos, assim como ele disse que seria. O dia já estava
amanhecendo quando nos deitamos na cama, os corpos aninhados e
exaustos.
— Por que você tem tantas tatuagens? — questionei, isso era uma
das coisas que mais me intrigava nele.
— As primeiras foram rebeldias da adolescência, mas cada uma
possui um significado, depois peguei gosto por elas e continuei fazendo —
falou com suavidade, mantendo o ritmo da carícia que fazia nos meus
cabelos.
— Todas têm um significado mesmo? — perguntei surpresa, eram
tantas.
— Sim, todas.
— Essa significa o quê? — questionei, apontando para duas asas
que ele tinha no punho direito, com as letras AGR logo abaixo.
— Luto, com as siglas da minha mãe — contou com pesar na voz.
— Qual era o nome dela? — indaguei suavemente.
— Ângela Gomes Ribeiro.
— E essa? — Toquei a fênix, que ficava no seu peito do lado direito.
Não queria que a nossa noite maravilhosa terminasse com um
assunto tão triste.
— Essa fiz no mesmo dia que meu pai morreu, o menino medroso
que era surrado morreu com ele e renasceu em um outro homem, por isso a
fênix.
Deus! As duas que perguntei pareceram deixar ele tão introspectivo.
Beijei seu peito, tentando trazê-lo de volta para esse momento, para
nós dois aqui.
— Essa do Gael, você fez quando ele nasceu? — perguntei, sabendo
que mudaria o ânimo dele já que adorava o filho mais que tudo.
O nome do Gael era escrito em letras bonitas bem em cima de onde
ficava o coração.
— Foi quando ele estava na UTI — respondeu por fim.
Eu sabia que o nosso menino nasceu prematuro por muitas
irresponsabilidades de Carolina, a mãe biológica dele.
— Gael me mostrou outra forma de ver a vida, uma mais colorida,
ele foi a minha salvação — contou.
Endireitei meu corpo de lado, esse era o melhor momento para eu
sondar sobre o que mais estava me atormentando nesses últimos dias.
— Você pretende ter mais filhos algum dia? — perguntei baixinho,
mas com os olhos fixos nele.
Eu o analisei profundamente, cada expressão dele não passou
despercebida por mim e esse foi um dos meus erros naquele alvorecer do
dia. Danilo franziu o cenho, como se só nesse momento pensasse sobre o
assunto, sua expressão antes tranquila, agora, um pouco atormentada, quase
como se a ideia de ter outra criança em sua vida fosse ridícula.
— Não, não quero mais. Gael é o suficiente na minha vida, quase
não tenho tempo para me dedicar a ele, outra criança seria loucura — falou
prontamente.
Loucura.
Eu já imaginava que seria uma resposta parecida, mas não achei que
me afetaria tanto, não quando eu já estava com um bebê dele crescendo
dentro de mim.
— Você tem a vida toda pela frente, talvez mude de ideia —
comentei, forçando a minha voz para sair normal.
— Não mudarei, não pretendo ter outro filho, Melissa, não depois
do que passei para ter a guarda unilateral do Gael e ser considerado um
monstro por tirar o filho de uma mãe — falou com certa raiva.
Travei na parte do tirar o filho de uma mãe, eu não sabia toda a
história, apenas que Carolina era desequilibrada, uma dondoca
irresponsável e fútil que se preocupava mais com o próprio corpo do que
com seu bebê.
Insegurança dominou todo o meu corpo, será que existia a mera
chance de ele tentar me convencer a desistir do meu filho e com isso ficar
com a guarda apenas para ele? Deus, não! Eu nunca permitiria.
— Não quero terminar a nossa noite assim — falou, puxando-me
para montar no seu colo com uma facilidade incrível.
Forcei um sorriso, tentando com isso evitar que todas as minhas
inseguranças ficassem visíveis nos meus olhos. Danilo era um pai
maravilhoso, disso eu tinha certeza. Ele podia não querer mais um filho,
mas estava com outro a caminho e não havia mais volta, eu teria que contar
para ele uma hora ou outra, mesmo temendo a sua reação. Eu lutaria
sozinha pelo bebê se ele não o quisesse, mas contaria.
— E você gostaria de fazer uma tatuagem? — questionou, curioso,
acho que mais desejando mudar de assunto do que realmente saber.
— Não, tenho pavor só de imaginar a dor — falei a verdade, eu
morria de medo.
— Não dói.
— Todos que têm dizem a mesma coisa, mas eu ainda assim prefiro
não fazer.
— Está vendo essa? — ele perguntou, mostrando com o dedo
indicador o antebraço esquerdo.
— É um lobo? — questionei, vendo os olhos azuis intensos do
animal.
— Sim, foi a primeira, Daniel e eu fizemos juntos na adolescência.
— Idênticas? Tipo tatuagens de irmãos?
— Idênticas, simboliza respeito à família. No dia que fizemos,
apanhamos demais do nosso pai, ainda mais o Dan porque ele não tinha
nem dezesseis anos, mas valeu a pena — falou com um pequeno sorriso
nostálgico.
— Seu pai era uma pessoa ruim? — Já imaginava a resposta.
— Ele sempre foi uma pessoa difícil de se lidar, minha mãe era a
única que conseguia tirar algo bom dele, então quando ela morreu, ele se
perdeu no luto e ficou mais violento.
— Ele era gêmeo idêntico do Ruan, não era? — perguntei, tinha
visto fotos dos dois juntos na casa da Ruth.
— Sim, a aparência denunciava o parentesco. Enquanto um era
gentil, o outro era hostil e sempre mal-humorado.
— Como ele se chamava?
— Raul, ele teve insuficiência cardíaca e morreu muito jovem,
Daniel tinha acabado de completar dezoito anos — contou sem emoções na
voz.
— Deve ser muito difícil para vocês verem o Ruan e lembrarem de
tudo o que passaram nas mãos do Raul.
— Se eu pudesse escolher, preferiria ser filho do meu tio, então não
é tão doloroso como imagina.
— Também perdi os meus muito cedo, meu pai foi quando eu ainda
era pequena, ele sofreu um acidente no trabalho e não resistiu, foi com a
indenização dele que minha mãe me criou, até que ela se casou outra vez e
o meu padrasto ficou responsável pelo nosso dinheiro. Ela era cheia de
vida, uma mãe leoa, sempre me colocou acima de todos, até que um dia um
motorista bêbado a atropelou, ela também não resistiu, o impacto foi
diretamente nela, como se fosse intencional... — falei com a voz
embargada, era a primeira vez que eu falava em voz alta a minha suspeita.
— Intencional? Por que pensa assim? — Danilo questionou com o
cenho franzido, enquanto secava as lágrimas que rolaram dos meus olhos.
Eram os hormônios, eles que me deixavam assim tão volátil.
— Ao que tudo indica, foi crime culposo, sabe, quando a pessoa
realmente não tem a intenção de matar, mas eu... mas eu... eu tenho uma
sensação diferente — falei parte da verdade, eu tinha muitas suspeitas.
— O motorista está preso?
— Parece que o meu padrasto fez de tudo para mantê-lo preso, mas
não adiantou — comentei com certa dúvida.
Eu nunca acreditei na história do Fernando, de que tinha feito de
tudo e mesmo assim o motorista ficou livre, acreditava que existia muito
mais por trás disso.
— Sinto muito, Mel. Se quiser, eu posso pedir para os meus
advogados entrarem em contato com o seu padrasto e...
— Não! — quase gritei, levantando um pouco a cabeça,
desesperada.
Danilo me encarou surpreso com o meu rompante, até um pouco
preocupado.
— Não quero remexer nisso, não quero sentir aquela dor outra vez
— acrescentei rápido, tentando evitar que ele percebesse o meu real medo.
— Tudo bem, minha linda, não vamos falar mais sobre isso. Vem,
você precisa dormir um pouco.
Puxou-me para alinhar o meu corpo ao dele, fazendo um cafuné
gostoso nos meus cabelos.
Eu apaguei e não tive um sono tranquilo.

Dizem que as palavras são como magnetismo, quanto mais


falávamos, mais as atraíamos para nós e eu estava começando a acreditar
nisso quando, no mesmo dia que falei sobre o meu padrasto, recebi uma
mensagem no celular que estava registrado no nome da Eve.
“Achei você, docinho, e dessa vez você não me escapa.”
Eu não precisava perguntar quem era, só aquele maldito me
chamava de docinho.
Assustada, olhei ao redor, eu estava no meu quarto na mansão do
Danilo, rodeada de seguranças, mas nem isso me dava a sensação de estar
segura.
Toquei a barriga, não era apenas eu, agora tinha o meu bebê, o Gael
e tantas outras pessoas que aprendi a amar. Se eu continuasse aqui, aquele
assassino tentaria me atingir de alguma maneira e eu tenho certeza de que
seria usando, Eve, Danilo, Gael, Rosa, ou qualquer um dos que se tornaram
pessoas importantes para mim.
Não, eu não posso permitir isso.
Mordi o lábio inferior com o choro preso na garganta. Ao voltarmos
do clube, aproveitamos que estávamos sozinhos e tivemos um sábado
incrível juntos. Agora era madrugada, Danilo tinha acabado de dormir e eu
voltei para o quarto apenas para colocar o celular para carregar, antes de me
deitar com ele, foi quando vi a mensagem.
— Não, não, de novo não — supliquei baixinho, as mãos na cabeça,
o medo começando a me deixar em pânico.
Inspira, expira e pensa no que fazer.
Corri para o banheiro e coloquei o celular embaixo da água,
destruindo-o e jogando-o na lixeira. Ele já sabia onde eu estava? Ou apenas
o meu número? Eu não tinha tempo para pensar demais nisso, se ele
realmente mandou matar a minha mãe a sangue frio como eu suspeito que
fez, faria o mesmo com as outras pessoas que amo sem pensar duas vezes.
Deus, eu não vou permitir isso.
Peguei a minha mochila, o meu caderno, documentos e o essencial,
ironicamente as mesmas coisas que trouxe para cá, deixando todo o resto
para trás. Guardei a maior parte do meu salário nesses últimos meses e daria
para me virar por um tempo.
Joguei tudo dentro da bolsa e vesti o moletom saindo do quarto.
Olhei para a porta do Danilo, eu não poderia ir até lá, ou não
conseguiria ir embora, encarei a porta do meu menino brilhante, que essa
noite estava na casa da Ruth.
Chorei ainda mais.
Dessa vez estava sendo mais difícil fugir do que da primeira, eu
tinha pessoas que amava de verdade, pessoas que eu nunca deixaria para
trás se não fosse por uma questão tão delicada quanto essa. Lágrimas
grossas deslizaram pelo meu rosto quando entrei no quarto do Gael, peguei
uma das suas pelúcias da estante, um leãozinho e o coloquei na bolsa,
levaria comigo, como uma lembrança.
Em cima da sua mesinha de estudos havia um bloquinho de
anotações e lápis para colorir. Peguei o vermelho e escrevi a minha
despedida.
“Queria que estivesse aqui para eu te dar um último beijo, queria
ter dito mais o quanto eu te amo, queria poder estar ao seu lado para
sempre te vendo crescer, mas, infelizmente, não consigo, não dá mais para
mim e eu preciso ir embora. Sinto muito, meu amor, você foi a âncora que
eu precisava no momento mais difícil da minha vida, foi o meu pequeno
salvador com suas fantasias lindinhas e seu sorriso cativante. Você sempre
será o meu menino brilhante e sempre terá todo o meu coração, cuide do
Pipoca e do seu pai. Amo você!”
Deixei o papel com o nome dele embaixo do porta lápis, algumas
das minhas lágrimas borraram as letras.
Escrevi um para Eve e um para Danilo, tentando com isso evitar que
me procurassem, eles mereciam mais do que um bilhete de despedida,
muito mais. Deixei a mansão o mais silenciosamente possível, mas quando
cheguei no portão principal um dos seguranças me barrou.
— Senhorita Melissa, aconteceu alguma coisa? — questionou,
analisando-me confuso.
Mesmo sendo tão tarde, não estava frio para eu estar de moletom e
usando a touca.
— Nada, minha prima acabou de me ligar, ela precisa da minha
ajuda com... uma questão feminina — menti, torcendo para ele acreditar.
— Nesse horário? O senhor Gomes Ribeiro sabe que está saindo tão
tarde? — inqueriu.
Respirei fundo, eu precisaria ser rude.
— Ele sabe e pelo horário, já é o meu dia de folga, eu posso sair
quando bem entender, não é? Não sabia que aqui era uma prisão —
respondi.
— Não é, claro que não, só estranhei a senhorita querer sair tão
tarde — comentou, surpreso com a minha reação.
— Sei, então abra o portão, minha prima está me esperando logo ali
— apontei com o dedo, mas não havia carro algum.
Ele assentiu, ainda um pouco receoso em me deixar ir. Longe dos
olhos preocupados do segurança da entrada principal, eu corri, corri e corri
o máximo que pude. A cidade estava quase em silêncio, apenas alguns
carros transitando na rua evitavam que eu estivesse completamente só.
Quase uma hora de caminhada e eu cheguei na estação do metrô, de
lá seguiria para a rodoviária da periferia e tentaria despistar qualquer um
que seguisse meu rastro, assim como fiz da primeira vez. Tudo o que
comprei foi apresentando a minha identidade falsa com o nome Melissa
Pereira, a mesma que usava para entrar em baladas com as minhas colegas
da escola no que parecia ser outra vida. Estava deixando para trás todos que
eu amava, com o único intuito de mantê-los protegidos, e esperava de
coração que eles um dia fossem capazes de me perdoar.
CAPÍTULO 21

Melissa
O sol estava tão quente que me fazia transpirar, mas nem isso me fez
tirar o moletom. Já tinha deixado Vale de Lótus e estava atravessando as
próximas cidades, com um destino incerto, apenas segui caminho sem parar
um instante. A placa na rodovia indicava que estava deixando o estado de
São Paulo e entrando no vizinho, Minas Gerais.
Na primeira fuga, eu tinha para onde ir, tinha a quem recorrer
mesmo que fosse remota a chance de me aceitarem, mas agora estava
sozinha, não tinha ninguém, os que eu amava estavam em Vale de Lótus
assim como o meu coração.
Minha barriga roncou de fome, e foi quando a toquei, eu tinha, sim,
um motivo pelo qual lutar, tinha uma vida no meu ventre, fruto do amor que
sentia por Danilo. Só de pensar nele e no que não viverei mais, meu peito
apertava em angústia.
Já era início da noite quando desci na rodoviária de uma pequena
cidade mineira, precisava comer e descansar um pouco, priorizar o meu
bebê.
Sentei-me em uma das cadeiras e abri a mochila, pegando um pouco
das minhas economias e novamente as guardando protegidas na bolsa, Deus
me livre ser roubada nesse momento. Quando me levantei, foi rápido
demais e acredito que a minha pressão baixou, deixando-me zonza, não cai
porque uma pessoa caridosa segurou meus braços, ajudando-me a sentar.
— Senta menina, eu com essa idade não consigo segurar nós duas.
— A voz lá distante, soou gentil e senti os dedos frios na minha testa. — Cê
tá branca como papel, acho que sua pressão caiu, fique aqui quietim, vou
buscar uma água pro cê.
Abri os olhos e vi a senhora de vestido azul marinho estampado com
girassóis caminhar para longe, deixando-me sentada lá, às vezes olhava
para trás para se certificar que eu estava ali ainda. Não ousei me levantar
novamente, uma queda poderia prejudicar meu filho.
— Toma, beba tudo, tá geladinha e vai ajudar.
Peguei a garrafinha e bebi toda de uma vez, olhando agora o rosto já
enrugado da minha salvadora. Ela era bonita, tinha a pele clara, os cabelos
em corte chanel e pintados de um loiro acobreado, parecia o tipo de senhora
moderna.
— Eu não comi quase nada o dia todo, deve ter sido isso —
comentei, culpada, estava tão assustada, focada em apenas fugir que
negligenciei o meu estado.
— Sua cor tá começando a voltar, arreda um tiquim pra lá pra eu
me sentar — pediu e eu sentei no banco ao lado. — Veio de muito longe?
Cê não é daqui, disso eu sei porque cresci nessa cidade e conheço todo
mundo.
Eu a entendia bem, esse era um dos benefícios de se morar em
cidade pequena, cria-se vínculo com todos por isso, quando deixei a minha
cidade natal, tive que ser muito mais cautelosa para que ninguém me visse,
já em Vale de Lótus, você pode estar passando mal e um terço das pessoas
não te notariam, de tão grande que é.
— Sim, vim de São Paulo — contei baixinho.
— Da cidade?
Assenti, mentindo.
— Mas por que tão longe de casa, menina? Viajar sozim assim é
perigoso.
— Eu sei, não tenho uma casa, na verdade, preciso encontrar uma
pensão ou hospedaria para pernoitar.
— Aqui? Nessa cidade com três mil habitantes, não temos uma
pousada, nem nada parecido.
— Como não? — questionei, confusa.
— Tem uma casa que até alugam, mas tá ocupada há uns dias.
Deus, essa cidade era minúscula comparado com a que nasci.
— Não sei o que farei então, não posso ficar aqui a noite toda. —
Toquei a barriga, estava virando uma mania de proteção.
Os olhos da senhora mineira pousaram no meu gesto, compadecida,
parecendo entender muito mais as coisas agora.
— Eu tenho um quartim vazio do meu neto, ele se mudou pra
própria casa, independência, como os jovens de hoje em dia falam,
podemos ir para a minha chácara — propôs.
Engoli em seco, olhando ao redor, estávamos apenas nós duas ali
naquela pequena rodoviária que só tinha dois bancos.
Meus olhos se encheram de lágrimas, onde eu vim parar?
— Não precisa chorar, o que acha que uma idosa como eu faria
cocê?
Eu a analisei com cautela.
Mesmo que eu tivesse me simpatizado com ela logo de cara e
adorado o sotaque arrastado típico mineiro, ainda estava com medo. As
vilãs das histórias infantis também eram senhorinhas.
Ela se levantou, olhando-me com pesar.
— Eu não queria deixar ocê aqui, mas preciso ir, meu neto tá me
esperando no estacionamento, eu acabei de voltar da cidade vizinha onde
faço fisioterapia no braço, tô cansada e morrendo de fome, tenho uma
forma de pão de queijo fresquim lá em casa — disse, começando a andar,
mas parou, olhando-me. — É perigoso ficar aqui, vambora, não precisa ter
medo de mim.
A fome, os hormônios, o medo de passar a noite sozinha e sem um
teto, tudo se juntando para me convencer a levantar e segui-la. Coloco nas
mãos de Deus, que nada de mal me aconteça, mas eu já estou sem opções.
No estacionamento da rodoviária, uma caminhonete estava com os faróis
acessos, iluminando o caminho já que a noite dominava o céu.
A senhora, que eu ainda nem sabia o nome, segurou no meu braço
guiando-me para evitar que eu caísse, ela pelo visto, conhecia bem o local.
Quando a porta da caminhonete abriu por dentro, fazendo um
rangido, a voz curiosa questionou:
— Uai! Quem é essa vó? — Era um tom começando a ganhar a
rouquidão da voz masculina adulta.
— Nó, Igor, me espere entrar primeiro, minhas pernas tão me
matando — reclamou.
Ela se acomodou no banco do carona, estendendo a mão para mim
que subi colocando a bolsa no colo.
Igor era como eu tinha imaginado, um homem que tinha acabado de
entrar na casa dos vinte, novo assim como eu, tinha os cabelos bem
desgrenhados e um pouco compridos, uma barba curta, olhos castanhos,
quase negros.
— Ela é a... — Bateu com a mão na testa ao perceber que não sabia.
— Cumé qui cê chama?
— Melissa, meu nome é Melissa — repeti, sentindo os dois pares de
olhos em mim.
— Essa é a Melissa, uai — falou, olhando para o neto, que estava
estancado no lugar.
— Tá dano carona pra uma desconhecida? — ele perguntou com
repreensão na voz. — Cadê toda a cautela que a senhora fazia questão de
esfregar na minha cara na adolescência?
— Deixa de ser abusado, menino, não tô dano carona, Melissa vai
fica em casa por uns dias, ela não tem pronde ir.
— E lá virou pensão por um acaso? — ele questionou, irritado, os
olhos nos meus.
Acho que o tal Igor não gostou de mim.
— Senhora, eu não quero causar um atrito entre vocês, posso
pernoitar aqui na rodoviária mesmo. — Tentei apaziguar a situação.
— Eles fecham — o rapaz respondeu de mal humor.
Droga!
— Sou Célia, minha filha, e não, cê vai pra casa comigo, vai se
alimentar, tomar um banho e dormir. Deixa que eu resolvo as coisas com
esse jacú[vi] aqui. — Ela deu um beliscão nele que fez uma careta ao dizer:
— Aí, vó, essa doeu!
— Era pra doer mesmo, agora dirija, ou não tá ouvindo o ronco de
fome dessa menina?
Os dois olharam para mim, que corei envergonhada, minha barriga
estava fazendo barulhos altos pelo visto. A chácara da dona Célia não era
tão longe, em menos de cinco minutos, estávamos descendo em frente a
uma casinha rosa com várias flores penduradas na varandinha de madeira
que dava um ar de conto de fadas para o lugar.
— Nossa, é lindo — falei, encantada.
— Cê não viu nada, de dia é ainda mais menina, bora alimentar esse
serzim aí dentro que parece impaciente.
É, pelo visto, Célia já tinha percebido que eu estava grávida.
Eu não tinha certeza de quanto tempo gestacional eu estava, sempre
fui muito magra e a minha barriga não tinha nem começado a desapontar,
precisaria procurar um médico o quanto antes para o acompanhamento. Só
precisava encontrar um lugar seguro onde ficar até o bebê nascer e dessa
vez, eu não descuidaria tendo um celular, não daria chance ao Fernando de
me encontrar outra vez.
— São os melhores pães de queijo que já comi — falei, mordendo o
sexto.
Estava realmente faminta.
Igor e Célia já tinham parado de comer e só ficaram na mesa
fazendo companhia para mim.
— Cê tá melhor? — ela perguntou, analisando-me com curiosidade.
— Sim, amanhã de manhã irei pegar outro ônibus e agradeço muito
pela ajuda de vocês — falei, olhando para os dois, não queria a antipatia do
rapaz que só me olhava com a expressão fechada, como se tentasse
descobrir se eu era ou não uma ameaça para a sua avó.
— Tem base um trem desse? — Célia reclamou, olhando para o
neto. — Não precisa ir amanhã, fique por uns dias, cê precisa de um
médico, temos um ótimo na cidade.
Notei que ela foi discreta e não comentou da gravidez por causa do
neto, isso fez com que Célia ganhasse mais uns pontinhos comigo.
— Eu não posso — sussurrei, não podia realmente, como faria a
minha ficha com as identidades que tinha?
A verdadeira Fernando e Danilo sabiam qual era, e a falsa
acreditava que já não era mais tão segura, se ele me achou, pode ter
descoberto o nome que usei para chegar até Vale de Lótus.
— Vá descansar, amanhã vamos ver isso e cê vai comer como se
deve.
Ela tinha dito que nos dias da fisioterapia não cozinhava, passava o
dia fora e só assava uns pães de queijo para não dormir de estômago vazio.
Eu já estava agradecida, estava me sentindo bem melhor e por essa noite,
me permitiria ser cuidada por uma senhora desconhecida, que em pouco
tempo fez mais por mim do que muitos conhecidos.
Igor não queria ir embora nem mesmo depois de eu garantir que não
era um perigo, por isso foi quase expulso pela avó. Os dois se gostavam
muito, isso era notável e eu achei admirável o quanto ele se preocupava
com a Célia. Após o banho, me deitei na cama de solteiro agarrada ao
leãozinho do Gael, inalando o cheiro do lugar que eu aprendi a amar como
lar.
Não imaginava que iria parar aqui, em um quarto com decorações
adolescentes, com pôsteres de diversas bandas na parede e muitos HQs.
Mesmo forçando para evitar que caíssem, as lagrimas rolaram dos meus
olhos como cachoeira, saudades do que nem vivi com Danilo e Gael, da
vida que sonhei quando descobri que estava grávida, de nós quatro juntos
como uma família. Por que as coisas tinham que ser tão difíceis para mim?
Por que sempre que começava a dar certo, a felicidade escorria pelos meus
dedos? Não sou digna dela? Não poderei um dia viver em paz sem ter de
fugir do Fernando? O que será que Danilo está pensando sobre mim agora?
Será que ele está me odiando por abandoná-los assim, no meio da noite?
Apaguei antes de conseguir pensar demais nas respostas para as
inúmeras perguntas que me rondavam.
CAPÍTULO 22

Danilo
Relembrar a minha infância era sempre difícil, passei por coisas
horríveis com o meu pai e o luto não justificava o que ele fez comigo e
Daniel, só que eu arquivei essa parte da minha vida, coloquei tudo em uma
caixa imaginária, lacrei bem e joguei no mais fundo da minha mente, onde
evitava lembrar, mas existia a Melissa e a sua genuína curiosidade e
interesse em querer me conhecer mais, me desvendar, me fazer falar.
Eu não sabia e muito menos entendia como ela fazia aquilo, mas
Melissa conseguia me fazer falar sem qualquer esforço. Depois de tê-la no
clube, em cada parte que ansiei, meu desejo não diminuiu, foi o contrário,
eu não enxergava mais o prazer daquele lugar se não fosse com ela, foda-se,
já tinha percebido que estava apaixonado e sabia que ela sentia o mesmo,
Melissa estava tão entregue quanto eu.
Não imaginei que a nossa noite terminaria com nós dois falando
sobre o passado, ambos queríamos conhecer melhor um ao outro e o
assunto surgiu sem realmente precisarmos perguntar. Notei a tensão dela ao
mencionar o padrasto e isso me preocupou, sabia que Melissa era discreta,
que evitava se expor e que havia um motivo por trás disso, mas já começava
a acreditar que não era a timidez como achei no início.
Será que ela estava fugindo dele? O que será que aconteceu entre os
dois? Fiz uma nota mental de investigar isso a fundo depois, vê-la tão
vulnerável me fez apenas abraçá-la para dormirmos.
Voltamos para casa no início da tarde de sábado, ficamos o restante
do dia juntos na sala de cinema, a noite no clube a tinha deixado dolorida e
aproveitamos para curtir a companhia um do outro, foi quando percebi que
gostava daquilo, não era o sexo com ela, era ela, sempre foi ela.
Não adiantava mais ficar batendo na mesma tecla, fugindo do que
eu sentia, eu queria contar para todos, agarrá-la para nunca mais soltá-la.
Assim que acordei disposto a propor isso, ela não estava na cama.
Cocei os olhos e olhei ao redor.
— Mel? — chamei, a porta do banheiro estava entreaberta, mas
quando fui ver, ela não estava lá.
Nem no seu quarto.
Nem no jardim que ela amava.
Nem na cozinha.
Nem em canto algum.
Mas que porra!
Peguei meu celular e disquei o número dela, já sabia de cor. Não
chegou nem a chamar.
Estava tentando não me desesperar, não imaginar o pior, mas
quando chamei o segurança noturno para perguntar se a tinha visto, ele me
disse que ela tinha saído tarde da madrugada e ainda não tinha voltado.
Caralho! Todo o desespero que segurei veio à tona.
Fui para o meu escritório procurar o número do celular da Evelyn,
que atendeu com a voz rouca de sono.
— A Melissa está aí? — falei direto, não tinha tempo para me
desculpar por acordá-la, mesmo sabendo que ela trabalhou a noite toda.
— Não, eu não a vejo desde domingo passado quando ela veio até
aqui. Aconteceu alguma coisa? — perguntou, a voz começando a se
preocupar.
— Ela disse ao segurança que iria até a sua casa. — Passei a mão no
rosto.
Merda!
O que eu mais temia aconteceu, ela fugiu de mim, ficou com medo
após a sessão no clube, certeza.
— Dani, por que você está tão preocupado? Vai ver ela só está
aproveitando a folga — Eve supôs.
— Porque ela saiu de madrugada. Melissa esperaria o dia amanhecer
se esse fosse o caso.
— É, você tem razão, agora estou ficando realmente preocupada.
Não estava focado na conversa. Estava repassando a nossa noite,
parecia que ela estava adorando tudo, em momento algum demonstrou
medo.
— Já tentou telefonar? — perguntou, chamando a minha atenção.
— Sim, o celular nem chama.
— Eu vou ficar tentando, me mantenha informada se souber de
qualquer coisa.
Se a ida de Melissa foi por causa da nossa sessão, foda-se, eu nunca
mais a levaria lá, ela só precisava ficar aqui comigo e com o meu filho.
Gael.
O que eu vou dizer para ele?
Telefonei para Fausto, um dos melhores detetives particulares que
conheço, trabalhava para mim com frequência em relação aos associados do
clube. Eu precisava fazer alguma coisa, precisava achá-la, não podia
simplesmente sentar e esperar. Estava entrando na garagem, prestes a sair
de casa, quando Daniel estacionou a moto dele.
— Está indo para onde? — questionou, tirando o capacete.
Apertei a têmpora.
— Ao clube, marquei uma reunião com o Fausto.
Meu irmão me olhou confuso.
— Você sabe que é domingo, não sabe?
— Foda-se, pouco me importo — disse rude, não estava com
paciência.
— É uma emergência? Porque eu precisava falar com você, um
assunto delicado. — A expressão dele não denunciava a gravidade da
situação.
— É, sim, preciso achar a Melissa. — Destravei o carro prestes a
entrar.
Em algum momento, eu teria que falar sobre ela e o que estávamos
tendo.
— É por causa dela que estou aqui — falou rapidamente, agora um
pouco mais em alerta.
Estanquei no lugar, dividido entre ir logo ao clube ou ficar aqui
esperando uma resposta dele.
— O que quer dizer com isso? — questionei, começando a
desconfiar.
— A viagem que eu fiz foi por causa dela, é melhor a gente entrar,
como eu disse, o assunto é delicado.
Daniel não me esperou, pegou uma pasta na mochila que usava e foi
entrando, caminhou direto para o meu escritório.
— Por que você viajou por causa dela? — perguntei, fechando a
porta atrás de mim.
— Começou na festa do Gael, quando percebi seu real interesse pela
garota. — Ele molhou o lábio inferior, nunca tinha visto meu irmão tão
sério.
— O que tem de errado nisso? — Se ele viesse falar sobre a
diferença de idade, eu juro que com a paciência que estava, o socaria.
— Você, vivendo a situação não percebeu nada estranho, mas a
Melissa era cautelosa demais, cada passo dela era pensado antes, como se
escondesse alguma coisa. Eu não levei isso muito a sério no início, primeiro
achei que era timidez e notei que ela amava o Gael de verdade, não era um
perigo para o meu sobrinho. Só que você estava mais envolvido do que
imaginei e por isso fui falar com a Ana.
— O que a Ana tem com isso? — questionei, começando a ficar
angustiado.
— Calma cara, senta e me ouça — pediu, mas eu não me sentei, não
estava em condições de ter calma. Estava nervoso demais para parar quieto.
— Perguntei para a Ana se ela achava a Melissa estranha e quando
ela disse que só achava esquisito a Mel não querer ser registrada no
trabalho, eu soube que tinha mais por trás do que a menina falava, a pulga
da dúvida só aumentou e eu tentei descobrir mais. Sem perceber a minha
intenção, Evelyn me contou de onde a sua menina veio e eu viajei até lá,
passei esses últimos dias na cidade que ela nasceu — contou.
Caminhei até a janela, tentando manter o controle, eu estava a um
fio.
— Descobri que a Melissa é enteada do prefeito de uma cidade
pequena no estado do Amazonas, um charlatão, não sei como a população
não enxerga o tipo do homem, uma análise mais aprofundada feita por um
dos nossos caras e descobri podres dele.
Sabia que ele falava dos detetives que tínhamos na folha de
pagamento.
— Que podres? — Minha voz era quase um rosnado, estava
começando a fazer sentido o medo da Mel em entrar em contado com esse
homem.
— Propina, corrupção, lavagem de dinheiro, ameaças e o pior deles,
possivelmente assassinato.
Encarei Daniel agora.
— O infeliz é tão idiota que não costuma amarrar as pontas soltas, o
homem que ele pagou abriu a boca em uma bebedeira, nosso detetive
descobriu que o prefeito da cidade tinha mandado matar a própria esposa
porque precisava do dinheiro dela para bancar o marketing da próxima
eleição dele. Segundo o que disse, ela não quis bancar tudo e colocar o
futuro financeiro da Melissa em jogo, foi quando ele mandou que a
matassem.
— Puta merda! Melissa comentou comigo que acreditava que sua
mãe tinha sido atropelada intencionalmente, até sugeri ajudar com uma
investigação extra, mas quando falei em entrar em contato com o padrasto,
ela se apavorou.
Tantas coisas passando pela minha cabeça. Juro que se aquele
desgraçado tiver feito um mal a ela, eu mesmo acabo com ele.
— Não sei o que ele fez para ela cara, isso não consegui descobrir,
só sei que ela fugiu da cidade no meio da noite.
— Foi dada como desaparecida na cidade dela?
— Ele não relatou o sumiço, acredito que por medo de manchar sua
próxima eleição. — Deu de ombros.
— Como descobriu tudo isso?
— Tudo através do mesmo motorista que ele contratou, é
basicamente o faz tudo dele. Cada detalhe do que descobri está aqui, você
tem que analisar com calma. — Daniel colocou em cima da minha mesa a
pasta preta que ele tirou de dentro da mochila quando chegou.
— Eu não posso agora, ela saiu de madrugada e até agora não
voltou. A minha prioridade é encontrá-la ainda mais agora sabendo que está
em perigo. Se esse homem matou a esposa pelo dinheiro, deve estar atrás
dela para terminar o serviço e ficar com tudo — falei.
— Ele não saiu da cidade enquanto estive lá, deixei um dos nossos
homens de olho nele, um passo e saberemos.
— Isso é bom. Por que você teve todo esse trabalho? — questionei,
confuso, Daniel não era o tipo de pessoa que dedicava muito do seu tempo
em algo que não o favorecesse de alguma maneira.
— Porque eu sou o seu irmão, vi que estava envolvido demais e que
não estava enxergando as coisas com clareza. — Deu de ombros. — Fiz por
você, é isso o que os irmãos fazem.
Dessa vez eu o analisei com olhos diferentes, diminuindo a
costumeira visão do Daniel inconsequente e irresponsável, finalmente
começando a enxergar que ele se importava com mais do que apenas ele
mesmo, que tinha crescido e sabia se virar muito bem. Eu me aproximei e
toquei seu ombro, percebendo que pela primeira vez, alguém tomou conta
de mim.
— Obrigado.
— Não agradeça ainda, vamos achar a bonita e só quando estiver
com ela nos seus braços, voltamos a conversar.
Sim, ele ainda continuava o mesmo provocador de sempre, mas
agora eu tinha percebido que Daniel era mais do que o irmão mais novo que
eu precisava proteger, ele era alguém que eu podia contar nos momentos
mais difíceis.
CAPÍTULO 23

Melissa
Acordei morrendo de vontade de usar o banheiro, a bexiga parecia
que ia explodir. Deixei o quarto e caminhei para o final do corredor, fiz a
minha higiene matinal e voltei para arrumar a cama e organizar as minhas
coisas na mochila.
Assim que adentrei a pequena cozinha que cheirava divinamente
bem, minha barriga roncou de fome.
Pelo visto o meu bebê será comilão, ou comilona, sorri com esse
pensamento.
Dona Célia estava sentada a mesa, segurando nas mãos um celular
moderno, nos olhos, óculos de grau.
— Bom dia! — desejei, acanhada.
Não fazia a menor ideia de como me portar, ela me acolheu tarde da
noite sem nem ao menos fazer perguntas, apenas abriu a porta do seu lar
para uma desconhecida.
— Bom dia, menina! Acordei ocê com a barueira? — perguntou,
bloqueando a tela do celular e sorrindo para mim.
Logo cedo e ela com um bom humor admirável.
— Não, acordei com a vontade de usar o banheiro — falei.
— Eu me lembro bem, quando tava esperando a minha filha, mãe
do Igor, ia no banheiro de vinte em vinte minutos. — Compartilhou a
lembrança nostálgica. — Senta aqui prum dediprosa enquanto come.
Não esperei mais, estava realmente com fome.
Enquanto me servia, sentia os olhos dela em mim, curiosa, acredito
que querendo entender a pessoa que ela acolheu.
— Eu quero agradecer outra vez por me deixar dormir aqui — falei
antes de morder meu pão caseiro quentinho, a manteiga até derretia em
cima.
— Pode fica o tempo que precisa.
— Infelizmente eu não posso parar por muito tempo, preciso
continuar com a minha viagem.
Senti o toque gentil dela na minha mão.
— Menina, não sei pelo que passou, ou de quem tá fugino, mas ocê
precisa pensar nesse serzim aí dentro, correr por aí não faz bem pra ele.
Abaixei os olhos, culpada, não queria que nada de ruim acontecesse
com o meu bebê, nunca, mas sabia que se ficasse, seria encontrada uma
hora ou outra pelo meu padrasto.
— Eu não posso ficar — sussurrei, as lágrimas molhando o meu
rosto.
Dona Célia deixou sua cadeira de lado e se agachou na minha frente.
— Fique aqui comigo, pelo menos até o bebezim nasce, depois ocê
decide o que fazê, temos o doutor Sousa aqui na cidade, ele é um médico
bom demais — falou, secando meu rosto com afeto.
— Por que a senhora quer me ajudar tanto? Eu não entendo. —
Realmente não entendia.
— Uma vez fizeram por mim, eram tempos mais difíceis, abriram a
porta da casa para uma mulher grávida e sem um marido, naquela época era
pior, muito pior. Agora é a minha vez de retribuir e eu farei isso cocê.
Notei que lembrar disso foi triste para ela e retribui seu carinho com
um abraço.
— Obrigada, dona Célia, mas eu não posso correr o risco de ser
encontrada, se eu for ao médico, vão me colocar no sistema e vão me
encontrar rapidinho — comentei o que mais temia.
Se Fernando me achou através de um celular registrado no nome da
Eve, me encontraria com facilidade no sistema médico e pior, descobriria
sobre o meu bebê. Mesmo estando apavorada em não ter um
acompanhamento médico, temendo um parto sozinha, eu lutaria até o fim
para evitar que ele soubesse.
— Tá aí a resposta cocê precisava, menina, aqui nessa cidadezim é
tudo ficha arquivada, tem nem computador no postim de atendimento.
Eu a olhei surpresa, um pouco de esperança nascendo no meu
coração. Célia apareceu com uma possível luz no fim do túnel.
— Iriam perguntar quem eu sou... — ponderei, pensando no futuro.
Ainda tentando não criar esperanças.
— Isso eu resolvo. Ocê só precisa se preocupa em se mantê
saudável e o bebezim que carrega, o resto eu ajudo. Não precisa mi contá a
sua história, eu sei que às vezes preferimos tenta esquece.
— Como a senhora quer me ajudar sem me conhecer? E se eu for
uma pessoa ruim? Alguém fugindo por ter feito algo muito errado?
Ela, ao contrário do que imaginei, sorriu.
— Eu sempre tive um bom sexto sentido, menina, e ocê é gente boa,
senti isso naquela rodoviária e ainda sinto.
— Acho que a minha mãe, lá do céu, colocou a senhora no meu
caminho — falei, chorando, dessa vez sem vergonha, eu só queria colocar
para fora a angústia que estava vivendo nesses últimos meses.
Eu fui feliz na mansão, muito, Danilo e Gael se tornaram meus
maiores amores, mas eu morria de medo de ser encontrada a cada instante,
tomava cuidado para não chamar atenção demais, fugia dos paparazzi
quando buscava o pequeno no colégio, eles não davam paz nem para a
criança.
Vivi esses últimos meses temendo a minha própria sombra, não era
como queria viver o restante da minha vida. Não era com esse medo que eu
queria criar o meu bebê. Ali, nos braços daquela senhora que ainda era uma
desconhecida, eu me permiti desabar como se ela fosse a avó que eu nunca
tive. Deixei que tudo saísse de mim, depois daquele momento, eu focaria no
meu bebê e encontraria uma forma de me manter financeiramente sem um
registro na carteira e sem precisar me expor demais.
Célia ficou em silêncio, apenas apertando-me até que meus soluços
começassem a diminuir.
— Vó, cê já coisou o trem? — Ouvi a voz do Igor e olhei para a
entrada dos fundos, que dava acesso direto na cozinha. — Uai! Não quis
atrapaia ocês — falou, passando a mão na nuca sem jeito ao ver o nosso
estado.
Eu acho que estava péssima, sempre que chorava, ficava com a
ponta do nariz bem vermelha e dona Célia estava com os olhos marejados
abaixo dos óculos.
— Não atrapalhou — garanti com a voz embargada, detestando o
olhar de pena dele.
Não queria que sentissem pena de mim.
— Tá denduforno — Célia disse e Igor caminhou até lá e abriu, o
cheiro de mais pães frescos dominou o ambiente.
Eles claramente tinham compromissos e eu já estava me tornando
um peso.
— Não vou mais atrapalhar os planos de vocês — falei, levantando-
me.
Célia me olhou com uma carranca.
— Senta aí e come direito, não comeu nada ainda — ralhou comigo
e só sossegou quando eu voltei a comer. — Igor, entrega as coisas hoje? Vo
tira o dia pra ajuda a Melissa com algumas coisas.
O jovem não estranhou as palavras da avó, apenas terminou de
embalar os pães e saiu da casa, deixando-nos sozinhas. Célia me contou que
ela era uma professora de letras aposentada e agora com o tempo livre, fazia
pães caseiros para serem vendidos em uma mercearia do bairro, que era
para lá que Igor levaria a fornada.
Ela realmente se empenhou em me ajudar a recomeçar nesse lugar,
me levou para conhecer o pequeno centro, que era a rua principal da cidade
com alguns comércios e aproveitamos para marcar a consulta com o doutor
Sousa, como era conhecido por todos, a recepcionista, única do local que
também era a enfermeira, conseguiu me encaixar para o mesmo dia, quase
no fim da tarde. Depois que Célia insistiu tanto, explicou por alto que eu
estava grávida e que não tinha feito nenhum acompanhamento ainda, até o
próprio médico saiu do consultório após ouvir o quanto ela estava teimando
com a mocinha.
Ele já era um senhor, muito simpático e pelo visto um grande amigo
da dona Célia.
Durante a consulta, eu preferi entrar sozinha, queria tirar todas as
minhas dúvidas e ficar mais à vontade com o médico caso ele me
perguntasse algo que eu não estava disposta ainda a dividir com a minha
nova amiga.
Lá, por ser um local muito pequeno, eu só conseguiria ouvir o
coraçãozinho com um aparelho que era do próprio médico, as máquinas de
ultrassonografia só eram trazidas em uma determinada data e todas as
gestantes da pequena cidade iam no mesmo dia ao consultório para fazer a
ultrassom. Isso seria em semanas e só após esse exame que eu conseguiria
saber o tempo gestacional, já que minha menstruação não desregulou até o
mês passado. Deixei o consultório muito aliviada, tudo indicava que o bebê
estava bem e eu voltaria na manhã seguinte para fazer alguns exames,
dentre eles um hemograma completo e por isso precisaria estar de jejum. Só
então começaria com as vitaminas pré-natais.
À noite, desfrutei de um jantar bem reforçado com dona Célia e com
um Igor bem mais humorado, é, acho que ele mudou de ideia sobre mim
depois de me ver aos prantos com a sua avó, ou foi depois dos incontáveis
sermões que ela deu nele. Ele se mostrou ser um bom amigo, fazia piadas
nos momentos mais inoportunos e até me convidou para um passeio no
próximo fim de semana, no qual todos os amigos iriam para uma cachoeira
não muito longe dali.
Eu neguei o convite, não estava com vontade de me socializar.
Ainda naquela noite, dona Célia me disse que tinha um notebook e
que eu poderia usar para o que precisasse, após isso, eu lutei contra a
vontade de pesquisar, apenas para ver, o meu menino e o pai dele, estava
morrendo de saudades, queria só olhar as fotos que estavam disponíveis no
google, mas me contentei em apertar o colar de abelhinha e lembrar dos
momentos com eles, seria cada vez mais difícil se eu não superasse.
CAPÍTULO 24

Danilo
Eu era um covarde, tive certeza disso no momento que pedi para
Daniel buscar Gael na casa da tia Ruth, eu não conseguiria encarar os olhos
do meu filho e contar que a sua amada Abelhinha tinha partido, que eu não
fazia a menor ideia do motivo.
Tudo o que eu tinha eram suspeitas: ou ela fugiu por medo da nossa
sessão, coisa que começava a achar cada vez mais improvável; ou foi por
medo do padrasto tê-la encontrado. Essa falta de certeza estava me
matando, ainda mais após falar com Fausto, o detetive, e ficar nessa espera
angustiante de notícias.
Quando o meu filho chegou naquela noite, com o rosto sorridente
dizendo que Pudim detestou o Pipoca de início, mas que após ele tanto
insistir, os dois se tornaram amigos, eu dei um primeiro sorriso naquele dia,
mas foi tão fraco que Gael percebeu que algo estava errado.
— O que foi, pai? — perguntou, soltando a coleira do Pipoca e
deixando o terrível cão solto pela casa.
Abaixei na altura dele, encarei os olhos de Daniel em busca de apoio
antes de começar a falar:
— Filho, hoje mais cedo a Abelhinha precisou ir embora —
comecei a contar, cauteloso.
Os olhos dele se encheram de lágrimas instantaneamente, meu
coração apertado por não conseguir evitar que ele chorasse.
— Mas ela vai voltar pra gente? — perguntou com um bico, fazendo
muito esforço para não gaguejar.
Mais uma vez olhei para Daniel, que desviou o olhar tão perdido
quanto eu. Não sabia lidar com essa situação, Gael nunca foi apegado
demais em alguém que poderia ir embora a qualquer momento. Antes da
Mel, ele era totalmente contra a ideia de ter uma babá. Ele era grudado na
família, mas todos estavam com ele o tempo todo, apenas Melissa que
partiu.
— Eu não sei, Campeão, não faço a menor ideia — neguei, porque
era melhor do que mentir e garantir algo que eu não sabia.
Gael me olhou chateado.
— O que você fez? Por que você deixou que ela fosse embora? —
ele perguntou, começando a deixar a raiva dominar suas emoções.
— Eu não fiz nada...
Gael correu escada acima, batendo o pé forte e chorando muito,
nisso ele era como eu, idêntico, detestava que os outros vissem as suas
lágrimas.
— O que eu faço? — perguntei a Daniel, que permanecia encostado
no batente da porta de braços cruzados, olhando para mim.
— Seja você, cara, o pai foda que você sempre foi — falou,
expressando tão diretamente o que achava de mim com Gael.
— Acha que eu consigo? — questionei, inseguro. Daniel era o meu
principal apoio quando eu achava que não daria conta da paternidade, ele
me entendia cem por cento, compartilhávamos do mesmo medo de sermos
igual a Raul, o monstro que nos criou.
— Dani, se tem alguém que consegue lidar com esse momento é
você, que sempre soube o que dizer, o que fazer, sempre levou jeito com
essa coisa de ser pai, eu sou um desastre, não sou a melhor pessoa para te
aconselhar nesse momento, mas sei que consegue — falou.
Neguei com a cabeça.
— Antes eu não estava tão afetado quanto ele, aquela menina
mudou a minha vida e a partida dela me quebrou tanto como quebrou a ele
— falei, olhando para o alto da escada.
Era a primeira vez que eu falava de sentimento em relação a uma
mulher com o meu irmão.
— Como eu vou tentar fazê-lo entender as suas emoções quando
não entendo nem as minhas?
Esse era um dos princípios de ser pai, não era? Ensinar seu filho que
o mundo, na maioria das vezes, seria cruel. Que as coisas não sairiam como
gostaríamos que fosse. Que as pessoas entrariam e sairiam das nossas vidas
o tempo todo. Que era normal sentir raiva, desde que ela não influenciasse
nas nossas ações. Que nem sempre estaríamos bem, e tudo bem isso.
Como eu vou lidar com esse momento se nem eu consigo aceitar a
partida dela?
— Você não só se apaixonou por ela, você a ama — Daniel
constatou o que eu estava tentando evitar pensar.
Paixão era algo que acabava, o que eu sentia por Melissa era muito
mais que isso, ela entrou tão fundo na minha alma, resgatou de dentro de
mim um eu que fazia anos que não existia. Ela libertava o que havia de
melhor em mim.
Graças a ela, eu enxerguei que precisava superar traumas da
infância, que precisava de ajuda.
— É, eu a amo, de uma maneira muito torta, mas a amo. Eu nunca
cheguei a dizer isso a ela, Melissa foi embora achando que eu era um
homem que só a queria por diversão.
Foi o que ela deixou claro na nossa noite no clube, usou palavras
diferentes, mas que tinham o mesmo sentido.
Daniel se aproximou e segurou meu ombro, era o máximo de
contato que tínhamos um com o outro, nunca fomos o tipo de irmãos que se
abraçavam, mas eu sabia que aquele simples gesto valia mais que um
abraço apertado, era para demonstrar que ele estava comigo, que me
ajudaria no que fosse necessário.
— Tenho certeza de que demonstrou o que sente, isso é mais
importante do que dizer — falou.
Eu tentei, em cada segundo que estive com ela, eu tentei demonstrar
que ela era especial, que era alguém importante na minha vida, que tinha se
tornado especial a ponto de ser insubstituível.
— Preciso falar com o Gael, não posso deixar as coisas como estão.
— Faça isso, eu irei para casa e ligarei para o nosso cara que está no
Amazonas, vou te manter informado.
— Obrigado.
Subi as escadas de dois em dois degraus, ao abrir a porta, eu não
fazia a menor ideia do que dizer. Gael estava sentado na cama, com as
perninhas cruzadas e segurando nas mãos uma pequena folha.
— Pai, ela me deixou isso — falou, entregando o papel para mim.
Desde que Melissa sumiu, eu não entrei aqui, não fazia ideia de que
ela tinha deixado um bilhete.
Peguei o papel e li buscando um por possível sinal de para onde ela
teria ido. Reli inúmeras vezes, nada, não tinha pista alguma.
Passei o dedo pelas letras borradas por lágrimas, ela estava sofrendo
por ir embora, isso estava claro, tanto no bilhete quanto nas diversas
lágrimas derramadas sobre ele.
[...] não dá mais para mim e eu preciso ir embora.
Preciso ir, isso só aumentou a minha teoria de que de alguma forma
o padrasto a ameaçou e a assustou.
Incomodava-me demais saber que ela não confiou em mim a ponto
de me acordar e pedir ajuda, ela preferiu fugir a me procurar e contar tudo.
— Ela deixou um para você e um para a Eve — Gael falou,
mostrando os outros dois papéis dobrados.
Antes de pegar o papel e ler, perguntei:
— Você os leu?
— Não, sei que não posso ler uma coisa que não é minha, a não ser
que o dono me deixe ler — disse, dando de ombros.
Sim, eu tinha acertado e muito na criação do meu filho, por isso
nesse momento eu precisava ser direto com ele.
— Eu irei procurar por ela, filho, não posso garantir que ela voltará,
mas posso prometer tentar de tudo para conseguir isso.
— Vocês brigaram? Por isso ela nos deixou? — ele questionou,
tentando entender.
— Não, Melissa não fez nada de errado, ela era uma excelente babá.
Ele negou com a cabeça.
— Não é sobre isso que estou falando. Eu vi vocês dois se beijando
no dia que fomos jantar na tia Ruth, vocês estavam felizes e eu acreditei que
seríamos uma família, mas daí... — Parou de falar, ficando pensativo.
Droga! Eu não estava preparado para essa conversa.
Sentei-me ao lado dele, tentando ganhar tempo antes de responder.
— Vocês brigaram? — ele perguntou, encarando meus olhos, dessa
vez eu entendi a pergunta.
— Não também, estávamos bem, muito bem. — Ou eu acho que
estávamos.
— Então por que ela foi? Eu não entendo.
— É isso que eu vou tentar descobrir, filho, porque eu também não
sei o motivo. — Fui sincero.
— Pai... você foi muito bobo em deixar a Abelhinha escapar, então
tenta trazê-la de volta — Gael falou o que achava de uma maneira bem
inocente e eu deixei um pequeno sorriso escapar.
— Sim, Campeão, eu fui um bobo, mas nunca mais serei, quando
ela estiver aqui, eu nunca mais a deixarei escapar — garanti, na verdade,
aquilo era mais como uma promessa para mim.
Eu vou recuperar a Melissa, nem que demore meses, eu vou achá-la
e trazê-la de volta para casa.
Eu não preguei os olhos a noite toda e a minha segunda-feira
começou horrível, não fui ao clube, fiquei em casa esperando o telefonema
dos detetives, tanto o que estava no Amazonas quanto o que estava
rastreando cada possível passo da minha Melissa.
Mas dizem que tudo que já estava ruim poderia piorar e eu passei a
acreditar muito nisso quando Rosa abriu a porta do meu escritório, os olhos
marejados e nas mãos segurava algumas coisas. Eu soube que uma bomba
estava prestes a cair no meu colo e ela não machucaria só a mim, os
estilhaços afetariam a todos que passaram a amar Melissa.
— Menino, fui dar uma ajeitadinha no quarto da Mel e encontrei
algumas coisas — falou, diante do meu olhar questionador.
— O quê? — perguntei, ansioso.
Primeiro Rosa colocou um celular em cima da minha mesa,
reconheci que era da minha menina por causa daquela tela quebrada, ela era
cabeça dura demais e insistia em não aceitar um novo aparelho de presente.
Peguei e tentei ligar, mas estava com problemas.
— Ele foi molhado, ainda estava com água quando o achei no lixo
— Rosa contou.
Mais uma coisa que me dava a certeza de que ela fugiu com medo.
— O que mais achou? — perguntei, deixando o aparelho de lado,
levaria mais tarde para algum técnico de confiança, faria com que achasse
alguma coisa nele, nem que para isso tivesse que recuperar aquela merda
molhada.
— Isso... — A voz dela estava carregada de tensão quando colocou
três testes de gravidez na minha frente. — Estavam guardados na gaveta do
gabinete do banheiro dela.
Encarei aquelas três fitinhas azuis e brancas, todas com o resultado
positivo.
Pareceu que meu mundo desabou, a bomba que eu temia estava ali.
Lembrei do assunto estranho no clube, da insistência dela em tentar
descobrir se eu queria mais filhos.
Merda!
Merda!
Merda!
Eu neguei de imediato, não estava nos meus planos, filho nunca
esteve nos meus planos, então veio Gael e agora sei que vem outro.
— Meu Deus! — falei, segurando a cabeça mais angustiado que
antes.
O que foi que eu fiz? Melissa foi embora achando que eu não queria
um bebê, ela era o oposto de Carolina, disso eu tinha certeza, ela nunca
abriria mão de uma criança, eu via o amor que existia entre ela e Gael, não
era fingimento, era puro, um dos mais lindos, os dois pareciam duas almas
que se reencontraram em uma nova vida, o amor nasceu desde o primeiro
momento.
Melissa seria uma mãe maravilhosa, mesmo ainda sendo muito
nova, possuía uma sensibilidade incrível e um dom em ensinar que muitas
vezes me deixava no chinelo.[vii]
— Você está bem? Sua cor sumiu — Rosa falou, mas eu não a ouvia
de verdade, estava repassando cada palavra infeliz que usei naquela noite.
Disse que outra criança na minha vida seria loucura;
Falei sobre o quanto foi difícil ser considerado um monstro por tirar
Gael da Carolina.
Tirar, por que que eu usei essa maldita palavra?
Porra! Eu estava fodido.
Tinha certeza agora que essa conversa somada ao fato de ela achar
que eu só queria me divertir, corroborou para a sua partida precoce, mas
ainda desconfiava que algo maior aconteceu naquela noite, por isso
levantei-me em um salto, peguei o celular quebrado e disse para Rosa:
— Fica com o Gael, se antes eu já tinha um grande motivo para
achar a minha menina, agora tenho um ainda maior, serei pai novamente e
não vou perder ela e o nosso bebê.
CAPÍTULO 25

Danilo
Porra! Só agora preso no trânsito que parei para digerir tudo.
Melissa, não confiou em mim com seu medo, assim como também
não me contou sobre a gravidez, ela simplesmente partiu com o nosso bebê.
Será que um dia pretendia me contar sobre a existência dele?
Eu não conseguia esquecer as palavras dela no bilhete que deixou
para mim, li tantas vezes em busca de uma resposta que até decorei:
“Vou começar dizendo que sinto muito por deixar vocês, mas eu não
posso mais ficar aqui, percebi que sou como um pássaro: livre e mereço
voar. Não pense que o motivo é você, não é, sou eu, só quero tentar a vida
em outro lugar. Espero que um dia possa me perdoar e saiba que o que
vivemos foi mais do que especial para mim, foi único.”
Nada sobre a gravidez.
Nada sobre uma possível ameaça do padrasto.
Nada que a prendesse a mim.
Ela só quis fingir que partiu por conta própria para evitar que eu a
procurasse.
Belo engano.
Ela provavelmente esqueceu de levar os testes de gravidez e o
celular, sorte a minha, eles serviram como um incentivo ainda maior para eu
recuperá-la.
Ainda no congestionamento, subi o vidro que me separava do
motorista e liguei para o Rômulo.
— Alô — atendeu com a voz rouca.
— Está na empresa? — questionei diretamente.
— Dani, você olhou a hora? Ainda está cedo, só vou para a
empresa às dez hoje.
Ouvi um resmungo atrás, acreditava ser Juliana.
— Preciso falar com você, é urgente, onde você está? — Outra vez,
fui direto ao ponto, não estava com paciência para me desculpar por tê-los
acordado.
— No apê da Ju...
— Não preciso do endereço, sei onde é, logo estou aí. — Finalizei a
ligação antes que ele negasse.
Passei o endereço para o motorista, sorte a minha que tinha pedido
uma pesquisa sobre a nova associada e tinha os dados salvos no e-mail que
Ana me mandou.
Minutos depois, eu já estava em frente à sua porta, tocando a
campainha várias vezes.
— Oi Danilo, entre. — Juliana deu passagem para eu passar.
Rômulo estava na cozinha, em frente à cafeteira.
— Quer um café ou prefere jogar a bomba em cima de mim antes?
— ele perguntou de bom humor, o oposto de mim nesse momento.
— Aceito — respondi, tentando ser educado.
— Vou deixar vocês conversarem — ela falou.
— Pode ficar se quiser. — Dei de ombros. — Você é parte da
família agora e a casa é sua.
Ela olhou para o namorado sem jeito e Rômulo empurrou uma
xicara para ela, indicando para se sentar no balcão.
— Melissa me deixou. — Fui direto ao ponto, assim que ele se
acomodou na minha frente.
— Então vocês estavam realmente juntos? — questionou, não
estava nem um pouco surpreso.
— Sim, sei que todos já suspeitavam.
— Isso é verdade, deixamos que vocês se resolvessem e contassem,
por que ela foi embora?
— Eu ainda não tenho certeza, por isso estou aqui — falei, tirando o
celular quebrado do bolso e colocando diante dele.
Rômulo olhou para o aparelho de cenho franzido.
— Lembra daquele favor? — questionei e arqueei a sobrancelha
olhando na direção da Ju.
Sabia que não tinha quebrado um contrato à toa, agora estava na
hora de cobrar.
— Não tem como esquecer, foi quando eu descobri quem você era.
— Ele olhou para ela e sorriu. — O que quer que eu faça? — perguntou,
bebericando o café.
A calma dele era angustiante perto do meu desespero.
— Você é o responsável pela contabilidade das tecnologias Pólis,
não é?
— Sim, minha equipe e eu.
— Ótimo, você confia no Enrico Pólis?
— Sempre confiei, ele é um amigo de longa data.
Eu sabia disso, só queria que ele confirmasse.
— Era tudo o que eu precisava ouvir, leva esse celular para ele,
preciso que recupere tudo, cada mensagem enviada, cada ligação,
absolutamente tudo.
— O que você acha que aconteceu com a Mel? — Juliana
perguntou, preocupada.
Eu a olhei para responder:
— Acho que ela fugiu porque foi ameaçada.
— Quem a ameaçou? — Rômulo perguntou, não estava mais tão
relaxado.
— Não tenho certeza, mas Daniel descobriu a cidade natal dela e
viajou até lá, foi quando soube uns podres do padrasto dela, coisa da
pesada. Preciso que peça isso o quanto antes ao Enrico.
— Claro, falarei com ele ainda hoje — disse, pegando o celular
quebrado.
— Obrigado. — Levantei-me, deixando o café intocado. — Tem
outra coisa que precisam saber, Melissa está esperando um filho meu, agora
vocês têm uma maior noção do quanto preciso encontrá-los e mantê-los
seguros.
Rômulo e Juliana arregalaram os olhos, surpresos.
— Vou ligar para o Enrico nesse momento — ele falou, seguindo
corredor adentro e me deixando sozinho com a sua garota.
— Melissa é um doce, você é um homem de sorte — Juliana disse
com um pequeno sorriso.
— Serei mais ainda depois que os encontrar.
— Vamos te ajudar no que for preciso, estamos aqui por vocês.
Rômulo também era um homem de sorte por ter encontrado alguém
como ela, ainda mais quando a namorada anterior era alguém que nunca o
mereceu.
— Falei com ele, passarei para deixar o aparelho na empresa em
alguns minutos — meu primo contou ao retornar.
— Ele disse quanto tempo demoraria? — Estava ansioso demais,
queria entender o que a fez fugir de mim.
— Menos de um dia, provavelmente nessa noite já tenha todo o
conteúdo recuperado.
— Graças a Deus — Juliana falou, um pouco mais animada.
Eu não me enchi de esperanças, queria encontrar a minha menina,
mas sabia que recuperar o conteúdo daquele celular era apenas um dos
passos para isso.
Como Rômulo garantiu, Enrico conseguiu recuperar os dados do
celular dela, a última mensagem que recebeu me deu a certeza que eu
precisava, o infeliz do padrasto a assustou a ponto de ela fugir sem pensar
em mais nada.
Não fui eu e não foi a sessão, foi o maldito passado que voltou, mas
eu resolveria antes mesmo de encontrá-la. Por isso, com todas as
informações que necessitava em mãos, dirigi naquela noite até a casa da tia
Ruth, Gael e Pipoca no banco de trás.
— Papai, a sua viagem é para achar a Abelhinha? — questionou
quando parei em um sinal vermelho.
Eu o encarei pelo retrovisor interno.
— Não, mas vai ajudar quando ela voltar para casa.
Ele sorriu.
— Então ela vai realmente voltar? — perguntou com esperança na
voz.
— Eu quis dizer, se ela voltar... — corrigi-me e vi o sorrisinho dele
murchar.
O restante do caminho foi em um silêncio tenso demais, Gael
encarava a rua pensativo, cada dia que passava longe dela, ele ficava pior,
isso estava me preocupando demais.
— Promete que vai obedecer à tia Ruth e ao tio Ruan enquanto eu
estiver fora? — pedi, estacionando o carro na garagem da casa deles.
— Sabe que sim — falou, desafivelando o cinto de segurança dele e
do Pipoca.
Gael entrou enquanto eu retirava as suas coisas do porta-malas.
Assim que pisei na sala de estar, minha tia me olhou com pesar,
todos já sabiam da partida da Mel e da gravidez.
Não sei quem era mais fofoqueiro, Rômulo ou Daniel.
— Podemos conversar um instante antes de você ir? — perguntou.
Olhei o relógio de pulso, meu voo sairia em uma hora e meia.
— Sim, eu ainda tenho tempo — falei, seguindo-a para o escritório.
Tia Ruth se acomodou no sofá e indicou para que eu me sentasse ao
lado dela.
— Filho, sei que precisa desabafar, então aproveite esse momento e
me conta o que mais te atormenta — disse em um tom carinhoso, maternal.
Passei as mãos no rosto, exausto.
— São tantas coisas, não sei nem por onde começar.
— Comece pela pior delas — sugeriu.
— Acho que o pior de tudo é não ter certeza dos sentimentos dela
por mim, Melissa e eu nunca rotulamos nada, nunca falamos nada, éramos
mais amantes de fazer e sentir, eu me arrependo de não ter dito, mas não
notei que era necessário, ela também nunca havia se declarado.
— Nisso eu posso te ajudar, no dia das bodas, eu e ela conversamos
no meu quarto, Melissa confessou os sentimentos dela...
— Espera, você também já tinha percebido que estávamos juntos?
Tia Ruth sorriu carismática.
— Era difícil não perceber, vocês praticamente pegavam fogo
quando se olhavam.
Sorri também, um sorriso de lado pequeno, mas ainda assim uma
emoção.
— O que ela te disse? — perguntei, sentindo o coração acelerar, era
a primeira vez que saberia sobre os sentimentos dela.
— Que estava apaixonada por você, deixou entendido que era amor.
Meu peito se encheu ainda mais de angústia, eu nem pude dizer que
era recíproco.
— Não se desespere, sei que irá encontrá-la, o sentimento de vocês
é puro, verdadeiro, ninguém é capaz de destruir — garantiu e eu me limitei
em assentir.
Não confiava nas minhas palavras nesse momento.
— Vem aqui. — Ela me puxou para um abraço apertado, enquanto
afagava as minhas costas.
Deixei de lado todos os meus receios em demonstrar meus
sentimentos e a abracei de volta.
— Sabe que amo você e o Daniel como se fossem meus filhos,
assim como vejo Gael como um neto, então saiba que sempre poderá contar
comigo. Viaje pelo tempo que precisar, acabe com aquele maldito homem e
ache um jeito de trazer a Mel para casa, aqui é o lugar dela e do bebezinho,
eles são família.
— Prometo dar o meu melhor — garanti.
Ainda mais na parte de acabar com aquele maldito homem.

O voo foi longo e extremamente cansativo, cheguei na cidade natal


da minha menina no início da tarde e fui para o hotel deixar as minhas
coisas e tomar um banho. Meu destino era o gabinete da prefeitura, lá tinha
certeza de que seria recebido, ainda mais se o desgraçado acreditasse que eu
era um possível patrocinador da sua próxima campanha.
Estava ansioso para o ter frente a frente, para descobrir o que ele
quer com a Melissa, queria deixar claro que agora ela tinha quem a
protegesse.
A cidade não era tão pequena como imaginei, tinha mais de sessenta
mil habitantes e atraia alguns turistas.
Já dentro da prefeitura, após ser analisado dos pés à cabeça pela,
acredito que, assistente do desgraçado, ela informou a minha repentina
chegada e deu ênfase nas palavras possível patrocinador da campanha.
Como eu imaginei, o infeliz era um interesseiro e a minha entrada
foi liberada no mesmo instante. Ostentando um sorriso amigável, sentado
atrás de uma mesa opulenta, eu vi a figura do homem que me fez perder
duas das pessoas que mais amo.
— Bom dia, minha assistente disse que você é um possível
patrocinador da minha próxima campanha — falou, levantando-se e
estendendo a mão para mim, não aceitei o gesto e ao invés disso, me sentei
relaxado na sua frente.
— Digamos que sim, mas não da forma que você imagina —
ressaltei com gosto na voz.
Ele estranhou e me analisou com outros olhos, agora, um pouco
receoso. Não fui direto ao ponto, queria ver até onde ia a sua máscara de
bom homem.
— Está do lado de um dos oponentes pelo visto — constatou,
sentando-se —, mas posso facilmente te fazer mudar de ideia, tenho
projetos incríveis para essa cidade, se no ano que vem eu for mais uma vez
eleito, eu farei o melhor...
— Você não me compra com essa ladainha pronta de político.
— Não entendo o motivo de estar aqui então — falou, confuso.
Joguei sobre a mesa dele as cópias das suas sujeiras feitas na vida,
fuçamos desde o nascimento até os dias atuais. O impacto da pasta sobre a
madeira, fazendo um som alto, o fez pular no lugar.
O sujeito conseguiria enganar qualquer um com aquela expressão
tranquila e sorriso controlado, mas não a mim, eu enxergava além dos que
os olhos claros dele queriam demonstrar, sentia o cheiro podre de longe,
assim como Daniel sentiu quando esteve aqui.
Fernando Tobias era a escória da sociedade, alguém em um cargo
político que se achava melhor do que todos e acima da lei, meu objetivo era
descobrir o que ele fez para a Melissa e só então decidirei o que farei com
ele.
Ele abriu a pasta com calma, mas sua expressão logo mudou ao ver
algumas das provas que eu tinha e que eram todas cópias, as originais muito
bem guardadas.
— Como descobriu essas coisas? — Foi direto, deixando sua
máscara cair e revelando sua verdadeira face.
— Foi muito simples. Seus oponentes só não descobriram isso ainda
porque não pensaram na morte da sua esposa como um crime ao invés de
um acidente.
Os olhos dele se arregalaram.
— O que a Marcella tem com isso?
— Termine de olhar. — Indiquei com a cabeça a pasta e ele analisou
tudo, na última folha estava um pouco do acidente da falecida esposa dele.
— O que você quer? — perguntou, os dentes trincados de raiva.
— Por que a matou? — questionei, olhando-o nos olhos, ainda
fingindo uma calma que eu não tinha.
— Foi a filhinha mimada dela que te contratou? É isso? Você é um
detetive? — citou Melissa em um tom rancoroso.
— Quem faz as perguntas aqui sou eu — rosnei. — Por que matou a
sua esposa?
Eu não acreditei nessa história de que ele queria ficar com o
dinheiro, sentia que existia mais por trás disso.
— Eu não matei a Marcella, foi um maldito acidente e você não está
respeitando o luto de um homem infeliz — falou, o sorrisinho arrogante.
Fernando achava que eu estava gravando a conversa, mas isso era
desnecessário.
— Diante das provas que tenho contra você, uma gravação de voz
não faria diferença alguma, você será preso de qualquer maneira.
Levantei-me e arrumei meu terno.
— Acha que vir aqui, usando um terno caro e com ameaças
infundadas vai me assustar?
Sorri cruelmente.
— Você vai me dizer tudo o que quero saber, por bem ou do meu
jeito.
Ele me analisou, eu estava demonstrando uma tranquilidade que não
era verdadeira, minha vontade era pegá-lo pelo pescoço e esganá-lo até a
vida esvair do seu corpo, mas assim, as coisas não acabariam bem para mim
e eu perderia a minha liberdade. Sem contar que seria fácil demais para ele,
que merecia sofrer.
— O que a Melissa te disse? Também ficou teimando naquela
história que a morte da mãe foi proposital e que deveria investigar o
motorista? Aquela menina é cheia de problemas. Desde que o pai morreu,
só foi um peso para a minha falecida esposa. Foi ótimo quando ela optou
por ir embora daqui.
Optou por ir.
— Sei que é mentira, Melissa nunca deixaria tudo para trás, a não
ser que você fizesse algo — acusei, caminhando para mais perto, colocando
as duas mãos em cima da mesa dele e o olhando nos olhos.
Sabíamos que ali nada poderia acontecer, ele estava protegido de
mim graças aos inúmeros seguranças do local, mas sabíamos também que
nem sempre sua bunda traidora teria um cão de guarda.
— Acha que me intimida? Você não me conhece. Posso pagar o
dobro do que ela te pagou e esquecemos essa história, você só precisa me
entregar todas as provas.
— Você também não me conhece, eu não preciso do seu dinheiro
sujo.
Ele se levantou também.
— Então ela achou um cão protetor? Se não é detetive, significa que
é um homem apaixonado para estar aqui — falou, os olhos brilhando do
que eu acredito ser ciúmes. — Ela dormiu com você? Aquela putinha não
vale a pena, vai por mim. Quase todos dessa cidade já conseguiram levá-la
para a cama.
Em um salto, eu já estava em cima dele, segurando-o pelo pescoço e
prensando-o na parede. Adorando ver o medo na sua expressão. Sabia que
era mentira, mas nunca permitiria que ele falasse assim da minha Melissa.
Fernando era o tipo de pessoa que pagava para fazerem por ele, não tinha
colhões para resolver seus próprios assuntos.
— Nunca mais fale assim dela — rugi, apertando-o até que seu rosto
começou a avermelhar. — Melissa não está mais sozinha nesse mundo, ela
tem a mim e você nunca mais vai conseguir amedrontá-la. — A cada
palavra dita mais eu apertava.
Larguei o homem que caiu no chão tossindo, assustado.
— Tudo o que tem nessa pasta está sendo divulgado nesse
momento, como eu disse, estou aqui para ajudar na sua campanha,
destruindo-a. Você não terá mais nenhuma chance na política, assim como
em nenhuma outra área, eu mesmo vou cuidar para acabar com essa sua
vidinha de merda.
— Você não pode fazer isso — suplicou, a voz falhando devido ao
meu apertão.
— Tanto posso que já está feito, meu aviso já foi dado, se mais uma
vez se aproximar da Melissa, eu mesmo o mato.
Deixei o escritório dele para trás, focado agora em trazer honey para
casa.
CAPÍTULO 26

Melissa
Diante da tela ligada do notebook da dona Célia, eu navegava em
busca de alguma opção de emprego que eu pudesse fazer em casa, sem
chamar muito a atenção. Diversos sites indicavam se tornar associado da
Amazon e lucrar com isso, cliquei para saber mais, li e reli as informações,
para no fim desistir, eu não tinha uma plataforma com inúmeros seguidores,
tampouco era uma influencer digital e não queria, de forma alguma, atrair
atenção para mim, eu era apenas alguém comum, que temia acabar com as
economias.
Ter um bebê sem uma renda fixa era perigoso, eu precisava me
organizar bem e ainda tinha um tempo para isso. Lendo sobre ser associado
dessa multinacional, ganhei um interesse maior por ela e resolvi pesquisar
mais, foi assim que descobri a opção de auto publicação que a empresa
oferecia, olhei para o meu caderno ao meu lado, com três livros infantis
completos e a imensa vontade de começar a escrever outro.
Será que eu deveria tentar?
Sempre fui o tipo de leitora que adorava um livro físico para segurá-
lo em mãos, por isso nunca passou pela minha cabeça ler e-books, a
tecnologia digital estava avançando tanto e eu sentia que era naquilo que eu
deveria investir. Mais tarde, sentada com a dona Célia na cozinha, enquanto
almoçávamos, eu quis pedir um conselho e ela era a melhor pessoa para
isso no momento.
— Sabe, eu andei pesquisando opções de emprego... — falei,
concentrada no pedaço do frango que cortava.
— Não precisa, Mel, ocê sabe que não precisa — ela repetiu o que
vinha dizendo nessas últimas semanas que estive aqui.
— Preciso, sim, não quero ser um peso para a senhora e para o Igor
— disse a verdade, o neto dela tinha se tornado um bom amigo e sempre
vinha jantar conosco após o trabalho.
Eu tinha descoberto que por trás daquele menino turrão existia
apenas um neto preocupado com a segurança da avó e quando ele teve total
certeza de que eu não era um perigo, Igor se provou ser um encanto de
pessoa, às vezes os amigos dele apareciam por aqui e a farra era certa, ele
até tinha uma namorada, um doce de menina e ela chegava a ser mais
tímida que eu.
— Ah neein! Tem cabimento um trem desse? Ocê não é peso algum
— Célia reclamou.
— Calma, a senhora nem ouviu com o que quero trabalhar — falei
com um sorrisinho.
Ela me analisou por cima dos óculos de grau, expressando uma
carranca.
— Desde que não tenha esforço envolvido... — alertou.
— Eu estava pensando em tentar vender uma coisa que faço há
muitos anos — falei, sentindo um nervoso inicial.
Eu quase nunca falava sobre escrever para ninguém, apenas minha
mãe e Gael sabiam, agora dona Célia entraria na lista.
— O que qui cê faz? — perguntou, curiosa.
— Pode ser um segredo entre nós? — pedi e ela concordou com a
cabeça.
Confiava nela, ela era muito discreta, tanto que Igor só soube do
bebê graças a mim, que comentei o assunto.
— Eu escrevo livros infantis, tenho muitos deles já escritos, mas
aqui comigo apenas três completo e uma ideia para um novo.
— Ê, lasquera! Eu não esperava por essa. Pópegá pra eu ler que já
tô curiosa — falou, animada.
Não esperei mais, busquei o caderno.
— A senhora quer mesmo ler? — perguntei, estendendo para ela.
— Uai! É claro que quero.
— Sendo assim, eu vou precisar da sua ajuda, pode ver se possui
algum erro ortográfico e gramatical? Li que para publicar lá o autor precisa
fazer tudo por conta própria e eu ainda não tenho uma renda extra para
investir em uma revisão paga — pedi toda sem jeito.
Como ela havia me dito que já foi professora de letras e que estava
aproveitando o tempo livre da aposentadoria para fazer pães caseiros e
vender, achei melhor perguntar.
— Claro que não precisa investir em revisão paga, deixa comigo
que eu faço — garantiu.
Enquanto dona Célia lia meu livro e anotava coisas em seu
bloquinho, eu tentava fazer uma capa para ele, postaria o livro da princesa
Ayane e do plebeu Benício, depois de ver como seria o lançamento deles,
liberaria os outros dois.
Há muito tempo eu não me sentia assim, vibrante, independente de
alguém, queria focar em uma carreira de preferência algo que eu amasse e
me especializar na área, mas isso chamaria a atenção demais no momento,
por isso publicar na Amazon seria um teste.
— Tá menina, mas ocê pensou que publicar pode fazer com que te
achem? — Célia falou, dando uma pausa na leitura para um café à tarde.
— Sim, pensei sobre isso e decidi usar um pseudônimo, li que é
seguro publicar por lá com outro nome, ninguém descobriria quem sou eu.
— Tem certeza? — ela perguntou, preocupada.
Mesmo não sabendo da minha história toda, Célia e Igor tinham me
aceitado como parte da família e nunca me pressionaram para contar de
onde vim e de quem me escondo.
— Não totalmente, mas apenas duas pessoas além da senhora sabem
sobre as minhas histórias, uma delas já morreu e a outra acredito que não
lerá por lá.
Acho que Gael não leria um e-book infantil, ele era como eu,
adorava segurar o livro nas mãos.
— Vou usar um pseudônimo e mudarei o nome do livro,
dificilmente serei encontrada, pode ficar tranquila — ressaltei diante da
preocupação dela que ainda estava evidente.
Não mudaria o enredo e nem o nome dos personagens, eles se
tornaram especiais demais para mim após dividir a história com Gael, que
gostou tanto a ponto de querer irmãos com esses nomes. Toquei a barriga
me recordando daquela nossa conversa na festa de bodas da Ruth, um
sorriso brotou no meu rosto.
Seu irmão pode não estar aqui, pode nunca saber da sua existência,
mas foi ele que escolheu seu nome, minha pequena Ayane ou meu pequeno
Benício, pensei.
Gael adoraria ter um irmão, adoraria saber que escolheu o nome do
pequeno, mas eu tomei isso dele, não por vontade própria, mas por
obrigação, era isso ou colocar os que mais amo em perigo.

Meu livro, por ser uma história infantil, não era muito longo e três
dias depois, dona Célia já tinha lido e relido, assim como eu, quase sabia a
história de cor de tanto que reli para não deixar erros passarem.
— Acredito que está bom, vou tentar — falei para ela, que sentada
ao meu lado no sofá olhava todas as letras já escritas que digitei para
transformar em um e-book.
Tinha pesquisado muito na internet, visto dezenas de vídeos
ensinando a auto publicar e de uma maneira bem simples, fiz uma capa
livre de direitos autorais, diagramei usando as dicas de formatações de um
dos vídeos e fiz o meu cadastro de autora.
O pseudônimo escolhido foi Annabelle Andrade, em homenagem a
filha da dona Célia, que morreu quando Igor ainda era muito pequeno, pelas
histórias que a senhorinha me conta dela, Belle era uma mulher espetacular,
mas que infelizmente morreu muito jovem e perdeu o crescimento do filho.
Célia chorou quando eu pedi a permissão para usar o nome da sua
filha, ficou tão emocionada que não aguentei, chorei com ela, era
inimaginável a dor de se perder um filho.
— Boa sorte, menina, que seja iluminado! — Célia desejou ao meu
lado, ajudando-me em alguns pontos que eu não entendia do cadastro e até
mesmo pesquisando no seu próprio celular para me auxiliar.
Se eu pudesse escolher alguém na vida para ser a minha avó, eu a
escolheria. Era o tipo de pessoa que te somava, te ajudava a crescer e
sempre te incentivava a batalhar pelos sonhos. Tanto que, tão tarde da noite,
ela estava aqui, ao meu lado, cuidando de cada detalhe comigo como se o
livro fosse dela também e o melhor de tudo isso era que ela nunca pediu
nada em troca da ajuda que me dava.
Publiquei.
Esperei.
Esperei.
E esperei mais um pouco e nada aconteceu.
— Eles alertam que pode demorar horas para liberar o livro, por que
a senhora não tenta descansar e amanhã vemos isso? — sugeri quando ela
abriu a boca de sono mais uma vez.
— Ocê tem razão, tô moída mesmo, boa noite Mel e pequenim —
Acariciou a minha barriga que já estava ficando saliente.
— Boa noite, dona Célia e muito obrigada por tudo.
Eu a ouvi resmungando do final do corredor, dizia que eu não
precisava agradecer tanto, mas eu era assim, fazia parte da minha criação.
Ansiosa com a demora na liberação do livro, deixei a saudade
dominar meus atos e escrevi o nome do Danilo na pesquisa, cliquei em
notícias e naquele mesmo momento meus olhos se encheram de lágrimas.
Saudades ardia no meu peito.
Cliquei no primeiro link e li o título da matéria.
Será que Gael Gomes Ribeiro é uma criança peralta? Novamente
estão contratando babás, a última durou poucos meses.
Li todo o texto, Danilo anunciou que estavam contratando para o
cargo de babá.
Eu não podia desejar que eles me esperassem, ainda mais quando a
minha intenção era não voltar, mas isso não amenizou a dorzinha no
coração por saber que eles estavam me esquecendo e substituindo.
Continuei stalkeando como uma perseguidora, e um dos links chamou a
minha atenção, era uma matéria em um blog de fofocas denominado
Venenosa Tá On, contando sobre a noite de sábado passado.
Olhei a foto dele, continuava lindo, a mesma expressão séria de
antes, o olhar profundo e um pouco triste, mas meus olhos logo se
desviaram para a linda mulher ao lado dele.
No título da matéria falava sobre o jantar dos dois na noite do
aniversário dela.
Como uma sedenta por informações, mesmo que elas me
machucassem demais, eu li a matéria toda.
A acompanhante dele se chamava Heloísa Gillies, era uma morena
de corpo perfeito e pernas longas, dona de uma importante galeria da cidade
e pelo visto, amiga de infância dele e dos primos.
Mordi a parte interna da minha boca, morrendo de ciúmes de
alguém que nunca chegou a ser realmente meu.
Toquei a barriga, sentindo as lágrimas pinicarem meus olhos.
— Eu não vou chorar, não por isso — falei, mas foi em vão, os
hormônios ganharam e eu me desmanchei em lágrimas.
O blog ressaltava que eles faziam um belo par e no fim a pergunta
que acabou de vez comigo, será que um dos solteiros ricos mais cobiçados
da cidade teve o coração capturado?
Merda! Será que sim?
Eu estava em caquinhos por dentro, desliguei o notebook e fui para
a cama, toda a emoção da minha publicação foi ofuscada pela noção do que
deixei para trás, eles seguiram com a vida deles, e eu terei que seguir com a
minha.
CAPÍTULO 27

Danilo
Fazia semanas que a Melissa tinha sumido e parecia que cada pista
se transformava em um beco sem saída para encontrá-la. O bilhete que
deixou para Evelyn foi basicamente como o meu, apenas um pedido para
que não a procurássemos, mas tanto eu quanto Eve não desistimos, deixei a
prima da Melissa a par de toda a situação, inclusive da gravidez e do
padrasto, todos já sabiam do nosso relacionamento e eu não aguentava mais
tanta pena.
Os olhares eram de pena e as palavras também.
A única parte boa disso tudo era que o padrasto tinha sido capturado
e estava sob custódia, saiu na mídia e eu torcia para que Melissa visse e
voltasse para casa.
— Não dá mais, você vai ter que sair dessa fossa, mano — Daniel
falou, entrando no meu escritório, como sempre, sem bater.
— Não enche — reclamei, fingindo que trabalhava, mas a verdade
era que ele estava mantendo tudo controlado no clube, eu não estava com
cabeça para nada além de ter todos os que amo perto, protegendo-os.
Só de pensar nela, com medo, grávida, podendo estar passando
dificuldades, eu me odiava por não ter o que fazer além de tentar achá-la.
Queria estar agora com Melissa nos meus braços, abraçando-a e garantindo
que nada nem ninguém faria mal para ela novamente, que ela tinha a mim e
que eu a amava.
— Dessa vez eu não vim sozinho — Daniel disse, indicando a porta.
Rosane, Rômulo, Ju e Helô entraram.
— Para Rosane estar aqui o negócio é bem sério mesmo — Rômulo
falou, jocoso.
— Não sou uma puritana, só prefiro outros meios de arrumar uma
transa. — Deu de ombros.
— Tá bom, não queremos saber, irmã — ele reclamou com uma
careta.
Juliana e Helô gargalharam.
— Viemos te buscar, vamos sair todos juntos como antigamente —
minha prima disse, empolgada.
Lembro que nossa última saída com a galera foi quando ela e
Murilo, seu ex noivo, ainda estavam juntos, ele fazia parte do nosso grupo
de amigos da infância, mas após o término ele se afastou de quase todos,
apenas de Renan e Rodrigo[viii] que não.
— Não estou a fim de sair — neguei de imediato.
— Nem vem, a mamãe já vai ficar com o Gael esse fim de semana e
você vai sim, viemos em bando para não te deixar negar — ela insistiu.
— Até trouxemos a aniversariante, vai, Helô, é com você — Juliana
disse, animada também.
Ela tinha se tornado parte dos nossos amigos de uma forma bem
espontânea. Heloísa sorriu tímida para mim, mas eu sabia que ela não era
assim, sua carinha nunca nos enganou.
— É o meu aniversário, Dani. Você não pode deixar de ir, sua
presença vai ser como um presente — falou, fazendo um bico.
Passei uma mão no rosto e olhei abismado para cada um deles.
As responsabilidades da vida adulta nos afastaram muito, mas em
um momento complicado como o que estou vivendo, cada um deu um
jeitinho de estar comigo.
— Tudo bem, mas não ficarei por muito tempo — aceitei, seria uma
desfeita negar depois de todos os esforços.
Helô e Rosane deram um gritinho, empolgadas.
— Ótimo, primeiro teremos um jantar e depois iremos curtir em
uma boate, nada do clube, uma boate normal onde flertamos por flertar, não
necessariamente em busca de sexo — Rosane explicou.
— Qual a graça assim? — Daniel desdenhou, ele era o tipo que
adorava ir direto ao ponto, assim como eu.
Neguei com a cabeça, ela tinha uma mania de desprezar o Pleasure,
não entendia o motivo, mas também não me importava.
— Hoje, às nove, nos encontramos no restaurante? — Ju perguntou.
— Estou sem carro, bateram no meu e está no conserto — Helô
falou, desanimada.
— Eu pego você, sua casa e mais perto da minha — propus de
imediato e ela sorriu, agradecida.
Combinado tudo, o bando deixou a minha sala. Fiquei um pouco
mais animado com a visita deles, sentia falta dos nossos momentos.
Peguei meu celular e mais uma vez liguei para Fausto.
— Nada ainda? — questionei quando ele atendeu.
— Infelizmente, não, Melissa intercalou o uso das identidades e
soube muito bem se esquivar das câmeras, até mesmo comprou passagens
para mais de um destino. Acredito que ela atravessou cidades sem descer do
ônibus e procurar nas câmeras de cada rodoviária é demorado.
Bufei.
— Me mantenha informado, não importa o horário — pedi e
finalizei a ligação.
Quando a noite de sábado chegou, busquei Heloisa no horário
marcado.
Na entrada do restaurante, alguns paparazzi nos fotografaram
entrando juntos.
Eu detestava essa perseguição, tanto que evitava me expor na mídia,
mas nos momentos mais inoportunos eles estavam lá, xeretando onde não
deveriam.
O pessoal já estava na mesa, esperando-nos.
O jantar foi divertido com eles, mas eu optei por não ir à boate,
nunca foi o meu tipo preferido de lugar e agora não era um bom momento
para mim.

Mesmo detestando a ideia, eu não podia adiar mais, precisava de


uma nova babá, graças a isso minha semana começou uma loucura, já que a
imprensa descobriu que eu estava novamente contratando e divulgou o
assunto, isso resultou em inúmeras candidatas ao cargo.
Por isso entrei no quarto do Gael para falar com ele, era melhor
saber por mim do que por qualquer outra pessoa. Ele estava jogando vídeo
game, deitado no chão ao seu lado, Pipoca dormia.
— Campeão, podemos conversar? — perguntei e ele pausou o jogo
e me olhou.
Sente-me no chão de frente para ele e o cão, que ainda não era muito
querido por mim, mas eu já tinha me acostumado com a presença.
— O que foi, papai? — indagou.
Respirei fundo antes de iniciar a conversa, sabia que seria
complicada, sempre era quando se tratava de uma nova babá, mas agora
tinha um peso maior, ele queria a Melissa de volta, nós dois queríamos.
— Você sabe que a Rosa é muito atarefada e que ela não pode ficar
tomando conta de você para mim, por isso vou contratar uma nova babá. —
Fui direto.
Gael fechou a expressão em uma careta de desagrado.
— Não quero — falou com um bico.
— Não é uma opção, filho, eu preciso trabalhar à noite e a Rosa
precisa descansar, vim aqui apenas para te avisar.
Ele se levantou em um salto, fazendo o cão despertar, atento.
— Pai, eu não quero outra, sei que a Mel vai voltar, ela me ama, ela
disse que me ama. Se você contratar outra e ela descobrir, vai achar que não
a queremos mais — desabafou, começando a chorar.
Levantei também e o puxei para mim, abraçando-o apertado.
— É claro que ela te ama, muito, nunca duvide disso, e eu continuo
tentando encontrá-la.
— Mas se você contratar outra babá a Abelhinha vai ficar aqui
como? Ela vai embora de vez.
— Não se preocupe com isso, se ela voltar, ela ficará aqui com a
gente, talvez como a minha esposa, o que você acha? — sugeri, temendo a
reação dele.
Nunca tinha considerado me relacionar sério, muito menos me casar,
mas com Melissa parecia certo, era o que eu queria. Aquela menina mudou
tudo na minha vida.
— Esposa? Você vai pedir ela em casamento? — questionou,
olhando para mim.
— Depende, o que você acha da ideia?
Gael se afastou um pouco, para então secar as lágrimas e sorrir.
— Eu adorei, se você se casar com ela, eu terei irmãos, não terei? —
perguntou, animado.
Eu ainda não tinha contado sobre a gravidez, ele já estava devastado
com a ida da Mel, se soubesse que ela foi e levou seu irmão junto, ficaria
ainda pior.
— Sim, acredito que sim — confirmei com um riso na voz.
— Obaaa.
A ideia de irmãos e da volta da Mel o animou tanto que ele até se
esqueceu da conversa sobre a nova babá, mas começaria as entrevistas na
sexta-feira e ele estaria comigo no clube, dando sua opinião desde o início.
CAPÍTULO 28

Bônus Gael
Meu pai me buscou na escola e avisou que após o almoço teríamos
que ir ao clube, eu não me animei como das outras vezes. Era sexta-feira,
nos dois dias seguintes não teria aula e eu ainda assim estava desanimado.
Quando saí do banho, Pipoca estava deitado no chão do meu quarto e
abanava o rabinho querendo brincar.
— Hoje eu tenho que sair, amiguinho, mas vou tentar levar você
junto — falei, acariciando a barriguinha dele, onde ele adorava.
Graças a Abelhinha, conseguimos convencer meu pai a deixar o
Pipoca entrar na família.
Eu sentia tanta falta dela.
Não entendia o que levava as pessoas a saírem das nossas vidas
assim, um dia eu e ela estávamos nos divertindo e no outro, ela tinha
partido, deixando só um bilhete. Queria entender mais e sabia que ninguém
me contava as coisas por eu ser uma criança.
E daí? Por que as crianças não podem saber também?
E para piorar tudo, meu pai queria contratar outra babá. Mais uma
que ficaria o dia inteiro no meu pé, controlando cada coisa que eu fazia e
me proibindo até mesmo de brincar.
Eu não queria outra, queria a Abelhinha de volta.
A outra não contaria histórias como as que a Mel escrevia, nem seria
tão gentil e me abraçaria dizendo que me amava. A nova não seria ela.
— Está pronto, filho? — meu pai perguntou assim que abriu a porta
do meu quarto.
Confirmei com a cabeça, diferente de todas as outras vezes que eu ia
ao clube, nessa eu estava desanimado.
— Não quero ir — falei.
— Eu sei, mas vai ter que ir, Rosa não pode ficar com você e a tia
Ruth também não. Vamos?
— Posso levar o Pipoca?
— Não, lá não é lugar para ele.
— E o meu tablet?
— O tablet, sim.
Guardei o tablet na minha mochila e acariciei a cabeça do Pipoca
em despedida, sai do quarto deixando a porta aberta para ele ficar livre pela
casa e pelo jardim. Não entendia por que a Rosa não poderia ficar comigo,
ela estava em casa, na cozinha fazendo alguma coisa de comer que cheirava
muito gostoso.
No carro, meu pai estava atrás comigo e Ana no banco da frente, ao
lado do motorista.
Fiquei encarando a rua, mas ouvia a conversa deles, foi quando ela
disse:
— As candidatas serão encaminhadas direto para o andar das salas
de reuniões, senhor. Selecionei apenas cinco para hoje, assim não deixará o
Gael cansado.
— Babá? — perguntei, olhando para o meu pai.
Tínhamos acabado de atravessar o portão de entrada do clube.
— Sim, quis te trazer hoje para que me ajude a escolher uma que te
agrade — falou, olhando para o celular.
— Eu não quero, pai, já disse que não — reclamei com um bico.
— Não importa, Gael, você não tem que querer — disse,
começando a se irritar.
— Por que as pessoas vão embora? Eu não quero uma nova, quero a
Mel de volta — falei, soltando o cinto, abri a porta do carro e mesmo ele
estando quase parando, pulei caindo de joelhos no estacionamento, me
levantei e corri em direção ao portão.
Meu pai me gritou e olhando para trás, o vi vindo correndo atrás de
mim, não vi um carro preto que parou com tudo quando entrei na frente
dele sem querer.
Eu não queria outra babá, não queria estar ali e parecia que ninguém
me escutava.
— Gael, pelo amor de Deus, onde você estava com a cabeça para
pular assim de um carro ainda em movimento e sair correndo como um
louco? — falou bravo, pegando meu braço e me levando novamente para
dentro do clube.
— Eu quero ir para casa.
— Não. Já optei por fazer a entrevista aqui pela primeira vez para
evitar que lá em casa você aprontasse alguma com as candidatas e você faz
isso? — indagou, irritado.
— O carro não estava tão rápido e eu nem me machuquei muito —
falei, encarando o ralado que fiz no meu joelho quando cai. Estava ardendo
demais.
— Você poderia ter morrido se aquele carro não freasse com rapidez
— disse, preocupado, abaixando na minha frente e me analisando por
inteiro. — Está bem?
— Sim, estou.
— Ainda bem, mas está de castigo, por tempo indeterminado. Sem
vídeo game, sem televisão e sem dormir na casa da tia Ruth.
— Pai! — reclamei.
— Nada de pai, chega de tudo isso, Gael, você já está grande para
ficar fazendo esse tipo de coisa. Precisa entender que a Melissa foi embora
e temos que lidar com isso, você vai ter uma nova babá querendo ou não,
agora decida, ou entra comigo e me ajuda a escolher uma, ou fica na minha
sala sozinho e eu escolho.
— Não quero escolher. — Cruzei os braços quase chorando.
Apenas pelo modo que ele me olhou, eu sabia que nossa conversa
ainda não tinha acabado, eu estava encrencado.
— Ana, leve o Gael para o meu escritório e coloque um antisséptico
nos machucados dele, por favor. Eu cuido da entrevista.
— Sim, senhor. Vamos Gael? — Ela estendeu a mão para mim e eu
fui, de cabeça baixa.
Depois de fazer um curativo no meu joelho ralado, Ana me deixou
desenhando, mas cansei rápido.
Abri a minha mochila e peguei meu tablet, meu pai não tinha
proibido, então não pensei duas vezes em começar a jogar, mas nem isso me
distraiu.
Estava entediado por ficar ali preso e resolvi brincar com a google
assistente, pedi para ela contar uma piada que envolvesse a Ayane e o
Benício, personagens do livro da Mel que eu estava morrendo de saudades,
como já imaginava não tinha uma sobre eles, mas ela abriu diversos links
com relação aos nomes.
Olhei um por um animado, vai que encontrava um livro parecido
com o da Abelhinha.
Cliquei no primeiro e li um trechinho gratuito, era idêntico, mas o
nome era diferente.
Será?
Li toda a amostra do livro em pouco tempo e eu tinha certeza de que
era o dela, claro que era.
Ayane a princesa, e Benício o plebeu das ovelhas. Eu me lembrava
de cada detalhe daquela história.
Sai correndo do escritório.
— Anaaa, preciso falar com o meu pai, é urgente — gritei, me
aproximando da mesa dela.
Ela deu um pulo e ajeitou os óculos.
— Tudo bem? O que aconteceu? Você se machucou? — perguntou,
preocupada, olhando com aqueles olhos azuis cada parte minha.
— Não, não aconteceu nada comigo, mas preciso falar com o meu
pai, me leva? — Estava eufórico, eu achei a Abelhinha.
— Gael ele está entrevistando as candidatas, disse para não ser
incomodado a não ser que fosse urgente.
— Mas é urgente, Ana, por favor, é muito importante — disse com
olhinhos pidões, sabia que ela não resistiria.
— Menino, se eu levar bronca por sua causa... — reclamou,
levantando-se.
As salas de reuniões eram no segundo andar e o elevador demorou
uma eternidade para descer.
Quando as portas daquela grande caixa de metal se abriram, eu corri
como um doido e abri as portas que passavam, três vazias, meu pai estava
na última e assim que eu a escancarei, ele e uma senhora me encararam,
surpresos.
— Pai é urgente — falei, respirando rápido para tentar recuperar o
fôlego.
— Gael, se essa for mais uma das suas tentativas em não ter uma
babá... — repreendeu.
— Desculpe, senhor, ele teimou que era urgente — Ana contou,
aproximando-se só agora da sala, culpava aqueles saltos altíssimos, por que
elas usam essas coisas se tênis era bem mais seguro e prático?
Mais uma das coisas de adultos que eu não entendia.
— É urgente, papai, juro, não queria atrapalhar, desculpe, viu,
senhora — falei, olhando dentro da sala, diretamente para a mulher que
sorriu de forma doce para mim.
Era verdade, eu não queria uma babá, mas dessa vez não era uma
das minhas artes.
— Vem comigo — falou, tocando meu ombro. — Senhora Rios, já
volto.
Vi que ela concordou com a cabeça, deixamos Ana com ela e
entramos na porta ao lado.
— O que aconteceu? Por que toda essa correria?
Só diante do olhar questionador dele que eu me lembrei, os livros
eram um segredo meu e da Abelhinha, eu prometi nunca contar.
— Não posso falar — disse, encarando o chão.
— Ah não, Gael! Agora tenho certeza de que é uma das suas graças
para atrapalhar a entrevista — falou, zangado. — Já não estou bem com
você hoje, aprontou de uma forma perigosa, colocou a sua vida e a de
outras pessoas em risco, um castigo como o que dei não é o suficiente, você
precisa aprender a lição, está grande demais para fazer esse tipo de coisa.
Ele me deu as costas voltando para a reunião, então eu disse:
— Pai, juro que não estou mentindo. É só que...
— Que o quê? — Voltou a me olhar, completamente decepcionado
comigo.
Eu detestava quando ele me olhava assim, desapontado.
— Você me disse uma vez que promessas são para serem cumpridas,
não é verdade que eu nunca devo prometer uma coisa que não cumpriria?
— Sim, só se deve prometer o que você tem certeza de que vai
cumprir.
Apertei o tablet nos meus dedos, tinha Abelhinha tão perto e não
podia contar.
As lágrimas brotaram nos meus olhos com facilidade e escorreram
como uma cachoeira.
Doía tanto a partida dela e eu só a queria de volta.
— Ei Campeão, vem aqui. — Ele se abaixou na minha altura e me
puxou para perto, abraçando apertado. — Sabe que quando sou duro com
você é com o único intuito de te fazer entender que está errado, você
aprontou e isso terá consequências, prefiro te repreender agora do que
deixar que aprenda sozinho mais para frente e sofra muito.
Solucei.
— Eu sei, me arrependi de pular do carro, eu só não quero uma
babá, não quero nunca mais — desabafei entre lágrimas.
— Precisará de uma até crescer mais, como eu irei trabalhar se não
souber que está seguro em casa? Você é a pessoa mais importante da minha
vida e tudo o que faço é para o seu bem.
Eu o abracei também.
— Papai, eu sei e eu te amo por isso.
— Eu também amo você, Campeão, e peço para ser mais paciente,
eu preciso da sua ajuda nesse momento, quero a Mel de volta tanto quanto
você, eu também a amo, também estou sofrendo cada dia que passo longe
dela.
Encarei os olhos dele.
Eu podia acabar com a nossa tristeza se quebrasse essa promessa,
seria errado?
— Pai se a promessa que eu quebrar for para ajudar de alguma
maneira, ainda é errado? — perguntei, eu queria tanto contar, sair gritando
pelo clube todo que eu tinha achado a nossa Abelhinha.
— Você precisa ter certeza se vai ajudar mesmo.
— Vai, sim, tenho certeza. — Assenti firmemente.
— Bom, se ao quebrar a promessa você estiver ajudando a pessoa,
não é errado.
Respirei aliviado.
— Ainda bem, porque eu acabei de encontrar a Abelhinha — falei,
estendendo o tablet para ele.
CAPÍTULO 29

Danilo
Gael quase me matou de susto ao pular do carro e sair correndo.
A sorte foi que o veículo estava quase parando ou poderia ter sido
bem mais grave.
Com isso, eu percebi que nem tudo estava sempre sob o meu
controle, que acidentes podem acontecer quando qualquer um estiver
cuidando do meu filho, lembrei da discussão que tive com a Melissa,
culpando-a por perdê-lo dentro do clube, ela não teve culpa, Gael que era
arteiro demais e muito esperto.
Estava entrevistando a quarta candidata, senhora Angelina Rios,
possuía experiência na área, era carismática e trouxe consigo uma boa
recomendação. Eu me simpatizei muito com ela e quando estava quase
contratando-a para um teste de alguns dias, Gael irrompeu o escritório,
parecia um louco eufórico.
Milhares de motivos passaram pela minha cabeça para ele estar
assim naquele momento, o principal deles era que mais uma vez éramos
alvos das suas artimanhas para se livrar da babá, preocupado o levei para
longe de todos e conversamos em particular.
Quando ele colocou o tablet na minha mão, completamente aliviado
por poder quebrar uma misteriosa promessa, eu paralisei. Era impossível
que logo ele tenha encontrado a Melissa, nem mesmo os detetives estavam
achando a minha menina e o nosso bebê.
— Como assim encontrou a Mel? — perguntei, confuso, pegando o
aparelho eletrônico e encarando aquilo como se minha vida dependesse
disso.
Era verdade, o meu futuro feliz ao lado dela estava dependendo
daquilo.
— Olha, a Ayane é a princesa herdeira do reino Sol Nascente e ela,
junto do Benício, um plebeu cuidador de ovelhas, vão embora do reino para
conquistar o mundo, é o livro da Abelhinha — falou rápido, tocando a tela
do tablet eufórico.
Passei os olhos pelo texto, estava no início e ainda não mencionava
o tal do Benício, mas tinha, sim, a Ayane e o nome do reino era mesmo Sol
Nascente.
— Aqui diz que é de autoria da Annabelle Andrade. — Li o nome
da escritora, nada mais fazia sentido na minha cabeça.
— Não é, é da Abelhinha, tenho certeza — meu filho teimou,
batendo o pezinho no chão.
— Como pode ter tanta certeza? — questionei.
Não queria me encher de esperanças antes de ter certeza do que ele
falava.
— Ela lia para mim todas as noites, lia as histórias que ela mesma
criava, uma mais legal que a outra. Lembra aquele caderno preto que ela
não desgrudava, o que tinha um coração dourado desenhado? Era lá que
estavam os melhores livros que já leram para mim — Gael disse,
empolgado, gesticulando com a mão.
Eu me lembrava do caderno e de ela quase nunca se desgrudar dele.
Tinha também o pingente de caneta que Gael insistiu em presenteá-la no
aniversário, e Melissa não me contou o motivo daquilo ser tão importante
para os dois.
— Certo, filho, eu vou precisar de todas as informações que você
tem sobre isso, tudo que se lembrar, tá bom? Vou ligar para o detetive e para
os outros nos encontrarem lá em casa.
Cada ajuda seria bem-vinda.
Voltei para a sala de reuniões onde Ana e a senhora Rios nos
aguardavam.
— Ana, cuide de tudo para a contratação da senhora Rios.
Inicialmente faremos um teste de alguns dias — pedi para a minha
assistente que assentiu, solicita.
Gael olhou para a senhorinha com receio, parecia já não gostar dela.
— Esse é o Gael, eu imagino — ela falou com um sorriso pequeno.
— Sim, sou eu. — Meu filho empinou o nariz ao dizer.
— Um homenzinho já, achei que cuidaria de um bebê, mas pelo
visto quem vai cuidar de mim é você — ela brincou e ele sorriu, ainda sem
muito entusiasmo, mas sorriu para ela. — Acredito que nos daremos bem,
rapazinho.
Toquei as costas do meu menino ao dizer:
— Sinto muito deixar a entrevista assim, Angelina, surgiu um
assunto urgente para eu resolver e precisamos ir.
— Tudo bem, em breve nos veremos — falou, o sorriso ainda no
seu rosto.
Deixamos o clube, eu estava eufórico também, por fim uma notícia
que poderia me ajudar a encontrar os dois.

Em casa, depois de Gael mais uma vez contar tudo o que sabia,
andando de um lado para o outro na sala de estar, Daniel se recordou:
— Eu a vi no jardim com esse caderno quando a conheci, estava
concentrada realmente escrevendo alguma coisa nele — falou.
— Mesmo que essa Annabelle Andrade seja a Melissa, como a
encontraremos por trás de um pseudônimo? — Juliana perguntou.
Eu estava pensando justamente o mesmo, Melissa teve todo o
cuidado de fugir sem deixar rastros, se escondeu tão bem e isso explicava o
uso de outro nome.
— Acho que o Enrico pode nos ajudar com isso, vou falar com ele.
— Rômulo deixou a sala de estar pegando o celular do bolso.
Eu sabia que um hacker como Enrico descobriria logo de onde veio
a postagem, mas nem isso me acalmou, estava ansioso demais com a
possibilidade de recuperá-la.
Nunca mais a perderia de novo.
— Em breve ela estará nos seus braços — Daniel garantiu, tocando
meu ombro.
— Espero que sim — respondi, minha voz denunciando toda a
minha tensão.
Porra! Eu não sabia que amar alguém nos deixava assim, em uma
angústia alucinante por informações.
— Papai, quando a encontrarem, eu posso ir com você buscá-la?
Estou morrendo de saudades.
Olhei para Gael, essa carinha gentil dele e esses olhinhos pidões
eram impossíveis de resistir e eu com certeza o levaria, se Melissa relutasse
em voltar, eu usaria a arma que tenho, Gael, ela nunca resistiria a ele.
— Sim, você irá junto — garanti.
Ele deu um pulo animado.
— Enrico está a caminho daqui — Rômulo avisou ao voltar para a
sala de estar.

Tive que mandar Gael subir para o quarto, ele estava tão feliz por ter
ajudado de alguma forma e tão ansioso que ficou fazendo dezenas de
perguntas para o dono das tecnologias Pólis que sempre respondia com
muitos detalhes, ensinando meu filho a fazer coisas que nem eu sabia em
uma máquina.
Enrico era um homem humilde antes de, ainda na faculdade, criar
um aplicativo que ficou famoso. Depois disso não parou mais, construiu um
império sozinho e se tornou o dono de uma das multinacionais mais
importantes do ramo de tecnologia.
O homem estava sentado no meu sofá, diante de algumas telas que
ele trouxe.
— Consegui — falou, animado, tinha levado poucos minutos para
descobrir o IP do computador que Melissa usou para publicar o livro.
Todos sabíamos que era crime, mas pouco me importava, eu só
queria a minha mulher de volta, Enrico mesmo ressaltou que não usava as
suas técnicas para prejudicar ninguém, que só estava fazendo agora porque
Rômulo era um grande amigo e ele não ficaria em paz em deixar uma
mulher grávida sozinha e em perigo.
— Sabe onde ela está? — perguntei, ansioso.
— Sim, tenho a localização. — Ele anotou para mim e eu peguei o
papel na mão e li.
Minas Gerais, então era lá que o meu anjo se escondeu.
— Minas, de carro demoraria demais. — Pensei alto.
— Vou ligar para o piloto preparar o helicóptero — Daniel se
prontificou.
Assenti, concordando.
— Então vamos agora, papai? — Gael perguntou e só então o vi
parado um pouco afastado, era a cara dele não subir para o quarto e
continuar ali, ouvindo tudo.
Meu menino ansioso e muito teimoso.
— Sim, vai se arrumar e coloque algumas roupas em uma mochila.
Sairemos em breve — disse.
Gael praticamente voou para o quarto.
Meu coração estava a mil por hora de tão rápido que batia.
Estava uma mistura de sentimentos: feliz por ter encontrado a minha
menina; preocupado com uma possível recusa dela em voltar para casa e
com isso perdê-la para sempre; e acredito que acima de tudo, ansioso para
descobrir se ela iria ou não me contar sobre o bebê.

Melissa
Era fim de tarde e eu estava encarando o pôr do sol bonito que dava
para ver da varanda da dona Célia.
Estava apreciando a maravilha que era a natureza e tentando não
ficar ansiosa com o lançamento do meu primeiro livro. Era um momento
muito importante da minha vida e eu queria dividir com quem mais me
apoiou, minha mãe, a falta que ela me fazia era dolorosa demais, meu
alicerce se foi. Ela era a que mais torcia por mim e ficaria tão feliz em saber
que eu tinha dado esse passo com a minha escrita, mesmo que não usasse o
meu nome, ainda assim, ela estaria agora me abraçando apertado e estaria
olhando o site de hora em hora, descobrindo se o lançamento foi ou não um
sucesso.
Tinha também o Gael, que era apaixonado por esse livro, ele ficaria
feliz em saber. Danilo nem ao menos sabia desse meu gosto por escrever,
tivemos tão pouco tempo juntos, quase não fomos capazes de nos conhecer
direito e nem isso diminuiu o amor que senti por ele desde o início. Toquei
a barriga, o fruto de tudo o que vivemos estava aqui dentro e eu já
começava a sentir as ondulações quando se mexia, enchendo-me ainda mais
de amor.
— Ei, Mel, por que a cara tristinha? — Igor perguntou, parando ao
meu lado, os dois braços apoiados na cerca de madeira que era adornada
com flores.
— Não estou triste, só pensativa — falei, dando de ombros.
Estava evitando pensar demais em todos, mas era muito difícil,
ainda mais depois daquela matéria na qual vi Danilo com a tal Heloisa,
linda ao lado dele, formando realmente o casal perfeito como a mulher do
blog ressaltou.
— Qué conversa? Talvez ajude. — Ele me olhou como quem não
quer nada, mas eu já sabia que Igor era assim, um bom amigo.
Abracei meu corpo com os braços e neguei com a cabeça.
— Então tá, mas sabe que tô aqui.
Assenti, eu nunca fui fácil de me abrir, preferia guardar para mim e
sabia que isso só me faria mal com o passar do tempo. A saudades de tudo o
que vivi com o meu chefe e com Gael ainda doía demais em mim, era algo
que nunca passaria, só que ter a noção de que eles já seguiram em frente
sem mim só piorava. Uma nova babá entraria no meu lugar segundo a outra
matéria que li e tinha a bela mulher, dona da galeria.
O barulho de um veículo estacionando em frente a chácara chamou
a minha atenção.
— Quem será? — perguntei, olhando para o portão, um carro preto
tinha parado em frente.
Igor olhou para a mesma direção que eu.
— Não faço ideia, entra que vou vê — falou, ele sabia que a questão
de me expor era tensa para mim.
Eu o vi caminhar pelo extenso gramado e entrei na casa, dona Célia
estava na cozinha, terminando de preparar o jantar.
— Chegou alguém, Igor foi ver quem é — avisei, mesmo não
querendo demonstrar, o medo ficou evidente na minha voz.
Será que o meu padrasto me encontrou?
Meu Deus, não, tomara que não.
Célia desligou o fogo e me puxou para o quarto dela, de lá dava para
ver a entrada da casa. Quando puxei a cortina para o lado eu quase tive um
ataque cardíaco.
— É ele — sussurrei.
Danilo estava parado ali, detestando o que quer que fosse que Igor
falava para ele.
Segurei meu colar apertando-o, aquilo ajudava a me acalmar desde
que parti.
Olhei para o carro, o vidro de trás estava abaixado e Gael olhava
para a casa com atenção, foi quando o meu menino me viu na janela e
gritou o apelido carinhoso que tinha me dado.
Era impossível evitar ir até ele, caminhei para fora da casa, quase
correndo, mas tomando cuidado para não cair. O pequeno desceu do carro e
passou voando pelos dois homens que discutiam no portão.
— Abelhinha — gritou mais uma vez, os bracinhos abertos na
minha direção.
Abaixei e quando nossos corpos se chocaram, o abracei bem
apertado.
Meu Deus, eu senti tanta falta que não sabia lidar com aquele
momento, me derreti em lágrimas tocando o rostinho sorridente dele.
— É você, Abelhinha? — Ele tocou meu rosto ao dizer, estava
chorando também.
— Sim, meu menino brilhante, sou eu.
Gael mais uma vez se jogou no meu pescoço, inalando meu cheiro e
me mantendo cativa em seus braços.
— Estava morrendo de saudade — falou, ainda preso a mim.
— Também morri de saudades, meu amor. — Fui sincera.
Pensei neles em todos os dias que estive longe.
Olhei para cima, bem diante de nós, estava o pai do meu bebê.
— Eu não ganho um abraço? — Danilo questionou, me olhando
com tanta determinação.
CAPÍTULO 30

Danilo
Eu passei por praticamente um inferno para encontrar a Melissa.
Ela estava em uma cidade pequena no interior de Minas Gerais,
ainda assim a encontramos.
Não foi tão simples chegar até ela, tivemos que vir de helicóptero
que demoraria bem menos que de carro, pousamos em uma fazenda
próxima à localização dela, mas ainda precisávamos de um carro para
chegar e Daniel conseguiu resolver em pouco tempo tudo para mim, o
veículo estava nos aguardando quando pousamos.
O motorista pelo visto conhecia a proprietária da casa que Enrico
localizou, uma tal de Célia, ele falou que ela realmente tinha recebido a
visita de uma parente distante há umas semanas, tive certeza de que era a
Melissa.
Quando estacionamos em frente a uma chácara, vi um caminho de
pedras entre as árvores frutíferas que dava acesso à casinha. Mal desci do
carro e um rapaz me abordou. Nem me importei com a sua expressão de
poucos amigos, só queria recuperar a Mel.
Assim que perguntei por ela, ele me mediu dos pés à cabeça com
desagrado.
Era só o que me faltava!
— Não conheço nenhuma Melissa, acho que o senhor tá
confundindo o lugar — falou, me encarando.
Uma porra que não conhecia.
Depois de tudo o que passei, esse moleque decidiu testar a minha
paciência, só pode.
Eu tinha certeza de que esse era o local, que ela estava aqui e
entraria nem que fosse a força.
— Olha aqui, garoto, Melissa é minha mulher, eu vim buscá-la e irei
levá-la para casa nem que para isso eu precise passar por cima de você —
ameacei, um passo mais próximo dele.
Foda-se se eu estava parecendo um louco possessivo.
O menino não se intimidou.
— Já disse que não tem nenhuma Melissa aqui, cara, pode volta de
onde veio — teimou.
Inferno!
Foi nesse momento que Gael vociferou o apelido dela, descendo do
carro ainda gritando e correndo para dentro da propriedade. Olhei para a
porta de entrada e a vi saindo correndo também, os dois se encarando,
perdidos em um mundo que só eles viviam, um local cheio de amor.
Encarei o rapaz mentiroso com mais raiva ainda e passei por ele,
vendo o reencontro dos dois, Melissa e Gael choravam, fui forte para não
demonstrar demais o quanto eu também estava afetado com esse momento.
Quando nossos olhares se encontraram, eu senti meu mundo voltar
ao eixo naquele azul brilhante, finalmente a recuperei. Melissa continuou
abraçando Gael, que a olhava sorrindo.
Havia dias que ele não sorria assim.
— Eu não ganho um abraço? — questionei, olhando-a por inteira
quando se levantou. A barriguinha com uma protuberância quase
imperceptível, que não estava ali da última vez que a vi. O brilho nos olhos
chorosos. O rosto angelical que me apaixonei.
Porra! Senti tanta falta dessa menina.
Ela colocou a mecha solta do cabelo atrás da orelha e se aproximou
de mim com passos cautelosos. Como se pensasse bem antes de me tocar.
Um toque de distância e eu parecia que morreria se não a tivesse logo.
Assim que Melissa se aproximou o bastante para me tocar, a puxei
para mim, ansioso por esse momento.
— Achei você, honey, nunca mais você vai escapar de mim —
prometi com ela em meus braços, o tom de voz grave, entregando tudo o eu
que sentia.
Melissa me apertou forte e o seu choro voltou como uma avalanche.
— Me perdoa, eu não deveria ter saído da mansão daquela forma —
pediu.
Sim, eu estava chateado por ela não ter confiado em mim, por não
ter me contado sobre o nosso bebê, mas esse não era o momento para isso,
eu estava acima de tudo sentindo uma grande falta da minha menina, de
sentir seu cheiro e observar seu sorriso.
— Xiu! Eu já sei, minha linda — falei, dando tudo de mim para me
afastar dela e segurar seu rosto com as duas mãos, secando as lágrimas com
suavidade.
— Já sabe? Como assim? — perguntou, os olhos um pouco
arregalados em surpresa.
— Sei que fugiu da sua cidade natal por causa do seu padrasto, já
resolvi isso antes de te buscar para te levar em segurança para a nossa casa
— garanti e ela me olhou surpresa.
— Você falou com o Fernando? — O medo estava evidente na voz
dela.
Se dependesse de mim, nunca mais ela se sentiria ameaçada assim.
— Sim, consegui provas irrefutáveis contra ele que está preso no
momento — contei.
Melissa não esboçou nenhuma reação, ela apenas se jogou nos meus
braços, apertando-me.
— Obrigada, eu fiquei com medo de contar sobre ele para você.
— Falamos sobre isso quando chegarmos em casa, temos um
pequeno espectador aqui — brinquei, olhando para Gael que estava atento à
nossa conversa.
Antes que Melissa se afastasse por completo, a puxei novamente e
selei seus lábios nos meus, um beijo calmo, saudoso, mas que deixava
implícito tudo o que sentia por ela.
Ela se afastou, olhando preocupada para Gael, que sorria de orelha a
orelha.
— Eu já sabia de vocês, Abelhinha — ele falou com um sorrisinho
matreiro.
— Desde quando? — ela questionou, olhando para mim, mas deixei
que ele respondesse todo orgulhoso.
— Lembra do jantar na casa da tia Ruth? Você pediu para eu buscar
o casaco e quando eu voltei, vi vocês dois se beijando — explicou.
Melissa se abaixou na frente dele, segurando os dedinhos pequenos
de Gael nos seus.
— Faz tanto tempo e você nem comentou nada, por quê? —
perguntou, colocando uma mechinha do cabelo cacheado dele para o lado,
estava alcançando os olhos e precisava ser cortado.
— Não sei. — Deu de ombros ao dizer.
Melissa me olhou com receio e eu sorri para tranquilizá-la.
— E como você se sente quanto a isso? — ela perguntou ao Gael.
Caralho, isso era o que eu mais amava na Mel, ela colocava o bem
do Gael acima de nós dois, tenho certeza de que se ele fosse contra, ela
tentaria entender o motivo e se fosse plausível, se afastaria de mim por ele.
— Eu gostei quando vi vocês juntos, mas amei mesmo foi saber que
vão se casar e que me darão irmãos — contou todo empolgado e eu quase
caí duro para trás.
Gael como sempre, soltando uma das suas proezas.
Melissa se levantou num rompante, a peguei nos meus braços antes
que se desequilibrasse.
— Casar? — sussurrou, confusa.
Eu entendia essa reação dela. Na sua cabeça, criou a imagem do
Danilo solteiro, dono de um clube de sexo, não do Danilo que a amava e
que estava disposto a construir uma família com ela custe o que custar.
Eu estava prestes a explicar a situação quando uma senhora se
aproximou.
Ela olhou para mim com cautela, verificando se eu era um perigo
para todos ali.
— Mel, ocê tá bem? — ela perguntou em um sotaque gostoso de
ouvir.
— Sim, dona Célia, me levantei rápido demais e fiquei um pouco
tonta.
Esse era o momento perfeito para Melissa me contar do bebê, mas
ela não o fez e acabou me deixando ainda mais paranoico com a ideia de
que ela não contaria e fugiria novamente.
— Vamo entra, venham ocês também, o jantar tá pronto — falou,
indicando a casa.
Gael olhou para a senhora com interesse.
— Jantar?
— Sim, meninim, tá com fome?
Ele me olhou pedindo permissão e assenti.
Melissa estava em segurança aqui e eu não via perigo nenhum. Até
mesmo o rapaz quando cheguei mentiu sobre a presença dela, queria pensar
que era com o intuito de protegê-la do que a fez fugir, mas o ciúme já estava
presente desde que o vi. Era um garoto da idade dela, provavelmente com
interesses em comum e muita afinidade, só em pensar na hipótese de ela ter
se aproximado de outra pessoa nessas semanas já me sufocava.
— Eu estou morrendo de fome — Gael falou.
Olhei meu filho se afastando cada vez mais com a Célia e o rapaz,
indo tranquilo para dentro da casa de desconhecidos sem nem olhar para
trás. Melissa estava para entrar também quando a segurei pela mão.
— Você vai voltar para casa comigo? — perguntei com receio na
voz. Se ela negasse, eu não saberia o que fazer, talvez me mudar para esse
fim de mundo fosse uma opção.
— Eu nunca nem deveria ter saído de lá — disse, tocando meu
rosto.
Só então eu consegui me livrar de todo o peso dos meus ombros, ela
voltaria para mim.
CAPÍTULO 31

Melissa
A parte mais difícil em partir de Minas Gerais foi deixar as duas
pessoas incríveis que conheci para trás.
Igor se tornou um bom amigo protetor e mesmo depois de entender
que não era do Danilo que eu fugia, ele ainda continuou com um pé atrás e
disse que qualquer coisa, ele estava a algumas horas de distância, era só
telefonar. Já dona Célia se tornou a avó que eu nunca tive, além de ter me
ajudado quando mais precisei, ela me deu amor e isso eu nunca esqueceria,
a distância nos separaria fisicamente, mas estaríamos sempre juntas através
da internet. Ela garantiu que seria a minha revisora fixa de tanto que amou
os meus livros, sim, ela leu os outros dois em uma noite apenas e estava
revisando-os.
Prometi que falaria com eles sempre que possível e naquela mesma
noite, Danilo me levou de volta para casa.
Gael não se desgrudou de mim um instante e após o banho, quando
o coloquei na cama ele me falou:
— Abelhinha, eu quebrei a nossa promessa. — Ele parecia culpado.
— Qual promessa, meu amor? — Quis saber.
A presença do Danilo, encostado no batente da porta, olhando para
nós dois, não diminuiu a coragem do meu pequeno em confessar.
— Contei para o papai que você escreve livros para crianças —
falou com os olhinhos marejados, como se esse fosse seu grande erro.
— Eu não estou chateada, uma hora ou outra eu contaria para o seu
pai também — garanti.
— Explica para ela por que você me contou, filho — Danilo pediu.
Gael ajeitou o corpinho de lado no travesseiro e me olhou.
— Foi assim, eu estava de castigo, não estou mais...
— Ainda está, sim — Danilo o cortou.
— Não me culpe por tentar, papai — falou, olhando de lado para o
pai.
Esse menino não tem jeito.
— Então, como eu estava dizendo, eu estava de castigo no clube, lá
no escritório do meu pai, daí fui brincar com a google assistente, pedi para
ela me contar uma piada sobre o Benício e a Ayane, sabia que não daria,
mas aí ela mostrou muitos links e eu cliquei no primeiro, foi assim que eu
vi o livro de uma tal de Ana... Ana o que mesmo, pai? — perguntou.
— Annabelle Andrade — Danilo completou o nome.
— Isso, era o seu livro no nome dela e como o papai estava tentando
te achar como um louco desde que você sumiu, eu achei que poderia ajudar
contando sobre o livro, foi com isso que o Enrico, um amigo do tio Rômulo,
te achou.
Olhei para Danilo que nos encarava com um sorrisinho.
— Você sabia que tem como encontrar as pessoas pelo computador?
Eu achei tão, tão interessante que decidi ser um achador de pessoas quando
crescer — falou, animado.
Gargalhei.
— Não seria um tatuador e guitarrista famoso? — perguntei.
Essa era a melhor fase da vida, poderíamos ser o que quiséssemos.
Nunca aproveitávamos a infância como deveríamos, sempre querendo
crescer muito rápido.
— Sim, será que tem como ser um tatuador que acha as pessoas e
que toca guitarra?
— Um guitarrista famoso, achando pessoas ao redor do mundo
enquanto faz lindas tatuagens? Deixa-me pensar. É claro que tem como,
você só vai precisar se organizar — falei, fazendo cócegas nele.
Gael sorriu alegre.
— Que bom, porque eu quero ajudar as pessoas que se perderam,
assim como o Enrico ajudou a te achar. Promete que nunca mais vai me
deixar e que amanhã quando eu acordar, você estará aqui? — pediu com os
olhinhos marejados.
A minha ida machucou muito o meu menino brilhante, e eu me
detestava por isso.
— Me desculpa, pequeno? Juro que não parti por partir, tive um
motivo para ir e quando você for um pouco maior e conseguir entender, eu
te contarei, mas agora posso garantir que não vou mais embora, seu pai
cuidou de tudo para me manter protegida aqui.
— Você promete? — teimou, a promessa para eles era sagrada.
E dessa vez eu prometi.
Prometi porque independente do que Danilo e eu nos tornássemos,
Gael sempre seria como uma família para mim e agora tinha o bebê, um elo
eterno com ele.
— Prometo — falei, acariciando o rostinho dele e dando um beijo
de boa-noite, Danilo se aproximou e o beijou também.
— Boa noite, filho.
Gael estava tão exausto que fechou os olhinhos cansado e não
demorou para dormir profundamente.
Apaguei a luz e Danilo fechou a porta atrás de nós.
— Ele te ama — falou ao enlaçar a minha cintura com os braços. —
Assim como eu também te amo.
Levantei o olhar para encontrar seus olhos, que me encaravam com
um brilho intenso.
— Como? — perguntei, queria ouvir outra vez, ter certeza de que
foi realmente aquilo que ele disse.
— Eu amo você, Melissa Mendes de Alcântara. Desde o segundo
que entrou no meu escritório, eu soube que você seria encrenca, mas não
imaginei que roubaria o meu coração nesse meio tempo, foi rápido,
explosivo e eu não mudaria um segundo do que vivemos.
— Nem mesmo a minha fuga? — perguntei, mordendo o lábio
inferir para conter um sorriso.
— Nem mesmo isso, essas semanas longe de você foi o que eu
precisava para perceber que uma vida será pouco ao seu lado, eu quase
enlouqueci te procurando e quando te achei, estava vivendo na casa de um
garoto da sua idade, um garoto que não queria me deixar entrar e falar
contigo, tem ideia do quanto detesto aquele moleque?
Sorri.
— Nunca rolou nada entre mim e o Igor, ele é um ótimo amigo e só
queria me proteger quando você chegou, nem ele e nem a Célia tinham
certeza de quem eu fugi, só me acolheram e me ajudaram sem pedir nada
em troca — contei.
— Sou grato a eles por isso e ainda vou achar uma maneira de
compensá-los.
— Eles nunca aceitariam o seu dinheiro.
— Existem outras maneiras de ajudá-los, eu só ainda não sei qual.
Caminhamos para a porta do meu quarto, mas estanquei no lugar
antes de entrar.
— O que foi? — ele questionou, confuso.
— Li em um site de fofocas que você estava contratando outra babá,
esse quarto não é dela agora? — perguntei, indicando a porta.
— Soube sobre a babá em um site de fofocas, então mesmo longe
estava me espionando?
— Confesso que sim, quase morri ao ver você e a tal de Heloísa em
um restaurante, tem alguma coisa a me dizer sobre isso? — Podem me
julgar, eu não estava aguentando mais esse assunto, precisava saber se ele
ficou ou não com outra mulher.
— Eu acabei de confessar que te amo, tem noção que é a primeira
mulher para quem digo isso? Nem mesmo falei para a minha tia Ruth,
mesmo amando-a como uma mãe, eu nunca disse.
— Não tenho culpa se sou insegura.
— Certo, eu também sou quando o assunto é nós dois, tanto que
ainda não engoli a história do Igor — falou com ciúmes.
— Ele tem namorada e ela é um amor de pessoa — contei.
Nós dois estávamos no corredor, conversando sobre sentimentos
pela primeira vez.
— Heloisa é uma amiga de infância, nada mais que isso, não foi um
jantar a dois como os sites tentaram fantasiar, toda a galera estava lá e
praticamente me arrastaram, eu estava perdido com o seu desaparecimento.
Assim que você conhecer a Helô, vai entender que somos apenas amigos.
Só enxerguei sinceridade nos olhos dele.
Danilo abriu a porta do meu antigo quarto e entrou.
Adentrei, olhando ao redor, eu senti tanta falta de tudo.
— E a resposta é não, esse continua sendo o seu quarto, por
enquanto.
— Por enquanto? — questionei, temerosa. — Então você já
contratou outra babá?
Eu tinha aberto mão de tudo quando fui embora, mas agora estava
de volta e enquanto meu livro não começasse a render, eu precisaria me
manter de alguma forma.
— Contratei, tem outra coisa que preciso te dizer, tomei a liberdade
de trazer a sua mudança para cá, as caixas chegaram essa semana, pedi para
colocarem tudo no seu closet.
Caminhei até lá, todas as minhas coisas, que tinha na outra cidade,
estavam ali, em caixas empilhadas. Peguei meu celular nas mãos, sem
bateria, ficaria com ele mesmo, meus conhecidos de lá tinham esse número
e a única ameaça que me rondava já não era mais um problema.
— Obrigada, como sabia que eu ficaria na cidade? — perguntei.
— Dei um tiro no escuro e pelo visto acertei — disse com um
sorrisinho convencido.
— Acertou mesmo, pretendo fazer de Vale de Lótus o meu lar, eu só
preciso achar um lugar para colocar tudo e preciso desocupar o quarto para
a nova babá.
— Sim, amanhã te ajudo a desocupar esse quarto — falou e eu me
desesperei.
— Amanhã? Mas eu preciso encontrar um lugar primeiro...
— Não precisa, já temos o lugar, quero você no meu quarto, claro se
aceitar — cortou-me.
— No seu quarto? Todas as noites? Com todos sabendo?
— Sim, passará a ser nosso quarto se você quiser.
Deus, essa era uma proposta tão direta.
— Você tem noção do que está pedindo? — perguntei, ele me olhou
assentindo.
— Sim, eu já queria dormir com você todas as noites antes do Gael
saber, agora nada mais nos impede, a não ser que você não queira.
Mordi o lábio inferior nervosa.
— Eu quero, claro que eu quero.
— Então pronto, amanhã transferimos as suas coisas para o nosso
closet.
— A babá ficará aqui? — perguntei, indicando o quarto.
— Não, ela trabalhará apenas no período da tarde, como estaremos à
noite em casa, não vejo necessidade de ela dormir aqui.
— Não irá mais ao clube a noite? — proferi, confusa.
— Não, apenas quando formos em alguma sessão — falou com um
sorriso safado.
Eu não via a hora, mas ainda tinha tanto para conversarmos.
Abri uma das caixas, todos os meus cadernos estavam ali, folheei
um deles sorrindo.
— Vou preparar todos eles para publicar na Amazon e como mais
nada me faz viver com medo, vou dedicar meu tempo a isso, sempre amei
escrever e é o que quero para a minha vida.
Danilo enlaçou a minha cintura e apoiou seu queixo no meu ombro.
— Será que posso ler algum? Estou bem curioso — pediu.
Sorri, mordendo o lábio inferior.
— Claro que pode, leia todos se quiser.
— Sabe quantos já escreveu ao todo? — perguntou.
— Sim, trinta e dois, escrevo desde pequena.
— Uau, são muitos livros.
Virei de frente para ele.
— Por serem histórias infantis, não são tão longas. Eu lerei cada um
para o Gael, ele adora.
— Ele ficou muito empolgado quando contou sobre seus livros, no
início não queria quebrar a promessa, mas percebeu que ajudaria a te
encontrar.
Quando fui embora, não pensei muito nos sentimentos dos que
deixei para trás, eu só queria protegê-los, mas isso não muda o fato de que
os magoei.
— Danilo, me desculpa. Eu parti porque sempre tive a dúvida de
que o meu padrasto era ruim e que poderia ter feito algum mal para a minha
mãe, não queria colocar vocês em risco, ir embora naquele momento foi o
que achei correto.
— Você deveria ter confiado em mim, eu teria te ajudado no mesmo
instante e em momento algum você estaria em perigo. Foi mais arriscado
sair sozinha de madrugada do que ficar nessa casa rodeada de seguranças
— ralhou.
— Eu sei, fui desesperada.
Mas não me arrependia, esse meu desespero me fez conhecer Célia
e Igor.
— Só quero que confie em mim da próxima vez que um problema
surgir.
— Eu posso fazer isso. Tem uma coisa que eu preciso te contar —
falei, receosa.
— O quê?
— Eu... estou grávida. — Toquei a barriga ao falar, encarando a
reação dele.
Eu temia esse momento, mas não seria justo esconder.
Um sorriso iluminou o rosto dele, completamente.
— Eu já sabia do bebê, soube no dia seguinte que partiu e estou
muito feliz que tenha me contado agora.
— Como descobriu?
— Rosa achou os testes positivos no seu banheiro e me entregou, eu
já estava sofrendo por perder você, então com essa notícia, o baque foi
ainda pior, isso só serviu para me incentivar mais a achá-los.
— Eu esqueci dos testes — falei a verdade.
— Naquela noite no clube, eu não quis te assustar, só não imaginei
que teria outro filho.
Mordi a parte interna da minha boca tentando conter o choro.
Não aguentava mais chorar, esses hormônios iriam me matar até o
final da gravidez.
— Mas você quis dizer aquilo — comentei.
— Quis, eu também demorei para me adaptar a ideia de ser pai da
primeira vez, é uma coisa pessoal, fico inseguro, mas isso não significa que
irei amar menos esse que o Gael.
— Eu iria te contar do bebê, mesmo que não o quisesse, lutaria por
ele sozinha, mas então aquela mensagem me apavorou e eu não pensei em
mais nada.
— Eu o quero muito, aquilo que o Gael disse na casa da Célia é
verdade, eu quero dar irmãos para ele, quero um casamento com você,
quero a vida cotidiana que nunca imaginei para mim, quero tudo isso ao seu
lado.
As lágrimas que tentei conter venceram e eu as deixei fluírem, não
eram de tristeza, eram de alegria.
Finalmente eu estava em casa. Não era o lugar, eram as pessoas, elas
se tornaram meu lar.
CAPÍTULO 32

Danilo
Planejar o futuro ao lado de uma mulher, eu nunca imaginei que
faria isso, mas agora, com Melissa nos meus braços, beijando-a, eu não
pensava em uma vida melhor.
— Vamos tomar banho primeiro — falei, colocando-a no chão da
nossa suíte.
— Você nunca ficou grávido mesmo, jamais entenderia esses
hormônios — ela reclamou com um bico.
Terminei de me despir, notando os olhos dela gulosos no meu corpo.
— Vem aqui, eu te ajudo com esse jeans, em breve precisará parar
de usá-los.
Ela se aproximou mais.
— Nem me fale, já estão começando a apertar.
Comecei a despi-la, era impossível não notar os seios um pouco
mais cheios e a saliência na barriga.
— Você já foi em alguma consulta? — Quis saber.
Detestava o fato de ter passado tantos dias longe dela.
— Sim, em uma — comentou com pesar. — Não queria que você
perdesse a primeira, mas você sabe os meus motivos...
Já embaixo do chuveiro, depois de ficarmos em um silêncio tenso,
questionei chateado:
— Você não me contaria da gravidez se eu não tivesse te achado,
não é?
Ela abriu os olhos claros e me olhou com tristeza.
— Eu estava decidida a te contar antes daquela mensagem, só queria
encontrar o melhor momento, mas depois de ir embora para te proteger,
voltar para Vale de Lótus e te contar seria muito arriscado, não colocaria a
sua vida em risco acreditando que Fernando poderia te ferir.
Desviei o olhar me virando.
Merda! Eu fiquei chateado com essa resposta, independente da
sinceridade dela.
Eu poderia ter outro filho no mundo e nem saberia se a Rosa não
tivesse achado os testes e se não tivéssemos encontrado a Melissa.
— Ei! — Ela tocou meu braço, fazendo-me encará-la. — Acabamos
de nos reencontrar, não quero que fique magoado comigo. Eu acreditei que
partindo eu não colocaria a vida das pessoas especiais para mim em perigo.
Respirei fundo, aceitando a aproximação dela.
— Não sei lidar com o que sinto, Melissa, a possibilidade de você ir
embora a qualquer momento quase me mata. É livre para viver, bem mais
jovem que eu, tem uma vida toda pela frente ainda. Isso me deixa tão
inseguro, não sei se o que quero é o mesmo que você quer.
Ela selou seus lábios nos meus, comandando o beijo com
voracidade.
— Eu estou tão na sua, não sei como não percebeu desde o início,
eu me apaixonei por você no segundo que desceu do carro e eu te vi todo
lindo, Deus, fui capturada naquele momento, você sequer olhou na minha
direção.
— Quando isso? — Era impossível não a notar, eu a teria visto em
qualquer lugar.
— No dia da entrevista, eu cheguei muito cedo, fui a primeira.
Quando estava atravessando o jardim, te vi descendo do carro na garagem,
fiquei atraída logo de cara, mas passei a te amar mesmo nos pequenos
momentos, quando você cuidou de mim com cólica, quando tentava não
demonstrar o seu interesse, mas falhava ridiculamente.
Sorrimos com isso.
— Eu te amo, eu quero a vida que você falou, quero desbravar o
mundo ao seu lado. Quero estar presente no crescimento do Gael e do nosso
bebê, amando-os da mesma maneira. Quero ir às sessões do clube contigo e
voltar para casa exausta, mas nunca saciada. — Ela mordeu o lábio inferior
com um sorriso. — Quero você e toda a bagagem que carrega.
— Porra, Melissa. — Finalizei nosso banho puxando-a para mim.
Era concreto, ela também me amava e eu não sabia o quanto
precisava ouvir isso até finalmente escutar.
Eu nunca resistiria a ela.
Caminhei com ela enlaçada a mim, seus dedinhos curiosos
passeando pelo meu corpo.
— Estou toda molhada — reclamou quando a coloquei deitada na
cama.
— É assim mesmo que eu quero que você esteja — falei, mordendo
o lábio ao vê-la nua novamente na nossa cama.
— Não tem ideia do quanto senti sua falta — ronronei.
— Não parece, está demorando demais para vir até aqui —
reclamou, unindo as pernas com anseio.
— Apenas apreciando o que é meu.
Voltei a me aproximar, beijando-a com todo o desejo que sentia por
ela, puxando seus cabelos molhados para mim, tentando unir ainda mais
nossos corpos. Melissa era como uma parte essencial minha. Eu necessitava
dela.
Quando suas pernas enlaçaram a minha cintura, ansiando por nos
unir, eu parei meus movimentos, tenso.
— Nunca estive com uma grávida — falei, acariciando a sua coxa.
— Eu também nunca fiz sexo grávida.
— E se doer? — perguntei, preocupado.
— Vamos ter que descobrir juntos — ela propôs.
— Eu vou bem devagar... não, melhor você ir em cima.
Ela gargalhou, rindo do meu nervoso.
— Eu estou falando sério aqui — reclamei, como ela conseguia rir
em um momento desses?
— Não precisa se apavorar, meu lindo, vou em cima se isso te deixa
mais tranquilo.
Inverti as nossas posições e Melissa se sentou, deslizando com
facilidade por estar completamente lubrificada.
Seus olhos fixos nos meus.
Seus dentes capturando o seu lábio inferior com brutalidade.
Ela se apoiou com as mãos no meu abdômen, intensificando a
cavalgada.
— Não está doendo? — perguntei, segurando-a na cintura tentando
controlar a velocidade que ela comandava.
— Não, com certeza não. Senti tanto a sua falta — falou, puxando-
me um pouco para cima para me beijar, sem deixar seus movimentos de
subir e descer.
Eu ainda não estava confiante, por isso permiti que ela comandasse
um pouco mais, escolhendo o ritmo perfeito. Levantei-me sugando um dos
seus seios, Melissa jogou a cabeça para trás, intensificando ainda mais o
ritmo e gozando com um gemido alto.
Porra!
Ela era tão linda, mesmo inocente se soltava comigo e pelo visto
adorava comandar.
Eu estava fodido de agora em diante.
Virei nós dois na cama, deixando-a deitada e beijei toda a extensão
da sua barriga, abaixando cada vez mais.
Assim que a minha língua tocou seus clitóris ela gemeu, manhosa,
fechando os olhos.
— Sim, honey, eu sei que está sensível. Mas eu quero todo o meu
mel — provoquei, continuando com a carícia torturante.
— Deus, Danilo! — falou, cravando as unhas nas minhas costas.
O corpo delicioso se contorcendo abaixo do meu, pedindo cada vez
por mais.
— Isso, minha linda, goza mais uma vez na minha boca.
Melissa fechou os olhos e arqueou o corpo, mordendo o lábio para
evitar gritar quando outra vez foi atingida pelo clímax. Voltei a penetrá-la,
dessa vez sem todo o medo inicial e só então me permitir jorrar dentro dela.

Na manhã seguinte, quando acordei, ela estava nua nos meus braços,
suas pernas emaranhadas com as minhas, seu cheiro dominando toda a
nossa suíte. Nossa suíte, caralho! Algo nunca foi tão certo na minha vida,
como tê-la aqui agora.
— Bom dia! — Sua voz me saudou, virando-se para se levantar.
— Aonde vai? — perguntei, ainda não tinha tido o suficiente dela
para amenizar a saudade.
— No banheiro, ultimamente tenho ido com tanta frequência que até
me irrita e todas, todas as vezes a bexiga está cheia. É uma coisa estranha
— falou, rindo e caminhando até o banheiro.
Após ela usar, lado a lado fizemos nossa higiene matinal e tomamos
um banho juntos.
— Está com dor? — perguntei.
— Não estou, pode ficar tranquilo.
— Só ficarei tranquilo após a nova consulta, nessa quero estar
presente e tirarei todas as minhas dúvidas, principalmente em relação ao
sexo na gravidez. — Isso era tão novo para mim quanto para ela.
— Aqui, acredito que terei como fazer um ultrassom, lá em Minas
não teve como.
— Vou agendar para segunda no primeiro horário, não vamos mais
adiar, precisa de um bom acompanhamento.
— Ótimo, estou ansiosa para ver o bebê — falou, selando seus
lábios nos meus em um beijo casto.
— Eu também estou. Vamos conversar com o Gael sobre a gravidez
hoje? — perguntei.
Queria que ele soubesse e que estivesse presente na consulta.
— Sim, quero incluir ele em tudo, mas ainda está bem cedo, Gael
vai demorar para acordar — falou, voltando para o quarto e se deitando na
cama.
Encostei na porta do banheiro, negando com a cabeça.
— Nem pense nisso mocinha. — Só pela carinha dela sabia o que
ela queria.
— Por que não?
— Não quero arriscar te deixar com dor, por isso não.
Melissa rolou os olhos para mim.
— Você é tão mandão — reclamou.
— Sou e sei que adora — provoquei.
— Sim, mas dependendo das vezes não.
— Por isso é uma teimosa — ralhei quando os seus dedos
começaram a me provocar, deslizando pelo seu corpo delicado. Os olhinhos
claros no meu membro, eu negava, mas não conseguia controlá-lo. Era
viciado em Melissa, independente da circunstância.
— O que faremos hoje então? — Deu-se por vencida assim que
comecei a me vestir.
— Evelyn avisou que viria te visitar, todos na verdade estão
ansiosos para te ver, por isso resolvi fazer um churrasco.
— Oficialmente juntos diante de todos eles? — perguntou,
começando a se vestir também.
— Quer desistir? — Arqueei a sobrancelha, olhando-a através do
espelho do closet.
— Não vai ser tão fácil assim se livrar de mim, meu lindo —
garantiu.

Melissa e eu estávamos sentados desfrutando do café da manhã


quando Gael desceu, olhando atento ao redor e assim que a viu, sorriu.
— Bom dia, Abelhinha e papai! — falou, animado, sentando-se ao
lado dela.
Eu estava sendo claramente trocado e isso não me incomodava nem
um pouco, era maravilhoso saber que antes de me amar, Melissa amou o
Gael e ele a ela.
— Bom dia, Campeão! — desejei.
— Bom dia, meu menino brilhante, dormiu bem? — ela perguntou,
colocando leite com achocolatado para ele.
— Sim, muito bem e estou morrendo de fome.
Ajeitei meu corpo na cadeira e olhei para ela em busca da resposta
para a minha questão, contamos agora ou não sobre o bebê? Melissa sorriu
confiante e eu soube que esse era o momento.
— Filho, tem uma coisa que queremos te contar — comecei a dizer.
Gael me olhou enquanto mordia uma torrada com geleia de uva.
— É muito importante e queremos que saiba para participar de tudo
conosco — Melissa acrescentou.
— O que é? — ele questionou, ansioso.
— Lembra que você me pediu irmãos? — Ele assentiu. — Então,
Melissa está esperando um bebê, o nosso bebê.
Gael deixou a torrada no prato e a olhou surpreso.
— Esperando um bebê? Tem um bebê na barriga da Mel? —
questionou.
— Tem, sim, o seu irmãozinho ou irmãzinha — ela falou,
emocionada.
— Obaaa — ele gritou, animado e se levantou, abaixando na frente
dela. — Será que eu posso ver?
— Ainda está bem pequena a minha barriga, olha. — Ela ergueu a
regata que usava, mostrando a saliência que era o fruto do que sentimos um
pelo outro.
Gael tocou com cuidado, como se estivesse diante do próprio irmão.
— Na segunda, iremos em uma consulta médica e poderemos ver o
bebê, quer ir? — perguntei, emocionado com o quanto ele parecia
deslumbrado com a chegada do novo membro da família.
— Sim, eu quero muito.
— Será que por ele ser criança não tem problema? — Mel
questionou, preocupada.
— Não sei, mas acredito que não. Vamos tentar.
— Então você ficou animado? — perguntei ao meu filho, que
novamente estava comendo.
Um sorriso brincava no rostinho lindo dele.
— Muito, muito mesmo.
— Eu me lembro que você disse que gostaria que se chamasse
Ayane ou Benício, ainda quer? — ela falou e olhou para mim.
Não tínhamos falados sobre nomes ainda.
— Sim, são nomes lindos, não são papai?
— São, sim, eu adorei — concordei.
— Ótimo, agora só precisamos descobrir qual dos dois está
chegando — Mel comentou, ansiosa.
Eu estava me sentindo o homem mais feliz do mundo, tudo o que eu
precisava estava aqui, ao alcance das minhas mãos.
CAPÍTULO 33

Melissa
O fim de semana com toda a família foi maravilhoso, eu me
desculpei com todos eles e fui muito bem acolhida. Eram pessoas que a
cada dia se tornavam mais e mais especiais para mim. Ruth me aceitou
como filha antes mesmo de Danilo e eu assumirmos que estávamos juntos.
Ruan tem um jeito mais fechado de demonstrar as emoções, mesmo
sendo simpático e sorridente, mas sempre me tratou com muito gentileza.
Rômulo, Rosane e a Juliana se tornaram bons amigos e eu sabia que com o
passar do tempo, nos tornaríamos mais próximos ainda.
Já Daniel era uma questão a parte, ele adorava atormentar o Danilo e
me colocava no meio disso tudo, provocando-o. Eu já o adorava como um
irmão também e após saber de tudo o que ele fez para me ajudar, decidi que
um dia o retribuiria por isso.
Conheci a Helô e logo de cara nos demos bem, ela era aquele tipo de
amiga verdadeira, amava os Gomes Ribeiros como irmãos e deixou escapar
que seu coração pertencia a um homem proibido para ela, não sei quem e
tão pouco perguntei, não era uma questão minha.
A pessoa que realmente ficou furiosa comigo foi Eve, que ameaçou
me dar uns cascudos, mas esperaria até o fim da gravidez, já que não queria
arriscar machucar o bebê. Ela era uma doida e eu agradeceria sempre por
tê-la encontrado. Graças a ela que eu conheci os amores da minha vida.
Gael eu amei desde o início de uma forma intensa demais, como se
tivéssemos uma ligação inexplicável. Eu o amava como um filho,
independente da nossa pouca diferença de idade, eu o amava assim. Já o
Danilo se tornou uma das pessoas mais importantes do mundo para mim,
era com ele que eu queria dormir todas as noites e acordar vendo aquele
sorriso lindo todas as manhãs, por todos os dias da minha vida.
Eu finalmente estava vivendo tranquila, rodeada de pessoas que me
amavam de verdade e que fariam tudo por mim assim como eu faria por
elas. Mas confesso, desejei demais a chegada da segunda-feira para
comparecer a consulta médica.
Gael estava sentado ao meu lado no carro, vestia o uniforme da
escola e o deixaríamos lá assim que saíssemos do hospital.
— Abelhinha, demora muito para o bebê nascer? — perguntou,
olhando para as nossas mãos unidas.
— Sim, mais ou menos nove meses.
—Tudo isso? Eu achei que iria ter o bebê aqui logo.
— Precisamos nos adaptar à presença de um novo membro a
família, filho, decorar o quarto, comprar as roupinhas, fraldas, organizar
tudo para que ele venha ao mundo sem que nada falte — Danilo falou com
um sorriso gentil.
— E ele precisa de todo esse tempo para se desenvolver e nascer
saudável — falei.
Gael assentiu, pensativo.
— Aquelas fotos minha no hospital foi porque nasci antes do tempo,
né? Não quero que o bebê fique lá, quero que ele venha para casa.
— Sim, você nasceu de sete meses, foram necessários mais dois
meses no hospital para que ficasse forte e pudesse vir para casa.
— Vocês acham que é menina ou menino? — perguntei com um
sorriso.
— Menina — falaram juntos.
— Eu já não sei, acho que sou a única grávida no mundo que não
sente o sexo do bebê — comentei.
Eu não sentia o que a maioria falava, não fazia a menor ideia. Mas
amava o meu brotinho com todo o meu coração.
— Independente do que seja, será muito amado — Danilo disse,
acariciando meu ombro com o braço que estava estendido sobre a cabeça do
Gael.
— Será mesmo. — Sorri, acariciando a barriga.

Chegamos ao Hospital Memorial Augusto Vieira, era enorme e


elegante, segundo o que Danilo disse, era um dos melhores atendimentos do
país, procurado por pessoas de todos os estados. A doutora era uma das
diretoras do hospital, médica da Ruth e Rosane há anos, uma ruiva na casa
dos quarenta, simpática, chamada Jenny Vieira, e ela permitiu a presença do
Gael durante a consulta.
Meu menino olhava tudo ao redor, com genuína curiosidade.
Eu estava com o resultado dos exames que fiz em Minas e mesmo
assim, ela me pediu novos, agendando para coletar o quanto antes, só que
eu precisaria estar em jejum de algumas horas.
Danilo questionou quase tudo o que tinha dúvida, mas eu sabia que
a parte sobre relações sexuais ele falaria quando Gael não estivesse por
perto.
— Como vamos ver o bebê? — meu menino perguntou quando a
médica pediu para que eu deitasse na maca, próxima ao aparelho.
— Por esse aparelhinho aqui, vou colocar um gel geladinho na
barriga da Melissa e o bebê vai aparecer nesse monitor — a doutora
explicou toda gentil e apontou para a tela.
Gael fixou os olhos lá e não desgrudou mais.
— Não tem como ter uma previsão de data do período gestacional
porque a sua menstruação foi instável, mas com as medidas do bebê,
teremos uma base, vamos lá? — perguntou e eu assenti.
Jenny despejou o gel na minha barriga exposta e logo senti o
aparelho passando por ela toda. Olhei emocionada para o monitor, não
entendia nada do que via, mas ali estava o meu bem mais precioso.
— Cadê o bebê? — Gael perguntou, confuso.
Acho que ele acreditou que veria a imagem nítida.
— Aqui está a cabecinha, consegue ver? E esses são os bracinhos, o
direito está nos olhos. — Jenny explicou e eu acompanhei onde ela
indicava.
Consegui distinguir o rostinho pequeno e realmente o bracinho
estava nos olhos.
Comecei a chorar de emoção e senti a carícia do Danilo ao secar
minhas lágrimas. Os olhos dele estavam marejados também, transbordando
amor.
— Vocês querem saber o sexo? — Jenny perguntou com um sorriso.
— Sim — nós três respondemos em uníssono.
— Você está de vinte semanas e dois dias pelo ultrassom, esperando
uma linda menininha.
Uma menina. Olhei emocionada para Danilo e ele ostentava um
sorriso tão lindo, que eu queria ver para sempre em seu rosto.
— Teremos uma menininha brilhante, Abelhinha — Gael falou,
animado.
— Sim, meu amor, a nossa garotinha.
Jenny explicou que vinte semanas são aproximadamente cinco
meses e eu estranhei a barriga bem pequena, ela disse que era mais comum
do que eu imaginava, isso dependia de pessoa para pessoa e que no sexto
mês, a barriga começava a crescer bem mais rápido.
Era mais ou menos o tempo que esqueci de tomar apenas uma
pílula, foi justamente aquela que me fez engravidar.
Deixamos o hospital assim que Danilo e a médica conversaram em
particular, tirando os receios dele em relação ao sexo na gravidez. Segundo
o que ele me disse, era normal esse medo, mas Jenny garantiu que o bebê
não se machucaria com o ato e que deveríamos ficar atentos a mim, se eu
estivesse bem e sem dor, não haveria problema algum.
Naquela noite em casa, aliviados por saber que a nossa bebê estava
bem, ele me contou que buscou indicações de psicólogos com a Jenny. Ele
era assim, pesquisava antes de fazer qualquer coisa e buscava indicações,
fiquei muito feliz quando ele agendou a primeira consulta. Danilo nunca
esqueceria o que passou nas mãos do pai, tudo o que aconteceu era uma
parte dele, mas receber essa ajuda profissional era o primeiro passo para
que conseguisse lidar com seus traumas de infância.

Os dias que se seguiram foram uma mistura de sentimentos, todas as


noites Gael beijava a minha barriga desejando boa noite para a irmã e as
vezes ele lia histórias para ela.
Danilo também conversava com a nossa bebê todos os dias, não
perdendo uma oportunidade de acariciar a minha barriga sempre que
possível e quando Ayane chutava para chamar a atenção, os dois se
derretiam pela nossa menininha.
A primeira vez que Gael sentiu Ayane foi uma delícia, ele falou e
falou com ela até dormir na nossa cama, exausto. Dava para perceber que
ele seria um irmão incrível e muito, muito protetor.
Todos da família enlouqueceram com a descoberta do sexo e
começaram a encher Ayane de presentes. O meu antigo quarto estava sendo
preparado para ela, no closet quase não havia mais espaço e ainda assim as
meninas resolveram organizar o meu chá de bebê.
Ju ficou responsável pelo bufê, eu era apaixonada pelas comidas
dela e fiz questão de fazer uma listinha do que queria comer, incluindo
aqueles minis cupcake divinos. Rosane estava cuidando da lista de
convidados e decoração; Evelyn das bebidas; Ruth, Helô e uma amiga da
Ju, Solange, que estava se tornando uma amiga minha também, ficaram
encarregadas das brincadeiras, nem mesmo os meninos escapariam da
loucura que elas estavam armando.
— Eu gostaria muito que a Célia e o Igor viessem, mas acredito que
será difícil para eles — comentei um dia, quando estávamos todas na
piscina com Gael.
Tínhamos acabado de provar as prévias do bufê e eu estava
completamente satisfeita.
— Podemos dar um jeito de trazê-los — Solange comentou,
bebendo um drinque rosa.
Eu tinha notado uma tensão entre ela e o Daniel, os dois se evitavam
bastante e quando não conseguiam se provocavam.
— Seria ótimo, eles são muito importantes para mim, Célia foi
como uma avó no tempo em que estive lá e continua sendo, ela se
emocionou muito na chamada de vídeo que contei o sexo do bebê.
— Ainda existem pessoas boas por todos os cantos desse mundo,
nem tudo está perdido — Rosane comentou.
— Naquela época, eu ficaria perdida sem ela.
Roh anotou alguma coisa na lista de convidados.
— Vamos trazê-los, eu mesma cuidarei disso — garantiu e eu me
animei ainda mais.
— Abelhinha, eu posso comer outro cupcake? — Gael perguntou,
saindo da piscina.
— Sim, meu amor, mas apenas mais um ou ficará com dor de
barriga — alertei.
Ele assentiu, mas eu sabia o quanto ele era ligeiro quando queria
alguma coisa.
Ultimamente eu estava vivendo um sonho e temia que a qualquer
momento as coisas desandassem.
CAPÍTULO 34

Melissa
Como a médica tinha dito, no sexto mês eu já estava com uma
barriga maior e precisei renovar todas as minhas roupas, estava feliz por
conseguir a tão desejada independência financeira, meus livros tinham sido
bem aceitos na Amazon e eu estava dedicando meu tempo livre para
publicar todos eles, demoraria, mas eu não tinha pressa mesmo.
Conversava com a Célia diariamente por chamada de vídeo e ela
continuava sendo a minha revisora, embarcando nos mundos que eu
adorava criar. Abri meu notebook, que veio junto com as coisas da minha
cidade natal e me preparei para escrever, modernizando, seria muito mais
prático escrever por aqui ao invés de usar o caderno e ter que digitar tudo.
Foi nesse momento que meu celular apitou uma nova mensagem,
ignorei, Gael estava na escola e eles normalmente ligavam se acontecesse
alguma coisa, Danilo teria uma reunião importante hoje e não conseguiria
ficar com o telefone. Quando voltou a notificar outra mensagem, eu decidi
olhar, poderia ser algo importante.
Desbloqueei o aparelho e meu mundo ruiu quando vi Gael, ele
estava em um parque, junto dele, na foto, o Fernando sorridente.
Não! Não pode ser. Como ele conseguiu pegar o Gael no colégio?
Levantei-me o mais rápido que a minha barriga permitiu.
Na mensagem que ele mandou, além da foto, estava um endereço
para nos encontrarmos, avisando que se eu não fosse ou se fosse
acompanhada, Gael sofreria.
Comecei a chorar nervosa.
O que eu faço? Deus, preciso ligar para o Danilo, ou ele nunca mais
vai me perdoar já que prometi o procurar quando algo assim acontecesse,
mas eu não aguentaria esperar. Era uma autora que tentava mudar os livros,
mostrando que as garotas se salvavam sozinhas para na vida real ser uma
medrosa? Não, eu não era assim e Gael precisava da minha coragem.
Tentei ligar três vezes enquanto descia as escadas e saia pelos
fundos sem que Rosa me notasse.
— Danilo, pelo amor de Deus atende o telefone, Fernando está na
cidade e pegou o Gael, não sei o que fazer, estou apavorada e vou no
endereço que ele marcou, por favor ouça esse recado o quanto antes, vou te
enviar o local — falei, chorando e encaminhei a mensagem para ele.
Peguei um táxi e disse o endereço ao senhor que dirigia e a cada
minuto nos afastávamos mais e mais de casa. O motorista vez ou outra
olhava no espelho retrovisor, olhei para trás para ver se estávamos sendo
seguidos, mas não percebi nada.
O local marcado era uma fábrica abandonada, todos os maquinários
ainda estavam ali, o que deixava o local assustador. Não estava com tanto
medo porque ainda era de dia, mas em algumas horas isso mudaria.
— Gae... — Quase chamei, mas senti taparem a minha boca,
impedindo-me.
Assustada, olhei para a pessoa e vi Daniel, ele colocou o dedo nos
lábios me pedindo silêncio, confirmei com a cabeça.
— O que está fazendo aqui? — perguntei baixinho assim que ele
liberou a minha boca.
— Estava na casa quando ouvi o recado que deixou para o meu
irmão — sussurrou.
— Você não deveria ter vindo, ele disse que machucaria o Gael se
eu viesse acompanhada — comentei, quase chorando.
— Eu tomei o cuidado para não ser visto, o infeliz é burro e acha
que você está sozinha.
— Como tem tanta certeza?
— Eu o vi, ele estava do outro lado da fábrica, monitorando a
entrada quando você chegou.
Meu celular tocou nesse momento, assustando-me.
— É ele — falei, vendo que era o mesmo número que me enviou a
foto.
— Atenda, tenta manter a calma — pediu.
Assenti, mas isso seria extremamente difícil para mim. Aceitei a
ligação e coloquei no viva-voz.
— Sempre adorei o quanto você é obediente, docinho.
Ouvir a voz desdenhosa dele me causou calafrios, senti o medo me
dominar, Daniel tocou meus ombros, como se dissesse que estava ali por
nós.
Nesse momento, estava encontrando apoio na pessoa que menos
imaginei.
— Achei que estava preso — falei.
— Ser um prefeito por anos me trouxesse algumas amizades
importantes, cobrei um favor aqui e outro ali e organizaram a minha fuga.
— Fuga, então você fugiu...
— Não iriam me inocentar, não depois que aquele seu maldito cão
apaixonado se meteu no meu caminho e conseguiu provas.
Apertei o celular com força.
— Eu jurei me vingar dele e imagina a minha surpresa quando
descobri que ele tem um filho, nossa que criança adorável, foi tão fácil
atrair o Gael, apenas mostrei uma foto minha com você e sua mãe, no seu
aniversário, lembra? Ele aceitou entrar no meu carro para me conhecer
melhor, menti que era o seu pai. — Gargalhou ao falar.
— Não o machuque, juro que mato você se ferir o meu menino.
— Você não é a assassina da família, Melissa, eu que sou, lembra
das suas suspeitas, queridinha?
Tombei para trás, mas Daniel evitou a minha queda, segurando-me
com firmeza.
— Foi você que mandou matar a minha mãe?
— O seu cãozinho não contou? Ele descobriu e provou que eu fui o
mandante do atropelamento da sua mãe, docinho, docinho, docinho, reveja
essa sua relação porque ele está mentindo para você.
— Seu maldito, naquela última noite na casa, era você que estava no
meu quarto?
Ele riu, um riso estrondoso.
— Eu visitava o seu quarto todas as noites, adorava te ver dormir e
quando sua mãe já não estava mais entre nós, decidi ter você para mim, foi
o que eu sempre quis — falou, obcecado.
— Seu nojento, maldito, desgraçado.
— Isso, eu sou tudo isso e serei também o homem que vai matar
esse moleque se você não calar a porra da boca — gritou o final.
— Solte o Gael, por favor, não o machuque.
— Soltarei, mas com uma condição, venha você aqui no lugar dele.
— Sim, eu irei, só não o machuque, onde estão?
— Na outra extremidade da fábrica, em um galpão vazio. Estou te
esperando.
A ligação foi encerrada e eu encarei minhas mãos que tremiam
demais.
— Mel, olha para mim — Daniel pediu, erguendo meu rosto. —
Você precisa manter a calma pelas crianças, vou recuperar o Gael e você
precisa cuidar da Ay, entendeu? Não queremos que você tenha um parto
prematuro.
Concordei, tocando a barriga.
— Como faremos isso? E se ele estiver armado? — perguntei,
assustada.
— Eu chamei reforços.
— O quê? Se a polícia chegar e ele ouvir vai matar o Gael.
— Não foi a polícia que eu chamei, vai até o encontro dele, eu
estarei atrás de você.
— Tenha cuidado para ele não te ver e... e se alguma coisa acontecer
comigo, diga ao seu irmão que eu o amo mais que tudo no mundo e que
Gael é um filho para mim.
Daniel me olhou admirado.
— Você mesma vai dizer isso a ele, bonita, eu te prometo. Agora
vamos.
Caminhei o mais rápido que pude até o galpão que Fernando disse,
fiz força para abrir a porta emperrada e entrei olhando ao redor.
Vi Gael deitado em um canto, o corpinho caído no chão.
— Não, não, por favor não. — Corri até ele, mas fui interrompida
antes de alcançá-lo.
— Não faça drama, docinho, o menino só está dormindo com o
efeito do calmante, apagou no carro antes de chegar até aqui, nós nos
divertimos muito sabia? Ele adora sorvete — comentou, olhando para Gael.
Fernando era um louco, eu tinha certeza disso. Como ele conseguiu
fugir? Como conseguiu chegar até aqui tão bem-vestido e cuidado? Será
que tinha cumplices esperando por ele em algum lugar?
— O que você quer de mim? — perguntei, temendo a aproximação
dele, que estava cada vez mais perto.
Ele segurou meu pescoço, não ao ponto de me sufocar, mas estava
doendo.
— Eu quero você, Melissa. — Ergueu a minha cabeça e inalou meu
pescoço. — Mas sem essa bagagem aqui, isso seria só um peso nas nossas
vidas — falou, apontando para a minha barriga.
Ele se afastou de mim e virou de costas, apertando a cabeça como
um louco, foi quando vi a arma dele, o terno não a cobria.
— Você, sua maldita, entregou a sua pureza para aquele desgraçado,
era minha, entendeu, minha — gritou.
Deus, eu estava ferrada, ele era pior do que tinha imaginado e estava
completamente instável.
— Fernando, olha, por que não deixamos Gael em um lugar seguro?
Eu vou com você — garanti.
— E vai se livrar do bebê daquele homem?
Toquei a barriga, nunca. Preferia morrer.
— Vamos resolver isso, só mantenha a calma e pense com clareza.
Ele entortou um pouco a cabeça me olhando com olhos arregalados,
depois gargalhou.
— Eu não imaginava que aquela seria a sua última noite em casa, ou
não teria apenas te tocado enquanto dormia — falou.
Meu corpo todo se arrepiou com o asco, eu senti algumas vezes
toques na minha pele, como se alguém estivesse deslizando as mãos pelas
minhas pernas de uma maneira suave para não me despertar, mas quando
abria os olhos, não havia ninguém no quarto, apenas eu, por isso acreditei
que eram pesadelos.
Lembrei das palavras de Daniel, eu precisava manter a calma e usar
a cabeça.
Dei um passo para frente, erguendo a mão para tocar o rosto dele.
— Então era você? Nós podemos viver isso, você poderá me tocar
quando eu não estiver dormindo também... — comentei, acariciando o rosto
dele.
Nojo, nojo, nojo, era isso o que sentia, estava enjoada e poderia
vomitar a qualquer momento, mas eu precisava ser forte pelos meus filhos.
— Eu não entendo por que você partiu, foi culpa daquela briga? Só
porque eu não deixei você sair de casa?
Eu me lembrava da discussão que tivemos, eu estava pronta para
sair com uma colega da época da escola, seria a primeira vez depois de
quase um mês que a minha mãe tinha morrido, era só um jantar, ela me
chamou por eu estar sofrendo demais e eu topei. Queria sair um pouco de
casa para respirar, mas Fernando me proibiu, discutimos feio porque ele
ficou extremamente possessivo e eu joguei na cara dele que não tínhamos
qualquer grau de parentesco, a forma que ele me olhou, parecia obcecado
por mim e eu tive medo. Isso junto às suspeitas de que alguém tinha
mandado matar a minha mãe e que poderia fazer o mesmo comigo a
qualquer momento me fez pegar o endereço que tinha achado e fugir no
meio da noite, fugi dele, do medo que senti quando me olhou daquele jeito.
— Eu tive medo de você — confessei.
— Medo de mim? Por que se a única coisa que fiz a vida toda foi te
amar?
— Não me amou paternalmente e era assim que deveria ter sido.
Você só usou a minha mãe pelo dinheiro da indenização do meu pai, não
foi?
Ele sorriu desdenhoso.
— Eu gostava da Marcella, mas ela era idealista demais, só que eu
fui aguentando, até o dia que ela segurou o dinheiro e não patrocinou a
minha campanha, não tinha mais sentido estar com ela se quem eu queria
era você, preciosa, te vi crescer e afastei todos os moleques de você, seria
minha e sua mãe foi descartada na melhor hora. — Ele tocou meu rosto,
aproximando-se para me beijar.
Deus, eu vou vomitar.
Vi Daniel na penumbra, bem próximo de nós dois e quando os
lábios de Fernando quase tocaram o meu, coloquei toda a minha força no
joelho e acertei as suas bolas, o maldito me soltou e arquejou gemendo para
trás.
Tudo estava em câmera lenta para mim, ele pegou a arma e atirou na
direção da minha barriga, senti o impacto do corpo do Daniel se jogando na
minha frente e ouvi o barulho do tiro, mas não senti dor, não senti nada,
mais disparos foram ouvidos e foi quando vi um homem alto com a arma
empunhada.
Fernando estava caído no chão sem vida, em seu terno caro fluía
sangue dos quatro tiros.
Senti minhas mãos molharem e olhei para o lado, era sangue do
Daniel que estava caído, sua camisa social branca manchava cada vez mais
de vermelho.
— Não, Daniel, não — gritei, tocando a ferida na barriga dele para
controlar o sangramento.
O choro compulsivo me apossou, ele levou o tiro no meu lugar.
— Por favor não morra — pedi.
Ele fechou os olhos.
O homem que atirou em Fernando se aproximou de nós dois
correndo, se jogou no chão ao lado do Daniel e tomou meu lugar para
estancar o ferimento.
— Pegue o meu celular e ligue para a emergência — exigiu.
Tremendo, fiz o que ele me pediu.
— Não morre, cara, você não pode morrer depois de tudo o que
passamos, não vai morrer porra nenhuma.
Vi que o desconhecido também chorava.
— Aguenta, Dan, a ajuda está chegando — ele pedia e pedia.
Vi Danilo entrar correndo pela entrada do galpão. Só então todo o
meu corpo amoleceu, ele estava aqui e poderia cuidar do Gael e do Daniel.
Não fui capaz de ver mais nada, apaguei tombando no chão que estava
ajoelhada.
CAPÍTULO 35

Danilo
Sabe aquele momento da vida que tudo o que você mais ama está
prestes a partir?
Eu me senti assim após a reunião quando ouvi o recado da Mel e
corri para o endereço que ela me mandou, mas não imaginei que ao chegar
lá, Daniel estaria baleado no chão enquanto Isaac, um dos nossos
associados do clube, estancava o seu ferimento.
Eu precisava socorrer quatro das pessoas que mais amava no
mundo, aquele com certeza foi o pior momento da minha vida.
— Filho, como você está? — minha tia perguntou ao se sentar do
meu lado no sofá do quarto particular onde Gael e Melissa estavam
hospitalizados. Sim, eu movi céu e terra para mantê-los juntos.
Todos da família estavam aqui, mas era permitido entrar apenas um
por vez.
— Nada bem, só vou me acalmar depois que Daniel estiver bem.
Porra, tia, eu acreditei que o padrasto dela já não era mais uma ameaça e
baixei a guarda, se Daniel morrer...
— Xiu, não, ele não vai morrer, Daniel é um homem forte.
Assim espero, foi apavorante vê-lo no chão, com tanto sangue ao
seu redor.
Melissa se mexeu na cama, começando a despertar, caminhei até ela.
— Vai com calma, minha linda — falei e ela tentou se erguer.
— O Daniel? Como ele está? — questionou, olhando ao redor, foi
quando ela viu Gael na cama ao lado da sua.
— Está em cirurgia, ele perdeu muito sangue — falei o que sabia até
o momento.
— Deus, foi tudo culpa minha, isso não teria acontecido se eu não
tivesse entrado na vida de vocês, Fernando nunca teria pego Gael e Daniel
estaria bem.
— Não foi sua culpa, eu acreditei que Fernando ficaria preso por
uns anos e baixei a guarda, Mel, não se culpe por isso.
— Os dois deveriam parar de se culparem pelas escolhas dos outros,
Fernando escolheu pegar Gael na escola e morreu por isso, já Daniel
escolheu por si mesmo ir ajudar a Melissa a resgatar o sobrinho, passou da
hora de você parar de se sentir responsável por tudo, Danilo — tia Ruth
falou, olhando-nos com firmeza.
Melissa olhou preocupada para Gael.
— Como ele está?
— Dormindo ainda, mas bem, o médico disse que o efeito do
calmante passará em algumas horas, mas que foi bom ele ter sido dopado
ou poderia ficar traumatizado pelo resto da vida. Não entendo como
Fernando conseguiu pegá-lo na escola.
— Ele mentiu que era meu pai e mostrou uma antiga foto comigo e
com a minha mãe, Gael acreditou que estava entrando no carro de uma
pessoa boa e importante para mim.
— Sabe como Daniel soube que estavam lá?
— Ele me ouviu deixando o recado para você e me seguiu... —
falou, começando a chorar. — Se ele não tivesse entrado na minha frente, o
tiro teria sido na minha barriga, Fernando estava disposto a matar a nossa
Ayane.
Puxei Melissa para mim, apertando-a em meus braços.
— Se eu tivesse atendido o celular, tudo poderia ter sido diferente.
— Ou você também poderia estar ferido — tia Ruth voltou a falar e
se levantou, caminhando até nós dois. — Dani, meu amor, você precisa
parar de carregar os erros do mundo nos seus ombros, nem tudo é culpa sua,
pensar assim só faz mal a você.
— Ela tem razão — Melissa concordou.
Essa era mais uma questão que eu precisava trabalhar, me sentia
responsável por tudo desde que, com apenas quatro anos, peguei Daniel
ainda um bebê para criar, fui eu que cuidei dele desde sempre e saber que
não fui capaz de evitar tudo isso estava me matando por dentro.

Daniel saiu da cirurgia horas mais tarde, Gael já tinha acordado e só


se lembrava de ter passado um tempo com Fernando no parque, ele garantiu
que foi divertido e que em nenhum momento foi maltratado, mesmo assim
tivemos que explicar o motivo de eles estarem no hospital, contamos sem
muitos detalhes que um acidente aconteceu e que ficaríamos ali até termos
certeza que estávamos bem, depois Rosane entrou e ficou distraindo-o.
Deixei o quarto deles e fui para o de Daniel, ele ainda estava
apagado da cirurgia, mas em breve acordaria e eu queria estar lá.
— Eu devo a vida das pessoas que mais amo a você, não sei o que
teria acontecido se não estivesse lá com eles — desabafei, olhando o rosto
sereno dele ao dormir. — Sempre te vi como alguém que eu precisava
proteger pela vida toda, mas ultimamente quem está fazendo isso por mim é
você, tenho que admitir que está me surpreendendo, irmão.
— Eu sei que eu sou demais. — A voz zombeteira dele estava
rouca, um pouco falhada, mas ainda assim provocando-me.
— Não se ache tanto — ralhei, mas a porra do meu coração se
aliviou inteiro ao ver que ele estava finalmente acordando.
— Não é todo dia que o meu irmão mais velho confessa que eu sou
responsável e surpreendente. — Ele tentou rir, mas fez uma careta de dor
tocando a barriga.
— Fique quieto, você precisou de cirurgia, o médico disse que um
pouco mais para baixo teria sido fatal. Você pulou na frente de uma bala por
elas.
— O tiro teria acertado a Ay, eu nunca permitiria que ele as
machucasse, como eles estão? — perguntou, preocupado.
— Apesar do nervoso Melissa e a bebê estão saudáveis, Gael passou
por vários exames e apenas o calmante foi detectado. Eles estão bem —
garanti.
— Melissa é durona e muito corajosa por tentar salvá-lo sozinha.
Você é um cara de sorte por tê-la em sua vida — falou.
— Eu só os tenho ainda graças a você e eu vou te dever para sempre
por isso — comentei com os olhos marejados.
— Não deve nada, nunca vai me dever nada, eles são minha família
também e eu os amo, foi tudo entre família.
— Nem tudo, o que o Isaac estava fazendo lá? — questionei, esse
era um ponto que eu não tinha entendido ainda.
Mas Daniel não foi capaz de me responder, já que a porta foi aberta
com tudo e a amiga da Ju entrou, desesperada.
— Meu Deus. É verdade, você levou um tiro — ela falou,
encarando-o completamente preocupada, nem dando importância para mim,
que estava parado ali.
Daniel ficou surpreso com a visita e um sorrisinho provocador
surgiu no seu rosto.
— É verdade, levei um tiro e doeu pra porra.
Eu me afastei, indo até a janela e ela se aproximou da cama, tocando
de leve a mão dele.
— Eu imagino, mas o que você fez pela Mel e a bebê foi lindo, só
que tão arriscado.
— Está se preocupando comigo, bravinha? Juro que estou surpreso.
Ela revirou os olhos para ele.
— Não, é claro que não, eu só vim para visitar a Mel e o Gael.
— Então por que não está com eles e sim aqui? Segurando a minha
mão?
Ela olhou para as mãos dos dois unidas e se afastou como se o toque
a queimasse, sorri de lado, esses dois.
— Eu vou embora — Solange falou, mas eu resolvi me meter.
— Eu preciso sair um pouco, tem como você cuidar dele para mim?
— questionei, caminhando até a porta.
Ela me encarou, como se só naquele momento tivesse me notado.
— Claro, vim para apoiar a família.
Assenti. O meu trabalho de cupido já estava feito.
— Então cuida direitinho dele — falei, provocativo e notei o olhar
divertido do meu irmão.
O safado estava adorando essa atenção toda dela.

Melissa
Gael e eu recebemos alta no dia seguinte ao entardecer, já Daniel
ficou por mais alguns dias e Solange sempre esteve ao lado dele no
hospital, surpreendendo a todos. Juliana comentou comigo que acreditava
que estava rolando alguma coisa entre os dois, já que a melhor amiga
sempre desconversava quando o assunto surgia, e eu me animei com a ideia,
tanto Daniel quanto Sol eram pessoas maravilhosas.
Os preparativos para o chá de bebê da Ayane foram adiados por um
mês, assim meu cunhado conseguiria se recuperar totalmente. Nesse meio
tempo, aproveitei para me dedicar ao meu trabalho e junto com Gael e
Danilo, decoramos o quarto da Ay. Nosso menino escolheu a maioria das
decorações e o papel de parede que era com pequenas nuvens e pássaros
coloridos, ficou um encanto.
O dia do chá chegou e todos estavam animados, Daniel estava cem
por cento recuperado e esse já era um motivo e tanto para comemorarmos.
A única coisa que estranhei era que ele e Solange voltaram a se ignorar,
como se a aproximação enquanto ele estava hospitalizado tivesse tido o
efeito contrário e os afastados mais ainda, ela até veio acompanhada de um
tal de Álvaro e ele pareceu nem se importar com isso.
Célia, Igor e a namorada dele também conseguiram vir, o que
deixou o dia ainda mais especial. Eles seriam pessoas que eu queria ter ao
meu lado pela vida toda. O chá foi um sucesso, e muito divertido. Foi
hilário ver os meninos competindo nas brincadeiras, eles não sabiam trocar
uma fralda e Danilo era craque, ganhou deles de lavada. Ele era um
excelente pai e certeza que apanhou muito quando Gael era menor, até que
pegou o jeito e ficou ótimo com isso.
Quando eu acreditei que nada poderia melhorar, diante de todos, ele
me pediu em casamento formalmente, com direito a joelho no chão, um
lindo anel e lágrimas nos olhos acompanhadas de palavras bonitas. Eu
chorei de emoção, estava tão feliz que não cabia em mim, gritei sim, sim,
sim, sim e enquanto nos beijávamos, todos comemoraram.
Na minha opinião, os meses passaram muito rápido, minha gravidez
foi tranquila e quando minha bolsa rompeu, não só Danilo se desesperou,
Gael ficou tão nervoso quanto o pai dele querendo nos acompanhar até o
hospital, mas seria cansativo demais, não sabíamos quantas horas eu ficaria
em trabalho de parto.
Jenny já nos esperava quando chegamos e depois de quase nove
horas de dor, Ayane nasceu na véspera de Natal, era uma bebê pequenina,
com quarenta e seis centímetros, não pesava nem três quilos.
Eu estava exausta e dolorida, mas nem isso amenizou a emoção de
segurar a minha filha nos braços e amamentá-la pela primeira vez. Danilo
estava ao meu lado o tempo todo, assistiu o parto e me deixou apertar sua
mão o quão forte eu precisasse, aguentando firme por nós dois.
Agora, olhando para a nossa menina, ele beijou a minha testa suada
e disse:
— Você não tem ideia do quanto eu sou feliz ao seu lado e juro que
usarei cada dia da minha vida para fazer vocês felizes.
— Você já faz, meu amor — falei, beijando seus lábios.
Gael como já sabíamos era encantado pela irmã e ao olhá-la pela
primeira vez, ele se emocionou demais.
Diante da cama onde eu estava deitada com ela nos meus braços, ele
olhou para nós duas e disse beijando a testinha dela:
— Agora temos a nossa menininha brilhante e eu juro que irei
protegê-la para sempre.
Eu estava feliz, pela primeira vez em muito tempo, eu me senti
completamente feliz.
Minha mãe faria falta na minha vida para sempre, mas eu não
poderia deixar de viver por causa do meu luto, ali, naquele quarto, eu tinha
pessoas que me amavam e que eu também amava demais. Eu poderia
finalizar o meu romance com um vivemos felizes para sempre, mas seria
uma grande mentira, vivemos feliz sempre que possível e quando não
conseguíamos, permanecíamos ao lado um do outro, sem nunca desistir.
EPÍLOGO

Melissa
Estávamos todos reunidos na casa da Ruth, no nosso jantar de
noivado, Danilo estava sentado no chão com Ayane sonolenta no colo
ajudando Gael a montar um imenso quebra cabeça na mesinha de centro da
sala de estar.
Eu estava no sofá, olhando os meus três amores com um sorriso no
rosto. Ay, em alguns dias, completaria cinco meses e era uma bebê
gordinha, com coxas e bochechas que davam vontade de morder.
— Abelhinha, vai ter uma apresentação na escola para o dia das
mães, será que você pode ir comigo? — Gael perguntou, os olhinhos
baixos, encarando as peças do jogo e as mãozinhas fechadas,
completamente sem jeito.
Meus olhos se encheram de lágrimas emocionada.
Eu nunca forçaria para que ele me aceitasse como uma mãe, deveria
ser uma escolha dele e se ela nunca surgisse eu já era feliz o bastante sendo
a sua Abelhinha, e naquele momento, percebi que era exatamente assim que
ele me via, como uma mãe, só estava com receio em demonstrar.
Danilo me olhou, um sorriso bonito brincou nos lábios dele e eu me
levantei, sentando-me ao lado de Gael.
— Mas é claro que eu posso ir, vou amar, preciso mostrar para as
outras mães que eu tenho o melhor filho do mundo — falei e ele levantou a
cabeça para me encarar, os olhinhos brilhantes e um sorriso enorme no
rostinho salpicado por pequenas sardas.
— Melhor filho do mundo, eu? — perguntou para ter certeza e
assenti.
— Sim, meu menino brilhante e muito amado.
Ele jogou os bracinhos em mim, abraçando bem apertado.
— Eu sei que não nasci de você como a Ay, mas eu te amo como
mãe, para mim não faz diferença. — Gael sempre foi muito esperto, mas
possuía uma sensibilidade que me deixava admirada.
— Meu amor, para mim não faz diferença também, você pode me
chamar de Abelhinha ou de mãe, nada vai mudar o que eu sinto por você.
E era a mais pura verdade, nada nunca mudaria.

Na mesa de jantar, enquanto Danilo servia Gael, eu e Juliana


falávamos sobre o seu próximo evento, seria um casamento que ela já fez
antes, do casal Soares[ix], mas que eles não se amavam da primeira vez e que
agora a situação era o oposto, estavam loucos um pelo outro e quando ela
comentou o nome do novamente noivo, Ruth quase teve um ataque de risos.
— Sabia que vocês estão falando de um amigo de infância dos
meninos?
Juliana olhou para Rômulo surpresa.
— Rodrigo Soares cresceu com vocês? — ela questionou.
— Sim, tem um tempo que nos afastamos, mas ele era muito
próximo de todos nós — Rômulo respondeu.
— Você o conheceu como, Ju? — Rosane perguntou.
Notei que Juliana ficou tensa antes de responder.
— Foi o meu advogado que indicou o bufê para ele — comentou
com cautela.
— E quem é o seu advogado? — questionei.
— Ele se chama Murilo Reiser — comentou, encarando o prato.
Eu fiquei confusa com o silêncio que se instalou na mesa.
O que houve? Quem era esse homem?
Olhei para Danilo e ele aproximou seus lábios do meu ouvido,
dizendo:
— Murilo era noivo da Rosane, ele a traiu, após o término, Rodrigo
continuou amigo dele e se afastou de todos nós.
Mordi o lábio culpada, eu não teria perguntado quem ele era se
soubesse.
— Já que tocamos nesse assunto, eu encontrei com a Joice esses
dias no shopping, Murilo vai se casar — Ruth comentou, arrumando o
guardanapo no colo e olhando diretamente para a filha.
Era como se só as duas soubessem de alguma coisa que pairava
entre elas.
— Joice é a mãe do Murilo, ela e a tia Ruth são amigas há anos. —
Danilo voltou a explicar baixinho para não me excluir da conversa que
estava ficando cada vez mais tensa.
Encarei Rosane, assim como todo mundo. Ela bebeu um longo gole
de vinho, antes de olhar para a mãe e sorrir forçado.
— Sabe quem é a noiva? — perguntou em um tom afetado.
Será que ela ainda o amava?
— Não fiz questão de perguntar. — Ruth deu de ombros.
Eu não entendi essa reação dela, foi como se jogasse sal na ferida da
filha para então se afastar e deixar que ela se recuperasse de suas próprias
dores. Não era o feitio de Ruth, ela era o oposto, amorosa demais e dura
apenas quando necessário. Nessa situação, a Roh precisava do nosso apoio,
não que atirássemos pedras.
— Chega desse assunto, mãe, não vamos estragar o jantar do Danilo
e da Mel. Evelyn não precisa presenciar esse momento — Rômulo
comentou, chateado. Ele pelo visto detestava o tal do Murilo.
Olhei para a minha prima e ela encarava a taça, como se tentasse
manter a sua presença em off, só ergueu a cabeça quando seu nome foi
mencionado.
— Não se preocupem comigo, eu posso me retirar se for necessário.
— Claro que não, você é família da Melissa, portanto família nossa
também. Quem vai se retirar sou eu, não estou me sentindo muito bem —
Rosane falou, levantando-se.
Encarei Danilo sem saber o que fazer, ele negou com a cabeça, não
tinha mais o que ser feito. Ela estava bem abalada com a notícia que seu ex
noivo se casaria.
— Dani e Mel, desculpe, eu realmente não estou muito bem e
preciso tomar um ar, espero que o jantar seja maravilhoso e que a vida de
vocês ainda mais, estarei no casamento amanhã, prometo.
— Tudo bem, Roh, desculpe também, eu não sabia quem ele era ou
nem teria perguntado.
Ela apoiou a mão no meu ombro.
— Não se preocupe com isso.
Ela pegou a bolsa e se retirou da casa, apressada.
— Isso era necessário? — Ruan questionou, olhando para Ruth, que
voltou a comer com uma expressão serena, como de alguém que tinha
acabado de conseguir um grande feito.
— Ah, meu amor, você não entenderia. Agora me conte Mel, os
ajustes no vestido ficaram bons? — questionou e eu tentei amenizar o clima
mudando de assunto.

Nosso casamento foi no meu lugar preferido do mundo, no jardim


da mansão, onde agora era o meu lar.
Eu optei por um vestido suave para uma tarde fresca, e Danilo
estava vestido casualmente também, nada de terno e tantas outras
formalidades, assim como todos os outros convidados. A cerimônia foi
intimista e apenas nossos amigos mais próximos estavam presentes.
Escolhi Daniel para me levar até o improvisado altar, onde o seu
irmão me aguardava e assim que pisamos na grama verdinha, vi os
convidados virarem a cabeça para nos olharem. Corei, tímida. Célia estava
com Ayane no colo, contente por rever a sua afilhada e Igor estava ao lado
da avó, sempre a acompanhando protetoramente nas viagens até Vale de
Lótus.
No centro de todos, estava meu noivo, lindo com aquele sorriso que
me derretia por dentro, ele não desviou os olhos dos meus, que estavam
marejados assim como os dele. Gael, o nosso menino brilhante, trouxe as
alianças ostentando um grande sorriso orgulhoso, trocamos nossos votos e
fizemos promessas que uma vida seria pouco demais para cumprir, eu o
amava além disso, além do tempo.
Tivemos o nosso dia dos sonhos e optamos por não sair em lua de
mel ainda, usaríamos alguns dias das férias escolares do meio do ano,
porque não iríamos sem o Gael e a Ayane. Talvez um dia, quando eles
fossem maiores, tiraríamos um tempo só para nós dois, no momento, não
era o que desejávamos.
Dançando nos braços do Danilo, eu o vi sorrir como nunca,
frequentar o seu terapeuta estava fazendo um bem muito grande a ele e isso
me deixava feliz.
— Agora é oficialmente minha esposa, senhora Gomes Ribeiro —
falou no meu ouvido, causando arrepios por todo o meu corpo.
— Precisamos oficializar corretamente — propus e ele procurou
nossos filhos entre os convidados, Ayane estava nos braços da Juliana e
Gael brincava com o seu melhor amigo do colégio, Nicolas, e as outras
crianças, a senhora Rios atenta a eles, eu a tinha adorado como babá e como
pessoa.
— Vamos, honey, eu estou doido para tirar esse vestido de você —
ele disse, puxando a minha mão para dentro da nossa casa.
O que eu podia fazer além de acompanhá-lo com grande satisfação?
Meus momentos com ele eram deliciosos e tinha virado
frequentadora do clube, todas as noites que conseguíamos. Nós éramos
assim, dois opostos que se uniram por uma grande atração e que acabaram
encontrando o amor nos momentos mais inimagináveis.
— Eu já disse que sou louco por você hoje? — ele perguntou,
voltando do closet com alguns dos meus apetrechos favoritos.
— Já sim, mas diga de novo — mandei, vendo-o colocar as coisas
no aparador ao lado da nossa cama.
— Sou louco por você, minha linda — disse, despindo-me do meu
vestido. — Ainda mais quando está presa à minha mercê. — Mordeu o
lóbulo da minha orelha, causando arrepios por todo o meu corpo.
Era assim que nos amávamos e era assim que sempre deveria ser.

Dois anos depois...

Danilo
Algumas pessoas costumam acreditar que quando o primeiro filho
nasce mais tranquilo, o segundo seria completamente elétrico. Desde que
Ay chegou ao mundo, eu passei a acreditar nisso também.
Ela e Gael eram opostos, comparado a ela, ele era mais tranquilo,
ela se provou ser bem agitada muito cedo. Ainda recém-nascida, Ayane era
dona de um choro forte que expressava toda a sua personalidade. Ela não
conseguia esperar um minuto a mais na hora do mama e já fazia escândalo,
não se importando com quem se incomodasse com seu barulho. Aprendeu a
engatinhar muito cedo e tudo o que alcançava era levado à boca. Foi rápida
também ao andar e agora corria como uma sapequinha por todos os cantos
da casa.
Vendo-a brincar de bola com Gael e Pipoca no jardim, eu sorria com
o quanto os meus filhos se amavam, era maravilhosa a conexão dos dois.
— Ei, pai, vem brincar com a gente — Gael gritou, animado. Ele já
estava na pré-adolescência, mas adorava brincar com a irmã e o cachorro
sempre que possível.
Não importa o tempo que passar, ele sempre será o meu garotinho.
— Estou indo Campeão — respondi, levantando-me do banco onde
estava e caminhando até eles.
Pipoca já não era mais tão pequeno como quando chegou, mas
crescer não mudou a sua essência bagunceira, ele continuava o mesmo
travesso de sempre, agora se juntava com Ayane e deixava todos na casa de
cabelos em pé.
Minha princesinha correu até mim com os bracinhos abertos,
sorrindo, a peguei no colo e a joguei no ar, recebendo gargalhadas em troca.
Passei a mão no Pipoca, sua presença para mim não era mais
incomoda e eu tinha aprendido a amá-lo, até mesmo Pudim era alvo dos
meus carinhos sempre que possível. Eu tinha melhorado muitas coisas na
minha vida desde que comecei a frequentar o meu terapeuta. Medos
diminuíram e a mania de me responsabilizar por tudo também. Sempre seria
um passo de cada vez e eu nunca desistiria.
Chutei a bola para Gael, que chutou para a irmã bem fraquinho,
temendo machucá-la, foi quando vimos Melissa sair da nossa casa
segurando uma bandeja com sucos e lanches.
— Vão comer agora? — perguntou para todos nós.
— Não, mãe, vem brincar com a gente, depois comemos — Gael
respondeu e ela não pensou duas vezes, deixou a bandeja na mesa que
tínhamos no jardim e correu até nós, entusiasmada.
Chamá-la de mãe veio naturalmente para ele e na primeira vez
Melissa se emocionou tanto que até chorou, eu sempre soube que a ligação
dos dois era forte e ver que a cada dia ela se concretizava mais, só me
deixava ainda mais feliz.
— Meninas contra meninos? — Mel perguntou, tirando as sandálias.
— Sim — respondi, puxando-a para um beijo casto.
— Ótimo, porque hoje nós vamos ganhar. — Ela pegou Ayane no
colo e fez uma dancinha animada, nossa filha bateu palminhas curtindo a
empolgação da mãe.
— Isso é o que vamos ver — respondi, entrando na brincadeira.
Não tinha nem por que competir, se alguém dali era um ganhador
essa pessoa com certeza era eu, por ter os três na minha vida todos os dias e
a cada instante que eu respirasse, seria para mantê-los seguros e felizes ao
meu lado.
Quem imaginaria que logo eu, uma pessoa que desconsiderava a
ideia de ser pai, se tornaria um tão feliz? Não saberia mais como viver sem
as minhas duas crianças. Quem diria que um homem que nem considerava
se relacionar, desejaria ardentemente se casar? Desde o meu início com a
Melissa, erámos mais do que um casal apenas descobrindo o prazer,
estávamos, na verdade, caminhando em direção ao amor. Em um caminho
sem volta.
AGRADECIMENTOS
Criar Descobrindo o Prazer foi um desafio por ser meu primeiro
livro com o tema BDSM, leitores antigos sabem que eu não costumava
pesar a mão nas cenas eróticas e que isso mudou em Jogando com Prazer,
quando decidi sair da minha zona de conforto e tentar, Juliana e Rômulo
foram tão bem aceitos por vocês que eu não poderia deixar que Melissa e
Danilo viessem sem um hot apimentado. Espero que tenha sido do seu
agrado.
Agradeço essa mudança na escrita a ele, o ser que está comigo em
todas as horas, obrigada amor por sempre segurar a minha mão e voar
comigo, obrigada por apontar onde eu mais costumo errar e ainda continuar
me amando.
Eu recebi muita ajuda nesse livro, primeiramente vou ressaltar as
lindezas que fazem parte do meu dia a dia e hoje me ajudam a melhorar
cada vez mais a minha escrita: Simone (@resenhasdasi); Susi
(@girasol_literario); Sarah (@corujaliteraria1) e Karina. Sem essas quatro
aqui mencionadas, Descobrindo o Prazer teria demorado muito mais tempo
para ser finalizado e ainda não sairia tão lindo como saiu, elas são betas
maravilhosas e me ajudam em tudo, além de me incentivarem demais e eu
sou muito grata, muito mesmo.
Nesse, pela primeira vez eu tive uma leitora crítica, Carla Freitas,
obrigada por toda a sinceridade sempre e por nunca ser maldosa, sempre
opinando de uma forma clara que me ajudava a entender onde estava
errando e o que estava faltando. Sua ajuda nesse projeto foi maravilhosa e
espero que trabalhemos juntas novamente.
Agora ela, a que salva a minha vida sempre, Isadora, obrigada por
revisar tão bem e em tão curto tempo, por entender o meu lado e ainda
assim topar trabalhar comigo, espero que essa nossa parceria dure muitos
anos.
Agradeço também ao Will que fez essa capa linda, sério, eu não sei
como ele consegue colocar tudo o que peço na arte e ainda melhorar. Um
arraso!
Aos meus leitores, tanto os novos quanto os antigos, obrigada pelo
apoio, vocês são o motivo pelo qual escrever faz sentido para mim, eu amo
receber o feedback de vocês, ler que um livro meu mudou o seu dia faz o
meu mudar também, muitas vezes meu dia melhorou ao ler um recado no
Instagram, WhatsApp ou qualquer outra rede social. Vocês não imaginam a
insegurança que é postar um livro de forma independente na Amazon e
após isso ler que amaram muda tudo, então não hesite em ir me chamar, não
fique com receio ou vergonha, só venha para papearmos
(@autoravanessasecolin). Esperarei por vocês.
Nós nos vemos no próximo livro dessa série, o da Rosane e do
Murilo, se chamará Reacendendo o Prazer.

Se puder, avalie na Amazon!


Obrigada Deus por mais uma inspiração!
Com amor, Vanessa Secolin!
OUTRAS OBRAS DA AUTORA
PLEASURE CLUBE
(em andamento)

Jogando com Prazer – Livro 1


https://amzn.to/3AzIb0y
Juliana Salomão trintou estando no auge da sua vida profissional,
dona do seu próprio negócio e fazendo o que sempre amou, mas sua vida
pessoal estava uma lástima, perdeu a mãe muito cedo, só tinha a doida da
melhor amiga para apoiá-la em suas decisões mais insanas e no amor,
estava frustrada.
Ao assoprar as pequenas velinhas do seu bolo de aniversário, ela fez
um pedido inusitado, mas Pleasure Club não era exatamente o que ela tinha
em mente, só que ao clicar em um anúncio inesperado tudo mudou.
Sua vida que antes era muito previsível se transformou em puro
fogo e diversão, mas todos sabemos que quanto maior o fogo, maior a
queimadura.
Relacionamentos secretos...
Encontro às escuras...
Sentir, nunca ver...
Será que Juliana está preparada para receber tudo o que o Pleasure
Club tem a oferecer para os seus associados?
Descubra em Jogando com Prazer e se divirta com essa comédia
romântica.

Não recomendado para menores de 18 anos.

SÉRIE BITTENCOURT
(completa)
O Primogênito – Livro 1
https://amzn.to/2tnHTJm
Tayla não imaginava que no seu aniversário de 18 anos, a sua vida
mudaria completamente.
Casamento não estava em seus planos naquele momento, mas
quando se deparou com os olhos azuis do seu futuro marido, foi amor à
primeira vista.
Christopher Bittencourt não queria se casar, muito menos, com uma
garota 10 anos mais nova que ele, mas quando viu Tayla pela primeira vez,
viu-se preso àquela menina inocente.
Uma aposta…
Um casamento…
Duas vidas unidas por um mesmo segredo…
Poderá nascer um amor entre ambos ou somente cumprirão com as
ordens que lhe foram dadas?

O Acaso – Livro 2
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Quando o coração de Melanie se quebrou de uma forma incurável
no passado, a jovem deixou Nova Iorque e se aventurou pelo mundo, a
procura de um novo lar e um novo recomeço, mas quase um ano depois, a
presença de Mel em Nova Iorque é novamente necessária, afinal é o
casamento dos seus dois melhores amigos, mesmo sentindo a angústia de
tudo o que viveu ali voltar, Melanie seguiu em frente e passou esse dia
especial ao lado dos dois, e como consequência, ao lado de Elliot, melhor
amigo do noivo.
Disposta a ignorar os olhares constantes dele, Mel se dedicou a ser a
madrinha ideal e a organizar a despedida de solteira mais top para
Elisabeth, com tudo em mente, o plano era partir novamente dali depois do
casamento e assim ela fez, voltou para a sua vida normal no Brasil, ao lado
da sua segunda melhor amiga, uma ruiva sorridente e amorosa, mas o que
Melanie não esperava era que dois anos depois, teria que voltar novamente
para lá, só que dessa vez sem data prevista para se livrar da dor que Nova
Iorque lhe traz.
Um acidente...
Uma tragédia...
Uma guarda compartilhada...
E talvez um novo recomeço...
Ele disposto a tê-la em seus braços...
Ela fugindo como nunca antes...

A Escolha – Livro 3
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Depois de terminar um relacionamento complicado, Ethan
Bittencourt se tornará Alex Stewart o oficial infiltrado no caso Herrera, sua
função será proteger a única herdeira de um mafioso mexicano.
Sua promoção depende do sucesso desse trabalho, mas ele não
imaginou que o seu principal problema seria aquela menina.
Antes mesmo de conhecê-lo, Tayane Herrera já detestava Alex.
Disposta a se livrar dele o quanto antes, ela se rebela contra o pai.
Porém, ela não imaginou que esse segurança era um homem
atraente, com um sorriso debochado que o tornava deliciosamente sexy.
Um trabalho os uniu...
Ela disposta a fazer da vida dele um inferno...
Ele disposto a se manter afastado...
Duas vidas unidas por um objetivo...
Poderá nascer um amor no meio de tantas mentiras?
O Destino – Livro 4
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Quando seu pai a presenteou com sua primeira câmera fotográfica
profissional, Allana Sulatte soube que nasceu para fotografar, não só
pessoas, ela adora capturar paisagens, momentos aleatórios, tudo que para
muitos parece normal, para ela se torna extraordinário visto através da lente
da sua câmera.
Agora, já formada e com um emprego estável, ela é premiada para
expor suas artes em uma conceituada galeria de Nova Iorque, disposta a
honrar a promessa que fez para o pai, pela primeira vez ela deixou a sua
cidade natal e atravessou o Oceano Atlântico em busca do seu maior sonho.
Revelar o seu talento para centenas de pessoas não foi a única razão
daquele dia ser o mais importante da sua vida, mas sim ele, o misterioso
homem de olhos azuis cobaltos, ele a fez descobrir algo novo, algo que até
aquele dia ela nunca acreditou existir.
Mas o que Allana não sabia era que Matthew Bittencourt criou cinco
regras básicas para afastar mulheres da sua vida, tudo isso com a intenção
de se proteger depois de se entregar a um amor que não era recíproco.
Agora, para ter Matthew por mais de uma noite, a mulher deverá passar por
essas cinco barreiras de proteção.
Um oceano de distância...
Um esbarrão...
Um evento...
E tudo começou a mudar...
Ela uma fotógrafa sendo descoberta...
Ele um homem fechado em suas regras...
Será que Allana é a mulher que vai invadir e curar o coração desse
Bittencourt?

Meu Pequeno Milagre – Livro 5


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Um grande erro do passado destruiu o mundo cor de rosa que
Megan Bittencourt vivia.
Ela acreditava que nada era capaz de feri-la tão profundamente, até
que Theodoro provou o contrário e com isso, deixou marcas tão profundas
que nem mesmo o tempo foi capaz de apagar.
Ela não imaginou que seria capaz de amá-lo e odiá-lo na mesma
intensidade.
Ferida, Meg apenas desejava reencontrar um motivo para ser feliz
novamente, mas o que a loira não imaginava era que essa felicidade viesse
em um pequeno pacote de olhos azuis cintilantes, com um sorrisinho
banguela de retirar suspiros.
Um filho, fruto do amor que sentiu pelo homem que mais a
machucou.
Ela nunca se imaginou mãe e muito menos uma mãe solteira...
Ele nunca soube da existência do filho, até que tudo mudou...
Poderá anos distantes ajudar na cicatrização de feridas tão
profundas?
Será que um filho é capaz de curar dois corações completamente
destruídos?

Meu Melhor Amigo


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July Stef se tornou órfã quando ainda era um bebê, mas foi acolhida
e amada pelos Bittencourt.
Andrew é seu primo de coração e também seu melhor amigo, mas
uma viagem nas férias de verão mudou toda a relação dos dois.
Ela estava decidida a ficar com ele, mas com medo de acabar com a
união da família Andrew se afastou, só não esperava que fosse doer tanto
quando outro homem entrou na vida dela, ganhando cada vez mais espaço
em seu coração, afastando os melhores amigos cada vez mais.
Uma promessa no passado mudou tudo. Será que o amor é forte o
bastante para superar tantas mágoas?
Meu Melhor Amigo é um spin-off da série Bittencourt e pode ser
lido separadamente.

TRILOGIA SENHOR
Senhor Granfino – Livro 1
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De um lado um homem que sempre teve de tudo, do outro, uma
mulher que desde cedo luta para ter o que quer.
Duas pessoas de mundos diferentes unidas por um acidente do
destino.
A vida na maioria das vezes pode ser injusta e Iracema Oliveira
sempre soube disso. Como se estar em uma sinuca de bico não fosse o
suficiente, ela ainda tinha que bater na traseira do carro de um granfino
arrogante e incrivelmente lindo que tinha uma habilidade incrível de tirar
ela do sério.
Octávio e Iracema são o exemplo perfeito de que o destino gosta de
unir os opostos.
O que começou com uma batida na traseira de um Porsche, vai
terminar em um acidente muito mais desastroso que deixará não somente o
carro de Octávio danificado, mas também o seu coração.
Poderá uma pessoa passar por cima do seu orgulho para salvar o que
ela mais ama?

Senhor Mulherengo – Livro 2


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O que você faria se a pessoa que amasse fosse justamente a única
proibida para você?
Bernardo Villacente optou por fugir.
Fugir do sentimento que sua prima, Milena Villacente, desperta
nele.
Por anos ele conseguiu sufocar essa atração forte que sempre os
uniu, mas depois que ela pareceu superá-lo, ele percebeu que estava
perdendo-a de verdade.
Estava perdendo-a por medo de arriscar, por medo do preconceito
que uma relação entre os dois poderia causar.
Ela é a tentação dele...
Ele é o objetivo inalcançável dela...
Será que uma ideia, dada no calor do momento, poderá unir esse
casal?

Senhor Perfeição – Livro 3


(Em breve)

Vincenzo sempre soube que seria o único herdeiro da Construtora


Martinelli, por isso cresceu se espelhando no pai, um homem viúvo que o
criou com afinco e dedicação.
O elo entre pai e filho parecia inquebrável, mas tudo mudou quando,
Rafaela, a CEO da Constrular surgiu na vida deles. À primeira vista, ela é
fria e calculista, o tipo de pessoa que joga sujo para ter o que quer, mas será
que ela é realmente assim?
O que o jovem italiano está prestes a descobrir não só mudará seu
relacionamento paterno para sempre, mudará também a sua vida.
Uma CEO disposta a conseguir o que sempre planejou.
Um engenheiro civil lutando contra a atração e o dever.
Será que o amor nasce no meio de tantas brigas?
LIVROS ÚNICOS
Divorciados
https://amzn.to/2P8TuX1
Antony se apaixonou por Liliana na faculdade, no instante em que a
viu toda linda no corredor, os olhos verdes, os cabelos cacheados
esparramados pelas costas delicada e o tom chocolate de sua pele, tudo nela
chamou a atenção do jovem estudante de Ciência da Computação.
Ela parecia perdida e ele se aproximou para ajudá-la, dali nasceu
uma forte atração física, mas Lily estava decidida a focar apenas no curso
de pedagogia, por longos dois anos ela e Antony foram apenas melhores
amigos, mas a atração acabou sendo mais forte e ela enfim se rendeu.
Agora já casados e há 10 anos juntos, ambos têm um filho, Thomas,
o fruto do amor que acreditavam sentir, mas a vida para Liliana nunca foi
fácil e ela percebeu que isso ainda não havia mudado quando acordou de
manhã e seu marido tinha simplesmente partido, sem dar nenhuma razão,
ele apenas foi embora e levou seu coração junto...
Só que Antony não contava com a chegada de um pretendente na
vida de Liliana, um homem também divorciado, um restaurador carinhoso,
de sorriso fácil e totalmente decidido a conquistar a famosa tia Lily,
professora da sua filha.

Amor, Orgulho & Redenção


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Natal...
Para Calina, Eva e Fernanda essa época do ano só significava uma
coisa: desespero, desespero e desespero.
Um desastre nas vésperas de final de ano faz Calina cair de
paraquedas no emprego mais embaraçoso da sua vida. Como ajudante de
Papai Noel ela esperava muitas coisas, menos que ia conhecer o Papai Noel
mais charmoso que já vira na vida e menos ainda que ele ia fazê-la perceber
que queria muito mais do que apenas um desejo de Natal.
Após anos fugindo do seu passado, Eva é obrigada a enfrentá-lo
quando recebe misteriosamente o convite para o casamento de seu irmão.
Mesmo não se dando bem com sua família ela decidi ir, pois tem esperança
de se reaproximar do filho que deixou para trás. Sem perceber que isso
também a reaproximaria do ex-marido. Uma viagem de volta ao passado
traz a tona sentimentos que há muito estavam esquecidos e com eles o
desejo mais secreto do seu coração.
Fernanda sempre foi muito pé no chão, mas a abertura inesperada de
um estúdio de tatuagem ao lado do seu bar ia mudar isso. Ela não esperava
que o tatuador bonitão que a tirava do sério, ia mexer tanto assim com seu
coração e virar seu mundo de cabeça para baixo.
Uma conversa no bar...
Um ouvinte bisbilhoteiro...
E uma reviravolta incrivelmente deliciosa na vida das três...
Vanessa Secolin, Islay Rodrigues e Leticia Bertalia se uniram para
criar um livro de Natal divertido e romântico.
SOBRE A AUTORA
Vanessa Gandolpho Secolin nasceu em fevereiro de 1996, no
interior de São Paulo, onde atualmente reside com o marido e os dois filhos.
É uma mulher sonhadora, viciada em chocolate, café, livros e séries, não
necessariamente nessa ordem.
Descobriu a paixão pela escrita há pouco tempo, por meio de uma
plataforma online, já o amor pela leitura nasceu anos antes, quando leu “O
Morro dos Ventos Uivantes” para um trabalho escolar, desde então, se
aventura em diversos gêneros, mas o seu preferido é o romance.
REDES SOCIAIS
Instagram: autoravanessasecolin
Wattpad: AutoraVanessaSecolin
E-mail: vanessasecolin@hotmail.com
Gostou de conhecer esse livro? Se sim, vamos levar Descobrindo o
Prazer para mais leitores.
Indiquem esse livro, compartilhem com os amigos e publique nas
suas redes sociais. Se possível, deixe sua avaliação na Amazon, as
avaliações são muito importantes.
Desde já eu agradeço imensamente.
[i]
Mommy Makeover é a cirurgia plástica indicada para mulheres após a gestação. Envolve
uma combinação de procedimentos, sendo que as correções mais comuns ocorrem em mamas,
abdômen, coxas, quadris e cintura.
[ii]
Juliana Salomão é a personagem principal de Jogando com Prazer, o primeiro livro da
série Pleasure Club (já disponível na Amazon > leia aqui).
[iii]
Bottom é a pessoa que é dominada, ou seja, a pessoa que é submissa de um Top
(dominador) dentro de uma cena/sessão.
[iv]
Aftercare em BDSM é o cuidado do dominante com o submisso após a sessão, que
pode ser conversa, ou cuidar de lesões que podem ocorrer durante a prática. As sessões podem ser
intensas e gerar um desgaste físico e emocional no submisso é importante esse cuidado e
demonstração de importância.
[v]
Honey é mel em inglês.
[vi]
Jacú é bobo, ignorante no mineirês (apelido carinhoso para o dialeto próprio dos
mineiros).
[vii]
Deixar no chinelo é uma expressão usada no sentido de alguém ou algo “ser muito
melhor” do que outro, “superar” o outro por ser muito melhor.
[viii]
Rodrigo foi mencionado em Jogando com Prazer (primeiro livro dessa série) ele é o
noivo do casal ao qual Juliana organizou o casamento (casal Soares).
[ix]
Esse casal foi mencionado no livro 1 (Jogando com Prazer)

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