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Copyright © 2020 de Thais Oliveira

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mecânicos, sem a previa autorização por escrito do editor, exceto em casos
breves de citações em resenhas ou alguns outros usos não comerciais
permitidos pela lei de direitos autorais. Este livro é um trabalho de ficção.
Todos os nomes, personagens, locais e incidentes são frutos da imaginação da
autora. Qualquer semelhança com a realidade, pessoas vivas ou mortas, é
mera coincidência.

1° edição: 2020
___________________________________________________
Capa: TG Design.
Revisão: A.C. Nunes.
Diagramação: TG Design.
___________________________________________________
Oliveira, Thais. PARA SEMPRE NÓS DOIS - Thais Oliveira

1. Romance | 2. Ficção brasileira

ALTAMIRA PARÁ
Sumário
PARTE I

PRÓLOGO

CAPÍTULO 1

CAPÍTULO 2

CAPÍTULO 3

CAPÍTULO 4

CAPÍTULO 5

CAPÍTULO 6

CAPÍTULO 7

CAPÍTULO 8

PARTE II

CAPÍTULO 9

CAPÍTULO 10

CAPÍTULO 11
CAPÍTULO 12

CAPÍTULO 13

CAPÍTULO 14

CAPÍTULO 15

CAPÍTULO 16

CAPÍTULO 17

CAPÍTULO 18

CAPÍTULO 19

CAPÍTULO 20

CAPÍTULO 21

CAPÍTULO 22

CAPÍTULO 23

CAPÍTULO 24

CAPÍTULO 25

PARTE III

CAPÍTULO 26

CAPÍTULO 27
CAPÍTULO 28

CAPÍTULO 29

CAPÍTULO 30

CAPÍTULO 31

CAPÍTULO 32

CAPÍTULO 33

EPÍLOGO
Inspirei fundo, começando a contagem regressiva novamente,
repetindo a série de exercícios físicos como se aquilo fosse uma cura para as
coisas que se passavam em minha memória. Merda. Eu sabia que voltar ao
meu estado normal dentro de uma sociedade levaria tempo.

Fiquei a porra de quase dez anos preso naquele lugar. Tomando


remédios que não me faziam bem, muitos deles não tomava, pois não estava

louco como todos pensavam e nem tinha nenhuma porcaria de problemas


com drogas. Senti meus braços doendo, em reclamação. Deixei que cedessem
e que meus pés alcançassem o chão, deixando para trás a barra de ferro na
qual eu fazia as flexões.

Lembrei-me de Maggie e de como vi sua vida voltar ao eixo, depois


de tudo que nos atingiu. Era intenso pensar que minha irmãzinha sofreu por
apenas um erro meu, mas finalmente a vida foi justa com ela. Dando tudo que
ela merece.

Tinha até sobrinhos agora! Duas pequenas bolinhas com cheirinho


agradável de bebê. Heitor e Mel, meus anjinhos que, graças a Deus, nasceram
há pouco menos de quatro meses.

Com toda certeza, não havia tio mais babão que eu. Ver Maggie e

Hunter formando sua família, sendo felizes, apesar de tudo que aconteceu dez
anos atrás, é a minha recompensa. Mesmo que ainda sentisse, dentro de mim,
algo queimar, quebrado, ardendo.

Meu celular tocou alto, tirando-me dos meus devaneios, e corri para
atendê-lo, vendo o número de mamãe brilhar na tela. Neiva Collins odiava
celulares e tecnologia, então para estar utilizando, deveria ser algo
importante.

Atendi.

— Oi, como ele está?

Eu a ouvi suspirar.

— Agora, estabilizou. Estou ligando apenas para avisar que o médico


disse que ela ficará assim por todo o tempo, Sebastian. Não há mais como
reverter o quadro do seu pai; ele s só ficará sofrendo. — Mais um dos
motivos que tiravam minha paz.
Arnold Collins podia ser o que fosse, mas ainda assim era meu pai. Eu
não queria perdê-lo.

— Avisou Maggie?

— Sim, ela chorou tanto, tadinha. — Sim, eu sabia que minha irmã
era a que mais sofria naquela situação. Passou tanto tempo longe e logo

quando voltava, a situação estava um caos. — Vá para casa, dorme um


pouco, descanse. — disse, como se lesse minhas entrelinhas, sem nem menos
me ver.

— OK, amanhã cedo passo aí. — Fecho os olhos, cansado. — Te


amo.

— Também te amo, querido.

Finalizo a ligação e encaro a tela do celular, com minha mente


vagando entre o antes e o depois. Éramos uma família normal, até meus

dezessete anos, só que tudo virou do avesso desde então. E parece cada dia
mais longe de estarmos nos trilhos.
Abri a porta da minha sala, no nono andar do enorme prédio onde o
Grupo Empirus Collins estava localizado, sabendo que era uma das maiores
empresas do ramo da engenharia mecânica de estar sob meus cuidados. Uma
das minhas funções era cuidar das obrigações trabalhistas para contratação e
demissão de funcionários, o auxílio em relação a tributos e muito mais para o
bom funcionamento da empresa com total segurança.

Foi com esse pensamento que me sentei na cadeira, observando a sala

com demasiado cuidado. O lugar foi decorado praticamente por mim, com as
imagens de Amber, Heloisa e Hannah espalhados pelo local.

Um quadro pintado propriamente por minha meia-irmã mais nova,


Amber, simplesmente me transportou para tudo que mais amo, aquele
lugarzinho no meio do nada, onde sei que poderei ir caso o mundo começasse
a desmoronar. A fazenda na qual elas insistiam em morar, apesar de todas as
lembranças que despertavam em nós duas.

Suspirei, me afundei na cadeira, com a cabeça doendo, como um


aviso de que o dia seria cheio. Acabei por dormir muito tarde na noite
anterior, analisando alguns processos que estavam em minhas mãos, sabendo
que precisava dar uma resposta aos clientes do meu escritório fora da
empresa.

Trabalhava lá há mais de dois anos, desde quando conheci Jenner[1] e


montamos um lugar para começar e dar continuidade às nossas carreiras.
Jenner já era formada quando a conheci, só que eu estava apenas começando,
pelas beiradas, a construir meu próprio mundo.

Diferente de tudo que já falaram sobre mim.

Fui autossuficiente em cada passo. Meu primeiro emprego. Meu


apartamento. Meu diploma. Tudo foi recompensa do meu próprio suor, nada

veio do nada.

E diferente de tudo que aquele imbecil disse, nada veio de um


homem. Absolutamente nada. Nenhum homem precisou se sacrificar para
saciar meus desejos. Passei quase toda minha juventude tendo que decidir
entre um capricho por algo material ou meu futuro, aquilo que realmente
poderia me dar um bônus mais tarde.
E mamãe hoje enchia a boca para ir e vir sobre quem me tornei. Se
gabar por ser uma ótima advogada, por ganhar bem em minha profissão.

Laura Johnson tinha um péssimo hábito de não saber controlar o próprio


dinheiro. O que quase sempre me dava problemas.

Era irreal demais que papai houvesse ido e me deixado com ela.
Deixado Amber, ainda pequena, nas mãos de uma mulher tão descontrolada.

Suspirei, vendo o celular vibrar sobre a mesa, e desbloqueei a tela.


Notando que se tratava de uma mensagem da minha irmã, abri, vendo seus
cabelos escuros jogados na lateral do rosto, o bico, imitando um beijo, com o
rosto colado a bochecha de Heloisa, que sorria aberta.

A garotinha de apenas cinco anos era o mundo de Amber. Já a vi


chorar e rir por ela. Prometer que mataria e morreria pela filha, de quem ela
cuida sozinha, pois o pai foi imbecil o suficiente para abandoná-la ainda
grávida.

Sabia que Amber matinha um sentimento de quase ódio por Patrick, e


eu compartilhava isso. Sabendo que se um dia meu caminho se cruzasse com
o dele, não hesitaria em usar tudo que aprendi na autodefesa, só que para o
mal.

Respondi rapidamente, o bom dia em alto astral, com o sorriso se


estendendo em meu rosto. A porta do meu escritório se abriu levemente, e
Carly colocou a cabeça para dentro, sorrindo de orelha a orelha.

— Bom dia, Alex! — a senhora baixinha e roliça me saudou.

— Bom dia, Carly. Como foi o feriado?

— Ah, maravilhoso. Fiz uma faxina em casa. — Não evitei a careta


ao vê-la se curvar ao indicar dores nas costas. — E ainda saí para beber com

as amigas. Deveria fazer o mesmo, Alex.

Piscou, me fazendo rir.

— Qual é meu primeiro compromisso? — Ela balançou a cabeça,


descontente com minha brusca mudança de assunto.

— Reunião com os acionistas às nove. O senhor Collins pediu que


comparecesse a sala dele logo às onze horas para tratar sobre a reunião, já
que ele não estará junto. — Balancei a cabeça em concordância. — E ao
happy hour de sexta-feira, que já está na sua agenda desde então.

Balancei a cabeça em negação, rindo. Me divertia à beça com minha


secretária tentando me fazer ir às festas da empresa. Que ela mesmo adorava.
Carly não era mais nenhuma jovem, na verdade, beirava os cinquenta anos,
tinha dois filhos e separada do marido.

Porém, o astral da mulher era comparável à de um jovem de dezoito


anos. Não perdia um convite para festas e batia ponto em todas. O que para
mim era muitíssimo divertido. Devido ao fato de que não tinha coragem nem

de levantar meu pé do sofá no fim de semana.

— Obrigada, Carly, vamos tomar um café no fim do expediente,


hein?! — Ela bufou, contragosto, me fazendo rir.

— Garotinha que não sabe se divertir. — Me lançou um olhar

decepcionado. — Olha só, tão linda. Para que serve uma idade tão boa, lindos
olhos, uma beleza incomparável, se não sai nem para tomar uma cervejinha?!

E a escutei resmungando por todo o corredor. Caminhei para fora da


sala, prendendo o riso, carregando comigo minha caderneta e celular, fechei a
porta em minhas costas, vendo que Susan estava parada na porta da sala de
reuniões.

Inspirei fundo e caminhei em direção a lá, sabendo bem que seria no


mínimo uma tortura ter uma reunião ao lado da ruiva, de corpo curvilíneo,

lábios em um gloss clarinho, o vestido preto justo ao corpo, marcando tudo


em seu devido lugar.

Ela me olhou, por cima do ombro e sorriu.

— Alex! — saudou, me fazendo respirar fundo. — Não sabia que


ainda estava trabalhando no grupo, pensei que já havia sido demitida.

Sorri de lado.
— Graças a Deus, o senhor Collins sabe escolher bem seus
funcionários. — Ela riu.

— Sebastian é um amor, isso é verdade. E muito bonito, devemos


acrescentar. — Meus olhos se tornaram apenas pequenas frestas e virei
rapidamente, ao ver que seus olhos estavam sobre meu superior, que
caminhava em direção ao elevador, sem perceber que o encarava de forma

quase analítica.

O homem era realmente uma coisa boa de se olhar, meu


subconsciente murmurou, e eu balancei a cabeça, focando nas coisas que
realmente me importava. A reunião. Meu emprego. A reunião.

Sebastian Collins era simplesmente maravilhoso. Com toda a certeza,


porém, estava em um nível acima, fora do alcance. Além do mais, já tive
minha cota de problemas nesta vida, me enrolar novamente não é algo que
venho desejando.

A reunião foi um porre, como eu imaginava. A única coisa que


aliviava era o fato que seria o porta-voz de Sebastian naquele momento, e até
Susan deixou de ser menos hostil e me tratou melhor. Suspirei, entrando no
setor onde ficava apenas a sala da presidência, vendo a secretária do Senhor
Collins sentada bem descansada em sua mesa, com o barulho do joguinho

saindo do celular, enquanto parecia bem complementada em tudo.

Segurei o sorriso.

— Bom dia, Tati — cumprimentei, parando ao seu lado. — Gosto


desse jogo. A fase mais difícil é a 40 — indiquei, apontando para a tela do

celular, enquanto ela abria e fechava a boca, com vergonha. — O senhor


Collins já está? Tenho uma reunião com ele.

Ela continuou fazendo aquele negócio de abrir e fechar a boca.


Atitude que me fazia rir. Até que ela pareceu bem mais recomposta e
conseguiu dizer que eu poderia entrar. Pisquei e caminhei em direção à porta
de madeira encerada. Bati duas vezes e escutei a resposta grave de que
poderia entrar.

Assim fiz, espiando a sala ampla, com as janelas de vidro, que dava

vista para Nova Iorque em pleno vapor. Horário de pico e como quase todo o
dia, os carros iam e vinha na velocidade da luz.

— Bom dia, senhor Collins. — Alisei minha saia disfarçadamente,


sorrindo de lado.

Sebastian era um homem bonito, alto, dos ombros largos, cabelos


loiros e sorriso aberto. Só que eu sabia que por trás de uma boa gestão,
sorrisos amigos e uma beleza imaculável, havia um passado quase sombrio.
Havia pegado documentos comprometedores dele assim que entrei na
empresa, com cada detalhe sórdidos do que acontecera aos irmãos Collins.

Ele e Maggie eram gêmeos, consequentemente, muito ligados. Tudo aquilo


era de partir o coração. Porém, isso é história para um outro momento.

— Alex, bom te rever. — Engoli em seco, com tamanha simpatia. —


Sente-se, vamos conversar sobre a reunião.

Indicou a cadeira em sua frente, a frente à mesa. Me sentei, sentindo


minhas pernas meio que vacilarem. Geralmente, eu era uma mulher cheia de
mim, não deixava que as pessoas vissem que estava com medo ou nervosa.
Só que convenhamos, sou apenas mais um dos vários empregados nessa
empresa, e apesar do meu bom currículo garantir que consiga um novo
emprego com facilidade, não é algo com que posso brincar.

Meu celular tocou alto, me fazendo xingar em pensamento enquanto o


pegava dentro do bolso do meu casaquinho, vendo o nome de Laura —

minha doce e amável mãe — piscar na tela. Engoli em seco, pensando se


atendia ou não.

— Pode atender — Sebastian interviu, por ver a indecisão em minha


reação.

— Com licença, é importante. — Eu sabia que provavelmente não era


tão importante assim, mas era Laura Johnson, sabia que se não atendesse, ela
ligaria mais uma, duas, três e quantas vezes fossem necessárias.

Me afastei, atendendo ao telefone enquanto encarava a vista da


cidade.

— Oi.

— Filha! Que bom que atendeu. — Não, não era nada bom. — Estou

chegando em Nova Iorque, irei para seu apartamento. Preciso passar um


tempo com você, conversar sobre aquele negócio que lhe falei.

Fechei os olhos com força, mordendo o lábio inferior. Merda, merda,


merda. Eu não ia dar mais dinheiro para maldição de cirurgia plástica
nenhuma, resmunguei, cansada de toda a merda que ela sempre me trazia.

— OK, mamãe, estou no trabalho, preciso desligar. — E finalizei,


sem obter resposta, me virando rapidamente para Sebastian, que mantinha os
olhos sobre o notebook aberto. — Desculpe, podemos continuar.

Murmurei envergonhada por esse tipo de coisa e dei continuação a


reunião, esclarecendo todos os pontos que os acionistas discutiram em
reunião, tentando controlar o nervosismo em meu corpo, sem saber se era por
causa de Laura ou por causa de Sebastian.

Preferia pensar que isso se referia à minha mãe. Era mais fácil de
resolver.
— Johnson — a voz grave e baixa disse em minhas costas. Segurei a
taça de champanhe com mais força, sentindo minhas pernas instáveis e virei
rapidamente, dando de cara com Sebastian Collins, vestido ainda no seu
habitual terno de trabalho, com um sorrisinho de canto e os olhos nublados,
meio incertos. Ele deveria ter bebido algo. — Pensei que fugiria da festa
igual a todas as outras.

Engoli em seco, não acreditando que havia realmente aceitado o

convite de Carly e vindo a essa festa. A verdade é que tentava adiar o


momento de chegar em casa a todo custo. Não queria ter que sorrir e ser a
boa filha enquanto tudo que ela me devolvia eram decepções.

— Eu venho às festas. — Não eram essas as palavras que gostaria de


falar. Queria apenas dizer que sim, fazer a linha educada e não a que sai
resmungando que vai às festas como uma criança mimada, sabendo bem que
desde que começou a trabalhar, nunca havia ido a um happy hour da
empresa. Um saco, como Carly costumava falar.

Ele riu.

— Não, Alex, você odeia nossas festas. Foge de completamente


todas. — Ele se senta na banqueta em minha frente, dividindo a pequena

mesinha redonda do bar onde estamos comemorando mais um contrato


fechado.

Nem sabia por que aceitei vir. Era apenas uma advogada, analisava
contratos, fazia alguns trabalhos além disso, mas a questão é que não havia
por que comemorar um novo cliente, não era obrigação minha conquistá-los.
Suspirei, afundando no estofado e deixando meus ombros caírem. Minha
calça jeans não era tão justa no corpo, e a camiseta que havia vestido era um
pouco maior que o normal, coberto por uma jaqueta preta, que ainda me
lembrava de como era me arrumar devidamente para um dia de trabalho.

Os dias vinham sendo um caco. Laura estava em casa e isso


significava que minha vida toda estava de cabeça para baixo pelo simples fato
de que minha mãe nunca conseguia estabilidade. Desta vez, o dinheiro que
precisava para pagar a reforma nova em sua casa não sairia de mim.

Não mesmo, pensei, bebendo o champanhe em um único gole. Só


percebi que Sebastian ainda estava na mesa, me observando atentamente
quando riu do meu ato, achando tudo muito engraçado.

— O que foi?

— Nada. — Deu de ombros. — Está muito bonita hoje, Alex — meu


superior disse, sorrindo casualmente, enquanto se encostava na cadeira,
completamente relaxado. Eu sabia bastante daquela família desde quando um

documento errado caiu em minhas mãos.

Namorei o seu melhor amigo e terminamos pouco antes de ele


assumir o relacionamento com Maggie Collins, irmã de Sebastian. Conversei
com Maggie poucas vezes e infelizmente não conseguia sentir raiva pelo ato
de que esteve com meu namorado enquanto ainda estávamos juntos.

Tinha plena certeza que havia sido corna, mas isso não me afetava. O
relacionamento com Hunter era bom, não havia dramas, ele era um homem
prático e controlado. E isso era o que eu precisava. Nada que me tirasse do

eixo.

E ficava feliz por ver que se amavam de verdade, apesar de que


depois do término minha vida parecia estar virando de cabeça para baixo.
Inspirei fundo, querendo fechar os olhos por meros instantes e poder ser outra
pessoa.

— Ser ignorado não é legal — Sebastian resmungou, como uma


criança. Abri os olhos, sorrindo de lado.
— Desculpe, não estou em meu melhor momento.

Encolhi os olhos. Ele riu.

— Vamos, tome algo mais forte, tudo que vai conseguir com esse
champanhe é uma sensação de instável e pensamentos ruins. Com mais
álcool, você vai ficar mais alegre. — Ele balançou a mão para um dos

garçons do bar que havia sido fechado apenas para a pequena festinha da
empresa.

Suspirei, batendo contra a cabeça na mesa de madeira, me sentindo


meio ridícula no momento. O escutei pedir duas doses de uísque e nem
mesmo disse que odiava a bebida, apenas deixei que fosse.

— Posso saber por que está com cara de quem vai surtar a qualquer
momento?

Levantei o olhar, dando de cara com um sorriso de lado de Sebastian.

Sabia o que todos na empresa pensavam sobre ele. Que era um bom
líder, competitivo, aceito às novas ideias e de que a companhia dos Collins
estava em boas mãos, agora que o patriarca da família passava mais tempo no
hospital do que em casa. Pobre velho, mas sabemos que a vida não é sempre
boa. E que ele não era um santo. A maldade de separar os dois filhos, renegar
a filha sem ouvi-la primeiro, estava sendo cobrada, infelizmente.
O homem em minha frente tinha um passado, eu o conhecia, e
infelizmente isso me fazia sentir muito por ele. Era muito bonito também, os

cabelos loiros, espessos, caindo levemente sobre a testa, o sorrisinho, os


olhos verde- claros, a barba por fazer e o corpo alto, definido, mas nada em
exagero.

— Problemas em casa. — respondi, evasiva.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Sei que sabe de tudo sobre meu passado, Alex, sei que também é
muito fechada para si, mas estou aqui, caso precise de ajuda ou apenas para
conversar. — Encolheu os olhos.

— Você não me parece o tipo de cara que oferece um ombro amigo a


uma mulher, Sebastian — resmunguei, desconfiada, fazendo-o rir alto.

— Realmente, querida, mas há coisas que estou aprendendo, meu

psicólogo disse que seria bom praticar o amor ao próximo. — Piscou, me


fazendo sorrir e abaixar a cabeça.

A bebida foi trazida rapidamente e não hesitei em pegar o copo com a


dose do uísque amarelado e o entornar. Senti o líquido descer rapidamente,
queimando de forma louca, e senti o efeito da minha antecipação ser surtido
rapidamente.
Tonta.

— Eita, vai com calma — Sebastian brincou, enquanto eu colocava o


copo na mesa, limpando o canto dos lábios por causa do batom vermelho e
chamativo que usava.

Sorri, de lado, ainda tonta e com a garganta queimando pela

quantidade de álcool ingerido. Era amargo aquela merda. Eu odiava quase


todas as bebidas por esse motivo, as únicas que ainda tomava eram
champanhe e vinho. E convenhamos que isso é o básico de uma vida.

— Obrigada pela bebida, mas isso é horrível. — Fiz careta, fazendo-o


rir.

— Feliz por vê-la entre nós, Alex, some quase sempre.

— Muita coisa para ser feito e resolvido. — Encolhi os ombros, como


se aquilo fosse uma desculpa descente.

Ele balançou a cabeça em concordância.

— Eu percebi. — Ele se colocou de pé, abandonando metade da dose


sobre a mesa, e estendeu a mão em minha direção. — Dança comigo? — O
pedido me fez olhar em volta, vendo que a música cessou, iniciando uma
versão remix de Waiting For Love do Avicii, fazendo as pessoas dançarem
livremente, como se não existisse mais nada ao redor.
Encolhi os olhos.

— Não danço bem — me desculpei, sorrindo. — Geralmente começo


a trocar os pés e acabo caindo.

Sebastian riu.

— Já eu, sou um ótimo dançarino. — Piscou, galanteador. — Prometo

guiar você.

Era a promessa que eu precisava. Juntamente a coragem que o álcool


adicionou em meu corpo, enlacei nossas mãos, aceitando que Sebastian
Collins me levasse para o meio das pessoas dançando.

Ele segurou minha cintura e colou nossos corpos, fazendo minha pele
estremecer com o contato simples. Enlacei seu pescoço, encarando um ponto
abaixo do seu maxilar, precisamente sua gravata, que estava meio folgada
depois do expediente. Inspirei fundo e no momento seguinte percebi que foi

um erro.

O perfume invadiu todos os meus sentidos e, novamente, parecia que


estava adormecida em relação à suas mãos tocando a base da minha coluna,
enquanto ele fazia o que realmente prometeu: me guiava.

— Merda. — O xingamento me fez levantar o olhar, diretamente para


expressão assustada de Sebastian, que mantinha os lábios entreabertos, me
fazendo perceber os quão cheios eram.

Abaixei a cabeça.

— Não tinha uma música mais apropriada — brinquei, pouco antes de


me girar rapidamente, voltou em um puxão, chocando contra seu corpo,
fazendo nossos corpos se colar, pedaço por pedaço, de forma quase

indecente.

O ar faltou, senti minha respiração ficar pesada ao observar os lábios


de Sebastian, da mesma forma que ele me encarava, parecendo levemente
hipnotizado. Não estávamos bêbados o suficiente para colocar culpa na
bebida quando seus lábios traçaram os meus levemente, me fazendo
estremecer.

Meu corpo se arrepiou e segurei-me em seus braços cobertos pelo


paletó para me manter no lugar. Seus lábios se remexeram nos meus, os

colando completamente, causando uma reação completamente desconhecida


ao meu corpo. Segurei seus ombros, subindo minhas mãos por sua pele até
que meus dedos afundaram em seus cabelos, aprofundando o beijo.

Entreabri a boca e senti sua língua me penetrando, duelando junto a


minha, lentamente, arrancando tudo que poderia ser considerado meu juízo
normal. Merda, eu estava beijando meu chefe. E pior, gostava tanto disso que
só consegui responder colando nossos corpos ainda mais.
A mão de Sebastian segurou a minha e se afastou, respirando
ofegante. Não deu tempo para que eu emitisse nada, apenas me puxou para

fora do bar, saindo do meio de todos seus funcionários, sabendo que aquilo
criaria um boato e tanto.

Assim que o ar frio bateu em meu corpo, Sebastian pulou dois


degraus em minha frente, me puxando em direção aos seus lábios, colando-os

em mais um beijo intenso. Sua mão alisou minha bochecha e precisei de todo
meu autocontrole para me afastar, segurando seus ombros para me manter
equilibrada, sentindo-me fora do eixo.

— O que estamos fazendo? — murmurei, baixinho, indecisa sobre o


próximo passo naquela situação.

Ele riu.

— Eu quero beijar você. — A resposta veio como um garotinho

traquino, me fazendo rir levemente.

— Você é meu chefe, Sebastian.

A ideia brilhou em minha mente. A parte lúcida.

— Sim, mas quando te beijo — segurou minha bochecha, subindo


mais um degrau —, você é apenas Alexandra, e eu gosto de beijar você. É
bom, gostoso. Você tem um gosto bom.
As frases inacabadas foram interrompidas por seus lábios colando
novamente sobre os meus, e merda, eu iria mesmo fazer aquilo?! Continuar

beijando-o como se não houvesse nada?

Suas mãos desceram, trilhando uma linha em todo meu corpo,


mapeando minhas curvas calmamente, enquanto me colava ainda mais nele,
mantendo-o com a boca colada à minha, suas mãos tocaram meu ventre

levemente, afastando a camiseta folgada, os dedos ásperos me fazendo


estremecer diante ao toque.

— Vem comigo — murmurou, se afastando o suficiente para encará-


lo. Estávamos perto da empresa e sabia que o prédio ao lado, de quase trinta
andares, era ocupado exclusivamente pelo Grupo Collins, sabia também que
Sebastian morava na cobertura, totalmente fechada para ele.

— Onde? — indaguei, com desconfiança.

Ele riu, segurou minha cintura e me levantou no ar, me colocando no


piso inferior, impedindo que descesse todos os degraus da pequena escada na
entrada do bar. Sebastian colocou uma mecha do meu cabelo escuro atrás da
orelha e beijou a ponta do meu nariz.

— Para minha casa. Não sei o que passa na sua cabeça, Alex, mas eu
quero você. — Sua mão traçou meu pescoço, senti meu corpo se arrepiando,
segurei em sua mão, enlaçando-a, e o encarei, sorrindo de lado.
— Acho que quero conhecer sua casa, senhor Collins — usei o termo
profissional, piscando em brincadeira e o vi puxar-me novamente.

Corri apressada atrás dele, agradecendo pelo fato de não estar


calçando saltos muito altos. Inspirei fundo ao ver o segurança noturno nos
encarar de forma divertida e quase bati em Sebastian quando parou para dar
boa noite ao funcionário e avisar que estava subindo.

Não podia dizer que iriamos pegar algum documento? Porém, nem
um burro acreditaria nisso ao me ver instável sobre meus próprios pés. Era
fraca demais para bebidas.

Caminhamos para dentro, entrando no elevador, Sebastian bateu a


mão contra o painel de controle, indicando a subida direto para a cobertura,
pouco antes de sua boca alcançar a minha. Suas mãos seguraram minha
cintura, me dando impulso para cima e não resisti em passar as pernas em
volta de sua cintura, sentindo-o por cima da calça. Minhas costas foram

chocadas contra as paredes do elevador enquanto sua boca descia pelo meu
pescoço, beijando, mordiscando lentamente, de forma quase torturante.

Gemi baixinho, sentindo meus peitos duros contra o tecido fraco do


sutiã que os mantinham presos. Suas mãos me tocaram por cima do tecido,
descendo mais, querendo entrar por debaixo da camiseta enquanto sua boca
descia, beijando o topo dos dois mamilos pela vaga livre que a camisa
deixava.

Meus pés tocaram o chão novamente.

Ofeguei, vendo-o se afastar e me encarar, com os olhos turvos de


desejo, senti-o crescer contra minha intimidade, deixando o contato quase
desesperado, e gemi baixinho. Sabia que estava cometendo um erro, mas puta

merda, ele tinha belos olhos verdes e parecia exatamente onde me tocar.

Suas mãos tiraram minha jaqueta, jogando no chão do elevador de


maneira descuidada e levantei os braços, retirando a camisa folgada em que
vestia, ficando apenas de lingerie na frente de Sebastian, que desceu os olhos
pelo meu corpo parcialmente desnudo, queimando minha pele. O elevador
apitou, abrindo novamente e nos dando acesso à entrada do apartamento.
Deixei que ele me levasse para dentro, segurando minha mão e logo sua boca
avançou sobre a minha.

Domando.

Tomando tudo que estava disposta a dar. Enlaçando-me naquele erro


irresistível. Aquele erro que há poucos dias disse que nunca cometeria. E a
cada toque dele em meu corpo, mais a necessidade aumentava. Tomando
conta dos meus sentidos completamente.
O sol brincou em meu rosto, e virei rapidamente para o outro lado.
Tentei afundar a cabeça em meu travesseiro, mas a única coisa que veio foi
uma superfície firme. Meu corpo congelou e abri os olhos lentamente, vendo
que se tratava de um homem com o peitoral de fora. Me sentei lentamente na
cama, segurando o lençol branco contra meus seios, e observei o quarto em
uma completa bagunça, e engoli em seco ao olhar para o meu parceiro da
noite passada.

Puta merda.

Eu tinha mesmo que beber, uma única vez, e fazer uma decisão burra
desse jeito?! Conhecendo Sebastian Collins o suficiente para saber que ele
nunca na vida havia tido um relacionamento sério e que, apesar de muito
educado, sempre respeitoso com seus funcionários, era apenas aquilo.

Não ditava como ele agia em relação à sua vida pessoal, ainda mais
da amorosa.

Fechei os olhos, com a cabeça rodando, me levantei, tendo que


abandonar a coberta, e peguei minha calça, juntamente a blusa e casaco vestia
na noite anterior, não encontrando minhas peças íntimas e muito menos meus
sapatos. Engoli em seco, me vestido rapidamente ao ver que ele dormia
tranquilamente.

Vi o peitoral desnudo, levemente bronzeado, e sorri de lado, boba,


enquanto prendia meus cabelos de forma desarrumada no alto da cabeça. A
noite vinha apenas em pequenos flashes em minha mente, sabendo bem que
as memórias da segunda vez em que estivemos juntos eram meio borradas. A
primeira, foi assim que entramos no apartamento. Depois bebemos um pouco,
mesmo que eu odiasse, precisava de álcool para manter longe a culpa pelos
meus atos l, e em seguida voltamos a nos enroscar.

Suspirei, dando meia volta, e saí do quarto, sem me importar em notar

a decoração. Chamei o elevador, esperando impaciente, descalça, uma


bagunça completa. Meu olhar caiu sobre a mesinha de centro, que tinha um
relógio digital, onde marcava oito e meia da manhã de um sábado ensolarado.

Vi meus sapatos jogados no meio da sala, e agradecida, corri para


pegá-los, os calcei e logo o elevador abriu, guiei-me para dentro da caixa
metálica e deixei que ela descesse, deixando minhas pernas moles cair ao
chão, cansada e desacreditada que realmente havia feito aquilo.

Puta merda, maior erro não havia sido. Um erro muito bom, deve-se
acrescentar, a vozinha irritante em minha cabeça gritou, me fazendo colocar
as mãos sobre as orelhas, querendo que aquilo parasse, parasse de sentir todo
meu corpo ainda meio adormecido com as sensações que obtive.

E a única certeza é de que nunca havia sido daquela forma. Nem


mesmo quando jurei que era amor. Inspirei fundo, agradecendo aos céus por
essa burrada, para não ter que voltar para casa na noite anterior e acabar
dando de cara com Laura, que definitivamente não era minha coisa preferida.

Ela já estava a praticamente há uma semana em casa e nunca que ia


embora. Tinha plena certeza que era castigo por algo que fiz na vida passada.

O elevador se abriu ao chegar ao térreo, e graças a Deus a empresa


não funcionava nos sábados e feriados, o saguão estava totalmente vazio e

logo me vi passando pelo guarda do turno da manhã, que não resistiu em me


lançar um olhar estranho, e senti minhas bochechas corar de forma quase
ridícula.

Meu celular tocou, me fazendo pular ao sentir o sol batendo em minha


cabeça. Caminhei em direção ao bar onde foi organizado o happy hour,
vendo meu carro estacionado no meio-fio. O nome da minha digníssima mãe
brilhava na tela. Revirei os olhos e ignorei a chamada.
Não preciso dela atentando minha paciência neste momento.

Entrei no carro e escorei minha cabeça contra o volante, tentando


decidir o que fazer neste momento. Poderia ir até Jenner e rever um dos
processos que estávamos trabalhando juntas. Mas era sábado! Sabia que a
mulher era bem dedicada à família e não deixaria suas duas pestinhas para ir
bater cabeça por erros alheios.

— Hannah! — exclamei, animada, buscando o número de uma antiga


amiga , chegando à conclusão que ela não me negaria seu sofá e chocolate
para me lamuriar por ter dormido com meu chefe estupidamente gostoso.

— O que você faz me ligando as seis da manhã, Alexandra? —


Sorrio.

— São quase nove, loira, e eu preciso de um sofá e chocolates. Vinho


também seria uma boa.

Ela resmunga algo que não consigo compreender.

— O que aconteceu? Sua mãe novamente? — Inspiro fundo,


pensando em negar, mas nem quero começar a falar de Laura, senão vou
acabar chorando. — Vem amiga, vou alisar seus cabelos maravilhosos e falar
o que você precisa.

Sorrio.
— Obrigada, loirinha. Estou chegando. — Desligo a ligação e jogo o
celular de lado, dirigindo rapidamente em direção ao apartamento de Hannah

Parker. Aquela cabeleira loira é minha amiga desde que nos conhecemos na
escola, aos sete anos, desde então, dividi sua alegria contagiante e ironia
própria com Amber e éramos nós três. Contra o mundo. As três mosqueteiras,
como Hannah costumava dizer.

— MENTIRA! — gritou, da cozinha, preparando meus benditos


s’mores, e colocou a cabeça na porta da cozinha, com a boca escancarada,
completamente em choque com as informações que despejei em seu colo. —
Você dormiu com Sebastian, sua safada!

Sorri.

— Se meus s’mores queimar, vou voltar a chorar, Nana —

choraminguei, a fazendo rir e voltar para cozinha. — Sim, e eu já estou me


preparando psicologicamente para ver minha carta de demissão na próxima
semana. Poxa, era um emprego legal.

Peguei mais um dos lenços de Hannah e limpei a única lagrima que


caiu. Estava me desmanchando em lágrimas pois era exatamente assim que
sentia minha estabilidade ser ameaçada. Não me controlava e começava a
chorar. E ainda tinha minha mãe.

Ela foi mãe jovem, aos dezessete, e se casou com papai — que Deus o
tenha — na mesma época, para cuidar de mim. Porém, eles se separaram
cinco anos depois. Apesar de papai sempre estar presente em minha vida, a
convivência dele e Laura era quase tóxica para todos ao seu redor.

Ele não voltou a se casar, apenas teve uma filha com outra mulher e
morreu quando completei dezesseis anos. Amber já tinha doze nessa época, e
nos tornamos inseparáveis. Ela era órfã de mãe e morava com a avó. Foi
minha melhor amiga e nos tornamos parte uma da outra. Mesmo que mamãe
odiasse minha aproximação com a bastarda, como costumava chamá-la.
Odiava isso também, era sujo e maldoso.

— Você não pode ficar se perturbando com isso. Um passo de cada


vez. — Nana apareceu novamente na sala, segurando a forma com os s’mores
com enormes luvas de cozinha, cheio de pequenos unicórnios. A cara dela. —

O que falaram quando acordaram?

Abaixei a cabeça.

— Eu não o esperei acordar — murmurei baixinho, com medo da sua


reação, que veio em forma de xingamentos, e fechei os olhos, cansada disso.

— Por que fez isso, sua maluca?! Podia pelo menos ter esperado se ia
rolar uma rapidinha pela manhã. — Lancei-lhe um olhar nada amigável,
escutando sua risadinha assanhada.

Cada uma pegou um dos s’mores e mordemos, caladas, com meus


pensamentos longe, sob o olhar atento de Hannah Parker, que parecia um
verdadeiro leãozinho pela manhã. Com os cabelos loiros soltos e revoltos em
volta do ombro, o rosto desprovido de qualquer maquiagem e ainda de pijama
vermelho e folgado.

— E sua mãe? Ainda naquela?

— Sim, ela pensa que dinheiro dá em árvore. Amber já disse que


tenho que me manter na linha, não ceder. — Dou os ombros. — Só que, às
vezes, realmente chego à conclusão que seria mais fácil ceder e pedir que
suma da minha vida até que precise novamente de dinheiro.

— Se você fizer isso, Alex, juro que dou na sua cara — resmunga,
chateada. — Sua mãe te suga, não tem controle sob as próprias finanças e

insiste em tirar seu dinheiro. Você é advogada, lutou para estar aqui e sabe
muito bem o certo e errado. Consegue ver que Laura te rouba na caradura.

Afundei no sofá.

— É minha mãe, Nana. Por mais terrível que ela seja. — O suspiro
veio dos lábios de Hannah. Como se compreendesse esse argumento, se
sentou ao meu lado, passando o braço ao redor dos meus ombros. — Estou
deprimida, me consola — choraminguei.
— Fiquei sabendo que quem transa com Sebastian Collins não tem
direito de ficar deprimida no dia seguinte. — Belisco sua barriga, como aviso

para calar a boca, antes que decida tirá-la do cargo de melhor amiga. — OK,
vou ficar quietinha. Prometo.

Escutei o interfone tocar alto e me virei rapidamente, tentando


entender o que estava acontecendo. A lembrança veio rapidamente ao ver
todas as roupas jogadas no chão em um caos completo. O sorriso estendeu-se
em meus lábios e me levantei, conferindo no banheiro para ver se minha
parceira da noite anterior ainda estava por ali. Saí do quarto e fui diretamente
atender o interfone que não parava de tocar.

— Oi.

— Bom dia, senhor Collins, estou ligando para perguntar se a


senhorita Johnson estava com o senhor. Ela saiu, há poucos instantes,
parecendo meio perturbada. Fiquei com medo de ter acontecido algo. — Era
Júlio, da segurança, um senhor de idade que estava sempre muito preocupado
com a segurança de todos.
— Sim, estávamos revisando alguns contratos. — Engulo em seco,
lembrando que tipo de revisão fizemos ao longo da noite. Ele ri, como se

entendesse, e logo finaliza a ligação.

Inspiro fundo, sabendo que nem precisarei procurar por ela, a minha
doce fugitiva já deve estar longe. Que pena, pensei, sorrindo de lado ao
lembrar do corpo branco leite curvado em baixo do meu, dando a visão do

quão prazeroso era tudo aquilo. Alexandra sempre foi uma mulher bonita,
desde que a conheci ao entrar na empresa, só a que a noite passada nem
poderia ser comparada. Foi fenomenal. No mínimo. E aposto que nesse
momento deve estar querendo se enfiar no buraco mais próximo. Enquanto
eu só penso em uma maneira de fazê-la voltar para minha cama.
— Mamãe, já disse que não tenho como te dar isso. Praticamente
impossível — falei novamente, cansada desta mesma conversa. Isso não é
nem o tipo de coisa que se pede a uma filha.

— Mas, Alex, você pode pedir um adiantamento, os Collins têm


muito dinheiro! — Lançei-lhe um olhar descontente, deixando claro que isso
estava completamente fora de cogitação.

— Não, não vou apenas porque você decidiu que precisa aumentar
seu maldito peito e fazer mais uma lipoaspiração. — Ela revirou os olhos.

— Já disse que não é para isso.

— Então para o que é?! — exclamei, colocando minha caneca em


cima do balcão, terminando de prender meus cabelos em um coque no alto da
cabeça. Ela me lançou um olhar curioso, diretamente para meu pescoço, e me
xinguei em pensamento ao lembrar que o lugar ainda estava meio roxo por
causa da noite de sexta-feira.

— Você está namorando, Alex? — indagou, fazendo menção de se


aproximar. Dei um passo atrás, colocando uma distância segura entre nós. —
Tem um chupão em seu pescoço.

Abaixo o braço, puxando o cachecol preto em direção ao local, para

cobrir de forma mais adequada, agradecendo ao destino por ter colocado um


dia chuvoso logo no início da semana, onde posso esconder isso com uma
peça de frio.

— Não, não estou namorando.

— Sexo casual? Sabe que na maior metade do tempo, você pode


acabar sozinha e com um filho para cuidar. — Rolei os olhos e peguei minha
bolsa sob o balcão. Deixei a cozinha, indignada com aquela conversa. — EI,
AINDA NÃO TERMINEI — me chamou, e me virei, parando no meio da

sala do meu apartamento

Encarei a mulher alta, com os cabelos escuros puxados em um coque


rígido no topo da cabeça, os lábios cheios graças ao preenchimento labial, os
peitos siliconados, que não faço ideia por que ela quer os aumentar ainda
mais, e as roupas de academia perfeitamente coladas ao corpo.

— Vai me contar para que quer tanto dinheiro? — Ela ficou


adoravelmente corada.
— É um novo tratamento que as famosas estão usando, Alex, sabe
que quanto mais o tempo passa, mais velha fico, e sabe o quanto isso me

deixa deprimida. Odeio me sentir uma fruta velha e apodrecida. — Fez


drama, e eu fechei os olhos. — Vai, filha, é só hoje, prometo que paro de
perseguir essa loucura pela juventude.

Juntou as mãos em forma de piedade e me virei novamente, sem me

abater, e abri a porta de saída, a deixando para trás. Onde já se viu! Será que
ela acreditava mesmo que eu trabalhava até tarde, em dois empregos, nunca
saía com meus amigos, estava há meses tentando arranjar um tempo para ver
minha irmã, para no fim das contas, dar dinheiro para besteira de tratamento
de beleza?!

Pelo amor de Deus. Se fosse para arrumar sua casa, alimentação,


coisas realmente úteis na vida de alguém, não pensaria duas vezes. Mas para
isso?! Nem morta.

Saí do elevador, mandando Hannah e Amber calarem a boca sobre o


acontecido na sexta-feira, por mensagem de texto, e sorri de lado, ao ver o
GIF que minha irmã enviou, claramente bem animada com a perspectiva de
alguém me tirando do eixo. Ela não gostou muito de quando comecei a
namorar Hunter, o chamava de sem emoção, já que sempre defini nosso
relacionamento como algo morno.

— Você se deu bem na sexta-feira, hein. — A voz de Carly me fez


levantar o olhar, dando de cara com seu olhar cheio de malícia. Caminho
rapidamente em direção à mulher, sentindo minhas bochechas vermelhas.

— Pelo amor de Deus, diga que só você sabe disso. — Ela riu.

— Tranquilo, menina, eu apenas vi você e o senhor Collins. Os outros


estavam muito bêbados para ficar em pé por conta própria. — A respiração
aliviada é tudo que consegui. — E aí, rolou algo?

Virei os olhos.

— Eu realmente não vou ficar discutindo isso no trabalho. — Pisquei,


entrando em meu escritório e a ouvindo resmungar algo sobre crianças bobas.
Encostei na parede, fechando os olhos e tentando me lembrar se havia alguma

reunião que incluía meu chefe. E só a ideia de estar na sua presença foi o
necessário para me fazer ficar tonta com a perspectiva de ser demitida, de
ficar envergonhada ou algo do tipo.

— Você tem uma reunião com todos os acionistas, e ele, às onze. —


A voz de Carly era baixa através da porta de madeira.

— Cancela minha presença, por favor. Acabei de lembrar que preciso


ir à uma reunião no meu escritório particular — dou uma desculpa. Fiquei
novamente de pé e abri a porta, vendo que minha secretária observava tudo

com demasiada atenção. Caminhei novamente em direção ao elevador e


entrei ao lado da moça morena atenta ao celular, indicando o térreo no painel.

No exato momento em que as portas do elevador estavam se


fechando, as do escritório de Sebastian se abriram. Seus olhos pareceram me

encontrar rapidamente, atraídos como um imã. Ele me analisou de cima a


baixo, arqueando a sobrancelha sugestivamente. Arquejei baixinho diante seu
olhar nem um pouco discreto.

Ah, merda. Isso ia dar muito ruim. Lembrei-me de todas as


mensagens e ligações deixadas em meu celular pelo homem de cabelos loiros
e olhos verdes, sabendo bem que não poderia fugir disso para sempre. Uma
hora, algo iria me prender no mesmo espaço que Sebastian Collins. Era disso
que tinha mais medo.

Eu sabia que teria que voltar para empresa, não era meu dia de
atendimento no escritório e assim fiz: na parte da tarde, voltei e cumpri com
todas as minhas atividades do dia, tomando cuidado para não sair da minha
sala e nem aceitar nenhuma reunião com o senhor Collins.
À tarde, não percebi o tempo passando. Entre um café e outro, notei
que já passavam das oito da noite. Pulei da cadeira, lembrando que havia

marcado de jantar com Hannah hoje. Guardei minhas coisas com cuidado,
fazendo a pulseira cheia de adereços cintilar. Nem sei por que havia
escolhido usá-la hoje, geralmente o fazia quando sentia falta de Amber ou
papai. Ela me lembrava muito os dois. Tinha um pingente de cavalo colocado

por Amber, uma de um lírio pequeno e um pincel. Todos eles relacionado às


pessoas que mais amava no mundo.

Sorri de lado, saí da sala e a tranquei. Retirei o celular do bolso ao


escutá-lo tocar alto. Vi o número de Hannah brilhando na tela e atendi,
colocando no alto-falante enquanto caminhava até o elevador, o pedindo e
esperando pacientemente.

— Posso saber onde a senhorita está?! Merda, Alex — reclamou.


Nana odiava atrasos.

— Desculpe, estou saindo da empresa. Não trabalhei pela manhã e


acabei acumulando algumas coisas — me desculpei, cansada e com medo do
que a maluca poderia fazer comigo devido ao atraso. Hannah Parker era
medonha.

— Estou te esperando. Pedi comida itali...

— Boa noite. — A voz me fez pular, só que não me virei, pois sua
mão cobriu o painel do elevador. Fiquei presa entre seu corpo e a parede,

sentindo o meu suar com a aproximação.

— Senhor Collins! — exclamei, o fazendo rir.

— Senhor Collins!? Sebastian? — a loira perguntou, e me lembrei


que a ligação ainda estava correndo.

— Eu mesmo...

Desliguei o celular, colocando em meu bolso quase em um tique


nervoso, sentindo minhas mãos suando. Ele deu um passo atrás e pude me
virar para encará-lo. Sebastian mantinha um olhar penetrante e me
perguntava se ele conseguia sentir o medo que estava no momento. As
lembranças corriam em minha mente.

— Você não foi a reunião — me acusou.

— Não, precisava ir ao meu escritório resolver algumas coisas. —

Cocei a nuca.

— Sim, mas tem um dia especifico para isso, certo?

Arqueei a sobrancelha. Ele estava procurando um motivo para me


demitir?!

— Não, na verdade, quando vim trabalhar no Grupo, avisei ao Arnold


que queria muito o cargo, mas que não podia fechar meu escritório por
algumas questões. Ele disse que poderia equilibrar os dois da forma que
achasse melhor. — Arrebitei o meu nariz que tanto Amber chamava de

atrevido. — E no fim, não ficou um só contrato ou compromisso pendente,


senhor Collins.

Ele abriu a boca, a fechando em seguida. Riu e inclinou-se para


frente, me fazendo inspirar seu perfume tentador. Maldito!

— Você fica bonita com esse nariz atrevido para cima — sussurrou.
— Só que a lembrança do meu corpo sob o seu é tentadora e só quero você
em baixo de mim. — Abri a boca, surpresa, dei um passo atrás e aproveitei
para entrar no elevador que aguardava.

Ele me seguiu.

— Você sobe, e eu desço, mais prático usar o elevador privado —


resmunguei.

— Não, vou acompanhá-la até o carro. Já que você ficou muda a


respeito do que aconteceu na noite de sexta.

Inspirei fundo.

— Não aconteceu nada demais sexta, Sebastian. Foi uma noite.


Podemos esquecer isso. Passou! — As palavras saíram dos meus lábios mais
rápidas que o planejado. Ele me lançou um olhar irritado, com os olhos claros
parecendo queimar de raiva.

— Você é uma dessas mulheres que saem dormindo com qualquer


cara?

Me encolhi.

— Não é uma ofensa, é um questionamento — esclareceu

— Não. — Arrebitei meu nariz. — Nem de sair gosto. Muito menos


beber. E com toda certeza, só fiz aquilo por causa da bebida. — Sebastian riu,
se inclinado em minha direção, e o elevador, de repente começa a ficar
apertado demais.

— Ah, sim, um copo de uísque deve ter feito mesmo todo aquele
estrago.

— Como sabe que não bebi outras doses antes de se sentar comigo na
mesa? — Arqueei a sobrancelha, observando seus lábios cheios. E o maldito

ficava ainda mais sexy conforme se aproximava.

O rosto oval, o nariz fino em cima e mais cheio em baixo, os cílios


longos como um véu sobre os olhos verdes, a barba por fazer e tudo mais era
uma combinação e tanto. Além do terno escuro que costumava combinar com
a gravata.

— Eu sei que não, senhorita Johnson.


— Bebemos muito também, depois. — expliquei, meio
desconcertada.

— Sim, aí nesse momento pode dizer que foi culpa exclusivamente da


bebida. Da mesma forma, sei que antes não havia álcool suficiente para não
se lembrar do que é certo e errado. — Sua boca estava sobre minha orelha,
mordiscando lentamente. Estremeci. Da cabeça aos pés sentia seu toque.

— Somos errados, Sebastian? — Minha voz tinha um tom atrevido.


Nem sei de onde ele vem.

— Oh, não, somos certos. Combinou profundamente. — Sua voz era


grave e baixa, e sua boca alcançou meu pescoço, retirando o maldito cachecol
que vesti pela manhã, beijando o local delicadamente. Suspirei, sentindo meu
corpo arrepiado e esquentando na medida que nossos corpos se tocavam.
Toques simples. Não precisava de muito no momento.

O elevador se abriu rapidamente.

A consciência caiu em mim e o empurrei para longe. Corri porta afora


e passei pelo guarda sem ao menos cumprimentar ou olhar para trás, sabendo
que se o fizesse, ele estaria com os olhos focados em mim, pois sentia minhas
costas queimando na medida que me afastava. Trabalhar com Sebastian
Collins, de agora em diante nunca mais seria a mesma coisa.
Semanas depois

— Merda, Alex. Vocês não usaram mesmo camisinha?! — Nana


exclamou, enquanto estava escorada na pia do banheiro do seu apartamento,
já que mamãe decidiu fazer do meu a sua morada e ponto de encontro de suas
amigas.

— Sim, eu lembro de ter usado na primeira vez. Depois bebemos

mais do que deveríamos e voltamos para a cama, essa parte é tudo um borrão.
— Balancei a cabeça, não querendo acreditar que realmente havia feito uma
burrada dessas.

Não usava mais anticoncepcional desde que havia rompido com


Hunter, e consequentemente na minha cabeça eu era antiquada demais para
aceitar um relacionamento casual ou apenas algo passageiro. Banal. Só que
eu havia feito, e a prova viva vinha sido dias de cão. Enjoos. Os atrasos da
minha querida amiga nada desejada.

Inspirei fundo e encarei os dois testes de gravidez sobre o vaso


sanitário, ouvindo o celular de Nana tocar algo e ela correr para a sala. Me
abaixei na frente do vaso e encarei o resultado estampado, o soluço de
nervosismo irrompeu minha boca, deixando claro que a vida estava
desmoronando neste exato momento.

Sempre quis ter um filho. Só que a vida sempre foi uma montanha-
russa e pensei que nunca chegaria a ter pelos meios normais, que acabaria por
adotar uma criança e cuidar com muito amor. Só que neste momento, sinto
todo meu corpo tenso, pois não estou apenas grávida, estou grávida do meu
chefe, com quem não tenho nada. E pior, com mais gente na concorrência do
que jogos de azar.

— E aí? — Ela retornou, guardando o celular no bolso da calça.

— Positivo. Os dois. — Ela sorriu de lado. — Qual a chance de ser


um erro, hein?

— Muito raro, mas sinceramente acho que, depois do quarto teste, já


não tem a mínima chance de ser realmente um erro. — Abaixei a cabeça,
encarando os outros dois, colocados no chão do banheiro. — Vai falar com
ele? Com Amber?

Engoli em seco.
— Primeiro, preciso de mais uma confirmação. — Encolhi os ombros,
me sentindo totalmente sem chão. — Sabe, um exame de sangue. Menos

chances de dar erros — balbuciei, vendo em seu olhar que ela não acreditava
em nenhuma palavra.

Se abaixou em minha frente.

— Estou tão feliz por ver você com um bebê no ventre. — Abri a
boca para protestar. — Alex, você fica aqui sozinha, eu não posso estar
sempre com você, você não sai com os amigos da empresa, sua mãe é uma
embuste e infelizmente Amber nunca abandonaria aquela fazenda para morar
com você.

— Posso viver sozinha muito bem — resmunguei, contrariada, a


fazendo rir.

— Eu sei bem disso, Senhora Independente, mas você se fecha muito.

Além do mais, vou amar ter um sobrinho. — Alisou meus cabelos, beijando
minha testa. — Vem, toma um banho e vamos ao consultório.

Dito isso, saiu do banheiro. Permaneci ali, sentada no chão, encarando


meu destino em dois testes. Um bebê. Ai meu Deus! Exclamei, em
pensamento tentando entender como iria chegar até Sebastian e dizer “oi,
tudo bem? Lembra do dia que transamos? Bem, tirando o fato que foi muito
bom e esquecemos de colocar a camisinha, está tudo bem. Vamos ser
papais!”

Pelo amor de Deus. Isso não tinha cabimento nenhum. Ainda tinha
Maggie, Hunter e Jenner, que em meio a tudo isso, estávamos juntos em um
emaranhado de encontros. Como iria aparecer grávida? Pior, do melhor
amigo do meu ex-namorado?

Essas ligações são, no mínimo, estranhas. Eu teria muitas histórias a


contar aos meus filhos. Sorri com a ideia, e um filme das últimas semanas
passou em minha mente rapidamente, o desastre que foi todas as reuniões ao
lado de Sebastian, que apesar de continuarmos sendo produtivos no trabalho,
ainda tinha aquela coisa de piadas de duplo sentido, uma atração que
constantemente me impulsionava a observá-lo mais do que o necessário. Mas
não me culpem, o homem é bonito demais para meu próprio bem.

— Cuida, Alexandra! — A voz de Hannah me fez pular de pé e correr


para o chuveiro. Retirei minha roupa o mais rápido que consegui e a joguei

sobre o vaso. Entrei embaixo do chuveiro ligado e deixei a água escorrer pelo
meu corpo. Encarei minha barriga plana e sorri de lado. Eu a toquei com
receio. Sem acreditar. Meu Deus. Uma parte de mim estava completamente
apavorada. A outra parte, começava a ficar ansiosa por cada momento a partir
de agora.

Sorri, sabendo que seria uma mãe muito melhor do que a que tive.
Que iria mostrar minha melhor versão apenas para ele. Ou ela.

— Posso saber o que é isso em sua bolsa? — Levantei o olhar do


notebook, dando de cara com mamãe segurando todos os malditos testes de
gravidez que enfiei lá dentro. — Você está grávida? Não tem juízo nenhum?

Isso vai deixar você velha, flácida e com mil e uma coisas para fazer!

Suspirei.

— Mamãe, tenho certeza que já sou grandinha o suficiente para


decidir algo do tipo. — Inspirei fundo e conferi o horário no relógio do
notebook, vendo que faltava pouco menos de uma hora para às oito da noite.
— Inclusive, eu fiz xixi nisso, acho que não é muito higiênico.

Fiz careta e ela bateu os testes com força no balcão da cozinha.

— Você vai tirar essa criança. — Abri a boca, chocada com as


palavras agressivas e completamente sem nexo dela. Nem pensar. Eu não iria
nem começar a explicar o porquê não iria tirar um bebê inocente da minha
vida.

— Não. — A minha voz foi firme, e ela quase ficou roxa de raiva.

— Ah, me dar dinheiro para uma necessidade é um caos mundial, mas


para enfrentar uma gravidez com toda certeza será a coisa mais fácil do

mundo — alfinetou, me fazendo arquear a sobrancelha.

— Sério mesmo que está comparando gravidez com um gasto de


beleza?! Eu juro que às vezes penso que você tem vento em vez de um
cérebro em bom funcionamento. Estou grávida, mamãe, e não vou tirar meu
filho apenas porque acha que vou ficar feia e flácida. — Dou os ombros. —

Pode dar a volta em sua ideia babaca que isso não vai acontecer —
resmunguei, fechando o notebook, e saí da cozinha. Viver em minha casa
estava se tornando o próprio inferno com ela em todos os lugares,
perturbando minha cabeça com suas ideias malucas.

— Aonde você vai?! — Me seguiu.

— Vou a um evento da empresa.

— Mas você odeia os eventos da empresa. — Sorri de lado com a

contestação.

— Sim, mas nos últimos tempos, tenho decidido comparecer a cada


um deles. Bem melhor que ficar em casa. — Pisquei e abri a porta do quarto,
seguindo para o banheiro, vendo que preciso correr se não quiser chegar
atrasada à confraternização que eles insistem em fazer a cada fim de mês.
— Você vai? Vai falar com ele? — Hannah tagarelou, ansiosa por
alguma notícia enquanto dirigia, com o celular conectado ao som do carro. —

Você está vestindo o quê? Espero que esteja pronta para desmaiar o Collins
de tanta beleza.

Revirei os olhos com o exagero em pessoa que era essa mulher.

— Aquele vermelho que compramos na última semana. — Ela bateu


palminhas. — Com batom vermelho e meus cabelos soltos.

— Ah, que maravilha. Ficou ótimo em você. Mas não me respondeu


se vai falar com ele hoje.

Suspirei.

— Não sei, Nana, vai ser praticamente impossível conseguir que ele
fique sozinho essa noite. Acho que devo esperar outro momento. Uma
ocasião mais calma para contar algo tão importante, sem falar no fato que

ainda não tenho o resultado do exame de sangue. — Ela resmungou algo


indecifrável.

— Não teve tempo de ir buscar?

— Não, foi corrido na empresa. Ainda passei no escritório no fim do


dia para uma reunião.

— Ótimo, amanhã pego seu exame e deixo com você no escritório. —


Sorri. — Amanhã você vai estar lá, né? O prédio da Collins é enorme e tem

muita gente. Sabe que fico tonta com isso.

Revirei os olhos.

— Logo você. A introspectiva.

Ela dá uma risadinha.

— Super! Te vejo amanhã, beijo. — Finalizamos a ligação e foquei


meus pensamentos apenas na estrada, vendo que estava mais próxima da
empresa, onde tem o salão de eventos no saguão e era ali que acontecia quase
todos os eventos. Entrei no estacionamento subterrâneo, conseguindo graças
aos deuses uma boa vaga e logo saí do veículo, segurando a bolsinha de mão
com meu celular e alguns itens de maquiagem.

Entrei na empresa caminhando em cima dos meus saltos altíssimos,


alisei meu vestido vermelho justo ao corpo, ordenei os fios rebeldes do meu

cabelo e observei algum movimento pelo saguão espaçoso de alguns


funcionários e pessoas convidadas. Segui pela porta, entrando no lugar
completamente decorado bem no estilo dos Collins.

As mesas redondas espalhadas por todo lugar, a banda tocando algo


lento, o bar servindo bebida livre e os convidados dançando livremente. Sorri
com a energia que o local me transmitiu e segui adentro, vendo Carly sentada
ao lado da mesa da família de Sebastian.
Estavam quase todos ali, menos Arnold. Neiva, Maggie, Hunter, os
gêmeos, que observavam tudo atentamente nos braços dos pais. Até mesmo

Jenner, Connor, Luna e Mash estavam ali. Pensei em ser uma péssima pessoa
e não ir até lá, cumprimenta-los, só que em um último momento, decidi ir,
sorrindo alegre, mascarando o nervosismo que se remexia dentro de mim.

— Boa noite. — Osouvi responder em quase um coro e aproveitei

para olhar ao redor, procurando por Sebastian, mas não o vi em lugar


nenhum, e agradeci baixinho. — Ai meu Deus, que coisa mais linda. — Me
abaixei em frente aos gêmeos, Melissa e Heitor, que mordiam as mãozinhas
atentos a tudo.

— Alex! Que bom que veio. — A voz de Jenner me fez sorrir. —


Temos que verificar alguns pontos daquele processo, certo?

Observei Mash nos braços da mãe, com uma expressão zangada,


emburrado em seu mundinho. Claramente o menino não era muito aberto a

relações.

— Como estão? Saudade, faz um tempão que não vou a Nova Jersey.
— Suspirei.

— Sim, esqueceu das pessoas — Hunter comenta, sorrindo aberto. O


que me é uma surpresa boa, o homem sempre foi meio introspectivo. Porém,
o casamento com Maggie o mudara completamente. A loira sorriu com as
palavras do marido.

— Sim, nem foi mais ver nós, titia. — Fez voz de bebê, colocando
Heitor em pé em seus braços. Era uma ótima turma, todos eles, e acabaram
por se formar uma nova família, de pais diferentes.

Jenner era casada com Connor, conheceu Hunter por causa do

trabalho e eles se apoiaram diante as coisas que aconteceram na vida dela.


Hunter é de Nova Iorque e por isso sempre conheceu os Collins. Desde a
adolescência, ele e Maggie tiveram algo, mas acabaram separados por quase
dez anos.

— Me dá, preciso beijar essas bochechinhas — pedi, com um olhar


pidão ao casal. Maggie riu e me entregou o garoto, beijei as bochechas com
cheirinho de bebê e ele logo grudou as mãozinhas pequenas em meu cabelo,
me fazendo rir e vi que aquilo poderia mesmo ser minha realidade daqui a
alguns meses. Neiva me observava com as crianças e senti que analisava cada

pedacinho meu.

— Você tem que visitar mais nós, Alex. Luna está dizendo que
quando não tinha todos esses bebês, você até levava chocolate. — Encarei a
garotinha, a maior de todos eles, com um enorme bico nos lábios rosadas.
Claramente, pegando o gênio ciumento do pai adotivo.

— Pegando os ciúmes do Connor, gente — zombei, fazendo a mesa


dar uma risadinha.

— Senta com agente, Alex, Sebastian não deve voltar por enquanto.
— Neiva bateu nas duas cadeiras livres ao seu lado e senti meu corpo ficar
tenso com o convite. Porém, olhei para Heitor e vi seu rostinho meigo me
encarando, com as bochechas enormes, o tufo de cabelo castanhos e desisti
de sair da mesa, me sentando em uma das cadeiras vagas.

— É só um pouquinho. Vamos fazer um rodizio de bebês, tia Alex


quer pegar todos. — Em breve você vai ter um só para você, meu
subconsciente gritou, me deixando claro que eu queria muito aquilo.

Passei alguns minutos conversando com todos, pegando Luna, Mash


— mesmo sob os protestos do garoto —, Melissa e novamente voltei para
Luna, que se sentou no meu colo e não saiu mais.

— Você está enorme, Luninha — brinquei, pincelando seu nariz

pequeno. — Lembro de como era pequena e rosada, parecia uma bonequinha.


— Jenner a adotou em uma fase complicada da sua vida, quando trabalhamos
juntas para tentar fazer a tia não perder a guarda da sobrinha. O que acabou
em injustiça e a garota sendo entregue a um abrigo. Tão pequenina.

— Sim, e eu quero chocolates. Mamãe disse que não pode, que é doce
— cochichou. — Minha tia Maggie aceita isso! — resmungou, cansada. —
Tio Hunter é o único que me ajuda a traficar alguns chocolatinhos ​—
resmungou, parecendo decepcionada com isso.

— Alexandra? — A voz de Sebastian me fez virar rapidamente, ainda


segurando Luna em meu colo. Engoli em seco ao vê-lo com o braço enlaçado
ao de Lídia Clark, que mantinha um sorriso meigo no rosto bem maquiado.

O meu sorriso sumiu automaticamente, e senti uma estranha sensação

de ciúmes dominar meu corpo. Merda, eu estava nervosa por vê-lo tão bonito
e sem fazer a menor ideia do que acontecia comigo.

Observei a mulher sentada a mesa na qual toda minha família e

amigos estavam, segurando Luna nos braços e senti meu corpo ficar tenso ao
ver o sorriso sumir e seus olhos vagarem para meu braço enlaçado ao de
Lídia, uma das pessoas mais constantes em minha vida nos últimos anos.

Alex engoliu em seco.

— Senhor Collins, boa noite — cumprimentou, muito formal para


alguém que já passou pela minha cama. Sei que a indiferença de Alexandra
Johnson me incomodava demais, e por esse motivo, ficava irritado quando se
tratava dessa diaba de olhos claros, lábios vermelhos e corpo curvilíneo.

— Meu Deus, quanta formalidade — Maggie, interviu, com um


sorriso faceiro. — Lídia, bom revê-la.

Olhou em direção à minha companhia, que sorria de lado.

— É sempre um prazer estar na companhia dos Collins — respondeu,


me olhando sugestivamente. Engoli a risada ao ver Alexandra revirar os
olhos disfarçadamente e abaixar a cabeça para falar algo no ouvido de Luna,
que pulou do seu colo. Ela se levantou em seguida.

— Vou pegar doces com a tia Alex — anunciou, fazendo Jenner abrir
a boca para repreende-la, mas quando viu, as duas já tinham se afastado
rapidamente, me fazendo rir leve com a cara da mulher, claramente indignada
com a filha.

— Essas crianças. — Ouvi mamãe dizer, rindo divertida. — Sente-se,


Lídia, tenho certeza que Sebastian vai pegar algo para você beber.

Ela piscou sugestivamente em minha direção e olhei em direção onde


Alexandra servia alguns doces à Luna, que parecia simplesmente no paraíso.
Suspirei e concordei com mamãe, me afastando. Passei pelo balcão das
bebidas, pedindo dois champanhes e vi a mulher rir e segurar o pedaço de
bem-casado para que a criança o mordesse.
Sorri e logo peguei as taças, caminhando em direção ao meu alvo.
Olhei ao redor para ver se não atraí nenhum olhar curioso. Parei ao lado de

Alexandra e da pequena garota, que me olhou com curiosidade.

— Ele é o tio Sebs? — disse meu apelido não tão amado, que me fez
sorrir de lado. Alex me olhou imediatamente, com os olhos azuis assustados.
Do que ela tinha de tanto medo?

— Sim, Luna, o chocolate está bom? — indaguei, a vendo morder a


bomba recheada de chocolate, manchando o rostinho de creme, deixando
claro que a mãe provavelmente a mataria por retornar toda suja a mesa.

— Muito bom — respondeu, com vozinha infantil, me fazendo rir.

Encarei Alexandra, observando o quão linda ela estava. Tudo parecia


ser uma perfeita combinação e senti meu coração dar um salto ao ver que
aquela mulher era simplesmente irresistível. Não sei o que havia entre nós.

Mas sabia que meu desejo por ela não tinha acabado em uma única noite e
sentia que precisava fazê-la entender que não podia simplesmente me deixar
de quatro por ela.

— Pretende guardar uma dança para mim hoje? — indaguei,


indicando a cabeça em direção ao salão já abarrotado de casais formados. Os
músicos tocam um jazz , causando uma incrível harmonia.

Ela corou, e mesmo empinando aquele nariz atrevido, parecendo


superior, sabia que a lembrança daquela sexta-feira passava em sua mente,
me fazendo sorrir de lado.

— Da última vez que dançamos — pareceu se engasgar, e vi Luna


correr pelo salão, retornando para a mesa, com Alex completamente distraída.
— Não terminou muito bem.

Cruzei os braços em frente ao corpo, mantendo meu sorriso. Sabendo


que minha reação divertida em relação a tudo a irrita.

— Em minha memória, não teria finalização melhor — alfinetei, a


fazendo rir leve. — Estranho mencionar isso, devido ao fato que você ignora
todos os meus avanços para falarmos sobre o que aconteceu.

Ela suspirou, parecendo deixar a máscara de frieza cobrir seu rosto


novamente.

— Não podemos fingir que aquilo é normal, Sebastian — rebate, e

quase me encolhi diante suas palavras. Era ferozes.

— Por que não? Não fizemos nada contra as leis, Alex, apenas
transamos, somos patrão e empregada, não vejo nada de estranho. O que de
mal pode haver nisso? — A vi revirar os olhos.

— Uma coisa é clara, Sebastian, eu não lutei a vida inteira, enfrentei


anos na universidade, ouvi coisas machistas sobre minhas conquistas, para
acabar sendo taxada da pessoa que dormiu com chefe apenas para ter
reconhecimento. — A mulher que eu conhecia se tornou ainda mais

valorizada em minha cabeça apenas pela voracidade que ela se defendeu. —


Porém, o fato de já ter dormido com você já me traz mais problemas do que
consigo pensar.

Franzi o cenho.

— Que problemas? — indaguei, e a vir rir baixo, como se estivesse


desacreditada. Em seguida, seu semblante se fechou, se tornando quase
obscuro.

— São coisas da minha cabeça, Sebastian, não se preocupe. — Sorriu


de lado e passou por mim, se distanciando. Com passos decididos, voltou a
mesa na qual sua secretária estava sentada junto de mais alguns sócios da
empresa.

Inspirei fundo, vendo a forma que o quadril bem delineado se mexia


com o vestido vermelho grudado ao corpo. E puta merda, Alexandra era
simplesmente a minha personificação de pecado. Talvez fosse o fato de ela
simplesmente não se importar em beijar o chão em que eu pisava, que a
tornava ainda mais bonita em minhas lentes. Só sabia que quando estávamos
sozinhos, sem nenhuma peça de roupa cobrindo nossos corpos, não havia
todo esse ar esnobe dela.
— Você não pode ficar assim, Alex. — A voz meiga de minha irmã
mais nova me trouxe novamente para o mundo real, encarando a mulher por
vídeo-chamada. Os cabelos escuros e brilhosos dela estão presos no alto da
cabeça em um coque bagunçado, a blusinha solta no corpo, deixando os
ombros a mostra era descolada, bem a cara de Amber.

— Cadê Helô?

— Brincando na casa da vizinha — comentou, mexendo na bacia na

qual fazia um bolo de chocolate. — Ela está doida para falar com você,
cobrar, pela milésima vez, uma visita sua.

Sorri.

— Vocês deveriam vir me visitar, agora nem sei como resolver meus
problemas mais breves. — Ela suspirou.

— Quando sua mãe for embora, iremos, sabe que ela não perde a
chance de atacar Heloisa. — Fechei os olhos, balançando a cabeça em
concordância, sabendo bem que dona Laura não deixava em paz nem mesmo

a vida de uma garotinha tão amável. — Estou tão feliz que vai ter um bebê!
— exclamou no exato momento em que a porta da minha sala se abriu, me
fazendo pular ao dar de cara com Carly, com a boca escancarada em um O
prefeito. Engoli em seco ao ver que acabei de jogar meu segredo na maior

fofoqueira desta empresa.

— Você está gravida?! — ela exclamou, colocando a mão na boca. O


suspiro saiu alto dos meus lábios e vi que Amber desligou a vídeo-chamada
rapidamente, sabendo que brigaria com ela por ter me entregue tão
facilmente.

— Sim, acabei de pegar o teste de sangue. — Balancei o papel entre


os dedos. — Vou ter um bebê. — Encolhi os ombros, vendo o olhar analítico
de Carly, que fechou a porta e caminhou em minha direção.

— É de Sebastian, né? — Abri a boca, fechei em seguida e tornei a


abrir, como um peixe fora d'água, sem saber o que fazia naquele momento.
— Eu sei que dormiram juntos, Alex. Os jovens de hoje em dia é um beijo e
pronto! Não se importam se será apenas uma noite.

Abaixei a cabeça, sentindo minhas bochechas coradas.

— Ah, mas isso não importa, você vai ter um bebê! — exclamou,
animada, parecendo até que havia ganhado na loteria. — Vai ser a coisa mais

linda, certeza, será que vai puxar a cor dos olhos do pai ou dos seus? Difícil,

hein. O cabelo vai ser castanho médio, certeza — tagarelou e eu apenas


afundei na cadeira, pensando seriamente em como seria me demitir antes que
a notícia se espalhasse pela empresa. Carly mexeu no celular rapidamente e
abri a boca para perguntar o que ela estava fazendo, mas antes que pudesse, a

secretária de Sebastian apareceu em minha porta, colocando a cabeça pelo


vão, respirando ofegante.

— Estava passando e recebi a notícia — explicou. — Alex, parabéns


pelo bebê! — Sorriu, alegre, e bati com a cabeça contra minha mesa de
trabalho. Em menos de meia hora eu já havia recebido metade do meu andar
para me parabenizar, neste momento, Susan estava parada em frente à minha
mesa com um sorrisinho.

— E quem é o pai? Você sempre teve um ótimo gosto para homens.

— Suspirei, tentando entender como havia entrado nesta fria. Primeiramente,


isso não estaria acontecendo se eu não tivesse caído nos encantos de
Sebastian.

Conhecia Susan da faculdade e ela sabia do meu breve histórico de


paqueras, apesar de que nunca foi algo sério, não passando de encontros
casuais. Pois no fim, tinha um imã para atrair babacas.
— Errr... — gaguejei, tentando formular uma ideia para falar sobre
quem era o pai... — Não pretendo contar agora, é uma pessoa um tanto

complicada.

Ela riu, jogando os cabelos ruivos para trás.

— Ah, pelo amor de Deus, nós nos conhecemos há muito tempo.

Posso saber quem é o pai do seu bebê. — Não, ela não podia. E sabia disso,
sabia que não tínhamos nenhuma interação ou laço forte o suficiente para que
essa informação saísse dos meus lábios.

A porta se abriu, pela milésima vez naquele mesmo dia, e Sebastian


colocou a cabeça para dentro.

— Atrapalho? — perguntou, com um sorriso leve. Balancei a cabeça


em negação, vendo o sorriso de Susan se tornar ainda maior. — Por que
parece que sua sala hoje virou ponto de encontro? Estou tentando vir aqui

sem que tenha dez dos meus funcionários há mais de três horas.

Afundei novamente na cadeira, não querendo nem responder aquele


questionamento.

— Ah! Sebastian, não ficou sabendo? — Engoli em seco diante a


indagação de Susan. — Alex vai ter um bebê! Não é incrível?! — Fechei os
olhos, sentindo todo meu corpo ficar tenso, e os olhos do homem sobre mim,
sabendo bem que vários questionamentos passavam em sua mente.
— Sério?! Que coisa boa, Alexandra, filhos parecem uma ótima coisa.
Além do fato que eles precisam de você para o resto da vida — brincou, me

fazendo abrir os olhos para encará-lo, que ele parecia meio perdido. Engoli
em seco. Seus olhos focavam os meus, e enquanto Susan falava sobre alguma
amiga que se tornou mãe e conta as peripécias do filho, só observava a
expressão desolada de Sebastian Collins, tentando entender o que acontecia.

Sebastian não parecia o cara que iria ficar extremamente feliz em ter
um filho agora, depois de ficar quase dez anos em um hospital psiquiátrico,
de estar finalmente retomando à vida, e estar no topo de uma das maiores
empresas dos Estados Unidos, buscando seus objetivos, na melhor idade para
mulheres.

Enquanto eu tinha quase tudo que desejei toda minha vida. Só que
mesmo assim, ainda não parecia o momento. Queria ao menos estar com a
pessoa que iria ser meu companheiro, só que minha descrença de que existia

um homem perfeito para mim era muito real agora.

— Estão me ouvindo? — A mulher interrompeu, me fazendo balançar


a cabeça e encará-la.

— Sim — concordo, meio desconexa. — Claro, o bebê.

Ela riu.

— Ah, querida, parabéns, vou deixá-la tratar de negócios com


Sebastian, preciso correr até minha casa. — Ótimo momento para ela lembrar
que precisava fazer algo, deixando-me sozinha com a pessoa que menos

queria no mundo. — Me envie os documentos, Collins.

Bateu gentilmente nas costas do loiro, que franziu o cenho e assentiu,


parecendo ainda mais desconcertado. A porta se fechou, deixando claro que
agora era apenas eu e ele. Seus olhos percorrem cada canto da minha sala,

passando pelas fotos da minha irmã e minha sobrinha. Engoliu em seco e em


seguida se fixou em mim.

— Então, você está gravida? — A pergunta era só um início para toda


uma série delas.

— Sim.

Senti meu corpo todo tenso, duro na cadeira macia.

— E é meu? — Me encarou, colocando as mãos sobre a mesa,

inclinando o corpo levemente para frente, fazendo o ar bater em seu corpo e


trazer seu perfume junto.

O cheiro veio contra meu olfato e meu estômago se revirou. Me


coloquei de pé rapidamente, com medo de vomitar ali mesmo, e segui
correndo para o banheiro do meu escritório, sentindo minhas pernas fracas.
Me vi desmoronar em frente ao vaso, colocando o pouco café da manhã para
fora, em frente ao meu chefe e pai do meu filho.
A única coisa que consegui detectar era que ele segurou meu cabelo
enquanto passava por aquela situação, no mínimo, vergonhosa. Amaldiçoei

todas as bebidas do mundo. E a mim, por ser tão fraca a elas.


Segurei seus cabelos enquanto batia levemente em suas costas,
tentando conter o desespero que se espalhava dentro de mim. Alexandra
balançou as mãos no ar, até encontrar meu peito e, com isso, me afastar,
pedindo espaço. Sorri de lado.

— Sai daqui. — A ouvi grunhir. — Isso é chato e nada elegante.

Revirei os olhos diante à besteira saída dos seus lábios e me abaixei


em suas costas, a ajudando a se levantar, sua pele ainda mais branca como
uma folha de papel de tão pálida que estava. Ela se encostou em mim,
parecendo cansada, e a vi suar.

— Não sei nem o que é pior — comentou com um sorrisinho. — Eu


ter dormido com meu chefe, estar grávida ou estar vomitando na frente do
cara com quem dormi. — Sorri, sentindo o cheiro do seu perfume. É
agridoce, exatamente como imaginava a mulher em minha frente. Ela parecia

frágil, calma, mas sabia bem que quando queria, podia fazer uma reviravolta
e tanto.

— Acho que estar grávida deve ser o mais preocupante — sussurrei


baixinho e a vi ficar tensa, saltando para frente e se apoiando no mármore da

pia enquanto abaixava a cabeça. — Vou perguntar novamente. É meu, Alex?


Não estou acusando de não ser, é que apenas foi uma noite, não sei se você
tem algum relacionamento fixo ou algo.

Ela me lançou um olhar nada amigável.

— Pelo amor de Deus. — Revirou os olhos, se aprumando


novamente, levantando os ombros como se aquilo a fizesse mais digna. —
Posso até fazer um maldito teste de DNA. Estava sem dormir com um cara há
mais tempo que consigo contar.

Sorri de lado.

— Quer dizer que fui sua exceção? — O sorrisinho safado a deixava


ainda mais irritada. Seus olhos azuis ficaram algumas tonalidades mais
escuras.

— Sebastian, eu tenho problemas mais importantes para resolver além


do fato se você é ou não ou exceção. — Sorri, me lembrando de como ela
estava bonita na festa da noite anterior, de como quis apenas segui-la pelo
salão, sabendo que me mandaria para puta que pariu em cada mísera

oportunidade.

Merda, Sebastian. Você tem que ter foco. Um filho! Um bendito filho.

Não era um bom momento para arrumar uma dor de cabeça do tipo,

eu tinha muitas responsabilidades no Grupo Collins, e sabia que dependia de


mim que tudo fosse muito bem-sucedido. Minha cabeça chegava a girar na
medida em que pensava que em alguns meses poderia ter toda minha
realidade alterada. A perspectiva de que eu poderia não ser um bom pai me
tirava do eixo.

Senhor Arnold Collins não foi lá o pai mais exemplar do mundo. Ele
tirou o chão de Maggie, a deixando à própria sorte ainda aos dezessete, me
enfiou em um hospital psiquiátrico pelo puro medo de que eu estragasse o
status tão imaculado da família.

— Eu não posso ser pai, Alex — murmurei, cansado. — Não vou ser
um bom pai.

Ela fechou os olhos.

— Você realmente está me pedindo isso, Sebastian? Sério mesmo?


Acha que tirá-lo vai te poupar de ser um pai ruim? — Sabia que não. Eu
continuaria sendo um péssimo pai, só que pelo menos, não teria como ver a
comprovação disso todos os dias.

— Sinto que se for até o fim com isso, veria todos os dias a
confirmação de que sou um péssimo pai! E odeio pensar nisso. — Ela se
encolheu, passando o braço em volta da cintura.

— Eu não estou pedindo que o assuma, seu babaca! — exclamou,

com os olhos cheios de lágrimas contidas. — Apenas para que saiba, vou
fazer o maldito exame de DNA, para quando ver os fatos, você ter a certeza
todos os dias que vai ser um péssimo pai se continuar com esse pensamento
pequeno.

Seu corpo altivo bateu contra o meu em uma afronta silenciosa e ela
saiu do banheiro. A porta do escritório se fechou com um baque e inspirei
fundo, fechando os olhos ao perceber que acabei de fazer uma enorme merda.

Merda. Merda. Merda.

Eu não poderia ter focado no fato que precisava de um DNA, mesmo


que acreditasse nela. Aparecer com um filho do nada, sem nenhuma
namorada fixa, para minha família seria no mínimo suspeito. Ainda mais
quando se tratava de Neiva e Arnold Collins.
— Você vai ser pai?! — Meu melhor amigo exclamou, se sentando no
bar do meu apartamento. Servindo-se de uma dose generosa de rum, bebeu

boa parte em apenas um gole. — Quando isso aconteceu? Com quem?

Revirei os olhos.

— Desde quando se tornou tão fofoqueiro? Você não era assim, só

pode ser influência de Maggie. — Ele riu.

— Fofoqueiro seria você, que veio correndo me contar. Estou apenas


analisando a situação, como todo mundo faz. — Ele deu os ombros. —
Maggie sempre fala: “Ouça tudo, analise tudo, para poder me contar depois.”

Suspirei.

— Virou pau-mandado com o casamento, claramente. — Ele riu. — E


respondendo a sua pergunta, foi há alguns dias. Maldito seja o álcool, por
culpa dele esqueci a maldição da camisinha.

— Sim, seu babaca, já pensou se pega alguma doença?! — Ele não


me poupou do tapa despejado em minha cabeça, me fazendo revirar os olhos.

— Você tem alguma doença? — indaguei, sugestivamente,


lembrando de que Hunter e Alexandra já namoraram, não que eu gostasse
dessa situação estranha, mas a verdade é que não posso ignorar os fatos que
se esfregavam em minha cara.
— Não, graças a Deus meu único deslize em relação a camisinha foi o
que geraram os gêmeos. — Sorri com isso.

— Bom, isso é bom. — Ele arqueou a sobrancelha sugestivamente.

— Vai me contar qual modelo de biquíni você escolheu para


engravidar? — A ironia em sua voz me deixava irritado.

— Não é uma modelo.

— É Susan? Lídia? — chutou, e revirei os olhos. — Lembro que


Susan vivia dando em cima de você, Lídia claramente se casaria com você se
tivesse oportunidade.

Sorri.

— Nenhuma das duas, graças ao meu bom Deus. — Fechei os olhos.


— Só que eu fiz uma bobagem.

Ouvi Hunter colocar o copo de bebida sobre o balcão de ferro.

— O quê?!

Olha ele analisando a situação, o novo serviço público por Hunter


Cooper.

— Eu praticamente pedi que ela tirasse o bebê. — Ele engasgou,


completamente fora do eixo.
— Como assim, caralho?! Como você pede uma merda dessa? — A
exclamação do meu melhor amigo era a certeza de que eu realmente fiz

merda demais e que vou precisar ralar muito para conseguir consertar ao
menos um pouco disso.

— Eu pedi, eu fiquei desesperado pelo bebê e disse que não poderia


ser pai. Ela entendeu exatamente o que eu queria dizer em palavras claras e

reais: tire o bebê. E agora, me sinto sufocado só com a ideia de fazer algo do
tipo. Caralho. — Abri os olhos, encarando Hunter, que mantinha uma
expressão irritada.

— Cara, minha vontade neste momento é de apenas arrebentar sua


cara. — Foram suas únicas palavras, me fazendo rir e beber um pouco do
rum que ele me serviu.

— Tranquilo, amigo, eu estou com a mesma vontade.

— E quem é a garota? Tadinha, Maggie saber disso vai correr até ela
e consola-la. — Tinha quase certeza que consolo não era exatamente o que
Alex queria, ela precisava do meu apoio neste momento. E eu, como um filho
da puta de marca maior, não o fiz.

— Isso você não vai saber — resmunguei, chateado por ter perdido
meu melhor amigo para minha irmã. Ele virou cachorrinho dela! — E além
do mais, Maggie não pode ficar sabendo disso. — Fui enfático ao falar.
Hunter fez uma careta e revirou os olhos, como se estivesse pedindo algo

impossível.

Vir visitar papai não deveria ser uma merda, mas para mim era.
Sempre nos demos muito bem e eu estaria mentindo se dissesse que não o

amo ou não o admiro como profissional, mas como pai e pessoa, não tenho
tanto o que dizer, na verdade, parte de mim ainda estava presa a uma mágoa
passada.

O que era particularmente uma merda completa.

Abri a porta, vendo que ele assistia algo no tablet fixado ao suporte ao
lado da cama. Não que ele tivesse tido algum avanço. Meu pai mexia as
mãos, os pés, falava quando tinha coragem. Só que parecia mais um estado
vegetativo porque nada melhorava além daquilo.

— Sebs... — o ouvi falar, meio baixo, com um sorriso repuxando os


lábios. —Meu menino.

As lembranças da minha infância vieram: mamãe, ele e Maggie


sentados no parque que ficava na rua da nossa casa, papai me chamando de
meu menino enquanto me ensinava a conduzir uma bicicleta, com toda a
calma do mundo. Isso preencheu meus olhos de lágrimas e meu coração, de
saudade.

— Papai — sussurrei, me sentando ao lado da cama e segurando sua


mão, vendo que era um documentário atual que passava no tablet. — Como
você está? — Só de vê-lo, era capaz de responder minha própria pergunta.
Péssimo, no mínimo.

— Vou bem, meu garoto, fico feliz em vê-lo. Sua mãe tagare... —
Uma crise de tosse apoderou do seu corpo, o fazendo se curvar. Fechei os
olhos e esperei a situação voltar ao controle e ele se sentir à vontade para
falar novamente. — Tagarelou sobre como estão vivendo suas vidas.
Saudades dos meus gêmeos já, e nem faz um dia que eu os vi.

Sorri.

— Os gêmeos estão cada dia mais lindos, mesmo. Heitor e Mel. —


Ele sorriu, bobo, encostado nos travesseiros. — E eu tenho uma coisa para

falar também. — Olhou em minha direção.

— O que é, filho? — suspirou, cansado.

— Fiz uma bobagem imensa. — Engoli em seco. — Aí, tentei


consertar e fiz novamente uma outra bobagem.

Ele riu.

— Acho que isso está no sangue da família. Escolhas ruins. Sua tia.
Eu. E uma hora ou outra, nossos filhos. — Sorri com a menção da tia Karla,

em memória apenas, depois de muito sofrer nas mãos de um péssimo marido.

— Mas o que aconteceu?

— Eu vou ser pai. Se a garota não tiver seguido o conselho que dei e
foi procurar uma clínica de aborto. — Papai engoliu em seco e fez uma
careta, com toda certa não gostando de esboçar apenas isso. — Estou

morrendo de medo disso. De ser pai. Não sei se vou ser um bom para meu
filho.

Ele riu.

— Queria estar um pouco melhor para bater em você, Sebastian. —


Sorri de lado. — Primeiro, acho que você deve ir aonde essa garota está e
deixar claro que tudo que falou era um equívoco, que você não quis dizer isso
e que vão, sim, ter esse filho. O meu neto, não toque nos netos de um velho
que está entre a vida e a morte — resmungou e ri, a contragosto.

— E eu acho mesmo que você só vai ser um mal pai se continuar com
esse pensamento de que tirá-lo seria melhor. Vai ser um mal pai e ainda sem
um bebê. — Engoli em seco. — Você, Sebastian, é mais homem do que um
dia fui. Passou todos aqueles anos naquele local, por uma burrice minha,
sobreviveu àquele inferno, àqueles remédios, e hoje, está à frente da nossa
empresa. Tudo que vejo são resultados positivos.
— Isso não diz que vou ser um bom pai, papai. — Revirei os olhos.

— Me deixe falar, garoto — resmungou, contrariado. — Você


realmente acha que um homem de mal coração perdoaria um pai tão ruim ao
ponto de vir vê-lo entre a vida e a morte? Realmente acha que seria tão gentil
com as pessoas, tão amado por elas, se fosse realmente uma pessoa ruim?

Fechei os olhos e não respondi. Eu realmente achava que sim. A


escuridão que a solidão deixou em meu ser não havia se espalhado para o
meu exterior, mas isso não significava que não existisse.

— Quem é a garota?

— Alexandra Johnson — respondi, baixinho, o fazendo rir alto,


parando em seguida para colocar a mão sob a barriga, como se sentisse dor.
— Está tudo bem, papai?

— Eu sabia que os olhos azuis daquela mulher o fariam se perder —

brincou, não respondendo a minha pergunta, como se ela não houvesse


existido. Inspirei fundo, ainda pensando em como falaria com ela, sabendo
que no momento, Alex não queria me ver nem pintado de ouro. — A menina
Johnson é uma boa escolha, querido. Será uma esposa incrível quando
encontrar o homem correto.

Fiz careta. Não queria que ela encontrasse o maldito homem correto,
parecia simples demais.
Caminhei pelo corredor extenso, discando em meu celular o número
de Alexandra, sabendo bem que a possibilidade de não me atender era
enorme, mas mesmo assim, liguei. Chamou, chamou e cheguei a pensar que
estava maluco ao ouvir o celular tocando próximo, mas deveria estar

imaginando coisas, com toda certeza.

— Atende. — O resmungo irônico me fez levantar o olhar, dando de


cara com uma loira com as vestes azuis do hospital, caminhando ao lado de
Alexandra, que negou com a cabeça, desligando minha chamada.

— Não — respondeu taxativa, colocando o celular no bolso da calça


jeans que colava em suas curvas muito bem. Paro no corredor, observando as
duas cochichar baixinho, claramente discutindo entre si.

— Boa noite — falei, parando em frente as duas. Alex foi a primeira

virar o rosto, abrindo a boca chocada ao me ver aqui. — Tudo bem, Alex?
Queria mesmo falar com você.

A risadinha irônica vem da loira.

— Sebastian!? — falou, ao ver que a amiga não faria menção de se


mexer.
— Sim... você, quem é? — Arqueei a sobrancelha para a jovem
mulher de cabelos loiros presos em um coque, o rosto oval, o nariz fino e os

lábios pintados levemente de rosa.

— Sou Hannah Parker, melhor amiga de Alex. É um prazer ver o pai


do meu sobrinho. — Estendeu a mão, tagarelando sem parar. Alex interveio,
se aproximando:

— Acho que você havia dito que precisava voltar ao consultório. — A


loira bufou, contrariada. Afastando-se, abanou a mão em um tchauzinho
animado. Alex se voltou parra mim, e eu observei seu rosto sem nenhuma
maquiagem.

Geralmente, quando nos encontrávamos na empresa, ela sempre


estava maquiada, com aquele batom vermelho maravilhoso que é
praticamente sua marca registrada. Inspirei fundo e observei as roupas
simples, a blusa folgada no corpo e os chinelos de dedo, claramente estava

bem à vontade. E muito bonita.

— O que faz aqui, Sebastian? — indagou, com desconfiança.

— Papai está internado aqui. — expliquei, a vendo balançar a cabeça


em concordância. — E você?

— Vim falar com Nana. — explicou, e deduzi que Nana era a moça
loira. — Preciso ir.
Deu um passo para o lado, passando por mim, porém, não a deixei ir
longe e a segurei pelo braço, puxando o corpo em minha direção. Alexandra

não era pequena, na verdade, era bem alta, então não era uma dificuldade
ficar cara a cara comigo. Os olhos azuis estavam assustados e brevemente
nublados. Senti meu corpo esquentando com a forma que parecia que nossos
corpos se conheciam e se encaixam perfeitamente.

E maldição, eu ainda queria essa mulher. Mesmo que estivesse puta


da vida comigo e que parecesse uma pedra de gelo enquanto tentava fazê-la
ver que éramos bons juntos. Bom demais para ser verdade.

— Só posso coletar o exame de DNA acima de oito semanas. Essa


será a clínica que irei fazer. Assim que coletar, te aviso para que faça o
mesmo. — Senti-a se afastar. Como se saísse de um transe, colocou um
cartão em minha mão. — Se tiver interesse em saber se é seu ou não, para
alívio de consciência. — Piscou, deu meia-volta e saiu do hospital.

Permaneci parado ali, em choque com o que tinha acabado de


acontecer. Ela simplesmente parecia sentir nada quando estávamos juntos e
isso era quase tão irritante quanto o maldito teste de DNA.
Quatro semanas depois

Quatro semanas de cão, isso podia resumir bem. A tensão no


escritório estava quase palpável e sentia que se continuasse assim, eu
enlouqueceria ou Alexandra se demitiria. Entretanto, respeitei seu espaço,
sabendo que não poderia fazer muito enquanto não fizesse o maldito DNA.

Quando recebi uma mensagem dela avisando que já havia feito a

coleta, não esperei duas vezes, pois mesmo achando uma bobagem, fui até a
clínica que Alexandra me deu o cartão, fiz a coleta do material para o exame
e fui embora, sabendo que não precisava de nada daquilo.

O bebê era meu, algo me dizia isso, e apesar do medo, faria de tudo
para que chegasse bem ao mundo e que iluminasse tudo ao meu redor.

Já havia contestado a paternidade, porém isso serviria para explicar a


qualquer pessoa da minha família que desconfiasse da situação. Havia

colocado em risco seu nascimento e já bastava de erros.

Não me sentia preparado, mas iria fazer de tudo para estar.

Inspirei fundo, entrando em casa, morto de cansado, mas paralisei no


lugar ao ver Susan sentada em um dos enormes sofás da sala de estar,

vestindo um modelo de vestido extravagante, que deixava o corpo bem


marcado, com os cabelos ruivos jogados ao lado no ombro. A mulher era
puramente sexual, tudo nela gritava desejo. E isso me deixava receoso em
ficar muito à vontade com ela.

— Susan? Aconteceu algo? — Foi a primeira coisa que perguntei,


colocando meu celular e carteira sobre o balcão da ilha que separava a
cozinha e a sala de estar. Ela se levantou, vindo até mim.

— Sim, pensei que poderíamos sair para beber, comemorar. — Franzi

o cenho, sem conseguir entender uma só palavra.

— Comemorar o quê? É meio da semana, não posso sair bebendo


porque tenho que trabalhar amanhã. — Diga-se de passagem que isso nunca
foi um problema, mas Susan não precisava saber.

— Nossa, assim vou ficar magoada. Estou comemorando o contrato


que assinei com uma nova empresa, é um negócio grande, pensei que ficaria
feliz por mim. — Me alcançou, segurando meus ombros. O perfume era
chamativo, totalmente diferente do que me atrairia em uma mulher.

Dei um passo atrás.

— Posso sair com você, mas não posso ficar muito, tenho que
resolver alguns assuntos. — Ela sorriu, batendo palmas, parecendo mais
animada do que deveria, fazendo o suspiro sair pesado dos meus lábios.

Susan tagarelou por todo o caminho que fiz de volta ao saguão do


prédio onde estava instalado, tanto a empresa quanto meu apartamento. Não
gostava muito de viver aqui, não parecia um lar, apesar de ter tudo que uma
pessoa poderia querer.

— Essa cobertura é um sonho. — A ouvi dizer. — Olha, fica em um


dos melhores bairros de Nova Iorque e por cima, é quase como estar no topo
do mundo. — Sorri de lado, abrindo a porta de passageiro para que ela
entrasse. A vi se acomodar e segui para o lado do motorista, arrancando o

carro, sem dar espaço para muita conversa. Apenas a ouvi falar e concordei
em momentos estratégicos, sabendo que meus pensamentos estavam longe.
Em uma mulher. E no meu destino.

— Sabe, estou muito curiosa para quando Alexandra tiver que admitir
que não tem nenhum namorado e que ficou grávida de uma noitada qualquer.
— As palavras me travaram, e senti meu corpo tenso só com a menção, como
se ela lesse meus pensamentos.
— Por que acha isso?

Susan riu.

— É obvio, Sebastian. Quando uma mulher fica grávida, não tem um


namorado fixo e simplesmente aparece assim, não querendo falar quem é o
pai do bebê, é porque nem ela mesmo tem o nome do indivíduo. — Deu de

ombros. — Sempre soube que seria assim, a mãe dela sempre foi meio
perdida mesmo, o pai teve uma filha fora do casamento.

Engoli em seco, tentando, contra a minha vontade, não dizer que ela
tinha o nome sim, e era eu! Mas sabia que Alexandra já estava brava o
suficiente para eu jogar nossos segredos no vento e ter que aguentar sua fúria
depois.

— Sinceramente, Susan — comecei, como quem não quer nada. —


Acho seu pensamento pequeno para uma mulher tão jovem, bonita e

inteligente. Uma mulher pode, sim, sair e se divertir, certo? Direitos iguais. E
se algo acontecer, ela é independente o suficiente para tomar suas próprias
decisões.

Ela fez menção de falar algo, mas logo se calou, olhando em direção à
janela do carro, deixando claro que a conversa estava encerrada. Respirei
aliviado com isso, tendo a certeza que em breve ela entenderia meu pulo em
defesa de Alexandra, já que não pretendo deixar essa situação no escuro por
muito tempo. Uma hora o bebê vai nascer e precisaremos apresentá-lo para o

mundo. Em relação a Alex ser minha funcionária e todos os boatos que irão

correr sobre isso, não me importava.

Nem um pouco.

Quando a clínica ligou dias depois, dizendo que o resultado estava


pronto, não hesitei em ir buscar, corajosa sobre o resultado pois sabia
exatamente o que acontecia em minha vida. Confesso que tentava não me
importar com o fato de Sebastian realmente ter ido fazê-lo, sinal que ele

acreditava que eu poderia estar tentando dar um golpe ou algo do tipo.

Eu realmente ia pela pior hipótese.

— Vamos? Vou com você na casa dele, só para garantir que não vai
desviar do caminho. — Revirei os olhos para Hannah, sentada no banco de
carona do meu carro, meio grogue do sonho que o plantão deixou.

— Você deveria ir para casa, sabe que está meio bêbada a esse
horário, não consegue nem andar direito. — Ela bufou, contrariada.

— Para de coisa e me leva logo. — Suspirei e liguei o carro, dirigindo


em direção à empresa, sabendo que poderia não encontrar Sebastian na
cobertura e estaria livre de ter que passar pelo constrangimento de ter que
fazer isso com Hannah.

Só que no exato momento em que estacionei e perguntei ao guarda se


havia alguém na cobertura, ele disse que sim, para minha infelicidade.

— Você fica aí, eu vou lá. Não saia do carro em hipótese nenhuma.
Vai ser rápido. — Ela arqueou a sobrancelha ao me ver pegar minha bolsa e
conferir que o exame estava lá dentro. Nem abri, apenas por ter certeza
demais para fazê-lo.

— Se vocês resolverem matar a saudade, avisa que eu vou embora. —


Revirei os olhos e bati a porta do carro com mais força que o necessário,

caminhando em direção a entrada da empresa e pedi autorização para entrar,


sentindo minhas mãos suando e meu coração batendo tão rápido como se
fosse sair pela boca.

Eu nem sabia por que estava tão nervosa.

Entrei no elevador e pressionei o dedo contra o botão que me levaria à


cobertura, sabendo que Sebastian poderia estar com alguém e que meus
planos seriam fracassados em terminar isso logo. Queria muito que ele não
houvesse pedido para tirar o bebê, porém, sentia um certo alívio nisso. Saber
que Sebastian não fazia questão em ser pai era a parte boa. Eu poderia ir para

qualquer lugar do mundo, cuidar da pequena vida que crescia dentro de mim
e tudo ficaria bem.

Ele não se importava em não ter um herdeiro. Maggie já havia


garantido dois aos Collins. Eu não me importava com meu filho não ter um

pai presente, apesar de saber a importância de ter uma boa figura paterna.

Porém, eu poderia ser o suficiente para ambos. O elevador finalmente


se abriu, revelando o apartamento na qual me lembrava brevemente da manhã
que saí correndo daqui. E lá estava eu novamente, voltando ao mesmo ponto,
em uma situação completamente diferente.

— Sebastian? — o chamei, caminhando pela sala de estar enorme,


vendo parcialmente a cozinha dividida por um balcão, que sustentava ainda
os copos e utensílios usados no café da manhã.

— Alex? — Pulei de susto, me virando rapidamente, e vi Hunter abrir


as duas portas de correr, com uma expressão confusa no rosto. — O que faz
aqui? — Engoli em seco, me xingando mentalmente por esquecer o fato de
que Hunter e Maggie ainda estavam em Nova Iorque.

Forcei um sorriso.

— Preciso falar com Sebastian, ele está? — Senti minhas bochechas


esquentando à medida que Hunter me fitava da cabeça aos pés, tentando
decidir o que eu fazia ali.

— Ele está no banho. Sente-se, quer beber alguma coisa? — indagou,


abandonando a porta da qual saiu e vi que o interior se tratava de uma sala de
jogos. Inspirei fundo, sentindo minhas mãos suando.

— Uma água seria ótimo. — Ele me lançou um olhar desconfiado.

— Tem certeza? Nem uma bebida? Parece meio pálida.

— Não costumo beber, sabe disso. — Ele deu os ombros, no exato


momento em que ouvi passos atrás de nós, me fazendo virar rapidamente,
vendo que Sebastian tinha apenas um calção de moletom colado na cintura,
que incrivelmente deixava à mostra a protuberância. Engoli em seco e piquei
ao subir o olhar e ver que o homem enxugava os cabelos com a toalha branca,
lentamente, parecendo alheio à minha presença.

Senti minha garganta secar ao ver o abdome definido e magro, na


mesma medida. Nada exagerado. A lembrança do meu corpo sentado a cama,
passando os lábios sobre cada parte da pele bronzeada bateu de frente e me
obriguei a balançar a cabeça, querendo afastar isso a todo custo.

Olhei para Hunter, que estava distraído colocando a água dentro do


copo, e me levantei, me sentindo meio tonta.
— Sebastian ​— o chamei, atraindo sua atenção.

— Alexandra! — Ele sorriu, aberto, não parecendo notar a situação


crítica na qual se instaurou entre nós. Engoli em seco novamente e agradeci
quando Hunter me entregou o copo com água. — Queria falar comigo? —
Notou meu desconforto.

— Sim, trouxe aqueles contratos para você assinar. — Balancei


minha bolsa. — Mas vou precisar de sua atenção por alguns minutos a mais.
Encontrei algo neles que talvez lhe agrade. — Floreei a ideia, tentando passar
a informação que precisava falar com ele sem o olhar analítico de Hunter.

— Vou deixar vocês resolverem isso, irei buscar Maggie no hospital.


Você cuida dos gêmeos, Sebastian? — Meu amigo perguntou, me fazendo
encará-lo e vendo-o sorrir de forma quase traquina. Sabia que tinha entendido
de que havia algo mais do que um simples contrato.

Sorri, agradecida, sabendo que, apesar de não estarmos mais


namorando, era feliz por ele ter seguido sua vida com quem realmente amava.
Éramos amigos bem antes de engatarmos em um namoro.

— Tranquilo, dou conta dos monstrinhos. — Sebastian brincou, me


fazendo encará-lo. Hunter pegou a chave do carro sobre a bancada e saiu
rapidamente pelo elevador. Quando a caixa de ferro finalmente fechou em
suas costas, respirei aliviada. — Ele provavelmente percebeu algo, Hunter
não é bobo.

— Ele sabe, certeza. — Concordei, deixei o copo de água em cima da


mesinha de centro, abri a bolsa e retirei o envelope de dentro de dentro dela.
Encarei o exame lacrado com uma sensação de medo indescritível. E se
Sebastian tivesse um lapso de consciência e quisesse participar da vida do
bebê? Meu Deus, isso deveria ser algo que eu desejava, mas tinha medo.

Minha carreira sendo associada a um homem e todo meu esforço


sendo banalizado dessa forma me tirariam o chão. Sem falar que Laura sairia
triunfante em tudo que me dissera no passado. E Robert, um ex-namorado na
qual não gostava nem de mencionar, teria razão.

— Aqui está o resultado. — Me virei para ele, vendo que o homem


me observava atento, com a toalha pendurada no pescoço, os cabelos
molhados caindo levemente sobre a testa.

Estiquei o envelope e o vi analisar com calma.

— Por que você não abriu? — Engoli em seco, encolhendo os


ombros.

— Te falei que não havia ninguém na minha vida. Eu conheço minha


história. — Ele franziu o cenho. — E não faz sentido você ter ido até lá, fazer
o exame, enquanto disse que não quer ter um filho. — Joguei as palavras,
tentando ver se ele colocaria na mesa sua intenção.
Suas mãos seguraram o envelope e o vi fazer menção para abrir, sem
responder minha pergunta, sinal claro que não havia mudado de opinião. Ao

mesmo tempo que isso me consolou, afundou meu coração.

Meu filho não teria um pai como eu tive.

— Não abre. — O impedi, tocando sua mão rapidamente, e ele me

encarou. Peguei minha bolsa e sorri de lado. — Eu estou indo. Nos vemos
amanhã, senhor Collins.

Sorri de lado, caminhando para longe dele, não querendo ver sua
reação ao confirmar que a pequena criança que crescia em meu ventre era
sua. Não queria vê-lo tentado a mudar de ideia. Ou rejeitá-lo.

A questão certa era que eu estava confusa, concluí, entrando no


elevador. Ao mesmo tempo que queria que Sebastian fosse homem o
suficiente para ser pai deste bebê, não queria isso, sabendo que afundaria meu

futuro. Porém, uma parte de mim estava magoada e brava por ele querer um
teste de DNA e ainda fazer menção a um aborto.

Eu era uma bagunça completa, foi uma constatação que fiz ao ver a
porta do elevador se fechar. Deixei minhas pernas cederem e me sentei sobre
meus calcanhares, enquanto a caixa de ferro descia, parecendo afundar junto
o meu coração.
Encarei as informações confusas do teste, sentindo um enjoo vir à
boca. Com os resultados ali compostos, o bebê já avançava para a nona
semana de gestação e eu nem lembrava que já havia se passado tanto tempo.
Não havia dúvidas que os últimos dois meses e meio se passaram como o
vento. Também, com a empresa, família e mil e uma reuniões no dia, não era
difícil perder-se com as datas.

Porém, ali naquele papel, havia algo bem maior do que um simples
teste de DNA. Era a confirmação de que algo em minha vida mudaria para
sempre. A paternidade nunca tinha me assustado como agora. Talvez a ideia
de ser como meu pai era perturbadora demais para ser enfrentada facilmente.

Me joguei no sofá, mas não aproveitei nem um segundo da superfície


macia, ouvindo a babá-eletrônica apitar, anunciando que um dos gêmeos
havia acordado. Levantei depressa, correndo pelo pequeno corredor ao lado
da sala de jogos, que me levava diretamente aos dois quartos de hóspedes nos
quais Maggie e Hunter estavam.

Entrei no primeiro quarto, vendo Melissa balançar as perninhas no ar,


choramingando em plenos pulmões. Me abaixei, a pegando do pequeno berço
montável que minha irmã havia colocado e deixei o ambiente, não querendo
acordar seu parceiro de crime. A balançando em meus braços, senti o cheiro

de colônia infantil invadir meus sentidos.

— Meu Deus, pensar que em alguns meses terei um desses no mundo


— murmurei, entrando em meu quarto, longe o suficiente para que o outro
gêmeo não escutasse seu choramingo. Me sentei na cama e balancei Mel em
minhas pernas, cantarolando uma musiquinha que eu não fazia ideia de como
começava ou terminava, se estava no ritmo ou não.

Só que a garotinha me encarou com curiosidade, abrindo bem os


olhinhos verdes, que tanto me lembravam os de Maggie, e me deu um sorriso

banguelo, mostrando o único dentinho que crescia na boca.

E foi ali que eu vi. Não importava o pai que Arnold Collins havia
sido. Eu não era ele. Éramos muito diferentes. E eu não faria com meu filho
ou filha o que ele havia feito comigo.

— Você vai ter um priminho, Mel — disse, brincando. — Que Deus


me ajude que não seja gêmeo, mas devido os genes dessa família, não duvido
nada. — O fato de ter aceitado isso não queria dizer que estava preparado

para ser pai de gêmeos.

Melissa Collins mordeu a mãozinha gordinha, choramingando.


Parecia com fome. Apalpei a barriga gordinha, e senti um desespero ao
pensar que ela poderia estar com muita fome. E não fazia ideia de como
alimentar um bebê.

— Deus ajude que sua mãe chegue logo — sussurrei. — Para contar a
ela que vamos ter mais um herdeiro Collins em breve, que provavelmente não
vai ter essas penugens loiras suas. — Alisei um pouco a cabeça da pequena
garota. — E se for menina, vai ficar empinando aquele nariz atrevido em
minha direção. Igualzinha à mãe dela.

Pincelei o nariz de Mel, a escutando resmungar e me chutar com


aqueles pezinhos pequenos.

— Que negócio é esse de novo herdeiro, Sebastian? — A voz de


minha irmã gêmea preencheu o cômodo, me fazendo levantar o olhar e dar de
cara com a loira com uma expressão assustada.

Hunter apareceu em suas costas, com Heitor em seus braços, que


mantinha os olhos enormes atentos a tudo. Engoli em seco.

— Eu vou ser pai. — A primeira confirmação veio mais forte do que


eu poderia aguentar. — Alexandra está grávida e provavelmente ela vai me
querer longe do bebê porque fui babaca e disse que não queria filhos.

A última parte era uma faca em meu peito. Vi a expressão de Maggie


se tornar furiosa. Explodindo em um feroz:

— Seu babaca! — Hunter segurou o riso, e se não fosse pelo choro


estridente de Melissa no momento mais oportuno do mundo, eu estaria morto

agora.

A loira pegou a bebê dos meus braços, me lançando um olhar de pura


raiva.

— Você me aguarde, Sebastian. — Foi tudo que consegui ouvir ao


vê-la pisar duro para longe do quarto. Hunter arqueou a sobrancelha,
caminhando em minha direção e se sentando do meu lado.

— Não sei o que falar. Te dou um soco por ser tão babaca com Alex
ou apenas digo que você tem um puta de um bom gosto? — Lhe lancei um

olhar azedo e contrariado, sabendo bem que aquela conversa sobre eu ter bom
gosto me deixava desconfortável e trazia lembranças deles juntos.

— Para de falar assim, seu babaca, minha irmã escuta isso e fica puta.
— Hunter riu.

— Não, Maggie sabe que eu a amo e que não há dúvida disso. Sabe
do meu relacionamento no passado com Alex e sabe que éramos amigos
antes de ser algo mais. — Lhe lanço um olhar irritado. — Parece que o único
ciumento aqui é você.

Suspirei.

—Não quero saber se vocês tiveram um relacionamento, porra. — Ele


riu ainda mais, se levantando.

— Maggie, né que Alex é uma mulher e tanto? — suspiro, cansado,


sendo observado pelo o pequeno Heitor em seus braços. O garoto era bem
mais calmo que Melissa e muito mais parecido com Hunter.

— Sim, vê aqueles olhos? Ela fica linda de batom vermelho, cara!

— Exatamente. — Hunter concordou, me olhando divertido, e eu me


joguei na cama, não querendo ouvir o complô contra minha pessoa. Sabia que
Hunter amava Maggie e que ele nunca a faria mal. Mas mesmo assim, era
estranho. A questão era que eu não sabia como Alexandra ficava em relação a

ele. Por mais que tentasse não me importar, eu me importava. E muito.


Entrei em casa, sentindo meus pés reclamarem da caminhada matinal,
e fiz meu percurso em direção ao quarto, sabendo que precisava estar no

tribunal em duas horas para uma audiência muito importante. Depois disso,
meu dia seria uma loucura só, entre uma reunião e outra com os clientes.
Sabia que precisava correr e ainda ir a mais uma consulta, desta vez, minha
primeira ultrassonografia.

Inspirei fundo, sentindo meu corpo nervoso com a perspectiva. Ainda


sabendo que deveria esperar por uma resposta final de Sebastian, sobre se ele
iria querer ou não acompanhar a gravidez. Só que quando tentava ser racional
e pacífica, meu cérebro lembrava de que ele abdicou disto quando deu a
sugestão do aborto.

— Quando está pensando em tirar essa criança? Já faz mais de mês


que está nessa de enjoo matinal, tonturas. Se esperar mais, vai acabar mãe
solteira. — A voz de Laura me travou no lugar, me fazendo olhar por sobre o

ombro, encarando os fios escuros bagunçados, o corpo coberto pelo robe


vermelho.

Havia acabado de sair da cama.

— Quando você irá para casa? Não acha que já ficou tempo
suficiente? — Não me arrependi nem um pouco de quase expulsá-la. A
mulher não tinha a mínima decência de entender que eu não iria tirar o bebê
apenas porque ela achava ruim ser mãe solteira.

Que se foda o que ela achava. Nunca foi uma mãe quando precisei e
não será agora que irá ser.

— Acho que você não quis dizer isso, Alexandra. Sou sua mãe! —
Sorri.

— Sim, mas nem por isso sou obrigada a aguentar você falando
besteira. Eu fiz um filho, Laura, e vou assumir isso você queira ou não. Hoje
vou no meu primeiro ultrassom, e quer saber, apesar da bagunça que é minha
vida, estou amando cada segundo da minha nova vida. — Ela não respondeu
as minhas palavras e aproveitei para dar meia volta e sair da sala.

— Robert tinha razão, Alex. — Isso me fez travar no lugar.

— Sobre o quê? — O homem sempre falou mais babaquice que era


capaz de aguentar.

— Sobre você acabar quebrando a cara, querendo ser independente e


melhor do que eu. Somos da mesma família, filha, as mulheres dessa família
acabam por se perder. Uma hora ou outra.

Engoli em seco.

— Eu não me perdi, mãe. Não vivo mais no século passado. — Segui


meu caminho e me tranquei no meu quarto, deixando minhas pernas cederem
ao sentir meus nervos à flor da pele. Prestes a surtar. Suando de tão nervosa.

Sabendo que quando ela descobrisse que o bebê é de Sebastian Collins, ou

usará para me machucar ou usará a posição social dele com a babaquice


típica de Laura. Dinheiro.

Inspirei fundo, ouvindo meu celular apitar no bolso do meu casaco


preto que usava para correr. Abri a mensagem e estranhei ao reconhecer o

número de Maggie Collins. Prendi a respiração ao ler a mensagem clara e


animada.

Parabéns, mamãe!

Sebastian havia contado para a família. E consequentemente eu estava


mais próxima da queda, de ser rebaixada a apenas a mulher que deu um golpe
no CEO bonitão e muito rico. Que babaquice.

Levantei do chão, disposta a dar um jeito de mandar Laura Johnson

para longe o mais rápido possível. Talvez se entregasse o dinheiro que ela
tanto queria... Não! Não ia cair na chantagem emocional que minha mãe
costumava fazer com todos.
Afundei minha cabeça contra a mesa cheia de documentos, não
acreditando que Maggie estava gritando há meia hora comigo. Como se não
tivéssemos a mesma idade, como se não fosse minha garotinha.

Suspirei, a vendo falar sobre a importância de ter um filho. Das


responsabilidades, da mudança que tudo tinha, de como sua vida virava de
cabeça para baixo e nunca mais seria apenas você. Sempre teria aquela

pessoa dependente, seja por amor, dinheiro ou pelo simples fato de que ela
despeja toda sua confiança em cima de você. Porém, ela parou, em frente a
imensa janela da minha sala, encarando a rua movimentada, e seus olhos
caíram rapidamente na cadeirinha que segurava Melissa quietinha ali. E
sorriu, apaixonada pela filha.

— É aquele amor incondicional, sabe? — murmurou, com voz calma.


— É uma pessoa que você sabe que deposita todo seu coração ali. Que tem
todos seus pensamentos. Se ela está bem, se não sente dor ou se ninguém está
a machucando.

Sorri, sabendo o quão apaixonada minha irmã era por seus pequenos
pestinhas.

— Eu sei, Maggie. — Foi a única coisa que disse, para atrair sua

atenção. — Eu estava com muito medo de ser pai, pois a ideia era assustadora
a princípio. Não tivemos o melhor dos pais.

Encolhi o ombro e ela caminhou até mim, pousando a mão em meu


ombro, e alisou meus cabelos com a outra, como se eu tivesse três anos e
chorasse pelo meu brinquedo perdido.

— E como está seu coração agora? Hunter me falou que estava


enciumado. — Fiz careta.

— Não estava enciumado. Acho normal ter um desconforto ao saber

que Hunter e Alex já dormiram juntos, enquanto ela é futura mãe do meu
filho. — Ela riu baixinho.

— Tenho a sensação que isso não é uma verdade absoluta —


respondeu, se afastando em direção ao seu celular que estava jogado na mesa
e vibrava, se aproximando da borda. — Ah, é Hunter. Ele e Heitor juntos são
um desastre.
Ri, encarando o celular. Escutamos alguém bater à porta, e liberei a
entrada, sem fazer a mínima ideia de quem se tratava. A cabeleira escura

colocou metade do corpo para dentro, sorrindo nervosa. A vi engolir em seco


diante a presença de Maggie.

— Alex! — minha irmã exclamou. — Entra, já ia lá na sua sala.

Ia, é? Eu quase perguntei, mas decidi ficar calado e ver a interação


das duas.

Alexandra entrou, e eu a observei com calma. O cabelo escuro preso


em uma trança lateral, como era bem longo, ia até um pouco antes da cintura,
os lábios pintados em um tom clarinho, e, pelo que percebi, era a única
maquiagem presente no rosto. As roupas, como sempre, eram muito
discretas. O vestido ia um pouco acima do joelho, justo de forma moderada.
E merda! Ela era linda demais...

— Parabéns pelo bebê, Ale… — minha irmã falou, a abraçando. A


mulher sorriu de orelha a orelha com isso. — Veja só como será sua vida
daqui a alguns meses. — Apontou levemente para Melissa, que balançava as
pernas para cima, agitada por estar há muito tempo deitada.

Minha sobrinha, com sua porção de fios loiros na cabeça, vestia um


shortinho pequeno jeans, que não sabia como era possível ter uma peça do
tipo para alguém tão pequeno, e uma blusinha azul apertada ao seu corpo.
Alex riu, se inclinando para ver a criança. Alisando sua bochecha,
atraiu a atenção de Mel, enquanto eu continuava ali, paralisado. Engoli em

seco ao vê-la fazer voz fofinha, e rir em seguida, com o gracejo da menina.

Ah, caralho. Não importava a porra do pai que eu seria. Faria tudo,
todos os dias, para ser o melhor. Mas eu queria tanto ser o pai do bebê de
Alexandra no momento.

Ela levantou o olhar, parando em mim, e me perdi na imensidão azul


dos seus olhos, que me lembrava o céu límpido da manhã. E novamente,
soube que poderia fazer qualquer coisa para ela esquecer a maldição que
mencionei a princípio de tudo.

— Trouxe esses papeis para você assinar, estou saindo para o cartório
e resolvi passar para pegar sua assinatura. — Se levantou, parecendo focar no
que havia vindo fazer ali. Colocou a pasta de papel em cima da minha mesa.
— Irei resolver essa questão do contrato e esse resto da semana irei me

ausentar. Estarei com o telefone para caso de alguma emergência, mas


preciso resolver alguns assuntos pessoais fora da cidade — tagarelou, e eu
seria petulante com ela, perguntando o que havia de tão pessoal que a levava
para longe, se Maggie não estivesse aqui, assistindo a tudo com olhos de
águia.

— OK, apenas isso? — indaguei, assinando os documentos que


havíamos trabalhado alguns dias atrás. Entreguei a ela, que assentiu e logo se
despediu, saindo da sala de maneira silenciosa.

Contrariei a vontade de bufar ao vê-la ir, sabendo que havia perdido a


oportunidade de falar com ela. Por culpa da minha pequena fofoqueira. A
encarei com um olhar querendo transparecer toda minha raiva, mas ao ver o
sorriso de orelha a orelha, sabia que viria algo pior por aí.

— Meu Deus, você faz cara de bobo quando olha para ela! —
exclamou, rindo enquanto batia palmas.

— Não faço nada. Estava apenas pensando em como será quando o


bebê nascer. Normal. Aposto que Hunter fez isso. — Apontei para a dupla
incompleta que Maggie trouxera a meu escritório, e ela riu.

— Preciso saber em que momento você e Ale se tornaram tão


próximos que fizeram um filho. — Ela puxou a cadeira, se sentando. Pegou

Mel nos braços e retirou o peito para fora, amamentando a filha.

Eu apenas observei cada interação, como se pudesse visualizar meu


mundo em alguns meses.

— Não vou te falar sobre isso, Maggie! — Levantei da cadeira. —


Amei te ver, irmãzinha, mas preciso ir. Se ainda quiser resolver algumas
pendências.
Ela abriu a boca para reclamar, mas eu já estava passando por Mel,
beijando a cabeça das duas mulheres da minha vida, sem contar mamãe, e saí,

não querendo ouvir tudo que poderia sair dos lábios de Maggie Cooper.

Vi Alexandra equilibrar uma caixa pequena, juntamente a sua bolsa e

uma sacola de uma lanchonete que ficava na rua da empresa, ao sair da sua
sala, parecendo que o mundo ia desabar em cima dela. Apressei meus passos,
pegando a caixa dos seus braços antes que tivesse uma chance para me
impedir.

— Deixa que eu ajudo — murmurei. Ela abriu a boca em choque,


depois fechou e abriu de novo, me fazendo rir. — Vem, está indo para o
cartório, certo? — Ela balançou a cabeça em afirmação. — Ótimo, vamos
juntos, você está de carro? Vou para o hospital, é no caminho.

Ela franziu o cenho, desconfiada.

— Você não tinha uma reunião? — Engoli em seco. Balancei a


cabeça, tentando achar uma desculpa para minha má capacidade de criar uma
mentira convincente.

— Sim, mas foi cancelada e eu preciso ir ver meu pai. — Ela


balançou a cabeça, seguindo para o elevador. Eu a segui de perto, não
resistindo em deixar meu olhar cair para suas nádegas, que estavam
levemente marcadas pelo tecido. Nem precisava que fosse muito evidente,

pois as lembranças delas ainda eram bem vivas em minha mente.

Entramos no elevador e me vi assobiando como quem não quer nada,


enquanto aquele negócio não fechava logo, e assim que fechou, coloquei a
caixa no chão com impaciência.

— Precisamos conversar — avisei, sério.

— E escolheu o elevador como melhor lugar para se ter uma


conversa? — Sorri, constatando que novamente fazer aquele negócio de me
olhar com o nariz empinado.

— Na verdade, você não me deixou abrir o teste no dia que foi em


minha casa. — A lembrei, ela riu e abaixou a cabeça. — Fiquei sem reação,
só fui processar que não poderia falar mais com você quando percebi que já

havia ido com esse seu nariz petulante.

Ela abriu a boca, chocada.

— Não sou petulante.

— É sim, petulante e atrevida.

Ela riu.

— Me diga por que acha isso.


Revirei os olhos, desacreditado.

— Você faz algo do tipo, olha... — Expliquei, atraindo atenção para


mim. Levantando meus ombros, ficando com a postura ereta, levanto a
cabeça para cima e olho para baixo, empinando meu nariz. E na minha
representação, está do mesmo jeitinho de quando Alex se sente ofendida ou
fica brava com algo.

Ela riu, divertida.

— Eu não faço isso. — Se encostou na parede, jogando a cabeça para


o lado, a me observar. O ato fez o rosto branco com as bochechas rosadas se
tornar quase uma miragem de tão bonita.

Ficamos em silêncios por longos instantes, observei-o painel do


elevador mudar na medida que descemos mais rapidamente. Engoli em seco,
lembrando do porquê estou aqui. De tudo que planejei falar desde que abri

aquele teste de DNA.

— Eu quero o bebê, Alex — murmurei, cansado. — Sinto muito, foi


imaturo falar que queria que tirasse, eu estava assustado, com medo de acabar
sendo como o exemplo de pai que tive durante a vida. Quero muito cuidar do
meu filho. Estar ao seu lado durante a gravidez. Poder escutar seu
coraçãozinho e saber se eu vou levar os genes de gêmeos ou vai ser apenas
um único bebê.
Sorri de lado, a expressão assustada dela com a menção de dois bebês
em apenas uma encomenda. Não evitei a risada, me aproximando, fazendo

ela descer os braços que abraçavam o corpo franzino.

Coloco a mão um pouco ao lado da sua cabeça, me aproximando o


suficiente para saber que, se quisesse, a beijaria com muita facilidade. Algo
que desejava fazer desde que ela fugiu do meu apartamento, semanas atrás.

— Não me importa se vou ter que correr atrás da sua confiança ou


implorar para que me deixe ser um pai esse bebê. — Toquei sua barriga por
cima do vestido. — Só me deixe tentar. Me deixe mostrar que não sou tão
babaca quanto deixei transparecer.

Ela abriu a boca e permitiu que eu fizesse o que tanto estava


desejando. Aproximei nossos lábios, deixando que se tocassem levemente.
Sua boca se remexeu, impaciente, sobre a minha, e aceitei que meu impulso
me levasse. Aprofundando o beijo da maneira que desejava, permitindo

nossas línguas se encontrarem, bailando juntas em busca de controle. Suas


mãos subiram por meus ombros, segurando na lateral do meu rosto enquanto
a outra afundou em meus cabelos.

Caralho. Era muito bom.

Gemi, antes de me afastar para encontrar os olhos cheios de luxúria.


Deixei minha boca descer na lateral do seu rosto, passando pela bochecha
macia, chegando a um ponto na orelha onde cheirava a flores. Quando senti

suas mãos tentando me afastar, vi que Alex recobrou a consciência e estava

novamente colocando aquela parede de gelo entre nós.

— As coisas não funcionam assim, Sebastian. — Me encarou,


balançando a cabeça, como se precisasse sair de algum feitiço. — Não pode
sair me beijando a cada vez que sentir que se fizer isso irei me render mais

fácil.

Franzi o cenho.

— Não beijei você para rendê-la nem a fazer aceitar nada — rebati,
meio irritado. Ela cruzou os braços, colocando uma das sacolas no chão para
fazer isso.

— Então por quê?! Por que me beijou?! — Revirei os olhos


novamente, querendo rir da expressão que ela adotou, me olhando por cima,

exatamente como expliquei que fazia.

— Porque gosto de beijar você, senhorita Johnson, e nem mesmo sua


petulância consegue mudar isso. — Dei um passo em sua direção novamente,
a mantendo presa ali. — E quero muito te beijar mais uma vez — murmurei,
encarando seus olhos azuis, Observando a desconfiança passar sobre eles. O
medo. O desejo. Concluí que Alexandra Johnson tinha algo que a fazia ficar
na defensiva em minha presença.
Mas o quê?

A mulher ouviu o elevador se abrindo e em um golpe de esperteza,


passou pelo espaço do meu braço levantado, pegando a caixa no chão, e saiu
correndo pela empresa. Inspirei fundo, contei até dez, pedindo paciência aos
céus, e segui atrás, apressando o passo, pois desta vez não a deixaria fugir.
Caminhei a passos apresados pela empresa, observando Alex abrir a
porta de vidro e passar por ali como se estivesse visto a própria figura de
Lúcifer. Segui atrás, passando pelo guarda que a observava carregar a caixa
com dificuldade, e sorriu de lado com a mulher agitada.

Revirei os olhos e a alcancei logo que ela tentou abrir a porta do carro
na primeira tentativa, dando um solavanco para trás e batendo contra meu
corpo.

— Não vai fugir. Não desta vez — falei baixo. — Vamos, me deve
uma carona — completei, despreocupado, pegando a caixa dos seus braços e
puxando a chave do carro das suas mãos. Destravando o veículo, coloquei a
caixa no banco de trás, balançando o chaveiro com a miniatura de um cavalo
no ar.

— Como pretendia abrir a porta sem isso?


— Eu apertei — bufou. — Diversas vezes, só não abriu.

Puxou a chave e deu meia-volta.

— Você não vai comigo! — Foi enfática.

Segurei o sorriso, colocando as mãos sobre o coração, fingindo


ofensa.

— Até seu carro preferiu ser aberto por mim, Alex. É o destino... —
Dei ênfase na última palavra, a fazendo rir desdenhosa.

— Que destino? Estou destinada a que, Sebastian? Ficar lado a lado


ao cara que me pediu coisas tão desprezíveis nos últimos dias que...

— Pelo amor de Deus, já pedi desculpas pelo que disse ou dei a


entender. — Balancei as mãos no ar. — Quero fazer a coisa certa, ok? Só que
se você continuar com essa pose de que nunca errou na vida, não vou
conseguir. Me diga, Alexandra, há algo que tenha dito ou feito que nunca

tenha se arrependido?

Ela deu um passo atrás, como se houvesse levado um tapa na cara.

— Não.

Novamente, me encarou, com superioridade.

Sorri.
— Você é uma peça rara, Alexandra Johnson. O fato de dizer que
nunca errou, me surpreende, por ver que é hipócrita o suficiente para isso.

— Você agora vai me ofender?!

— Eu não deveria. — Franzi o cenho, confuso. — Só que não resisto.


Não há ninguém tão perfeito que nunca tenha errado.

— Filosofia barata, Sebs? — debochou, cruzando os braços, e entrou


no carro, me obrigando a darmeia-volta e impedir que ela fechasse a porta.
— Você não vai avançar muito me ofendendo.

— Não estou ofendendo. Só deixando claro uma coisa que aposto que
sabe. — Ela arqueou a sobrancelha. — Me diga aonde irá. — Alexandra
inspirar fundo, fazendo o peito subir e um pedaço de pele se espreitar pelo
decote da blusa.

Desviei o olhar.

— Vou a uma consulta. Posso deixá-lo no hospital já que insiste.

— Ótimo! — Entrei no carro.

— Você é o CEO, cadê seu carro, pelo amor de Deus?

— Quebrou. — Dei de ombros.

— Sério? O CEO do grande Grupo Empirus Collins não tem um carro


reserva? — De verdade, eu tinha, só que não iria dar mais um motivo para
me empurrar para longe.

— Não. — Ela me lançou um olhar desconfiado e apertou o dedo


contra o botão do som, ativando a rádio local, e senti o carro inundando no
volume alto. Logo fiz o mesmo movimento, desligando-o.

— O quê?! Por quê? — Sorri.

— Vamos conversar.

— Não vamos, não. Não acho que falar sobre meu filho em um carro
em movimento seja a melhor opção. — Arqueei a sobrancelha.

— Vai sentar, tomar um café e falar comigo sobre isso?

— Não posso tomar café. E não vou falar com você! — exclamou, e
não resisti em rir.

— Ótimo, então vamos falar sobre nosso filho no carro, mesmo.

— Você ter um surto de consciência não faz dele seu filho.

— Você ficar brava comigo e não aceitar meu pedido de perdão não
vai fazer meu sangue desaparecer dele — rebati na mesma velocidade e a vi
ficando vermelha, colocando o carro em ponto-morto ao parar no sinal.

— Não é seu filho!


— Não pode falar isso depois de ter entregue o exame de DNA nas
minhas mãos.

— Não é só de sangue que se faz um filho, Sebastian. É preciso amar


uma criança, querê-la. — Inspirei fundo.

— Eu errei, ok? Com tudo que aconteceu nos últimos anos, a ideia de

ser pai só refletiu ao que eu tive. Não passei fome, não fiquei sem um teto,
mas sabe o que é ver sua vida se resumir a uma existência quase miserável?
— Ela me encarou, com os olhos cheios de lágrimas.

— Eu sei o que você passou — sussurrou baixinho e limpou a lágrima


antes que descesse pelo seu rosto.

— Não chore, por favor.

— Deve ser a merda dos hormônicos. — Bufou, me fazendo rir, e


alisei sua bochecha.

— Não chore por minha causa — pedi. — Não me deixe ainda pior
em saber que ando te machucando ainda mais. — Ela pareceu recuar no seu
lugar, se fechando, e encarou o trânsito.

Ligando o carro devido a onda de buzinas que vem até nós. E logo
estamos de volta em movimento. A observei limpar o rosto na medida em
que as lágrimas tentavam cair. Ela inspirou fundo.
— Sinto muito pelo que passou, Sebastian. Acredito que saiba que
peguei os documentos…

— Sim, documentos familiares. Não ligo. Atualmente, acho que não


ligo para nada mais sobre o meu passado. — Alex riu.

— Se serve de consolo, não tive a melhor mãe. Hoje, ela é a parte que

me dói sempre, pois Laura sempre faz algo com que eu não consigo perdoar.
— Observei sua narração. — Por isso, não quero ninguém que não deseje
estar na vida do meu filho, pois ele vai ser muito amado por mim. E não
quero nada além de amor para ele.

— Não fui o melhor, mas quero ser o melhor. — Engoli em seco. —


Tenho uma irmã que me colocou entre a parede e fez um discurso sobre a
vida de pai e mãe, me disse coisas que me fizeram ver bem mais fundo do
que meus olhos conseguiam. Eu quero um pacotinho chorão na minha vidam,
Alexandra. Nunca fui tão sincero quanto estou sendo agora.

— Precisou de Maggie para ver isso? — alfinetou, arqueando a


sobrancelha em minha direção.

— Vai retrucar cada frase que eu falar? — rebati.

— Não. — Sorriu.

— Ótimo. O que me diz?


— Repetiu isso em frente ao espelho? — Tom de brincadeira
acompanhando a frase cheia de espinhos.

— Não. Diferente de todos os meus discursos, esse foi o mais natural


deles.

Ela me encarou, rapidamente. Não conseguia deixar de me perder na

imensidão dos olhos azuis que se estendiam em minha frente. Parecia uma
maldita boneca de tão bonita e delicada. E com seu ar mordaz, sem ironia e
ao mesmo tempo com uma postura extremamente elegante, tornou tudo ainda
mais interessante. Pois parecia que apenas eu tinha o dom de levantar toda
aquela enxurrada de ironias.

Deixamos o carro cair em um silêncio sepulcral enquanto observo as


ruas movimentadas de Nova Iorque passarem pela janela do carro. Inspirei
fundo algumas vezes, pensando sobre o que acabei de dizer.

Encostei a cabeça no banco e deixei minha imaginação voar por


alguns instantes.

A imagem de Alexandra com um vestido florido, no jardim da casa


dos meus pais, com a barriga protuberante carregando nosso filho se projetou
na minha mente e senti meu sorriso estampando, tomando conta do meu rosto
de forma boba.

Merda.
Era simplesmente perfeito. E nem mesmo aconteceu.

O vi sentado no banco de carona, muito focado em seus pensamentos


enquanto parava em frente ao hospital onde Hannah trabalhava e inspirei
fundo, esperando pacientemente que ele percebesse e saísse do carro.

Falar sobre nossas famílias não foi lá mais o indicado. Chorar também
não. Malditos hormônios!

— Chegamos — sussurrei, conferindo o horário em meu celular. —


Como eu disse, irei viajar e só retorno na terça-feira, pode deixar que todo o

trabalho acumulado da segunda ficará em dia rapidamente.

Ele arqueou a sobrancelha.

— Você está doente? Disse que iria se consultar.

Inspirei fundo.

— Não, é uma consulta de rotina.


— Sobre a gravidez? — sondou, com voz de quem não quer nada.

— Sim, só mais um ultrassom.

— Ele já está com quantas semanas mesmo? — Franziu o cenho,


tentando se recordar.

— Pelas minhas contas, faz mais de oito semanas. — Ele balançou a

cabeça em concordância. — Bom, você fica aqui e desce logo, senão irei me
atrasar. — Sebastian revirou os olhos, mas logo fez o que solicitei, batendo a
porta em suas costas. Caminhou rumo ao enorme prédio. Não perdi muito
tempo o observando, apenas arranquei o carro e segui meu próprio caminho.

Segurei um suspiro cansado.

A imagem de família perfeita de Arnold Collins caiu com a juventude


dos gêmeos — Sebastian e Maggie — e ele não soube lidar com as
consequências. A filha sendo culpada de assassinato , uma agressão e uma

overdose que quase levou a vida do filho. A forma que solucionou tudo foi a
que qualquer ser humano com nenhum tipo de inteligência possível faria:
mandando a filha para longe, e o filho para um hospital psiquiátrico.

Com toda certeza, o homem que esteve ao meu lado segundos atrás
tinha boa experiência em ser um mal pai. Só que da mesma maneira, eu sabia
que nossos antepassados não ditavam nosso caminho.
Minha mãe errou comigo, continuava errando quando sempre olhava
para si e nunca para sua volta. O pai do Sebastian seguiu o mesmo caminho.

Só que éramos pessoas diferentes, com pensamentos diferentes. As nossas


escolhas que ditariam nosso caminho.

Estacionei o carro em uma das clínicas mais recomendadas da cidade,


na qual peguei o número com uma das minhas companheiras de trabalho —

que ao saberem da minha gravidez, anunciada por todos os lados, me


enviaram tantas recomendações que estavam enchendo minha caixa de e-
mails.

Pelo amor de Deus, fofoca de grávida corria mais do que a gente era
capaz de imaginar!

Abri a porta do carro e pulei para fora, colocando a bolsa em meu


ombro, e travei o veículo, olhando ao redor enquanto caminhava até a entrada
da clínica. Quase senti meu coração pular de dentro de mim com o táxi

parando ao meu lado rapidamente, deslizando no asfalto.

A porta se abriu e um Sebastian sorridente saiu de lá de dentro.

— O que faz aqui?! — praticamente gritei.

Ele apenas deu com os ombros.

— Não iria perder mais uma consulta dele. — Apontou para minha
barriga e rapidamente quis me inclinar e abraçar meu corpo, protegendo meu
bebê de todo aquele senso de consciência que ele estava tendo no momento.

— NÃO! Você não pode. — Balancei a cabeça algumas vezes.

— Eu posso, sim. E vou.

— Não, você não pode simplesmente começar a pensar melhor e

decidir tudo que quer fazer parte. Não há como simplesmente se encaixar
nisso como se nada houvesse acontecido. — Ele segurou minhas mãos, me
puxando para a calçada e me encarando fixamente.

— Vamos fazer o seguinte.

— O quê? — O encarei desconfiada.

— Você me dá uma chance.

As palavras brincaram em minha mente.

— Me dá uma única chance de mostrar que vou ser o que precisa.

— Não preciso de você.

— Não, eu sei que não. — Segurou meu rosto. — Você é


autossuficiente. Você, Alex, é o único time que precisa. Sei disso. Só que
quero mostrar que posso ser o que ele precisa. O que ele vai precisar mais na
frente.
— Posso muito bem dar uma boa vida ao meu filho, Collins — rebati.

Ele inspirou fundo, fechou os olhos e o vi contar de um a dez


calmamente.

Segurei o riso. Não sabia como resistia ao charme daquele homem.


Ele era divertido, doce e, às vezes, insuportável.

— Não falo de dinheiro. Falo de ser um pai. Do que acompanha essa


função… — Me encarou, focando os olhos verdes em mim, e senti meu
corpo se arrepiando. Pois por mais que tentasse negar, ele tinha um poder
especial sobre mim. — Me diga que posso tentar. Que posso provar a você e
a mim que sou digno de tê-lo em minha vida. — Sorri de lado. Inspirei fundo
e coloquei em minha mente todos os momentos que já tive ao lado deste
homem para chegar até aqui. Pensava nele como meu chefe sempre
compreensivo, flexível e quando precisava, a decisão que todos temiam.
Como irmão de Maggie. Como filho de Arnold e Neiva Collins e em como

ele seria como pai.


— Eu... — a vi gaguejar e segurei o sorriso. O golpe de pegar um táxi
e seguir o carro de Alexandra foi muito melhor do que pedir que me deixasse
acompanhá-la na consulta. Sabia que o “não” era mais certeiro do que
qualquer coisa no mundo. — OK! Você venceu, uma chance.

Levantou o dedo em riste, deixando claro que a decisão não a


agradava, mas mesmo assim, a fazia.

— Você não vai se arrepender. — Segurei seu pulso, enlaçando


nossos dedos, e notei ela quase deixou os olhos pular do seu rosto. A puxei
contra meu corpo e a abracei. — Obrigado, Alex.

A mulher estava tão tensa contra meu corpo que segurei a risada,
deixando minhas mãos descer por sua costa em sinal de conforto. Ela não
recebeu muito bem, pulando para longe.
— Não é porque deixei você fazer parte disso que vou voltar para sua
cama — resmungou, me encarando com aquela expressão típica dela. — Não

pense coisas erradas.

— Eu nem estava pensando nisso. — Me fiz de ofendido.

— E eu acredito, claro. — Foi irônica, dando meia-volta e seguindo

rumo à clínica.

— Pode me explicar por que a ideia era tão aterrorizante para você?
— alfinetei, curioso.

— Acho que às vezes você esquece quem somos — rebateu.

— Ahhh, o papo de chefe e empregado de novo? — Ela riu.

— Não é de novo, Sebastian, acredite se quiser, mas amo meu


emprego, dei o melhor de mim para receber na cara de que só cheguei ali por
estar dormindo com meu chefe.

— Não acredito que tenha pessoas…

— Você deveria saber melhor do que ninguém que as pessoas são


capazes de qualquer coisa para machucar alguém, Sebastian. — E me
encarou, parando em minha frente.

Foi como um tapa na cara. Pois sei, sim. Vivi anos em um hospital,
por culpa do meu pai, de mentirosos e até mesmo por minha culpa. Eu não
era um viciado em drogas, eu não fiz nada além de um erro.

— Eu sei, Alex. Eu sei. — Empurrei a porta do consultório e


entramos, dando o assunto por encerrado. A sala de espera estava vazia e ela
seguiu até a moça que atendia, sorrindo com toda sua graça.

Me sentei e encarei o chão, pensativo em suas palavras.

Eu tinha dezesseis, quando em um ato inconsequente, atropelei um


homem que era incluso no tráfico local. Foi o começo do fim, pois para não
acabar sendo preso, me prendi naquela rede, sendo um dos peões em seu
jogo. Foi dinheiro desviado da conta dos meus pais, negociações ilícitas e
quando vi, já estava me afundando. Ficou pior, quando Jason se envolveu
com a pessoa que eu mais amava no mundo. Maggie. Ela foi o meu ponto
fraco quando tentei sair, manipulou muito bem os fatos para que minha
menina perdesse Hunter, o apoio da minha família e quase ficou presa por
toda sua vida em um assassinato que não cometeu.

Eu, bom, não vi nada diante disso. Estava mal demais para conseguir
salvá-la, ao menos dizer que ela não tinha nada a ver com a minha sujeira.
Em uma das festas, uma bebida com drogas disfarçada foi só o caminho para
acabar em uma cama de hospital, completamente entre a vida e a morte.

Hoje, dez anos depois, ainda não consigo conviver bem com meus
próprios fantasmas. A verdade é que meu pai errou em não me ouvir, eu errei
em me perder e nunca falar a verdade.

— Vamos? — Alex me trouxe de volta e a encarei, vendo seu sorriso


nervoso.

Sorri, a acompanhando pelo corredor pequeno.

— Se quiser ficar aí, eu vou primeiro falar sobre as vitaminas que ela

me passou, é cansativo. — Fez careta.

— Não, vamos juntos. — Fui firme, segurando na base da sua coluna


enquanto abria a porta e revelava o interior do consultório, com a médica
remexendo alguns papéis sobre a mesa. E quando levantou o olhar e me
encarou com as sobrancelhas arqueadas, senti meu interior se revirando.

Sério mesmo destino? De todas as médicas do mundo, você tinha que


fazer Alexandra escolher minha única namorada da vida? Aquela na qual foi
a primeira mulher com quem me deitei?

Inspirei fundo, sabendo que essa consulta seria longa e cansativa.

— Bom dia — e exclamou, sem esconder o sorriso de orelha a orelha.


— Alexandra, é bom revê-la, como anda nosso bebê?

— Enjoando. — Alex rebateu, se sentando. — É bom revê-la


também, Sam.

— Sebastian Collins. — E se virou, me encarando com os olhos


estreitos. — Eu juro que quando Alex disse que estava grávida, nem em um
milhão de anos pensaria que fosse do meu namorado da adolescência.

Claramente, a sutileza não era algo que a mulher aprendeu durante a


vida.

— Namorado?! — Alex exclamou, nos encarando com os olhos

arregalados.

É, finalmente ela estava entendendo a situação comprometedora e


quase irritante em que nos metemos.

Suspirei, me sentando ao lado de Alexandra e ela ainda encarava tudo


com a sobrancelha arqueada.

— Namoramos durante a adolescência.

— Entendi…

— Fui a primeira namorada dele, primeiro tudo né, Sebastian? —

alfinetou e senti que a qualquer momento cairia para trás diante essa situação.
Alexandra segurou o sorriso.

— Bom, tomei as vitaminas que me passou. Aqui está o resultado do


exame que me solicitou. — Empurrou o papel em direção à mulher, que
arqueou a sobrancelha com a mudança de assunto.

— Estão namorando?
— Não! — Alex se apressou em responder e eu juro que se ela não
fosse me matar, teria contestado e dito sim. — Podemos realmente falar sobre

a consulta? Eu preciso sair da cidade em uma hora.

Bateu sobre o relógio, e Samantha abriu a boca, surpresa.

— É claro, bom, vou dar uma olhada em seus exames, enquanto isso,

pode vestir a bata hospitalar no lugar de sempre. — Indicou atrás de um


biombo hospitalar. Alex assentiu, se levantando e ficando atrás da parede
improvisada. Me virei, encarando Samantha que sorria para mim. — Juro que
te ver depois de dez anos desaparecido é uma surpresa e tanto.

— Estive estudando, infelizmente, minha vida pessoal nos últimos


tempos ficou completamente de lado. — Sorri, usando as mesmas desculpas
que dou ao mundo quando questionam meu desaparecimento.

— Um filho?

— Pois é… — Encolhi os ombros. — Como andam o bebê e Alex?

Ela suspirou.

— Muito bem, poderíamos sair para tomar algo qualquer dia. —


Anotou algo na ficha com nome de Alexandra.

— Tem certeza? Por que das vitaminas? — desviei do assunto, me


sentindo em um piso escorregadio.
— Eles estão bem, Alexandra tem alguns problemas com anemia, por
isso indiquei as vitaminas, mas nada preocupante.

A morena retornou e o diferença entre ela e Samantha era quase


assustador. A outra era ruiva, baixinha e nada discreta, Alexandra era alta,
com os cabelos tão escuros como carvão, e os olhos azuis pareciam sempre
estar analisando a situação ao seu redor.

— Vou ali na recepção rapidinho e já volto para vemos esse bebê. —


Tocou a barriga de Alex que pulou para trás de maneira discreta. A médica
saiu, fazendo a porta bater em suas costas. E novamente, senti que podia
respirar em paz.

Encarei a mãe do meu filho e a vi com os olhos arregalados e as mãos


na cintura, como se estivesse passando mal.

— Meu Deus, essa é a situação mais constrangedora que já estive na

vida. — Segurei a risada e ela se deitou na maca, me encarando. — Você ri,


mas ela está dando em cima de você, não é como se você estivesse em um
quarto à parte, vendo um filme na cabeça.

Me aproximei, me encostando na beirada da maca.

— Está com ciúmes, querida? — Toquei a mecha de seu cabelo que


caía sobre o rosto.
— É claro que não — debochou. — Só que se eu soubesse que minha
médica é a sua ex-namorada, passaria quilômetros longe dela.

— Foi um namoro de adolescente, coisa simples.

— Foi sua primeira vez, Sebastian. Pode não ter sido importante para
você, mas, de alguma forma, foi para ela. — Revirou os olhos. — Ah, e você

não tem que explicar nada.

Balançou as mãos no ar, e segurei uma delas, tocando os dedos longos


e delicados com calma.

— Mas eu quero. É estranho o suficiente. — Inspirei fundo. — Não


quero fazer disso uma experiência ainda pior.

Ela sorriu.

— Obrigada — sussurrou. Toquei sua barriga, sentindo apenas a


pequena protuberância firme e sorri. — Não dá para sentir quase nada ainda.

— A ouvi dizer. Porém, meus olhos estavam apenas focados na minha mão.

— Eu não acredito que em alguns meses vou ser pai, Alex. Isso é
simplesmente irreal. — A mulher riu.

— Eu não esperava que seria mãe tão cedo, Sebastian. A verdade, é


que sempre evitei trazer o assunto à tona em minha vida. Um bebê requer
tudo de mim, e eu só tinha cabeça para o meu trabalho.
— Eu sei como é.

— Vou fazer isso agora, com todo amor que tenho dentro do meu
coração. Pois ele se tornou tudo…

Me inclinei para beijar sua testa.

— Obrigado. — Ela riu, abrindo os olhos para me encarar. Eu, meio

inclinado, bastava um movimento para colar nossos lábios. Eu queria isso,


muito, desde que ela fugiu na manhã seguinte do meu apartamento. —
Sebastian...

Baixei meus lábios sobre os seus, beijando-os lentamente, e me


afastei, em apenas um selinho que senti espalhar pelo meu corpo como uma
droga. Merda, tudo que desejava no momento era aprofundar o beijo e trazê-
la para mim.

— Não fiz nada. — Dei os ombros e a porta se abriu. A vi sorrir,

tentando esconder isso mordendo o lábio inferior. Samantha nos encarava


juntos lado a lado e seu olhar recaiu sobre minha mão na barriga de
Alexandra.

Pela sua expressão, constatei que, de alguma forma, isso deixou claro
que não estou disponível. A verdade era que até estava, só que não estava a
fim de relembrar passado nenhum. Ainda mais com um filho a caminho.
Minha vida iria virar uma bagunça em breve. Já estava até vendo
senhor Arnold, dona Neiva e Maggie fazendo um complô contra minha

pessoa, para acabar me ver casando com Alexandra Johnson.

Sinceramente, eu a achava demais. Era muito bonita, inteligente e


com toda certeza seria uma ótima esposa. Só que ser pai era o suficiente pelos
próximos dez anos. Não sabia se estava pronto para virar marido de alguém.

Para comprometer-me com isso. Sempre vi o casamento como uma via de


mão dupla. Os dois têm que estar na mesma sincronia para fazer dá certo.
Senão, tudo vai por água a baixo rápido demais.

— Olha só — Samantha sussurrou, passando o pequeno equipamento


de ultrassonografia sobre a barriga com gel de Alex. — Um pequeno borrão.
— Apontou para tela. — Estão vendo?

Me aproximei, encarando a tela com fixação.

— Séria muita loucura dizer que não vejo nada além de um borrão?
— A ouvi sussurrar, apertando minha mão com força. — Sou uma mãe ruim
por causa disso?

Segurei a risada.

— Não, você é apenas uma Rachel Green.

— Uma o quê?! — exclamei, descontraindo o momento em que meu


coração pulou tão rápido por saber que aquele borrão que Alex nada via era
meu filho. Uma parte minha e daquela mulher.

— Rachel, de Friends, se você assistir, irá compreender. — Ela me


lançou um olhar contrariado. — O quê? Não me julgue, Maggie é minha irmã
e ela é completamente apaixonada por essa série.

Ela riu.

— Vamos ouvir o coração?

— Samantha. — Alex a chamou, atraindo sua atenção. — Tem como


gravar? Irei ver minha irmã no fim de semana e ela me jurou de morte se não
levar a gravação do ultrassom.

Rimos.

— É claro. — E no instante seguinte, o som baixinho e ritmado


bombardeou por toda a sala, me deixando completamente congelado. — É

apenas um mesmo, não tem a que temer, Alex.

Ela riu, inclinando a cabeça para trás.

— O que você temia?

— Sua família tem muitos acontecimentos de gêmeos. Eu fiquei


assustada! — Balancei a cabeça em negação e segurei seu rosto, com os
batimentos ainda rodando em minha mente. Alisei seus cabelos negros como
carvão e beijei sua testa com carinho.

— Obrigada por não desistir dele. E pela chance. — Me afastei,


encarando seu rosto rosado.

— De nada. — O sorriso tímido em seu rosto foi meu bônus naquele


momento. A trégua silenciosa que se estabeleceu por aquele pequeno

serzinho em seu ventre valia mais do que qualquer contrato que já fechei na
vida.
Sinceramente, eu achava fielmente que nem mesmo em outra vida
viveria uma situação pior do que a que se desenrolou em minha frente
durante a consulta com Samantha Davis. A médica simplesmente não
escondeu sua grande satisfação em ver Sebastian.

Chamar o pai do filho de outra, mesmo eles não tendo nada fixo, não
deveria ser algum tipo de crime?

— Não, Alex, sem chance nenhuma de ser crime. — Amber rebateu,

foquei os olhos nela enquanto Heloisa sorria das palavras da mãe.

— Sem chance, Titi. — Suas bochechas fofinhas e os cabelos


loirinhos que sempre me lembravam a cor do ouro me traziam a estranha
sensação de felicidade. Me perguntei se meu bebê é menino ou menina – a
probabilidade de ser gêmeos estava finalmente descartada – e inspirei fundo.

Minha sobrinha parecia ser o tipo de mistura que eu e Sebastian


geraríamos. Os cabelos dele causariam – certamente – um tom castanho-

médio em nosso filho. Os olhos, era realmente incapaz de opinar, mas se ele

saísse com os olhos de Sebastian, eu desistiria da vida.

— Sério? Ela quase olhou para mim. — Me levantei. — E fez aquela


besteira que fazemos quando crianças, de colocar a língua para fora e falar
algo para sobressair. Samantha diria as exatas palavras de: “eu dormi com ele

primeiro que você” — completei com voz debochada. — Isso é tão babaca.

Amber riu, segurando o avental contra o corpo. Me sentei na mesa da


cozinha, pegando uma porção da pipoca com chocolate que fizemos, e enfiei
pouco a pouco em minha boca.

— Acho que o preocupante nesta situação é você com todo esses


ciúmes.

— Não é ciúmes! Mas é mega desconfortável, você nunca viveu uma

situação onde o cara, que é pai do seu filho, foi o primeiro homem da sua
ginecologista — Revirei os olhos. — E o pior, é que parece sério. Para
Sebastian, pode não ter passado de mais uma noite! Mas para qualquer
garota, é um dos momentos que ficam marcado em si.

Minha irmã me ouvia tagarelando e se sentou ao meu lado.

— Olha, eu acho que os sentimentos da gravidez estão lhe


confundindo.
— Como assim?

— Você diz que Sebastian foi apenas uma noite.

— E foi!

— Mas fica com ciúmes porque sua médica o quer novamente na


cama dela — debochou.

— E eu não deveria? Ah, nossa, vou chegar no parto do meu filho e


olhar para minha obstetra e: “Oi doutora, quando é que o pai do meu filho vai
fazer um filho na senhora também?”.

— Meu Deus, você está ficando cada dia mais debochada! —


exclamou, e não evitei a risada alta. — Realmente, admito que a situação é
difícil, mas pensa comigo, você disse que ele deu uns cortes nela.

— Talvez por respeito. — Dei os ombros. — Ele está tentando ser


bonzinho pois pediu o negócio da chance lá.

— Pois, se ele quiser mesmo a chance de ser pai do meu sobrinho,


não vai olhar para essa mulher de maneira diferente em nenhum momento. É
respeito a vocês, algo que particularmente já me faz gostar desse tal de
Sebastian Collins.

Suspirei, pegando a jarra de água sobre a mesa e deixei uma


quantidade generosa cair em meu copo. A viagem até o Texas demorou mais
do que eu previa, entretanto, correu tudo muito bem e quando vi, já estava

sendo abraçada pelo clima escaldante da fazenda Dente de Leão.

Eu, particularmente, nunca seria boa o suficiente para viver aqui.


Gostava mais do movimento da cidade grande, das coisas sendo facilmente
encontradas e da minha vida sempre nos trilhos. Já Amber preferia a forma
previsível do campo.

Tinha apenas alguns anos há menos que eu e coordenava toda a


propriedade com o mesmo pulso de um homem. Entretanto, sua coragem não
era tão benquista aqui, já que todos achavam que ela tinha que se casar com
um fazendeiro babaca e mandão, que com toda certeza a trairia com metade
da cidade, teria mais um punhado de filhos e sua vida estaria condenada a um
homem. Preferia deixar ela mesmo fazer suas escolhas e sabia muito bem que
esse não era o destino que minha irmã almejava.

— Vai ser filmado um filme na cidade na próxima temporada —

sussurrou. — Produção de Hollywood, coisa grande pelo que vi falar.


Estavam em busca de locações por aqui.

Meus olhos ficaram em riste pela maneira animada que falou. Seus
olhos brilharam, deslumbrados com a ideia, os cabelos escuros caindo
levemente ao redor do rosto e o sorriso de orelha a orelha.

— Aluguei a fazenda para algumas cenas.


— Amber! — exclamei. — É sua casa.

— Eu sei, Alex. Mas o dinheiro era muito bom, e o roteiro é tão lindo.
Além do mais, acho que nessa época já vou ter dinheiro o suficiente e a casa
reserva nos fundos já estará pronta.

— Ai meu Deus, alugou a casa junto? — Ela riu, faceira.

— Sim, eles precisam da propriedade para fazer a maioria das cenas


dos filmes. Será um de romance, dramático, com astros bonitões e muito
beijo de tirar o fôlego — zombou, me obrigando a revirar os olhos.

— Bom, você sabe o que faz. — Dei os ombros, caminhando até


minha menina, que levantou o olhar ao me ver me aproximando. — O que
minha princesa está vendo? — Alisei seus cachinhos, me sentando ao seu
lado.

— My Little Pony, Titi. — Sorriu e empurrou a panelinha com

bolachas de chocolate recheado com morango. — Quer? — Peguei uma,


mordendo e a acompanhando em seu filme.

Beijei sua bochecha em um momento qualquer, sentindo o cheiro de


flores, e inspirei fundo, pois sabia que quando acabasse o fim de semana,
teria que voltar para casa. Encarar Laura puta da vida com minha fuga e
encarar o fato de que minha vida agora estava mudando cada vez mais
rápido.
Em sete meses meu filho viria ao mundo, e eu não poderia estar mais
ansiosa.

Encontrei o olhar de Amber pela meia parede que dividia a cozinha da


sala e sorrimos uma para outra, pois a sensação de que era da mesma forma
quando éramos adolescente não parava de chegar.

Só que com filhos e responsabilidades.

— Sério mesmo que Samantha teve que aparecer neste momento? —


Maggie indagou, completamente surpresa enquanto balançava um dos

gêmeos de um lado para o outro. Suspirei, passando o canal da televisão


enquanto pensava no que tinha acontecido. — Não muda, estou vendo a
novela.

Arqueei a sobrancelha. Ela estava tagarelando, e não assistindo à


novela.

— Sim, e ainda insinuou que pudéssemos sair para algo. — Reviro os


olhos. — Sinceramente, minha vida está bagunçada o suficiente para trazer
fantasmas do passado junto a ela.

— Mas Samantha é uma garota legal, lembra? Vocês se davam bem.


— Minha irmã argumentou e eu lhe olhei, desconfiado. De todas as mulheres
que andei desfilando nos últimos tempos, ela nunca, em hipótese nenhuma,
aprovou.

— O que você tem? Está dizendo que devo sair com Samantha?

— Não, não disse isso. Só disse que não vejo motivo para você não
sair. — Deu com os ombros.

— Olha, Maggie, pensa como seria estranho eu estar no parto do meu


filho, com Alexandra, e estar namorando a obstetra dela.

— Ah, então tudo tem a ver com Alexandra.

Arqueei a sobrancelha com sua conclusão.

— O quê? Não deveria ter? Ela vai ter um filho meu, eu vou ser pai,
vamos estar conectados de uma forma que não tem mais como voltar atrás, a
questão clara é que não quero ir no aniversário de um ano do meu filho e ver
nossos tios inconvenientes contando sobre como peguei a médica da mãe
dele.

Maggie soltou uma gargalhada alta.


— A situação fica cada vez mais interessante. Vi que foi falar com a
tal de Hannah, quem é essa? — Balançou o cartãozinho de Hannah no ar, que

tinha pegado quando fui visitar papai no hospital.

— Amiga de Alex. Eu precisei descobrir onde Alex ficará no fim de


semana, para mandar uma coisa a ela.

— Por quê? Ela saiu da cidade? E que coisa é? — Balançou as mãos


em frente o rosto. — Merda, cuidar de crianças é tão trabalhoso que no fim
do dia nem lembro se tomei banho.

Dou risada.

— Foi ver a irmã, no Texas, segundo Hannah. Eu queria mandar algo


para o bebê. — Minha irmã arqueou a sobrancelha. — Sei lá, fui no shopping
comprar algo para mamãe e quando vi, estava em uma daquelas lojas
enormes de coisas para bebês e aquelas roupinhas, que mal cabem em meu

braço, me atraíram.

— Eu sei como é. — Riu de mim. — Você está todo bobo com a ideia
de um filho.

Levantei novamente, colocando Melissa no colchonete que ela


adicionou no chão do meu apartamento, e arrumei a menina para que
dormisse de maneira mais confortável. As pernas cheias de curvinhas e o
bumbum coberto pela fralda deixava a imagem irresistivelmente fofa.
— Eu estou. Acho que nunca estive tão ansioso com uma coisa assim
antes.

Ela se sentou, se encaixando na curva do meu braço.

— Quando irá falar para a mamãe? Papai já está até planejando seus
próximos filhos com Alexandra. — Segurei a vontade de chorar, pois minha

família foi por muito tempo despedaçada.

Quando Neiva e Arnold Collins tinham a chance de ter todos lados a


lado e com netos novamente, eles estavam aproveitando a situação ao
máximo. Ganharam u dois de uma vez de Maggie e Hunter e queriam me
induzir a produzir mais uma ninhada.

— Nos sonhos deles — debochei, a fazendo rir.

— Alex! É para você. — Ouvi Amber gritar da sala, minutos depois


de atender a porta. Franzi o cenho. São quase onze da noite, não saímos de
casa e as únicas pessoas que sabem que estou na cidade são o pessoal da
fazenda. Então levantei com cuidado para não acordar Helô e saí andando
devagarinho pelo quarto totalmente rosa. Inspirei fundo e vi minha irmã

segurando o sorriso enquanto me encarava.

— Quem é? Ninguém sabe que cheguei. — Ela abriu a porta, que


revelou um homem com uma farda amarelada do serviço de entregas. —
Oras, entrega a essa hora? É uma fazenda, pelo amor de Deus.

— Não reclame, receba.

— Não moro aqui, por que tenho que receber? — Arqueei a


sobrancelha e vi o homem me olhar com certa impaciência. Me aproximei e
assinei o papel antes de receber a pequena caixa embrulhada com cuidado.

— Obrigada, tenha uma boa-noite. — Ele se afastou, entrando na


picape, e foi embora antes mesmo que tivesse qualquer reação. Segurei a
caixa em minhas mãos e procurei pelo remetente, sentindo meu coração errar

uma batida com o nome escrito à mão.

Sebastian Collins. “Achei que precisava de uma coisa para marcar a primeira
consulta do nosso filho. Obrigado, Alex. Por tudo.”

— Ele é fofo demais! Ai meu Deus… — Amber suspirou pelas


minhas costas e me incentivou a abrir o presente. Assim fiz, arrancando os
papéis com cuidado até que uma caixinha em duas cores, amarelo e azul, se
revelou. Dentro, havia duas coisinhas minúsculas. Também da mesma cor
pastel. O primeiro era um pequeno macacão amarelo com o desenho de um
coração na frente, e o segundo era um sapatinho minúsculo na cor azul, com

pequenos detalhes em vermelho.

Meus olhos se encheram de lágrimas, e eu nem sei por que minhas


mãos tremiam tanto. Iria comprar algo para ter como a primeira roupinha,
mas ver meu filho ganhando seu primeiro presente do pai era melhor do que

eu poderia imaginar.

— Segura o coração senão você se apaixona fácil. — A voz de Amber


chegou até mim como o anjinho do bem tentando me tirar das mãos do
tentador. Balancei a cabeça, sabendo que, infelizmente, ela estava certa.

— Está seguro. — Coloquei a mão sobre meu peito e segui para o


meu quarto, precisando ficar alguns minutos sozinha. Não ia me apaixonar
por Sebastian Collins, não ia, não podia. Não poderia cair novamente nesta
mesma armadilha.
— Quando você pretendia me contar que vai ser pai? — A voz de
mamãe me fez pular da cadeira. — Um filho com Alexandra Johnson? Pensei
que fosse só mais um rabo de saia seu.

Segurei a risada. Neiva mantinha os cabelos loiros presos no alto da


cabeça em um coque firme, os lábios rosados pelo batom e o rosto bem-
maquiado disfarçava as rugas da idade que definiam seus traços.

— Esperava a mãe do meu filho retornar à cidade para falar com


todos. — Dei com os ombros, fechando meu notebook para focar apenas
nela. — Iria marcar um jantar no fim de semana e convidar todo mundo, mas
pelo visto, ninguém nesta família sabe guardar segredos.

Ela deu uma risadinha, se levantando rapidamente. Parou ao meu


lado, beijando minha bochecha enquanto alisava meus cabelos.
— Ah, meus meninos, cresceram tão rápido. — Foi saudosa. — Me
lembro quando peguei Maggie e você no colo pela primeira vez — os olhos

cheios de lágrimas apertaram meu coração. — Quase não acreditei. Depois de


anos tentando ter filhos, Deus havia me presenteado com dois. Dois filhos
maravilhosos.

Limpei a lágrima que caiu em seu rosto.

— E agora, vocês estão pegando os próprios filhos nos braços. Daqui


a pouco, os dois estarão casados e eu não sei como deixei vocês fora da
minha vida por tanto tempo. — Abracei minha mãe, alisando suas costas com
cuidado, e sorri.

— Não vou me casar, mamãe. Nem tão cedo. — Ela beliscou minhas
costelas.

— Um bebê precisa de uma família, Sebastian.

— E terá, eu e Alexandra seremos maduros o suficiente para criarmos


bem está criança, ela não terá uma casa completa, mas pensando pelo lado
positivo, terá duas que a amará muito. — Apertei suas mãos, segurando o riso
diante sua expressão de puro descontentamento.

— Isso não é certo, Sebastian. Um filho significa que duas pessoas já


fizeram o suficiente para serem obrigadas a se casar.
— Não estamos na época medieval, pelo amor de Deu… — Fui
interrompido, pois alguém bateu à porta. Tentei me recordar se marquei algo

para agora. — Pode entrar. — Recebi isso como um sinal divino para fugir da
minha querida mãe.

A porta se abriu e Alexandra passou por ela, segurando a bolsa contra


o corpo, sinal que acabou de chegar na empresa. Os cabelos presos

novamente na enorme trança que batia em sua cintura, a blusa branca coberta
pela jaqueta jeans e calça do mesmo material, que demarcava toda a extensão
das pernas.

— Oh — exclamou, ao perceber mamãe ao meu lado. — Bom dia,


senhor e senhora Collins. — Foi toda formal e escutei mamãe dar uma
risadinha.

— Bom dia, Alex, depois de descobrir que você vai ser minha nora,
não vejo por que de tanta formalidade. — Os olhos da mulher se arregalaram

tanto que senti que a qualquer momento iriam cair do seu rosto.

— Nora? Pelo amor de Deus. — Se abanou, como se estivesse


sufocada. Mamãe, muito pomposa em suas palavras, a ajudou a se sentar.

— Sim, querida, irão ter um bebê, esperamos mesmo que estejam


pensando em se casar.

— Casar?! — Alexandra praticamente gritou, me encarando com os


olhos variando entre raiva e pavor.

— Pelo amor de Deus, mamãe, você vai fazer Alexandra ter o filho
meses antes. — Apontei para situação da mulher e ela pareceu meio
atordoada. — Minha família é exagerada, Alex, ninguém vai casar aqui, não.
Não vivemos na era medieval, pelo amor de Deus!

Neiva Collins bufou.

— Estou muito feliz com meu netinho e não me importo com vocês
falando besteira, irei convencê-los uma hora ou outra. — Pegou a bolsa sobre
minha mesa, nos encarando como se tivéssemos falado que a Prada era uma
marca ruim. — Farei um almoço no sábado, eu realmente espero todos vocês
na minha casa.

— Papai não pode sair do hospital.

— Daremos um jeito — falou, empinando o nariz da mesma maneira

de Alex, saindo da sala logo depois. Parecia até mesmo um movimento


combinado entre as mulheres.

— Você está bem? Ela exagerou na pressão. — Me virei para a


mesinha em minhas costas, servindo uma quantidade generosa de água no
copo, e caminhei até Alex, me abaixando em sua frente. — Tome um pouco
de água.
Ela segurou o copo, bebendo um enorme gole rapidamente, e a cor
começava a voltar a suas bochechas. A observei, retirando uma mecha do

cabelo que caía em frente ao seu rosto, e Alex focou os olhos em mim.

— Eu quase morri do coração! — exclamou, me fazendo rir alto. —


Você ri, mas não é você que encontrou a avó do seu filho tagarelando sobre
ter que casar já que fizeram um bebê.

— Ela é louca para nos ver todos casados. Não se importe com isso.

Ela inspirou fundo.

— O almoço no sábado é obrigatório?

Balancei a cabeça, confirmando.

— Infelizmente, não posso mudar isso. — Dei com os ombros. —


Mas me diga, o que te trás na minha sala tão cedo? Tudo bem por aqui? —
Toquei sua barriga, que é apenas o mesmo ponto firme, mas sem nenhum

volume.

— Enjoos, mas nada que mate. Apenas vi-m… — gaguejou, coçando


a cabeça de maneira envergonhada. — Agradecer.

Arqueei a sobrancelha, supresso.

— Pelo quê?
— Pelo que mandou na casa da minha irmã. Obrigada. — Sorriu,
tímida. — Eu amei. — E meu coração vacilou por saber que fiz algo que

finalmente agradou essa mulher.

— Fico feliz que tenha gostado — sussurrei, segurando sua mão


contra minha. Alexandra colocou o copo sobre a mesa e me encarou com os
olhos brilhando e o sorriso aberto.

— Estou nervosa. Maggie já sabe, sua mãe também e não sei seu
pai…

— Ele sabe, foi o primeiro a saber. — Ela abriu a boca, como um


peixe fora d’água. — Amou, disse que você foi um bom achado para a
empresa dele. — Modifiquei as palavras do meu pai, pois não queria deixar
colado na minha testa que se Alexandra batesse o dedo, eu seria todo dela.

Não no sentido literal, apenas no sexual, claro.

Ela riu e se inclinou em minha direção, passando os braços em volta


do meu pescoço em um abraço apertado.

— Agora, deixe-me ir trabalhar. — Se afastou, e o choque de


realidade me fez levantar. Ela pegou a bolsa, tomou mais um pouco da água e
logo saiu pela porta, e me sentei no mesmo lugar que esteve poucos instantes
antes, encarando o teto da minha sala.
Era só conexão. Esses batimentos irregulares era o fato de que
estávamos ficando íntimos um do outro. Não era nada demais.

Ah, merda! Foi só o susto. Foi o maldito susto que Neiva Collins me
deu que fez meu coração parecer uma banda de rock digna de um prêmio.
Tentei respirar, segurando o celular contra meu corpo, sabendo que uma hora
esses batimentos irregulares e malucos teriam que parar. Ora, eu estava bem.

Eu estava bem. Não estava nem um pouco balançada com Sebastian.


Era tudo ilusão, claro. Tinha que ser.

Meu olhar recaiu sobre a bolsa de viagem que estava no canto do


escritório e lembrei do dia anterior, que foi um completo desastre. Saí com
minha irmã e minha pequena para nos distrairmos um pouco. Caminhamos
pela cidade era claro que o destino o colocaria novamente em minha vida.
Como uma a pedra em meu sapato que eu tanto gostava de esquecer. Robert.

A verdade era que corria um papo de que ele estava morando na


Inglaterra havia mais de cinco anos. Por esse motivo costumava ir ao Texas
frequentemente, ver minha irmã e matar a saudade de casa. Porém, parecia

que ele resolveu ser o momento estratégico para voltar.

Meu ex-namorado, dez anos mais velho, que costumava dizer que
nunca passaria de mais uma na cama de homens ricos e poderosos, como
minha mãe foi. Jurei que nunca seria como ele havia dito.

Só que por mais que provasse que estava errado, parecia que me
afundava cada vez mais no julgamento alheio.

“Chegou bem?”

A mensagem de Amber apitou em minha tela.

“Muito bem, obrigada, maninha.”

Sorri, agradecida, pois a forma em que ela se colocou em minha


frente para me defender daquele filho da puta valia muito. Tudo bem que os

um metro e meio de Amber não assustava um cowboy do estilo de Robert,


mas ela ao menos tentou.

“Fica de olho, fiquei sabendo que o filho da puta foi para Nova Iorque. Eu
não faço ideia do que ele quer aí, mas a tia dele fica dizendo que foi a
negócios e para ver a irmã”

Franzi o cenho.
“Desde quando Robert tem uma irmã?”

“Eu me fiz a mesma pergunta, sempre ouvi que o velho do pai dele só
havia tido um filho”

Balancei a cabeça, sentindo meu corpo estremecer diante disto.


Robert estava vindo a Nova Iorque, entretanto, era uma cidade enorme e com

toda certeza não precisava me preocupar. Porém, como tudo na vida que
ameaçava a tirar minha paz, não conseguia parar de pensar.

Laura e Robert eram as pedras em meu sapato. Juntos, eles


conseguiam me fazer sentir pena de mim mesma. Não sei ao certo quando
minha mãe e meu namorado se tornaram meus inimigos, acho que foi no
momento que rejeitei ser amante de um e consequentemente, cortar os sonhos
de uma vida boa para outra.

Não queria ser a outra. Passei a vida toda selecionando as pessoas

com quem me relacionaria. Quando entrasse em um, tinha que ser completo,
com direito a tudo, e não ser a pessoa em que o outro corre quando o mundo
ameaça a desabar.

A teoria do bode expiatório me deixava enjoada.

“Não se preocupe comigo”, respondi a Amber.

“Não tem como não me preocupar quando aquele homem insiste em


fazer você se sentir inferior. Eu juro por Deus se ele e sua mãe não pararem,
vou chutar a bunda dos dois”

Segurei o sorriso.

“Você tem um metro e cinquenta, Amber!”

“E sou muito capaz de subir num banquinho para alcançar a bunda

daquele desgraçado”

Gargalhei, me sentindo muito melhor agora. Guardei o celular e me


sentei na cadeira, remexendo nos papéis que estavam espalhados, quando um
envelope pardo caiu no chão, atraindo minha atenção.

Peguei, segurando-o entre os dedos com cuidado, e puxei o lacre ao


ver que era destinado a mim. As três fotografias que caíram de dentro me
fizeram estremecer. Sebastian e eu nos beijando na entrada do bar no dia do
happy hour, nós juntos em frente a clínica da obstetra, de mãos dadas com ele

segurando meu rosto de maneira que dava muito espaço para imaginação. E
por último, uma cópia do teste de DNA que entreguei a ele.

Ofeguei, arregalando os olhos. As provas de que em algum momento


tive um caso com meu chefe, que estava grávida e que fiz um teste de DNA
para provar a paternidade e a falta de um aviso de quem mandou ou o que a
pessoa desejava com isso, me fizeram criar mil e uma ideias.
— Carly! — gritei, esganiçada sem saber o que fazer. A mulher
apareceu na porta do consultório, com os olhos arregalados. — Quem deixou

isso na minha mesa? Quem deixou?! — exigi saber, suando frio diante disso.

Ela se aproximou, em passos pequenos, e segurou o envelope entre os


dedos, passando foto por foto com cuidado, parando no exame de DNA, e
quando finalizou a revista, guardou novamente dentro de envelope.

— Veio pelo serviço de entrega, Alex. Não faço ideia… — Encolheu


os ombros, confusa. — Por que alguém te mandaria isso? Seria alguém da
empresa fazendo alguma brincadeira sem graça?

Fechei os olhos, sentindo a onda de tontura se apoderar do meu corpo,


e caí para trás, sobre a cadeira, encostando a cabeça contra a almofada e
repassando em memória todas as pessoas que teriam um motivo para me
atingir.

— Uma pessoa estava me seguindo. Ai meu Deus, essa situação é


cada vez mais difícil! — Carly retirou minhas mãos do meu rosto, liberando
meus olhos para que a encarasse.

— Calma, vamos descobrir quem é, querida. Tome água, está pálida.


— Empurrou o copo em minha direção, me fazendo beber calmamente. —
Precisa ficar calma, não é bom passar muito nervoso. Sabe, agora é você e
outro serzinho.
Tocou minha barriga, me fazendo rir.

— Você está certa. — Balançou a cabeça em concordância. —


Obrigada, Carly.

Recebi um beijo no topo da cabeça de minha secretaria.

— Vamos cuidar muito bem deste pequeninho. — Sorri com suas

palavras e a abracei, precisando de uma pessoa que fosse meu apoio. Minha
mãe ainda insistiu com o aborto, e infelizmente, ela era a única pessoa mais
próxima da família em Nova Iorque. Amber não contava aqui, estava muito
longe para chutar a bunda do pessoal.
— Como assim, Carly? — Me levantei, confuso. — E ela não me
conta nada?! — Alterei o tom de voz e vi a mulher dar um passo atrás, pelo
susto. Suspirei. — Como Alex está?

— Ela ficou meio abalada com tudo, minha menina ama muito o
trabalho dela, senhor Collins, ela não quer que nenhuma notícia venha
prejudicar a forma em que ela consegue as coisas. — Encarei o teto, pedindo

paciência. — Peguei as fotos na sala dela pois ela disse que não iria contar
para você. — Empurrou em minha direção, e peguei envelope.

Passei cada foto com cuidado e senti a raiva nascendo dentro de mim,
pois não importava o filho da puta que estivesse seguindo nossos passos, ele
queria que tivéssemos medo que a notícia da gravidez visse à tona.

— Vou falar com Alex. — Joguei tudo dentro do envelope novamente


e guardei no bolso do meu paletó com cuidado.

— Ela saiu para o almoço, não pode vê-la agora. — Revirei os olhos e
me obriguei a me ver com clareza. Cheguei à conclusão que não poderia fazer
nada que me arrependesse. Estava andando em corda bamba com Alex,
magoá-la ou irritá-la só iria me fazer passar por maus bocados depois.

— Quando ela chegar, me avise, Carly. — A mulher sorriu, nervosa, e


saiu da sala batendo a porta em suas costas. Procurei meu telefone sobre a
mesa, discando o número de Adônis, sabendo que o homem de quase dois
metros de altura deveria ter visto alguma coisa.

Contratar um segurança não era minha coisa mais amável no mundo.


Entretanto, depois de passar quase uma vida preso em um hospital e aparecer
em público novamente como o CEO de uma empresa do nível da nossa,
poderia atrair olhares indesejados. Com as pessoas do meu passado.

— Diga chefe. — Sorri debochado.

— Tem uma pessoa seguindo a mim e a Alexandra, de alguma


maneira, conseguiu uma cópia do exame de DNA e fotos nossa na clínica.
Está sabendo de algo fora do comum? — Ele nunca andava comigo, preferia
que me acompanhasse em seu próprio carro para que a visão de fora ficasse
melhor.

— No dia da consulta eu verifiquei e havia um jornalista próximo —


falou baixo. — Não estava focado em você, Sebastian, mas sim em uma
celebridade local, mas pode ser que tenha sido apenas um disfarce.

Inspirei fundo.

— Com toda certeza foi.

— Ótimo, irei descobrir mais sobre isso e dar um jeito nessa situação.

— Obrigado, Adônis. — agradeci, me sentindo mais leve diante


disso.

Os contratos em minha frente pareciam arder sobre meus olhos e os


deixei de lado, levantando da mesa ainda sem conseguir focar em nada. Já
tinha quase meia hora e nada de Carly vir me avisar o retorno de Alexandra,
então iria lá por mim mesmo. Que se dane!

Nem sei por que estava tão preocupado. Talvez fosse o fato da
secretária ter falado que ela ficou um pouco instável, ou por que prezava
tanto pelo trabalho que se sentiu ameaçada com tudo. A pior parte deveria ser
a segunda opção.

Alex era esforçada demais, muito inteligente, e quem a conhecesse


sabia que usar os outros métodos para alcançar seus objetivos não era do seu
feitio. Inspirei fundo, precisando falar com ela sobre isso.

Deixei tudo de lado e saí da sala, caminhando até seu setor. Assim
que alcancei a mesa de Carly, ela pulou para tentar explicar algo, porém,
apenas balancei a mão indicando que depois conversávamos. A senhora
roliça não se dou por vencida, caminhando até mim a passos apressados.

Abri a porta do escritório de Alexandra sem anunciar nada e fui


surpreendido por dois pares de olhos virando para mim, um completamente
assustado. Alexandra e Susan, que sorria de orelha a orelha.

— Sebastian! Que bom que chegou. — Franzi o cenho, me sentindo


meio desconfortável com as duas mulheres me encarando. Sabia que devia ter
anunciado minha chegada!

— Deseja algo, senhor Collins? — Já que estava aqui, fechei a porta


em minhas costas e encarei as duas com um olhar sério. — Não escutamos

sua presença ser anunciada.

— Não anunciei, sinto muito.

— Ah, que nada! — Susan interveio. — É o chefe e vai me ajudar a


convencer Alexandra a dar uma chance ao destino. — Deu uma risadinha, me
fazendo arquear a sobrancelha ao ver a mulher com uma a expressão de quem
prefere morrer ao estar aqui.
— Susan, pelo amor de Deus, o senhor Collins não quer realmente
saber da minha vida pessoal.

Susan riu, com toda a indiscrição que tem em seu sangue.

— Que isso, Sebastian é o chefe mais simpático e gente boa que


conheço. Me diga se Alex deve ou não dar uma chance ao destino? — Olhei

para Alex, que escondia o rosto entre as mãos, e sorri.

— O que seria o destino, Susan? — Puxei a cadeira, me sentando de


frente a Alex e ao lado de Susan.

— Ah, meu irmão está na cidade e eu preciso arrumar uma companhia


legal para ele. Ele não conhece Nova Iorque muito bem, e sei que não há
mulher melhor para meu irmão do que Alexandra. — Bateu palmas. As
palavras entraram em meu ouvido e me congelaram no lugar.

Que porra era aquela?! Agora eu teria que dar a palavra final que

levaria Alex diretamente para um encontro com um americano maldito


qualquer?! Segurei a vontade de mandar Susan para a casa do caralho e
encarei Alexandra, que mantinha os olhos azuis sobre mim.

Sorri de lado.

— Acho que essa escolha deve ser de Alex. — Encarei Susan. — Não
posso dizer que ela deve seguir o destino, pois não conheço seu irmão e nem
os planos dela. — Dei os ombros e vi Susan franzir os olhos em riste.

— Só isso? Poxa vida, me ajuda, Sebs, ela se recusa.

Alexandra se levantou.

— Chega, Susan, não vou sair com seu irmão. Não no momento. —
Ela coçou o pescoço, deslocada. — Minha vida está uma bagunça, eu vou ser

mãe em poucos meses e eu acredito bem que quando colocar isso para
qualquer homem, ele vai correr pela porta da frente. Então não, obrigada pelo
“destino”. — Fez aspas no ar, esbanjando ironia. — Mas se não se importa,
tenho um assunto sério para debater com Sebastian.

Apontou para mim, e a mulher congelou no lugar, parecendo pensar


em cada palavra de Alexandra. Em seguida, sorriu.

— Bom, pelo visto não é um bom dia para o cupido — se desculpou,


risonha, e logo se foi. Encarei Alexandra, com a sobrancelha arqueada, e a vi

cair para trás, na cadeira.

— O destino, é?

Ela riu.

— Pois é, o cupido ruivo decidiu que arranjar um namorado para a


mãe solteirona é a melhor solução.

— Sobre isso que eu queria falar.


— Sobre o assunto de casamento que quase me matou do coração?!

Segurei a risada.

— Não, sobre o fato de que uma hora ou outra irão descobrir que está
gravida e que o bebê é meu. — Ela ficou tensa. — Carly me mostrou as fotos.

— Fofoqueira! Daqui a pouco Nova Iorque inteira sabe —

resmungou, enraivecida com a secretária, e me inclinei, segurando suas mãos


contra as minhas, a mantendo com os olhos focados em mim.

— Não me importo com o que falam, Alex, mas você, sim. — Ela
fechou os olhos, mortificada pela vergonha. — E não quero que se sinta
desconfortável, então vamos resolver isso juntos, ok?

Ela me encarou com os olhos marejados.

— Eu odeio os hormônios — sussurrou. Me levantei, caminhando até


sua cadeira, e puxei rapidamente para que ela ficasse entre minhas pernas e

me abaixei em sua altura, encarando a mulher que simplesmente estava


conseguindo monopolizar minha atenção toda sobre ela. Sem nem ao mesmo
querer isso.

— Não chore. — Limpei a única lagrima que caía do seu rosto. —


Bonita demais para chorar.

— Você é charmoso demais para falar isso. — Bufou, exasperada.


Segurei a risada.

— Você me acha charmoso, querida? — Alisei sua bochecha, tocando


a parte de trás de sua cabeça, com meus dedos deslizando por seus fios
sedosos. Ela arqueja. Baixinho e quase imperceptível.

Só que estou tão desesperado por uma reação de Alexandra diante

mim que não passa despercebido.

— Eu não teria dormido com você se não fosse pelo seu charme,
senhor Collins? — E os olhos azuis me encararam, explodindo em pequenas
faíscas de desafio, e me fizeram estremecer, excitado com a ideia dela tão
próxima.

Era só me inclinar para frente e selar nossos lábios. Apenas isso. E o


movimento ficou repetindo tanto em minha mente, que só senti quando
Alexandra tomou a frente, aproximando nossas bocas, selando nossos lábios

em um beijo que vinha imaginando havia dias.

Não era o encostar de lábios sem graça que demos no outro dia.

Sua boca era faminta sobre a minha, pedindo passagem com a língua
contra meus lábios. E não me resguardei; a puxei em minha direção e segurei
sua cintura fina com firmeza contra meu corpo enquanto deixei meus dedos
tentando desgrenhar o penteado dela.
Ela geme, com nossas línguas dançando junta, me fazendo
estremecer. Minha pele esquenta, na medida que tudo se torna ainda mais

intenso e gemo, sentindo meu pau crescer dentro da boxer e fazer ficção
contra o material resistente da calça social.

— Sebastian... — ela gemeu, enquanto meus lábios desciam em uma


trilha de beijos por sua bochecha, parando na orelha e mordiscando o lóbulo

corado pela situação.

— Diga, querida — sussurrei, beijando o pescoço, e suas mãos


agarraram meu paletó, me puxando novamente contra seus lábios. Sabia que
o mundo podia acabar naquele momento, que morreria um homem muito
feliz por ver Alexandra Johnson completamente entregue em meus braços,
sem nenhum requisito de bebida no sangue para servir como desculpas
depois.

— Eu preciso parar, merda — xingou contra meus lábios enquanto

suas mãos desciam por meu dorso, mesmo por cima da camisa e por baixo do
paletó, sentia minha pele queimando.

— Pior momento para decidir nos pegar — debochei, segurando o


rosto da mulher e a fazendo me encarar fixamente. — Você é bonita demais
para meu próprio bem. — Ela deu uma risadinha.

— Você é charmoso demais para eu ter que resistir, senhor Collins.


— Tocou meu rosto, e nos encaramos, respirando ofegantes, com os lábios

rosados pelo que acabou de acontecer. — Só que não posso fazer isso. Não

posso dar mais motivos para ouvir coisas sobre mim.

— Eu sei.

— Por isso, preciso de uma coisa. — Arqueei a sobrancelha.

— O quê?

— Preciso que me demita.

Neste momento, voltei ao estado inicial de quando Susan me falou


sobre destino, namorado, americano filho da puta, e senti um estalo em minha
cabeça, dando sinal de que nem morto faria o que estava me pedindo. Não,
não vou deixar que um erro de ambos leve de mim uma ótima funcionária e
nem tire o emprego que ela conseguiu por mérito próprio.

— O quê?! Você ouviu o que você disse, Alexandra? — Ela se

encolheu diante meu tom alto e a puxei para próximo de mim novamente,
segurando seu rosto para que me encarasse. — Pode não acontecer nada entre
nós nunca mais, mas não vou demiti-la por causa de gente babaca que não
acredita que uma mulher não pode chegar alto sozinha.

Novamente, vi seus olhos cheios de lágrimas que logo cai em seu


rosto. Me inclino, beijando sua bochecha e secando as gotas com a mão.
— Não vou demiti-la, Alex. Meu pai a contratou, ele a escolheu para
esse serviço, e se Arnold Collins fez, é a melhor decisão. No mundo dos

negócios, ele tirava as melhores decisões, sempre. — Ela fungou, revirando


os olhos.

— Não posso ficar chorando sempre. Não sei como vou lidar com
isso, Sebastian. Não sei se consigo. — Beijei sua testa.

— Não me importo com o que vem, baby, só sei que vou estar aqui
para o que precisar. Para secar suas lágrimas quando os hormônios atacarem.
— Ela riu. — E eu não vou desistir da melhor advogada que tive o prazer de
conhecer.

Beijei seus lábios levemente, sabendo que quando ela se afastasse,


isso poderia nunca mais voltar a acontecer. Mas toda a paz que senti quando
seus lábios desceram sobre os meus se foi no instante que a porta do
escritório se abriu e não era nenhuma das pessoas em quem confiávamos para

guardar nosso segredo.


De todos os momentos da minha vida, nada, nadinha de nada, tinha
sido tão constrangedor até esse presente momento. Nem quando papai pegou
meu primeiro namorado passando a mão em minha bunda de maneira nada
inocente, nem quando tive que passar pelo processo de perda de virgindade.

A sobrancelha de Hunter arqueou em um arco perfeito e eu até teria


rido, se não fosse por uma das funcionárias da empresa na sua frente, a

bendita secretária de Sebastian, com os lábios rosados em um O perfeito.

Engoli em seco.

— Desculpe! — a mulher disse, praticamente soluçando, e bateu a


porta novamente, no exato momento em que o sangue voltou a correr em
minhas veias, e empurrei Sebastian para longe.

— Ai meu Deus…
— Não surta. — O homem tentou falar e lhe lancei um olhar agitado.
— Eu vou dá um jeito nisso.

— Peço, pela primeira vez, que você use sua maldita posição nesta
empresa e dê um jeito nisso. — Me abanei, sentindo que a qualquer momento
cairia no chão de tão nervosa que estava.

Ele riu.

— Estou indo. — Abriu a porta e revelou Hunter ainda parado lá, nos
encarando. — O que faz aqui, Hunter? — Sebastian perguntou com
impaciência.

— Eu vim falar com você, mas depois dessa visão, quero falar com
Alex. — Balançou a cabeça em minha direção e segurei a risada. — Acho
que sua secretária amou o show ao vivo, se não for falar com ela, o negócio
vai ficar um pouco feio.

— Venha na minha sala, quero falar com você. — Sebastian


caminhou para longe, e vi Carly observando toda a situação da sua mesa. O
homem travou ao perceber que Hunter não o acompanhou, e sim se
aproximou da minha sala. — Você não vem?!

O tom era um tanto indignado.

— Maggie me mandou pegar as duas versões da fofoca — Hunter


rebateu, sorrindo ao ver a expressão de Sebastian. Fechou a porta em suas
costas e me encarou. — Ele fica louco.

Arqueei a sobrancelha.

— Eu também ficaria se meus parentes fossem os Collins — rebati, o


vendo rir.

— Sério. Sebastian? — debochou, me deixando desconfortável.

— Foi só um beijo — rosnei.

— Beijos geram bebês agora? — ironizou, me fazendo suspirar e


pedir paciência aos céus.

— Não seja debochado, sabe muito bem que estou falando que o que
aconteceu agora foi só um beijo.

— Sim, quero saber como vocês criarão um bebê. Inclusive, meus


parabéns pela criança — Sorri com suas felicitações. — Eu adoro o

Sebastian, acho que ele será um ótimo pai e, se tiver chance, um bom marido,
mas nunca pensei que existisse algo entre vocês.

— Não existe. E pelo amor, já basta Neiva Collins tentando nos casar.
— Ele riu alto. — Aconteceu há um tempinho. — Encarei o caderno aberto
sobre minha mesa. — Foi o tipo de coisa que fazemos quando não estamos
em nosso juízo normal. Não falo que foi um erro pelo bebê…— Inspirei
fundo. — Mas foi um erro com quem eu fiz. Ele é incrível, Hunter, só que

não é para mim. E agora, a empresa vai ficar sabendo do meu maldito caso de

uma noite com o chefe e minha vida vai ficar ainda mais bagunçada.

— Acho que não deve se prender tanto ao que o filho da puta do


Robert deixou em você. Ele queria te estragar para que nunca mais você
pudesse ver a felicidade com ninguém, Alex. — O encarei, pois de todas as

pessoas que tinham entrado em minha vida nos últimos anos, Hunter era o
único que sabia sobre o passado. — Sinceramente, vão ter um bebê e acho
que a forma que estavam aqui, deixa claro que não é algo apenas de uma
noite.

Revirei os olhos, e a porta se abriu novamente, revelando Sebastian


com um sorriso prepotente.

— Problema resolvido. — O peso dos meus ombros se foi lentamente.


— Agora venha, Cooper, preciso falar com você. — O tom sério que se

dirigiu ao amigo me fez arquear as sobrancelhas.

Hunter assentiu, se levantando, e fiz o mesmo, segurando sua mão


com carinho.

— Vem cá — me chamou, e dei a volta, sendo puxada para um


abraço apertado. — Parabéns pelo bebê, querida. — Sorri de orelha a orelha.

— Obrigada, Hunter — sussurrei e escutei Sebastian tossir, me


afastando.

Ele estava com o rosto tão sério que era uma versão dele que pensei
que nunca iria ver.

— Eu realmente preciso que seja rápido.

Hunter assentiu e não saiu antes de me encarar e sussurrar:

— Eu disse que ele iria ficar maluco. — E me deixou ali,


completamente confusa.

A música alta perturbava as paredes finas do apartamento da minha


filha, e a sala completamente entalada de pessoas era o plano perfeito para
meus desejos. Sabia que não havia nada no mundo que Alexandra amava
mais do que sua independência, além de fingir que sua vida era
completamente perfeita.

A maioria dos convidados eram homens que nesta altura do


campeonato, com muita droga e bebida no sangue, não conseguiam mais
distinguir quem era homem, mulher e começavam a se embolar um no outro,

beijando-se, transformando tudo aquilo no meu exato objetivo.

A porta se abriu com dificuldade devido o casal que se imprensavam


contra ela e logo Alexandra colocou a cabeça para dentro, com os olhos
arregalados de pavor ao ver alguém em uma iniciativa de fazer sexo contra
seu sofá.

— Ai meu Deus. — Bebi minha vodca com calma, enquanto via seus
lábios se moverem em um sussurro. E os olhos azuis idênticos aos meus se
focaram em mim. Cintilando de raiva. A batalha foi travada. E eu venceria.

Só que não esperava pela virada busca, quando ela girou sobre os
saltos altos e saiu do apartamento. Esperava que ela entrasse, gritasse, batesse
o pé como a criança birrenta que sempre foi. Só que nada disso veio e ela
fechou a porta como se não fosse nada.

Inspirei fundo.

Eu iria vencer.

Eu iria vencer.

Ela ia ceder. Eu sei que ia.

Não era a primeira vez que Alex cedia e me dava dinheiro. E eu que
não daria uma de proletariado e ir enfiar a mão na massa. Sempre fui uma
mulher com destino para ser da elite, não da classe trabalhadora.

— Senhor Collins — minha secretária chamou. — A equipe de


limpeza passou pela sala da senhorita Johnson. — Isso atraiu completamente
minha atenção. A vi colocar uma sacola rosa de papel na mesa. — Deixou
isso comigo, disse que foi esquecido lá. Achei que poderia entregar para ela.

Balancei a cabeça em concordância, sabendo que o negócio poderia


ficar aqui até o dia seguinte para que ela mesma entregasse a Alex, mas
preferi eu mesmo fazer isso, ainda pensativo com a interação dela e Hunter.

Isso não saía da minha mente.

— Levo, sim. Obrigado, Any. — Pisquei, me distanciando da sala, e


entrei no elevador, apertando o botão do térreo, pensando em como iria fazer.
Pretendia ir até um bar, beber um pouco, geralmente ia para a academia para
me acalmar, mas desta vez, realmente precisava de algo um pouco mais forte.

Abri a sacola que Any me entregou e vi que dentro havia o presente


que enviei para o Texas no dia anterior. O sorriso se estendeu em meus lábios
e segurei juntamente a minha pasta de documentos, sabendo que era é o

motivo perfeito para tirar da cabeça a imagem dela e Hunter.

Eu não deveria ter ficado tão perturbado com isso. Ele era casado com
minha irmã. Tivera um passado com Alex, sim, mas era exatamente isso,
passado. Sabia que ele tinha um carinho especial por Alex, que o

relacionamento deles terminou de maneira pacífica, mas não poderia me


culpar por querer mantê-lo longe.

Ele tocou nela.

— Já disse que você é bobo por ter ciúmes. — A voz do meu melhor
amigo preencheu meus ouvidos assim que fechei a porta e deixei que tudo
fosse dito.

— Não estou com ciúmes. Mas você ficar cercando sua ex-namorada

quando é casado, não me parece algo normal… — Ele arqueou a


sobrancelha. — Você dormiu com ela! — gritei, batendo na mesa. — Como
acha que Maggie se sentiria?

Hunter revirou os olhos, em seguida, me encarou com toda a calma


do mundo.

— Você repete tanto isso que estou realmente ficando preocupado


que Maggie comece a acreditar nessa loucura. — Suspirou. — Mas ela é
madura, sabe que eu e Alex tivemos um passado, que não fui sincero com ela
quando decidi que queria sua irmã. Por isso, meio que fico em dívida com

ela.

Encolheu os ombros.

— Acha que ela ainda gosta de você? — Eu sinceramente, de tudo

que se passava em minha mente neste momento, não queria falar isso.
Queria xingá-lo e discursar em como ele deve ser fiel a minha irmã. Mas
tudo que saiu foi isso!

Ele riu.

— Se isso lhe preocupa tanto, deveria falar com ela — aconselhou —,


acredito que Alex nunca esteve apaixonada por mim.

— Então por que namorou com você?! — exclamei, perdendo o ritmo


dos meus pensamentos. Eu pensava A e falava tudo completamente diferente.

— Porque é o tipo de coisa cômoda, sem desafio. Que não emociona.


É o tipo de coisa que fazemos pois é o momento da besteira.

— Momento da besteira? — Arqueei a sobrancelha.

— Sim, são pequenos lapsos que acontecem e quando vemos, estamos


completamente arrependidos. — Me sentei em sua frente. — Tipo vocês dois.
Ela disse que o momento em que vocês fizeram o bebê foi algo que eu defino
como momento da besteira.

Senti meu sangue fervendo. Eu ouvi a merda desta conversa.


Besteira?! Em minha mente, aquele momento tinha muitas definições, menos
besteira.

— Você parece que está entrando em estado de raiva intenso —

Hunter debochou, com todo seu ar de superioridade que me irritava, e joguei


a merda de lado.

— Você tem que parar com essa merda. — Me inclinei, batendo na


mesa e fazendo os objetos balançarem sobre ela. — Não pode ficar
insinuando, cercando-a.

— Não faço nada disso. Você está morto de ciúmes. Fica vendo
coisas onde não tem. — Deu os ombros, com toda a petulância que Deus deu
a ele ao nascer. Paciência, Sebastian. Paciência. Você não pode socar a

cara do seu melhor amigo, vulgo cunhado filho da puta. — Sou um homem
casado.

Homem casado. Aram. Sei.

A porta do elevador se abriu no exato momento em que a memória de


hoje cedo se esvaiu e segui para fora, pensando sobre como iria abordá-la
sobre isso. Sem direito nenhum, sabia que não seria fácil.
Apertei a campainha do apartamento em que o endereço que constava
no cadastro da empresa me levou, respirando fundo uma, duas, três vezes, e
congelei ao ouvir a música alta e, do nada, a porta se abriu e uma porção de
pessoas ​— meio bêbadas e fedendo a algum tipo de droga — passou por

mim. Metade deles segurando as roupas contra o peito e com um olhar


grogue.

Arregalei os olhos e quando a última pessoa saiu, uma garota, que me


encarava, sorriu de maneira sugestiva.

— Perdeu a festa, garotão. — Bateu em meu ombro antes de ser


empurrada para frente e uma cópia de Alexandra se colocou em minha frente.
Só que mais velha e com um olhar entediado, quase irônico.

— Sebastian Collins. O que te traz aqui?

Engoli todas as minhas perguntas acerca do porquê tinha a população


inteira de Nova Iorque no apartamento.

— Preciso falar com Alexandra. — Ela bufou.

— Ela não está, viu a festinha e deu o fora. — Balançou as mãos no


ar. — Esses jovens de hoje em dia não sabem nem se divertir. — E sorriu, se
recostando na porta com um copo de vodca na mão.
— E você, quem é? Pelo que vi, me conhece. — Ela balançou as
mãos no ar.

— Sou Laura Johnson, mãe de Alex. — Estendeu a mão em


cumprimento, e engoli em seco. — Desde que ficou grávida, essa garota
ficou cheia de moralismo, acredita que ela insiste em ter essa criança?

Arregalei os olhos com o caminho da conversa.

— E o que mais ela poderia fazer? É um bebê. — Me fingi de sonso,


sabendo que eu mesmo já tinha insinuado o que essa mulher falou.

— Tirá-lo! A irmã teve um filho bastardo, ela sabe muito bem como é
ter uma criança sem um pai. Eu tive que criá-la sem o maldito pai e não quero
que minha filha seja taxada como estragada apenas porque decidiu criar uma
criança maldita. — Meus olhos tremeram em um tique nervoso e parei, a
analisando.

A raiva era enorme que ardia todo o rosto.

— Não se preocupe senhora Johnson, sua filha não terá esse


problema. — Pisquei, saindo dali rapidamente. Peguei o celular dentro do
bolso da calça e procurei o número de Hannah, digitando uma mensagem
rápida.

“Alex está com você?”


Ela respondeu rapidamente.

“Não, estou de plantão. O que houve?”

“Parece que a mãe dela armou uma cena. Não entendi bem, mas
pensei que ela estaria com você”

O celular tocou, e não hesitei em atender, ouvindo Hannah tagarelar

do outro lado, falando sobre a relação complicada que Alex e a mãe levavam.

— Ela deve ter ido para minha casa, Sebastian. Alex fica muito mal
toda vez que a mãe arma alguma coisa — xingou a mãe da amiga e inspirou
fundo. — Vou te passar o endereço. Cuida dela por mim, por favor.

Sorri.

— Cuido, sim — prometi, mais para mim do que para qualquer outra
pessoa. Cuidarei dela com todo o prazer do mundo.
Eu sabia que aquele tipo de afronta contra minha paz interior uma
hora chegaria, só que de uma forma escrota, resolvi acreditar que ela não
passaria dos limites. Pelo amor de Deus! Eu era uma advogada, se meus
vizinhos me denunciassem por uma festa que já passou dos limites da
civilização, era claro que nunca mais conseguiria nenhum grande caso.

Além do mais, eu influenciava diretamente na empresa em que

prestava serviços. Ter o nome deles envolvido em um escândalo desses era


praticamente assinar minha carta de demissão.

Inspirei fundo, repuxando a jaqueta de maneira que cobrisse mais


minhas mãos enquanto continuava sentada na varanda da casa de Hannah,
sabendo que poderia muito bem entrar lá e pegar um cobertor, mas preferi
aqui, observando o jardim malcuidado da minha melhor amiga.
Quando era pequena, ouvia sempre das pessoas que Laura Johnson
era o tipo de mulher que nunca deveria ser mãe e pensava nisso como uma

coisa horrível. Será que uma pessoa é tão terrível que nunca possa se
redimir?! Aprendi da pior maneira que algumas pessoas nunca conseguem se
redimir.

Inspirei fundo.

Observei a luz de um farol se aproximar, parando em frente à casa.


Inclinei-me, observado o homem sair do carro carregando uma sacola e parar
em frente ao portãozinho que batia em suas pernas.

— Alex! — Arregalei os olhos, me levantando em um pulo.

— Sebastian? — Limpei as lágrimas bobas que insistiam em cair,


coçando a garganta para limpar a voz embargada. — O que faz aqui? — Bati
no interruptor de luz que iluminava todo o jardim.

— Vim ver você. — Deu os ombros, pulando a cerca como um garoto


levado.

— Como sabia que eu estava aqui?

— Fui na sua casa. — Arregalei os olhos. — Algo estava errado, pois


um quarto da população de Nova Iorque estava dentro dele. — Segurei a
risada ao ver o sorriso levado dele. — Hannah me disse que estaria aqui.
— Sou previsível. Não precisava se preocupar. — Ele parou em
minha frente, a um palmo de mim. — É minha mãe, ela não é um exemplo.

Desculpe se viu alguma coisa lá, prometo que vou resolver isso e não vai ter
nada com que se preocupar. Em relação a imagem da empresa, se a polícia
bater em um desses eventos, posso perder muitos clientes.

— Eu não ligo para a empresa, Alex, você melhor que ninguém sabe

que meu passado daria uma bomba enorme. — Colocou uma mecha do meu
cabelo atrás da orelha, descendo as mãos por meu pescoço. Estremeci diante
seu toque quente. — Você está congelando, pelo amor de Deus!

— É, está um pouco frio. — Sorri. — Mas estou bem, não se


preocupe.

Ele me encarou, com o olhar de quem conseguia me ver realmente,


não só o que aparentava, mas aquilo que doía lá dentro.

— Vamos comigo para casa, me conte o que está acontecendo e eu


preparo um jantar. — A menção de comida fez meu estômago se revirar.

— Você, cozinhando? — Arqueei a sobrancelha de maneira


debochada.

Ele riu.

— Bem, talvez seja melhor pedir algo para alimentar você e o bebê.
— Beijou minha testa com carinho. Não resisti em me envolver em seu
abraço, sabendo que cair nos braços de Sebastian toda vez que as coisas

ficavam ruim não era a melhor coisa. Mas não conseguia controlar.

— Minha mãe é terrível. Ela pensa que vou dar dinheiro para as
besteiras dela — resmunguei, com raiva. Uma parte de mim dizia que não
devia despejar isso em cima dele, mas já foi.

— Dinheiro para o quê?

— Procedimentos dos famosos, beleza. Ela é fissurada em não ficar


velha e quer que eu banque cada maldito passo dela. Não! Eu trabalhei duro
para ser quem sou, não posso ficar fingindo que não me sinto mal quando ela
praticamente me rouba de maneira descarada.

— Ela falou algo sobre você tirar o bebê. — Fiquei tensa em seus
braços com a menção disto. Sebastian beijou meus cabelos, alisando os fios

soltos com cuidado. — Sinto muito por isso. Eu. Ela. Desculpe, não queria
ter pedido aquilo.

Beijei seu ombro.

— Já passou, Sebastian. — No momento, esse era o menor dos meus


problemas. O perfume que usava tem cheiro amadeirado e leve e entra em
meus sentidos. EU poderia ficar ali por um tempo enorme e sem me cansar.
— Vamos para casa, baby. — Não questionei, apenas deixei que ele
me levasse para o carro e que minha mente parasse de pensar em cada mísero

instante. Em tudo que me rodeava. Em minha mãe. Em me afastar do meu


chefe. No fato de que estava grávida dele.

Precisava parar. E deixar que as situações me guiassem.

Ela entrou em meu apartamento, se arrastando sobre os pés enquanto


segurava os saltos. Está novamente naquela áurea desleixada e que me atrai e
não consigo desgrudar os olhos daquela mulher.

— E Hunter e Maggie? — indagou, se sentando no sofá.

Sorri, ligando as luzes, e peguei o telefone sobre o balcão.

— Foram embora no fim da tarde. Quase os expulsei. — Ela riu.

— Vocês são bem unidos, né. — Alisou a foto em que eu e Maggie


estávamos juntos no último ano, no evento de aniversário da empresa, e senti
meu peito expandir. — Não sabia da existência de um segundo filho dos
Collins até que aqueles documentos caíram em minhas mãos.

Fechei os olhos. Não me atormentava que ela soubesse a verdade. No


fim, é até bom, pois não precisava manter nenhuma fachada de que estava
sempre tudo bem. Alexandra sabia quase toda minha alma por aquele maldito
dossiê que encontrou ao entrar na empresa.

— Foi um susto. Só que eu conhecia Maggie. — Deu os ombros. — E


por mais que ela e Hunter não fossem muito politicamente corretos, nunca
poderia ter escondido aquelas informações comigo.

Me aproximei, tocando seu rosto e a fiz me encarar. Deixei meus


joelhos cederem até estar frente a frente com Alexandra.

— Você o amava? — Ela se remexeu, inquieta com a pergunta. Eu


não deveria fazer aquele questionamento, só que como disse mais cedo,
aquilo perturbava-me demais.

— Acho que nunca amei ninguém de maneira que acredito ser


necessário, Sebastian — sussurrou. — Hunter era bom, sabe, combinávamos.
Éramos amigos, tinha uma relação de confiança até ele reencontrar Maggie.
Quando vi que algo não era mais o mesmo, resolvi sair de cena e deixar que o
destino fizesse seu trabalho.

Sorri com a resposta e deixei que meus dedos descessem por seus
cabelos, tocando-os com delicadeza.
— O exame está com você, né? Posso levar para casa? — Arqueou a
sobrancelha, desviando do assunto.

Como um tapa na cara, me afastei.

— Sim, está aqui. — Me abaixei para pegar a pasta que estava em


baixo da mesinha de centro, mas, ao abri-la, não encontrei nada. Estava vazia.

— Eu juro que a deixei aqui. Caralho, como isso é possível?

Meu corpo estremeceu.

— Será que Hunter e Maggie encontraram e colocaram em outro


lugar? — A vi ficar tensa e os olhos esquadrinharam a sala do apartamento.

— Não sei, mas não acredito nisso. O exame sumiu. Uma cópia foi
enviada a você. A sensação de que alguém entrou aqui e o pegou não para de
passar em minha mente. — Fechei os olhos, contando até três.

— É uma propriedade protegida, Sebastian, só tem acesso ao elevador

privativo os acionistas da empresa e quando é liberado por… — Ela


congelou. — Uns dos acionistas não teria o porquê vir até nós, cutucar nossas
feridas.

— Uma pessoa entrou aqui. — Inspirei fundo. — Só que não entendo


o porquê de ter feito algo assim. É irreal demais.

— Quem entrou aqui, Sebastian? — perguntou, me encarando com as


sobrancelhas arqueadas e a expressão de que a pessoa iria se ver com ela.

— Susan — revelei, com o coração batendo em meu peito.

— Ai meu Deus! — exclamou, me assustando. — Faz todo o sentido


do mundo.

Faz?!

— Jura?

— Sim, só você mesmo para não perceber que Susan é doida por
você. Toda cheia de elogios. — Imitou uma das poses da mulher. — O chefe
mais compreensivo. O melhor chefe. Sebastian isso. Sebastian aquilo. —
Segurei a risada com seu tom de voz fino. — Do que você está rindo? — Me
encarou, com raiva.

— Nada, é que parece que você está com ciúmes.

— Eu não estou com ciúmes! — E o rosto atingiu um tom adorável de

vermelho. — Sua funcionária pode ter pegado o maldito teste de DNA e você
vem me falar de ciúmes?!

Segurei suas mãos.

— Por que ela faria algo do tipo? Só porque gosta de mim? Parece
coisa de criança mimada, Alex. — Ela riu.
— Isso eu não sei, mas irei descobrir, baby — usou o apelido que dei
para ela, pincelando meu nariz com um ar travesso, e me inclinei, beijando

seus lábios levemente com carinho. — Você fica fazendo isso.

— Isso o quê? — fingi inocência.

— Me beijando — resmungou, chateada.

— O que posso fazer se não consigo parar de tocar em você? — Meus


dedos voltaram a tocar em sua bochecha e ela inclinou o rosto em direção a
palma da minha mão, como uma gata.

Sorri.

— Para com isso, Sebastian — sussurrou, de olhos fechados, e me


aproximei, me encostando no sofá, ficando com o rosto próximo a ela. —
Combinamos que era errado.

— Não, baby, você combinou que era errado. Eu fui coagido a

aceitar. — Ela riu, e eu busco seus lábios, os entreabrindo e a trazendo para


um beijo intenso, colando nossos corpos e deixando que suas mãos
descessem contra meu pescoço e segurassem em meu ombro.

Me afastei.

— Não consigo ficar longe de você, Alexandra Johnson — confessei.


— Desde o dia em que fugiu de mim na manhã seguinte que dormimos
juntos. Quero tocar em você pois é malditamente perfeita.

As bochechas rosadas, de maneira adorável, deram a ela tudo que


precisava no momento para perder a sanidade: doçura.

— Não podemos fazer isso. É errado. Já estamos metidos demais em


problemas e…

— Me dê um motivo muito bom, que não seja um não podemos, para


não te beijar agora — pedi, baixinho. — Me diga que foi realmente um erro
aquele dia. Diga e nunca mais volto a tocar em você.

Ela me encarou, com os olhos arregalados e a boca aberta pela


surpresa.

— Eu não… consigo.

Sorri.

— Eu também não. — A beijei, mordendo o lábio inferior e a

trazendo para a bolha de desejo que me rodeava. Segurando sua cintura, eu a


levantei, prendendo-a meu corpo. Me sentei no sofá, a encaixando em meu
colo. — Não pode me pedir para ficar longe quando não me dá um bom
motivo para isso.

Ela me encarou, com os cabelos deslizando pelos ombros de maneira


hipnotizante, os lábios rosados, irresistíveis. Ela precisava muito pensar em
uma desculpa rápida. Senão, o próximo movimento não teria mais volta.
O que eu estava fazendo? Merda, deveria ter previsto que nada de
bom viria em aceitar a ajuda de Sebastian. Só que para falar a verdade, não
era inteiramente ruim. Ainda mais por sentir os espasmos de excitação que
corria em meu corpo, com minhas pernas em volta de sua cintura e o homem
me encarando com expectativa enquanto seus olhos faziam o trabalho de que
nenhum detalhe havia passado despercebido.

Pensei sobre em cada momento até agora. Uma pessoa como


Sebastian nunca havia estado em minha vida. Ele tinha seus problemas, seus
demônios e ainda estava ali, sorria para sua equipe de trabalho, era tão legal
comigo em vários sentidos desse nosso novo estado e amava a família de
maneira encantadora.

Como ele conseguia? Eu não fazia ideia. Isso tudo era prova que não
teria outra chance de estar com alguém tão bem em paz de espírito, então
deixei que meu corpo se inclinasse para a frente e traçasse seus lábios
levemente com os meus.

— Não tenho uma desculpa para isso — sussurrei e senti suas mãos
subirem para minhas costas, estremecendo, arrepiando minha pele. — Não
quando você sabe que não há volta.

Ele riu, deslizando a boca sobre a minha, em direção ao meu pescoço,


beijando a região sensível com calma. Fechei os olhos, e naquele momento,
nada me vinha à mente. Nada que retratasse proibido, errado. Apenas eu e
ele. Com suas mãos dançando sobre meu corpo, arrepiando minha pele.

Os dedos deslizaram por minha camisa social branca, tirando botão


por botão de maneira lenta, permitindo que o ar gélido do apartamento
entrasse pela camisa aberta. Ele deslizou minha jaqueta pelos meus ombros,
retirando a blusa um segundo depois.

— Tão perfeita — sussurrou, com as pontas dos dedos dedilhando


meu busto.

Ofeguei, buscando um pouco de toda minha ousadia que gostava


acreditar que tinha, mas no momento, só estava petrificada com a maneira
que ele me tocava, olhava e me fazia sentir. Como se eu fosse apenas a
mulher mais sexy do mundo.

— Sebastian. — Seu dedo tocou meus lábios, pedindo silêncio.


— Nada de me corrigir. Quando digo que você é perfeita, é porque é.
— Revirei os olhos, pois de alguma maneira, ele sabia que ia fazer

exatamente aquilo. Sua mão desceu, parando sobre o botão da minha calça
enquanto a outra mão livre subiu em direção ao meu sutiã, retirando a peça
com rapidez e a fazendo cair do lado do sofá.

Ele fez uma virada brusca, me encaixando entre suas pernas, e com o

corpo ainda todo vestido sobre o meu, é a visão perfeita. Arquejei,


desesperada para tirar aquele tanto de pano que cobria o corpo daquele
homem.

— Você está muito vestido. — Deslizei meus dedos pelos botões da


camisa, escorregando por seu ombro, até que ela caiu na pilha de roupas.
Meus dedos deslizaram pela pele bronzeada, passando leve sobre uma
camada de pelos e parando no cós da calça. — Não me lembro bem da outra
noite.

Ele riu.

— Por qual o motivo está demorando tanto para tirar suas roupas? —
brincou, beijando-me em seguida, abrir a boca para recebê-lo enquanto sua
língua bailava contra minha, dançando livre em minha boca, arrepiando meus
pelos, me fazendo estremecer com o contato de nossos corpos. Totalmente
livres, meus peitos foram espremidos contra os seus, causando uma sensação
deliciosa de prazer. Sua mão desceu para minha calça, repuxando-a para
baixo enquanto seguia um caminho por meu pescoço, beijando, mordiscando,

intensificando a sensação crescente de necessidade entre minhas pernas.

Sua mão segurou um dos meus seus seios, os encarando com fixação.

— Vão ficar maiores né?

Segurei a risada com seu tom de curiosidade.

— Com toda a certeza — rebati, o vendo rir de lado.

— Bendito seja os efeitos da gravidez. — Sorriu com um ar safado,


descendo os dedos por meu bico entumecido, brincando com ele, enviando
sensações por todo meu corpo antes de seus lábios os abocanhar, com fome,
sugando entre os lábios. Me permiti ofegar, excitada e querendo
extremamente aumentar o ritmo das coisas.

Só que sabia que quando acabasse, minha mente voltaria a ser

racional.

Ele desceu, deslizando os lábios por minha pele, antes de voltar a dar
a mesma atenção ao outro mamilo. Inspirei fundo. Minhas pernas pegaram o
impulso para enlaçar em sua cintura, e senti sua protuberância contra minha
coxa.

— Sanidade. Preciso dela — sussurrou, parando para me encarar. —


Preciso dela quando estou com você.

Sorri de lado, o vendo se arrastar sobre o sofá, se levantando, e o


encarei.

— Acho que não precisamos da sanidade neste momento. — Minhas


mãos desceram pelo corpo quente do homem, explorando lentamente,

sentindo os músculos e marcando em minha memória cada momento.

Ele enlaçou um dos braços em minha cintura, segurou meu rosto com
uma das mãos e me beijou com a mão livre afundando em meus cabelos, e
senti seu membro contra meu corpo.

Me esfreguei contra ele, sem nenhuma vergonha. Segurei o membro


duro e pulsante contra minha mão. Ele me levantou do chão, me encarando
enquanto caminhava novamente para o sofá, se inclinando até que nossos
corpos caíssem sobre a almofada.

Beijou meus lábios, descendo por meu maxilar, causando novamente


uma necessidade crescente em mim, enquanto enlaçava minhas pernas em
sua cintura. Desci minhas mãos por seu corpo, tocando-o, e o guiei em minha
entrada. Com a ajuda de Sebastian, fui preenchida totalmente com a sensação
de que teria muitos problemas para me relacionar daqui em diante.

É simplesmente perfeito, pensei com um gemido escapando entre


meus lábios. A partir disso, era um misto de sensação correndo contra minhas
veias, com sua boca tocando a minha, nossas mãos buscando um ao outro
enquanto tudo se tornava uma névoa ao nosso redor. Nos perdemos um no

outro, me buscava de algo que não consegui com ninguém. Paz comigo
mesma.

Alex fechou os olhos, e, por um instante, deixei o sorriso preencher


meus lábios com a imagem da mulher simplesmente cansada com o que
acabamos de fazer. A memória da outra noite era fraca em nossa mente, mas
com toda certeza, não havia sido desta maneira. Ela abriu os olhos, me
encarando com um sorriso de lado.

— Agora estou com fome. — E se remexeu em baixo de mim.


Levantei, pegando a cueca jogada ao lado de nossas roupas, e a vesti
rapidamente, enquanto Alexandra se escondia por trás das almofadas do sofá.

— O que vai querer? — A encarei.

— Qualquer coisa que seja comestível. — Arqueei a sobrancelha em


sua direção, colocando as mãos na cintura.

— Eu sou comestível. — Ela riu, enfiando o rosto contra as


almofadas do sofá.

— Pelo amor de Deus! Me arruma uma toalha? — Me encarou, meio


desconfiada.

— Eu já vi tudo que vai tentar esconder. Se quiser ir ao banheiro,


pode ir no do meu quarto. — Alexandra arqueou a sobrancelha, e quando
disquei o número de um dos restaurantes delivery que conheço, ela percebeu
que não iria dar sua amada toalha. Inclinando-se, pegou a roupa no chão.

Segurei a risada ao ver seu esforço de se cobrir parcialmente com a


calça e a blusa e se levantar. E quando o fez, correu em direção ao meu
quarto, deslizando a porta em suas costas.

Inspirei fundo, sabendo que o caminho que tomamos segundos atrás

iria trazer consequências. Eu a queria, muito, desde que fugiu da minha cama.
Mas isso não mudava o fato de que ela era a mãe do meu filho. Desde que
essa frase se tornara real, nós nos veríamos para sempre e estaríamos sempre
conectados, mesmo que não fosse da forma em que ficamos alguns instantes
atrás.

A frase clichê de que um filho é para sempre nunca fez tanto sentido
como agora.
Terminei de fazer o pedido e deixei minhas pernas me guiarem até a
mesa onde havia algumas bebidas expostas; Por puro hábito ruim, bebia uma

dose todos os dias depois do trabalho. Servi-me de um pouco de uísque e


coloquei algumas pedras de gelo antes de caminhar para o sofá, me sentando
ali e encarando a mesinha de centro.

Deveria tomar uma ducha e ter a conversa que precisávamos ter desde

sempre, mas não conseguia. Não conseguia colocar a barreira que precisava
entre mim e Alexandra, pois sabia que para ela era fácil se afastar.

Era só seguir sendo a pedra de gelo que tanto faz bem. Quanto a mim,
dizia não aos envolvimentos, só que a puxei para um caminho que apenas
ditava frases ao contrário.

— Peguei seu roupão, já irei devolver. — Apareceu, com os cabelos


presos em um coque no alto da cabeça e enrolada ao meu roupão. —
Precisava de um banho, foi um dia tenso e mamãe não me deu chance de

tomar um.

Deu ombros e a observei deixar suas roupas e colocá-las sobre o sofá,


fazendo o mesmo com as minhas. Num momento de pura besteira, a puxei

para o meu colo, encaixando o corpo magro e curvilíneo para que se


encaixasse sobre minhas pernas.

Ela me encarou, com os olhos bonitos e assustados.


— O quê?

— Nada. — Dei com os ombros. — Acha que deveríamos conversar


sobre o que aconteceu? — Minha mão tocou seu ombro, com as pontas dos
dedos, encostando-se à pele livre do pescoço, a fazendo sorrir.

— Acho que se conversarmos — disse, e engoli em seco, abaixando a

cabeça —, vai me fazer pensar de maneira racional.

— Não sei se gosto de você muito racional — brinquei, tirando uma


mecha do cabelo que caía do coque e a prendi atrás da sua orelha.

— Também não sei. — Encolheu os ombros. — Mas vamos ter um


filho, Sebastian, em menos de nove meses, situações como essa não podem
acontecer. Um bebê tem que ter toda uma estabilidade.

— Eu sei. — Beijei sua bochecha. — Mas o que faço quando não


consigo dizer não?

Ela riu.

— Não pergunte a mim. Eu fiz um filho com você. Não sou a pessoa
mais consciente do mundo. — Rimos, e ela me encarou. — Eu não sei o que
fazer. Sinceramente, quero ficar com você, ao mesmo tempo que sei que não
posso.

— Por quê? Talvez seu motivo de não poder seja mais forte que o
meu.

Sorri. Meu motivo de não ficar com ela era único e exclusivo meu,
egoísta, pois não queria um relacionamento, queria aproveitar a vida.

— Meu motivo você sabe. Eu lutei muito. Não posso perder agora. —
Alisei seu rosto.

— Meu motivo é egoísta, Alex. — Ela franziu o cenho. — Eu passei


dez anos em um hospital, eu estou livre, pela primeira vez em uma década. E
agora, vou ter um filho, não estava nos meus planos, mas já o amo tanto. —
Limpei a lágrima que caiu em seu rosto. — E um relacionamento, não é bem
a forma certa que vejo a liberdade.

Ela riu.

— Eu sei e entendo. — Deu os ombros. — Eu vivi um


relacionamento ruim, e não quero entrar em outro tão bagunçada. Com um

bebê a caminho e com meu chefe! Só que também sei que relacionamentos
nunca mais em minha vida serão fáceis. — Encolheu os ombros. — Nunca
mais serei sozinha novamente. Quem quiser ficar comigo a partir de agora,
vai ter que amá-lo, pois não posso renunciá-lo.

Estremeci apenas com a ideia dela e mais alguém. Namorando. De


eles ficando noivos, do casamento sendo anunciado, montado, enquanto
assistia tudo por um camarote em um espaço especial — mas não especial o
suficiente para fazer parte daquilo — como pai do seu filho.

Uma ideia ficou presa em minha mente.

— E se não fosse um relacionamento? — Ela me encarou, tão


rapidamente que pensei que iria me matar. — Tipo, somos adultos, vamos ter
um filho. Eu quero muito ter certeza do que estou fazendo para seguir em um

relacionamento e você tem todas as suas inseguranças.

Alisei sua bochecha.

— Um relacionamento casual. Não precisamos falar a ninguém. Mas


nós estaríamos em algo casual — continuo, e Alexandra apenas arqueou a
sobrancelha.

— O quão casual seria? Dormiríamos com outras pessoas?

Engoli em seco, sentindo minha cabeça doer novamente com essa


menção. Minha imaginação era minha pior inimiga quando se tratava de

Alexandra e mais alguma pessoa na mesma frase.

— Não. Acredito que sair com outras pessoas tudo bem, mas se um
dos dois quiser dormir com outras, deve romper antes. — Ela sorriu de lado.
— Jantaríamos junto, compartilharíamos momentos como namorados, só que
com a liberdade de solteiros.

— Não sei, Sebastian — resmungou, se sentando ao meu lado. — Eu


acho que esse tipo de coisa só dá certo em filmes.

Sorri.

— Acha mesmo que não podemos fazer isso? Qual seria a diferença
entre antes e agora? Fizemos um filho sem estarmos namorando, nos
beijamos, ajudamos um ao outro — citei, contando nos dedos as ideias que

poderia ter para convencer essa mulher. — E fizemos sexo novamente sem
nem ao menos falar sobre nossa definição.

Ela escondeu o rosto entre os dedos.

— Nossa lista fica cada dia pior.

Sorri com o tom de desespero em sua voz.

— O que me diz? — Ela me encarou, e aquele olhar profundo e azul


que parecia me atrair toda vez que pousava sobre mim me desarmou
Completamente ferrado. Independente de qual fosse a decisão de Alexandra

Johnson, eu era um homem completamente ferrado por um único olhar.


Eu não deveria. Ou deveria? Um relacionamento casual? Sério
mesmo? Eu, Alexandra Johnson, que passei a vida querendo algo que fosse
apenas meu, que não fosse dividido com mais ninguém, estava cogitando a
ideia de um relacionamento aberto!

Eu não fiquei com Robert, pois ele me queria como sua amante. A
situação agora nem passa perto dessa e meu envolvimento com Sebastian era
completamente diferente. Teríamos um filho.

Como iria explicar ao meu filho que eu e o papai dormíamos juntos,


mas não éramos um casal? Pelo amor de Deus, eu estava ficando louca. Essa
era a única explicação para isso.

— Não podemos deixar que isso avance para depois do nascimento do


bebê. — Levantei a cabeça. — Somos pessoas inteligentes, racionais e não
vamos deixar situação constrangedora nenhuma interferir no crescimento do
nosso filho, certo?

— Com toda certeza — ele disse, com uma certeza que eu gostaria de
ter. — Temos um trato?

Olhei para a mão estendida e senti meu corpo estremecer. De medo.


Eu não tinha um relacionamento havia muito tempo e tudo que tive foi algo

próximo a um namoro de verdade. Poderíamos cobrar pelos ciúmes,


fidelidade e tudo mais. Como eu faria isso com Sebastian?

Ele poderia sair com outras mulheres. Eu também poderia sair com
outros caras — tudo bem que minha situação era complicada, um homem
geralmente foge de mulheres com barrigas enormes.

— Precisamos descobrir se foi Susan que pegou o exame — falei,


apertando sua mão, e ele balançou a cabeça em concordância, segurando meu
rosto com a mão e se inclinando para beijar meus lábios suavemente.

— Agora, posso beijar você sem precisar explicar, senhorita Johnson?

Segurei a risada.

— Acho deixei de ser senhorita Johnson há muito tempo, senhor


Collins — brinquei, enlaçando meus braços em seu pescoço, permitindo que
ele me puxasse para um abraço, me encaixando em seus braços de maneira
carinhosa e, merda, eu sabia que no primeiro minuto do nosso relacionamento
algo iria dar errado.

Se não fosse pela batida maluca e irregular do um coração, além da


voz irritante da minha irmã avisando para tomar cuidado e não me apaixonar
por Sebastian Collins, estaria tudo bem. Só que as sensações e as palavras me
fizeram ver que aceitar um relacionamento aberto foi a decisão mais burra
que tomei nos últimos tempos.

Não posso me apaixonar. Não posso deixar que meus sentimentos


coloquem em risco a relação de Sebastian e meu filho.

Me afastei, o encarando.

— Me prometa uma coisa. — Ele olhou ao redor, desconcertado com


minhas palavras. — Não é para mim, é para ele. — Segurei sua mão,
colocando sobre meu vente liso.

— Prometo qualquer coisa a vocês, Alex.

Sorri de lado.

— Me prometa — disse, engolindo em seco —, que apesar de


qualquer coisa que acontecer entre nós, não vai deixar de querer de fazer
parte da vida dele. Ele merece um pai, Sebastian, e não quero que meus erros
tirem isso dele.

O homem sorriu.
— Eu prometo. — E me puxou para seu colo, segurando minha
cintura como se não pesasse nada. — Quando a barriga começará a aparecer?

Quando descobriremos o sexo?

Inspirei fundo.

— A barriga é relativa, sou muito magra, não sei se ficará algo

enorme ou mais discreto. — Sua mão puxou o fio do roupão, me deixando


nua novamente em seu corpo e seus dedos desceram sobre meu ventre,
tocando com cuidado. E mesmo que não fosse um ato sexual, senti minha
pele esquentando lentamente. — Agora o sexo, quarto mês, se não estou
enganada.

— Quer menino ou menina?

Segurei a risada.

— Antes era mais fácil responder. — Ele me encarou, arqueando a

sobrancelha. — Era só dizer, não sendo gêmeos. — Dei com os ombros, e


Sebastian riu. — Agora, eu não sei. O que vier, vai ser amado. Mas minha
irmã quer muito uma menina.

— Ela tem uma garotinha também né? — Balancei a cabeça, sem


saber como ele descobriu essa informação. — Hannah me falou. — Abri a
boca, como se compreendesse tudo. — Como você acha que descobri o
endereço da fazenda da sua irmã? Como descobri onde você estava ontem e
tudo que eu vou descobrir ainda?

Segurei a risada com sua petulância.

— Ah, claro, se aliar a Hannah é muito útil. Aquela ali fala pelos
cotovelos. Ele riu.

— Sim, ela faltou me entregar um relatório sobre seus gostos. —

Arregalei os olhos. — Mas é bom, vai que eu precise mais à frente — pincela
meu nariz.

— Vocês juntos contra mim não é legal. Ela é minha melhor amiga,
deveria estar comigo… — Ele me beijou, segurando-me pelo maxilar e
inclinando os lábios em minha direção. Lentamente, me fazendo esquecer
sobre o que falávamos, sobre o que eu estava tagarelando. Nada vinha em
minha mente enquanto sua língua traçava minha boca devagar, estremecendo-
me em seu toque.

O barulho vindo de fora me fez empurrar seus ombros.

— É a comida?! — Minha expressão devia ter deixado claro minha


ansiedade por esse momento, pois ele riu.

— Com fome, Branca de Neve? — brincou, e me levantei do seu


colo, fechando o roupão enquanto ele caminhava até o interfone.

— Branca de Neve?
Franzi o cenho, não muito contente com o apelido. Ele percebeu que
isso me irritou e riu, liberando a entrada do entregador.

— Sim, você tem a postura de uma princesa, querida. — Arqueei a


sobrancelha. — É branca demais e os seus cabelos, além dos olhos bonitos —
me descreveu e fiquei ali, sentada sobre minhas pernas no sofá, encarando
Sebastian com desconfiança.

Ele se aproximou novamente, colocando uma mecha de cabelo atrás


da minha orelha.

— E mesmo que não goste, você é uma Branca de Neve moderna. —


Fiz careta, recebendo um selinho rápido no lugar. — Pedi comida chinesa,
pensei em algo mais consistente já que a médica falou que tem que se
alimentar bem — Pincelou meu nariz.

— Obrigada. — E a palavra saiu entrecortada, acompanhada por um

suspiro. — Não vai vestir uma roupa para atender o entregador? — Arqueei a
sobrancelha, o fazendo rir e buscar a calça que deixou cair ao lado da
mesinha de centro.

— Se insiste, princesa — brincou, se afastando novamente, e deixei


meu corpo cair para trás, pegando um travesseiro e afundando minha cabeça
ali. Qual era meu lema, mesmo? Ah, ser uma boa advogada, defender meus
clientes e sempre vencer quando for uma causa justa.
Sumiu. Foi instantaneamente para: Não se apaixone. Não se apaixone.
PELO AMOR DA SUA VIDA, NÃO SE APAIXONE POR SEBASTIAN

COLLINS!

Senti algo cutucar minhas costas e me virei rapidamente para dá de

cara com Sebastian adormecido ao meu lado, com as pernas jogadas


parcialmente sobre as minhas e os braços me rodeando em um abraço
apertado. Deixei o ar sair aliviado em meus pulmões e encarei o homem
adormecido em minha frente.

Meu coração saltou. Ele era tão bonito. O cabelo loiro caindo na
frente do rosto de maneira bagunçada, os cílios longos abaixados enquanto
ressonava baixinho. Me permiti esticar a mão e retirar uma porção de fios cor
de ouro, jogando para trás.

Acordar antes do cara e ficar o observando dormir enquanto citava as


coisas maravilhosas que a mãe natureza fez em seu rosto não era do meu
feitio. Na verdade, fugir por aquela porta seria mais a minha cara.

Os lábios rosados naturalmente se repuxaram em um sorriso.

— Bom dia. — E os olhos verdes se abriram, focando-se em mim de.


Segurei a respiração, incapaz de me mover diante a intimidade que se
estabeleceu desde que fizemos sexo no seu sofá. — Pensei que acordaria
sozinho, Branca de Neve — brincou, já me puxando para o lado da raiva logo

pela manhã e subiu mim, segurando-me contra o colchão macio. Beijou meus
lábios levemente antes de me encarar novamente.

— Pensei nisso — confessei. — Só que fiquei com preguiça

Ele riu e engatilhou para baixo, parando em frente ao meu ventre,


puxando sua camisa emprestada para cima e revelando minha barriga e
apenas a calcinha de renda que visto.

— Bom dia, papai — brinquei e estremeci, pois a imagem de


Sebastian falando com nosso filho um dia, fica se repetindo enquanto ele
continua a falar que a mamãe é uma fujona incorrigível.

Engoli em seco.

— Seu pai inveja coisas — brinquei, tocando sua mão por cima da

minha barriga. — Eu não sou assim, baby.

Ele riu.

— É sim, acabou de confessar que fugiria se não fosse pela preguiça


— debochou, mostrando a língua e em um ato inconsequente. O empurrei
contra a cama e subi em seu colo, cruzando os braços enquanto sua mão
segurava meus quadris. — Como passou a noite? — Pincelou meu nariz, em
um gesto que não deveria me encantar, mas encantava.

A forma que estava montada em cima do meu chefe, depois de jantar,


dormir e fazer um bebê com ele deveria me assustar. E o fazia, só que ao
mesmo tempo, era íntimo, era bom.

Nunca tive os pequenos momentos. Foram só momentos entre o beijo,

o sexo e depois, tudo se foi. Conversar na cama. Jantar juntos. Dividir como
foi a noite ou seu dia. Era a primeira vez.

— Foi muito boa. — Me abaixei sobre ele, beijando os lábios de


Sebastian com delicadeza antes de apenas me aninhar ali, permitindo-me
aproveitar os bons momentos que passaram entre uma correria e outra.

— Preciso ir para casa, pegar uma roupa para trabalhar. — Me


levantei, fechando a camisa dele de maneira “comportada”, e me aproximei
pela janela enorme que dava vista para a cidade movimentada lá em baixo.

Olhei Nova Iorque em pleno vapor e deixei o suspiro cansado sair dos meus
lábios.

— Vou levar você. — Pulou da cama, atraindo minha atenção e


escutamos o elevador se abrindo, uma voz feminina chamando por Sebastian.
Inspirei fundo e caminhei para o banheiro. — Já volto. — Piscou, saindo do
quarto e fechando a porta de rolar em suas costas. — Susan?! O que faz aqui?

Arregalei os olhos diante a menção da mulher e senti meu coração


quase saindo pela boca ao lembrar que minhas roupas ficaram tudo na sala, e
se Susan souber realmente que estou grávida dele, vai ligar tudo em um só

tempo!

— Ah, Sebastian. — A ouvi sussurrar. — Por que tudo acontece


comigo?

Franzi o cenho, sem saber que diabos ela falava. Susan era
praticamente perfeita, foi uma perfeita Barbie na faculdade, adorada por
milhares de garotas e garotos, e na vida profissional, alcançou bons objetivos.
A vida não era realmente uma carrasca com ela, pelo que conheço, mas por
experiência própria, sabia que nem tudo era fácil.

— Só um instante, querida, irei tomar um banho, e vamos tomar um


café para você me contar o que aconteceu, ok? — O tom carinhoso de
Sebastian tem uma pontada de desespero que me fez rir. Logo ele retornou,
segurando minhas roupas em uma mão e fechou a porta com outra. — Pelo

amor de Deus, como ela entrou aqui?! — praticamente sussurrou.

— E eu que vou saber?! A casa é sua — resmunguei, pegando minha


calça e entrando nela com a maestria que nem sabia que tinha. — Você sai
com ela, depois eu saio. Preciso realmente ir.

Ele pegou minhas mãos, me fazendo encará-lo.

— Ei. — Arqueei a sobrancelha. — Te pego para almoçar, ok?


O coração novamente fez aquele som bobo e alarmante em meu peito.

— OK. — Sorri igual boba, pois não consegui me conter. Era


involuntário. Ele beijou meus lábios levemente antes que eu o empurrasse. —
Agora anda! — Revirou os olhos, correndo para o banheiro, e deixei meu
corpo cair para trás em sua cama bagunçada.

Não fizemos nada além do que rolou no sofá. Apenas jantamos,


conversamos e agora, estava tentando controlar todas as emoções bobas que
insistiam em correr em minhas veias. Nem um dia. Não passei nem mesmo
um dia neste “relacionamento casual” e já estava assim!

Eu esperei, realmente, com todas as minhas forças, que Sebastian


Collins tivesse alguns defeitos que iriam aparecer com o tempo, pois
precisava rapidamente de algo para desgostar nele.

Fechei os olhos e deixei minha cabeça flutuar novamente para a

sensação de segurança que eu tinha antes de tudo isso começar. Só que era
vazio. A sensação de segurança não desafiava, não trazia frio na barriga e
nenhuma nova sensação.

E odiei a segurança que tinha.


Observei Alexandra remexer as mãos de maneira inquieta, claramente
faltando abrir a porta e correr para fora, desesperada. Segurei o riso, mas a
verdade era que estava temendo o que o almoço na casa dos meus pais iria
dar. Arnold com toda certeza estaria presente por vídeo-chamada, já que sair
do hospital nos últimos tempos seria como se matar.

Inspirei fundo, lembrando-me do vídeo da câmera de segurança que vi

dois dias atrás. A confirmação que Susan pegou o exame de DNA em minha
casa veio como um tapa na cara, mas foi o suficiente para sabermos em que
caminho estávamos seguindo. A mãe de Alex, bom, como ela costuma dizer,
era problema dela, mas não conseguia ficar de fora ao ver como a mulher
conseguia atingir a filha de uma maneira tão devastadora.

Tentei entender como funcionava a relação das duas, mas tudo que eu
tinha eram pontas soltas. A mãe dela costumava chorar e dizer que a filha
queria vê-la infeliz, enquanto Alex dizia que ela mesma plantava sua
infelicidade. Enquanto isso, mais confuso eu ficava em relação as duas.

O confronto com Susan ainda não tinha sido possível, devido a toda
demanda de trabalho nos últimos dias, e Alexandra decidiu que eu era a
pessoa mais indicada para falar com a mulher. Era o chefe dela, o dono da
casa e, com toda certeza, ela não usaria tom debochado comigo.

— Você acha que…

— Que eles vão gostar de você? — cortei, a vendo fazer careta. —


Alexandra, minha família lhe adora desde que começou a trabalhar na
empresa.

— Eu sei, sabe, mas sempre pensei que fosse pelo motivo de eu ser
uma boa funcionária e de que não usei da má fé para fazer mal a vocês com
os documentos que tinha. — Encolheu os ombros. — E se eles começarem de

novo com o negócio de casar?! — praticamente gritou, me fazendo rir.

— Olha, sendo sincero, tenho medo desse papo aí também, mas


Maggie e Hunter vão estar lá e acredito que as coisas ficarão fáceis com as
crianças em casa. — Ela puxou o ar. — Minha prima também vai estar lá, se
isso facilita as coisas.

— Ah, ótimo, vou ser apresentada a praticamente toda a família


Collins! — Ela pareceu meio pálida. — Mas alguém vai estar lá?
— Meu primo e a esposa, e os gêmeos, além de Alexia. — Ela franziu
o cenho. — Filha da minha prima.

— OK, eu vou desmaiar antes de chegar lá. — Parei o carro no sinal,


o deixando em ponto-morto, e me inclinei, segurando a cabeça de Alex em
minha direção, a fazendo deslizar os olhos pelo meu rosto calmamente. —
Merda, você deveria me acalmar, Sebastian, falar: “não, tudo vai ficar bem”.

Segurei o riso.

— Vai ficar tudo bem, princesa. — Alisei sua bochecha ao falar o


apelido que sei que ela odiava. — São meus pais, eles são meio malucos, mas
amam adição de nova gente na família. Sabe, meus primos não vêm em
minha casa há muito tempo. Minha irmã está aproveitando ao máximo cada
reunião familiar, pois os Collins há muito tempo não eram uma família
grande e barulhenta. — Beijei seus lábios. — Eles vão amar você. Já amam.

Ela se afastou, com um sorrisinho se estendendo nos lábios


vermelhos.

— Só tenho medo agora do papo de casamento — falou, mas seguiu


rindo. — Com mais gente, fica mais difícil de negar.

Balanço a cabeça em concordância. Infelizmente, era verdade.

Liam e Katarina finalmente vieram para uma reunião familiar, depois


de muitos convites dos meus pais. Filhos de Katia Collins, minha tia
renegada pelos meus avós, eles moravam em cidades vizinhas e construíram

suas vidas sozinhas.

Não precisavam de nós. Só que como nosso histórico de erros, de


renegar pessoas, papai teve a consciência pesada pelos seus progenitores e
quis a todo custo trazer os sobrinhos para perto.

Agora, Liam era casado com Amélia e tinha dois filhos, Ava e
Christopher, de cinco anos, gêmeos. Katarina tinha uma menina, e também
era casada, mas não me recordava qual nome do seu marido.

Só sei que vou conhecê-los. Desde que voltei para cidade, estava
mantendo laços com eles por internet e telefone, mas nunca os tinha visto
pessoalmente, e era tão estranho ter pessoas novas na família. Ao mesmo
tempo, era acolhedor.

A casa dos Collins era enorme, com um meio muro que era
completado por grandes que davam a visão para o jardim cheio de flores e
algumas árvores. Mais adiante, havia uma casa de dois andares, pintada em

tom de areia claro. Saí do carro, puxando o casaco de maneira mais firme
contra meu corpo, sentindo o vento frio batendo contra minha pele. Era para
estar quente nesta época do ano, mas o dia amanheceu nublado e não resisti a
um casaco quentinho.

Pensar em casaco me levava ao fato de que não dormia em minha


casa havia dois dias. Sebastian não sabia disso, ele pensa que, apesar das
brigas, seguia lá. Mas não podia voltar enquanto Laura não fosse embora.
Ficar embaixo do mesmo teto depois da guerra que ela declarou só me levaria
a ceder.

Hannah insistia em dizer que deveria colocar um ponto final nisso.


Não deixar que ela sugasse tudo em mim. Mas não conseguia, simplesmente
continuei dividindo a cama com minha melhor amiga enquanto meus

problemas se acumulavam no cantinho.

— Vamos? — O loiro falou, estendendo a mão. Sorri e aceitei,


deixando que ele me guiasse para dentro. — Bom dia, Bruce, como anda a
família? — Apertou a mão do homem baixinho e com barriga protuberante
que segurava uma tesoura de podar flores.

— Bom dia, menino Sebastian. — O homem abriu um sorriso. —


Bem, bem. E você? Fiquei sabendo que vai ter um menino.

Segurei a risada.

— Sim, vou ser pai. Essa é Alexandra Johnson, e aqui dentro — disse,
tocando minha barriga ainda lisa. — Ainda não tem definição.

— É um prazer, menina. — Segurou minha mão. E a sensação de

aceitação já começou no portão. Deixei meus ombros caírem na medida em


que avançávamos em direção à casa. A porta se abriu antes mesmo de a
alcançarmos.

— ALEX! — Maggie preencheu a porta, segurando Melissa em seus


braços. Vimos Hunter aparecer em suas costas, com Heitor em seus braços,
se esticando para que a mãe o pegasse também. — Que bom que chegaram.
— Desceu os degraus, me puxando para um abraço, e deixei que a surpresa
se estampasse em meu rosto. — Como vocês estão? De mãos dadas, que

fofinhos…

Sua mão caiu para minha e para a de Sebastian unidas e rapidamente


nos soltamos, ouvindo risadinha dos dois.

— Estamos bem, Maggie, obrigada. — Ela tocou minha barriga, o


vestido que tinha escolhido era um pano fino, esvoaçante que não deixava
nada evidente. Nem teria como deixar, só dava para sentir ou ver quando
estava sem roupa.
— Ainda é só no coração — brincou. — Segura minha menina, Alex?
— E entregou Mel a mim, voltando-se para o marido e segurando Heitor.

Tudo aconteceu tão rápido que a menina com um tufo de cabelos loiros e
sorriso banguelo me encarou, com expectativa.

Entramos em casa, e só tinha apenas cinco deles aqui. Meus ouvidos


já estavam doendo. Hunter riu da implicância de Maggie e Sebastian, Heitor

reclamou com a mãe não dando atenção a ele e Melissa me encarou como
esperasse algo de mim.

A imagem de três crianças correndo pela sala me fez congelar. Na


última vez que estive nesta casa, parecia um mausoléu abandonado e tinha
sido dois anos antes. As únicas pessoas andando pelo corredor eram Neiva e
Arnold. As únicas decorações eram enfeites de prata caríssimos.

Agora, tinha um andador, carrinho de bebê e ursinhos coloridos para


todo canto.

— É, a casa ficou um pouco bagunçada nos últimos tempos. — Neiva


apareceu, andando naqueles saltos altíssimos que só ela conseguia e me
alcançou, sorrindo de orelha a orelha. — Bem-vinda, querida. — Se inclinou,
beijando minha bochecha. — Comprei isso para você e o bebê.

Engoli em seco, diante a caixinha que estendia, e a peguei.

— Obrigada, senhora Collins, realmente não precisava. — Ela


balançou as mãos no ar.

— Por favor, senhora não. Apenas Neiva, basta de formalidade. —


Enlaçou o braço ao meu. — Vou roubá-la um pouco para apresentá-la às
meninas. — Sebastian encolheu os ombros diante meu olhar de desespero e
logo fui arrastada para dentro, ainda com Mel em meus braços, a caminho da
cozinha. — Não se preocupe, querida, ninguém pensa mal de você. Sebastian

me contou que está receosa com a reação do pessoal da empresa.

Abri a boca, incapaz de formular algo, pois estava imaginando em


uma maneira de matar Sebastian.

— Eu entendo, também ficaria assim. Mas se alguém ousar mexer


com você, eu mesmo vou chutar a bunda dele. — Segurei o riso, pois aquela
mulher loira, parecendo uma digna pedra de gelo de tão elegante e durona,
não parecia o tipo de pessoa que chutava a bunda da outra. Entramos na
cozinha e vi um homem correndo atrás de uma garotinha de cabelos

castanhos e com pequenos cachinhos na ponta.

— Ava Elizabeth, me dê esse chocolate agora mesmo! — ele disse,


com tom sério, e ela estacou no lugar, o encarando.

— Não. — E disse com toda a petulância que havia dentro de si,


correndo cozinha afora. O homem a seguiu, com expressão de que estava
prestes a morrer.
Olhei para as mulheres ao redor do balcão da cozinha e vi que ambas
seguravam a risada.

— Ele está enlouquecendo com o crescimento dos gêmeos, hein. —


Neiva comentou, colocando de lado uma das panelas espalhadas por ali.

— Ava adora testar a paciência do pai — a de cabelos escuros e olhos

claros disse, com um sorriso de orelha a orelha.

— É Liam pagando pelos pecados dele — a outra zombou, beijando a


bochecha da garotinha de cabelos cacheados, limpando os lábios dela com
cuidado. — Oi, você deve ser Alexandra. — Me encarou, com um sorriso de
orelha a orelha. Estendi a mão em cumprimento.

— Isso mesmo.

— Sou Kate, prima de Sebastian, e essa é Amélia, minha cunhada. O


paspalho que viu correndo é meu irmão — falou tudo em uma rapidez que

me deixou tonta. — E desculpa, quando estou animada, costumo falar igual a


um gravador.

A morena riu, se inclinando para me dar beijinhos na bochecha.

— Bem-vinda à família, querida. Ficamos sabendo que espera um


bebê. — Fez menção de tocar em minha barriga, pedindo permissão com um
olhar. Dei os ombros, dizendo que não me importava. — Ah! Essa fase é
incrível, maravilhosa. — Trocou um olhar de cumplicidade com a cunhada.
— Até os três anos é pura doçura, depois eles correm para todos os lados,

você fica louca e começa a questionar o seu amor por ele.

— Peguei! — Ouvi um grito vindo de fora.

— AH NÃO, PAPAI! — Rimos, sabendo que a pequena Ava foi pega

pelo pai em algum canto da casa. — Minhas perninhas, oh! É pequenas! Não
é certo. Mamãe!

Em seguida, eles aparecem na cozinha novamente. Liam — como


uma delas dissera — segurava a garotinha nos braços e parou para observar,
vendo os enormes olhos azuis curiosos.

— Mamãe, papai me pegou. Não é justo! — falou, como se fosse


grande o suficiente para entender o que era justo ou não, estendendo os
braços para que a mãe a pegasse em seus braços, completamente mimada

com a quantidade de gente que a cercava. Me deixei ser envolvida por aquele
pessoal eufórico com sua nova formação.

Nunca estive numa reunião familiar com tantas pessoas. A última vez
que tive uma sensação próxima a essa foi quando papai ainda estava vivo, no
nosso último Natal, quando tio Jacob veio e trouxe as filhas. Os barulhos, a
alegria finalmente haviam voltado àquela casa. Laura não estava presente, o
que tornou tudo ainda mais familiar.
Ela nunca estava presente quando não tinha bebidas nem coisas
ilícitas.

Encontrei o olhar de Sebastian e deixei o sorriso preencher meus


lábios. Ele piscou, pegando a sobrinha nos braços minutos depois e a girando
no ar. A imagem dele fazendo a mesma coisa com nosso filho preencheu
minha mente.

Merda. Qual era meu lema mesmo?

— Seu pai pediu algo — mamãe falou, na porta de casa, segurando

minha mão e impedindo que eu desse mais um passo à frente. — Que leve
Alex para que ele a veja. Sabe, ele anda emotivo e dizendo que a qualquer
momento ele se vai.

Fechei os olhos, piscando várias vezes em seguida para afastar as


lágrimas que tentavam escapar dos meus olhos. Todos nós sabíamos que
papai não iria durar muito. Infelizmente, era difícil admitir isso. Ele estava
debilitado demais; o tempo não tinha sido bom com ele.

— Eu irei. — Alisei sua bochecha, limpando a lágrima que caiu


rapidamente. — Obrigado por fazer tudo mais fácil para mim. — E por não
desconfiar da paternidade do meu filho, quis acrescentar, mas me mantive
calado.

— Obrigada por dar a felicidade de vê-lo encontrar seu caminho para


a felicidade. — Abri a boca, sem compreender. — Sim, o bebê. Mas não é só
isso, Sebs. É tudo. É a maneira que confia em Alex, a forma que sempre a
toca quando ninguém está vendo. Os olhares que trocam sem conseguir
controlar.

— Virou observadora agora? — Ela riu.

— Tão petulante. — Segurou meu rosto, beijando minha bochecha


com carinho. — Cuida bem deles. Eu amo você. — Sorri, me afastando.

— Também amo você. — Ela segurou o portão enquanto me afastava


e via Alexandra sentada no banco do carona, distraída no celular. Entrei no
carro e fechei a porta, a assustando. — Vamos a um lugar, ok?

— Que lugar? — perguntou, desconfiada.

Segurei a risada, sabendo que ela pularia do carro pelo que viria.

— Visitar meu pai. — Liguei o carro, ouvindo um grito de surpresa


dela.

— Não, não mesmo. Seu pai me contratou, não vou chegar lá e falar:
“oi, senhor Collins, lembra de mim? Bom, eu bebi, né, aí em uma conversa
vai e conversa vem com seu filho, fiquei grávida dele. Parabéns, o senhor vai
ser vovô!” — tagarelou e eu apenas liguei o som, muito tranquilo, sabendo
que nada do que viria dali poderá me tirar do meu destino.
Um mês depois

— Olha, está aparecendo — falei, parando em frente ao espelho


enorme que ficava no quarto do Sebastian e ele pulou da cama, caindo no
processo, e não evitei a risada alta ao vê-lo se levantar com uma expressão
impaciente. — Cuidado, bebê — zombei, e sua mão tocou minhas costas
desnudas, seguindo para meu ventre, e pousou ali brevemente. Estava

pequeno ainda, meu terceiro mês de gravidez tinha acabado de ficar


completo, segundo meu calendário, e havia alguns dias vinha percebendo que
a barriga estava mais presente em cada roupa.

Nada de coisas justas demais.

— É incrível. — Sebastian encarou a barriga como se aquilo fosse


coisa de outro mundo, me fazendo rir. — Não ri, estou apaixonado —
brincou, se abaixando em minha frente.

Fiquei ali, com total atenção dele em minha barriga, tocando,


observando com calma. As palavras “estou apaixonado” repetiam em minha
mente em cada movimento que ele dava. Eu estava apaixonada. Merda! Não,
nada de apaixonada.

Ele me encarou, com os olhos verdes brilhando daquela maneira que


fez meu coração bater mais rápido toda vez que pousavam sobre mim.
Inspirei fundo, lembrando os motivos para não me apaixonar por aquele
homem, mas nada me vinha à mente.

— Papai disse que queria uma visita assim que a barriga começasse a
apontar.

— É, mas ainda estou traumatizada da última visita. — Ele riu, se


levantando para me segurar pela cintura, me encostando em seu peito nu.

Dormi com Sebastian mais dias do que conseguia contar e estava um pouco
acostumada com a forma em que nossa rotina matinal estava se
desenvolvendo. Íamos ao meu apartamento — quando eu não dormia em
Hannah —, enfrentávamos minha mãe, pegava algo para me trocar e íamos
para o trabalho.

Só que nunca, em hipótese alguma, entrávamos juntos. A verdade é


que a falta de um pai para o meu bebê vinha trazendo uma chuva de
comentários acerca de quem ele realmente seria, e ser vista com Sebastian

não era algo que me agradava. Iria gerar muito burburinho.

— Vamos quando você se sentir bem. — Alisou meu cabelo e beijou


meus lábios suavemente.

— Da última vez, a pressão pelo casamento quase me deu um ataque

cardíaco. — Ele riu. — Falou com Susan? Esqueci de lhe perguntar sobre
isso ontem. — Estava com medo do que viria do embate dos dois. Susan não
era a pessoa mais compreensível do mundo e a certeza de que ela sabia sobre
nós veio com as inúmeras piadas jogadas em minha direção nos últimos dias.

— Não, ela está fora da cidade, segundo sua secretária, retorna hoje a
Nova Iorque. — Franzi o cenho.

— Sério? Eu a vi ontem. — O homem desceu a mão por dentro de sua


camisa no meu corpo, que acabou virando meu pijama oficial, me levantando

no ar com facilidade e uma intimidade sem igual. Enlacei as pernas em sua


cintura, o vendo caminhar para o banheiro comigo em seu colo. — Não sou
tão leve assim, senhor Collins — falei, em meio a risadas.

— Você é magrinha, Alex. Nem pesa. — Me afundou na banheira


com cuidado, me encaixando sobre seu colo na mesma medida. — E Susan
viajou para o Texas, a secretária disse que foi resolver um problema familiar.

Franzi o cenho.
— Susan é do Texas? — Tentei me recordar de alguém com o mesmo
nome dela ou com características parecidas. — Qual cidade?

— Não me recordo.

— Bom, não faz diferença. Eu vim de Valley, uma cidade pequena,


Texas é enorme e conhecer Susan desde a época que morava lá é

praticamente impossível. — Senti suas mãos retirando a camisa do meu


corpo, jogando-a no chão do banheiro, com a água enchendo a banheira ao
nosso redor. — Na banheira hoje? — Arqueei a sobrancelha. — Vamos nos
atrasar.

— Podemos um pouco, né? Merecemos. — Se aproximou, roçando os


lábios sobre os meus de maneira lenta. E me perdi ali, com os sorrisos de
Sebastian, suas mãos descendo em minha pele, queimando contra meu corpo,
marcando-me para aquele momento enquanto crescia embaixo de mim.
Apenas me perdi, sabendo que nada podia me fazer esquecer os momentos

que os últimos dias tinham me proporcionado.

A porta do escritório se abriu e a cabeleira ruiva de Susan apareceu,


me fazendo congelar no lugar. Ela sorriu, da mesma maneira indiscreta que
fazia para todas as pessoas que cruzavam seu caminho, mas em mim, tinha
um efeito macabro de me congelar no lugar.

— Alex! — Sua voz era estridente, e me encolhi na cadeira


confortável, prevendo mil e uma dor de cabeças diante tamanha felicidade
daquela mulher. — Você realmente não pode dizer não para uma amiga
desesperada.

— Uma amiga? Hannah está aqui?! — Ela riu, se sentando em minha


frente. Falei isso por puro deboche, sabendo que ela se referia a si mesma,
por mais que, desde que entrei na empresa, chegamos ser colegas, no
máximo.

— Bobinha. — Bateu palmas. — Eu preciso que me diga sim.

— Para o que Susan? — Arqueei a sobrancelha.

— Oras, não seja tão analítica, deixe a advocacia de lado apenas por
um momento. — Busquei paciência. — Me diga o sim que espero há dias! —

exclamou feliz da vida. — Como sabe, preciso de alguém para um encontro


com meu irmãozinho…

— Você é do Texas? — rebati, desconfiada, querendo fugir daquela


conversa. — Que cidade?

— Não, nasci aqui, mas minha família é de lá — falou de maneira


vaga, pegando o papel em cima da mesa e anotando um endereço e meu
telefone. Não deixei de notar que ignorou minha segunda pergunta. — Como
eu estava dizendo, preciso arrumar alguém para ele. Você é perfeita! Tenho

certeza que me darão sobrinhos lindos… — Suspirou.

— Eu estou grávida, Susan. E eu mal conheci seu irmão! — Ela riu.

— Verdade, está grávida. Mas isso não é um problema. Hoje irá

conhecê-lo e tenho certeza que tudo será como planejei. — Bateu palmas,
rodando na minha sala. — Se te ajuda a ficar mais desconfortável, eu e
Sebastian iremos. Um encontro duplo!

Engoli em seco, a vendo me olhar com malícia, e senti meu corpo tão
tenso que a qualquer momento alguma curva dele iria reclamar. Sebastian
havia aceitado ir a um encontro com Susan? Por que ele faria isso?

As memórias da nossa manhã na banheira vieram em minha mente,


corando minhas bochechas de maneira boba.

— Eu irei — afirmei, encarando o endereço em minha mesa. Irei


mesmo fazer isso?, me perguntei enquanto a ouvia falar, só que a única coisa
que passava em minha mente era por que ele tinha aceitado ir a um encontro
com Susan. Sei que combinamos de sair com outras pessoas, mas pensar ele
faria isso com ela me deixava completamente puta da vida.

Sabia que para Sebastian não importava muito se a bomba explodisse


no escritório, mas para mim, sim. Não era uma herdeira, era apenas uma
advogada, e apesar de a empresa não ser minha única fonte de renda, era o
que eu amava fazer. Não queria tomar nenhuma decisão drástica sobre esse

cargo no Grupo Collins, mas não queria ser a mulher tachada por dar o golpe
do baú no chefe.

— Onde você vai? — Hannah apareceu na porta do banheiro,


segurando o copo de algum suco detox maluco. — Está gata, vai sair com o
Collins? — Arqueei a sobrancelha. Para minha amiga, a qualquer momento
vou cair no chão, reclamando de uma grande paixão por Sebastian.

— Vou naquele encontro que Susan fica me convidando. — Me


inclinei, passando o batom vermelho em meus lábios com todo cuidado do
mundo. Podia até virar freira, ser a própria rainha da Inglaterra, mas não tinha
males que um batom vermelho não espantasse.

Me encarei no espelho, vendo a primeira roupa de grávida que ganhei


— de Hannah. Era um vestido meio marrom, algo puxado para o amarelado,
cheio de bolinhas, que era rodadinho e com um laço acima da barriga. Nada
aparecia, porque ainda era quase plana, mas mesmo assim, não resisti em
deixar a peça de lado.

— Sabe o que é estranho? — Me virei para Nana, entregando o


grampo de cabelo prateado para que me ajudasse.

— O quê?

— Você aceita o convite de uma mulher que está praticamente


brincando com seu segredo. — Fechei os olhos, pois sabia que havia uma
pontada de razão em sua voz. A vi mexer em meus cabelos soltos, fixando o

grampo neles. — Está perfeita — Sorriu, segurando meus ombros com o


olhar que deixava claro que conhecia minha alma. — Quando irá dar um fim
na loucura da sua mãe?

Inspirei fundo e forcei um sorriso em meus lábios.

— Já quer me tocar para fora? — fingi estar ofendida.

— Claro, não posso trazer um homem para casa com você. —


Colocou as mãos na cintura, como se ela fosse a maior pegadora de Nova
Iorque, em seguida, ela mesma riu da própria piada. — OK, falando sério

agora. Me diga, pois você não pode viver se escondendo da sua própria mãe,
Alex. Sei que a ama, que ainda alimenta uma esperança pequena de ela
mudar, mas ela sempre volta para os mesmos erros.

Encarei meus pés, hipnotizada por minhas unhas pintadas de rosa.

— Eu sei, Nana, só que sou fraca quando se trata dela. — A encarei.


— Toda vez que me coloco no caminho dela, lembro de papai falando que ela
é minha mãe, que apesar de não ter muito amor materno, Laura merecia
chance para mudar.

Vi minha melhor amiga sorrir de lado.

— Amo você e todo esse amor por ela. Mas seu pai falou isso há
muito tempo, Alex. — Segurou meu rosto. — Naquela época, ela ainda tinha

o poder da dúvida, agora, depois de tudo, depois do que ela fez com você em
relação a Robert, não vale a pena acreditar em uma mudança. Precisa ser
forte.

Beijou minha bochecha com carinho.

— Eu sei, Nana. Vou tentar, prometo. — Inspirei fundo. — Me diga,


estou bonita? — Dei uma voltinha, mudando de assunto.

— Sua bunda está ficando maior com a gravidez.

— Nana! — exclamei, horrorizada, e corri para o quarto, me

encarando no espelho. Não que eu fosse maluca pelo corpo perfeito, só que
sou magrinha, se minha bunda ficasse enorme, ficaria parecendo uma
tanajura.

A ouvi gargalhar.

— O Collins vai ficar louco — debochou, me encarando da porta do


quarto. — Me diga o real motivo para ir a esse encontro. — Desta vez, sua
voz não tinha o tom leve de brincadeira.

— Sebastian aceitou acompanhar Susan — sussurrei, fingindo que


aquele era motivo o suficiente para demostrar ciúmes. Não estava com
ciúmes, sabia disso, mas Hannah não.

— Ah! — Riu. — Aí está o motivo perfeito.

— Perfeito? Ele aceitou sair com Susan! — Balancei as mãos no ar.

— Mas vocês estão em um relacionamento casual, podem sair com


outras pessoas. — Jogou minhas palavras contra mim. — Você concordou e
sabe que se ele quiser dormir com ela, ele irá romper. Não é traição.

Dei um passo atrás. Minha cabeça engatou nas suas palavras. E se


Sebastian quisesse dormir com Susan? Ele vai terminar comigo, claro. Seria
bom, muito bom, pelo menos assim, colocaríamos uma distância boa entre
nós.

Meu estômago se revirou.

Merda. Não queria que ele terminasse. Acostumei-me com o maldito.


O homem malditamente bonito que acordava sempre com o humor
maravilhoso — o que era tão irritante — e que sempre tinha aquele charme
irresistível.

Engoli em seco.
— Não, não é. Mas a questão é — busquei umas desculpas pelo meu
surto e a vi arquear a sobrancelha. — Susan é a mulher que roubou o teste de

DNA. Por que ele sairia com ela? Deveríamos nos juntar contra ela…

Hannah riu, mas nada disse. E me deixou sair de casa, com minha
cabeça latejando no mesmo ponto. Será que Sebastian ainda não havia falado
com ela por medo? Será que ele via em Susan algo a mais do que apenas uma

colega de trabalho?

— Daqui a pouco sai fumaça da minha cabeça — resmunguei, me


encarando no espelho do carro ainda na frente da casa de Nana. Vamos ser
objetivas. Não estava apaixonada por Sebastian. Se acabasse, acabou. ficaria
ficar bem. Tinha certeza disso.

Entretanto, algo dentro de mim latejava. Nunca senti meu coração tão
pequeno como esse momento, prevendo o fim, ou sendo muito negativa pelo
caminho das coisas. Fechei os olhos e disse a mim mesma que tudo ficaria

bem.
Com toda certeza a decisão de ir a um encontro duplo não foi fácil,
porém, se tornou tudo muito desafiador quando Susan disse que Alex

finalmente havia aceitado ir a um encontro com o seu maldito irmão. Nem o


conhecia, mas já sabia que era um maldito americano engomadinho e metido
a besta.

Aram. Olha quem estava falando, o homem que só tinha ternos no

maldito armário, podia até ver meu subconsciente debochando. Ah, não me
culpe, eu era um CEO, tinha que estar a caráter para todas as malditas
reuniões que passava no dia-dia.

Assim que entrei no restaurante que ela havia marcado, senti meu
corpo ficar tenso ao ver a ruiva sentada em uma das cadeiras e soube que a
noite seria muito longa. O homem ao seu lado parecia bem mais velho que
eu, vestido em roupas sociais, mas despojada, estampava um sorriso
prepotente para a irmã. A única coisa que eu sabia dele era seu nome e algo

em mim estremeceu. Como um pressentimento ruim.

Levantei o olhar e vi Alexandra caminhar na mesma direção, só que


vindo do toalete do local. Assim que pousou os olhos sobre a mesa reservada
para nós, estacou no lugar.

Seus lábios desenharam algo, entretanto, para ninguém em especial.


Ela parou no tempo, completamente congelada ali, sem nenhuma reação,
parecia que havia visto o próprio Lúcifer. em carne, osso e dente.

Só que seus olhos estavam focados em Robert. O irmão de Susan.


Aproximei-me da mesa, calmamente, tentando entender a maldição
que me foi jogada e porque o destino era tão filho da puta comigo. É claro
que encontrar meu ex-namorado em um encontro às cegas preparado por sua
irmã não era o destino, mas sim uma armação muito bem planejada.
Entretanto, mesmo que isso enviasse notas de terror por todo meu corpo,
segui em frente.

— Alexandra. — Ele maneou a cabeça, no velho ar Robert Hughes de


sempre. Inspirei fundo. — Nunca pensei que o destino nos colocaria frente a
frente em um encontro novamente.

— Eu não chamaria de destino, Robert — rebati, puxando a cadeira e


me sentando ali.

Susan riu.
— O que mais seria, Alex?

— Armação. — A encarei, inclinando a cabeça, deixando claro que


não acreditava nada que ela fez tudo de maneira inocente. Não. Ela não
roubaria o teste e me marcaria um encontro com aquele maldito sem
nenhuma motivação para isso. — Roubar o teste de DNA da casa de
Sebastian e ainda um encontro duplo com o maldito do meu ex-namorado

não é algo que simplesmente se encaixa em uma coincidência.

Ela riu.

— Verdade, querida. Mas pense pelo lado bom, estou do seu lado. —
Colocou a mão sobre a minha e vi Sebastian aparecer sobre seus ombros. —
O lado de você dar um pai para seu bebê.

— Meu filho não precisa de um pai, Susan. — A voz do homem era


cortante, e ela se virou, com uma expressão assustada em sua direção. —

Queria mesmo falar com você acerca do sumiço do DNA do meu


apartamento. Engraçado, que a câmera de segurança deduz você. Pode me
dizer por que disso?

Se sentou ao lado da ruiva e o olhar de Robert analisando nós dois era


quase como vidro em minha pele.

— Bom, Robert é uma pessoa um pouco convincente.


— Você não tem irmã, Robert. Pelo que me lembre, não. — O
encarei. O homem sorriu.

— Se tivesse aceitado minha proposta não teria esse problema.

Bati na mesa.

— Eu não vou discutir isso com você. Chega, já basta ter sua presença

no Valley, pode me explicar o que diabos faz voltando à minha vida? Tudo já
não ficou claro o suficiente dez anos atrás? — Ele riu.

— Eu não vou desistir do que quero, Alex. — As palavras me


congelaram. Não. Ele ia ter que desistir de uma maneira ou de outra. — Você
recusou uma vez, pois era jovem e imatura, mas não irá cair no mesmo erro
novamente. Está gravida, em alguns meses vai precisar de uma casa, um lar
para criar o bebê.

A risada escapou dos meus lábios.

— Eu não sei se entendeu, Robert. — O encarei. — Mas nos últimos


anos, trabalhei muito, dei tudo de mim para nunca precisar cogitar algo dessa
forma. — Ele revirou os olhos. — Meu filho não precisa de ninguém. Ele tem
a mim. E eu não preciso que ninguém me sustente pelas migalhas de um
relacionamento.

Levantei-me, batendo as mãos na mesa.


— Você pode ter Laura ao seu lado. Sei que de alguma forma, tem
dedo dela em tudo. — Não era algo surpreendente, ela já se juntou a ele uma

vez. Como Nana disse, não havia redenção para pessoas como minha mãe. —
Mas se continuar com isso, eu não vou pensar duas vezes em aplicar uma
denúncia em cima de você.

Peguei minha bolsa, saindo do restaurante, deixando para trás todos,

inclusive Sebastian, e relembrei o momento em que ele fez aquela proposta


terrível há mais de dez anos.

Robert pensava o quê? Que mesmo tendo apenas dezesseis anos eu


iria cair de amores nos braços de um homem anos mais velho do que eu e que
estava noivo?

Meu primeiro erro foi me apaixonar por Robert mesmo sabendo que
ele era quatro anos mais velhos e que iria se casar em pouco tempo. Laura,
como nunca foi uma mãe exemplo, achou toda a ideia uma boa chance de

escapar do trabalho duro. Praticamente vendendo-me para um homem. Que


se tornou meu maior pecado ao ver o caminho que os dois queriam para mim.

— Você não passa da mesma menina inconsequente de antes. — Sua


mão me segurou, me forçando a parar. — Pensa que irá durar muito com
aquele filhinho de papai? Em breve, vai perder o emprego na empresa deles
por dormir com o chefe, consequentemente, ele vai te deixar também.
A voz contra meu ouvido contava meus mais profundos medos desde
que essa situação toda se formou. Senti meus olhos ardendo pelas lágrimas

que se aproximavam.

— Lembra quando eu disse que você não poderia ir longe? Que por
mais que tentasse, iria cair? Pois, como todas as mulheres da sua família,
você está destinada ao fracasso. — Inspirei fundo. Não. Eu não ia fracassar.

Eu era forte. Eu tinha conseguido até ali , não eram suas palavras que me
fariam desistir.

— Não vou cair, Robert.

Ele riu.

— Vai. E quando cair, eu vou estar lá para segurar sua mão, pois
infelizmente, é a única que se estenderá. — Alisou meu ombro e senti meu
corpo ardendo em uma repulsa silenciosa. — Vamos criar essa criança juntos,

Alex. Porque aquele filho da puta não pode ser o pai…

Me virei, aplicando a única coisa que aprendi na academia. Fechei


meu punho e fiz com que ele fosse em direção ao maxilar de Robert Hughes,
sabendo que se Amber estivesse aqui, teria um certo orgulho de mim. O
impacto não foi enorme, mas o suficiente para ele dar um passo atrás, me
encarando com incredulidade.

— Sua vadia. — Deu um passo à frente, mas algo o segurou.


— Passou dos limites. — Encarei Sebastian. — Se você se aproximar
dela novamente, será eu a lhe bater, não minha mulher. — Arregalei os olhos

e ele empurrou Robert, segurando minha cintura. — Está tudo bem? Temos
que fazer algo sobre isso. Esse homem é meio maluco, Alex. Merda, isso
deve estar doendo.

Fiz careta, segurando minha mão entre seus dedos e senti a dor

latejante se acumulando ali. Entretanto, valeu a pena saber que infligi o


mínimo de dor que seja naquele homem. Limpou minha bochecha, falando
baixinho enquanto Susan e o irmão se afastavam. Ou fosse lá qual era o
verdadeiro parentesco deles dois.

— Eu estou bem. — Fechei os olhos, deixando meu corpo cair contra


o seu. — É só que…

— As palavras machucam — completou. — Eu sei que sim. Não


acredite em nada que ele disse.

O encarei, me sentindo a pessoa mais estúpida do mundo por chorar


em sua frente.

— Eu não vou deixar vocês, Alex. — Sorri.

— Eu sei — afirmei, pois algo em mim, por mais que tivesse medo de
como nosso relacionamento fosse ficar, sabia que meu filho teria o pai. Isso
era a única certeza que tinha em relação a tudo.
Ele beijou a ponta do meu nariz.

— Vamos. Vamos pedir comida para viagem e vamos para casa


colocar um gelo nisso. — Tocou minhas costas e a menção da dor pareceu
fazê-la se intensificar. — Inclusive, está linda hoje. — Sorri de orelha a
orelha com o elogio. — A mulher mais linda que entrou nesse restaurante.

— Você é bobo. — Fiquei na ponta dos pés, o beijando calmamente.


— Pode pedir algo? Espero você no meu carro. — Ele assentiu e se afastou.
Encarei minhas mãos, que tremiam, completamente desestabilizada.

Inspirei fundo. Eu ia ficar bem. Eu ai ficar bem. Eu sabia que ia.

A observei com a cabeça escorada na janela do carro, os pensamentos


longe denunciavam que ela não estava nada bem. Sabia que havia algo de
errado em Alexandra por trás de todo aquele medo com seu emprego
ameaçado. As palavras cruéis daquele homem só me fizeram ver isso.

Foram amantes? Ele a fez algo ruim? Ela era apaixonada por ele?
Desviei meus pensamentos, sabendo que amanhã mesmo colocaria
Susan contra a parede para descobrir a verdade. Não poderia continuar

fazendo vista grossa para isso, não quando a verdade ficava batendo em meu
rosto constantemente. Como disse mais cedo, a única razão para sair com ela
foi o fato de ter mencionado que Alex havia aceitado também, com uma
vontade incoerente de estar presente e estragar todo maldito avanço do

homem que Susan tentava jogar em cima da minha mulher. Minha? Caralho,
nem sei de onde veio esse minha.

Só sei que não conseguia mais pensar nela sem esse maldito pronome
possesivo.

Segurei o gemido de desespero, pois só tinha se passado um mês


desse maldito relacionamento aberto, e diante disso, ela estava sendo cada
vez mais presente em minha vida, porém, a única parte que me atormentava
era que ela conhecesse alguém e que nossa cláusula de poder sair com outras

pessoas fosse meu martírio.

— Chegamos — falou, sorridente. Pegou as sacolas do restaurante,


seu casaco e sua bolsa, abrindo a porta do carro. — Sebastian! — exclamou,
me fazendo saltar e a encarar. — Você está bem?

Franzi o cenho, confuso. Eu estava bem? Na verdade, desde que saí


daquele hospital, dois anos antes, nunca tinha estado tão bem, os pesadelos
sumiam quando estava ao lado dela. Como se eles a temessem. E seu cheiro,
sua risada, eram uma das coisas mais frequentes em meus dias.

A academia que era uma forma de alívio do peso em minhas costas


passou ser só a academia. A coisa que me acalmava agora era estar com
Alexandra. Então sim, eu estava bem. Só que a intensidade de estar bem era
demais para mim.

Não podia me permitir me apaixonar. Uma vez apaixonado, não


conseguiria romper isso.

— Estou sim. — A ajudei com as sacolas, saindo do carro, e a segui,


vendo que estava distraída com os próprios problemas que nem me indagou
muito sobre o que estava realmente acontecendo. Entramos no elevador em
silêncio e vi que ela digitava uma mensagem para a irmã, com a mão não
dolorida, mantendo a outra fechada em punho.

Os xingamentos que vi aparecendo na tela do celular me fizeram


segurar a risada.

— Ela disse que se visse Robert novamente, chutaria a bunda dele por
conta própria — Alex brincou, sorrindo. — Eu não o chutei, mas pelo menos
valeu a pena colocar em prática minhas a única coisa que aprendi na
academia.

— Qual academia você frequenta que te ensinou a dar socos? —


brinquei, vendo que cada vez mais nos aproximávamos do meu andar.

— Ah, não é que eles ensinam a dar socos, as aulas eram de defesa
pessoal. — Balançou as mãos no ar. — Foi a única coisa que aprendi.
Inclusive, dói para caralho. — A mão inchada e com alguns pontos de sangue
foi colocada em minha frente.

A segurei com cuidado, trazendo para próxima da minha boca,


beijando com delicadeza os dedos longos e delicados que agora estavam
marcados no rosto daquele filho da puta.

— Vamos colocar gelo e uma pomada nisso. — Ela sorriu. A porta do


elevador se abriu e saímos, caminhando lado a lado no apartamento, como se
uma tensão houvesse se estabelecido entre nós.

Caminhei para a cozinha, pegando uma das bolsas para gelo que havia
ali, e a preparei, vendo-a se sentar em uma das banquetas, com uma

expressão desanimada no rosto. Aproximei-me, pegando sua mão e


colocando o gelo sobre.

— Ai… — gemeu, me fazendo rir. — Não ri.

Bateu em meu ombro.

— Desculpe, desculpe — pedi, concentrado em como começar aquela


conversa.
— Desculpe por ter metido você nisso. — A ouvi suspirar. — Robert
é uma pessoa antiga na minha vida, mas nunca pensei que voltaria, nem que

Susan armaria para nós. Sei que não quer escândalos na empresa e eu sou
cheia de pontas soltas…

Não resisti em revirar os olhos.

— Acho que os escândalos não passaram em minha mente em


nenhum momento. A verdade é que me preocupo bem mais se você estiver
bem do que com qualquer outra merda do que virá acontecer. — Alisei sua
bochecha, segurando a bolsa de gelo em sua mão. — E eu não me importo se
tiver que socar mais algum filho da puta por você.

Ela deu uma risadinha, abaixando a cabeça, e vi a lágrima cair em sua


bochecha. A limpei.

— Não chore, princesa. — Ela me encarou.

— O que eu faço com você, Sebastian Collins? — A pergunta era a


mesma que me fiz alguns minutos atrás. O que faria comigo mesmo? O que
faria com meus sentimentos? Como acalmar essa sensação maluca que
crescia dentro de mim?

Encostei nossa testa, sorrindo de lado, com aquele arrepio


percorrendo meu corpo em antecipação.
— Pode… — gaguejei, por puro nervosismo.

— Pode só me deixar ficar. Com você. E me contar o que houve. —


Ela arregalou os olhos. — Preciso saber. Preciso saber o que aquele infeliz
fez para te machucar tanto. — A vi engolir em seco, nervosa. E esperei pelo
que viria da sua boca. O sim que poderia abrir seu passado para mim, ou o
não, que iria manter a barreira de sanidade entre nós.
O encarei, sem saber o que fazer mediante a sua indagação. Falar ou
não falar? Porém, depois do que Sebastian presenciou hoje, ter segredos
acerca do meu passado não era algo que me agradava. E afinal, sabia mais
sobre ele do que ele sobre mim. Fechei os olhos, por apenas alguns segundos
para criar coragem o suficiente, e minha mente foi completamente
transportada para dez anos atrás.

Tinha apenas dezesseis quando o conheci, foi rápido, na juventude,


criei meus próprios fantasmas. Estava despedaçada com a partida de papai e
consequente a isso, fiz minhas besteiras.

O encarei.

— Eu o conheci quando tinha dezesseis anos. — Me apoiei no ombro


de Sebastian, com cuidado para não tirar a bolsa de gelo de cima da minha
mão dolorida. — Foi um erro. — Encolhi os ombros. — Eles eram uma
família influente na região, meus pais estavam bem abaixo deles, meu pai

havia trabalhado para o pai dele antes de morrer. E quando Robert assumiu os
negócios da família, ele tinha vinte na época e estava prometido a uma garota
muito rica da cidade.

Era tão ridículo narrar essa história, que sentia o bolo crescendo em

minha garganta. Ele alisou minhas costas em conforto e deixei as palavras


fluir dos meus lábios, ao mesmo tempo em que as lembranças se faziam
presente.

“Envolvemo-nos, na época, e ele evitava o assunto do casamento a


todo custo. Por mais que eu dissesse a mim mesma que era errado, não
conseguia me afastar. Adolescente apaixonado é uma droga. Tudo caiu
quando ele anunciou o casamento um ano depois e tive que aceitar que ele
nunca abdicaria do seu destino por uma garota como eu”.

As mãos de Sebastian arrodearam minha cintura.

— O que quer dizer exatamente como uma garota como você?

Sorri.

— Não me menosprezando, mas eu era jovem, Sebs, era apaixonada e


não tinha a mesma quantia de dinheiro em sua conta bancaria. — Ele riu.
— Isso para mim é só um monte de desculpas para a pessoa ser um
canalha com a outra. E o que ele quis dizer com apoiar você? Sendo a única

mão que se estenderá? — Fiquei tensa.

— Bom, minha mãe tem culpa nisso também. — Encostei a cabeça


em seu ombro, sentindo o cheiro do perfume familiar invadindo meus
sentidos. — Ela fez um trato com Robert. Praticamente, não querendo ser

muito negativa, ela vendeu a própria filha por dinheiro.

Eu seria amante de Robert, um caso escondido, a desculpa que eles


tentaram dar ao dizer a maldita proposta era de que éramos apaixonados, mas
que nunca poderíamos ficar juntos. Na época, eu agradeci aos céus por ter um
pai tão maravilhoso, que me ensinou mais do que eu poderia pedir. Ele
sempre me dizia que honra não se comprava. Construía-se. Minha mãe errou
conosco pela milésima vez e ainda assim cobrou honra. Não havia honra
nela. Não quando não tinha feito por merecer.

Inspirei fundo.

Eu dei um passo atrás. E fugi, deixei Valley com uma bolsa de


viagem pequena e um objetivo de que nunca seria como ela. Eu não tinha
ninguém, era uma menina ainda, e mesmo assim, sempre foi eu apenas.

— Laura gosta de jogar na cara que eu sou como ela. — Me afastei.


— Gosta de dizer que as mulheres da minha família sempre acabam caindo,
mas no fundo, isso é uma forma de dizer que eu conseguir me sair melhor do

que ela e que não escolhi o caminho mais fácil.

Ele limpou a única lágrima que caía e segurou minha mão.

— Obrigada por enxugar minhas lagrimas — brinquei, sorrindo de


lado. Estranhamente, era tão mais leve quando se dividia isso com outra

pessoa. — Obrigada por não me olhar torto depois de tudo.

Sebastian franziu o cenho.

— Por que te olharia torto? Era uma menina. Eu fiz muito pior nos
meus dezessete e você nunca me julgou por isso. — Segurou meu rosto entre
suas mãos e senti meu coração dar um salto. — Sabemos que ninguém é
perfeito, Alex. Por isso, o maldito destino irônico nos colocou juntos, pois
sabemos que erros não definem quem somos.

Alisei minha bochecha.

— Novamente…

— O que você faz comigo? — Arqueou a sobrancelha, me fazendo


rir. — Vamos fazer assim: você cuida de mim, e eu cuido de você ok? Aí
ficamos bem e mandamos o carma para a puta que o pariu.

Gargalhei, tirando o gelo da minha mão, e passei os braços em volta


do seu pescoço, beijando seus lábios levemente. Senti sua mão em minhas
costas, aproximando-me contra seu corpo. Soltei um gritinho quando ele

passou o braço ao redor das minhas pernas, me levantando da banqueta e

seguindo para o quarto.

— Vou cuidar de você primeiro, princesa — sussurrou.

Encostei a cabeça no ombro de Sebastian Collins e o observei

falando, enquanto fechava os olhos e deixava sua voz ser meu único calmante
naquele momento. Senti a cama embaixo de mim e os abri novamente, o
encarando.

— Fique aí, vou lhe trazer almoço. — Beijou minha bochecha e se


afastou. Deixei meu corpo cair para trás e encarei o teto do quarto, lembrando
que, da última vez que estive aqui, prometi que não iria me apaixonar. E olha
só onde estava…

Santa ironia!

Eu tinha um lema. Até poucos segundos atrás. Até o “eu cuido de


você e você cuida de mim”. E ele acabou de ser jogado pelos ares no instante
em que isso chegou, me deixando a plena confirmação que não havia como
não me apaixonar por Sebastian Collins porque já estava completamente
apaixonada por ele.
Alexandra se inclinou, pegando um pouco mais do molho e colocou
sobre a comida. Sentada na bancada do meu quarto, ela nem percebeu meus

olhos focados completamente nela. A vi se mover e me encarou, tagarelando


sobre algo que nem mesmo prestava atenção.

Estava muito focado nas batidas irregulares do meu coração. Nunca


me senti assim. E era um tapa na cara. Um divisor de águas em minha vida.
Diante minha recusa em relacionamentos, eu deveria romper com Alexandra.

Só que ela ri para mim e toda ideia vai embora. Não conseguia deixá-
la, não quando malucos como Robert por perto, e sabendo que hoje qualquer
homem daria tudo para tê-la ao seu lado.

Admiti, em voz baixa, apenas para meu coração, sabendo que ele só
me denunciaria em batidas erradas, que estava apaixonado por aquela mulher.
Apaixonei-me, pois fui idiota o suficiente para não fugir dos seus sorrisos.
Quarto mês! Nem acredito que finalmente vou ter a chance de
descobrir o sexo do bebê. O caminho pelo quarto mês foi corrido e cheio de
tropeços. Continuava me escondendo de mamãe na casa de Hannah e cada
vez mais, se tornava insuportável. Éramos melhores amigas, eu sabia, e eu a
amava com todo meu coração, só que viver no mesmo teto, dividir a mesma
cama era demais.

Inspirei fundo, remexendo as mãos inquietas enquanto aguardava na


sala de visitas do consultório novo que fiz meus últimos exames. Sim, mudei
de médica, não por estar com ciúmes de Sebastian — talvez um pouco —,
mas sim porque era desconfortável ver a ex-namorada dele cuidando do meu
bebê.

A nova era um amor e gostava de assustá-lo com a fase da


adolescência do bebê.
Sorri de lado, lembrando quando ela mencionou que se fosse uma
menina, ele iria ter muitos problemas para afastar todos os “malandros” de

perto dela. O homem ficou tão branco que pensei que cairia para trás.

Voltando para o que aconteceu há mais de quatro semanas com


Robert e Susan, ele desapareceu. Andei perguntando a Amber se ela viu o
filho da mãe andando por lá, só que segundo ela, não apareceu e nem sinal

dele na fazenda.

A porta da clínica se abriu, e Sebastian colocou a cabeça no vão da


porta, sorrindo de lado. Deixei a bendita revista que estava em meu colo e
que não fazia a mínima ideia do que tentei ler e caminhei até ele.

— Oi! Você demorou. — Ele beijou minha bochecha, fechando a


porta em suas costas.

— Eu tive uma reunião, desculpe. — Me encarou, antes de depositar

um selinho rápido em meus lábios. — Somos os próximos? — Desabotoou o


terno, se sentando na cadeira de frente a recepcionista. — Bom dia, Sonia! —
a saudou, e a mulher deu uma risadinha, corando de maneira engraçada.

— Ela sempre cora — brinquei, pegando a revista e encarando a capa.

— Ela é uma lady — ele rebateu, sorrindo. — Estava lendo sobre


gravidez?
Engoli em seco, o encarando com uma careta.

— É que cada vez mais se aproxima. — Sebastian mantinha os olhos


focados em mim. — Estou no quarto mês, daqui a pouco precisaremos
montar o quarto, escolher o nome. — Me abanei. — E quando menos
pensarmos, ele ou ela estará aqui. E eu não faço a mínima ideia de como
cuidar de um bebê e…

— Alex! — Sebastian exclamou, me fazendo travar. — Calma, ok?


Vai ficar tudo bem. Temos muito tempo para descobrirmos sobre como
sermos bons pais. — Alisou minha bochecha. — Sabe o que poderíamos
fazer?

Arqueei a sobrancelha.

— O quê? — A curiosidade passou em minha mente, sem fazer ideia


do que ele falava.

— Um daqueles cursos de parto. Talvez isso lhe ajude a você ficar


bem com isso. — Fiz careta. Parecia meio fora de nexo. Curso de parto não
vai chegar nem perto do que é um parto de verdade.

— Não acho que fazer um curso de parto pode me ajudar. — O vi rir.


E ele dentro daquele terno vermelho vinho, que marcava os ombros, o
deixava incrivelmente sexy.
Talvez fosse esse meu pensamento para todos os tipos de terno que
via. O homem tinha uma verdadeira coleção deles. Já tinha olhado seu closet

e eram poucas as roupas que não eram feitas exatamente sob medida.

Sua desculpa para isso era que ao voltar a sua vida, teve que assumir a
empresa, aparecer cada vez mais na mídia e os ternos pareciam se tornar cada
vez mais a sua peça favorita.

— Não, não é isso. É um curso de gestante, o básico. — Segurou


minhas mãos. — E prometo lermos tudo que conseguirmos para fazer uma
experiência melhor. Apesar de achar que ler não vai nos dar a formula mágica
para acalmar o choro deles durante a madrugada.

Sorri.

— Acho que podemos fazer isso. — Beijei sua mão que estava
enlaçada na minha.

— Alexandra Johnson. — A voz de Julia me fez pular, e a encarei


com um sorriso. — Sua vez, querida, vamos ver como anda esse bebê. — Me
levantei, acompanhada por Sebastian, e segui para dentro do consultório. —
Como anda? Os enjoos pararam? Você foi a gravida com início de gravidez
mais calma que já conheci.

Sorri.
— Tive sorte, graças a Deus. — Dei os ombros. — Mas o perfume do
Sebastian me deixa enjoada.

Ele fez careta.

— Tive que encontrar outro. — Ele se sentou, com o tom de voz que
deixava claro o quanto aquilo lhe agradou. — Mas pelo menos a parte boa é

que ela não vai fazer cara de nojo toda vez que me ver.

Julia riu.

— Tomando as vitaminas certinho?

— Sim, uma delas acabou e eu comecei novamente como você


recomendou. — Ela me encarou.

— Minha paciente mais responsável. — Sorri de lado com tanta


bajulação. E Sebastian riu, sabendo que minha parte preferida de trocar de
médica era que Julia não ligava nada por Sebastian ser bonito, rico e

blábláblá, e o principal, não ter tido nenhum vínculo do passado com ele. —
Vamos trocar de roupa e ver como anda nossa criança.

Assenti, me levantando e sentindo meu coração batendo forte em meu


peito.

— Vamos conseguir ver o sexo dessa vez? — A encarei, com


expectativa correndo em meu corpo.
A mulher sorriu, ressaltando as poucas rugas em torno dos olhos.

— Se a nossa criança for boazinha, sim. — Estremeci, encarando meu


ventre pontudo na camisa justa que vestia por baixo da jaqueta jeans.

— Vamos lá, bebê. — Alisei minha barriga, pedindo em baixinho que


ele fosse bonzinho e abrisse as perninhas, que me desse a resposta que tanto

queria. Diferente do que imaginei, a barriga estava crescendo mais do que eu


previa.

Meu corpo estava todo se transformando, os seios ficando maiores —


para a alegria não disfarçada de Sebastian —, minha bunda ficando cada vez
maior — modelo tanajura — e a barriga pontuda só conseguia ser disfarçada
com muita dificuldade com um vestido solto.

E sinceramente, não queria disfarçar. Queria que aparecesse. Meu


filho passou a ser a coisa mais importante para mim desde que tudo veio à

tona, meu motivo de orgulho e queria carregar isso em mim.


A observei sentar na cama enquanto Julia estava lá fora. A forma que
Alexandra mexia as mãos, inquieta, dava para ver que estava quase subindo

na parede. Me aproximei, segurando sua mão para dar ao menos um apoio,


mas sabia que não ia conseguir fazer isso enquanto não descobríssemos o
sexo do bebê.

Ela me encarou.

— Eu juro que vou morrer de nervosismo ainda hoje. — Engoli o riso


que ameaçava romper. Nos últimos dias, as coisas finalmente se acalmaram,
Alex continuava dormindo na casa de Hannah e fingindo que o problema
com a mãe não existia.

Como sabia disso? Bom, digamos que sua melhor amiga virou minha
informante. Ela dissera que Alex tinha medo de enfrentar o problema que
Laura significava e fugia disso. Durante os dois meses que ela seguiu
ignorando, vinha pensando em dizer para que ela parar com aquilo e ficasse

lá em casa. Aliás, já tínhamos dormido juntos pelo menos metade da semana,


não seria nenhuma novidade.

Só que o medo de que acabasse caindo mal me calava.

— Sabe, estou sentindo que é hoje — falo, apertando sua mão e


espantando meus pensamentos. Ela riu.

— Está, é? — O tom dela era desacreditado. — Se nosso bebê quiser


bancar o difícil, vamos saber disso só nos próximos meses.

— Eu vi você conversando com ele. — Toquei a barriga pontuda da


mulher, sentindo meu coração apertando com a perspectiva do nascimento.
Ainda era o quarto mês, tínhamos o total de cinco meses para preparação.

Só que da mesma maneira, parecia que estava vivendo o momento de

ter que dar seu primeiro banho. Tentar acalmá-lo durante a noite. O ver
ficando doente. Era tudo novo e assustador.

— Sim, mas e se ele for malcriado? — Rimos com suas palavras, e


Alex parou, me encarando. — Vem cá. — Balançou a mão no ar, me
chamando. Me inclinei sobre a maca, ficando próximo a ela, e senti sua mão
subir em meu ombro, segurando a base do meu pescoço antes de impulsionar
os lábios em direção aos meus.

Pediu passagem, e eu a recebi, sentindo o gosto de balinha de

morango em seus lábios. O paraíso, pensei enquanto meu corpo acordava e


meus sentidos se tornavam cada vez mais confusos.

— É isso que os relacionamentos abertos causam. — O suspiro de


Julia nos fez pular e a encarar com o coração na mão. A mulher riu,
zombeteira. — É, nada de beijos apaixonados. Tem que ser coisas mais
quentes para vocês.

Alex cobriu o rosto com as mãos.


— Pelo amor de Deus, vamos voltar para a antiga médica. — Sabia
que ela falava brincando, por isso não evitamos em rir da sua vergonha. Até

que ela retirou as mãos do rosto, e suas bochechas estavam vermelhas.

Afastei-me delas, enquanto as ouvia falar baixinho entre si, e encarei


a janela do consultório de Julia, vendo a movimentação da cidade lá em
baixo. Papai me disse que deveria parar de se estúpido e assumir Alexandra.

Mas isso veio de um homem que me tirou dez anos e que estava louco para
ver os dois filhos casados e com quinhentos netos antes que seu último sopro
de vida fosse dado. Eu o amava, mas isso não aliviava nada.

Não iria pedir Alex em casamento apenas por isso.

Quem disse que precisa ser em casamento?! Meu subconsciente


gritou, e eu fiquei completamente congelado. Namoro então? Mas nós nos
dávamos também nesse negócio de relacionamento casual, tínhamos a
companhia um do outro, não havia prisões e nem mesmo todos os olhos sobre

nós.

Porém, o único ponto que sempre me incomodava era o fato de que a


qualquer momento alguém interessante pudesse aparecer na sua vida e
assumir todos os riscos de um relacionamento de verdade. Eu não queria isso.
Não queria ela com ninguém além de mim.

Só que não era meio hipócrita da minha parte querê-la apenas para
mim enquanto ficava pensando em como manter minha liberdade?

— Vamos começar, querido. — A voz da médica me tirou do


devaneio que enfiei e a encarei, sorrindo de lado ao me aproximar.

— Certo. — Parei ao lado de Alex, o vendo de olhos fechado. — Por


que está de olhos fechados? — Ela riu.

— Eu estou com medo.

— De quê?

— É bobo, mas eu criei tanta expectativa sobre o que seria o sexo. —


A observei engolir em seco. — Que não sei como irei ficar se ele não me
mostrar isso hoje. — Apertei sua mão e toquei alguns fios de cabelos, que
sempre estavam tão macios.

Vi Julia balançar a cabeça em concordância, afirmando que era uma


resposta positiva para os medos e anseios de Alexandra.

— Acho que você deve abrir os olhos, querida. — Sorri com aquele
eco desesperador dentro de mim.

— Também acho — Os batimentos cárdicos do nosso bebê


preencheram a sala e Alex arregalou os olhos, praticamente pulando de cima
da maca, e a médica riu. — Mamãe ansiosa, hein... — brincou, descendo com
o aparelho pela barriga de Alexandra.
Ela ficou em silêncio. Tempo demais, e nossos olhos não paravam de
ir a todo instante de Alex para a tela. Da tela para Alex novamente.

— Temo que… — A mulher deitada gemeu e fechou os olhos em um


lamurio. — Que tem gente que vai passar muitos ataques do coração com a
nova integrante da família.

Arregalo os olhos e a ficha só caiu em Alexandra minutos depois.

Ela se sentou.

— Ai meu Deus! — praticamente gritou. — É uma menina, Julia?

A médica riu.

— É sim, querida, vocês terão uma princesinha. — As lágrimas de


Alexandra começaram a descer de maneira desesperada em seu rosto. — Ah,
a melhor parte de ser médica é fazer as pessoas chorarem por notícias felizes.
— Rimos. — Meus parabéns, vou deixá-los sozinhos um momento.

Retirou as luvas, se distanciando, e logo a porta bateu em suas costas.


Encarei a parede branca, completamente em choque. Era uma menina. Uma
menina! Eu juro que pensei que seria menino, só que isso não mudava o fato
que já estava completamente ansioso por ter minha vida inundada para
sempre com o medo do momento em que ela ia crescer e começar a aparecer
um bando de filhos da mãe querendo a cercar.
— Vamos ter uma menina, Sebs. — A voz embargada da minha
mulher me trouxe de volta e me inclinei, segurando o rosto dela entre as

mãos, e beijei seus lábios. — Uma menina. Ai meu Deus…

Segurei a risada.

— Sim, baby. Uma menina. Uma princesa nossa. — Alisei suas

costas. — Obrigado por me deixar ficar, Alex. Por me dar a melhor coisa da
minha vida.

Ela riu.

— Ela vai chorar para sempre, Sebastian, vai ser sua para sempre.
Toda sua vida vai ter ela e você vai ter que crescer por ela. — Limpei suas
lágrimas que caíam de maneira constante. — Você chama isso de melhor
coisa da sua vida? Para um homem, é completamente fora de eixo.

— É, sim, Alex. Eu não sonhava com filhos. Eu só queria uma vida.

— Meu polegar desenhou seus lábios rosados. — Você chegou, me deu uma
filha e eu não consigo mais ver nada melhor que isso.

Ela limpou o rosto, mas voltou a cair inúmeras lágrimas da mesma


maneira.

— Merda, não consigo parar de chorar! — A trouxe para meus


braços, deixando minha mão pousar sobre seu ventre livremente. Senti um
pedaço do meu coração ali. Desde que tive que abrir minha mente e enfrentar
meu medo de errar, ela estava sendo isso para mim. Ela e a mãe dela. As

mulheres que tomaram conta da minha vida sem nem ao menos perceber.
— Eu sabia! — Nana praticamente gritou, batendo as mãos contra a
mesa do restaurante em que estávamos. — Estou tão feliz por você, Alex,
uma menina, Amber deve ter surtado.

Sorri.

— Ela ainda não viu a mensagem que enviei com a foto do ultrassom.
Mas ela acertou o sexo. — Encolhi o ombro e vi Sebastian retornando à

mesa, segurando uma sacola pequena.

— Agora me diga. — Nana atraiu minha atenção. — Quando você e o


bonitão vão assumir que realmente estão em um relacionamento sério? —
Engoli em seco e chuto por debaixo da mesa. — Ai! — gritou e no instante
seguinte, Sebastian alcançou a mesa.

— Voltei. Fui pegar isso para você. — Empurrou a sacola rosa-claro


em minha direção. — Comprei antes de saber o sexo, pois queria lhe dar

quando descobríssemos. — Abri a sacola, trocando um olhar cumplice com

minha amiga.

— O que é, Alex? — Ela tentou ver, curiosa que só ela. Está vestida
com roupas brancas e com bolsas de sono em baixo dos olhos, claramente o
plantão a machucou muito duas noites seguidas.

Abri uma das caixinhas e vi que se tratava de um presente para o


bebê. Senti meu coração se apertar ao lembrar que combinava com o presente
que ele enviou à casa de Amber na outra vez.

— É tão fofo. — Suspirei, sorrindo e estendendo a roupinha no ar.

Hannah gemeu, colocando as mãos sobre os lábios.

— Cabe mal meu braço — Sebastian brincou, pegando no tecido, e


me inclinei para beijá-lo na bochecha, já que estávamos em um espaço

público e demonstração de afeto mais do que isso seria como viver


perigosamente.

— Obrigada, eu amei. — Ele sorriu e colocou uma mecha do meu


cabelo atrás da orelha.

— O outro presente é do papai. Ele pediu para entregar. — Empurrou


em minha direção e engoli em seco. — Ele já sabe que temos o resultado do
sexo do bebê, dessa vez precisamos visitá-lo.

Gemi em desespero, os fazendo rir. Arnold Collins foi um amor na


nossa última visita, mas ele me pressionou tanto por um casamento, que o
medo se instalou dentro de mim. Não quis nem pensar em aparecer lá.

— É o jeito né…

Hannah riu.

— Ele é um amor, Alex, no dia que dei uma ajuda a amiga para cuidar
dele, não parou de falar o quanto estava feliz pela família estar crescendo,
pelos filhos se apaixonando e…

Sebastian tossiu, engasgando no processo de beber água que fazia


tranquilamente havia poucos segundos ao meu lado. Segurei o riso, o
ajudando a voltar ao seu estado normal.

— Calma, campeão. Nada de morrer hoje. — Ele me olha assustado.

— É, eu sei. Seu pai exagera às vezes. — brinquei, forçando o sorriso em


meus lábios. A palavra apaixonado quase o fizera ter um treco vindo de outra
pessoa, imagine se eu colocasse à mesa e dissesse essas palavras a ele…

Queria nem pensar.

Pensar demais acerca disto iria colocar tudo a perder.

Sebastian colocou o copo de lado, beijando testa com carinho.


— Desculpe, desculpe — sussurrou, e apenas balancei a cabeça em
confirmação. Evitei falar, pois sabia que se abrisse a boca, não teria volta.

Abri a porta do meu escritório, cansada, mas dei um passo atrás


vacilante ao ver o pequeno grupo rodeado na mesa de Carly. Me aproximei,

em silêncio, tomando cuidado para que ninguém me visse.

— Fiquei sabendo que o bebê é do chefe gatinho, Carly. — A voz


feminina me fez estremecer. — Você precisa nos ajudar, fica sempre no
andar mais maravilhoso e nunca nos conta as fofocas.

— Pelo amor de Deus, você acha mesmo que ele iria cair no golpe do
baú? — Franzi o cenho, com um filme passando em minha mente até o
momento. Não. Não. Não. Isso não seria possível.

— Ah, vocês são um bando de fofoqueiros! — Carly explodiu. —


Não vou falar nada. Quando ela quiser falar quem é o pai, ela vai falar.

— Eu não sabia que havia virado pauta de fofoca — intervi, sem


conseguir conter, e vi Susan apontar no elevador, andando sobre os saltos
vermelho abóbora como se estivesse flutuando.

— Há um boato correndo, senhorita Johnson. — Arqueei a


sobrancelha para Carly.

— De que o seu bebê é filho do senhor Collins — uma das meninas


ali completou, em seguida, as mãos foram à boca, como se tivesse cometido
um pecado. Suspirei.

— O que está acontecendo aqui? — A ruiva parou ao meu lado e vi o

brilho de satisfação em seu olhar.

— O que aconteceria de tão surpreendente se o bebê fosse dele? —


Carly exclamou. — É só coisa boa na minha ideia, Alexandra e Sebastian
seriam perfeitos um para o outro.

Os olhares estranhos das outras deixaram claro o quanto


desaprovavam a ideia.

— OK! Chega, eu sinceramente não tenho que falar para ninguém


sobre quem é o pai do meu bebê. — Fui firme em minhas palavras, pois no

fim, elas eram a mais pura verdade. — E se querem continuar com isso, vou
ter que passar para os superiores da empresa, pois não vou aguentar vocês
falando em meu ouvido sobre quem é ou deixa de ser o pai do meu bebê.

Passei meus olhos pelas meninas ali, eram quatro no total, e no fundo,
vi a secretária de Sebastian com um olhar aterrorizado. A lembrança de que
ela sabia que eu e ele nos beijamos já dava ideia para quem era o pai do meu
filho.
— Talvez ele nem tenha um pai. — Susan deu com os ombros e virei
meu rosto rapidamente, a encarando, sentindo meu rosto arder pela raiva.

— Limites, Susan, você conhece? — Ela riu. — Parece que não. Não
sou obrigada a dar satisfações a ninguém. Se meu filho tem um pai ou não,
não importa. Nada disso importa a vocês…

— O que está acontecendo aqui?

Viramos, rapidamente, com a cabeça girando pelo pavor. Sebastian e


Neiva Collins nos encaravam com uma expressão nada boa. A mulher ao lado
do homem com quem estava saindo estava com uma expressão tão dura que
vi a perfeita rainha má dos contos de fadas que eu costumava ler para
Heloisa.

— Um boato sobre a paternidade do filho da senhorita Johnson,


senhor. Segundo fofoqueiros, é um herdeiro Collins — Carly, como não é

muito sutil e nem dada a ficar quieta, o coloca a par da situação


constrangedora que se desenvolveu e senti meu corpo se arrepiando com o
que viria a seguir.

Estava disposta a enrolar dizendo que ninguém tinha o direito de


saber daquilo, mas Sebastian não parecia nada feliz com a situação. Então,
senti-me andando em uma corda bamba que a qualquer momento poderia
arrebentar.
Encarei a situação que se formou em frente ao meu escritório e senti
os olhos arderem na medida que tentava formular uma resposta plausível para
a situação desgastante em minha frente.

— Alex, querida, poderia vir comigo para falarmos sobre aquele


processo? — mamãe tomou a frente, segurando as mãos de Alex com
carinho. Senti que a mulher nunca esteve tão deslocada como estava naquele
momento.

— Claro, senhora Collins. — Logo elas saíram, caminhando juntas

em direção ao escritório. Encarei as moças que ainda estavam ali, como quem
não estivesse vendo que a situação estava cada vez mais próxima da
demissão.

— Primeiramente, senhoras. — Passei os olhos por cada uma ali,


vendo que havia somente duas pessoas que poderiam ter começado isso. — A
senhorita Johnson não tem que dar satisfações da sua vida a ninguém.
Segundo, se eu realmente fosse o responsável pelo bebê em seu ventre,
ninguém, além de mim, teria a ver com isso. Somos uma empresa séria, a

quantidade de pessoas que disputam uma vaga todos os dias é gigantesca e eu

sinceramente não quero ter que demitir ninguém.

Busquei a paciência, encarando o chão do escritório enquanto ouvia


cada uma seguir seu destino, até mesmo Susan — que estava parada ao meu
lado, esperando para que sua bomba explodisse —, e soube que não havia

como mantê-la na empresa. Se ela fosse uma pessoa melhor não teria feito o
que fez com exame e ter metido eu e Alex naquele encontro monstruoso.

Se ela fosse uma boa pessoa não teria espalhado essa conversa.

— Você está bem, Sebastian? — Carly colocou a mão no meu ombro.

Sorri, sabendo que ela se importava muito com Alex.

— Preciso demitir alguém, Carly. Desde que entrei na empresa, nunca


fiz isso, é estranho. — Ela riu.

— Eu sei, querido, Alex me contou o que houve com Susan. Acredito


que ter pessoas do tipo ao lado de vocês só irá prejudicar tudo. — Assenti,
concordando com ela. — Precisa arrumar isso. Alexandra pode ser uma
pessoa compreensiva, nunca perde a pose e não se rebaixa para nada, mas se
essas pessoas começarem a enfrentá-la, vamos perder uma ótima advogada.

Me afastei com suas palavras, encarando o nada. Não. Ela não poderia
vir novamente com a ideia da demissão! Não iria deixá-la ir embora da
empresa apenas por isso. Papai me mataria e jogaria no rio. Bom, talvez não,

ele teve a chance uma vez e não fez.

Piada mórbida, mas infelizmente era verdade.

— E você pode perder a Alex. — Me encarou, segurando meu rosto.

— Ficam falando que não têm nada, que não sentem nada um pelo outro, mas
não há como negar os olhares. Gestos e conexão. Alex vai se afastar quando
se sentir quebrada. Não deixe que isso aconteça. E minha reação diante a
menção de Hannah a palavra paixão vai levá-la para mais longe ainda.

— Susan? — Abri a porta do escritório depois de ouvir a autorização


para entrar e a ruiva me encarou, por cima do ombro, enquanto fechei a porta
e parei em sua frente. — Precisamos conversar.

Ela jogou o celular sobre a mesa, cruzando os braços sobre o tampo


enquanto me encarava em um desafio silencioso.

— Eu já esperava, o príncipe em armaduras brilhante finalmente veio


defender a donzela — debochou. Ela é uma mulher muito bonita, os cabelos
ruivos estão soltos ao redor dos ombros de maneira que me lembra um grande
véu vermelho-sangue.
— Na verdade, não vim defender ninguém, apenas fazer o que é certo.
— Me aproximei, não me dando o trabalho de sentar-me em sua frente. —

Sua postura em relação a tudo desde o início não tem sido boa, Susan. Entrou
em meu apartamento, pegou um documento pessoal, enviou sem nenhum
motivo aparente a Alexandra, possivelmente para aterrorizá-la e, ainda por
cima, armou um maldito encontrou duplo com o filho da puta daquele

homem.

— Aquele homem é meu irmão! Olhe bem como fala — rebateu, de


forma voraz.

Sorri.

— Será mesmo? Ou apenas o contratou para vir aqui atormentar a


vida dos outros? Já que ele acha que dinheiro pode comprar tudo, inclusive o
amor de alguém. — Ela riu.

— Robert nunca quis o amor daquela filha da puta da Alexandra. E


não tente defender a mãe dela, todos sabem que Laura Johnson não serve
para nada além de infernizar a vida alheia.

Inspirei fundo. Paciência. Paciência.

— Eu não acredito no fato de ele não querer o amor dela. Ele quer,
sim. De uma maneira doentia, ele quer, e parece que é difícil para você
aceitar que ele pode amá-la. — A vi ficando vermelha. Se levanta, batendo as
mãos na mesa.

— O que quer aqui, Sebastian?

Faço o mesmo, ficando cara a cara com ela.

— Avisar que a partir de hoje não faz mais parte dessa empresa. Está
demitida. — Ela riu.

— Não pode me demitir, sou uma das acionistas deste lugar. —


Segurei a risada.

— Eu sou o dono, Susan, estou fazendo uma proposta de compra da


sua parte nesta empresa. Por uma quantia bem generosa, diga-se de
passagem, com viagem apenas de ida para fora daqui. — Empurrei o
envelope para sua mesa. Ela abaixou a cabeça diante a proposta que se
destacava no papel.

Ela caiu para trás, sendo aparada pela cadeira.

— Xeque-mate, Sebastian Collins. — Levantou o olhar, sorrindo com


malícia. — Você acabou com tudo que uma garota pode querer. Dinheiro por
quase nada — debochou, assinando aquilo que a levaria para longe.

Não era fácil abrir mão de tanto por algo que não valia tudo aquilo.
Entretanto, se aquilo significasse que ficaríamos em paz, eu o faria. E ver
Susan assinando o tratado de bons tempos que viriam, fez a paz circular
novamente dentro de mim. Só precisava reconstituir a confiança abalada de

Alexandra.

Como eu iria fazer isso? Não fazia a mínima ideia.


Neiva me encarou com uma expressão cansada, sentada na mesa do
meu escritório. Sentia meu rosto queimando na medida que tentava adivinhar
o que se passava lá fora. Sebastian chegou e tomou todo o espaço da situação
e, agora, não conseguia parar de me mexer d puro nervosismo.

— Acho que vocês deveriam assumir. — Meu rosto se virou tão


rápido que pareci a própria menina do Exorcista. — Ah, não façam essa cara.

Todos da família e pessoas mais próximas já sabem que tem algo a mais
rolando. — Deu os ombros como se não fosse nada demais.

Inspirei fundo.

— Não consigo, sabe. Não estamos em um relacionamento sério.

Ela franziu o cenho.

— Não? Mas vocês vivem juntos. Como é que o pessoal chama os


namoros nesse mundo moderno?! — A indignação em sua voz me fez rir.

— Não é nenhum outro termo. É namoro mesmo. Mas não estamos


namorando, estamos em um — digo, me remexendo, pois é difícil admitir
para aquela senhora que durmo com seu filho, divido a cama com ele, mas
que não devo satisfação a ele. — Relacionamento aberto.

A palavra quase não saiu da minha boca, de tão difícil que era.

E ela me encarou, por longos instantes. Inclinou a cabeça para o lado


como se analisasse a situação, o rosto branco como o de Sebastian, com os
longos cílios mascarando os olhos verdes.

— Quer dizer que dormem juntos, fizeram um bebê, mas não têm a
capacidade de assumir que estão gostando um do outro? — Engasguei com o
próprio ar. — Ah, querida, seu constrangimento é tão divertido. — Se
levantou e caminhou até mim, dando tapinhas em minhas costas. — Mas eu

não acho que isso seja o caminho certo. A verdade é que eu odeio esse
caminho.

A encarei.

— Estou ficando velha, Alex. Não pode culpar uma senhora querendo
o melhor para suas crias. — A analisei com calma. — Uma senhora tem que
ter a felicidade de casar seus filhotes até o fim da vida.
— A senhora não me parece perto do fim da vida — alfinetei e a vi
abrir a boca, ofendida.

— Não, é claro que não. Mas isso não quer dizer que eu deva esperar
meus dentes caírem para cuidar desses assuntos. — O lado dramático de
Neiva não era o que eu esperava. Ela sempre me pareceu tão contida. —
Preciso viver para ver meus netos.

— Bom, o lado bom é que os netos já estão garantidos. — Alisei a


barriga.

— Sim, mas ainda falta muito, muito mais. — Inspirei fundo e a porta
se abriu, revelando Sebastian com um sorriso. Ele entrou, fechando a porta
em suas costas enquanto eu me levantava rapidamente.

— O que você disse? — perguntei.

— Nada além da verdade. — respondeu, e eu senti o sangue correr

das minhas veias.

— A verdade?! — Ele riu.

— Sim. A verdade que você é uma funcionária nossa e que não deve
satisfações a ninguém, e que fofocas do tipo não seriam toleradas. — Minhas
pernas ficaram moles e fui caindo para trás até que minha bunda alcançou a
cadeira novamente. — Você fica pálida cada vez que isso ameaça vir. Temos
que enfrentar isso, Alex.

— Relacionamentos abertos. Puff. — A mãe dele bufa, atraindo sua


atenção.

— O que disse, mamãe?

Ela o encarou, com os olhos fervendo de raiva.

— Essa merda que chamam de relacionamentos abertos. Não dá em


nada. E ainda tem o trabalho de fingir que não gostam um do outro. — Ele
abriu a boca, chocado com a agressividade e a verdade que saiu em cada
palavra daquela mulher.

— Mamãe, você não tinha que ir a algum lugar? — Se remexeu,


inquieto, e se sentou em minha frente. A forma que encarou a mãe foi um
desafio silencioso para que ela se fosse logo.

A mulher bufou.

— Estou indo. — Pegou a bolsa sobre minha mesa e encarou o filho


com um ar magoado. — Eu não criei você para não me dar a honra de criar
meus netinhos como uma família de verdade, Sebastian Collins.

E saiu, batendo a porta tão forte que os quadros balançaram de


maneira nada sutil. Engoli o sorriso e o encarei.

— Desculpe, estávamos conversando e eu falei demais. — Ele se


levantou, parando ao meu lado. Segurou minha mão, me puxando para cima e
quando me levantei, confusa, ele se sentou, me encaixando sobre suas pernas.

— Eu acho que ela tem razão.

Franzi o cenho, com meu braço enlaçando em seu pescoço, brincando


com os fios loiros.

— Sério? — Inclinei a cabeça para o lado para encará-lo melhor. —


Em quê?

— Na bobagem de um relacionamento aberto. — Sua mão desceu em


minhas costas. — Eu sei que falamos tudo sobre liberdade. Aproveitar a vida.
Mas esse era meu plano antes de conhecer você, Alexandra.

Ele quase nunca me chamava pelo nome inteiro. Sempre Alex. Ou


princesa, que odeio, mas no fim, me acostumei.

— O que quer dizer com isso? — Estremeci com medo de que meus

pensamentos estivessem caminhando em uma direção, e os dele, em outra


completamente diferente.

— Que não quero ficar com você com medo de que alguém apareça e
queira um relacionamento. Que você acorde um dia veja que não pode mais
fazer isso pois sua vida está passando e você precisa estar com alguém que
queira a mesma coisa. — Alisou minha bochecha, com o polegar tocando
meus lábios levemente. — Quero poder dizer as pessoas que você é minha
namorada, e não dormir perturbado com a imagem de outra pessoa tocando

em você.

Engoli em seco. O coração pareceu o próprio carnaval do Brasil de


tão animado.

— Estou completamente apaixonado por você, Alexandra Johnson —


Se inclinou. — E eu quero que seja minha namorada. Quero que paremos de
nos esconder. De ter medo. Quero que nossa filha pare de ser motivo de
fofocas pelo corredor.

Os lábios entreabertos e os olhos azuis arregalados de pura surpresa


deixavam claro que a peguei completamente despreparada. A segurei firme
em meus braços, não dando espaço para que fugisse.

— O quê!? — A voz indignada e aguda me fez rir.

— Isso mesmo. Vai aceitar ser minha namorada, princesa? — Sorri de


lado.

— Tipo, assumir para todos? — gaguejou. Inspirei fundo.

— Sim, sei que é difícil. Mas uma, hora ou outra, a bebê vai nascer.
— Encostei minha testa na dela. — E se você tiver sorte, ela nem vai se
parecer comigo. — Rimos. — Uma hora, a verdade vai vir à tona, pois não

vou deixar de cuidar de vocês apenas por pessoas imbecis.

Ela suspirou, segurando meu rosto entre as mãos delicadas.

— Apaixonado, é?

O sorriso pequeno se arrastou em seus lábios.

— Completamente apaixonado. — Voltei a afirmar. — E minha


certeza de que estamos caminhando juntos está começando a ir conforme
você demora para responder.

Ela riu.

— Completamente apaixonada também. — Me encarou, com os olhos


enormes sobre mim, me fazendo estremecer diante disso. — E eu aceito ser
sua namorada, Sebastian Collins.

O salto. Não pensei que sentiria meu coração saltar, mas o movimento
enlouquecido que aconteceu em meu peito fez tudo em mim se revirar. Meu
corpo se arrepiando e a sensação que finalmente fiz a coisa certa.
Me abaixei, trazendo seus lábios contra os meus, pedindo passagem
com a língua enquanto a sentia ficar mole contra meu corpo, entregue, leve,

da forma em que precisávamos naquele momento.

Deslizei minhas mãos por seu corpo, parando sobre a barriga pontuda,
que era uma surpresa boa ao ver o quanto crescia a cada dia. Alexandra havia
dito que acreditava que iria ficar pequena, mas não, nossa menina a

contrariou.

Suas mãos empurram meus ombros, me encarando.

— Como vamos fazer isso? — Seus dedos passaram ao redor dos


meus lábios, limpando do batom vermelho vinho que usava.

— Vamos, como qualquer casal, andar juntos, fazer coisas normais,


— Dei com os ombros. — Não vamos gritar no jornal. — Ela fez careta. —
Mas vamos ser normais. Tipo, poderia levá-la para jantar hoje. Ao invés de

nos escondermos em meu apartamento. — Ela segurou o riso.

— Pode ser. Mas tem uma coisa que preciso fazer. — Franzi o cenho,
a vendo sorrir. — Falar com minha mãe. Pretendo dar um fim nisso e voltar
para casa.

— Ah sim, vai finalmente parar de dormir na casa de Hannah. — Ela


abriu a boca, surpresa.
— Como você…

— Sim, Hannah me contou.

— Nana fofoqueira! — xingou a amiga, me fazendo rir. Segurei o


rosto entre minhas mãos.

— Por que não me disse?

— Porque você iria querer que ficasse com você. Que ficasse no seu
apartamento. — Abri a boca para me defender, mas desisti, pois era
exatamente o que eu faria. — E estávamos naquele meio-termo. Eu não sabia
como seria caso você descobrisse. No fim, eu fiquei mais na sua casa do que
com Nana.

Sorri.

— Não me esconda coisas importantes. — Afaguei a bochecha que


corou de maneira adorável. — Ainda mais quando podemos resolver isso,

juntos. — Ela concordou, me encarando. — Posso ir com você falar com sua
mãe.

— Não. Não. É ruim o suficiente ela ficar me pedindo dinheiro, se


descobrir que você é o pai do meu bebê, as coisas vão ficar ainda piores. —
Encostou a cabeça em meu ombro, relaxando contra mim. A cadeira do
escritório de Alexandra era larga e confortável o suficiente para nós dois e
deixei que meu corpo se acalmasse com o seu contra o meu.

— Quando acabar tudo, me ligue, que vou te pegar. — Ela murmurou


um sim baixinho, enquanto deixávamos o silencio preencher a sala. De uma
forma, dei o jeito em duas coisas de uma vez só. Mandei Susan para longe e
ainda pedi Alexandra em namoro. Que se danasse a maldita ideia de
liberdade, eu não ia me prender a isso enquanto toda vez que dormia, a via

com um maldito qualquer.

Era demais para minha própria paz.

Encarei a porta do apartamento enquanto sentia minhas mãos


tremendo. Eram apenas seis da tarde e se eu tivesse sorte ela estaria lá dentro,
sóbria o suficiente para ouvir minhas verdades.

Segurei o celular com o número do chaveiro que peguei no caminho e


abri a porta, chamando pelo seu nome enquanto meu coração batia forte em
meu peito. Era a primeira vez que fazia aquilo. Inclusive, deixei todos os
meus documentos e cartões de crédito na casa de Hannah, apenas para não
cair na tentação no meio do caminho e acabar cedendo.

Das outras vezes, dei a ela o que tanto queria.

Desta vez eu estava disposta a deixar claro que se quisesse ficar na


minha vida, seria como minha mãe, não como a pessoa turista que aparece

sempre que precisava de algo.

Eu conseguiria. Eu enfrentava bandidos. Muitas vezes era obrigada a


defendê-los.

Por que não iria conseguir me dar bem diante disso?

— Laura?! — gritei, passando pelos dois quartos e quando retornei


para a cozinha, me certifiquei que ela não estava na varanda. Vi os cigarros
sobre a bancada da cozinha e algumas garrafas de cerveja.

Para que merda servia tratamento de beleza se ela bebia mais do que

conseguia acompanhar?!

Liguei para o chaveiro, solicitando o serviço que expliquei mais cedo


e enquanto aguardava, fui retirando todas a roupas sujas espalhadas pelo chão
da sala. Coloquei no cesto separado ao meu para caso de fazer uma mala para
ela.

Naquele momento, uma ideia se iluminou em minha mente. Não era


nem um pouco meu estilo, maldosa demais, mas era o sinal claro de que

chegara o fim do caminho. Que ela não podia mais invadir minha vida, exigir

coisas, querer que eu renunciasse minha filha e todas essas coisas.

— Boa tarde! — o homem falou, empurrando a porta encostada do


apartamento. Sorri. — É essa a porta? — Indicou, analisando a situação.

— Boa tarde! Exatamente. Preciso que apenas troque a fechadura


como conversamos, ok? — Ele assentiu. Engoli em seco, caminhando para o
quarto com o sexto de roupas sendo arrastado pela casa.

Assim que entrei no quarto de hóspedes, comecei puxando a única


mala que ela trouxera. Abri sobre a cama e coloquei calmamente as roupas
limpas do guarda-roupa com cuidado.

Meu coração se apertou e me indaguei: por que ela não poderia ser
uma mãe normal? Se não conseguia isso, era só sumir da minha vida, eu não

ia pedia para ficar. Já era grandinha. Só que minha única serventia para ela
era parecida a um banco.

Um banco claramente sem fundo segundo suas ideias. Deixei a


primeira lágrima cair. Era forte, mas às vezes era preciso se desmontar um
pouco, para se encontrar.
— E você a pediu em namoro? — Hannah falou, praticamente
gritando, e fiz careta. — Desculpe, eu me empolguei, é que isso é uma notícia
maravilhosa. — Ela estava toda vestida de azul com aquela farda hospitalar.
— É que Alex é uma irmã e vê-la feliz é um dos meus desejos mais intensos.

Segurei sua mão, sem conseguir parar de sorrir.

— Sim, estamos namorando. É oficial, e agora preciso falar para o

papai. — Apontei para a porta. — Ele quase chutou minha bunda para isso.
— A mulher riu. — Quando é que se faz chá de bebê, Nana?

Ela franziu o cenho.

— Lá pelo sétimo mês de gravidez. Pretende fazer um para Alex? —


Os olhos da mulher brilharam conforme ela ficava animada. — Eu estou
pensando em tudo. Inclusive, qual será o nome da bebê?
Deixei a risada nervosa escapar dos meus lábios.

— Ainda não pensamos nisso. O chá de bebê podemos pensar juntos,


o que acha? — sugeri, querendo que Alex se sentisse mais familiarizada com
a ideia da bebê chegando ao mundo. Sei que ela andava nervosa, mas com
tudo que estava caindo sobre nós, ficava difícil pensar muito sobre isso.

— Acho maravilhoso! — suspirou, parecendo pensar em algo. —


Inclusive, o nome da bebê podia ser Hannah, uma homenagem por eu ser a
melhor cupido de todos os tempos. — Deu um sorriso de orelha a orelha.

— Cupido? Desde quando?

Ela riu.

— Desde que vocês dormiram juntos. Eu sou ótima no que eu faço.


— Algo apitou dentro do bolso do seu jaleco. — Poxa vida, nem vou ter
tempo para convencê-lo. Mas nos vemos depois. — E balançou a mão no ar,

se despedindo enquanto corria para dentro.

Inspirei fundo, abrindo a porta do quarto de papai, e o vi deitado sobre


a cama, com os olhos focados no tablet anexado ali. Passava os dias vendo
notícias, assistindo seus documentários. Praticamente sua diversão estava
resumida àquilo.

Eu sentia muito, porém, melhorar essa situação estava completamente


fora do meu alcance.

— Bom dia, papai — saudei, colocando em cima da bancada um café


com chocolate que comprei a caminho para cá, sabendo que era seu preferido
e que ele merecia ter pequenas alegrias. — Trouxe café. — Ele abriu um
sorriso.

— Bom. Bom. Como anda meu neto? — Inspirei fundo.

— Heitor e Mel estão bem. — Ele bufou.

— Não seja petulante, eu sei que Heitor e Mel estão bem, falo com
eles todos os dias. — Segurei o riso. — Como anda sua filha, para ser mais
específico.

— Muito bem e eu tenho uma notícia para lhe dar. — Segurei o


sorriso, sabendo que aquilo, sim, seria sua grande alegria hoje.

— Que você pediu Alex em casamento? — chutou, com uma

expressão cansada.

— É exatamente isso — confirmei e vi os olhos do homem faltando


sair do rosto.

— O QUÊ!? — gritou e senti meu rosto esquentando. — Você está


namorando, Sebastian! E toda aquela bobagem de liberdade, aproveitar a vida
e blábláblá? — Segurei o riso. — Ah, não importa, você está namorando!
A porta se abriu e a enfermeira colocou o rosto ali, nos encarando
com curiosidade.

— Não houve nada, eu apenas dei uma notícia a ele. — A


tranquilizei.

— Meu filho está namorando, enfermeira! Namorando. — É, a

loucura da mamãe só podia ter passado para ele.

A mulher riu.

— Meus parabéns, senhor. — E os parabéns foram totalmente


voltados para papai. Já que aquilo parecia tê-lo feito mais feliz do que a mim
mesmo.

O encarei.

— Já acabou? Não quer colocar no jornal não? — alfinetei e ele riu.

— Se eu pudesse, colocaria. Mas me diga, quando irá pedi-la em

casamento? — Se remexeu na cama, pegando algo em baixo dos travesseiros


enquanto eu travei totalmente com aquela pergunta. — Vai pedi-la, né? Tem
que fazer. Precisa fazer.

Empurrou a caixinha vermelha em minha direção, me fazendo engolir


em seco.

— Dei a Maggie o anel que sua mãe usou como noivado. Esse é da
sua vó. É aquela bobagem de joia de família. — Segurei a risada, pois tudo
para ele era uma bobagem que ele queria que eu fizesse. — Sua avó foi feliz

com seu avô, Sebs. Eu e sua mãe, apesar de tudo, nos amamos. Somos felizes
e eu não morreria feliz se não a tivesse ao meu lado. Não é um anel que vai
fazer isso, mas já deve servir para alguma coisa.

Rimos e, mesmo contra a vontade dos meus planos, peguei a caixinha

em minhas mãos.

— Não vou pedir, papai. Não agora. — Ele bufou. — Acabamos de


começar algo. Nossa vida parece estar virando de cabeça para baixo com a
bebê e não é o momento certo. Além do mais, nos conhecemos há pouco
tempo.

Aqueles motivos pareciam mais para mim do que para ele.

— Eu acho que você está dando motivos demais. — Bufou. — Está

escrito na sua testa que é louco por ela. — Quase me olhei no espelho só para
confirmar isso. — Demorar só levaria mais tempo para ficarem juntos.

Descansei minha cabeça para o lado, sentindo uma dor na coluna


infernal devido ao tempo gasto na cadeira de escritório e vi que precisava sair
dali, quanto mais ouvisse o grande Arnold Collins, mas disposto a essa ideia
eu estaria.

— Eu preciso ir agora papai — o cortei, me levantando em um pulo, e


o deixando de boca aberta. — Vou deixar seu café aqui. Tomem senão esfrie.
Preciso ir à academia antes de ir ver Alex.

Pisquei, beijando sua testa.

— Te amo. — Ele me encarou, com raiva por fugir daquele assunto, e


segurei o riso que ameaçava a romper.

— Também te amo. — A quantidade de te amo tinha se tornado


absurda nos últimos tempos. Achei que todos dessa família estavam
temerosos com o momento em que ele não estivesse mais aqui.

Eu fiquei. Todo dia, quando acordava, papai era a primeira pessoa que se
passava em minha mente. O questionamento se ele estaria bem, se viveria
para ver minha filha nascer, se viveria para ver seu primeiro passo, se iria ter
a chance de sair desse lugar e ver os gêmeos correndo pela casa, o deixando
ainda mais de cabeça branca.

O medo de nunca mais ver seus cabelos — que pareciam um capucho


de algodão — me assombrava. Se tornando cada dia mais obscuro, pois cada
momento que passava, pior tudo ficava.
— E como foi a conversa com ela? — Sebastian indagou, puxando a
cadeira do restaurante japonês que escolheu para essa noite. Inspirei fundo,

ao lembrar da sensação de ser a pior pessoa do mundo ainda correndo sobre


mim.

— O que está acontecendo aqui? — Me virei, dando de cara com


Laura parada na porta enquanto guardava os últimos pertences dela. — Por
que tem um homem trocando a fechadura?

— É sua passagem de volta para sua casa — indiquei, pegando a


passagem de avião que comprei poucos instantes antes, colocando sobre a
mala inacabada. — Estou dizendo que não dá mais para ficar aqui. Não

depois de tudo. Não vou lhe dar dinheiro. Não vou tirar minha filha e cada
vez mais o parto se aproxima, preciso pensar nela.

Engoli em seco ao vê-la rir.

— Não, só pode ter enlouquecido. Sou sua mãe! Não pode me


expulsar — praticamente gritou.

Senti meu rosto queimando na medida que meus olhos se tornavam


cheios de lágrimas.

— Eu sempre disse a você que precisava crescer. Ser uma mãe de


verdade. — Encolhi os ombros. — Só que percebi que não posso te obrigar a
isso. Não há formas de lhe ensinar que ser mãe vai muito além do papel que
você cria. — Ela se sentou. — Eu pedi que fosse minha mãe, mas a mãe que
precisei a vida toda, não essa pessoa irresponsável que dá festas, gasta

dinheiro, bebe e fuma como se não houvesse amanhã!

Ela me encarou.

— Eu não preciso de você para bagunçar minha vida, mamãe. Eu


amo você. Meu coração no momento está doendo tanto. — Funguei,
deixando as lágrimas caírem. — Só que preciso pensar em mim. Na minha
filha. E você infelizmente não pode fazer parte dessa equação.

Ela me encarou.

— Usa o amor que sente por mim e me faça feliz! — gritou.

Limpei meu rosto.

— O que te faria feliz, Laura?

Ela riu.

— Sendo minha filha. Fazendo as minhas vontades. — Suspirei.


— Você mudaria para ser minha mãe, Laura? Você deixaria tudo se
eu voltasse a ser uma criança e você pudesse ter uma segunda chance? —

Ela abriu a boca, chocada.

A imagem dela, da nossa família muito tempo atrás, cercada de


brigas, desprezo e nenhum tipo de amor materno, trouxe uma pontada de dor
em meu peito. Eu a amava muito, ela me colocou no mundo. Só que isso não

era recíproco.

Ela não podia ser minha mãe. Ser plena naquele papel. E eu
respeitava isso.

— Eu esperava que não. — Sorri. — Seja feliz. Só não conte mais


comigo para nada. — Apertei suas mãos e saí do quarto, entrando no meu e
bati a porta em minhas costas, deixando minhas pernas cederem e meu corpo
deslizar. Caí sentada no chão frio, com o rosto manchado pelas lágrimas.

— Foi uma das coisas mais difíceis que fiz na vida — fui sincera,
balançando a cabeça para afastar a memória que voltava a todo instante. —
Sempre foi um pé de guerra, mas dar um ponto final doeu.

Ele sorriu.

— Eu compreendo. Papai e eu agora nos damos bem, eu o perdoei


pois aquele era meu caminho para ficar livre. — Sorriu. — Só que imagino
que não fazer isso tornaria tudo dolorido e cheio de quedas.
— Gosto da sua relação com seu pai. — Enlacei nossos dedos por
cima da mesa. — É sinal claro que duas pessoas podem se desgrudar do seu

orgulho para serem felizes.

— Quando se está em uma situação como a dele, não sobra muito. —


Abaixou a cabeça, mexendo no cardápio.

— Nenhuma chance de melhoras? — O homem negou. — Eu sinto


muito.

Ele levantou o olhar, sorrindo de lado.

— Também sinto. Mas vamos mudar de assunto. Sabe, Hannah me


deu uma sugestão de nome para a bebê. — Balancei a cabeça variadas vezes
sabendo exatamente onde ele queria chegar.

— Não vamos dar o nome de Hannah para nossa filha.

Ele riu.

— Acreditei que fosse ter a mesma reação — brincou. — E como


vamos chamá-la?

Arqueou a sobrancelha e parei no ar, sem ter a menor ideia de como


chamaríamos a criança.

— Eu não faço ideia. Vamos chamá-la de A Bebê. — Joguei um


pouco de cabelo para trás. — Pois nesse momento estou mais preocupada
como cuidaremos dela do que como ela irá se chamar.

Ele pegou minha mão, beijando o dorso com carinho.

— Vamos nos sair bem. Eu tenho certeza… — Sua positividade me


assustava e ao mesmo tempo acalmava tudo dentro de mim.

Ela estava simplesmente perfeita. O vestido preto que escolheu era


justo, de mangas longas, mas que caíam em seu ombro de maneira que
deixava o vão dos seios à mostra de maneira tentadora.

Com toda certeza, os ciúmes me pinicavam a todo instante, por causa

dos olhos de todos sobre ela, mas sabia que era impossível não olhar para
Alexandra quando ela parecia simplesmente radiante.

Assim que a porta do elevador se abriu, suspirei aliviado, vendo que


não esperava o momento para chegar em casa, tirá-la dos olhos da rua. Tê-la
apenas para mim.

— Aí, Deus. — A ouvi ofegar, parando no meio do cômodo, em


frente ao caminho de flores que levava para a cabana no meio da sala de

estar. — Não acredito que fez isso. — Se virou para mim, colocando as mãos

sobre os lábios, e vi os olhos cheios de lágrimas. — Fazer uma mulher


grávida chorar não é legal, baby.

Sorri, me aproximando. Peguei a flor que deixei na mesa mais


próxima do elevador e a prendi em seu cabelo, deixando-a ainda mais linda.

Os lábios vermelhos — típico de Alex — combinavam com a rosa da mesma


cor. Os cabelos escuros estavam soltos ao redor dos ombros e brincavam
sobre a pele clara do pescoço.

— Eu queria que você sentisse que as coisas entre nós não vão mais
ter meio-termo. — Toquei a base da sua coluna. — Não quando você é tudo
que eu quero. — Beijei sua bochecha, a sentindo se encostar em mim
lentamente.

— Não aguento você — sussurrou, me fazendo rir e buscar seus

lábios. A beijando com cuidado, puxei seu corpo contra o meu, vendo que a
cada dia que passava, a barriga se tornava um obstáculo. Só que era bom,
pois lembrava como caminhamos juntos dia a dia.

Afastei-me, segurando sua mão e a puxando para mais próxima a


cabana de pano que montei ali, e com pequenas luzes de Natal ao redor, dava
um ar extremamente fofo. Ela observou tudo. Saquei o botão da caixa de som
que estava escondido em meu bolso e o liguei para que uma música
preenchesse o ambiente ao nosso redor.

— Música perigosa. — Riu, contra mim, enquanto Dangerous


Woman, da Ariana Grande, começou a tocar.

— Eu confesso que sou culpado. — Alisei suas costas, a mantendo ali

perto. A versão piano com a voz de fundo trazia o que parecíamos a cada
letra, intensidade. — Foi uma busca minuciosa.

Ela sorriu e me encarou com os olhos brilhando.

Meu corpo esquentou.

Meu coração tropeçou.

Papai tinha razão. Não era o tempo que ditava a intensidade. Era
como as pessoas se encaixavam. Como se conectavam. Como o destino as
unia.

— Eu... — Engasgou, e a vi puxar uma respiração pesada. — Não sei


o que vou fazer com meu coração diante de você, Sebastian Collins. — Sorri
de lado, a abraçando, enquanto dançávamos juntos.

— Não faça nada — respondi baixinho. — Só me deixe tocar você.

Ela sorriu.
— Você pode fazer o que quiser se continuar a me olhar dessa
maneira. — Sorri. Ela segurou meu rosto, encarando meus olhos com o

mesmo fogo que vi na primeira noite que tivemos juntos.

Cola nossos lábios, lentamente, desenhando os meus com os seus,


com as mãos segurando firme em meus ombros, coloco minhas mãos em sua
sintura, pedindo passagem em sua boca.

Meu corpo reage, esquentando com o gosto de seus lábios, o cheiro


que vem de seu corpo, o calor que sinto em tocá-la, descendo as mãos por
cada curva marcada pelo vestido justo.

Me perdi nesse caminho. Completamente incapaz de pensar em nada


além daquela mulher, enquanto suas mãos afoitas desciam para base da
minha calça jeans, parando ali, brincando com os botões com um sorriso
faceiro.

— Pulando etapas, querida? — zombei, a fazendo deslizar o botão e


me deixar quase livre da peça. Desceu o zíper que releva a boxer preta que
vesti mais cedo, e suas mãos subiram, passando a unhas pintadas de preto
pelo tecido de maneira sensual. Pegou o primeiro botão da camisa social e fez
o mesmo ato anteriormente, me despindo lentamente, relevando meu peito.
Fez isso de maneira que meus olhos não conseguiam desgrudar dela.
Completamente hipnotizados por cada movimento.
Suas mãos alcançaram minha pele, deixando-me livre de qualquer
peça de roupa enquanto ela continuava completamente vestida. Deu um passo

atrás, sorrindo de lado com seu feito.

— Eu poderia aproveitar a onda de falta de vergonha na cara. — Ri,


sem conseguir evitar. — E tentar um strip-tease, mas eu estou cada dia mais
me sentindo uma bola enorme, sem chance nenhuma.

Dei um passo em sua direção, deixando para trás as roupas jogadas no


chão.

— Está perfeita. — Toquei a barriga. — Mas eu que vou te despir


hoje. — Deslizei meus dedos sobre o seu decote, parando na beirada da
manga do vestido. — Hoje, quando te vi na porta do seu apartamento, eu só
tive a certeza que teria muito trabalho em aguentar todos os olhares sobre
você.

Ela riu.

— Eu estou redonda.

— Não, você está perfeita — sussurrei, sorrindo de lado enquanto


deslizei o vestido pela pele macia, revelando a peça escura sem alças que
segurava os seios generosos com firmeza.

Desci um pouco mais, relevando a barriga protuberante pouco a


pouco, e em meio aos toques, seu corpo se acedendo ao meu, se arrepiando,
esquentando, intensificando cada sensação que me dominava de maneira

irreversível.

Meu corpo em chamas se juntou ao seu. E foi perfeito. Como nunca


havia sido como ninguém antes.
Quatro semanas depois

Abri a porta do escritório com calma, segurando um café


descafeinado que tinha um gosto desagradável, que anteriormente eu iria me
matar por tomar, mas nas últimas semanas estava sendo minha única bebida.
Viva os cinco meses! Cinco meses, desde que descobri da existência do ser
que se tornou o amor da minha vida, um mês desde o bendito pedido de

namoro e um mês desde que mamãe partiu e não sei o que aconteceu depois
disso.

Todo dia, o ato involuntário de pegar o telefone e ligar para ela


passava por mim, mas o botão verde do telefone nunca era ativado. Tenho
medo de que ela não tenha consciência nenhuma de como me desestabilizava
e voltasse.
— Alex — Carly falou, apressada.

— Bom dia, Carly. — Sorri, entrando no escritório, e me sentei,


observei senhora correr até mim. Coloquei meus pertences sobre a mesa e
espalhei as revistas que chegaram no dia anterior, concluindo que muitas
eram de moda ou fofoca. Como Amber adorava.

— Não viu o jornal hoje? — Seu tom estava agudo e meio


desesperado. Nesse momento, movi meus olhos para cima, vendo que ela
remexia as mãos de maneira inquieta e as minhas varreram as revistas até
encontrar um dos jornais mais famosos de Nova Iorque, que deveria notificar
notícias de economia, legislação e muitas coisas realmente úteis.

Só que o bendito só sabia falar de pessoas ricas.

“O CEO Sebastian Collins foi visto, ontem, com a advogada


Alexandra Johnson, que, segundo informações, é uma das contratadas do

Grupo Empirus Collins, Indo mais afundo, ela está gravida! Isso mesmo,
pessoas, será que nosso CEO está em um relacionamento sério ou seria
apenas uma de suas escapadas?”

Desde que Sebastian voltou à ativa, andando pela cidade, assumindo a


empresa, atraiu muita atenção. As suas escapadas como a mídia dissera, era
encontro com várias mulheres com quem estivera.

Senti meu estômago se revirando. Merda. Não tive tantos enjoos


durante o período inicial, agora isso não poderia acontecer. Já passou seu
tempo de aparecer, benditos!

— Você está bem? Daqui a um instante, o escritório todo vai começar


a falar disso, Alex. Sinto muito. — Caí sentada, sem saber o que fazer. Sem a
mínima chance de conseguir tirar isso de circulação.

O redator do jornal era um filho da puta prepotente que já defendi em


tribunal. Ele não deixaria uma manchete dessa ser retirada só porque eu
estava me sentindo desconfortável com ela. Além do fato de que já devia
estar correndo por toda a cidade.

— Tudo bem por aqui? — O dito-cujo colocou a cabeça na porta do


meu escritório, sorrindo. Mas minha expressão não era muito boa e ela logo
se foi. — Tem uma movimentação na sua mesa, Carly. — Apontou para fora,
e a mulher cobriu a mão com horror, seguindo para fora. — Você está pálida,
Alex. Me deixou preocupado. Me diga o que houve.

Se abaixou em minha frente e empurrei as folhas em sua direção.

— Olha. — Engoli em seco e senti minha cabeça rodar.

— Ah, caralho! — xingou, sem a menor cerimônia enquanto eu


estava completamente congelada na cadeira.. — A empresa toda já sabe.
Bando de filhos da puta. Escondemos bem por um mês. — Tentou me
confortar. — Não poderíamos esconder isso para sempre, Alex. — O encarei.
— Vem, vamos dar um jeito nessa bagunça.

Levantou e estendeu a mão.

— O que vai fazer? — Franzi o cenho, aceitando a mão estendida.

— Você vai ver. — Piscou, abrindo a porta da sala, e ali estava os


principais acionistas juntos enquanto alguns funcionários observavam a cena

com um misto de curiosidade e desafio.

Por que aquelas pessoas se importavam tanto se estávamos juntos?


Era uma merda. Não fazia o menor sentido.

— Houve algum problema por aqui? — A mão de Sebastian na minha


atraiu os olhares.

— Na verdade, acho que hoje todos amanheceram curiosos sobre


notícias. — Cada um ali segurou o jornal, como se houvessem se juntado
para debater o livro do mês. — Sobre…

O homem baixinho tentou falar, mas engasgou. Era um dos diretores.


Senti os olhos de alguns queimando sobre mim.

— Sim, eu fiquei sabendo que estampamos a página do News, hoje.


— Sebastian riu. — Curioso, mas acho que a profissão de todos aqui requer
muito mais trabalho do que ficar de olho na vida alheia.

— Mas… — Alguém tentou falar.


— Estamos juntos, se é isso que queriam saber. O bebê de Alexandra
é meu filho. E sinceramente, não quero ter que entrar em outra situação

ridícula como essa. — Cada palavra que ele falava, sentia meu corpo mais
tenso. — Agora, se me dão licença, tenho uma reunião importante em quinze
minutos.

Segurou minha mão firme, me puxando para longe dali. Entramos na

sala do escritório e a porta se fechou em nossas costas. O peso saiu dos meus
ombros no mesmo instante. Acabou, finalmente acabou! Ai, meu Deus. Eu
sabia que pelos próximos dias da minha vida teriam pessoas me olhando torto
dentro dessa empresa.

— Me saí bem? — Sua mão desceu pelas minhas costas, me


segurando contra seu corpo com firmeza.

— Muito bem — respondi, sorrindo. Encostada a ele, seus lábios


desceram, beijando um ponto do meu pescoço. Me desvencilhei. — Só não

vamos abusar. — Me coloquei de frente a mesa, com ela entre nós.

— Nem um pouquinho? — brincou, sorrindo de lado.

— Nem um pouquinho. — Fui firme, mas sua boca pressiona sobre a


minha, pedindo passagem enquanto deixei meu corpo se entregar ao dele,
lentamente, com o homem me guiando em direção a sua cadeira do escritório
e puxando meu vestido florado para cima, de maneira que deixava claro suas
intenções. — Sebastian…— sussurrei, meio irracional quando senti meu

corpo acordar.

Meus peitos fizeram fricção com o sutiã apertado e me sentei sobre


suas pernas, deixando minha razão para trás ao ver o homem me observar
com toda a calma do mundo. As minhas bochechas queimaram quando
deslizei meus dedos pelos botões da sua camisa, tocando sua pele quente

lentamente ao sentir meu corpo queimando.

— Você está séria? — ele sussurrou, deslizando as mãos por baixo do


meu vestido, os levantando na altura da minha cintura. Senti minha pele se
arrepiando com o contato.

— Estou tentando não pensar. — Enlacei meus braços em seu


pescoço, o encarando. Meus lábios colaram sobre os seus e o puxei contra
meu corpo, completamente incapaz de parar enquanto sua ereção crescia
contra mim. Sua língua bailava junto da minha, arrepiando, domando tudo

em mim.

Gemi, sentindo minhas mãos afoitas descerem para a base da sua


calça. Deslizando o botão e o zíper em um ato impensado, senti seu corpo se
levantando, deitando-me sobre a mesa de carvalho. Sobre os malditos
contratos que enviei para sua sala mais cedo.

Me encostei na madeira gelada, o encarando fixamente, com um


sorriso preenchendo meus lábios enquanto minhas pernas seguem agarradas

em sua cintura. Suas mãos procuraram as laterais da minha calcinha,

puxando-a para baixo, deixando-a na altura dos meus joelhos, e senti seus
dedos brincarem com minha intimidade.

Senti minha excitação na medida em que deixei meu corpo ser


tomado por um espasmo. Gemi, com seus dedos brincando contra minha pele

sensível, e fechei os olhos, deixando meu corpo ser invadido por aquela
sensação chegando perto.

Mas acabou. Me forcei a abrir os olhos, vendo-o segurar minha


cintura, puxando minha bunda para a beirada de maneira que seu corpo se
conectasse ao meu, causando a sensação de estar completa que tanto me fazia
bem. Gemi, movimentando meu corpo contra o seu, intensificando as
sensações que se apoderavam do meu corpo. Deixei de lado qualquer
pensamento racional sobre o que estava acontecendo.

Sua mão alinhou mais uma mecha do meu cabelo, sorrindo sacana
com seu feito em me levar para o mal caminho. Afastando-se, pegou o
notebook e o colocou sobre a mesa, abrindo e ligando o visor, que
rapidamente estampou todos os programas em aberto. Meus olhos caíram na
mensagem que chegou em seu computador. Era de alguém chamado Lídia
Clark, com o endereço de um encontro marcado.

Senti o ar fugir dos meus pulmões.

— O que é isso? — sussurrei, não querendo parecer a mulher maluca


e ciumenta, só que as coisas estavam indo demais para o enredo de desastres

que me rodeava. Ele chegou até mim.

— Er… — gaguejou, sem fazer a menor ideia do que dizer. — Não é


nada, pelo amor de Deus; — Resgatou a voz antes que eu saísse do escritório,
parando em frente a porta e o encarando com o desafio para que ele
completasse a frase. — Alex, não faz assim. Ela é só uma amiga.

Sorri.

— Você sabe que falar que ela é só uma amiga deixa tudo pior, não é?
Isso é uma das coisas que todos os homens dizem, Sebastian — acusei,

levantando o dedo no ar, e senti minhas mãos tremendo. — Pelo amor de


Deus, eu não sou inconsequente, nem mesmo controladora, mas uma das
coisas que não sirvo é para ficar quando outra pessoa chega.

Saí dali, batendo a porta do escritório em minhas costas. Ela não se


abriu. Ele tinha o mesmo pensamento de que, apesar de tudo, ainda
estávamos em uma empresa e tínhamos que ser profissionais. Senti minhas
pernas moles a todo caminho até a sala. A sensação de que se fiz certo ou
errado bateu sobre mim. Eu sou insegura, eu estou grávida, ficando cada dia
maior, com os peitos, a barriga, as coxas e consequentemente, o nível de

insegurança subia a cada instante.

Ter que vê-lo com papo sobre encontros com sua maldita amiga não
era minha coisa preferida. Peguei minha bolsa, saindo dali o mais rápido que
conseguia. Do que adiantava resolver um problema e arranjar uma sensação

instável de que não sabia qual seria nosso próximo passo?

Era muito cedo para desistir da melhor pessoa que entrou na minha
vida? Era muito cedo para deixar para trás a única coisa que chegou mais
perto de amor de verdade? Era muito cedo para pensar que podia ser feliz
com outras questões além do meu trabalho?

A campainha tocou, e eu me afundei um pouco mais no sofá, sem

fazer a menor ideia de como seguir. Talvez tivesse sido inconsequente agindo
completamente pela razão do momento. Não dei a ele chance de explicar,
mas isso não quer dizer que era fácil ficar ao seu lado.

— Sou eu, Alex. Sei que está aí. — A voz de Hannah me trouxe de
volta, e me levantei em um pulo, decidindo que precisava dela. Não fui para
sua casa, pois, pela primeira vez na vida, queria ficar bem sozinha. Sem
precisar de ninguém.

Abri a porta, fitei a loira ainda vestida com as roupas do hospital, com
olheiras em baixo dos olhos e segurando dois copos de café.

— Trouxe café. Precisava para exercer minha função de cupido de


forma correta. — Segurei o sorriso, constatando o que marcava na

embalagem “descafeinado” e entrei em casa. — Fiquei sabendo o que


aconteceu.

— Sebastian? — Afundei no sofá, observando Hannah fazer o mesmo


no outro.

— Aram — resmungou, bebendo um gole do café em seguida. —


Inclusive, acho loucura. Você não faz o tipo ciumenta. — Me escondi por
trás do copo. — Olhe nos meus olhos, para de se esconder.

— Eu surtei, ok? Estava nervosa com o acontecido, mas aconteceu

uma coisa superbacana em nossa sala. — Suspirei. — E teve a maldita


matéria. Aquilo foi só a pontinha para entrar completamente em pânico. —
Senti meu coração batendo forte. — E se for verdade? E se ele quiser mesmo
partir para outra?

Hannah encarava fixamente.

— Me escute, ok? — concordei. — Nos últimos dias, ele deu sinal de


se importar menos, de não gostar de você ou de estar com outra pessoa? —
Passei a última semana que estivemos juntos juntamente com a cena em seu

escritório e engoli em seco.

— Não. Ele foi só Sebastian. — Sorri, boba. — Que naquele jeito


meio zombeteiro, me faz ficar boba com todo ato dele.

— Ah, você o ama! — exclamou, batendo palmas, e aquilo me


congelou no lugar. Eu o amava? Eu me apaixonei, sim, mas eu o amava?

Se amar for ficar boba com sorrisos da pessoa, se preocupar se ela


está bem, querê-la por perto, sentir meu corpo reagindo apenas em pensar
nela, coração acelerado, mãos suadas.

Sim, talvez eu o amasse.

— Ele está surtando, Alex.. Disse que ia deixar você ter seu tempo e
pensar, mas que isso não iria durar muito pois não podia ficar longe de você.

— Segurou minhas mãos juntas. — Eu nunca te vi tão feliz com algo que não
fosse seu trabalho, estou finalmente vendo você se apaixonando de verdade,
entregando seu coração e graças a Deus, é com um homem o suficiente para
fazer o mesmo.

Deixei a lágrima cair.

— Eu preciso falar com ele — concluí tentei me levantar só que caí


de novo, sentada. — Mas antes, preciso ir a um lugar. — Sorri de lado, com
a ideia passando em minha mente.

— O que vai fazer? — Ela se virou, me encarando curiosa.

— Preciso falar com uma pessoa. — Meu celular tocou insistente em


cima da mesinha de centro e corri para pegar, vendo que era o número de um

dos meus clientes. — Alô!

Balancei a mão para Nana, pedindo um minuto enquanto caminhava


para a varanda. Um dos meus clientes de fora de Nova Iorque finalmente
recebeu a solicitação para comparecer no tribunal.

Inspirei fundo.

— OK, Jeff, estarei aí. — O meu coração afundou novamente, pois


sem chance nenhuma de conseguir fazer isso sem adiar meus planos pessoais.
— Irei viajar. — Me virei, a encarando. — Um cliente de fora do estado teve

sua audiência marcada, precisarei representá-lo.

A vi engolir em seco.

— Mas precisa falar com Sebastian. — Deixei meu corpo cair no sofá
novamente.

— No momento, preciso defender meu cliente, Nana. Em breve, não


vou poder mais viajar, tenho que dar conta de todos os trabalhos antes do
sétimo mês de gestação e não sei quanto tempo vai levar isso. — Esfreguei

meus olhos. — Talvez seja melhor eu me afastar de Sebastian, mesmo. Dar

um tempo para pensarmos no que iremos fazer.

Hannah bufou.

— Merda de cargo de cupido idiota! — Segurei a risada, a encarando

com carinho.

— Se você fosse um cupido, seria o pior de todos. — Ela abriu a


boca, ofendida. — Mas com toda certeza iria arrasar os corações de todos os
cupidos masculinos. — A loira deu uma risadinha.

— Disso eu gostei. — Se sentou ao meu lado, passando o braço ao


redor do meu pescoço. — Estou aqui para o que decidir. — Beijou minha
bochecha. — Mas acho que deve falar com ele antes.

Fechei os olhos.

Talvez teria sido melhor um tempo. Se fosse para ser, quando


retornasse à cidade, ele estaria aqui, livre para irmos adiante. Porém, havia
uma coisa que não tinha como negar ou fugir. Precisava falar com Arnold
Collins. Ele poderia me dar aquilo que Sebastian se recusou. E sabia que se
desse o motivo que tinha em mente para o homem, ele não recusaria.

Segurei o suspiro, temerosa com o caminho das minhas decisões.


Abri a porta do quarto com calma, sabendo que alguém poderia vir a
qualquer momento e cortar minhas asas. Mesmo com todo o medo correndo
em minhas veias, enfiei meu rosto no vão da porta.

— Bom dia, senhor Collins — saudei, sorrindo, lembrando que


precisava ser rápida. Convencer aquele homem não poderia ser difícil. O
rosto dele se iluminou e senti uma pontada de dor no estômago, de puro

nervosismo.

— Bom dia querida — respondeu, empurrando o suporte do tablet e


me encarando, enquanto segurava um café. — Você veio com Sebastian? —
Arqueou a sobrancelha e puxei a cadeira, me sentando ao seu lado.

— Não, hoje vim sozinha. — Sorri e o vi franzir o cenho.

— Pensei que tivesse medo que eu a colocasse em um casamento


armado — zombou, me fazendo corar.

— Ainda tenho um pouco sim. — Fiz careta. — Mas como você se


sente hoje? Parece muito bem.

— Há dias venho me sentindo bem, menina Alex. Ver tudo se


acertando antes de partir me revigora. — Sorri.

— Acredito que não vá partir tão cedo, senhor Collins. — Ele


levantou a mão, indicando que queria tocar minha barriga protuberante, e eu
me aproximei, deixando-o sentir sua neta crescendo em meu ventre. — Eu
irei viajar por alguns dias e preciso da sua ajuda.

O homem franziu o cenho, se afastando. Voltei a me sentar.

— No que posso ser útil, querida?

Peguei minha bolsa, retirando de dentro a carta de demissão que


colocaria fim nisso.

— Quando você me contratou, eu quase nem acreditei. — Suspirei.


— Sabia que era boa, mas parecia muito difícil provar isso às pessoas ao meu
redor. E você acreditou em mim para cuidar de muita coisa em sua empresa.

O homem sorriu.

— E eu vejo que fiz a escolha certa. — Bebericou um pouco mais do


café. — Só que tudo se tornou uma bagunça nos últimos tempos. Eu e
Sebastian estamos tentando, e infelizmente trabalho e amor não se misturam
nem caminham juntos — Arnold sorriu. — Eu quero ficar com seu filho. Só

que quero minha instabilidade, tanto emocional quanto profissional, não


posso viver em um espaço onde as pessoas irão me acusar de estar com ele
por dinheiro.

— Querida…

— Não. Isso é difícil demais quando você ama alguém de verdade. —


As palavras pularam da minha boca. — Eu amo meu trabalho. Mas eu
também tenho meus caminhos, minhas chances. E eu lhe imploro para que
assine.

Empurrei a carta pela mesinha fixada ao lado da maca.

— Sebastian recusou a primeira vez que pedi. Eu preciso estar longe


da empresa para poder ficar bem comigo mesma. — Dizer que a cena de

manhã me deixou calma era mentira.

A decisão certa era sair. Voltar a ser uma advogada fora de uma
corporação.

— Eu vou. — Levantei o olhar. — Mas só porque sei que é difícil


estar em um lugar onde as pessoas falam de você pelas costas. E por que você
assumiu que o ama. — Travei, completamente congelada.
Ai, meu Deus. Eu realmente havia dito isso?

— Quando eu disse isso?!

O homem riu, terminando de assinar minha carta de demissão.

— Há poucos instantes, enquanto tagarelava. Agora só falta fazer o


filhote falar. — Suspirou, parecendo contrariado. — Mas eu consigo. Eu irei,

tenho certeza. — Arregalei os olhos. — Aqui, querida, seja feliz.

Me levantei e forcei um sorriso. Aproximei-me e beije ia bochecha do


homem em agradecimento.

— Muito obrigada, Arnold. — Ele riu.

— Finalmente saímos do senhor Collins — brincou e eu não evitei a


risada. Sabia bem que não havia nada mais que me impedisse de ir até
Sebastian. Além da viagem.

Iria tentar resolver tudo em um máximo uma semana, mas sabia que

as coisas ficariam complicadas, pois o tempo estava muito corrido e eu não


podia deixar nada atrasar para depois do sétimo mês.

Fechei a porta do quarto em minhas costas, pegando a chave do carro


na bolsa, e caminhei pelo corredor extenso, sabendo que Hannah estava em
mais um turno, que graças a Deus e para felicidade das suas orelhas, ela não
iria ficar de plantão.
— Alex? — A voz masculina me fez virar rapidamente e dei de cara
com Sebastian. Travei. Completamente congelada no lugar. A carta de

demissão com a logo da empresa estava em minhas mãos e atraiu sua


atenção. — Isso é uma carta de demissão?

Arqueou a sobrancelha enquanto meus olhos desceram para a mão da


mulher pendurada em seu braço. Engoli em seco. Como não pensar errado?

Como manter a linha normal diante disso?

— É, sim — gaguejei. — Vim falar com seu pai. Tenha um bom dia.
— Balancei a cabeça, sorrindo nervosa enquanto dava meia-volta e me
distanciava a passos incertos e repensando o plano.

A mão segurou meu pulso.

— Podemos conversar? — Levantei a cabeça, vendo os mesmos olhos


verdes me encarando com preocupação.

— Claro, tenho alguns instantes.

Ele bufou, contrariado.

— Precisamos falar sobre o que você entendeu. — Inspirei fundo. —


E por que você pediu demissão.

— Eu não quero continuar trabalhando em um lugar onde as pessoas


falam coisas sobre mim. — Suspiro. — Preciso de um momento de paz,
Sebastian. Finalmente minha mãe se foi, finalmente as coisas parecem ter um

rumo. Preciso pensar em mim e na minha filha.

— Nossa filha — corrigiu, segurando meu rosto. — Isso não mudou


com um dia e nem vai mudar.

Sorri.

— Eu sei. E amo você. — Fiquei na ponta dos pés, o trazendo para


um abraço. — Mas preciso cuidar de mim nesse momento. — Beijei a
bochecha com a barba por fazer e me afastei, encarando seus olhos
aterrorizados, faltando pular do rosto. Sab ia que um “eu te amo não” era o
que Sebastian esperava. Isso o assustou o homem e sabia que o que falei
podia levá-lo diretamente para longe de mim. Mas assumi os riscos, engoli
em seco, puxando uma respiração funda, e saí do hospital com o coração
apertado.

Se fosse para ser, iria acontecer.


Com toda a paz que existia dentro de mim, tentei me tranquilizar. Na
primeira semana, Hannah foi quem me ajudou com cada detalhe, cada espaço
de tempo, dizendo que com toda certeza seria muito bem-sucedido. O plano
deu errado, pois ela não voltou no fim do sábado como havia dito à melhor
amiga.

Alexandra deduziu que havia algo entre mim e a maldita mulher —

que na verdade era apenas uma amiga. E apesar de achar irracional sua
posição diante de tudo, tentei entender que era uma mulher em pleno estágio
avançado de gravidez. Insegurança deveria ser uma das coisas que viria no
manual das grávidas. Infelizmente, esse bendito livro ainda não existia.

Segurei o sorriso, sabendo bem que meu caminho até Alex se tornaria
ainda pior. Na semana seguinte, ela avisou a Hannah que iria tentar voltar,
mas que o caso estava se estendendo. Ir em busca de pessoas para prestar
depoimentos a favor do seu cliente estava levando mais tempo que o normal.

No fim, ela tinha que ficar. Não poderia viajar quando sua barriga
crescia cada vez mais. E com isso, o sexto mês dela ficou completo e eu nem
estava junto para ver isso.

Por que eu não havia ido até Alexandra? Seria até romântico. A

verdade era que fiquei tão aterrorizado com a perspectiva de um “eu te amo”
que minha coragem de dizer o mesmo a ela não foi concluída.

Até lembro-me da decepção nos olhos de Hannah com isso.

— Por que não disse que a amava também? — A voz feminina


denunciava que não estava sozinho. Me virei, lentamente, sentindo meu
corpo todo congelado com o que acabara de acontecer.

— Ela disse que me amava? — A encarei, sentindo uma pontada de


dor no meu corpo, sem nenhum sentido claro. O congelamento invadiu tudo

em mim. Menos meu coração. Que parecia estar treinando para o Carnaval
do Brasil.

Engoli em seco.

— Com todas as letras. E o cupido precisa ter seu trabalho facilitado


de vez enquanto. Você podia ter dito o mesmo. — A encarei, sem acreditar
nisso. — Eu sei que sou a pior cupido do mundo, mas vocês também não
colaboram.

Sorri.

— O que vou fazer? Ela me viu com…

— Com a vaca, é, eu vi. Estava observando tudo. — Deu com os


ombros. — Infelizmente, minha bola de cristal quebrou. — Inclinou a cabeça

para o lado, com um sorriso debochado.

E tudo depois disso se tornou uma missão de reconstruir um


relacionamento que, segundo Hannah, muitos casais insistiam em ter, mas
precisavam entender que um cupido precisava de descanso às vezes e que
tínhamos que parar de fazer besteira.

Eu estava marcando uma reunião com Lídia naquele dia. Só que Alex
entendeu errado e eu não ajudei em nada gaguejando daquela forma. Mais
imbecil impossível…

Agora, me ver junto à mulher que despertou seu ciúme não era a
melhor coisa do mundo. Lidia era uma amiga antiga, que conhecia desde a
infância e que nos reencontramos logo depois de todo aquele período ruim ir
embora.

Tínhamos um laço e, por mais de uma vez, ela já tinha avançado


aquela linha que dividia nossa relação. Deixei claro que nunca haveria nada
entre nós. Pois não sinto nada e não quero que ela se machuque com a
perspectiva disso.

— Preparado? — Hannah apareceu ao meu lado, segurando a caixa de


tudo que estivemos aprontando juntos nas últimas semanas, estendendo-a em
minha direção — Você está suando, Sebastian. — E riu, achando tudo muito
engraçado aos seus olhos.

— Você não tem que ir para seu plantão?

Ela bufou.

— Eu e minha boca grande. Preciso sim. — Pegou a bolsa em cima


da cadeira do meu escritório. — Muito cuidado, ela está com a cabeça
pipocando de ideias com o tempo que passou fora. Sem falar que te viu com
Lídia antes de ir.

Segurei a risada.

— Não vou deixar dúvidas dessa vez. — Abri a caixa e encarei todos
os pertences ali. Meus pensamentos foram trazidos de volta a realidade com a
minha secretária informando que Lidia Clark solicitava falar comigo. — Eu
juro que nada acontece entre nós.

Nana bufou.

— E o pior é que eu acredito. — Foi tudo que disse, antes de sair da


sala pisando duro. Segurei a risada com o temperamento da loira e liberei a

entrada de Lídia. Assim que a porta se abriu, a mulher de cabelos escuros

sorriu para mim.

— A Hannah ainda me odeia — comentou, entrando com uma sacola


pequena em uma das mãos. — Bom dia, como você anda? — Beijou minha
bochecha e se sentou no sofá no canto da sala.

Inspirei fundo.

— Nervoso. — Esfreguei as mãos uma na outra. — Faz um mês


desde que a vi. E as coisas não ficaram claras, o medo me domina —
desabafei, sabendo que precisava conversar.

Nana era metade piada e metade ironia. Ela era mais debochada que
tudo. Conversar se tornava impossível.

— Você vai conseguir. Ela vai voltar para você… — Lili me encarou,

sorrindo. Mas o sorriso não chegava nos olhos. — Trouxe o que me pediu —
mudou de assunto rapidamente, estendendo em minha direção a sacola que
trouxera.
Quatro semanas! Malditos, enrolar para resolver um caso simples
como aquele por quatro semanas enquanto minha vida se resumia a um

quarto de hotel. Como as consultas de rotina não poderiam parar, procurei


por uma médica na cidade e fiz o monitoramento para ver como ia a bebê.

Inspirei fundo, observei o avião pousar na cidade de Nova Iorque,


sentindo os pelos do meu corpo se arrepiando com a lembrança de tudo que
precisava fazer. Teria que ir até a empresa de Sebastian, pegar meu
computador e alguns pertences pessoais no escritório.

Para minha sorte, ele não estaria lá. Agora, se fosse destino, talvez
estivesse.

Assim que desci do avião, o celular começou a apitar em mil e uma


mensagens de Hannah, que ficava brigando comigo a cada dia adiado para
voltar. A bendita não entendia que aquilo era trabalho, parecia uma porta de
tão bruta que era. De cupido bonitinho não tinha nada!

Segurei o riso atendendo a ligação.

— Oi, querida — falei meiga, tentando acalmar a fera.


— Querida?! Querida nada, Alexandra — rosnou. — Estou entrando
no trabalho agora, mas tenho uma folga no fim do dia para jantar e você vai

encontrar comigo, senão pode esquecer que sou sua amiga.

Segurei a risada.

— Tudo bem, querida, encontro com você. Só mandar o endereço.

— Te pego no apartamento.

— Vai perder metade do seu intervalo para vir me pegar, Nana. —


Revirei os olhos, parando na entrada do aeroporto.

— Então venha me buscar no hospital — resmungou. — Eu dirijo.

— OK. — E logo finalizamos a ligação. Enfiei o celular no bolso e


observei um pessoal que acabou de saltar do táxi, pronta para pegar o mesmo
veículo e ir para casa. Precisava de um banho, descansar e depois ver Nana
no fim do dia.

Inspirei fundo. Tinha tanta coisa para fazer. Nesse um mês, o trabalho
estava acumulado em pilhas na minha mesa e me debrucei sobre ele,
resolvendo coisas que vinha se acumulando com meu segundo trabalho na
empresa.

— Para o Grupo Empirus Collins — indiquei, me sentando no táxi. Ia


passar lá, resolver logo isso e ir para casa. Agora, que havia dito a todos meus
clientes, deixei claro que a partir do momento não iria mais me envolver em

nenhuma questão para salvar a bunda de alguém.

Iria aproveitar o fim da minha gravidez. Nem que fosse ficando


inchada e enorme, mas havia uma quantidade grande de coisas para fazer. A
escolha de nome, a montagem do quarto e aprender sobre bebês.

O carro logo parou em frente ao prédio. Desci, dispensando o táxi


com medo do tempo em que levaria para ir e voltar. Passei pelo segurança,
desejando bom-dia, e segui para o elevador, sem me preocupar que atraía
olhares de algumas pessoas. Assim que as portas de metal se fecharam,
suspirei aliviado.

O peso pareceu sair de cima dos meus ombros.

Apertei o botão da presidência, subindo pacientemente, e a cada vez


mais perto, mais minhas pernas se tornam inquietas. Completamente incapaz

de me manter calma. Assim que chego, a porta se abre e revela Carly com
uma expressão entediada no rosto.

— Bom dia, Carly! — saudei, me aproximando para beijar uma das


suas bochechas.

— Menina Alex, você voltou! — rebateu, me apertando entre seus


braços. — E como anda minha menininha? — Alisou meu ventre
completamente indiscreto, pois não havia roupa no mundo que escondesse
meu sexto mês de gravidez.

— Estou muito bem, e como andam as coisas? — Me encostei no


balcão. — Não voltei, mas estava morrendo de saudade de você.

Ela alisou meu rosto.

— Digo o mesmo, meu amor. — Beijou minha testa. — Ficou tudo

sob controle, apesar de que sua presença fez muita falta.

Sorri.

— Posso pegar minhas coisas ou já tem alguém no meu antigo


escritório?

Vi Carly bufar.

— Sebastian não quis contratar ninguém. Quem está revisando os


contratos da empresa é o cunhado dele. — Hunter. Uma parte de mim sabia
que Sebastian iria recorrer ao cunhado. — Vamos, vou te ajudar a arrumar

tudo. — Enlaçou o braço ao meu. — Apesar de ter plena certeza de que um


dia irá voltar.

Sorri, não querendo a contrariar. Eu não queria voltar. Queria fazer as


coisas com Sebastian darem certo e se precisasse renunciar a isso ajudasse,
então eu faria.
Abri a porta do escritório, segurando a caixa com uma porção de
coisas que me pertenciam e senti meu coração apertando. Desde que a

demissão foi assinada, nunca pensei que sentiria aquela dor em meu peito.

Disse a mim mesma que sim, eu sentiria falta daquele lugar.

Levantei o olhar, encontrando a porta do escritório de Sebastian

aberta e aquela mesma mulher ali, na frente do homem que estava em meus
pensamentos mesmo que eu o expulsasse de lá.

Minha garganta se apertou ao vê-la ficar na ponta dos pés e beijá-lo


na bochecha de maneira intima.

— Preciso ir, Carly — sussurrei, virando de costas e entrando


rapidamente no elevador. As portas começaram a fechar e aquela imagem
continuava se repetindo em minha mente. Todas as afirmações de Hannah de
que não havia ninguém na vida dele pareciam ter ido para o espaço.

— Alex?! — exclamou, finalmente percebendo minha presença ali.


As portas se fecharam e colocaram a proteção que precisava naquele
momento. Nós precisávamos nos falar, mas primeiro aquela mulher tinha que
parar de se pendurar no pescoço dele e ele de deixá-la fazer aquilo.
Encarei Carly com indignação, ainda sem acreditar que ela deixou
Alexandra ir sem nem mesmo me avisar. O que eu havia dito a ela? Que Lili

era uma amiga e que eu não queria nada com ela. Mas não, a mulher
continuava me olhando com raiva e dizendo que não me deixaria brincar com
minha menina.

— É o momento do plano, Carly. Depois de hoje, quero ver se ainda


vai me olhar com deboche — me gabei, sabendo que poderia dar tudo, tudo
mesmo, errado. Mas estava tentando pensar positivo.

A secretária de Alexandra riu, balançando a cabeça em negação.

— Vai ter que rebolar, loiro — retrucou, me fazendo revirar os olhos

e entrar no maldito do elevador, com uma expressão de menino contrariado


com a vida. Com toda certeza mamãe iria debochar se me visse neste
momento.

Segurei o medo querendo se alastrar por meu corpo. Fazia um mês


que não sabia o que acontecia com Alex e a bebê. Fazia tudo isso de saudade
acumulada e vê-la em meu escritório, com os cabelos escuros soltos ao redor
dos ombros e os lábios em um rosa-claro e completamente incomum, deixou
tudo fora de órbita. Tudo que eu queria era tocá-la.

Estava cada vez mais próximo disso.

Hannah estacionou o carro em frente ao mesmo bar que beijei


Sebastian na primeira vez, quase dentro do edifício da empresa que saí mais
cedo, e senti meu corpo estremecendo.

— Estamos em um bar! — exclamei. — E eu nem posso beber para


ter coragem o suficiente para chutar você. — A safada riu.

— Eu sei, mas aqui começaram a servir uma ótima comida. E nem

vamos precisar beber. — Arqueei a sobrancelha, a vendo abrir a porta do


carro, ainda estava vestida com as roupas hospitalares por baixo de um longo
casaco de pele que usava devido ao frio que fazia hoje. — Vai, não seja
malvada, sua amiga está com fome.

Bufei, saindo do carro, e peguei minha bolsa tranquilamente, a


acompanhando até a entrada do local. Estava vestida com calças jeans e uma
blusa solta no corpo, com um casaco para espantar o vento e esconder meu
visual meio acabado. A verdade era que estava sem a menor cabeça para me

arrumar e ainda mais sabendo que passaria a noite ao lado de Nana.

— Merda, esqueci meu celular no carro — xingou, parando no


primeiro degrau da escada, me fazendo encará-la com a sobrancelha
arqueada. — Vai entrando e pedindo nosso jantar, vou pegar e já venho. —

Beijou minha bochecha, nem um pouco parecida com a versão resmungona


da ligação que recebi mais cedo.

Suspirei e empurrei a porta de vidro camuflado, entrando no local mal


iluminado. No instante que meus pés tocaram o tapete da entrada, o sensor
detectou minha presença e a sala se tornou cheia de pequenas luzes, me
fazendo dar um passo atrás, assustada com o caminho de flores ali. Merda.
Eu tinha caído em uma armadilha! E só poderia ser duas pessoas nesse
mundo. Flores eram totalmente a cara de Sebastian Collins.

— Ai, Deus, estou ficando enjoada de nervosismo — sussurrei e senti


alguém rir em minhas costas. — Sebastian? — Me virei, dando de cara com
aquele homem alguns centímetros mais alto que eu, com os cabelos loiros
caindo levemente em sua testa, vestindo terno escuro que era tão a sua cara.

— Você está linda. — Tocou minha bochecha e deixei meu rosto


inclinar sobre o toque, completamente abobada por isso. — Eu senti muita
saudade de você, princesa. — E o sorriso se repuxou em meus lábios
enquanto ele me enlaçava em um abraço, me fazendo sentir o cheiro de

perfume impregnado em suas roupas, dando a sensação boa de estar tudo se


encaixando novamente.

— Senti sua falta — confessei, com a cabeça encostada em seu


ombro. — Desculpe por não deixar você falar. — Minhas palavras eram

baixas e um sacrifício, pois admitir um erro nem sempre era fácil.

Ele se afastou, segurando meu rosto entre os dedos, e vimos a porta


sendo fechada. Logo a chave foi jogada por baixo dela.

— Só saiam daí juntos! — A ordem de Nana era clara e me fez rir. —


Trabalho do cupido de cão. — Seguramos a risada ao ouvir o resmungo dela
do outro lado e voltei a encará-lo.

Ele segurou meu rosto de maneira firme, levando-me a encará-lo.

— Eu não ligo para que você tenha ficado brava comigo. Talvez eu
também ficasse se estivesse no seu lugar e você não soubesse me explicar o
que era aquilo. — Alisou meus cabelos, enrolando os dedos nos fios. — Mas
eu quero falar uma coisa, completamente diferente. — Beijou meus lábios
com carinho, lentamente, arrepiando os pelos do meu corpo, me deixando
mole contra ele enquanto a sensação de borboletas no estômago era sentida.

Quando se afastou, me encarou.


Andou para o lado e me levou mais adentro, pelo caminho de flores,
fazendo a curva para me direcionar para a pequena mesa preparada para dois.

À luz de velas.

— Quando me preparou uma surpresa com flores, era nosso namoro


— brinquei e no mesmo instante que as palavras saíram, me calei, pois ele
ficou em minha frente, se abaixando ali.

Meu coração deu um salto que pensei que sairia do peito sem minha
permissão.

— O que está fazendo? — sussurrei, assustada.

— Eu diria que estou fazendo o que é certo. — Levantou o olhar. —


Mas pela sua cara, é uma loucura. — Abaixei a cabeça, sorrindo. — É que eu
quero me casar com você, Alexandra. Quero muito ficar com você como não
quis com mais ninguém… — Abriu a caixinha. — Quando você disse que me

amava, eu nem mesmo consegui retribuir. Fiquei extasiado, completamente


congelado pois aquilo era tudo que eu precisava para saber que quero passar
o resto da vida com você.

A primeira lágrima caiu, pois nem em um bilhão de anos previa que


voltaríamos e que faríamos isso como noivos.

— Eu te amo. — O vi sorrir de lado. — E desculpe ter demorado


tanto para dizer isso em voz alta. Você entrou na minha vida e em menos de
seis meses bagunçou todos meus objetivos. E hoje meu único objetivo é ter
você e nossa filha ao meu lado. — Tocou minha barriga e limpei meu rosto.

Mas, maldição, não parava de ficar molhado!

— Aceita ser minha esposa? — A pergunta tinha um tom de


insegurança que me matou. Se eu aceitava? Ai, meu Deus. Eu o amava. O

amava tanto que era difícil explicar como tudo aconteceu tão rápido.

Casamento era para sempre. Pelo menos para mim. e pela forma que
Sebastian entrou na minha vida, me pegando completamente despreparada e
fazendo graça com o fato de eu ser meio travada em meus modos, era muito
mais do que eu pediria. Eu nunca tive alguém dessa maneira, completamente
meu.

— Aceito. — Coloquei as mãos sobre a boca. — Ai, meu Deus, eu


aceito. — Ele riu, se levantando e segurando meu rosto novamente, beijando

meus lábios enquanto ouvia Waiting For Love do Avicii preencher o som ao
nosso redor.

Deixei-me ser beijada por ele como se fosse a primeira vez. Como se
não houvéssemos caminhado tanto desde então enquanto sentia meu corpo
esquentando, implorando por algo que vinha se acumulando em mim havia
dias. Desejo. O desejo que sentia havia mais de um mês para estar com
Sebastian estava dando indícios e eu precisava parar de sentir meu coração
como um louco em meu peito.

Acabaria por ter um ataque cárdico.

— Eu amo você, princesa. — Se afastou, com um sorriso afetado no


rosto.

E isso não ajudou em nada no meu próprio coração desesperado.


Quatro semanas depois

— Aceita ser minha esposa? — Senti meu coração batendo tão forte
em meu peito que pensei que cairia no chão no mesmo instante. Não queria
parecer tão desesperado por esse sim, mas infelizmente, estava quase
subindo pelas paredes com toda essa situação com Alex.

Eu estive o último mês em busca de ideias e ajuda para fazer daquele

momento inesquecível. Desde o dia em que ela me disse que me amava, vinha
buscando isso, com a certeza que sentia o mesmo.

— Aceito. — A sensação de estar flutuando passou pelo meu corpo.


— Ai, meu Deus, eu aceito. — Sorri com sua expressão e levantei, a puxando
para meus braços, buscando matar a saudade que crescia em meu peito, que
não ia embora tão cedo.
Meus pensamentos retornaram para minha realidade ao ouvir a voz de
Alexandra. Entre uma rotina insana de trabalho e Alexandra tentando

descobrir ao máximo como era a vida pós-gravidez, os dias se passavam de


maneira que nem mesmo percebíamos. Quatro semanas desde que a pedi em
casamento e cada vez mais perto da chegada da nossa menina.

— No que está pensando? —indagou, colocando de lado a xicara que

segurava e pegou o livro que havia abandonado minutos antes. Era um livro
sobre como cuidar de bebê, o terceiro que ela lia em uma semana.

— No seu sim. — Me relaxo contra as almofadas, observando o dedo


dela exibindo o anel que papai me entregou. — O que aprendeu nesse livro
novo? O anterior era meio ruim.

Ela se remexeu, deitando em meu peito tranquilamente.

— Que provavelmente a bebê vai chorar e é uma missão quase

impossível acalmá-la. — Segurei a risada, a vendo tocar o ventre com calma.


— Né, mãezinha, estou enorme.

Brincou com a barriga de sete meses completos. Nos últimos tempos,


a nossa menina estava cada vez mais agitada, gosta de musica agitada e de
comida japonesa, e ainda não tem um nome.

— Precisamos escolher o nome dela. — Alisei sua bochecha, a


fazendo sorrir.
— Sim, mas acho que gosto de A Bebê — brincou, me encarando.
Estamos em seu apartamento, saí do trabalho e a peguei no hospital, já que

não estava mais trabalhando e ficava muito tempo com papai. —


Sinceramente, não quero escolher.

— Por quê?

— É um nome. Vai ficar com ela para o resto da vida! — Segurei a


risada.

— Vamos escolher um nome bom. — Segurei seu maxilar, beijando


seus lábios, e me afastei ao ouvir o telefone tocando sobre a cama. — Quem
é, meu Deus… — resmunguei, puxando o mesmo e congelo ao ver que se
trata de uma ligação de mamãe.

— O que foi? — Ela colocou a mão em minhas costas, me fazendo


encará-la com o medo correndo em minhas veias.

— É minha mãe. — Vi a expressão de Alex se tornar preocupada e


atendi a ligação. — Oi, mamãe.

— Ah, querido, desculpe pelo horário, mas seu pai teve uma parada
cardíaca há alguns instantes. — Sua fala era rápida e percebi que ela chorava
de maneira descontrolada. Fechei os olhos. — Eu só queria avisar, não
precisa vir. Eles estão tentando de tudo.
— Estou indo para aí; — Meu corpo estava duro. Não conseguia ficar
calmo com os cenários passando em minha mente. Finalizei a ligação e

joguei o celular de lado, pegando o casaco no lado da cama de Alex, me


enfiando nele. — Fique aqui, Alex, vou ver como ele está. Uma parada
cardíaca. — Ela pulou da cama com a rapidez que nenhuma grávida
conseguiria e me encarou.

— Até parece que irei ficar aqui. Vou com você…

Nem tentei contestar, pois sabia que só levaria tempo. Ela pegou o
casaco enorme em seu guarda-roupa, se escondendo na peça, e me encarou,
apreensiva, se aproximando a passos pequenos.

— Ele vai ficar bem — falou com um sorriso pequeno.

Tentei encontrar a fé que havia nas palavras de Alexandra dentro de


mim, mas só encontrei algo negro, de sentimento de perda querendo se

alastrar por todos os lados. Ela se inclinou, beijando meus lábios.

— Como sabe disso? — perguntei.

— Porque fizemos um trato — afirmou, de maneira que me deixou


curioso.

— Fez um trato com um homem entre a vida e a morte? — Ela


balançou a cabeça em confirmação.
— Sim, fiz um trato pois acredito e tenho fé. — Se afastou, enlaçando
nossos dedos e puxando-me para fora do quarto. Pegamos a chave do carro e

entramos no elevador, lado a lado, sentindo a tensão do meu corpo nos


envolver. Já Alex, parecia preocupada e, ao mesmo tempo, calma.

Não compreendia.

Estávamos sentados na sala de espera do hospital há mais tempo que


conseguia pensar. Encarava a parede branca com fixação enquanto Alex batia
os pés no piso do hospital, ansiosa.

Mamãe apontou no corredor, segurando um copo de café pois


precisava para se manter acordada. Assim que nos alcançou, se sentou ao
meu lado, encostando a cabeça em meu ombro.

— Ele estabilizou. — O sussurro pegou a todos nós, e Alex a encarou,


com o sorriso nascendo em seus lábios. Meu estômago se revirou. Meu corpo
tinha uma leveza estranha no instante seguinte. Senti que podia flutuar. —
Ele está bem, Sebastian. — E desabou em meus braços, chorando como
nunca vi Neiva Collins fazer.

A abracei, alisando suas costas, e deixei que nosso mundo se


recompusesse novamente. Sabendo que ele ainda estava ali conosco, torcia
para que vivesse para ver Alex subir ao altar, como era seu desejo desde que
falei que iria ter um filho com a mulher.

A vi sorrir de orelha a orelha e se levantar para falar com o médico


que se aproximava.

— Uma questão complicada. — Sorriu. — Mas o senhor Arnold foi

guerreiro. Está descansando. Eu recomendo que vá para casa, nenhum de


vocês poderá ficar com ele neste momento, apenas amanhã.

Mamãe suspirou ainda envolvida em meu abraço.

— Vamos para casa. — Beijei sua testa. — Obrigado por tudo. —


Sorri para o doutor que logo se distanciou. Segurei mamãe entre meus braços,
a guiando para fora do hospital com Alex lado a lado.

Enlaçamos nossas mãos e senti o aperto leve dela.

O mesmo sorriso esperançoso que me deu mais cedo preencheu seus

lábios.
Como eu sabia? Simplesmente havia coisas que precisávamos
acreditar para se tornarem real. Não foi fácil dizer a Sebastian que o pai sairia

ileso de um ataque cardíaco, mas eu o fiz. Pois acreditava na minha fé.

Arnold Collins e eu prometemos algo um ao outro. Ele me levaria ao


altar.

Sorri com a lembrança, segurando aquele grande livro de nomes para


bebês, sabendo que não havia como decidir aquilo sem ficar imensamente em
dúvida. Estava muito complicado dar nome à minha filha.

— É, você é um enigma. — Sorri para minha barriga, vendo que


estava parecendo uma melancia de tão enorme. — Vamos tentar alguns
nomes, se você chutar, falamos para o seu pai que você o escolheu. — Dei
com os ombros, vendo que falar com minha barriga se tornara algo normal.
— O que temos aqui… Emma! — Nada. — Anna. — Eu mesma fiz careta,
era um nome bonito, só que comum. E não senti nada na minha barriga.

Talvez, minha conversa com ela não tivesse valido de nada, pois
continuei a falar nomes e mais nomes e nada de sentir nem mesmo um
movimento.

Inspirei fundo.

— Leslie? — Arqueei a sobrancelha. — Sophia?


E o movimento rápido em minha barriga fez meu mundo ficar
congelado. Ela havia se movido! E não eram os chutes que ela amava dar

dentro de mim. Estava mais para pulos imaginários de euforia.

Sorri.

— Leslie? Sophia? Sophia? Leslie? E agora, qual dos dois animou

você? — brinquei, alisando minha barriga e senti o celular tocando sobre a


mesa de centro do meu apartamento.

Inclinei-me para pegar o aparelho e vi que se tratava de Hannah.

— Oie — atendi. — Estava brincando com a bebê. Falei vários nomes


e disse que de qual ela gostasse, era só dar um chute.

— E aí?

— Bom, eu falei dois em seguida pois estava quase desistindo, ela


deu sinal, só não sei qual dos dois ela quis dizer que é o escolhido —

brinquei. — O que você queria, mesmo?

A ouvi suspirar.

— Preciso de você aqui. Envolvi-me em um probleminha, estou em


casa tendo que resolver esse negócio — sussurrou, parecendo meio temerosa.

— O que houve? — perguntei, já me levantando.


— Não faça muitas perguntas. Só venha — resmungou em sua falta
de sutileza. — É urgente.

Engoli em seco.

— Estou indo. — Enfiei o celular no bolso da calça, pegando minha


bolsa que estava abandonada sobre o sofá, e tropecei para fora de casa. Vestia

roupas largas e confortáveis, já que não estava mais indo ao trabalho, cada
dia mais o padrão de roupa caía um pouco.

Abri a portinha de cerca da casa de Hannah e caminhei pelo caminho


de pedras, curiosa para saber por que estava me chamando ali. Abri a porta da
sala com minha cópia da chave e a empurrei, dando de cara com o local todo
iluminado e decorado.

Dei um passo atrás, temeroso, ao ver todas as pessoas que me


acompanharam até aqui durante esse período. Senti meus olhos marejando ao
passá-los os olhos por Sebastian com Nana ao seu lado, que segurava minha
sobrinha em seus braços, e Amber que deu um passo à frente dos convidados,
me enlaçando em um abraço.

— Feliz sétimo mês — sussurrou, afundando o rosto em meu ombro.


— Senti sua falta.
Me afastei, segurando seus ombros, e limpei as lágrimas da minha
irmã mais nova.

— Quase morri de saudade — brinquei, porém ela sabia que nos


últimos tempos mal tinha tido tempo para contar tudo a ela. — Nana quase
me matou falando que era uma mega emergência. — brinquei, encarando
todos. A família toda de Sebastian estava ali, inclusive Maggie, Hunter e até

mesmo Jenner, que era quase uma adição à família Collins! Sorri para todos,
sendo envolvida por abraços e comemoração.

Assim que me senti livre, caminhei até o homem sentado na cadeira


de rodas, me abaixando em sua frente.

— Eu nem sei como você conseguiu sair do hospital, senhor Collins


— brinquei, segurando suas mãos com carinho. — Mas estou feliz por estar
aqui comigo. — O homem sorriu aberto.

— Eu estou feliz por terem conseguido que eu passasse os meus


últimos momentos com minha família, querida. — Alisou meu cabelo. — Já
escolheu o nome da minha neta? — Sorri.

— Estamos trabalhando nisso. — Beijei sua cabeça, me levantando ao


ver Sebastian se aproximando. — Vocês me enganaram direitinho, hein. —
Segurei suas mãos, me aproximando do seu corpo, com sua mão tocando
minha cintura.
— Eu não fiz nada. — Fez a melhor cara de pau da história, me
fazendo rir.— Como estão minhas meninas? Fiquei sabendo que estavam

brincando de escolher o nome. — Riu da minha bobeira.

— Er… Ela é meio complicada de conversa. — Beijei sua boca


levemente e o senti segurando meu maxilar, pedindo passagem para sua
língua. Meu corpo amoleceu contra o dele. Entreguei-me enquanto as

sensações despertavam lentamente, acordando-me.

Me afastei.

— A parte boa de não trabalhar mais para você é que posso beijar sem
sentir nenhum tipo de vergonha correndo dentro de mim — falei, baixinho, o
encarando e lembrando da nossa última conversa, na qual ele jurou que eu
voltaria a ser a advogada da empresa. Eu apenas neguei, sabendo que
estávamos muito melhor aqui.

— Eu não votei a favor disso, mas segundo você, tenho que aceitar.
— Revirou os olhos. — Andei pensando e ontem estava lendo aquele seu
livro de nome de bebês, o que acha de Sophia?

Arqueou a sobrancelha e novamente minha menina se remexeu em


meu ventre, chutando a parte inferior da minha barriga de maneira nada sutil.
Inspirei fundo, com o coração acelerado.

— Sophia Collins Johnson. — Imaginei a criança de cabelos loirinhos


como os de Sebastian, olhos claros e um sorrisinho nos lábios. — Eu acho
que escolhemos o nome da nossa menina.

Sorri e coloquei as mãos do meu noivo sobre meu ventre para que ele
sentisse a reviravolta que acontecia ali.

— E ela acabou de aprovar. — Sorri feliz, por finalmente as coisas

estarem se acertando. Confesso que queria que mamãe crescesse e estivesse


aqui comigo, mas sabendo como ela era, preferia que vivesse sua vida, e eu
vivesse a minha.

Os braços do homem que eu amava enlaçaram minha cintura e ele


beijou meus lábios, segurando-me ali. Quando nos afastamos, sentimos os
olhos de todos sobre nós.

— Escolhemos o nome. — Sebastian foi o primeiro a falar, virando


rapidamente para nossa família.

— Sophia Collins. — E o sorriso de aprovação apareceu no rosto de


todos, e as palmas animadas inundaram o local. Era um chá de bebê, tedioso.
Passei pelos processos de brincadeira, acabando com a barriga para fora e
uma faixa escrita “mãe do ano” na cabeça.

E com toda certeza eu não poderia estar mais feliz.


Sophia se remexeu em meu ventre e senti novamente aquela pontada
que me deixava inquieta desde que saí da cama no início do dia. Estava
preocupada. Segundo os quase dez livros de gravidez que engoli nos últimos
dias, essas pontadas não deveriam estar acontecendo.

Mas não disse nada a Sebastian, sabendo que se falasse que estava
com isso ele me prenderia no hospital até que estivéssemos uma resposta

concreta para o que estava acontecendo.

Entrei na mansão dos Collins, sabendo que a rotina estava se


estabelecendo ao nosso redor. Era o jantar de noivado que Neiva e Arnold
insistiam dar a todas as pessoas que conhecíamos.

Tinha um mês desde o chá de bebê e a reta final da gravidez se


aproximava. Com isso, o quarto de Sophia fora montado quase todo com
ajuda da minha cunhada e da minha sogra.

Era tão diferente pensar nelas dessa forma!

Só que a relação estranha que pensei que seria com Hunter e Maggie
por causa do nosso passado, não aconteceu. O que me confirmou que aquele
pessoal estava mesmo lutando para serem uma família.

— Ah, finalmente você chegou. — A loira apontou na porta, vestida


com calças jeans e uma blusa, que tinha uma mancha acima do peito, sinal
claro que um dos gêmeos havia feito arte. — Estávamos preocupados, em
meia hora os convidados começam a chegar e temos que aprontar você.

Segurou meu rosto entre as mãos e beijou minha bochecha em


seguida.

— Bom dia — saudei com um sorriso, subindo as escadas


calmamente. — Não sei se você se recorda, mas subir escadas acima do

sétimo mês parece uma missão impossível.

— Tudo parece missão impossível depois do sétimo mês, Alex —


brincou e entramos na sala. O local estava inundado com pessoas, que
terminavam de organizar o espaço com várias mesas redondas com quatro
lugares, a mesa onde o buffet seria servia e pensei em como as coisas se
tornariam tensas quando finalmente escolhermos a data.
Sebastian e eu nunca falamos sobre isso, mas pareceu claro que
nenhum dos dois estava com pressa. Além do mais, vivia mais na cobertura

dele do que no meu próprio apartamento.

— Jenner vai nos ajudar. — Subimos as escadas. — Sebastian cadê?


— Procurou pelo irmão.

— Teve que ir à empresa. — Dei com os ombros, entrando no quarto


que era de Maggie na adolescência, pois as cores claras e muitos pôsteres de
atores bonitões denunciavam a mulher.

Vi minha sogra e Jenner próximas a cama, cada uma vestida como se


fosse abalar qualquer homem na face da Terra. Segurei a risada, sabendo que
não sairia daqui nada menos que me parecendo mais próxima a duquesa da
Inglaterra.

Deixei que elas me puxassem para o meio daquela bagunça, mexendo

em meus cabelos, maquiando meu rosto de maneira delicada e durante todo o


processo, não deixei de sentir o desconforto constante em meu corpo.

Sophia estava desesperada para nascer. E eu estava ansiosa por sua


chegada ao mundo. Queria muito ver o rosto do meu bebê, poder ficar louca
com a chegada dela, saber que nunca mais em minha vida poderia dormir
sossegada e de que para sempre ela seria um pedaço do amor que sentia por
Sebastian.
Encarei o espelho enquanto via meu rosto pálido se tornar rosado pela
maquiagem, meus olhos marcados pela forma em que fui rapidamente

transformada. Ouvi alguém batendo na porta. Ela se abriu, revelando


Sebastian com um olhar curioso. Passou por todas as meninas no pequeno
quarto de solteiro e pousou os olhos sobre mim.

Abri a boca.

Em choque.

Senti meu estomago se revirando como se tivesse malditas borboletas


ali.

— Você está linda — sussurrou, fechando a porta em suas costas, e


me levantei, segurando sua mão estendida em minha direção. — Perfeita. —
Tocou meu rosto com carinho e cuidado e senti a ponta dos dedos trazer uma
leve descarga elétrica em minha pele.

— Obrigada. — Corei, de maneira quase vergonhosa pois sentia que


estamos sendo muito bem analisados. Não falei mais nada porque a pontada
em meu ventre dessa vez foi mais forte.

Me abaixei levemente, sem conter o gemido de dor, e segurei meu


ventre com firmeza. Merda. Logo agora?! Sebastian não ia deixar passar
batido.
Só que não havia como deixar passar. Pois a dor voltou e dessa vez
mais forte. Abaixei a cabeça, sentindo minhas pernas serem molhadas

rapidamente na medida em que sentia que acabou. Nada de festa de noivado.

— Desculpe pelo vestido, meninas. — Levantei o olhar, não


dispensando a careta desesperada. — Mas acho que Sophia quer vir ao
mundo.

— O QUÊ?! — O homem gritou, com os olhos faltando cair do rosto.


— Você não disse que estava sentindo nada.

Abaixei o olhar.

— Eu não queria preocupar você — sussurrei, sabendo que aquilo era


um instinto de independência que vinha enraizado em mim. Pensei que
poderia dar conta de aguentar os primeiros indícios de um parto sozinha.

— Pelo amor de Deus, vamos para o carro. — E antes que eu pudesse

protestar, me guiou para fora do quarto. Ele parecia desesperado, concentrado


em seus gestos e xingando ordens a Hunter, que correu para pegar o carro na
garagem.

O almoço de noivado foi afundado. Mas a parte boa era o fato de que
minha filha estava vinda ao mundo. Quatro semanas antes, mas se esse era o
desejo dela, tudo bem.
Desespero? Essa era uma palavra que definia bem o que se passava
dentro de mim neste exato momento. Vestindo roupas hospitalares,
segurando a mão de Alexandra quando senti que tudo ao meu redor estava
girando.

Os gritos de dor dela não eram calmos, e Sophia massacrava a mãe


por um bom tempo. Enquanto sentia meu coração quase parando, sabendo a
loucura que estava sendo. Estava tudo preparado para sua chegada, mas não
esperávamos que ela chegasse um mês antes.

Quando o choro alto invadiu a sala, senti aquele alívio que começava
no peito e fez uma bagunça dentro de nós, como se fosse retirado cargas de
tensão do meu corpo. Beijei o topo da cabeça da minha noiva, vendo seus
olhos fechados, o rosto suado, e sabia que nada mais poderia ser comparada
com o momento de dar à luz.

Era um verdadeiro massacre. Só que ao ver o pequeno ser humano


embolado na manta cor de rosa — dada pela avó —, de olhos fechados,
chorei por seu primeiro problema no mundo. Por ter chegado, apenas.

Sorri.

— Ela nasceu, Alex. Nasceu! — Senti meu rosto molhado e encarei a


mulher deitada, com os olhos focados na pequena Sophia.

— E com um tufo de cabelos castanho-claros na cabeça — brincou.

— Muito parecidos com os seus. Se pegar sol, ficará loiro. — Alisou meu
rosto. — Obrigada por meu maior presente. Preparado para nunca mais
dormir na vida?

Sorrimos, e me inclinei, beijando seus lábios com carinho.

— Totalmente preparado. — A enfermeira caminhou em minha


direção, colocando Sophia no alcance dos olhos da mãe. Ela era tão
pequeninha. Tão frágil. Sabia que pelo próximo dias ficaria aqui.

Longe de nós.

— Amamos você, Sophia Collins. — Alexandra alisou a bochecha da


nossa filha com carinho.

— Precisamos levá-la — a enfermeira avisou e a mulher balançou a


cabeça em confirmação, limpando as lágrimas que caíam sem parar dos olhos
azuis. Pincelei o nariz da minha pequena e me inclinei, tentando acalmar
Alex que chorava de maneira descontrolada.
— Ela vai ficar bem, né? Não completou o tanto de semanas —
sussurrou, apertando a roupa verde com força.

— Vai sim, querida. Nossa filha vai ficar bem. — Beijei seu rosto e
sabia que os médicos a esperaram se acalmar para levá-la para o quarto. —
Vamos todos para casa muito em breve. — O tom de promessa em minha voz
não deveria existir, mas não consegui controlar. — Você verá.

Ela sorriu lindamente.

— Eu amo você.

— Eu te amo mais — brinquei, beijando o nariz de uma das mulheres


que se tornou minha vida em tão pouco tempo.

Observei o pequeno berçário no meio a uma variedade deles, com o

coração apertado, e senti uma mão em meu ombro. Virei dando de cara com
Hunter e um sorriso contido.

— Como foi tudo? — Inspirei fundo, ainda sem saber definir o que
aconteceu.

— Intenso. Acho que nunca senti meu coração bater tão rápido em
toda minha vida — brinquei. — Só que depois, ver minha menina ali, tão
pequena, frágil, acho que não poderia ter tido destino melhor. — O homem

procurou o berçário com olhar, parando no que havia uma plaquinha Collins

e Johnson.

— Collins e Johnson não combinam muito — brincou.

— Eu sei, Alex disse que chamaríamos a Sophia só pelo Collins. —

Rimos. — Mas ela precisa do sobrenome da mãe.

Encaramos a criança muito menor que uma boneca, com as


mãozinhas fechadas em punho e completamente adormecida.

— Eu sei como se sente. É como se isso fosse o que sempre esperou.

Hunter nunca foi um homem dado a declarações amorosas, mas sabia


que com Maggie era uma coisa diferente.

— Só que depois disso, nunca mais você dormirá uma noite inteira
em sua vida. — Rimos e ele estendeu a sacola em minha direção. — Eu e

Maggie trouxemos café. — Segurei a sacola, pegando um, vi que era um


cappuccino. — Ela foi levar para Alex.

Dei com os ombros, dizendo que agora as duas andavam íntimas


demais.
Bebi um gole generoso do café descafeinado enquanto conversava
com Maggie tranquilamente. A mulher parecia não se importar com minhas

respostas grogue pela noite que tive e senti como se meu corpo estivesse sido
atropelado por um caminhão.

— Desculpe por ter estragado a festa de noivado — brinquei, sorrindo


de lado. — Deveria ter avisado que não estava me sentindo bem. — Encolhi
os ombros, sabendo que nessa parte eu fiz muita merda.

Ela suspirou.

— Nem começa, mamãe disse que não havia nada melhor para marcar
a data que o nascimento de Sophia. — Rimos. — Eles estão em êxtase. Não

sei como ainda não saíram por aqui.

A porta se abriu, revelando os Collins em seu maior estilo nada


discreto. Arnold contornou a cadeira de rodas motorizada, trazendo em seu
colo um urso de tamanho médio e um buque de flores.

— Cadê minha nora? — Senhora Collins apareceu logo atrás,


carregando uma sacola de marca famosa e que deixava claro que eles não
deixariam em paz até o bendito casamento.

Sebastian apontou na porta, com Hunter mais atrás.

— O que está acontecendo aqui? Virou uma freira? — o loiro


debochou, entrando no ressinto, e não evitei a risada.

— Vieram me ver. — Senti meu corpo ser abraçado por Neiva. —

Obrigada, senhora Collins e perdão por estragar…

— Nem fale isso! — resmungou, segurando meu rosto entre os dedos.


— Você é minha filha agora. Filhos e suas necessidades sempre vêm em
primeiro lugar. — Colocou um fio do meu cabelo atrás da orelha. — Além do
mais, agora temos nossa pequena Sophia e ela é a coisa mais preciosa do
mundo.

Senti meus olhos marejados com a menção da minha princesinha.

— E como ela está? — perguntei, ansiosa. Sebastian se aproximou,

segurando minha mão por cima da cama hospitalar. — Eu quero vê-la,


Sebastian. — Ele segurou meu rosto.

— Eu sei, princesa — sussurrou baixinho, colando nossas testas. —


Mas vamos ficar calmos, ok? Ela está bem. Dormindo feito um anjinho. —
Sorriu e senti meu coração se apertando.

A única imagem que tinha dela era do seu corpinho pequeno e frágil.
— Eu perguntei a enfermeira. — Hunter se aproximou. — Disseram
que quando ela acordar, a trarão para mamar.

Sorri, confiante que tudo daria certo. Tinha que dar. Eu tinha uma
pessoa ao meu lado, que eu amava, que me amava. Uma família que me
adotou. Amigos que não esperei que tivesse e uma filha. Tinha que dar certo.
Depois de tudo que passei, de todas as decepções que me cercou, eu merecia

isso.

Precisava falar com Amber. Com Nana. Com tantas pessoas! Todas
elas viriam para o almoço de noivado que foi interrompido.

— Sua irmã vem em breve, querida. Ficou presa em casa cuidando de


Heloisa, mas disse que chegaria logo — Neiva respondeu a minha pergunta,
colocando a bolsa de lado. — Já tomou café? — Arqueou a sobrancelha. —
Vai precisar se alimentar bem, agora estará amamentando.

E começou a tagarelar. Segurei a risada, vendo todos os Collins juntos


na mesma sala, sabendo que estava realmente inserida naquela família
maluca. Dessa vez era para sempre. Pois tinha uma parte minha e de
Sebastian que nada no mundo separaria. Seria para sempre nós dois resumido
em nossa filha.
Um mês depois

Movimentei-me com rapidez pela sala completamente inundada com


os preparativos para a recepção de Sophia. Iria pegar Alex no hospital em
meia hora e sentia que a qualquer momento surtaria.

Nossa menina ficou o total de quatro semanas internada e sendo

mantida bem por uma incubadora. Alexandra praticamente subiu pelas


paredes durante esse tempo. Recuperou-se rápido e não saía do hospital. Se
recursou todas as noites a dormir longe da filha.

Agora, ela estava voltando para casa. Trazendo consigo nossa


pequena, e o medo se alastrava. A médica falou que não havia riscos, que
apesar de ter se adiantado um mês, Sophia não teve problemas de má
formação e não apresentava mais sintomas de problemas com a respiração.

Eram bons sinais. Só que Alex estava enlouquecida nesse meio-


tempo. Tudo que fez foi engolir um monte de livros sobre nascimento
prematuros e, mesmo assim, continuava surtando pelos cantos.

Eu apenas observava e assentia, sabendo que nada no mundo tirava a

razão de uma mãe preocupada.

Sorri, colocando mais um pacote de fralda do menor tamanho que


encontrei sobre o estoque. Peguei a chave do carro em cima da mesinha de
centro e senti meu celular vibrando.

“Já vai buscá-la?” era Nana.

“Sim, estou saindo nesse exato momento.”

“Ótimo, eu e Amber vamos passar aí a noite”. A irmã de Alex estava


todo esse tempo na cidade, ficou no apartamento de Alex e todos os dias

ficava com a irmã no hospital, dando força. No fim, a minha família de uma
irmã, pai e mãe se tornou um agregado enlouquecido de pessoas.
Caminhei pelo corredor pela sexta vez em um período de tempo de
total de meia hora. Já havia recebido todas as instruções necessárias da minha

médica em como proceder com Sophia que ela havia completado o nono mês
fora da minha barriga e seu primeiro mês de vida.

Estava ansiosa, com medo que algo desse errado! Não queria mais
viver em um hospital, mas também sentia meu coração batendo de maneira
enlouquecida com a perspectiva de ficar sozinha com ela.

— Ei. — A voz de Sebastian me chamou atenção e me virei, dando de


cara com ele atrás de mim. — Como você está? — Beijou minha testa.

— Uma pilha de nervos. — O homem sorriu e me abraçou. Encostei a

cabeça em seu ombro, sentindo meu coração batendo forte em meu peito.

Passei pouco tempo com ele nos últimos dias. Estava morrendo de
saudade, mas nem isso faria eu sair do lado dela.

Sabia que no instante que saísse do hospital, seríamos apenas nós


contra todas as dificuldades. A verdadeira batalha começaria. Só que não
importava o que viria depois, sabia que enfrentaria tudo para que as coisas
dessem certo.

— Desculpa por ficar distante nas últimas semanas. — Segurei o


rosto do homem entre minhas mãos, encarando os olhos bonitos com firmeza.
— Eu não consigo sair daqui sem ela. — Encolhi meus ombros e ele segurou
minha mão, beijando a palma.

— Eu sei, não tem que se desculpar. Você é mãe. Uma mãe sempre
faz tudo por um filho. — Sorri com isso e fiquei na ponta dos pés para beijar
seus lábios com carinho. Senti meu corpo relaxar com o contato, dando
indícios que aquelas sensações ainda não haviam passado.

A porta se abriu e me obriguei a afastar-me de Sebastian, encarando a


médica rapidamente.

— Uma menininha já está pronta para ir para casa. — Sorri e meu


coração pulou enquanto entrava no quarto em que ela estava sendo

examinada e vi o pequeno embrulho cor de rosa sobre o berço minúsculo.

Senti meus olhos marejados e a médica me ajudou a pegá-la em meus


braços.

— Ela é um bebê saudável, querida. Nada com que se preocupar. —


Alisou a cabeça com o tufo de cabelos loiros, que ficavam cada dia mais
claros. — Não se esqueça da nossa visita daqui a duas semanas. — Piscou, e
logo saiu da sala, me deixando sozinha com ela.
Eu não havia a pegado nenhuma vez. Sempre tirando leite para que
ela fosse alimentada pela sonda e isso me partia o coração. Não tinha os

primeiros estágios, mas mesmo assim, foquei na forma desajeitada que eu a


segurei, sem fazer a menor ideia de que era mais difícil do que imaginava.

Eu a vi abrir os olhinhos e os focou em mim. Pela primeira vez,


percebi que tinha os olhos azuis. Como os meus.

— Olhos azuis — falei, levantando o olhar para dar de cara com um


Sebastian completamente encantado. — Iguais aos meus. Os cabelos são seu.
— brinquei, analisando as características em minha filha.

— Ela é perfeita. — Alisou a bochecha dela, como havia feito quando


a vimos pela primeira vez. — Ei, princesa. — Se abaixou, beijando os
cabelinhos da bebê. — Eu amo você.

Senti as lágrimas descendo, pois estávamos dando um próximo passo.

— Eu também amo você, papai — brinquei, com voz de bebê, e ele


me encarou, sorrindo. — Vamos para casa, Soph — sussurrei, aproximando
meu nariz da bochecha delicada da minha filha.

Sophia Collins já era uma criança muito amada. Eu não sabia como
ela iria ficar com tanta atenção, sendo bombardeada por ligações diárias de
Maggie para saber como estávamos. Visitas de Nana e Amber. Os avós. Eu
sabia que teria um grande trabalho quando ela ficasse maiorzinha.
— Acho que você deveria me dar ela — Hannah falou, observando
Soph dormir tranquilamente no meio da cama. As palavras me arrancam o

riso irônico. — É sério, seremos uma dupla perfeita e eu combino mais com
ela. Temos o mesmo tom de pele, o mesmo tom de cabelo e ela tem a mesma
cara de anjinho.

Colocou a mão embaixo do maxilar e piscou, mantendo o sorriso

digno de uma revista.

— Eu acho que está se esquecendo de uma coisa.

A porta se abriu e Amber entrou.

— Tenho o mesmo DNA. Se Alex vai dar Sophi, deveria ser para
mim, sou irmã dela. — Colocou as mãos na cintura e eu abri a boca em
choque com o rumo da conversa. Ter essas duas presas no mesmo lugar era a
mesma coisa do que ver um replay do ensino médio.

— Quando foi que começamos a negociar minha filha? —


resmunguei, guardando algumas roupinhas. — Sebastian chegou? Estou com
fome. — Saímos do quarto, com a babá-eletrônica grudada em meu bolso e a
cama rodeada de travesseiros para impedir algo, mas estanquei no lugar, pois
a mulher parada na entrada do apartamento congelou tudo dentro de mim.
Com um vestido praiano e batendo em seus pés, Laura me encarou com os
olhos marejados.
— Alex — sussurrou, me fazendo perder um pouco do sentido ao vê-
la se aproximar. — Eu precisava falar com você. — Me remexi inquieta e

sabia que as meninas não sairiam do meu lado. — A sós. — Encarou minha
irmã e Nana, que deu os ombros como se não importasse com o que ela
desejava.

— Podem ir. Fiquem de olho em Soph para mim — pedi, dando sinal

de que ficaria bem. Era minha mãe. Assim que elas retornaram para o quarto,
encarei a mulher que me deu à luz. — O que você deseja?

A vi puxar uma respiração.

— Pedir perdão. — Deu um passo em minha direção. — Eu amo


você, Alex. — Estendeu a mão pedindo que eu segurasse. — Só que eu nunca
fui a mãe que você precisava, pois eu não consigo.

A sinceridade dela bateu sobre mim e aceitei o aperto de mão.

— Eu quero que saiba que não posso mudar meu jeito, — Deu os
ombros. — Da mesma forma que entendi que não posso atrapalhar sua vida
com isso. — Encarei tudo em choque, pois aquela conversa era a que eu
esperei por muito tempo. — Quero que seja feliz. — Tocou minha bochecha.
— Eu quero ser feliz. Mesmo que para isso precisemos ficar distante.

Sorri.
— Amei seu pai, Alex. Por mais que não tenha sido assim por toda a
vida, mas eu o amei. Você foi fruto de um amor, por isso é uma das coisas

que mais quero bem. — Tossiu. — Mas infelizmente, minha maneira de


demostrar isso foi toda errada. E eu sei que nada que eu faça vai mudar quem
eu sou. Não sou a mulher destinada a ficar em um só lugar, criar raízes e ser a
avó dedicada. — Deu os ombros. — Mas quero que saiba que amo você e

que tenho orgulho da pessoa que se tornou.

Meu rosto estava molhado. Não consegui segurar as lágrimas. Ela


tinha me magoado tanto. Mas infelizmente compartilhávamos o mesmo
sangue, éramos mãe e filha.

— Fique. Seja o que você quiser, mas fique. — Apertei suas mãos.

— Não posso. Não depois de acordar para vida. — Me puxou para um


abraço. — Viajo em uma hora. Vou fazer o que faço de melhor, ver o mundo,
me divertir, ser eu mesma.

Sorri. Beijei sua bochecha, sabendo que nada que eu falasse, ia fazê-la
ficar. Quando uma alma é livre, não há amarras que a faça ficar.
A observei ler o livro na cama ao meu lado, com o controle da babá-
eletrônica jogado entre nós. Ainda esperava uma explicação sobre o

aparecimento da sua mãe, mas Alexandra pareceu pouco se importar com


isso.

Fingi uma tosse, atraindo sua atenção com as sobrancelhas arqueadas.

— O que foi? Está gripada?

Segurei a risada com o tom preocupado.

— Não, apenas queria ver se você me olhava — debochei, sorrindo e


ela revirou os olhos. colocando o livro na cabeceira e rola para o lado,
encaixando-se em meus braços. — Vai me contar o que Laura queria aqui?

Ela ficou tensa.

— Foi uma das coisas que nunca esperava na vida. — O sussurro foi
quase silencioso.

— O quê?

— Um pedido de perdão. Foi aí que vi que aquilo foi o que sempre


esperei, mas nunca aconteceu. Quando finalmente a tinha ali, dizendo que me
amava, mas sua alma não era de uma mãe comum, soube que não poderia

fazer nada. — Deu os ombros. — Acho que foi o ponto final perfeito para
nós.

Beijei o topo da sua cabeça.

— Eu sinto muito.

— Não sinta. — Se apoiou no colchão, me encarando com um sorriso.


— Eu estou feliz, pois finalmente sinto que posso ficar bem sem ter sempre a
ideia que a expulsei da minha vida.

Balancei a cabeça confirmando e coloco uma mecha de cabelo atrás


da sua orelha.

— Posso saber por que Nana e Amber estavam tentando me


convencer que Sophi deveria ser mais parente de uma do que da outra? — A

frase ficou confusa e era da mesma maneira que a situação estava em minha
mente.

Alexandra caiu na risada.

— Elas estavam negociando em eu dar Soph para uma delas —


brincou, me encarando. — Se soubesse que não dormimos há três noites,
desistiriam fácil. — brincou, subindo sobre mim, e colocou uma perna em
cada lado do meu quadril. — Isso é porque nossa menina só tem uns três dias
em casa.

Inclinou-se sobre mim, roçando o corpo curvilíneo coberto apenas por


uma camisola fina em minha pele desnuda. Completamente excitado com o
tanto de tempo sem nenhum contato com aquela mulher, segurei seu rosto,
puxando seus lábios para um beijo.

A enlacei em meus braços e a virei contra o colchão, apertando seu


corpo contra o meu enquanto minha língua trabalhava em sua boca, tentando
conter a onda de calor que corria em minha pele. Me senti estremecer com as
mãos de Alex alisando meu peito lentamente, parando na base da calça do
pijama.

Era o máximo de contato que tivemos desde o nascimento de Sophia.


Sabia que não era muito apropriado ainda, nossa vida estava uma bagunça,
mas não conseguia parar quando ela só se inclinava ainda mais sobre mim

e…

O choro de Sophia invadiu o quarto pela babá-eletrônica e nos


afastamos, mantendo meus olhos sobre o rosto de Alex, a vendo com as
pálpebras baixas, respirando ofegante.

— A vida com bebês, senhoras e senhores — falei, sorrindo, e ela me


empurrou para o lado. Levantando-se, saiu da cama rapidamente enquanto
me jogava novamente sobre as almofadas, respirando ofegante, sabendo que

meu turno começava só depois da meia-noite, como estava no contrato de

cuidados do bebê que Alexandra e eu bolamos. Ah, a vida andava uma


bagunça, corrida que só ela! Mas não poderia estar mais perfeita.
Dois meses depois

Coloquei Sophia no bebê-conforto, recebendo um olhar curioso de


quem não tinha nem quatro meses e estava esperta como se houvesse se
passado muito tempo. Ela sorriu, daquela maneira banguela que destroçava
meu coração pois sabia que ela me tinha nas suas mãos gordinhas.

— É, sim. — A segurei em meus dedos. — Vamos voar. — Fiz um

barulho estranho com os lábios. — Ir para casa da tia Amber para ela apertar
suas bochechas e implorar que eu dê você para ela.

Revirei os olhos.

Senti meu estômago se revirando pois não era apenas isso. Era o
casamento. No dia seguinte, no fim da tarde, minha união com Sebastian
Collins se tornaria oficial e eu não poderia estar mais ansiosa.
— Agora vamos, pois o pomposo do seu pai não se digna a entrar em
um voo comercial, disse que pode muito bem abusar do privilégio de ser um

CEO e ir em um voo privado — Bufei. — Deus me ajude, que Deus me


ajude!

A verdade era que eu não precisava de tanta ajuda assim. Sebastian


era incrível como pai, me ajudava tanto que era completamente diferente das

relações que vi passar em minha vida.

Além do fato de que tinha as quatro patas arriadas por nossa princesa.
Eu deixei de ser a princesa e confesso que agradeci quando o apelido passou
para Soph, que como eu previ, tinha os cabelos loirinhos, as bochechas
rosadas e os olhos da mesma cor dos meus.

Minha filha era a coisa mais linda e preciosa do mundo.

— Ah, minha menininha chegou! — Carly bateu palmas, primeiro


parando ao lado de Sophia e beijando suas costas gordinhas, o que causava
espanto na menina, mas assim que viu o pedido de Carly para pegá-la, não
pensou duas vezes em pular nos braços da mulher.

— Eu estou bem, obrigada — brinquei, colocando a bolsa em meu


ombro e ela riu, se aproximando para beijar minha bochecha.
— Vá, vá falar com ele. — Balançou a mão em direção ao escritório
de Sebastian e eu me remexi, não querendo deixar Sophia sozinha. Mas a

mulher me empurrou e eu não tive escolha, adentrando a sala em um


rompante.

O loiro levantou o olhar, arqueando a sobrancelha enquanto fechava o


notebook lentamente.

— Carly roubou Sophia. — Fechei a porta do escritório, passando a


chave na fechadura. — Vim muito cedo? — Ele encarou a tela.

— O momento perfeito. — E sorriu, de maneira tão maravilhosa que


senti meu corpo estremecendo ao vê-lo dar passos lentos em minha direção.
Assim que me alcançou, a mão tocou meu quadril, me puxando contra ele. —
É muito ruim eu sentir uma saudade descomunal de você?

Sorri, enlaçando os braços em seu pescoço, e o puxei contra meus

lábios. Sophia estava crescendo, cada dia mais agitada. Isso nos deixava
praticamente sem tempo.

Quando sua língua pediu passagem, senti meu corpo acordando,


despertando pouco a pouco com minha pele se tornando brasa em seu toque,
meu estômago se contraindo em antecipação.

As borboletas no estômago ainda estavam lá.


Sua mão me segurou pela cintura, me guiando para a ponta da mesa e
me empurrando contra ela, afastando os objetos do caminho para me encaixar

ali, com ele entre minhas pernas, subindo o vestido rodado que escolhi para
aquele dia.

Ofeguei com suas mãos descendo lentamente pela lateral do meu


corpo, na medida que seus lábios trilhavam beijos em meu pescoço. Sabia

que não deveria estar aqui. Deveríamos estar arrumando nossas coisas para
viagem. Mas não conseguia parar, pois sua boca chupava um ponto em meu
pescoço que me fazia estremecer.

Tirando o pouquinho de sanidade que me restava. Minhas mãos


trabalharam nos botões da camisa social dele, abrindo tão rápido para liberar
o peitoral do meu futuro marido. Toquei sua pele, descendo lentamente pela
lateral até a altura da calça, puxando o botão e o zíper de maneira rápida.

— Não podemos fazer sexo no seu escritório, Sebastian —

resmunguei, encarando o membro duro dentro da box escura e senti meu


corpo tremer de desejo. — E se alguém ouvir?

Ele alisou meus cabelos.

— Eu acho que mereço arriscar depois de tanta discrição. — O sorriso


preencheu seus lábios. — Eu quero você, Alexandra — sussurrou, contra
meus lábios, me puxando contra ele novamente, beijando-me com força,
subindo o vestido até que eu precisei levantar os braços e me afastar para

retirá-lo completamente.

Assim que fico nua, só com a pequena calcinha de renda que vesti
mais cedo, meu corpo tremeu novamente, pois o vento frio da central de ar
bate contra minha pele quente.

Estremeci, sentindo o dedo do homem desenhar um caminho no vão


dos meus seios, descendo lentamente, parando no mamilo para estimular, e
quando senti que a situação não poderia piorar, senti minha calcinha
denunciando o estado de afastamento que estávamos um do outro.

Nunca passava de beijos. Toques afoitos. Pois sempre quando


estávamos quase lá, Sophia nos tirava da bolha de prazer que nos enfiamos.

Ele se inclinou, tomando meus lábios novamente enquanto os dedos


desciam até minha pélvis, passando lentamente pela região e descendo para

minha bunda, deitando-me sobre a mesa e com ele parcialmente em cima de


mim. As coisas caíram ao nosso redor.

— A mesa, Sebastian? Vai estragar a imagem dela — brinquei, com


minhas mãos enlaçando seus ombros.

— Eu nunca tive um minuto de paz nesse escritório desde que você


deitou dessa mesma maneira na outra vez. — Vagou os olhos por meu corpo
completamente à sua mercê, coberto apenas por uma renda vagabunda. Sua
mão desceu por ele, puxando a lateral da peça e me libertando totalmente
pare ele.

Desnuda.

— Perfeita. — os dedos tocaram meu sexo, passando lentamente, e


senti um espasmo subir em meu corpo. Seus dedos brincaram com minha

intimidade, e senti o desejo por ele crescer, queimando meus sentidos.


Quando um dos seus dedos me invadiu, gemi, controlando para não puxá-lo
contra mim.

Uma de suas mãos puxou meu corpo para a beirada da mesa, dando
espaço para que entrasse em mim. Só que seus dedos pareciam ter outra
intenção quando invadiram meu corpo, movendo lentamente, imitando os
movimentos que seu membro fariam em mim.

Cobri a boca com a mão, sabendo que precisava fazer silêncio. Mas

quando o orgasmo acumulado de dias ameaçou chegar, ele se afastou e


rapidamente invadiu meu corpo com o meu.

Gemi, completamente entregue enquanto observava o homem quase


todo vestido, apenas com a camisa aberta, mostrando o peitoral e a calça
baixada para dar acesso ao seu pau.

. Era uma das imagens mais sexy que já tive o prazer de contemplar.
Deixei meu corpo ser levado pelo caminho de prazer enquanto ele
entrava e saía de mim, causando gemidos e gritos. Senti que estávamos cada

vez mais perto. Não foi demorado. Era tempo demais longe um do outro para
segurar o fim.

Quando aconteceu de meu corpo estremecer, senti cada miséria


sensação apossar através de mim enquanto Sebastian se deitava com a cabeça

enfiada entre meus peitos. Alisei seus cabelos, sentindo meu coração batendo
rápido enquanto minhas bochechas queimavam de maneira quase ridícula.

— Nunca mais saio dessa sala. — Ele riu, com o hálito batendo contra
minha pele e senti quando sua língua passou na região, atiçando.

— Nada de casamento para a senhorita então — brincou, levantando


o olhar e apoiando o maxilar na minha barriga, que voltava ao normal a cada
dia, graças aos exercícios que eu vinha mantendo. — Vamos ter que montar
uma casa no meu escritório.

Deu com os ombros e eu sorri.

— Não deixaria você se livrar tão fácil do casamento — brinquei.

Vi os olhos do homem acompanhar seu sorriso. Um gesto que fazia a


beleza de Sebastian ser ainda mais marcante.

— Eu amo você, Alexandra.


A seriedade daquelas palavras me estremeceu.

— Também amo você, Sebastian Collins — repeti. Em voz alta. Pois


não havia nada que eu tivesse mais certeza do que isso.

A fazenda dos Johnson era uma propriedade e tanto. Eu não era lá um


apreciador de paisagens urbanas, mas não podia negar que aquilo ali era um
verdadeiro paraíso. A cerimônia foi toda organizada na entrada da fazenda,
onde tinham bastante árvores e dava para usar a varanda enorme, que era
anexada à casa principal, para a festa, mais tarde.

Ao chegar ontem, pela tarde, fui bombardeado com passeios pelo


local, e me disseram que precisavam manter o noivo longe da noiva até a
cerimônia. Achei melhor afastar o pensamento de Alex deitada sobre a mesa
do meu escritório, gritando de prazer.

Então, eu não a vi durante todo o resto do dia. À noite, falamos


rapidamente antes de minha mãe, Maggie e as “irmãs” de Alex a levarem
embora, dizendo que seria a noite das meninas.

Levaram até Soph junto!

Tadinha da minha menina, estava sendo corrompida pelas tias.

Segurei a risada, enquanto meus olhos vasculhavam o local da

cerimônia, já vendo as pessoas se sentando nas poucas mesas, já que era


mesmo uma cerimônia bem intima e reservada, com amigos mais próximos e
familiares.

O caminho pela grama que me levaria ao altar, montado na entrada da


varanda, era feito por um tapete escuro, e ao redor havia as cadeiras para os
convidados. As flores escolhidas eram pequenas orquídeas brancas que
davam um charme delicado a tudo.

O juiz de paz estava atrás da pequena mesa que segurava uma bíblia e

uma jarra de água devido ao calor escaldante que nos arrodeava. Virei-me
rapidamente ao sentir uma mão tocar meu ombro e vi Amber sorrindo para
mim, vestida de dama de honra.

— Eu queria falar com você.

Nas poucas vezes em que estive na presença da minha cunhada,


percebi que ela era uma pessoa muito reservada, de poucas palavras. E me
surpreendi quando suas mãos se estenderam, pedindo que eu a pegasse.

— Alex está lá dentro — começou, sorrindo de lado. — E está tão


linda que parece um sonho.

— Imagino que sim. — O coração, como sempre, ficava bobo na


menção da minha noiva.

— Só quero dizer que ela é minha família. — Fungou. — E que quero


que cuide dela.

Sorri e a puxei para um abraço.

— Eu cuidarei. — A promessa era mais para mim do que para


qualquer outra pessoa.

Amber se afastou, sorrindo, e voltou para dentro de casa, pois ela


entraria com Alexandra no casamento. Além de ser uma das damas de honra,
juntamente de um homem que diziam ser amigo de infância das duas.

Inspirei fundo e não resisti em me remexer inquieto e ansioso.


— Pronta, querida? — falei, manobrando a cadeira até a porta do
quarto da futura esposa do meu filho, sabendo que minha missão na Terra

estava quase completa. A menininha de roupas delicadas estava sobre meu


colo e sugava com determinação a pequena chupeta em sua boca. — Soph
está ansiosa. Ela mesma me disse.

Escutei a risada de Alexandra e lembrei-me de quando a contratei,


sabendo que estava fazendo uma boa escolha. A lembrança de que desejei
que Sebastian tivesse uma mulher como ela ao seu lado era persistente em
minha mente.

E veja só! Ele só não a tinha, como me deu mais um neto.

A noiva apontou na porta do quarto e vi que segurava as lágrimas de


maneira desesperada, balançando as mãos em frente ao rosto para tentar se
segurar, e estendi a mão, pedindo que se aproxime.

Ela o fez, segurando o vestido para ficar em minha frente.

— Está a noiva mais linda do mundo — falei. — Só não conte isso a


Maggie.
Alex riu, se abaixando em minha frente.

— Obrigada por me acompanhar, senhor Collins. — Me inclinei,


segurando Soph em meus braços, beijando a testa de sua mãe. Ficar fora do
hospital não era fácil, ainda mais no meu estágio, e sabia que poderia cair
morto a qualquer momento.

Mas ia assumir os riscos para ver meus filhos sendo felizes.

— Vamos casar você, querida. — Puxei sua mão levemente para cima
e ela se levantou, arrumando o vestido leve em dois forros que trazia uma
leveza à parte debaixo da peça. A superior era mais cavada, simples e de duas
alcinhas finas.

Os cabelos escuros de Alexandra estavam presos em uma trança


elaborada e os lábios estavam pintados de vermelho, bastante chamativo.
Meu filho ia morrer no altar antes mesmo que me desse mais alguns netos.

A música escolhida pela macha nupcial anunciou a entrada da noiva,


e vi quando Alex apontou lá, juntamente com papai na cadeira de rodas e
Sophia em seus braços. Meu coração parou. Não havia nada no mundo mais

maravilhoso do que ver meu pai acompanhando a mulher da minha vida em


direção ao altar.

A cada passo que davam em minha direção, a sensação de estar sendo


golpeado aumentava em meu peito. Ela estava perfeita. O vestido simples que

escolheu era sob medida para a deixar ainda mais linda. Meus olhos
encontraram o seu rosto, buscando pelo batom vermelho chamativo, que era
sua marca. E ela estava lá. Com os cabelos presos em uma trança cheios de
frescuras. Sabia que não havia nada mais bonito do que Alexandra Johnson
entrando em seu casamento.

O fotógrafo a acompanhou junto papai e Sophia, que observa, com


atenção, a situação em que ela foi metida. Sorri para minha pequena, sentindo
que meu mundo todo cabia em alguns metros quadrados de uma fazenda.

Não havia ninguém naquela festa que não fosse importante para mim.

Eles me alcançaram.

— Eu pensei que você fosse morrer antes mesmo de me dar netos. —


Papai é o primeiro a falar, colocando a mão de Alex sobre a minha. — Sejam
felizes, filhos. — O sorriso preencheu seus lábios e o vi manobrar a cadeira
para longe. Me deixando sozinho com Alex.
Segurei suas mãos.

— Eu quase morri mesmo. — Ela riu, enlaçando seus braços em meu


pescoço e contrariando que deveríamos ir para frente do juiz de paz. — Eu
amo você, para sempre. — Ficou na ponta dos pés, beijando levemente meus
lábios, e afundou o rosto na curva do meu pescoço.

— Eu te amo mais — sussurrei, sorrindo. — E para sempre —


reafirmei, beijando seu ombro desnudo. — Quando entrou na minha vida, eu
tentei me afastar, dizer que era só um desejo irracional.

Ela me encarou, com os olhos brilhando.

— Mal sabia que eu estava destinado a passar a vida toda com você
— completei, sorrindo.

— Eu não sei se acredito em destino — rebateu e franziu o cenho. —


Acredito que faremos dar certo.

— Eu sei, mas eu acredito em destino. — Pincelei seu nariz. — E


acredito que apesar de sermos destinados, temos que lutar para fazer dar
certo. Todos os dias. — A apertei em meus braços. — Minha rainha.

Ela riu.

— E você arranjou um novo apelido brega — resmungou, e nos


viramos para o juiz de paz. Prontos para passar a vida toda ao lado do outro.
Alexandra logo se tornaria Alexandra Johnson-Collins.

E apesar de ela sempre dizer que nossos sobrenomes não combinavam


nem um pouco, apenas balancei os ombros, achando perfeita aquela
combinação. Estávamos juntos agora. Oficial. Passamos por bastante. Um
relacionamento casual e fajuto. Um namoro rápido e interrompido por um
pedido de casamento.

No meio disso tudo, ainda tinha Sophia. Nosso pequeno pedacinho de


amor. Nossa princesa. Que era a junção do que formávamos juntos. Em
menos de um ano e meio, mudei minha vida para sempre.

Não me importava com os planos.

Tudo que importava era que amava a família que tinha agora.

A sensação de estar completa invadiu meu peito. Eu tinha quase tudo


um ano atrás. Um emprego, uma vida instável e em um período curto de
tempo. Tudo começou a ficar bagunçado. Em seguida, minha vida toda
mudou. Meu único amor era meu trabalho. Agora, estava dividida em mil
partículas.

Meu marido.

Minha filha.

Minha família.

Senti meus olhos marejados e encarei Sebastian, que estava atento às


palavras do juiz de paz e senti meu coração se expandir quando vi a aliança
brilhar em meu dedo. Demarcando seu local.

Engoli as lágrimas, mas de nada adiantou, e sorri, a limpando, mas


logo ele continuou, me deixando chorando igual uma boba enquanto ouvia as
palavras do homem.

Sebastian me encarou.

Sorriu e limpou meu rosto, ficando frente a frente comigo. A

liberação para nos beijarmos chegou e fui puxada levemente na direção dele,
que segurou meu rosto entre suas mãos, abaixando a cabeça para tocar seus
lábios com os meus.

Levemente, fazendo-me estremecer ao sentir sua língua pedir


passagem para minha. Beijou-me da maneira que eu desejava, enquanto meu
coração batia de maneira desenfreada.
Lentamente, se afastou e me encarou.

— Eu sempre vou ter um apelido brega para irritar você, advogada —


brincou e minha pele se arrepiou, acompanhando todas as sensações que
aconteciam dentro de mim, sabendo que eu sempre o amaria. — Para sempre,
eu e você, agora.

— Nós dois. — Enlacei nossos dedos. Juntos. Firmes. Não deixando


espaço para nenhuma dúvida.

FIM.

[1]
Jenner é personagem do livro um da série PARA SEMPRE, Para sempre ao seu

lado.

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