Você está na página 1de 483

TÍTULO — Grávida e Rejeitada pelo Médico Bilionário

AUTORA: TAMI VENÂNCIO


Revisão: Patrícia Suellen
Capa: Tvdesigner capista
Diagramação: Grazi Fontes
Ilustração: Elle Zutan

Todos os direitos reservados.


Esta é uma obra de ficção. Nomes, personagens, lugares e
acontecimentos descritos são produtos da imaginação da autora.
Qualquer semelhança com nomes, datas e acontecimentos reais é
mera coincidência.
Nenhuma parte desta publicação poderá ser reproduzida por
qualquer meio ou forma sem a prévia autorização dos autores.

A violação dos direitos autorais é crime estabelecido na Lei nº


9.610/98 e punido pelo artigo 184 do Código Penal.
Sinopse
Capítulo 1
Capítulo 2
Capítulo 3
Capítulo 4
Capítulo 5
Capítulo 6
Capítulo 7
Capítulo 8
Capítulo 9
Capítulo 10
Capítulo 11
Capítulo 12
Capítulo 13
Capítulo 14
Capítulo 15
Capítulo 16
Capítulo 17
Capítulo 18
Capítulo 19
Capítulo 20
Capítulo 21
Capítulo 22
Capítulo 23
Capítulo 24
Capítulo 25
Capítulo 26
Capítulo 27
Capítulo 28
Capítulo 29
Capítulo 30
Capítulo 31
Epílogo
ENEMIES TO LOVERS; ROMANCE PROIBIDO;
REENCONTRO; GRAVIDEZ INESPERADA;

“Eu deixaria o mundo inteiro queimar para

proteger meu filho e minha mulher”

Nicolas Albuquerque, é um médico cirurgião conhecido nas


altas rodas da sociedade por sua família abastada. Desde

garoto ele teve que carregar vários fardos e perdas por conta

da família rígida em que foi criado.

Rebecca Ferreira, é a filha da cozinheira dos Albuquerque.


Ela e Nicolas, filho dos patrões de sua mãe, se conheceram

na adolescência e se tornaram melhores amigos. No entanto,


a amizade que começou de maneira despretensiosa, se tornou

algo a mais.

Mas por conta de alguns acontecimentos, eles se

distanciaram, mesmo contra a vontade de ambos e quinze


anos depois eles de reencontram na maneira mais inusitada

possível, ele como chefe e ela funcionária.

Mesmo o passado tendo deixado marcas em ambos,

também deixou uma atração latente, mas eles tentarão


fugir disso a todo custo.
Melhor do que apaixonar-se é você poder
reapaixonar-se e reencontrar em sua alma
gêmea o mesmo amor, só que mais abastado,
e pelo tempo, solidificado.

Veruska Duarte
16 ANOS ANTES

Aos quinze anos, eu não tinha noção alguma de como

seria meu futuro, mas torcia muito para que Nicolas estivesse
nele.
Minha mãe e eu nos mudamos para Belo Horizonte, pois

ela tinha conseguido um emprego de cozinheira em uma casa


de dois médicos importantes, eu fiquei apavorada, com medo

e receio de conhecer pessoas novas, ter que fazer novos

amigos e começar em um novo colégio. No entanto, logo me


adaptei e fiz amigos rapidamente.

Minha mãe era uma ótima cozinheira, tinha feito curso e


tudo, mesmo assim ela trabalhava muito e ganhava pouco.

Ela já tinha passado por tanta coisa nessa vida, tantas

dificuldades, e os problemas só aumentaram após a


separação. Infelizmente, meus pais não se davam bem. Eles

brigavam muito por culpa dos seus objetivos diferentes.

Minha mãe queria estudar e trabalhar para me dar tudo do

bom e do melhor, já meu pai trabalhava, porém, quase sempre

gastava muito dinheiro com álcool e drogas. Eu,


sinceramente, fiquei mais aliviada quando eles terminaram,

eu tinha tanto medo dele, meu pai me assustava quando

chegava bêbado em casa, completamente alterado. Bem, mas

isso era coisa do passado…


Por enquanto estava tudo bem, apesar de morarmos de
favor na casa dos Albuquerque. Na verdade, eu gostava de

morar na mansão da família Albuquerque, era feliz nesse

lugar, e a principal causa da minha alegria era Nicolas. Meu

melhor amigo e filho mais novo dos patrões da minha mãe.

Quando cheguei à mansão, Nicolas foi o primeiro a ser

gentil comigo. Nós brincávamos e ele mesmo sendo tímido,

logo se aproximou de mim e depois de um ano de

convivência, viramos amigos inseparáveis. No entanto, as


coisas foram mudando e, aos poucos, nossas brincadeiras se

tornaram diferentes, os sentimentos mudaram, à medida que

entramos na adolescência.

Nicolas estava com 17 anos e eu 15. E eu não conseguia


parar de reparar no quanto ele era bonito. Na escola, ele era

um dos garotos mais desejados pelas garotas. Nicolas era

meu melhor amigo e eu sentia ciúme dele com outras

meninas. E, às vezes, quando ele se aproximava de mim,

notava que ele me olhava diferente, de uma maneira esquisita

que me causava um desconforto no estômago, parecia que


havia borboletas dançando nele.
— Beca, você quer ir ao parque de diversões comigo

hoje? — inquiriu Nicolas, estávamos no quarto dele jogando


videogame.

— Não sei se minha mãe vai deixar. E não tenho


dinheiro para pagar a entrada.

Ele apertou o botão de pause e se virou para me olhar

— Eu pago com a minha mesada. Tenho certeza de que


se pedir com jeitinho, Joana vai deixar você ir. Sua mãe é

muito legal, diferente da minha — falou, com um certo


amargor ao citar a mãe.

— Ela é legal, mas é rígida com os estudos, e amanhã


temos aula — lembrei e ele coçou o queixo, tentando achar
uma alternativa.

— E sairmos escondidos?

Arregalei os olhos.

— Está louco, Nico, se formos pegos vamos ficar de


castigo para sempre — respondi, receosa. Eu não gostava de

ser desobediente.
— Por favor, Beca, eu quero tanto ir ao parque com

você.

Ele estava desesperado, suspirei.

— Não pode ir com seus amigos? — dei a sugestão, ele


revirou os olhos como tinha costume de fazer quando ouvia

algo que o desagradava.

— Não, porque quero ir com a minha melhor amiga. Não

vai ter graça lá sem você.

Dito isso, Nicolas segurou a minha mão. Senti meu


coração disparar e um frio gelado no estômago. Olhei para

nossas mãos juntas impressionada.

— Tudo bem. Vou esperar minha mãe dormir e sairei

escondida — disse e vi o sorriso crescer em seu rosto.


Nicolas se aproximou de mim e beijou rapidamente minha
bochecha. Senti meu rosto corar de vergonha.

— Oba, vai ser divertido!

Depois disso, ele continuou o jogo no videogame,

distraidamente, enquanto eu não conseguia parar de olhá-lo e


me lembrar do momento em que segurou a minha mão e
beijou meu rosto. Me perguntava se Nico também sentia algo
por mim, ou realmente me via como amiga?

E se ele também sentisse?

E se ele também tivesse medo de falar sobre seus

sentimentos e levar um fora?

Pior. E se ele fosse tentar me beijar hoje no parque de

diversões?

Eram tantas dúvidas que se passavam por minha mente,


que tive que pesquisar sobre o tão temido primeiro beijo.

Saí do quarto de Nico e fui até o da minha mãe, que era


um quartinho de empregada, onde havia apenas duas camas

de solteiro e uma escrivaninha com computador. Sentei-me


nela e pesquisei tudo sobre o primeiro beijo, pois nunca tinha
sido beijada, e se caso eu fosse um dia, de preferência por

Nicolas, eu queria me sair bem.

Joguei no Google primeiro beijo e apareceu várias dicas.

Uma delas era.


Beije delicadamente por vários segundos, evitando
molhar os lábios da pessoa com saliva. Não tenha medo de
pressionar os seus lábios contra os do seu parceiro. Não

convém abrir a boca nem usar a língua no primeiro beijo.

Mas minhas amigas já haviam beijado e viviam dizendo

que beijo sem língua não tinha graça. Eu não entendia bem

como isso podia funcionar, como podia ser bom ter a língua
de alguém enfiada dentro da sua boca!? Eca!

Também vi umas dicas de treinar com uma laranja,

entretanto, me recusei a passar por essa humilhação. Achava


melhor esperar e deixar tudo acontecer naturalmente, sem

tanta pressão.

Quando a noite chegou, eu e minha mãe jantamos com os


demais empregados na cozinha, enquanto os patrões comiam

na sala de jantar. Comi bem pouco nessa noite, pois estava


nervosa e ansiosa para mais tarde, estava com um medo

tremendo de ser flagrada pela minha mãe, só de imaginar o


quão brava ela ficaria, ficava apavorada.

— Notei que a mocinha comeu muito pouco hoje —

minha mãe falou. — O que houve? Você sempre come


bastante no jantar, filha.

— Sim, mas hoje estou sem fome — respondi. Ela me

olhou desconfiada, minha mãe tinha o dom de saber quando


estava mentindo.

— Tem certeza, ou aconteceu alguma coisa na escola?

Alguém mexeu com você? — perguntou, carinhosa.

Como eu estudava em uma escola de ricos, a mesma que


Nico, minha mãe temia que eles fossem preconceituosos

comigo por ser de uma classe social diferente da deles. Nós

nunca teríamos dinheiro para manter essa escola, então nunca


reclamava para minha mãe sobre nada que acontecia, sabia o

quanto ela era grata aos seus patrões por bancarem a

mensalidade para mim de uma escola tão boa. Sim, eram os

Albuquerques que pagavam minha escola, eles fizeram


questão de ajudar na minha educação, sempre seríamos gratos

a eles por essa bondade.

— Não, mãe, a senhora sabe que me dou muito bem na

escola, somente estou sem fome hoje.

Ela assentiu.

— Quer um doce? Preparei alguns brigadeiros somente

para nós, e os outros funcionários, já que os patrões não


gostam — falou ela.

— Quero sim. Amo brigadeiros! — exclamei, feliz, ela

riu e foi pegar os doces, depois me entregou alguns.

— Tome, coma pouco para não passar mal depois!

— Está bem, mãe.

Ela sorriu e foi conversar com seus colegas de trabalho.

Mais tarde, naquela noite, eu esperei minha mãe dormir.


Graças a Deus ela tinha um sono pesado. De mansinho, eu

acendi a lanterna que eu tinha, escolhi um vestido qualquer e

sapatilhas, depois fui me arrumar no banheiro. Como não

usava maquiagem, somente prendi os cabelos, coloquei meus


brincos e o pingente de coração com uma foto dos meus avós

dentro. Assim que terminei de me arrumar, saí do banheiro e


fui até a entrada da casa. Parei no jardim e esperei por

Nicolas.

Sentia minhas mãos suarem e meu coração bater rápido

demais. Vi alguém se aproximar no escuro e sorri pensando


que era Nicolas, mas meu sorriso morreu ao ver um dos

seguranças da mansão.

— Por Deus, Beca, por que ainda não está na cama?


Sabe que é proibido ficar circulando durante a noite pela

mansão. Vou chamar a sua mãe…

Meu coração quase parou de tanto medo que fiquei

— Não faça isso, Alfredo, ela vai brigar comigo! Por

favor! — implorei, o homem coçou a cabeça e olhou ao redor.

— Não posso, menina. Isso pode me causar problemas

com os patrões e…

— Não precisa se preocupar, Alfredo. Ela está comigo.

— Senti o medo se dissipar ao escutar a voz de Nicolas. Ele

apareceu, todo lindo e sério. Parou ao meu lado e disse,


olhando-me de rabo de olho. — Não se preocupe, Beca, agora

que eu cheguei nada vai acontecer.

— Olha, patrãozinho, só não quero encrenca para meu

lado. Você tem permissão para sair, já a garota…

— Eu já disse que ela está comigo. Não precisa se

preocupar. É só fingir que nunca a viu aqui fora, voltaremos

rápido, antes que alguém perceba — falou Nicolas, com a


postura de um adulto. O segurança não viu outra opção a não

ser acatar a ordem.

— Ok, só tomem cuidado!

Nós dois assentimos e ele saiu. Meu Deus, quase gritei


de alívio. Precisava aliviar minha tensão, então me joguei

nos braços de Nicolas, abraçando-o. Ele pareceu ficar tenso,

não esperava o abraço espontâneo.

— Ainda bem que você chegou a tempo, estava com

muito medo! — murmurei em seu ouvido. Senti-o estremecer

em meus braços.

— Eu sempre estarei aqui para te proteger — ele

sussurrou e eu me distanciei dele. Notei que seu rosto estava


muito vermelho. Nicolas parecia tímido ao me medir de cima

a baixo. — Caramba, você caprichou. Está linda, Beca.

— Você também está um charme! — elogiei de volta,

jogando o cabelo para o lado. Nicolas levou a mão à boca e

limpou a garganta.

— Obrigado. Vamos? Se ficarmos muito tempo aqui tem


uma grande probabilidade de nosso plano de fuga dar ruim.

Sorri para ele.

— Vamos — concordei de prontidão, e juntos corremos


até o motorista, que iria nos levar ao parque.

Chegando ao parque de diversões Nicolas pagou minha

entrada. Assim que entramos, já fomos comer um cachorro-


quente, que ele também pagou. Eu adorava comer, amava o

molho com salsicha. Nós dois comemos e conversamos

bastante, enquanto fazíamos. Tomei bastante cuidado para


não me sujar, não queria ficar feia perto de Nicolas. Depois
que terminamos de comer, ele sugeriu de irmos ao primeiro

brinquedo.

— Vamos na roda-gigante, Bequinha? — chamou-me,


usando o apelido que só ele me chamava. Olhei para o

brinquedo, que realmente era gigantesco, com receio.

— Tenho medo, Nico, é muito alta.

— Eu seguro a sua mão, e faço o medo passar — disse,


pegando na minha mão e abrindo um sorriso que fez com que

as covinhas aparecerem. Meu coração acelerou em um grau

esquisito.

— Tudo bem — concordei.

Pegamos a fila da roda-gigante e nos sentamos nos


assentos, depois colocamos as proteções. Estava morta de

medo de ver a altura quando chegássemos lá no topo. Fechei


os olhos e, então, ouvi a voz de Nicolas, tentando em
acalmar:

— Não precisa ficar nervosa, Bequinha. É só conversar


comigo que seu medo vai passando e você ficará mais
tranquila. Juro.

— Conversar sobre o quê? — quis saber, ao abrir os

olhos e menear a cabeça em sua direção. Seus olhos estavam


brilhantes e intensos. O brinquedo começou a subir, então
cerrei os punhos nervosa.

— Sobre como conseguiu ficar ainda mais linda hoje.

Senti como se borboletas dançassem na boca do meu


estômago. Minhas bochechas certamente ruborizaram.

— Você acha mesmo? — questionei.

— Acho. Te acho a menina mais linda da escola, e não é

porque você é minha melhor amiga.

— Sério? — Pisquei os cílios impressionada e contente.


— Acha mesmo, Nico?

— Acho. Eu namoraria facilmente com você se quisesse.

Quase me engasguei.

— Hum… Você está me zoando!


— Não estou. Eu gosto de você como nunca gostei de
ninguém, Beca. Eu sinto uma coisa estranha quando estou
perto de você… não sei explicar.

Estava completamente sem palavras.

— Eu também sinto isso. Algo inexplicável — confessei.


Ele sorriu e colocou as mãos no meu rosto. Nicolas estava
muito perto de mim. E eu só conseguia pensar que ele iria me

beijar.

— E se a gente além de melhores amigos, tentássemos


ser, hum, namorados?

Quase desmaiei. Ele estava mesmo me pedindo em

namoro?

— Você quer mesmo isso?

— Quero — respondeu, sincero. — Eu sou louco por


você, Bequinha.

— Eu também quero, Nicolas. Mas tenho medo de não


saber como fazer, como é… — murmurei, piscando muito

rápido, pois não queria perder nada. Nenhum instante.


— Como é o quê?

— Como é namorar. Eu nunca nem ao menos beijei —


confessei, mesmo com vergonha, pois já sabia que, ao

contrário de mim, ele já tinha beijado.

— Deixa que eu te ensino, Bequinha — ele sussurrou


com a voz baixa, lenta e arrepiante.

Nicolas fechou os olhos e aproximou a boca da minha.

Já eu, continuei com os meus abertos. Não conseguia fechá-


los. Ele encostou os lábios no meu e meu coração saltou de
emoção. Estava tão nervosa, nem sabia o que fazer, somente

tratei de mexer os lábios. Por alguns segundos, me esqueci de


que estávamos no alto da roda-gigante. Esqueci de tudo.

Beijar era estranho, mas aquele estranho que, aos

poucos, vai ficando bom. Nicolas fez com calma, para eu me


acostumar com o beijo. E depois que separou nossos lábios,
ele encostou a testa na minha. Sua respiração estava ofegante

e ele voltou a perguntar:

— Então, Beca, você aceita ser minha namorada?

E eu não demorei nem meio segundo para responder:


— Aceito!
Essa tinha sido uma das melhores noites mais felizes da

minha vida. Eu queria que o tempo parasse só para poder


aproveitar mais tempo com Nicolas. Era minha primeira

paixão, meu primeiro frio na barriga, meu primeiro pedido de


namoro. Era tudo maravilhoso, tão incrível que me esqueci

de que Nicolas e eu éramos de classes diferentes, por isso era


possível que seus pais e minha mãe não aprovassem nosso

relacionamento.

Nicolas e eu voltamos para a mansão por volta da meia-

noite. Nós nos despedimos e eu fui para o quarto, tentando


não fazer barulho para não acordar minha mãe. Tirei os

sapatos e os deixei no corredor. Caminhei pé ante pé até o

quarto. Fiquei aliviada ao notar que a luz continuava


apagada, o que queria dizer que minha mãe continuava

dormindo. Entrei no quarto e fui até minha cama, mas antes

de conseguir me deitar, a luz foi acesa e tomei um susto ao


ver minha mãe de braços cruzados e um olhar zangado.

Eu não sabia que eu corria ou se ficava parada,


esperando a morte chegar. Enfim, resolvi que não tinha como

fugir daquela situação.

— Mãe, eu posso expli…

— Calada, Rebecca! Nem uma palavra! — bradou ela,

como uma fera brava. — Sente-se aqui, quero conversar com

você.
Ela indicou a cama. Engoli em seco e comecei a enrolar
uma mão na outra, nervosamente. Me sentei na sua cama,

morrendo de vergonha de encarar minha mãe.

— Onde você estava até essa hora? — perguntou, mas

fiquei muda. — Não vai me responder?

— A senhora falou para eu ficar calada — retruquei,

sentida, ela bufou furiosa.

— Pode falar quando eu ordenar — respondeu. — Fale,

mocinha, onde você estava.

— Com Nicolas — resolvi ser sincera —, fomos ao

parque de diversão, mãe, nada de mais. Poxa, já tenho quinze

anos, posso sair de vez em quando com um amigo.

— Um amigo? — ela duvidou. — É isso que você é

Nicolas são mesmo, amigos?

Minha mãe parecia vidente, ela sempre captava tudo que

acontecia ao seu redor. Droga. Não tinha como eu esconder

isso dela.
— Bem, agora somos mais que amigos. Nicolas me pediu

em namoro e eu aceitei — falei tão rápido que ela pareceu ter


dificuldade de entender.

— Ora, fale devagar. Deixe-me ver se entendi, você e o


filho do patrão estão de namorico?

— Estamos namorando sério, mãe, somos apaixonados

um pelo outro — expliquei, suspirando no final. Minha mãe


fez uma cara de desgosto.

— Isso não vai ser bom. Você não pode namorar o


Nicolas, os pais dele não aceitariam…

Ela balançou a cabeça preocupada. Segurei a sua mão,


sentindo-me confiante.

— Os pais dele gostam bastante de mim, mãe, pagam até


meu colégio. Tenho certeza de que vão aprovar nosso
relacionamento com o tempo.

— Não. Você não entende. Para o senhor Rafael e


senhora Vitória você é uma garota especial, mas não o
bastante para namorar o seu filho. Imagine só a filha da

empregada com um garoto que futuramente se tornará


médico, que é de uma família rica. Você não conhece essas

pessoas, elas podem até parecer gentis e amáveis, até você


querer se tornar um deles, Beca.

Senti um nó na garganta.

— Você acha que eles proibirão nosso relacionamento,

mãe?

— Lógico que sim. E pior, será perigoso até eles nos

mandar embora. Se isso acontecer, estamos ferradas,


Rebecca!

Senti lágrimas brotando em meus olhos.

— Eu não quero que a senhora perca seu emprego. Não


quero.

Eu sabia o quanto o emprego da minha mãe significava

para ela, não podia arriscá-lo, nem mesmo por amor.

— Então, filha, fique longe do filho do patrão. Você

ainda é muito jovem, vai conhecer muitos garotos bons e


decentes. Não quero saber de você saindo às escondidas com
Nicolas e nem de beijo pela mansão, porque tem câmeras
espalhadas por todos os lados, não se esqueça disso!

Abaixei a cabeça, sentindo meu coração se partir.

— Tudo bem, mamãe.

Minha mãe segurou meu queixo e o levantou.

— Não fique triste, querida, é para o seu bem. Agora vai


dormir que já está tarde. Ok?

Assenti desanimada. Me levantei, fui trocar de roupa


para dormir e escovar os dentes. Depois, enfim me deitei.

Nessa noite eu chorei até pegar no sono.


Assim que acordei, fiz minha higiene matinal muito
rápido e tomei um banho, precisava me arrumar para ir à
escola. Me levantei antes mesmo do alarme tocar, porque
estava ansioso para ir à escola, poder ver Beca novamente e

beijá-la outra vez. Dormi tão feliz na noite anterior, sonhei

com nosso beijo, parecia tão real o sonho. Era a primeira vez

que gostava de uma garota igual gostava de Rebecca, isso era


um fato. Eu me apaixonei por ela quando tínhamos 16 e 14

anos respectivamente Nessa idade, eu estava ainda

descobrindo o que significava amor, paixão e sentimento,


mas sempre que Beca estava perto de mim sentia meu coração

disparar e várias reações intensas tomarem conta do meu

corpo, com isso consegui perceber que a queria, como mais

que uma amiga.

Até eu conseguir me declarar, demorou um ano. Durante

esse tempo, eu beijei outras garotas, conheci várias meninas

interessantes. Aprendi muita coisa e quase perdi minha


virgindade com uma garota da minha sala. No entanto, não

aconteceu, ainda, a tão sonhada primeira vez, porém, meus


amigos pensam que sim, pois não contei a eles que ainda era

virgem. Porra, eu tinha 17 anos, nessa idade garotos assim

eram zoados. A verdade era que eu queria perder a minha


com uma garota especial, como Beca. Ela sim era a menina

que eu queria como namorada.

Assim que cheguei à escola, fui à sua procura de Beca.

Encontrei-a no corredor conversando com suas amigas.


Aproximei-me delas, que logo notaram minha presença. Beca

me olhou de forma estranha.

— Oi, posso falar com você? — perguntei a Beca que


olhou para as amigas.

— Nós nos vemos na sala de aula, Beca — disseram as

meninas, antes de saírem e Beca assentiu.

Ela estava parecendo nervosa, não parava de mexer as

mãos. Me aproximei dela, ansioso para beijá-la, sem me

importar de estarmos na escola e que alguém pudesse estar

nos vendo.
— Estava ansioso para fazer isso... — Fechei os olhos e

me inclinei para beijá-la, mas me senti magoado por ela me

empurrar levemente, saindo de perto de mim. Reabri os olhos


confuso. — O que houve? Por que não posso beijá-la?

— Estamos na escola, Nicolas. É perigoso.

— Mas, a maioria dos alunos já foram para sala —

argumentei, observando seu rosto. Ela parecia bem triste. Os


olhos estavam inchados como ficavam quando ela chorava

por muitas horas seguidas. — Me conte o que está

acontecendo, Beca.

Assisti seu rosto se contorcer, ela desviou o olhar do


meu.

— Não está acontecendo nada, só acho que não devemos

mais sair juntos — respondeu em um tom amargo.

— Como assim? Nós estamos namorando…

— Acho que esse namoro é um erro. É melhor acabar

com ele antes de nos machucarmos.

Senti minha alegria dissipar no mesmo instante.


— Você não está falando sério, está? Por que isso agora?

— Porque eu e você somos de mundos diferentes,


Nicolas. Seus pais nunca aceitarão nosso namoro, e talvez até

demitam a minha mãe para nos separar! — ela bradou com

lágrimas nos olhos. — Eu não quero que minha mãe perca o

emprego e eu a vaga nessa escola. São seus pais que pagam


os meus estudos, você sabe.

— Eles não farão isso. Eu vou conversar com eles, e te

garanto que entenderão — garanti em desespero. — Eu gosto


muito de você, Beca, não termine comigo assim.

Ela me fitou com tristeza.

— Pode ter certeza de que eu também estou saindo


magoada dessa história. Queria que tudo pudesse ser

diferente, Nicolas, mas não pode. É melhor sermos somente

amigos a partir de agora. Mas saiba que você sempre será o

meu primeiro amor — ela murmurou e ficou nas pontas dos


pés para beijar minha bochecha. — Nos falamos depois,

tenho que ir para aula.


Ainda sentia o toque dos seus lábios na minha bochecha

depois da sua saída. Fiquei sozinho e de coração partido. Eu

não podia perder Beca dessa forma, não podia perdê-la sem

lutar. Decidi que conversaria com meus pais e os faria


aprovar esse namoro, por bem ou por mal.

— Nicolas filho, fiquei surpresa quando seu pai me disse

que você marcou uma conversa séria conosco. O que houve?


— perguntou a minha mãe. Estamos no escritório do meu pai,

apenas nós três.

— Eu preciso conversar e como vocês quase não tem


tempo para isso, resolvi marcar a conversa — expliquei,

muito sério. Queria que eles me levassem a sério, pelo menos

uma vez na vida.

— Então diga, logo, pois tenho que voltar para o

hospital — falou meu pai, impaciente como sempre.


— Eu também, filho, estou com pressa — incrementou

minha mãe.

— Vou ser breve, prometo — disse. — Eu só queria que

soubessem que eu estou namorando.

Meus pais me fitaram surpresos, decerto nunca

esperavam que o assunto que eu tinha para tratar com eles


era sobre namoro.

— Como? — Minha mãe se engasgou.

— Que bom, filho. Era só isso? — Meu pai não pareceu


se opor.

— Rafael, nosso filho começa a namorar aos dezessete

anos e você trata como se não fosse nada? Pelo menos tinha

que dar instruções de proteção. Eu não quero ser avó nessa


idade, jamais! — exclamou minha mãe quase tendo um ataque

de histeria.

— Eu tenho mais o que fazer, mulher. Quando chegar


mais tarde, Nicolas, eu vou te dar algumas camisinhas e

explicar como usar, embora eu ache que você já deva saber


como fazer — falou meu pai, quase me matando de vergonha.
Minha mãe bufou de raiva.

— Vocês não querem primeiro saber com quem estou

namorando? — questionei, atraindo o olhar de ambos para


meu rosto. Os dois ficaram curiosos.

— Hum, com quem? — quis saber meu pai.

— Aposto que deva ser com uma menina de boa família

como a nossa.

Minha mãe arqueou o queixo de um jeito esnobe.

— Acertou, mãe. Ela é uma boa menina, de família

ótima como a nossa. A mãe dela é uma pessoa incrível. Muito


humilde.

— Humilde? — Minha mãe me fitou enojada. — Do tipo


rica humilde?

— Não, ela é mais do tipo pobre e humilde. Estou

namorando Beca, a filha da cozinheira.

Meus pais me olharam chocados.


— Não, você só pode estar de brincadeira, Nicolas. Não
está falando sério — falou minha mãe muito brava.

— Ah, sim, com certeza estou. E espero que vocês


tratem minha namorada bem e aceitem nosso relacionamento.

— Impossível. Um Albuquerque namorando a filha da

empregada — resmungou meu pai, contrariado e


preconceituoso.

— Cozinheira — corrigi. — E eu a amo. Não tem nada


que possam fazer quanto a isso.

— Deixa de ser imaturo, menino, nessa sua idade


ninguém ama ninguém — vociferou minha mãe, vindo até
mim como uma fera brava, ela apontou o dedo no meu rosto.

— Me escute bem, você vai terminar com essa menina, se não


quiser deixar de vê-la para sempre.

— Você não pode estar falando sério! — gritei com


raiva, muito furioso. Como eles podiam ir contra o meu

relacionamento por puro preconceito?

— Sua mãe está. E se você não fizer, eu mesmo deixo de


pagar a escola que ela estuda e as mando para o buraco de
onde elas nunca deveriam ter saído. Se acha que vamos
permitir esse namoro absurdo, está bem enganado, Nicolas, e
aí de você se ir para cama com aquela menina, imagina só se

ela engravida de você de propósito…

— Beca tem apenas quinze anos e é virgem. Como pode


pensar que ela daria um golpe da barriga? — esbravejei em
defesa de Beca.

— Nessa idade as meninas já transam. E tem muitas que


engravidam precocemente, ainda mais aquelas que têm a
sorte de encontrar um menino rico e ingênuo como você —

retrucou minha mãe. — Termine com ela, se não quiser que a


mandemos embora! A escolha é sua, Nicolas. Somente sua!

— Pense bem, filho, existem milhares de meninas ainda


mais bonitas que Beca. Não seja emocionado, procure outra

namorada e de preferência uma que seja de uma boa e rica


família — disse meu pai. E os dois se dirigiram à porta.

E foi aí que eu tive que tomar uma das decisões mais

difíceis da minha vida. E eu preferi proteger Beca e a mãe


dela. Preferia tê-la por perto de mim, mesmo sem ser minha
namorada, do que longe. Eu só queria ser adulto, ter meu
próprio dinheiro e independência para assim poder tomar as

decisões que quisesse.


Era bem de manhãzinha quando me levantei, antes

mesmo do despertador tocar, então resolvi me arrumar mais


cedo para o colégio, ato que não fazia parte da minha rotina.

Assim que fiz minha higiene matinal, tomei banho e me vesti


com o uniforme da escola, em seguida prendi o cabelo em um

rabo de cavalo. Arrumei minha mochila e fui até a cozinha


para falar com minha mãe, mas parei no corredor ao escutar a

voz da senhora Vitória.

— Isso é inadmissível, Joana. Como pôde deixar que isto

acontecesse? Meu filho agora nem quer mais falar comigo e


meu marido por conta da sua filha, eu deveria demiti-la e

acabar com o mal pela raiz…

— Me desculpe, dona Vitória, mas eu não sabia da

relação deles, achava que eram apenas amigos, assim que


soube eu a proibi de continuar. Eu lhe garanto que minha

filha não terá nada com seu filho!

— Ah, mas é bom mesmo sua filha se colocar no lugar

dela e parar de dar em cima do meu filho. Onde já se viu a

filha da empregada namorando o filho do patrão? — Vitória

riu secamente, após falar as atrocidades preconceituosas.


Senti meu estômago embrulhar. — Eu acho melhor trocarmos

sua filha de colégio. Vou pesquisar outro tão bom quanto o

que está, pois acho que eles estudando no mesmo lugar

podem se encontrar escondido com mais facilidade.


Ah, não podia ser… eu amava estudar naquele colégio,
já tinha tantos amigos e amigas. Se eu tivesse que trocar de

colégio, sofreria muito. Senti o desespero me tomar.

— Dona Vitória, eu te peço misericórdia. Sei o quanto a

senhora já está fazendo por nós, e que não tem obrigação

nenhuma em acatar meu pedido, mas minha filha ama estudar

naquela escola, já tem suas amiguinhas lá. Ela sofreria muito

com uma troca repentina. Eu garanto a senhora que se eu

perceber alguma aproximação entre ela e seu filho, pedirei a


troca de colégio.

Vi através da fresta da porta o rosto de Vitória se

contorcendo de raiva. Estava pegando ranço daquela mulher,

cada vez mais. Tinha pena de Nicolas por ele ter uma mãe
daquelas.

— Tudo bem, contanto que cumpra com sua palavra. Se


eu souber que sua filha e meu filho se envolveram, pedirei a

transferência da sua filha para um colégio público.

Minha mãe se encheu de medo.


— Ela não se aproximará mais de Nicolas, a não ser

como amiga, eu juro!

— Nem como amiga eu quero mais. O melhor é que eles

nem se vejam direito, vou garantir que meu filho fique mais
tempo fora de casa, estudando, aprendendo coisas novas, para

não ter que cruzar com sua filha — Vitória disse.

Senti uma vontade incontrolável de chorar. Como uma


pessoa podia ser tão ruim a esse ponto?

— Agora eu vou trabalhar, Joana. Prepare um ótimo


jantar hoje, pois receberei visita.

— Sim, senhora — minha mãe respondeu de pronto.

Observei a patroa sair e, então, minha mãe começou a

chorar como se estivesse prendendo o choro na frente de


Vitória. Senti meu coração se apertar e saí dali, voltei para o
quarto, e só lá me permiti chorar.

Nesse dia, eu descobri que a maldade humana podia ser


pior do que eu pensava. E o preconceito ainda maior.
Os dias foram passando, Nicolas e eu nos mantemos

distantes. Eu notava que ele estava tentando ao máximo não


se aproximar de mim. Muitas vezes no recreio da escola, ou

no final da aula, eu o via me olhando, ele até movia os lábios


como se quisesse falar comigo, mas perdia a coragem. Não
entendia o porquê de ele resolver se distanciar, porque

diferente de mim, Nicolas parecia obstinado a continuar


nossa amizade, mas deveria ter acontecido alguma coisa para

que ele resolvesse se manter distante. E era melhor assim.

Era muito difícil ficar sem meu melhor amigo. Tinha


tantas coisas que eu desejava contar. Conversar com ele era

tudo que mais queria, mas não podia. Estava sendo difícil.

Semanas depois, eu já estava mais tranquila e seguindo

minha vida normalmente. Ajudava minha mãe a cortar os


alimentos, frutas e verduras, para usar no jantar e almoço. E

ela me ensinava a cozinhar sempre que podia. Quando


terminava minhas obrigações, ela me permitia brincar no
jardim da casa, ou sair com minhas amigas para passear. Eu
não tinha mais idade para ficar correndo e brincando pela

mansão, então na maioria das vezes preferia ir visitar uma


amiga, ir ao shopping ou assistir um filme no cinema.

No entanto, nesse dia, em que terminei minhas


obrigações e ela me permitiu sair, mandei uma mensagem

para minha amiga, Carmem, mas ela respondeu que tinha um


compromisso de família e não poderia sair comigo. Então, me
dei conta de que teria que passar a tarde toda na mansão, sem

nada para fazer.

Andei até o jardim, para respirar ar livre e depois fui até

a piscina, no entanto, quando cheguei lá, me deparei com


Nicolas, dois garotos e Heitor, seu irmão mais velho de vinte
anos. Eles me olharam curiosos e Heitor sorriu.

— Beca. Veio curtir a piscina conosco? — perguntou


Heitor, simpático como sempre.

— Não, só estava de passagem — falei pronta para sair


dali.
— Espera. Fica. Está um dia quente, vamos curtir uma
música e a piscina — convidou o irmão de Nicolas. Olhei
para meu ex-melhor amigo que me olhava também

convidativo.

— Desculpe, mas é melhor não! — respondi, antes de

sair dali o mais rápido possível. Estava meio tímida no meio

de tantos garotos.

Comecei caminhar em direção ao jardim, porém, parei de

andar ao escutar a voz atrás de mim

— Beca, espera!

Era a voz de Nicolas. Me arrepiei toda e me virei para

fitá-lo.

— O que foi, Nicolas?

— Eu… Só queria te falar que sinto saudades!

Engoli em seco, sentindo meu coração disparar.

— Eu também sinto — murmurei, e sem conseguir conter

meu impulso me aproximei dele, ficando cara a cara. — Eu


sinto falta das nossas conversas.
Levei a mão até o cabelo, escondendo a franja atrás da

orelha, dei um breve sorriso que ele retribuiu.

— E eu de você enchendo meu saco diariamente —

respondeu com ironia. Seus olhos me fitavam com uma

intensidade impressionante. A cor verde estava ainda mais


radiante que o comum. — Estava pensando, será que podemos

voltar a ser amigos?

— É tudo que eu mais desejo, Nicolas — respondi


baixinho. — Mas você precisa saber que eu vi sua mãe

conversando com a minha. Ela a ameaçou e disse que se

ficarmos juntos, ou muito próximos novamente, ela me

trocará de colégio ou a demitirá.

O rosto de Nicolas se contorceu, ficou tomado pela

fúria.

— Ela não podia ter feito isto… Que ódio!

— Se acalme, Nicolas. — Segurei a sua mão. — Só o


que precisamos fazer é esperar a poeira baixar. Isso ser

esquecido, aí sim poderemos voltar a ser amigos novamente.

Ok?
Ele assentiu, mesmo chateado com a situação.

— Então, quer dizer que ficaremos mais tempo longe um

do outro?

— Sim, precisamos — falei.

— Daqui a alguns meses você fará dezesseis anos, eu

não queria deixar este dia passar em branco. Será que vou

poder te dar um presente? — ele pediu.

— É claro — respondi. — E eu te prometo que vou à sua

formatura do colégio no final do ano. Quem sabe não

podemos passar um tempo juntos nela. O que acha?

Nicolas sorriu.

— Um tempo a sós com você é tudo que mais quero,

Bequinha.

Ele ergueu a mão para acariciar meu rosto, mas desviei.

— Então está combinado. Agora é melhor eu ir, senão

arrumamos mais problemas.


Ele assentiu. E nos despedirmos com o olhar antes de

seguirmos em direções opostas.

MESES DEPOIS

Tinha acabado de acordar, em um dia de feriado, e

quando segui até a cozinha, fui surpreendida pela minha mãe


e seus colegas de trabalho, segurando um bolo enorme de

aniversário.

— Parabéns, Beca! — eles gritaram, e eu tampei a boca,


movida pela surpresa e alegria.

— Caramba, que bolo enorme. Obrigada, gente! — falei,

muito feliz. Minha mãe colocou o bolo em cima da mesa e

acendeu a vela.

— Não vamos cantar parabéns para não fazer barulho,

mas você pode apagar as velas e fazer um perdido, filha —

sugeriu minha mãe.


— Ok — concordei e me aproximei do bolo. Fechei os

olhos e fiz o pedido.

Que Nicolas e eu possamos ficar juntos.

Então apaguei as velas e todos aplaudiram. Assim que


terminou a comemoração, minha mãe me entregou um

presente.

— Obrigada, mãe, não precisava! — falei, segurando o


presente pequeno.

— Comprei com todo carinho, filha. Espero que você

goste.

Sorrindo, abri o presente e a minha alegria foi enorme


ao me deparar com um celular novo.

— Ah, não acredito. Obrigada, mãe, era esse que eu

queria! — exclamei, antes de abraçá-la.

— Eu sei. Economizei e consegui comprar. Use com

cuidado, ok, filha.

— Pode deixar, mamãe — respondi.


Estava toda boba por ter recebido um celular de

presente, o meu já estava bem ruim, os botões já não davam


nem para teclar. Poderia ligar para minhas amigas com mais

frequência e trocar mensagens. Era incrível.

Depois do almoço, minha mãe foi tomar banho e só ficou

os outros empregados cuidando da cozinha. Estava distraída


terminando de comer quando vi Nicolas aparecer na porta e

fazer sinal para mim, como se quisesse falar comigo. Fiquei

muito curiosa para saber o que ele queria.

Segui-o, tentando não ser percebida pelos empregados.

Sempre atenta para ver se não havia ninguém da família

Albuquerque na casa, subi as escadas atrás de Nicolas e logo


adentrei o corredor que dava acesso para os quartos. Vi que

ele entrou no seu quarto e fiz o mesmo. Contudo, assim que

atravessei a porta fui surpreendida por braços rígidos e

fortes, que me colocaram contra ela, então meus lábios foram


esmagados pelo de Nicolas em um beijo apressado e intenso.

Perdi o fôlego e meu coração bateu acelerado. Minhas

mãos suaram e eu não sabia como reagir, esperava tudo

menos ser atacada com um beijo. Nicolas segurou minha nuca


e prensou seu corpo sobre o meu. Tentei reagir, passando os
braços pelo seu pescoço e prendendo os dedos nos fios do seu

cabelo. Ele suspirou em minha boca e senti uma excitação

estranha tomar conta de meu corpo, era como se tudo em mim


estivesse diferente, quente, acelerado e estremecido.

— Feliz aniversário, Beca — murmurou em meus lábios

assim que cessou o beijo. Ainda respirávamos com

dificuldade. Sentia meus lábios inchados.

— Obrigada, Nico — respondi com coração quase

saltando pela boca. — Esse foi meu presente?

Vi seu sorriso se abrir. Ele me olhou com um olhar


sedutor e alegre.

— Não, na verdade, ele foi um presente mais pra mim do

que para você — falou. — Há tempos que estava ansioso para


beijá-la novamente. Vi uma oportunidade e aproveitei.

Ele piscou para mim, galante e cafajeste. Senti minhas


bochechas ruborizarem. Observei-o se distanciar de mim, ir

até sua cama e pegar um presente.


— Pra você, espero que goste. — Ele me entregou o
presente, estava muito curiosa para saber o que era. —
Escolhi com todo cuidado e carinho.

— Tenho certeza de que vou amar — falei antes de


começar a desembrulhá-lo. Meu olhar se iluminou ao ver um

colar com um pingente de coração prateado, lindo, que havia


um anel e brinco combinando. — Uau, Nicolas, eu amei!

Eu realmente tinha adorado, era um colar lindo, cheio de

pedras que pareciam de diamante.

— Eu economizei bastante minha mesada para poder


comprá-lo — respondeu Nicolas.

— É perfeito — sussurrei, admirada. — Mas este

coração tem uma abertura para chave. Cadê ela?

Tirei o colar da caixa para olhar melhor e reparei na


abertura da chave. Nicolas sorriu e segurou o colar que
estava em seu pescoço e eu nem havia notado. Nele continha

uma pequena chave.

— A chave ficará comigo, porque somente eu poderei


abrir e entrar sempre que quiser no seu coração.
Arfei de emoção. Ah, como que queria beijá-lo naquele
momento.

— Esse foi o melhor presente que eu poderia ganhar —


murmurei, emocionada. — Pode colocá-lo em mim?

Nicolas assentiu. Fiquei de costas para ele, coloquei o


cabelo para o lado e entreguei o colar. Senti o frio do metal
tocar minha pele e Nicolas encaixá-lo.

— Ficou linda! — elogiou ele. Me olhei no espelho

ainda emocionada com o presente. — Agora toda vez que


olhar para ele vai se lembrar de mim.

Me virei rapidamente para fitá-lo.

— Como se eu precisasse de um colar para me lembrar

de você. Eu não te esqueço por nenhum segundo sequer, Nico


— confessei e ele me encarou muito sério.

— Eu também, a cada dia fico mais apaixonado por

você, Beca. Eu te amo demais. — Ele deu um passo na minha


direção e segurou meu rosto com as mãos. Fechei os olhos,
sentindo os seus dedos macios contra minha pele. — Meus
pais não estão em casa nem meu irmão. Eles demoraram a
chegar. Você pode ficar comigo nessa tarde?

Seu pedido me deixou sem reação.

— Mas a minha mãe…

— Mande mensagem, fale que você saiu com suas


amigas. Eu quero você só para mim hoje. Por favor,
Bequinha.

Ele beijou brevemente meus lábios e, então, os beijos


desceram para meu pescoço, fazendo com que minha pele se
arrepiasse.

— Tudo bem. Eu também quero muito passar o dia de


hoje com você — falei, decidida, senti seu hálito contra meu

pescoço, até que Nicolas se distanciou, foi até a porta e a


trancou. Senti um frio cobrindo meu estômago, misturado

com a ansiedade, pois imaginava o que estava prestes a


acontecer.

O olhar de Nicolas se tornou mais intenso do que nunca,

ele voltou a se aproximar de mim e, em seguida, tomou meus


lábios para ele.
— Hoje nos tornaremos um só para sempre — ele

murmurou contra meus lábios e eu gemi baixinho. Sem cessar


o beijo, caminhamos até a cama, até que segundos depois
estava deitada sobre ela e o Nicolas por cima de mim,

beijando-me calmamente e sem pressa. Estava nervosa e


coberta pela ansiedade, mas não queria parar, queria saber
como era amar e ser amada por ele, por Nicolas Albuquerque.

Ele colocou minha mão em seu peito e me fez um

pedido.

— Sinta, como ele bate disparado por você. Minha


garota!

Quase chorei de tanta emoção. O momento estava sendo

mais lindo do que imaginava que seria.

— Eu te amo, Nicolas Albuquerque, para sempre —


jurei, olhando em seus olhos esverdeados e brilhantes.

— Para sempre — ele repetiu minhas palavras, depois

disso não conseguimos dizer mais nada, somente gemidos e


grunhidos eram ouvidos.

E nessa noite nos tornamos um só.


Era o dia perfeito, com sol e muito amor, jamais
imaginaríamos que a tempestade estava prestes a chegar,
trazendo o caos junto com ela.
Depois de perder a virgindade, eu tinha muito o que

refletir. Era estranho a sensação de saber que não era mais


pura, que tinha me entregado para um garoto. Eu já havia

pesquisado tanto sobre, conversado muito com as minhas


amigas que eram mais experientes que eu. Tinha que

confessar que meu maior medo era a dor, sabia que era muito
doloroso a primeira vez, e foi, mas Nicolas foi carinhoso e

amoroso, o que fez tudo desaparecer, o medo e,


principalmente, a dor.

— Você gostou? — perguntou ele, estava deitada com a


cabeça em seu peito.

— Sim. Digamos que foi uma experiência avassaladora

— respondi, respirando o cheiro da sua pele. — Você já

havia… Hum… Saído com outra garota antes?

Estava meio sem graça em fazer essa pergunta, mas

minha curiosidade era tanta.

— Por que a pergunta? Eu pareci experiente?

Nicolas sorriu e acariciou meu cabelo. Sentia seu peito

subir e descer embaixo de mim.

— Bem mais experiente que eu, com certeza.

Observei seu rosto e notei um franzir de sobrancelhas

— Que estranho, pois estava tão nervoso, pensei ter sido


até meio desengonçado — falou. — Foi a minha primeira vez

também.
Abri a boca surpresa.

— Mesmo?

Ele assentiu.

— Sim. Isso é um problema? — questionou, ficando

tenso.

— Não, é maravilhoso saber que fui sua primeira, assim

como você foi o meu — murmurei, acariciando seu peito. —


Assim nós poderemos aprender muito mais juntos.

— Claro, você pode me ensinar como gosta… onde gosta


de ser tocada. — Ele deslizou o dedo pela minha clavícula,

fazendo voltas com ele. — Eu quero me tornar um homem

que saiba dar prazer, tanto quanto recebo.

— Bom, confesso que não sei bem onde gosto de ser


tocada… Digo, lá baixo… — Minhas bochechas coraram. —

Mas em outras partes do meu corpo eu gosto muito quando

beija meu pescoço, me deixando arrepiada e quando toca

meus seios.
— E eu amo quando você me beija de uma forma lenta e

apaixonada. Quando arranha minhas costas e passa os dedos


pela minha nuca — revelou ele.

Levei a mão até sua nuca, passando os dedos por ela.


Nicolas arfou.

— Assim?

— Isso… Assim mesmo! — ele grunhiu e, então, voltei a


beijá-lo. — Queria que o tempo parasse agora. — Sua voz

saiu sussurrada e rouca

— Eu também, Nico, eu também…

DIAS DEPOIS

— Você vai contar à sua mãe que não é mais virgem? —


perguntou Cristina, minha melhor amiga. Estava na sua casa,

pois iríamos estudar juntas para uma prova muito importante.


— Acho que não. Tenho um pouco de medo da reação

dela não ser boa.

— Você deveria contar, pois precisa ir a um

ginecologista.

— Não acho necessário, até porque não sou ativa. Só

rolou uma vez entre mim e o Nicolas, depois disso ainda


estamos distantes, às vezes nós nos encontramos escondido,
mas só acontece uns beijos e nada mais.

— Vocês usaram camisinha? — perguntou ela.

— Sim, claro.

— Ah, então tudo bem, mas uma hora ou outra sua mãe
vai precisar saber que você não é mais virgem.

Respirei fundo, suspirando em seguida.

— É que eu sei que ela ficará brava, pois garanti que


ficaria longe de Nicolas. Sabe que somos proibidos um para o

outro.

— Eu sei — retrucou Cristina. — Mas também sei que

levar um relacionamento escondido não dará certo.


— Dará sim, é a nossa única opção.

Cristina pareceu entender nosso dilema.

— Tudo bem. Agora me diga algo — pediu ela, virando-

se para mim. — Você está apaixonada? Faria novamente?

Sorri, soltando um suspiro apaixonado.

— Sim, faria.

— Ah, você e Nicolas são almas gêmeas, feitos um para

o outro.

— Tomara! Tenho tanto medo de dar errado —


confidenciei, sentindo um calafrio me tomar.

— O que pode dar errado? Logo Nicolas será maior de


idade e poderá tomar as próprias decisões.

— Eu sei disso, e é por isso que tenho medo —


confessei, mordiscando o lábio inferior. — Talvez quando ele

tiver sua liberdade pode perceber que tem muito o que curtir
na vida, antes de se atrelar a uma relação séria. Tenho medo
de ele querer viajar, conhecer novos lugares…
— Novas garotas — Cristina me cortou. — Se ele te
ama, ele não vai te deixá-la nunca.

— Deus queira que você tenha razão, amiga —


murmurei, roendo as unhas. — Deus queira.

MUITOS MESES DEPOIS

A formatura de Nicolas aconteceu há poucos dias. A


escola como sempre fez uma celebração para os formados e

eu estava presente. No entanto, não pude curtir esse dia tão

especial com ele, pois seus pais e irmão estavam presentes.

Estava triste, pois não iria mais vê-lo na escola, que era
o único lugar em podíamos conversar sem medo. Mesmo

assim, estava feliz por Nicolas ter concluído os estudos,

assim podendo escolher uma profissão e começar a vida


adulta. Já eu estava longe disso, faltava um tempo ainda para

que eu concluísse meus estudos.


Os dias foram passando após sua formatura e parecia que

a nossa vida continuava a mesma coisa. Entretanto, isso


estava prestes a mudar.

Em um fim de semana, Nicolas me chamou para

conversar escondido no jardim. Eu estava esperando boas


notícias, mas a que tive era a pior da minha vida:

— Meus pais querem que eu faça um intercâmbio nos

Estados Unidos por um ano — contou, no mesmo momento


senti meu mundo desabar.

Quando éramos adolescentes qualquer problema que

acontecia, parecia ser o fim do mundo, e para mim Nicolas

viajar por um ano era horrível, a pior coisa que poderia


acontecer.

— E você quer ir? — perguntei, sentindo meus olhos se

encherem de lágrimas.

— Eu sinto vontade de fazer o intercâmbio, mas quando


penso que vou ficar um ano longe de você, fico triste — ele

confessou. — Vou recusar. Não vou deixá-la.


— Se o intercâmbio for te fazer ter uma experiência

nova, você precisa ir. Não fique por mim, Nicolas. Vá, pode

ir!

Senti um embrulho no estômago por permitir sua ida,


sem querer que ele fosse, mas não podia ser egoísta.

— Eu não vou, não quero ficar longe de você, Beca.

Ele segurou meu rosto e beijou rapidamente minha boca.

— Não quero ficar te prendendo, Nico. Você precisa

curtir sua vida, somos jovens e um ano passa rápido —

murmurei. — Pense no que realmente quer.

— Eu realmente quero você, garota.

Ele beijou minha testa após a afirmação.

— Eu também te quero. Mas cada vez mais me incomoda

nosso relacionamento escondido. Saber que se seus pais


descobrirem sobre nós, tudo pode acabar de uma maneira

trágica.

— Já se passou um tempo desde que meus pais proibiram

nosso envolvimento. Pode ser que agora eles permitam.


— O preconceito nunca vai deixar que eles permitam

nossa relação. Sinto muito — sussurrei. — Agora tenho que


ir ajudar minha mãe na cozinha.

Nicolas agarrou minha cintura como se não quisesse me

soltar mais.

— Eu só deixo você ir se me prometer que vai passar no

meu quarto à noite, quando todos já estiverem dormindo. Eu

estou com saudades de você, Beca. Preciso de um tempo a

sós com a minha namorada. — Ele beijou meu queixo e


mordeu em seguida, descobri no mesmo instante o que ele

queria.

— Tudo bem, eu vou!

Nicolas sorriu satisfeito e me beijou novamente.

Eram 03h quando deixei o quarto de Nicolas, antes que

acabasse pegando no sono na sua cama. Nós conseguimos nos


divertir juntos por algumas horas. Andei descalça pelo

corredor e desci as escadas no escuro, segurando no

parapeito para não cair. Quando pisei no chão da sala, tomei

um baita susto, pois as luzes foram ligadas. A mãe de


Nicolas apareceu, no meio da sala, olhando-me de braços

cruzados e olhar feroz. Me tremi toda de medo.

— Senhora Vitória, eu posso explicar…

— Nem tente, menina. Eu já sei de tudo, sobre você e

meu filho — resmungou ela, fuzilando-me com o olhar. — Eu

não sou tola a ponto de não perceber os olhares de vocês na

cerimônia de formatura de Nicolas. Quando vi a forma que


vocês ainda estavam se olhando eu percebi tudo e

investiguei. Vi vocês pela câmera no jardim se beijando e sei

que você estava agorinha no quarto dele.

Respirei fundo e mesmo tudo em mim me mandando

recuar, a encarei mesmo com medo.

— Sim, não vou mentir mais. Nicolas e eu estamos


juntos, nós nos amamos e nada vai mudar isso.
Vitória aguçou o olhar para meu lado e sorriu com

frieza. Seu sorriso me dava calafrios.

— Bem, eu tentei ser justa e boa com você e sua mãe,

perdoando o primeiro erro. Mas você insiste em me desafiar,

menina, então vamos ver quem vai ganhar esse jogo por fim.

Sua ameaça me deixou amedrontada.

— Vai demitir a minha mãe? — questionei, piscando

apavorada. Ela estalou a língua e caminhou até mim, com

passos lentos e torturantes. Abracei o meu próprio corpo.

— Não. Confesso que essa foi a primeira ideia que me

veio à mente, mas pensei muito bem e percebi que meu filho

gosta mesmo de você. Acredito que deva ter sido a primeira


menina que ele levou para cama. — Senti minhas bochechas

corarem sob seu olhar julgador. — Eu realmente a acho linda.

E acredito que se você tivesse nascido em uma família boa,

como a nossa, poderia até te achar a nora perfeita. Portanto,


eu estou disposta a ceder, vou permitir o namoro de vocês.

Meu olhar se iluminou, quase não acreditei no que tinha

acabado de ouvir.
— Nicolas e eu poderemos ficar juntos então?

— Sim, vocês podem — respondeu Vitória. — Mas com

uma condição.

Estava tudo bom demais para ser verdade.

— Qual condição? — perguntei, sentindo um gosto

amargo na boca.

— Que você permita que ele faça o intercâmbio nos


Estados Unidos. Eu sempre sonhei com isso para meu filho,

que ele tivesse muitas oportunidades assim como seu irmão

teve. Ele deseja abrir mão de viajar por você, o que é uma

lástima. Contudo, se vocês quiserem namorar é essa minha


condição.

— Depois que ele voltar do intercâmbio poderemos ficar


juntos? — perguntei, tristemente, e ela assentiu.

— Poderão fazer o que quiser que não vou me importar.


Eu juro, querida. Por tudo que é mais sagrado.

Vitória segurou minha mão e me olhou de uma forma


amável, mas eu sabia que por trás daquele olhar tinha muita
raiva.

— Tudo bem. Eu vou conversar com Nicolas e pedir para

que ele vá, e explicar toda essa situação.

— Ótimo. Porque se ele não for, você e sua mãe já


podem procurar outro lugar para morar — bradou Vitória,

mudando totalmente sua postura de angelical para víbora. Ela


caminhou até as escadas e começou a subi-la.

Fiquei totalmente em choque, sem acreditar no que tinha


acabado de acontecer. Senti tudo em mim, desmoronar. Não

sabia se Vitória estava sendo sincera na parte em que disse


que permitiria meu namoro com Nicolas se ele viajasse, mas
temia que ela estivesse apenas mentindo para mim.

Entretanto, não tinha outra opção a não ser em confiar na


palavra da víbora, que jurou diante de mim que cumpriria o

acordo.

Baseada nisso, na expectativa e esperança, conversei


com Nicolas logo cedo, quando acordei. Expliquei a ele tudo

que havia acontecido, a proposta da sua mãe, e insisti para


que ele viajasse para podermos ficar juntos. Ele não queria
me deixar e foi difícil convencê-lo, mas, por fim, ele aceitou.

— Tudo bem, Beca. Eu vou fazer intercâmbio por nós.


Se é a única forma de ficarmos juntos, eu vou fazê-lo.

Assenti aliviada e o abracei.

— Um ano passa muito rápido, você vai ver. E


poderemos nos falar por ligação todos os dias.

— Sim — ele concordou. — Prometa que vai me ligar

todos os dias — Nicolas pediu. Olhei em seus olhos e


respondi:

— Prometo!

Depois de tomar a decisão, a mãe de Nicolas já comprou

sua passagem de ida. Ela fez com que tudo acontecesse o


mais rápido possível. Dois dias depois, eu vi meu melhor
amigo, e namorado, partir para fora do país. Me deixando

com um coração saudoso e amedrontado.

Ainda bem que ainda tinha a esperança de que tudo daria

certo apesar de não o ter mais por perto para me defender. No


entanto, minha esperança morreu horas depois de sua partida.
Sua mãe resolveu transformar minha vida em um inferno

particular.
Horas depois da partida de Nicolas, dona Vitória e seu

marido chamaram minha mãe e eu para uma conversa. Na


hora, fiquei curiosa e morrendo de medo do que eles tinham

para falar.

— Nos chamou, senhora Albuquerque? — minha mãe

perguntou, após entrar no escritório do patrão ao meu lado.


— Sim, Joana — Vitória falou com a voz amarga. — Não

sei se está sabendo, mas sua filha e o meu filho reataram o


namoro.

O queixo da minha mãe se abriu em choque. Ela me


olhou brava. Meus ombros instantemente se encolheram e

fitei o chão.

— Não estava sabendo disso, senhora — respondeu

minha mãe, até gaguejando de nervosismo.

— Você quer mesmo que acreditemos que você não

sabia? — Foi a vez do senhor Rafael se pronunciar. Sua voz


me causou calafrios, era rude e grossa.

— Eu não tenho motivos para mentir. Nunca faria algo


que colocasse meu emprego em risco.

— Mas a sua filha fez por você — retrucou Vitória,


ríspida. Eu não precisava olhar na cara da minha mãe para

saber que estava envergonhada e decepcionada comigo. — E

por essa falha sua e da sua filha, conversei com meu marido

e achamos melhor demiti-la.

O quê?
Fiquei boquiaberta, me sentindo ultrajada.

— Você não pode fazer isso, sua bruxa! Nosso trato era

você nos deixar em paz se eu convencesse Nicolas a viajar!


— gritei, ficando fora de mim, tomada pela raiva. Vitória riu.

— Você acreditou mesmo nisso, pequena imbecil? —

vociferou Vitória. — Nunca permitiria esse namoro, até

porque sei que isso é fogo de palha. Era óbvio que meu filho
só queria se divertir com você. Ele é um garoto inocente e

nunca tinha saído com uma menina antes, e como você se

mostrava fácil e vulgar, obviamente ele a usou para satisfazer

sua curiosidade e a iludiu. Não percebe isso?

As lágrimas escorriam pelo meu rosto. Estava me

sentindo mal e humilhada.

— Você está mentindo! Está fazendo isso com propósito

de nos separar, mas isso não vai adiantar! — berrei, sentindo

meu rosto esquentar ao ver os dois rindo da minha cara.

— O que a senhora quis dizer com Nicolas usando minha

filha para satisfazê-lo? — questionou minha mãe, confusa.


Estava tão tomada pela raiva que mal me lembrei de que ela

estava ouvindo todas as atrocidades proferidas pela Vitória.

— O que acha? É óbvio que sua filha abriu as pernas

para o meu filho. Eu já imaginava que ela faria isso, só


espero que não seja baixa o suficiente para ter engravidado

dele. Porque se tiver sido, ela estará ferrada!

Minha mãe ficou pálida, ela me olhou com os olhos


esbugalhados.

— Não pode ser…

— Claro que pode. Você está criando uma mulher da

vida, Joana. Deveria ensiná-la modos e a não se entregar para


o primeiro garoto que aparece! — respondeu Rafael, me
deixando enjoada.

— Vocês são uns monstros. Como pode Nico ser filho de


vocês... não entendo — murmurei, sem forças para gritar.

Eles reviraram os olhos.

— Já chega de lamúrias, menina. Sua sorte é que ainda é


jovem e tem muito o que aprender — rebateu Vitória, sem

paciência. — Vamos direto ao ponto. Joana você está


demitida, porém, vai ficar mais esse mês aqui, até eu

encontrar uma cozinheira à nossa altura. E como sou uma


pessoa caridosa, além de acertar seus dias trabalhados e fazer

tudo como manda a lei, vou dar uma boa grana para você. Um
bom dinheiro que te fará conseguir dar entrada em uma

casinha em uma cidade interiorana. Vou cuidar para que


arrume um bom emprego, em uma casa de família íntegra e
de moral como a nossa, mas somente com uma condição.

— Qual? — perguntou minha mãe em um fio de voz. Ela


parecia estar à beira de cair em prantos. Não sei o que faria

se a visse chorar. Minha mãe era tão forte, quase nunca se


deixava abater, vê-la dessa forma frágil me deixava péssima.

— Sua filha não pode mais entrar em contato com o meu

filho. Peço que ela exclua o número dele e se esqueça de


nosso endereço. Se eu souber que ela o procurou de alguma

forma eu farei com que a vida de vocês virem um perfeito


tormento.

Minha mãe fechou os olhos, parecendo refletir


— Essa escolha não é minha, mas, sim, de minha filha —
minha mãe falou após reabrir os olhos e me olhar. — Vamos,
Beca, escolha. Se quiser lutar pelo seu amor eu a apoiarei,

apesar de tudo.

Pisquei surpresa, não esperava por isso. Minha mãe

provou que me amava e respeitava minhas escolhas naquele


momento.

— Eu escolho você, mãe. Nossa família — respondi,

sincera. Eu amava Nicolas com todo meu coração, mas se


lutar por nosso amor significava colocar a mim e minha mãe

em risco, eu preferia lutar para esquecê-lo. Minha mãe era a


pessoa mais importante do mundo para mim e sempre seria.

Eu errei em mentir para ela e precisava compensar meu erro.


— Eu topo tudo que vocês quiserem, desde que prometam não
fazer nada contra minha mãe.

Rafael e Vitória se entreolharam, parecendo vencidos.

— Ótimo. Então todos os dias desse mês eu vou

supervisionar as mensagens que você enviará ao meu filho. E


quando vocês forem embora, vamos inventar uma boa
desculpa que justifique você ter parado de as enviar.

Assenti a contragosto.

— Agora podem ir — mandou Rafael.

— Sim, senhor — falou minha mãe e saiu. Segui-a

desesperada para falar com ela. Parei em sua frente e a

abracei, mesmo ela não retribuindo o abraço.

— Me desculpa, me desculpa, me desculpa — repeti três

vezes como mantra. Ela acariciou meu cabelo.

— Tudo bem, querida. Me desculpa também, nunca


desejei que você passasse por algo assim. Se eu soubesse,

nunca teria aceitado esse trabalho…

— Eu não deveria ter mentido para a senhora. — Olhei


seu rosto. Ela engoliu em seco segurando as lágrimas.

— Não deveria, mas agora é tarde demais para lamentar

— murmurou, seca. — Agora vamos, você precisa tomar um

banho e se acalmar.

Assenti e descemos juntas para o andar de baixo.


Semanas depois, eu não conseguia nem levantar direito
da cama. Estava tão desanimada que não sentia vontade de

fazer nada. Acabei faltando vários dias na escola, não estava

nem aí, porque de qualquer jeito eu seria transferida dela.

Estava morrendo de vontade de falar tudo para Nicolas e


pedir ajuda, mas não podia.

Sua mãe todos os dias monitorava nossa conversa. Eu só

podia mandar uma ou duas mensagens para ele saber que


estava tudo bem. Não sabia como ele não achava estranho,

pois Nicolas mandava várias mensagens contando as histórias

do que estava vivendo nos EUA e eu só conseguia responder:


“legal”, “bacana” ou algo assim. E ele sempre perguntava se

estava tudo bem por aqui e eu era obrigada a mentir, dizendo

que sim.

Pelas histórias que me contava, ele estava parecendo


curtir muito sua viagem. Pensava se sentia saudades de mim
tanto quanto eu sentia dele. Na verdade, eu me sentia uma

boba, sofrendo, enquanto ele curtia seus dias sem

preocupação. Não que eu desejasse sua tristeza, mas queria


tanto que ele notasse que eu estava sofrendo, que não estava

tudo bem como eu dizia.

— Oi, querida. — Estava deitada na cama quando

escutei a voz maldita de Vitória. — Vim lhe trazer notícias


sobre Nicolas.

No mesmo instante, me sentei na cama curiosa. Eu não

queria olhar a cara de Vitória, eu a desprezava, no entanto, se


ela tinha algo para falar sobre Nicolas eu queria saber.

— Aconteceu alguma coisa com ele?

— Aconteceu sim. Ele está curtindo muito a viagem,

acredita? — Ela sempre estava com um sorriso cínico no


rosto. Que raiva! — Olhe só as fotos que ele me mandou no

computador.

Havia várias fotos dele em um campo de futebol


americano, com uma garota ao seu lado. Eles estavam muito

próximos e sorrindo.
Fiquei sem reação

— Ele já fez várias amigas como pode notar — alfinetou


Vitória. Senti o mesmo que uma facada no peito. — Sabe,

querida. Nicolas gosta muito de você, para ter coragem de te

falar o que ele me disse.

Meu cenho se franziu.

— O que ele te disse?

Vitória mudou de expressão rapidamente. Ela tinha um

dom natural para a atuação.

— Disse que deseja ficar mais tempo no intercâmbio. E

que ele se encontrou realmente lá nos Estados Unidos. Até

conheceu essa garota da foto que está mexendo com seus


sentimentos, mas ele está triste sem saber como te dizer isso,

que não está pronto para continuar o relacionamento de

vocês.

— E por que acha que acreditaria em você? Se tudo que


sabe fazer é mentir? — questionei, sentindo meu coração

partido.
— Dessa vez não estou mentindo. Pergunte se ele está

gostando do intercâmbio. Você já deve ter notado que está

sendo uma experiência incrível para Nicolas.

Abaixei a cabeça, sentindo-me entristecer, pois, no


fundo, eu já estava sentindo isso que ela falou.

— Me prove que ele falou mesmo isso. Me mostre as

mensagens! — ordenei, entredentes. Vitória suspirou,


revirando os olhos.

— Me siga. Elas estão no computador.

Eu não esperava que ela fosse realmente me mostrar.

Segui-a com um medo de ser verdade. Chegando lá em seu


quarto ela mostrou as mensagens de Nicolas. Eu li palavra

por palavra sem acreditar. Minha ficha demorou a cair.

— Agora acredita em mim? — perguntou Vitória, com ar


de sarcasmo.

— Parabéns, dona Vitória. A senhora conseguiu o que

queria — soltei em um fio de voz. Ela sorriu contente


— E nem precisei me esforçar. No fim, o amor do meu

filho por você não era tão grande a ponto de resistir ao tempo
distante. Ele logo se esqueceu de você, te abandonou, trocou

por outra. Te rejeitou!

Era como se um buraco fosse aberto no meu peito. Eu

sentia vontade de desmoronar ali, na frente da víbora.

— Pois é. Eu acreditei que ele me amava. Sou uma tola.

— Não, imagina, você não é tola, só é jovem demais

igual ao Nicolas. Vocês têm muito para viver e aprender


ainda. Espero que com o passar do ano consiga um amor de

verdade, de preferência de um homem do seu mesmo nível

social. Vou torcer por você.

Fitei Vitória sentindo a fúria me tomar. Cerrei os

punhos, querendo avançar sobre ela como uma selvagem e

acabar com seu rosto falso, mas respirei fundo e decidi não

me igualar a ela.

— E eu espero que você nunca tenha que sentir a dor que

está me fazendo passar. Apesar de que eu saiba que vá, pois

uma hora ou outra vai pagar por toda essa maldade que está
fazendo comigo. Porque esse mundo vive girando, todos nós
colhemos o que plantamos, e você, dona Vitória, tem um

jardim enorme nessa mansão onde todas as suas maldades

estão plantadas, por isso que tenho até pena quando tiver que
colher uma por uma.

Seu sorriso cínico morreu e seus olhos ficaram

avermelhados pelo ódio

— Saia, menina! Nunca mais quero vê-la e sua mãe,

aquela cozinheira imunda! — ela rugiu, com fúria

— Digo o mesmo à senhora!

Saí do escritório plena. Mesmo que por dentro eu


estivesse em ruína.

Eu jurei para mim mesma daquele dia em diante que


nunca mais colocaria os pés naquela mansão, do mesmo jeito

que nunca mais daria meu coração a alguém de bandeja para


que pudesse estraçalhá-lo.
15 ANOS DEPOIS

Tomei um gole de vinho enquanto sentia os lábios

carnudos e avermelhados da mulher loira beijar meu peitoral


e lamber meu torço, descendo até o bíceps. Segurei seu

cabelo com a mão livre enquanto a outra ainda mantinha a


taça com vinho branco. Puxei de leve seu cabelo para fazê-la

em olhar, queria a instruir para o que desejava.

— O você quer, doutor? — Ela piscou os grandes cílios,

lambendo a boca de forma lenta e excitante.

— Sua boca gostosa ao meu redor.

Ela sorriu, como uma puta safada, antes de inclinar a

cabeça e começar a chupar meu pau com um requinte


torturante. Engoli um arfado e minha cabeça tombou para

trás, enquanto meu corpo era tomado por um prazer insano.

Segurei mais firmemente com a mão em seu cabelo,


empurrando sua cabeça para baixo, enquanto movia o quadril

para cima, fazendo-a me engolir todo, chegando a engasgar.

Os movimentos eram precisos, o suor começou a escorrer

pelo meu pescoço. Senti meu alívio próximo, então fiz com
que a moça parasse seus movimentos e me levantei em

seguida, ficando em frente a ela que estava de joelhos.

Segurei a taça de vinho e virei a bebida em um gole só, antes

de começar eu mesmo a me masturbar, com a cabeça do pau

encostada na boca da mulher, que mantinha a língua nele,

esperando ansiosa pela minha porra.


— Vou encher essa sua boca gulosa de porra, sua puta
safada! — grunhi, sentindo meu corpo trêmulo.

— Isso, doutor Nicolas. Me dê seu leite na boca!

Bastou a sacanagem sair da boca da mulher para eu

gozar na sua boca, fazendo jatos de esperma melarem seus

seios fartos. Por fim, ela me olhou com desejo e passou os

dedos pelo esperma, chupando gota a gota à minha frente. A


loira, que mal me recordava o nome, era safada como eu

gostava e, deliciosamente, linda. E, com certeza, sabia usar a

boca para algo além de falar bobagens.

Não tinha mais nada que eu gostava do que um orgasmo

forte e delicioso depois de um dia inteiro de trabalho árduo.

— No que mais posso satisfazê-lo? Doutor…

A mulher ficou de pé, veio até mim e tentou me tocar

outra vez, mas me esquivei.

— Você ir embora iria me satisfazer muito.

— O quê? — Ela me olhou insultada. — Achei que

passaríamos a noite juntos.


— Isso, com certeza, nunca irá acontecer, linda! —

respondi, sincero e um tanto cafajeste. Fui até o bar e enchi


novamente minha taça de vinho. — Eu não durmo com transa

de uma noite.

— Você parecia ser mais legal quando desejava me

comer — rebateu a mulher na defensiva, curta e grossa. —


Agora que conseguiu, acha que pode me descartar?

— Eu te disse que seria apenas um sexo casual, dear!

Fitei-a sem demonstrar emoções. A loira me olhou,


espumando de raiva.

— Eu achei que você tinha gostado do meu


desempenho...

— E gostei, no entanto, um fato não elimina o outro —


disse em tom simpático. Bebi mais um pouco de vinho e
peguei meu celular para avisar meu motorista para levá-la. —

Vou pedir para meu motorista levá-la para sua casa, ou deixá-
la em qualquer lugar que lhe convir.

— Certo. Nicolas Albuquerque. Apesar de te odiar nesse

momento, não vou dizer que foi um erro, pois amei passar
essas horas transando com você. Foi incrível.

Ela colocou a mão na cintura, e seu tom de voz dessa


vez saiu mais baixo. Sorri com satisfação.

— Fico feliz que tenha o agradado. Quem sabe não


remarcamos, não é?

Arqueei a sobrancelha e passei o olhar mais uma vez


pelo seu corpo.

— Quem sabe, não é?

Ela piscou para mim e caminhou até a porta.

— Tenha uma boa noite, loirinha!

— Você também, doutor do pau enorme! — retrucou, me


fazendo gargalhar.

Enfim, sozinho, eu aproveitei para tomar um banho


demorado na minha hidromassagem, enquanto bebia vinho e

mexia no meu notebook. Minha vida se resumia a isso.


Trabalho, mais trabalho, e sexo para aliviar a tensão do dia a
dia. Às vezes, eu ia a eventos e festas, revia amigos e me
divertia. No entanto, era bem raro este tipo de coisa
acontecer.

Aos trinta e três anos eu estava vivendo uma fase boa.


Amava meu trabalho e comer bocetas diferentes todos os
dias. Não era casado e nem pretendia ser. Não tinha filhos,

somente afilhada e sobrinhos. E para fechar com chave de


ouro, era um dos cirurgiões plásticos mais renomados do

Brasil.

Para mim, não havia melhor vida que essa. Sem


preocupações a não ser comigo mesmo. Sem o peso de um

amor que poderia me destruir outra vez.

— Já encontrou uma nova recepcionista para te


substituir, Lara? — perguntei a minha, nesse momento, ex-

recepcionista, pois ela sairia do emprego, porque se casou e


se mudaria de cidade com o marido.
— Estou quase lá, doutor. Pode ficar tranquilo que estou
cuidando disso.

— Ótimo. É uma pena que não poderá continuar mais


sendo minha funcionária. Que pena. Gostava muito do seu
trabalho!

Ela sorriu agradecida

— Eu também adorava trabalhar com o senhor, vou


sentir falta — respondeu. — Está quase no seu horário de

almoço. O senhor já sabe o que deseja comer?

— Pode ser um delivery qualquer. Hoje estou ansioso


para me entupir de batata frita e coisas gordurosas.

Ela riu da minha piada.

— Quero chegar à sua idade, doutor, com o seu


metabolismo!

— Então treine muito igual eu, Lara, que você vai

conseguir! — Sorri e andei em direção à minha sala. — Vou

focar no trabalho agora, então não me passe nenhuma


ligação!
— Pode deixar!

Estava terminando alguns trabalhos quando a minha

recepcionista adentrou a sala sem pedir permissão. Ela estava

eufórica.

— Doutor, sei que havia me pedido para não deixar


ninguém o incomodar, mas temo em dizer que…

— Não precisa se explicar, Lara. Meu filho já me

conhece bem a ponto de saber que adoro chegar em horários


inoportunos — falou minha mãe, atraindo minha atenção. Ela

passou pela minha secretária em passos delicados e se sentou

na poltrona em frente à minha mesa, cruzando as pernas em


seguida. — Olá, filho. Vim fazer-lhe uma visitinha.

— No meu trabalho? — Lançei-lhe um olhar repressor e,

então, fitei minha recepcionista. — Pode ir, Lara, está tudo

bem.
— Ok, com licença, senhor Albuquerque.

A recepcionista fechou a porta após sair. Assim que

ficamos sozinhos, repreendi minha mãe:

— O que pensa que está fazendo, mãe? Já falei mil vezes

para não chegar ao meu consultório dessa forma.

— Se você permitisse minha entrada eu garanto que não

precisaria fazer estardalhaço, filho querido.

Ela sorriu cinicamente. Bufei furioso e parei o que

estava fazendo, pois já havia perdido toda a concentração.

— Mesmo tendo proibido sua entrada, suas visitas são

constantes. Sorte a sua que é a minha mãe, senão os


seguranças a mandariam para rua de uma forma nada

elegante.

Ela revirou os olhos.

— Desta vez eu vim por um motivo importante. Haverá

um evento em nossa casa para comemorarmos o nascimento

de Felipe. Terá os membros mais nobres da nossa sociedade,


é uma boa oportunidade para você conhecer uma boa mulher
de uma família importante, querido filho, porque

convenhamos que já está na hora de se casar.

Sorri, com sarcasmo.

— Se acha que vou lhe dar oportunidade de ficar me

apresentando a um monte de moças tão bonitas quanto


entediantes, mãe, a senhora está enganada. Vou ao evento,

porque é uma comemoração do nascimento do meu sobrinho,

mas não ficarei por muito tempo.

Observei seu sorriso morrer. Ela fechou a cara no mesmo


instante.

— As moças que te apresento são lindas e jovens

perfeitas para serem sua esposa.

— Desculpe, mãe, como sabe que são perfeitas? Por

acaso é você que vai trepar com elas todos os dias e conviver

com essas mulheres tão raras?

Arqueei a sobrancelha, vendo-a me olhar ultrajada.

— Caramba, você está cada vez mais rude, meu filho.

Cadê o jovem romântico que criei e que desejava se casar?


— Aquele jovem ficou no passado, junto com seu

coração partido — retruquei sem paciência. — Eu já fui um

garoto apaixonado um dia. Um menino inocente de 17 anos

que acreditava no amor verdadeiro e no casamento, mas isso


mudou depois que, bom, você sabe o quê.

Semicerrei o olhar e ela soprou pela boca, antes de se

levantar.

— Bem, eu realmente detesto quando toca nesse assunto

e você sabe bem. Deixe o passado onde está, siga em frente,

filho. Como você bem disse, você era um menino inocente de

17 anos, há quinze anos. Você já deveria ter superado aquele


terrível acontecimento.

— Eu não pareço ter superado, mãe? — Abri um sorriso

presunçoso.

— Na verdade, não. Visto que tem horror da palavra

casamento.

— Por que quer tanto me ver casado, afinal? —

questionei, impaciente. — Se solteiro estou muito mais feliz.


— Porque quero ser avó, e ter mais uma nora para me

fazer companhia.

— Será apenas mais uma nora para odiar a senhora. Ou

acha que Brianna, a sua nora mais querida, gosta de você? —

debochei. — Vá por mim, ela finge simpatia para manter a

paz entre as famílias.

As bochechas de minha mãe ficaram avermelhadas de

raiva

— Você não sabe o que diz. Brianna me adora assim


como eu a adoro!

— Aham. Certo, mãe.

Estava ansioso para dar um basta nesse assunto.

— Bom, é melhor eu me retirar antes que nossa conversa

termine em discussão. Te vejo à noite, filho!

— Tenha um bom dia — respondi e suspirei aliviado ao

vê-la partir.

Minha mãe sempre foi uma mulher complicada, que não

aceitava não ter tudo o que almejava. Sua personalidade às


vezes me irritava tanto, que não conseguia trocar mais que
três palavras com ela. Quando mais jovem pensava que talvez

com o tempo ela mudasse, mas como era óbvio, não foi o que

ocorreu.

Sozinho na sala, me levantei e fui pegar uma bebida no

frigobar. Eu tinha o péssimo hábito de beber para aliviar a

tensão, ou os pensamentos infortúnios que se passavam em

minha mente. O álcool era uma válvula de escape para mim.


Um vício e um problema.

Olhei a vista da minha janela e comecei a me lembrar do

passado, de quinze anos atrás. Senti um aperto no peito ao


me lembrar de um dos dias mais terríveis da minha vida. De

quando cheguei da minha viagem de intercâmbio, ansioso


para reencontrar Rebecca, a garota que foi minha melhor

amiga e namorada no passado. No entanto, quando cheguei ao


Brasil descobri que ela e sua mãe haviam ido embora, sem
motivos aparentes. Pelo que minha mãe me falou, Joana, sua

mãe, havia conhecido um homem e resolveu mudar de cidade


para se casar, sendo assim levou Beca junto. Eu fiquei
revoltado, pois fazia meses que tentava falar com Beca e não
obtinha resposta. Achava estranho, mas meus pais sempre me
falavam que ela estava ocupada com serviços de casa e o
colégio. Eu, todo inocente, acreditava.

Eu só queria saber o que tinha acontecido para Beca ir


embora sem ao menos se despedir, sem dizer tchau. Na época,

sofri muito por conta da saudade e raiva que fiquei dela, por
me abandonar daquela forma cruel, mas depois que os anos

foram se passando, cresci e amadureci, consegui entender que


éramos jovens e imaturos demais para lidar com a distância
um do outro. E se tivéssemos ficados juntos naquela época,

talvez, o nosso relacionamento desse certo. Mesmo assim,


ainda havia algo em mim que desejava desvendar o passado e
uma curiosidade que me atormentava todos os dias: o desejo

de saber como que ela estava nos dias atuais. Ela teria
casado? Teria mudado muito? Qual profissão Beca tinha?

Ou será que não tinha nenhuma?

Tinha várias curiosidades que queria descobrir, mas,

certamente, nunca mais a encontraria na vida. As chances de


um reencontro depois de quinze anos eram quase nulas.
Bem, isso era o que eu achava...
A lágrima saiu de meu olho e escolheu pelo meu rosto, à

medida que via minha mãe ser enterrada. Eu não conseguia


parar de pensar que parte de mim havia partido junto com

ela. Estava despedaçada por dentro, dilacerada. Assim que a


terra cobriu todo o caixão, eu entrei em desespero, pois sabia

que era o último dia que veria o rosto de minha mãe. Ela foi
uma lutadora, uma mulher valente que lutou bravamente

contra o câncer, mas, no fim, Deus decidiu que era a hora de


ela se juntar a ele.

Segurei firmemente a rosa branca, antes de me


aproximar do túmulo da minha mãe e jogá-la nele. Estava

tentando ser forte e não queria me deixar desmanchar em

lágrimas na frente das pessoas, parentes e amigos da nossa


família. Mas sabia que ao chegar em casa sentiria meu mundo

desabar e parte de mim seria consumida por uma solidão

devastadora.

Senti um braço forte rodear minha cintura por trás


tentando me amparar. Eram os braços de João Miguel, meu
marido.

— Chegou a hora de irmos, amor — ele murmurou em


meu ouvido.

— Não consigo me despedir dela. Simplesmente não sei

como lidar com o fato de que nunca mais vou vê-la…

— Você precisa ser forte, Rebecca. Estou aqui com você,

amor.
Me virei para fitar o rosto do meu marido, que me
olhava com ternura. Sua barba estava maior do que de

costume, as bolsas dos olhos inchadas, dando sinal que havia

dormido mal. O cabelo castanho um pouco encaracolado

estava curto. Ele tentava me passar conforto naquele

momento, mas não obteve êxito.

— Sua presença nesse momento, marido, me deixa muito

melhor. — Abri um sorriso amarelo que mostrou tudo que

minha boca não conseguia dizer e, então, saí de perto dele,


marchei em direção à saída, torcendo para que esse dia

acabasse o mais rápido possível.

Alguns dias depois, ainda estava de luto, mas não podia

deixar de trabalhar. Eu era recepcionista de um consultório

psiquiátrico na cidade de Rio Preto. Trabalhava durante a

tarde toda e ia para casa só à noite. Já meu marido, João

Miguel, era motorista de uma família rica da cidade.


Atualmente, ele estava procurando um emprego em outra

cidade, pois queríamos mudar, ir em busca de novas


oportunidades, mas a verdade era que achava que fazendo

isso esqueceria a morte da minha mãe. Talvez respirando um


novo ar, morando em uma cidade diferente iria conseguir
superar melhor seu falecimento.

Há sete anos, eu conheci João Miguel por acaso em uma


festa de aniversário de uma amiga em comum. Fomos

apresentados e começamos a conversar por um tempo, mesmo


após a festa, depois saímos algumas vezes e, aos poucos,

criamos uma relação amorosa. Demorei muito dar uma chance


a ele de fato, após muita insistência de sua parte, aceitei

namorá-lo. Um ano depois, nós nos juntamos. Não nos


casamos no papel, mas vivemos como marido e mulher. E
ainda estamos juntos.

Minha mãe sempre disse que um casamento feliz


precisava de sacrifício de ambas as partes. Que não adiantava
só uma pessoa ceder, as duas tinham que lutar juntas para a

relação não se desgastar. Bem, eu vinha lutando pela minha


relação com João Miguel há um bom tempo. Digamos que não
conseguimos entrar em acordo de jeito nenhum. Ele era um

bom marido, às vezes, quando me ajudava e cuidava de mim,


no entanto, ultimamente era difícil conviver com ele. A

verdade era que já estamos cansados, desgastados da rotina e


do trabalho. Toda vez que entrava em casa, só queria dormir,

mas meu marido precisava de alívio? Sexo? E eu


simplesmente não conseguia ficar molhada? Minha libido me
traía, ao perceber que aquele homem que dividia a cama

comigo há anos, não era mais desejável e nem me despertava


paixão.

Era isso que sentia. Ficava mais seca que o deserto nas
raras vezes que me tocava. Entretanto, apenas fechava os

olhos, abria as pernas e deixava-o saciar sua vontade e


desejo, para assim sentir que cumpri meu papel como esposa.
Pois da última vez que descobri uma traição sua, tive que

ouvir da sua boca que um marido quando não tinha seus


desejos saciados em casa, procurava na rua, resolvi

simplesmente me entregar ao fardo e assim não me sentiria


culpada caso essa relação chegasse ao fim.
— O que fez para o jantar hoje, Rebecca? Estou faminto!
— falou João Miguel ao chegar do trabalho. Estava
terminando o jantar.

— Macarrão com salsicha — respondi, limpando a mão


com o guardanapo após lavá-la. Me virei para olhá-lo.

— Sério? — Ele me fitou com olhar ultrajado. — O que


aconteceu com a carne que comprei para o mês?

— Acabou já. Precisamos comer o que tem — falei, sem


paciência, e não ousei olhá-lo, mas percebi que ele deu a
volta no balcão da cozinha, senti-me estremecer por

completo.

— Eu não vou comer essa porcaria. Eu não trabalho o


dia todo e fico exausto para você me fazer apenas um mísero

macarrão com salsicha. Escutou!? — berrou, me fazendo


tremer. Meu coração disparou e um frio gélido preencheu

meu estômago. — Não vai me responder, Rebecca? Por acaso


é surda ou quer levar um tapa para ver se escuta melhor.

Sua voz me dava calafrios. Eu virei meu rosto na sua


direção, sentindo meus olhos se encheram de lágrimas.
— Es... cu... tei! — gaguejei, nervosa. Seu olhar estava
avermelhado e seu sorriso frio. Odiava quando ele chegava
em casa dessa forma. Sempre acontecia algo ruim, que

acabava comigo. — Vou comer o macarrão sozinha então.

— Você está debochando de mim, Rebecca? — Seu olhar

se tornou mais afiado, a voz grossa estrondou a cozinha. —

Não me olhe assim, mulher, como se estivesse com medo de


mim…

— João, por favor — soprei em um sussurro.

— Cale a boca. — Ele apontou o dedo na minha cara. —


Estou cansado de trabalhar para sustentar a casa e ainda ter

que aturar você debochando de mim! Quer saber, se quer

comer a droga desse seu macarrão então coma!

Dito isso, ele pegou a panela com macarrão e a atirou

contra o chão. Tampei a boca com a mão para não gritar. Meu

corpo gelou na hora que vi a sujeira no piso da cozinha. Um

desperdício. Todo o macarrão que fiz com carinho espalhando


pelo chão.
Me deixei cair no chão de joelhos, completamente em

choque.

— Agora é melhor você comer esse seu macarrão

horrível, senão vai dormir com fome! — esbravejou ele.

— Por que está fazendo isso? — vociferei, com raiva,


enfrentando-o.

— Porque eu sou seu marido, e eu que mando nessa casa.

Você tem que obedecer. Agora já não tem mais sua mãe para

pedir ajuda, você não tem mais ninguém só a mim. Deveria


me valorizar, mas percebo que não faz isso!

Senti uma dor irreparável dentro do meu peito.

— Agora limpe tudo, ou coma. Olha a bagunça que você


me fez fazer, droga! — resmungou ele, olhando enojado em

volta. Comecei a juntar o macarrão para jogar fora. Nem se

eu estivesse morrendo de fome eu comeria a comida do chão.

Não me humilharia dessa forma.

Depois de terminar de limpar tudo, passei manteiga no

pão que tinha do café da manhã e esquentei para comer,

torcendo que ele saciasse minha fome. Após isso, me


preparei para dormir, mas antes tomei um remédio para me

ajudar a pegar no sono mais rápido e assim conseguir apagar

esse dia da mente.

DIAS DEPOIS

No final de semana eu aproveitava para arrumar a casa.

Deixar tudo em ordem, já que durante a semana não tinha

muito tempo para fazê-lo. Já João Miguel aproveitava para


beber com os amigos e aproveitar o dia.

Desde a nossa briga, há alguns dias, nós não nos

falávamos. Ele até tentava se aproximar, estando mais calmo,


parecendo um outro homem, mas as memórias me vinham à

mente e mal conseguia olhá-lo por mais de um segundo.

Estava com repulsa dele, cada vez mais.

Estava terminando de arrumar a cama do nosso quarto,

ouvindo música, distraída quando João Miguel apareceu.


Entrou pela porta segurando um buquê de rosas vermelhas.

Fiquei surpresa por vê-lo chegando tão cedo em casa, ainda


mais com as flores. Tirei o fone de ouvido para conseguir

escutá-lo.

— Oi, amor. Olha o que comprei para você — disse ele,

vindo na minha direção, sorrindo com gentileza. — Eu sei o


quanto gosta de rosas, então resolvi comprar para você.

Ele me entregou o buquê. Encarei-o surpresa.

— Mas qual o motivo deste presente? — questionei,


desconfiada. Ainda estava brava e com um pé atrás com João.

Se ele achava que me amoleceria facilmente estava muito

enganado.

— Quero fazer as pazes. Reconheço que fui um estúpido

com você, não deveria ter te tratado daquela forma, mas

estava tão estressado com trabalho que acabei descontando

em você, Rebecca — disse, me olhando carinhoso — Eu te


amo, você é a mulher da minha vida. Não quero que fique

chateada comigo mais. Por favor, me perdoe.


— Está bem — acabei cedendo — Mas me prometa que

nunca mais fará isso novamente.

— Eu lhe juro que não o farei — garantiu. — Estamos

numa boa agora?

Ele arqueou a sobrancelha tentando ser engraçado, sorri

levemente.

— Estamos — respondi, então ele me puxou para seus


braços.

— Que bom, porque não consigo viver sem você.

— Sei... — cantarolei. — Então, me diga, tem alguma

novidade para me contar?

Observei o rosto de João. Ele se distanciou de mim,

aproveitei para pôr o buquê na cama.

— Tenho. Eu fui chamado para um período de teste, em


um emprego de motorista lá em Belo Horizonte. Não é

incrível?

Senti meus ombros abaixarem pela surpresa e o

descontentamento.
— Sério? — quis saber em um fio de voz.

— Sim. E o melhor de tudo, o salário será mais alto do


que o meu atual. Já estou vendo até uma casa simplória para

alugarmos lá.

— Sem me comunicar? — inquiri, chateada. Só de ouvir

o nome da cidade onde eu passei anos morando na mansão


Albuquerque me subiu um calafrio.

— Achei que iria gostar da ideia, amor. Nós dois

estamos querendo uma oportunidade melhor, um emprego


mais digno. Essa é a chance.

— Mas e meu emprego aqui? — questionei. — Onde vou

trabalhar em Belo Horizonte, posso saber?

— Eu conversei por e-mail com o meu futuro chefe e


expliquei sua situação a ele. Pelo que me disse, você não

ficará desempregada.

Comecei a me animar mais por conta disso

— Sério? Eles querem me contratar também?


— Digamos que você é muito sortuda, mulher. O irmão
do meu futuro chefe tem um consultório médico e está

precisando de recepcionista. Ele disse que vai indicá-la.

Tapei a boca com a mão para esconder meu sorriso.

— Ah, meu Deus! Então é incrível.

Apesar de ter péssimas recordações dessa cidade, por

conta de todos os traumas que eu sofri, não podia contar ao

João Miguel sobre o meu passado.

— Que bom que se animou. Agora só precisamos pedir

demissão de nossos empregos aqui e viajar o mais rápido

possível.

Concordei com a cabeça, mas senti um calafrio me tomar

junto com um frio na barriga. Será que os ex-patrões da


minha mãe e seus filhos ainda moravam em Belo Horizonte?

E se eu chegasse a reencontrá-los?

Não podia ser. Seria muita má sorte.


Algumas semanas depois, chegamos em Belo Horizonte

para morarmos de vez. Viemos alguns dias antes a fim de


procurar casa e conversar pessoalmente com o locatário.

Escolhemos uma casa que ficava próximo ao serviço de João


Miguel, para facilitar as coisas para ele. Era uma casa

simples de quatro cômodos. Gostei da localização dela, e se


caso eu fosse contratada como recepcionista do consultório

médico, também ficaria fácil para eu me locomover até meu


trabalho.

Estava tentando pensar positivo e que tudo daria certo,


pois isso me impedia de desabar, de ter crises constantes de

ansiedade. Eram tantas mudanças ao mesmo tempo em que

temia que algo desse errado.

— Bem, acho que nossa vida vai ser incrível aqui. A


casa é ótima — falou João com uma animação quase

contagiante. — Meu chefe quer te conhecer pessoalmente,

então assim que terminarmos de organizar vamos até sua casa


para eu te apresentar a ele.

— Por que ele quer me conhecer? — questionei, confusa.

Não era sempre que os chefes sentiam interesse em conhecer


a família ou esposa dos funcionários.

— Não sei, ele parece ser um homem bastante humilde

apesar do luxo em que vive. Perguntou seu nome e sua idade,

quando contei ele pareceu ficar ainda mais curioso para


conhecê-la.
Franzi o cenho

— Hum, posso ver uma foto de seu chefe? — perguntei,

demonstrando curiosidade.

— Não tenho aqui e você já vai conhecê-lo daqui a

pouco, então não tem motivo para ver foto de outro homem!

— João Miguel aumentou o tom de voz me fazendo se calar.

— Não sei, apenas fiquei curiosa… — Meu marido me

mandou um olhar raivoso.

— Não fique. Agora vem me ajudar a arrumar os

utensílios de cozinha!

Assenti a sua ordem e fui ajudá-lo. Mas a curiosidade

ainda me rondava. Não sei por que, mas tinha uma péssima

intuição quanto a esse chefe de João Miguel.


Depois de terminarmos todo o serviço da casa. Tomei um

banho e vesti uma roupa mais apresentável. Prendi o meu


cabelo e passei apenas um batom e rímel nos cílios para ir

bonita até a casa do novo chefe do meu marido. Eu queria


deixar uma boa impressão, já que era a primeira vez que eu
veria sua família. Pelo que João Miguel me disse, seu chefe

era casado e tinha dois filhos, um recém-nascido e uma


menina de sete anos.

Nós pegamos um Uber até a casa do chefe de João,


demoramos apenas quinze minutos para chegarmos ao

condomínio do seu patrão. Era um condomínio luxuoso, mas


eu já esperava que fosse, pois não era qualquer família com

condição financeira de bancar um motorista particular.

Assim que chegamos, permitiram nossa entrada. Fiquei


até sem jeito ao pisar em um jardim tão bonito e com piscina

enorme. A última vez que vi uma mansão tão linda quanto


essa era em uma época da minha vida que nem gostava de me
lembrar…

Fomos levados até o patrão de João Miguel que estava


em seu escritório. Quando estávamos quase chegando ao
escritório que me lembrei de que ainda nem sabia o nome do

futuro chefe de meu marido. Olhei para João e perguntei:

— Qual o nome dele?

— Heitor.

Meu corpo inteiro foi tomado por um calafrio. Não podia

ser… não era possível.

Fiquei em choque. João Miguel colocou a mão em


minhas costas e me conduziu até o escritório. Então eu o vi,

Heitor Albuquerque de pé em frente à sua mesa.

Meus olhos quase saltaram das órbitas assim como os

dele quando me viu. O filho mais velho de Vitória e Rafael


estava diante de mim, completamente mudado. Ele não era

mais um garoto de vinte anos e, sim, um homem e muito


parecido com o maldito pai. Engoli em seco. Diabos, só
podia ser carma!

Mesmo anos tendo se passado era impossível não


reconhecer a pessoa através dos olhos, características. Eu
nunca esquecia um rosto. Nunca.
A vontade que tinha era de fugir, correr dali, para o mais
longe possível, mas João Miguel nunca entenderia.

— Senhor Albuquerque, obrigado por nos receber. Essa é


Rebecca, a minha esposa, que eu tinha lhe falado.

João Miguel não pareceu notar o quanto o clima pesou

após entrarmos na sala. E nem percebeu que seu chefe me


olhava abismado, era óbvio que havia me reconhecido.
Alguns segundos constrangedores se passaram, até que Heitor

percebeu que havia ficado muito tempo mudo, então limpou a


garganta e falou:

— Obrigado a vocês por virem até aqui, mesmo não


sendo o dia do seu expediente, João Miguel — falou Heitor,

aproximando-se de nós. Encolhi-me toda, me sentindo


estranha em sua presença. — Prazer em conhecê-la, Rebecca,

seu marido me contou que é uma recepcionista, muito boa.


Verdade?

Olhei para João Miguel que tinha no rosto um sorriso

bajulador.
— É sim. Sou recepcionista há anos. — Finalmente pude
encontrar minha voz.

— Que bom, assim me sinto mais seguro em indicá-la


para a vaga de recepcionista no consultório médico do meu...
amigo.

Senti que ele iria falar outra coisa, mas mudou no último

minuto. Seu olhar estava estranho, mais semicerrado e, no


fundo, parecia esconder um sorriso.

— Agradeceria por isso, pois eu estou precisando muito

desse emprego — falei, cruzando os braços e, sem seguida,


desviei o olhar de seu rosto para qualquer objeto naquela

sala.

— Minha mulher é muito esforçada e não gosta de ficar


sem trabalhar. Ganhei na loteria ao me juntar com ela, chefe.

Não há uma melhor esposa que ela.

João Miguel segurou minha mão, tentei respirar fundo,

pois estava tendo dificuldade para respirar.

— Com certeza, dá para notar isso. Vocês então são

casados mesmo? No papel? — questionou Heitor, voltei a


olhá-lo, tentando desvendar o que estava por trás de tantas

perguntas.

— Não somos. Apenas escolhemos morar juntos e dividir

a vida — falei, rispidamente. — Eu trouxe meu currículo

para entregá-lo ao senhor, caso queira saber mais detalhes


sobre mim ou minha vida. — Tive a impressão de que soei

mais grossa do que devia. O rosto de Heitor se contorceu de

vergonha e João Miguel apertou minha mão para me fazer

parar. Abri um sorriso, tentando disfarçar meu desconforto.

— Desculpe, não quis ser grosseira — me justifiquei.

— Sem problemas. Reconheço que estou fazendo muitas

perguntas. E não é todos que gostam de compartilhar sobre a


vida com um estranho.

— Imagina, o senhor não é mais um estranho. É que

minha mulher é tímida — João Miguel respondeu por mim,


intrometendo-se onde não havia sido chamado.

— É claro — resmungou Heitor me fitando de maneira

estranha. — Obrigado por terem vindo, agora já podem ir, ou

se quiserem conhecer a casa antes, sejam bem-vindos e não


se preocupem caso escutem choro de bebê, tenho um filho

recém-nascido e a coisa que mais gosta de fazer no mundo é

chorar.

Abri um sorriso falso.

— Parabéns pelo nascimento de seu filho. Uma criança é

sempre uma bênção em nossas vidas.

O olhar de Heitor se tornou curioso.

— Vocês tem filho também? — perguntou e, então, notou

que havia sido inconveniente. — Ops, desculpem, mais uma

pergunta pessoal.

— Sem problemas, senhor Albuquerque. A resposta é


não, ainda não fomos abençoados com filhos.

Sorri amarelo assim como João Miguel.

— Que lástima — exclamou Heitor e, então, foi até sua


mesa. — Preciso que me entregue seu currículo, Rebecca. E,

também, vou precisar da presença de vocês em um evento

hoje à noite, na casa dos meus pais. Vamos comemorar o


nascimento do meu filho, e nada mais justo que meu novo

funcionário esteja lá junto com sua esposa.

Meu corpo todo estremeceu, senti uma angústia grande

me tomar por ouvir a palavra meus pais.

— Isso é realmente conveniente? — questionei,


estressada. Quase perdendo a compostura.

— É uma ordem — disse Heitor, olhando para meu

marido. — Gosto de manter uma relação próspera e de

amizade com os meus funcionários. Sei que vai me entender,


não é, João Miguel?

João Miguel bajulador como era, iria aceitar.

— Claro, e acho que será maravilhoso ir a este evento.


Conte conosco, senhor Albuquerque, estaremos lá!

Heitor sorriu satisfeito e me fitou com um olhar de:

“viu, não me desafie”.

Babaca!

— Sendo assim, nos vemos lá — falou Heitor,

despedindo-se. Peguei o maldito currículo e o entreguei antes


de sair dali brava, andando o mais depressa possível.

Nem esperei por João Miguel. Estava fora de mim, não

acreditando que me joguei na cova dos leões novamente.

— Rebecca, espere! — gritava João Miguel, mas quanto


mais o ouvia gritar, mais rápido eu andava.

Quando, de repente, ele conseguiu me alcançar e segurou

meu braço, me fazendo parar de caminhar.

— Que droga aconteceu? — bradou ele bem em frente ao

meu rosto. — Você ficou louca?

— Fiquei. Por que diabos aceitou ir a esse evento à

noite? Eu não gosto de estar no mesmo ambiente que essas


pessoas grã-finas! Detesto esse tipo de lugar.

— E você acha que eu gosto, por acaso? Não gosto. Mas

quando meu chefe exige minha presença, não posso recusar


seu pedido. Sou apenas um funcionário que cumpre ordens!

— rugiu João Miguel.

— Nós vamos a esse evento, quer você queira ou não.

Agora pare de agir como uma imbecil, e coloque um sorriso


nessa cara. Me fez passar vergonha em frente ao meu chefe,

sorte sua que eu estou tentando ser mais paciente, Rebecca,


senão...

Ele ergueu a mão, seus olhos ficaram vermelhos pela

raiva.

— Senão o quê? Vai me bater? Humilhar outra vez? —


esbravejei, indo para cima dele — Se fizer isso, vai me

perder para sempre. Estou cansada de ser maltratada por

você. Cansada de ser tratada como um bicho.

— Não exagere, Rebecca. Eu te trato tão bem, como

nenhum outro homem trataria. Ou acha que alguém ainda te

quer desse jeito? Acabada que está?

Ele me olhou de cima a baixo, pisando no meu ego.

Sabia que os anos haviam passado para mim, eu era uma

mulher de 31 anos. Tinha marcações no rosto e na pele. Já

não tinha um corpo comparado ao de uma jovem adolescente.


Mas eu sabia que era bonita, que minha pele brilhava e ainda

parecia jovial. Sabia que meu corpo também era bonito,

graças às longas caminhadas matinais e a exercícios físicos.


João Miguel falava esse tipo de coisa para tentar diminuir
minha autoestima e me deixar para baixo, só que dessa vez

ele não iria conseguir.

— Você que pensa, João Miguel. Posso não gerar


interesse em você, mas muitos homens, com certeza, se

interessam por mim. Não tente me diminuir, minha

autoestima é inabalável.

Empinei o queixo ao falar e novamente saí, deixando-o

sozinho.

Eu não fazia ideia de que roupa usar para o evento na


casa dos Albuquerque. Fiquei estressada, porque além de eu

não querer ir para o evento, também não tinha o que usar.


Não queria ter que ver novamente a família Albuquerque, já
sofri muito na mão deles e para mim havia sido o bastante

para eu odiá-los até o fim dos meus dias.


Estava quase desistindo de acompanhar João Miguel. Ele
poderia surtar, mas eu que não iria para um evento luxuoso
ser chacota de pessoas ricas e esnobes por estar usando uma

roupa e calçado inferior. Estava pronta para falar para João


Miguel que eu não iria quando ele apareceu no meu quarto,
de repente, me dando um susto.

— Olha o que eu trouxe para você usar hoje — disse ele,

notei que segurava duas caixas, uma grande e uma pequena, e


que ele logo colocou na cama. — Espero que seja seu
tamanho.

— O que é isso? — perguntei, curiosa. Fui até a caixa e


a abri. Meus olhos reluziam ao ver um vestido azul-claro, da
cor do mar, com tecido de seda fina. Depois quando abri a

caixa de sapatos havia um salto que combinava com o


vestido. Senti meu coração acelerar ao ver o nome da marca.
Era uma marca cara e famosa, por Deus, cada peça vendida

por ela custava um rim. — Meu Deus, João, como pagou por
isso? É muito caro!

— Somente aluguei por uma noite. Mesmo alugando


ficou caro, mas vai valer a pena. Se vamos nesse evento
luxuoso precisamos nos parecer com os convidados.

Senti meus ombros baixarem.

— Deus me livre me parecer com essas pessoas — falei


—, amargas e sem coração.

— Elas podem, pois são ricas — retrucou João Miguel,

me deixando estressada com sua maneira de pensar. —


Também aluguei um terno para mim. Essa noite será uma das
melhores da nossa vida, amor!

Ou uma das piores. Pensei, sem falar em voz alta.

Segurei o vestido, sentindo a seda macia somente


imaginando o quanto ficaria bela nele. Desse momento em
diante, não tinha escapatória e eu iria voltar à cova dos

leões, mas pelo menos, dessa vez, iria à altura e pronta para
contra-atacar.

— Seja o que Deus quiser — murmurei para mim mesma.


Na noite do evento, eu acabei me atrasando para ir. O
motivo era porque não estava animado para ir nele, porém, eu

fui. Chegando lá, notei que já havia muitos convidados, o

que era ótimo, pois não tinha nada que eu detestasse mais do
que ter que cumprimentar cada convidado do evento. Fui logo

falar com meu irmão e sua esposa a fim de felicitá-los pelo


nascimento do bebê. Que já havia sido há mais de um mês,

inclusive Brianna já estava ótima, recuperada do parto.

— Nico, que bom que veio! — exclamou Brianna, me

cumprimentando com um beijo no rosto. — Estávamos


preocupados com sua demora.

— Peço desculpas, cunhada, tive um imprevisto no

trabalho que ocasionou a minha demora, mas jamais perderia

o evento para comemorar o nascimento do meu sobrinho com


familiares e amigos. Parabéns pelo bebê, espero que vocês

tenham mais e mais!

— Por Deus, irmão, não nos deseje isso. Isadora e Felipe

já são suficientes para nós — respondeu Heitor.

— Então vocês pararam? Fecharam a fábrica? —

perguntei em relação aos filhos. Eles assentiram.

— Achamos melhor parar, pois filhos são uma dádiva,

mas dão muito trabalho. Concorda?

— Ah, sim, isso com certeza, por isso inclusive escolhi

não ser pai — falei, fazendo-os rir. — Agora se me derem


licença, tenho que cumprimentar nossos pais, os anfitriões.
Gentilmente, me despedi deles, no entanto, assim que
dei dois passos ouvi a voz de meu irmão.

— Espere, Nico. Preciso falar com você.

Me virei para olhá-lo, percebendo que ele estava sozinho

e sério.

— Claro, irmão, diga-me.

Voltei para perto de Heitor. Ajeitei a postura, fitando-o.

— Então, acho que você não sabe, mas eu troquei de

motorista — contou ele, me fazendo franzir o cenho.

— Hum, ok, mas o que isso tem a ver comigo? Desculpe,

não entendi sobre o que quer falar, Heitor.

Percebi que ele estava meio empertigado, olhando toda

hora em volta do salão.

— Digamos que meu motorista é casado e a mulher dele

por acaso trabalha como recepcionista há muitos anos. No

entanto, agora ela está desempregada, visto que teve que

largar seu antigo emprego em São Paulo para se mudar junto


com marido para cá.
— Ah, então você quer fazer uma indicação? Que ótimo,

estou atrás faz um tempo de uma recepcionista para substituir


Lara.

Sorri mais tranquilo, enfim, eu ia resolver esse pequeno


problema. Esperava pelo menos que essa indicação fosse

fortuita, que a mulher fosse boa e gostasse de trabalhar.


Porque Lara foi uma guerreira por trabalhar para mim
durante tantos anos, era bem exigente com meus

funcionários. Principalmente em relação à organização de


minha agenda. Gosto de ter cada um à minha disposição.

— Sabia que iria gostar, por isso a convidei com o


marido para vir a este evento, também para você já conhecê-
la.

Semicerrei os olhos.

— Você convidou funcionários para esse evento? —

minha pergunta saiu em forma de questionamento. Nunca vi


Heitor convidar funcionário para festa alguma, quanto mais
para um evento dessa importância. Isso não estava me
cheirando bem. — Por acaso você não está tentando trair sua

esposa com essa mulher do motorista, não é?

Meu irmão pareceu ultrajado com a minha pergunta,

entretanto, tinha que fazê-la. Sabia que Heitor não era um


marido fiel, já havia descoberto várias traições suas, mas

nunca me meti em sua vida nem em seu relacionamento.

— Por quem me toma, Nicolas? Acha que sou crápula a


esse ponto?

Ele se fez de ofendido.

— Quer mesmo que eu responda, irmão? — Sorri com

sarcasmo. — Mande essa mulher então ir até o consultório


conversar com Lara. É ela que está cuidando da contratação.
Agora se me der licença, tenho que realmente cumprimentar

nossos pais e mais alguns convidados.

Heitor não disse mais nada, somente me fitou com olhar

de poucos amigos. Tive a impressão de que ele não gostou de


minha pergunta indevida, bem, que se foda.

Fui até meus pais a fim de cumprimentá-los e depois

alguns convidados amigos. Depois de ter que fingir simpatia


por alguns minutos, em conversas entediantes, fui atrás de
algo para beber que não fosse champanhe. Achei o garçom
com a taça de vinho e comecei a tomar. Vinho era meu vício,

não tinha como não gostar dessa bebida tão espetacular.

Voltei para o salão, desejando achar uma companhia

feminina para terminar a noite. Tinha muitas mulheres lindas


nesse evento, como em todos os outros. Mulheres belíssimas

e elegantes, mas que, infelizmente, eu já conhecia a maioria


delas. Os rostos já não me chamavam mais atenção, já havia
trepado com algumas, então vi que teria problemas em achar

uma companhia para o final da noite, dado que eu não


gostava de repetir o cardápio em restaurantes, quem dirá com

mulheres.

Brincadeiras à parte. Não era que eu não gostava de


transar mais de uma vez com a mesma mulher, eu até curtia

quando o sexo era bom, entretanto, preferia não fazer isso


muitas vezes para não gerar um certo apego de ambas as

partes. A única mulher que dei essa abertura em minha vida


era Natacha. Uma amiga, que conheci na época da faculdade,
ela, com certeza foi minha transa mais frequente em todos
esses anos, uma vez que nós acabamos indo pra cama toda
vez que nos reencontramos. Isso não podia evitar, já que
Natacha era um furacão na cama, sabia do que gostava e

adorava realizar meus desejos mais pecaminosos. E o melhor,


ela nunca, em hipótese alguma, tentou confundir nossa

relação, querer mais que apenas sexo casual, o que era


maravilhoso e me livrava de um imenso problemão.

Estava pronto para deixar o evento, dado que não achei

uma companhia atraente para a noite, então a buscaria em

outro lugar. No entanto, quando estava de saída avistei uma


mulher que nunca tinha visto em evento nenhum, disso eu

tinha certeza. Parada em meio a pista de dança, com o olhar

perdido e opaco, parecendo perdida, fora da realidade

enquanto me olhava.

Sim, ela me encarava, com um olhar tão significativo,

atraente e brilhante, como nunca tinha visto outro. Na

verdade, sim, já tinha visto outro, mas já fazia anos e em


uma pessoa que nunca mais achava que reencontraria.

Senti sentimentos esquisitos me tomar. Era como se eu

já conhecesse a mulher, mas não me recordava de quem era,


só sabia que a estranha despertou algo em mim que detestei

sentir.

Parecendo notar que eu a vi me olhando, ela desviou o

olhar rapidamente. Seu rosto virou para o lado e seu cabelo

marrom ondulado foi na mesma direção. Seu rosto era bonito


e marcante. Os olhos, principalmente, os lábios carnudos

eram um perigo para minha sanidade. Ela não era muito alta,

nem baixa. Seu corpo tinha curvas perigosas, daquelas que

atraíam os olhares masculinos. Seu quadril era largo e sua


bunda grande. No entanto, as coxas já não eram grossas, mas

não eram finas como as de modelo, tinha o tamanho

proporcional.

Naquele momento, eu soube que não poderia ir embora

do evento sem falar com a mulher misteriosa. Sem tentar

levá-la para cama no final da noite.

Ela seria minha próxima conquista e, por Deus, eu torcia


para que fosse no mínimo desafiante como parecia ser.
Pude sentir a energia horrível da mansão dos

Albuquerque assim que coloquei os pés na casa deles outra

vez. Parte de mim não conseguia acreditar que estava tendo


coragem de colocar os pés nessa casa outra vez,

principalmente de ter jurado para mim mesma há muito tempo

que não faria novamente. O destino podia ser cruel quando


queria. Tamanha foi a dor de olhar outra vez para o jardim

em que Nicolas e eu nos divertíamos, e até nos beijávamos.

Doeu rever cada ambiente da casa, por mais mudado que

estivesse. Os móveis já não era mais os mesmos. Até a cor da


mansão havia mudado. Tudo estava diferente, mais moderno,

ainda assim me fazia ter lembranças assombrosas.

Sentia como se a qualquer momento eu fosse ver o


garoto lindo, de covinhas nas bochechas e sorriso galante

aparecer em meio àquelas pessoas chiques. Mas sabia que era

algo impossível, visto que aquele Nicolas que conheci já não


existia mais. Eu também não era mais a garota sonhadora e

apaixonada. Tudo havia mudado, a mansão e as pessoas.

Estava ansiosa para a hora de ir embora, pois quanto

mais tempo permanecia na mansão, mais me sentia


desconfortável, como um peixe fora do aquário. Sentia como

se todos percebessem que não fazíamos parte daquele lugar.

Que não éramos ricos como eles, muito pelo contrário, não
passávamos de funcionários da família. Sabia que Vitória

surtaria em saber que estava dividindo a taça com um

serviçal de seu filho. Imaginei a cara de ódio que ela faria se

descobrisse que eu a menina que ela tanto detestou há quinze


anos havia retornado, e estava em um evento em sua casa.

Ela teria um ataque de nervos, certamente.

— Amor, vou até o banheiro, me espere aqui — avisou


João Miguel, me fazendo estranhar sua pressa para ir ao

banheiro, já que tínhamos acabado de chegar.

— Não me deixe sozinha, por favor — pedi em um

momento de fragilidade. João Miguel me encarou por um


instante incomodado
— Eu vou e volto logo, querida, não nascemos grudados

um no outro, está bem? Pode muito bem aguardar minha ida


ao banheiro — rebateu ele, grosseiramente. Tentei controlar

meu lado impaciente e assenti, somente porque estávamos em

público e não queria causar uma discussão

— Não demore, por favor — insisti e ele concordou


antes de sair, me deixando sozinha.

João Miguel não conhecia os cômodos da mansão, me

perguntava como chegaria ao banheiro. No entanto, o


observando de longe notei que ele estava com uma postura

confiante como nunca vi antes. Ele passava pelas pessoas

como se sentisse um deles. Às vezes, João Miguel me dava


nos nervos. Me perguntava como conseguia ter escolhido

alguém como marido tão diferente de mim. Em alguns

momentos, achava que era melhor ter ficado sozinha, do que

com um homem que muitas vezes considerava um inútil e


imbecil.

Resolvi que não iria ficar esperando a companhia do

meu próprio parceiro para me sentir mais confortável nessa

festa. Eu mesma iria fazer a noite memorável. Fui até um dos


garçons que estava servindo a festa e peguei uma taça de
champanhe. Depois disso, andei pela casa sem me importar

com os olhares que me seguiam a cada passo. Odiava me

sentir observada.

Depois de um tempo, resolvi sair até o jardim para

respirar. Não via sinal de João Miguel e nesse momento já me

preocupava, visto que meu marido já deveria ter voltado há

muito tempo, exceto se estivesse com uma dor de barriga


horrorosa.

No jardim, eu pude respirar ar puro, mas logo me faltou

o ar, ao ver de longe Vitória Albuquerque e seu marido


desprezível. Senti o buraco se aprofundando dentro do meu

peito, no exato instante em que vi o rosto da mulher que


tanto tive pesadelos durante todos esses anos. Que foi o

objeto do meu rancor, da minha raiva e da minha falta de


esperança.

Ela estava completamente diferente do que era. Seu


cabelo tinha mechas loiras bem claras, quase que branco. Era

curto, em um corte V e liso. Seu rosto estava repleto de rugas


e marcas de idade, seu corpo continuava magro como sempre.
Já seu marido também tinha envelhecido, porém, continuava
com porte de homem esnobe, vaidoso de sempre.

Um dos piores sentimentos me tomou. Meu estômago


embrulhou e não consegui nem mais olhá-los por um segundo
sequer. Andei a passos rápidos em meio ao jardim até a

entrada dos fundos da mansão. Não queria que os convidados


me vissem com a cara azeda e pálida que eu deveria estar.

Porém, no momento em que cheguei aos fundos da mansão eu


não imaginava que tudo iria piorar nesse instante. Atrás dos
arbustos havia um casal se beijando de forma acelerada e

erótica, mesmo com a noite escura e a pouca iluminação


daquele lugar eu pude ter certeza de que o homem que
beijava a mulher loira, completamente diferente de mim, era

João Miguel, meu quase-esposo.

Minhas pernas falharam e meus batimentos cardíacos se


descompassaram. Eu não achei que eu poderia me sentir

ainda mais quebrada por dentro, até esse momento. Sentia


como se estivesse enfiando facas nas minhas costas? Era o
que estava sentindo nesse instante!
Uma zonzeira terrível me tomou e deixei minha taça com
champanhe cair no chão. A grama alta fez com que o barulho
do vidro se quebrando não ficasse alto. Corri para dentro da

mansão, adentrando a cozinha logo em seguida. Passei pelos


funcionários que estavam trabalhando por lá e fui até a sala,

onde estava acontecendo o evento. Meus olhos estavam


cheios de lágrimas e eu sentia que iria desmoronar a qualquer
instante.

Eu sentia que precisava sair dessa mansão assombrada o

mais depressa possível, antes que tudo piorasse. Mas era


impossível algo ficar pior que isso, não era?

Era!

Assim que parei na pista de dança, onde não havia


nenhum casal dançando a música clássica, eu vi a pessoa que

mais temia reencontrar.

Nicolas Albuquerque. Meu ex-namorado, o garoto que


me rejeitou e abandonou no passado.

Eu o reconheci no mesmo momento, pois por muitas

vezes eu pesquisei por ele na internet. Acabei vendo várias


fotos suas atuais e notícias. E até descobri que ele virou um
médico cirurgião e, também, era dono de um patrimônio

bilionário.

O menino que destruiu meu coração, mas que não era


mais um garoto e sim um homem, que mais parecia um diabo
disfarçado de deus grego estava bem à minha frente. Gelei

por completo e temi ter um ataque de ansiedade naquele


instante. E paralisei ainda mais quando ele meneou a cabeça
na minha direção e seus olhos, enfim, fitaram os meus,

parecendo vidrados, completamente intensos e obstinados.

Minha vista se deturpou, virei rapidamente o rosto em


outra direção qualquer. Não podia me perder na intensidade

daquele olhar que tanto senti falta por todos esses anos. Não
deveria gostar da sensação de calor que me preencheu por

completo, queimando meu ventre e me atiçando entre as


pernas.

Olhei para a porta de entrada e quis correr até lá, mas


não deu tempo. Assim que pretendia fazê-lo, uma voz fria,
grossa e rouca me fez travar no lugar.
— Boa noite, dama, posso lhe fazer companhia nessa

noite?

Lentamente, procurei o homem da voz tão marcante com


o olhar e quase desfaleci ao ver Nicolas parado à minha
frente. Depois de quinze anos, escutar sua voz mexeu

comigo.
— Não, obrigada, moço, eu já estou de saída — falei,

tentando sair dessa situação o mais rápido que podia. Torci


para que ele não notasse o tremor na minha voz.

— Já vai embora? Tão cedo?


Senti um frio no estômago quando os cantos de seus

olhos enrugaram e seu sorriso apareceu.

— Sim. Para mim, está tarde. — Acabei sendo bem

ríspida, ele franziu o cenho, observando meu rosto.

Meu Deus, se ele me reconhecesse estava perdida.

— Sua voz e seu rosto me são familiares. Já nos

conhecemos?

Engoli em seco, encarando seu olhar desconfiado

— Não que eu me recorde. Sou nova na cidade, vim por


convite de um amigo dos Albuquerque a esse evento.

Tentei parecer tranquila, mas tudo dentro de mim

gritava. Não conseguia tirar os olhos de seu rosto, parecia


feitiço.

— Caramba, eu realmente achei que te conhecia. Esses


seus olhos...

Nicolas deu um passo à frente, sua voz saiu mais macia,


quase sussurrada. Me subiu um arrepio, que me fez se

estremecer, então me distanciei dele e desviei o olhar.


— Olha, já disse que não nos conhecemos. Agora preciso
ir, senhor, está me atrapalhando, não percebe?

No fundo, bem no fundo, fiquei esperando-o se lembrar


de mim. Da garota que foi sua melhor amiga. Mas ele não

lembrou. E era óbvio que não lembraria, pois era uma mera

memória perdida do seu passado.

— Desculpe, senhorita, eu não quero ser insistente, mas


eu me peguei apreciando sua beleza de longe e gostaria de

uma oportunidade de sair com você, um dia desses, se for

solteira é claro. Nós podemos sair para nos conhecer melhor.

O que acha? Qual seu nome?

Ele estava ansioso, insistente.

Ah, meu Deus, ele queria sair comigo e agora...

— Eu prefiro não me revelar por enquanto, senhor —

murmurei, vendo seu sorriso galanteador crescer. — Agora se


me der licença…

— Vou tomar isso como um desafio. Posso lhe oferecer

uma carona até em casa?


Meu coração estava batendo tão rápido que temia que

saísse pela boca

— Não, obrigada, vou chamar um táxi.

— Táxi? Uma dama como você a essa hora? Jamais


permitirei. Como filho dos anfitriões eu peço que não negue
minha gentileza. Prometo que não tocarei em você sem sua

permissão.

Ele colocou os braços atrás das costas me fitando com

um sorriso tentador. Olhei os lábios que por muitos anos


foram meu objeto do meu desejo, sentindo meu corpo aquecer

ainda mais.

Bem, minha noite estava terrível. Eu acabava de ter uma


decepção amorosa e, nesse momento, um reencontro com o

meu grande amor do passado que não me reconheceu. Sentia


que eu merecia um pouco de alegria, nem que fosse apenas

um resquício dela. E se Nicolas não percebeu minha


verdadeira identidade, isso significava que não teria
problemas em sair com ele, visto que ele não fazia ideia de

quem eu era.
Isso me dava altas possibilidades. Portanto, tomei uma

decisão.

— Tudo bem, você pode me levar, mas não para a minha

casa e sim para a sua. — Fui direta. Ele pareceu ficar


surpreso, seu olhar se tornou íntimo, intenso e faiscante. —

O senhor ficou sem palavras?

— Estou surpreso, querida dama, mas muito excitado


também, visto que não há nada mais excitante que uma

mulher que sabe o que deseja e é sincera, que não faz


joguinhos.

Tomei uma coragem que nem sabia que existia, me


aproximando dele para falar em seu ouvido:

— Eu gosto de jogar limpo. Não hesito em correr atrás

do que eu quero.

— E o que você quer, moça? — Sua voz saiu sussurrada

e rouca.

— Nessa noite? Ainda não tenho uma ideia exata, mas o


senhor pode me ajudar a decidir. Só precisa me mostrar os

seus dotes.
Ele sorriu, mordiscando o lábio inferior.

— Para quem estava com pressa de ir embora e

parecendo bem irritada com algo, você está se saindo bem


levada, senhorita. O que te fez mudar de ideia? O meu
charme, ou foi outra coisa?

Sua pergunta quase me deixou sem resposta. Eu disse,


quase.

— Uma decepção amorosa — confessei. — Perguntou se


sou solteira, pois bem, não era, mas acabo de me tornar.
Acabei de ver o homem que dizia me amar beijando outra às

escondidas. E não há nada melhor que um chifre trocado, não


concorda?

Sorri friamente, ele me fitou com olhar surpreso e

profundo.

— Concordo plenamente. — Nicolas estendeu o braço

para mim, encarei seu rosto pensando no que estava prestes a


fazer. Eu tinha enlouquecido, só podia ser, mas não desejava

voltar atrás, visto que estava gostando desse jogo. Me sentia


poderosa e sem vergonha nenhuma, porque para Nicolas
Albuquerque eu era apenas uma mera desconhecida, traída,
em busca de vingança.

— Vamos, minha dama da noite? Estou ansioso para um


tempo a sós com você.

— Vamos — concordei, entrelaçando meu braço no dele.

Nós saímos juntos do evento. Mas antes de passarmos pela

porta de entrada, pude ver Heitor nos encarando de longe. Ao


contrário de Nicolas, ele me reconheceu de primeira. O que

era estranho, muito estranho, visto que já havia passado

muitos anos.

Parte de mim, sentia um prazer absoluto em sair do

evento ao lado de Nicolas. Mas a outra parte estava tremendo

e com muito medo de cair em uma armadilha do coração

novamente.

Seu perfume adentrava meu nariz e respirei seu cheiro,

sentindo um aroma forte e delicioso. Nicolas tinha uma

postura impressionante, era alto e andava com queixo


erguido. Os olhares das pessoas, principalmente de mulheres

o perseguiam. Ele continuava lindo e com um charme


avassalador. E pelo visto virou um conquistador nato. Um

cafajeste que levava diversas mulheres para cama, mas já


esperava que ele fosse virar isso, com tudo o que me fez

passar. Me iludiu e abandonou. Mas nesse momento eu tinha

a oportunidade de me vingar, só não sabia como fazê-lo sem


me machucar.

— Esse é o meu carro — avisou após estarmos fora da

mansão. Paramos na frente de um carro branco, grande e

lindo. Uma BMW. Nicolas abriu a porta do carro para mim.


— Entre.

Entrei no carro e me sentei no banco do passageiro ao

lado do motorista. Nicolas entrou também no carro e se


sentou ao meu lado. Antes de dar partida, ele me fitou por

um instante.

— Parece pensativa — comentou e deu partida no carro

saindo dali. — Dou um milhão de reais para ter seus


pensamentos.

— Nossa, eles nem valem tanto assim garanto —

respondi em tom de sarcasmo. — Então, você trabalha com o


quê? — Puxei assunto mesmo já sabendo a resposta

— Sou cirurgião plástico.

— Olha, que incrível. Diga-me, doutor, o que você


mudaria em mim se pudesse?

Minha pergunta o fez sorrir, ele mesmo dirigindo virou o

rosto em minha direção por um momento. Seus olhos verdes

estavam brilhantes.

— Não mudaria nada. Você é perfeita como é.

— Ah, claro, você deve dizer isso para todas suas

conquistas. É muito fácil elogiar uma mulher quando quer

levá-la para cama.

Ajeitei-me no banco, incomodada com o cheiro atrativo

do seu perfume. Estava sentindo um clima erótico no ar.

— Em algum momento eu disse que queria levá-la para


cama? — questionou com ar zombeteiro.

— E precisa dizer? Dá para notar pela forma que o

senhor me olha...
— E como eu te olho, dama? — Senti minha pele se

arrepiar ao ouvir a palavra dama sair de seus lábios


levemente sussurrada.

— Como se conseguisse me despir com o olhar, doutor.

Ele pareceu engolir em seco e se empertigou no lugar.

— Vamos deixar essa conversa para quando chegarmos à


minha cobertura. Que tal?

Notei a rigidez na sua calça e senti tudo em mim se

acelerando

— Por que, doutor, por acaso estou te deixando

excitado? — Minha voz saiu rouca e modulada. Nicolas

virou o rosto da minha direção, me deixando ver as chamas


da volúpia dançando em seus olhos.

— Confesso que me deixou excitado desde o momento

em que fixei os olhos em você e não consegui mais não a

olhar. Como se você, dama misteriosa, fosse um ímã para


mim em todos os sentidos.
Engoli em seco, esfreguei os joelhos um no outro,

tentando acalmar o calor em meu sexo

— Me custa acreditar que isso é verdade, sabe. Faz tanto

tempo que não atraio a atenção masculina. Tantos anos que


não recebo um elogio...

Acabei falando demais, mas só notei quando as palavras

me escaparam. A testa de Nicolas se franziu um pouco. As


costas ficaram mais rígidas.

— Como isso pode ser possível? Desculpe, mas não

precisa mentir para mim — ele falou, usando um tom mais

sério que o normal.

— Não é mentira. Digamos que eu trabalhe muito, e não

é sempre que me permito tirar um tempo para me produzir

como hoje. Garanto que o senhor não se excitaria me vendo


acordar de pijama, com cabelos desgrenhados e rosto sem

maquiagem. Tampouco se excitaria se me visse no meu dia a

dia, vestindo roupas simples de trabalho.

Minha mente gritava para me calar, estava me


expressando demais, no entanto, eu não conseguia, as
palavras saltavam de minha boca sem que eu quisesse.

— Eu adoraria a ver com um pijama, desgrenhada como


diz. Tenho certeza de que você é desejável até pintada de

verde-musgo, e olha que verde-musgo é…

— A cor que você mais odeia — falei, cortando-o sem

conseguir me conter. Nicolas virou a cabeça tão rápido em


minha direção que ouvi seu pescoço estralar.

— Como você sabe disso? — O médico me olhou muito

curioso. — Responda.

— Bem, não sei, somente imaginei que era o que diria.

Porque, convenhamos, é impossível alguém gostar dessa cor,

não é?

Dei risada, tentando não parecer nervosa como realmente


havia ficado. Quase fui descoberta. Ele riu, então certamente

havia acreditado.

— Ah, isso é verdade. Mas alguns tons de marrom são


piores, não acha?

— Acho. Principalmente o tom cor de bosta.


Nicolas gargalhou.

— Caramba. Você realmente fala o que pensa, estou

desconfiado que sua família não a fez ter aulas de etiqueta,

como é de praxe das famílias da alta sociedade.

Limpei a garganta e virei o rosto na direção da janela do

carro.

— Que bela maneira de dizer que não sou educada como

uma dama deve ser — resmunguei.

— Não foi o que eu quis dizer, dear. Só não estou

acostumado com mulheres falando palavras como…

— Bosta? — Ri. — Realmente, não é uma palavra tão


bonita.

— Desculpe, doutor, mas antes de me levar para a cama


precisa saber que não sou como as outras mulheres que

costuma sair. Não que eu vá para sua cama hoje, claro, mas
você me entendeu.

Senti minhas bochechas pegarem fogo.


— Tem razão, você é diferente, dama misteriosa. É
deveras impressionante e contagiante. — disse e, em seguida,
chegamos ao prédio onde ele morava. Nicolas entrou no

estacionamento e depois parou o carro.

— Chegamos, dear. Venha, vou adorar te mostrar minha

cobertura, principalmente a suíte principal.

Ele piscou, me olhando com olhar de malícia e


sagacidade. Estava prestes a sair do carro quando notei o

olhar de Nicolas descer até meu braço. Seu cenho se franziu


e ele me olhou assombrado.

— Essa cicatriz… — Ele trocou uma cicatriz que eu


tinha desde pequena no braço.

Ah, meu Deus, eu estava perdida!

— Como se machucou? Foi causado por um arame?

Arregalei os olhos, ele se lembrou de como ganhei a


cicatriz. Senti o sangue se esvair de meu rosto, estava

ferrada. Só um milagre poderia me salvar.


Minha ficha caiu no exato momento em que vi a cicatriz
no braço da moça misteriosa. Fui assombrado com

lembranças do passado no mesmo instante, lembranças de

Rebecca, o meu grande amor do passado. Era ela, com


certeza, era ela. Como pude não notar? A cor de seus olhos

era a mesma, os lábios carnudos. Sua forma de falar, se


expressar e, principalmente, seu cheiro era o mesmo. Podia

fazer quinze malditos anos que não a via, mas era impossível
não a reconhecer.

Estava perturbado, com o coração disparado e não


conseguia tirar as mãos da cicatriz. Sentir sua pele fez tudo

piorar. Era a prova viva que ela estava diante de mim, viva,

mesmo depois de tanto tempo ainda continuava linda,


inteligente e expressiva.

— Não me lembro de como me machuquei, senhor —

respondeu com a voz trêmula. Ela estava nervosa por conta a

mentira. Como pude não notar que era ela, só pela forma que
me olhou na festa dava para perceber de longe que ela me
conhecia. Que não éramos dois estranhos um para o outro. —

O que houve? Dá para me soltar, isso está tão estranho…

Ela tentou tirar o braço do meu toque.

— Desculpe, eu... me lembrei de uma pessoa do meu

passado. Mas não tem nada a ver com a senhorita — menti,

para não a assustar.


Ela estava brincando comigo, e se soubesse que eu sabia
quem ela era, com certeza, fugiria. E eu não estava disposto

a deixá-la ir, não quando eu podia tê-la por mais alguns

instantes ao meu lado.

— Entendi. E essa pessoa foi importante para o senhor?

Sua pergunta só deixou tudo mais óbvio. Suas bochechas

estavam vermelhas, como sempre ficavam na adolescência,


quando ela se sentia constrangida ou tímida.

— Foi, mas ela pertence ao meu passado.

— Ela? — instigou, arqueando a sobrancelha.

— Sim, porém, ela não importa mais. Foi apenas uma

aventura na época do colégio e nada mais. — Sua expressão

se fechou, Rebecca ficou irritada e eu amei ser o causador

disso. Se ela pensava que iria voltar para foder com tudo

outra vez, foder com minha mente e meu coração de novo, ela
estava muito enganada. — Vamos subir para minha

cobertura?

— Vamos — resmungou e saiu com pressa do carro. Ela

estava furiosa com o que tinha acabado de ouvir. Me contive


para não sorrir.

Estava completamente chocado com tudo que tinha

acabado de acontecer. Era estranho saber que Rebecca estava

aqui comigo, outra vez. Que ela tinha voltado mesmo depois
de tudo que fez, depois de partir sem se despedir.

Me sentia incomodado por saber que ela era a única

mulher que conseguia despertar em mim uma miríade de


sentimentos. Raiva, rancor, junto a amor e saudade. Ela foi

minha primeira paixão, e sabia que isso era ridículo, se


calculasse o número de mulheres que me envolvi, mas eu

podia jurar que fora a única com quem senti prazer absoluto
no sexo.

Nós entramos no elevador e logo chegamos à minha


cobertura que, aliás, era enorme e toda planejada.

— Uau. — Me peguei observando o deslumbramento de

Rebecca. Os olhos dela brilharam ao ver a sala enorme, com


piano e uma linda vista da cidade. — Você deve amar morar
aqui, Nicolas.
Minha pele se arrepiou ao ouvir meu nome sair de seus

lábios.

— Gosto muito. Aqui é o lugar em que eu passo mais

tempo, além, é claro, do meu consultório. Cada móvel, cada


espaço, e cor dessa cobertura foi escolhida a dedo por mim.

— É incrível — murmurou ela. — Deve ser ótimo


conseguir tudo que deseja com um simples estralar de dedos.
Não é?

Senti um ar de sarcasmo na sua voz.

— Você nem faz ideia — retribuí seu sarcasmo. Rebecca

estava de costas para mim, andando pela sala admirada e, por


isso, pude observar melhor seu corpo e os cabelos longos.
Por Deus, sua bunda era grande na medida certa. E a forma

que balançava os quadris estava me deixando coberto de


desejo. — Quer tomar algo? Uma bebida?

— Sim, por favor. — Ela se virou para me olhar e os


cabelos voaram. Sorri ao ver o sorriso no seu rosto.

— Um vinho, pode ser? Tenho vários.


Ela colocou uma mão na cintura e a outra ajeitou o
cabelo.

— Um vinho seria ótimo.

Assenti e fui pegar a bebida. Servi duas taças de vinho,


uma a entreguei e outra ficou para mim.

Estava bem próximo de Rebecca, tanto que conseguia


sentir seu cheiro tão familiar. E sempre que descia o olhar

até seus lábios me sentia tentado a beijá-la. Inferno. Eu


precisava me controlar, merda, não tinha mais 17 anos.

— O que acha de tomarmos o vinho lá em cima, no meu

ofurô? — convidei, erguendo a mão para pôr a mecha da sua


franja atrás da sua orelha. Rebecca assentiu, me olhando
timidamente.

— Acho uma ótima ideia.

Passei o braço pelo seu ombro e fomos em direção à

escada juntos. Enquanto subíamos uma dúvida estava me


corroendo por dentro. Por que ela tinha voltado? E se voltou

por que estava tão tranquila em se entregar novamente a


mim?
Seria verdade aquilo que me falou sobre ter sido traída
pelo seu quase-marido?

Caralho, sentia que minha cabeça estava prestes a


explodir de tantas perguntas sem resposta. Tentei relaxar, não
podia deixar que ela percebesse que notei sua identidade.

Nós entramos em meu quarto e, então, fomos até o local

onde ficava o ofurô.

— Vamos entrar? — chamei, colocando a taça de vinho

no suporte e comecei a tirar a roupa. Suas bochechas

ruborizaram e ela desviou o olhar.

— Você quer que eu entre somente de lingerie? —

questionou, timidamente. Quase acreditei que estava com

vergonha.

— Sim, óbvio.

Assim que fiquei apenas de cueca, entrei no ofurô. A

água já estava aquecida, pois sempre pedia à minha

funcionária, antes de ela ir embora, que ligasse e aquecesse


porque amava passar um tempo nele.
— É melhor não — murmurou, receosa. Encarei Rebecca

percebendo que ela estava nervosa e acanhada. — Faz anos


que só um homem me vê sem roupa. Estou com receio em

mostrar meu corpo para você.

Senti uma fisgada estranha na barriga e meus dentes


rangeram.

— Você pode usar uma camisa minha se preferir. Elas

são grandes suficientes para cobrir sua bunda. Procure uma


no closet.

Tentei não esboçar emoção, mas, no fundo, estava

queimando e não era de tesão, e sim de raiva.

— Ok — concordou ela e, então, saiu.

Tomei um gole do meu vinho enquanto esperava

ansiosamente Rebecca voltar. A água estava morna e

relaxante, mas nem mesmo isso iria me relaxar, pelo menos

não nessa situação.

Rebecca voltou vestindo uma camisa minha grande e

branca. Será possível que ela não percebia que branco ficava
transparente na água, merda, ou será que isso fazia parte dos

seus planos para me enlouquecer.

— Pronto, acho que essa é perfeita — falou, assim que

chegou.

Contemplei suas coxas despidas, sentindo meu pau

endurecer rapidamente. Estava perdido.

— Entre. — Indiquei e dei minha mão para ajudá-la a


entrar. Ela passou perna por perna para dentro do ofurô e,

enfim, se sentou ao meu lado, soltando um suspiro de prazer

ao sentir a água morna em seu corpo.

E como eu já esperava a camisa branca ficou

transparente, mostrando a cor da lingerie que ela usava que,

por coincidência, ou nem tanto, era azul da cor do vestido.

Meu pau pulsou e tudo em mim se incendiou.

— Que delícia! Isso deve ser perfeito após um dia de

trabalho estressante.

— E é. Eu sempre aproveito um tempo aqui, após o


trabalho — contei e cheguei mais para perto dela, seu cheiro

me deixou ainda mais excitado. — Me diga uma coisa. Você


está há muitos anos nesse relacionamento, com o cara que te

traiu?

Senti que ela ficou tensa com a minha pergunta.

— Não quero falar sobre isso. Não quero me lembrar

dele.

Ao ver seu olhar rancoroso, como se estivesse triste por


ter sido traída mais uma vez, senti uma fisgada no estômago.

Por Deus, ela o amava.

— E sobre o que quer falar? — questionei, percebendo


que minha voz saiu rouca. Rebecca meneou o rosto em minha

direção, reparei que seu olhar estava muito intenso e fogoso.

Ela se virou e, então, me surpreendendo, subiu em cima do


meu colo, ficando em uma posição íntima e sensual. Um

arfado me escapou, bem baixo e extenso.

— Não quero conversar com você, doutor. Eu quero

outra coisa do senhor. — Ela passou os braços pelo meu


pescoço. Segurei seu quadril, sem reação. Estava de pau

duro, e ela sentiu, porra, pois estava com a boceta em cima


da minha ereção. O que diabos ela pensava que estava

fazendo? Queria me enlouquecer! Não era possível!

— Pra que tanta pressa, dama? — Tentei afastá-la, mas

ela se manteve firme em sua posição. Porra, se fosse


qualquer outra mulher do mundo eu foderia nesse momento

sem pensar duas vezes, sem pestanejar. Mas não era qualquer

mulher ali, era Rebecca Almeida, eu não podia levar as


coisas em diante, não podia me viciar mais uma vez nessa

sem coração. — Vamos com calma.

— Calma? — Ela riu aproximando a boca da minha. —

Que eu saiba você parecia bem ansioso por isso, doutor, ou


eu me enganei?

A palavra doutor me fazia estremecer de tesão. Ela

começou a rebolar o quadril em mim, e isso complicou tudo.

— Você não me quer? — perguntou com a voz modulada

e sussurrada. Só consegui a imaginar gemendo, à medida que

meu pau estava dentro dela.


— Eu te quero mais que tudo, mulher, mas estou me
sentindo usado por você, pois você quer se vingar do seu

marido.

Seus olhos me fitaram com desconfiança.


— E você estava disposto a isso até horas atrás. Se estou

te usando, por que não me usa também?

Rosnei ao vê-la levar os lábios até minha orelha e

começar a me excitar ainda mais.

— Você quer mesmo que eu a use?

Senti ela ficar tensa em meus braços ao escutar minha

pergunta.

— Quero. Somente essa noite seremos um do outro,

depois disso pode fazer como faz com todas as outras, não

ficarei triste se me descartar.

Ela prendeu seu olhar no meu, o seu estava feroz e

consegui ler várias emoções nele, a principal, ressentimento.

— Se teremos apenas essa noite, farei com que seja a

melhor da sua vida. Minha dama misteriosa.

Após falar, prendi a mão em sua nuca e tomei seus

lábios para mim. Assim que senti sua boca macia sobre a

minha, pude sentir novamente meu coração bater

desenfreado. Beijei-a sem pressa, deixando-a retribuir da


maneira que desejava. Para mim era tudo novo, o beijo, seu
toque, tudo, pois havíamos mudado muito, nesse momento

éramos bem mais experientes, não dois virgens se

conhecendo e tendo a primeira vez.

Com a mão livre segurei a bunda de Rebecca, cravando

meus dedos nela, que suspirou de prazer em meus lábios.

Tirei a mão de sua nuca e segurei seu queixo, afastando sua

boca da minha. Seu olhar estava entreaberto, seu rosto muito

avermelhado devido à onda de tesão. Inclinei minha cabeça e


mordi o seu lábio inferior, puxando-o para frente.

— Seu beijo continu... É maravilhosa — grunhi

baixinho, quase soltando uma palavra indevida.

Ajeitei-me no lugar, fazendo meu pau tocar mais sua

boceta, coberta apenas por sua calcinha.

— Você está tão duro...

— A culpa é sua, dama, você que me deixou doido de

tesão — murmurei, rouco, e esfreguei mais nela que gemeu

baixinho. — Eu preciso te foder logo, não conseguirei

esperar mais. Porra.


Eu não costumava ter pressa para finalizar. Gostava de

aproveitar as preliminares, mas Rebecca me fazia perder o


juízo e eu não podia mais esperar para estar dentro dela.

Tirei a mão de sua bunda e levei até sua calcinha, passando a


mão por dentro, assim conseguindo sentir sua boceta. Senti
os lábios vaginais se separando e, em seguida, o clitóris

inchado, porra, meu pau latejou em volúpia.

— Eu também preciso de você, doutor, agora. — As

palavras saíram gaguejadas da boca de Rebecca. Ela fechou


os olhos e gemeu, sentindo meus dedos nela.

— Quer fazer aqui dentro da água mesmo, safada? —


perguntei, masturbando-a, ela gemia baixinho sem parar.

— Sim, sim, por favor.

Aproximei minha boca da sua orelha e falei em tom


baixo:

— Eu vou te foder agora, porque não posso esperar mais


para te ter. Parece que faz mil anos que desejei isso. Mas

depois eu vou te fazer gozar com a língua, uma, duas, três


vezes, até você se sentir em êxtase. Sua gostosa!
Ela arfou e passou as unhas pelas minhas costas me

arranhando. Em poucos segundos, estava com a cueca


abaixada, sua calcinha foi posta de lado e meu pau entrou

fundo nela. Ela se sentou nele e respirou com certa


dificuldade. Segurei seu cabelo, puxando para trás, e beijei

seu pescoço, à medida que ela cavalgava em mim com


vontade.

— Use a mão para se masturbar — ordenei. Ela me fitou


por um instante e, então, levou a mão entre as pernas, sem
vergonha alguma.

Senti sua boceta quente e macia ao meu redor, me


massageando. Estava à beira do ápice. Meu corpo todo já não
era mais meu, pertencia a ela, naquele instante. O que ela

pedisse eu faria, porque estava entregue, completamente


perdido nela. Caralho.

Eu perdia a sanidade a cada vez que um gemido escapava


pelos seus lábios, conseguia sentir um tesão avassalador que

há muito tempo não sentia. Estava perto do clímax, e só


desejava repetir o ato até amanhecer o dia. Sentia fome dela

e uma saudade inexplicável.


Sentia várias coisas que não deveria sentir, porque eu a
odiava. Mas, convenhamos, muitas vezes o ódio e o desejo
andavam interligados.

Segurei em seus quadris manobrando, fazendo-a rebolar


da maneira que eu gostava. Estava sentindo que iria gozar

logo, então a avisei:

— Pare se não quiser dentro.

Senti que ela nem ouviu o que eu disse, pois continuou


quicando em mim de uma maneira deliciosa. Meu corpo todo
estremeceu e eu não consegui a tirar de cima de mim, antes

que fosse tarde demais. Pelo contrário, eu mesmo comecei a


masturbá-la. Ela gemia sem parar, com a boca próxima à

minha.

— Isso, continue... Ah, eu vou…

Ela não conseguiu completar o que iria dizer, pois foi

tomada por um delicioso e forte orgasmo, que a fez revirar os


olhos. Senti sua boceta contrair e apertar meu pau, no meio

do orgasmo. E isso foi o suficiente para o meu vir tão forte


como o dela.
Gozei em sua boceta, sentindo meu coração bater
freneticamente, meu corpo ficou em êxtase, sem querer
deixei escapar seu nome:

— Rebecca...

E só percebi a besteira que havia feito ao ver o olhar de

surpresa e assombro de Rebecca ao perceber que eu sabia

quem ela era.


Saí de cima de Nicolas e de dentro da banheira com

pressa. Ele também fez o mesmo, vindo atrás de mim. Entrei


em seu quarto não me importando de molhar o piso. Estava

me sentindo ridícula, pois ele tinha descoberto que eu era e


estava fingindo que não sabia. Chegamos até transar. Eu
queria desaparecer naquele momento. Sentia como se ele

tivesse me enganado.

— Beca, espere!

Sua voz me tirou de meus pensamentos, senti meu

coração disparar

— Não me chame assim. Meu nome para você é

Rebecca! Não me chame pelo meu apelido.

Fitei-o, percebendo que ele estava em desespero. Parecia

ter se arrependido de soltar meu nome em nosso momento

íntimo, o que revelou sua farsa.

— Para mim sempre vai ser Beca — retrucou. — Por que

ficou desse jeito? Qual o problema de saber sua identidade?

Achou que poderia esconder de mim?

— Quantas perguntas, ou acusações de uma vez só —

cantarolei, rindo com frieza. — Você soube desde o primeiro

momento que era eu e fingiu que não? Me fazendo vir até

aqui, brincando comigo?


O rosto de Nicolas se contorceu, passando a mão por ele
de forma exasperada.

— Não. Eu não a reconheci de imediato, somente fui


notar quando vi sua cicatriz no braço. Eu não quis brincar

com você, muito pelo contrário, você que queria jogar

comigo, aproveitar que eu não sabia quem era. Por quê?

— Não preciso responder essa sua pergunta descabível


— bradei em fúria, indo até ele, inclinando o queixo para

olhá-lo nos olhos. — Vamos esquecer que essa noite não

existiu, doutor. O que aconteceu no ofurô não irá acontecer

novamente!

Nicolas observou meu rosto com um sorriso fodidamente

perverso.

— Por mim, já me esqueci, Rebecca — retrucou, me

deixando surpresa e magoada, mas mantive minha pose dura.

Não queria que ele enxergasse fraqueza em mim. — Saiba

que nem fazia questão da sua volta. Por que, maldição, você

não ficou onde estava? Por que voltou para infernizar minha

vida?
Chocada dei um passo para trás. Ele estava mostrando

sua verdadeira face. Seu olhar dizia tudo que pensava sobre
mim e a boca não desmentia. Ele me odiava. Nicolas me

desprezava.

— Eu não voltei por você se quer saber. Já faz quinze

anos que tudo aconteceu, acha mesmo que eu voltaria por um


cara que foi apenas um erro meu do passado?

Nesse momento, foi minha vez de atirar uma flecha, eu

queria magoá-lo, partir seu coração assim como partiu o meu.

— Exatamente, faz quinze anos que tudo aconteceu, e

nosso relacionamento foi um erro mesmo, nisso ambos


concordamos. Então por que ao invés de dizer de cara quem

era ficou se fingindo passar por outra pessoa? Por uma


mulher desconhecida? Desculpe, Rebecca, mas nisso você
não pareceu uma atitude madura, pelo contrário, agiu de

forma articulada e falsa.

Tive que morder a parte interna da boca para não chorar.


Inferno, ele havia conseguido me atingir de alguma forma

com suas palavras.


— Acontece, doutor, que o senhor não está na minha

pele. Eu tinha visto o homem que escolhi dividir a vida


beijando outra. Estava descontrolada, então você veio falar

comigo. Acha que eu deveria fazer o quê? Falar quem eu era


e gerar um tumulto? Porque duvido muito que você não

contaria a notícia sobre minha volta à cidade para a sua


família. Duvido que reagiriam bem.

O olhar de Nicolas se tornou mais feroz. Ele cruzou os


braços, ajeitando a postura. Engoli em seco.

— Então pelo menos isso do seu suposto marido era

verdade? Ele a traiu?

Sua pergunta me causou vergonha. Eu não queria que ele

soubesse desse lado escuro da minha vida, não queria que ele
descobrisse o relacionamento catastrófico que eu tinha.

— Sim, é verdade.

Ele estalou a língua, desviando o olhar, depois um


sorriso brotou em seus lábios, me fazendo ferver de raiva.

— Que triste para você, se bem que você foi ágil em dar

um troco. Conseguiu pagar seu marido na mesma moeda. E


agora, Rebecca, o que vai fazer?

Abracei meu próprio corpo, sentindo minha pele se

arrepiar por conta do frio, porque havia acabado de sair da


água e ainda estava molhada.

— Não é da sua conta o que vou fazer.

— Vai terminar com ele, provavelmente — Nicolas falou


como se fosse óbvio.

— Não sei, Nicolas. Não tenho ideia do que vou fazer a

partir de agora.

Ele me olhou surpreso.

— Você não teria coragem de permanecer com um


homem que te traiu, ainda mais depois dessa noite que
passamos juntos. Você não pode voltar a se entregar para um

filho da puta traidor, Rebecca — ele vociferou vindo até


mim, arregalei os olhos em choque

— O senhor não pode dizer o que eu devo ou não fazer.


Não se dá conta de que não sou mais aquela menina que

ouvia seus conselhos? O tempo passou para nós dois, e ao


contrário do senhor eu ainda não sou totalmente livre para
fazer o que me der vontade — retruquei, olhando em seus
olhos, ele me olhava tão profundamente que tive que desviar

o olhar ao continuar a conversa. — Eu faço tudo para me


proteger. Sem João Miguel eu não sei o que será de mim...

Paralisei ao Nicolas segurar meu rosto com as duas

mãos, me fazendo encará-lo.

— Eu posso te proteger. Te dar uma vida boa, te oferecer

o mundo se necessário, Beca. Você não precisa ficar com esse

seu marido de merda! — murmurou, decidido, senti um fio de


esperança me tomar. — Só peço em troca que seja só minha.

Que se entregue somente a mim. Quero que seja meu segredo.

Se aceitar eu esqueço todo o sofrimento que me fez passar no

passado, eu a perdoo por tudo, só basta dizer que sim.

Sofrimento do passado?

Fiquei confusa. O que ele queria dizer com isso? Apenas

um de nós havia sofrido demais no passado, e esse alguém


era eu.
Ele está tentando pôr na balança tudo que passei por sua

causa com o pouco sofrimento que diz que teve?

Furiosa, empurrei seu peito, fazendo-o tombar para trás,

afastando-se de mim. Quem ele pensava que era? Estava me

tratando como uma mercadoria que poderia comprar para seu


prazer.

Que ódio desse médico canalha!

— Escute bem o que vou te dizer. Eu não estou à venda,

doutor Nicolas — esbravejei. — Você pode estar acostumado


a ter tudo que quer, a comprar mulheres, mas eu não sou

como essas que aceitam qualquer coisa por dinheiro. E sabe

quando vai me ter de novo em seus braços? Nunca! Espero


que tenha gostado do pouco que teve de mim essa noite, pois

foi a última vez que me fodeu.

Dito isso, saí pisando duro, completamente furiosa com


Nicolas. Entrei no closet e vesti o vestido rapidamente,

depois calcei meu sapato, mesmo estando molhada, quando

voltei para o quarto ele também havia vestido uma calça.


— Você vai voltar para seu marido então? É isso que

pretende?

Estava pronta para abrir a porta do quarto e sair, mas

escutei sua pergunta. Parei com a mão na maçaneta.

— Por que isso te preocupa tanto? Até ontem você nem

sabia se eu estava viva ou morta. Vai dizer que o sexo que

fizemos significou algo para o senhor?

Me virei para encará-lo, seus olhos estavam

avermelhados.

— Eu não deveria me meter, Beca, mas é que não


consigo imaginar você voltando para um homem que te

trocou pela primeira vagabunda que encontrou em um evento.

Suas palavras saíram aceleradas. Seu peito subia e

descia conforme falava.

— Aquele velho ditado, o sujo falando do mal-lavado.

Você também me trocou, não diria que por uma vagabunda,

mas me trocou. João Miguel pode até me trair, mas nunca me


abandonou quando eu precisava de apoio e suporte. E você,

onde você estava quando mais precisei?


Ele me fitou mudo, sem palavras. Simplesmente me

cansei, abri a porta e saí do seu quarto, e fui embora o mais


rápido que eu pude daquela cobertura.

Peguei um táxi e fui para casa.

Minha ficha parecia que não tinha caído ainda de tudo


que havia acontecido. Parecia loucura que havia me metido

nessa confusão. Meu Deus. Eu transei com Nicolas, e ele

sabia quem eu era. Por Deus, que vergonha estava sentindo.

E o pior de tudo era que tinha sido incrível, porra, há muito


tempo que eu não me sentia desejada daquela forma por um

homem. Há muito tempo que não sentia algo tão intenso e

que não gozava com penetração. Caramba, quando cheguei ao


orgasmo senti como se alcançasse o céu e voltasse segundos

depois para a terra. Foi maravilhoso. E estava me sentindo

culpada por ter feito e pior, gostado de transar com o cara

que partiu meu coração.

E o pior era saber que para Nicolas eu era apenas mais

uma mulher que ele conseguiu pegar. Sua proposta de eu ser

sua amante me deixou possessa de raiva, eu não me


esqueceria disso tão cedo. Ainda estava me sentindo
ultrajada, ofendida. Quem ele pensava que eu era, um tipo de

interesseira ou uma acompanhante de luxo que aceitava se

vender por conta de dinheiro? Preferia morrer a ser assim.

Interesseira.

O táxi parou em frente à minha casa, paguei e entrei o

mais rápido que pude para dentro. Ainda estava transtornada,

sentindo meu coração bater fortemente dentro do peito. Só


queria tomar um banho e me enfiar no meio das cobertas, mas

assim que pisei dentro de casa, vi que não seria possível isso,

que a noite seria longa e dolorosa.

João Miguel para a minha surpresa estava na sala,


andando de um lado para o outro parecendo tenso. Freei meus

passos ao vê-lo, ficando com raiva e, ao mesmo tempo, medo.

Por mim nunca mais olharia o rosto daquele traidor, sentia


ânsia só de imaginá-lo ele me beijando com a mesma boca

que beijou aquela estranha, me tocando com as mãos que a

tocou.

— Graças a Deus, Rebecca, onde você estava? Me


deixou muito preocupado quando não te achei no final do
evento. — Ele veio até mim fingindo preocupação. Tentou

tocar meu rosto, mas o empurrei.

Ele me encarou abismado como se não compreendesse o

motivo de eu o estar tratando assim. Falso, ordinário!

— Nunca mais me toque, entendeu? — esbravejei fora de

mim. — Quer me convencer que estava preocupado com meu


paradeiro? Ah, com certeza estava.

Ri friamente, enquanto João Miguel me encarava

perplexo.

— Por que está me tratando assim, amor? O que te fiz?

Eu quem deveria estar bravo pelo seu sumiço.

Não aguentei, gargalhei, pois não estava acreditando na

cara de pau do maldito.

— Caramba, você é um maldito manipulador. Como

nunca notei isso antes?

Sua expressão cínica mudou instantaneamente para de


fúria.
— Olha aqui, Rebecca, fale direito comigo, sou seu
marido, não se esqueça! — Ele ergueu o tom de voz comigo,

mas não me abalei.

— Olha só, agora você resolveu se lembrar de que é meu


marido. Se bem que nem esse título de marido te serve, visto

que não somos casados aos olhos dos homens — retruquei em

frente ao seu rosto. — Não adianta você vir dar um de

machão agora, João Miguel, pois eu vi você me traindo


naquele evento, você é o único errado aqui.

Seus olhos se arregalaram ao saber que eu tinha o

flagrado. Canalha!

— Você me viu? Como? — perguntou, manso.

— Fui te procurar e encontrei — menti. — Aquele

evento era para você ser meu par, mas, não, você preferiu
pegar a primeira mulher que apareceu, certamente fazendo-a

achar que era rico, como a maioria dos homens presentes ali.

— Eu... Ela me seduziu, amor. Eu juro que não tive

culpa. Sou homem e é difícil resistir, principalmente a uma


mulher bonita como aquela, quando eu vi já tinha acontecido,
mas não fomos até o final, porque eu pensei em você.

— Pensou em mim? — perguntei, incrédula. — Acha que


sou besta?

João Miguel se contorceu, sem saber o que dizer para se

defender

— Já chega disso, Rebecca. Eu não vou ficar ouvindo


uma mulher levantando a voz para mim. Você é minha mulher
e me deve respeito.

— Respeito? — resmunguei, já quase sem voz. Estava


me sentindo pior que um animal maltratado. Tinha que
revidar. — Está aqui o seu respeito,

Ele franziu o cenho sem entender e, então, ergui a mão e

com toda a força que tinha, mirei ela na sua cara. Acertando
bem em cheio sua bochecha com um tapa que estralou. Minha
mão ardeu muito e, por isso, levei-a ao peito.

Só me dei conta da besteira que tinha acabado de fazer


quando o rosto de João Miguel se virou na minha direção,
tomado pelo ódio.
— Agora você me paga, sua maldita! Vou te destruir!

Meus ouvidos estrondou com seu grito, antes que eu


pudesse fugir e correr, ele me agarrou pelos cabelos e me
jogou no chão. Depois subiu por cima de mim e me bateu

como nunca tinha batido antes.

Fechei os olhos e em meio à dor, só torcia para ele


parar, logo, pois não estava aguentando mais. Mas João

Miguel só parou quando comecei gritar de dor, quando já não


aguentava mais ser surrada. Ele se levantou e saiu dali, me
deixando no chão, jogada e machucada.

Eu não tinha forças para me levantar, era como se

estivesse partida, por dentro e por fora.


Pela manhã do dia seguinte do evento eu me levantei

bem cedo do sofá, onde havia dormido, fui até o banheiro e


tomei um banho rápido. Estava sentindo muita dor e mal

tinha dormido naquela noite por conta disso, mas ainda


precisava visitar o consultório médico onde fui recomendada

para tentar a vaga.


Fiz tudo, me arrumei e comi sem fazer barulho para não

acordar João Miguel que havia dormido pomposo no quarto.


Eu estava silenciosa, pois pretendia após conseguir o

emprego sair dessa casa, nem que tivesse que morar debaixo

da ponte eu não ficaria mais com esse homem que me batia


de maneira tão vil.

Quando olhei meu corpo no espelho do banheiro e rosto


até eu mesma me assustei, estava horrível, com várias marcas

de roxo e meu olho estava inchado, a boca cortada. Entrei em

desespero, sem saber o que fazer para esconder todas essas


marcas. Peguei minha maleta de maquiagem e tentei operar

um milagre em minha pele. Vesti roupas que cobrissem bem o

corpo, assim ninguém veria os hematomas.

Depois que terminei percebi que mesmo tentando

esconder, não havia conseguido totalmente, meu olho estava

muito inchado, e nem a base cobriu o roxo por completo.

Suspirei sem ter mais ideias. Não adiantava, eu precisava

arrumar uma desculpa para os machucados se alguém

perguntasse e ponto, não tinha jeito.


Meia hora depois, cheguei até o consultório médico onde
tentaria a vaga. Entrei e fui direto conversar com a

recepcionista, que não escondeu o olhar de pena quando

olhou meu rosto.

— Olá, bom dia. No que posso ajudá-la?

— Oi, bom dia. Vim tentar a vaga de recepcionista. Vim

pela indicação de Heitor Albuquerque, me chamo Rebecca


Almeida Ferreira.

Ela não deixou transparecer a surpresa no olhar.

— Ah, então você é a Rebecca!? Prazer em conhecê-la,

já estava a aguardando — respondeu a mulher sendo

simpática. — Me chamo Lara, sou a recepcionista que você

vai substituir. O doutor me deixou responsável em achar uma


nova recepcionista, pois confia muito em mim.

— Ah, entendi. Então, você já deve saber o essencial


sobre mim, não é? — perguntei, ela assentiu.

— Sim, sei. Você veio bem recomendada, certamente

ficará com a vaga. Tem experiência no cargo o que é ótimo.

Só preciso te colocar a par de tudo, sobre os gostos do doutor


e do funcionamento daqui. Para ser bem sincera eu preciso te

treinar, tudo bem?

Ela parecia ser gente boa, gostei dela.

— Por mim tudo ótimo.

Lara sorriu e, então, fitou-me por alguns instantes

curiosa.

— Desculpe ser indelicada, mas você está bem? Seu


olho...

— Eu caí — falei. — Acabei bebendo demais em uma


festa e isso aconteceu.

Sorri amarelo e ela assentiu mesmo não parecendo

acreditar.

— Você não bebe e fuma em horário de expediente, não

é? Desculpe, mas preciso perguntar.

Ela sorriu singela.

— Não. Eu só bebo socialmente não se preocupe, e não


fumo!
— Ótimo, então sendo assim. Seja bem-vinda, espero

que fique com cargo e que dure bastante aqui — disse,


ficando de pé e me estendendo a mão. Apertei com gentileza.

— Venha, vou te mostrar tudo aqui.

Assenti um pouco mais animada para conhecer o

consultório, que, aliás, era um luxo. Seria ótimo trabalhar


nesse lugar, tão confortável e com ar-condicionado o dia

todo. Lara me mostrou todas as salas e lugares, explicou-me


melhor sobre o funcionamento e agenda do médico.

— O salário daqui não é altíssimo, mas o doutor é um

patrão generoso. Sempre dá um agrado no final do mês, se


for prestativa com ele. Digamos que ele exige um trabalho
bem esforçado e, às vezes, você pode estar dormindo e

receberá uma ligação para remarcar algo, ou providenciar


algo urgentemente — contou Lara, enquanto caminhávamos

pelo consultório.

— Nossa, achei que o trabalho era para recepcionista e

não assistente pessoal.

Ela riu da minha fala.


— É de tudo um pouco. Às vezes pareço mais uma
assistente pessoal porque tenho que até ouvir a bronca das
mulheres com quem o patrão se envolve. Ele é um homem de

índole impecável, no entanto, um libertino nato.

— Uau. Achei que ele era mais velho e casado —

confessei.

— Aquele lá está longe de se casar. Parece até que tem


pavor ao escutar a palavra matrimônio. Ele coleciona

corações partidos, isso sim, várias vezes mulheres ligaram


em prantos, pedindo sua atenção, e ele simplesmente me

mandava bloquear o número.

Franzi o cenho. Meu Deus, mais um cretino para eu

aturar.

— Entendi. Bom, acho que posso lidar com isso sem


problemas. Se ele é um bom patrão como diz, não vamos ter

complicações.

Sorri novamente amarelo e sem graça. Ela me olhou por

um instante.
— Você parece ser uma mulher bem profissional, gostei
de você! — falou. — A senhorita acha que pode começar
hoje? Desculpe a pressa, mas estou ansiosa para passar esse

meu cargo para outra pessoa.

— Ah, sim, claro. Adoraria — concordei de pronto.

— Então ok, Rebecca. Vamos lá!

Lara sorriu parecendo ter me adorado. Acho que a


coitada não via hora de conseguir alguém para ficar com seu

cargo.

Estava feliz por ter conseguido o emprego, apesar de que


seria só um tempo de experiência primeiro para ver se estava

apta para ser contratada, mas já era uma esperança.

Durante toda a tarde eu fiquei atendendo as pessoas por

ligação. Não tinha atendimento presencial porque o doutor


não viria trabalhar. Lara disse que ele só passaria no

consultório à tarde para assinar alguns papéis importantes.

Então eu o conheceria.

Havia levado meu celular para o trabalho, e me

arrependido de ter feito, pois não parava de vibrar. Então


aproveitei o momento que Lara foi ao banheiro para checar as

mensagens. Tinham várias de João Miguel.

Rebecca, me perdoe, eu não sei o que me deu ontem.

Passei dos limites, estou tão arrependido. Por favor, não

me denuncie, eu faço o que quiser, eu te imploro, mas não


me deixe.

Eram várias mensagens e todas do mesmo jeito de

sempre, quando acontecia esses seus surtos momentâneos.

Eu te amo, nunca mais trisco o dedo em você. Vou ser


o marido perfeito, só me dá mais uma chance. Vou até

preparar um jantar gostoso para você, linda. Você é a

mulher da minha vida, a única que importa para mim.

Por favor, me responda. Não quero te perder.

Não vai contar para ninguém que te bati? Vai?

Se fizer isso vai foder com minha vida e com a sua.


Por que como vai viver sem mim? Quem vai sustentar

nossa casa?
Desculpe mais uma vez, eu me excedi, mas não vai

mais acontecer, prometo.

Foi a última vez que te traí, amor, a última vez que

fraquejei.

Simplesmente ignorei todas as suas mensagens, porque

não valiam a pena ser respondidas. Estava cansada de tudo

isso, farta de sentir medo, de deixar as pessoas me pisarem.


Estava exausta de sofrer e sofrer...

— Você deve ser a nova recepcionista? — Estava tão

distraída que nem notei a aproximação de uma pessoa.

Levantei a cabeça devagar e tomei um susto ao me deparar


com Nicolas parado à minha frente. — Rebecca?

— Nicolas. — Minha voz quase que não saía ao citar seu

nome. Fiquei de pé rapidamente. — Eu, desculpe, não


esperava você aqui.

— Bem, eu sou o dono desse consultório. O médico

responsável por todas as cirurgias plásticas.

Meu queixo caiu. Meu Deus, como não pude observar o

nome do consultório. O sobrenome. Como fui inocente.


— Nossa, eu não fazia ideia, eu juro. Senão eu nem teria

vindo — falei e, então, olhei para Lara que estava voltando


do banheiro. Fiquei de pé. — Se quiser não me contratar eu

entendo, doutor.

Minhas mãos ficaram trêmulas e eu fitei o chão.

— Olha, não podemos falar sobre isso aqui, ok. Venha

até minha sala — ele respondeu com jeito profissional e saiu

andando, passou por Lara. — Bom dia, Lara.

— Bom dia, doutor Albuquerque.

Caramba, meu coração havia disparado violentamente.

Fiquei sem reação. Não estava acreditando que Nicolas seria

meu chefe. Merda!

Demorei uns segundos para conseguir segui-lo até sua

sala. Que enrascada o destino havia me metido. Pelo amor de

Deus! Eu queria fugir dali.

Entrei em sua sala logo em seguida dele.

— Encoste a porta e sente-se, por favor — pediu antes

de se sentar em sua mesa. Fui até a porta e a fechei, depois


me sentei na poltrona à sua frente. Senti um frio na barriga

ao me deparar com seu olhar intenso e obscuro. — Agora me

conte, Rebecca, como veio parar aqui. Como foi tão bem

recomendada para a vaga de recepcionista?

— Seu irmão quem fez isso — expliquei, juntando os

joelhos um no outro. Estava tensa. — João Miguel, meu

companheiro, trabalha de motorista na casa do seu irmão.


Nisso acabei reencontrando Heitor que, por incrível que

pareça, me reconheceu, acredita? E foi solidário em me

indicar para seu consultório.

— Te reconheceu? — O cenho de Nicolas se franziu. —


Estranho, mas tudo bem. Você veio bem recomendada, pelo

que soube já trabalhou por um tempo como recepcionista

antes.

— Na verdade, eu trabalhei durante anos como

recepcionista, senhor — disse. — Estava animada para esse

emprego, muito feliz em poder trabalhar em um consultório

tão renomado, mas agora confesso que estou assustada.


Nunca imaginei que poderia ser você o médico daqui. É claro

que sabia que você havia se tornado um doutor, mas nunca


me passou pela cabeça que teria um consultório próprio. E

como a maioria dos médicos dessa cidade pertencem a sua


família, não estranhei o sobrenome Albuquerque na fachada

do consultório.

— De fato, esse é apenas um dos consultórios que

pertencem à minha família. Como bem sabe, tenho tios,


primos que escolheram a área da medicina, além de meus pais

e irmão.

— Eu sei bem disso. — Minha voz saiu um tanto amarga.


Nicolas fitou meu rosto com curiosidade. — Então você quer

que eu continue com a vaga de emprego?

— Sim. Não vejo motivos para que não possamos

trabalhar juntos. Podemos nos dar bem, e conviver em


harmonia, como patrão e funcionária.

Nicolas sorriu sem mostrar os dentes, ele estava sendo

cínico e isso me irritava muito.

— Ótimo, porque preciso desse emprego.

— Eu nunca te tiraria seu emprego por motivos pessoais.

Não é justo que nosso passado e o que aconteceu entre nós


ontem interfira nisso. Ok — decretou, sério, então se
levantou. Deu a volta na mesa e se encostou nela. — Agora,

podemos deixar as formalidades de lado, Rebecca. Enfim,

agora sei onde encontrar você e a seu companheiro que farei


questão de quebrar a cara e depois mandar para cadeia por

violência doméstica.

Levantei-me em um pulo, impressionada com o que tinha

acabado de ouvir

— Como assim? Do que está falando?

O olhar de Nicolas transpareceu ódio e raiva.

— Não adianta tentar negar, ou se pintar com


maquiagem. Quando bati os olhos em você percebi esse roxo
e olho inchado. Você apanhou desse homem que chama de

marido. Não apanhou?

Ele me fitava vidrado, com sede de vingança.

— Eu... caí — menti em vão. Ele riu com frieza

— Caiu? Ok — falou e pegou o celular, me deixando


arrepiada, ele começou a teclar números. — Então isso que a
polícia vai dizer. Duvido muito, Beca, que por baixo das suas
roupas você esteja intacta.

— Por favor, não faça isso! Não pode se meter na minha


vida dessa forma. Mesmo que chame a polícia, eu negarei
tudo!

Nicolas passou a mão pelo rosto contorcido pela fúria.

— Você tem duas opções, Rebecca. Quer visitar o


desgraçado do seu marido na cadeia ou no túmulo? Porque eu
vou matá-lo ou fazê-lo sofrer de alguma forma — disse,

decidido, arregalei os olhos. — A escolha é sua!


Muito pior do que encontrar Rebecca no meu consultório
como minha nova recepcionista, foi ver seu rosto tão

angelical e bonito com marcas horríveis de espancamento. No

momento em que vi, tentei manter a calma e profissionalismo


na frente de tudo, mas a raiva me consumiu aos poucos. Vê-
la daquele jeito, com marcas de socos me deixou com um

ódio interminável do responsável pela atrocidade.

Se encontrasse o homem que fez isso, eu o destruiria. Eu

o mataria se fosse preciso.

Um homem que batia em mulher merecia perder a mão e


apanhar tanto, todos os dias, para saber o quanto doía nas

mulheres esse tipo de humilhação. Mais que isso, eles

mereciam pagar na cadeia e ser isolados da sociedade.

Nunca pensei que pudesse ver Rebecca nesse estado tão

devastador. Isso mexeu tanto comigo de uma forma


angustiante.

— Para com isso, Nicolas. Eu te imploro. — Ela correu


até mim e segurou a minha mão que estava com celular. —

Não quero denunciá-lo, apenas seguir minha vida, deixar essa

relação tóxica para trás.

Não estava acreditando que ela ainda o defendia mesmo

depois de tudo que o crápula fez. O maldito merecia pagar

por isso, ele não podia sair impune.


— Você quer deixá-lo impune? Para que continue
fazendo isso com outras mulheres ou até mesmo com você,

Rebecca?

Ela começou a chorar de desespero.

— Eu não quero que nenhuma outra mulher passe pelo

tormento que eu passei, mas tenho certeza de que se eu o

denunciar e ele ficar livre vai querer se vingar de mim. Eu


tenho tanto medo, tanto pavor dele, Nico... — Sua voz saiu

desesperada, notei que tremia muito. Senti um aperto dentro

do peito por vê-la tão frágil e amedrontada. Meu ódio por seu

marido só aumentou.

Resolvi ampará-la. Abracei-a e a aconcheguei em meus

braços, sentindo-a tremer compulsivamente.

Mesmo com o rancor que sentia por Rebecca por conta

do passado, ainda assim me sentia mal por saber que ela foi

machucada de tal forma, e não conseguia mudar meu instinto

defensor e protetor.

— Se acalme, eu não vou permitir que nada te aconteça.

Não vou deixar que esse homem te machuque de novo, eu te


prometo!

— Você não pode prometer isso. Ninguém pode —

resmungou ela em prantos. — Veja bem. Só eu sei que o João

Miguel tem um lado obscuro, horripilante. Ontem mesmo eu


cheguei a achar que ele fosse me matar de tanto bater e o

pior era que eu não tinha culpa de nada. Mesmo assim


apanhei.

Senti um calafrio subindo por minha coluna. Uma fúria

interminável.

— Essa foi a primeira vez que ele te bateu? —

perguntei, afastando seu rosto para segurá-lo entre as mãos.


— Seja sincera.

Seus lábios tremiam e seu rosto estava todo molhado de

lágrimas.

— Não. Aconteceu outras vezes, mas essa foi a pior

delas — respondeu. — Mas não quero que o senhor sinta


pena de mim. Eu me coloquei nessa situação e só eu posso

fugir dela.
Seus olhos estavam tão tristes. Eram olhos de alguém

que já havia sofrido muito nessa vida, dava para notar.


Engoli em seco.

— Tudo bem, eu deixo fazer o que quiser, contanto que


me permita ajudá-la — pedi, prestativo. — Eu tenho um

apartamento vazio, pequeno e mobiliado aqui perto. Você


pode morar nele por um tempo, até se restabelecer

financeiramente, assim você não precisa voltar para a sua


casa e cruzar com esse homem.

Beca piscou lentamente, me olhando surpresa.

— É muito o que está propondo fazer por mim, Nico.


Não posso aceitar.

— Por favor, Beca, se não aceitar eu juro que destruo a

vida de seu marido, que nessa altura já deve ser ex-marido,


eu suponho. Farei meu irmão demiti-lo e armarei uma

emboscada para ensiná-lo a aprender a respeitar uma mulher


na marra.

O rosto de Rebecca ficou mais pálido. Ela se assombrou


com a minha ameaça, com certeza percebeu que estava
falando sério e que seria bem capaz de cumprir o que disse.

— Tudo bem, eu aceito, mas por apenas um mês, doutor.

Preciso de um mês apenas para me restabelecer e tirar João


Miguel da casa.

Assenti mais aliviado e, então, fitei seus lábios

carnudos, vermelhos, lindos e desejáveis, antes de soltá-la.

— Vou te dar a chave e o endereço do apartamento. Sei

que vai precisar ir até sua casa pegar roupas e alguns


pertences. Eu quero acompanhá-la para ter certeza de que
esse cara não vai agir de forma agressiva novamente.

Dei a volta na mesa e me sentei na cadeira novamente.

— Isso eu não aceito. Não quero que vocês se encontrem

pessoalmente.

Fitei-a olho no olho.

— Por que não? Tem medo de que ele descubra que tem

um homem de verdade interessado em você?

Beca contemplou-me abismada


— O quê? Você está interessado em mim? — Sua voz
saiu exasperada e confusa.

— Estou interessado em protegê-la nesse momento. Para


ser sincero, também tenho outros interesses na senhorita,
interesses peculiares, você sabe quais.

Olhei-a de cima a baixo, e mesmo vestindo aquela roupa

ridícula que a cobria toda, eu sabia o corpo delicioso que se


encontrava por baixo. O corpo que me deixava maluco de

desejo.

— Cria vergonha na cara, doutor Nicolas! — bradou ela,


cruzando os braços. — Você primeiro é gentil ao me oferecer

ajuda e depois volta a ser o homem safado, galinha de

sempre. Já aviso, se quer me ajudar por ter outras intenções,

fale já, porque eu não vou aceitar isso.

Ela parecia uma fera brava e isso me instigava muito.

— Não vou ajudá-la com outras intenções, garanto que

não sou esse tipo pior de canalha. Não vou cobrar nada e nem
fazer exigências, só quero que fique protegida e longe desse

maldito agressor.
Ela assentiu mais aliviada.

— Sendo assim, eu vou aceitar sua ajuda, mas só porque


preciso muito dela — confessou, descruzando os braços. —

Agora se me der licença, doutor, tenho que voltar à minha

função, porque a dona Lara deve já estar estranhando a minha


demora.

Concordei com a cabeça.

— Vá. Daqui a pouco lhe passo o endereço e entrego a

chave do apartamento!

Ela me olhou por um último momento antes de me dar as

costas e caminhar em direção à porta, antes de sair por ela.

Suspirei alto ao ficar sozinho na sala. Passei a mão pelo


cabelo bagunçando-o, sentindo um mutirão de sentimentos

dentro de mim.

Essa mulher, tudo nela, mexia comigo. E isso era um


perigo e o pior, para os dois.
Como já sabia que Beca não me deixaria acompanhá-la

resolvi fazer mesmo sem a sua permissão. Assim que o

horário de seu expediente terminou e ela foi embora, esperei-


a sair do consultório para segui-la. Ela ficou um tempo em

frente ao consultório esperando o Uber e, então, entrou nele.

Peguei meu carro assim que o do Uber saiu e o segui,

discretamente, para que não notassem nada.

Logo o carro do Uber entrou em um bairro humilde da

cidade. Continuei seguindo-o, até que ele parou em frente a

uma casa pequena, de portão cinza e paredes brancas. Era


uma casa simples. Estacionei o carro longe da sua casa para

ela não reparar. Observei Beca sair do Uber e entrar na sua

casa. Fiquei só esperando para ver se o ex-marido dela


estaria lá dentro ou ainda chegaria do serviço. Foi então que

uns vinte minutos depois outro Uber parou em frente à casa,

e ele saiu de dentro dele. O maldito.


Cerrei os punhos e trinquei os dentes, vendo o filho da

puta que bateu em Rebecca. Ele estava usando um terno que


devia ser seu uniforme de motorista. Era alto e magro. Assim

que vi que ele pretendia entrar na casa não pensei duas

vezes, saí de dentro do carro e fui até ele, que já havia


passado pelo portão da casa.

— Ei, você. Preciso falar contigo! — falei um tanto

grosso. Sentia meu sangue fervendo.

— Quem é você? — questionou o desgraçado, me


olhando de cima a baixo. Ele saiu novamente de casa vindo

até mim. — O que quer comigo?

— Você já vai ver o que eu quero!

Ele me olhou confuso, sem entender, até que ergui a mão

em punho e, então, desferi um soco em seu rosto sem aviso

prévio, que o fez não ter tempo de raciocinar, quem dirá

reagir. O homem cambaleou para trás e caiu, batendo com o


corpo no portão. Avancei sobre ele e continuei desferindo

socos, sentindo a adrenalina me tomar. Tudo em mim pulsava

de ódio e raiva. Queria descontar o que ele fez a Rebecca.


— Isso é o que um espancador de mulher merece. Seu

crápula — vociferei em meio aos socos na sua cara. Iria

acabar com a sua raça. O maldito até tentava resmungar algo,

mas não dava tempo porque eu esmurrava sua boca sem parar.

— O que está acontecendo aqui! Pare, Nicolas, não faça

isso! — Do nada apareceu Rebecca. Ela saiu correndo de

dentro da casa e tentou me tirar de cima do merdinha do seu


ex-marido. — Já chega, ele está com rosto quase deformado.

Você vai matá-lo.

Ela estava aos berros completamente apavorada. Uma

pequena multidão de pessoas se formou no local, para


observar a briga, chocados. Eu não sentia vontade de parar,

não conseguia, estava fervendo de raiva por dentro e

precisava continuar a bater no filho da puta.

— Por favor, Nicolas, pare, por mim. Se ainda te

importa comigo pelo menos um pouco, faça isso por mim.

Rebecca puxou minha camisa desesperada. Parei de


socar o rosto do cara assim que ouvi suas palavras. Fiquei de

pé, saindo de perto do idiota. Olhei para seu rosto


ensanguentado, vendo-o começar a cuspir sangue e alguns

dentes. Estava saciado pela surra bem dada nesse espancador


de mulheres, com desprezo cuspi sobre ele e limpei as mãos

de sangue na camisa.

— Você pode até ficar livre da cadeia que é o que

merece, mas toda vez que se olhar no espelho vai se lembrar


de hoje. E do que te acontecerá se mais uma vez você tocar

na Rebecca.

Desferi um último olhar para Rebecca que estava


impressionada com o que tinha acabado de acontecer e,

simplesmente, saí dali, fui até meu carro, entrei e dei partida,

arrancando dali o mais depressa possível.


— Pessoal, acabou o show! Algum homem pode me

ajudar a levá-lo para dentro? Na verdade, a colocá-lo na


cama? — gritei para as pessoas que estavam assistindo a

briga e nem sequer interferiram.

— Eu posso. — Um dos vizinhos quis me ajudar. Ele


ajudou a levantar João Miguel que estava quase desmaiando

de tanto que apanhou. Eu sequer conseguia olhar seu rosto,

estava horrível, parecia deformado. — Você vai chamar a


polícia? — perguntou o vizinho.

— Não vou envolver a polícia — falei. O homem


assentiu e entramos na casa. Fomos até o quarto. Ele colocou

João Miguel na cama. — Pode ir agora. Eu cuido dele.

O vizinho assentiu e saiu, mesmo parecendo


inconformado por eu não querer contatar a polícia.

Me sentei na cama ao lado de João Miguel, que gemia de

dor.
— Você quer que eu chame a ambulância? Quer ir ao
hospital? — perguntei sem olhar seu rosto.

— Eu não quero ambulância, quero camburão. Quero a


polícia atrás daquele louco miserável que veio até aqui me
espancar — falou com dificuldade, por conta da dor e a perda

de dentes.

— Você não pode ir à polícia e nem a chamar. — Virei


meu rosto na sua direção. — Escute-me bem, João Miguel. Se

você for à polícia eu também irei, e farei um boletim de


ocorrência contra você, uma denúncia de violência contra

mulher. Tenho provas de que você é um homem abusivo e


espancador. Eu te coloco na cadeia se tentar prejudicar o
Nicolas.

João Miguel me olhou surpreso, ele se sentou na cama

mesmo com dor.

— Você faria isso para defender esse estranho? — Sua


voz saiu fria. — Pelo visto ele não é um estranho para você.

Ele é o seu amante, certo?


Os dentes que sobraram estavam ensanguentados quando
ele sorriu com frieza. Meu estômago se embrulhou.

— Tem muita coisa sobre mim que você nunca soube,


porque nunca permiti que soubesse. Tenho segredos que nem

imagina, João Miguel — confessei. — Eu conheço Nicolas há


um bom tempo. Já namoramos quando minha mãe trabalhou
na casa de seus pais. Depois de alguns acontecimentos

perdemos contato, me mudei de cidade e só então te conheci.


Fui fiel a você por muitos anos, feito uma boba, mas ontem

quando eu vi você beijando outra, resolvi parar de ser besta.


Reencontrei Nicolas Albuquerque, meu ex-namorado e agora
cirurgião plástico renomado. Ele se interessou por mim, outra

vez. Nós saímos e transamos. — Suspirei passando a mão


pelo pescoço, lembrando-me do toque de Nicolas em mim. —
Ah, foi uma delícia experimentar novamente um homem de

verdade, que sabe como foder uma mulher, como fazê-la


gozar. Você nunca chegou aos pés de Nicolas, nem quando
ele tinha apenas dezessete anos era ruim de cama como você.

— Sua maldita safada. Se eu não tivesse acabado eu te


mataria agora mesmo! — Ele tentou me pegar, mas me
levantei e coloquei distância entre nós.

— Pior que corno é corno bravo — rebati, rindo da sua


cara. — Você precisa saber que nunca me senti tão bem

vingada como hoje, vendo essa cara sua tão arrebentada de


tanto apanhar. Por mim você estaria bem pior, só não deixei
que acontecesse mais porque temia que Nicolas pagasse.

— Sua puta de merda. Eu vou acabar com você!

— Você não vai fazer nada. Nunca mais vai chegar perto
de mim e torça para continuar com seu emprego, porque
Heitor é irmão de Nicolas, sabia? — Seus olhos se

arregalaram. — Que idiota você é. Por que será que Heitor


convidou um motorista merdinha para um evento importante?
Ele te convidou por minha causa, porque sabia quem eu era e

queria que eu reencontrasse o irmão. E você se achando


importante, se vestindo como um rico e se passando por um
homem afortunado. Espero que esteja satisfeito por ter ficado

com uma dama da sociedade, deve ter sido excitante, né,


sentir-se como alguém que nunca você vai ser. Porque você
pode se pintar de ouro que sua realidade não vai mudar. Você

sempre será um motorista de classe inferior e homem de


caráter duvidoso. Estou feliz e contente que nunca mais vou

precisar ir para cama com você. Só de saber que não


precisarei mais fingir sentir prazer enquanto minha boceta
continuava mais seca que o deserto, fico em paz comigo

mesma. Feliz da vida!

Senti que ele poderia infartar de ódio. Adorei ver a sua


cara diante das minhas confissões.

— Sua vagabunda. Se pensa que isso irá ficar assim está

bem enganada — grunhiu. — Você nunca será feliz sem mim,


nunca ficará em paz, isso eu te garanto!

Senti um calafrio ao ouvir sua ameaça.

— Seu verme. Isso é o que vamos ver!

Com pressa para nunca mais olhar para cara de João


Miguel. Fiz minhas malas, peguei as coisas que mais tinham

importância para mim. As fotos com minha mãe, minhas


fotos, não deixei nada que João Miguel pudesse se lembrar de

mim.

A partir desse dia, eu estaria livre. Solteira e sem


amarras, pronta para encontrar minha paz e ser feliz.
Assim que terminei de arrumar minhas malas e tudo que

precisava, chamei um Uber que não demorou tanto para


chegar e fui até o endereço do apartamento que Nicolas me

emprestou. Chegando lá, conversei com o porteiro e


expliquei a situação, no entanto, nem foi preciso dar muitas

explicações, já que Nicolas havia ligado para lá e explicado


tudo. O porteiro foi até gentil, me levou até a porta do

apartamento onde eu moraria por um tempo.

Assim que entrei no apartamento fiquei impressionada

com a beleza dele. Era lindo, um sonho de qualquer pessoa


solteira morar. Nicolas não mentiu, era um apartamento

pequeno, com sala, cozinha, dois banheiros, lavanderia e um

quarto apenas. Parecia um flat, por ser um lugar reservado na


cidade. Em que certamente os encontros passariam

despercebidos. Será que era para essa finalidade que Nicolas

usava aqui? Para se encontrar com mulheres às escondidas?

Bem, isso não importava. O importante era que me


serviria até que João Miguel fosse expulso daquela casa ou
eu encontrasse outra.

Como estava faminta, fui até a cozinha ver se havia


alimentos, torci para que tivesse, pois estava sem dinheiro

para comprar algo para comer. Fiquei aliviada por ver que

tinha muito mais do que eu precisaria na geladeira.

Felizmente, Nicolas parecia ter feito compras.


Montei um sanduíche e comi até me sentir satisfeita.
Depois fui até o quarto, levei minhas malas até lá. Separei

uma roupa e toalha para tomar um banho demorado, para

aproveitar o chuveiro quente sem medo de a conta de água

vir com um preço exorbitante.

No dia seguinte, cheguei bem cedo ao consultório, com a

intenção de ver Nicolas. Tínhamos muito o que conversar,

dado que ele havia garantido que se eu ficasse no

apartamento não faria nada contra João Miguel, mas ele não
hesitou em ir lá e bater nele. Não que eu não tivesse gostado

de ver João Miguel machucado daquela forma. Tinha que

confessar que, no fundo, amei ver Nicolas dando a surra que

ele merecia há tempos. Mesmo assim Nicolas quase se meteu

em uma enrascada, e tudo por minha culpa.

Assim que cheguei ao consultório, fui até sua sala, já

sabendo que ele estava lá. Nem pedi permissão para entrar,
aproveitei que só havia nós dois no consultório e entrei.

Nicolas me olhou surpreso.

— Rebecca... Bom dia. Você chegou bem cedo hoje —

falou, me fitando de cima a baixo. Caminhei até a poltrona e


me sentei à sua frente.

— Pulei da cama assim que o despertador tocou, doutor.

Porque tinha que falar com o senhor e não podia esperar.

Ele franziu o cenho e olhou em minha direção com seus

olhos verdes intensos.

— Imaginei. — Ele levou a mão ao queixo coçando a

barba — Quer falar sobre ontem, imagino.

— Sim. O senhor pode me dizer o que te deu ontem?

Sabia que por pouco João Miguel não te denunciou para


polícia?

Nicolas sorriu debochado, como se não se importasse

nem um pouco com isso.

— E por que ele não fez? Adoraria que fizesse, porque

assim eu contaria para a polícia meus motivos para ter


quebrado aquela cara do imprestável do seu ex-marido.

Revirei os olhos.

— Olha, não vou dizer que não gostei de vê-lo apanhar.

Sim, eu gostei e muito. Mesmo assim, não queria que o


doutor se metesse em problema por minha causa.

— Então, a senhorita pode ficar despreocupada, porque


não me meti em problema algum. Pelo visto seu ex-marido

não irá fazer a denúncia e eu também cumprirei a promessa


que fiz a você de deixá-lo em paz. Contanto que ele se
mantenha longe e não te toque novamente, seja com carinho

ou agressivamente. Não quero nem pensar nas mãos daquele


palhaço em você.

Os olhos de Nicolas faiscaram de maneira que

expuseram seu ciúme.

— O senhor pode ficar despreocupado que agora sou eu

que quero distância do patife — falei, amarga. — No entanto,


acredito que com tudo que aconteceu ele acabe perdendo o

emprego. Isso pode gerar revolta e tenho medo de João


Miguel buscar vingança contra mim, por isso que pedi para
não fazer nada contra ele.

Nicolas desviou o olhar por um segundo enquanto sorria


com raiva.

— Nisso você pode também se despreocupar. Eu já

conversei com Heitor, expliquei tudo que aconteceu. Ele não


irá demiti-lo.

Suspirei de alívio.

— Ótimo. Fico aliviada — disse, Nicolas voltou a me


olhar, mas seu olhar decaiu em meus lábios. — O senhor

também precisa saber que já fui para seu apartamento.


Ficarei o usando por um mês somente como eu havia dito.

— Seu rosto está melhor hoje, Beca. Seus lábios estão


menos inchados, o corte está cicatrizando — comentou
Nicolas, molhando os lábios com a língua, um arrepio tomou

meu corpo, estremeci.

— O doutor ouviu o que acabei de falar? — questionei.

Ele estava me olhando com malícia, me deixando sem graça


e, ao mesmo tempo, excitada.
— Sim, ouvi. E a senhorita sabe que pode ficar lá até o
tempo que lhe convir. Como já disse aquele apartamento é só
um dos que tenho na cidade, além de ser ótimo, confortável e

com vista incrível. E o melhor, fica em um prédio bem


localizado e discreto.

Fitei seu rosto me segurando para não fazer a pergunta

que estava curiosa em descobrir.

— Realmente eu notei que ele é um apartamento

discreto, doutor. Imagino que você o usava para os seus

encontros pessoais.

Mordisquei o canto interno da boca. Nicolas colocou as

duas mãos na mesa e observou meu rosto.

— Sim, confesso que usava ele para sexos casuais. Não é


sempre que levo mulheres à minha cobertura. Além desse

apartamento e alguns flats, às vezes reservo suítes de hotéis

de luxo para fins sexuais. — Ele abriu um sorriso cafajeste

que me fez ferver por dentro — Era isso que gostaria de


saber? Pronto, já descobriu que o meu hobby favorito é
comer boceta, e garanto que tenho um cardápio variado a

cada noite.

— Você é desprezível, doutor Nicolas. — Fiquei de pé.

— Quase me surpreendeu saber disso. Quase.

Nicolas também ficou de pé e atravessou a mesa da sua


sala. Sua aproximação me deixava um tanto acanhada. Ele

tinha um ar poderoso. Era alto e lindo, isso me perturbava

demais.

— E por que meus hábitos sexuais te surpreenderia?


Você mesma foi uma das minhas conquistas, Rebecca. E

naquela noite a senhorita me pareceu ser bem safada, fogosa

do jeito que gosto.

Ele colocou as mãos dentro do bolso da calça. Consegui

ver a rigidez de seu pau marcando nela.

— Já disse para o senhor esquecer aquela noite. Eu

estava fora de mim!

— Impossível esquecer você sentando no meu pau com

tanta vontade, tanto prazer que chegou ao clímax em

segundos. — Senti minha intimidade latejar com suas


palavras pecaminosas. — Mas agora sou seu chefe, por isso

não posso me dar ao desfrute de dar em cima de você, mesmo

que esteja morrendo de vontade de jogá-la por cima dessa


mesa e fodê-la até saciar minha vontade de comer sua boceta

fogosa e quente.

Fechei as pernas, sentindo meu sexo molhar. Droga. Ele

estava conseguindo me deixar com tesão.

— Você está sendo contraditório, doutor. Diz que não

pode se dar ao desfrute de dar em cima de mim, no entanto,

continua dizendo isso para mim. Devo lembrá-lo de que sou


sua funcionária e o senhor me deve respeito? — Arqueei a

sobrancelha e falei após limpar a garganta, porque minha voz

havia saído rouca. Nicolas sorriu, tirou as mãos do bolso e

deu um passo em minha direção.

— Peço desculpas, senhorita Almeida. Digamos que

perco o controle quando o assunto é a senhorita, mas nessa

altura do campeonato você já deve ter percebido isso.

Senti meu coração se acelerar. Ele estava tão próximo,

sua boca tão chamativa. Estava com a boceta encharcada, um


passo em falso e nós dois faríamos uma besteira.

— Tudo bem, eu o desculpo. Lembro-me de que um dia


fomos melhores amigos, doutor. Pensei que talvez nos dias de

hoje poderíamos também reconstruir a amizade que

perdemos. O que acha?

Seu olhar faiscou, engoli em seco.

— Escute-me bem, Rebecca. Eu nunca serei seu amigo.

Nunca. — Sua voz saiu rouca e mansa. — Eu quero bem mais

que sua amizade. Quero você inteira para mim, sua boca, seu
corpo, principalmente sua boceta. Acha que isso é coisa que

pensaria um amigo?

— Acho que o senhor está querendo demais, porque eu


já disse e repito, em mim você não coloca as mãos

novamente.

Me virei, mas antes que eu pudesse dar um passo,

Nicolas passou a mão pela minha cintura, entrelaçando-me.


Seu corpo foi prensado contra o meu por trás e, então, ele se

curvou e senti seu hálito contra a minha orelha.


— Você será minha novamente, Rebecca, não adianta

fugir. Eu sempre consigo o que quero, e eu quero você, bebê.

— Sinto muito, mas dessa vez o senhor não terá o que

quer. Pode matar seu desejo com outras, sei que tem uma fila
delas prontas para saciá-lo. Contudo, eu estou fora de

questão.

— Quanto mais me recusa, mais eu te desejo, sabe disso,


não é? — soltou de forma exasperada e esfregou a ereção em

minha bunda, me fazendo arfar baixinho. — Eu não estou te

dizendo que quero um compromisso com você. O único

negócio que eu desejo ter com você é a cama, bebê. Posso te


dar tudo que sempre desejou, em troca você me dá meu único

desejo, sua boceta.

Eu ri, me afastando dele bruscamente.

— Você não pode me comprar. Que coisa, não? A única

mulher que você quer com tanta intensidade não se curva ao

seu dinheiro!? — zombei, seu rosto se contorceu. — É triste


para o doutor, ter que me ver agora todos os dias no
consultório e não poder me tocar como quer. Aqui na sua

sala, em cima da mesa.

Caminhei até sua mesa lentamente, sabendo que seu

olhar me perseguia. Afastei alguns objetos de cima dela e me

sentei na mesa, fitando Nicolas com cara de safada. Joguei o

cabelo para o lado.

— Não jogue comigo, Rebecca. Você não sabe com quem

está lidando — ameaçou. Estava completamente excitado. O

seu pau só faltava furar sua calça.

— Sei sim, aliás, você merece isso — falei, me

lembrando do que me fez no passado. — Tantas coisas que

poderíamos fazer aqui. Fico só imaginando. Ah, que delícia.

Suspirei, soltando um gemido e, então, parei ao vê-lo vir

até mim como uma fera brava pronta para me dar o bote.

Antes que eu pudesse sair de cima da mesa, Nicolas segurou

meu pescoço, fitando meu olhos e, em seguida, minha boca.

— Pare de me torturar assim, Beca!

— Não paro — retruquei, petulante, molhando os lábios.

Ele rosnou, observando minha boca.


— Que se foda caralho! — ele xingou antes de atacar
minha boca com um beijo, que fiz questão de não retribuir.

Nicolas soltou meu pescoço após perceber que eu não

retribuiria. Ele se afastou decepcionado.

— Porra! Por que faz assim? O que te fiz para merecer

isso?

Desci da mesa ouvindo seus resmungos. Encarei-o


irritada por ele me fazer essa pergunta estúpida. Nicolas

sabia bem o que ele havia feito para merecer, mas estava

sendo cínico.

— Quer saber mesmo o que você me fez? Quer mesmo


que eu tenha que te jogar na cara coisas que você já sabe

bem? — Minha voz saiu alta e rígida. Nicolas me olhou,


passou a mão pelo rosto exasperado. Ele estava vermelho,
queimando de tesão e não podia me tocar.

— Quero, fale agora! — ordenou. Dei um passo em sua


direção pronta para jogar tudo sobre o passado em sua cara,
mas assim que abri a boca fui impedida de falar, pois a porta

se abriu e uma mulher entrou por ela sem pedir licença.


— Filho, eu… — Nicolas e eu estávamos exaltados. Nós
nos viramos na direção da mulher, que assim que coloquei os
olhos nela vi que se tratava de Vitória, a sua mãe.

— Rebecca? — A voz da mulher saiu alta e fina. Ela me


reconheceu no mesmo instante em que colocou os olhos em

mim e pelo olhar que me desferiu, ela estava chocada por me


encontrar na sala do seu filho.

Essa, com certeza, era a melhor hora para se falar de

assuntos do passado.
Aquele momento que você não queria que chegasse

nunca, mas sempre soube que uma hora ou outra ele teria que
acontecer. Parecia que o destino jogava conosco, que mesmo

mudando as peças e a roda da vida girando a todo instante,


sempre teríamos um reencontro com passado, mesmo que

evitássemos a todo instante.


— Mãe, eu já falei com a senhora sobre você invadir

minha sala sem ter a minha permissão — protestou Nicolas,


muito sério. — Lembra o que eu te disse da última vez.

— Desculpe, filho, eu não imaginei que você estava


acompanhado logo cedo. Perdão — Vitória falou, deixando

transparecer seu nervosismo. A mulher não desgrudava os

olhos de mim, como se estivesse vendo uma assombração. —


Rebecca querida, eu não sabia que você tinha voltado.

Ela tentou sorrir, mas ainda dava para transparecer sua

indignação ao me ver. Sorri de volta.

— É porque faz pouco tempo que eu voltei, dona Vitória.

E confesso que estou surpresa por você me reconhecer,

mesmo após tantos anos. Nem Nicolas me reconheceu tão

rapidamente, igual você e seu filho Heitor.

Seu rosto ficou mais branco que o normal, ela tentou se

recompor, limpando a garganta.

— É que eu nunca esqueço um rosto, querida — disse,

fingindo alegria, então se aproximou de nós. — Como estou

feliz em revê-la. Em pensar que conheci você quando era


apenas uma jovem garota, e olha para você agora, virou uma
mulher linda.

Ela tentou tocar minha mão, mas eu me afastei. Nicolas


direcionou um olhar confuso a mim.

— Obrigada. A senhora continua como sempre tão...

elegante — falei, olhando-a de cima a baixo. Sua presença

me causava aflição.

— Ah, que gentileza, meu bem. Mas, agora me diga, o

que te trouxe a cidade? E sua mãe, como ela está? Sinto tanta
falta dela.

Senti minha pulsação aumentar e meu sangue ferver.

— Minha mãe morreu há poucos meses. Me mudei para

cá para construir uma vida nova, mas isso não lhe interessa.

Vamos ser francas, você nunca deu e continua não dando a

mínima para mim e minha falecida mãe. — Me aproximei


dela, deixando transparecer o rancor em meu tom de voz. —

Portanto, não quero prolongar essa conversa sem propósito.

Então, irei voltar ao trabalho. Claro, com a permissão do

doutor.
Olhei Nicolas que observava nossa conversa com olhar

especulador.

— Claro, Beca, você pode ir — respondeu ele e, então,

fitei Vitória que não ousou dizer mais nada, o que foi ótimo,
pois pude sair dali sem ter que escutar sua voz de taquara

rachada.

Deixei a sala de Nicolas, sentindo meu coração apertado.


Aquela mulher me causava calafrios, só de lembrar das

maldades que fez comigo. Era como se o tempo não tivesse


passado, como se ela continuasse sendo aquele ser humano

horrível que destruiu meus sonhos e planos. Que brincou com


minha vida só por ser preconceituosa e não querer ver a filha
da empregada com seu filho.

Mas tinha certeza de que ela pagaria por toda maldade


que fez uma hora ou outra. Se existia justiça divina, como eu

acreditava, ela p a g a r i a e n ã o d e m o r a r i a a a c o n t e c e r.
— Pronto, agora que estamos a sós a senhora já pode
começar a me explicar o que acabou de acontecer aqui. Por
que Rebecca guarda tanta mágoa da senhora como ela deixou

transparecer? — quis saber, estressado, fitando o rosto de


minha mãe que ainda estava constrangida e parecendo

assustada. A expressão que obteve seu rosto quando viu


Rebecca deixou explícito que elas duas tiveram desavenças

no passado, embora isso não fosse um segredo para mim,


porque eu mais que ninguém sabia o quanto minha mãe era
contra a minha relação com Beca na adolescência, mas

tirando isso, não imaginava o que poderia ter levado as duas


se olharem daquela forma. De ódio puro. — Fale!

— Eu... Eu... Não sei filho o que houve. Não entendo


por que essa mulher falou daquela forma comigo, como se eu

não me importasse com ela nem com a falecida mãe, coitada


da Joana, que Deus a tenha. — Minha mãe fez um sinal de
cruz. Revirei os olhos.
— Tem certeza de que a senhora não sabe? —
questionei, não convencido, passei a mão pelo rosto de forma
exasperada. — Porque já aviso que não adianta mentir para

mim, uma hora ou outra, eu descubro tudo.

— Filho, eu quero que esse teto desabe sobre mim se

estiver mentindo. Sou uma mulher boa, nunca fiz nada para

Rebecca me tratar dessa forma fria e hostil — exclamou


minha mãe, parecendo desesperada para me fazer acreditar

nela, o que para mim era prova suficiente da sua cara de pau.

— Eu adorava Joana. Ela foi uma boa cozinheira durante o


período em que trabalhou para mim. E sobre sua filha eu

sempre a ajudei com tudo, com os estudos...

— E ajudou a nos separar também. Exigindo que eu

viajasse para ficar longe dela e nos separar. Porque eu sei


bem que você mentiu quando disse que Beca e eu poderíamos

ficar juntos depois da minha viagem de intercâmbio. Na

época, eu acreditei por ser ingênuo o suficiente para


acreditar que a mãe tinha boas intenções, mas agora, para

mim, está explícito seu plano hediondo — bradei, furioso, o

rosto de minha mãe se contorceu tomado pelo pavor. — Mas,


tudo isso já faz muito tempo, e eu perdoei a senhora.

Entretanto, se eu descobrir alguma coisa terrível sobre você


eu cortarei relações, entendeu? Não vou mais permitir que

você minta para mim, me engane, manipule e continue tendo

espaço para fazer isso mais vezes.

— Não acredito que está me ameaçando — murmurou,

fazendo-se de ofendida. — Só bastou a Rebecca voltar para

você me tratar assim, como um lixo e não como a sua mãe

querida. Me diga, o que ela te disse sobre mim? Qual foram


as calúnias?

Eu ri com frieza.

— Ela não disse nada sobre você. Não fez nenhuma


acusação, a não ser a mim.

— Está vendo? Que acusação ela poderia fazer a você se

foi ela que quis ir embora sem dizer tchau a você —


acrescentou. — Enfim, filho, eu não quero ter que te lembrar

de tudo que houve naquela época, até porque faz quinze anos

que tudo aconteceu e você não é mais um garoto, e sim um


homem. Então cuidado para não cair em armadilha, não deixe

essa Rebecca te enganar como fez no passado.

Bufei estressado.

— Rebecca agora é minha recepcionista apenas isso,

mãe. O passado ficou para trás, é uma coincidência a trouxe

até mim novamente, contudo, garanto que nós não temos

nada. Somente uma relação de chefe e funcionária.

Minha mãe revirou os olhos e posicionou a mão na

cintura.

— Pois não foi isso que pareceu quando entrei aqui.


Vocês estavam muito próximos. Cuidado para não levar um

golpe do baú! Sei o quanto essa mulher mexeu com você um

dia… pode ser que ainda mecha.

— Sim, confesso que sinto atração por ela ainda. E se


ela me quisesse eu teria novamente algo com Rebecca, mas

ela não me quer.

Vitória riu com deboche.


— Ora! É claro que ela está fazendo um joguinho para te

deixar atraído então. A não ser que ela esteja comprometida,


já que está na idade de ter uma família.

— De fato, ela estava comprometida, mas devido a

alguns acontecimentos não está mais — contei, causando

revolta em minha mãe.

— Claro que ela assim que te reencontrou viu a chance

de mudar de vida. Óbvio que acabou com antigo

relacionamento por você — falou com nojo. — Que


mulherzinha mais sem caráter!

— Você não vai falar dela assim na minha frente — rugi,

tomado pela fúria. — Peço que se retire, já falamos tudo que


tínhamos para falar um para o outro. Não vou escutar mais as

baboseiras que saem da sua boca.

Minha mãe me olhou de olhos arregalados, levou a mão

no peito ultrajada.

— Vai brigar comigo por conta daquela mulher? Por

Deus, quer comer na mão dela de novo? Ser feito de besta?


— Eu não ligo para o que Rebecca faz ou deixa de fazer.

Sua volta não muda nada para mim. Eu digo e repito, nossa

relação ficou no passado. Não somos mais os adolescentes

que namoraram e eram melhores amigos, no entanto, não


permitirei que fale mal dela na minha frente e de preferência

nem pelas costas. Ela é uma mulher forte que passou por

muita coisa e não merece ser julgada mal e nem maltratada.

Vitória espremeu os lábios um no outro até ficarem

brancos.

— Tudo bem. Você pode pelo menos me informar onde

ela está morando? Imagino que seja em um barraco de quinta


categoria, mas gostaria de saber, para, quem sabe, ajudar em

algo...

— Ela, por enquanto, está ficando em um dos meus


apartamentos — falei, vendo o pescoço da minha mãe quase

estralar quando ela virou o rosto na minha direção. — Não

me pergunte o motivo, a senhora só precisa saber que

precisei ajudá-la.
— Eu... Não digo mais nada — disse a contragosto. —

Porque se eu disser o que estou pensando temo que você


nunca mais falará comigo em prol de sua concubina.

— Ela não é minha concubina...

— Não? Você já está a mantendo no seu apartamento, e

duvido muito que não tenha transado com ela. Meu Deus, que
terror que estou passando! Só posso ter jogado pedra na cruz.

Minha mãe fechou os olhos e juntou as mãos fazendo

drama.

— Sinceramente, mãe. Muitas coisas aconteceram desde

que Rebecca reapareceu em minha vida. Mas não irei contar

detalhes e peço que respeite minhas escolhas e se mantenha


longe de nós. Não quero sua intromissão, entendeu?

Ela pareceu engolir em seco.

— Ok. Não vou me intrometer, faça o que quiser. Estou

indo embora. — Terminado de desferir as palavras ela me deu


as costas e caminhou até a porta, mas parou antes de sair, e

sem me olhar me disse:


— Só tome cuidado para não a engravidar. Porque tenho
certeza de que ela não hesitará em te dar o golpe do baú.

Então, Vitória saiu da sala sem me dar tempo para

responder.

Suas palavras ativaram memórias da noite em que transei

com Rebecca. Me lembrei de que com ela eu fiz algo que

nunca costumava fazer com mulher alguma, transei sem


camisinha.

Tamanho era meu desejo por Beca que nem me lembrei

da camisinha, ou desejei usar. Eu gozei dentro dela e,

provavelmente, existiam chances de engravidá-la se ela não


se prevenisse com contraceptivos.

Meu Deus. Eu corria o risco de ser pai pela primeira

vez. E pior, pai de um filho da mulher que era um perigo para


mim e para a minha sanidade.
À noite, naquele dia, após o trabalho cheguei em casa
exausta, só querendo tomar um banho e me deitar. Nem
ânimo para jantar eu tinha. Fui até o banheiro, me despi e

tomei um banho rápido, coloquei um pijama e fui para sala


com o meu cobertor, pronta para me deitar no sofá, colocar
uma série e assistir até pegar no sono. No entanto, assim que

entrei na sala o interfone tocou, corri para atender e o


porteiro avisou que havia uma mulher lá embaixo, e ela

desejava subir.

Permiti que ela subisse, mesmo sem saber de quem se


tratava. Minutos depois, alguém bateu à porta, fui atender e

tamanha fora minha surpresa ao ver Vitória em frente à porta,


me encarando com aquele olhar perturbador que tanto odiava.
Ela estava segurando um bolo de dinheiro na mão. Senti meu

cenho se franzir.

— O que faz aqui? — questionei.


— Vim saber qual seu preço, Rebecca. — Sua voz saiu
baixa, fria e me fez ter calafrio. — Eu estou disposta a
oferecer tanto dinheiro que você possa viver como uma

rainha durante toda sua vida, mas só se você também estiver


disposta aceitar essa oportunidade que a vida está te dando

para sumir de nossas vidas, principalmente da de Nicolas,


para sempre. E aí? Aceita fazer um acordo?

Parecia que o diabo em pessoa estava em minha frente


oferecendo um acordo. E realmente era um diabo, chamado

Vitória Albuquerque.
— Senhora Albuquerque, como eu posso respondê-la de

forma delicada, deixe me ver... — Fechei a mão e levei à


boca para limpar a garganta. Usei meu melhor tom de

deboche para respondê-la. — Eu trocaria todo dinheiro do


mundo, e a vida de rainha que a senhora me ofereceu,

trocaria tudo por um mundo em que não existissem pessoas


como você, Vitória. Pessoas de caráter horrível,

preconceituosas e esnobes. Sabe quando vou aceitar sua


proposta? Nunca. — Seu rosto ficou tomado pelo ódio. —

Mas pode ficar tranquila que eu não quero o Nicolas. O

considero apenas meu chefe, no entanto, se a senhora voltar a


me atormentar quem sabe eu não invista no seu filho somente

para irritá-la. Eu bem que faria isso, viu.

— Não ouse tentar nada com meu filho, sua imunda. Eu

nunca permitirei que ele fique com uma mulher de seu nível.

No mínimo, ele pode te usar para fins sexuais, mas só! —Sua
voz saiu repleta de nojo, revirei os olhos entediada.

—É só isso que você tem a dizer? Se for, pode ir


embora. De verdade, eu tive um dia exaustivo e não quero

perder mais horas ou minutos dele com sua presença

desprezível. — Sorri amarelo e ela empinou o queixo,

tomando uma postura mais ignorante.

— Eu vou embora sim, porque também não gosto da sua

presença. Sinceramente, eu achei que nunca mais veria você,

garota.
— Garota não. Sou uma mulher de trinta e um anos, caso
tenha se esquecido — retruquei com raiva. — Deixei de ser

aquela garota que conheceu há muito tempo. Não sou mais

inocente e nem medrosa. Já passei por tanta coisa nessa vida

que aprendi a não baixar a cabeça para ninguém, muito

menos para a senhora. Agora vá para sua mansão e viva a sua

vida. Por gentileza! — Apontei a saída rudemente, e ela


bufou ultrajada.

— Você quem deveria ir. É você quem invadiu uma


propriedade privada. Esse apartamento em que está vivendo

pomposa pertence ao meu filho Nicolas.

Novamente não pude evitar revirar os olhos.

— Se estou aqui foi por exigência do proprietário. Se

quiser posso ligar para seu filho agora e contar que a senhora

está aqui, tirando o resto que falta da minha paciência. Quer


que eu ligue? — ameacei, descaradamente, desferindo-a um

olhar afiado que fez ela recuar.

— Não será necessário, pois estou indo embora. Sei que

esse arranjo com meu filho não vai durar.


Sorri friamente.

— Então pronto, não tem motivos para se preocupar.

Pode ir embora agora, senhora Albuquerque!

— Eu vou, com prazer!

Ela me deu as costas e saiu, me deixando aliviada por

não ter que mais aturar sua presença. Que mulher infeliz.
Mesmo depois de tantos anos continuava a mesma
articuladora de sempre.

Fechei a porta e tranquei, depois precisei tomar algo


mais forte para conseguir esfriar a cabeça. Estava à flor da

pele ainda.

No dia seguinte, fui bem cedo trabalhar, mas assim que


cheguei ao consultório Lara já foi me explicar que o dia seria

turbulento. O doutor estava cheio de pacientes para atender.


Comecei a trabalhar e foi bom ter muitas ligações para

atender, assim passava o tempo mais rápido.

Mal vi Nicolas durante o dia, ele ficou indo e vindo a

todo momento, passeando pelo consultório, atendendo e fez


alguns procedimentos de cirurgia plástica. Ele mal me olhou

nesse dia, falou no máximo bom-dia e boa-tarde. Sempre


entrava para dentro de seu consultório com um cliente. Só

teve um momento que estranhei, que foi quando uma mulher


linda chegou ao consultório. Ela caminhou até mim e antes
que eu pudesse falar algo, ela já foi dizendo:

— Olá, flor, sou Natacha. Você parece ser uma


funcionária nova aqui, então deixe eu te explicar, sou uma
amiga de longa data de Nicolas, então não preciso de

permissão para entrar em sua sala, entendeu?

Ela tinha uma voz fina. A pele aveludada, seu cabelo

possuía mechas loiras, ela era um pouco mais alta que eu e


tinha um corpo digno de revista de verão. Era elegante e

muito chique. Senti até uma sensação estranha com sua


apresentação, ela disse amiga de longa data de Nicolas e isso

me despertou um pouco de ciúme.


— Entendi, sim, senhorita. Mas, mesmo assim, preciso
informar o doutor, agora ele está sozinho em sua sala, mas
está quase no horário do próximo paciente...

— O próximo paciente que espere. Estou morrendo de


saudade do meu doutor lindão!

Ela gargalhou, fazendo arder meus ouvidos. Senti uma


fisgada de incômodo ao vê-la caminhar até a sala de Nicolas
sem esperar minha resposta. Eu a segui, como uma boa

funcionária devia fazer. Ela entrou na sala e já foi falando:

— Nico! Voltei! — exclamou toda alegre e Nicolas que

estava concentrado no computador a viu e, também, sorriu.


Senti que estava sobrando, murchei no mesmo instante.

— Senhor Albuquerque, a moça não quis esperar eu

avisar da sua chegada. Desculpe... — fui falando, mas ele me


cortou.

— Sem problemas, Rebecca. Pode ir, Natacha é muito


bem-vinda.

Mordi a parte interna da boca até sentir doer. Ele se


levantou e caminhou até ela. Fiquei parada, observando-a
beijá-lo na bochecha de forma íntima e especial. Isso
despertou algo em mim que detestei sentir.

— Beca, não me escutou? Você pode ir! — voltou a


repetir Nicolas. Assenti a contragosto e saí, me sentindo
envergonhada.

Fechei a porta e voltei para a minha posição. Mas não

consegui me concentrar direito no serviço, porque hora ou


outra eu escutava sons de risos dentro da sala de Nicolas. Me

perguntava o que os dois estavam fazendo lá dentro, depois

que se passaram mais de vinte minutos.

Como eu era boba, lógico que sabia o que eles estavam

fazendo, era nítido. Nicolas mesmo já havia me revelado que

gostaria de me foder em cima da mesa, talvez ele gostasse de

fazer isso com outras mulheres. Talvez muitas já tivessem


sido fodidas em sua sala.

Respirei fundo e alisei minha têmpora. Estava

começando a sentir enxaqueca, e tudo por culpa de Nicolas!

Meia hora depois a mulher saiu de dentro da sala, com

um sorriso bobo no rosto, ar de satisfeita e cabelo


desgrenhado. Deixando mais óbvio que ela havia acabado de

transar com doutor na sua sala!

Inferno de libertino!
Estava surpreso com a volta de Natacha, porém, alegre

por vê-la, tão bem e contente. Parece que a viagem a fez

bem.

— Ah, Nico, como é bom ver você. Estava com tanta


saudade das nossas conversas e da sua presença. — Ela me

abraçou e beijou mais uma vez. Entretanto, dessa vez na

boca. Beijei-a lentamente, sem pressa. — Mas, com certeza,


eu senti muito mais falta desse seu beijo. De você todo —

murmurou com a voz manhosa. Sorri e a afastei um pouco.

— Eu também senti sua falta, Natacha. Só que não


podemos nos esquecer de que estamos na sala do meu

consultório — falei, levando as mãos até suas bochechas para

segurá-las.

— E essa sala é sagrada, eu sei. O doutor não permite


que atos lascivos sejam feitos nela. É uma pena porque

sempre sonhei em ser fodida por você aqui na sua sala!


Ela molhou os lábios, fazendo cara de safada.

— É uma pena não poder realizar seu desejo, mas não


fodo na minha sala — respondi. — O que acha de sairmos

para jantar hoje, você pode me contar as novidades e depois

podemos ir a um lugar particular.

Aproximei minha boca da dela e puxei seu lábio inferior

com os dentes. Ela amoleceu em meus braços, entregue.

— Acho ótimo. Contanto que me leve ao melhor

restaurante da cidade e pague o melhor vinho. Eu aceito.

Tirei a mão de seu rosto e levei até sua cintura,

puxando-a para mais perto, ela arfou.

— Como sempre exigente. Tem sorte de eu gostar de


você, Natacha.

Ela sorriu, com os olhos brilhando.

— E você mais sorte ainda de ter uma pegada viciante.

Senão, eu não estaria mais aqui.

Ela gargalhou e, então, voltamos a nos beijar.


Minha relação com Natacha era essa. Não só trepávamos,

também éramos amigos que se entendiam e tínhamos gostos

parecidos. Ela também apreciava bebidas, vinho

principalmente. E sempre era direta e sincera, o que me


deixava mais instigado.

Em contrapartida, se fosse em outra fase da minha vida

estaria mais interessado na sua volta. E bem mais excitado


com sua presença, mas agora com tudo que estava

acontecendo só conseguia pensar na maldita e perturbadora

Rebecca. Desde que transei com ela não conseguia parar de

desejar que o ato se repetisse. E conviver com ela, no


consultório, estava me deixando mais perturbado, porque a

ver todos os dias e não poder fazer o que realmente desejava,

sentir seu cheiro, adocicado e delicioso, e não poder me


aprofundar, era um verdadeiro martírio. Principalmente por

saber que ela estava instalada no meu apartamento e eu

sequer poder visitá-la à noite para poder matar a vontade de

seu corpo, da sua pele.

Essa mulher estava me deixando em ruínas,

psicologicamente. Eu não sabia mais o que fazer para


conseguir fisgá-la outra vez. Por isso decidi ignorar sua

presença e tentar esquecê-la. Talvez assim eu não corria o


risco de fazer papel de bobo outra vez.
DOIS MESES DEPOIS

Os últimos dois meses tinham sido os mais pacíficos de

anos da minha vida. Eu estava trabalhando, tendo mais tempo

para me cuidar, estava comendo muito bem e muito bem

instalada no apartamento de Nicolas. Acabei ficando mais


tempo do que deveria nele, mas somente porque houve um

imprevisto com uma casa que eu aluguei, visto que João

Miguel se recusou a sair da outra onde nós morávamos. O


dono sugeriu fazer pequenas reformas na casa antes de eu me

mudar, como pintá-la e ajeitar alguns problemas do imóvel.


Então, Nicolas permitiu que eu ficasse mais um mês no seu
apartamento, na verdade, ele sugeriu que eu morasse nele por

tempo indefinido, mas não aceitei. Não era certo fazer isso,
usar de sua bondade dessa forma.

Nossa relação se manteve profissional por todo esse


tempo que se passou. Nicolas não tentava se aproximar de
mim com malícia, na verdade, ele me tratava com
profissionalismo até demais. Ele realmente desistiu de tentar
me seduzir outra vez, em meu íntimo pensava que desistiu

rápido até demais, mas tudo bem, isso era problema dele e eu
estava em uma fase da minha vida que priorizava a minha
paz.

Tudo estava indo bem comigo, com minha vida. Eu não

via João Miguel desde que largamos o que era ótimo e,


também, Vitória não apareceu mais para me atormentar.
Estava tudo certo, até eu começar a me sentir mal

diariamente, tão mal que até faltei uns dois dias do serviço
tendo que deixar Nicolas na mão, porque eu estava
vomitando muito. Tendo indícios de cólica, mas minha

menstruação não vinha, o que era estranho porque ela era


bem regulada. Pensei em visitar um ginecologista para saber
o que eu tinha, no entanto, desisti da ideia ao perceber que

estava sentindo muito sono, o que não era normal. Eu dormia


tão bem, tão relaxada, como nunca. Então foi aí que surgiu o
pensamento e dúvida.

Será que eu estava grávida?


Jesus, eu logo toquei minha barriga e senti como se o
sangue se esvaísse do meu rosto. Eu não podia estar grávida,
pois passei anos com João Miguel tendo relação sem usar

métodos para me proteger. Por que diabos eu engravidaria


dele? Depois de termos largado?

Então eu me lembrei de que não tive só relação sexual


com João Miguel. Também aconteceu uma vez com Nicolas,

na sua cobertura e dentro do ofurô...

Meu santinho protetor! Será possível que estava grávida


de Nicolas? Com uma vez só que transamos depois de anos!?

Com certeza ele pensaria que era um golpe da barriga.

Estava tão distraída com os meus pensamentos que levei


um susto ao ouvir a campainha tocar. Quem seria uma hora
dessa? Já era tarde da noite, quando fui atender a porta, meio

envergonhada por estar apenas de pijama. Fiquei surpresa ao


ver Nicolas, com semblante preocupado.

— Beca, desculpa ter vindo sem avisá-la. Mas você não


apareceu no serviço novamente e mandou mensagem dizendo

que não estava se sentindo bem, fiquei preocupado e vim


conferir sua condição pessoalmente — disse, esboçando
preocupação. Nicolas olhou meu rosto e, então, contemplou-

me de cima a baixo, avaliando o pijama que estava vestindo.


Ele até tentou disfarçar, desviando o olhar rápido do meu
corpo, que estava coberto apenas por um vestido pijama de

seda fina na cor vermelha e com um decote sensual, o tecido


por ser fino marcava meus mamilos. Ele limpou a garganta e

continuou: — Posso entrar?

Ele estava vestido casualmente. Uma camisa branca

desbotada, uma calça preta e sapatos fechados. O cheiro do


seu perfume logo chegou ao meu nariz. Que homem, Senhor.

— Pode claro, o apartamento é seu — falei, sendo gentil.

Dei espaço para ele passar. Nicolas entrou e eu fechei a porta


que ele havia deixado aberto. — Obrigada por ter vindo e se

preocupado comigo. Não estou me sentindo muito bem, mas


logo estarei melhor.

— Entendo. Mas, o que você está sentindo?

Ele caminhou até o meio da sala, fui atrás e parei à sua


frente.
— Primeiro não quer se sentar? Beber alguma coisa?

— Aqui tem vinho? — perguntou. Estranhei ele querer

beber vinho tão tarde e em uma quarta-feira.

— Acredito que tenha. Você deixou alguns vinhos aqui.


Vou pegar uma taça para você.

Me virei a fim de pegar a taça e o vinho. Tinha algumas


garrafas, mas achei que entre todas elas Nicolas preferiria o

branco. Servi a taça e, então, fui entregá-la a ele.

— Não é tarde para tomar vinho? — questionei com ar

de zombaria. Ele sorriu.

— Nunca é tarde para degustar um bom vinho —

retrucou, piscando de forma galanteadora. — Você não vai


me acompanhar?

Observei-o beber um gole do vinho.

— Prefiro não — falei, tocando minha barriga. — Não

antes que eu tenha certeza de algo que estou em dúvida.

Nicolas tirou a taça de vinho da boca e passou a


observar meu rosto com atenção e, então, viu minha mão na
barriga.

— Qual dúvida? — Ele arqueou uma das sobrancelhas.

— Bem, vou ser curta e direta — falei, deixando-o um


pouco abalado. — Pelos sintomas que estou sentindo eu

posso estar grávida, Nicolas.

— Grávida? — Nicolas deixou a taça de vinho cair no

chão. Por sorte os vidros não cortaram seu pé e nem minha


perna despida. Dei um pulo para trás assustada. — Me
responda com sinceridade, Rebecca. Esse filho pode ser meu?
Eu não sabia o que sentir com a revelação de Rebecca.
Acabei deixando a taça cair no chão pelo impacto da sua

revelação. A verdade era que não estava pronto para ser pai

e, por isso, sempre me preveni com todas as mulheres que


saía. Sempre me cuidei para não ter imprevistos, mas com

Rebecca foi diferente e a culpa era minha de ter acontecido


sem qualquer prevenção, somente fomos levados pela

excitação. Só que não era somente eu que poderia ser o pai, e


isso que me matou por dentro pensar em João Miguel sendo

pai de um filho de Rebecca. Só de imaginar que isso os

uniria e a deixaria ligada a um cara agressivo e abusador para


sempre, fiquei tomado pelo pavor e medo. E mesmo temendo

a paternidade e todas as mudanças que ela iria causar na

minha vida, no fundo, torci para que o bebê fosse meu caso
ela estivesse de fato grávida. Não poderia suportar vê-la

novamente com João Miguel.

A raiva corroía as minhas entranhas só em imaginar

Rebecca nos braços de qualquer outro homem que não fosse

eu. E o pior de tudo era perceber que sentia ciúme

exageradamente, chegando a ser possessivo, de uma mulher

que deveria guardar rancor e detestar pelo abandono do


passado. No entanto, quanto mais observava as coisas, mais

percebia que algo tinha acontecido de errado quinze anos

atrás. Seria mesmo Rebecca a ter ido embora sem dar

explicação, me deixado sem saber notícias suas de propósito,

ou isso teria sido uma estratégia da minha mãe?


De uma coisa eu tinha certeza. Ainda tinha muito o que
descobrir.

— Eu não sei se você pode ser o pai, Nicolas. Nem sei


se realmente estou grávida, preciso fazer o teste para saber

— respondeu, eufórica. Ela jogou o cabelo para o lado. Ela

estava tão linda usando um pijama vermelho que considerava

provocante no seu corpo. Deixava os seios fartos quase à

mostra. Tinha que me controlar excessivamente para não

olhar seu corpo durante toda a conversa se não perdia o foco.


— Eu nem sei se deveria ter te contado isso já, para falar a

verdade. Acho que teria que fazer o teste antes de sair

falando por aí.

— Você fez certo em ter me contado, Rebecca. Eu


precisava saber. — Me aproximei dela tomando cuidado com

os vidros que estavam espalhados pelo chão.

— Se eu estiver mesmo grávida só saberemos que é seu

depois do teste de gravidez. Você sabe, né? — questionou ela

com os olhos emotivos. Assenti.


— Eu sei, Beca, mas convenhamos que você teve uma

relação de anos com aquele infeliz do seu ex, e não resultou


em um bebê. Como justamente agora, depois de termos nos

reencontrado e transado você iria engravidar dele? É


impossível que esse filho não seja meu. Não se trata de
ciência e sim de destino.

Levei a mão até sua barriga, ela fitou meu toque


retraída.

— Também pensei isso, porém, se eu estiver mesmo


grávida eu vou querer fazer o teste para ter certeza de quem é

o pai — decretou — E, também, não quero que pense que


tentei te dar um golpe ou algo assim. Nunca esperei
engravidar de você, Nicolas.

Nosso olhar se conectou novamente. Fitei seus lábios


carnudos que me pareciam suculentos e deliciosos. Estava

morrendo de vontade de beijá-la e não podia.

— Eu sei que você nunca faria algo desse tipo. E quero


que saiba que se estiver mesmo grávida vou te dar todo apoio

necessário até o final da gestação. E assim que fizermos o


teste de DNA e descobrirmos que eu sou o pai dessa criança,

vou tentar ser um bom pai, mesmo que não esteja preparado
para a paternidade, não te deixarei sozinha.

Rebecca deixou uma lágrima escapar.

— Obrigada, era isso que eu precisava ouvir —

murmurou.

— Posso te pedir uma coisa? — perguntei e ela inclinou

a cabeça um pouco para o lado.

— Sim?

— Posso passar a noite aqui com você hoje? Sei que está

passando mal e gostaria de cuidar de você essa noite.

Ergui a mão e levei até a mecha da sua franja que


insistia em cair no seu rosto, colocando-a atrás da orelha.

Beca parecia receosa em me responder.

— Você só quer ficar para cuidar de mim mesmo, ou tem

outras intenções?

Sua pergunta quase me fez falar bobagem. Olhei para

seu decote, imaginando mil coisas que poderia fazer com ela
em cada canto desse apartamento. Se Rebecca me permitisse
eu estaria disposto a lhe dar todo prazer do mundo, todo
deleite que uma mulher merecia receber de um homem.

— Só quero cuidar de você — menti, e ela concordou.

— Então você pode ficar e dormir no outro quarto ao

lado do que eu estou ficando.

Concordei de prontidão, aliviado por ela ter me deixado

ficar. Isso mostrava o quanto Beca estava sensível e


precisando de cuidado e carinho, porque geralmente ela era
cabeça-dura e não aceitaria fácil.

— Você já ia dormir? — quis saber. Ela olhou a hora no


relógio da parede.

— Se eu fosse trabalhar amanhã sim, porque já está


tarde, Nico.

— Mas você não vai, porque eu ordeno que você fique

em casa amanhã e descanse. Vou comprar o teste de gravidez


bem cedo para você tirar sua dúvida, e se caso der negativo

eu a levarei no hospital para um check-up para saber o que


tem, mas se der positivo vai ter mais um motivo para visitar
o hospital e saber se está tudo bem com você e o bebê.

Ela suspirou pesadamente.

— Isso é uma ordem, doutor?

— Sim, senhorita Almeida.

Ela riu.

— Então tudo bem, vou acatar sua ordem dessa vez —


respondeu em tom sarcástico. — Agora, será que o doutor

pode me dar uma licença? Vou limpar essa bagunça que você,

desastrado como é, fez!

— Ah, eu sou desastrado então? Me diz quem era que

vivia quebrando coisas antigamente? — lembrei-me da época

de adolescência. Beca deu de ombros.

— Você sempre foi mais desastrado que eu, viu. E vivia


me metendo em enrascada, como da vez que me fez sair

escondida a noite para ir em um parque de diversão com

você.
Sorri ao me lembrar daquele dia. Estava tão nervoso

porque iria pedi-la em namoro.

— Foi o dia que começamos a namorar — disse, sem

querer, e vi seu sorriso morrer.

— Éramos tão ingênuos naquele tempo. Às vezes sinto


saudade daquele frio na barriga que dava toda vez que nos

encontrávamos — ela murmurou, pensativa, passando a mão

pela nuca sem me olhar, parecendo estar com a mente longe,


presa nas memórias do passado. Sem que ela notasse,

caminhei e passei por ela, então prendi sua cintura com a

mão, encostando em seu corpo por trás. Senti ela estremecer

em meus braços.

— Garanto que posso voltar fazê-la sentir esse frio na

barriga — sussurrei em seu ouvido, ela se empertigou com o

arrepio tomando seu corpo. Passei a mão pela sua barriga,

por cima do pijama, descendo cada vez mais. — Quer que eu


faça?

— Nicolas, não podemos…


— Ah, sim, podemos — rebati, descendo a mão cada vez

mais. Rebecca suspirou. — Consigo sentir cada terminação

nervosa do seu corpo. Sinto sua respiração descompassada e


o estremecer do seu corpo, bebê. Você quer que eu te toque,

que eu te dê prazer, e ouso dizer que está com tanta saudade

quanto eu estou de você.

Meu pau enrijeceu e o pressionei contra ela.

— Você garantiu que ficaria essa noite apenas para

cuidar de mim.

— E estou cuidando e posso cuidar ainda mais se quiser

— murmurei, rouco, ela meneou a cabeça na minha direção.


Fitei seus lindos olhos amendoados, e a boca avermelhada

que parecia clamar pela minha. — Você pode negar o quanto

quiser, Rebecca, mas não adianta mentir com palavras se o


seu olhar as contradizem.

— Eu odeio o que sinto por você. Eu odeio sentir...

Ela fechou os olhos e virou o rosto na direção contrária


novamente.
— Também odeio te querer. E não precisamos gostar um

do outro, não precisamos nos amar. Somente necessitamos


dar o que nosso corpo precisa para tentar saciar a vontade

que parece ser insaciável.

Ela gemeu baixinho quando sentiu meus dedos tocarem

sua calcinha rendada.

— Você é promíscuo, Nicolas. Eu te detesto!

— Bebê, você pode me detestar, mas seu corpo me adora.

Tenho certeza de que se eu te tocar aqui, agora, sua boceta


vai estar encharcada e pronta para mim. — Enfiei a mão

dentro da sua calcinha sem pedir permissão, ouvindo-a

grunhir de prazer ao sentir meus dedos em contato com a sua


intimidade. Sua lubrificação logo molhou minha mão

provando o que eu disse. Ela estava encharcada, tanto que

meu dedo deslizaria facilmente para dentro dela caso eu

quisesse. — Você tem uma boceta quente e molhada. Não tem


noção de como estou salivando para chupá-la agora mesmo.

— Maldito — grunhiu, tirando minha mão de dentro da

sua calcinha com agilidade e rapidez, antes de se virar para


mim, e passar os braços pelo meu pescoço, enchendo-me de

surpresa e excitação. Segurei suas pernas e a fiz rodear meu

quadril com elas, tirando-a do chão. — Me foda logo!

— Isso é uma exigência, senhorita Almeida? — zombei,


segurando a firmemente em meus braços. — Quer que eu faça

amor com você?

— Não, eu quero que trepe comigo. Quero que transe


comigo agora e várias outras vezes sem cobrança, só será

sexo casual.

Ela começou a beijar meu pescoço, fazendo minha pele

se arrepiar. Droga, meu maldito coração estava disparado por


causa dela.

— Aceito suas condições, e estou louco para começar a

te comer, bebê. Mas antes terá que concordar com uma


condição minha.

Ela estava prestes a morder minha orelha quando parou

no meio do caminho para me escutar.

— Qual condição, Nico? Isso não é hora para falar disso,

por Deus, preciso que você me coma agora.


— Calma, mulher fogosa. — Sorri e mordi seu ombro

desnudo. — Aceite primeiro minha condição.

— Qual a maldita condição? — voltou a perguntar.

— Quero foder com você todos os dias, sem exceção. Na

minha sala do consultório principalmente, e outras vezes aqui

ou em lugares de minha preferência.

Uma linha fina se formou em meio a sua testa.

— Você é algum tipo de pervertido que gosta de trepar

em local de trabalho?

— Na verdade, eu nunca fiz com nenhuma outra, mas

quero fazer com você — admiti e ela gargalhou.

— Duvido muito, mas tudo bem. Eu topo, só que não


confunda sexo com outra coisa, doutor. Eu nunca vou ser sua

novamente.

Ela pareceu sincera com o olhar. Senti meu ego se ferir

um pouco, mas pelo menos isso era melhor do que nada.

— Está bem, bebê. Agora que já temos um trato vou dar

o que tanto você quer — murmurei contra sua boca. — Meu


pau.

Eu nem precisei beijá-la, ela mesma fez. Prendeu seus

lábios no meu com fome. Nós nos beijamos apressados e

famintos.

Estava completamente fodido e atraído por Rebecca. Ela

podia ainda não querer ser inteiramente minha, mas eu já me

sentia todo seu.


Nicolas me prensou contra a parede da sala mesmo,

enquanto nós nos beijávamos como se o mundo estivesse


prestes a acabar. O calor de seu corpo estava em sintonia com

o meu. Eu não conseguia parar de tocar sua pele e por mais


que eu estivesse sentindo presa em seus braços e a ereção

tocando minha intimidade, ainda assim parecia que precisava


de mais, muito mais de Nicolas. Minha mão fez caminho até

sua nuca, depois até seus cabelos, onde fiz uma completa
bagunça com os dedos. Prendi os dedos nele e puxei um

pouco, vendo Nicolas grunhir contra meus lábios. Ele afastou

sua boca da minha e fitou meus olhos, eu estava ofegante


assim como ele parecia respirar com certa dificuldade.

— Sua boca é a mais gostosa que já beijei, sabia? —


confessou com os olhos transmitindo completa volúpia,

estremeci em seus braços e tentei voltar a beijá-lo, mas ele

desviou a boca, levando-a até meu pescoço e clavícula. Gemi


alto quando senti seus dentes morderem a pele, deixando-me

mais excitada.

— Quero foder você contra essa parede. — Sua voz saiu

grossa, rouca e intensa. Minha pele se arrepiou e meu

coração que já estava acelerado tornou a bater mais rápido.

Desci as mãos que estavam em seu cabelo até os ombros

passando a unha levemente por eles.

— Então me fode, doutor.


Ele sorriu ao ouvir minha resposta e, então, com
cuidado, usando só uma mão para me manter em seus braços,

apoiada contra a parede, ele usou a outra para levá-la em

meio às minhas pernas.

— Eu vou, bebê, mas antes preciso livrar você dessa

peça íntima. — Nicolas sorriu molhando os lábios, arfei ao

senti-lo me puxar bruscamente minha calcinha, fazendo a

peça íntima se rasgar e deixar minha região íntima livre e à

mostra. — Agora sim, posso te foder sem barreiras.

— Eu gostava dessa calcinha, sabia — resmunguei

baixinho, fazendo bico de desgosto, Nicolas riu e mordeu

meu queixo.

— Vou lhe dar milhares delas para compensar —

retrucou.

— Então serão milhares para o doutor rasgar — rebati,

afiada, com a voz sedutora. Nicolas fitou meus olhos por um

instante e então a boca.

— Como pode uma mulher ser excitante em tudo? Até

sua voz me dá tesão. A forma que me desafia só me faz ter


mais fome de você, Rebecca...

Dito isso, ele voltou a me beijar, fiquei manhosa, como

uma gata no cio, gemi ao sentir seus dedos em minha boceta.

Nicolas deixou de me beijar e voltou a morder a pele do meu


pescoço, enquanto seus dedos se aprofundavam no meu sexo.

Senti-o tocar minha vulva, e sem pedir permissão ele me


penetrou com um de seus dedos, ofeguei, me deleitando com
a sensação de prazer junto com a queimação no meu ventre.

— Você está pingando de tão molhada que está —


grunhiu, estremecendo, então ele tirou o dedo dentro de mim,

me fazendo suspirar e quase implorar que continuasse.


Nicolas afastou seu rosto e me mostrou seus dedos molhados
pela minha lubrificação. De forma sexy e pecaminosa ele

levou os dedos até a boca sob o meu olhar e os lambeu, me


deixando em choque. — Seu gosto é especialmente delicioso,

meu anjo.

Nunca pensei que pudesse sentir o que senti ao vê-lo

lambendo minha lubrificação. Era como se Nicolas tivesse


ateado fogo em meu íntimo. Senti um desejo latente era
perturbador por ele. E só pude implorar por mais:
— Me coma, Nicolas. Eu preciso te sentir mais!

Segurei o colarinho da sua camisa e prendi os dentes no


seu lábio inferior, puxando em seguida. Pude sentir o meu

gosto dos seus lábios, era estranho e, ao mesmo tempo,


gostoso e lascivo.

— Não precisa pedir uma segunda vez, gostosa.

Nicolas com maestria desceu a calça, e eu o ajudei. Em

poucos segundos, colocou seu pau para fora e me ajeitou


mais em seus braços. Abracei seu pescoço e gritei quando o
senti entrar em mim de forma violenta, bruta e carnal. Gemi

completamente extasiada por senti-lo dentro de mim, meu


corpo trepidou de prazer e meu ventre queimava. Eu

conseguia sentir o orgasmo próximo, quase vindo, mas não


queria gozar tão rápido. Eu queria aproveitar muito mais com
Nicolas.

Ele segurou uma de minhas coxas com uma mão,


enquanto a outra apertava a minha bunda. Ele socava dentro

de mim sem parar, freneticamente. As estocadas eram brutais


e deliciosas. Passei a boca pela sua orelha e lambi, enquanto
ele continuava a me penetrar. Nossos corpos se tornaram um
só ali naquele instante. Eu o pertencia e ele me pertencia,
isso era inegável.

— Olhe em meus olhos — ordenou Nicolas, e eu afastei


um pouco a cabeça, encostando-a na parede. Contemplei seu

olhar brilhante e intenso, tudo nele naquele momento


esbanjava excitação e tesão. O cabelo de Nicolas estava

desgrenhado, os lábios inchados e molhados. A pele começou


a suar. Passei a mão pelo seu rosto e levei o dedo à sua boca.
Ele mordeu meu indicador, me fitando pervertido. — Quero

que me veja gozar.

— Ah, Nicolas...

Eu não sabia o que dizer, só o que sentia. Eu nunca o


tinha visto tão brutal e sexy como nesse momento, nem

mesmo no dia que transamos em seu ofurô. Nesse instante,


ele estava feroz e muito mais muito safado. Senti meu íntimo
se contrair e latejar. Nicolas me segurou com mais firmeza e,

então, tudo nele se contorceu, como se uma onda de prazer


insuportável o tomasse. Ele fechou os olhos e grunhiu alto,

parecia um animal feroz em libertação. Seus músculos


tensionaram. O peito subia e descia, enquanto o suor escorria
pelo seu pescoço. Ele alcançou o ápice.

Meu corpo todo foi tomado por um prazer insano. Estava


quase gozando, mas Nicolas tirou o pau de dentro de mim.
Encostou a cabeça em meu peito, respirando profundamente.

Senti os seus batimentos cardíacos disparados.

— Só preciso de um minuto, dear, para voltar ao normal


— resmungou baixinho. Minhas pernas começaram a

fraquejar, ao seu redor. Nicolas tinha perdido a força e não

pôde continuar me segurando, então acabei tendo que voltar a


colocar as pernas no chão.

Ele se afastou de mim, encostou-se na parede e respirou

fundo por alguns segundos.

— Você gozou tão forte assim? — questionei, curiosa.

Ele abriu um sorriso cansado e direcionou um olhar em

minha direção.

— Foi um dos mais fortes que tive. Por isso só te peço


um minuto.

Também sorri e respondi:


— Tudo bem, enquanto isso eu vou tomar um banho para

me limpar.

Estava pronta para ir até o banheiro tomar um banho a

fim de me livrar de pensamentos maliciosos e vontades.

Ainda não estava saciada por completo. No entanto, Nicolas


me segurou por trás, impedindo-me de ir.

— Onde pensa que vai, dear? Ainda não terminei com

você? — Senti seu corpo colado no meu. Ele colocou meu


cabelo para o lado e passou a boca pela minha orelha, depois

foi em direção à nuca. — Eu só vou te largar quando suas

pernas tremerem e você gozar, Rebecca.

— Nicolas, não precisa...

Estremeci, sentindo sua língua passar pelo meio das

minhas costas, descendo cada vez mais. O que diabos ele

estava fazendo? Bem, o que quer que fosse eu não queria que
parasse. Estava tão bom.

— Porra, mulher, sabe há quanto tempo eu ansiei em

chupá-la? — Sua voz saiu estridente e voraz. Arfei e apoiei


as mãos no apoio do sofá, inclinando-me toda. Nicolas

passou as mãos pelas minhas coxas e ordenou:

— Abra as pernas para mim, bebê.

Separei as pernas como ele pediu, ele se virou em

direção à minha boceta, encostou as costas no sofá, ergueu o

queixo e colocou a boca entre as minhas pernas.

— Oh, caralho, o que está... Ah, Deus...

Como eu poderia descrever esse momento? Era

simplesmente como ir ao céu em segundos.

— Shhhh, somente me deixe me deleitar com sua boceta

carnuda e viciante!

Porra, estava tão excitada. Meu corpo inteiro pegou fogo

no instante em que a língua de Nicolas entrou em contato

com a minha boceta. Eu a sentia sensível e cada vez mais


molhada. Não tinha muita experiência com uma boa chupada,

fazia muito tempo que um homem não me dava prazer assim.

Um calor descomunal queimava meu ventre. Eu sentia o


orgasmo cada vez mais próximo, enquanto Nicolas me
rodeava com sua língua. Apoiei minha cabeça na minha

própria mão e gemi enlouquecida com a sensação de prazer


que perpassou meu corpo. Minha intimidade latejava tanto

que sentia como se meu corpo fosse desabar em instantes.

Nicolas continuou me chupando na mesma velocidade.

Ele me fazia parecer gostosa e muito apetitosa. Cacete, era


gostoso demais ser chupada assim!

— Nicolas, não pare, eu vou goz...

— Isso, amor, goze na minha boca!

Minhas pernas bambearam e meu coração acelerou em

um nível que não parecia possível. Meu corpo inteiro se

contorceu de prazer ao ser tomada por um orgasmo delicioso.


Cheguei ao ápice, alcancei o clímax em instantes.

Senti meu íntimo ficar um pouco sensível e, no mesmo

momento, me afastei da boca de Nicolas, pois era capaz de

ele me chupar por horas.

Nesse momento, foi a minha hora de me encostar na

parede, até sentir meu corpo voltar ao normal, tudo em mim

estava trêmulo. Acabei optando por me sentar no chão


encostada na parede, visto que não conseguia mais ficar em

pé. Nicolas se sentou ao meu lado e trouxe minha cabeça para

o seu peito. Consegui sentir seus batimentos acelerados.

— Isso foi... Não tenho palavras para expressar —


exclamei ainda contagiada.

— Você gostou? — perguntou ele.

— O doutor pergunta isso porque quer que eu alimente


mais seu ego? — zombei e ele riu. — É óbvio que gostei.

Experimente só passar anos vivendo a vida de casada com um

homem que nem faz aquilo com a língua que você faz... que

tormento — disse, fazendo-o gargalhar.

— Que tipo de homem dispensa uma boa chupada em

uma boceta tão suculenta como a sua? Tem certeza de que ele

não prefere pau a boceta? — Seu linguajar era bem explícito,


tinha que confessar que gostava que mesmo com tanto

predicado e estudo, ele não ligava em dizer palavras de baixo

calão.

— Acredito que não. Ele gostava de fazer sexo, na


verdade, mas não durava menos de cinco minutos e era
entediante. Posição papai e mamãe, sabe? Eu acabava não

gozando durante a relação sexual, depois ia para o banheiro e


eu mesma me satisfazia. Se é que me entende.

Nicolas me olhou de canto e franziu o cenho.

— Você se tocava?

— Está surpreso? — questionei, debochada. — Uma


mulher que não tem o alívio dentro de casa e não consegue

trair, porque não faz parte do caráter e personalidade dela,

acaba procurando achar prazer de outras formas, mesmo não


muito dignas.

Nicolas desviou o olhar ficando pensativo.

— Eu confesso que isso me dá certo ciúme imaginar

você se tocando, quando simplesmente tem um homem aqui


do seu lado que pode te fazer gozar quantas vezes quiser. —

Sua voz saiu murmurada, sorri porque era bizarro ele ter

ciúme de algo que acontecia quando ainda não havíamos nos


reencontrado.

— Mas isso aconteceu quando você ainda não estava

disponível, Nicolas. Quando não havíamos nos reencontrado.


— Eu sei, e só por isso eu relevo, até porque você fez
certo. Precisava de prazer e buscou se dar prazer, já que o

rola-murcha do seu ex-marido não dava conta do mulherão

que você é.

Senti minhas bochechas queimarem um pouco. Passei o

queixo pelo seu peito, sentindo o pelo ralo nela. Estava

gostando tanto de ficar com Nicolas que nem notei o passar

das horas.

— A nossa conversa está muito boa, doutor, e eu gostei

do que acabamos de fazer. Mas já está tarde e quero dormir

logo — falei, começando a me levantar. Nicolas também se


esforçou para se levantar.

— Já vai dormir mesmo? Está tão bom nós dois aqui...


fica mais, dear.

— Não, desculpa. Estou cansada demais, e que eu saiba

sexo casual não inclui ficarmos de chamego por aí, inclui? —


Arqueei a sobrancelha em um claro questionamento. Ele
passou a mão pelo rosto.
— Eu não quero apenas transar com você, Rebecca —
admitiu, me deixando sem reação. — Com as outras mulheres
eu até prefiro manter uma relação de sexo apenas, nunca

deixei passar disso, mas com você é diferente. Sinto


confiança, minha memória traz lembranças do passado. Nós
já fomos melhores amigos, por isso eu confio em você e sinto

vontade de falar sobre coisas que nunca conversei com mais


ninguém. Entre nós não existe apenas sexo, tem cumplicidade
e amizade também.

Enchi-me de emoção.

— Nicolas, sinto dizer que é só sexo que eu quero de


você — falei, e ele pareceu se magoar. — Tudo que vivemos,
a amizade que tivemos está no passado, e enterrado para

mim. Eu já me magoei muito por ter amado você. Sofri igual


a uma condenada, não vou deixar acontecer de novo. Então,
se não quiser apenas sexo comigo eu acho melhor nem nos

aproximarmos novamente para não confundirmos as coisas.


Porque se eu estiver grávida e esse filho for seu, quero que
saiba que tudo isso que acabei de dizer não mudará. Mesmo

com filho vamos nos manter separados. — As palavras foram


saindo com pesar da minha boca. Eu precisava ser forte para
não recair

— Eu realmente, Rebecca, queria saber, ouvir da sua


boca o que eu fiz para você que guardar tanto remorso de

mim. — Nicolas se aproximou de mim, engoli em seco, vendo


seu olhar tão triste. — Porém, isso ainda irei descobrir.
Quero que saiba que se esse filho for meu, eu nunca irei

aceitar ficar longe de você e dele. Claro que não irei exigir
compromisso, você é livre para escolher me dar ou não uma

segunda chance.

— Não tem essa de segunda chance, Nicolas, ou é dessa


forma que falei, ou não tem acordo! — Fui firme na minha

decisão. Ele respirou alto e coçou a barba, sem tirar por um


segundo sequer os olhos de mim.

— Tudo bem. Se quer que eu seja apenas sua diversão na


cama eu serei, com prazer, Rebecca. Prefiro isso a ficar

longe dela, longe de você — murmurou ele com a voz


enrouquecida, ele inclinou o pescoço e segurou meu rosto. —
Já usei tantas mulheres nessa vida para o prazer, nada mais
justo que ser usado uma vez também, pela única mulher que
me importo.

Pisquei muito rápido, impactada com suas palavras.

Nicolas inclinou-se mais e beijou minha testa.

— Boa noite, Rebecca. Nós nos vemos amanhã bem


cedo. Durma com os anjos!

Senti um carinho da sua parte, um sentimento de

proteção, com o seu beijo em minha testa. Nicolas saiu de


perto de mim e se dirigiu em direção à porta da sala.

— Você não ia dormir aqui? — questionei.

— Eu ia, mas não vou mais — respondeu sem esboçar


emoção alguma. — Não se preocupe, pois volto amanhã bem

cedo com o teste de gravidez. Não posso esperar para ter


certeza se está grávida, possivelmente de um filho meu.
Acordei às 07h me sentindo muito bem. Gostaria de ter

dormido um pouco mais para aproveitar ainda mais o dia de


folga, mas tive que me levantar ao ouvir o interfone tocar.

Fui até a sala e atendi. O porteiro ligou para avisar que


Nicolas havia chegado e queria subir, permiti sua subida,

sabendo que era ridículo ele pedir permissão para subir para
o seu apartamento, no entanto, eu sabia que ele fazia isso

para me preservar e me preparar para sua chegada.

Fui até o quarto rapidamente e entrei no banheiro,

escovei os dentes com pressa e lavei o rosto com sabonete.


Depois corri para o quarto e penteei o cabelo. E fui escolher

uma roupa mais apresentável para vestir, pois estava apenas

de pijama. Droga. Sem falar que estava muito apertada para


fazer xixi e nem daria tempo de fazer, pois tinha que atender

a porta.

Corri para atender Nicolas, mesmo estando com

vergonha da situação em que eu me encontrava. Mesmo eu


tentando me arrumar com pressa ainda tinha ficado
desgrenhada, mas o que ele esperava? Que eu fosse uma

princesa acordando? Por Deus eu estava bem longe disso.

Primeiro que aos trinta anos era difícil acordar com uma

aparência tão ótima como uma adolescente ou mulher mais

jovem, embora existissem contradições, visto que existiam

mulheres mais velhas que davam de zero a dez em muitas

novinhas.
— Bom dia, Beca — cumprimentou Nicolas, parecendo
animado e com a aparência impecável de sempre. Ele passou

por mim entrando no apartamento. — Resolvi vir bem cedo

para que faça o teste com o primeiro xixi do dia.

— Ótimo então, porque do jeito que estou apertada para

fazer xixi, vamos ter um balde de urina para o teste. — Abri

um sorriso amarelo, sentindo meu rosto ruborizar. Nicolas

tentou esconder o sorriso, mas falhou.

— Desculpe, eu te acordei? — perguntou, me olhando de

cima a baixo, com os olhos semicerrados.

— O que acha? Que iria te receber de pijama logo cedo

se já tivesse acordado antes de você chegar?

— Não sei, acredito que poderia sim usar desse método


de sedução. — Ele usou um tom irônico que me fez revirar os

olhos.

— O doutor ainda acredita que preciso me esforçar para

seduzi-lo? Sendo que nunca precisei usar nenhuma artimanha

para isso. Nem mesmo encostar em você, consigo lhe causar


perturbação e excitação — retruquei com petulância. — Te

conquistar nunca esteve nos meus planos, Nicolas.

— Aqui está o teste de farmácia. Vá ao banheiro fazer —

ele cortou o assunto, entregando-me a sacola com os testes


de gravidez. — Comprei dois para termos certeza absoluta.

— Ok. — Peguei a sacola e por um breve momento nós

nos olhamos aflitos.

— Eu aguardo aqui na sala. A não ser que queira que eu

veja você fazendo o tes...

— Nem pensar! Isso é muito íntimo! — declinei a ideia,

antes que ele insistisse naquilo, corri para o banheiro fazer o


teste.

Depois de colher material para os testes me senti


aliviada.

Como estava com bastante medo do resultado resolvi

colocar os dois testes de uma vez no potinho. Com as mãos


trêmulas levei os dois até Nicolas na sala. Ele não escondeu
a curiosidade quando me viu.
— E então? Já apareceu o resultado? — ele quis saber,

curioso. Engoli em seco, não tendo coragem de olhar para os


testes. Meu coração estava batendo freneticamente dentro do

peito.

— Eu... não tenho coragem de ver.

— Coloque aqui na mesa. — Nicolas me auxiliou,


porque notou que estava muito nervosa. — Deixa que eu vejo
então, estou ansioso demais para esperar.

Ele ia pegar o teste, mas o impedi.

— Calma, na bula diz que tem que esperar alguns

minutos — falei, segurando sua mão. Nicolas observou meu


rosto, e assentiu a contragosto. Alguns minutos depois, eu
mesma tomei coragem e peguei um dos testes. — Não tem

como fugir mais. Vamos ver o resultado!

Meu corpo inteiro tremia, parecia que, no fundo, eu já

sabia do resultado, por isso meu nervosismo. Quando olhei o


teste e vi os dois pontinhos vermelhos nele e no outro a

mesma coisa, senti que iria desmaiar com o impacto da


descoberta.
Eu estava grávida!

— Deu positivo, os dois — exclamei, em choque,

olhando para Nicolas que parecia tão pasmo quanto eu. — Eu


serei mãe... meu Deus do céu! Não dá para acreditar.

— E eu serei pai... Caralho.

Nicolas levou a mão na boca depois ao cabelo,


balançando-o

— Disso não temos certeza ainda — lembrei, vendo seu

olhar de felicidade se transformar em fúria.

— Esse bebê que está na sua barriga é meu filho,

Rebecca. Eu sinto isso no meu coração. E não vou abrir mão


dele ou dela, então se prepare, porque se o teste de

paternidade der positivo eu serei um pai presente para essa


criança e, por consequência, também serei presente na sua
vida.

Respirei fundo, buscando o ar que parecia faltar.

— Você está feliz com isso? Com a possibilidade de ser

pai? — questionei. Nicolas me olhou com os olhos


transmitindo várias emoções ao mesmo tempo. Ele tocou
minha barriga por cima do pijama, e senti cada centímetro do
meu corpo estremecer.

— Eu nunca me imaginei sendo pai, para falar a verdade,


estou amedrontado. Mas pode ter certeza de que esse filho já

é amado, apesar de ter vindo sem ser planejado, eu quero

demais ser pai dele. Não posso imaginar o quanto me doeria


vê-la ter um filho de outro.

Ele pareceu sincero em suas palavras. Estava tão

emocionada que escondi minhas garras, me joguei sobre


Nicolas, abraçando-o. Ele retribuiu o abraço.

— Eu só te peço uma coisa. Nunca mais me deixe só,

não deixe sua família fazer nenhuma maldade para mim e o

bebê, Nicolas, por favor — implorei, trêmula. Senti sua


respiração pesada no meu cabelo.

— Minha família não vai fazer nada contra você, eu

prometo, Rebecca.

— Sua mãe... eu tenho medo dela. — Afastei a cabeça

para que ele pudesse ver meu olhar. Nicolas me olhou


confuso.

— Por quê? O que ela já te fez?

— Você sabe que ela sempre teve preconceito por eu ser

de uma classe inferior que a sua. Se dona Vitória e seu

Rafael descobrirem que estou grávida, eles vão acabar


comigo.

Seu olhar semicerrou.

— Eles já foram muito maus com você, não foram? —


sua pergunta me deixou sem reação.

— Nicolas, eu não deveria falar mal de seus pais para

você, mas é que agora eu não estou sozinha. Já sofri muito

nessa vida e tudo bem, sou calejada, no entanto, esse criança


eu quero proteger. Quero dar um futuro bom e oportunidades

que eu nunca tive. Quero que ela ou ele seja feliz e não

conheça a maldade humana como eu conheci.

Desviei o olhar para meus pés, sentindo uma lágrima

escorrer pelo meu rosto. Senti seu dedo erguer meu queixo,

me fazendo encará-lo outra vez


— Não se preocupe. Eu protegerei vocês, de tudo e

todos. Eu te juro, Rebecca!

Nicolas segurou meu rosto e beijou minha testa. Suspirei

aliviada, me sentindo acolhida por ele.

Quem dera eu pudesse acreditar que ele poderia me

proteger completamente. Eu mais que ninguém sabia que

quando alguém queria fazer mal a uma pessoa, não tinha nada
que pudesse impedi-la, nem mesmo um anjo protetor

disfarçado de médico.

— Doutor, como o bebê está? — perguntou Nicolas.


Tinha acabado de fazer exames com o médico para saber se

estava tudo bem com a gravidez.

— Podem ficar tranquilos, pais, tenho boas notícias para


vocês. O feto está se desenvolvendo muito bem, a gravidez é

segura, não é de risco, no entanto, é bom a senhorita tomar


cuidados e não fazer esforço excessivo. Sempre manter uma

boa alimentação, ajuda muito também, apesar de que na


gravidez você pode sentir muita vontade de comer alimentos

não tão recomendados.

— Então eu posso comer tudo que der vontade, doutor?

— perguntei, curiosa.

— Bem, tudo, tudo não. Tente evitar sabonete, terra,

detergente. Alimentos tóxicos.

Nicolas e eu rimos da fala do médico.

— Deus me livre, espero não desejar nada disso —

resmunguei.

— Vou ter que preparar o bolso desde já, porque


conhecendo bem essa daqui ela vai querer pizza e doces

quase todos os dias — Nicolas zombou de mim.

— E você terá que comprar, porque senão a criança

nasce com cara de pizza e doce. — O médico entrou na


brincadeira.

— Você ouviu o doutor, querido!


Arqueei a sobrancelha para Nicolas, que suspirou

pesadamente

— Estou ferrado, doutor. Talvez eu tenha que ir comprar

cigarros. — Nicolas usou seu melhor tom sarcástico e eu o


belisquei, fazendo-o gemer de dor.

— Vocês parecem um casal bastante divertido. Essa

criança tem sorte de ganhar pais assim — disse o doutor,


fazendo nossos sorrisos morrer. Olhei para Nicolas que ficou

sem graça. Limpei a garganta.

— Não somos um casal, doutor. Na verdade, tem grandes

chances dessa criança não ser...

Iria continuar a falar, mas Nicolas me cortou de forma

brusca.

— Não somos um casal ainda. Nossa história é longa,


doutor Carlos, mas, sim, nossa filha ou filho tem sorte de ter

pais como nós.

Quis revirar os olhos, no entanto, não fiz.


— Certo. Vocês terão que voltar para mais exames

frequentes. Gostaria que realizassem aqui todo o pré-natal se


assim desejarem. É um prazer para mim atender um

Albuquerque, ainda mais o senhor, que é um cirurgião tão

renomado — falou o médico.

— Bem, eu que sou a paciente aqui, doutor, e você deve


ter visto na minha certidão que não possuo o sobrenome

Albuquerque — falei um tanto ríspida. O médico limpou a

garganta.

— Desculpe-me, senhorita. Quis dizer que é um prazer

atender ambos, principalmente a mãe e o bebê.

— É claro. — Fiquei de pé e Nicolas também. — Pode

ter certeza de que vamos nos ver muito durante os próximos


meses, doutor. Obrigada por me atender mesmo sem ter

agendado a consulta previamente.

— Obrigado, doutor — Nicolas agradeceu também.

— De nada, voltem sempre!

Saí da sala sem esperar Nicolas que teve que aumentar a

passada para me acompanhar


— Dá para parar de andar rápido assim? Está com pressa
por quê? — Ouvi suas reclamações atrás de mim.

— Estou com pressa para ir embora.

— O que houve? Foi alguma coisa que o médico falou?


— questionou Nicolas

— Sabe, Nicolas, somente quando vi o médico te

babando que percebi uma coisa. Se esse bebê for seu filho,

coitado dele, vai ter que viver em mundo de pessoas falsas


que te bajulam sem nem gostar de você, por você ser rico e

ter uma boa posição.

Freei os passos ao Nicolas segurar meu braço. Me virei


para olhá-lo, sentindo sua respiração pesada em meu rosto.

— Você me culpa por ser admirado pelas pessoas por vir


de uma família reconhecida e ser um bom profissional? Que

culpa eu tenho nisso? Eu não pedi para ser quem sou,


simplesmente vim ao mundo, Rebecca.

Olhando seu rosto chateado percebi o quanto egoísta e

insensível estava sendo, senti vergonha de mim mesma por


isso.
— Me desculpe. Eu às vezes não tenho controle do que
digo ou do que penso, eu só...

Passo a mão pelo rosto de forma exasperada.

— Estou sentindo que estou carregando um mundo nas


costas. É tantas emoções que estou ficando estressada sem

motivo algum — continuei falando.

— Um desses fardos é o bebê que está esperando? —


questionou Nicolas, parecendo não gostar das minhas
palavras.

— Nunca. Esse bebê é tudo menos um fardo. Eu diria


mais, ele pode ser minha salvação.

O olhar de Nicolas ficou tão intenso que tive que


desviar, porque me deixou zonza. Meu coração disparou,

porque senti que ele se aproximou ainda mais de mim. Ele


inclinou o pescoço e parecia que iria encostar sua cabeça na
minha, mas antes que pudesse fazer foi impedido, porque

alguém o atrapalhou.

— Nicolas querido. — Era a mesma voz da mulher que


achei que ele tinha transado na sua sala. Virei meu rosto na
direção dela surpresa, percebendo que ela nos olhava com
curiosidade. — Que loucura o encontrar aqui. E com sua
recepcionista...

Natacha me mediu de cima a baixo. Senti meu estômago

se revirar e o sangue começar a esquentar.

Tinha algo em Natacha que fazia com que me sentisse


mal. Talvez fosse, hum, ciúme?
— Oi. Eu vim trazer Beca para fazer alguns exames. E
você, o que faz aqui? — respondi a Natacha, já intercalando

com uma pergunta. Era visível que Rebecca não gostou de

encontrá-la, consegui perceber seu desconforto pela forma


que alisava o colar do seu pescoço. Eu também não havia
gostado da intromissão, quase que Natacha presenciou um ato

de carinho meu com Rebecca.

— Vim fazer uns exames que costumo fazer todos os

meses. Gosto de ser precavida com minha saúde, sabemos que


nos dias de hoje uma doença pode nos atingir quando menos

esperamos — respondeu, abrindo um sorriso amarelo. — Não

sabia que costumava acompanhar funcionários em exames


particulares.

— E eu não costumo, Beca foi uma exceção.

Minha resposta fez vários sinais de dúvidas aparecerem


no olhar de Natacha que decaiu sobre Beca.

— Nicolas, eu já vou indo, não estou me sentindo muito


bem para continuar aqui — disse Beca sem olhar para

Natacha. Ela parecia chateada comigo, ou talvez fosse com

Natacha, não dava para saber bem o que se passava na cabeça

de Rebecca.

— Não, espere um pouco, eu a levarei — exigi e ela

suspirou.
— Olha só, Rebecca. Que patrão incrível esse seu, te dá
até carona, além de trazê-la até o hospital. Você deve

agradecer aos céus todos os dias por tê-lo como chefe —

Natacha alfinetou Rebecca, que não escondeu seu desgosto

por ouvir um comentário maldoso e disfarçado.

— Ele é sim um chefe gentil, e eu o agradeço muito por

tudo que fez e tem feito por mim, senhorita — rebateu Beca,

séria e sarcástica.

— Um chefe bondoso desse até eu queria... Só não sei

que forma você anda o retribuindo, se é com obrigada ou com

algo a mais...

Isso foi um basta para mim. Natacha estava passando

dos limites, nunca a vi ser tão rude assim.

— Chega, Natacha. Não aja dessa forma infantil, por

favor. — Aumentei o tom de voz ao falar, Natacha me olhou

envergonhada. — Rebecca, vá para o carro e me espere lá —

ordenei.

Rebecca, mesmo chateada e fitando Natacha com raiva,

parecendo pronta para respondê-la à altura, desistiu de fazê-


lo, ela desviou o olhar, ergueu o queixo e saiu sem dizer mais

nada.

— Nicolas, eu... Me perdoe. Acho que me excedi —

Natacha falou assim que ficamos a sós.

— Você acha? Pois eu tenho certeza. Nunca a vi agir tão


rudemente, ainda mais com uma pessoa que você acabou de

conhecer. Como pôde julgar Rebecca assim? Dessa forma?

Ela arregalou os olhos, deu alguns passos e ficou à

minha frente, parecendo arrependida do que acabou de fazer

— O que queria que eu pensasse dela, se você a enche de

cuidados, como se ela não fosse apenas uma funcionária para


você? É claro que vou pensar que vocês estão saindo, que ela
está tirando proveito do que você pode oferecer...

— A única pessoa que está tirando um tipo de proveito


dessa história, já adianto, que sou eu — falei, fazendo com

que se calasse, sem entender o que eu queria dizer. — Eu que


tenho oferecido ajuda a Rebecca desde que a reencontrei. Sou

eu quem a procura e até bati no seu ex-marido para defendê-


la. Fui eu quem a obrigou a vir nesse hospital caro, além do

mais, paguei e pagarei para ela fazer consultas frequentes.

— Não estou entendendo. Você se apaixonou por aquela

mulher?

Ela parecia surpresa e horrorizada.

— Eu já fui apaixonado por ela na adolescência,


Natacha. Agora nos reencontramos depois de anos e ainda

nutro um sentimento por ela... não sei dizer que sentimento é


esse, se é amor ou outra coisa. Eu simplesmente não tenho
respostas para o que estou sentindo. Então, Rebecca não tem

culpa de nada, tudo que fiz e faço por ela é por livre e
espontânea vontade.

— Caramba, estou chocada com tudo que acabei de

ouvir, Nicolas. Não posso acreditar nisso.

Natacha passou a mão pelo rosto parecendo perturbada.

— Você me conhece bem, Natacha, e eu confio em você.


Nossa relação, hum... casual, foi a única que eu mantive por
tantos anos, porque você sempre me pareceu uma mulher
compreensível e sincera. Por isso, só por isso que estou te
contando tudo isso, que está se passando na minha vida.

Eu a vi engolir em seco e, então, assentir.

— Estou surpresa em ouvi-lo falando com tanto


esplendor sobre a Rebecca. Acho que nunca vi seus olhos

brilharem assim antes falando de alguém, igual brilharam


agora falando dela. E ainda tem dúvidas que a ama, meu
Deus, está óbvio, exposto em você.

Natacha riu abismada e eu simplesmente dei de ombros


sem ter o que dizer.

O que eu poderia falar? Se ela estava certa. Eu poderia


até tentar enganar a mim mesmo, como sempre fazia, mas
meu olhar não mentia.

— Olhe só, ficou até sem palavras. Gente de céu, como


essa Rebecca é sortuda. Porra, ela ganhou na loteria em ter

um cara igual você, cadelinha por ela! — Espremi os lábios


um no outro, vendo o sorriso de emoção no rosto de Natacha.

— Eu juro que durante todos esses anos eu torci tanto para


um dia ver esse brilho nos olhos destinado a mim. Mas ele
nunca será, porque antes de mim sempre teve ela... sempre
terá Rebecca para tomá-lo de mim.

Suas palavras me comoveram e me deixaram triste por


não suprir suas expectativas. Segurei seu rosto nas mãos,
aproximando-me bem dela.

— Você é uma mulher magnífica e intensa, vai encontrar

um cara que reluza quando estiver em sua presença. Tenho


certeza disso.

— Isso está parecendo uma despedida? Você não vai

querer mais transar comigo, suponho? — Ela piscou


rapidamente deixando uma lágrima escapar.

— Meu foco agora é em Rebecca e meu filho ou filha

que está por vir — revelei, vendo seus olhos arregalarem


outra vez.

— Filho? Ela está grávida de você?

— Sim, está.

— Meu Deus, Nicolas, como isso foi acontecer? Bem...


eu sei como, mas, digo, você virando pai? Que loucura!
Eu ri e soltei seu rosto.

— Sim, é uma loucura, mas estou animado mais do que


deveria estar, confesso.

Ela também sorriu.

— Eu torço muito para sua felicidade. Parabéns, Nico,


você será um ótimo pai.

— Obrigado, Natacha. Espero que dê tudo certo com

seus exames — disse, mudando de assunto. — Nos vemos por


aí, ok?

— Ok, doutor!

Antes que eu pudesse ir embora ela se jogou nos meus

braços e me abraçou.

— Você estará para sempre na minha memória e no meu

coração — sussurrou, então eu afastei, me despedi com um

beijo na sua testa e saí dali, voltando para a única mulher

que me importava novamente. Rebecca


— Tem certeza de que precisamos fazer isso? —

perguntei pela milésima vez ao Nicolas. E quando vi a

entrada da mansão pelo vidro do carro só me apavorei ainda


mais. — Ainda dá tempo de voltarmos e esquecermos essa

ideia horrível.

— Nem pensar, Rebecca. Você está grávida e eu quero


assumir essa criança, mesmo que haja probabilidades de eu

não ser o pai. Ou você quer que um agressor e abusador se

torne pai do seu filho?

Nicolas me deu um olhar que dizia: “não tem outra


saída, dear, então aceite meu plano”.

— Deus em livre ter que aceitar João Miguel na minha

vida novamente. Castigo pior não existiria — soltei um


praguejo alto que fez Nicolas rir. — Mas sua família não vai

me aceitar e, também, nem ligo para aceitação deles,

entende? Se entrarmos na casa do seu irmão agora, vou ter


que encarar sua mãe, pai, irmão, cunhada e pior, meu ex-

marido.

— Você precisa encará-los e eu também. Um dia, há

muitos anos, soltei sua mão e não enfrentei meus pais, mas
hoje é diferente, sou um homem adulto e você uma mulher,

nós dois somos fortes e podemos lutar contra qualquer tipo

de medo ou receio.

Suas palavras fizeram eu me sentir mais corajosa.

Assenti, mesmo sentindo minhas mãos suarem.

— Tudo bem, siga em frente, Nico. Vamos enfrentá-los

juntos, pelo bem desse bebê!

Nicolas sorriu e segurou minha mão por um instante

antes de beijar a palma, tive que espremer os lábios para não

resmungar, ao sentir meu corpo estremecer com o arrepio que


seu carinho me causou.

Já faz uma semana que eu havia descoberto que estava

grávida. Nesse meio-tempo, depois do incidente no hospital

em que encontramos Natacha e tive que me controlar para


não soltar os palavrões que se passaram na minha mente com
as alfinetadas que ela me dera. Nicolas me levou para meu

apartamento e não passou disso.

Durante a semana, voltei a trabalhar como recepcionista,

mesmo Nicolas quase querendo me pagar um salário melhor

para ficar em casa, eu não aceitei ficar sem trabalhar, não

tinha motivo para isso, porque minha gravidez não era de


risco, pelo contrário. Eu podia trabalhar, ainda mais como

recepcionista que nem era um trabalho tão árduo.

E então durante a semana Nicolas insistiu para deixá-lo


assumir o bebê para a família. Ele estava ansioso para contar

a todos que seria pai, no entanto, recusei várias vezes sua

proposta, porque era loucura deixá-lo fazer isso, mesmo


sabendo que o filho podia não ser dele. No entanto, ele

insistiu tanto, que mesmo eu não querendo ver sua família,

ou ter que me reunir com ela, eu aceitei, porque Nicolas não

pararia com sua insistência até eu concordar.

E convenhamos, entre tê-lo como pai do meu filho e ter

João Miguel, a escolha sempre seria Nicolas. Eu preferia ser

mãe solo a me sujeitar meu filho a ter um pai que só a traria

dor.
Assim que saímos do carro, Nicolas e eu caminhamos
pela entrada, passando pelo jardim, e fomos recebidos pelo

seu irmão e a esposa, que se me recordava bem, seu nome era

Brianna.

— Boa noite, irmão, Rebecca. Sejam bem-vindos à nossa

casa — nos cumprimentou Heitor, fingindo alegria, bem, não

sabia dizer se era fingimento ou realidade. Visto que Heitor

sempre foi um enigma para mim. — Rebecca, deixe eu lhe


apresentar Brianna, minha esposa.

Brianna sorriu elegantemente. Ela era linda, tinha um

belo cabelo preto, olhos castanhos e pele branca.

— É um prazer conhecê-la, Brianna. Obrigada pelo

convite para o jantar na sua casa. — Sorri com gentileza.

— O prazer é todo meu, Rebecca. Você é mais linda do


que imaginei que seria, na verdade, superou as minhas

expectativas — ela comentou, sorrindo, e eu retribui o


sorriso.

— Eu agradeço — respondi baixinho.


— Bom, já que as apresentações foram terminadas,
podemos entrar? — Nicolas falou fazendo todos rirem.

— Como sempre apressado, irmão. Por favor, entrem!


Sintam-se em casa — respondeu Heitor, e todos nós entramos
na mansão. Só a sala era um cômodo enorme, e belíssimo,

como já havia imaginado que seria.

Nicolas não desgrudava de mim em nenhum momento,


sempre estava ao meu lado e isso fazia com que me sentisse

mais segura.

— Desculpem, mas acho que não acabaram as


apresentações ainda. Que eu saiba vocês tem filhos, não? —
questionei, atraindo os olhares para mim.

— Sim, temos Isadora e Felipe. Ambos já estão


dormindo e a babá supervisionado — foi Brianna quem me
respondeu.

— Gostaria de conhecê-los. Se não for incomodar.

Ela e o marido assentiram.


— Pode ser após o jantar? Estamos famintos e curiosos
com o comunicado que Nicolas disse que iria fazer — Heitor
pediu, e não vi outra alternativa a não ser assentir.

— Por mim, o jantar já pode começar — disse Nicolas,

ansioso. Ele colocou a mão em minhas costas e começou a me


acariciar com o dedo indicador.

— Podemos sim, porém, antes precisamos esperar mais

dois convidados — explicou Heitor, me fazendo ficar tensa.


Que convidados a mais teria? Eu tinha sido bem explícita
com Nicolas que só queria nesse jantar seu irmão e a

cunhada, ninguém mais.

— Vocês convidaram mais alguém? — questionou


Nicolas, irritado.

— Sim, nós. — Uma voz que conhecia bem rompeu

fazendo com que nós nos assustássemos e virássemos em sua


direção. Travei ao ver Vitória ao lado de Rafael, seu marido,
nos olhando com desdém. — Meu filho querido, é um prazer

para nós jantarmos com vocês mesmo sem ter sido


convidados.
— Estou curioso para saber qual o comunicado que você,
filho, deseja dar — incrementou Rafael, rigidamente.
Antes de me dar o trabalho de responder meus pais que
chegaram como intrusos para o jantar, me virei em direção à

Rebecca, segurei sua mão, sentindo seus dedos suados e

gelados, sabendo que ela ficava assim porque estava nervosa


com tudo.
— Tudo bem para você se eles participarem do jantar,

dear? Se quiser podemos ir embora, se não estiver


confortável com isso — falei, sugerindo o certo. Porque não

queria impor a Rebecca a presença dos meus pais, porque era

notável que isso a fazia muito mal.

— Se já estou aqui, não irei fugir mais. Só que quanto

mais rápido esse jantar acontecer, menos tempo terei que


aturar a presença dos... — ela ficou receosa em dizer, então

virou a cabeça na direção dos meus familiares que estavam

prestando atenção em nós. — Pais.

— E então, Nicolas e Rebecca. Poderemos começar logo


o jantar? — meu pai voltou a pressionar, bufei estressado,
soltando a mão de Rebecca.

— Está bem. Vamos começar logo esse jantar —


decretei, secamente, e segui em direção à sala de jantar, com

Rebecca ao meu lado. Nós nos sentamos em cadeiras

próximas, e esperamos que todos se sentassem à mesa

conosco.
O jantar já tinha sido servido. Era escargot, uma comida
refinada e que não era qualquer um que apreciava. Para dizer

a verdade, nem eu apreciava esse tipo de culinária. Contudo,

o problema não era gostar ou não, e sim a forma de comer

que era complicado.

Observei Rebecca que olhou desgostosa para o prato

servido. Depois fitei meu irmão, que olhava cinicamente para

Rebecca, e me perguntei se ele tinha escolhido esse prato de

propósito para constrangê-la.

— Acho que vou ficar apenas na salada hoje —

murmurou Rebecca para que eu apenas ouvisse.

— Boa ideia, também ficarei na salada — disse na

intenção de apoiá-la.

Estava um silêncio maçante durante o jantar. Parecia que

todos ali não queriam o jantar tão requintado, somente

esperavam ansiosos pelo que eu tinha a dizer.

— O escargot está divino. Foi muito bem servido,

parabenize seu chefe por mim, filho — disse minha mãe,


abrindo um sorriso cínico. — Você não vai experimentar,

Rebecca? Está delicioso.

Rebecca levantou o olhar na direção da minha mãe, notei

que ela se empertigou no assento e toquei sua coxa por baixo


da mesa, na intenção de pedir cautela e calma. Assim que

sentiu meu toque ela meneou a cabeça na minha direção


surpresa. Movi mais os dedos para cima e vi seus lábios se
entreabrirem.

— Rebecca? — minha mãe chamou outra vez esperando


sua resposta. Beca limpou a garganta e fitou minha mãe.

— Eu não gosto de escargot, senhora. Vou ficar apenas


na salada!

— Ah, entendo. Não é todo mundo que tem bom gosto.

Ou será que você não sabe comer adequadamente o prato? —


questionou minha mãe em tom de troça, que fez sinal que iria

rebater, então eu apertei sua coxa, fazendo-a se falar.

— Não se rebaixe — sussurrei em seu ouvido, vendo-a

estremecer, porque minha boca ficou próxima à sua orelha. —


Na verdade, mãe, nem eu mesmo gosto desse prato. Preferia
bem mais um risoto de camarão com vinho. Ou se fosse outro

fruto do mar uma lagosta, seria muito melhor.

— Foi o que eu disse para meu marido, que não

deveríamos servir um prato tão refinado e sem graça nesse


jantar — comentou Brianna, surpreendendo a todos. Pelo

pouco que conhecia minha cunhada, ela parecia ser bem


diferente de meu irmão. Ela tinha mais jeito com as pessoas e

solidariedade.

— Sim, amor, eu deveria tê-la ouvido — respondeu


Heitor, com cara de poucos amigos. — Posso pedir para a

cozinheira servir outro prato.

— Não será necessário. A essa altura Rebecca e eu já

perdemos o apetite. Vou levá-la para jantar em um


restaurante após terminarmos aqui — disse, sem conseguir
me conter. Meu irmão não escondeu seu desgosto. Fiquei de

pé, resolvendo acabar logo com aquilo. — Somente viemos


até aqui porque temos uma notícia para dar.

A atenção de todos estavam em mim.


— É com felicidade que digo que Rebecca está grávida
de um filho meu.

O queixo de todos caíram. Minha mãe quase deixou o


líquido da taça que segurava derramar.

— Parabéns, Rebecca, cunhado. Estou feliz por vocês!

— Brianna foi a primeira a falar algo.

— Um filho? Vocês estão juntos? — perguntou meu pai.

— Não pode ser... — resmungou minha mãe, mas

consegui escutar.

— Não estamos namorando e nem temos nenhum

compromisso, ainda. Somente estamos grávidos, e é isso.


Vamos criar esse filho juntos, ele terá o sobrenome

Albuquerque e nunca ficará desamparado — respondi,


enquanto Rebecca estava muda.

— Mas como pode ter certeza de que o filho é seu se ela

era casada com o meu motorista? — meu irmão perguntou,


com descontentamento.
— Isso não importa, eu tenho certeza e pronto. E já
aviso que não vim até aqui para pedir opinião de vocês.
Somente para informar em primeira-mão que vou ser pai, e

não quero que tentem fazer nada contra Rebecca, ou


menosprezá-la de alguma forma, porque se eu ficar sabendo

que algum de vocês o fez, cortarei laços para sempre.


Entenderam? — Fui firme em minhas palavras. Todos
pareciam ainda em choque com minha revelação.

— Entendemos, sim, filho. Nós vamos poder conhecer e

conviver com nosso neto? — minha mãe perguntou com os


olhos cheios de lágrimas.

— Não — dessa vez foi Rebecca quem respondeu,

colocando-se de pé também. — As únicas pessoas presentes

aqui que ainda quero perto do meu filho, talvez ainda, serão
Brianna, Heitor e seus filhos. De resto, mais ninguém se

aproximará.

— Que ultraje, nós somos os avós, jovem, não pode


querer que não vejamos nosso neto! — esbravejou Rafael.
— Eu tenho certeza de que você e a senhora Vitória não

desejam esse neto, muito menos gostam de mim, não que eu


me importe. Vocês são tóxicos, preconceituosos, pessoas com

caráter duvidoso. Eu não quero uma pessoa assim perto desse

bebê que estou esperando. Por mim eu nunca mais veria a


cara de vocês.

Meus pais levaram a mão à boca, completamente

chateados com a recusa de Rebecca. No entanto, achei que

ela fez o certo.

— Você vai se arrepender disso — ameaçou minha mãe e

eu já fui em defesa de Rebecca.

— Não ouse ameaçá-la. Se algo acontecer com meu filho


ou Rebecca, já sei quem devo culpar. — Mandei um olhar

ameaçador para minha mãe que ficou de queixo caído.

— Filho, eu nunca faria mal a essa moça, tampouco ao


meu neto...

— Não seja hipócrita, Vitoria — rebateu Beca, rangendo

os dentes. — Você se faz de boazinha na frente de seus

filhos, mas em suas costas é uma naja, uma serpente. Na


verdade, nem as cobras merecem ser comparadas a alguém

como você.

— Cale a sua boca, sua imunda...

Fiquei furioso ao ver minha mãe destratando Rebecca na

minha frente.

— Cale você, sua velha nojenta — respondeu Beca com

um sarcasmo impressionável. — Nicolas, você precisa saber


uma coisa sobre sua mãe, sobre sua família, na verdade. Ela

finge ser decente e se esconde atrás de uma máscara de

mulher rica que gosta de ajudar os pobres, mas quando

éramos adolescentes e apaixonados ela me fez ameaças


horríveis. Disse que demitiria minha mãe, que acabaria com a

reputação dela como cozinheira, se eu não te deixasse. Ela

fazia pouco caso de mim porque eu era filha da cozinheira,


não tinha condição financeira e nem um sobrenome

impressionável. E hoje em dia ela não mudou, continua

tentando forçar as pessoas a fazerem o que ela quer. Há um


tempo ela me procurou no seu apartamento. A dona Vitória,

mulher tão bela e refinada, foi lá me oferecer milhões, eu

repito, milhões, para eu sumir outra vez da sua vida.


— Mentirosa! — minha mãe gritou, levantando-se e

batendo na mesa, o que causou um baita barulho.

Estava nítido que tudo que Rebecca disse era verdade.

Quando olhei para minha mãe e quase não reconheci a mulher

que me criou. Eu sabia que ela não era um doce, mas ouvir as

coisas horrendas que fez a Rebecca me deixou de estômago


embrulhado.

— A única falsa e manipuladora aqui é você, mulher! —

Rebecca também bradou. — Bem, por hoje terminei tudo que


eu tinha para falar. Finalmente, consegui desabafar o que

estava repreendendo por tantos anos. E isso que falei não foi

nem metade dos podres que contei sobre sua família, Nicolas,
tem muito mais!

— Escute-me bem, garota, você nunca será bem-vinda à

nossa família. Nunca, sua intrometida e mulher desprezível

— vociferou meu pai, levantando-se para amparar sua esposa.

Rebecca parecia aliviada por ter jogado tudo que sentia

em relação à minha mãe na cara de todos, mas parecia frágil


com tanta gente a atacando, então fui até ela e a segurei pela

cintura.

— Venha, já chega. Não precisa ficar aturando mais isso

— decretei e a puxei, retirando-a dali.

Levei ela até o corredor após a sala de estar.

— Eu acho que vou desmaiar — reclamou Beca,

abanando-se, ela estava abalada e era normal essa reação, até


mesmo eu que não costumava me abalar facilmente tinha

ficado. Porra, eu estava sentindo vontade de cortar laços com

a minha própria família, com meus próprios pais que me

deram a vida. — Você acha que fiz certo, agindo dessa forma
impulsiva?

— Você fez muito certo, Rebecca. Ainda bem que soltou

tudo que estava prendendo com você. Quer dizer, quase tudo,
porque pelo que disse no maldito jantar, aquilo que falou não

foi nem metade do que sabe e vivenciou com a minha família.

— Semicerrei os olhos na sua direção. Rebecca estava com


lábios entreabertos e olhos muito saltados.

— Eu não quero mais falar sobre isso, Nicolas.


— Mas você vai, querendo ou não. — Lancei-lhe um

olhar reprovador. Estava cansado de segredos. Porra, por que


não podia ser tudo esclarecido entre nós? — Você está

melhor? Quer que eu pegue uma água com açúcar para você?

Ela estava pálida, fiquei preocupado.

— Não, eu não quero ter que falar com mais ninguém


desta casa, por hoje, pelo menos. Porque eu gostei de sua

cunhada, ela parece uma mulher gentil, que não combina em

nada com seu irmão.

Beca revirou os olhos e eu sorri por gostar de vê-la tão

sincera, falando as coisas sem medo algum.

— Heitor não é fácil mesmo, mas pelo menos nunca te


fez mal, ou fez?

Arqueei a sobrancelha, muito curioso. Ficaria puto de

raiva se soubesse que meu irmão já fez algo contra Rebecca.

Sempre confiei muito nele, e o considerei meu melhor amigo,


desde novos éramos parceiros. Não gostaria de ver essa

confiança morrer.
— Não, ele nunca fez nada contra mim — respondeu,
parecendo sincera.

— Que bom, odiaria ter que quebrar a cara do meu

próprio irmão.

O olhar de Rebecca mudou para choque.

— Nicolas...

— Shhhh. — Aproximei-me dela rapidamente, tampando


sua boca em seguida. Consegui ouvir antecipadamente passos

em direção ao corredor. Então, agilmente, antes de sermos

vistos, enfiei Rebecca dentro do banheiro e tranquei a porta.

— O que diabos está fazendo? — questionou ela, sem


entender nada.

— Evitando mais uma discussão e conversa indesejada


— expliquei, mas ela pareceu não entender. — Ouvi passos

no corredor então achei melhor nos trancarmos no banheiro.

— E se alguém quiser usar esse banheiro? — questionou


ela. Coloquei a mão na cintura enquanto a outra alisei meu
queixo.
— Tem muitos outros banheiros nessa casa, Rebecca.

— Mas esse, em particular, é de visita, Nicolas. Bem,

acho melhor irmos embora.

Ela passou por mim, mas antes que conseguisse passar


pela porta a coloquei contra ela. Os olhos de Rebecca se

arregalaram, as bochechas tomaram uma cor mais


avermelhada, e o brilho em seus olhos aumentou
drasticamente. Senti a tensão nervosa de seu corpo contra o

meu, prensei-me contra ela, erguendo meu braço para apoiá-


lo na porta, no alto da sua cabeça.

— O que está fazendo? — murmurou com a boca perto


da minha. Conseguia sentir seu hálito em meu rosto.

— Não sei, de repente, me deu uma enorme vontade de


aliviar a tensão dessa noite com um pouco de adrenalina. —
Passei a mão livre pela sua coxa desnuda, encaixando-a em

meio às suas pernas. Rebecca me destinou um olhar de


luxúria que fez meu pau pulsar dentro da calça. — O que

acha? Já fodeu em um banheiro, alguma vez na vida,


Rebecca?
Ela negou com a cabeça e espremeu os lábios, para não
gemer quando me sentiu tocar por cima da calcinha.

— Nunca... muito menos assim. É perigoso, doutor, de


perceberem o que estamos fazendo...

— Não vão perceber, e se perceberem, foda-se. Quem se


importa, não é mesmo?

Abri um sorriso safado, era inevitável não sorrir, vendo


a expressão de pânico e, ao mesmo tempo, excitação no rosto

da minha adorável Rebecca. Ah, porra, como desejava essa


mulher. A desejava feito louco, feito um animal enjaulado,
cacete.

Inclinei-me para beijar seu pescoço e falar no seu


ouvido:

— Nós foderemos aqui e sairemos saciados desse lugar.


Não aceito não como recusa. — Deslizei os dedos para dentro

da calcinha, fazendo eles escorregarem em meio à sua


lubrificação. Rebecca era safada e ficou com tesão, mesmo
nitidamente tensa. Caralho, meu pau latejou. — Você é mais
putinha safada do que imaginei, Rebecca. Eu diria que gosta
de safadeza quase mais que eu.

— Cale a boca, doutor! E me coma logo. — Ela segurou

meu queixo, prendendo as unhas nele, grunhi contra sua


boca, sentindo um desejo feroz e violento me tomar. —
Agora que me deixou quente, vai ter que me aguentar e dar

conta de apagar meu fogo...


Era notável que Nicolas tinha o dom de despertar meus

piores e melhores instintos. Ele despertava em mim


sentimentos avassaladores que faziam com que eu me

sentisse viva. E mesmo em um momento difícil como esse


que estava passando, de ter me exposto e enfrentado seus

pais, Nicolas me fez sentir um desejo incontrolável.


— Me beije. Deixe-me ter mais dessa sua boca gostosa

— ordenou antes de trazer sua boca para minha. Arfei, e me


derreti em seus braços totalmente entregue. — Você está cada

vez mais molhada. Porra.

Grunhi, sentindo minha vista embaçar, por tamanho

tesão, quando Nicolas deslizou dois dedos para dentro da

minha boceta, começando a me penetrar com eles. Porra, que


delícia!

— Oh, Nicolas, continue assim... Você é tão bom nisso...

— Não ouse gozar ainda, amor — falou com ar mandão,


o que me fez querer rir e calá-lo com um beijo. Nicolas me

apertou mais em seus braços e continuou com as suas

estocadas com os dedos. Merda, estava com muito tesão, era

difícil me segurar para não gozar com toda aquela excitação


que estava sentindo no momento. Prendi minha boca entre os

dedos e joguei a cabeça para trás, percebendo que não iria

conseguir segurar mais o orgasmo. Minhas pernas tremeram e

meu corpo inteiro convulsionou, quando fui tomada por um

delicioso orgasmo, latejante e insano. — Caralho, safada, eu

disse que não era para gozar, meu anjo. Agora vou ter que
castigá-la. — A voz de Nicolas saiu dura e rígida, ele tirou o
dedo de dentro de mim, fazendo-me ficar saudosa por ele.

Suspirei, sentindo os espasmos ainda em meu corpo.

— O que vai fazer, doutor? Me aplicar uma injeção para

me castigar? — zombei, vendo seu olhar semicerrar. Nicolas

estava ainda mais sexy com olhar sedutor e postura bruta. Eu

adorava o jogo que rolava entre nós. Ficava ainda mais

molhada quando o provocava e ele rebatia.

— Você já vai saber minha forma de castigo — afirmou

ele e me surpreendeu por me virar, de forma ágil e bruta, me

colocando de costas para ele.

Meu corpo inteiro aqueceu de ansiedade pelo que estava

por vir. Meu coração batia disparado. Apoiei as mãos nas

costas e gemi, alto e surpresa, quando Nicolas me puxou pela

cintura, fazendo meu corpo se inclinar e minha bunda subir.

— Abra as pernas, cachorra. — Ele estapeou minha coxa

em um canto sensível que fez com que eu sentisse um

dorzinha prazerosa. Abri como ele ordenou. Tentei olhá-lo,


mas Nicolas não permitiu. — Mantenha o rosto para frente,

sua curiosa.

Consegui perceber que sua voz estava mais rouca e com

resquício de depravação. Arquejei ao senti-lo segurar minha


calcinha e rasgá-la.

— Porra, mais uma, Nicolas? — questionei, brava, e

ouvi o safado rir.

— Essa eu poderia ter tirado de você sem rasgar, mas

confesso que meu desejo de vê-la andando por aí sem a peça


íntima e com minha porra escorrendo por sua boceta me

excita bastante.

— Maldito — murmurei, rouca e excitada. Ele continuou


a rir.

— Você é uma mulher abusada, meu anjo. E quanto mais


me retruca, mais irá sofrer as consequências.

Sua ameaça fez um frio gélido subir por minha coluna.


Nicolas prendeu minhas mãos atrás das costas de forma
brusca, fazendo-me encostar somente o rosto contra a porta.
Tentei me soltar, mas era impossível. Dessa forma, ele

poderia fazer tudo que quisesse comigo.

Ele entrou em mim de uma forma violenta. Duro e

brutal. Fechei os olhos, gemendo com a ardência na minha


intimidade, por conta da posição e pelas estocadas vorazes.

Eu não sabia em qual momento ele conseguiu se despir


para me foder, mas ele fez sem que eu nem notasse. Não
esperava a forma bruta que ele me estocou, contra a porta.

Porém, era tão carnal, seus grunhidos misturados com


gemidos me deixaram louca de tesão.

Porra, meu sexo latejava, enquanto meu ventre queimava


por dentro, mostrando o quanto pervertida eu era.

— Você gosta de ser fodida assim, não é, safada? — A

voz de Nicolas estava brusca, gemi em concordância e ele


passou a segurar meus dois braços, mantendo-os unidos atrás

das costas apenas com uma mão, a outra o doutor cafajeste


usou para puxar meu cabelo, enquanto estocava mais duro e

doloroso. — Responda, sua putinha safada.


— S... sim — balbuciei. Não estava em posse total das
minhas faculdades mentais naquele momento. Podia dizer que
tudo que sentia se baseava no orgasmo que se aproximava.

— Sabia desde o início que você era uma gostosa de


boceta insaciável. — Arfei ao ouvir sua voz na minha nuca,

ele soltou meu cabelo e estapeou minha bunda tão forte que
empinei a bunda mais e gritei de dor. — Eu sei que você quer

gozar no meu pau agora, mas não vai — disse, diminuindo a


intensidade das estocadas, suspirei insatisfeita, estava quase
alcançando o clímax droga. Nicolas agarrou um dos meus

seios e começou a me penetrar lentamente.

— Por favor... assim não — implorei. Não era que lento

fosse ruim, mas demoraria mais para alcançar o alívio.

— Assim sim. Você só gozará quando eu permitir, amor.

Grunhi desesperada pelo clímax, enquanto Nicolas

insistia em me torturar. Então do nada, levei um susto ao


ouvir um soco na porta. Virei meu rosto em direção ao

Nicolas, tentando me afastar dele. Ele me segurou naquela


posição e fez sinal para eu não me mover. O maldito
continuou me fodendo, mesmo com alguém do outro lado da
porta.

— Tem alguém aí? — paralisei ao ouvir a voz de Heitor,


quase gritei, no entanto, Nicolas já previu que eu faria, então
cobriu minha boca com a mão e entrou mais fundo dentro de

mim, me deixando trêmula. — Nicolas, você está aí?

Ficamos mudos, somente nossos corpos se moviam.

— Já procurei você e Rebecca por toda mansão, eu sei

que estão aí!

O irmão de Nicolas continuou insistindo, então Nicolas


parou de me foder, saiu de dentro de mim. Achei que iria

responder o irmão, mas não o fez. Ele me puxou para mais

longe da porta. Ficamos perto da pia. Nicolas ainda me fitava


com um olhar que dizia: “não faça barulho”.

Eu estava tremendo, com medo de ser flagrada, mas ele

parecia não estar com um pingo de medo. Nicolas segurou

minha cintura me impulsionando para cima, me colocando


praticamente sentada na pia. Ergui as pernas me abrindo para

ele que passou a língua pelos lábios, admirando minha


intimidade. E então como se desejasse de uma maneira

faminta, começou a me chupar com anseio.

Eu mesma precisei tampar a boca para não gritar ao

sentir o impacto da língua de Nicolas contra minha

intimidade pulsante. Ignorei os chamados do idiota do seu


irmão na porta e aproveitei o momento.

O olhar de Nicolas veio parar no meu, enquanto ele me

chupava. Diabos, isso era tão sexy que em poucos minutos eu


libertei o prazer insano que estava sentindo em mais um

orgasmo intenso e latejante. Puxei o cabelo de Nicolas para

tirar sua boca da minha boceta, porque havia ficado sensível

após o orgasmo. Desci da pia e me ajoelhei em frente a ele,


sentindo tudo em mim ainda descompassado.

Nicolas arfou surpreso ao me ver segurar sem pau, duro

e molhado, e colocá-lo na boca, chupando-o de forma lenta e

sedutora. Afastei um pouco a boca e cuspi em seu pau


espalhando toda a lubrificação por ele.

— Pare, não quero sua boca gostosa, quero sua

bocetinha, Rebecca.
Nicolas impediu-me de continuar me levantando. Olhei-o

sem compreender, então ele me ajudou a erguer uma das

pernas, apoiando-a na pia de mármore. Logo seu pau estava


dentro de mim mais uma vez, seu corpo pesado e excitado

grudado ao meu.

Com nossos olhares conectados, transparecendo

sentimentos indescritíveis Nicolas gozou, dentro de mim, me


marcando com a sua porra. Gemi, contente ao vê-lo alcançar

o clímax, grunhindo baixo e transpirando por fora.

Aos poucos, ele tirou o pau de dentro de mim e eu pude


me ajeitar novamente. Estava com as emoções à flor da pele

ainda. Ajeitei meu vestido e meu sapato que acabei tirando

do pé sem perceber. E quando voltei a fitar Nicolas, que já

estava impecável, nem parecendo que tinha acabado de me


dar uma surra de pica, me desmanchei ao ver seu olhar

apaixonado em minha direção.

Deu vontade de falar para ele: “Não me olhe assim,


doutor, se não corro risco de me apaixonar outra vez.”
Que meu santinho não permita que eu caia nessa

armadilha novamente.

Ele podia ser gostoso demais, e eu podia tirar uma

casquinha de vez em quando, e só. Nada de confundir as

coisas para não sofrer depois!

— Queria saber o que se passa pela sua cabecinha —

murmurou, aproximando-se para segurar meu rosto e dar um

breve beijo nos meus lábios. — Talvez seja o mesmo que eu

estou pensando.

— No que está pensando? — inquiri.

— No quanto gosto da sua companhia, de você toda. E

cada vez mais sinto que não conseguirei tirar você dos meus
pensamentos.

— O doutor é mais romântico do que eu pensava —

resmunguei, desviando o olhar de seu rosto, sentindo minha

barriga contorcer. Merda, eu ficava toda boba quando ele


falava assim, mas tinha que disfarçar. — Não se esqueça de

que isso entre nós é...


— Casual. Não precisa me lembrar. Agora venha,

precisamos ir.

Assenti e senti meu estômago roncar, acho que Nicolas

ouviu, por isso sorriu

— Acho que tem alguém com fome.

— Agora estou comendo por dois, esqueceu, doutor?

Sorri, mordendo o lábio inferior meio tímida, o que era


estranho, porque tinha acabado de dar em várias posições

imprevisíveis que não fiquei nem um pouco tímida.

— Jamais. E faço questão de alimentar você e a pequena

ferinha que está crescendo aqui — murmurou, tocando minha


barriga. — O que quer comer? Peça o que quiser.

— Hum, quero hambúrguer e batata frita.

Ele assentiu, me contemplando com brilho no olhar

— Então vamos de McDonald 's — falou, me deixando

ainda mais desejosa — Vem, vamos lá.


Nicolas segurou minha mão e saímos do banheiro.

Caminhamos pelo corredor e eu não pude parar de sentir um


desconforto, por estar sem calcinha e toda molhada do seu

prazer. Me aproximei dele e falei no seu ouvido:

— Antes deveríamos passar no apartamento para eu

trocar de roupa, estou gozada, Nicolas.

Ele abriu um sorriso pervertido.

— Vai continuar assim, Rebecca. Depois de comermos

você vai para minha cobertura e lá tomaremos um banho


juntos, e só depois eu mesmo te limparei.

Franzi o cenho.

— Não tínhamos combinado isso de dormir com você.

Que eu saiba. E por acaso isso de querer me deixar marcada


com sua porra é algum tipo de perversão que te agrada?

Ele inclinou a cabeça em minha direção com um sorriso

de lado que fez meu coração bater mais rápido. Por que seu
sorriso tinha que ser tão bonito e tão malicioso?

— Agrada sim, você não faz ideia o quanto...


— Agora faço — murmurei e então antes que ele pudesse
dizer algo seu irmão e a cunhada apareceram no corredor.

— Ah, então vocês estão aí. Finalmente! — falaram

juntos. — Onde vocês estavam?

Olhei para Nicolas em busca de uma resposta. Lembrei-

me de que quase fomos flagrados pelo Heitor no banheiro e

senti meu rosto queimar de vergonha.

— Tínhamos ido tomar um ar — respondeu Nicolas —


Mas agora já estamos indo embora.

— Entendi. Queríamos pedir desculpas pelo desconforto

do jantar, irmão. Acho que não reagi bem ao saber que serei
tio, o que nunca foi minha intenção, porque, no fundo, adorei
a ideia de ter mais uma criança na família para brincar com

meus filhos — disse Heitor, simpático.

— Tudo bem, eu entendo, foi uma surpresa para todos, é


difícil de assimilar de primeira — resmungou Nicolas e
passou a mão por cima de meu ombro. — Obrigado de

qualquer jeito pelo jantar, irmão, Brianna.


— De nada. No próximo jantar que marcarmos, prometo
que será algo mais apetitoso — foi Brianna quem falou em
um tom de brincadeira.

— Opa, então, com certeza, o próximo será bem melhor


que esse, tipo de dez a zero — falei, pela primeira vez e eles

riram.

— Sim. Gostaria de oferecer meu motorista, dado que já


está tarde e se não quiser dirigir, irmão, ele pode levá-los ao

lugar que desejar — propôs Heitor, com os olhos


semicerrados.

Senti um desconforto me tomar por me lembrar de quem


era seu motorista. Será que ele sugeriu isso para me

alfinetar? Só sei que conseguiu deixar Nicolas também


empertigado.

— Não acho necessário, irmão...

— Pois eu acho — falei e atraí o olhar pontudo de

Nicolas para mim. — Já está tarde mesmo e vamos ter que ir


a muitos lugares, Nico. Aproveita, assim não gasta gasolina.
Uma linha fina apareceu em meio a sua testa quando me
olhou, sem entender o que eu pretendia. No fundo, nem eu
sabia o que estava fazendo e o motivo, mas, com certeza,

achava uma ótima ideia fazer meu ex-marido filho da puta ter
que trabalhar até tarde me levando aos lugares. Acho que era

mais vingativa do que pensava.

— Bem, então se Rebecca prefere isso, por mim tudo

bem — respondeu Nicolas. — Já aviso que seu motorista


sofrerá um pouco, minha cobertura fica longe daqui.

— Ele é bem pago para isso, irmão — respondeu Heitor.

— Eu vou chamá-lo, enquanto isso esperem lá no jardim.

Enquanto caminhávamos até o jardim Nicolas quis saber:

— O que te deu? Por que quis isso?

— Não sei...

— É por vingança? — questionou ele, no mesmo

momento em que Heitor apareceu com João Miguel. Seus


olhos pareciam que iriam saltar das órbitas quando me viu
acompanhada por Nicolas, a sensação que senti de causar
esse impacto nele foi avassaladora e, então, eu tive a
resposta de Nicolas:

— Por vingança sim, com certeza.


Pense em um silêncio maçante que se deu quando

Nicolas e eu nos sentamos no banco de trás do carro em que


João Miguel iria dirigir. Estava quase me arrependendo de ter

aceitado isso por vingança, porque era uma atitude infantil


da minha parte, no entanto, tinha sido tão ótimo ver a

expressão de descontentamento no rosto do imbecil do João


Miguel, quando Heitor falou que teria que levar Nicolas e eu

em qualquer lugar que quiséssemos ir. Foi ótimo ver o


resquício da dúvida em sua face, tentando decifrar o que

havia entre mim e Nicolas, se éramos um casal ou não.

— Onde vão querer ir primeiro? — perguntou João

Miguel, não escondendo o desgosto na voz. Estava sentada

bem perto de Nicolas, o médico levou a mão a minha coxa


alisando-a, me fazendo lembrar de que estava sem calcinha e

precisava urgentemente de um banho, depois do sexo árduo

que fizemos no banheiro da casa do seu irmão.

— Passe em um McDonald’s qualquer, depois siga para o


apartamento de Beca e, então, para minha cobertura — falou
Nicolas, depois explicou os endereços mais detalhados.

— Apartamento de Beca? — questionou João Miguel,


surpreso, após ouvir os detalhes sobre onde é localizado meu

endereço.

— É um apartamento provisório — respondi. — Por quê?

Algum problema?
João Miguel limpou a garganta e disfarçou o incômodo,
dando partida no carro.

— Não, senhora.

— Senhorita, por favor — impliquei, abrindo um sorriso

maléfico.

Senti os dedos de Nicolas sendo cravados na minha

perna, ele aproximou a boca do meu ouvido e disse:

— Você está sendo uma mulher muito má hoje, bebê.

Devo me preocupar?

Fitei-o sem precisar virar o rosto na sua direção

— Imagina, doutor. Com você, estou em paz hoje.

— Também, depois de tantos orgasmos que eu lhe dei

naquele banheiro, eu realmente mereço que fique de bem

comigo, meu anjo. Inclusive ainda está incomodada lá

embaixo ou já se acostumou com minha porra dentro de você


— quis saber Nicolas, sua pergunta que me fez corar

levemente. Ao que parecia, ele havia falado isso mais alto do


que deveria, pois João Miguel freou bruscamente, por quase

bater no carro a sua frente.

— Senhor Albuquerque, é melhor falarmos sobre isso na

sua casa, de preferência no banho — respondi no mesmo tom.

— Desculpe ser inconveniente, senhores, mas preciso


saber. Vocês estão juntos? — perguntou João Miguel,

deixando Nicolas e eu surpreso com sua pergunta, não achei


que o patife teria coragem para perguntar. — São um casal?

— Nós temos uma relação sem rótulos por enquanto.


Porém, isso está prestes a mudar, agora que Rebecca está

esperando um filho meu. — Quase me engasguei vendo


Nicolas tirar a mão da minha coxa e levá-la até a barriga.

Consegui ver o olhar de João Miguel pelo retrovisor, ele


parecia assombrado.

— Filho? — A voz do motorista saiu alta e grosseira. —

Você está grávida, Rebecca?

— Estou sim. — Sorri, mesmo me sentindo tensa. Não

esperava que Nicolas fosse responder isso e que nem fosse


contar da gravidez. Embora não tivesse problema em João
Miguel saber por ele, ou por qualquer outra pessoa, dado que

em breve todos saberiam que estava grávida do meu chefe. —


Não vai nos desejar parabéns?

— Parabéns a vocês — falou a contragosto. — Você


tirou uma sorte grande, Rebecca. Engravidou do seu chefe,

médico importante e, ainda por cima, bilionário, parabéns. O


golpe do baú deu certo.

— Fale assim com Rebecca novamente e perderá mais

que alguns dentes dessa vez, rapaz — ameaçou Nicolas


prontamente, até eu fiquei com medo do seu rompante,

mesmo que ele não estivesse direcionado a mim. — E fique


sabendo que Beca nunca faria algo desse tipo, e nem precisa.
Antigamente, na adolescência eu a escolhi e teria me casado

com ela mesmo com todas as complicações que nos impedia,


e agora eu continuo com o mesmo pensamento. Só não me

caso com ela porque essa mulher é difícil demais, camarada.


Você como ex-marido dela deve saber que ela é uma mulher

especial, e que só sendo um imbecil como você para perdê-la.

Fiquei impactada com suas palavras.


Tudo que ele disse me fez questionar o que o levou a me
mandar as mensagens no passado, me rejeitando, me fazendo
sofrer.

— Eu fui um imbecil com Rebecca e reconheço, no


entanto, ela não foi um anjo completo, como você a faz

parecer. Ela me chifrou, com você, aliás. Por isso aconselho


que tenha cuidado com ela, pois se teve coragem de me

chifrar, imagine o que não fará com você.

Senti Nicolas ficar nervoso. Ele se inclinou mais para


frente e temi que ele fizesse alguma besteira.

— Você mereceu tomar chifre, até porque convenhamos


que você colocava vários em Rebecca, sendo que ela não

merecia e aguentava coisa que mulher nenhuma deveria


estando ao seu lado — contrapôs Nicolas a meu favor. —

Acho que, na verdade, você a traía por ser frustrado e


indecente, porque, rapaz, com uma mulher dessa do lado não
há como pensar em traição. Mas, te entendo, deve ser difícil

para um homem com você dar conta disso tudo sozinho.


João Miguel rosnou de raiva e eu só conseguia rir do que
Nicolas falou. Tampei a boca com a mão.

— Nicolas amor, não devemos bater em quem já está


derrubado, não vale a pena — disse, então toquei o queixo de
Nicolas, fazendo-o virar o rosto na minha direção. Aproximei

minha boca na sua e beijei seus lábios, mordendo o inferior.

Ele me olhou com a fúria ainda brilhando em seus olhos. —


Não se desgaste por pouca coisa, doutor.

— Sim, bebê, você tem razão. — Ele tocou minha

cintura e me deu um beijo de tirar o fôlego. — Quer saber,


motorista, dê uma volta mais longa na cidade e depois vá

direto para a minha cobertura — ordenou Nicolas me

surpreendendo por subir o vidro que nos separa do motorista.

Estremeci toda.

— O que está fazendo, doutor? E meu lanche? —

questionei.

— Seu lanche fica para depois, bebê, agora você será o


meu. — Ele me beijou apressado, gemi em seus lábios
envolvida pelo calor da surpresa. — Teremos que ser breves,

amor, mas garanto que será bem gostoso.

Abri os olhos chocada, enquanto Nicolas devorava minha

boca e prendia a mão forte em minha cintura ao me trazer

para cima dele.

Meu Deus. Só em saber que meu ex-marido maldito

estava no mesmo carro que o nosso, que era o motorista e

sabia o que estava fazendo, me deixou tímida e, ao mesmo


tempo, com um tesão inexplicável.

— O que foi, você não queria se vingar do maldito?

Então se vingue assim. — Ele me fez rebolar em seu colo,

como estava sem calcinha tudo ficava mais fácil. Quase


gemi, sentindo uma fisgada no meu íntimo ao sentir sua

ereção em mim, mas Nicolas impediu cobrindo minha boca

com a mão. — Só não gema alto, esse gostinho ele não vai

ter. Seus gemidos de prazer são inteiramente meus e de mais


nenhum filho da puta!

Nesse momento, já estava queimando por dentro de

tesão. Meu íntimo latejava. Rapidamente Nicolas desabotoou


a calça e desceu o zíper, tirando seu pau para fora. Ajudei-o

a colocá-lo dentro de mim. Quando o senti sem nenhuma

barreira quis gemer, então o beijei, o que abafou o gemido.


Nicolas passou a mão pelas minhas costas e inclinou a cabeça

para trás me olhando, enquanto me sentava lentamente nele.

Ah, que delícia era sentir a adrenalina desse momento.

E novamente nós dois nos entregamos um ao outro, e


juntos procuramos nosso êxtase. Foi maravilhoso.

2 MESES DEPOIS

Estava checando a agenda do doutor Albuquerque no


computador quando a recepcionista Jade caminhava com

pressa, levando café até a sala de um dos médicos. Ela estava

tão apressada que acabou derrubando o café no chão, e


xingou após o desastre acontecer.
— Nossa, amiga. Se acalma, você está muito eufórica,

desse jeito todos os cafés que for pegar vão cair — falei, me
levantando para ajudá-la com a bagunça.

Agora o consultório tinha duas recepcionistas, eu e Jade.

Adorei a ideia de ter uma segunda recepcionista, até porque

seria bem melhor para mim ter uma companhia, mas sabia
que Nicolas tinha feito isso somente para que eu não ficasse

trabalhando muito, sendo que sempre insistia em dizer a ele

que meu serviço era tranquilo, mas ele não parecia entender,
ou não queria.

— É que isso aqui está uma loucura. O doutor Benício

ainda vai me deixar louca de tanto que me faz buscar café


para ele. Que homem que gosta de beber café, Jesus Cristo!

— ela reclamou enquanto limpava o chão.

— Mas o doutor Benício agora está na sala de cirurgia,

assim como a equipe de Nicolas. Não iria adiantar trazer café


agora — contei, pois tinha acabado de vê-los ir atender com

urgência uma paciente que colocaria implantes de silicone.


— Que droga, ele pediu-me para trazer. Que doutor

infeliz. — Jade revirou os olhos revoltada. — Bem, pelo

menos agora dá tempo de eu ir buscar outro e quando trazer

quem sabe não acabou a cirurgia.

— O certo é fazermos uma vaquinha para pagar uma

máquina de café nova, já que a antiga quebrou e os médicos

não trocam por uma nova — falei, suspirando cansada. Tinha


que falar com Nicolas sobre a máquina de café, porque ela

fazia falta.

— Sim, pelo visto temos. — Jade riu. Terminamos de

limpar e voltamos à nossa posição. — Você vai almoçar aqui


no refeitório do consultório ou vai almoçar fora? —

perguntou ela após um tempo.

— Aqui mesmo — respondi, visto que não via motivo de


gastar dinheiro para comer fora, pois o fato de o Nicolas ter

construído um refeitório aqui quebrou o galho de muitos

funcionários, inclusive o meu.

— Então vamos almoçar juntas. Detesto comer sozinha.


— Tudo bem — disse, então toquei minha barriga, era

um hábito que havia adquirido depois de ela começar a


crescer muito. Eu gostava de senti-la e não via a hora de

sentir o bebê mexer pela primeira vez. — Sabe, hoje Nicolas

e eu vamos ao médico tentar saber novamente o sexo. Espero

que esse menino ou menina aqui já tenha aberto as pernas,


pois da última vez elas estavam cruzadas.

— Você está ansiosa para saber o sexo? — perguntou

Jade.

— Muito, e Nicolas mais ainda.

— Nossa, eu ainda estranho o fato de você estar grávida

do nosso chefe. — Ela soltou um risinho envergonhado.

— Sem problemas, até eu estranho, às vezes — falei,

dando de ombros então olhei a hora no relógio de pulso,

notando que já podíamos almoçar. — Acho que já podemos ir

almoçar, vamos? Estou faminta, e agora como por dois.

Jade assentiu e nós nos levantamos.

— Hum, hoje parece ter bife à parmegiana — murmurou

ela só para que eu escutasse. — Adoro!


Meu estômago roncou. Nós fomos nos servir junto aos
outros funcionários.

Comi rapidamente, já que estava com muita fome.

Depois peguei uma fruta, e comi ao invés da sobremesa que


estava sendo servido. Eu estava tentando evitar muito doce,

porque andava exagerando muito. Tudo que fazia bem ao

bebê estava comendo, até o que sempre detestei de comer,

comia pensando no seu bem e saúde.

Depois de terminar de comer me levantei e deixei a

bandeja no balcão. E então iria voltar para minha função,

mas antes pretendia ir ao banheiro, dado que a todo momento


sentia minha bexiga sendo pressionada. No entanto, antes que

pudesse sair do refeitório, cruzei com doutor Benício e como


sempre ele veio conversar comigo, sendo assim não podia

negar seu cumprimento.

— Rebecca, boa tarde. Já almoçaram? — perguntou,


simpático, referindo-se a mim e ao bebê.

— Já sim, doutor. — Benício era médico anestesista, que

trabalhava no consultório desde quando ele abriu.


— Que bom, você precisa se alimentar muito bem, viu —
disse o que todos costumavam dizer, mas de uma maneira
sútil e amigável. — Sua barriga está crescendo muito rápido.

Posso tocar?

Franzi um pouco o cenho, não gostava de deixar todos

ficarem tocando minha barriga, mas o doutor Benício era


gentil sempre comigo, então não me importava.

— Pode sim. Não vejo a hora dela começar a mexer —

falei, simpática, e ele esticou a mão e tocou minha barriga.

— Ela? Já descobriram o sexo?

— Ainda não — expliquei. — Agora é melhor deixar o


senhor comer e voltar a trabalhar.

Benício me olhou rapidamente. Ele era um pouco mais

alto que eu, tinha a pele branca e olhos azulados. Rosto sem
barba e cabelo liso jogado para trás. Era bonito e galante, no
entanto, comigo nunca se atreveu a tentar nada.

Bem… até esse momento.


— Antes de você ir queria te fazer uma proposta. Mas
confesso que estou com medo de levar uma recusa... — Sua
voz ficou estranha de repente, ele pareceu tímido. Limpei a

garganta, sentindo o incômodo me tomar.

— Pode fazer sua proposta, doutor Benício. Só saberá a


minha resposta se perguntar, afinal.

Sorri para tentar aliviar o clima. Esperando que ele não

pedisse nada inapropriado. Não que eu estivesse


comprometida ou algo do tipo para precisar recusar de
pronto, em contrapartida, Nicolas e eu estávamos saindo há

meses, só que era uma relação casual, nada de mais e iria


continuar assim até pelo menos eu descobrir tudo em relação

ao passado, se foi ele ou não a me mandar aquelas mensagens


pavorosas. Mesmo assim, não gostaria de ver Nicolas com
outra mulher, então não sairia com alguém sabendo que

poderia magoá-lo.

— Quero te chamar para jantar comigo, qualquer dia


desses que estiver livre — falou, quase me fazendo engasgar.
— Não me leve a mal, Rebecca, é que te acho

superinteressante e, ultimamente, tenho ficado tanto no


trabalho que até esqueço que tenho uma vida pessoal...
preciso sair, conversar um pouco e distrair a mente. O que

acha? Topa?

Abri um sorriso amarelo pronta para respondê-lo. Estava


achando Benício um fofo, coitado, ele realmente merecia uma
mulher que desse um pouco de entretenimento para sua vida,

mas eu não podia ser essa mulher. Contudo, na hora que iria
responder, alguém o fez para mim:

— Ela não irá a jantar algum com você. — A voz de

Nicolas rompeu atrás de Benício que pareceu travar diante de


mim. Maldito Doutor, que achava que tinha algum poder
sobre mim. Fechei a cara no mesmo instante. — Fique longe

da minha mulher, Benício, isso se não quiser ser demitido!


Eu não costumava almoçar no refeitório da empresa,
sempre pedia comida fora, ou não comia por não sentir muita

fome de tarde. No entanto, quando terminei a cirurgia e fui

voltar para a minha sala, mas não vi as recepcionistas em


seus postos, fiquei curioso para saber onde Rebecca estaria,

conferi o relógio de pulso e constatei que certamente ela


teria ido almoçar, então fui ver se ela estava no refeitório, no

entanto, quando mal entrei no lugar onde os meus


funcionários comiam logo a vi conversando com Benício.

Já logo fui até eles, não gostando nada da maneira que


ele estava a olhando, como um cachorrinho encantado pela

dona. Que porra era isso. Só o que me faltava era ter um

concorrente à mão de Rebecca, porque, diabos, eu já a


considerava minha, e ficava estressado todas as vezes que ela

se recusava a ter algo mais sério de mim, como se tivesse

trauma da minha pessoa.

Quando me aproximei deles, pude ouvir quando o


médico a convidou para jantar. Inferno, não pude conter
minha fúria, tampouco minha língua. Já fui logo cortando

suas asas.

— Ela não irá a jantar algum com você — decretei ao

parar atrás de Benício. Fitei Rebecca que me olhou brava. —

Fique longe da minha mulher, Benício, isso se não quiser ser

demitido.
— Doutor Albuquerque, perdão pelo infortúnio. Eu não
sabia que Rebecca e o senhor eram comprometidos, porque

ela sempre disse que era solteira — respondeu Benício,

virando-se para mim, com pressa e envergonhado.

— E eu repito, sou solteira. Não é, doutor Nicolas? —

Rebecca falou, não escondendo sua irritação comigo. — Não

ligue para ele, Benício, o doutor Albuquerque pensa que

manda em mim, sendo que ele e eu não temos nenhum

compromisso.

— Ah, sim, temos. Você está esperando um filho meu,

senhorita. Não quero você de papinho com nenhum

funcionário meu, não permito. — Acabei sendo mais rude e

possessivo do que pretendia, mas, porra, Rebecca às vezes


me tirava do sério, ao me contrariar na frente das pessoas.

— Não é porque estou carregando um filho meu que


você pode ditar o que eu posso ou não fazer. O único poder

que o doutor tem sobre mim é o de tirar minha paciência em

segundos.
A maldita recepcionista empinou o queixo e colocou a

mão na cintura, enquanto me encarava com os olhos


faiscando de fúria.

— Gente, por favor, não discutam por mim. Eu


realmente não tinha intenção de causar transtorno. Vou voltar

ao trabalho! — Benício assim que percebeu o clima de briga


e raiva entre nós, deu um jeito de escapar e sair rapidamente
dali.

— Como você pode ser tão imbecil a esse ponto? O


coitado não fez nada de mais, ele sempre me tratou com

simpatia. Agora ele foi trabalhar sem ter almoçado, droga...


— exclamou Rebecca, chateada, então reparei que já
estávamos começando a chamar atenção e olhares para nós.

— Está com peninha dele? Pelo amor, Rebecca, não me


tire o juízo logo cedo! — falei, entredentes, aproximando-me

dela para tirá-la dali antes que virássemos o centro das


atenções.

— Você que já aparece me tirando a paciência. Poxa,

precisa ter uma crise de ciúme? Que parte não entendeu que
não temos nada sério, sou solteira e posso sair com quem eu

quiser.

— Ah, então quer dizer que a senhorita deseja se

encontrar com Benício?

Eu queria gritar com Rebecca, porra, ela me tirava de

mim.

— Isso não é da sua conta. — Ela tentou desviar o olhar

do meu.

— Não é? Então quer dizer que para te satisfazer na


cama quase todas as noites eu sirvo, mas para opinar em

alguns assuntos da sua vida não?

Estava furioso com a Rebecca, possesso de ciúme. Ela se

virou para mim, me encarando e tocando meu peito em


seguida.

— Você está tendo uma crise de ciúme sem motivo,

Nico.

— Sem motivo não, aquele filho da puta estava dando

em cima de você...
— Ele sabe que sou solteira, é normal... — Sua resposta
quebrou a pouca paciência que havia me sobrado.

— Então seria normal eu também sair para jantar com


outras mulheres sem ser você. O que acha? Já que sou
solteiro, e posso.

Sorri maléfico, se ela queria agir infantilmente eu


também iria.

— Você não ousaria. — Os olhos de Rebecca faiscaram


de raiva. Ela empurrou meu peito e eu segurei suas mãos para
impedir de continuar o ataque. — Seu doutor cafajeste!

— Olha, vejam só. Você pode fazer e eu não? Não estou


entendendo, Rebecca. Qual o problema de eu sair com outra
mulher?

Seu rosto se contorceu de raiva...

— O problema é que não aceito dividi-lo enquanto nós

estamos... Bem, você sabe, transando.

Suas bochechas adquiriram um tom avermelhado e eu

sorri com satisfação.


Ágil e inesperadamente girei Rebecca, fazendo-a
encostar-se na parede e, então, prensei-me contra ela, que
arfou.

— Eu também não aceito dividi-la nunca! Você é minha,


entendeu? E não ligo que pareça possessivo, foda-se, com

você eu sou pra caralho mesmo. Ninguém toca no que é meu

e pronto. Eu já perdi você por quinze anos, agora que a tenho


não a perderei mais de vista, e nem deixarei nenhum outro

homem tê-la. Somente eu posso te tocar, somente eu posso

fodê-la, somente eu posso te amar. Entendeu?

Os olhos de Rebecca brilhavam de êxtase.

— Sim — grunhiu, então ataquei sua boca com a minha.

Ferozmente, sentindo meu pau endurecer no mesmo instante.

— Nico, o que está fazendo... aqui não podemos, seremos


vistos.

— Foda-se. Quero que vejam que você é minha. Não

ligo.

Continuei a beijando com anseio contra a parede. Não

estava conseguindo pensar com clareza, só queria Beca, só


pensava nessa mulher difícil e avassaladora. Diabos.

— Pare, Nicolas! Aqui não é local para isso. — Ela


tentou me afastar. Minha respiração e batimentos estavam

descompassados. Droga. Havia perdido o controle como

sempre fazia quando o assunto era Rebecca. Não estava


sendo nada fácil trabalhar com ela, vê-la todo dia e não

pensar em fodê-la na minha sala, sem falar que as memórias

nossas de todas as noites me faziam querer mais dela, muito

mais. Estávamos transando há meses, quase todas as noites


nós nos víamos, só não dormíamos juntos. Fazíamos sexo,

jantávamos e, às vezes, saímos juntos. Já fomos até em uma

viagem que tive que fazer para o exterior. A verdade era que
quanto mais eu tinha Rebecca, mais a queria. A mulher

parecia uma droga viciante, me deixava alucinado e

parecendo um adolescente imaturo. — Tudo bem, eu a

encontro na minha sala, em cinco minutos!

Dito isso, deixei-a no corredor. Fui até minha sala, ainda

sentindo tudo em mim, queimar de desejo e torcendo para não

cruzar com ninguém durante o caminho. Entrei na sala e


aguardei Rebecca chegar. Ela não demorou a vir. Não pude
deixar de reparar no quanto ela estava linda com a barriga já

crescida. Ela estava usando uma saia preta e camisa branca

de botões, nos pés um salto baixo confortável. Seu cabelo


estava liso na raiz e ondulado nas pontas, no rosto havia uma

maquiagem leve, somente batom rosa-claro e um rubor nas

bochechas.

— Caralho, bebê, você é linda demais. E ainda assim,


grávida, está mais linda ainda — falei, parecendo um bobo

apaixonado, e pior que quando se tratava dela eu era mesmo.

— Vem se sentar aqui no meu colo, vem!

Bati na minha coxa, afastando a cadeira da mesa. Ela

sorriu, colocando a mecha de cabelo atrás da orelha, então

caminhou até mim e se sentou em meu colo.

— Eu nem deveria ter vindo. Você, doutor, não está


merecendo. — Ela fez um biquinho, que sempre fazia quando

ainda queria mostrar que estava chateada. Segurei sua cintura

e a encaixei melhor em meu colo.

— Me desculpe, bebê, por ter agido como um babaca por

ciúme — pedi, colocando seu cabelo para o lado para ter


livre acesso ao seu pescoço. — O que posso fazer para você

me perdoar?

— Hum, não sei, doutor... Vai ter que se esforçar.

Rebecca fez manha, mas a safada se contorceu inteira ao

sentir meus beijos em seu pescoço e nuca. Separei suas


pernas e ela se inclinou mais para trás.

— Não tem problema. Você sabe que gosto de um

desafio. — Mordi a pele da nuca, sentindo-a estremecer em

meus braços. Trilhei caminho com as mãos até sua


intimidade. Graças a pernas abertas, pude tocar sua boceta

por cima da calcinha mais rápido. Rebecca suspirou de

prazer. — Como ela está hoje?

— Um pouquinho dolorida — respondeu e gemeu, assim

que passei a mão por dentro da sua calcinha. — Nosso, hum,

encontro ontem a deixou um pouco sensível.

— Acho que brinquei demais com ela ontem. Hoje vou


ser mais cauteloso — falei mordendo seu pescoço e

começando a masturbá-la, logo senti o líquido do seu prazer


molhar meus dedos. — Amo que fica sempre molhadinha e

pronta para mim.

— É impossível não ficar molhada com um médico desse

me tocando e falando tão gostoso perto do meu ouvido? —


murmurou ela, excitada, sorri contra sua pele, meu pau

pulsou dentro da calça.

— Você é gostosa de mais, bebê, porra — grunhi,


encostando o rosto no pescoço dela e então tirei a mão de

dentro da sua calcinha e Rebecca do meu colo. — Debruce

sobre a mesa — ordenei, ela me fitou com os lábios

entreabertos.

— Como?

— Debruce sobre a mesa — ordenei novamente e, então,

ela obedeceu.

Fui até ela, alisei suas costas e esfreguei minha ereção

nela por trás, me deliciando por ser agraciado com seu

gemido. Subi sua saia, até o alto da cintura e desci sua

calcinha, após estapeei sua bunda.

— Ai, doutor...
— Eu deveria aplicar um castigo em você por ter me

causado ciúme — resmunguei, sentindo meu pau latejante. —


Mas hoje vou me contentar em foder essa boceta e deixá-la

mais ardida do que já está.

— Ah, Nico...

Ela gemeu quando penetrei dois dedos dentro dela,


enquanto a outra mão levei para entrelaçar em seu pescoço.

— Gostosa pra caralho, porra — gemi baixo e rouco.

Com pressa, desci minha calça e a cueca, tirando meu pau


para fora. Pincelei sua bunda com ele antes de penetrá-la. —

Sinta como me deixa. Como fico duro por você, bebê.

— Oh! — ela gemeu baixinho, manhosa. Me inclinei


também para fodê-la com pressa e violento. Usei a mão que

estava em seu pescoço para masturbá-la enquanto fazia.

— Gema mais alto para mim, amor. Quero ouvir você

gritar — ordenei, enquanto me afundava mais forte dentro


dela.

— Nós estamos em sua sala. Ah... doutor...


— Não importa. Quero te ouvir gemer e gritar quando
gozar no meu pau.

Os gemidos de Rebecca aumentaram, conforme eu a

fodia mais duro, brutal e esfregava seu clítoris com dedo,


sentindo sua boceta cada vez mais molhada.

Após terminarmos o sexo, Rebecca e eu nos arrumamos

para voltar ao trabalho. Estava sentindo-me saciado. Me


encostei na mesa, vendo-a se aproximar de mim. Novamente

meu olhar foi atraído para sua barriga, então a toquei


sentindo meu coração bater de alegria, e ansiedade para o dia
que eu pudesse ver o nascimento da minha filha ou filho.

— Filha, ou filho, mexe para o papai — pedi enquanto


acariciava sua barriga, Rebecca riu.
— Não pode pedir isso para ele, está muito cedo ainda
para ele ou ela ficar se revirando na minha barriga — disse,

colocando sua mão por cima da minha. — Sabe, não vejo a

hora de saber se é menina ou menino para poder parar de


chamá-lo de ele ou ela.

Beca revirou os olhos.

— Ainda quer fazer chá-revelação? — perguntei, pois


tínhamos combinado de fazer o chá-revelação. Brianna ficou
de preparar tudo. Rebecca quis que fosse um chá simples em

uma praia ou fazenda. Pensei em fazermos na minha casa de


veraneio em Fernando de Noronha e descobrirmos por meio
de fogos de artifício. Rebecca aprovou a ideia.

— Sim, prefiro, porque será mais emocionante —


respondeu com os olhos brilhando. — Sabe, Nicolas, tenho

medo de você estar se apegando tanto a ideia de ser pai do

bebê, e depois o teste acabar dando negativo e...

— Shhhh. — Calei-a com um beijo, puxei sua cintura

para fazê-la se aproximar mais de mim. — Esse filho é meu e


teste nenhum dirá o contrário.
Beca suspirou de alívio ao ouvir minhas palavras.

— Você tem me amparado de uma maneira tão especial.

Nunca vou me esquecer do que tem feito por mim. Acho que

se não fosse você ter entrado na minha vida novamente não


sei o que seria dela hoje em dia. Certamente, estaria

afundada na tristeza.

Rebecca olhou para baixo e ergui seu queixo.

— Minha vida só ganhou um sentido, um propósito e

alegria depois que você reapareceu nela, Rebecca.

Puxei-a para mim e a acolhi em meus braços. Estava tão


bom tê-la perto de mim, que nem queria desgrudar, mas tive

que o fazer ao escutar meu celular tocar. Quase que recusei a


chamada ao ver o nome da minha mãe aparecer na tela, mas

atendi por consideração de filho.

— Oi, o que quer? — perguntei, curto e grosso, mas logo

senti a tensão me tomar quando escutei seu choro.

— Filho, o seu pai está internado na UTI, ele sofreu um

acidente grave, preciso que venha correndo para o nosso


hospital. Pelo amor de Deus, Nicolas! Rafael está entre a
vida e a morte.
Assim que notei que o rosto de Nicolas se empalideceu,

me aproximei dele para entender o que tinha acabado de


acontecer e com quem falava ao telefone.

— Já estou a caminho! — Nicolas desligou o celular

após dizer essas palavras. Meu Deus, ele estava branco como

papel e as mãos estavam trêmulas.


— Nico, o que houve?

— Meu pai...

Ele não continuou e, no fundo, eu já havia entendido.

Algo grave tinha acontecido com o Rafael.

— Ele está mor... — não consegui completar a palavra,

sentindo o choque me tomar. Sim, era verdade que não

gostava nem um pouco de Rafael e ainda nutria um


sentimento amargo por ele, por conta do que me fizera no

passado, mas nunca o desejaria a morte.

— Não — respondeu Nico de pronto. — Ainda não, pelo


menos. Mas pelo que minha mãe disse, ele sofreu um

acidente e está no hospital gravemente ferido, então temo que


isso aconteça.

Oh, Deus, senti pena de Nicolas, pois Rafael podia ser


tudo, no entanto, para ele foi um bom pai. Segurei seu rosto

nas mãos.

— Vai ficar tudo bem, Nicolas. Seu pai é um homem

forte e resistente, vai passar por isso! — falei, enquanto


acariciava seu rosto. — Vá até o hospital, só que de táxi, é
arriscado dirigir nesse estado que você está.

— Vem comigo? — pediu ele, me direcionando um olhar


triste. — Quero você ao meu lado nesse momento.

Ele colocou a mão por cima da minha, engoli em seco

emocionada.

— Não posso, sua mãe não aceitaria bem.

— Por favor. Não me deixa sozinho agora — implorou,

colando a testa na minha, sua respiração estava pesada em

meu rosto. Por Deus, como poderia dizer não a um pedido

desse?

— Tudo bem, Nico, eu vou com você.

Ele sorriu sem mostrar os dentes e, então, nos


apressamos em ir ao hospital. Nós fomos de táxi e

demoramos quase meia hora para chegarmos lá.

Como o hospital pertencia aos pais de Nicolas, ele já foi

informado a sala onde seus familiares estavam aguardando

por notícias, dado que seu pai ainda estava na sala de


cirurgia. Pelo que soube, ele sofreu um acidente ao ir atender

um paciente importante em sua residência, contudo, não foi


um acidente causado por ele, ou por algum descuido seu.

Rafael era prudente e dirigia há anos, sem falar que era


médico e não bebia em horário de expediente. Em resumo, a
culpa foi do outro condutor que ultrapassou o sinal vermelho,

dirigiu em contramão e acabou batendo em seu carro a quase


cem por hora. Ainda não sabíamos o motivo que levaram o

homem a fazer isso, não obedecer às regras de trânsito e


causar um acidente que foi trágico não só para o pai de

Nicolas, como para outros condutores que foram vítimas da


batida e, também, estavam internados, entre a vida e a morte.
Tudo sobre o acidente ainda seria investigado pela polícia,

eles que iriam descobrir quem era o condutor ou condutora


que causou isso, e os motivos de ter feito isso. Só sabia até

então que os carros ficaram acabados, e que a pessoa que


ocasionou tudo faleceu na hora da batida.

— Mãe, Meu Deus, como isso pode acontecer? — falou


Nicolas assim que entramos na sala de espera particular de

sua família. Lá estavam Vitória, Brianna e Heitor, mais os


seus dois filhos. A menina mais nova filha de Heitor e
Brianna que se não me enganava o nome era Isadora estava

aos prantos, tadinha. — Como ele está?

— Oh, filho, eu estou desolada. Ainda não caiu a minha

ficha que seu pai pode... Não quero nem pensar nisso. —
Vitória balançou o rosto, seus olhos estavam inchados de

tanto chorar, quando me viu pensei que ela faria alarde, mas
simplesmente ignorou minha presença. — Os médicos não

disseram nada ainda, mas eu sei que foi um acidente


gravíssimo. Eu vi Rafael quando ele chegou, na maca, sua
perna... seu braço... foram mutilados.

O olhar de Nicolas se arregalou. Senti um calafrio só de


imaginar a cena brutal do acidente. Meu estômago se
contorceu.

— Nós temos a melhor equipe de médicos. Eles farão o


possível e o impossível pelo meu pai, eu sei disso! — rugiu

Nicolas, tomado pela fúria do acontecimento, ele começou


andar de um lado para o outro em desespero.

— Mamãe, o vovô vai morrer? — perguntou Isadora com


os olhinhos vermelhos por conta das lágrimas que teimavam
em sair. Senti meu coração se apertar.

— Não, querida, ele não vai — respondeu Brianna,

tentando amparar a filha. — Eu não deveria ter trazido ela,


Heitor. Eu disse que isso seria demais para uma criança...

— Ela é neta dele, ama o avô e precisava vir conosco.

Chega de melodrama, Brianna — retrucou Heitor, curto e


grosso. Sua esposa se calou, mas em seu olhar ainda havia
revolta, e, então, tudo piorou, pois seu bebê começou a

chorar.

— Droga — ela resmungou, tentando balançar o bebê

que não parava de chorar.

— Deixe-me ajudá-la — pedi, me aproximando dela, que


me fitou surpresa e agradecida. — Vou dar uma volta com

ele, para distraí-lo.

— Oh, Rebecca, eu agradeço. Não estou com cabeça para

isso e a babá não pôde vir — falou, me entregando Felipe.

Quando o segurei em meus braços pela primeira vez fui

tomada por uma forte emoção, pois fiquei imaginando que em


poucos meses estaria com meu bebê nos braços, finalmente.
O bebê era tão lindo, não seria sacrifício algum cuidar dele
por um tempo, para ajudar Brianna.

Olhei para Nicolas por um curto momento antes de sair


da sala, vendo-o com olhar perdido, desolado pelo estado de
seu pai. Então notei que não tinha nenhuma serventia ali,

porque por mais que tentasse não conseguia sentir a dor

deles, Rafael era muito importante para cada uma dessas


pessoas, mas não para mim, porque nunca havia conhecido

seu lado bom, somente o ruim.

Passei com Felipe por algumas horas, até que ele dormiu
em meu colo. Ele não estava com fome e nem sujo, só queria

diversão. Acho que já havia se cansado de ficar no colo da

sua mãe, tadinho. Voltei para sala onde todos estavam e me

sentei em uma poltrona ao lado de Nicolas, continuei ninando


Felipe que dormia feito um anjo no meu colo.

— Você será uma ótima mãe — sussurrou Nicolas. —

Veja como se dá bem com crianças.

— Eu só dei a atenção que ele queria — retruquei,

fitando-o. Meu coração apertou ao ver seus olhos inchados e


avermelhados.

— Não, você fez mais que isso, conseguiu acalmá-lo e


fazê-lo dormir. Não vejo a hora de ver você dessa forma, mas

com nosso filho em seus braços ao invés de Felipe —

murmurou com a voz intensa.

— Em breve verá — falei com intensidade. Os olhos de

Nicolas se fixaram sobre minha boca e pensei que fosse me

beijar, mas antes que pudesse fazer fomos impedidos, por um


médico que entrou na sala.

— Boa noite — cumprimentou o médico, é só então que

me dei conta de que já era de noite. As horas passaram

voando enquanto estava cuidando de Felipe. — Tenho


notícias sobre o estado do paciente Rafael.

— Conte-nos logo, doutor, eu preciso saber notícias

sobre meu marido. Ele está vivo? — Vitória perguntou.

— Sim, o paciente está vivo. Passou por algumas


cirurgias, mas ainda terá que passar por mais. No entanto, eu

peço para que sejam fortes, sei que já estão acostumados a

lidar com casos piores mais...


— Fale logo, doutor! — exigiu Vitória, impaciente.

— Está bem. O paciente teve duas paradas cardíacas,

mas conseguimos reanimá-lo, no entanto, ele perdeu no

acidente a mão e parte da perna, além das inúmeras fraturas


na coluna vertebral. Ainda não tenho o diagnóstico completo,

mas é provável que Rafael não volte a andar.

Cobri a boca com a mão, em choque, então todos


também ficaram perturbados com a notícia.
Meu pai não voltaria a andar…

Meu pai não voltaria a andar…

Essa frase ficou ecoando em minha mente como um


mantra. Não podia acreditar que isso estava realmente

acontecendo, era um pesadelo. Minha mãe desmaiou no exato


momento em que escutou as palavras do médico. Meu irmão

que era forte e quase nunca o vi chorar, deixou várias


lágrimas deslizarem por suas bochechas e minha cunhada

correu para tirar seus filhos dali junto com Rebecca.

Eu simplesmente fiquei parado em choque. Sem me

lembrar de como se movia ou como respirava. Isso serviu

para todos que estavam ali, inclusive eu, entenderem que nós
éramos seres frágeis e que devíamos viver a vida como se

amanhã fosse o último dia, pois nunca sabíamos o que

aconteceria no dia de amanhã, ou com alguém que amamos


muito. Por Deus, meu pai sempre foi um homem saudável e

apesar da postura firme e preconceituosa, ele escolheu a

profissão de médico por amar muito cuidar das pessoas. Ele

não merecia esse final, não mesmo!

Não desejava isso nem para meu pior inimigo.

— Tem alguma chance de isso ser uma falha médica?

Dele voltar a andar? — tive que perguntar ao médico. Ele

negou.
— Como eu disse, senhor Albuquerque, ainda preciso
fazer exames e ele passará por mais uma cirurgia. Só teremos

certeza após ele acordar, porém, em todos esses anos de

medicina, eu vi casos como do seu pai que nem com

fisioterapia avançada, tratamento no exterior, deu algum

resultado. Ele ficará paraplégico, sinto muito!

Eu não sabia o que sentir, se fúria, raiva, dor e pena.

Ajudei os médicos a levarem minha mãe para um quarto

particular, e assim tentarem acordá-la após o baque. Ela

havia desmaiado devido ao choque, certamente daqui a

instantes voltaria ao normal. Ela seria medicada e tratada

adequadamente.

Assim que terminei de ajudar os enfermeiros com a

minha mãe, fui à procura de Rebecca, que parecia estar em

choque igual a todos nós. Ela veio até mim, quando viu a
minha aproximação e se jogou sobre meus braços me

abraçando. Inspirei seu cheiro, tentando acalmar as batidas

descompassadas do meu coração.

— Sinto muito, Nicolas, eu sinto muito...


— Tudo bem. — Abracei-a com mais força. — Ainda

bem que você está aqui comigo, acho que não conseguiria
lidar com isso sozinho. Obrigado.

Senti Rebecca ficar mais tensa em meus braços, como


ficava todas as vezes que era mais carinhoso do que deveria

com ela. Até parecia que ela não era acostumada com afeto e
carinho, pelo menos não com muito.

— De nada — murmurou sem me largar.

Semanas depois meu pai já não corria risco de vida, a

cirurgia tinha sido bem-sucedida e ele já estava autorizado a


receber visitas. No entanto, ele não estava lidando bem com

tudo o que tinha acontecido, e era normal, devido às


circunstâncias e todas as mudanças que teve que lidar do dia
para noite. Ele não podia mais andar e estava sem a mão.
Tudo isso acho que o deixou depressivo e sem muita vontade

de viver.

Minha mãe não estava sabendo lidar com tudo que houve

ao meu pai. Ela sempre o amou muito e os acontecimentos a


deixaram muito abalada. Eu não sei como reagiria se algo

assim acontecesse a Rebecca, somente em imaginar sentia um


medo tremendo me tomar.

Bem, os médicos liberaram meu pai para ir para casa e

tentar se adaptar à nova vida. Também aconselharam ele a


fazer fisioterapia, pois era de extrema importância. Era triste

vê-lo nessa situação, mas meu irmão e eu tentávamos ser


otimistas e quem sabe assim não conseguíamos animá-lo.
Porém, quanto mais tentávamos, mais falhávamos, meu pai

perdeu toda a vontade de viver e temíamos que ele pudesse


fazer algo contra si.

Com todos esses problemas estava sendo difícil me


concentrar no trabalho, tampouco na minha vida pessoal. Faz

quase uma semana que não encontrava com a Rebecca fora de


expediente, que não a tocava, que não a beijava. E não era

porque não sentia vontade de fazê-lo, pelo contrário, diabos,


eu dormia pensando nela, acordava com ela ainda em meus
pensamentos. No entanto, estava tentando assimilar tudo que
aconteceu, ainda estava sendo difícil seguir em frente, pois

me preocupava muito com a situação do meu pai.

Eu não achava certo estar feliz com a Rebecca em minha

vida e o bebê, enquanto ele ainda sofria tanto.

— Como ele está hoje? — perguntei a minha mãe ao


chegar em sua casa. Ela estava vestindo um pijama,

despenteada e sem maquiagem. Ela andava sem vaidade


ultimamente. A verdade era que parecia mais triste do que

nunca.

— Ele não quer sair do quarto. Continua deitado no

escuro. Custo conseguir que ele coma algo, Nico, eu já não


sei mais o que... — ela não conseguiu terminar porque

começou a chorar. Fui até ela e a abracei, sentindo a tristeza


me invadir. — Sabe o que eu não entendo por que isso
aconteceu logo com ele, eu preferia que fosse comigo, não

doeria tanto como está, doendo vê-lo dessa forma. Eu o amo


tanto. Sinto que estou pagando pelas maldades que já fiz
nessa vida, que Deus está nos castigando. Se ele castigou seu
pai dessa forma, o que então fará comigo?

Minha mãe me fitou assombrada.

— Por que Deus os castigaria dessa forma, mãe? O que


você fez?

Ela se calou, seu corpo estava trêmulo.

— Fiz muitas coisas, filho, que não me orgulho. Menti,


manipulei, fui preconceituosa e seu pai também cometeu

muitos erros, mas nenhum se compara a tudo que eu fiz. —

Ela abaixou a cabeça, deixando as lágrimas escorrerem. —


Rebecca tem razão em me odiar, eu sempre fui horrível para

ela. Uma vilã na história de vocês.

— Você armou para nos separar? — perguntei, mesmo já

sabendo a resposta. Ela assentiu. — Então é por isso que


Rebecca não aceita ter nada sério comigo. É por isso que ela

diz que foi rejeitada por mim no passado, que eu lhe fiz

sofrer, sendo que eu sofri como condenado quando a perdi!

Minha ficha caiu nesse momento. Deixei meus ombros

tombarem. Minha mãe se distanciou de mim, tentando limpar


as lágrimas que insistiam em cair.

— Eu quero voltar atrás em todas minhas atitudes, filho.


Eu só estou entendendo o quanto é ruim não poder ficar com

quem você ama agora — ela resmungou aos prantos,

completamente abalada. — Ver seu pai ali no quarto, entrar e


perceber que ele está vivo, porém, não está vivendo, me

deixa mais que abalada. Somente em pensar em perdê-lo, em

nunca mais vê-lo, meu Deus, como eu pude fazer isso a você,

meu filho. Eu privei você de ficar com a menina que amava


por puro egoísmo e preconceito. Eu...

Por fim, ela parou de falar, não tinha mais voz,

simplesmente caiu no chão e se escorou no sofá, começando a


chorar.

— Mãe, preciso que a senhora se acalme, por favor.

Eu estava no auge dos sentimentos. Não estava


conseguindo raciocinar direito.

— Eu não consigo. Eu preciso fazer algo para Rebecca e

você me perdoarem. Eu quero muito recompensar toda a

maldade que fiz. Quero ser uma boa avó. — Ela cobriu o
rosto com as mãos, tentando se esconder. Eu já não tinha

mais estômago para tudo isso.

— Se quer recompensar então confesse seus atos, a mim

e a Rebecca. Fale de uma vez toda a verdade, e jure que vão


agir de modo franco a partir de agora. Quem sabe assim, um

dia não possamos perdoá-la, quem sabe assim ainda não

exista uma redenção para a senhora!

Ela tirou as mãos do rosto para me olhar. Seus olhos

estavam avermelhados, ela abriu a boca para falar algo, mas

fechou os lábios de novo e só assentiu ao que eu disse. Ela


iria falar toda a verdade nua e crua finalmente.
Acordei logo cedo e já fui preparar a minha refeição de

café da manhã indicada pela nutricionista. Eu estava tentando

evitar a diabetes gestacional, então somente podia comer


doces uma vez na semana, só tomava café pela manhã meio

amargo com omelete e frutas que nunca podiam faltar.

Depois de terminar o café, fui tomar meu banho e me


arrumar para o trabalho, estava quase atrasada e ainda tinha

que pegar táxi. Quando terminei de me arrumar e estava

pronta para sair recebi uma mensagem de Nicolas, avisando


que estava me esperando lá embaixo, pois me daria uma

carona hoje. Fiquei surpresa porque fazia dias que ele não

aparecia, e nós nos víamos só no consultório, mas não era a

mesma coisa desde o acidente trágico do seu pai.

Eu também não estava insistindo em me aproximar dele,

porque entendia que Nicolas estava em conflito interno e que

merecia toda a paciência do mundo. A barra que ele estava


enfrentando já era difícil, ainda ter que lidar comigo e com

os conflitos da gravidez só deixaria tudo pior.

A barriga estava começando a pesar muito e eu já

começava a ter dificuldade para levantar do sofá e cama. Ao


menos os enjoos haviam cessado.

Desci até a portaria e saí do prédio. Nicolas estava

estacionado em frente. Ele ainda estava dentro do carro.

— Bom dia — falei assim que entrei no carro, sem saber

muito o que dizer e como puxar assunto. Logo que me sentei

ao seu lado senti o cheiro delicioso do seu perfume e tive que

me conter para não suspirar. — Como você está?

— Bem, na medida do possível. — Ele virou o rosto na

minha direção. Notei que estava com apareceria abatida.

Nicolas inclinou o pescoço e me deu um beijo breve na testa.


— Bom dia, bebê.

Nesse momento, não pude conter o suspiro.

— Eu senti saudades — confessei, enquanto assistia ele


dar partida e sair dali. — Como seu pai está?
— Na cama e depressivo.

— Nossa, sinto muito. Deve estar sendo muito difícil


para ele o que aconteceu.

— Sim, tudo isso é difícil demais de superar, e eu fico

sem saber o que fazer para ajudar — resmungou Nicolas,

deixando transparecer sua revolta. — Sabe o que me deixou


mais puto, foi descobrir que o filho da puta que causou o

acidente estava bêbado, e tinha já tendências suicidas. Ou

seja, ele pode ter causado o acidente de propósito somente


com intuito de se matar, ou sei lá que droga se passava na

cabeça do imbecil...

— Ah, Nicolas, não adianta nada sofrer com isso, já

aconteceu, não fique revivendo o ódio pelo homem que está


morto. Eu sei o quanto vai ser difícil seu pai, sua família

superar o acontecido, mas todos temos que seguir em frente e

agradecer por ele estar vivo, apesar de tudo, ele sobreviveu e


poderá viver, conhecer o neto que é uma dádiva. Vejo tantas

pessoas jovens que perdem os movimentos das pernas ou do

corpo em acidente na melhor fase da vida, mas conseguem

superar e ser feliz mesmo com as dificuldades. É claro que


não estou menosprezando a dor do seu pai, ninguém pode
sentir a dor de ninguém, mas eu quero dizer que uma hora ou

outra ele terá que se reerguer e escolher se vai viver ou

desistir.

Nicolas tirou a mão do volante para bagunçar o cabelo.

— Eu entendo o que você quer dizer. E acho que tem

razão, acho que precisamos ser mais fortes e uma família


mais unida do que nunca — disse Nicolas. — Por isso tomei

uma decisão. Estou te levando não para o consultório e sim

para a mansão da minha família. Minha mãe quer conversar

com você, seriamente, e eu gostaria que a ouvisse.

Separei os lábios surpresa. O que Vitória poderia ter

para me dizer!?
Respirei fundo ao me sentar na poltrona do escritório

dos Albuquerque. Estava com as mãos suando, as lembranças


do passado de quando estive nessa sala com Rafael e Vitória

me perturbavam muito. Era estranho voltar aqui,


principalmente a vendo à minha frente, sentada à mesa do seu

marido, no entanto, aquele olhar maldoso não existia mais,


mas, sim, um olhar triste, de quem estava no fundo do poço.

Fiquei tensa em sua presença.

— Pronto, mãe. Rebecca está aqui, pode falar tudo que

me contou — ordenou Nicolas, colocando a mão por cima do


meu ombro.

— Obrigada por ter vindo, Rebecca. Não esperava que

viesse, considerando o que aconteceu no jantar na casa de

Heitor naquele dia. Porém, que bom que veio — pronunciou


Vitória, me olhando. — O que tenho para falar para você não

será fácil de engolir e aceitar. No entanto, eu espero que

possa me perdoar um dia, a mim e Rafael.

Senti um calafrio subir por minha coluna, me remexi no

lugar, com medo do que iria ouvir.

— Vá direto ao ponto — pedi um tanto impaciente.

Estava cansada de tanta enrolação.

— As mensagens que você leu no passado, que eu disse

que Nicolas as enviou eram forjadas. Eu menti para você

dizendo que ele havia te superado e que estava interessado

em outra garota, igual eu menti para Nicolas dizendo que


você e sua mãe tinham escolhido se mudar, pois ela havia
arranjado um homem e escolhido ir morar com ele e se casar

— confessou, me deixando pasma, em choque absoluto.

— Como você pôde... como conseguiu forjar as

mensagens sendo que Nicolas estava fora do país, no

intercâmbio? Eu não sou boba, lembro-me de que era o e-

mail dele, sem contar que ele me mandava mensagens quase

todos os dias! Como foram forjados?

Fiquei de pé sem conseguir me controlar.

— Eu tive a ajuda de Heitor. — Fiquei abismada. —

Rafael e eu o convencemos de ir até o irmão e fazer isso,

enviar as mensagens forjadas. Em troca, ele teria o que

quisesse.

Tampei a boca com as mãos e Nicolas deu um passo à

frente tão surpreso quanto eu.

— Malditos. Vocês todos são uns malditos! — gritou,

furioso. — Como puderam manipular nossa vida desse jeito,

porra!
— Eu sabia que você era ruim, eu tive certeza disso

quando demitiu minha mãe assim que Nicolas partiu para o


intercâmbio, sendo que tínhamos um acordo firmado. Mas era

tão inocente que nem mesmo pensei na possibilidade de


aquelas malditas mensagens serem forjadas. Mesmo amando
Nicolas e não acreditando no que estava lendo, não o

imaginava falando aquelas coisas, você havia feito tanta


pressão psicológica que acreditei que ele havia superado, me

abandonado, rejeitado e já estava interessado em outra —


bradei, entredentes, com o coração a mil. — Todos esses anos

eu sofri por não ter tido um final feliz com o homem que
amava. Fechei meu coração e até me sucumbi a um
relacionamento extremamente tóxico só para suprir a

necessidade de afeto e carinho que você me tirou da pior


forma possível. Você destruiu nossa chance de sermos felizes

nesses quinze anos que ficamos separados. Quase destruiu as


boas memórias que tínhamos um do outros por conta do ódio

que plantou em nós. Você é um ser humano horrível, e


merece pagar por tudo que fez.

Toquei minha barriga, sentindo-me sem fôlego e sem


forças para continuar a falar.
— Eu mereço escutar tudo isso. Eu mereço seu ódio e

rancor. Fiz coisas que não me orgulho e fui um monstro


mesmo, Rebecca. No entanto, eu também fui uma pessoa que

sofreu muito na vida. Se acha que em minha vida só existia


felicidade você está muito enganada! — Vitória fez uma

pausa para enxugar as lágrimas que não me comoviam. — Eu


tive pais rígidos, Rebecca. Na verdade, eu sempre senti um
pouco de inveja da sua relação com sua mãe, principalmente

da forma que abria mão de tudo, do amor e até da própria


felicidade em prol da dela... Eu acho que nunca faria o

mesmo pela minha mãe e nem ela por mim. Quando menina,
eu era maltratada pelos meus pais, abusada física e
psicologicamente. Eles tinham uma boa condição financeira e

me proveram a melhor educação. Mas eles tinham suas


próprias regras, não aceitavam que eu me relacionasse com

pessoas de classes inferiores à nossa, eles destruíram muitas


amizades minhas e um relacionamento que tive no passado

com um homem de classe inferior. Eles obrigaram-me a se


casar com seu pai, Nicolas, que era de uma família rica de
médicos assim como a minha, o perfeito candidato. Foi tão

difícil amá-lo, já que ainda nutria sentimentos por outro


homem, mas quanto mais os anos se passavam, mais eu
passava a gostar e admirar Rafael, mesmo ele sendo parecido
com meu pai, tão esnobe e intransigente. Então decidi que

deveria ser como eles, viver como eles vivam. E que a forma
de amar dos meus pais eram a correta, que uma pessoa de

classe superior não deveria ficar com uma de classe inferior.


Eu fechei meu coração e só sobrou essa Vitória que vocês
conheceram, a má, que não liga para o sofrimento alheio

contanto que a sua vida continue cor-de-rosa. Eu só pude


perceber meus erros e o quanto pequei ao ver o que

aconteceu com seu pai. A verdade nua e crua se escancarou


diante de mim e a realidade me tomou por completo. Nessa

vida não vale nada o que temos, os bens materiais, o dinheiro


na conta, não adianta nada a classe social, o que vale são as
memórias e sentimentos que deixamos para as pessoas que

nos amam, e o que faremos para ser lembrados. E eu,


infelizmente, serei lembrada por causar dor a vocês.

Ela abaixou a cabeça e eu simplesmente tampei a boca,


estava prestes a vomitar. Não conseguia encará-la, tudo

estava sendo forte demais para mim, pesado demais para


aguentar...
Senti uma pequena dor em meu baixo-ventre. Assustada
levei a mão sem nem pensar duas vezes até a minha calcinha
e me apavorei ao ver sangue.

— Ah, meu Deus, o bebê... Nicolas. Você precisa levá-la


ao hospital! — gritou Vitória, Nicolas veio desesperado em

minha direção e me pegou nos braços.

— O que está sentindo? — perguntou, completamente


amedrontado. Ele começou a caminhar comigo em seus

braços até fora da mansão.

— Dor... estou com medo de ter o perdido. Jesus, isso


não pode acontecer!

Comecei a chorar desesperada.

— Tente ficar tranquila, isso não vai acontecer. Respira

fundo, vou levá-la para o hospital. Não vou deixar que nada
aconteça a minha filha!

— Filha? — perguntei, mas Nicolas não pareceu ouvir,

ele estava com pressa para salvar o bebê.


Chegamos rapidamente ao hospital, fomos com o

motorista dos Albuquerque, já que Nicolas não quis ficar


longe de mim, ele foi comigo no banco de trás, tentando me

acalmar e eu acalmá-lo, porque ele parecia tão desesperado

quanto eu.

Assim que chegamos ao hospital de sua família, já fui

encaminhada e atendida. O médico fez vários exames para

saber o que havia acontecido e se estava tudo bem com o

bebê. Eu estava morrendo de medo de ter sofrido um aborto.


Pareceu que o peso se esvaiu de mim assim que ouvi as

palavras do médico, após ele checar todos os exames:

— Pais, fiquem tranquilos, está tudo bem com bebê. —


Nicolas e eu suspiramos aliviados — Mas você precisa se

cuidar mais, Rebecca, recomendo repouso absoluto até o

parto. Não faça nada que possa te causar desgaste emocional.


Porque tudo pressupõe que com esse sangramento sua

gravidez pode estar em risco. Entretanto, nos exames

constam que ela está bem e não aconteceu nada de grave.

— Ela? — Eu só consegui reparar a forma fácil que o


médico chamava o bebê de ela. Olhei para Nicolas que
também encarava o médico perplexo. — É menina, doutor?

— Desculpem, vocês não sabiam? — O médico nos olhou

surpreso. Senti meus olhos marejarem e Nicolas segurou

minha mão, percebi que a sua estava tremendo muito.

— Ah, Jesus, eu vou ser pai de menina. — Nicolas

empalideceu enquanto eu só sabia chorar e rir ao mesmo

tempo.

— Peço desculpas novamente, pais, mas com o avançar

dos meses e o estado da gravidez achei que vocês já sabiam o

sexo. A menina está de pernas abertas, querem ver? —

perguntou o médico.

— Sim, por favor!

Nós não hesitamos em responder. Estávamos tão

curiosos. A emoção tomou conta de Nicolas e eu, tanto que


naquele instante, por um momento esquecemos das palavras

do médico sobre a gravidez está em risco e eu ter que ficar

em repouso absoluto. Esquecemos de tudo e só nos sentíamos


gratos pela nossa menina estar bem. Eu faria de tudo para
conseguir passar os meses com ela perfeitinha dentro do meu

útero só esperando para nascer.

Não faria nada que a colocaria em risco e nem deixaria

ninguém a fazer mal.

Era tão estranho ter esse sentimento de proteção por um


ser humano que nunca vi, mas que sabia que estava crescendo

dentro de mim. Eu sentia um amor tão grande, inabalável e

toda vez que olhava para Nicolas tinha certeza de que ele

sentia o mesmo por ela.

Que eu tinha escolhido o melhor homem do mundo para

ser pai da minha filha!


Nunca nada havia me deixado com tanto medo, quanto
ver Rebecca sangrando. Só em a imaginar perdendo o bebê

meu coração ardia. E o pior de tudo isso foi culpa minha, por

ela quase ter sofrido um aborto. Eu não deveria tê-la levado


para ouvir o que minha mãe tinha a dizer, mas não imaginava

que o que ela tinha para contar era tão assombroso e nojento.
Senti ódio da minha própria mãe ao saber tudo que ela fez

contra mim e Rebecca, o que ela causou a nós. E ainda pediu


perdão, implorou por desculpas e explicou o motivo de ter

feito tudo, no entanto, não consegui perdoá-la, eu fiquei

chocado em saber a história do seu passado, dos seus pais


carrascos que contribuíram para ela se tornar um ser humano

horrível, ainda assim não achava que isso era justificativa.

Nada justificava fazer qualquer maldade a alguém só porque


um dia também sofremos. Isso que ela fez foi imperdoável, e

saber que meu pai e irmão a tinham ajudado no seu plano me

deixava com estômago revirado.

Tomei uma decisão naquele dia, após saber o sexo do

bebê, que seria pai de uma menina e que Rebecca precisava

de repouso absoluto. A decisão que tomei foi cortar tudo e

todos que fizeram maldades a ela. O melhor para nós nesse


momento era nos livrar de toda energia negativa e sermos

mais fortes que nunca para superarmos juntos. Iria cuidar de

Rebecca e minha filha, assim que ela nascesse iria pedi-la em

casamento e nos tornaríamos uma família. Era esse meu

desejo desde sempre e eu iria realizá-lo.


Assim que deixamos o hospital, trouxe Rebecca para o
seu apartamento, coloquei-a na cama e me sentei ao seu lado.

— Como está se sentindo? — perguntei.

— Agora com fome. — Ela sorriu ao responder, o que

arrancou um sorriso meu.

— Imaginei. O que deseja comer?

— Acho que comida caseira. Algo como arroz, carne


assada e vinagrete.

— Vou providenciar — informei e, então, toquei sua


mão, respirando fundo. — Posso te pedir uma coisa?

— Sim, claro. — Ela piscava os cílios rapidamente

preocupada.

— Me perdoe por fazer você passar por tantas emoções

desagradáveis hoje. Eu não sabia que isso iria causar mal a

você e ao bebê...

Rebecca me impediu de continuar falando. Ela colocou a

mão na minha boca para me calar.


— Shhhh, você não precisa se desculpar, eu precisava

ouvir tudo que sua mãe tinha para falar. Eu só não fui forte o
bastante para aguentar todo aquele impacto, mas pelo menos

agora já sei de toda a verdade. Agora finalmente eu posso


dizer com todas as letras, Nicolas, com todo meu coração que
eu te amo. Sempre te amei. Mas não queria me permitir

demonstrar nem sentir, porque achava que tinha me


abandonado no passado, me rejeitado.

Apertei mais forte sua mão e aproximei meu rosto do


dela para poder colar minha testa na sua.

— Eu nunca te deixaria. Você foi a primeira mulher que


amei, que me entreguei por completo. Nós fomos os
primeiros um do outro em tudo. Rebecca, e quando eu te

perdi eu sofri igual a um condenado. E durante todos esses


anos que estivemos separados eu ainda me lembrava de você,

não esqueci em nenhum momento que passamos juntos. Você


sempre esteve presente no meu coração, Beca. Eu te amo.

Ela suspirou, sentia sua respiração batendo forte em meu


rosto, aproximei minha boca da dela para capturar seus lábios
e beijá-la de forma lenta e demorada.
— Agora é minha vez de fazer um pedido — disse,

afastando a boca da minha para me olhar. — Nicolas


Albuquerque, você quer se casar comigo e formar uma

família com essa mulher tão confusa, sofrida, intensa,


cabeça-dura e um pouco engraçada?

Gargalhei, sentindo meu coração metralhar no peito. Não


esperava que seu pedido fosse esse, fui surpreendido.

— O pedido de casamento teria que partir de mim,

sabia?

— Eu sei, mas estamos no século XXI e as mulheres

podem muito bem fazer um pedido de casamento igual aos


homens. E então, Nico, case-se comigo e seja meu marido,

pai da minha filha e meu melhor amigo?

Senti meus olhos embaçarem, fiquei comovido e só sabia


sorrir. Como podia ser possível amar tanto uma mulher?

Porra. Às vezes sentia que meu peito ia explodir de tanto


amor, nunca pensei que isso seria possível.

— Aceito, bebê, aceito!


Ela sorriu e, então, me puxou para cima dela,
entrelaçando as pernas no meu quadril e me deu um beijo de
tirar o fôlego. Meu pau endureceu sentindo sua boceta

encostar nele. Caralho. Que delícia!

— Então agora já podemos começar a noite de núpcias,

mesmo antes do casamento — sussurrou, maliciosa, e afastei


meu rosto para chupar seu pescoço, fazendo-a gemer.

— Eu quero tanto isso, porra, meu pau está latejando por

você, bebê. Mas, não sei se podemos fazer agora, o médico


receitou repouso.

— Ele não disse nada sobre treparmos. Tenho certeza de


que isso não fará mal ao bebê.

Ela prendeu-me mais firme em meio às suas pernas.

— Rebecca...

— Doutor — ela me provocou, passando a mão pela

minha bunda. — Por favor, realize meu desejo, quero você


dentro de mim, depois podemos pedir comida e ficarmos

juntinhos a noite inteira, assistindo série como dois


adolescentes.
— Merda, você me fez voltar a ser o garoto de 17 anos,
sabia? Seja nos hormônios e nas vontades — grunhi com
tesão. — Tudo que preciso e quero agora é me afundar dentro

de você, além do mais, não quero desgrudar da senhorita


durante essa noite e todas que virão.

— Como assim? — questionou, franzindo a testa. Passei

a língua por sua clavícula.

— Quero dizer que preciso de você todos os dias e

noites comigo. Não quero esperar para nos casarmos, então já

que resolveu pedir minha mão, o que acha de nos casarmos


no cartório e você vir morar comigo na minha cobertura? Isso

facilitaria nossa vida, não acha, e eu poderia cuidar de você

sempre.

— Hum, que proposta tentadora. Impossível não a


aceitar, principalmente com você se esfregando em mim e me

deixando ainda mais excitada.

Sorri no seu pescoço e ela estremeceu.

— Aceite logo. Faça esse favor por nós dois.


— Aceito. Vamos somente assinar os papéis e quando

nossa filha nascer e estiver crescida faremos uma cerimônia


de casamento e a festa só para não passar em branco.

— E, também, teremos a lua de mel. Só não proporciono

isso agora porque a senhorita está de repouso absoluto. Não


vai trabalhar e nem se esforçar com nada a partir de agora!

— Temos mesmo que falar sobre isso nesse momento?

Porra, estou molhada e ardendo por você, doutor!

Ela esfregou a boceta molhada em mim, passei a mão


livre na sua intimidade para senti-la e masturbá-la.

— Você me tira o juízo, Rebecca. Eu te amo demais!

Grunhi levando minha boca de volta para dela e apressei


as preliminares. Era como se não conseguisse esperar mais

para, enfim, entrar nela. Eu a amava tanto, porra, mais do

que vinho, ela era um vício lascivo e delicioso para mim.


No dia seguinte, acordei cedo e já comprei as coisas na

padaria para o café da manhã de Rebecca. Queria que ela se

alimentasse bem, e como ela não podia mais sair, resolvi


fazer sem ela pedir. Deixei tudo pronto e escrevi um bilhete

avisando que precisei ir trabalhar.

Tive que correr, porque tinha que passar em minha

cobertura para me vestir e tomar banho antes de ir à casa do


meu irmão. Desde que soube que ele participou do plano da

minha mãe, senti que precisava ter uma conversa de homem

para homem com ele pessoalmente.

Assim que cheguei em sua casa fui recebido por ele, que

estava tomando café com sua esposa e filhos. Tentei parecer

bem, contudo, porque não queria fazer alarde na frente dos

demais.

— Nico, porque não se senta e toma café da manhã com

a gente. Iríamos adorar ter sua companhia! — disse Brianna.

— Obrigado, cunhada, mas terei que recusar. Eu vim até


aqui hoje só para ter uma conversa importante com Heitor, se

não se importam...
— Não, tudo bem. Entendo! — respondeu Brianna.

— Podemos ir até meu escritório, irmão. Estou curioso


para saber o que deseja falar comigo — disse Heitor,

levantando-se. Assenti e o segui até seu escritório. — Você

foi ver nosso pai? Como ele está?

— Não vim para falar do nosso pai. Se deseja saber

como ele está, é melhor que o visite! — disse, curto e grosso.

Heitor entrou em sua sala e cessou os movimentos dos

passos, parando para me olhar.

— O que houve? Está estressado, irmão?

— Não me chame mais de irmão. Eu o proíbo!

Ele me olhou com cenho franzido. Eu estava no auge da


raiva, somente ao me lembrar de que ele participou de uma

armação por dinheiro, ou talvez somente porque queria minha

infelicidade. Sempre fui parceiro e amigo de Heitor, o

respeitava por ele ser meu irmão mais velho, contudo, eu


havia perdido todo o respeito e carinho. Não o considerava

mais como um irmão.


— Nicolas, diga logo o que aconteceu. Não vou suportar

que levante a voz para mim dentro da minha casa!

— Eu quero que você de foda, Heitor. Já estou sabendo

de tudo, que você forjou os e-mails quinze anos atrás para


prejudicar meu relacionamento com Rebecca. Você é um

estúpido se pensou que eu nunca descobriria. Como pôde

fazer isso comigo e ainda conseguir me encarar por todos


esses anos, sabendo que compactuou para a minha

infelicidade? — esbravejei, fora de mim. Heitor ficou

atônito, surpreso

— Quem te falou isso? É mentira!

— Nossa mãe contou. Não adianta mentir mais, porra.

Você fez tudo isso, eu sei, porque eu me lembro de você

chegando do nada nos Estados Unidos dizendo que estava


com saudade e que queria me ensinar a curtir a vida. Você me

levou para festas e eventos, me fez tirar fotos com pessoas,

principalmente garotas que eu nem conhecia. Agora entendo

a razão de tudo aquilo, até pensei que realmente estava


querendo que eu curtisse o intercâmbio e só, no entanto, você

só queria ajudar a nossa mãe no plano dela!


Ele pareceu abalado, sem saber o que responder ou como

se defender das acusações. Sua ficha caiu que não adiantava


mentir mais.

— Tudo bem, eu realmente fiz isso, confesso. Mas foi

por culpa da influência da nossa mãe, ela me obrigou...

Não o deixei terminar de falar, esmurrei sua boca antes


que continuasse. Ele se desequilibrou, encostando-se na mesa

e levando a mão à boca, cuspindo sangue.

— Pare de ser mentiroso, caralho. Você é articulador,


adora jogar com as pessoas, só porque sua vida é deprimente.

Você vive de status social, se casou com uma mulher que não

ama e teve filhos. Passa essa imagem de família feliz, mas eu

sei que você trai Brianna, já descobri diversas traições da sua


parte e antes fechava os olhos por você ser meu irmão, e eu

não achar certo se intrometer na vida de vocês. Mas agora

vejo o meu erro em confiar em você, em amar você como


irmão, quando você sequer sente isso por mim. Só agora

percebo que você sente inveja de mim.

— Inveja? — Ele riu. — Inveja do quê?


— Inveja do meu caráter, felicidade e inveja do meu
amor com Rebecca. Somente isso explica o que fez, até

porque dinheiro você já tinha e tem de sobra. É óbvio que

ficou enciumado e triste quando notou o quanto amava


Rebecca, sendo que você em todos esses anos nunca amou

ninguém, nunca foi feliz de verdade.

— Cale a boca, caralho! Você não passa de um fraco,

que fica rendido por uma putinha empregada. Se eu quisesse,


teria ficado com a Rebecca na época em que ela era uma

empregadinha da nossa casa, nunca entendi o motivo de ter

se apaixonado por ela. Na verdade, isso até despertou


curiosidade em mim, ela deve ser boa, muito boa de cama,

né!

Não consegui conter minha fúria e ciúme, então parti

para cima dele e esmurrei seu rosto repetidas vezes.

— Você vai ficar longe da minha mulher, longe da minha


família, longe de mim, senão eu te mandarei para o inferno,
Heitor!
Ele tentava me bater, mas eu era mais ágil. Heitor nunca
foi acostumado com brigas, já eu tinha feito aulas de artes
marciais. Quando vi que estava passando dos limites, parei e

saí de perto dele com a mão coberta de sangue.

— Seu maldito! Isso não vai ficar assim! — resmungou.

— Você é tão tóxico quanto nossos pais. Desejo que sua


ficha caia do quão ruim você está se tornando, e o quanto
pode ser terrível seu final. Porque, Heitor, a roda do mundo

gira todos os dias e se lembre o que aconteceu com o nosso


pai. Espero que perceba isso antes de ser tarde demais e você

ter que pagar um preço altíssimo.

Ele me destinou um último olhar. Dei as costas e saí,

mas quando deixei o escritório, vi Brianna encostada na


parede derrubando lágrimas. Ela havia escutado tudo, até

mesmo sobre a traição.

Me aproximei dela com cautela e estendi os braços, ela


me abraçou.

— Se livre desse casamento tóxico, Brianna. Você


merece ser feliz com alguém que te ame verdadeiramente.
Ainda há tempo — aconselhei, ela não parava de chorar, seu
mundo havia acabado de ruir.

— Obrigada por abrir meus olhos, Nicolas!

Assenti. Era tão doloroso para mim tudo que estava

acontecendo, tinha acabado de perder meu irmão e melhor


amigo, contudo, me sentia aliviado, pois sabia que havia
feito o certo.

Talvez em algum momento, era possível que Heitor

mudasse e voltasse a ser o menino que um dia me orgulhei


em chamar de irmão. Até isso não acontecer, o manteria
longe e protegeria Rebecca de todo seu ódio e rancor.

E eu sabia que só iria conseguir protegê-la se eu a


tirasse daqui, dessa cidade e talvez desse país. E eu iria fazer
isso, largaria tudo pelo bem dela e da nossa princesa que

estava a caminho.
No final do oitavo mês de gravidez, quando eu já não

aguentava mais a gestação e nós já não víamos mais a hora de


ver o rostinho da nossa filha que se chamaria Alice,

decidimos optar pela cesárea, já que não tinha dilatação,


cheguei a somente três dedos e estava na data de ela nascer

não podíamos esperar mais.


Nicolas me levou até o hospital onde ficaria internada.

O hospital não seria dos seus pais, mas era tão bom quanto.
Escolhemos quarto particular e todas as mordomias que me

deixaria mais confortável para o pós-parto e todo o resto.

Estava ansiosa e nervosa, porque mesmo sendo cesárea sabia


do risco da anestesia, temia tudo, e até como seria depois de

ter a criança, porque todos falavam que era terrível o pós-

parto.

Ainda não tínhamos nos mudado de Belo Horizonte,

porque não podia viajar no estado que estava, Nicolas não


quis arriscar. A única mudança que fizemos, foi de eu ir

morar com ele na sua cobertura por ser vigiada e muito bem

protegida. Também nos casamos no cartório, com poucas

testemunhas. Enfim, sabia que nós merecíamos um casamento

especial e tudo mais, porém, com tudo que estava


acontecendo era impossível e tínhamos pressa, não queríamos

morar juntos sem estarmos oficialmente casados. No entanto,

Nicolas fez o dia ser tão especial, após o casamento no

cartório quando chegamos à sua cobertura, a nossa suíte

estava decorada com pétalas de rosas e vários presentes que


ele comprou para mim. Nós tivemos uma noite deliciosa e
que adorei muito.

— Vai ficar tudo bem, preciso que relaxe, amor — pediu


Nicolas, percebendo que estava nervosa, quando chegamos ao

hospital. Ele tocou minha barriga com a mão, acariciando. —

Daqui a pouco você vai estar com o papai e a mamãe, Alice.

— Estou tão ansiosa para ver o rostinho dela!

— Vai ser tão lindo quanto o seu, amor. — Nicolas

inclinou-se para beijar minha testa.

Depois de um tempo, fui preparada para o parto. Estava

com muito medo, mas o enfrentei. Fiquei ainda mais com

receio quando tive que me inclinar para frente, mesmo com a

barriga enorme atrapalhando, para ser anestesiada. Não me


movi, enquanto a anestesia era aplicada, porque era proibido.

Assim que terminaram de aplicar me deitaram na maca, e eu

já não sentia mais nada da cintura para baixo. O parto seria

iniciado e Nicolas estava ao meu lado, segurando minha mão

me dando apoio.
Meu coração estava batendo depressa, ansioso para ver

minha filha. Pegá-la em meus braços era tudo que mais


ansiava naquele momento. Eu perdi a noção do tempo que se

levou até que fomos tomados por uma forte emoção ao


escutar o choro dela. Da minha Alice. Meus olhos marejaram,
assim como os de Nicolas. Foi o som mais aguardado por

nós, ela berrava a plenos pulmões, enquanto eu só conseguia


chorar de emoção e apertar mais fortemente a mão de

Nicolas.

O médico segurou o cordão umbilical e o cortou. O bebê

passou pelas mãos do pediatra que o examinou, o cobriu e o


entregou para mim. Assim que ele a colocou no meu braço,

me arrepiei inteira. Nicolas se inclinou perto de mim para ver


melhor o rosto da sua filha. Várias fotos foram tiradas nossa
nesse momento, para registrarmos, havíamos pedido a

enfermeira para tirá-las. Nossa filha era mais linda ainda do


que imaginava, seu rosto era branco, pálido como o de

Nicolas e a cor dos olhos ainda não dava para ter certeza,
porque ela ainda não os tinha aberto. A boca era rosada e as

bochechas avermelhadas. Ela era o ser mais lindo que já vi, e


me custava acreditar que nós tínhamos feito algo tão precioso

juntos. Era a mistura de nós dois.

— Bem-vinda, Alice Albuquerque Ferreira. Eu te amo

tanto, filha, o papai vai ser o mais babão do mundo —


murmurou Nicolas, emocionado, antes de beijar lentamente a

testa dela, sem quase encostar os lábios, receoso.

— Quer segurá-la? — ofereci, olhando-o. Ele arregalou


os olhos e senti vontade de rir do seu medo.

— Acho melhor não, ela parece que vai quebrar.

— Ela não é de porcelana, Nicolas. Segure-a um pouco

antes que a levem — pedi, querendo vê-la em seus braços.


Nicolas mesmo com medo a pegou com cuidado, algumas
lágrimas caíram de seus olhos enquanto ele contemplava

nossa filha encantado. — Parece que ela reconheceu você e a


sua voz.

Nicolas me olhou quando ouviu o que falei. Alice


parecia se aconchegar em seu colo, ela não o estranhou, nem

a mim.
— Ela é tão linda, bebê, parece com você — disse
Nicolas. — O formato do rosto me lembra o seu.

— Já eu acho que ela se parece mais com você —


murmurei, emocionada. — Eu amo tanto vocês.

— Eu amo demais vocês. Vamos ser para sempre nós e

os outros filhos que virão — exclamou ele e foi minha vez de


arregalar os olhos.

— Por Deus, mal pari essa já quer outros, doutor, não é


fácil ser mãe ainda mais na minha idade. Não sou novinha. —
Gargalhei, então a enfermeira se aproximou para pegar a

bebê e a levar.

— Podemos adotar também, ou Alice pode ser filha


única, não tem problema.

— Com certeza ela será filha única — garanti, fazendo-o


rir e me beijar.

— Você é a mulher mais forte e incrível desse universo.


Obrigado por voltar para mim, Rebecca. Por me dar a melhor

honra e alegria dessa vida. Alice.


— Obrigada por não ter desistido de mim apesar dos
obstáculos. Te amo, Nicolas. Muito!

Nós nos beijamos e encostamos as testas uma na outra.

Quando pensamos em maternidade, nunca pensávamos

nas responsabilidades que viriam junto. Parecia que tudo

mudava, você já não era a mesma, você já não vivia para


você e sim para aquele minúsculo ser. Tudo que importava

era ela e só ela. Você morria de medo de que algo ruim

acontecesse, você não conseguia descansar em paz sem ter

certeza de que ela estava bem. Seu instinto protetor ganhava


vida.

É claro que nem todas as mães eram assim. Nem todas as

mulheres nasceram para ser mães. E tem mulheres que nem


deveriam ser intituladas mães e sim genitoras.
Alice era uma criança pacífica, dormia a noite toda com

a graça de Deus, e assim eu podia descansar mais e ter tempo


para mim e para o maridão. No entanto, ela também era uma

bebê bastante apegada a mim e ao Nicolas, gostava de colo,

carinho e de mamar. Ela gostava demais de mamar, seria


comilona como eu!

Já faz dois meses desde o melhor dia das nossas vidas.

Estava bem melhor do parto, porque o primeiro mês foi

difícil, Nicolas teve que me ajudar muito e como eu não


queria babá e nem enfermeira sobrou para o coitado. Eu tinha

um certo receio em confiar em uma babá cuidando da minha

pequena recém-nascida. Ela era tão pequena ainda, não


queria qualquer pessoa cuidando dela para mim, então não

aceitei ter babá. No entanto, dali a alguns meses, contrataria

alguma, depois que eu aproveitasse esses meses tão

importantes, mas tão cansativos quanto.

Havia terminado de dar banho em Alice e trocá-la

quando Nicolas chegou do trabalho. Às vezes sentia muita

falta da minha rotina no consultório, mas sabia que precisava


esperar um tempo para voltar. E agora que nos mudaríamos
para Boston, nos Estados Unidos, teria que ter mais paciência

ainda, porque a reforma do novo consultório e toda a

burocracia iria demorar para Nicolas poder assumi-lo.

— Oi, amor. Como vocês estão? — Nicolas me


cumprimentou com um beijo, então estendeu a mão para

pegar Alice. — Deixe-me a segurar para você.

Entreguei Alice a ele que acolheu nos braços.

— Nós estamos bem, amor. Alice comeu bem hoje,

dormiu bastante e chorou para ficar no colo durante a tarde

— contei. — Você está com fome? Mandei a cozinheira

preparar algo para comermos.

— Sim, estou um pouco, só que antes vou tomar um

banho. Estou exausto — disse, caminhando até o sofá com

nossa filha no colo. — Ah, como sinto saudade de vocês


durante o dia. Fico contando as horas para estar em casa.

— Alice e eu também sentimos sua falta. — Me sentei ao

seu lado no sofá.

— Logo, se Deus quiser, vamos sair dessa cidade e

começar uma vida nova nos Estados Unidos. Em uma casa


nova e conhecer pessoas novas.

Nicolas suspirou pesadamente. Ainda sentia que ele


estava ressentido com sua família, ele falava pouco deles,

então resolvi perguntar.

— Eu sei que não gosta de falar sobre isso, mas queria


saber como está seu pai. Você tem tido notícias? —

perguntei, vendo-o franzir seu cenho.

— Não tenho notícias. Já minha mãe apareceu no

consultório me obrigando a ouvi-la. Ela não falou sobre meu


pai e sim sobre Heitor. Ao que parece, ele e Brianna se

separaram, e ela vai mudar de país com as crianças,

coincidentemente para os Estados Unidos.

— Fico feliz por ela ter se livrado dessa relação abusiva

— falei. — Sua mãe, hum, como ela está?

Ainda ficava desconfortável em falar sobre Vitória. Mas,

depois de ter minha filha, eu mudei muito, principalmente a


parte orgulhosa e vingativa em mim. Mesmo ainda não

perdoando Vitória, Rafael e Heitor por completo, não


guardava mágoas ou ressentimentos, visto que isso não me

fazia bem.

— Triste, pelo que notei. Ela insistiu em ver Alice, disse

que meu pai deseja muito conhecer a neta também, mas é


claro que não permiti.

Nicolas falou deixando transparecer seu instinto protetor

e o remorso pelos pais.

— Eu acho que uma hora ou outra eles terão que ver a

neta. Talvez Alice não vai conviver com eles pela sua

proteção, mas não quero privá-la de conhecer os avós, saber

quem são e formar sua própria opinião — falei, deixando


Nicolas surpreso. — A verdade é que não tem outra forma de

seguirmos em frente, nem mesmo mudando de país, a não ser

perdoando e escolhendo deixar o passado no lugar dele.

Ele me fitou com os olhos verdes intensos que me

causava arrepios.

— Eu concordo com você, amor. Mas confesso que sinto

muita mágoa ainda deles. Não sei se os quero tocando minha


filha, chegando perto...
— Nico, eu nunca permitiria isso se achasse que teria

risco para Alice. Ela é meu bem mais precioso e não vou
deixar que nada a aconteça. No entanto, precisamos seguir

em frente e você sabe que só existe uma forma de fazer isso,

para vivermos sem medo e receios de possíveis vinganças.

Nicolas se aproximou de mim, com nossa filha em seu


colo e encostou a testa na minha.

— Tudo bem, bebê, o que deseja fazer então?

— Vamos deixá-los a conhecer, e permitir que Alice


conviva com os avós sob monitoração, é claro, e quando tiver

idade ela que deve formar uma opinião deles, sem ser

manipulada, sem saber das coisas terríveis que eles fizeram.

Senti sua respiração pesada em meu rosto. Ele se

contorceu um pouco, ainda indeciso, mas acabou assentindo.

— Ok, você está certa! Vou tomar um banho e a levamos

para vê-los. Ok?

Concordei rapidamente feliz por ele ter compreendido.

Peguei Alice dos seus braços, ela estava acordada, mas

quietinha, só nos observando e tentando pegar no meu


cabelo. Seus olhos eram verdes, puxados para azul. Ela era
tão linda que, às vezes, nem conseguia parar de admirá-la.

— Você terá uma vida diferente da minha filha —

murmurei ao ficar sozinha com ela, depois que Nicolas subiu


para tomar um banho. — Você será feliz e, mesmo em tempos

difíceis, terá a mim e seu pai para ampará-la. Terá uma boa

educação, e uma vida que é sonhada por muitos. Estudará nos

Estados Unidos, sabe o que é isso? Com direito a jogadores


de basquete e líderes de torcida, é um sonho! E ainda você

tem um pai cirurgião plástico, que será ótimo caso queira

afinar o nariz, ou colocar silicone. — Dei risada enquanto eu


falava. — Não serei uma mãe chata, prometo. Até você

completar quinze anos, eu vou tentar já ir planejando o que


dizer quando me contar que deu seu primeiro beijo, virou

mocinha ou perdeu sua virgindade. Como mulher sei que vou


poder te aconselhar muito, e espero que me considere sua
melhor amiga.

Beijei sua testa, e ela abriu um sorriso gostoso.

— Te amo, minha Alice! Para sempre!


Quando Rebecca, eu e minha filha chegamos à mansão
dos meus pais, para mostrar ela a eles, foi a primeira vez que

vi meu pai depois do acidente sem estar na cama. Ele estava

na sala, lendo um livro, em sua cadeira de rodas. Quando nos


viu entrar seu olhar se iluminou.
— Nico! Rebecca! — exclamou e por impulso tentou se

levantar, mas aí percebeu que não conseguia mais. Se


manteve na cadeira de rodas e andou com ela até nós. — Que

alegria ver vocês! Como estava ansioso para ver o rosto da

minha neta.

— Oi, pai — falei meio sem jeito, segurando a cintura

de Rebecca. — Como o senhor está?

— Bem, na medida do possível. — Ele sorriu


fracamente. — Superando os acontecimentos.

— Entendi.

— Oi, Rebecca. Não vai falar comigo? — voltou a

cumprimentar Rebecca, que estava muda até então. — Eu


sinto muito por tudo, menina, por tudo mesmo!

— Oi, senhor Rafael — Beca respondeu meio sem jeito.


— Tudo bem, já passou! E eu não sou mais uma menina.

Meu pai sorriu diante da fala de Beca.

— Eu sei, mas confesso que toda vez que te olho me

lembro de você garota ainda. Parece que o tempo não passou


para você!

— Vou levar isso como elogio e...

— Rafael querido, ouvi vozes e vim... — Rebecca foi

interrompida pela minha mãe que apareceu no corredor

entrando na sala, esboçando preocupação, mas parou de andar

quando nos viu. Sua expressão mudou para total surpresa. —

Vocês... Ah, meu Deus.

— Olá, mãe — falei. — Viemos trazer Alice para vê-los.

Seus olhos marejaram e ela caminhou até nós, um pouco

tímida

— Obrigada, filhos, por terem a trazido — murmurou

ela, parando diante de nós, atrás do meu pai. Ela encarava

Rebecca um pouco acanhada. — Como tem passado,

Rebecca? Espero que o parto tenha sido não muito ruim.

— Ruim mesmo foi o pós-parto, mas já estou ótima,

dona Vitória.

— Que bom. — Minha mãe sorriu. Seus olhos ficaram

pregados na nossa filha. — Meu Deus como ela é linda. Eu


posso?

Ela estendeu os braços meio sem jeito. Olhei para

Rebecca que buscava minha aprovação e assenti. Ela

entregou nossa filha para a minha mãe.

— Amor, ela é muito parecida com Nicolas quando ele


nasceu. Olha os olhos dela — minha mãe disse,

impressionada, e começou a mostrar Alice para meu pai, que


a encarava encantado.

— É como se eu estivesse vendo Nicolas outra vez


através dela — sussurrou meu pai emocionado. — Querida,

eu posso segurá-la?

— Sim, mas com cuidado. Ela é tão pequena... tão


princesinha.

Minha mãe colocou Alice nos braços do meu pai e vi


seus olhos reluzirem. Nossa filha começou a tentar pegar no

livro que estava apoiado no peito do avô.

— Essa aqui vai gostar de ler, viu! — comentou meu pai.


— Olhe a forma que ela encara o livro.
— Ela quer rasgá-lo, isso sim — retrucou Rebecca,

fazendo todos rirem.

— Sei não, hein. Será que temos uma pequena leitora

viciada igual ao avô? Ou uma escritora contemporânea? —


Rafael falou.

— Ela tem cara que vai ser muito esperta — disse minha
mãe. — Talvez uma futura médica?

— Não, mulher, já temos médicos demais em nossa


família — respondeu Rafael, contrariado.

— Vai saber do que ela vai gostar, pode ser que no fim

escolha uma profissão menos óbvia. Algo raro, não dá para


sabermos ainda — comentou Rebecca.

— Sim. Talvez ela cultive plantas — zombei. — Vire


uma cientista.

— Não exagere, amor — rebateu Rebecca, rindo.

— Bem, eu comprei tantos presentes para ela. Só que


não consegui encontrar. Tem tanta coisa, Rebecca. Espero

que aceite, como avó quero mimar minha neta um pouco —


disse minha mãe, olhando para Rebecca. — Tem até alguns
que eram de Nicolas. Relíquias que guardei para me lembrar
do meu pequeno Nico.

— Tudo bem, aceito. Tenho certeza de que Alice vai


gostar — respondeu Rebecca.

— Ah, que ótimo. Vou buscar todos!

Minha mãe saiu toda alegre nem parecendo acreditar que

Rebecca aceitou seus presentes.

— Fiquei sabendo que vai abrir um novo consultório nos


Estados Unidos, filho — falou meu pai após um tempo em

silêncio. — Acredito que querem recomeçar em um novo


lugar, e com razão. Agora se estão mudando por medo de nós
ou do seu irmão aconselho que não façam. Heitor e nós já nos

arrependemos de tudo, e eu juro por tudo que mais amo que


não faremos nada contra vocês nunca mais. Só queremos que

nossa família possa ser feliz e unida outra vez. E quero ser
presente na vida da Alice, minha neta linda. Ela foi um dos

motivos que escolhi continuar mesmo com as dificuldades do


acidente. Acho que errei muito nessa vida, mas como avô eu
não vou errar. Talvez Deus me deixou vivo por isso, para
trazer um pouco de felicidade à pequena Alice, para protegê-
la como avô. Para ter uma segunda chance com vocês, meus

queridos.

Engoli em seco, sentindo uma emoção poderosa tomando

conta de mim. Não podia fraquejar por escutar algumas

palavras comoventes.

— Você e Vitória poderão visitá-la quando quiserem nos

Estados Unidos. Não vamos impedir vocês de conviver com

Alice — falou Rebecca por nós. — A porta da nossa casa vai


estar sempre aberta para receber vocês.

— Obrigado, querida. E novamente desculpem por tudo!

Eu me arrependo muito!

Assentimos, sem ter o que responder.

— Agora deixa eu aproveitar mais um tempinho com

essa pequena aqui. Que adora livros, certamente. Olhem só

para ela!

Nós rimos da fala de meu pai, vendo Alice tentando

abraçar o livro. Me sentia mais aliviado por dentro. E


acreditava que Rebecca também.

— Alice dormiu? — perguntei quando Rebecca se juntou

a mim na cama. O quarto estava escuro, mas a televisão

estava ligada. Hoje era um dia frio, então Rebecca entrou


logo debaixo das cobertas e se aconchegou em meu corpo.

— Sim, como um anjinho — respondeu ela. — Ah, estou

tão feliz, amor.

— Eu também, Beca. — Beijei sua cabeça, puxando-a


mais para meu peito.

— Está um frio gostoso, não é? — murmurou, passando

a mão pelo meu peito desnudo. Estava usando apenas uma

calça de moletom.

— Muito, principalmente para fazer um sexo gostoso

embaixo do cobertor. — Tentei atiçá-la levando a mão até sua

bunda e cravando os dedos nela.


— Mais que doutor safado... Sabe, ainda estou com um

pouco de medo. — Sua voz saiu baixa e rouca. — Já faz tanto

tempo desde a última vez.

— Já faz. E eu estou quase enlouquecendo de tesão só de


imaginá-la nua embaixo de mim — grunhi, excitado. — Isso

é coisa que se faça com um marido tão perfeito como eu?

Isso é uma tortura, bebê.

Rebecca riu e subiu em meu colo. Segurei seu quadril e

fitei seu rosto.

— Eu sei, doutor, mas ainda não sei se estou pronta.

— É mesmo? Porque não é o que parece. — Acariciei

sua bunda e a ajeitei em cima de mim, fazendo minha ereção

encostar em sua intimidade. — Veja como estou duro por

você, gostosa. Podemos fazer lentinho e bem gostoso. Ou se


não me deixe pelo menos chupá-la, porra, minha boca está

salivando, só de imaginar a sua boceta molhada contra ela.

Rebecca gemeu e se esfregou em mim.

— Quem está torturando alguém aqui é você, doutor.

Não eu, ah! — Sua voz saiu rouca e ela fechou os olhos. Meu
pau latejou ao notar os mamilos marcados no pijama

finíssimo branco.

— E a senhorita ainda coloca o diabo desse pijama, que

você sabe que me leva ao delírio. Cacete. Eu preciso me

afundar profundamente nessa boceta e não sair nunca mais de

dentro dela. — Tirei a mão da sua bunda e a levei até entre


suas pernas, fazendo-a arfar. Rebecca era tão sensual, ainda

mais quando tentava resistir aos meus estímulos, mas isso só

a deixava ainda mais excitada. — É hoje que faremos mais


um menino, pelo visto.

Ela se engasgou.

— Acho melhor eu beijá-lo, só assim você para de falar


tanta asneira, doutor.

Ela inclinou seu corpo e capturou minha boca.

Começamos a nos beijar, um beijo lento, sensual e intenso.

— Eu quero você para sempre. Eu te desejo com


ardência, Rebecca — murmurei, rouco, em sua boca.

— Você é minha perdição, doutor Albuquerque, e sempre

será!
Dito isso, joguei-a para o lado da cama e aprofundei

nosso beijo, não lhe dando escapatória. Essa noite ela não me

escaparia.

A verdade, era que nós dois estávamos com saudade um


do outro. Toda vez que fazíamos sexo era como se nossas

almas se reconectassem. Como se nossos corpos

conversassem e buscassem o mesmo alívio, o mesmo


suplemento para viver.

Era como se nos reencontrássemos outra vez, e outra

vez.

Mas sabíamos que nunca mais iríamos nos desencontrar


nessa vida, porque nosso destino era ficarmos juntos e nada

poderia separar o que estava destinado a acontecer.


— Então ele me chamou de sardenta e disse que tenho

piolhos. E eu disse que ele precisava escovar os dentes


porque seu bafo estava me deixando irritada. — Alice me

contava com revolta sobre um colega de escola dela que


teimava em irritá-la, enquanto tomávamos café da manhã.
— Eu ainda acho que esse garoto gosta de você, minha

filha. Não é possível ele ficar toda hora te irritando à toa, a


não ser que tenha interesse escondido em você, e a única

forma que ele acha para se aproximar sem que note a

intenção é provocá-la — respondi, e dei uma grande mordida


na torrada com ovos mexidos.

— Lógico que não, mamãe, e se ele gostasse estaria


sendo um estúpido, porque agindo assim só faz com que eu o

deteste ainda mais.

Eu ri e Nicolas resolveu se intrometer, até então estava

só ouvindo as histórias.

— Eu acho que sua mãe está certa. Nos livros sempre

pessoas que brigam muito acabam juntas no final, filha.

— Papai, se você visse como aquele garoto é feito não

falaria isso. Por Deus, temos sete anos e ele já usa um

aparelho vermelho que o deixa com aparência nerd!

Alice revirou os olhos e bebeu seu suco de morango.

Nicolas e eu caímos na gargalhada.


— Aparências mudam, filha. Hoje ele tem dentes de
aparelho, porém, mais tarde terá um sorriso lindo de dentes

alinhados e brancos. — Pisquei para ela ao falar. Alice deu

de ombros. Crianças nunca escutavam os pais.

— Vocês sempre o defende. Não adianta o que eu fale

sobre ele. Até parece que não escutaram que ele me chamou

de sardenta e piolhenta, logo eu que cuido tão bem do meu

cabelo, até mais que da alimentação.

Ela revirou os olhos outra vez.

— E faz muito mal, mocinha. Até porque não existe

cabelo saudável sem uma alimentação boa! — rebateu seu

pai. — Falando em sua alimentação, pode comer as frutas na

nossa frente. Agora!

— Ah, papai! — reclamou Alice, mas diante o olhar

mandão do pai pegou uma maçã e começou a comer. Ela era

uma menina obediente, apesar de ter sempre uma opinião

formada sobre tudo e não ser do tipo que mudava facilmente

de opinião. — Pronto. Estou comendo a maçã, então mereço

uma carona até a escola, não é mesmo?


— Eu sempre te dou carona, Alice — lembrei, chateada.

Minha filha me olhou sorrindo, em forma de desculpa.

— Eu sei, mamãe, mas chegar à escola no carro do

papai, não tem sensação melhor no mundo — exclamou ela,


toda animada, levantando-se e indo até o pai, segurar em seus

ombros. — Diz que sim, papai.

— Sim, princesa. Lógico que te levo hoje.

— Você sempre fazendo as vontades dela, e depois

reclama que Alice é mimada — reclamei, disfarçando o


sorriso. Eu sabia que ela só insistia em seu pai a levar porque

ele era um homem ocupado, então não era sempre que


sobrava tempo para levá-la nos lugares e ela adorava passar

mais tempo com ele quando podia.

— Obrigada, pai, você é o melhor pai do mundo. —


Alice contornou a cadeira e se sentou no colo do pai,

abraçando-o.

— Mas, só levo se comer um pouco de mamão também.

— Ah, sério? — reclamou ela, saindo de cima do colo

dele. — Mãe, diz para ele que já como mais fruta que setenta
por cento das crianças de hoje em dia?

— Isso é verdade, amor. Eu na idade de Alice só queria


saber de chocolate e salgadinho — respondi, rindo do olhar

de Nicolas na minha direção. — Mas para crescer saudável é


sempre bom comer frutas, querida. Escute seu pai.

Me levantei e fui até ela. Dei um beijo na sua cabeça e


depois na de Nicolas.

— Valeu, mãe — resmungou Alice.

— Agora, já que me livrei de dar uma carona, vou vestir


meu maiô e aproveitar o sol porque é raro nessa época do

ano. Com licença! — disse e andei em direção à escada, mas


parei para observar quando Alice gritou animada.

— Ah, meu Cristinho, o vovô e vovó estão ligando por


videochamada. Preciso falar com eles, tenho muito para
contar. E preciso agradecer o último presente que eles

mandaram. Será que posso me atrasar uns minutinhos, pai?

— Pode, mas só dez minutos, Alice.

— Ok, obrigada, papi!


Às vezes ela o chamava de papi, porque ela era a
garotinha mimada do papai e isso estava bem explícito. Subi
as escadas e fui até o closet me trocar. No meio do caminho,

fui pensando no quanto fiz bem para minha filha tomar a


decisão de deixá-la conviver com os avós. No fim, ela amava

tanto eles e parava tudo somente por uma ligação inesperada.


Eles também sempre a tratavam como uma princesa, e sempre
que vinham nos visitar Alice fazia a festa. Ela amava se

sentar no colo do avô para o escutar lendo algum livro


infantil, principalmente os de romance. Acreditava que eles

mudaram, por dentro e por fora, por conta de tudo que


aconteceu e da chegada de Alice. A menina era como um

girassol na vida deles.

O perdão podia ser difícil, esquecer mais ainda, só que

compensava e, no fim, percebemos o quanto era valioso a


nossa paz, ter nosso coração guardado no peito sem
ressentimento, sabendo que conseguimos e fomos fortes o

bastante, porque precisava ser uma pessoa muito forte e


ilimitada para conseguir perdoar quem um dia lhe fez mal.
E eu consegui. Só de ver o que meus sogros faziam de
bom para a minha filha, a forma que eles a tratavam, já me
deixava feliz e grata. Eles foram horríveis comigo, mas com

Alice eram maravilhosos e estavam tendo uma chance de


recomeçar, de rever seus erros e mudar. Eu sabia que nunca

iria confiar plenamente neles, mas Alice iria, e não teria o


trauma de ter a imagem de seus avós como monstros.

Terminei de vestir o maiô e prendi meu cabelo. Levei um

susto ao me deparar com Nicolas atrás de mim. Ele tinha

entrado de fininho, enquanto eu estava perdida em meus


pensamentos.

— Que susto, Nico!

— Eu percebi que estava distraída. No que estava

pensando, bebê? — Ele agarrou minha cintura e me puxou


para mais perto. — Será no mesmo que eu?

Ele me olhou com aquele olhar de malícia que já

conhecia muito bem.

— Acho que não, amor. Estava pensando no quanto sou

grata por ter perdoado seus pais no passado — falei. — Você


percebe o quanto Alice gosta deles?

— Ah, sim, percebo. — Ele afundou o rosto no meu


pescoço inspirando meu cheiro. — Que delícia de perfume.

Merda, não dá vontade nem de ir trabalhar.

— Nicolas, se concentre...

Eu ri, enquanto ele estava exalando excitação.

— Como quer que eu me concentre com você vestida

assim, toda perfumada. Sendo que vou ter que ir trabalhar e


você vai ficar sozinha, andando pela casa com esse maiô que

deveria ser proibido para você. — Ele fixou os olhos no meu

e passou a língua pela boca.

— Você pode chegar mais cedo, ou talvez eu te faça uma


visita no consultório. O que acha?

Passei a perna por dentro da dele, sentindo sua ereção

encostar em mim.

Depois que comecei a cursar faculdade de medicina eu


parei de trabalhar como recepcionista no seu consultório, até

porque precisava focar nos estudos.


— Eu acho ótimo você ir mesmo, porque desde que se

demitiu que não tenho paz. Fico imaginado toda hora você

comigo, na sala do consultório, em cima da mesa… Porra,


que saudade, bebê!

Ele mordeu meu queixo e apertou mais forte minha

cintura, senti meu ventre queimar e meu sexo latejar.

— Então, quem sabe não passo lá hoje, doutor! Talvez


eu o visite, sem calcinha. — Mordi o lábio, seduzindo-o, os

olhos de Nicolas faiscaram de tesão.

— Eu vou aguardar ansioso, sua gostosa do caralho. —

Ele levou a mão até minhas nádegas, apertando para cima. —


Porra, pena que não dá tempo de uma rapidinha antes de ir.

Estou com muito tesão e a culpa é sua!

— A culpa é minha, doutor? Mas o que eu fiz?

Eu adorava provocá-lo.

— Você sempre faz isso, fica me seduzindo justo quando

tenho que ir trabalhar. Acho que é a força que usa para me


deixar pensando na sua boca e boceta o dia inteiro. Quase

não me concentro no trabalho, porra. Fico contando as horas


no relógio para te encontrar. E finalmente poder te foder,

Beca!

— Não faço de propósito, juro.

— Mesmo que faça, peço que continue! Pois adoro a

forma que me seduz, me deixa completamente louco, pirado


em você, meu amor. — Ele me atacou com um beijo de tirar o

fôlego. Prendi os braços em volta do seu pescoço.

— Vou continuar, sempre. Principalmente para te manter

apaixonado e louco por mim — sussurrei, ficando manhosa


em seus braços.

— Eu sempre serei louco por você, uma cadelinha como

você gosta de dizer de vez em quando.

— Ainda bem, porque eu acho que não consigo mais me

imaginar vivendo sem você, meu doutor. Eu te amo tanto!

Encostei minha cabeça em seu peito.

— Garanto, que eu te amo até mais, bebê. — Ele beijou


minha testa.
— Papai, você está aí? Estou atrasada! — Ouvimos os

gritos de Alice e nos separamos. Estávamos vermelhos e

excitados.

— Bem, então é melhor eu ir. Mas, eu te aguardo em


meu consultório — falou Nicolas, dirigindo-se até a porta,

sorri como uma boba e me abanei com as mãos, para acalmar

o fogo que estava sentindo.

— Isso foi uma ordem, doutor?

— Não tenha dúvida, senhorita Albuquerque. Eu te

espero lá, ansioso!

Observei Nicolas sair do closet, ainda sentindo meu


corpo ardendo de desejo pelo meu marido.

Era engraçado que as pessoas diziam que com o tempo

relacionamentos esfriavam, mas eu achava o contrário, eu e


Nicolas quanto mais tempo juntos, mais sentíamos tesão um

pelo outro.

Isso era o amor, uma chama de fogo que nunca apagava.


Uma paixão que nem o tempo deixava menos intensa.
FIM!

Você também pode gostar