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Me Apaixonei
Pelo Meu
Sequestrador
EDIÇÃO EXCLUSIVA

Letícia Bartulihe

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Dedico aos grandes, pequenos e futuros amores da
minha vida, mas tem uma pessoa mais do que especial
que sonha em ter uma dedicatória em um livro e
também a pessoa que eu menos esperava ler meu livro.
Minha avó Ignez Rodrigues Bartulihe, dedico esse
livro a ela que apesar de todas a dificuldades criou
sete filhos e com seus oitenta e dois anos se viciou em
ler a minha história. Te amo vó!

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Capítulo 01

Eu acordei normal e tudo parecia estar normal, ou


pelo menos eu achava que esse dia seria apenas um dia
qualquer.
Levantei e me arrumei para mais um dia de aula no
colégio Heleonor, lavei meus longos cabelos castanhos que
chegavam até a cintura e os cacheei com a ajuda de um
babyliss, coloquei o uniforme de verão, já que segundo o
meu celular o dia seria quente, o short saia azul escuro
plissada que chega até a metade da coxa, a meia fina branca
a sapatilha azul escura com um delicado laço branco, a
camisa branca de manga curta, o blazer azul escuro com o
símbolo do colégio do lado direito e o meu nome bordado
de pink na parte de trás.
Lu bateu na porta. – Bom dia, Carina seus pais estão te
esperando na sala de jantar. –Chamou. –Entre Lu. –Falei
continuando arrumando minhas coisas, a porta branca do
meu quarto se abriu lentamente. –Vá tomar café da manhã.
–Aconselhou com um sorriso, meu olhar então se virou
para ela. –Eu nem sabia que eles tinham voltado. –
Comentei. –Vai lá e faça a sua parte. –Ordenou em um tom
amigável. –Eu concordei com a cabeça e desejei um “Bom
dia Lu” antes de sair do quarto.
Lu é apenas o apelido da babá que cuidou de mim a
vida inteira, principalmente depois que minha mãe voltou a
trabalhar e começou a se dedicar a sua amada grife. Eu
desci os degraus de granito delicadamente segurando no
corrimão e sem nenhuma pressa, afinal meus pais tinham
ficado apenas três dias fora, e eu já estou acostumada com
eles ficando semanas fora, agora parece que voltaram para
ficar por mais alguns dias, espero que fiquem.
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— Bom dia pai. –Desejei entrando na sala de jantar
toda pintada de branco, com uma enorme mesa com oito
lugares.
— Bom dia Carina. — Disse meu pai com um sorriso e
me recebeu em um abraço. — Bom dia mãe! — Eu disse e
dei um beijo na bochecha dela. –Dormiu bem querida? –Ela
perguntou com um sorriso. –Sim, mãe, você acredita que
entrou uma aluna nova no colégio. –Aproveitei o momento
para contar. –Nossa sério, ela virou sua amiga? –Perguntou
interessada. –Mas é claro que não. –Neguei balançando a
cabeça. Meu pai riu. –Não é fácil se tornar minha amiga. –
Comentei sem nem entender o porquê minha mãe achou
que teria a possibilidade da garota nova ser minha amiga. –
Ela não anda na moda o suficiente? – Perguntou meu pai
com sarcasmo e gargalhando.
–Na verdade quando ela entrou alguns dias atrás
Jessica disse que ela tinha roupas horríveis, mas a verdade é
que ela só usa roupas maravilhosas e além do mais os pais
dela tem um projeto incrível que ajuda crianças na áfrica, e
ai surgiu a dúvida na minha mente “Por que vocês não tem
um projeto que ajuda crianças na África?” –Expliquei todos
os meus motivos mostrando quão grande era o problema. –
Pare de ser tão histérica Carina. –Ordenou minha mãe
fazendo eu me sentir como a Mia Colucci, uma patricinha
histérica, mas diferente de Mia, eu tenho problemas de
verdade.
—Nos negócios eu aprendi que tenho que ser amigo de
todos. –Aconselhou meu pai. –Isso é verdade, você precisa
aceitar melhor as meninas que entram na sua escola. –
Concordou minha mãe. –É colégio. —A corrigi. —Como
assim? –Perguntou meu pai sem entender. —É um colégio
não uma escola. —Expliquei e os dois não aguentaram e
gargalharam. —Vá tome seu suplemento. –Ordenou minha
mãe me entregando um copo, eu a olhei. —Não acredito que
comprou mais um suplemento. –Comentou meu pai e
suspirou, eu gargalhei. –Eu prometo que dessa vez acertei
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em todos os quesitos. –Afirmou minha mãe confiante. Eu
dei uma leve risada e experimentei.
—Bom é melhor do que o último. –Comentei. Minha
mãe balançou a cabeça e saiu da sala de jantar. –Amanha
chega mais um. –Brincou meu pai rindo, eu ri e quase
engasguei. Depois que fiquei totalmente pronta, me sentei
no sofá.
—Lu avisa o Senhor Antônio que já estou pronta. –
Falei gritando. –Ele está doente e por isso eu que vou te
levar. –Contou minha mãe surgindo na sala de estar, a olhei
confusa. –Acho que faz anos que você não me leva para o
colégio. –Comentei. –Chegou o dia. –Ela afirmou e até deu
um sorrisinho. Normalmente minha mãe anda com um
segurança, porém ele só chega ás oito, horário que eu já
tenho que estar no colégio. Entramos então na mais nova
aquisição de minha mãe, uma Mercedes Bens GLS 350, ela
não liga tanto para carros, mas esse foi a paixão dela desde
o inicio do ano, então ela economizou e comprou.
Assim que passamos pela portaria com um sorriso no
rosto cumprimentamos os seguranças. Moramos em um
condomínio luxuoso na capital de São Paulo, as casas
custam milhões e tem centenas de seguranças por todos os
lados, até mesmo de helicóptero. —Precisamos decidir o
que vamos fazer no seu aniversário... — Comentou minha
mãe. –Bom eu obviamente quero uma festa, não sou Carina
Jórdan sem uma incrível festa e quero viajar m você e com o
meu pai. –Contei meus planos. –Para onde quer ir? –
Perguntou enquanto dirigia. –Para o Uruguai, talvez. —
Pensei em voz alta. –Você precisa avisar a Vanessa com
antecedência para ela poder organizar tudo. —Aconselhou.
—De qualquer forma ainda falta seis meses. –
Comentei sem ligar muito e comecei estudar para a prova
do dia. –Sabe que precisamos planejar nossos dias... —Ela
disse e eu apenas concordei com a cabeça. Paramos na porta
do colégio e o segurança veio abrir a porta para mim. —
Tchau mãe. — Eu disse e dei um beijo na bochecha dela. —
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Tchau. Fica com Deus! —Eu sai sorrindo do carro. –Bom
dia Claudio. –Desejei com um sorriso. –Bom dia senhorita
Jórdan.
Minhas amigas me esperavam depois da porta de
vidro da linda entrada. — Olá garotas. — As olhei de cima a
baixo para ter certeza que os seus uniformes estavam
perfeitos. Elas sorriam com esperança que eles estivessem.
Não se comparavam aos meus que eram lavados a seco, mas
estavam suficientemente bons. –Bom dia Carina. –
Desejaram e abracei cada uma. —Vocês estão bem? —
Perguntei olhando todos da escola de cima a baixo e eles me
olhando de volta. —Sim. — Ana respondeu. —Claro! —
Fernanda afirmou. — Ótima! — Beatriz disse por fim. —
Quais são os problemas de hoje? –Perguntei enquanto
caminhava pelos corredores. — A garota não é como a
gente. Mas, se acha melhor que a gente. — Disse Fernanda e
eu continuei andando pelo largo corredor que se abria
quando as pessoas me viam. — Odeio esse tipo de gente! —
Disse Beatriz desdenhando. —Também odeio. — Concordou
Ana.
—Meninas, já chega! — Eu ordenei. E tenho certeza de
que elas fizeram cara de confusas. — Mantenha seus amigos
próximos e seus inimigos mais próximos ainda. — Dei uma
de conselheira e me virei para elas. —Como assim? —
Perguntou Beatriz. —Vamos fazer ela desejar andar conosco
e depois ela não conseguirá nos fazer mal. — Olhei para
cada uma bem nos olhos. — E outra coisa vocês devem ler o
livro Como Fazer Amigos e Influenciar Pessoas! Ele é ótimo!
— Aconselhei empolgada. — Isso é uma ordem ok? — Eu
disse mais séria para que elas entendessem o quanto era
importante seguir meus conselhos.
— Isso não faz o menor sentido. — Comentou
Fernanda. — Nós não queremos ser amiga dela. –Disse Ana
não parecendo nada feliz. –Eu sei meninas, sei como é
difícil, mas ninguém disse que fazer parte das it girls do
ensino médio seria uma tarefa fácil e nós temos nos saído
bem. –Encorajei como uma verdadeira líder deve fazer. –

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Todas sempre querem ser como nós, ou melhor, como você
Carina. – Comentou Fernanda e eu dei um sorrisinho
orgulhosa de mim mesma, adoro o fato das meninas
quererem ser como eu, isso mostra que sou muito boa e
gosto de ser boa. –E isso é bom meninas. –Afirmei ainda
sorrindo e voltei a andar. Se deixarmos as pessoas
pensarem demais, elas não realizam nada.
Entramos na sala uma atrás da outra e fomos para os
nossos lugares, Jéssica, a minha melhor amiga, já estava
sentada em seu lugar. — Bom dia! — Eu disse animada. —
Bom dia! —Ela disse e eu a abracei. —Tenho um novo
plano. –Contei para ela assim que me sentei em meu lugar e
dei o sorriso que só alguém como eu pode ter. —Qual é
plano dessa vez? —Perguntou empolgada, Jéssica sempre é
a primeira a querer realizar os meus planos, talvez por isso
seja minha melhor amiga. — De qual sala a Lorena é? —
Perguntei ignorando a pergunta dela e colocando meu plano
em ação. —Ela é do 3°B. –Respondeu curiosa. –Vamos ser
amigas dela. –Afirmei. –Por que?—Indagou com cara de
recusa. –Precisamos de mais amigas do que inimigas e
mesmo sabendo que ela se vestiu com o uniforme de
inverno e errou totalmente no tamanho da saia, sabemos
que desde então ela tem se vestido muito bem... —
Expliquei.
–E não podemos julgar as pessoas só pelas roupas. –
Anunciei tentando parecer mais boazinha do que realmente
sou. Jessica abriu um sorriso. —Tudo bem, o quer que eu
faça? –Perguntou interessada. —Hoje é dia de convidar
alguém diferente para ter a honra de lanchar com a gente e
por isso a convidada de hoje será a Lorena. —Expliquei
olhando para as meninas já que o professor anda não havia
chegado. —Mas já convidamos duas meninas do segundo
para se juntar a nós. –Lembrou Fernanda. –Teremos mais
uma convidada então. –Comuniquei.
A escolhida da semana para entregar nosso convite
totalmente feito a mão por Ana, foi Bia e ela cumpriu sua
missão. Na hora do intervalo, eu e minhas amigas saímos da

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sala e fomos para os degraus da enorme escada do pátio. Eu
sento no degrau mais alto, no de baixo senta a Bia e a
Jéssica, embaixo delas sentam a Ana e a Fernanda, e bom
nossas convidadas sempre sentam no degrau mais abaixo
de todas. Afinal é uma questão de hierarquia. Pelo menos
eu, Carina Jórdan dou a chance de todas poderem subir de
cargo. Claro, se for merecido.
— Olá meninas! — Eu disse e cumprimentei cada
convidada com um beijinho. Mas a Lorena eu abracei. —
Seja bem vinda! — Eu disse sorridente. Ninguém é capaz de
entender Carina Jórdan e por isso me olharam confusas,
mas tudo isso eu aprendi no mundo dos negócios “Sejam
amigos de todos” é o que um amigo do meu pai sempre diz.
—Obrigada. — Ela disse e eu a olhei de cima abaixo, todas já
estavam em seus respectivos lugares, mas me esperavam
em pé, quando eu cheguei no meu lugar e me sentei todas se
sentaram.
Fernanda começou a fazer seu papel de segunda vice-
presidente. —Vou te explicar como funciona o grupo. —
Olhou diretamente para Lorena. —Existe uma hierarquia a
ser seguida. Carina é a presidente. —Apontou pra mim com
um sorriso delicado. —Jéssica é a vice-presidente. Ela é a
melhor amiga da Carina. —Olhou para Jéssica e depois
voltou a olhar para Lorena. — Eu, Bia e Ana somos as
integrantes oficiais do grupo. — Ela disse e apontou para
cada uma enquanto falava os nomes. — Entendi. — Disse
Lorena olhando para todas.
— Todas são minhas amigas oficiais e frequentemente
são convidadas para ir a eventos importantes comigo. Por
isso é importante saber se vestir e se comportar. E para eu
ter certeza que isso vai acontecer e que cada amiga minha
está apta para me acompanhar, dou aula de boas maneiras e
moda todas terças a noite. — Nossa que legal. —Afirmou
uma das convidadas. –Nós podemos participar? —
Perguntou a outra. Eu, com meu sorriso não muito
verdadeiro, mas sincero. –Talvez algum dia. –Respondi. –
Suponho que eu não precise participar. –Comentou Lorena,

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fazendo meu sangue ferver. Quem ela acha que é para negar
um curso oferecido por Carina Jórdan.
— Algum problema? — Perguntou Jéssica me olhando.
—Temos regras e todas integrantes precisam segui—las. –
Respondi olhando profundamente no olhos de Lorena. –
Vocês têm muitas regras, mas acho que vai ser legal fazer
parte do grupo. –Comentou Lorena. –Você acha?—Indaguei
seca e a encarei. –Sabemos que vai adorar. –Afirmou
Jéssica com um sorriso e tirou a atenção de todas da minha
pessoa. Que menina insuportável, como ousa dizer essas
coisas para as “It Girls” do ensino médio? Cada dia as coisas
parecem ficar mais difíceis para mim. Assim que a aula
acabou, o senhor Antônio veio me buscar.
— Oi. — Eu disse sorrindo. — Olá senhorita. –Ele disse
abrindo a porta para mim. Assim que entrei no carro li a
mensagem de Vanessa avisando que tinha acontecido um
imprevisto em Paris e minha mãe teve que viajar para lá e
outra de Luiza, uma das secretárias do meu pai dizendo que
ele almoçaria na empresa, ou seja mais um almoço só com a
Lu e ninguém mais.
— Oi Lu! — Chamei jogando a mochila no enorme sofá
da sala de estar. — Carina estou na cozinha. — Ouvi Lu dizer
e senti o cheirinho delicioso de comida. — O que você está
fazendo? — Perguntei a olhando feliz. — Estou fazendo
salmão grelhado. — Lambeu os lábios e fez uma cara alegre.
— Ai que delícia. — Comentei olhando o fogão. Luciene é
mais baixa do que eu, mas já foi mais alta, tem uns cabelos
de dar inveja, eles são lisos e bem escuros e faz cada dia um
penteado diferente.
— Coloque na mesa, por favor. — Ela pediu me
entregando dois pratos. Eu os peguei e arrumei a mesa,
colocando também os talheres e os copos. — Obrigada! —
Agradeceu olhando para a mesa quando tudo ficou pronto.
—Eu tenho talento para isso. — Comentei. — Pode trabalhar
de arrumadora de mesas já. — Ela brincou ignorando meu
amor próprio em excesso. Gargalhou. No almoço contei
tudo para Lu sobre o vexame que passamos com aquela
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garota totalmente sem luxo. Depois da minha aula de
natação não muito interessante, mas necessária para meu
corpo ser assim, o senhor Antônio me levou para o salão de
cabeleireiro para dar uma retocada no visual e arrumar
meus cabelos que estavam destruídos por causa da água da
piscina.
Assim que estava totalmente renovada, comecei tentar
ligar para senhor Antônio para que ele fosse me buscar, já
que ele tinha aproveitado para ir resolver algumas coisas
para minha mãe, eu tentei ligar várias vezes e deixei várias
mensagens, mas ele não me atendia e nem respondia. Eu
cansei de esperar e decidi ir a pé até o meu último
compromisso do dia, aprender alguma coisa na empresa do
meu pai, era apenas uns cinco minutos caminhando e não
tinha como nada dar errado.
Estava andando pela rua distraída com o meu celular e
com as vitrines das lojas, quando dois sujeitos, do nada,
pararam na minha frente. — Oi gatinha. — Um deles sorriu
me olhando. — Oi. — Falei e os olhei, fiquei em pânico, sem
reação alguma, nunca tinha passado por uma situação
dessa, afina estava sempre com os seguranças. — Sem
gritos e nem tapas. –Aconselhou um deles. — O seu papai
está te esperando e caso grite matamos ele. — O outro disse
e eu comecei a tremer. — O que vocês querem? — Perguntei
com a respiração acelerada. — Queremos você.
Levantei as sobrancelhas. — Eu tenho 300 reais aqui
serve?—Perguntei com a esperança que eles me deixassem
ir, só que eu esqueci que não valia apenas trezentos reais e
sim milhões, com toda certeza meu pai pagaria muito para
me libertarem. — Entra no carro! — Ordenou um deles
gritando. — Não precisa gritar e eu sei entrar sozinha. —
Falei irritada e tirando a mão deles de mim. Entrei no
carro e um dos homens foi atrás comigo e ficou me
segurando pelo pulso enquanto o outro dirigia assustado, os
dois usavam óculos escuros e boné.
Eu comecei a perceber que nem juntando todos
problemas que eu já tinha tido, daria um maior do que
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esses, eu não tinha um plano para resolver isso e estava
sozinha, por dentro estava desesperada, apavorada, mas por
fora eu não demonstrava, se tem uma coisa que aprendi
com a minha mãe foi nunca demonstrar fraqueza. Depois
de algumas horas e fazendo um caminho que eu não
conhecia, chegamos no meio do nada, um lugar com mais
mato do que asfalto e isso me assustou, com toda certeza
não tinha um sinal de telefone.
Eles pararam o carro bem na frente de uma casa
pequena e feia, feia para mim, mas eu já vi muitas pessoas
que moram normalmente em uma casa assim, entramos na
casa e eles me levaram até um quarto, não disseram uma
palavra e me fecharam lá dentro, a porta que tinha umas
cinco trancas foi trancada. Eu não sei o porquê de tantas
trancas, já que eu não conseguiria arrombar nenhuma porta
com apenas uma tranca. E um detalhe importante, eles
ficaram com minha bolsa, felizmente ela já era da coleção
passada, então não sofri tanto.
Olhei o quarto em volta e apesar de não ter uma
janela, não era tão horrível assim, era horrível sim, mas eu
disse a mim mesma que não era para não ter um treco. Me
deitei na cama e comecei pedir perdão pelos meus pecados,
pelo menos se me matassem, eu teria uma eternidade digna
no céu e não no inferno. Não sei quanto tempo passou até
que eu ouvisse a voz de um outro homem.
— E ai vocês pegaram a garota certa? –Perguntou o
cara parecer decidido com o que queria. — Claro que sim. –
Afirmou um dos dois. — Mimada igual a da foto por sinal...
—Comentou o outro e eu só escutava atrás da porta e fazia
caras e bocas. –Vocês tiveram muita sorte dela ter decidido
andar sozinha hoje... –Comentou. –Eu achei que seria bem
mais difícil. –Concordou um dos capangas. —Abram a
porta quero vê-la! –Ordenou o que tinha acabado de chegar
e pelo o que entendi parecia ser o chefe. —Ela é bem gatinha
em... — Brincou o outro e escutei risadas.
Só conseguia pensar o quanto idiota eles eram, ouvi as
trancas começarem a ser destrancadas e dei um passo para
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trás cruzando os braços, eu não queria demonstrar medo. A
porta se abriu e minha respiração acelerou, eu estava
apavorada, mesmo que negasse que não. Ele entrou me
olhando e mesmo usando uma regata de quinta e uma
touca, bem ridícula era lindo e forte, bem forte! “Não perde
o foco Carina.” —Disse a mim mesma nos meus
pensamentos. Queria poder afirmar que ele não mexeu
comigo, mas essa seria a maior mentira da minha vida,
talvez fosse toda a Adrenalina e o medo que circulava em
meu corpo, ou talvez tivesse outra explicação.
Ele me olhou por alguns segundos e lançou um olhar
meio sedutor e um leve sorriso e eu estava tremendo de
medo. —Saiam e fechem a porta. — Ele ordenou e os outros
dois obedeceram, os outros ainda usavam óculos e não dava
para saber quem era quem, mas ele, por algum motivo nem
se importava de mostrar seu rosto. Minha respiração
começou a acelerar a medida que ele se aproximava de mim
com aquele olhar profundo dele, e eu comecei a piscar mais
quando ele chegou a centímetros de mim. Os nossos corpos
estavam perto demais, pelo menos o suficiente para ele
segurar em meu braço. —Você está tremendo... —
Comentou. E eu concordei com a cabeça e não parava de
olhar nos olhos dele com a esperança de poder desvendar o
que se passava em sua mente.
— Eu quero ir embora. – Afirmei em tom de ordem
tentando parecer forte. — Você vai. –Ele concordou como se
tivesse fazendo uma promessa. — Mas não hoje... — Ele
comentou me olhando nos olhos. — Por que não? Eu não
quero morrer... — Eu disse com lágrimas nos olhos. — Você
não vai morrer. — Balançou a cabeça. Eu suspirei aliviada e
querendo acreditar nele. — Como posso confiar em você? —
Questionei. E ele concordou com a cabeça e sorriu
levemente. — Verdade. — Ele disse e deu um passo para
trás.
— Você não fazer nada comigo né? — Perguntei
querendo ter certeza. — Não vou te estuprar. — Ele negou
parecendo ficar ofendido cm a pergunta. –É que você

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mandou os dois saírem... –Comentei. –Eu só queria falar
com você. –Ele disse e eu suspirei. –E avaliar o quanto você
vale... –Comentou. –Achei que cada pessoa no mundo tinha
um valor inestimável. –Comentei de volta. —Na maioria
dos casos, sim, mas nesse caso é diferente. –Explicou. –Já
chegou a alguma conclusão? —Indaguei o olhando nos
olhos e descruzando meus braços. –Eu conclui que você
vale mais do que um milhão. –Ele afirmou e eu sem saber o
que responder.
— Sim. Só os meus sapatos custam 20 mil, afinal
foram feitos por uma marca exclusivamente para mim. —
Eu expliquei olhando para os meus pés. — Imagino! — Ele
sorriu, mas agora um sorriso sincero. E eu dei um leve
sorriso que quase não apareceu. — Mas isso o que você faz
é errado... — Comentei tentando puxar assunto para me
tranquilizar. — Depende do ponto de vista... — Me olhou
nos olhos. — Querer mandar nas garotas e humilhar os
outros também não é certo. — Sorriu como se estivesse
brincando. — Todos precisam de um líder e elas necessitam
de mim. — Eu disse balançando a cabeça afirmando. Ele
quase riu, mas parou.
—Quantos anos você tem?— Ele perguntou se
sentando na cama. —Achei que tivesse olhado minha ficha
inteira. — Comentei o olhando. — Tenho dezenove anos; —
Ele falou e eu tentei parecer a mais educada possível. —
Pena que eu não perguntei. — Sorri falsa. Ele olhou para o
lado e respirou fundo. — Quantos anos você tem? —
Perguntou novamente e me olhou sério. — Dezesseis. — Eu
respondi com medo de sua reação. Ele se levantou, foi até a
porta, me olhou pela última vez e saiu fechando a porta.
Suspirei e me sentei na cama tentando entender tudo o que
tinha acontecido. Fingir ser forte era mais difícil do que
imaginava. A noite um dos caras entrou no quarto. — O
Leonardo mandou te entregar... — Disse me olhando e
ainda usando óculos e boné.
— Quem é Leonardo? —Indaguei o olhando. — O que
veio mais cedo e quis ficar sozinho com você... –Ele contou

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e agora pelo menos sabia o nome dele. —Vocês fizeram
alguma coisa? —Perguntou sem se aguentar, eu revirei os
olhos e peguei a caixa. — Não é da sua conta, mas não
fizemos nada e diga para ele que até falaria obrigada se não
estivesse sendo mantida presa... — Eu disse e comecei olhar
para caixa que agora eu segurava em meus braços. O
homem saiu em segundos do quarto.
Olhei para a caixa por mais algum tempo. Por que
isso? O que ele queria? O que era? Será que deveria abrir?
Coloquei a caixa na cama e fiquei um tempo andando de um
lado para o outro pensando se deveria abrir ou não, depois
de alguns minutos e tomada pela curiosidade: decidi abrir.
Eu fiquei surpresa quando abri a caixa e vi tudo que tinha
dentro dela, afinal era o presente mais interessante,
necessário e estranho da minha vida. Tinha um pijama
lindo e coisas de higiene pessoal como sabonete, shampoo,
condicionador e uma toalha branca maravilhosa. Nunca
pensei que alguém como Leonardo se importaria comigo,
mas pelo visto de algum jeito estranho ele se importava.
No banheiro tinha um pequeno vidro no alto que dava
para ver se era dia ou noite e tinha um chuveiro com água
quente, eu achei estranho ter tanta coisa em um lugar para
deixar uma menina como eu em cativeiro. Era um sequestro
de luxo, ou sei lá o que é isso, pois mesmo eu que moro no
melhor bairro da cidade nunca tinha ouvido falar de algo
parecido. Eu tive dificuldade em tomar banho e depois em
dormir, tanta coisa havia acontecido em apenas um dia, o
dia que eu achava que seria apenas mais um dia normal.

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Capítulo 02

Na manhã seguinte acordei com Leonardo em meu


quarto, eu levei um susto, quem ele acha que é? Havia uma
mesa e uma cadeira que não estavam lá na noite anterior. E
Leonardo, mesmo sendo bruto tentava colocar frutas de
uma forma que decorasse a mesa. O olhei por alguns
instantes e me sentei rapidamente. — Bom dia. — Ele
desejou e eu o olhei por alguns segundos antes de
responder, nada estava bom, tudo estava errado. — O dia
estaria bom se eu estivesse em casa. Não tem como ser
bom... — Eu disse e passei as mãos no meu cabelo para
ajeitá-los. — Estão lindos... —Ele disse e sorriu vindo em
minha direção.
—O que você está fazendo aqui Leonardo? –Perguntei
o olhando confusa e perdida. —Então já descobriu meu
nome? –Questionou rindo como se fosse um dia feliz. —Eu
quero ir embora. — Falei sem rir de suas palavras ou
conseguir sorrir. —Eles ficam bem em você. — Ele elogiou e
se sentou do meu lado. Levantei as sobrancelhas. — Ainda
prefiro liso e com cachos nas pontas... — Eu disse ainda
passando os dedos pelos fios. —A tarde eu mando trazerem
uma chapinha. —Ele afirmou e se levantou rapidamente. —
Agora você precisa comer. –Afirmou meio que ordenando.
Eu não estava entendendo nada, estava confusa com
tudo, com uma vontade imensa de chorar e preocupada se
um dia voltaria para minha vida. O olhei muito confusa e
querendo fazer um milhão de perguntas, mas algo em mim
fez com que eu ficasse quieta e fosse tomar o café da manhã.
Eu fui até a cadeira e me sentei, fiquei parada durante
alguns segundos, extremamente confusa e com o olhar
perdido pelo quarto. Leonardo saiu e voltou para o quarto
com mais uma cadeira. Tomei coragem. — O que você quer?
— Disparei o olhando séria, ele levantou o olhar. — Quero
só que você fique bem... — Ele afirmou e eu revirei os olhos.
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— Então, me deixa ir embora. — Falei sem entender porque
não me deixava partir logo de uma vez. —Não posso. —Ele
afirmou e suspirou parecendo estar triste, mas na era
possível alguém que sequestra pessoas ter esse tipo de
sentimento. — Isso é mentira. — O olhei brava. — Não é
mentira. –Negou como se fosse a melhor pessoa do mundo.
— É sim! –Afirmei irritada por querer me tratar bem e me
manter presa ao mesmo tempo. — Por que eu mentiria
sobre isso? –Perguntou e eu não consegui resposta para
essa pergunta. — Quanto você está pedindo pela minha
vida? –Questionei tentando raciocinar.
— Estão pedindo um milhão... –Ele respondeu e eu
achei a pior coisa do mundo, as pessoas pagam fácil por
uma vida que ama. — E ainda finge que se importa... –
Comentei agora concluindo meu pensamento. Encostei na
cadeira e olhei para o teto. — Não sou eu que mando. —
Insistiu e pegou em uma das minhas mãos, eu a puxei em
ato de reflexo, não queria sentir seu toque. — É mentira. —
O olhei em seus olhos profundos, para tentar tirar a verdade
de seus lábios. — Existe uma hierarquia. Mas não vamos
falar sobre isso. — Ele começou explicar e eu desviei o olhar.
— Você é um idiota! – O ofendi.
— Eu sei. — Ele concordou e sorriu. Revirei meus
olhos e balancei a cabeça. — Mas, me conta sobre sua vida?
– Perguntou e pareceu realmente interessado. Na verdade,
ele só queria o meu dinheiro, mas ok. — Você sabe sobre
tudo... – Comentei no meio da conversa mais estranha da
minha vida. — Eu sei uma parte. –Explicou. — Mas você
namora alguém? Gosta de algum cara? –Ele perguntou
antes de eu conseguir falar qualquer coisa. — Não vou te
contar nada. — Neguei rindo. — Isso não é um encontro e
você não é meu amigo. –Afirmei.
— Você é esperta. –Elogiou. –Mas, prometo não te
fazer mal. — Por dentro fiquei feliz com o elogio. — Sei. —
Desdenhei, dando ombros. Só por eu estar longe da minha
casa, das minhas amigas e do meu mundo, já está me
fazendo mal. — Como você é na escola? – Perguntou

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apoiando o cotovelo sobre a mesa e sendo totalmente
deselegante. — Vai dar uma de pai agora? –Retruquei. — Só
quero saber como você é. — Ele disse como se fosse uma
boa pessoa. — Eu tinha uma vida feliz até me sequestrarem.
— Expliquei de certa forma tudo que ele queria saber e me
levantei irritada. Cansei desse papo chato. Fui até o
banheiro depressa e me tranquei lá. — Eu já disse que eu
não posso fazer nada quanto a isso... – Tentou explicar
novamente, bem próximo da porta do banheiro, o que foi
inútil, pois eu não respondi. Eu não ouvi mais nada além da
porta do quarto sendo batida com força e o meu corpo
dando um pulo de susto.
O que ele quer de mim? Presente? Café da manhã?
Não estou entendendo mais nada e nem quero tentar
entender. Tomei um banho para tentar organizar as ideias
na cabeça. A minha única conclusão foi que estava odiando
tudo isso, eu realmente era feliz antes de ser sequestrada...
Os meus únicos problemas eram a roupa do dia e as garotas
novas da escola. E bom esses problemas eram bobagens
perto dos que eu tenho agora. Assim que saí do banheiro
comi algumas coisas do café da manhã e fiquei tentando
entender o porquê disso tudo, aproveitei para me alongar,
já que ficar parada só iria me fazer enlouquecer.
Um dos homens entrou no meu quarto trazendo meu
almoço. — Oi. — Sorriu. E o olhei confusa. — Oi. — Esse é o
seu almoço e o seu suco. —Ele disse colocando na mesa. Eu
me levantei indo em direção à mesa. —Vocês, tratam
sempre os sequestrados assim? – Perguntei olhando para a
comida e para o homem que ainda vestia boné e óculos. —
Na verdade não. – Respondeu sincero olhando em meus
olhos. — Então, por que estão me tratando assim? —
Questionei curiosa e me aproximei.
— Porque ele jurou nos matar se você não fosse
tratada como ele mandou. — Justificou e eu o olhei por
alguns segundos. — Ele o que? — Verifiquei extremamente
irritada e confusa. — Você escutou. — Afirmou rígido. —
Agora come e se precisar de alguma coisa é só chamar. —

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Ele disparou e saiu do quarto fechando a porta com tudo.
Pelo visto o pessoal do crime não sabe nunca fechar uma
porta com delicadeza.
Dias se passaram, Leonardo nunca mais apareceu, eu
passava horas chorando preocupada com o que aconteceria
comigo, parecia que eu estava vivendo uma eternidade
nesse lugar, tudo estava se destruindo aos poucos e eu já
estava começando a ficar com raiva de meu pai por não
pagar logo o resgate para que eles me deixassem partir, ou
pior será que meu pai já tinha pago e mesmo assim eles não
me libertaram? Tantas dúvidas e preocupações e nada de
respostas. Durante esses dias roupas novas chegaram para
mim e eu não fazia ideia como Leonardo conseguia escolher
tais roupas maravilhosas para minha pessoa e até a
chapinha tinha voltado para minha vida, ele era o cara mais
misterioso que conheci e apesar de tudo queria enfrentá-lo e
perguntar, porque ele estava me tratando de tal forma.
Acordei com alguns caras discutindo lá fora, mas não
entendi qual era o problema, eu já estava ficando
especialista em escutar atrás da porta. O meu café da
manhã já estava na mesa e também havia uma maleta linda
ao lado das frutas. —Mais um presente do misterioso
Leonardo... –Comentei para mim mesma em voz alta. A abri
e vi que estava cheia de maquiagens de diferentes tipos e
um bilhete: "Está com saudades? Pois eu estou. Vamos
jantar juntos essa noite. Beijos.” Vamos o que?! —
Perguntei a mim mesma mais uma vez em voz alta,
realmente ficar muito tempo sozinha deixa qualquer um
louco, até mesmo alguém como eu.
Mais uma descoberta que fiz durante meus dias nesse
lugar foi o nome dos homens. Um era César e outro era
Rubens. — César! —Chamei batendo na porta. Ele logo veio
e abriu a porta. — O que foi? — Perguntou me olhando. —
Me avisa quando o Leonardo estiver chegando. – Pedi. —
Ok. — Ele concordou e fechou a porta. Eu não queria ir a
esse jantar, mas estava tão chato não ter ninguém para
conversar e acho que de alguma forma não foi tão ruim

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conversar com Leonardo aquele dia. Então eu decidi me
arrumar e tentar ficar feliz e claro iria aproveitar para
entender o que ele queria comigo, pois se ele tivesse
qualquer sentimento por mim, eu nunca em hipótese
alguma retribuiria. César me avisou quando Leonardo
estava chegando e eu corri para acabar de me arrumar, já
que ninguém nem mesmo alguém como ele merece ficar
esperando. Leonardo abriu a porta e sorriu, ele parecia
ainda mais bonito e mais forte e acho que nunca faz questão
de esconder isso já que usava regata, mas dessa vez não
usava touca. Meus olhos encontraram os seus e meu sorriso
se abriu levemente.
— Oi Carina. — Ele disse com aquela voz que até podia
dizer que era sedutora se a situação não fosse essa. — Oi. —
Foi a única coisa que consegui dizer e ele se aproximou. —
Vamos jantar na sala de jantar. –Comunicou. — Que sala
de jantar? — Desdenhei balançando a cabeça. — Está tudo
pronto... — Ele sorriu novamente e minha respiração
acelerou. — Você é louco! –Afirmei. — Certamente... — Ele
concordou novamente como naquele dia que eu disse que
ele era um idiota, nunca vi alguém concordar quando é
xingado, mas talvez esse fosse o ar especial dele. — Vamos!
—Ele completou e estendeu a mão.
— Eu vou sozinha. — Afirmei e ele balançou a cabeça
rindo. Então eu sai na frente dele, mas depois o segui pois
não sabia onde ficava a sala de jantar. Eu sentia uma
mistura de sentimentos, mas tudo envolvia medo, eu estava
com medo de confiar, medo de nunca mais voltar para casa,
medo de morrer e medo de me apaixonar, Leonardo era
totalmente diferente de todos que eu já tinha amado como
Mark e Enzo. Assim que chegamos na sala de jantar fiquei
mais confusa ainda, pois estava tudo incrivelmente
arrumado e bonito. — Uau! — Exclamei. Leonardo não disse
nada, mas foi extremamente cavaleiro quando puxou a
cadeira para mim. —Obrigada. —Agradeci e me sentei.
Meus olhos passearam pela mesa e percebi que o
jantar seria lasanha e bom lasanha é minha comida favorita

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então dei um largo sorriso. —Você fica linda sorrindo. —Ele
elogiou e então levantei o olhar para ele. —Obrigada.
—Você gosta de lasanha? —Ele perguntou fazendo
referência com o dedo indicador. —Sim... –O olhei
sorrindo. —Na verdade é minha comida favorita. —Contei e
ele sorriu como alguém tinha ganhado mais um ponto. —
Que bom que gostou... –Ele falou e continuou parecendo
orgulhoso de si mesmo. Eu ia começar a fazer perguntas,
mas decidi me acalmar. —Bom apetite! —Eu desejei,
começamos a comer e o silêncio surgiu. —Você vai me
contar sobre você? —Perguntou, quebrando total silêncio
que estava. —Bom, eu não namoro e não fico com ninguém
no momento. Sou muito mandona e às vezes mimada. –
Contei e ele riu. —Às vezes você é mimada? —Cravou os
olhos no meu. Por que todo mundo me acha mimada?
—Sim! Às vezes... – Falei, pois eu não me considero
mimada sempre. —Sei. –Ele desdenhou e rimos. —Essa sala
não era bonita. —Comentei olhando pela sala. —Nós
arrumamos essa semana. —Respondeu e eu fiquei surpresa
com a resposta. —Por que arrumaram? —Disparei, era
minha chance de entender alguma parte de tudo que estava
acontecendo e ele se apoiou totalmente na cadeira. —Sabe
Carina – Começou e eu o encarei. —Existem coisas que só
fazemos por quem vale à pena. E arrumar essa sala valeu a
pena pelo fato de ser para você. — Explicou Leo e foi aí que
meu coração começou a se abrir para ele.
—Para mim? —Perguntei duvidando e franzi a testa.
—Para você. –Afirmou e eu me senti feliz por valer a pena
para alguém, mesmo que esse alguém fosse Leonardo, o
meu sequestrador, ou quase isso. Ele era um galanteador de
primeira e por isso, nesse momento, meu coração começou
a se abrir para ele. —Obrigada de qualquer forma. –
Agradeci com um sorriso. —Obrigado por agradecer. —Ele
disse sorrindo. —De nada. —Rimos. Não posso negar que
ele era totalmente apaixonante, seu jeito de falar, de sorrir,
o topete, mas era errado, muito errado.

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—O seu pai não quer dar o dinheiro... – Desabafou
quebrando todo clima, mas finalmente dando uma
informação útil. — Por que? –Disparei. Por que meu pai não
me quer livre? Será que ele não se importa nenhum pouco?
— Ele disse que vai te encontrar e não vai dar dinheiro
nenhum para bandido... –Explicou Leo, eu mordi os lábios e
suspirei. Meu pai não me amava a ponto de dar um real de
seu dinheiro para me salvar, esse fato estragou tudo e me
deixou muito triste. — E enquanto isso eu fico aqui presa e
jantando com você? – Falei totalmente magoada e com os
olhos cheios de lágrimas. — Exatamente. — Ele mordeu os
lábios e me olhou por uns instantes. Respirei fundo para
engolir o choro e tentei puxar assunto para não estragar a
noite. — O que você faz? – Perguntei.
— Além de ser criminoso? — Perguntou de volta e eu
apenas concordei com a cabeça sem julgamentos. — Eu
saio, vou para balada e me divirto. — Observei cada gesto
que ele fazia e como mexia os lábios. — Parece uma vida
interessante... — Comentei. —Não tanto, pois quando acaba
a farra volto ficar sozinho. E eu não gosto dessa parte. — Ele
contou e pareceu ser verdadeiro. — Eu sei como é... — O
olhei nos olhos. — Meus pais viajam muito a trabalho então
eu sempre estou sozinha... — Nos olhamos por alguns
segundos.
— Achei que você fosse para inúmeras festas... –
Argumentou e riu. — Eu não sou assim. — Dei uma leve
risada negando com a cabeça. — Mas por que você não
namora? — Eu não tinha uma resposta certa para essa
pergunta. —Talvez, porque eu tenho fé em príncipes
encantados. — Ele pareceu triste com minha resposta. —
Príncipes encantados não existem. — Afirmou e eu
concordei com a cabeça. — Mas contos de fadas existem. —
Insisti decidida. Existem amores de contos de fadas, eu já vi
isso na vida real. —Desculpa, mas nada disso existe. —
Retrucou me olhando como se eu fosse a garota mais idiota
do mundo.

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— É só fazer existir. –Expliquei. —Você mesmo disse
que tem coisas que fazemos só por quem vale a pena. E se
eu valer o suficiente para o sapo virar príncipe? — Enquanto
eu falava, ele mastigava olhando para o prato, e segundos
depois. — Você vale. — Afirmou levantando o olhar. Meu
coração quase explodiu nessa hora. — Como sabe? — Você
vale mais do que os bens que possui. Isso eu posso garantir.
–Ele falou meio que sem responder minha pergunta.
—Posso te pedir uma coisa? — Indaguei. —Claro. –
Afirmou parecendo interessado em escutar logo meu
pedido. —Eu adoro ler... —Contei. —Sim. —Ele concordou e
se apoiou na mesa. —Eu quero um livro para eu passar o
tempo. —Pedi e ele sorriu. —Qual? —Perguntou pegando o
celular para anotar. —Pode escolher. Qual você achar que eu
vou gostar... –Incentivei. Afinal, para mim não importava
muito o livro só necessitava ler para passar o tempo nesse
lugar. —Ok. — Afirmou com a cabeça e então guardou o
celular. —Obrigada.
—Não precisa agradecer. —Ele insistiu e piscou para
mim. Decidi continuar com as perguntas, vai que ele
decidisse ir embora, acho que não aguentaria ficar mais
tempo sozinha. —E você namora? —Especulei e ele riu. —
Por que quer saber isso? —Ele rebateu e eu corei. Leonardo
estava certo, que pergunta mais sem noção, parecia até que
eu estava interessada. —Ah só por curiosidade... —
Justifiquei tentando não parecer interessada. —Eu saio
com várias, mas depende... Tem noites que eu bebo demais
ou fumo demais ai nem saio com garota nenhuma. —Ele
explicou como se fosse a coisa mais normal do mundo.
—Que horror! —Eu exclamei espantada. —Por que? –
Perguntou ainda achando suas atitudes comuns. —Você faz
mal a si mesmo. Está destruindo seu próprio corpo... —
Estremeci e passei as duas mãos no rosto. —Cada um se
mata de uma maneira... –Explicou Leonardo dando uma de
sábio. —Eu não me mato. –Neguei confiante. —Claro que se
mata. Você é você e muitos te odeiam por isso. –Ele disse e
me fez pensar, mas não consegui pensar em ninguém que

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me odiasse a ponto de me matar. —Ninguém me odeia. —
Protestei brava. —Você humilha todo mundo e se acha a
rainha. Eu tenho certeza que as meninas da sua escola te
odeiam. –Insistiu.
—Não odeiam. —Eu explodi irritada e levantei, o meu
problema de ficar irritada é que meus olhos enchem de
lágrimas. —Vai chorar? —Ele perguntou provocando e se
levantou. —Não. —Neguei o encarando. Ele andou até o
meu lado e pegou meu pulso. —Vai me bater é? –Perguntei
parecendo corajosa e olhei nos profundos olhos dele, que
escondia muitos segredos. Ele apertou meu pulso com
muita força. —Se eu quisesse te bater já teria batido. —
Revelou e me encarou por mais alguns segundos. —Me
solta! –Gritei. Ele me puxou até quarto e quase me jogou lá
dentro. Eu sempre fiz e sempre vou fazer um drama a mais.
—É claro. —Opinou e saiu fechando a porta, mais uma vez,
com tudo. Me sentei na cama e tentei entender o que havia
acontecido e como Leonardo tinha o dom de estragar as
coisas. Era um idiota! Um louco!

No dia seguinte após tomar meu café da manhã,


cheguei a uma conclusão muito importante na minha vida,
precisava fazer um plano para fugir, não dava mais para
ficar esperando ninguém, o príncipe encantado não iria
aparecer. Meus pais, talvez nem se importassem tanto
assim, fiquei pensando se eles estavam sentindo minha
falta, acho que viajam tanto sem mim que talvez não esteja
doendo tanto assim neles, mas de qualquer forma eu
precisava sair dali. Comecei escrever algumas ideias de fuga
em um caderno que eu havia pedido para Rubens trazer já
que eu, não tinha mais nada o que fazer.

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Nenhuma ideia parecia boa o suficiente, estava
andando pelo quarto inquieta quando escutei a voz de
Leonardo e fui atrás da porta escutar a conversa. —Ela está
bem? –Perguntou Leonardo há um dos capangas. —Parece
estar bem. Ela comeu e ouvi o chuveiro ligado... — Disse
Rubens, eu acho que era o Rubens nunca consigo distinguir
se é Rubens ou César falando. —Entregue isso á ela. — Disse
Leonardo parecendo aflito.
—Chefe ela parecia triste. —Disse César. Tenho certeza
que era o César, pois ele era o mais sentimental dos dois. —
Ah é? —Questionou Leonardo. —Eu fui um idiota ontem a
noite. —Ele admitiu e eu de trás da porta concordei com a
cabeça. —O que você fez? —Desisto de tentar distinguir as
vozes. —Eu tenho problemas em controlar meu
nervosismo... –Comentou Leonardo. Ah jura? Nem tinha
percebido. —Você bateu nela?
—Não. Por pouco não... Vocês sabem que a maioria
das vezes que discuto com alguém, eu acabo batendo ou
apanhando... –Explicou Leonardo parecendo decepcionado
consigo mesmo. —E ela é fraca, não ia te bater. – Fiquei
pensando se ele seria capaz de me bater. —Pois é! –
Concordou Leonardo. —Eu tenho medo de machucá—la. –
Ele comentou parecendo preocupado. Eu duvido que ele
seja capaz disso de verdade, mas me concentrei em prestar
atenção na conversa. —Você gosta dela né? –Eu tenho
quase certeza que era Rubens. Eu senti um certo tipo de
empolgação, criei uma certa expectativa para que ele
dissesse que sim. —Não sei... —Respondeu Leonardo. Me
senti uma iludida e também uma sem noção por querer que
ele dissesse sim, isso só mostrava que eu tinha interesse. —
Chefinho apaixonado. —Brincou César rindo. Leonardo não
pareceu levar na brincadeira, pois não escutei sua risada. —
Tanto faz. –Disse Leonardo fugindo do assunto. — Preciso
de mais uma coisa, veja se o pulso dela está roxo... —O
silêncio surgiu por um segundo. —Se estiver roxo eu nunca
vou me perdoar. –Concluiu Leonardo. E pelo o que eu
entendi ele foi embora.

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Meu pulso está roxo, mas eu não queria que ele se
sentisse culpado, então tomei uma decisão e escondi com
maquiagem. Uma atitude estranha, mas nada era normal
nesse sequestro então fingi não ligar para os sentimentos
que Leonardo estava causando em mim. César entrou no
quarto. —Carina você está bem? –Perguntou e eu me
levantei da cama. —Estou. –Afirmei. E isso nem pode ser
considerado mentira. Pois ele perguntou sobre mim e não
sobre meu pulso. —O Leonardo deixou isso para você. —Ele
disse e me entregou um livro. — Obrigada! – Agradeci o
olhando. Então ele saiu do quarto.
O livro era meio velho e eu nunca tinha visto um igual
em nenhuma livraria famosa que eu costumava visitar. A
autora se chamava Luana Almeida. Me deitei na cama e
comecei a ler, um livro muito bem escrito e viciante.
Leonardo sumiu e não apareceu mais naquele dia e nem no
dia seguinte. Até que foi bom, pois eu me concentrei na
incrível história que o livro "Sem título" tinha. O livro
acabou, mas a história não estava concluída e isso me
deixou enlouquecida precisava saber como aquela história
acabava de fato, se é que alguma história algum dia tem fim.

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Capítulo 03

O livro era narrado em primeira pessoa e contava


sobre as fases de uma mulher. Ela se apaixonou por um cara
do mal, se casou com ele, teve um filho com ele, porém ela
sofria de depressão... Algo aconteceu e o fim não foi escrito.
Eu chorei muito com esse livro mais do que com qualquer
outro! É uma história real só pode ser. Será que o casal se
separou ou será que ela foi se tratar? Será que ela se matou?
Será que alguém matou ela? Será que ela se perdeu no
mundo? O que aconteceu? Eu necessito saber. Outra coisa
que não saia da minha mente era o porquê de Leonardo não
aparecer mais. Estava deitada pensando na vida quando
ouvi a porta se abrindo. Fechei os olhos e fingi estar
dormindo, sempre será o jeito mais fácil. A porta se fechou e
senti alguém se aproximando, ele se sentou do meu lado. —
Eu vou acabar te perdendo... – Desabafou Leonardo e
suspirou. —Você é tão linda e eu gosto de você, mas eu sou
um idiota e não consigo me controlar. –Ele falou como se
estivesse ali sozinho, meu coração ficou feliz com o fato.
—Seu pulso ficou roxo. Me desculpa. –Ele lamentou.
Eu abri os olhos lentamente. —Leonardo. —Falei. —O que
faz aqui? –Perguntei ainda triste com tudo que tinha
acontecido. —Vim te ver. –Ele contou sem saber ao certo o
que dizer. —Você acha que pode aparecer e desaparecer
quando quiser e tudo continuará normal? —Perguntei e ele
segurou minha mão. Suspirei, mas não a puxei de volta. —
Eu estava esperando o tempo passar e você me perdoar. —
Balancei a cabeça. — O tempo não apaga nada. — Afirmei.
— O que apaga é pedir perdão... —Expliquei o olhando nos
olhos. Ele acariciou minha mão a segurando. — Me perdoa
Carina. –Ele implorou.
Eu não sabia o que estava sentido, mas necessitava
começar a pensar com o coração. — Eu já te perdoei. —
Consolei, eu também era como ele, lógico que não batia em
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ninguém, mas todos que não concordavam comigo sofriam
as consequências. O sorriso que ele deu, fez o meu coração
sorrir. — Eu queria tanto te tirar daqui. –Desabafou
olhando em direção à porta. —Eu sei. —Falei, mas tentei
mudar de assunto para quebrar o clima chato. — O livro era
sobre sua mãe né? –Perguntei para puxar um novo assunto.
Mas nem sei se foi uma boa ideia. Ele sem me olhar e sem
falar nada concordou com a cabeça.
— O que aconteceu com ela? — Indaguei quase
tremendo. Ele me olhou e suspirou. — Ela morreu. – Ele
expôs sem rodeios. Meus olhos encheram de lágrimas. —
Desculpa, eu não sabia... Achei que os seus pais só tivessem
se separado. –Comentei triste e morrendo de vergonha pela
pergunta sem compaixão, se é que algum dia eu saberei o
que é ter compaixão.
— Não é sua culpa. – Ele falou e uma lágrima escorreu
pelo meu rosto. — Ela era uma ótima escritora! – Elogiei. E
ele sorriu levemente. — Ela era boa em tudo... – Comentou
com um sorriso sincero nos lábios. — Por que ninguém o
publicou? – Perguntei me sentando. — Por que tem muitas
pistas de como o crime do meu pai funciona... — Desabafou
me olhando com um olhar de sinceridade. —Como você
consegue viver com isso tudo? –Perguntei indignada me
sentando na cama. —Acho que eu aprendi viver assim... –
Contou.
—Por que não sai dessa vida? —Indaguei triste, mas
com esperança. —Porque eu não estudei, já fui preso e sou
procurado... Não é tão fácil assim. –Ele explicou meio
decepcionada com o rumo que sua vida tomou. —Mas se
alguém quer muito uma coisa... –Comecei e Leo me
interrompeu. –Eu já tentei lutar muitas vezes contra esse
destino. — Menosprezou. –Mas talvez tenha que tentar
mais uma vez. –Incentivei. –Acho que eu não tinha o
motivo correto. –Ele disse com um sorriso e eu sorri de
volta, mas fiquei sem palavras. Estava costumada a me
defender de cantadas, mas essa eu queria aceitar e também

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desejei que fosse verdade. Ele se levantou da cama e se
inclinou para acariciar o meu rosto.
—Eu tenho que ir, mas eu prometo voltar amanhã
cedo. —Ele disse e eu concordei com a cabeça. Nos olhamos
bem nos olhos e ele me deu um beijo na bochecha, daqueles
que não são esperados, rápidos e quase roubados. Fiquei
totalmente eufórica por dentro e corada por fora. —Tchau
Leo. —Me despedi antes dele sair e fechar a porta. Eu sinto
tanta falta do meu mundo, da minha escola e da minha
família, mas eu tenho medo de ter que viver sem o
Leonardo. O que eu sinto por ele? Não sei, só sei que
necessito dele! Mas também necessito do meu mundo de
volta.
Todos os dias mesmo presa, nesse lugar horroroso, eu
bebia dois litros de água e comia muitas frutas. Tinha que
aproveitar o que Leonardo sentia por mim, seja lá o que ele
sentisse de verdade e usufruir, afinal sei que em um
seqüestro normal isso não acontece, mas nesse. Rubens
entrou no quarto. — Oi. — Ele disse. —Oi. — Separa suas
roupas sujas que vamos levar para a lavanderia. O Leonardo
que mandou. — Ele disse em tom de ordem como se
mandasse em alguma coisa. —Ok! Vou separar. — Eu disse e
olhei para as roupas que estavam do lado da cama e ele saiu
do quarto. Nesse momento o plano perfeito surgiu, eu
precisava fugir desse lugar e como não consegui pensar em
nada, pelo menos ajudaria alguém vir me resgatar. Eu não
queria ficar sem Leonardo, mas sabia que não poderia tê-lo,
eu tinha feito tudo muito corretamente em minha vida para
terminar apaixonada por um criminoso, eu merecia um
príncipe.
Tive medo do meu plano dar errado, meu coração
estava em choque, mas eu precisava tentar. Escrevi um
bilhete com maquiagem a prova d'água. "Sigam esses caras
que levaram as roupas. Estou sendo sequestrada. Ass.
Carina Jórdan." Coloquei no bolso de uma calça e deixei
uma lágrima escorrer pelo meu rosto. Respirei fundo e
chamei Rubens. Ele levou todas roupas sujas consigo. Eu

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comecei a chorar e não entendia o porquê de todo esse
sofrimento, eu queria minha vida de volta, meus sonhos,
minhas amigas, meus pais, o meu mundo todo estava lá me
esperando.
Comecei a sentir fortes enjôos e vomitei umas três
vezes durante o dia, estava completamente abalada
emocionalmente. Leonardo abriu a porta e a me ver mudou
o semblante de seu rosto. — O que você tem? — Ele
perguntou se ajoelhando ao lado da cama. — Eu estou meio
enjoada... — Comentei e fiz cara de dor, meu estômago
estava doendo muito. — Vou mandar o César comprar
remédio para você. — Ele afirmou preocupado e antes de
sair colocou uma das mãos na minha testa. — Meu Deus
Carina! Você está queimando de febre. –Exclamou muito
preocupado com meu estado de saúde. — Eu estou com
muito frio... – Expliquei me encolhendo mais, ele se
levantou e saiu largando a porta aberta, não demorou muito
para voltar.
—Fica calma o César já foi comprar remédio e você já
vai melhorar. — Ele disse me olhando nos olhos. — Apaga a
luz, por favor. – Pedi e me virei para o outro lado cobrindo a
cabeça. Ele apagou a luz e se deitou do meu lado como se
quisesse me esquentar. — O que você está fazendo? —
Perguntei tentando olhar para ele. — Eu preciso te
esquentar, li em algum lugar que é isso que precisa ser feito.
— Afirmou eu queria ligar meu modo defensiva, o fazer
partir e não deixar ele se aproximar de mim, mas não fui
capaz de dizer isso talvez porque estava doente demais para
isso, ou talvez, porque queria ele ali. Logo, Rubens chegou
com uns cinco tipos de remédio. Leonardo ficou lendo as
bulas para ver qual era mais indicado para situação. —
Carina. Levanta para tomar o remédio. — Ele em tom de
ordem. Eu me sentei na cama lentamente e peguei a cartela
de remédio.
— Você leu tantas bulas e no fim vai me dar dipirona?
– Falei e quase ri. A situação era realmente engraçada.
Rubens deu uma leve risada, o olhei e depois voltei o olhar

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para Leonardo. — Cala boca e toma logo. – Ordenou
Leonardo mostrando seu jeito de estar preocupado e me
entregou o copo com água. Assim que consegui engolir o
remédio, depois de umas cinco tentativas. — Se eu soubesse
que não sabia engolir comprimido tinha mandado trazer
remédio de criança... – Comentou Leonardo, mas eu decidi
levar na brincadeira e sorri.
— Você é tão engraçado. – Comentei e suspirei. —
Melhor você tomar um banho. – Aconselhou Leonardo e eu
concordei com a cabeça. Era interessante ver sua
preocupação. Me levantei e fui para o banheiro, eu tomei
um banho rápido e me vesti, eu estava melhor, mas tinha
me arrependido de ter escrito o bilhete, Leonardo não era
tão ruim assim e talvez ele fosse o projeto do meu ano, eu
estava acostumada a melhorar o visual de meninas, mas
talvez conseguisse transformar ele em um cara normal.
Assim que abri a porta do banheiro Leonardo se levantou.
— Você está melhor? — Ele perguntou caminhando até
mim. — Estou. Obrigada. – Respondi o olhando nos olhos.
— Melhor você comer... — Ele aconselhou e pegou uma
maçã. —Não quero. – Neguei balançando a cabeça. —
Come! — Ele disse tentando ordenar. — Não. – Neguei
novamente e fiz cara de enjoada, ele não me daria ordens.
Que droga. Já sou obrigada a ficar nesse lugar e agora sou
obrigada comer quando ele acha que eu devo?! — Come... –
Começou Leo irritado e eu o encarei, ele parou para
suspirar. — Por favor. Você tem que melhorar... —Ele pediu
então eu o olhei nos olhos. Sabe quando alguém pediu, por
favor, para que eu comesse algo? Nunca. E Leonardo estava
pedindo, por favor, então eu decidi ceder ao seu pedido. —
Tá bom. — Eu estendi a mão direita e peguei a maçã. A
olhei por alguns segundos e mordi. Fui até a cama e me
sentei.
— Quando eu vou embora? — Perguntei triste e
preocupada com a burrada que tinha feito horas atrás. — O
seu pai ainda não deu o dinheiro. E parece que nem vai dar.
— Ele disse e então eu olhei para baixo. Meu pai tem tanto

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dinheiro e nega para salvar a própria filha de um sequestro.
— O meu pai está ficando uma fera, mas eu prometo que
nada de ruim acontecerá com você. –Disse como se
soubesse os meus sentimentos e se sentou do meu lado. —
Fico feliz de ter você. — Admiti e olhei para ele e então
nossos olhares se encontraram. Talvez eu esteja
apaixonada, talvez seja só o medo, talvez fosse só a situação,
mas não queria perde-lo.
— Quando você for embora não nos veremos nunca
mais... — Lembrou Leo olhando para meus lábios como se
quisesse me beijar. Desejei e tive medo, tudo ao mesmo
tempo. — Eu admito que sinto falta do meu mundo, mas
tenho medo de sentir sua falta para sempre. – Desabafei.
Era tudo tão incerto. — Eu sinto o mesmo. — Afirmou e
passou seu braço por cima dos meus ombros meio que me
abraçando pelo pescoço e eu deitei meu rosto no peito dele.
Era para eu sentir medo certo? Mas não foi o que eu senti,
eu simplesmente me senti segura, como se de uma forma ou
de outra, o destino tivesse escrito nossa história.
César entrou no quarto. — Desculpa. — Ele exclamou
ao nos ver. E nós nos separamos em um susto, acho que
ambos sabiam que era um amor impossível. — Tudo bem.
— Disse Leonardo olhando para ele. — O seu pai quer falar
com você... – Avisou César e pude sentir Leonardo
estremecer. – Ok. —Leonardo respondeu e César saiu do
quarto. Ele olhou para mim sorrindo, mas eu sabia que ele
estava com medo.
— Boa noite. — Ele desejou. — Boa noite. –Desejei de
volta e preocupado com o que aconteceria. — Se não
melhorar, manda um dos dois me ligar. Não importa o
horário! –Falou me olhando profundamente. — Pode
deixar! Obrigada por tudo. – Agradeci mais uma vez não
esperava que seria cuidada nunca em minha vida por
alguém como ele e também ele fez meu coração sentir algo
diferente, algo que nem por Mark ou Enzo tinha sentido.
Ele se levantou e eu me levantei junto. — Tchau
Carina. –Se despediu. — Tchau Leonardo. –Eu disse e até
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senti uma dor no coração de deixá-lo partir. Ele me deu um
beijo no canto da boca e saiu rapidamente me deixando
paralisada e corada. Eu não sei ao certo o que sinto por ele,
como ter certeza que gosto dele de verdade? Como ter
certeza que ele gosta de mim de verdade? Não queria estar
sentido nada disso, é tão mais fácil não sentir nada por
ninguém. De qualquer forma, eu me arrependi do meu
plano de hoje cedo, eu faria Leonardo sofrer e acho que de
alguma forma isso não era certo. Eu chorei muito antes de
dormir por centenas de incertezas que estavam em minha
mente.
O maior erro da minha vida pode ser não fugir, mas eu
só saberei se foi um erro se ficar, me dava medo ficar, mas
eu decidi arriscar. Levantei na manhã seguinte e chamei por
César e Rubens afinal eu precisava resolver uma burrada
que estava prestes a cometer. Os dois abriram a porta
rapidamente como se estivessem preocupados. — O que foi?
— César perguntou me olhando assustado. — Nada de mais.
— Comentei. — O que você quer então? — Perguntou
Rubens sem entender. — Sentem! —Ordenei pensando no
que iria dizer para os dois. Eles me olharam e obedeceram.
— Eu fiz uma burrada e preciso da ajuda de vocês! — Eu
disse olhando eles nos olhos sendo sincera. Os dois
concordaram com a cabeça.
— Não busquem a roupa na lavanderia! Nunca. — Eu
disse bem séria tentando ser mandona. Eles me olharam
confusos. —Por que? —Perguntou Rubens. E eu pensei
alguns segundos antes de falar besteira. — Porque se
buscarem vocês morrem! – Expliquei. Olhei para a porta. —
Literalmente! –Afirmei e voltei olhar para eles. — Quem irá
nos matar? — Perguntou César, um pouco preocupado, um
pouco querendo rir. — Eu sou uma pessoa boa e
politicamente correta, mas tenho meus métodos para
resolver pessoas que não colaboram. — Afirmei e dei um
leve sorriso falso, eles não disseram nada. — Então se vocês
buscarem a roupa ou comentarem com Leonardo que eu
não deixei vocês buscarem... Ele mesmo mata vocês. – Eu

- 34 -
disse com a esperança que fosse o convincente o suficiente
para eles ficarem com medo.
— Por que não quer as roupas? — Perguntou César. —
Um segredo que nunca será revelado. –Expliquei e comecei
andar pelo quarto — Por que o Leonardo não pode saber? —
Perguntou Rubens. — Eu sou muito boa em fingir e nós três
sabemos que se Leonardo sonhar que vocês me trataram
mal... — Contei os olhando e até eu senti medo de mim
mesma naquele momento. Eles engoliram em seco. — Não
buscar as roupas e não comentar com ninguém! Entendido?
— Eu disse os olhando forte por fora e com medo por
dentro. —Entendido! — Os dois responderam juntos. —
Obrigada era só isso! — Respondi e suspirei.
Eles saíram do quarto e eu me joguei na cama. Um
segredo para ser guardado pela eternidade. Será que eles
vão cumprir o trato? Tomara que sim, pois eu não quero
que Leonardo saiba. Leo veio me ver, já estou até
acostumando em chamá—lo assim. — Oi. — Eu disse assim
que o vi na porta. — Oi. — Ele disse e foi até mim largando a
porta aberta. O abracei como um impulso e ele me recebeu
em seus braços, fomos até a cama e nos sentamos. — Vim
aqui conversar com você. –Ele disse com um sorriso, mas
meu coração parou.
–Por que quer conversar comigo? –Disparei. –Para
conhecer mais você. –Ele explicou sem entender o motivo
do meu espanto. — Ah, isso é ótimo, mas você conhece mais
de mim do que eu de você. —Comentei. –Então comece. —
Concordou. — Qual seu talento? — Perguntei. E ele me
olhou por alguns segundos. — Eu canto... — Ele disse quase
para si mesmo. — Você o que? — Eu perguntei rindo. — Não
me zoa. — Ele disse bravo. —Canta para mim. — Eu pedi e
ele negou com a cabeça. —Vai, por favor... — Eu disse e o
olhei nos olhos. — Não vou cantar! — Ele negou e desviou o
olhar.
— Eu também canto, mas você não vai me ouvir cantar
porque eu também não vou cantar. — Eu disse e cruzei os
braços. Mas ele nem olhou. Ele me segurou e me deitou
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rapidamente com um golpe só. O que me assustou. — Ai! —
Gritei. E ele riu me apertando. — Tem certeza que não vai
cantar? — Perguntou tentando ser sério. Afirmei com a
cabeça. — Então é guerra. — Ele afirmou e começou a fazer
cosquinha. — Para! — Eu gritava, me contorcendo rindo. E
em menos de um minuto que parecia uma eternidade ele
parou. — Você é um idiota! —Afirmei. E ele se sentou na
cama rindo. — Você tinha que ver sua cara de desespero! —
Ele disse quase sem ar de tanto rir. —Carina Jórdan nunca
fica desesperada. —Eu disse e ele deu uma gargalhada.
—Estava sim. — O olhei tentando ser brava e me
sentei. —Então eu vou cantar! –Afirmei e ele deu risada
balançando a cabeça. —Vai nada; –Desdenhou. —Por que
não? Eu sei cantar. —Eu disse e o olhei nos olhos. —Todos
sabem cantar... Mas só alguns cantam bem. –Explicou
Leonardo dando uma de sábio. —Está dizendo que eu não
canto bem? —Perguntei o olhando brava, com o cabelo todo
jogado para o lado. —Isso é você que está dizendo... –Disse
ele com voz de inocente. O olhei e levantei as sobrancelhas.
—Vou cantar. –Afirmei como se fosse uma ordem.
Respirei fundo e engoli seco. "Não dá pra acreditar que
você me iludiu..."— Comecei. Ele me olhou durante a
música sorrindo bobo, não era o mesmo Leonardo que
conheci, nem o mesmo que brigou comigo depois daquele
jantar. Parecia apaixonado. —Sua voz é linda. —Ele elogiou
me fazendo parar de cantar e o olhar nos olhos.
Seu corpo foi se aproximando do meu e o seu rosto se
aproximando do meu rosto! Estávamos quase nos beijando
quando eu me esquivei e levantei da cama. —O que foi? —
Perguntou sem entender a situação. Meu coração estava
acelerado e eu envergonhada. —Desculpa. –Falei levando
uma das mãos para a testa. —Tudo bem... Não tem
problema. Se você não quer eu entendo. —Ele disse
parecendo compreensivo. Enquanto, eu tentava acalmar a
respiração. —Melhor você ir embora... —Comentei olhando
para o lado quase chorando. —Não tem problema. —Ele foi
até mim e me deu um beijo na testa saindo do quarto.

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Me sentei devagar na cama e deixei as lágrimas
escorrerem. Eu me odeio por ter tido aquela ideia idiota da
lavanderia, mas também me odeio por sentir o que sinto por
Leonardo. Eu sonho com um príncipe, mas e se ele nunca
chegar? Enzo era um príncipe e mesmo assim eu o deixei
partir... E se o único que eu posso ter seja um criminoso?
Um criminoso que parece gostar de mim. Mas o quanto ele
está disposto a abrir mão por uma vida comigo e o quanto
eu estou disposta por uma vida ao lado dele? É muito difícil
que ele abra mão da vida dele para estar comigo, acho que
nunca ficaremos juntos de fato.
Eu precisava de respostas, precisava saber se de
alguma forma valia a pena lutar pelo Leonardo, precisava
saber o que desejar, o que sentir. Naquela noite Leonardo
voltou e eu já estava mais calma. Juntei a coragem que eu
tinha para falar o que eu sentia para Leo. —Trouxe doces
para te acalmar... –Leonardo comentou sorrindo e
balançando a caixa. Sorri. —Temos que conversar... —Falei
e tirei o sorriso de seus lábios. —Você está certa. –Ele
concordou. Então fomos até a mesinha e nos sentamos nas
cadeiras. Léo começou a abrir os chocolates e eu comecei a
falar.
—Eu gosto de você. —Admiti enquanto ele olhava para
os doces. Ele paralisou e me olhou. —Gosta como? –
Perguntou fingindo não entender. —Você sabe como. –
Comentei. E em seus lábios pude ver um sorriso aliviado. —
Mas não dá para vivermos assim... —Continuei. —Temos
que fazer algo para mudarmos nossas vidas. —Ele apenas
concordou com a cabeça. —Eu sonhava com um príncipe e
bom você não é um príncipe, mas me sinto cuidada por você
e eu necessito disso, alguém que cuide de mim, me proteja e
seja capaz de largar tudo para viver um amor maluco ao
meu lado. —Eu disse confiante, mas estava com muito medo
da resposta. Ele só me olhava e não tinha reação.
—Eu não sou capaz de nada disso. –Afirmou
quebrando todas minhas expectativas. — Eu não quero um
romance. — Continuou sem pudor algum. —Não quero

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abrir mão do meu mundo e muito menos viver um amor
maluco ao seu lado. —Ele disse em um tom diferente, um
tom de ódio e eu não consegui aceitar aquelas palavras. —
Isso não é verdade. – Neguei por não conseguir acreditar.
Ele se levantou. —Isso é verdade! —Foram as últimas
palavras que ele disse antes de sair e bater a porta.
Eu não consegui segurar as lágrimas de
arrependimento que escorriam uma atrás da outra pelo meu
rosto, eu não deveria ter falado nada. Eu quero a minha
casa de volta, quero minhas amigas, quero meus antigos
amores, não quero mais Leonardo perto de mim, afinal a
única coisa que ele sabe fazer é mal e eu não quero alguém
que me faça mal.

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Capítulo 04

Nos dias que se passaram ele continuou mandando


presentes, mas eu não aceitei nenhum, ele era o tipo que
achava que podia comprar as pessoas, comprar o perdão
das pessoas e isso era errado. Tentei até fazer greve de
fome, mas foi impossível, pois quando estou triste tudo que
quero é comer besteira. Foi definitivamente os piores dias
da minha vida. Não aguentava mais ficar naquele lugar,
estava com saudades de tudo e inclusive não conseguia
decidir se era melhor querer fugir ou não. Acordei da minha
soneca da tarde e vi que ele estava sentado em uma cadeira
lendo um livro.
—Eu tive medo. –Admitiu antes de eu dizer qualquer
coisa. —Do que? –Perguntei me sentando na cama. Medo
de amar alguém? —De me perder para você. –Contou e eu
não ia cair em seu truque de novo. —Isso não vai acontecer,
porque eu te odeio... –Falei decidida a parar de sentir por
ele qualquer sentimento que não fosse nojo e ódio. —Não
odeia. —Discordou.
—Não quero discutir, nem brigar com você, só quero
que saiba que eu não me importo mais... –Argumentei o
encarando e fingindo não me importar. —Eu também não
quero discutir, mas eu quero você e sei que se importa... –
Ele falou convicto do que dizia. E eu tive que desviar o
olhar. —Não me importo. –Neguei mostrando irritação. Ele
balançou a cabeça e se ajoelhou no chão. —Nunca
conseguimos conversar, nada dá certo entre a gente... —
Continuei. —Realmente. —Concordou.
—E então o que vamos fazer? –Perguntei até abrindo
mão um pouco do meu plano de não me importar. Ele
pensou por alguns segundos de cabeça baixa e me olhou. —
Vamos tentar ser amigos. –Sugeriu Leonardo refletindo. —
Não vai dar certo. —Hesitei entediada e revirei os olhos. —

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Claro que vai. —Ele rebateu e eu dei um leve sorriso, tinha
certeza que não daria, mas amigos magoam menos do que
namorados então está valendo.
—Vamos conversar sobre o que então? –Indaguei. —
Sobre a escola... —Decidiu. —Escola? —Perguntei meio
desinteressada com esse assunto. —Você acha que eu não
sei que é o seu lugar preferido? —Ele sorriu lindamente e se
sentou ao meu lado. Realmente é o meu lugar preferido. —
Achava. –Eu falei e sorri o olhando, ele se levantou e sentou
na cama virando de lado para mim e encostou-se na parede.
—Sei de tudo. —Ele piscou com o olho direito. Eu admito já
tinha me apaixonado pelo seu sorriso sedutor, mas seu
olhar me conquistou ainda mais, pois trazia um ar de
mistério, um mistério que eu queria desvendar.
—Até que eu não sou mais virgem? —Perguntei o
olhando como só eu sou capaz de olhar alguém, ele negou
com a cabeça. —Você é virgem. –Discordou rindo. Talvez
ele realmente soubesse de tudo. —Claro que não. –
Discordei e olhei para o lado desviando o olhar. —Acho que
você nem beijou ainda... –Comentou me desafiando. Eu
paralisei por alguns segundos, pois me lembrei do dia que
quase perdi a virgindade bêbada com um cara qualquer no
bar depois de ser deixada por Mark.
—Agora é sério. –Falei sem rir. Voltei a olhar para ele.
—Sou virgem, mas já beijei. – Falei sinceramente. —Agora
eu acredito. –Comunicou Leonardo rindo e quebrou o clima
tenso. —Que bom, pois é verdade. —Sorri calma, mas meu
coração estava a mil. —Já deu PT quantas vezes? —
Continuou com as perguntas, levantei a sobrancelha. —
Nenhuma. —Balancei a cabeça e ele deu uma gargalhada.
—Sério? –Hesitou abismado como se dar PT fosse
comum, isso pode ser comum para diversas pessoas, mas
não para mim, eu tenho classe. —Sério –Afirmei e sorri
orgulhosa de mim mesma, mas me lembrei da minha
terrível época. —Nossa que santinha! –Ironizou rindo. —
Mas já quase fiz coisa pior... —Comentei quase sussurrando.
—O que? —Ele perguntou. Suspirei. —Eu tive uma época
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terrível... —Comecei contar, mas dei uma pausa que foi
suficiente para Leonardo começar a falar. —Ah normal.
Todos passamos por essa fase. —Ele disse super fofo e
apoiador. Essa época foi a mais triste de minha vida, perdi
minha melhor amiga Sophie por Mark, mesmo assim depois
de um tempo ele decidiu partir, sem contar Enzo que foi
embora para Marrocos para governar lá e nunca mais
voltou.
—Você sabe cozinhar? —Perguntou dando gargalhada
com a certeza que a resposta fosse não. —Até que sei um
pouco. —Eu disse e sorri. —Mentira. –Discordou rindo. —É
sério. —Eu disse e ele parou de dar risada, eu me sentei ao
seu lado. —Como assim Carina Jórdan sabe cozinhar? —Ele
disse dramatizando. Revirei os olhos. —Bobo. —Ri. Ele
fixou os olhos nos meus. —Seu bobo. Só seu. —Ele afirmou e
meu coração acelerou. Romântica era pouco para definir a
situação, lindo era pouco para definir Leonardo e alegria era
pouco para definir o que estava sentindo. —Meu bobo. —
Conclui e um sorriso largo apareceu no rosto de Leonardo,
eu sorri, pois nunca tinha visto um sorriso tão sincero em
seu rosto.
—Eu sou péssimo em vôlei... –Admitiu e eu caí na
gargalhada, quebrou totalmente o clima de romance, talvez
fosse isso que ele quisesse. —O quem tem a ver?! —Falei
tentando respirar. —Ah só para você saber. –Ele explicou
antes de começar a rir por sua tentativa de puxar assunto.
—Eu sou péssima na maioria dos esportes... –Admiti o meu
fracasso nas aulas de educação física. —Sou bom em
futebol. – Afirmou orgulhoso e nem prestou atenção na
minha confissão. —Você não tem noção de como eu adoro
os caras suados que jogam futebol. —Eu disse sarcástica,
mas acho que Leonardo não entendeu muito bem.
—Verdade? —Ele perguntou fazendo cara de confuso.
—Não. –Neguei balançando a cabeça e dei uma gargalhada.
—Nossa! Sem graça. –Reclamou Leonardo sem saber
brincar e eu continuei rindo. —Você tinha que ver sua cara.
—Comentei e finalmente ele caiu nos meus encantos e riu.

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—O que você não sabe fazer, mas gostaria? —Perguntou e eu
olhei para frente para pensar. —Andar de skate... –
Respondi e o olhei. —Eu sempre quis aprender. –Expliquei.
Mesmo não combinando com a minha personalidade, esse
era um desejo antigo.
—Vou te ensinar. —Disparou. —Como? –Perguntei e
ele se ajeitou na cama se aproximando mais de mim.
—Eu prometo que um dia vou te ensinar. –Explicou
com toda certeza do mundo. Sorri pensando como seria
bom se pudéssemos viver juntos para sempre. Mas o meu
coração se lembrou que isso era um desejo quase
impossível. —Não prometa o que você não pode cumprir. –
Aconselhei e ele mordeu os lábios triste. —Eu vou cumprir.
–Disse decidido. —Vou dar um jeito de resolver tudo isso...
–Explicou olhando em volta, ele estava perto o suficiente
para eu abraçá—lo então foi isso que fiz.
—Era tudo o que eu precisava ouvir. –Eu disse mais
para mim do que para ele enquanto apertava meu rosto
contra seu ombro. O cheiro dele me fascina é como uma
droga que eu necessito. Eu me afastei um pouco, mas
continuamos abraçados. —O que você quer aprender fazer?
—Indaguei e ele sorriu. —Você não precisa saber, pois já
está me ensinando! —Estou? –Perguntei pensando no que
poderia ser. —Está! –Confirmou e eu suspirei aliviada, dei
um sorriso também, pois de alguma forma já havia desejado
isso em meus sonhos.
—Você tira boas notas? —Questionou continuando as
inúmeras perguntas. —Eu sou a melhor da escola. —Apoiei
minha testa em seus ombros. —Eu era o pior. —Afirmou e
rimos. —Não deveria ser tão ruim assim. —Comentei e ele
me soltou. —De verdade, até minha mãe morrer eu era
médio, mas depois virei um desastre da vida. —Do que ela
morreu? —Perguntei triste, mas curiosa. —Ela entrou na
frente de uma bala que ia me matar. —Explicou e pude
sentir a tristeza que sentia. —Ela te salvou. –Conclui com o
coração totalmente emocionado. —Ela se matou. –Retrucou
e eu o olhei nos olhos. —Uma mãe, uma mãe de verdade, faz
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qualquer coisa para salvar a vida de seu filho. —Eu disse,
mas ele pareceu não concordar.
—Foi um erro dela. –Condenou parecendo totalmente
decepcionado com a atitude da mãe. —Não foi... Ela queria
você vivo! –Tentei explicar e uma lágrima escorreu dos
meus olhos. —Eu só fiz burrada depois que ela morreu. –
Desabafou totalmente nervoso, dava para ver como seu
sangue fervia com o assunto. —Isso é mentira! –Discordei o
olhando irritada.
—Não é. –Negou balançando a cabeça. O olhei
diretamente nos olhos. —Você acha que cuidar de mim é
burrada? —Perguntei sem querer resposta, ele engoliu seco.
—A maioria das coisas que fiz foram burradas, menos você.
–Explicou tentando corrigir suas afirmações anteriores. —
Obrigada por corrigir. –Agradeci e ele me abraçou. Um
pouco mais tarde, acabamos dormindo. Nem sei, se um deu
boa noite para o outro. Sei apenas, que dormimos
abraçados e isso já basta.
Quando acordei na manhã seguinte, ele não estava
mais, porém deixou um livro com um bilhete do meu lado.
"Você vai adorar esse livro! Mandei o Rubens colocar
todas as suas coisas no quarto. Ass. Seu bobo!" Sorri e
apertei o livro contra o peito, ainda enquanto tomava meu
café da manhã comecei a ler, muito tempo livre para uma
mente tão genial como a minha, mas nesse dia minha mente
estava mais pensativa do que nunca, eu estava inquieta e o
livro não estava conseguindo segurar meus pensamentos.
Não consigo parar de pensar no Leo, ele é meu e eu
sou dele, como isso é possível nessa situação? Eu não faço a
mínima ideia, nunca fui muito sentimental, ainda não
tínhamos nem nos beijado, mas eu apesar de todo medo,
queria isso. César me falou que Leonardo vinha me ver hoje,
eu estava decidida: vou beijá-lo. Não conseguia definir nada
mais, além disso. Criei uma expectativa e todo um roteiro
perfeito em minha mente. Quando Leonardo chegou devo
admitir que fiquei extremamente decepcionada, ele estava
suado e desesperado.
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—Carina! Temos que ir. —Foram as palavras dele
assim que abriu a porta e eram palavras de desespero. E eu
estava toda arrumada, pois achei que fosse um encontro. —
Onde vamos? –Perguntei sem entender definitivamente
nada. Ele pegou algumas coisas como frutas e salgados da
mesa. —Vamos fugir! –Afirmou. –Vá pegue suas coisas. –
Ele ordenou e eu peguei algumas roupas sem pensar direito.
Meu coração acelerou e eu fiquei ainda mais confusa. Eu já
estava sequestrada por que fugir?
—Mas para onde? Por que? —Perguntei histérica com
as coisas no braço. —Você tem que confiar em mim! —
Pediu. —Eu preciso proteger você. –Explicou. Decidi
confiar nele. Eu não tinha mais nada a perder. Saímos
correndo de dentro da casa e fomos direto para o carro. —
Entra! —Ele ordenou abrindo a porta para mim. Sem nem
pensar duas vezes, obedeci. E pensando bem, foi um gesto
fofo né? Ele rapidamente correu até o outro lado e entrou.
Arrancou o carro e correu tanto na estrada que eu
fiquei morrendo de medo que algo mais grave acontecesse.
Ele me olhava de lado como se quisesse ter certeza que eu
estava ali. E eu ainda não tinha entendido do porque fugir.
—O que está acontecendo Leonardo? —Perguntei assustada
quase gritando e olhando em direção a ele. —Tenho que te
proteger. —Ele repetiu as mesmas palavras que disse
minutos antes.
Fui colocar uma das mãos na suas costas, para ver se
ele se acalmava, o que foi apavorante, pois ele se esquivou
do toque e quando olhei suas costas estava com manchas de
sangue. —O que aconteceu com você? —Perguntei quase
chorando e sentindo minhas costas doer por sentir a dor
dele. —Eu preciso que você cuide dessas feridas. –Me pediu
sem responder minha pergunta. —Quem fez isso com você?
—Questionei apavorada. —Não importa! –Respondeu
gritando e eu comecei a chorar. Não comecei chorar por ele
não me responder direito, e sim porquê quando você se
apaixona por uma pessoa, você não quer que ela sofra mais
nada e começa a sentir todas as dores dela.

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—É claro que importa. –Falei me encostando no banco
e deixando as lágrimas escorrerem. Depois de alguns
segundos. —Estamos indo para uma cidade vizinha vamos
para uma pousada onde ninguém irá nos achar. –Explicou
Leo tentando cortar o assunto das feridas de suas costas e
começando a falar algo útil. Eu tentava ligar os fatos, mas
não conseguia. Não tinha alguém que eu pudesse suspeitar.
Leo precisava me falar.
—De quem estamos fugindo? –Perguntei mais uma
vez,, com uma voz seria e firma. Não sabia nem ao certo, de
quem sentir medo. —Da sua morte. –Ele deixou escapar,
pois nem parou para pensar. E aquelas palavras entraram
pelos meus ouvidos e paralisei.
—Como assim? —Fiquei apavorada. —Meu pai quer
você morta. —Meu coração congelou. Leonardo por sua vez
tentando parecer forte tirou uma das mãos do volante e
segurou as minhas. —Foi ele que fez isso com você? —
Apertei sua mão e deixei as lágrimas escorrerem. Ele
respondeu que sim com a cabeça, pois talvez fosse um
assunto no qual ele não gostasse de tocar, eu engoli seco. —
Aconteça o que acontecer... Eu quero você. —Eu avisei para
ele não esquecer disso nunca. E ele, sem tirar o olho da
estrada. —Eu também quero você para sempre!
Pisquei lentamente para mais uma lágrima cair,
encostei o cotovelo na porta e deitei minha cabeça. Mesmo
que tudo parecesse perdido eu tinha Leonardo e para uma
garota apaixonada era o que bastava. Em menos de dez
minutos chegamos na pousada, minutos que pareceram
horas! Leonardo colocou um casaco ao sairmos do carro
como se quisesse esconder aquelas feridas que estavam em
suas costas. Ele tomou a minha mão e entramos na
recepção da pousada.
Leonardo que falou tudo, eu para ser sincera só me
concentrei para não chorar. Ele pegou uma mala no carro,
colocou as coisas que tínhamos pegado na casa do sequestro
dentro e levou para o quarto junto com a gente. Assim que
entramos no quarto desabei a chorar e Leonardo apenas me
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abraçou, eu não retribui, pois minhas mãos no momento
serviam para cobrir meus olhos. —Por favor, preciso que
você seja forte! Se você for forte... –Começou Leo e parou
para suspirar. —Eu serei forte. —Ele concluiu e me soltou.
Tirei a mão do rosto para vê-lo, ele tirou a blusa e depois a
regata.
O peitoral dele é perfeito. —Conclui em minha mente. —Vou
te ajudar a cuidar disso. —Falei indo até ele. —Não se
assuste com o que você verá. —Ele pediu e eu já fiquei
apavorada só de pensar. Leonardo se virou, em suas costas
tinha muitas feridas, não sabia direito o que tinha
acontecido, mas eram marcas horríveis. Engoli seco antes
de falar qualquer besteira. —Melhor lavarmos. —Disse por
fim. Nós fomos até o banheiro, um banheiro não muito
grande, com pisos e azulejos brancos e bem cheiroso. Ele
entrou no Box e ligou o chuveiro, eu entrei no logo atrás.
Não era uma experiência normal, eu não sabia o que pensar,
o que sentir e nem o que falar, o que era novo para mim,
pois eu sempre sabia o que falar. —Agora eu preciso que
você seja forte. –Pedi.
Leo suspirou e entrou de baixo da água corrente do
chuveiro. Peguei o sabonete na mão e o molhei, fiz espuma
com a mão e comecei passar nas costas dele, a cada ferida
que eu tocava podia sentir os músculos dele se contraírem, e
a cada contraída de músculo eu engolia seco, era o pior
momento da minha vida, eu não sabia o porquê, nem como
as feridas tinham sido feitas, mas sabia que precisava cuidar
para que elas não se tornassem ainda pior, já que eu sentia
que de alguma forma elas existiam nas costas de Leo, por eu
existir em seu coração.
Quando estava na última ferida não aguentei e
perguntei. —Por que ele fez isso com você? —Balancei a
cabeça amargamente. —História complicada... —Comentou.
—Sou inteligente. —Afirmei e enxaguei a última ferida. —Eu
sei que é! Mas não sei se precisa saber... —Ele comentou e
desligou o chuveiro. —Eu necessito saber. —Avisei para
acabar com suas dúvidas. Ele se virou e me olhou nos olhos.

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—Não, você não necessita. —Saiu andando e pegou uma
toalha. Fiquei paralisada por alguns segundos tentando
encontrar respostas em meus pensamentos. —Vem trocar
de roupa. —Ele me chamou interrompendo meus
pensamentos, concordei e fui.
Voltando para o quarto olhei em cima da cama e vi
uma mala cheia de roupas e dinheiro. —Como conseguiu
arrumar essa mala machucado e com medo de me perder?
—Perguntei olhando para ele antes de pegar qualquer
roupa. —Essa mala está pronta desde o dia que você entrou
em minha vida. —Afirmou e eu dei um leve sorriso, eu me
sentia amada e protegida e acho que de alguma forma eu
tinha desejado tanto tempo isso em minha vida que não
percebi.
Tomei um banho rápido e coloquei o pijama. Eu me
olhava no espelho e não via mais a antiga Carina, era como
se tivesse acontecido uma transformação, mas de alguma
forma eu sentia falta da antiga Carina que fui. Quando fui
para o quarto avistei Leo novamente só de cueca, mas agora
deitado na cama. —Por que você não faz o mesmo e coloca
um pijama? –Perguntei enquanto me aproximava dele. —Eu
não uso pijama. –Contou. —E nós dois sabemos que você
adorou me ver sem roupa. –Comentou Leo me olhando nos
olhos e me segurou pela cintura fazendo nossos corpos se
encostarem.
Empurrei o peitoral dele para trás, mas a minha força
total não se comparava com a dele. —O que eu deixo de
pensar não vem ao caso... –Comentei o encarando.
Estávamos muito próximos um do outro, mas eu não estava
pronta, tudo estava sendo tão estranho. Me lembrei das
feridas de Leo e mudei de assunto.—Mas agora é sério,
temos que passar pomada nas feridas e colocar gaze. —Eu
disse e ele me soltou triste. Ele pegou as coisas na mala e eu
o segui até a cama. —Obrigado! —Ele disse antes de eu
começar. —Não precisa agradecer. –Falei com a maior dor
do coração, me sentando atrás dele na cama e pegando as
coisas de sua mão. Passei pomada cuidadosamente em cada

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ferida e depois tampei cada uma. A dor que eu sentia por
ele, era maior do que a dor que ele realmente sentia. —
Prontinho. –Afirmei tentando sorrir e ele se virou para
mim. —Obrigado por cuidar de mim. —Agradeceu e sorriu.
Mas eu o olhei triste. —Ele já tinha feito isso antes? –
Perguntei, pois essa história não saia da minha cabeça. Ele
engoliu seco e me olhou os olhos. —Tão forte assim... Só
quando minha mãe morreu. –Desabafou Leo e o meu
mundo desabou, ele levantou como se fosse fugir, como se
pudesse fugir. Balancei a cabeça. Que tipo de pai é esse?
Isso é um monstro. —Agora eu entendo por que você sente
culpado.—Comentei e ele suspirou.
—Não quero mais pensar nisso. —Afirmou. —Não tem
como. —Balancei a cabeça prestes a chorar. —Tem sim. —
Ele afirmou e pensou por alguns segundos. —Vamos assistir
um filme. Ele ligou a TV, apagou a luz e por sorte ou azar
um filme estava começando, não é certo ficar tentando fugir
do que te machuca. —Mas é de terror... —Reclamei indo até
o travesseiro para me deitar. —Você não gosta? —Perguntou
se deitando na cama passando por cima de mim para deitar
atrás. —Claro que não. —Neguei e ele me abraçou por trás.
—Eu te protejo. –Falou Leo em meu ouvido e me causou
arrepios por todo o corpo me fazendo sorrir. Eu já tinha me
apaixonado antes, já tinha ficado confusa entre Enzo e
Mark, já tinha quase dado meu coração para Enzo, antes
dele partir para ser rei e já tinha dado meu coração para
Mark e ele já tinha quebrado meu coração quando terminou
comigo e foi embora para outra cidade.
Eu já tinha sentido esse sentimento, mas agora era
diferente ou talvez eu desejasse que fosse para ter alguma
certeza em todo caos que Leonardo não iria me magoar. Eu
não estava conseguindo me concentrar no filme e eu queria
colocar minha decisão em ação. Apesar do medo, eu tinha
uma certeza, não queria me arrepender do que não vivi,
então eu me virei e o beijei, foi quase um impulso
adolescente, nossos lábios se encaixaram perfeitamente e
foi o melhor beijo da minha vida. Foi doce e calmo.

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Capítulo 05

No dia seguinte de manhã, eu acordei e Leonardo não


estava mais na cama, olhei em volta para encontrá-lo, mas
como não encontrei, me levantei rapidamente e fui até o
banheiro. Leonardo também não estava lá, aproveitei para
dar uma conferida em meu visual no espelho, dei uma
passada de água no rosto, passar um enxaguante bucal na
boca e uma arrumada no cabelo, não estava em meus
melhores dias.
—Carina?! —Chamou Leonardo. —Já estou indo. —Eu
disse e sai do banheiro rapidamente. Nos abraçamos e nos
beijamos e por fim um bom dia saiu de nossos lábios. —
Vamos ter que viajar para o interior... —Leonardo
comentou. —Por que? –Perguntei. Já estávamos longe de
casa e iríamos para mais longe ainda? —No interior é mais
seguro e além do mais tem tantas atividades legais. –Ele
explicou e parecia feliz com a “viagem”. O olhei como quem
diz eu odeio interior. —Interior? —Questionei.
—Você vai adorar aquela fazenda. –Encorajou Leo. —
Com toda certeza! —Afirmei sarcasticamente, ele riu, o
maior problema não era a fazenda, o barro, a falta de sinal,
o problema era ter que ficar fugindo, isso não me parecia
que ia dar certo. Ele me soltou e pareceu preocupado. —
Tome café da manhã e se arrume. –Ordenou. —Será para o
nosso bem. –Concluiu me olhando por perceber que eu não
queria ir e que também estava preocupada. —E se
acontecer algo ruim com um de nós dois? –Perguntei antes
de conseguir ir tomar café. Ele pensou por alguns segundos
antes de responder.
—Não vai acontecer nada. —Respondeu e foi até a
mesinha para comer, como se quisesse mudar de assunto.
Suspirei e me juntei a ele, eu não sou pessimista, mas pode
sim acontecer algo horrível! Ele ficou em silêncio durante
todo café e eu também, pois fugir do assunto não apaga
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nada. Me levantei e dei passos fortes mostrando que estava
brava e fui tomar um banho. Sai do banheiro só com uma
toalha enrolada no corpo, Leonardo me segurou por trás,
me dando um grande susto. —Você fica ainda mais linda
nervosa... —Elogiou rindo e me soltou. Virei para gritar,
mas o sorriso dele me fez apenas balançar a cabeça. —Você
é um idiota! —Afirmei e fui pegar uma roupa. Assim que eu
acabei de me arrumar, nós guardamos nossas coisas, e
saímos daquela pousada, eu desde a hora que cheguei não
apareci para os funcionários, e Leo apareceu usando óculos
e boné afinal não podiam ser vistos.
Não trocamos muitas palavras, mas não acho que seja
pelo fato de estarmos bravos um com o outro e sim com
medo de perder um ao outro. Fui admirando a paisagem até
que, em determinado ponto quando já sentia apenas, cheiro
de mato acabei adormecendo. Acordei com o barulho que o
portão fez para abrir, olhei em volta, para tentar entender
onde estávamos. Entramos com o carro devagar e realmente
a fazenda era bonita. Tinha uma casa de médio porte e mato
por todo lado... Bom não era minha parte preferida, mas
parecia estar mais segura ali.
Leonardo estacionou o carro e me olhou. —Vem, vou
levar você para conhecer a fazenda. —Ele afirmou e saiu do
carro. Eu dei um leve sorriso, amava estar com ele, mas
amava a minha vida e além de tudo tinha medo do que
podia acontecer. Leonardo tomou minha mão e me levou
para conhecer a fazenda. Era tudo muito lindo, muito
grande, com muito mato, arvores no fundo e uma casa
enorme no meio. —Amor, aquela ali é a Pedrita a égua que
era da minha mãe. —Ele disse apontando para uma égua,
mas eu nem consegui prestar atenção. Amor? Ele disse
amor? —Perguntei a mim mesma sorrindo e o olhei. —
Amor? —Perguntei com um sorriso enorme, me olhou sem
expressão e antes de responder, abriu um sorriso enorme.
—Amor. –Repetiu e eu o abracei.
—Obrigada por me chamar de amor. —Agradeci e ele
me recebeu em seus lindos braços fortes. —Você é o meu

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amor. —Afirmou e então eu me derreti e ele me beijou. Foi
um beijo diferente talvez porque eu estava o amando mais,
cada minuto que passava eu o amava mais. —Você quer
cavalgar? —Ele perguntou parando de me beijar. —Eu não
sei cavalgar. –Expliquei olhando em direção a égua. —É
fácil. —Ele me encorajou, e me puxou pela mão até o
estábulo. Leo me ajudou a subir no cavalo e me ensinou
como conduzi-lo depois ele tomou um cavalo para si e
fomos cavalgar juntos. A minha égua era a Pedrita, pois
segundo Leonardo ela era a mais dócil, ela era preta e muito
forte. Leo, porém usou um cavalo chamado Francis mais
alto que a Pedrita e da cor marrom.
Depois de um tempo paramos para descansar e
amarramos os cavalos em uma arvore. Nos sentamos na
grama e ficamos admirando a vista. —Você é perfeito. –O
elogiei com um sorriso bobo. —Eu queria dizer que sim. –
Concordou todo orgulhoso sorrindo. — Mas infelizmente já
fiz muita coisa errada nessa vida... –Desabafou e o sorriso
desapareceu de seus lábios. —Deus perdoa se você se
arrepender. –Aconselhei. O olhei triste, pois o olhar dele
estava triste. —Eu sei que perdoa, mas eu não sei se eu sou
capaz de me perdoar. – Argumentou e parecia se culpar até
por coisas desnecessárias.
—Do que você quer trabalhar?—Perguntou
interessado. —Eu quero continuar os negócios da família. —
Afirmei e ele concordou com a cabeça olhando para o
horizonte. Não era bem o que eu queria, mas no meu caso—
Sabe você pode trabalhar comigo... –Comentei. Se eu estava
criando expectativas? Imagina, só estava imaginando meu
vestido de noiva e colocando Leo como sócio da empresa. —
Eu quero sair desse mundo... Quero sair disso tudo... Mas
ainda não posso. —Ele disse parecendo bem pensativo e
preocupado.
—Você tem que sair disso logo! –Foi um grito quase
que de ordem, uma exigência, um mandato, mas no fim era
na verdade apenas uma apaixonada com medo de perder
sua paixão. — Vai acabar te matando... —Insisti e meus

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olhos foram tomados por lágrimas. —Eu vou sair. —
Afirmou com certeza e mostrando que não queria gritar
comigo. Eu só concordei com a cabeça, afinal não queria
gritar.
Começou a chover, mas não deu tempo de sair
correndo. Leonardo apenas levantou e estendeu a mão para
mim. —Carina Jórdan, já tomou banho de chuva? —
Perguntou sarcástico. Levantei as sobrancelhas o olhando.
—Nem vem. —Eu disse odiando a ideia, se eu já estava
horrível antes imagina depois de uma chuva? —Vem logo. —
Ele me puxou. —Ai que droga! —Reclamei rindo e ele me
puxou para chuva. —Isso é a melhor coisa da vida. —Ele
gritou me pegando no colo e girando. Eu comecei a rir e
bom até que foi divertido. Sabe aquela coisa de beijar na
chuva? Nós fizemos, umas dez vezes. Mas não se iludam,
não é tão bom assim. A única parte boa é que tem gosto de
liberdade. Quando parou de chover tomamos os cavalos e
voltamos.
Leonardo abriu a porta da casa e eu entrei. —Uau. Que
casa linda. —Comentei sorrindo. A casa tinha uma sala
bonita e toda decorada, havia obras de artes por toda a sala
e uma escada enorme que levava para o andar de cima. —
Você quer tomar banho ou comer primeiro? —Perguntou
me abraçando pela cintura. —Comer! —Afirmei sem
qualquer dúvida, pois estava com muita fome. —Ok! —Ele
riu e fomos até a cozinha. Preparamos, ou melhor,
Leonardo preparou um enorme misto quente e dividimos
em duas partes.
Acabamos de comer e eu como uma boa convidada,
coloquei meu prato na pia, quando me virei Leo me beijou.
Eu o amo e não tenho dúvidas! —Conclui em minha mente,
eu o amava, mas talvez não podia admitir em voz alta e nem
para Leo, eu não quero estar vulnerável a um sentimento e
nem a uma pessoa. Eu retribui seu beijo, as mãos fortes de
Leo seguravam minha cintura e me puxavam contra seu
corpo, o meu corpo, o meu desejo me puxava mais para Leo.
De alguma forma, com toda essa pegação, fomos parar no

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sofá da sala de estar e eu, mesmo sendo, Carina Jórdan, só
consegui retomar minha consciência quando já estava em
cima dele.
Parei de beijá-lo e o olhei ofegante, nossas respirações
estavam aceleradas, tinha muito mais desejo em meu corpo
do que eu pensei que tivesse, mas não ia cair em tentação,
não tão rápido assim. Quando ele foi me puxar para outro
beijo me afastei. —Hora do banho. —Eu disse rindo e sai
andando em direção as escadas. —Carina, Carina não
provoca. —Ele comentou ainda deitado no sofá. —Não estou
provocando nada... —Comentei quase gritando e na verdade
estava fugindo. Os quartos eram um mais lindo que o outro,
entrei em um com uma enorme cama de casal e fiquei
pensando sobre minha primeira vez, queria que fosse
especial, como todas garotas querem que sejam, mas eu
desejava de verdade, quase me perdi tantas vezes que quero
me encontrar quando finalmente acontecer.
—Você já andou de balão? —Perguntou Leonardo
entrando no quarto e atrapalhando meus pensamentos. —
Só quando fui para África, mas eu era criança. –Contei
ainda perdida em meus pensamentos. —Como foi lá? –
Indagou interessado. –Na verdade eu não gostei muito, mas
por que perguntou se eu já andei de balão? –Questionei
agora finalmente prestando atenção. —Tem um lugar aqui
perto que tem. Se quiser podemos ir à noite... —Ele disse e
parecia animado. Ele finalmente soltou a mala do lado da
cama e eu sorri. —Vamos sim! Parece legal. —Eu disse e
então ele se jogou na cama, eu não dei muito mole e logo me
levantei para tomar banho, estava fugindo de Leonardo sim,
mas eu precisava, a confusão nos hormônios que ele
causava me deixava vulnerável e sem saber o que fazer, e eu
sou Carina Jórdan sempre sei o que fazer, ou nem sempre.
Leonardo colocou uma roupa bonita e passo gel no
cabelo, parecia que estava feliz o suficiente para não usar a
bendita touca que sempre usava e ele ficou bem melhor
assim. —Se você não quer me provocar por que fica tão
linda assim? —Ele perguntou ao me olhar de cima a baixo.

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—E quem disse que eu não quero? —Retruquei e joguei uma
piscadela para ele. Eu não sei da onde tirei coragem
suficiente para dizer isso, mas eu disse e parece ridículo
quando me lembro. —Então você quer? —Ele perguntou
indo até mim, a minha mistura de hormônios entre querer
fugir e querer me entregar estavam me levando a momentos
estranhos.
—Não sei... —Admiti com cara de inocente, de alguma
forma eu era inocente, mas usava batom vermelho e vamos
combinar, quem usa batom vermelho não é nada inocente,
só que no meu caso eu estava mais confusa do que qualquer
coisa. Ele se aproximou mais e me segurou pela nuca, o jeito
que ele me olhava me fazia quere beijá—lo o resto da minha
vida, mas o momento não permitia. —Vai estragar o batom.
—Comentei me afastando e ri. A cara de decepção dele foi
enorme, sai do quarto antes que pudesse cair nos encantos
que seus olhos tinham. Os olhos dele brilhavam como as
estrelas quando me olhava e eu sempre sonhei com alguém
me olhando assim.
Leonardo e eu, eu e Leonardo, apenas nós dois contra
o mundo, decidimos ir jantar em um restaurante simples da
cidade, em primeiro lugar não podíamos ser reconhecidos,
então quanto mais afastado melhor e segundo gostávamos
de estar sozinhos, assim que saímos do restaurante,
Leonardo me olhou. —O que foi? —Perguntei sem graça. —
Carina Jórdan. —Ele começou e eu levantei as sobrancelhas.
—Você é tão linda... —Elogiou e sorriu, sorri de volta,
porque não tinha como não sorrir. —Como é o seu
sobrenome? —Perguntei curiosa, enquanto caminhávamos.
Eu estava apaixonada por um cara que eu não sabia nem o
sobrenome... Tem noção de quanto isso é estranho? —
Ótima pergunta. —Comentou. —O meu sobrenome é
Cardoso.
—Leonardo Cardoso? —Sorri. —Sim; —Afirmou e eu
me aproximei. —Você é lindo. –Elogiei e ele sorriu
balançando a cabeça, mas de verdade eu nunca tinha
gostado de um garoto tão bonito, ele era muito mais lindo

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que tantos outros. —Mas tem mais uma coisa... —Continuei
e ele sorriu mais. —Você é meu; E isso é o melhor elogio que
algum garoto pode escutar... –Falei orgulhosa e ele
gargalhou. —Eu adoro quando você se acha a melhor do
mundo... —Comentou me abraçando pela cintura e
gargalhando. Eu parei de andar e o olhei discordando.
—Eu não me acho a melhor do mundo Leonardo, mas
no meu colégio os meninos adorariam ser meus namorados.
—Comentei. –E eu adoro ser o seu namorado. –Afirmou e
voltou a andar, eu só seria sua namorada após um pedido,
mas admito que fiquei paralisada. Eu não queria mandar ele
fazer um pedido, queria que ele fizesse por pura e
espontânea vontade então não toquei mais no assunto de
sua afirmação e ele logo mudou de assunto. —Vamos
Carina. Quero te ensinar andar de skate. —Ele disse me
puxando até o carro. —Sério? —Questionei com um sorriso
antes de entrar no carro.
Era uma das primeiras vezes que uma pessoa, na qual
eu realmente sentia alguma coisa, cumpria uma promessa
feita. As promessas feitas pelos meus pais,valiam para todos
menos quando se tratava de mim, as promessas das minhas
antigas paixões também não foram cumpridas. —Sério. —
Ele respondeu entrando no carro. Sorri balançando a cabeça
e fiz o mesmo, estava tudo tão estranhamente perfeito,
como se não fosse para estar, mas estava. Fomos até uma
loja onde alugava bicicleta e skates, aluguei um skate da cor
rosa, obviamente, porque afinal era uma quarta feira e
como todas sabem... Quarta é dia de usar rosa.
—Você conhece muito aqui... —Comentei enquanto
Leo dirigia pela cidade. —Minha mãe me trazia para cá toda
vez que meu pai era preso, ela achava que eu não percebia...
– Explicou Leo estacionando o carro na frente de uma
praça. —Nossa, eu sei como é... — Comentei entendendo. —
Como assim? —Perguntou achando que eu apenas por viver
em um mundo meio que diferente do dele, não entendia. —
Meus pais sempre viajam durante dias e até perdiam datas
importantes, então a minha babá Lu inventava contos de

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fadas para eu viver... Mas a verdade é que nenhum conto de
fadas ultrapassa a realidade. –Falei relembrando de
algumas apresentações que meus pais não apareceram e de
algumas tardes na piscina que éramos interrompidos por
algum telefonema, e eu sabia se o telefone tocasse era um
adeus para a tarde em família.
—A vida é cruel até para crianças. —Concluiu Leo. —
Pois é. —Suspirei. —Ainda bem que crescemos e podemos
fazer as nossas próprias escolhas. —Disse Leo tentando
amenizar. Eu sorri. –Você está certo. —Saímos do carro,
andamos um pouco pela praça, Leonardo colocou o skate no
chão. E me olhou. —Suba! —Mas já? —Falei desesperada,
certamente iria passar vergonha na frente dele. —O grande
segredo é manter o equilíbrio, não pode olhar para nenhum
lado a não ser para frente, se olhar pode cair. Se acelerar
muito, perde o equilíbrio... É como a vida. –Disse Leo
tentando me explicar de uma forma que eu entendesse. A
vida não é uma coisa fácil, mas se você conseguir manter o
equilíbrio em todas as áreas, olhar apenas para frente e não
querer correr contra o tempo, a sua vida tem grandes
chances de dar certo e ser uma vida feliz.
—Realmente... É uma boa metáfora. —Concordei e
subi no skate. — Ele me deu as mãos. —Você tem que se
manter equilibrada. –Começou a explicação. —Vire mais o
corpo e arruma o pé. — Depois de alguns conselhos, ele
subiu no skate comigo e deslizamos pela linda praça do
interior de São Paulo, toda iluminada e com casas lindas em
volta. Ele tinha razão andar de Skate é como a vida... A
melhor coisa que existe. Eu como sempre, lerda, estraguei o
momento quase caindo e Leonardo como sempre
melhorando os momentos me segurou. Meu coração gelou,
mas as mãos dele me aqueceram. —Eu disse que não podia
olhar para trás... —Ele comentou me virando para me olhar
nos olhos. E eu caí na gargalhada.
—Talvez eu não seja boa na vida por isso não dei certo
no skate. –Conclui decepcionada comigo mesma, mas em
tom brincalhão. Leo começou a dar altas gargalhadas. —

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Você é boa na vida e só falta prática no skate... —Comentou
depois de tanto rir. —Obrigada pelo conselho. —Eu disse e
por um momento, um eterno momento eu senti falta da
minha verdadeira vida e cansei de viver essa. Sai andando
em direção ao carro. Rapidamente Leonardo me alcançou
com o skate na mão e parou na minha frente. —O que foi? —
Perguntou sem entender.
—Eu costumo ser boa em tudo. —Afirmei. Ele me
olhou querendo segurar a risada. —Que? –Perguntou Leo
sem entender meu descontentamento, do nada. —É... Eu
sempre sou a melhor da sala.–Me lembrei de como era feliz.
—Você não está na sala de aula Carina. —Ele disse e eu me
lembrei de quanto era boa a minha casa. —Eu já percebi. —
Falei e meus olhos encheram de lágrimas, não conseguia
olhar para Leonardo, apesar de amar estar com ele, eu não
podia desistir de tudo que conquistei. —Carina, você quer ir
embora? —Perguntou e foi a gota d’água.
—É claro que eu quero ir embora. —Afirmei
totalmente estressada até onde essa palhaçada de sequestro
tinha chegado. Ele concordou com a cabeça. —Achei que
você estivesse gostando... —Comentou e saiu andando em
direção ao carro. Talvez eu tivesse falado demais, tivesse
demonstrado meus sentimentos de uma maneira errada,
mas de alguma forma eu senti aquilo, se não, não teria dito.
Ele entrou no carro e eu fiz o mesmo. —Desculpa, eu estou
confusa... —Eu disse com a esperança que ele me
desculpasse. Nossos olhares se encontraram e causou um
suspiro em ambos. —Você nem pensou para responder... —
Argumentou Leo decepcionado com a minha atitude. —O
que você vai fazer? —Perguntei aflita tentando encontrar a
resposta em seu olhar. —Vou te levar embora, não é isso que
você quer? —Afirmou seco arrancando o carro da vaga. —
Mas... –Comecei, mas Leonardo me interrompeu.
—Mas nada! Você não quer ir embora? Então agora
você vai. Vai ter tudo de volta. Sua escola, amigas e sei lá
mais quem... —Ele disse com um tom de voz angustiado. —
Eu amo eles... —Expliquei me apoiando no vidro. Essa

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sempre foi a minha grande certeza, apesar de sofrer por
alguns garotos idiotas, eu tinha minhas amigas, tinha Lu,
tinha o meu lugar no mundo e agora parecia que eu era a
excluída de tudo. —Eu achei que você me amasse também.
—Ele afirmou balançando a cabeça olhando para a estrada.
Eu não disse nada, não podia dizer nada, eu o amava
mesmo, mas eu precisava me amar mais. Eu chorei em
silêncio no carro.
Era o fim, acabaria tudo! Cada momento, cada olhar,
cada toque... Tudo apenas registrado em folhas e mais
folhas. Eu senti algo por ele desde a primeira vez que o vi, a
cada tentativa de conquista me apaixonei e a cada toque e
beijo o amei. Nem sempre o amor é tudo que existe. O
caminho foi horrível, eu chorava e Leonardo parecia estar
mais estressado do que nunca. —Você vai para onde? —
Perguntei quase sem voz de tanto chorar. —Eu vou ter que
fugir pelo mundo, pois ajudei uma garota que me enganou.
–Informou Leo como se eu já não me sentisse culpada o
suficiente.
—Essa garota não te enganou. —Afirmei secando as
lágrimas. —Deve ser... —Comentou dando de ombros.
Decidi parar de falar, pois as palavras já tinham estragado
tudo, depois de horas eternas, chegamos na esquina de casa
e Leo parou o carro. —Só não esquece que foi você que me
levou embora sem nem entender o meu lado. —Desabafei
antes de sair do carro. —Só não esquece que foi uma escolha
sua! –Afirmou Leo ainda irritado. Eu sai do carro e assim
que fechei a porta. —Adeus Carina. —Se despediu e
arrancou o carro. —Adeus. —Eu disse quase sem sair voz.
Vê-lo ir embora daquele jeito foi como se meu mundo
estivesse morrendo... Como se tudo que existia tivesse
acabado. Como se a magia e a inocência do mundo
desaparecessem. Foi como perder uma parte de você sem te
deixar feia. Antes de conseguir caminhar, sentei no chão e
desabei a chorar. Dizem que o choro cura e guardar rancor
só faz mal. Depois de alguns minutos. Quase sem forças,
consegui me levantar e ir até a portaria do condomínio que

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morava. Pareceram horas de caminhada enquanto na
verdade foram minutos.
Assim que cheguei e toquei a campainha os seguranças
me reconheceram e começaram a gritar, acho que foi de
alegria. Um deles abriu a grade enquanto o outro ligava
para meu pai e outro me entregava um copo de água. Não
sei mais o que aconteceu, pois eu apaguei. Retomei
consciência e senti um cheiro bom, decidi abrir os olhos
para ver onde estava e bom era no meu quarto. Como eu
pude me esquecer de como aquele lugar era bom? A cama,
os lençóis, o cheiro e até a voz de pessoas que eu amava.
—Ela acordou. —Gritou minha mãe com um sorriso
alegre, era bom vê—la sorrir. Meu pai apareceu, acho que
ele nunca apareceu tão depressa para me ver. —Oi mãe. —
Falei não me aguentando e comecei a chorar. Presa naquele
lugar achei que ela pudesse não sentir minha falta, mas que
tola eu fui, ela tinha sentido minha falta e eu tinha sentido
falta dela. O cheiro dela, o olhar, o sorriso seriam sempre
meus maiores alívios. —Ai querida! Eu senti tanto a sua
falta... –Ela disse tão rapidamente e me tomou em um
abraço.
—Eu também mãe... –Falei com a voz abafada em seus
ombros. —Eu também. –Repeti mais uma vez. As lágrimas
de todos escorriam, acho que pela primeira vez na minha
vida vi meus pais chorando por minha causa e nesse
momento senti que eu era amada, amada por existir, não
pela imagem que eu tinha criado de mim mesma Era o
momento da volta, a volta da pedra preciosa para a caixinha
de joias e eu não queria nunca mais sair da li. Assim que a
minha mãe teve coragem de me soltar, foi a vez do meu pai,
e ele aquele homem de negócios, chorava como se seu
coração estivesse quebrado. Eu o amava, sempre o amei,
nunca tive dúvidas.
Alguns minutos de conversa e perguntas que eu não
queria responder, não sabia como responder, de alguma
forma Leonardo era importante para mim, de alguma forma
eu amava ter voltado, de alguma forma tudo parecia
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perfeito e ao mesmo tempo nada estava. Lu entrou no
quarto trazendo uma bandeja. —Lu. —Eu disse ao vê-la e
meu sorriso se abriu, ela era minha paz, minha certeza,
minha proteção. Ela correu deixar a bandeja na estante e foi
me abraçar. —Ah menina! Como estava com saudades de
você...
Ela é com toda a certeza a pessoa que eu mais amo no
mundo, eu me sentia segura com ela, sabia que nunca iria
me decepcionar e que principalmente nunca iria partir. —
Eu senti tanto a sua falta. —Foi as únicas palavras que
consegui dizer, tinha tanto para ser dito, mas o silêncio
também era tão necessário. —Quem quer bolo? —Perguntou
minha mãe fazendo Lu me soltar, minha mãe sentia ciúmes
de nossa relação, mas não tinha o que fazer, ela era mais
minha do que minha própria mãe.
—Quer bolo filha? —Perguntou meu pai me dando um
prato. —Obrigada. –Agradeci quando ele me entregou. —
Filha o delegado quer falar com você. –Explicou minha mãe
depois de Lu cochichar algo em seu ouvido, eu que levava
um pedaço de bolo para boca, o deixei cair. O que eu ia
dizer a polícia? O que eu ia dizer a todos? —Eles não
fizeram nada de mal a você né? —Perguntou minha mãe
tentando segurar o desespero, por perceber o meu
desespero. Eu não conseguia falar, não sabia o que dizer. –
Eu preciso ir ao banheiro. –Falei e me levantei em um
impulso.

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Capítulo 06

Entrei e fechei a porta tentando parecer calma, mas


não estava nada calma. Comecei mudar meus pensamentos
e olhar pelo banheiro. Como ele era lindo, todo branco com
detalhes rosa. Lu sempre o deixava limpo e arrumado, o que
era ainda melhor. O vidro do Box não tinha mancha alguma
e o espelho era lindo e ótimo para fazer maquiagem.
Descrever o banheiro parece besteira, mas estava sendo
ótimo para me distrair um pouco. Respirei fundo e enfrentei
o que me esperava. O depoimento mais que necessário
quem fez aquilo comigo merecia pagar, o medo que passei e
as incertezas, não era certo. Não podia livrar a barra deles,
não totalmente.
—Estou pronta para falar. —Afirmei assim que sai do
banheiro. E então o delegado e outros policiais entraram,
meus pais e Lu tiveram que sair. Não me sentia nada a
vontade, eu nunca tinha pensado que isso aconteceria, mas
isso é uma coisa necessária. —Olá Carina. —Disse o
delegado. —É só nos contar a história com o máximo de
detalhes que lembrar.
E ai eu comecei falar, não sei o quanto estava sendo
má, mas ninguém havia me poupado de sofrer, então era a
hora certa, contei onde mais ou menos eles me
sequestraram, uma rua não muito movimentada, mas bem
perto de uma das avenidas mais movimentadas de São
Paulo, contei como fiquei assustada e de tudo que tinha
descoberto. —Então Rubéns e Cesar eram os nomes dos
dois capangas? —Confirmou o policial. —Sim. —Concordei.
—E tinha Leonardo, se não fosse ele eu não estaria aqui, ele
fez a estadia lá ser melhor, ele gostava de mim de alguma
forma e nunca me fez mal.
—Esse Leonardo aparenta ter quantos anos? —
Perguntou enquanto anotava. —Dezenove. —Respondi. —E

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como você voltou para casa? –Falou fazendo seu trabalho
de investigação perfeitamente. —Foi Leonardo que me
trouxe. Acho que ele desistiu da vida no crime e até me
salvou do pai que quando percebeu que meu pai não ia dar
o dinheiro, ele decidiu me matar. —Contei tentando não
parecer uma doida que se apaixonou, mas mostrando a
verdade de alguma forma. Depois de mais algumas
perguntas sobre se eu sabia o caminho e coisas do tipo, eles
se retiraram e eu estava exausta, confusa, completamente
perdida. Apesar de todos se retirarem quando eu pedi para
descansar, não consegui pegar no sono tão facilmente. E os
dias que vieram também foram incrivelmente horríveis,
ninguém queria me deixar um segundo sozinha, eu não
podia sair de casa, não podia voltar para o colégio e minha
mãe não queria nem que minhas melhores amigas viessem
me visitar. Estava me sentindo presa e sufocada.
— Ai mãe! Que droga! — Eu disse irritada após ela
negar mais uma vez meu pedido de voltar a frequentar o
colégio. —Mas filha! — Ela tentou me repreender por não
querer tanta proteção. —Eu sempre fiquei bem sozinha, a
polícia está atrás deles, o colégio já melhorou a segurança e
eu já prometi não sair mais sozinha, então volte para suas
atividades e me deixe voltar para as minhas. –Argumentei
tentando mostrar para ela mais uma vez que eu precisava
voltar a rotina.
Depois do sequestro, minha mãe virou super
protetora, não me larga por um segundo, mal me deixa ler
um livro, fica sempre me seguindo pela casa e está me
irritando. — Eu só estou cuidando de você! — Afirmou e
voltei olhar nos olhos dela. — Você não acha que está meio
tarde para isso? —Perguntei meio sarcástica. Quantas
pessoas não esperam o pior acontecer para começar a se
importar?
— Sua proteção sempre estará em primeiro lugar. —
Ela tentou argumentar, mas eu não dei ouvidos, me levantei
e fui para outro cômodo da casa com a esperança que ela
não me seguisse. Além de tudo isso, eu não consigo

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esquecer Leonardo. Sim, todos os dias, todas as noites,
todos os momentos eu só consigo pensar nele. Não me
canso de perguntar onde ele está? Ele está bem? Será que
sente minha falta? Será que nunca vou esquecê-lo?
O que eu senti por ele foi tão diferente do que já senti
por qualquer outro garoto, mas ele e eu não podemos ficar
juntos, é impossível em todos os casos. Por que meu
coração escolheu logo ele?
Depois de mais longos três dias e de eu não parar de
implorar para minha mãe para voltar para o colégio, meu
pai foi no meu quarto falar comigo. —Então você quer voltar
para a escola? —Perguntou se aproximando. —O que eu
mais quero é voltar para o colégio. –Afirmei e dei um longo
suspiro. —Temos medo de te perder. –Admitiu meu pai. —
Vocês não vão me perder se deixarem eu ter a minha vida
de volta. –Argumentei e ele concordou com a cabeça.
—Eu sei que está acostumada em fazer diversas coisas
durante um dia e por isso eu e sua mãe decidimos deixar
você voltar para o colégio. –Ele informou e um sorriso
alegre se abriu em meu rosto, apesar dessa ação ser
frequente na minha vida, fazia tempo que eu não sorria. Eu
o abracei rapidamente. –Obrigada pai. Muito obrigada. –
Falei e o som foi abafado em seu ombro. Nunca achei que o
colégio fosse resolver meus problemas, mas desde que voltei
não tenho desejado mais nada além de me manter ocupada
o dia todo para não pensar em... Você sabe quem. Por isso
acredito que será ótimo retornar para o meu reinado.
Fazia tempo que não estava realmente empolgada com
algo, mas naquela manha levantei feliz da vida e parecia que
tudo tinha voltado a ser como era antes. Ou era isso que eu
gostaria de afirmar a mim mesma. Eu achei que assim que
chegasse no colégio, me sentiria totalmente em casa, mas eu
não me senti pertencente aquele lugar, apesar de todos
parecerem eufóricos com minha volta, era como se eu não
pertencesse a mais nenhum lugar. Eu estava mais quieta do
que de costume, depois de algumas aulas, o intervalo
chegou.
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Comecei a conversar mais e todas pareciam ter sentido
a minha falta, isso me deixou feliz. —Eu estava morrendo
de saudades de vocês. —Afirmei em meio de gargalhadas. —
Também estávamos... —Comentou Ana sorrindo —Sem a
nossa rainha estava tão chato! —Brincou Bia e me fez sorrir.
—Eu tive medo de você nunca mais voltar. —Disse Jéssica e
meu coração tremeu. Carina Jórdan o que está acontecendo
com você? —Perguntei a mim mesma. Eu ia dizer que tive
medo também, mas lembrei que eu não podia mudar o meu
jeito de ser, não podia deixar aquela Carina de lado, ela
tinha feito parte de mim e precisava continuar fazendo. —
Bobagem, é claro que eu voltaria. —Disse sorrindo e dei de
ombros.
—Verdade. Todo mundo sabe que os pais de Carina
são ricos e poderosos o suficientes para mandar até no
governo. —Disse Fernanda e eu sorri. —Eles não me
ajudaram em nada... Mas o que importa é que eu voltei! —
Olhei para cada uma. —E isso é motivo de comemoração. —
Então teremos uma festa? —Perguntou Jéssica parecendo
animada, me dando uma ótima ideia. Eu já disse o quanto
ela é boa em organização de eventos?! Ela é ótima. —Uma
festona! —Eu disse com sorriso malicioso no rosto. —Qual
o tema? —Perguntou Ana. —Um baile de máscaras seria
legal... —Comentou Bia. —Ótima ideia! –Exclamei animada.
—Já preparem as bocas meninas vamos beijar muito!
—Disse Fernanda toda animada. —Até que enfim uma festa
para animar e tirar a seca. —Disse Ana totalmente
convencida sobre estar na seca.—Teve uma festa semana
passada e você ficou com uns dois garotos na mesma noite.
–Lembrou Jéssica olhando para Ana. Até o momento eu
não tinha percebido que o mundo que eu achava que era
meu, continuaria totalmente normal sem a minha presença
e isso era triste.
—Vocês são loucas! —Falei morrendo de rir. —Ah,
mas até a Carina já ficou com dois na mesma noite... —
Comentou Fernanda querendo dizer que era normal. —Na
verdade foram três... —Comentei olhando para o pátio. Eu

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não fui tão santa assim durante a minha vida. —Você estava
muito bêbada. —Afirmou Bia gargalhando. —Eu estava
depressiva e bêbada. –Conclui rindo. —Qual foi o quarto
garoto? —Perguntou Jéssica me olhando como se eu tivesse
escondendo algo. Ri e fiquei em silêncio lembrando da
bendita noite.
—Foi o... O Mark. –Respondi desviando o olhar. Todas
ficaram boquiabertas. —Como assim? —Perguntou
Fernanda pasma. —Ele não tinha ido embora da cidade
antes daquela noite? —Perguntou Ana perdida. Essa
história parte o meu coração, parece que sempre vai partir,
mas faz parte de mim. —Um beijo de despedida.—Lembrei e
dei um leve sorriso misturando dor e ternura. —Mas e
depois? —Perguntou Bia querendo saber detalhes. —Nos
beijamos, ele foi embora, eu fui para o bar bebi igual uma
condenada, fiquei com mais três caras e vocês já sabem o
resto...
—Essa história já sabemos. –Falou Ana sem ligar
muito. —Mas vocês nunca mais conversaram? —Questionou
como se tivesse sido a grande história de amor e tinha sido,
por um momento foi a minha história de amor, mas ele não
merecia o meu coração. —Não... —Eu disse meio que não
ligando, por um lado eu não ligava mesmo. —Vocês ficavam
lindos juntos. —Afirmou Jéssica sorrindo. —Pode ser, mas
ele fez a escolha dele e eu não o amava. —Eu disse querendo
mudar de assunto, Mark tinha sido importante e falar dele
me machucava, pois lembrava de uma versão de mim que
eu não gostava.
—Você já amou para saber? Amor é assim, dá tudo
errado antes de dar certo. —Disse Fernanda contribuindo
para conversa. Eu me perdi em meus pensamentos, mas
não foi sobre Mark, foi sobre Leonardo, porque eu sempre
escolhia os caras mais errados possíveis... Eu esperava que
dessa vez pelo menos fosse amor das duas partes. —Você
não está apaixonada por outro garoto e não nos contou né?
—Perguntou Bia me fazendo voltar para a realidade.

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—Eu não me apaixono. —Afirmei rapidamente, mas
dei um sorrisinho no final que estragou tudo. —Conheço
esse sorriso! Lógico que está... —Disse Jéssica me
cutucando. —Ai! —Reclamei e a olhei brava. —Não estou
apaixonada por ninguém. —Eu disse mais uma vez tentando
parecer convincente. O sinal bateu e então era hora de
voltar para sala. —Aff não estou nem um pouco a fim de ter
aula de Geografia. —Comentou Jéssica me olhando com
cara de nojo. —Eu acabei de voltar e não estou com vontade
de ver a cara da professora Carla. —Concordei.
—E se não formos para a aula? —Perguntou Ana já
sorrindo. —Não podemos. —Negou Fernanda rapidamente.
—Ai gente melhor não arriscar. —Concluiu Bia depois de
trocarmos alguns olhares. —Meninas. —Sorri. —Temos que
resolver as coisas da festa... –Comecei e Ana sorriu e as
outras mostraram espanto. —Eu acho que algumas aulinhas
perdidas não irão fazer mal a ninguém... —Conclui sorrindo.
—Isso não vai dar certo! —Discordou Bia. —Claro que vai! —
Exclamou Ana querendo fugir desse lugar tanto quanto eu.
—Eu acho que podemos ir e concordo com a Carina... —
Comentou Jéssica e eu sorri.
—São duas contra três... Ganhamos. —Disse Ana
balançando a cabeça. —Parem de ser medrosas... —
Encorajei me levantando. Fernanda e Bia engoliram seco. —
Vamos meninas! –Chamei animada. —Como vamos sair da
escola? —Perguntou Fernanda ainda nada confiante. —Não
vá nos dizer que nunca fugiu da escola? —Perguntou Ana.
Revirei os olhos. —Meninas concentrem—se! –Avosei. É só
irmos pela academia até a quadra de basquete e saímos
pelos fundos. —Eu expliquei a elas enquanto andávamos
até o outro lado do pátio.
Alguns "OKs" foram tão baixos que mal pude
reconhecer as vozes. Mas continuei andando olhando para
frente. Afinal, eu sou Carina Jórdan e esse é meu reinado.
Ouvi alguém derrubando alguma coisa e logo em seguida a
voz de Bia. —Ai que droga! — Virei para trás para ver o que
as espertonas tinham feito. Bia tinha derrubado alguns

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cadernos do balcão. —Ai meu Deus viu! Tinha que ser... —
Comentei mostrando minha raiva. —Bia... Sempre a mais
desastrada! —Disse Fernanda rindo. Revirei os olhos e me
virei para frente. —Vamos meninas... Em silêncio! —Eu
disse mostrando liderança.
Quando estávamos quase chegando na quadra de
basquete. Escutamos alguém quicando a bola no chão. —
Droga! —Afirmei pensando. Quem será que poderia ser? —
Perguntei a mim mesma nos meus pensamentos.—O único
que treina fora do horário é o Bernardo. —Comentou Bia
como se tivesse feito a pergunta em voz alta. —O Bernardo?
—Perguntei fazendo cara de nojo. Aquele era o tipo de
garoto que dava em cima de várias ao mesmo tempo e nem
era bonito.
—Deixa que eu vou... Distrair ele é fácil para mim! —
Olhei para cada uma. —Mas e nós? —Perguntou Jéssica. —
Quando eu der o sinal... Vou fazer de tudo para ele não ver
vocês. –Expliquei da melhor forma que pude.—Ok! Todas
sabemos que ele é fofoqueiro. —Disse Fernanda antes de eu
sair em direção a quadra. Fui me aproximando como quem
não quer nada até que ele me viu. —Carina Jórdan! —Ele
disse sorrindo e parando com aquela bateção chata de bola.
—Bernardo! –Falei e sorri, foi o sorriso mais falso da minha
vida. —Deixa eu adivinhar... —Comentou enquanto eu
caminhava até ele.
—Você veio finalmente me dar um beijo? —Sorriu. Eu
ia logo dizer que não, afinal eu negava a mesma coisa há
séculos, porém nesse momento eu tive uma brilhante ideia.
—Como você adivinhou? —Perguntei sarcástica e sorri. Ele
ficou boquiaberta. — Sério? —Juntei toda coragem que
tinha e que não tinha para não dar tempo nem do pequeno
cérebro dele pensar e nem do meu desistir e por um
impulso o beijei. Ele se entregou ao beijo e largou a bendita
bola de basquete, me abraçou pela cintura e eu segurei seu
rosto com minhas mãos. Comecei tentar fazer nossos corpos
virarem para eu dar o sinal para as meninas.
Jéssica, Ana, Fernanda e Bia.
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—Meu Deus!
—Ela beijou ele!
—Ela é louca.
—Louca é pouco.
Ficaram boquiabertas.
Abri os olhos no meio do beijo e olhei em direção as
meninas, fiz com uma das mãos um sinal para que elas
passassem correndo e com a outra segurei o rosto de
Bernardo pela nuca para ele não olhar em outra direção.
Quando ele começou tentar pôr a língua eu o soltei. —
Prontinho! –Afirmei com um sorriso e sai correndo. O bocó
ficou lá parado.
Assim que encontrei as meninas, meu coração estava a
mil, meu corpo estava tremendo, ser Carina Jórdan
realmente tinham suas vantagens. —Você é louca! —
Afirmou Jéssica assim que me viu. —Os grandes líderes são
loucos... —Comentei tentando me acalmar. —Por que
beijou ele? —Perguntou Ana parecendo confusa. —Para nós
conseguirmos escapar do Colégio... —A olhei com cara de
confusa. Assim que passamos pela porta sem ninguém nos
ver. —Finalmente estamos livres! —Disse Ana girando de
felicidade. —Sim. —Eu disse rindo tão feliz quanto. —Agora
vamos em um salão de festas super lindo que inaugurou há
algumas semanas. — Disse Jéssica saindo na nossa frente,
mas eu como uma verdadeira Águia passei em sua frente.
Ela podia ser ótima em organizar eventos e ser minha
melhor amiga, mas nunca podemos deixar ninguém tirar
nosso lugar.
Estávamos caminhando pela rua até o salão de festas
que segundo Jéssica era perto. —Chegamos! —Ela exclamou
e todas ficaram eufóricas. Toquei a campainha e dei um
passo para trás. —Por fora é lindo... —Comentou Fernanda
olhando em volta. Isso era verdade, era lindo, novo, algo
que não existia antes de eu ser sequestrada e agora existe.
Acho que combinava com o momento, afinal eu não era a
mesma. Enquanto esperávamos a porta abrir olhei pela rua.
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E para minha sorte ou azar, assim que olhei em
direção a direita vi Leonardo. Balancei a cabeça com a
esperança que fosse apenas minha imaginação. Meus olhos
encheram de lágrimas e ele parou de caminhar e ficou
olhando em minha direção. Foi como amor à primeira
vista, mas não era a primeira vez que nos víamos... Eu
queria ir em sua direção e o abraçar. Um milhão de
pensamentos passaram em minha cabeça antes de Bia me
puxar para dentro do salão e eu retomar a razão.
As meninas nem perceberam, estavam eufóricas
demais para isso, mas meu coração percebeu e se
despedaçou. Leonardo, Leonardo e Leonardo era tudo que
eu conseguia pensar enquanto a moça que nem o nome
lembro falava sobre a festa. —... Em? —Perguntou a moça,
mas não tinha jeito, eu não conseguia me concentrar. —
Onde fica o banheiro? —Perguntei passando a mão no rosto.
—Na primeira porta à direita... —A moça disse com uma
cara de confusa. —Obrigada! —Me levantei rapidamente e
quase corri. —Para de ser idiota Carina! —Falei comigo
mesma me olhando no espelho. Tentei parecer forte, mas
desabei a chorar.
Leonardo Cardoso o cara que surgiu na minha vida
para me fazer mal, mas a vida é doida e ele acabou se
tornando o cara que mais cuidou de mim. Eu necessitava
dele, meu coração precisava dele, isso era estúpido, mas
verdadeiro. Assim que voltei para o escritório, todas
suspiraram. Eu sempre deixei bem claro que se um dia sair
correndo para algum lugar é para me deixar ir, pois sou
forte o suficiente para me acalmar sozinha.
—Ficamos preocupadas... —Disse Jéssica me
abraçando. —Só foi um mal estar. —Expliquei a olhando. —
Já podemos voltar para a organização da festa... —Comentei
sorrindo e me sentei do lado de Ana. O lado bom de ser
Carina Jórdan nesses momentos é que minhas maquiagens
são a prova d'água, então eu posso me acabar de chorar no
banheiro, mas quando voltar para sociedade tudo estará
como antes. O outro lado bom é que ninguém fica

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perguntando nada, pois sabem que lá no fundo eu sempre
estarei bem. Concordei com tudo, não estava em um dia
bom para dar ideias, mas as meninas estavam animadas
então deram alguns palpites.
Estávamos andando pelo centro da cidade.—Esse baile
será um arraso! —Exclamou Fernanda animada.
Infelizmente, algo em mim tinha mudado. Eu não conseguia
mais parecer forte a todo instante. Minha resposta foi um
leve sorriso como aqueles que damos quando estamos de
luto. —A Carina é a que está menos animada... —Comentou
Bia me chacoalhando. —Eu estou animada. —Afirmei
tentando brincar com a situação. E deu certo, pois elas
riram. —Meninas. —Disse Jéssica parando no meio da
caminho. Parei e a olhei. —Necessitamos comprar os
vestidos. —Afirmou histérica e rimos. —Vamos almoçar e
depois já vamos na loja Perfect Trajes.
—Eba! —Exclamou Bia. —Vamos logo então. — Disse
Ana apressada. —Eu quero um vestido vermelho. —Pensou
Fernanda em voz alta indo atrás de Ana. —Calma meninas!
Ainda vamos almoçar... —Disse Jéssica rindo. —Falou a que
não está ansiosa! —Comentei sarcástica e sai quase
correndo. Sempre gostei de ser o centro das atenções,
sempre gostei que me olhassem, mas as pessoas estavam
olhando para nós mais do que o comum. —Por que estão
todos nos olhando? —Perguntou Ana em uma espécie de
sussurro depois de um tempo que estávamos no
restaurante. —Verdade... —Concordou Bia tentando
disfarçar ao olhar em volta. —Deve ser a Carina. —Explicou
Jéssica e continuou comendo. —Tenho três teorias... —
Comecei olhando em volta. —A primeira teoria é que talvez
estejam nos olhando por sermos bonitas demais, a segunda
talvez seja por causa do meu sequestro e a terceira porque
estamos comendo demais! –Expliquei parecendo ser algo
sério. Todas riram inclusive eu. A antiga Carina ainda
existia dentro de mim e isso importava.
Comecei por uns instantes admirar minhas amigas,
cada uma tinha uma beleza própria e um talento próprio e

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eu nunca tinha percebido. Ana com seus cabelos claros e
dentes perfeitos e é uma ótima desenhista, Bia com seus
cabelos escuros e seus beiços grossos é uma ótima
conselheira e seu talento com a música é admirável,
Fernanda com sua beleza exótica e suas pernas compridas
desfila como ninguém além de ser uma ótima professora de
matemática. E Jéssica, bom ela é a melhor de todos. Sabe
aquela pessoa que você não pode perder nunca na vida?
Essa é a Jéssica. Com um corpo de dar inveja e uns cabelos
compridos e cacheados seu talento com o vôlei é
inconfundível.
Eu já fui tão má com elas que me arrependo. —
Balancei a cabeça. —Foca Carina! Antiga Carina é melhor e
sofre menos. —Disse a mim mesma nos meus pensamentos.
Experimentei dezenas de vestidos, um de cada cor e de
estilos diferentes, nenhum parecia bom o suficiente, mas
acabei escolhendo um vestido todo trabalhado no brilho
dourado e com as costas totalmente descobertas.

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Capítulo 07

Não escreverei sobre os dias sem graça que se


passaram. Ninguém descobriu sobre nós termos saído do
colégio, aliás a diretora acha que estávamos ajudando com a
decoração de um salão para a festa de inverno. Bobinha,
coitada! Meus pais até me largaram um pouco e agora pelo
menos minha mãe chega depois das dezoito horas em casa,
ainda não me deixaram voltar a fazer meus cursos, pois
disseram que é perigoso. Acho que desejei tanto ser rainha
que acabei tendo que ser protegida como tal.
Odeio tudo isso que estou vivendo, odeio a parte de
amar um cara que não posso ter, odeio minha mãe não sair
do meu pé, odeio ter que parecer bem enquanto por dentro
estou odiando viver! Dias sem graça lembram? Essa frase
define esses dias. Jéssica está animada com o baile e graças
a Deus está organizando tudo, pois se dependesse de mim
eu já teria cancelado. Sim, Carina Jórdan está mudada...
Não tem como esconder tudo que mudou. E mudar é
inevitável. Só não sei o porquê para mim é tão difícil admitir
a todos que mudei. Vou fingir que estou bem, aliás, isso é o
que eu faço de melhor.
—É hoje. —Disse Jéssica pulando em cima de mim ás
oito da manhã. —Ai! O que tem hoje? —Perguntei cobrindo
a cabeça com o cobertor. —Ai Carina! Sua festa né... –Ela
explicou meio irritada com a minha falta de animação. —
Ah! Verdade. —Eu disse e tirei o cobertor do rosto
mostrando um sorriso largo para Jéssica. Repeti a mim
mesma no pensamento: É só fingir que está feliz! —Vamos
tomar café! —Disse Jéssica saindo no quarto. E eu passei a
mão pelo rosto. —Vem logo! —Ouvi ela gritar. —Já vou! —
Suspirei. E tentei me sentir feliz.
Como fazer para voltar a adorar fazer uma coisa? Eu
sempre amei festas, me arrumar para festas, comprar

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roupas para festas, mas eu não estava mais empolgada com
nada disso.
Passamos a manhã juntas em um SPA, na parte da
tarde eu fui para um salão diferente do da Jéssica. Nem o
meu penteado eu fiz questão de escolher deixei que a
cabeleireira escolhesse tudo. Sai às pressas do salão afinal já
estava quase atrasada para a festa e ainda precisava me
vestir. —Lu! Me ajuda a pôr o vestido. —Gritei do quarto,
ela chegou rapidamente. —Você está linda! —Ela disse
pegando o vestido da cama. —Obrigada. —Sorri. Ela me
ajudou e fechou o zíper. —Está igual uma princesa... —
Elogiou me olhando pelo espelho. Concordei com a cabeça.

— Sentiu falta disso? –Perguntou e um sorriso se abriu


em meu rosto. –É bom me vestir como uma princesa de
novo. Tudo, de alguma forma, tinha se encaixado. Tudo, de
alguma forma, estava perfeito. Depois de colocar meu
maravilhoso sapato com um salto tão alto que eu nem sei
como conseguia ficar em pé e ter a ajuda da Lu para colocar
minha máscara. Desci as escadas para a garagem
delicadamente, com a mão direita eu segurava o corrimão e
com a mão esquerda segurava o celular.

— Uau! —Disse minha mãe que me esperava. —Estou


um arraso né? –Perguntei sorrindo, descendo o último
degrau. — Está sim! —Elogiou minha mãe rindo. —O pai já
está pronto? —Perguntei procurando ele com o olhar. —O
seu pai... —Engoliu seco. — Não vai poder ir na festa. —Isso
era tão comum antigamente que eu já tinha até me
acostumado, mas essa nova versão de mim parecia ter
esquecido e meu coração quebrou, mas eu não podia deixar
que ninguém soubesse disso. — Ele vai perder um grande
baile. —Foram a únicas palavras que consegui dizer.
Minha mãe decidiu ir dirigindo, mas um carro com
seguranças foi na frente e um atrás. No caminho tentei me
concentrar em como manter a felicidade em meu rosto,
olhando toda aquela cidade, olhando meu vestido, minha
mãe, penando em como essa festa seria incrível, eu
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finalmente consegui não sentir dor, apenas felicidade. Nem
Leo, nem o meu pai atormentavam minha cabeça.
Paramos o carro na porta e com a ajuda de um dos
seguranças desci. Esperei minha mãe, pois ela sempre foi
minha fonte de confiança. —Pronta? — Perguntou minha
mãe me olhando antes de entrarmos. —Pronta. — Então
entramos. Descemos a enorme escada e todos me olhavam,
eu sempre fui o centro das atenções. O salão era a coisa
mais linda do mundo, era tão luxuoso, acho que me lembrei
porque gostava tanto de festas. Os arranjos de flores, os
lustres, as minhas fotos de infância espalhadas nos telões
gigantes. As meninas tinham razão, tudo isso seria um
sucesso.
— Você está linda! —Afirmou Jéssica se aproximando.
— Você também. — Sorri por causa da animação dela. —Olá
Jéssica. — Cumprimentou minha mãe sorrindo. —Oi tia...
— Ela disse abraçando minha mãe. Não demorou muito
para nós largamos a minha mãe e sairmos andando pelo
salão. —Está tudo certo? —Perguntei a olhando. —Está sim.
– Respondeu. —Então vamos nos divertir! —Exclamei a
puxando para a pista de dança. Eu preciso estar feliz! Eu
preciso. —Era o que eu dizia a mim mesma durante todo o
tempo.
Todos na pista de dança estavam animados, inclusive
eu. Eu estava começando a esquecer dos problemas
quando... —Oi Carina! —Disse Bernardo me puxando pelo
braço, o que fez eu me virar. O olhei. —Oi Bernardo. —Eu
disse mostrado minha falta de vontade de falar com ele. —
Vamos repetir o que aconteceu aquele dia? —Perguntou, sua
máscara cobria metade do rosto então pude ver o sorriso
dele. Dei uma gargalhada sarcástica. —É claro que não.
—Mas você parecia ter gostado... —Ele disse me
agarrando pela cintura. —Não gostei! –Neguei irritada e
logo em seguida. — Me solta agora! –Ordenei tentando o
empurrar. — Eu sei que você quer... Toda garota quer
Bernardo correndo atrás. —Ele disse me apertando ainda
mais contra o seu corpo. —Só que você esqueceu queridinho
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que eu sou Carina Jórdan e não corro atrás de ninguém! —
Afirmei o empurrando. —Você me quer Carina! Admite. –
Insistiu. —Sai daqui!
Ele me segurou mais forte e foi tentar me beijar
quando um cara, obviamente mascarado, apareceu e o
empurrou. —Nunca mais encosta nela. —Ele disse e deu um
soco na cara de Bernardo. Ainda bem que a música estava
alta o suficiente e o ambiente escuro o suficiente para essa
briga não virar capa de revista amanhã, eu não consegui
raciocinar e nem entender quem era, mas tinha me ajudado
e eu era grata por isso. —Meu Deus! —Exclamou Ana
olhando a cena. —Você é um idiota cara. —Afirmou o
mascarado. —Você que é um idiota. —Retrucou Bernardo.
Algo naquele mascarado me chamou a atenção, eu
como sempre desfocando dos assuntos que
verdadeiramente importam. —Os dois são uns idiotas. —
Afirmei. Os dois me olharam, mas não pude compreender a
expressão, pois estavam de máscaras. —Chega de briga
aqui. –Ordenei e sai andando. Precisava achar Jéssica,
nada como uma amiga para chorar com a gente, sempre
algo daria errado. Olhei por tudo e tentei achá-la em todo
canto do salão, fui para o andar superior, onde tinha
algumas salas para poder ao menos chorar sozinha.
Estava andando pelo corredor até que escutei a
inesquecível voz de Jéssica em meio de beijos. Até sorri
curiosa. Quem será que está com Jéssica? —Me perguntei.
Sabe quando entramos no perfil de alguém que gostamos,
vemos o que não deveríamos e depois ficamos tristes? Foi
isso que eu fiz. Abri a porta devagar e olhei em direção a
mesa. Confirmei que era Jéssica, mas e o garoto quem era?
Os braços me lembram os do Leo, mas tudo
ultimamente tem me feito lembrar dele, assim que o cara se
virou, pude ver e ter um choque. Era Mark. Mark o meu
primeiro amor, meu primeiro namorado, o primeiro que
tinha tido meu coração e meu corpo em seus braços. Ele
tinha voltado? Por que estava com Jéssica? Um filme se
passou em minha cabeça, meus olhos se encheram de
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lágrimas, me lembrei de Sophie, uma história que ficará
para depois.
Fechei a porta como um impulso, como se ela fosse as
minhas pálpebras, eu não queria ter visto aquilo. Acabei
batendo a porta e fazendo barulho, mas estavam em uma
pegação tão grande que duvido que tenham escutado. Sai
apressada, nem tão apressada assim, pois estava de salto,
pelo corredor até que dei de cara com a minha mãe.
—Estava te procurando. —Ela afirmou e eu sorri, por
mais uma vez engoli o choro, Mark não merecia mais
nenhuma lágrima minha, ele já tinha de monte. Por dentro
um lixo e por fora um luxo. —Está na hora do discurso e das
homenagens... —Ela disse me tomando pela mão e meio que
me arrastando para o salão. —Ah sim. —Eu disse meio sem
ligar. —Lembre-se, tem muitos empresários bilionários aqui
e precisamos deles para sociedade. —Ela comentou olhando
para frente só para fingir que não estava se importando
muito, mas o que ela quer dizer de verdade "Seja educada e
doce para continuar tendo seus luxos!"
—Eu nunca me esqueço. – Afirmei e ela concordou
com a cabeça. Minha mãe falou, a Lu falou, algumas de
minhas amigas falaram e por fim chegou Jéssica que veio
meio se arrumando no caminho. —Bom o que eu queria
dizer... —Ela começou me olhando. —Carina é tudo de bom
e de ruim ao mesmo tempo. —Todos riram. —Ela é a pessoa
mais calma e nervosa que conheço, ela é a mais verdadeira e
a que nunca mostra sua tristeza, ela é tão bonita, mas
também é tão inteligente!
Ela continuou falando e falando. Escutei cada palavra
sorrindo, mas a minha vontade era de ir lá e arrancar aquele
coque que ela estava usando! Como ela pode ser tão falsa
assim?! Como?! Jéssica tinha o mundo de garotos aos seus
pés, então porque precisava de Mark? Na minha hora de
falar, eu subi no palco como uma princesa com delicadeza e
atitude, antes de começar dei o meu lindo sorriso.
—Obrigada pela presença de todos. Cada um tem um
lugarzinho especial em meu coração, eu amo vocês.
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Algumas pessoas da festa tinham um lugar especial na
minha lista negra, isso sim. Vi o mascarado de longe e ele
sorria, o sorriso que me lembrava Leonardo, pelo amor de
Deus isso já está me cansando. Eu sorri e quase me perdi
no discurso, dei uma pequena pausa e retomei. Pareci feliz
tenho certeza, mas não estava... Aliás, essa noite foi
horrível. Eu era contra a bebida, mas também era contra a
falta de amor, a infidelidade e a falsidade. E estava sofrendo
tudo isso. Todo mundo bebe uma vez ou outra e continua
vivo, então eu não precisava me preocupar. Antes de acabar
com a minha noite chorando no banheiro, fui até o bar e
pedi vários drinks. Por eu ser a dona da festa, o barman
nem ousou perguntar nada. Aquilo era horrível, mas era
assim que pessoas que eu conhecia fugia dos problemas.
Alguém se sentou do meu lado, continuei olhar para os
drinks, as lágrimas queriam cair, mas eu não deixava.
—Você está bem? —Perguntou. Eu me virei e olhei,
poderia afirmar que era Leonardo, mas estava bêbada
demais para falar isso. —Quem se importa? —Perguntei
grosseiramente. —Eu me importo. —Ele afirmou e pousou
sua mão na minha. —Ela tinha todos os garotos do mundo
para ficar, porque foi logo ficar com ele? –Questionei como
se ele soubesse do que eu estava falando. —Me disseram
que você não se matava dessa maneira... —Ele comentou e
eu o olhei. —Como se não bastasse perdi minha melhor
amiga por causa do mesmo garoto. —Contei e as lágrimas
escorriam pelo meu rosto.
—Do que você está falando? —Ele perguntou, mas eu
não consegui responder já que minha mente mudou de
assunto. —Eu tirei o cara que eu mais amava da minha vida
então morrer um pouco não faz mal... —Expliquei o olhando
e ele de um leve sorriso. —Mas eu mereço todo esse
sofrimento, afinal fiz Sophie sofrer muito. —Continuei sem
nem entender nada direito. —E eu encontrei a garota que eu
mais amo de novo, mas penso se ela ainda me quer... —
Comentou e eu concordei com a cabeça. —Se você ama uma
pessoa deve ir atrás dela e não ficar bebendo como eu. —Ele
parecia prestar atenção em cada palavra. Balancei a cabeça.
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—Eu estou tão triste, tão acabada, parece que estou no
fundo do poço. — Ele levou uma de suas mãos ao meu rosto
e secou uma das lágrimas que escorriam. Nossos olhares se
encontraram, estávamos perto demais, meu coração
acelerou, nossos lábios começaram a se abrir e mesmo antes
de beijá-lo minha respiração já estava ofegante. O beijo dele
era muito bom, mais uma vez me lembrava o... Você já sabe
quem. Era como se eu já conhecesse aquele lábio, aquele
beijo, aquela mão que segurava meu rosto. Por um impulso
me separei dele, me senti traindo eu mesma. —Eu tenho
que ir. Hoje não foi um dia fácil. –Falei totalmente confusa
e aflita e sai correndo. —Espere! —Ele disse, mas eu não
esperei. — Got my head spinning. –Disse a ele mesmo que
de longe. Ou seja minha cabeça está girando e estava
mesmo, eu me sentia perdida e estava. Arranquei a
máscara assim que entrei no banheiro. Onde você estava
com a cabeça? Vai cometer os mesmos erros do passado?
Sair beijando qualquer um? —Perguntei a mim mesma na
minha cabeça enquanto fazia caras e bocas olhando para o
espelho.
O que deveria fazer agora? Sair do banheiro e procurar
o mascarado para tentar esquecer o Leonardo? Ficar o resto
da noite aqui no banheiro? Tirar o salto e ir embora
correndo? Ou ir para a festa como se nada tivesse
acontecido? Pensei por uns instantes. E escolhi a última
opção, pois eu fingir que não aconteceu um beijo é uma
coisa, mas sair na revista no dia seguinte é bem diferente.
Coloquei a máscara de volta e respirei fundo. Sai do
banheiro com atitude e fingindo ser plena.
—Oi onde você estava? —Perguntou Fernanda que
apareceu enquanto eu caminhava até uma mesa. —Oi! —
Sorri. —Estava por aí me divertindo. —A Ana já ficou com
uns três garotos. —Ela afirmou e eu caí na gargalhada. —
Você já ficou com algum? —Perguntou como se fosse a
coisa mais importante da vida enquanto para mim era a
menos importante. —Sim. Quer dizer... Não! —Balancei a
cabeça desistindo de explicar. —É complicado... —Ela riu.
—O que não é complicado para você? —Ela perguntou
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sarcástica. —Aquele garoto está olhando para mim... —Ela
comentou olhando para o lado e eu ri. —Já volto! —Ela
concluiu e saiu. Balancei a cabeça e fui me sentar.
Comecei a olhar em volta e percebi o quanto as
pessoas que eu convivo são hipócritas. Posso estar meio
louca, mas as meninas estavam ficando com qualquer um, a
Jéssica se agarrando com o garoto que eu gostava, os
adultos pareciam não ligar enquanto os jovens se matavam
na frente deles. Até eu, Carina Jórdan tinha me matando
um pouquinho essa noite. E o pior é que ainda está longe de
acabar. E muita, muita coisa pode acontecer.
Pela primeira vez em minha vida eu estava totalmente
sozinha. Minha popularidade não me ajudava no quesito
amigas, minhas amigas estavam por aí beijando, minha
família estava por aí fechando negócios enquanto eu, eu o
motivo da festa, sofria em um canto sentada e sozinha.
Agora entendi Leonardo. Dancei, bebi e beijei e agora no
final estou sozinha novamente. Ou estava.
Mark se aproximou meu coração não acelerou por ele,
mas meus lábios secaram. —Olá Carina! —Ele sorriu
docemente. —Oi Mark. —Eu voltei... —Comentou se
sentando. —Eu percebi... —Comentei tentando não ser
grossa. —Você está bem? —Sim e você? —Perguntei
tentando não chorar. —Também. —Ele afirmou, o silencio
surgiu, tantas coisas que eu queria perguntar a ele, mas não
conseguia. —Como foi a vida durante esse um ano? —
Perguntou quebrando o gelo e um filme se passou em
minha cabeça, sabia que ele não se importava, mas eu me
importava.
—No começo foi difícil, muito difícil. Achei que não
fosse superar nunca. Depois retomei minha vida, não teve
nada de muito diferente, mas há dois meses fui sequestrada
e foi horrível, mas agora estou aqui. —Expliquei
lamentando toda minha vida. Cada ano algo ruim acontece,
e eu sempre acabo apaixonada e de coração partido. —
Entendo. –Respondeu compreensivo. Ele me olhou nos
olhos. —Eu sofri por não te ter durante meses, mas também
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superei. –Ele disse e agora, eu não sabia se era mentira ou
verdade, ou talvez, uma meia verdade. Ele sorriu e então eu
sorri.
—É bom conversar sem tristeza e mágoas... —
Comentei e ele colocou uma das mãos na mesa. —Verdade.
—Concordou com aquele jeito que ele sempre teve. Era tão
interessante querer estar perto dele e ao mesmo tempo
lembrar que não deveria estar. —Que bom que voltou,
conte comigo sempre. —Eu disse sorrindo e me levantei
saindo da mesa, ele não merecia minha presença. Não
estava a fim de bancar a antiga paixão boazinha com a
vontade que eu estava de bater nele, ele não devia ter ficado
com Jéssica e ela não deveria ter ficado com ele, pois foi
maldade com meu coração e faltou lealdade.
Para mim, está festa já tinha dado tudo que podia, eu
queria ir embora e precisava, estava completamente
magoada com Jéssica, com Mark e comigo mesma. Fui até
minha mãe. —Quero ir embora! —Afirmei irritada sem me
importar com qualquer ser que estivesse em volta. —Oi
querida! –Ela disse sorrindo. —Essa é a esposa do senador,
o filho dela tem a sua idade. —Contou minha mãe
mostrando ser mais educada do que a filha. Me virei para a
mulher. —Olá senhora. —Cumprimentei estendendo a mão.
—Olá menina. —Ela disse e eu segurei o riso, parecia a
Lu me chamando de menina o tempo todo. Me virei para
minha mãe que sorria educada. —Eu necessito ir embora...
—Expliquei quase sussurrando. —Ah meu filho pode te
acompanhar para tomar um ar. — Ela encontrou a solução
mais rápido do que minha mãe e era o tipo de solução que
minha mãe daria. —Garotas bonitas não podem andar
desacompanhadas. —Completou. —Não... —Ia dizendo e
minha mãe interrompeu. —Ela adoraria! —Afirmou
sorrindo e eu fiquei com a maior cara de ué. Ainda bem que
a máscara cobria um pouco meu ódio.
—Ben! Acompanhe a Carina para tomar um ar lá fora.
—Disse a esposa do Senador ao filho que estava sentando e
não parecia estar nem um pouco a fim de estar no baile.
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Tentei sorrir o menos falso possível. O suspiro dele mostrou
que só estava indo por ordem da mãe. —Claro! —Ele disse e
tentou sorrir, mais entediado do que eu. —Obrigada. —
Agradeci, mas quase chorando. Tudo sempre pode piorar...
Saímos andando do salão e eu caminhava na frente. —Você
não acha melhor tirar o salto? —Perguntou parecendo ser
educado. —Sei que não queria vir... Nós já vamos sentar em
algum banco. —Eu disse e olhei um pouco para trás para vê-
lo melhor.
Ele apenas concordou, assim que saímos, meu coração
já ficou mais em paz, avistei o banco mais próximo e
seguimos. —Por acaso já planejou alguma vingança a seu
melhor amigo? —Perguntei pensativa enquanto
caminhávamos. Ele riu. —Por que planejar uma vingança
contra meu melhor amigo? —Ele nunca fez nada de ruim a
você? —Perguntei me sentando e ele se sentou do meu lado.
—Não... –Negou confuso. Deve estar me achando louca,
mas as pessoas que me deixaram assim. —Preciso da sua
ajuda para um plano contra a minha melhor amiga...Não é
só porque ela é a minha best que pode se meter comigo. –
Expliquei. Ele deu de ombros e tirou a máscara.
—Não podemos arrumar mais guerra no mundo. —
Afirmou me fazendo revirar os olhos. —Se eu soubesse que
você era chato assim tinha ficado lá na festa. —É sério...
Você pode se arrepender depois. –Disse ele parecendo um
pai falando. —O depois eu deixo para depois. –Argumentei.
—Não pode se viver uma vida assim... Temos que pensar no
futuro. –Ele falou mais chato ainda e pude concluir que ele
não seria meu amigo.
—Não é uma vida. É uma vingança. –Lembrei em voz
alta e voltei a pensar. —Você sempre toma essas atitudes...
O que acaba dando na mesma! –Explicou sobre minhas
atitudes muito imaturas para a chatice dele. —Ai meu Deus!
Quantos anos você tem?! —Perguntei fazendo cara de “esse
papo está chato”. —Quase a mesma idade que você, mas me
preocupo com o futuro ao contrário da maioria dos
adolescentes. —Ele disse explicando coisas que eu nem

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perguntei, mas que faziam sentido e apenas alguma vezes
na minha vida alguém foi capaz de me calar, essa foi uma
delas. Eu tirei a minha máscara.
—Hoje foi a segunda vez que eu me matei um
pouquinho. —Desabafei. Ele sorriu quase rindo. —Como
assim? —Bebi vários e vários drinks... —Contei quase
caindo na gargalhada, o sorriso dele se transformou em
uma risada. —Realmente. —Comentou. —Mas prometo que
foi a última. —Afirmei decidida.—Não prometa o que você
não pode cumprir. —Ele disse mostrando serenidade no
olhar. —Eu posso! –Respondi, mas a dúvida veio em minha
mente. —Você deve ser a chata da escola... —Comentou e eu
mordi os lábios.
—É eu sou a chata da escola. —Concordei com ele
afirmando com a cabeça. Ele gargalhou. —Mas e você? —
Perguntei curiosa. —Você é como na escola? —Perguntei e
ele deu um gargalhada antes de responder. —Eu já acabei a
escola... Tenho 22 anos já. —Ele disse e eu não pude
esconder a surpresa em meu olhar. —Não creio... —
Comentei. —Mas é verdade. –Ele afirmou e rimos —Por que
disseram que você tinha a minha idade? —Perguntei sem
entender nada.
—Porque querem que fiquemos juntos... —Comentou e
eu concordei. —Pode ser! Mas eu já amo outro... —Eu disse
acabando com qualquer esperança que existisse. —Eu
também já amo outra. –Confirmou. —Então que bom, pois
aí ninguém cria expectativas... —Eu disse. —Realmente. —
Ele disse suspirando olhando em volta.
—Você faz faculdade? —Perguntei olhando para ele,
mas ele não me olhava. Negou com a cabeça. —Eu trabalho
em uma das empresas da minha família... –Explicou. —Ah
sim, é o que eu pretendo fazer também. –Contei e ele se
encostou mais no banco, nossos olhares se encontraram. —
Não adianta ficar perdendo tempo estudando se pode
construir um império... —Afirmou. —Isso é realmente o que
eu penso. —Concordei sorrindo.

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Depois de muito papo vem e papo vai, colocamos as
máscaras e decidimos voltar para o baile. Ben me acalmou
de uma forma que não consigo explicar, foi bom ter ele por
perto. —Melhorou querida? —Perguntou minha mãe assim
que me viu, eu dei um leve sorriso. —Sim mãe.–Afirmei. —
Ai que bom! —Disse a mãe do Ben toda sorridente. —Graças
a Deus! –Agradeci sorrindo. —Bom, eu já ajudei ela... Agora
vou voltar para meu canto. —Disse Ben sorrindo e indo se
sentar. —Obrigada! —Agradeci a ele com um sorriso.
Minhas amigas chegaram quase que pulando em cima
de mim. —Aí foi realmente maravilhoso! —Afirmou Bia
segurando minhas mãos. —Foi mesmo! —Concordei com
ela, talvez no fim minha noite tenha sido salva. —Quem
organizou né?! — Perguntou Jéssica brincando. Minha raiva
por Jéssica parecia até ter ido embora, pelo menos por um
momento. —Estava tudo lindo! —Disse Ana com um
enorme sorriso.
—O que a Ana quis dizer foi: "Tinha vários garotos
gatos!" — Afirmou Fernanda rindo. Gargalhamos alto. —Ai
meninas vocês são loucas! Por isso amo vocês. —Eu disse
olhando para cada uma. Elas me responderam com um
abraço em um grupo.
E no fim do baile as coisas pareciam ter melhorado.
Acabei conhecendo um cara legal, conquistei minhas
amigas de novo e parecia que a alegria estava voltando a
minha vida, mas me lembrei do cara mascarado. Ele sumiu
da festa? Será que nos veremos de novo? Será que ele
gostou do beijo tanto quanto eu gostei? É errado gostar de
um beijo que não é de Leonardo?
Tudo é tão complexo que se torna cansativo! E a
questão de Jéssica e Mark? Finjo que não sei de nada?
Mando a real, mas falo que está tudo bem? Paro de falar
com os dois para mostrar a minha revolta? Exato, parar de
falar com os dois! Melhor vingança. Vão ficar tão confusos e
angustiados que sem qualquer pressão confessarão o crime.
No caminho de volta para casa, fiquei planejando como
parar de falar com Jéssica.
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—Gostou do baile? —Perguntou minha mãe
concentrada na estrada. —Sim, foi bem legal! –Falei. —É foi
ótimo! O buffet era excelente... –Ela concordou comigo. —
Sim! Realmente... —Eu disse e encostei a cabeça no vidro
meio que para olhar a paisagem. Meu pai nos esperava
lendo um livro no sofá, porém tinha acabado dormindo.
Minha mãe sorriu ao vê—lo e mesmo com o tempo um
parecia ainda ser apaixonado pelo outro. Era bonito de ver.
Fui para meu quarto e comecei a me desarrumar. Tirei
as jóias, o sapato, soltei o penteado e tirei o vestido. Era
como a história da Cinderela à meia noite tudo volta a ser
como antes, apesar de ser 3 da manhã, eu voltei a ficar
triste, pois o que eu mais queria no final de tudo... Era
Leonardo! E ele, eu não tinha.

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Capítulo 08

Senti o cheirinho de comida e então despertei. Passei a


mão pelo meu rosto e pude perceber que ele estava coberto
por lágrimas, concluí que meu sonho tivesse sido triste, mas
não me lembrava porquê. Sentei na cama para pensar na
vida, o que foi inútil, pois em alguns minutos minha mãe
entrou no quarto e me atrapalhou. —Boa tarde Cinderela! —
Sorriu abrindo a porta do quarto. —Bom dia mãe. —Falei
sem qualquer animação. —Nossa filha! Se eu não te
conhecesse diria que você está de ressaca... — Ela comentou
olhando para meu rosto que por sinal estava inchado.
Balancei a cabeça.
— Eu estou bem. — Afirmei me levantando. —O
almoço já está pronto... — Ela avisou saindo do quarto.
Soltei um longo suspiro, meu dia seria chato. Cheguei na
sala de jantar e Lu colocava a mesa, minha mãe não estava.
—Oi Lu! –Falei e sorri assim que ela me olhou. —Oi, dormiu
bem? –Perguntou Lu com um sorriso doce. —Sim. –Menti e
balancei a cabeça com sinal negativo, meus olhos encheram
de lágrimas. Ela ficou confusa com a situação e fez uma cara
triste. —Que bom querida. —Ela disse em voz alta e se
aproximou do meu ouvido.
—Mais tarde conversamos ok? —Ela perguntou em um
sussurro. Concordei com a cabeça. Minha mãe chegou e
percebi que já estava toda arrumada. —Vai sair? —Perguntei
ao me sentar. —Você vai almoçar de pijama? —Perguntou
me olhando. Revirei os olhos. Aliás, meu pijama era lindo.
—Você não consegue me deixar em paz? —Perguntei
irritada. Ela respirou fundo. —Tanto faz. Tem um chá
beneficente e pessoas importantes vão a chás beneficentes.
—Ela disse e eu só olhava para a comida. O que ela quis
dizer com pessoas importantes? "Se você quer ser
importante deve começar a ser como eu" —Ah legal. —

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Respondi colocando comida no prato. —Pelo menos a
comer direito você aprendeu...
Tinha colocado bastante salada e nada de carboidrato.
Eu nem respondi, ás vezes, ela consegue ser a pior pessoa
do mundo. Meu pai também se juntou. —Olá meninas. —Ele
cumprimentou tentando sorrir e sentou em seu lugar de
costume: na ponta. Mas ele não estava feliz e muito menos
bem. Mal comeu e nem conversou, mal encostou na comida
e mal conversou. Era só o que me faltava, ver o meu pai
triste me traz angustia. O que mais irá acontecer na minha
vida? Minha mãe tinha saído e meu pai estava trancado no
escritório, o que me fez poder conversar com Lu em meu
quarto.
—É um assunto complicado... —Comentei fechando a
porta do quarto. —Tenho tempo. —Afirmou Lu. —Vamos
nos sentar que é melhor. —Eu disse indo até o sofá. Lu me
seguiu.Era uma decisão difícil de tomar, mas nesse mundo a
pessoa que eu mais confio é a Lu, não tenho mais a Jéssica e
minha mãe iria me mandar fazer terapia. E se eu guardar
esse segredo por mais algum dia irei realmente precisar de
terapia.
—Bom... —Eu comecei, mas parei para pensar. Olhei
para o lado. Pensei antes de começar a falar, pois queria ter
certeza que era o certo a se fazer. —Fala logo Carina! Você
está me deixando assustada... —Disse Lu interrompendo
meus pensamentos. Suspirei e a olhei. —Começou no
primeiro dia do sequestro. Assim que eu o vi meu DEUS!
Me apaixonei... Mas calma, não foi ele que mandou me
sequestrar e muito menos que me sequestrou. O pai dele é
aquele cara mais perigoso do estado sabe? Mas o Leonardo
quer mudar, queria pelo menos! Só que o meu pai não quis
dar o dinheiro e minha vida entrou em perigo. Fugimos
para o interior, foi perfeito lá... Até eu, estragar tudo. Ele me
trouxe até a esquina de casa e eu estou escondendo tudo
isso desde então...
Lu fazia cara e bocas enquanto eu falava sem parar.
Não sei se ela entendeu tudo e nem eu falei tudo... Era só
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para me ajudar no básico e não fazer com que eu lembrasse
dos momentos com Leonardo. —Você não está grávida né?
—Perguntou Lu pasma com tudo. —Não Lu. —Neguei.
—Meu Deus! Que historia maluca... Você não pode
mais se encontrar com o carinha ai que não te sequestrou.
Além de ser perigoso pode ser péssimo para os negócios da
família. E sua mãe ia odiar essa história. — Ela disse
calmamente, segurando minha mão como forma de consolo.
—Eu sei, mas isso não vai ser um problema ele não deve
querer me ver nunca mais... Principalmente se souber das
coisas que fiz esse dias. —Comentei e ela me jogou um olhar
preocupado. —O que você fez Carina? — Mordi os lábios e
pensei antes de responder. —Eu... —Engoli seco. —Beijei o
Bernardo apenas para fugir da escola e beijei um cara
mascarado ontem na festa que até agora eu não sei quem é.
—Desviei até o olhar, pois estava com vergonha de meus
atos.
—Carina... —Ela comentou desapontada. —Eu sei que
foi péssimo. Já me arrependi... —Contestei. Nem me
arrependo tanto do carinha mascarado, mas beijar o
Bernardo foi totalmente sem noção. —Ore para não sair nas
revistas, pois se sair sua mãe vai ter um treco! —Aconselhou
Lu. —Eu sei... —Suspirei e olhei para baixo. —Como chama
o garoto? —Perguntou Lu até um pouco feliz. —Ele não é
um garoto... —Lembrei e sorri. —O nome dele é Leonardo.
—Contei e Lu sorriu.
—O meu primeiro amor se chamava Leonardo... —Lu
comentou rindo envergonhada. —Ah é?! —Perguntei
curiosa. —Sim. —Pode me contar! —Ordenei em tom
brincalhão. Então Lu começou e agora era a minha vez de
prestar atenção. —... Antes de dar certo, deu tudo errado,
mas ficamos juntos por um longo tempo e fomos felizes. —
Disse Lu quase chorando e eu chorava. —Que perfeito... —
Comentei, ela deu um sorriso antes de se levantar. —Agora
eu vou trabalhar. —Ela afirmou indo em direção a porta.
—Lu o que aconteceu depois? —Perguntei a olhando
querendo saber o final da história. Ela sorriu. —Isso já é
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outra história... —Piscou e saiu fechando a porta. Suspirei.
Fiquei alguns minutos parada. Realmente, eu teria que
aprender a viver sem o amor da minha, será que mais
pessoas passavam por isso? Sem muito o que fazer, decidi ir
ao shopping para ver se me alegrava, fui até o closet para
escolher uma roupa legal.
Quando entrei, tomei um grande susto e até meu
celular que estava em minha mão caiu. Era Leonardo,
Leonardo. Como assim Leonardo?! Ele segurava uma
máscara preta e me olhava triste. — O que você quer? —
Perguntei balbuciando, o meu coração estava em choque,
senti uma mistura maluca de emoções e nenhuma parecia
ser boa.
O silêncio surgiu por alguns segundos, minhas
emoções se organizaram e conclui que precisava dele, corri
em sua direção para o abraçar —Não importa o que você
quer! Eu preciso de você... —Eu falei em meio ao abraço, ele
me recebeu meio que no ar e seus braços fortes me
envolveram pela cintura e eu abracei pelo pescoço. Sentir
seu cheiro de novo e tê—lo de novo foi a melhor coisa que
pode me acontecer.
—Você não deveria ter sumido... —Eu disse com o
rosto em seu peitoral chorando. Seus lábios estavam
encostados na minha cabeça. —Você não deveria ter
desejado ir embora... —Comentou e eu chorei mais ainda. —
Eu precisava desse tempo para sentir sua falta e saber que
não posso viver sem você. —Expliquei quase sem ar de tanto
chorar. E ele me deu um beijo na cabeça.
—Você não sabe como senti falta de seu cheiro... —
Comentou me apertando ainda mais contra seu corpo. —E
nem você sabe como eu senti do seu. —Afirmei respirando
fundo com a esperança que pudesse guardar esse cheiro na
minha mente para sempre. —Por favor, promete para mim
que nunca mais vai me deixar... —Pedi olhando em seus
olhos para ter a certeza que não era um sonho, pois mesmo
em meus sonhos o olhar de Leonardo não conseguia ser tão
profundo como era na vida real.
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—Prometo. —Afirmou, mas eu ainda estava
desesperada. —Por favor, Leonardo mesmo que eu deseje
partir, me faça lembrar esse momento... —Quase implorei.
—Você será para sempre minha. A paz apareceu na minha
vida nesse momento, era tão bom ter alguma certeza. —E
você, para sempre meu. –Concordei. —O que vamos fazer
agora? —Perguntei a Leonardo aflita, ele me soltou e se
sentou em uma poltrona como se quisesse pensar. —De
verdade... Eu não sei. —Balançou a cabeça negativamente.
—Mas... –Comecei sem saber ao certo o que dizer. — Mas o
que? – Perguntou Leo me interrompendo. —Por que veio
aqui se não tem nenhum plano? —Questionei o olhando e
ele ainda segurava uma máscara preta. —Eu só queria ter
certeza que você estava bem... –Argumentou. Ele como
sempre se preocupando comigo, isso era válido, mas não a
única coisa que importava. —Por que você está com essa
máscara? —Perguntei olhando para suas mãos. Ele olhou
para ela e pensou por alguns segundos antes de voltar o
olhar para mim. — Eu que te beijei ontem no baile... –
Contou como se fosse a coisa mais simples do mundo.
Levantei as sobrancelhas surpresa. —Você é o mascarado?!
–Perguntei meio sem entender.
—Sou eu! –Afirmou. Fiquei irritada. Como assim, ele me
beija e não me conta que é ele? — Por que não me contou
que era você? —Exclamei irritada. Ele engoliu seco. —Olha,
Carina. Pelo mesmo motivo que você não foi me procurar...
–Explicou Leo sempre pensando mais do que eu. —Eu não
fui te procurar porque... — Eu disse em um tom irritada e
me perdi no final. —Não tem um porquê certo. —Concluiu
sem que eu tivesse que dizer mais alguma coisa.
Sempre tem um porque certo, mesmo que nós não
queiramos admitir. —Mas eu estou me sentindo péssima
por isso... –Falei angustiada. —Veja pelo lado bom Carina,
era eu e não qualquer outro cara... –Falou Leo mais calmo
do que eu. Respirei fundo e minha raiva diminuiu, mas
lembrei do beijo que dei no Bernardo pelo simples fato de
querer fugir da escola. Balancei a cabeça e respondi. —Bom,
eu proponho que esqueçamos o passado... —Sugeri com a
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esperança que ele não perguntasse sobre Bernardo. —
Concordo. —Fiquei feliz, mas logo vi que não tínhamos
resolvido nada. —Mesmo assim Leonardo... Como vamos
nos encontrar? Como vamos ficar juntos? –Retomei as
mesmas perguntas. Estava aflita em pensar que talvez um
pudesse sumir da vida do outro, assim do nada.
—Teremos que dar um jeito nisso. –Concluiu Leo sem
concluir definitivamente nada. Suspirei triste, pois sabia
que não ia dar certo. —Será quase impossível... — Comentei
com uma lágrima escorrendo pelo meu rosto. Ele se
levantou e segurou minha mão. —Carina Jórdan, viva esse
amor maluco e quase impossível comigo. –Ele anunciou
quase que implorando. —É o que eu mais quero nessa
vida... — Comentei e ele me puxou para um beijo terno e
suave. O abracei e ele segurou pelo rosto.
—Carina? —Ouvi Lu me chamando do quarto. Soltei
Leonardo com tudo, fiz uma cara de assustada. Limpei a
boca e corri para o quarto. —Oi Lu! — Eu disse sorrindo
nervosa. —Achei ter ouvido barulho daqui de cima... —
Comentou olhando em volta. —Acho que está escutando
muita música antiga... Isso está te deixando meio pirada. –
Esclareci uma das hipóteses e dei um sorrisinho no final.
—Mais tarde podemos ir no parque. —Disse Lu indo
em direção a porta meio confusa. —Sim, claro. —Concordei
revezando o olhar entre ela e a porta do closet. Lu saiu do
quarto e eu respirei fundo tentando acalmar meu coração,
fechei a porta do quarto e voltei correndo para os braços de
Leonardo. —Eu estava morrendo de saudades disso.—Ele
disse me puxando para mais um beijo.
—Onde você está morando? —Perguntei na pausa do
beijo. —Não muito longe, em um apartamento. –Explicou
com um sorrisinho sedutor. —E o seu pai? —Perguntei
preocupada. —Ele está em outro estado. Mas ainda será
encontrado... Não tem como ele fugir para sempre... –
Esclareceu a situação e pareceu angustiado. —E você? —
Perguntei acariciando seu rosto. —Eu... Eu sei que serei
preso, mas não sei quando... –Lembrou Leo e balançou a
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cabeça decepcionado consigo mesmo. Meu coração doeu. —
Será por muito tempo? — Perguntei tentando não mostrar
meu medo.
—Talvez... Mas assim que eu sair vamos ficar juntos
para sempre. –Prometeu Leo sorrindo. Sorri. Era estranho,
logo eu, Carina Jórdan, ter que confiar em uma promessa
desse tipo, mas eu não tinha outra opção. —Tomara que
seja pouco tempo. —Comentei e ele me abraçou mais forte.
O abraço foi como se ele soubesse que ficaria preso por
muito tempo. —Eu tenho que ir agora... —Explicou me
olhando nos olhos. —Como você entrou? —Perguntei
tentando olhar pelo closet. —Entrei pela sua janela... —
Contou. E eu abri a boca abismada.
—Meu Deus Leonardo! —Exclamei. —Não fica brava...
Foi totalmente seguro! –Ele disse explicando sua técnica de
invadir a casa alheia. —Ah eu imagino... —Comentei
afirmando com a cabeça. Fomos até o meu quarto e abri a
janela para que ele pudesse sair. — Tchau meu amor. — Ele
se despediu e me deu um selinho. — Tchau meu amor. —
Sorri. E ele saiu pela janela. Fechei os olhos para processar
tudo que havia acontecendo. Tomei um susto quando abri
os olhos e Lu estava parada do meu lado.
—Menina do céu! – Exclamou Lu antes de eu dizer
qualquer coisa. —Ai Lu! — Gritei colocando a mão no
coração. —Estava pensando em quem em? — Ela perguntou
rindo. — Em ninguém... —Respondi seca. —Ah sei. –Ela
disse sabendo que eu estava mentindo. — O que você quer?
— A olhei cruzando os braços. — Você vai ao parque
comigo? —Perguntou me olhando. Queria tanto escrever
tudo sobre o que tinha acabado de acontecer, mas acho que
quanto mais pensar em Leonardo pior será.
—Vou! Espera eu me trocar... — Eu disse e pela décima
vez no dia fui ao closet. Vi que Leonardo tinha deixado a
máscara lá e me celular ainda estava no chão. Peguei a
máscara e a guardei na minha caixinha de coisas especiais.
Coloquei uma roupa mais esporte e prendi o cabelo em um
rabo de cavalo.
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Fomos ao parque, enquanto Lu foi caminhar pela
trilha, atividade que não fazia parte da minha vida, eu fiquei
me alongando, parei um pouco para mexer no celular,
quando levantei o olhar encontrei Ben, ele sorriu e eu sorri
de volta, mas fiquei torcendo para ele não vir até mim e
continuei mexendo no celular.
—Olá Carina... –Ele disse e então eu olhei, dei um
sorriso para não chorar. —Oi Ben. – Cumprimentei. —O que
faz em pleno domingo no parque? –Disse Ben tentando
puxar assunto. —O que você faz em pleno domingo no
parque? —Perguntei retrucando. Ele riu, mas não era para
rir. — Bom eu estou fazendo exercícios, pois mal tenho
tempo de dia de semana, mas você é uma adolescente a
além do mais é Carina Jórdan. —Explicou Ben, fazendo
graça com a minha pessoa. Levantei os olhos fazendo cara
de surpresa. —Eu devo ser uma adulta então... —Comentei.
—Por que? —Ele perguntou rindo. —Porque eu
também faço um monte de coisa. —Afirmei. —Tipo? —
Perguntou curioso. —Vários cursos, estudo e ainda trabalho
na empresa do meu pai. —Eu disse mostrando poder, poder
no qual que eu não tenho. —Olha, que menina prendada! –
Exclamou Ben rindo e eu ri balançando a cabeça.
Lu chegou após ter caminhado. —Oi. —Ela disse nos
olhando. —Lu esse é o Ben filho do senador e Ben essa é a
Lu que cuida de mim e de casa... – Os apresentei, eles
sorriram e se cumprimentaram. — Bom acho que já
podemos ir né? —Perguntei olhando para Lu. — Ah, vamos
tomar um sorvete... Ben vem com a gente? —Disse Lu
convidando gente alheia. Minha cara de droga foi inevitável.
—Eu aceito. Adoraria passar mais um tempo com as
duas... — Ele disse dando uma de educado e eu suspirei. —
Vamos então meninos. —Disse Lu daquele jeito animado
dela e saiu na nossa frente. Se a Lu pensa que está nos
juntando, está errada, pois Leonardo voltou para mim e
nada nunca mais irá nos separar. Enquanto eu tomava meu
sorvete sem mal anunciar uma palavra, Ben e Lu
conversavam sobre tudo.
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—Seus pais vão jantar em casa. –Lembrou Lu toda
feliz. —Sim, minha mãe disse. –Concordou Ben. —Você
podia ir junto. A Carina precisa de garotos como você em
sua volta... –Convidou Lu.—Que? —Exclamei olhando para
ela sem entender. Eu não preciso de nenhum garoto como
ele em minha volta. —Qual o problema dele jantar na sua
casa? —Perguntou Lu sorrindo. Olhei para Lu com um
olhar fuzilante. Ela estava se fazendo de boba, só pode. —
Olha, se a Carina não quiser minha companhia não tem
problema... —Comentou Ben tentando dar uma de
bonzinho. —A criadagem de casa já está se achando demais.
—Afirmei olhando para Lu.
—Os pais dele vão jantar hoje em casa... Qual o
problema dele ir junto? —Disse Lu e respirei fundo. —Quer
saber, por mim tanto faz... —Afirmei olhando para os dois.
Meu celular tocou, peguei o celular que estava na mesa e
olhei era minha mãe. Levantei da mesa do quiosque sem
pedir licença e fui atender.
—Alô — Falei atendendo a ligação. —Oi filha! —Disse
minha mãe até que alegre. —Tudo bem? —Perguntei, pois
dificilmente ela me ligava. —Está tudo bem sim... Então só
para te avisar que a família do Senador vai jantar em casa e
você vai jantar com a gente. —Ai mãe, mas que droga... –
Reclamei. Reclamei só por reclamar, pois ela não ia nem dar
bola para minha chatice de adolescente. —Achei que você
gostasse dele. –Comentou. —Não gosto. –Discordei
revoltada.
—Ah, então vai ter que aprender gostar. —Afirmou e
desligou. Quando uma área da sua vida está dando certo,
não comemore, pois as outras podem desmoronar. Voltei
para a mesa e me sentei. —Era a minha mãe... –Contei sem
ninguém ter perguntado. Olhei para Lu. —O que ela queria?
—Perguntou Ben quase sorrindo, o olhei começando ficar
irritada. —Você vai jantar em casa. –Afirmei sem qualquer
vontade de ter visitas.
Lu me olhou surpresa com um sorrisinho que quase
apareceu em seus lábios. Ben, por sua vez, não escondeu seu
- 93 -
sorriso. Ele não disse que amava outra? Vamos pular essa
parte chata que foi Lu me empurrando para Ben e vamos
para a parte que eu brigo com a Lu por saber da minha
situação e ficar me empurrando para outro.
—O que você estava pensando? —Perguntei entrando
no quarto irritada. —Carina, Ben é o garoto perfeito para
você! –Explicou. —Ele não é perfeito para mim e não é um
garoto! –Gritei extremamente irritada. Me joguei no sofá do
meu quarto. —Você entendeu... —Ela comentou e eu peguei
o controle da televisão. —Você sabe que eu já tenho
alguém... —Afirmei a olhando nos olhos.
—Ah, o sequestrador que não te sequestrou? Ele é
realmente o melhor partido. —Ela disse e eu liguei a
televisão para mostrar minha revolta. —Achei que você me
apoiava... —Comentei sem tirar os olhos da televisão—Eu te
apoio, mas você deve fazer as escolhas certas... –
Argumentou Lu parecendo minha mãe. Já percebeu que
nossos pais só querem nos apoiar quando fazemos o que
eles querem?
—Quem é a empregada e quem é a patroa? —Perguntei
a olhando muito irritada e sem compaixão. —Pois é. —Ela
disse e saiu, Estava tudo mais complicado do que antes. Eu
me arrependi de ter dito aquilo para Lu, mas eu não posso
parecer fraca. E sobre minhas unhas, foi uma grande
burrada. Acabei adormecendo e acordei com minha mãe
entrando no quarto. —Está na hora de se arrumar... —Ela
comentou sorrindo ou pelo menos tentou sorrir. —Eu já
vou. —Afirmei passando a mão no rosto. —Tá bom. —Ela
disse e sentou do meu lado. —Preciso que você seja
educada... —Pediu e eu sorri sarcástica.
—Você sempre "precisa" disso. —Comentei. —Porque
você é uma princesa e princesas são educadas. —Dei uma
gargalhada com esse comentário idiota da minha mãe. —Se
você vivesse mais comigo iria saber que eu não sou nada
princesa. —Afirmei um tanto séria e sai andando em direção
ao banheiro. Finalmente estava pronta, uma roupa bonita e
comportada e um cabelo todo ondulado.
- 94 -
Capítulo 09

Lu bateu na minha porta. —Os convidados chegaram—


Ela avisou de forma seca. —Será que Lu ficaria brava
comigo por muito tempo? Será que me empurrariam mais
para Ben? Como será essa noite? Um sucesso ou um
fracasso? Fui até a sala de jantar delicadamente e odiando
tudo por dentro. A minha delicadeza sempre se misturou
com meu ódio e isso sempre me fez ser: Carina Jórdan. —
Você está linda. — Elogiou meu pai me olhando, minha
mãe só me olhou e não disse nada. Olhei para os
convidados, sorri e fui cumprimentá—los.
A mãe de Ben usava um vestido de onça, que não caia
tão bem em seu corpo gordinho. O senador parecia odiar
usar terno e estava sem gravata. Na hora de cumprimentar
Ben, ele me segurou pela cintura e sussurrou em meu
ouvido. —Linda é pouco. —Balancei a cabeça e o olhei
confusa, ele sorria como se o que acabou de ter tido fosse
algo normal, mas não era e não podia ser. Ele não estava
apenas me chamando de linda, ele estava tentando me
conquistar e ia fracassar por dois simples motivos.
O primeiro é que quando nos conhecemos ele mostrou
total interesse na outra que ele mesmo afirmou amar e o
segundo motivo é eu já fui conquistada por outro alguém.
Nos sentamos, minha mãe ao lado de meu pai em uma
ponta, o pai e a mãe de Ben um ao lado do outro e na frente
deles estavam eu e Ben um ao lado do outro. —Carina, a
Lídia tem uma escola de meninas... —Comentou minha mãe
e eu dei um leve sorriso, daqueles que se dão apenas por
educação. —Ah é?! —Olhei para Lídia que tinha acabado de
descobrir o nome. —Que legal. —Afirmei.
—Estava combinando com sua mãe de você fazer
terapia lá... —Comentou Lídia e Ben riu. —Uma terapia
sempre é bom. —Comentei sendo politicamente correta,
literalmente e olhei para Ben que tentava segurar o riso. —O
- 95 -
seu trauma foi muito grande... —Comentou o Senador um
pouco menos sério. —É foi. —Concordei apena por
concordar. —Vamos mudar de assunto. —Propôs meu pai se
colocando pela primeira vez desde o início. —Sim. —
Concordei mais uma vez, essa é a minha tática em todos os
eventos: apenas concordar. —O que você pretende fazer
depois que acabar a escola? —Perguntou Ben. Eu o olhei por
alguns segundos e questionei dentro de mim o porquê da
pergunta já que ele sabia a resposta. Se ele queria chamar
minha atenção certamente estava fazendo da maneira
errada.
—Você sabe. —Respondi mais secamente do que
deveria, mas pelo menos respondi. —Nossa parece que
nossos filhos são mais amigos que imaginamos... —
Comentou minha mãe em um tom brincalhão para quebrar
o clima tenso. —Pois é! —Disse Lídia levando na
brincadeira e rindo. Desviei o olhar e voltei a comer. A
comida é mais importante do que esse povo chato, isso eu
posso afirmar sem qualquer duvida. —Vamos brindar. —
Afirmou meu pai e todos levantaram as taças. —Ao poder!
— Afirmou o Senador e brindamos. Como assim ao poder?
Eu amava ter o poder, ou pensar que tinha o poder, mas a
vida política não me agrada. Enfim, isso acabou.
Assim que eles foram embora eu suspirei e fui para o
meu quarto. Eu quero o Leonardo. —Afirmei isso a mim
mesma umas 10 vezes. Ouvi um barulho vindo da porta
balcão. Era como se alguém estivesse batendo contra o
vidro. Olhei e levei um susto quando vi Leonardo na sacada.
Corri para abrir e ele me agarrou me empurrando para
dentro em um beijo mais que perfeito. —Eu precisava de
você. —Ele comentou em um sussurro e eu o puxei ainda
mais para mim. —Eu estava morrendo de saudades. —
Afirmei em meio aos beijos. Ele parou de me beijar e me
olhou nos olhos. —Você me deve um passeio de balão... —
Comentou.
—Sim, eu devo... — Eu disse e dei um leve sorriso. Ele
mordeu os lábios. —Amanhã você vai me pagar o que deve!

- 96 -
– Ordenou em tom brincalhão. —Não posso... –Lembrei em
voz alta. —Por que? —Perguntou me puxando pela cintura
como se ainda existisse algum espaço entre nós. —Porque
eu tenho aula amanhã e meus pais vão estar em casa... –
Expliquei. Tinha que ser eu, para estragar um momento
como esse por causa de escola e família. — Carina, fugir não
é um problema para nós. – Argumentou Leo. Ele não sabe
como eu adoro quando me chama de Carina, eu sorri. —
Realmente... — Ia começar a falar quando Leonardo me
puxou para um beijo e dessa vez foi mais intenso e mais
quente. Ouvi o salto da minha mãe batendo contra o chão
de madeira. Me soltei de Leonardo. —Você precisa ir
embora! —Afirmei meio que o puxando até a janela. Ele
saiu e minha mãe entrou. Não consegui conter minha cara
de pânico.
—Nossa Carina... Parece até que viu um fantasma! —
Ela disse me olhando e se sentou na minha cama. —Estava
apenas pensando na vida mãe... —Expliquei e me sentei ao
lado dela. —A vida é assustadora. –Afirmou brincando e
sorriu. Minha mãe pode ter vários defeitos, porém está
sempre assim: Pronta para o que der e vier. Isso é uma
grande qualidade. —Como você consegue? –Perguntei me
lembrando de suas atitudes. —O que? –Ela perguntou me
olhando. —Sei lá... Você está sempre forte e decidida. —
Comentei em forma de elogio.
— Aprendemos com o tempo... —Explicou. —Mas tem
mulheres que não são como você. –Discordei. —E tem
meninas que não são como você. —Comentou e eu
concordei. —Mãe. —A olhei nos olhos. — Você já se
apaixonou pela pessoa errada? —Perguntei curiosa. Eu
queria saber como minha mãe trataria o assunto Leonardo
Cardoso e Carina Jórdan juntos. — Todo mundo já se
apaixonou pela pessoa errada... —Comentou. —Sim, mas
alguém que seus pais não aceitassem ou que fosse mais
velho... –Tentei explicar de uma forma que não desse tão na
cara.

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—Nós achamos que os pais não vão aceitar, mas a
verdade é que nós que fazemos a nossa vida. —Ela
respondeu sincera. Suspirei. — É... –Foi o que eu disse para
não deixá—la sem resposta, mas ela falou, falou e falou e
não concluiu nada. As palavras dela, não fizeram sentido na
minha cabeça ainda mais, por eu saber que ele não era
apenas um cara mais velho e sim um criminoso. —Boa noite
querida. —Desejou se levantando. —Boa noite mãe. Antes
de ela fechar a porta. —Carina? –Chamou. —Oi? — A olhei.
— Se você está apaixonada pelo Ben não tem
problema... Ele é quase perfeito. –Ela explicou e um leve
sorriso apareceu em seus lábios e eu sorri de volta. —Não é
ele mãe... –Neguei. —Ok. —Ela disse e fechou a porta.
Balancei a cabeça e até ri da situação. Não era o Ben, era
alguém muito além do que um dia o Ben poderia ser para
mim, era o amor da minha vida. Olhei na janela para ter
certeza que Leonardo havia ido embora. Então fui me
arrumar para dormir, pois no dia seguinte tinha aula e eu
precisava manter a pose de Carina Jórdan.
Estávamos na nossa escada, conhecida como escada
da fama, quando Jéssica chegou. —Eu não acredito que
você não me contou. —Exclamou Jéssica injuriada com uma
revista na mão. —Não te contei o que? —Perguntei sem
entender. Ela que não me contou algumas coisas nas quais
eu tinha o direito de saber. —Você ficou com um mascarado
e todos querem saber o nome dele! —Exclamou toda
curiosa. Minha raiva por ela subiu a cabeça e eu não
aguentei.
—Jéssica! –Exclamei me levantando. — Cale a boca. –
Ordenei e ela me olhou confusa. —Eu sei sobre você e Mark.
– Informei. A cara que ela fez de espanto já comprovou
mais ainda. — Ah sabe? —Balbuciou. —Eu só quero saber
uma coisa. Por que você mentiu? – Perguntei a fuzilando
com o olhar. Eu nunca me senti tão traída e tão nada como
me senti quando os vi no baile. —Porque eu sabia que você
ia ficar triste... —Explicou.

- 98 -
—Eu não sou uma idiota qualquer para ficar triste por
qualquer coisa! Estou com ódio de vocês. –Gritei sem me
incomodar que as pessoas estavam prestando atenção. Ela
suspirou triste. —Me perdoa Carina... –Implorou e pude ver
que se arrependia do que tinha feito. —Não! –Neguei e
balancei a cabeça negativamente. —Por favor! –Implorou
novamente. —Se você gostasse dele de verdade ou tivesse
consideração pelo quanto o amei... Teria vindo falar comigo
antes de transar com ele na minha festa! —Expliquei e uma
lágrima saiu de seus olhos. —Mas... — Ela começou a falar e
eu interrompi. —Você está expulsa da minha vida e do meu
grupo! –Ordenei. O meu coração doía por imaginar os dois
juntos.
—Aconteceu meio que do nada... –Tentou argumentar.
Uma argumentação hipócrita. —Sexo não acontece meio
que do nada. —Afirmei balançando a cabeça. —Agora vai
embora da nossa escada que você escolheu não fazer mais
parte... —O ódio em meu olhar era inegável, mas a tristeza
da minha alma estava bem escondida. Ela saiu andando e
parecia triste. Eu voltei a me sentar e suspirei irritada, meus
olhos estavam cheios de lágrimas e afirmei a mim mesma
que eram lágrimas de raiva, mas na verdade me doía.
— Eu não acredito que ela fez isso. —Comentou Ana
pasma com tudo. —É o mandamento do nosso grupo... —
Afirmou Fernanda. Achando Jéssica uma idiota. —Você
sabia que o Mark tinha voltado? —Perguntou Bia me
olhando e foi a única que não falou mal de Jéssica. Respirei
fundo pensando em uma resposta Carina Jórdan, mas fui
sincera. —Pior que não... –Neguei me sentindo humilhada.
Na hora da saída. —Tudo pronto para hoje a noite? –
Perguntou Ana ansiosa. Tentei me lembrar, mas fracassei
na tentativa.
—O que tem hoje a noite? —Perguntei rindo. —A festa
do pijama... Tradição de todos os anos. —Explicou
Fernanda sem entender o porquê de eu não lembrar. — Ah
claro que está! —Afirmei sorrindo. E elas pularam de
felicidade. Droga, nem lembrava dessa bendita festa do

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pijama... E quem tinha marcado essa festa bem para o dia
de hoje?! Cheguei em casa e fui correndo olhar nas minhas
anotações. E bom, eu tinha marcado a festa do pijama para
esse dia...
Fiquei meio desesperada com tudo e fui pedir ajuda
para Lu. —Lu! —Chamei entrando na cozinha. —Oi? —Ela
perguntou sem olhar para mim. —Eu tinha esquecido da
festa do pijama... —Comentei. —Eu não esqueci. —Afirmou.
— Está tudo encomendado. —Explicou e eu sorri. —Ai
obrigada! —A abracei por trás feliz, mas ela não retribuiu o
abraço, talvez ainda estivesse brava.
Ainda tem alguns problemas para serem resolvidos...
Como por exemplo: Leonardo virá hoje a noite, mas não
poderemos fugir, mesmo que a ideia parecesse fofa eu
preciso manter a minha amizade com as outras meninas
mais forte do que nunca. Tem a questão de a minha família
me empurrar para o Ben. Ah, tem também o problema com
a Jéssica e Mark que está mais ou menos resolvido e por
último o problema com Lu. Eu em, até cansei tantos
problemas e zero soluções. Não sai a tarde inteira da frente
da janela esperando que ele viesse. Foi inútil, ele não
apareceu.
—A decorados já chegaram. —Disse minha mãe
batendo na porta. Nem sabia que minha mãe já estava em
casa. —Ok. Já estou indo lá. –Gritei ainda olhando pela
janela. —Vem no meu quarto antes de começar a arrumar a
festa... —Ela disse e eu fiquei até curiosa. O que ela quer me
falar? Olhei a janela pela última vez e sai do quarto.
Chegando no quarto da minha mãe, olhei em volta, pensa
em uma quarto perfeitamente perfeito então pensou no
quarto da minha mãe. Ela com um gesto me indicou para
sentar na cama. —O que foi? —Perguntei estranhando.
—Existe coisas que não planejamos... —Comentou. —
E? –Perguntei apressada para arrumar a festa. —O seu pai
está doente. —Desabafou de uma vez e quase em um
sussurro. —Meu pai o que? —Questionei como se o mundo
estivesse acabando e meu coração já estava em cacos. —Os
- 100 -
médicos disseram que tem cura, mas é grave... Amanhã
embarcamos para os Estados Unidos. —Ela explicou tudo
de uma vez só com a intenção de sofrer menos —Eu vou
junto. –Afirmei sem querer discussão sobre o assunto. Era a
vida do meu pai. —Não vai. –Ela discordou me olhando com
ternura.
—Por que não posso ir? —Perguntei com lágrimas pelo
rosto. —Porque não podemos abrir mão do seu futuro... E
não sabemos quanto tempo durará o tratamento. —Ela
disse e pela primeira vez vi minha mãe chorando. —E se o
tratamento não funcionar? —Questionei a olhando
desesperada. —Vai funcionar! —Ela afirmou tentando
parecer forte. —Tomara... –Desejei mais que tudo na minha
vida e ela me abraçou. —Melhor você ir arrumar as coisas
para festa... —Ela comentou e engoliu seco. —Vou cancelar a
festa. —Afirmei como se não tivesse cabimento.
—Não precisa... —Comentou. —Vou fingir que está
tudo bem? —Perguntei meio sarcástica, mas sem graça. —É
bom. –Ela respondeu e eu fiquei sem reação —Seria mais
fácil eu cancelar a festa. —Expliquei me levantando. —Seria
mais fácil se eu não te contasse... –Retrucou. Eu gostava de
falar com a minha mãe, ela sempre me fazia pensar. Sai do
quarto da minha mãe e me fechei em meu quarto. Chorei
amargamente, nunca tinha tido medo de perder meu pai,
mas agora só consigo pensar em como seria minha vida
sem ele?
Me levantei assim que lembrei das decoradoras, fui
correndo até a sala de cinema e no caminho sequei as
lágrimas. —Desculpem a demora! —Eu disse entrando na
sala. —Sem problemas senhorita Carina. A Luciene já foi
falando onde era para pôr cada coisa. –Disse Bianca a
responsável. —Ai que bom!–Exclamei dando um leve
sorriso para tentar parecer feliz. Joguei uma piscadela para
Lu, agradecendo e ela desviou o olhar. Estava tudo até que
arrumado e bom eu posso admitir que Lu fez um bom
trabalho coordenando aquele pessoal. Arrumei uma

- 101 -
coisinha ali, ajeitei outra coisinha aqui e estava tudo
perfeito.
Mas eu não conseguia parar de pensar no meu pai. Fui
até o escritório onde minha mãe e o assistente do meu pai
resolviam as coisas da empresa e da viagem do dia seguinte.
—Oi querida. —Disse minha mãe me olhando e tirando os
óculos. —Onde está o pai? —Perguntei quase sem forças. —
Ele já está vindo te ver. –Respondeu triste. Suspirei um
tanto aliviada. —Ainda bem... —Eu disse e dei alguns
passos para trás antes de me virar e sair pela porta. Fui até
meu quarto me arrumar para a festa do pijama.
Aliás, era a única coisa que estava resolvida em minha
vida. Já estava de pijama quando ouvi as batidinhas no
vidro. Em meio a tristeza pude sorrir. Abri para Leonardo, e
logo me desfiz em lágrimas. Ele me abraçou. —O que foi? —
Perguntou. E eu não consegui responder logo de cara. —
Meu pai está doente... —Balbuciei quase sem ar. O abraço
de Leonardo me dizia "Ei, estou aqui! Vou te proteger." E
isso era maravilhoso. Leonardo me levou até a cama e me
ajudou a sentar. —Mas o que ele tem? —Ele perguntou
preocupado. Acho que pela minha choradeira deu para
perceber que era algo mais grave.
—Ao certo eu não sei, mas amanhã ele embarca para
os Estados Unidos para o tratamento. –Expliquei ainda em
cacos. Estava chegando um milhão de problemas nos quais
eu não eu não conseguia resolver. —Nossa... —Ele comentou
meio sem jeito e sem saber o que dizer. —A pior parte é que
o tratamento pode dar errado... —Comentei me levantando.
—Tem que dar certo. —Ele afirmou esperançoso e eu
comecei andar de um lado para o outro. —Espero que de...
—Eu disse e parei de andar para tentar me acalmar. —Se
você quiser ficar sozinha... —Começou a falar o olhei.
—Eu não quero ficar sozinha. —O interrompi. Ficar
nessa casa, nesse mundo não estava dando certo. Eu estava
sofrendo mais a cada momento e sei que a festa do pijama
viraria um chororô, pois eu não conseguiria segurar. —Eu
quero sair com você desse mundo que está dando tudo
- 102 -
errado... —Conclui e olhei para porta. —Mas você não acha
melhor ficar com a sua família? –Perguntou Leo ainda
confuso com a minha decisão. —Lá em baixo... —O olhei.
—Vai acontecer uma festa do pijama como se estivesse
tudo bem... —Ele me olhou surpreso e parecia tentar definir
se era uma boa ideia. —Espera eu me trocar. —Ordenei. Leo
deve estar me achando louca e que fujo dos meus
problemas, assim do nada, mas eu admito que não consigo
viver sobre pressão. Ele engoliu seco e ficou processando
todas as informações enquanto eu fui no closet e me
arrumei. Voltei e ele sorriu. —Você está linda. –Elogiou
tentando me deixar feliz. E claro que conseguiu.
—Obrigada. —Sorri levemente. —Você tem certeza que
não quer ficar com o seu pai? —Perguntou mais uma vez
para garantir. Fugir dos problemas. Qual parte ele não
entendeu? —Eu não sou boa em enfrentar os problemas que
aparecem em minha vida... —Comentei e ele concordou com
a cabeça. —Prometo não te trazer muito tarde. –Prometeu.
Dei de ombros e fui em direção a sacada. O olhei pensativa.
—Como você desce? –Perguntei olhando lá para baixo. —
Pelo amor de Deus Carina! –Exclamou.
— Não estamos nem a dois metros do chão... –
Comentou e eu revirei os olhos. —Não consigo. —Afirmei
sem nem tentar. Eu não gostava de adrenalina. —Eu vou
primeiro e depois te ajudo... —Ele disse e eu concordei com
a cabeça. Leonardo fez tudo parecer tão simples que até me
empolguei. Ele estava usando uma camiseta pólo azul
escura, que o deixava ainda mais bonito. Tentei descer o
mais devagar possível e sem fazer nenhum barulho. O que
foi um fiasco, pois uma de minhas mãos escorregou antes
da hora e acabei caindo em cima de Leonardo.
—Droga! –Reclamei saindo de cima dele. —Você está
bem? —Ele perguntou se levantando em um pulo só. —Eu
sou um fiasco... —Comentei. E ele riu passando seu braço
por meus ombros. —Não é não. –Discordou. Balancei a
cabeça. Na verdade eu era, mas como ele era apaixonado
por mim ainda não via meus defeitos. —Como vamos sair
- 103 -
do condomínio? —Perguntei o olhando. Eu sempre era a
que coordenava tudo, porém quando estava perto de Leo, só
queria que ele me guiasse pela vida, acho que ele na
percebia isso, mas com ele eu era totalmente vulnerável. Em
outros momentos isso me daria medo, mas com ele, me
sinto estranhamente confortável.
—Já tenho tudo aqui. —Ele disse apontando para sua
cabeça. —Ah imagino! —Dei risada. —Vem logo! —Ele disse
me puxando pela mão. Corremos pelo condomínio como
duas crianças que brincam de pega pega, mas a verdade é
que estávamos fugindo dos problemas que eu como sempre
muito madura, não queria enfrentar. —Onde estamos indo?
—Perguntei quase morrendo de tanto correr. —Vamos à
casa de um amigo meu para buscar meu carro. –Explicou.
Leo sempre pensava em tudo enquanto eu era sempre a
dramática da situação.
—Ah, mas os porteiros não podem me ver. –Afirmei
preocupada. —Não tem problema. —Negou. — É só você ir
no banco de trás... —Comentou. —Ah não vou no banco de
trás! —Afirmei parando no meio do caminho. —Ai Carina...
O que foi agora? —Parou e me olhou. —Eu não quero ir no
banco de trás... —Comentei brava. — Para de ser boba. —Ele
disse e saiu andando. —Nossa obrigada pela consideração.
—Quase gritando e corri até ele. —Ai Ai viu! —Ele disse após
dar uma gargalhada. —Não tem graça. Caminhamos por
alguns segundos até que chegamos na casa do amigo dele.
—Pronto. —Ele disse pegando a chave no bolso e abrindo o
carro.—Não acredito que vamos de Camaro... —Comentei
olhando surpresa o carro que era um Camaro vermelho e
parecia novinho. —Qual o problema? —Ele perguntou
abrindo a porta. —Não acha que vai chamar muita atenção?
— Perguntei. —Achei que você sempre chamasse muita
atenção... –Comentou sem ligar muito. Eu dei uma ceve
risada. –É serio Leonardo.
—Crianças devem ir no banco de trás... –Ele continuou
com sua graças e abriu a porta me ajudando entrar. —Essas
coisas só acontecem comigo... —Comentei e deitei no

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banco. —Verdade. —Ele concordou com a cabeça. Leo
arrancou o carro e quando paramos na portaria Leonardo
abriu o vidro, mas usava óculos escuro, aliás como
Leonardo conseguia sempre entrar e sair do condomínio
sem que ninguém o percebesse.
—Boa tarde senhor. —Disse o porteiro para Leonardo.
—Boa tarde. —Leonardo disse e o portão se abriu. Na
verdade, o sol já estava se pondo então seria quase boa
noite. Leonardo fechou o vidro e saímos do condomínio,
assim que ele virou a rua. —Vem pra frente! –Falou Leo me
olhando e parou o carro. Me levantei e com um pouco de
dificuldade fui para o banco da frente.E assim que caí
sentada no banco.
—Pronto, agora a criança está no banco da frente... —
Comentou rindo e eu dei um empurrãozinho no seu braço.
—Bobo. —Comentei colocando o cinto. —O que você quer
fazer de faculdade? —Perguntou meio que do nada, mas me
derreti. O que eu mais admiro em um garoto depois da
beleza, lógico, é sobre o que pensa sobre o futuro. —Eu vou
cuidar da empresa do meu pai, não preciso de faculdade
para isso. —Expliquei. —Certo. —Ele disse. —Mas e o que
você vai fazer? —Perguntei com a esperança que ele fosse
trabalhar em algo de bom.

Eu quero viver para sempre ao lado de Leonardo,


quero ter uma família com ele, mas a cima de tudo eu não
fui criada para ter uma vida qualquer, não me importava
seu passado, mas me importava o que ele faria daqui para
frente. —Já estou fazendo. —Afirmou e eu fiquei surpresa.
O olhei. —O que? —Perguntei curiosa. —Estou fazendo
alguns cursos para empresários... –Informou. Sorri. Ele
pensava sobre o futuro. —Se você quiser pode assumir a
empresa do meu pai comigo... —Comentei. —Eu quero algo
só meu. —Afirmou de um jeito seco demais.
—Eu preferia algo nosso... –O informei sobre a minha
vontade e olhei para lado. Não queria estragar o momento
discutindo, mas realmente queria uma vida junto a dele, só
- 105 -
não sei se daria certo. Ele demorou alguns minutos para
responder. —É, pode ser — Concordou por fim. —Mas
primeiro —Engoliu seco. —Eu vou ser preso. —Afirmou e
meu coração acelerou. —E se der para pagar a fiança? —
Perguntei. —É quase impossível... –Discordou.
—Por que? –Questionei, pois se tem uma área na vida
que eu não sei nada é a área jurídica. —Porque o valor será
muito alto, isso se o juiz permitir. –Desabafou Leo. —Mas se
eu puder pagar, eu vou pagar. —Afirmei como se fizzese
uma promessa, pois tudo o que eu mais queria na vida era
passar cada dia ao lado de Leonardo. —Não vai! –
Repreendeu Leo. Eu entendi o porquê ele não querer que eu
pagasse, mas não fazia sentido. —Vai me impedir de te tirar
da cadeia?
—Eu errei, eu tenho que pagar pelo o que eu fiz e
depois vou poder ter uma vida normal. —Ele explicou como
se fosse fácil e eu o olhei irritada. —Para de fingir que está
tudo bem... Você sabe que quem é preso perde a dignidade e
não pode trabalhar em bons empregos. –Quase gritei
desabafando toda minha dor. —Eu já vou deixar minha
empresa aberta antes de ser preso. –Ele respondeu certo do
que dizia e pensava. —Você é procurado, nem deve poder
abrir uma empresa. –Afirmei sendo realista. Ele riu.
—A polícia pode fazer muita coisa, porém existe uma
coisa que os paralisa. —Ele justificou e eu demorei alguns
segundos para assimilar. —Esse não é um jeito muito
honesto de recomeçar as coisas. –Conclui. —Ninguém é
totalmente certo... —Argumentou e eu pensei. Existe sim
pessoas certas, um exemplo disso é meu pai. —Meu pai é
certo. —Afirmei sem a menor dúvida. —Lamento Carina,
mas isso não dá para saber... –Discordou Leo o que me
deixou irritada. Meu pai é tudo para mim e sempre me
ensinou o caminho correto. —Eu confio no meu pai. —
Afirmei com um tom mais alto.
—Eu não quero discutir... —Ele disse apertando com
mais força o volante e suspirando. Minha vontade era de
tagarelar, mas sempre que eu começo a falar demais, acabo
- 106 -
estragando tudo em minha volta. —Também não quero
discutir. –Concordei. —Estamos quase chegando... —Ele
disse depois de um longo silêncio e me olhou sorrindo. Eu
apenas dei um largo sorriso e me ajeitei no banco, estava
ansiosa.
Algumas semanas atrás brigaríamos e acabaríamos
com tudo, mas hoje, talvez com um pouco mais de
maturidade, preferimos parar a discussão e continuar
juntos. A vida é mais bonita quando se tem alguém.
Descemos do carro e ele rapidamente tomou minha mão. —
Boa noite. —Disse o moço no estacionamento. —Boa noite.
—Disse Leonardo e pegou o ticket. —Boa noite. —Sorri.
Comecei sentir algo estranho na minha barriga, não sabia o
que era ao certo, mas era um friozinho.

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Capítulo 10

Saímos andando até um lugar que tinha um


amontoado de gente. —Oi mano! Como vai? —Perguntou o
instrutor a Leonardo. —Oi fera! —Disse Leonardo o
cumprimentando com um "toca aqui" e soltado minha mão.
Fiquei sorrindo e morrendo de vergonha. O "fera" me
olhou. —E ai mano nem apresenta a novinha. —Comentou e
eu ri.—Viu como sou importante. —Afirmei olhando para
Leonardo.
—Desculpa gatinha. —Ele falou me puxando pela
cintura. Gatinha?! —Carina ele é Gustavo. Gustavo essa é a
Carina. –Nos apresentou. —Oi. —Eu disse e cumprimentei
Gustavo com um beijo no rosto. —Oi. —Disse Gustavo ao
me cumprimentar. —Prepara um balão para mim e para a
Carina. —Disse Leo olhando para Gustavo. —Pode deixar
cara. —Olhou para mim. —Cuida dele em gata. —Ele disse e
eu sorri. Gata?!
Assim que Gustavo saiu, olhei para Leonardo. —Me
chama mais uma vez de gatinha... —Eu comecei a reclamar
e ele me puxou contra seu corpo. Perdi o fôlego. —Gatinha!
—Ele afirmou. Tentei empurrá-lo o que foi inútil, pois ele
sempre foi mais forte do que eu. E então nossos olhares se
encontraram e ali eu tive certeza de que o amava e queria
estar em um lugar com menos gente para beijá-lo.
—Não tem balão exclusivo para casal, se importam de
viajar com mais gente? —Informou Gustavo nos olhando.
Leonardo me apertou um pouco mais contra seu peito e me
soltou. —Não nos importamos. — Falei rapidamente, nem
deixando Leo responder, eu acho que ele iria querer um
balão só para gente para podermos ficar nos beijando, mas
de verdade não acho que isso seja o mais importante. —
Vamos logo. —Eu disse saindo na frente de Leo.
Quando vi como o balão ia alto. —Meu Deus. —Falei só
lembrando naquele momento que morria de medo de
altura. —O que foi? —Perguntou Leonardo. —Eu tenho
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medo de altura. —Afirmei paralisando. —Não acredito... —
Ele comentou quase dando uma gargalhada. —É sério! –
Falei sem achar graça. —Não precisa se preocupar, eu te
protejo. —Ele afirmou segurando minha mão e deu um
beijo nela. Suspirei o olhando e tentado ficar mais calma. —
Você promete não me soltar nunca? —Perguntei o olhando
nos olhos. —Prometo. –Afirmou.
E eu não sei se prometeu só para eu entrar logo no
balão ou se era uma promessa de mindinho. Suspirei e
concordei com a cabeça. Fomos até o nosso balão. Gustavo
abriu a portinha para eu passar. —Valeu cara. —Agradeceu
Leonardo para Gustavo. —Tu gosta mesmo dela? —
Perguntou Gustavo me secando e eu desviei o olhar.
Leonardo me olhou e voltou olhar para Gustavo.
—Eu a amo. Nem pense em chegar perto dela. —Disse
Leo sem parecer brincar. E meu coração acelerou. Leonardo
Cardoso com ciúme e ainda dizendo que me amava. Fingi
não escutar. —Ah sim mano... Não, pensei nisso não! —
Disse Gustavo fugindo do assunto. —Então tá bom. –Disse
Leo e entrou no balão. Eu olhava para o outro lado. Ele foi
até mim e segurou minha mão que segurava com toda força
no cesto. —Está pronta? —Ele perguntou sorrindo.
—Com você eu estou pronta para tudo. —Afirmei,
fiquei quase nas pontas do pé e dei um beijo em sua
bochecha. Não sei porque me sentia frágil e tímida ao lado
de Leonardo. Enquanto ao lado de outros garotos me sentia
forte e sedutora. Era como se com Leonardo eu fosse uma
criança e com os outros uma adulta. O balão começou a
subir. Eu soltei da mão de Leonardo e o abracei. —Estou
com medo. —Falei contra seu peitoral.
—Eu estou aqui, não tenha medo... —Ele disse e seus
dedos começaram subir e descer pelas minhas costas. Eu
me senti segura. Foi como se eu pegasse um pouco de toda
confiança de Leonardo e consegui me virar para olhar a
paisagem. —Acho que consigo. —Ponderei e ele me abraçou
por trás, segurei uma de suas mãos. E finalmente abri os
olhos e olhei o céu estrelado. —Uau. —Comentei olhando
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em volta. —É lindo né? —Perguntou Leonardo suspirando.
—É incrível. —Comentei sorrindo. —Eu venho desde que era
criança aqui. –Contou.
—Nossa... Por que ninguém nunca me trouxe em um
desses? —Eu disse contemplando a paisagem. —Quando
tivermos filhos podemos trazer eles aqui. —Ele afirmou.
Meu coração foi a mil. Era tudo que eu precisa saber:
Leonardo sonha com um futuro ao meu lado. —Ótima ideia.
—Me virei para ele. —Quantos filhos você quer ter? —
Perguntei o olhando nos olhos. —Sei lá... —Disse me dando
beijinhos pelo rosto. —Eu quero três. —Afirmei. E ele me
abraçou pela cintura. —Por mim está ótimo. –Concordou
Leo sorrindo. Imagine eu, Leonardo, três filhos em uma
mansão? Seria incrível! Ele começou a me beijar no
pescoço.
—E se começarmos pelo primeiro hoje? —Perguntou e
eu me arrepiei inteira e fechei os olhos. Sorri. —Bobo. –
Falei negando seu pedido e ele me beijou, um beijo educado
já que tinham mais pessoas no balão. —Eu te amo sabia? –
Ele falou entre um beijo e outro. E ambos sem perceberem o
que um estava dizendo ao outro. —Sabia. —Respondi no
meio de toda aquela pegação que já havia se tornado. E
então ele retomou a consciência e pareceu assustado. —O
que foi? —Perguntei sem entender o que tinha acontecido.
—Não deveria ter dito... –Desabafou se afastando. Que
idiota. Como assim ele fala que me ama e depois fala que
não deveria ter dito?! —Mas... Mas não é verdade? —
Balbuciei tentando entender tudo. Ele balançou a cabeça e
olhou para paisagem, e eu fiquei lá paralisada tentando
entender a situação. Sem saber como agir e o que falar
engoli seco para não chorar. Dei um passo à frente e me
aproximei dele. —Desculpe. —Ele pediu me olhando nos
olhos. Apenas concordei com a cabeça e olhei para o céu
fingindo não me importar. Respirei fundo algumas vezes,
para tentar concertar dentro de mim o que Leo havia
estragado: O meu coração.

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Aquela pequena eternidade em silêncio admirando
uma linda paisagem. —Carina... —Começou Leonardo e
então eu olhei. —Eu quero que você seja minha para
sempre. –Desabafou e a minha raiva passou. —E mesmo
sendo um completo imbecil, na maioria das vezes... –
Argumentou sobre suas atitudes. Concordei com a cabeça e
ele segurou minha mão. —Quero que você seja para sempre
minha namorada. –Ele afirmou convicto olhando para
minha mão e colocando uma aliança no meu dedo anelar.
Eu mal conseguia revezar o meu olhar entre os olhos de Leo
e a cena dele colocando a aliança em meu dedo. Minhas
lágrimas caiam como chuva.
—Eu serei sua para sempre. –Sussurrei sem mal
conseguir falar por causa da emoção. O abracei nas pontas
dos pés. Ele me deu um beijo na cabeça. E nunca, nunca fui
abraçada daquele jeito. O olhei nos olhos e segurei seu
rosto. —Eu achei que você nunca fosse me pedir em
namoro... –Expliquei mostrando estar exausta de tanto
esperar e ele sorriu. —Bom, isso não foi muito um pedido,
pois eu tinha certeza que você ia acertar... —Comentou
sorrindo e eu sorri.
—Como tinha tanta certeza? —Perguntei. —Porque eu
te amo. —Afirmou e eu o olhei por alguns segundos antes de
beijá—lo. —Eu também te amo. –Falei e nunca me senti tão
bem ao pronunciar essas palavras que querendo ou não
mudam tudo. Sorrimos bobos, apaixonados e sinceros. Era
tão boa sensação da boca de Leonardo estar na minha, era
uma sensação inexplicável que só pode ser sentida com a
pessoa certa.
As pessoas que estavam em volta começaram a
aplaudir afinal tinham presenciado uma cena nunca vista
antes, uma cena exclusiva de todas as suas vidas Leonardo
Cardoso e Carina Jórdan declarando um para o outro
aquelas três palavras que importam tanto. E depois de
alguns sorrisos para a plateia nos viramos e olhamos para
as estrelas que apareciam no céu. —Leonardo? –Chamei o
olhando, ele virou o olhar para mim. —Me promete que

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nosso amor será como as estrelas? –Perguntei propondo. —
Ele não entendeu então continuei. —Elas nunca param de
nascer e se o nosso amor começar esfriar me prometa que
fará ele nascer de novo. –Expliquei minha teoria de uma
garota apaixonada. Ele passou os dedos delicadamente em
meu rosto.
—Só se você me prometer também. –Foi a resposta
dele e eu achei justo. —Eu prometo. —Afirmei. —Então eu
prometo. –Ele concordou. Ele me deu um beijo na testa e
por alguns segundos fechei os olhos para aproveitar o
momento, desejo que essa promessa tenha valor, desejo que
esse momento seja eterno e desejo que assim como as
estrelas nosso amor nunca pare de nascer. Assim que o
balão pousou totalmente no chão. —Obrigada. —Agradeci
jogando uma piscadela para Leonardo. —Você me faz feliz.
–Ele argumentou meio sedutor e saiu do balão. Estendeu a
mão para me ajudar.—Bobo. —Ri. Andamos pela enorme
fazenda até o estacionamento. E eu bocejei.
—Você quer ir para casa? —Perguntou e eu balancei a
cabeça negativamente. —Não. –Neguei. Eu queria qualquer
coisa menos voltar para os meus problemas. —Então quer
fazer o que? –Perguntou. —Quero andar de carro por aí. –
Expliquei. —Ok. —Ele disse sendo aqueles caras que topam
tudo. Assim que entramos no carro. —Qual será a nossa
primeira parada? —Perguntou animado. —Na casa de show
006! —Afirmei rindo. —Tá de brincadeira... —Comentou
tirando o carro da vaga. —É sério.
—Por que? —Ele perguntou e eu encostei no banco. —
Bom... Agora somos namorados... –Comecei a contar. Ele
me olhou e sorriu, balancei a cabeça, não era o que ele
estava pensando. —No ano passado eu tive um episódio
ruim na minha vida amorosa... –Expliquei e ele me olhou
com ciúmes. —O garoto que eu gostava, Mark foi embora da
cidade... —Quase conclui, mas perdi as palavras. Ele riu. —
Só isso? —Perguntou achando boba a situação. —Quem
dera. —Pensei alto e continuei.

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—Bebi demais e quase, bem quase perdi a virgindade
com um cara ai. –Conclui olhando pela paisagem, para
frente e para trás. Olhava para todos os lados menos o para
o olhar de Leo. Quando o olhei ele me olhava boquiaberto.
—O que foi? É verdade ué. —Eu disse na defensiva. —E eu
te vendo como a pureza em pessoa... –Comentou como se
eu fosse uma qualquer. —Eu falei que já tinha beijado. –
Argumentei. —Sim, mas não que já ficou bêbada, além do
baile de máscaras... –Ele disse e eu concordei. Ele não sabia
da minha fase rebelde.
—Por isso eu sou contra o álcool. —Expliquei e ele
engoliu seco. —Não me diga que continua bebendo? —
Perguntei brava por ver sua atitude quando toquei no
assunto. —Pode ficar calma... Eu só bebi uma vez depois
que te conheci. —Desabafou e então eu sorri. Já que
estávamos mandando a real, decidi entrar em um assunto
que me chatearia se a resposta fosse sim. —Você saiu com
mais alguma garota depois que nos conhecemos? –
Perguntei e nunca tinha tido tanto medo de uma resposta.
—Mas é claro que não. –Respondeu como se a pergunta
fosse idiota. —Bom mesmo... —Comentei. E depois ri. A
risada que dei foi de nervoso. Eu tento, juro que tento
esquecer que beijei Bernardo, mas parece ser quase
impossível.
—Na festa você bebeu por minha culpa? —Perguntou
parecendo culpado. —Você foi o principal motivo, mas não é
sua culpa. –Expliquei. Ele balançou a cabeça. —Não vamos
mais nos matar! –Afirmou Léo usando a minha frase em
tom brincalhão. Rimos. —Ainda não entendi direito o
porquê você quer ir á balada... Se tinha um lugar que mexia
comigo era aquela casa de show. Me fazia me sentir péssima
só de pensar em ir. —Porque ali representa um momento de
dor na minha vida e não quero carregar nada que me traga
tristeza. —Expliquei. Ele não respondeu, pois deve estar me
achando meio pirada, mas na minha cabeça faz todo
sentido.

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Assim que estacionou o carro. —Carina Jórdan a cada
dia que passa você continua me surpreendendo. –Me
elogiou sorrindo e saiu do carro. Fiquei boba e paralisada
por alguns segundos, até que sai sorrindo. Será que era a
resposta para a minha explicação anterior? Bom, pelo
menos depois de mais de um ano cheguei feliz a essa casa de
show. Assim que entramos percebi como aquele ambiente
era horrível. — O que você quer fazer? —Perguntou
Leonardo olhando em volta.
—Eu quero beber alguma coisa... Sem álcool lógico. –
Pedi e ele sorriu. Fomos de mãos dadas com ele até a parte
das bebidas. Me sentei em banquinho enquanto ele foi pedir
as bebidas.Fiquei observando as pessoas, até que um cara
chegou. —Oi gata. –Ele chegou já querendo me cantar.
Odeio esse tipo de ser. —Tenho namorado. —Afirmei e
desviei o olhar. —Ele não vai se importar se eu passar mão
no que é dele. –Ele falou totalmente hipócrita e imbecil. —
Ele vai sim. –Afirmei me levantando com tudo para tentar
ir para perto de Leonardo. Mas o cara me empurrou contra
a parede. Ainda bem que Leonardo era esperto e rápido. —
Solta ela, babaca! —Ele afirmou puxando o cara e depois
deu um empurrão. Meu coração estava a mil. Olhei para
Leonardo e ele olhou para mim. Rapidamente me abraçou.
—Não posso te deixar sozinha... —Comentou. —Nunca. –
Afirmei ainda assustada. —Melhor irmos embora. —Sugeriu
Leonardo. Concordei apenas com a cabeça.
Passamos pelo bar todo até chegar a saída. Entramos
no carro e eu comecei a rir. —Desisto de me consertar com
esse lugar. —Eu disse e Leonardo riu. —Tenho que
concordar que não foi uma boa ideia... —Comentou. —Mas
sabe... —Olhei para os olhos de Leonardo. —Tem mais uma
coisa que podemos fazer. –Expliquei me aproximando de
Leonardo e o beijei.
O modo que nossos lábios sempre se encaixavam da
mesma maneira, como nossas cabeças sabiam que
precisavam se inclinar um pouco e como nossos olhos se
fechavam instantaneamente, tudo parecia tão normal e tão

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singular ao mesmo tempo. Leonardo segurou minha nuca e
me puxou mais para si. —Onde você quer ir? —Ele
perguntou já beijando meu pescoço. —Não é isso que você
está pensando. —Afirmei toda arrepiada e sem vontade
alguma de parar.
—É o que então? —Ele perguntou colocando um de
suas mãos na minha cintura por baixo da camisa que eu
usava. Um arrepio forte percorreu pelo meu corpo. —Eu
quero te mostrar um lugar... —Comentei tentando me
conter. —Me mostra depois. —Ele disse voltando me beijar.
Parei de beijá-lo e me afastei. —Quero te mostrar agora. —
Afirmei e ri. —Ah. —Ele disse mostrando a decepção em
seu rosto e em sua voz. Se jogou no banco. —Desculpa... —
Eu disse segurando o riso, ele pareceu nem ligar, colocou o
cinto e ligou o carro.
—Não precisa pedir desculpa. —Ele disse e começou a
andar com carro. Ele dirigiu até o fim da rua. Quando
tínhamos a opção de virar a direita ou a esquerda. —Para
onde vamos? —Ele perguntou me olhando. —Você vai
adorar... —Comentei antes de responder. Ele sorriu falso,
brincando, eu balancei a cabeça. —Vire à direita. –Ordenei
apontando. Então ele deu seta e virou. —É na Avenida
Paulista. —Afirmei. —O que vamos fazer na Avenida
Paulista? —Perguntou como quem diz eu já fui tantas vezes
lá, o que tem de novo? —É surpresa. –Expliquei. —Não
gosto de surpresas. –Reclamou. —Pena que eu não
perguntei. –Falei totalmente educada. —Você é tão fofa... –
Elogiou Léo. —Obrigada. —Sorri falsa. Ele deu risada. —
Será que seus pais vão sentir sua falta? —Perguntou Leo
dirigindo pela estrada. Ri sarcástica. —Outros dias não
iriam... –Lembre e suspirei. —Mas hoje ia ter a festa em
casa... Então as meninas vão sentir minha falta e vão
comentar com eles. –Expliquei.
Mas a verdade é que nem se importam muito se estou
ou não estou. —Se você ficar de castigo me avisa. –Pediu
Leo rindo. Ri. —Quem vai me obrigar a cumprir algum
castigo? —Perguntei me lembrando que novamente meus

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pais viajaram e Lu não consegue nem me obrigara comer. —
Eu te obrigo. –Afirmou Leo. O olhei e levantei as
sobrancelhas. —Não sabe cuidar nem de si mesmo e vai me
obrigar a cumprir um castigo?! –Falei em um tom de
brincadeira e ri. —Nossa! Senhorita maturidade... —Ele
disse rindo e eu gargalhei. Era bom estar com ele, era leve
estar com ele, era um dos poucos momentos que sentia paz.
E então chegamos na Avenida Paulista, ela como
sempre linda, iluminada, um lugar tão incrível e que me
traziam boas lembranças. —Antes de irmos para lá podemos
ir comer em algum lugar? —Perguntei olhando para Leo. —
Claro. Onde você quer comer? —Ele disse me olhando assim
que paramos no sinal fechado.—Onde você quiser. —Falei e
ele sorriu. —Vou te levar em um dos meus preferidos... –
Comentou.
Os pensamentos de tristeza voltaram a minha cabeça.
Todo o resto vai desmoronar. Minha família, minhas amigas
e todo o resto... Mas o que é todo resto comparado a ter
Leonardo ao meu lado? O resto vira um zero absoluto. Ou
talvez, foi a verdade que inventei para conseguir superar.
Eu amo Leonardo e quero passar o resto da minha vida com
ele.
Ele começou comentar sobre o que achava dos prédios
e que preferia morar perto da praia, mas eu só conseguia
prestar atenção no jeito que ele me olhava. E conclui em
minha mente que ele já era meu, só eu que eu precisava me
entregar á ele. —Chegamos. —Ele afirmou entrando no
estacionamento. Olhei e vi a placa do restaurante.
—Adoro batata recheada. —Comentei e ele sorriu. —
Que bom. —Mas é puro carboidrato e carboidrato só
engorda... —Reclamei e ele abriu a porta do carro. —Não
tem problema... Ainda dá para gastar toda energia essa
noite. —Afirmou e saiu do carro depois de dar uma
piscadinha. Ri balançando a cabeça e também sai do carro.
Leonardo passou o braço por cima do meu ombro e
entramos no restaurante.
Nos sentamos e logo o garçom trouxe o menu.
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—Boa noite. —Disse o garçom.
—Boa noite.
—Boa noite.
—O senhor e a senhorita preferem escolher do menu
ou aceitar a sugestão do chef para casais? –Perguntou o
garçom muito atencioso. Eu normalmente não pedia a
sugestão do chef em restaurantes, pois não gosto que as
pessoas escolham por mim, me sinto sem poder e eu gosto
de estar no poder.
—Qual é a sugestão do chef? —Perguntou Leonardo
pensativo. —Se chama "O amor é como as estrelas" —
Afirmou o garçom e eu fiquei boquiaberta. Leonardo sorriu
para mim e jogou uma piscadela. —Nós queremos a
sugestão do chef. —Afirmei e Leo que ia dizer alguma coisa
fechou a boca. —Ok então. —Afirmou o garçom e saiu.
—Você nem sabe qual é o recheio. —Reclamou Leo
sobre o meu pedido. —E daí? —Perguntei. —E se for ruim?!
–Retrucou —É a sugestão do chef – afirmei. E para caso ele
não entendesse conclui. — Não vai ser ruim. O olhei
mandona e decidida. —Tomara... —Ele disse e sorriu como
se gostasse de me ver brava. Aquele sorriso que eu sentia
falta durante meus dias longe dele. O sorriso sedutor que só
ele, Leonardo Cardoso sabia dar.
—E além do mais é sobre o que falamos mais cedo. –
Expliquei. —E na verdade esse é o verdadeiro motivo para
ter pedido... —Comentou como se não ligasse desviando o
olhar. Cerrei os olhos e ele me olhou rindo. —Não precisa
ficar brava. –Aconselhou. Não sei por que ele sempre acha
que estou brava. —Eu não estou brava. —Discordei olhando
para o lado.
Avistei Jéssica com um carinha que nunca tinha visto
na vida. —Meu Deus! —Sussurrei abismada, mas sem poder
gritar. —O que foi? —Perguntou Leonardo olhando na
mesma direção que eu. —Não acredito que ela está aqui... –
Comentei ainda pasma. —A conhece? –Perguntou Leo ainda

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confuso. —Ela é minha melhor amiga, mas estamos
brigadas...
—Se vocês estão brigadas... —Começou Leonardo e eu
o olhei repreendendo—lhe. —Não é por que estamos
brigadas que não somos amigas. –Discordei e agora admito
que fiquei um pouco irritada pois as pessoas sempre acham
que se brigamos com a melhor amiga ela para de ser nossa
amiga e isso não é verdade. E ele me olhou com a maior
cara de "ué". —Muito complicado para os homens... —
Conclui. E ele me olhou entediado.
—Eu não sabia que tinha uma amiga tão loira e que
parece bem mais velha... —Ele comentou e eu olhei na
direção que ele estava olhando. Ele estava olhando para a
pessoa errada. —É um pouco mais para direita. —Expliquei
e ele olhou. —Ah tá! –Exclamou Leo. Espera. –Disse ele
parecendo levar um susto. Olhei para ele. —Aquele cara que
está com ela não é bom não. – Explicou e meu coração
acelerou. —Mas você também é da pesada e aqui estamos
nós... —Comentei. —É mas... –Começou e não terminou. —
Mas o que? —Perguntei querendo saber o que ia dizer. —Eu
mudei, ele não tem cara de ter mudado. —Concluiu Leo e eu
quase desmaiei. —Ai meu Deus! O que vamos fazer? —Falei
apavorada.
Me lembrei dos momentos com Jéssica e de quanto
fomos felizes. Ela não podia sair com qualquer um por aí. —
Nada. –Negou Leo O olhei bufando. —Como não vamos
fazer nada? —Perguntei histérica e o garçom chegou.
Olhamos para ele, e eu tentei parecer calma. —Aqui está o
prato da senhorita. —Colocou a batata recheada "O amor é
como as estrelas" na minha frente. —Obrigada. —Sorri.
O Garçom entregou a de Leonardo. Não conseguia
tirar os olhos de Jéssica e de o cara que eu nem sabia o
nome. —Amor? —Chamou Leonardo. O olhei meio sem
prestar atenção. —Oi? —Perguntei. —Para de olhar para
eles. —Ordenou. —Não posso... –Neguei ainda triste por
ela. —Está desperdiçando o tempo comigo para olhar para
eles... —Comentou com ciúmes e eu ri. —Se não fosse
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trágico, seria engraçado. —Afirmei rindo. —Não é tão
trágico... —Discordou Leo. —E nem tão engraçado... —
Afirmei mostrando minha indignação.
—Carina agora é sério, vamos comer e ficar de boa... Se
ela é sua amiga é porque é esperta igual você. —Ele disse e
não consegui concluir se era brincadeira ou não. Suspirei e
pensei antes de responder. —Tá bom então. –Concordei
assim que o olhei e percebi que era sério. —Bom mesmo.
Não estraga nossa noite... –Disse Leo e começou a comer a
batata. Fala de mim, mas também é todo nervosinho. E foi
ai que eu o olhei e entendi que ele tinha me chamado de
amor e que isso podia ser tão normal e eu queria que fosse,
queria tê-lo para sempre me chamando de amor, queria que
fosse normal, queria que fosse todos os dias, desejei que
fosse para sempre.
—Exatamente. –Falei depois de um tempo em silêncio.
—Nossa noite. —Afirmei e um sorriso sincero apareceu nos
lábios de Leonardo. Assim que acabamos de comer, fomos
embora, estava ansiosa para levar Leonardo até o lugar e ele
parecia tão ansioso quanto. —Estou ansioso para saber onde
minha namorada vai me levar... —Comentou Leonardo
rindo enquanto andávamos pelo estacionamento de mãos
dadas. —Um lugar muito especial. —Afirmei e ele abriu a
porta para mim, sorri para ele e entrei no carro.

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Capítulo 11

Eu não sabia o que iria acontecer e não sabia o que eu


queria que acontecesse, mas eu precisava levar ele lá porque
nunca havia levado alguém lá, sem ser Jéssica e porque era
especial para mim, tanto quanto Leonardo Cardoso havia se
tornado. Rapidamente Leo entrou do lado do motorista e
me olhou. —Eu te amo. —Falei. —Eu também te amo. —
Afirmou e suspirou aliviado.
Saímos do estacionamento e Leonardo dirigiu pela
Avenida Paulista. —É do lado do prédio verde. —Apontei e
Leonardo olhou para o prédio. —É a empresa do seu pai? —
Perguntou sem entender. —Sim... Mas tem uma lugar lá que
é especial e eu quero te levar lá. —Expliquei e ele
concordou. —Vamos estacionar em outro lugar... —Disse
Leonardo dirigindo mais um pouco e estacionando em um
lugar que era permitido. —Vamos ter que entrar pelas
portas do fundo... —Expliquei saindo do carro, mas é
seguro, meu pai sabe que ás vezes faço isso. —Quantos
caras já trouxe para o seu lugar especial? —Perguntou rindo
e tentando disfarçar seu ciúmes. —Obviamente você é o
primeiro. —Respondi e sai andando.
Entramos na empresa pelo corredor do lado que
levava até uma enorme escadaria. Subimos e passamos por
um longo corredor até que chegamos em outro lance de
escadas. E finalmente chegamos no terraço. E assim que
chegamos, sorri. —É aqui. —Afirmei e peguei a chave que
estava em meu bolso. Abri a porta e entramos juntos.
—Nossa! —Ele exclamou assim que soltei sua mão e
acendi as luzes. O terraço da empresa era como um lugar de
lazer. Havia sofás e colchões de ar e que normalmente eu
usava com Jéssica para vermos as estrelas. —Gostou? —
Perguntei e fechei a porta. —Você é demais. —Elogiou e me
puxou para um beijo.

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Um beijo que começou doce, quase como um carinho,
mas que esquentou e quando me dei conta já estávamos
deitados em um colchão. Meu cérebro parecia não
funcionar, eu só queria mais e mais. —Era para
admirarmos as estrelas... —Brinquei em meio aos beijos. —
Eu não aguento mais esperar. —Afirmou Leonardo beijando
meu pescoço. —Nem eu. —Afirmei toda arrepiada.
Na verdade eu aguentava, mas queria tentar. Era algo
novo, algo que eu nunca tinha experimentado. Dizem que
quando é a hora certa você simplesmente sabe, isso não é
verdade, você nem sabe o que é então não tem como saber
se é a hora certa, mas seu corpo vai desejar, os seus
hormônios estarão a mil e pela primeira vez, talvez, o seu
coração e o seu cérebro concordaram que querem aquilo.
Ele me olhou nos olhos e naquele momento pude
desvendar todo olhar de Leonardo. O olhar que na primeira
vez que olhei não consegui desvendar se quer uma palavra.
Mas agora, com a entrega mútua. Basta um olhar para eu
saber o que ele pensa.É como se nos conhecêssemos há
anos, como se um corpo se encaixasse no outro e formasse
algo perfeito. É algo eterno que para estar completo precisa
de ambos. —Eu te amo. —Afirmei. —Eu te amo. —Ele
afirmou e voltou a me beijar.
Eu imaginava que seria algo estranho e vergonhoso,
mas foi apaixonante. Não foi algo que eu só estava fazendo
porque meu namorado queria e sim porque eu o amava o
bastante para me entregar. Leonardo se deitou ao meu lado
e pareceu ficar paralisado, decidi não perguntar e me
concentrei no que eu estava sentindo. Minha respiração
estava começando a desacelerar e meu corpo voltando a
funcionar.
Uma lágrima de felicidade e paixão escorreu pelo meu
rosto, a sequei assim que percebi, não queria que ele me
visse chorando. Leonardo no entanto, virou para mim e se
apoiou no braço direito para me olhar nos olhos. —Você
está bem? —Perguntou acariciando meu rosto. Um leve

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sorriso apareceu em meus lábios. Me virei, ficando frente a
frente ele.
—Eu nunca estive melhor. —Afirmei acariciando o
peitoral malhado de Leonardo. Um sorriso orgulhoso
apareceu nos lábios de Leo. —Eu te amo. —Confessei
recebendo um beijo na testa. —Eu te amo mais. —Retrucou
em tom brincalhão e sério ao mesmo tempo. Aliás, esse é
um talento que apenas Leonardo Cardoso tem, o talento de
me fazer sorrir em momentos sérios. Balancei a cabeça
rindo e ele me puxou para deitar em seu peitoral.
—Sabe Carina... —Sussurrou subindo e descendo os
dedos pelas minhas costas. —O que? —Perguntei sem
desgrudar o rosto de seu peitoral. —Eu nunca estive tão
feliz, tão completo e tão apaixonado em toda minha vida. —
Admitiu parecendo estar envergonhado. Levantei meu
rosto e arrumei um jeito de olhar em seus olhos. —E são por
esses motivos que eu amo amar você. —Confessei e dei um
beijo em seus lábios que eu tanto amava.
—Você conseguiu transformar o sapo em príncipe. —
Afirmou e eu eu ri encostando meu rosto em seus ombros.
—Eu era meio boba... –Comentei. E realmente eu era. A
vida não é feita só de príncipes e para sempres, a vida na
verdade é feita de sapos e de agoras e isso é o que realmente
importa. —Você nunca foi boba. —Discordou. —Ah, eu
achava que príncipes encantados eram perfeitos... Sem
pensar que o sapo poderia me amar mais do que um
príncipe. –Expliquei, ele riu e me apertou contra seu corpo.
Ah, como eu estava feliz e como tudo parecia perfeito.
Os problemas estavam distantes e eu tinha tudo o que eu
mais amava. Como amar é bom, como amar é necessário e
como amar é infinito. Ficamos conversando até que por um
descuido do destino, dormimos.
Senti uma brisa da manhã bater em meu rosto, abri os
olhos e me assustei. —Droga! Já é de manhã. —Pensei. Me
sentei e passei as mãos no rosto, eu deveria estar horrível,
meu cabelo já não era o mesmo da noite anterior. —Meu
Deus! —Exclamei olhando para o céu novamente como se
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não quisesse acreditar que já era de manhã e o Sol já tinha
nascido. Olhei para Leonardo tentando pensar o que fazer,
eu não queria que ele me visse nesse estado, mas também
não podia o largar ali. Ficar o olhando sem saber o que
fazer só fez com que ele acordasse. —Bom dia. —Disse
sorrindo e se espreguiçando. —Amanheceu... —Comentei
ainda com medo do que poderia acontecer. —Amanheceu.
—Ele concordou rindo.
—Não podíamos passar a noite aqui. —Afirmei
desesperada me levantando. —Você que deu boa noite
primeiro. —Argumentou. —Eu não raciocino direito quando
estou com sono. —Retruquei pegando minhas coisas. —Fica
calma. –Ele pediu e isso me irritou. —Eu não estou nervosa,
mas precisamos ir embora logo. — Expliquei. Leonardo
olhou em volta e pensou antes de responder. —Você tem
razão. —Concluiu. —Ah jura? —Perguntei sarcástica.
—Ai Carina nem começa com seus chiliques logo cedo.
—Ele disse e se levantou para pegar suas roupas. —Não é
chilique! —Afirmei colocando minha sapatilha. —Tanto
faz... —Foi sua fala para não arrumar briga. O olhei
arqueando as sobrancelhas. Ele estava lento demais para a
situação. —Tá bom! Tá bom! — Ele obedeceu colocando a
camiseta. —Eu só preciso ir no banheiro antes. —Falei
lembrando da minha horrível aparência pela manhã. Ele me
encarou querendo me apressar.
Ainda bem que o banheiro estava aberto e eu pude dar
uma melhorada no meu visual em cinco minutos com o que
tinha na minha bolsa e agora estava quase tão linda como
ontem a noite. —Vamos logo! —Eu afirmei abrindo a porta
e apagando as luzes que acabaram ficando acesas durante
toda a noite. —São seis e meia da manhã. —Leonardo
reclamou após olhar o celular. —Ainda bem que é cedo. —
Afirmei e continuei. —Assim não precisamos nos esconder
dos funcionários... —Conclui e sai descendo as escadas.
Eu descia quase que correndo pelas escadas enquanto
Leonardo descia mais lento que uma tartaruga como se não
estivesse preocupado. Parei e o olhei. Assim que ele chegou
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próximo o bastante. —Qual parte que você... —Comecei e ele
me interrompeu me puxando pela cintura e me beijando.
Empurrei ele um pouco para tentar resistir, mas foi
impossível... —Está mais calma amor? —Ele perguntou
sorrindo sedutor. —Engraçadinho você em! —Sorri e ele deu
uma leve risada. —Ás vezes, precisamos de algo para nos
acalmar...
Eu só consegui me acalmar de verdade quando saímos
da empresa e entramos no carro. —Ufa! Pelo menos até
aqui deu certo... —Eu disse aliviada olhando Leonardo nos
olhos. —Eu quero passar todas as noites da minha vida com
você... –Informou. —Eu também. —Concordei. Ele me deu
um beijo na testa. —Onde você quer tomar café da manhã?
—Perguntou olhando para a rua. —Cafeteria Paris. —
Afirmei até respirando fundo só de pensar no cheirinho do
café daquele lugar. —Ok. —Ele disse e ligou o carro. —Tem
algum aqui perto? —Perguntou. —Sim é só virar na próxima
esquerda. –Expliquei.
Passei a mão em meu rosto e pensei o quanto era
sortuda. O quanto as meninas desejavam viver um grande
amor e eu tinha esse grande amor em minhas mãos.
Lembrei de cada cena e de cada toque da noite anterior e
coloquei uma meta em minha vida: Parar de reclamar, pois
essa é a vida mais perfeita que eu poderia ter. —O que foi?
—Perguntou Leonardo enquanto eu sorria boba e ele
atrapalhou meus pensamentos. —A minha vida está
completamente perfeita. —Afirmei. E ele riu.
—Carina Jórdan não tinha a vida perfeita? —
Perguntou mostrando surpresa e em tom brincalhão. Não
aguentei e ri. —Bobo. –Comentei. —Talvez... Porém é desse
bobo que você gosta. –Disse Leo todo orgulhoso. Rimos.
Avistei a placa da cafeteria. —É ali. —Apontei para a placa.
Leonardo então olhou e virou para estacionar na frente da
cafeteria.
—Ainda bem que chegamos. Estou morta de fome. —
Eu disse me olhando no espelho antes de sair do carro. —
Você nunca esteve tão linda... —Ele disse galanteador. Dei
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um selinho nele e sai do carro. Tudo estava mais leve. Tudo
era mais doce. Tudo mais alegre. Acho que é por isso que o
amor move o mundo. —Você gosta de melancia? —Me
perguntou parecendo curioso enquanto tomávamos nosso
café da manhã. Ri e o olhei. Era tão engraçado vê—lo tentar
puxar assunto.
—Eu odeio melancia. —Afirmei. —Sério? —Perguntou
surpreso. —Sério. –Concordei. —Eu adoro melancia. —
Afirmou e eu ri. —Eu prefiro torta de limão... —Comentei.
—Não sou muito fã de doce. —Acrescentou. —Eu sou a louca
dos doces, mas quase não como... –Expliquei. —Por que? —
Perguntou se apoiando na mesa. —Você acha que ser Carina
Jórdan é fácil? —Perguntei jogando o cabelo para o lado. —
Acho. —Afirmou com toda certeza do mundo e olhou para o
lado com se não se importasse.
Meus nervos já subiram a flor da pele, eu ia gritar, mas
Leonardo me olhou e abriu um sorriso orgulhoso. —É quase
impossível ser Carina Jórdan. —Afirmou e jogou uma
piscadela. —Eu já ia gritar... —Resmunguei. —Você é meio
dramática às vezes. –Comentou Leo. —Não sou! —Contestei
pela minha dignidade. —Ah é sim... —Retrucou comendo o
último pedaço do croissant que havia pedido. Revirei os
olhos.
—Você é o maior imbecil às vezes e nem por isso fico te
chamando de imbecil por aí! —Eu disse toda dramática
fazendo um milhão de gestos com as mãos. —Você tem
razão. —Admitiu mostrando tristeza. —Eu sempre tenho
razão. —Afirmei brincando e ele sorriu. Me lembrei de algo
que eu queria perguntar há algum tempo, mas antes da
noite que passamos temia que ele me achasse louca.
—Era você não era? —O olhei com um olhar mais
sério. —Quando? — Perguntou rasgando um guardanapo
em um milhão de pedaços, eu não faço a mínima ideia
porque ele faz isso, mas ele sempre faz. —Quando eu estava
com as minhas amigas indo ver o salão de festas... —Ele
suspirou e essa foi a resposta. —Era você mesmo. —Afirmei
tentando não chorar. —Por que você não foi falar comigo?
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—Perguntei colocando uma mecha do cabelo atrás da orelha
e o olhando nos olhos. Ele engoliu seco.
—Por que você não foi falar comigo? —Retrucou uma
pergunta na qual eu não tinha resposta. Olhei para as mãos
de Leonardo que ainda rasgava o guardanapo. —Eu... Eu,
não consegui. —Balbuciei e me enrolei nas palavras. —Eu
também não. –Negou. O olhei concordando com a cabeça e
suspirei triste. Ele mordeu os lábios e finalmente parou de
rasgar aquela folha de guardanapo, esticou a mão e eu
estiquei a minha. Ele então a pegou e a acariciou.
—Podia ter sido tudo diferente né? —Perguntei meio
que já sabendo a resposta. Ele olhou para nossas mãos que
se acariciavam na mesa. —Nunca iremos saber. –Explicou.
Fomos idiotas demais, infantis demais e orgulhosos
demais... —E isso é bom? —Perguntei tentando entender. —
É... Eu gosto de como está. —Ele disse levantando o olhar.
—Eu também gosto. —Sorri levemente e ele sorriu de volta.
Conversamos mais um pouco, demos muitas risadas e
infinitas gargalhadas. Estar com ele era assim fácil de
acostumar. Decidimos ir embora, pois já estava ficando
tarde. —Onde você tem vontade de morar? —Perguntou
Leonardo enquanto dirigia até meu condomínio. —Eu não
tenho problema com a cidade, mas adoraria passar um mês
por ano na praia. Sem preocupações e trabalho... —
Respondi em meio de sorrisos e sonhos. —Um sonho? —
Perguntou totalmente fascinado por tudo que eu falava. —
Eu quero dar orgulhos aos meus pais... —Desabafei. —
Sempre farei o máximo para os ver eles sorrindo de orgulho.
—Afirmei e fiquei envergonhada.
—Parece até um sonho meio bobo. –Comentei. —Não
é, aliás, mostra que você se importa com eles. —Qual é seu
sonho Leonardo Cardoso? —Perguntei olhando na direção
dele. —Eu quero ser melhor... Ser melhor comigo mesmo e
com as pessoas. —Contou e eu sorri. —Você se importa de
termos a lua de mel na Arábia? —Perguntei meio sem
pensar e meio que refleti. Começamos namorar ontem e eu

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já estou pensando na lua de mel. Se estou criando mais
expectativas a cada dia? Claro que sim.
—Na Arábia? —Perguntou confuso. —Sim. —Afirmei
sorrindo e ele riu. —Lá tem hotéis perfeitos... —Expliquei. —
Aqui em São Paulo tem hotéis perfeitos... —Disse sarcástico.
—Não dá para comparar! –Discordei. Ele riu. —Eu passaria
minha lua de mel em qualquer hotel luxuoso do mundo,
pois o que eu mais quero nessa vida é estar com você. Eu
mal conseguia piscar, pois olhar aqueles olhos que já não
eram mais segredos para mim é como olhar a visão da torre
Eiffel.
Escutar essas palavras da boca de Leonardo me traz a
certeza que nosso amor sempre será como as estrelas. Não
um amor de contos de fadas, mas um amor com altos e
baixos onde a confiança e lealdade continuam a mesma. —
Não quero que você seja preso... —Comentei triste. —Já
conversamos sobre isso. — Ele disse cortando o assunto. —
Conversamos, mas não decidimos nada... —Resmunguei
olhando para o lado. —O que você quer decidir Carina? –
Perguntou um tanto irritado. Eu cresci em um ambiente
onde tudo era planejado, onde tudo era extremamente
calculado, mas no meio da vida encontrei Leonardo um cara
totalmente desregrado.
—Não sei... —Eu disse sem saber sobre o que discutir e
pensando o que tinha para discutir. —Quando chegar perto
de acontecer, soubermos o tempo e todo o resto... Ai
tentamos planejar nosso futuro. —Ele disse parecendo
sereno enquanto meu coração doía só de pensar que
ficaríamos anos separados. Leonardo dirigiu o carro por
mais uns dez minutos e eu observei as pessoas que andavam
pelas calçadas. Algumas pareciam felizes e outras tristes e
percebi então que eu decido se serei feliz ou triste.
Ele estacionou próximo da portaria do condomínio e
me olhou sorrindo. —Eu amei cada minuto que passei ao
seu lado. Eu te desejo cada dia mais e mai. —Ele disse quase
em sussurro no meu ouvido, como se alguém pudesse
escutar, mas ao mesmo tempo com a certeza que só eu iria
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escutar. —Obrigada por me fazer a garota mais feliz desse
mundo. —Agradeci e ele segurou meu rosto com uma das
mãos me puxando para um beijo. —Nunca ninguém me fez
se sentir desse jeito que me sinto quando estou com você...
—Comentei o olhando nos olhos.
—Eu te amo. —Afirmou . —Você vem quando? —
Perguntei. Eu já queria saber para ficar esperando ansiosa.
—Amanhã a noite estou livre. —Contou e um largo sorriso
se abriu em meu rosto. —Então combinado. –Concordei
feliz. —Até amanhã. —Me despedi e abri a porta do carro.
Sai andando e ele ficou me observando de longe até eu
entrar no condomínio. Nesse exato momento me senti
amada. Palavras e atitudes românticas são legais, mas
alguém zelar pela sua vida não tem preço.
Entrei e caminhei feliz e calma até minha casa. Abri a
porta de casa toda sorridente, mas me deparei com minha
mãe, meu pai e Lu me olhando sérios. Mordi os lábios tensa.
—Por que não foi a escola com Jéssica? —Perguntou minha
mãe antes de eu poder explicar qualquer coisa. Me
perguntei: Por que eu iria para escola com Jéssica? —É
que... —Pensei antes de responder. — Eu estou passando
mal... —Comentei colocando a mão na barriga. Ela levantou
as sobrancelhas sabendo que era mentira, mas decidiu não
estressar meu pai então suspirou e sorriu.
—Ah filha, por que não disse antes? —Ela disse indo
em minha direção e pegando minha mão. Meu pai e Lu
olhavam a cena sem entender nada. —Oi pai. —Soltei a mão
de minha mãe e o abracei. O abracei como quando era
criança, o abracei profundamente. —Oi querida. —Ele disse
me recebendo em seus braços e quase, quase chorando. E o
meu interior se lembrou de que ele estava doente, ele estava
morrendo e mesmo que todo mundo estivesse morrendo,
parecia que o tempo seria cruel conosco. Como eu fui capaz
de estar feliz quando era para eu estar chorando?
—Você está bem? —Perguntei sabendo que não estava,
mas com a esperança que tivesse. —Estou sim e você? —
Perguntou sorrindo como se nada de errado estivesse
- 128 -
acontecendo. Meu pai por fora estava forte e bonito como
sempre, mas e por dentro? Será que ele estava sendo
degradado por dentro a cada dia? O meu maior desejo era
perguntar sobre a doença e sobre o tratamento que
começaria em poucos dias, mas o meu maior medo era
escutar sobre ambas. Decidi então me calar naquele
momento e só responder o necessário.
—Também. —Respondi —Ótimo. –Ele falou até que
feliz para a situação. Me soltei de seus braços. —Então
querida vai descansar que mais tarde vamos almoçar fora.
— Informou minha mãe sorrindo e se ela não fosse minha
mãe podia jurar que ela era mais falsa que algumas meninas
da minha idade. Dei de ombros e olhei para Lu. —Me
perdoa, por favor... –Pedi e se fosse necessário eu iria
implorar. Ela concordou com a cabeça e estendeu os braços
para eu abraçá—la. Suspirei aliviada. —Eu te perdoo por ser
chatinha às vezes... —Comentou Lu e eu ri. Lu era a pessoa
que eu não podia ficar sem falar, pois sem ela eu não sou
Carina Jórdan. A soltei e olhei para minha mãe.
Assim que entrei bati a porta. Tirei meus sapatos e os
joguei em qualquer canto, fui até a estante para pegar meu
celular. Assim que a tela acendeu vi que tinha exatamente
25 ligações perdidas de Jéssica. Rapidamente liguei para
ela. —Alô! —Atendeu. —Jéssica está tudo bem? —
Perguntei. Eu sou uma trouxa quando o assunto se trata em
ficar brava com a Jéssica. —Está sim. —Afirmou Jéssica
meio sem assunto.
—Você pode vir aqui? –Perguntei, pois precisávamos
resolver nossos problemas olho no olho. Ela demorou
alguns segundos para responder. —Claro que posso. –
Concordou. —Ok. Você foi para escola? —Perguntei para ter
certeza. —Estou aqui, mas é fácil fugir. –Explicou. —Já vou.
—Ela quase sussurrou. —Estou te esperando. —Desliguei.
Joguei o celular na cama. Como Jéssica sabia que eu não
estava em casa? Será que ela tinha me visto com Leonardo
na noite passada?

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Para me acalmar, decidi tomar um banho e para falar
a verdade estava precisando para ficar apresentável. De
roupão e toalha enrolada na cabeça decidi pesquisar sobre
doenças para tentar diagnosticar a do meu pai sem
perguntar. Um conselho? Não façam isso. Foi uma ideia
completamente e absurdamente idiota.
Conheci doenças que nunca tinha ouvido falar e
percebi que de verdade as pessoas morrem de uma hora
para outra. Assim, do nada! Não tão do nada, pois as
pessoas não morrem pelo exterior e sim pelo interior e
muitas vezes, a maioria das vezes na verdade, não
conseguimos enxergar esse interior e saber quanto tempo a
pessoa amada tem de vida. Aos prantos, fechei o notebook
e fui me arrumar.
Assim que acabei de secar o cabelo, ouvi alguém
batendo na porta. —Entra! —Exclamei saindo do banheiro e
jogando e meu cabelo para trás. A porta se abriu e era
Jéssica sorrindo. —Oi. —Ela disse parecendo mais animada.
—Oi. —Sorri. Ela fechou a porta e eu fui até o sofá e me
sentei, ela fez o mesmo. —Eu fui exagerada... —Comecei. Ela
concordou, mas me interrompeu. —Eu também errei. Se
você me perdoar, eu te perdoo. –Ela disse com toda
maturidade do mundo. Suspirei e a olhei. Eu não gosto de
ficar pedindo perdão, mas era necessário. Eu concordei com
a cabeça.
–Eu perdoo, até porque um dia também já estive
quase que na sua situação... —Falei concordando com ela e
afinal essa briga não levaria a nada. —Então está tudo bem
entre a gente? —Ela perguntou dando ênfase com o olhar
confuso. —Sim. —Afirmei quase voltando atrás. —Então
ok... —Comentou pensativa. —Como você sabia que eu
estava fora? —Perguntei. Tive medo da resposta. —Na
verdade, eu não sabia. —Ela começou explicar e se esticou
no sofá. —Sua mãe ligou lá para saber sobre você. E então
eu, como uma boa amiga, disse para ela que você estava em
casa e que passaríamos a noite no terraço da empresa. —Ela

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me explicou fazendo gestos com as mãos e eu fiquei
boquiaberta.
—E você onde passou a noite? –Perguntei para ver se
ela falava sobre o carinha da pesada. —Não importa. —
Desconversou e voltou a falar sobre mim. —Mas e você onde
esteve? —Perguntou e eu a olhei para o lado. —Ah... —Sorri.
—Não fiz nada de errado. —Expliquei —Imagino... —
Comentou quase rindo. —Hum. —Resmunguei. —Agora é
sério Carina... —Ela disse e eu a olhei sem entender. —Eu
sai com um cara, mas sei lá, não é nada sério. —Falou e eu
ri.
—Vou ficar impressionada o dia que você disser que é
sério... —Comentei rindo. Jéssica nunca teve um
relacionamento sério. Ela balançou a cabeça e pareceu
aflita. —Eu e ele... Você sabe NE. —Balbuciou e eu entrei em
choque. Ai que burra! —Não acredito. —Falei pasma. —Eu
precisava te contar... Desabafar. —Ela disse calma quase
sem voz e eu quase entrei em choque. —Mas como foi? —
Perguntei a olhando e tentando não piscar tanto.
—Uma coisa minha mãe tem razão... Foi ótimo, mas
depois... Me arrependi. —Desabafou e algumas lágrimas já
estavam caindo. —Ai Jéssica...—Lamentei a abraçando.
Enquanto ela chorava eu me corroia por dentro pensando se
contava ou não contava para ela sobre mim e sobre
Leonardo. Preferi parar de pensar em mim. —Fica calma...
Vai dar tudo certo. —Repeti essas palavras umas 50 vezes
sem dúvidas.
Eu e essas minhas amigas que são mais piradas do que
eu. —É impossível! —Afirmou Jéssica se afastando de mim.
—Você errou, mas daqui alguns anos vai lembrar disso e rir.
Rapidamente decidi contar o que eu e Leo tínhamos feito na
noite passada. Não sei se é uma boa ideia, mas é o que me
resta. —Desculpa... Tenho que te contar uma coisa. —Falei
a olhando com um pouco de medo do que ela iria pensar.
—O que? —Ela perguntou meio sem ligar para o que
eu ia dizer. —Eu também tive a minha primeira vez ontem.
—Afirmei rápido e em um tom baixo de voz. O rosto dela
- 131 -
mostrou surpresa, mas depois ficou pensativa. —Com
quem? —Perguntou. E nesse momento pensei o suficiente
para concluir que se ela perdeu a virgindade ontem, quer
dizer que não fez nada com o Mark.
—Jéssica você não tinha feito nada com o Mark? —
Perguntei mudando de assunto e também mais interessada
nesse. —Não tenta mudar de assunto! –Ela exclamou. Mas
nem tinha sido a minha intenção. Levantei as sobrancelhas.
—Ok. Só foi pegação com o Mark, juro que não fizemos mais
nada. —Falou e eu sorri. —Por que não me contou? –
Perguntei, se tivesse me contado eu não teria ficado tão
brava.
—Não me diga que perdeu a virgindade com o Mark? –
Gritou como se soubesse de alguma coisa. —Fica quieta
Jéssica! —Exclamei repreendendo—a. —Ai desculpa... Mas
foi com ele? –Ela perguntou e os olhos dela saltavam de
curiosidade. Não sei o porquê de ela estar feliz, algumas
noites atrás ela estava na maior pegação com ele. A olhei
com negação. —Não, não foi com ele! —Respondi. —Ah ufa!
—Comentou mais aliviada.
—O que te fez pensar que eu teria minha primeira vez
com ele? —Questionei mostrando nojo. —Pelo jeito que você
ficou brava quando soube da nossa pegação e pela alegria
que demonstrou por eu não ter perdido a virgindade com
ele, só pude imaginar que ainda gostasse dele. —Explicou e
eu gargalhei. Mal sabe ela que essa história não tinha nada a
ver com o Mark.
—Eu não fiquei brava e nem feliz por ele, mas por
você... —Expliquei sendo totalmente sincera. —Ah. —Ela
soltou em forma de resmungo. —Eu tive a minha primeira
vez com Leonardo Cardoso. —Afirmei, ela sorriu e depois
ficou confusa. Como explicar tudo sobre ele? —Quem é
Leonardo Cardoso? —Questionou. —Meu namorado... —
Comentei. —Nossa Carina! Você nunca me conta nada... —
Reclamou.—Para de ser tão dramática. —Aconselhei.
Eu era tão dramática quanto, mas só eu podia ser
dramática, ela não. —Agora quero saber tudo sobre
- 132 -
Leonardo Cardoso. —Informou. Eu confiava em Jéssica
apesar de suas idiotices de sempre, somos amigas há anos e
amizade como a nossa não pode ser jogada fora. Dizem que
uma amizade de mais de sete anos provavelmente durará a
vida inteira e a minha amizade com Jéssica já tem mais de
dez anos. Suspirei apaixonada e comecei a falar sobre
Leonardo.
Não sabia como ela ia lidar com o assunto do
sequestro então pulei para a parte das qualidades de Leo. —
... e ele me trata tão bem. —Conclui sorrindo. Ela sorria em
êxtase. —Como se conheceram? —Perguntou super curiosa.
—Essa parte que complica... —Falei e ela ficou boquiaberta.
—Fala logo Carina. —Ordenou rindo. Tampei os olhos com
as mãos por alguns segundos antes de começar.
—Nos conhecemos no se... Sequestro. —Balbuciei e ela
ficou com a maior cara de ué. Continuei, pois sabia que logo
de início ela não entenderia. —Ele é filho do criminoso que
mandou me sequestrar... Durante toda história Jéssica fez
caras e bocas. E assim que acabei a olhei seriamente nos
olhos. —Ele te sequestrou. —Afirmou Jéssica abismada. —
Você não entendeu nada da história? —Perguntei. Droga,
ela não me entendeu. —Entendi tudo, mas ainda acho que
ele tem culpa das coisas... —Falou e eu concordei com a
cabeça.
—Tem mesmo e ele sabe. Ele fez muitas coisas erradas
na vida... Mas ele já melhorou muito e quer ter um futuro ao
meu lado. —Falei tão apaixonada que ela deve ter me
achado louca. —Eu não concordo com isso... —Esclareceu.
Ela não concorda com o que Brasil? Não pedi a opinião dela
só estava desabafando. —Jéssica, não tem com o que
concordar ou com o que discordar. –Eu disse tentando não
arrumar briga e ser educada. —Claro que tem! —Discordou.
—Eu amo ele e ele me ama qual a discussão? —Reclamei
com uma pergunta. —Ele é o cara que te sequestrou. —
Afirmou levantando do sofá. Respirei fundo para tentar não
falar o que sabia sobre o cara da primeira vez dela, mas não
aguentei.

- 133 -
—Sabe o cara que você saiu ontem?! Ele é do crime
também. –Desabafei, pois ela se acha a boazona de ficar
saindo com todos que vê pela frente e eu não posso namorar
quem eu quiser. A irritação de Jéssica apareceu na hora. —
Só está dizendo isso porque trocou o bem pelo mal. —
Retrucou. —Por que eu falaria isso se não fosse verdade? —
Perguntei indignada. —Porque você se apaixonou pelo seu
sequestrador e agora quer que eu me sinta mais mal só para
não estar melhor que você. –Ela explicou sua tese maluca
enquanto a única coisa que eu queria era uma amiga ao meu
lado.
—Que? —Exclamei me levantando. —Eu me apaixonei
pelo meu sequestrador?! Talvez. Mas eu fiz ele mudar
primeiro, eu fiz ele me amar, eu fiz ele ser melhor antes de
me entregar a ele e você? O que você fez com a sua
fugidinha de casa ontem a noite? Se entregou sem receber
nada em troca. –Afirmei para deixá—la triste mesmo. —
Tanto faz... —Balançou a cabeça e eu fiquei a encarando. —
Não diga que tanto faz, porque você sabe que não é assim...
—Insisti. —Eu vou embora... Conversamos outro dia. —Ela
disse pegando sua bolsa do sofá e saindo. E como sempre
ela foge dos problemas, foge das verdades e faz coisas
idiotas.
—Tchau. —Falei curta e grossa. Eu queria que ela
ficasse, queria conversar, queria ela ao meu lado. Mas
estamos vivendo momentos diferentes e não iremos
conseguir ficar juntas até que esses momentos se
estabilizem. Assim que a porta bateu, me joguei no sofá
para pensar na vida. Se nem Jéssica, minha melhor amiga,
tinha entendido minha situação. Como meus pais iriam
entender? Admito tenho medo do meu futuro com
Leonardo. Depois de refletir e como de costume não
concluir nada decidi acabar de me arrumar para o almoço
em família.
Coloquei um vestido azul escuro, cor preferida de meu
pai, e um salto de exatamente oito centímetros. Não estava
me sentindo tão linda, mas estava linda o suficiente para

- 134 -
um almoço de despedida. Minha mãe entrou no quarto. —
Por que Jéssica saiu daqui daquele jeito? —Perguntou
andando até mim. —Ela se faz de idiota... —Comentei
colocando uma pulseira no pulso esquerdo. —Por que? —
Perguntou minha mãe cruzando os braços.
Minha mãe sempre achava que a culpa era minha.
Pensei e a olhei. — Coisas de adolescentes. –Respondi. —
Imagino... —Comentou meio irritada por eu não querer
contar. Eu não podia contar e nem queria contar. Decidi
mudar de assunto. —Já vamos? —A olhei sorrindo. —Sim.
—Afirmou e saiu do quarto. Eu suspirei meio nervosa. Tento
resolver tudo e no fim, não resolvo nada.
Peguei minha bolsa com o celular e fui para a sala de
estar, chegando lá vi minha mãe e meu pai que
conversavam em voz baixa e quando cheguei minha mãe o
olhou de um jeito que o fez parar de falar.O que será que
eles estavam falando? —Olá querida. —Meu pai falou após
se virar para mim. —Oi. —Falei olhando para os dois sem
mostrar qualquer expressão. —Carina... —Começou meu pai
e minha mãe o interrompeu. —Vamos. Conversamos no
caminho... —Ela disse pegando a bolsa e indo em direção a
porta.
Ele a olhou e balançou a cabeça. Por fim soltou um
suspiro e eu só olhava aquela cena tentando imaginar o que
meu pai queria me contar e o porquê minha mãe queria
fugir do assunto.

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Capítulo 12

Meu pai se sentou no banco do motorista e colocou o


cinto, minha mãe fez o mesmo, mas do lado do passageiro.
Eu entrei no banco de trás e sentei no lado esquerdo do
carro, não coloquei o cinto, pois não estava com vontade.
Aliás, a minha única vontade a partir daquele momento era
de chorar e implorar para me levarem junto para os Estados
Unidos, eu sabia que eles não fariam isso. O silêncio surgiu
no carro e não acabou até chegarmos no restaurante e meu
pai estacionar.
—Ai ai. —Disse minha mãe e suspirou. —O que foi? —
Perguntei. —Nada não. —Ela disse e pude ver seu sorriso.
Mas não sei se era um sorriso sincero. Meu pai logo chegou
até mim e tomou minha mão. —Você tem que ficar calma,
pois vai dar tudo certo. – Explicou olhando em meu rosto e
demonstrou mais uma vez sua qualidade: o otimismo. Um
leve sorriso apareceu em meu lábios. —Filha? —Chamou
minha mãe enquanto eu estava perdida nos meus
pensamentos. Retomei consciência e a olhei sorrindo boba.
—Oi?
—O que você vai pedir? — Ela perguntou. —Ah... Eu
vou querer um Espaguete a Francesa. —Olhei para o garçom
que anotava os pedidos. Voltei para meus pensamentos e
onde eles estavam? Estavam em Leonardo. Passei a mão no
rosto, na verdade apenas na bochecha. Já tinha um milhão
de problemas e ter mais um por causa da maquiagem
estragada, não valia a pena. Será que nunca estarei feliz em
todas as áreas da minha vida? Por exemplo quando eu tinha
o Mark, acabei com uma amizade de uma vida. Agora que
tenho Leo, meu pai está doente.
—O que queríamos te dizer... —Começou meu pai e
dessa vez minha mãe não interrompeu. — É que confiamos
em você. —Ele disse em forma de elogio, mas mais parecia
um sermão. Concordei com a cabeça e minha mãe retomou
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a conversa. —Enquanto estamos fora, precisamos de alguém
que confiamos para assumir a empresa daqui do Brasil. —
Explicou minha mãe. Pisquei e fiz uma cara de assustada.
—Quem irá assumir? —Perguntei com a esperança que não
fosse eu.
—Você. —Disse meu pai e deu um leve sorriso de pai
orgulhoso. Minha mãe olhou com a esperança que eu não
fizesse um escândalo. Olhei para os dois sem reação. —Eu?
—Perguntei apontando a mim mesma. Com a cara de maior
decepção, eu não quero ter tamanha responsabilidade. —
Será difícil no começo, mas em poucos dias você aprenderá
tudo... —Explicou minha mãe mais calma do que o normal.
Neguei com a cabeça e olhei para meu pai. — Sua mãe
está certa. —Afirmou com estas únicas palavras. Pensei em
tudo que aconteceria comigo mandando na empresa. —Não
é o que eu quero no momento. —Falei com a intenção de
dizer um "não" educado. —Não era o queríamos no
momento. —Disse minha mãe e eu suspirei. —Mas... E a
escola? E as outras coisas? —Balbuciei e quase me enrolei
nas palavras.
—Infelizmente na vida não temos tudo o que
queremos... —Começou meu pai e eu o olhei nos olhos. — E
você, como parte dessa família não pode deixar uma
empresa de milhões de dólares afundar em um país como o
Brasil. Então a partir de amanhã você cuidará da mesma
como cuida de sua vida. —Falou meu pai em tom de ordem.
Engoli seco, pois não queria brigar com meu pai no nosso
último almoço em família antes do tratamento. Eu não era
boa nisso, não seria boa e tenho medo das consequências.
—E se nada der certo? —Perguntei sem otimismo
algum. —Vai dar. —Disse minha mãe me repreendendo. A
olhei quase chorando. —Na vida não temos tudo o que
queremos. —Falei e olhei para meu pai com uma lágrima
escorrendo lentamente pelo meu rosto, respirei fundo e
fiquei esperando eles dizerem algo. Meu pai apenas abaixou
a cabeça e voltou a comer. —Licença. —Pediu minha mãe e
se levantou indo para o banheiro.
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Droga, o que fazer? —Era o que eu pensava enquanto
balançava a taça de vinho com a mão direita. Depois de
alguns minutos em silêncio. —Você já está crescida Carina e
se for a hora de eu partir... —Começou meu pai falar
quebrando o silêncio e eu o olhei. —Eu quero que saiba que
você é o orgulho da minha vida e sei que será um sucesso
como presidente da nossa empresa. —Disse meu pai e no
final deu um sorrisinho que me derreteu.
—E se eu não for boa o bastante? —Perguntei sem nem
pensar. —Você é. —Afirmou e eu engoli seco. E se eu
decepcionasse ele? Já bastava estar namorando um cara
que ele nem conhece e que talvez nunca fosse aprovar. Eu
nunca tive medo de não ser boa o suficiente em alguma
coisa, mas quando o assunto envolve o orgulho dos meus
pais, eu quase tenho um treco de tanto medo. Minha mãe
voltou do banheiro parecendo mais calma e já estava na
hora de irmos embora. A conversa no carro foi meio vaga,
meu pai me explicou algumas coisas sobre a empresa e disse
que no meu aniversário eu poderia ir visitar eles.
Na verdade não prestei atenção em muita coisa. O que
eu queria mesmo era acordar desse pesadelo. Passamos em
casa para pegar as malas e a Lu para acompanharmos até o
aeroporto. Lu foi do meu lado e até que conversamos
bastante durante a viagem. Meu coração começou a ficar em
choque, nunca senti tais sentimentos em minha vida. Nunca
me senti tão insegura, com uma vida tão incerta.
Lu segurou minha mão e sussurrou em meu ouvido. —
Você precisa ser forte, nesse momento. —Aconselhou.
Mordi os lábios triste e apenas concordei com a cabeça.
Fomos até a parte do embarque onde o jatinho de nossa
família, esperava para levar metade de nossa família. Engoli
seco quando o piloto chegou. —Já podemos partir. —Disse o
piloto olhando para meu pai. —Ok. Obrigado. —Falou meu
pai e então piloto foi para seu posto.
Engoli seco e troquei olhares com Lu. —Tchau
querida. —Disse minha mãe se despedindo de mim e indo
em minha direção. Ela me tomou em um abraço e eu chorei.
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—Tchau mãe. —Eu disse assim que ela me soltou. Meu pai
andou até mim e segurou meu rosto. —Você sabe o por que
eu não dei dinheiro para o resgate? —Perguntou curioso. —
Não. –Neguei. Eu tinha o achado um chato e mão de vaca.
—Por que eu tinha certeza que você ia conseguir sem
minha ajuda. —Afirmou e jogou uma piscadela. —Obrigada
pai.—Sorri, pois mesmo sabendo que não era verdade sua
fala era para me motivar e para mostrar sua confiança e isso
era necessário. Quando meu pai ia cruzar a porta do avião.
—Eu não tenho mais aquele anel... —Comentei e ele deu
risada. —Eu já percebi... — Sorri.
O anel, a história do anel. Meu pai me deu de presente
um anel com chip no meu aniversário de quinze anos e até
os meus dezesseis anos não o tirava por nada. Eu nunca fui
muito boa com despedidas e como foi Mark que colocou o
anel em meu dedo, assim que Mark se despediu de mim eu
joguei o anel em um rio que tinha próximo do bar que
estava. Uma atitude meio infantil, pois aquele anel me
protegia, mas veja como é o destino eu nem lembrava da
existência do anel e meu pai achava que eu ainda o tinha. E
talvez, se eu tivesse o anel ainda, não estaria com Leonardo.
Eu e Lu demos alguns passos para trás e ficamos
olhando o avião decolar. Me lembrei da minha infância
quando vinha esperar minha mãe chegar de suas viagens,
eu ficava tão feliz com a volta dela, mas chorava horrores
com sua partida. Até que um dia, eu amadureci. Cresci e
percebi que não adiantava chorar, pois ela não iria voltar
quando eu desejasse.
Me lembrei também, de um dia que tinha uma festa no
colégio e ela tinha prometido por telefone que voltaria a
tempo para assistir a minha apresentação, mas como já era
de se esperar, ela não voltou e nesse dia eu aprendi em não
confiar em promessas, principalmente promessas que ela
fazia. Algumas lágrimas escorriam pelo meu rosto e eram de
pura tristeza. —Vamos... —Disse Lu me levando para a parte
interna do aeroporto.

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—Por que eu tenho tanto medo dele não voltar? —
Perguntei enquanto caminhávamos até o carro. —Você o
ama e tem medo que esse amor acabe por causa da morte. –
Explicou Lu mostrando sua compreensão. Pensei e tentei
entender essa coisa do amor e quanto eu era capaz de amar
meu pai. —É eu o amo. —Conclui e Lu deu um apertadinha
na minha mão antes de soltá—la. Lu entrou no carro do lado
do motorista e eu achei melhor ir no banco de trás para
poder deitar e pensar sobre minha vida.
Lu como sempre ficou tentando me alegrar e puxar
assunto. —O que você quer jantar? —Perguntou e tenho
certeza que estava sorrindo só para me alegrar. —Não quero
jantar... —Comentei. —Quer ir na doceria comprar algum
doce? —Perguntou como uma avó que tenta agradar a sua
neta. —Eu só quero ir para casa. —Afirmei triste e com voz
de choro.
—Uma torta de limão? —Perguntou ainda animada, ou
tentando parecer. —Eu quero deitar na minha cama e
chorar até amanhã. –Informei sem qualquer outra vontade.
Lu se calou, acho que percebeu por fim que eu realmente
estava mal. —Lu. — Chamei depois de minutos em silêncio.
—Oi? —Ela respondeu tentando olhar para trás. Me levantei
e sentei no banco do meio, fui o mais para frente possível
para ficar bem próxima de Lu. Suspirei.
—Qual doença o meu pai tem? —Perguntei em tom
baixo e tentando parecer calma. Ela engoliu seco e então
percebi que ela sabia mas não iria me dizer. —Sua mãe não
quis me contar. —Afirmou mentindo e eu balancei a cabeça
me jogando para trás no banco. A conclusão que formei na
minha cabeça: É uma doença muito séria para ninguém
querer me contar. —Eu sei que você sabe... —Comentei
para ela parar de mentir. —Carina, tem coisas que não é
necessário sabermos. —Foi o que Lu argumentou para ter
um motivo para mentir. —Eu sei. —Falei sem querer
estender a conversa.
Chegamos em casa e em menos de um segundo, eu
estava jogada na cama. Não tenho vontade de fazer mais
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nada, nem de conversar com ninguém e muito menos de ver
alguém, porém Leonardo não conseguia escutar meus
pensamentos. —Amor. —Chamava Leonardo enquanto
delicadamente me chacoalhava para eu acordar.
—O que foi? —Resmunguei passando a mão no rosto.
—Eu vim te ver! —Ele disse e com o olhar ainda embaçado
pude ver seu sorriso. —Ahhh eu não quero ver ninguém. —
Me virei para o lado com voz de reclamação e choro. —Seu
pai já foi embora? —Perguntou se sentando ao meu lado. —
Já... —Olhei para ele o mais desanimada possível. Ele pegou
minha mão.
—Carina, pare já. Você sabe que tem que ser otimista...
Não fique pensando nas piores coisas —Ele disse como
alguém muito maduro enquanto eu só queria chorar como
um bebê. —Virou um adulto chato? —Retruquei meio
irritada. Ele me olhou com negação. —Desculpa... É que eu
estou meio estressada. —Falei me sentando na cama. —Eu
entendo. —Afirmou e eu o olhei nos olhos e foi como se
nossos olhos criassem uma conexão.
—Eu sei que você está certo, mas dói demais... —Falei
tentando segurar o choro que insistia em existir. —Eu sei
que dói, e como dói... —Me olhou com a maior dor do
mundo. Sem pensar duas vezes, o abracei. Um abraço cura
qualquer ferida, principalmente as feridas da alma. No
abraço de Leonardo é o lugar onde eu quero estar. Em
qualquer momento da minha vida, nos momentos bons e
ruins e principalmente quando tudo em volta estiver
desmoronando...
— O que você quer fazer? —Ele perguntou. Meu
coração estava desacelerando. Mas não consegui responder.
—Se você quiser sair, eu saio com você. Se você quiser ficar
aqui abraçada comigo até o nascer do Sol, eu fico com você.
E caso você queira ficar sozinha... —Falou passando a mão
no meu cabelo. O olhei nos olhos. —Não eu não consigo te
deixar nessa situação. –Negou e eu o olhei profundamente.
Subi minhas mãos pelo seu peitoral e o puxei pela
nuca para um beijo terno e suave. Ele me puxou mais para
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perto. Senti algo estranho durante o beijo, e sim, abri os
olhos.
Vi Lu parada de braços cruzados nos olhando, parei de
beijar Leonardo e me soltei de seus braços dando um pulo
para trás. —Meu Deus! —Exclamei olhando assustada para
Lu. Leonardo me olhou e rapidamente se virou para ver Lu.
Lu estava diferente, toda arrumada parecia até que ia sair.
Suspirei e ficamos a olhando e creio que Leonardo não
entendeu nada.
—O que ele está fazendo aqui? —Perguntou Lu
apontando para Leonardo. —Senhora, é tudo culpa minha.
—Disse Leonardo apontando para si mesmo. —Lu é o
Leonardo... —Comentei com a esperança que ela lembrasse.
Ela me olhou como se fosse sorrir e ficou séria de novo. —
Eu sei quem ele é. —Afirmou Lu. —Ela sabe quem eu sou?
—Perguntou Leonardo me olhando. Balancei a cabeça.
—Eu não me importo de vocês ficarem juntos desde
que seja com a minha supervisão... —Explicou Lu olhando
para Leonardo. —Você não tem que se preocupar com
nada... —Falei me levantando. —Como ela sabe sobre nós?
—Perguntou ele, ignorei e olhei em direção a Lu. —Não
queremos ninguém tendo filho aqui. —Me olhou de cima a
baixo e se virou para Leo. —E sabemos que você será preso
em pouco tempo. —Disse Lu.
Fechei os olhos e passei a mão pelo rosto. —Ela sabe
tudo?! —Exclamou Leo me olhando. Ai que droga. Dois
seres falando na minha orelha. Eu os amo mais que tudo,
mas tenho que admitir que às vezes me irritam. —Ela sabe o
suficiente para estragar tudo. —Afirmei a olhando irritada.
—Você que me contou. — Argumentou me olhando. —
Eu sei que fui eu, mas não era para ficar atrapalhando... —
Falei. —Eu estou cuidando de vocês. —Afirmou decidida me
olhando. —Ahh, obrigada... —Falei sem dar muita corda. —
Nós estamos encrencados? —Perguntou Leo me olhando.
Neguei com a cabeça. —Apesar de eu achar o romance dos
dois errado... —Explicou Lu e eu revirei os olhos. —Vou

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ajudá—los, mas em encontros a tarde e com a minha
supervisão. E eu dei uma risada sarcástica.
—O que você acha? —Contestei. —Você é minha babá
não minha mãe. —Falei de braços cruzados e sem qualquer
chance de obediência. —Estou como sua responsável e caso
não queira me obedecer pode dar tchau para o seu
namoradinho. —Falou e jogou um olhar bravo para
Leonardo. Suspirei e pensei nas possibilidades, que não
eram muitas, antes de obedecê—la. —Tá bom. —
Resmunguei.
Leo veio ao meu lado. —Eu tenho as melhores
intenções com ela. Eu juro. —Falou Leo para amenizar a
situação. —Eu sei que tem. —Confirmou Lu. Eu estava meio
perdida nas falas dos dois. —Lu já entendemos. —Falei com
a esperança que ela saísse do meu quarto. —Que bom. —
Afirmou e foi em direção a porta. Meu corpo já estava em
êxtase e pronto para voltar a beijar Leonardo quando ela
parou e disse:
—Podem vir.
Suspirei com raiva e senti as mãos de Leonardo que já
estavam em minha nuca descer pelas minhas costas com
maior decepção. Saí pela casa resmungando e Leo veio atrás
de mim. —Zero liberdade de expressão nessa casa. —
Reclamei assim que cheguei na sala de estar. Leo segurou
minha mão e sussurrou em meu ouvido. —Ei, eu não me
importo de namorar com você na sala e nem com a
supervisão de Lu. –Explicou. Sorri e o olhei nos olhos.
—A cada dia você me surpreende mais. —O elogiei e vi
Lu chegando com dois baldes de pipoca. —Qual filme vamos
assistir? —Perguntou parecendo mais feliz. —Eu escolho! —
Afirmei puxando Leonardo para o sofá. Antes que Lu
decidisse que nós dois ficássemos separados. —A Carina só
escolhe filme de drama... —Comentou Lu se sentando na
poltrona. —Mentira. —Neguei pegando um balde de pipoca
de seu colo.

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—Eu não quero drama não. —Brincou Leo sorrindo e
passando o braço por cima de meus ombros. —Vamos
assistir um romance. —Afirmei pegando o controle. —Uma
comédia romântica seria melhor... —Disse Lu rindo. —
Romance? —Perguntou Leonardo com negação. —Nunca
vivi um romance para saber se é legal. —Ele falou tentando
ser sério e eu o olhei com cara de tédio. —Brinca com isso
de novo para você ver o que acontece... —Comentei brava
olhando para a televisão e escolhendo o filme. Lu e Leo
riram.
—Ela é brava em menino, fica esperto! —Aconselhou
Lu a Leo rindo.Dei de ombros e continuei escolher o filme.
—Eu gosto do jeito bravo dela. —Comentou Leo. E eu dei
um leve sorrisinho. —Eu tive que aprender a gostar... —
Explicou Lu e deu risada. —Ai que engraçada você é Lu! —A
olhei e ri. —Obrigada. —Agradeceu no maior sarcasmo.
Finalmente escolhi um filme e consegue lembrar de
um que apesar do romance tem bastante comédia. —
Prontinho.—Falei pegando um pouco de pipoca do balde
que estava no colo de Leonardo. Lu pegou o controle da luz
e do ar condicionado, ela apagou a Luz e deixou o ar um
pouco mais gelado.
—Tentem conter os hormônios. —Disse Lu nos
olhando com nojo. —Para de ser chata... —Comentei. —Eu
juro que eu tento conter os hormônios, mas é que com a
Carina fica muito difícil. —Falou Leonardo todo maduro
olhando para Lu. Eu ri envergonhada. —Calem a boca! –
Exclamou Lu, ela é um doce de pessoa, menos quando quer
prestar atenção em algum filme.
Assistimos o filme prestando atenção em Lu, para
podermos sair quando ela dormisse.
Leonardo encostou a boca em meu ouvido e sussurrou.
—Nós podemos fugir... —Me arrepiei toda pelas palavras e
pelo toque. —Aliás, sempre fomos bons em fugir. —Concluiu
e eu suspirei mordendo os lábios. O olhei. —Sempre fomos
bons em fugir. —Afirmei e ele me deu um beijo na testa. Lu

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não dormiu nem um instante e nem fugimos. Era legal essa
nova experiência que estávamos vivendo.
Dias se passaram, meus pais estão ocupados o
suficiente para não falarem comigo. Os assessores de papai
estão me ajudando a administrar a empresa, o que não tem
sido nada fácil e muito exaustivo. Faz três dias que eu e
Leonardo não nos vemos, o que tem sido até bom, pois
assistir filme na sala durante a tarde com a supervisão da
Lu não é tão bom assim. Eu e Leo combinamos de nos ver
menos para ambos resolverem suas vidas. Na escola eu não
estou conversando com Jéssica, porém fico pensando
sempre aceitei como ela é. Qual a dificuldade dela me
aceitar como sou? Sempre estive ao lado dela com suas
paixões por caras errados e no meu caso Léo é o cara certo
para mim.
Estava na cozinha comendo alguma besteirinha
quando escutei um barulho vindo da sala. —Lu? —Chamei
até que assustada. Corri para sala de estar quando avistei
Leonardo todo suado, ensanguentado e chorando. —Amor.
—Falei assustada. —Ele morreu –Afirmou Leo meio que
enrolado e então eu o abracei.
—Quem morreu? —Perguntei quase chorando junto,
por ver a situação que Leo estava. —Meu pai. –Informou
Leo e apoiou sua cabeça em meus ombros. Engoli seco
Minhas mãos acariciavam a cabeça de Leo e penteava
aqueles cabelos que pela primeira vez estavam
despenteados.
—Eu sinto muito... —Lamentei enquanto Leo estava
simplesmente sem reação. Com dificuldade fomos até a
cozinha e ele se sentou em um banquinho. —Você quer uma
água com açúcar para se acalmar? —Perguntei sem saber
muito o que fazer. E água com açúcar era o que Lu sempre
me oferecia quando estava nervosa demais.
Não sabia ao certo o que Leo estava sentido. Medo,
pena ou decepção?! Sabe, nós sempre achamos que nunca
vai acontecer com nossa família ou com nossos amigos e
mesmo quando eles estão no caminho da morte dizemos a
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nós mesmos que está tudo bem e no final dará tudo certo,
mas a verdade é que acaba dando tudo errado e perdemos
no meio dessa bola de neve pessoas que amamos.
Leo não respondeu minha pergunta, mas mesmo
assim eu fiz água com açúcar para ele. Assim que estendi o
braço com o copo na mão. Ele levantou o olhar. —Por que
eu estou tão triste? —Perguntou e eu refleti antes de
responder. —Independente das coisas ruins que ele fez...
Você o amava. —Falei tentando conseguir olhar ele nos
olhos. —Deve ser... —Falou e pegou o copo da minha mão e
com um gole bebeu toda água com açúcar.
Eu nunca estive tão sem reação na minha vida como
fiquei nesse momento. Não sabia o que fazer, o que falar e
nem o que pensar.—Você quer tomar um banho? Comer
alguma coisa? —Perguntei com dificuldade e meu
pensamento era de estar atrapalhando. —Um banho seria
bom... —Comentou bem triste. Suspirei por vê—lo assim.
— Então vamos... —Falei pegando uma de suas mãos.
Ele se levantou e eu o levei até o banheiro do meu quarto.
Peguei uma toalha no armário e a entreguei para ele. Um
olhar vazio e sem nenhum sorriso sedutor de Leonardo
Cardoso. E a falta do olhar e do sorriso estava me dando
aflição. Segurei seu rosto com as duas mãos e o olhei
diretamente nos olhos.
—Só me prometa não esquecer que apesar de qualquer
problema, dúvida ou briga... Eu sempre amarei você. —Falei
com pausas entre uma palavra ou outra para que não
houvesse dúvidas que eu estaria ao seu lado, para sempre.
Ele concordou com a cabeça e deu um beijo na palma da
minha mão direita. Soltei seu rosto e sai do banheiro
fechando a porta lentamente.
Me sentei na cama e refleti sobre a vida. Sobre como
ela é curta e como perdemos ela sendo enganados. Olhei
para o lado e avistei o espelho, decidi então olhar meu
reflexo nele. Mas não o que eu via por fora e sim o que eu
era por dentro. O que eu devia melhorar? Como deveria
tomar minhas decisões para a empresa ou até mesmo para
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minha vida pessoal? Suspirei e me deitei. Fiquei olhando
então para o lustre e pensando mais ainda na vida. Não
cheguei a conclusão nenhuma.
Escutei a porta do banheiro se abrir e olhei. Leo estava
parecendo mais calmo e bem mais cheiroso —Carina, pelo
amor de Deus. —Pensei e então balancei a cabeça. —Está
melhor? —Perguntei e ele deu um leve, bem leve sorriso. —
Obrigado por tudo. —Agradeceu indo até mim. —Não tem
que agradecer. —Falei enquanto eu deitava um pouco mais
para cima.
—Eu te amo. —Afirmou e se deitou do meu lado.
Suspirei aliviada. —Eu também te amo. Ele repousou sua
mão sobre minha cintura e me deu um beijo na testa. Eu
coloquei minha mão em seu peitoral. Peitoral que tanto
amo. Não consegui me conter e sorri apaixonada e para eu
me apaixonar ainda mais Leonardo fez o mesmo. Não sei
em que momento exato, mas sei que acabamos
adormecendo.

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Capítulo 13

Sei que estar ali, junto dele, aliviou minha alma e meu
coração. Se é que coração e alma não são a mesma coisa.
Mas a questão é que me sentia tão bem e segura quando
estava perto de Leo que chega a ser inexplicável. Quando
acordei, levei um susto, pois Leonardo não estava comigo.
Me levantei rapidamente e fui o procurar pela casa. —Leo?
—Chamei diversas vezes.
—Carina estou aqui! —Disse Leo da cozinha. Suspirei
aliviada correndo até lá. Assim que entrei na cozinha o
avistei fazendo sanduíches. —Hum... —Falei e dei um
beijinho em sua bochecha. —Vou comer com você antes de
eu ir embora... —Explicou fechando o pão e colocando no
prato. —Você não pode ir embora, assim do nada. — Falei
como se necessitasse mais dele do que ele de mim e me
sentei em uma das banquetas. —Eu tenho que fazer uma
coisa não muito legal... —Suspirou triste e continuou. —Mas
assim que eu acabar,volto correndo para você. —Concluiu e
no final jogou um olhar matador para cima de mim.
Peguei um lanche que já estava pronto e antes de
morder um pedaço. —Eu quero fazer essa coisa não muito
legal com você. —Desabafei e mordi o sanduíche. —Você
não sabe o que é e se soubesse não iria querer... —Explicou
e também mordeu o sanduíche. —Eu quero estar do seu
lado. —Insisti. —Eu sei que quer... Mas o que vou fazer é
horrível para mim e sei que será horrível para você. —Ele
disse todo preocupado e me olhou nos olhos.
—Eu não sou criança, você não tem que me esconder
do mundo. —Eu disse tentando entender o que ele queria
esconder de mim. —Eu não seria louco de tentar fazer
isso... —Ironizou e até deu um leve sorriso. Sorri por vê—lo
sorrir. —Mas disso eu posso te esconder. —Afirmou e deu
beijinho na minha testa se levantando. —Não quero ser
escondida... –Reclamei. Ele me olhou nos olhos.
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—Se sinta protegida de traumas desnecessários. Vou
acabar de comer no caminho. —Ele disse pegando o resto do
sanduíche com um guardanapo. O olhei sair da cozinha e
fiquei imaginando do que Leo queria me proteger. Não
demorou nem sessenta segundos para eu me levantar e sair
correndo atrás de Leonardo. —Espera! —Gritei assim que
ele ia sair.
Ele abriu o vidro e me olhou. —Você não vai. —
Contestou. —Vou sim. —Fechei a porta e desci as escadas
correndo. Leo desistiu de negar minha vontade. Assim que
entrei no carro. —Carina eu estou indo enterrar meu pai! —
Gritou estressado. Arregalei os olhos assustada e me afastei
o máximo que pude de Leonardo. —Por que está gritando?
—Perguntei também gritando.
—Você tem que parar de se meter tanto na minha vida.
–Reclamou. Doeu escutar isso. Como assim se meter na sua
vida? —Eu vou fingir que não escutei isso... —Falei quase
chorando e olhei para o lado. —Podia fingir que é obediente
e ficar quieta na sua casa. –Retrucou Leo. —Você é um
idiota. —O olhei muito estressada. —E você é uma chata. –
Retrucou novamente. Sim, sou uma chata. Uma chata que o
ama.
—Que droga Leonardo!—Exclamei. Estou querendo
ser sua namorada, sua amiga. Querendo estar do seu lado
em tudo que vier... –Falei como se eu tivesse que explicar
minha posição. O olhei nos olhos por um segundo. —E é
assim que você me trata? —É. —Respondeu. Eu tenho
dificuldade em ficar brava com Jéssica e com Leonardo. Os
dois podem me tratar horrivelmente que eu continuo os
amando e os tratando bem.
—Eu não me importo. Pode gritar, me xingar e falar
qualquer coisa... Continuarei aqui do seu lado e não sairei
por nada nesse mundo. —Eu disse com a esperança que ele
parasse de ser um imbecil. Ele saiu com o carro pelo
condomínio sem dizer nenhuma palavra. Eu estava com ele,
mas ele não estava comigo. Estava olhando para paisagem e

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extremamente triste com tudo que estava acontecendo,
quando senti Leo pegar minha mão esquerda.
—Ei desculpa por ter gritado... —Falou. Demorei
alguns eternos segundos para responder. —Sim. –
Concordei sem olhá—lo. Puxei minha mão o fazendo soltá—
la. —Não fica triste vai... Por favor. Eu só estou estressado
com tudo que está acontecendo. —Ele disse parecendo
extremamente arrependido, mas ele gritou comigo quando
o que eu mais queria era ficar ao seu lado. —Você gritou... —
Comentei. —Achei que você já tinha desculpado. —Afirmou.
Então o olhei.
—Está doendo sabia?! —Eu disse tentando mostrar
raiva, mas já estava chorando. Como eu disse não consigo
sentir raiva dele. Leonardo enquanto dirigia olhou para
mim. —Eu já pedi desculpa. –Argumentou. —E eu já
desculpei. —Afirmei e voltei olhar para o lado. As lágrimas
escorriam.
Chegamos em um cemitério do outro lado da cidade.
Leonardo estacionou o carro e me olhou, eu o olhei nos
olhos, porém mostrei minha irritabilidade. —Eu te amo. —
Ele disse e fez aquele sorrisinho sedutor que me desmonta
inteira. Suspirei e dei de ombros. Sai do carro. Leo saiu logo
atrás. Fiquei parada esperando ele passar na minha frente
para segui—lo.
Mas ele parou na minha frente. —Obrigado por estar
aqui comigo. —Agradeceu e segurou meu rosto dando um
beijo na minha testa. Suspirei. —Eu te amo e por isso estou
aqui. —Falei o olhando nos olhos. —Eu também te amo.
Passou se braço por cima de meus ombros e eu o
abracei pelas costas. Fomos então resolver todas os
documentos para o enterro. Foi horrível, não horrível a
sensação de estar em um cemitério enterrando o homem
que mandou me sequestrar e namorando o filho desse
homem. Foi horrível o medo que senti de não ser amada o
suficiente na vida para que no dia da minha morte tivesse
pessoas em meu velório lamentando a minha partida.

- 150 -
Leonardo não largou minha mão por nenhum
segundo, fiquei tentando sentir os sentimentos dele. Senti a
dor dele por perder o pai, mas ao mesmo tempo senti o
alívio que ele sentia de perder o pai. Dizem que o tempo é
dinheiro, mas isso é mentira, pois o tempo não aumenta e o
dinheiro pode dobrar a cada dia. E bom o pai de Leo não
tem mais o tempo. E nem o dinheiro.
Quando entramos no carro. Um silêncio surgiu e eu
fiquei olhando para Leonardo enquanto ele de olhos
fechados com a cabeça encostada no encosto do banco
parecia querer chorar, mas acho que ao mesmo tempo não
queria. Algumas lágrimas começaram surgir nos meus
olhos e aos poucos elas foram escorrendo.
Voltamos em silêncio, tudo parecia diferente, acho que
nem Leo era mais o mesmo. Estava diferente. De alguma
forma, ele parecia se sentir culpado. Quando chegamos na
minha casa. —Onde vocês estavam? —Perguntou Lu assim
que entramos na sala. —História complicada... —Comentei
de mão dada com Leo. —Imagino... —Disse Lu e saiu
andando em direção a cozinha.
—Melhor contarmos a ela... —Disse Leo e eu concordei
com a cabeça. Fomos até a cozinha atrás dela, e nos
sentamos na bancada enquanto ela acabava de preparar o
jantar. —Eu conto ou você conta? —Perguntei a Leo. —Nós
dois... Pode começar. —Falou e eu concordei com a cabeça.
—O pai de Leo morreu... —Comecei e contei a maior parte
da história até que Leo me interrompeu e contou o que
faltava.
—...E então enterramos ele e agora estamos aqui. —
Concluiu. —Meu Deus! —Exclamou Lu pasma. —Por que
vocês não me ligaram? Nessas horas precisamos de um
adulto. —Falou e Leo quase riu. —Lu, Leo é maior de idade.
—Eu disse balançando a cabeça. —Um adulto mais velho...
—Disse Lu e balançou a cabeça. —Mas afinal deu tudo
certo? —Perguntou Lu olhando para Leonardo. —Deu sim.
—Afirmou Leo.

- 151 -
—Foi bem triste... —Comentei olhando para o nada. —
Sim. –Concordou Leo. —Meus sentimentos Leo... –Lu
desejou e voltou a prestar atenção nas panelas. Ela também
ficou bem triste. Lu acabou de preparar o jantar e jantamos
juntos. —Tudo que a Lu cozinha fica uma delícia. —
Comentei. —Você deveria aprender com ela. —Comentou
Leo mostrando seriedade. Levantei as sobrancelhas. —
Como você é engraçado. —Afirmei.
—Você fica linda brava. – Elogiou Leo. — Eu sempre
estou linda, meu querido. —Brinquei rindo, mas eu
realmente acreditava nisso. Assim que comemos e tiramos a
mesa, fomos deitar na sala. —Dorme aqui hoje... —
Aconselhei Leo que me acolhia em seus braços. — Se a Lu
deixar... — Ele falou e jogamos um olhar inocente para Lu.
—Só hoje! —Foi a resposta dela. Rimos.
—Eu só preciso de hoje ao lado dele. Amanhã já é uma
outra história... –Falei a olhando e me virei para Leo. Leo
me deu um beijo na bochecha e sorriu. —Mas será em
quartos separados! –Informou Lu e estragou tudo. Eu podia
fazer meu chilique de sempre, mas nada iria adiantar. —
Nossa Lu como você é cafona. —Reclamei brava. —Nossa
nada! –Ela discordou sem discussão. —Lu só hoje.—Propôs
Leonardo e jogou um sorriso sedutor a ela com a intenção
de convencê—la.
—Por causa desse seu sorriso que seduz a Carina que
não irão dormir juntos! –Argumentou Lu querendo ser
séria. Arqueei as sobrancelhas. —Eu não sou seduzida pelo
sorriso dele. —Afirmei. —Eu que sou pelo dela. —Disse Leo
olhando para Lu. O olhei e ri e ele riu de volta. —Leo não
fala isso... —Repreendeu Lu. —Ela já se acha a poderosa e
você ainda fica elogiando... —Disse Lu toda séria como se
estivesse brigando. Mas no final ela riu então nós rimos
também.
—Para de ser louca. —Brinquei. —Na verdade a Lu está
certa... —Comentou Leo e eu o olhei. —Como assim? —
Perguntei o interrompendo. —Temos que admitir que você
se acha demais. —Ele disse tentando não rir. —Viu Carina
- 152 -
até ele concorda. —Zombou Lu. —Ha! Ha! —Falei imitando
uma risada totalmente sarcástica. —Não era para ter graça.
—Explicou Leo. Lu começou a rir. —Vocês são dois bobos. —
Falei e Leo me deu um selinho. —Mas eu quero você. —
Insistiu Leo. —Vai ficar querendo. —Brinquei com Leo
fingindo me levantar.
Ele me puxou para si e me beijou. Eu não tentei me
afastar. Aliás, fiz exatamente ao contrário, o puxei ainda
mais para mim. Foi um beijo delicado e até a pegada de
Leonardo estava mais fraca. Acho que com a Lu na sala só o
fato de estarmos nos beijando já era o suficiente. Mas
nenhum beijo com Leonardo, nenhum dia com Leonardo,
nenhum namoro com Leonardo, nenhuma vida ao lado de
Leonardo será o suficiente.
E isso que faz esse amor dar certo, pois o tempo aqui
da terra é insuficiente e sempre, sempre necessitamos mais
um do outro. Até um dia nos cansarmos e irmos para a
eternidade, mas será sempre assim, juntos. Quando
paramos olhamos para a cara de Lu e rimos. —Vamos
dormir? —Perguntou Lu se levantando. —Ah não... —
Resmunguei e Lu saiu andando em direção aos quartos,
como se minha opinião não importasse. —Hoje foi um dia
cheio...—Comentou Leo parecendo cansado.—Melhor nós
irmos dormiR. —Afirmou e deu uma leve piscada para mim.
Nunca fui burra, não sabia o que a piscada queria dizer
só sei que significava algo e então concordei com Leo. —
Então vamos dormir... —Falei e bocejei. Me levantei e Leo
veio logo atrás. Chegamos em um dos quartos de hóspedes
onde Lu estava arrumando. —Sério que não podemos
dormir juntos? —Perguntei a Lu. —Não. —Negou sem nem
me olhar. —Prometo que não vamos fazer nada demais... —
Propôs Leo.
—Promessas de namorados adolescentes não são
válidas para essas coisas... —Argumentou Lu e nos olhou. —
Claro que são! —Retruquei. —Hormônios e mais hormônios
são o que formam um adolescente... —Disse Lu parada na
nossa frente. —Nossa! —Respondeu Leo. —Falando assim
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parece que não temos mais nada além de hormônios... —
Comentei. —Os hormônios que te "fazem" pensar. —
Informou Lu.
—Isso é extremamente ridículo. —Afirmei cruzando os
braços. —Ridículo é estragar a vida por não pensar nas
consequências de seus atos. —Explicou Lu. Suspirei. —Boa
noite Leo. —Disse Lu olhando para Leonardo e se virou para
mim. —Estou te esperando no corredor. –Informou Lu.
Revirei os olhos. Leo me segurou pela cintura e me puxou.
—Sempre fomos bons em fugir... —Sussurrou em meu
ouvido. Sorri. —Sempre fomos... —Lembrei e sorri. —Vou
para seu quarto. —Falou em um sussurro rápido que quase
eu não entendi e me beijou.
—Carina! —Chamou Lu. Paramos de nos beijar. —
Droga! —Gritei para que Lu escutasse também. —Vai lá. —
Disse Leo e me deu um beijo no pescoço. Me arrepiei e olhei
nos olhos dele. —Boa noite. —Desejei e pisquei. —Boa noite.
—Respondeu Leo e também piscou. Girei a chave da porta
antes de sair, para que ele lembrasse de trancar antes de ir
me ver. Sai sorrindo boba do quarto. —PRONTO! —
Exclamei para Lu quase gritando. —Para de ser dramática
Carina... —Sugeriu Lu me seguindo até meu quarto. —Não é
drama. —Neguei abrindo a porta de meu quarto.
—Não... Imagina se fosse. —Desdenhou sarcástica. —
Sem graça! —Afirmei tirando minha roupa e colocando um
pijama. —Só quero o seu bem... —Ela disse como toda mãe
(mesmo ela não sendo a minha) diz quando arrumamos um
namorado ou queremos sair para a balada. Decidi então sair
da defensiva e concordar com ela, pois no fundo eu sabia
que ela estava certa. —Eu sei Lu, eu sei. —Falei e enfatizei
repetindo. Peguei uma escova na penteadeira e comecei
pentear meu cabelo para trás.
Um tempo depois, uma hora quase, a porta se abre
devagar e em silêncio. Sorri ao ver Leo, mas com um sinal
ele me lembra de não falar ainda. Encostou a porta e
trancou, caminhou até mim e eu já estava quase rindo. —
Você é doido. —Afirmei quando ele se jogou na cama e me
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agarrou. —Sou doido por você! —Respondeu me dando
vários beijinhos pelo rosto. Começamos a rir e ele começou
a fazer cosquinha em mim. Deitou do meu lado.
—Sabe, Carina estava pensando em me entregar para
policia... —Ele falou agora sério. Ainda sentada o olhei nos
olhos. Não gosto desse assunto. Dói meu coração mais que
tudo nessa vida. —Apesar de eu não querer que você seja
preso. –Comecei e ele ia me interromper. —Eu sei que você
deve pagar pelos erros do passado. —Conclui. —Por isso eu
te amo. —Afirmou e eu sorri. —Se eu me entregar pego
menos tempo de cadeia. —Concordei com a cabeça. —Você
está certo! Mas... —Respirei fundo. —Daqui dois meses!
—Mas está muito longe... –Ele discordou. Como dois
meses pode estar muito longe? —Não está. —Neguei com a
cabeça. —Por que daqui dois meses? —Perguntou curioso.
—Faltam dois meses para meu aniversário. –Falei. —Que
dia é o seu aniversário? –Perguntou. Eu e Leo tínhamos
uma conexão tão estranha que não sabíamos coisas simples
um do outros, porém sabíamos coisas tão profundas. —Dia
vinte e três de Novembro. —Falei e ele sorriu.
O dia que Carina Jórdan nasceu. O dia do ano
marcado por festas e alegrias. —O que você quer fazer no
seu aniversário?—Ele perguntou e pensei para responder.
Viagens, festas, passeios, minhas amigas. Tudo isso eu já
estava acostumada, mas tinha uma coisa que eu teria pela
primeira vez. —Além da festa e da viagem que vou fazer...
Quero você. –Falei e olhei tão diretamente repousando
minha mão em seu peitoral. — Um dia com você em algum
lugar. —Eu disse.
De verdade, não importava onde, só importava que
estaríamos juntos. Depois de um tempo falando sobre
coisas aleatórias. —Boa noite. —Ele falou e deu um beijo na
minha cabeça. —Boa noite. —Falei e senti seu cheiro antes
de fechar os olhos.
Acordei, me espreguicei e então percebi que Leonardo
não estava no quarto. Me sentei na cama e olhei em volta. A
luz ainda estava apagada e com a janela fechada não tinha
- 155 -
certeza de que horas eram. Peguei o celular no criado—
mudo e olhei as horas. Já era dez horas da manhã, pelo
visto eu e Leonardo ficamos conversando bastante pela
madrugada. Suspirei e me levantei, antes de sair do quarto
me olhei no espelho e coloquei um roupão de cetim.
Fui até o quarto que era para Leonardo ter dormido,
achei estranho, pois estava vazio. Dei meia volta e fui até a
sala. Onde encontrei Leonardo com um enorme sorriso no
rosto. —Bom dia. —Falou se levantando do sofá. —Bom dia.
—Falei com uma risada envergonhada e coloquei uma
mecha por trás da orelha. Ele foi até mim e deu um beijo na
minha testa. —Vai sair? —Perguntei, pois ele já estava todo
arrumado. —Na verdade só estava te esperando acordar... —
Explicou e eu ri.
—Cadê a Lu? —Olhei em volta. —Estou morrendo de
fome. —Falei e sai andando em direção a cozinha, Leonardo
me seguiu. A mesa estava toda posta com várias coisas
deliciosas. —A Lu saiu e só volta à noite. —Disse Leonardo
chegando por trás e beijando meu pescoço. —Quem fez tudo
isso? — Perguntei me virando para ele. —Tenho que admitir
que Lu me ajudou. –Ele disse com um sorriso e então um
sorriso largo se abriu em meu rosto.
—Obrigada. —Eu agradeci e dei um beijo em sua
bochecha antes de me sentar para comer, afinal estava
realmente com fome. Mas esse “obrigada” não foi só pela
mesa do café da manhã, na verdade foi por coisas que eu
nem seria capaz de explicar. Era um obrigada por tudo que
ele já tinha me feito sentir e por tudo que ainda me faria. —
Lu quase nos pegou juntos, mas ainda bem que eu acordei e
voltei para meu quarto. —Ele disse com a maior emoção se
sentando também. Eu ri e balancei a cabeça.
—A porta estava trancada... —Comentei. —E você acha
que alguém com sono às seis da manhã pensa nisso? —
Contestou. E eu comecei a rir. —Não acredito que você fugiu
de um quarto trancado sendo que o "perigo" estava do lado
de fora... —Comentei quase chorando de tanto rir. —Se você

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tivesse acordado não teria pensado nisso também. —Falou
meio irritado por eu estar rindo dele.
—Eu teria pensado. —Afirmei, afinal eu era Carina
Jórdan. —Ah, desculpa senhorita sem sono que acorda
pensando e raciocinando. —Ele disse em tom brincalhão e
se rendeu a risada. Minha barriga até doeu de tanto rir. —
Desculpe, mas você é meio lerdo... —Desabafei depois que
parei de rir.
—Nossa Carina. Não tem conto mais nada... –Disse
irritado por me ver rir tanto. —É para contar, sim. Eu gosto
de pessoas que me fazem rir de manhã. —Afirmei e joguei
uma piscadela para ele. —Quem já te fez rir de manhã? —
Perguntou com ciúmes. Peguei mais um pão de queijo e
fingi pensar enquanto mastigava. —Vários caras ai... —Falei
olhando para as mãos de Leonardo que como de costume
rasgava uma folha de guardanapo. Era a mania mais
estranha que ele tinha.
—Eu sei que é mentira! —Afirmou e então voltei a
olhar em seu olhos. —Você fica tão bonitinho com ciúmes.
—Comentei e ele bufou balançando a cabeça. —Falando em
ciúmes, sabe aquele cara que eu soquei na sua festa... —
Começou Leonardo e eu engoli seco. —Você conhecia ele? —
Perguntou e eu concordei com a cabeça. —Ele é um idiota...
Estuda comigo há anos, mas nunca gostei dele. —Expliquei.
Era verdade que eu conhecia ele há anos, que ele era
um idiota e que eu nunca gostei dele. Eu praticamente não
estava mentindo, pois ele não perguntou se nós já tínhamos
nos beijado. —Respondeu o que eu queria saber. —Falou
por fim. —Aquele baile de máscaras não foi tão bom
assim... —Comentei olhando para o nada relembrando de
tudo que aconteceu.
—Realmente... Mas nós nos beijamos e eu só voltei a te
ver depois dele. –Lembrou Leonardo e me fez odiar menos
aquele baile. —Você tem razão. —Concordei. —Eu não sabia
que era você por isso te beijei. –Expliquei o porquê do beijo,
pois se soubesse que era Leo eu não teria o beijado, não
naquele dia. —A frase com mais sentido do mundo... —
- 157 -
Comentou Leo soltando uma de suas risadas. Eu sorri de
volta.
—Aquele dia eu e minhas amigas estávamos tão
unidas...—Comentei com um ar de tristeza. —Vocês não
estão mais? —Perguntou Leo e eu soltei um suspiro. —Eu
odeio não poder contar para elas sobre com quem eu
namoro, odeio não contar sobre você. E a única que sabe é a
Jéssica e ela está até hoje sem falar comigo. —Desabafei. Ele
pareceu pensar antes de responder.
—Conta para as outras e esquece a Jéssica. —
Aconselhou.
—Lembra daquele que estava no restaurante com o
"cara do mal"? —Perguntei. —"Cara do mal!" —Ele repetiu e
riu. —Mas lembro dela sim. —Concluiu. —Ela é a Jéssica. —
Afirmei. —Ela me condenou à cruz, mas ela se entregou
para ele na primeira noite. —Expliquei. Leo riu antes de
responder. —Você está condenando ela a cruz. –Afirmou em
tom brincalhão balançando a cabeça.
—Não estou! –Neguei e não era hora de brincadeira. —
Eu fiquei ao lado dela todo tempo. —Desabafei. Leonardo
não aguentou e começou a rir. —Não tem graça!.—Afirmei.
—Quem usa o termo "me condenou a cruz"? —Perguntou
rindo. Revirei os olhos. —Eu uso. –Afirmei irritada
enquanto Leo só queria brincar. —Me lembra gente velha...
—Comentou. —Para de ser bobo. —Ordenei nervosa.
Eu fiquei brava de verdade, pois estava realmente
triste com Jéssica não querer falar comigo. —Tá bom. Vou
parar... —Ele disse e riu mais alguns segundos. —Eu não
posso sair contando para todo mundo sobre o nosso
namoro... —Comentei triste e voltei para o assunto sério. —
Eu sei, mas são suas amigas não são? —Falou Leo e me fez
refletir.
O quanto elas são minhas amigas? O quanto posso
confiar nelas? O quanto eu posso dizer que são minhas
amigas? —Claro que são. —Falei como se tivesse certeza,
mas não tinha, aliás a certeza que mais cheguei perto de ter
- 158 -
foi que elas não eram tão minhas amigas. —Então... Acho
que você deveria contar, mas dizer que é um segredo que
precisa ser guardado. —Ele disse sério e totalmente
compreensivo.
—Mas voltando ao assunto sério... —Comecei. —Eu
não sei se elas vão apoiar e se não apoiarem? —Eu disse o
olhando. —É pensando bem, melhor não contar ainda, mas
daqui um tempo quero que todos saibam que eu te amo... —
Falou pensativo e eu sorri. —E que eu amo você. —Conclui e
ele sorriu.
—Todos saberão! —Afirmou. E um dia o mundo
saberia, um dia eu faria questão que todos soubessem. Um
dia eu contaria a todos que Carina Jórdan se apaixonou por
Leonardo Cardoso e ele se apaixonou por ela e que foi mais
intenso do que qualquer outro sentimento que pelo menos
eu, Carina, senti em toda minha vida.
—Será que meu pai ficaria bravo? —Questionei a mim
e a Leo. —Sim. —Confirmou Leo sem dúvidas. —Toda pai é
bravo com o namorado da filha e nesse caso é ainda mais
complicado. –Explicou. Eu não conseguia imaginar qual
reação da minha mãe conhecendo Leo, porém com meu pai
sei que seria uma ótima reação, pois ele era bom, ele era
amável com todos e sempre fora.
—É... Mas ele ia gostar de te conhecer. —Meus olhos
encheram de lágrimas. —Vocês iriam se dar bem. —Falei
sorrindo. —Nós ainda temos chances de nos conhecer. –
Informou Leo esperançoso. —Uma a cada um milhão... —
Falei sem me importar com a fé ou esperança. —E se seu pai
for este "uma chance"? —Contestou Leo para ver seu eu
começava a acreditar mais. Balancei a cabeça, mas não
neguei. —Espero que ele seja. –Implorei com palavras
calmas.

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Capítulo 14

Depois de conversarmos mais e comermos mais,


decidi ir tomar banho, pois Leonardo estava maravilhoso
enquanto eu estava horrível, apesar da minha camisola ser
importada, ainda assim não estava tão linda quanto
costumava estar.
Quando chegamos no quarto, Leo que vinha atrás de
mim, me abraçou e depois de colocar todo meu cabelo para
o lado, ele começou a beijar meu pescoço e foi descendo,
beijando minha clavícula e depois me virou. Nos beijamos
intensamente, até que eu escutei a porta se abrir e parei. —
Oi Lu. —Falei toda fofa e Leo cai na gargalhada. —Oi Carina.
— Disse Lu um tanto séria.
—Estou de olho em vocês dois. —Afirmou apontando
para cada um e jogando um olhar de mãe. Segurei a risada e
ela saiu do quarto. —Ops —Disse Leo brincando com a
situação. Olhei para ele e ele me beijou novamente. —Você
está desafiando o destino. —Sussurrei em seu ouvido
enquanto ele beijava meu pescoço. —Estou desafiando a Lu,
não o destino. —Respondeu parando.
—Leonardo vem já para a cozinha. —Gritou Lu. —Vish
ela foi desafiada.—Brinquei e caímos na gargalhada. E então
ele foi. Suspirei de felicidade, pois apesar de tudo, estava
feliz. E tudo fixou melhor ainda quando finalmente
consegui tomar meu banho, lavar meus cabelos e claro fazer
uma maquiagem.
Depois de mais de uma hora finalmente estava pronta
para um dia. Leonardo apareceu em meu quarto. —Onde
você estava? —Perguntei. —Estava na cozinha lavando louça
com a Lu... —Explicou rindo. —Ela te colocou para lavar
louça? —Perguntei rindo. —Sim. —Sorriu. —Ela disse que se
os adolescentes lavassem mais louça o mundo estaria
diferente. –Explicou. —Coitada. —Ironizei. —Ainda bem
- 161 -
que ela nunca me colocou para lavar louça... —Comentei e
me aproximei dele. —Você iria fazer muito drama. –
Afirmou Leo. –E ia acabar não fazendo. –Concluiu e riu.
Na hora do almoço Lu pediu comida e nós três
almoçamos juntos. —Minha mãe me mandou para um
internato onde eu fiquei até os meus dez anos. —Explicou
Leo. Arregalei os olhos. —Não acredito que você estudou
nesse tipo de colégio... —Comentei perplexa. —Eu não falei
o nome do colégio, mas sim estudei... –Contou Leo. —É o
Colégio Main Stan. —Falou Lu. O sonho da minha mãe era
me mandar para lá. —Como você sabe? —Questionou
olhando para Lu. —É um dos melhores colégios... —Afirmou
Lu me olhando.
—Eu ia estudar lá... —Admiti me lembrando dos
acontecimentos que me fizeram não estudar lá. —E por que
não estudou? –Perguntou Leo e me fez lembrar das
inúmeras visitas que fizemos aos diretores do colégio após
eu jogar uma torta de morango na cara da filha do
presidente do Brasil, que já estudava lá. Obviamente não
contei toda essa história para Leo. —Não me aprovaram
pelo meu jeito de ser. —Contei. Ele riu. —Tinha que ser... —
Falou rindo. —Ela arrumou briga com uma aluna no dia que
foi conhecer o colégio. —Lembrou Lu em voz alta. Eu ri. —
Eu fui uma criança boazinha tá?! —Afirmei irônica. —Ah
claro que foi. —Concordou Lu fazendo cara de assustada.
—Eu ainda não to acreditando que você estudou lá. —
Comentei balançando a cabeça e cortando o assunto. Lu se
levantou e começou a tirar as coisas da mesa. —Era o modo
que minha mãe achou de me proteger... —Desabafou. —Ela
sempre te protegendo. –Comentei. —Sim...—Ele falou e
sorriu ao lembrar dela. —Amor de mãe...—Falei. —Pena que
a minha mãe não tem dentro de si esse amor. —Conclui
soltando um suspiro. —Ela te ama. —Afirmou Leo. Neguei
com a cabeça.
—Ela nunca cuidou de mim, nem ligou se eu estava ou
não estava. E quando voltei do sequestro, depois que você e
eu brigamos, ela virou um grude, mas eu já estou grande
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não preciso mais dela. —Falei um tanto irritada. —E para
mim mais parecia culpa e remorso do que amor. —Conclui.
Leo pensou antes de responder. —Talvez, ela não saiba
demonstrar o seu amor... Mas isso não quer dizer que ela
não te ame. —Explicou Leo. —Tomara que você tenha razão.
—Afirmei mais para mudar de assunto do que com
esperança.
Depois de algumas semanas, eu precisava falar com
Jéssica, precisava da minha amiga. Tudo estava tão difícil.
Meus pais não me falavam o que estava acontecendo, a
pessoas esperavam que eu fosse forte e focada, mas eu era
apenas Carina Jórdan. Então eu engoli meu orgulho,
porque Jéssica era minha amiga e já teve que engolir o seu e
vir na minha casa e talvez fosse a minha vez.
—Oi. —Eu disse sorrindo a Amora. —Olá senhorita
Carina. A Jéssica está no quarto... Pode subir. —Disse
Amora fechando a porta. —Ok. Obrigada. —Falei e então
subi para os quartos. Fui até o quarto de Jéssica e bati na
porta. —Não quero falar com você Amora. —Falou Jéssica
aos prantos. Engoli seco e abri a porta, por sorte estava
destrancada e então eu entrei. Ela estava sentada na cama
chorando, levantou o olhar para me ver. —O que você está
fazendo aqui? —Perguntou secando as lágrimas. —Eu
precisava te ver... —Falei caminhando até ela depois de
fechar a porta lentamente. —Eu não quero ver ninguém. —
Afirmou. Dei de ombros e me sentei ao lado dela na cama.
—Deu positivo. —Ela afirmou chorando ainda mais.
Eu demorei alguns segundos para entender ou talvez
demorei alguns segundos para acreditar. Meu coração se
quebrou, mas se refez, senti sentimentos estranhos. Ela
estava grávida. —Não fica assim. Crianças são bênçãos... —
Eu disse tentando consolá—la. Eu tentava consolar ela, mas
sabia que não tinha consolo. —Eu não quero essa criança,
não quero! —Negou Jéssica decidida. Soltei um suspiro de
dor no coração. Eu fiquei totalmente sem reação. —Eu fui
muito burra... —Comentou Jéssica se soltando do meu
abraço.

- 163 -
—Não diga isso. —Repreendi. —Mas eu fui... —Você
errou, mas é normal errar... Somos adolescentes e quando
erramos por amor, paixão e desejo não a ninguém no
mundo que possa nos julgar. –Argumentei. —Minha mãe
vai me odiar para o resto da vida. –Insistiu. Eu esperava
que de coração, a mãe dela a apoiasse nesse momento tão
difícil. Neguei com a cabeça. —Ela não vai te odiar... O
máximo que vai acontecer é ela ficar nervosa, mas depois
vai te perdoar. —Expliquei.
—Carina você conhece minha mãe. Ela é muito brava.
—Ela disse se levantando da cama. A mãe dela era pior que
a minha, pois a minha mãe era brava uma semana por mês
em média enquanto a mãe de Jéssica sempre estava com
ela. —Ela pode ser a mãe mais brava e chata do mundo mas
nenhuma mãe abre mão de sua filha nesse momento...
Nenhuma.—Respondi me levantando também.
Jéssica passou a mão no rosto. —Tomara que você
esteja certa... Eu não quero ser expulsa de casa. —Ela disse
me abraçando novamente e voltando a chorar. —Você não
vai ser expulsa de casa. —Falei ainda a abraçando. —Você
não sabe o ódio que estou sentindo de mim mesma. —Falou
meio embolado em meio às lágrimas. —Eu sei, mas você
não pode ficar assim...Que tal comermos alguma coisa?
Comer sempre nos acalma... —Eu disse sem saber o que
dizer. —Eu to morrendo de fome. —Ela afirmou. —Quer
que eu pegue alguma coisa na cozinha? —Perguntei me
soltando dela.
—Eu quero sorvete, muito sorvete. —Ela disse indo em
direção a cama e se deitando como se estivesse doente.
Balancei a cabeça, chequei se meu rosto estava seco e sai do
quarto. Quase corri até a cozinha, chegando lá avistei
Amora. —O que estão aprontando? —Ela perguntou em tom
de brincadeira. Amora nos conhece desde pequenas e já nos
ajudou em muitas encrencas.
—Um cineminha no quarto talvez. —Brinquei e ri. Não
podia contar para ela o que Jéssica aprontou. Ela riu. —O
que vocês querem comer? —Perguntou. —Essa era a
- 164 -
pergunta que eu queria escutar. —Afirmei. Demos uma leve
risada. —Queremos sorvete. —Respondi. —Vocês vão comer
sorvete? —Perguntou confusa. —Sim... Qual o problema? —
Falei. O problema é nós nunca comemos sorvete pelo fato
de ser calórico.
—Vocês nunca comem sorvete... —Comentou
estranhando. —TPM de amigas... Nunca ouviu falar? —Falei
abrindo o congelador e pegando o pote de sorvete. —TPM
de amigas? —Contestou. —Sim. —Respondi. —Vocês
inventam tanta moda... —Comentou me entregando duas
taças para sorvete. —TPM de amigas não é moda e sim um
chororô sem fim que você nem imagina. —Falei enquanto
Amora colocava sorvete nas taças.
—Ah imagino. —Ironizou. —Obrigada Amora. —
Agradeci e sai o mias rápido que pude da cozinha. —O que
vamos assistir? —Perguntei entrando no quarto e
entregando uma taça a Jéssica. —Eu quero um filme de
comédia. —Respondeu indo em direção a cama.
Comédia não é o gênero que eu mais gosto, mas
Jéssica precisa rir e desestressar. E nada melhor que uma
dose de comédia para nos alegrar. Assim que o filme
acabou, Jéssica soltou um suspiro, mas não pude
reconhecer se era um suspiro de ter rido muito ou um
suspiro "Droga, voltamos para a vida real!".
—A vida real podia ser engraçada né? —Uma pergunta
retórica que respondeu meus pensamentos. —É... —Suspirei
e o meu suspiro foi pelo mesmo motivo do suspiro de
Jéssica "Droga, voltamos para a vida real!"—Seu pai está
melhor? —Perguntou percebendo o motivo de meu suspiro
e virou para me olhar. Meus olhos encheram de lágrimas.
Neguei com a cabeça antes de conseguir responder. —Se
eles falassem comigo... Eu até poderia saber. —Respondi a
olhando nos olhos.
—Qual o problema de nossos pais? —Ela perguntou. —
Ótima pergunta. Sinceramente, eu não sei o que eles
pensam. Seria tão mais fácil se conversassem com a gente e
não chegassem só para dar bronca... —Falei balançando a
- 165 -
cabeça negativamente. —Exatamente. Meu pai por
exemplo... Sou obrigada a passar o mês de Janeiro na casa
dele, mas ninguém nunca me perguntou se eu quero
realmente e ir e minha mãe fala "Seu pai paga suas contas o
ano inteiro qual o problema de passar um mês na casa
dele?". É extremamente ridículo. —Desabafou Jéssica.
—E na minha casa que nunca sabem se vão estar para
o jantar ou se algo na empresa da China vai acontecer e eles
terão que pegar um jatinho e ir correndo para lá. —
Desabafei também. —É então. —Concordou Jéssica. —E
agora, meu pai está longe e doente e nem sei se melhorou,
piorou e muito menos o que está acontecendo. Não sei nem
qual é a doença e nem se realmente estão nos Estados
Unidos. —Expliquei e ela suspirou. —Eu acho que ele está
melhorando e daqui a pouco tempo estarão de volta, pois
não acho que se estivesse tão mal esconderiam isso de você.
—Argumentou Jéssica.
—E se na verdade ele estiver tão mal que não queira
que eu, a filha dele, o veja em uma péssima situação e
continue tendo aquela imagem dele de pai forte e herói? —
Acrescentei. Jéssica concordou com a cabeça. —Pode ser. —
Comentou. —Mas eu acho que se você pensar que vai dar
tudo certo é melhor do que ficar achando que já está tudo
um desastre. —Concluiu Jéssica. Ela está certa. Eu tenho
que parar de achar que vai dar tudo sempre errado e
acreditar que vai dar certo. Vai que assim as coisas
melhorem e meu pai volte para mim.
—Você está certa. —Admiti. —Meu Deus! —Exclamou
Jéssica. —O que foi? —Perguntei assustada olhando em
volta. —Carina Jórdan admitiu que eu estou certa. —Ela
gritou como se fosse um anúncio e caiu na gargalhada. Eu
ri. Devo admitir também que não é comum eu dizer que
alguém está certa.
—Para de ser idiota... —Falei balançando a cabeça. —
Mas é verdade você nunca falou "Você está certa" para mim.
—Falou apontando para si mesma. —E acho que nunca
falou para ninguém! —Eu ri. —Eu acho que já falei... —
- 166 -
Comentei pensativa. —Se falou foi para sua mãe e olhe lá. —
Comentou. Rimos. —Para você ver como eu mudei... —
Afirmei. —É verdade, você mudou mesmo... Está... vamos
dizer mais amável. —Ela falou sorrindo.
—Viu! O amor muda as pessoas... —Eu disse e ri. —
Verdade. —Concordou. —Pelo menos com você funcionou.
—Afirmou e eu concordei com a cabeça. —Tem até algumas
meninas novas andando com a gente na escola. —Comentei.
—Eu percebi durante a semana e isso é um milagre. Você
nunca aceitou meninas novas no grupo. –Lembrou Jéssica.
—Ah isso não é verdade. —Neguei e ela levantou as
sobrancelhas. — Eu aceitei a Lorena no nosso grupo. —
Argumentei. Ela riu.
—Você estava com medo dela tomar o seu lugar. —
Sussurrou como se alguém pudesse escutar do quarto. —
Xiu. —Exclamei. —Eu podia estar com medo, mas ninguém
precisava saber... —Falei quase sussurrando. —Não tem
ninguém aqui além da gente... —Comentou em um sussurro
e eu olhei em volta. —Realmente. —Concordei e ela riu. —
Mas e a Lorena o que aconteceu com ela? —Perguntei me
ajeitando no modo de sentar.
—Ah ela mudou para o México meio que do nada e
como ninguém era muito amiga dela... Perdemos o contato.
—Explicou. —Graças a Deus! —Agradeci e Jéssica me
olhou com negação. —A menina nem te fez nada... —
Comentou. —Fez sim! —Afirmei. —O que ela fez? —
Retrucou Jéssica. —Nasceu. –Afirmei. Eu sempre fui meio
chata e quando não gosto de uma pessoa, eu não gosto e
pronto. Jéssica riu.
—Amanhã vai voltar tudo ao normal na escola...
Exceto pelo fato das meninas novas andarem com a gente.
—Falei, mas Jéssica deu de ombros. Jéssica não parecia
animada com a escola, mas se tem uma coisa que ela gosta é
planejar e participar de festas.
—Temos que começar planejar seu aniversário. —
Lembrou ela. Eu sorri. —Ah claro... Pode planejar e
contratar tudo o que quiser só me manda a conta para eu
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pagar. —Eu disse meio sem ligar. —Ah não! —Negou. —
Você vai planejar tudo comigo. —Me balançou pelo o braço.
—Quero com o tema jardim e para 250 pessoas. —Expliquei
e sorri. —Ótimo tema. —Concordou. —Mas você vai planejar
tudo comigo. –Ordenou. —Aff. –Reclamei. Jéssica revirou
os olhos e continuou.
—Você só vai chamar seus amigos? —Perguntou
pegando o celular embaixo do travesseiro. —Sim. —Afirmei.
Ela começou fazer anotações no celular. —Você vai viajar?
—Perguntou e eu me lembrei que tinha pedido para ir ao
Uruguai porém ainda não combinamos nada. —Eu queria ir
para o Uruguai, mas não vou mais... —Contei. —Não vai
mais por quê? –Perguntou e parou de escrever no celular
para me olhar.
—Porque meus pais estão nos Estados Unidos e
duvido que vão querer ir ao Uruguai... —Expliquei. Ela me
olhou e pensou. —Porque você quer ir ao Uruguai afinal? —
Retrucou. —Além de eu realmente ter muita vontade de
conhecer... É um país bom e bonito no qual meus pais não
tem empresa lá. —Respondi e ela concordou com a cabeça.
—Ah agora sim, faz todo sentido... Se quiser podemos ir. —
Falou Jéssica e eu sorri. —É melhor não. É que quero estar
com Leo... —Comentei e ela deu um sorrisinho.
Eu estava quase indo embora, mas precisava
perguntar algumas coisas para Jéssica. —Quando você vai
contar para sua mãe sobre... —Ela me interrompeu com um
suspiro. —E se eu não contar? —Perguntou mais a si mesma
do que a mim. —Ela vai perguntar... Todos vão. —Falei e dei
uma leve risada. —Mas tipo... E se eu não tiver o bebê? —
Que? Está louca é? —Gritei em desespero. Jéssica engoliu
seco. —Eu nem sei por onde ele anda... —Ela disse e
algumas lágrimas escorreram de seu rosto.
Passei a mão no rosto enquanto pensava sobre um
problema que nem era meu verdadeiramente. Ela se
levantou e correu para o banheiro. Me levantei da cama e
fui caminhando devagar até o banheiro. Entrando lá avistei
Jéssica sentada em um canto toda encolhida com o rosto
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apoiado nos joelhos. —Ei. —Falei me aproximando dela. —
Carina eu sei... —Ela falou levantando o rosto.
—Eu sei que estou matando alguém que não tem
culpa, eu sei que posso me arrepender pelo resto da minha
vida e sei que é contra lei... Mas não tenho outra escolha! —
Ela afirmou convicta como se soubesse de todas as
consequências de seus atos e me olhando com um olhar
desesperado. Vendo o estado da minha amiga me lembrei
de um episódio da minha vida. Me sentei no vaso e olhei
fixamente nos olhos dela.
—Quando eu estava sendo sequestrada... —Comecei. —
O que eu mais queria era voltar para minha casa, então eu
montei um plano para fugir, mas na metade do plano eu
refleti e pensei: A minha família e meus amigos
sobreviverão mais um pouco sem mim, mas a questão é: eu
sobreviverei sem Leonardo?! E decidi que era melhor ficar.
Você acha que foi fácil? Nosso namoro é uma luta até hoje.
Mas eu só posso afirmar isso hoje porque há alguns meses
atrás eu decidi ficar. —Expliquei a ela como se fosse a
melhor conselheira do mundo.
—Mas ele não te trouxe embora e vocês ficaram um
tempo sem se falar? —Lembrou Jéssica. —Esse dai foi o dia
que eu decidi partir... Para você ver no que deu. Ás vezes
temos que fazer e viver coisas fora da nossa zona de
conforto, pois no final sempre valerá a pena. —Falei e ela
soltou um suspiro. —É... Mas é diferente, eu nunca mais
terei nenhuma mordomia... —Desabafou e eu concordei. —
Faz parte da vida. —Afirmei.
No dia seguinte pela manhã minha mãe conversou
comigo por mensagem e disse que meu pai piorou, mas
obviamente não disse mais nada. Como ela podia falar tanto
e tão pouco ao mesmo tempo? Queria que ela me levasse a
sério. —Papai piorou... —Falei com o olhar perdido pela
sala. Lu suspirou e se sentou ao meu lado. —Eu sei... Sexta a
tarde você embarca para os Estados Unidos. —Falou me
olhando nos olhos. Concordei com a cabeça.

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Assim que cheguei na escola Ana, Beatriz e Fernanda
já me esperavam na porta sorrindo. —Oi. —Falaram em
coro. —Oi... —Falei meio desanimada e cumprimentei todas
com beijinho e nem as olhei de cima a baixo. —O que foi? —
Perguntou Ana. —Nada não. —Afirmei e dei um leve
sorriso. Entramos pelo colégio e óbvio que todos olharam.
Era a minha parte preferida do dia. A entrada no colégio.
Na hora do intervalo o assunto era a formatura que estava
tão próxima e eu que sempre era tão animada com festas,
não queria mais tanto essa.
—Você já encomendou seu vestido para o baile de
formatura? —Perguntou Jéssica e colocou um morango na
boca. —Ai meu Deus! —Exclamei. —Eu tinha esquecido do
baile... Quando vai ser? —Falei olhando entre elas. —Você
esqueceu do baile de formatura? —Perguntei Fernanda sem
entender. Eu olhei de um lado para o outro pensando. Eu
esperava há anos pelo baile e agora do nada esqueço.
—Nossa... Eu esqueci. Meu Deus! O que está
acontecendo comigo? —Falei histérica e todas me olharam
assustadas. —Carina você passou meses organizando... —
Lembrou Beatriz. —Verdade. —Afirmou Jéssica. —Ai
meninas! Que droga. Só me falem a data... —Eu falei
irritada por não saber. —Será no dia dez de Janeiro. —
Explicou Ana.
—Vou sexta para os EUA acho que vou mandar fazer
meu vestido lá... —Expliquei pensativa. —Carina Jórdan
sempre inovando os vestidos das festas! —Afirmou
Fernanda. Eu sorri. —Claro né! Alguém tem que renovar a
moda desse colégio de vez em quando. —Falei olhando em
volta. Elas riram.
—Já temos que agendar o centro de estética que
vamos.—Disse Beatriz. —Sim! —Concordou Ana. —Em qual
vamos? —Perguntou Fernanda me olhando. —Naquele bem
no centro sabe? —Informei e elas concordaram. —Se você
está falando nós topamos. —Disse Jéssica.Depois da aula de
Inglês finalmente era hora de ir embora. Assim que a Lu
chegou me despedi das meninas e entrei no carro. Não
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conversamos sobre nada. Exatamente nada. Cheguei em
casa o almoço já estava pronto e Lu só iria acabar de
temperar a salada enquanto eu me trocava.
Coloquei uma roupa bem bonita, pois afinal eu não
tenho roupa feia. Depois de almoçar dei uma retocada na
maquiagem. —Lu vamos! —Falei mexendo no celular. —Já
estou indo. —Gritou do banheiro. Aproveitei para tirar uma
foto no celular para postar.

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Capítulo 15

Cheguei na empresa e mal deu tempo de trabalhar que


minha mãe começou a me ligar. —Oi mãe. —Falei me
esticando na cadeira. —Oi querida. Eu preciso que você
resolva um assunto urgente, alguém imprimiu uma nota
fiscal com a data errada e é de um dos maiores
compradores. Preciso que você peça ajuda da Alice para
resolver isso. —Falou e eu concordei com a cabeça e então
ela desligou.
Fiz caras e bocas de raiva antes de pegar o telefone.
Liguei para sala de Alice e pedi para que ela viesse até
minha sala. Alice com um cabelo curto e super estiloso e sua
roupa totalmente vermelha vibrante entrou na minha sala
com um enorme sorriso. —Olá. —Falou. —Oi. —Falei e até
lancei um enorme sorriso. —Preciso da sua ajuda para
resolver uma nota que deu errado... —Eu disse e ela
caminhou até mim para me ajudar.
Foi um dia irritante e totalmente difícil na empresa.
Os problemas não acabavam e até reunião com
fornecedores tivemos. Tive que fechar uma parceria e
escolher alguns modelos para a próxima campanha, isso
para mim era bem difícil já que ninguém parecia ser boa o
suficiente. Assim que cheguei em casa fui direto para meu
quarto tomar um banho e relaxar.
Os dias que se passaram continuaram corridos, eu mal
tinha tempo de fazer exercício físico e muito menos de
passar horas ao lado de Leonardo. Minha mãe, mudando os
planos como sempre, decidiu que eu não iria mais para os
EUA na sexta porque precisava de mim no Brasil. Jéssica
estava com fortes enjoos devido a gravidez e como ela não
queria contar para ninguém eu, Carina Jórdan, tive que
acompanhá—la no médico.

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—Qual das duas está grávida? —Perguntou o médico
nos olhando. —Ela né meu filho! —Falei totalmente
estressada e com pressa. Jéssica me deu um tapa no braço.
Ainda bem que o médico levou na brincadeira e riu.
Quinta feira foi o dia mais tranquilo e então eu
consegui pelo menos assistir um filme com Leonardo em
casa e dar alguns beijos. —Te amo. —Ele falou antes de me
soltar para eu entrar em casa e ele ir embora. Suspirei. —Te
amo. Um sorriu para o outro e então eu entrei. Finalmente,
um dia no qual eu pude me deitar e dormir feliz.
As semanas seguintes eu passei cuidando da empresa,
escutando minha mãe reclamar, ajudando Jéssica a
esconder a gravidez e passando meus finais de semana
tentando conciliar a matéria acumulada e a paixão que eu
sentia pelo Leo, claro que, uma coisa não competia com a
outra e por isso eu e Leo sempre estávamos nos beijando e a
matéria estava cada vez mais acumulada.
Meu pai finalmente me ligou e eu fiquei animada, pois
estava morrendo de saudades. —Oi pai. —Falei totalmente
feliz, pois minha mãe disse que ele tinha melhorado. —Oi
filha. —Disse meu pai com uma voz fraca, de pessoa doente.
Nunca achei que escutar a voz de meu pai seria tão bom e
tão ruim ao mesmo tempo. —Você está bem? —Perguntei já
sabendo a resposta. —Claro que estou. —Mentiu, pois estava
nítido em sua voz que estava piorando. —E você como está?
—Estou bem pai. —Falei e suspirei. —Saiba que você
está fazendo um ótimo trabalho na empresa. —Ele elogiou
todo orgulhoso. —Obrigada pai. —Agradeci. —Eu te amo
querida. —Afirmou. —Eu também te amo pai. —Falei e uma
lágrima escorreu de meu rosto. Meu pai parou de falar, mas
não desligou celular. —Pai? —Chamei.
A única coisa pude escutar foi aquele barulhinho que
todos nós tememos em hospitais. O som que quando soa
nos filmes ou na vida real nos causa dor, medo e aflição. O
som da morte. —Pai! —Gritei. —Por favor pai me responde!
—Eu implorei pelo telefone e ele não respondeu. Logo uma
gritaria entre enfermeiros e médicos surgiu. —Não tem
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mais o que fazer. —Disse alguém. Eu tirei o celular do
ouvido e fiquei pasma e sem reação até que caiu a ficha. Ele
estava morto.
Apoiei o braço e a cabeça na mesa do escritório e
chorei amargamente como nunca tinha chorado antes. Meu
pai nunca mais vai me responder, nunca mais vai me ligar e
nunca mais vai me ver. Dói até a alma só de pensar que
nunca mais conversarei com ele durante o café da manhã. E
dói não ter estado com ele durante seus últimos dias de
vida. Só parei de chorar quando escutei o celular tocar.
Olhei para a tela e vi que era minha mãe. —Oi meu
amor... —Ela falou e nesse momento eu tive certeza que não
era um sonho. Era um pesadelo na vida real. —Oi. —Falei
tentando engolir o choro. —Você já sabe né? —Ela
perguntou. —Eu já sei. —Afirmei. —Vou ligar para Lu e
falar para ela te buscar. Pego o avião hoje mesmo e volto
para casa... E o enterro será no mesmo lugar no que foi da
vovó Yasmin. —Explicou enquanto eu tentava acompanhar
o raciocínio e segurar o choro.
—Ok mãe. —Respondi. —Eu te amo filha.—Afirmou
chorando. —Eu te amo mãe. —Falei com a voz fanha e falhei
na tentativa de segurar o choro. Minha mãe desligou e eu
fiquei sentada no escritório com algumas lágrimas
escorrendo pelo rosto, eram poucas, mas cada uma que
escorria era como se fosse um pedaço de mim sendo
arrancado com toda força.
Logo Lu chegou e se desabou a chorar ao me ver
naquele estado. Foi até mim e me tomou em um abraço. —
Ele te amava. Te amava. —Repetiu para que eu tivesse
certeza. Foi um dia horrível, horrível comparado a todos
outros que antes eu considerava horríveis. Tudo me
lembrava a ele e tudo me fazia querer ele.
Leonardo nesse momento que eu mais precisava dele
não podia estar comigo, pois a casa estava lotada de
familiares, familiares nos quais alguns eu nem conhecia e
outros como minha avó Gaia e tia Ana que eu amava e
estava morrendo de saudades.
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Todos que me cumprimentavam diziam a mim a
mesma coisa: "Ele te amava" Eu concordava com a cabeça e
soltava um suspiro triste. Mas essa afirmação está errada,
pois eu tenho certeza que ele continua me amando. A morte
não é o fim. Não é porque ele morreu que deixou de me
amar. Não é porque ele morreu que a vida dele acabou. A
morte muitas vezes pode ser o começo e com certeza é o
começo da eternidade.
A morte é apenas o fim da vida na terra, da vida
mortal. É o fim de algo bom para o começo de algo
maravilhoso. E por isso eu não chorei no dia seguinte no
funeral. Eu me vesti com um lindo vestido preto, um vestido
no qual estava guardado há anos no fundo do meu closet.
Esse vestido tem um valor especial, não um valor de
dinheiro, mas um valor sentimental. Quando eu tinha doze
anos meu pai me deu meu primeiro cartão de crédito e eu
feliz da vida fui com algumas amigas no shopping e a
primeira peça de roupa que comprei foi esse lindo e rodado
vestido preto de presente para minha mãe. Minha mãe o
odiou, porém meu pai ficou tão orgulhoso, tão orgulhoso
que o guardei com todo amor em meu quarto e prometi a
mim mesma que um dia ainda o usaria em uma ocasião
especial. Só não sabia que o enterro de meu pai seria essa
ocasião.
Minha mãe estava totalmente desesperada e perdida
na vida e eu só a observava de longe. Não havia palavras e
nem abraços que a fizesse parar de chorar. Foi no funeral de
meu pai que eu aprendi o que era amar. O choro de
desespero da minha mãe me mostrava "Eu não consigo
viver sem você" E ela estar perdida e sem rumo na vida me
mostrava "Eu não sou nada sem você"
E isso é realmente amar. Com toda certeza do mundo
minha mãe consegue viver sem meu pai e continua sendo
tudo que ela é, sem ele. Mas o amor que ela sente por ele faz
ela mesma pensar que será fraca se não tiver ele ao seu lado.
Jéssica chegou quase na hora do enterro e como uma boa
amiga permaneceu ao meu lado até a hora de ir embora.

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Eu não quis dar nenhum discurso sobre quem meu pai
foi ou deixou de ser. Nem publiquei nada no Facebook e
muito menos mandei uma mensagem para ele com a inútil
esperança que ele, algum dia, respondesse.
Eu prefiro sofrer a morte em silêncio. O mais próximo
que cheguei de sentir o luto foi escrever uma carta para ele
em um caderno, mas não foi uma carta destinada a meu pai
e sim agradecendo apenas pelos momentos que passei com
ele. Eu estava deitada olhando para o nada quando escutei a
porta de meu quarto abrir.
Levantei a cabeça para olhar e vi que era Leo. Um leve
sorriso apareceu em meu rosto. —Oi amor. —Ele falou e foi
até mim na cama. Me sentei e assim que ele se sentou o
abracei. Agora o luto havia começado. Chorei em seu ombro
tudo o que não tinha chorado o dia inteiro. Leo tentou me
acalmar e ficou comigo até eu adormecer. Os dias que se
passaram não foram tão horríveis. Eu não aceitei sofrer o
luto.
E pelo jeito o da minha mãe só durou o final de
semana. Na segunda feira ela já cuidou de um monte de
coisa na empresa e na terça já estava embarcando para a
China. Eu estava triste, mas continuei vivendo a minha
vida normal e agora sem o meu pai literalmente, tive
começar a assumir mais responsabilidades.
Faz três dias que eu e Leo não nos vemos, mas isso não
é problema, pois eu falei para ele vir jantar comigo hoje às
vinte horas. E adivinha quem vai cozinhar? Eu, Carina
Jórdan. Fiz uma lasanha deliciosa de uma receita que vi na
internet. Enquanto a lasanha acabava de assar eu fui me
arrumar. Prendi o cabelo de uma forma chique e passei um
batom vermelho. Meu vestido era justo e combinava com a
cor do batom.
Escutei a buzina e um sorriso apareceu em meus
lábios, Mas não abri a porta. Quando finalmente Leonardo
Cardoso, o amor da minha vida bateu na porta eu devagar e
delicadamente a abri. Ele me olhou de cima a baixo. —Uau!

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—Ele exclamou. —Oi amor. —Falei e dei um beijo no canto
de sua boca.
Dei passagem para ele entrar e fechei a porta. Ele me
puxou pela cintura e me beijou. —Ai que saudades eu
estava de você. —Ele disse me apertando contra seu corpo.
— Eu também estava. —Afirmei e dei a mão para ele o
levando até a sala de jantar. —Quem fez tudo isso? —
Perguntou assim que entramos. Soltei sua mão e o olhei
rindo. —A sua namorada. —Brinquei.
—Nossa tenho que agradecer ela. —Brincou. — Tem
mesmo. —Falei indo com ele até a mesa. Como de costume
Leo puxou a cadeira para mim e eu me sentei. —Obrigada.
—Agradeci. Leo olhou pela mesa após se sentar. —O que
vamos comer? —Perguntou. E então entrou Lu com um
prato em cada mão. —Boa noite meu casal favorito. –Falou
Lu tentando segurar a animação. —Boa noite. —Desejou
Leo sorrindo. —Obrigada Lu. —Agradeci assim que ela
colocou meu prato na mesa. Lu saiu da sala de jantar com
um sorrisinho malicioso no rosto.
Depois de conversarmos, Leo contar suas palhaçadas e
a gente se divertir muito. —Mas tem mais uma coisa... —
Comecei e Leo me olhou nos olhos após por uma garfada na
boca. — Eu não queria fazer mais minha festa, por causa do
meu pai e tudo mais... Mas Jéssica acha que devo fazer. —
Leo me olhou confuso. —Você quer fazer? —Ele questionou.
—Eu quero, mas me sinto mal... —Comentei. —Por tudo que
você me fala dele, acho que ele ficaria feliz que você
comemorasse.
—Além disso, eu queria que você fosse comigo. —
Afirmei. Leo pensou. —Sem adultos? —Perguntou. —Sem...
—Respondi tentando entender. —Alguns amigos? —
Perguntou. —Alguns. —Menti, mas era para ele querer ir à
festa. —Então eu vou... Não tem nada demais. —Ele disse
feliz e eu sorri.
Eu tentava me concentrar e resolver algumas coisas no
tablet quando Ana, Fernanda e Beatriz entraram na minha
sala. Olhei para elas confusa. —O que vocês querem? –
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Perguntei meio grossa, pois estava com mil e uma coisas
para fazer. E elas iriam fazer eu perder tempo. —Está na
hora de você descansar. —Afirmou Beatriz.—Não estou com
sono. –Discordei.—Você precisa de um momento relaxante.
—Falou Ana. —Eu sei, mas a empresa precisa de mim hoje,
agora, nesse momento. —Falei e virei o rosto para o
notebook e comecei responder um email.
—Carina. —Chamou Fernanda. —O que? —Perguntei
sem olhar. —Você está igual sua mãe. —Afirmou Fernanda.
—Ai Fernanda conta outra! Todas nós sabemos que eu e ela
somos super parecidas. —Eu disse e continuei responder os
emails. —É sério! —Exclamou Fernanda. —Você está
parecendo ela até na idade. —Concluiu. Parei de digitar e a
olhei assustada. —Sério? —Perguntei a ponto de ter um
ataque. —Sério. —Respondeu Ana. Me levantei em um pulo
e meio que corri até o espelho que tinha no meu escritório.
—Vamos com a gente... —Pediu Beatriz. —O meu
motorista está nos esperando... —Comentou Ana, pois ela
sabia que eu odiava esperar motorista. Quando vi meu
reflexo, fiquei mais calma. Eu realmente estava diferente,
mas não estava velha, estava apenas mais adulta, mas o
meu corpo estava esgotado. Eu que sempre fui acostumada,
com a vida relaxante e luxuoso de Carina Jórdan, agora
estava trabalhando horas e horas por dia e sem direito a
spas e festas. Olhei para elas.
—Onde vamos? —Perguntei e sorri com um pouco de
medo. Medo do que poderia acontecer na empresa comigo
uma tarde fora. E a resposta era nada. Passamos a tarde no
SPA e depois compramos os vestidos que usaremos no dia
da minha festa de dezessete anos. Cheguei em casa super
tarde e cheias de sacolas. Achei, de coração, que Lu iria ficar
brava, porém ela nem ligou e ainda ficou contente com a
atitude das meninas.
Antes de dormir liguei para Jéssica. —Oi Jé. —Oi. —
Respondeu. —Você está bem? —Perguntei. —Na verdade
não... —Por que? —Perguntei e até me sentei na cama. —Por
que minha mãe me expulsou de casa, ela descobriu da
- 178 -
gravidez e está me odiando por isso. —Ai que droga... —
Estou no apartamento da minha prima, mas não posso ficar
aqui por muito tempo. E eu não sei o que fazer.
—Eu não acredito que sua mãe foi capaz de te
expulsar... Mas fica calma. —Falei. Foi a única coisa que eu
fui capaz de responder. —Ela foi, juro que estou tentando. —
Amanhã você pode vir morar aqui em casa e pode morar o
tempo que precisar. —Obrigada Ca. —Agradeceu. —Amigas
são para isso, mas eu vou dormir, amanha nos falamos na
escola. —Ok. Beijos. — Ela se despediu e desligou.
Eu e Jéssica fomos almoçar em um restaurante antes
de começarmos a planejar minha festa. —Eu estou
precisando de um emprego... —Disse Jéssica olhando no
jornal. —Você pode trabalhar na empresa comigo. — Falei
minha ideia a Jéssica. —Estou necessitando de uma
secretária. —Afirmei e o celular tocou, Jéssica riu porque já
era milésima vez que acontecia isso. Desliguei e voltei o
olhar para Jéssica.—Ah seria legal. Mas não sei se sei fazer
as coisas. — Refletiu e me olhou.
—Ah eu te ajudo e alguns funcionários também estão
lá para isso. —Expliquei. —Ok. Preciso mesmo de dinheiro
e de me distrair dos pensamentos. — Falou e eu concordei.
—Isso mesmo. Pelo menos poderemos ficar juntas. — Eu
disse e ela sorriu. —Quando eu começo? — Perguntou. —
Hoje mesmo. — Afirmei feliz. Jéssica trabalhando comigo
significava dias alegres e conversas entre amigas.
Assim que chegamos na empresa, Alice já me esperava
na porta do meu escritório. —Oi. —Falei e sorri. —
Senhorita Carina sua mãe quer falar urgente com você. —
Ela explicou sem nem ter tempo de dar oi. Concordei com a
cabeça e suspirei irritada. Todos os assuntos com a minha
mãe são urgentes. —Obrigada. —Agradeci. — Essa aqui é
Jéssica minha nova secretária. —Apontei para Jéssica. E
elas se cumprimentaram.
—Prazer Alice! —Prazer.

- 179 -
Abri a porta da minha sala e entrei. Jéssica logo entrou
atrás e pude escutar o barulho do salto de Alice caminhando
para sua sala. —Eu já te explico tudo certinho deixa só eu
saber o que minha mãe quer. —Falei me sentando e
pegando o telefone do escritório na mão. Jéssica concordou
com a cabeça e sentou em um sofá que tinha no escritório.
Tocou duas vezes e minha mãe atendeu.
—Oie. —Falei mascando um chiclete. —Carina joga
esse chiclete no lixo. —Ordenou antes de me dar oi. Eu ri,
pois sabia que ela ia fazer isso. —Pronto mãe. —Falei
mesmo sem ter jogado fora. —Filha na semana do seu
aniversário estarei ocupada aqui em Madri mas na semana
seguinte estarei em Nova York e como já vai ser Dezembro
você pode ir para lá com a Lu. E em Janeiro eu prometo
tirar férias e aí vamos para onde você quiser. —Ela falou em
um lugar barulhento e movimentado. Meus olhos encheram
de lágrimas. —Ok mãe. —Falei meio decepcionada.
Era meu aniversário e uma das pessoas que eu mais
queria nesse dia comigo era minha mãe, mas para ela isso
não era tão importante. —Ok querida. Mais tarde nos
falamos. Beijos. —Ela disse e desligou sem nem esperar eu
responder.
Olhei para o notebook para tentar disfarçar minha
tristeza, mas Jéssica me conhecia o suficiente para saber
que eu a única pessoa capaz de me deixar triste era minha
mãe. Ela se aproximou de mim. —Ei não liga para ela. —
Falou e sorriu. —A sua festa vai ser o máximo e vai ter um
monte de gente que te ama com você. Uma semana a mais
ou a menos não faz diferença. —Me explicou sorrindo e eu a
olhava. Sorri.
—Não estou triste. —Afirmei. —Aliás, você tem razão.
Uma festa com um tema lindo e com pessoas que me amam
é muito melhor que uma viagem com a minha mãe. —
Contei fingindo estar alegre. Ela riu e balançou a cabeça.
Acho que sabia que não era verdade, mas não quis discutir.
Eu tinha sérios problemas emocionais quando minha mãe
me decepcionava.
- 180 -
—O que você pensou como decoração? —Perguntou.
Mudei o foco dos meus pensamentos. Apareceu imagens de
festas na minha cabeça e então respondi. —Eu quero muitas
flores e alguns detalhes com borboletas quero uma mistura
de azul claro, rosa escuro e branco. —Falei mais
entusiasmada com a festa do que nunca. —Ok. —Disse
Jéssica animada. — Eu tinha pensado em ser a fantasia o
que acha? —Pensei. —Seria legal, mas deveria ser fantasia
que tivesse a ver com o tema da festa. —Expliquei. —Sim.
Abelhas, joaninhas, pássaros... —Concordou já pegando o
celular para anotar. —Cobras... —Comentei em tom de
brincadeira. Ela me olhou e riu.
—Eu vou de caracol! —Afirmou. Eu ri. —De caracol ao
contrário né querida. —Falei para zoar ela que estava com
uma blusinha apertadinha que já marcava a barriga. Ri e ela
me olhou brava. —Como você é chata. —Comentou. —
Demais! –Concordei. Ri. —Acho que vou de borboleta... —
Falei pensativa. —Ficaria legal. —Elogiou Jéssica. —Mas e o
Leo vai do que? —Perguntei. —Fala para ele ir de mosca... —
Disse Jéssica. E eu ri. —Besta. —Falei. —Fala para ele ir de
árvore então. —Comentou Jéssica —Árvore pelo menos não
se mexe então não tem chances dele chegar perto de outra.
—Lembrei e ela riu. —Meu Deus como você é ciumenta! —
Exclamou Jéssica.
—Eu só cuido do que é meu por direito... —Comentei.
Rimos. —Agora me explica qual vai ser meu trabalho. —
Pediu olhando em volta da sala. Não tinha muito o que
Jéssica fazer mas eu necessitava da presença dela e ela
necessitava de um emprego. —Até o meu aniversário você
vai cuidar de organizar a festa ai depois a gente pensa em
algo para você fazer... —Falei e Jéssica me olhou confusa. —
Eu já ia organizar sua festa de qualquer jeito... —Comentou.
—É verdade, mas agora eu sou quase a presidente dessa
empresa e uma quase presidente não tem que prestar
contas a sua mãe se pagou ou não alguma coisa. —Expliquei
e soltei um leve sorriso no final.

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—Por isso que eu te amo. —Afirmou feliz. —Também
te amo. Agora confirma com os convidados quem vai e
resolve a decoração. —Falei e voltei o olhar para o notebook.
Quando chegamos em casa. —A lista deu cento e cinquenta
convidados confirmados e já avisei a todas que será festa a
fantasia com o tema jardim. —Falou Jéssica sentada na
minha cama enquanto eu tirava a maquiagem.
As semanas que se passaram foram mais corridas para
Jéssica do que para mim. Alice estava me ajudando
bastante na empresa e os beijos quentes com Leonardo em
algumas noites e nos finais de semana me fazia aguentar o
cansaço do dia a dia. —Eu vou de pássaro. —Afirmou Leo
após eu ter comentado sobre a minha festa ser a fantasia. —
Jéssica falou para você ir de mosca... —Comentei rindo. Deu
de ombros. —E se eu for de lesma? —Perguntou realmente
interessado. —De lesma? —Perguntei em choque e achando
o fim.
—Eu vou de borboleta. —Afirmei passando a mão no
cabelo. —Uma borboleta com bastante roupa né? —
Perguntou enciumado. —Depende... Qual fica mais fácil
para você? —Perguntei. —Você bem vestida nas festas fica
melhor. —Sussurrou em meu ouvido. E quando ia voltar
me beijar. —Já chega por hoje. —Ordenou Lu bem perto do
sofá. —Só mais um pouquinho. —Implorei a olhando com
cara de choro. Leo riu e saiu de cima de mim. —Aff. —
Reclamei e me sentei no sofá com o cabelo todo bagunçado.
—Aff nada. —Disse Lu saindo da sala. Olhei para Leo
sorrindo.
E ele segurou minha nuca e me puxou para um beijo.
—Já falei para parar. —Gritou lá da cozinha e rimos. Lu
sempre estragando nossos momentos.

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Capítulo 16

E finalmente, chegou o grande dia. Meu aniversário.


Tudo parecia mais lindo e mais claro. Me levantei da cama
toda contente. Antes de tomar café, decidi me arrumar. —
Bom dia flor do dia! –Disse Lu toda feliz. —Bom dia Lu! –
Me virei para ela. Ela me abraçou e pela primeira vez em
muito tempo parecíamos estar com um brilho no olhar e no
sorriso. —Parabéns querida! –Falou e me deu um beijo na
bochecha. —Obrigada. –Agradeci. —Vamos tomar café? –
Perguntou Lu saindo do quarto. —Pode ser... –Falei a
seguindo.
Quando chegamos na cozinha tinha uma cesta de café
da manhã na mesa e um urso gigante. Sorri. —Quem
mandou? –Perguntei surpresa. —Quem você acha? –Disse
Leonardo entrando na cozinha. Corri até ele e o abracei. —
Bom dia amor! –Falei. —Parabéns princesa. –Ela falou e me
deu um beijo na testa. —Eu não acredito que você veio
tomar café comigo... –Comentei o olhando nos olhos. —
Claro que vim. –Afirmou. —Você não vai abrir a cesta? –
Perguntou Lu toda sentimental. —Lu não chora... –Falou
Leo e eu ri.
—Vou abrir sim, mas sem choro por favor! –Eu disse
indo em direção a mesa para abrir a cesta. Lu não
aguentava e deixava as lágrimas escorrerem. Enquanto eu
tentava tirar o laço da cesta, Leo foi até Lu e a abraçou. —
Por que está chorando? –Perguntou Leo a Lu. —É tão bom
ver minha menina crescendo. –Disse Lu secando as
lágrimas. Eu olhei para cena e ri.
—Ai Lu não fica assim não... –Comentou Leo e olhou
para mim tentando segurar o riso, ele a soltou e foi até mim.
—Estou morrendo de fome. –Afirmou e eu ri. —Eu vou
lavar o rosto... –Disse Lu e saiu da cozinha. —Meu Deus! –
Exclamei. –Você sabe que um aniversário vai ser bom
quando já começa com esses problemas de humor na
- 183 -
família. –Falei e Leo me deu um beijo na bochecha. Me
sentei e procurei na cesta algo para eu comer, na verdade
algo que eu quisesse comer e não engordasse tanto. —Eu
não acredito que te trago uma cesta cheia de coisas gostosas
e você vai comer o bolinho integral... –Reclamou Leonardo.
Eu mordi e então o olhei. —A cada dia que passa estou mais
velha e eu não quero ser uma velha gorda. –Expliquei após
mastigar o pequeno pedaço que estava na minha boca. Leo
riu.
Depois de comermos mais que o necessário para o dia
inteiro. —Eu quero tirar uma foto com você... –Comentei
lavando a mão. —Ah quer? –Falou Leo e sorriu. —Sim. Nós
nunca tiramos uma foto juntos. –Expliquei. Então tiramos
várias fotos juntos. —Essa daqui foi a melhor. —Falou
Leonardo com um braço por cima de meus ombros. —
Também achei. –Concordei dei um beijo na bochecha de
Leo.
—Carina que horas você vai para a escola? –Gritou Lu
de algum lugar da casa. —Meu Deus! –Exclamei olhando a
hora no celular. —Eu te levo. –Afirmou Leo se levantando.
—Tchau Lu! –Falamos sem querer em coro. Rimos. —Tchau
crianças! Juízo. –Ela respondeu se aproximando da gente
na sala. —Juízo é a coisa que mais temos. –Sussurrou Leo
em meu ouvido. Eu ri.
As meninas não me esperavam na porta, mas como de
costume tirei olhares de todos os lados e torci para que Leo
não ficasse com ciúmes. Andei rapidamente até a minha
sala com a esperança que tivesse uma festa para mim. Abri
a porta sorrindo e quando entrei todos começaram a cantar
“Parabéns”. —Obrigada galera! –Agradeci assim que o
parabéns acabou. Fui até a mesa do bolo e abracei algumas
amigas.
—Faz um pedido e apaga a velinha. –Aconselhou Ana.
Eu sorri concordando com ela. O meu pedido foi que eu
pudesse ser para sempre feliz ao lado de Leonardo e por fim
apaguei a vela. —Eu quero o primeiro pedaço. –Afirmou
Jéssica. Eu ri, pois eu sempre dava para ela o primeiro
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pedaço e ela sempre me dava o primeiro pedaço. Assim que
com muita dificuldade consegui cortar um pedaço de bolo.
—E o primeiro pedaço vai para... Jéssica. –Gritei. E todos
riram pela emoção que era para Jéssica ganhar o primeiro
pedaço.
Foi um dia divertido na escola. Conheci até pessoas
novas, na verdade, elas já estudavam comigo há alguns
anos, mas eu nunca tinha dirigido a palavra a elas. Até a
diretora chegou um pouco depois para comer bolo. Ainda
bem, que ela não levou presente, pois seu estilo não era um
dos melhores e seu cabelo era um dos piores. Totalmente
oleoso e puxado para trás para formar um coque horroroso.
—E sua mãe como está? –Perguntou a diretora Alexandra
segurando o prato de porcelana após ter comido alguns
pedaços de bolo. —Ela está ótima. –Afirmei e sorri.
—Todos nós sentimos a perda de seu pai... –Começou
a diretora e eu suspirei irritada. –Eu nem sei como sua mãe
e você conseguiram superar tão rápido. –Contou e eu a
olhei nos olhos. —Ele nos ensinou a ser forte em todos os
momentos. –Afirmei. –Agora, eu vou falar com as minhas
amigas. –Falei e nem esperei ela responder para ir até as
meninas. Não estava a fim de no dia do meu aniversário
ficar lembrando da morte do meu pai.
—O que a diretora estava falando? –Perguntou Beatriz
rindo. —Várias baboseiras... –Comentei pegando uma taça
com suco de laranja do balcão que estava ao lado. —Ela só
fala baboseiras! –Afirmou Jéssica rindo. Todas nós rimos.
—E vocês estavam falando sobre o que? –Perguntei após
tomar um gole do suco. —Sobre as fantasias que vamos na
sua festa... –Falou Ana super animada. Eu sorri.
—Eu vou de Flor. –Afirmou Fernanda. —Eu vou de
abelha! –Falou Ana. —Eu vou de Joaninha. –Afirmou
Beatriz. —Eu como já tinha falado vou de caracol... –
Comentou Jéssica. —Vocês vão ficar lindas! –Afirmei
sorrindo. Me despedi das meninas com um beijo no rosto
de cada após termos uma manhã feliz de festas e risadas.

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Sai andando em direção ao carro do Leo que estava
parado no outro lado da rua. —Oi amor. –Falei fechando a
porta e o beijei. —Oi. –Ele falou sorrindo após o beijo. —
Para onde vamos? –Perguntei encostando o cotovelo na
porta. —Um lugar especial... –Comentou. —Aff. –Reclamei.
Qual o problema de dizer o lugar?
Depois de um tempo, já estava cansada de esperar e já
não sabia mais onde estava quando Leonardo virou para
entrar em um condomínio. —Onde estamos? –Perguntei
olhando em volta e tentando reconhecer o lugar. —No lugar
especial...—Explicou. Eu ri mesmo sem entender. —Achei
que fôssemos em um restaurante... –Comentei. —É um
lugar muito melhor. –Afirmou estacionando no
estacionamento que era subterrâneo. —Vamos no seu
apartamento? –Perguntei sorrindo. —Talvez... –Falou com
um sorriso malicioso que entregou tudo, mas é claro que era
em seu apartamento.
Sai do carro e então Leo tomou minha mão e andamos
pelo estacionamento até chegarmos no elevador. Leo
apertou o botão dentro do elevador e me olhou. —Desculpa
decepcionar eu não moro na cobertura. –Ele pediu em tom
de brincadeira. Eu ri balançando a cabeça e o olhei nos
olhos. —Estou completamente decepcionada. —Afirmei
sarcástica e ele me deu um beijo na cabeça. Nós rimos.
Caminhamos por um curto corredor onde tinha quatro
portas, uma para cada apartamento. Paramos na frente da
ultima porta. Leo pegou a chave no bolso, destrancou a
porta e então entramos.
Olhei em volta e era um apartamento bem mais
arrumado do que eu imaginava ele morando. Caminhei
mais um pouco e assim que percebi Leo atrás de mim, me
virei para olhá—lo. —Tem certeza que você mora aqui? —
Perguntei rindo. —Eu contratei uma senhora que limpou a
casa e organizou as coisas... —Explicou. Concordei com a
cabeça. —Agora faz todo sentido. —Afirmei voltando andar
pela casa. —Vamos almoçar? —Perguntou indo em direção a
cozinha.

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—O que vamos comer? —Perguntei o seguindo. —
Salmão assado e antes que pergunte eu encomendei... —
Disse Leo e eu ri. —Ai que delícia! —Elogiei olhando para a
forma. —Vamos para sala de jantar. —Falou Leo pegando a
forma. A sala de jantar era mais escura que os outros
cômodos, a cor das paredes puxava para o bege e no centro
da sala uma mesa de vidro até que grande para um
apartamento e com cadeiras estofadas no tom pastel. —Que
sala de jantar linda. —Elogiei me sentando. —Eu também
gosto dela. —Falou Leonardo.
Comemos, conversamos e demos muitas risadas. —
Quer assistir um filme? —Perguntou Leo assim que
acabamos de levar os copos e pratos para a cozinha. —
Quero sim. —Falei. —Qual vamos assistir? —Perguntou Leo
enquanto caminhávamos até o sofá. —Eu posso escolher? —
Perguntei. —Claro! —Afirmou Leo. —Eu vou querer... —
Falei pensando. —Titanic. —Afirmei. Leo riu achando que
era brincadeira, mas o olhei séria. —Titanic? —Perguntou.
—Sim. —Falei e ri. Eu tenho um sério vício com esse filme.
—Péssimo gosto. —Afirmou Leonardo ligando a TV. —
É um dos melhores filmes. —Retruquei. —Isso não é
verdade. —Falou Leo antes de apertar Play. Tirei o sapato e
me ajeitei no sofá. Leo me abraçou. Até que assistimos
cerca de dez minutos do filme, mas quando percebi já
estávamos em beijos quentes e apaixonantes. —Eu te amo.
–Afirmou Leo parando de me beijar. E a nossa segunda vez
foi assim ao som de Titanic, no inicio, mas depois fomos
para o quarto de Leo e foi apaixonante.
Quando acordei me soltei dos braços de Leonardo e
após colocar roupa fui procurar meu celular. Vi que tinha
chamadas perdidas da minha mãe e mensagens de Lu.
Liguei para Lu. —Alô –Falou Lu. —Oi Lu. –Exclamei feliz. –
E aí você vem para casa que horas? — Questionou meio
irritada. —Nós vamos umas sete horas. —Ok! Vou fazer
carne assada e de sobremesa tem bolo. –Falou Lu. —Ok! Até
mais tarde. Beijos. —Beijos. –Disse Lu e eu desliguei.

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Agora era a hora de ligar para minha mãe. Até me
sentei em uma poltrona no corredor. —Oi mãe. –Falei. —Oi
filha. –Ela falou parecendo feliz. —Tudo bem? –Perguntei
olhando para o teto. —Ótima e você? —Estou bem. –
Afirmei. —Onde você está? –Perguntou. —Em... Casa. –
Balbuciei. —Não, na verdade estou na casa da Jéssica. –
Menti. —Amor o que você está fazendo aí? –Perguntou Leo
se aproximando e em tom alto. Mordi os lábios. —Quem
está aí Carina? –Perguntou minha mãe. Engoli seco. —Ah
os meus amigos... –Expliquei. Leo riu. —Ah sim. Manda um
beijo para todos ai. –Ela falou.
—Pode deixar. –Falei segurando o riso. —Agora vamos
para o que interessa. –Afirmou. E eu só fiquei escutando. –
Que Deus te abençoe muito e que você viva muitos e muitos
anos! Te amo querida. Eu sorri. —Obrigada mãe. –
Agradeci. —Feliz aniversário minha linda. –Ela desejou
mais animada do que ficava há muito tempo. Eu ri. —
Obrigada mãe. –Agradeci mais uma vez. —Filha vou ter que
desligar. Fica com Deus te amo. —Amém. Te amo! –Falei e
ela desligou.
Olhei para Leonardo. —Ela te mandou um beijo. –
Afirmei rindo. —Ela me adora... –Comentou e eu me
levantei indo abraçar ele. O abracei e ele beijou minha
cabeça. Uma tarde de beijos, carícias e filmes. Assim que
anoiteceu fomos para minha casa. —Oi Lu. –Falei abrindo a
porta da entrada em casa. —Oi! –Disse Lu vindo da sala de
jantar. —Oie! –Falou Leonardo fechando a porta. —Como
vocês estão? –Perguntou Lu. —Famintos... –Comentei. —
Ótimos. –Falou Leo sorrindo.
—Ainda bem que a janta está pronta... –Falou Lu me
olhando. —É carne assada. –Afirmei olhando para Leo. —
Vamos comer então. –Disse Lu indo em direção a sala de
jantar. Fomos atrás dela de mãos dadas. Após jantarmos e
cantarmos parabéns fui para o meu quarto com Leo. —Meu
Deus! –Exclamou Leo assim que entramos no quarto Olhei
na mesma direção que ele. Tinha um monte de caixas de

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presentes no canto do quarto. Eu ri. —Lu! –Chamei. Olhei
para Leo. —Deve ser os meus presentes... –Comentei.
—Quem ganha tantos presentes assim da mãe? –
Perguntou. Quem dera fosse da minha mãe. —Não é da
minha mãe. –Afirmei indo até as caixas. Peguei uma caixa e
mostrei para Leo. —Esse aqui é de uma amiga da minha
mãe. –Falei e coloquei a caixa no chão e peguei outra. –Esse
aqui é da esposa de um sócio do meu pai. –Expliquei
mostrando. —Eu nunca vi alguém ganhar tanto presentes
sem receber visitas. –Comentou.
—É Verdade. Mas eles são ocupados não tem tempo de
ficar visitando uma menina que mal os conhece. –Expliquei.
—Então por quê mandam presentes? –Perguntou. Pensei
antes de responder. —Para manter uma certa aliança com a
família. Talvez. –Falei sem ter muita certeza. Leo riu. —Que
doido... –Comentou Leo. —É muito estranho... –Comentei
concordando. —O que foi? –Perguntou Lu entrando no
quarto.
Olhei na direção dela. —Era só para ter certeza se
eram meu presentes... —Expliquei. —Ah são sim. –Afirmou
Lu andando em nossa direção. –Você vai abrir agora? –
Perguntou Lu olhando para as dezenas de caixas. —Vamos?
–Perguntei olhando para Leo. —Por mim pode ser. –
Afirmou. Foram exatamente cinquenta presentes. Alguns de
pessoas conhecidas, outros de pessoas que eu não fazia
ideia quem era.
—Quem é Lana Alisson? –Perguntou Leo me
entregando o último presente. —Eu que não sei. –Afirmei e
ri. Eles riram. Assim que abrimos todos os presentes, Leo
decidiu ir embora e depois de algumas despedidas ele
finalmente foi. Lu começou ame ajudar a dar uma
organizada no quarto e enfiar todos aqueles presentes no
closet. –Carina não é uma boa ideia você ficar indo na casa
de Leonardo. –Aconselhou Lu. –Por que? –Perguntei a
olhando. –Você sabe... –Foram as únicas palavras que ela
disse. Ela estava certa, eu sabia, mas ás vezes fazia de tudo
para esquecer. Eu fingia não saber que a polícia podia
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chegar do nada, ou que eu não sabia ao certo que tipo de
amigos Leonardo tinha. E também que eu podia ser ligada a
ele e a seus crimes. Era mais perigoso do que eu tinha
parado para analisar.
Logo eu fui dormir, estava cansada e ansiosa para a
festa do dia seguinte. —É hoje. –Afirmei tirando a máscara
de dormir e me sentando. –É hoje! –Repeti em um grito
alegre e me joguei para trás sorrindo. —O que foi? –
Perguntou Lu entrando assustada no quarto, ela ainda
usava pijama, o que era quase impossível de acontecer, pois
ela sempre acorda muito cedo. —É hoje! –Falei fechando os
olhos animada. —Bom dia Carina... –Falou Lu saindo do
quarto. Nem dei bola para a falta de consideração de Lu e
me levantei.
Me olhei no espelho sorrindo e avistei no meio da
minha testa aquele problema de adolescentes normais no
quais eu, Carina Jórdan não estava acostumada. —DROGA!
Uma espinha. Bem hoje. –Falei reclamando na frente do
espelho. Corri para o banheiro e antes de qualquer coisa
lavei o rosto e passei um produto para a espinha secar.
Cheguei na cozinha e dei um beijo na bochecha de Lu. —
Bom dia. –Afirmei feliz e fui me sentar para tomar café. —
Você está bem? –Perguntou Lu me entregando um copo de
suco de laranja na bancada. Ignorei a pergunta dela e
respondi o que para mim era mais importante. —Vamos nos
encontrar no SPA depois do almoço... – Expliquei. —Então
porque você acordou tão cedo? – Eu não fazia ideia de que
horas eram, talvez fosse cedo mesmo, mas eu estava
animada. Olhei no relógio e não eram nem sete horas da
manhã. Como ainda era cedo e no dia anterior eu não havia
ido a empresa, achei melhor dar uma vistoriada lá, nem que
fosse por apenas algumas horas.
Combinei com Jéssica de encontra com ela na empresa
para irmos juntas para o SPA. –Eu ando tão enjoada. –Ela
comentou. –Dizem que dura apenas alguns meses. –
Expliquei. –Parece uma eternidade. –Ela brincou e demos
risadas. Fomo almoçar juntas e aproveitamos para chamar

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as outras meninas. Mais tarde fomos nos encontrar com as
meninas para almoçarmos juntas. Após comermos
chamamos um táxi executivo e fomos para o SPA.
Estávamos todas na banheira de hidromassagem
quando Ana... —Carina quem é aquele cara que foi te buscar
no colégio? –Perguntou e como estava bem do meu lado
fixou os olhos no meu. Pensei antes de responder e decidi
falar a verdade. —Meu namorado. –Falei na lata e joguei
um sorrisinho. Jéssica riu por saber a verdadeira história. —
Como assim? –Exclamou Ana espantada. Olhei para as
outras e a cara de espanto era a mesma. Eu ri.—Eu estou
namorando com ele... –Falei. —Por que não nos contou? –
Questionou Beatriz. –Porque vocês são fofoqueiras. –
Pensei. —Porque estava esperando o tempo certo. –
Respondi.
—Pode contar tudo. –Ordenou Ana super curiosa. —
Eu também quero saber. –Afirmou Fernanda. —Ai meninas
vocês são muito apressadas... –Comentei. —Onde vocês se
conheceram? –Perguntou Beatriz. —Vocês já tiveram a
primeira vez? Como foi? –Perguntou Ana. —Como ele
chama? –Perguntou Fernanda. Foi uma pergunta atrás da
outra e eu mal conseguia raciocinar. —Calma gente eu vou
explicar tudo... –Falei. —Vocês vão adorar... –Comentou
Jéssica sorrindo por já saber. As meninas me olhavam
fixamente. Não tinha certeza como elas reagiriam...
E então eu comecei e contei toda história, na verdade a
história resumida, para elas. Ana não gostou muito, pelo
menos pela cara que ela fez durante toda história mostrou
que não havia gostado dos fatos. Beatriz e Fernanda
estavam sorrindo e pareciam contentes. —... E hoje a noite
ele vai na minha festa. –Conclui sorrindo. —Meu Deus! –
Exclamou as três em coro. Jéssica riu. —Mas e sua mãe? –
Perguntou Ana. —Ela está bem. –Respondi tentando
entender o porquê da pergunta.
—Mas ela não sabe? –Perguntou Fernanda. —Ela não
sabe. –Afirmei. E isso era um outro assunto no qual eu
deveria me preocupar. —Carina você conhece sua mãe...–
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Falou Beatriz. —Duvido que faça. —Comentei dando de
ombros. — Eu achei a historia bonita, mas e quando ele se
entregar? –Perguntou Fernanda já parecendo triste. —Eles
vão ficar sem ser ver... –Comentei em terceira pessoa triste.
Não sei como aguentaria. —Eu não concordo com nada
disso. Ele é do crime... Sei lá é estranho. –Falou Ana. Eu
estava certa sobre o que Ana achava, mas decidi não ser
boazinha.
—Primeira coisa ninguém perguntou se você concorda
ou não. Segunda você sempre foi estranha e nunca falamos
nada! –Falei e sai do Ofurô. Peguei meu roupão e fui em
direção a recepção. Hipocrisia desse povo. Fiquei com tanta
raiva, tanta raiva. Jéssica foi atrás de mim. —Ei calma. –
Disse Jéssica com a mão no meu braço. —Que droga. Eu
não pedi a opinião dela e ela fez igual você quando te contei.
–Falei cruzando os braços. —Desculpa por aquele dia e não
liga para Ana... –Falou. Balancei a cabeça. —Eu não ligo
para ela em si, mas o porquê da sociedade não querer
concordar com a minha história com o Leo. Sabe, não
teríamos nos conhecido se não fosse o sequestro. —
Desabafei.
—Eu te entendo... –Falou e me abraçou. No resto do
dia Ana ficou sem falar comigo ou, eu fiquei sem falar com
ela, não sei ao certo, mas o que realmente importa é que não
conversamos durante o resto do dia. Primeiro fiz a unha,
elas foram pintadas com um rosa escuro e algumas flores
foram desenhadas, já meu cabelo ganhou um aplique para
dar volume e aumentar o cumprimento, cachos bem
definidos foram feitos e uma coroa de rosas naturais com
glitter foi colocada no alto da minha cabeça. Por último a
maquiagem, a sombra se misturou em três cores com um
degrade e depois alguns adesivos de brilho foram colocados
perto do meu olho. Tudo em mim brilhava. Inclusive meu
sorriso. Mais tarde as funcionárias do SPA me ajudaram a
pôr o vestido. O vestido era perfeito. Todo trabalhado no
rosa e com detalhes dourados era bem justo até uma parte
de depois ficava mais solto e com mais volume. A asa era
dourada e enorme. Após vestir o vestido com um pouco de
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dificuldade, coloquei o salto dourado e me olhei no espelho.
Estava tudo divino.
—Você está linda. –Elogiou uma das funcionárias
arrumando meu cabelo. —Obrigada. –Agradeci. Eu me
sentia perfeita. Estava finalmente pronta, as meninas me
esperavam na recepção e todas estavam maravilhosas. —
Uau! –Exclamei quando as avistei. —Mais que
aniversariante mais linda. –Gritou Jéssica. Todas riram. —
Estão todas prontas? –Perguntei às olhando. —Sim. –
Afirmou Ana. —A limusine já espera as senhoritas. –Falou
um senhor que parecia o motorista. Eu o olhei e concordei
com a cabeça. —Então vamos? –Perguntei para as meninas.
Todas concordaram e então saímos.

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Capítulo 17

O motorista nos ajudou entrar na limusine por causa


dos vestidos longos e saltos altos. —Adorei sua fantasia. –
Elogiou Beatriz. —Obrigada. –Agradeci. –Vocês estão
perfeitas. –Afirmei. —Obrigada. –Agradeceram quase que
em coro. Menos Ana que se fingia de porta e não falava
nada. Fernanda estava com um vestido verde escuro bem
justo e de renda nas mangas, na sua cabeça um penteado
formava o desenho de uma flor e um enfeite amarelo no
miolo dava o toque final no visual. Beatriz estava com um
vestido vermelho um pouco mais rodado do que os nossos e
com mangas compridas, uma asa vermelha com bolinhas
pretas presa nas costas que realmente imitava uma
joaninha, seu cabelo formava um coque bem no alto da
cabeça.
Ana mal me olhava e muito menos falava comigo, mas
era tão sínica a ponto de estar indo na minha festa. Ela por
sua vez estava com um vestido com listras amarelas e pretas
na parte de cima até a cintura e a saia era totalmente preta.
E como o previsto um asa fininha e da cor amarela estava
presa no seu vestido. Jéssica estava engraçada e linda ao
mesmo tempo. Um vestido azul escuro mais solto que os
nossos e um casco de caracol todo prateado com glitter
preso nas costas. O penteado dela era uma trança solta com
algumas flores azuis presas.
–A última de nós está completando dezessete anos. –
Comentou Fernanda. –Isso quer dizer que a escola está
acabando... –Comentou Beatriz. Eu comecei a perceber que
era nosso último ano juntas todos os dias, depois da
formatura cada uma seguiria seu caminho e eu tinha medo
de me separar delas. Quando você tem dez anos e conhece
suas amigas há cinco parece que a amizade de vocês será
eterna e que o tempo na escola é infinito, porém quando a
última do grupo completa dezessete anos, você finalmente
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percebe que a separação é inevitável e que querendo ou não
cada uma seguirá a sua vida e as memórias passadas
ficaram apenas guardadas em fotos, vídeos e memórias.
O clima no carro ficou meio chato. Sei lá. É difícil
pensar que a nossa vida escolar estava chegando ao fim.
Foram mais de dez anos juntas. E agora, em poucos meses
cada uma tomará um rumo diferente para vida. E nada
nunca mais será como antes. —Ai meu Deus! —Exclamou
Jéssica feliz. Finalmente alguém decidiu cortar o clima
chato. Olhei na mesma direção que elas. —Chegamos. —
Falei com um sorriso de orelha a orelha. Sai da limusine
com a ajuda do motorista. Cumprimentei alguns
funcionários que estavam na frente e esperei as meninas
para entrarmos juntas.
Assim que aparecemos na porta, alguns convidados
que já estavam presentes olharam para nós fixamente e
sorriram. Acabamos de descer a escada e as meninas foram
aproveitar a balada que já estava rolando. Fiquei na
recepção recebendo os convidados. Eu olhava em direção as
meninas que se divertiam, quando virei o rosto e avistei
Leonardo, eu estava totalmente tomada pela emoção que
sentia, era a minha primeira festa na qual ele estava
presente. Assim que ele me viu, sorriu e eu sorri de volta.
Leo desceu a escada dez vezes mais rápido do que eu
quando cheguei na festa. Meu coração começou a bater
mais forte por algum motivo e então ele, antes de qualquer
coisa meu puxou pela cintura e me beijou. Tenho quase
certeza que alguém, não sei quem, bateu uma foto de nós
dois, pois foi com um flash de uma câmera que paramos de
nos beijar. —Oi amor. –Falei rindo. —Desculpa é que não
consegui resistir... –Comentou me apertando contra seu
corpo. Eu ri. —Então quer dizer que estou bonita... –
Comentei em tom brincalhão. Negou com a cabeça. —Você
está linda. –Afirmou e beijou minha bochecha. —Obrigada.
–Falei e ele me soltou. —Não era uma festa só para alguns
amigos? –Perguntou olhando em volta. —Eu tenho muitos
amigos... –Comentei e ele riu.

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Ao lembrar que a festa era fantasia parei e olhei para
Leo. Ele usava uma camisa branca meio aberta e isso era
totalmente sedutor, mas voltando ao foco da fantasia. Ele
parecia estar de caçador. —Do que você está fantasiado? –
Perguntei após o olhar por alguns segundos. —De caçador.
–Afirmou e riu. —Em um jardim não tem caçador... –
Comentei. —Realmente. –Falou. Levantei as sobrancelhas,
mas antes de eu começar a falar, ele começou primeiro.
—Estou de caçador de borboletas... –Comentou com
um sorriso sedutor e antes de eu poder chamá—lo de bobo
ele me puxou para um beijo. —Bobo. –Falei assim que
parei de beijá—lo. Ele riu. —Tem algum lugar mais
reservado? –Perguntou.
—Ter, tem, mas eu quero aproveitar a festa. –Falei
tentando cruzar os braços. Leo riu. —Não é para isso. –
Negou e gargalhou. —Eu quero te dar o seu presente. –
Explicou. —Ah sim. Vem comigo. –Falei o puxando pela
mão. Então o levei até uma sacada que tinha.
—Eu te amo. –Afirmei o olhando nos olhos. —Eu
também te amo. –Falou passando o dedo pelo meu rosto. —
Qual é o meu presente? –Perguntei. Leo pegou uma
caixinha do bolso e começou. —Me prometa que sempre
guardará esse presente? –Perguntou. —Prometo. –Falei
sem nem pensar duas vezes. Leo ficou olhando um tempão
para caixinha e eu estava morrendo de curiosidade. Daqui
alguns dias... –Começou. –Eu vou me entregar. –Meus
olhos já encheram de lágrimas. –Eu sei que será um tempo
triste... –Comentou e eu concordei com a cabeça. –Mas eu
quero que saiba que te amo profundamente. –Afirmou me
entregando a caixinha.

A peguei lentamente e a abri. Dentro havia uma


pulseira, uma linda pulseira com várias estrelinhas
penduradas. Olhei para Leo e sorri. —Eu te amo. –Falei. —
Se um dia duvidar do nosso amor, olhe para essa pulseira e
lembre—se que ele durará para sempre. –Foram as palavras
de Leo como se soubesse que o nosso futuro seria difícil.
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Antes de colocar a pulseira eu o abracei e o beijei. Não posso
negar que algumas lágrimas caíram do meus olhos. —Eu te
amo. –Ele falou após beijar minha testa e me abraçar.
Sequei o rosto com cuidado para não estragar a maquiagem
e me soltei.
—Leo eu vou te amar para sempre. –Afirmei enquanto
ele colocava a pulseira em meu pulso direito. Ele sorriu e
tomou minha mão. —Vamos voltar para sua festa? –
Perguntou. —Devem estar sentindo a minha falta... –
Comentei. Voltamos para festa e logo avistamos Jéssica. —
Ahhh então esse é o Leonardo? –Perguntou quase gritando.
—Jéssica! –Falei a repreendendo. Leo riu. —Desculpa a
empolgação... –Disse ela. —Leo essa é a Jéssica e Jéssica
esse é o Leo. –Os apresentei. Jéssica o abraçou
rapidamente. —Se machucar ela eu te mato. –Afirmou e
saiu andando.
Amiga mais louca impossível. Fiquei tentando
entender a situação. —Ela bebe? –Perguntou Leo. —Ela não
pode beber... –Comentei rindo. —Ela é doida assim mesmo.
Começou uma musica de valsa e chamaram os casais. —
Vamos dançar. –Falei o puxando. —Eu não sei dançar... –
Falou assim que paramos na pista de dança. —Não tem
problema. –Afirmei. Coloquei a mão dele na minha cintura
e a outra segurei. —É só para a gente se divertir. –
Expliquei. Ele concordou rindo.
Começamos a dançar e quando percebi o mundo em
volta parecia ter parado, o mundo em volta parecia não
existir, até o tempo que nunca para parecia ter se
estagnado. Por alguns minutos pareceu existir só eu e Leo.
E aí eu entendi. Eu entendi que tudo na verdade fazia
sentido, entendi as valsas dos filmes românticos que para
mim era pura ficção. Entendi que se você está realmente
ligado com uma pessoa a dança não precisa ser ensaiada,
pois tudo será perfeito. Entendi que não importava mais
nada se eu e Leonardo estivéssemos juntos.
Eu tentei acalmar minha respiração e Leo fazia o
mesmo. Nós abraçamos sorrindo e sem saber o que fazer.
- 197 -
Ainda estava pasma de o quanto tinha sido mágico. —Sério
que você não sabia dançar? –Perguntei em tom brincalhão.
—Fomos bem né... –Comentou Leo me abraçando pela
cintura e saímos do meio da pista de dança já que uma nova
música começava. —Ótimos. –Afirmei. —Ah desculpa
Carina Jórdan. –Ele disse e eu ri. Foi extremamente bom.
A assessora da festa que tinha ajudado Jéssica com
tudo veio até mim. —Senhorita Jórdan. –Ela falou se
aproximando. Leo começou a rir. Dei um chute nele por
baixo da mesa o que o fez parar. —Olá. –Falei sorrindo. —
Podemos cantar parabéns? –Perguntou. —Sim. Claro! –
Falei me levantando e sorrindo. —Fica bem perto da mesa
do bolo em. –Ordenei a Leo e joguei uma piscadela. Ele
concordou com a cabeça e sorriu.
A mesa do bolo estava impecável. Totalmente
decorado nos mínimos detalhes e com muitas borboletas
com glitter rosa. Apesar do bolo que estava na mesa ser
falso era lindo e de quatro andares. Enquanto era servido o
bolo pelos funcionários do Buffet. Eu fui com a fotógrafa
tirar algumas fotos pelo salão. O que foi engraçado, pois Leo
ficou atrás da fotógrafa fazendo caretas. —Quer tirar
algumas fotos com ela? –Perguntou a moça que não se
aguentava de rir. —Claro que quer! –Respondi por ele
sorrindo. Então ele veio. E como eu já disse Leo é
totalmente fotogênico.
Durante as fotos, a fotógrafa deu algumas dicas como
abraça ela, põe a mão na cintura, vira o rosto, olha para lá...
Depois de umas vinte fotos. —Cansei... –Comentei
suspirando cansada.—Ficaram perfeitas. –Afirmou a
fotógrafa. —Claro né eu estou nelas. –Falou Leo em tom
brincalhão. —Convencido... –Comentei rindo. —Mas tem
que ter amor próprio se não estamos ferrados. –Falou a
fotógrafa e caímos na gargalhada. —A Carina sabe bem
disso... –Comentou Leo. Eu revirei os olhos. Era
simplesmente amor próprio e autoconfiança o que eu tinha.
A festa durou mais algumas horas com muitos beijos,
danças e risadas. Nas músicas lentas vários casais se
- 198 -
formavam e era fofo ver. Demos uma pausa na balada para
os agradecimentos.
—Obrigada todos pela presença e presentes. –Agradeci
e todos riram. —Brincadeira... –Continuei. –Não tenho
palavras para descrever o quanto estou feliz pela pessoa que
mais amo estar presente nessa festa. – Falei e olhei
diretamente nos olhos de Leo e todos se entreolharam no
salão. Eu ri antes de continuar. –Bom o que importa é que
vocês são especiais para mim e estão guardados no meu
coração. –Eu disse e dei mais um leve sorriso. Após
aproveitarmos mais um tempo de balada, fui junto com as
meninas e Leo me sentar.
Ana foi até mim. —Carina. –Ela falou. —Oi. –Falei
sem dar muita atenção. —Desculpa pelo comentário idiota...
–Ela disse. Eu a olhei nos olhos e juro que tive vontade de
ser a antiga Carina, mas algo em mim percebeu que não
valia a pena. —Ok. –Falei e me virei para as meninas e
continuamos conversar. Ana saiu andando e em algum
momento foi embora da festa. Leo estava do meu lado e me
olhou com negação talvez por achar a minha atitude
imatura, mas fazer o que, era a atitude mais madura que eu
conseguia ter.
—Vamos embora? –Perguntou Jéssica. —Vamos. –
Falei me levantando. E obviamente todas concordaram. Fui
abraçada a Leo até a porta. —As meninas vão dormir em
casa. –Expliquei. —Festa pós festa? –Perguntou. —Sim. –
Eu ri. Ele me beijou. E assim que paramos as meninas
estavam rindo. —O que foi? –Perguntei olhando para elas
rindo. —Nada. —Respondeu Jéssica envergonhada
entrando na limusine. E as outras fizeram o mesmo. Um
beijo na testa, um tchau e entrei na limusine.
Fui embora muito feliz. Muito feliz mesmo.
Experimentar do amor é a melhor coisa da vida. —Lu!
Chegamos. –Gritei abrindo a porta. Ela disse que ficaria nos
esperando. —Oi meninas. –Ela disse em um pulo se
levantando do sofá. As meninas riram e disseram "Oi". —
Como foi a festa? –Perguntou Lu nos olhando sorrindo. —
- 199 -
Foi ótima. –Afirmei feliz. —Leonardo estava lá... –Explicou
Jéssica rindo. —Leonardo pra cá Leonardo pra lá. –Falou
Lu balançando a cabeça. Nós rimos. —Eles ficaram a festa
toda juntinhos. –Contou Beatriz.
—Vocês são tão engraçadas... –Comentei caminhando
em direção ao meu quarto. E elas vieram atrás. —Mas vocês
ficam fofos juntos. –Elogiou Fernanda. —Obrigada. –Falei
me sentando na cama e tirando o salto. —Beatriz me ajuda
tirar a maquiagem? –Pedi para mudar de assunto. —Claro.
–Afirmou. Fomos até o banheiro e ela me ajudou a tirar os
brilhos e a passar demaquilante em tudo. Depois de todas
tirarem a maquiagem e colocarem pijamas. Arrumamos
com a ajuda de Lu alguns colchões na sala e dormimos mais
rápido do que imaginamos.
Acordei com uma baita dor de cabeça e como de
costume fui a primeira a acordar. Me levantei e fui até a
cozinha tomar água. Após comer algumas frutas fui até o
meu quarto. Tomei um banho e me arrumei enquanto
esperava as meninas acordarem, como podem dormir
tanto? Lu tinha saído para ir no mercado. Depois de estar
pronta e entediada. —Bom dia. –Falei sorrindo enquanto
Jéssica se remexia.—Ai meninas acordem. –Falei
dramatizando. Aos poucos fui conseguindo acordar uma por
uma e fomos tomar café.
—O que vamos fazer hoje? –Perguntei sorrindo. —
Dormir. –Afirmou Jéssica apoiando o braço na mesa. —Eu
voto em dormir. –Falou Beatriz. —Eu voto em assistir filme
até a noite e dormir. –Disse Fernanda. Balancei a cabeça
pegando uma maçã. —Vocês estão tão desanimadas... –
Comentei. —Depende do ponto vista... –Explicou Beatriz.
—Verdade. –Concordou Jéssica. —Acho que você que está
animada demais... –Comentou Fernanda. E pior que fazia
sentido. Eu estava animada e feliz, mas não sabia ao certo o
motivo.
—O que aconteceu? –Perguntou Jéssica curiosa. —Não
sei... –Falei. A verdade era que eu queria parecer feliz e
animada para que ninguém percebesse que eu estava
- 200 -
sofrendo. Quando eu fiquei sozinha com Jéssica finalmente
consegui desabafar. —Além de todo o resto... –Pisquei para
segurar o choro.—Leo vai se entregar.—Falei e olhei para
baixo com um olhar triste. —Então é isso que está te
atormentando... –Comentou. —Sabe, apesar de tudo que ele
fez. Eu não queria que ele fosse preso, mas sei que a justiça
deve ser feita. –Desabafei.
Eu quero que ele pague pelos erros do passado, mas
me traz um certo medo. —Entendo. Você o ama e esse medo
é normal. –Ela falou e eu a abracei. —Por que é tudo tão
complicado? –Perguntei. Estava cansada desse
relacionamento com Leo às escondidas. Onde ninguém
podia saber de nada e quem soubesse podia usar contra nós
mesmos o nosso amor.
—Meninas vocês não acreditam! –Chegou Beatriz
gritando. Me soltei do abraço e a olhei. —O que foi Beatriz?
–Perguntei sem muito interesse. Ainda queria tentar
encontrar uma solução para meu namoro não ter que ser
mais escondido. —Eu não acredito que isso está
acontecendo. –Comentou Fernanda histérica. —Fala logo! –
Ordenou Jéssica. —Você e o Leonardo estão nos sites de
fofoca e notícias! –Falou Beatriz animada. —QUE? –
Exclamei. —Me dá o celular. –Falou Jessica querendo ver a
notícia. A cara de Jéssica só comprovou o que as garotas
tinham dito. Eu entrei em pânico.
—Nós não podíamos estar na internet. Droga! –Falei
mais para mim do que para elas e tomei o celular da mão de
Jéssica. A manchete era "Filha de empresários milionários
está saindo com filho do criminoso que a sequestrou meses
atrás" —Meu Deus! –Exclamei só de ler a manchete.
Continuei lendo. Conclusão: Todas as pessoas já sabiam que
eu e Leonardo Cardoso estávamos saindo, mas na verdade
estamos namorando. Não tínhamos mais um namoro
escondido para falar a verdade, o nosso namoro estava
causando nas redes sociais. —Droga! –Falei olhando para as
meninas pasma.

- 201 -
—O que vai fazer? –Perguntou Fernanda agora mais
preocupada. —Eu não faço a mínima ideia. –Afirmei me
levantando. Era como se eu tivesse construído as torres
gêmeas com as minhas próprias mãos e agora ela estivesse
sendo destruída, apenas com uma notícia. Nós sempre
soubemos que tínhamos que esconder, porque não
sabíamos como iria ser quando descobrissem. O interfone
tocou. —Ai droga. Alguém atende aquele treco e fala para
me deixarem em paz. –Falei andando em direção ao quarto.
Eu estava em choque, cheia de preocupação, se minha mãe
ver a notícia vai me matar na hora.
As meninas foram rapidamente atrás de mim. —
Carina não fica assim... Nada de mal vai acontecer. –Falou
Beatriz tentando me animar. Eu era péssima em ser
otimista e no estado que eu estava e que as coisas estavam
não tinha como fingir um falso sorriso. —Tudo de mal já
está acontecendo... –Falei com um olhar vazio e triste
deitada na cama. —O que você quer? –Perguntou Jéssica se
sentando do meu lado. Eu na a respondi, apenas fiquei ali
tentando organizar em minha mente todos sentimentos que
sentia. —O que ela tem? –Perguntou Leo entrando no
quarto. Sorri ao escutar a voz dele. —Ela só está com alguns
problemas... –Explicou Jéssica. —Carina Jórdan sem alguns
problemas não é Carina Jórdan. –Brincou Leo.
—Sempre engraçadinho... –Comentei me sentando. —
Vamos deixar vocês a sós. –Falou Fernanda. Concordei
com a cabeça. E as três saíram e fecharam a porta. —Você
viu? –Perguntei. —Sim. –Falou Leo se aproximando de
mim. —Minha mãe vai odiar... –Comentei e ele se sentou na
cama. —Eu pensei nisso. –Falou mordendo os lábios. —E se
as pessoas ficarem contra a gente? –Perguntei. —Então será
eu e você contra as pessoas. –Explicou. —Para de fazer tudo
parecer fácil... Pois não é. –Falei o repreendendo. Não era
um conto de fadas. —O importante é ficarmos juntos. –
Explicou.
—E nem isso vamos conseguir... –Comentei. —Carina.
–Ele disse e eu o olhei nos olhos. —Você vai se entregar. E

- 202 -
querendo ou não ficaremos separados. –Eu disse e ele
negou com a cabeça. —Será por pouco tempo. –Afirmou. —
Promete? –Perguntei. Promessas são as únicas coisas que
nos fazem confiar nas pessoas mas não sei se Leo cumprirá
essa promessa. —Prometo. —Eu o abracei pelo pescoço e o
beijei.
Lembrei de um presente que tinha comprado para
Leo, porém algumas vezes esqueci de entregar e outras
vezes decidi não entregar por não ter certeza se ele ia gostar.
Decidi ser corajosa. —Leo tenho um presente para você. —
Contei. —Sério? –Perguntou. Sim. –Falei. —Mas não tenho
certeza se vai gostar... –Expliquei. —Claro que vou. –
Afirmou sem a menor dúvida. —Como sabe? —Qualquer
coisa que você me der vou amar. –Ele disse e eu sorri. Leo e
o seu otimismo que eu deveria aprender a usar. Me levantei
e fui até a estante onde abri uma gaveta e peguei o
embrulho.

- 203 -
Capítulo 18

Caminhei devagar até Leo e ainda não sabia se ele iria


gostar de verdade afinal, nunca havia comprado um
presente para ele. —Aqui está. –Falei entregando para Leo.
Ele abriu o embrulho com um sorriso de orelha a orelha e
puxou de dentro do pacote a pulseira de couro com um
balão de metal preso. Ele me olhou nos olhos. —Obrigado. –
Afirmou. —Para você nunca esquecer do nosso amor. –Falei
e ele me abraçou. —Eu adorei. –Sussurrou em meu ouvido.
Eu sorri. —Verdade? –Perguntei. Ele me soltou e colocou a
pulseira. —Claro. –Afirmou.
—Faz um mês que eu comprei essa pulseira, mas não
me sentia preparada para entregar a você. –Expliquei o meu
medo de não agradar ele, um medo idiota. Ele riu. —Você
sabe que isso é bobagem né? —Agora eu sei. –Afirmei rindo.
Tinha acabado de descobrir para ser mais exata. —Vocês já
viram a fofoca do dia? —Perguntou Lu entrando no quarto
meio apavorada.
Concordei com a cabeça e Leo me soltou. —Nós vimos.
—Afirmou parecendo preocupado. Fui até Lu um tanto
apressada. —Você acha que minha mãe vai odiar? —
Perguntei. —Bem provável. —Respondeu Lu com sua
sinceridade. A olhei decepcionada e ela segurou minha mão.
—Sei que não é o que quer ouvir, mas é a verdade. —
Concordei com a cabeça. Leo se aproximou de nós. —Acho
melhor não nos vermos mais até as coisas se acertarem e eu
for para a cadeia. —Desabafou Leo. —Não vamos fazer isso!
—Afirmei e soltei a mão de Lu. Leo segurou o meu rosto e
fez que eu o olhasse nos olhos.
—As pessoas vão querer saber e vão ficar em cima até
você ceder e acabar contando tudo que eles querem. Eu não
ligo do mundo saber do nosso amor, mas eu me importo
com a sua segurança e com a sua privacidade. —Explicou
Leo. —Eu te amo e não vou me separar de você por causa de
- 204 -
um ser idiota que publicou nossa foto na internet. —Falei
com o coração quase na mão e tremendo. Só de pensar em
ficar longe de Leo já me dava desespero. —Nós vamos ficar
separados um bom tempo. —Falou Leo ainda segurando
meu rosto Percebi que Lu saiu do quarto antes de eu
conseguir responder.
—Por isso mesmo. Enquanto você não se entrega
devemos aproveitar o máximo de tempo juntos. —Eu disse
sem entender na verdade o que Leo queria. Leo me abraçou
e com meu rosto grudado em seu peitoral chorei. Já chorei
por tantos motivos. Já chorei por coisas idiotas. Já chorei
por causa da minha mãe. Já chorei por causa da morte do
meu pai. Já chorei por caras idiotas. Já chorei por medo. Já
chorei quando pensei em desistir, mas hoje eu chorei por
amor. Chorei por medo de perder o amor da minha vida e
nunca mais encontrá—lo.
Pode parecer que não tem muita diferença. Pode
parecer que no final dará tudo certo, mas a grande verdade
da vida é que para dar certo no final o meio também tem
que dar certo. E por isso pode parecer apenas um tempo
longe do outro, depois um tempo longe por causa da prisão
e depois um tempo para vida inteira. Me soltei um pouco
do abraço para retomar o fôlego e olhei Leo nos olhos. — Os
amores devem ser vividos e não entregues de mão beijada
para a gaveta de sonhos não realizados. —Falei ainda com o
rosto encharcado pelas lágrimas.
Leo suspirou e me deu um beijo doce e calmo. O que
me fez sentir flutuar e me deu a certeza de que eu e ele
ficaríamos para sempre juntos. Leo secou as lágrimas de
meu rosto assim que paramos o beijo. —Vamos ficar juntos
até o último minuto. —Afirmou Leo. Concordei sorrindo. —
Eu amo você. —Falei, pois em meio a tanto pensamentos e
em meio de tantas incertezas e certezas foi a única coisa que
conseguiu sair do meus lábios. —Eu também. —Falou e eu
suspirei aliviada quando seus lábios tocaram a minha testa.
—Vamos para sala? –Perguntei o olhando. —Vamos. –
Concordou Leo. Ele tomou minha mão e fomos para sala.
- 205 -
Na sala estavam as três (Beatriz, Fernanda e Jéssica)
sentadas no sofá assistindo algum filme. —Chegou o casal
mais esperado do ano! –Exclamou Jéssica nos olhando e
sorrindo. Todos riram.—O que estão assistindo? –Perguntei
me sentando no sofá ao lado de Fernanda e Leo se sentou
do meu lado direito. —Um filme bem inédito... –Comentou
Beatriz mexendo no celular. —Eu não acredito que estão
assistindo Garota Mimada... –Reclamei. —Nós adoramos
esse filme. –Afirmou Fernanda.
—Eu sei também adoro, mas vocês sempre, sempre
assistem esse filme. –Eu falei as olhando e Leo passou a
mão pelo meu pescoço para me abraçar. —Agora eu sei o
porquê da Carina escolher filmes inéditos... –Comentou Leo
irônico. —Eu sempre assisto filmes novos. –Afirmei e Leo
gargalhou. Estava passando mais uma cena inédita na
televisão quando Leo começou a acariciar minha nuca. —
Sério que vamos ficar assistindo esse filme? –Perguntou em
um sussurro. Eu ri. —Sério. –Respondi. Ele fechou a cara
na hora. —Carina. –Chamou Jéssica no meio do filme
olhando em minha direção —Oi. –Falei a olhando. —Que
dia você vai para Nova York? –Perguntou. Nova York.
Droga! Não estou reclamando de ir a Nova York estou
apenas negando a minha vontade de ir para um lugar
apenas porque minha mãe não pôde vir me ver no meu
aniversário.
—Vou Domingo que vem... –Respondi sorrindo.
Mesmo que eu esteja triste eu sorrio para confundir as
pessoas e elas acharem que estou feliz. Junto com a minha
ida a Nova York chegava a partida de Leo com destino a
prisão. —Ah sim. Sábado podemos fazer uma festa de
despedida. –Explicou Jéssica. —Sim será maravilhoso. –
Concordei antes de pensar qualquer coisa. —Vocês só
pensam em festas?! –Perguntou Leo achando aquilo uma
baboseira. —Sim. –Respondemos juntas em coro. Leo riu.
—Uma festa sempre traz alegrias... –Expliquei. —Ou não. –
Falou Leo.

- 206 -
A festa de ontem foi feliz apenas o resultado da festa
não foi tão esperado. —Ontem a festa foi boa. –Afirmou
Fernanda. –Mas algum ser invejoso publicou a foto de vocês
para arrumar confusão. –Explicou Fernanda. —Sim. –
Concordei. —Quem vocês acham que foi? –Perguntou Leo.
—Eu acho que... –Pensou Beatriz. –O Ben. A olhei com
negação. —O Ben gosta de você Carina. –Afirmou Fernanda
sem eu poder negar. —Sem mal Leonardo, mas ele gosta
dela. –Informou Jéssica. Leo deu uma risada e deu de
ombros. —Ai gente! –Exclamei. Mas tem outras pessoas que
gostam e muitas outras que não gostam... –Expliquei.
Tem o Bernardo, o Ben, as garotas que não gostam de
mim, os caras do time de futebol da escola, amigos de
infância. Acho que fica quase impossível saber.
—Quem por exemplo? –Perguntou Fernanda. Fotos e
nomes vieram na minha cabeça, mas nenhum fazia sentido.
—Tem a Ana. –Respondeu Leo e nos fez parar para pensar.
Sim, pode ser ela. –Conclui em minha mente. —Será? –
Perguntei. —Ela é nossa amiga... –Comentou Beatriz. —Era.
–Lembrou Jéssica. —Eu acho possível que seja, pois ela é
invejosa. –Disse Fernanda. —Ai gente. –Foi a única coisa
que consegui pronunciar. Mesmo Ana não nos aceitando
juntos ela não precisa fazer isso e se fez foi hipocrisia e além
de ficar sem amigas ganhou eu Carina Jórdan como
inimiga.
Leo me abraçou e eu deitei em seu ombro. Fiquei
tentando juntar pistas e acontecimentos para poder acusar
Ana enquanto as meninas ficaram combinando tudo para a
festa da semana que vem. Leo me olhou nos olhos. —Ei você
está bem? –Perguntou cortando meu raciocínio. —Sim. –
Respondi. –É que eu estava pensando na Ana... –Expliquei.
—Não tem o que ficar pensando... –Comentou Leo. —Tem
sim. Ela era minha amiga... –Eu disse desviando o olhar. —
Você sabe que as pessoas mentem. –Afirmou Leo. —Ainda
não estou acreditando. –Falei para Leo e me encostei no
sofá com tudo cruzando os braços.

- 207 -
E então começamos prestar atenção na conversa das
garotas. Demos muitas risadas. No almoço Lu parecia meio
tensa, mas como as meninas não paravam de tagarelar nem
dei muito bola. Assim que as meninas foram embora eu e
Leonardo fomos assistir um filme na sala e como de
costume Lu foi junto. Como mal podíamos nos beijar
acabamos adormecendo deitados no sofá. Acordei em um
susto com o interfone tocando. Assim que abri os olhos vi
Lu se levantando para atender, como me mexi rápido
demais Leo acordou.
— O que foi? –Perguntou me olhando. —O interfone
tocou e me acordou. –Falei me deitando em seu peito.
Fiquei curiosa para saber quem era. Uma visita em pleno
domingo a tarde sem avisar. Acho meio impossível. Não
consegui escutar o que Lu falou no interfone, pois me
distrai com as batidas do coração de Leo. Como Lu não
voltou decidi ir atrás dela. Me levantei e dei passos rápidos
e firmes até a cozinha. —Lu! –Chamei assim que a avistei na
cozinha. —O que foi? –Ela perguntou fingindo não saber de
nada.
—Você sabe. –Falei curta e grossa. —Ai Carina... –Ela
falou sem responder nada. —Quem interfonou? –
Perguntei. —O segurança. –Respondeu sem me dar
atenção. Esse sono da tarde não me fez bem devo ter
acordado com cara de idiota. —Lu responde a minha
pergunta. –Ordenei. Ela parou de fingir arrumar o armário
que já estava impecável e me olhou. —Eu não deixei
entrar... É desnecessário. –Ela disse. Eu estou com medo
de quem possa ser. Me passou pela cabeça ser a polícia, mas
tentei desviar meus pensamentos para não enlouquecer.
—Eu quero saber. –Falei tentando mostrar firmeza. Lu
olhava para todos os lados tentando disfarçar, mas de
qualquer forma ela iria me contar. A encarei por alguns
segundos. Suspirou e pareceu pensar se contava ou não
contava.
—Os repórteres. –Foram as palavras que ela falou antes de
sair da cozinha. Tanto mistério para isso. Ela achou o que

- 208 -
eu ia ficar com medo? Fui quase correndo atrás dela. —Por
que não queria me contar? –Perguntei após seguir ela até o
quarto de hóspedes.
—Carina você acha que até essas alturas sua mãe não
sabe? –Perguntou me olhando séria. E aí eu parei para
pensar. A essas alturas minha mãe podia sim estar sabendo,
mas prestei atenção em dois detalhes. —Eu acho que ela
não sabe. –Falei após concluir meus pensamentos. –Em
primeiro lugar do jeito que é escandalosa já teria ligado e
falado um monte. –Falei mostrando um dedo. — Em
segundo lugar ela está ocupada demais. –Falei mostrando
dois dedos. –E por isso eu vou passar meu domingo em paz
sem pensar se minha mãe sabe ou não, pois agora todo
mundo já sabe mesmo. –Eu disse meio irritada e sai
andando para meu quarto.
Leo parecia estar no mundo da Lua ou queria estar no
mundo da Lua para não ter que conviver com esses
problemas. A minha certeza de que minha mãe não sabe
não era a mesma certeza que Lu tinha. Fui me deitar com
Leo na sala já que ele não foi atrás de mim. —Achei que não
ia voltar mais... –Comentou estendendo o braço para mim.
Me deitei do seu lado e ganhei um beijo na bochecha. —
Tem repórteres no portão do condomínio. –Falei. —Sério?
– Perguntou Leo mas não pareceu tão surpreso. —Sim... E
a Lu acha que minha mãe já sabe. –Expliquei e mordi os
lábios. Leo balançou a cabeça. —Sobre os repórteres eu já
imaginava. Mas será que sua mãe já sabe? – Disse Leo e
pareceu pensar. Bom eu já concluí meus pensamentos
sobre isso. —Eu acho que não... —Neguei balançando a
cabeça. — Como sabe? —Perguntou Leo. Me deitei em seu
peito para explicar.
—Ela é escandalosa e está ocupada demais... –
Expliquei objetivamente, pois sei que Leo é inteligente o
bastante para ligar os fatos. — Então por enquanto eu não
preciso me preocupar com a sogra? —Perguntou em tom
brincalhão. Eu ri. —Exatamente. – Afirmei e me ajeitei
novamente para olhá—lo nos olhos. Assim que nossos olhos

- 209 -
se encontraram nos beijamos. Parei um pouco e o olhei nos
olhos só para ter certeza que seu olhar eu ainda conseguia
desvendar e não havia voltado a ser um olhar distante como
quando nos conhecemos.
Lu passou o resto do dia distante, até na hora do jantar
parecia distante. A preocupação dela não era só sobre
minha mãe, tinha mais coisa e ela não queria nos contar.
Tentei pensar em mil hipóteses, mas nenhuma fazia
sentido. Vários tipos de salada e uma forma com frango
assado ocupava o centro da mesa. Três pratos com talheres
e taças ocupava os respectivos lugares. Conversa vem e
conversa vai até que começamos a falar de nosso futuro. —
Vamos morar em uma outra casa aqui do condomínio... –
Comecei.
–E vamos ter três cachorros um para cada filho. –
Falou Leo me olhando nos olhos. Como é bom poder
planejar um futuro. Um futuro certo. Um futuro cheio de
amor e alegria. Um futuro ao lado de Leo. —Eu ia adorar. –
Falei suspirando com esperança. —Na sexta a noite vamos
pegar o carro e ir para a praia para passar o fim de semana
em família. — Disse Leo e me fez desejar ainda mais. —Mas
primeiro temos que planejar o casamento... –Comentei.
Percebi Lu saindo da mesa. Ela estava estranha e
parecia sentir e saber de algo que eu e Leo não estávamos
prestando atenção. —Será o casamento dos seus sonhos. –
Prometeu Leo. —Eu quero a festa mais linda do mundo. –
Afirmei.
E pude até sonhar acordada. Uma festa luxuosa em
um Buffet perfeito com um pouco mais de quinhentos
convidados tudo perfeitamente organizado. Eu, com um
vestido estilo princesa todo rendado, entrando pela igreja e
o meu olhar encontrando o olhar sedutor de Leo, ele
sorrindo como uma criança quando ganha um presente e eu
chorando de emoção pelo momento mágico que estamos
vivendo. Lu, Jéssica, Beatriz e Fernando como madrinhas
todas de rosa chiclete e minha mãe com um vestido azul
Royal toda feliz pela filha estar se casando.
- 210 -
—Mas eu não estou falando só da festa... –Começou
Leo cortando meu pensamento. O olhei nos olhos para
entender. –Eu estou falando do casamento em si. Da
convivência, do relacionamento, da formação de uma
família... –Explicou Leo. —Temos que viver para sempre
juntos. –Afirmei perdidamente apaixonada por Leo. O jeito
que ele falava sobre o futuro me fazia querer largar tudo,
fazer identidades falsas e fugir pelo mundo apenas para
vivermos desde agora o nosso para sempre.
Adormeci com Leo em minha cama sem nem me
despedir de Lu. Durante a noite eu acordei várias vezes por
causa de pesadelos que sempre acabavam em único
pensamento "O que está preocupando Lu?" Acordei com os
beijos de Leonardo e então sorri antes mesmo de abrir os
olhos. E posso afirmar que é a melhor coisa da vida, pois
antes mesmo de você ver o dia você já sabe que vai ser bom.
—Bom dia. –Falei passando a mão no rosto e abrindo os
olhos. —Bom dia dorminhoca.—Falou Leo me dando um
selinho. Dorminhoca não tem insônia e essas não foi a noite
mais bem dormida da minha vida. Percebi que o quarto já
estava claro e o Sol já entrava pela janela.
—Que horas são? –Perguntei olhando em volta. Leo
pegou o celular na cabeceira e olhou a hora. —Dez e meia. –
Respondeu. —Meu Deus! Já? –Eu disse e já ia me levantar
quando Leo me segurou e me beijou. Eu tentei empurrá—lo,
pois queria levantar, mas a minha força se desfez assim que
o beijo começou a esquentar e me lembrou de como era
bom ter Leonardo ao meu lado ou no caso em cima de mim.
—Eu te amo. –Falei. Ele respirou fundo. —Também te amo.
–Afirmou e saiu de cima de mim. —Está com fome? –
Perguntou me olhando com aquele olhar de Leonardo
Cardoso firme e sedutor que sempre ia fazer eu me
apaixonar. Fiz que sim com a cabeça meio boba apaixonada.
—Morrendo. –Afirmei me levantando após me recompor
daqueles segundo de pura paixão. Ele me abraçou pela
cintura e fomos juntos para a cozinha.

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No caminho me lembrei que estava com a roupa do dia
anterior e me senti péssima. Odeio dormir com a roupa que
usei no dia anterior e acordo me sentindo feia. Fingi não
perceber para não chamar atenção para tal fato pois Leo
pareceu nem notar. Me sentei na bancada e Leo sentou na
minha frente. —Você já comeu? –Perguntei olhando para as
coisas que tinha em cima do balcão. Suspirei, pensei na vida
e nem escutei a resposta do Leo, pois estava realmente
vidrada no bolo. Pisquei algumas vezes.
—Tomara que esse bolo esteja bom, pois as calorias
são excessivas. —Afirmei mais para mim do que para Leo. E
em um golpe só peguei o guardanapo e o bolo. E quando dei
a primeira mordida, Leo riu sem entender. —Você comendo
bolo de manhã? –Perguntou abismado. —Eu estava
morrendo de vontade... –Expliquei quase chorando. —Uma
cena inédita. –Afirmou balançando a cabeça. Eu concordei e
continuei deliciando o bolo. Nunca tinha comido um bolo
de cenoura tão gostoso na minha vida. Assim que eu acabei
de me deliciar, fomos para o quarto para eu trocar de roupa
e poder passar uma maquiagem, pois estava
definitivamente horrível.
Estava me maquiando quando por coincidência do
destino uma camisa minha do uniforme estava pendurada
atrás da porta do banheiro e aí eu lembrei. —Nossa eu tinha
aula e prova de geografia. –Exclamei abismada comigo
mesma por esquecer de tudo. —Você está bem? –Gritou Leo
que estava deitado na minha cama jogando vídeo game. Sai
do banheiro. —Eu faltei da escola. –Falei. Carina Jórdan
esquecendo de ir para a escola. Como assim?! —Isso é ruim?
–Perguntou sem nem prestar atenção no meu drama.
—Sim. –Afirmei me sentido péssima. – Eu tinha prova
e as minhas amigas como será que ficaram sem mim?! —
Falei andando pelo quarto de um lado para o outro. —Você
não é normal. –Falou Leo me olhando calmo enquanto eu
quase surtava. Dei de ombros e tentei me lembrar onde
estava meu celular, olhei em volta do quarto o que foi inútil,
pois não achei. Então saí pela casa procurando.

- 212 -
Assim que eu encontrei jogado no sofá. Tomei ele em
minha mão e vi as mensagens de Jéssica.
Jéssica:
—Ca
—Você não vem hoje né?
—Está todo mundo falando de você aqui na escola!
—Até a diretora veio perguntar se você foi para
terapia.
Bloqueei a tela do celular e voltei para o quarto. Acho
que minha cara de decepção foi tanta que Leo largou o
controle do vídeo game na mesma hora em que me viu. Ele
não falou nenhuma palavra, mas eu me sentei do lado dele e
encostei a cabeça em seu ombro. Pode ser só por causa de
um escândalo, mas as pessoas se preocupam comigo
enquanto a minha mãe não ligou até hoje perguntando
como foi a minha festa e muito menos para me dar boa
noite.
Leo não entendeu o porquê eu chorava, mas sabia que
apenas o seu beijo podia me consolar. E então ele me beijou.
Foi um beijo maravilhoso, um beijo que me fez esquecer dos
problemas, um beijo que me fez largar o celular e agarrar
Leonardo. —Onde a Lu foi? –Perguntei e juro que dessa vez
não queria estragar o clima, mas meio que estraguei. Leo
parou e me olhou. —Por que quer saber dela? –Retrucou
parecendo decepcionado. —Só para ter certeza que ele não
vai estragar nosso momento. –Respondi. O sorriso de Leo
me fez rir. Lu sempre chegava e estragava os momentos
então queria ter certeza que dessa vez ela não estragaria.
—Ela foi ao mercado. –Respondeu Leo depois de me
admirar por alguns segundos e antes que eu pudesse dizer
qualquer coisa, ele voltou me beijar. Juro que por alguns
minutos pareceu eterno, pareceu que nada nunca iria
estragar até o momento que... —Carina! –Gritou uma voz
que já no primeiro instante achei que fosse da minha mãe,
mas nos segundos que demorei para retomar a consciência,

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abrir os olhos e olhar em direção de onde veio o grito, fiz
uma breve oração pedindo apenas uma coisa "Que não seja
a minha mãe! Amém." Se fosse ela, era com toda certeza o
fim da minha vida, do meu namoro e o fim de Leonardo.
Leo olhou para ela antes de mim, pois eu tive alguns
segundos de falta de coragem, mas, assim que a coragem
voltou a olhei e o olhar dela parecia me fuzilar. —Oi mãe. –
Falei tentando sorrir e não tremer. Ela estava de braços
cruzados parada na frente da porta. —Quem é esse? –Ela
perguntou extremamente irritada enquanto eu me
levantava. Leo se levantou em um pulo e parecia chocado
com a situação. —Mãe esse é o Leonardo, meu namorado. –
Falei apontando para Leo que foi até ela junto a mim e
cumprimentou. Suspirei tensa, pois não sabia direito o que
ela queria e nem o que ela sabia. —Prazer. –Ela falou e até
soltou um sorriso.
—Prazer senhora. –Falou Leo e pela primeira vez pude
sentir que ele estava com medo, mas não era um medo bobo
era um medo de que eu e ele tivéssemos que nos despedir
mais cedo. Minha mãe voltou o olhar para mim. —Temos
que conversar. –Ela afirmou. Respirei fundo e concordei
com a cabeça.
—Olha mãe... –Comecei em um tom mais alto. —
Carina, eu falo. Vocês escutam. –Falou decidida
interrompendo a minha reclamação. Ela saiu do quarto em
direção a sala. Olhei para Leo e balancei a cabeça. Já podem
preparar o balde de pipoca, pois ela não vai parar de falar
até amanhã. —Sentem—se! –Ordenou. Ela sempre quer
estar no controle de tudo, mas nós obedecemos. —Pode
começar o seu discurso de como eu posso estragar a minha
vida se não fizer as escolhas certas... –Comentei, pois era
sempre a mesma coisa.
Carina Jórdan sua vida é perfeita por que fazer isso?
Por que fazer aquilo? Por que sei lá mais o que... Se ela que
é a mãe não sabe por que eu devo saber?!
—Não vou fazer um discurso. –Afirmou parada na
nossa frente nos olhando. Revirei os olhos e ela retomou. –
- 214 -
Eu só vim ordenar uma coisa. Não vou ficar falando o que é
errado ou o que é certo apenas quero que os dois terminem.
— Eu queria parecer forte. Queria fingir que essas palavras
não mexeram comigo e com o meu ego. As lágrimas
brotaram nos meus olhos, mas ainda consegui segurar. —
Nós éramos a família exemplo. Seu pai se foi e agora você
decide namorar um marginal. Que família é essa? –As
palavras dela me fizeram sentir um ódio tremendo.
—Cala boca! Nós só fingíamos ser uma família feliz... –
Gritei pondo para fora todos os momentos que me senti
triste com a família que tive. Podia falar muito mais só que
a minha mãe me interrompeu. —Chega Carina! –Ela
exclamou. –Ele vai para a prisão e você vai hoje mesmo
comigo para Nova York. –Ordenou me olhando tão
diretamente nos olhos que mal piscava. —Nós não vamos
terminar. –Neguei. —Então não terminem, porém, de
qualquer jeito você vai hoje para Nova York comigo. –Ela
falou e olhou para Leonardo. —E você vai embora agora. —
Ela ordenou enfurecida. Leo então se levantou e nossos
olhares se encontraram pela última vez antes dele partir.

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Capítulo 19

Será que nosso amor é forte o suficiente para aguentar


os caprichos idiotas da minha mãe? Era a única coisa que
me perguntava enquanto o via partir. Assim que fechei a
porta, suspirei e juro que tive medo de ser separada de Leo
como acontece em tantos filmes. Eu queria entrar no
escritório e confrontar a minha mãe, porém a minha
coragem faltava e o meu medo sobrava. Fiquei então
sentada em uma das oito cadeiras que rodeavam a mesa na
sala de jantar. Com os cotovelos na mesa e algumas
lágrimas escorrendo chorei durante vários e vários minutos.
—Ai Carina... –Disse Lu totalmente altruísta e foi me
abraçar. —Oi Lu. –Falei apertando meu rosto contra o
ombro de Lu e sujando a camiseta dela de rímel. —Desculpe
por não ter te contado. –Implorou Lu chorando junto
comigo. Me afastei alguns centímetros e abri os olhos para
tentar então parar de chorar.
—Ai Lu meu rímel não era a prova d'água... –
Comentei. —Não tem problema. –Ela falou e me puxou de
volta para si. —Lu por que você não me deixou preparada?
–Perguntei sem saber ao certo o que perguntar. Era isso que
preocupava tanto Lu no dia anterior. Era isso que me fez
acordar durante algumas vezes à noite. Era isso que
possivelmente estragaria meu namoro com Leo. Era a volta
de minha mãe. —Sua mãe pediu para que eu não contasse.
–Explicou Lu em um sussurro. Ela não pediu, na verdade
ordenou, mas Lu sempre quis fazer a minha mãe parecer
melhor do que era.
—Lu e se ela fizer algo com o Leo? –Perguntei
amedrontada com tantas possibilidades horríveis
atormentando minha cabeça. —Ela pode exagerar na sua
proteção, mas também não é uma criminosa. –Lembrou Lu.
O que me fez ter esperança na minha mãe. —Tomara que
você esteja certa. –Afirmei e voltei a chorar. —Melhor você
- 216 -
se deitar um pouco para se acalmar... –Disse Lu me
ajudando levantar e me levando para o quarto. Assim que
cheguei no quarto me joguei na cama e voltei a chorar, pois
até o travesseiro cheirava Leonardo. —Você precisa se
acalmar... –Aconselhou Lu. –Quer uma água com açúcar? –
Perguntou.
—Ai Lu, que água com açúcar, o que. Vou ficar sem o
Leo e ainda gorda?! –Falei irritada como se fosse culpa de
Lu e afundei o meu rosto naquele travesseiro que Leo havia
usado na noite anterior. Lu suspirou e me observou durante
alguns segundos, quando percebeu que não tinha o que
fazer contra a minha dor, saiu e fechou a porta.
Quando a minha cabeça começou a latejar de tanto
chorar, achei que fosse à hora de parar. Me sentei na cama e
suspirei. Percebi que poderia criar uma piscina no quarto de
tanto chorar, mas não poderia resolver o problema do meu
namoro com o Leo e então vi que era perda de tempo.
Comecei a pensar em possibilidades que traria um futuro
para mim e Leo.
Um futuro juntos.
Não cheguei a nenhuma conclusão, como já esperado.
Mas, pensar no nosso futuro me trouxe esperança, me
trouxe a fé que faltava para enfrentar a sociedade e até
mesmo, minha mãe.
Antes de ir falar poucas e boas para minha mãe, fui ao
banheiro onde lavei o rosto e retoquei a maquiagem.
Acredito, que uma maquiagem certa pode te ajudar em
muitas coisas. Eu, sem maquiagem mostrava uma garota
acabada e com o coração frágil. Eu, com maquiagem era a
verdadeira Carina Jórdan, e Carina Jórdan era a garota na
qual todas meninas deveriam se espelhar. Uma garota forte,
com metas e objetivos claros que não se apaixonava fácil e
sabia que nasceu para ordenar.
Quando estava passando o batom. Percebi que estava
diferente e não podia mais definir Carina Jórdan como
antes. Ela, agora, não é mais a garota forte, que não age por
- 217 -
emoções e muito menos que não se apaixona fácil por
algum sorriso sedutor que aparece. Na verdade, eu agora,
tenho apenas uma meta de vida. Uma meta inútil para
alguns e romântica para outros, mas para mim é o único
jeito de eu conseguir viver. A minha meta de vida é ter uma
vida ao lado de Leo. Nem importa se será uma vida longa ou
uma vida curta. Uma vida perfeita ou uma imperfeita. Uma
vida com filhos ou apenas um eterno casal. Uma festa de
casamento luxuosa ou apenas um casamento no civil. A
única coisa que verdadeiramente importa hoje e sempre, é e
será o meu amor por Leonardo e isso nada poderá destruir.
Quando me enchi de coragem e sai em busca de uma
conversa com a minha mãe, bati na porta do escritório. Ela
não me respondeu, mas mesmo assim entrei. Eu precisava
falar com ela agora e era urgente. —Oi Carina. —Ela falou
sem mostrar interesse pela minha pessoa e acreditem até
Carina Jórdan não é interessante para todos. —Então
mãe... —Comecei assim que me sentei em uma das três
cadeiras que fica de frente para a enorme mesa de madeira,
onde minha mãe enche de papeis toda vez que volta de
viagem. Ela me olhou e fechou o notebook dourado de uma
marca famosa que vocês devem conhecer, agora pela
primeira vez na vida senti que ela prestava atenção em mim.
— O Leonardo é bom. —Afirmei sem saber ao certo o
que dizer. Toda coragem parecia ter ido embora e eu não
queria brigar com ela, pois apesar de tudo, eu ainda a
amava. —E a gente se ama de verdade. Bom, pode parecer
apenas um romance de adolescente, mas se você soubesse
da nossa história... De como ele cuida de mim e de como
confiamos um no outro. —Dei ênfase em cada palavra na
qual achei importante e eu tentei parecer o mais calma
possível, mas tudo isso não passava de ser uma filha
implorando a uma mãe por um amor. Eu parei de falar com
a esperança que minha mãe falasse algo. Ela me olhou
caladamente e soltou um suspiro. —Sabe Carina. Eu estava
muito nervosa quando cheguei... —Comentou minha mãe
como se ninguém tivesse percebido. – Eu entendo que a
gente não escolhe por quem vai se apaixonar, mas... —Ela
- 218 -
fez uma pausa me olhando nos olhos. —Você tem que saber
que ele deve pagar pelos atos dele. —Ela explicou e parecia
me entender totalmente.
—Eu sei mãe. —Concordei. —Eu te amo e quero o seu
bem. —Ela afirmou —Eu sei. —Repeti. E por não ser
palavras tão comuns de dizer a ela, não falei. —Eu fiquei
irritada por você não contar, mas acredito que as pessoas
podem mudar. —Ela disse e pareceu mais sábia do que
nunca. Na verdade, nem parecia aquela doida que entrou
no meu quarto horas atrás. Algo havia mudado e eu não me
arrisquei a perguntar. — O amor muda as pessoas... —
Comentei ainda organizando todas as palavras da minha
mãe na mente. —Proponho um combinado. —Propôs minha
mãe se apoiando na mesa. Eu ainda estava meio tensa e
tentava acompanhar a mudança repentina do humor da
minha mãe. — Qual? —Perguntei.
Tentei pensar rapidamente em algumas possibilidades
e a que mais fez sentido foi ficar longe do Leo durante o
tempo da prisão. — Você passa dois meses fora do país para
pensar em outras coisas e ter certeza da paixão que sente
por ele. —Explicou. Pensei e conclui que era uma boa
proposta. —Posso voltar para a formatura? – Perguntei,
pois era a minha única dúvida. —Claro. —Respondeu
sorrindo. Ponderei a situação na minha mente. —Posso ir
para nova York dia dez? —Perguntei.—Eu volto amanhã,
mas você pode ir dia dez com a Lu. —Explicou. —Eu
concordo. —Afirmei com um sorriso.
—Mas assim que voltar das férias vai começar a
trabalhar em tempo integral na empresa. —Explicou. Como
seu eu já não fizesse um trabalho ótimo durante as tardes.
—Claro. —Falei, pois fui tomada pelo entusiasmo de ver
minha mãe feliz. Estava feito. Estava concretizado. Eu não
perderia Leo.
Sai da sala e aí bateu um momento de confusão em
minha mente. O que a fez mudar de humor tão
repentinamente? O que fez ela assim, do nada, concordar
- 219 -
com meu namoro e ter compaixão alheia? Eu não sei e nem
quero saber. Melhor fingir que não percebi nada. Corri para
o quarto e me joguei na cama, mas agora, eu sorria pois
mais alguns dias ainda faltavam para eu e Leo nos
despedirmos por algum tempo.
O meu celular começou tocar. —Alô. –Falei com os
pensamentos em Leo. —Oi amor. –Disse Leo e eu sorri.
Namorávamos há meses, mas por nossa situação ser
delicada nunca tínhamos nos falado pelo celular. –Ai Leo
que bom que é você. —Comentei feliz. Pude escutar a risada
de Leo do outro lado da linha. —Eu queria falar com você
sobre uma ideia que eu tive. –Explicou. —Não precisamos
fazer mais nada. –Afirmei feliz e até me sentei na cama. –
Minha mãe não vai fazer nada. Dia dez eu vou para Nova
York e ainda podemos ficar juntos. –Expliquei mesmo sem
conseguir acreditar nisso tudo.
—Nossa sério? –Foram as palavras que Leo conseguiu
pronunciar, ainda confuso. —Sim meu amor. Temos que
aproveitar. Dias a mais juntos era como a eternidade para
nós. —Quando eu posso ir ai? Não tem como sairmos, pois
não é seguro... — Leo sempre tentando me proteger. —
Amanhã a tarde. –Falei. —Sua mãe vai embora amanhã? –
Perguntou e eu ri. —Eu acho que ela vai amanhã de manhã.
–Expliquei. —Ok. —Como você conseguiu sair do
condomínio? — Perguntei. —Eu sai disfarçado. –
Contou e eu ri. —Ah sim o caçador de borboletas. –
Comentei rindo. —Quase isso. –Ponderou e soltou uma
risadinha. —Eu vou ter que desligar... –Expliquei. —Ok!
Beijos. —Beijos. —E fim da ligação.
Parecia que tudo estava finalmente se acertando, o que
era estranho e legal ao mesmo tempo. Após ficar alguns
minutos sorrindo e agradecendo por poder estar com Leo
no dia seguinte, fui toda animada falar com Lu.
—Lu! –Falei entrando na lavanderia com tudo e
tropeçando em um balde. –Droga. –Reclamei por quase ter

- 220 -
estragado meu sapato com aquela água que eu nem sabia o
que tinha. —O que foi? –Perguntou Lu rindo. —Não teve
graça. –Falei pegando o balde pela a alça e o colocando mais
para o canto.—Você que entrou aqui correndo... –Comentou
Lu. Dei de ombros para a zombação de Lu e comecei a
contar a minha nova história de vida. —Minha mãe pirou...
–Comentei feliz. Lu me repreendeu com olhar. —Ela pirou
de um jeito bom. –Expliquei. Lu ainda me olhou sem
entender. –Ela se acalmou, de um jeito estranho e
repentino. –Me lembrei a olhando nos olhos. —E agora nós
só vamos para “New York” dia dez. –Contei a Lu
extremamente feliz, com um sorriso de orelha a orelha.
Ela piscou e tentou processar as informações. —Ah. –
Foram as únicas palavras que ela conseguiu expressar. A
abracei tomada de entusiasmo. —Lu você não tem noção de
como estou feliz da minha mãe ter sido boa comigo uma vez
na vida. –Desabafei ainda a abraçando. —Eu ainda não
entendi o motivo dela ter mudado de ideia. –Comentou Lu
após me soltar. —Pra falar a verdade, eu também não
entendi. —Ponderei dando dois passos para trás. –Mas não
importa entender só importa que eu e Leo vamos ficar mais
tempo juntos. –Expliquei apaixonada.
Lu me encarou durante alguns segundos como se
pensasse em algo. Não tinha o que entender, o que
perguntar e nem o que pensar. Era apenas minha mãe
pensando em mim pela primeira vez na vida. —Sério que ela
ficou tão de boa assim? –Perguntou Lu querendo ter certeza
do que eu tinha acabado de lhe contar. Eu dei uma risada
por Lu estar usando gíria de adolescente. —Sim Lu. –
Afirmei. —E ela vai embora quando? –Perguntou Lu ainda
querendo entender. —Amanhã. –Falei indo para cozinha,
pois queria comer alguma coisa. —E nós vamos só dia dez?
–Perguntou me seguindo. —Sim. –Repeti abrindo a
geladeira para ver o que tinha para comer.
Eu mexi em alguns potes na geladeira, mas não achei
nada. —Você não almoçou. –Lembrou Lu. Era verdade, eu
- 221 -
estava ocupada demais chorando. —Faz alguma coisa para
eu comer, por favor. –Pedi me sentando no banco da
bancada. Lu me olhou. —Vou esquentar o resto do almoço.
–Informou. Como assim esquentar comida do almoço? Eu
gosto de comida fresca. —Não vai não. –Neguei. —Por que
não? —Porque eu não quero comida requentada. –
Reclamei. —Então vai ficar sem comer. –Ordenou Lu. Como
pode, eu mudei tanto que até Lu quer ficar mandando em
mim. —Nossa Lu. –Reclamei levantando as sobrancelhas. —
Nossa nada. –Ela falou pegando os potes na geladeira para
esquentar. —Mas e se ficar ruim? –Perguntei fazendo cara
de nojenta.
—Não vai ficar ruim. –Discordou Lu colocando a
comida no prato e esquentando no microondas. Eu só fiquei
apoiada na bancada a observando. Lu me entregou o prato e
os talheres. —Pronto. –Ela afirmou. Olhei para ela e olhei
para comida. —Tomara que esteja gostoso. –Informei ainda
sem querer comer. —Come logo. –Ordenou Lu sem ligar
para meu drama. Então eu comecei comer e não estava
ruim, pelo contrário estava ótimo. —Não está ruim. –
Afirmei. —Viu eu disse. –Concordou Lu toda orgulhosa. Eu
ri.
Me lembrei sobre ter faltado e perdido prova. —Lu eu
faltei hoje. –Desabafei triste como se ela não soubesse. —Eu
sei. –Afirmou. —E eu perdi prova. –Completei. —Você vai
fazer a prova amanhã. Tem repórteres ainda no portão... –
Explicou me olhando nos olhos e cutucando o cantinho das
unhas. —Quando será que eles vão embora? –Perguntei
totalmente irritada. Eu sempre quis dar entrevistas e ficar
famosa, mas não achei isso tão legal na prática. —Quando
você for embora. –Afirmou Lu e me fez pensar. Apoiei o
garfo no prato e suspirei.
—A sociedade é hipócrita... –Comentei. —Vamos
combinar que a sua história de namoro é estranha... –
Informou Lu. Não é estranha, é apenas diferente. —Não é
porque as pessoas não estão acostumadas, que é estranho. –
- 222 -
Expliquei. Lu concordou com a cabeça. —Mas as pessoas
acreditam que ele fez mal a você. –Falou Lu tentando ser
compreensiva. Neguei com a cabeça. —Ele me ama, nunca
faria mal a mim. –Afirmei com a maior certeza do mundo.
Fui para o meu quarto e peguei minha mochila. Tirei
todo material dela e coloquei na cama. Fiz algumas lições
que tinha para fazer e estudei para a bendita prova de
Geografia. Claro que, no intervalo de uma lição e outra eu
escutava uma música, lia uma página de um livro e dava
uma olhada nas mensagens que recebia no celular. Quando
parei para perceber já era dezenove horas. Decidi tomar
uma banho antes de tentar arrumar aquela bagunça de
papéis e apostilas que tinha se amontoado em minha cama.
Na hora do jantar, nós três nos sentamos para comer.
O que foi diferente já que quando meus pais estavam em
casa, Lu não se sentava com a gente, mas meu pai não
estava mais aqui então ela se sentou. —Você não vai mais
poder trabalhar na empresa... –Comentou minha mãe
depois de minutos de silêncio enquanto comíamos. Como se
eu quisesse trabalhar na empresa enquanto estivesse de
férias. —Por que? –Perguntei sem ligar muito. E de certa
forma, comecei a pensar. Tinha algo muito maior me
impedindo.
—Por causa das reportagens... –Explicou. Balancei a
cabeça. —Um bando de hipócritas. –Comentei e voltei a
comer. Imaginava que os sócios não iam gostar muito, mas
eles fazem coisas muito piores do que eu, que no caso sou
uma adolescente. —Eles estão certos. –Falou minha mãe
mostrando logicamente que estava do lado deles. –Eu não
gostaria de uma pessoa na minha empresa que sai em
reportagens de jornais sendo mal falada. –Argumentou
minha mãe.
—Em Nova York vamos arrumar algo para você. Abrir
uma nova empresa, talvez. – Falou minha mãe e voltou a
comer. —Como assim abrir uma nova empresa? –Perguntei,

- 223 -
pois não fazia sentido. —Uma nova empresa só para você. –
Explicou minha mãe. Lu comia sem fazer nenhum barulho e
observava esse papo chato. Suspirei e voltei a comer. Eu
tinha entendido que a empresa era só para mim, mas em
alguns meses a imprensa já esqueceu sobre meu romance
que é considerado errado e eu poderei assumir a
presidência como se nada tivesse acontecido.
O silêncio predominou no resto do jantar. Afinal, Lu
não iria se pronunciar por nada, eu estava pensando em
tudo que estava acontecendo e minha mãe tentava decidir
de qual lado ficava. Ao lado da filha que sempre arruma
confusão ou dos sócios que a enriquecia cada vez mais.
Acabei de comer rapidamente e fui para o meu quarto.
Eu queria dormir logo, para o dia seguinte chegar logo,
para minha mãe ir embora logo e Leo vim me ver logo, mas
estava tão ansiosa que não consegui. Decidi então, ir para
sala e assistir com Lu alguns episódios da minha série
favorita. —Boa noite. –Desejou minha mãe já de pijama. —
Boa noite. –Falou Lu. —Boa noite mãe. –Sorri com a
esperança que meu sorriso a fizesse ficar ainda mais calma.
Ela sorriu de volta e saiu. Quando já estávamos assistindo o
segundo episódio. Meu celular tocou como se tivesse
chegado alguma mensagem. Desbloqueei a tela e olhei.
Era uma mensagem de um número restrito no qual
havia me enviado um documento, eu fui ingênua e cliquei
para baixar. Abri o documento e comecei a ler, era o
processo contra de uma forma geral a família de Leonardo.
A curiosidade bateu mais forte e eu fui lendo até que dei de
cara com uma escritura de uma casa que era indicada como
ser de Leonardo e até mesmo a polícia já tinha investigado e
provado ser. O problema não era Leonardo ter uma casa em
seu nome, mas sim a casa ser a que ele disse ser de seu
amigo. Me deu um negocio no coração mas eu achei melhor
esperar pelo dia seguinte e conversar com Leonardo para
entender essa história. Como foi que esse documento que

- 224 -
era segredo de justiça foi ser enviado para mim? E além do
mais porque Leo tinha mentido?
Bloqueei a tela do celular e voltei assistir a série. Não
consegui assistir a série... A minha vontade era de ligar para
Leo e conversar logo com ele. O celular tocou de novo e
mais uma vez eu abri. Tinha fotos de Leo durante vários
dias entrando e saindo daquela casa. Eu não devo acreditar
em fotos e documentos, pois tudo isso pode ser apenas um
mal entendido. Foi o que eu pensei logo de início.
—Ai Lu eu vou para cama. –Afirmei por não conseguir
mais ficar na sala fingindo que nada aconteceu. –Boa noite!
–Gritei antes de entrar no corredor. Lu nem conseguiu
responder, mas ela sabe que meu humor é meio doido.Me
joguei na cama e antes de dormir tentei concluir se aquele
documento era verdadeiro ou falso. Acabei dormindo
acreditando que era verdade, mas falei ao meu coração que
era mentira, pois eu não queria que ele quebrasse. Acordei
no dia seguinte como estava acostumada, tomei banho e
lavei meus cabelos, decidi ir com eles lisos então só fiz uma
escova básica, coloquei o meu impecável uniforme de
sempre e sorri ao me ver no espelho.
Fui rapidamente tomar café da manhã, passei na sala
de jantar que estava escura e vazia, o que era estranho, pois
era para minha mãe estar em casa e então fui para cozinha.
—Oi Lu. –Falei sorrindo. —Bom dia menina. –Ela falou
sorrindo. —Cadê minha mãe? –Perguntei. Será que ela já
tinha ido embora? Sem se despedir de mim? —Ela já foi... –
Respondeu Lu e me entregou um potinho com uvas. —Já? –
Quetsionei antes de comer qualquer uva. Óbvio que sim. —
Ela te mandou um beijo e disse que te ama. –Lembrou Lu.
—Ama sim. –Comentei irônica e comi uma uva sem caroço.
Lu me olhou repreendendo. —Ama sim. –Afirmou
novamente.
Eu concordei com a cabeça e ri para não discutir,
porém eu sabia que quando ama de verdade é diferente.

- 225 -
Assim que acabei de comer fui acabar de me arrumar e
troquei de mochila, pois quis dar uma mudada. Me olhei no
espelho pela última vez e olhei profundamente nos meus
próprios olhos e por fim me lembrei da noite anterior na
qual eu tive a certeza que Leo havia mentido para mim. Será
que meus olhos foram capazes de confiar em olhos que
mentem? Será que eu fui capaz de confiar totalmente em
alguém que por uma besteira mentiu para mim? Será que
tem mais coisas nas quais eu não saiba?
Suspirei e decidi ser forte. Coloquei um sorriso no
rosto, pensei em boas coisas, tomei minha mochila na mão
e fui para a sala de estar. Na sala de estar as almofadas
brancas do sofá preto estavam totalmente bagunçadas e por
não querer pensar em mais nada dei uma organizada.
Quando acabei, olhei pela estante e avistei uma foto da
minha família. Uma foto tirada no meu baile de quinze
anos. Eu com um vestido Pink com muito brilho feito por
Martha Medeiros uma das mais importante estilistas do
país, minha mãe com um vestido azul escuro com alguns
desenhos de brilho e meu pai com um smoking totalmente
refinado. Lu que havia tirado aquela foto e ela também
estava linda, com um vestido roxo e o cabelos escorridos
lavados e escovados ficou super diferente do dia a dia.

- 226 -
Capítulo 20

Lu me pegou olhando para a foto. —A festa estava


linda... –Comentou. Estava mesmo. Foi uma festa tão
perfeita. —Estava mesmo! –Concordei e a olhei. A minha
festa de quinze anos só perdia para a festa de dezessete
anos.
Assim que cheguei na escola me despedi de Lu com
um beijo na bochecha e as meninas me esperavam na porta.
As olhei de cima a baixo. —Olá meninas! –Sorri feliz ou
tentando estar. —Oi! –Elas responderam. Sai andando na
frente delas, entramos pela enorme porta daquele colégio
que passamos anos de nossas vidas e agora estava
acabando. Ana não foi a escola por algum motivo que
ninguém sabe. Obviamente todos olharam, afinal eu estava
mais popular do que nunca.
—Estão todos te olhando. –Afirmou Jéssica do meu
lado direito. Eu a olhei sorrindo e concordei. Me acham
estranha por eu sair com Leonardo, mas o que eles não
sabem é que nós namoramos. Na sala ninguém se atreveu
perguntar, mas não se fofocava sobre outro assunto e o pior
achavam que eu, Carina Jórdan não percebia. Fingi não
ligar para a opinião deles. E no meio da aula de história eu
não consegui segurar o choro sobre a mentira de Leo e sai
correndo da sala. Entrei no banheiro e me tranquei na
terceira cabine.
—Carina. –Chamou Jéssica ao entrar no banheiro. —
Eu estou bem. –Menti tentando segurar o choro. Não queria
contar, não podia contar, pois até Jéssica a mais doida de
minhas amigas e nada perfeita iria me achar louca de
confiar em um documento que recebi pelo celular. —Eu sei
que não está... –Comentou e parou na frente da terceira
cabine. —Eu não posso te contar. –Expliquei. Secando as
- 227 -
lágrimas. —Por que? –Perguntou Jéssica parecendo calma.
—Porque... –Comecei, mas não consegui arrumar uma
desculpa e nem uma mentira. A única coisa que consegui
fazer foi deixar uma lágrima escorrer. —Carina me conta.
Eu posso te ajudar. –Ela pediu e pareceu com tanta
compaixão que decidi sair. Engoli o choro, sequei o que
pude das lágrimas, me levantei e abri a porta. A olhei nos
olhos e ela me abraçou.
—Eu nunca tive tantas incertezas na minha vida... –
Comentei com um pouco de pavor na voz. —O que está
acontecendo? –Perguntou. —É que eu não tenho certeza. –
Respondi. Realmente não dava para ter certeza de nada. —E
quando pretende ter certeza? –Perguntou Jéssica como se
soubesse do que eu estava falando. —Hoje a noite ele vai em
casa e vou resolver essa situação. –Expliquei me soltando
um pouco de seus braços e a olhando nos olhos.
–Mas qual é o problema então? –Pergunto. —Tem a
ver com documentos e mentiras! –Respondi desviando o
olhar. Eu não queria contar, mas ela já sabia demais. —
Problemas de Carina Jórdan... –Comentou rindo. Eu sorri.
—Tem uma casa no condomínio que Leo diz que é do amigo,
mas ontem recebi um documento pelo celular que dizia que
essa casa está no nome de Leonardo Cardoso, mas o
documento era um processo sabe, tinha muita coisa lá. Não
parecia ser falso. –Contei e por incrível que pareça consegui
segurar o choro.
—Você não pode confiar só em um documento pelo
celular... –Comentou Jéssica.Ela estava certa, mas tinha as
fotos também. —Sim eu sei. –Concordo. Peguei o celular e
abri as fotos o entreguei nas mãos dela. —E como explicar
essas fotos? –Perguntei mais para mim do que para ela. Ela
olhou para tela durante alguns segundos. —Ai! –Exclamou e
me olhou. Ela não sabia o que dizer. —Entendeu agora o
meu medo? –Perguntei pegando meu celular para olhar
novamente as imagens. Jéssica me olhava triste e sem falar
nada. Suspirou.
- 228 -
—Ele não podia ter feito isso. –Disse Jéssica
pausadamente de um modo que me deixou mais apavorada.
—Não sabemos ao certo se ele fez ou não. –Ponderei. —É. –
Concordou. –Afinal porque ele mentiria sobre a casa? –
Perguntou Jéssica tentando sorrir e querendo melhorar o
meu humor. —Por isso eu acho que não faz menor sentido.
–Comentei concordando.
Jéssica me ajudou a retocar a maquiagem e a me
acalmar. Voltamos para a sala e todos me olharam, mas não
me olharam como eu estava acostumada, me olhavam com
dó e pena. Como se precisassem sentir pena de mim. Uns
vinte minutos antes de acabar a última aula. Algo chegou no
celular de todos ao mesmo tempo. Alguns estavam no modo
silencioso então apenas ascenderam à tela, outros estavam
no modo de vibrar então vibraram e por último o de
algumas pessoas um pouco sem senso estavam com som e
então tocaram.
Eu como uma boa aluna, não encostei no celular, mas
Fernanda, como sempre a mais curiosa foi a primeira
desbloquear a tela do celular usando o dedão esquerdo por
ser canhota e ver a notícia. —Vou ao banheiro. Já volto. –
Disse o professor de Artes e saiu da sala. Olhei na direção de
Fernanda, pois apesar de sentar na frente dela, eu sabia
sobre sua curiosidade incontrolável.
—O que foi? –Perguntei ao me deparar com a cara de
pasma dela. —Fala logo. –Ordenou Beatriz que também não
se aguentou e pegou o celular. —Ai meu Deus! —Exclamou
Jéssica do meu lado direito após ver a notícia. —Ai gente
vocês estão me deixando assustada. –Informei pegando
meu celular que estava na mesa e abrindo a notícia. Aquele
site idiota de fofoca estava me atacando novamente.
“Peguete de Carina Jórdan passa a noite em bar!” O título já
me causou dor, mas o que estava por vir acabou com meu
mundo.

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“... Leonardo Cardoso teve uma bela noitada, porém
longe da nossa amada adolescente Carina Jórdan. Enquanto
ela passou a noite na mansão da família, ele encheu a cara,
usou drogas e até saiu com as cobiçadas prostitutas de luxo.
Leonardo e Carina levam uma vida luxuosa só que em
“mundos” diferentes. Será que o casal mais estranho e
lacrador do momento terminou?...” Fotos da noitada de Leo
foram postadas logo abaixo da notícia. Eu tremia, minha
respiração acelerava e eu sentia meu coração ser esmagado
por uma bola de demolição. Eu travei e não conseguia me
mexer. Até as lágrimas demoraram eternos minutos para
escorrerem dos meus olhos. —Eu sinto muito. –Disse
Jéssica abismada. —Jéssica liga para Lu e pede para ela vir
me buscar. –Pedi entregando o celular na mão de Jéssica.
Ela concordou. Me virei para frente, juntei meu material e o
guardei na mochila. Pelo menos os outros da sala só
fofocavam entre em si e não me entristeceram com seus
comentários idiotas.
Nesse exato momento, eu Carina Jórdan me senti
extremamente humilhada. Eu não enxergava mais nada, eu
não sentia mais nada, eu queria apenas ir para longe de
tudo e de todos. Quero ir hoje mesmo para Nova York. —A
Lu já vem. –Informou Jéssica me entregando o celular e
atrapalhando meus pensamentos. —Me ajuda ir para a
secretária? –Pedi pasma com tudo que estava acontecendo.
—Claro. –Afirmou Beatriz. As três se levantaram e foram
comigo para a direção.
Lu chegou em menos de vinte minutos. —Ai minha
menina. –Lamentou Lu me abraçando. —Eu fui a pessoa
mais burra do mundo. –Comentei chorando. —Não diga
isso. –Discordou. Engoli o choro por um segundo. Conclui
que era meu último dia de aula e apesar da escola ter
marcado grandes momentos de alegria em minha vida no
final, o último momento que será marcado nela será o de
dor.

- 230 -
Me soltei de Lu e olhei para as meninas que me
apoiavam ali com suas presenças. —Meninas. –Comecei. —
É o nosso último dia juntas. –Elas suspiraram tristes. –Eu
nunca serei tão grata por vocês terem sido minhas amigas.
Eu amo vocês. –Falei e elas me tomaram em um abraço. —
Também amamos você. –Afirmou Jéssica. Nos soltamos e
eu suspirei. —Agora eu tenho que partir para o momento
mais turbulento da minha vida. –Comentei me despedindo.
Abracei cada uma e sai do Colégio Heleonor pela última vez.
A única coisa que estava certa em minha vida era que
eu nunca mais voltaria naquele lugar, pois eu não queria me
lembrar de quando me senti mal por causa de um idiota. Eu
não falei nada durante o caminho para casa e quando
cheguei sai do carro correndo e fui para o lugar mais
acolhedor da casa, o meu quarto. Quando cheguei no meu
quarto em vez de me jogar na cama, eu fui até o closet
peguei a minha mala de viagem preferida, a coloquei na
cama e comecei a escolher roupas para levar para Nova
York.
Acabei fazendo a maior bagunça no quarto. Eu não
queria levar nada que me lembrasse Leonardo. Só que tinha
um pequeno problema tudo me lembrava Leonardo. Eu
tinha algumas roupas que comprei e ainda não tinha usado,
então arranquei as etiquetas e as enfiei na mala. Na minha
cama o urso que Leo havia me dado de aniversário a
enfeitava e após eu fechar a mala com menos de quinze
peças de roupa, chamei Lu.
—Lu! –Gritei. Lu como sempre veio rapidamente até o
meu quarto. —Carina Jórdan que bagunça é essa? –
Exclamou Lu assim que apareceu na porta. Respirei fundo e
dei de ombros. —Liga para minha mãe e avisa a ela que
vamos para Nova York hoje. –Falei pegando a mala e a
colocando do lado da porta do quarto. Lu suspirou. —Vocês
devem conversar. –Ordenou Lu. —Eu ligo para ela no
caminho do aeroporto. –Expliquei. Com um olhar perdido,
fui até o closet para pegar uma roupa que demonstrasse o
- 231 -
luto que eu sentia pela minha própria vida. —Você e
Leonardo devem conversar. –Afirmou Lu por eu ter falado
que ligaria para minha mãe. Aliás, eu não quero ver
Leonardo nunca mais na minha frente.
—Não devemos. –Discordei pegando uma calça preta
na parte das calças. —Vocês vão terminar assim? –
Perguntou Lu querendo me fazer pensar. Saber que ele me
traiu é diferente de ouvir uma confissão de sua própria
boca. E eu não estava preparada para me sentir mais
humilhada. —Já terminamos. –Comentei e após pegar uma
blusa preta e a boina vermelha. —Não seja assim. –Disse Lu
querendo sempre melhorar a situação. E essa dor de ser
traída é horrível. Essa dor tira todo o nosso amor próprio,
tira a nossa vontade de viver, tira a nossa beleza interior e
exterior e nos faz usar a máscara do “Eu não me importo”
A máscara do “Eu não me importo” é a arma mais
perigosa de uma garota, pois você não sabe ao certo se ela
está com a máscara ou não. A máscara do “Eu não me
importo” é tão comum na escola quanto um lápis de
escrever, é tão comum na balada quanto ter cerveja, é tão
comum no shopping quanto ter roupas a venda, é tão
comum na hora do jantar quanto ter talheres na mesa. Só
que de todos esse lugares, é na rede social que essa máscara
mais marca presença. A máscara do “Eu não me importo” é
nada mais nada menos que o sorriso por fora e o caco por
dentro.
É aquele momento que você não vê sentido da vida,
mas continua vivendo como se tudo fizesse sentido. —Eu
sou Carina Jórdan, mas não estou forte o suficiente. –
Conclui depois de tanto pensar com o olhar perdido pelo
quarto. —Eu vou ligar para sua mãe e pedir para ela
comprar as passagens. –Afirmou Lu e eu concordei. —
Obrigada. –Agradeci entrando no banheiro. Me olhei no
espelho do quarto e eu estava um caco por fora, uma
maquiagem toda manchada, alguns fios do meu cabelo
grudado no rosto por causa das lágrimas e o meu olhar de
- 232 -
desespero só mostrava que eu não era boa em esconder
minha humilhação.
Ele fez tudo que eu falei para não fazer. E eu não sou
boa em perdoar, nunca fui e nunca serei. O meu banho
parecia inacabável, me vestir parecia inacabável, me
maquiar nunca foi tão cansativo. Como eu já sabia que
possivelmente eu iria chorar, usei maquiagem a prova
d’água.
E depois de uma eternidade de meia hora, eu estava lá
pronta me olhando no espelho novamente e pelo menos
agora estava apresentável. Uma calça boca de sino preta,
uma camiseta de manga longa preta com alguns detalhes
vermelhos e uma bota de cano curto e salto alto era o que eu
vestia para a minha partida do Brasil. Me sentei na cama e
fiquei minutos e mais minutos olhando para o nada
pensando no quanto eu fui trouxa de depositar minha
confiança em Leonardo Cardoso.
Almoçamos em silêncio e no meio da tarde estava
deitada na minha cama perdida na vida. Lu abriu a porta
devagar. —O jatinho vem buscar a gente. –Explicou Lu.
Concordei com a cabeça e voltei para os meus mais
profundos pensamentos. —E Leo está aqui... –Completou
com medo de minha reação. —Eu disse que não queria vê—
lo. –Reclamei irritada. Vê—lo seria como enfiar uma faca
em meu coração. Lu foi até mim e se sentou do meu lado. —
Acredite no poder de uma conversa. –Aconselhou Lu. Era a
última vez que eu o veria.
Concordei, pois até que pelo meu lado emocional fazia
sentido. Suspirei, segurei o choro e juntei toda compaixão
que tinha dentro de mim e fui. Cheguei na sala e Leo estava
de costas olhando para um quadro com uma foto minha que
enfeitava a parede da sala. Mesmo com o meu salto fazendo
barulho no chão, ele estava tão perdido em seus
pensamentos que não notou minha presença. —Que bom
que veio. –Comentei a alguns passos dele. Leo usava uma

- 233 -
camiseta preta com uma calça Jeans e estava como sempre
lindo, ele se virou no momento em que escutou minha voz e
soltou um suspiro de tristeza.
—Carina... –Ele começou e era de se esperar que
perdesse as palavras. Eu sempre gostava de tomar a frente
da situação. Decidi tentar ir por partes, mas falhei na
tentativa, pois quando comecei não parei mais. –Por que
você não me contou que a casa era sua? –Perguntei
tentando não parecer tão acabada como eu estava. Ele
balançou a cabeça como quem diz “Quem te contou?” – E
você se embebedou e se drogou descumprindo o nosso
acordo... –Expliquei o encarando. Como ele não respondeu
decidi continuar. –E, além disso, você me traiu com
prostitutas. – Lembrei e as lágrimas que tinham sido
seguradas com tanto êxito desabaram sem eu conseguir
segurar. Leo estava paralisado e só me olhava.
—Por que você fez isso? –Perguntei. –Por que você
estragou tudo? –Gritei histérica o empurrando. —Leo você
tinha tudo. Eu te amava mais que tudo e nem sei se não te
amo ainda... Mas, você acabou com o amor. Você acabou
com a magia. Você me fez ser a menina mais apaixonada e
agora eu sou a menina com mais ódio no coração. –
Desabafei sem mal conseguir conciliar as palavras, lágrimas
e respiração o olhando nos olhos.
Era tudo tão perfeito e agora estava uma catástrofe
total. Leo engoliu seco. —É a hora das verdades... –Falou
Leo sem responder nenhuma pergunta. Balancei a cabeça. –
Por que você não me contou sobre querer fugir? Fez um
plano nas minhas costas enquanto eu igual um idiota
tentava te proteger... –Gritou e eu engoli seco. —Eu me
arrependi. Eu não fugi e eu fiquei ao seu lado. E o mais
normal seria sim eu ter fugido. —Afirmei em tom mais alto
juntando todo o meu lado da antiga Carina Jórdan.
Eu abri mão de tanta coisa para estar ao lado dele. —E
daí? Se arrepender é fácil não fazer é difícil. –Falou dando

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um passo a frente para me amedrontar. —Você quer falar
sobre não fazer? –Perguntei irritada, pois ele queria me
culpar por coisas bobas enquanto ele tinha me traído na
noite passada. —Você entendeu... –Comentou não querendo
levar a culpa. Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa. –
E tem mais uma coisa... –Começou. –Você beijou o
Bernardo antes do baile. –Afirmou e mais uma lágrima
escorreu de meus olhos. —Eu beijei. –Concordei fazendo
sim com a cabeça. Leonardo respirou fundo.
—Os dois tem culpa no cartório... –Comentou. Como
comparar uma noitada com uma omissão de um beijo? —
Não dá para comparar minhas omissões com sua traição. –
Expliquei. Tirei a aliança da minha mão direita e estiquei o
braço para entregar a ele. Foi como uma lança entrando
pelo meu corpo e furando todos os meus órgãos. —Vamos
terminar assim? –Perguntou pegando a aliança da minha
mão. Ele queria terminar como? Com um casamento? Uma
festa? Neguei com a cabeça. —Já tínhamos terminado...
Mas eu não sabia. –Eu disse e dei um passo para trás. —Não
faz assim Carina... –Falou me olhando nos olhos.
—Eu sempre soube que nós não iríamos ficar juntos
para sempre... —Expliquei até conseguindo sorrir por
lembrar dos momentos mágicos que vivemos. — Mas nós
ficamos juntos tempo suficiente para eu saber que devo
continuar procurando o príncipe. –Conclui apertando uma
lábio contra o outro e soltando um suspiro. Agora eu já não
chorava e meu rosto estava mais seco. —Eu ainda te amo. –
Afirmou.
—Infelizmente, o amor não é tudo. –Falei e ele se
aproximou. —Mas o amor pode tudo. –Afirmou e me
abraçou pela cintura. Tentei empurrá—lo, pois o meu lado
racional estava voltando a funcionar depois de meses e ele
sabia que não era certo. —Menos transformar um sapo em
um príncipe. –Expliquei e nossos rostos estavam pertos o
suficiente para que nossos lábios desejassem um ao outro.
Meu lado irracional ficava forte quando Leo estava
- 235 -
presente. Nos encaramos por alguns segundos. A dor que
meu coração sentia era imensa e sem cura.
—Você disse que nosso amor seria como as estrelas... E
elas nunca param de nascer. –Comentou me olhando
profundamente. Aquele olhar que eu não conseguia
desvendar tinha voltado. E o nosso amor será como as
estrelas era a minha frase de vida até o dia que eu senti nojo
por quem me prometeu essa frase. —Era para ser... –
Comentei sem saber o que dizer. Tudo em mim doía. Doía
por conta do desgosto que sentia. —Ainda pode ser. –
Afirmou profundamente triste. —Não pode mais... –
Discordei. Nada é igual depois de uma traição. —Me perdoa,
por favor. –Ele implorou me apertando mais contra seu
corpo.
—Eu não consigo... – Argumentei sem nem tentar,
pois como eu disse não sou boa em perdoar. Me afastei um
pouco mas ele ainda me segurava. —Claro que consegue.
Nada é impossível para Carina Jórdan. –Explicou e deu
aquele sorrisinho que eu nunca esquecerei. Apesar de eu
amar quando Leo me chamava de Carina Jórdan... Dessa
vez eu fui forte e não cai em seus encantos. Eu o olhei
profundamente antes de responder. —Você tem razão. –
Concordei e suspirei. — Mas fazer você me amar
incondicionalmente e profundamente a ponto de não me
trair e não mentir eu não consegui e eu juro que tentei. –
Informei o olhando e me soltei de seus braços.
—Claro que conseguiu. –Afirmou tentando se
aproximar e eu com um gesto fiz ele se afastar. Neguei com
a cabeça. —Vai embora Leonardo. –Pedi e aquelas lágrimas
idiotas que me faziam parecer fraca e estragavam minha
maquiagem voltaram a cair. —Só não esquece que você
terminou comigo. –Jogou a culpa em mim e saiu pela
última vez da minha casa e da minha vida. Eu nunca pensei
como terminaríamos, nunca pensei como seria a nossa
primeira briga séria, nunca pensei nos defeitos de Leo e
nem se conseguiríamos viver em harmonia se um dia
- 236 -
morássemos juntos. A verdade é que eu vivi cada momento
com alegria, mas infelizmente o presente é curto e o futuro
incerto. Foram exatamente sete meses e quinze dias desde
que eu e Leo nos conhecemos e posso afirmar que apesar da
morte de meu pai e outras coisas ruins foram os melhores
sete meses de minha vida, pois Leo estava lá para segurar
minha mão e me abraçar quando necessário.
Lu logo veio e me abraçou. Chorei amargamente em
seu ombro.
—Eu não quero voltar nunca mais para o Brasil. –
Afirmei enquanto Lu secava meu rosto. —Ai menina... Não
diga isso. –Ela respondeu suspirando de tristeza. —
Podemos ir agora? –Perguntei. —Claro que podemos. –
Afirmou Lu e me soltou. Entramos no carro e pedi a Lu
para me levar ao cemitério antes de partirmos, pois a única
coisa que eu planejava para meu futuro era nunca mais
voltar ao Brasil. Fomos até o túmulo do meu pai e fiquei
pensando o quão bom seria ter meu pai de volta. Só que a
vida só é vívida uma vez e quando se vai não tem mais volta.
Deixamos flores para enfeitar o túmulo e voltamos para o
carro. Suspirei assim que entrei no carro.
Fui em silêncio no caminho inteiro e só pensava no
quanto minhas férias seriam depressiva. Mandei uma
mensagem para minha mãe: “Oi mãe. Você meio que estava
certa sobre Leo... Ele me traiu e eu nunca me senti tão
humilhada. Obrigada por me deixar partir desse país hoje
mesmo. Te amo!” No aeroporto eu tive a esperança que
Leonardo iria chegar no último momento, uma esperança
idiota pois a minha vida não era um filme. E tentar mais
uma vez, mas ele não tentou. Ainda bem, assim fica mais
fácil não ceder. Leo conseguiu ascender todas as estrelas do
nosso mundo, mas também conseguiu apagar todas elas.
Eu viveria cada sonho, viajaria pelo mundo e seria
cada vez mais Carina Jórdan, porém Leonardo Cardoso não
faria parte de nada disso. Conforme o jatinho de minha

- 237 -
família subia, eu admirava a cidade, a cidade de Guarulhos,
totalmente iluminada e parecendo um verdadeiro céu
estrelado. Um céu estrelado no qual eu não gostava de me
lembrar. Encostei a cabeça no banco e deixei as lágrimas
escorrerem pelo meu rosto e caírem. Quando menos
esperava, avistei um potinho de fogo um tanto longe e
percebi que era um balão. Um balão idêntico ao que Leo e
eu andamos e declaramos nosso amor um para com o outro.
Lu segurou minha mão como se entendesse minha situação.
E a maior mentira que eu pude afirmar a mim mesma
era que Leonardo não seria mais o amor da minha vida.
Uma mentira deslavada, pois mesmo depois da eternidade
meu coração continuará pertencendo a Leonardo. Mesmo
que eu não queira admitir e mesmo que nós dois nunca
fiquemos juntos. Eu serei de Leonardo para sempre.

FIM
Ou talvez não...

- 238 -
Agradecimentos

Agradecer sempre será a parte mais


importante de qualquer coisa que você fizer em sua
vida.
Agradeço a Deus por me dar esse talento e por me
permitir usá-lo!
Agradeço a minha família por desde que descobriram
que eu escrevia nunca deixaram de me incentivar.
Agradeço especialmente minha mãe Márcia Bartulihe, pois
sem ela eu não saberia o que é amar incondicionalmente.
Agradeço às minhas amigas por me contarem sobre
seus romances fracassados que me inspiram a escrever.
Agradeço a todos os filmes de romance adolescente
que assisto desde sempre e me fizeram crer que o mundo é
melhor quando nos apaixonamos.
Agradeço a todas leitoras do Wattpad, mas
principalmente a Evilly de Souza Ferreira que foi a
primeira a acreditar em meu sonho.

Agradeço a você que leu meu livro. A você que se


viciou nessa história e está apaixonada pelo casal mais
fofo do momento, agradeço a você que se permitiu viver
cada emoção deste livro, agradeço a você que dedicou seu
tempo lendo e agradeço a você que está totalmente irritado
pelo final que esse livro teve, pois isso quer dizer que você
não apenas leu o livro e sim se envolveu com a obra. Você
pertence a esta página. Escreva seu nome na linha aqui,
embaixo e, por favor, comemore.
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Espaço reservado para você escrever o que está sentindo
após ler esse livro:
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Uma espiada em, Me Apaixonei Pelo Meu
Sequestrador 2, a irresistível sequência dessa
maravilhosa história!

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- 244 -
Capítulo 01

Sabe quando você acha que o fim nunca chegará? Que


você e o amor da sua vida ficarão juntos para sempre? É a
melhor sensação, mas infelizmente não é real. Mesmo que
vocês se casem, mesmo que vocês passem décadas um ao
lado do outro.
Um dia a morte chega e o fim também. Meus pais por
exemplo. Eram felizes, viveram um longo casamento, mas a
morte levou meu pai e a cada dia minha mãe tem que
descobrir como viver sem ele ao seu lado. Então não se
apegue ao fato de vivermos juntos para sempre. Para
sempre é muito tempo e isso nunca acontece, é apenas uma
mentira. Sempre uma das partes sofrerá a perda.

Falando em sofrer, eu queria ter me enganado um


pouco mais de tempo, queria ter vivido mais momentos ao
lado de Leonardo, mesmo que em algum momento eu
soubesse que todo nosso amor não passou de uma mentira.
Apesar de eu odiar mentira, adoraria ter vivido por mais
tempo nessa. É a vida está difícil, mas eu já consigo não
chorar por causa de tudo que senti por Leonardo. Era algo
tão certo que se tornou tão duvidoso. Jéssica está me
ajudando a catar cada caquinho do meu coração. Da forma
dela, mas acho que tem me ajudado.

—Venha nós vamos sair. –Disse Jéssica toda


arrumada entrando no meu quarto. —Eu não quero sair. –
Falei e voltei assistir minha série favorita. —Desligar Tv. –
Ordenou Jéssica e a chata da televisão desligou. —O que
você quer? –Perguntei suspirando. —Você precisa se
animar. –Comentou se sentando na cama. Eu suspirei. —Eu
já disse que estou bem. —Estar bem não quer dizer que
esteja feliz. –Explicou. Concordei com a cabeça. Foi uma
péssima ideia chamar Jéssica para passar alguns dias
comigo em Nova York. —Eu estou feliz. –Afirmei. –Ligar
Tv. –Ordenei. Voltei olhar para a série. —Você não pode
- 245 -
ficar assim para sempre. –Comentou. Revirei os olhos. —
Posso curtir meus dias de férias? –Perguntei. —Isso aqui
não é férias, e sim fuga da realidade.
Respirei fundo e meus olhos encheram de lágrimas. —
Eu não me importo com o que você pensa. —Falei
mostrando que a ignorava e que não me importava, porque
eu tinha parado de me importar. —Eu preferia a antiga
Carina. –Comentou. —Da que se arrumava ou da que não se
apaixonava fácil? –Questionei. Ela riu. —Da inteligente, da
que sabia o que queria, da que não guardava mágoas, da
Carina que eu escolhi para ser minha melhor amiga não por
ser bonita e popular e sim inteligente e dedicada. –
Explicou. —Essa não existe mais. –Neguei. —Existe sim. –
Afirmou.

–Eu sei que existe. —E então eu me levantei. Ela


queria tentar mostrar que tudo estava bem, e eu a daria
uma chance, de pelo menos tentar, Me arrumei o mais
Carina Jórdan possível. —Dessa Carina que eu estava
falando. –Afirmou assim que me viu pronta. Eu sorri. —
Onde vamos? –Perguntei. —Para a maior festa do ano. –
Informou toda feliz. —Não posso acreditar. –Ironizei e dei
um sorriso falso. Jéssica riu. —Está na hora de você
encontrar um outro boy. –Explicou me empurrando para
fora do quarto de hotel. —Eu não quero isso. –Neguei. E eu
não queria mesmo, não queria a possibilidade de sofrer
mais uma vez. —Não é questão de querer e sim de
necessidade. –Comentou me empurrando em direção ao
elevador. Suspirei.

—Você está grávida lembra? –Perguntei a olhando. —


Isso não quer dizer que eu não possa ir a festas. –
Respondeu. Eu fico preocupada com essa falta de
preocupação de Jéssica com a bebê. Acho que sair como
uma adolescente comum faz ela não pensar que em alguns
meses será responsável por uma vida. Assim que o elevador
parou e abriu no saguão principal do Hotel mais luxuoso de
Nova York. Saímos e esperamos um táxi.

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Assim que o táxi parou, entramos. Comecei a pensar sobre
essa festa ser uma má ideia. Jéssica conversou com o
motorista e o informou sobre o local, enquanto eu olhava
para fora do carro e desejava não ter saído do hotel.

Assim que o táxi parou, Jéssica o pagou e descemos do


carro. Jéssica estava toda animada e eu nunca tinha me
sentido tão deslocada em minha vida. O lugar estava cheio,
cheio de pessoas bêbadas se beijando. Jéssica sumiu em
segundos e eu me sentei no bar. —O que a senhorita deseja?
–Perguntou o barman. De tudo que me deixe fora dessa
realidade. –Pensei. Peguei o cardápio que ele me ofereceu.
E escolhi qualquer um e pedi. Olhei em volta algumas vezes.
Depois do meu terceiro drink, eu já estava um pouco fora da
realidade, mas eu sabia que aquele lugar não era meu. Que
aquela vida não era minha. Onde eu estava indo? Que
caminho eu estava seguindo? Eu tentei ligar para a Jéssica
milhões de vezes e a procurei por todo lugar.

Estava preocupada, mas de verdade, cada um sabe o


que faz com a própria vida. Enviei uma mensagem para ela
avisando que estava indo embora e simplesmente fui.
Aquele mundo não me pertencia e se algum dia me
pertenceu, agora eu já não era a mesma. Talvez eu tivesse
crescido, talvez o Leonardo ter me magoada, tenha me feito
crescer. E eu não queria fingir que não sofria, mas também
não queria só ficar sofrendo. Cheguei no hotel e depois de
pensar um pouco na vida, eu adormeci.

Acordei, com o telefone do quarto tocando. Quase sem


força e com a cabeça estourando, me levantei e atendi. —
Alô. –Falei quase morrendo. —Carina Jórdan arruma sua
mala que você vem hoje para a Argentina. –Disse minha
mãe quase gritando no telefone. —Por que? –Perguntei. —
Porque a “Caprichosa” adora colocar sobre você no site
deles. –Respondeu irônica. —E daí? –Perguntei passando a
mão na testa. —O pessoal da empresa sabe disso e você
acredita que cada vez que você faz uma burrada

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“Caprichosa” fica mais rica, nós menos ricos e nossos
investidores e sócios sem confiar em nosso trabalho pelo
fato de eu e seu pai não termos conseguido criar bem você.
–Explicou. Não assimilei tudo, afinal não dava.

—Mãe amo você e não vou me meter em confusão


hoje. –Comentei. –Mais tarde te ligo. Beijos. –Me despedi e
desliguei.—Droga. –Falei. Passei a mão pelo rosto e quando
fui me levantar para beber uma água e um remédio. —Meu
Deus! –Exclamei. Tinha um garoto deitado no sofá. Olhei
para meu corpo e me certifiquei que estava vestida.

Olhei para o garoto e graças a Deus ele também estava


vestido. Fiquei em choque. O que será que havia acontecido
noite anterior? Como ele tinha ido parar ali? Eu não estava
bêbada. Acho que de tanto eu olhar para ele, ele acordou
assustado também. —Quem é você? –Perguntou em um
pulo e em português. Pelo menos parecia ser um brasileiro e
não era feio.

—Você que está no meu quarto. Eu que te pergunto quem é


você? –Falei o olhando e cruzando os braços. Ele riu. O
encarei. —Acho que agora você pode ir para sua casa. –
Falei. —Mas você não me disse nem o seu nome. –
Reclamou. Eu dei um leve sorriso.

—Meu nome é Carina Jórdan. –Informei. —Agora você


pode ir embora? –Perguntei irritada. —Você viu meu
celular? –Perguntou olhando em volta. Suspirei irritada. —
Estou falando sério. –Comentou. —Como você entrou no
meu quarto afinal? –Questionei irritadíssima. Como pode
um hotel desses ter uma segurança tão fraca.

—Eu não faço ideia. –Informou parecendo nem ligar.


—Acho que bebemos muito ontem a noite. —Acrescentou.
Revirei os olhos. —Eu não cheguei no meu quarto bêbada.
—Afirmei com certeza, pois sabia o que tinha feito na noite

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passada. —Você que entrou aqui de algum jeito que eu não
sei como. —Acrescentei o olhando.

E ele saiu pelo enorme quarto a procura do celular. O


quarto do hotel se divide em alguns cômodos. O quarto
obviamente, uma sala de estar com alguns livros e um sofá
maravilhoso, o banheiro com banheira e uma copa com
alguns utensílios para fazer comida. —O que você quer? —
Perguntei o seguindo. —Só estou em busca do meu celular.
–Explicou.

Eu estava começando a ficar assustada. —Compra


outro. –Sugeri. —Não saio daqui sem meu celular. E só você
quer que eu vá embora é melhor me ajudar a achar. —
Suspirei. —Você nem sabe se seu celular está aqui. –
Informei. —Mas quero ter certeza que não está. —Depois da
saga de procurar o celular dele e o encontrar na pia do
banheiro.

—Vou pedir imediatamente para me trocarem de


quarto. —Afirmei preocupada. —Você está aqui há muito
tempo? —Perguntou parecendo interessado. —Eu nem te
conheço, não vou falar sobre minha vida. —Comentei
querendo o expulsar. —Eu já vi seu nome circulando na
internet. —Ele contou com um sorriso malicioso como
quem sabia mais coisa do que eu imaginava.

—Vai embora. —Ordenei. —Ei meu pai é sócio da sua


família, não precisa se preocupar. —Comentou dando de
ombros. —Vai embora agora. —Ordenei mais uma vez e o
arrastei para fora do quarto. —Foi um prazer te conhecer
Carina. —Ele disse com um sorriso antes de eu bater a porta
na cara dele.

Continua...

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