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Mason

Série Fire
Volume 2

Jennifer Souza
Copyright © 2017 Jennifer Souza
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte deste livro pode ser
utilizada ou reproduzida sob quaisquer meios existentes sem a
autorização por escrito da autora.
Revisão e Sinopse: Beka Assis
Diagramação: Jennifer Souza

Capa: Jéssica Gomes

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Jennifer Souza

1. Romance
2. Adulto
3. Suspense

Todos os direitos reservados á Jennifer Souza


Essa é uma obra de ficção.
Quaisquer semelhanças com pessoas vivas ou mortas é
mera coincidência.
Prólogo

Mason
Aquilo só podia ser uma piada. Uma brincadeira
de mau gosto que meus colegas idiotas estavam
fazendo comigo. A ficha ainda não tinha caído.
Encarei a mulher à minha frente; aquela que eu não
via faziam mais de cinco anos.
— Você pode repetir o que acabou de dizer?
Ela revirou os olhos impaciente e bufou.
— Eu disse que essa menina é sua filha, e que
estou indo embora. — Ela empurrou a menina na
minha direção. A criança me encarou assustada, e
seus olhos cor de chocolate, amedrontados, me
trouxeram lembranças de meu passado sombrio. — Já
a criei até agora sozinha. É sua vez. — Ela largou
uma mochila velha na minha frente.
— Allison, você só pode estar louca se pensa que
vou acreditar nessa história. Tivemos uma noite
juntos no dia de São Patrício a séculos atrás.
— Uma noite bastou para que Emma nascesse.
— E por que você não me procurou antes?
— Eu estava casada, Mason. Só que não deu
certo, e agora eu consegui uma ótima oportunidade de
emprego em Vegas. Óbvio tive de mentir que não
tinha filhos ou então perderia a vaga. — Allison
trocava o peso do corpo de um pé para o outro. — Eu
preciso ir, tá legal?! Cuide da garota.
— Eu não posso, entregue ela para alguém da sua
família. — Falei desesperado. — Não tenho a menor
experiencia com crianças.
— Se vira, meu amigo. Eu não fiz ela sozinha, e
também tive de me virar quando ela nasceu. — Ela
empurrou a menina mais uma vez na minha direção.
Ela tinha um olhar desafiador e ao mesmo tempo
assustado.
— Quem me garante que essa menina é minha
filha? — Ela fez sinal para um taxi.
— Faça o DNA se você tem dúvidas. — E então
ela entrou no taxi deixando a menina na minha frente
como se fosse apenas um objeto que deixou aos meus
cuidados. Ela sequer se despediu, simplesmente
abandonou a filha e se foi.
— Eu... hã... — Eu não sabia o que fazer com a
menina em minha frente.
— Cara, vá para a casa. — Michael disse, se
aproximando. — Desculpa, mas eu ouvi tudo... não
teve como não ouvir. Vá que eu cubro seu turno, e
também está tranquilo hoje.
— Eu... eu vou fazer isso.
— E tem os outros batalhões também. Vai nessa
cara.
— O Duke... eu...
— Eu explico para ele.
Apenas assenti. Estava um tanto anestesiado para
mencionar qualquer coisa.
Peguei um Dunhill no meu bolso. Eu precisava de
um cigarro; na verdade, necessitava. Coloquei-o
sobre os lábios, e com um isqueiro acendi a brasa.
— Você sabia que isso vai te matar? — Uma voz
doce e decidida me disse.
Encarei a menina de cabelos encaracolados. Ela
me encarava de volta.
— E o que isso tem a ver com você? — Perguntei,
irritado. — Vamos embora. — Indiquei a ela minha
velha Chery vermelha. Ela olhou para o carro com
desconfiança. — Anda garota, pegue sua bolsa e
vamos. — Insisti. A tragada no cigarro fez meus
nervos relaxarem ao menos um pouco.
— Está muito pesada. — Respondeu ela. — E
meu nome é Emma.
— Tanto faz. — Peguei a bolsa no chão. —
Vamos.
Ela me seguiu um tanto quanto irritada.
Joguei a mochila no porta-malas e mandei-a sentar
no banco de trás. Ela não me obedeceu.
— Vou sentar aqui. — Ela entrou no carro e
acomodou-se no banco do carona como uma rainha.
Dei mais uma tragada profunda no cigarro e o
joguei no chão, apagando-o com a sola do sapato.
Entrei no carro. O que eu farei com aquela garota?
Dei partida no carro para encarar o transito
noturno de Chicago e segui para o sul, para o meu
velho apartamento alugado em Chinatown.
— Você não tem parentes onde possa ficar? —
Perguntei para a garota ao meu lado.
— Não. Ao que parece, só tenho você. — Disse,
mal-humorada.
— Você é bem articulada para uma menina de seis
anos. — Comentei. — Mas eu vivo em um
apartamento apertado, e no momento não sei bem o
que fazer contigo.
— Pode me deixar em uma casa de adoções, um
lar para crianças... Eu vi na tv que tem muitos por aí,
e não parecem tão ruins assim e.…— Ela parou de
falar quando eu soltei uma risada sem humor.
— Acredite, nem tudo o que dizem na tv é
verdade.
— Eu não sou burra para acreditar em tudo o que
está na tv, e o lar para crianças parece melhor do que
uma casa na qual não sou bem-vinda.
Fiquei impressionado com a inteligência daquela
menina.
— Não vou te abandonar em um lar para crianças.
— Falei decidido. Já havia passado por tal coisa e não
fora nada bonito. — Vou te levar comigo até
descobrir o que fazer com você.
— Mason, não é? — Olhei para ela rapidamente.
— O seu nome? Como devo chamar você?
— Mason, pode me chamar de Mason. —
Retruquei.
— O que você pretende fazer comigo? —
Perguntou ela.
— No momento, vou te dar um teto para dormir e
comida.
— E depois?
— Depois vou encontrar algum parente para
tomar conta de você. Eu passo o dia inteiro fora e não
tenho como ficar com você. — Meu maxilar ficou
rígido. Por Deus, eu adoraria mais um cigarro agora,
mas nunca fumava dentro do carro.
— Eu também não estou feliz com isso. — Disse
ela.
— Eu não sirvo para ser pai.
Ela apenas encarou a paisagem pela janela, e
ficamos em silêncio o resto do caminho.
Eu nunca tive um pai e uma mãe, como eu poderia
ser um pai? Eu iria arranjar um lar para aquela
menina, e iria seguir com a minha vida. Ela era boa
do jeito que estava.
Um
O que você faria se o personagem do livro que
você está lendo tomasse forma e surgisse em sua
porta?

Brooke
Caminhei pelo longo corredor da escola primária
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de South Loop , cumprimentando a todos com um
sorriso no rosto. Era mais uma semana que se
iniciava e uma nova aluna iria começar em nossa
turma. Programei atividades divertidas para aquele
dia, para fazer Emma Mayfield sentir-se bem-vinda.
Entrei na sala, e todos os alunos já estavam em
seus devidos lugares. Dei-lhes um bom dia animado e
organizei o meu material em cima da mesa antes de
começar mais um dia de aula. Quando peguei o giz
para começar as atividades, a diretora Schaefer bateu
na porta. Ao seu lado estava uma linda menininha de
cabelos encaracolados e olhos cor de avelã. Ela usava
uma camiseta amarrotada e calça jeans. Certamente
foi seu pai quem a vestiu.
— Bom dia, senhorita Valentine. Trouxe mais
uma aluna para a sua turma.
Levantei da minha mesa e fui receber a aluna.
— Seja bem-vinda, Emma. — Ela estava séria e
acuada. — Eu sou a senhorita Valentine, mas pode
me chamar de professora Brooke. — Virei para os
outros alunos e falei: — Por favor crianças, deem as
boas-vindas a Emma.
— Seja bem-vinda, Emma. — Todos falaram em
uníssono.
— Pode sentar-se ao lado da Julia, Emma. —
Indiquei o lugar e ela sentou-se.
E assim iniciei a aula.

******

Cinco dias depois...sábado.

— Não mãe. Eu não vou no casamento de


Kayleen. — Minha mãe insistia no telefone que eu
tirasse uma semana de licença para ir ao casamento
da minha prima. — Mãe, não vou deixar a escola na
mão. Já te disse que eles estão com as verbas baixas,
não há condições de eles colocarem uma substituta no
meu lugar.
— Você deveria arrumar um emprego em uma
escola melhor. Há tantas por aí que dariam mais
oportunidades para você.
— Mãe, eu já disse que amo aquela escola e as
pessoas nela. Sou feliz assim, não vou mudar para
outra escola só pelo dinheiro... imagine o quão infeliz
eu seria por trabalhar só pelo dinheiro?
— Você e seu pai sempre foram sonhadores, mas
não é isso que coloca comida na mesa.
Suspirei impaciente, minha mãe nunca iria
entender.
— Por falar nisso, como está o papai? — Ela
bufou.
— Está na garagem construindo outro telescópio.
Ele insiste que dessa vez irá encontrar algo.
Sorri. Meu pai foi professor de astronomia antes
de se aposentar, e já descobrira duas estrelas. Uma
delas ele batizou com meu nome e a outra com o
nome do meu irmão, Trent. Agora que estava
aposentado e apenas escrevia pequenos artigos
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quinzenais para o jornal local de Cedar Falls , e em
seu tempo livre construía telescópios, procurava por
vidas alienígenas, e pesquisava sobre teorias da
conspiração na internet.
— Diga a ele que irei visita-los em breve. —
Prometi.
— Quando?
— No quatro de julho.
— Ainda faltam três meses para o dia da
independência. Sua prima vai ficar desolada por você
não vir para o casamento dela. — Suspirei.
— Acredite mamãe, ela vai entender. — Levantei
do sofá. Estava com fome, iria fazer um macarrão ao
alho e óleo. — Vou mandar um presente com um
cartão para ela. Ai! — Me encolhi toda ao topar com
meu dedo mindinho na mesinha ao lado do sofá.
— O que houve? Alguém entrou aí? Devo ligar
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para o 911 ?
— Porr... — Engoli o palavrão. — Não, mãe. Só
bati com meu dedinho naquela mesa estúpida.
— Meu Deus, Brooke, você sempre faz isso.
Sempre que vem nos visitar está sempre cheia de
roxos. Que desastrada!
— Estou mais cuidadosa agora. mãe. — Falei
encarando o roxo na minha canela e massageando
meu dedinho.
— Sei.
— Mãe, agora preciso ir cozinhar, estou faminta.
— Vê se não vai colocar fogo na casa, hein. — Eu
ri.
— E quando foi que fiz isso?
— Quer mesmo que eu responda? — Perguntou
ela.
— Não. Te amo, mãe. Manda um beijão para o
papai.
— Te amo também, filha. Cuide-se.
Desliguei o celular e segui até a cozinha. Coloquei
a água no fogo e cortei o alho e os temperos. Além
deles, cortei meu dedo, mas já estava acostumada a
isso. Também quase me queimei com o vapor.
Coloquei o macarrão no fogo e fui até o quarto me
vestir, pois tinha recém-saído do banho quando
minha mãe ligou, então optei por usar minha velha
camisola dos ursinhos carinhosos.
Meu celular estava ficando sem bateria, peguei o
carregador na minha bolsa e o livro caiu... Aquele
livro que eu havia comprado na livraria caiu da minha
bolsa.
E sem resistir, comecei a lê-lo...

“Desta vez quando sua língua o acariciou, ele abriu


os lábios, e sua própria língua a encontrou hábil e
cálida. Uma volta lenta começou... e então ele estava
em sua boca, pressionando, procurando. Sentiu a
agitação sexual nele, o calor e a urgência que cresciam
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em seu grande corpo. ”

Escutei sons altos, batidas na porta, e um apito...


só então me dei conta da fumaça. Havia fumaça
entrando em meu quarto. Estava tão envolvida na
leitura e naquela cena em si que não notei que quase
havia colocado fogo na casa. Joguei o livro na cama e
sai correndo, triste por parar no meio de uma cena
que seria o ápice. Desliguei o fogo do fogão e notei
que a água da massa havia secado, que o macarrão
havia virado carvão, e ainda batiam na porta com
força. Eu ainda estava com o gigante Zsadist na
cabeça, mas comecei a tossir. Abri a porta e encontrei
o meu Zsadist... era como eu imaginava o
personagem do livro que estava lendo, com a pele
bronzeada, grande feito um armário, seus lábios eram
carnudos. Por um momento pensei que talvez eu
estivesse dentro de um sonho, mas tossi novamente, e
isso me fez ter certeza de que não estava sonhando.
— Oi...
— Espere no lado de fora que vou conter o fogo.
Ele praticamente me empurrou para o lado de
fora, sem qualquer vestígio de gentileza.
Eu não conseguia tirar os olhos dele. O bombeiro
abriu as janelas da minha casa para que a fumaça
fosse contida e jogou minha panela de macarrão no
lixo.
— Você está bem? — Ele perguntou-me.
— Sim.
— Agora me explique como diabos isso foi
acontecer? — Perguntou irritado, mudando de humor
de uma hora para outra.
— Eu... eu... estava lendo um livro e devo ter me
distraído.
— Você sabia que poderia ter se matado? Ou pior,
causado um incêndio no quarteirão inteiro e matado
mais pessoas? Quanta irresponsabilidade.
— Hey, eu não fiz por querer.
— Tenha mais cuidado da próxima vez, não é
apenas a sua vida que está em jogo. Nós nos
deslocamos até aqui sendo que poderíamos estar
salvando outras vidas.
— Acidentes acontecem, sabia? — Falei. Aquele
homem era lindo, e eu me senti totalmente atraída por
ele, mas nem por isso iria permitir ser tratada com
grosserias. — E você está apenas fazendo seu
trabalho, pago impostos para isso.
— Espero que seja mais cuidadosa a partir de
hoje. — Disse ele dando dois passos na minha
direção. — Eu poderia estar em casa, mas precisei vir
aqui atender essa emergência por causa da sua
irresponsabilidade.
— Repito, você só está fazendo seu trabalho. Não
deveria tratar as pessoas assim se o seu dia foi
terrível. — Falei.
— Seja mais responsável, moça.
Ele estava tão próximo de mim que eu podia sentir
o calor do seu corpo. Minha cabeça estava erguida
para encará-lo, e bastaria ele baixar o rosto para unir
nossos lábios.
Umedeci os lábios com a língua e sonhei por um
momento que o bombeiro grosseirão iria, de fato, me
pegar nos braços e beijar minha boca. Seu olhar
desceu para os meus lábios e notei uma pequena
faísca ali... ele pensou o mesmo que eu. Eu queria
tanto ser beijada e tomada por aquele homão, e ele
desejava o mesmo.
— Precisa de ajuda? — Um homem falou na
porta. O grandão, desconcertado, se afastou de mim.
— Não, Caleb. — Disse ele irritado.
— Percebi. Desculpe interromper. — O homem
bonito e mais jovem sorriu, e então girou nos
calcanhares.
— Ahn... — Eu não conseguia parar de olhar para
aquele homem, nem articular palavras ou frases
completas.
— Seja mais responsável. Espero que tenha
aprendido a lição. — Disse ele. Então, com um aceno
saiu.
Fiquei observando suas costas largas quando saia
de casa. Eu precisava olhar para ele, como precisava
de ar para respirar. Que homem.
Eu nem sabia seu nome, ele sequer tinha
educação. Mas meu corpo o desejava com todas as
forças. Aquele bombeiro se tornou a minha fantasia
mais secreta. Ele veio conter o incêndio, mas me
deixou em chamas. Eu adoraria vê-lo novamente.
Tranquei a porta e voltei para o meu quarto. O
livro estava jogado em cima da cama. Poderia não ver
aquele homem novamente, mas eu, sem dúvidas, o
veria em minha imaginação.
Peguei o livro e voltei a lê-lo, comendo um
salgadinho em cima da cama.
Dois
Ela está me deixando louco. Por que meu coração
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está acelerado?

Mason
Cara, aquilo era uma incrível bosta. Estávamos
recém no dia 14 do mês, e era o segundo incêndio
criminoso que atendíamos. Todos os dois vieram
acompanhados daquele laço vermelho irritante.
Todos em casas de pessoas ricas. Cara, eu sei que os
ricos são todos um bando de escrotos, mas esse
incendiário estava me deixando nos nervos. Não
bastava os meus problemas pessoais, agora esse
também. Juro que se pegasse o maldito, iria quebrar a
cara dele.
Acendi um cigarro e encarei o sol. Daqui a pouco
ele iria embora, e chegaria para iluminar a terra natal
de Minah. Aquela garota me surpreendeu bastante.
Quando a vi chegar no batalhão pensei que ela seria
apenas um peso entre nós, mas ela era muito útil e
habilidosa.
— Hey, Monstro... apaga esse câncer e vá falar
com Duke, ele está te chamando. — Falou Tyler.
— Não vem você me encher também. É só um
cigarro, porra. Se eu ficar com câncer, a culpa será só
minha e de mais ninguém. — Disse irritado.
— Hey, calma aí, amigão... Eu sempre chamei
essa coisa nojenta de câncer e você nunca falou nada.
Dei minha última tragada e apaguei a brasa com o
pé antes de jogar o resto de cigarro na lixeira.
— Eu sei, idiota; mas agora parece que todos
querem me encher por causa disso. —
Principalmente uma menininha geniosa que tinha os
meus olhos e o meu sorriso, e que no último mês
bagunçou minha vida e minha casa.
— Desculpa, cara, mas você deveria parar com
essa bosta. Um cara inteligente como você,
fumando... isso coloca sua inteligência à prova.
— Vá lavar as suas saias e me deixe em paz. —
Bufei e passei por ele para entrar no batalhão e
conversar com Duke.
— É kilt, idiota! — Gritou Tyler nas minhas
costas.
Bati na porta de Duke e logo entrei. Ele estava
sentado, imponente, diante da sua mesa; usava óculos
de leitura e estava com a testa franzida encarando um
papel. Duke era o único homem no batalhão que eu
temia e respeitava. Eu admirava-o como um filho que
admira seu pai. Ele, na verdade, foi a única figura
paterna que tive para me espelhar, então eu o
admirava como se ele fosse meu pai, mesmo eu tendo
trinta e um anos, sem ter idade para ser seu filho.
Pigarrei para chamar sua atenção e ele me encarou,
deixando os papéis largados na mesa.
— Mason. — Ele tirou os óculos. — Sente-se, por
favor. — Pediu ele. Fiz o que ele me pediu.
— Queria falar comigo. — Não foi uma pergunta,
mas ainda assim Duke assentiu.
— Na verdade, eu gostaria de saber como está
Emma e você.
— Chefe, eu...
— Não, nesse momento não sou seu chefe, sou
seu amigo... Então fale... — Suspirei.
— Tudo está bem, eu estou bem, Emma está bem
também... Sabe, é uma coisa temporária, e logo ela irá
embora, então...
— Por que ela precisa ir embora? — Ele sempre
me fazia aquela pergunta.
— Você sabe, Duke, não sirvo para ser pai. —
Passei a mão na cabeça e desejei outro cigarro. Deus,
desse jeito eu iria fumar dois maços por dia. — Eu
não consigo nem manter uma namorada perto de
mim. Sou um monstro, não é mesmo? Todos sabem
que sou intragável.
— Para de drama, Mason. Você sabe que ganhou
esse apelido só porque é grandão e mal-humorado. —
Disse Duke. — O verdadeiro monstro nessa história
toda é esse maldito incendiário. Monstro são
assassinos, estupradores... esses seres são chamados
de monstros, pois nem podemos considerar chamá-los
de pessoas.
— Duke, isso não vem ao caso. Estou procurando
parentes de Allison para tomar conta de Emma.
— Já se passou um mês e você ainda não
encontrou ninguém. Fique com sua filha, Mason... sei
que é difícil, mas você logo vai notar que não
consegue viver sem ela. — Duke encarou a fotografia
na parede e acompanhei seu olhar. Lá estava ele com
um sorriso orgulhoso ao lado de sua filha Camille.
— Eu não sou como você, Duke.
— Você é mais parecido comigo do que imagina.
Quando fiquei viúvo, quase surtei e...
— Duke. — O interrompi. — Eu preciso ir, tenho
de pegar Emma na escola, e meu horário de trabalho
já acabou mesmo.
— Tudo bem, pode ir.
— E Duke? — Falei, levantando-me.
— Sim.
— Não insista nesse assunto. Em breve vou
encontrar algum parente de Emma... ela merece
alguém melhor do que um fodido que nem eu como
pai. — Falei e virei-me para abrir a porta.
— Emma precisa do pai dela e de amor... isso é o
suficiente para ela. — Disse ele antes que eu deixasse
a sala.
— Eu não conheço essa palavra chamada amor.
Deixei a sala de Duke. Nem me despedi dos
imbecis, apenas peguei minhas coisas no armário e
saí de lá.
Entrei no carro e fiquei alguns minutos lá dentro
em silêncio. Minha mente sombria foi inundada por
pensamentos de um passado distante, que eu tentava a
cada dia me esquecer. Porra, eu tinha quatro anos!
Por que tinha que me lembrar de coisas que ninguém
lembra? Pergunte a qualquer um se eles têm
lembranças de quando tinha quatro anos de idade, e a
resposta sempre será um não. Ninguém se lembra.
Mas como minha mente era fodida, é claro que eu me
lembrava com perfeição.

Eu sentia saudades dela. Ela sempre me abraçava


forte e dizia o quão bonito eu era. Então, por que ela
se foi? Eu odiava aquele homem que a levou para
longe de mim, minha mana... sentia saudades da
minha mana...
Agora mamãe estava sempre agressiva comigo,
mais do que o normal de agressividade. Eu estava
com fome, meu estomago doía muito, mas fiquei em
silêncio, pois se eu pedisse comida para a mamãe,
ela pegaria o cinto de novo e eu não gostava daquele
cinto.
— Você se casou, não é mesmo? Deixou o seu
irmão para eu cuidar! Quem vai cuidar dele agora?
— Minha mãe gritava ao telefone. — Era sua
obrigação cuidar do seu irmão! Mas agora eu vou
dar ele, espero que você esteja satisfeita com o que
causou, Britanny. — Minha mãe ficou em silencio um
pouco mais e então voltou a gritar. — Eu vou dar ele,
espero que esteja satisfeita. — E então o telefone
voou longe, espatifando-se no chão ao meu lado, e
por pouco não me atingiu.
— Mason, você hoje vai para um novo lar. —
Minha mãe disse meio cambaleante ao sair do
quarto. — Eu tenho um novo namorado agora, e não
tenho tempo para cuidar de você. Se sua amada irmã
estivesse aqui, ela cuidaria de você... mas não, ela
nos abandonou para casar aquela desgraçada! É por
culpa dela que estou te mandando embora, é tudo
culpa dela.
Comecei a chorar, sentia falta da minha irmã. Ela
era a única que me dava carinho, a que me dava
banho e comida. Eu por vezes fantasiei que ela fosse
minha mãe, pois Brit era minha mãe de verdade, já
que ela cuidou de mim desde que nasci.
— Pare de chorar, seu idiota! Sua irmã não te
ama. Por isso ela te abandonou, por causa de um
homem.
Tocaram a campainha e minha mãe sorriu. Ela
ficava tão bonita quando sorria, porém, ela nunca
sorria para mim.
— Eles chegaram. — Satisfeita, ela foi até a porta
e recebeu um homem e uma mulher estranhos. — Ali
está ele, e aqui estão as bolsas. — Os dois olharam
na minha direção e então a mulher sorriu para mim,
calorosa.
— Você deve ser o Mason. Mason, agora você é o
meu filho. — Ela me pegou no colo, e ela era tão
cheirosa.
O homem entregou um envelope a minha mãe, que
sorriu ainda mais, e então eles me levaram embora.
Minha mãe sequer me olhou ou se despediu de mim.
E por mais que eu a odiasse, aquilo perfurou minha
alma e me marcou para o resto da vida.

Talvez essa fosse a razão de eu lembrar tão


claramente de algo que me aconteceu aos quatro anos
de idade, afinal foi um evento traumático. Lembrei-
me um mês atrás, quando Emma foi entregue em
minhas mãos. Sua mãe também nem olhou para trás
ou se despediu dela. Eu vi na força do olhar de Emma
a mesma dor que havia em mim.
Dei partida no carro e segui em direção a escola
da minha filha. A minha vida era uma bosta, e por
isso eu precisava encontrar e logo os parentes de
Emma, para que eles tomem conta dela e eu volte a
minha antiga e organizada vida.

— Como foi a escola? — Perguntei naquela noite


durante o jantar.
— Normal. — Emma deu de ombros e continuou
comendo o macarrão que eu havia preparado.
— Você tem dever de casa? — Perguntei.
Imaginava que fosse isso que os pais perguntavam.
— Isso importa? Eu logo vou embora mesmo. —
Disse ela, irritada; e então levantou-se da mesa e
correu para o quarto de hospedes, batendo a porta
com força.
Por que ela estava tão irritada? Ela mesma disse
que não estava nem um pouco contente com tudo
aquilo. Deus, eu estava tão frustrado que iria ficar
louco. Levantei da mesa, fui até o quarto e bati na
porta.
— Emma, venha terminar seu jantar. — Chamei.
— Não estou com fome.
— Emma, você precisa se alimentar para ficar
saudável. — Insisti.
— Eu disse que não estou com fome.
— Emma, não seja malcriada! — Falei
impaciente. — Abra essa porta e seja educada!
Ela abriu a porta e me encarou furiosa.
— Que diferença faz se sou educada ou não? Se a
escola está indo bem ou não? Se faço o dever de casa
ou não? Logo eu vou embora, então por que devo me
esforçar?
Os olhos de Emma estavam cheios de lágrimas e
eu não sabia o que fazer.
— Emma...eu... — Eu não sabia como lidar com
aquela situação. Ela parecia tanto comigo quando eu
era criança. Ela, assim como eu, havia amadurecido
rapidamente a duras penas.
— Eu vou dormir. Amanhã tenho que ir para a
escola. Boa noite. — Ela fechou a porta novamente e
o estrondo fez com que meu coração ficasse ainda
mais apertado.
Eu nem sabia que tinha um coração, mas ele
parecia bem vivo, já que havia palpitado nesse último
mês por duas mulheres diferentes... primeiro por
minha filha, e depois por aquela desconhecida e bela
mulher.
As duas perfeitas demais para alguém como eu.
Belas, inocentes e inalcançáveis.

Limpei a mesa e lavei as louças. Verifiquei meu


computador em busca de algum parente de Emma e
não encontrei nenhum. Ela precisava de um lar
decente e logo, de uma família que pudesse lhe dar
amor e carinho. Frustrado por mais uma vez minha
busca não ter levado em nada, fui me deitar. Amanhã
era um novo dia, e eu precisava ir trabalhar.
— Hey Mason, tem algo quente para você conter.
— Disse Trevor. Ele sorriu sugestivamente. — Agora
que descobrimos seu lado Tribbiani, vá...
— Do que está falando, idiota?
— Alerta de incêndio no mesmo local daquele dia.
… com aquela mulher... Vá...
— De novo? — Aquela doida iria se matar.
— Sim, vá...— Falou Trevor.
— Vá você. Por que tem que ser eu? — Vi todos
os idiotas ali de pernas para o ar.
— Ela é a sua garota. Vá, seu idiota. — Disse
Trevor.
— Sim, ela provavelmente causou esse incidente
para te ver. — Disse Caleb. — Vi a forma como
vocês se olhavam.
— Não vou para lugar nenhum. — Falei mal-
humorado.
— Você vai sim, é uma ordem. — Disse Duke da
porta.
— Duke, mas...
— Vá, Mason. Michael está esperando você. Ele
vai dirigir até lá.
— Oh, Mason, salve-me com sua mangueira. —
Disse Henry imitando uma voz fina.
— Oh, Mason, peguei fogo pensando em você. —
Zoou Tyler.
— Idiotas! — Bufei e sai antes que batesse em
alguém. Entrei no veículo com Michael, que acelerou
no mesmo instante.
— Eles estão pegando pesado com você, não é
mesmo? — Perguntou ele.
— Ah, cara, você não faz ideia. — Bufei.
— Eles só querem que você se de bem.
— Claro, namorando uma doida que vive
colocando fogo na casa.
— Que é linda pra caralho. — Falou ele.
— Você nem a conhece. Como sabe que é linda?
— Perguntei. um tanto possessivo.
— Caleb falou, e acredito no julgamento dele,
afinal ele está com a Karen. — Assenti. Quem diria
que aquele idiota conseguiria uma namorada tão boa.
Gostava de Karen, apesar de não conhecê-la tão bem.
— Chegamos.
Desci do carro ainda mal-humorado, e em
segundos estava diante da porta da casa daquela
mulher, doida e linda.
Bati na porta com força, e ela logo a abriu para
mim.
— Oi...
Deus, por que ela tinha que ser tão linda?
Invadi a casa dela em busca do foco do fogo, e
logo localizei algo que deveria ser uma lasanha, mas
que virou carvão. O forno estava aberto e as janelas
escancaradas.
— Eu vim, pois recebi um chamado de incêndio.
— Falei, encarando-a. — O que aconteceu desta vez?
— Eu me distraí lendo um livro e aconteceu...
— Aconteceu? — Perguntei, incrédulo. Ela
mordeu o lábio inferior e desejei beijar seus lábios
para saber se eram tão doces quanto eu imaginava.
— Ops. — Foi tudo o que saiu dos seus lábios.
— Ops? Você quase causou um incêndio grave e
diz apenas “ops”.
— Isso pode acontecer com qualquer um. —
Explicou ela.
— Estou começando a achar que os meus colegas
têm razão. — Disse dando um passo na direção dela.
— Razão sobre o que? — Perguntou.
— Que você anda causando incêndios só para que
eu venha apagá-los.
Ela engasgou com a saliva e começou a tossir.
— Que coisa ridícula de se dizer. — Disse ela.
Eu só queria mergulhar meus dedos naqueles
cabelos dourados, puxá-la para mim, colar meu corpo
no seu e beijar sua boca cor de cereja com vontade.
— Será mesmo? — Perguntei. — Ou é isso, ou
você é realmente estúpida por deixar que algo queime
em seu fogão duas vezes na mesma semana.
— Eu...— Ela esbarrou em um balde que estava
no chão e teria caído se eu não tivesse a segurado
pela cintura. Puxei seu corpo contra o meu. Ela era
realmente tão macia quanto eu imaginava, tinha o
aroma da primavera e um olhar que pedia que eu a
beijasse. Então foi exatamente o que eu fiz.
Cobri sua boca com a minha. O beijo começou
suave, leve, e logo foi tornando-se mais selvagem.
Mergulhei minha língua dentro de sua boca macia, e
ela acariciou minha língua com a sua... foi o paraíso.
Ela era como água fresca em um dia de verão, como
sorvete num dia de praia, como uma brisa em um dia
quente... Deus, ela era deliciosa, macia e doce. Mordi
seu lábio e a soltei bruscamente antes que eu perdesse
o controle.
— Eu espero não ter que voltar aqui novamente,
moça. Se você fizer o alarme soar novamente, vou
fazer muito mais do que apenas beijá-la. — Alertei-a
e vi o brilho em seu olhar. — Vou devorar você
todinha e depois irei embora sem olhar para trás, pois
não sou como os homens dos livros que você tanto se
distrai lendo. Sou um monstro, e se você soar esse
maldito alarme novamente, vou comer você e ir
embora, pois sou esse tipo de homem. Cuide-se e
fique longe de mim, você é doce demais para alguém
amargo como eu.
Sai da residência dela. Eu sequer sabia seu nome,
e era bom assim. Eu estava excitado, e tudo o que eu
desejei quando a beijei foi estar dentro dela e
esquecer minha vida fodida.
— Vamos embora logo! — Falei para Michael
assim que entrei no carro.
— E então, como foi? — Perguntou Michael.
— Não foi nada. Vamos embora, porra!
Eu estava de saco cheio, porque de repente minha
vida tão tranquila estava uma verdadeira bagunça. Eu
só queria voltar a ficar sozinho como sempre fui...
Quando não se tem pessoas em sua vida, não há
decepções, expectativas ou abandonos. Eu só queria
voltar a ficar só em minha casa, eu estava bem assim.
Três
Você é linda, minha deusa, mas você está fechada,
sim, sim. Eu vou bater, então, você me deixará
6
entrar? Irei te dar uma emoção escondida

Brooke
Sentei no chão. Eu não tinha força nas pernas, e
por Deus, quem teria força nas pernas depois
daquilo? Meus lábios estavam em chamas. Aliás,
dizer que meus lábios estavam em chamas era um
verdadeiro eufemismo, pois meu corpo inteiro estava
em chamas... eu estava pegando fogo. Na verdade, eu
estava prestes a me transformar em cinzas.
—...se você fazer o alarme soar novamente vou
fazer muito mais do que apenas beija-la.
Ofeguei com a lembrança de sua ameaça. Mordi
meu lábio, e seu gosto estava ali ainda, tinha gosto de
bala de menta e sua pele tinha um leve aroma de
cigarro de canela. Sua pele era tão quente que eu
pude sentir seu calor através de seu uniforme de
bombeiro. E ele era forte, e Deus, grande como um
armário. Ele era tão grande... Deus, como ele era
grande.
Escutei batidas leves na minha porta. Ele teria
voltado? Logo essa pontinha de esperança se foi, ele
não bateria na porta com tanta delicadeza... ele era o
tipo de homem que colocaria a porta abaixo,
arrancaria as minhas roupas e me devoraria ali
mesmo no chão da cozinha. A cena veio na minha
cabeça completa e desejei que isso de fato
acontecesse, quando comecei a viajar em minha
própria ilusão novamente as batidas na porta ficaram
insistentes.
— Já estou indo. — Gritei, me levantei do chão.
Minhas pernas ainda estavam tremulas e meus lábios
formigavam de desejo. Eu queria mais.
Abri a porta e dei de cara com Martha, minha
vizinha enxerida.
— Oh, minha menina, você está bem? — A
senhorinha de cinquenta e poucos anos passou por
mim como um jato e olhou apavorada para a minha
cozinha. — Você precisa ter mais cuidado com essas
coisas, poderia ter morrido.
— Senhora Martha, foi a senhora quem chamou
os bombeiros? — Aquela baixinha me encarou com
um brilho nos olhos, o que a fez rejuvenescer uns dez
anos.
— Sim, só cumpri o meu dever cívico.
Suspirei e sorri.
— Senhora Martha, já havia lhe dito da outra vez
que as vezes eu posso queimar a comida e deixar meu
alarme de incêndio soar... isso me desperta, eu venho
até o fogão, desligo o fogo, e pronto tudo volta ao
normal de novo. — Apontei para ela o aparelho
branco e arredondado no preso ao meu teto. — É para
isso que servem os alarmes de incêndio, para nos
alertarem, e assim nós podermos conter a fumaça.
— Algo mais sério poderia acontecer, então
chamei eles. — Disse ela.
— Mas se a senhora os chamar toda a vez que eu
queimar a comida, eles não vão ficar contentes. —
Expliquei. — Eles têm trabalhos mais sérios para
fazer.
— Bobagem, o trabalho deles é virem quando são
chamados. — Ela suspirou como uma adolescente. —
Foi assim que conheci meu Willie, meu falecido
marido. Ele trabalhava para o 17° batalhão e veio
resgatar meu gatinho que estava em cima de uma
árvore alta... nos apaixonamos e nos casamos em
menos de um mês. — Ela suspirou novamente.
— Eu sei que sua história de vida é linda, senhora
Martha, mas por favor, não chame mais os bombeiros
por bobagens.
Mas que diabos eu estava fazendo? Se ele voltasse
na minha casa iria acabar comigo, e era uma das
coisas que eu mais desejava em meu íntimo. Queria
ter longas horas prazerosas ao lado de um homem
quente como ele, afinal depois nós nunca mais nos
veríamos mesmo. Por que eu estava pedindo para a
senhora Martha não ligar mais para os bombeiros?
Qual era o meu problema?
— Se eu ver fumaça e escutar seu alarme eu irei
chamar sim, assim posso admirá-los de longe, filha; e
isso conforta meu coração.
Ah sim, foi exatamente por isso que eu disse a ela
sobre não chamar mais, pois eu sabia que ela não me
daria ouvidos de qualquer jeito.
— Bem, não posso controlar suas ações, admito
senhora Martha. — Respondi. — Prometo tentar não
queimar mais nada.
— Certo. Cuide-se, menina. — Ela seguiu até a
porta.
— Senhora Martha, quando quiser, pode vir
conversar comigo, tudo bem?
— Uma velha viúva e uma solteirona... — Disse a
senhora Martha. — Vou lhe apresentar meu neto,
Malcolm. Você precisa de um namorado, para assim
esquecer um pouco esses livros. — Disse ela
apontando para a minha entulhada estante de livros.
— Está certo, senhora Martha.
Ela saiu e girou nos calcanhares para me dar um
aviso.
— E não esqueça, se eu ver fumaça novamente ou
o alarme de incêndio soar, vou chamar os homens do
fogo. — Assenti e fechei a porta.
Suas palavras ecoando na minha cabeça.
No dia seguinte estava incentivando a turma a
levar um livro da biblioteca para a casa para na
semana seguinte falaram o que mais gostaram no
livro. Isso lhes daria uma boa nota na média e os
incentivaria a ter amor pela leitura.
— Lembrem-se, quem tem um livro como amigo,
nunca está sozinho. — Todos assentiram e guardaram
na mochila o livro.
Eu estava observando Emma. Ela estava distraída
de novo, preocupada com algo. Ela parecia tão
solitária e perdida, que foi de partir o coração vê-la
guardando o livro na mochila sem entusiasmo algum.
Teríamos uma reunião de pais e mestres dali uma
semana e iria falar com seus pais. Ela precisava de
atenção extra em casa, pois não parecia bem. Quando
liberei a turma, chamei Emma antes que ela saísse.
— Emma, diga aos seus pais que é muito
importante que eles venham a reunião, certo?
— Eu não moro com meus pais, só com meu pai.
— Disse ela cabisbaixa.
— Certo, sem problemas. Diga ao seu pai para vir
pois é importante.
— Não sei se ele vai ligar para isso. — Disse ela,
dando de ombros. — Mas vou dizer.
Emma deixou a sala antes que eu pudesse falar
qualquer coisa. Ela era diferente dos meus outros
alunos, como se ela fosse mais madura que os outros,
e eu acreditava que esse amadurecimento veio devido
a muito sofrimento na vida. Eu só esperava estar
enganada quanto a isso.
Senti um estalo e sai correndo da sala. Vi quando
Emma entrou no carro de um homem alto e grande e
o chamei.
— Você, pai da Emma, eu...
— Não sou o pai da Emma. — Disse ele e sorriu
para mim. Ele era bem alto, mais alto que os homens
normais, e tinha cabelos pretos na altura dos ombros.
— E quem é você? — Perguntei desconfiada, já
que Emma havia entrado em seu carro.
— Sou amigo do pai dela. Meu nome é Daniel; e
você é?
— Sou Brooke, professora da Emma. —
Trocamos um aperto de mãos. — Eu gostaria de
ressaltar a importância da reunião da semana que
vem, o pai dela precisa vir.
— Certo, vou avisar ao Mason que ele precisa vir.
— Por favor, diga para ele não faltar. — Insisti.
— Certo... bem, agora preciso levar essa pequena
para a minha casa e voltar para o trabalho. —
Segurei-o pelo braço antes que ele saísse.
— Desculpe, mas porque o pai dela não vem
busca-la?
— Ele está atendendo uma emergência e é longe.
Como minha esposa toma conta de Emma até o pai
dela sair do trabalho, vim buscá-la hoje.
— Tudo bem. — Assenti. — Não esqueça de
falar...
— Da reunião. Eu sei, pode deixar.
Ele entrou no carro e saiu com Emma.
A minha parte eu havia feito, voltei para dentro da
escola e me preparei para a minha próxima aula.

Era loucura, mas eu precisava fazer isso. Faria


bem para a minha alma, faria bem para o meu corpo,
e minha pele, sem dúvidas, iria brilhar no dia
seguinte. E então depois de um bom banho, coloquei
um vestido justinho da época da faculdade e liguei os
incensos. Cinco deles e aproximei-os do alarme.
Por favor, senhora Martha, cumpra com a sua
palavra desta vez. Por favor ligue para os bombeiros.
Por favor.
O alarme de incêndio começou a soar tão alto que
chegou a doer meus ouvidos. Espiei para a casa da
frente e fiquei tão feliz com a cena que vi que quase
pulei de alegria.
A senhora Martha olhava em direção a minha casa
e estava com o telefone colado ao ouvido. Ela estava
chamando os bombeiros. E eu fiquei ansiosa e
quente.
Em poucos minutos uma batida violenta soou na
minha porta. Era ele, eu senti na minha pele que era
ele do outro lado da porta. Abri a porta e o encarei
com fogo nos olhos. Aquele uniforme de bombeiro
certamente tinha sido feito sob medida... eu duvidava
e muito que houvesse outro homem do tamanho dele
no batalhão.
Ele entrou na minha casa. Seu olhar percorreu
meu corpo inteiro e senti as chamas me consumirem.
Ele sacou um celular do bolso e discou um número,
sem tirar os olhos de mim.
— Michael, pode ir sem mim... tenho algo para
resolver. — Ele então desligou o aparelho e me
pegou pela cintura. Dei um grito de surpresa. Suas
mãos eram tão grandes e firmes. Ele me colocou em
cima sentada sobre a ilha da cozinha. — Eu avisei a
você o que te aconteceria se eu fosse chamado aqui
novamente. — Disse ele, mantendo seus lábios a
centímetros dos meus. Suas mãos se moveram e
pararam nos meus joelhos.
— Eu sei. — Falei ofegante.
— E ainda assim você não tomou cuidado. —
Disse ele, seus olhos escureceram e suas mãos
começaram a subir pelas minhas coxas.
— Desde a sua ameaça, eu só tenho pensado nas
várias formas de causar um incêndio.
Ele me encarou entre a surpresa e o desejo nu e
cru.
— Ou você é muito tola, ou muito maluca.
— Me identifico mais com o maluca.
— Você não quer se envolver com alguém como
eu.
Seus dedos chegaram a minha calcinha e ele
esfregou o polegar contra o tecido úmido.
— Eu só quero um momento de prazer louco e
impulsivo.
— E é só isso que você vai ter. — Garantiu ele, e
me esfreguei contra seus dedos.
— Então me beija logo de uma vez.
E foi o que ele fez. Seus lábios carnudos e macios
tomaram os meus e sua língua mergulhou em minha
boca. Com um puxão ele rasgou minha calcinha e
esfregou os dedos em meu centro de prazer. Seus
dedos eram longos, grossos e ásperos; sua barba
mesmo rala estava arranhando a minha pele, e aquilo
estava me deixando louca.
Ele arrancou a jaqueta amarela e a jogou no chão
da cozinha. Nós nos livramos dos suspensórios, e
arranquei sua regata branca por cima da sua cabeça.
Ele era absurdamente grande, bronzeado e forte.
Agarrei suas costas e senti com a ponta dos dedos
duas grandes cicatrizes. Por um minuto meu coração
ficou tocado, tentado a perguntar o que havia
acontecido com aquele homem.
Toda a concentração caiu por terra quando ele
moveu com um ritmo frenético o seu dedo em meu
clitóris, fazendo-me ver estrelas ali mesmo na minha
cozinha. Gozei feito louca, e os espasmos não
abandonaram meu corpo, já que ele continuava a me
tocar, não deixando meu corpo acalmar-se.
Com um só braço ele me ergueu e me levou para o
meu quarto, ainda com seus dedos mergulhados
dentro de mim.
Ele arrancou meu vestido e fiquei completamente
nua e a sua mercê, jogada na cama. Ele arrancou as
calças e chutou seus coturnos para algum lugar que
não tinha importância, pois minha atenção toda se
voltou para aquele membro, longo, grosso e duro
entre as suas pernas. Ele realmente era muito grande,
tanto que fiquei com água na boca. Ele deve ter
notado minha surpresa no olhar pois deu uma risada.
— Arrependida de ter acionado o alarme? —
Questionou ele.
— Eu seria maluca se estivesse arrependida. —
Respondi, ousada.
— Que bom, pois eu não iria parar mesmo que
você estivesse arrependida. — Alertou ele, e então
veio para cima de mim. O bombeiro colocou meu
mamilo dentro da boca e o sugou com vontade. Gemi
alto. — Você me provocou, então teria que aguentar
as consequências.
— Sei que você pararia se eu pedisse. — Falei
sem folego.
— Eu não pararia, eu sou o cara mau aqui... achei
que já tivesse deixado isso claro.
Antes que eu pudesse responder, ele colocou o
outro mamilo na boca e o sugou com vontade. Seus
dedos voltaram a trabalhar entre as minhas pernas, e
ele me fez gozar novamente sem trabalho algum.
— Você goza de um jeito tão belo. — Ele disse.
— Eu quero ver isso de novo. — Aquele
desconhecido mergulhou sua boca entre as minhas
pernas e passou a língua nos cantos mais delicados do
meu corpo. Sua barba roçou nas minhas coxas. e ele
continuou me lambendo como um gato faminto; Suas
mãos, que estavam contra meu traseiro apertavam
minha carne para que ele não perdesse nada de mim.
Aquela cena, aquele homenzarrão de joelhos diante
da minha cama com os lábios em mim me levou a
outro orgasmo, onde ele deliciou-se com gosto com
meu sumo que escorria.
Escutei o som de uma embalagem sendo aberta e
logo ele estava posicionado entre as minhas pernas.
Senti sua ponta inchada na minha entrada e me
contraí de desejo. Eu precisava dele dentro de mim,
por inteiro.
Puxei seu traseiro com as mãos e o fiz entrar
quase que todo dentro de mim. Eu me senti dolorida,
uma dor gostosa e maravilhosa. Tê-lo por inteiro
dentro de mim era delicioso demais. Ele grunhiu,
estava tão excitado quanto eu, tão maluco quanto eu,
e começou a mover-se dentro de mim. Minhas unhas
o seguravam firme no traseiro, para que ele
continuasse a me penetrar com força e velocidade.
Eu não queria ser tratada como uma princesinha,
eu queria que ele fosse selvagem, que me pegasse
com força. Deus, como eu fantasiei com isso.
— Vire de quatro.
Obedeci, pois teria que ser um cubo de gelo para
não obedecer aquela ordem tentadora.
Ele puxou meus cabelos e investiu dentro de mim
com força, mas sem me machucar. O bombeiro
segurou em meu traseiro com as duas mãos, me
mantendo firme no lugar. Eu atingi o orgasmo de
novo e de novo. Aquele grandão me fez ter orgasmos
múltiplos, coisa que eu nunca havia tido, e sempre
acreditei ser lenda... Uma lenda inventada por
mulheres que não tinham o que fazer.
Então eu o senti vibrar dentro de mim. Ele rugiu
como um leão e ficou um tempo em silêncio em
seguida. Aquele foi o melhor sexo da minha vida...
uma pena que seria apenas uma vez. Eu não iria vê-lo
novamente, pois era uma romântica que acabaria
confundindo as coisas. Eu iria me apaixonar por ele, e
com certeza teria meu coração partido em mil
pedaços em seguida.
Ele saiu de dentro de mim, e eu me joguei na
cama suspirando satisfeita. Não era hora para pensar
em romances e corações partidos, era hora apenas de
aproveitar o torpor que os orgasmos me causaram.
Ele começou a se vestir, então vi suas cicatrizes nas
costas e me perguntei o que aconteceu com ele.
Não é da sua conta, Brooke; disse a voz da minha
consciência.
— Você foi espetacular. — Disse ele, colocando a
camiseta regata. — Mas espero realmente que não
cause mais problemas. Você é linda, parece uma boa
pessoa... Arrume um homem bom e deixe o que
aconteceu hoje ser apenas um momento de loucura
que um dia você vai contar para as suas amigas e rir
disso.
— Eu sei, nada de expectativas. Eu sei. — Falei.
— Não cause mais incêndios, é sério.
— O que acontece se eu causar mais algum
incêndio? — Perguntei descarada.
— Vou mandar um dos meus colegas vir. Eu não
colocarei mais os pés aqui. Acredite, é melhor assim.
— Não vou mais causar incêndios. Obrigada por
me dar um momento inesquecível de loucura.
— Às ordens, moça.
— Meu nome é...
— Não precisamos trocar nomes, nunca mais
vamos nos ver de qualquer forma. — Disse ele.
— Nunca mais. — Ele se aproximou de mim na
cama e beijou meus lábios.
— Acredite, é melhor assim. — Ele se afastou. —
Adeus, moça dos incêndios.
— Adeus.
E então ele se foi. Eu estava eufórica pela loucura
que fiz, e satisfeita demais.
O problema comigo era que eu sempre queria
mais, eu sempre desejava mais. Lá no fundo me senti
um tanto vazia quando aquele desconhecido se foi.
Eu sequer sabia seu nome, e se um dia eu chamasse
os bombeiros novamente, ele não voltaria. Eu tinha
que me conformar que nunca mais iriamos nos ver.
Quatro
Em algum momento eu comecei a olhar mais para o
chão do que para o céu. É difícil até mesmo
respirar. Eu estendo a minha mão, mas ninguém
segura. Eu sou um perdedor solitário; um covarde
que finge ser durão. Um solitário, um otário
7
coberto de cicatrizes...

Mason
Eu me escondi no guarda roupa. Talvez se ele não
me encontrasse facilmente, desistisse de me procurar.
Escutei seus passos no quarto, e minhas mãos
pequenas demais tremiam e suavam. Meu coração
estava acelerado. Eu queria gritar por socorro, mas
fazia tempo que já que eu havia me conformado que
gritar não adiantaria.
— Eu sei que você está aqui, pirralho. Você está
no guarda roupa, não é mesmo? — Disse ele. Sua voz
estava falhando e sua língua um tanto enrolada
devido as duas garrafas de vodca que eu havia visto
vazias na pia da cozinha.
Cobri minha boca com a mão para evitar que ele
ouvisse qualquer som. Tremi, abraçando as minhas
pernas; até que a porta do guarda-roupa foi aberta
com violência.
— Ah, você está ai mesmo! Já disse que não deve
se esconder do papai. — Ele me arrancou de dentro
do guarda-roupa e me jogou no chão de madeira.
Meu ombro doeu e meu cotovelo ralou, mas fiquei
quieto. Lágrimas silenciosas rolavam do meu rosto.
Quando ele ergueu a mão para me bater, fechei
os olhos e lembrei do sorriso de minha irmã... eu
estava quase me esquecendo dela... Mas no momento
aquilo era a única coisa que me fazia aguentar.

— Hey, está na hora de me levar para a escola! —


Abri os olhos assustado. Meu corpo inteiro estava
suado e meu coração estava acelerado. — Está
doente? — Senti uma mão me tocando e o toque
queimou minha pele. Desviei de sua mão, que parecia
me machucar.— Saia de perto de mim! — Só
quando vi quem me tocava que notei a besteira que
eu havia feito. Emma me encarava com mágoa no
olhar. — Eu, Emma...
Ela saiu correndo do meu quarto, e amaldiçoei a
mim mesmo e aos malditos pesadelos que não me
abandonavam.
Sem saber o que fazer e sem ter jeito com
qualquer situação, fui direto para o chuveiro para tirar
o suor do corpo. Depois de fazer minha higiene
matinal e me aprontar para o trabalho, fui para a
cozinha preparar nosso café da manhã. Emma
encarava a televisão rígida e com os olhos vermelhos.
Merda, eu era um merda de pai mesmo. Quem
pensou que eu poderia criar um filho? Me machucava
demais ver Emma daquela forma. Eu só esperava
encontrar logo algum familiar que pudesse lhe dar o
amor e o carinho que eu não possuía em mim.
— Emma, venha tomar seu café da manhã. —
Chamei.
— Não estou com fome. — Disse ela, carrancuda.
— Emma, por favor, venha tomar seu café. —
Pedi. — O café da manhã é a refeição mais
importante do dia.
— Tsc-tsc. — Emma deu de ombros.
Suspirei e fui até a sala.
— Emma, desculpe se te chateei de alguma forma.
Eu estava tendo um pesadelo, e por isso gritei com
você. — Expliquei, pois essa era a única forma de
faze-la comer. — Agora, por favor, venha tomar seu
café da manhã... não quero que você adoeça.
Ela me encarou; na verdade me fuzilou com os
olhos. Fiquei me perguntando o que eu havia feito
errado agora.
— Sim, se eu ficar doente serei um incomodo
maior aqui.
Ela foi até a cozinha e sentou-se na pequena mesa
para quatro pessoas.
Ela estava comendo seu cereal e suas frutas.
Suspirei aliviado; não iria conseguir trabalhar direito
naquele dia se Emma fosse para a escola sem se
alimentar direito. Havia pesquisado na internet
quando ele foi para a minha casa o que ela precisaria
para crescer saudável, e todos os dias me preocupava
de faze-la comer os alimentos que lhe
proporcionavam aquelas vitaminas.

Depois de deixar Emma na escola fui para o


trabalho. Ela ainda estava chateada comigo, como em
todos os dias, eu me sentia uma porcaria, mas não
sabia o que fazer... não sabia como agir para que ela
se sentisse melhor.
— Hey, Fera, como está? — Cumprimentou-me
Caleb.
— Esse apelido de novo não. — Queixei-me. —
Não estou nada bem, principalmente depois de ver
essa sua cara feia. — Falei carrancudo.
Eles me apelidaram de Fera desde meu encontro
com aquela bela mulher cinco dias atrás.
— O que podemos fazer? Não tem como chamar
você de monstro... não depois que você encontrou a
sua Bella. — Falou Caleb.
— Por que você não cuida da sua vida e da sua
mulher? — Retruquei irritado. — Ah, ela não é sua
mulher ainda, não é? Vocês apenas namoram.
— Oh, agora você pegou pesado, Mason. — Disse
Trevor.
— O fato de você ficar tão irritado com esse
assunto a ponto de se voltar contra mim só mostra o
quanto você ficou abalado. — Disse Caleb, que sorriu
como um garotinho que havia acabado de cometer
uma travessura. Quis bater nele e tirar aquele sorriso
da cara dele.
— Isso não é verdade. — Respondi.
Não totalmente verdade, mas eu nunca admitira
para aqueles imbecis que desde aquele dia não
conseguia tirá-la da minha mente. Pensava nela nas
horas aleatórias dos meus dias, na textura da sua pele,
no sabor dela, no seu aroma, seus gritos e gemidos. E
como ela me encarava como se quisesse ler minha
alma.
Eu já tinha problemas demais, já era fodido
demais para me envolver com uma mulher que
certamente sonhava com o príncipe encantado. Ou
talvez, como os homens me apelidaram de fera, ela
talvez pensasse que depois de um tempo essa fera
viraria um belo príncipe.
Bem, esse era o mundo real, e no mundo real,
quando um homem é um monstro, ele continua sendo
um monstro para todo o sempre. As pessoas não
mudam. Não seria um sentimento supérfluo chamado
amor que iria me fazer mudar.

O dia foi tranquilo. Atendemos algumas pequenas


ocorrências nas redondezas, e houve outro incêndio
do laço vermelho, porém ele foi atendido por outro
batalhão. A polícia não queria tornar o caso público
até ter mais pistas, porém com os repórteres na cola
deles, o caso já estava nas capas dos principais
jornais e era notícia em todo o país.
Todos nós cooperávamos sempre com os policiais.
Nosso maior desejo era que esse incendiário fosse
capturado o quanto antes. Pessoas estavam morrendo
e isso era um pesadelo.
Voltei para a casa naquele dia e Emma mal falou
comigo, apenas me entregou um bilhete. Era um
lembrete de que eu deveria comparecer à reunião de
pais e mestres no dia seguinte.

Senhor responsável da Emma.


Vim através deste bilhete lembrar ao senhor da
8
reunião de pais e mestres amanhã 04/23 , às
7:00 P.m.
Eu tenho muito o que conversar em particular
com o senhor após a reunião, então espero que
compreenda a importância de sua presença. É sua
filha afinal de contas..
Professora Brooke Valentine
Foi impressão minha ou essa professora estava me
repreendendo através de um bilhete? Ela até mesmo
sublinhou a palavra importância. Ela estava me
criticando... não sabia da missa a metade, e estava me
criticando. Quando Daniel havia me dito que a
professora de Emma foi até ele para lhe dar uma
bronca por pensar que ele era o pai dela eu não dei
tanta importância, mas aquele bilhete com aquela
reprimenda explicita me irritou e muito.
Eu iria até aquela reunião de pais e mestres, e
queria ver a tal professorinha me repreender.
O dia seguinte foi terrível, tive mais pesadelos e
acordei atrasado. Levei Emma para a escola, e ela
continuava chateada comigo por algo que nem sei
que fiz. No batalhão os idiotas continuavam e me
zoar, e isso me fazia apenas lembrar daquela mulher
linda que nunca seria minha. Uma senhorinha nos
chamou três vezes naquele dia para resgatar seu gato
de cima do telhado, e Duke disse que eu deveria ir, já
que iria sair mais cedo por causa da maldita reunião
de pais e mestres.
Foi um dia de cão, e eu estava pronto para xingar
e muito aquela professorinha metida a besta. Emma
ficou na casa de Daniel e sua esposa para que eu
pudesse ir a reunião, e logo cheguei na escola.
Segui para a sala em que os outros pais seguiam.
Todos me encaravam com desconfiança, mas eu
estava acostumado a isso; um homem do meu
tamanho, usando jeans gastos, camiseta preta e com a
minha expressão supersimpática fazia com que todos
me temessem.
Sentei em uma das cadeiras no fundão da sala,
mas a cadeira era pequena demais para mim. Os
outros pais entraram, e logo a sala ficou quase cheia,
e os únicos lugares que ficaram desocupados foram
as duas cadeiras do meu lado. O lado bom de se
parecer com um monstro era esse, as pessoas me
deixavam em paz.
Uma senhora entrou na sala e se apresentou; disse
que era a diretora Schaefer e que a reunião iria
começar em cinco minutos.
Cinco minutos depois a diretora levantou-se e
anunciou.
— Bem, como todos já devem conhecer a
professora da turma dos filhos de vocês, senhorita
Brooke Valentine. — Encarei a porta, pronto para
encarar aquela velha que ficou me repreendendo, mas
fiquei sem fala no mesmo instante.
Era ela. Aquela que não saia da minha cabeça,
aquela que tinha o sabor do mais doce mel. Aquela
que era perigosa demais para mim.
Cinco
Eu preciso de você, garota. Por que eu me
apaixono e digo adeus sozinho? Eu preciso de
você, garota; por que eu preciso de você mesmo
9
sabendo que vou me machucar?

Brooke
Aquelas mãos grandes e bronzeadas contra meu
corpo, a aspereza de seus dedos me deixando louca,
sua boca em mim, me devorando por completo...
— Senhorita Valentine! — Ergui meu olhar do
livro didático que eu estava encarando sem ler e me
deparei com o olhar inquisidor da diretora Schaefer.
— Desculpe, a senhora falou comigo?
Senti as bochechas ficarem quentes, como se eu
tivesse sido pega fazendo algo muito errado.
— Faz cinco minutos que estou chamando pela
senhorita, mas a senhorita estava tão distraída que
sequer se moveu.
— Desculpe. — Falei apenas.
— Você está passando por algum problema,
professora? Posso fazer algo para ajudar.
Oh Deus, somente um certo homem poderia me
ajudar com o meu problema... mas eu sequer sabia
seu nome e não era tão ousada a ponto de chamar os
bombeiros na minha casa de novo, só para perguntar
aos seus colegas quem era ele.
— Estou bem, foi só uma distração mesmo. —
Respondi.
— Sabe que se precisar, estou aqui. Sou mais que
apenas sua chefe, sou também sua amiga. — Sorri
para aquela senhora incrível.
Diane Schaefer era uma mulher incrível. Ela era
durona com todos, mas uma manteiga derretida
quando algo de ruim acontecia com os seus. Ela tinha
cinquenta e três anos e era uma verdadeira rocha.
Quando entrei na escola anos atrás eu a temia, mas
hoje a adoro e respeito muito.
— Obrigada. — Sorri. — Agora, o que a senhora
queria falar comigo.
— Então, é sobre a Emma. A orientadora da
escola veio me procurar na minha sala esta manhã.
Ao que parece, Emma está tendo dificuldades de se
adaptar na escola... ela passa o recreio sozinha e não
fez amigos.
— Bridget conversou com ela? — Bridget Smith
era nossa orientadora e psicóloga da escola.
— Sim. E ela disse que não havia motivos para
fazer amizades inúteis, já que iria embora em seguida.
— Embora? Por que ela iria embora?
A diretora deu de ombros.
— Ela não quis responder.
— Vou redigir um bilhete hoje enfatizando a
importância do pai da Emma vir. Como pode ele
nunca ter vindo na escola... veio apenas para a
matricula e não veio mais.
— Ele falou com o Ronald, o vice-diretor, e por
isso não o conheço ainda; e quando ele vem trazer a
Emma apenas a deixa de carro na frente da escola
nem desce para acompanha-la até a sala. Ele é bem
desinteressado ao que me parece. Sei que a senhorita
é um doce de pessoa, Brooke, mas espero que dê uma
bronca nele por ser tão negligente.
— Ele apenas larga a Emma na entrada e vai
embora? — Eu estava muito irritada com esse pai
desnaturado.
— Dizem que ele fica parado apenas o tempo o
suficiente de vê-la entrar no prédio da escola.
— Ah, menos mal. Para ele pelo menos ter esse
cuidado não deve ser um pai tão ruim, só precisa se
dar conta de algumas coisas.
— Só mesmo a senhorita para ver o lado bom no
pai de Emma. A senhorita é um anjo.
Corei ao lembrar das loucuras que fiz com um
certo bombeiro.
— Não sou um anjo, senhora Schaefer. — Ela
segurou em minha mão por cima da mesa e sorriu
para mim.
— A senhorita é sim. — Ela levantou-se e logo
transformou-se novamente em minha chefe. — Não
se esqueça de mencionar na pauta da reunião sobre o
passeio escolar no dia 26 de junho até a fábrica de
fogos de artifício. Sei que estamos em maio, mas já é
bom manter os pais de sobreaviso.
— Qual será a fábrica? — Perguntei, já pegando o
bloco de anotações.
10
— Magic Fireworks .
— Certo. E será apenas com nossa escola esse
ano?
11
— Não a escola primária de Streeterville . — A
diretora torceu o nariz e eu fiz uma careta.
— A escola particular. — Lamentei.
As crianças não tinham culpa, é claro. Seus pais as
ensinavam a serem assim. Todas as vezes em que
nossa escola ia a um passeio que incluía uma escola
particular, aqueles meninos e meninas com uniformes
impecáveis acabavam fazendo bullying contra nossos
alunos com suas roupas comuns. Isso era uma
chateação e tanto, e eu esperava que esse ano os meus
não fossem tão afetados por isso. Esperava que
ficassem encantados com a fábrica de fogos de
artifício, afinal pelo que vi em meu calendário, o
passeio seria uma semana antes do 4 de julho.
Depois de organizar minha pauta para a reunião e
a aula de hoje, fui até os meus baixinhos e comecei a
ensiná-los.
— Lembrem-se de alertarem seus pais mais uma
vez sobre a reunião amanhã. — Falei.
Todos assentiram e começaram a deixar a sala
conforme o sinal tocou.
— Emma, espere só um minuto. — Pedi. Todos
deixaram a sala e ela se aproximou da minha mesa
com a cabeça baixa.
— Fiz algo errado, professora? — Perguntou ela,
e notei como ela não parava de balançar a perna.
— Nada errado, Emma. Só queria pedir a você
que entregue isso ao seu pai. — Entreguei a ela o
bilhete e ela me encarou com os olhos assustados. —
Não se preocupe, Emma; é apenas para lembrá-lo da
reunião amanhã.
— Eu não fiz nada errado mesmo?
— Mesmo, mesmo. — Garanti. — Você é uma
menina ótima. — Seus olhos brilharam.
— Eu gosto muito da senhorita, professora. —
Disse ela espontaneamente.
— E por que você quer ir embora da escola? —
Perguntei com cuidado.
— Eu não quero ir embora, eu preciso ir embora.
— Disse ela e sua expressão mudou totalmente. —
Até segunda-feira, professora.
E então Emma saiu correndo da sala deixando-me
ali cheia de pensamentos desconexos. Então era isso,
só podia ser isso. O pai dela iria deixar a cidade, e por
isso Emma estava chateada, porque os dois iriam se
mudar. Eu precisava mesmo me encontrar com esse
pai... a menina recém tinha entrado na escola e estava
fazendo um esforço enorme para não ficar para trás.
Fui até a secretaria antes de almoçar e peguei a
ficha de Emma.
Ela veio de uma escola de Gary, Indiana. Estava
não fazia um mês em nossa escola. e agora seu pai
queria mudar-se novamente, ele iria transformar a
vida de Emma em uma verdadeira bagunça. Crianças
precisam de rotina e constância. Eu precisava dar um
verdadeiro sermão nesse pai.

Naquela noite quando cheguei em casa estava


estressada demais. Senti meus músculos doloridos, e
tudo o que eu mais queria naquele momento era mais
uma dose de sexo intenso com aquele bombeiro que
atormentava meus sonhos. Não parava de pensar em
como o pai de Emma era irresponsável. Se ao menos
eu tivesse o número do meu bombeiro, poderíamos
ter ao menos mais uma noite para relaxar um nos
braços do outro, e assim eu iria esquecer o assunto
que me incomodava.

Passei o dia seguinte inteiro programando as aulas


e corrigindo trabalhos. Depois do trabalho concluído,
12
voltei a ler meu livro, Lover Revealed . Eu estava
ficando louca, esses guerreiros vampiros enormes e
poderosos, que só me faziam imaginar que cada um
deles era o meu bombeiro. E eu continuava chamando
ele de meu. Culpa desses livros... mas eu não
conseguia parar de lê-los.
Quando dei por mim, já era quase hora da reunião.
Coloquei um vestido de algodão estilo envelope,
preto com pequenos pontinhos em branco, que era
bem leve e ia até os joelhos, bem apropriado para
uma reunião de pais e mestres. Meu cabelo estava
bonito naquele dia; também há dois dias sem lavar,
ele só podia estar lindo. Eu nunca entendi porque o
cabelo ficava mais bonito quando ficávamos alguns
dias sem lavar. Passei um lápis de olho apenas para
destacar e um batom rosa claro, e peguei meu velho
sedan vermelho e dirigi até a escola.
— Professora Brooke, eu vou até a sua sala me
apresentar aos pais e falar as pautas da reunião.
Depois seguirei para as outras salas das outras turmas
como de costume.
Assenti, para a diretora.
— Estarei lá em cinco minutos. — Falei pegando
minha prancheta, três canetas extras, meu bloco de
anotações, meu celular, os trabalhos das crianças e
minha garrafinha de água mineral.
Segui pelo corredor bem iluminado cumprimentei
o senhor Noah Carter, o zelador, no caminho para a
minha sala. Eu estava milagrosamente conseguindo
carregar todas aquelas coisas sem derrubar e fiquei
orgulhosa comigo mesma. É só focar no que está
carregando, Brooke, pensei comigo mesma.
Entrei na sala e me posicionei ao lado da diretora,
e então me preparei para dar boa noite a todos quando
perdi a fala.
O que ele estava fazendo ali?
Eu estava alucinando de novo?
Bela hora para alucinar, Brooke
Pisquei algumas vezes para que aquela miragem
desaparecesse, sempre funcionou nas vezes que o
imaginei na minha frente. Então por que não estava
funcionando agora? Ele balançou a cabeça me
encarando. Espera aí. Minhas miragens não se
mexiam, aquela era a primeira vez. Ele estava ali
mesmo.
A garrafa de água escapou das minhas mãos, os
trabalhos dos alunos caíram no chão, e quando me
ergui para tentar segurá-los, o meu celular quicou em
cima da mesa. Fechei os olhos por alguns segundos
temendo que outra tela fosse quebrada, eu era a
campeã de quebrar telas de celulares. Depois de pagar
esse mico astronômico, consegui colocar tudo em
cima da mesa e encarei a todos, tentando evitar o
olhar daquele homem, ou então eu iria ficar maluca.
— Boa noite a todos. Para quem não me conhece
sou Brooke Valentine, professora dos filhos de vocês.
— Todos deram boa noite em uníssono como se
fossem meus alunos, com exceção do bombeiro.
Nervosa por conta disso, quando fui me sentar,
esbarrei na mesa e derrubei as minhas canetas.
— Senhorita Valentine, a senhorita consegue
conduzir a reunião ou devo me preocupar? —
Cochichou no meu ouvido a senhora Schaefer.
— Pode deixar que eu estou bem.
O olhar daquele homem era penetrante demais, e
ele parecia estar divertindo-se com a situação em que
eu me encontrava ao mesmo tempo que lá no fundo
havia uma faísca de irritação.
Peguei a garrafa de água e bebi quase todo o seu
conteúdo enquanto a diretora se despedia dos pais. De
repente ficou tão calor dentro daquela sala.
— O ar condicionado está com defeito? —
Perguntei a senhora Schaefer antes que ela saísse da
sala.
— De jeito nenhum. — Ela me encarou franzindo
a testa e fechando mais seu casaco. Eu estava sem
casaco, mas estava pegando fogo.
E então ela deixou a sala. Encarei todos aqueles
pais que me olhavam com expectativa, enquanto
outros encaravam o celular. Era notável que estavam
doidos para saírem correndo dali como gatos
encurralados; com exceção dele, que parecia
imponente como um verdadeiro leão, pronto para
devorar sua presa. Umedeci os lábios com a língua e
ele seguiu o movimento, aquela chama apareceu de
novo.
Deus, eu precisava parar de encará-lo.
— Bem, vamos dar início a reunião. Por ser um
sábado creio que estão todos ansiosos para voltar para
a casa. — Todos assentiram. Levantei com a pauta na
mão; se eu encarasse a pauta talvez conseguisse me
concentrar. E com isso esbarrei na mesa mais uma
vez, e dessa vez doeu demais. Engoli o palavrão,
forcei um sorriso e comecei a falar.
Quando encarava aquele homem, eu gaguejava.
Eu estava a ponto de sair correndo dali, e minha
calcinha estava úmida apenas por encará-lo. A
lembrança de sua boca e suas mãos em mim me
tiravam o foco, e com muito esforço e trabalho,
finalmente dei a reunião por encerrada.
Todos foram embora e levaram os trabalhos de
seus filhos. Ele era o pai de Emma, o pai que eu
queria dar bronca... mas como lembrar de tudo o que
eu queria falar para ele se eu não conseguia nem me
lembrar que dia era hoje?
— Professora Brooke Valentine, queria falar
comigo em particular, não é mesmo? — A voz dele
tão profunda e máscula que senti as pernas bambas.
— Na-não é necessário... podemos fazer isso um
outro dia. — Falei sem encará-lo, ainda organizando
as coisas na minha mesa.
Ouvi o som da porta sendo fechada. Ele foi
embora. Então eu poderia finalmente respirar
aliviada. Suspirei e me virei para a porta, mas ele
ainda estava lá. Na verdade ele havia trancado a porta
da sala e estava a centímetros de mim.
— O que devo fazer? Eu não tenho como ficar
vindo aqui sempre. — Ele deu dois passos na minha
direção e agora eu podia sentir seu hálito contra meu
rosto. — E quero a minha reunião particular com
você, Brooke.
— Se-se-Senhor eu...
— Mason, meu nome é Mason. — E por Deus eu
sabia disso. Caramba, aquele nome combinava
perfeitamente com ele.
Só percebi que eu estava me afastando dele
quando esbarrei na minha mesa.
— Eu sei...
— Então me chame como tal, acho que já somos
íntimos o suficiente, não é mesmo? — Ele colou seu
corpo ao meu, e senti seu membro rijo contra meu
umbigo. Mason passou a língua em meus lábios e
arfei, surpresa.
— Você é o pai da minha aluna, e esse é o meu
local de trabalho.
Ele sorriu, um sorriso perverso.
— Você invadiu meu trabalho de certa forma. —
Ele segurou minha cintura com as duas mãos e me
colocou sentada na mesa. Ele suspirou. — Sinto de
longe seu cheiro. — E então ele ergueu meu vestido e
mergulhou dois dedos dentro da minha calcinha de
algodão. — Molhadinha? Por que, professora
Valentine? — Arfei.
— Esse é o meu local de trabalho. — Repeti.
— Então me peça para parar. — Desafiou-me.
Mas não consegui. Eu estava tão perto de gozar
que não consegui pedir para que ele parasse. Ele
moveu os dedos dentro de mim até que eu gozasse, e
calou meu grito com seus lábios, chupando minha
língua, mordendo meus lábios. Em seguida, ele
colocou seus dedos na boca e grunhiu.
— Você é tão doce quanto eu me lembrava. —
Falou com a voz rouca. — Não acredito em
coincidências. Primeiro eu pensei que você já
soubesse que eu era o pai da Emma, e por isso armou
todo esse teatro; mas então quando vi o quão surpresa
você ficou ao me ver pensei: ninguém sabe fingir tão
bem, não é mesmo?
— E-eu...não sabia. — Assim como não sabia
como ele podia estar tão calmo depois do momento
quente que tivemos ali.
— Então me conte, o que queria falar comigo
sobre a Emma?
— Desculpe, não sou capaz de articular palavras
agora. — Ele me observou dos pés à cabeça, e seu
olhar me fez ficar ainda mais quente.
— Então vamos marcar outra reunião particular.
Posso ir até a sua casa.
— Sim. Não. Digo...não deveríamos fazer isso na
escola?
— Não quero que você perca seu emprego. —
Disse ele. — Se me encontrar com você novamente
posso não conseguir me controlar. — Ele pegou
minha mão e colocou contra a braguilha de suas
calças... ele estava tão duro. Instintivamente o apertei,
e ele grunhiu novamente. — Você é um pequeno
demônio... como podem chamar você de anjo?
Franzi a testa sem entendê-lo.
— Os outros pais a chamaram de anjo. —
Explicou-se. — Só se for o próprio Lúcifer. — Disse
ele. — Bem, vou na sua casa quarta-feira da semana
que vem e teremos nossa reunião.
— Não acho que isso seja uma boa ideia. — Falei.
— E não é... Na verdade, é uma péssima ideia.
Com um aceno com a cabeça e pegando o trabalho
de Emma em cima da mesa ele se foi, me deixando
zonza em cima da mesa. Ele me levou ao ápice
rapidamente, e em cima da minha mesa de trabalho.
Eu estava ficando louca, só podia ser isso. Eu queria
mais, muito mais, e sabia que ficaria os próximos dias
ansiando por quarta-feira.
Seis
Em todo lugar o ar é sombrio e frio. Estou preso
nesta dor de separação; estou prestes a sufocar,
dói tanto que eu perdi a minha força...O único
13
remédio é o seu sorriso...

Mason
Quatro dias haviam se passado. Quatro dias e eu
não conseguia tirar aquela mulher da minha cabeça.
Eu estava ficando louco, pois nesses quatro dias que
se passaram tentei organizar meus pensamentos. Eu
me questionava a todo o tempo, afinal, sempre fui um
cara controlado com as minhas fodas anteriores, por
que eu perdia a cabeça sempre que a via? Eu disse
que não poderia me envolver, principalmente agora
que descobri que ela era professora de Emma tudo se
complicava para mais além. Eu iria enlouquecer, era
fato.
Emma tomava seu café da manhã em silêncio.
Fiquei observando-a; eu era uma droga de um pai que
não sabia como começar um assunto. Eu detestava
essa minha falha, essa minha falta de jeito de começar
uma conversa sem ser grosseiro.
— Meu rosto está sujo? — Perguntou Emma,
tocando em sua face e me encarando.
— Não, está limpo. — Respondi.
— Eu fiz algo errado? — Perguntou ela.
— Não, nada... — Ela me encarou preocupada. Eu
estava encarando a menina... o que eu poderia dizer?
— Eu só queria te fazer uma pergunta.
— Tá. — Disse ela e ficou esperando que eu
perguntasse.
— A sua professora, ela é boa? — Emma me
encarou surpresa.
— Uhum. — Respondeu ela apenas.
Eu queria saber mais e mais, não apenas esse
simples comentário.
— E ela é boa com você?
— Sim. — Emma continuou comendo seu cereal,
mas com uma expressão estranha.
— Por que você ficou assim? Desde que eu
perguntei pela professora.
— É que...— Ela brincou com o cereal um pouco
antes de me encarar. — Você nunca perguntou.
Deus, hoje era quarta-feira, e eu só queria saber
mais e mais. Eu senti o comentário de Emma dentro
do peito... eu só estava pensando em mim mesmo,
querendo saber mais daquela mulher, e estava me
tornando a mãe cretina de Emma. Como eu posso
nunca ter perguntado sobre a professora para ela?
— Desculpe. — Falei.
— Tá tudo bem.
— Eu vou perguntar mais coisas a partir de hoje.
— Prometi.
— Você vai parar de buscar pessoas para me
levarem? — Perguntou ela.
— Bem...eu....
— Hum... — Emma ficou me observando por
alguns segundos antes de sair da mesa e ir escovar os
dentes. Logo ela estava de volta com a mochila nas
costas e pronta para ir.
Eu era um verdadeiro fracasso mesmo, não pude
nem responder a Emma.
— Não esqueça seu lanche. — Entreguei a ela a
lancheira na qual eu preparei sanduíches, suco de
laranja natural e coloquei uma maçã.
Dizem que comer uma maçã por dia evita muitas
doenças. Indiferente, Emma pegou a lancheira e
seguiu para a porta.
Eu não sabia como me aproximar dela. Na
verdade, eu não sabia se queria de fato me aproximar
dela... em breve ela iria embora e eu voltaria a ficar
sozinho.

Esse pensamento de deixá-la ir embora me


incomodou de forma estranha, como uma pressão no
diafragma, e que eu não sabia explicar a razão. Por
alguns segundos parei diante da porta tentando
respirar, e olhar para dentro do meu apartamento me
causou mais dor ainda. Em cima do sofá preto tinha
um par de meias cor de rosa jogadas, na mesinha de
canto tinham livros infantis que Emma pegava na
biblioteca da escola. Imaginar tudo isso
desaparecendo e meu apartamento voltando a ser tão
organizado e limpo quanto um centro cirúrgico me
causou uma tristeza enorme. Mas o que eu poderia
fazer? Eu poderia ser um pai? Eu poderia ficar com
Emma?

Aqueles pensamentos me atormentaram e me


seguiram pelo resto do dia. A minha consciência
estava me matando. Estaria eu me igualando a minha
mãe? Estaria eu me igualando a mãe da Emma? Eu
poderia ser seu pai? Eu achava que eu seria um
verdadeiro fracasso. Tem homens que nasceram para
serem pai, e observando meus colegas do batalhão, eu
soube que eu era o tipo de homem que nunca poderia
ser um pai.
Caleb seria um pai carinhoso e dedicado, Daniel
seria um pai responsável, Michael seria um pai que
estaria sempre lá para o que der e vier, Henry seria
um pai brincalhão, Trevor um pai amigo dos filhos,
Minah uma mãe maravilhosa, James vindo de uma
família gigante seria o pai amado, o pai ideal; Duke
eu não preciso nem fazer comentários, era um paizão
para todos nós e um grande homem para a sua filha;
Tyler aquele que ama aquelas saias teria muitas
histórias a contar aos filhos sobre sua vida na
Escócia. Até mesmo Andrew seria um bom pai, um
leão defendendo sua cria. Vi Kevin num canto escuro
lendo em seu Kindle... até mesmo aquele cara
fechado seria um bom pai, pois iria ensinar a
importância dos livros aos filhos.
Eu era apenas um cara que se criou em um
inferno, cresceu e criou uma casca de proteção, e só
queria ficar sozinho em sua caverna para não mostrar
sua vida podre para o resto do mundo. Quem se
envolvesse comigo acabaria se sujando de lama, e se
eu deixasse alguém entrar, a dor que iria sair de mim
afetaria esta pessoa, e ninguém mais precisava sofrer
além de mim.
— Nossa, que cara mal-humorada é essa? Trouxe
um café preto e sem açúcar pois sei que é o seu
favorito. Vamos conversar um pouco. — A irritante
Jasmine estava parada na minha frente com um copo
da Starbucks, sorrindo como uma pré-adolescente e
usando um vestido tão colorido que machucou meus
olhos.
— Isso não vai me fazer mudar de ideia. —
Peguei o café. Ela vinha ao menos duas vezes na
semana no batalhão tentar convencer a mim de tirar
as tais fotos infames para o calendário do corpo de
bombeiros.
— Você sabe que se não mudar de ideia virei aqui
incomodar você mais vezes, não é mesmo? —
Encarei ela com uma expressão que pensei que fosse
assustá-la, mas ela apenas sorriu. — Meu amor, eu já
viajei esse mundão a fora, vi as criaturas mais
assustadoras e as mais belas... não será essa sua
expressão que vai me assustar.
— Você vai cansar. — Dei de ombros e bebi mais
do café. Estava do jeito que eu gosto, forte e sem
açúcar.
— Acho mais fácil você se cansar do que ela,
Mason. — Alertou-me Caleb. — Essa daí não desiste
nunca.
— Quando quero muito uma coisa, não desisto
mesmo; e quero muito você meu mês de janeiro.
Revirei os olhos diante de seu sorriso e segui para
o lado de fora. Aquele café ficaria ainda melhor
acompanhado de um cigarro, e assim talvez eu
conseguisse acalmar os meus pensamentos sobre pais
e filhos.
— Eu realmente não vou desistir. — Disse ela
depois que eu já estava do lado de fora e dei minha
primeira tragada.
— Você me seguiu até aqui. — Comentei sem
acreditar. — Um cara não pode nem fumar
sossegado.
— Pode fumar, não vou interromper você.
— Você sabia que é mais fácil um fumante
passivo ficar com câncer do que um fumante ativo.
— Eu não inalo fumaça com frequência, então
está tudo bem, não precisa se preocupar comigo. —
Disse ela satisfeita.
— Não estou preocupado. — Falei, inalando a
fumaça e virando para o lado em que ela estava para
que a fumaça fosse na cara dela. Queria que ela
sumisse dali. — Só estou dizendo isso para me livrar
de você.
— Você não vai conseguir se livrar de mim. —
Suspirei cansado.
— Olha, tenho coisas demais na cabeça nesse
momento, e não quero descontar em você; então me
deixe em paz, por favor. — Ela me observou com
atenção.
— Tudo bem, desculpe, mas voltarei daqui dois
dias. — Garantiu ela. — E sobre esse assunto que
você está se atormentando... — Eu a encarei, e ela me
olhou como se compreendesse tudo. — ...ela só quer
ser amada.
Cerrei os punhos. O que ela sabia da minha vida
para falar assim? Eu estava realmente ficando irritado
com todos se metendo na minha vida. Eles não
sabiam pelo que eu tinha passado, eles não sabiam
que a Emma não gostava de mim, que ela queria
partir... Ou não queria? Eu estava tão confuso.
— Você pode, por favor, cuidar da sua vida! —
Falei irritado.
— Mason, não grite com ela. — Um Trevor muito
irritado se colocou na minha frente e me encarou com
uma fúria sem igual.
— Então cuide da sua garota para que ela me
deixe em paz. — Apaguei o cigarro com a sola do
sapato e o joguei numa lixeira próxima junto com o
copo de café.
Todos estavam opinando em minha vida
ultimamente, e eu detestava pessoas metidas. Se
Trevor estava caidinho por aquela garota, por que não
admitia logo? Ficava ali em cima do muro e ela nem
sequer percebia o que o cara sentia. Que idiotas,
pensei.
O alarme soou, e agradeci aos céus por isso.
Ocupar minha mente e meu corpo era o essencial
agora.

Era uma casa pequena comparada as outras casas


daquela rua, branca e com as portas e janelas com
detalhes em preto. Era uma casa comum, poderia ser
chamada de casinha de boneca já que era tão
pequena. Mas não me interessava o gramado verde na
frente, e menos ainda a arquitetura da casa... o que
me interessava era a mulher que estava lá dentro. Ela
iria acalmar meus demônios que me atormentaram
durante todo o dia; iria me perder em seus braços e
então... Não sei.
Toquei a campainha, e em pouco tempo ela
apareceu diante da porta. Ela vestia uma camisa
branca, e calças jeans, e estava linda e irresistível.
— Entre. — Ela disse e se afastou da porta para
que eu passasse. Seu perfume preencheu minhas
narinas e fiquei excitado; era incrível o poder que ela
tinha sobre mim. Nunca havia ficado tão louco por
uma mulher antes como estava com ela.
— Que bom que veio. Vamos falar sobre a Emma.
— Disse ela cruzando os braços no peito. Notei que
ela estava rígida apesar de estar com as bochechas
coradas.
— Claro.
Encarei os lábios dela e tentei manter a
concentração. Estávamos falando da Emma, afinal.
— Vi que negligenciei meu trabalho como
professora e não falei o necessário na reunião; e
ontem aconteceu algo peculiar que só me fez sentir
mais culpada por me deixar levar.
— O que aconteceu? — Perguntei, preocupado.
— Pedi que os alunos expressassem seus
sentimentos através de desenhos. Normalmente eu
recebo sempre arco-íris, sóis, estrelas e carrinhos ou
bonecas de brinquedo. Mas Emma me entregou isso.
— Ela foi até uma pasta em cima da mesa e pegou
um desenho e me entregou. Meu desejo e qualquer
pensamento por sexo caiu por terra quando vi aquele
desenho.
Nele haviam vários corações sorridentes e
vermelhos no lado direito, e quem olhasse apenas
aquele lado do desenho acharia que era algo comum.
Porém do lado direito tinha um coração com manchas
em preto, cheio de rachaduras e lágrimas nos olhos,
completamente sozinho, abandonado.
— Eu pensei em encaminhar Emma para a nossa
conselheira mais uma vez, mas antes gostaria de
conversar com você.
— Como assim mais uma vez? — Perguntei. —
Ela já esteve lá antes?
— Sim, Emma fica sozinha durante o recreio e
não fez amizade com ninguém, e por isso ela foi
conversar com nossa conselheira. A frase exata que
Emma disse para ela foi: Irei logo embora então não
preciso fazer amigos.
— Droga! — Cerrei os punhos ao lado do corpo.
— Sempre achei Emma excepcional pelo fato de
ela ser tão inteligente e articulada. Claro, ela está
sempre lendo um livro; mas ainda assim, ela é
madura demais para a idade, é como se ela não
soubesse ser criança, sendo que tem apenas seis anos
de idade. Ela parece ter preocupações demais, não
tem segurança, e por isso age quase como um adulto.
— É porque eu sou um merda de pai. — Falei
frustrado.
— Me conte o que está acontecendo? Quero
ajudar Emma a se ajustar.
Encarei aquele coração desenhado meio torto, o
lápis preto deixando-o manchado, as rachaduras ao
redor e as lágrimas e senti meus olhos arderem.
Encarei a professora Brooke e levantei.
— O que está acontecendo é que a mãe da Emma
apareceu há dois meses e disse que Emma era minha
filha e a abandonou diante de mim. Ela foi embora
sem nem olhar para trás ou deixar um número de
contato. Eu sou fodido e não posso ser pai... eu não
sei como agir com Emma, eu não sei ser uma pessoa
normal, e por isso estou procurando parentes para que
ela fique em um lugar que a amem... mas ver esse
desenho está me matando.
— Mason... — Ela disse meu nome e desabei de
joelhos diante dela. — Mason, você ama a Emma... é
notável pela forma como você está diante de mim
agora.
— Eu não sou capaz de amar ninguém, eu nem sei
o que é o amor. — Falei sentindo uma dor sem igual
dentro do peito.
— Você e Emma só precisam se conhecer mais,
conversar mais.... Vocês se amam, eu sei que sim.
— Por favor, me ajude. — Me agarrei na cintura
dela e chorei. Fazia anos desde a última vez em que
chorei, e nunca havia chorado na frente de ninguém
antes, mas aquela mulher, aquela mulher era diferente
de todo mundo. Era como se eu voltasse a ser um
menininho.
Ela acariciou minha cabeça e disse com sua voz
doce que tudo ficaria bem, que ela me ajudaria a ser
alguém melhor, e por alguns minutos me deixei crer
nessa doce ilusão de que eu seria um ser humano
decente um dia.
Sete
Desde a criação do universo, tudo foi destinado.
Apenas deixe-me te amar (deixe-me te amar, deixe-
14
me te amar)

Brooke
De todas as reações do mundo, chorar diante de
mim e pedir ajuda era a última da lista. Na verdade,
essa alternativa nunca havia passado pela minha
mente. Quando estava determinada a tratar do assunto
de Emma com seu pai, listei as diversas reações que
ele poderia ter. Número um: gritar comigo e dizer que
cuidava bem da sua filha. Número dois: levar aquilo a
sério e dizer que conversaria com ela. Número três:
ficar furioso e deixar Emma de castigo por lhe causar
esse incomodo. Número quatro: ignorar as minhas
palavras e me arrastar para a cama.
Em todas elas eu ainda me sentiria atraída por ele,
ou ao menos meu corpo sentiria a atração, pois isso
era algo que eu não conseguia controlar; mas ele ter
se ajoelhado diante de mim, chorado e pedido para
que eu o ajudasse... Aquilo foi a gota d’água. Mason,
aquele homenzarrão fez com que meu coração
balançasse de uma forma que eu soube lá no fundo
que jamais seria a mesma.
— Está tudo bem, eu vou ajudar você. —
Acalmei-o e acariciei sua cabeça conforme ele
umedecia minha camisa branca com suas lágrimas.
Eu nunca, em toda a minha vida havia visto um
homem chorar. Claro que em livros, filmes e séries
eles choravam e muito. Na vida real, porém, a
história era outra... eles sempre mantinham aquela
pose de machões que nunca derramariam uma
lágrima sequer; esquecendo-se que um dia foram
menininhos cheios de medos e que choravam muito.
Mason parecia um menininho nesse momento. Ele
tinha tanta dor em suas lágrimas que eu queria salvá-
lo daquela escuridão.
— Shhh... tudo vai dar certo... You are not alone, I
am here with you, Though we’re far apart, You’re
15
Always in my heart, you are not alone... — Mason
começou a acalmar-se conforme eu cantava. Aos
poucos senti seus músculos relaxarem e o abraço
ficar mais leve.
Ele ficou um tempo ainda envolvido em mim. Eu
cantei aquela bela melodia enquanto me movia
lentamente, como se estivesse ninando um bebê.
Lembro-me que meu pai cantava essa música para
mim quando eu tinha algum pesadelo na infância ou
temia que houvesse algum monstro no meu armário.
— Desculpe. — Mason afastou-se de mim e
levantou. — Eu não queria que...
— Por favor, não faça isso. — Pedi.
— Isso o que? — Perguntou ele, adotando aquela
pose de machão de novo.
— Fingir que está tudo bem, que você é um
machão que não fraqueja nunca, me afastar, colocar
uma barreira... enfim... depois de hoje e tudo mais...
— Não quero que você se envolva nisso. — Eu o
encarei sem acreditar.
— Você não pode estar falando sério!
Ele cruzou os braços no peito, e fiz o mesmo,
encarando-o.
— Acho que devo ir embora.
— Não, você não pode estar falando sério. —
Apontei o dedo na cara dele, mesmo sempre tendo
achado esse gesto falta de educação. — Depois de
tudo o que aconteceu aqui hoje, você não vai voltar a
agir assim comigo.
— Já pedi desculpas, Brooke.
— Você pediu minha ajuda com Emma, e é o que
pretendo fazer.
— Não acho mesmo que seja assunto seu.
— Pode não ter sido assunto meu, mas agora é...
— Eu não sei o que você pode fazer para me
ajudar. Vai me ajudar a buscar os parentes da Emma?
— Deus, que homem teimoso! Sinto vontade de
bater na sua cabeça com um dos meus volumes de
16
Guerra e Paz para ver que algo entra aí dentro.
— Vou embora. — Bufei.
— Em primeiro lugar, senta aí. — Eu o empurrei
contra uma poltrona e ele obedeceu. — Em segundo
lugar escuta aqui... — Ele ficou me encarando tão
profundamente que por um momento quase perdi a
linha de raciocínio. — Você vai parar de procurar os
parentes da Emma. — Ele ia falar algo, mas o
silenciei com a ponta dos dedos; o que quase foi um
erro, pis esse homem era injustamente irresistível. —
Olhe dentro do seu coração. Você consegue mesmo
ver sua vida sem Emma?
Ele ficou em silêncio antes de responder.
— Não importa como eu me sinto, e sim o que é o
melhor para Emma. Ela não quer ficar comigo, e eu
não sou um bom pai.
— Imbecil. — Falei mais para mim do que para
ele.
— Como é? — Revirei os olhos.
— Eu vou contrariar todas as minhas regras como
educadora, e vou convidar você e a Emma para virem
almoçar aqui no sábado. — Ele me encarou confuso.
— E qual o objetivo disso?
— Vou te provar que Emma quer ficar com você e
sobre você ser um péssimo pai... — Suspirei. — O
cara que prepara os lanches da Emma, deu um lar
para ela quando poderia a ter colocado num lar de
adoções... Você não é um péssimo pai, acredite. —
Falei encarando-o. — Tem muitos homens por aí que
se estivessem na sua situação iriam levar a Emma
para um lar de adoções. Você não precisaria ter esse
problema em sua vida; mas não, você está cuidando
dela... apesar de ser um pouco lerdo e tapado para
notar que ela precisa do seu amor, e de você e de
mais ninguém. Você é um bom pai.
— Eu não sei se você está me insultando ou
elogiando. — Disse ele, sorrindo, e retribui seu
sorriso.
— Um pouco dos dois.
Ele pensou um pouco, e vi que estava
provavelmente pesando as minhas palavras.
— Eu vou pensar em tudo o que você disse e vou
vir aqui no sábado com Emma... assim te direi o que
decidi.
— Eu espero que você tome a decisão certa. Levar
Emma para longe não é a resposta.
— Eu não sei, não sou bom com as pessoas, não
sei o que é o amor... sou oco por dentro, e por isso
não me aproximo de ninguém. Emma ficar perto de
mim só irá fazê-la sofrer. — Ele levantou-se e veio na
minha direção, dei alguns passos para trás até
encostar na parede. — E você também não deve
tentar se aproximar... eu sou um monstro e nada de
bom virá disso.
— Você não percebe que já estamos próximos o
suficiente. Mason, há muito tempo que deixei de ser
uma garotinha que tem medo de monstros... sou uma
mulher crescida agora.
— Eu sei bem que você é uma mulher.
Ele abriu um botão da minha camisa branca, e
outro e mais outro.
Plantou ali um beijo no alto dos meus seios, e em
seguida beijou meus lábios de leve antes de afastar-
se.
— Você deve ficar bem longe de mim, para o seu
próprio bem. — E então Mason deixou a minha casa,
batendo a porta atrás de si, deixando-me com o
coração acelerado, o corpo em chamas, e um latejar
torturante entre as minhas pernas.

Incendiário
Assoviei a melodia conforme ia preparando os
laços. Reservei um deles para um alguém especial. M
era a etiqueta que estava no laço. Era uma pena eu ter
que eliminá-lo, mas ele pediu por isso. Negligencia.
Ignorar. Fingir que algo não está ali quando está.
Ele era um péssimo pai para aquela menina,
deixando-a sempre com uma expressão triste de
abandono. Em seu olhar via algo tão parecido comigo
quando eu era criança, sua dor era a minha dor. E eu
iria eliminar aquele que causou tal dor.
Fiz mais um laço, porém tive de joga-lo fora,
estava torto e imperfeito. Aquilo de ter duas pontas
desiguais me incomodava. Minhas mãos tremeram, e
cortei o laço em pedaços antes de jogá-lo no lixo. A
família Cunninghan era o meu próximo alvo, dali sete
dias.
Eles haviam enviado a filha para um colégio
interno fazia um mês, mesmo a menina protestando,
chorando e implorando para não ir. Eles queriam
ignorar. Eles eram negligentes, e com isso eles iriam
ser eliminados. Imaginar seus corpos queimando
enquanto eles gritam de dor me deixou excitado.
Gritos de desespero. A carne queimando. O último
suspiro angustiado. Talvez o pai mije nas calças. Ou a
mãe. Por um momento eles irão se perguntar o
porquê de isso estar lhes acontecendo. Implorarão a
uma entidade invisível por suas vidas; e por fim, o
último grito de dor agonizante. Sorri ao imaginar a
cena. O laço estava pronto. Impecável.
Meu celular tocou, era James.
— Alô.
— E aí, cara! Estamos aqui no bar... gostaria de
vir beber com a gente? — Franzi a testa.
— Você num bar, senhor certinho? isso é
realmente algo de se estranhar.
— Estou comemorando, hoje é um dia especial.
— Posso saber o que você está comemorando? —
Perguntei curioso. James não falava muito sobre si
mesmo.
— Minha irmã finalmente fez laqueadura. — Ele
gargalhou.
— E isso é motivo para comemorar?
— Sim, quando se é um tio com um salário baixo
e tem que comprar quase uma dúzia de presentes para
todos os sobrinhos. — Ele gargalhou. — E então,
você vem?
— Parabéns, cara... mas realmente não posso ir
hoje, estou cansado.
— Tudo bem. — Encerrei a ligação e fui tomar
um banho. Meu celular tocou novamente, e quando
vi, era uma mensagem de texto.

Um policial veio até a minha casa e me encheu de


perguntas. Você vai ter que me dar mais dinheiro se
quiser que eu mantenha a boca fechada.

Cerrei a mandíbula e respondi.

Em sete dias venha me ajudar em um último


incêndio. Lá te darei a recompensa que você merece.

A resposta veio em seguida.


Sabia que você não me deixaria na mão.

Haveria uma pequena peça a mais no meu plano


para dali sete dias, mais um cadáver. Eu iria eliminar
quem resolvesse se colocar no meu caminho. O
mundo precisava ser limpo de pessoas sujas.
Deitei na cama e adormeci imediatamente.

Flashback
Era meu aniversário de onze anos, mas ninguém
lembrou... me colocaram em frente a Tv com um
videogame ligado. Eu estava sozinho novamente,
como sempre estava.
Papai tinha ido em uma viagem de negócios, e
mamãe foi para o Spa descansar a mente, pois ela
disse que eu havia a estressado ao quebrar seu copo
de cristal. Com o canto do olho encarei a caixa azul
com aquele enorme laço vermelho. O videogame veio
ali dentro, uma distração para mim. Eu era uma
inconveniência, então o vídeo game me manteria
ocupado para que eu não reclamasse da ausência
deles.
Peguei o videogame idiota e seus jogos e
controles; joguei tudo dentro daquela caixa idiota e
resolvi fazer o meu próprio jogo, o meu jogo favorito.
As empregadas já haviam adormecido, e então
peguei tudo e fui até a cozinha, onde peguei álcool de
limpeza e fósforos.
Segui até a varanda e joguei o álcool sobre o
vídeo game, salvei o laço vermelho... ele era tão
perfeito e bonito. Joguei o fósforo e vi as chamas
começarem a se formar, tomando conta do vídeo
game, transformando aquilo tudo em plástico
derretido e algumas partes em cinzas. Depois que o
fogo apagou, encarei o laço em minha mão. Ele tinha
o aperto forte como um abraço, um abraço que
nunca recebi. Ele era a coisa mais bela em minha
vida, com seu tecido de cetim macio e suas pontas
perfeitamente alinhadas.
Pensei no que eu deveria pedir de aniversário
desta vez. Sabia que eles me dariam qualquer coisa
que fizesse com que eu não reclamasse... há muito
tempo parei de reclamar de saudades.
Como seria queimar algo vivo? Perguntei a mim
mesmo, e então decidi: naquele ano eu pediria um
cachorrinho. Sorri e me perguntei que cheiro teria
sua carne queimando? Talvez fosse mais divertido
com algo vivo, pois teria gritos de dor. E a dor dele
curaria a minha.
Oito

Querida, você; você é a esperança em meu medo.


Querida, você no fim de uma longa jornada; O
mundo inteiro está me dizendo que nada dura para
17
sempre. Querida, você; você é o meu tudo.

Mason
Minha cabeça estava estourando, isso já fazia dias.
Uma dor que não melhorava, ela simplesmente
mudava, ficava de certa forma mais densa, menos
intensa; e eu quase poderia me acostumar a ficar com
aquela dor de cabeça para todo o sempre se ela
continuasse. Era culpa dos meus pensamentos. Eu
pensava, pensava e pensava sem parar em tudo o que
Brooke havia me dito. Comecei a observar Emma,
mas nunca fui tão inteligente assim a ponto de
compreender o que ela sentia.
Sabia que ela adorava doces, ela sempre estava
com algum livro infantil nas mãos, que não gostava
muito de televisão, sempre acordava sozinha para ir
para a escola e ia tomar seu banho sem eu precisar
mandar. Para mim tudo aquilo parecia normal.
Quando eu tinha sua idade, tinha até mesmo que me
preocupar com o que comer, pois se eu não achasse
algo em casa para comer passaria fome.
Aquela lembrança me perturbou e fez a minha
cabeça latejar ainda mais. Não gostava nem de
lembrar toda a crueldade que aquele homem cometeu
comigo. Se ele ainda estivesse vivo, eu o mataria sem
dúvidas.
— Está tudo bem, Mason? — Abri os olhos
quando Duke me perguntou isso. Ele sentou-se ao
meu lado.
— Estou com dor de cabeça já tem três dias, estou
enlouquecendo de tanto pensar; e sim, estou bem. —
Falei com ironia.
— Essa é a vida de quem cria um filho sozinho.
Acredito que as mulheres não fiquem assim pois elas
são dez vezes mais corajosas e fortes do que nós. —
O encarei, e ri.
— Eu não diria isso. — Falei ao lembrar da
mulher que me colocou no mundo, apenas para me
abandonar depois.
— Você fala isso pois teve uma experiencia ruim
com a mãe de Emma. — Bingo, Duke! Além da
minha mãe, também tinha a puta da mãe da Emma.
— Bem, sim... me desculpe se não acredito muito
nas mães. — Dei de ombros. — As mães que
conheci, pelo menos, só demonstraram o quão fácil é
abandonar os filhos sem olhar para trás.
— A maldade faz parte dos seres humanos, mas
acredite, é muito mais fácil um pai abandonar um
filho sem olhar para trás do que uma mãe. — Encarei
o Duke.
— Você não fez isso.
— Não, de jeito nenhum. — Ele suspirou. —
Sabe, quando minha esposa se foi, eu tinha uma
menina pequena para criar, além de ter de lidar com a
minha dor e a dela... — Ele fechou os olhos como se
a lembrança da morte de sua esposa ainda o
machucasse. — Minha sogra queria criar Camille, e
cara, aquilo era a solução perfeita: eu poderia deixar a
responsabilidade nas costas da minha sogra, beber e
viver minha tristeza em paz sem ter que cuidar de
uma menina que só chorava.
— Mas você é o Duke, você nunca faria isso. —
Disse com sinceridade.
— Não pense que sou perfeito. Quando as coisas
ficavam difíceis, eu pensava em deixar Camille com
os meus sogros, mas eu não conseguia imaginar a
minha vida sem ela.
— Você é um grande pai, Duke.
— E você também é, Mason... só precisa deixar de
ser teimoso e aceitar isso.
Pela primeira vez, fiquei em silêncio, e não
contradisse o que Duke disse, pois tudo o que ele
dizia e Brooke me disse. Eles me fizeram acreditar
um pouco naquilo, nem que fosse um por cento.
— Tem uma pessoa que conheci. — Falei
espontaneamente. — Ela disse que quer me ajudar
com Emma.
— Isso é ótimo. — Duke sorriu e deu tapinhas nas
minhas costas.
— Não sei se posso confiar nela. Ela...
— Ela não vai te abandonar e nem abandonar
Emma. Você precisa ter mais fé nas mulheres.
— Você nem sabe quem ela é... na verdade eu mal
a conheço, ela é professora da Emma e disse que está
preocupada com ela.
— Ela não tem nada a ver com a história, Mason.
Por que ela perderia tempo te oferecendo ajuda se não
fosse sério?
Não tive tempo de responder, pois Daniel entrou
correndo no refeitório e nos disse que houve um
acidente grave próximo ao shopping e precisávamos
ir já que éramos o batalhão mais próximo do local. Eu
detestava atender essas ocorrências, mas segui com
meus colegas e chegamos lá em cinco minutos. Dois
carros colidiram, e um deles estava na contramão,
com o motorista alcoolizado. O motorista alcoolizado
teve ferimentos leves, mas a família de cinco pessoas
no outro carro estava gravemente ferida.
Com um trabalho demorado conseguimos soltá-
los das ferragens, e apenas três dos cinco
sobreviveram, a mãe e dois dos seus filhos. O pai e a
menininha de cinco anos de idade já estavam mortos
antes mesmo de chegarmos. Aquilo acabou com o
meu dia. Senti tanta raiva do homem que dirigia
alcoolizado e que tinha destruído uma família que
senti vontade de ir até o hospital onde o maldito
estava e matá-lo.
— Você está bem, Mason? — Perguntou Michael.
— Não. Se ele queria se matar dirigindo
embriagado deveria ter jogado seu carro da ponte e
não matar outras pessoas.
— Concordo com você, mas cara...vamos embora.
— Michael me puxou pelo braço, mas eu estava
vendo tudo em vermelho, encarando o carro do
maldito. Ele destruiu uma família com sua
irresponsabilidade. Eu estava muito puto, já tinha
tantos problemas, e essas pessoas irresponsáveis
estavam me irritando ao máximo. Quando elas não
estavam embriagadas, estavam mexendo em seus
celulares enquanto dirigiam. As pessoas precisavam
ter mais consciência, não era apenas elas que estavam
na estrada.
— Mason, vamos, cara. — Henry me puxou
também.
— Mason! — Daniel gritou impaciente.
— Você parece que vai matar alguém. Vamos,
cara. — Disse Trevor.
— Me soltem. — Falei, me soltando de Michael e
Henry. — Eu estou indo. — Entrei no caminhão ao
lado de Caleb.
— Você está bem, cara? — Perguntou ele.
— Eu estou bem, parem de me olhar como se eu
estivesse louco. — Andrew bufou.
Logo todos estavam no caminhão com Michael na
direção. Todos estavam abalados, tão abalados que
nem mesmo Henry, o rei das piadinhas sem graça,
ficou em silêncio.

O sábado chegou, e com ele a minha dor de


cabeça evoluiu para uma enxaqueca que fez com que
meu estômago embrulhasse. Eu estava enjoado, com
dor de cabeça e nervoso.
— Onde a gente vai? — Perguntou Emma. Ela
havia colocado as roupas que comprei para ela, e
parecia uma princesa.
Demorei alguns segundos para responder.
— Almoçar na casa da senhorita Valentine, sua
professora. — Ela assentiu e ficou me encarando. —
Você está pronta? — Perguntei o óbvio.
— Sim. Vamos? — Assenti, e Emma pegou um
livro e colocou em sua pequena bolsinha.
Chegamos no carro e ajudei-a a colocar o cinto,
ela sentou no banco de trás e dei partida no carro em
seguida. Logo estávamos no transito tranquilo de
Chicago, que no sábado era sempre mais tranquilo.
Encarei Emma pelo espelho retrovisor, pronto para
puxar assunto, nem que fosse sobre o clima, mas ela
estava com o livro na frente do rosto, então pensei
que ela não gostaria de ser perturbada por um assunto
tão banal quanto o clima. Dirigi em silêncio,
pensando que minha filha ainda era uma estranha
para mim e que deveria ter medo de mim.
Com esse pensamento negativo segui até a casa de
Brooke. Logo chegamos, e Emma saiu do carro antes
mesmo que eu abrisse a porta para ela. Pensei em
segurar na mão dela, mas eu ainda tinha receio de
pegar na mão da minha filha e dela me rejeitar e
soltar a minha mão. Então seguimos lado a lado e
tocamos a campainha da casa de Brooke. Em menos
de dois minutos ela abriu a porta e sorriu para nós
dois.
— Emma, oi... e Mason... — Disse ela com um
sorriso caloroso. — Que prazer vocês virem almoçar
comigo hoje. Por favor, entrem.
Emma e eu passamos por ela. Seu perfume estava
começando a se tornar familiar para mim e era
delicioso, como uma brisa em um dia quente de
verão, que vinha e nos dava prazer.
Brooke usava uma blusa cor de rosa de mangas
curtas que realçava seus seios, uma calça jeans
desbotada e sandálias rasteiras; seus cabelos
cacheados estavam soltos e ela parecia refrescante.
Meu primeiro reflexo ao entrar naquela casa foi de
querer beijar seus lábios como um cumprimento, mas
me controlei. Ela era a professora da minha filha e
por mais linda que ela estivesse, não queria que
Emma pudesse começar a imaginar coisas.
— Sentem-se no sofá, vou trazer um suco para
vocês. A lasanha está no forno, e em breve estará
pronta.
— Você não vai causar um incêndio novamente?
— Perguntei num impulso. Brooke ficou corada e
soltou uma risadinha nervosa.
— Bem, se houver um incêndio, o bom é que o
bombeiro já está aqui. — Ela respondeu, acredito que
também num impulso, já que cobriu a boca logo em
seguida. — Vou buscar os refrescos. — E então saiu
correndo da sala, não antes de tropeçar em alguma
coisa. Escutamos dali ela gemer de dor e gritar em
seguida. — Está tudo bem, foi só meu dedinho.
Emma riu e fiquei surpreso, pois nunca a escutei
rir. Eu a encarei surpreso e ela me encarou
constrangida, e parou de rir.
— Por que você riu? — Perguntei curioso.
— A professora sempre faz isso em sala de aula.
— Disse ela e então ficou quieta, balançando os pés
sentada no sofá.
Queria faze-la rir de novo. O que eu poderia
fazer? Talvez eu devesse começar a bater mais com o
meu dedinho. Se eu tropeçasse ou me machucasse um
pouco em casa talvez houvesse uma grande chance de
ouvir a risada de Emma mais uma vez. A risada dela
aqueceu meu coração, e eu queria mais.
— Os sucos. — Brooke entregou os copos
daquele refresco gelado de limão e bebi tudo de uma
vez só. O verão estava chegando, e com ele os dias de
muito calor estavam cada vez mais próximos.
— E então, Emma. Como você está? — Perguntou
Brooke.
— Estou bem, professora. Sua casa é muito
bonita. — Disse Emma.
— Fico feliz que tenha gostado, tem meu jeito
meio excêntrico, mas é meu canto. — Disse Brooke.
— E você, Mason, como está?
— Estou bem, na medida do possível. — Falei e
encarei o copo de suco que eu havia esvaziado. Eu
deveria talvez ter me engasgado um pouco... será que
aquilo faria Emma rir? Ok, eu estava me tornando
uma pessoa ridícula.
— Eu estou encrencada? — Emma perguntou de
repente.
Brooke e eu a encaramos surpresos.
— Por que está perguntando isso, Emma? —
Perguntou a professora.
— É que viemos na casa da senhorita, no sábado.
— Ela me olhou de soslaio. — E você nunca me leva
para lugar nenhum. — Aquelas palavras cravaram em
meu peito de uma forma que faca alguma poderia
machucar. Eu realmente não a levava para lugar
algum. Emma era uma criança e eu a deixava presa
em casa, dia após dia.
— Você não está encrencada, Emma. Convidei
vocês aqui pois sou amiga de seu pai, e gosto muito
de você.
— Vocês namoram? — Perguntou Emma de
repente, e agora eu não precisei de suco para me
engasgar, pois estava tossindo por ter me afogado
com minha própria saliva.
— Não! Não namoramos. — Respondi ao mesmo
tempo que Brooke dizia o mesmo.
— Eu pensei que fossem. — Disse Emma,
olhando de um para o outro.
— E por que você pensaria isso Emma? —
Perguntei.
— Porque você tem muitos amigos, mas nunca me
levou para almoçar na casa de nenhum deles. —
Emma deu de ombros. — Pensei que se não viemos
aqui por eu estar encrencada, então era porque você
gosta da professora, e ela de você. — Brooke não
poderia estar tão vermelha nesse momento.
— Vou olhar a lasanha. — E então ela saiu da sala
e me deixou sozinho para resolver aquela situação.
Quis esganá-la por me abandonar em um campo
minado.
— Viemos aqui Emma pois você gosta da
senhorita Valentine. — Expliquei, pois foi a primeira
coisa que me veio em mente.
— Tudo bem.
— Você gostaria de sair mais vezes comigo? —
Perguntei com cuidado.
Emma deu de ombros.
— Pode falar, onde você gostaria de ir? —
Perguntei.
— Eu nunca fui no parque de diversões.
— A lasanha está na mesa, vamos comer?
Encarei Brooke e quis beijá-la na boca. Graças a
ela Emma e eu tivemos uma interação.
— Vamos. — Emma levantou-se e seguimos
Brooke até a mesa que ela havia arrumado na varanda
aos fundos da casa.
— Senhorita Valentine, gostaria de ir ao parque de
diversões conosco no sábado que vem? — Perguntei.
— Por favor, não estamos na escola, podem me
chamar de Brooke aqui. — Disse ela. — E parque de
diversões, claro, eu adoraria.
Emma sorriu contente e animada com essa nova
promessa de passeio. Começamos a conversar
distraídos sobre tudo e qualquer coisa. Comemos a
deliciosa lasanha de Brooke, e a minha surpresa e o
ponto alto do dia foi quando a Brooke perguntou a
Emma o que ela gostaria de ser quando fosse adulta.
— Bombeiro. — Foi o que Emma disse.
Surpreso, encarei-a. Ela queria ter a minha
profissão, por quê?
— É uma ótima profissão, porque você quer ser
um bombeiro?
Emma ficou vermelha, como se estivesse
constrangida em responder. Ficamos em silêncio,
porém ela continuou comendo e não respondeu mais.
Para quebrar o silêncio, perguntei.
— Gostaria de fazer uma visita ao meu batalhão
na semana que vem? — Perguntei. Emma me encarou
surpresa.
— Eu posso mesmo? — Perguntou.
— Claro, será algo rápido, mas você pode.
E então aconteceu de novo, Emma riu e bateu
palmas. E meu dia foi ganho.
Afinal, talvez, eu pudesse de fato me tornar um
bom pai.
Nove
Bem, você acabou comigo e pode apostar que
senti isso.
Tentei ficar frio, mas você é tão quente, que derreti
Caí nas rachaduras, agora estou tentando me
18
recompor

Brooke
Na terça-feira eu ainda estava com a lembrança de
sábado fresca na minha mente. O almoço para
aproximar aqueles dois foi um verdadeiro sucesso; e
acho que consegui recuperar um pouco da confiança
perdida de Mason. Eu me perguntei o que poderia ter
acontecido para que ele fosse assim, com essa falta de
autoconfiança.
— Sei que você naturalmente vive no mundo da
lua, mas ultimamente você tem exagerado nisso. — A
senhora Schaefer sentou-se na cadeira em minha
frente e me estendeu uma xícara com café fumegante.
— Desculpe, estava falando comigo novamente e
eu estava distraída?
Ela assentiu e ajeitou um dos cachos ruivos do seu
cabelo que caiu na testa.
— Mas não se desculpe, estamos no horário do
café mesmo... Ao invés de se desculpar me conte
quem é o homem?
Quase me engasguei com o café.
— Não tem nenhum homem. — Respondi
rapidamente.
— Brooke. — Ela sorriu. — Você é um livro
aberto. Na hora que se afogou com o café, ficou
corada e respondeu rápido demais. — Ela deu de
ombros. — Me conte logo, quem é ele?
Praguejei por dentro por ser esse desastre
ambulante que qualquer um conseguia ler. Era por
isso que eu era péssima no Poker, nunca conseguia
blefar. Sobre Mason, porém, não sabia se a senhora
Schaefer iria aprovar, afinal ele era o pai de Emma.
— Ele é apenas um amigo, e não acho que
poderemos seguir a diante; seria contra as regras. —
Resolvi ser sincera, afinal, de que adiantaria tentar
mentir se eu iria falhar miseravelmente.
— Regras? É um amor proibido? — Os olhos da
diretora brilharam. — Brooke, eu nunca pensaria que
você é desse tipo. — Ela piscou para mim.
— Não exatamente proibido, senhora Schaefer.
— Por favor, sou sua amiga agora e não a
diretora... me chame de Diane.
— Diane, é que eu... — Suspirei. — Ele é o pai de
um dos meus alunos.
— Oh! — Diane Schaefer tirou seus óculos e
pousou-os na mesa, ela fazia aquele gesto quando
queria pensar em algo. Apertei a xícara com o
mascote do time da escola, um coelho sorridente, e
fiquei a observando nervosa.
— Por favor, Diane, diga qualquer coisa. — Falei.
Estava ficando maluca com aquele suspense todo.
— Não vejo o porquê desse relacionamento ser
contra as regras. — Disse ela.
— Ele é pai da minha aluna, como isso pode não
ser contra as regras?
— Ele não é seu aluno nem nada. E vocês vão
namorar lá fora e não aqui dentro, não é mesmo? —
Corei com a lembrança de Mason me colocando
sobre a minha mesa na sala de aula e me tocando de
uma forma obscena.
— Sim, vamos namorar lá fora...
— Então não vejo motivos de você não namorar o
pai da Emma. — Encarei Diane surpresa. Eu havia
dito que era o pai de Emma sem perceber?
— Como?
— Então é ele mesmo?
Eu cai como um patinho na isca de Diane.
— Sou tão transparente assim?
— Foi meio fácil de descobrir. Primeiro ele ficou
olhando para você de uma forma nada discreta na
reunião de pais e mestre, segundo ele é o único pai
com quem você teve o primeiro contato agora, já que
a maioria dos outros pais você já conhecia; e sou
velha, sei dessas coisas.
— Diane, quando eu crescer, quero ser como
você.
Ela sorriu satisfeita com as minhas palavras.
— Você é um doce, Brooke, espero que dê tudo
certo em seu relacionamento.
— Eu ainda nem sei se vai ter um relacionamento.
— Falei. E eu realmente não sabia. Eu estava me
apaixonando por Mason, queria desvendar seus
segredos, conhecê-lo mais profundamente; mas não
tinha certeza se ele me deixaria entrar.
— Ele teria de ser um idiota de perder uma mulher
como você. — Disse Diane. Ela colocou os óculos e
levantou-se. — Agora, vamos voltar ao trabalho
senhorita Valentine. — Disse Diane, voltando a
adotar sua postura de diretora durona.
— Sim, senhora. — Sorri, recolhi meu material, e
fui para a minha aula do período da tarde.

—Até amanhã. — Despedi-me da turma da tarde e


ajeitei meu material. Depois de trancar a sala e deixar
a chave na secretaria para que a faxineira da noite
pudesse pegá-la, vesti meu casaco e segui para o meu
carro. Chegando lá, peguei meu celular que estava
tocando insistentemente ao som de I’m Yours de
Jason Mraz; encarei o visor e não reconheci o
número, mas atendi mesmo assim.
— Alô?!
— Brooke?
Meu corpo inteiro ficou quente e meu coração
acelerou. Era ele.
— Mason. — Não foi uma pergunta, mas ele
respondeu mesmo assim.
— Sim, sou eu… desculpa te ligar assim, mas
estou desesperado.
— O que aconteceu? — Perguntei preocupada.
— Eu preciso da sua ajuda, para levar Emma no
batalhão.
— Minha ajuda? — Perguntei sem entender. —
Então está tudo bem com Emma?
— Sim, está. — Ele suspirou. — Eu só queria que
você me ajudasse um pouco. Tenho medo que eu faça
algo de errado; e você estando lá, sei que tudo vai dar
certo.
— Mason, eu realmente acho que você deveria
passar um tempo a sós com Emma. Se eu estiver
junto só vou atrapalhar. — Por mais que eu estivesse
tentada em vê-lo e por mais que eu adorasse Emma,
achava que era realmente importante eles terem essa
conexão pai e filha, e não queria ficar entre eles.
— Por favor, Brooke. Eu sinto que vou estragar
tudo se você não estiver lá. Por favor, não tenho
confiança para isso e também...
Ele ficou em silêncio do outro lado da linha, e
pude escutar o som dos seus passos agitados andando
de um lado para o outro.
— E também? — Insisti, e vi que ele não
pretendia completar a frase.
— E também gostaria de ver você. — Disse ele.
— Mas se for um incomodo, você não precisa vir. Eu
...agora que fiz o pedido, vi como estou sendo
abusado.
— Eu vou. — Respondi.
E seja o que deus quiser, mas eu vou. Certas
decisões que tomamos em nossas vidas podem mudá-
las para todo o sempre. Eu sentia que essa era uma
dessas decisões, que minha vida poderia ser destruída
ou completamente formada. Foi um pequeno sim,
mas esse pequeno sim poderia modificar a minha
vida.
— Mesmo? — Ele perguntou do outro lado da
linha, excitado como uma criança que fica sabendo
que irá sair para tomar sorvete.
— Mesmo. Me envie sua localização no Whatsapp
e encontrarei você e a Emma dentro de alguns
minutos.
— Depois podemos ir jantar juntos. Você ainda
não jantou não é mesmo? — Encarei minha roupa
básica que eu usava para dar aulas e mudei os planos.
— Dentro de uma hora encontro vocês no
batalhão. Preciso ir em casa trocar de roupa, e eu
ainda não jantei.
— Ótimo, vamos jantar juntos.
— Tudo bem, mas não posso voltar tarde para a
casa... amanhã recém é quarta-feira.
— Sim, Emma vai cedo para a cama. — Porquê
de toda a frase, tudo o que captei foi cama, cama e
cama?
— Certo, então até daqui a pouco.
— Até.
Ele parecia muito feliz ao encerrar a ligação, e eu
também não consegui deixar de sorrir como uma
boba a ponto de minha mandíbula doer um pouco
quando cheguei em casa. Fui para o chuveiro tomar
uma ducha, e quando saí, olhei o celular, e Mason já
havia me enviado sua localização e também um
emoticon sorrindo. Eu estava me sentindo muito
boba, como uma adolescente apaixonada pronta para
seu primeiro encontro.
Coloquei meu jeans justo e escuro, uma blusa
amarela e uma jaquetinha preta. Logo estava pronta
após passar um lápis de olho, uma sombra clarinha e
um batom coral. Não queria mostrar que eu havia me
arrumado tanto, mas também queria estar linda para
me encontrar com Mason.
Aquele jogo era perigoso, eu estava me
apaixonando por ele e me afeiçoando muito a Emma.
Se algo desse errado, eu iria perder duas pessoas,
seria doloroso demais. Porém aquele pensamento não
perdurou muito em minha mente, pois sempre fui de
agir segundo meu coração, e não seguindo a minha
mente. Se não desse certo e se fosse um erro, pelo
menos eu aprenderia alguma coisa no final.
Com pensamentos positivos, segui para o
batalhão.
Dez
Oh não, rezo para que o manhã não venha;
gradualmente, fiquei com medo, tudo parece que
vai; desaparecer. Parece que se eu tirar meus olhos
de você por um momento, eu vou acordar desse
sonho;
E eu não sei o que é. Nunca senti esse tipo de
sentimento; você e eu, apenas dois de nós
19
Quero continuar a dançar com você neste mundo

Mason
Brooke estava tão linda. Acho que nunca havia
visto em toda a minha vida mulher tão bela quanto
ela. Brooke estava fazendo eu mudar. Quando isso
começou? Como ela conseguiu perfurar minha casca?
Em que momento isso aconteceu?
— Tia Brooke. — Emma, que estava ao meu lado
correu para os braços de Brooke. Elas haviam
combinado no último sábado que quando não
estivessem na escola, Emma a chamaria de tia
Brooke. Fiquei hipnotizado vendo minha filha e
Brooke se abraçarem aos risos. Aquilo me tocou
profundamente, apenas por ver as duas abraçadas e o
som da risada delas fez meu coração parece ter
dobrado de tamanho, pois apertava em meu peito
como se não tivesse mais espaço ali dentro.
— Elas chegaram. — Olhei para o lado e vi que
Duke estava me observando. — Quem é ela?
— Já disse, é a professora da Emma. — Por que
ele estava fazendo eu me repetir?
— O que ela é para você? Ela é alguém que é mais
que a professora da Emma, certo? — Duke sorriu
diante do meu silêncio.
— Sabe, Duke, com todo o respeito...— Eu o
encarei, sério. — Mas você anda muito intrometido
ultimamente. — Achei que seria repreendido pela
minha atitude, mas Duke apenas sorriu como se
tivesse todas as respostas para todas as perguntas do
mundo.
— Entendo. — Assoviando uma canção que eu
desconhecia, Duke entrou no batalhão.
— Boa noite. — Cumprimentou-me Brooke, e
precisei limpar a garganta para responder a ela.
— Boa noite, obrigado por ter vindo.
Ela sorriu.
— Foi um prazer.
— Bem, vamos ao tour, Emma?
— Sim! — Pedi as duas que me acompanhassem e
cheguei primeiro ao refeitório onde todos estavam
reunidos.
— Bem, esse é o tio Daniel como você já sabe.
Ele é o chefe assistente do nosso batalhão, e quando
Duke não está por aqui é ele que manda; ou seja, ele
conhece cada detalhe desse batalhão melhor que
todos nós e tem acesso as nossas fichas e vidas
pessoas... resumindo ele é um metido. — Emma riu
das minhas palavras e meu coração se aqueceu. Iria
continuar seguindo aquela linha de apresentação
engraçada só para faze-la rir.
— Hey, Emma, não dê atenção as palavras do seu
pai. Sou um cara legal. — Disse Daniel levantando-se
para me encarar, porém mesmo com seus 1,93mts, eu
ainda era 3cm mais alto que ele.
— Tudo bem, tio Dan. — Disse Emma.
— É bom mesmo que você cuide melhor dessa
menina. — Disse Daniel antes de dar um tapinha
amigável nas minhas costas.
— Bem, esse bobão careca é o palhaço do
batalhão, Emma. Ele se chama Henry, faz piadas que
só ele acha graça, é bombeiro e é metido. — Henry
olhou na nossa direção e sorriu sarcasticamente, e
então enxergou Brooke.
— Mocinha, não dê atenção ao bobão do seu pai;
e muito prazer moça bonita. — Ele cumprimentou
Brooke.
— Nada de gracinhas, Henry. — Ele me encarou e
bufou.
— É bom que você esteja tomando jeito, monstro.
— E então pegou uma mochila e deixou a sala depois
de se despedir de todos.
— Olá mocinha, eu sou o Michael, e dirijo aquele
caminhão legal que está lá fora. Sou o engenheiro de
condução e você vai ganhar um pirulito. — Michael
entregou a Emma um pirulito de coração. — Tio
Michael precisa ir agora, pois vai se encontrar com
uma moça bonita. — Emma sorriu para ele e
agradeceu. — Mas da próxima vez que você vier
aqui, vou levá-la para passear no carro dos
bombeiros, certo?
— Tudo bem. — Disse Emma. Ela estava tão
animada com toda a atenção recebida que seus olhos
não paravam de brilhar.
— Bom trabalho, Mason. — Disse Michael antes
de partir.
Ao que parece todos estavam loucos para opinar
sobre meu tratamento com Emma, mas só quem tinha
coragem de falar na minha cara era Duke.
— Oi mocinha, seu pai está te tratando bem? —
Perguntou o sempre tão calado Andrew, e Emma
assentiu. — Muito bem. — Ele me encarou com
atenção antes de prosseguir. — Sou o Andrew, o
tenente, e vou embora para a casa agora. Só queria
me certificar se teria que bater ou não no seu pai. —
Se Emma ficou assustada não demonstrou.
— Vá embora, Andrew. Você não é pai para ficar
opinando na minha vida. — Recebi um olhar mortal
dele antes de ele sair dali, e o clima ficou tenso; mas
foi quebrado quando Minah apareceu.
— Emma, você é uma princesinha linda. —
Emma encarou Minah com atenção.
— Você é muito bonita. — Disse Emma.
— Obrigada, eu sou a Min Ah, mas todos me
chamam de Minah. Sou bombeiro aqui a pouco
tempo. — Minah encarou Brooke. — Muito prazer.
— As duas se cumprimentaram. — É bom ver que
alguém está quebrando o gelo em volta do coração de
Mason. — Disse ele à Brooke. — Vocês duas são
incríveis, até parecem mãe e filha.
— Minah, você não tem que ir para a casa? —
Perguntei bruscamente e ela me encarou sorrindo.
— Verdade, preciso ir. Até mais. — Minah piscou
para Brooke e deixou o batalhão.
— Quem é aquele? — Perguntou Emma. Segui a
direção em que seu dedo apontava e vi Kevin. Havia
me esquecido por completo de Kevin.
— Ele é o Kevin, ele é bombeiro e trabalha há
anos conosco. Ele não gosta muito de conversar, mas
é um cara competente. — Kevin nem olhou na nossa
direção quando falei dele, e continuou focado em seu
livro com seus fones de ouvido no volume máximo
no ouvido.
— Oi, princesa. Eu sou o cara mais legal daqui e
seu pai esqueceu de me apresentar. — Tyler apareceu
e sorriu para Emma. — Ele Às vezes precisa levar
uns cascudos por ser tão negligente, você não acha?
— Emma riu. — Muito prazer menino linda, sou o
Tyler, capitão do batalhão. Sou o cara que quando
Duke ou Dan não estão, conduz os rapazes para
apagar os incêndios.
— E ele usa saias. — Tyler me encarou.
— É Kilt. babacão. — Emma gargalhou.
— Você é escocês. — Disse Brooke
impressionada. — Bem que notei seu sotaque. — Por
que ela parecia tão impressionada.?
— E você é? — Perguntou Tyler galanteador.
— Ela não é da sua conta. — Falei num impulso.
— Ah... entendi. — Disse Tyler.
— Sou Brooke. — Ela respondeu, ignorando meu
protesto.
— Muito prazer, Brooke. Agora devo deixar
vocês a sós se não quiser ser lançado pela janela. —
Tyler saiu dali e teve sorte de ser rápido o suficiente,
pois eu queria lançá-lo pela janela de fato.
— O sotaque dele é tão forte. — Disse Brooke.
— Não é grande coisa. — Falei irritado.
Começou uma gritaria de uma das salas e olhamos
naquela direção.
— Você é um idiota, Trevor! — A avoada Crystal
saiu de lá soltando fogo pelas ventas.
— Não sei porque você insiste em vir aqui ainda!
— Gritou Trevor de volta, e eles foram discutindo
para o lado de fora.
— Bem, aquele ali era o Trevor, ele é bombeiro, e
ouvi dizer que veio de uma família do dinheiro; mas é
só o que sei. e que depois de uma certa idade a maior
parte do tempo de sua adolescência ele passou na
casa de Caleb e por isso eles são melhores amigos.
Vocês não vão poder conhecer Trevor hoje, pois ele e
Crystal estão em uma discussão calorosa.
— Tudo bem. — Elas falaram.
— James, que é nosso paramédico, tirou o dia de
folga; e Caleb está com sua namorada Karen. Mas
essa não será uma visita única, Emma... vocês
poderão vir para outras visitas e andar de caminhão
como Michael mencionou.
Mostrei as duas onde ficavam nossas roupas,
mostrei o alarme, e o que fazíamos quando o alarme
soava, e terminamos nossa visita na sala de Duke.
— Emma e Brooke. eu ouvi falar muito de vocês.
— Disse Duke. — Eu sou o chefe do batalhão, tenho
uma filha tão linda quanto você, e adoraria que vocês
duas viessem no jantar de confraternização do
batalhão daqui duas semanas.
— Eu não sei se devo. — Falou Brooke.
— Ah, não se recusa um convite meu... e não se
preocupe não estarão apenas os babacas que você
conheceu hoje, também estarão as suas namoradas e
enfim.
— Eu... — Brooke estava em uma situação difícil.
— Eu já pretendia convidá-la. — Falei para que
ela não ficasse ainda mais constrangida. Duke estava
realmente muito metido.
— Obrigada pelo convite, senhor. — Disse
Emma.
— Você é uma menina linda. — Disse Duke.
— Bem senhor, se nos der licença, temos que ir
jantar e está ficando tarde.
— Tudo bem, também já vou para a casa. Camille
vai jantar comigo hoje. — Ele olhou para Emma. —
Camille é minha filha, e você vai adorar conhecê-la.
Brooke apenas sorriu e assentiu. Logo estávamos
em meu carro a caminho do restaurante.
— Você gostou do passeio, Emma? — Perguntou
Brooke.
— Sim, tia Brooke. O tio que mais gostei foi o tio
Tyler, ele tinha um jeito de falar bonito.
— É o sotaque escocês Emma. — Até que horas
elas iriam falar do sotaque idiota do Tyler? O que
tinha de importante naquilo? Por que as duas ficaram
tão encantadas com o Tyler? O que ele tinha de tão
especial? Eu estava começando a ficar irritado aquela
comichão que eu andava sentindo ultimamente me
deixando um tanto irracional.
— O que é sotaque?
— Sotaque é uma maneira particular de cada
pessoa pronunciar certos fonemas, é uma variante
própria da região de onde a pessoa veio ou da classe
social em que essa pessoa veio. — Explicou a
professora Brooke. — Mas em resumo para que você
compreenda melhor, quem mora na Inglaterra por
exemplo tem um jeito de falar diferente, assim como
quem veio da Escócia... ou até mesmo um falante do
Texas se comparado a um de Boston.

— Isso é muito legal. — Disse Emma animada. —


A diretora tem um jeito de falar diferente. —
Observou Emma.
— Sim, ela viveu durante quinze anos na França,
e isso modificou seu sotaque, tornando-o único.
— Chegamos ao restaurante. — Eu tinha um
sotaque comum, de um cara que nasceu em Chicago,
nada de especial havia em minha forma de falar... e
eu queria mesmo que aquele assunto morresse. Eu
estava com ciúme delas... sim, eu não queria que elas
falassem do Tyler ou do seu sotaque besta.
Eu estava morto de ciúmes da minha filha e da
minha mulher. Minha mulher? Observei as duas
entrando no restaurante enquanto eu estacionava o
carro, aquilo parecia tão certo, minha família. Seria
capaz? Seria possível eu ter uma família de verdade?
Com pessoas que me amavam e que eu amava?
Aquele sonho nunca passou pela minha cabeça antes,
pois para mim estava a anos luz de distância; agora,
porém eu conseguia visualizar uma vida assim.
Um lar para voltar depois do trabalho, uma esposa
para amar, e uma filha para criar. O medo de ter tudo
aquilo e perder depois me dominou e apertei forte o
volante. Só então me dei conta de que Emma e
Brooke me encaravam de dentro do restaurante,
acenando para mim e com expressões preocupadas.
Desci do carro e me juntei a elas, e fiquei boa
parte do tempo em silêncio observando-as devorarem
as costeletas de porco com purê de batatas. Eu estava
com tanto medo de ter uma família e depois perdê-la
que não consegui me concentrar muito na conversa.
Pelo menos elas haviam mudado de assunto e parado
de falar em sotaques, elas agora falavam de Minah e
tentavam adivinhar de que lugar da Ásia ela viera.

“Acordei tremendo de frio. Minhas canelas


estavam raladas e meu estomago doía de fome.
— Mais um. — Disse uma voz indiferente.
— Esse pelo menos é grande, vai poder limpar e
trabalhar. — Um homem comentou.
— Está magro demais, não sei se vai aguentar o
trabalho. — A voz indiferente ecoou, e finalmente
identifiquei como sendo de uma mulher.
— Vai ter que aguentar se quiser comer. E
ninguém vai querer adotá-lo. — O homem falou.
— Não mesmo. Vamos ensinar ele a trabalhar; e
se não se adaptar, jogamos ele na rua. — Ela disse.
— Ele parece um amontoado de lixo e ossos.
Fui puxado pelos cabelos e um homem com uma
barba rala e olhos assustadores me encarou.
— Onde estou? — Falei, só então me toquei como
minha garganta estava seca de sede e como doía.
— Pelo visto seus pais lhe colocaram no lixo. Esse
é o lar para crianças abandonadas e você vai ter que
trabalhar se quiser comer. — Disse o homem
bruscamente.
Eles me abandonaram? Nunca senti tanto alívio
em minha vida. Aquele homem nunca mais iria
brincar comigo daquela forma suja? Eu nunca havia
sentido tanto alívio na vida.
— Eu faço todo o trabalho. — Falei. — Só não me
mande de volta. — Implorei.
— Ótimo. — Disse o homem. — Mas antes você
precisa comer.
Eu tinha dez anos de idade quando fui largado
naquele lar. Trabalhava como um escravo por um
pão e um bocado de arroz, e dava sorte quando tinha
carne. Apanhava quando descansava, mas nada se
comparava aos abusos daquele homem. Eu aguentei
tudo, pois ninguém nunca me adotaria, e eu não
queria uma família.
A família que me adotara no passado e me
abandonara agora. Deveriam me proteger dos
monstros, mas na verdade eles eram os verdadeiros
monstros.
Lembro-me de ler uma frase parecida como esses
anos depois, em uma das obras de Stephen King. e
ela havia se encaixado perfeitamente em minha vida.
Família. Eu nunca teria uma família novamente, eu
ficaria para sempre sozinho e assim ficaria bem.”

Na volta para a casa essas lembranças me vieram


a memória. Encarei Emma pelo retrovisor, ela havia
adormecido no banco de trás. Parei em frente à casa
de Brooke.
— Você está bem? — Ela me perguntou. — Está
tão pensativo.
— Estava pensando em muitas coisas, em especial
ao meu passado sujo.
Ela tocou em minha mão e a apertou de leve.
— Você pode se abrir comigo. — Disse ela.
— Por que eu? — Perguntei e vi que ela estava
surpresa pela minha pergunta.
— Como assim?
— Você é linda, inteligente e maravilhosa. Pode
ter o homem que quiser... por que eu? Por que um
monstro como eu? Um cara corrompido e quebrado?
— Porque não te vejo como um monstro, mas sim
um homem com um coração puro e enorme, que está
desesperado por amor. Que só quer ser feliz.
— Você não sabe nada sobre mim. — Falei,
fechando meus olhos com força. Eu a senti tocar meu
rosto com a palma de sua mão.
— Eu sei o que eu vejo, e gosto de você, Mason.
— Disse ela. — Quero te conhecer por inteiro, quero
entrar se você me der uma chance.
— O que você verá não é nada bonito. — Falei.
— Eu não me importo.
— Não sei se serei capaz de ir até o final. — Falei,
sentindo meu coração quebrar em mil pedaços.
— Você é capaz de fazer o que quiser.
— Não sei se sou tão forte, Brooke; e a última
coisa que quero é machucar você; mas por mais que
eu diga que devo manter distância de você, não
consigo... penso em você o dia inteiro.
— O que você tem a perder por nos dar uma
chance? — Disse ela. Eu a admirava tanto por ser tão
ousada.
— Tudo...
Ela se inclinou na minha direção e plantou um
beijo casto em meus lábios, o que me aqueceu como
o calor do sol sobre a neve.
— Boa noite, Mason. — Ela desceu do carro e não
me deu chance de falar mais nada.
Eu queria tanto ser dela, mas temia tanto mostrar a
ela meu pior lado, a minha infância suja e
corrompida. Eu tinha tantos demônios... eu tinha
tanto medo.
Eu nunca quis uma família, mas agora era tudo o
que eu mais queria, e isso era assustador. Seria tudo
um sonho? Se fosse, eu não queria acordar.
Onze
Você é meu paraíso; você é linda, garota. Eu estou
olhando para você, mas eu sinto falta de você. Você
20
é minha única garota.

Brooke
Era sábado, e por sorte o dia estava lindo, o céu
azul estava sem nuvens, um dia perfeito para um
passeio no parque. Eu segurava a mão de uma Emma
muito excitada e Mason estava estacionando o carro e
logo chegaria até nós.
— Tia Brooke, eu posso ir lá em cima? — Emma
apontou para uma grande roda gigante.
— Se o seu pai não ver problema, podemos ir sim.
— Ela sorriu e seus olhos, que brilhavam sem parar,
encaravam para todas as direções. O cheiro de pipoca
doce chegava as nossas narinas.
— Vamos. — Mason chegou, e Emma logo o
encarou.
— Podemos ir lá? — Ela apontou para a grande
roda gigante e Mason fez uma careta.
— Lá é tão alto. Você não gostaria de ir em algo
tipo... o carrossel?
— Depois, vamos lá primeiro, parece divertido. —
Mason encarou Emma, que sorria e estava com uma
expressão iluminada, e enfim assentiu.
— Tudo bem, nós iremos.
— Oba! — Emma bateu palmas e correu na nossa
frente.
A seguimos até a roda gigante e percebi que
Mason estava tenso.
— Você tem medo de altura? — Perguntei.
— Medo de altura? Que bobagem, claro que não.
— Respondeu ele rapidamente.
— Tudo bem se você tiver. Eu posso ir com a
Brooke e você fica aqui em baixo. — Falei.
— Eu estou bem, de verdade. — Não havia
convicção em suas palavras, mas resolvi não insistir.
Compramos as entradas para a roda gigante, e
depois de esperar um tempo na fila entramos no
carrinho nós três. Com apenas uma barra de proteção
na cintura e a portinhola fechada, começamos a subir
devagar enquanto mais pessoas embarcavam. Emma
vibrava de alegria e Mason parecia que estava
sofrendo de diarreia pois não conseguia disfarçar seu
medo de altura. Achei um tanto irônico um homem
que arriscava sua vida todos os dias tinha medo de
uma roda gigante, porém o fato de ele ter ido mesmo
com medo para ter memórias com Emma fez com que
meu coração se derretesse ainda mais por ele. Como
eu poderia não me apaixonar por ele? Ele era ao
mesmo tempo tão grande e tão frágil.
— Wow! Podemos até mesmo ver o lago daqui.
— Olhei na direção em que Emma apontava e
enxerguei o Lago Michigan, além de muitas árvores,
casas e prédios.
— Isso é realmente incrível. — Falei.
Continuamos naquele círculo subindo e descendo.
Emma estava encantada olhando a paisagem, e com
isso segurei na mão de Mason, que estava fria e
suada. Ele que estava observando Emma com um
brilho no olhar, e assustou-se quando segurei sua
mão.
— Não tem nada de errado em sentir medo. —
Falei baixo o suficiente para que apenas ele escutasse.
Ele apertou minha mão de volta e deu um sorriso
discreto.
— Obrigado. — Sorri para ele e segurei firme em
sua mão. Naquela troca de olhares estávamos de certa
forma criando uma espécie de conexão.
Comemos pipoca doce, algodão doce, e Mason
ganhou um grande panda de pelúcia para Emma. Eu
devo ter engordado uns vinte quilos naquela tarde que
passamos juntos, estávamos roucos de tanto dar
risada e quando pegamos o carro para ir embora,
Emma adormeceu no banco de trás agarrada em seu
panda que ela apelidou de senhor Panda.
— Você pode me ajudar a trazer as coisas para
dentro? O senhor panda... — Pediu Mason e assenti.
Era a primeira vez em que eu viria em sua casa e eu
estava bem nervosa. Abri a porta para ele, pois ele
estava um tanto atrapalhado com Emma nos braços.
— Papai... — Emma sussurrou ao se aconchegar
nos braços dele e Mason me encarou espantado e
emocionado. Vi quando ele desviou os olhos dos
meus e engoliu em seco. — Papai... — Emma
murmurou adormecida novamente.
Percebi olhando para trás que Emma nunca havia
chamado Mason de pai, ao menos não nos últimos
encontros que tivemos. Perguntei-me se aquela era de
fato a primeira vez que ela o chamava de pai.
Mason voltou cinco minutos depois, e estava um
tanto abalado ainda.
— Você aceita uma cerveja? — Assenti e o segui
até a cozinha. A casa era perfeitamente organizada
para um homem que vivia sozinho e tinha uma
criança.
Ele abriu as latas de cerveja e me deu uma delas.
Ele pegou a sua e bebeu tudo de uma vez.
— Eu queria tanto um cigarro agora. — Disse ele
tenso.
— Foi a primeira vez, não é mesmo? — Ele me
encarou. — Que ela chamou você de pai. —
Completei.
— Eu acho que a gente deveria se conhecer
melhor. — Disse ele mudando totalmente de assunto.
Eu podia ver a confusão em seu olhar, o amor e o
medo de amar. Ele era tão transparente.
— Mason...
Ele se aproximou de mim e me prendeu contra a
parede da cozinha. Senti o ar fugir dos pulmões e
então ele sussurrou em meu ouvido. Seu hálito morno
transformando-me em neve derretida.
— Fique comigo, Brooke, por favor...
E então ele me encarou, nossos olhos se
conectaram e nossos lábios se uniram; e ali me
entreguei.

Eu pensei muito tempo depois que minha entrega


tinha sido no momento em que ele me beijou, mas
não, minha entrega foi em todos os pequenos
momentos. Desde que ele se ajoelhou diante de mim
em minha casa algumas noites atrás, que ele se
esforçou para se aproximar de Emma, quando ele
sorria como um menino ao ver Emma sorrir. Sim, eu
me entreguei antes mesmo de ele pedir que eu ficasse
com ele aquela noite, e antes que ele me pedisse para
ser sua, eu já lhe pertencia.
O nosso beijo que começou lento e sedutor com
um roçar de lábios e o toque mágico das línguas foi
ficando mais intenso a medida que o nosso desejo
crescia. As mãos grandes de Mason estavam na
minha cintura, e logo em meu traseiro, ele me puxava
para ele, me fazendo sentir em minha barriga sua
rigidez. Haviam roupas demais entre nós, e fiquei
ansiosa. Quase derrubei o relógio que estava na
parede, e isso nos despertou de que Emma poderia
surgir na cozinha a qualquer momento.
— Venha. — Disse ele ofegante e segurou em
minha mão. Eu o segui pelo corredor e ele abriu uma
porta, e logo me vi em um quarto espaçoso, com uma
cama enorme no centro, com móveis bem
masculinos. Devo confessar que minha mente
imaginativa havia idealizado o quarto dele como um
quarto vermelho de jogos. Eu deveria parar de ler um
pouco, eu sei.
Também fiquei aliviada por esse não ser o caso,
pois não sei como agiria se ele quisesse me fazer de
sua submissa. Eu até iria curtir uma fantasia ou outra,
mas fazer isso sempre não era para mim.
— No que você tanto pensa? — Perguntou ele, e
escutei o som da chave girando na fechadura.
— Que estamos com roupas demais. — Falei,
olhando para ele dos pés à cabeça.
Ele riu, uma risada gostosa e sexy pra caramba.
— Acho que você pensa demais. — E então ele
mandou meus pensamentos para o espaço ao me
jogar na sua cama e arrancar meu jeans e a calcinha
sem cerimônia. Eu o ajudei, tirando a minha blusa.
Sentia falta do seu toque.
Mason arrancou suas próprias roupas e veio para
cima de mim. Ele começou beijando meus lábios com
vontade enquanto seus dedos exploravam meu corpo,
beliscando meus mamilos, descendo pela minha
cintura e chegando até o meu sexo. Mason mergulhou
dois dedos em minhas dobras e acariciou meu clitóris
úmido de desejo.
— Você já está prontinha para mim, bela.
Gemi quando ele me penetrou com dois dedos.
Sua boca agora estava em meus seios, e Mason
provocou os mamilos com a língua, e os sugou com
vontade enquanto seus dedos trabalhavam com afinco
ora dentro de mim, ora massageando meu clitóris.
— Mason... — Chamei seu nome numa súplica.
— Tão bela, você é tão perfeita.
E então senti sua boca entre as minhas pernas. Sua
barba rala arranhou o interior da minha coxa.
— Oh, Mason...
Ele se fartava entre as minhas pernas como se eu
fosse uma espécie de sorvete cremoso e refrescante
em um dia quente de verão. Ele não tinha dó de mim,
e passava aquela língua deliciosa em meu clitóris, até
que eu gritei e atingi ao orgasmo. Mason ficou me
observando satisfeito.
— Já disse o quão linda você fica quando goza?
— Fiquei observando-o ofegante, e nenhuma palavra
saiu dos meus lábios. — Isso não é justo, você está
me fazendo quebrar as minhas próprias regras.
— Regras? — Foi a única coisa que escapou dos
meus lábios.
— Sim, regras. — Mason levantou-se e mexeu em
uma gaveta. Quando voltou, notei seu mastro coberto
por um preservativo. Eu adoraria colocá-lo em minha
boca, mas aquilo teria que esperar.
— Não entendo... — Falei, sem tirar os olhos de
sua ereção. Era incrível que tudo aquilo coubesse
dentro de mim. Mas os bebês saem por onde mesmo?
Pensei. E sim, eu deveria parar de pensar tanto.
— Você está fazendo com que eu me apaixone
por você. — Disse ele antes de me penetrar. Gritei e
ele ficou parado um tempo dentro de mim, esperando
com que eu me acostumasse ao seu tamanho. — E
isso era uma das minhas principais regras, nunca me
apaixonar; mas você, minha Bela, está fazendo com
que tudo incendeie.
— O que posso fazer, tenho prática em causar
incêndios. — Falei e o agarrei.
— E esse incêndio, não tenho a intenção de
apagar. — Disse ele me encarando, e então me beijou
de novo, apaixonadamente, antes de começar a se
mover dentro de mim com estocadas lentas e
profundas.
Mason me olhava nos olhos, e notei ali que um
laço forte havia se formado naquela noite. Ele estava
confiando a mim seu coração. Sua intenção de não
apagar aquele incêndio, ou seja, de não parar de se
apaixonar por mim aqueceu meu coração. Eu não
pretendia desistir dele.
Sempre que lia meus romances pensava que um
dia encontraria o amor da minha vida de diversas
formas. Jamais imaginei que seria assim, que eu teria
que lutar por ele, que seria tão intenso que não
existiam palavras para descrever. Como li em um dos
meus livros uma vez, alguns sentimentos não podem
ser descritos, pois palavras apenas o diminuiriam. Era
assim com Mason, era algo tão grande que não
poderia ser descrito e nem explicado, apenas sentido.
Doze
Antes da escuridão me aprisionar. Não me deixe
Você ainda me ama?
Se você sente o mesmo, não me deixe hoje; não me
pergunte porque tem que ser você; apenas fique
21
comigo

Mason
Eu estava outra vez trancado no armário. Engoli
o choro. Quando ele me trancava no armário pelo
menos eu tinha paz, ficaria ali sossegado pelo menos
até o dia seguinte. Minha barriga doeu de fome,
engoli a saliva e fiquei encarando os arranhados no
armário. Se eu conseguisse dormir um pouco a fome
iria passar.
Deitei e devo ter cochilado em certo momento,
pois acordei ao som de passos. Meu coração
acelerou, minha pele ficou fria, e comecei a tremer
de medo involuntariamente. Eu não queria tremer de
medo pois isso o atiçaria a fazer aquelas coisas
comigo, mas eu não conseguia controlar meu corpo
que tremia de medo.
O guarda roupa foi aberto e fechei meus olhos,
esperando ser puxado e ser jogado no chão. Mas fui
pego com delicadeza e abraçado com força. De
repente eu era um adulto e Brooke olhava em meus
olhos com ternura.
— Tudo vai ficar bem a partir de agora. — Foi o
que ela disse.
Senti as lágrimas escorrendo por meu rosto e
então Brooke começou a se afastar. Eu comecei a
correr em sua direção, e via Emma agora estava do
lado dela; parecia que eu estava em um grande
corredor sem fim. Voltei a ser um menino de seis
anos de idade, e aquele monstro me puxava para trás
enquanto Emma e Brooke ficavam cada vez mais
distantes.

Acordei coberto de suor e sentei na cama,


sentindo o coração acelerado e o pavor tomando
conta de mim. Eu estava nu e sozinho na cama, e já
havia amanhecido. Levantei, peguei minha cueca no
chão e a vesti, colocando a calça. Em seguida corri
para o banheiro; precisava de um banho, ainda podia
sentir as mãos nojentas daquele homem sobre mim,
me puxando, me impedindo de chegar até as
mulheres que eu amava.
Me lavei esfregando a esponja com força na
minha pele, e a água tão quente me machucou. Por
Deus, eu poderia escaldar meu corpo em água
fervente e ainda assim não me sentiria limpo.
Voltei para o quarto para me vestir, e vi no relógio
que marcava hora e data que eram 8 horas da manhã
de domingo. Me perguntei que horas Brooke foi
embora e porque ela foi. Vesti uma calça folgada e
uma camiseta branca, e foi quando vi um papel cor de
rosa sobre o travesseiro.
Senti seu cheiro doce no momento em que sentei
na cama e peguei seu bilhete:

Mason, eu adoraria despertar ao seu lado e


tomar café da manhã com você e a Emma, porém
achei que confundiria um pouco a cabeça de Emma
se ela despertasse e visse que eu passei a noite aí.
Então acho que primeiro temos de ver onde nosso
relacionamento nosso lance vai nos levar.
Você pode vir na minha casa segunda-feira?
Passe o domingo com Emma e se conheçam melhor.
Vou sentir sua falta, mas vou usar o domingo para
preparar as aulas da semana e ler um pouco.
Obrigada pelo sábado incrível.
Com carinho..
Brooke Valentine

Nosso lance? Eu tive vontade de ir na casa dela


naquele momento e dizer que ela era minha, implorar
para que ela passasse todas as noites ao meu lado e
espantasse os meus pesadelos. Queria implorar que
ela nunca se afastasse, que ela nunca me
abandonasse, que ela nunca me deixasse. Mas tudo
fugiu quando escutei um grito.
— PAPAI! PAPAI!
Corri para o quarto de Emma e vi que ela estava
se sacudindo na cama, dentro de um pesadelo.
— Emma, acorde, meu amor. Acorde, isso é só
um sonho.
De repente ela sentou-se e me abraçou com força.
Retribui seu abraço.
— Não me deixe, papai. — Ela disse entre
soluços.
— Eu nunca vou te deixar. — Falei, e um nó se
formou em minha garganta.
— Você está mentindo, você vai me deixar. —
Disse ela chorando, e então começou a dar socos em
meu peito. Segurei seus bracinhos firmemente, mas
com delicadeza.
— Não faça isso, princesa. Você vai machucar
suas mãos. — Falei, olhando-a.
— Eu odeio você. Você vai me mandar para
longe. — Ela então parou de me atacar e voltou a
chorar. — Por que todos me abandonam sempre? O
que eu fiz de errado? É porque não sou como a
Barbie?
— Do que você está falando, princesa?
— Eu não sou princesa, não tenho cabelo alisado e
nem amarelo. Por isso que ninguém fica comigo.
Abracei-a forte. Vi em Emma a mesma dor que a
minha, e me odiei por um dia ter pensado em mandá-
la embora. Sofri ao ver que ela tinha pesadelos com
medo de ser abandonada.
Quanto tempo fechei meus olhos e olhei apenas
para a minha própria dor? Fui tão egoísta quanto
minha mãe biológica.
— Emma. — Chamei-a, e ela agora já se
acalmava um pouco. — Eu quero ser seu pai, de
verdade. — Falei. — Você aceita ser minha filha?
Para sempre?
Ela assentiu.
— Você precisa ter certeza disso, pois uma vez
que disser sim, eu nunca mais deixarei você ir
embora, mesmo que apareça tios maravilhosos com
uma casa enorme para te levar eu não vou deixar.
— Não deixe ninguém me levar, papai. — Ela me
abraçou de novo e agarrou-se a minha camiseta com
força. — Eu só quero ficar aqui, com você e a tia
Brooke. Por favor, eu gosto daqui e gosto dos tios
bombeiros também. — Ela soluçou de novo. — Não
me mande embora, papai.
— Nunca, nunca deixarei você partir. — Minha
voz ficou tão embargada e deixei com que as
lágrimas escapassem dos meus olhos, abracei forte a
minha filha. Acho que havia chegado a minha hora, a
hora de enfim ter uma família e ser feliz.
Ficamos abraçados ali por um bom tempo até o
som que pareceu um trovão estourar nossa bolha. Era
o meu estômago, e Emma riu.
— Acho que devemos ir tomar o café da manhã.
— Falei.
— Tô com fome. — Disse Emma.
— Vá se lavar que vou preparar panquecas. —
Avisei.
— Posso ajudar? — Pediu Emma.
— Pode. — Falei e ela abriu um sorriso lindo e
novamente senti aquela pontada no peito. — E
Emma?
— Hum.
— Quem falou essas bobagens para você sobre
cabelos lisos e amarelos? — Ela deu de ombros.
— Todas as princesas são assim, de pele clara, e
todos os pais devem desejar filhos assim. — Emma
era tão articulada. Ela lia muitos livros. Aquilo não
deixava de me impressionar, ela era mais articulada
que o Henry babacão.
— Você não conhece a Tiana?
— Tiana?
— Sim, bem... eu não sei muito, sei que Tiana
vivia com seu pai em Nova Orleans e eles adoravam
cozinhar juntos... mas o ponto aqui é que Tiana não
tem a pele clara, não é loira e nem tem cabelos lisos,
e ela é uma princesa.
— É mesmo? — Emma estava fascinada.
— Procure esse livro na biblioteca da sua escola,
deve estar com o título de “A princesa e o sapo”.
— Tudo bem.
— Agora vá se lavar se quer me ajudar com as
panquecas.
Emma pulou da cama e correu para o banheiro.
Segui para a cozinha animado e peguei os
ingredientes. Emma chegou em seguida me ajudou, e
logo estávamos cobertos de farinha e a cozinha estava
uma zona; nossas gargalhadas poderiam ser ouvidas
do lado de fora. No rádio começou a tocar Jailhouse
22
Rock e comecei a dançar fazendo Emma gargalhar
até se curvar na cadeira. Eu a peguei no colo e
começamos a rodopiar na cozinha. Aquela se tornou
minha música favorita da vida, e aquele dia o melhor
de todos.
— Pai eu posso ser a princesa Tiana? Porque
gosto muito de cozinhar contigo como ela gosta com
o pai dela.
— Só tem um problema, Emma. — Falei, e ela me
encarou séria. — Você é muito mais bonita e especial
que a Tiana.

Emma abriu um sorriso enorme, depois de


tomarmos nosso café ela foi tomar um banho. Depois
de limpar tudo e me banhar também, nos sentamos no
sofá e assistimos Shrek no aparelho de dvd.

Na segunda-feira fui para o trabalho renovado, me


sentia tão feliz e satisfeito. Tive um fim de semana
maravilhoso, fazia tempo que não tinha um fim de
semana inteiro livre e aquele foi o melhor. Fui direto
na sala de Duke quando cheguei.
— Bom dia, Mason. Pelo visto está de bom
humor. — Cumprimentou-me Duke.
— Quero te agradecer. — Falei.
— Me agradecer pelo que?
— Por todos os seus conselhos. Vou ficar com
Emma, não vou deixar ninguém tirar ela de mim. —
Duke levantou-se e veio até mim me abraçando,
aquilo me surpreendeu.
— Eu sabia que você faria a escolha certa. Já
estava me irritando com aquele papo de mandar ela
para os parentes. — Duke me encarou. — Um pai
precisa ser pai, não pode passar a responsabilidade
para outra pessoa.
— Eu sei, Duke. Eu a amo e vou cuidar dela para
sempre. — Duke me deu tapinhas no braço.
— Muito bem. Agora já para o trabalho. — Sorri.
— Sim, senhor.
Eu estava animado para começar aquela semana
longa de trabalho. Esbarrei com Crystal na hora em
que sai da sala de Duke.
— Mason, o cara que eu estava procurando. E aí,
vamos fazer a foto para o calendário?
— Sim. — Respondi e ela me encarou incrédula.
— Sim?
— Se a minha namorada não se importar, sim. —
Dei de ombros e fui assoviando para o refeitório,
deixando uma Crystal de queixo caído no meio do
corredor.
Nem tive tempo de sentar, pois em seguida o
alarme soou e tive que ir para mais um trabalho. Me
sentindo um homem diferente, pela primeira vez em
que entrei em um prédio em chamas, temi por minha
vida. Eu precisava sair vivo dali, para voltar para as
minhas garotas.
Treze
Quando isso começou não tem importância. Eu só
vejo a perfeição nos meus olhos. Neste mundo
23
cinzento, apenas seus lábios vermelhos brilham

Brooke
Cheguei em casa exausta. Segundas eram sempre
difíceis, as crianças ainda estavam agitadas e
cansadas pelo fim de semana; e assim como os
adultos na segunda-feira, as crianças também ficavam
de mau-humor. A primeira coisa que fiz ao chegar em
casa foi despir minhas roupas e entrar debaixo do
chuveiro. Prendi meu cabelo em um coque e deixei
que a água levasse embora o meu cansaço.
Coloquei um vestido ao sair do banho, algo
simples, mas bonito. Mason viria hoje, ele mandou
uma mensagem confirmando, e eu queria estar pelo
menos um pouco bonita para quando ele chegasse.
Coloquei uma água para ferver e peguei um miojo
de copo, pois não estava com ânimo para cozinhar.
Sentei no sofá com meu livro a tira colo e esperei por
Mason.
Antes que a água começasse a ferver, escutei
batidas na porta. Meu coração automaticamente ficou
aos pulos e me encarei no espelho não antes de
esbarrar na mesinha de centro. Engoli um palavrão e
encarei a maldita mesinha com raiva; iria jogar aquele
móvel inútil no lixo.
Abri a porta e lá estava ele, em toda a sua glória.
Ele usava uma camiseta branca, o que evidenciava
seus músculos e sua pele bronzeada; e tinha um
sorriso estampado no rosto ao mesmo tempo em que
seu olhar era tão intenso que fez com que minha
garganta secasse. Me arrependi de não colocar meus
saltos. Ele deveria ter mais que um metro e noventa, e
eu com os meus 1,63mts parecia uma anã perto dele.
— Não vai me convidar para entrar? — Perguntou
ele. Eu o tinha visto no sábado e na madrugada de
domingo, mas ainda parecia que era a primeira vez
que eu o encarava pois sempre me surpreendia com
seu tamanho, sua beleza e sua força.
— Entre. — Dei espaço para ele passar, e ele
sentou-se na grande poltrona. — Quer algo para
beber?
— Você. — Ele me puxou pela cintura e dei um
gritinho assustado. Mason me colocou sobre seu colo
e beijou minha boca com vontade, e me entreguei ao
beijo no mesmo instante, sentindo sua língua
penetrando minha boca e provocando a minha.
Agarrei-me aos seus braços fortes, e logo o beijo foi
interrompido com ambos ofegantes e querendo mais.
— Senti sua falta. — Ele disse.
— Eu também senti sua falta. — Ele me abraçou
forte e apoiou sua cabeça em meu peito.
— Queria ficar com você um pouco hoje, mas
Emma está me esperando.
— Sim. Emma parecia radiante hoje na escola,
aconteceu alguma coisa?
— Sim, nós cozinhamos, dançamos e vimos
desenhos animados juntos ontem. — Disse ele. e
pude notar o sorriso em sua voz mesmo sem estar
vendo seu rosto, que estava no meu peito. Eu sabia
que ele estava sorrindo. — Nós nos conectamos. —
Disse ele, sorri também.
— Eu estou tão feliz por vocês dois. — Senti meu
peito inflar. Já amava aqueles dois... era tão fácil
amar a eles, me apaixonar por Mason e Emma foi
mais rápido do que preparar um miojo, levou menos
de 3 minutos.
— É tudo graças a você. — Disse ele, que afastou-
se um pouco e me encarou. — Nossa Bela Brooke, o
anjo que apareceu no nosso caminho. — Fiquei
vermelha igual a um tomate.
— Eu não fiz nada demais.
— Você fez tudo. Se não fosse por você, eu ainda
estaria encarando minha própria dor e não enxergaria
Emma. Obrigado, Brooke. — Sorri e acariciei seu
rosto.
— Quer dizer que aquele Mason que conheci
antes era apenas uma casca de proteção? Esse cara
que conversa e é carinhoso é que é o verdadeiro
Mason?
— Eu não queria deixar que ninguém se
aproximasse. Se eu deixasse alguém entrar, quando
essa pessoa me abandonasse seria doloroso demais.
— Por que alguém abandonaria você? Depois que
te conhecemos melhor é impossível deixar você ir. —
Falei com sinceridade. Mason estava colado em
minha pele e alma, eu jamais poderia deixa-lo ir...
não sem perder parte de mim no processo.
Ele me encarou em silêncio por um longo tempo
antes de falar.
— Quer ser minha namorada? — Eu o encarei,
surpresa. — Eu também não posso deixá-la ir... não
paro de pensar em você desde aquele dia em que vim
conter o incêndio. — Ele falava tudo isso me olhando
nos olhos, e vi ali toda a sua sinceridade. — Não
pense que é por gratidão por ter me ajudado com
Emma, não é nada disso; você me deixou louco desde
a primeira chamada para conter o incêndio, e desde
então minha afeição apenas cresceu mais e mais.
Claro que você se dar bem com minha filha é um
bônus, mas saiba, Brooke, que gosto de você por
quem você é, e quero muito namorar com você. Quer
ser a minha primeira namorada?
— Primeira namorada? — Meu coração batia tão
forte que eu não conseguia raciocinar direito.
— Isso, nunca namorei ninguém, nunca deixei
ninguém chegar perto o bastante; então esteja ciente
que vai ter que me ensinar essa coisa de namoro, sou
uma negação para isso.
— Eu quero. — Respondi e beijei sua boca.
Mason agarrou em minha cintura e aprofundou o
beijo, e tive de lembrar de me afastar, afinal Emma
esperava por ele. — Vamos aprender a namorar
juntos. — Falei.
— Você nunca namorou também? — Perguntou
ele.
— Eu namorei, mas há uns seis anos, e nem me
lembro como se faz. — Ele parecia chateado. — O
que foi?
— Queria ser seu primeiro namorado. — Ele
parecia um menininho que foi negado doce, e eu ri
antes de o abraçar forte.
— Você é um ursão fofo. — Falei.
— Eu não sou nada fofo.
— Ah, você é sim, um grande ursão. — Dei um
beijo em sua testa e levantei do seu colo. — Agora vá
para a casa, Emma está te esperando.
— Eu vou. Janta com a gente na sexta-feira?
— Janto sim.
— E vamos contar a Emma. — Assenti.
— Combinado grandão. — Fui até a porta para
abrir para ele e fiquei na ponta dos pés para dar um
selinho em seus lábios.
— Me liga amanhã?
— Sim. — Confirmei e fiquei encarando enquanto
ele se afastava, mas ele girou nos calcanhares antes
de chegar no carro e voltou até mim.
— Esqueci de perguntar. — Arqueei a
sobrancelha, esperando ele falar. — Você se importa
se eu posar para um calendário.
— Calendário?
— Sim. — Ele parecia sem jeito. — A venda do
calendário é para ajudar o hospital de pessoas que
sofrem com as queimaduras.
— Com uma condição. — Falei com ousadia.
— Qual?
— Que eu possa assistir seu ensaio de fotos. —
Mason arregalou os olhos e em seguida sorriu com
malícia.
— Tudo bem.
— Então perfeito.
Nos despedimos mais uma vez e vi ele afastar-se
com o carro. Sorri satisfeita ao entrar dentro de casa.
Fui até a cozinha e liguei novamente a chaleira
elétrica; havia comprado uma daquelas depois de ter
queimado duas chaleiras no fogão, já que aquela
depois de ferver a água desligava sozinha. Liguei-a
de novo, comi meu miojo e fui descansar.
Quatorze
Eu quero isso, esse amor, eu quero isso, amor
verdadeiro, eu só me concentro em você; você está
me atraindo com mais força. Meu DNA te quer
desde o início. Isso é inevitável, eu amo nós dois
24
juntos. Somos os únicos e verdadeiros amantes

Mason
Mais um incêndio criminoso foi atendido
naquela semana. Os policiais estavam agitados, e já
tinham formado o perfil do incendiário: ele
25
provavelmente tinha TOC , ele teve problemas com
os pais na infância, veio de uma família de classe
média alta, não sente remorso ao matar, tem um
objetivo, e na sua mente doentia ele está limpando a
sujeira do mundo; mas o que mais me deixou
impressionado no profiler que os detetives criaram é
ele era um bombeiro ou tinha um grande
conhecimento sobre substâncias inflamáveis e
acelerantes; e sua assinatura o laço vermelho e era
algo que tinha relação a sua infância.
Eu não sabia dizer se tudo aquilo era uma fantasia
da mente dos detetives que criam perfis de assassinos
em série, mas o fato deles dizerem que poderia ser
um bombeiro, apesar de diminuir as probabilidades,
me deu medo. Existiam bombeiros demais em
Chicago e levaria muito tempo para eles encontrarem
o culpado e pior, e se fosse um dos meus colegas?
— Não vai para a casa, Mason? — Perguntou-me
Caleb.
— Já vou, hoje vou jantar com as minhas
meninas. — Falei satisfeito.
— Você mudou da água para o vinho desde que
essas duas entraram na sua vida. Estou feliz por você,
cara. — Disse ele.
— Obrigado, mas não pense que vou mudar muito
o tratamento que tenho com vocês imbecis. — Ele
gargalhou.
— Eu de forma alguma esperava por isso. Hoje
vou jantar com minha namorada em um restaurante
bacana, depois vamos passar a noite juntos. — Ele
sorriu satisfeito.
— Até quando vai enrolar a moça e a tratar como
namorada? Um vive no apartamento do outro...
quando vai criar vergonha e comprar um apartamento
para vocês viverem juntos, você tem quase vinte e
nove anos. — Duke falou trancando sua sala ao sair.
— Hey, estamos conversando sobre isso...
queremos começar a vida juntos. Ela recém foi
promovida e pretendo me casar logo com ela, uma
joia assim a gente não deixa solta.
— É bom mesmo, ou posso roubá-la para mim. —
Disse Duke sorrindo.
— Duke, com todo o respeito, mas você já era....
— Disse Caleb.
— O quê? Sou um coroa enxuto é o que dizem, e
as mulheres adoram um bombeiro, e um homem mais
experiente... foi o que ouvi da minha filha, que me
inscreveu no Tinder.
— Oh meu Deus, Duke está no Tinder! É o fim do
mundo. — Disse Caleb aos risos.
— Meus ouvidos doem. — Falei. — Vou para a
casa, ou as bobagens de vocês vão destruir meus
tímpanos.
— Mason, cara, a gente precisa entrar no Tinder
para ler o perfil do Duke. Cara, ele vai ser zoado até
2050. — Caleb se curvou e limpou as lágrimas do
rosto de tanto que ria.
— Quando achar o perfil me mostre, preciso ver
isso. — Falei e peguei minha mochila.
— Até você, Mason! — Acusou-me Duke. — Por
que diabos fui abrir a minha boca?
— Se Michael não estivesse saindo com a Phoebe
iria apresentá-la para você... ela adora um bombeiro.
— Zombou Caleb, e deixei os dois lá zoando um ao
outro enquanto eu me dirigia até o meu carro rindo
das suas bobagens.
Depois de pegar Emma na casa de Daniel,
seguimos para a casa de Brooke.
— Como foi seu dia na escola hoje? — Perguntei
para Emma, que estava animada para encontrar com
Brooke mesmo já tendo visto-a na escola.
— Foi muito bom. Minha amiga Julia me
convidou para sua festa de aniversário, e achei o livro
da princesa e o sapo. — Vi ela mexendo em sua
mochila pelo espelho retrovisor, até que tirou um
livro grande com a princesa Tiana ilustrada na capa.
— Que ótimo. Me conte mais sobre essa Julia e
onde será essa festa?
— Será na casa dela e num sábado...
Emma começou a falar de sua amiga Julia e eu a
amei. Brooke havia me dito que Emma não tinha
nenhum amigo, e agora ela já até fizera amizade com
Julia e falou sobre um garoto chamado Paul que
importunava as duas.
Paramos em frente à casa de Brooke e ela já
estava a nossa espera, lindíssima dentro de um jeans
justo e uma blusa branca com jaqueta preta por cima.
Ela carregava uma bolsa e sorriu. Assim que entrou
no carro, seu perfume preenchendo o espaço. Senti
calafrios e calor ao mesmo tempo e meu coração
acelerou. Eu me perguntava sempre o que uma
mulher tão maravilhosa como ela viu em mim, eu era
a porra de um sortudo.
— Boa noite, Mason, Emma...
— Oi, tia Brooke. Estou feliz em jantar com você
de novo. — Brooke colocou o cinto e dei partida, mas
pude notar seu sorriso satisfeito ao comentário de
Emma.
— Também estou muito feliz, Emma.
Continuei dirigindo enquanto as duas
conversavam sobre as aulas em uma harmonia
tranquila. Meus pensamentos agora haviam se
direcionado para a minha conversa com Duke
naquela manhã.

— Duke preciso de sua ajuda. — Falei tenso.


— Pode falar meu amigo, aconteceu alguma coisa
com Emma?
Nervoso me sentei diante dele.
— Não exatamente, mas me dei conta de que estou
em uma situação delicada. — Duke ficou me
encarando, com aquela calma e força que imaginei
que só um pai de verdade poderia transmitir. —
Emma não está registrada em meu nome, apenas no
nome da mãe, e gostaria de agilizar isso.
— Sim, você está certo. — Duke ficou pensativo
por um tempo. — Eu conheço um advogado, e ele
pode ver isso para você.
— Por favor me passe o contato dele. Não posso
perder Emma se sua mãe resolver voltar e querer
arrancar dela de mim. — Meus olhos se encheram de
água só de imaginar tal coisa acontecendo.
— Você realmente é um pai. — Disse Duke
sorrindo. — Vou te passar o contato dele agora
mesmo. — Ele remexeu nas gavetas e logo retirou de
lá um cartão: Joshua Thompson. — Ele administra
uma ONG para animais abandonados, mas é
formado em direito e amigo de Camille. Se você ligar
para ele e falar que me conhece, ele vai ajudar você.
Ele entende disso já que adotou duas crianças.
— Obrigado, Duke, irei ligar para ele hoje mesmo
e marcar um encontro. — Duke estendeu a mão sobre
a mesa e apertou a minha.
— Você vai conseguir. Eu sempre soube que
dentro daquele exterior mal-humorado vivia um
grande homem, filho.
Encarei Duke quando ele disse aquela simples
frase e finalizando com a palavra filho. Ele tinha
essa sabedoria sem igual, e realmente era o pai de
todos ali no batalhão.
— Obrigado, Duke. Jamais vou esquecer tudo o
que você fez por mim. — Apertei sua mão de volta, e
me despedi da única figura paterna que já tive. Antes
de sair me virei e disse: — Camille tem sorte de ter
você como pai.
— E Emma de ter você. — Assenti e deixei a sala.
Liguei para o número indicado e um homem
chamado Matthew atendeu a ligação. Ele disse ser
companheiro de Joshua, e que ele tinha dado uma
saída, lhe expliquei minha situação e com ele mesmo
marquei de me encontrar com Joshua na segunda-
feira para ele me explicar o que precisava ser feito
em uma situação dessas.
Eu queria garantir que ninguém tiraria Emma de
mim, principalmente agora que nossos laços estavam
se tornando mais profundos. Não queria que Allison
aparecesse em minha porta e a tirasse de mim da
mesma forma que a jogou em meus braços.

— Mason? — Pisquei e encarei Brooke.


— Sim.
— Você passou direto pelo seu prédio. — Ela
sorriu. — Estava tão distraído que até parecia eu. —
Disse ela.
— Oh, estava com muita coisa na cabeça. Vamos
fazer o retorno. — Emma estava agitada no banco de
trás e não paravam de falar sobre livros. Logo
cheguei no meu prédio, estacionei o carro, e com as
minhas duas garotas segui para o apartamento.
— Vou preparar o jantar. — Falei para elas.
— Papai, podíamos comer pizza hoje ao invés de
cozinhar. — Disse Emma.
— Pizza? — Questionei.
— Sim, eu comi pizza só uma vez, e eu realmente
gostei. — Fiquei me perguntando como Emma vivia
antes de vir para a minha vida, para nunca ter ido ao
parque de diversões e ter comido pizza apenas uma
vez. Resolvi que descobriria isso naquela noite.
— Ótimo, então vamos de pizza. Tudo bem para
você, Brooke?
— Claro, pizza me parece uma ótima escolha.
Em poucos minutos elas decidiram o sabor e
pedimos a pizza.
— Onde você morava antes para só ter comido
pizza uma vez, Emma? — Perguntei casualmente.
Estávamos na sala, elas acomodadas no meu
velho, mas confortável, sofá e eu sentado na minha
grande poltrona.
— O meu antigo pai era doente da barriga e não
podia comer pizza ou beber leite. — Disse ela.
— Intolerante a lactose. — Brooke falou.
— Isso. E então nós nunca comíamos pizza.
— Seu antigo pai, ele era bom para você? —
Perguntei. Iria matar o desgraçado se ele tivesse
maltratado Emma, nem que tivesse que procurá-lo
nos confins do inferno.
— Ele era normal, nunca estava em casa, só
trabalhava, mas era legal... até ele e a mamãe
começarem a brigar depois que ele foi ao médico. —
Emma ficou pensativa e voltou a falar. — Mamãe
estava tentando me dar um irmão, mas demorou
demais. O papai foi no médico, então voltou furioso
com a mamãe, e eles foram num lugar com pessoas
de gravata e que tinha papéis e carimbos.
— Cartório? — Brooke estimulou Emma a
continuar.
— Isso, e então daquele dia em diante ele disse
que não podia mais ser meu pai, me abraçou e foi
embora. — Emma baixou o olhar e parecia triste.
— Você deve sentir muito a falta dele. — Falei.
— Um pouco, mas agora estou feliz. — Ela veio
até mim e sentou no meu colo. — Agora tenho você,
papai.
— E eu prometo nunca deixar você. — Falei
olhando a nos olhos. — Por isso temos que em breve
ir até o cartório, para registrar você como minha filha.
— Eu sou sua filha, por que temos que colocar em
um papel? — Perguntou Emma curiosa.
— O mundo é assim, meu bem, eles precisam de
um papel para provar certas coisas. É igual o
casamento.
— Hum, entendi.
— Você é muito inteligente, Emma. Já lhe disse
isso, não? — Falou Brooke. Vi que ela tinha limpado
uma lágrima com as costas da mão e a encarei com
paixão.
— Sim, eu sei. — Emma sorriu. — Vocês estão
namorando? — Brooke tossiu e eu fiquei com as
mãos suando. — Seria muito legal se vocês ficassem
juntos, assim tia Brooke poderia ser minha mãe. —
Arregalei os olhos. Emma não parava de falar. — Eu
gosto muito de você, papai, e muito de tia Brooke.
Você quer ser minha mãe, tia?
— Emma, eu adoraria ser uma figura materna para
você, e... — Brooke me encarou, seu olhar
implorando por ajuda.
— Estamos namorando Emma... iria esperar até
jantarmos para contar para você. — Falei e Emma
automaticamente bateu palmas de alegria.
— Oba! Eu sabia que isso iria acontecer desde que
li a Bela e a Fera. Papai antes era mal-humorado e
briguento, assim como a Fera, até conhecer a Bela e
tudo mudar.
— Acho que é meu destino ter mulheres que leem
muito na minha vida. — Falei e encarei meu
apartamento. — Parece que vou ter que comprar um
castelo se quiser montar a biblioteca dos sonhos de
vocês.
— Sim, papai. Por favor. — Eu ri do entusiasmo
de Emma, e logo a pizza chegou.
Conversamos sobre Julia, e Brooke me explicou
que era uma boa menina e sobre seus pais que eram
pessoas maravilhosas, que eu poderia levar Emma a
festinha com tranquilidade, que Emma estaria em
boas mãos.
Logo levei Emma para seu quarto e ela me pediu
que lesse um pouco de “A Princesa e o Sapo” para
ela. Mal terminei a primeira página e Emma já estava
adormecida, agarrada ao senhor panda.
Brooke estava lavando as louças quando cheguei
na cozinha. Eu a abracei por trás e beijei sua nuca.
— Deixa isso para lá e vamos para a cama. —
Pedi.
— Você não vai me levar para a casa? —
Perguntou ela.
— Não, hoje vou prender a Bela em meu castelo.
— Eu a virei para mim e segurei firme em sua
cintura.
— Mason, minhas mãos estão molhadas. —
Protestou ela.
— E quem se importa. — Eu a ergui no colo e
levei para o quarto.
— Você é maluco.
— Por você, só por você, e cada dia que passa fico
mais maluco por você. Eu sou um filho da puta
sortudo por ter você na minha vida.
Provoquei seu pescoço com a língua e comecei a
tirar suas roupas. Brooke arrancou minha camisa e
calça e chutamos nossos sapatos para longe.
Brooke me empurrou sobre a cama e me colocou
em sua boca, então soltei um grunhido de surpresa.
Ela passou a língua na ponta, e logo me sugou para
dentro de sua boca o máximo que ela conseguiu.
Fiquei louco ao ver aquela cena, seus lábios rosados
me engolindo.
Em seguida mudei o jogo e a coloquei de barriga
para cima na cama, e foi minha vez de prová-la.
Passei a língua entre suas pernas, suas dobras
estavam úmidas e deliciosas. Chupei seu clitóris até
Brooke gritar de tesão, e após vestir o preservativo a
penetrei, olhando em seus olhos, amando-a como ela
merecia.
Eu me entreguei de corpo e alma, me doando para
ela e recebendo o que ela me doava de volta.
Adormecemos nos braços um do outro. Tive outro
pesadelo, e acordei suado e assustado, sentindo
Brooke me abraçar e dizer que tudo iria ficar bem. Eu
não lembrava do pesadelo, era algo incomum, pois
sempre lembrava com nitidez.
Depois que eu me acalmei, Brooke pediu que eu
deitasse em seu peito e me abraçou forte, fazendo
cafuné no meu cabelo.
— Shhh, está tudo bem. Está tudo bem, Mason...
— Escutando as batidas do seu coração, adormeci
novamente e não tive pesadelos.
Quinze
Oh, baby; o amor nunca foi tão legal. E eu duvido
que seja meu; Não como você me abraça, me abraça
E a noite vai ficar tudo bem. Tenho que voar,
26
tenho que ver, não posso acreditar

Brooke
Mason começou a se mover em cima de mim.
Adormecemos daquela forma, com ele deitado em
meu peito, e os pesadelos não voltaram. As luzes da
manhã começaram a invadir através das frestas da
veneziana da janela. Ele levantou a cabeça e me
encarou com um sorriso sonolento.
— Bom dia. — Falei para ele.
— Bom dia. Desculpe amassar você. — Ele se
moveu e deitou ao meu lado na cama.
— Tudo bem, você me aqueceu pela noite inteira.
— Virei de lado para olhar para ele, que encarava o
teto. — Você sempre tem pesadelos?
— Sempre. Quando sonho são pesadelos, ou então
é tudo escuro. — Disse ele me encarando.
— Me conte seus pesadelos; assim posso te ajudar
a espantá-los. — Pedi e ele desviou o olhar.
— Tenho medo de te contar e você sair correndo
por essa porta.
— Eu sou louca por você, é tarde demais para
fugir. — Segurei em seu braço. — Confie em mim.
Ele me encarou por alguns momentos antes de
suspirar e olhar para o teto.
— Tudo bem. Se for para você desistir de nós, que
seja agora do que depois que será mais doloroso.
— Eu não vou a lugar algum. — Falei com
convicção.
— Isso é porque você não sabe o quão quebrado
estou. — Disse ele.
— Eu... — Fiquei insegura de falar aquilo tão
depressa; mas por que eu estava adiando o óbvio? Por
que as pessoas faziam esses joguinhos hoje em dia?
Não vou dizer que o amo primeiro, sendo que elas
sentiam isso em seus corações. Quem inventou esses
joguinhos? O amor era simples e puro. — Eu te amo,
Mason, e não vou há lugar algum.
Ele me encarou, surpreso, e continuei olhando
firme em seus olhos. eu sentia dentro do meu coração
que o amava, então por que ficar de joguinhos
esperando ele falar primeiro? Aquilo não fazia muito
sentido. E eu não tinha paciência para joguinhos.
— Eu amo tanto que sinto que meu peito vai
explodir; então divida comigo seus medos, que irei te
ajudar a lidar com eles. — Pedi.
Ele suspirou. Vi que estava em um dilema. Ele
não disse que me amava também, mas não me
importei. Ele estava vulnerável; certamente pensando
em seus pesadelos terríveis. Ele encarou o teto
novamente e limpou a garganta.
— Essa é a primeira e a última vez que contarei
isso para alguém. — Começou ele. — Se você partir
depois de eu contar isso, eu vou me dedicar a Emma
apenas, e nunca mais vou me envolver com mulher
alguma... só vou amar e cuidar da minha filha.
Fiquei em silêncio, dando espaço para ele falar.
— Quando eu tinha quatro anos de idade fui
vendido pela minha mãe, por aquela que dizia ser
minha mãe. Na verdade quem me criou desde que eu
nasci foi minha irmã, mas quando ela foi embora eu
fiquei aos cuidados desta mulher que apenas me
lembrava que eu era um peso e o quão inútil eu era.
— Ele suspirou. — Lembro claramente quando ela
me vendeu para um casal por algumas centenas de
dólares. Eu não deveria lembrar dos meus quatro anos
de idade como qualquer criança normal, mas eu
lembro em detalhes. Eu estava morrendo de medo. Os
dois estranhos me levaram, mas uma semana se
passou, eles me alimentavam, e a mulher era amorosa
comigo... mas isso foi apenas uma semana de ilusão;
acho que era alguma espécie de teste psicológico para
que eu não fugisse; igual a um cachorro que você
adota e alimenta no começo, e depois se começar a
bater nele ele vai ser obediente e não vai partir. —
Ele suspirou. — No primeiro ano começaram as
surras, ele me batia por diversão, e ela apenas ficava
observando em silêncio... antes eu apanhar do que
ela, não é mesmo? E nos anos seguintes... — Mason
ficou em silêncio e lágrimas escorreram por sua face,
eu já estava chorando por aquele menininho que
sofreu tanto.
— Eu estou aqui. — Sussurrei, segurando firme
em sua mão. — E não vou há lugar algum.
— Ele me tocava, de uma forma que não se deve
tocar em uma criança. — Ele chorava em silêncio, e
tapei minha boca para conter um soluço. — Eu
cheguei a sentir falta das surras. Apanhar era mais
suportável do que brincar com o papai. — Ele limpou
a garganta. — E então quando eu já tinha quase dez
anos de idade, ele não me queria mais. Eu era muito
velho para brincar com ele, ele gostava de mais novos
que dez anos. Ele e aquela mulher foram procurar
minha mãe, mas descobriram que ela morreu após
uma overdose de cocaína, e então em uma noite
acordei na porta de uma casa de adoção. Lá me
batiam e me faziam trabalhar na limpeza do orfanato.
Eu comia pão e mingau, carne quando tinha sorte.
Foram os anos dourados da minha vida, pois só não
queria voltar para aquela casa. Obviamente ninguém
me adotou, afinal eu já era bem grande para dez anos
de idade... acho que aquela cara pensava que eu iria
espancá-lo se continuasse a brincar comigo. — Ele
suspirou cansado. — Eu apenas decidi estudar e
estudar. Eu queria ser um juiz, acabaria com essa
escória do mundo, e com esses seres desprezíveis que
fazem isso com crianças.
— O que te fez mudar de ideia e se tornar um
bombeiro?
— Duke. Ele não sabe disso, mas o conheci antes
mesmo de começar a trabalhar com ele. — Ele deu
um sorriso triste. — Um dia voltando do colegial
passei em frente a uma dessas tvs que passam
notícias, e Duke estava lá. Ele tinha salvo muitas
vidas e todos estavam horados em ter um herói como
ele no país. Até mesmo o presidente, se não me
27
engano era o Clinton na época, enviou uma medalha
a Duke, e pensei em como queria que aquele cara
fosse meu pai. Então resolvi ser bombeiro e trabalhar
no batalhão dele, lutei tanto e consegui.
Mason levantou da cama, vi que estava fugido de
mim. Levantei rápido na cama e o abracei por trás,
entrelaçando as pernas ao redor da sua cintura e os
braços ao redor do seu pescoço.
— Eu te amo, eu ainda estou aqui, e eu nunca vou
embora. — Ele ficou parado sem reação alguma, e eu
o apertei firme. — Você não pode me afastar mais.
— Brooke... eu sofri abuso na infância. Mulher
nenhuma vai querer ficar com um cara assim... não
fique comigo por pena.
— Pena? Tenho vontade de te bater nesse
momento homem ridículo! Eu amo você e quero
construir uma vida com você. Acha mesmo que eu
abriria mão da minha liberdade por pena? Eu te amo,
porra!
Mason soltou meus braços e caí na cama. Ele logo
estava em cima de mim, e me penetrou; sem
barreiras, pele com pele, coração com coração.
— Eu amo você também. Por Deus, como eu amo.
— E então em meio aquele sexo intenso e cheio de
emoções nossas lágrimas se misturaram e nossa
conexão ficou tão intensa que sabia que nada mais
iria nos separar.

Mason foi trabalhar naquela manhã de sábado. Ele


pretendia levar Emma para a casa de Daniel, já que a
esposa dele tomaria conta dela, mas não permiti... eu
poderia muito bem ficar com Emma e assim não
ficaria sozinha. Pedi apenas que Mason me levasse
até em casa para que eu recolhesse meu material e
pudesse trabalhar na casa dele. Tinha de preparar
aulas no sábado, para que assim eu pudesse ficar
descansada no domingo.
Emma ficou lendo livros e fazendo o dever de
casa, e logo ela estava concentrada em seu quarto
brincando de Barbie. Terminei de organizar quase
todas as aulas quando a hora do almoço chegou, e
preparei para nós duas, purê de batatas e carne de
panela.
— Tia Brooke isso está muito bom. — Sorri para
ela. — Eu nunca comi purê de batatas.
— Nunca?
— Não. Como eu disse, meu pai tinha dor de
barriga e minha mãe só cuidava dele. Depois que ele
foi embora, eu comia só miojo, e mamãe se zangava
se eu dissesse que estava com fome. Ela dizia ser
culpa minha o papai ter ido embora, que ele foi
embora porque eu era uma filha ruim.
— Emma, quando os adultos se separam é porque
não se amam mais. Seu pai não foi embora por sua
causa, mas sim porque ele e sua mãe não se amavam
mais. — Expliquei. — Não pense em momento
algum que foi sua culpa... sua mãe estava com raiva,
e as pessoas com raiva falam coisas sem pensar.
Tenho certeza de que ela está arrependida do que
disse.
— Você e o papai vão deixar de se amar um dia?
— Ela perguntou inesperadamente.
— Não sei o que o destino nos reserva, Emma;
mas uma coisa é certa. — Ela me encarava com
atenção. — Meu amor por você nunca vai acabar. e
sempre irei vê-la mesmo se eu e seu pai não dermos
certo; e o amor que ele sente por você também é para
todo o sempre, ele nunca vai te deixar.
— De verdade, tia Brooke? Papai nunca vai me
deixar?
— De verdade, Emma. — Garanti.
Ali naquela casa estavam dois corações
quebrados, que unidos se tornariam um só. Cada dia
que passava eu tinha cada vez mais determinação de
fazer os dois felizes e com isso encontrar a minha
própria felicidade.
Depois do almoço colocamos um filme no
aparelho de DVD, e então escutei a campainha do
apartamento e fui atender a porta.
Na minha frente estava uma mulher magra e alta.
Seus cabelos eram negros, lábios carnudos, e seu
olhar entediado.
— Em que posso ajudá-la? — Perguntei.
— Aqui é o apartamento de Mason Pollack? —
Perguntou ela.
— Sim é. Você é quem? — Perguntei. Vi que
Emma veio até a porta de curiosa, e então logo
agarrou minha mão com força e arregalou os olhos.
— Olha se não é a minha filhinha. — Disse a
mulher.
— Tia Brooke, eu quero meu pai, eu quero meu
pai. — Disse Emma nervosa e saiu correndo batendo
a porta do seu quarto.
— Como vê, sou a mãe dessa garota. — Disse ela,
que já ia entrando, mas a impedi.
— Mason não está em casa. — Respondi. —
Agora se me der licença, vou acalmar Emma.
— E você por acaso acha que é quem para
mandar? — Falou ela. — Eu sou a mãe da garota, e
tenho o direito de entrar.
— Você perdeu esse direito quando abandonou
Emma. Com licença. — Bati a porta na cara dela e
tranquei a porta.
Ela continuou batendo na porta histérica, peguei o
celular e mandei uma mensagem para Mason. Fui até
o quarto de Emma, que me agarrou no pescoço e
implorou para que não deixasse que sua mãe a
levasse embora.
Dezesseis
Ei, garotinha, preto e branco, certo e errado. Só
vivem dentro de uma canção, que eu cantarei para
você. Você não precisa se sentir só. Você nunca
perderá nenhuma lágrima. Você não precisa se
28
sentir triste

Mason
Depois de conter as chamas ali perto do batalhão
que alguns adolescentes idiotas fumando maconha
causaram, peguei meu celular e vi a mensagem.
A mãe de Emma está na porta do seu
apartamento. Por favor, venha logo. Emma está
nervosa.
Meu coração parou e toda a minha alegria foi
drenada do meu corpo.
Corri na hora para a sala de Duke e lhe mostrei a
mensagem.
— Poxa, eu estava tão perto. Por que ela voltou
agora? — Falei frustrado.
— Mason, acalme-se. — Disse Duke. — Perder a
calma agora não é uma boa.
— Minha vontade é de matá-la. — Disse com
raiva.
— E passar o resto da sua vida na cadeia enquanto
sua filha é enviada para alguma instituição do
governo? Seja racional e se acalme. Só vou deixar
você sair daqui se se acalmar. — Frustrado, bufei.
— Você sabe que não pode me prender aqui.
— Eu sei. Mas use a razão. De jeito algum a deixe
levar Emma embora.
— Eu nunca cogitei deixá-la levar Emma de mim.
Se fosse a um tempo atrás até poderia chegar a isso,
mas não agora.
— Então vá até lá, sua filha deve estar com medo.
Ela precisa que você esteja calmo. Seja uma rocha
para ela, Mason.
Assenti e ao entrar no carro peguei meu velho
maço de cigarros no porta luvas e acendi um. Havia
prometido a mim mesmo não fumar mais, pois Emma
não gostava do meu vício, mas naquele momento de
tensão, pedi perdão a Emma mentalmente e traguei
com vontade.
Ao chegar no apartamento encontrei Allison
plantada diante da porta furiosa. Ela me encarou no
momento que subi as escadas.
Eu havia cometido dois pecados, pois fumei dois
cigarros, mas aquilo ainda assim não me acalmou.
— Tem uma vagabunda no seu apartamento que
não me deixa entrar. — Disse ela e senti vontade de
acertar um tapa em sua cara, mas não batia em
mulheres, por mais que Allison merecesse uns bons
tabefes.
— A única vagabunda que vejo aqui é você.
Peguei o celular e liguei para Brooke que atendeu
em dois toques.
— Onde você está? — Ela perguntou.
— Como está Emma? — Perguntei.
— Está bem. Ela adormeceu depois que lhe contei
uma história.
— Vou sair com Allison para conversar. Volto
quando resolver isso.
— Tudo bem. — Disse Brooke.
— Obrigado, por tudo.
— Não precisa me agradecer. — Disse ela.
— Eu volto assim que isso for resolvido.
— Tudo bem. — Desliguei o celular e peguei
Allison pelo braço.
— Venha comigo.
— Gosto quando você é mandão assim. — Disse
ela rindo. Senti asco. Como pude um dia me envolver
com uma mulher assim? Bem, pelo menos algo de
bom ela havia feito, ela havia me dado Emma.
Chegamos em um café a duas quadras do meu
apartamento, e logo pedi café forte e puro, e ela pediu
29
um café irlandês . Era óbvio que ela já ia beber.
— O que você quer, Allison? — Perguntei
diretamente.
— Eu senti saudades de vocês dois e vim visitar.
Agora, quem é aquela vadia que...
— Eu que faço as perguntas aqui. — Falei e ela
sorriu.
— Sim, senhor.
— Você não estava bem em Vegas? Por que
apareceu de repente?
— Saudades da família é claro.
— Não me venha com esse papinho. Você
abandonou sua filha com um homem que nem
conhece direito, com um caso de uma noite, e sequer
se despediu ou se preocupou em como ela estava.
— Você é o pai dela.
— Tem homens que não nasceram para ser pai. E
se eu fosse um pedófilo ou algo do tipo?
— A menina iria aprender mais cedo o que é ser
mulher. — Disse ela e deu de ombros.
Eu cravei as unhas nas palmas das mãos. Eu
estava com muita raiva daquela mulher, e Deus,
imaginei minhas mãos em sua garganta e vendo a
vida ir embora dos seus olhos.
— Você é doente. — Falei. — Vá embora, Emma
não quer ver você, e ela vai ficar comigo para sempre.
— Quer dizer que você é um bom pai afinal?
— Estou tentando ser. Garanto que serei bem
melhor que você e o idiota com quem era casada.
— Ele era um idiota mesmo. — Ela disse
gargalhando alto. — Acreditou que eu estava grávida
dele e vivi confortável por anos, sem contar quantos
chifres coloquei naquele paspalho... e então ele
descobriu que nasceu estéril. Aquela pamonha levou
mais de cinco anos para se dar conta de que Emma
não era sua filha. — Ela riu alto novamente, como se
tudo aquilo fosse uma grande piada.
— O que preciso fazer para você sumir das nossas
vidas de uma vez por todas? — Questionei
impaciente. — Ou melhor, quanto você quer?
— Ah, agora você está magoando meus
sentimentos. Acha que eu venderia minha filhinha
para você?
— Não me venha com falsidades, você não a ama.
— Amo tanto que quero ela de volta para mim. —
Meu coração parou por alguns milésimos de segundo,
e quase cai em um poço escuro de dor. — Você
precisava ver a sua cara de apavorado agora. —
Allison gargalhou.
— Não brinque comigo. — Eu estava perdendo a
paciência.
Paramos de falar por uns segundos enquanto a
garçonete colocava nossos cafés na nossa frente.
— Você deve ter se apegado a pirralha. — Disse
ela, encarando as unhas. — Afinal, a gente se apega
até mesmo a um cachorro e...
Bati na mesa com força.
— Fala logo, porra, antes que eu me irrite de
verdade com você. — Alterei minha voz e algumas
pessoas nos encararam, Allison pela primeira vez
pareceu levemente assustada. — O que diabos você
quer?
— Tudo bem, preciso de cinco mil dólares. — Ela
disse e bebeu o café. — Acabei jogando no cassino...
Sabe como é Vegas, a gente se empolga. Cinco mil
dólares e sumirei da vida de vocês.
— Você precisa ir comigo a um advogado. Há um
cartório fora da cidade; irei registrar Emma em meu
nome, abrirei um processo no fórum na semana que
vem para ter a guarda definitiva de Emma, e vou te
mandar os papéis e você vai assinar.
— Você acha que farei tudo isso só por cinco mil
dólares? — Perguntou ela em tom de deboche.
— Não, conheço seu tipo, tive uma mãe igual. —
Falei. — Te darei quinze mil dólares. Cinco mil agora
após ir no cartório comigo e mais dez mil depois que
você assinar o papel que passa a guarda definitiva de
Emma para mim.
— Quinze mil. — Ela bateu palmas. — Eu não
imaginava que a garota valia tanto.
Ela vale muito mais que míseros quinze mil
dólares. Pensei. Ela não tem preço. Mas foi tudo o
que consegui juntar nos últimos cinco anos em que
vivi para o trabalho. Na verdade, tinha vinte mil em
minha poupança, mas não entregaria tudo para aquela
mulher. Minha filha precisava de segurança, e aquele
fundo de reserva que eu tinha era para o futuro dela.
— Vamos ao advogado. — Eu já havia ligado
para Joshua e implorado para que ele me ajudasse.
Expliquei a situação por cima, e ele na hora aceitou.
Entrei no carro com aquela mulher detestável e
seguimos para outra cidade em que o cartório estava
aberto.
Lá registrei Emma como minha filha. Na saída lhe
entreguei os cinco mil e peguei seu endereço em
Vegas. Garanti a ela que não controlaria minha raiva,
e se ela se aproximasse novamente de mim ou de
Emma, ela iria morrer.
Quando voltei para a casa já era noite. Eu comprei
minha filha? Isso parecia ridículo até mesmo para
mim, mas faria qualquer coisa para garantir que
Emma ficasse comigo para todo o sempre, mesmo
que tivesse de pagar para sua mãe.
Quando cheguei em casa, estava exausto por tudo
que aconteceu no decorrer daquele dia que mais
pareceu um completo pesadelo.
Emma correu para os meus braços no momento
em que entrei em casa.
— Papai, você não vai deixar que me levem, não
é? Eu não quero ir embora, por favor, papai! Não
deixe que ela me leve, papai... Ela me batia e me
chamava de inútil. Por favor, papai, eu nunca mais
quero ir com ela. Eu te amo, papai, por favor, fique
comigo, eu serei uma boa filha.
Abracei minha menina e chorei junto dela. Brooke
nos observava com lágrimas nos olhos. Em pensar
que quase poderia ter perdido Emma. Se fosse outro
tipo de mãe teria levado ela embora... na verdade se
fosse outro tipo de mãe nem a teria abandonado para
começo de conversa.
— Eu disse para você, nunca irei deixar você ir,
nunca. Você é a minha filha, e vai viver comigo até
se casar um dia.
— Eu nunca irei me casar, papai, irei viver para
sempre aqui. — Gargalhei pela primeira vez naquele
dia eu ri com vontade.
— Eu espero que nunca namore também. — Falei.
— Nunca irei namorar também. — Satisfeito com
a promessa da minha filha de nunca namorar e nunca
casar, eu a abracei feliz.
Deixando-me iludir por aquela promessa, chamei
Brooke com um aceno e ela se juntou ao abraço.
Éramos uma família em construção. Eu iria ficar com
as minhas meninas para sempre, e tentaria esquecer o
passado de vez.
Dezessete
Eu sinto sua falta. Quando eu digo isso. Eu sinto
ainda mais. Estou olhando sua foto, mas ainda
sinto saudades.
30
O tempo é tão cruel

Brooke
Eu havia me tornado parte da família. Desde que
me mudei para Chicago me sentia um tanto sozinha,
já que os meus pais viviam no interior. Claro eu tinha
amigos ótimos na escola, mas depois de jantar com o
batalhão nessa noite, me senti mais inclusa.
— Acho que devemos fazer uma espécie de clube
da Luluzinha para nós. — Disse Crystal. — Esses
homens vivem se unindo, vai que falam mal de nós.
— Eu gosto da ideia. Podemos sair vez ou outra
para beber. — Disse uma moça muito bonita de
cabelos negros e sorriso fácil, que conheci naquela
noite como Karen. Ela era namorada de Caleb e
parecia durona como uma rocha.
— Beber é comigo mesma. — Disse a moça
chamada Phoebe. Ela estava saindo com o bombeiro
Michael, mas foi no jantar pois era melhor amiga de
Karen e amiga de escola de Crystal.
— O que você acha, Camille? Brooke? —
Perguntou Crystal.
— Hey, por que não estou inclusa? Sou um
homem agora? — Minah que descobri recentemente
que era sul-coreana. Ela estava um pouco alta na
bebida, suas bochechas estavam coradas devido ao
álcool.
— Desculpe, Minah... claro que você está inclusa.
— Disse Karen.
— Sim, você pode ser nossa infiltrada no
batalhão. — Disse Crystal de modo conspiratório.
— Eu estou dentro. — Disse Camille. Era a
primeira vez que eu via Camille. Ela era filha de
Duke e parecia ser uma pessoa tão incrível quanto seu
pai. Ela tinha pele negra, cabelos longos e cacheados,
lábios cheios e olhos cor de avelã que brilhavam
quando ela sorria.
Gostei de todos que conheci naquele dia, desde os
bombeiros, até as mulheres.
— Eu gostaria muito. — Falei. — É bom ter
novas amigas, e gostei muito de vocês.
— Eu amei você desde a primeira vez. — Disse
Crystal. — Graças a você teremos Mason no
calendário, e seria um desperdício se ele não fizesse.
Com todo o respeito, claro, mas seu homem é o
destaque do calendário... como ele pode se achar
feio?
Encarei Mason, que estava sorrindo com Emma ao
seu lado e conversando animado com Duke, Tyler e
Michael.
— Ele não sabia o quão lindo era. Tinha uma
barreira que impedia ele de enxergar a si mesmo, mas
aos poucos ele está enxergando o quão especial é. —
Falei para Crystal.
— Você fez maravilhas com ele. Confesso que ele
sempre me assustou um pouco, e olha que sou uma
mulher corajosa. — Disse Camille. — Mas sempre
que ia visitar meu pai ele me recebia com irritação.
— Um animal ferido é arisco quando é muito
machucado. — Falei. — A partir de agora, conheçam
o verdadeiro Mason. — Apontei. — Ele é um cara
incrível e forte... não muito receptivo as pessoas,
ainda é um pouco grosso, mas é muito carinhoso e
amoroso.
— Como eu disse, você é minha pessoa favorita.
— Disse Crystal.
— Ele parou de fumar tem um tempo, disse que
Emma não gostava de cigarros. Ali eu já soube que
ele era um grande cara. — Disse Minah.
— As grandes mudanças que o amor faz. —
Karen propôs um brinde erguendo sua caneca de
cerveja.
— O que estão brindando? Queremos brindar
também. — Disse Duke.
— As grandes mudanças que o amor faz. — Disse
Camille e sorriu para o seu pai. A cumplicidade entre
eles era notável.
— Então vamos todos brindar, ao amor. — Disse
Duke. — As nossas mulheres que nos suportam, aos
nossos filhos que são tesouros abençoados, e as vidas
que salvamos diariamente.
Todos ergueram seus copos, uns com cerveja,
outros com vinho, ou refrigerante, mas todos
brindaram ao amor e sua força. Foi uma ótima noite.
Eu agora tinha minha família de sangue, minha
família na escola, minha família no batalhão, e claro,
meus amados Mason e Emma; e estava cada vez mais
criando laços com eles. Eu estava muito feliz.

Estava calor, era dia 26 de junho, e as crianças já


estavam de férias faziam algumas semanas. Mas
aquele dia era especial, e então estávamos todos
dentro do ônibus a caminho da fábrica de fogos de
artifício. Depois daquele passeio, todos voltariam
para suas casas para aproveitarem mais suas férias,
até o retorno das aulas em agosto.
Enquanto as crianças cantavam canções animadas
eu encarava a janela e sorria. Eu estava em um
momento da vida tão feliz. No feriado Mason e
Emma iriam até a casa dos meus pais, iria apresentar
a eles o homem da minha vida, mostrar a eles que eu
estava bem, e quão incrível era meu namorado.
Minha mãe ficaria um pouco receosa de ver que
meu namorado tinha uma filha... ela talvez me
chamasse em um canto e dissesse que era muita
bagagem que Mason tinha. Eu já estava esperando
por isso, não seria minha mãe se não criticasse. Meu
pai no mesmo momento se apaixonaria por Emma e
lhe mostraria as estrelas através de seu telescópio, e
Emma voltaria de lá com o sonho de ser uma
astronauta.
Em minha infância eu sonhava em ser uma
astronauta de tanto que meu pai falava dos astros e do
universo. Sonhava com o dia em que comeria um
pedaço da lua, e que ela teria gosto de queijo. Já
imaginava Emma o chamando de vovô, e meio que
ficava esperando ela me chamar de mãe. Seria uma
honra ser sua mãe, eu a amava muito.
— Então me conte, como está o namoro, Brooke?
— A diretora Schaefer perguntou, e fiquei com as
bochechas quentes. — Vamos, Brooke, esqueça por
um momento que sou a diretora e esquente um pouco
meu dia; afinal estamos de férias. — Ela sorriu. —
Então sou apenas Diane hoje. — Ela piscou para
mim.
— Certo. — Sorri. — Meu namoro está ótimo, e é
bom que poderei contar para todos ano que vem
quando Emma for para o segundo ano e deixar de ser
mais minha aluna.
— Já disse, seria errado namorar um aluno ou
namorar dentro da escola; agora um paizão daqueles
e namorar fora, não há problemas.
— Paizão, é? — Ri e ela ajeitou seus cabelos
ruivos encaracolados atrás da orelha e sorriu
sonhadora.
— Sim, nunca vi homem tão grande em meus
cinquenta e três anos de vida. — Ela me encarou. —
Me pergunto se ele é todo grande. — E piscou para
mim.
— Diane! — Repreendi ela que gargalhou alto.
— Você acha que só você tem imaginação fértil?
— A senhora me surpreende cada dia que passa.
— Ela balançou a cabeça rindo.
— Mas mudando de assunto, queria te agradecer
por não sair da nossa escola apesar dos problemas
que ela sofre. — Ela suspirou. — Por sorte
conseguimos uma verba maior para o semestre
seguinte.
— Eu não trocaria nossa escola por nada.
— Eu sei. Mas você é jovem, poderia estar
lecionando em uma escola particular e ganhando
muito dinheiro.
— Não trabalho por dinheiro, mas sim por amor.
E no momento em que entrei na escola primária de
South Loop, senti uma conexão... me senti em casa.
Talvez por ela me lembrar muito a minha escola da
infância.
— Bem, estou feliz por isso. — Disse ela. —
Percebi que nunca saímos para beber juntas, o que
acha de irmos beber um dia desses nas férias.
— Claro! Vou para a minha cidade natal no
feriado, mas quando voltar marcamos algo.
— E quem sabe você não me apresenta algum
bombeiro bonitão. — Ela se remexeu no banco. —
Sei que estou um pouco acima do peso, mas sou
bonita e uma ótima companhia.
— Eu conheço a pessoa perfeita para lhe
apresentar. — Sorri ao lembrar de Duke e dos caras
zoando ele no jantar.

PERFIL DE DUKE NO TINDER:

Sou viúvo, com uma filha já criada, chefe do


batalhão de bombeiros, carinhoso e atencioso. Um
pouco ciumento e um homem à moda antiga. Tenho
48 anos, e procuro mulheres para um relacionamento
sério ou apenas para uma amizade. Não dou
importância para aparência, o que importa para mim
é se você é bonita por dentro, sem preconceito com
idade.
— Um homem à moda antiga... carinhoso...
Amizade seria uma amizade colorida? — Henry não
se cansou de zoar Duke naquela noite, e todos
contorciam-se de tanto rir.
Achei que Duke ficaria bravo, mas ele depois me
disse que eram todos como filhos para ele, e ele não
dava atenção para que os pirralhos diziam.

— Sabe Diane, acho que conheço o cara perfeito.


— Falei. — Vamos sair para beber nós quatro quando
eu voltar do feriado. Sinto cheiro de um romance aí.
— Hum, isso é interessante, conte-me mais.
Falei para ela o pouco que eu sabia sobre Duke e
logo chegamos a fábrica. Outras escolas estavam ali
também, escolas particulares entre outras. Queríamos
ver de onde vinham os fogos do 4 de julho. E no final
do passeio teria uma pequena demonstração da
queima de fogos.
Fomos guiados por um senhor chamado Clark
Benson, que foi nos mostrando o processo de criação
de fogos passo a passo.
— Tia Brooke. — Emma puxou minha mão e a
encarei.
— Sim, querida? — Ela estava pálida. — Você
não está se sentindo bem? — Perguntei.
— Eu estou enjoada. Pode me levar ao banheiro?
— Pediu ela.
— Diretora Schaefer vou acompanhar Emma ao
banheiro. Ela está enjoada. — Alertei-a.
— Tudo bem, querida, qualquer coisa me chame.
— Ela e as outras professoras guiaram as turmas para
adentro da fábrica e fui procurar o banheiro com
Emma.
Emma vomitou todo o seu conteúdo do estômago
e segurei seus cabelos, lavei seu rosto e umedeci sua
nuca.
— Desculpa, tia Brooke, é culpa minha que estou
assim. — Disse ela com lágrimas nos olhos.
— Do que está falando, linda? Como pode ser
culpa sua?
— Você e o papai disseram que eu não podia
comer mais chocolates ontem à noite, mas levei duas
barras para o meu quarto escondida e comi tudo.
Fiz um carinho em seu rosto.
— Você realmente errou em não nos obedecer,
mas fez algo bonito agora, que foi confessar seu erro.
Então desta vez está perdoada.
— Podemos ficar aqui um pouco? Acho que quero
vomitar mais. — Emma correu para um reservado e
me concentrei nela.
Fiquei tão concentrada em Emma que fui perceber
só tarde demais a fumaça. Toda aquela fumaça.
— Tia Brooke, de onde vem toda essa fumaça? —
Perguntou ela; e foi quando vi o banheiro todo
branco, e dei um pulo quando escutei a primeira
explosão. Caí no chão ao lado de Emma e senti meus
ouvidos zumbirem.
— Acho que está havendo um incêndio na fábrica.
— Falei o óbvio. Minha voz estava trêmula e meu
coração acelerado.
— Meu pai vai vir nos salvar? — Perguntou
Emma assustada. — Meus ouvidos doem. — Ela
começou a tossir.
— Sim, vamos sair daqui. — Peguei ela no colo e
corri para a porta do banheiro, e foi ali que minhas
pernas ficaram fracas. A porta estava bloqueada por
algo pesado demais, certamente aquele era o
resultado da explosão.
— O que houve? — Perguntou Emma.
— Estamos trancadas aqui, e meu celular ficou na
bolsa dentro do ônibus. — Amaldiçoei-me em
pensamento.
— Nós vamos morrer? — Perguntou Emma, e
lágrimas escorreram por sua face.
— Nós não vamos morrer. — Garanti a ela. — Me
dê seu casaco. — Emma o tirou e o molhei na pia do
banheiro. — Respire aqui. — Encarei as venezianas
no alto, pequenas demais e altas demais, mas eu teria
que dar um jeito. — Respire nesse pano para que não
piore.
— E você? — Eu vou ficar bem.
— Não, fique com meu pano. — Disse Emma.
— Não, amor, preciso salvar você.
— E você, mamãe? — Ela começou a chorar. —
Não pode morrer. — Meu coração inflou em meu
peito e pensei que poderia morrer feliz naquele
momento, já que meu desejo de ser chamada de mãe
por Emma foi realizado.
— Ninguém vai morrer aqui hoje. — Eu a abracei
forte e pedi que ela sentasse em cima da privada, e
que continuasse respirando no pano úmido. Tirei meu
sutiã e o molhei na água antes de amarrar no meu
rosto com a parte do bojo contra minha boca e nariz.
— Nós vamos voltar para o seu pai, meu amor. Ele
precisa de nós.
Eu não sabia como seria possível sair viva dali,
mas pelo menos Emma seria salva. Eu iria dar um
jeito de salvar aquela menina que tinha uma vida pela
frente. Ela não iria morrer ali. Não agora.
— Por favor Deus, não agora. — Sussurrei. Meus
olhos ardiam pela fumaça, e eu não sabia se as
minhas lágrimas eram por Emma ou causadas pela
fumaça.
Encarando as venezianas lá no alto. pensei no que
eu poderia fazer para ao menos tentar tirar Emma
dali. Mason, por favor, venha logo.
Dezoito
Perto, longe, onde quer que você esteja. Creio que
o coração segue em frente. Uma vez mais, você
abre a porta. E você está aqui, no meu coração. E
31
o meu coração continuará e continuará

Mason
— Combinamos que Brooke estaria presente. —
Falei para Crystal, que estava com uma câmera na
minha cara.
— E ela vai estar, mas estou vendo qual o melhor
ângulo.
Revirei os olhos e mordi meu sanduíche. Encarei
o relógio e calculei que elas deveriam ter chegado na
fábrica há uns vinte minutos, e provavelmente
estavam agora explorando o local.
— Sabe, vocês dois combinam muito. —
Continuou tagarelando Crystal. — Se um dia
quiserem fazer um ensaio sensual juntos, eu espero
ser a primeira a ser lembrada.
Eu a encarei, carrancudo.
— Você é bem ambiciosa se pensa que farei mais
alguma foto com você.
— Poxa, que pena... Eu adoraria fotografar vocês
juntos. — Ela fez um quadrado com os dedos e
semicerrou um dos olhos. — Sim, ficaria realmente
perfeita uma foto de vocês, quem sabe no casamento.
— Tudo bem, tanto faz. — Suspirei.
— Tem alguma foto de vocês no seu celular para
eu ver e ter ideias? — Perguntou Crystal.
— Não. — Franzi a testa.
— Vocês estão desde maio ou abril juntos, e não
há uma foto? Como isso é possível.
— Acho que gostamos de gravar nossos
momentos aqui. — Apontei para a minha cabeça.
— Mesmo assim, é bom ter registros desses
momentos. — Crystal se afastou quando Caleb a
chamou e me deixou pensativo.
Realmente não ter uma foto nossa ou com Emma
era algo que me incomodava agora. Não tínhamos
uma foto juntos nós dois ou nós três. Coloquei meu
celular a carregar, e naquela noite quando elas já
tivessem retornado do passeio e estivéssemos
comendo a pizza que combinamos em comprar,
iriamos tirar muitas fotos. Meu celular ficaria cheio
de fotos das minhas meninas.
Os momentos de tranquilidade do meu dia
terminaram três minutos depois deste meu
pensamento, quando Duke apareceu pálido no
refeitório e começou a gritar com todo mundo.
Quando ele disse incêndio na fábrica de fogos de
artifício em que a escola de Emma estava fiquei
travado por uns dois minutos. Sabe quando temos
aquela sensação de semiconsciência, como se as
pessoas à nossa volta, por mais perto que estejam,
parecem estar falando ao longe, e suas vozes parecem
abafadas? Senti isto.
Levei um tapa em cheio na cara e doeu muito.
Meu rosto ardia, e me surpreendi ao ver que quem me
estapeou foi a pequena, porém forte, Minah.
— Acorda, Mason! Temos que salvar aquelas
crianças e as suas meninas. — Ela gritou comigo
como um general do exército e despertei do meu
torpor, sentindo a adrenalina tomar conta do meu
corpo.
Eu estava vestido e logo estávamos no caminhão.
Outros caminhões estavam a caminho do incêndio,
porém ocorreram diversas explosões devido aos
fogos e eles precisavam de reforços. Meu coração
estava doendo, eu sentia vontade de chorar como um
grande bebezão, mas entrei no modo profissional, e
estava decidido a salvar todos, ninguém morreria
hoje.
Peguei o celular de Michael e pedi que ele
corresse mais. Tentei ligar para o celular de Brooke,
mas ninguém atendia. Ela deve ter deixado na bolsa
dentro do ônibus, pensei, e usei aquilo para me
confortar.
Quando chegamos no local, a fábrica inteira já
havia sido tomada pelas chamas e a fumaça negra.
Algumas crianças saiam carregadas de dentro da
fábrica.
— Eu vou entrar. — Avisei.
— Mason, já há homens lá dentro para o resgate.
— Alertou-me Tyler.
— Eu disse que vou entrar, porra! E quero ver
quem vai me impedir.
Todos eles me ignoraram e começaram a fazer os
seus trabalhos.
— Eu vou com você. — Disse Duke. Assenti e
colocamos nossas roupas.
Entramos no prédio em chamas em poucos
minutos. Não dava de enxergar muita coisa, e parte
do teto havia desabado. Encontrei uma mulher
protegendo uma criança, com a perna presa sobre
uma barra de metal.
— Me ajudem, por favor! Me ajudem! — Ela
implorou, e com a ajuda de Duke, ergui a barra e
liberei a mulher que estava com a perna sangrando e
semiconsciente.
— Leve ela e a menina para fora. — Exigiu Duke.
— Mas Brooke.
— Eu mandei você ir. Elas já podem até mesmo
estar lá fora. — Disse ele. — Leve-as e volte aqui. Eu
vou continuar procurando.
— Duke. — Eu o chamei.
— Sim?
— Não morra.
Ele bateu continência e entrou ainda mais na
fábrica.
Levei as duas em meus braços correndo para o
lado de fora, desejando com afinco que tivesse sido
Brooke e Emma, ou que as duas já estivessem lá fora.
— Professora Parker. — Disse uma mulher. As
lágrimas no rosto escorriam. — Onde está a
professora Valentine? — Perguntou a mulher. — E a
diretora Schaefer?
— Brooke ainda não saiu? — Perguntei, e a
mulher me encarou.
— Ela foi ao banheiro com a menina Emma, e
desde então não as vi mais. — Banheiro.
Nem deixei ela falar mais. Em outro momento a
agradeceria se lembrasse do seu rosto; o que
importava agora era que eu sabia exatamente onde
procurar. Porém, antes que eu entrasse na fábrica,
houve mais uma explosão e caí sentado no chão. Meu
coração estava na boca. Para um homem que nunca
teve muita fé, pedi a Deus que protegessem elas.
— Salve-as, senhor! Me mate, mas deixe-as vivas.
— Implorei, e entrei no prédio novamente.
Havia uma placa em vermelho que estava soltando
da parede, mas que indicava onde ficava os
banheiros. A porta estava bloqueada por um grande
armário de ferro. Tentei arrastar o maldito, mas ele
nem se moveu do lugar. Puxei várias e várias vezes e
gritei de frustração. Havia água no chão muita água, e
ela saia de dentro do banheiro. Isso significava que
havia alguém lá dentro, ou que um cano havia
estourado. Resolvi confiar na primeira hipótese.
Fui procurar por Duke, e ele vinha segurando uma
mulher nos braços; ela tinha cabelos ruivos e
encaracolados e estava desmaiada em seus braços.
Lembro de tê-la visto na escola de Emma, era a
diretora, se eu não estava enganado.
— Acho que não há mais sobreviventes lá dentro.
— Duke, elas estão presas no banheiro. Preciso da
sua ajuda e de mais um.
— Vou até lá fora. Me espere em frente ao
banheiro.
Fui para a frente do banheiro e tentei de todas as
formas puxar aquele maldito armário, mas ele não se
movia de forma alguma. Logo um par de mãos se
juntou a mim e mais outro.
Kevin e Duke estavam me ajudando a puxar o
armário, e finalmente ele se moveu. Uma fresta
pequena da porta se abriu, e merda, eu não iria
conseguir entrar ali.
— Onde está Minah? — Perguntei, frustrado.
— Estou aqui. — Minah passou por nós dois,
subiu no armário, e passou pelo vão da porta.
O minuto que ela passou lá dentro foi o mais
longo da minha vida, e quando ela passou pelo vão
novamente com Emma em seus braços, suspirei de
alivio. Ela estava desmaiada com o seu casaco úmido
sobre o rosto. Brooke cuidou dela.
Passei Emma para Duke, não antes de me
tranquilizar ao sentir seu pulso; fraco, mas ela tinha
pulso.
— E Brooke? — Perguntei.
— Vou pegá-la. — Minah entrou novamente no
banheiro e desta vez demorou um pouco mais.
Logo ela me entregou Brooke com um pouco de
dificuldade em carregá-la. Ela estava mole em meus
braços, e com o sutiã sendo usado como máscara
sobre seu rosto. Corri para o lado de fora sem olhar
para trás. Emma e Brooke seriam levadas para o
mesmo hospital, então sendo totalmente
antiprofissional, entrei na ambulância com Brooke, já
que a de Emma já tinha partido em direção ao
hospital.

*********

Foram horas intermináveis de espera, ao menos


foi o que pareceu para mim. O hospital estava um
caos, e eu só queria que alguém me desse notícias.
Foi quando a vi... e ela nunca me pareceu tão bonita
quanto naquele dia.
— Karen, como elas estão? — Perguntei para ela,
desesperado.
— Mason, acalme-se ou terei que te dar um
calmante. — Disse ela tranquilamente.
— Faz horas que estou aqui esperando e você quer
que eu fique calmo.
— Mason, faz meia hora que vocês chegaram.
Pisquei surpreso. Para mim parecia que horas
haviam se passado.
— As duas estão sendo examinadas. Ao que
parece, sua Brooke foi muito inteligente ao cobrir o
rosto das duas com panos úmidos e assim não
inalaram muita fumaça; mas Brooke está rouca, e
seria bom elas ficarem mais uns dois ou três dias em
observação. — Disse Karen em um tom profissional.
Senti um alívio tão grande que comecei a chorar e
abracei Karen num impulso.
— Obrigado por salvá-las. — Falei soluçando.
— Eu não fiz nada. — Disse ela, dando tapinhas
nas minhas costas. — Agradeça ao Dr. Wooten e a
pediatra Jones que atenderam as duas com uma
eficiencia sem igual.
— Posso vê-las?
— Pode. Só não as faça falar muito.
Assenti e Karen me indicou as salas em que elas
estavam. Primeiro fui até Emma, minha pequenina
estava deitada na maca, tão pequenina, tão frágil....
em pensar que eu quase a perdi.
— Filha. — Cheguei até ela, que usava uma
máscara de oxigênio e estava sonolenta.
— Onde está mamãe? — Perguntou ela com a voz
rouca.
— Allison? — Franzi a testa, estranhando a
pergunta repentina de Emma. Ela balançou a cabeça
em negativa.
— Mamãe... Brooke... onde está mamãe? — Ela
começou a tossir e pedi que ficasse em silêncio.
— Shh, sua mãe está bem. Ela está no quarto ao
lado dormindo.
Emma sorriu e adormeceu.
— Eu dei um remédio para ela. Emma estava
muito agitada perguntando pela mãe, e disse que a
mãe estava no banheiro junto com ela. Para que a
pequena não se prejudicasse muito, dei um calmante
leve para que ela possa descansar. — Disse-me uma
mulher vestindo jaleco branco, com o crachá de
pediatra, Vivian Jones.
— Obrigado, senhora Jones, por cuidar da minha
filha.
— Não agradeça a mim, mas sim a mãe dela, que
se não tivesse feito o que fez, você teria perdido as
duas hoje.
Com Emma adormecida, fui até o quarto de
Brooke. Ela estava agitada, mas previ que sua
agitação em breve iria acabar, afinal o médico estava
injetando algo em seu soro.
Meu coração bateu acelerado e corri até ela.
— Brooke, meu amor. — Beijei sua mão. Ela
também usava uma máscara de oxigênio, e quando
falou, sua voz estava rouca.
— Emma?
— Emma está bem, graças a você. — Lágrimas
escorreram por sua face e limpei com a ponta dos
dedos. — Você foi maravilhosa hoje, tão corajosa.
Ela negou com um gesto de cabeça.
— Não, eu estava morrendo de medo. — Mais
lágrimas escorreram por sua face.
— Shh, está tudo bem. Agora descanse, tudo
bem? Eu amo você, Brooke.
— Eu amo você. — Acariciei seus cabelos e pedi
que ela fechasse os olhos, e logo ela também
adormeceu.
Conversei com os dois médicos para saber se
Emma e Brooke estavam realmente fora de perigo.
Então fui para o lado de fora, lá encontrei com Duke
e Daniel.
— Elas estão bem?
— Sim, estão ótimas.
— Minah disse que quando entrou no banheiro,
Brooke havia fechado o ralo de todas as pias e ligou
as torneiras. Ela acha que foi uma ideia de como
deixar o fogo longe... uma ideia desesperada, claro,
pois se houvesse algum fio elétrico no chão seria o
fim. — Disse Daniel.
— E ela jogou os vidros de sabonete líquido nas
venezianas para que assim a fumaça pudesse sair. —
Disse Duke. — Sua mulher é muito inteligente.
— Eu sei, e graças a Deus por isso. — Sentia meu
corpo todo estava dolorido agora que a tensão havia
passado. — E as chamas? Conseguiram conter?
— Sim. Há peritos agora no local para investigar.
— Disse Duke.
— Parece que houve uma explosão de um gás de
cozinha, mas ainda estão investigando o acidente. —
Disse Daniel.
— Quantas mortes? — Perguntei, pois sempre
haviam mortes.
— Cinco confirmadas, e há vinte pessoas em
estado grave no hospital. — Disse Duke, triste.
Ficamos todos encarando o chão, afinal por mais que
não tenham sido tantas mortes considerando que
haviam umas trezentas pessoas na fábrica naquele
dia, ainda assim era triste.
— Isso é terrível, não poder salvar a todos. —
Falei.
— Nem me diga. — Falou Duke, melancólico. —
Aquela mulher que carreguei para fora... ela não
resistiu.
— Quem? A diretora Schaefer? — Perguntei,
pasmo.
— Sim, ela faleceu a caminho do hospital. —
Disse Duke.
Fiquei em choque com a notícia, imaginando
como Brooke ficaria arrasada.
— Me falaram que ela foi uma heroína, tirou parte
das crianças lá de dentro sozinha, e entrava
novamente para ajudar mais pessoas. — Disse
Daniel.
— Pobre mulher, ainda tão jovem. — Disse Duke.
Eu estava arrasado. Brooke sempre falava o quão
Diane era importante em sua vida. Eu fiquei muito
triste, pois de tanto Brooke falar, era como se eu já
conhecesse aquela mulher. E ela era uma grande
mulher, uma heroína.
Dezenove
Eu voltarei para você. Cantando esta canção. Se
eu pudesse ver você de novo. Eu dançaria uma
última dança. Com esta canção. Lembre-se deste
momento. Para sempre se puder. Apenas uma
32
última dança

Brooke
Foi no dia seguinte que recebi a notícia. Primeiro
eu fiquei em choque; não podia acreditar que aquela
mulher alegre e guerreira que se sentou ao meu lado
no ônibus e que me ensinou tantas coisas nos últimos
anos havia deixado esse mundo. Depois que o choque
passou, eu chorei até meus pulmões doerem mais do
que já estavam doendo. Eu tinha minha mãe, mas
haviam certos anjos que conhecíamos no caminho de
nossas vidas que eram mais que mães para nós, e
Diane, com seu jeito durão era a figura de mãe que eu
tinha ali.
Devem ter me dado uma espécie de calmante.
Escutei o médico dizendo que eu não poderia me
agitar, que meus pulmões poderiam sofrer algum
dano. Eu não me importei com isso enquanto
chorava, pois a dor que machucava a minha alma era
muito mais, mas acabei adormecendo após uma
medicação ser colocada em meu soro.
Os dias que se passaram após o incêndio foram
como um borrão para mim. Mason vinha todos os
dias me ver e me confortar. Eu sempre chorava em
seu ombro, um choro menos desesperado agora,
porém tão doloroso quanto.
Ele me contou que graças a Diane nenhuma
criança veio a óbito, que Diane arriscou sua vida
entrando e saindo do prédio várias vezes para ajudar
33
as crianças. Uma heroína de verdade .
34
Nosso atual presidente, Barack Obama , após
saber do ato heroico de Diane, fez com que houvesse
uma estátua dela na praça da escola, como a heroína
do terrível incêndio, para que ela jamais fosse
esquecida. Seu ato heroico seria lembrado por todos
da cidade durante séculos.
Uma semana depois eu recebi alta, Emma veio
com Mason me buscar no hospital. Ela teve alta dois
dias antes de mim, e quando a vi, chorei, mas de
alegria.
— Mamãe. — Ela correu para os meus braços e a
abracei com força. — Que bom que você está boa,
mãe. — Ela me encarou. — Por que está chorando?
— Porque você está me chamando de mãe. — Ela
me encarou com atenção.
— Você não gosta?
— Eu adoro! Pode me chamar de mãe para
sempre. — Falei. — Estou chorando de alegria.
— Sabe, tem a Júlia na escola, e o pai dela está
morando com uma moça que não é a mãe de Júlia de
verdade, mas a Júlia chama ela de mãe e sabe por
quê?
— Por que Emma?
— Júlia me disse que mãe de verdade é quem
cuida, e quem ama. Ela disse que sua avó contou. —
Emma suspirou. — E então me dei conta que a minha
mãe de verdade é você, tia Brooke. — Disse ela
tímida.
— Pode me chamar de mãe, pois pretendo amar e
cuidar de você por muito tempo ainda. — Emma me
abraçou mais uma vez, e Mason sorria, encarando nós
duas, parado no umbral da porta.
Mason me levou para o apartamento dele, e disse
que o médico ordenou que alguém ficasse de olho em
mim por mais um tempo, e que ele seria o
enfermeiro.
Mais tarde, à noite deitada nos braços de Mason,
contei para ele.
— Ela estava empolgada, sabe? Contei sobre o
Duke para ela, e tenho certeza de que eles se dariam
muito bem juntos. Ela estava animada, e combinamos
que iriamos a um encontro duplo. — Lágrimas
quentes e pesadas escorriam pelo meu rosto conforme
eu falava. — É tão injusto ela ter morrido assim, ter a
vida arrancada, sendo que ela era tão cheia de vida,
tão cheia de alegria.
— Eu sei, minha bela, eu sei... — Mason
acariciava meus cabelos, me confortando.
— Ela amava tanto as crianças e trabalhar com
elas.
— Pense que ela se foi fazendo o que mais amava,
cuidando das crianças. Graças a esse ato heroico
muitas crianças foram salvas.
Meu peito doía sempre que lembrava do sorriso de
Diane, de suas broncas quando eu me distraia demais,
sobre o encontro que ela nunca teve a chance de ir
com Duke, sobre o passeio de verão no ano seguinte
que seria no parque aquático... Coisas, pequenas
coisas que ela deixaria de fazer por ter partido cedo
demais.
Mas a vida era assim, não é mesmo? Nunca
sabemos quando a morte irá chegar. Podemos estar
começando um curso, marcando um encontro,
fazendo planos para o natal e num piscar de olhos não
estarmos mais nesse mundo. O que me confortava era
que Diane não havia morrido em vão, ela era uma
heroína, e seria lembrada para sempre pelo seu ato
heroico.
Um mês depois...

Emma estava assistindo Cosmos pela décima vez


naquele mês, desde que meu pai havia lhe
35
apresentado a série em nossa ida a casa deles.
Emma ficou completamente apaixonada pelo
universo e suas peculiaridades.
Mason estava preparando nosso almoço. Era uma
segunda-feira, um dia de folga dele, e eu estava
observando-o costurar o grande pedaço de carne para
colocar no forno quando tocaram a campainha.
— Eu atendo. — Falei e levantei.
Segui até a porta, e ao abrir só encontrei uma
caixa de presente destinada a Mason. Franzi a testa,
não havia ninguém no corredor, e segui para a
cozinha.
— Quem era? — Perguntou Mason.
— Não sei, tinha apenas essa caixa lá com o seu
nome; mas quem entregou já estava fora de vista. —
Falei.
— Não abra. — Alertou Mason.
— Eu não pretendia mesmo. — Falei, encarando a
caixa com desconfiança. — Quando uma caixa
suspeita chega assim, boa coisa não é. — Falei.
— Eu vou abrir, só fique afastada. — Pediu ele.
Eu me afastei da caixa e Mason abriu-a. — Eu não
posso acreditar nisso! — Disse ele, e curiosa, me
aproximei dele para espiar dentro da caixa.
Lá dentro estava um laço vermelho impecável e
muito bonito, e um papel com a seguinte frase em
letras garrafais.

“Você teve sorte. Continue sendo um


pai descente e não precisarei visitá-lo.”

— Maldito!
— Mason, isso é... — Eu vi notícias sobre o
incendiário na Tv. Mason me comentou sobre o caso
algumas vezes, mas nunca imaginaria que algo assim
surgiria.
— O incendiário. — Disse ele. — O maldito me
tinha como alvo. Quem entregou isso? — Perguntou
ele.
— Eu não sei, o entregador sumiu.
Mason correu para o lado de foram e eu fiquei
encarando a caixa enorme com aquele grande aviso.
Fiquei lembrando de alguns casos que ouvi na tv
sobre o incendiário; os casos que eu me lembrava
todos os mortos tinham filhos, com exceção do
último caso que um homem totalmente fora do
contexto que faleceu na casa, e a polícia acreditava
que ele era um cumplice do incendiário. Minha mente
criativa começou a trabalhar, e me perguntei se eu
estava fantasiando, ou se o alvo do incendiário eram
pais negligentes?
Acho que eu ando lendo livros demais. Pensei.
Mas aquilo não saiu da minha cabeça.
Vinte
Eu não nasci para viver sozinho. Torne esta casa
em um lar. Quando eu subir as escadas e virar a
chave,
36
Ah, por favor, esteja lá ainda apaixonada por mim.

Mason
Um mês depois...

Mudei do apartamento em Chinatown. Eu não


podia continuar em um local onde não havia
segurança alguma, e qualquer um podia entrar e sair
do prédio sem problemas. Eu agora tinha Emma, e
me preocupava muito com ela. Quando eu vivia
sozinho, nem me importava com a porta do prédio
aberta para quem quisesse entrar, não me importava
de não haver câmeras de segurança nos corredores, e
não me importava de pagar aluguel.
Comprei com alguns empréstimos no banco uma
casa modesta de três quartos ao sul do bairro de
Bucktown. Era um bom bairro, não ficava muito
longe do meu trabalho e nem da escola de Emma, o
que consequentemente era o trabalho de Brooke. Eu
queria me casar com ela, só esperava que ela me
aceitasse. E o melhor da localização do imóvel é que
tinha uma Starbucks a uma quadra. E claro, um belo
quintal para fazer churrasco, que era o que eu estava
fazendo agora.
— Essa é uma ótima casa. — Disse Duke.
Convidei-o para vir almoçar, e ele veio acompanhado
de sua filha, Camille;
Também estavam ali para o almoço Caleb, Karen
e Kevin. Eu havia convidado Minah, mas ela não
pode vir. Kevin continuava caladão, mas eu tentava
aos poucos conversar e conhecer mais o cara, afinal
ele ajudou a salvar as minhas meninas.
— Sim. — Falei orgulhoso. — Vou me matar para
pagar, mas vale a pena. Emma está feliz e adorou seu
presente.
Nós dois olhamos para Emma, que corria e
brincava com seu novo presente, um filhote de
labrador que Duke lhe deu de presente, e ela o
batizou carinhosamente de Duke.
— Desculpe ela dar seu nome ao cão, Emma não é
muito criativa com nomes... já temos como exemplo
o senhor Panda. — Duke deu uma gargalhada alta.
— Não se desculpe, fico honrado de um cachorro
tão bonito ter o meu nome.
Sorri de volta, mas logo me lembrei de um assunto
delicado.
— Então, Duke, o seu amigo policial não
descobriu nada?
Duke me encarou sério. Ele havia pedido para que
eu deixasse aquele assunto de lado.
— Não. — Ele suspirou. — Você sabe que o
zelador que encontraram carbonizado em uma das
casas era um bombeiro aposentado do 13º batalhão.
Eles estão investigando por esse caminho, para saber
quem era o cumplice dele.
— O cara deixou um laço e uma ameaça na porta
da minha casa. — Repeti impaciente como sempre
fazia.
— Vire os hambúrgueres. — Disse ele, apontando
para a churrasqueira. Eu estava quase queimando o
churrasco. — Mason. — Começou Duke com toda a
paciência do mundo. — Os policiais já disseram que
o incendiário observa as famílias semanas antes de
cometer o ato. Para ele, observar você seria fácil,
assim como foi com os outros.
— Eu sei, mas ainda sinto que essa pessoa está
mais perto de nós do que imaginamos. — Falei e
cocei a nuca. Era algo que me incomodava e não me
deixava descansar à noite.
— Os policiais são competentes, tenho certeza que
logo irão prender o maldito.
— Assim espero, Duke. Assim espero.
— Rapazes, a salada já está na mesa, e todos os
acompanhamentos. — Disse Camille, enlaçando a
cintura de Duke. — Estou com fome, papai.
Duke a abraçou de volta e sorriu. Seus olhos
brilhavam.
— Mason, acelere logo. Minha bebê está com
fome. — Disse Duke, e isso me fez rir.
Camille era quase da altura do pai, e ver Duke
chamando-a de bebê era engraçado.
— Sim, senhor! Dentro de cinco minutos a carne
estará pronta. — Voltei a me concentrar no churrasco
enquanto Duke e Camille conversavam.
— Pai, acho que em breve você terá um casal
dentro do batalhão. — Comentou ela.
— Casal? Dentro do batalhão?
— Sim, não é permitido?
— De quem você está falando? — Indagou Duke.
— Posso estar enganada, mas... James e Minah
estão estranhos um com o outro.
Duke gargalhou alto, e eu precisei acompanhá-lo.
— Do que estão rindo? — Perguntou Camille,
séria.
— Eles sempre foram estranhos um com o outro,
desde que Minah entrou no batalhão James a ignora,
e isso a irrita. — Comentei.
— Sim, aqueles dois como casal é algo que
duvido que aconteça... é mais fácil nascer pelo em
ovo.
— Eu não sei não, viu. — Disse Camille.
Peguei um prato e coloquei os hambúrgueres e as
salsichas.
— Vamos comer. — Anunciei e todos se reuniram
em volta da mesa. Puxei Brooke para o meu colo
antes dela sentar e sussurrei no seu ouvido. — Senti
sua falta.
— Mas estamos na mesma casa. — Ela riu
timidamente e me abraçou.
— Mas você estava longe de mim, lá na cozinha.
Ela deu um tapa em meu peito.
— Lá na cozinha, realmente é bem longe.
Peguei em sua mão e vi três band-aid.
— Quem deixou você com a faca? — Perguntei,
beijando seus machucados.
— Hey, eu precisava fazer a salada.
— Minha desastrada... o que faço com você? —
Perguntei.
— Basta me amar e ter sempre um kit de
primeiros socorros. — Disse ela e me deu um selinho.
Logo ela saiu do meu colo e se acomodou do meu
lado. — Ah, e uma caixa de band-aid sempre há mão.
— Ri e balancei a cabeça.
— Temos um pequeno anúncio a fazer. — Disse
Caleb. — Karen e eu compramos um apartamento e
vamos morar juntos. — Todos na mesa aplaudiram, e
Duke disse que já estava na hora ou teria que roubar
Karen de Caleb.
— Vocês vão casar? — Perguntou Emma.
— Ainda não, mas está nos planos. — Disse
Karen.
— E pode morar junto sem casar? — Emma
perguntou.
— Nos dias de hoje sim, querida. — Karen sorriu
para Emma, e ela ficou pensativa.
— Mamãe, por que você não vem morar com a
gente? — Perguntou Emma à Brooke, e todos na
mesa ficaram em silêncio. Vi que havia um lugar
vazio na mesa com um prato e talheres, mas ignorei.
— Hã... — Brooke ficou sem saber o que dizer, e
senti a caixinha dentro do meu bolso pesar.
— Emma, você adiantou um pouco as coisas, mas
enfim. — Falei e levantei da mesa. — Se vocês me
derem licença e esperarem um pouco mais antes de
atacar o churrasco, também tenho algo para fazer.
Todos os olhares se voltaram para mim; e cara, eu
detestava ser o centro das atenções.
— Brooke Valentine desde que você entrou na
minha vida, tudo foi um verdadeiro caos, e isso foi
maravilhoso. Eu fiquei louco por você desde a
primeira vez que te vi, quando você colocou fogo no
seu fogão; e na segunda vez, por mais irritado que eu
demonstrasse estar, eu me sentia confuso, pois já
estava louco por você e aquilo me irritava... Você
estava quebrando as minhas barreiras e aquilo foi
assustador. — Suspirei. — Bem, eu não tenho muito
jeito com as palavras, mas eu amo você e quero muito
que nós vivamos juntos e felizes, então...— Abri a
caixinha, e lá tinha um anel modesto com uma
pequena esmeralda que me custou os dois olhos da
cara e quase precisei vender um órgão no mercado
negro, mas valeu a pena fazer aquele carnê para pagar
o anel, pois o brilho no olhar de Brooke fez com que
tudo valesse a pena. — Quer ser minha esposa?
— Sim, mil vezes sim!
Coloquei o anel no dedo de Brooke. Não fiquei de
joelhos como se deveria ficar, e quis me bater por
cometer essa gafe, mas o que importava era o
resultado final: aquela mulher maravilhosa, aquela
mulher cheia de luz aceitou ser minha esposa, e
nunca fui tão feliz.
— Agora o meu presente. — Disse ela, limpando
as lágrimas do rosto.
Todos me encararam. Era como se eles já
soubessem o que estava por vir.
— Presente? — Encarei Brooke, confuso.
— Quer que nós vamos buscá-la? — Camille
perguntou e Brooke assentiu. Camille e Karen saíram
da mesa e entraram em casa.
— Que presente, amor? — Perguntei, e Brooke
me calou com um beijo leve nos lábios.
— Espere e verá. Esse lugar vazio na mesa está
destinado para uma pessoa especial.
Então encarei a porta de casa, e de lá saiu uma
mulher de aproximadamente uns quarenta e poucos
anos. Ela era alta, tinha cabelos cacheados, pele cor
de café com leite como a minha, e era estranhamente
familiar. Ela chorava quando me viu e correu até
mim. Ela me abraçou forte e eu ainda estava confuso
demais. Não podia ser, podia? Britanny. Não, não
tinha como ser Britanny.
— Meu Deus, Mason! Você sabe por quanto
tempo eu te procurei. — Ela chorava até soluçar no
meu ombro. — Me perdoe, me perdoe por ser
egoísta... Me perdoe por deixar você.
— Britanny? — Perguntei com a voz embargada.
Brooke assentiu e limpou lágrimas dos olhos.
Eu a abracei de volta bem forte.
— Nunca pensei que encontraria mesmo você.
Procurei tanto, mas não sabia onde você poderia
estar. Nascemos em Louisiana, e nunca que iria
imaginar que você vivia em Chicago até ver você na
TV há umas semanas atrás como um dos heróis do
incêndio da fábrica de fogos de artifício. Na hora
reconheci você, mas para ter certeza, precisei vir até
aqui; e com a ajuda de Brooke encontrei você. — Ela
me abraçou forte. — Deus, estou tão feliz em
finalmente encontrar você, meu irmão. Eu nunca
esqueci de você... nunca. Me perdoe por partir.
— Eu nunca poderia te culpar, até eu iria querer
sumir daquela casa. Você passou a vida cuidando de
todos e sem pensar em si mesma. Pela primeira vez
você fez algo por si e partiu, eu não posso culpá-la.
— Eu pretendia ir buscar você quando me
estabelecesse com um emprego com o meu marido,
mas ela mandou você para estranhos antes que eu
pudesse fazer isso.
— Não vamos mais falar do passado. — Falei. —
O que importa é que nos encontramos, finalmente,
mana.
Eu pensei que não poderia amar ainda mais
Brooke, mas ela me provou que eu sempre poderia
amar ela mais e mais.
Minha irmã me contou que vivia em Bend,
37
Oregon, a mais de duas mil milhas de Chicago. Ela
estava casada com o homem que a salvou da mulher
horrível que nos colocou no mundo, e tinha três
filhos: uma menina de dezenove anos, e dois
meninos, de vinte e sete e trinta anos.
Eles não puderam vir juntos nessa viagem, mas
em breve viriam, já que os convidei para o dia de
ação de graças em nossa casa. Minha irmã era
diretora de um orfanato, e logo teria que retornar. Ela
quis trabalhar nesse ramo para ver se assim me
localizava mais rápido, porém o destino quis que nos
encontrássemos apenas agora, e iriamos voltar a
conectar laços que a muito foram desfeitos. Mas
assim como eu nunca a esqueci, Britanny jamais me
esqueceu também. Emma amou sua tia, e contou
sobre a história de Tiana.
Foi um dia muito feliz, com pessoas que eu
amava; e aquilo fez com que eu me esquecesse sobre
o incendiário, pelo menos por ora.
Naquela noite, com Brooke nos meus braços, eu a
amei e venerei seu corpo com todo o amor que eu
tinha.
Quando Brooke voltou para a escola no semestre
seguinte foi nomeada como vice-diretora, já que o
antigo vice-diretor assumiu o lugar de Diane. Para
Brooke foi difícil voltar a escola e não encontrar
Diane. Ela disse que ainda fazia café com pouco
açúcar como Diane gostava, e achava que isso jamais
iria mudar. Iriamos nos casar na primavera do ano
seguinte, e eu estava tentando convencer Brooke a
morar conosco desde já. Esperava que ela aceitasse
logo. Assim nossa família estaria completa, Emma,
Brooke, eu, e nosso cãozinho Duke.
Eu nunca desejei uma família, pois aquela que
nasceu para ser minha mãe nunca foi minha família,
aquele nunca foi meu lar mas eu agora tinha total
certeza de que família é aquela que escolhemos, com
o coração.
Vinte e Um
Vinte e Um
A única que me deu o dom de amar, sim, essa é
você. A única pessoa que me deu esse amor
deslumbrante.
38
Essa é você, oh sim

Brooke
Quando o inverno chegou na escola primária
de South Loop, minha dor estava recém começando a
amenizar. Era o primeiro inverno na escola sem
Diane... ela amava o inverno, e organizar o baile que
acontecia naquele período era uma das coisas que ela
mais gostava de fazer. Diane dizia que não era um
trabalho de verdade organizar o baile de inverno, já
que ela só se divertia fazendo aquilo tudo.
O pátio da escola estava completamente coberto
de neve, como se um grande cobertor branco tivesse
sido jogado sobre o gramado. A estátua em
homenagem a Diane estava lá, no centro da escola
também coberta de neve. Diane estava onde sempre
amou estar, na escola e no meio da neve. Ela sempre
amou passear com a neve caindo, e não se importava
o frio, pois dizia que a sensação dos flocos de neve
derretendo em suas mãos era o melhor de tudo.
— Você está tão pensativa. — Mason me abraçou
por trás e me recostei nele.
— Estava pensando em como Diane iria amar
tudo isso. — Falei apontando para as decorações de
flocos de neve e brilhos nas paredes. Estava tocando
Every Breath You Take de The Police de fundo; o
baile de inverno estava quase chegando ao fim.
— Você fez um ótimo trabalho por ela. Tenho
certeza de que onde quer que esteja, ela deve estar
orgulhosa.
Virei de frente para ele, emocionada com suas
palavras, e o abracei firme.
— Obrigada. — Agradeci. — Por falar coisas tão
bonitas.
— E olha que sou péssimo com as palavras. —
Disse ele e sorriu para mim. — Dança comigo?
Nesse momento começou a tocar Time after time
de Cindy Lauper.
— Se você me aguentar pisando no seu pé. —
Falei.
— Por você aguento qualquer coisa. — Ele
segurou em minha mão e me levou para o centro do
salão, e lá me guiou em uma dança lenta. —
Obrigado, Brooke. — Disse ele, me encarando
profundamente. — Você mudou a minha vida de uma
forma... Eu nunca pensei que fosse ser amado, aliás,
eu nunca pensei que fosse capaz de amar.
— Eu quem agradeço por me deixar entrar na sua
vida. — Falei acariciando seu rosto. — Por me deixar
ver dentro de você, por confiar em mim o suficiente.
— Obrigado por não desistir de um monstro como
eu.
— Você não é, e nem nunca foi, um monstro. —
Fiquei na ponta dos pés e dei um selinho em seus
lábios. — Você é um homem incrível, com um
coração enorme.
— Obrigado por me dar uma família.
Desviei o olhar do dele e pensei em algo. Aquele
era o momento perfeito. Se havia um momento que
pudesse ser considerado perfeito para dizer aquilo,
era aquele, no baile de inverno ao som de Time after
time.
— Por falar em família. — Comecei. — Acho que
teremos de nos casar logo. — Eu o encarei, séria.
— Marcamos para a primavera do ano que vem,
mas casarei com você até mesmo hoje se for seu
desejo.
— Na semana que vem está bom. Depois não vai
ser tão bom usar saltos.
Ele me encarou, confuso.
— Há algo de errado?
— Bem, eu fui no médico ontem, e...
— Você está doente? — Eu o senti ficar tenso.
— Estou super saudável. — Ele relaxou no
mesmo instante. — Nossa família vai aumentar, pois
estou grávida.
Mason parou de dançar no mesmo instante e
arregalou os olhos, segurou em minha cintura, e vi
seus olhos cintilarem com lágrimas que haviam se
formado lá.
— Isso é sério? — Perguntou.
— Sim, você vai ser papai de novo.
Ele então me ergueu no ar e gargalhou.
— Eu vou ser pai! — Disse ele alto o suficiente
para que todos escutassem.
Emma que estava por ali por perto rodopiando
com sua amiga Júlia e correu até nós.
— Eu vou ganhar uma irmã, mamãe? —
Perguntou ela com um sorriso no rosto.
— Sim, ou um irmão. — Ela fez uma careta.
— Prefiro uma irmã para brincar comigo, mas
tudo bem. — Mason a pegou nos braços e a rodopiou
no ar.
— Nossa família vai crescer, minha princesa.
Emma gargalhava conforme Mason a rodopiava
no ar.

Ao chegarmos em casa Mason ligou na hora para


Britanny, e acertamos que ela e seu marido Paul
seriam os padrinhos. Mason ligou para cada um do
batalhão para espalhar a notícia. Ele estava eufórico.
Faziam poucos meses desde que ele conseguira a
guarda definitiva de Emma, e Allison havia ligado
um mês antes avisando que iria embora para a
França, pois estava cansada de Las Vegas, e que
Mason poderia ficar tranquilo pois ela não pretendia
voltar nunca mais, já que conheceu um francês que
estava apaixonado por ela.
Os pesadelos de Mason cessaram. Chegamos a
conversar sobre terapia para que ele superasse seus
traumas; fomos a algumas sessões, mas não era mais
necessário ir. O que realmente curou Mason foi o
amor.
Estávamos montando a biblioteca da Bela e a Fera
em casa, uma sala era apenas para os livros, meu
cantinho e de Emma. Eu não sabia o que o futuro
estava nos reservando; mas tinha certeza que se
houvessem obstáculos, todos nós iriamos enfrentá-los
juntos.
FIM!
Nota da autora
Olá pessoas lindas do meu Brasil e do mundo! A
temporada 2 da série Fire terminou, e logo vamos
iniciar a temporada 3, que será com nosso casal
quente Minah e James Lennox. Parece que algo
grande aconteceu com eles.
Bem, espero publicar o livro 3 ainda esse ano,
antes do Natal, quem sabe. Quanto ao incendiário,
vocês têm alguma pista de quem é? Ainda não? Creio
que no livro 3 muitas coisas ficarão mais claras para
vocês.
Parte das coisas que aconteceram com Mason
aconteceram na vida real. É uma história de vida
verídica, e algumas coisas foram inventadas, outras
não.
A homenagem a professora foi um pequeno gesto
meu para que ela jamais seja esquecida. Ela foi uma
verdadeira heroína e merece ser lembrada para
sempre.
Obrigada por acompanharem até aqui. E até o
próximo livro! Um beijão no coração. Amo vocês.
Notas
[←1]
O nome da escola é fictício, criado pela autora.
[←2]
Cedar Falls é uma cidade localizada no estado americano de
Iowa.
[←3]
911 é o número para emergências nos EUA.
[←4]
Página 97 – Amante desperto – Irmandade da adaga negra –
Volume 3
[←5]
Música Monster - EXO
[←6]
Música Monster – EXO
[←7]
Música LOSER – BIG BANG
[←8]
Nos EUA as datas são colocadas de forma diferente, enquanto
no Brasil seria 23/04; Nos EUA o mês vem antes do dia.
[←9]
Música I Need U - BTS
[←10]
Nome fictício.
[←11]
Nome fictício.
[←12]
Lover Revealed de J.R.Ward( em português Amante Revelado) é
o 4º livro da série de livros conhecida como Irmandade da adaga
negra no Brasil.
[←13]
Baby Don’t Cry – EXO
[←14]
Serendipity - BTS
[←15]
Música: You are not alone – Michael Jackson - Você não está
sozinho/Eu estou aqui com você/Mesmo nós estando
distantes/Você sempre estará em meu coração/Você não
está sozinho
[←16]
Guerra e Paz – Liev Tolstoi/ Livro com aproximadamente 700
páginas, cada volume.
[←17]
Música: Darling - TaeYang
[←18]
I’m Yours – Jason Mraz
[←19]
Wake me up – Taeyang
[←20]
Paradise – GOT7
[←21]
Stay – Black Pink
[←22]
Jailhouse Rock – Elvis Presley
[←23]
Dream Girl - Shinee
[←24]
DNA - BTS
[←25]
Transtorno obsessivo compulsivo.
[←26]
Love never felt so good – Michael Jackson feat Justin Timberlake
[←27]
Bill Clinton foi o 42º presidente dos EUA entre os anos de 1993 e
2001.
[←28]
My Little girl – Jack Johnson
[←29]
É uma bebida á base de café, uísque irlandês, açúcar e chantilly.
[←30]
Spring Day – BTS
[←31]
My Heart Will GO On - Celine Dion
[←32]
Last Dance – Big Bang
[←33]
Essa é uma pequena homenagem à professora Heley Abreu, que
arriscou sua vida para salvar as crianças na creche em Janaúba –
MG. Para que seu ato nunca seja esquecido, ao menos será
eternizado neste livro. (Nota da autora: Muitos chamam os
jogadores de futebol de heróis, mas os verdadeiros heróis estão
entre nós, uma pena eles não receberem o devido
reconhecimento. Meus sentimentos às famílias que sofreram
essa terrível tragédia).
[←34]
Essa história se passa no ano de 2015, quando Obama era o
presidente.
[←35]
Cosmos uma odisseia no espaço-tempo é uma série americana
de documentário científico.
[←36]
A house is not a home – Dionne Warwick
[←37]
Aproximadamente três mil e duzentos quilômetros.
[←38]
You’re my - Taeyang

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