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Sinopse

Xavier Knight sabe que duas coisas garantem o interesse de uma garota:
carros rápidos e dinheiro.
Ele tem as duas coisas. Quando um escândalo o obriga a um casamento
arranjado com Angela Carson, uma zé-ninguém sem um tostão, ele
presume que ela seja uma interesseira — e promete fazer de sua vida um
inferno. Mas as aparências enganam, e às vezes os opostos não são tão
diferentes quanto parecem...

Título Original: The Arrangement Classificação


etária: 18+

E-book Produzido por: SBD e Os Lobos do Milênio

Sumário dos Livros


Livro 1
Livro 2
Livro 3
Livro 4 - Ainda não Lançado
Livro 1

Sumário
1. Um contrato por uma alma
2. Desespero Sombrio
3. Despertar Brusco
4. Mentiroso Mentiroso
5. Toda Amarrada
6. Não Viaje
7. Afogando no céu
8. Mensagem afiada
9. A dor de ontem
10. A agressão do luto
11. Jogando o jogo
12. Adivinhe quem está de volta
13. Tão perto, tão longe
14. Um Knight público
15. Coração disfarçado
16. Território Novo
17. Três é demais
18. Planejando o Futuro
19. Um brinde à vingança
20. Qualquer coisa por você
21. Mais do que um show
22. Linhas Cruzadas
23. Doce como o pecado
24. Expectativas malignas
25. Nas nuvens
26. Atrasado para o riso
27. Sob Ataque
28. Surpresa, Surpresa
29. Descoberta solitária
30. Quem resgatou quem?
Capítulo 1
Um contrato por uma alma
Angela
Todos pensam que são heróis.
Fantasiamos sobre momentos de glória — os que lemos em livros e
vemos em filmes.
Correr para um prédio em chamas para resgatar um cão? Claro.
Doar um rim para um amigo? Sem problemas.
Tentar impedir um assalto à mão armada? Fácil.
Mas a dura verdade é que não sabemos como reagiremos quando o
momento chegar. Não até que o assaltante tenha a arma apontada para
sua têmpora, e você possa sentir o cheiro do metal.
Você será forte o suficiente para isso? Para enfrentar a arma e dizer: —
Escolha-me. Atire em mim. Mate-me.
Quando chegar a hora, o que você escolherá?
Sua vida ou a deles?

Apertei a mão do meu pai, com meu coração na minha garganta. Doeu vê-
lo assim. Estava inconsciente na cama do hospital, com tubos presos em
seus braços e peito. Máquinas apitavam ao seu lado, e uma máscara de
oxigênio cobria seu rosto.
Lágrimas caíam pelo meu rosto, e eu as limpei pela milésima vez.
Ele era uma constante em minha vida. A âncora que mantinha nossa
família unida. Um pilar de força e saúde.
Lucas, meu irmão mais velho, apareceu à porta. Eu me aproximei e o
abracei.
— O que disse o médico? — eu perguntei.
Lucas olhou por cima do meu ombro para o meu pai.
— Vamos para o corredor.
Concordando, eu fui até meu pai e dei um beijo em sua testa antes de
seguir Lucas.
Na luz fluorescente do corredor do hospital, pousei meu olhar sobre
meu irmão. Olhando para seu cabelo desgrenhado, bochechas sem barba e
os círculos roxos profundos sob seus olhos, eu sabia que ele tinha tido um
dia difícil.
— Ouça, Angie... — Lucas começou. Ele pegou minha mão como fazia
quando eu era criança e tinha medo do escuro. — Preciso que você fique
calma, tudo bem? Seja forte. O diagnóstico... é muito ruim.
Eu acenei e respirei fundo.
— Nosso pai... — Lucas começou, parou, e depois desviou seu olhar
para o teto. Então limpou a garganta. — Ele teve um derrame.
Lágrimas frescas brotaram em meus olhos.
— Ainda não sabemos o quanto isso o afeta, mas eles acham que a ELA
(Esclerose Lateral Amiotrófica) teve algo a ver com isso, — continuou ele.
— O que podemos fazer? — perguntei, com desespero em minha voz.
— Descansamos um pouco, — disse Danny, meu outro irmão, por trás
de mim. Ele se aproximou e me deu um abraço. — Os médicos ainda estão
fazendo alguns testes.
Meus dois irmãos deram uma olhada, e eu sabia que eles não estavam
me dizendo nada.
— O quê? — Eu exigi. — O que está acontecendo?
Lucas balançou a cabeça.
— Você tem uma entrevista chegando, não tem?— perguntou ele. — Vá
para casa e durma um pouco. Nós te ligamos quando soubermos mais, está
bem?
Eu lamentei. Não queria partir, mas sabia que meus irmãos estavam
certos. Era importante que eu conseguisse este emprego.
Nos despedimos e eu saí em direção ao frio ar noturno. Espiei as luzes
da cidade de Nova Iorque ao longe, com um pavor em meu estômago.
Eu me senti impotente.
Não havia nada que eu pudesse fazer?

Xavier
A garota ao meu lado gemeu enquanto eu girava o volante, mandando o
carro para uma curva fechada. Ela riu, alterada pelo speed e champagne
que tomou.
— Xavier! — Ela mordeu o lábio, suas mãos correndo para cima ao
longo da minha coxa. Duas coisas garantem o interesse de uma garota.
O rugido de um carro veloz e uma porrada de dinheiro.
Acelerei meu Lamborghini pelas estradas cênicas de Mônaco. A loira
gostosa ao meu lado tremia de prazer, acariciando o volume em minhas
calças. Ela era uma modelo para um desfile de moda na cidade.
Já havíamos fodido algumas vezes.
Eu nem sabia o nome dela.
Eu sorria enquanto ela desabotoava minhas calças, suspirando de
prazer enquanto ela me levava na boca.
Isso é que é vida.
Acelerando pelas estradas da bela Mônaco atrás do volante de uma
Lamborghini e com meu pau na boca de uma modelo.
Nenhuma responsabilidade para uma empresa multibilionária.
Nenhum pai irritante vigiando cada passo que dou.
Sem putas traidoras que agiam pelas minhas costas e...
Eu passei por um sinal vermelho, e o clarão de uma sirene policial
gritou pelo ar noturno. Encostei, observando as luzes piscando em meu
espelho retrovisor.
— Puta merda, — murmurei.
A loira começou a olhar para cima, mas eu a empurrei de volta para o
meu pau.
— Eu mandei parar?
A modelo continuou seus esforços, ansiosa para agradar.
O policial saiu de seu carro e começou a abrir caminho até a minha
porta.
Bem, eu pensei, olhando para a cabeça balançando para cima e para
baixo no meu colo. Isso vai dar uma puta história.

Brad
Chamei meu assistente ao meu escritório, resmungando alto sua
frustração. Era a terceira vez em menos de um mês que Xavier fazia
manchetes, e não por estar beijando a cabeça de bebês ou se oferecendo
como voluntário em hospitais.
Não.
Meu filho tinha sido preso em Mônaco por condução imprudente e
indecência pública.
Eu belisquei a ponta do meu nariz.
Houve uma batida na porta.
— Entre, — eu gritei sem olhar para cima. Ron, meu assistente de vinte
e seis anos, entrou. — Você viu a notícia?
A boca de Ron abriu e fechou algumas vezes.
Ele não precisava dizer nada. Eu duvidava que houvesse uma alma em
toda Nova Iorque que não a tivesse visto. A manchete estava em toda
parte.
— Ligue para os advogados e traga Frankie da RH para cá. Por favor.
Ron acenou com a cabeça e se retirou do meu escritório.
Atravessei a sala até a janela de vidro que preenchia toda a parede
norte do meu escritório, olhando para as ruas de Nova Iorque lá embaixo.
Eu teria que me exceder para garantir que as ações de meu filho não
tivessem nenhuma repercussão na empresa, ou nele. Eu gostava de dizer
que tinha dois filhos: Xavier e Knight Enterprises.
Separando-me dos empreendimentos petrolíferos de meus pais,
construí o principal conglomerado hoteleiro e hospitaleiro do mundo a
partir do zero. Minhas duas maiores alegrias na vida foram meu filho e
minha empresa.
E agora ambos estavam em perigo.
De novo.
Com pesar, o rosto de minha linda esposa vinha à mente.
Amélia. Quem me dera que você ainda estivesse aqui. Você saberia
como ajudar Xavier.
Meu olhar sobre as ruas foi desviado para o Central Park. Eu e minha
amada passeávamos juntos pelo parque, sentávamos e comíamos em um
banco junto às árvores.
— Ron! — eu gritei. Ouvi o deslize da porta do meu escritório. —
Cancele minhas reuniões. Vou dar um passeio.

Angela
Caminhei ao longo dos caminhos íngremes do Central Park, tentando
limpar minha mente. Estava voltando da floricultura da Em, depois de
fechar a loja.
Os longos troncos dos salgueiros envergavam com a brisa fria do final
de verão. Os cisnes flutuavam ao longo da superfície transparente de um
lago próximo. A conversa das crianças brincando voava pelo ar, e os
amantes se abraçavam na grama.
Eu coloquei um buquê de lírios em meus braços, tendo algum conforto
em seu cheiro suave. Meu coração ainda doía ao pensar em meu pai no
hospital, mas eu tinha que me manter forte.
Notei um senhor mais velho sentado sozinho em um banco; seus olhos
fechados em oração. Não sei o que me levou à sua direção, mas antes de
me dar conta, eu estava ao seu lado. Ele parecia tão triste.
Tão quebrado.
— Com licença — eu falei.
Ele abriu os olhos, piscando com surpresa enquanto olhava para mim.
— Pois não, — ele respondeu.
— Eu só queria perguntar se você estava bem, — eu disse. — Você
parecia um pouco... pra baixo.
Ele se inclinou para frente sobre o banco e apontou para uma placa
gravada na parte de trás.
— Estou apenas me lembrando de alguém importante para mim, —
disse ele, com uma voz grave.
Eu li a gravura.
Para Amélia, amada esposa e amada mãe. 16/10/1962 — 04/04/2011
Meu coração se partiu.
Eu lhe entreguei meu buquê de lírios, sorrindo.
— Para Amélia, — eu ofereci.
— Obrigado —. Ele se adiantou para pegar o ramo de flores, com as
mãos tremendo. — Posso perguntar seu nome?
— Angela Carson, — respondi.

Brad
Eu vi Angela partir, com uma sensação de paz que afugentava o que
preocupava meu coração. Eu dei tapinhas no banco, sorrindo para o céu.
Obrigado, meu amor. Você me mostrou a resposta.
Pus minha mão no bolso do meu casaco, puxando meu telefone.
— Ron, me dê o máximo de informação possível sobre Angela Carson.
— Examinei o buquê que ela havia me dado, notando o nome da florista na
embalagem de papel.
FLORICULTURA DA EM.
Eu acenei para mim mesmo, pois um plano se formava em minha
mente.
— E traga meu filho de volta para Nova Iorque.

Danny: Angie. Venha r á pido

Danny: É sobre nosso pai.


Angela: O que aconteceu?!

Danny: Ele teve um ataque card í aco.

— Conseguimos ressuscitar seu pai, — disse o médico, com uma voz grave.
— As vítimas de derrame são suscetíveis a ataques cardíacos nas primeiras
vinte e quatro horas após o derrame. Estamos de olho nele e
continuaremos a fazer testes para ver o que podemos fazer. — A maneira
como ele disse fez parecer que não estava confiante de que haveria muito.
— Obrigado, doutor, — disse Lucas.
O médico acenou com a cabeça e nos deixou.
— Quanto tempo o papai vai ter que ficar aqui? — perguntei. — Não
parece que ele esteja em condições de voltar para casa.
— Talvez não tenhamos escolha, — disse Danny.
— O que isso quer dizer? — eu perguntei.
Meus irmãos olharam um para o outro. Meu coração bateu no meu
peito. Pude sentir más notícias chegando. Finalmente, Lucas voltou-se para
mim.
— Não temos como mantê-lo aqui, Angie.
Pestanejei.
— O quê?
Danny passou as mãos pelo cabelo, com o rosto pálido.
— Estamos falidos.
— Como? O restaurante... — O restaurante tinha sido a vida do meu pai
quando éramos crianças. Nossa mãe também tinha trabalhado lá, até
adoecer. Meus irmãos assumiram o controle assim que terminaram a
faculdade.
— Ele aguentou por uns anos. A recessão teve seu preço. Nosso pai
colocou uma segunda hipoteca sobre a casa para tentar nos ajudar. —
Lucas suspirou. Ele parecia derrotado.
— Por que você não me disse? — eu perguntei. — Tenho uma
entrevista em breve, então talvez...
Mas Danny estava balançando a cabeça.
— As contas do hospital estão chegando em breve...
Eu não podia ficar mais lá — no corredor, no hospital. Era muito
claustrofóbico. Eu me afastei de meus irmãos. Minhas pernas trêmulas me
levaram pelos corredores e escadas abaixo até que me encontrei do lado
de fora, em frente ao hospital.
Era o meio da noite, então não havia ninguém para me ver cair de
joelhos no meio da calçada. Ou assim eu pensei...
— Com licença — disse uma voz profunda atrás de mim.
Soluçando, olhei para cima e vi um homem perto de mim.
— Sim, posso ajudá-lo? — murmurei, limpando meus olhos.
O homem se ajoelhou diante de mim, e eu ofeguei enquanto o
reconhecia.
Era o homem que eu havia encontrado antes no Central Park. Aquele a
quem dei meu buquê de lírios.
— Perdoe minha intromissão. Meu nome é Brad Knight.
Fiquei sem ar. Brad Knight?
O Brad Knight?
O bilionário por trás das Knight Enterprises?
— Eh, — gaguejei.
— Eu sei de sua situação, Angela, e posso ajudar. Eu posso ajudar com
as contas médicas de seu pai.
Minha cabeça girou. Os alarmes tocaram em minha mente.
Como é que ele sabe disso tudo? O que ele quer de mim?
— Eu pagarei por tudo. E me certificarei de que seu pai seja bem
cuidado. Você só tem que fazer uma coisa por mim. — Ele parecia tão
genuíno, mas havia uma pitada de desespero em sua voz. Ele se
recompôs, olhando diretamente nos meus olhos.
— Preciso que você se case com meu filho.
Capítulo 2
Desespero Sombrio
Angela
Emily franziu a sobrancelha enquanto me via comer um pote de sorvete
Ben and Jerry em meu pijama, com meu cabelo amarrado de forma
bagunçada.
— Você está bem? — ela perguntou.
— Super, — eu disse com a boca cheia de chocolate.
Ela suspirou, pegando seu próprio pote de sorvete do freezer. Sentouse
ao meu lado, enfiando uma colher cheia de baunilha na boca.
— Põe pra fora, — exigiu.
— Estou muito estressada, — admiti. — Meu pai está no hospital, e
vamos ter problemas para pagar as contas. — Acabei de ter uma entrevista
com Curixon, e receio ter estragado tudo, e... — minha voz vacilou.
E um certo bilionário fez um pedido ridículo na outra noite.
Mas eu não queria contar à Emily.
Como eu poderia?
— Você não estragou tudo, — Em me assegurou.
— Você foi ótima, não é? Você mesmo me disse.
— Pensei que fui, — eu disse. — Agora já não tenho tanta certeza.
Era verdade; eu realmente tinha me dado bem com o entrevistador.
Curixon era uma grande empresa, e eu esperava finalmente poder dar bom
uso ao meu diploma de engenharia em Harvard. Havia passado os últimos
meses trabalhando meio período na floricultura da Em.
Ela até me deixou morar com ela em seu apartamento.
Eu estaria totalmente ferrada se não fosse por ela.
— Você salvou minha vida, Em, — eu comecei. — Se não fosse por você
me deixar ficar aqui...
— Chega de drama, — ela disse antes que eu pudesse agradecê-la
novamente. — Você sabe que tem permissão para ficar o tempo que
quiser. Só não quero ver você desperdiçar sua vida varrendo o chão da
minha floricultura quando você poderia estar trabalhando em algum lugar
como Curixon. Mesmo que você traga ãs e admiradores aleatórios pra loja.
Você é muito esperta para isso, Angie. Meu coração parou por um instante.
Em não reconheceu Brad, então. Graças a Deus.
— De qualquer forma, estou de saída. — Em se levantou, jogando sua
colher na pia e o pote de sorvete vazio no lixo. — Fique bem. — Ela calçou
os sapatos, e antes que eu desse por isso, ela tinha desaparecido.
Eu estava sozinha.
Minha mente se voltou para a outra noite. Honestamente, eu pensei
que era tudo uma espécie de sonho louco. Mas quando percorri os
contatos do meu telefone, seu nome ainda estava lá.
Brad Knight.
Eu rastejei para fora da sala de estar e fui para minha cama, enrolando-
me em uma bola. Fechei os olhos e deixei a minha mente voltar para
aquela noite.

— O quê?! — Eu me afastei de Brad, colocando um espaço entre nós. —


Isto é algum tipo de brincadeira?
Ele me observou, balançando a cabeça para si mesmo.
— Lamento muito, — disse ele. — Eu me antecipei. Por favor, deixeme
explicar.
Olhei para trás de mim. As portas do hospital não estavam muito longe.
Eu poderia correr para lá se fosse preciso.
Além disso, havia algo naquele homem que me fazia querer confiar
nele. Ele parecia tão sincero e bondoso. Talvez fosse por causa da sua
idade?
Eu acenei com cautela, gesticulando para que ele continuasse.
— Depois que você foi tão boa para mim esta tarde, eu sabia que tinha
que pagar seu ato de bondade. Visitei a floricultura da Em. Era de lá que
vinha o buquê que você estava segurando.
— Sim, mas...
— Eu vi isso no papel. E falei com a Em, uma garota adorável. E depois
perguntei de você, Sra. Angela Carson. Ela disse que a conhecia bem. Que
você estava em um pequeno hospital em Nova Jersey porque seu pai tinha
acabado de adoecer.
Eu acenei, ainda incrédula em toda esta conversa.
— E por favor, perdoe a pergunta, mas sua família não tem os recursos
necessários para manter seus cuidados... seu tratamento, sua estadia no
hospital, o mais confortável possível, tem?
Eu neguei com a cabeça.
— É aí que eu posso te ajudar, Angela. Podemos nos ajudar. — Ele
sorriu, seus olhos desapareceram em meio às rugas de pé de galinha.
— Então, você quer que eu me case com seu filho, — repeti suas
palavras de antes. Senti como se fossem alienígenas saindo da minha boca.
Brad acenou com a cabeça.
Pensei no que eu sabia sobre o filho de Brad.
Xavier Knight.
Eu o conhecia, é claro. Como eu não poderia? Ele era uma celebridade.
Rico nojento e lindo de morrer.
Qualquer garota se lançaria à chance de ser sua esposa.
Mas ele parecia ser do tipo rebelde. Eu tinha visto as manchetes e
artigos sobre ele, de vez em quando, durante os últimos meses.
Sexo.
Drogas.
Corridas.
Ele era selvagem.
Perigoso.
Um arrepio corria pela minha espinha, mas não conseguia dizer se era
por medo ou excitação.
— Mas por que eu? — eu perguntei. — Tenho certeza de que você
poderia encontrar um milhão de meninas que são mais bonitas e mais
bem-sucedidas do que eu. Alguém mais adequado para seu filho.
— Você é uma alma pura, minha querida. Você pode não saber, mas é
rara. Eu quero o melhor para meu filho, como qualquer pai faria. Eu acho
que você pode ajudá-lo. Confio em meu instinto, e meu instinto agora diz
que isto vai funcionar.
Pestanejei.
Uma alma pura? O que isso quer dizer?
— Mas o casamento não é apenas um pedaço de papel, — eu
argumentei. — Você não pode simplesmente assinar um contrato e se
apaixonar.
— Isso pode ser verdade, mas o amor é paciente.
— Como você sabe que não vou me casar com seu filho e depois me
divorciar dele no dia seguinte? — Eu estava me fazendo de advogada do
diabo, já que precisava de respostas para esta hipótese confusa.
Em vez de se afastar, ele se aproximou de mim e pegou minha mão. Seu
toque foi caloroso e estranhamente reconfortante.
— Eu não acredito que você faria isso, Angela. Como eu disse, sua alma
é pura. Mas se você precisar de algum tipo de plano de seguro, olhe para
trás.
Eu virei e vi o hospital, iluminado pelos candeeiros da rua.
— As contas médicas não são brincadeira. Tratamentos, reabilitação,
atendimento 24 horas. Tudo isso custa dinheiro, querida. Se você cumprir
sua parte do acordo, eu lhe prometo, pela minha vida, que também
cumprirei minha parte.
Minha mente estava agitada. Tinha que haver uma maneira diferente.
— Eu tenho uma segunda entrevista para este trabalho amanhã. Posso
ser capaz de...
— Angela, — disse ele, interrompendo-me. — Você sabe quanto custa
uma noite de internação no hospital? Setecentos dólares a cada noite.
Um exame de sangue de rotina custa duzentos e cinquenta dólares. Se
eles, Deus nos livre, tiverem que usar o desfibrilador, são mais quinze
mil dólares.
Fechei meus olhos.
— Por favor. Por favor, pare. Dê-me só um minuto para pensar. — Tentei
organizar meus pensamentos confusos.
Meu pai.
O restaurante.
Meus irmãos.
Anos de dívidas.
Um novo emprego.
Curixon pagava bem. Se eu conseguisse a posição, eu poderia pagar as
coisas lentamente.
Emily me deixaria viver com ela por mais um tempo se isso significasse
salvar a vida do meu pai.
Como eu poderia me casar com um homem que não amava e muito
menos conhecia?
— Por que você está me ajudando? — eu perguntei.
— Quando você veio até mim esta tarde, — começou ele, — você
respondeu a uma oração que eu havia enviado ao céu. Você me deu forças
quando eu precisei. Por isso, agora estou aqui para responder suas
orações. Estou aqui para lhe dar força, e é assim que eu posso fazer.
Pensei sobre isso, minha respiração saía entre breves intervalos.
Eu estava realmente considerando isso?
— Angela? — Brad me chamou suavemente.
— Posso ao menos ter algum tempo para pensar sobre isso? — eu
perguntei. — Isto é muita coisa para assimilar.
— É claro, — ele disse.
Brad me entregou um cartão de visita, feito de um metal fino e leve.
Acho que papel é muito plebeu para um bilionário, pensei de certa
forma delirante.
— Ligue-me quando decidir. — Ele sorriu para mim antes de se virar. —
Eu realmente acredito que isso vai funcionar, Angela. Eu realmente
acredito.
Meu telefone tocou, acordando-me do meu devaneio. Virei sobre minha
cama, verificando o identificador de chamadas.
CURIXON LTD.
Eu me enfiei direito na cama, com meu coração martelando no peito.
Está bem, está bem, está bem, está bem.
Eu respirei fundo.
— Olá? — Eu disse, disposta a não tremer minha voz.
— Olá, é a Angela Carson falando?— disse uma voz feminina do outro
lado da linha.
— É ela.
— Olá, Angela. Só estou ligando para informar que infelizmente
decidimos seguir em frente com outros candidatos a este trabalho.
— Oh. — Meu coração afundou.
— Manteremos sua solicitação arquivada caso outra posição se torne
disponível.
— Está bem. Obrigada.
O que mais eu poderia dizer?
Depois de mais alguns segundos de dolorosas trocas de palavras,
desmaiei no travesseiro, com a cara primeiro.
Então minha entrevista não foi tão boa assim.
Senti lágrimas de frustração brotarem em meus olhos, e as deixei de
molho no travesseiro. Havia muito mais em jogo do que apenas pagar as
contas e ter algum dinheiro para gastar.
A vida do meu pai estava em jogo.
Peguei meu telefone, rodando pelos meus contatos.
Olhei fixamente para o número de Brad Knight, meu polegar pairando
sobre o botão de chamada.
Não é que eu tenha muita escolha.
Aperto o botão de discagem, selando meu destino.
— Olá? — Brad atendeu.
— Olá Sr. Knight, é a Angela.
— Angela! — Ele me cumprimentou calorosamente. — Fico feliz que
tenha ligado. — Então, posso presumir que...? — Ele deixou a pergunta no
ar.
Eu respirei fundo. Senti que seria esmagada por baixo do peso das
palavras que se formavam em minha boca.
— Sim, — eu disse. — Eu aceito.
Senti algo dentro do meu coração se encolher e morrer.
— Eu me casarei com seu filho.
Capítulo 3
Despertar Brusco
Brad
Eu não podia acreditar que ela tinha dito sim. Mesmo sendo um homem de
negócios muito bem sucedido, mesmo acostumado a ser tratado como o
magnata que eu era, ainda me encontrei sem palavras. Havia algo tão
inocente sobre ela.
E ainda assim, aqui estava ela, apertando as mãos em um arranjo que
forçaria sua vida por um caminho diferente. Eu poderia concordar em
pagar as contas médicas de seu pai, mas de alguma forma, eu ainda me
sentia em dívida com ela.
Alguns dias haviam se passado desde que eu a havia localizado no
pequeno hospital de New Jersey, e hoje era o dia em que nos reuniríamos
para discutir os mínimos detalhes do acordo.
Eu a convidei para um chá no Plaza, e ela aceitou prontamente. E
quando ela perguntou:
— Qual praça? — Eu não pude deixar de rir; a garota foi
inequivocamente encantadora.
Eu tinha acabado de me sentar à minha mesa habitual, aquela no canto
com poltronas de veludo de ambos os lados. Era verdade que muitos dos
meus associados frequentavam esta sala de jantar, mas esta mesa,
escondida atrás de arranjos florais, facilitava evitá-los.
Eu estava apenas verificando meus e-mails quando senti toda a
disposição da sala mudar, como se uma rajada de vento tivesse entrado
numa sauna, deixando todos lá dentro refrescados.
Olhei para cima, e lá estava ela. Ela entrou nervosamente na sala,
olhando em volta como uma criança perdida. Eu não pude deixar de sorrir
e me sentir ainda mais seguro sobre meu plano.
Angela
Acordei assustada esta manhã, surpresa com como tinha conseguido
dormir até tarde. Tomei chá com Brad Knight, agendado para o início da
tarde. Cara, pensei, essa é uma frase que eu nunca pensei que diria. O que
as pessoas vestem para um chá da tarde?
Um terno de negócios?
Um vestido de babado?
Pensei em pedir ajuda a Em, mas depois teria que explicar com quem
eu estava me encontrando, e por quê. E isso me pareceu ter mais um
problema totalmente diferente. Então, em vez disso, vesti minhas roupas
normais, um jeans e uma blusinha, calcei minhas botas pretas favoritas, e
saí.
Após consultar o Google, soube que o Plaza não era na verdade uma
praça, mas o Plaza Hotel. Frequentado por pessoas ricas, o Plaza tinha uma
mistura de negócios e celebridades.
E o chá da tarde não era apenas de camomila ou pekoe tipo orange. Foi
um evento. Eu li tudo isso no trem, olhando para o jeans que eu havia
escolhido usar. Eu era um peixe fora d’água, isso era claro. Meus nervos
estavam cada vez mais à flor da pele.
Será que eles sequer me deixariam entrar?
Assim que entrei, o porteiro saiu correndo de trás de sua mesa e
colocou uma mão no ar, parando-me.
— Madame?
— Oi, sim, — eu gaguejei. — Estou aqui para o chá?
Ele apenas levantou uma sobrancelha.
— Vou me encontrar com o Sr. Knight, — eu disse, também não
acreditando muito nisso. Mas dizer o nome dele foi o suficiente.
— Ah, perfeito, — ele disse, seu sotaque francês o torna ainda mais
intimidante. — Siga-me.
Assim que ele abriu as portas da sala de jantar, eu fiquei sem ar. A
decoração era tão meticulosamente arranjada, tão impossivelmente bem
coordenada, que eu sentia que apenas caminhar por ali seria arruiná-la.
Olhei ao meu redor, de mesa em mesa, sentindo-me como uma
estrangeira. E então vi Brad no fundo, levantando-se e acenando. O
concierge, ainda ao meu lado, levantou outra sobrancelha para mim.
— Obrigado por sua ajuda, — eu disse suavemente, e atravessei as
mesas de pessoas que eu só tinha visto em revistas. Caramba.
— Sente-se, — disse Brad assim que eu me aproximei. Ele apontou para
a cadeira de veludo em frente a ele, e eu senti como se tivesse afundado
em uma nuvem no momento em que me sentei. — Obrigado por se juntar
a mim.
— Obrigada por me convidar, — respondi, cheia de nervosismo. — Este
lugar é incrível.
— Isso?— ele disse, olhando em volta. — Isso não é nada. — Mas ele
tinha um sorriso no rosto, sinalizando que estava brincando. — É algo a
que você vai se acostumar.
— Não acho que poderia.
— Acredite em mim, — ele disse, — o brilho e o glamour se desgastam.
Há um limite para quantas garrafas de champanhe você pode comprar
antes de perceber que não tem ninguém com quem goste de dividi-las.
Mas é por isso que você está aqui.
— Você bebe champanhe no chá? — perguntei, confusa. Nesse
momento, o garçom apareceu, usando uma gravata borboleta. Pensei que
ele poderia ser um modelo. Ele olhou para o Brad.
— Sr. Knight? O de sempre?
Brad acenou com a cabeça e ele desapareceu sem sequer olhar para
mim. Então Brad se inclinou para frente, e eu pude perceber que ele estava
se preparando para começar A Conversa.
— Então, Angela. O que você pode não saber sobre meu filho, Xavier, é
que ele já passou por muita coisa. Crescer comigo como pai não é fácil, ao
contrário do que muitos poderiam acreditar. Há muita pressão. E pressão
em lugares pequenos....
— Causa uma explosão, — eu terminei. E então senti sangue correndo
para as minhas bochechas. Teria eu acabado de interromper o Brad Knight?
Mas ele apenas acenou para mim.
— Exatamente. Xavier tem andado por todo o lado ultimamente. E eu
acho que você... você tem a capacidade de fazê-lo criar raízes em algum
lugar. Para lembrá-lo do que é importante. Isso é o que estou propondo.
— Então, eu me caso com seu filho, e você garante a saúde do meu
pai... suas contas médicas...
— Tudo será pago, — ele disse, com uma certeza que me fez confiar
nele. — Desde que você me garanta que nosso acordo, nosso arranjo,
nunca será dito a mais ninguém. — Ninguém pode saber por que você está
fazendo o que está fazendo. Nem sua família, nem seus amigos. E nem
Xavier. Nunca meu filho.
Ele me entregou um documento com várias páginas. Eu vi que era um
contrato, com pelo menos trinta cláusulas. E então o rosto do meu pai
passou pela minha mente — o rosto que eu tinha visto na cama do
hospital, todo pálido e fraco.
Minha mente estava me dizendo para parar, para pensar sobre isso,
mas era como se minha mão estivesse trabalhando sozinha. Tirei a caneta
chique da mão do Brad Knight e assinei o contrato.
Depois, ainda com as mãos tremendo, tomei um gole do chá fumegante
que o garçom-modelo colocou diante de mim.

Brad: 15 h, Central Park.

Brad: Sess ã o de fotos do casamento.

Brad: Devo enviar um carro?

Angela: Tudo bem.


Angela: Eu pego o trem.

Alguns dias após a reunião no Plaza, Brad estava me enviando instruções.


Eu nunca tinha ouvido falar de uma sessão fotográfica de casamento antes.
Claro, eu sabia que os noivos tiravam fotos no casamento, mas semanas
antes?
Brad tinha me dito para usar o que eu achasse confortável, então eu
presumia que seria casual. Mas assim que saí da estação Columbus Circle,
vi Brad de pé na borda do parque. Ele estava na frente de um trailer — o
tipo de trailer que os atores usam quando estão filmando cenas. Ele me
acenou, com verdadeira excitação no rosto.
— Angela! Aqui!
— Estou indo! — Eu disse, quase gritando. Não foi bem um grito nem
uma voz interior.
Quando atravessei a rua e estava a poucos passos de chegar até Brad,
ele abriu a porta do trailer. Eu podia ver o caos se desdobrando lá dentro.
— Há aqui um cabeleireiro, um maquiador e um estilista para você, —
ele disse, batendo palmas. — Não tenha pressa. Vamos começar a filmar
na hora mágica.
— A hora mágica? — perguntei, porque essa era a coisa mais recente e
confusa que ele tinha dito.
— Entre 16h30 e 18h30, — respondeu ele. Então ele sussurrou: — É o
que eles me dizem, de qualquer forma.
Antes que eu pudesse responder, uma das mulheres estilosas dentro do
trailer me puxou e fechou a porta atrás dela.

Xavier: Chegarei tarde.


Brad: Isso é inaceit á vel, Xavier.

Brad: Xavier?

Brad: Filho, responda-me.

Eu não podia acreditar no rosto que vi olhando para mim no espelho. Meu
cabelo havia sido empilhado em cima da minha cabeça, em uma coisa
complicada de trançar o nó superior, com um par de fios soltos
emoldurando meu rosto. Parecia extravagante e descontraído ao mesmo
tempo. Então, em outras palavras, não parecia nada comigo.
A maquiadora, Sky, demorou mais de uma hora para fazer meu rosto.
Meus olhos estavam suavemente forrados com tinta marrom escuro, e o
blush em minhas bochechas me fazia parecer toda rosada. Eu nunca usei
maquiagem, além do pincel ocasional de rímel, e ter tanto em mim parecia
que eu estava brincando de me vestir como adultos.
— Já está pronta…? — Brad disse, batendo na porta semi-aberta. Mas
ele parou quando me viu.
Eu estava com um vestido de renda branca que ia até meus joelhos, e
um par de saltos de sete centímetros que me dava ansiedade. Eu mal
conseguia andar sem cair, mas ninguém ao meu redor parecia se importar.
Brad tomou conta da minha aparência.
— Você está linda, — ele disse de forma paternal, e eu imediatamente
imaginei meu próprio pai dizendo a mesma coisa. Eu sorri.
Ele pegou minha mão e me levou para fora, certificando-se de que eu
estivesse pisando bem a grama. Quase caí algumas vezes, mas quando vi a
sessão fotográfica montada no parque, esqueci os sapatos.
Havia luzes amarradas nas árvores, um enorme cobertor de piquenique
na grama, e um buffet de charcutarias e garrafas de vinho geladas em uma
mesa próxima. Parecia uma propaganda em um programa da HGTV.
— Isto é... incrível, — eu disse, voltando-me para Brad.
— Espere até ver o casamento, — ele disse, piscando. Tudo isso foi
inacreditável. Olhei novamente em volta, percebendo o que estava
faltando.
— Onde está o Xavier?
Brad hesitou — a primeira vez que eu o vi inseguro assim, mas antes
que ele conseguisse falar, sua atenção se deslocou para algo atrás de mim.
Um enorme sorriso envolveu seu rosto.
— Desculpe-me, querida, — ele disse, e então passou rapidamente por
mim, indo abraçar seu filho.
Foi quando eu o vi. Xavier Knight, com seu um metro e noventa de
altura. Ele era alto, moreno e bonito. Isso ficou claro imediatamente. Ele
abraçou seu pai e depois me olhou nos olhos, com toda a frieza.
Brad o levou até onde eu estava, e me beijou na bochecha com um
suave "Olá".
— Oi, — eu disse, com olhos no chão, sentindo as palmas das mãos
começarem a suar.
A sessão fotográfica propriamente dita foi feita em quinze minutos.
Estávamos sorrindo e olhando um para o outro nos olhos. Bem, tentando,
de qualquer forma.
Olhar para ele era como olhar para o sol. Ele tinha uma intensidade que
era quase insuportável. Mas cada vez que eu desviava o olhar, o fotógrafo
gritava: — Nos olhos dele! — E um fotógrafo extravagante gritar pra você
era ainda mais embaraçoso do que o rubor que vinha sempre que eu fazia
contato visual com meu noivo.
— Isso vai impressionar o The Times, — disse o fotógrafo quando
terminamos. — Não via um casal tão atraente desde Jennifer e Brad.
Apesar de tê-lo ouvido claramente, eu sabia que ele não poderia estar
falando de mim. Eu estava estranha, e minhas bochechas já devem estar da
cor de tomates maduros.
Mas então vi Xavier caminhar na minha direção, uma garrafa de vinho
em sua mão, e meus nervos ficaram ainda mais altos. Ele vai esperar algo
de você. Você precisa fazer alguma coisa com elegância. Mas eu nunca
havia tido um namorado antes, então, como minha mente continuava
agitada, eu não tinha certeza de como proceder.
Eu vi Brad a alguns metros de distância, apertando a mão do fotógrafo,
e ele me viu olhando e sorriu. E então ele viu seu filho vir em minha
direção, e seu sorriso cresceu. Voltei para Xavier, que estava quase bem na
minha frente.
— Foi um prazer conhecê-lo, — eu disse, porque me senti obrigada a
dizer algo, mas não sabia bem por onde começar. Ele sorriu para mim, mas
algo pareceu estranho. Havia algo sinistro nele, em seu sorriso. Como se
algo não estivesse certo na expressão de Xavier.
Eu olhei para o chão, esperando que ele dissesse algo. Mas em vez
disso, ele levou seus lábios até a minha bochecha.
— Eu não sei quem você é, — começou ele, suas palavras me bateram
logo no ouvido. — Eu não sei o que você quer. Mas você não me engana.
Não caio nesse cabelo, maquiagem e vestido. Você não me engana.
Seus lábios escovaram o outro lado do meu rosto agora, e então ele
sussurrou mais veneno.
— Não caio nessa, sua puta oportunista. E eu te odeio, porra.

Capítulo 4
Mentiroso Mentiroso
Angela
A água quente caía sobre minha pele, mas por mais que eu esfregasse, eu
ainda me sentia suja.
Que nojo.
Eu não podia acreditar como Xavier tinha falado comigo. Eu não podia
acreditar no que ele pensava de mim — que eu estava atrás do dinheiro
dele e do nome de sua família.
A ideia de usar alguém assim era suficiente para me deixar enojada, e
ainda assim era exatamente o tipo de pessoa que ele tanto acreditava que
eu fosse.
Foi aí que a ironia me atingiu.
Eu fui atrás de seu dinheiro.
Se não fosse pela fortuna dos Knight, eu nunca teria concordado em
casar com Xavier Knight.
Mas eu não era uma oportunista egoísta.
Eu estava fazendo isso para salvar a vida do meu pai.
Mas isso melhora as coisas?
Depois de desligar o chuveiro, enrolei uma toalha bem apertada ao
redor do meu corpo. Qualquer coisa para não me deixar em pedaços.
Sequei-me e vesti meu pijama de forma robótica, minha mente estava
longe.
Quando desmaiei na cama, meus olhos caíram sobre um quadro
emoldurado do outro lado do meu quarto. Era uma foto de mim, Danny,
Lucas e meu pai.
Todos nós parecíamos tão felizes.
Nosso pai parecia tão saudável.
A foto foi tirada na última Ação de Graças. Danny tinha queimado o
peru e Lucas tinha feito muito recheio, mas estava perfeito.
Todos nós nos esprememos no sofá velho e gasto da sala de estar e
assistimos a uma partida de futebol sem nos preocuparmos com o futuro.
Coloquei minha cabeça em minhas mãos.
Como tudo mudou tanto em apenas um ano?
Nosso pai foi sempre um pilar de força. Depois que a mãe faleceu, ele
assumiu o papel de ambos. Ele era a única constante, uma rocha constante
na tempestade da vida.
E agora ele estava no hospital, e eu não tinha certeza se ele ia...

Em: Ol á , menina.

Em: T á a fim de (emoji de sushi – 🍣 ) à noite?


Eu olhava para os pequenos emojis de sushi, a pequena e despretensiosa
imagem que me salvava dos meus pensamentos.
A última coisa que eu queria fazer era sair em público. Meus cobertores
sussurraram sedutoramente para mim, tentando-me com a promessa de
escuridão e silêncio.
Mas talvez sair fosse exatamente o que eu precisava. Mesmo que fosse
para escapar dos meus pensamentos por uma noite.
Para me afastar da memória de Xavier me encarando com seus olhos
azuis...

Angela: OK, te encontro no lugar de


sempre em 40 min

Em: Uhuuulll

— Você é bom demais para Curixon de qualquer forma, — disse Em,


colocando mais um pedaço de sashimi de salmão em sua boca.
Mergulhei meu nigiri de atum em molho de soja, cantarolando sem
compromisso.
— Ainda não entendi, — murmurei. — Tive uma sensação tão boa
depois das minhas entrevistas.
— Bem, eles que saíram perdendo. — Em arrancou um prato de sushi
de salmão da esteira transportadora na nossa frente. Ela estava
rapidamente acumulando uma pequena torre de pratos vazios ao seu lado.
Eu mastiguei minha comida sem degustar.
Se ao menos Curixon tivesse dado certo. Talvez eu não tivesse acabado
ficando noiva de um bilionário odioso.
Meus olhos vagueavam preguiçosamente sobre a esteira lenta diante
de mim. Eu tinha tantas escolhas, mas nenhuma delas era nem um pouco
atraente.
Em colocou um rolo de salmão no meu prato vazio.
— De qualquer forma, não viemos aqui para chorar. — Ela sorriu para
mim, e eu não pude deixar de sentir meu espírito se elevar um pouco. —
Feliz pré-Ação de Graças.
— Feliz pré-Ação de Graças, — eu respondi, e batemos nossos pedaços
de sushi juntos antes de comê-los.
Todos os anos, Em e eu temos nossa própria refeição de pré-Ação de
Graças antes de irmos passar com nossas famílias.
— De qualquer forma, — disse Em ao redor de uma boca cheia de
comida, — você ouviu falar da agitação no Central Park hoje cedo?
— Hmm?
— Aparentemente, um casal mega-rico realizou uma sessão fotográfica
chique pré-casamento. Eles até bloquearam uma seção inteira para que
ninguém conseguisse se aproximar.
Eu me engasguei, tentando ao máximo não enviar pedaços de sushi
voando sobre a esteira.
Em me deslizou um copo de água.
— Não é? Quão louco é isso? — Ela suspirou, melancólica. — Imagine
ser tão rico e apaixonado que você poderia reservar o Central Park.
Eu bebi um pouco de água, depois limpei minha garganta.
— Sim, eu imagino que...
Eu não podia exatamente dizer a ela que aquilo era minha sessão
fotográfica pré-casamento.
Nem eu poderia corrigi-la.
Claro, Xavier era mega rico.
Mas nós definitivamente não estávamos apaixonados.
O olhar de ódio e repugnância de Xavier me passou pela mente
novamente.
Nada poderia estar mais longe da verdade.
— Angela? Você está bem?
Eu pestanejei, caindo em meus pensamentos.
— Claro, — eu menti.
— Parece que você viu um fantasma...
— S-Só um pouco cansada, acho.
Em me olhou fixamente, seus olhos procuravam os meus. Eu nunca fui
uma boa mentirosa. E Em me conhecia melhor do que ninguém.
Mas eu não poderia dizer a verdade, nem se quisesse. Eu não poderia
dizer a ninguém. Nem mesmo à minha família. Eles provavelmente
acabariam descobrindo. Era impossível esconder para sempre um
casamento tão proeminente.
Mas eles nunca poderiam saber a verdade sobre meu acordo com Brad
Knight.
Eu fui literalmente contratada para mentir.
E assim o fiz.
— De qualquer forma, tenho que fazer alguns preparativos de última
hora para o Dia de Ação de Graças de amanhã, — eu menti novamente. —
Eu vou pra casa.
— Certo, — disse Em, com um tom neutro. Eu não podia dizer se ela
acreditava ou não em mim, mas ela abandonou o assunto.
Levantamo-nos e, depois de pagar, saímos para o ar fresco noturno.
Sentia meu coração pesado de culpa. Tinha que mentir para minha melhor
amiga.
E isso foi apenas o começo...

Lucas: N ã o se esque ç a da torta

Angela: (3 emojis de espanto 😲😲😲 )


Lucas: ...

Lucas: S é rio?

Angela: Oops...

Lucas: Nova York muda as pessoas.

Angela: Eu vou voltar pra buscar.

Lucas: N ã o se preocupe, tudo bem.

Lucas: Só ajude com o peru antes que Danny o queime.

Frustrada, encostei-me na minha cadeira e fechei os olhos.


Eu não podia acreditar que tinha esquecido a torta de nozes. Era
praticamente um dos pontos básicos no Dia de Ação de Graças.
Mas é que eu estava com a cabeça cheia.
O trem passou por cima de um pequeno obstáculo, e eu me movi no
meu assento, encostando minha cabeça contra a janela e olhando para um
mundo que desaparecia.
Eu estaria em Heller em uma hora; queria que já estivesse lá.
Meu pai nos garantiu que ele estava bem o suficiente para ter o Dia de
Ação de Graças em casa.
Meus irmãos continuavam me dizendo como ele estava muito melhor, e
eu mesma mal podia esperar para vê-lo. Mal podia esperar para ver todos.
Eu senti meu coração relaxar. Percebi o quanto estava aliviada por estar
saindo de Nova Iorque. Mesmo que fosse apenas por alguns dias, algum
tempo longe do drama do contrato seria bom para mim.
Isso me daria espaço para respirar e elaborar um plano.

Depois do que me pareceu um século, eu estava finalmente subindo os


degraus da frente da minha casa de infância.
Eu bati à porta e Lucas respondeu, envolvendo-me em um grande
abraço de urso.
— Você cheira a trem, — ele disse, puxando-me para dentro de casa.
— Prazer em vê-lo também, — eu disse, pondo minha língua de fora.
Eu entrei e uma onda de nostalgia me atingiu.
Foi aqui que eu cresci. A casa que me tinha visto celebrar e lamentar na
vida em medidas iguais.
Era aqui que eu e Em costumávamos assistir filmes só para adultos,
onde Lucas e eu costumávamos construir castelos de travesseiros e comer
Nutella do pote.
Mas estar de volta agora, com tudo o que havia acontecido, parecia
diferente.
Era como se de alguma forma esta casa não pudesse mais me proteger
do mundo exterior.
— É ela? Angie? — E lá estava ele, vindo para o corredor em uma
cadeira de rodas. Ele se parecia mais com o pai que conhecia do que com o
homem na cama do hospital.
— PAI! — Eu saltei na sua direção, abraçando-o com força. Ele
realmente parecia mais saudável. Vê-lo fora do hospital fortaleceu minha
determinação.
Se aturar um bilionário zangado significasse que meu pai ficaria bem...
então que assim seja.
— Meu Deus, Angie, estou aqui, — ele disse, rindo. — Eu não vou a
lugar nenhum, minha filha. A menos que você me empurre até lá.
— Eu sei. — Tentei limpar sorrateiramente uma lágrima antes que ela
me saísse do olho. — Estou feliz em vê-lo. Você está ótimo.
— Pronta para ver o peru?
— Você quer dizer Danny? — Eu brincava.
— EU OUVI ISSO! — Danny gritou da sala de estar. Eu sabia que ele já
estava sentado no sofá assistindo futebol, seus olhos colados à TV.
Não consegui impedir que um sorriso bobo se espalhasse pelo meu
rosto.
Isso era exatamente o que eu precisava.
Nossa campainha tocou, e todos nós olhamos para a porta em
confusão.
— Estamos esperando alguém? — perguntei ao Lucas.
— Não. — Seus olhos se iluminaram por um segundo. — Você convidou
a Em?
— Não, ela deveria estar com a mãe dela. — Caminhei em direção à
porta e a abri...
E de repente, meu pequeno santuário de Ação de Graças foi desfeito
em pedaços.
Porque ali parado, bonito, perfeito e completamente deslocado, com
uma caixa de torta de nozes nos braços, estava Xavier Knight.
Ele me mostrou um sorriso brilhante, mas não chegou aos seus olhos.
Eles pareciam frios. Calculistas. Como um lobo que brincava com sua
comida antes de começar a matança.
— Olá, querida, — ele zombou.
Meu coração deu um pontapé pelo exagero. Eu estava prestes a ter um
ataque de pânico total. Minha família nem sabia que eu estava saindo com
alguém, muito menos casando com o solteiro mais rico da cidade de Nova
Iorque.
— O que você está fazendo aqui...
— Angela? — O pai chamou às minhas costas. — Quem é esse?
Um poço de pavor se abriu em meu estômago quando ouvi minha
família se aproximar de mim.
— U-um, isto é...
Xavier avançou ao meu lado, seu comportamento cruel e zombeteiro
desapareceu em um piscar de olhos.
Ele enrolou um braço na minha cintura, e sorriu para mim, sua
expressão exalando amor e carinho. Ele parecia a definição do parceiro
perfeito.
Mas eu o conhecia de verdade.
Ele me odiava profundamente. Seu toque parecia mais amarras do que
um abraço. Eu senti os olhares de meu pai e de meu irmão focados no
gesto e meu rosto queimando de vergonha e constrangimento.
— Eu sou Xavier, — disse meu torturador, com sua voz amanteigada.
— Eu sou o noivo de sua filha.
Capítulo 5
Toda Amarrada
Xavier
Não sei o que deu em mim quando decidi visitar a família de Angela no Dia
de Ação de Graças.
Talvez tenha sido uma curiosidade mórbida.
Talvez eu quisesse ver como era a família de uma oportunista.
Talvez eu quisesse conhecer seus pontos fracos para poder expulsá-la
da cidade antes do temido dia do nosso casamento.
Mas tudo o que encontrei foi um momento embaraçoso ao redor da
mesa de jantar e uma refeição de merda.
Eu dei outra mordida no peru, conseguindo de alguma forma manter
uma cara séria.
Por mais que eu o encharcasse com molho, ainda sentia mais vontade
de dar uma mordida na porra do deserto do Saara.
— Mais recheio?
Procurei o irmão mais velho oferecendo-me outra colher cheia de
esterco. Ele estava obviamente tentando ser educado, mas eu sabia que
ele estava se forçando a isso.
Eu pude sentir a hostilidade em ondas de toda família.
— Por favor, — eu disse, segurando meu prato para um recheio mais
insípido. — Meus cumprimentos ao chef.
— Pelo menos alguém lembrou de trazer a torta, — comentou o outro
irmão. Ele estava tentando preencher o silêncio. — Você poderia ter dito
que traria, Angie.
— Eu queria que fosse uma surpresa, — Angela se engasgou.
— Bem, com certeza foi uma das grandes, — murmurou o pai. Ele me
olhou fixamente, e eu, em troca, coloquei um sorriso falso no meu rosto.
Ele definitivamente estava desgastado com a idade. Parecia que ele tinha
acabado de sair do hospital.
— Então, como vocês dois se conheceram? — ele grunhiu.
— É uma história engraçada, na verdade. — Eu dei um sorriso afiado à
minha noiva oportunista. — Mas Angela conta melhor do que eu.
Ela imediatamente ficou muito vermelha. Seu rosto parecia ter sido
cozido em um forno por muito tempo. Eu toquei a carne seca no meu
prato.
Tenho certeza que vocês têm muito em comum, coitados.
— Nós nos encontramos inesperadamente...
Sentei-me e ouvi Angela contar uma balela sobre como nos
encontramos em um lugar modesto. Contribuí com acenos de cabeça e
sorrisos, além de um ou dois risos nos momentos apropriados.
Não tenho certeza do que esperava encontrar ao ir à casa de Angela.
Um covil de cobras?
Uma família cigana itinerante de golpistas?
Eu esperava que eles tentassem me bajular. Para pedir coisas ou
lisonjear o peixe grande que sua filha havia pescado em sua linha de
mentiras.
Mas até onde pude perceber, eles pareciam uma família velha
entediante e regular. Eles eram superprotetores e preocupados com sua
preciosa filha e irmã. Aos seus olhos, ela não podia fazer nada de errado.
Ela era uma santa.
Um anjo.
Mas este anjo estava mentindo.
Eu a observei com os olhos focados.
Falando em um nível completamente superficial, Angela era muito
bonita. Não tinha como negar isso. Ela tinha um cabelo loiro luxurioso,
olhos brilhantes e inteligentes, e o tipo de corpo que faria qualquer
homem sonhar acordado.
Ela era uma mistura de a garota que morava ao lado com uma mulher
pinup da revista Playboy.
— Parece que vocês dois estão se indo bem rápido, — disse o pai. — O
que você gosta em Angela? O que o fez propor à minha filha?
— Pai! — ela protestou.
Eu dei uma olhada na Angela. Seus olhos de corsa eram largos e
suplicantes.
Eu poderia ter dito a verdade naquele instante.
Ter contado à família seu segredinho.
Mas isso não me teria feito nenhum bem.
Tudo o que eu sabia era que, se eu casasse com esta mulher, meu pai
me garantiria minha posição na empresa. Eu acabaria recebendo meu
direito de nascença como CEO da Knight Enterprises.
E se isso significava enganar esta família de caipiras de Nova Jersey, que
assim seja.
— O que ela tem para não se gostar? — eu perguntei. Eu olhei nos
olhos de Angela. — Sua filha é linda. Ela é a mulher mais compassiva e
gentil que já conheci. E eu sei que ela vai ser honesta e leal para o resto de
nossas vidas juntos.
Angela desviou o olhar e teve a decência de olhar para baixo com
vergonha.
— Hmm... — o papai oportunista grunhiu e enfiou uma colher cheia de
purê de batata na boca.
Ele não parecia totalmente convencido, mas abandonou o assunto por
enquanto.
Senti a mão de Angela apertando a minha por baixo da mesa. Ela me
olhou de relance e me disse em silêncio: — Obrigada.
Por uma fração de segundo senti a tensão em meus ombros relaxar.
Minha irritação e raiva desapareceram sob o seu toque, e me vi perdido
em seus olhos.
Mas então a parte racional do meu cérebro reprimiu o lado estúpido e
sentimental.
Afastei-me dela, mais zangado do que antes.
Não caia em seus truques.
Tudo o que as mulheres sempre querem é o seu dinheiro.
Seu status.
E se você baixar a guarda por um segundo sequer, elas vão arrancar seu
maldito coração.
— Parece que começou o segundo tempo do jogo, — disse um dos
irmãos. Os homens correram para a oportunidade de escapar da conversa
embaraçosa do jantar. Eu não os culpei.
— Eu cuido da louça, — eu disse quando começaram a pegar seus
pratos. — É o mínimo que posso fazer, sendo um convidado surpresa e
tudo mais.
— Obrigado, — disse o pai Longtooth. Ele começou a se deslocar até a
sala antes de parar e olhar para mim. — Você é ã de futebol?
— É claro, — eu disse. — Que se danem os Eagles.
Ele grunhiu sua aprovação antes de desaparecer na sala de estar, junto
com seus filhos.
Mas o mais problemático do grupo decidiu ficar.
Ela silenciosamente ajudou a limpar a mesa, recusando-se a encontrar
meu olhar.
— O que você ganha com isso? — eu perguntei.

Angela
Eu quase deixei cair o prato que estava segurando.
— Você está chantageando meu pai? — Xavier continuou. — Por que
diabos ele quer que eu me case com você?
— Não estou chantageando ninguém, — eu disse.
— Então o que diabos está acontecendo? — Ele se aproximou e se
elevou sobre mim. Mas ele não estava tentando me intimidar.
Pela primeira vez desde que eu conheci Xavier, ele parecia sincero. Sua
expressão aberta e confusa não era atuação.
— Seja honesta comigo, — ele disse, com uma voz baixa.
As borboletas vibraram em meu estômago.
Meu coração bateu nos meus ouvidos.
Este foi um vislumbre do homem por trás da máscara cruel.
Ele estava estendendo um ramo de oliveira.
Estará tudo bem se eu lhe disser a verdade?
Ele vai me odiar menos? Odiar-me mais?
Seremos capazes de ter um relacionamento real?
Abri a boca, mas as palavras não vieram. A verdade foi selada por trás
do contrato que eu havia assinado com Brad.
— Eu... eu realmente gosto de você, e pensei que poderíamos ter uma
vida feliz juntos. — As palavras soaram frágeis e fracas, mesmo para os
meus próprios ouvidos.
O rosto de Xavier escureceu, e eu vi o ramo de oliveira pegar fogo
diante de mim. Ele se afastou de mim, aquela máscara cruel e fria deslizava
de volta para o lugar de antes.
— Você está errada sobre isso, — ele disse, suas palavras tão afiadas
quanto uma faca. — Nossa vida juntos vai ser qualquer coisa exceto feliz.

— ISSO NÃO É REAL! ISSO NÃO PODE SER REAL!


Minha amiga Em refletiu meus pensamentos quando ela chutou seus
sapatos e correu através do chão de mármore aquecido.
Olhei à minha volta na suíte nupcial do hotel Tribeca dos Knight. O lugar
parecia mais um museu do que um quarto. Era tudo tão perfeito.
Mas eu não consegui sequer sentir o mínimo de excitação dentro de
mim mesma.
Na semana entre o Dia de Ação de Graças e o casamento, meu pai tinha
tido outro derrame.
Eles o colocaram em coma induzido há alguns dias. Eu queria correr
para o lado dele, mas Lucas e Danny me disseram que não havia nada que
eu pudesse fazer. Ele estava estável.
E eles não sabiam quanto tempo ele ficaria em coma...
Senti lágrimas brotando em meus olhos.
Meu pai não estaria lá para me acompanhar até o altar.
Em voltou da grande cozinha e me entregou um copo.
— Mimosas? — Eu franzi a sobrancelha para a bebida. — Ainda mal
passou do almoço.
— Garota, se houver algum dia que você pode beber um pouco mais
cedo, é hoje. — Ela bebericou seu próprio coquetel. — Você vai se casar.
Eu tinha contado para Em a mesma história que contei para minha
família. Tinha contado a mentira com tanta frequência que eu mesma
quase começava a acreditar nisso.
— Um brinde a você, — disse Em, batendo seu copo ao meu. — Estou
tão feliz por você estar feliz. — Ela olhou diretamente para mim ao dizer
aquilo, os olhos dela analisando os meus. Era quase como se ela estivesse
esperando eu, para confirmar.
Uma batida na porta me salvou de responder. Em apressou-se e a abriu,
revelando um bando de mulheres de aparência fabulosa em uniformes
todos pretos.
— Nós somos a equipe nupcial, — disse a da frente. Notei a Sky, a
maquiadora da sessão fotográfica, entre elas.
As mulheres marcharam para o quarto e começaram a montar seus
equipamentos no banheiro do tamanho de um quarto. Uma delas apontou
para mim e, com um movimento brusco de seu queixo, fez um gesto para
que eu a seguisse.
Todas trabalharam na minha aparência durante o que pareceram horas.
As mulheres eram como um quarteto de fadas madrinhas furiosas,
transformando-me em Cinderela por chicotadas antes do baile.
Eu não estava acostumada a ser mimada. Sempre que eu levantava um
dedo para ajustar alguma coisa, eu era repreendida com olhares duros e
assobios agudos.
Elas usaram em mim produtos de beleza que eu nunca havia visto antes
em minha vida.
Aparentemente, meu vestido foi desenhado pessoalmente por alguém
chamado Alexander Wang.
Sentime entorpecida. Quase como se eu estivesse tendo uma
experiência fora do corpo. Mas quando todas elas terminaram, quando eu
me vi no espelho, tudo entrou em foco.
Não sou eu. Não é possível.
Mas era. Minha pele estava envolta em uma seda destinada a uma
rainha. A maneira como ela se arrastava e se agarrava, a maneira como o
marfim fazia minha pele brilhar, a maneira como o espartilho abraçava
minha figura e a cauda caía diretamente atrás de mim no chão, tudo era
perfeito.
Perfeito demais.
— OHMEUDEUSOHMEUDEUSOHMEUDEUS, — Em gemeu e correu em
direção ao reflexo, admirando o vestido.
— Você está tão bonita. Você está tão real. O que é este vestido? Onde
posso conseguir um?
— Em, — eu disse depois de alguns segundos, meus olhos ainda fixados
em mim no espelho. — Está acontecendo. Eu vou me casar.
Ela se aproximou de mim e apertou minha mão. —
Você vai, Angie. Você vai.

Em tinha ido se sentar em seu lugar no banco da frente — porque ela era
minha dama de honra, Brad tinha insistido que apenas Xavier e eu
ficássemos de pé na plataforma elevada. A equipe nupcial também tinha
ido embora, então era só eu, sozinha, numa suíte grande demais. Estava
num vestido que eu não deveria estar usando, com o cabelo todo para
cima, e meu rosto contornado e realçado.
Era isso.
Respirei fundo e tomei outro gole de champanhe, depois abri a porta e
saí. No segundo em que o fiz, ouvi meu nome ser chamado do fundo do
corredor. Virei-me para encontrar Danny, todo bem-vestido com o smoking.
Eu sabia que ele não tinha um smoking, que provavelmente era alugado ou
emprestado por um amigo, e isso me fez sorrir. Isso me fez sorrir.
— Oi, Danny, — eu disse enquanto ele me dava um abraço de urso.
— Você está deslumbrante, — ele disse. — Isso é uma loucura.
— Eu sei.
— Eu esperava te encontrar antes... você sabe, antes do seu grande
momento, — ele disse, e não conseguiu mais me olhar nos olhos. — Lucas
está reservando nossos assentos lá dentro, mas... Olhe, mana, eu sei que
nós lhe fizemos passar um mau bocado por causa disso. Mas você tem que
saber, Angie, estamos orgulhosos de você. O papai também está.
— Você acha?
— Ele está orgulhoso de tudo o que você faz, você sabe disso. Você é a
mais inteligente de nós, — ele disse. E eu sabia que ele estava falando
sério, o que pesava ainda mais no meu coração. — Mas se esse filho da
puta alguma vez fizer algo para te machucar, você sabe que temos um
péde-cabra do tamanho do Kentucky em nosso galpão.
Eu não pude evitar as lágrimas nos olhos.
— Eu sei, Dan, — eu disse, tentando olhar para o teto para que as
lágrimas não caíssem e arruinassem o trabalho árduo da Sky. Eu não estava
me sentindo muito inteligente. — Obrigada.
Ele apertou meu ombro de maneira fraternal.
— Vejo você lá dentro. — E então ele andou de volta pelo corredor.
Eu tomei uma inspiração de ar. Agora era tudo por minha conta.
— Ei, — ele gritou, quase na porta.
— Sim?
— Não tropece, — ele disse. E então entrou na sala onde o meu futuro
seria decidido. E, passo a passo, pouco a pouco, eu também o fiz.

Xavier
O atrevimento daquela garota. Eu não podia acreditar que ela foi em frente
com o casamento depois do que eu havia dito a ela. Isso selou o negócio.
Ela definitivamente estava nele pelo dinheiro. Nenhuma garota respeitável,
normal e simpática se casaria com o homem que lhe disse que ele a
odiava... ainda mais na sessão de fotos do casamento.
Basicamente, no Dia de Ação de Graças, eu havia dito a ela que nossa
vida seria um inferno.
Eu olhei para a sala à minha frente. Meu pai tinha planejado tudo. O
maior salão de baile do nosso hotel em Tribeca, lírios brancos cobrindo
todas as superfícies. Quinhentas pessoas lá para assistir ao espetáculo,
para ver seu único filho se transformar em um homem.
Se isso não provasse o quanto eu queria o maldito emprego na
empresa, então nada o faria.
E então o rosto dela preencheu minha mente. A outra ela. Aquela que
me fez pensar que eu era capaz de amar e depois partiu meu coração bem
na minha frente, rindo o tempo todo.
Assim que eu comecei a me preocupar com meu passado, o violinista
começou a tocar. Foda-se. Chegou a hora.
Eu vi meu pai no banco da frente parecendo mais satisfeito do que
nunca. Tive que admitir, foi bom vê-lo assim, sorrindo e se divertindo. Ele e
mamãe tinham estado tão apaixonados por todo o seu casamento, até que
ela faleceu. Ele tinha se tornado mais estoico depois, mais recluso. Mas ali,
nos bancos, ele ria e abraçava a todos.
As grandes portas se abriram, e meus olhos se deslocaram para o fundo
da sala. As pessoas nos bancos se levantaram. Pensei no casamento de
meus pais, e em como havia sido lindo. Esse não seria assim.
Não.
É melhor que esta menina esteja pronta para o pior casamento de sua
vida.

Capítulo 6
Não Viaje
Brad
Não há nenhuma celebração como um casamento. Em meus sessenta anos
de vida, essa foi talvez a única coisa que eu poderia dizer com certeza em
um determinado dia. A decoração, o vestuário, o espetáculo em si — tudo
em nome do amor. E o amor — o amor real, o verdadeiro amor — era a
única coisa em que eu tinha fé.
E então o que foi que este velho orquestrou?
Não importava que eu tivesse sido o único a encontrar o anjo que
poderia ajudar a salvar meu filho. O que importava era que ele estivesse
aberto a ela. Claro, foi preciso convencimento. As crianças hoje em dia não
aceitam instruções como costumávamos fazer com nossos pais, mas isso
não era nem aqui nem lá.
Assim que eu pus na mesa o papel — meu papel — na empresa na
frente do rosto de Xavier, ele havia aceitado. O casamento, o trabalho,
tudo. Seu coração estava aberto para que ela entrasse nele, e isso era tudo
o que importava.
Hoje olhei ao redor do salão, cheio de familiares e amigos, associados e
clientes, e não pude deixar de me sentir orgulhoso. O organizador do
casamento havia acertado na mosca.
A sala estava coberta de flores — lírios brancos, é claro — e
ornamentos leves pendurados em postes ao longo das paredes. Havia uma
plataforma elevada onde os votos seriam feitos, e o padre estava de pé
atrás de Xavier enquanto esperavam a noiva.
Os bancos tinham sido especialmente instalados para combinar com o
piso de carvalho, e vieram com almofadas de marfim. O florista tinha
entrelaçado lírios em cada banco, e havia pequenas luzes brilhantes entre
eles. A sala inteira estava radiante, como deveria estar.
Fiquei feliz em ver os bancos cheios até a borda, embora não
tivéssemos permitido que a imprensa assistisse à cerimônia lá dentro. Eu
queria que o maior número possível de olhares sobre meu filho e sua nova
esposa testemunhassem o dia em que suas vidas mudariam. Eu sabia no
fundo do meu coração que esta era a decisão certa para ele, e eu estava
tão orgulhoso de estar lá para vê-lo. Só desejava que Amelia estivesse aqui
ao meu lado. Enquanto olhei ao redor, acenando aos convidados com os
quais fiz contato visual, não pude deixar de pensar na minha amada — a
razão de estarmos todos aqui hoje, a razão pela qual pude encontrar
orientação e, por sua vez, guiar meu filho. Eu sentia falta dela todos os
dias, mas hoje sentia falta de algo a mais.
Então as portas se abriram, e todos os convidados se levantaram.
Quando me virei, olhei e vi minha querida Angela, minha querida nora,
andando pelo corredor, senti minha amada ali mesmo comigo.
Angela
Não tropece. Não tropece.
As palavras de Lucas se repetiam em meus ouvidos, e eu não sabia se
os nervos ou os sapatos eram a razão pela qual eu pensava que poderia. Eu
não tinha tantos olhos em mim desde que... esqueça isso. Eu nunca tinha
tido tantos olhos em mim.
Foi emocionante subir até o altar no meu casamento, sozinha. Eu não
fui uma daquelas meninas que haviam crescido sonhando com seu
casamento ou qualquer outra coisa, mas eu sempre pensei que meu pai
estaria ao meu lado, acompanhando-me até o altar. Mas ele estava a
quilômetros de distância, em uma cama de hospital. Em coma.
Não chore, Angela, ordenei-me. Há muita gente assistindo.
Finalmente, cheguei à plataforma elevada. Tomei minha posição em
frente ao meu noivo, o homem que me odiava mais do que qualquer outra
pessoa. O homem que mal me conhecia, mas que também estava salvando
a vida do meu pai, mesmo que ele não o soubesse.
Eu lhe dei um sorriso nervoso. Ele apenas me encarou de volta.
O padre sorriu para mim, depois para Xavier, e depois gritou para a
multidão:
— Sentem-se. Estamos hoje aqui reunidos para testemunhar o santo
matrimônio e o compromisso de amor entre Angela Carson e Xavier
Knight...
E depois disso, sua voz se afastou e eu me perdi em pensamentos. Olhei
para Xavier, vi seus olhos escuros e sua mandíbula robusta. Vi a barba fina
em seu queixo, como se ele fosse descolado demais para se barbear no dia
de seu casamento. Depois observei seu smoking, o tipo de smoking que
deixaria o departamento de fantasias da Gossip Girl com inveja. Tinha sido
provavelmente projetado por alguém fabuloso como Armani, ou Dolce &
Gabbana, talvez até feito sob medida. Era preto e elegante e tudo o que
um homem poderia querer.
E ainda assim, eu colocaria dinheiro no fato de que Xavier não poderia
se importar menos com seu smoking. Ou com este casamento. Ou com
qualquer outra coisa, na verdade.
— Angela?
O padre me olhou com expectativa, e eu senti cada olhar da sala pousar
sobre mim. Minhas bochechas queimaram. Onde nós estávamos? O que eu
deveria dizer?
— Eu aceito? — Eu me recompus, e o padre sorriu, acenando com a
cabeça.
E então ele se voltou para Xavier. — E Xavier Knight, você aceita Angela
Carson para ser sua legítima esposa, na pobreza e na riqueza, na saúde e
na doença, até que a morte os separe?
— Eu aceito, — ele disse, como se lhe tivessem perguntado se ele
achava que o sal era um tempero útil.
— Bem, então, senhoras e senhores, eu vos declaro marido e mulher.
Xavier, você pode beijar sua noiva.
Havia gritos e aplausos dos espectadores, e eu esperava nervosamente
por qualquer movimento do Xavier. Eu estava esperando um beijo
simulado, um aperto de mão, ou talvez até mesmo uma bofetada na cara.
Mas o que ele fez em seguida me surpreendeu ainda mais.
Ele se inclinou para frente até seus lábios quase tocarem os meus, e
sorriu quando disse:
— Sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu quero
é arruinar você.
E então ele me beijou nos lábios, enquanto a minha mente e meus
olhos se enchiam de lágrimas.
Quando ele finalmente se afastou, virou-se e saiu da plataforma à
minha frente, recebendo os parabéns dos convidados enquanto voltava a
subir o corredor. Eu não podia acreditar como ele foi capaz de cuspir fogo
em mim para rir com todos os outros, como se nada tivesse acontecido.
O padre, vendo minhas lágrimas, me deu uma palmadinha nas costas.
— É sempre um dia emocionante. Desejo-lhes a sorte dos céus, — ele
disse.
Depois de um segundo, eu pensei, que eu poderia ter agora. E então
segui meu marido para fora de nossa cerimônia de casamento.
Em: Onde voc ê t á ?

Angela: Banheiro.

Angela: Eu quero ir embora.

Em: É o seu casamento...

Angela: H á algo que tenho que te dizer.

Angela: Sobre por que eu me casei com


ele.

Em: ??

Em: Ol á ? Angie?

Eu estava no banheiro, sentada no chão frio.


Coloquei meu telefone de volta em minha bolsa.
Eu ainda estava vestindo meu vestido, mas não consegui ficar na pista
de dança por mais um segundo.
Eu estava cansada de ter que fingir sorrisos e beijos no ar para cada
pessoa que Brad me apresentava, e estava ainda mais cansada de ter que
aceitar as felicitações de pessoas que eu não conhecia.
Eu sabia que já havia contado demais a Em, mas não me importava.
Meus pés doíam, meus lábios estavam rachados e sentia meu coração
sem forças. Eu estava apenas... cansada.
Houve uma batida na porta, e então ouvi Em me chamar.
— Angie?
Sem me levantar, fui abrir a fechadura e ela entrou. Ela me viu no chão,
bochechas molhadas, rímel provavelmente no meu rosto.
— Angie, o que está acontecendo? O que você tem para me dizer?
— É... demais, — eu disse.
— O que foi esse texto? Por que você se casou com ele?
Era essa a hora. A hora de admitir a verdade, de pedir ajuda a Em.
Nossos olhos estavam conectados e eu queria tanto revelar tudo. Mas
minha boca estava congelada. Eu não podia dizer nada. Ela olhava para
baixo, como se estivesse ferida pelo meu silêncio.
— Você quer que eu traga Xavier?
— Não! — Eu quase gritei com ela. A hora havia passado. — Não, ele
não iria entender. Eu só... é tudo tão estranho para mim.
Ela sentou-se do meu lado, mal conseguindo apertar suas pernas ao
lado das minhas. Só o ato me fez sorrir.
— Eu entendo. Eu te entendo. Sim, isso é uma loucura. É esmagador,
estranho e aterrorizante. Mas o importante não é o caviar ou os sapatos
Christina Labootin...
— Christian Louboutin. Eu acho.
— Tanto faz. Você sabe o que quero dizer. O importante é que você ama
Xavier, e ele te ama. E há muito amor aqui hoje à noite, celebrando com
vocês. — Ela se inclinou para mais perto de mim e agarrou minha mão. —
Eu sei que seu pai adoraria estar aqui, Angie. Ele teria enlouquecido, vendo
todos vocês vestidos assim.
— Ele provavelmente estaria bebendo de cabeça para baixo.
— Angela, acho que ninguém aqui conhece esse jeito de beber. — Ela
tinha razão. Mas depois eu a vi hesitar. — Você realmente o ama, certo?
— Quem, Xavier?
— Sim, — disse ela, sua impaciência agora era clara. — Xavier. O
homem com quem você acabou de se casar.
— Sim, — eu disse suavemente, mas com os olhos no chão. — Sim.
— Então vamos voltar lá para fora. — A voz dela era leve e alegre
enquanto ela me ajudava a levantar. Eu não pude deixar de pensar se ela
acreditou em mim. E mesmo que acreditasse, o que minha melhor amiga
pensaria sobre a garota que casou com o rico playboy duas semanas depois
de conhecê-lo?

— Mais uma, — disse Xavier por trás de mim enquanto eu ia buscar um


copo de água no bar.
— O quê?
— Mais uma dança que temos que fazer, — ele disse novamente, e
desta vez pude sentir o cheiro do álcool em seu hálito. Ele olhou para um
casal de meia-idade. — Eles queriam nos ver dançar.
— Eles querem nos ver dançar?
— Eu não faço perguntas. Eles são clientes, eles querem que dancemos,
vamos dançar.
— Certo, — eu disse enquanto ele agarrava minha mão, metade puxava
e metade me guiava até o casal.
— Angela, querida, você está simplesmente linda, — disse a mulher
com muito botox.
— Obrigada, — eu saí antes que ela continuasse.
— Mal podemos esperar para ver você e Xavier fazendo um pequeno
baile — você sabe o que eles dizem. Você pode ver o amor na dança, —
disse ela, e eu lamentei interiormente.
Se eles quisessem ver amor, deveriam procurar em outro lugar. Mas em
vez de reclamar, eu segui Xavier até a pista de dança e o deixei me girar
pela sala, elogiando-me por ter trocado o champanhe pela água. Caso
contrário, eu não teria tanta certeza de que o salmão grelhado ficaria
dentro de mim.
Quando terminamos, eu esperei que Xavier dissesse "obrigado", "bom
trabalho" ou qualquer coisa remotamente agradável. Afinal, eu havia
acabado de lhe fazer um favor. Em vez disso, ele só acenou para os clientes,
atirou um olhar vazio em mim e depois decolou na outra direção.
— Aí está você, Angela, — ouvi atrás de mim, e me virei para encontrar
Brad. Ele parecia muito feliz, e eu também fiquei por ele estar se
divertindo. Realmente, eu estava.
— Estou aqui, — eu disse, sorrindo para ele. — Você fez um trabalho
maravilhoso com tudo. De verdade, é tudo incrível.
— Fico feliz que você pense assim. — Então, ele pôs a mão em seu
bolso e puxou uma chave de quarto de hotel. — Isso é para a suíte de
luade-mel, minha querida. Eu já dei a de Xavier a ele. Vão, divirtam-se.
Amor jovem, não há nada melhor, — ele disse, e parecia que essa última
parte era mais para ele do que para mim. Ele se virou, batendo palmas, e
se afastou de mim antes que eu pudesse agradecer a ele.
Não querendo mais nada com a festa e sem saber para onde Xavier tinha
ido, dirigi-me para os elevadores e, uma vez lá dentro, bati no botão para o
último andar. Todas essas suítes chiques, a comida gourmet e o licor caro
— nada disso me deixava mais confortável com minha escolha.
Pense em seu pai, eu me lembrava. Ele precisa de você.
Quando cheguei ao último andar, tive que caminhar o que me pareceu
uma milha antes de chegar à porta da suíte.
Eu deslizei a chave do quarto para dentro da fenda e vi a luz ficar verde.
Depois, empurrei a porta para abrir e entrei, respirando pela primeira vez
desde que eu tinha começado o corredor. Fechei a porta atrás de mim e
acendi a luz, chutando meus sapatos e ouvindo meus pés gritarem: —
OBRIGADO!
Eu estava começando a me lembrar que precisaria de alguém para me
deixar sair deste espartilho quando ouvi uma voz masculina vindo de uma
das salas. Provavelmente Xavier, pensei. Então, parti em direção à sala,
esperando que, se eu pedisse gentilmente, ele me ajudaria. Não de uma
forma sexual — de jeito nenhum.
Eu me senti desconfortável só de pensar nisso. Mas eu queria dormir
em algo que não fosse um espartilho apertado e não pensei que o estilista
com o cabelo amarrado apertadamente apreciaria que eu subisse na cama
na obra-prima do Sr. Wang. Então, quando cheguei ao quarto, abri a porta
sem pensar, e...
Eu fiquei sem ar. Ali, diante de mim, a poucos metros de distância, em
cima da cama almofadada king-size com os lençóis de 1000 fios totalmente
brancos, estava meu marido.
E ajoelhada, com o rosto nos lençóis e o rabo no ar, gemendo quando
os movimentos vinham cada vez mais rápidos, era uma mulher bronzeada
e de cabelos escuros.
Mas não apenas qualquer mulher bronzeada e de cabelos escuros.
Era Sky. A maquiadora.
Xavier virou-se para ver quem tinha aberto a porta. Ele não parou de se
mexer, ou mesmo diminuiu sua movimentação. Apenas sorriu. E continuou
gemendo.
— Ei, Angela, você se importa de fechar a porta ao sair?

Capítulo 7
Afogando no céu
Angela
Na noite do meu casamento, eu tinha saído da suíte de lua-de-mel o mais
rápido que pude. E depois dormi na suíte nupcial, sozinha.
Não era suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher no
dia em que se casou comigo. Não, ele tinha que pegar uma mulher que eu
conhecia, uma mulher com quem eu tinha passado algum tempo naquele
dia. Uma mulher que sabia como eram os meus poros de perto. Era como
se ele estivesse tentando me machucar de propósito, para me punir por
casar com ele.
Ontem de manhã, depois de sair do hotel o mais rápido que pude, tinha
me enterrado de volta em meu quarto no Brooklyn. Em tinha voltado para
Heller para visitar sua mãe, então eu tinha o lugar todo para mim.
Eu havia passado 24 horas observando o Netflix e pedindo comida, mas
quando acordei esta manhã, ainda não me sentia melhor. Provavelmente
porque eu sabia o que era hoje... tanto quanto tentei me convencer do
contrário.
Hoje foi o dia em que tudo se tornou verdadeiramente real.
Na semana passada, Brad havia sugerido que adiássemos nossa luade-
mel até Xavier fechar o negócio em que estava trabalhando para a
empresa, para que ele pudesse se concentrar nas férias e realmente
aproveitá-las. Eu tinha concordado imediatamente. A ideia de passar
tempo de qualidade com Xavier Knight era suficiente para me deixar
enjoada.
Mas hoje eu deveria me mudar para nossa nova casa. Eu estava prestes
a passar muito mais tempo, de qualidade ou não, com meu marido.
Eu tinha pesquisado no Google o endereço assim que Brad me enviou
ontem. Estava no prédio mais exclusivo do Central Park South, e era a
cobertura. O que significava que o último andar era todo nosso. O Google
disse que tinha uma vista fantástica do parque e da cidade, um elevador
privado, um spa interno equipado com sauna e seis quartos. Tudo isso me
fez pensar em algo.
Seis quartos? Na cidade de Nova Iorque? Olhei à minha volta os
trezentos metros quadrados que Em e eu dividimos em seu apartamento.
Estava apertado, claro, mas me sentia em casa. Eu tinha começado e
terminado de arrumar minha mala dentro de uma hora, depois me fiz um
sanduíche. Eu dei uma mordida, mas mal conseguia engolir sem querer
vomitar. Meu estômago parecia travar quando eu estava nervosa.
Joguei o sanduíche no lixo e puxei minha mala para fora do
apartamento, acenando ao primeiro táxi que passou.
Nós aceleramos em Manhattan e, antes que eu me desse conta,
estávamos em frente ao meu novo prédio. Eu abri a porta do carro e, antes
que eu pudesse sair com os dois pés, um dos porteiros uniformizados se
apressou em vir até mim. Ele parecia genuinamente perturbado por eu não
ter esperado por ele para abrir a porta do carro.
— Bom dia, Sra. Knight.
Eu vacilei, mas depois me recuperei. Não foi culpa dele que fosse meu
nome.
— Bom dia, — eu disse. — Qual é o seu nome? — Ele olhou para mim
como se eu tivesse feito algo errado novamente.
— Pete.
— Oi, Pete, — eu disse. Eu não sabia de nenhuma das regras não ditas
que claramente corriam desenfreadas com essas pessoas, mas achei bobo
não saber o nome de alguém com quem eu estaria interagindo muito.
Pete pegou minha mala e me guiou através do enorme lobby, passando
pelos elevadores, até o meu próprio elevador privado com o selo PH.
— Você quer que eu suba com a mala?
— Tudo bem, eu posso levar, se for mais fácil.
— O que você preferir, Sra. Knight. — Lá estava ele novamente.
— Posso levar, — eu disse, e ele empurrou a mala no elevador e
esperou que as portas se fechassem entre nós. Quando fecharam,
senteime no banco almofadado atrás de mim — sim, o elevador tinha um
banco dentro dele — e tentei me concentrar na minha respiração.
Inspirar por três, exalar por três inspirar por três, exalar por...
As portas se abriram, e eu vi o que parecia ser um palácio estendido
diante de mim. Meu exercício respiratório havia voado pela janela. Eu
estava tentando recuperar o fôlego quando entrei no saguão da minha
nova casa.
A luz natural entrava através das janelas do chão ao teto que revestiam
a parede. Era uma sala de estar de conceito aberto, o que significava que
eu podia ver a sala, a biblioteca e a cozinha de onde eu estiver parada.
A ampla sala de estar foi decorada em tons de bege e creme, e incluía
dois sofás para quatro pessoas, um par de poltronas de couro creme e uma
televisão de tela plana tão grande que podia ser uma tela de cinema.
A cozinha parecia o sonho de um chefe de cozinha. A geladeira, os
fornos e os fogões pareciam todos de última geração. O melhor que o
dinheiro podia comprar.
E quando virei minha cabeça para começar a admirar a biblioteca, ouvi
um 'Olá?' do fundo do corredor.
Virei e vi uma senhora de aparência leve, provavelmente na casa dos
cinquenta anos, vestida com um uniforme de camareira, caminhando na
minha direção. Seus movimentos eram tão rápidos e coordenados que era
hipnotizante observá-la.
— Olá, — repetiu ela, e eu percebi que ainda não tinha respondido.
— Oi, — eu disse. — Desculpe. Eu sou Angela... er... Knight. Acabo de
me mudar.
— Sim. Sim, — disse ela, e antes de chegar até mim, ela girou nos
calcanhares e começou a recuar rapidamente pelo corredor. — Eu sou
Lucille. Venha por aqui. Eu lhe mostro o espaço. — O sotaque dela era
definitivamente europeu, mas eu não distingui de onde imediatamente.
Eu a segui, puxando minha mala atrás de mim.
— De onde você é? — perguntei, tentando conversar. Eu precisaria de
um aliado neste palácio, isso ficou claro.
— Eu moro aqui. Em Nova Iorque. — E assim mesmo, sem sequer olhar,
ela deixou claro que não queria falar. Pelo menos não comigo.
Depois de passar o que parecia ser um punhado de portas fechadas,
finalmente chegamos na porta certa. Ela virou a maçaneta e me deixou
entrar primeiro, e deixe-me dizer, era lindo. Eu certamente não fiquei
desapontada.
Os pisos eram de madeira e cobertos com tapetes de pelúcia branca, as
paredes eram cor de casca de ovo, havia espelhos em forma de arte
pendurados sobre eles, e a cama parecia uma nuvem, toda fofa e branca.
É lindo, eu disse novamente para mim mesma.
Mas não era como o resto do condomínio. Na verdade, não. Cada
quarto que eu tinha visto até agora parecia que tinha sido adaptado para a
realeza, ou uma capa de revista de decoração de interiores. Ou um knight.
E esta sala... pareceu um pensamento posterior. Mas então eu me detive. O
que eu estava dizendo? Eu estava reclamando? Em quem eu tinha me
tornado? O que meu pai diria se tivesse me ouvido?
— É bonito, — eu disse, voltando-me a Lucille. Mas a Lucille apenas
bufava — sim, bufava — e voltava rapidamente pelo corredor.
Angela: Em n ã o vai acreditar nisso...

Angela: Esta cama...

Angela: É uma nuvem.

Angela: Ou o c é u?

Angela: Em?

Angela: Voc ê est á a í ?

O som do elevador. Não havia como enganar. Alguém mais estava subindo.
O dia inteiro tinha sido só eu e Lucille, embora ela fosse praticamente
invisível. Eu fiquei ocupada desfazendo a mala, mas mesmo quando fui
buscar um copo de água na cozinha, não a vi nem ouvi.
Mas agora, alguém mais estava aqui.
Pressionei meu ouvido até a porta, escutando o toque da abertura da
porta do elevador. Segurei a respiração, esperando poder saber de quem
era a voz.
— Eu não sei quantas vezes tenho que dizer a vocês. Aquecedores de
assento ligados, aquecidos, — uma voz masculina estrondosa trovejou da
área da sala de estar. Bem, essa não foi muito difícil. O marido está em
casa.
— É claro. Desculpe, senhor.
Pensei em ficar fora do fogo cruzado e permanecer no meu quarto, mas
eu sabia que eventualmente teria que cumprimentá-lo. Talvez fosse melhor
acabar com isso agora, para mostrar a ele que estava pronta para iniciar
uma relação civilizada. Afinal, estávamos vivendo juntos agora. Então eu
saí, entrei no corredor e vi um Xavier escrevendo algo em seu telefone.
O homem que ele estava castigando estava vestido de preto, tinha a
cabeça raspada e segurava óculos de sol de aviador em suas mãos. Ele
parecia calmo e incrivelmente intimidante. O homem virou-se para mim
primeiro, depois limpou sua garganta e olhou para Xavier. Xavier olhou
para cima. Ele me viu, não mostrando qualquer expressão.
— Marco, esta é minha esposa. — Da maneira como ele disse esposa,
você teria pensado que ele teria dito — mosquito que não me deixa em
paz. — E então ele saiu, indo para uma porta que eu presumia ser seu
quarto e a batendo atrás dele.
Eu recorri ao Marco.
— Oi, Marco. Prazer em conhecê-lo. Eu sou Angela.
— Ei, — ele disse, frio como gelo, enquanto saía direto para uma sala
diferente. Ele claramente também não estava na Equipe Angela.
Em uma cobertura tão grande, com tudo que uma garota poderia
querer, eu nunca me senti tão só.
Pensei que ligar para Em, ela me ajudaria. Ela ainda não tinha
respondido aos minhas mensagens, o que era estranho, mas talvez ela não
as tivesse ouvido chegar. Quando eu estava de volta ao meu quarto, eu
liguei para ela e senti um alívio puro quando ela atendeu ao terceiro toque.
— Olá?
— EM!
— Olá, Angie. — Ela parecia distraída.
— Onde você está? Está tudo bem?
— Estou apenas na loja. Do que você precisa? — Do que eu preciso?
— Oh, nada. Eu só... só sinto sua falta. E do apartamento.
— Você acabou de chegar aí. E sua cama parece ótima. — Então, ela
recebeu as mensagens.
— Oh, é mesmo. Quero dizer, é linda.
Indescritivelmente incrível.
— Mm, — disse ela, e desta vez eu estava certa de que ela parecia
distante.
— Mas não é nada parecido com o que foi dividir o pequeno
apartamento com você, Em. Sinto falta do aconchego. O quanto nos
divertimos.
— Angela, você está aí há cinco minutos. Você vai se acostumar com
isso. Como com todo o resto, — ela disse.
— O que isso quer dizer?
— Só isso... olha, estou feliz que esteja feliz, está bem? — Ela
continuava dizendo isso — quando estávamos nos preparando na suíte
nupcial, quando ela me deu um beijo de despedida no casamento, e
novamente agora. Eu começava a me perguntar se era uma desaprovação
disfarçada de simpatia.
— Obrigada, — foi tudo o que pude dizer.
— Olha, tenho que ir, está bem? Está chegando um cliente. — Eu sabia
que isso não poderia ter sido verdade. Eram seis da tarde de uma segunda-
feira.
— Posso ser honesta com você? — eu perguntei.
— Sempre, — disse ela, e desta vez ela soou mais suave.
— Eu não sei se me encaixo aqui, Em. É um mundo tão estranho em
que eles vivem. Todo mundo é... frio. E há estas regras. Ninguém diz quais
são a você. Eles só esperam que você saiba...
— Angie. Ouça-me. Você escolheu esta vida, está bem? Você decidiu se
casar com ele. Não posso continuar segurando sua mão e lhe dizendo o
que você quer ouvir. Este é o caminho que você escolheu, e você vai se
acostumar a ele — a cama de nuvens, os sapatos chiques, tudo isso. Agora
eu realmente tenho que ir. — E ela desligou.
Em nunca tinha desligado antes, nem tinha sido tão afiada com suas
palavras. Claro, já tínhamos tido brigas antes, mas nunca sobre decisões
importantes na vida. E sempre tínhamos sido capazes de falar sobre isso.
Eu liguei novamente. A chamada foi direto para a caixa postal. Ela
claramente não queria conversar comigo. Minha vida estava em absoluta
desordem, e a única pessoa que eu podia culpar era eu mesma.
Afundei-me mais na cama de nuvens, jogando minhas mãos sobre o
meu rosto. Meus olhos se abriram e depois se fecharam. Em seguida,
abertos. Em seguida, fechados. Desejei, nesse momento, que o leito de
nuvens me engolisse inteira.

Capítulo 8
Mensagem afiada
Angela

Lucas: desculpe, n ã o posso falar.

Angela: Ok.

Angela: Sem problemas.

Atirei meu telefone para o outro lado da cama. Eram sete da manhã, e eu
tinha passado minha primeira noite na cobertura. Depois de desligar o
telefone com Em ontem à noite, eu não tinha saído do meu quarto
novamente. Eu tinha vestido meu pijama, afundado em meu novo colchão
e mantive meus olhos fechados até chegar o sono.
Pensei que adormecer tão cedo ontem à noite teria me deixado acordar
refrescada, otimista sobre o dia que chegava, mas, em vez disso, eu tinha
acordado sentindo-me igualmente solitária. Os espelhos ao redor da sala
também não estavam ajudando; eles apenas me lembravam que eu era a
única aqui.
Eu tinha tentado ligar para o Lucas. Normalmente, uma conversa rápida
com ele poderia me animar em qualquer dia. Suas piadas sempre tiveram
uma maneira de me lembrar de não me levar muito a sério. Mas mesmo
ele não queria conversar esta manhã.
Eu me sentei, vendo meu rosto refletido em um espelho oval na parede
do outro lado do cômodo. Eu olhava tão brava quanto me sentia.
Eu tinha colocado meu cabelo comprido amarrado antes de adormecer, e
agora não estava apenas desarrumado, tinha perdido todo o trançado que
havia feito. Então eu tinha os cabelos apontando para todas as direções,
além da pele que precisava ser hidratada e os lábios que precisavam de um
manteiga de cacau.
Mas eu sabia que arrumar-me não me faria realmente sentir melhor,
então decidi fazer algo a respeito do meu estado de espírito primeiro.
Saltei da cama, vesti uma legging velha e uma camiseta esportiva, amarrei
meu cabelo em um rabo de cavalo, calcei meus tênis e saí.
Por sorte, não cruzei com ninguém, pois me apressei a entrar no
elevador. Achei que não conseguia lidar com uma hostilidade tão cedo.
Pressionei 'L' para o lobby e me maravilhei com a velocidade do elevador,
descendo rapidamente os trinta e cinco andares e me deixando no andar
térreo em dez segundos. Achei que nunca me acostumaria a isso.
Andei pelo saguão, colocando meus fones na orelha. Havia residentes
que se sentavam em cima dos móveis luxuosos e outros que conversavam
uns com os outros pela porta da sala do correio.
Todos eles pareciam ser ricos, como se, mesmo em suas roupas
matinais casuais, ainda fossem melhores do que todos os outros. Eu ainda
tinha meus olhos neles quando estava quase na porta e esbarrei
diretamente em Pete, o porteiro.
— Nossa, — eu soltei, e ele se apressou para me firmar.
— Você está bem, Sra. Knight?— perguntou ele, preocupado com a cara
de susto. Eu vi os residentes se virarem para ver o que era a confusão e
senti um calor na minha cara.
— Eu estou bem. Estou bem, — eu mesmo disse rapidamente,
empurrando a porta para abrir. — Sinto muito, — eu disse, dando-lhe uma
olhada rápida antes de sair. Agora eu realmente precisava de ar.
A brisa fria de outono atingiu meu rosto imediatamente, e ajudou a me
tirar de meus pensamentos. Virei à direita e depois esperei que a luz do
semáforo mudasse, pulando para cima e para baixo no lugar para manter
meu ritmo cardíaco acelerado. Quando ficou verde, eu corri para o outro
lado da rua e me dirigi ao Central Park.
Ao percorrer grupos de turistas, famílias e pessoas que só queriam ver
um pouco de natureza logo pela manhã, eu não pude deixar de sorrir.
Todos estavam aqui juntos, aproveitando a vida e dando o melhor de si, e
por alguma razão eu não conseguia explicar, fui acostumada com um
sentimento de esperança. Se eles podiam estar aqui fora tentando, fazendo
seu melhor, então eu também poderia fazê-lo.
Esse sentimento de esperança foi o que me motivou a correr mais
rápido do que em meses, usando as crianças risonhas e os jogadores de
futebol grunhindo na grama ao meu lado como espectadores que eu
estava tentando impressionar. Quando parei para respirar, eu já tinha
corrido pouco mais de cinco quilômetros. Nada mal, pensei eu, dando
tapinhas figurativos no ombro. Caminhei por um tempo para me acalmar,
deixando a endorfina correr pelo meu corpo, e então atravessei a rua e
entrei numa cafeteria antiga na esquina.
Não vi ninguém trabalhando atrás do balcão quando entrei pela
primeira vez, então olhei em volta, confusa. Foi quando eu vi o homem
sentado em um pequeno banco ao lado do balcão, quase escondido de
onde eu estava parada. Ele estava lendo o New York Times, e claramente
não tinha ouvido ninguém entrar na loja.
Ou isso, ou ele simplesmente não se importava em se levantar e ajudar
um cliente. Mas eu estava de tão de bom humor com minha corrida, que
nem me importava. Fui até o barista e, parado bem na sua frente, comecei
a conversar.
— Olá! — Eu disse alegremente, e ele olhou para mim. Ele parecia estar
perto da minha idade, com olhos quentes e um sorriso fácil.
— Isso foi um olá e tanto, — ele disse. — Você deve estar de bom
humor.
— Acho que sim. Agora, pelo menos... — Eu disse.
— Agora?— perguntou ele, de pé e dirigindo-se para trás do balcão.
Mas não antes que eu pudesse ver a página do jornal que ele estava lendo:
Página Seis.
— Estes últimos dias têm sido uma montanha-russa. Mas eu
simplesmente, não sei, fiquei farta deles — ... Eu supus, metade para meu
benefício e metade para o dele.
— Ah, uma daquelas semanas, hein? Bem, o que posso lhe oferecer?
Olhei ao redor da cafeteria, só percebendo agora que ela estava
completamente vazia. Uma cafeteria quase vazia? Isso nunca aconteceu
em Nova Iorque. Então meus olhos chegaram ao menu do café, no quadro-
negro encostado na parede do balcão. Eu o escaneei.
— Vou querer o café com leite de hortelã-pimenta, — eu disse.
— Escolha interessante, — respondeu o barista, começando a trabalhar
no café expresso. — Você corre na vizinhança?
— Pelo parque, sim, — eu disse. — Acabo de me mudar para cá, na
verdade.
— Oh, legal, — ele disse, vaporizando o leite. — Por onde?
— Bem perto do parque.
— Que rua?
Eu estava tentando evitar dizer isso, sabendo o quanto o nome da rua
soaria pretensioso. Especialmente para um barista. Mas eu também não
queria ser rude.
— Central Park South, — quase sussurrei. Ele me olhou de relance, não
dando muito. Eu sentia que tinha que me justificar de alguma forma. —
Meu marido... ele já vivia no prédio. Por isso, vou morar com ele.
— Você acaba de se casar, ou algo assim?
Eu acenei com a cabeça.
— Há apenas alguns dias, na verdade.
— Bem, parabéns, — ele disse, sorrindo para mim. Mas então, de
repente, algo mudou nos olhos do barista, e ele olhou diretamente para
mim novamente. — Eu sei quem você é, — ele disse, derramando o leite
sobre o café expresso. — Você é a nova esposa de Xavier Knight.
Eu olhei para o chão, com a vontade de pegar meu café e ir embora.
Mas eu ainda não havia pago.
— Certo?— ele pressionou.
— Sim, — eu disse.
— Eu sabia! Eu a reconheci do anúncio do Times. E suas fotos de
casamento estão por toda parte. Duh, é claro que é você.
Ele me entregou meu copo, inclinando-se para frente sobre o balcão e
realmente me medindo.
— Então, por que a montanha-russa dessa semana?
— Oh, não é nada. Quanto devo a você?
— Uma resposta real, — ele disse, mas depois sorriu. — É por conta da
casa. Você é um cliente de primeira viagem.
— Você não tem que fazer isso...
— Ah, de verdade, — ele disse, colocando a mão no ar. — É um prazer
conhecê-la. Tome a bebida. Eu sou Dustin. Dustin Stirling. — E ele estendeu
sua mão. Eu a apertei.
— Angela... Knight.
— Olá, Angela. Ok. Então, de volta a você. Você não precisa me dizer
nada, porque eu sou claramente um estranho, mas seja qual for o seu
estado de espírito, saiba que você o tem muito bem. Você é casada com o
homem mais rico e legal da cidade. Sério. Toda garota quer devorá-lo, e
todo homem quer ser ele. Ou devorá-lo. Se é que você me entende
— Não, eu... eu entendo, — eu gaguejei, não acostumada à sua forma
de falar sem filtro. — Estou muito feliz. De estar casada. Sério.
Ele manteve seus olhos em mim, e eu esperava que eu não estivesse
dando nada.
— De qualquer forma, obrigada pelo café com leite. É delicioso. E foi
um prazer conhecê-lo, — eu disse, virando para a porta.
— Ei, eu estou aqui, tipo, sempre, — ele disse à minha figura indo
embora. — Se você quiser um amigo, ou um outro café com leite de
hortelã-pimenta ridiculamente bom, venha até aqui.
— Certo, — eu disse, oferecendo um último aceno antes de voltar para
a rua onde ninguém sabia de meus segredos. Verifiquei meu telefone para
ver se tinha alguma ligação perdida do Lucas, mas tudo o que vi foi uma
tela preta. Meu celular não tinha mais bateria, provavelmente ficou sem
enquanto eu estava correndo. Ótimo.
Xavier: ONDE

Xavier: Esta

Xavier: Voc ê

Xavier: ???????

Eu estava no elevador, sonhando acordada com o banho quente que estava


prestes a tomar, quando as portas se abriram e me tiraram de dentro dele.
E ali, sentado na poltrona de cor creme na sala de estar, estava Brad.
— Ah, lá está ela! Vem, vem, querida, — ele disse, de pé para me
cumprimentar.
Caminhei até ele e o beijei na bochecha, vendo meu marido comovente
no sofá em frente a ele. Xavier não ficou de pé.
— Eu não sabia que você estava vindo, eu teria ficado aqui, — eu disse.
— Bobagem, eu não queria perturbar seu dia. Alguma coisa divertida
planejada?
— Eu estava apenas correndo. — Meu olhar foi para Xavier. Seu olhar
estava um pouco pior do que de costume como se estivesse atirando
dardos em mim.
— Você tem algo divertido planejado, Xavier? — perguntei-lhe,
tentando mostrar a Brad que os recém-casados eram civilizados, pelo
menos.
— Eu vou trabalhar nos dias de semana, — ele disse, sendo
condescendente. — Na verdade estou atrasado, pai.
— Certo, certo, é claro, — disse Brad, levantando-se novamente. — Bem,
eu só queria aparecer e ver como os pombinhos estavam se saindo. É tudo
ótimo aqui, não é?
— Sim, — eu disse, e Xavier apenas acenou com a cabeça.
Brad veio me beijar na bochecha novamente, e depois apertou a mão
de seu filho.
— Estou feliz por você estar aqui, Angela, — ele disse antes de chegar
ao elevador. — Você agora faz parte da família.
— Eu também, — eu me engasguei. — Obrigada. — E então ele se foi.
Pensei que logo estaria livre para tomar um banho quando ouvi algo se
despedaçar atrás de mim.
Virei-me para encontrar Xavier, parado e me encarando, fragmentos do
que um dia foi um vaso de vidro no chão na sua frente. Eu fiquei chocada.
Ele claramente tinha acabado de deixá-lo cair no chão.
— Limpe-o, — ele disse.
O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas em minha vida,
convidando meu próprio pai sem me avisar com antecedência, então eu
vou manda-lo de volta para você. Esta é uma confusão que eu fiz. Você a
limpa.
Fiquei atordoada.
— Eu não... eu não o convidei, — eu disse, sabendo que minha voz
estava soando mais fraca a cada segundo.
— Você pode mentir o quanto quiser. Não seria muito fora do caráter.
— Eu não estou mentindo. — Mas ele já estava batendo a porta de seu
quarto, e eu podia ouvir uma gargalhada feminina lá dentro.
Eu olhei para o vidro no chão, sabendo que não era meu feitio
simplesmente deixá-lo lá. Alguém poderia se machucar muito. Então,
encontrei a pá e pude varrer os fragmentos.
Eu pensei que estava sozinha quando ouvi a voz de Lucille atrás de mim.
— Eu faço isso, — disse ela.
Eu me voltei para ela.
— Está tudo bem, estou quase terminando.
E então ela fez algo que eu nunca teria esperado. Ela caminhou na
minha frente, beijou seu dedo e pressionou-o na minha testa. Ela pareceu
maternal e firme, tudo de uma só vez.
Talvez tudo o que foi preciso foi suportar a raiva de meu marido para
me ganhar um aliado na cobertura. Mas quanto eu posso suportar?
Capítulo 9
A dor de ontem
Angela

Desconhecido: Ol á , Angela?

Desconhecido: Esta é Betty. De Curixon.

Angela: Ol á ?

Desconhecido: Eu sou o assistente do Sr. Kinfold.

Angela: Oh!

Angela: Em que posso ajud á - los?

Desconhecido: Na verdade, acho que posso ajud á - la...


Desconhecido: Voc ê poderia me encontrar para um caf é esta
tarde?

Desconhecido: Starbucks na 54 a com a 3 a.

Eu estava a um quarteirão do Starbucks onde eu deveria encontrar Betty. O


Sr. Kinfold era um grande Vice Presidente de uma importante empresa de
tecnologia, e eu realmente pensei que tinha arrasado na entrevista. Eu
tinha saído do escritório do centro da cidade, convencida de que tinha o
emprego.
Ele era um homem simpático. E tinha uma filha da minha idade e foi
rápido em me dizer o quão impressionante era a minha média na
universidade. Nós nos demos bem. Então, quando recebi o e-mail de
rejeição alguns dias após a entrevista, tive que lê-lo três vezes antes de
entender o que ele dizia. Que eu não tinha conseguido o emprego. Que eu
não era boa o suficiente.
Mas agora, com sua assistente me estendendo a mão, senti a pequena
excitação das borboletas em meu estômago começar a vibrar. Talvez o Sr.
Kinfold tenha percebido seu erro e tenha enviado sua assistente para me
pedir desculpas, para ver se eu ainda estava precisando de um emprego.
Eu respirei fundo para acalmar meus nervos e abri a porta, deixando
um homem de negócios sair antes que eu entrasse na cafeteria
movimentada.
Olhei à minha volta, vendo muitos trabalhadores de terno digitando em
seus laptops e telefones, com um café na frente de cada um deles. Eu
estava tentando me lembrar de como era Betty. Será que ela tinha cabelo
ruivo? Ou era marrom escuro e encaracolado?
Mas então eu ouvi:
— Angela! Aqui! — Eu me virei, seguindo a voz para uma pequena
mesa na parte do fundo da loja. Estava apertada entre duas outras mesas,
uma tomada por um universitário que cheirava a cigarros, e outra por uma
babá com duas crianças loiras que se contorciam. Betty, que de fato tinha
cabelos castanhos escuros e encaracolados, estava de pé com um sorriso
educado no rosto. Ela parecia nervosa.
— Oi, — ela disse, oferecendo sua mão para um aperto de mão.
— Prazer em vê-la novamente, — eu disse, sacudindo-o. Nós duas nos
sentamos.
— Obrigado por me encontrar, — ela começou, e eu a vi escanear o
Starbucks como se ela estivesse se certificando de que ninguém
importante ouvisse suas próximas palavras.
— Sei que isto não é exatamente convencional, e sei que da última vez
que você ouviu falar de nós, não conseguiu o emprego...
Aqui vamos nós, eu pensei. Este é o momento que vou lembrar para
sempre.
— Mas eu só... eu queria que você soubesse o porquê. Por que você
não conseguiu o emprego.
— Oh... — Eu me afastei, meu desapontamento é palpável. Isso não era
uma oferta de emprego. Era uma análise detalhada de onde eu havia
errado.
— O Sr. Kinfold gostou de você. Na verdade, você era sua melhor
escolha.
— Eu era...
— Eu já estava escrevendo seu contrato quando ele recebeu.
Recebeu o quê?
Tenho certeza de que parecia tão confusa quanto realmente estava. E
os olhos dela se movendo nervosamente não estavam ajudando. Ela se
inclinava para frente, seus cotovelos sobre a mesa e seu rosto a apenas
alguns centímetros do meu.
— Você estava trabalhando na Gelsa Inc. antes, certo? Em Jersey?
Eu acenei com a cabeça.
— O Sr. Kinfold... recebeu um documento da Gelsa. Do Sr. Lemor,
especificamente. — Eu me agarrei ao nome, e depois senti meu corpo
inteiro travado. O Sr. Lemor era meu antigo chefe. Ele foi a razão de eu ter
me mudado para Nova Iorque.
— O Sr. Lemor nos escreveu uma carta... foi um aviso.
— Um aviso sobre mim? — eu perguntei, incrédula.
— Não. Mais como um aviso para nós. A Gelsa é uma empresa
multinacional com poder sobre muitos de nossos clientes. Ela tem a
capacidade de interromper nossos negócios em um nível maciço. E Lemor...
Ele se certificou de que, se a contratássemos, ele dificultaria as coisas para
nós.
— Mas isso é... isso é ilegal, — eu me engasguei.
Ela suspirou.
— Ilegal, imoral, são todas essas coisas. Lemor é conhecido no setor. Ele
é o cara que luta em cada batalha como se fosse a Terceira Guerra Mundial,
sabe? O Sr. Kinfold é um bom homem, mas ele não queria arriscar.
— Não quando há tantos engenheiros mecânicos de nível básico. Eu
entendo, — eu disse, apesar de ter sido inundada por uma melancolia.
— Eu nem deveria saber, mas li bem a carta quando a recebemos. Eu
leio a maior parte do correio do Sr. Kinfold, mas isso... nunca tinha visto
nada assim. Eu poderia me meter em sérios problemas se alguém
descobrisse que eu lhe disse, mas achei que você merecia saber, — ela
disse, atravessando a mesa e dando tapinhas na minha mão. O contato
físico me surpreendeu, mas me pareceu genuíno. — Eu não sei o que
aconteceu entre você e Lemor, mas ele está claramente mantendo o
controle sobre você. E ele esta paralisando a maioria das empresas.
Portanto... tenha cuidado, — disse ela. — Homens poderosos não pensam
duas vezes em foder com mulheres jovens, sabe? — Ela pegou seu café e
sua bolsa, e ficou de pé.
— Obrigado. Por me contar, — eu disse, e ela acenou com a cabeça
antes de ir embora.
Suas palavras continuaram brincando na minha mente. Homens
poderosos não pensam duas vezes em foder com mulheres jovens.
Ela estava certa. E eu sabia disso em primeira mão. O Sr. Lemor era o
homem que eu mais temia ver há onze meses. Ele não era apenas meu
patrão. Ele era o homem que tinha me perseguido e assediado
sexualmente. E ele era também, aparentemente, o homem que não me
deixava esquecer, sem contar o que não poderia fazer à minha carreira.
Xavier
Hoje não era o meu dia. E depois do tumulto do casamento, ter minha
nova esposa mudando-se para minha cobertura e ter o negócio da
propriedade da semana passada a um preço mais alto do que eu pensava,
eu realmente precisava que fosse o meu dia.
Tinha começado bem o suficiente. Cheguei à minha sessão de ginástica
matinal sem ninguém tentando falar comigo. Nada me incomodava como
as interrupções na academia, onde uma garota com um top apertado ou
um mano com uma camiseta agarrada me reconhecia e tentava iniciar uma
conversa. Eu não vou à academia para conversar. Eu não vou lá para
conhecer garotas, e com certeza não vou lá para conhecer caras.
Ir à academia pela manhã tinha se tornado minha saída, desde que
tudo com ela aconteceu... no início do ano. Puxar ferro me fez esquecer o
fato de que meu coração havia sido esmagado. Tirava meu estresse e
minha raiva. Isto é, até eu sair da academia e tudo voltar a ser o mesmo.
Mas enquanto eu estava lá, isso me fazia sentir competente e em controle.
Como um homem.
Portanto, a academia desta manhã estava ótima. Esse não foi o
problema. O problema veio mais tarde, depois do almoço, quando recebi
uma ligação sobre uma de nossas propriedades em Paris. Atraso no
desenvolvimento, disse o empreiteiro. Algum problema com a obtenção de
autorizações da cidade, e tudo isso me pareceu uma besteira.
E meu pai, é claro. Ele não ficou muito entusiasmado em ouvir a notícia.
Porque qualquer coisa que dê errado enquanto eu estiver no escritório é
um reflexo do meu trabalho.
— Você não está dando seu melhor, Xavier, — ele disse.
— Isso estava fora do meu controle.
— Nada está fora de nosso controle. Você teve algumas semanas de
distração. Eu compreendo...
— Eu não estou distraído, porra.
— Cuidado com o seu tom.
E foi assim que aconteceu. Um barco podia afundar na porra do Á
Ártico, e se eu estivesse sentado em meu escritório, ele encontraria uma
razão para fazer disso minha culpa.
Portanto, o evento de gala que eu estava tentando evitar, aquele
programado para daqui algumas semanas em um de nossos outros hotéis
em Paris, agora eu terei que ir nele. Para que eu possa verificar
pessoalmente o empreiteiro e passar algum tempo 'mostrando a cara' pela
cidade.
‘Mostrar a cara’ era como meu pai gostava de descrever as pessoas
intimidadoras.
— Quando não o veem, não podem temê-lo, — é o que ele sempre diz.
Não que Brad Knight seja o cara mais intimidador do mundo. Você não
atravessaria a rua se o visse caminhando na sua direção à noite. Mas ele é
um homem com artilharia sem fim e com o bom senso de empregar
aqueles que sabem como usá-la. Então, sim, eu aprendi com o melhor, eu
diria.
Mas a última vez que estive em Paris, eu estava lá com quem me fodeu.
Aquela que pegou meu coração e o deixou cair da porra da Torre Eiffel
como se fosse um pedaço de chiclete mastigado. E nós estávamos lá
comprando seu vestido de noiva — aquele que ela quase usou no altar,
caminhando para mim.
Mandei Marco me buscar no escritório mais cedo para que eu pudesse
tentar me acalmar. Eu estava tentando pensar se havia alguma maneira de
sair de Paris, de ir ao evento de gala e mostrar a cara, quando o carro
parou. Estávamos quase em casa, apenas rastejando pela 6ª. Avenida, mas
o carro parou de andar.
— Mas que merda foi essa? — Eu gritei com o Marco.
— Não tenho certeza, chefe, — ele respondeu, depois estacionou o
carro e saiu.
Ele deu a volta pela frente e abriu o capô.
Eu vi vapor através do para-brisa. Que se dane isso, eu pensei. Não
estou morrendo em uma explosão de carro no centro da cidade. Eu notei
os carros e pedestres ao meu redor observando.
Coloquei meus óculos escuros e me afastei do carro, do Marco, sem
qualquer palavra.
Angela
Eu tinha deixado o Starbucks atordoada. Se Lemor não tivesse enviado
aquela carta, eu estaria trabalhando para o Sr. Kinfold. Eu não teria
precisado aceitar o acordo de Brad Knight, e eu não seria o saco de
pancada de Xavier Knight. Tudo estaria normal com minha melhor amiga e
minha família ficaria orgulhosa de mim.
Eu estava subindo a 6ª, quase na 57ª, quando vi o mesmo Bentley de
carvão que Xavier dirigia. Bem — não dirigia, mas que conduziam para ele.
Marco, o motorista, dirigia-o. Eu esgueirei os olhos, lendo a placa do carro.
Que coincidência, eu pensei. Aquele era o carro do Xavier. E estava
amontoado entre os carros, preso no trânsito congestionado.
De repente, o carro soltou um som e desacelerou, parando
completamente. Após alguns segundos, Marco saiu do banco do motorista
e foi até o capô, puxando-o para cima. Eu vi uma nuvem de fumaça ao
redor dele.
Provavelmente, um motor superaquecido.
Eu me perguntava se Marco era inteligente o suficiente para manter o
líquido de refrigeração no porta-malas. Eu estava a cerca de meio
quarteirão do carro quando vi Xavier saltar do banco de trás e bater à
porta, e andar pela calçada sem uma palavra para Marco.
Pensei tê-lo visto em seu pior momento, mas o homem continuou
provando que eu estava errada.
Quando cheguei ao carro, vi Marco empurrando e pressionando as
coisas por baixo do capô.
— Ei, — eu disse. — Você precisa de ajuda? — Levou um segundo para
ele me reconhecer, mas depois o fez.
— O que você sabe sobre carros?
Eu me curvei e apontei para a mangueira de resfriamento, a coisa que
estava tão degradada que você podia praticamente ver buracos no aço.
— A mangueira precisa ser substituída, — eu disse. — Mas, por
enquanto, um fluxo de fluido de resfriamento serve. Você tem algum na
parte de trás?
Ele olhou para mim como se eu estivesse falando latim.
— Provavelmente uma garrafa azul, — eu disse, mas desta vez mais
devagar. — Vai ter escrito, 'líquido de refrigeração'.
Ele olhou para mim, provavelmente tentando descobrir se eu estava
tirando sarro dele ou não. Quando eu mostrei um sorriso, ele me deu um
aceno e foi até o porta-malas, retornando alguns momentos depois com o
líquido.
— Fantástico, obrigada, — eu disse, e pude começar a trabalhar.

Quando Marco e eu voltamos ao prédio quinze minutos depois, eu tinha


aprendido um pouco sobre ele. Ele cresceu fora de Boston e fez duas
excursões na Marinha antes de ser contratado pela equipe de segurança de
Brad Knight, e agora seu trabalho era cuidar de Xavier. E conduzi-lo por aí.
Não é exatamente uma promoção a meu ver.
Marco veio para abrir a porta traseira do carro para mim e, quando o
fez, perguntei-lhe:
— Ei, Marco? Você se importa de manter isso entre nós?
— O que você quer dizer?
— Que eu ajudei com o carro. Eu não quero que Xavier... hm, descubra.
— Por quê?
— Parece que não é o que deveria fazer, eu acho.
— Oh. Está bem, claro, — ele disse, com confusão aparente.
— Boa noite, — eu disse, indo direto através das portas. Eu não sabia se
podia confiar no Marco para manter o segredo entre nós, e já podia sentir
meus nervos se debatendo. Eu sabia que, se Xavier descobrisse, ele
encontraria algum motivo para me castigar. E eu não podia suportar mais
hostilidade hoje. Tinha tanta certeza disso.

Capítulo 10
A agressão do luto
Angela

Angela: Estou quase lá .

Danny: Droga.

Danny: Fiquei preso no restaurante.

Danny: Desculpe

Eu estava a um quarteirão do hospital quando recebi as mensagens de


Danny, e mesmo sabendo o quanto ele e Lucas estavam trabalhando duro
nos últimos meses, mesmo sabendo que não poderia ficar bravo com ele
por priorizar o restaurante, uma parte de mim ficou chateada.
Era sempre difícil ver nosso pai no hospital, mas era ainda mais difícil
quando eu tinha que vê-lo sozinho.
Depois de consertar o carro de Xavier ontem à noite, eu tinha feito
massa e assistido TV na sala de estar, mas não o tinha visto na cobertura.
Ele estava escondido em seu quarto ou estava fora durante a noite, porque
eu ainda não o tinha visto quando saí para o trem naquela manhã.
Claro, eu poderia ter conseguido um passeio de chofer até o hospital
com o cartão preto que Brad me deu, mas havia algo relaxante na viagem
de trem até Jersey. Além disso, gastar dinheiro de forma tão frívola ainda
me deixava desconfortável.
Agora era início da tarde, e eu entrei pelas portas giratórias,
imediatamente atingido por aquele distinto cheiro hospitalar — uma
mistura entre antisséptico e tristeza. Entrei no elevador com duas
enfermeiras vestidas de bata rosa e púrpura. Pareciam ter a minha idade, e
estavam brincando uma com a outra.
Eu acenei para as enfermeiras, desejando poder ser tão despreocupada
quanto elas pareciam ao sair do elevador, com meu coração pesado no
peito. Eu não tinha certeza do que estava prestes a ver, e estava me
preparando mentalmente para o pior.
Segui as placas no corredor, descendo um corredor, através de outro
conjunto de portas, até uma sala de espera. Aproximei-me do balcão da
recepção.
— Olá, — eu disse, esperando que meu tom soasse alegre. Otimista.
Talvez se eu estivesse otimista o suficiente, isso mudaria a realidade. —
Estou aqui para visitar meu pai. Ken Carson.
— Ah, Ken. Que querido. Ele está no 820. Siga este corredor para baixo,
— disse a enfermeira, apontando para trás dela, — até que você possa
virar à direita. E então ele está na primeira porta à direita.
— Obrigada, — eu disse, e comecei pelo corredor.
— Ele está indo muito bem, — a enfermeira disse atrás de mim. — Ele é
guerreiro.
Eu sorri por isso, depois continuei em direção ao seu quarto.
Eu empurrei a porta para abrir uma fresta, coloquei minha cabeça e,
espreitei. Pude sentir a cor escorrer do meu rosto quase imediatamente.
Ele parecia ainda mais pálido, ainda mais frágil, do que da última vez
que o vi no hospital. Seus olhos estavam fechados, e ele estava conectado
a tantos fios e tubos diferentes que eu não conseguia entender o que era o
quê. Eu dei um passo para dentro.
— Pai?
Seus olhos tremeram por um segundo antes de abrir. Ele virou a cabeça
— com pouca força, mas o suficiente para me ver no canto — e o sorriso
mais tênue apareceu em seu rosto.
— Aí está minha garota, — ele disse, e sua voz era tão grave quanto a
de um fumante idoso.
— Oi, — eu disse, desejando que minhas lágrimas não viessem
enquanto eu corria para a cama. Envolvi meus braços à sua volta da
maneira mais gentil que pude.
— Como você está?
— Eu... estou ótimo, — ele se irritou. — Fale-me de você. Mas antes
disso, você pode me trazer uma bebida? Alguma coisa forte?
— Papai, — eu disse, olhando para ele. Eu tinha que sorrir. De alguma
forma, mesmo através de toda a doença, de toda a fraqueza, seus olhos
ainda conseguiram segurar suas travessuras.
Apertei sua mão e depois peguei o copo de água na mesa de cabeceira.
Trouxe o canudo até seus lábios e ele tomou alguns goles com gratidão.
— Como foi o casamento? — Meu pai tentou soar casual, mas a voz
dele estava grave de emoção. Eu podia dizer o quanto o machucou o fato
de ele não ter podido estar presente.
— Foi uma coisa chata, realmente, — eu disse, tentando manter meu
tom leve. — Muito abafado para o seu gosto. Você estaria apenas gritando
para sair dali.
— Angie...
— Falaremos mais sobre isso da próxima vez, — assegurei-lhe. — Por
enquanto, concentre-se em ficar melhor. A enfermeira diz que você é um
guerreiro.
— Fui uma vez, — ele disse. — E Gerard começou.
Eu ri. Senti aquela mesma onda de segurança — aquela em que eu
sabia que se ele ainda estivesse brincando, ele ficaria bem.
— Mas falando sério, Angie, sobre seu marido...
Houve uma batida na porta. Eu dei um suspiro silencioso de alívio. Eu
não queria ter aquela conversa nessa hora. Não quando meu pai parecia
tão frágil.
Um homem bonito de meia-idade carregando uma ficha em uma mão e
um café na outra caminhou para dentro, um sorriso no rosto.
— Dr. Kaller, — disse meu pai, suas palavras foram calorosas.
— Ei, grandalhão, — disse o médico. — Você já tem as senhoras te
visitando?
— Somente minha filha.
— Olá. — Eu ofereci minha mão para ele. — Eu sou Angela.
O médico colocou seu dossiê na mesa e apertou minha mão.
— Marc Kaller. — Estou no caso do seu pai desde que ele voltou para
cá, — explicou ele.
— Seu pai é um ícone ao redor destes salões, Angela. Ele tem esta
superpotência onde ele pode irritar qualquer um, e ele sempre recebe sua
sobremesa no minuto em que pede.
— Soa como ele. — Eu sorri.
O Dr. Kaller se abaixou para verificar seus sinais vitais, mediu sua
temperatura e, em seguida, pegou seu arquivo novamente e acenou para
meu pai.
— Posso falar com você no salão por um segundo, Angela? — ele me
perguntou.
— Oh, é claro, — respondi. — Volto em um minuto, — eu disse,
abaixando-me para beijar meu pai na bochecha.
— Ela é minha filha! Nada de tocar! — disse meu pai e saiu correndo de
sua cama enquanto nos retirávamos para o corredor.
Senti minhas bochechas queimando, mas não pude deixar de rir. Ao
menos meu pai ainda estava sendo pai.
Assim que o Dr. Kaller fechou a porta do quarto do pai e me
acompanhou alguns passos mais adiante pelo corredor, eu pude perceber
que havia algo ali. Seu rosto mudou, não mais oferecendo a expressão
despreocupada e fácil de usar que ele usou lá dentro do quarto. Algo mais
sombrio turvava seus olhos.
— Angela, eu só quero ter certeza de que você está em dia com tudo o
que está acontecendo com seu pai. Seus irmãos estiveram aqui ontem à
noite, mas houve mais algumas mudanças.
— Está bem.
— Você sabe que o tiramos do coma ontem, e ele tem respondido bem.
Mas ele ainda não está comendo sozinho, e sua esclerose... está
progredindo.
— Rapidamente. Poderíamos tentar combater cada um dos sintomas
individualmente, mas os esforços seriam superficiais e não preventivos.
Não há maneira de impedi-los de voltar, ou piorar. Portanto, o próximo
passo típico... é garantir que ele esteja o mais confortável possível... — Eu
não podia acreditar no que estava ouvindo. Eu sabia o que isso significava.
Isso significava desistir. O Dr. Kaller viu minha expressão e continuou
imediatamente.
— Mas há algo que quero trazer à tona. — É um tratamento
experimental. É uma combinação de medicamentos e práticas diárias de
reabilitação, tudo isso poderia ser feito no hospital. Mas não há nenhuma
precedência para este tratamento, Angela. Quero ter certeza de que você
entende que há riscos. Ainda não está nem no mercado.
— Então, você está dizendo que ou é... ou é um tratamento não testado
ou... nada?
Ele olhou para mim, olhos cheios de simpatia, ou piedade, ou algo mais.
Ele deu um rápido mas certo aceno de cabeça.
— É uma decisão difícil. Não mencionei isso a seus irmãos ontem à
noite porque queria ver como seriam as primeiras vinte e quatro horas fora
do coma para ele, por isso recomendo aos três que falem sobre isso. De
verdade, com base no que vocês se sentem confortáveis.
— Está bem, — eu disse, acenando para mim mesma. Meus irmãos.
Eles ajudariam a descobrir o que fazer.
— Oh, e Angela?
— Sim?
— O tratamento experimental... por ser tão novo, e tão complicado,
vem com uma etiqueta de preço bem grande.
— Oh.
— Se funcionar, é algo que poderia dar forças a seu pai por mais de um
ano — continuou ele. — E no momento, porque não se qualifica para o
seguro, a pílula e a reabilitação estão saindo cerca de mil dólares por dia.
As palavras deixaram de ter significado para mim. Mil dólares por dia?
Essa pílula estava envolta em caviar de ouro? Mas depois pensei em Brad e
Xavier e na minha cobertura solitária. Eu tinha feito o arranjo por uma
razão.
Já eram 3 da manhã quando voltei para casa. Eu não queria deixar meu
pai imediatamente, e o trem estava atrasado para voltar para a cidade. Eu
estava exausta, subindo de elevador até a cobertura quando ouvi o rádio
pulsando através das paredes.
Quando a porta se abriu, tive que tapar meus ouvidos. A música estava
tão alta que pensei que nunca mais seria capaz de ouvir nada falado em
um volume normal.
Eu estava caminhando para meu quarto quando, de repente, a música
parou. Eu me virei, e lá estava Xavier. Ele estava usando jeans escuro e uma
camisa branca desabotoada até o umbigo. Seu rosto estava coberto de
uma barba nova e tinha olhos avermelhados.
Ele definitivamente havia estado festejando.
Pensei em quantos dias não nos víamos. Xavier provavelmente estava
bebendo e se divertindo até tarde.
— Aí está minha esposa, — ele disse. Eu o vi de olho na minha camisa
da Old Navy, e meu Converses surrados.
— Oi, Xavier, — eu disse, tentando manter minha distância. Mas então
as palavras do médico soaram na minha cabeça.
Um tratamento experimental. Mil dólares por dia.
Minha mente exausta estava inquieta. Talvez fosse melhor perguntar
primeiro a Xavier para que ele não ficasse bravo por eu ter ido escondida
até Brad. E ele estava claramente intoxicado, então talvez ele reagisse
melhor. Talvez ele tivesse um coração, desta vez. Sim, Eu pensei. Esta é
uma boa ideia.
Xavier estava tropeçando em direção à cozinha. Ele estava servindo-se
de um copo de vinho quando eu o segui e fiquei do outro lado do balcão.
— Ei, há algo que eu queria lhe perguntar, — eu disse, esperando que
minha voz tivesse pelo menos um pouco de confiança.
— O quê?— ele disse, bebendo o vinho.
— Meu pai... ele está...
— Oi, esposa. Já foi muito disso. — Ele me cortou e transformou sua
mão em uma boca de jacaré que se agitava para cima e para baixo. Um
sinal para falar. Ele está dizendo que estou falando demais.
— Se você apenas me deixar explicar...
— CALA. A BOCA. Quão mais claro eu tenho que ser, — ele disse, e
agora ele estava bebendo direto da garrafa. — As pessoas estão sempre
falando comigo. Sempre conversando. Eu só quero silêncio.
Esqueça isso, Eu pensei. Eu me virei e me dirigi para o meu quarto.
— Ei!, — ele gritou. Eu continuei andando. Mas depois ouvi-o correr
atrás de mim e senti uma mão no meu cotovelo antes que eu pudesse fazer
qualquer coisa. Ele me encurralou contra a parede. Seu aperto ao redor da
garrafa de vinho em suas mãos estava tão apertado que tive medo que ela
se quebrasse.
— Ei, — ele disse, mais suave, como se estivesse tentando flertar. Como
se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que
eu podia contar os cílios dele.
— Está bem, — eu disse. Tentei me afastar de suas mãos, mas ele se
manteve forte.
— As esposas devem fazer coisas por seus maridos. Para serem
esposas, — ele disse, e o fedor do álcool escorria dele.
— Vou para a cama, — disse com firmeza, e desta vez, forcei meu
caminho para fora de seu alcance.
Ele quebrou a garrafa de vinho na parede ao seu lado. O som me fez
pular, e quando me virei para enfrentá-lo novamente, ele me deu o sorriso
mais sério que eu já havia visto.
— Você vai aprender a fazer o que EU MANDO, — ele disse. — Você
vive aqui. Você vive de mim. Você vai aprender a ser útil.
Então ele estava caminhando na minha direção, e seus olhos corriam
por todo o meu corpo. Mas desta vez, eles não estavam olhando para as
manchas na minha camisa, nem para os buracos nos meus sapatos. Eu
sabia que ele estava imaginando o que estava por baixo.
— Xavier, pare, — eu pedi, minha voz implorando. Mas ele continuou.
— Você é uma puta oportunista, — ele disse. — Você deveria começar
a agir como tal. — Senti como se uma faca tivesse sido empurrada para
dentro do meu intestino. E então suas mãos estavam sobre meus ombros,
passando pelo meu cabelo.
— Você está bêbado, — eu disse, e minhas palavras o fizeram parar de
vaguear. Eu não sabia por que, mas sabia que era minha chance. Virei-me
para ir até meu quarto o mais rápido que pude, e foi quando vi Lucille
descendo o corredor.
Nós fechamos os olhos — ela podia ver a dor e o medo em mim, e eu
podia ver o instinto materno nela — e ela me acenou para dentro do meu
quarto. Quando passei por ela, ela agarrou minha mão e sussurrou:
— Eu cuido disso.
E então eu estava em meu quarto, com a porta trancada e meus
pulmões lentamente recarregando com ar.
Como passei da minha antiga vida para viver em uma casa que parece
uma zona de guerra?
Deitei-me na cama, minha mente foi passando de imagens do pai para
imagens do Xavier bêbado. Se alguém podia lidar com o Xavier bêbado, era
o pai.

Capítulo 11
Jogando o jogo
Xavier
Acordei com uma maldita dor de cabeça assassina. Ouvidos zunindo,
cabeça doendo e a boca com um gosto estranho. Procurei água e encontrei
uma na minha cabeceira. Lucille, pensei, lembrando-me vagamente dela
me acompanhando ao meu quarto ontem à noite. Que maldito anjo.
Eu tinha sonhado com ela... aquela que me partiu o coração, aquela
que me arruinou.
Eu não sonhava com ela há algumas semanas, e isso não estava
facilitando a minha ressaca. No sonho, ela estava ao meu lado no meu
carro. Estávamos correndo por uma pista de aeroporto, nada além de
quilômetros de asfalto diante de nós. Mas meus olhos não estavam na
estrada; eles estavam nela. Ela estava girando um fio de cabelo comprido
ao redor de seu dedo, e seus olhos brilhavam para mim.
E então ela se virou para mim e, em sua voz suave, com seu tom de
julgamento, ela disse:
— Você está bêbado.
E então meus olhos se abriram e eu estava acordado.
Vesti-me para o trabalho e saí do prédio, quase dando um soco na cara
do Marco por me perguntar se eu queria parar para o café da manhã.
Parecia que eu queria parar para o café da manhã? Só de pensar na comida
era suficiente para me fazer vomitar em todo o banco de couro cinza-
carvão feito sob medida. Quando cheguei ao escritório, meu pai estava
sentado no meu sofá.
— Isto é uma surpresa, — eu disse, terminando o resto de minha água
e sentando na cadeira em frente a ele.
— Meu Deus, Xavier, — ele disse, balançando a cabeça. — Você está
fedendo.
— Eu não tive tempo de tomar banho esta manhã.
— Bem, você cheira como se tivesse tomado banho em 1 ontem à noite.
Eu estava prestes a dizer algo de volta, mas pensei melhor sobre isso.
Eu sorri.
— Em que posso ajudá-lo esta manhã, pai?
Ele colocou suas mãos sobre os joelhos.
— Só queria que você soubesse que combinei um jantar para você, com
o Sr. Graden e sua esposa. — O Sr. Graden era o proprietário de um hotel
no Soho que estávamos tentando comprar e mudar de nome, e estávamos
em discussões com ele há mais de um ano. Mas ele estava cada vez mais a
bordo com a ideia, recentemente.
— Oh, ele aceitou?
— Não foi um aceite completo, mas agora ele está mais interessado,
com certeza. Você terá que fazer seu melhor trabalho hoje à noite.
— Eu faço sempre o meu melhor trabalho, — eu disse.
— Veremos sobre isso. — Ele se levantou para ir. — Oh, e traga Angela.
Graden vai trazer sua esposa. Jessica, eu acho que esse é nome dela. Vai
humanizá-lo.
Angela. Lembrei mais da noite de ontem: eu a agarrando, chamandoa
de vadia oportunista. Ótimo. Eu tinha certeza de que ela estaria ansiosa
para causar uma boa impressão.
— Você entendeu? — Meu pai olhou para mim com expectativa. Ficou
claro que ele não iria embora até que eu confirmasse seu plano.
— Eu entendo. Sim. — Isso ia ser interessante.

Xavier: Mulino

Xavier: 20:00

Angela
Eu tinha acabado de falar ao telefone com Brad quando recebi as
mensagens de Xavier. Brad tinha me dado a resposta de que havia um
jantar — muito importante — com associados comerciais potenciais, — e
estava esperando que eu fosse. Ele disse que não seria nada além de
divertido para mim. Meu único trabalho seria usar meu charme para tornar
a noite o mais divertida possível para o casal que se juntou a nós.
Mas a ideia de estar em qualquer lugar com Xavier, de ter que fingir que
não éramos apenas amigáveis, mas apaixonados, era simplesmente
absurda para mim.
Mas pensei em meu pai, eu me lembrei.
Ele precisava do tratamento; era a única opção.
E, por mais difícil que fosse para mim admitir, eu estava meio grata por
Xavier ter estado tão bêbado. Isso significava que eu não precisava lhe dar
nenhuma explicação sobre meu pai, o que significava que eu não havia
violado o contrato. Eu balancei a cabeça para mim mesma. Como pude
estar tão fora de mim que pensei que era uma boa ideia?
Olhei meu armário e encontrei minha roupa mais elegante: um
macacão de seda esmeralda com uma laço na cintura. Eu o tinha comprado
com a Em há alguns anos para usar na festa de formatura da minha turma
em Harvard. Mas, no último segundo, eu tinha decidido usar um vestido
preto simples e velho.
Esta noite seria a noite do macacão. Eu tirei o cabide do armário e o
pendurei em um gancho na parede. Depois passei uma escova pelo cabelo,
maravilhando-me com o tempo que tinha demorado. Demasiado longo. Eu
precisava de uma mudança.
Caminhei até minha mesa e abri a gaveta, tirando um cartão de visita
que Brad havia me dado no dia da sessão fotográfica do casamento.
— Se houver algo que você precisar, qualquer coisa, eles podem ajudá-
la aqui, — ele disse, entregando-me o cartão. O Carlyle Studios foi inscrito
na parte de cima e, por baixo, lia-se: Cabelo. O rosto. Estilo.
Eu disquei o número de telefone no meu celular.
— Olá?
— Olá, aqui é Angela... Angela Knight.
Ouvi sussurros abafados no fundo. Então:
— Oh! Olá, Sra. Knight. Em que posso ajudá-la?
— Eu esperava... cortar meu cabelo.
Quando sai dos estúdios Carlyle, meu cabelo estava dois centímetros
mais curto, em camadas que o faziam parecer volumoso e brilhante. Eu
sabia que o que estava por dentro era o que mais importava, mas não pude
deixar de pensar que, às vezes, quando me sentia perdida, ter meu exterior
montado poderia ser melhor coisa a se fazer.
— Uau. Você está incrível, — disse Pete, o porteiro, enquanto eu
caminhava pela porta que ele segurava aberta. Eram sete quarenta e cinco,
e eu estava pronta para ir ao centro da cidade.
Meu cabelo parecia o mesmo de quando deixei o Carlyle Studios
naquela tarde. Ele salpicava sobre meus ombros em ondas suaves, as
camadas fazendo com que as mechas parecessem estar sempre em
movimento. Eu tinha até mesmo feito um esforço com minha maquiagem.
E o macacão realmente caiu como uma luva. A seda se agarrou a todas
as minhas curvas, e minha pequena cintura estava em exposição graças ao
laço, e o decote mostrava apenas o suficiente para não ser demais.
— Obrigado, Pete, — eu disse, e falei sério. Foi bom ter um voto de
confiança antes de entrar no jantar com o homem que me acusou
verbalmente na noite passada.
Pete acenou por uma cabine, e eu entrei, rolando a janela para baixo e
observando como as luzes brilhantes passavam por mim. Quando
chegamos ao restaurante, eu saí da cabine e caminhei até a anfitriã.
— A mesa de Xavier Knight, — eu disse, surpresa com minha própria
confiança. Deve ter sido o corte de cabelo.
— Por aqui, — disse ela.
Quando cheguei à mesa, vi que eu era a última a chegar. Xavier parecia
mais elegante em um terno chique, como um ex-aluno dos sonhos de
uma escola preparatória.
Do outro lado dele estavam os associados comerciais muito
importantes, presumi. O homem tinha provavelmente cerca de quarenta e
cinco anos, com cabelos grisalhos e um rosto atraente e amigável. Ele
estava com um terno azul marinho e seu relógio brilhava sob as luzes do
restaurante.
Sua esposa sentou-se ao seu lado e parecia uma modelo. Ela tinha
todos os traços elegantes e traços macios, e usava um vestido de pêssego
com um decote grande.
Quando eles me viram, cada um dos homens se levantou. Xavier
colocou um braço em volta da minha cintura e beijou minha bochecha,
fazendo bem o papel de marido. Eu vacilei, mas acho que ninguém notou.
— Oi, querida, — ele disse em voz alta.
— Oi, — eu disse, instruindo-me a apenas sobreviver àquele encontro.
— Jay Graden, — disse o homem em frente a Xavier, estendendo a
mão.
— Prazer em conhecê-lo, — eu disse, e quando apertamos as mãos, a
outra mão dele veio para cobrir a minha. Parecia quente, como se eu
pudesse confiar nele.
E então andei em volta da mesa para a Sra. Graden, que também me
ofereceu sua mão. Mas seus movimentos foram mais lentos, e não
trememos tanto quanto nos abraçamos por um momento.
— Olá, querida, — ela disse, e eu me agarrei a cada palavra. Tudo nela
parecia que tinha saído de uma revista.
Sentei-me, e um garçom imediatamente encheu meu copo com vinho
branco. Tomei um gole, sabendo que precisaria dele.
— Então, vamos falar de negócios? Eu sei que você está procurando um
novo proprietário, e nossa rebranding não faria nada além de elevar o
nome de sua família, — começou Xavier, mas foi interrompido.
— Pare, Xavier. Ainda nem pedimos nossos aperitivos. Vamos parar com
a conversa de negócios. Para o bem das belas senhoras.
— Com certeza, — Xavier ajustou, não mostrando nem mesmo uma
lasca de aborrecimento. Fiquei impressionada. — Diga-me, como foi
Milão?
— Ooh, foi divino, — gemeu a Sra. Graden de seu assento. — A moda, o
vinho, tudo. Divino. — Eu nunca tinha ouvido ninguém falar como ela
antes, não na vida real. Era como se ela soubesse que todos os olhos
estavam sobre ela, e foi isso que lhe deu o impulso para continuar.
— Maravilhoso, — Sr. Graden deslumbrava. — Estivemos lá por quanto
tempo, quinze dias, querida? Não foi o suficiente. Vocês dois deveriam
aparecer por lá.
— Vamos acrescentá-la à lista, querida... — disse Xavier, dirigindo a
pergunta para mim.
— Oh, sim, — eu respondi, esperando que minha surpresa não fosse
perceptível. — Definitivamente. Acrescentada à lista. — Senti minhas
bochechas queimando. Talvez tenha sido do vinho, ou talvez tenha sido
pela atenção.
Ou talvez seja a mentira que você está contando, sentada à mesa como
se tudo entre você e seu marido fosse alegre, eu pensei.
— Com licença, — eu disse, e empurrei minha cadeira para trás para
que eu pudesse ficar de pé. Antes que pudesse ver qualquer reação deles,
dirigi-me ao banheiro.
Salpiquei água em minhas mãos, desejando não estar usando tanta
maquiagem para poder fazer o mesmo com meu rosto. Eu me olhava no
espelho e tentava reconhecer a garota que conhecia antes de tudo isso. Eu
não tinha certeza de poder vê-la.
Quando eu saí do banheiro, senti uma mão agarrar meu ombro.
— Ei, — disse a voz, e eu me virei para encontrar Xavier. — Olha, — ele
começou: — Sei que a noite passada foi zuada. Eu estava bêbado.
Provavelmente disse alguma merda que eu não deveria ter dito.
Os olhos dele estavam se movendo, como ele não estivesse
acostumado a pedir desculpas.
— Mas este jantar é realmente importante. Por isso, preciso que fique
quieta e ria quando contam piadas, está bem? O que quer que você precise
me dizer, faça-o depois de sairmos. Certo?
Fiquei atordoada. Aqui estava eu, pensando que Xavier só se importava
com Xavier. Mas agora estava claro que ele também se importava com a
empresa de seu pai. Isso não significava que eu o tivesse perdoado, mas
também não queria fazer nada para ferir Brad.
— Tudo bem, — eu disse, e voltei para a mesa. Quando nos sentamos
de volta, o Sr. e a Sra. Graden estavam olhando um para os olhos do outro.
Não foi até que Xavier limpou a garganta que eles perceberam que
estávamos de volta.
— Ah, bem-vindos, — disse o Sr. Graden. — Espero que vocês não se
importem. Pedimos algumas entradas.
— Perfeito, — disse Xavier.
— Ótimo, — eu ecoei.
O Sr. Graden apertou as mãos.
— Então, Xavier. Conte-me sobre a mulher que te fisgou. É bom ver
você finalmente sossegado.
Xavier olhou para mim.
— Bem, eu conheci Angela, e nós... instantaneamente...
Eu vi que ele estava se afogando. Eu sabia que ele não sabia nada a
meu respeito.
— Ele sempre fica sufocado contando a história, — eu disse,
interrompendo a tempo, e os olhos dos Gradens se voltaram para mim. —
Nos encontramos em uma loja de bolinhos na cidade, na verdade.
Eu olhei para Xavier.
— Eu tinha acabado de sair de uma entrevista e precisava de algo para
me animar, e Xavier também estava tendo um dia ruim. Pegamos os
pedidos do outro por engano e... começamos a conversar. O resto, bem,
tudo se encaixou no lugar.
A Sra. Graden bateu palmas, gemendo de novo.
— Tão bonito.
— E para o que você estava sendo entrevistada? — perguntou o Sr.
Graden.
— Uma posição de engenharia mecânica. Em Curixon.
— Eu conheço Curixon. Engenharia mecânica? — Ele parecia
estupefato. Meu querido marido também parecia.
— Sim, — eu disse. — Essa é minha formação, então esse era o
trabalho que eu estava procurando.
— Estou vendo. E onde você obteve seu diploma?
— Harvard.
— Você estudou engenharia em Harvard? — perguntou o Sr. Graden,
sem sequer tentar esconder sua surpresa. Ele olhou de mim para Xavier,
que estava tentando engolir seu próprio choque.
— Fui realmente afortunada. Foi uma experiência maravilhosa, — eu
disse honestamente.
— Você, senhor, — disse o Sr. Graden, voltando-se para Xavier, —
encontrou um tesouro de uma esposa.
Os olhos de Xavier ficaram em mim, e eu não conseguia mais ler a
expressão em seu rosto. Mas quando ele falou, talvez pela primeira vez em
todo o tempo em que eu o conhecia, suas palavras soaram genuínas. Ele
disse, lenta e simplesmente:
— Parece que sim.

Capítulo 12
Adivinhe quem está de volta
Angela
Desconhecido: Eu n ã o era bom o suficiente, mas Xavier Knight
é ...

Desconhecido: Tenho olhos em todos os lugares.

Desconhecido: Voc ê n ã o pode fugir de mim.

Desconhecido: Boa sorte, Sra. Carson.

Desconhecido: Voc ê vai precisar.

Olhei para as milhares de mensagens recebidas no meu telefone, sentindo


o meu estômago revirar com cada uma delas. Meu telefone estava sobre a
mesa, e Dustin tentou espreitar para ver o que estava deixando meu rosto
pálido.
— O que é isso?, — perguntou ele. Nós estávamos em sua cafeteria, e
ela estava novamente vazia.
Eu tinha passado pela loja sempre que ia dar uma corrida, o que tinha
sido frequente nas duas últimas semanas. Correr me deixava espairecer um
pouco, e isso me deu uma válvula de escape. E fugir daquela cobertura...
bem, isso foi uma benção se eu já tivesse visto uma.
Embora, esta manhã, minha corrida não tivesse sido uma fuga tão
grande quanto uma hora ininterrupta para pensar.
A segunda parte do jantar de ontem à noite tinha corrido bastante bem,
com Xavier e eu até conseguindo rir algumas vezes um com o outro.
Quando ele pegou minha mão para me ajudar a levantar da cadeira
quando estávamos saindo, pareceu quase natural. Ele tinha me ajudado
em seu Bentley, e então, explicando que ia encontrar um amigo para uma
bebida por perto, Marco me levou para casa.
Tudo isso foi mais do que civilizado. Foi amigável, como se ele tivesse
me conhecido e agora não me odiasse. Talvez ele até gostasse de mim.
Tudo ficaria muito mais fácil se pudéssemos nos dar bem. Não sentiria
cobertura tão perigosa o tempo todo, e talvez eu até começasse a me
sentir em casa no lugar onde eu vivia.
Estes foram os pensamentos que tive em minha corrida desta manhã —
embora cheios de possibilidades, também estavam cheios de esperança.
Mas agora, aqui estava eu com Dustin, sentada em uma mesa na loja
vazia, bebendo lattes de hortelã-pimenta e falando sobre um filme que ele
tinha visto ontem à noite.
E foi quando as mensagens começaram a chegar, que minha atenção
passou da recapitulação animada de Dustin para o meu telefone. Mesmo
sendo um número desconhecido, eu sabia exatamente de quem ele era.
— Olá? — perguntou Dustin, acenando sua mão diante dos meus olhos.
— Quem é?
— Não é nada, — eu disse.
— Se não fosse nada, você não pareceria ter visto apenas o fantasma
do Michael Jackson. — Desembucha, — ele empurrou.
Olhei para ele, vendo o rosto bonito de um barista de vinte e quatro
anos olhando para mim. Seus olhos gentis pareciam me lembrar que, por
ora, com Em não respondendo a mim e meus irmãos constantemente
ocupados com o restaurante, ele era o único amigo que eu tinha.
— Certo. Está bem. É o meu antigo chefe, — eu disse, com olhos abatidos.
Eu estava tirando minhas cutículas, tentando me distrair da dor que estava
sentindo por dentro.
— Quem é ele?
— Ele era o chefe da Gelsa, uma empresa tecnológica realmente
importante. O fundador original era de minha cidade, Heller, por isso a
sede fica lá. Eu trabalhei para ele por pouco mais de onze meses.
— Certo... você não está me dando muito aqui, Angela.
Eu suspirei. Depois olhei para Dustin.
— Ele estava... ele estava tentando me fazer... dormir com ele. O tempo
todo que eu trabalhei lá. No início, ele me convidava para jantar. Mas
quando eu continuava a rejeitá-lo, ele começou a me obrigar a ir a reuniões
particulares em seu escritório.
— Ele tentava tocar na minha perna ou no meu ombro. E quando parei
de ir, a situação piorou. Ele me ligava, deixava mensagens na caixa postal, e
me seguia para casa do trabalho. No final, era como se eu não pudesse ir
às compras sem vê-lo em algum lugar ao fundo. Era muito ruim.
— Meu Deus, — ele disse, com sua mão voando para pegar a minha. Eu
olhei para nossas mãos e ele sabia o que eu estava pensando. — Oh, eu sei
que você é casada, Angela. Não se preocupe. Não estou interessado em
você... bem, não estou interessado em mulheres, — ele disse. — Mas de
volta a você.
E rápido assim, ele havia me revelado algo tão privado que eu me senti
bem revelando meu problema. Estava à vontade.
— Eu tentei desistir. Durante um mês inteiro, embora o trabalho fosse
incrível e eu adorasse o trabalho, simplesmente não consegui lidar com seu
assédio constante.
— Eu havia trocado meus números algumas vezes, mas ele sempre
conseguia me localizar. Comecei a ter ataques de pânico. Finalmente contei
aos meus irmãos o que estava acontecendo, e foram eles que me deram
forças para realmente desistir.
— E depois?
— Pedi minha demissão e ele me chamou ao seu escritório. Entrei e me
certifiquei de que a porta fosse deixada aberta. Ele tirou a carta de
demissão de minhas mãos e sussurrou, com a voz mais cruel que você
possa imaginar, que eu nunca mais trabalharia. Ele disse que uma vez que
deixasse sua empresa, era isso. Ele se certificaria de que eu nunca poderia
ser contratada. — Eu olhei para Dustin, e tinha certeza de que ele podia ver
a dor em meus olhos.
— Ele me disse que eu não deveria ter dito não.
— Querida, — disse Dustin, e ele apertou minhas mãos ainda mais, —
você não merece isso. Ninguém merece isso, especialmente você. — Ele
agarrou meu telefone e leu as mensagens.
— Meu Deus. Você já foi à polícia?
Eu acenei com a cabeça.
— Quando começou, e depois novamente antes de desistir com meus
irmãos. Mas eles disseram que eu não tinha nenhuma prova. Além disso,
ele é um grande e poderoso CEO, e eu sou apenas alguém inexperiente de
vinte e três anos de idade. As probabilidades nunca estiveram a meu favor.
— Então você só o está ignorando?
— Ele estragou muito da minha vida, mas... eu realmente não posso
fazer nada. Ele tem o poder e recursos. Ele vai desistir eventualmente,
certo?
— Você já contou ao Xavier? Ele provavelmente poderia ajudar...
— Não! — eu gritei. Depois olhei novamente para baixo. — Não quero
que ele pense que eu sou uma donzela em apuros. É... é embaraçoso.
Dustin olhou para mim com tanta pena que pensei em chorar.
— Não, pare com isso, — ele disse, levando-me às lágrimas. — Não
desperdice nenhuma lágrima pelo seu chefe horrível, esse filho da puta.
Você me entendeu?
Eu confirmei.
— Sabe de uma coisa? Que se dane isso. Nós vamos aproveitar o dia.
— O quê? O que você quer dizer com isso? — Mas Dustin já estava
levantando, limpando o balcão e fechando a caixa registradora. Ele virou a
placa na janela.
— Dustin! Você pode fazer isso?
Ele olhou para mim e encolheu os ombros.
— Eu não sei. Provavelmente não. Mas, ei, eu acabei de fazer.
Depois ele me ofereceu sua mão, e eu a agarrei, e ele me guiou para
fora da cafeteria, quarteirão abaixo, até uma estação de trem.
Quando saímos na Prince Street, bem no coração do Soho, Dustin me
arrastou para um spa de unhas enfiado em um porão na esquina.
Quando entramos, eu fiquei impressionada com o quanto o spa parecia
luxuoso por dentro; o exterior tinha sido tão desinteressante. Tudo era
mármore: os pisos, as mesas de manicure e as paredes. Todos os técnicos
de unhas estavam vestidos de branco, e havia uma música suave e
melódica.
— Dustin! — um coral de técnicos chamou quando entramos.
— Como você pode ver, sou um cliente habitual, — disse-me ele antes
de acenar para eles. — Venho aqui sempre que estou tendo um dia de
merda, — explicou ele. — Nada que uma boa pedicure não possa
consertar, não é?
Uma técnica enérgica saltou para cima de nós, agarrando cada uma de
nossas mãos.
— O que será hoje?, — perguntou ela.
— A obra, — disse Dustin, sem me consultar.
— A obra! — repetiu a técnica, e convocou outra. Esta tinha cabelos
longos e trançados, mas era um pouco mais tímida.
Ela pegou minha mão e me guiou até o lugar para pedicure. Eu tirei
meus sapatos e me preparei para tirar minha mente dos horrores do meu
passado.

Quando chegamos à nossa quarta loja, eu quase tinha esquecido as


mensagens de texto. Tínhamos conseguido manicures e pedicures, uma
limpeza de pele cada um, e depois fomos às compras.
Fomos a três lojas sem parar, onde Dustin me convenceu a comprar
dois vestidos slinky, um blazer e o par de jeans mais apertado que eu já
tive.
— Sua bunda parece que pode estar em um vídeo Kanye, — ele disse, e
depois pegou meu cartão e o roubou ele mesmo. — Você e seu marido vão
me agradecer mais tarde.
Meu marido. Mas antes que eu pudesse me debruçar sobre Xavier, ou
ter algum tempo para sentir mais melancolia, Dustin estava me puxando
para a loja número cinco.
Esta era uma loja de chapéus, onde chapéus de todas as formas e
tamanhos revestiam as paredes. Eles tinham apenas uma coisa em comum:
seus preços exorbitantes.
— Meu Deus, há tanto tempo eu queria um desses, — exclamou Dustin,
conferindo o fedora de bronze em sua cabeça no espelho.
— Parece... bom? — Eu ofereci.
— Sim, parece bom. Por oitocentos dólares, é melhor.
— Oitocentos dólares! Por um chapéu?
— Não é apenas um chapéu, — ele disse, tapando meu ombro. — E
uma declaração.
Eu não pude deixar de rir. Havia algo tão bom em estar perto de Dustin.
Não precisei observar tudo o que eu disse ou ficar atenta ao significado
de seus comentários. Foi fácil, como sair com a Em. Ele se importava
comigo porque eu era eu, não por causa do meu novo sobrenome.
Eu o vi se olhando no espelho e fui tomada pelo desejo de fazer algo
agradável para ele. Ele havia tirado minha mente de meu antigo chefe, de
Xavier, por um dia inteiro.
Ele era um verdadeiro amigo quando eu não tinha mais ninguém a
quem me apoiar.
— Ei, Dustin, — eu disse, movendo-me para que ele me passasse o
chapéu.
— Você quer provar?
Eu apenas balancei a cabeça e a levei para a caixa registradora. A
vendedora olhou para mim com ceticismo, como se ela não acreditasse
que eu fosse realmente pagar por isso. Afinal, eu estava usando meu
Converse surrado.
Mas eu lhe entreguei o cartão preto dos Knight, e sua boca quase caiu.
— Oh-meu-deus, é sério? — perguntou Dustin, com sua boca aberta.
Eu sorri para ele, depois me dirigi ao vendedor.
— Se você puder embrulhá-lo, seria ótimo.
— Claro, — ela respondeu, passando o cartão e assistindo enquanto eu
assinava o recibo. Em seguida, ela embrulhou o chapéu em um lindo
pacotinho, amarrando-o com um laço azul-claro.
Ela me entregou, e eu o entreguei a Dustin, bem quando um rosto
familiar entrou pela porta.
Era a Sra. Graden, a esposa do sócio comercial muito importante dos
Knight. Ela me reconheceu imediatamente, seu rosto estava aquecido
quando veio para beijar minhas bochechas no ar.
— Querida!, — exclamou ela. Então ela se voltou para Dustin, de olho
nele e depois de olho em mim. Ela notou a sacola na mão dele. — Estes
chapéus, — disse ela.
— Exatamente, — disse Dustin, acenando profusamente e oferecendo
sua mão a ela.
— Eu sou Dustin. Dustin Stirling.
Ela o deixou apertar a mão dela.
— Jessica, — ela disse a um volume logo acima de um sussurro, e
depois voltou-se para mim.
— Já estávamos de saída, — eu disse, na esperança de me retirar desta
situação o mais rápido possível.
Era divertido estar neste mundo quando éramos apenas eu e Dustin,
mas ter uma verdadeira socialite lá, uma que me conhecia e ao meu
marido, tirou toda a diversão da brincadeira dele. E eu me senti nervosa,
por alguma razão eu não conseguia me controlar.
— Foi bom ver você, — acrescentei, e ela sorriu calorosamente, seus
dentes brilhavam mais do que uma lâmpada. Ela beijou minhas bochechas
mais uma vez, e então, com um último, — Ciao, — ela voltou sua atenção
para um chapéu preto na parede distante.
Dustin e eu saímos da loja, e quando olhei para trás pelo vidro da
frente, tive quase a certeza de ter visto Jessica nos observando partir.

Xavier
Meu telefone tocou no meu bolso.
Eu franzi a sobrancelha ao sair do carro e puxei meu celular. Esqueci de
colocá-lo no silencioso. Eu sempre o fazia antes das grandes reuniões de
negócios. Eu estava bem fora do local da reunião e precisava do foco.
Mesmo assim, eu não pude deixar de olhar para a tela.
Era uma mensagem de Jessica. A esposa de Graden, o homem de
negócios que eu estava prestes a conhecer. Estávamos prestes a fechar um
grande negócio.
Eu gemi.
Provavelmente não devo ignorar isso então.
Mas quando olhei as mensagens, eu desejava ter ignorado.

Jessica: Xavier! Voc ê precisa ficar de olho na sua esposa.

Jessica: Eu a vi fazendo compras hoje.

Jessica: Com outro homem.

Jessica: E pareciam ser muito amig á veis um com o outro...

Capítulo 13
Tão perto, tão longe
Xavier
Eu olhei para a tela do meu celular quando uma onda de raiva surgiu em
mim.
Minha esposa estava causando problemas para mim. Novamente.
Não preciso desta merda.
Empurrei meu celular de volta para o bolso e tentei relaxar. Eu precisava
de uma cabeça fria para fechar este negócio.
Darei um trato na maldita esposa mais tarde.
Eu estava no Hatchback, um bar pitoresco no distrito financeiro, onde
homens que passavam o dia inteiro cuidando de negócios vinham para
descontrair. Não era meu cenário — nenhum lugar que oferecesse tacos de
foie gras era — mas Graden tinha sugerido isso, então aqui estava.
Depois do jantar que tivemos com nossas esposas, eu estava bastante
confiante de que o negócio estava prestes a se concretizar. Ele havia pedido
para nos encontrarmos para o happy hour desta noite, e eu tinha a
sensação de que iria para casa um homem muito mais feliz do que quando
acordei esta manhã.
O jantar tinha me colocado de bom humor, com certeza. Nada me fez
sentir tão bem quanto ganhar no meu trabalho, e este — este — era
certamente o meu maior ganho até agora.
Eram quase sete da tarde, e o bar estava lotado com mais Hugo Boss e
Giorgio Armani do que em uma loja de roupas. Homens entre vinte e cinco
e sessenta e cinco se misturavam, com as mãos cheias de uísque ou
cerveja.
Acho que em todo o espaço havia três mulheres, e duas delas eram
bartenders. Você teria pensado que era um bar gay em West Village, mas
todos os homens aqui dentro certamente não estavam enganados.
Não que eles fossem totalmente homofóbicos, é claro — isso era ruim
para os negócios. Eles gostavam de mulheres. Eles só precisavam de algum
lugar para beber e falar como homens.
— Ei, aí está ele. Knight! — Eu me virei para encontrar Graden indo até
mim, com outro homem a reboque. Eu me levantei para apertar sua mão.
— Como está indo? — perguntei, sorrindo calorosamente para Graden.
Eu estava pensando nas primeiras impressões, mas eu sabia que o
acompanhamento era igualmente importante. Pergunte a qualquer mulher
com quem eu tivesse dormido mais de uma vez. Eu era bom no
acompanhamento.
— Bom, bom, — respondeu Graden, dando tapinhas nas minhas costas.
— Obrigado por nos encontrar. Este é Mickey. Ele é o meu cara. Um
conselheiro, digamos assim.
— Ei, Mickey, — eu disse, apertando sua mão.
É disso que estou falando, eu pensei. O homem tinha trazido seu
assessor de negócios. Ele estava definitivamente mais do que interessado;
ele estava pronto para falar. Mal podia esperar para ver o olhar no rosto do
meu pai.
— O que os senhores estão bebendo? — Eu perguntei, acenando para a
bartender ao mesmo tempo.
Ela era bonita, de um jeito meio universitário, de Kansas.
— Vou tomar um Glenfiddich, — disse Mickey.
— Faça dois, — acrescentou Graden.
— Três Glenfiddich puros, por favor, — eu disse a bartender, atirando-
lhe um sorriso. Eu só acrescentei um 'por favor' quando a garota que
estava tomando meu pedido era alguém com quem eu dormiria. E esta
garota, com suas covinhas e seu sotaque sulista, era alguém que eu levaria
absolutamente para casa.
— Por que vocês não vão procurar uma mesa na parte de trás e eu levo
as bebidas? — Eu disse aos homens, e eles acenaram, andando para
encontrar um espaço vazio.
— Aqui está você, — disse a bartender, entregando-me as bebidas. Eu
dei a ela meu cartão. — Abro uma conta, Sr. Knight? — Ela piscou
inocentemente para mim.
— Claro, — eu lhe disse. — Estarei aqui por um tempo. — Eu lhe dei o
olhar, aquele que garantiu que ela soubesse que eu estava interessado em
mais do que bebidas.
— Eu gostaria disso, — respondeu ela, e soltou uma risada.
Levei as bebidas de volta para onde Mickey e Graden haviam
conseguido uma mesa. Estava tão lotado aqui que eu não me
surpreenderia se eles tivessem passado um cheque para obtê-lo. Graden
novamente deu-me um tapa nas costas enquanto eu me sentava.
— Obrigado, Xavier.
— Não por isso, chefe, — eu disse.
— Então, vamos ao que interessa. Mickey aqui quer ouvir seu tom, por
isso, estabeleça-o.
Eu olhei diretamente para Mickey. Ele parecia inofensivo o suficiente.
Seu cabelo encaracolado era grisalho um pouco nas pontas, e seus pés de
corvo eram definitivamente visíveis, mas seu terno era italiano, e seu
relógio era um Rolex de edição limitada.
Portanto, o homem tinha claramente feito uma boa escolha em um
momento ou outro.
— Está bem, Mickey. O negócio é o seguinte. O hotel Graden é
claramente uma propriedade que vale a pena. Só o local vê projeções
acima do dobro do que os outros lugares do mesmo bairro nos dariam. E
tem tido uma boa corrida. Uma puta corrida, desculpem minha linguagem,
cavalheiros.
Ambos soltaram uma gargalhada.
— Mas há um tempo e um lugar para sair. E eu sei sua perspectiva
sobre isso, — eu disse, olhando para Graden, — é que você quer sair agora.
Você quer sair, mas você quer olhar por cima do ombro e ver seu legado.
— É isso que estou lhe oferecendo, Graden. A chance de ver uma
rebranding, de ver uma propriedade bem-sucedida se tornar ainda mais
bem-sucedida, mas também a chance de ver reconhecidos os anos que
você dedicou a ela... Homenageado. Sua pegada estará sempre lá se for um
hotel Knight. Isso eu posso lhe prometer.
Eu olhava de homem para homem, tentando avaliar a reação. Pensei
que tinha sido ótimo, mas ambos estavam demorando a digerir. Logo
quando eu estava prestes a dizer outra coisa, para preencher o silêncio que
lentamente se tornava ensurdecedor, Graden bateu palmas.
Uma vez, depois duas vezes. Depois três vezes.
— Isso, — ele disse, — foi lindo.
Olhei para Mickey, tentando iluminar quaisquer que fossem seus
pensamentos, mas seus olhos só tinham o mesmo olhar vidrado e
profundo para eles.
— Qual é o cronograma?, — perguntou ele, finalmente olhando para
mim.
— Estaríamos procurando começar a construção estética em seis
semanas, no máximo, — eu comecei. — Lobby, spa e academia de ginástica
para começar. O nosso objetivo é ter um novo restaurante no telhado em
funcionamento até março. Estamos visando profissionais de negócios que
querem o centro da cidade, então vamos precisar nos diferenciar o melhor
possível do centro.
Mickey acompanhou minhas palavras, acenando com a cabeça a cada
duas sentenças. Pensei que eu o tinha na mão. Por isso, continuei.
— Estou pensando na mistura entre o Mandarim Oriental e o NoMo.
Queremos a elegância de uma propriedade cinco estrelas estabelecida,
mas queremos que ela seja fresca, — eu disse, prestes a continuar falando
quando Graden levantou a mão e interrompeu.
— Espere um minuto, — ele disse, lendo algo em seu celular. —
Desculpe interromper, mas... que mundo pequeno... — murmurou ele.
Então ele olhou para mim. — Adivinhe quem minha esposa encontrou
hoje.
— Quem? — perguntei, esperando que ele não conseguisse ouvir a
impaciência em minha voz.
— Sua esposa! Jessica disse que viu suas compras com... um homem...
em La Sur, aquela loja de chapéus.
Ele o disse casualmente, mas o tom evidentemente mudou quando
ele disse "um homem". Ele estava me julgando, perguntando-se sobre
minha esposa e meu relacionamento. Perguntando-se quem era o homem.
Pensei imediatamente nos textos que Jessica me enviou antes.
Porra...
Eu não poderia tê-lo duvidando se ele poderia confiar em mim, não
agora.
Eu precisava ser compreensível.
Eu precisava ser compreensível e confiável.
— Que mundo pequeno! — Eu quase gritei, desta vez dando tapinhas
em seu ombro. — Aqueles chapéus, todos gostam deles. — Quando
Graden olhou para mim, um sorriso educado em seus lábios, algo havia se
deslocado em seus olhos. Eu podia ver a dúvida tomando conta.
Merda. A raiva corria pelas minhas veias como uma jangada por um rio.
Eu estava chateado. Eu desci meu uísque. Minha mulher estava lá fora me
envergonhando, interferindo nos negócios. Isso era inaceitável.
Eu não dei a mínima para com quem ela estava em particular, quando
os olhos não estavam por perto para vê-la. Eu fiz o que eu queria e ela
podia fazer o que queria.
Mas em público?
Nós éramos a porra do quadro de amor e lealdade. Sangrávamos o
casamento, dia sim, dia não. Como ela poderia ter sido tão estúpida?
Eu queria sair imediatamente do bar e lhe dar uma lição, deixá-la saber
o quão idiota ela tinha sido. Avisá-la sobre estar em público novamente
com aquele cara, ou com qualquer outro cara que não fosse eu.
Não, que se foda isso. Ela nunca mais veria aquele cara de novo, público
ou privado. Era o mínimo que ela podia fazer, já que ela corria pela cidade
passando o cartão preto em chapéus de fantasia.
Mais um olhar sobre Mickey e eu sabia que a produtividade da noite
tinha acabado.
Uma vez que saí, os homens iam falar se podiam trabalhar com um
homem que não conseguia manter as rédeas sobre sua esposa.
Um homem que ou não sabia o que sua esposa andava fazendo, ou não
se importava.
Pensei, deixe-os ter a conversa agora. Abri um e-mail em meu telefone,
fingindo lê-lo e reagindo.
— Cavalheiros, — interrompi, — Eu adoraria sentar aqui com vocês a
noite toda, mas um colega precisa da minha ajuda. Desculpem-me por
encurtar a noite. — Ambos ficaram de pé quando eu o fiz, acenando para
mim.
— Manteremos contato, — disse Graden, a camaradagem em sua voz
se foi.
— Perfeito, — eu disse. — Boa noite.
Eu estava tão zangado que andei a toda velocidade para fora do bar,
esquecendo completamente meu cartão e a bartender do sul com as
covinhas.
Só quando Marco estava percorrendo a West Side Highway é que me
lembrei de ambos e senti ainda mais fúria entrar na minha corrente
sanguínea.
Ela fodeu com meus negócios.
Ela fodeu com a minha vida sexual.
Ela ia ter que aprender seu lugar.

Capítulo 14
Um Knight público
Angela
Eu estava em casa cozinhando biscoitos. Eu sei que parecia tosco, como
uma espécie de dona de casa de um milhão de anos atrás, mas eu adorava
assar.
Eu era ã de qualquer coisa que exigisse que eu usasse minhas mãos
para criar algo, qualquer coisa que viesse com uma receita. Eu tinha
acabado de colocar os biscoitos no forno quando ouvi o elevador zumbir.
Olhei pelo corredor do meu quarto, pensando se eu teria tempo
suficiente para chegar lá antes que as portas do elevador se abrissem. Mas
antes que eu pudesse terminar o pensamento, as portas se abriram.
E ali estava Xavier, de olhos vermelhos, com o terno pendurado sobre o
braço. Antes que eu conseguisse dizer uma palavra — ou pensar em dizer
— ele estava marchando até mim, e palavras saíam de seus lábios.
— Com que filho da puta você estava comprando hoje?
— O quê?
— Quem era o homem?
— Meu amigo? Dustin.
— Oh. Dustin, — ele disse, e ficou claro que ele estava zombando de
mim. — Deixe-me deixar algo muito claro para você, Sra. Knight. Tudo o
que você faz nesta cidade chega em mim. TUDO.
Eu estava tão confusa que nem sabia por onde começar. Pensei em
voltar às compras com o Dustin.
— Tive uma reunião de negócios com a Graden hoje à noite, — ele
balbuciou. Oh. Sim, tínhamos encontrado com a Jessica. Aí estava minha
resposta.
— Ele disse que sua esposa a viu fazendo compras... com um homem.
— Foi o ciúme que eu detectei em sua voz?
— Estou me lixando para o que você faz no seu tempo livre, no seu
próprio espaço, — ele disse, me jogando na cara. Talvez não tenha ciúmes,
eu pensei. — Mas você não interfere nos meus negócios. Você não vai me
envergonhar novamente. Você me entende?
— Sim, mas eu não queria interferir...
— ME ESCUTE. — Ele bateu com a mão no balcão da cozinha. — Você
não deve estar em público com nenhum homem que não seja eu. Você
pode ter custado à empresa a merda do NEGÓCIO. Você entendeu isso?
Você percebe o quão estúpida você foi? Eu te proíbo de ver esse homem
até o fechamento do negócio.
— Você me proíbe?
— Você me ouviu. Você está vivendo sob meu teto, usando meu
dinheiro, você pode obedecer a uma simples regra. Além disso, se o bom
velho pai descobrisse que você estava fazendo alguma coisa para ferrar
este negócio, você teria mais a responder do que apenas a mim. — Suas
palavras eram tão grossas, tão afiadas, que eu as sentia me cortar.
Eu não tinha mais nenhuma energia dentro de mim. Pensei nas
mensagens de texto do Sr. Lemor, sobre meu pai, e olhei em volta para
minha nova vida. Eu estava cansada de lutar para encontrar o lado bom.
Ao ver a desistência no meu rosto, Xavier se virou e marchou até seu
quarto, batendo a porta.
— Ele é meu único amigo, — eu disse suavemente à cozinha vazia,
como se dizer as palavras ajudasse a tornar menos real o que acabara de
acontecer. Mas nada veio em resposta. Olhei à minha volta, sentindo-me
perdida. Ainda era só eu e meus biscoitos.

Claro, eu já tinha me sentido sozinha neste quarto cem vezes antes. Mas
esta era a primeira vez que eu não tinha Em e não tinha Dustin. Ambas as
minhas redes de segurança da cidade de Nova Iorque, antigas e novas, não
queriam ter nada a ver comigo.
Eu tinha ligado para Dustin depois que Xavier explodiu comigo,
contando-lhe sobre a regra que me proibia de vê-lo. Eu tinha tentado rir
disso, me certificando de que ele soubesse o quão absurdo eu achava que
era.
Mas Dustin não tinha rido.
— Xavier Knight proibiu você de me ver? Como eu, especificamente?
— Sim, — eu tinha respondido. — Mas é só até o fechamento deste
negócio...
— Isso é uma bagunça. Muito bagunçado. Eu não posso ter o maior
nome da cidade me odiando dessa maneira, — disse Dustin. — Parece que
há um alvo nas minhas costas ou algo assim.
— O quê? Não, Dustin, ele só está exagerando...
— Angela, tenho que ir, está bem? — E então ele desligou. Assim
mesmo, nossa amizade parecia ter acabado.
Acho que entendi por que ele estava tão agitado. Eu sabia como era ser
apontado como o inimigo por uma pessoa no poder. Como era assustador
saber que eles tinham mais controle sobre seu futuro do que você.
Mas agora, não era apenas o Sr. Lemor que controlava minha vida.
Era meu marido, também.
Já era ruim o bastante eu ter que viver com Xavier, ter que ouvi-lo gritar
comigo pelas menores razões. Mas agora ele estava cortando ativamente
minhas relações pessoais, como se minha vida não importasse nem um
pouco.
Ele claramente não tinha respeito por mim. Ele pensou que eu tinha
casado com ele por seu dinheiro e seu nome, e eu não podia me defender
ou explicar nada — não sem quebrar as cláusulas.
Quanto tempo eu poderia ficar tão solitária?
Quantas semanas, meses, anos eu poderia passar sem ter um
verdadeiro amigo?
Minha tristeza se transformou em frustração, depois em fúria com
Xavier, mas também em fúria pela injustiça da vida. Eu estava começando a
enlouquecer, quando meu telefone se iluminou com uma mensagem de
texto.
Desconhecido: Pare de me ignorar.

Desconhecido: Vai se arrepender.

E meu sangue fervia ainda mais. Eu sabia que era o Sr. Lemor. A audácia
dos homens com poder e dinheiro para tentar controlar cada minuto do
meu dia; era inacreditável.
Quem eles pensavam que eram?
Por que eles pensaram que poderiam mandar em mim como uma
criança?
Então meu telefone tocou.
Você só pode estar de brincadeira! Eu deixo sair o som mais animalesco
— um som que eu nem sabia que era capaz de fazer — e respondo.
Mas eu não esperei que ele falasse.
— ME. DEIXE. EM PAZ! — Eu gritei pelo telefone.
Eu estava ofegante. Acho que nunca havia falado com alguém assim
antes, e meu coração batia mais alto do que um tambor. Estava tremendo
enquanto esperava por uma resposta — qualquer coisa.
Depois ouvi uma voz calma, tão controlada que soava quase doce, do
outro lado.
— Você vai desejar, — ele disse, — não ter dito isso para mim.
Joguei meu telefone do outro lado da cama, o mais longe possível de
mim.
Minhas mãos ainda estavam tremendo.
Saltei ao som das mensagens recebidas. Parte de mim queria ignorar o
telefone, mas minha curiosidade levou o melhor de mim. Eu precisava
saber o que ele estava dizendo. Era como dirigir por um acidente de carro
na rodovia. Você tinha que olhar porque, de alguma forma, não saber era
pior.
Rastejei até o canto da minha cama, onde o telefone estava deitado
com a face voltada para baixo, e lentamente o virei. Eu nunca tinha ficado
tão aliviada. O nome de Danny piscava sobre a tela.

Danny: Angela.

Danny: Voc ê tem que vir para ver o pai.

Angela: ???

Angela: Est á tudo bem?

Danny: Ele est á bem.

Danny: Mas ele est á fazendo uma birra.

Angela: Por qu ê ?

Danny: Aparentemente voc ê tem evitado falar sobre seu


casamento

Danny: Ele n ã o quer adiar mais.

Merda. Outro problema a ser resolvido.


Eu havia evitado falar sobre isso.
Eu simplesmente não tinha coragem de continuar mentindo
diretamente na cara do meu pai. Mas essa era a única opção além de evitar
o assunto, então eu teria que fazer isso.
Eu soltei um grande fôlego e saí da cama, retirando meu pijama. Puxei
um par de jeans, uma camiseta, e amarrei meus Converses, depois me
dirigi para a porta.
Eu não tinha certeza se seria capaz de manter as mentiras na sua frente.
Especialmente não quando ele estava indo tão mal. Mas
eu tinha que ser forte, por causa dele.

— Pai?
— Entre, filhinha, — ele disse, claramente se esforçando para tirar cada
palavra.
— Danny disse que você estava se sentindo melhor.
— Eu estou, eu estou, — ele disse, pegando minha mão e a beijando. O
silêncio se estendeu por um segundo diante de seus olhos enrugados em
um sorriso. — Você não pode evitar a conversa para sempre.
Eu acenei com a cabeça. Senti-me como uma criança prestes a ser
repreendida. Como se eu tivesse sido pega em flagrante com a mão no
biscoito.
Mas em vez de um pote de biscoitos eu estava no fundo de uma teia de
mentiras e enganos. Era um segredo de bilhões de dólares onde a vida do
meu pai estava pendurada na balança.
Eu respirei fundo, me apoiando.
— Ei, se anime, — brincou ele. — Eu não estou bravo. Não vou dizer
como foi imprudente e louco se casar tão rápido.
— Você acabou de dizer.
— Ah, eu acho que sim. — Ele riu, e eu não pude deixar de rir com ele
com pesar. Eu mantive meu olhar no chão.
Se ele soubesse a verdade, ele poderia ter outro ataque cardíaco.
— Filhinha, olhe para mim, — ele disse, com seus olhos ficando
rosados. — Você está feliz?
Eu olhei para meu pai, o homem que eu mais amei na vida. Minha
pessoa favorita. E eu estava lá com ele, conversando com ele. Então acenei
com a cabeça, uma lágrima escapando bochecha abaixo.
— Então, não se preocupe comigo. Entendeu? Eu estou feliz. Estou feliz
por você. Eu estou orgulhoso. Minha filhinha é uma esposa. — Ele apertou
minha mão agora, e outra lágrima caiu.
— Não chore.
— Sinto muito.
— Então, fale-me sobre ele.
— Você o conheceu na Ação de Graças, lembra-se?
— Claro, mas eu mal conheço o cara. Quanto às primeiras impressões,
eu não fiquei impressionado. Parecia que você ia desmaiar a qualquer
segundo naquela ocasião.
— Eu estava apenas nervosa com o que todos vocês pensariam, — eu
disse. E era verdade. Mas provavelmente não pelas mesmas razões que o
pai estava pensando.
Eu não estava nervosa para apresentar meu noivo à família.
Eu estava nervosa com a revelação do segredo.
Levantei minha mão esquerda para enxugar as lágrimas da bochecha e
meu pai assobiou, olhando o anel no meu dedo.
— Nossa, isso é uma pedra, — ele disse.
— No fim das contas, Xavier é um Knight. Você não precisa se
preocupar com nada.
Os olhos de meu pai se estreitaram o suficiente para que eu
percebesse, como se ele estivesse juntando a coincidência de tudo, mas
depois eles voltaram ao normal. Eu me perguntava se eu tinha imaginado
tudo.
— Bem, estou feliz por minha filhinha ter alguém para cuidar dela, só
isso. Depois daquele último idiota. — Ele estava falando sobre o Sr. Lemor.
Meus irmãos haviam dito a ele depois que eu deixei a empresa e
ajudaram a explicar ao meu pai porque eu estava deixando um emprego
tão perfeitamente adequado. Quando lhe disseram, papai tinha corrido
para seu quarto e emergiu alguns segundos mais tarde com um taco de
beisebol.
— Tudo bem, — ele disse, — onde está o filho da puta?
Mas eu não queria pensar no Sr. Lemor ou Xavier agora. Eu precisava
colocar o foco de novo no meu pai.
— Então, seu tratamento experimental começa amanhã?
— Sim, senhora.
— Vai funcionar.
Ele olhou para mim, seus olhos ficaram rosados novamente.
— Pode apostar que sim, — ele disse.
Puxei a cadeira de visitante para perto de sua cama e enfiei meus pés
debaixo de mim, segurando suas mãos com força. Eu sabia que teria que
voltar para a cidade em breve, mas por enquanto eu só queria um pouco
mais de tempo com meu pai.

Eu estava de volta ao trem. Havia algo tão reconfortante em ver milhões de


árvores passarem. Eu gostava de pensar sobre aquelas árvores, sobre como
elas estariam ali, crescendo e morrendo, crescendo e morrendo, se alguém
estava ali para vê-las ou não.
Foi humilhante pensar nisso. O mundo gira com ou sem você. Isso
realmente colocou minha vida em perspectiva. Eu era apenas mais um.
Meus problemas não eram os únicos problemas.
Mas já chega, eu disse a mim mesma. Sem mais lamentações. Amanhã
era um novo dia, e eu estava pronta para enfrentá-lo sem hesitar. Peguei
meu celular, procurando uma distração. Pensei em tentar o New York
Times.
Eu estava rolando e rolando, tentando encontrar um artigo para ler,
mas nada chamou minha atenção. Eu precisava de alguma coisa divertida.
Por isso, fiz o que qualquer pessoa de vinte e poucos anos faria. Fui para as
fofocas online.
Eu estava folheando o Yorker, um blog de fofocas baseado em NYC,
passando por histórias sobre o último escândalo da Bravo Housewives e da
Miss Teen America, quando vi algo que me impediu de ter frio.
Você já sentiu alguma vez uma reação tão visceralmente que pensou
que poderia ser fatal? Como um ataque de pânico tão ruim que você parou
de respirar?
Bem, isso foi o que foi. Meu coração parou. O barulho ao meu redor
recuou até que eu não conseguia ouvir nada. Minha visão estava turvada
por manchas brancas. Tive que segurar meu telefone até o rosto para ler
qualquer coisa, e quando o fiz, desejei não o ter feito.
Havia uma foto de mim e de Xavier em nossa noite de núpcias. Sorrindo
para a câmera, parecendo que estávamos apaixonados. E por baixo
daquela foto, havia outra foto. Uma que apresentava apenas a mim.
Eu estava olhando diretamente para dentro da câmera, meus cabelos
úmidos pendurados em linha reta. Meus olhos estavam largos. A foto me
mostrou da cintura para cima. E eu estava nua.
Como isso pode ser? Nunca tinha tirado uma foto de mim mesma nua
em minha vida. Eu nunca tinha tido um namorado! Como poderia existir
esta foto? E como ela está estampada em toda a Internet?
Eu tentei me acalmar. Está bem, Angela. Seja esperta. Procure por pistas.
Eu me esgueirei para a foto, agradecendo ao senhor pela barra preta
que cobria meus seios. Notei os armários ao fundo. Armários? Minha
mente correu. Onde eu tinha estado com armários?
E depois me atingiu: a academia da Gelsa. Era a única academia onde
eu já tinha ido. Isto foi tirado no vestiário. Eu devia estar me trocando, mas
quem teria sido capaz de tirar uma foto como esta sem eu ver?

Desconhecido: Eu sempre ven ç o.

Desconhecido: Voc ê nunca mais vai trabalhar.

Sr. Lemor.
É claro.
Eu queria matá-lo.
Fiquei tão dominada pela raiva e pela humilhação que não tive coragem
de pensar em como ele poderia ter feito isso. Agora não.
Agora, eu precisava entrar em contato com o Yorker e fazer com que
eles retirassem o artigo. Então eu precisaria vasculhar o resto da internet
para procurar resíduos...

Em: ANGELA!!!

Em: VOC Ê VIU? PQP???

Em: EST Á EM TODO LUGAR!!!

Oh, meu Deus. Ai, meu Deus!


Já era ruim o suficiente que a Em estivesse falando comigo. Ela vinha
ignorando meus textos há dias.
Okay, relaxe. Faça você mesmo o Google e encontre os sites com a foto
e peça-lhes calmamente que a removam.
Eu mesmo pesquisei no Google. E encontrei a mesma imagem, em
vários websites. Mais sites do que eu poderia contar. Alguns mais
respeitáveis, outros menos.
E aqueles sites não regulamentados, aqueles que visavam a clickbait a
qualquer custo? Eles não se preocuparam em colocar a barra preta sobre
meu peito.
Fui exposta para que o mundo inteiro visse.
Xavier: Seus nudes est ã o na internet.

Xavier: Lembra-se quando eu te disse para não me


ENVERGONHAR?

Danny: Angela.

Danny: Ligue-me.

Danny: Agora.

Eu não podia acreditar nos meus olhos.


Minha melhor amiga, meu marido, meu irmão.
Todos eles tinham visto a minha foto de topless. Todos eles presumiram
que eu mesma a tinha tirado.
Fechei os olhos, e o diabinho na minha mente riu. É com isso que você
se preocupa? ele perguntou, dançando com sua forquilha. E o resto de
Nova Iorque?
Parecia que eu estava em cima de um penhasco alto, à beira do
precipício.
Meu fôlego chegou com um ar curto enquanto olhava ao redor do
trem.
Eu estava imaginando, ou todos estavam me mandando olhares
estranhos?
Encolhi-me em meu assento, apertando meus olhos.
A minha vida acabou...
Capítulo 15
Coração disfarçado
Xavier
Eu não podia acreditar. Pensei que a garota tinha entendido o que eu
estava dizendo na outra noite, quando eu deixei bem claro que ela deveria
ficar fora dos holofotes.
Pensei que até mesmo um bebê teria sido capaz de me entender.
Mas aparentemente não.
Ou ela não tinha me entendido, o que significava que ela era tão burra
quanto um bloco de madeira, ou então ela tinha procurado
propositadamente a pior maneira que podia para me ferrar. E não apenas
eu, mas meus negócios.
O que significava que ela havia mexido com os negócios de meu pai. A
imprensa podia me chamar do que eles queriam — egoísta, cheio de mim
mesmo, o que quer que fosse — mas a verdade é que eu nunca quis que
meu pai se ferisse como resultado de algo que eu fiz.
Eu não sabia se esta era sua retaliação da noite em que eu estava
bêbado, ou do dia em que eu havia esmagado o vaso no chão, ou algo
completamente diferente, mas era claramente uma resposta a algo.
Ou então não era, e ela estava tão desesperada para jogar seu rosto no
mundo, para se tornar famosa a qualquer custo, que ela havia liberado
seus próprios nudes.
Essa seria a explicação mais psicótica. Eu conhecia algumas socialites
muito atentadas, mas nenhuma delas iria tão longe.
Eu estava furioso. Independentemente do seu raciocínio, a foto havia
vazado.
E estava em todos os lugares. Não era suficiente que ela tivesse de
alguma forma enganado meu pai e casado com o nome de Knight?
Por que ela precisava arruinar tudo o resto para mim, também?
Eu estava andando no chão do meu escritório quando meu pai entrou.
Eu queria pular e enfiar meu dedo na cara dele, para gritar:
— Isto é culpa SUA!
Mas eu não podia falar com ele dessa maneira, nem mesmo agora.
Talvez ele fosse um pouco confiante demais às vezes, mas ele ainda era o
homem que cuidou de mim durante toda a minha vida.
Então, tentei me controlar enquanto ele se aproximava de mim.
— Filho, — ele começou, com seu rosto grave, — Não consigo imaginar
o que você está sentindo.
— Estou muito chateado, — eu disse, batendo com o punho na mão
para dar ênfase.
Ele respirou fundo.
— Cuidaremos do maldito que vazou aquelas fotos, — ele disse.
E foi aí que percebi que nunca havia sequer considerado a possibilidade
de outra pessoa vazar as fotos. Mas eu confiei em meu instinto.
Se parecia e cheirava como uma puta à procura de ouro e de atenção,
então provavelmente era.
— Comecemos do início, — eu disse. — Redução de danos.
— Temos a equipe de Frankie em Relações Públicas que lida com os
pontos de venda online, e Steph, da editora, cuidará da impressão. Donnie
está atirando calúnias para qualquer um que ouça. Isto será varrido para
debaixo do tapete até o final do dia, — disse meu pai, com os olhos bem
abertos.
— Meu Deus. Tudo bem, — respondi. — Obrigada por ter o controle
disso.
— Você é meu filho. E ela é minha filha, — disse meu pai.
Eu podia sentir o sangue começar a aquecer em minhas veias, e eu
sabia que tinha que tirá-lo do meu escritório antes que eu explodisse.
— Preciso de algum tempo sozinho.
— Claro, — ele disse, e com um último olhar simpático, ele deixou a
sala. Eu me certifiquei de fechar a porta atrás dele.
Angela
Eu havia desligado meu telefone no trem e ele permaneceu desligado o dia
todo. Além da minha viagem da estação Penn para casa, eu tinha estado
sozinha. E pela primeira vez, eu não estava reclamando. Sozinha significava
não ser alvo de olhos curiosos, sem perguntas.
Significava estar segura.
Quando cheguei à Penn Station, arrumei meu cabelo na frente do rosto
e comprei o primeiro boné I ❤ NY que pude encontrar.
Depois usei o número de serviço do carro que Brad me tinha dado há
semanas, aquele que eu nunca tinha precisado usar antes. Normalmente
eu preferia o metrô, mas hoje eu precisava da privacidade que os vidros
escuros me traziam. Quando meu carro da cidade parou, subi e deixei o
silêncio passar por cima de mim. Quando chegamos ao prédio, saí e desviei
tanto o olhar do porteiro que passei correndo. Mas não consegui.
Tenho certeza que todos e até suas mães tinham visto a foto, tinham
formado algum tipo de opinião sobre a garota que a tiraria. E a soltaram.
Eu não queria ver essa opinião nos olhos de ninguém.
Corri pelo saguão, permitindo-me finalmente respirar assim que as
portas do elevador se fecharam. E quando cheguei à cobertura, pisei no
meu quarto o mais silenciosamente possível no caso de alguém mais estar
em casa.
Eu não precisava de Lucille ou Marco — ou, Deus me livre, Xavier —
tendo a chance de me fazer qualquer pergunta. Eu não podia aceitar.
Fechei minha porta silenciosamente e fui para a cama, finalmente
deixando sair a emoção. As lágrimas vieram de maneira forte e rápida, e eu
empurrei meu rosto para dentro do travesseiro para silenciar os sons de
lamentação.
Depois veio a raiva, e meus gemidos se transformaram em gritos.
Não é justo. Não é JUSTO!
Agora eu estava socando o travesseiro, um punho fechado contra a
superfície mole.
Minha vida havia passado do normal para o terrível, do típico para o
mais distante do típico, em um mês. E tudo tinha começado com Brad
Knight.
Tudo tinha começado porque me foi oferecida uma maneira fácil de
resolver meus problemas, e eu tinha aceito sem considerar as
consequências. Eu tinha certeza de que o Sr. Lemor tinha visto fotos
minhas e de Xavier nas notícias, ou ouvido que tínhamos nos casado, e era
por isso que ele estava aparecendo assim agora.
Ele não queria que mais ninguém me tivesse.
Se eu tivesse acabado de pedir um empréstimo ao banco, ou
encontrado outro emprego em outra indústria, com o qual o Sr. Lemor não
pudesse interferir, eu teria conseguido pagar pelo tratamento do meu pai.
Mas eu sabia que estava mentindo para mim mesma. Seu custo de
tratamento já era de quase cinquenta mil dólares, e isso antes do teste.
Esta era a única solução.
Mas valeu a pena a destruição total da minha vida?
Enquanto estivesse fechada nesta torre de marfim, não saberia o que
seria capaz de fazer sozinha. Talvez sair daqui e colocar minha vida
novamente nos trilhos fosse a chave para encontrar um emprego de
verdade e ajudar meu pai.
Sem qualquer interferência bilionária. Eu tinha certeza de que poderia
haver algum tipo de plano de pagamento. Alguma coisa.
Liguei meu celular, ignorando todas mensagens e chamadas perdidas
que piscavam na tela. Eu queria falar com uma pessoa, e apenas uma
pessoa.

Angela: Posso ir at é voc ê ?

Brad: É claro.

Brad: Nos encontramos l á fora.


Troquei de roupa e saí da cobertura. Eu tinha chamado o carro de volta, e
ele estava esperando lá fora. Eu estava andando pelo saguão, ainda
cabisbaixa, quando ouvi uma voz a alguns metros de mim dizendo algo.
Quando meus olhos se levantaram para ver quem tinha falado, a voz se
repetiu.
— Que vergonha, — disse Pete, o porteiro. Ele abriu a porta, e eu não
podia dizer se ele estava me culpando ou tendo piedade de mim. Eu olhei
para o chão e entrei no carro da cidade.
Ele chegou ao prédio de escritórios onde a empresa Knight estava
instalada, e Brad estava esperando do lado de fora. Ele viu o carro e
deslizou para dentro imediatamente.
— Querida, — ele disse, me envolvendo em um abraço. Pensei que já
tinha dominado minhas emoções até então, mas as lágrimas não paravam
de chegar. — Está tudo bem. Está tudo bem. Ponha pra fora, — ele disse,
esfregando minhas costas.
— Desculpe, — eu chorei em seu ombro.
— Está tudo bem. Estamos nessa. Está tudo sendo consertado
enquanto falamos.
— Consertado?
— Temos a melhor das melhores equipes de RH, Angela, e é melhor
você acreditar que é a prioridade número um. — O próximo outlet, online
ou impresso, que compartilhar aquela foto ou até mesmo mencionar seu
nome, será processado e processado novamente. Você entendeu?
Eu acenei com a cabeça. Mas o peso sobre meus ombros ainda estava
lá, me lembrando como era difícil ficar de pé quando estava de pé com os
Knight.
— Brad, eu tenho que... falar com você. — Eu solucei e ele me entregou
um lenço.
— O que é isso? — Ele me olhou com tanta gentileza, tanta preocupação
genuína, que me senti mal ao dizer o que estava prestes a dizer. Mas eu
tinha que desabafar.
Limpei meu nariz e depois comecei.
— Não posso mais fazer parte do arranjo, — eu disse. — É demais. É
muito difícil. Xavier me despreza, eu sei que sim, e o resto de minha família
e amigos não entendem este mundo. E eu também não, Brad. Eu me sinto
como uma estrangeira em minha própria casa. Não sei como falar, nem
como agir, e os olhos estão sempre voltados para mim. Há muita pressão. E
agora, isso....
Eu exalei, surpresa por ter falado tudo isso.
— As pessoas estão atrás de mim.
Eu estava esperando que Brad abrisse a porta do carro e me
empurrasse para fora, para me castigar, ou gritar comigo, ou me chamasse
de estúpida. Mas, em vez disso, ele pegou minha mão na dele.
— Doce menina, há algo tão honesto em seu coração, — ele disse.
— Obrigado por ter sido tão sincera comigo. Sabe, há um bilhão de
meninas que matariam suas próprias mães para estar em sua posição. É
verdade, — ele disse, para meu choque.
— Peço desculpas pela morbidez, mas você tem acesso à riqueza e ao
status que a maioria só sonha.
— Mas eu não... eu não quero nada disso.
— Exatamente, — ele disse, e tocou a ponta do meu nariz. — Sei como
o mundo deve parecer a você agora. Mas você vai se adaptar. Você é uma
garota inteligente. Você virá a saber que as notícias de hoje já são as de
ontem. As pessoas estão atrás de você porque você tem o que elas
querem.
— Mas o que você também tem é um exército de pessoas prontas para
protegê-la. E quanto a Xavier... — ele disse, lançando um rápido olhar pela
janela, em direção ao prédio onde seu filho estava. — Há muita coisa que
você não sabe sobre ele, minha querida. Muita coisa. Eu sei que todos os
defeitos que estão espalhados pelas colunas de fofocas são verdadeiros.
Que ele é um garoto de festa, um mulherengo. Que ele gasta dinheiro
como se fosse água em uma floresta tropical.
— Não estou tentando insultar seu filho, Brad, — eu disse suavemente.
— Eu só não vejo como nós... jamais poderíamos funcionar. Nós somos
tão diferentes...
— Ah, — Brad me interrompeu. — Mas é aí que você está errada. É
verdade que seu coração é puro e o dele tem estado ao redor do
quarteirão. Mas deixe-me assegurar-lhe que o coração dele está muito
presente. Ele está apenas escondido, no momento.
Eu me esgueirei, sem ter certeza de que Brad realmente conhecia seu
filho.
— Deixem-me contar-lhe uma história. Uma história sobre um jovem
que se apaixonou por uma jovem mulher. Um jovem que estava tão louco
de amor que ofereceu à jovem o que o coração dela desejava. O mundo. E
eles estavam prestes a se casar, e ele nunca havia se enchido de tanta
alegria.
— E, na véspera do casamento, a jovem decolou. Desapareceu. Com o
anel de noivado que poderia lhe comprar uma nova vida, e o amigo mais
antigo do jovem.
Deixei as palavras de Brad afundarem em mim, chocada.
Xavier teve seu coração partido, seu anel roubado. Ele foi traído por sua
noiva e seu melhor amigo. Sua festa, seus gritos, sua incapacidade de
confiar em alguém fora daqueles que ele realmente conhecia, tudo
começava a fazer sentido.
— Por favor, doce menina, — disse Brad, ainda agarrando minha mão.
— Dê outra oportunidade ao meu filho. Dê uma chance ao arranjo. Ele está
ali em algum lugar. Eu sei que você pode ajudar a trazê-lo de volta.
Eu olhei para o bilionário abnegado que estava diante de mim, que
queria tanto ver seu filho se tornar o homem que ele sabia que poderia ser.
E eu vi meu próprio pai, deitado na cama do hospital, orgulhoso de sua
filha e prestes a iniciar um tratamento experimental que poderia salvar sua
vida.
Talvez o peso ainda estivesse em meus ombros e talvez eu não tivesse
ideia que novos horrores o amanhã traria. Mas sentada ali, no fundo do
carro, estacionado do lado de fora do extravagante edifício de escritórios,
eu senti que pelo menos tinha algum propósito.
Como se houvesse algo que eu pudesse fazer. E me deu a entender que
eu não estava lá apenas para ajudar meu pai.
Eu estava lá para ajudar meu marido, o homem com o coração partido.
Capítulo 16
Território Novo
Angela
Vamos lá. Atenda. Por favor.
— Alô?, — ela finalmente respondeu.
— Oi, Em, — eu disse, prendendo minha respiração para sua reação.
Tinham passado algumas semanas desde a última vez que nos falamos.
Não porque eu não tivesse tentado falar com ela — devo ter enviado dez
mensagens por semana — mas porque ela não tinha interesse em
responder.
Não foi como nas outras vezes em que nos metemos em brigas
estúpidas e uma de nós ficou brava, mas depois fizemos as pazes no dia
seguinte e rimos sobre isso por causa de biscoitos com gotas de chocolate.
Não, isso foi muito diferente. Isso dava a entender que a Em estivesse
brava. Parecia que ela havia... superado isso. Me superado.
Ela estava esperando por mim para dizer algo. Para provar que havia um
motivo para eu estar ligando, mesmo depois que ela evitou claramente
minhas tentativas anteriores.
Queria que eu fosse nessas coisas.
Você conhece o ditado que diz que os pais exaltados dizem sobre seus
filhos que falam rápido? Como eles seriam capazes de vender gelo para
esquimós, ou algo parecido?
Bem, eu nunca tive essa capacidade.
Lucas, claro. Ele estava sempre falando para sair dos problemas, com os
professores, com nosso pai, com qualquer pessoa.
Mas eu... eu não tinha rede de segurança. Não podia confiar em mim
mesmo para criar uma sequência de desculpas ao cair de um chapéu.
Como resultado, eu me tornei muito boa em seguir regras.
Se você não tiver problemas, não tem necessidade de se livrar deles.
Mas agora, aqui estava eu, minha mente andando em círculos. Por
onde eu poderia sequer começar? Como eu poderia verbalizar o quanto eu
queria minha melhor amiga de volta, sem explicar mais nada?
— Em, escute... — Eu comecei, e depois tive uma vontade muito
semelhante à que eu tinha quando era criança, quando Lucas estava
falando sobre uma história animada e eu estava observando o rosto de
nosso pai, não acreditando nela.
Não, o vizinho não chutou a bola de futebol pela janela do carro de
nosso pai. E assim eu soltava a verdade.
— Em, papai está doente, — eu disse, pensando que era um bom lugar
para começar.
— Eu sei, Angie, — disse ela, sua voz era mais suave. — Lucas tem me
atualizado. — Lucas? Mas isso me saiu da cabeça tão rápido quanto entrou,
porque eu já estava me preparando para o que eu ia dizer a seguir.
— Suas contas, seus tratamentos... não havia como. — Eu estava
sufocando lágrimas, surpresa com como tudo isso soou repugnante
quando eu disse em voz alta.
— Não tínhamos condições de arcar com isso.
— Mas você é casada com um Knight pelo amor de Deus, — disse ela, e
depois parou imediatamente. Como se ela estivesse entendendo.
Eu respirei fundo.
— Conheci Brad Knight sem saber quem ele era. Ele parecia tão... triste.
Ele estava sozinho em um banco de jardim no dia em que eu descobri que
tinha chegado à próxima rodada de entrevistas, e eu estava distribuindo
aqueles lírios no parque. Eu perguntei se ele estava bem. Conversamos,
muito brevemente, e eu meio que me esqueci dele. Mas ele me localizou,
Em, logo depois que meu pai teve o primeiro derrame. E ele... ele fez
uma... proposta.
— Proposta?
— Se eu o ajudasse a consertar o coração de seu filho, ele me ajudaria a
consertar a saúde de meu pai.
Ouvi uma forte inalação de ar através do telefone.
— Eu sei. Eu sei. Mas é o meu pai, Em, e ele está sozinho na cama do
hospital. Há estes tubos... que saem de dentro dele. E ele é tão frágil. — Eu
comecei a soluçar.
— Shhh, Angie, shh. Está tudo bem. — E eu quase pude senti-la
acariciando meu cabelo.
Apertei meus olhos.
— Eu o odeio, Em.
— Seu pai?
— Xavier. Ele é horrível. Ele é tão cruel comigo. Ele acha que eu me
casei com ele por seu dinheiro, ou para ser uma Knight. Ele não tem ideia
do papai.
— Por que você não lhe diz?
— É contra as regras. Eu assinei este contrato com Brad...
— 'Um contrato'?
— Ele é um bilionário. Tenho certeza de que ele faz com que todos à
sua volta assinem contratos.
— Isso é verdade. — Em riu. E eu senti o alívio inundar meu corpo.
Talvez ela estivesse finalmente compreendendo. — Então, se você não
pode lhe dizer, você também não pode...
— Te dizer, — eu terminei. — Mas eu tive que dizer. Eu não podia
continuar... continuar mentindo sobre isso. Estou tão triste, Em. Tão
sozinha. Todos pensam que sou este monstro que se casaria por dinheiro, e
sei que não deveria me importar com o que as pessoas pensam, mas é
difícil ser tão odiada por todos, especialmente quando sua metade
superior nua é exibida em todos os blogs...
— Sim, posso perguntar sobre isso?
— Sr. Lemor, — eu disse, e ela novamente ofegou.
— NÃO!
— Sim.
— Aquele filho da mãe, — ela rosnou. — Mas como?
— Eu não tenho ideia, — suspirei. Tinha pensado tanto sobre isso, mas
ainda não conseguia entender. — Foi tirada na academia da Gelsa. No
vestiário.
— Você foi até a polícia, certo?
— Brad me fez prometer que eu o deixaria lidar com isso. Na verdade,
agora eu deveria estar trancada na cobertura. Ter um paparazzi ou
qualquer um que fosse tirar uma foto minha lá fora neste momento só
pioraria as coisas. Para os Knight e para mim.
— Você está em quarentena?
— É para minha segurança.
— Você se ouve, Angie? Levante-se. Vista-se, — instruiu Em. — Estarei
lá fora em trinta.
— O quê?
— Você me ouviu. Ponha seu traseiro em algo bonito.
— Em, não é uma boa ideia. Não quero mais colunas de fofocas falando
de mim. Você pode simplesmente vir até aqui? Posso fazer biscoitos com
gotas de chocolate como costumávamos fazer...
— Angela. Você não precisa de um biscoito com gotas de chocolate.
Você precisa de um martini. Agora, repita depois de mim: Estou saindo da
quarentena.
— Estou saindo da quarentena, — eu disse, tentando parecer mais
convencida do que sentia. Mas se isso significava que a Em estava de volta
à minha vida, acho que eu ia beber o martini.
Em me pegou em um táxi, e aceleramos no centro da cidade.
Estávamos fazendo nosso caminho pelo distrito de Meatpacking quando
Em bateu no banco do passageiro na frente dela.
— Aqui, senhor! Descemos aqui!
Ela deu dinheiro ao motorista e me puxou para fora do carro.
Estávamos em frente ao Iceberg, o mais novo e mais quente clube da
cidade. A fila parecia ter um quilômetro de comprimento, e todos nela
estavam bem vestidos e bonitos.
Voltei-me para a Em.
— Não podemos entrar ali!!
— Não só podemos — ela sorriu para mim pecaminosamente — mas
iremos.
— Mas, Em! Olhe para eles. — Eu olhei para a linha, depois para minha
própria roupa.
Claro, eu estava com meu novo jeans, aqueles que Dustin dizia —
fizeram da minha bunda uma peça central, — mas isso não foi suficiente
para me aceitar nele.
Ela me agarrou pelos ombros e me olhou bem nos olhos.
— Angela, você precisa disso. Nós precisamos disso. Então pegue minha
mão e deixe-me usar seu novo sobrenome para nos levar para este clube.
Havia algo tão natural em seguir as instruções de Em, como se minha
mente tivesse acabado de rebobinar de volta ao ensino médio.
Ela sempre teve uma maneira de saber o que era melhor para mim,
mesmo quando parecia ser a decisão mais assustadora que eu poderia
tomar.
Assim que suas sobrancelhas se levantaram, esperando pela minha
aprovação, eu acenei rapidamente. E rapidamente, ela pegou minha mão e
nos levou, passando pelas pessoas bonitas, até a porta.

Xavier
Você teria pensado, nos dias de hoje, que as pessoas não estariam tão
interessadas em ver um par de peitos. Mas nas últimas vinte e quatro
horas, as únicas conversas que eu tinha ouvido eram orientadas, direta ou
indiretamente, em torno daqueles que pertenciam à minha esposa.
Os estampados por toda a Internet, os falados em todos os veículos de
imprensa, fofocas ou não.
Porque a imagem era real, e imagens reais não mentem.
Ao contrário dela.
Ela colocou aquele ato de "Tenho tanta classe", — aquele que faz você
sentir quase pena dela. Ela mencionou o nome de Harvard como se fosse
suficiente para justificar todas as merdas obscuras que ela fez. Como se só
porque ela tinha um diploma de primeira linha, ela pudesse lucrar em
qualquer círculo que lhe agradasse.
E fazer o inferno correr solto sobre o filho da mãe azarado a quem ela
estava destinada.
Então, sim, o trabalho hoje não foi grande coisa.
Nem mesmo meus colegas puderam evitar. Eles não paravam de me
perguntar se eu estava — a par — de diferentes situações. Um de meus
assistentes tentou se juntar a eles e eu o despedi.
Era melhor não testar um homem que tivesse que lidar com os nudes
vazados de sua esposa.
Quando falei com meu pai, ele disse que havia falado com Angela e ela
concordou com tudo, que ela não deveria falar com a imprensa, que
estaríamos tratando de tudo desde as RP até o jurídico. E que ela deveria
permanecer na cobertura até que a história morresse.
Enquanto o plano me incomodava ainda mais no início, pensando em
como eu encontraria a garota com mais frequência se ela estivesse fechada
dentro do condomínio do que se ela tivesse livre na cidade, percebi que
minha reputação tinha que vir acima do meu espaço pessoal.
Se ela me envergonhava em público ou desistia de um pouco de espaço
para respirar, a escolha era bem clara.
Marco abriu a porta do carro para mim na frente do meu prédio e eu
saí, passeando pelo saguão e entrando no elevador. Eu me perguntava se
eu deveria dar-lhe outra conversa severa, ou se meu pai tinha falado sobre
tudo.
Por que não? Eu pensei. Melhor tê-la assustada do que pensar que ela
poderia escapar com algo assim novamente.
Esse era o problema das mulheres. Mesmo aquelas que pareciam
confiáveis e normais sempre tinham algo na manga.
Era as que não se suspeitava que deveríamos suspeitar.
As portas se abriram, e eu entrei na cobertura.
— ANGELA! — Eu gritei. Não houve resposta. Caminhei direto para o
quarto dela, batendo na porta. — ANGELA, — gritei novamente, colocando
meu ouvido até a porta.
Mesmo se ela tivesse adormecido às nove da noite, não havia como ela
ter ficado dormindo durante o meu barulho.
— Ela saiu, — disse Lucille, correndo pelo corredor até mim.
— O quê? — Eu me enfureci, depois me senti mal por isso. Lucille não
merecia minha raiva. — Desculpe, mas... o quê?
— Ela saiu. — Lucille encolheu os ombros. — Você quer jantar?
— Não! — Então eu me peguei novamente com raiva. — Não, está tudo
bem. — E depois voltei a invadir o corredor para o elevador. Eu ia
encontrar minha esposa.

Xavier: ONDE VOC Ê EST Á ?

Xavier: VOC Ê DEVERIA ESTAR NA


COBERTURA!

Xavier: ISSO NÃO É PIADA!

Xavier: RESPONDA-ME!!!

Angela
Tirei o celular vibrando do bolso de trás e, vendo que era o Xavier, voltei a
colocá-lo lá. Eu estava me sentindo bem e não precisava que ele me
trouxesse de volta para baixo.
Tomei mais um gole do Jack e da Coca-Cola que a Em havia me dado,
surpresa com o quão doce era e como desceu suavemente.
— É tão bom! — Eu gritei para Em.
— O quê?, — perguntou ela, com a mão ao ouvido. Estava uma loucura
aqui dentro.
O DJ estava tocando algo chamado — trap music, — e a batida pulsava
por todo o clube. Nós estávamos na seção VIP.
Assim que Em mencionou meu sobrenome, o porteiro nos conduziu
até a área fechada no andar de cima. Tínhamos nosso próprio bar, nossos
próprios banheiros e até mesmo um — concierge, — caso precisássemos
de alguma coisa.
Voltei-me para Em misteriosamente quando a concierge disse que essa
última parte era para nós agora, e ela apenas me acenou indo embora.
— Não se preocupe com isso, — disse ela, de uma forma que me fez
pensar que ela estava se referindo a drogas ou outras coisas ilícitas.
Mas agora, em vez de me preocupar em me repetir novamente, eu
apenas tomei mais um gole da deliciosa bebida. Em estava dançando, seus
quadris balançando com o tempo ao ritmo da música.
Ela parecia não precisar de esforço, tão graciosa, e eu desejava poder
ser mais como ela. Mais no momento. Tomei outro gole, e outro, até que
nada mais saiu do canudo.
Eu olhei para o copo, percebendo que estava vazio.
Eu precisava de mais. Eu estava me sentindo bem pela primeira vez em
muito tempo, e não queria que isso acabasse.
— Eu vou... — Eu disse a Em, que estava indo até o bar, mas logo
depois, eu senti alguém agarrar minha cintura.
— Precisa de um refil?
Eu me virei para ver quem estava falando comigo, e tenho quase
certeza de que eu ofegava audivelmente.
Ele era lindo, como uma espécie de Hércules. Cabelos dourados, olhos
verde-esmeralda, alto e musculoso. Ele usava uma camisa branca debaixo
de um casaco preto, e carregava a confiança de alguém que sabia que se
parecia com um deus grego.
— Eu sou Carrey. Oliver Carrey, — ele disse enquanto beijava minha
bochecha.
Eu dei risadas.
— Eu sou Angela.
— Vamos?, — ele disse, e eu acenei com a cabeça, então ele amarrou
seu braço através do meu e me guiou até o bar. Eu olhei para Em, mas ela
ainda estava dançando.
Eu sorri, sentindo-me no momento pela primeira vez.
O rosto de Xavier me passou pela cabeça, mas eu o afastei com a
mesma rapidez.
Ele sempre foi tão mau pra mim. Tão cruel e desconfiado...
Eu estava aqui para me divertir depois de um dia estressante. O que
havia de errado com isso? Então e se eu falasse com um cara gostoso?
Senti sua mão descansar no meu pequeno dorso enquanto ele me
conduzia em direção ao bar. Eu olhei para ele e ele me mostrou um sorriso
brilhante.
E se isso não ficar só na conversa? uma pequena voz na minha cabeça
sussurrou.
Capítulo 17
Três é demais
Xavier
Ela não só estava ignorando a regra de ficar em casa, mas também estava
ignorando minhas mensagens. Foi preciso um maldito conhecido meu vê-la
no Iceberg para que eu descobrisse onde diabos ela estava.
Quando parei, senti-me como a porra do Hulk.
Fiquei surpreso que minha camisa Calvin Klein não tivesse rasgado.
Eu saltei do carro antes que Marco pudesse abrir a porta e subi até a
entrada, mal consegui esperar que o cara da porta abrisse antes de entrar
tempestuosamente.
Eu não estava interessado em perder mais tempo.
Subi as escadas até a seção VIP, onde uma socialite que mal conhecia,
uma não gostosa suficiente para transar, tinha me dito que minha esposa
estava aqui. Olhei à minha volta, tentando olhar na escuridão.
Eu odiava estar sóbrio em baladas. Era como se estivesse em um campo
de batalha sem adrenalina.
Você começa a questionar tudo.
Eu estava caminhando através de corpos contorcidos, empurrando
qualquer mão que tentasse me agarrar. Eu não estava aqui para socializar
— isso eu deixei claro. Então, uma garota de aparência familiar chamou
minha atenção, sentada em uma mesa com o que parecia ser um atleta
profissional.
Futebol, talvez. Ela tinha cabelos escuros com franja, pele pálida e o
que parecia ser um sorriso permanente em seu rosto.
Ela definitivamente tinha estado no primeiro banco no casamento.
Eu andei até a mesa e bati nela no ombro.
— Angela?, — eu perguntei.
— O quê?
— ANGELA!
Ela me ouviu daquela vez, e parecia que ela também me reconhecia. Ela
apenas rolou os olhos e encolheu os ombros e depois voltou para a
conversa com os jogadores de futebol.
Sacudi a cabeça e soltei um rosnado, mas a música afogou-o.
Eu continuei procurando. Continuei tecendo através de vestidos e
ternos, saltos altos e mocassins, até que me encontrei no bar. Eu estava
prestes a pedir uma bebida quando vi cabelos loiros pelo canto do olho.
Eu virei minha cabeça em direção a ela, e lá estava ela.
Minha amada esposa.
Rindo com outro homem.
Eu não poderia explicar a raiva a você se tentasse. Foi tudo consumido,
como uma traição. Não porque ela estava flertando com um homem, é
claro.
Eu não podia dar a mínima para o que esta garota fazia com outros
homens.
Eu não fiquei com ciúmes.
Não, foi uma questão de respeito. Era sobre ela não me envergonhar no
clube mais exclusivo da cidade, aquele em que ela não teria sido
autorizada a entrar se não tivesse jogado meu nome na porta.
— ANGELA.
Ela se virou imediatamente, seu rosto corado ficou pálido.
— Vamos, — eu disse, colocando seu copo quase vazio no balcão do bar
e agarrando seu ombro.
— Não, — ela chorou.
— Ei, cara. — O cara loiro colocou a mão no meu braço. — A garota
ainda não quer sair.
— Tire a porra mão de cima de mim, cara, — eu disse, quase esperando
que eu pudesse brigar.
Não, esqueça isso. Eu tinha que pensar em minha imagem. Voltei para
Angela.
— Nós estamos indo. Agora.
— Mas eu estou me divertindo, — disse ela, soando como uma maldita
criança.
Antes que ela pudesse dizer qualquer outra coisa para me irritar, eu
peguei sua mão e a agarrei o mais forte que pude sem machucá-la,
levando-a para fora da sala, descendo as escadas, e para a calçada.
— Mas... — ela começou.
— Entre, — eu disse, apontando para a porta que Marco lhe segurava
aberta.
— Não, — disse ela, seus braços cruzados. — Se eu tiver que ir, quero
andar.
— Você quer andar? Estamos em novembro.
— Eu não me importo, — disse ela. Eu não tinha ouvido este tipo de
desafio em sua voz antes. Não querendo fazer uma cena no meio do
Meatpacking, eu deixei fazer como quisesse.
— Tudo bem, — eu me passei. — Eu vou com você.
Ela foi para a rua e eu tive que persegui-la. Quando chegamos à 32ª,
ainda não tínhamos trocado uma palavra.
E seus olhos não paravam de se fechar. Parecia que ela ia adormecer no
meio do caminho.

Xavier: 33 ª e 6 ª

Marco: A caminho

Marco subiu a 6ª Avenida com um timing perfeito, e assim que vi o carro,


deslizei para dentro.
Estávamos andando em silêncio no carro há alguns minutos quando ela
olhou para mim.
— Por que você é tão ruim comigo?, — perguntou ela, com uma voz
que parecia tão genuína que me pegou desprevenido.
— O quê?
— Por que você é tão ruim comigo? — ela repetiu. Não foi uma
pergunta que ela quis dizer como um insulto. Ela só queria saber.
Olhei para a mulher sentada ao meu lado e ela não se parecia com o
tipo de garota que eu imaginava que ela fosse.
Ela parecia jovem, e inocente, como se ainda não tivesse visto muito do
mundo.
Eu me vi amolecendo. Talvez fosse porque ela estava bêbada e não se
lembraria de nada amanhã, ou talvez fosse porque dizer isso em voz alta
fosse na verdade um pouco terapêutico.
Mas, em ambos os casos, eu lhe dei uma resposta.
— Eu não confio nas pessoas.
— Por quê?
— Já confiei no passado. E acaba sempre... sendo um erro.
— Você não merece isso, — disse ela, suas palavras tão docemente
simples.
— Eu teria me entregado a ela, — eu disse. Eu olhava para frente,
deixando a verdade emergir. — Eu teria dado tudo a ela. Mas ela... ela
tinha outras ideias.
Depois senti uma mão fria cobrindo a minha no assento. Eu vacilei,
olhando para baixo e vendo a mão da minha esposa. Quando olhei para o
rosto dela, vi o olhar dela pela janela.
Era como se ela soubesse me dar espaço, me deixar ter um momento
para mim mesmo.
Quando chegamos ao prédio, eu mesmo acenei para Marco e a ajudei a
sair do carro. Ela tinha ficado de alguma forma mais bêbada desde que
saímos do clube, e estava tropeçando por todo o lado.
Em vez de esperar que ela caísse, decidi tomar o assunto em minhas
próprias mãos e a colocar meus braços. Eu a carreguei como uma criança
pelo saguão e a sentei no banco quando estávamos no elevador.
Quando as portas se abriram, eu a levantei novamente e a acompanhei
até seu quarto, abrindo a porta e deixando-a cair sobre a cama. Ela estava
acabada, com seus olhos fechados e sua boca ligeiramente entreaberta.
Ela parecia pacífica, e eu não queria acordá-la. Se ela acordar, alguém
vai ter que lidar com o vômito dela.
Então a deixei assim, cabeça no travesseiro, sapatos ainda calçados, e
fui servir-me de uma maldita bebida.

Angela
Acordei com um susto, ouvindo os pássaros cantando bem do lado de fora
da minha janela. Minha cabeça estava doendo.
Que horas eram?
Por que a janela estava aberta?
Por que parecia que eu estava usando sapatos?
Abri os olhos lentamente, piscando diante da luz que preenchia minha
visão. Depois de um momento de ajuste, inclinei lentamente a cabeça para
baixo até olhar para o meu corpo.
Parecia que eu ainda estava, de fato, usando meus sapatos. E meus
jeans, minha camisa e meu blazer, com provavelmente a cara ainda cheia
de maquiagem.
Ah. Estava me lembrando de tudo.
Em e eu no Iceberg. Os coquetéis doces, doces. O homem
misteriosamente lindo...
E Xavier. Ele vindo me encontrar, ordenando-me que saísse do clube.
Permitindo-me andar e, quando eu não podia mais andar, pedindo a Marco
para nos buscar.
A maneira como ele olhou para mim no carro, como se estivesse
realmente me vendo pela primeira vez. E a maneira como ele falava sobre
a mulher que o machucara.
Ele foi tão honesto, tão ele mesmo. Eu não me lembrava muito depois
disso, mas de alguma forma tinha chegado à minha cama sã e salva.
Supondo que eu não tivesse chegado aqui sozinha, o que era mais que
provável, dado o quão intoxicada eu estava — o que era um problema
totalmente diferente — o Xavier tinha me colocado na cama e me deixado
vestida.
Tenho certeza que se ele quisesse, ele poderia ter tentado... ou feito...
seu pior, como se eu fosse uma de suas outras garotas.
Mas ele não o fez. Parecia que eu estava vendo um lado diferente de
Xavier, o lado que Brad tinha me prometido que existia.
Saí da cama e, ouvindo vozes no salão, abri minha porta. Eu estava
andando pelo corredor com a intenção de agradecer a Xavier quando ele
ouviu meus passos e se virou. Ele estava fumegando.
— ... E VOCÊ! — ele gritou, e eu instintivamente cobri meus ouvidos.
Isso foi muito mais alto do que minha ressaca poderia suportar. — Você me
fez correr como uma BABÁ a noite toda! NÃO é meu trabalho cuidar de
você.
— Eu só vim pra dizer obrigada, — eu saí com parcimônia. Isso não
ajudou. Marco, que tinha sido o destinatário de seus gritos antes de eu
entrar na sala, apenas olhou para seus pés.
— Eu não preciso do seu OBRIGADO! PRECISO QUE MINHA
ESPOSA NÃO CORRA PELA CIDADE DE NOVA IORQUE ME
ENVERGONHANDO A CADA DIA. O que há de tão complicado nisso?
Eu estava tremendo agora, disposta a não chorar.
Eu estava errada.
Eu sabia exatamente quem era Xavier.
Eu estava olhando em frente, tentando não olhar diretamente para ele,
quando ele se aproximou de mim. Desta vez ele falou a um volume normal,
com uma voz mais suave: — Não basta que você leve meu dinheiro e meu
nome? Você precisa pegar minha imagem e pisar nela também?
Havia tanto veneno em sua voz que pensei que poderia realmente me
envenenar. Então eu corri para o elevador, empurrando meus soluços até
que as portas se fechassem atrás de mim e eu pudesse chorar em paz.
Quando elas abriram novamente no lobby, limpei minhas bochechas
molhadas e me apressei a passar. Então eu estava do lado de fora, na
calçada, e comecei a andar.
Encontrei-me do lado de fora da porta da cafeteria de Dustin, abrindo-a
antes que eu pudesse me convencer a não fazê-lo. Estava vazia, como
sempre.
Quando Dustin me viu, sua expressão ficou sombria.
— Eu pensei que você não podia falar com pessoas como eu, — ele
disse.
— Dustin, não se tratava de você. Foi porque a esposa do colega de
Xavier me viu fazendo compras com outro homem, e em seu estranho
círculo de elite, isso é ruim. Desculpe-me, está bem? Mas não se tratava de
você. Era sobre me castigar. Levar meu único amigo embora.
Ele amoleceu e me olhou com um olhar sério.
— Sabe, quando você entrou na loja pela primeira vez, eu sabia quem
você era. E eu não me importava em ser seu amigo. Só pensei que ficar
perto de você me daria alguma... publicidade.
A cor em meu rosto sumiu.
— Publicidade?
Ele olhou para baixo.
— Não estou orgulhoso disso. Mas eu pensei que qualquer uma que
seja casada com Xavier Knight tem que ser uma cretina. Então, o que há de
errado em usar alguém que o mereça? Mas então...
— Você estava tentando me usar por causa do meu sobrenome? —
Xavier estava certo.
— Logo no início, sim. Mas isso mudou! Acredite, eu não dei a mínima
para a publicidade quando estávamos realmente andando juntos. Bem,
isso é uma mentira. É claro que eu me importava com a publicidade. Mas
sua amizade era mais importante para mim...
Minha mente estava em colapso.
— Dustin, pare. Publicidade para quê?
— Minha arte, — ele disse calmamente. Nunca o havia ouvido dizer
uma palavra tão silenciosamente.
— Sua arte?
— Eu sou um artista. Um em dificuldades, é por isso que trabalho aqui.
Eu não queria magoar ninguém, principalmente você. Apenas pensei... as
pessoas querem saber o que a esposa de Xavier Knight está fazendo. Com
quem ela está andando. Então, se me vissem, estariam interessados em ver
meu trabalho.
Eu olhei para Dustin. Eu sabia o que era convencer-se a usar alguém
para um bem maior.
E ele estava sendo honesto comigo agora. Seus olhos pareciam
genuínos. E ajudar as pessoas sempre me dava um golpe de endorfina.
— Se você tivesse me dito isso no início, eu o teria ajudado.
— Eu sei disso agora, — ele disse. — Mas antes eu pensava que você
era apenas mais uma louca por dinheiro. Sem ofensa.
— Me mostra.
— Te mostrar o quê?
— Sua arte.
Dustin puxou seu celular e mexeu nele até encontrar um quadro que
ele pintou. Era bom. Bom o suficiente para que eu abrisse a boca antes que
eu pudesse pensar bem nas palavras.
— Se você me prometer que não mente mais, então eu o ajudarei.
— Você está falando sério?, — perguntou ele, chocado. Eu acenei antes
de ter tempo de considerar como poderia ajudar, ou se era a coisa
inteligente a fazer.
Antes que o rosto de Xavier enchesse minha mente e eu soubesse que
teria outra pessoa a quem responder.

Eu estava voltando para a cobertura quando meu telefone tocou. Era o


Brad.
— Olá?
— Oi, Angela, querida. Há algo que eu gostaria de falar com você. Você
pode me encontrar no Plaza?
— Claro que sim, — eu disse. Pelo menos agora eu sabia que o Plaza
não era uma praça na verdade. — Sobre o que seria?
É
— É sobre o Sr. Lemor, — disse Brad, com sua voz fria.
Meu sangue se transformou em gelo.
— Temos uma maneira de derrubá-lo, — prosseguiu Brad. — E
precisamos de sua ajuda.
Capítulo 18
Planejando o Futuro
Angela
Cheguei ao Plaza, sentindo-me mais do que um pouco nervosa.
Do que o Brad estava falando? Poderíamos realmente deter o Sr.
Lemor?
Desta vez eu não precisei da ajuda do concierge para encontrar a sala
de jantar, nem ele me impediu antes que eu mesmo pudesse chegar lá.
Andei pela sala, sorrindo educadamente para as senhoras e senhores — e
eles eram senhoras e senhores — que eu passei no caminho.
Quando cheguei à mesa do Brad, ele estava de pé.
— Oi, querida, — ele disse, e caminhou para beijar minha bochecha.
— Oi, Brad, — eu disse, na verdade me sentindo um pouco mais à
vontade em sua presença.
— Sente-se, por favor. — Sentei-me na cadeira em frente a ele.
Eu suspirei.
Aqui vamos nós.
— Então, sobre o que você disse ao telefone... — Eu comecei.
— O Sr. Lemor não vai fazer mais nada, Angela, não se preocupe. Bem...
ele não será alguém com quem você precisará se preocupar depois de
hoje.
Eu havia contado tudo sobre o Sr. Lemor no carro do lado de fora de seu
escritório, logo após o vazamento da foto. Eu havia contado a ele sobre os
onze meses e meio cansativos que eu havia passado trabalhando para ele,
como ele me perseguia e me ameaçava até eu não aguentar mais.
Brad prometeu que faria tudo o que pudesse para detê-lo. Eu só não
acreditava que isso pudesse acontecer tão rápido.
— O que você quer dizer? — eu perguntei.
— Minha equipe elaborou um pequeno plano para garantir que seja
feita justiça. Lemor vai se comportar da maneira como tem se comportado
continuamente, mas desta vez ele será pego. E o Departamento de Justiça
de Nova Iorque terá algo a dizer sobre as consequências.
— Eu não estou... eu não estou entendendo, — eu disse, assim que um
garçom trouxe sanduíches e scones pequenos e outro serviu champagne e
chá para nós.
— Encontramos uma mulher que também trabalhou perto de Lemor,
uma mulher que foi submetida ao mesmo assédio que você mesmo
conheceu. Ela está disposta a nos ajudar, — explicou ele.
— Dessa forma, quando a história se desenrolar, você estará longe dela.
Uma nota lateral distante, não a heroína principal.
— Quem é ela? — Eu sussurrei.
— Receio não poder lhe dizer isso, — ele disse, mordendo um bolinho
de semente de papoula e de limão. Havia um pouco de farelo em seu lábio
superior.
— Prometemos à jovem o anonimato, para nosso melhor controle da
situação. Ela estará em um de meus hotéis esta noite, o hotel que Lemor
frequenta. Ele vai vê-la no bar e... bem, como dizem, o resto será história.
— Como... como você vai pegá-lo?
— Mandei instalar câmeras, — ele disse, lavando o scone com um gole
de champagne.
Minha mente estava andando em círculos. Era como algo fora de um
filme de James Bond.
— Eu quero ver, — eu disse. Não podia acreditar que tive a coragem de
falar com tanta certeza, ao Brad Knight no Hotel Plaza, nada menos que
isso.
Mas eu precisava ver o homem que me atormentava cair.
— Você pode lidar com isso? — Ele olhou para mim, com ar de figura
paterna. Eu sabia o que meu próprio pai diria — nunca. Eu era delicada
demais para ver algo assim.
Mas, no fundo, eu sabia que isso não era verdade. Eu podia lidar com
isso. Eu precisava lidar com isso. Ver Lemor ser pego era a única maneira
que eu tinha para poder seguir em frente superar o que ele me fazia
passar. Era agora ou nunca.
Então tomei um gole de champanhe, sentindo imediatamente um
zumbido de confiança na minha mente.
E quando olhei para Brad Knight, o homem mais poderoso de Nova
Iorque, disse com minha voz mais confiante:
— Sim.

Brad
Brad: 19h00.

Brad: Quarto 913.

Desconhecido: Estive pensando...

Desconhecido: N ã o tenho certeza se esta é uma boa ideia.

Brad: Pense nas outras mulheres. Se voc ê


n ã o o impedir, mais se machucar ã o.
Brad: Homens como este não param a
menos que sejam for ç ados a isso. Agora
voc ê tem o poder.

Desconhecido: Voc ê est á certo...

Desconhecido: Vamos acabar com isso.

Eu não tinha certeza de que trazer Angela junto era a coisa certa a fazer. Eu
podia notar que ela era uma jovem sensível, e este homem a havia
humilhado e depreciado por um período substancial de tempo.
Eu mesmo queria matar o desgraçado, mas a Diretoria não teria
gostado disso.
A jovem que havia concordado em nos ajudar veio até nós através de
uma de minhas assistentes, que havia encontrado suas queixas contra
Lemor apresentadas ao departamento de RH da Gelsa há dois anos. Elas
haviam sido varridas para debaixo do tapete, é claro.
— Revisado e dispensado, — em termos técnicos. Mas ela ainda estava
trabalhando para a Gelsa como freelancer, e ainda que ela não estivesse
mais no prédio com Lemor diariamente, eu tinha certeza de que ele ainda
a atormentava.
Eu mesmo me aproximei da mulher e, expliquei a situação, que outra
mulher, querida por mim, havia sido afetada pelo mesmo homem das
mesmas maneiras e ele não hesitaria em arruinar outras vidas se não fosse
parado.
Eu queria lhe oferecer algo mais, algo como dinheiro, mas sabia que
isso não seria bom em um tribunal quando o filho da puta for julgado.
Então, em vez disso, brinquei com o coração dela e funcionou. Como
qualquer pessoa humana com consciência, a mulher tinha concordado em
parar o monstro que a tinha abusado, e outras depois dela.
Eu lhe disse para vir ao hotel às sete da tarde para uma suíte e lhe dei
todo o tratamento real. Cabelos, maquiagem, até mesmo uma massagem
para acalmar seus nervos. Parecia o mínimo que eu podia fazer.
Quando entrei na suíte uma hora e meia depois, tive que admitir que a
jovem parecia radiante. O vestido que o estilista havia escolhido era
perfeito.
Era sedutor em sua sofisticação, e eu sabia que o maldito não teria
nenhuma chance.
— Você pode fazer isso, — eu lhe disse junto à porta. — Você é a
diferença entre ele se safar com suas ações e ter que pagar.
Ela acenou para mim, parecendo calma e recolhida.
— Eu sei. Eu dou conta.
Coloquei uma mão no ombro dela e a beijei na bochecha.
— Estou orgulhoso de você, — eu disse. — Obrigado.
Ela acenou para mim, depois abriu a porta e caminhou pelo corredor,
prestes a enfrentar o que certamente seria a noite mais assustadora de sua
vida.

Angela
Brad tinha me dito para encontrá-lo no quarto 913 às oito e quarenta e
cinco, mas eu estava tão ansiosa que cheguei ao Hotel Tribeca uma hora
mais cedo e andei em círculos em torno dele. Era o hotel onde eu tinha me
casado, mas nesta noite, eu estava nervosa por estar lá por uma outra
razão.
Finalmente, às oito e trinta e cinco, eu me deixei entrar no lobby.
Caminhei até o banco do elevador, tentando casualmente espreitar o bar
do hotel à minha esquerda. Mas eu não vi nenhum rosto familiar.
Eu andei de elevador até o nono andar e caminhei até o quarto. Bati à
porta, e ela se abriu na segunda batida.
— Você está pronta? — perguntou Brad. Eu acenei rapidamente, e ele
me deixou entrar.
Lá dentro, havia um burburinho de atividade. A suíte se encaixava
confortavelmente em todas as telas montadas para exibir ângulos
diferentes de dois lugares: o bar do hotel e um quarto de hotel vazio.
Atrás das telas estavam três homens, cada um vestindo preto e usando
um fone de ouvido. Um sentado estava atrás de um laptop, onde parecia
que tinha algum tipo de controle de áudio. Agora parecia mesmo um filme
de James Bond.
— Eles são policiais? — perguntei tranquilamente ao Brad.
Ele apenas balançou a cabeça.
— Minha equipe de segurança, — explicou ele. — Eles também fazem
trabalho de informação.
Eu acenei novamente, sem palavras. Não podia acreditar que ele tinha
feito tudo isso por mim, para destruir o homem que tinha se esforçado
tanto para me destruir.
— Obrigada, — eu disse com sinceridade. Ele pegou minha mão na
dele, e eu pude ver a suavidade em seus olhos.
— Estamos prontos, — um dos homens de preto, gritou para o quarto.
Os olhos de todos estavam focados em uma das telas, onde uma
mulher de vestido preto tinha acabado de sentar-se no bar. O barman foi
até ela, e ela disse algo que não podíamos ouvir.
Poucos momentos depois, ele lhe trouxe um martini.
— Não se preocupe, ela não está bebendo, — disseme Brad. — Ela e o
barman sabem que ela só vai beber bebidas sem álcool esta noite.
Inteligente, eu pensei. Fiquei surpreso com o quanto pensava sobre
isso. Movi meus olhos em direção a todas as telas, tentando encontrar uma
que mostrasse seu rosto. Mas tudo o que vi foram suas costas e seus
cabelos castanhos encaracolados.
— Aqui vamos nós! — Um homem diferente de preto gritou, e todos os
olhos voltaram novamente para a tela.
E meu coração parou. Lá estava ele.
Sr. Lemor, todo o um metro e setenta dele, vestido com um terno que
fez o seu melhor para esconder sua figura. Ele andava com o queixo tão
alto que sempre me perguntei como ele não tropeçava.
E ele estava indo numa linha reta até onde a mulher misteriosa se
sentava.
Eu estremeci, pensando no medo que ela devia estar suportando, o
medo que estávamos observando na câmera. Não me pareceu justo.
— Mas não conseguimos ouvir nada, — disse a Brad, meus olhos
colaram na tela quando Lemor tocou o ombro da mulher e sorriu.
— Podemos, — ele disse, movendo-se para o fone de ouvido escondido
em seu ouvido direito. Eu era a única que estava sem um na sala. — Achei
melhor que não ouvisse a voz dele.
— Eu quero ouvir.
As sobrancelhas de Brad subiram novamente.
— Eu não quero que você reviva...
— Não. Eu preciso ver e ouvir tudo. Se ela está passando por isso, eu
não quero que ela fique sozinha.
Depois de um segundo, ele acenou com a cabeça. Ele caminhou até a
mesa e pegou outro fone de ouvido, ajudando-me a colocá-lo. E então ele
apertou o botão ON.
Instantaneamente ouvi o zumbido no bar. Mas tudo isso desapareceu
quando ouvi as primeiras palavras de Lemor.
— Você se importa se eu me juntar a você?
Ele fez a pergunta como se a mulher dizer que não seria o necessário
para que ele se afastasse. Mas eu o conhecia. Ele nunca simplesmente se
afastou.
— Claro, — disse ela, e eu fiquei imediatamente impressionada com o
quanto ela me parecia familiar.
— Esse é um vestido e tanto, — disse Lemor, e eu o vi levantar um
pedaço do cabelo da mulher de seu ombro. Observei o corpo inteiro dela
tenso e o sorriso tomou o rosto dele.
E naquele momento, ela se virou para o lado, para ver se alguém no bar
havia notado sua ousadia. A câmera captou uma imagem clara de seu
rosto, e sua respiração se prendeu.
Sua voz parecia familiar porque ela era familiar.
Era Betty, a mulher que me encontrou para tomar café, que me avisou
sobre a interferência de Lemor em minha vida.
Minha boca secou enquanto me imaginava em sua posição. Ela foi tão
corajosa. Tão forte. E tudo o que eu estava fazendo era sentar-me aqui,
vendo como Brad e Betty faziam tudo isso.
Deve haver algo que eu possa fazer para ajudar...
Capítulo 19
Um brinde à vingança
Brad
Eu estava preocupado com ela. Com as coisas que ela estava
testemunhando, as coisas das quais eu não conseguia protegê-la. Ela era
forte e eu não tinha dúvidas sobre isso.
Você tinha que ser forte depois de passar pelo que ela tinha passado.
Mas Angela, ela era uma guerreira. A maneira como ela lidou com tudo,
a maneira como ela estava tão concentrada em garantir o sucesso da
batalha que ela não se preocupou consigo mesma.
Então foi por isso que o fiz.
Estávamos vendo o desgraçado flertar com Betty, a jovem que havia
concordado em ajudar, quando dei uma olhada em Angela. Ela estava
pálida como um fantasma, seus olhos mais largos do que eu jamais os vi.
Ela não estava piscando, não estava se movendo. Então eu a ajudei a
sentar em uma cadeira, em algum lugar ela ainda teria uma linha de visão
direta para as telas.
Eu sabia que ela iria resistir se eu lhe pedisse para desviar o olhar.
Eu lhe trouxe uma garrafa de água, mas ela foi ignorada. Ela estava
seguindo em frente e eu não pude deixar de me sentir responsável.
Mas, novamente, eu sabia que se fosse eu, eu gostaria de vê-lo. Tudo
isso.
Eu não conseguiria superar a questão para seguir em frente de outra
forma.
— Posso lhe arranjar outro? — Lemor perguntou à jovem mulher,
sinalizando para o barman.
— Claro, — disse Betty, e até meus velhos ouvidos podiam dizer que
sua voz estava cheia de nervosismo.
O barman fez as bebidas e, por uma fração de segundo, tive medo que
Lemor o visse despejar água tônica no martini da Betty em vez de vodca,
mas ele tinha tanta atenção no peito dela que não olhou para mais nada.
— Devo dizer que estou agradavelmente surpreendido com sua
simpatia esta noite, Sra. Watson.
— Me chame de Betty, — ela respondeu. Eu olhei para Angela, que
encolheu. Embora toda a situação fosse difícil de ser observada, só ela
podia realmente compreender a magnitude da dor.
— Muito bem, então, Betty. Um brinde, — ele disse, levantando seu
copo cheio. Ela fez o mesmo com seu segundo martini.
— A novas amizades, — ele disse, e eu queria esmurrar o desgraçado
através da tela. Ela sorriu com um sorriso esticado, e eles tocaram os
copos.
Logo depois, Angela olhou para mim, e parecia uma criança.
— Talvez você estivesse certo, — disse ela. — Talvez isso seja muito
difícil.
Tomei um assento ao lado dela, e sabendo que tudo o que podia fazer
era contar a verdade, comecei a falar.

Angela
Depois que o Lemor e a Betty brindaram, eu podia sentir meu estômago se
agitando. Eu não sabia se ia vomitar ou desmaiar, mas parecia que ia ser
definitivamente um dos dois.
E depois tive que me lembrar que esta era a parte mais fácil. O
verdadeiro problema ainda nem sequer havia começado.
Virei-me para encontrar Brad ao meu lado. Quando ele chegou à mesa?
Eu estava tão concentrada nas telas que não tinha ideia do que estava
acontecendo ao meu redor.
No segundo momento em que sentiu meu olhar sobre ele, ele se virou,
e vendo como estava ansioso para me ajudar, para tornar tudo isso melhor,
isso me fez sentir ainda mais.
— Talvez você estivesse certo. Talvez isso seja muito difícil, — eu disse.
— E isso é apenas o começo.
Esse era o pensamento que não me escaparia, que eu teria que
observar aquele monstro na outra tela, a que gravava o quarto do hotel,
não o bar do hotel. Eu teria que vê-lo fazer o que ele nunca tentou comigo.
Eu era uma garota crescida e sabia o que estava por vir. Mas a ideia era
suficiente para me fazer correr para fora do hotel.
Claro, eu já sabia no que estava me metendo. Mas vendo isso em ação,
vendo Betty, aquela que tinha me ajudado, colocar-se nesta situação...
Eu não tinha certeza se tinha em mim o necessário para lidar com isso.
Tirei o fone de ouvido da orelha, colocando-o sobre a mesa. Brad tinha
tomado um lugar ao meu lado, e agora ele olhava para mim, algo entre a
pena e a firmeza cambiando em seu rosto.
— Eu não vou mentir para você, — ele disse. — Não vai ser bonito. E
você pode sair desta sala a qualquer momento, sabendo que Lemor nunca
mais será uma ameaça para você.
Ele colocou uma mão em cima da minha, e seu calor escorreu através
de mim, de alguma forma me acalmando.
— Mas se fosse eu, e este fosse meu pesadelo, eu ficaria. Eu ficaria e
veria o filho da puta se incriminando na câmera, para ter certeza de que eu
tinha algo em minha mente para reproduzir que não fosse ele ganhando.
Eu gostaria de vê-lo cair.
As palavras de Brad afundaram em mim, e eu sabia que ele estava
certo. Eu precisava me sentir capacitada, apenas uma vez, quando se
tratava de Lemor.
E sentada aqui nesta suíte, observando cada movimento dele, sabendo
de algo que ele não sabia, era fortalecedor.
Com um aceno lento, voltei a colocar o fone no meu ouvido. Você pode
fazer isso, eu disse a mim mesma.
Após sua quarta bebida, Lemor fez a pergunta.
— Você gostaria de subir as escadas? Eu tenho uma reserva
permanente neste hotel todos os fins de semana. Os dias de semana em
Jersey são o suficiente para mim.
Betty riu, e quase pareceu genuína. Fiquei impressionada com o
desempenho dela. Se tivesse sido eu, já teria me acovardado há muito
tempo.
— Eu também tenho um quarto aqui, — disse ela, — uma pequena
estadia.
— Oh, adorável! — ele disse, claramente um pouco mais do que
bêbado. Ele pediu a conta ao barman e ofereceu seu cartão.
Quando o barman o levou, ele disse:
— Traga isso para minha suíte, hein, garoto? Não há tempo para
esperar por ela agora.
E então ele ajudou a Betty a sair de seu banco, não fazendo nenhuma
tentativa de esconder o fato de que ele a estava sondando.
Eles deixaram o bar juntos, e nós os vimos andando até o banco do
elevador. Durante um minuto e meio eles estiveram no elevador e
caminhando até seu quarto de hotel, não pudemos vê-los ou ouvi-los.
Aquele minuto e meio me enlouqueceu. E se ele lhe fez alguma coisa? E
se nós não o pegamos? E se chegássemos tarde demais?
Mas então eles estavam abrindo a porta do quarto do hotel.
— AQUI Vamos! — Um dos homens de preto gritou, e eu suspirei. Nós
estávamos de volta.
Lemor abriu a geladeira do frigobar e abriu uma garrafa de champagne
enquanto Betty olhava nervosamente em volta do quarto. Ela aceitou uma
taça de champanhe, eles brindaram novamente, e eu tive que me lembrar
de respirar.
— Sabe, Betty, você é sempre bem-vinda a voltar para a equipe Gelsa
para sempre, em tempo integral. Sinto saudades de tê-la por perto no
escritório. Vê-la andando pelo corredor... — ele disse, dirigindo seus
comentários aos seios dela.
— Na verdade, eu adoraria ter você trabalhando na minha equipe, sob
minhas ordens, diretamente. —
— Qual é sua proposta exatamente? — ela perguntou, inclinando-se
para mais perto dele.
Eu tive que engolir a bílis na garganta. Eu não tinha ideia de como ela
estava se mantendo tão firme.
— Bem, podemos arranjar algo, tenho certeza. Se você me faz feliz, eu
posso fazer você muito, muito feliz. Tudo o que eu disser na Gelsa é ordem,
minha querida. Está na hora de você deixar Curixon.
Ele rodou um pedaço de cabelo dela em torno de seu dedo, o rosto
dele a poucos centímetros do dela.
— Se você me fizer companhia, farei com que você tenha um papel real
na Gelsa. Acabou-se o trabalho de assistente. Vamos colocá-la na gerência.
— Então, se eu dormir com você... você me recrutará para a gerência?
Isso é mais do que um salário de seis dígitos.
— E você mereceria cada centavo disso.
— É isso aí, rapazes! — outro homem de preto gritou, e dois deles
correram para a porta.
— Mexam-se, mexam-se, mexam-se. — Então eles estavam fora da
suíte, e eu esperava que eles chegassem a tempo.
— E daí? — Lemor lhe perguntou, baixando ainda mais o rosto. Ela
estava visivelmente tremendo agora, isso eu podia notar.
Eu pude ver o champanhe em sua mão dançando dentro do copo.
— Apresse-se, — eu sussurrei, desejando que os homens já chegassem
lá.
— Então... — Betty respondeu, tão baixo que eu mal consegui ouvir.
E então ele a beijou, sua taça de champanhe caiu no chão enquanto ele
a empurrava de volta para a cama, empurrando-a. Eu joguei meu fone de
ouvido no chão e empurrei minha cadeira para longe da mesa.
— NÃO! — Eu gritei, sentindo as lágrimas e o vômito vindo. Brad
colocou uma mão no meu ombro.
— Está tudo bem, Angela, está tudo bem...
Mas eu simplesmente o empurrei. Eu não podia acreditar. Lemor estava
em cima dela, tocando-a, e ela não conseguia empurrá-lo...
— Veja! — Brad disse, apontando para a tela.
Limpei meus olhos e olhei. Lá estavam eles, batendo na sala e
arrancando Lemor de cima dela. Ele foi jogado no chão por um, enquanto o
outro ajudava Betty a correr para fora da sala.
Minha respiração estava por toda parte, e Brad estendeu a garrafa de
água para mim.
— Está feito, — ele disse enquanto eu bebia um gole.
— Está tudo acabado. Vamos mantê-lo em uma sala separada até a
chegada da polícia. Teremos as fitas prontas.
— Para onde ela vai agora? — perguntei entre as respirações ofegantes.
— Casa, — disse Brad. — Todos nós podemos ir para casa. Pensei
na cobertura. Nunca havia parecido tão segura.

Acordei no sábado de manhã com um barulho de batida. No meu passeio


de carro de Tribeca para casa ontem à noite, não consegui parar de pensar
na força da Betty. Como ela havia perseverado em uma situação tão difícil.
Foi inspirador.
Eu queria sentir esse tipo de força. A última vez que senti isso foi
quando fiz minha entrevista com o Sr. Kinfold, quando tive a certeza de que
minhas qualificações me tornariam a pessoa certa para o trabalho.
Mas desde minha rejeição, e com tudo o que havia acontecido com
meu pai e os Knight, me faltava essa sensação de certeza. Eu não me sentia
no controle de nada.
Perdi a sensação de ter um emprego em que sabia que seria bom. Um
emprego que me fez sentir produtiva, como se eu pudesse fazer a
diferença.
Com Lemor não sendo mais uma ameaça, eu poderia começar a tentar
novamente, de verdade, sem medo do que ele poderia fazer. O
pensamento me fez sorrir, mesmo que minhas mãos ainda tremessem
intensamente de tudo o que eu tinha observado no quarto do hotel.
Quando voltei à cobertura, estava exausta e adormeci quase
imediatamente. E se não fosse por este baque, aposto que poderia ter
dormido ainda mais tempo.
Eu não me dei ao trabalho de trocar meu pijama enquanto saía da sala.
Xavier normalmente não acordava até a tarde de sábado. Pensei que a
batida estava vindo da cozinha, mas ao me aproximar da porta do quarto
do Xavier, percebi que estava meio aberta.
E antes que eu pudesse me deter, eu tinha dado um passo muito
grande — e tinha uma linha clara de visão para o quarto de Xavier. Onde
ele estava intimamente enredado não com uma, mas com duas mulheres.
Meu suspiro saiu antes que eu pudesse pará-lo, e foi suficientemente
alto para a atenção dos três. Eu nunca havia sentido o calor subir tão
rapidamente até minhas bochechas.
Eles estavam todos... tão nus. E assim emaranhados, como chicletes em
cabelos encaracolados.
— Sinto muito! Desculpe, — eu gaguejei, mas Xavier apenas riu. E as
mulheres se juntaram a ele.
— Venha, querida, junte-se a nós! Está quente aqui dentro, — ele disse,
tão humilhante como sempre. As mulheres continuavam rindo. Fui
humilhada.
— Essa é minha esposa, — ouvi-o dizer enquanto corria de volta ao
meu quarto.

Angela: Eu preciso de voc ê

Angela: Em

Angela: Em????

Em não estava respondendo, mas eu precisava de alguém a quem


desabafar. E rápido. Vesti o primeiro jeans e blusa que pude encontrar e
corri do meu quarto para o elevador, mais rápido do que jamais havia
corrido antes.
Eu não abri meus olhos para além de um estreito olhar até que as
portas se fecharam.
Quando cheguei à floricultura da Em, o belo arranjo de flores fora da
vitrine me distraiu da cena que tinha acabado de suportar na cobertura. A
Em tinha organizado prateleiras de lindas plantas em vasos, com um par de
plantas em vasos maiores em ambos os lados da porta.
As flores eram coloridas e em plena floração, e tudo parecia perfeito.
Ao contrário do meu casamento.
Fiquei de tal forma presa em minha própria mente que abri a porta sem
me perguntar por que ela estava fechada. Em nunca fechou a porta da loja
durante o horário comercial.
— Você nunca vai adivinhar o que Xavier acabou de fazer com... — Mas
eu me afastei quando percebi o que estava acontecendo. Em estava
sentada no balcão, curtindo com um homem que estava entre as pernas
dela.
Eu estava prestes a balbuciar um pedido de desculpas e corri de volta
para fora quando o homem se virou para ver quem estava falando. E foi
quando eu vi o rosto do homem. Era Lucas.
Meu irmão Lucas.
Meu irmão Lucas se agarrando com minha melhor amiga.

Capítulo 20
Qualquer coisa por você
Angela
— ... e eu entrei e ela estava no balcão, pegando MEU IRMÃO!
— NÃO! — Dustin estava extasiado, com olhos tão abertos quanto os
meus.
— Eu sei, — eu disse, querendo contar a ele o que eu tinha visto com
Xavier também, mas sabendo que não podia. Dustin ainda pensava que
Xavier e eu nos amávamos.
Estivemos no SoHo 149, uma das galerias mais exclusivas da cidade,
montando para a exposição de Dustin naquela noite. Eu estava ajudando-o
a descarregar os quadros da van alugada e revelando o que eu tinha visto
entre Em e Lucas no dia anterior.
— O que eles disseram a você?
— Nada! — Eu mesma exclamei, ainda não acreditava muito em tudo
isso.
Minha melhor amiga e meu irmão. Há quanto tempo eles mentiam
sobre isso? Eles estavam se pegando no meu casamento? Na minha
formatura na faculdade?
Parecia uma traição clichê.
— Fiquei tão chocada que acabei por sair correndo.
— Eles tentaram ligar para você?
— Em me ligou, umas seis vezes. E Lucas deixou algumas mensagens na
caixa postal. Mas eu ainda não sei o que dizer a eles.
— Bem, como você se sente?, — perguntou ele, e percebi que poderia
haver um mundo onde eu não estivesse louca. Onde eu estava feliz por
duas das minhas pessoas favoritas se encontrarem.
Mas ainda era estranho.
— Eu não sei.
Tiramos os dois últimos quadros envoltos em plástico bolha do baú e os
acompanhamos até a galeria, colocando-os sobre as mesas ao lado dos
outros. Havia doze ao todo, mas não consegui ver nenhum deles sob as
camadas protetoras de plástico.
— Podemos desembrulha-los? — eu perguntei.
Ele estava circulando o espaço agora, olhando de parede vazia para
parede vazia. Era uma galeria bastante grande, com um layout de conceito
aberto que usava pilares para lhe dar forma. As paredes eram brancas e os
pisos eram de madeira para que toda a atenção estivesse voltada para o
trabalho do artista.
— Quero pregar a sequência primeiro, — respondeu ele, ainda
analisando as paredes.
Eu podia dizer que ele estava nervoso, mesmo que ainda estivesse
agindo como se estivesse confiante. Desde o momento em que chegamos à
galeria e conhecemos o Sr. Johnson, o proprietário, até o momento, ele
tinha balançado as mãos em punhos e batido lentamente com eles nas
pernas.
— Vai ser incrível, — eu disse, indo para ficar ao seu lado.
Coloquei uma mão em seu ombro e apertei. Ele olhou para mim e
sorriu, e depois voltou para as paredes.
— Acho que vamos de preto e branco e deixamos sangrar em cor, e
depois, para o final, eu lhes darei escala de cinza. Uma metáfora. Regras,
caos, depois a realização de que nenhuma das duas existe sem a outra.
Fiquei atordoada. Quem diria que Dustin Stirling era tão eloquente?
— Não tenho ideia do que você disse, mas parece ótimo.
Ele acenou com a cabeça.
— Eu também pensei assim.
Pedi para almoçarmos, e ele veio quase imediatamente. Sentamos no
chão frio e devoramos nosso Lo Mein, e eu não pude deixar de me sentir
bem. Eu havia usado o nome Knight para assegurar o SoHo 149 para a
noite.
Quando o contatei na semana passada, o Sr. Johnson não estava muito
receptivo à ideia de um desconhecido usando sua galeria, mas eu lhe
assegurei que Dustin tinha talento de classe mundial porque, bem, um
Knight saberia, certo?
Ele disse que precisaria de algum tempo para pensar sobre isso, então
quando ele finalmente me chamou de volta ontem à noite, fiquei surpresa.
Levou cerca de meia hora para convencê-lo, mas ele acabou
concordando, e mesmo que eu tremesse do outro lado da ligação, eu
estava orgulhosa de mim mesma por manter minha voz calma o tempo
todo. Ou, pelo menos, a maior parte do tempo.
O SoHo 149 permitiria a Dustin ter sua primeira exposição de arte real
em um lugar que praticamente lhe garantiria patronos, o que era
obviamente importante para um recém-chegado.
E não apenas patronos, mas pessoas que conheciam e se preocupavam
com a arte.
Quando eu lhe disse que havia arranjado a galeria para sua exposição,
pensei que ele ia desmaiar.
— Obrigado, obrigado, obrigado! — ele cantou, e depois correu ao
redor do balcão do café para me abraçar.
Ele me levantou do chão e me girou, e foi o suficiente para tirar minha
mente de toda essa coisa de Em/Lucas. De qualquer forma, por um tempo.
Dustin saiu imediatamente do café e alugou uma van, colocou seus
doze quadros favoritos no porta-malas, e eu o encontrei no centro da
cidade. O Sr. Johnson fechou a galeria durante a tarde para que Dustin
pudesse se instalar.
Como tudo foi tão de última hora, todo o processo foi apressado, mas o
SoHo 149 foi reservado para o mês seguinte.
Quando dei a Dustin a opção de esperar, ele gritou:
— Não! Chega de esperar!
E assim foi.
— Seria engraçado se fizéssemos tudo isso e ninguém viesse, — ele
disse, me puxando para fora de meus pensamentos. — Como se fôssemos
uma árvore na floresta e ninguém nos visse cair, será que realmente
caímos?
É
— Dustin, você está no SoHo 149. É o melhor dos melhores, de acordo
com o The New Yorker, de qualquer forma. As pessoas virão.
— Você está certa, — ele disse, enfiando mais macarrão em sua boca.
Então ele olhou para mim. — Você acha que Xavier poderia passar por
aqui? — Meu estômago esfriou. Xavier. Eu ainda não lhe havia contado
nada disso. Não era como se falássemos muito de qualquer maneira, mas
eu sabia que ele ficaria bravo. Ele sempre ficou.
Os olhos de Dustin estavam me suplicando agora; ambos sabíamos que
a presença de Xavier significava que haveria mais socialites e imprensa na
galeria.
— Eu não sei, Dustin...
— Você poderia perguntar? Por favor... — Eu olhei para meu amigo,
para os nervos claramente tomando conta de seu corpo. Respirei fundo e
acenei com a cabeça. Que tipo de amiga eu seria se não me colocasse em
risco?
Lucas: Pare de me ignorar.

Lucas: Angie, vamos lá .

Eu estava no elevador do prédio de escritórios do Xavier quando vi as


mensagens de Lucas. Queria responder, de verdade, mas ainda não
conseguia descobrir o que dizer. Então deixei cair o telefone de volta na
minha bolsa.
O elevador abriu suavemente, e eu saí para o 38° andar. Vi o balcão da
recepção e fui até lá.
Pensei que vir ao escritório de Xavier seria uma boa ideia porque ele
teria que me deixar entrar e não poderia gritar.
Afinal, eu era sua esposa, então o que pensariam seus colegas se ele
me chamasse de palavrões?
Mas agora eu estava percebendo como eu era um peixe fora d’água.
Meu cabelo estava amarrado num laço e bagunçado, além disso estava
com meus jeans rasgados e camiseta branca, embora perfeitos para um dia
ajudando a organizar uma galeria, não eram trajes típicos de um escritório.
E tinha meu Converse.
Mas era tarde demais; a recepcionista já tinha me visto.
— Oi, estou aqui para ver meu marido. Xavier Knight?
— Oh, claro, — ela disse, correndo ao redor de sua mesa e movendose
para que eu a seguisse. — Venha por aqui.
Eu não podia acreditar. A mulher, provavelmente por volta da minha
idade, estava me tratando como se estivesse... intimidada ou algo assim.
Acho que nunca intimidei ninguém em toda a minha vida.
— É lindo lá fora, — eu disse, tentando colocá-la à vontade enquanto
andávamos pelos corredores.
— Oh, com certeza, Sra. Knight, — ela respondeu rapidamente.
O que está acontecendo?
Quando chegamos ao escritório de Xavier, ela bateu à porta de vidro
fechada. Tudo era vidro: a porta, as paredes... Eu podia ver tudo dentro do
escritório, inclusive meu marido. Ele estava vestido inteligentemente com
um terno preto com um botão azul pálido, e estava esfregando as
têmporas quando a recepcionista bateu.
Ele a viu, depois a mim, e se levantou lentamente. Em seguida, ele
caminhou até a porta e a abriu.
— Você sabe que deve me chamar antes de deixar um visitante entrar,
— ele disse, suas palavras dirigidas à recepcionista.
— Eu... eu sei, — ela gaguejava. Eu queria abraçá-la.
— A culpa foi minha, — eu disse. — Tenho algo para falar com você
sobre o que não podia esperar em casa.
— Bem, entre, querida, — respondeu ele, enfatizando a última palavra
e abrindo mais a porta. Entrei no escritório, pensando no que me havia
metido.
— Feche a porta atrás de você, — instruiu ele. Ponderei minhas opções,
percebendo que não tinha uma razão válida para não fazê-lo.
Uma que eu podia verbalizar, de qualquer forma.
— Desculpe interromper seu dia, — eu disse suavemente, esperando
que pudéssemos ser civilizados. Eu abordaria o assunto com leveza,
casualmente, e talvez ele não fosse tão odioso. Apertei minhas mãos na
frente dos quadris, tentando impedi-los de tremer.
— O que é isso?, — perguntou ele. Ele estava de volta atrás de sua
mesa, inclinado sobre seu computador, verificando algo.
— Você tem planos para hoje à noite?
— Por quê? — ele esbravejou, com sua cabeça chicoteando para
enfrentar a minha.
— Eu... meu amigo, ele está tendo uma exposição de arte. No SoHo
149. E eu pensei que seria bom para... se você vir, — eu disse, certa de que
ele seria capaz de notar minha voz trêmula.
E esperando que ele não a usasse contra mim. Mas ele apenas riu.
— Você me quer em uma exposição de arte? Para quê, levar mais
pessoas para lá? Conseguir mais imprensa? — Ele estava me analisando
para obter respostas. — Você é transparente, você sabe.
— Sim, — eu disse, suavemente, mas com firmeza. — Você traria mais
pessoas e mais publicidade.
— Você quer uma medalha?
— O quê?
— Por sua honestidade, — ele disse, seu sarcasmo me mordia.
— Mas eu pensei que seria bom para você também. — Agora ele olhou
para mim novamente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr.
Graden me viu fazendo compras. Achei que seria bom tê-lo na galeria para
que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos amigos
dele.
Mordi a bochecha, à espera de sua resposta.
A ideia tinha acabado de chegar a mim alguns segundos antes de eu
dizer em voz alta, e eu sabia que seria ou inteligente ou devastadoramente
estúpido.
Parecia que eu estava esperando que Anúbis pesasse meu coração.

Xavier
Ela teve a coragem de vir ao meu escritório como se tivesse o direito de
estar aqui. Meu dia já estava em declínio. Meu pai tinha vindo me avisar
que Graden não tinha respondido a nenhuma de suas ligações e perguntou
se ele tinha me dito alguma coisa sobre a proposta.
Eu também não lhe contei o que aconteceu quando recebemos as
bebidas do happy hour ou como ele não tinha atendido nenhuma das
minhas ligações. Eu não pude.
Então, sim, eu estava chateado com o negócio da Graden.
Fiquei chateado por meu pai continuar olhando por cima do meu
ombro, esperando que eu estragasse tudo.
E agora eu estava chateado por ela estar aqui no meu escritório,
parecendo toda nervosa e gentil, mesmo sabendo que não enganavamos
ninguém. Fazia parte do jogo dela, sendo de fala mansa. Foi como ela se
safou com toda a merda que fez.
Mas nenhuma mulher que se casasse com um Knight, que escolhesse
dinheiro e nome em vez de dignidade, poderia ser gentil. Debaixo de sua
maciez havia um dragão respirando fogo, e eu queria ter certeza de que a
moça sabia que não poderia me queimar.
— Mas eu pensei que seria bom para você também, — disse ela, sobre
eu fazer uma aparição na exposição de arte de seu amigo.
Quanto culhão ela tinha para girar na minha frente.
— Meu amigo, o artista, é o Dustin. Aquele com quem a esposa do Sr.
Graden me viu fazendo compras. Achei que seria bom tê-lo na galeria para
que a imprensa pudesse ver você e eu juntos, que somos ambos amigos
dele.
Olhei para ela, vi ela desviar seus olhos do meu olhar, suas mãos se
segurando bem. Suas bochechas ficaram mais avermelhadas a cada
segundo.
Ela é uma especialista, eu me lembrei. Uma perita em desempenhar o
papel.
Mas depois pensei em Graden e no negócio que eu estava tão perto de
fazer antes que ela estragasse tudo. Talvez ter uma foto minha na imprensa
e o cara com quem ela tinha ido às compras o acalmasse.
Talvez ele acreditasse que minha esposa era leal.
Esperei mais alguns instantes, deixando-a ficar na tensão. Eu tinha
certeza de que ela estava ficando louca, esperando minha resposta, e eu
adorava ter esse tipo de poder.
— A que horas? — Finalmente, eu perguntei. Seus olhos encontraram
os meus imediatamente e se abriram.
— Oito e trinta.
— Certifique-se de que o The Times esteja lá, — eu disse, e então me
sentei novamente na minha mesa.
Se eu fosse aparecer na imprensa em alguma exposição de arte sem
nome no centro da cidade, seria melhor que fosse o The Times. Lancei um
olhar de volta para minha esposa, que ainda estava ali, uma expressão em
seu rosto que parecia que ela não sabia dizer se isso era realidade ou não.
Eu limpei minha garganta. Deixe-me em paz.
— Desculpe. Desculpe, — ela disse então empurrou a porta do
escritório para abrir. — Obrigado, Xavier, — ela disse, voltando para mim
antes de sair. Parecia genuíno, mas eu não o reconheci.
E então ela se foi.

Capítulo 21
Mais do que um show
Angela

Dustin: Estou enlouquecendo.

Dustin: As portas abertas em 2.

Dustin: Onde vc est á ?

Vi meu telefone acender com novas mensagens e corri para a escrivaninha,


onde ele estava. Eu sabia que estava atrasada, o que não era meu feitio.
Mas depois do estresse da conversa com Xavier em seu escritório, eu
precisava de algo para me relaxar, então tomei um banho quente, tentando
esfoliar minha ansiedade.
Apressei-me para entrar no pequeno vestido preto que havia comprado
com o Dustin, a única coisa que eu mesma havia encontrado na loja. Era
lindo em sua simplicidade, uma saia clássica de linha A com top ajustado e
um decote conservador.
Em seguida, coloquei umas sapatilhas e corri da cobertura, felizmente
encontrando um táxi do lado de fora.
Eu tinha esquecido de pedir um carro quando estava no andar de cima
e não tinha tempo de pegar o metrô, então só me restava um táxi.
Quando cheguei ao SoHo 149, já estava quinze minutos atrasada. Mas
quando olhei através das janelas da loja do chão ao teto, minha culpa se
dissipou. O lugar estava lotado.
Paguei ao motorista do táxi e pulei para fora, caminhando até o guarda
de segurança junto à porta. Era uma bela noite de outono, e o céu noturno
criou o cenário perfeito para a festa bem iluminada que acontecia lá
dentro.
— Olá! Sou amiga do Dustin, — exclamei. O segurança acabou de me
olhar, segurando sua prancheta.
— Nome?
— Angela. Angela Knight. — Ele se afastou imediatamente, abrindo a
porta para mim. Assim que entrei pela porta, fui atingida pelo calor de uma
sala lotada.
Pessoas bem vestidas e interessantes se movimentavam pela galeria,
segurando taças de vinho e rindo umas com as outras. As pinturas estavam
penduradas nas paredes, e grupos de pessoas estavam em frente a cada
uma delas, apontando e apreciando.
Meu coração disparou. Não podia acreditar que tínhamos conseguido.
Ele tinha conseguido. Eu estava tão feliz por ele, tão orgulhosa.
— Angela! Aqui. — Eu ouvi a voz de Dustin do outro lado da galeria.
Virei-me e o encontrei, vestido com um blazer verde-marinho e calças
pretas brilhantes, junto à barra no canto. Ele estava conversando com um
homem mais velho de óculos. Eu caminhei até eles.
— Olá! — exclamei, beijando sua bochecha. — Isso é incrível!
— Não é? — acrescentou ele, claramente tonto. — Angela, este é o Sr.
Sorento. Sr. Sorento, apresento-lhe Angela Knight.
— Oi, — eu disse, apertando a mão do Sr. Sorento.
— Prazer em conhecê-la.
— O Sr. Sorento é o gerente da Garagem em Tribeca.
— Oh?. — Eu disse, tentando ser indiferente sobre o fato de que eu não
tinha ideia do que isso era. De repente, uma mulher estilosa, com um
casaco de couro e batom de coral, apareceu atrás do Dustin.
— Sr. Stirling. Tina Carlyle do The Times. Eu esperava ter uma palavra
com... — Dustin me deu um olhar ohmeudeusohmeudeus e depois se
voltou para a mulher.
— Tina. Querida. Eu estava pensando que você nunca apareceria, — ele
disse, seu charme no nível 1.000 enquanto a guiava pelo cotovelo até uma
parte mais silenciosa da sala.
Isso deixou o Sr. Sorento e eu juntos, ao lado bar. Meu lado introvertido
quis se despedir e apreciar a arte sozinha, mas havia algo inspirador em ver
Dustin sair de sua zona de conforto e se dar tão bem.
Talvez fosse a hora de eu fazer o mesmo. Então, respirei fundo e me
virei para o homem que estava diante de mim.
— Sr. Sorento, me fale sobre a Garagem?
Afinal, a Garagem era o ponto alto das modernas galerias de arte em
Nova Iorque. Não estava tão estabelecida como a Bird em Williamsburg ou
The Juniper no Upper East Side, mas de qualquer forma estava recebendo
atenção constante da imprensa e dos compradores.
O Sr. Sorento era o gerente, o que significava que ele estava
encarregado de encontrar a arte que a galeria expunha. Portanto, era um
grande negócio que ele estava aqui na exposição de Dustin, e um negócio
ainda maior com o qual ele tinha procurado ativamente Dustin para falar.
Ele havia dito que Dustin havia falado com ele sobre sua inspiração para
a pintura e sua infância difícil e que se sentira semelhante a ele por ambas
as explicações.
Eu estava muito contente por meu amigo. Claro, eu sabia que iríamos
encher a galeria — graças ao meu marido — mas não tinha ideia de que
teríamos uma resposta tão positiva por parte das pessoas da indústria.
— Como você o encontrou? — perguntou-me o Sr. Sorento.
— O que você quer dizer?
— Dustin, — ele disse, e eu pensei no dia em que nos encontramos na
cafeteria.
— Eu estava correndo no parque, e parei para tomar um café. Dustin
estava trabalhando nessa cafeteria fofa, e começamos a conversar, — eu
disse, dando a ele toda a história. O Sr. Sorrento estava acenando com a
cabeça.
— Você tem um olho bom, — ele disse, e agora eu entendi. Ele pensou
que eu fiz o que ele fez. Ele pensou que eu encontrava artistas e lhes dava
oportunidades.
— Oh, eu não estou no ramo. Dustin é apenas um amigo meu, — eu
expliquei, e o Sr. Sorrento me olhou com um olhar de curiosidade.
— Vocês eram amigos antes de ver a arte dele? — Eu confirmei. O Sr.
Sorrento tomou seu vinho e encolheu os ombros.
— Acho que isso é inteligente. Dustin é uma ave rara, mas geralmente,
quanto melhor a arte, pior o amigo. Foi um prazer conhecêla, Sra. Knight,
— ele disse, dando um aperto no cotovelo antes de se virar e encontrar um
novo grupo para conversar.
Aconteceu que a noção do Sr. Sorrento de mim como recrutadora ou
caçadora de talentos ou qualquer que fosse o título do trabalho não era
toda aquela novela.
Ao longo da noite, conversei com alguns outros gerentes de galerias,
alguns críticos de imprensa e muitos compradores sérios.
Todos me elogiaram por um trabalho bem feito, como se a arte de
Dustin fosse um resultado direto da minha iniciativa. Embora eu quisesse
um trabalho em que pudesse ser boa, para me fazer sentir competente e
forte, não era exatamente isso que eu tinha em mente.

Xavier
Entrei na galeria e fiquei francamente surpreso com o quanto ela estava
cheia. E cheia de pessoas de qualidade.
Reconheci Tina e Marc do The Times, Sylvia do The New Yorker, e
aqueles críticos esotéricos irritantes, Paul e Benny, usando o mesmo tweed
que sempre usaram.
Como se eles fossem banqueiros na Depressão ou algo assim.
Depois vi minha querida esposa, com um vestido preto básico que fazia
sua pele parecer muito mais pálida em comparação. Não um pálido
doente, mas um pálido que parecia não ver sol há cerca de um ano.
Claro, ela era bonita, objetivamente, mas eu não pude evitar minha
reação instintiva toda vez que a via. Raiva. Apenas pura, sempre presente,
sempre crescente, raiva.
Eu fechei os olhos com ela e tenho quase certeza de ter visto seu lábio
tremer em resposta. Ótimo.
— Querida! — Eu gritei do outro lado da sala, e todos ao meu redor se
viraram para ver quem eu estava chamando. Vi suas expressões se
encherem de reconhecimento "Oh, sua esposa!" e a expressão de Angela
se encher de preocupação. Percebendo que se eu esperasse que ela se
aproximasse de mim, eu ficaria esperando muito tempo, comecei a
caminhar em direção a ela.
— Que show, — exclamei, esperando que ela pegasse o sarcasmo na
minha voz.
Ela me abraçou e beijou minhas bochechas, e eu pude sentir seu corpo
iluminado tremer, como um cachorro pequeno que acabou de sair do
banho.
— Obrigada por ter vindo, — disse ela, em voz alta o suficiente para
que aqueles ao nosso redor pudessem ouvir. Ela estava desempenhando o
mesmo papel que eu, e qualquer culpa que eu possa ter sentido por ter
causado seus tremores foi embora, sem mais nem menos. Ela sabia o que
tinha assinado.
— Onde está o homem do momento? — perguntei, escaneando a sala.
Nesse momento, eu senti uma mão no ombro e girei para encontrar
Benny, o crítico que usava tweed.
Ele estendeu sua mão para que eu apertasse.
— Sr. Knight, — ele disse, — sempre um prazer.
— Oi, Benny boy, — respondi, dando-lhe um sacudida. Os três copos de
uísque que eu tinha bebido a caminho do SoHo 149 tinham acalmado meu
temperamento, claro, mas também me deram um impulso para me divertir
um pouco.
— Você está procurando por Dustin? Ele está junto à peça final, ao
redor daquele pilar ali mesmo, — apontou Benny.
— Maravilhoso, — eu disse, batendo nas costas do Benny com um
pouco mais de força do que eu precisava. — Simplesmente maravilhoso.
Oh, Angela! — Eu cantei, e todos os olhos voltaram a cair em cima dela. As
bochechas dela estavam visivelmente vermelhas. Cara, ela é boa em fingir
que não gosta da atenção.
Ela se aproximou de mim, e eu agarrei sua mão, e juntos caminhamos
até a pintura final.
— E este deve ser o Dustin!
Dustin, o homem que me envergonhou aos olhos do público, que pode
ou não ter arruinado o melhor negócio em potencial que eu já havia
fechado por conta própria, estava na minha frente. Estávamos mais ou
menos na mesma altura, ambos com mandíbulas robustas e o tipo de olhos
que viram sua porção de merda na vida.
Ele não se acovardou, como a maioria das pessoas fez. Em vez disso, ele
estendeu uma mão.
— Xavier Knight, — ele disse simplesmente. — Obrigado por ter vindo à
minha exposição.
Ouvi uma câmera disparar, talvez tenha visto um flash ou dois.
— Qualquer coisa por Angela, — eu disse, e dei um bom sorriso. Eu não
tinha certeza do que Dustin sabia, ou o que ele queria, mas havia muita
coisa não dita aqui.
Estava me irritando, me fazendo querer agarrá-lo pelo estúpido casaco
que ele estava usando e empurrá-lo contra a parede até que ele me
implorasse que o deixasse ir.
Mas eu não consegui. Havia imprensa aqui.

Brad
Xavier havia me mencionado que ele iria a uma galeria que estava em
exposição no SoHo 149 esta noite, o que para ele é bem surpreendente.
Ele nunca havia gostado de ir a nenhum evento cultural, a não ser que eu o
arrastasse até lá. Ou que sua ex-noiva o tivesse.
Houve um tempo em que, se ela mencionasse que não assistiria à
ópera, ele compraria seus ingressos para aquela noite.
Por isso, fiz algumas ligações. Eu tinha que saber o que meu filho
andava fazendo. E afinal um velho amigo meu, Alfred Kent, tinha negócios
com o Sr. Johnson, o proprietário da galeria.
Não demorou mais de um minuto ao telefone com o Sr. Johnson para
saber que havia uma exposição de um novo artista esta noite e que tudo
havia sido orquestrado por uma Angela Knight.
Assim que ouvi o nome dela, meu coração se alegrou. Ela não só estava
ajudando um talento desconhecido a encontrar uma exposição, mas estava
ajudando meu pobre menino a sair da escuridão.
Acabaram-se as bebidas alcoólicas em bares noturnos, sim senhor.
Meu filho estava saindo para a cidade com sua esposa.
E a isso... bem, eu não podia faltar.
Eu entrei no SoHo 149 e tentei ser discreto. Vi meu filho e Angela
andando de mãos dadas, e depois vi os dois conversando com um jovem
com uma roupa que o fazia artista até a última célula. Eles trocaram
algumas gentilezas.
Eu não pude ouvir muito, mas vi seus sorrisos e soube.
Em seguida, Xavier caminhou em direção ao bar e pegou um copo de
vinho, e eu vi Angela o seguir.
Então eu caminhei até os dois.
— Que noite! — exclamei, não conseguindo conter minha excitação.
Ambos foram maravilhosos.
— Brad, que surpresa, — disse Angela ao me ver. Ela envolveu seus
braços ao meu redor e me beijou na bochecha, e eu estava certa de que
minha amada poderia sentir o calor da jovem mulher até o céu.
— Eu não perderia isso.
— Eu não sabia que você viria, — disse Xavier, trazendo o copo aos seus
lábios.
— Vocês dois parecem um casal tão bonito. Tão encantador, tão
pensativo. Estou orgulhoso de você, filho, — eu disse, estendendo minha
mão para que ele apertasse.
Ele o fez, e realmente parecia que estava de volta. O filho que eu
sempre soube que ele era.
Voltei-me para Angela, aquela que o tinha feito voltar para casa.
O anjo que tinha agraciado minha vida e a vida daqueles de quem mais
gosto.
— E Angela. Você. Seu talento, sua generosidade. Ouvi dizer que você
encontrou o jovem com sua obra de arte nas paredes. Sua tenacidade e
seu olhar, querida, você é realmente algo. Estou tão orgulhoso. Tão, tão
orgulhoso.
Eu a puxei para outro abraço e a senti relaxar em meus braços. Percebi
como deve ser difícil para ela, com seu pai tremendamente doente. Eu
devo ter sido a coisa mais próxima que ela teve de seu pai.
Em cima da cabeça de Angela, eu olhei para meu filho. Ele estava me
observando abraçar a jovem mulher com uma intensidade tão profunda
que eu não entendia bem.
Talvez ele estivesse tão consumido com as duas pessoas que ele mais
amava se abraçando, que era quase demais para ele.
Eu o olhei mais uma vez e lhe ofereci um sorriso. Ele sorriu de volta, e
eu acenei com a cabeça.
E foi isso. Deve ser assim.
Capítulo 22
Linhas Cruzadas
Angela
Eu acordei com um grande sorriso no rosto. Essa foi talvez a primeira vez,
na minha cama grande e fofa, na minha grande e fofa cobertura, que isso
havia acontecido.
A exposição de arte foi incrível. Não só o trabalho de Dustin foi
incrivelmente bem recebido, mas todos com quem eu tinha falado tinham
sido tão... simpáticos.
Depois de todos os parceiros de negócios e amigos da família que
conheci através dos Knight, no casamento e em outros lugares, fiquei com
a impressão de que nunca me daria bem com ninguém do círculo deles.
Mas ontem à noite eu senti algo diferente. Eu me senti apreciada e...
não sei, visível.
Talvez fosse porque eles faziam parte de um subconjunto diferente.
Claro, as pessoas de lá ontem à noite tinham sido importantes e
bemsucedidas. Mas eles não eram empresários corporativos que
consideravam uma viagem a St. Barths um fim de semana decente.
Não, eles eram amantes de arte. Cultos, com estilo e mente aberta de
uma forma que parecia muito diferente, em vez de se preocupar com isso.
Talvez eu tivesse encontrado meu grupo.
Fiquei animada e com vontade de compartilhar minha noite com todos
que conhecia. Eu tinha planos de ir a Jersey e ver o meu pai hoje, o que era
perfeito. Eu sabia que ele ficaria tão feliz por eu ter ajudado a organizar
uma exposição de arte de sucesso.
Ele ficaria feliz que eu tivesse ajudado meu amigo a obter o
reconhecimento que ele merecia. E depois que vi meu pai, pensei em
passar na casa da Em e compartilhar com ela.
Ainda não tínhamos falado sobre ela e Lucas, mas agora meu bom
humor estava me ajudando com isso também.
Parecia o momento certo para discutir tudo.
Assim que pensei nela e em Lucas, percebi que provavelmente seria
uma boa ideia avisá-lo de que eu iria ao hospital. Eu também ainda não
havia respondido às suas mensagens, então peguei meu celular e,
respirando fundo, mandei-lhe uma mensagem.

Angela: Ol á Lucas.

Lucas: Oh agora você responde.

Angela: Desculpe-me.

Angela: Eu n ã o sabia o que dizer.

Lucas: Me desculpa tamb é m.


Lucas: N ã o sabia como te dizer.

Angela: Est á ... tudo bem.

Angela: Eu amo voc ê s dois.

Lucas: Voc ê est á realmente de acordo com isso?

Angela: Eu n ã o sei.

Lucas: Bem, isso j á é um bom come ç o.

Angela: Estou indo para o hospital agora.

Angela: Voc ê quer vir?

Lucas: Quem me dera poder.

Lucas: Preso no restaurante.

Eu suspirei. Sentime bem por ter tirado a limpo isso com ele, mas
realmente desejei que ele viesse ver nosso pai comigo. Era sempre difícil
vê-lo sozinha, e Lucas tinha uma maneira de cortar a tensão.
Mesmo quando estávamos rodeados de doenças e más notícias, ele
conseguiu fazer com que eu sorrisse. Mas hoje, eu teria que ir sozinha.
Tomei banho, me vesti e depois comecei minha viagem.
Quando cheguei ao hospital, já era tarde e o lugar estava agitado com
a atividade. Vi mais sorrisos no saguão do que jamais havia visto lá antes, e
isso me fez sorrir também.
Talvez eu não precisasse do apoio moral de Lucas, afinal de contas. Eu
tinha um bom pressentimento. Sobre o dia, sobre o papai, sobre mim
mesma.
Não achei que nada pudesse me derrubar.
Quando cheguei ao quarto do meu pai, vi que a porta dele estava
fechada.
Eu bati e depois abri, vendo um grande feixe de cobertores em cima da
cama do hospital.
— Pai? — Houve um momento de silêncio em que eu não tinha certeza
de onde procurar. Ele ainda estava preso à cadeira de rodas, para não estar
no banheiro sem uma enfermeira por perto para ajudar.
Talvez ele estivesse fora da sala?
Mas depois houve um grunhido de baixo da pilha de cobertores, e uma
mão frágil emergiu. Ele tirou os cobertores de um rosto — um rosto que
pertencia ao papai.
Seus olhos haviam afundado ainda mais em seu rosto. Sua pele estava
pálida o suficiente para que eu pudesse ver o azul das veias em seus
braços. Ele sempre foi meio careca, mas agora parecia ainda mais careca.
Eu tentei não reagir, tentei não mostrar a ele minha surpresa ou
preocupação, mas não acho que tenha feito um bom trabalho.
— Filhinha, venha aqui, — ele disse, segurando uma mão trêmula. —
Continuo sendo eu.
Eu queria que minhas lágrimas fossem e incomodassem outra pessoa.
Hoje não cairiam. Hoje não.
Eu fui até meu pai e me curvei para dar-lhe um abraço, beijando-o na
bochecha.
— É tão bom te ver, papai.
— É sempre bom ver você, pequena.
— Como você está?
— As pílulas estão me deixando lento. Não sei o que te dizer. — Ele
tinha começado os testes no fim de semana passado, e todos nós
pensamos que ele melhoraria depois que começasse. Mas ele parecia...
pior.
— Você se sente melhor no geral?
— Ainda não, mas o médico diz que é normal. Tem que ficar pior antes
de melhorar. — Eu dei um aperto em seus dedos magros.
— É esse o espírito, — eu disse. Eu me sentia mal por ter demorado
tanto tempo para voltar.
Eu deveria ter aparecido antes.
Eu deveria ter sido mais presente.
Houve uma batida na porta. Ambos nos viramos para encontrar o Dr.
Kaller colocando apenas a cabeça na sala.
— É seguro entrar?
— Olá, Dr. Kaller, — eu disse, aliviada por ter outra pessoa na sala.
Especialmente alguém que foi treinado para saber o que dizer em
situações como esta.
— Como você está, Angela?
— Eu estou bem, estou bem. Como você está?
— Bem, obrigado. Ei, quando terminar a visita com o campeão, você
pode passar pelo meu escritório? É logo ao fundo do corredor.
— Claro, — eu disse, tentando não pensar sobre o que isso significava.
Parecia uma chamada para o escritório do diretor, só que não seria eu que
estaria em apuros. Seria meu pai.
O Dr. Kaller acenou para nós e depois voltou para o corredor, e eu voltei
para o meu pai. Tentei recuperar a sensação que tinha hoje cedo,
pensando que poderia ser contagioso. Eu queria que meu pai sentisse as
endorfinas.
— Pai, adivinha só.
— O que eu sou, um bebê?, — perguntou ele, mas sorriu e me deu um
aperto de mão.
— Escute, — eu comecei. — Meu amigo, Dustin, é um artista. Mas ele
nunca tinha tido seu trabalho visto por ninguém antes. Então eu o ajudei a
planejar uma exposição de arte nesta galeria de arte do centro da cidade.
Foi ontem à noite! Todos adoraram, papai. Todo mundo adorou.
Meu pai olhou para mim, e eu vi as lágrimas se acumularem em seus
olhos. Como se ele não acreditasse que eu me tornasse esta pessoa, este
adulto, que tenta coisas novas e conseguiu.
Ele estava olhando para mim da mesma forma que o fez em minhas
cerimônias de formatura e em meus jogos de vôlei, com o orgulho radiante
de seu rosto.
— Olhe para você, — ele disse, e levou minha mão aos seus lábios. Ele
beijou a parte de cima e eu não conseguia me lembrar de um tempo em
que ele tinha sido tão abertamente suave.
— Você é uma mulher. Você é sua própria mulher. — Eu me curvei
novamente, e desta vez eu o segurei e não soltei.

O Dr. Kaller olhou para cima quando eu bati na porta semi-aberta de seu
escritório.
— Angela, entre.
Entrei e sentei-me, e ele apertou as mãos no colo.
— Os testes estão causando danos ao seu pai. Os medicamentos são
fortes, mas por alguma razão, ele está respondendo mais seriamente às
complicações do que os outros.
— O que... o que isso significa?
— Seus sintomas são piores. E eles estão afetando sua qualidade de
vida de forma bastante intensa. É claro que é algo em que se deve pensar.
Minha mente estava girando. Sua qualidade de vida?
— Então você está dizendo...
— Eu não estou dizendo nada. Não definitivamente. É algo que você e
seus irmãos devem levar em consideração, só isso. Se seu pai continuar
piorando, talvez não valha a pena continuar por este caminho.
— Mas não há outro caminho, — eu disse, minha voz era mansa. —
Você acha que devemos apenas 'deixá-lo confortável'?
Eu repeti as palavras que ele me disse da última vez que conversamos.
— Ele é um guerreiro, — eu disse. E apesar de meu volume ser baixo,
meu tom era outro.
O Dr. Kaller olhou para mim como se eu estivesse em uma ponte que
estava prestes a ruir.

Angela: Ligue-me

Angela: 911

Angela: Lucas

Angela: Atenda seu telefone!

Angela: Eu preciso que voc ê RESPONDA

Angela: Lucas!!!

Lucas: Opa.

Lucas: Estou aqui mesmo.


Lucas: Por que voc ê est á assustadora? Pensei que tivesse dito
que estava tudo bem.

Angela: S Ó ATENDA O SEU TELEFONE!

Lucas: Eu te disse que estou no restaurante.

Lucas: Voc ê se assusta com nada.

Lucas: Voc ê disse que nos ama.

Lucas: Vamos ser felizes.

Angela: Do que voc ê est á falando?!!?

Lucas: Voc ê est á ficando louca sem motivo.

Lucas: Eu n ã o posso fazer isso agora.

Lucas: O restaurante est á ocupado.


Angela: Mds

Angela: Lucas

Angela: É sobre o pai.

Angela: NÃO sua vida amorosa!!!

Lucas: Ah.

Lucas: Merda

Lucas: ????

Angela: Ele est á piorando.

Angela: O dr. disse que temos que pensar


nas próximas op ç ões.
Lucas: O que isso significa?

Lucas: Próximas op ç ões????

Angela: Basta me ligar.

Angela: Quando voc ê não estiver muito


ocupado.

Foi uma longa viagem de trem de volta. Toda a energia positiva que eu
tinha quando acordei esta manhã tinha se evaporado. As endorfinas
tinham desaparecido há muito tempo.
Agora era só eu e meus pensamentos. Meus pensamentos fumegantes.
Eu não podia acreditar no Lucas. Ele pensou que eu estava me
assustando com ele e a Em, embora eu tivesse dito esta manhã que iria
superar isso! Ele me chamou de louca, disse que eu estava reagindo
demais.
Mas foi ele quem fez tudo escondido, que começou algo com minha
melhor amiga sem sequer me perguntar primeiro.
Quais eram as regras para algo assim? Eu não sabia. Eu nem sabia quem
saberia. Mas eu sabia que deveria ter sido consultada em algum momento.
E eu não fui.
Lá vou eu querendo clarear as coisas, eu pensei. Não estava com
vontade de falar sobre nada com Lucas ou Em agora, nem sobre a luxúria
um pelo outro, nem sobre a exposição de arte. De alguma forma, a traição
parecia fresca.
E então meus pensamentos se voltaram para o meu pai. Como ele parecia
fraco naquela cama de hospital, como eu estava desesperada para ajudá-
lo.
Não era justo que fosse ele quem estava passando por isso. Ele não
merecia.
Pensei no Dr. Kaller e no que ele tinha dito. Que tínhamos duas opções:
desistir ou fazê-lo suportar mais dor por uma razão incerta.
Eu não tinha certeza do que era pior.
Eu me dispus a parar de pensar nisso. Não me faria bem, nem a mim
nem ao meu pai, ter um ataque de pânico no trem.
Parecia que minhas entranhas estavam tão enroscadas que poderiam
implodir, mas mesmo tentando mudar meus pensamentos de volta para a
noite passada, para a exposição de arte, não estava ajudando. Então eu
virei minha cabeça para a janela e tentei me concentrar nas árvores que
passavam tão rapidamente que mal conseguia vê-las.
Quando voltei à cobertura, caminhei pelo elevador, entrei no corredor e
depois parei.
Ali estava Xavier, de costas para mim, debruçado sobre o balcão da
cozinha.
Não senti a habitual falta de ar, o medo que vinha com a sua presença
por perto. Talvez fosse porque eu estava tão emocionalmente exausta
depois deste dia ou talvez fosse porque ele era menos ameaçador quando
estava de costas para mim. Eu não sabia.
Ele não tinha camisa, e suas calças pretas estavam penduradas nos
quadris. E então eu estava admirando seus músculos das costas antes de
poder me deter, o modo como seus ombros largos contrastavam com sua
cintura afunilada e seus quadris.
Ele tinha algum tipo de cicatriz desde o quadril esquerdo até o ombro
direito que eu nunca tinha visto antes.
Por que você teria visto isso? Eu mesma me repreendi.
Ao vê-lo assim, nu e aberto, ele parecia quase vulnerável. Eu não sabia
como ele não tinha me ouvido entrar, com o ding do elevador e tudo mais,
mas ele não tinha mexido um músculo desde o minuto em que eu cheguei
ali.
Eu me perguntava o que havia me possuído.
Será que eu estava tão desesperada por aquelas endorfinas que eu fui
levada a olhar para o homem que tinha sido tão consistentemente horrível
para mim?
Sacudi a cabeça e entrei no corredor, tentando fazer meus passos mais
altos para que ele percebesse que não estava sozinho.
Mas à medida que eu me aproximava cada vez mais, ele permanecia na
mesma posição. Eu estava quase na cozinha quando vi os fones em seus
ouvidos. Ah. Ele estava escutando música.
Antes que ele pudesse me ver, eu passei por ele e entrei em meu
quarto.
A porta se fechou silenciosamente atrás de mim, e eu respirei fundo,
deixando-a sair. Infelizmente, a confusão do dia não saiu com ela.
Capítulo 23
Doce como o pecado
Xavier
Mas que porra é essa? Meus olhos estavam abertos agora, apesar de meu
corpo estar gritando para que eu voltasse a dormir. Parecia que eu tinha
acabado de entrar na cama há alguns minutos.
Olhei ao meu lado, onde sempre havia uma ou outra mulher jovem.
Mas estava vazia.
Eu tentei abalar meu cérebro por um tempo e um dia. O que eu fiz
ontem à noite? Vi meu celular, mas estava do outro lado do meu quarto, na
mesa do café, junto à poltrona. Isso foi muito mais longe do que eu estava
disposto a ir para encontrar as respostas.
Pense, eu mesmo fiz o pedido. Ontem à noite foi a exposição de arte.
Não, esqueça isso. A exposição de arte foi na quinta-feira à noite.
Ontem à noite... ontem à noite não saí do escritório até tarde. E quando
eu saí, fui direto para Hatchback. Certo. Esse era o bar onde eu tinha me
encontrado com Graden para o happy hour há algumas semanas atrás.
Pensei em passar por ali, tomar algumas bebidas — ou mais algumas
bebidas, devo dizer — e ver se aquela bartender com covinhas estava
trabalhando. Eu tinha aberto meu escritório com bourbon ontem cedo.
Eu precisava de algo para facilitar a banalidade da reunião da diretoria
no final da tarde.
Cheguei ao Hatchback já carregado, tendo que me segurar no corrimão
da escada interna. Fui até o bar, coloquei minhas mãos sobre o balcão e me
ergui direito.
Eu vi uma bartender morena, duas morenas... ah, a terceira era a
vencedora.
Era a garota com quem eu tinha deixado meu cartão, que parecia ser
do sul.
Eu a olhei fixamente até que ela olhou para mim, e quando ela olhou,
suas covinhas apareceram. Ela estava definitivamente sorrindo.
— Sr. Knight.
— Vim para encontrá-la, — eu disse, sem piscar os olhos. Se eu sabia
uma coisa sobre falar com as mulheres, era ser direto. Elas gostavam, e isso
me levou aonde eu queria estar mais rápido.
— Veio mesmo? — perguntou ela, com os cílios dela tremulando. — Eu
esperava que você passasse por aqui para pegar seu cartão de volta, mas
acho que seu assistente o pegou para você.
— Marco. — Eu acenei com a cabeça. — Ele limpa depois das minhas
trapalhadas.
— Você não me parece tão atrapalhado, — disse ela, brincando com o
colar em seu decote.
Fácil.
Demais.
Perguntei a que horas seu turno terminava, e ela disse que teria que
verificar o horário no escritório nos fundos, e se eu gostaria de ir checar
com ela?
Quando tomamos mais uns shots e colocamos nossas roupas de volta,
eu já tinha bebido uísque suficiente para impressionar um soldado
irlandês.
Esta porra de ressaca.
E foi isso. Eu joguei as cobertas de cima de mim, não me importando
que eu tivesse apenas com as cuecas em que eu tinha dormido. Nadei no
corredor e ouvi o som novamente.
Mas não havia ninguém lá.
Era como se minha mente estivesse pregando uma peça em mim. Eu fui
até a cozinha, mas definitivamente não havia ninguém lá. Fui até o
corredor... e foi quando a vi.
Ela estava de cócoras, de costas para mim, com as mãos trabalhando
rapidamente sob o armário abaixo da pia. Mas eu não percebi isso
primeiro.
O que eu notei foi a camiseta branca de tamanho exagerado que ela
usava e que mal cobria o rabo. Suas longas pernas estavam completamente
expostas, até as coxas.
Eu não entendia o que estava acontecendo. Eu sabia que a odiava, a
mulher que não estava nem a um metro de mim, minha esposa.
Mas eu não podia me afastar dela. Não quando ela estava vestida desta
maneira. Meu Deus, controle-se, eu mesmo ordenei. Você não tem doze
anos, porra.
Eu limpei minha garganta. Sua cabeça se moveu para ver quem estava
lá, e seus largos olhos focados nos meus. Ela tinha olhos azuis, grandes e
macios como os de uma criança.
O resto de suas características eram igualmente delicadas. Desde a leve
curva de seu nariz até a cor rosada de sua boca, era como se seu rosto
tivesse sido desenhado.
Eu já estive com minha parte de mulheres bonitas, mas nenhuma
parecia tão inocente quanto ela.
Ela mordeu seu lábio.
— Desculpe, eu o incomodei? — Sim, você incomodou. Mas algo veio
sobre mim e, em vez de revelar a verdade, eu tive um impulso para acabar
com a preocupação dela.
— De jeito nenhum. Eu só vim buscar café e... o que você está fazendo?
— Oh, eu posso fazer um para você, — disse ela, de pé. — O marido de
Lucille acabou de chegar, então ela foi ao seu encontro. — Mas eu não
estava prestando atenção nas palavras que saíam da boca dela, porque ela
tinha se levantado.
A camisa, embora curta enquanto ela estava agachada, agora mal
cobria sua região pélvica.
Eu não sabia dizer se ela não sabia ou não se importava.
— Tudo bem, — eu saí, mas ela já estava se movendo, colocando o
filtro na máquina de café e pegando um pouco de café.
— Sei que você tem aquela máquina de café expresso chique, mas não
sei como usá-la, então espero que você não se importe apenas com o café
normal.
Eu a observei enquanto ela se movia, a camiseta chegando
perigosamente perto de me mostrar mais do que uma pequena amostra.
Ela virou a cabeça sobre os ombros e levantou as sobrancelhas, e eu
percebi que eu não tinha respondido.
— Está ótimo. Ótimo. Ótimo, — eu disse, caindo sobre minhas palavras.
O que estava acontecendo? Eu nunca fiquei sem palavras. — O que você
estava fazendo... uh, lá embaixo?
— Oh, o carburador estava apenas um pouco entupido. Lucille ia
chamar o encanador, mas ele sempre demora alguns dias para chegar,
então pensei, por que não fazê-lo eu mesma?
— Você sabe como consertar o carburador?
Ela apenas mordeu o lábio e encolheu os ombros.
— Não é muito difícil. — Então ela abriu o armário acima de sua
cabeça, aquele com os copos. As canecas estavam na segunda prateleira,
então ela teria que chegar até ela.
Quando ela começou a chegar, eu mesmo corri e agarrei as canecas,
mas na pressa de manter suas áreas privadas, er, privadas, eu não levei em
conta o espaço pessoal.
Eu estava bem atrás dela, com a mão no armário, tentando pegar uma
caneca.
E ela se surpreendeu com meus movimentos e, ao fazê-lo, se voltou
para mim.
Assim, seu corpo mal vestido, aquele com as curvas que eu podia ver
muito claramente, foi pressionado contra mim.
Eu podia me sentir duro quase imediatamente, o que era estranho,
porque nunca me senti tão duro tão rapidamente, especialmente por causa
de um contato tão limitado.
— Sinto muito, — disse ela rapidamente, Virando-se e apoiando-se no
balcão. Mas isso não melhorou nada porque agora eu tinha uma visão
frontal completa dela.
Eu vi seus mamilos através da camiseta e pude ver a calcinha de renda
branca que ela estava usando por baixo.
Ela mordeu o lábio novamente, parecendo a mesma mistura nervosa e
inocente que ela sempre teve quando eu realmente prestava atenção.
Baixei a caneca até o balcão sem tirar meus olhos dela.
Ela levou a mão até o pescoço e o coçou, e a camiseta subiu mais um
centímetro, mostrando-me mais coxa do que eu podia aguentar.
Sem esperar mais um segundo, eu mergulhei nela.
Eu agarrei seu rosto e a beijei, o beijo mais gentil e caloroso que eu já
tinha tido há algum tempo.
Ela gostou tanto disso, que eu pude sentir.
Seus braços estavam envoltos em mim, mas mesmo assim, eu precisava
estar mais perto. Então eu a abracei com força e a levantei, suas pernas
agora envoltas em torno da minha cintura.
O calor irradiava de seus quadris para minha virilha. Ela estava
balançando, girando, e eu pensei que iria perder o controle ali mesmo.
Meu Deus, parece que você tem doze anos, eu mesmo me castiguei.
Empurrei-a para o balcão e abri-lhe as pernas, entrando entre elas.
Então, comecei a sentir o que havia ali. Comecei pelos lábios dela,
deixando-a beijar meu dedo indicador, deixando-a levá-lo à boca. Ela
chupou, me olhando bem nos olhos. Algo sobre aquela inocência, e
aqueles lábios... caralho.
Segui minhas mãos para baixo, sobre seu pescoço e até seus seios.
Toquei seus mamilos através do tecido fino e ouvi um gemido escapar de
seus lábios.
— Isso parece... agradável, — sussurrou ela, e havia algo de tão
virtuoso na maneira como ela dizia. Como se ela estivesse genuinamente
surpresa.
Massageei seus seios mais intensamente e pus meu rosto para baixo e
chupei um mamilo através da camisa. Ela gemeu novamente, e eu estava
pronto para tomá-la logo ali.
Mas eu sabia que ela precisava de mais. Ela merecia mais, pensei, e eu
não tinha ideia de onde tinha vindo esse tipo de pensamento.
Enquanto eu chupava o outro mamilo dela, comecei a puxar a camiseta
dela para cima. Primeiro ela expôs a parte superior da coxa, depois a
calcinha, depois o estômago liso. Beijei sua barriga e tirei a camiseta de
seus seios, que depois também beijei.
Eu a puxei até o fim e observei como o cabelo comprido dela caía de volta
depois. E então olhei para ela, nua, exceto pela renda, e a urgência ficou
mais forte.
Ela estendeu a mão, tocando meu peito nu, e o contato me fez
estremecer. Foi só então que percebi que estava tão nu quanto ela. Comigo
apenas em minha cueca, ela teria sido capaz de dizer que eu estava
excitado o tempo todo.
E depois estávamos nos beijando novamente, e eu estava brincando
com a bainha da calcinha dela.
E então passei um dedo por cima dela e ouvi um gemido mais alto em
resposta. Esfreguei-me em círculos, cada vez mais rápido, até que seus
olhos se fecharam e ela estava ofegante.
— Oh... oh meu Deus... oh meu Deus... — ela gemeu, e todo o corpo
dela tremeu. Então seus olhos se abriram, e ela mordeu o lábio. — Eu
nunca me senti... assim antes.
— Você não? — eu perguntei, beijando o pescoço dela.
— Nada tão... intenso. — Isso me deixou ainda mais selvagem, sabendo
que eu fui o primeiro a lhe dar essa sensação. Depois senti a mão dela
sobre mim, subindo e descendo o meu comprimento.
Lutei para me controlar, mas vê-la, senti-la, tudo isso estava se
tornando demais.
Eu a levantei do balcão e a beijei profundamente enquanto me agachei
no chão, depois me sentei, ela estava se agachando.
Depois ela se inclinava e me beijava, e eu a agarrava, mas mesmo assim
não era suficiente.
Eu me tirei de minha cueca e deslizei sua calcinha para o lado, e então
eu estava lá dentro. Eu estava empurrando, e ela estava encontrando cada
empurrão com um movimento próprio, de alguma forma tomando o atrito
muito mais intenso.
Ela estava gemendo, e eu não conseguia parar de vê-la — a maneira
como seu corpo se mexia, como ela tocava seus próprios seios, seu próprio
quadril — eu queria que aquela visão durasse para sempre.
Ela voltou para mim, com as mãos segurando meu rosto enquanto
movia seus quadris para cima e para baixo, para cima e para baixo.
— Isso parece... tão bom, — disse ela, com sua voz rouca.
E alguns momentos depois, com seus movimentos se acelerando e
minha urgência conhecendo novas alturas, nós dois gritamos. Eu não
conseguia me lembrar da última vez que havia terminado assim.
O baque, o mesmo baque, fez com que meus olhos ficassem bem
abertos.
E eu estava de volta na minha cama, no meu quarto. Olhei à minha
volta, confuso. Então eu a vi ao meu lado.
A bartender. A do Hatchback, a que tem as covinhas. Ela estava de pé,
olhando para mim, com a mão no estômago.
Eu a empurrei para longe de mim, sabendo que se sua mão se movesse
mais longe ela sentiria mais do que ela esperava.
— O que é isso, — perguntou ela, sobre o som, mas agora o sotaque
dela me incomodava.
— Você pode ir verificar?
Ela encolheu os ombros e acenou com a cabeça, saindo da cama.
Mesmo em sua calcinha preta e sutiã, com sua figura inacreditável e sua
disposição de garota de república, eu não estava pensando em transar com
ela.
Ela abriu uma fresta na porta e chamou.
— Olá?
Ouvi os passos se aproximando. Depois a voz de Lucille.
— Desculpe, senhorita, estou fazendo pãezinhos.
— Que horas são, Lucille? — Eu gritei da cama.
— Dez e trinta, Sr. Xavier.
Eu suspirei enquanto a bartender fechava a porta e voltava para a
cama, subindo por cima de mim e espreitando para baixo.
— Estou pronta para mais diversão, — disse ela, mas meu foco não
poderia estar mais longe.

Capítulo 24
Expectativas malignas
Xavier
A bartender ainda estava de joelhos, olhando para mim em sua lingerie
quando ouvi o toque do elevador.
— Quem diabos é agora? — Eu resmunguei, sentando.
Ela colocou uma mão no meu peito.
— A empregada vai atender, não vai? — ela disse, seu sotaque piorou
minha dor de cabeça.
Eu ainda estava pensando no sonho que eu tinha tido, aquele em que
eu estava envolvido em uma cena de sexo íntima, apaixonada e duradoura
com minha esposa.
A esposa que eu odiava.
— ANGELA! XAVIER!
Merda. Essa era a voz do meu pai. Na sala. Fora do quarto onde eu
estava atualmente dividindo a cama com uma bartender quase nua, minha
esposa dormia em um quarto diferente.
Saltei da cama e mexi para vestir o par de jeans mais próximo que pude
encontrar.
— Você precisa ir, — eu disse a bartender, mal olhei para ela.
— Você está... você está falando sério?
Eu acenei com a cabeça.
— Agora.
— CRIANÇAS, É UM DIA AGRADÁVEL DEMAIS PARA VOCÊS DORMIREM
TANTO!
Ele ainda estava no foyer pelos sons. Joguei uma camiseta e encontrei o
vestido da bartender no chão, atirando-o para ela.
— Vai, vai.
Eu estava tentando pensar em uma maneira de levar Angela ao meu
quarto — apenas pelas aparências, é claro — quando vi o celular na minha
mesa-de-cabeceira acender.
Angela: Seu pai est á aqui.

Xavier: Eu sei, eu tenho ouvidos.

Angela: Ele vai saber que dormimos


separados.

Angela: Ele n ã o pode saber que...

Xavier: Eu sei.

Xavier: Estou tentando pensar.

Angela: H á uma garota com voc ê que não


deveria estar a í .

Xavier: Eu tenho que escond ê - la.


Xavier: Onde est á meu pai?

Angela: Acho que junto ao elevador ainda.

Angela: Se ele for para a cozinha voc ê pode


lev á - la sorrateiramente para fora

Xavier: Mas como vou lev á - la at é l á .

Xavier: Precisamos fazer com que ele se concentre em algo.

Xavier: Al é m de nós.

Angela: Lucille est á aqui.

Angela: Ela pode ajudar.

Xavier: Estou pensando.

Angela: Eu posso ouvi-lo andando.


Xavier: EU SEI.

Xavier: Ainda pensando.

Angela: Ele n ã o pode ver a garota, Xavier.

Estava pensando em como responder a isso quando houve uma batida à


minha porta.
Foda-se.
— Um minuto, pai! — Eu gritei, rachando meu cérebro para encontrar
uma saída. Mas depois ouvi Lucille do outro lado.
— Sou eu! Eu venho com uma toalha! — Corri para a porta e abri uma
fresta, o suficiente para ver seu rosto e pegar a toalha.
— A Sra. Angela teve uma ideia. Se faça de doente. Como um cão. E vá
para o quarto dela. Eu tomo conta da menina.
Ela passou por mim quando disse isso, olhando diretamente para a
bartender tentando se fechar novamente no vestido da noite passada.
Eu não tinha outra solução, então acenei e peguei a toalha. Antes de
Lucille me deixar fechar a porta, ela sussurrou: — Aja naturalmente e seu
pai não vai perceber.
Eu balancei a cabeça. Aqui estava eu, de ressaca e recebendo conselhos
de minha empregada. Quem diria que este dia chegaria.
Eu fechei a porta e fui até o banheiro da suíte. Salpiquei água quente no
rosto e esfreguei meus olhos até ficarem vermelhos, e depois usei as duas
mãos para bagunçar meu cabelo. Dei algumas bofetadas no rosto, com
força, tornando minhas bochechas rosadas.
Depois deslizei para fora do jeans que tinha acabado de vestir e
encontrei um par de calças de moletom velhas no meu armário. Estiquei o
colarinho da minha camiseta até que ela parecesse abatida.
E eu dei uma olhada no espelho. Ótimo.
Voltei para o quarto. A bartender olhou para cima, chocada, cobrindo
seu rosto.
— O que aconteceu com você? — Essa era a resposta que eu estava
esperando. Agora eu convenceria meu pai e a menina a não se sentirem
tão chateados por serem expulsos.
— Estou doente, — eu disse, acompanhando sua bolsa até ela. — Eis o
que vai acontecer. Você vai precisar ser tão sorrateira quanto uma espiã...
— O quê? Por quê?
— Bem. Eu sou casado, — eu disse. — Mas você já sabia disso, então
poupe o drama.
Seus olhos se alargaram. Eu não gostava de ser cruel com meninas que
não o mereciam, mas ultimamente a linha que determinava quem era
estava indiscernível para mim.
Ela dormiu de boa vontade com um homem casado, então quão
inocente ela poderia ser?
— Vou correr para a sala de estar e Lucille vai colocá-la no elevador.
Mantenha sua cabeça baixa até estar na rua lá fora. Entendeu? Quer que
eu repita?
Ela parecia que ia chorar.
Quer ela fosse inocente ou não, eu não tinha tempo para lágrimas,
então peguei a mão dela na minha e a olhei bem nos olhos.
— Eu me diverti com você. Você é uma ótima garota. Agora eu preciso
que você me ajude. Você pode fazer isso?
Ela amoleceu, olhou para o chão e, em seguida, piscou os olhos para
mim. Ela estava definitivamente quente, então por que eu não senti nada?
— Tá bom, — disse ela suavemente.
— Boa menina, — eu disse, e lhe dei um beijo na bochecha.
— Até a próxima vez. — E então eu amarrei a toalha molhada ao redor
do pescoço e abri a porta, deixando sair uma tosse intensa.
Angela
No segundo em que ouvi a tosse de Xavier, abri a porta do meu quarto.
Este teria que ser a performance de uma vida inteira.
Eu não queria fazer nada para ferir Brad, e se ele descobrisse a verdade
sobre nossa situação de vida, sobre seu filho trazer para casa mulheres
diferentes a cada noite, ele definitivamente ficaria entristecido.
Então eu corri para o salão.
— Xavier! Estou chegando! — Ele parecia terrível. Seu rosto estava
suado e vermelho, e eu nunca o havia visto antes com roupas tão
esfarrapadas. Ele continuava tossindo.
— Eu não — Ele parou para tossir — sei o que está acontecendo.
— Tudo bem, — eu disse, agarrando-o pelo braço e puxando-o para
mais perto do meu quarto. — Vai ficar tudo bem.
— Oh, querido, — ouvi Brad dizer por trás de nós enquanto nos seguia
até o meu quarto. Senti os olhos dele observando. — Posso fazer alguma
coisa?
— Tudo bem. Vou pegar o xarope para tosse... — Xavier soltou outra
tosse enorme, e eu o embalei em meus braços, esfregando seus braços. Eu
costumava cuidar de Lucas quando ele estava doente, então isso não era
novidade para mim.
Xavier não parecia ser Xavier. Parecia apenas um garoto que precisava
da minha ajuda.
Ele tossiu novamente.
— Xavier, vou só correr para o meu banheiro e pegar o...
— Besteira, — disse Brad. — Eu pego. Diga em qual gaveta está.
— Está no armário dos remédios! — Eu disse, e Xavier e eu fechamos os
olhos. Brad estava quase no meu banheiro quando vi Lucille correr da
cozinha para o quarto de Xavier.
Ela estava sem dúvida guiando a pobre garota para dentro do elevador.
Ouvi os fracos sons de abertura e fechamento das portas do elevador e,
alguns segundos depois, Brad voltou com a garrafa em suas mãos.
— Bem aqui, — ele disse.
Eu não pude deixar de sorrir.
Todos nós nos mudamos para a sala, e depois da apresentação que
acabamos de fazer, estando perto de Xavier não nos sentimos tão hostis.
Ele continuava me dando olhares estranhos, olhares que demoravam, mas
eu apenas encolhi os ombros.
Talvez ele nunca tivesse sido cuidadoso por alguém que não fosse pago
pra isso — mesmo que ele estivesse apenas fingindo estar doente.
— A razão de eu ter vindo, — começou Brad, sentado em uma poltrona
de couro em frente a nós no sofá, — é para dar aos dois um pouco de boas
notícias. — Ele olhou de mim, ainda em meu pijama com meu cabelo em
rabo de cavalo, para seu filho de pele manchada.
— Vocês dois parecem que poderiam usar boas notícias. — Ele soltou
um risinho.
— Lamento que tenha vindo em uma manhã tão difícil, — eu disse. —
Xavier me pediu para dormir no quarto de hóspedes ontem à noite para
que eu não pegasse a gripe dele. — Xavier olhou para mim, como se
estivesse procurando algo em meu rosto. Então ele voltou para o pai dele.
— Não queria que ela ficasse doente por minha causa.
— Meus pombinhos, — Brad se acalmou. — Ok, o negócio é o seguinte.
Xavier, você sabe sobre a quarta-feira de gala.
Xavier acenou com a cabeça.
— Até lá já estarei melhor.
— Claro que estará! Angela, você também se juntará a nós.
A cabeça de Xavier levou um tiro.
— O quê? Pensei que era só você e eu na mesa.
— Era, — disse Brad. — Mas então Grant, você se lembra de Grant, ele
decidiu trazer sua esposa junto. E o resto dos meninos seguiram o
exemplo. Então agora é menos uma mesa de negócios e mais uma mesa
social. Então, Angela virá junto. Se não se importar, querida.
— Claro, — eu gaguejei. Um evento de gala?
— Maravilhoso. É esta quarta-feira. Xavier lhe dará os detalhes. Tenho
certeza de que ele está morrendo de vontade de exibi-la. — Brad ficou de
pé, batendo palmas uma vez.
— Vou embora agora, e deixo você voltar à sua recuperação.
Caminhei até ele e lhe beijei a bochecha.
— Obrigada por ter vindo, — eu disse.
— Você vai adorar. Paris, no inverno. Não há nada mais romântico.
O que ele acabou de dizer! Eu olhei para Xavier, mas sua cabeça estava
abaixada, olhando para o chão. Então voltei para Brad.
— Paris? — Eu sussurrei.
— Xavier não lhe disse? É lá que é o evento de gala, querida. — Ele
beijou minha outra bochecha e deixou Lucille acompanhá-lo até o elevador.
Quando as portas fecharam, olhei para Xavier, ainda em estado de choque.
— Vamos a Paris?
— Por que você não disse não? — perguntou ele, imediatamente
depois de eu ter falado. Ele parecia bravo.
Eu estava tão confusa. Eu pensava que estávamos nos entendendo.
Tínhamos acabado de usar o trabalho em equipe para convencer Brad de
que estávamos realmente apaixonados, então eu estava pelo menos
esperando que fôssemos civilizados quando ele partiu.
Mas ele não tinha ido nem cinco segundos antes de Xavier começar a
gritar comigo, como se tivesse esquecido tudo o que eu tinha acabado de
fazer por ele. Este era o Xavier que eu estava mais acostumada a ver,
aquele que me deixava nervosa.
— Você queria que eu dissesse não?
— Por que eu gostaria que você dissesse sim? — gritou ele, de pé. —
Esta era para ser uma viagem de negócios. Para assinar um acordo muito
importante. E depois do negócio que você arruinou, você e seu amigo
artista, eu preciso que este seja perfeito.
Eu dei alguns passos para trás. Ele não estava fazendo nenhum sentido.
Eu não sabia como responder.
— Eu... sinto muito.
— Você está arrependida?
— A ideia não foi minha, — eu disse calmamente, olhando para o chão.
— Eu tenho coisas para fazer na cidade na quinta-feira. Tenho uma
entrevista para um trabalho. Agora eu não poderei ir a isso.
Mesmo que eu estivesse dando uma desculpa, era verdade. Eu tinha
uma entrevista. Era em uma startup tecnológica chamada Jumper.
Era uma empresa pequena, mas que vinha se destacando no mundo da
tecnologia. Quando eu os procurei, eles não tinham ouvido falar de mim
ou do meu chefe.
Ajudou que eu tivesse usado meu nome de solteira, é claro, mas
mesmo assim. Fiquei entusiasmada pela entrevista, pela oportunidade de
me tornar útil a uma empresa que estava fazendo grandes coisas.
Mas agora eu teria que cancelar para poder ajudar os Knight. Quanto
mais eu pensava sobre isso, mais frustrada ficava. Mais um exemplo de que
eu coloco minha vida de lado para que os Knight pudessem tirar de mim o
que precisavam.
E nenhum agradecimento em troca. Era como se todas as coisas que eu
tivesse feito por eles passassem despercebidas.
Pior do que passar despercebidas, ele gritava.
— Oh, pobre alma! Você não poderá ir a uma entrevista! Eu não
poderei conseguir uma parceria multimilionária de rebranding porque o
Graden odeia você! Porque ele sabe que você é uma oportunista! Por isso,
preciso deste acordo de Paris para compensar TODAS AS COISAS QUE VOCÊ
ESTÁ ARRUINANDO!
Eu senti as lágrimas chegando. Tentei apertar meus olhos para segurá-
las, mas não adiantava.
— Você tem a audácia de reclamar por ter sido convidada, — disse
Xavier, mudando de tom agora. — Você deveria estar muito grata.

Capítulo 25
Nas nuvens
Angela
Eu estava tendo um daqueles momentos musicais. Aqueles em que você se
sente de certa forma e tenta ouvir música que a fará sentir algo mais. Era
terça-feira de manhã, e eu tinha que me encontrar com Xavier no
aeroporto em uma hora.
Eu estava sentindo uma mistura de emoções: assustada, chateada,
frustrada.
Assustada, porque a ideia de estar em uma cidade estrangeira sozinha
com Xavier era uma ideia que eu nunca tinha tido que enfrentar antes.
Perturbada, porque desde que Brad tinha vindo no domingo, Xavier não
tinha nem mesmo olhado para mim, muito menos pedido desculpas. Era
como se ele estivesse me evitando ativamente.
Apesar de ter sido ele quem gritou comigo, que me assustou, foi como
se me ver fosse muito difícil para ele.
E frustrada porque eu ainda estava irritada, já que minha vida tinha que
esperar sempre que Brad ou Xavier precisavam de mim e que Xavier nunca
reconheceu que era difícil para mim também.
Mas debaixo de todas essas emoções, não pude deixar de me lembrar
que eu estava indo para Paris. Eu estava indo para a única cidade que toda
garotinha sonhava em visitar.
E eu tinha que ir.
Na verdade, a música estava ajudando a aumentar minha animação. Eu
estava dobrando as blusas em uma mala que Lucille trouxe para mim e até
me senti dando um pouco de brilho no refrão.
Eu havia contado ao papai sobre minha viagem pelo telefone ontem à
noite, mas não havia falado com mais ninguém. Meu pai parecia estar com
um som rouco e fraco, assim como quando eu o visitei na semana passada.
Mas ele ainda era meu pai, continuava a contar piadas sobre eu comer
pernas de sapo.
— Se eu não ouvir você coaxar quando você voltar, ficarei desapontado,
— ele disse.
Eu queria ligar para Lucas e dizer-lhe, mas as coisas ainda estavam
estranhas.
Tínhamos conversado brevemente sobre nosso pai, prometendo marcar
uma hora com Danny e o Dr. Kaller para rever todas as opções, mas o Dr.
Kaller tinha recomendado manter o pai nos testes até o final do mês.
Portanto, não tínhamos necessidade de nos vermos.
Decidi que ligaria para ele assim que voltasse a Nova Iorque. Ele era
meu melhor amigo, meu irmão, e eu sentia falta dele. Enquanto ele estava
feliz, eu estava feliz.
Em, por outro lado, tinha me ligado muito. Tínhamos falado algumas
vezes esta semana, mas toda conversa tinha sido curta. Eu não fiz nenhuma
pergunta urgente, nem ela deu respostas detalhadas.
Assim, fingimos que tudo estava normal e que nada tinha acontecido.
Mas por alguma razão, embora tenhamos falado no domingo à noite, eu
não lhe havia contado sobre Paris.
Percebi que eu queria que alguém além do meu pai ficasse
entusiasmado por mim, para compartilhar minha pequena animação.
Então eu peguei meu celular e enviei uma mensagem de texto para ela.

Angela: Tenho novidades.

Angela: Grandes novidades.

Em: ?????

Em: Manda

Angela: Começa com um 'P'...

Em: Xavier vai ser PAPAI?!?


Angela: MDS

Angela: NÃO

Angela: !!!!!!!

Em: Ent ã o eu preciso de uma dica melhor

Em: Paris?

Em: Oh, meu DEUS!

Angela: A... R... I... S...

Em: PARIS!?!?!?!

Angela: Sim!

Angela: Estou saindo em uma hora.


Em: Angie

Em: Costum á vamos sonhar com Paris

Angela: Eu sei!

Angela: Estou entusiasmada

Em: Como est ã o as coisas com o Xavier?

Angela: Est ã o... ok

Angela: Com seus altos e baixos.

Em: Ao menos voc ê ter á Paris.

Cheguei ao aeroporto e encontrei Marco esperando por mim junto às


portas do Terminal 3.
— Pronta?, — perguntou ele, tirando minha mala rolante de mim. Eu
acenei, e começamos a caminhar para um elevador junto à parede lateral.
O elevador era tripulado por um ascensorista com um terno preto, usando
óculos escuros, mesmo estando nós dentro do prédio. O homem apenas
acenou com a cabeça para Marco e apertou o botão para baixo.
Marco e eu descemos com o elevador, e depois as portas se abriram.
Andamos pelo chão até chegarmos a umas portas, e Marco manteve
uma aberta para mim enquanto andávamos do lado de fora. Estávamos em
uma pista de decolagem, isso estava claro.
Vi um Range Rover estacionado e, a alguns metros à sua frente, um
jato. Eu não podia acreditar. Ninguém tinha me dito que estávamos
pegando um jato. Marco andou à minha frente, e eu corri para
acompanhar.
— Isso é... isso é só para nós?
Ele olhou para mim e sorriu. Xavier já estava subindo as escadas para o
jato quando o alcançamos. Eu olhei para Marco, e ele me pediu que o
seguisse. Então eu comecei a subir.
Fiquei sem palavras. O interior do jato estava imaculado, como nada
que eu já tivesse visto antes. A última vez que estive em um avião eu tinha
sete anos de idade.
Minha mãe e meu pai haviam me levado, Lucas e Danny para a Flórida
para ver nossos avós. Os pais de minha mãe moravam lá, e tínhamos
passado um fim de semana com eles.
Lembro-me do voo ser aterrador, com muita turbulência. Eu não tinha
voltado a bordo de um avião desde então. Mas isso, isso não parecia um
avião. Parecia um palácio futurista, com assentos de couro caramelizado e
cobertores em cima.
Até mesmo as comissárias de bordo pareciam celebridades. Olhei em
volta e vi Brad em uma cadeira, uma máscara de olhos sobre seu rosto.
— Eu não estou dormindo, — ele disse, como se me sentisse olhando.
Ele tirou um canto da máscara dos olhos. — Oi, querida.
— Olá! — Eu disse.
— Xavier foi para o quarto para dormir um pouco. Você pode se juntar
a ele, se quiser. — Eu estremeci com a ideia de dividir uma cama com
Xavier no meio do céu... Eu nem conseguia pensar nisso.
— Tudo bem, eu fico aqui fora com você.
— Escolha qualquer lugar que quiser. — Sentei-me ao lado de uma
janela e apertei bem o cinto de segurança. Eu não podia acreditar que, em
poucas horas, eu estaria em Paris.
Xavier
Aterrissamos em Paris e entramos no Mercedes G-Wagon que estava
esperando no asfalto, acelerando diretamente para o hotel. Era o meio da
noite aqui, e eu estava pronto para chegar à cidade.
Não me importava que eu deveria mostrar a cara amanhã de manhã.
Paris não dormiu, assim como eu também não. Quando paramos, entrei no
hotel sem esperar pela Angela.
Meu pai levou um carro separado para o hotel, então eu não precisei
me preocupar com suas perguntas. O que foi bom porque eu não
suportava mais estar no mesmo espaço que ela.
Depois daquela noite, daquele sonho, eu tinha tido mais dois sonhos
como aquele. Era como se ela não deixasse meu subconsciente em paz. E
eu também não conseguia me afastar dela quando estava acordado.
Eu a queria fora da minha cabeça e fora da minha vida. Eu sabia que
não gostava da garota. Eu sabia que ela era uma pequena oportunista que
só se importava com uma coisa — usando o que os Knight tinham a seu
favor.
Então eu não sabia porque uma parte de mim estava tão visceralmente
cativada por ela.
Eu sacudi esses pensamentos e peguei a chave do quarto do atendente
da recepção.
— Obrigado, — eu disse, virei e me dirigi para o elevador. Entrei na
suíte e estava colocando minhas coisas no quarto principal quando a porta
se abriu.
Era Angela, com os olhos mais fechados do que nunca.
— Oh. Estamos no mesmo quarto.
— Claro que estamos, — eu soltei. — Meu pai fez os preparativos.
— Certo, — disse ela. — Desculpe.
— Este é meu, — eu disse, e depois fechei a porta para não ter que vêla
mais. Ouvi-a empurrando a cabeça para os outros quartos, tentando
encontrar outro.
Eu tirei a roupa que havia usado no voo e vesti uma roupa diferente e
depois voltei para a área principal da suíte.
— Eu vou sair. O evento de gala é amanhã às sete e meia.
A porta dela se abriu e ela espreitou para fora.
— Entendi, — disse ela suavemente.
Fizemos contato visual por um momento e depois abri a porta da frente
e caminhei pelo corredor.

Angela
Eu estava em meu quarto na suíte do hotel, olhando pela janela. Era a
manhã seguinte, e me senti refrescada quando acordei. Eu nem tinha
ouvido Xavier chegar em casa depois de uma festa. E agora, eu estava
olhando para a cidade que estava diante de mim.
Claro, era triste que eu estivesse na cidade do romance sozinha. Mas eu
não queria ficar pensando nisso.

Brad: Estou na sua porta.

Brad: Abra, por favor.

Eu aconcheguei meus cabelos ondulados atrás das orelhas e corri para fora
do meu quarto até a porta da frente da suíte. Abri e lá estava Brad,
parecendo muito europeu em um blazer azul.
Ele beijou minhas duas bochechas e depois me entregou um envelope.
— Querida, bem-vinda a Paris, — ele disse, pronunciando Paris à
maneira francesa.
— É incrível, — eu soltei.
— A primeira vez sempre é. — Ele piscou o olho. — Pegue isso. Vá para
o endereço no cartão. — Eu abri o envelope e encontrei um cartão de visita
em branco, com um endereço rabiscado no verso.
— O que é isso?
— Um mundo totalmente novo, — ele disse, apertando meu braço. —
Encontre um vestido para você. Para hoje à noite, — acrescentou ele,
depois se virou.
Eu o vi desaparecer pelo corredor e não pude deixar de me sentir
entusiasmada. Brad sempre me fez sentir como uma princesa, mesmo
quando seu filho me fazia sentir como um sapo.
Dei mais uma olhada no quarto do Xavier, pensando se ele estava lá
dentro.
E então saí para o corredor, com a bolsa no ombro e o cartão de visita
na mão. Ia encontrar um vestido.
Quando cheguei ao endereço, vi que se tratava de uma loja de roupas
especializada. Os mais sofisticados e intrincados vestidos que eu já tinha
visto.
Quando me apresentei à senhora chique atrás do balcão, a que tinha
cabelos grisalhos e com batom vermelho brilhante, ela me olhou de cima a
baixo. Depois ela deixou rolar um sorriso lento pelo rosto.
— Bom, — disse ela. Ela começou a puxar os vestidos para baixo e
colocá-los no trocador, que era mais como uma suíte.
Ela me trouxe uma taça de champanhe para beber enquanto
trabalhava, e quando tinha o número de vestidos com os quais estava feliz,
ela tirou a taça das minhas mãos.
— Você. Vá, — disse ela, apontando para o trocador. Ela me entregou o
primeiro vestido, uma obra-prima sem alças amarelo pálido que era
elegante e original ao mesmo tempo.
Ela me ajudou a colocá-lo, e quando estávamos olhando para ele no
espelho, ela arranhou o nariz e deu um abanão na cabeça.
— Próximo.
E esse foi o processo. Ela me ajudava a vestir um vestido, a coçar o
nariz, a abanar a cabeça e a voltar para a prancheta de desenho. Até que
experimentei o preto. Era de veludo preto, o que soava estranho, mas ao
vê-lo... uau.
Foi espetacular. Apertou meu corpo, mas ainda estava confortável. E
quando a senhora o viu, sua mão foi até o coração e ela arfou. Eu sabia que
era esse.
Ela o embalou e o levou para a frente.
— Tenho o cartão de Monsieur Knight no arquivo, — disse ela e me deu
um par de stilettos pretos em uma bolsa separada. — Você usa isso.
Eu acenei com a cabeça.
— Certo. Obrigada.
A senhora estava apenas imprimindo o recibo quando outra vendedora,
mais jovem, com um cabelo loiro e olhos verdes brilhantes, veio até o
registro.
Ela disse algo à senhora em francês, o que eu não entendi. Mas então
ouvi a senhora responder, com a palavra "Knight" na frase.
A menina loira disparou seus olhos de volta para mim, me olhando de
cima a baixo de uma forma que me fez sentir violada. Então ela riu e se
voltou para a senhora que me ajudou.
— Não. — Ela riu novamente, a senhora bateu em seu braço, e então
a garota foi embora. Eu não sabia o que tinha acabado de acontecer, mas a
endorfina deixou meu corpo tão acelerado quanto chegou.
Eu peguei a sacola de roupa e de sapatos da senhora.
— Obrigada, — eu disse, com meus olhos no chão enquanto eu saía
correndo da loja. Eles provavelmente estavam falando sobre como o
vestido não deveria ser usado por uma pessoa como eu.
Como se não enganasse ninguém, no evento de gala, em Paris, ou em
qualquer lugar. Todos podiam ver que eu não pertencia a este lugar.
Capítulo 26
Atrasado para o riso
Angela

Angela: Estamos indo juntos?

Angela: Para o evento de gala?

Angela: Xavier

Angela: Ol á ?

A suíte do hotel estava vazia quando voltei, e Xavier não estava


respondendo às minhas mensagens. Eu me preparei em meu quarto,
sozinha, pensando que quando eu terminasse, Xavier já estaria de volta de
onde quer que estivesse.
Eu sabia que ele tinha amigos em Paris, que ele tinha negócios a fazer,
mas não esperava que ele me abandonasse completamente no segundo
em que chegássemos aqui.
Vamos, Angela, eu mesma me repreendi. É claro que Xavier Knight a
abandonou.
Já estava com o vestido agora, e eu me olhava no espelho. Mesmo
depois do banho quente que tomei, ainda não me sentia como se o tecido
merecesse me cobrir.
Fechei os olhos e tentei me convencer a sentir novamente os
sentimentos que havia sentido da primeira vez que me vi usando o vestido
no espelho. Na loja, no trocador gigante, com a vendedora chique
ofegando em aprovação.
Naquele instante, eu me sentia digna.
Puxei meus cabelos na frente de meus ombros, levando minha
ondulação naturalmente macia até logo abaixo da linha do pescoço do
vestido. Apliquei algumas pinceladas de rímel e coloquei um pouco de
bálsamo labial para acrescentar um pouco de umidade.
Estavam secos desde o voo. Depois verifiquei o relógio.
Eu estava ficando sem tempo para esperar que Xavier voltasse para a
suíte. O evento de gala era lá embaixo, no salão de baile, mas eu tinha que
tomar uma decisão.
Eu poderia esperar que ele voltasse, e possivelmente ser castigado por
Brad por estar atrasado, ou poderia descer a tempo e ser castigada por
Xavier por não esperar por ele. Até eu sabia que maridos e esposas,
inclusive aqueles que não estavam exatamente apaixonados, deveriam
entrar juntos nesses eventos.
Ponderei minhas opções. Eu tinha sido castigada por Xavier quase todos
os dias desde que nos casamos. Embora não fosse a coisa mais agradável
de suportar, muitas vezes terminando comigo em lágrimas, não achei que
fosse tão doloroso quanto o desapontamento de Brad.
Brad sempre foi gentil comigo, como se acreditasse em mim, e eu não
queria que isso desaparecesse. Eu queria que ele continuasse a ter orgulho
de mim como nora.
Então peguei minha bolsa, endireitei minha aliança e saí da suíte do
hotel às sete e vinte e seis da noite.
Assim que as portas se abriram, vi um homem usando um terno e um
fone de ouvido sinalizando para eu atravessar o conjunto de portas à
minha direita. Virei minha cabeça, conseguindo ver mais três homens de
terno com fones de ouvido, um na frente de cada um dos elevadores.
Este vai ser um espetáculo e tanto, pensei eu.
— Mademoiselle?, — o homem designado para o meu elevador disse
impacientemente. Sua mão continuou apontando para as portas atrás dele.
— Desculpe, — eu disse, andando o mais rápido que pude nos saltos de
dez centímetros que a vendedora tinha me dado. Meus pés já estavam
apertados, mas consegui chegar inteira até as portas. E então as empurrei
para abrir.
Por dentro, parecia um casamento real. O salão de baile era enorme.
Tentei perceber onde terminava, mas parecia o horizonte. Cada vez que eu
pensava entender onde estava em relação a ele, o final parecia ficar mais
distante.
Para onde quer que eu olhasse havia lustres dourados, peças centrais
douradas, joias de ouro.
Havia um tapete dourado à minha esquerda e um grupo de pessoas
lindas em roupas inimaginavelmente bonitas esperando sua vez de descer
por ele.
Em frente ao tapete, havia uma fila de fotógrafos, suas câmeras
piscando com a pressa de touros atacando um toureiro.
Outro homem com um fone acenava para eu entrar. Olhei em volta
freneticamente. A ideia de ser fotografada sozinha, com todos os olhos e
lentes dos fotógrafos sobre mim, era aterrorizante.
E então eu o vi.
Sempre em frente, falando com um bando de mulheres
impossivelmente magras. Ele estava usando suas mãos para fazer grandes
gestos, parecendo tão animado como sempre. Daqui eu podia ver o sorriso
em seu rosto. Eu não podia acreditar.
Ele tinha vindo para o evento de gala sem mim.
O homem com o fone de ouvido diante de mim se virou para ver o que
eu estava olhando, e não deve ter tido problemas para perceber que era
Xavier.
— Você quer que eu vá buscar seu marido para que vocês possam tirar
uma foto juntos, Madame Knight?, — perguntou ele, com um sotaque
francês forte.
— Uh... isso seria... ótimo, — eu disse, sentindo minhas bochechas
ficarem vermelhas sob o olhar daqueles ao meu redor. Então o homem saiu
correndo para trazer Xavier até mim, e eu esperei as palavras inflamadas
que eu sabia que ele diria quando chegasse.
Aguente firme, eu me instruí. Era apenas uma noite. E foi para Brad.
Eu vi que o homem tinha chegado a Xavier e estava apontando para
mim. Eu desviei meus olhos quando eles começaram a caminhar na minha
direção e, sem querer, olharam para um homem de meia-idade, baixo e
robusto, vestindo uma gola rolê preta debaixo de seu terno trespassado.
Senti os cabelos em meus braços se levantarem por uma razão que não
pude nomear. Talvez tenha sido a intensidade com que ele olhou para mim.
Voltei para a frente da sala, a tempo de ver Xavier dar os últimos passos
até mim.
— Oi, querida, — ele disse, alto o suficiente para que aqueles ao meu
redor pudessem ouvir. Ele beijou ambas as minhas bochechas. — Você está
linda.
— Obrigada, — eu disse. Embora parte de mim soubesse que era só
para disfarçar, as palavras que saíram de sua boca ajudaram a elevar a
minha confiança. Era quase nossa vez de caminhar no tapete, e a senhora
encarregada de organizar todos saudou Xavier pelo nome.
— Bem-vindo de volta, monsieur, — disse ela, ignorando-me
completamente. Eles trocaram algumas palavras, e então ela o dirigiu para
o centro do tapete. Ele me olhou de volta, segurando sua mão com
expectativa.
Eu nunca tinha ficado tão feliz em pegar a mão do meu marido. Ele
olhou diretamente para as câmeras e deu seu rosto de sempre: meio
sorriso com uma mandíbula fixa, olhos levemente esguios.
Depois de um segundo de observação do que ele estava fazendo, tentei
sorrir o melhor que pude. Eu não queria exagerar, mas também não queria
parecer que não estava me divertindo. Por isso sorri genuinamente, com a
boca fechada.
Depois do que pareceu uma vida inteira, Xavier me tirou do tapete.
Antes que eu pudesse dizer qualquer coisa, um casal mais velho nos parou,
nos cumprimentando.
— Xavier! Ela é adorável, — exclamou a senhora, me medindo.
— Obrigada, — eu disse, com olhos no chão. Eu sentia que ia ter uma
overdose de atenção.
— Você se saiu bem, filho, — disse o homem, batendo no ombro de
Xavier.
— Eu tento, Grant. Você sabe disso. — O casal riu.
— Pensamos que você estaria em nossa mesa? — perguntou a mulher.
— Eu também pensava assim, mas meu pai teve uma reorganização de
última hora. Parece que queria todas as crianças na mesa das crianças.
— Nesse caso, é melhor você me guardar uma dança, Xavier, — disse a
mulher enquanto afastava seu marido.
— Vou reservar três pra você, — respondeu ele, piscando. Ele estava
em seu habitat.
— Vamos para a mesa, — ele me disse, decolando na direção das mesas
redondas que cobriam a maior parte do espaço.
Ao nos aproximarmos daquela mesa em que muitas das meninas com
quem o vi falar antes estavam sentadas, senti as palmas das minhas mãos
suarem. Essas meninas pareciam modelos, como o tipo de mulheres que
iam ao Pilates e namoravam celebridades.
O tipo de mulher que não ficaria deslocada ao lado de Xavier em um
tapete dourado.
Todas elas se viraram quando chegamos à mesa, e Xavier na verdade
levou um tempo para me apresentar.
— Senhoras, — começou ele, — esta é Angela. Minha esposa.
As mulheres olharam de Xavier até mim. Eu mantive minha respiração
— seus olhos cobriram cada centímetro de mim enquanto eu esperava — e
então, finalmente, aquela sentada mais próxima de onde estávamos,
começou a bater palmas.
Calma. E então as outras mulheres, todas elas se juntaram a nós.
Até que todas as quatro, com seus vestidos de grande comprimento,
estavam aplaudindo. Eu estava confusa.
Estavam me aprovando? Ou estavam zombando de mim?
Esta era uma estranha saudação de costume na França?
Mas então a líder falou.
— Ela é belle, — ela zombou, apesar de eu achar que sabia que a belle
era uma coisa boa. Como linda. Xavier sorriu, como se estivesse na
brincadeira, e puxou uma cadeira para fora para sentar.
Olhei para ele por algum tipo de explicação, mas quando ele sentiu meu
olhar, voltou-se para mim e disse:
— Venha, sente-se. — Então eu puxei o assento ao lado dele e
senteime.
As mulheres tinham começado a falar entre si novamente, a mais
próxima de Xavier puxando-o para a conversa, e eu novamente fiquei do
lado de fora. Um garçom apareceu atrás de mim e disse algo em francês
que eu não entendia.
Eu não queria ser objeto de mais atenção, por isso acenei com a cabeça
para ele. Ele repetiu as mesmas palavras novamente, e eu abri a boca, mas
nada saiu.
— Ela terá o Grigio, — a mulher ao lado de Xavier falou ao garçom.
Fui humilhada, me chutando por não ter apenas pedido que ele falasse
inglês. Todos falam inglês. O servidor acenou com a cabeça e caminhou até
o balde de gelo que segurava duas garrafas, trazendo uma e servindo-me
um copo.
Eu tomei um gole, meus nervos estavam inquietos.
— Calma, senhora, — disse a líder em voz alta do outro lado da mesa.
— Este fica nervoso quando sua mulher fica bêbada. — Ela piscou o olho,
olhando para Xavier.
Senti minhas bochechas queimarem pela milionésima vez. Será que ela
estava insinuando que ela e Xavier tinham...?
— Não seja ruim, Darla, — respondeu Xavier, chutando uma perna
sobre a outra e inclinando-se para trás em sua cadeira.
— Por quê? É assim que você gosta de mim, não? — Ela piscou o olho
de novo. As mulheres todas riram. Eu não podia acreditar nela, nem nelas.
Eu estava sentada aqui do lado. Ele era meu marido.
— Com licença, — eu disse calmamente, empurrando minha cadeira
para trás e deixando a mesa. Eu precisava de algum espaço para respirar.
Havia um bar junto à parede, e estava bem vazio. Eu passei por cima e
pedi um copo de água com gás. O barman o trouxe quase imediatamente,
mas antes que eu pudesse agradecê-lo, senti uma mão no ombro.
— Essa não é uma bebida forte o suficiente para uma senhora tão
bonita, — disse o homem de antes, o de gola alta, com um sotaque francês
forte.
Olhei para sua mão, ainda descansando em cima do meu ombro nu.
— Tudo bem, — eu respondi. Agarrei minha bebida para me afastar,
mas sua mão apertou minha mão.
— Não posso convencê-la a tomar uma bebida comigo...
— Talvez mais tarde, — eu disse, encolhendo os ombros. Eu não queria
ser rude, mas havia algo nele que fazia meus sentidos ficarem em guarda.
Peguei meu copo e caminhei ao redor da circunferência do salão de baile,
absorvendo durante todo o tempo todos os detalhes que tinham sido
arranjados.
Quando voltei para a mesa, já havia cestas de pão e manteiga. Tomei
meu lugar, as mulheres e Xavier ainda estavam de conversa.
Deixe-os falar. Eu teria um pedaço de pão, pensei, e peguei a cesta.
Ao deixar cair um pãozinho fresco em meu prato e espalhar um pouco
de manteiga sobre ele, fiquei tão preocupada com o cheiro bom que não
percebi que a conversa ao meu redor havia parado.
Eu trouxe um grande pedaço de pão para a minha boca e mordi —
estava delicioso — mas depois ouvi a mulher mais próxima de Xavier dizer:
— Ela come pão?
Eu engoli, olhando para as mulheres que me olhavam com repugnância.
Nenhuma delas estava comendo. Nem mesmo Xavier estava.
— Sua esposa, — começou a líder, olhando diretamente para meu
marido. — Ela estará gorda antes que você perceba.
— A gordura é melhor que ser brega, — outra se intrometeu.
— Pelo menos quando você é brega, você não está roubando o dinheiro
de outro.
Meus ouvidos começaram a zumbir. Sangue correu para o meu rosto.
Eles estavam falando de mim.
E assim abertamente, sem vergonha alguma. Os insultos continuavam
vindo, cada um pior do que o último, e Xavier apenas sentado ali, um
sorriso em seu rosto.
Sempre pensei que meu marido seria um homem que me defenderia,
que me protegeria e que se asseguraria que eu estivesse longe do perigo.
Mas em vez disso, meu marido apenas tomou outro gole de seu vinho
gelado e riu junto com as mulheres que não comeram pão.
Capítulo 27
Sob Ataque
Angela
Era um borrão. Eles estavam rindo, todos eles, e eu me sentia como se
estivesse em um palco com um holofote gigante sobre mim, com o público
capaz de ver meus pontos mais fracos, de apontar minhas vulnerabilidades,
sem muito esforço.
Eu nunca havia sido objeto de tal intimidação antes. Não que eu tivesse
sido popular no colegial — nem de longe — mas nunca fui aquela em
quem as crianças legais concentravam sua atenção.
Eu era quieta e desaparecia facilmente, então fazer troça de mim não
teria sido muito divertido.
Mas aqui, em um lugar como este? Eu fiquei sem chão. Eu sabia que
neste vestido, com esta multidão, eu parecia que estava tentando
desesperadamente me encaixar. E eu tinha me casado com Xavier
Knight, que era a pièce de resistance da elite.
Portanto, eu era um alvo fácil. Mas mesmo assim, eu não podia
acreditar que eles me tratavam assim. Estávamos fora do colegial. Eles não
deveria ter previsto isso?
Eu estava no banheiro, no banco para deficientes. Normalmente eu
nunca ficaria ali porque isso não era justo para as mulheres em cadeira de
rodas que realmente precisavam, mas era uma emergência.
As lágrimas tinham começado a vir quando eu estava correndo o mais
rápido que meus calcanhares podiam me carregar para fora do salão, e a
única coisa em que eu podia pensar era que eu precisava de um lugar
seguro para me esconder.
O banheiro para deficientes era o único aberto, portanto era minha
única opção. Eu não podia ter mais nenhum dos participantes do evento
tirando sarro de mim, então saltei para dentro e tranquei a porta o mais
rápido que pude.
Angela: Em

Angela: Est á a í ?

Em: Sim, na loja.

Em: Apenas ajudando um cliente, vc est á bem?

Angela: Sim...

Angela: Eu estou bem

Eu não sabia porque não disse a verdade a Em, que eu era o motivo de riso
de toda a cidade. Que eu obviamente não pertencia a esse mundo, como
eu vinha dizendo o tempo todo.
Que meu próprio marido teria derramado sangue de porco sobre mim
se isso fizesse parte do plano que as meninas tinham conspirado.
Mas então percebi que era porque nunca tinha sido humilhada desta
maneira antes. Nunca tinha ficado tão envergonhada e constrangida, ao
ponto de falar se tornar uma dificuldade tão grande.
Pensei que minha bússola moral, e minha adesão a segui-la, garantiria
que eu pudesse sempre ficar de pé e ter orgulho de minhas ações. Mas
aqui estava eu, em um banheiro para deficientes, soluçando porque tinha
comido um pouco de pão.
Tirei um lenço de papel do rolo e sequei minhas bochechas. Estava
cansada de me sentir mal comigo mesma. E parecia que o tempo todo eu
tinha conhecido os Knight, que era tudo o que eu tinha feito.
Eu assoei meu nariz com o papel higiênico e decidi que era o suficiente.
Chega de sentir pena de mim mesma.
Acabei com esse coitadismo.
Eu estava aqui por Brad, e era apenas uma noite. Consegui usar um
vestido fabuloso e estar rodeada de ouro em todos os lugares que olhava.
Então eu empurrava a humilhação para o lado e eu coloquei um sorriso
no meu rosto, e talvez se eu tentasse o suficiente, eu pudesse me enganar
e me divertir um pouco.
Eu reapliquei meu bálsamo labial, e depois saí do banheiro. O banheiro
estava cheio quando entrei, mas agora estava vazio. Talvez isso fosse um
sinal de que ninguém mais se meteria comigo.
Caminhei até o espelho e, colocando minhas mãos sobre o mármore
frio do balcão, me olhei nos olhos.
— Você é Angela Carson. — Eu balancei a cabeça. Eu teria que ser real
comigo mesmo.
Eu comecei de novo.
— Você é Angela Knight, — eu disse. — E você vai superar isso.
Eu o disse com uma intensidade tão calma que eu,
surpreendentemente, acreditei nas palavras. Certifiquei-me de que não
havia rímel sob meus olhos, e depois saí do banheiro.
Brad, de smoking, saiu do banheiro dos homens quando eu emergi. Eu
o vi primeiro.
— Olá! — exclamei, e ele me viu, um enorme sorriso crescendo em seu
rosto.
— Angela, — declarou ele, me pegando pela mão e me girando. — Você
é simplesmente arrebatadora.
— Obrigada, — eu disse, corando novamente. Mas, desta vez, por uma
boa razão.
— Não, obrigado. Por ter vindo. Eu sei que Xavier está agradecido por
você estar aqui.
Mordi a língua antes de poder contar-lhe qualquer história sobre meus
companheiros de mesa.
— Claro, — eu disse em seu lugar. — Eu conheci algumas de suas
amigas.
— Oh, as senhoras? Sim, ele as conhece desde a escola preparatória. As
melhores da França. Venha, venha, eu a acompanho de volta à mesa.
Meu estômago se espreitava, mas eu ergui a cabeça e aceitei o cotovelo
de Brad enquanto andávamos através das mesas. Quando chegamos à
minha, Brad limpou sua garganta.
Havia um refrão de "Olá! Brad!" e "Prazer em vê-lo"!
E depois de inclinar-se sobre cada mulher e ter tido uma breve conversa
com elas, Brad deu tapinhas nas costas de Xavier, beijou sua mão e acenou,
e então ele saiu para conversar com outro participante. As mulheres
voltaram sua atenção para mim.
— Para onde você foi? — perguntou a líder.
A mulher ao lado dela bateu algumas vezes na narina e depois levantou
a sobrancelha para mim, como se ela estivesse implicando algo que eu não
entendia.
— Uma drogada, também? — perguntou-lhe a mulher ao lado de
Xavier.
— Ah, sim, — respondeu a líder. — Isso faz sentido. Ela usa o dinheiro
para as drogas. Classique, não?
Tudo o que eu tinha dito a mim mesma no banheiro foi embora. Eu não
podia mais estar nesta mesa, nem por mais um segundo.
Então eu peguei minha bolsa na parte de trás da cadeira e fui embora,
ouvindo as mulheres e o riso de Xavier atrás de mim. Eu não sabia para
onde estava indo, mas sabia que precisava sair de lá.
O jantar ainda nem tinha sido servido, mas era demais. O vestido
apertado e estes malditos sapatos estavam dificultando o movimento para
além de um ritmo de caminhada, mas eu estava determinada a sair da sala
o mais rápido que podia.
Finalmente entrei pelas portas e estava de volta ao elevador, mas parei,
vendo Brad falando com um dos homens de fones em frente aos
elevadores.
Ele estava tendo uma conversa animada, e eu não queria que ele me
visse partir.
Voltei para as portas que abriam a gala. Não pude voltar para dentro,
de jeito nenhum. Olhei em volta, tentando manter meus movimentos
lentos e sutis para que Brad não me visse no canto do olho dele.
Eu vi uma porta. Não sabia aonde ela levava, mas neste momento, não
me importava. Abri-a o mais silenciosamente que pude e a fechei da
mesma maneira.
Agora eu estava em um corredor, e o segui até outra porta. Empurreia e
entrei no que parecia ser outro salão de baile, só que este era menor e não
decorado.
Havia uma dispersão de mesas e cadeiras, um pequeno palco e um bar.
Estava escuro, e estava vazio. E uma sala vazia era tudo o que eu realmente
precisava.
Sentei-me no chão, contra a parede, e deixei cair as lágrimas. Desta vez,
não tentei detê-las.
Poucos momentos depois, a porta do salão de baile se abriu, e eu
vacilei enquanto a luz entrava. Quando a porta se fechou e meus olhos se
ajustaram à penumbra, eu percebi que era o homem da gola rolê.
— Olá, — ele disse, aproximando-se de mim. — Eu o vi sair, e você
parece tão... tão triste, que pensei em vir para ter certeza de que você está
bem.
Ele se ajoelhou na minha frente, e acho que viu as lágrimas.
— Oh não! Oh não, linda senhora, por que as lágrimas?
— Eu estou bem, — eu disse, farejando. Eu tentei me levantar, mas ele
colocou suas mãos sobre meus joelhos e me empurrou de volta para o
chão.
— Você não está em condições de sair, mademoiselle, — começou ele.
— Diga-me. Diga a Jacques o que está errado.
— É que... não estou me sentindo muito bem, — eu disse, notando que
suas mãos ainda estavam sobre meus joelhos.
Seus polegares estavam se movendo em círculos agora, subindo
lentamente pelas minhas pernas. Tentei novamente me levantar, mas suas
mãos eram muito pesadas, empurrando-me para baixo.
— Eu estou bem. Vou procurar meu marido agora.
— Oh, seu marido? É por isso que você não quer tomar a bebida
comigo?
— O quê? Oh... não... eu só... eu não estava com muita sede.
— Não minta para Jacques, — ele disse, me encarando com a mesma
intensidade de antes.
Eu estava mais do que desconfortável agora. Seus olhos escuros
pareciam assombrosos, e esta sala estava tão vazia. Eu senti suas mãos
alcançarem minhas coxas.
— Por favor... por favor, pare, — eu disse, tentando tirar as mãos dele.
— Parar o quê?, — ele disse, e lambeu os lábios.
— Você é tão magnífica. Você irradia. Desde o momento em que te vi,
hmmm, — ele disse, e sem nenhum aviso prévio, ele se espreitou para
frente, pressionando seu corpo contra o meu.
Os lábios dele estavam no meu pescoço, e eu estava gritando com a
minha cabeça contra a parede, longe dele.
— Pare! Pare! — Eu gritei, mas não adiantava.
Todo o peso dele estava em cima de mim, e então sua mão veio ao meu
rosto para puxá-lo de volta para baixo para que seus lábios pudessem
encontrar os meus. Eu me senti como se estivesse debaixo d'água, me
afogando, vendo a cena em câmera lenta em algum lugar fora do meu
próprio corpo.
— MMMMMM, — eu tentei gritar, mas era como se seus lábios
estivessem colados aos meus.
Eu estava procurando algo no chão ao redor, qualquer coisa que eu
pudesse usar para tirá-lo de cima de mim. Foi quando eu me lembrei dos
meus sapatos.
Estiquei o máximo que pude, e ele apenas gemeu em resposta, à
medida que mais do meu corpo foi sendo pressionado contra ele. Eu estava
quase alcançando, então consegui, meus dedos se fecharam ao redor do
salto e o tirei do meu pé.
Ele estava se mexendo e gemendo, e todas as células do meu corpo
gritavam de agonia.
Levantei o sapato e, com toda a força que pude reunir, enfiei o salto na
parte de trás de seu pescoço.
Seus olhos se abriram e ele soltou um — AAHHH!
Suas mãos se moveram para a parte de trás do pescoço para verificar a
gravidade, e eu o empurrei com tudo o que tinha, correndo para a porta.
Eu não olhei para trás, não enquanto corria pelo corredor lateral, não
enquanto corria pela primeira porta e entrava no elevador, e não enquanto
as portas do elevador se fechavam, mantendo-me segura dentro de mim.
Eu não podia processar o que tinha acabado de acontecer.
Tudo o que eu sabia era que tinha que voltar para a suíte, agora.
O elevador finalmente chegou ao meu andar, e eu corri pelo corredor
até estar em frente à porta da suíte.
Enfiei o cartão-chave na fechadura e pulei de pé em pé até que a luz
verde piscou.
Foi só então que percebi que havia deixado um dos sapatos no salão de
baile.
Uma vez lá dentro, desmaiei contra a parede, afundando no chão.
Estava tremendo insanamente, minha mente estava girando, e sentia que
vomitaria a qualquer segundo.
Eu toquei meu corpo a procura de ferimentos. Meus lábios se sentiram
inchados pelo contato, mas fora isso, eu estava bem.
De repente, tive este desejo avassalador de estar tão longe deste
vestido quanto humanamente possível. Estava se tomando claustrofóbico,
sua forma de apertar meu corpo e a espessura de seu tecido.
Eu precisava sair.
Eu mesmo o desabotoei, ali mesmo, e o deixei no chão.
No meio da suíte em minha roupa íntima, finalmente senti que podia
respirar.

Capítulo 28
Surpresa, Surpresa
Xavier
Eu me senti mal com a maneira como Darla e o resto das meninas
francesas trataram Angela?
Sinceramente, sim.
Darla era a maior filha da puta que eu conhecia, e nem mesmo a garota
que se abanava no meu dinheiro merecia esse tipo de tratamento. Mas ao
mesmo tempo, era como se fosse o reino animal. Era preciso apenas deixar
as mulheres correrem umas contra as outras até estarem cansadas o
suficiente para vir para a cama.
Darla e eu, tínhamos tido uma caso na escola preparatória. Era casual,
nunca mais do que sexo. Para mim, de qualquer forma. Mas ela parecia
nunca ter superado isso.
Assim, enquanto ela era uma cuzona para todos, ela era uma cuzona
com um lado de raiva incontrolável e cheia de ciúme para qualquer garota
que eu trouxesse comigo. Angela deixando a mesa havia sido uma vitória
em seus olhos.
Ela mandou o garçom trazer uma garrafa de champanhe para a mesa, e
uma vez que ela a abriu, estávamos fazendo o pedido em dois minutos.
Eu havia esquecido como eram os franceses — eles podiam beber.
Tomei meu terceiro copo e me inclinei para trás, absorvendo a mesa.
Mulheres bonitas em todos os lugares.
E claro, elas podiam beber. Mas eu também podia.
Cerca de uma hora depois, quando a mesa estava repleta de chocolate
e soufflés Grand Mamier, eu vi meu pai caminhar até nós.
— Senhoras, — ele disse, e então ele tomou um lugar na cadeira vaga
de Angela. — Onde está Angela?
— Ela não estava se sentindo bem. Uma enxaqueca, — respondi sem
pausas.
— Ah, que pena, — ele disse, abanando a cabeça.
— Pobre garota. Ela é realmente uma boa garota, Xavier.
— Eu sei.
— Você sabe? — ele disse, com seu olhar sem pestanejar. Eu acenei
com a cabeça. Dois poderiam jogar este jogo.
— Ótimo, — continuou ele, — porque tenho uma surpresa para vocês
dois. Vamos, vamos até a suíte e dar-lhe a notícia.
— Já? Ainda mal terminamos a sobremesa.
— Sua esposa está em sofrimento, Xavier. Você não estar com ela já é
espantoso. — Então terminei o copo de Pinot Grigio que Angela mal havia
tocado, e segui meu pai para fora da gala. A desgraçada, ela realmente
arruinou tudo.

Angela
Eu estava no banho, há o que parecia ser um século. Eu havia tomado
banho primeiro, precisando tirar toda a grosseria de cima de mim, vendo
como a água quente batia na minha pele e se juntava aos meus pés.
Quando me senti limpa, empurrei a rolha para o ralo e me sentei,
vendo a banheira encher.
E eu estava aqui, sentada na água fervente, desde então. Sentia-me
bem, com o calor. Como um lembrete de que meu corpo ainda podia sentir,
que ainda estava intacto.
Fechei meus olhos. Talvez eu ficasse aqui para sempre. Xavier
provavelmente nem notaria. Minhas mãos foram para os joelhos, onde o
francês havia primeiro colocado suas mãos. Depois subi pelas minhas
pernas, até minhas coxas, da mesma forma que as mãos dele o fizeram.
Por mais difícil que fosse lembrar, eu não queria esquecer. Mesmo
depois de tudo o que havia acontecido com Lemor, este era um novo
sentimento para mim. Eu nunca tinha tido alguém, um homem, colocando
suas mãos em mim daquela maneira.
Enfiei minhas unhas na pele pálida das coxas. Eu queria me lembrar
desse tipo de dor. Esse tipo de desamparo. Para que cada vez que eu
estivesse prestes a reclamar de ter um dia ruim, ou ouvir alguma garota
estúpida me insultar, eu me lembraria de como era o verdadeiro terror.
— Olá? Angela?. — Meus olhos se atreveram a olhar a porta fechada do
banheiro. Isso soou como o Brad. Por que ele estava aqui? Eles tinham
ouvido o que tinha acontecido? Quem teria dito a eles? Quem mais viu?
Apressei-me para tirar o plugue do ralo e me enrolei uma toalha de
hotel. Em seguida, abri a porta.
— Eu estava apenas tomando banho, — eu disse, ouvindo minha
hesitação na voz. Essas foram as primeiras palavras que eu disse em voz
alta desde o salão de baile.
— Não se apresse, vamos esperar, — Brad falou de volta. Entrei em
meu quarto e encontrei um roupão pendurado no armário, pelo qual
troquei a toalha. Sentindo-me adequadamente coberta, entrei na área
comum.
Tanto Brad quanto Xavier estavam sentados, e olharam para mim
quando eu entrei.
— Como você está se sentindo? Você já tomou alguma coisa? —
perguntou Brad.
— Não... não, eu acho que vou ficar bem. Só um pouco de descanso. É
tudo o que eu preciso.
— É claro, vou deixá-los a sós em um momento. Mas primeiro... — Ele
fez uma pausa, tirando algo do bolso do casaco. Parecia um daqueles
chaveiros turísticos que se podia comprar no aeroporto, mas eu não
conseguia perceber quais eram as letras.
— São Tomás? — disse Xavier, esticando seus olhos para o chaveiro.
— São Tomás! É uma ilha, uma ilha privada, no Caribe, — exclamou
Brad, claramente entusiasmado. — Praias de areia branca, oceano límpido
e um dos melhores resorts do mundo.
— Estou confusa... — Eu disse, a seguir.
— Eu também, — Xavier completou.
— Vocês vão lá, — disse Brad, levantando-se e abotoando seu blazer. —
Vocês dois. Vocês partem amanhã, e vão pegar o jato. Feliz lua-de-mel, —
ele disse com um piscar de olhos, e depois caminhou até a porta.
— O quê? Amanhã? — perguntei, minha voz tremia.
— Isso é impossível. Tenho outra reunião com o gerente da propriedade
amanhã...
— Errado. Estou assumindo a reunião no seu lugar. Seu casamento, seu
amor, que vem primeiro.
Um painel de fúria cobriu o rosto de Xavier, mas desapareceu um
segundo depois.
— O jato sai às nove horas da manhã. Não deixe Jack esperando. Você
sabe como ele fica com atrasos. — E então a porta se abriu e fechou, e
Brad se foi.
— Jack? — foi a única palavra que pude dizer.
— O piloto, — disse Xavier, de pé. Ele jogou um travesseiro contra o
chão. — Isso é uma farsa.
— Eu sei, — eu disse. — Eu... eu concordo, — acrescentei.
— Você concorda? Bem, isso me deixa tão contente, — ele disse,
pingando sarcasmo de sua língua. Então ele viu algo junto à porta. Eu segui
seu olhar e senti meu estômago cair. Ele caminhou até ele, lentamente, e o
pegou.
Meu vestido.
Eu sabia o que ele ia dizer antes de abrir a boca.
— Presumo que este seja o seu vestido, — ele disse.
Eu acenei com a cabeça. Era tudo o que eu conseguia.
— E você simplesmente... deixou-o. No chão.
— Xavier, deixe-me explicar, — sussurrei, as lágrimas voltaram a vir.
Foi surpreendente que eu ainda tivesse lágrimas. Ele se aproximou mais
de mim, e ainda mais, e depois deixou cair o vestido sobre meu ombro.
Eu estava esperando pelos gritos, pelas palavras duras e pela crueldade.
Mas em vez disso ele sorriu para mim, não mais do que um centímetro
entre nós. O sorriso era frio e sinistro, como se tivesse algum significado
fora do meu entendimento.
E com mais um segundo dele mirando em mim, me olhando, com nada
mais do que aquele sorriso sinistro, senti como se tivesse algo errado.
E então ele se virou e saiu pela porta, da mesma forma que seu pai
havia feito. E novamente fui deixada sozinha, com apenas os pensamentos
que corriam ao redor de minha mente.
De alguma forma, as armas silenciosas eram piores do que as que
gritavam com facas jogadas em minha direção; foram elas que rasgaram a
minha pele e deixaram sua marca bem no meu coração.
Eu estaria em lua-de-mel com um homem que me odiava. Rastejei até a
cama, acariciando as enormes almofadas ao meu redor. Fechei meus olhos.
Parte de mim estava entusiasmada em ir dormir porque qualquer
sonho seria melhor do que hoje. Mas a outra parte de mim se dispôs a ficar
acordada. Porque quanto mais cedo eu adormecesse, mais cedo eu seria
confrontada por Xavier. Em um jato só para nós.

Eu acordei com suor frio. O edredom estava meio fora da cama, e os


travesseiros haviam sido espalhados ao meu redor. Ou eu estava lutando
contra um fantasma durante o sono ou meu sonho não havia sido melhor
do que os acontecimentos de ontem.
Eu vi a luz entrar pela janela e virei para o relógio: 8:37 da manhã. Tudo
o que eu queria fazer era ficar na cama, assistir a um filme e fingir que o
mundo lá fora não existia.
Mas em vez disso, eu tinha vinte e três minutos para fazer as malas e
me encontrar com Xavier lá fora, onde um carro nos levaria a um jato que
nos levaria a uma ilha.
Eu nunca tinha temido algo tão luxuoso em minha vida. Saltei da cama
e, tirando um par de jeans e uma camiseta de manga comprida da minha
mala, tirei o roupão de banho.
Vesti as roupas e, em seguida, eu fui até o banheiro para verificar meu
rosto. Meus olhos ainda estavam vermelhos, como se eu não tivesse
parado de chorar, e não tinha energia para me maquiar. Então amarrei meu
cabelo com um laço no topo da cabeça e dei o dia por terminado.
Eu levei minha mala até o saguão sem esperar para ver se Xavier ainda
estava na suíte. Eu tinha aprendido minha lição ontem: ele não ia esperar
por mim, não importava o destino.
No meu caminho através do foyer, meus olhos se atreveram a dar a
volta por todos os lados. Eu estava com a paranoia de encontrar o homem
francês com a gola rolê, então eu estava agradecida pela atividade matinal
que acontecia ao meu redor.
Mesmo se eu o visse, não estaria sozinha.
Funcionários e hóspedes do hotel passaram pelo lobby em alta
velocidade, tomando café e conversando alegremente. O homem não
podia tentar nada aqui. Mas eu não o vi, e consegui chegar até o carro da
frente sem nenhuma interrupção.
O motorista colocou minha mala no porta-malas e depois me ajudou a
entrar no banco de trás, e assim que Xavier saiu do saguão e saltou para
dentro do carro, estávamos a caminho.
Nos dirigimos direto para o asfalto, e o motorista me ajudou a sair do
carro. Ele levou minha mala até o pessoal do aeroporto, que, por sua vez, a
carregou para o jato.
Subi as escadas da mesma forma que tinha feito em Nova Iorque,
novamente atrás de Xavier. Quando cheguei ao interior do jato, esperava
ter a mesma reação ohmeudeus.
Mas em vez disso me senti dormente, como se nada mais pudesse me
surpreender ou me impressionar. Tomei o mesmo lugar que tinha no
caminho para Paris, e Xavier foi para o quarto sem dizer uma palavra para
mim.
— Patricia, você se importa? — ele perguntou a caminho de lá. Uma
bela atendente de bordo com cabelo ruivo correu atrás dele,
desaparecendo no quarto.
Fechei meus olhos. Ainda dormente.
O avião decolou pouco depois e, desta vez, eu estava muito menos
preocupada. Talvez tenha sido por ter passado por tanto horror nas últimas
vinte e quatro horas que viajar milhares de milhas acima de todos os
outros foi uma mudança bem-vinda.
Ou talvez fosse porque eu estava me adaptando mais rápido do que eu
pensava.
Estávamos voando há cerca de seis horas, e eu estava terminando um
saco de batatas fritas, quando ouvi o piloto falar pelo intercomunicador.
— Sr. e Sra. Knight, este é Jack, seu capitão. Só queria avisá-los sobre
uma possível turbulência a que estamos a caminho, devido a um tempo
estranho que se instalou de repente.
Ele foi interrompido pela queda rápida do meu estômago. Parecia que o
avião tinha acabado de mergulhar por mil milhas, como se eu estivesse na
parte assustadora da montanha-russa, mas não havia nenhuma pista
abaixo.
Procurei por alguém que me dissesse que isso era normal. Mas Patricia
não tinha saído do quarto de Xavier e a outra comissária de bordo não
estava em nenhum lugar à vista.
Voltamos a cair. Minha respiração começou a ficar mais rápida. E depois
caímos novamente, desta vez por ainda mais tempo.
A voz de Jack retomou,— ... mais do que o esperado, peço desculpas
pelo...
E então estávamos pulando para cima e para baixo, como se o céu fosse
um trampolim, e na próxima vez que olhei pela janela, vi uma chama vindo
da asa do avião.
Isso não é bom.
Isso não é normal.
A outra comissária de bordo saiu correndo de uma área na frente do
jato, seus brincos dançavam agressivamente com seus movimentos.
— Vista isto, — ela gritou comigo, jogando um colete salva-vidas na
minha direção.
Meu coração estava batendo fora de controle quando deslizei minha
cabeça pelo colete laranja. Eu não sabia o que estava acontecendo, e então
o avião caiu novamente, e antes que eu pudesse me deter, eu estava
vomitando no assento ao meu lado.
E então caímos novamente, mas desta vez, não paramos.
Meu estômago estava todo na minha garganta, meus olhos estavam
fechados e imaginei que estava em um daqueles passeios de parque de
diversões que te levantavam e depois te deixavam cair.
Tudo estava escuro. Eu não sabia se isso era porque meus olhos ainda
estavam fechados ou porque não havia mais nada para ver. Não sentia o
ponto de impacto e não podia dizer se sentia alguma dor.
Tudo o que eu sabia era que tudo tinha acabado quase tão rapidamente
quanto tinha começado.
Capítulo 29
Descoberta solitária
Angela
Meus olhos se abriram lentamente, um de cada vez, e imediatamente senti
uma dor abrasadora em minha perna. A minha direita. Minha mão se
movia em direção à dor, e sentia algo molhado. Tinha que ser sangue.
Tudo era um borrão. Eu tinha embarcado no jato com Xavier. Ele foi
para o quarto com a aeromoça, eu estava na cadeira... e depois caímos... e
a asa estava pegando fogo...
Percebi que minha cabeça, deitada, estava olhando diretamente para o
céu.
Eu não estava mais dentro de nada. Virei minha cabeça para o lado,
depois para o outro lado, e meu entorno ficou bem claro.
O jato estava bem ao meu lado, mas eu estava em uma praia.
— Olá? — Eu chamei, ainda na mesma posição. Eu estava de costas,
com medo de me mexer por medo de agravar meus ferimentos. Eu tinha
visto os programas médicos na TV.
Eu sabia que o choque tinha uma maneira de mascarar a dor que você
sentia.
Minha perna latejou, como que para dizer, você pode me sentir, não é
mesmo?
Eu me empurrei para cima, nos cotovelos, e olhei em volta. Eu não vi
ninguém perto de mim. Na verdade, eu não vi ninguém. O que eu vi foi o
avião, monstruoso no tamanho de perto, e percebi a sorte que eu tinha
tido.
Se eu tivesse caído um metro mais perto, eu teria sido enterrada
debaixo dele. Mas de alguma forma eu caí do céu apenas com uma perna
machucada.
Finalmente espreitei a minha perna, mordendo o meu lábio. Eu não
era boa com sangue, mas sabia que teria que ser eu mesma a cuidar disso.
Especialmente se eu estivesse sozinha aqui.
Sempre fui eu quem estava em casa para cuidar de Lucas ou Danny
quando eles estavam doentes ou quando precisavam ser levados às
urgências por causa de uma lesão esportiva.
Eu os tinha visto levar pontos suficientes para conhecer o
procedimento. E quando olhei para a incisão em minha coxa, ela se parecia
muito com uma ferida que precisava de pontos.
Consegui sair do meu próprio corpo e cuidar do corte como se
pertencesse a outra pessoa. Tirei minha camiseta de manga comprida e a
enrolei em volta da coxa, tentando estancar o sangramento. Mais tarde eu
encontraria algo para me costurar.
Eu decidi tentar ficar de pé. Havia mais quatro pessoas no voo, e todas
elas tinham que estar em algum lugar. Comecei a mancar, um passo de
cada vez, ao redor do avião.
Eu estava assustada com o que iria encontrar. Rezei para que não
houvesse corpos, mas depois revisei minha oração para dizer que não
houvesse cadáveres. Eu queria todos os corpos vivos que eu pudesse
conseguir.
— Tem alguém aqui? — Eu chamei novamente, minha voz sendo um
forte contraste contra o silêncio da ilha. Era assombroso estar aqui e não
ver uma alma. Eu continuava andando pelo jato, não encontrando nada
nem ninguém.
Meu celular tinha desaparecido, e eu não tinha nenhuma fonte de
alimento ou água. Pensei no que eu sabia: que uma pessoa podia ficar três
dias sem água e trinta dias sem comida antes de sucumbir à desidratação
ou à desnutrição.
Você estará fora daqui antes disso, eu mesma assegurei. Xavier Knight
está desaparecido. Eles virão.
— Xavier? — Eu gritei, com saudades dele pela primeira vez na minha
vida. Comecei a voltar para a ilha, onde estavam as árvores.
Eu estava caminhando através das árvores, tecendo dentro e fora delas,
quando cheguei ao final, encontrando mais areia e água do outro lado. Caí
na areia, sentindo seu calor me aquecer do frio da brisa do oceano.
Olhei ao meu redor. Era o oposto da cidade de Nova Iorque, com a
correria de pessoas, tráfego, edifícios altos e um fluxo infinito de
atividades.
Como diabos eu acabei aqui?
Há pouco tempo atrás eu era uma garota normal, tentando viver em
Nova Iorque.
E agora...
Agora eu era a esposa de um bilionário apenas em nome, encalhada em
uma ilha deserta. Eu estava ferida, assustada e completamente sozinha.
Eu olhei para o céu azul brilhante e vi uma nuvem solitária passar
preguiçosamente.
Se apenas eu pudesse flutuar na brisa e ser livre...
Uma brisa suave passou por cima de mim e eu senti uma calma
repentina assentar em meu peito.
Talvez tenha sido melhor assim.
Aqui fora, eu não precisava mais me preocupar com nada.
Sem mais paparazzi intrometidos ou redes de notícias tentando escavar
minha vida privada ou inventar mentiras sobre mim.
Sem mais olhares esnobes ou abusos da elite rica com os quais eu
nunca teria me dado bem.
Acabaram-se os maridos abusivos que me odiavam.
Sem mais vender minha alma por contas hospitalares que eu nunca
poderia pagar.
Chega de mentir para mim mesma...
Fechei os olhos, e me senti à deriva junto com a maré.
— Angela...
Meus olhos se abriram e me sentei tão rápido que minha cabeça girou.
Aquela voz...
Olhei em volta, com esperança a encher meu peito.
E lá estava ele. Olhamos de relance, seus olhos mais azuis que as
profundezas do oceano diante de mim.
— Xavier, — eu solucei. Talvez por fim conseguiríamos sair desta ilha.
Mas então Xavier desmaiou.
Eu me mexi, ignorando a dor na minha perna. Tropecei em direção ao
local onde ele estava de barriga para baixo na areia.
Antes que eu pudesse me deter, minhas mãos estavam sobre ele,
rolando-o para me encarar.
Suas costas estavam agora tocando a areia, e seu rosto estava cinzento.
Ele tinha um grande galo na testa e uma lesão ao seu lado. Seus olhos
estavam fechados, e seus lábios secos como o deserto.
— Xavier, — eu sussurrei. Ele parecia morto. Tentei sentir seu pulso,
mas minhas mãos tremiam tanto que não conseguia sentir.
Então eu coloquei minha bochecha até sua boca e esperei para sentir
um sopro. Esperei pelo que parecia ser a eternidade, segurando minha
própria respiração para não perder nada.
Nada.
Eu respirei fundo e tentei sentir o pulso novamente. Desejei que minhas
mãos parassem de tremer.
Por favor, por favor, por favor..
Mas eu não conseguia sentir nada. Nem um único batimento.
Lágrimas brotaram em meus olhos.
Xavier se foi...

Capítulo 30
Quem resgatou quem?
Xavier
Estou morto.
Eu não tinha certeza onde estava, mas sabia disso com certeza.
Eu estava flutuando em um vazio sem fim e escuro. Eu não podia sentir
meu corpo. Eu nem tinha certeza se ainda tinha um.
Era só eu, sozinho, com meus pensamentos disformes.
Flashes de memória se desdobraram em minha mente.
O rosto da mulher que eu amava. A mulher que havia partido meu
coração.
A angústia da traição.
O golpe do desgosto do coração.
O calor de fúria que consome tudo.
A raiva voltou a mim agora, aqui nos meus momentos finais. Pude senti-
la me queimando.
Então é assim que termina...
Lembrei-me de ver Angela na praia antes que meu corpo desistisse.
Seus cabelos brilhavam dourados ao sol, seus olhos refletiam o oceano
cintilante ao nosso redor.
Uma pancada de arrependimento me atingiu.
Eu a tinha tratado como merda. Pior que merda, na verdade. E,
sinceramente, ela não merecia nada disso.
Engraçado como a morte finalmente colocou tudo em perspectiva
quando já era tarde demais.
Eu me rendi à escuridão, me deixando ir...
Mas então eu senti algo.
Uma suave pressão sobre meus lábios. A sensação era como uma brisa
refrescante, respirando vida em meus pulmões, enchendo meu coração.
Meus olhos se abriram. Respirei fundo, com um sopro agitado. E
eu estava olhando nos olhos de um anjo.

Angela
— Graças a Deus, graças a Deus, — eu disse. Coloquei a cabeça de Xavier
no colo, tirando os cabelos dos olhos dele.
— Ang... — Ele começou a tossir violentamente.
— Shh, — eu insisti. — Não tente falar. Descanse um pouco.
Mas Xavier parecia determinado a falar. Eu franzi a sobrancelha de
preocupação. O que era tão importante que ele tinha a dizer?
— Obrigado... — ele disse, mas mal era um sussurro.
Ele fechou os olhos, e por um segundo eu temi o pior. Mas a constante
movimentação em seu peito levou esses pensamentos para longe.
Ele está mal.
Ele tinha um corte feio na testa, e parecia que seu ombro estava
deslocado. Fiz uma careta quando coloquei seu ombro de volta em um
movimento. Arranquei um pedaço da minha camisa para fazer uma tipoia
para ele.
Olhei novamente ao redor da ilha deserta, uma nova determinação me
enchia.
Eu não estava mais sobrevivendo apenas por mim. Tinha que lutar
tanto por mim quanto por Xavier, pelo menos até ele acordar.
Eu nunca o havia visto tão indefeso, e parte de mim até gostava de ver
este lado humano dele.
Quando ele estava com dores, quando estava ferido, ele era como o
resto de nós.
Deixei Xavier na areia para tentar nos encontrar comida. Eu sabia que o
sol ia se pôr logo, e estava preocupada com o quanto ele estava pálido.
Então, olhei em volta, analisando minhas opções. A floresta parecia
poder abrigar um bando de diferentes tipos de animais, mas eu sabia
que com minha perna não poderia correr ou lutar se eles não
aceitassem bem a ideia de serem comidos. Por dois intrusos humanos,
nada menos que isso.
Por isso, eu fui para o mar.
Afundei-me na água, gostando da maneira como o líquido frio salpicava
minhas pernas. Toda a areia que se agarrou aos meus tornozelos saiu no
segundo em que entrei nas ondas, e me senti imediatamente limpa.
Percebi que, se eu fosse pescar algum peixe, precisaria ir mais fundo. E
eu ia precisar de uma espécie de arma.
Então, voltei para a margem e encontrei a árvore mais próxima. Eu
peguei um pequeno galho que estava bem perto da minha cabeça e raspei
sua ponta contra a árvore até que ele ficou parcialmente afiado.
Então eu tirei meus jeans, não querendo deixá-los encharcados. Se
estivesse frio à noite, eu ficaria feliz em ter um par de calças secas para
vestir.
Armada com minha lança improvisada, voltei para a água. A água
salgada me machucou no início. Doeu tanto que eu gritei, gritando para o
céu, enquanto as lágrimas caíam livremente.
Mas era um tipo diferente de dor. O tipo de dor que me fez sentir livre,
como se eu não tivesse que esconder o que estava passando.
Talvez fosse a situação ou o ambiente em que eu estava, mas eu senti
que merecia chorar e gritar aqui tanto quanto eu queria. Depois que a dor
diminuiu e meus olhos secaram um pouco, eu abaixei todo o meu rosto
debaixo d'água.
Voltei para a superfície, esfreguei os olhos e depois comecei a nadar até
o mar.
Assim que fui mais fundo, decidi mergulhar e ver com o que eu estava
trabalhando. Mantive meus olhos abertos, e após alguns momentos, eles
se ajustaram à queima do sal.
Eu vi um peixe do tamanho da palma de um homem adulto.
Eu apunhalei-o de imediato, minha lança atravessando seu pequeno
corpo.
Quando emergi, levei a lança até meu rosto em choque.
Lá estava ele, meu peixinho. Eu tinha encontrado comida para nós
sozinha.
Meu pai vai adorar esta história, pensei eu, e então percebi que esta
história começou quando meu avião caiu. Então talvez ele não adorasse
tudo isso.
Segurando minha lança como um troféu, voltei para a costa.

Xavier
Meu corpo inteiro estava pulsando com um tipo distinto de dor, como
quando você acorda após uma noite de muita festa e sente cada órgão
dentro de você reclamando. Isso era o que estava acontecendo comigo
agora.
Meu corpo inteiro sentiu o peso do acidente.
O sol estava se pondo forte sobre mim, então eu me inclinei sobre meu
ombro bom para me inclinar melhor contra a brisa. O vento frio atingiu
meu rosto, e quase me relaxou. Eu estava olhando para o oceano quando vi
uma figura emergindo da água.
Não apenas uma figura qualquer, mas a figura de Angela. A figura de
minha esposa, quase totalmente exposta.
Pisquei, tentando perceber o que ela estava vestindo, se é que estava
vestindo algo. Vi a parte de cima da camiseta dela — ela tinha rasgado o
fundo da camisa para fazer uma tipoia para meu braço — e alguma
calcinhas.
Mas foi só isso.
Mesmo sabendo que era errado olhar para ela assim, sem que ela
soubesse, não conseguia arrancar meus olhos dela.
E o sonho repetido que eu tinha voltava agora — dela em várias etapas
de nudez, dela me implorar por mais.
Eu esfreguei os olhos. Recompondo-me. Ela estava cuidando de mim. O
mínimo que eu podia fazer era tratá-la com respeito. Especialmente depois
da maneira como eu a tinha tratado por tanto tempo antes.
Eu a vi pegar seus jeans ao lado de uma árvore a alguns metros de
distância e puxá-los, e então ela começou a caminhar até mim. Fechei
meus olhos, fingindo estar descansando.
— Estou de volta, e olha o que eu tenho, — exclamou ela. Abri meus
olhos e vi um galho de árvore com uma ponta afiada.
Ela mesma deve ter afiado, eu pensei, atordoado. Na ponta afiada havia
um peixe.
— Você está com fome?, — perguntou ela.
— Como você...
— Não foi muito difícil, — disse ela, modesta. — Eu sou boa com
minhas mãos. Meu pai me ensinou a consertar carros quando eu era
jovem, e depois disso, consertar praticamente qualquer outra coisa se
tornou fácil.
Huh. Pensei em quando o Bentley quebrou em Midtown, e o Marco me
disse que uma mulher aleatória tinha parado para ajudá-lo a consertar.
Poderia ser...
Mas antes que eu pudesse dar sentido a qualquer coisa, Angela estava
arrancando um pedaço do peixe e me entregou.
— Eu sei que não é exatamente filé mignon, mas você precisa comer
alguma coisa. Por favor.
Então eu a deixei me alimentar com o primeiro pedaço de peixe e
depois com outro. E antes que eu soubesse, ela tinha me alimentado com
tudo, não comendo nada.
— E você? — eu perguntei.
— Não se preocupe comigo, — disse ela, e naquele momento, tive a
certeza de que não conhecia essa mulher de jeito nenhum.
Que tipo de pessoa trataria alguém como eu, alguém que se esforçou
para tornar sua vida mais difícil, com tanta gentileza? Se ela estivesse atrás
do meu dinheiro, não seria a seu favor ter me deixado morrer?
Se eu fosse ela, provavelmente teria sido isso que eu teria feito.
Mas em vez disso, aqui estava ela, cuidando dos meus ferimentos e me
alimentando de peixes que ela mesma havia pescado. Parecia surreal,
como se ela fosse um anjo colocado ali por uma razão.
Eu tentei me sentar sozinho, mas ela viu minha dificuldade e me
ajudou. Quando estava de pé, toquei as costas da mão na testa e senti a
umidade.
— É suor, não sangue, — disse ela, lendo minha mente. — Você está
com calor? Você quer tirar isso? — perguntou ela, movendo-se para a
camisa que não tinha utilidade em uma ilha.
Eu acenei, e ela me ajudou a tirar por trás. Ela ficou atrás de mim por
um momento depois de ter saído, e eu pensei ter sentido o olhar dela nas
minhas costas.
Na minha cicatriz.
— O que aconteceu? — perguntou ela em silêncio.
Eu não queria falar sobre isso, não agora. Não precisava de outro
lembrete de dor; eu já tinha o bastante. Mas eu queria responder-lhe, dar-
lhe algo depois de tudo o que ela me havia dado.
— Eu estive em um acidente de carro, — eu disse.
— Recentemente?
— Há cerca de um ano.
Eu estava olhando para o chão, pegando areia e vendo-a cair. Ela voltou
e sentou-se ao meu lado, vendo-me brincar com a areia também.
Ficamos ali sentados em silêncio durante horas, conhecendo-nos
através das palavras que não dissemos.

Angela
Este foi um Xavier diferente. Um Xavier que me agradeceu, que sorriu para
mim, que me respondeu em frases completas sem um toque de sarcasmo.
Era como se ele tivesse se tornado uma pessoa completamente diferente.
Isso, ou ele tinha começado a me ver como uma pessoa completamente
diferente.
Estávamos sentados no mesmo lugar na areia, deixando que o silêncio
fácil tomasse conta, enquanto o sol se punha. A temperatura havia
baixado, mas não muito.
Eu me senti confortável, como se não tivesse nada com que me
preocupar.
Eu sabia que, pela manhã, eu realmente começaria a me preocupar.
Mas, por enquanto, eu estava em paz. Mais ou menos. Agora eu estava de
costas, contando com as estrelas no céu.
Foi quando eu ouvi isso.
Estava se aproximando cada vez mais, mas reconheci o som
imediatamente.
Um helicóptero.
Estava muito escuro para eu ver qualquer coisa no céu, mas eu estava
certa de que estava lá, vindo por nós. Eu acordei Xavier.
— Xavier, ei, acorde, — eu disse. — Eles estão aqui. Eles estão aqui
atrás de nós.
Xavier sentou-se, esfregando o sono de seus olhos, e olhou em volta.
Alguns minutos depois, um helicóptero estava pousando perto do jato
destruído.
Eu ajudei Xavier a levantar e juntos mancamos em direção a ele.
Um homem com um traje militar estava inspecionando o exterior do
jato quando nos ouviu chamar por ele.
— EI! — eu gritei. — Nós estamos aqui!
Ele se voltou para nós.
— Sra. Knight? Sr. Knight?, — ele chamou de volta.
— SIM! — Eu gritei, cheia de alívio. Quando chegamos até ele, ele
chamou outro homem a bordo do helicóptero, que nos ajudou a subir.
Colocamos os cintos de segurança nos assentos de couro e nos deram
fones de ouvido grandes para minimizar o som. Um enorme cobertor foi
jogado sobre mim e outro sobre Xavier.
Eu olhei para ele, meu marido, e ele me olhou de volta. Eu não sabia o
que dizer. Eu nem sabia se deveria dizer alguma coisa.
— Muito bem, pessoal, estamos prontos. Vamos levá-los para casa em
segurança.
— E os outros? Eles estão... — Eu me afastei.
— Eles foram encontrados em uma ilha diferente, a alguns quilômetros
de distância. Devem ter sido atirados do avião. Estão a caminho de um
hospital enquanto falamos.
Eu soltei um suspiro de alívio — pelo menos todos estavam bem. E
então o helicóptero estava decolando, voando conosco de volta para o céu
onde estávamos há apenas algumas horas.
Observei a pequena ilha se afastar, a escuridão engolindo-a inteira.
— Odeio voar, — eu disse.
— Eu também, — respondeu ele. Virei-me para olhar pela janela ao
meu lado, vendo nada além de escuridão. Eu não sabia como seria a vida
quando Xavier e eu voltássemos para Nova Iorque.
Eu não sabia se ele voltaria a ser o monstro que me castigava ou se
continuaríamos de mãos dadas.
Tudo o que eu sabia era que gostava de estar lá para ele. Eu gostava de
cuidar dele e ajudá-lo a se sentir bem.
E eu gostava de pensar que talvez Brad tivesse tido razão, que havia
mais no Xavier Knight do que se via.
Senti a mão de Xavier encostar na minha. Um toque suave, quase
hesitante. Eu estendi a mão e, lentamente, nossos dedos se entrelaçaram.
Nós não dissemos mais nada. Não precisávamos dizer nada. Ambos nos
consolamos só de termos um ao outro lá.
Fechei meus olhos e sorri, apreciando seu calor.
Talvez este acidente de avião tenha sido a melhor coisa que nos poderia
ter acontecido…
1
Vodka francesa.
Livro 2

Sumário
1. Abra seus Olhos
2. Perto de Casa
3. Outros Amantes
4. Ponto de Virada
5. O pé Errado
6. Paus e pedras
7. Homem de Família
8. Conversa Íntima
9. Sinais Misturados
10. A Verdade sobre Angela
11. Um Encontro tardio
12. Ilusões amorosas
13. Uma velha chama
14. Mudança de coração
15. O Jubileu de Prata
16. Começar de Novo
17. Sempre teremos Paris
18. Mal-me-quer
19. MINHA
20. Lembretes
21. Histórias de Guerra
22. Ferida
23. Passado e Presente
24. Em seus Braços
25. Doce Reunião
26. Uma dança final
27. Tudo
28. Tarde demais
29. Ok
30. Anjo
Capítulo 1
Abra seus Olhos
Brad
Fogo.
Destroços.
Eu não conseguia tirar meus olhos da tela. Eles finalmente encontraram
os restos do avião, mas ainda não haviam falado nada sobre sobreviventes.
Eu não tinha ideia se meu filho e minha nora estavam vivos ou...
Eu não podia me permitir pensar nessa palavra. Recusei-me a dizer essa
palavra em voz alta. A mesma palavra que as pessoas usaram quando
falaram sobre minha esposa. Minha amada Amelia.
E pensar que, além de perdê-la, também poderia perder a única família
que me restava, era demais para um velho como eu.
As vozes na televisão recusaram-se a me dar paz.
— Acabou de chegar. Agora soubemos que há várias vítimas na queda
do avião no Caribe. Mas nada ainda sobre o destino do bilionário Xavier
Knight ou de sua nova esposa, Angela Knight...
Peguei o controle remoto e silenciei as vozes. Assistir minha vida
desmoronar era uma coisa, mas ter que ouvir isso?
— Isso é tudo culpa sua, — eu sussurrei para mim mesmo com os
dentes cerrados. — Se você não os tivesse forçado a ir naquela lua de
mel...
Lágrimas me atacaram. Eu joguei o controle remoto contra a parede,
encontrando algum prazer nele se despedaçando. Foi bom destruir algo
agora.
Mas, no fundo, eu sabia que esse prazer teria vida curta.
Como eu deveria continuar a partir daqui? Como eu iria me perdoar
se meus piores medos se concretizassem?
De repente, meu celular vibrou no bolso e corri para pegá-lo, com as
mãos tremendo. Eu sabia que, com um apertar de botão, minha vida,
minha dinastia, meu futuro como eu sempre imaginei, poderiam ser
apagados.
Mas quando abri as mensagens de texto do meu assistente, Ron, meus
olhos se arregalaram em descrença.

Ron: Chefe!!!

Ron: Acabei de falar com as autoridades


haitianas.

Ron: Voc ê n ã o vai acreditar…

Brad: O qu ê ?

Brad: Pelo amor de Deus, Ron!

Brad: FALA.

Ron: Eles est ã o vivos!!!


Ron: Xavier e Angela.

Ron: Ambos est ã o vivos.

Ron: Eles est ã o sendo transportados para


Miami agora.

Brad: Eles est ã o bem?

Ron: Apenas ferimentos leves. Alguma


perda de sangue, desidrata çã o.

Ron: Mas eles v ã o ficar bem.

Brad: Voc ê tem CERTEZA?

Brad: Voc ê tem certeza absoluta?

Brad: N ã o vou aguentar outra perda, Ron.

Brad: Preciso de provas.


Essas mãos. A aliança de casamento no dedo da garota. Eu
reconheceria aquele anel em qualquer lugar. Afinal, o anel de Angela já
pertenceu à minha Amelia.
Era verdade. Ron estava certo. Eles realmente estavam vivos.

Ron: Isso é de dentro do helicóptero.

Ron: Disseram a eles para n ã o tirar fotos de


rostos, caso isso vaze.

Ron: Mas tenho certeza que voc ê pode


dizer se s ã o eles...

Brad: Prepare meu avi ã o, Ron.

Brad: Eu vou at é eles em Miami.

Ron: É pra j á , chefe!

Rapidamente peguei minhas coisas e saí do meu escritório, tentando


conter as lágrimas de alívio. Normalmente, eu nunca demonstraria emoção
na frente de meus funcionários.
Mas hoje não era um dia normal.
Eu podia sentir todos eles me observando enquanto corria para o
elevador. Eu podia sentir sua pena, sua preocupação, sua angústia, mas
eles não sabiam o que eu sabia — que Xavier e Angela estavam a salvo.
Eu não acreditaria até que os visse com meus próprios olhos, mas meu
coração me dizia que era verdade.
Amélia, pensei. Você vai ter que esperar um pouco mais, meu amor.
Seu filho e sua nora têm muito mais vida para viver.

Xavier
Minhas pálpebras pareciam duras como concreto. Não havia maneira de
elas se moverem tão cedo.
Sabia que precisaria abrir meus olhos uma hora, mas a escuridão era
tão reconfortante. Claro, pensava assim depois de toda aquela luz forte,
aquele sol implacável, aquele breve tempo que ela e eu compartilhamos na
ilha...
Angela.
Eu me lembrei agora. Angela. Como ela cuidou de mim, me alimentou,
cuidou de minhas feridas. A garota que eu constantemente insultava, a
garota que eu chamava de puta oportunista, a garota com quem eu era
casado.
Minha esposa.
Pisquei e abri um olho. Depois o outro. Tudo ao meu redor estava
embaçado, mas eu podia vagamente distinguir o ambiente frio e estéril de
um quarto de hospital.
Por um segundo, eu queria fechar meus olhos e voltar para a escuridão
— eu estava tão cansado — mas então pensei em Angela novamente.
Eu precisava vê-la. Eu precisava ter certeza de que ela estava bem
também. Que ela estava ao meu lado, mas quando virei a cabeça, a cama
ao lado da minha estava vazia.
Onde ela estava?!
— Enfermeira... — eu resmunguei. — ENFERMEIRA!!!
Minha boca estava tão seca, como se alguém tivesse derramado areia
em minha garganta, mas nada disso importava agora. Eu precisava
encontrá-la.
Uma enfermeira robusta e carrancuda entrou com um tablet e começou
a verificar meus sinais vitais. Ela nem me olhou nos olhos.
— Onde ela está? — Eu perguntei.
Mas a enfermeira ou não me ouviu ou só deu de ombros. Percebi que
ela estava com um fone de ouvido, o outro pendurado no peito, tocando
REM. Quem ainda ouvia REM?
— Eu te fiz uma pergunta, — eu disse, ficando irritado. — Onde ela
está?!
A enfermeira finalmente fez contato visual comigo e encolheu os
ombros. Não pude acreditar na audácia da filha da puta. Senti a raiva
crescendo em meu peito, brotando em meu pescoço, avermelhando o meu
rosto.
Essa gorda desleixada tem ideia de com quem ela está falando? Eu sou
o Xavier Knight. Eu deveria ter dez enfermeiras, todas me idolatrando ao
mesmo tempo!
Claramente, ninguém comunicou o quão importante eu era para a
enfermeira porque ela começou a caminhar em direção à porta.
— EI! — Eu gritei, e ela finalmente se virou. — Minha esposa. Angela
Knight.
— O que é que tem? — ela perguntou friamente.
— Ela está... — eu comecei e parei.
De repente, achei difícil completar a frase. Emoção, carinho, esses
sentimentos estranhos me pegaram e me estrangularam. Eu ainda não
sabia se ela tinha sobrevivido.
— Por favor, — eu disse, embora não estivesse acostumado a usar essa
palavra. — Apenas me diga. Ela está bem?
Algo nos olhos da enfermeira mudou. Um toque de compaixão, talvez.
Então ela acenou com a cabeça.
— Ela está bem no final do corredor. Não se preocupe.
Então ela saiu, me deixando sozinho. Soltei um suspiro de alívio, grato.
Eu não sabia em que ponto Angela havia se tornado alguém que eu
parei de odiar, mas tudo parecia diferente agora.
Não esquecia a maneira como ela olhou para mim com aqueles olhos
azuis brilhantes. Esse cabelo loiro despenteado. Aquele corpo perfeito
descendo na água...
Mas que porra é essa?
Eu estava fantasiando com Angela agora?
Talvez eu simplesmente tenha sofrido uma concussão e por isso não
estava pensando direito por ora. Estávamos de volta ao mundo real, e isso
significava que teríamos que continuar nossas rotinas e eu teria que
aprender a odiá-la novamente.
Não é?
De alguma forma, agora, eu não tinha tanta certeza.

— Xavier!
Algumas horas depois, a porta do meu quarto de hospital se abriu e
meu pai correu para dentro. Eu nunca o tinha visto tão... desleixado.
Seu cabelo normalmente penteado estava apontando para diferentes
direções. Parecia que ele tinha jogado seu terno Brioni feito sob medida
em um liquidificador. Seus olhos estavam inchados e vermelhos, e nada
parecidos com aqueles olhos claros e duros do CEO que eu sempre
respeitei e temi enquanto crescia.
— Pai? — Eu perguntei, surpreso. — Você está uma bagunça. Você está
bem?
— Eu estou...?
Meu pai balançou a cabeça, agarrando meu ombro, sorrindo, mas o
sorriso parecia tão cheio de dor.
— Eu pensei que tinha perdido você, Xavier. Eu pensei...
— Ei, está tudo bem, velho, — eu disse, me sentindo um pouco
desconfortável.
Não gostei de ver alguém tão poderoso cair de joelhos. A única outra
vez na minha vida em que vi meu pai agir assim foi quando minha mãe
morreu.
— Xavier, — ele disse, sentando-se ao lado da minha cama, com os
olhos lacrimejantes. — Quando a notícia saiu, eles disseram que havia
vítimas e...
— Quem? — Eu perguntei, de repente tenso. — Quem morreu no
avião?
Meu pai olhou para o lado, triste.
— O piloto, Jim.
Merda. Eu conhecia Jim quase toda a minha vida. Ele voou com meu pai
e eu ao redor do mundo mais vezes do que eu poderia contar.
— Meu Deus, — eu disse, surpreso com o quão devastado eu me
sentia. — Alguém falou com a família dele?
Meu pai acenou com a cabeça solenemente.
— Já entramos em contato e oferecemos uma compensação generosa,
não que isso possa substituí-lo.
— Isso é bom, — eu disse, mas não me senti bem. Não parecia certo de
jeito nenhum.
— Estou muito grato, filho, — disse meu pai novamente. — Depois da
sua mãe, a ideia de perder você também... Eu não aguentaria.
A enormidade do que ele viveu, as noites sem dormir, o terror e a
angústia, finalmente me atingiu. Por pior que tenha sido para Angela e eu
na ilha, pelo menos tínhamos um ao outro.
Não havia nenhuma área cinzenta. Nós sobreviveríamos ou
morreríamos, mas para meu pai, cada segundo que passava sem saber o
que havia acontecido conosco deve ter sido uma agonia indescritível.
Peguei sua mão, embora fosse estranho para mim ser tão emotivo.
— Estou bem, pai. Está tudo bem.
Ele acenou com a cabeça, enxugando uma lágrima. Então ele olhou em
volta, carrancudo.
— Onde está Angela?
Quando a enfermeira, com a atitude mal-humorada de sempre, finalmente
concordou em me deixar sair do quarto com meu pai e visitar Angela, nos
aproximamos lentamente de seu quarto.
As feridas em meus braços ainda doíam e eu tinha que tomar cuidado
para não me esforçar demais. Meu pai gentilmente me deu apoio e,
abrindo a porta, me conduziu para a sala.
Lá estava ela. Quieta e imóvel como a própria Bela Adormecida.
Minha esposa.
Angela Knight.
A garota estranha que eu sempre pensei ser um demônio, mas que era,
na verdade, um anjo disfarçado. Meu pai balançou a cabeça, olhando para
ela.
— Ela é tão linda e pura, Xavier, — ele disse. — Não apenas sua
aparência. Mas sua alma também. Você não consegue ver?
Eu nunca fui capaz de entender o que meu pai viu em Angela até agora,
observá-la deitada ali, seu peito subindo e descendo, seus olhos fechados...
Eu senti uma sensação estranha tomar conta de mim.
A princípio pensei que, assim que voltássemos ao mundo real, tudo
voltaria ao normal. Mas agora, enquanto olhava para ela, percebi que isso
era impossível.
O que tínhamos compartilhado na ilha era tão primitivo, tão puro, tão
real, que não havia mais retorno.
— Eu sei o que você quer dizer, pai, — eu admiti. — Eu não acho que
teria sobrevivido sem ela.
— Ela salvou você?
Em mais de uma maneira, pensei. Em vez disso, eu apenas balancei a
cabeça. Então eu lentamente me aproximei de sua cama e sentei ao
lado dela, segurando sua mão fria.
Quando ela acordaria? E o que ela pensaria quando olhasse para mim
agora?
Angela me veria como um monstro por todos os meus maus tratos? Ou
ela me veria como alguém diferente?
Como o homem que realmente era por baixo dessa pele dura.
— Acorde, Angela, — eu implorei a ela. — Abra os olhos.
Mas seus olhos permaneceram fechados. Por um segundo, o
pensamento mais estúpido do mundo passou pela minha cabeça. Que eu
poderia ter que beijá-la para trazê-la de volta à vida. Como aquele conto de
fadas idiota.
Sim. Definitivamente concussão.
Abaixei-me e apertei suavemente a mão dela. Ela parecia tão delicada.
Vulnerável.
Ela começou a se mexer ao meu toque e meu coração deu um salto no
peito.
Ela abriu os olhos, aquelas orbes azuis brilhantes olhando direto para
mim.
— Você está acordada, — eu disse, com uma voz gentil.
Angela olhou em volta e pude ver a confusão se instalando.
— Você está segura agora, — eu assegurei a ela.
— Onde estou? — ela perguntou, com voz trêmula.
Algo em sua voz me preocupou. Ela parecia apavorada.
— Angela, estamos em um hospital. Está tudo bem.
Ela olhou para baixo e viu que sua mão estava na minha. Ela puxou a
mão de mim e guardou-a sobre o peito, tentando se inclinar para longe de
mim em sua cama.
— Angela...? — Eu poderia dizer que algo ruim estava acontecendo.
Mas eu nunca poderia estar preparado para o que ela disse a seguir.
— Quem... — Ela respirou fundo, tentando se acalmar. — Quem é
você?

Capítulo 2
Perto de Casa
Xavier
— Sua esposa tem um caso raro de amnésia retrógrada, — disse o médico.
— E o que é isso? — Eu exigi.
O médico e eu estávamos sentados no quarto de Angela. Ela estava
dormindo em paz e parecia uma pessoa perfeitamente saudável.
A não ser pelo fato de seu problema não ser visível.
— É essencialmente uma reação mental retardada a eventos de
extrema angústia psicológica ou física. Sobreviver a um acidente de avião é
muito estressante...
— Ok, sim, claro. — Eu o interrompi, impaciente. — Ela vai melhorar?
— Esperamos uma recuperação total, Sr. Knight, — ele me garantiu. —
Pode demorar alguns dias, ou mesmo algumas horas. A melhor coisa que
você pode fazer é estar aqui para ela.
O médico saiu para nos dar um pouco de privacidade.
Olhei para Angela, sem ter a menor ideia do que fazer.

Angela
Eu mastiguei o sanduíche que a enfermeira tinha me dado enquanto
olhava para o homem em meu quarto.
Ele olhava pensativamente para fora da janela, recusando-se a fazer
qualquer contato visual comigo.
— Então, Xavier... — eu tentei. — Somos casados?
Eu o vi enrijecer.
— Sim.
— Hmm...
As enfermeiras disseram que minha memória voltaria em breve, mas
até então, este homem era um estranho.
Um estranho muito bonito, admito.
Eu não conseguia identificar exatamente o porquê, mas era como se
houvesse uma parede de aço entre nós. Não era exatamente como eu
esperava ser tratada por meu marido.
— Fomos felizes? — Eu perguntei.
Ele riu, um som curto e amargo.
— Na verdade não, — ele admitiu. — Desculpe.
— Oh.
O silêncio entre nós se estendeu. Continuei a mordiscar meu sanduíche,
mais para ter algo a fazer do que por fome.
— Talvez fosse melhor se sua memória de mim nunca mais voltasse, —
ele disse de repente. — Você não precisa ser casada com um estranho.
Pisquei para ele, pego de surpresa.
— Por que isso?
— Eu não tenho sido exatamente... bom para você... — Sua voz falhou,
e eu pude sentir a imensa dor que suas palavras carregavam.
— Não.. eu acho que seria muito triste. Eu quero minha memória de
volta.
— Mesmo que ela não seja boa? — ele perguntou.
— Eu confio em mim no passado, — eu disse. — Devo ter me casado
com você por um bom motivo, certo? — Eu sorri, tentando confortá-lo. Ele
parecia tão angustiado.
Ele suspirou e balançou a cabeça, cruzando olhares pela primeira vez.
Meu coração quase parou. Eu poderia me perder nesses olhos...
— O que eu fiz para merecer você? — ele se perguntou.
— Eu não sei, você me diz, — eu disse. — Amnésia, lembra?
Ele riu de novo, mas desta vez parecia genuíno. O som enviou
borboletas vibrando em volta do meu estômago.
Xavier estava tão preocupado com nosso passado, mas ele parecia bom
para mim.
Quão ruim poderia ter sido?

Muito ruim.
Depois que minhas memórias voltaram para mim, nós rapidamente
voltamos para Nova Iorque.
Tínhamos acabado de sair do aeroporto e Marco estava nos conduzindo
pela agitação normal da cidade.
Este era o Xavier do qual me lembrava — frio, insensível, olhando pela
janela durante todo o trajeto para casa. Ele não disse uma palavra para
mim.
Mas o que havia a dizer?
Como deveríamos processar tudo o que acabamos de passar? Xavier
continuaria a me odiar agora que estávamos de volta?
Eu tinha que admitir, se ele ainda me odiava ou não, o silêncio era
certamente preferível a ele gritando comigo o tempo todo.
— Marco, — Xavier disse, sacudindo-me do meu estupor. — Me deixe
no trabalho, sim? Eu tenho muito que colocar em dia.
— Claro, senhor, — disse Marco, sempre obediente.
Eu pensei sobre Xavier, surpresa. Ele já era realmente capaz de voltar ao
trabalho? Ele tinha acabado de sobreviver a um acidente de avião!
Mas com certeza, cinco minutos depois, Marco estava estacionando no
prédio da Knight Enterprises e abrindo a porta do carro para Xavier.
Ele estava prestes a sair quando parou e olhou para mim.
— Hum, — ele disse, parecendo incerto sobre o que dizer. — Vá
devagar... eu acho?
Então ele bateu à porta do carro e se dirigiu para dentro de seu prédio.
Petrifiquei-me em descrença. Vá devagar? Isso era tudo que ele tinha a
dizer?
Eu me encontrei confusa e nem um pouco surpresa. Quem era eu para
fazer o grande Xavier Knight mudar? Ele era quem ele era.
Um acidente de avião, uma experiência quase mortal, um vínculo
estranho em uma ilha distante — nada disso importava agora que ele
estava de volta ao lugar a que pertencia.
Marco voltou para o carro.
— Tudo bem, Sra. Knight. De volta para casa?
Eu pensei sobre isso. Casa. Claro, Marco se referia ao apartamento de
cobertura que eu dividia com Xavier, mas onde nunca me senti em casa,
não de verdade.
Não. Eu sabia para onde queria ir.
— Quer saber, Marco, — eu disse. — Eu gostaria de parar em algum
lugar primeiro.

— Angie!!!
A porta da frente se abriu e braços fortes me envolveram, me
levantando do chão. Mesmo quando minha perna bateu contra a dele e
latejou de dor, eu sorri.
Porque, finalmente, eu estava cercada pelas pessoas que amava. De
volta para casa em Heller, onde fui criada.
— Danny, você pode me colocar no chão, — eu disse, rindo um pouco.
— Estou bem.
— Você não tem ideia de como todos nós estávamos com medo, irmã,
— disse Danny, me abaixando e acenando para que eu entrasse. — Lucas
começou a tricotar apenas para acalmar os nervos.
— Ele começou?
Atrás dele estava Lucas, balançando a cabeça, mas sorrindo. Claro que
não. Mesmo nos momentos mais assustadores, Danny estava sempre
brincando. Fazendo todos nós nos sentirmos melhor.
Ao lado de Lucas, fiquei surpresa ao ver Em. Por um segundo, não
consegui entender o que ela estava fazendo aqui. Ela era uma das minhas
melhores amigas, não me entenda mal, mas ela não era da família.
— Graças a Deus você está bem, — ela disse, correndo e me abraçando
com força. Havia lágrimas em seus olhos. E de repente me lembrei.
Em e Lucas estavam juntos. Eram um casal.
Como eu havia esquecido?
— Estou... estou feliz por você estar aqui, — consegui dizer.
Na verdade, a ideia de minha melhor amiga namorar meu irmão ainda
me deixava um pouco brava. Eu estava feliz por eles, obviamente, mas era
difícil entender isso.
E não era um fato que eu esperava confrontar ao voltar para casa.
Finalmente, meu pai apareceu. Suas bochechas pareciam rosadas e
saudáveis, e seu sorriso era enorme.
— Lá está ela, — ele disse. — Minha filhinha.
De repente, havia lágrimas em meus olhos. Quando fiquei presa na ilha,
quando toda esperança parecia perdida, pensei em meu pai e se algum dia
o veria novamente.
E aqui estava eu. Aqui estava ele. Aqui estávamos nós juntos.
— Pai, eu estou... — eu disse, mas não pude continuar. Um soluço
involuntário deixou minha garganta e eu estava correndo em sua direção,
jogando meus braços em volta de seu pescoço.
— Está tudo bem, — ele disse, segurando-me, acariciando suavemente
minha cabeça. — Está tudo bem, Angie. Estou bem. Estamos todos aqui.
Ficamos todos ali mais tempo, congelados, tentando nos agarrar a esse
momento, a essa gratidão por termos nos reunido, apesar de tudo.
Finalmente, me afastei do meu pai e enxuguei minhas lágrimas.
— Você vê essa garota? Pele e osso! — ele disse a Lucas. — Vamos,
temos que alimentá-la e pronto!
Eu ri, sentindo um calor dentro do qual nenhum sol do Caribe poderia
chegar perto de competir.

— Você fez o quê?!


— Eu peguei um peixe! É tão difícil de acreditar?
Danny estava me olhando com descrença. Todos na mesa estavam
olhando para mim como se eu fosse uma pessoa completamente diferente.
— Gente, não é grande coisa, — eu disse, corando. — Papai costumava
levar todos nós para caçar. Você não acha que aprendi alguns truques ao
longo do caminho?
— Não achei que você fosse capaz de matar alguma coisa, — disse
Danny. — Eu vou na verdade. Estou com medo de você agora.
Todos nós rimos. Notei Lucas e Em segurando as mãos debaixo da mesa
e desviei o olhar. Esse era um assunto que eu pretendia evitar o máximo
que pudesse.
Em vez disso, olhei para meu pai.
— Então, como você está se sentindo? — Eu perguntei.
— Melhor, minha filha, — ele disse, dando uma grande mordida na
lasanha. — Muito melhor. Meu apetite voltou e, em alguns dias, posso até
correr um pouco.
— Então, o tratamento está realmente funcionando?
Meu pai deu de ombros, mas quando olhei para Danny, ele estava
sorrindo, como se dissesse: Sim, Angie. Está realmente funcionando.
Havia tantas perguntas que eu queria fazer, mas elas podiam esperar.
Por enquanto, eu só queria comer uma deliciosa refeição caseira, rir das
piadas de Danny e ser grata por estar passando esse momento em casa.
Em minha verdadeira casa.
Não com Xavier.
Como se ela estivesse lendo minha mente, Em acenou com a cabeça
para mim.
— Aliás, como está o marido?

Xavier
Alguém estava falando comigo sobre fluxogramas, sobre um novo hotel
Knight, sobre uma próxima apresentação, mas eu não ouvi uma palavra.
Tudo o que eu conseguia pensar era em Angela. —
Sr. Knight? Temos a sua aprovação?
— Oh, claro, — eu disse, com os olhos vidrados.
— Maravilhoso, — disse um dos meus principais executivos. — Vamos
fazer a bola rolar e mantê-los atualizados!
Eu balancei a cabeça e preguiçosamente virei de lado na minha cadeira
quando ele saiu do meu escritório. Eu olhei pela janela para Manhattan.
Claro, era uma ilha, mas poderia ter sido mais diferente do que a última em
que estive?
Eu sei que deveria ter dito algo para Angela no hospital, no avião, no
carro, mas não sabia por onde começar.
Oh, então agora que você salvou minha vida e tudo, você acha que
podemos superar o fato de que você se casou comigo pelo meu dinheiro e
fez da minha vida um inferno?
Eu coloquei minha cabeça em minhas mãos. Eu gostaria de ainda poder
odiá-la, que eu pudesse me reconectar com minha raiva e chamá-la
exatamente do que ela era — uma puta atrás de dinheiro.
Mas só de pensar nisso, me fez passar mal.
É isso que eles chamam de culpa?
O que diabos estava acontecendo comigo? Um segundo, eu queria
cuspir na cara da garota, e no próximo, eu queria abraçá-la. Meu cérebro
estava um caos. Parecia que eu não conseguiria pensar direito nem se
minha vida dependesse disso.
Eu queria culpar a queda do avião. Uma doença física era mais fácil de
diagnosticar, mas não podia me enganar. Isso era sobre meus sentimentos
por Angela de alguma forma.
Eu simplesmente não conseguia entender o que diabos meus
sentimentos estavam me dizendo.
— Xavier?
Virei-me para ver meu pai entrar em meu escritório. Ele parecia melhor,
embora ainda exausto. As bolsas sob seus olhos traíram seu
comportamento.
— Você realmente deveria estar em casa, — ele disse, sentando-se à
minha frente.
— Isso é o que todo mundo vive me dizendo.
Ele bateu na mesa entre nós, suspirando.
— É muito cedo para falar, mas se você está insistindo em trabalhar,
acho que posso também.
— O que é? — Eu perguntei, franzindo a testa.
Meu pai tinha aquele olhar, o olhar que dizia que ele estava prestes a
lançar algo em mim. Algo que eu não gostaria. De jeito nenhum.
— No momento, sua imagem de relações públicas é... como posso dizer
isso? — Meu pai fez uma pausa. — É ruim, Xavier. As fotos de Angela...
— Isso foi culpa dela.
— Os rumores de que você andou dormindo por aí. — Fiquei em
silêncio sobre isso. Meu pai estava me olhando com um daqueles olhares
furiosos que significava: Não vou nem perguntar se isso é verdade porque
não quero saber.
— E então o avião caiu.
Eu zombei.
— Isso não deveria nos fazer parecer... não sei, como vítimas?
— Sim. Patético. Impotente. Incapaz de dirigir um negócio porque você
ficou muito traumatizado.
— Por favor, — eu disse, desaprovando. — Você sabe que eu...
— Não, Xavier. No momento, não sei de nada. E nem o conselho. Você
precisa fazer algo para mostrar a eles que está no controle.
— Tudo bem, — eu disse. — Diga.
— O Jubileu de Prata é daqui a dois meses. Como você sabe, parte da
noite inclui uma competição anual de dança.
— Você não pode estar falando sério.
— Você e Angela vão participar. Você precisa dançar na frente de todos.
Mostre como você está confiante. Como você está apaixonado.
Entendeu?
— Isso é ridículo. Achei que seria algo relacionado a negócios. Não um
maldito...
— Xavier, — meu pai disse severamente. — Eu não te peço muito, mas
estou pedindo isso. Quase perdi você e a Angela e... Por favor. Se não for
pela empresa, faça isso por mim.
Suspirei e desviei o olhar, sabendo que convencer Angela a dançar
comigo, especialmente quando ela tinha uma lesão na perna, seria quase
impossível.
Xavier: Onde voc ê est á ?

Xavier: Estou em casa e voc ê n ã o est á aqui.

Angela: Desculpe.

Angela: Eu precisava ver minha fam í lia.

Xavier: PORRA

Xavier: POR QUE VOC Ê NÃO...

Xavier: Deixa pra lá .

Xavier: Tanto faz.

Xavier: Eu preciso te pedir uma coisa.

Angela: O que é?
Xavier: N ão

Xavier: Pessoalmente.

Angela: Ah, tudo bem se conversarmos


amanh ã?

Angela: J á é tarde...

Xavier: T á bom

Eu joguei meu telefone de lado, frustrado. Sentei-me sozinho na minha


cobertura. Bem, não totalmente sozinho. Lucille já havia me abraçado e
tentado me fazer sentar e comer.
Mas agora, eu não tinha apetite. A ideia de pedir um favor a Angela estava
me consumindo por dentro.
Depois de todas as coisas horríveis que eu disse a ela, depois da
maneira baixa como a tratei, como ela me retribuiu? Salvando minha vida.
Presumir que ela faria mais por mim agora era a definição de
insanidade.
Se eu fosse ela, odiaria cada célula do meu corpo. Eu nunca iria querer
me ver novamente, muito menos ser minha parceira de dança no Jubileu
de Prata.
Nunca pensei em um milhão de anos que esse seria o meu problema.
Seja legal, pensei. Seja encantador. Mas com essa garota, com Angela, eu
nunca pensei que teria que tentar.
Eu sabia que, se não conseguisse convencê-la, meu pai poderia muito
bem me substituir como CEO da Knight Enterprises. Os negócios sempre
vêm em primeiro lugar. E pensar que todo o meu futuro dependia de
alguma dança idiota!
Isso me fez querer arrancar meu cabelo. Nada fazia sentido agora. No
trabalho. No relacionamento com a minha doce esposa oportunista.
A questão se repetia indefinidamente em minha própria cabeça,
parecendo cada vez mais ridícula. Mas eu tive que admitir que não tinha
ideia de como achar uma solução.
Como diabos eu convenceria minha própria esposa a dançar comigo?
O elevador para nossa cobertura se abriu e uma mulher entrou. A
princípio pensei que fosse Angela, mas o barulho de saltos altos no chão
me disse que não podia ser ela.
Uma morena peituda entrou na cozinha, seu vestido preto apertava
suas curvas pecaminosas.
— Ei, Xavier — ronronou Serena. — Seu porteiro me deixou subir.
— O que diabos você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Serena era
uma das muitas mulheres com quem eu dormia regularmente.
Ela se aproximou de mim e sentou-se no meu colo, seu perfume
inebriante.
— Ouvi dizer que você acabou de voltar de um acidente de avião... deve
ter sido muito assustador para você. — Ela começou a passar a mão pela
minha coxa. — Você deve ter muito... estresse para ser aliviado.
Normalmente, Xavier Knight teria carregado Serena de volta para seu
quarto e fodido com ela.
Mas agora, o rosto de Angela apareceu em minha mente.
Merda.
Nosso tempo juntos na ilha me mudou... para melhor ou para pior.
Serena continuou a piscar os cílios para mim, mordendo o lábio inferior
suculento.
Merda! O que devo fazer?
Capítulo 3
Outros Amantes
Xavier
Na manhã seguinte, acordei e, por um segundo, poderia jurar que ainda
estava na praia. Eu podia sentir os grãos de areia arranhando minhas
costas, ouvir os sons das ondas batendo na praia, e cheirar a brisa fresca do
oceano.
Mas quando abri os olhos, vi o teto com painéis de madeira e percebi
que estava de volta à minha enorme e luxuosa cama king-size. De volta à
cidade de Nova Iorque.
Suspirei de alívio. Eram os mesmos lençóis de microfibra, a almofada
Zen Chi com casca de trigo sarraceno, o humidificador centrífugo que
mantinha a temperatura e a qualidade do ar do meu quarto agradáveis...
Essas eram as marcas da casa de um bilionário. A riqueza que acumulei,
as riquezas que ganhei por meio de pura coragem, todas essas coisas eram
minhas por direito.
Minhas.
De Xavier Knight.
Mas...
Tendo sido despojado de todos esses itens naquela ilha, reduzido a
nada mais do que um homem tentando sobreviver, vivendo cada hora
como se fosse a última, eu não pude deixar de me sentir... transformado.
Os bens materiais que uma vez me trouxeram tanto prazer pareciam
tolos e vazios agora. Eu estava confortável, mas a que custo?
Meu Deus.
Que diabos está acontecendo comigo?
Pensei em Angela e me lembrei que hoje teria que falar com ela sobre
essa competição de dança do Jubileu de Prata.
Ugh.
A ideia por si só me fez estremecer. A última coisa no mundo que eu
queria era pedir um favor a uma mulher, mas depois de falar com meu pai,
eu sabia que não tinha escolha.
Talvez fazer isso ajude a esclarecer o que você sente por ela! Meu
cérebro estava tentando encontrar justificativas agora. Ótimo.
Eu me levantei e me estiquei, vestindo um robe. Eu esperava que ela
ainda não tivesse voltado da casa de seu pai em Heller. Eu precisava de
uma xícara de café primeiro.
Café Kopi luwak, o melhor do mundo. Mais uma lembrança da minha
riqueza ridícula.
Dei um passo para o corredor e ouvi duas vozes distantes. Risadas.
— ... você sabe que isso não é verdade!
— Angela, pare de agir de forma tão humilde pelo menos uma vez na
vida.
Um homem estava falando com minha esposa, fazendo-a rir e gritar.
Quem é esse agora?
Apressei meu passo, correndo pelo corredor e virando uma esquina. Lá
estava ela. Angela, vestindo nada além de um quimono, exibindo uma
sugestão de decote, com as pernas nuas expostas.
A VAGABUNDA!
— Que porra é essa? — Eu disse, fervendo.
Sentado em frente a ela estava um homem cujo rosto eu ainda não
tinha visto. Ele virou a cabeça e sorriu, acenando.
— Xavier, bem-vindo ao lar! — Disse Dustin.
Dustin. Claro, era a porra do Dustin. O projeto de estimação de Angela,
o artista que ajudamos a transformar em um superstar. Seu pequeno
brinquedo.
— O que você está fazendo aqui, Dusty? — Eu perguntei, bagunçando
intencionalmente seu nome mais uma vez.
— Dustin, — ele corrigiu. — Eu só queria checar como estava minha
melhor amiga. E você, é claro, Xavier. Estou tão feliz que vocês dois estejam
bem.
Fiquei surpreso com o olhar que Dustin me deu. Como se seus olhos
estivessem viajando. Como se ele estivesse me examinando.
Mas por que diabos ele estaria fazendo isso se estava obcecado por
Angela? Eu empurrei o pensamento de lado e permiti que minha raiva
inflamada crescesse em vez disso.
— Achei que tivéssemos combinado que você e eu íamos conversar, —
falei para Angela com os dentes cerrados. — O que ele está fazendo aqui?
— Oh, eu não sabia exatamente que horas você queria... — Mas ela
parou, vendo que cada palavra que saía de sua boca estava apenas me
deixando com mais raiva.
Minhas mãos estavam cerradas em punhos. Se eu fosse um desenho
animado, o vapor estaria saindo das minhas orelhas agora mesmo.
Por quê? Porque ela desconsiderou nossos planos, foi por isso. Não
tinha nada a ver com o fato de que ela parecia tão confortável com outro
homem, não é?
— Não há necessidade de ficar chateado, Xavier, — disse Dustin,
levantando-se. — Passei sem avisar. Angela...
— Angela pode falar por si mesma. Não é verdade?
— Xavier... — ela disse. — Eu... eu só queria falar com meu amigo.
— Seu amigo?!
Eu olhei para Dustin. Para seu olhar de hipster tão descolado, seu rosto
perfeitamente simétrico. E por alguma estranha razão que não consegui
explicar, fiquei com ciúmes.
Eu gostaria de poder fazer Angela sorrir e rir do jeito que Dustin fez. Eu
gostaria de poder ter seu charme descontraído. O calor dele.
Eu gostaria que ela olhasse para mim do jeito que ela olhava para ele.
Eu estava louco? Talvez. Eu não sabia o que diabos tinha acontecido
comigo. Meu cérebro estava me dizendo que eu não deveria me importar
nem um pouco. Ela era um meio para um fim, minha esposa apenas no
papel. A maneira como mantenho meu papel como CEO da Knight
Enterprises. Era isso.
Mas meu corpo estava dizendo algo diferente. Cada segundo passado
com aqueles dois juntos na mesma sala estava fazendo minha pele
arrepiar. Era um inferno.
— Esta é a minha casa! — Eu gritei. — Quem entra e sai depende de
MIM, entendeu? E não de você, porra. E definitivamente nenhum Dustin é
bem-vindo aqui.
— Por favor, Xavier... — Angela gaguejou. Ela
parecia apavorada, mas por quê?

Angela
Eu estava olhando para Xavier, mas não estava realmente vendo ele. Eu
estava vendo o Sr. Lemor, meu antigo chefe, que tentou arruinar minha
carreira e minha vida por rejeitá-lo.
Eu estava vendo o parceiro de negócios de Xavier, aquele francês
assustador, Jacques, que tentou fazer o que queria comigo.
Quando eu olhei para Xavier agora, eu estava vendo cada homem
violento, cada homem zangado, cada monstro terrível que assombrava
meus sonhos.
Desde a queda do avião, eu fiquei mais assustada com tudo. Mas nada,
ninguém me assustou tanto quanto o homem a quem chamei de marido.
— Desculpe, Angela, — Dustin disse baixinho para mim entre as
explosões de Xavier. — Eu vou sair... — Eu queria implorar a Dustin para
ficar, para me proteger, mas também sabia que era a presença dele que
havia irritado Xavier.
Seria melhor se ele fosse embora?
Finalmente, ouvimos as portas do elevador se fecharem, e éramos
apenas Xavier e eu sozinhos. Ele ficou quieto de repente, e sua expressão
mudou.
Eu não conseguia entender o que ele estava pensando. Eu nunca fui
capaz de entrar na cabeça de Xavier Knight. Que bem isso me faria agora?
Ele claramente ainda me odiava mais do que odiava qualquer pessoa no
mundo. Não é?
Xavier
Ela parecia assustada. Ela parecia traumatizada. Ela parecia que desmaiaria
bem ali, no meio da nossa sala.
E o pior é que era por minha causa.
Eu parei e balancei minha cabeça. Eu tinha entrado nesta sala para
pedir um favor a Angela e, em vez disso, explodi com ela, gritando sobre a
presença desse amigo dela. Mas agora ele se foi e eu ainda estava bravo.
Tinha raiva de mim mesmo.
Eu precisava limpar minha cabeça. Eu precisava ficar longe dela. E
rápido.
— Angela, eu... — comecei, mas não sabia como terminar. Por um
segundo, ela quase pareceu esperançosa, como se eu pudesse tentar
consertar as coisas.
Mas isso só me confundiu mais.
Sem uma segunda olhada, me virei e saí da sala. E daí, se eu tinha
assustado Angela um pouco. Não foi minha culpa que eu a peguei
flertando com outro homem.
Talvez ele fosse seu amante. Como eu deveria saber? Aposto que sim.
Aposto que ela já se prostituiu e só usava o olhar inocente para me fazer
pensar que ela era dócil e doce.
De qualquer forma, o que isso me importa? Ela não tinha nenhum
significado para mim.
Eu certamente tive minhas amantes, não? Talvez fosse disso que eu
precisava agora. Um pouco de sexo sem sentido para tirar minha mente de
toda essa merda.
Com essa ideia martelando em meu cérebro, peguei meu telefone. Eu
sabia exatamente qual garota estaria disposta.
Ela era bonita. Tímida. E muito boa na cama.

Xavier: Ei.
Xavier: Estou de volta.

Penny: MDS!!!

Penny: XAVIER!!!

Penny: Voc ê est á bem???

Penny: Tenho assistido ao notici á rio… N ão


acredito...

Xavier: Estou bem.

Penny: Gra ç as a Deus.

Penny: Bem-vindo de volta.

Xavier: Obg
Xavier: O que voc ê est á fazendo?

Penny: Só estudando. Voc ê sabe como são


as aulas de administra çã o... o prest í gio da
NYU e tudo mais.

Penny: Oh! Eu consegui um show cantando


jazz em um clube no Brooklyn!

Penny: Voc ê deveria vir. 😊 (emoji feliz com


as bochecas rosadas)

Xavier: Que seja. Esque ç a os estudos.

Xavier: Venha.

Penny: Por qu ê ?

Xavier: Voc ê sabe por qu ê .


Penny: Xavier... Gosto muito de voc ê , mas
sua esposa n ã o ficaria chateada?

Xavier: Chateada com o qu ê ? Quero sua


opini ã o sobre alguns relatórios trimestrais

Xavier: O que voc ê estava pensando? 😉


( emoji piscando o olho)

Penny: ( emoji revirando os olhos)

Xavier: estou brincando. Mas, s é rio, venha.

Penny: Ah, por favor, ainda sou uma


estudante! N ão sou uma empres á ria
famosa. 😊 😜 ( emoji de olhos fechados e
l í ngua para fora)

Xavier: Voc ê é a pessoa mais inteligente


que conhe ç o.

Xavier: Vamos.
Penny: Ok, tudo bem.

Penny: Vejo voc ê daqui a pouco!

Senti uma pontada de culpa quando coloquei meu telefone no gancho.


Penny era uma garota gentil... acabou de sair de um relacionamento de
merda. E eu sabia que uma vez que a tivesse sozinha, ela não seria capaz
de resistir a mim.
Eu afastei esses sentimentos. Qualquer
que seja.
Eu preciso de uma boa foda.

Angela
Depois do estranho encontro com Xavier esta manhã, todos os tipos de
pensamentos estavam passando pela minha cabeça. Então decidi correr e
limpar minha mente.
Suar, ofegar, me mexer — ajudou muito.
Minha perna ainda estava doendo, obviamente, mas eu notava que
estava melhorando e logo eu estaria saudável como antes.
Saudável fisicamente, mas não mentalmente.
Percebi que talvez tenha sido errado da minha parte convidar Dustin
esta manhã. Ele tentou me proteger, alegando que ele apareceu sozinho,
mas a verdade é que eu sentia falta do rosto do meu amigo e queria que
ele soubesse que eu estava bem.
De qualquer forma eu deveria ter pensado sobre os sentimentos de
Xavier. Eu sabia o quanto ele não gostava de Dustin e sabia que tínhamos
planos para discutir algo. Planos que eu estraguei totalmente.
Sim, eu poderia ter ficado com medo das explosões de Xavier, mas
desta vez, sua raiva não parecia vir de um ódio genuíno.
Ele não me chamou de oportunista. Nem uma vez.
Ele não mencionou o fato de que eu me casei com ele por causa de seu
dinheiro, por mais impreciso que isso possa ser.
Ele parecia perturbado e fora de si, latindo como um cachorrinho
ferido. Eu me perguntei do que realmente se tratava.
Fiquei pensando no Xavier que conheci naquela ilha e em como ele
parecia distante agora. Talvez, se eu apenas pedisse desculpas, eu pudesse
me reconectar com ele?
Eu tive que tentar.
Quando cheguei em casa, corri para o chuveiro. Eu não queria aparecer
na porta de seu quarto toda suada e nojenta.
Eu queria estar no meu estado mais apresentável.
Ao sentir a cascata de água quente pelo meu corpo, suspirei, satisfeita.
Era tão bom estar limpa depois de estar coberta de areia e sujeira naquela
ilha.
Cada banho agora parecia um renascimento completo. Eu apreciava
cada gota.
E quando saí, me enxugando e me vestindo, pensei em tudo o que tinha
a agradecer.
Eu pude ver minha família. Meu melhor amigo de infância. Meu
artista/barista favorito.
E agora eu tinha a chance de acertar as coisas com meu marido
distante. Depois da experiência de vida ou morte na ilha, como uma
pequena conversa poderia me assustar?
Eu respirei fundo, olhando no espelho.
— Apenas diga a ele que você sente muito, — disse a mim mesma. —
Você pode fazer isso, Angela.
Não usei nenhuma maquiagem. Eu queria estar o mais perto de mim
mesma quando me aproximasse do quarto de Xavier.
Reunindo minha coragem, caminhei pelo corredor, me aproximando de
sua porta.
— Xavier, — comecei a dizer enquanto levantei minha mão para bater.
Mas então eu ouvi.
Uma voz de mulher. Gemendo. De homem. Grunhindo.
O bater repetido que só poderia significar uma coisa.
Xavier estava fazendo sexo com outra mulher.
Abaixei minha mão em descrença e lentamente dei um passo para trás,
os olhos lacrimejando. Como pude ser tão idiota? Claro que ele não
mudou!
Nada mudou!
Xavier Knight transaria com quem quisesse enquanto vivesse, casado ou
não. Por que eu estava tão chateada? Por que eu estava com tanta raiva?
Eu não sabia, mas decidi naquele momento nunca mais tentar me
desculpar com Xavier novamente. Se ele queria me machucar, tudo bem.
Mas eu não tenho que aguentar nada disso.
Lucas gostava de dizer que eu não tinha um osso maldoso em meu
corpo, mas escapava de Danny todas as suas travessuras e piadas
desagradáveis. Posso não ser má, mas era uma mestra em dar gelo.
Xavier Knight estava prestes a perceber que não tinha ideia de com
quem estava se metendo.

Capítulo 4
Ponto de Virada
Xavier

Xavier: Angela.

Xavier: Ainda precisamos conversar.


Angela: Claro.

Angela: Quando?

Xavier: Eu só preciso fazer um caf é


primeiro.

Angela: J á fiz alguns.

Xavier: Oh

Xavier: Ó timo

Xavier: Acho que agora ent ã o.

Angela: J á estou l á embaixo.

Não funcionou. Transar não funcionou, porra. No momento em que gozei,


esperava que uma espécie de liberação me invadisse. Mas assim que
terminei e sai de Penny, a cantora de lounge com quem eu dormia
intermitentemente nos últimos meses, a frustração voltou.
O que diabos estava acontecendo comigo?
Até meu corpo parecia estar se rebelando contra mim.
Penny estava quente com sua pele lisa, sua bunda gostosa e aquelas
malditas covinhas.
Não era possível ver à primeira vista, com seus suéteres enormes e
estilo de nerd dos livros.
Mas uma vez sem roupa...
— Pegue suas coisas e vá embora, — eu disse rispidamente.
Penny suspirou enquanto vestia suas roupas. Ela olhou para mim, e a
tristeza em seus olhos enviou uma pontada de dor em mim.
— Não devíamos ter feito isso, — ela disse.
— Você parecia estar se divertindo muito, — murmurei. Ela gritava e
suas notas altas quase quebraram todas as janelas do apartamento.
Penny corou, pegando suas coisas.
— Essa é a última vez, Xavier. Eu me sinto mal por sua esposa.
— Isso não é da sua conta.
Ela foi embora, e eu sabia o quão magoada ela estava.
Mas eu me importava? Ela era apenas uma peça secundária. Eu me
perguntei se minha amada esposa tinha nos ouvido. Não tínhamos ficado
quietos.
Por que uma parte de mim esperava que Angela nos tivesse ouvido?
Possivelmente apenas o meu lado mais cruel, aquele que queria esfregar
isso no rosto dela, para dizer — Eu também tenho meu próprio Dustin. Eu
também estou me lixando pra você!
Isso era mesmo verdade? Filha da puta, minha mente estava uma
bagunça ultimamente.
Eu sabia que, assim que Penny saísse daqui, teria que falar com Angela
sobre essa competição de dança. Droga. Foi a última coisa no mundo que
eu tive vontade de trazer à tona.
Especialmente agora que eu gritei com ela por nada, mas eu tinha que
acabar com isso eventualmente.
Para minha surpresa, porém, Angela respondeu muito rapidamente às
minhas mensagens, e algo sobre o tom delas parecia frio.
Era tão diferente da garota sempre tão gentil, tão inocente, e isso me
pegou completamente desprevenido. Será que Angela estava finalmente
aprendendo a se defender?
Ainda que fosse dessa forma passivo-agressiva das mensagens de
texto?
Não importa. Eu simplesmente tiraria esse negócio do Jubileu de Prata
do caminho e voltaria meu foco para o que mais importava: o trabalho.
Desci as escadas e encontrei Angela já servindo duas xícaras de café. Ela
colocou o meu no balcão e se virou de lado, olhando o calendário e
tomando goles com os lábios finos.
Sim, ela estava definitivamente chateada.
— Eu tenho que falar com você sobre uma coisa, — eu disse. — Eu
queria fazer isso antes, mas você me surpreendeu com Dustin e...
Ela ainda não tinha se virado para me encarar. Meu Deus, isso é
estranho. Eu senti aquela sensação estranha subir em minhas entranhas,
aquela que as pessoas tendem a chamar de culpa. Mas eu não admitiria
nenhum delito. De jeito nenhum.
Quando você era um Knight, você nunca estava errado. Ou pelo menos
era o que eu sempre me dizia.
— De qualquer forma, — eu disse, — é sobre um evento chamado
Jubileu de Prata. Acontece uma vez por ano e...
Ugh. Eu não podia acreditar que realmente tive que convidá-la para
dançar comigo. Isso me fez sentir tão humilhado. Garotas pediam para
dançar comigo e não o contrário.
— Eu sei, — disse Angela, interrompendo minha linha de pensamento.
— Brad já me contou sobre isso. Devemos dançar juntos.
Eu parei, em choque total. Ela tinha acabado de dizer que já tinha
falado com meu pai sobre isso?
— Espere, — eu disse, tentando me orientar. — Você quer dizer... há
quanto tempo você...
— Ele me enviou uma mensagem na noite passada. — Desde quando
Angela e meu pai trocavam mensagens de texto? Senti uma estranha
pontada de ciúme crescendo em meu peito novamente, mas a reprimi. É
do meu pai que estávamos falando.
Não era como se ele estivesse dando em cima de Angela.
— Ok, — eu disse, tomando um longo gole de café.
— Então, uh, o que você acha?
Angela olhou para mim e eu vi aquela inocência se mexendo em seus
olhos. Isso, misturado com sua nova frieza, era um coquetel estranho de
engolir.
— Eu disse a ele que sim, claro. Depois de tudo que ele fez por mim, eu
faria qualquer coisa por Brad.
Por Brad. Tudo o que ele fez por ela.
Ela estava tentando me deixar louco? Desnecessário dizer que estava
funcionando, porra. Não era preciso ser um cientista para analisar o
significado oculto de suas palavras.
Eu não estou fazendo isso por você, Xavier. Não te devo nada, Xavier. Eu
te odeio, Xavier.
Ok, talvez ela não me odiasse, mas ela tem razões pra isso, eu acho.
— Bem, isso resolve tudo, — eu disse, olhando para o meu café para
evitar seu olhar. — Nós vamos ter que ter aulas. Já se passaram anos
desde que dancei. Bem, quero dizer.
— Tudo o que você disser, — ela disse, obediente.
Mesmo assim, pude detectar um traço de atrevimento. Meu Deus, isso
a tornava ainda mais atraente!
— Obrigado pelo café, — eu disse.
Então me virei para subir as escadas e me preparar para o dia. Era um
sábado, claro, mas isso não significava que eu não pudesse trabalhar.
— Xavier, — disse Angela, parando-me. — Você provavelmente deveria
tomar banho. Você ainda cheira a... a ela.
Eu senti como se tivesse levado um soco no estômago. Ela tinha me
ouvido com Penny. Então, por que não parecia nem um pouco satisfatório?
E daí, disse para mim mesmo. Não seria a primeira vez que ela me viu
— traindo. Mas desta vez, Angela sabia, e eu sabia, que algo estava
diferente.
Angela

Angela: Ei, Em.

Angela: Voc ê est á trabalhando hoje?

Em: Sim!

Em: Voc ê quer passar por aqui?

Em: Pegar algumas flores?

Angela: Sim.

Angela: E falar com voc ê , claro.

Em: Duh

Em: Vem logo pra cá!

A última vez que vi Em, ela estava segurando a mão do meu irmão embaixo
da mesa de jantar na casa da minha infância. Eu não precisava dessa Em
agora. Eu precisava da Em que me deu um emprego na floricultura quando
Curixon me rejeitou.
Precisava da garota que compraria sushi comigo à meia-noite, mesmo
quando nós duas sabíamos que o peixe tinha uma grande chance de nos
causar uma intoxicação alimentar.
A garota que eu chamei de minha melhor amiga por anos.
Entrando na floricultura, fui imediatamente confrontada com um
milhão de aromas avassaladores, todos eles se sobrepondo. O toque
atraente de Daphne, o aroma frutado da madressilva e o picante dos lírios
Stargazer.
Juntos, as flores deveriam ter entrado em conflito. Os aromas deveriam
ter sido completamente esmagadores, como às vezes era quando você
entrava em uma loja de flores.
Mas na loja de Em, esse nunca foi o caso. De alguma forma, todas as
fragrâncias se misturam perfeitamente, como se ela tivesse criado uma
química quase perfeita, vaso por vaso, planta por planta.
Era como, pensei, era como se as flores tivessem assinado um acordo
de paz.
Acordo.
Essa palavra nunca significaria a mesma coisa para mim agora.
— Aí está você! — Em disse, largando a tesoura. — Você quer me
ajudar a embrulhar isso?
— Claro, — eu disse, me aproximando, sorrindo. — Isso se eu ainda
consigo me lembrar como fazer.
— É como andar de bicicleta, Angie. Você sempre foi melhor nisso do
que eu, de qualquer maneira.
Fiquei ao lado de Em e comecei a organizar as flores, pensando
novamente nessa palavra. Acordo. Quase me fez estremecer.
— O que é? — Em perguntou, percebendo minha carranca. — Você
parece... desligada.
— Oh, é só... o Xavier. De novo.
— Ele ainda está sendo terrível?
Comecei a acenar com a cabeça. Então parei. Eu balancei minha cabeça.
Então parei. Eu não tinha certeza do que sentia, mas não era clareza.
Quando olhei para Em, sabia que ela me ouviria. Mesmo que saísse tudo
confuso, ela ouviria e seria compreensiva.
Então comecei a dizer a ela como me sentia.
— Na ilha, Xavier e eu... pensei que tínhamos criado um vínculo. Era
como se estivéssemos compartilhando algo intenso, e não sei... especial?
Parece bobo.
— Não, não parece, Angie, — disse Em, agarrando minha mão. —
Continue.
— Bem, — eu disse, respirando, — Eu cuidei dele. Ele estava mais ferido
do que eu, então eu cuidei de suas feridas e o alimentei, e... o jeito que ele
olhou para mim, Em... Ninguém nunca olhou para mim desse jeito antes.
— Isso parece lindo.
Eu balancei a cabeça tristemente.
— Era. E então voltamos para Nova Iorque e... tudo mudou.
— Como? — Em perguntou, franzindo o cenho.
Eu não sabia por onde começar. Então, eu apenas contei a ela toda a
história, ocasionalmente parando para continuar arrumando as flores e
para pensar sobre meus sentimentos. Quando terminei, Em suspirou.
— Angie, parece que... ele está deixando você muito infeliz.
— Nem sempre.
— Mas na maioria das vezes, não é?
Eu concordei. Em me virou para que eu a olhasse bem nos olhos.
Portanto, não pude desviar para as flores pela primeira vez.
— Não é somente porque seu pai está doente que você aceitou se casar
com o Xavier?
— Sim. O que você está dizendo?
— Ele está melhorando, Angie! Você o viu com seus próprios olhos.
Em estava certa. Parecia que a saúde do meu pai estava melhorando
drasticamente, mas isso não mudou nada, mudou?
— Então? — Eu perguntei.
— Então, — Em disse, impaciente, — isso significa que você não precisa
mais respeitar o acordo por muito mais tempo. Especialmente agora que
você conseguiu aquele grande acordo daquela enorme revista. Você pode
pagar a maioria das contas sozinha.
Desde que a primeira revista online vazou meus nudes, Brad os atacou
com tanta força legal que eles concordaram com um pagamento em
dinheiro ridiculamente grande, que agora estava descansando feliz em
minha conta bancária.
Foi um dos gestos mais gentis do pai de Xavier.
Mas nunca parei para pensar que...
— Angie, — disse Em, — talvez você não precise mais desse acordo.
Talvez seja hora de acabar com isso.
Acabar com meu casamento com Xavier Knight. Pedir o divórcio. Deixá-
lo.
Depois de tudo que passamos, poderia ser tão simples assim? E,
mais importante, era isso que eu realmente queria?
Capítulo 5
O pé Errado
Angela
Quadris balançando. Gotejamento de suor. Mãos apertando.
Eu estava no meio de uma aula de dança e nunca tinha estado tão perto
de outra pessoa na minha vida. Muito menos... Xavier.
— E vire!
Com a mão agarrada às minhas costas, Xavier me girou de repente e eu
senti o ar escapar de meus pulmões. Eu me sentia desequilibrada, vacilante
e desajeitada, diferente de todas as outras pessoas na sala, todas as quais
se moviam como dançarinas profissionais.
Todo mundo era tão ágil, gracioso e irritantemente bom nisso. Todos,
exceto eu.
Felizmente, Xavier estava guiando. Caso contrário, provavelmente
teríamos caído no chão agora.
— Bom! Agora, mais perto.
Kiki, nossa instrutora de dança, uma loira linda com um corpo fino
como papel, vestindo nada além de uma malha muito reveladora, colocou
a mão no pescoço de Xavier.
— Ainda mais perto, Sr. Knight, — ela ronronou.
Senti os cabelos da minha nuca se arrepiarem. Um instinto animal
dentro de mim despertou. Foi uma repulsa tão pura, um ódio repentino tão
inebriante que quase esqueci de mim.
Eu acabei de dizer... ódio? Eu não odiava nada nem ninguém! O que
estava acontecendo?
— Você se move muito bem, Sr. Knight, — ela disse enquanto Xavier me
conduzia em outro passo. — Com uma parceira adequada, quem sabe do
que você seria capaz.
Meu Deus, eu queria fazer essa mulher tropeçar e vê-la cair em cima de
sua bunda magra! Então era assim ser alguém possessivo? Eu acabei de
sentir ciúme de Xavier?
Isso não fazia sentido. Alguns dias atrás, eu estava conversando com Em
e discutindo a possibilidade de terminar totalmente o casamento.
Agora eu estava com ciúme?
Talvez fossem apenas meus hormônios ou um efeito colateral de sentir
as mãos de Xavier em mim, tocando meu corpo, me girando como uma
boneca de pano.
Como se eu fosse dele para fazer o que ele quisesse.
E de certa forma, suponho que sim. Afinal, eu era a esposa de Xavier,
pelo menos no papel.
— Deixe-me guiar, — ele disse em voz baixa.
Mas ele não parecia zangado, mais entretido do que qualquer coisa.
Franzi a testa, confusa, e então percebi que, tomada pela ansiedade,
comecei a direcionar nossos movimentos.
— Você precisa ser mais graciosa, Sra. Knight, — disse Kiki com uma
risada. — Tente parar de pensar demais e apenas respirar...
É fácil falar.
Um casal passou por nós, movendo-se em perfeita sintonia, e me vi tão
maravilhada com seus belos movimentos fluidos que não consegui
observar meus pés e...
— Angela!
BUM! Eu caí de bunda no meio da pista de dança. Ouvi algumas
pessoas suspirarem. Eu juro que peguei Kiki rindo antes que ela se
abaixasse para oferecer ajuda, colocando um olhar de pena em seu rosto.
— Oh, coitadinha, — ela disse sem sinceridade.
— Deixa que eu ajudo, — disse Xavier, ajoelhando-se e me dando uma
mão. — Vamos. Está tudo bem.
Fiquei surpresa com seu tom de voz gentil, com sua falta de impaciência
com a minha inépcia óbvia quando se tratava de dança.
Era este o mesmo Xavier que estava gritando comigo apenas alguns dias
atrás? Foi difícil acreditar.
Quando ambos nos levantamos, respirei fundo e olhei para Xavier. Era
como se eu o estivesse vendo pela primeira vez. Como seus músculos,
encharcados de suor, incharam. Como seu queixo forte e seus olhos
escuros brilharam com malícia.
Ele parecia, e eu nunca tinha descrito ninguém dessa forma antes, sexy.
De dar água na boca.
Um tipo único.
E pensar que este lindo espécime era meu marido...
Angela! Eu me castiguei. Saia dessa. Este é o XAVIER com o qual você
está fantasiando.
Mas parecia que eu não era a única que tinha olhos para Xavier.
Quando olhei ao redor da sala, vi muitas mulheres olhando para ele,
praticamente babando.
Kiki era a pior de todas. Ela pegou a mão dele.
— Aqui, Sra. Knight, — ela disse secamente. — Deixe-me mostrar como
isso é feito.
Ela acenou com a cabeça para um colega instrutor, que reiniciou a
música, e de repente Xavier e Kiki estavam girando ao redor da sala. Ela
não conseguia manter as mãos longe dele.
Suas mãos estavam vagando por ele, eu percebi. De suas costas, mais
para baixo, para seu...
Oh meu Deus. Ela acabou de apertar a bunda dele?
Senti aquela raiva estranha explodir dentro de mim novamente. Um
desejo de pisar na pista de dança e arrancá-lo dela me consumiu, mas
consegui me controlar.
Lembre-se. Ele é ruim para você. Você estava pensando em um
divórcio!
Mas enquanto Xavier e Kiki dançavam, percebi que seus olhos nunca
encontraram os dela. Eles ficaram apenas comigo. Mesmo enquanto
segurava outra mulher, ele estava olhando para mim.
Isso me fez corar quando um calor pulsante me atingiu.
Ninguém nunca havia me olhado com esses olhos.
Especialmente nunca Xavier...
Xavier
Chegamos em casa, suados e nojentos, e imediatamente nos separamos
para tomar banho. Marco havia nos levado e, embora não falássemos, eu
disse a ele para tocar a mesma música que dançamos na aula.
Notei o canto do lábio de Angela se curvando em um sorriso e torci por
dentro. Então ela gostou! Eu sabia!
Quando a aula de dança começou e nossas mãos se entrelaçaram,
parecia que algo em minha mente tinha sido invertido. Toda a minha raiva,
minha confusão, por um breve momento... desapareceu.
Em seu lugar estava uma atração física pura. Meu cérebro ainda não
estava fazendo nenhum sentido, mas caramba, sentir o corpo de Angela
contra o meu fez todo tipo de coisa comigo.
Quando entrei no banheiro, pronto para tomar banho, pensei em como
poderia melhorar essa sensação. Eu estava prestes a me despir e começar
quando ouvi uma exclamação silenciosa.
— Sr. Knight!
Eu parei. No chuveiro, a empregada, Lucille, estava limpando. Droga.
— Oh, Lucille, — eu disse, corando, tentando cobrir meu crescente
tesão. — Eu não sabia que você estava aqui.
— Desculpe, Sr. Knight. Eu estou limpando!
Pude ver. Merda. O que eu vou fazer? Estava fedendo. Eu precisava
tomar banho, mas o banheiro estava ocupado.
Então, um pensamento cruzou minha mente.
— Devo sair e deixar você...
— Não, Lucille, — eu disse. — Há mais de um chuveiro neste
apartamento.

Entrei no banheiro da Angela sem me preocupar em bater. Afinal, esta era


minha casa. E as mulheres eram notoriamente lentas no banheiro. Eu
provavelmente seria capaz de pular no chuveiro antes mesmo que ela...
Oh.
Meu.
Deus.
Com um pequeno grito, Angela se cobriu. Ela estava seminua, sem
camisa, parada no meio do banheiro, vestindo nada além de sua calcinha
preta.
E, meu Deus, ela era linda.
— Xavier, — ela disse, sem fôlego. — O que... o que você está fazendo
aqui?
Ela estava cobrindo os seios, mas eu ainda podia ver a leve curva deles
sob suas mãos e como eram perfeitamente formados.
Por um segundo, me perguntei se deveria me virar e dar espaço a ela.
Talvez fosse algum tipo de violação, mas pensei melhor.
Por que eu tinha que me esconder de minha esposa?
Tirei minha cueca e depois a deixei cair, e Angela rapidamente se virou,
corando.
— Desculpe, querida, — eu disse com um sorriso. — Lucile está
limpando meu banheiro. E estou com pressa para trabalhar. Espero que
você não se importe.
Eu me aproximei de Angela e vi seus olhos baixarem e se arregalarem.
Como se ela nunca tivesse visto a aparência de um homem de verdade. Até
agora.

Angela
Eu não conseguia acreditar no que estava vendo. Xavier, totalmente nu,
caminhando em minha direção. Ele estava prestes a tentar algo? Eu
instintivamente dei um passo para trás, com medo, mas para minha
surpresa, Xavier apenas passou direto por mim e entrou no chuveiro.
Segurei meus seios, temendo por minha vida. Eu não queria que ele
visse NADA, mas eu o tinha visto e... uau.
Foi tudo o que consegui pensar.
Foi tudo o que pude dizer.
Eu continuei olhando, não conseguia parar. Eu queria...
Não, muito obrigada, eu não queria nada! Eu queria correr o mais
rápido que pudesse para fora do banheiro, mas senti como se meus pés
estivessem amarrados ao chão. Era como se eu estivesse congelada.
Xavier entrou no chuveiro e abriu a água. Eu observei quando ela
espirrou contra seu corpo. Contra o... você sabe o quê...
Meu Deus eu precisava parar com isso!
— Hum, desculpe, — eu disse estupidamente. — Eu só vou...
— Eu deixei a porta do chuveiro aberta por um motivo, Angela, — disse
Xavier com um sorriso. — Você é bem-vinda para se juntar a mim. Nós dois
precisamos de um banho, não é? — Eu definitivamente precisava de um
banho, mas de forma alguma eu entraria naquele banho com ele e com...
aquilo.
Eu não conseguia acreditar como ele era ousado. Mas então me
lembrei de com quantas mulheres ele dormiu, e tudo fez sentido.
Lembrando daquelas garotas, seus gemidos, seus olhos arregalados em
êxtase, eu tive uma visão repentina de mim mesma sendo uma delas.
Mas não.
Eu não daria a Xavier Knight essa satisfação.
Eu estava prestes a me virar quando Xavier se virou e vi suas costas
expostas. A longa cicatriz descendo por ele.
A mesma que ele havia me falado na ilha. Eu me perguntei novamente
como exatamente ele a tinha conseguido. Quais foram as circunstâncias?
Mas, enquanto Xavier não estava disposto a se abrir, eu não estava
disposta a me considerar atraída por ele. Mesmo que meu corpo
implorasse por seu toque.
Eu me virei e saí do banheiro, ouvindo Xavier chamar atrás de mim.
— Minha doce esposa é uma puritana!
Ai. Eu estava tão envergonhada. Mesmo que eu tivesse saído do
banheiro, parecia que sua imagem tinha sido gravada em minhas retinas.
Ver Xavier nu era diferente de tudo que eu já experimentei. Meu pulso
disparou, minha pele formigou e meu interior alcançou sua
temperatura máxima.
Meu corpo estava reagindo sem consultar minha mente, e eu não pude
deixar de me perguntar quando isso aconteceria novamente.
Quando eu veria o corpo nu do meu marido novamente?
Capítulo 6
Paus e pedras
Angela
— Oh. Meu. Deus. Angela!
Dustin quase deixou cair meu cappuccino no chão quando contei a ele o
que tinha acontecido entre mim e Xavier no banheiro.
Ele rapidamente se sentou na minha frente, deslizando por cima do
balcão, ignorando os outros dois clientes que esperavam ele voltar para
fazerem o pedido.
— Detalhes, garota. Eu preciso deles. Agora mesmo.
Corei, sem saber por onde começar. Eu não conseguia parar de repetir a
cena indefinidamente na minha cabeça.
Xavier me pegando seminua.
Xavier tirando a roupa.
Xavier no chuveiro, a água brilhando contra seu peito musculoso,
escorrendo para o seu...
— Alôôôôô? — Dustin disse, acenando com a mão diante dos meus
olhos. — Pare de sonhar acordada e comece a falar, mocinha.
— Uh, bem... — eu disse, incerta. — Eu pensei por um segundo que ele
estava vindo em minha direção, mas... então ele entrou no chuveiro.
— E ele deixou a porta do chuveiro aberta, não é? Dizendo
basicamente: entre. Em mais de uma maneira.
Eu engasguei um pouco com a piada, mas Dustin deu uma gargalhada,
se achando o homem mais engraçado do mundo. Eu neguei com a cabeça.
— Não, eu acho que ele estava apenas bagunçando minha cabeça. Ele
realmente não quer… — Angela!
Dustin ergueu as mãos e suspirou, exasperado.
— Sua vida está finalmente começando a ficar interessante! Por que
você está tentando diminuir o tom quando está tão emocionante?
— Estou apenas sendo realista, Dustin, — eu disse defensivamente. —
Ele não gosta de mim. Ele dorme com quem ele quer. Eu sou apenas a
garota com quem ele tem que viver.
— E com quem ele tira a roupa.
— Talvez...
Dustin sorriu maliciosamente.
— Então?
Eu fiz uma careta, confusa.
— O quê?
— Você viu o dele?
Eu desviei o olhar, sentindo a cor subir às minhas bochechas. — Dustin,
— disse baixinho, — por favor, estamos em público.
— Com certeza! Você viu o dele! Quão grande era? Era enorme? Não,
era minúsculo, não era? Isso explicaria sua obsessão por todos aqueles
enormes hotéis Knight. Está compensando. Estou errado?
— NÃO! — Eu gritei sem querer. Coloquei a mão na boca, cobrindoa,
surpresa comigo mesma. Os dois clientes, agora batendo os pés com
impaciência, me lançaram olhares curiosos.
O sorriso de Dustin cresceu ainda mais.
— Então não é pequeno. Entendo...
Na verdade, ver o de Xavier... aham... certamente foi memorável, mas
não era no que me fixava. Tudo o que eu conseguia pensar era naquela
cicatriz nas costas.
Para mim, foi um lembrete de como nos tornamos próximos na ilha.
Como ele finalmente se abriu sobre o acidente de carro, apenas para me
ignorar novamente.
Eu queria muito saber a história toda, mas como poderia perguntar a
ele?
— Por favor, Dustin, — falei, tentando mudar de assunto. — Isso já é
tão estranho para mim. Você tem que deixar isso ainda mais estranho?
— Desculpe, Angie, — ele disse, dando de ombros. — Não posso evitar.
Sou um artista sem um tostão que precisa de inspiração. O que posso
dizer?
Eu ri e virei meus olhos.
— Quase sem um tostão ultimamente, pelo que ouvi.
— É verdade, — ele disse com um aceno cortês. — Estou muito melhor,
graças a toda a sua ajuda. Com a galeria e tudo mais. Mas também sou um
grande gastador, então...
— É por isso que você ainda trabalha aqui.
— Sim.
— Como eles ainda não demitiram você?
— Eu não faço ideia. Espere um momento.
Dustin finalmente se levantou e se aproximou dos clientes, agora
parecendo positivamente furiosos com o tempo que eles tiveram que
esperar. Dustin não pareceu se importar nem um pouco. Ele apenas deu
um sorriso e anotou os pedidos.
Eu ri para mim mesma. Não havia ninguém como Dustin no mundo.
Claro, eu poderia falar com Em sobre a maioria das coisas, mas quando se
tratava de qualquer coisa relacionada a sexo, Dustin era sempre minha
primeira parada.
Porque ele já fez muito isso e gostava de falar sobre o tema, e de
alguma forma, mesmo sendo um homem gay, ele sabia muito mais sobre
corpos femininos do que eu.
Além disso, não era como se eu pudesse falar com Em sobre essas
coisas quando ela estava namorando meu irmão. Eu tinha zero interesse
em ouvir sobre sua vida sexual ou em sequer correr o risco em abrir essa
porta.
Ai. Só de pensar nisso me deu vontade de vomitar. Era tudo super
confuso, mas quando se tratava de conversar com Dustin, eu não
reclamava. Como uma virgem de 23 anos, eu precisava de toda informação
que pudesse obter.
Eu estava prestes a tomar um gole do meu cappuccino — esfriando
rapidamente — quando senti meu telefone vibrar na minha bolsa. O que
foi agora? Eu me perguntei, suspirando.
N ú mero desconhecido: Ol á , linda senhora.
😉 ( emoji piscando o olho)

N ú mero desconhecido: Sentiu minha falta?

Angela: ???

Angela: Quem é?

N ú mero desconhecido: Oh, Angela...

N ú mero desconhecido: N ã o aja como se


n ã o soubesse.

Angela: ???

Angela: Quem é?
Angela: Isso é meio estranho.

Angela: Por favor, me deixe em paz.

N ú mero desconhecido: Por favor, me deixe


em paz.

N ú mero desconhecido: 🧐 (emoji com


cara de esperto)

N ú mero desconhecido: Oh n ã o, n ã o.

N ú mero desconhecido: Acho que n ã o.

N ú mero desconhecido: Nós dois sabemos


que voc ê sente minha falta.

N ú mero desconhecido: Voc ê precisa de


mim.
Angela: Pare.

Angela: Isso n ã o é engra ç ado.

Angela: Vou à pol í cia.

N ú mero desconhecido: 😹😹😹 (3 emojis


de gatos rindo)

N ú mero desconhecido: tã o fofo quando


voc ê resiste.

Angela: NÃO ESTOU BRINCANDO.

N ú mero desconhecido: Por favor, Angela.

N ú mero desconhecido: Voc ê sabe a


verdade.

N ú mero desconhecido: Ningu ém me diz


n ã o...
Joguei meu telefone de lado como se estivesse em chamas. Eu
escorreguei para trás na minha cadeira. Eu não conseguia respirar. Minhas
mãos tremiam. Meus dentes batiam. Meus dedos do pé estavam
dormentes.
Eu estava apavorada.
Não poderia ser ele, poderia?
— Angie?
Eu virei minha cabeça, os olhos arregalados, certa de que estava prestes
a vê-lo se materializar. Mas era apenas Dustin.
Ele parecia preocupado.
— Angie, qual é o problema? Você parece ter visto um fantasma.
— Eu... eu... — gaguejei, incapaz de falar com coerência. — Ele me
mandou uma mensagem, Dustin.
— Quem? Xavier?
Eu neguei com a cabeça. Eu mal conseguia pronunciar seu nome em voz
alta. Era como aquela brincadeira de infância da loira do banheiro, dizer o
nome no espelho três vezes e ela aparecer e me agarrar?
Eu estava enlouquecendo, mas não sabia de que outra forma poderia
estar agora.
— Angie, fale comigo! — Dustin disse, sentando na minha frente,
agarrando minhas mãos.
— Eu acho que é o... Sr. Lemor.
O rosto de Dustin ficou pálido. Eu tinha contado a ele tudo sobre meu
antigo chefe, como ele fez da missão de sua vida me destruir, para garantir
que eu nunca fosse contratada por nenhuma empresa novamente.
Tudo porque ousei rejeitá-lo.
Depois que Brad o prendeu naquela armadilha, alguns meses atrás,
pensei que nunca mais teria que ouvir ou pensar em seu nome novamente.
Ele estava na prisão agora! Como ele poderia me mandar mensagens?
— Posso dar uma olhada? — Dustin perguntou, pegando meu telefone.
Eu confirmei, inclinando-me para desbloquear para que ele pudesse ler
as mensagens. Mas, para minha surpresa, Dustin franziu a testa.
— Tem certeza que é ele? Ele está na prisão, certo? Isso significa que
ele precisaria usar o sistema de mensagens da prisão. Este número não
está listado.
Meus olhos se arregalaram. Sistema de mensagens da prisão? Como
Dustin sabia disso? Ele me deu um sorriso tímido.
— Eu tenho um tio estranho que venho visitando na prisão há anos.
Você aprende essas coisas.
— Mas tem que ser ele, Dustin, — eu disse, balançando a cabeça. —
Não há mais ninguém que queira me machucar como ele. Especialmente
depois do que fiz. Depois que o mandei para a prisão.
Dustin acenou com a cabeça, mas encolheu os ombros.
— Mesmo que seja ele, Angie, posso te dizer uma coisa. São apenas
palavras. Ele está atrás das grades. Ele não pode tocar em você na vida
real. Você está segura.
— Mas e se…
— Não perca tempo imaginando os piores cenários. Confie em mim.
Fiquei surpresa com o quão sério Dustin estava se tornando agora. Ele
nunca tinha realmente se aberto comigo sobre seu passado antes.
Portanto, esta era uma nova camada do meu amigo geralmente
despreocupado.
— Desde que eu era criança, meu tio sempre manteve contato e fez
essas promessas na prisão. Dizendo que vai sair em breve. Dizendo que vai
me levar para a Disneylândia. Depois, quando ficasse mais velho e ele sair
da prisão, me levaria a Milão para o fashion week.
Eu sorri.
— Ele parece fofo.
— Ele é, — disse Dustin, sorrindo tristemente. — Mas ele também é um
mentiroso, Angie. Ele nunca vai sair da prisão. Todas as suas mensagens,
todas as suas promessas, são apenas isso. Conversa vazia.
Dustin bateu no meu telefone de forma tranquilizadora.
— Esse é o mesmo caso. Conversa vazia. Você vai ficar bem, minha
amiga.
Eu me senti tão confortada por Dustin, tão cuidada, que não pude
evitar. Eu joguei meus braços em volta do pescoço e o abracei com força.
— Obrigado, Dustin.
— Não por isso. Agora, é melhor nos soltarmos. Existem mais clientes
que parecem querer me matar.
Eu ri e o deixei ir, observando enquanto ele se aproximava para receber
mais pedidos, e grata além das palavras que alguém estava lá para me
acalmar quando eu estava com medo.
São apenas palavras vazias, eu repeti para mim mesmo. Elas não podem
te machucar. Você está segura.

Corri de volta para casa, sentindo-me cafeinada, rejuvenescida e pronta


para enfrentar o mundo, com as garantias de Dustin repetindo-se em
minha cabeça.
Parecia uma frase que eu poderia aplicar a quase qualquer situação.
Mesmo se Em estiver me dizendo detalhes íntimos demais sobre ela e meu
irmão?
Apenas palavras.
Mesmo se nosso médico estivesse descrevendo ainda mais coisas que
poderiam dar errado com meu pai?
Apenas palavras.
Se Xavier estava gritando comigo?
Apenas palavras. Apenas palavras. Apenas palavras.
Então, quando as portas do elevador se abriram, me senti preparada
para qualquer que fosse seu último ataque. Imagine minha surpresa
quando o vi rolando uma mala em minha direção.
Oh, meu Deus. Ele está... se mudando?
— Finalmente você chegou, — disse Xavier.
— Apresse-se e tome um banho.
— Espere, — eu perguntei, confusa. — O que está acontecendo?
— Arrume suas malas. Estamos saindo para o fim de semana.
Saindo? Para onde?
De repente, percebi que havia apenas um problema com o mantra de
Dustin. Apenas palavras não ajudava quando uma ação era necessária.
— Onde estamos indo? — Perguntei a Xavier quando ele passou por
mim, entrando no elevador.
Ele me olhou e deu um meio sorriso, dando de ombros.
— E estragar a surpresa? Onde está a diversão nisso?
Capítulo 7
Homem de Família
Angela
A bela paisagem estava passando por nós enquanto rodavamos ao longo
da rodovia Sunrise. Eu nunca fui aos Hamptons na minha vida, mas tinha
ouvido tantas histórias sobre a área ao longo dos anos que tive uma
imagem mental de como a área poderia ser.
Meus sonhos mais loucos não poderiam ter me preparado para a visão.
As praias, as fazendas, as casas de cascalho do século XVIII, todas
gigantescas e imaculadamente cuidadas, eram coisas demais para
processar para uma garota de cidade pequena como eu.
Eu olhei para Xavier. Ele estava dirigindo, o que era uma novidade. Ele
decidiu dar a Marco uma merecida folga, algo que me pareceu
estranhamente caridoso.
Não que eu estivesse questionando isso. Se alguém merecia um tempo
com sua família, era Marco, talvez o meu favorito da equipe pessoal de
Xavier.
Xavier usava luvas de dirigir e óculos escuros de grife, tão focado na
estrada que mal parecia notar nossos arredores deslumbrantes.
Acho que ele estava acostumado com eles.
Mas então ele percebeu que eu o observava e me lançou um olhar
divertido.
— Tem algo em mente, Angela?
— Ah, não. Eu só estava... admirando como é lindo aqui.
— Você realmente quer saber para onde estamos indo, não é?
Eu concordei. Na verdade, o suspense estava me matando. As surpresas
com Xavier raramente eram boas.
— Tudo bem, para que não nos envergonhemos andando às cegas, vou
te falar, — disse Xavier, sorrindo, — desta vez.
Foi esta a sua tentativa de flertar? Eu não sabia o que fazer com isso. Só
esperei que ele me dissesse para onde estávamos indo.
— Você se lembra da tia Heather?
Eu pisquei para ele, confusa. Quem?
— Não? — ele perguntou. — Que tal seus filhos, Liam ou Cole? Ou
minha outra tia, Stella? Ou...
Ele continuou a dizer nomes que soavam confusos, e eu continuei a
olhar para ele sem expressão. Finalmente, ele percebeu que eu não tinha
ideia de quem eles eram.
— Eles são minha grande família. Você os conheceu brevemente no
casamento.
Isso explica tudo. Poucos dias eu conseguia me lembrar com menos
clareza do que o dia do meu casamento. Tinha sido um borrão de
excitação, horror e confusão.
Todos os rostos, os nomes... nenhum deles ficou comigo. Apenas as
palavras sussurradas de Xavier para mim no altar eram o que eu conseguia
lembrar.
— Eu sou um homem poderoso. Eu consigo o que quero. E o que eu
quero é arruinar você.
Estremeci só de pensar nisso. Xavier percebeu minha expressão, porque
ele tirou os óculos e olhou para mim de perto.
— Ei, — ele disse, — não há nada para se preocupar. Meus parentes são
legais. Um pouco exagerados, claro, mas legais. Tenho certeza que eles
gostam de você. Muito.
Diferente de você, pensei, mas fiquei muito surpresa com o quão legal
ele estava sendo, para variar.
— Lembre-se, — ele disse, voltando-se para a estrada, — eles pensam
que somos casados. Casados de verdade. Então, vamos ter que brincar um
pouco. Acha que dá conta?
Eu confirmei com a cabeça, mas estava nervosa. Eu odiava ter que fingir
qualquer coisa. Isso ia contra a minha natureza. E fingir que se ama um
homem que não me ama parecia especialmente difícil.
— Sabe, — ele disse, pensando: — Sei que você não é a pior pessoa do
mundo, Angela. Eu costumava pensar assim. Mas agora...
Isso abateu meus pensamentos negativos. Xavier estava realmente
tentando ser decente pela primeira vez. Talvez só para que ele pudesse me
levar nessa viagem ridícula. Mas ainda assim...
— Eu ainda não te entendo. Não entendo por que uma mulher se
casaria com um estranho. De qualquer maneira, não importa. Está feito.
Somos um casal, então temos que agir como um.
Agora, ele não estava me chamando de puta oportunista, mas acho que
ainda estava pensando nisso.
Grande melhoria.
A chicotada que eu estava experimentando agora não podia nem ser
colocada em palavras. Ele foi bom em um segundo e frio no seguinte.
Ele era lindo, sexy e flertava comigo por um momento, e então ele era
um idiota.
Em vez de comentar sobre isso, eu apenas acenei com a cabeça
solenemente.
— Eu entendo, Xavier, — eu disse, lembrando que ainda tinha uma
carta na manga.
Eu ainda poderia encerrar o acordo, se fosse necessário.

Quando finalmente chegamos à propriedade Knight, senti como se minha


língua tivesse inchado, tornando qualquer conversa impossível. Foi o
resultado da minha ansiedade ou do meu espanto.
Nunca tinha visto uma casa tão bonita em minha vida. Um lar. Quem eu
estava enganando? Você poderia colocar cinquenta casas na propriedade.
Era ampla e tinha uma impressionante arquitetura colonial. Parecia um
sonho.
Xavier e eu saímos do carro, e um motorista rapidamente pegou as
chaves, acenando para Xavier e eu.
— Sr. e Sra. Knight, bem-vindos!
Eles pegaram nossas malas e Xavier me levou em direção a um
pequeno grupo de pessoas de aparência bela reunidas sob um gazebo,
servindo-se de aperitivos gourmet e espumantes.
Eu reconheci apenas um deles, e fiquei muito grata por ele estar aqui.
— Angela, querida! — Brad exclamou, se aproximando e me puxando
para um abraço caloroso. — Bem-vinda. Considere esta sua casa longe de
casa.
— Obrigado, Brad, — eu disse, ainda um pouco atordoada.
— Todo mundo quer falar com você, é claro. Eles quase não tiveram a
chance de ir ao casamento.
Eu concordei, mas sentindo meus nervos assumirem o controle e meu
corpo enrijecer. Como eu seria capaz de lembrar do nome de todos que me
cumprimentassem?
Felizmente, no fim das contas, não precisei me preocupar com isso.
— Bem, ela é absolutamente radiante!
Virei-me para ver uma mulher de aparência plástica com um sorriso
excessivamente grande, embora amigável, se aproximando de mim. Ela
agarrou minha mão como se fôssemos velhas amigas.
— Tia Heather, querida, — ela disse, me lembrando. — Não se
preocupe. Eu não esperava que você se lembrasse. Ao contrário deste
bando, todos pensam que são o centro do universo. Venha, deixe-me
mostrar a você.
Ela pegou meu braço antes que eu pudesse impedi-la. Virei-me para ver
Xavier pegando uma taça de champanhe e segurando-a na minha direção,
ligeiramente divertido, como se dissesse vivas!

— E aquela ali é minha sobrinha Rochelle. Apenas dezoito anos, mas de


acordo com o mexerico, muito rodada na nossa cidade. Se você me
entende.
Eu não entendi metade das palavras que saíram da boca da tia
Heather, mas pelo menos ela estava me apresentando a todos. Ela acenou
com a cabeça para dois caras de aparência semelhante.
— Esses são os irmãos dela, Ethan e Henry. Ethan é bem-apessoado.
Henry... nem tanto.
Henry me olhou de cima a baixo e zombou. A aversão imediata que
senti por ele foi poderosa e confusa. Quase sempre dei a todos o benefício
da dúvida.
Talvez fosse apenas a influência maliciosa da tia Heather passando para
mim.
— Há um pequeno boato circulando sobre Henry, você sabe — Heather
disse, balançando a cabeça enquanto eu o observava se aproximar de
Xavier no gazebo. — Ele estava concorrendo para assumir a empresa da
família. Ficou entre ele e seu marido. Desnecessário dizer que Xavier
venceu.
Isso era novidade para mim. Sempre pensei que Xavier fosse o único
herdeiro potencial da empresa e da fortuna.
— Então, poderia ter sido Henry em vez disso? — Eu perguntei,
surpresa.
A Tia Heather assentiu.
— E ele está chateado com isso até hoje, se quer saber minha opinião.
Observei os dois homens conversando e me perguntei o que eles
poderiam estar discutindo. Não que fosse da minha conta, mas aprender
toda essa história da família com a tia Heather despertou minha
curiosidade.
O que mais você está escondendo, Xavier?

Xavier
— Então, Xavier, me diga. Os rumores são verdadeiros?
Henry, o porco de merda, estava tentando me incitar a uma discussão.
Mas eu não ia dar a ele a satisfação de uma resposta.
— O conselho está realmente tão preocupado com sua competência
como CEO que está forçando você a competir no Jubileu de Prata? Para
provar a si mesmo através da dança? O que é isso, Footloose? Se eu fosse
você, me sentiria... humilhado.
— Pelo menos tenho uma empresa, Henry, — respondi friamente.
— Porque papai está entregando para você. Seja honesto, Xavier.
Quando você construiu algo por conta própria?
Eu balancei minha cabeça, fingindo simpatia.
— Deve ser difícil, Henry. Ficar sentado à margem. Assistir a empresa
crescer dez vezes mais do que antes em dois anos, enquanto tudo o que
você pode fazer é dar um passo aqui e outro ali.
— Poderia ter sido vinte vezes comigo no comando, — Henry
respondeu com um sorriso de escárnio.
— Poderia, poderia, poderia. Você quer a verdade, primo? Tenho pena
de você.
Era sempre bom esfregar sal na ferida do desgraçado. Anos atrás, ele
tentou de tudo para roubar o que era meu por direito.
Se não fosse pelo fato de que compartilhamos sangue, eu o teria
matado enquanto dormia. Ultimamente, no entanto, meu temperamento
não estava tão explosivo como costumava ser.
O fato de que fui capaz de ignorar um insulto de Henry, dentre todas as
pessoas, foi um grande avanço. Eu não tinha certeza o que tinha mudado
para me deixar com menos raiva o tempo todo... mas tinha uma ideia.
Eu olhei para Angela novamente, ocupada conversando com a tia
Heather e, uma sensação estranha brotou dentro de mim. Na verdade, eu
gostava de vê-la perto da minha família.
Eu gostei de trazê-la para os Hamptons.
Eu estava começando a realmente gostar dela como pessoa e, por sua
vez, acho que estava começando a gostar mais de mim mesmo. Henry me
insultou? E daí? Eu poderia aguentar.
Angela estava me ensinando uma ou duas coisas sobre compaixão,
acho.
Eu estava prestes a me virar — não mais interessado em nada que
Henry tinha a dizer sobre negócios — quando ele agarrou meu braço.
— Há outro boato, sabe? — ele disse, sorrindo. — Sobre você e sua
esposa. O casamento aconteceu de repente. Num segundo, um estranho, e
no próximo, você é casado. Parece quase... forjado.
— Cuidado, — eu rosnei.
Meus punhos estavam cerrados e meus dentes, trincados. Falar merda
sobre mim, ok, mas falar merda sobre minha esposa? Henry percebeu que
a provocação estava funcionando. Porque ele se aproximou.
— Será que ela é uma daquelas esposas por correspondência? Ou
talvez algo mais simples? Uma prostituta humilde que você encontrou na
rua?
Henry percebeu que eu estava ficando bravo. Ele queria me incitar a
uma briga. Ele se aproximou, um sorriso de filho da puta em seu rosto.
— Quanto é? — ele sussurrou. — Eu quero saber se ela é boa o
suficiente.
Eu não sei o que aconteceu a seguir.
Eu vi vermelho.
E depois havia sangue por toda parte.
Capítulo 8
Conversa Íntima
Xavier
Senti mãos me agarrando, puxando e rasgando, tentando me fazer parar.
Mas não consegui. Eu queria fazer o desgraçado sofrer pelas palavras sujas
que saíram de sua boca.
— XAVIER, JÁ CHEGA!
Eu congelei no meio de um soco, erguendo os olhos para ver meu pai
me encarando, horrorizado.
— Ele... — eu disse, ofegante. — Você não ouviu o que ele disse sobre
Angela.
Henry era uma poça de sangue, deitado no chão e segurando o nariz.
— Meu Deus, acho que está quebrado! IDIOTA!
— Oh, cale a boca, Henry, — sua mãe, Stella, repreendeu. — Todos nós
sabemos que você mesmo causou isso.
— Não é desculpa, — disse Brad, olhando para mim com severidade. —
Alguém o ajude a se levantar. Tire-o daqui.
Ethan, irmão de Henry, chamou a ajuda, que correu e levou Henry
embora. Ele me lançou um último olhar de ódio antes de ser levado para
dentro de casa.
Eu me virei para meu pai.
— O quê?
— Quer saber, Xavier, — ele disse, fervendo, — essa sua raiva vai ser a
sua morte, eu juro.
— Ele a chamou...
— Eu não me importo como ele a chamou. Pelo que Marco me contou,
sei que você também a chama de algumas coisas cruéis.
Eu olhei para baixo, com vergonha. Sempre esqueço que Marco
costumava levar meu pai de carro também e que às vezes eles
conversavam em particular.
Enfim, era verdade. Eu já chamei Angela de puta.
Uma prostituta. Uma
vadia.
Até de monstro.
Eu a chamei de nomes muito piores do que qualquer um que escapou
da boca de Henry, com certeza. Talvez, eu pensei, quando eu estava dando
um soco nele, eu estava realmente imaginando como seria dar um soco em
mim mesmo.
Ser punido por ser tão nojento, tão cruel.
— Olhe para sua esposa, Xavier, — disse meu pai. — Olhe para o rosto
dela.
Eu me virei e olhei para Angela. O que vi fez meu coração doer, um
coração que eu não sabia que era capaz de doer. Apenas a raiva e a
amargura haviam inflamado ali por anos.
Mas agora, quando olhei para Angela, vi como toda a minha raiva,
minha violência, a estava afetando. Eu tinha aterrorizado a menina.
Ela estava se encolhendo como se eu tivesse agredido fisicamente ela,
não Henry. Ela era tão empática ou simplesmente tão traumatizada? Ela
tinha sido fisicamente ferida antes?
Eu não queria que ela me visse assim. Agora não. Nunca. Meus dedos
estavam ensanguentados e manchas do sangue de Henry cobriam minha
camisa.
— Eu... — eu disse, sem saber o que dizer ao meu pai. — Eu vou me
trocar.
— Faça isso, — disse Brad. — Troque-se, Xavier. Pelo amor de Angela.
Eu olhei mais uma vez para Angela, que estava sendo consolada pela tia
Heather agora, e então me virei. O que diabos aconteceu comigo?
Desde quando eu me importava o suficiente com a garota para
defender sua honra?
Angela
Eu estava com medo do jantar. A ideia de ter que sentar ao lado de Xavier e
fingir que o amava depois de vê-lo bater na cara de alguém era estranha
demais.
Mas depois que tia Heather e Brad me garantiram que Xavier estava
simplesmente exagerando, que Henry ficaria bem e que eu não gostaria de
perder uma comida tão ridiculamente boa, confortei-me um pouco e segui
adiante com o planejado.
Basta passar o fim de semana, disse a mim mesma. Em seguida,
aguarde mais uma semana de aulas de dança. Depois, atravesse o Jubileu
de Prata. Por Brad. E acabou.
Então, era o fim.
De alguma forma, eu sabia que era uma ilusão, que meu acordo com
Xavier se estenderia por mais tempo. Sempre haveria algo a seguir. Algum
evento. Alguma reunião de família. Algum motivo para manter a questão
suspensa.
A não ser que eu colocasse meu pé no chão e dissesse que já não dava
mais, isso duraria para sempre.
Eu não sabia quanto mais raiva e pressão meu coração poderia
aguentar.
Mas, pelo menos esta noite, para Brad, eu continuaria a desempenhar o
papel de esposa amorosa de Xavier, mesmo se tivesse medo dele.
Quando entramos na sala de jantar, uma linda sala que parecia poder
acomodar cem pessoas, não apenas as vinte ou mais que estavam aqui, vi
que Xavier já estava sentado, esperando por mim.
Ele usava um smoking e parecia que tinha se barbeado pela primeira
vez — sem barba por fazer. Ele se limpou muito bem, eu tinha que admitir,
embora seus nós dos dedos, machucados, falassem a verdade.
Sentei-me ao lado dele e mantive meus olhos grudados no meu prato
vazio. Contanto que eu não tivesse que interagir muito com ele, estaria
tudo bem.
— Ei, — ele disse, mas eu não olhei para cima. — Sobre hoje, eu só
queria dizer...
Agora eu não pude deixar de olhar para ele. Eu precisava saber. Xavier
Knight estava realmente prestes a se desculpar?
— Eu... eu não queria te assustar, Angela. Meu primo, ele pode me
irritar e...
Ele não iria se desculpar. Ele provavelmente nunca o fez em sua vida
adulta inteira. Afinal, ele era um Knight. Mas isso foi o mais perto que
chegou disso e, o fato de que ele estava tentando me comoveu de alguma
forma.
Sua expressão, dolorida e frustrada como estava, mostrava que ele se
importava o suficiente para tentar.
— Está tudo bem, Xavier, — eu disse, e eu realmente quis dizer isso. —
Eu não sei a história toda de qualquer maneira. Quem sou eu para julgar?
A maneira como ele olhou para mim foi estranha. Quase como se ele
estivesse sentindo verdadeira devoção por mim. Quase como se... ele
pudesse me beijar.
Deve ser coisa da minha cabeça, certo?
— O jantar está servido!
Um grupo de garçons entrou na sala e todos se sentaram, prontos para
comer o que parecia ser uma refeição incrível. Nunca tinha visto tantos
pratos na minha vida!
Até Henry, com o nariz enfaixado, estava sentado em um smoking,
levando uma garfada de comida à boca e comendo em um silêncio
carrancudo.
Depois de um tempo, Xavier se virou para mim, sussurrando:
— Você notou?
— O quê? — Eu perguntei, confusa. — Quão boa é a comida? Seu pai
não estava brincando.
— Não, boba, — ele disse. — Que todo mundo está nos observando.
Dei uma olhada ao redor da sala. Era verdade. Embora eles tenham
feito um bom trabalho escondendo isso, usando conversa fiada e sua
comida como disfarce, todos continuavam olhando para nós.
— Porque eles estão fazendo isso? — Eu perguntei, corando, de
repente autoconsciente.
— Eles querem ver se somos afetuosos. Se somos, você sabe, um casal
amoroso.
— Oh, — eu disse, lembrando-me do que Xavier tinha me perguntado
no carro. — Temos que, hum, beijar ou algo assim?
Até mesmo perguntar me fez estremecer. A única vez que beijei Xavier
foi em nosso casamento, e esse foi um dos piores momentos da minha
vida.
— Não, isso seria muito chamativo. Muito óbvio, — ele disse, e eu dei
um suspiro de alívio.
— Então o que vamos fazer?
Xavier considerou uma das travessas de prata, que continha um peixe
perfeitamente grelhado com couve e pesto, e seus olhos brilharam.
— Você se lembra de me alimentar na ilha?
— Com o peixe, claro, — eu disse, sorrindo um pouco. Foi uma das
nossas únicas boas lembranças. — O que tem isso?
— Por que não fazemos isso de novo?
— Você quer dizer...
Ele acenou com a cabeça docemente. Foi um dos gestos mais adoráveis
que eu já vi um homem fazer. Um olhar de — vá em frente, — um olhar de
— por favor, por favor — um olhar que eu não pensei que Xavier Knight, de
todas as pessoas, pudesse me dar.
Servi o peixe no meu prato e, em seguida, peguei delicadamente meu
garfo e o perfurei. Ele se desfez com o contato, exatamente como os peixes
deveriam. Então, com cuidado, levantei o garfo e levei aos lábios de Xavier.
Ele fechou a boca em torno dele e fechou os olhos, sorrindo. Como se
fosse o peixe mais saboroso que ele já tinha comido.
— Como está? — Eu perguntei, rindo um pouco. Era engraçado vê-lo
tão apaixonado por um peixe.
— Bom. Não tão bom quanto o que você pegou. Mas muito bom.
Quando ele abriu os olhos e olhou para mim, senti que poderia
continuar olhando para eles para sempre. Tão escuros, sem fim e cheios de
mistério.
Então eu pisquei e me lembrei de onde estávamos — cercados por seus
parentes no jantar. Voltei para o meu prato e continuei a comer.
Eu vagamente percebi quando olhei ao redor da mesa que todos
pareciam estar sorrindo, especialmente tia Heather.

Xavier
Quando subimos para o nosso quarto depois do jantar, percebi que Angela
e eu íamos ter que dividir a mesma cama. Eu não tinha parado para pensar
nisso antes.
Agora, é claro, parecia óbvio. Se estivéssemos em uma casa cheia de
parentes, não poderíamos entrar em dois quartos sem que alguém
percebesse.
Mas não era algo que havíamos discutido, e me senti mal por ter jogado
isso sobre ela.
Eu tinha que admitir que outra parte mais diabólica de mim gostaria de
ver o choque no rosto tão inocente daquela garotinha.
— Espere... — Angela disse quando entramos. — Eu só vejo uma cama.
Eu durmo em outro lugar ou...
— Receio que não, — eu admiti, lentamente começando a desabotoar
meu smoking.
O rosto de Angela ficou vermelho como um tomate.
— Xavier... eu não vou... dormir naquela cama com você.
— Você não tem muita escolha, Angela. Não se preocupe. Eu vou me
comportar. Sem brincadeiras. Eu prometo.
Uma promessa, admiti, que pode ser difícil de manter. Um lampejo de
como ela seria, parcialmente despida em seu caminho para o chuveiro, me
atingiu como um maremoto.
Comporte-se, Eu me repreendi. Você deve muito a ela.
A boca de Angela abriu e fechou. Ela mal conseguia processar o que
estava para acontecer, e eu não a culpei.
Nós nunca tínhamos compartilhado uma cama antes. Portanto, este foi
um grande passo. Mesmo se fôssemos tecnicamente marido e mulher.
Eu me virei, dando-lhe privacidade para se trocar, resistindo à vontade de
virar a cabeça e dar uma olhada nela.
Eu estava apenas vestindo minha cueca boxer agora, como contorno
claro do meu pau, mas eu não me importei. Era natural. E, de qualquer
maneira, Angela já tinha visto mais de mim. Quando finalmente me virei,
ela já estava na cama, as cobertas até o queixo.
Eu ri um pouco. Ela parecia uma garotinha de olhos arregalados,
assustada e inocente.
— Aqui, — eu disse, agarrando um cobertor para fazer uma barreira
entre nós. — Uma divisão. Assim você se sente ainda mais confortável, ok?
Ela acenou com a cabeça e corou, os olhos passando rapidamente para
minha boxer e depois para longe.
— Tudo bem olhar, — eu disse com uma piscadela enquanto me
sentava ao lado dela, me cobrindo com um cobertor.
Havia uma parede de tecido nos separando — eu poderia dizer que
Angela estava usando uma camisola de qualquer maneira, então não era
como se ela estivesse nua por baixo — mas ainda assim, a garota estava
dura como uma tábua.
— Eu não quero te deixar desconfortável, mas você se importa se eu,
uh, virar de lado? — Eu perguntei. — Eu não consigo dormir de costas.
— Você quer dizer de... conchinha?
— Sim, assim.
— Uh... ok.
Angela se virou e eu também. Ainda havia muito espaço entre nós, mas
eu podia sentir o calor irradiando de seu corpo, me aquecendo, fazendo-
me sentir ainda mais atraído por ela.
Eu queria tanto me jogar pra mais perto... sentir aquela bunda bem
torneada contra meu pau... ouvir sua vozinha gemer.
Ok, se eu não parasse de pensar assim, e rápido, minha ereção
provavelmente rasgaria esses lençóis. Eu precisava mudar de assunto na
minha cabeça.
O que não foi sexy?
O que não me excitou?
Então o rosto dele passou pela minha mente, e eu sabia exatamente
sobre o que falar.
— Posso, uh, te perguntar uma coisa, Angela? — Eu disse.
Ela se virou lentamente para me encarar, constantemente desviando o
olhar. Nossos rostos estavam tão próximos que eu podia sentir sua
respiração no meu queixo.
— Dustin... — eu disse. — Então ele é... alguém com quem você...
Angela franziu a testa, tentando juntar o que eu estava perguntando.
Então sua expressão mudou. Ela riu — riu de verdade!
Eu fiquei ainda mais confuso. Ninguém nunca riu na minha cara.
— O que é? — Eu perguntei, me sentindo frustrado por algum motivo.
— O que é tão engraçado?
— Dustin, ele é...
Mas ela não conseguia se controlar. Eu senti uma pequena chama de
raiva queimando em meu peito. Eu era ridículo assim para ela? Ele era um
homem muito melhor do que eu?
Então ela terminou a frase, e tudo fez sentido.
— Ele é gay, Xavier, — ela disse, continuando a rir.
Rolei de costas e espalmei o rosto, sentindo-me o maior idiota do
mundo.
— Como é que eu não... — comecei. — Meu Deus.
E agora eu estava rindo também. Estávamos ambos rindo, e foi um dos
melhores e mais arrebatadores momentos que já compartilhamos.
A sensação de alívio que senti, sabendo que Dustin não era meu
concorrente, foi enorme. Eu ainda não tinha certeza de por que me
importava tanto.
Mas quando apagamos as luzes e nós dois conseguimos respirar, com
nossos corpos a apenas alguns centímetros de distância, senti Angela
lentamente começar a relaxar.
— Boa noite, Xavier, — ela disse calmamente.
— Boa noite, Angela, — respondi.
Ela pode não ter notado, mas sua mão, espalmada entre nós, estava a
apenas alguns centímetros da minha metade inferior. Eu me senti
crescendo novamente.
De alguma forma eu sabia, se um de nós não adormecesse primeiro,
Angela estava prestes a sentir exatamente do que Xavier Knight era feito...
Capítulo 9
Sinais Misturados
Angela
Eu nunca tinha ouvido falar do bolero antes, mas no segundo em que a
música começou, eu sabia que seria o que Xavier e eu dançaríamos no
Jubileu de Prata.
Desde que voltamos daquele estranho fim de semana nos Hamptons,
Xavier e eu estávamos... não sei como descrever, a não ser como... mais
próximos.
Não era como se estivéssemos conversando o tempo todo ou mesmo
respirando o mesmo ar. Quase não o via porque ele estava muito ocupado
no trabalho. Mas à noite, quando ele voltava do trabalho, nos sentávamos
juntos e comíamos o que Lucille havia preparado para nós.
Normalmente, comíamos em silêncio, mas de vez em quando, eu
pegava Xavier olhando para mim estranhamente do outro lado da mesa. E
então ele baixava os olhos, quase como se fosse tímido.
Xavier Knight, tímido?!
Não poderia ser possível. Provavelmente não o estava lendo direito, só
isso.
Mesmo assim, eu tinha que admitir que, desde que compartilhamos a
mesma cama, parecia que havíamos ultrapassado algum tipo de barreira
imaginária. Como se tivéssemos passado de nos odiarmos para nos
aceitarmos para então...
Talvez realmente gostando da companhia um do outro?
Novamente, eu provavelmente estava apenas sendo otimista. Xavier
Knight deixou claro em muitas ocasiões o que ele realmente sentia por
mim.
Mas esta noite, quando voltamos para nossas aulas de dança com Kiki,
explorando os diferentes tipos de dança de salão e decidindo qual seria a
mais adequada para a competição, pude sentir uma espécie de eletricidade
no ar.
Nunca tínhamos nos tocado tanto fisicamente. Mesmo que nenhuma
das danças fosse realmente boa para nós, ainda era emocionante.
— Sra. Knight, por favor, tente se soltar, — Kiki repreendeu.
Estávamos no meio de uma valsa e me senti uma idiota. Um, dois, três.
Um, dois, três. Um, dois, três. Era repetitivo e minha mente não parava de
vagar.
Claramente, Kiki notava porque ela estava estalando a língua, com os
braços cruzados. Corei, dando um passo para trás de Xavier e colocando a
mão no meu pescoço.
— Podemos tentar outro... tipo?
— Você precisa dominar os passos básicos de toda dança de salão se
deseja aprender bem uma, — respondeu Kiki.
Mas, para minha surpresa, Xavier se virou para Kiki.
— Na verdade, eu concordo com minha esposa. Eu também não gosto
de valsa. Qual é o próximo?
Kiki olhou para o lado, surpresa e frustrada, e então se aproximou do
cara que comandava a música. Eu dei a Xavier um pequeno sorriso como se
quisesse agradecer. Ele enxugou a testa.
Eu não tinha percebido como ele estava suado até agora, mas não era
nojento para mim. Foi viril. Sua pele parecia brilhar, cada um de seus
músculos mais claramente definidos do que eu já tinha visto.
Isso me fez imaginar o que ele era capaz de fora da dança...
— Angela? — ele perguntou, sorrindo um pouco.
Eu desviei o olhar, corando.
— Desculpe, acabei de me distrair.
— Eu notei, — ele respondeu com um sorriso.
A música mudou, felizmente, e o assunto também. Estávamos
experimentando o tango agora. Mas, Jesus, isso era muito difícil. Era muito
sexy, e cada vez que Xavier agarrava minha perna ou me puxava para seu
peito, minha resposta era corar e enrijecer.
Depois disso, veio o balanço. Foi emocionante e divertido, mas Xavier
e eu não conseguimos acertar o tempo, que era extremamente rápido.
Kiki parecia que estava prestes a enlouquecer conosco. Seu corpo
ridiculamente esguio, seu rosto estreito, de repente não pareciam mais tão
intimidantes para mim.
Não quando Xavier parecia ter olhos apenas para mim.
— Tudo bem, — ela disse, batendo palmas. — Vamos experimentar o
bolero. Eu vou acompanhar vocês dois. Passo a passo. Mesmo se você não
precisar da minha ajuda, Xavier.
Quando ela falou com Xavier, sua voz normalmente estridente e
comandante tornou-se suave e amanteigada. As técnicas de sedução dela
poderiam ser mais transparentes?
Mas então a música espanhola sensual começou a tocar, e eu senti a
mão de Xavier pressionar contra minhas costas, e todos os pensamentos
negativos deixaram minha mente.
O ritmo lento, os movimentos sensuais deliberados, os olhos fixos um
no outro.
Eu estava hipnotizada.
De alguma forma, meu corpo começou a se mover por conta própria,
encontrando o ritmo, movendo-se em sintonia com o de Xavier. Parecia tão
natural e certo.
Por um momento, parecia que não havia ninguém na sala além de nós.
Sem Kiki. Nenhum outro dançarino profissional. Só Xavier e eu...
Então eu vi uma mão estranha vagar pelo bíceps protuberante de
Xavier, e minha fantasia foi destruída.
— Bom, Xavier, — Kiki sussurrou. — Não tenha medo de assumir o
comando. Esta dança é sobre dominação, sobre tomar o que é seu... sobre
ser um homem.
Lentamente, Kiki trouxe suas mãos para onde as nossas estavam
entrelaçadas, e ela deslizou entre nós, fazendo de nós um estranho trio
giratório.
Xavier olhou para ela de cima a baixo, e eu poderia jurar que o vi
lamber os lábios. Como se ter duas mulheres em cima dele fosse o melhor
presente que um homem pudesse receber.
Idiota!
Eu queria sair da dança. Eu queria ir embora, mas a música, suave,
melódica e atraente, não me deixava ir.
Senti o calor do corpo de Xavier contra o meu, a frieza da mãozinha
frágil de Kiki. A cada movimento, seus olhos pareciam passar rapidamente
dela para mim, como se ele não pudesse decidir qual parceiro preferia.
— Nunca tenha medo de fazer uma escolha, Xavier, — Kiki sussurrou. —
Esta dança, ao contrário das outras, pode até ser executada sozinha...
Eu entendi o que ela estava dizendo. Ela queria que Xavier me colocasse
de lado, para me deixar na pista de dança sozinha.
Ela estava louca?
A competição deveria ser sobre nós dois mostrando à companhia de
Xavier o quão forte éramos como um casal. Eu precisava colocar meus
sentimentos de lado — por mais confusos que fossem — e considerar isso
de uma perspectiva puramente profissional.
Como dançar com Kiki ajudaria Xavier?
Ele não pareceu se importar. Não agora. Ele sorriu e a girou, claramente
apreciando a maneira como o corpo dela balançava em direção ao dele
com total abandono, com paixão.
Devo ter parecido um bloco de tetris em comparação, encaixando no
lugar certo, mas um quadrado sem graça.
— Angela, — disse Xavier, me pegando de surpresa, — você tem o dom
pra coisa.
Agora ele estava me girando. O que diabos estava acontecendo? Ele me
queria ou Kiki ou nós duas? Uma vez playboy, sempre playboy, eu acho.
Quando a música finalmente terminou, eu recuei abruptamente,
respirando fundo, tentando recompor meus pensamentos. Kiki continuou
segurando Xavier por alguns segundos a mais.
Mais uma vez, fiquei chateada, consumida por uma raiva ciumenta que
mal conseguia entender. Não era como se Xavier e eu fôssemos um casal
de verdade. Ele poderia olhar e tocar a garota que quisesse.
Talvez eu tenha sido enganada por uma falsa sensação de segurança. Só
porque estávamos gostando de estar perto um do outro não significava
que Xavier tivesse algum sentimento por mim.
Claro que não, Angela, eu me reprimi. Ele nunca se importou com você.
Com esse pensamento constante em minha mente, me virei e me dirigi
para a porta. Eu ia tomar banho, me trocar e tentar não pensar naqueles
primeiros belos momentos do bolero, onde fomos só eu e o
Xavier...
E mais ninguém no mundo.

Xavier
Eu nunca pensei que Angela conseguiria. Quando meu pai nos pediu pela
primeira vez para fazer esta competição de dança, eu estava com medo. A
ideia de ter que dançar com alguém tão claramente inocente e
desacostumada a ser tocada parecia terrível.
Como ela seria capaz de dançar se mal conseguia segurar a porra da
minha mão sem tremer? Quando começamos, eu senti como se tivesse
provado que estava certo.
A garota era descoordenada demais, pisando nos meus pés, dizendo
"desculpe" a cada segundo como uma idiota.
Mas então o bolero começou e...
Era como se eu estivesse dançando com outra mulher.
Quando Kiki se juntou a nós, eu me diverti com a reação de Angela. Ela
claramente não gostou da nossa instrutora de dança, e você poderia culpá-
la?
Kiki era magra como um graveto, com cabelo descolorido de Khaleesi e
tinha os movimentos furtivos de um gato. Ela era a concepção de beleza
pura de muitos homens, mas não minha.
Não, sinceramente, achei Kiki totalmente repulsiva, especialmente a
maneira como ela se agarrou a mim.
Mas eu entretive suas provocações desagradáveis porque eu gostava de
ver o quão incomodada e brava isso deixava minha esposa. Isso foi cruel?
Talvez um pouco.
O ciúme era uma cor nova no rosto tão angelical de Angela. Isso mexeu
comigo.
A ideia de que faríamos essa dança novamente na frente de centenas
de pessoas me excitou além da medida.
No caminho para casa, me perguntei se deveria dizer a Angela o quanto
gostava de dançar com ela, mas decidi não fazer isso. Sempre mantive
minhas cartas perto do meu peito quando se tratava de cortejar alguém.
Eu não estava prestes a mudar meus métodos agora.
Só quando estávamos em casa e ouvi um grito distante, junto com uma
porta sendo batida, que pensei que talvez tivesse me enganado...

Angela
Um colar. O colar de outra garota estava lá no armário esperando por mim.
Como se eu fosse uma segunda opção barata. Como se Xavier pudesse dar
a mesma joia e pensar que eu não notaria.
O que havia de errado com ele?!
Não foi o suficiente para flertar com Kiki bem na minha frente. Será que
ele realmente pensou que me deixar este colar usado, obviamente para
outra garota, iria me conquistar?
Antes que eu pudesse me recompor, gritei de raiva.
— AHHH!
Então peguei o colar, com um pingente gravado com duas iniciais de
outra garota "Para PS", e joguei o mais forte que pude.
Ricocheteou na parede oposta do meu quarto e depois deslizou para
debaixo da minha cama.
Eu desabei no meu colchão.
Eu estava tão chateada que não conseguia nem pensar direito. Como
Xavier pode ter sido tão estúpido, me deixando um colar para outra
garota? Ele estava apenas tentando bagunçar minha cabeça?
Neste ponto, eu estava cansada de fazer suposições estúpidas. Talvez
Em estivesse certa. Talvez fosse realmente hora de encerrar o acordo de
uma vez por todas.
Fiquei deitada lá com o rosto enterrado nos travesseiros por um tempo,
fumegando.
Eu estava prestes a me preparar para dormir quando ouvi uma batida
na minha porta.
— Angela? — Xavier chamou enquanto entrava.
— O que você... — Minha voz morreu na minha garganta.
Xavier estava ali, seminu com apenas uma toalha em volta da cintura. A
água escorria de seus ombros largos, para baixo em seu abdômen
esculpido...
O repentino calor queimando dentro de mim expulsou toda a raiva do
meu corpo... e a substituiu por outra coisa.
— Eu estava pensando que poderíamos conversar... — ele disse, sua voz
baixa.
Eu engoli em seco.
Por que parecia que isso não terminaria apenas... falando?
Capítulo 10
A Verdade sobre Angela
Angela
Marco me levou até Heller, embora eu tenha insistido que poderia pegar o
trem. Ultimamente, ele tem feito todos esses pequenos favores para mim,
como esperar do lado de fora do café de Dustin, mesmo quando eu disse a
ele que ficaria feliz em correr na volta.
Eu não sabia exatamente quando tínhamos nos tornado próximos, mas
estava grata por ter um aliado. Lucille, por mais legal que fosse, nunca
colocaria nada ou ninguém acima de sua lealdade a Xavier.
No momento, ter Marco lá para me levar para casa o mais rápido
possível foi extremamente bom. Ele deve ter notado a angústia em meu
rosto, porque ele estava pisando no acelerador um pouco mais forte do
que o normal hoje.
Era isso ou ele poderia ver como eu ficava nervosamente checando
meu telefone a cada cinco minutos, esperando que Danny me atualizasse.
A ideia de que algo poderia estar errado com a saúde do meu pai... de
novo... eu não sabia se meu coração aguentaria.
— Droga, Danny, — eu disse, jogando meu telefone na minha bolsa e
colocando minha cabeça em minhas mãos. — Apenas me responda. Por
favor.
Mas meu telefone permaneceu em silêncio.
Como isso pôde acontecer?
Depois de tudo que investi para ter certeza de que meu pai ficaria bem.
Depois de experimentar este novo tratamento experimental. Depois de
concordar em me casar com Xavier Knight, entre todas as pessoas...
Não poderia ser tudo em vão, não é?
Pensei novamente naquele colar horrível que encontrei no meu quarto
e me perguntei o que Xavier estava tramando. Poderia ter sido apenas um
erro honesto?
Sabendo o quão cruel ele poderia ser, eu duvidei.
Meu telefone vibrou e eu saltei em sua direção, correndo para
desbloqueá-lo, esperando que me desse algumas respostas sobre meu pai.
Mas não foi Danny quem havia mandado uma mensagem…

Xavier: Cad ê voc ê ?

Xavier: Por que voc ê saiu?

Angela: Tudo bem. Voc ê n ã o precisa fazer


isso.

Xavier: ?

Xavier: O qu ê ?

Xavier: Voc ê est á bem?


Angela: Voc ê não precisa fingir que se
importa.

Angela: Vou ficar bem.

Angela: Tchau.

Eu desliguei meu telefone. Doeu falar assim com Xavier, mas eu


precisava disso agora. Eu não conseguia lidar com tantas crises de uma vez.
Foi estranho ouvir como ele estava... preocupado. Não estava
acostumada com esse seu lado, mas eu disse a mim mesma para limpar
minha mente.
Agora, eu só tinha tempo para meu pai.

Quando Marco parou ao lado da minha casa de infância, pulei do carro o


mais rápido possível. Eu abri a porta da frente.
— Danny? Lucas? Pai?!
— Estamos aqui! — Eu ouvi Danny gritar.
Corri para a sala, esperando ver algo terrível. Mas, para minha surpresa,
os meninos estavam sentados no sofá, assistindo ao jogo de futebol
americano, passando petiscos de um lado para outro. Ao lado deles estava
meu pai, parecendo feliz e em forma como sempre.
— O quê... — eu comecei, sem fôlego. — O que está acontecendo?
— O que você quer dizer? — Danny perguntou. — Você está falando
sobre as boas novas? Minhas mensagens não foram enviadas ou... oh.
Danny pegou seu telefone, percebendo que estava em modo avião. Ele
me lançou um olhar de desculpas.
— O último texto não deve ter ido.
— Por que você simplesmente não ligou para ela? — meu pai
perguntou.
— Achei que ela tivesse recebido minhas mensagens, pai.
— Gente, podemos ficar quietos? — Lucas perguntou, com os olhos
grudados na tela. — Os Giants estão na linha de dez jardas.
— Alguém, por favor, explique o que está acontecendo! — Eu quase
gritei, pasma.
Finalmente, papai se levantou e, se aproximou. Ele estava sorrindo,
seus olhos brilhando.
— Adivinha o quê, filhinha. Seu pai vai ficar bem.
— Você quer dizer...
Danny se aproximou e me deu um abraço.
— Isso mesmo. Funcionou, Angie. O tratamento. Ele... ele salvou o
papai.
Eu não conseguia acreditar no que estava ouvindo. Eu olhei de Danny
para o rosto do meu pai. Finalmente, Lucas se levantou e, embora doesse
para ele parar de assistir ao jogo, ele se juntou a nós também.
— É verdade, — disse Lucas. — Ele ainda estará conosco por mais
tempo.
— E te dando uma surra na bocha, Lucas, — disse Danny.
Todos nós rimos, mas eu podia sentir as lágrimas, as lágrimas mais
felizes do mundo, transbordando em minhas pálpebras.
— Pai, eu não posso acreditar. Eu estava tão assustada. Eu pensei...
— Eu sei, — ele disse. — Você nunca terá que se preocupar de novo,
filhinha. Eu prometo.
Sem mais, me joguei nos braços de meu pai e chorei. Não, eu não só
chorei. Chorei aos prantos. Eu estava tão sobrecarregada de sentimento
que tremia.
E meu pai e meus dois irmãos me seguraram sabe-se lá por quanto
tempo. Éramos a família mais grata do mundo.
Por fim, nos separamos e Lucas olhou para a TV, estremecendo.
— Perdemos o touchdown, droga!
E novamente todos nós rimos. E eu sabia que, quando se tratasse de
minha família, haveria muito mais risos e muito menos lágrimas de agora
em diante.

Xavier
Bati na porta do escritório do meu pai. Ele estava localizado em um canto
de vidro maciço do quadragésimo terceiro andar, com uma vista
deslumbrante do centro de Manhattan.
Quando eu entrei, ele estava terminando uma ligação com seu típico
comportamento horrível à vista de todos. Era a arma secreta do homem —
a capacidade de desarmar qualquer pessoa com seu charme direto.
Não havia jogos, não havia besteira quando se tratava de Brad Knight.
Ele era o verdadeiro negócio. E sua gentileza, junto com a mente de um
capitalista calculista, fez dele o CEO mais poderoso de toda a cidade.
Murdoch, Soros, Musk — eles não tinham nada contra meu pai.
Às vezes eu me perguntava por que não havia herdado o gene bom. —
Por que eu sempre fui um desgraçado mal-humorado o tempo todo?
Isso me serviu bem nos negócios, não me entenda mal, mas onde
estava o coração aberto do meu pai? Tinha sido esmagado, junto com tudo
o mais, naquele acidente de carro há mais de um ano?
— Filho, estou feliz que você esteja aqui, — disse meu pai, jogando o
telefone de lado. — Queria perguntar como vão as aulas de dança.
Eu revirei meus olhos.
— Por favor, podemos falar sobre qualquer coisa além da minha vida
privada pelo menos uma vez?
— Temos uma reunião às cinco da tarde para falar de negócios. Então, o
que mais isso poderia ser?
Como de costume, ele era sagaz demais. Suspirei e me sentei em uma
cadeira, de frente para ele.
— Eu queria te perguntar... sobre a mamãe.
Meu pai franziu a testa, surpreso. Este foi um assunto que evitávamos a
todo custo. Eu sabia que ele queria falar comigo sobre ela, mas foi para isso
também que ele pagava três terapeutas.
Brad Knight e Xavier Knight não conversavam sobre sentimentos, não
normalmente.
— O que tem ela? — ele perguntou. — Vá em frente. Você pode me
perguntar qualquer coisa.
— Como... como você soube que ela era a mulher da sua vida?
Eu quase fiz essa pergunta ao meu pai uma vez antes, mas felizmente,
eu resisti. A mulher por quem eu estava apaixonado não era digna de
comparação.
Mas Angela...
De alguma forma, ultimamente, eu estava ficando cada vez mais
obcecado por ela. Eu queria saber se isso era apenas algum efeito colateral
ridículo, se isso estava de acordo com o casamento mais estranho da
história ou...
Ou era algo de verdade.
Meu pai sorriu gentilmente.
— Filho, eu soube no momento em que coloquei os olhos nela.
— Mesmo? — Eu perguntei, surpreso. — Você sabia que era a mamãe
desde o primeiro segundo?
Era difícil de acreditar, como um conto de fadas estúpido. Amor à
primeira vista. Só de pensar nessas palavras me deu vontade de vomitar
um arco-íris.
— Não. — Meu pai balançou a cabeça. — Eu não estava falando sobre
Amélia.
— Você quer dizer...
Ele assentiu. Ele soube desde o primeiro momento em que pôs os olhos
em Angela que ela era a pessoa certa para mim?! Eu queria zombar. Eu
queria me levantar e sair furioso de seu escritório. Eu senti como se ele
estivesse zombando de mim.
Pela expressão sincera que ele tinha, eu sabia que não era o caso.
— Amélia e eu, demoramos para nos aproximarmos. Todos os casais
À
verdadeiros, os que duram, também demoram. Às vezes era difícil, mas
quando finalmente nos vimos como realmente éramos, isso fez toda a
diferença no mundo.
Eu me perguntei se o mesmo poderia ser verdade para Angela e eu.
Nossa história ser como a de meu pai e minha mãe, um lento
desenvolvimento construído em mal-entendidos, raiva e desconfiança?
— Pai, estou muito confuso sobre como me sinto agora, — admiti. —
Nunca acreditei realmente que pudesse... hum... de novo.
Eu não queria dizer a palavra que ficava entre "poderia" e "de novo".
Dizer amor em voz alta tornaria isso real. E ainda havia muita incerteza.
Por que ela teria se casado comigo pelo meu dinheiro se valia a pena
amar? Finalmente fiz a meu pai a pergunta que estava morrendo de
vontade de fazer há semanas.
— Onde você a encontrou, pai?
Meu pai parou de olhar pela janela, com seus olhos nadando em
sentimentos.
— Nós tínhamos um acordo, ela e eu. Não devíamos falar sobre isso.
Mas... acho que é hora de você saber.
— Saber o quê? — Eu perguntei, franzindo a testa. — Que acordo?
— Filho... Angela não se casou com você por sua fortuna. Ela não
concordou em se casar com um estranho porque você era um Knight. Ela
se casou com você porque o pai dela estava doente e eu me ofereci para
ajudar a pagar suas contas médicas em troca.
Meu queixo caiu. Meus olhos saltaram. Meu estômago parecia estar se
revirando. Isso não podia ser verdade, não é? O tempo todo... Angela agia
com um desejo altruísta de salvar seu próprio pai?
E meu pai escondeu isso de mim?!
— Diga-me que isso não é verdade, — eu disse, com a voz baixa e baixa.
— Você não faria isso.
— Eu fiz, Xavier, — disse meu pai, encontrando meu olhar. — E eu sinto
muito por enganar você. Mas eu sabia que se você fosse informado, você
teria visto isso como caridade e nunca teria dado a ela um momento
sequer. Eu tive que mentir para você. Para que você possa aprender a amar
novamente.
Eu me levantei. Minha cabeça estava girando. Tudo ao meu redor
parecia derreter. Todas as vezes que gritei com Angela voltaram correndo
para mim.
Todas as coisas horríveis de que a chamei. Por nada.
— Como você pôde fazer isso? — Eu perguntei, e então senti minha voz
se elevar. — COMO DIABOS VOCÊ PÔDE FAZER ISSO COMIGO?!
Eu nunca tinha gritado com meu pai antes na minha vida. Isso ia contra
a minha própria natureza. A raiva estava reservada para meus inimigos,
não para minha família, mas nunca me senti tão traído por ninguém em
minha vida.
E pensar que... todo esse tempo, Angela realmente era um anjo.
— Eu sei que você está com raiva, — ele disse. — Você tem todo o
direito de estar assim.
— Eu não consigo nem olhar para você! — Eu soltei, jogando minhas
mãos na minha cabeça. — Como você pôde fazer isso comigo? Com ela?
Você sabe o quão cruel eu tenho sido com ela? O que eu já disse a ela?
— Eu imaginei, — ele disse, balançando a cabeça tristemente. — Mas
eu sabia que ela iria ficar. Porque eu sabia que ela era pura e cuidaria de
você, apesar de tudo. Você não entende, filho? Isso é o que é amor.
Eu me virei para a porta. Eu precisava ir até Angela. Eu precisava
consertar isso, mas parei quando minha mão encontrou a alça.
— Como... — eu comecei. — Como vou ganhar Angela, pai?
Eu me virei e olhei para meu pai mais uma vez. Eu não queria seu
conselho. Não acreditei em uma palavra que ele diria, mas também sabia
que, sem ele, estava condenado.
Ele sorriu e encolheu os ombros, como se o que estava prestes a dizer
fosse a tarefa mais simples do mundo.
— Se você a quiser, Xavier, — ele disse, — diga a ela como se sente.
Diga a ela como você se sente.
Eu não tinha a menor ideia de como conseguiria fazer isso. Mas eu
sabia que precisava tentar. Angela merecia muito.
Abri a porta e corri para fora do escritório sem dizer outra palavra.
Eu não quis dizer isso, Angela. Perdoe-me, Angela. Estou apaixonado
por você, Angela.
Mas Angela acreditaria em mim?
Capítulo 11
Um Encontro tardio
Angela

Xavier: Ei.

Xavier: Voc ê est á em casa?

Angela: Sim, por qu ê ?

Xavier: Isso pode parecer loucura, mas…

Xavier: Eu tenho uma surpresa.

Angela: ...

Angela: Voc ê quer dizer para mim?


Xavier: N ã o, para Lucille.

Xavier: Claro, para voc ê !

Xavier: Marco estar á pronto com o carro em


30.

Xavier: Vista algo legal, ok?

Xavier: 😉 ( emoji piscando)

Eu encarei meu celular sem acreditar. Xavier Knight tinha realmente


acabado de me enviar um emoji? Um emoji de uma carinha piscando?
O mundo deve ter virado de cabeça para baixo enquanto eu dormia,
porque ele não se parecia nem um pouco com o homem a quem chamava
de meu marido. Desde que soube das notícias maravilhosas sobre a saúde
de meu pai, quase não conseguia pensar direito.
Voltei para casa e passei o dia andando de um lado para o outro e
limpando, tentando me acalmar. Mas não podia acreditar. O acordo valeu a
pena, e agora meu pai estava bem de saúde.
Isso significava que ele estava seguro, ele viveria, ele continuaria a
cozinhar o peru ridiculamente gorduroso todos os anos, mas também
significava...
Meu casamento falso com Xavier, finalmente, poderia acabar. Não havia
necessidade de continuar a fingir, não se meu pai continuasse saudável.
Quanto às contas médicas, eu mesma poderia pagá-las com o tempo,
imaginei.
Certamente Brad entenderia, mas e quanto a Xavier?
Eu não sabia como falar com ele. Eu tinha certeza de que ele ficaria
louco de raiva. Eu precisava me preparar e colocar qualquer armadura
mental que me restava para resistir ao que com certeza seria um
xingamento e um insulto atrás do outro.
Aí esse texto apareceu, me surpreendendo ainda mais. Que surpresa
Xavier estava planejando para esta noite?
Mesmo que tivesse que dar más notícias, estava decidida a ir com uma
boa aparência. Afinal, ele me disse para me vestir bem. Então, vasculhando
meu armário, escolhi um vestido que Dustin escolheu para mim
pessoalmente.
Um vestido vintage Christian Dior de 1990 feito de seda preta e branca
com botas pretas e um blazer vermelho impressionante. Era possivelmente
a roupa mais ousada que eu já vi, uma que eu tinha certeza que não
poderia usar.
Mas quando saí do provador, o queixo de Dustin praticamente caiu no
chão.
— Garota, — ele disse, — você parece a própria definição de sexo. É
sério. Pegue um dicionário. Procure. Abaixo de sexo, haverá uma foto sua
com essa roupa. Muito SEDUTORA.
Eu corei, é claro, mas agora, olhando para mim mesma no espelho,
pude ver o que Dustin estava dizendo. Eu parecia bem.
Eu não sabia sobre a definição de sexo, visto que sabia pouco sobre o
assunto de qualquer maneira, mas me fez sentir bem em me vestir como
alguém confiante.
Mesmo que não fosse exatamente assim que eu me sentia por dentro,
às vezes você tinha que projetar para fora para enganar a si mesma ou aos
outros. Algo assim.
Novamente, eu estava citando Dustin.
Finalmente, quando terminei de aplicar a maquiagem, uma mistura
minimalista de sombra lavanda e uma pitada de rímel, saí e me aproximei
do carro.
Marco segurou a porta aberta e acenou com a cabeça, grunhindo. Foi
o mais próximo que ele chegou de um sorriso.
— Sra. Knight.
— Obrigada, Marco.
Ele fechou a porta quando entrei. Na hora em que ele se sentou no
banco do motorista, inclinei-me para a frente.
— Será que meu marido lhe disse aonde está me levando?
Marco me olhou com cautela pelo retrovisor.
— Você sabe que eu não posso te dizer isso, Srta. Knight.
Suspirei e recostei-me na cadeira. — Valeu a tentativa.
Sempre gostei do fato de Marco me chamar de Srta. Knight, e não de
senhora, mesmo que tecnicamente eu fosse uma mulher casada, isso me
fazia sentir mais perto da minha idade.
Mais importante ainda, me lembrou que meu casamento com Xavier
não era cem por cento autêntico. Depois desta noite, eu nunca teria que
ser chamada de Sra. Knight novamente se não quisesse, pensei.
Observei o carro nos levar por Manhattan e fiquei surpresa quando
deslizamos tão perto do rio ao longo da 29ª. O céu noturno estava se
tornando um lindo tom de azul e, ao nosso redor, as luzes da cidade
estavam piscando.
— Marco, você tem certeza de que está certo? — Eu perguntei quando
ele estacionou ao lado de um grande restaurante chique.
— Apenas cumprindo ordens, Srta. Knight.
Ele saiu e abriu a porta para mim. O que está acontecendo? Este lugar
parecia um lugar onde você poderia levar um... encontro, não a esposa
com quem você foi forçado a se casar.
— Angela, aqui está você.
Virei-me, surpresa ao ver Xavier sentado em um banco, vestido com um
de seus melhores ternos. Ele se levantou e se aproximou, sorrindo.
— Espero que você esteja com fome.
— Você quer dizer que... nós vamos para lá...
— Para comer, obviamente. Isso é surpreendente?
Certamente foi. Eu não sabia o que dizer. Eu apenas olhei para Xavier
como se ele fosse um estranho, uma pessoa completamente nova. E, de
certa forma, era isso que ele parecia.
Havia uma suavidade por trás de seus olhos escuros que eu nunca tinha
reconhecido. Ele pegou minha mão e me levou em direção à porta. —
Vamos lá, mal posso esperar para você ver a vista.

O restaurante era um dos espaços mais bonitos e ornamentados em que já


estive. A vista do East River, juntamente com a decoração chique e
moderna do próprio restaurante, era absolutamente deslumbrante.
Não havia uma única pessoa sentada além de Xavier e eu — ele
claramente alugou o restaurante inteiro para a ocasião — e quando os
garçons nos cumprimentaram e nos levaram para a nossa mesa, tive a
suspeita de que era, de fato, um encontro.
— Xavier, — eu disse enquanto chegávamos a nossos lugares, — isso é
muito bom, mas o que está acontecendo?
— Um marido não pode levar a esposa para uma boa refeição?
Eu corei. Por mais gentil que fosse o sentimento, também era
extremamente estranho. Eu entendia que nós fingirmos ser casados na
frente de sua família e colegas, mas por que isso quando éramos apenas
nós dois?
Estávamos cercados por velas acesas e flores frescas. Parecia o set do
The Bachelor. Excessivamente romântico, quase falso.
Assim como nosso casamento.
Eu olhei para o menu. Tudo estava em francês e impossível de entender.
Eu o abaixei e respirei fundo.
— Eu realmente aprecio que você esteja, hum, sendo tão legal, mas...
— O que há de errado?
— Eu simplesmente não entendo por que de repente.
— Você está certa, — ele disse, me interrompendo. — Você merece
uma explicação. Angela. Há muito que quero dizer, mas acho que vou
começar dizendo que...
Ele está prestes a se desculpar? O rosto de Xavier parecia em conflito.
Era claramente contra todos os seus instintos ser tão autoconsciente.
— Percebi que nunca agradeci de verdade por ter salvado minha vida,
Angela. Na ilha.
— Por favor, — eu disse, olhando para baixo. — Eu só fiz o que qualquer
um faria.
— Não! — Xavier exclamou ferozmente e, em seguida, novamente com
mais suavidade. — Não, Angela. Eu não acho que isso seja verdade. Acho
que você é a pessoa mais altruísta que já conheci.
Uau. De onde está vindo isso?! Eu me senti oprimida, e o ambiente, por
mais bonito que fosse, certamente não estava ajudando.
— E tudo isso? — Eu perguntei.
— Achei que seria uma boa maneira de retribuir. É apenas o começo,
mas...
— Xavier, — eu disse, balançando minha cabeça, — isso é muito gentil
de sua parte, mas você mal me conhece. Se você me conhecesse, saberia
que não me sinto confortável em grandes restaurantes chiques.
— Oh... Você não quer?
Eu balancei minha cabeça. Não tive a intenção de ignorar o que era
claramente a ideia romântica de Xavier, mas ele tinha o direito de saber.
— Se você realmente parasse para conversar comigo, — eu disse
baixinho, — você saberia que o que eu realmente gosto são coisas simples.
Como uma pizzaria de última geração.
Xavier acenou com a cabeça, compreendendo, seus olhos brilhando
com uma ideia. O que ele estava pensando agora? Eu estava muito nervosa
para perguntar.
O garçom se aproximou.
— Senhor, madame, vocês decidiram o que gostariam de comer?
— Nada, — disse Xavier, levantando-se e jogando o guardanapo na
mesa. — Vamos, Angela.
Ele me ofereceu sua mão e eu o encarei, estupefata. O garçom parecia
igualmente confuso.
— Sr. Knight, me perdoe. Há algo errado? Vocês pagaram para ter todo
o estabelecimento só para vocês esta noite.
— Estou ciente, — ele disse com um sorriso. — Aproveite uma noite de
folga. É por minha conta. Angela.
Antes que eu percebesse, Xavier pegou meu braço e estávamos saindo
pela porta.
— O que estamos fazendo? — Eu perguntei, envergonhada.
Xavier piscou.
— Você gosta de pizza. Vamos comer pizza.
E com isso, ele me levou até o carro. Marco ligou o motor e deixamos o
restaurante chique à beira do rio para trás.
Eu odiava admitir, mas foi talvez a coisa mais espontânea e romântica
que alguém já fez por mim...

Estávamos na Joe's Pizza em Greenwich, ambos ridiculamente bem


vestidos, dando uma mordida em nossa segunda fatia quando caímos na
gargalhada.
Todo nova-iorquino normal que entrou nos deu um olhar infeliz como
se dissesse: Ótimo. Gente rica. Lá se vai a vizinhança.
Foi tão engraçado que mal consegui comer. Xavier pegou minha mão.
— Xavier, não, — eu disse, tentando me afastar. — Está gordurosa!
— Eu não me importo, — ele disse.
Senti um frio na barriga quando meu coração parou e olhei para Xavier
sob uma luz completamente nova. E pensar que tinha começado esta noite
planejando anunciar nosso divórcio.
Como eu possivelmente traria isso à tona agora?
Eu não podia.
Não quando ele estava sendo tão doce.
Vou ter que esperar o momento certo, disse a mim mesma. Com
certeza, essa noite acabaria e tudo voltaria ao normal, como sempre
acontecia.
— Angela, — ele disse, interrompendo minha linha de pensamento, —
você está certa. Eu mal te conheço. E... eu quero saber tudo. Então. Conte-
me algo sobre você.
— Como o quê?
— Não sei. Sobre o que as pessoas costumam falar nos encontros? O
que te excita e te irrita? Maneiras favoritas de passar uma tarde de
domingo? Você é uma garota de longas caminhadas na praia? Ou é mais
como uma compradora compulsiva?
Xavier parecia nervoso. Ele realmente parecia e soava nervoso. Foi
adorável. Eu me peguei sorrindo e ele parou de divagar para olhar para
mim.
— O quê?
— Você disse encontro, — eu apontei.
— Bem, e não é?
Eu concordei. Eu acho que sim. Ele suspirou, parecendo um pouco
melancólico.
— Me desculpe por ter demorado tanto, Angela. Se eu soubesse...
Eu queria perguntar a ele o que ele quis dizer. Se soubesse o quê? Mas
eu nunca tive chance. Porque Xavier pegou o último pedaço de pizza do
meu prato e deu uma mordida enorme.
— Ei! — Eu gritei de brincadeira. — Eu ia comer isso.
— Essa é uma implicância minha, — ele admitiu entre mordidas. —
Deixando a comida esfriar.
— E se o meu for dividir refeições?
— Então... acho que estamos ferrados.
Novamente, nós rimos. E foi a sensação mais maravilhosa do mundo.
Parecia fácil, sem amarras. Parecia honesto.
Enquanto Xavier continuava a comer, me perguntei se eu estava errada
em fazê-lo esperar.
Talvez quando ele estava tão feliz, desse tipo... talvez esta fosse a
melhor hora para falar sobre o fim do acordo.
Mas agora, quando olhei para ele, não tive certeza de que era isso que
eu queria.
— Xavier, — eu disse baixinho, — eu preciso te dizer uma coisa...
Ele acenou com a cabeça pacientemente. Eu respirei fundo, abri minha
boca e falei.
Capítulo 12
Ilusões amorosas
Angela
Eu não poderia dizer a Xavier que queria terminar nosso casamento. Eu
não tinha isso em mim.
Eu tinha me acovardado na noite do nosso encontro e disse a ele que
estava nervosa com o próximo Jubileu.
Eu sabia que não conseguiria esta noite também, não enquanto seus
braços me segurassem com força, me puxando para mais perto, me
envolvendo em um abraço repentino.
Xavier e eu estávamos dançando de novo, ensaiando para o grande
show, daqui a apenas uma semana. Mas algo sobre este ensaio parecia
estranho.
Por um lado, não havia sinal de Kiki. Na verdade, quando olhei ao redor
do estúdio, não havia sinal de nenhum instrutor ou dançarino em qualquer
lugar.
Xavier e eu estávamos completamente sozinhos.
Ele me girou, a batida sedutora do bolero nos impulsionando para
frente e para trás, enquanto nos virávamos um para o outro. Eu podia
sentir o calor que emanava de seu peito toda vez que estávamos separados
por um fio de cabelo.
Como eu desejava descansar minha cabeça nele, sentir os músculos
que eu admirava por tanto tempo.
Angela, Eu me repreendi, o que deu em você?
Percebi então que as habituais luzes de LED no teto estavam apagadas
esta noite. Em vez disso, um holofote parecia estar nos iluminando
enquanto dançávamos, resistindo e depois cedendo aos movimentos um
do outro.
Nós nos sentimos em sincronia esta noite. Sentimos como se estivéssemos
fazendo essa dança por séculos, esse cabo de guerra sensual, essa
estranha relação de amor e ódio, essa dança.
— Você nem sempre é um anjo, é? — Xavier perguntou, com os olhos
misteriosos.
Ele me empurrou suavemente e eu caí, esperando sentir o piso de
madeira, mas para minha surpresa, embaixo de mim havia uma cama de
almofadas.
Onde isso estava um segundo atrás? Como chegou aqui? Eu tinha
tantas perguntas, mas conforme Xavier lentamente se abaixou em cima de
mim, cada pensamento fugiu do meu cérebro.
Ele estava arrastando os dedos ao longo da minha pele nua, me fazendo
estremecer de prazer. Eu empurrei sua mão, envergonhada.
— Xavier, não... — eu disse.
— É isso que você quer? — ele perguntou, sorrindo. — Você quer que
eu pare, Angela?
Eu não disse nada. Eu não podia admitir que queria muito que ele
continuasse. Para chegar ainda mais perto de mim. Para respirar em meu
pescoço e... e...
— Um demônio disfarçado... — ele disse com um sorriso malicioso. —
Eu sabia.
E então, antes que eu soubesse o que estava acontecendo, Xavier me
beijou. Eu só tinha provado seus lábios uma vez antes — em nossa noite de
núpcias — tinha sido forçado, não natural e errado.
Mas isso... isso foi tudo que eu sempre esperei. O puxão de seus lábios
famintos. A sugestão de dentes quando ele mordeu meu lábio suavemente.
O gemido suave escapando do meu.
Isso me fez esquecer de mim mesma. Isso me fez esquecer que, apenas
alguns segundos atrás, estávamos praticando uma dança. A música
continuava, provocando-nos, incitando-nos a ir mais longe.
Para explorar os corpos um do outro. Para...
— Xavier, — eu engasguei, com medo. — Eu não sei o que estou
fazendo. Eu... eu...
— Confie em mim, — ele disse. — Eu vou cuidar de você.
Eu olhei dentro daqueles olhos escuros e balancei a cabeça. Havia um
milhão de razões pelas quais eu deveria ter resistido, mas havia uma
influência irresistível nas palavras de Xavier agora.
Eu não pude ignorar isso. Eu não pude lutar contra isso. Eu tive que
ceder. Eu queria ceder.
Ele me beijou novamente, mas desta vez, sua língua entrou na minha
boca, deslizando contra a minha, persuadindo-me a fazer o mesmo.
Com cada lambida e gosto lúdico, eu me sentia umedecer em lugares
que nunca tinham estado tão quentes antes.
— Eu quero você, Angela, — Xavier sussurrou. — Só você.
— Xavier... — Suspirei, fechando os olhos.
Então ele estava beijando meu pescoço e eu arqueava todo o meu
corpo em sua direção, como se implorasse para invadir outras partes de
mim.
Eu ouvi seu cinto desabotoar. Eu o senti puxar lentamente minha
calcinha para baixo.
Oh, meu Deus.
Isso finalmente iria acontecer. Eu ia perder minha virgindade com
Xavier Knight, bem aqui no meio da pista de dança, iluminada por um
holofote enquanto o ritmo lento do bolero nos fazia serenatas.
— Você está pronta, Angela? — Xavier perguntou.
Eu abri meus olhos e olhei para ele. Eu puxei seu rosto para perto do
meu e o beijei. Sim, silenciosamente me comuniquei com ele. Me tome.
E assim que Xavier pressionou para frente, e meus olhos rolaram para
trás em êxtase, e uma explosão de sentimentos tomou conta de mim...

— O QUÊ?
Sentei-me na cama com um sobressalto, hiperventilando. Eu estava
sozinha. Era no meio da noite. Eu estava no meu quarto.
Tudo que eu tinha acabado de experimentar era um sonho...
Um sonho sexual. Eu tinha acabado de ter um sonho sexual com Xavier.
O que.
Foi.
Isso.
Levantei-me e corri para o banheiro, lavando meu rosto e me olhando
no espelho. Mal pude reconhecer a garota que me encarou de volta.
— Angela, — disse a mim mesma, — estamos com grandes problemas
agora.

Angela: Em.

Angela: Preciso falar com voc ê .

Angela: O mais r á pido poss í vel.

Em: Algo errado, Angie?

Angela: N ã o consigo explicar por texto.

Em: Ok
Em: Voc ê pode me encontrar na minha
casa?

Angela: 👍 (emoji de dedo para cima)

Angela: Chego em 15 minutos.

— E então ele colocou seu... hum... na minha...


Em estava olhando para mim, confusa, depois que eu me desconectei
um pouco do sonho e fui para a casa dela na manhã seguinte. Ela nunca foi
uma puritana. Então, minha dificuldade em falar sobre o assunto sempre a
confundiu.
— Diga logo, Angie, — ela disse. — Foi apenas um sonho. Você transou?
— NÃO! — Eu gritei.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa. Até eu me surpreendi. Por que eu
estava reagindo a isso de maneira tão exagerada?
— Quer dizer... não, — eu disse mais baixinho. — Acho que não.
Estávamos prestes a fazer isso, e então acordei.
— Parece muito... confuso.
Em voltou a arrumar a máquina de lavar louça, parecendo preocupada,
mas uma pitada de aborrecimento em seu tom me fez franzir a testa.
— Eu disse algo errado, Em?
— É só... quer dizer, Angie, vamos lá. Você ao menos sabe o que quer?
— O que você quer dizer?
— Olha, — ela disse, Virando-se com um prato na mão, — estou
ficando cansada de ouvir você ficar indo e vindo. Um segundo você o
odeia. No próximo você está obcecada por ele. Como sua amiga, devo
avisar quando algo não for saudável. Acho que isso se qualifica.
Minhas bochechas enrubesceram. De repente, me senti confusa e
indignada, uma emoção à qual não estava acostumada.
— Você não sabe nada sobre nós, — eu disse, tentando e falhando em
impedir que minha voz vacilasse.
— Agora existe um 'nós’? Uma semana atrás, você estava falando sobre
se divorciar.
— Você está certa, ok! Eu sou confusa! Me desculpa!
Eu me virei, cruzando os braços. Eu não podia acreditar que minha
própria amiga não estava disposta a me apoiar agora, quando eu mais
precisava dela.
Ela suspirou e abaixou o prato, sentando-se ao meu lado.
— Ei, eu não queria julgar, Angie, — ela disse. — Desculpa.
— Eu simplesmente não entendo por que você está reagindo assim. Eu
entendo que Xavier e eu estamos em um lugar estranho, mas por que você
não pode tentar ser mais compreensiva?
Então eu olhei para ela e percebi que havia lágrimas em seus olhos. Era
eu quem estava percebendo algo aqui? Fui eu que não foi compreensiva?
— Em, o que é?
— Faz um tempo que quero falar com você sobre isso, mas não sei
como. Porque ele é seu irmão, e percebo que é estranho que estejamos
juntos e...
Lucas. Isso era tudo sobre Lucas. Claro!
— O que está acontecendo, Em? — Eu perguntei, agarrando a mão
dela. — Você pode me dizer qualquer coisa. Lamento ter sido tão egoísta
ultimamente.
Ela balançou a cabeça.
— Entendo. Se fosse meu irmão, seria difícil para mim também. É
apenas...
— O quê?
— Ultimamente, Lucas tem estado tão distante. Não sei o que fiz. Por
semanas, tudo foi incrível entre nós. Estava perfeito. Mas agora? Não sei
mais, Angie.
Em chorou um pouco e eu peguei um lenço para ela.
Eu gostaria de ter sabido sobre isso antes para poder ter falado com o
Lucas. De repente, me senti uma péssima amiga. Eu estava tão envolvida
no meu mundo e no de Xavier que não tinha parado para pensar em mais
ninguém.
Mas eu sabia que Lucas estava levando Em a sério. Eu vi a maneira
como ele olhou para ela. Antes de Em, as meninas eram apenas distrações
para ele.
Era algo sobre a qual Danny e eu costumávamos brincar. Mesmo sendo
irmãos, Lucas e eu não poderíamos ter saído mais diferentes.
— Angela, a santa. E Lucas... o galinha, — Danny diria, esquivando-se
enquanto eu tentava bater nele.
Era tudo verdade de qualquer maneira. Ele nunca tratou nenhuma
garota da maneira como tratou Em. Eu sabia que ela era especial. Eu sabia
disso mesmo quando éramos crianças e Lucas agia tímido perto dela
durante nossas brincadeiras.
— Em, — eu disse, sorrindo, — Lucas provavelmente está apenas sendo
um idiota. Você não precisa se preocupar. Ele vai mudar de ideia.
— Mas e se ele não mudar? E se eu fiz algo errado e tudo acabar? Eu só
queria que ele falasse comigo, Angie.
Um plano começava a se formar na minha cabeça. Então me levantei
repentinamente. Em franziu a testa, surpresa.
— Levante-se, Em.
— Por quê?
— Confie em mim, ok?
Em seguiu minhas ordens, levantando-se, ainda enxugando os olhos.
— Me dê suas mãos.
— Pra quê?
— Vai fazer ou não?
Em suspirou e deixou o lenço sobre a mesa, oferecendo as mãos. Eu as
peguei e olhei em seus olhos.
— Me escute, Em, — eu disse calmamente. — Eu conheço meu irmão.
E eu sei o que ele sente por você. Deixe-me falar com ele e acertar as
coisas, pode ser?
— Angie, não dá. Eu não quero que ele pense que eu preciso de
terceiros para...
— Em — eu disse insistentemente. — Por favor. Lucas merece uma
chance de se explicar, mas ele não é o melhor quando se trata de expressar
seus sentimentos. Deixe-me fazer o que deveria ter feito semanas atrás.
Deixe-me ajudá-la.
Em suspirou e sorriu.
— Tudo bem, Angie. Se você insiste.
Eu a puxei para um abraço. Ela riu.
— Eu acho que Xavier está começando a contagiar você. Não me
lembro de você nunca ter sido tão exigente.
Nós duas rimos.
Ela estava certa. Eu me sentia diferente, mas eu teria que lidar com
Xavier mais tarde.
No momento, havia apenas uma pessoa em quem eu precisava me
concentrar, e essa pessoa era meu irmão.

Angela: Lucas. 😠 (emoji bravo)

Angela: Qual é o seu problema?

Lucas: hein?

Lucas: do que voc ê est á falando?

Angela: ESTOU FALANDO SOBRE A EM.


Lucas: ah

Lucas: É meio complicado, mana.

Angela: Por que voc ê n ã o fala com ela?

Angela: Por que voc ê est á t ã o distante?

Lucas: Espera

Lucas: O qu ê ?

Lucas: É isso que ela pensa?

Angela: SIM, Lucas.


Lucas: Merda.

Lucas: N ã o era isso que eu queria.

Angela: O que voc ê queria?

Lucas: Angie

Lucas: Acho que preciso da sua ajuda.

Angela: Com o qu ê ???

Angela: O que voc ê fez?

Lucas: N ã o foi o que eu fiz.

Lucas: É o que estou prestes a fazer...


Angela: Voc ê não est á fazendo sentido,
Lucas

Lucas: Angie...

Lucas: Eu preciso que voc ê me ajude a


escolher um anel.

Angela: UM ANEL???

Lucas: Vou propor a Em em casamento.

Capítulo 13
Uma velha chama
Xavier

Penny: Ei.

Penny: É penny.
Xavier: Eu sei.

Xavier: Eu tenho o seu n ú mero...

Penny: Ah, certo

Penny: Voc ê est á em casa?

Penny: Eu preciso te ver.

Xavier: Eu pensei que voc ê disse que não


transar í amos mais.

Penny: N ã o, é isso...

Penny: Caramba... voc ê tem que deixar


tudo estranho?

Xavier: O que voc ê quer ent ã o?

Penny: Estou procurando algo.


Puta que pariu. A última coisa que eu queria pensar era na Penny agora.
Mas acho que não tive escolha a não ser deixá-la vir se ela realmente
tivesse deixado algo aqui. Isso ou ela estava apenas procurando outra
desculpa para tirar minha roupa.
Isso ainda estava para ser determinado.
Agora que eu tinha aprendido a verdade sobre Angela — sobre o anjo
que ela realmente era — e depois do nosso encontro com pizza, que foi
uma das melhores noites que tive em meses, eu não tinha olhos para
nenhuma outra garota.
Meu pau tinha alguns desejos aqui e ali? Claro, mas estava fazendo o
possível para resistir à tentação. Angela claramente não era esse tipo de
garota. Levaria tempo para conquistá-la.
E levá-la para minha cama.
À noite, eu ficava fantasiando sobre ela e como seria deixá-la nua.
Me angustiava saber que ela estava a apenas algumas portas de
distância e eu não podia tocá-la.
Um Knight bilionário como eu não estava acostumado a não conseguir
o que queria. Mas, pela primeira vez, eu teria que aprender a ser paciente.
Angela valia a pena.
Quando ouvi o barulho do elevador, me preparei. Não ceda à tentação,
Xavier. Ela não é nem tão boa assim. Apenas dê a ela o que ela quer e dê o
fora.
Mas quando as portas se abriram e vi Penny parada ali, fiquei
imediatamente impressionado com o quão gostosa ela estava.
Lembrei-me da sensação de bater nela, o tapa naquela bunda gostosa,
o gosto de seu suor quando mordi seu ombro...
— Ei, Xavier, — ela disse, sorrindo. — É bom te ver. — Ela estava alheia
aos meus pensamentos enquanto se inclinava para um abraço sem jeito.
Senti a pressão de seu peito através de seu grande suéter de lã.
Limpei minha garganta, tentando clarear minha mente no processo.
Foco, Xavier. Você pode se masturbar mais tarde. Não estrague tudo
com Angela.
— Então o que você quer? — Eu perguntei, tentando parecer estar
calmo.
— Me desculpa por aparecer assim. É só que... da última vez que estive
aqui, acho que quando estávamos, hum... você sabe... estávamos tirando
tudo às pressas, o meu colar deve ter...
— Você pode ir direto ao ponto, Penny?
Eu estava rapidamente ficando impaciente. Penny acenou com a
cabeça, colocando a mão em seu pescoço delicado. Pensei em como ela
me disse para estrangulá-la da última vez...
Pare com isso, Xavier, minha voz interior avisou novamente. Mantenha
o controle.
— Meu colar, — explicou Penny. — Eu perdi ele aqui.
— Então? Pegue outro. Vou te dar um cheque.
O rosto de Penny corou um pouco quando ela olhou para o lado,
horrorizada.
— Eu não sou uma prostituta, Xavier. Eu não quero seu dinheiro. Vim
aqui porque gosto mesmo de você.
Suspirei. A desgraçada estava tentando me fazer sentir culpado e estava
funcionando.
— Ok, ok, — eu disse, tentando parecer. — O que ele tem de tão
especial? Não podemos simplesmente substituí-lo?
Ela balançou a cabeça. — Tem um pingente com minhas iniciais. É
insubstituível. Um de cada tipo.
— Não me diga que... É do seu ex, não é?
Seu silêncio me disse tudo que eu precisava saber.
— Droga, Penny, é melhor que você perca de vez essa coisa então.
Agora vá para casa e...
— Por favor, — ela interrompeu, sua voz baixa. — Eu só... eu preciso
dele, tá bom?
Ela se recusou a encontrar meus olhos, e eu poderia dizer que ela
estava lutando contra as lágrimas. Eu esfreguei minha nuca, com o silêncio
constrangedor se estendendo entre nós.
Meu Deus, eu odiava essa merda.
Por que ela ainda estava presa a um idiota abusivo estava além de mim.
Eu nem conhecia o cara e pensar nele fez meu sangue ferver.
Espere... Por que eu estava me importando com isso?
— Tudo bem, tudo bem, — eu disse, dando um passo para o lado. —
Vamos dar uma olhada.

Estávamos revistando meu quarto, mas achamos o colar? Não. Então


continuamos nossa busca. A certa altura, olhei para Penny, curvada,
olhando embaixo da cama...
Senti uma vontade repentina de pular em cima dela, de tomá-la por
trás, de torná-la minha novamente.
Droga, cara! Eu claramente precisava transar, e o mais rápido possível,
ou o problema só pioraria. Ela se virou e caiu contra a parede, parecendo
agitada.
— Não consigo encontrar em lugar nenhum, — Penny gemeu. — Onde
está, Xavier?
— Não sei.
— Mas eu tenho que encontrá-lo. Você não entende!
De repente, Penny parecia desesperada. Quando perco algo importante
também fico chateado, mas por que o pânico?
Normalmente, minha paciência já teria se esgotado, e eu a teria
chutado para fora da minha casa. Mas talvez a bondade de Angela tenha
tido um impacto sobre mim ou algo assim, porque, em vez disso, me sentei
ao lado de Penny.
— Você pode me dizer, você sabe, — eu disse sem jeito. — Porque
isso... é importante para você.
Penny me olhou estranhamente, quase como se ela não pudesse me
reconhecer, mas então ela começou.
— Você se lembra do meu namorado, certo?
Eu concordei. Nunca fui um grande ã dele, mas trabalhamos juntos e
tínhamos que manter o relacionamento cordial.
Quando Penny finalmente criou coragem e terminou com ele... bem, eu
estava lá.
Não de uma forma romântica e emocional.
Apenas para o sexo.
Felizmente, o idiota do ex de Penny morava principalmente em Paris,
então eu não precisava ver sua cara feia com frequência.
— Ele está vindo para Nova Iorque na próxima semana, — Penny
continuou.
— E... eu meio que concordei em vê-lo novamente.
Eu a encarei como se de repente nela tivesse crescido uma segunda
cabeça.
— Você é idiota?
— Talvez...
Ela nem estava negando.
— Olha, eu não sei todos os detalhes e não me importo o suficiente
para ouvi-los, mas ele era abusivo, certo? Foi por isso que você terminou
com ele!
— Ele diz que mudou...
— Não me venha com essa merda, Penny. Você sabe tão bem quanto
eu que ele está mentindo descaradamente.
— Você não o conhece como eu. — Sua voz começou a aumentar, e eu
não sabia se ela estava tentando me convencer ou a si mesma. — Eu posso
mudá-lo. Eu posso ajudá-lo com seus problemas.
Por que ela estava sendo tão teimosa?
Por que ela não conseguia ver o óbvio?
Por que isso me deixou tão furioso?
— Eu conheço o tipo dele, — eu soltei. — Ele é manipulador, sem
coração e, assim que conseguir o que quer de você, ele a jogará no lixo.
As lágrimas escorreram pelo rosto de Penny.
— Tipo como você?
Suas palavras foram como um tapa na cara — uma chuva fria de
realidade bem sobre minha cabeça quente.
— Você trata sua esposa como todas as outras mulheres em sua vida?
— ela perguntou.
Era isso então.
A razão pela qual suas palavras me atingiram com tanta força. Por que
vê-la tão chateada com seu ex me irritou imediatamente.
Era como se olhar no espelho.
Angela era como Penny.
E eu era como o ex-namorado idiota da Penny.
Eu não aguentava mais um segundo.
— Você precisa ir, — eu disse em voz baixa.
Penny nem mesmo discutiu. Ela se levantou, cabisbaixa. Ela parecia
tentar desaparecer em seu suéter enorme.
— Eu pensei que você tivesse mudado, Xavier, — ela disse calmamente.
— Eu pensei que talvez houvesse alguma bondade em você, mas você
ainda é o mesmo. Sem coração.
Então ela saiu pela porta, me deixando sem palavras.
Ela estava certa?
Eu era realmente tão frio?
Enquanto a seguia até o elevador, senti uma necessidade repentina e
bizarra de me desculpar. Dizer apenas as palavras — sinto muito — e
pronto. Não pode ser tão ruim, não é?
Não, disse a mim mesmo. Ela é indigna de seu pedido de desculpas.
Deixe-a ir e continue com sua vida.
Mas quando Penny estava prestes a apertar o botão para chamar o
elevador, as portas se abriram. Parada do outro lado estava...
NÃO!!!!

Angela
Eu me senti positivamente tonta enquanto voltava para casa depois de ver
Lucas. Eu não conseguia acreditar que meu irmão realmente proporia
casamento a minha melhor amiga .
Fazia um dia que ele havia me contado a notícia, e decidi passar a noite
em Heller para ajudá-lo a deixar tudo pronto. Agora, eu estava voltando
para a cobertura de Xavier, mas tudo que eu conseguia pensar era em
Lucas e Em.
Foi estranho me acostumar com os dois como um casal. Mas agora que
eu sabia que eles estavam levando muito a sério, e tão sério que
possivelmente se casariam, parecia que toda a estranheza tinha valido a
pena.
Minha melhor amiga estava prestes a se tornar minha cunhada. Claro,
eu tinha dado uma bronca em Lucas sobre como se comunicar
corretamente para que ele pudesse acertar as coisas com Em primeiro.
Mas então nós nos divertimos muito comprando o anel. Eu sabia
exatamente o que minha amiga gostaria. Como florista, ela tinha uma
obsessão específica por todas as coisas terrenas e refeitas.
Em vez de ir a uma joalheria típica, levei Lucas a um lugar famoso por
seus diamantes sem conflito e joias refeitas. Havia peças antigas
impressionantes que as mulheres usaram por centenas de anos antes de
serem remodeladas em algo moderno e deslumbrante.
Esse tipo de história era algo que eu sabia que Em apreciaria. Quando
Lucas bateu no meu ombro e disse: — O que você acha deste? — Eu senti
minha respiração parar.
Foi o anel mais lindo que eu já vi.
Uma delicada faixa de prata entrelaçada com um rubi rosa no centro,
circundado por minúsculos diamantes. Parecia algo de um sonho.
Como algo feito para Em.
Meus olhos brilharam com lágrimas enquanto sorria para meu irmão.
— É perfeito, Lucas. Ela vai adorar.
Depois que ele comprou e discutimos a maneira como ele proporia, eu
corri para casa, sentindo uma mistura de alegria e inveja.
Eu nunca teria um momento como Em estava prestes a experimentar, o
momento em que o amor da sua vida se ajoelha e pede que você passe a
vida com ele.
Não, minhas memórias eram de um acordo de vida ou morte que fui
forçada a fazer com o pai do meu marido.
Sim, Xavier tinha sido mais doce ultimamente, mas eu ainda não estava
convencida de que ele havia mudado totalmente. Eu também sabia que
nunca seríamos capazes de retroceder o relógio para que pudéssemos ter
um dia de casamento adequado.
Então, novamente... talvez eu estivesse subestimando Xavier. Talvez um
casamento de verdade, um amor verdadeiro entre nós, ainda estivesse na
mesa.
Depois de ver esse milagre acontecer entre Em e Lucas, tudo parecia
possível.
Quando finalmente saí do táxi e entrei no prédio, senti que estava
prestes a explodir de positividade e entusiasmo pelo futuro.
Entrei no elevador, esperando pacientemente enquanto ele me levava
para o último andar. Com uma campainha, as portas se abriram e eu entrei
no meu apartamento, apenas para parar, congelada.
De pé na minha frente estava outra mulher, com as bochechas
molhadas de lágrimas. Ela parecia adorável, linda e melhor do que eu em
todos os sentidos.
E atrás dela estava Xavier.
Parecia que eu tinha acabado de pegar meu marido traidor em
flagrante. Novamente.
E tudo dentro de mim, todos aqueles pensamentos otimistas e arrepios
de excitação, desapareceram tão rapidamente quanto vieram.
Capítulo 14
Mudança de coração
Xavier
— Angela, não é o que parece!
Mesmo quando as palavras saíram da minha boca, eu sabia o quão
clichê e ridículo elas soavam, mas não pude evitar.
Ela estava olhando para Penny e… MERDA! CARALHO! — ela ia pensar
que eu estava transando com alguém de novo.
Depois de todo o progresso que estávamos fazendo ultimamente, essa
era a última coisa de que eu precisava. Pela primeira vez, eu não a estava
traindo ativamente. Sinceramente, estava apenas tentando ser legal e foi
isso que recebi em troca.
Porra, nenhuma boa ação fica impune, eu acho.
Eu queria xingar Penny, chamá-la de vadia inútil. Ela estava tornando
minha vida tão complicada, e para quê?
Por um pingente que seu ex-namorado deu a ela? Quem se importa!
Antes que eu pudesse gritar com Penny ou tentar me desculpar, algo
ainda mais surpreendente aconteceu.
Penny segurou a mão de Angela.
— É verdade, — ela disse. — Meu nome é Penny. Eu estava aqui
procurando por algo. Nós não estávamos...
Os olhos de Angela se arregalaram. Por um segundo, uma emoção
varreu seu rosto. Quase parecia alívio. Então ela se importava!
— Não é da minha conta, de qualquer maneira, — ela disse
humildemente. — Vocês dois podem fazer o que quiserem, de verdade.
— Não, tente entender, — disse Penny. — Xavier e eu... costumávamos
ser próximos. Mas não mais. Nós terminamos. Ele se preocupa muito mais
com você do que comigo.
Os olhos de Angela se voltaram para os meus. Não consegui ler a
expressão, mas senti minha respiração ficar presa na garganta. Como se
este fosse um momento decisivo. Se ela acreditasse em Penny...
Ainda tínhamos uma chance.
Eu ainda poderia conquistá-la.
Eu ainda poderia mostrar a Angela que eu mudei.
Mas se ela não acreditasse em Penny...
Penny se virou e olhou para mim, e mesmo que ela ainda parecesse
magoada com o quão cruel eu fui com ela, ela deve ter lido minha
expressão, porque sorriu gentilmente.
— Xavier... ele estava realmente apenas tentando ser legal. Para me
ajudar a encontrar algo que deixei aqui.
Não pude acreditar em sua gentileza, sua bondade.
Ela sempre foi legal, mas eu nunca a tinha visto como algo mais do que
a linda estudante de administração que era boa na cama. Mas claramente
havia uma pessoa real ali.
Uma pessoa com quem eu tinha sido desnecessariamente horrível.
Assim como com Angela antes dela...
— O que você deixou? — Angela perguntou com uma carranca.
— Um colar. Um pingente de... de alguém muito especial para mim.
Tem minhas iniciais nele. PS
Angela parecia ainda mais surpresa agora. Suas bochechas se encheram
de cor.
— Eu sei onde está, Penny. Um segundo.
Angela entrou na cobertura, passando por nós dois e caminhou pelo
corredor, nos deixando sozinhos. Eu me virei para Penny, me sentindo
envergonhado.
— Você não precisava fazer isso, — eu disse. — Para me defender.
— Eu não fiz isso por você, Xavier, — ela disse. — Eu fiz isso por ela. Ela
claramente se preocupa muito com você. Eu podia ver nos olhos dela.
— Penny, me...
Eu queria me desculpar, mas minha boca simplesmente não conseguia
formular as palavras. Eu balancei minha cabeça, enojado comigo mesmo.
— Eu não deveria ter gritado com você. Liguei para você... Não sei o
que há de errado comigo.
O olhar de Penny se suavizou. Ela deu um passo em minha direção.
— Eu sei, Xavier. Eu sei que você ainda está com raiva. Com raiva do
mundo, de todos. Com você também, eu acho. Mas... pela primeira vez,
posso sentir outra coisa.
— O quê? — Eu perguntei. Eu não tinha ideia do que Penny estava
falando.
Ela sorriu.
— Não é óbvio? Amor, Xavier.
Eu? Apaixonado por... Angela? Isso parecia um exagero. Claro, eu estava
desenvolvendo sentimentos, mas não havia necessidade de soltar essa
bomba. Antes que eu pudesse me defender, Penny colocou a mão no meu
ombro, me interrompendo.
— Você não precisa explicar. É óbvio. Na maneira como você olha para
ela. A maneira como você está tentando, embora nem sempre
conseguindo, ser mais decente. Se você pode ver ou não, Xavier, não sei,
mas eu posso. Você está apaixonado.
Penny estava certa? Era essa a sensação estranha e desconfortável?
Não parecia com nada que eu havia sentido antes. Com Claudia, minha ex,
tinha sido uma fonte jorrando felicidade seguida pela tristeza mais
profunda que eu já conheci.
Eram esses altos e baixos loucos que imaginava ser normal. Era como
eu pensei que o amor deveria ser.
Mas com Angela... foi uma chama lenta, impulsionada pela confusão e
mal-entendidos, e então um desenvolvimento silencioso de confiança, pra
depois...
Eu não sabia dar nome a isso.
— Xavier, — Penny disse, me puxando de volta para o planeta Terra, —
não lute contra isso. A mudança. Posso ver que a Angela revela o que há de
melhor em você. Tente ceder, ok?
Eu deveria concordar com Penny? Desde quando alguma garota com
quem eu transava tinha o direito de me dizer como devo conduzir minha
vida?
Desde quando ela se tornou uma expert no assunto?
Mas era como se meu corpo estivesse se movendo contra minha
própria mente, porque de repente eu estava confirmando com a cabeça.
Ela sorriu, enxugando uma lágrima de seus olhos enquanto passos
ressoavam atrás de nós. Eu me virei para ver que Angela havia retornado,
com um colar na mão.
— É isso, Penny? — ela perguntou docemente, entregando-o. — Eu o
encontrei no meu quarto outro dia. Lucille deve ter pensado que era meu.
— Penny olhou para ele, girando-o de forma que as iniciais gravadas
ficassem visíveis. Então ela o segurou contra o peito, parecendo muito
grata.
— É isso. Muito obrigado, Angela.
— Claro. Posso perguntar... o que isso significa para você?
Os olhos de Penny se voltaram para mim e depois de volta para Angela.
— É de alguém com quem me importo muito. Algo que tenho certeza
de que você pode entender.
As bochechas de Angela coraram, mas ela acenou com a cabeça.
— Obrigado novamente. Muito. E boa sorte com tudo.
Então, com isso, Penny se virou e saiu pela porta, deixando nós dois
sem palavras. Por um segundo, olhei para Angela, me perguntando se eu
devia a ela mais alguma explicação.
Mas ela se virou para mim.
— Bem, isso foi meio estranho.
Eu ri.
— Foi.
— Vejo você no jantar? Eu esperava dar uma corrida.
— Claro.
Ela acenou com a cabeça e se dirigiu para seu quarto. Eu me perguntei
se ela precisava correr apenas para se afastar de mim, mas decidi não
pensar demais.
Antes que eu pudesse me conter, gritei o nome dela.
— Angela!
Ela se virou, surpresa.
— Sim?
— Estou... uh... contando os minutos até o jantar.
Que porra é essa? Isso foi o melhor que eu poderia fazer? Eu costumava
ser tão bom. O que aconteceu com o Knight Xavier que deixava as garotas
com as pernas tremendo?
Mas Angela sorriu.
— O mesmo aqui, Xavier.
Então ela saiu e percebi que estava prendendo a respiração.

Em: N ã o sei o que voc ê disse ao Lucas.

Em: Mas MUITO obrigada, Angie.

Em: Ele voltou a ser ele mesmo!!!

Angela: De nada, Em.

Angela: Eu sabia que tudo daria certo.

Em: Como est ã o as coisas com o Xavier?


Angela: Hum...

Angela: Bom, eu acho.

Angela: N ã o tenho certeza.

Angela: É confuso.

Em: Bem

Em: Estou aqui se precisar conversar sobre


isso, ok?

Angela: Obrigada.

Angela
Era tão difícil manter segredos de Em. Claro que estava feliz que meu irmão
estava sendo gentil com ela novamente, mas eu gostaria que ela soubesse
o que eu fiz...
Que ele estava prestes a propor em casamento!
E então, eu sabia que provavelmente poderia contar a ela tudo sobre o
estranho incidente com Penny e Xavier, mas parecia muito para mandar
por mensagem. E ela provavelmente interpretaria mal. E… deixa pra lá.
A corrida ajudou a clarear minha cabeça, de modo que, quando nos
sentamos para jantar, eu fui capaz de relembrar o dia com alguma clareza e
novas percepções.
Estávamos comendo em silêncio, alguma música espanhola tocando ao
fundo, quando decidi fazer uma pergunta a Xavier.
— Então, — comecei, — você está nervoso?
— Sobre hoje? Como você disse, foi estranho, mas...
— Não sobre hoje, — eu disse, rindo levemente. — Sobre este fim de
semana. O Jubileu de Prata finalmente chegou!
— Oh, merda, você tem razão.
Nós dois rimos, percebendo que não éramos páreo para o que viria.
— Não vamos ganhar de jeito nenhum, não é? — Xavier perguntou.
Eu fiz uma careta, fingindo estar ofendida.
— Talvez seja assim que você se sinta, mas eu sou uma Knight, e os
Knight ganham competições, não é?
O sorriso de Xavier se alargou.
— Eu gosto quando você fala assim.
— Como o quê?
— Como uma capitalista. É sexy.
Eu corei. Tudo tem que ser sobre sexo com esse cara?
— No entanto, já faz um tempo desde o nosso último treino, — eu
disse, mudando de assunto. — Espero me lembrar de todas as etapas.
— Bem, — ele disse com um encolher de ombros, baixando o garfo e a
faca, — por que não praticamos agora?
— Você quer dizer aqui?
— Por que não! O apartamento é grande o suficiente para parecer uma
pista de dança, não é?
Baixei meus talheres, sorrindo e aceitando o desafio.
— Tudo bem, — eu disse. — Vamos lá.
Nós nos movemos no ritmo da batida no meio do apartamento, com
nossos pés descalços deslizando pelo chão de madeira. Nossas mãos se
tocaram delicadamente, tomando cuidado para não segurar muito forte
para que pudéssemos completar nossos movimentos facilmente.
Eu me peguei curtindo a dança pela primeira vez. O ritmo do bolero em
um espaço tão confortável e familiar como este apartamento parecia
íntimo agora.
— Eu não acho que precisávamos praticar, Angela, — disse Xavier entre
as voltas. — Somos mestres já.
— Vai dar azar, Xavier! — Eu o repreendi de brincadeira.
Ele me puxou para trás, continuando.
— Só estou dizendo que, mesmo que não ganhemos, somos bons nisso.
— Você acha?
— Eu sei que sim.
Eu sorri. Nunca me senti tão segura nos braços de alguém antes. Eu
queria que a música continuasse indefinidamente. Para nos dar uma
desculpa por estarmos tão perto.
Mas é claro, como sempre, acabou.
— Sr. Knight, — eu disse, balançando a cabeça e fazendo um
cumprimento cordial.
— Sra. Knight, — ele respondeu com uma reverência.
Então, nós dois nos viramos e seguimos nossos caminhos separados. Eu
senti minha nuca formigar... como se os olhos de alguém estivessem em
mim. E quando me virei, peguei Xavier olhando para mim. Ele rapidamente
se virou e entrou em um corredor.
Eu ri, divertida e um pouco chocada pela descrença. Xavier estava
agindo como um garoto de colegial apaixonado, e isso era adorável.
Quando voltei para o meu quarto, porém, notei uma enxurrada de
novas mensagens na minha tela. A princípio, pensei que fosse Em.
Mas quando vi quem era o remetente, meu sorriso se evaporou
instantaneamente.
N ú mero desconhecido: Ol á de novo, linda
senhora.

N ú mero desconhecido: já faz muito


tempo...

Angela: Quem é ?!

Angela: Sr. Lemor???

N ú mero desconhecido: Errado!

N ú mero desconhecido: Tente novamente,


doce Angela.

Angela: Eu disse para voc ê me deixar em


paz!!!!
Angela: O QUE VOC Ê QUER?!

N ú mero desconhecido: Voc ê , é claro.

N ú mero desconhecido: Eu quero voc ê .

N ú mero desconhecido: Eu terei voc ê .

Angela: NÃO

Angela: VOC Ê NÃO VAI!

N ú mero desconhecido: Voc ê nunca


aprende?

N ú mero desconhecido: Ningu ém me diz


n ã o...

Capítulo 15
O Jubileu de Prata
Angela
Luzes piscaram. Multidões gritaram. Sorrisos deslumbrados.
Estávamos no meio de um tapete vermelho para o Jubileu de Prata e eu
mal conseguia ver direito. Havia tantos flashes quanto membros da
imprensa aqui.
Para onde quer que me virasse, alguém gritava comigo.
— Sra. Knight! Quem desenhou esse vestido?!
— Sra. Knight! Você pode posar com seu marido?!
— Sra. Knight! O que você tem a dizer aos seus ãs?!
Fãs? Desde quando eu tenho ãs? Xavier estava sorrindo e acenando,
claramente acostumado com isso, vestido com um smoking elegante. Eu,
entretanto, usava um vestido de cocktail de chiffon com um glamoroso
detalhe dourado, que eu sabia que brilharia na pista de dança.
Mesmo que Xavier insistisse que eu parecia vestir — um milhão de
dólares, — eu me sentia deslocada e extremamente nervosa. Não era só
porque eu estava prestes a dançar na frente de uma multidão enorme de
pessoas importantes.
Foi por causa daqueles textos estranhos que eu recebi. Eu não tinha
pensado em quem poderia estar tentando mexer comigo por um tempo. A
última vez que recebi uma mensagem como essa foi depois do último
ensaio em casa para o baile.
Achei que poderia ser o que Dustin havia dito. — Apenas palavras.
Agora eu não tinha tanta certeza. Parecia haver uma ameaça oculta nas
palavras, uma promessa de que algo terrível estava para acontecer. Eu não
conseguia tirar a última frase da minha cabeça.
— Ninguém me diz não...
Ele, quem quer que fosse, havia dito isso da última vez também. Foi tão
assustador. As ameaças permearam meu ser, fazendo-me sentir como se
minhas mãos fossem de gelo e minhas pernas de gelatina.
Como eu poderia dançar de forma coordenada esta noite depois de
receber mensagens como essa?
— Ei, — eu ouvi uma voz rouca sussurrar ao meu lado. — Você está
bem?
Virei-me para ver Xavier, parecendo preocupado. Acho que não estava
escondendo meu nervosismo muito bem. Tentei fingir um sorriso.
— Tudo bem, — eu disse. — Devíamos sorrir para uma foto, certo?
— Angela, se você não quiser, não precisamos. Já temos tarefas demais
esta noite.
Ele estava sendo tão legal, tão apoiador. Eu mal podia acreditar que
este era o mesmo Xavier que uma vez me chamou de puta oportunista,
entre outras coisas.
— Você tem certeza? — Eu perguntei. — Parece que é o que se espera
de nós.
— Vamos.
Xavier pegou minha mão e me levou para dentro do enorme salão de
baile sem dizer qualquer palavra. Fiquei extremamente grata por estar
longe das câmeras.
Mas agora havia novos obstáculos para enfrentar. Os ricos convidados
do Jubileu de Prata, que incluía membros da Knight Enterprises e outros
empresários importantes.
Xavier tentou escapar da maioria das cordialidades e nos levar o mais
rápido possível aos nossos lugares, mas alguma conversa fiada foi
necessária. Quando chegamos à nossa mesa, eu estava sem fôlego.
— Aqui, sente-se, — ele disse. — Vou pegar um pouco de água para
nós.
— Quando começa a competição? — Eu perguntei.
Eu só queria acabar com isso logo. Ele colocou a mão no meu ombro
nu. A sensação de sua pele áspera na minha me fez estremecer de
excitação.
— Assim que todos estiverem dentro, Angela. Não se preocupe. Está no
papo.
Nós conseguimos.
Eu queria gravar essas palavras em meu cérebro. Elas eram tão casuais
e reconfortantes, exatamente o que eu precisava. Com isso, Xavier se virou
para nos encontrar um pouco de água.
Eu sorri um pouco, tentando deixar aquelas mensagens assustadoras
para trás. Eu tinha um novo mantra para preencher esse espaço.
Nós conseguimos, pensei.
Isso mesmo...

— Por favor, seja bem-vindo ao palco... Sr. e Sra. Knight!


A multidão aplaudiu descontroladamente quando Xavier e eu nos
levantamos e nos aproximamos da pista de dança. Eu podia me sentir
suando de ansiedade. Eu estava tanto assustada quanto animada.
Finalmente, quando chegamos ao meio da pista de dança, os aplausos
cessaram e tudo ficou quieto, Xavier me puxou para perto e sussurrou em
meu ouvido.
— É só você e eu, Angela. Ninguém mais importa. Não agora. OK?
Aqueles olhos escuros nunca pareceram tão cheios de luz. Eu quase
engasguei. Ele era tão lindo. Eu sei, é estranho chamar um homem de belo,
mas foi assim que Xavier apareceu naquele momento.
Como uma espécie de deus grego, elevando-se acima de mim,
oferecendo-me sua mão perfeitamente esculpida. Oferecia para mim, um
nada, um ninguém, uma camponesa.
Ele queria me levantar, mostrar ao mundo que eu era dele, que,
naquele momento, éramos tudo o que importava. E eu queria dizer sim a
tudo.
O bolero começou, o violão espanhol dedilhada suavemente, fazendo-
nos balançar e deslizar em torno um do outro como uma imagem no
espelho...
Vagamente, eu podia sentir centenas de olhos nos seguindo, mas havia
apenas dois olhos que me deixaram em transe. E esses eram de Xavier.
A intensidade daquele olhar era diferente de tudo que eu já tinha visto.
Enquanto ele me girava, eu podia sentir a força de seus músculos fortes me
impulsionando. Quando ele me puxou para perto, senti seu hálito quente
contra minha bochecha pálida.
Cada movimento seu era dominante e poderoso. E, ainda assim, nós
circulamos em perfeita sincronia, nossa dança era mais do que uma dança.
Era uma conversa que estávamos tendo desde o primeiro momento em
que nos conhecemos, o momento em que ele me xingou. Foi, ao mesmo
tempo, assustador e seguro. Zangado e calmo. Sexy e doce.
Eram todos os opostos do mundo reunidos em um.
Enquanto ele me levantava no ar, com as mãos em volta da minha
cintura, percebi que muito dessa dança parecia exatamente como o sonho
que eu tive com Xavier.
Os holofotes.
A sensação de que estávamos totalmente sozinhos.
A música sensual.
Só faltou a cama de almofadas e, quanto ao que se seguiu, nem
acreditei que fui até lá no meio desta dança. Não parava de pensar nisso. O
sonho sexual.
Mas eu podia ver nos olhos vorazes de Xavier. Ele estava sentindo o
mesmo. A tensão sexual, a necessidade de liberação.
Mas eu não poderia dar a ele, não é? Para Xavier Knight? Depois de
tudo que ele fez comigo?
Eu poderia realmente fingir que estava tudo bem, que nosso casamento
era um casamento normal e que agora era esperado que fizéssemos sexo?
Quando a dança terminasse, quem seria Xavier e eu?
A última etapa, a pose final. Em seguida, a sala estava de pé,
cobrindonos de aplausos. Eu olhei para Xavier, sorrindo, seus olhos
brilhando, e eu sabia que não aguentaria.
Assim que saímos da pista de dança, não parei na mesa. Fui direto para
as portas e corri do salão de baile para a noite o mais rápido que meus
pés conseguiram.
Estava nevando — a primeira neve do ano — e eu não tinha casaco,
mas não me importei.
Eu precisava fugir.
Dele.
De mim. De
tudo.

Xavier
— Angela! ANGELA! ESPERA!
Eu estava correndo atrás dela o mais rápido que pude. Estava frio e ela
não usava nada além de um vestido de festa, pelo amor de Deus! Para
onde ela estava indo?!
— Angela, por favor!
Eu finalmente consegui alcançá-la no meio de uma faixa de pedestres.
Eu agarrei seu braço antes que ela pudesse chegar ao outro lado da rua. De
cada lado de nós, carros passavam ruidosamente, aumentando a
intensidade do momento.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei a ela. — Angela, olhe para
mim!
Tentei colocar meu casaco nela, mas ela resistiu, me afastando. Por um
segundo, pensei que ela estava prestes a entrar no trânsito e tive que
agarrar seus ombros com força.
— Angela, PARE!
Ela finalmente parou e olhou para mim, e eu percebi que havia lágrimas
naqueles olhos grandes e lindos.
— O que aconteceu? — Eu perguntei.
— Tudo, Xavier! — ela exclamou. — É tudo. Tudo o que somos. Tudo
que não somos. Eu não consigo mais manter isso direito. Eu sinto que
estou enlouquecendo.
— Eu sei que foram uns meses confusos, mas…
— Confusos? Não consigo nem me reconhecer mais no espelho, Xavier!
Eu nunca a tinha ouvido levantar a voz assim. Suas bochechas estavam
vermelhas, seu rímel escorrendo. O frio intenso a fazia tremer.
— Vamos entrar, — eu disse, vendo o homenzinho na faixa de
pedestres brilhar em verde. — Podemos conversar sobre tudo.
— Não, — ela disse, resistindo. — Não quero mais falar. Eu quero saber.
O que nós somos? O que isso significa para você, Xavier? De verdade?
Eu respirei fundo. Por um tempo, eu sabia que precisava me confessar a
Angela, mas tive muito medo de começar. Agora, no meio da cidade de
Nova Iorque, quando a neve começou a cair, eu sabia que não havia jeito.
Já era hora.
— Angela, eu sei por que você se casou comigo, — comecei. — Meu pai
me contou tudo. Sobre as contas médicas do seu pai. Sobre o acordo. Eu...
— E finalmente, eu disse a palavra que nunca havia dito antes, a única
palavra certa para este momento.
— Eu sinto muito. Sinto muito, Angela. Por tudo. Pelas coisas que te
chamei. Pela maneira como te tratei. Se eu soubesse o tempo todo que
não se tratava de dinheiro, que era um ato altruísta...
Meus olhos ardiam. Eu podia sentir as lágrimas que queriam fluir. Mas
não, porra — eu não permitiria. Eu ainda tinha muito a dizer. Angela me
observou com os olhos arregalados.
— Eu não posso me perdoar por quão horrível eu fui com você, Angela.
Depois de tudo que você fez por mim. Depois que você salvou minha vida.
Eu entendo se você quiser terminar o casamento.
— Xavier, eu não posso... — Ela tentou falar. — Brad e eu tínhamos um
acordo.
— Dane-se o acordo. Se você quer ser livre, deveria ser, Angela. Você
merece isso. Eu mesmo vou rasgar o acordo! Mas...
E agora eu olhei para baixo. Se eu continuasse olhando para aqueles
olhos puros e perfeitos, eu sabia que eu quebraria. Quebraria em mil
pedaços. E perderia o controle.
— Vou deixar você ir se for preciso, Angela, mas você deve saber que é
a última coisa que quero. Eu... eu quero que você fique, Angela. Fique.
Eu não sabia o que Angela estava prestes a dizer, mas sabia que
quaisquer que fossem as próximas palavras que saíssem de sua boca, elas
mudariam tudo...
— O que você quer, Angela? — Eu perguntei. — Você fica?
Capítulo 16
Começar de Novo
Angela
— O que você quer, Angela?
O que eu quero?
Em tinha me feito a mesma pergunta apenas algumas semanas atrás.
Meus lábios se separaram em resposta, mas descobri, novamente, que não
conseguia formar as palavras.
A resposta não era tão simples.
Não era uma questão do tipo vestido vermelho ou azul. Sushi ou
macarrão. Isso era felicidade e amor. Tristeza e morte.
Era minha vida. O futuro da minha família.
Quando minha mente começou a girar com pensamentos e memórias,
fechei os olhos, incapaz de me concentrar com o peso do olhar
perscrutador de Xavier em mim.

Não era o suficiente que Xavier estivesse dormindo com outra mulher no
dia em que se casou comigo. Não, ele tinha que pegar uma mulher que eu
conhecia, uma mulher com quem passei um tempo naquele dia. Uma
mulher que sabia como eram meus poros de perto. Era como se ele
estivesse propositalmente tentando me machucar, me punir por ter me
casado com ele.

— Limpe, — ele disse.


O quê?
— Como é que é?
— Você me ouviu. Você quer causar problemas na minha vida,
convidando meu próprio pai sem me dar nenhum aviso prévio, então eu
devolvo para você. Esta é uma bagunça que fiz. Você limpa.

— Ei, — ele disse, mais suavemente, como se estivesse tentando flertar.


Como se eu fosse outra garota. — Você é minha esposa, sabia disso?
— Eu sei, Xavier.
— Portanto, não se afaste de mim. — Ele estava tão perto de mim que
eu podia contar seus cílios.
— Ok, — eu disse. Eu tentei me desvencilhar de suas mãos, mas ele me
segurou com força.
— Sabe, as esposas devem fazer coisas para seus maridos. Para serem
esposas de verdade, — ele disse, com um odor de álcool saindo dele.

— ... o amor é paciente...


— ... puta oportunista...
— ... o amor é gentil...
— ... eu te odeio pra caralho...
— ... o amor nunca falha...
— ... o que eu quero é arruinar você...

— Não, — eu finalmente disse, me surpreendendo.


Com os olhos abertos, me forcei a não vacilar enquanto observava a
expressão de Xavier cair.
— E-eu não estou pronta para ficar, para continuar casada com você.
Xavier engoliu em seco.
— Eu entendo. Eu...
— Mas — Eu levantei meu dedo — Eu gostaria de começar de novo. Se
estiver tudo bem?
Eu ouvi o ar whoosh saindo dos pulmões de Xavier como se ele tivesse
levado um soco no estômago. Um sorriso radiante se espalhou por seus
lábios.
— Eu não gostaria de mais nada.
Ele me envolveu em seus braços, de repente me abraçando.
— Nesse caso — seu hálito doce soprou em minhas bochechas — Eu
gostaria de convidar você para sair. Na próxima sexta, talvez? Eu conheço
uma pizzaria bonitinha...
Incapaz de me conter, eu ri.
— Isso parece maravilhoso.
— Angela, eu... — Xavier parou, lambeu os lábios e me apertou mais
antes de recuar. — Vamos entrar. Está congelando. E eles estão prestes a
anunciar os vencedores.
Com os braços em volta dos meus ombros, deixei Xavier me levar de
volta para o outro lado da rua e para o salão de banquetes.
Apesar da neve caindo nas ruas, eu me sentia aquecida. Brilhante. Era
como se estivesse andando nas nuvens.
Se havia uma coisa que eu sabia, era que você sempre precisava pesar o
que era bom e o que era ruim. Desde que conheci Xavier, minha vida teve
seus altos e baixos, mas não havia dúvidas em minha mente de que o bem
superava em muito o mal.
Especialmente depois que voltamos da ilha.
Era como se meu marido tivesse se tornado uma nova pessoa. Não
seria justo usar tudo o que ele disse no passado contra ele.
— Chegou o momento que todos esperávamos, — falou o locutor
enquanto Xavier e eu nos dirigíamos ao centro da pista e ocupávamos
É
nosso lugar entre os outros participantes. — É hora de anunciar os
vencedores. Primeiro, em terceiro lugar...
Aplausos educados atravessaram o ar.
— Em segundo lugar...
Eu não conseguia me concentrar nas palavras que o locutor estava
dizendo. De qualquer maneira, não importava se ganhamos ou não. Eu já
tinha ganhado um prêmio melhor do que poderia esperar esta noite. Seria
ganancioso esperar algo mais.
Em vez disso, deixei minha alegria irradiar através de mim, senti minha
pele formigar quando minha mão tocou a de Xavier, e minhas bochechas
queimaram de tanto sorrir.
Houve um estrondo e o estouro do champanhe quando os vencedores
do segundo e primeiro lugar foram anunciados. Glitter e confete tomaram
o ambiente. Balões caíram do teto.
Xavier praguejou ao meu lado, e então fui levantada, girando no ar.
Eu ouvi suas palavras sem fôlego enquanto seus lábios roçavam meu
ouvido, — Eu não posso acreditar.
Então, eu estava em um pódio e um enorme ramo de flores foi
colocado em meus braços enquanto a multidão aplaudia.
— Parabéns, meus filhos, — disse Brad, aparecendo abaixo de nós. Ele
me ajudou a descer do degrau e esmagou o buquê de rosas brancas entre
nós enquanto me abraçava.
— Muito obrigado, Sr. Knight! Não posso acreditar que ganhamos. —
Lágrimas de alegria encheram meus olhos.
Brad sorriu.
— Você dançou lindamente! Estou orgulhoso de você. — Seus olhos
brilharam para encontrar os de seu filho. — De vocês dois. Agora, vamos
pegar algumas bebidas. A noite ainda é uma criança!
Xavier me puxou através da multidão em direção ao bar. As luzes das
câmeras e os sorrisos dos convidados não pareciam tão malévolos agora.
Não, agora eu era invencível.
Eu rapidamente me desculpei, deixando Xavier fazer o pedido para nós
enquanto eu deslizava para o banheiro. Depois de dançar e chorar, eu sabia
que devia estar uma bagunça.
Na pia do banheiro, joguei um pouco de água no rosto e apliquei novas
camadas de rímel e batom. Então, decidindo aproveitar o momento de
calma, tirei meu celular da minha bolsa. Havia três mensagens de texto de
Em.

Em: MDS! MDS! MDS!

Em: ANGIE!

Em: Lucas me PROP Ô S EM CASAMENTO!

Eu não tinha certeza se era possível, mas parecia que meu sorriso ficou
ainda maior. Rapidamente, digitei minha resposta.

Angela: UHU! Parab é ns!

Em: Voc ê sabia?

Em: Como voc ê me deixou reclamar


semana passada!?
Angela: Eu sabia que tudo acabaria bem.
Estou ã
t o feliz por voc ê s dois!

Em: Voc ê ser á minha dama de honra?

Angela: Claro! Voc ê sabe que pode contar


comigo sempre.

Fizemos planos de nos encontrar para começar a fazer os preparativos


para o casamento e depois nos despedimos.
Era engraçado como a vida tinha um jeito de mudar as coisas.
Apenas algumas semanas atrás, eu não conseguia ver o lado positivo de
nada. Agora era como se em todos os lugares em que eu sintonizasse o
mundo estivesse dourado com o mais brilhante e puro ouro.

Xavier
Ela disse sim.
Não conseguia me lembrar da última vez que estive tão feliz, da última
vez que sorri tanto.
Angela concordou em namorar comigo, quis me dar uma segunda
chance. Eu não merecia que um anjo tão perfeito tivesse misericórdia de
mim depois do ódio que destilei em Nova Iorque no ano passado.
Claro, não foi perfeito, mas foi muito mais do que eu merecia. Ela ainda
era minha, e eu me certificaria de não decepcioná-la novamente.
Subindo no pódio com Angela, aceitando nosso troféu de ouro, posso
muito bem estar no topo do mundo.
Nada parecia tão bom — escalar o Everest, se tornar CEO, terminar uma
maratona. Nem mesmo a porra do glitter que caiu em meu terno de seda
poderia me irritar.
Mais tarde, enquanto dirigíamos pela noite, com as luzes da cidade
formando um caleidoscópio de cores no banco de trás, deixei meus olhos
vagarem sobre o anjo adormecido ao meu lado. Ela desmaiou no segundo
em que o motor foi ligado.
Sua melhor amiga e irmão estavam se casando, ela disse.
E ela seria a dama de honra.
Sim, ela disse.
Excitação demais, eu suponho.
— Devo ajudar a Srta. Knight a ir para o quarto dela, senhor? — Marco
perguntou baixinho quando paramos na frente do nosso prédio. Ele
desafivelou o cinto de segurança.
— Não, eu farei isso. Você pode ir para casa passar a noite.
Cuidadosamente, me levantei do carro e levantei Angela em meus
braços. Com a cabeça pressionada contra minha lapela, agradeci ao
porteiro enquanto ele nos ajudava a atravessar o saguão e entrar no
elevador. Mais e mais alto, subimos até a cobertura.
Para nossa casa.
Deus, ela me derreteu como alguém apaixonado. Pior ainda, fiquei feliz
com isso. Papai estava certo: Angela me tinha nas mãos.
As portas do elevador se abriram e as luzes apagadas do corredor
piscaram quando eu pisei no corredor, com minha noiva em meus braços.
Lá embaixo, o barulho e a vida da cidade zumbiam, distantes demais para
nos perturbar.
Eu levei Angela para o quarto dela, embora eu tivesse pensado em levá-
la para o meu. Ela não estava pronta para isso ainda. Meus lençóis também
não estavam limpos o suficiente.
Em vez disso, coloquei-a com cuidado em sua cama, ainda em seu
vestido, tirei os Jimmy Choos de seus pés e a cobri com uma colcha
pendurada nas costas de uma poltrona próxima.
Quando o luar iluminou sua pele com um brilho iridescente, de repente
eu senti que precisava correr, ou gritar, ou me mover.
No entanto, essa não era a raiva costumeira que corria em minhas
veias. Era algo que eu não sentia há muito tempo. Algo melhor do que
raiva — esperança.
Achei que não fosse possível. Depois de toda a dor e traição que
experimentei no ano passado, eu tinha certeza de que não era feito para
amar. Eu tinha certeza de que o destino havia forjado um propósito
diferente para mim, um de conquista, retidão e poder.
Ninguém jamais teve sucesso por meio do amor, dizia a mim mesmo.
Era só um peso na vida. Apenas te atrapalharia. Era inútil.
Elon Musk e Oprah não precisavam de amor para dominar o mundo,
nem eu.
Nas últimas semanas, tudo isso mudou.
Nada parecia mais importante do que isso. Do que ela.
Sentando na beira do colchão, afastei o cabelo dourado solto de sua
testa.
— Que tipo de feitiço você colocou em mim?
Inclinei-me e pressionei o mais leve dos beijos em sua testa.
— Boa noite, meu anjo.

Capítulo 17
Sempre teremos Paris
Angela
Mergulhando no calor do café, sacudi meu guarda-chuva e o deixei
pendurado no suporte ao lado da porta junto com meu casaco úmido.
Em já estava na maior mesa, com xícaras de café e diversos materiais de
casamento em sua parte superior. Ela ergueu os olhos da revista de noivas
que estava folheando enquanto eu deslizava para o banco ao lado dela.
— Você parece feliz.
Peguei uma revista.
— Estou muito animada por você.
— Eu não acredito, — Dustin zombou do outro lado da mesa. Ele tinha
um raminho de flor na orelha e se abanava com um punhado de amostras
de tecido. — Acho que nossa pequena Rainha Dançante tem um segredo.
Eu examinei a cafeteria, tomando cuidado para me certificar de que
estava vazia antes de revelar quaisquer detalhes. Eu sabia muito bem como
os boatos se espalham rapidamente e se transformam em notícias quando
chegavam aos ouvidos errados.
Pode não ser meu corpo nu desta vez, mas eu tinha certeza que se
alguém soubesse que meu relacionamento com Xavier estava em ruínas,
eu veria no noticiário das seis.
— Xavier e eu estamos namorando.
— Oh. Olha só. Finalmente! — Dustin disse, batendo palmas. — Eu
sabia que você cederia uma hora!
Minhas bochechas esquentaram e eu me senti encolhendo os ombros.
— Ele tem estado tão... diferente, ultimamente.
— Sim, desde que você viu seu...
— Em? — Interrompi antes que Dustin pudesse terminar a frase.
Minha amiga ficou de queixo caído com o meu anúncio, e um pouco da
minha confiança também foi pra baixo.
Em fechou sua revista.
— Estou feliz por você. Realmente estou. Eu só... ele tem sido tão
terrível com você, Angie. Você estava pronta para se divorciar do homem
há uma semana. Só não quero ver você se machucar.
Peguei sua mão, apertando seus dedos.
— Eu sei. Ele está diferente agora. Eu posso sentir isso.
Ela ofereceu um pequeno sorriso e acenou com a cabeça.
— Eu estou aqui, não importa o que aconteça. Sempre.
— Bem, eu, por exemplo, estou muito feliz. — Dustin deixou seus
antebraços caírem sobre a mesa, suas palmas batendo contra a madeira
como se para acentuar seu ponto.
— Eu não estaria aqui se não fosse por vocês dois. Você e seu, às vezes
marido, são os motivos pelos quais minha carreira decolou. Quem sabe
onde eu estaria se você não tivesse me ajudado com minha primeira
exposição?
Ele acenou com a mão no ar. Poderia ter sido tão dramático quanto
pretendia se não estivéssemos sentados no café onde ele ainda trabalhava
meio período.
Emily riu, ganhando um olhar furioso.
— Hater, — Dustin atirou de volta.
— Bem, você tornou isso mais fácil, — eu o assegurei. — Você é tão
talentoso.
— Você tem que me deixar retribuir de alguma forma.
Eu balancei minha cabeça. Xavier tinha coisas mais do que suficientes
para nós dois. Além disso, seria errado aceitar algo do meu amigo por um
favor tão simples.
— Eu não poderia.
Seus olhos se arregalaram.
— Eu sei exatamente o que você precisa... um original de Dustin
Sterling. Oh, por favor, deixe-me pintar para você.
Um pequeno sorriso surgiu em meus lábios. Se isso o deixava tão feliz,
eu não sabia como recusar.
— Sim, gostaria muito disso.
— Fabuloso! Espere só. Vou pintar algo tão bom que você vai se
divorciar de seu terrível marido de verdade desta vez e se casar comigo, —
Dustin se emocionou.
— Ei! — Foi a vez de Em me defender. — Pare de nos assediar e vá fazer
um café com leite.
— Tudo bem, mas você está pagando por eles desta vez, srta. Sassafras.
— Dustin se levantou da mesa.
Eu não pude conter minha risada quando Em gritou de volta: — É
SENHORA Sassafras para você!
Dustin a ignorou enquanto se abaixava atrás do balcão. Em nenhum
momento, eu podia sentir o cheiro do café moído e ouvir o whoosh e
borbulhar do leite fumegante.
— Então, estou pensando no seguinte. — Em deslizou uma pilha de
recortes de revistas e anotações rabiscadas em minha direção. — Um
casamento na primavera.
— Tão cedo! — Eu engasguei, honestamente surpresa.
Eu não deveria ter sido tão crítica; Xavier e eu tínhamos nos casado há
apenas algumas semanas, sem nunca nos termos conhecido. Em e Lucas
estavam namorando há quase um ano e se conheciam desde sempre.
— Bem, eu quero que as peças centrais sejam peônias, e você sabe que
elas estão melhores em maio, — explicou Em.
Ela folheou os papéis, retirando outro.
— Eu quero magenta e branco para as cores.
— Ah, não. Por favor, branco não. Isso é tão básico, — Dustin chamou
enquanto colocava canela nos picos de espuma recém-formados.
— É um casamento. — Em revirou os olhos. — Tem que ter branco.
— Oh, não, querida, — Dustin chamou. — É tudo sobre marfim no ano
que vem. Além disso, marfim ficará muito melhor com sua pele clara do
que apenas branco.
— Isso foi quase um elogio, — eu disse. Então, com um bufo
determinado, me virei para Em. — E como posso ajudar?
— Bem, precisamos de um oficiante, e acho que Lucas gostaria de se
casar com o padre da capelinha que vocês frequentavam. Você sabe o
nome dele? Ah, e sua tia... ela é vegana, certo?
Eu não pude evitar, mas me joguei no planejamento do casamento. Não
era apenas a emoção de ver minha melhor amiga e meu irmão tão felizes
juntos. É que nunca tive a oportunidade de planejar meu próprio
casamento.
Brad tinha organizado tudo. E embora tivesse sido grandioso e lindo,
não tinha sido meu. Não havia nada de mim ou de Xavier.
Em queria uma apresentação de slides com imagens dela e Lucas para
mostrar durante a recepção.
Sua música favorita tocaria para sua primeira dança como marido e
mulher.
Eles escreveriam seus próprios votos.
Parecia mágico. Ter tanto dos dois em detalhes tornaria esse dia
memorável para sempre.
Eu nunca tive a oportunidade de ter meu dia perfeito e me lembraria
do meu casamento por um motivo completamente diferente.
Meu marido e eu não tínhamos dançado nossa música favorita.
Nós não tínhamos uma música favorita.
Não tínhamos dormido na mesma cama em nossa noite de núpcias.
Na verdade, meu marido dormiu com outra mulher.
Com um suspiro, passei para outra imagem de vestidos de noiva.
Não havia sentido em deixar o passado me derrubar. A noite passada
foi espetacular. Se a minha vida e a de Xavier continuassem assim, o que
coisas tolas como dançar para Ed Sheeran importavam?
A campainha sobre a porta soou, tirando-me dos meus pensamentos.
Uma rajada de ar frio entrou, levantando fotos de vestidos e arranjos de
flores da mesa. Lutei para agarrá-los antes que pousassem no chão úmido.
— Olá! — Dustin falou. — Posso ajudar?
— O que você gostaria, mon coeur?
Um choque de medo percorreu minha espinha. Eu conhecia aquela voz.
Ela havia assombrado meus sonhos por meses.
Eu estava de costas para o balcão, mas o pânico me prendeu no lugar,
incapaz de me virar para confirmar se minhas suspeitas estavam corretas.
— Um mocha frappuccino grande com granulado extra, baixo teor de
gordura e chantili? — Mal ouvi a resposta da mulher com as batidas do
meu coração, mas uma pontada de familiaridade ecoou ao som de sua voz
também.
— E um croissant de chocolate? — O homem perguntou com seu forte
sotaque francês.
— Não, Jacques, já é o bastante.
Meu estômago embrulhou.
Eu tinha razão.
Era Jacques, o homem de Paris.
Minha respiração parou e fechei os olhos com força.
Eu podia sentir o fantasma de suas mãos em minhas coxas, seus lábios
em meu pescoço.
Eu precisava sair daqui.
— Deixe-me mimá-la, mon coeur. Ninguém me diz não.
Foi como se um balde de água fria tivesse sido jogado sobre minha
cabeça. Antes que eu pudesse me conter, minha cabeça girou para encarar
o casal.
Os olhos de Jacques estavam fixos em mim, um sorriso malicioso abria
em seu rosto.
A mulher em seu braço era Penny. Penny, que esteve em casa há apenas
alguns dias. Penny, que Xavier tinha...
Eu estava com náuseas.
Seguindo o olhar de Jacques, os olhos de Penny pousaram em mim.
— Oh, meu Deus, Angela!
— Angie? — Ouvi baixinho Em sussurrar.
Ela provavelmente se perguntou quem eram essas pessoas, porque
minha pele ficou branca como a neve.
Penny me puxou para um breve abraço.
— Jacques, esta é Angela, uma... amiga. Angela, este é meu amigo
Jacques. Ele é da França.
— Somos apenas amigos agora, mon cheri? — Ele beijou a mão de
Penny, ela corou e desviou o olhar.
— S-sim, — ela gaguejou, soando totalmente não convincente. —
Amigos. — Ela olhou entre mim e Jacques. — Vocês dois se conhecem?
Jacques sorriu para mim como um lobo sorriria para uma ovelha.
— Nós nos encontramos brevemente. No baile de gala em Paris, não é?
— Ele pegou a mão de Penny. — Como vocês se conheceram? — Ele
esperava uma resposta, mas eu não conseguia falar, não conseguia me
mover.
Penny sabia o que ele fazia? Como ele era? Ela tinha hematomas como
eu tive depois da última vez que encontrei seu namorado? Era por ele que
ela estava chorando da última vez que a vi?
— Ah... — Penny se atrapalhou, percebendo seu erro. — Eu acho que
foi na festa sazonal do Iate Clube?
Eu não tinha ideia sobre qualquer tipo de iate clube, mas me encontrei
confirmando com a cabeça.
— O que você está fazendo aqui? — Eu finalmente consegui falar.
— Só visitando. Tanto para negócios como para lazer. — Jacques piscou.
— Um mocha frappuccino grande com granulado extra, baixo teor de
gordura, e chantili, com um croissant de chocolate para... Jock? — Dustin
chamou.
— Desculpe, estamos com um pouco de pressa. Que bom ver você,
Angela! — Penny puxou Jacques em direção ao balcão, onde o pedido
estava esperando.
Houve outra rajada de vento frio e então eles se foram.
Abaixei minha cabeça em minhas mãos e tentei acalmar minha
respiração frenética.
Inspira... um, dois, três. Expira... um, dois, três.
— Angie? Angela? O que há de errado? — Em colocou sua mão fria na
minha nuca.
— Aquele homem... — Eu balancei minha cabeça. Aquelas palavras...
Eram iguais às mensagens que me foram enviadas.
Eu estava errada.
As mensagens não eram do Sr. Lemor, que estava na prisão.
Elas eram de Jacques.
Jacques, que agora estava em Nova Iorque…
Capítulo 18
Mal-me-quer
Angela
— O que está cozinhando, filhinha? Cheira muito bem! — Papai enfiou a
cabeça na cozinha.
— Lasanha. — Eu sorri, passando manteiga em uma fatia de baguete.
— Bem, lembre-me de agradecer ao seu marido por trabalhar neste fim
de semana. Não diga a Danny, mas não vejo comida tão boa há semanas!
Papai pegou uma fatia de pão de alho que eu estava preparando. Eu
bati na sua mão. — Sem manteiga! Ordens médicas, lembra?
— Nosso segredinho? — Papai piscou e mudou de assunto: — Como
está aquele seu marido?
— Oh, Xavier está bem.
— Bem? Nenhuma filha minha teria se conformado com muito bem! —
Papai brincou, indo buscar outro pedaço de pão.
Eu deslizei a tigela de salada para ele.
Uma ovação irrompeu da TV na outra sala.
— Os gritos da torcida! — Papai colocou o pão na boca, correndo em
direção ao som.
Eu ri, ouvindo seu canto de vitória. Os Giants devem ter marcado.
Sorrindo, coloquei o pão de alho no forno para torrar.
Era bom estar de volta à pequena casa em que cresci. Fiquei feliz por
ter aceitado a oferta de Em para visitar minha cidade natal com o pretexto
de verificar alguns locais de casamento. Isso me tirou da cidade e me deu
algum tempo para me reagrupar e descobrir o que fazer com Jacques.
Eu tinha enviado uma mensagem para Xavier antes, deixando-o saber
que eu estaria fora. Eu sabia que ele trabalharia o fim de semana todo e
não queria ficar sozinha no apartamento.
Claro, talvez eu estivesse fugindo dos meus problemas, mas não queria
preocupar Xavier, ou meu pai e irmão, que já eram excessivamente
cautelosos comigo depois do que tinha acontecido com o Sr. Lemor.
Outra ovação da TV.
— Que besteira! Foi o outro time, — papai relatou quando reapareceu
na porta da cozinha. — Desculpe, filhinha, o que você estava dizendo?
— Nada, Xavier e eu estamos indo muito bem.
— Bem, fico feliz em ouvir isso, querida, mas gostaria de ouvir um
pouco mais do que 'ótimo'. Você vai se casar por um ano em breve, e eu
mal conheci o cara. Você quase nunca fala sobre ele.
A única desvantagem de ter papai de volta ao normal era que ele estava
de volta ao normal. Ele não perdia um detalhe sequer, como quando
éramos crianças.
— É sério, pai
— Olha, filhinha, você tem estado quieta desde que você chegou aqui.
Há algo de errado? Está tudo bem entre vocês dois?
Eu não sei o que me fez dizer isso. Talvez eu estivesse preocupada em
contar a ele sobre Jacques se continuasse a ser pressionada, ou talvez
tantos meses guardando segredos de meu pai tenham desgastado minha
determinação, mas me peguei dizendo: — Eu disse a Xavier que não quero
ficar casada com ele.
Os olhos do meu pai se arregalaram. — O que ele fez pra você?
— Nada, — eu disse, rapidamente recuando.
— Isso não é verdade, — papai disse, esfregando minhas costas. —
Ninguém quer terminar um casamento por nada.
— Não é tão simples assim.
Papai se encostou no balcão. — Você está falando algo sem sentido. O
que foi, filha?
De repente, eu sabia que era a hora. Eu precisava contar a verdade ao
meu pai. Eu valorizava seu conselho acima de tudo. Ele me apoiou durante
toda a minha vida. Se alguém pudesse me ajudar a resolver as coisas
complicadas que eu estava sentindo por Xavier, seria ele.
— Olha, pai, preciso te contar uma coisa, mas acho que você deveria se
sentar.
— Você está me deixando nervoso aqui, Angie. — Ele riu
desconfortavelmente enquanto eu o levava para o sofá.
— Por favor, deixe-me dizer tudo antes de falar e tente manter a mente
aberta, ok?
Ele assentiu.
— Eu não conheci Xavier em uma loja de bolinhos. Não éramos
perdidamente apaixonados um pelo outro. Os Knights concordaram em
pagar as contas do seu hospital se Xavier e eu nos casássemos.
Pronto. Eu disse. A verdade foi revelada.
Sentindo-me como se tivesse cinco anos de novo e tivesse roubado um
biscoito antes do jantar, mordi minha bochecha e esperei pelo veredito do
meu pai.
— Eu sei.
Eu pisquei. — O quê?
— Eu sei, minha filha.
— Como?
— Em me contou, — papai admitiu.
Meu queixo caiu. — Em fez o quê?
— Olha, não fique brava com sua melhor amiga. — Papai ergueu a mão.
— Ela só estava tentando te proteger. Veio a mim alguns meses atrás. Ela
pensou que talvez eu pudesse te convencer do contrário.
Eu balancei minha cabeça. — Você sabia esse tempo todo e não disse
nada? Achei que você ficaria furioso comigo.
— Oh, eu quebrei umas coisas quando ouvi falar disso pela primeira
vez. Depois de ter tempo para digerir, porém, lembrei-me de como eu criei
você inteligente. Como você fez a coisa certa quando aquele seu chefe
maltratou você.
— E eu sabia que não devia enfiar o nariz em lugares onde não era
bem-vindo. Eu tinha que confiar que você resolveria as coisas por conta
própria. Que você faria a coisa certa. Eu estava errado?
Com lágrimas transbordando de meus olhos, eu balancei minha cabeça.
— Estamos namorando, pai.
— Namorando? Você acabou de me dizer que quer o divórcio!
— Não, não... — Eu funguei. — Pai, acho que...
A porta da frente se abriu e Em, Lucas e Danny entraram.
Eu rapidamente limpei as lágrimas dos meus olhos. Nossa conversa
acabou por ora.
— Como estamos indo? — Danny perguntou.
— O quê? Oh, da última vez que verifiquei, tínhamos quatro de
vantagem, — relatou papai.
Meus irmãos passaram pela cozinha e foram para a sala de estar, onde
os ouvi vaiar na TV.
— O que você achou da sala? — Falei para Em.
— Nah, — ela respondeu, com a voz abafada enquanto puxava o
cachecol. — Muita bagunça.
— Bem, sente-se, — eu disse a ela, colocando minha cabeça no
corredor. — O jantar está quase pronto.
Papai desligou a TV. — Não vejo por que você não pode se casar no
restaurante.
Em mordeu o lábio, fingindo estar ocupada se acomodando em seu
assento.
— É perfeitamente razoável não querer que nossos convidados do
casamento comam com cartazes de Johnny Cash os observando, — Lucas
respondeu, não pela primeira vez hoje.
— Quem não ama Johnny?
Antes que alguém pudesse responder, a campainha tocou.
— Quem poderia ser? — Papai se perguntou enquanto Danny gritava:
— EU ATENDO!
Meu cronômetro apitou e eu voltei para a cozinha para tirar a lasanha e
o pão de alho do forno.
— Filha, — papai chamou. — É para você.
— Pra mim? — Com a lasanha nas mãos, chutei a porta do forno e
voltei para a sala. — Quem está procurando...
Parado diante da porta da frente ao lado de Danny, parecendo tão
surpreso quanto eu devo ter parecido, estava Xavier.
— Angela! — Xavier parecia aliviado. Em menos de cinco passos, ele
cruzou a sala para ficar diante de mim. Houve um momento estranho
enquanto Xavier tentava me cumprimentar, o prato fumegante de lasanha
entre nós.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei quando ele
finalmente se conformou em beijar minha bochecha.
— Você realmente acha que eu te deixaria sozinha durante todo o fim
de semana? — Ele respondeu, exibindo um de seus sorrisos de cem watts.
— Angie? — Papai disse, provavelmente se perguntando se ele
precisava pegar seu taco de beisebol.
Contornei Xavier e coloquei a lasanha na mesa. — Está tudo bem, pai.
Ele ergueu as mãos. — Tudo bem. Nesse caso, posso pegar seu casaco,
bonitão?
— É com você, — murmurei enquanto passava por Xavier no caminho
de volta para a cozinha.
— Oh, sim, obrigado... — Houve uma pausa hesitante enquanto Xavier
provavelmente tentava se lembrar do nome do meu pai.
— Kenneth, — ele finalmente declarou, parecendo um pouco surpreso.
Depois de guardar o casaco, papai disse: — A maioria das pessoas me
chama de Ken.
Xavier riu. — Ken, então. É bom ver você de novo depois de todo esse
tempo.
Papai pigarreou. — Sr. Carson talvez seja melhor.
Peguei o pão de alho do forno e outro par de utensílios incompatíveis
da gaveta, depois fui para a sala de estar para salvar os dois. — Pai, você
vai começar a servir? Aqui, Xavier, você pode se sentar ao meu lado.
— Vou servir, filha. — Papai pegou a espátula que eu deixei na frente de
seu lugar à mesa. — Como você quer, bonitão?
— Como? — Xavier tossiu.
Danny riu. Chutei sua canela por baixo da mesa.
— A lasanha, — disse papai.
Xavier colocou o guardanapo de papel que entreguei a ele em seu colo.
— Eu normalmente os tenho ao dente.
— Temo que você não pode ter tudo, bonitão, — respondeu papai, me
fazendo estremecer.
— Há queijo extra na metade, — expliquei.
Os olhos de Xavier se arregalaram. — Ah. Então, uma quantidade
normal de queijo será suficiente, Sr. Carson.
Papai cortou um pedaço de lasanha e jogou no prato de Xavier.
— Você está de dieta? — Danny perguntou, ganhando outro chute.
Xavier pegou seu garfo. — Não, apenas prefiro provar a qualidade em
vez de ter quantidade.
Papai encolheu os ombros. — Mais pra mim.
Um silêncio constrangedor encheu o ar enquanto papai servia o resto
de nós. Xavier estava lá há menos de cinco minutos e parecia tão
confortável quanto Martha Stewart na prisão.
Depois da conversa que papai e eu tivemos antes da chegada surpresa
de Xavier, eu tinha certeza que a prisão era exatamente onde ele esperava
que meu marido fosse parar.
Lucas pigarreou. — É uma surpresa ver você, Xavier. Angie disse que
você estava trabalhando neste fim de semana.
Eu dei a ele um sorriso agradecido e aceitei a tigela de salada de Em.
— Decidi mudar minha programação. Sei que já estive aqui uma vez,
mas isso foi há quase um ano. Não queria perder a oportunidade de ver
melhor onde Angela cresceu.
Xavier estendeu a mão e apertou meu antebraço. Eu não tinha certeza
se era um gesto afetuoso ou um pedido de ajuda.
— Mudar sua programação? — Danny disse com a boca cheia de pão
de alho. — Eu li no jornal que um de seus hotéis está sendo destruído
neste fim de semana. Isso não soa como algo que você gostaria de perder.
— Bem... — Xavier começou.
Papai o interrompeu. — Destruindo um hotel? Os negócios estão indo
bem, bonitão?
Xavier largou o garfo, a linha de seu ombro ficando rígida. — Não tenho
certeza se agora é realmente o momento apropriado para...
Papai deu um tapinha nas costas dele. — Ah, vamos, somos todos uma
família aqui, certo?
— O hotel está sendo destruído porque compramos todo o quarteirão
ao redor dele. Um novo resort de última geração será construído ao longo
da orla.
Papai assobiou.
Xavier continuou. — Como está indo seu negócio?
Eu mordi meu lábio. Sim, minha família estava sendo um pouco injusta.
Fiquei surpresa com o quão bem Xavier estava aceitando isso, na verdade.
Mas perguntar sobre o restaurante quase falido do meu pai foi um golpe
baixo.
Não tinha certeza se deveria intervir ou se o comentário era merecido.
Xavier sabia que a mesada mensal que ele me deu contribuiu para tirar o
negócio da minha família da sarjeta?
— Excelente! — Danny respondeu um pouco rápido demais.
Papai acenou com a cabeça. — Em e Lu vão se casar lá.
— É uma das nossas opções, pai, — Lucas emendou.
Grata pela mudança de assunto, fui rápida para embarcar.
— Em prefere se casar na cidade, — eu disse a Xavier.
— Um sonho, ao que parece. — Em suspirou. — Você sabe como é em
Nova Iorque. Tudo custa um braço e uma perna.
— Por que você não se casa em um dos hotéis Knight? — Xavier
perguntou.
Engasguei com o gole de água que acabara de tomar. — Xavier, hum...
querido, acho que está um pouco fora da faixa de preço deles.
— Seria por minha conta... nossa. Angela e eu. Pense nisso como um
presente de casamento.
Um calor de agradecimento se espalhou por mim.
Desde quando Xavier fazia coisas boas?
Um desejo repentino de tocá-lo, de agradecê-lo, como eu já tinha visto
casais fazerem dezenas de vezes antes, borbulhou em mim. Xavier e eu
normalmente não nos tocávamos, a não ser quando dançávamos.
Eu podia tocá-lo?
Hesitante, estendi a mão e coloquei dois dedos no joelho de Xavier.
As costas de Xavier se endireitaram com o toque e sua mão encontrou a
minha, entrelaçando nossos dedos. O gesto íntimo me fez corar.
— O que você acha, Lucas? — Em perguntou. Eu podia ver sua
empolgação enquanto prendia a respiração, esperando a resposta do meu
irmão.
Depois de um rápido olhar para nosso pai, Lucas consentiu, dizendo: —
Se isso te agradar.
Em gritou. — Obrigada! Obrigada.
Tomando um gole de sua cerveja, papai bufou. — Isso é muito gentil da
sua parte, bonitão.
Xavier sorriu. — É o mínimo que posso fazer.
— Por que você não me ajuda a limpar, bonitão? — Papai se levantou
da mesa. — Eu quero falar com você por um minuto.
Uma sensação pesada começou a crescer em meu peito e eu pulei de
pé. — Eu vou te ajudar, pai.
— Deixe isso para nós, meninos, filha. Você já cozinhou tudo.
Lentamente, eu deslizei de volta na minha cadeira.
— Tudo bem. Fico feliz em ajudar, — disse Xavier, pegando meu prato.
Não estava convencida de que era uma boa ideia. Tive medo de que, se
deixasse os dois sozinhos, um deles acabasse morto.
Incapaz de detê-los, observei Xavier e papai desaparecerem na cozinha.

Xavier
— Então, Sr. Carson, Angela me disse que você é um ã dos Knicks.
— Sim, — o pai de Angela respondeu. Ele era charmoso... em um estilo
caipira com flanela e espingarda em punho.
Fui até a máquina de lavar louça, com minha mente no passado.
Não pude deixar de me lembrar da primeira vez que visitei a casa de
infância de Angela.
Naquela época, eu apareci com... intenções menos do que ideais.
Eu queria descobrir algo sobre a família que eu pensei que estava atrás
do meu dinheiro — descobrir qualquer sujeira que eu pudesse usar para
destruir Angela e os Carsons.
Não que eu fosse dizer isso a Ken, a menos que eu quisesse morrer
aqui.
Não, desta vez eu estava lá para conhecê-los. Para fazer parte do
mundo de Angela.
Só não estrague tudo, Xavier.
Já fazia muito tempo que eu não brincava de — conhecer a família, — e
os jabs que os irmãos e o pai de Angela estavam jogando em mim eram, no
mínimo, um teste de paciência.
Não tinha pensado muito no que aconteceria quando chegasse lá
depois de receber a mensagem de que Angela estava indo para casa no fim
de semana. Eu simplesmente pulei no carro.
Você está aqui por ela, eu me lembrei, não pela primeira vez, enquanto
colocava minha pilha de pratos sujos na pia.
Arregacei as mangas do meu suéter de cashmere. O único lugar onde
eu seria pego lavando a louça era na casa dos Carson.
— Olha, bonitão, — disse o Sr. Carson, colocando de lado sua própria
pilha de pratos. Ele se virou para mim, com uma carranca em seu rosto
envelhecido. — Não sou um homem de muitas palavras, por isso vou ser
breve. Há apenas uma coisa que eu quero saber e espero que você me
responda honestamente. Tudo bem?
— Tudo bem.
— Você realmente ama minha filha ou não?

Capítulo 19
MINHA
Angela
— Ainda vamos ao Marv's hoje à noite? — Em perguntou, puxando a perna
dela para cima da cadeira. Estávamos planejando ir tomar uns drinques no
único clube da cidade esta noite para comemorar o noivado, só nós,
garotas.
Eu tive um calafrio quando memórias confusas de Xavier me arrastando
para fora de um clube começaram a vir à tona.
— Não tenho certeza se é uma ideia tão boa. Não acho que seja
realmente a praia de Xavier.
— Seu homem não é famoso por festejar? — Danny gritou por cima do
ombro, e então deu um soco no ar quando os Giants marcaram. Danny e
Lucas tinham ligado a TV atrás de nós e estavam gritando com os
jogadores.
— Ele pode ficar aqui e assistir futebol americano com os meninos, —
Em ofereceu.
Eu a observei desenhar um pequeno coração em um pouco de sal que
havia derramado sobre a mesa.
— Não sei.
Nosso sofá xadrez irregular da sala parecia algo que despertaria o mau
humor de Xavier.
Eu não saberia o que fazer se as coisas realmente esquentassem entre
Xavier e minha família. Quem eu escolheria?
No passado, escolheria minha família num piscar de olhos. As coisas
com Xavier estavam tão boas ultimamente, que seria uma vergonha ter
que realmente encerrar as coisas por causa de uma discussão boba.
Em bufou.
— Bem, por que simplesmente não perguntamos a ele, hein? Xavier?!
Nem um segundo depois, Xavier saiu da cozinha, sua expressão estava
em algum lugar entre "Estou com azia" e "Alguém arranhou minha Ferrari".
Ele foi rapidamente seguido por um pai de aparência presunçosa, que tinha
uma cerveja nova na mão.
Opa.
Eu sabia que não deveria ter deixado papai falar com ele sozinho. E se
papai dissesse a Xavier que sabia sobre o acordo? Ou que eu disse a ele
que queria o divórcio? Ou perguntou a Xavier o que ele fez para me
machucar?
— O que há de errado? — Xavier me perguntou, em vez de Em.
Em não pareceu notar.
— Angie e eu vamos sair para nos divertir hoje à noite. Você quer ir
junto ou ficar aqui e assistir ao jogo com os meninos?
A expressão de Xavier escureceu por um instante antes de seu sorriso
de sempre iluminar seu rosto.
— Sair parece uma ótima ideia. Na verdade, por que não vamos todos?
Danny ergueu a mão.
— Prefiro ficar aqui com o papai.
— Um encontro duplo, então? — Xavier sugeriu, olhando para mim,
Lucas e Em.
— Sério? — Eu soltei enquanto Em batia palmas e dizia: — Ótimo!
Xavier pescou as chaves do carro do bolso.
— Vão se preparar, garotas, e eu vou pegar minhas coisas do carro.

Xavier
— Você realmente ama minha filha ou não?
Foi uma boa pergunta. Uma que qualquer bom pai faria antes de um
casamento. Claro, o velho estava no hospital, mas ele poderia ter enviado
um dos irmãos de Angela para me examinar.
Não, em vez disso ele deixou sua filha se casar comigo, e agora ele teve
a audácia de perguntar se eu amava minha esposa ou não.
Com a mala Louis Vuitton na mão, fechei o porta-malas com força
demais.
Agora, além de tudo, Angela queria sair. Para a porra de um clube.
Esse era o último lugar que eu queria ir. Especialmente aqui no meio do
nada. Mas havia apenas um lugar onde eu queria ficar ainda menos, e era
dentro daquela casa.
Eu já estava esperando aqui por dez minutos, porém não podia deixála
sair sozinha. Eu não a perderia de vista. Se eu fizesse, outro homem
poderia...
Soltei um suspiro, fazendo uma grande baforada de vapor flutuar no ar
frio como se eu tivesse fumado um charuto.
Quando a necessidade iminente de socar algo diminuiu, subi os degraus
da frente e entrei pela porta destrancada.
Merda.
Minha bolsa escorregou dos meus dedos e caiu com um baque no
tapete felpudo.
Angela estava parada na base da escada, usando o vestido vermelho
mais curto e justo que eu já a tinha visto usar, curvando-se para amarrar os
saltos.
A porta se fechou atrás de mim, fazendo-a se levantar.
— Como estou? — Ela girou em um círculo, com seus olhos grandes
piscando para mim.
Lentamente, corri meus olhos por seu corpo.
Como se você quisesse ser comida. Troque de roupa agora.
As palavras estavam na ponta da minha língua. Então, com o canto dos
olhos, vi Ken.
E, em vez disso, engoli e dei um passo em direção a Angela, colocando
minhas mãos em seus quadris.
— Bela.
Incapaz de evitar, puxei seu corpo apertado contra o meu. Ela soltou um
pequeno suspiro que fez meu pau doer.
Eu tinha razão.
Esta noite seria terrível.

Vinte minutos depois, estávamos no Marv’s.


Visto de fora, parecia uma prisão, um prédio baixo e atarracado feito de
lajes de concreto com um segurança obeso verificando as identidades na
frente.
Por dentro não era muito melhor, uma sala que fedia a mijo e cerveja
velha com uma luz estroboscópica no centro.
O plano, meu plano, — quando chegamos era assumir uma das cabines
de vinil pegajoso, beber um copo de uísque aguado com Angela no meu
colo, e então dar o fora do lugar.
Em vez disso, Em tinha arrancado Angela do meu braço no segundo em
que entramos e gritou com um garçom que passava por tequila.
— Onde elas estão indo? — Eu tive que gritar por cima da música
eletrônica alta para que Lucas pudesse me ouvir.
Ele deu de ombros, passando por mim na direção do bar.
— Provavelmente dançar.
Sem outra escolha, mergulhei na pista com jovens de espinhas na cara e
mães solteiras.
Eu precisava encontrar Angela. Agora.
No instante em que pisei na pista de dança, uma mulher com grossos
cachos negros se jogou em mim e começou a mexer sua bunda contra
minha virilha. Reflexivamente, agarrei seus quadris e, com a mesma
rapidez, a empurrei de lado.
Ela agarrou minha mão, girou para me encarar e colocou os braços em
volta do meu pescoço.
Estávamos tão perto que pude ver seus cílios grossos agrupados com
pedaços de rímel barato.
— O que há de errado, gostosão? Não quer dançar? — ela ronronou.
— Não com você.
Eu me desvencilhei, apenas para encontrar em um bando de garotos de
fraternidade vestindo camisas de time. Eles estavam entoando algum tipo
de grito de vitória enquanto dois de seus compadres bebiam cerveja no
centro do grupo.
Finalmente, quando passei por eles, avistei rapidamente um cabelo
loiro.
Lá estava ela, girando em círculos com Em, bem sob a porra da luz
estroboscópica.
— Angela, — eu falei, passando meus braços em volta de sua cintura.
Ela se mexeu contra o meu aperto e riu.
— Xavier!
Eu a girei para me encarar, observando suas bochechas coradas e olhos
vidrados.
Angela colocou os braços no meu ombro e deslizou uma de suas longas
pernas por fora da minha.
— Dance comigo.
Envolvendo minha mão em sua coxa, gritei de volta: — Quantos shots
você tomou?
Ela bateu no queixo com o dedo indicador.
— Dois? Quatro? Dez?
— Dez?!
— TRÊS! — Em falou do nosso lado. Ela jogou as mãos para o alto e
deslizou contra Lucas, que havia aparecido com uma cerveja na mão.
Angela apontou para Em.
— É isso! Ela está certa. Foram três.
Dobrando meus joelhos, eu peguei a outra perna de Angela, pegandoa
como uma noiva.
— Vamos pegar um pouco de água.
— Eu posso andar sozinha! — ela insistiu, mexendo-se novamente
enquanto eu desviava para o bar. Seu sapato tinha um papel higiênico
grudado quando passamos.
— Eu sei, meu anjo, mas eu gosto de carregar você.
— Isso é gentil. Você tem sido tããão legal ultimamente. Você sabe
disso?
— Você é sempre legal.
— Muito bom, — ela concordou solenemente.
Sentando Angela em uma banqueta, acenei para um dos bartenders.
Um cara alto e magro com um fiapo de uma barba ruiva apareceu. Ele
devia ser apenas alguns anos mais novo do que eu, mas claramente tinha
ido muito menos longe na vida, se sua camiseta do Iron Maiden fosse um
indicador.
— O que você quer?
— Imagino que você não tenha o Glenfiddich 1937?
Entendi seu olhar vazio como um não.
— Apenas me dê a coisa mais forte que você tem e um copo d'água.
Quando me virei, encontrei o segundo barman entregando a Angela o
que parecia um Jack Daniels com Coca.
— Que porra é essa? — Eu gritei.
— Uau, cara. — O filho da puta com cavanhaque jogou as mãos para o
alto. — Fica tranquilo.
Angela agarrou meu bíceps.
— Por favor, não fale assim com Bob.
— Você não consegue ver o quanto ela bebeu? — Eu disse, pegando o
copo que ele colocou de Angela em meu punho.
O barman, aparentemente Bob, acenou com a mão para cima e para
baixo.
— Ela parece ótima para mim.
Antes que eu pudesse pensar duas vezes, todo o conteúdo do drink,
incluindo o copo, voou em direção ao peito do barman.
O Sr. Cavanhaque gritou uma série de palavrões enquanto eu jogava
Angela por cima do ombro.
Ela bateu seus pequenos punhos nas minhas costas.
— Ponha-me no chão!
— Estamos saindo, — eu gritei enquanto nos dirigíamos para os
meninos da fraternidade. Eles me deram um sinal de positivo quando
eu passei, por ter uma garota em cima do meu ombro ou por ter
encharcado o barman, eu não tinha certeza. Não importava. Eu só
precisava sair da porra do clube.
— Xa-vier! — Angela balbuciou quando saímos para a rua. — Ponhame
no chão!
Assim eu fiz. Eu a deixei deslizar pelo meu corpo e, uma vez que ela
parou de balançar nos calcanhares, dei um passo para longe. Então outro.
Corri minhas mãos pelo meu cabelo.
— Que raios foi aquilo? — Angela colocou as mãos nos quadris. Se a
última vez que eu a vi bêbada foi algo inesquecível, o álcool fluindo em
suas veias agora a estava deixando mal-humorada.
Isso era perigoso agora, quando eu estava procurando uma briga.
— Você me diz, — eu rosnei.
Ela se aproximou de mim.
— Eu conheço Bob desde o jardim de infância. Ele estava sendo
amigável.
— Sim, vocês dois pareciam realmente amigáveis! Devo arrumar um
quarto para você esta noite?
— Por que você sempre faz isso?
— O quê?
Angela jogou as mãos para o alto.
— Isso! Agir como um idiota possessivo sempre que sairmos para algum
lugar. Sempre que outro homem diz oi para mim. É sempre assim quando
qualquer homem olha na minha direção. Todo o fogo em mim de repente
desapareceu.
— Angela, eu... sinto muito.
— O que disse? — Suas sobrancelhas se ergueram.
Eu ri baixinho e dei um passo em sua direção.
— Eu merecia isso.
Tomando-a em meus braços, recomecei.
— Sinto muito, Angela. Eu sei que posso ser um cuzão às vezes, mas...
minha ex me deixou pelo meu melhor amigo. Eu não posso... eu não
posso fazer isso de novo. A ideia de outro homem te tocando me deixa
louco.
— Estou bem aqui, Xavier. Eu não vou a lugar nenhum, — Angela
sussurrou e então pressionou seus lábios nos meus.
Eu congelei, como um adolescente que nunca tinha sido beijado antes,
em pânico.
Que porra é essa?
Eu já tinha sido beijado antes. Eu beijei centenas de mulheres.
Esta não era apenas outra mulher.
Foi Angela.
Angela, que não conseguia nem dizer a palavra "beijo" sem gaguejar ou
corar, muito menos iniciar um.
No entanto, ali estava ela.
Ali estava ela.
Consegui mover meus lábios e enrolar meus dedos em seu cabelo
dourado espesso.
Nós nunca tínhamos nos beijado antes, não de verdade, o que era uma
pena, porque não foi como nenhum beijo que eu já tive.
Quando nossos lábios se separaram e nós olhamos sem fôlego nos
olhos um do outro, eu me peguei esperando que não fosse o último.

Capítulo 20
Lembretes
Angela
Com um gemido, pressionei minhas mãos em meus olhos.
Minha cabeça latejava, minha boca tinha um gosto estranho e meu
estômago estava embrulhado.
O que diabos aconteceu na noite passada?
Houve uma leve batida na porta.
— Sim?
Xavier entrou na sala, com um copo de água em uma mão e um grande
sorriso no rosto.
— Bom Dia.
Eu apertei os olhos contra a luz que se filtrava pela árvore em frente de
casa. Estávamos no quarto da minha infância. Adesivos com estrelas foram
colados no teto. E luzes cintilantes foram enroladas em colunas de
madeira.
Esse não era um lugar para Xavier, não com seus ombros largos em sua
camiseta apertada de dez mil.
— Bom Dia. — Eu me inclinei para um lado da cama e puxei meus
lençóis de bolinhas até o queixo.
Xavier se sentou na beira do colchão, fazendo as molas rangerem. Ele
me entregou o copo d'água e uma aspirina.
Grata, engoli a pílula e coloquei o copo na mesa de cabeceira.
— O que aconteceu ontem à noite?
Um brilho acendeu nos olhos de Xavier.
— Você não se lembra?
— Nada depois da terceira dose de tequila, — eu admiti.
A expressão de Xavier se desfez.
— Mesmo? Nada mesmo?
— Não, por quê? Aconteceu alguma coisa? — Minha frequência
cardíaca aumentou um pouco, com o latejar na minha cabeça ficando mais
alto. Alguém se machucou?
— Foi a nossa primeira vez, — disse Xavier, pegando minhas mãos nas
suas.
Meu estômago embrulhou.
— Você não quer dizer...?
Xavier acenou com a cabeça.
— Eu não posso acreditar que você não se lembra disso. Quer dizer, não
foi exatamente do jeito que eu pensei que seria, mas do jeito que você se
jogou em mim, eu não pude resistir.
Xavier e eu transamos ontem à noite?
Não, não pode ser. Não era possível, mas o jeito que ele estava sorrindo
para mim...
Eu não conseguia respirar.
Lágrimas encheram meus olhos.
— Por favor, me diga que você está brincando.
— Ei, ei, shh, — Xavier silenciou, enxugando minhas lágrimas com os
polegares. — Estou brincando um pouco. Foi só um beijo. Eu prometo que
teremos mais.
Eu solucei.
— Um beijo?
— Sim. — Xavier franziu a testa. — O que você achou que eu quis dizer?
Que dormimos juntos?
— Sim!
— Na casa do seu pai? Com seu irmão dormindo a menos de um metro
e meio de distância? Enquanto você estava bêbada?
Puxei os lençóis mais para cima, cobrindo meu rosto.
— Foi você quem disse que era 'nossa primeira vez'.
— Ei, — disse Xavier, puxando os lençóis de volta para baixo. Ele
procurou meu rosto com cuidado, como se estivesse tentando
encontrar algo. — Angela, você é virgem?
Hesitei, não tendo certeza se estava pronta para compartilhar algo tão
privado com ele, e então assenti lentamente uma vez.
Xavier me pegou em seus braços fortes, me segurando perto de seu
peito.
— Nunca pense que eu tiraria isso de você. Entendeu? Não, a menos
que você queira. A não ser que você peça que o faça.
— Ok, — eu respirei em seu pescoço.
Ele se afastou um pouco, observando meus olhos marejados e minhas
bochechas manchadas de água.
— OK?
— Entendi.
— Bom. — Xavier sorriu. — E, querida, a primeira vez que fizermos
sexo, você pode ter certeza de que nunca vai esquecer.
Eu poderia ter derretido. Ali. Poderia desaparecer em meu lençol.
Porém, havia mais uma questão importante.
— Você está com raiva de mim por esquecer nosso primeiro beijo de
verdade?
Em resposta, Xavier se aproximou e beijou o canto da minha boca e
depois o centro.
— Não, — respondeu ele, com a voz grave, enquanto minha cabeça
girava, — porque posso lembrá-la disso quantas vezes você quiser.
Dustin: Ei, amiga.

Dustin: Eu tenho uma surpresa pra


voc êêêê .
Dustin: Sua OBRA-PRIMA est á quase
pronta.

Angela: Estou t ã o animada!

Dustin: Voc ê pode passar pelo meu est ú dio


hoje se quiser.

Dustin: Estou ANSIOSO pra voc ê ver.

Angela: Voltando para a cidade com Xavier


agora.

Angela: Posso aparecer esta tarde, est á


tudo bem?

Dustin: Ohhhh, um fim de semana quente


fora?

Angela: Dif í cil. Eu vou te informar mais


tarde.
Dustin: Com certeza.

Dustin: At é mais tarde, baby.

Xavier me deixou fora do estúdio de Dustin e me deu um beijo de


despedida. Ele estava indo para casa para conseguir adiantar algum
trabalho de última hora antes de segunda-feira.
Lucille estava de folga, já que nós dois estávamos fora, então planejei
comprar alguns mantimentos no caminho para casa e fazer o jantar para
Xavier. Eu deveria ter contado a Xavier sobre as mensagens de Jacques no
caminho de volta para a cidade, mas não tive coragem. Eu não queria
estragar essa nova frágil coisa entre nós.
Isso poderia esperar até hoje à noite, depois da sobremesa.
— Olá? — Chamei, abrindo a porta deslizante do estúdio de Dustin. Na
verdade, era um loft apertado em uma igreja reformada no Brooklyn.
Eu estive aqui apenas uma vez antes, na época de sua exposição.
Quando entrei na sala, como chão manchado de tinta, as janelas enormes
e o cheiro úmido de tinta secando me acalmaram como da primeira vez.
— Na hora certa! — Dustin disse, saindo de trás de um cavalete. Ele
estava descalço e usava um avental sujo. — Sente-se.
Com cuidado para não empurrar as telas empilhadas ao longo das
paredes, fui até o sofá e me sentei nas almofadas cheias, enviando
partículas de poeira pelos raios de sol da tarde.
— Conte-me sobre o seu fim de semana. Eu só preciso de um segundo
para terminar isso, — Dustin murmurou, franzindo a testa para a pintura à
sua frente.
— Foi... ótimo, — eu disse a ele, sabendo que estava sorrindo muito.
— Excelente?
— Nós nos beijamos.
— Estava na hora! Se você esperasse mais, eu iria na frente. Como foi?
Ele é bom com a língua? Aposto que ele é um mordedor, — Dustin divagou
com entusiasmo, flutuando de um pensamento para outro.
— Não sei se devo dizer, — admiti, fazendo Dustin revirar os olhos.
— Garota, por favor. Você sabe que não vou dizer nada. Ninguém
acreditaria em mim de qualquer maneira. Além disso, se eu fosse contar
qualquer coisa para aquela moça na Fox, esperaria por algo melhor do que
um simples beijo. Sem ofensa.
— Não ofendeu.
Dustin acenou para mim.
— Esqueça isso por enquanto e venha conferir isso.
Mandando mais poeira para voar enquanto eu me levantava, contornei
os tubos de tinta descartados e pincéis ao seu lado.
— Oh, uau.
Eu não pude evitar um suspiro quando olhei para a pintura diante de
mim. A tela era tão alta quanto eu, com tons de cinza e azuis escuros, com
detalhes de ouro e vermelho. No centro, havia duas figuras.
O primeiro era um anjo, com longos cabelos dourados que caíam sobre
asas com penas. Ela parecia serena, majestosa, envolta em seu brilhante
vestido de marfim.
Ela estendia a mão para a segunda figura — um cavaleiro das trevas.
Com a cabeça baixa, ele se ajoelhava aos pés do anjo, com seu escudo
manchado de sangue e espada jogados atrás dele.
— É lindo, — eu respirei, incapaz de encontrar qualquer outra palavra.
— Não é? — Dustin soltou. — Estou tão feliz que você gostou. Você
ainda não me mostrou todo o seu apartamento, então não tenho certeza
de onde vai colocá-lo. Acho que deve haver algum lugar naquela sua
cobertura.
— Eu sei exatamente o lugar, — eu prometi. — Muito obrigado, Dustin,
de verdade.
— Não me agradeça ainda. Eu tenho que ficar com ele só mais um
pouco. Mandarei entregá-lo em sua casa o mais rápido possível.
Depois de sair do estúdio de Dustin, passei pela Whole Foods e peguei os
ingredientes de que precisava para o jantar.
Queria fazer uma torta, usando a receita que minha mãe me ensinou
quando eu era pequena. Hoje parecia que precisava de algo especial.
Peguei alguns petiscos extras também, alguns dos favoritos de Em
seriam estocados para quando ela viesse planejar mais o casamento.
Eu teria que convidar Dustin da próxima vez também, e então ele
poderia ver seu quadro pendurado no apartamento.
Peguei um táxi com minhas sacolas de supermercado, para que Marco
não precisasse dirigir pela cidade, e fui para casa.
Finalmente, as coisas pareciam fáceis, certas. Descobri, talvez pela
primeira vez na vida, que estava animada para voltar para o nosso
apartamento. O sentimento era estranho para mim depois de meses
temendo o enorme espaço em branco, e eu não tinha certeza do que fazer
com ele. Devia ser bom demais para ser verdade.
Eu praticamente saltei do saguão para o elevador quando chegou.
Xavier estava lá. Eu poderia dar um beijo de alô nele.
Quando o elevador diminuiu até parar no último andar, pensei ter
ouvido os sons abafados de homens rindo e franzi a testa.
Xavier disse que tinha trabalho a fazer, então por que parecia que
estava acontecendo uma festa?
As portas se abriram e eu saí para a sala de estar quando outra rodada
de risadas irrompeu.
O ar estava pesado com a fumaça, e o cheiro forte de bebida fez meu
estômago, ainda sensível, revirar.
— Xavier?
Sem resposta.
Segui os sons até a sala de estar para encontrar cinco homens, em
roupas igualmente chiques, recostados no sofá e nas cadeiras.
— Angela. — Xavier sorriu, pulando da chaise longue.
Ele pegou as sacolas de compras de mim e jogou o braço sobre meus
ombros.
— Senhores, para aqueles que ainda não a conhecem, esta criatura
incrivelmente bela é minha esposa!
Os homens gritaram e aplaudiram quando Xavier me deu um beijo
desleixado.
— Sinto muito pela surpresa, Angela, — disse Xavier, apenas para mim.
— Eu adiei minha reunião com esses caras ontem para que eu pudesse
passar o fim de semana com você. Achei que o mínimo que poderia fazer
era convidá-los para que pudéssemos fazer negócios com uma bebida
adequada.
— Sem problemas, — eu disse a ele. — Devo fazer alguns lanches?
— Isso seria maravilhoso!
Xavier beijou minha bochecha novamente e depois se juntou aos
homens.
Eu estava prestes a ir para a cozinha quando meu sangue gelou.
Porque ali, sentado na última poltrona do sofá, uísque na mão, estava
Jacques.
E ele estava olhando diretamente para mim.

Capítulo 21
Histórias de Guerra
Angela
Minhas mãos tremiam muito para cortar vegetais para o crudités. Em vez
disso, enchi as tigelas com batatas fritas e coloquei biscoitos e queijo nos
pratos. Cada movimento parecia rígido e automático, como se eu tivesse
me transformado em uma esposa robô dos anos 1950.
Jacques está aqui. Jacques está aqui. Jacques está aqui.
O pensamento me acertava com as batidas de meu coração. Meu
abusador está na minha sala de estar.
Eu deveria ter contado a alguém imediatamente. Se não Xavier, então
Brad. Brad, que foi tão incrível da última vez que um homem me perseguiu.
Talvez se eu dissesse algo agora — mesmo que os outros homens, ou
meu marido, não acreditassem em mim — isso pudesse fazer Jacques ir
embora, fazê-lo fugir de mim.
Tentando puxar a tampa de um recipiente com molho, sibilei quando
cortei meu dedo. O sangue escorria da superfície da ferida. Enfiei o dedo
na boca e chupei o sangue.
— Precisa de ajuda com isso?
Eu dei um salto, com o coração martelando, e voltei para a geladeira.
Xavier. É apenas Xavier.
Sua sobrancelha franziu e ele deu um passo mais perto.
— Está tudo bem?
Está... agora é minha chance.
Só que as palavras não se formavam. Em vez disso, uma centena de
pensamentos de Xavier atacaram minha mente.
Xavier me proibindo de estar perto de outros homens.
Xavier chutando Dustin para fora da cobertura.
Xavier jogando uma bebida em Bob.
— A ideia de outro homem tocar em você me deixa louco...
Se ele soubesse o que Jacques fez, que ele me tocou, de que lado ele
estaria? Seria Jacques quem receberia a ira de Xavier ou eu?
Eu me encontrei confirmando com a cabeça.
— S-sim, é claro. Você pode... você pode deixar as batatas. Eu vou atrás
de você com o resto.
Xavier pegou as tigelas cheias.
— Você vai se sentar com a gente? Vou te servir uma taça de vinho.
Ele não esperou pela minha resposta. Por que ele iria? Eu não tinha
aonde ir. Nada a fazer além de gastar seu dinheiro e sentar ao seu lado e
brincar de casinha.
Eu engoli a bile na minha garganta. Abri o molho. Peguei as travessas
restantes.
E fui atrás dele.
Sempre atrás dele.
Os homens aplaudiram quando eu apareci com mais comida.
— Pegue isso da Angela, pode ser, Charlie? — Xavier chamou do bar.
Um homem careca em um colete de suéter azul — Charlie — se
levantou e pegou os pratos de queijo e biscoitos de mim.
Tentei agradecê-lo, mas não consegui, então passei meus braços em
volta de mim. Se eu segurasse com força, talvez o tremor parasse. Talvez eu
me sinta mais inteira.
Xavier saiu do bar para reocupar seu lugar na chaise longue e estendeu
o braço para mim. Juntei-me a ele, mas sentei-me na extremidade oposta
da espreguiçadeira, fora de alcance.
Ele ofereceu uma taça de vinho e eu neguei. Xavier tomou um longo
gole do copo e se aproximou um pouco mais de mim para que pudesse
colocar a mão livre no meu joelho.
Eu vacilei, ganhando um olhar de soslaio.
Algo que um dos homens disse o distraiu antes que ele pudesse fazer
um comentário.
Estando o mais imóvel possível, invisível, tentei ouvir, apenas tentei não
estar aqui.
— Minha esposa me mataria se eu ficasse longe por mais de uma
semana, — disse o homem bem na minha frente. Acho que ouvi um dos
homens chamá-lo de Carlos.
— Isso é porque você tem que treiná-la direito, — respondeu o homem
ao lado dele. — Eu apenas mando a minha para o spa quando preciso de
um tempo sozinho.
— Vá se ferrar, Jim, — respondeu Carlos, pegando um punhado de
batatas fritas. — Sua esposa estava no fim de semana de meninos da Praxel
Inc. no ano passado.
— Tinha um spa no resort, não tinha?
Eles começaram a rir novamente.
De repente, senti o peso de um olhar sobre mim e os pelos da minha
nuca se arrepiaram.

Xavier
Angela estava branca ao meu lado. Ela era pálida normalmente, mas isso
era diferente, mais fantasmagórico, como se todo o sangue tivesse sido
drenado dela.
Algo parecia errado, mas ela insistiu que estava bem. Talvez sua ressaca
estivesse demorando um pouco mais do que o normal para sumir.
Tomei um gole de Shiraz, saboreando o caramelo.
Como esperado, a visita dos meninos mudou de negócios para lazer. Em
nossos círculos sociais, às vezes era difícil distinguir entre os dois.
Normalmente, eu estaria lá com eles, trocando histórias de guerra. Esta
noite, por algum motivo, suas histórias de conquista não soaram tão
engraçadas.
Eu esperava que Angela na sala os fizesse mudar de assunto, mas
parecia que eles beberam Manhattans demais para se importar.
— Acho que Jacques é quem tem o melhor plano, — brincou Paul. —
Deixa sua senhora aqui enquanto ele corre pela Europa. Como isso
funciona?
Ouvi Angela inspirar rapidamente ao meu lado, então deslizei para mais
perto dela.
É o assunto que a está incomodando?
Pelo menos ela me deixaria tocá-la agora. É
algo que eu disse?
Eu olhei para Paul.
— Mas essa não é bem a história verdadeira. Ele foi porque Penny deu
um fora nele. — Eu ri e os meninos concordaram.
Mas quando olhei para Jacques, ele não estava sorrindo junto com o
resto de nós.
— Eu cutuquei a ferida? — Eu provoquei. — Vamos, amigo, estamos
apenas brincando com você.
Jacques abriu um sorriso, mas não chegou aos seus olhos.
— Penny está apenas se fazendo de difícil, — ele disse. — Ninguém diz
não para mim.
Angela enrijeceu ao meu lado e eu lancei a ela outro olhar
questionador. Ela não encontrou meu olhar.
— Você está bem? — Eu sussurrei para ela.
— Hum...
— Vamos, — Jim gemeu, interrompendo Angela. — Qual é o seu
segredo? Claro, ela terminou com você, mas eu vi o jeito que ela estava
pendurada em seu braço, Jacques. Essa garota quer você dentro dela.
— Eu sou um amante latino bonito, — Carlos interrompeu, — e eu
ainda teria minhas bolas arrancadas se eu não visse minha garota por um
mês.
Jacques tomou um gole de seu uísque e olhou para mim por um breve
momento antes de se virar para Carlos.
— Nós dois somos solteiros. Tenho certeza que ela vê outros homens, e
eu vejo outras mulheres. Basta ter um pouco de mente aberta.
Eu engoli em seco. Ele sabe que eu dormi com Penny?
Se ele sabia, não soou como se ele se importasse.
Minha mão apertou meu copo. A coitada merece mais do que isso.
Espere.
De onde diabos saiu isso? Desde quando eu me importo com coisas tão
triviais como transar?
Jim riu.
— Sim, todas elas dizem que têm a mente aberta até descobrirem que
você tem algo a mais. Então elas enlouquecem! Aposto que foi assim que
Jacques conseguiu aquela cicatriz no pescoço. Penny o surpreendeu
montando uma prostituta e o atacou por trás.
Eu cerrei meus dentes, tentando não dizer algo de que me
arrependeria. Normalmente, eu riria de um comentário como esse, mas
algo no tom de Jacques me arrepiou.
— Quase certo. — Jacques girou o licor âmbar em seu copo. — Eu
ganhei isso de uma mulher em Paris. — Angela choramingou e eu estendi a
mão para colocá-la ao meu lado. Ela encolheu os ombros e tirou meu braço
dela. Ela tremia como uma folha ao meu lado.
Como um cachorro que foi chutado muitas vezes. Todo
o progresso por água abaixo.
Os outros caras ficaram em silêncio, esperando que Jacques
continuasse sua história.
Ele torceu o lábio, os olhos brilhando em minha direção novamente.
— Foi em um baile. Uma mulher... ela era pequena e loira com seios
grandes. A... como você diz? Uma mulher que dá corda. A noite toda. Ela
me queria. O que eu poderia fazer?
— Você está zoando, — disse Paul. — Coisas assim não acontecem na
vida real.
Eu apertei minha mandíbula.
Jacques continuou.
— Fomos para uma sala privada. Ela arrancou minhas roupas. Pediume
para dizer que ela era linda.
— Então? — Carlos perguntou.
— Eu não poderia mentir. — Jacques encolheu os ombros. — Eu disse a
ela que não era verdade. Então ela me golpeou com o sapato.
Os caras começaram a rir quando ouvi Angela murmurar:
— Com licença. Ela deu um pulo e correu pelo corredor.
— Ao sexo frágil. — Paul ergueu o copo.

Angela
Tudo o que tinha em meu estômago foi parar no banheiro.
Eu cuspi, de maneira muito desagradável, na privada antes de dar
descarga.
Com a bochecha apoiada na porcelana fria, diminui a respiração.
Jacques estava falando sobre mim. Eu tinha certeza disso. Os detalhes
podem ter sido distorcidos a seu favor, mas eu sabia que era eu. Para ele,
eu era apenas mais uma garota. Eu queria, estava pedindo por isso.
Xavier falou da mulher com quem ele dormiu assim. Eu o ouvi
menosprezá-las e ouvi-o chutá-las para fora de casa depois que ele já não
queria mais.
Ele pensava em mim como Jacques pensava? Como uma conquista?
Como um prêmio?
Eu não tinha certeza do que era pior: ser seu brinquedo ou a escória
sob o sapato.
A sala estava encolhendo, toda a cobertura ficando menor.
Eu não estava segura em lugar nenhum. Não em Nova Iorque. Não em
Paris. Nem mesmo em minha própria casa.
Eu era casada com um dos homens mais poderosos do país e ainda era
caçada.
Eu ainda não estava segura.

Xavier
— Foi algo que eu disse? — Jacques perguntou quando a porta do quarto
se fechou atrás de Angela.
Todos os caras olharam para mim com os olhos arregalados.
— Ela está menstruada, — murmurei distraidamente, apenas para fazê-
los calar a boca, e ganhei um coro de sons simpáticos.
Definitivamente, algo estava errado com Angela. Ela passou pelo
inferno nos últimos meses, principalmente nas minhas mãos, e eu nunca a
vi reagir assim.
Tive o desejo repentino de ir até ela, ajudá-la.
Eu só tinha que tirar esses filhos da puta da minha casa primeiro.
— Tudo bem, meninos. A festa acabou, — eu declarei e bebi o resto do
vinho.
Meus colegas me olharam perplexos.
— Vocês me ouviram. Eu tenho coisas pra fazer.
Todos eles resmungaram, mas se levantaram, tontos demais para dar a
mínima para minhas maneiras.
Eu disse um "bom te ver" enquanto eles vestiam suas jaquetas, só para
me redimir de alguma forma.
Jacques parou em frente ao elevador, deixando a porta fechar com o
resto dos homens dentro.
— Espero que sua esposa esteja bem.
Pressionei o botão para chamar o elevador. Apertei novamente.
— Eu também.
— Por favor, dê a ela meus cumprimentos. Espero ter a chance de vêla
novamente em breve.
— Podemos ligar e marcar algo. — Onde diabos está o elevador?
Eu não ouvi sua resposta ou as palavras que ele falou depois disso. Eu
estava muito focado em chegar até Angela.
Finalmente, as portas do elevador se abriram novamente. Jacques
sorriu e deu um tapinha no meu braço enquanto entrava.
— Se não, guardarei a memória da festa de gala do ano passado!
No segundo em que ele desapareceu, girei nos calcanhares, indo para
os quartos. Eu estava na frente da porta de Angela, com a mão na
maçaneta, quando as palavras de Jacques finalmente me atravessaram.
Gala do ano passado?
O que diabos isso queria dizer? Jacques e Angela se conheceram na
festa de gala?
Um pensamento repentino me ocorreu, fazendo minha mão apertar a
maçaneta.
Certamente, Angela não era a garota loira de sua história. Minha noiva
virgem não poderia ser a prostituta devassa que ele descreveu, não é?
Um calor familiar passou por mim e abri a porta do quarto.
— Angela?
Capítulo 22
Ferida
Angela
Eu consegui rastejar do banheiro e subir na minha cama. Em posição fetal,
sob o enorme edredom fofo, eu me senti como se tivesse sido engolida.
Eu não conseguia respirar, não conseguia me mover. Eu me senti em
carne viva, como se tivesse sido aberta e deixada para os pássaros me
rasgarem em pedaços. Como isso pode estar acontecendo de novo?
Talvez eu precisasse me mudar para casa definitivamente desta vez.
Arrume um emprego na oficina mecânica da cidade. Ajude a cuidar do
papai. Fique fora de vista.
Valeria a pena desistir de meus sonhos por um pouco de paz e sossego?
Não é como se eu os estivesse vivendo agora.
— Angela? — Xavier chamou, batendo à porta do meu quarto.
Eu estremeci, me encolhendo mais em minha posição, esperando seu
ataque verbal.
O edredom foi jogado para trás. Xavier elevou-se sobre mim, o peito
arfando.
— Sua menti... — ele rangeu e então parou.
Uma nova onda de pânico cresceu dentro de mim quando seu olhar
escuro percorreu meu corpo, observando a posição fetal que eu estava
deitada e minhas bochechas manchadas de lágrimas.
Então algo mudou.
A testa de Xavier franziu e sua respiração desacelerou.
Ele se arrastou para a cama ao meu lado, apertando-me contra seu
peito e puxando as cobertas sobre nós.
Eu congelei quando ele se acomodou atrás de mim, me apertou mais
perto e deu o mais leve dos beijos na minha bochecha.
— O que está machucando você, meu anjo? — Eu podia sentir suas
palavras reverberando em seu peito contra minhas costas.
Eu balancei minha cabeça, e minha voz, quando falei, soou seca.
— Eu não acho que posso te dizer.
Estou com medo de te dizer.
Xavier murmurou. Seus dedos começaram a traçar pequenos círculos
em meu quadril. Não havia nada exigente no toque, nada sexual.
Uma espécie de calma começou a tomar conta de mim, originando-se
daquele ponto e se espalhando para fora.
Ele suspirou.
— Já que você não quer falar comigo, você iria comigo a um lugar?
Pensei por um momento, esperando que o terror surgisse e me
agarrasse de novo, mas não veio.
Se Xavier quisesse ter a sua chance comigo, ele não perderia tempo me
levando em público primeiro. Havia testemunhas lá. Se Xavier odiava algo
mais do que eu, era eu estragando sua imagem pública.
Eu acenei com minha cabeça uma vez.
— Você pode andar?
Eu confirmei, embora não tivesse certeza se era verdade, se minhas
pernas seriam fortes o suficiente para me segurar.
— Vou buscar nossos casacos, — ele disse. — Espere aqui.

Xavier me levou ao Central Park. Caminhamos pelas trilhas sinuosas,


subindo e contornando o Castelo de Belvedere, passando pelo lago. As
passarelas e os campos, que fervilhavam de gente no verão, estavam vazios
agora.
Puxei meu cachecol sobre meu nariz frio e respirei fundo o ar gélido.
Parecia um pouco mais fácil respirar aqui enquanto caminhávamos.
O ritmo de Xavier começou a diminuir. Olhei em volta, tentando me
orientar, e percebi que estávamos no caminho que eu costumava tomar
quando voltava da loja de Em para casa.
Havia algo mais que parecia especial naquele lugar. Mas eu não
consegui me lembrar.
Ele me puxou para um banco que ficava de frente para um lago com um
antigo salgueiro à sua margem. Ficamos sentados, olhando para a água
congelada, para o pôr do sol pintando sua superfície gélida com tons roxos
e dourados.
— Eu venho aqui para pensar, — Xavier começou. — Para limpar minha
cabeça.
Ele soltou um suspiro, fazendo o vapor sair de sua boca como a de um
dragão.
— Papai me disse que foi aqui que ele conheceu você.
É por isso que este local parece tão familiar.
— Eu estava distribuindo lírios.
Xavier se virou para olhar para mim.
— Ele disse que foi assim que soube que você era especial. Eles eram os
favoritos dela.
— De quem era o favorito? — Eu sussurrei.
Xavier acenou com a cabeça para a parte de trás do banco e a placa lá.
— Minha mãe.
Meus lábios caíram em um pequeno 'o'. A grama, o lago e o salgueiro
pareciam sagrados de repente.
Xavier nunca tinha falado comigo sobre sua mãe antes, nunca tinha
sequer mencionado ela. Eu estava com medo de falar, de estragar esse
momento congelado no tempo.
Eu senti um pouco da dor no meu peito se erguer. Este era o Xavier que
eu tinha visto em breves flashes nos últimos meses.
O verdadeiro Xavier. Eu tinha certeza disso
— Eu vim muito aqui depois do acidente. Depois... — Ele parou e
lambeu os lábios.
Eu esperei, deixando-o tempo para escolher as palavras. Eu pude ver
como era difícil falar sobre isso. Talvez ele nunca tenha feito isso antes.
Quando ele começou de novo, sua voz estava mais forte.
— Você viu a cicatriz nas minhas costas.
Não foi uma pergunta. Nós dois sabemos que eu tinha visto muito mais
do que antes.
— Estava chovendo na noite em que a consegui, — começou Xavier. —
Eu estava voltando de uma viagem de negócios para casa.
Ele parou, como se doesse lembrar, como se ele não quisesse lembrar.
— Quando eu entrei e encontrei eles juntos, eu perdi o controle. Saí
correndo do apartamento para a rua. Claudia, minha ex, me seguiu e saiu
da calçada assim que um táxi apareceu virando a esquina. Eu a empurrei,
mas não fui rápido o suficiente para pular para fora do caminho também.
Xavier respirou fundo.
— Isso machuca. Isso ainda dói, Angela. Todos os dias. E sempre que
vejo, penso nela e me machuco de uma maneira totalmente nova.
Novas lágrimas brotaram em meus olhos e eu estendi a mão para pegar
sua mão enluvada.
— Sinto muito que você se machucou.
Xavier deu uma risada sombria.
— Você não tem nada para se desculpar. Ainda mais você. Estou
tentando te dizer algo aqui. Que a dor que tenho carregado não foi tão
ruim recentemente. Às vezes, até esqueço que está lá. Isso é por sua causa.
Porque você distribui lírios para estranhos. Porque eu sei de fato que você
seria a única a pular na frente de um carro por mim.
— Xavier, eu.. — Comecei, mas parei quando um nó se formou na
minha garganta. Em vez disso, joguei meus braços ao redor dele.
— Você me salvou, Angela, — disse Xavier, com os lábios perto da
minha orelha. — E não apenas naquela maldita ilha.
Eu solucei, apertando Xavier mais perto. O vazio em mim quase se foi
agora, como se suas palavras tivessem me curado.
Eu nunca acreditei, nunca esperei, que Xavier fosse ser tão honesto
comigo. Não achei que sua personalidade autoritária de macho alfa
permitisse tais gestos íntimos. Nunca estive tão feliz por estar errada.
— Eu posso ver que você está sofrendo, Angela, — Xavier continuou,
afastando-se. Ele segurou minhas bochechas em suas mãos grandes e
ásperas. — Eu quero que você saiba que pode contar comigo também. Que
estou aqui. Eu posso ser essa pessoa novamente. O tipo de homem que
pula na frente de um carro. Por você, eu estaria disposto a fazer qualquer
coisa, mesmo que isso significasse voltar para aquela porra de ilha. Eu só
espero que você me deixe provar isso para você. — Havia mais em suas
palavras do que parecia. Eu podia ver isso agora.
Sua abertura foi algo novo para mim. Era como um ramo de oliveira.
Um trampolim na direção certa para nós como casal. Claro, os últimos dias
desde que concordei em começar a namorar Xavier foram tumultuosos.
Mas eu tinha concordado em tentar.
Eu sabia o que tinha que fazer. Era hora de confessar. Eu só podia rezar
para que isso nos aproximasse e não fosse a gota d'água que arruinou
nosso casamento.
Eu respirei fundo.
— Xavier, há algo que preciso te dizer...
Capítulo 23
Passado e Presente
Xavier

Pai: Xavier, o que est á acontecendo?

Pai: Ron acabou de me informar que o


contrato de Paris est á cancelado.

Pai: Isso s ã o meses de trabalho jogados no


lixo.

Pai: Encontre-me no escritório às 6 da


manh ã para discutir.

Pai: Para deixar as coisas ainda mais claras,


é uma reuni ã o MANDAT Ó RIA.

— Bom dia, chefe, — Ron cumprimentou enquanto eu passava por sua


mesa no dia seguinte. Ainda estava escuro, mal amanhecia e o escritório
estava vazio.
Feliz merda de segunda-feira para mim.
— Obrigado pelo café, — eu respondi, pegando a xícara fumegante de
sua mão. — Ele já está aí?
— Pode apostar que sim. Você vai precisar que eu faça anotações? —
Ron perguntou, sempre ansioso.
— Não. Preciso que você reúna todo mundo do projeto de Paris. Vou
falar com eles às oito em ponto.
Não esperei pela resposta de Ron, simplesmente abri a porta do meu
escritório. Papai estava parado no meio da sala.
Ele deveria estar semi-aposentado, o que quer que isso significasse,
mas ele tinha o hábito de aparecer no meu escritório como se ainda fosse
o dono do lugar. Eu deveria estar grato por ele estar tão feliz em — ajudar,
— mas na maioria das vezes, isso apenas me irritava.
— Pai... — eu comecei, apenas para que ele me cortasse.
— Não estou interessado nas suas desculpas, filho.
Deixei-me cair na cadeira e esfreguei minhas têmporas, sentindo uma
enxaqueca chegando. Não tive tempo para uma bronca esta manhã. Eu não
tinha dormido o suficiente para uma.
— Você cometeu um grande erro, — papai continuou, andando de um
lado para o outro na frente da minha mesa. Ele sempre se movia quando
estava bravo, como se o problema fosse algum tipo de tigre ou urso que ele
pudesse assustar se tornando maior.
Só que eu já havia sido sua vítima vezes demais para me assustar com
gestos e gritos.
— Não pude acreditar quando soube que você rescindiu nosso contrato
com Jacques ontem à noite. Meu filho, meu novo filho não faz esse tipo de
coisa. Foi isso que o velho Xavier de corrida de carros, gastador de dinheiro
e irresponsável fazia. Não o Xavier a quem confiei a Knight Enterprises.
Tomei um gole do meu café e tentei novamente.
— Pai, eu...
Papai cruzou os braços.
— Como você pôde sabotar o projeto assim, Xavier? São meses de
trabalho que foram jogados água abaixo. Levará semanas para recolocar as
coisas em funcionamento e encontrar outro parceiro.
Cansado da agressão verbal do velho, cerrei os dentes e gritei para ele.
— JACQUES TENTOU ESTUPRAR ANGELA!!!
O rosto de meu pai se desfez imediatamente. Ele caiu em uma das
cadeiras de convidados no lado oposto da mesa.
— O quê?
— Jacques tentou estuprar Angela, — eu repeti, dessa vez em silêncio.
Doeu pra caralho dizer as palavras, saber que eu tinha falhado com ela.
A noite passada foi um grande testemunho de quanto eu estive
trabalhando em meu temperamento. Sentei-me em silêncio enquanto
Angela me contava o que ele tinha feito com ela.
Como ele a encurralou. Tocou nela. Eu deixei a fúria tomar conta de
mim, crescer no meu estômago. Então, depois que chegamos em casa e
Angela estava dormindo em segurança, eu canalizei a fúria para algo
poderoso.
— Quando? Como? — Papai perguntou.
— Paris. Ele a perseguiu. Ele a prendeu em uma sala ao lado do local, —
eu disse a ele. — Já liguei para o hotel e pedi para liberar a filmagem da
câmera de segurança para mim.
— Você chamou as autoridades? Preciso envolver minha equipe? —
Papai puxou o celular do bolso. Ele era a expressão da calma agora, focado
apenas nos negócios e em sua determinação.
— Sim, sim, claro, — respondi. Doeu um pouco, sua falta de confiança
em minhas habilidades, a falta de confiança em meu desejo de proteger
minha esposa.
Doeu ainda mais saber que eu merecia.
— A polícia está procurando por ele agora. Parece que o desgraçado
pegou um avião particular de volta para a França. A Interpol está
esperando para pegá-lo no aeroporto.
Papai se recostou na cadeira, com as sobrancelhas levantadas.
— Você fez um bom trabalho, filho.
— Eles não o pegaram ainda.
— Elas vão pegar. Você tem alguma ideia de qual foi o motivo dele?
Eu esperava que ele não fizesse essa pergunta, mas ninguém se tornou
tão poderoso quanto meu pai sem fazer perguntas difíceis.
Limpei a garganta e olhei para baixo, incapaz de sustentar o olhar de
meu pai quando admiti: — Acho que pode ter sido por vingança.
— Vingança pelo quê, Xavier?
Senti a vergonha esquentar meu corpo.
— Por eu ter dormido com a namorada dele.
Papai ergueu a mão.
— Eu não quero saber mais. Apenas me diga que você terminou.
— Eu terminei.
— E a garota está bem?
Eu concordei.
— Eu a coloquei em um de nossos hotéis. Eu não queria que ela se
machucasse por causa de algo que eu fiz.
Papai acenou com a cabeça.
— Você fez bem, filho. Agora saia.
— O quê? — Eu recuei, com a mão apertando minha caneca.
Foi só isso? Bom trabalho, agora saia enquanto eu cuido disso?
— Você precisa estar com Angela agora. Ela está extremamente
vulnerável, — explicou papai.
Sim, com certeza.
Foi por isso que fiquei acordado a noite toda com ela nos braços até ela
adormecer. Por isso eu estava fazendo ligações para caçar o desgraçado
francês. Por isso rasguei o maior contrato que a empresa já teve em meu
período como CEO.
— Eu preciso estar aqui, e ver isso até o fim. Não ficar em casa,
esperando que tudo acabe bem, — eu disse, fervendo. — Ele colocou as
mãos nela, pai. Ele a feriu. Não posso deixá-lo escapar impune.
— Não deixaremos, — respondeu papai. — Mas há mais nessa história
que você não sabe, Xavier. Este não é o primeiro homem a ameaçar
Angela.
— O que diabos isso quer dizer?
Senti a fúria começar a crescer novamente quando meu pai me contou
a verdade por trás dos nudes de Angela que vazaram. Como seu antigo
chefe a perseguiu, ameaçou, e como eles esconderam de mim a pedido
de Angela.
Ela não tinha confiado em mim com a verdade. Por que ela iria? Eu a
repreendi quando as fotos chegaram ao noticiário. Eu a tinha chamado de
uma caçadora de atenção, uma puta oportunista, uma vagabunda
mentirosa.
Eu não poderia estar mais longe da verdade.
— Eu fui um filho da puta do caralho, — eu respirei quando papai
terminou.
Os lábios de meu pai se curvaram em um pequeno sorriso.
— Sim, você foi. Você tem uma chance de se redimir agora. Vá até ela. Eu
vou cuidar de tudo aqui.
Eu me encontrei balançando a cabeça, de pé.
— Obrigado.
Eu falhei com Angela de mais maneiras do que eu imaginava. Eu não
deixaria isso acontecer novamente.
— E, filho? — Meu pai chamou quando eu estava na metade do
caminho para fora da porta. — Estou orgulhoso de você. Você fez um bom
trabalho.

Angela
— Você achou as fotos do local? — Eu ouvi Em perguntar.
Sua voz parecia distante, como se eu estivesse debaixo d'água.
Eu balancei minha cabeça, tirando-me de meus pensamentos.
— Ah, não, desculpe.
Em franziu a testa e abaixou a tela do meu laptop.
— Está tudo bem, Angie? Você está horrível.
Eu provavelmente deveria ter ficado mais apresentável antes de ela
chegar. A verdade é que eu estava simplesmente cansada demais para
tentar. Teria sido mais gentil com ela cancelar nosso encontro.
No entanto, um pouco de tempo com minha amiga parecia a receita
perfeita para tirar minha mente da noite passada. Em vez de ajudar, estive
olhando para a tela do meu computador durante a última hora, incapaz de
afastar a sensação dos olhos de Jacques em mim.
Mas eu não poderia dizer isso a Em. Eu não poderia preocupá-la.
Eu já disse a Xavier na noite passada com resultados não tão bons. Ele
não gritou. Na verdade, ele não fez nada.
Uma espécie de paralisia misteriosa o dominou enquanto ele fazia os
movimentos de me levar de volta para casa e sentar-se comigo até eu
adormecer. A raiva teria sido melhor do que este silêncio. Qualquer coisa
teria sido melhor do que nada.
— Só não dormi bem. — Eu ofereci a ela um pequeno sorriso. — Mais
café deve resolver o problema.
Eu me levantei e fui à cozinha fazer mais.
Tinha sido boba em acreditar que Xavier se importava mais comigo do
que com seu trabalho. Eu não sabia muito sobre as operações da Knight
Enterprises, mas sabia o suficiente para entender que Jacques era uma
peça-chave em suas participações na Europa. Seria uma má publicidade se
surgisse a notícia de que a Knight Enterprises estava trabalhando com um
estuprador.
Enchi minha caneca e voltei a me sentar ao lado de Em na mesa.
— Vou encontrar essas fotos agora. Você encontrou algum vestido de
dama de honra de que goste?
— Sim, alguns. Há um vestido básico aqui que eu acho que fica bem. —
Enquanto ela girava seu laptop em minha direção, meu celular vibrou na
mesa.
Eu o peguei, meu coração afundando ao ler as mensagens recebidas.

Dustin: Tenho not í cias terr í veis.


Dustin: Meu est ú dio foi invadido ontem à
noite.

Angela: Ah, n ã o! Voc ê est á bem?

Dustin: Estou bem.

Angela: E suas pinturas?

Dustin: Intocadas, exceto por uma...

Dustin: O maldito roubou seu quadro.

Dustin: Sinto muito

Angela: N ã o seja bobo. Estou feliz que voc ê


n ã o esteja ferido!

Dustin: Eu prometo que vou fazer um novo


para voc ê
Angela: Alguma ideia de quem pode ser o
respons á vel?

Dustin: A pol í cia est á investigando isso.

Dustin: Espero que eles encontrem minha


obra-prima em breve.

— Tem certeza que está bem? — Em perguntou, vendo minha


expressão sombria.
— Alguém invadiu o estúdio de Dustin, — respondi, desligando o
telefone.
— Ele está bem?
— Sim, eles roubaram a pintura que ele fez para mim. O de Xavier e eu.
— Sem ofensa, mas quem mais gostaria de uma pintura de vocês dois?
Só havia um nome que me veio à cabeça: Jacques.
Foi um pensamento ridículo. Jacques não conhecia Dustin. Não havia
como ele saber que a pintura existia.
Se o tivesse feito, era mais provável que o queimasse do que pendurálo
sobre a lareira. Ainda assim, de alguma forma eu sabia que ele era o
responsável.
Eu coloquei minhas mãos trêmulas no meu colo, escondendo-as de Em.
— Angie, você realmente não parece tão bem. — Em franziu a testa,
seu olhar passando por mim. — Tem certeza de que não há algo que você
queira falar?
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e eu balancei minha
cabeça.
— Sinto muito, Em. Eu não posso.
Parecendo entender, Em me puxou para um abraço.
Eu não deixaria que fosse como da última vez. Não deixaria ninguém se
machucar por mim. Quando minhas fotos vazaram no noticiário, isso não
afetou apenas a mim, mas também a Brad, Xavier e minha família.
Desta vez, Dustin foi atacado. Era apenas uma questão de tempo antes
que alguém se machucasse.
Jacques estava vindo atrás de mim.
A única pergunta era: quando?
Capítulo 24
Em seus Braços
Xavier
— Angela? — Eu chamei quando as portas do elevador abriram. Não fazia
sentido, porque ainda era cedo e ela poderia estar dormindo.
Angela era normalmente uma pessoa matinal, mas eu precisava ouvir
sua voz, precisava vê-la para acreditar que ela estava bem.
— Ela não está aqui, — respondeu uma voz. Eu congelei no meio de um
passo e me virei em direção a sua fonte.
— Em, — eu disse em saudação. Ela estava sentada de pernas cruzadas
no sofá, um computador no colo. — Onde ela está?
Em passou a mão pelo cabelo.
— Ela desapareceu no corredor. Corri para um dos quartos. Tentei falar
com ela, mas ela não quis. Meu estômago se revirou.
— Aconteceu alguma coisa?
— Não sei. Ela simplesmente começou a chorar. Eu... — Em franziu a
testa. — Eu acho que ela precisa de você agora.
O meu relacionamento com Em era difícil, para dizer o mínimo. Eu sabia
que ela não gostava de mim. Por que ela gostaria? As meninas sempre
contavam tudo às suas melhores amigas.
Eu tinha certeza que ela sabia todas as coisas terríveis que eu fiz para
Angela. Ouvi-la admitir que Angela precisava de mim foi um grande passo,
uma indicação de que devo ter feito algo certo.
Ela se levantou e começou a recolher suas coisas ao redor da sala.
Tirei meu telefone do bolso e digitei uma mensagem rápida.
— Marco vai te levar para casa.
— Tudo bem, — Em dispensou.
— Por favor, é o mínimo que posso fazer. Obrigado por estar aqui por
ela.
Assim que Em desapareceu no elevador, fui em direção aos quartos.
No final do corredor, a porta de Angela estava aberta. Eu espiei para
dentro, apenas para encontrar o quarto vazio. Com uma carranca, me virei
para encarar a porta do meu próprio quarto fechada e gentilmente a abri.
Angela estava deitada no centro da cama, os cobertores puxados para
cima, a cabeça enterrada nos travesseiros.
Em qualquer outra situação, eu teria ficado emocionado em vê-la ali.
Sonhos com Angela na minha cama com as pernas bem abertas, gritando
em êxtase, me atormentaram por semanas.
Apenas a memória deles foi o suficiente para fazer meu pau se
contorcer.
Mas sacudi minha cabeça. Agora definitivamente não era a hora.
Com cuidado para não perturbá-la, sentei-me na beira do colchão.
— O que há de errado, meu anjo?
Eu ouvi sua respiração rápida.
— Xavier, — ela respirou. — O que você está fazendo aqui?
— Eu poderia te perguntar a mesma coisa, — eu provoquei enquanto
ela se endireitava.
As bochechas de Angela ficaram rosadas.
— É o único lugar onde me sinto segura.
Quase me exaltei. Ela não estava tornando isso mais fácil.
Reposicionando-me, perguntei: — Segura do quê?
— O estúdio de Dustin foi invadido. A única coisa que foi roubada foi
uma pintura nossa, — ela disse. — Foi Jacques. Tinha que ser.
Suas palavras foram como um soco no estômago. Ela não se sentia
segura, não se sentia protegida. Eu falhei com ela.
Estendi a mão e a envolvi em meus braços, passando a mão para cima e
para baixo em suas costas.
— Ele se foi, Angela. As autoridades estão procurando por ele agora.
Marco está no saguão lá embaixo. Eu estou aqui com você. Você está
segura.
Angela inspirou profundamente. Na expiração, eu a senti relaxar sobre
mim.
— O que você está fazendo em casa?
— Você realmente achou que eu te deixaria sozinha depois do que você
me disse? — Eu perguntei. — Tive que ir ao escritório para verificar as
coisas. Resolvi o contrato com o Jacques. Assim que o time de Paris foi
informado, eu voltei.
— Você rescindiu o contrato de Jacques?
— Claro, Angela. Como eu poderia trabalhar com um homem que fez
coisas tão terríveis com você?
Angela fungou.
— Você fez tudo isso por mim?
A resposta veio rapidamente, sem dúvida. —
Eu faria qualquer coisa por você.

Angela
Eu faria qualquer coisa por você.
No segundo em que as palavras saíram dos lábios de Xavier, eu sabia
que estava errada. Ele estava aqui por mim. Comigo.
— Eu não sei o que dizer, — eu disse a ele honestamente.
— Você não precisa dizer nada, — respondeu Xavier. — Apenas
descanse.
— Mas Em... — Eu me lembrei de repente que tinha abandonado
minha amiga na sala de estar.
— Deite-se.
— Mas... — Eu me movi para ficar de pé, mas Xavier me parou com
uma mão no meu ombro.
— Angela, — ele rosnou. — Em foi embora. Agora, por favor, você
precisa descansar.
Ele estava certo. Quase não dormi na noite anterior. E pelos círculos
roxos sob seus olhos que Xavier também não tinha dormido muito.
— Tudo bem, mas só se você ficar comigo.
As sobrancelhas de Xavier levantaram. Ele provavelmente estava
chocado com o quão direta eu fui. Sendo sincera, eu também fiquei um
pouco surpresa.
Eu sabia que me sentiria mais segura com ele aqui. Não era nada para
me envergonhar, era? Além disso, não seria a primeira vez que dividiríamos
a cama.
— Tudo bem, — ele disse e tirou os sapatos.
Eu joguei para trás o edredom que cheirava a ele. Xavier deslizou ao
meu lado, ainda em sua camisa e calça sociais.
Deitamos lado a lado de costas, exatamente como nos Hamptons. Só
que, ao contrário dos Hamptons, não havia barreira de cobertor entre nós.
— Xavier? Você se importaria se eu virasse de lado? — Eu perguntei.
Xavier endureceu ao meu lado.
— Ok, — ele disse novamente.
Virei-me para encará-lo e, em seguida, com o coração acelerado,
estendi a mão para colocar a mão no peito musculoso de Xavier.
— Obrigada, — eu sussurrei, sabendo que ele entenderia que eu quis
dizer as palavras mais do que apenas o reposicionamento. Não era o
suficiente, mas eu não sabia mais como expressar minha gratidão.
Em resposta, Xavier se virou para mim. Seu braço livre me envolveu,
segurando-me contra ele até que cada centímetro de nossos corpos
estivesse pressionado um contra o outro.
Eu nunca tinha estado tão perto de um homem antes, nunca tinha
sentido tanto de uma vez. De alguma forma, não parecia o suficiente. Eu
queria mais. De repente, eu sabia o que precisava fazer, como poderia
agradecê-lo.
Xavier entendia mais ações do que palavras. Ele quebrou vasos, deu
socos e já fez sexo violento.
Se eu quisesse agradecê-lo direitamente, precisaria falar sua língua.
— Xavier? — Eu olhei para cima para encontrar seus olhos escuros
sobre mim, procurando. Perguntando.
— Está tudo bem, — eu sussurrei.
Esse foi todo o incentivo de que Xavier precisava. Ele fechou a lacuna
entre nós e pressionou seus lábios nos meus.
O beijo foi suave no início, simples, nada exigente. Eu podia sentir seu
desejo nele. Em seus lábios persistentes. Na forma como sua mão
pressionou minha parte inferior das costas.
Eu respondi avidamente.
O primeiro beijo se transformou em um segundo e depois em um
terceiro.
Eu gemi quando ele chupou meu lábio inferior, pegou-o entre os dentes
e, em seguida, deslizou sua língua em minha boca.
Xavier nos virou, prendendo minhas mãos sobre minha cabeça.
Estávamos peito a peito, com os quadris se esfregando.
— Xavier, — eu ofeguei, minha cabeça nadando com seu cheiro. Então
eu engasguei quando senti algo duro roçar na minha coxa. — Xavier!
— Sim? — ele gemeu, movendo seus lábios para baixo para chupar meu
pescoço.
Eu gritei quando a protuberância roçou contra mim novamente e me
endireitei.
Xavier se ajoelhou sobre mim, o peito arfando, sua masculinidade ereta
entre nós, mal contida em suas calças.
Eu não conseguia parar de olhar para ele. Mal pude engolir a
necessidade repentina de tocá-lo, de senti-lo deslizar... Eu rapidamente
cobri meus olhos com as mãos.
— Eu não posso, — eu disse a ele. — Eu não estou pronta, Xavier. Me
desculpa.
— Olhe para mim, Angela, — Ele respondeu
Xavier. Então, quando eu não tirei minhas mãos, ele disse novamente:
— Olhe para mim. Eu espiei por entre meus dedos. Xavier olhou para
mim, com a sobrancelha levantada.
— O que eu te disse?
— Que não faríamos sexo até que eu estivesse pronta.
— Então por que você está se escondendo de mim?
Eu deixei minhas mãos caírem no meu colo.
— Me desculpa. Eu só... entrei em pânico.
— Eu não posso evitar, Angela, — disse Xavier, deitando-se ao meu
lado. Ele estendeu o braço como uma oferta silenciosa, e eu me acomodei
contra seu peito, com cuidado para evitar ficar muito perto de sua
situação.
— Eu quero você, — Xavier continuou, descarado. — Não estou dizendo
isso para forçá-la a nada. É apenas a verdade. Eu não posso evitar.
Eu nunca tinha entendido como ele conseguia falar sobre coisas tão
íntimas de forma tão clara. Suponho que talvez tenha vindo com a prática.
Enquanto eu estava deitada em seu peito, com nossas pernas
entrelaçadas, eu descobri que, pela primeira vez, eu não estava com medo
de quão atrevido Xavier era. Sendo honesta comigo mesma, estava
gostando. Ele me fez sentir desejada de uma forma que ninguém mais fez.
Finalmente segura, eu lentamente adormeci nos braços de Xavier, com
uma verdade ressoando em minha mente. Nunca estive tão perto de
qualquer homem, mas não conseguia imaginar que fosse qualquer outra
pessoa que não fosse Xavier.

Naquela noite, e todas as noites depois, adormeci envolta em Xavier.


Lentamente, eu estava ficando cada vez mais incapaz de negar que algo
parecia certo entre nós. Como se fossemos feitos para nos encontrar. Como
se fôssemos um casal predestinado.
Eu tinha encontrado um lar no local mais improvável que poderia ter
imaginado.
Todas as manhãs, quando acordei em seus braços, três palavras
saltaram para a frente da minha mente. Todas as manhãs, eu as engolia.
Era muito cedo. Não havia como elas serem verdadeiras. De jeito
nenhum isso poderia ser real. Nunca esperaria por isso.
Eu nunca entendi por que elas eram tão difíceis de dizer até este
momento. Cada vez que elas estavam na ponta da língua, meu estômago
revirava e eu tinha que engoli-las de volta.
Não seja gananciosa, Eu me repreendia. Você já conseguiu mais do que
poderia esperar. Jacques se foi. Você está segura. Isso é o suficiente por
agora. Estava ficando cada vez mais difícil manter isso para mim.
— Bom dia, — Xavier sussurrou, puxando-me contra seu peito nu e
esculpido.
Eu te amo.
— Bom dia, — respondi com um beijo em seu ombro.
Ele cobriu os olhos com o braço.
— Que horas temos que estar lá?
— Em uma hora. Você deveria entrar no chuveiro.
Xavier sorriu.
— Entra comigo?
— Em seus sonhos, — eu atirei de volta.
E então ele me beijou, e as três palavras borbulharam novamente.
Eu te amo.
Hoje era o dia do casamento de Em e Lucas. Um dia para celebrar o
amor. Talvez, esta noite, eu finalmente teria coragem para dizer as palavras
em voz alta. Talvez eu dissesse a Xavier que o amava.
Enquanto ele se levantava da cama e se dirigia ao banheiro, uma
sensação de aperto no estômago começou a crescer.
Não há nada para se preocupar, eu me repreendi quando ouvi o
chuveiro ligar. Como sempre, ele deixou a porta do banheiro aberta em um
convite.
Por alguma razão, porém, não conseguia afastar a sensação de que
tudo isso era bom demais para ser verdade.
Que eu não teria a chance de dizer a Xavier como me sentia.
Que toda a minha sorte estava prestes a se tornar muito, muito para
mim...
Capítulo 25
Doce Reunião
Angela
A suíte nupcial do Midtown Knights Hotel fervilhava com tanta atividade.
Meninas em vários estados de nudez corriam de cômodo em cômodo. No
centro de tudo, parecendo uma rainha com uma coroa de rolos empilhados
na cabeça, estava Em.
— Você está nervosa? — Eu perguntei da cadeira ao lado dela enquanto
uma mulher aplicava base na minha testa.
— Um pouco, — Em admitiu, seguido rapidamente por, — Não sobre
me casar com Lucas. É todo o resto. As pessoas. Os votos. A dança. Eu só
quero que o dia acabe.
— Eu entendo.
Mas eu não entendia na verdade, não realmente. Em e Lucas
planejaram cada segundo deste dia. Não havia mais nada com que se
preocupar.
Em cobriu os olhos com as mãos, bloqueando o acesso do maquiador
aos cílios.
— Eu não posso acreditar que estou me casando com seu irmão.
— Eu não aceitaria de outra maneira, — respondi honestamente. Ter
duas pessoas que eu tanto amava se apaixonando uma pela outra era um
sonho.
Em sempre foi como uma irmã para mim. Agora seria oficial.
Um dos assistentes sorriu para Em.
— Acho que estamos prontos para colocá-la em seu vestido.
Todas as garotas, agora envoltas em seda magenta, amontoaram-se no
closet para assistir Em deslizar em seu vestido Vera Wang de costas
abertas. Quando os rolos foram puxados de seu cabelo, uma série de oohs
e aahs soou através do espaço apertado.
— Você está linda, Em, — eu disse à minha amiga, apertando seus
dedos.
Era verdade. Em estava deslumbrante com o vestido de renda marfim, a
epítome de uma noiva corada. Tanto que não pude evitar a pontada de
ciúme que cresceu dentro de mim.
Em acenou para os olhos dela com a mão livre.
— Você vai me fazer chorar.
As lágrimas que chorei no dia do meu casamento não foram felizes
como as dela. Eu temia caminhar pelo corredor até o altar. Eu me perguntei
se algum dia teria outra chance de ter o casamento perfeito ou se o dia do
meu casamento sempre seria marcado pela mágoa e raiva.
De qualquer forma, eu nunca teria um dia como Lucas e Em. O meu
amor e o de Xavier nunca seria como o deles.
Meu celular vibrou no meu bolso. Com ele em mãos, pedi licença para
sair do closet, deixando Em com as outras meninas.

Xavier: Posso te ver em seu vestido?

Xavier: N ã o consigo parar de pensar nisso.

Angela: Desculpe, voc ê conhece as regras...

Angela: O noivo n ã o pode ver a noiva antes


do casamento.
Xavier: Preciso te lembrar que já somos
casados, Sra. Knight?

Xavier: Eu acho que isso me concede o


direito de fazer o que eu quiser com voc ê .

Angela: N ã o me lembro de me propor.

Xavier: Angela...

Angela: Suponho que um pequeno


vislumbre n ã o faria mal.

Angela: [anexo :
Episódio55_Content2_leg@2x. png]

Xavier: Meu Deus.

Xavier: Eu preciso te ver agora.

Xavier: Encontre-me no elevador em 10.


Xavier
Coloquei meu telefone no bolso da camisa do meu smoking e estremeci
quando uma pulsação familiar começou a crescer em minhas bolas.
As últimas semanas foram terríveis. Dia e noite, pensamentos de Angela
me atormentavam, deixando-me duro e com muito tesão.
Não conseguia me lembrar da última vez que me masturbava tanto.
Mas não pareceu ajudar, por mais frequente que fosse. Meu pau duro
voltava como um relógio, e geralmente com uma vingança.
Agora, a visão dos tornozelos de Angela me fez como um adolescente
privado de sexo.
Esta manhã, no chuveiro, tinha sido o pensamento dela entrando pela
porta aberta do banheiro e se juntando a mim sob o fluxo quente.
Riachos de água escorrendo por seus seios nus.
Seu suspiro quando eu chupei um de seus mamilos pontiagudos em
minha boca.
Minha mão apertando sua bunda firme e escorregadia.
— Está tudo bem, bonitão?
Eu balancei minha cabeça.
— Huh?
O Sr. Carson estava me encarando do outro lado da sala, seus olhos se
estreitando.
Porra.
— Sim, tudo bem. Muito trabalho. — Limpei a garganta e me
reorganizei artisticamente no sofá. A última coisa que eu precisava era o
pai da minha esposa me pegando com uma ereção enorme.
Eu fui convidado para me preparar com o noivo e seus padrinhos.
Embora eu não estivesse na festa de casamento como Angela estava, eu
aparentemente ainda contava como família e era esperado que fizesse um
bom show.
Que sorte a minha.
Honestamente, eu teria ficado mais feliz em trabalhar em casa por mais
algumas horas do que ficar por aqui e fingir ser um dos meninos. Eu sabia
que significaria muito para Angela se eu fosse bonzinho.
O dia estava mais tranquilo do que um pau lubrificado até que decidi
dar uma olhada em Angela. Até que ela me enviou a foto de sua perna.
— Tem certeza de que está bem, bonitão? — O Sr. Carson perguntou
novamente.
Não, não estou bem. Eu tenho fodido sua filha por semanas, e minhas
bolas doem tanto que tenho certeza de que qualquer esperança para
futuros filhos desapareceu.
Eu precisava de algo para tirá-lo do meu pé. Felizmente, eu vim
preparado.
Eu estive cogitando algo por algumas semanas, desde a última vez que
estive com a família de Angela, na verdade. Com toda a baboseira
romântica flutuando no ar, eu sabia que hoje era minha melhor chance.
— Na verdade, eu gostaria de falar com você no corredor por um
minuto, se estiver tudo bem, Sr. Carson.
Ele olhou de mim para os outros caras. Ao contrário das mulheres, esse
lado da festa nupcial levou dez segundos para vestir os ternos e colocar um
pouco de gel no cabelo. Desde então, eles assistiam ao jogo na tela de
plasma.
— Claro, bonitão, — o Sr. Carson falou lentamente e me seguiu para
fora da suíte.
No segundo em que a porta se fechou, minhas mãos ficaram úmidas.
— Eu, ah...
Não conseguia me lembrar da última vez que me senti assim, a última
vez que estive nervoso com qualquer coisa.
A boa notícia foi que os nervos fizeram meu pau recuar em direção ao
meu estômago.
— Estive pensando no que você me perguntou da última vez que nos
vimos, — comecei.
O Sr. Carson acenou com a cabeça.
— Você perguntou se eu amava sua filha ou não.
— E você me disse que precisava de mais tempo para responder. Então?
— Eu a amo. — Foi a primeira vez que disse essas palavras em voz alta.
— E gostaria de pedir sua bênção para fazer as coisas certas dessa vez. Eu
quero dar a Angela um casamento de verdade. Um onde você pode levá-la
até o altar, onde podemos compartilhar nossa primeira dança. Vou até
escrever meus próprios votos, se ela quiser.
— Sim, — respondeu o Sr. Carson muito rapidamente, com lágrimas nos
olhos.
— Mesmo? — Eu perguntei, antes que eu pudesse me impedir.
O Sr. Carson jogou seus braços em volta de mim.
— Bem, a escolha é dela, bonitão. Mas, do meu lado, nada me faria
mais feliz. Você tem sido um verdadeiro cavalheiro nos últimos meses,
apoiando Angie nos altos e baixos com minha saúde, ajudando-a a
sobreviver ao acidente de avião, pagando para que meu filho pudesse se
casar neste hotel. Você é um cara legal.
— Eu... — Meu celular vibrou no bolso, me fazendo dar um passo para
trás. — Eu preciso atender. Eu sinto muito. E obrigado, Sr. Carson.
Exultante, corri pelo corredor em direção aos elevadores.

Angela
— Idiota, — murmurei para mim mesmo. — Tão idiota.
Eu estava subindo e descendo no elevador por cinco minutos agora, e
ainda não havia sinal de Xavier.
Ele estava apenas brincando com você.
E funcionou. Eu coloquei meu vestido e agarrei meu buquê, muito
ansiosa para agradá-lo, para me distrair de toda a felicidade conjugal ao
meu redor.
Ele não estava vindo.
Apertei o botão do meu andar, pronta para retornar derrotada à suíte
nupcial. A cerimônia começaria em breve, de qualquer maneira.
Provavelmente foi melhor assim.
Quando o elevador se aproximou do sétimo andar, ele diminuiu a
velocidade e as portas se abriram. Lá estava Xavier, ofegante, seus olhos
escuros de luxúria.
Em duas passadas, ele cruzou o elevador, me pressionou contra a
parede espelhada e capturou minha boca na dele.
As mãos de Xavier desceram pela minha cintura até que ele estivesse
segurando minha bunda. Eu engasguei quando ele me levantou do chão e
envolveu minhas pernas ao redor de seus quadris, gemendo quando senti
sua excitação me pressionar.
Meu buquê de peônias caiu na porta do elevador enquanto minhas
mãos enrolavam em seu cabelo escuro.
— Você está me matando, — Xavier rangeu, mordendo minha orelha.
Ele pressionou um beijo em meu pescoço e então se moveu para baixo,
arrastando beijos e mordidas na minha garganta. — Você não pode ver o
quanto eu te quero.
O elevador apitou e Xavier me deixou cair antes que as portas
pudessem se abrir. Ele deu um passo na minha frente protetoramente,
bloqueando-me de quem quer que tenha se juntado a nós.
— Olá, — ele cumprimentou, sua voz cheia de luxúria. Eu o observei se
abaixar e pegar meu buquê do chão, segurando todas as flores na frente de
sua virilha.
Uma risada feminina respondeu.
Com as bochechas queimando, eu rapidamente endireitei minhas
roupas, com vergonha de espiar por trás dele para investigar nossa
companhia.
A porta se abriu novamente e nossa convidada saiu.
Xavier soltou um suspiro, a linha de seus ombros caiu e se virou para
mim.
— Isso foi inesperado. — Ele sorriu, as mãos voltando para minha
cintura.
— Eu já havia desistido de você, — eu disse a ele e então corei quando
ele deu uma boa olhada em mim.
— E perder isso? Você está deslumbrante, Angela. — Ele me beijou de
novo, mais lento dessa vez.
— Nós temos que ir, — eu disse quando nos separamos. — A cerimônia
vai começar em breve. — Ele se inclinou como se fosse me beijar pela
terceira vez, e eu me virei com uma risadinha, fazendo seus lábios
pousarem na minha bochecha. — Xavier!
— Tudo bem, tudo bem, — ele disse e deu um passo para trás em
derrota. — Mas vamos terminar isso mais tarde.
Chegamos à capela bem a tempo. Lá dentro, o piano já havia começado
a tocar e as vozes dos convidados baixaram para um sussurro maçante.
— Aí está você! — Em gritou quando Xavier e eu viramos a esquina, de
mãos dadas.
— É minha culpa, — disse Xavier a ela, ganhando uma careta de volta.
Ele beijou minha bochecha antes de deslizar pelas portas para tomar
seu lugar entre os outros convidados.
Eu tomei meu lugar na linha de damas de honra e padrinhos. Na hora
certa, a marcha nupcial começou a tocar e começamos nosso caminho pelo
corredor.
Quando estávamos todos em nossos lugares na frente da capela, a
música cresceu. Todos os convidados do casamento se levantaram quando
Em entrou, mais feliz do que eu já tinha visto.
Enquanto ela flutuava pelo corredor em direção a Lucas, um
movimento no fundo da sala chamou minha atenção.
Senti o sangue sumir do meu rosto enquanto uma onda de terror me
percorria. Jacques estava aqui. Eu tinha certeza disso. Eu o vi.
Rapidamente, examinei os rostos dos convidados na última fila
novamente, mas não consegui identificá-lo.
Fechei meus olhos, diminuindo minha respiração acelerada.
Ele não está aqui.
Você está segura.
Xavier prometeu.
Embora não tenha sido a primeira promessa que Xavier quebrou...

Capítulo 26
Uma dança final
Angela
Com os dedos tremendo, fiquei na mesa principal, esperando os
convidados se acalmarem ao meu redor. Como dama de honra, fui
obrigada a fazer um discurso.
Foi realmente uma honra poder dar minha bênção ao meu irmão e
melhor amiga. Isso não significava que eu não estava nervosa,
especialmente porque a única experiência que tive de amor não foi nada
romântica.
Finalmente, respirei fundo, ignorando o peso de centenas de olhares
sobre mim, e comecei.
— Hmm... Oi, meu nome é Angela, e eu... eu conheço Lucas e Emily
minha vida inteira. Lucas, meu irmão, eu não tive escolha em tê-lo na
minha vida. Ele simplesmente estava lá, todos os dias, sem falhar. Em...
Emily eu conheci na escola e, desde então, tenho escolhido todos os dias
mantê-la em minha vida.
Um coro de admiração irrompeu pela sala, dando-me coragem
enquanto eu continuava.
— É nessa amizade que eu quero me concentrar, nessa escolha,
enquanto eu lhes ofereço minhas palavras finais de... hmm, conselho,
enquanto vocês dão seus primeiros passos nesta jornada como marido e
mulher.
— Eu... estou casada há menos de um ano, mas as lições que aprendi
por ser amiga de Em me ajudaram em cada etapa do caminho.
Meus olhos encontraram os de Xavier na multidão. Ele sustentou meu
olhar, com seus olhos escuros ardendo, enquanto eu continuava meu
discurso.
— Amizades, como casamentos, não são um caminho fácil. Existem curvas,
buracos e morros pelos quais você precisa navegar. Nem sempre é fácil.
Não é sempre um mar de flores.
— A coisa mais importante que aprendi é que você, hum, tem a chance
de refazer tudo todas as manhãs. A cada dia, você pode escolher
novamente. Escolher um novo caminho. Escolher ser um bom amigo. Um
bom parceiro. Escolher o amor.
— Meu conselho para vocês, Lucas e Em, é continuar fazendo essa
escolha. Se você fizer isso, vocês conquistarão todos os obstáculos que
encontrarem, não importa o caminho que vocês tomem.
Com os olhos marejados, levantei minha taça de vinho.
— Para Em e Lucas. Que vocês sempre escolham o amor.

Eu deslizei meu caminho através dos dançarinos, procurando por um par


familiar de olhos escuros. Esta noite foi a noite. Eu tinha certeza disso
agora. Eu diria a Xavier que o amava. Eu escolheria o amor.
Eu só tinha que encontrar meu amado primeiro.
Quanto mais demorava para encontrar Xavier, mais nervosa eu ficava.
Havia tantos corpos. Qualquer um deles poderia ser...
Não. Jacques não está aqui.
Ele não pode estar.
Não era ele na cerimônia.
Meus olhos estavam pregando peças em mim.
— Me concede essa dança?
Eu pulei quando um par de braços fortes se curvou em volta da minha
cintura.
Encontrei.
— Seria um prazer, — respondi, já me sentindo mais à vontade.
Xavier me levou para o centro da pista de dança e começamos a
balançar entre os outros casais. Eu coloquei minha cabeça em sua lapela,
respirando seu cheiro enquanto girávamos.
O jantar acabou, os discursos terminaram e o bolo foi cortado. Tudo o
que restou foi dançar.
— Como foi sua refeição? — Eu perguntei preocupada. — Desculpe,
não pude sentar com você.
Xavier não teve permissão para sentar comigo, pois eu estava sentada
na mesa principal. Mas eu sabia que Em tinha tentado encontrar alguém
compatível com ele para se sentar junto.
Xavier bufou.
— Sentei-me ao lado de um idiota de meia-idade que possui um
Airbnb. Tenho certeza que você pode imaginar sobre o que ele queria falar.
Eu ri quando Xavier me jogou para trás, ganhando alguns olhares de
dançarinos próximos.
— Seu discurso foi lindo, — disse Xavier quando ficamos cara a cara
novamente.
As palavras borbulharam novamente. Eu te amo.
— Obrigada. — Eu corei.
Ele abaixou a cabeça, roçando os lábios na minha orelha, e sussurrou:
— Quando vamos para casa? Estive pensando em tirar esse vestido de você
a noite toda.
A mão de Xavier deslizou pelas minhas costas até minha bunda.
Eu engasguei, golpeando sua mão.
— Comporte-se!
— Angie! Oh, meu Deus, Angie! — gritou Em, de repente se apertando
entre Xavier e eu.
Ela jogou os braços em volta de mim.
— Muito obrigada!
Eu dei a Xavier um olhar de desculpas por cima do ombro da minha
amiga. Claramente Em tinha bebido um pouco demais.
— Eu não poderia ter feito tudo isso sem você! — ela continuou a falar.
— E o seu discurso! Foi tão bom.
— Foi um prazer, — eu assegurei a ela, dando tapinhas em suas costas.
— Você mereceu seu dia perfeito, Em.
Xavier
Ron: 911 no escritório, Chefe.

Xavier: Meu pai est á de plant ã o esta noite.

Ron: Eu tentei ligar para ele. Ele n ã o est á


respondendo.

Xavier: Provavelmente porque estamos em


um casamento.

Xavier: Isso pode esperar?

Ron: Receio que n ã o!

Ron: Algu ém acionou os alarmes de


seguran ça

Ron: Nossa equipe de seguran ça est á


cuidando disso.
Ron: Eles precisam da sua aprova çã o para
envolver a pol í cia.

Xavier: A pol í cia?

Xavier: O que aconteceu?

Ron: É dif í cil de explicar...

Ron: Seria melhor voc ê mesmo verificar as


coisas, senhor.

Xavier: Estou a caminho.

Merda.
Esta era a última coisa que eu precisava agora.
Foi pra esse tipo de emergência que contratei seguranças. Agora eu
tinha que ir ao escritório para mostrar àqueles idiotas como fazer seu
trabalho.
Eu olhei por cima do meu celular e peguei os olhos de Angela.
Em ainda estava falando a mil milhas por minuto com ela enquanto
Angela acenou com a cabeça em resposta, incapaz de falar uma palavra.
Fui para trás de Angela, tirei o cabelo de seu ombro e sussurrei: — Preciso
ir ao escritório por um minuto.
— Você me prometeu que não trabalharia, — Angela sussurrou de
volta. Emily continuou a tagarelar, sem se importar.
Corri minha mão pelo lado de Angela em um pedido de desculpas
silencioso.
— Isto é uma emergência. O escritório fica na mesma rua. Estarei de
volta antes que você sinta minha falta.
Angela acenou com a cabeça. Dei um beijo em seu ombro nu e depois
voltei para a multidão.
Eu deixei claro que não estava disponível para negócios esta noite. É
melhor Ron ter uma boa razão para isso.

Angela
Enquanto eu observava Xavier desaparecer no meio da multidão, a
ansiedade familiar começou a rastejar de volta.
Tudo bem. Está tudo bem.
Mas não parecia. A sensação de estar numa areia movediça, que senti o
dia todo, estava começando a parecer que me engoliria.
Em tagarelou ao meu lado, e eu estava tão feliz que ela não percebeu
que eu havia parado de contribuir com a conversa.
Ar. Talvez eu só precisasse de um pouco de ar fresco.
Tinha sido um longo dia.
Eu provavelmente bebi muito também.
— Acho que vou sair por um minuto, — anunciei de repente.
Em parou e disse:
— Devo ir com você?
— Não, não. Fique com seus convidados. Será só um minuto.
— Tudo bem, — disse Em, andando. — Mas você ainda me deve uma
dança.
Xavier
Quando cheguei ao prédio, um membro da equipe de segurança me
encontrou na porta.
— O que diabos aconteceu? — Eu exigi.
O homem de meia-idade e obeso, vestindo um colete com fita reflexiva,
foi rápido em responder.
— Houve uma invasão no último andar, Sr. Knight. O diretor está lá
agora esperando por você.
Fui para o elevador, sem esperar que ele me alcançasse.
O zelador provavelmente acionou o alarme por acidente. Ou algum
estagiário sobrecarregado foi pego roubando material de escritório. Algo
que não vale meu tempo.
O elevador abriu. Ron estava no corredor, esperando minha chegada.
— Bom te ver, senhor, — ele disse, caminhando ao meu lado.
— É melhor não ser um alarme falso, — eu falei.
— Não, senhor. Receio que não seja, senhor.
— Sr. Knight, — chamou um homem alto de pele escura e bigode. Ele
estava parado no final do corredor, em frente às portas do meu escritório
— Meu nome é Sr. Taff. Eu sou o chefe da sua equipe de segurança.
— Você me tirou de uma noite maravilhosa com minha esposa, Sr. Taff,
— respondi. — É melhor que valha a pena.
O Sr. Taff abriu a porta do meu escritório.
— Veja por si mesmo, senhor.
No início, não consegui encontrar nada de errado. Meu escritório
estava como eu o deixara, como sempre. Nenhum vidro quebrado, nenhum
fogo, nenhum cadáver.
Eu cerrei meus dentes. Como esperado, tudo estava em seu lugar.
Então eu vi. A fotografia do horizonte de Nova Iorque, que
normalmente ficava acima da minha mesa, havia sumido. Outra coisa
estava pendurada em seu lugar.
Eu fiz uma careta, me aproximando.
A pintura era enorme, quase tão alta quanto eu. Fora lindo outrora.
Dava pra ver. Mas agora a tela estava destruída.
De um lado, um lindo anjo de cabelos dourados estava de pé, intocado.
Outra figura, que antes estava ajoelhada a seus pés, agora permanecia
apenas parcialmente. A melhor parte de seu corpo foi arranhada, seu rosto
havia sido arrancado.
Quanto mais eu olhava, pior ficava a sensação de aperto no estômago.
O anjo era a imagem cuspida de Angela. Não havia dúvida sobre isso, o
que só poderia significar uma coisa: eu era o cavaleiro destroçado. Eu teria
que ser um idiota para chegar a qualquer outra conclusão.
A mensagem foi clara.
A pintura era uma ameaça.
Restava apenas uma pergunta: quem era o artista?
Meus olhos dispararam para o canto inferior da pintura. —
Alguém chame Dustin Sterling no telefone, agora.

Angela
O ar frio da noite atingiu minhas bochechas muito quentes e braços nus
quando entrei nos jardins do hotel.
Respirei fundo, deixando a quietude da noite de primavera me acalmar.
Você está sendo ridícula.
O dia todo foi perfeito. Em estava nas nuvens. Em breve, Xavier e eu
poderíamos voltar para nosso apartamento e nos aninhar na cama.
Eu poderia dizer a ele aquelas três pequenas palavras que eu estava
morrendo de vontade de dizer a ele.
Atravessei o pátio de pedra e me sentei em um banco em frente a um
pequeno lago.
O pensamento de Xavier me fez imaginar o que poderia tê-lo tirado do
casamento.
Uma emergência, ele disse. Que tipo de emergência aconteceu às dez
da noite de um sábado?
Estremeci quando outra brisa soprou pelas árvores, fazendo-me cruzar
os braços contra o peito. Então, da sombra ao lado das portas, uma voz
falou: — Posso lhe oferecer uma bebida, mademoiselle?
Meu coração parou.
— O que você está fazendo aqui?
Jacques sorriu, dando um passo em minha direção.
— Eu vi você sair e você parecia tão... tão triste que pensei em vir me
certificar de que você estava bem.
Estávamos no jardim do hotel. Havia centenas de pessoas do outro lado
das portas. Ele não ousaria me tocar agora, não é?
— Xavier está aqui. — Eu me descobri mentindo. — Se eu gritar, ele virá
correndo.
Meu coração estava disparado no peito, e minhas mãos, úmidas no
banco de pedra frio. Eu sabia o que viria a seguir. Os dedos de Jacques
agarrariam minhas coxas e seus lábios atacariam meu pescoço.
Nós já dançamos essa dança antes.
Frenética, virei minha cabeça, procurando desesperadamente por outra
saída.
Eu não poderia deixá-lo vencer.
Não podia deixá-lo chegar tão perto de novo.
Jacques riu e lentamente começou a dar um passo em minha direção.
— Receio, mademoiselle, que seu marido esteja bastante ocupado no
momento.
— Por favor... Por favor, pare, — eu disse, me levantando.
Jacques deu mais um passo à frente.
— Parar o quê?
Eu abri minha boca para gritar, mas não fui rápida o suficiente.
Jacques saltou para frente, jogando-me para trás.
Uma dor aguda floresceu em minha têmpora.
Minha visão turvou.
Então havia apenas... preto.

Capítulo 27
Tudo
Xavier
— Atenda o seu celular, — eu sussurrei. — Atenda o seu maldito celular.
Dustin não estava respondendo. Ele provavelmente estava se divertindo
muito no casamento para ouvir seu telefone.
A linha caiu. Apertei o botão de rediscagem.
— Precisamos dar um jeito nisso, — gritei para Marco.
A primeira vez que Dustin não atendeu, eu decidi rastreá-lo e pulei de
volta para o meu carro. Parecia uma ótima ideia até que ficamos presos no
trânsito a quatro quadras do hotel.
Do banco da frente, Marco murmurou sua resposta usual.
— É Nova Iorque.
Isso não foi bom o suficiente desta vez. Não estava atrasado para uma
partida de pólo ou uma reunião no iate clube. Angela estava em perigo.
— Esqueça, — eu bati e abri a porta dos fundos, guardando meu celular
e saindo para a rua.
— Sr. Knight! — Marco me chamou. Mas era tarde demais. Eu já estava
na metade do quarteirão.
Ela estava certa. Angela estava certa.
Jacques ainda estava na cidade.
Ela estava certa e eu não tinha escutado, eu não tinha acreditado nela.
Por que eu nunca acredito nela?
Corri passando por um casal, batendo no ombro do homem, e fui
embora antes que ele pudesse gritar algo.
Angela. Eu preciso falar com Angela.
Se ele a tocou...
Não. Ela estava em um casamento. Em um salão de baile cheio de
gente. Intocável.
Mesmo assim...
Eu corri mais rápido.
Eu não a perderia, não poderia perder outra pessoa que eu amava.
Eu derrapei até parar do lado de fora das portas da frente do hotel,
meus sapatos sociais deslizando no cimento da calçada.
O porteiro abriu a porta e eu entrei no saguão.
Papai já estava lá, esperando por mim.
— Xavier! — ele gritou, e então franziu a testa ao ver meu estado
desgrenhado. — O que aconteceu, filho?
— Jacques, — eu ofeguei. — Ele está aqui. Ele está atrás de Angela.
Temos que encontrá-la.
— A polícia?
— Eu já liguei para eles. Pai, por favor, — eu implorei.
— Vá verificar o salão de baile. Vou mandar o pessoal vasculhar o hotel.
Nós a encontraremos, Xavier.
— Obrigado. — Eu corri para as escadas, não precisando de mais
instruções.
Dentro do salão, o casamento ainda estava em pleno andamento. Eu
corri pela multidão freneticamente, esperando ver um lampejo de cabelo
dourado ou ouvir sua risada familiar.
Meu olhar procurava a cor magenta do vestido. Mas era impossível
distinguir uma dama de honra da outra.
— Não, não, não, — eu murmurei, apoiando-me em um garçom e
quase fazendo sua bandeja tombar.
Então avistei um cabelo penteado familiar num círculo de convidados.
Dustin.
Eu empurrei a multidão e agarrei seu braço.
— Por que você não está atendendo o celular?
— Xavier! — Dustin disse, jogando um braço sobre meus ombros. Ele
estava feliz. Muito feliz. — Como você está? O que posso fazer por
você?
Ele está bêbado, eu percebi. Ótimo.
Eu apertei a base do meu nariz, tentando muito não gritar com o amigo
de Angela.
— Eu tenho uma pergunta sobre uma de suas pinturas.
— Xavier Knight está interessado em uma de minhas pinturas? —
Dustin perguntou, alto demais. Notei que algumas das pessoas com quem
ele estava falando se aproximaram.
O plebeu da ascensão social.
— Sim. Um anjo, — eu disse a ele.
— O que eu fiz para você e Angela? — ele perguntou.
Para mim e Angela? Fechei os olhos, tentando pensar. Angela disse algo
sobre uma pintura.
— Ela não te contou? — Dustin disse, baixando a voz para que só eu
pudesse ouvir. — Foi roubado.
— Por quem?
— A polícia investigou isso, — respondeu Dusty rápido demais.
— Não minta para mim, Dusty, ou vou encerrar sua carreira de pintor
mais rápido do que você pode dizer moccachino. — Eu não estava com
humor para seus jogos.
Com um olhar de soslaio para seus novos amigos, Dustin suspirou.
— Ok, olhe. Vou te dizer a verdade, mas você tem que prometer não
contar a Angela.
— Está bem.
— Eu vendi. Eu não queria, mas me ofereceram uma ridícula quantia de
dinheiro por ele e....
— Para quem você vendeu? — Eu atirei de volta.
— Não me lembro do nome dele.
— Como ele era?
Dustin riu:
— Bem, posso te dizer uma coisa. Eu com certeza comeria a baguete
dele, se é que você me entende.
Meu peito se apertou. Dusty havia revelado uma pista sem saber.
— Ele era francês?
— Ah, sim! Você deve saber de quem estou falando. Ele entrou no café
outro dia com uma garota no braço. Angela parecia conhecê-los. Ele...
Eu recuei, para longe dele, meus temores foram confirmados.
Jacques estava por trás disso.
Jacques estava solto em Nova Iorque.
Jacques havia levado o quadro.
E eu deixei Angela sozinha.
Eu precisava encontrá-la agora.
— Xavier! — uma voz chamou atrás de mim. Eu me virei para encontrar
Em vindo em minha direção.
Eu tinha deixado Angela com Em. Talvez ela soubesse onde estava. Será
que...
— Você viu, Angela? — ela perguntou. — Ela me deve uma dança.
— Não, eu a deixei com você, — eu disse, um pouco rispidamente.
Em franziu a testa.
— Ela disse que precisava de um pouco de ar.
— Merda, — eu sussurrei, passando as mãos no meu cabelo.
Se ela foi para fora...
— Há algo errado, Xavier? — Em perguntou.
— Não tenho certeza. Eu só preciso encontrá-la.
Angela não tinha saído para a frente do hotel, então só havia um outro
lugar onde ela poderia ter ido para tomar um pouco de ar... os jardins.
Virei-me e fui para o outro lado da sala.
As portas se abriram para um pátio fechado. Se fosse uma noite mais
quente, os convidados do casamento estariam bebendo seu champanhe
sob as luzes cintilantes. Em vez disso, os jardins estavam vazios.
Eu estava ficando sem opções, sem tempo. Minha única esperança
agora era que eles a tivessem encontrado em outro lugar do hotel.
Fui para o saguão e localizei meu pai.
— E então? — ele perguntou.
Eu já sabia pelo seu tom que o pessoal do hotel não a tinha encontrado.
— Ela sumiu. — Eu disse, desamparado. — O desgraçado a pegou...
Meu pai pigarreou.
— Xavier.
— Bonitão?
Virei-me para encontrar o Sr. Carson parado atrás de mim, junto com
Em, Lucas, Danny e Dustin.
— Em disse que Angie está desaparecida, bonitão. Isso é verdade?
Seus olhos estavam em mim, esperando que eu os consolasse, que lhes
dissesse que não era verdade.
Eu desejei a Deus que eu pudesse. Em vez disso, eu disse: — Ela está
certa.Em começou a chorar, e então ela foi puxada para o peito de Lucas.
— Estamos fazendo todo o possível para localizá-la, — meu pai disse.
Ele colocou a mão no meu ombro, como se soubesse que de repente falar
era impossível para mim, que meu peito doía muito para respirar. — Nós
vamos encontrá-la.

Angela
— Por favor, — eu implorei, com a voz rouca de tanto gritar. — Por favor,
deixe-me ir.
Como todas as outras vezes que perguntei, Jacques me ignorou.
Eu gemi quando fui sacudida para o lado e minha cabeça bateu contra o
painel de metal frio atrás de mim.
Estávamos em um veículo. Isso eu sabia. Eu podia ouvir o motor
próximo de mim. Sentia a frenagem e as curvas enquanto passávamos pelo
tráfego.
Há quanto tempo estávamos dirigindo, ou para onde, era um mistério.
Quando acordei, estava deitada de costas, cega. Jacques colocou algo
escuro sobre minha cabeça. Eu podia sentir o material áspero se mover e
umedecer a cada respiração que eu dava.
Minhas mãos estavam entrelaçadas nas minhas costas, com os laços tão
apertados que eu estava começando a perder a sensibilidade nas pontas
dos dedos.
Era isso. O fim. Tinha que ser. Ninguém sabia que eu estava
desaparecida, para onde havia ido, com quem estava.
— Por favor, deixe-me ir. — Eu tentei de novo. — Você pode ter o que
quiser. Se é dinheiro que você quer.
Uma risada sombria respondeu.
Pelo menos foi alguma coisa.
— Não estou atrás de dinheiro, — Jacques me disse.
— Então o quê?
— Vingança.
A caminhonete diminuiu a velocidade até parar. Ouvi a porta da frente
abrir e fechar, o barulho de sapatos no cascalho enquanto Jacques dava a
volta na parte detrás.
As portas do painel se abriram e eu soltei um grito de gelar o sangue
quando uma mão envolveu meu tornozelo e me puxou para fora da
caminhonete.

Xavier
Estávamos sentados na suíte nupcial — todos os sete de nós — esperando.
A polícia esteve aqui. Já havia contado tudo a eles.
Disseram que seu quarto de hotel estava vazio.
Que não havia cobrança em seus cartões de crédito.
E que estavam fazendo o possível para encontrá-la.
Não era o suficiente.
Isso não era bom o suficiente.
— Eu não posso simplesmente sentar aqui, — eu disse.
Não podia ser isso. Devia haver algo que eu não havia percebido. Outra
pista. Qualquer que fosse. Nada.
— Você já fez tudo que podia, filho, — meu pai disse, observando
enquanto eu andava de um lado para o outro ao longo da cama.
— Eu não acredito. Alguém deve ter visto algo. Alguém sabe onde ela
está.
— Filho, — meu pai disse de novo, olhando de mim para os amigos e
familiares de Angela.
Então eu entendi.
Eu estava assustando eles.
Bom. Eles deveriam estar com um puta medo. Angela estava
desaparecida e ninguém estava fazendo porra nenhuma. Não...
Penny.
Eu parei.
— Penny, — eu disse, em voz alta desta vez, remexendo no bolso em
busca do telefone.
Talvez Jacques tenha entrado em contato com ela. Talvez ela soubesse
onde ele estava.
Pressionei seu número com meu polegar.
A ligação caiu.
Eu caí de volta no sofá, derrotado. Então
meu telefone vibrou.

Penny: Voc ê precisa de algo?

Xavier: Eu preciso falar com voc ê .


Xavier: Atenda seu telefone.

Penny: Estou em uma palestra agora o que


quer?

Xavier: Onde est á Jacques?

Penny: MDS. nem me fa ç a come ç ar.

Penny: Voc ê estava certo. Deveria ter


cortado os la ç os com aquele canalha.

Xavier: Penny

Xavier: Angela est á desaparecida.

Xavier: Acho que Jacques pode estar por


tr á s disso.

Penny: Ah n ã o....
Xavier: Quando foi a ú ltima vez que voc ê o
viu?

Penny: Alguns dias atr á s...

Xavier: Ele tem algum lugar na cidade?


Algum lugar que ele possa lev á - la?

Penny: Deixe-me pensar...

Xavier: r á pido.

Xavier: por favor.

Xavier: Penny???

Penny: Ele é dono de um armaz é m à beira-


mar!

Penny: geralmente est á vazio. Ele gosta de


dar festas l á à s vezes.
Xavier: OBRIGADO.

Angela
De repente, o tecido foi arrancado da minha cabeça.
Pisquei enquanto meus olhos se ajustavam à luz brilhante artificial.
Com a cabeça latejando, tentei ficar de pé. Mantenha o foco.
Eu estava parada na entrada de uma espécie de armazém. Os caixotes
estavam empilhados em fileiras altas, estendendo-se na frente e atrás de
mim.
Pisquei novamente quando uma sombra apareceu sobre mim,
bloqueando a luz, e Jacques entrou em foco.
— Uma mulher tão bonita, — ele falou, passando um dedo pelo meu
queixo. E riu quando eu recuei.
— Por que você está fazendo isso?
A expressão de Jacques ficou sombria.
— Você não deveria ter me rejeitado em Paris. Se você me deixasse ter
o que eu queria, estaríamos quites. Agora ele tirou tudo de mim. Então,
vou tirar tudo dele.
Tirando uma faca do cinto, um sorriso se espalhou em seu rosto.

Capítulo 28
Tarde demais
Angela
Jacques cometeu um erro.
Embora seu plano tivesse funcionado até agora, ele negligenciou um
pequeno detalhe.
Ele me subestimou.
Como se eu fosse uma donzela desmaiada em perigo, Jacques me
deixou em pé no meio do armazém, acreditando que eu estava fraca
demais para pensar que poderia escapar.
Minha cabeça pode estar zumbindo e meus braços podem estar
amarrados, mas eu ainda tinha minhas pernas, e ele era um tolo em pensar
que eu não as usaria.
Posso não ter sido a mais extrovertida ou autoconfiante, mas valorizava
minha vida.
Eu queria ver minha família novamente. Dizer a Xavier que eu o amava.
Ser uma boa esposa, filha, amiga. E eu não ia deixar Jacques tirar isso de
mim.
Assim que Jacques estava perto o suficiente, eu chutei, acertando-o
bem entre as pernas com o salto do meu sapato preto.
Com a faca caindo no chão, Jacques caiu de joelhos com um grunhido e
eu corri para a porta.

Xavier
— Saia, — eu gritei, abrindo a porta do lado do motorista do meu
Lamborghini.
Estávamos na frente do hotel. Alguns pedestres viraram a cabeça ao ouvir
minha voz alta.
— Pra fora. Agora. — Eu gritei novamente quando Marco não se
moveu. — Deixe as chaves.
Meu motorista saiu do carro e eu deslizei para o banco do motorista. Eu
não tinha tempo para tráfego ou semáforos vermelhos. Eu precisava chegar
até Angela agora.
Ron tinha encontrado o endereço do armazém de Jacques e não queria
deixar mais nada me impedir de chegar lá o mais rápido possível.
— Filho, — meu pai chamou, aproximando-se da janela do carro. —
Você deve esperar pela polícia.
— Eles podem me seguir. — Eu mudei de marcha. — Não tenho mais
tempo a perder.
Se a pintura fosse um indicador, Jacques tinha feito tudo isso para se
vingar de mim.
Pela Penny.
Por arruinar sua carreira.
Por mandar a polícia atrás dele.
Foi minha culpa ele ter levado Angela.
Se ele a tocasse, a machucasse, era por minha causa.
Eu não poderia deixar isso acontecer.
Com os pneus cantando, eu entrei na rua movimentada.
Uma sinfonia de luzes e sirenes apareceu diante de mim, cortando um
caminho pela cidade.
— Estou indo, Angela, — murmurei para mim mesmo.
Eu só esperava chegar antes que fosse tarde demais.

Angela
Foi difícil correr com os braços atrás de mim, mas corri para as portas de
metal abertas do armazém o mais rápido que pude.
Eu estava no meio do caminho até a porta quando ouvi passos pesados
se aproximando rapidamente atrás de mim, e então Jacques me jogou com
força no chão.
Meu queixo bateu no chão de concreto com uma força de bater os
dentes, e o sangue encheu minha boca.
— Sua filha da puta, — Jacques cuspiu, montando sobre minha cintura.
Ele se levantou, me colocando de pé ao lado dele.
— Você quer brincar? Eu conheço um jogo.
Ele me empurrou, fazendo-me voar em direção a uma caixa próxima.
Ela se estilhaçou sob meu peso. Pedaços de madeira cortaram minhas
costas, fazendo-me gritar.
Então Jacques já estava em cima de mim me levantando novamente.
— Shh agora, mademoiselle. Jacques está aqui.
Ele me arrastou até uma viga no centro do espaço e amarrou minhas
mãos em torno dela.
— Você é mais corajosa do que eu pensava, não como as putas de
sempre de Xavier.
Eu caí contra o poste de metal, os joelhos tremendo, e cuspi um bocado
de sangue.
Garantido que eu não pudesse ir a lugar nenhum, Jacques cruzou a sala
em direção a sua faca esquecida.
— Ele vai te matar, — disse em voz alta, surpreendendo-me com
minhas palavras violentas.
Mas eu sabia que elas eram verdadeiras. Xavier tinha machucado as
pessoas por muito menos do que isso. Se ele me encontrasse assim,
sangrando e ferida, ele caçaria Jacques até o dia em que ele morresse.
Jacques pegou a faca e segurou-a com força nas mãos.
— Talvez, mas não antes de eu conseguir o que quero.
Esperança era tudo que eu tinha agora. Espero que alguém tenha
percebido que eu estava desaparecida. Espero que Xavier esteja a caminho
de me encontrar.
Eu só tinha que esperar um pouco mais.

Xavier
Com o coração martelando, eu corri pelas ruas.
Eu tinha deixado minha escolta pra trás. Eu mal conseguia ouvir suas
sirenes agora.
Meu veículo era muito mais rápido, muito superior.
Mas ainda não rápido o suficiente.
Ainda esta manhã eu estava perguntando ao Sr. Carson se eu poderia
me casar com Angela.
Eu estava pronto dessa vez. Eu sabia que Angela era tudo que eu
poderia querer e muito mais.
Estávamos juntos há meses. Eu perdi muito tempo valioso odiando-a.
Agora era tarde demais.
Agora talvez eu nunca tenha a chance de dizer a verdade a ela.
Para dizer a ela que eu estava errado.
Para dizer a ela que a amava.

Angela
O sangue pingou no chão abaixo de mim, a escuridão começava a tomar
conta da minha visão enquanto o metal afiado da lâmina pressionava
minha garganta.
Eu não duraria muito mais tempo.
— Vou marcar você como você me marcou. — Jacques sussurrou,
empurrando a faca mais fundo na carne macia do pescoço.
— Mas, primeiro, temos alguns negócios inacabados.
Senti a lâmina se mover para baixo, cortando minha clavícula, descendo
pelo centro do meu peito, entre meus seios. Então Jacques grunhiu, e ouvi
o som de tecido rasgando.
O ar frio da noite sussurrou contra minha pele recém-exposta. Pedaços
do meu vestido de dama de honra caíram no chão.
Jacques me olhou de cima a baixo, observando minha calcinha de renda
branca e o peito sem sutiã, com a cabeça inclinada para o lado.
— Não é o que eu imaginei que Xavier Knight escolheria, mas você vai
dar pro gasto.
Jacques se aproximou. Seu hálito azedo se espalhou pelo meu rosto
coberto de lágrimas enquanto ele se atrapalhava com o cinto.
Ele largou a faca, agarrou rudemente meus seios com as mãos úmidas e
beliscou meus mamilos.
Eu gritei debilmente, já exausta e com a perda de sangue deixando
meus membros fracos e pesados.
Jacques tentou enfiar a perna entre minhas coxas, espalhando minhas
pernas. Usei minha força restante para mantê-las fechadas, juntas.
— Não me faça amarrar suas pernas também, — ele sussurrou.
Eu apertei com mais força.
Não que eu estivesse com medo de morrer. Eu estava com medo de
deixar tudo para trás. Eu conhecia a dor de perder alguém, conhecia o
buraco que isso deixou no seu coração, na sua vida.
Eu tinha visto o que isso tinha feito com meu pai e irmãos, com Brad,
com Xavier. Eu não queria fazer isso com eles. Não queria causar tanta dor
a ninguém que eu amava. Ou, pior ainda, dar a Jacques a gratificação de tê-
los machucado.
Eu não tinha mais muita escolha. Lentamente, eu podia sentir minhas
energias sendo drenadas do meu corpo.
— Isso tudo poderia ter terminado se você apenas me deixasse ter o
que eu queria em Paris. — Jacques lambeu o lado do meu pescoço. —
Agora vai ser uma bagunça. Quando terminar, terei que te matar.
— Você não precisa, — eu disse, pulando enquanto seus dedos ásperos
deslizavam ao longo do cós da minha calcinha.
— Sim, — disse Jacques. — Ele tirou tudo de mim. Meu amor. Meu
trabalho. Minha vida. Ele tem que pagar.
Ele chutou minhas pernas.
Eu caí no chão de concreto e me encolhi como uma bola. Meus ombros
doeram, enquanto meus braços eram torcidos em torno do mastro, com as
amarras mordendo a pele já em carne viva de meus pulsos.
Posso não ter muita força sobrando, mas com certeza usaria o pouco
que restava para tornar isso o mais difícil possível para ele.
— Sua vadia.
Eu deixei meus olhos fecharem.
Sinto muito, Xavier.
Eu te amo.

Brad
— Amélia, — eu sussurrei, com olhos fechados. — Nosso filho precisa de
você agora.
Eu não era um homem que confiava nas igrejas para milagres — não
quando minha Amélia morreu, não depois da queda do avião — mas achei
que agora seria a hora de começar. De joelhos, na capela do hotel, pude
sentir um poder se movendo por mim, um calor se instalando em meu
peito.
— Nossa Angela foi tirada de nós. Xavier precisa de você, meu amor. Ele
não é forte o suficiente para perdê-la também. Dê a eles — dê a todos nós
— a força de que precisamos para passar por essas horas sombrias. Guie-
nos para o caminho certo. Mantenha-a segura. Por favor, mantenha Angela
segura. Não há... não há mais nada que eu possa fazer.
Não foi apenas pelo meu filho que orei, mas pelos amigos e familiares
de Angela. Por mim.
Angela era uma das almas mais puras e brilhantes que já tive a chance
de encontrar, e eu sabia que o mundo seria um lugar muito mais sombrio
sem ela.
— Por favor, — eu sussurrei, apertando minhas mãos diante de mim.
— Por favor, traga-os de volta em segurança.

Xavier
Encontrei o armazém, um prédio longo de um andar ao longo da costa.
Havia um furgão na frente dele. Luzes brilhavam de dentro.
Tinha que ser aqui. Mas eu será que cheguei a tempo?
Desliguei o motor do Lamborghini e pulei para fora do carro.
O cascalho rangia sob meus sapatos enquanto eu corria para as portas
do armazém. Elas foram abertas, com a luz vazando ao pátio externo.
Eu não sabia o que me esperava lá dentro. Não importava mais. Não
havia tempo pra isso.
Com os olhos semicerrados pela forte luz sintética, passei pela porta do
armazém.
E lá estava ele: Jacques. Com roupas manchadas de sangue e as mãos
manchadas de vermelho, ele estava sobre um corpo.
Abaixo dele, mole no chão de concreto, estava Angela, com seda
magenta e sangue carmesim acumulando-se ao seu redor.
Não.
Não pode ser.
Não estou muito atrasado.
Ele não pode vencer.
Uma onda de fúria tomou conta de mim, com minhas mãos se
fechando em punhos.
Eu não aceitaria isso. Não poderia.
Esta deveria ser minha segunda chance.
Eu a amava.
Eu a amo, pelo amor de Deus.
O destino poderia ser tão cruel?
— JACQUES! — Minha voz ecoou pelo armazém.
Ainda curvado sobre Angela, Jacques se virou para mim, com um
sorriso doentio se espalhando em seus lábios.
— Xavier. — Ele sorriu. — Que surpresa. Acho que há algumas coisas
que devemos discutir.
Tirei meu paletó Armani, deixei-o cair no chão do armazém e agarrei
um pé de cabra de uma caixa próxima, avançando em direção a ele.
Não havia mais nada para discutir.
Ele destruiu tudo.
Arregaçando as mangas da minha camisa social, eu zombei.
— Terminamos isso agora.

Capítulo 29
Ok
Xavier
Eu golpeei o pé-de-cabra na cabeça de Jacques.
Ele caiu no chão, lutando por uma faca que estava em uma poça de
sangue de Angela.
Começamos a circular um ao outro — com o corpo de Angela entre nós
— como dois leões lutando por sua presa.
— Vamos, — eu provoquei. — Vamos, seu desgraçado francês imundo!
Vem me pegar. Isso é o que você queria, não era?
Jacques rosnou e mergulhou em minha direção.
Eu desviei, esquivando-me de sua lâmina, balançando meu pé de cabra
nele novamente.
Houve um estalo nauseante quando o metal atingiu seu flanco. Jacques
grunhiu, caindo de joelhos.
Arrisquei um olhar por cima do ombro para Angela, tentei ver se ela
estava se movendo, respirando.
— Você tirou tudo de mim! — Jacques gritou, pondo-se de pé. — Por
quê?
Meu punho apertou o pé-de-cabra, preparando-me para seu próximo
ataque.
— Por que não?
Era verdade. Não havia um bom motivo. Nada que o fizesse se sentir
melhor. Tudo começou porque eu dormi com Penny.
Eu fiz isso porque podia. Porque não me importei com as repercussões
de nada do que fiz. Porque eu estava errado.
Mas agora era tarde demais.
— Você já tinha tudo, — gritou Jacques, atacando.
Não fui rápido o suficiente desta vez. O ombro de Jacques bateu em
mim, me jogando no chão.
Eu gemi quando uma dor aguda cortou meu braço.
Então estávamos rolando. As pernas chutaram e os punhos voaram
enquanto lutavamos.
Finalmente, consegui prender Jacques embaixo de mim e me levantei
de modo que me sentasse em seu peito.
Eu joguei meu punho direito em seu rosto. Então meu esquerdo. E foi
assim repetidamente enquanto ele resistia embaixo de mim.
Eu o atacava implacavelmente.
Eu deixei a dor tomar conta de mim. Abastecer-me. Guiar-me.
Eu queria machucá-lo como ele me machucou, como ele machucou
Angela.
Lentamente, Jacques parou de lutar, parou de se mover.
Eu sabia que poderia continuar. Eu poderia socá-lo até que seu último
suspiro deixasse seu corpo, mas quando olhei para cima, avistei Angela e
meus punhos começaram a desacelerar.
Não valia a pena. A dor não resolveria isso. A raiva não melhoraria
nada. Eu já tinha vivido isso antes, percorrido esse caminho muitas vezes.
Desta vez, eu escolheria uma forma diferente.
Com os nós dos dedos cobertos de sangue — tanto os de Jacques
quanto os meus, — eu me levantei e pisei em seu corpo imóvel. Cambaleei
pelo chão do armazém e caí de joelhos ao lado de Angela.
Ela estava deitada no chão, quase nua, com os braços torcidos atrás
dela em um ângulo terrível. Eu rapidamente puxei as cordas que a
prendiam à viga em que Jacques a amarrou. E com os dedos sangrando,
consegui libertá-la.
Sirenes tocaram à distância enquanto eu colocava Angela em meu colo.
— Tarde demais, — gritei comigo mesmo. — Você chegou tarde
demais.
Com as mãos trêmulas, afastei os fios dourados de cabelo de seu rosto,
deixando os soluços me tomarem.
Não conseguia me lembrar da última vez que chorei. Não conseguia me
lembrar da última vez que me permiti machucar tanto. Por anos, eu
tranquei a dor dentro de mim. Eu não aguentava mais, não suportava isso.
A visão de Angela ensanguentada em meus braços me destruiu.
Pressionei meu rosto ao dela, esperando — tendo esperanças — sentir
sua respiração na minha pele. Veio, mas era muito fraca.
Eu estava perdendo ela.
— Sinto muito, — eu sussurrei, balançando-a para frente e para trás. —
Sinto muito, Angela.
As sirenes ficaram mais altas. Eu a segurei contra meu peito, esperando
que seus olhos abrissem. Esperando poder vê-la sorrir mais uma vez.
— Eu escolho de novo, — eu disse a ela. — Eu escolho você.
Uma pequena linha apareceu entre os olhos de Angela.
Não era possível.
Pisquei e, com a voz trêmula, perguntei:
— Angela?
Pouco a pouco, os olhos de Angela se abriram.
Minha respiração ficou presa na minha garganta. Eu estava com medo
de me mover. Com medo de respirar.
Angela franziu a testa por um momento, e então os cantos de seus
lábios se curvaram quando seus olhos se focaram em mim.
— Você veio, — ela disse, com a voz fraca.
Eu beijei sua testa.
— Claro, meu anjo.
De repente, o rosto de Angela caiu, seu doce sorriso foi substituído por
terror.
Olhei por cima do ombro a tempo de ver Jacques parado atrás de nós,
com o pé-de-cabra nas mãos, indo direto na minha cabeça.

Angela
— Xavier! — Eu gritei quando Jacques balançou o pé-de-cabra na direção
da cabeça de Xavier.
Em seguida, um grande estrondo ecoou pelo armazém, terminando
com o conflito.
Jacques congelou, seus olhos reviraram, e ele desabou no chão.
— Está tudo bem, — Xavier respirou acima de mim como uma oração.
— Você está segura. Você está segura. Eu estou aqui.
Ele veio.
Xavier veio.
Estou a salvo.
Então fomos cercados. Os cães latiram. Pessoas gritaram. Sirenes
soaram.
Meus olhos ficaram pesados novamente. Sons e imagens se misturaram
num borrão.
— Você está ferido, Sr. Knight?
— Precisamos levá-lo ao hospital.
— Nós cuidaremos dela agora, Sr. Knight.
Mãos fortes se apertaram ao meu redor. Fui erguida.
Uma luz brilhante encheu minha visão e um calor começou a me
encher.
— Você está segura agora, meu anjo.
— Estou aqui. Estou aqui.
Estou aqui.

Xavier
Quando Jacques caiu no chão atrás de nós, a polícia invadiu o armazém
com as armas levantadas.
Eles se espalharam entre as caixas.
Eu fiquei no chão, segurando meu anjo em meus braços.
— Não me deixe, — ela sussurrou, com as pálpebras fechando
novamente.
— Fique comigo, Angela, — implorei.
— Não me deixe, — ela disse novamente.
— Estou aqui, — prometi. — Estou aqui.
— Sr. Knight, — alguém disse.
Pisquei e olhei para o lado.
Havia um policial ajoelhado ao meu lado.
— Você está ferido, Sr. Knight?
Eu balancei minha cabeça, confuso com sua pergunta.
O que isso importa? Ele não conseguia ver o quanto Angela estava
machucada?
Ele estendeu a mão e pressionou dois dedos contra a garganta de
Angela.
— Precisamos deixar os paramédicos examinarem sua esposa.
— Sim, — eu concordei. — Por favor.
— Você tem que deixá-la ser tratada agora, Sr. Knight.
— Não, eu preciso ficar com ela. Eu prometi que ficaria com ela.
— Sr. Knight, temo que não seja possível. Vocês...
Eu parei de ouvir. O idiota não entendeu.
Pegando Angela em meus braços, eu me coloquei de joelhos, e de pé.
Eu podia ver a ambulância esperando do lado de fora do armazém.
— Você vai ficar bem, — sussurrei para Angela, dando um passo em
direção à ambulância, depois outro. — Estamos quase lá.
Os paramédicos pularam da traseira da ambulância, correndo em
minha direção com uma maca entre eles.
— Nós cuidaremos disso a partir daqui, Sr. Knight, — disse um deles,
parando diante de mim.
— Você precisa soltá-la agora, Sr. Knight, — disse o outro.
— Eu não vou. Eu preciso ficar com ela.
Por que ninguém entende como isso é importante?
O segundo paramédico — uma mulher pelo que percebi — falou
novamente.
— Você pode ficar com ela, Sr. Knight, mas você precisa colocá-la na
maca agora. Se você quer que a ajudemos, você precisa deixá-la aqui.
Eu cedi, colocando Angela na maca. Em um segundo, ela foi levada
embora pelo primeiro paramédico e carregada para a parte de trás da
ambulância.
— Vamos, Sr. Knight. Você também, — disse o segundo.
Eu os segui. Subi na parte de trás da ambulância. Sentei-me no banco.
As portas traseiras da ambulância se fecharam e as sirenes começaram a
soar mais alto do que nunca.
Uma das mãos de Angela, a mais próxima de mim, estava pendurada na
maca. Estendi a mão e a agarrei, enrolando seus dedos frios nos meus.
— Ela vai ficar bem, Sr. Knight, — a mulher me disse, apertando meu
ombro.
— Você não sabe disso, — rebati, agarrando com mais força a mão de
Angela.
— Eu sei, — ela disse, — que faremos tudo o que pudermos por ela. Eu
sei que a Sra. Knight ficará muito chateada se você não nos deixar cuidar de
você também.
Eu me calei e deixei a paramédica olhar para meu braço, minhas mãos,
minha cabeça.
— Há alguém para quem você deveria ligar? — o paramédico
perguntou.
Merda.
Meu pai. Em. Sr. Carson.
— Sim, — eu disse e tirei meu celular do bolso.
Com dedos trêmulos, encontrei o número de papai e apertei o botão de
chamada.
Ele atendeu ao primeiro toque.
— Pai?
— Xavier, — disse meu pai, a voz cheia de um certo tipo de reverência.
— Estou aqui, pai, — eu disse. — Estou bem.
Houve um momento de silêncio enquanto ele reunia coragem para
fazer a pergunta.
A única pergunta que importava.
— Angela?
Novas lágrimas encheram meus olhos.
— Não sei.
— Está tudo bem, filho. Tudo ficará bem.
— Estamos indo para o hospital, — eu disse a ele.
— OK. Estamos indo. Nos encontraremos lá.
A linha ficou muda.
As sirenes continuaram a soar.
O paramédico tirou o telefone das minhas mãos.
Deitei na maca e fechei os olhos.
Por favor, orei. Por favor apenas deixe ela ficar bem.
Deixe Angela ficar bem.
Capítulo 30
Anjo
Angela
Acordei com um barulho de bipe. O som tinha uma batida uniforme, no
tempo com a minha cabeça latejante, no tempo com o meu batimento
cardíaco.
Com um gemido, abri meus olhos, estremecendo quando uma luz
ofuscante e estéril tomou minha visão.
Eu estava em um quarto de hospital. Isso estava claro, mas como eu vim
parar aqui?
Então lembrei de tudo rapidamente.
Jacques.
O armazém.
A faca.
Xavier. Onde está Xavier?
O bipe acelerou quando me movi para jogar para trás os cobertores do
hospital, apenas para descobrir que não conseguia. Algo estava segurando
minha mão.
Eu olhei para baixo. Xavier estava sentado ao lado da minha cama,
dormindo com um braço segurando sua cabeça. E sua outra mão segurava
a minha.
Eu sorri. Xavier estava aqui. Ele ficou comigo.
Estendi minha outra mão e gentilmente passei pelo seu cabelo.
Xavier se ergueu de um salto, seus olhos procurando freneticamente
pela sala até que pousaram em mim.
— Você acordou.
— Sim, — respondi com um sorriso.
Xavier deu um pulo, jogando os braços em volta de mim, fazendo-me
estremecer quando a dor desceu pelas minhas costas.
— É tão bom ouvir sua voz.
É tão bom ouvir sua voz.
— Desde quando você diz coisas assim?
— Eu pensei que tinha perdido você, Angela, — Xavier chorou,
afastando-se.
— Isso é mais sua cara.
— Como você está se sentindo? Quer que eu chame a enfermeira? Eu
vou chamar a enfermeira. — Xavier se levantou, alcançando o botão de
chamada de emergência na parede.
— Estou bem, — eu disse a ele. — Calma.
Ele hesitou por um momento, pareceu decidir acreditar em mim e
lentamente voltou à sua cadeira.
— Xavier, — eu disse, olhando para o meu colo. — O que aconteceu?
Eu não tinha certeza se estava pronta para saber a resposta. Sendo
sincera comigo mesma, estava com medo de saber a verdade.
Mas eu sabia que tinha que perguntar. Eu precisava saber o que havia
acontecido. Do contrário, ficaria imaginando o resto da minha vida. Eu
imaginaria o pior.
Xavier pigarreou, tendo a decência de parecer desconfortável.
Esse não era o tipo de coisa sobre a qual falávamos normalmente.
Coisas difíceis. Coisas importantes.
Ele começou a recitar uma lista de palavras médicas como concussão,
lacerações e suturas.
— Eu fui...? — Não consegui dizer a palavra.
Os olhos de Xavier se arregalaram, entendendo o que eu estava
perguntando.
— Não. Eu, uh, eu pedi para os médicos verificarem.
Um peso repentino foi retirado de meus ombros. Jacques não
conseguiu. Ele não tinha me estuprado.
— E Jacques?
— Morreu, — respondeu Xavier, não parecendo nem um pouco
arrependido. — A polícia atirou nele. — Eu balancei a cabeça, esperando
que o toque de tristeza que caiu sobre mim com a notícia não
transparecesse em meu rosto. Jacques tinha feito coisas terríveis. Eu sabia
disso, mas também sabia que ele as tinha feito por causa da dor. Ele havia
perdido o amor de sua vida e sua carreira. Pessoas já fizeram muito pior
por muito menos.
— E você, Xavier? Você se machucou? — Com base em sua camisa
amassada e na nuca, em sua mandíbula, Xavier não tinha ido para casa
ainda.
— Apenas alguns arranhões e hematomas, — ele desdenhou. Então ele
pegou minha mão novamente, segurando-a com as suas. — Eu estava
apavorado, Angela.
— Estou aqui, — eu disse a ele, levando minha mão livre até sua
bochecha. — Estou aqui por sua causa. Não sei como te agradecer.
— Ver você sorrir de novo é mais do que eu jamais poderia esperar. —
Ele levou minha mão aos lábios e deu um beijo delicado em meus dedos.
— Há algumas pessoas lá fora que ficarão muito felizes em vê-la acordada.
Minhas sobrancelhas se ergueram.
— Aqui? Agora?
— Sim, anjo. Você está pronta para isso?
— Claro.
Xavier se levantou e cruzou a sala, desaparecendo pela porta. Ele voltou
um momento depois com uma multidão de pessoas atrás. Meu pai, Brad,
Danny, Lucas e Em todos amontoados no quarto do hospital.
— Filhinha, — papai disse, correndo para o meu lado. — É tão bom ver
você acordada.
Seus olhos azuis brilhantes nadaram com lágrimas. Estendi a mão para
ele e segurei com força sua grande mão envelhecida.
— Não achou que poderia se livrar de mim tão fácil, não é? Como estão
os Giants?
— Eles estão indo para o Super Bowl, — ele respondeu, com um sorriso
grande.
Em veio a seguir. Ela jogou os braços em volta dos meus ombros o
melhor que pôde com todos os monitores e tubos ao meu redor.
— Nunca mais faça isso!
— Eu sinto muito por ter arruinado o seu casamento, — eu disse a ela,
apertando de volta.
— Nem comece com tudo isso! — Em disse.
— Mas...
— Eu disse não. Estou muito feliz por ter minha melhor amiga de volta.
Eles ficaram sentados mais um pouco, rindo e discutindo entre si.
Recostei-me na cama do hospital, ouvindo, observando e absorvendo
minha família.
Eu me senti a garota mais sortuda do mundo.
Eu estava tendo uma segunda chance, um recomeço.
Haveria um novo dia, e outro depois desse, e eu poderia vê-los.
Conhecer os filhos de Em e Lucas. Assistir aos Giants com meu pai. Ver
Danny se apaixonar.
E Xavier estaria lá. Ao meu lado. Sempre. Exatamente como ele
prometeu.

Mais tarde naquele dia, houve uma batida na porta do meu quarto de
hospital. As enfermeiras não batiam, minha família havia ido embora e
Xavier havia ido para casa tomar banho. Quem poderia ser?
— Olá?
A porta se abriu lentamente e Dustin enfiou a cabeça para dentro da
sala.
— Oi.
Eu sorri, endireitando-me na cama do hospital.
— Que bom te ver!
— Mesmo? — As sobrancelhas de Dustin se ergueram. Ele rapidamente
fechou a porta atrás de si e se aproximou da cama. Ele estava
carregando algo grande e quadrado e embrulhado em papel pardo.
— Claro, — eu disse a ele com uma careta. — Por que eu não ficaria
feliz em te ver?
— Porque você ter sido sequestrada foi tudo culpa minha?
Naquele momento, meu peito apertou e meu coração doeu pelo meu
amigo.
— É isso mesmo o que você pensa?
Os ombros de Dustin caíram.
— Se eu não tivesse vendido sua pintura para aquele francês horrível,
nada disso teria acontecido. Eu fui completamente egoísta.
— Você não tinha como saber o que aconteceria, Dustin. Eu entendo
fazer coisas desesperadas quando o dinheiro fica apertado. Eu o perdoo
por vender o quadro, mas Jacques teria encontrado uma maneira de
chegar até mim de uma forma ou de outra. Não foi sua culpa.
— Bem, eu fiz uma nova pintura para você. Uma melhor ainda, — disse
Dustin, levantando o pacote. Ele o colocou ao pé da cama e começou a
rasgar o papel da embalagem.
Eu me engasguei, com as mãos voando para cobrir minha boca
enquanto a pintura abaixo era revelada.
— Você se superou.
A pintura não era tão fantástica quanto o estilo de sempre de Dustin,
nem tão obscura quanto o anjo e o cavaleiro. Em vez disso, havia um casal
dançando no meio de uma movimentada rua de Nova Iorque.

Poucos dias depois, tive alta do hospital.


Xavier foi inflexível sobre ser o único a me pegar no hospital e se
recusou a me deixar andar até o carro. Em vez disso, ele me empurrou
pelos corredores numa cadeira de rodas até a saída do hospital.
Ele tinha sido superprotetor nos últimos dias, ainda mais do que o normal.
Mesmo assim, toda vez que ele mexia em meus pés que ficavam frios ou
uma enfermeira não arrumava meus travesseiros, eu sentia aquelas três
pequenas palavras borbulhando à superfície novamente.
Eu não conseguia me lembrar muito sobre a noite em que fui
sequestrada, mas eu tinha certeza de uma coisa. Xavier tinha vindo. Ele me
salvou de Jacques. Foi a coisa mais corajosa e altruísta que alguém já fez
por mim.
Embora Xavier não tenha dito isso, eu sabia que ele sentia por mim o
mesmo que eu sentia por ele. Ele provou isso naquela noite e todos os dias
desde quando ele se sentou ao meu lado no hospital.
— É bom te ver de novo, Srta. Knight, — disse Marco, segurando a
porta traseira do carro aberta para mim.
— É bom te ver também, Marco. — Eu sorri, aceitando a mão de Xavier
quando me levantei da cadeira de rodas e deslizei para o banco de trás do
carro.
Xavier se sentou ao meu lado e pegou minha mão novamente,
deixando nossos dedos entrelaçados deitarem no assento do meio entre
nós.
— Você está animada para chegar em casa? — ele perguntou quando
entramos no trânsito.
— Mais do que você pode imaginar.
Meu estômago vibrou um pouco com suas palavras. Casa. Tínhamos
uma casa juntos, Xavier e eu. Eu pertencia a algum lugar. Pertencia a
alguém.
Parecia impossível. Depois de tudo que passamos, do quão longe
chegamos, Xavier e eu ainda estávamos juntos.
Papai estava saudável.
O restaurante da minha família não estava mais em dívida.
Em estava feliz.
Não havia mais nada que eu pudesse esperar.
Paramos em frente ao nosso prédio e borboletas começaram a vibrar
no meu estômago.
Xavier me ajudou a entrar e atravessar o saguão até o elevador.
Lentamente, subimos cada vez mais alto em direção à cobertura.
Quando as portas do elevador abriram em nosso andar, Xavier deu um
passo à frente, apenas para ser interrompido quando nossas mãos, ainda
ligadas, ficaram tensas entre nós.
Eu me congelei, com os dois pés firmemente plantados no elevador.
— Está tudo bem, Angela? — Xavier franziu a testa.
Eu sorri, e lágrimas de felicidade transbordaram de meus olhos.
— É só que…
Dar um único passo parecia uma distância intransponível. Era como
uma linha de chegada de uma corrida da qual não estava ciente.
No elevador, o velho mundo permaneceu, um passado cheio de ódio e
mágoa.
A um passo de distância estava Xavier, um futuro impossível, que
acenava para mim, esperava por mim, se eu apenas fosse corajosa o
suficiente para agarrá-lo.
Eu estava equilibrada, com cuidado, na beira de um precipício. Tudo o
que restava era pular.
Fiquei emocionada, inundada, e as palavras saíram de meus lábios.
— Eu te amo.
Eu pulei.

Livro 3
Sumário
1. Grand Finale
2. As Consequências
3. Solitário
4. Outra Garota
5. Trabalho
6. Jantar e Sobremesa
7. Tentando
8. Sem Reservas
9. Falando em Línguas
10. Tal pai, tal Filho
11. Segundos
12. As Línguas do amor
13. Pronto ou Não
14. Aberto ao Público
15. Trovão e Relâmpago
16. O dia seguinte
17. Um Universo Secreto
18. Virando o jogo
19. Uma pausa grávida
20. O Preço certo
21. A maçã e a árvore
22. Flash
23. Esqueça, mas não perdoe
24. (In)Visível
25. Feche o negócio
26. Conhecimento Público
27. Superexposto
28. Referência
29. Registro Permanente
30. O Acordo Perfeito
Capítulo 1
Grand Finale
Dois Meses Depois

Brad
Nada dizia adeus como uma festa, e eu tinha que admitir que fazia muito
tempo que não via uma festa tão espetacular no iate clube. Mesmo a festa
anual não conseguiu conter a extravagância desta noite.
Angela realmente se superou.
E tudo em minha honra, nada menos.
Apesar das festividades ao meu redor, não pude deixar de sentir uma
certa melancolia.
A festa era para celebrar publicamente minha aposentadoria oficial da
Knight Enterprises. Quarenta anos de trabalho e luta para construir a maior
empresa de petróleo do mundo, seguida pela marca de hotel de luxo mais
procurada do mundo.
Tudo se resumia a isso, a quinhentos dos meus amigos e colegas mais
próximos em suas melhores roupas de domingo, batendo papo no iate
clube.
Não se engane quanto a mim.
Pude sentir apenas a maior gratidão por meus camaradas e seu desejo
de comemorar minhas realizações.
A bebida com infusão de manga e morango com cobertura de morango,
chamada The Bradlini em minha homenagem, e a banda ao vivo tocando
minhas músicas favoritas me alegraram muito.
Um único pensamento, porém, me deixou sentado em minha cadeira,
perseguindo cubos de gelo em meu copo com um pequeno guarda-chuva
rosa. Um único pensamento agarrou meu antigo coração.
Isso é tudo que resta?
— O que você está fazendo aí atrás, meu velho? — meu filho disse de
repente, batendo-me no ombro.
Meu filho, meu orgulho e alegria, Xavier.
Uma vez, eu me preocupei que ele não pudesse herdar minha
propriedade. No ano passado, ele provou seu valor duas vezes. Era por isso
que eu estava deixando o cargo.
Xavier não precisava mais da minha orientação, nem mesmo em meio
período. Ele era um homem em seu auge, cheio da fome necessária para
ser um grande empresário, com o desejo de crescer ainda mais.
Ele traria honra ao nome dos Knight, ao nosso legado.
— Estou apenas aproveitando o momento para absorver tudo, — eu
disse a ele, então me virei para falar com sua linda esposa. — Você
realmente se superou, minha querida.
Angela corou, como sempre, uma visão de altruísmo e graça.
— Foi um prazer.
— Por que você não entra na festa? — Xavier pediu novamente. Ele
pegou um Bradlini de um garçom que passava e o estendeu para mim.
— A dança vai começar em breve, — acrescentou Angela.
Aceitei o copo de bebida espumosa da cor do pôr-do-sol.
— Vocês dois vão. Eu vou em seguida.
Eles trocaram um olhar rápido e então Xavier pegou a mão de sua
esposa e a conduziu para a pista de dança.
Como seria ser jovem de novo?
Esse era o truque. Eu me sentia exatamente como há quarenta anos.
Tão vibrante. Tão faminto. Como se eu pudesse acordar todas as manhãs e
invadir Wall Street.
Mas bastou eu olhar no espelho para me lembrar da verdade. Então, ao
observar as rugas e a calvície, percebi que não era possível, que havia
chegado a hora de passar a tocha.
Isso é tudo que resta?
Eu vivi uma boa vida. Eu tinha um amor tão grande quanto os dos
contos de fadas. Eu criei um filho que era minha coisa preferida no mundo.
Minha carreira foi mais bem-sucedida do que a maioria jamais poderia
esperar alcançar.
O que sobrou?
Enquanto eu deixava a conversa e o barulho da festa de aposentadoria
tomarem conta de mim, meus olhos se fecharam.
Amelia, pensei. Meu amor. O que vem depois? O que você faz depois de
fazer tudo?
De repente, um tom agudo atravessou o iate clube. Estremeci, com os
ouvidos zumbindo e abri os olhos.
Uma mulher estava no centro do palco, uma jovem sensual, com
quadris largos e pele morena.
— Desculpe por isso, — disse ela, atrapalhando-se com o microfone. —
Agora, se vocês não se importarem, gostaria de começar com um dos meus
favoritos.
Ela contou com a banda, e então as notas mais doces que eu já ouvi
encheram o ar.
Como se estivesse possuído, me vi de pé em minha cadeira, meus ossos
de sessenta e cinco anos me levando para mais perto.
Mais perto dos encantamentos que dominavam o palco.
Mais perto de um futuro desconhecido.
O que pode sobrar?

Angela
— Viu, eu te disse. Está tudo bem, — Xavier disse, puxando-me em seus
braços.
Eu não estava convencida, mas deixei que ele me segurasse mesmo
assim, me guiando enquanto começamos a balançar com a música da
banda.
A dança ainda não havia começado, não propriamente, mas eu não
queria dizer a Xavier que éramos o único casal na pista de dança. Não com
a forma como ele estava olhando para mim agora.
Em vez disso, deixei seus braços fortes servirem de conforto enquanto
me preocupava com seu pai.
Brad não parecia ele mesmo a noite toda.
Quando ele me abordou para planejar sua festa de aposentadoria,
fiquei animada com a oportunidade de ajudar. Brad tinha feito tanto por
Xavier e por mim que foi uma honra ser capaz de retribuir, mesmo que
apenas um pouco.
Mas não pude deixar de pensar que havia feito algo errado.
Dei uma olhada por cima do ombro de Xavier. Brad ainda estava em sua
cadeira, com os olhos agora fechados.
— Eu não acho que ele vai dançar com a gente — sussurrei para Xavier.
Eu o senti suspirar.
— Angela, por favor, tente se divertir. Você planejou uma festa
maravilhosa. Se eu conheço meu pai, a última coisa que ele quer é todo
mundo mexendo com ele.
Eu apertei meu abraço em torno dele e comecei a prestar atenção aos
passos que ele estava me guiando.
— Ok.
Eu tinha uma surpresa chegando em breve, de qualquer maneira. Se
isso não animasse Brad, nada mais o faria.
Como se fosse uma deixa, outro ruído estridente atravessou o iate
clube, fazendo-me perder o equilíbrio. Xavier me puxou com mais força
contra o peito, me impedindo de tropeçar e de fazer papel de boba.
— O que ela está fazendo aqui? — ele perguntou, com os olhos fixos no
palco.
Eu me virei também e sorri quando Penny pegou o microfone.
— Era o mínimo que eu podia fazer, — eu disse a Xavier.
— Para quê?
— Pela ajuda dela no meu resgate.
Os lábios de Xavier pressionaram em uma linha fina quando Penny
começou a cantar.
Seu relacionamento com Penny era complicado. Honestamente, ela era
uma pessoa maravilhosa. Muito gentil e surpreendentemente tímida para
alguém que subiu ao palco de forma tão convincente.
Mas acho que ela lembrou Xavier de uma época de sua vida da qual
ele não gostava.
Uma época em que ele era uma pessoa mais malvada e mais raivosa.
Acho que foi como olhar para trás, para fotos estranhas da infância.
Encolhendo-se com o quão estúpido e idiota você parecia... cem vezes pior.
Talvez convidá-la tenha sido um erro.
Mas Penny era uma cantora, e uma muito boa. Ela conhecia todas as
favoritas de Brad.
Além disso, eu não pretendia contratá-la.
Eu encontrei o nome dela por acidente em uma lista de cantores para
eventos. Assim que eu o vi, eu soube que tinha que ligar para ela, para
agradecê-la.
Xavier me disse que foi Penny quem deu a ele a pista final meses atrás.
Se não fosse por ela, Xavier não teria encontrado o armazém para onde
Jacques me levou. Ele não teria chegado a tempo.
Jacques morreu naquele dia e, apesar das coisas terríveis que ele fez,
eu sabia que havia pessoas por aí que o amavam, que confiavam nele.
Pessoas como Penny.
O mínimo que eu podia fazer era dar a ela um trabalho que ela era mais
do que capaz de fazer.
Parecia que tinha sido uma boa escolha também, porque com o canto
do olho, percebi que Brad havia se levantado e estava indo lentamente
para a pista de dança.
Ele estava paralisado, seus olhos grudados em Penny enquanto ela
cantava os acordes finais de — Dream a Little Dream of Me.
— Olha, — eu sussurrei para Xavier, apontando para Brad.
— Eu vi, — ele respondeu. Sua voz rouca me fez virar para encará-lo, e
percebi que ele estava olhando para mim.
A música mudou, uma lenta batida espanhola enchendo o ar. Xavier me
puxou contra seu corpo musculoso e duro.
Eu engasguei quando sua mão desceu pelas minhas costas até minha
bunda.
— Xavier!
Meu marido se sentia confortável demais com exibições íntimas em
público.
Foi difícil para eu iniciar um simples beijo na privacidade da nossa
própria casa, muito menos tocá-lo quando estávamos em uma sala cheia
de pessoas.
— Vamos? — Sua perna deslizou entre as minhas quando ele começou
a me conduzir nos passos familiares do bolero.
Eu senti minhas bochechas aquecerem.
— Não tenho certeza se este é o momento certo.
Nós ficamos mais próximos nos últimos meses, e eu me sentia mais
conectada a ele do que nunca, mas não tinha certeza de por que precisava
provar isso deixando-o me apalpar a cada vez que saíamos de casa.
O tipo de afeto que ele parecia desejar era tão estranho para mim que
era opressor.
Xavier beijou meu ombro nu, em seguida, meu pescoço.
— Não posso gostar de dançar com minha esposa?
— C-claro, é só...
Minhas palavras sumiram, meio porque perdi a coragem de dizê-las,
meio porque Xavier me beijou.

Xavier
Dois meses.
Dois meses malditos.
Isso tinha que ser um recorde. Se não for um recorde mundial, será um
recorde pessoal.
Eu não conseguia me lembrar de ter passado mais de dois dias sem
sexo, muito menos dois meses.
Angela estava nervosa. Ela queria esperar.
Eu entendia isso, logicamente. Emocionalmente, porém, eu estava
pronto para bater na cabeça dela e arrastá-la para uma caverna e dar um
jeito nela.
A necessidade de tocar em Angela, de sentir seu corpo esfregar contra
o meu, era constante.
Sua mão no meu ombro, o roçar de sua perna contra a minha, nossos
dedos entrelaçados... Os menores toques se transformaram na dança mais
erótica.
Mesmo esta noite, em uma sala cheia de pessoas mais velhas, na festa
de aposentadoria do meu pai, enquanto minha ex-namoradinha olhava,
tudo que eu conseguia pensar era em possuí-la ali mesmo, no meio da
pista de dança.
Tudo que eu queria era levá-la para casa, tirar seu vestido branco
apertado e destruí-la.
A luxúria frequentemente me deixava fora de mim. Num segundo eu
estava gentil e carinhoso, no próximo, frio e mal-humorado.
Quando paramos em frente ao nosso prédio no final da noite, me vi
flutuando para frente e para trás entre os dois.
— Boa noite, Marco, — disse Angela enquanto eu a ajudava no banco
de trás.
Eu coloquei minha mão em suas costas, empurrando-a em direção à
porta, antes que Marco pudesse responder.
— Vamos entrar.
Ela olhou para mim enquanto cruzávamos o saguão.
— Está tudo bem?
— Tudo bem, — eu disse de volta, fechando minha mão livre em um
punho.
Ela continuou a tagarelar nervosamente enquanto entrávamos no
elevador, com o rubor subindo em suas bochechas enquanto ela observava
meus ombros tensos.
Tínhamos jogado esse jogo inúmeras vezes nas últimas semanas. Ela
sabia exatamente o que estava errado. O que eu queria. O que eu não
poderia ter.
— Você comeu o suficiente? Eu poderia preparar alguma coisinha.
Eu...
Eu precisava foder algo, ou socar algo, o que se apresentasse primeiro.
As portas do elevador abriram e corri para a cobertura.
— Xavier?
Certo, Angela me perguntou algo.
Eu parei ao lado da cozinha e girei nos calcanhares.
— Eu não estou com fome.
Angela vagarosamente caminhou em minha direção, com suas
sobrancelhas franzidas de preocupação.
— Não foi isso que eu quis dizer. — Ela estava a centímetros de mim
agora, tão perto que nossos peitos se tocaram. Ela levantou uma das mãos
e envolveu minha nuca.
Quase gemi com o contato.
Lambi meus lábios, tentando ignorar a dor crescente na minha virilha.
— O que você precisa, Angela?
Um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
— Te agradecer. Eu me diverti muito com você esta noite.
Ela se inclinou e pressionou seus lábios nos meus no mais delicado dos
beijos.
Começou como uma faísca. De repente, todo o meu corpo estava em
chamas.
Em menos de um segundo, levantei Angela em um braço e usei o outro
para limpar o balcão da cozinha.
Castiçais, saleiros e temperos caíram no chão de madeira quando eu a
coloquei no balcão.
— Xavier, — ela respirou.
Eu puxei o zíper de seu vestido para baixo e deixei minhas mãos
correrem sobre a pele agora nua de suas costas.
Angela envolveu suas pernas em volta de mim, me puxando para mais
perto.
Seus dedos se enrolaram em meu cabelo enquanto eu tirava meu
paletó e comecei a desabotoar os botões da minha camisa social.
Estiquei-me até atrás dela novamente, com os dedos encontrando o
fecho de seu sutiã.
Por um segundo, pensei que ela me deixaria fazer isso.
Ela finalmente me daria acesso a seus seios fartos.
Me deixaria tomá-la como eu queria.
Então, eu senti uma pressão familiar contra meu peito e suas
mãozinhas me empurraram para longe dela.
— Xavier, pare.
Eu rosnei, me afastando do balcão, para longe dela e pelo corredor.
— Onde você está indo? — sua vozinha me chamou.
Eu não pude evitar uma crescente raiva em minha voz enquanto rosnei
minha resposta.
— Para a porra do chuveiro.

Angela
Sentei-me no balcão, meio vestida, com o coração disparado no peito,
tentando recuperar o fôlego.
Eu ainda podia sentir as mãos de Xavier em mim. Pedindo. Implorando.
Eu sabia que teria que ceder logo.
Já estávamos namorando há mais de dois meses, éramos marido e
mulher há quase um ano, mas nosso casamento ainda não havia sido
consumado.
Xavier foi paciente comigo. Nunca pressionando. Nunca forçando.
Apreciei seus esforços mais do que ele poderia imaginar.
Eu podia ver que isso estava afetando ele, mas ele precisava de um
escape.
Nós chegamos perto algumas vezes, mas eu sempre o impedi de ir mais
longe.
Você está sendo boba, eu disse a mim mesma e pulei do balcão. Não há
nada a temer.
Esse era meu novo mantra. Não há nada a temer.
No entanto, não importa quantas vezes eu dissesse isso, não
parecíamos estar mais perto de fazer amor.
Cada vez que Xavier e eu estávamos perto, uma onda de pânico tomava
conta de mim e eu o afastava.
Exatamente como agora.
Quando me abaixei para pegar o saleiro agora lascado, ouvi o chuveiro
ligar no corredor e uma determinação de aço me atingiu.
Eu amava Xavier. Era hora de mostrar a ele o quanto. Esta noite foi a
noite. Não há nada a temer.
Tirei meu vestido dos ombros, deixando-o cair no chão da sala e dei um
passo em direção ao quarto de Xavier.
Então outro.
Não há nada a temer
Ele havia deixado a porta do banheiro aberta, como sempre. Um
convite. O vapor subiu para o quarto, quase suplicante.
Não há nada a temer
Desabotoei meu sutiã, tirei minha calcinha e passei pela porta aberta
do banheiro.
Eu não podia deixar meu medo me segurar mais. Eu não o evitaria mais.
Em privado ou público.
Xavier estava no chuveiro, com os olhos fechados e a cabeça jogada
para trás. O vapor saiu de seus ombros. Ele tinha uma mão apoiada contra
a parede de azulejos, a outra em volta do seu...
Eu não pude evitar o suspiro que escapou dos meus lábios. Minha mão
voou para cobrir minha boca, mas era tarde demais. Ele tinha ouvido.
A cabeça de Xavier girou, seus olhos se arregalaram quando pousaram
em mim, e sua mão cessou seu movimento contínuo. Ele correu para se
cobrir.
— Merda, — ele murmurou, e a compreensão do que eu havia acabado
de ver me atingiu brutalmente.

Capítulo 2
As Consequências
Angela
Angela: Est á tudo certo pra hoje?

Dustin: Sim, senhora!

Angela: Ó timo! Necessito de


aconselhamento.

Dustin: Voc ê tem minha aten çã o!

Dustin: Eu ganho alguma pista?

Angela: 🙈 🙈 🙈 (emoji de tr ê s macacos


tampando o olho)

Dustin: Ah, vamos. N ã o pode ser t ã o ruim.

Angela: Eu peguei o Xavier, sabe...

Dustin: N ã o, acho que n ã o.

Angela: 👋 🍆 💦 ( emoji de m ã o, berinjela e


gotas de á gua)
Dustin: Oh

Dustin: OHHHHH

Angela: Sim, estarei a í em 30 minutos.

Quando entrei no café, encontrei Dustin no meio de uma escada ao longo


da parede oposta, com uma pintura enorme nas mãos.
Também não era a única ali. As paredes agora estavam cobertas com
suas pinturas.
Eu deveria estar encontrando ele e Em para o nosso encontro semanal,
mas parecia que Dustin já estava com as mãos ocupadas.
— Uau, — eu disse, parando no meio do pequeno espaço.
— Você gostou? — Dustin ligou.
— Eu adorei, — respondi, com os olhos correndo sobre as obras de arte
coloridas. — Seu chefe concordou com isso?
— Que chefe? — Dustin riu. Ele terminou de pendurar o quadro nas
mãos e começou a descer a escada. — Eu comprei o lugar.
— O quê?
Dustin estendeu os braços.
— Você me ouviu. Eu precisava de um lugar onde pudesse mostrar meu
trabalho. Algum lugar onde as pessoas pudessem apreciar arte sem a
pretensão de uma galeria. Achei que este era o lugar perfeito.
Eu sorri e cruzei a cafeteria para envolver meu amigo em um abraço.
— Parabéns!
— Obrigado, eu...
Um estrondo na sala dos fundos o interrompeu. Dustin revirou os olhos
e gritou: — Ben!
Um adolescente magro de avental apareceu aos tropeços.
— O que é que foi isso? — Dustin perguntou, com as mãos na cintura.
— Eu, uh, eu derrubei uma pilha de filtros de café, — Ben murmurou.
Os olhos do menino se voltaram para mim por um segundo e depois
para o chão.
— Bem, lembre-se do que eu disse, — disse Dustin.
— Se você quebrar...
— Eu tenho que comprar. Eu sei, — Ben completou.
— Não se esqueça disso. — Dustin apontou para a máquina de café
expresso. — Agora, faça dois cafés com leite para nós.
Dustin se sentou à nossa mesa de sempre, suas pinturas esquecidas por
enquanto. Sentei-me em frente a ele, ainda tentando assimilar tudo.
— Não quero ser rude, mas como você conseguiu comprar este lugar?
— Eu me perguntei.
Não que eu não estivesse feliz por meu amigo. Eu sabia que Dustin não
ganhava muito com sua arte, e ele tinha um histórico de gastar o pouco
dinheiro que tinha por perto. Eu só não queria vê-lo com problemas.
— Bem, — ele começou. — Tudo começou há algumas semanas, na
época em que você foi levada por aquele francês horrível. Acho que
algumas pessoas viram o quadro que ele roubou no noticiário. Tenho
vendido peças com bastante regularidade desde então.
Meu estômago embrulhou.
— Você ganhou dinheiro com meu sequestro?
Dustin ficou boquiaberto.
— Bem, falando desse jeito... Você não está brava, está?
Eu estava brava?
Brava porque meu amigo estava finalmente realizando seus sonhos de
ser um artista de sucesso? Eu não poderia estar, mesmo que ele estivesse
lucrando por ser meu amigo, e com as consequências de uma noite
terrível.
— N-não, estou feliz por você, — consegui dizer a ele enquanto Ben
chegava com nossos cafés com leite. Ele demorou um pouco demais
conosco, até que Dustin o dispensou.
— Então, me diga exatamente o que aconteceu. — Dustin se inclinou
para frente, sempre ansioso pelas últimas fofocas. — Ou devemos esperar
por Em?
Às vezes, eu poderia jurar que ele estava mais investido na falta de sexo
entre mim e Xavier do que eu.
Corei quando a memória da noite passada explodiu.
— Eu, uh...
Fui salva pelo toque do sino, sinalizando a chegada de outra pessoa.
Dustin e eu olhamos para a porta e então nos levantamos para dar as
boas-vindas à convidada.
— Em, — eu gritei, puxando minha amiga para um abraço. — É tão bom
ver você!
Em e Lucas partiram em lua de mel algumas semanas depois que eu
recebi alta do hospital. Nós tínhamos mandado mensagens algumas vezes
desde que eles se foram, e eu tinha visto fotos de sua viagem para a Grécia
no Instagram, mas não havia nada como vê-la pessoalmente novamente.
— Ei, garota! Sente-se, sente-se, — disse Dustin. Depois, mais alto: —
BEN! CAPPUCCINO, AGORA!
Em puxou uma cadeira para a mesa e se juntou ao nosso pequeno
círculo.
— Como estão as coisas? — Eu perguntei, pegando meu café.
— Tudo é tão mágico, — disse Em, com os olhos vidrados. — Esperem.
E vocês verão o que quero dizer, um dia.
Ela me deu um olhar de desculpas como se eu não tivesse ideia do que
ela estava falando. Como se eu nunca soubesse.
Senti uma pontada de dor no peito.
Só porque Xavier e eu não tínhamos nos casado por amor não
significava que não poderíamos compartilhar a mesma conexão com
qualquer outro casal, não é?
Talvez sim.
Talvez sempre houvesse uma espécie de desconexão entre nós e
seríamos mantidos juntos apenas por dependência forçada e luxúria?
— Bem, — disse Dustin, — Angela estava prestes a compartilhar suas
próprias notícias empolgantes.
Em engasgou.
— Você e Xavier...
Eu balancei minha cabeça.
— Não exatamente.
— Você vai ter que ser um pouco mais específica para nós, Angie, —
disse Dustin. — Como você pode 'não exatamente' fazer isso?
Ben chegou então, entregando a bebida de Em, dando-me um minuto a
mais para achar minhas palavras.
Enquanto ele fugia, fiquei na defensiva.
— Bem, eu queria. Eu ia fazer. Veja, chegamos em casa da festa de
aposentadoria de Brad e começamos a nos beijar na cozinha.
— Que tesão, — Dustin interrompeu, fazendo-me corar.
Em deu um tapinha no meu braço.
— Continue.
— Xavier disse que ia tomar banho. Então... então eu o segui. Quando
entrei no banheiro para me juntar a ele, ele estava... você sabe.
— O quê? — Em perguntou.
Eu forcei a palavra a sair.
— Se masturbando.
— Você o ajudou a terminar? — Dustin disse, sem perder o ritmo.
Eu balancei minha cabeça.
— Não! Não, eu saí.
— Saiu? — disse Em.
Dustin franziu a testa.
— Tipo, fugiu?
Eu balancei a cabeça, certa de que estava da cor de um tomate agora.
— Oh, Angela. — Dustin ergueu as mãos. — Você deu uma dentro!
— Como assim? — Murmurei. Chegar em Xavier assim não parecia ser
uma dentro. Parecia mais como um — cair fora.
— Se ele está fazendo isso, para que ele precisa de mim?
Dustin e Em trocaram olhares antes de Em pegar minha mão.
— É claro que Xavier quer mais, Angie. O que está te segurando?
— Não sei, — admiti. — Eu percebo o quanto ele quer transar. Mas
parece tão importante. Eu não quero bagunçar tudo.
— Bem, talvez seja hora de você falar com Xavier sobre como você se
sente. Você não pode esperar ter um bom sexo se não falar sobre as coisas.
Eu fiz uma careta com o conselho da minha amiga. Eu não queria
pensar sobre ela e meu irmão discutindo esse tipo de coisa, muito menos
fazê-lo.
Mas ela estava certa. Talvez eu estivesse vendo tudo errado. Talvez eu
tenha exagerado um pouco.
— Eu me sinto mal. — Lágrimas encheram meus olhos. — Como se eu o
estivesse desapontando. Quanto mais eu o faço esperar, mais frustrado ele
fica. Estou sendo uma esposa terrível.
— Que se dane isso, — disse Dustin. — Você fará sexo quando estiver
bem e pronta. Se Xavier disser algo diferente, ele é um canalha. Não deixe
ninguém te forçar a nada, nem mesmo Em e eu.
Em acenou com a cabeça.
— Você está pensando demais nisso, Angie. Você só precisa de algo
para tirar sua mente das coisas.
Ela estava certa. Eu estava pensando demais nisso. Isso estava se
repetindo em minha mente por semanas. Cada pensamento que eu tive
desde que voltei do hospital girava em torno de Xavier.
Quando ele voltaria para casa?
O que será que ele quer para o jantar?
Que filme assistiríamos juntos?
Quanta falta dele eu sentiria quando ele viajasse a trabalho?
Com meu pai se sentindo melhor, e Xavier e eu nos dando bem, havia
pouco mais para ocupar meus pensamentos.
A única coisa que me impediu de enlouquecer nas últimas semanas foi
planejar a festa de Brad. Agora que tudo acabou, eu fui deixada por conta
própria novamente, ficando apenas com Xavier para me preocupar.
Certamente, isso não poderia ser saudável.
De repente, uma ideia me atingiu.
— Gente, acho que sei como consertar isso.
Xavier
Angela me pegou me masturbando.
Não havia dúvida.
Eu sonhei com ela entrando naquele banheiro por semanas. Fantasiei
com ela entrando no chuveiro, e envolvendo a mão em volta do meu pau.
Só a realidade poderia ter superado minha imaginação.
Eu já tinha feito isso por mulheres antes, me masturbado por elas,
nelas. Normalmente era muito excitante.
Desta vez, porém, foi diferente... provavelmente por causa do horror
que passou pelo rosto de Angela antes de ela sair correndo do banheiro.
O que ela esperava?
Eu não era como ela.
Eu não era um monge.
Eu precisava de sexo. Eu precisava gozar.
Se não pela mão dela, então pela minha.
Eu teria que falar com ela, dizer a ela que eu era um homem. Um
homem com necessidades.
Eu fiz uma careta, abaixando minha cabeça para a minha mesa.
Que azar da porra. Eu tinha mulheres fazendo fila para ter a chance de
transar e acabei ficando com a única mulher que não suportava ver meu
pau.
— Xavier! — Meu pai gritou de repente, me fazendo pular.
Ele entrou no meu escritório.
Estava subitamente de pé, passando a mão pelo meu cabelo.
Exatamente o que eu precisava.
— Estou no meio de algo, pai.
Ele se sentou na cadeira do outro lado da minha mesa, olhou ao redor
do meu escritório vazio, para a minha mesa vazia e ergueu uma
sobrancelha.
Eu olhei para ele.
— Você não deveria estar aposentado?
— Estava esvaziando meu escritório.
— E?
— E eu queria entrar e dizer olá ao meu filho. — Ele deu um sorriso de
gato Cheshire.
— Mm-hm, — eu respondi, abrindo meu laptop.
Eu poderia pelo menos fingir estar ocupado.
— Então, aquela festa foi incrível, hein? — Ele continuou.
— Foi, — eu concordei.
— Aquela cantora também. Ela tem muito pulmão.
Eu olhei por cima da tela do meu computador.
— Penny?
— É esse o nome dela? — Meu pai disse, de repente muito interessado
em endireitar as pastas de arquivo no canto da minha mesa.
Felizmente, Ron escolheu aquele momento para nos interromper.
— Está tudo pronto para partir, senhor, — ele disse ao meu pai. — Suas
coisas já estão no carro.
— Excelente! — Meu pai ficou de pé e acenou para Ron. — Então, há
apenas uma coisa a fazer.
Papai olhou para mim e Ron.
— Filho, deixo-o em boas mãos.
Eu pisquei.
— O quê?
Ele não esperava que...
— Ron me serviu bem por dez anos, — papai disse, dando um tapinha
nas costas de seu assistente.
Ron sorriu e teve a decência de parecer pelo menos um pouco
envergonhado.
— Foi uma honra, senhor.
Eu hesitei.
— Você está esperando que eu o leve a bordo?
— É claro, — disse papai.
— Ele não é um prédio ou um contrato, pai. Ele é uma pessoa. Sua
pessoa. Eu não vou permitir.
Meu pai franziu a testa.
— O que você está dizendo?
Ele com certeza não estava facilitando as coisas.
Soltei um suspiro e me virei para Ron.
— Você está demitido.
O sangue foi drenado do rosto do pobre coitado.
— O quê? — ele gaguejou quando meu pai começou, — Xavier...
— Não, — eu interrompi. — É minha empresa agora, pai. Não posso
sentir que você está olhando por cima do meu ombro vinte e quatro horas
por dia, sete dias por semana. Eu preciso começar de novo. Você tem que
entender isso.
— Ron tem sido leal..
— Tenho certeza de que Ron é um cara ótimo, mas ele é seu cara.
Minha decisão é final. — Eu olhei para os dois. — Agora, se me dão licença,
tenho uma ligação em dois minutos.
— Muito bem, — disse papai. — Vamos, Ron. Eu vou te pagar o almoço.
Ele deu um passo em direção à porta, mas Ron parecia estar congelado
ao lado da minha mesa.
— Eu não posso acreditar.
Suspirei.
— Eu posso ligar para Henry. Ele pode saber sobre uma posição aberta.
Tenho certeza de que há outro executivo por aí que irá querê-lo.
— Mas eu dediquei minha vida inteira à Knight Enterprises por dez
anos, — disse Ron, franzindo a testa.
Meu pai suspirou e se virou.
— Nós encontraremos um emprego para você em outro lugar, — ele
prometeu a Ron, jogando o braço sobre os ombros e guiando-o em direção
à porta. — Talvez haja até um espaço aberto em outro departamento.
Assim que a dupla saiu do meu escritório, deixei minha cabeça cair de
volta na minha mesa.
Meu dia não poderia ficar pior.
Meu telefone zumbiu ao lado da minha cabeça.
Na hora certa.
Com um gemido, eu o peguei.
No entanto, não era uma chamada recebida. Em vez disso, uma
mensagem de Angela iluminou minha tela.

Angela: Precisamos conversar.

Capítulo 3
Solitário
Xavier
— Angela? — Eu chamei quando as portas do elevador abriram.
— Na cozinha, — ela respondeu.
Ouvi sons de metal na madeira e o chiar de óleo.
Ela deve estar cozinhando.
Entrei na sala de estar e joguei minha bolsa na espreguiçadeira, em
seguida, me virei para a cozinha.
Com certeza, Angela estava ocupada cortando vegetais na ilha com
tampo de mármore.
— Olá, querido. — Ela sorriu, erguendo os olhos do trabalho.
Eu caminhei para o outro lado do balcão.
— Onde está Lucille?
Angela encolheu os ombros. — Eu dei a ela o resto da noite de folga. O
marido dela está na cidade.
— Você sabe que não precisa cozinhar, certo? — Eu disse, me sentindo
como um disco quebrado.
Esta não foi a primeira vez que tivemos essa conversa nos últimos
meses. Estava ficando cada vez mais frequente eu voltar para casa e
encontrar Angela no fogão.
Não que ela fosse uma má cozinheira. Pelo contrário, eu realmente
adoro a comida de Angela.
Tinha mais a ver com o princípio disso. Angela não precisava cozinhar.
Eu poderia ter outra pessoa para cozinhar para nós. Havia coisas mais
importantes com as quais minha esposa ocupar seu tempo.
— Eu gosto de cozinhar, — ela disse, recitando sua resposta usual.
Eu apertei minha mandíbula, segurando minha réplica.
Esta noite não era a noite para debater de novo o mesmo tópico. Havia
coisas mais críticas para discutir.
Com base na mensagem de texto que recebi de Angela, ela também
não estava feliz com o desenrolar dos acontecimentos da noite anterior.
Mas ela não queria me dar mais informações pelo telefone, então
passei a tarde toda preocupado com o momento em que voltasse para
casa.
Eu não sabia como falar com ela sobre o que ela tinha visto na noite
passada. Para ser honesto, estava um pouco chateado por ter que
conversar sobre isso.
Eu era um homem crescido e era o meu banho.
Minha casa, por falar nisso.
Isso significava que eu tinha permissão para fazer o que eu quisesse,
quando eu quisesse.
Se isso significava uma punheta, que fosse.
Além disso, foi ela quem entrou.
Eu estava sendo paciente e esperando por ela, mas ela realmente não
podia esperar que eu não fizesse nada até que ela estivesse pronta, não é?
— Você disse que queria conversar? — Eu solicitei, observando Angela
deslizar cebolas de sua tábua de cortar e colocá-las na frigideira quente.
— Ah, sim! — ela respondeu animadamente.
Bem, essa foi uma resposta diferente da que eu esperava. A reação
normal de Angela a qualquer coisa relacionada a sexo era ficar com a cor
de uma beterraba.
— Tem havido muita tensão entre nós ultimamente, — ela começou e
abriu a geladeira. — E essa tensão formou um desequilíbrio em nosso
relacionamento.
Eu cantarolei evasivamente. Desequilíbrio era definitivamente uma
maneira de definir isso.
Eu disse ao pai de Angela meses atrás que estava pronto para me casar
com ela... corretamente desta vez. Mas ainda não tinha acontecido.
Eu não tinha mais certeza se seria em breve. Ficou claro pelo modo
como Angela continuou me afastando que ela não estava pronta.
Angela voltou ao fogão e começou a despejar mais ingredientes na
panela. Um aroma rico e exótico encheu o ar ao nosso redor.
— A noite passada foi incrível, — ela continuou. — Fazia tempo que não
me sentia tão viva.
Meu queixo caiu um pouco. Ela estava falando sobre me pegar
masturbando?
Ela parecia apavorada quando confrontou meu pau na noite passada,
não viva.
Acho que não entendi alguma coisa, certo?
Limpei a garganta, tentando encontrar uma maneira de responder sem
dizer nada. Sem jogá-la fora de qualquer tangente em que ela se meteu.
— Eu... fico feliz em ouvir isso.
— Eu quero mais disso, — ela continuou, determinada. Eu
não pude acreditar.
Angela estava dizendo que queria mais?
Será que minha noiva virginal pura finalmente quer ser fodida?
Eu realmente não estava vendo nenhuma outra interpretação aqui.
— Tem certeza? — Eu me esquivei. — Pela forma como deixamos as
coisas, não parecia que você estava pronta.
Ela se encostou no balcão, sorrindo de orelha a orelha.
— Era só nervosismo. Nunca fiz nada parecido antes. E acho que
esperei o suficiente... Acho que está na hora, Xavier.
Caminhando para o outro lado do balcão, parei na frente dela, sentindo
como se um tijolo de dez toneladas tivesse sido tirado do meu peito.
— Você não tem ideia de quanto tempo estou esperando para ouvir
você dizer isso.
Pegando seu rosto entre minhas mãos, eu a beijei, suavemente no
início, depois com mais fome.
Eu tinha entrado em pânico a tarde toda por nada, pensando que teria
que ter uma discussão de relacionamento com minha esposa. Agora ela
estava praticamente me implorando para pegar ela aqui mesmo na
cozinha.
Eu me senti ficando duro e, pela primeira vez, não tentei esconder. Em
vez disso, eu a encostei no balcão, prendendo-a entre o mármore e eu.
Meus dedos mergulharam sob a bainha de seu suéter, espalhando por
suas costelas.
Eu precisava ficar mais perto.
Eu precisava foder ela.
De repente, senti um familiar empurrando contra meu peito.
— Xavier, — Angela murmurou. Eu ouvi uma hesitação em sua voz.
— Mas que porra é essa? — Eu resmunguei antes que pudesse me
conter. Ela tinha acabado de dizer que queria. Isso não era uma merda de
luz verde?
Seu olhar caiu.
— Acho que podemos ter tido um mal-entendido.
Eu me afastei do balcão, com o peito arfando.
— Você acabou de me dizer ou não que queria sexo?
Eu estava muito chateado para ser paciente. Muito frustrado para
escolher bem minhas palavras.
Os olhos de Angela se arregalaram.
— Não! Quero dizer... não, Xavier...
Eu acenei para ela.
— Não, não. Eu entendi. Nós nunca vamos fazer sexo.
— Isso não é verdade. — Ela cruzou os braços sobre o estômago. Era
algo que ela fazia quando estava com medo, eu já havia percebido. Como
se ela estivesse tentando se tornar menor ou proteger seus órgãos internos
como você faz em um ataque de urso pardo.
— Sim, bem, parece que sim. Por que você acha que eu estava me
masturbando noite passada? Estou morrendo aqui, Angela.
— Sinto muito, — disse ela.
— Não, porra, — eu rosnei e enrolei minhas mãos no meu cabelo. —
Pare de dizer que você sente muito, porra.
— Eu... eu não sei mais o que dizer.
Só Deus pra me ajudar
Eu respirei fundo.
— Você sabe que não foi isso que eu quis dizer. Você sabe que não vou
pressioná-la. Não há nada para se desculpar. É só que... Do que você estava
falando se não era sexo?
— Um trabalho. — Em seguida, endireitando os ombros um pouco, de
novo, ela disse mais alto: — Eu quero conseguir um emprego.
— Para que diabos você quer um emprego?
Ela encolheu os ombros.
— Pra que eu tenha algo para fazer. Portanto, tenho algo de que me
orgulhar. Não posso simplesmente ficar sentada o dia todo esperando você
voltar para casa.
Eu apertei a base do meu nariz. Tentando manter meu nível de voz,
respondi: — Você não precisa de emprego, Angela. Você me tem.
— Eu preciso de mais.
Suas palavras foram como um soco no estômago.
— Primeiro você não me deixa fazer amor com você, não me deixa dar-
lhe prazer, e agora também não sou um provedor bom o suficiente?
Eu sabia que era um golpe baixo, mas para minha mente privada de
sexo e sobrecarregada de testosterona, era assim que parecia.
Angela estremeceu quando minha voz ficou mais alta.
— Você está distorcendo minhas palavras.
— Eu... — Eu estava prestes a responder quando um cheiro pungente
me fez parar. — O que é aquilo?
— Ah, não! — Angela passou por mim. Ela pegou a panela de legumes
em chamas e a jogou na pia. O vapor subiu em uma nuvem com um grande
assobio quando a água fria da torneira encharcou a comida carbonizada.
Puxei meu telefone do bolso do meu terno.
— Estou pedindo pizza.

Angela

Angela: Quer almo ç ar comigo amanh ã?

Brad: Isso parece maravilhoso!

Brad: Só queria saber o que eu faria comigo


mesmo.

Brad: Estar aposentado não é só o que


parece!

Angela: Eu sei como voc ê se sente.

Brad: Vamos nos encontrar no The Plaza?

Angela: Sua mesa normal?

Brad: Sim. Nos vemos l á , minha querida!


— Angela, querida, — disse Brad enquanto me puxava para um abraço na
tarde seguinte. — É tão bom te ver.
É
— É bom te ver também, — eu disse e sentei na poltrona dourada em
frente a ele.
— Espero que você não se importe, — começou Brad, acomodando-se
novamente, — mas tomei a liberdade de pedir o nosso de sempre.
Uma gratidão pela generosidade de Brad tomou conta de mim.
— Maravilhoso!
— Você acredita que já se passou quase um ano desde que nos
conhecemos aqui? — ele disse.
Eu olhei para os lustres de cristal e as folhas de palmeira que caíam
sobre nossas cabeças.
— De jeito nenhum. Achei que nunca conseguiria me acostumar com
isso.
— Mas você se acostumou, como eu prometi que faria, — Brad me
assegurou, com orgulho evidente em sua voz.
Tive que admitir que ele estava certo. A primeira vez que encontrei
Brad para tomar chá, não sabia o que era o Plaza. Agora, eu tinha me
tornado assídua no Palm Court. A equipe sabia meu nome. Reconheciam
meu rosto. Memorizaram meu pedido.
De alguma forma, eu ainda não sentia que pertencia a este lugar.
Mesmo com meu vestido Kate Spade e saltos Stuart Weitzman, eu sentia
como se estivesse fantasiada.
— Pelo menos não estou de jeans rasgados. — Eu sorri, relembrando
nosso primeiro encontro.
— Você é deslumbrante, — elogiou Brad. — Então, a que devo o
prazer? Parecia que você estava atrás de mais do que saber das novas.
Eu me contorci no assento de veludo, tentando encontrar as palavras
para explicar a situação. Não que fosse tão difícil, mas era um pouco
desconcertante.
Ultimamente, não precisava de Brad para me guiar tanto quanto antes.
Não precisava que ele me dissesse qual garfo usar ou o que significava —
traje esporte fino. — Por outro lado, Xavier havia trabalhado muito para
tomar seu lugar, para preencher seu papel como meu parceiro.
Xavier e eu estávamos nos comunicando bem recentemente, pelo menos
até a noite passada.
De alguma forma, pedir conselhos a Brad novamente parecia uma
violação da confiança recém-formada que Xavier e eu estávamos
construindo.
No entanto, eu não tinha certeza do que mais fazer. Xavier não parecia
aberto a qualquer tipo de ideia agora que não acabasse com nós dois nus.
Os casais têm tantos problemas de comunicação?
Eu não poderia imaginar que verdadeiras almas gêmeas jamais
discordassem como nós.
Quando você ama alguém, você deveria estar na mesma página sobre
tudo.
Xavier e eu nem estávamos no mesmo livro.
— Xavier e eu brigamos, — eu disse a Brad.
— Lamento muito ouvir isso, minha querida, — disse Brad, sempre
solidário, sempre calmo. — Mas essas coisas são naturais. Sobre o que foi a
discussão?
— Eu disse a ele que queria um emprego.
— Bem, parece uma ideia maravilhosa!
O garçom chegou então e descarregou um bule de porcelana fina e
xícaras de chá, bem como uma bandeja com delicados sanduíches e doces,
em nossa mesa.
Assim que ele saiu, servi-me de um sanduíche de pepino.
— Também achei. Mas Xavier não gosta da ideia.
As sobrancelhas de Brad se uniram.
— Bem, o que você espera fazer?
— Meu diploma é em engenharia mecânica, — eu disse e dei uma
mordida no sanduíche. — Mas tenho muito pouca experiência prática.
Brad colocou um bolo de mirtilo na boca.
— E você quer seguir essa carreira?
— Não tenho certeza se estou pronta para trabalhar em um emprego
de tempo integral, — admiti. — Eu só preciso de algo para me manter
ocupada.
Qualquer trabalho que eu aceitasse teria que ser adequado ao nome
Knight.
Eu sabia. Eu aprendi, mais de uma vez, o peso que o legado de Knight
carregava.
Isso também significava que eu não poderia aceitar nenhum emprego
antigo em um café ou estagiar em uma empresa de engenharia. Então, eu
não sabia por onde começar minha busca por emprego.
Brad se recostou na cadeira, batendo o dedo no queixo.
— Sim, eu entendo. Acho que posso ter uma solução. Você me daria
alguns dias para examinar algumas coisas?
— Claro! — Se Brad tivesse alguma pista de trabalho, eu esperaria o
tempo necessário. Se ele pudesse me ajudar a encontrar um emprego
aceitável, eu sabia que poderia aquecer Xavier com a ideia.
— Há algo que eu esperava que você pudesse me ajudar em troca, —
disse Brad, repentinamente ocupado em mexer o chá.
— Oh? — Eu respondi, felizmente surpresa. — Certo. O que você
precisar.
Brad tinha feito mais por minha família e por mim do que eu jamais
pensaria ser possível. Eu faria tudo o que pudesse para retribuir essa
generosidade.
— Não tenho certeza de como dizer isso, então você vai ter que me
perdoar se eu divagar, mas... Receio estar enfrentando um problema
semelhante, Angela.
Meu coração afundou no meu peito. Estendi a mão, por cima das
xícaras de chá e iguarias, para colocar minha mão na dele.
Brad sorriu para mim e apertou minha mão. Então, com um grande
suspiro, ele continuou.
— Sei que faz menos de uma semana, mas não posso continuar assim.
Sem trabalho para ocupar meu tempo, não tenho ideia do que fazer
comigo mesmo.
Eu balancei a cabeça em compreensão.
— Você está solitário.
— Solitário?
— Se você tivesse algo para fazer ou alguém em quem pensar além de
você, acho que seria muito mais feliz, — eu disse.
Eu conhecia a sensação muito bem.
Eu me senti da mesma forma depois que me casei com Xavier no ano
passado. Como se eu fosse a única pessoa que restou no mundo. Como se
eu tivesse sido esquecida.
Ainda bem que nosso relacionamento havia melhorado, mas eu ainda
me sentia solitária alguns dias quando estava sozinha em nossa enorme
cobertura.
Era por isso que eu queria um emprego.
— Ora, acabei de me aposentar, então não consigo um emprego, —
disse Brad.
— Que tal um amigo? Alguém que você pudesse visitar? Alguém com
quem você pudesse fazer coisas? — Eu sugeri.
— Como uma namorada? — Brad balançou a cabeça. — Eu não acho
que seja isso. Tive meu grande amor pela Amelia. Você só consegue isso
uma vez na vida.
— Existem diferentes tipos de amor, — insisti, feliz com a distração de
ter a chance de consertar um problema de uma vez, em vez de sentir que
eu o estava incomodando.
— Eu acho que você poderia encontrar alguém que te faça feliz.
Brad franziu os lábios.
— Não tenho certeza se me sentiria bem sobre isso.
— Apenas pense sobre isso, ok? Eu posso te ajudar se você quiser.
— Como eles estão chamando isso hoje em dia? Braço direito!
Eu ri.
— Sim, eu ficaria feliz em ser seu braço direito.
— Eu vou... vou pensar sobre isso. — Ele acenou com a cabeça, e então
um sorriso brilhante iluminou seu rosto. — Você sabe o que mais pode me
animar?
— O que seria? — Eu perguntei, pegando um pedaço de bolo de
chocolate.
— Netos.
Eu engasguei, sem ter certeza se meu sogro estava brincando — ou se
era um pedido sério.
Capítulo 4
Outra Garota
Angela
Eu não pude deixar de ficar de mau humor no caminho de volta para casa
do Plaza.
Por que parecia que tudo o que alguém queria falar ultimamente era
sobre a minha vida sexual com Xavier?
Dustin aproveitou a chance de ouvir os menores detalhes sobre a
masculinidade de Xavier.
Em me olhava com simpatia toda vez que o assunto de relacionamentos
físicos era abordado.
E agora Brad estava perguntando sobre netos?
Era realmente tão inacreditável que Xavier e eu não tivéssemos
dormido juntos ainda?
Realmente tão chocante que eu não estava me jogando nele a cada
cinco minutos?
Nós nos conhecíamos há menos de um ano.
Gostávamos um do outro por menos de alguns meses.
Alguém mais se comportaria de maneira tão diferente em nossa
situação?
A resposta veio rapidamente: sim.
Centenas de mulheres se jogaram em Xavier sem saber nada sobre ele,
além de seu sobrenome.
Ele estava acostumado à atenção... muita atenção.
E estava claramente sentindo falta com base no que interrompi na
outra noite.
Eu estava certa quando disse a ele que havia um desequilíbrio em nosso
relacionamento, mas não identifiquei a causa.
Não tinha nada a ver com o fato de eu ter um emprego — e tudo a ver
com SEXO.
Quando paramos do lado de fora do prédio, agradeci a Marco e me
dirigi para o saguão.
Xavier não estaria em casa por um tempo. Eu ainda tinha tempo para
organizar meus pensamentos, para pensar sobre o que fazer.
Não era que eu tivesse medo de fazer sexo ou que fosse imune ao
charme Casanova de meu marido. Foi algo menos tangível que me impediu
de me entregar totalmente a Xavier.
Para mim, sexo era a maneira mais íntima de conhecer uma pessoa.
Algo compartilhado entre almas gêmeas e os mais verdadeiros amantes.
As ações anteriores de Xavier deixaram claro que ele não tinha as
mesmas crenças, que fazer amor não significava para ele a mesma coisa
que significava para mim.
Eu não sabia onde isso nos deixava.
Eu o amava. Eu disse a ele, sempre que pude.
E eu pensei que ele também me amava. Mas, ao contrário de mim,
Xavier ainda não tinha proferido essas três pequenas palavras.
Como eu poderia deixá-lo amar meu corpo quando eu não sabia se ele
amava minha alma? Quando eu não sabia que não era apenas sexo? Que
eu não era apenas outra garota?
As portas do elevador abriram e eu entrei na cobertura, com meus
saltos batendo no chão de madeira.
Eu estava passando pela cozinha quando ouvi.
Uma batida rítmica.
Uma mulher gemendo.
Grunhidos masculinos profundos.
Eu parei no meio do caminho, com meu estômago revirando por um
motivo totalmente novo.
Seguindo os sons até a cozinha, parei diante da despensa. A porta
deslizante balançou com o som das batidas.
Lágrimas de repente encheram meus olhos e minha mão voou para
cobrir minha boca, para silenciar meus soluços.
Xavier estava lá com outra mulher.
A certeza disso ressoou por mim, e me cortou.
Esta estaria longe de ser a primeira vez que eu o peguei tendo um caso,
não era a primeira vez que ele exibiu suas conquistas em nosso
apartamento.
No entanto, esta foi a primeira vez que ele fez isso desde que
concordamos em tentar. Tentar dar uma chance a nós.
Parecia que ele não queria mais, como se tivesse ficado entediado
comigo, assim como, de alguma forma, sempre esperei que ele fizesse.
Furiosa, limpei as lágrimas do meu rosto.
Eu estava certa em esperar.
Xavier não se importava comigo. Ele não me ama. Nunca amou.
O idiota simplesmente amava sexo.
Eu estava furiosa, com minha mente disparada e meu coração partido,
quando as portas do elevador abriram novamente de repente, me fazendo
virar.
Fiquei boquiaberta quando Xavier entrou na cobertura.
— Olá, meu anjo, — ele cumprimentou, e então sua expressão se
desfez quando ele viu minhas bochechas manchadas de lágrimas. — O que
há de errado? O que aconteceu?
Ele largou sua bolsa na porta e cruzou a sala em minha direção, suas
sobrancelhas levantando quando ele percebeu as batidas que ecoavam
pela sala de estar. — Isso é...?
Eu concordei.
Xavier passou por mim, alcançando a porta da despensa.
Quando o painel de vidro fosco se abriu, eu engasguei.
Lucille estava na despensa, seus braços — e pernas — envolvendo um
homem calvo com um bigode grisalho.
— Sr. Knight!
— Puta merda!
Xavier saltou para o lado, puxando-me com ele, enquanto Lucille e o
homem tropeçavam para fora da despensa, endireitando as roupas.
— Eu sinto muito, Sr. e Sra. Knight! — Lucille disse, passando as mãos
pelos cabelos despenteados. Ela tinha marcas de mãos de farinha na frente
da blusa.
— Eu, ah, — Xavier hesitou, esfregando a nuca. Suas bochechas
estavam vermelhas. Foi a primeira vez que acho que o vi perturbado.
— Este é o seu marido? — Eu disse, quebrando o silêncio
constrangedor.
Lucille acenou com a cabeça e moveu-se para segurar o braço do
homem. Então ela pareceu pensar melhor e deixou os braços caírem ao
lado do corpo.
— Sim, este é Tony. Ele estava na Itália.
Tony estendeu a mão para Xavier.
Xavier olhou para a mão de Tony, em seguida, cruzou os braços sobre o
peito.
— Por que você e Tony não vão para casa passar a noite, Lucille, —
disse Xavier, finalmente encontrando sua voz. — Eu estava pensando em
levar Angela para jantar, de qualquer maneira.
— Não, não, Sr. Knight. Eu cozinharei, — Lucille disse, voltando a se
enfiar na despensa.
— Por favor, — Xavier chamou atrás dela. — Eu insisto.
— Sim, está bem. Obrigada, Sr. Knight, — Lucille disse, enxotando o
marido em direção ao elevador.
— Boa noite, Sr. e Sra. Knight.
— Boa noite, — gritei sem jeito.
No segundo em que as portas se fecharam atrás deles, Xavier caiu na
gargalhada.
— O que foi isso? — Eu perguntei, encontrando-me rindo também, com
sua alegria contagiante. A risada foi boa, catártica, depois do desgosto que
senti apenas alguns minutos atrás.
Eu alisei as linhas do meu vestido, tentando recuperar a compostura,
tentando ignorar o quão culpada eu me sentia por presumir que era Xavier
na despensa.
Ele tinha estado bem ultimamente, mas era difícil esquecer que as
coisas nem sempre foram boas. E isso não significava que eu deva sempre
esperar o pior dele.
Isso não seria justo.
Xavier balançou a cabeça.
— Que tal um dim sum?
— Você está falando sério?
Ele assentiu.
— Não tenho como comer nesta cozinha depois de ver onde estavam as
mãos de Lucille.
Quarenta minutos depois, estávamos na parte alta da cidade em um
lugar onde Xavier sabia que eu amava.
Estávamos sentados em um pequeno banco perto da janela.
As únicas outras pessoas no restaurante eram dois idosos jogando
mahjong em uma mesa perto da caixa registradora.
— Você viu o rosto de Lucille? — Eu ri, beliscando um pedaço de
brócolis entre meus pauzinhos.
— Eu estava muito focado em não olhar para outras áreas. — Xavier riu,
mordendo algum pak choi. — Não é de admirar que você a tenha deixado
sair mais cedo ultimamente.
Eu sorri e coloquei outro bolinho na boca.
— Eu disse a ela que ela não precisava trabalhar enquanto o marido
estivesse aqui. Ela insistiu!
Xavier fez uma careta.
— Espero que eles não tenham feito isso em nenhum outro lugar da
casa. — Tudo naquele momento era perfeitamente imperfeito, um bom
curativo após a dor daquela tarde. Depois do medo de que Xavier tivesse
caído em seus velhos hábitos. O medo de que eu não tivesse sido o
suficiente para ele. Depois de tudo que passamos, eu ainda não era o
suficiente para ele.
Xavier franziu a testa, seus olhos escuros passando rapidamente entre a
comida na minha frente e ele.
— Você pensou que era eu na despensa, não é?
Respirei fundo, mas não queria mentir.
— Sim, — eu admiti.
Um músculo em sua mandíbula saltou. Então ele se virou em seu
banquinho e puxou o meu para mais perto dele para que eu me sentasse
entre suas pernas.
Eu olhei para baixo, incapaz de sustentar seu olhar intenso.
— Olhe para mim, Angela. — Ele enganchou um dedo sob meu queixo,
levantando minha cabeça.
Eu respirei fundo, deixando meus olhos correrem sobre ele — percebi o
quão ridículo seu terno Prada parecia quando ele se empoleirou na
banqueta de vinil rasgado, como metade de seu rosto ficou vermelho pelo
brilho de um letreiro de néon do lado de fora, junto com a linha afiada de
sua mandíbula e de seus lábios carnudos.
— Eu sei que estou longe de ser um santo, — Xavier começou. — Mas
eu poderia jurar por qualquer Deus que você me pedir, pra fazer você
acreditar em mim, que eu não comi uma única mulher desde antes do
Jubileu de Prata.
— Xavier. — Corei com suas palavras, enrubescendo quando a culpa por
questionar sua fidelidade borbulhou novamente.
Eu não deveria ter duvidado dele.
Eu não tinha motivo para isso.
— Não, escute. Eu não quero mais ninguém. Só você, Angela. E porra,
eu quero você. Não sei o que mais posso fazer para fazer você acreditar em
mim.
— M-mas se você está... — dei uma olhada em nossos amigos
jogadores de mahjong para ter certeza de que não estavam ouvindo — …
se masturbando, então obviamente não estou fazendo você feliz.
Xavier riu.
— Eu preferia ter mais cinco anos de punheta do que uma garota nova
na minha cama todas as noites. Eu já fiz isso. Acredite em mim quando
digo que isso é muito melhor. Você é melhor.
— E se eu for péssima na cama? — Eu soltei, enquanto preocupações
vêm à tona agora que a tampa havia sido liberada.
Xavier riu.
— Eu prometo, você não será. E se for, terei o maior prazer em lhe
ensinar algumas coisas.
Eu engoli em seco.
— Eu gostaria disso. Posso fazer algo? Você sabe. Para facilitar até que
eu esteja pronta?
Xavier gemeu, pegando seus hashis novamente e começou a arrancar
os restos de sua comida.
— Infelizmente, até o pensamento de você em calças de moletom e
uma camiseta furada parece atraente agora.
— Sem moletom, entendi. — Eu sorri, já me sentindo mais leve.
Nosso relacionamento pode não ser perfeito, mas eu tinha que
acreditar que encontraríamos nosso caminho, mesmo que não fosse o
mesmo que todo mundo.
Xavier sorriu.
— Bom, agora, você está pronta para voltar? Acho que a casa teve
tempo suficiente para arejar.

Capítulo 5
Trabalho
Angela

Brad: Boas not í cias!

Brad: Encontrei o emprego perfeito para


voc ê .

Angela: S é rio?
Brad: Com certeza!

Angela: Muito obrigada.

Brad: Voc ê n ã o quer saber o que é?

Angela: Claro que sim!

Brad: Planejamento de eventos.

Angela: Planejamento de eventos?


Brad: A ideia surgiu do nada.

Brad: Voc ê fez um trabalho incr í vel na


minha festa de aposentadoria.

Angela: N ã o sei...

Brad: Voc ê ser á espl ê ndida, minha querida!

Brad: Eu realmente acredito que voc ê tem


um talento.

Angela: Acho que posso tentar.

Brad: Maravilhoso. Voc ê vai conhecer seu


primeiro cliente hoje.

Angela: Tipo, HOJE hoje??

Brad: Sim.

Brad: Isso é um problema?

Angela: N ã o, n ã o.
Angela: Envie os detalhes.

Angela: Muito obrigada pela ajuda!

Duas horas depois, eu estava sentada no Boathouse, mexendo


nervosamente no guardanapo.
Brad me disse que eu me encontraria com alguém do conselho da
Animas, uma organização sem fins lucrativos focada na preservação de
animais em extinção.
Eu não sabia nada sobre como dirigir uma organização sem fins
lucrativos, ativismo por animais em extinção, ou mesmo planejamento de
eventos para esse assunto.
Essa coisa toda estava começando a parecer um erro.
— Tem certeza de que não posso oferecer algo para beber? — o garçom
perguntou ao meu lado, parecendo um pouco irado.
— Hum... — Eu estava sentada no restaurante por quase quarenta e
cinco minutos agora. Eu estava tão nervosa que cheguei meia hora mais
cedo, e agora o cliente estava quase quinze minutos atrasado.
Abri o menu de bebidas e recitei a primeira coisa que li.
— Uma mimosa, por favor.
— Faça duas, — chamou uma voz rouca atrás de mim.
Virei na minha cadeira para ver uma mulher deslizando pelas mesas em
minha direção.
Tudo sobre como ela se apresentava era grande, de seus cachos ruivos
grossos e boca larga até seus saltos de quinze centímetros e óculos escuros
Chanel.
O garçom saiu correndo, claramente intimidado, enquanto a mulher
puxava a cadeira na minha frente e se sentava na beirada.
— Desculpe pelo atraso, Angie! — Então, entendendo minha expressão
de surpresa, ela acrescentou: — Ou você prefere Angela?
— Pode ser Angie, — eu gritei, observando seu batom laranja brilhante
e o lenço de pele quase combinando em seu pescoço. — Isso é raposa?
— Sim, não é glamoroso? Comprei no Bamey's. — Ela estendeu uma
ponta na minha direção, como se para me encorajar a sentir o pelo.
Eu fiz uma careta.
— Perdoe-me, mas você não trabalha com ativismo animal?
A mulher riu.
— Já estava morto quando o comprei.
Eu não tinha certeza se era essa a questão, mas não parecia ser da
minha conta apontar isso.
O garçom voltou com nossas bebidas, salvando-me da minha boca
grande.
— Gostaria de pedir agora?
— Os ovos Benedict, por favor, — disse a mulher, sem abrir o cardápio.
— Mas, por favor, não cozinhe mal o presunto desta vez.
— Claro, madame. E para você? — O garçom virou para mim.
De alguma forma, nos quarenta minutos que tive de me preparar para
esse momento, não havia pensado em abrir o cardápio nenhuma vez. Eu já
estive aqui antes, com Xavier, mas ele sempre pediu a comida. Eu agarrei
por um fragmento de memória.
O que eu comi da última vez que estive aqui?
— Quiche?
Felizmente, o garçom acenou com a cabeça e desapareceu novamente.
Limpei a garganta e tirei um caderno da minha bolsa, tentando parecer
que sabia o que estava fazendo. Como se eu tivesse feito isso antes.
— Então, Sra... — Eu congelei. Brad não me disse quem eu iria
conhecer.
— Me chame de Didi, — disse a mulher, com um grande sorriso.
Ela estendeu a mão sobre a mesa.
— Não se preocupe, Brad não sabia que eu estava vindo. Normalmente,
meu assistente lida com esse tipo de coisas, mas quando eu soube que a
Angela Knight organizaria a arrecadação de fundos, eu sabia que tinha que
conhecê-la pessoalmente.
Peguei sua mão que esperava.
— Estou honrada.
— Oh, sério, querida, a honra é minha.
Didi se recostou na cadeira e tomou um longo gole de sua mimosa.
— Então, hum... me fale sobre o evento que você está realizando, — eu
disse.
— Fazemos um evento anual, um leilão dos melhores de Nova York,
para arrecadar dinheiro para a Animas, — começou Didi. — Tudo terá de
ser organizado, desde as peças a leiloar ao bufê.
— Oh, uau, — eu disse, rabiscando suas palavras no meu caderno.
— Você não precisa se preocupar com isso ainda. — Didi sorriu.
Eu parei de escrever.
— Não?
— Não. Primeiro, quero que você organize o jantar da diretoria. É
semana que vem. Pense nisso como uma espécie de teste.
— Um teste?
— Eu preciso ver do que você é feita antes de entregar o leilão. — Didi
sorriu. — Não se preocupe, Angie. Já posso dizer que você vai se sair bem.
O garçom chegou com nossos pratos, e eu rapidamente tirei meu
caderno do caminho.
— Ovos Benedict e a quiche Lorraine.
— Então, Angie, — disse Didi, cortando seus ovos Benedict e fazendo a
gema escorrer em seu prato, — fale-me sobre você.
— Não há muito o que saber, — eu disse estendendo a mão para o
saleiro.
Didi apontou para mim com sua faca.
— Eu não posso acreditar que isso é verdade. Você é Angela Knight!
Você roubou o solteiro mais cobiçado de Nova York. Isso não é tarefa fácil.
Havia algo em seu tom que fez meu estômago apertar.
Ciúme, talvez.
Seria possível que Didi fosse uma das muitas mulheres de Xavier? Se a
organização sem fins lucrativos para a qual ela trabalhava era uma
instituição de caridade para a qual a Knight Enterprises doava, havia
incontáveis festas de Natal e almoços que teriam fornecido a cobertura
perfeita para um romance.
Certamente Brad não me arranjaria uma das que já aqueceram a cama
de Xavier. A menos que ele não soubesse...
De repente, me peguei perguntando:
— Você conhece Xavier?
— Nossas famílias seguem os mesmos círculos, — disse Didi,
descartando a questão. — Fomos para a mesma escola particular. Fizemos
aulas no iate clube juntos. Verões nos Hamptons. Você sabe, coisas
normais.
Eu concordei. Talvez tenha sido daí que veio o senso de estilo de Didi e
seu falatório. Sempre pensei que fossem apenas peculiaridades do próprio
Xavier.
Agora eu percebi que eles podem ser sintomas de ter sido criado na
classe alta.
— Então vocês se conhecem bem? — Eu perguntei.
Didi encolheu os ombros.
— Eu suponho que já fomos próximos. Mas você sabe como é.
Eu não sabia. Em e eu éramos amigas desde que éramos crianças. Não
havia mais ninguém. E definitivamente não havia nenhum iate clube ou fim
de semana nos Hamptons.
Eu balancei a cabeça de qualquer maneira e dei uma mordida na minha
quiche para evitar elaborar.
Eu não tinha certeza do que estava acontecendo aqui. Foi uma reunião
de negócios? Uma entrevista? Brunch com uma amiga?
— Como você e Xavier se conheceram? — Didi perguntou. — Quer
dizer, já li os artigos, mas é sempre muito melhor ouvir a história da fonte.
— Realmente era tão simples quanto isso, — eu disse a ela depois de
engolir. — Nós nos conhecemos uma tarde em uma loja de bolinhos, e o
resto é história.
— O amor verdadeiro. — Didi sorriu. — E o planejamento de eventos?
Como você entrou nisso?
— Na verdade, só recentemente descobri que tinha uma vocação para
isso, — comecei a dizer.
Parecia algo que você lia em uma revista feminina ou ouvia na HGTV.
Com sorte, algo exatamente que Didi conhecia bem.
— Eu gostaria de ter pensado nisso, — disse ela.
Eu fiz uma careta.
— O que você quer dizer?
Didi riu.
— Você não entra em organizações sem fins lucrativos pelo dinheiro,
querida. Você sabe como o jogo funciona. É tudo uma questão de imagem.
Eu me peguei sorrindo. Era raro encontrar alguém tão franco e direto
entre os amigos e conhecidos dos Knights.
— Eu sei bem.
O brunch transformou-se em almoço e o almoço em coquetéis. Quando
eu estava voltando para casa pelo Central Park, o sol tinha começado a se
pôr.
Eu gostava de Didi. Muito. Ela estava cheia de uma paixão, motivação e
diversão, que eu sentia falta.
Nós duas não poderíamos ser mais diferentes, mas de alguma forma
sua boca ruidosa e seu cabelo grande se misturaram bem com meus
sorrisos tímidos e bochechas coradas.
Na verdade, ela me lembrava um pouco Xavier. Eles eram forças a
serem consideradas.
Talvez seja por isso que ela e eu nos demos tão bem.
Assim como com meu marido impetuoso, eu era a água para resfriar
suas chamas.
Fosse o que fosse, eu adorava estar perto dela. Ela me fez sentir
fortalecida, como se eu pudesse fazer o que quisesse, ser o que quisesse.
Quando saí do parque e fui para a rua, meu celular vibrou no bolso.
Xavier: Cad ê voc ê ?

Xavier: Cheguei em casa e voc ê n ã o est á


aqui.

Angela: Desculpa!

Angela: Estou na rua.

Angela: Minha reuni ã o demorou muito.

Xavier: Reuni ã o???

Xavier: Deixa pra lá .

Xavier: Só se apresse.

Xavier: Tenho algumas not í cias


empolgantes.

Angela: Eu tamb é m!

Angela: Te vejo em um minuto.


Cheia de uma nova animação, acelerei meu passo.
Xavier ficaria orgulhoso de mim, feliz por mim. Eu tinha certeza disso.
Não só tinha encontrado um emprego aceitável, mas também estaria
trabalhando para uma de suas velhas amigas.
Quando entrei na cobertura, Xavier estava em pé, inclinado sobre a
mesa de jantar, acendendo as velas.
Pratos fumegantes de carne Kobe e legumes em juliana esperavam em
nossos lugares, embora Lucille não estivesse em lugar nenhum.
Xavier parecia ter gastado um tempo para tudo isso.
Ele ainda estava de terno, mas o paletó e a gravata estavam mais soltos.
As mangas de sua camisa estavam enroladas até os cotovelos e os dois
primeiros botões de sua camisa estavam abertos.
— Boa noite, esposa. — Ele sorriu enquanto eu caminhava em sua
direção.
— Boa noite, Xavier.
Ele beijou minha bochecha e, em seguida, se afastou para admirar meu
vestido.
— Você está linda.
— Para que tudo isso? — Eu perguntei quando ele puxou minha
cadeira.
Normalmente jantávamos juntos, mas não normalmente à luz de velas,
com música de orquestra tocando ao fundo, e raramente usando a
porcelana boa.
Xavier puxou sua própria cadeira.
— Eu disse que tinha uma surpresa, não disse?
Borboletas começaram a se agitar no meu estômago quando ele pegou
minhas mãos.
— Angela, consegui um emprego para você.
Capítulo 6
Jantar e Sobremesa
Angela
— Você o quê?
— Eu consegui um emprego para você, — repetiu Xavier, com seu
sorriso crescendo cada vez mais.
Ele está brincando?
Apenas alguns dias atrás, ele estava me dando um sermão sobre como
eu não precisava de um emprego. Agora ele saiu e encontrou um para
mim?
Eu abri e fechei minha boca algumas vezes, incapaz de encontrar as
palavras — quaisquer palavras — para responder.
— Lembrei-me de você me dizendo que trabalhava em uma empresa
aeroespacial quando nos conhecemos, — explicou Xavier. — Tenho um
amigo de um amigo que é CTO da SkyTech. Ele disse que há uma vaga de
estágio no departamento de engenharia e está disposto a levá-la a bordo.
— Eu o quê? Isso é loucura, — eu consegui balbuciar. Eu me inscrevi
para o estágio da SkyTech no ano passado, quando meu pai estava no
hospital e fui rejeitada.
Agora, de repente, eles me querem?
Xavier encolheu os ombros, em seguida, pegou seus utensílios.
— Seria um favor pessoal. Eu sei que você está pronta para isso.
Meu estômago se revirou e eu empurrei meu prato, de repente sem
fome. Não era minha habilidade que eles queriam. Eu era apenas um
parágrafo em uma troca de negócios. Parte da negociação. Um favor a um
amigo.
— Eu posso imaginar isso agora, — Xavier tagarelou. — Minha linda
esposa, chefe de engenharia da SkyTech.
Era disso que se tratava, Xavier me transformando em sua esposa de
sonho. Se eu precisasse de um emprego, seria um que ele aprovasse. Em
seus termos. Usando sua influência.
Contudo, isso não era sobre ele. Pela primeira vez, eu queria fazer algo
por mim mesma.
— Eu já tenho um emprego, — eu disse calmamente.
Xavier engasgou com a boca cheia de carne mal passada.
— O quê?
Sentei-me um pouco mais ereta na cadeira.
— Eu já tenho um emprego.
Ele tomou um gole de vinho tinto.
— Onde?
— Bem... eu acho que por mim mesma. Como um freelancer.
— Fazendo o quê?
Peguei meu garfo e comecei a mover os vegetais picados em meu prato.
— Planejamento de eventos.
As sobrancelhas de Xavier se ergueram.
— Planejamento de eventos? Achei que você tivesse se formado em
engenharia mecânica.
— Sim.
Xavier deixou cair seus talheres em seu prato meio vazio.
— Então por que diabos você quer fazer planejamento de eventos?
Senti uma veia de raiva borbulhar, um mecanismo de defesa contra o
tom cada vez mais condescendente de Xavier.
— Sou boa em engenharia mecânica, mas sou muito apaixonada por
planejamento de eventos.
Xavier bufou.
— Perfeito. Então, me esforcei para garantir este emprego para você e
agora você vai jogar tudo fora para realizar seu sonho de uma semana de
se tornar uma planejadora de eventos. Você não tem experiência. Como
você vai encontrar clientes?
— Eu já tenho uma, na verdade. Eu a conheci no almoço hoje. Meu
primeiro evento está planejado para a próxima semana.
— Como você conseguiu o emprego, Angela? Não posso permitir que
você planeje bar mitzvahs para estranhos e festas de aposentadoria. Eu já
posso ver as manchetes, — Xavier rosnou.
Ele se levantou da cadeira e passou as mãos pelos cabelos enquanto
olhava para a cidade pelas janelas.
— Seu pai arrumou isso, — eu disse, me levantando também.
— Claro! — Xavier retrucou, Virando-se para me encarar. — Eu deveria
saber. Meu pai ainda tem você sob seu controle. Você é sua pequena Eliza
Doolittle.
Eu cruzei meus braços.
— O que isso deveria significar?
— Isso significa que vocês dois estão sempre planejando pelas minhas
costas. Eu disse que você não precisava de um emprego e você vendeu sua
triste história para meu pai. Então ele apareceu para salvá-la, como
sempre. Você não confia em mim? Você não tem fé em mim?
— Isso não é justo, Xavier, — eu empurrei de volta. — Você não pode
fazer isso ser sobre você. Você não pode ficar com raiva de mim por
encontrar uma solução sem você.
— Pelo amor de Deus, Angela, — Xavier disse, se aproximando, — Eu
consegui um emprego para você. Eu já desisti das mulheres. Eu levo você
para sair. Tudo o que faço é ouvir você.
Eu balancei a cabeça, deixando cair meus braços.
— Bem, sinto muito por ter sido tão difícil para você.
— Angela... — Xavier se enfureceu e parou. Suas narinas dilataram-se.
Um músculo em sua mandíbula saltou.
Eu dei um passo para trás.
Xavier nunca me machucou. Nunca machucaria.
Eu sabia. Mas o olhar em seus olhos agora era perigoso.
Meus lábios se abriram, mas antes que eu pudesse me desculpar pelas
coisas que eu disse, Xavier agarrou meu braço, puxando-me contra ele e
pressionando seus lábios nos meus.
Xavier
Angela engasgou quando nossos lábios se chocaram em uma confusão de
dentes e língua. Peguei seu lábio inferior cheio entre os dentes e mordi
com força, ganhando outra inspiração rápida.
Suas mãozinhas deslizaram pelo meu peito, segurando a gola da minha
camisa e me puxando para mais perto dela.
Mesmo que ela usasse salto, eu estava alguns centímetros acima dela, e
era difícil chegar perto o suficiente.
Já fazia muito tempo que eu não me sentia assim. Já que eu tinha essa
necessidade urgente de enterrar meu pau em uma mulher.
Foder era uma coisa. Isso era fácil, divertido, independente.
O que eu precisava de Angela era muito mais...
E o fato de que ela não estava dando para mim estava me deixando
louco.
Eu coloquei minhas mãos em seu cabelo macio e deslizei minha língua
em sua boca.
Eu enlouqueceria logo se não pudesse levá-la. Se ela não me deixasse
ficar com ela.
O que mais poderia ser feito? O que mais eu poderia fazer para provar a
ela que a queria? Que eu queria que nós déssemos certo?
Uma explosão de surpresa passou por mim quando a senti abrir um dos
botões da minha camisa. Então outro.
Angela nunca deu o primeiro passo, nunca iniciou o contato. Esta foi a
primeira vez, e eu não estava longe de impedi-la.
Eu não pude conter o gemido que veio enquanto ela corria as mãos
pelo meu peito nu, enquanto suas unhas arranhavam ao longo das marcas
do meu abdômen.
Mais baixo. Muito mais baixo.
Mais duro.
Mais.
Sem quebrar o contato, coloquei um braço atrás de mim e agarrei as
costas de uma das cadeiras da sala de jantar, girando-a. Passei meu
outro braço em volta da cintura de Angela, levantando-a no meu colo
enquanto me recostava na cadeira.
Eu quase perdi o controle quando seus quadris se apertaram contra os
meus, enquanto ela colocava seus braços em volta do meu pescoço,
puxando-nos impossivelmente para mais perto.
Minhas mãos correram da cintura para as coxas, mergulhando sob a
bainha do vestido.
Angela gemeu, balançando os quadris para a frente, enquanto meus
dedos se espalharam na parte de trás de suas pernas e cravaram em sua
bunda.
Ela estava com a porra da calcinha de renda.
O tecido delicado estava praticamente implorando para ser rasgado.
Mas eu não poderia, ainda não. Ela nunca me deixou brincar tanto
antes, e eu não iria desperdiçá-lo rasgando roupas íntimas.
Em vez disso, levantei minhas mãos e peguei seus longos cachos
dourados em um punho. Gentilmente, puxei sua cabeça para o lado,
quebrando nosso contato.
Ela se jogou para mais perto, como se estivesse determinada a não
parar, e empurrou seus quadris para frente novamente.
Eu senti seu calor através do tecido do meu terno.
Não havia quase nada entre seu núcleo quente e meu pau.
— Não dá pra sentir o quanto eu te quero? — Eu sussurrei, beliscando e
beijando sua garganta.
— Sim, — ela respirou, com sua voz soando distante.
Eu trouxe minha mão livre para pegar seu seio e deslizei meu polegar
sobre a seda, sobre seu mamilo enrugado.
Enganchei meus dedos ao longo do decote profundo, puxando-o e a
renda de seu sutiã para baixo.
Quando seu seio de porcelana cheio saltou livre, puxei a cabeça de
Angela para trás e coloquei seu mamilo em minha boca.
— Xavier, — ela gemeu, sua mão apertando meu antebraço.
— Você não vai me deixar ter o que eu quero?
Angela
Sim, eu queria dizer a ele. Sim.
Mas as palavras ficaram presas na minha garganta quando Xavier
circulou sua língua em torno do meu mamilo duro.
Meus dedos agarraram seu cabelo escuro, e eu apertei meus quadris
nele, precisando sentir sua dureza contra mim. Querendo estar dentro de
mim.
Eu quero você mais do que tudo.
Neste momento, nada mais importava.
— Sim, — eu implorei. — Xavier, por favor.
Não havia outras palavras que eu pudesse usar para expressar o que eu
queria, o que eu precisava.
Estremeci quando ele deu um beijo entre meus seios, correu o nariz
pelo meu esterno, beijou a junção do meu pescoço e ombro.
— Fala que você me quer.
A ordem era dura e suave ao mesmo tempo. Como sorvete no café
quente. Ou um diamante envolto em veludo.
— Eu quero, — eu prometi.
Xavier me puxou de volta e me beijou novamente, me deixando tonta.
Eu respondi ansiosa, faminta.
Sua mão livre deslizou pela minha coxa, cada vez mais alto, até que seu
polegar percorreu a costura ao longo do centro da minha calcinha.
Eu gemi, pressionando em seu toque, e então... um telefone tocou.
Como um alarme de incêndio, trouxe a realidade para um foco rígido e
nítido.
— Ignore, — disse Xavier, apertando as mãos em volta da minha
cintura.
— Eu não posso. — Recebi muitas ligações de emergência para ignorar
o toque.
Eu me empurrei para cima e para longe dele e corri para pegar minha
bolsa em uma poltrona na sala de estar.
— Olá?
— Angela, — disse Brad da outra linha. — Só pensei em ligar e ver
como foi sua reunião hoje. Espero não estar interrompendo nada.
— Na verdade... — Eu comecei, apenas para ter minhas palavras
sumindo enquanto eu observava o olhar cheio de luxúria de Xavier, e uma
faísca familiar de medo apareceu dentro de mim. Eu trouxe a mão aos
meus lábios inchados.
O que eu fiz?
Nunca me senti tão fora de controle em toda a minha vida.
Se Brad não tivesse ligado naquele momento, poderíamos ter...
Eu engoli em seco.
Claramente, eu tomei muitas mimosas no Boathouse esta tarde.
Eu nunca poderia imaginar fazer amor depois de discutir assim. Eu nem
sabia que era possível ficar com tanta raiva de alguém e ao mesmo tempo
querer tanto esse alguém.
— Angela? — Disse Brad. — Posso ligar de volta em outra hora.
— Não, — eu disse, virando as costas para Xavier. — Pode ser agora.
Eu ouvi Xavier murmurando atrás de mim enquanto eu descia o
corredor para o meu antigo quarto. Fecho a porta atrás de mim.
— Então, como foi sua reunião? — Brad perguntou enquanto eu
pressionava minhas costas contra a porta e escorregava para o chão de
madeira. Senti minhas bochechas e pescoço corarem, meu próprio coração
batendo forte no peito.
— Bem, — eu consegui dizer. — Ótimo, na verdade.
— Que notícia maravilhosa! — Brad gritou.
— Na verdade, também tenho novidades para você, — eu disse. — Eu
encontrei uma maneira de achar um encontro para você.

Capítulo 7
Tentando
Brad
Apesar de serem três da tarde, o restaurante estava lotado. Vi todos os
participantes do encontro rápido pela janela e hesitei.
Talvez isso não seja uma boa ideia...
Eu balancei minha cabeça. Eu estava sendo ridículo. Era apenas um
encontro, muitos encontros... como entrevistas.
Foi isso. Eu entrevistei milhares de candidatos para a Knight Enterprises.
Hoje poderia ser tão diferente?
Encontrar um bom CEO ou assistente era tão difícil quanto encontrar
um parceiro.
Só que já faz cinquenta anos desde a última vez que fiz uma entrevista
para preencher uma posição como aquela, desde que procurei uma pessoa
importante.
Eu sabia que algumas pessoas passavam por amantes como sapatos.
Mas eu nunca fui assim. Pode me chamar de antiquado, mas eu acreditava
que havia uma pessoa para todos.
Eu já tive a minha.
Mas então as palavras de Angela da noite passada voltaram flutuando
para mim. Talvez ela estivesse certa. Talvez eu não precisasse encontrar
outra. Talvez eu pudesse encontrar três ou quatro.
Afinal, eu tive um punhado de assistentes antes de Ron, cada um com
suas próprias aptidões e peculiaridades, mas confiei em cada um deles da
mesma forma.
— Você está aqui para o evento de encontro rápido para idosos,
senhor?
Virei-me para encontrar uma jovem enfiando a cabeça para fora da porta
do restaurante e percebi que devo ter parecido bastante peculiar aqui fora,
espiando pela janela.
Eu respirei fundo.
— Eu, ah, sim. Suponho que sim.
— Venha então. — Ela sorriu brilhantemente e segurou a porta aberta
para mim. — Estamos prestes a começar.
Lá dentro, ela me entregou um crachá e um marcador permanente.
Rapidamente rabisquei meu primeiro nome no adesivo e, em seguida,
colei na lapela da minha jaqueta.
— Ótimo — a jovem olhou para o meu crachá — Brad. Se você puder se
sentar, vamos começar agora.
Eu examinei o restaurante.
As mesas foram dispostas individualmente, com duas cadeiras. Os
assentos estavam ocupados por homens e mulheres, a maioria com vários
tons de cabelo prateado.
Havia apenas uma cadeira aberta, em frente a uma senhora
rechonchuda com grandes óculos cor de mostarda e um cabelo curto e
inclinado.
O visual não era o mais profissional, mas ela tinha um toque artístico.
Criatividade era uma característica que descobri ser uma vantagem nos
colegas. Talvez isso não fosse tão terrível quanto eu suspeitava.
A mulher ergueu a mão e acenou ao me ver se aproximando.
— Oi!
— Olá, como vai você? — Eu sentei em frente a ela.
— Muito bem! — ela quase cantou. — Meu nome é Dorothy. Meus
amigos me chamam de Dot.
— É um prazer conhecê-la, Dot. Eu sou o Brad.
— Brad? — Seus lábios pintados de violeta se abriram. — Isso deve ser
o destino. O herói do meu último livro se chamava Brad.
— Você gosta de ler? — Imaginei.
— Oh não, eu sou uma escritora, — Dot disse.
Bem, essa era uma profissão respeitável.
— Eu conheceria algum de seus trabalhos?
Dot deu um sorriso liso e ergueu uma de suas sobrancelhas
desenhadas.
— Você gosta de erotismo ocidental?
As duas entrevistas seguintes foram tão terríveis quanto a primeira.
Cada um começou bem. As mulheres pareciam bem polidas e se
portavam bem. Mas no meio do — encontro, — eu descobriria algo
desagradável.
Se não fosse escrever pornografia, era uma relação doentia com gatos
de estimação ou uma aversão à comida espanhola.
Não havia ninguém aqui. O mais próximo que cheguei foi de vinte e
sete. na melhor das hipóteses. Tinha sido bobagem acreditar que alguma
mulher jamais seria capaz de chegar perto da perfeição da minha Amelia.
Eu estava tentando parecer interessado na última mulher me contando
sobre sua recente viagem às Bahamas quando algo chamou minha
atenção.
Virei-me para encontrar uma banda montada no canto oposto da sala e,
com eles, a cantora da minha festa de aposentadoria.
Penny, Xavier a tinha chamado.
Assim como no iate clube, de repente me vi de pé, inexplicavelmente
gravitando em sua direção.
— Perdoe-me, um momento, — eu murmurei para o meu par, sem ao
menos um segundo olhar por cima do ombro.
Eu atravessei as mesas em direção à banda.
— Com licença?
— Sim? — Penny se virou para mim. Um sorriso iluminou seu rosto. —
Oh, olá, Sr. Knight.
Eu senti minhas bochechas corarem.
Ela se lembra de mim.
— Por favor, me chame de Brad.
Ela tinha um braço em um pedestal de microfone e mudou seu peso
para colocar um de seus quadris curvilíneos para o lado.
— Tudo bem, Brad. Como está a aposentadoria?
Eu engoli em seco.
— Tenho certeza que você pode ver com base em onde estamos.
Penny riu. O som era melódico, como a brisa da primavera passando
pelas folhas.
— Acho que este lugar é adorável, — disse ela.
— Não tão adorável quanto sua voz para cantar, — eu disse.
Suas bochechas enrubesceram e eu senti meu coração palpitar como se
eu fosse trinta anos mais jovem.
— Obrigada, — disse ela.
— O que te fez querer ser cantora? — Eu perguntei.
— Oh, mas eu não sou de verdade, é apenas um trabalho de meio
período. Eu acabei de me formar na NYU, na verdade.
— Artes?
— Negócios, na verdade. — Ela riu da minha expressão de surpresa. —
Quem diria que seria difícil encontrar um emprego em finanças na Big
Apple? Certamente não eu.
— Mas parece que você pertence ao palco, — eu disse seriamente. —
Por que negócios?
— Eu entendo muito isso na verdade... — Ela ergueu o queixo,
pensativa. — Sendo sincera, prefiro muito mais estar enrolada em casa,
com uma xícara de chá ao lado da cama e um bom livro nas mãos. Mas
eu... tenho que pagar as contas de alguma forma.
— De repente, estou me sentindo muito grato por suas contas. De que
outra forma eu seria capaz de desfrutar da sua voz?
Ela riu docemente.
— Hum, obrigada?
— É uma pena que o seu público não seja muito atencioso. — Eu olhei
para a estranha coleção de idosos, suas peculiaridades e estranhezas em
plena exibição.
— Acho que é fofo, — disse Penny. — Nunca é tarde para encontrar
aquela pessoa especial. — Ela parecia melancólica e eu podia ver o leve
traço de dor escondido em seus olhos.
Suas palavras fizeram meu estômago revirar.
Talvez ela esteja certa...
— Eles parecem um grupo divertido, — acrescentou ela, tentando
iluminar o humor repentinamente sombrio.
— Eu estive fora do jogo por um tempo, mas da última vez que
verifiquei, não havia nada de divertido em jogar cribbage e ler padrões de
tricô, — respondi.
Os olhos escuros de Penny brilharam.
— Então qual é a sua ideia de diversão?
Minha resposta veio rapidamente. Não havia como pará-la.
— Eu poderia mostrar a você, se você quiser.
As sobrancelhas de Penny se ergueram e minha respiração ficou presa
no peito.
Eu fui muito ousado.
O que eu estava pensando?
Ela tinha menos da metade da minha idade.
Eu trouxe minha mão até a minha nuca, tentando encontrar as palavras
para me desculpar.
Antes que eu pudesse, Penny disse:
— Eu gostaria muito disso.
Foi a minha vez de ficar surpreso.
— Mesmo?
Penny piscou e parecia que seu cérebro estava alcançando sua boca. Ela
ficou vermelha quando acenou para o equipamento musical atrás dela.
— Eu, uh, termino às nove, — ela gaguejou. — Se você quiser ficar por
aqui, talvez possamos pegar uma bebida...?
— Ó-ótimo. Eu vou. — Eu coloquei o polegar sobre meu ombro. —
Melhor voltar.
Ela sorriu para mim, e de repente eu senti como se tivesse criado asas e
pudesse voar.
— OK. Falo com você mais tarde, Brad.
Angela
— Meu Deus! — Eu disse baixinho enquanto abria caminho pela porta do
café de Dustin.
— Meu Deus mesmo! — Em respondeu atrás de mim.
O lugar estava lotado, todas as mesas ocupadas, a fila indo até a porta.
Eu nunca tinha visto isso tão ocupado.
— Nossa mesa está ocupada. — Em fez beicinho.
— Pronto, — eu disse, apontando para um sofá desleixado contra a
parede oposta, onde um casal estava vestindo os casacos.
— Eu acho que eles estão indo embora. Por que você não vai guardar a
mesa e eu vou esperar na fila para fazer o pedido? Em acenou com a
cabeça e entrou na multidão.
Eu estava animada para me encontrar com meus amigos para nossa
atualização semanal esta manhã.
Parecia que Dustin estaria muito ocupado para se juntar a nós.
Ele estava atrás do balcão com Ben, os dois em uma dança estranha
enquanto flutuavam entre a caixa registradora e a máquina de café
expresso.
Finalmente, Dustin chamou minha atenção e acenou para que eu
entrasse na caixa registradora.
— Ei, Angela!
Hesitei, sem saber se deveria deixar meu lugar na fila. Não seria justo se
eu tivesse um serviço especial só porque Dustin era meu amigo.
— Vou trazer suas bebidas, — Dustin chamou, não me deixando
escolha.
Senti alguns pares de olhos me seguirem enquanto me movia para me
juntar a Em no sofá.
Parecia que a notícia da minha cafeteria secreta favorita tinha sido
divulgada.
— Então, — Em disse enquanto eu me sentava ao lado dela, — como
vão as coisas entre você e Xavier? Você teve a conversa?
Olhei ao redor da sala ocupada. Havia muitas pessoas por perto que
podiam ouvir conversas privadas.
— Está tudo ótimo! — Eu menti. — Que tal você e Lucas?
Eu esperava que ela entendesse por que rejeitei a pergunta. Que ela
não me pressionaria por mais.
Felizmente, embora muitas vezes seja uma preocupação, Em se abriu
mais facilmente do que um livro.
— Não sei o que fazer, Angie.
— Sobre o quê?
— Lucas e eu temos tentado engravidar, — ela revelou.
— Isso é incrível, — eu disse. — Eu estou tão feliz por você!
E eu estava. Eu não conseguia pensar em nada melhor do que ter uma
sobrinha ou sobrinho correndo por aí. Mas não pude sentir a sensação de
afundar que começou a crescer no meu estômago.
Em e eu sempre estivemos na mesma página. Estivemos na mesma
turma durante todo o ensino fundamental e médio, havíamos ido para a
faculdade ao mesmo tempo e conseguido nossos primeiros empregos com
semanas de diferença.
Agora, parecia que um abismo se abriu entre nós. Em estava falando
sobre ter filhos. Eu ainda era virgem.
Quando eu fiquei tão para trás?
Em balançou a cabeça e as lágrimas encheram seus olhos.
— Não, não é. Temos tentado desde nossa lua de mel, mas não está
acontecendo. Já tentei de tudo. Parei de beber cafeína. Eu coloco meus pés
na parede depois que fazemos sexo. Estou rastreando minha ovulação.
Nada disso está funcionando.
Puxei minha amiga para um abraço.
— Ei, ei. Vai ficar tudo bem.
— E se não ficar? E se houver algo errado comigo, ou com Lucas, e não
pudermos ter filhos? — Em fungou.
— Existem outras opções, — eu disse. — Mas você está se adiantando
demais aqui, Em. Faz apenas algumas semanas. Você não pode apressar
esse tipo de coisa. Isso vai acontecer no seu devido tempo.
Em assentiu fracamente.
— Você tem razão. Estou sendo boba.
— Eu tenho algo que pode te animar, — eu disse. — Eu preciso te
contratar.
— Me contratar?
Eu concordei.
— Posso estar planejando um grande evento em algumas semanas e
vou precisar de peças centrais. Não consegui pensar em mais ninguém que
preferisse fazer os arranjos.
— Um evento? — Em disse.
— Sim, consegui minha primeira cliente, — expliquei. — Ela trabalha na
Animas. Estou organizando um jantar para eles esta semana e, se der certo,
eles me pediram para organizar sua arrecadação de fundos anual.
Foi a vez de Em me puxar para um abraço.
— São notícias fantásticas!
Dustin chegou com nossos cafés com leite. Ele colocou as canecas na
mesa e desabou no sofá entre nós.
— Então, o que eu perdi?
— Não se preocupe conosco! — Em empurrou seu braço. — Você tem
mais com o que se preocupar. Este lugar está lotado!
Dustin enxugou a testa.
— Eu sei. Já vendi três peças hoje.
Meu celular vibrou no bolso e eu rapidamente o peguei enquanto meus
amigos continuavam a bater papo.

Didi: Est á tudo ótimo para o jantar!

Didi: Estou realmente impressionada!!!

Eu sorri com as mensagens.


Até agora, planejar o jantar tinha sido moleza. Tudo estava pronto. E o
mais importante, Didi parecia animada com meu trabalho.
Se as coisas continuassem assim, não havia dúvida de que também
planejaria o leilão.
Angela: Fico feliz em ouvir isso!

Didi: H á apenas algumas mudan ç as de


ú ltima hora...

Didi: Outro convidado respondeu ao


convite

Didi: Ent ã o, vamos precisar de outro lugar à


mesa

Didi: Ela tamb é m é vegana e al é rgica a soja.

Didi: O diretor tamb é m mudou seu voo e


n ã o vai pousar at é as 7 agora.

Didi: Ent ã o a refei çã o precisa ser adiada em


uma hora.

Meu coração afundou em meu peito quando tantas mensagens


seguidas apareceram na tela. Faltavam menos de vinte e quatro horas para
o jantar.
Como poderia terminar tudo isso a tempo?
Capítulo 8
Sem Reservas
Angela
Às oito da noite seguinte, eu estava sem tempo.
A hora do jantar havia chegado.
Eu andava de um lado para o outro no bar do Tavem on the Green.
O jantar estava acontecendo na Sala do Central Park. Eu podia ver a
mesa circular aparecendo e desaparecendo de vista através da porta ao
longo do outro lado do bar.
Um punhado de convidados já havia chegado e estavam servindo
coquetéis.
Ao longo da parede oposta ficava a entrada, onde o anfitrião saudava os
recém-chegados ao restaurante. Sorri quando ela passou com um
cavalheiro mais velho em um terno azul-marinho impecável. Eu reconheci
seu rosto sardento da lista de convidados.
Respire fundo, eu me lembrei.
Eu fiz tudo o que pude para cuidar da lista de mudanças de última hora
que Didi me enviou ontem à tarde. Não havia mais nada que eu pudesse
fazer agora — exceto esperar.
— Aí está você, querida!
Virei-me para encontrar Didi trotando em minha direção com saltos de
gladiador metálicos. Ela estava magnífica em seu vestido estampado de
leopardo na altura do joelho, com seus cachos ruivos de alguma forma
maiores do que da última vez que nos conhecemos.
— Você está aqui. — Eu sorri enquanto ela beijava minhas bochechas
no ar. Instantaneamente, me senti mais brilhante, como se simplesmente
estar mais perto dela me desse um impulso instantâneo de confiança.
— Todos os convidados, menos dois, já chegaram. Estão servindo
bebidas na sala principal. Assim que os dois últimos chegarem,
podemos começar com o primeiro prato e...
— Respire, Angie, — disse Didi. Ela olhou por cima do meu ombro para
a sala de jantar. — Você foi ótima. Diga aos servidores para adicionarem
outra configuração de lugar à mesa e venha se sentar.
— À mesa? — Eu hesitei.
— Por que não? — Didi riu. — Venha desfrutar dos frutos do seu
trabalho.
Eu dei a ela um grande sorriso enquanto um sentimento de orgulho me
enchia.
— Obrigada.
— Bom. Agora venha, vou apresentá-la a todos.
Depois de uma palavra rápida com o anfitrião, corri atrás de Didi para a
sala de jantar.
Ela já estava contando uma história. Os membros do conselho caíram
na gargalhada enquanto ela gesticulava descontroladamente.
Aproximei-me dela e Didi me olhou duas vezes, e então ela jogou o
braço em volta do meu ombro.
— Senhores, Margret, é um grande prazer apresentar a Sra. Angela
Knight.
Corei e dei um pequeno aceno de cabeça para os convidados que
haviam ficado em silêncio.
— Olá.
— Angela é uma planejadora de eventos extraordinária. Ela pode ser a
encarregada do leilão deste ano, — Didi continuou.
Notei alguns pares de olhos passando rapidamente entre nós. Algumas
sobrancelhas se ergueram. Girei minha aliança de casamento no dedo e
olhei para o chão.
Talvez eu devesse ter recusado o convite de Didi.
Era normal que o planejador do evento participasse da festa?
Ou foi meu sobrenome que causou a mudez de todos?
Margret — a única outra mulher à mesa — foi a primeira a quebrar o
silêncio.
É
— É maravilhoso ter você a bordo.
Havia dois ouvintes e os homens ergueram os copos, tilintando-os.
— Sente-se, sente-se, — pediu Didi, dando um tapinha nas costas da
cadeira ao lado daquela que ela estava antes.
Nós duas nos sentamos e os membros do conselho começaram a
conversar entre si mais uma vez. Eu examinei seus rostos, tentando resistir
à vontade de me afundar na minha cadeira.
Nunca estive perto de tantas pessoas elegantes ao mesmo tempo, e
definitivamente não enquanto tentava impressioná-los o suficiente para
ser contratada.
— Povo difícil, hein? — Didi sussurrou.
Eu ri, instantaneamente me sentindo aliviada por ela ter me puxado
para uma conversa.
— Já enfrentei pior.
— Eu não tenho dúvidas. Eu...
— Desculpe pelo atraso, — disse uma voz feminina com leve sotaque,
interrompendo Didi.
— O tráfego estava horrível.
Tive calafrios. Eu reconheci aquele tom nasal.
A mulher deu a volta para o outro lado da mesa e sentou-se em frente à
minha.
Era uma das senhoras que conheci na Festa de Gala em Paris.
Uma das garotas muito magras e de cabelos lisos com quem Xavier
tinha ido para a escola.
Quando ela empoleirou sua bunda ossuda na ponta da cadeira, seu
olhar encontrou o meu, e um sorriso liso se espalhou por seus lábios. —
Ah, a esposa. — Seus olhos afiados se voltaram para Didi. — Très
intéressant.
— Legal da sua parte se juntar a nós, Darla, — disse Didi, com uma voz
gélida.
Parecia que eu não era a única que teve um encontro desagradável com
a modelo francesa.
Pelo menos ela estava sozinha neste momento. Talvez ela fosse menos
má sem seu grupo em torno dela, apoiando-a.
Fiz sinal para um garçom que passava. Em poucos minutos, pratos de
salada estavam sendo entregues à mesa.
— Então, Angela, — disse um homem careca à minha esquerda, — você
começou a coletar os itens para o leilão?
— N-Não, ainda não. — Corei enquanto lutava para pronunciar as
palavras.
— Coletando itens? — Disse Darla.
— Se você tivesse chegado a tempo, — disse Didi, — você saberia que
Angela é a planejadora do evento que organizará o leilão deste ano.
Uma das sobrancelhas perfeitamente torneadas de Darla se ergueu.
— Você está planejando o evento? Você foi cortada das contas dos
Knights?
O homem ao meu lado riu.
Traidor.
Minhas bochechas ficaram mais vermelhas.
Felizmente, Didi veio em meu resgate novamente.
— Alguns de nós gostam de fazer mais com as nossas vidas do que
brincar de se fantasiar, Darla. — Franzi os lábios, não totalmente chateada
com Didi por fazer tal comentário, mas me sentindo culpada pelas palavras
duras.
Talvez não tenha sido uma ideia tão boa participar do jantar.
Os pratos de salada foram retirados e substituídos pelo nosso prato
principal.
Quando seu prato foi colocado diante dela, Darla franziu o nariz.
— Risoto para veganos. Que original.
— Tenho certeza de que podemos encontrar mais alface comum para
você, — disse Didi. — Eu não gostaria que você saísse da dieta.
Darla cruzou os braços e recostou-se na cadeira.
— Xavier estará presente no leilão este ano?
Eu engoli em seco, e o pedaço de batata que acabei de comer ficou
preso na minha garganta. Darla estava tramando algo. Eu sabia.
— Eu não perguntei a ele ainda.
— Espero que sim, — ela continuou. — É sempre bom ver velhos
amigos. Você não acha, Didi?
— Prefiro fazer novos, — respondeu Didi.
Darla riu.
— Acho que todos nós sabemos o quanto você é boa em fazer amigos.
O homem ao meu lado engasgou com seu lombo.
— Se não fosse, a Animas não receberia tanto destaque na imprensa, —
disparou Didi.
Darla franziu os lábios brilhantes.
— Eu poderia pensar em algumas coisas que você poderia fazer para
chegar na primeira página.
— Que tal conversarmos sobre o que poderíamos fazer para obter o
leilão na imprensa? — Margret interrompeu do outro lado da mesa,
olhando incisivamente para Darla e Didi.
O homem ao meu lado fez um pequeno ruído de desaprovação. Se era
pela conversa rápida das mulheres ou pela interrupção de Margret, eu não
tinha certeza.
Eu peguei outra batata, incapaz de evitar a sensação de que de alguma
forma eu tinha me colocado no meio de uma discussão de longa data.
Quando a sobremesa chegou e mais alguns drinques foram servidos, a
festa estava de volta aos trilhos.
Quando terminei a última mordida da minha torta de chocolate, Didi se
aproximou.
— Você realmente se superou, Angie.
Eu corei.
— Você acha?
— Com certeza. Enviarei os detalhes do leilão pela manhã.
Uma excitação borbulhou dentro de mim.
— Então eu consegui mesmo o emprego?
— Você já tinha ele. — Didi sorriu. Então sua expressão ficou mais séria.
— Sinto muito por Pepé Le Pew ali. Eu não sabia que você já tinha tido
o prazer de a conhecer.
Inclinei-me para mais perto dela.
— Obrigada por me defender.
Didi acenou com uma de suas mãos bem cuidadas.
— Foi um prazer, acredite em mim. É um campo de batalha lá fora,
Angie. Comparada com as outras mulheres que conheci, você é uma brisa
fresca. Fico feliz em te proteger.
Eu poderia voar. Saltava no ar e flutuava nas nuvens.
Didi gostou de mim, e mais do que minhas habilidades de planejamento
de eventos.
Meu primeiro instinto sobre ela estava certo. Ela era uma boa amiga.
Minha amiga.
Quando finalmente consegui sair, algumas horas depois, Marco estava
esperando por mim no Lamborghini. Depois de dar um abraço de
despedida em Didi, deslizei para o banco detrás.
— Você teve uma boa noite, Srta. Knight? — ele perguntou da frente.
— Incrível, — respondi, sorrindo. Não tinha certeza se era o champanhe
ou o fato de que a noite tinha corrido bem, mas podia jurar que estava
brilhando.
O jantar foi um sucesso. E assegurei o próximo leilão. Eu consegui.
Eu realmente consegui.
Fiz uma dancinha alegre no assento de couro.
Não conseguia me lembrar de uma vez em que me senti tão
bemsucedida, tão confiante.
Nem mesmo ao entrar em Harvard ou passar nos exames finais havia
me sentido tão bem.
Talvez tenha sido porque eu finalmente corri um risco e saí da minha
zona de conforto. Tentei algo em que talvez não fosse boa. Me expus.
Pensei em Didi, em seu carisma e determinação.
Aposto que ela se sentia assim o tempo todo. Como um céu cheio de
estrelas. Como descer da sua montanha-russa favorita.
E ela gostava de mim, tímida, desajeitada e gaguejante.
Só que, perto dela, eu não me sentia como antes.
Eu me senti mágica. Poderosa. Como se eu pudesse fazer qualquer
coisa.
Quando o carro parou em um sinal vermelho, o brilho que senti se
transformou em um incêndio, bem no fundo da minha barriga.
Havia outra coisa que eu queria.
Alguém.
Eu venci muitos dos meus medos no evento desta noite, mas ainda
havia um obstáculo que eu precisava superar.
Seria uma pena não aproveitar a coragem líquida que corria em minhas
veias para conquistá-la também.
— Devo acompanhá-la? — Marco disse quando paramos na frente do
meu prédio.
Eu já estava na metade do caminho para fora da porta do carro.
— Não, obrigada! Tenha uma boa noite.
A viagem pelo saguão e pelo elevador foi um borrão.
Tudo que eu podia sentir era o martelar do meu coração no meu peito,
o formigamento nas pontas dos meus dedos e aquele calor pulsante
profundo no meu núcleo.
Esta noite é a noite.
Estou pronta.
Eu quero isso.
— Xavier, — chamei enquanto entrava na cobertura escura.
As luzes da sala estavam apagadas, com o brilho das luzes da cidade
entrando pelas janelas.
Entrei no corredor.
— Xavier?
Empurrei a porta de seu quarto. Nosso quarto.
Xavier estava na cama, o edredom puxado até os quadris, o laptop
equilibrado em suas pernas.
O calor pulsante em mim escureceu, aprofundou-se em uma pulsação
derretida enquanto eu observava os planos nus de seu peito.
Ele ergueu uma sobrancelha, com os olhos indo do meu peito arfante
até os dedos dos pés.
— Você chegou.
Larguei minha bolsa no chão e dei um passo em direção à beira da
cama, jogando minha perna sobre ele, montando em seus quadris.
Ele rapidamente tirou seu laptop do caminho.
— Uau, Angela.
Eu dei a ele um olhar, um que mostrou a ele minha paixão, minhas
cartas. Eu estava colocando tudo na mesa.
— Estou pronta, — eu simplesmente disse, e então esmaguei meus
lábios nos dele.
Capítulo 9
Falando em Línguas
Xavier
Dizer que eu estava incrivelmente confuso seria um eufemismo. Os últimos
dias foram os mais difíceis.
Eu não tinha ideia do que diabos Angela queria. Tudo
o que eu fazia parecia aborrecê-la.
Ela queria sexo, mas depois ela não queria sexo.
Ela queria um emprego e ficou com raiva de mim quando eu encontrei
um.
Ela queria ser engenheira mecânica. Não, espere, uma planejadora de
eventos. Na próxima semana, provavelmente uma astronauta.
Eu não conseguia acompanhar.
Tudo que eu queria fazer era fazê-la feliz, mas estava me agarrando a
qualquer coisa tentando descobrir como.
Eu não tinha certeza se ela sabia mais alguma coisa.
Eu tinha esquecido do quão trabalhoso era todo esse maldito negócio
de ter uma namorada.
Angela saiu para o jantar que ela planejou e não voltaria até tarde.
Isso significava que finalmente tinha uma noite sozinho.
Para pensar.
Planejar.
E descobrir como diabos fazê-la feliz para que eu pudesse ter alguma
maldita paz de espírito.
Não me entenda mal. Eu me preocupava com Angela. Eu a queria em
minha vida. Mas também tornou a vida muito mais complicada.
Pior ainda, pareciamos estar num impasse na área de relacionamento
ultimamente.
Como se nós dois tivéssemos montado acampamento em lados opostos
de um rio e estivéssemos nos recusando a pular na porra de um barco.
Eu não tinha a mínima ideia de quando o rio apareceu ou por que eu
era o único que precisava cruzá-lo. Eu nem tinha certeza do porquê de não
querer.
Tudo que eu sabia era que algo estava quebrado e eu precisava
consertar.
Foi assim que me vi — na minha primeira noite livre em meses —
fazendo a mesma coisa que fizera com todo o meu tempo livre nos últimos
meses: tentando descobrir os detalhes de como faria a pergunta.
Era mais fácil falar do que fazer.
Angela era uma romântica. Ela chorou quando assistimos Diário de uma
Paixão. Ela se importava com as coisas, como guardar sua virgindade para
O Cara Certo. Ela gostava de grandes gestos.
Eu poderia fazer grandes gestos.
Só que alugar um dirigível ou colocar sua fotografia na Times Square
não era o meu estilo. Precisava ser pessoal.
Privado.
Especial.
E eu não tinha ideia do caralho o que isso era.
Ultimamente, eu estava ainda mais confuso sobre se ela estava mesmo
pronta para dar o próximo passo. Se ela realmente queria.
Eu não era especialista em casamentos, mas tinha bastante certeza de
que a noiva não deveria ficar apavorada com a ideia de ver o pau do noivo.
Ouvi os elevadores abrindo, em seguida, saltos altos batendo no
corredor.
Angela estava em casa. Eu rapidamente fechei as guias do meu
navegador e abri uma planilha em branco.
Ótimo, mais uma noite perdida. Eu não estava nem perto de uma
resposta.
Para piorar as coisas, eu podia sentir que estava ficando duro, como se
o pensamento dela se aproximando de mim fosse excitante.
Ela provavelmente estava num vestido sexy.
Usando várias cores vivas.
Cores que cravariam em minhas costas quando ela jogou suas pernas
sobre meus ombros enquanto eu me dirigia para dentro repetidamente,
mais e mais fundo.
— Xavier? — Sua voz me separou de meus pensamentos.
Puxei meu computador mais alto no meu colo, escondendo a evidência
da minha excitação, enquanto ela entrava no quarto.
Eu tinha razão.
Ela parecia sexy com qualquer vestido estampado de flores que a
fizesse parecer uma professora de jardim de infância muito gostosa.
Ou uma fada.
Ou alguma deusa da pureza cujo trabalho era atormentar os homens
até que entrassem em combustão devido à abstinência sexual.
— Você chegou, — eu disse, com minha voz um pouco alta.
Então, sem qualquer tipo de aviso, Angela se jogou em mim.
Em menos de um segundo, ela estava em mim. Sentada em mim.
Beijando-me.
Eu rapidamente joguei meu laptop para o lado.
Amarrando minha mão em seu cabelo, inclinei sua cabeça e, em
seguida, coloquei minha língua em sua boca.
— Estou pronta, — ela respirou, e suas mãozinhas moveram-se para os
botões de pérola na frente de seu vestido e começaram a abri-los.
Estou sonhando?
Desde quando meu anjo era tão seguro, tão confiante... tão sexy?
Mas eu não a deixaria ter toda a diversão. Eu não queria perder a
oportunidade de desembrulhá-la lentamente pela primeira vez.
Angela deixou escapar um pequeno suspiro quando eu nos virei de
repente para que ela se deitasse de costas e eu estava montado nela.
Seus olhos se arregalaram quando ela percebeu que eu estava pelado
na cama. Percebi um lampejo de hesitação em seu rosto, e então suas
mãos deslizaram por minhas coxas nuas.
Soltei um gemido, meus olhos tremulando fechados com a sensação de
seus dedos traçando minha pele.
Ela está tão perto....
Eu não conseguia perder o foco.
Com um aceno de cabeça, abri meus olhos e continuei trabalhando
para baixo os botões de seu vestido.
— Você é linda, — eu disse a ela quando terminei e ela ficou nua diante
de mim.
Ela ainda estava de sutiã e calcinha, mas era o máximo dela que eu já
tinha visto de uma vez. Deixei meus olhos vagarem pelas planícies e vales
de sua pele pálida.
As marcas ao lado dos ossos do quadril.
Seus eram seios cheios, empinados e reais.
A curva de sua clavícula, onde eu podia ver a vibração de seu pulso.
— Perfeito, — eu murmurei, me abaixando sobre ela, capturando seus
lábios novamente.
Ela se mexeu embaixo de mim, quase impaciente. Senti quando ela
deslizou as mãos entre nós, até a cintura de sua calcinha, para poder tirála.
Eu fiz uma careta e movi meus lábios para beijar sua linha da
mandíbula.
Angela arqueou em minha direção. No começo, achei que ela queria se
aproximar, mas então senti o tecido do sutiã deslizar entre nossos peitos.
Em algum lugar da minha mente nublada pela luxúria, um sinal de
alerta disparou.
Eu agarrei os pulsos de Angela, prendendo-os acima de sua cabeça.
Teria sido tão fácil tomá-la. Para abrir as pernas e deslizar para dentro
dela. O velho Xavier teria.
Mas eu não fiz. Não poderia. Porque o novo Xavier se preocupava com
coisas como sentimentos, usava metáforas sobre barcos e rios e perdia
noites livres procurando maneiras de fazer sua esposa feliz.
Em vez disso, empurrei-me para trás e disse:
— O que você está fazendo?
— O que parece que estou fazendo? — Angela disse, sem fôlego, e
empurrou seus quadris contra os meus.
Deus, me dê forças.
— Pare, Angela, — eu disse, talvez um pouco duramente demais. Era
impossível para mim ser um poeta de merda com seu corpo nu deslizando
debaixo de mim. Eu precisava que ela parasse. Para me ouvir.
— Por quê? — ela disse, fazendo beicinho. — Você não quer fazer amor
comigo? — Não.

Angela
A palavra ecoou em nosso quarto, me fazendo congelar.
Senti lágrimas quentes começarem a brotar em meus olhos enquanto a
rejeição corria por mim.
A confiança e a empolgação que me carregaram durante toda a noite
esvoaçaram para fora de mim.
Eu tentei me virar, me enrolar em uma bola, para escapar do corpo nu
de Xavier acima de mim. Mas não consegui. Ele se sentou firme e decidido
sobre mim, prendendo-me no lugar como uma borboleta em uma tela.
— Merda, — disse Xavier. — Não foi isso que eu quis dizer.
Eu não pude responder. Eu não sabia como.
Xavier amava sexo. Era um de seus passatempos favoritos. E ele
simplesmente recusou.
Virou-me para baixo.
— Angela, — ele disse. Então ele praguejou novamente, liberando
minhas mãos.
Eu as trouxe para baixo e as cruzei sobre o meu peito, me escondendo
dele.
Quando Xavier falou novamente, sua voz era mais suave. Estava mais
controlado.
— Você acha que eu não quero dormir com você? Você não poderia
estar mais errada. Olhe para mim, Angela.
Eu funguei e lentamente abri um olho. Depois o outro.
O corpo nu de Xavier elevou-se sobre mim como uma estátua de
Adônis.
Meus olhos correram sobre ele, de seu cabelo desgrenhado e lábios
inchados pelo beijo, para seu peito e abdômen musculosos, para sua
masculinidade muito ereta, que de repente percebi que estava
surpreendentemente perto do meu rosto.
Eu me senti corar.
— Eu penso em foder você a cada segundo de cada dia, — ele rosnou.
— Sonho acordado com você curvada sobre a mesa do meu escritório.
Penso em deslizar meus dedos dentro de você no banco detrás do carro.
Todas as noites, quando vamos para a cama, quero te possuir.
— Então por que você não toma agora?
Xavier olhou para baixo.
— Eu quero que sua primeira vez seja especial. Eu não vou permitir que
você jogue fora assim.
Meus olhos começaram a lacrimejar novamente, por um motivo
totalmente diferente desta vez.
Xavier ouviu e se importou. O suficiente para me impedir — até de mim
mesma.
Eu ofereci a ele um pequeno sorriso.
— Como vamos continuar a partir daqui, então?
Os olhos de Xavier voltaram para os meus com um brilho perverso.
— Existem outras maneiras de nos divertirmos.
Eu engasguei quando ele se abaixou em cima de mim novamente e
beijou meu pescoço, em seguida, meu ombro.
— Isso não é o que... — eu respirei e então perdi as palavras quando
sua boca se fechou em volta do meu mamilo.
Era mais difícil se concentrar. Mais difícil de esquecer sobre como... nós
dois estávamos nus, agora que o fogo que tinha me alimentado antes
tinha ido embora.
Eu estava muito ciente de como de repente não tinha ideia do que fazer
com meus membros. Muito consciente de que minha cintura não era nem
de longe tão pequena quanto a de Darla.
Mas o que quer que ele estivesse fazendo com sua boca — sua língua
— estava me fazendo queimar de uma maneira nova, uma que eu não
tinha certeza se estava confortável.
Com as mãos em volta dos meus quadris, Xavier desceu pelo meu
corpo. Ele beijou uma trilha dos meus seios até o umbigo para...
— Xavier! — Eu me endireitei, juntando meus joelhos o melhor que
pude com ele entre eles.
— Relaxe, — ele murmurou, apertando as mãos em meus quadris.
— Mas... — Ele não poderia estar pensando em colocar seus lábios lá,
poderia?
— Por favor, deixe-me agradar você, — disse Xavier, abaixando a testa
na minha barriga.
Eu nunca tinha ouvido ele usar aquele tom antes. Nunca tinha ouvido
tanto desejo e necessidade em sua voz.
Eu fiz isso com ele?
Eu sabia que Xavier precisava de sexo, mas nunca pensei que houvesse
algo que o dirigisse além da testosterona e do desejo de dominação. Talvez
eu estivesse errada.
Talvez os olhos cheios de luxúria de Xavier e as mãos agarrando fossem
sua maneira de pedir algo mais. Sua maneira de me dizer que queria me
conhecer mais intimamente.
Não era a mesma coisa que eu queria? A mesma coisa que eu esperava
há meses?
Com uma respiração profunda, relaxei meu corpo e deitei na cama.
Xavier pareceu entender e deu um beijo lento e demorado na parte
interna de uma das minhas coxas. Depois na outra.
Abri mais minhas pernas, concedendo-lhe acesso à minha parte mais
privada.
Nunca estive tão perto de um homem antes.
Nunca deixei um homem tão perto de mim. O momento parecia
intenso, pesado e cheio de eletricidade.
A língua de Xavier disparou para fora, sacudindo contra a pérola no
ápice das minhas coxas.
Uma onda de prazer passou por mim, fazendo minhas costas
arquearem para fora da cama.
— Meu Deus...
Encorajado, Xavier grunhiu e moveu a língua mais rápido, circulando
meu clitóris.
O calor começou a crescer em meu núcleo. Meus mamilos
endureceram. Eu coloquei minha mão em seu cabelo, torcendo meus
dedos pelas mechas escuras.
Xavier moveu uma de suas mãos do meu quadril e usou seus dedos
para separar meus lábios sensíveis. Sua língua quente lambeu e depois se
lançou para dentro de mim, me fazendo gritar.
O calor se espalhou dentro de mim, pulsando, formigando, no ritmo de
seus movimentos.
Minha respiração se transformou em ofegante enquanto sua língua
continuava a se mover para dentro e para fora, perfurando-me uma e outra
vez.
— Xavier, — eu disse, com os olhos bem fechados, eu não posso.
As palavras eram absurdas. Sem significado. Elas eram a coisa mais
próxima que eu poderia usar para expressar meus sentimentos. Dizer a ele
que o calor que vinha crescendo dentro de mim era agora um inferno. Que
meu coração estava batendo mais rápido do que antes.
Que minha cabeça estava tão leve que eu tinha certeza que desmaiaria
se ele continuasse.
— Por favor, — eu implorei, arqueando-me mais perto dele. — Por
favor.
Então eu estourei.
Explodi.
Uma luz saiu de mim e preencheu a sala.
E depois, quando fiquei deitada sem fôlego e aberta como uma estrela
recém-nascida, Xavier sussurrou: — Eu te amo.
Capítulo 10
Tal pai, tal Filho
Angela
Bati na porta da frente do café de Dustin. Era cedo, logo após o amanhecer.
As ruas estavam silenciosas em comparação a como estariam em algumas
horas.
Pelas janelas do café, vi a luz sobre o balcão piscar e então Dustin
correu pelo café até a porta e destrancou-a.
— Bom dia! — Eu disse enquanto entrava pela porta.
— Você está mais animada — resmungou Dustin, trancando a porta
novamente.
O café demoraria uma hora para abrir.
Acordei cedo para dar uma corrida e fiquei satisfeita quando recebi
uma mensagem de Dustin no meio do caminho, perguntando se eu queria
ir vê-lo.
Com o café tão lotado ultimamente e Dustin tão ocupado
administrando o lugar e vendendo sua arte, encontros matinais eram a
única oportunidade de nos ver.
E esta manhã era uma em que eu precisava do meu amigo.
Dustin voltou para trás do balcão e começou sua rotina. Eu subi numa
das banquetas do bar, balançando minhas pernas para frente e para trás.
— Então como foi sua noite? — Disse Dustin.
Um grande sorriso se espalhou pelos meus lábios.
— Incrível.
— Viu, eu te disse. Você é uma planejadora de eventos extraordinária.
Eu derramei um pouco de açúcar no balcão e usei meus dedos para
desenhar um pequeno coração. Não foi o jantar que tornou minha noite
tão incrível, mas eu não tinha certeza de como abordar o assunto com
Dustin. Em vez disso, eu disse: — Também fui contratada para o leilão.
Dustin se acomodou no chão, perto da geladeira, e começou a repor o
leite.
— Claro que você foi. Eles seriam estúpidos se não a contratassem. Só a
publicidade...
— Você gostaria de doar uma peça para o leilão?
Dustin ergueu os olhos.
— Sério?
— Claro, por que não? — Seu trabalho era conhecido bem o suficiente
agora. Seria um prêmio adequado e, se alguém importante o suficiente
comprasse, aumentaria a popularidade de Dustin como artista.
As sobrancelhas de Dustin se juntaram, com seu olhar caindo para o
piso de concreto polido.
— Você está sempre me ajudando. Eu me sinto um pouco mal por não
poder retribuir da mesma forma.
— Você é meu amigo, — eu disse a ele. — Isso é o que os amigos
fazem. E você me ajuda. Sua exposição foi o primeiro evento que planejei,
não foi? E você é quem me ajuda a navegar em todos os detalhes difíceis
de meu relacionamento com Xavier.
— Acho que você está certa, — ele disse, levantando-se.
— Eu sei que estou certa.
— Oh, sim! Obrigado. — Dustin bateu palmas e foi até a máquina de
café expresso. — Isso exige uma celebração.
Eu olhei para o açúcar novamente, sentindo minhas bochechas
esquentarem.
— Há algo mais para comemorar também.
Ocupado em sua nuvem de vapor, Dustin cantarolou em resposta.
— Xavier disse 'eu te amo' na noite passada.
— O quê? — Dustin gritou — então praguejou quando o leite quente
borbulhou.
Eu sorri novamente. A mesma sensação de tontura que tive ontem à
noite estava voltando com força total. A manhã toda eu me senti eufórica.
Eu praticamente flutuei durante minha corrida.
Ele disse as três pequenas palavras que eu estava esperando.
Isso eu esperava.
Claro, ele só as disse depois de ser seduzido pelo meu corpo nu, mas
ainda assim as disse. Ele ainda me amava.
Dustin colocou dois cafés com leite no balcão.
— Eu sabia que devia haver uma razão para você estar brilhando! Achei
que fosse aquele novo hidratante que comprei para você. Mas o amor é
um tipo diferente de soro, não é? ME. CONTE. TUDO.
Inclinei-me mais perto, apoiando meus cotovelos na bancada.
— Bem, cheguei em casa depois do jantar ontem à noite e me senti tão
bem... Eu meio que me joguei em cima dele.
— ANGELA! — Dustin ofegou, cobrindo a mão com a boca.
— Eu sei. Eu sei. Mas o Xavier me parou. Disse que não queria...
Dustin me cortou.
— Aquele DESGRAÇADO!
Eu levantei um dedo.
— Não, não, foi muito gentil. Ele disse que queria esperar. Que minha
primeira vez seria especial.
— Vocês são demais. — Dustin torceu o nariz. — Só espero encontrar
alguém que me faça ficar com os olhos tão pegajosos quanto você e Xavier.
Tomei um gole do meu café.
— Isso não é tudo. Eu meio que o deixei... ir... lá embaixo. Com sua
boca.
Dustin engasgou com a boca cheia de café.
— Me-u-De-us, — ele disse entre tosses. — Angela, sua putinha.
FINALMENTE.
Corei pelo que devia ser a milésima vez.
— Foi... indescritível. Eletrizante. Como um tiro de luz na minha
espinha.
— Então, ele é tão bom quanto se supõe. — Dustin apertou os lábios.
Eu fiz uma careta.
— Por quê?
— Ele teria que ser, para fazer você gozar em sua primeira tentativa
assim. Ou você tinha muito tesão acumulado, ou ele era bom pra caralho
— Dustin! — Eu disse, cobrindo meus olhos.
— O quê? Nem todo mundo é bom com a língua. Eu deveria saber. Eu
conheci minha porção de parafusos terríveis. Havia um cara que...
— Não quero saber, — eu disse. — Apenas me prometa que você fará
essa pintura.
Dustin concordou.
— Com certeza! Na verdade, acabei de encontrar a inspiração perfeita.
Vou começar agora.
Olhei em volta do café ainda escuro.
— Você não precisa terminar de arrumar?
Dustin revirou os olhos.
— Farei com que Ben o faça quando chegar aqui. Mas antes de entrar
na arte, quero ouvir mais sobre o seu mau comportamento.
Eu não pude evitar. E comecei a rir.

Brad: Voc ê s dois est ã o livres para jantar na


próxima semana?

Angela: Basta dizer um dia e eu dou um


jeito :)

Xavier: Minha ú nica noite aberta é ter ç a-


feira.
Brad: Ter ç a-feira seria espl ê ndido.

Brad: 20 h no Waldorf?

Xavier: Claro

Angela: Qual é a ocasi ã o?

Brad: Bem, acho que conheci algu é m


especial.

Brad: Eu quero que voc ê s dois a conhe ç am.

Angela: Ó tima not í cia!

Angela: Ficar í amos honrados!

Xavier: O QU Ê ! ?

Xavier: O que voc ê quer dizer com algu ém


especial?

Xavier: Uma mulher?


Xavier: Como?

Xavier: Quem é ela?

Xavier: Quanto dinheiro ela quer?

Angela: Xavier...

Brad: Por favor, filho, isso é muito


importante para mim.

Brad: Voc ê pediu para ser inclu í do nas


conversas.

Brad: N ã o me fa ç a lamentar a decis ã o.

Xavier: (3 emojis com carinha de t é dio)

Angela: Estaremos lá .

Brad: Ok.

Xavier
Isso era ridículo. Nunca, em mil anos, eu pensaria que conheceria a
namorada do meu próprio pai.
Ele deveria encontrar minhas amigas, não o contrário.
Em vez disso, eu era o responsável. Eu era o casado. O estabelecido.
Enquanto isso, ele aparentemente estava vagando pela cidade, pegando
mulheres a torto e a direito.
Tudo parecia uma grande inversão de papéis cósmicos.
Como punição por todos os anos que passei fazendo a mesma coisa
com ele.
A única diferença era que eu tinha feito isso na casa dos vinte anos.
Não nos meus sessenta.
Não depois de mais de trinta anos de um casamento feliz.
— Nós temos que ir? — Perguntei a Angela de dentro do meu closet.
— Claro que sim, — respondeu ela da outra sala, sem pestanejar. —
Você deveria estar feliz por seu pai.
Peguei dois laços da prateleira e, em seguida, segui sua voz até o
banheiro. Ela estava sentada na penteadeira, aplicando uma leve camada
de pó dourado cintilante nas pálpebras.
— Qual o motivo para estar feliz? Ele já está apaixonado. Isso é apenas
uma aventura ridícula para chamar a atenção, — eu disse e segurei as
gravatas para sua inspeção. — Por que ele não conseguiu um cachorro
como uma pessoa idosa normal?
— O roxo, — disse Angela calmamente, e então voltou ao assunto em
questão. — É disso que se trata? Você está preocupado que a mulher vá
substituir sua mãe?
Eu cerrei meus dentes, com uma dor apertando meu peito.
— Isso é ridículo. Ninguém poderia substituir minha mãe.
Angela ergueu uma sobrancelha para mim no espelho, mas não disse
mais nada.
Joguei a gravata rejeitada na bancada do banheiro e amarrei a outra na
nuca.
— Quem você pensa que ela é, afinal?
— Talvez alguém que ele conheceu no evento de encontros rápidos, —
Angela respondeu suavemente.
Encontros o quê?!
— Como é que é?
Angela girou no banco da penteadeira.
— Algumas semanas atrás, seu pai me disse que estava se sentindo
solitário. Eu encontrei um evento de encontros rápidos para ele participar,
para que ele pudesse conhecer algumas pessoas da sua idade.
Eu puxei o nó da minha gravata com força.
— Então, isso é tudo culpa sua.
— Xavier, você pediu para ser incluído nas conversas entre eu e seu pai.
Se você quiser se manter incluído, terá que se comportar. É apenas um
jantar.
Sentei-me na beirada da banheira.
— Se fosse apenas algum doce ou jogador de bingo, eu ficaria feliz em
sentar. Mas ele a chamou de 'alguém especial', Angela. E eles se conhecem
há quanto tempo? Ela está planejando algo. Eu sei isso.
Angela balançou a cabeça.
— Você acha que todas as mulheres são más?
Dei de ombros.
— Bem, eu não acho que elas sejam todas boas, se é isso que você está
perguntando.
Ela revirou os olhos e se levantou, alisando as linhas de seu vestido
preto apertado.
— Pronto para ir?
Por um momento, não consegui responder. Eu estava muito distraído,
pensando na outra noite. Estava quase a ponto de tirar o vestido de seu
corpo e festejar sua pele novamente.
Em vez disso, balancei a cabeça e me empurrei para fora da banheira.
— Sim.
Pegamos nossos casacos e saímos, onde Marco estava esperando no
Audi.
— O Waldorf, — eu disse a ele enquanto Angela e eu subíamos no
banco de trás. Então, quando entramos no trânsito, eu disse: — Você não
acha que eles vão se casar, é?
— Não, parece que ele só quer que a conheçamos, — disse Angela. Ela
agarrou minha mão, segurando-a com as suas. — Por favor, não se
preocupe tanto. É só um jantar. Você deveria estar feliz por ele estar feliz.
Eu sabia disso, eu sabia, mas não pude evitar de sentir que algo daria
terrivelmente errado.
As coisas estavam melhorando entre mim e Angela.
Eu não fui um desgraçado sortudo o suficiente para ter tudo na vida
dando certo. Algo aconteceria. Sempre era assim.
— Vou me comportar, — prometi quando paramos em frente ao
famoso hotel.
Respirei fundo para me equilibrar. Negociei com
grandes empresários. Almocei com Zuckerberg e Jobs. Eu poderia
lidar com o jantar com uma velhinha gentil.
De mãos dadas, entramos.
— Mesa para Knight, — eu disse à recepcionista do restaurante Peacock
Alley do hotel.
— Por aqui, — ela disse, nos levando para o labirinto de mesas.
Com o estômago apertando em um nó, examinei os rostos dos clientes.
Finalmente, encontrei o sorriso familiar do meu pai. Ele estava rindo, com o
braço em volta dos ombros de...
Eu parei no meio do caminho, puxando Angela junto comigo.
— Precisamos sair. Agora, — eu disse.
— O quê? Por quê? — Angela perguntou.
Eu concordei.
Angela esticou o pescoço, seguindo meu gesto.
— Oh.
Oh estava certo pra caralho.
Não era uma vovó doce e velha assando biscoitos que meu pai estava
segurando.
Era Penny de pele caramelo, bunda gorda e lábios deliciosos.
A garota com quem eu costumava transar.
Capítulo 11
Segundos
Angela
— Não, — disse Xavier, dando um passo para trás e cruzando os braços
sobre o meu peito. — Eu não vou lá.
Olhei para as pessoas à nossa volta, para a recepcionista que havia
parado para nos esperar.
— Não seja bobo, Xavier. Nós temos que ir. Dissemos que iríamos.
— Você me prometeu que seria a avó de alguém. — Ele apontou um
dedo em direção à mesa onde seu pai estava sentado. — Isso não é vovó
de ninguém. É a Penny.
— Eu sei, — eu disse a ele, me aproximando, baixando minha voz. —
Por favor, vamos apenas examinar e ver o que eles dizem. Eles já nos viram
de qualquer maneira.
Honestamente, fiquei tão surpresa quanto Xavier ao ver Penny sentada
à mesa com Brad.
Eu sabia que devia a eles o benefício da dúvida.
Talvez o relacionamento deles fosse platônico. Talvez eles fossem
apenas amigos. Talvez não fossem, mas quem era eu para julgar?
Xavier franziu o cenho.
— Por favor, — eu disse. — Por mim?
Suas narinas dilataram-se, um músculo em sua mandíbula saltou e ele
disse: — Tudo bem.
Eu dei um pequeno sorriso para a anfitriã, e ela começou a nos conduzir
em direção ao outro casal.
— Angela, Xavier, — anunciou Brad quando nos aproximamos da mesa.
Ele abriu os braços, levantando-se de um salto.
— É bom ver você, — eu disse a Brad quando nos abraçamos.
— Obrigado por terem vindo, — ele disse. — Eu gostaria de apresentá-
los à minha namorada, Penny. Eu acredito que vocês já se conheciam
antes.
— Essa é uma maneira de dizer, — ouvi Xavier murmurar ao meu lado.
Tanto esforço para serem apenas amigos e deu nisso.
Lentamente, Penny ficou ao lado de Brad. Ela estava deslumbrante em
seu vestido prateado, e se o sorriso em seu rosto era alguma indicação, ela
estava feliz. Realmente, genuinamente feliz.
Eu passei meus braços em volta dela também.
— Bom te ver de novo.
— Bom te ver também, — ela disse e então olhou por cima do meu
ombro. — E você, Xavier.
Xavier não respondeu. Ele simplesmente se deixou cair na cadeira mais
próxima e acenou para um garçom que passava.
— Vodka. Pura. Com limão.
— Então, — eu disse enquanto o resto de nós tomava nossos assentos,
— como vocês dois, ah, se conheceram?
Parecia uma pergunta natural. Mesmo que eu conhecesse Penny por
um tempo já, eu não sabia como ela e o pai de Xavier se cruzaram de uma
maneira... íntima.
— Bem, é claro que nos conhecemos na festa da minha aposentadoria,
— começou Brad, pegando a mão de Penny. — Mas então nós nos
encontramos naquele evento de encontros rápidos para o qual você me
inscreveu, Angela. E somos inseparáveis desde então.
Eu levantei minhas sobrancelhas e olhei para Penny.
— Você estava em um evento de encontro rápido para idosos?
— Onde mais ela encontraria sugar daddies? — Xavier disse baixinho.
Penny riu levemente, embora eu vi um breve flash de desconforto em
seus olhos.
— Não, minha banda estava tocando no mesmo restaurante. Eu cantei
na hora do coquetel.
— Não consegui tirar minhas mãos dela desde então — disse Brad,
beijando as costas da mão dela. — Minha Penny da sorte.
O garçom chegou então com a bebida de Xavier. Xavier o arrancou das
mãos trêmulas do garçom e bebeu o copo de um só gole.
— Outro por favor.
— Isso é maravilhoso, — eu disse ao casal à nossa frente. — Mesmo.
Parabéns.
Brad sorriu para Penny, e os dois compartilharam um olhar tão íntimo
que eu tive que desviar o olhar. Corei, com meus olhos fixos no meu colo.
Eu quase teria preferido que eles tivessem apenas começado a namorar
em vez disso.
Foi bom ver Brad tão feliz. Mas eu tinha que admitir que era um pouco
demais.
Segurar a mão de Xavier em público me fez corar.
E mesmo que Brad e Penny não estivessem tecnicamente fazendo
demonstrações públicas de afeto... os dois deveriam ter guardado isso para
quando estivessem sozinhos.
Especialmente quando os conhecemos como um casal pela primeira
vez.
Especialmente quando Xavier parecia mais prestes a explodir a cada
segundo que passava...
Havia outros pontos de interrogação surgindo também. Mais sombrios.
O tipo de pergunta que eu tinha quase certeza de que arruinaria alguns
casais.
Brad sabia que Penny e Xavier dormiram juntos?
Ele sabia que ela era a ex-namorada de Jacques?
Jacques, que havia sequestrado e tentado me estuprar?
Ele não poderia saber, não é?

Xavier
Engoli minha terceira vodca.
Eu não aguentava ver meu pai olhar para Penny daquele jeito, com os
olhos arregalados.
Como se ela realmente significasse algo para ele.
Como se ela fosse uma substituta da mamãe.
Eu sabia que este jantar era um erro desde o início, mas isso era muito
pior do que eu poderia ter imaginado.
Não só papai se apaixonou por alguém que tinha menos da metade de
sua idade, como ele escolheu uma das mulheres com quem eu estive em
mais de uma ocasião.
Memórias de Penny continuavam passando pela minha mente.
Memórias de seus lábios em volta do meu pau, de sua bunda gorda
balançando enquanto eu metia nela, dela gemendo meu nome, seus dedos
arranhando minhas costas.
Então as memórias mudaram. E não era em mim que suas mãos e
lábios estavam; era em meu pai.
Bati meu copo vazio na mesa e peguei o vinho de Angela.
Não havia bebida suficiente em todo o maldito mundo para isso. Esse
era o tipo de coisa que levou anos de terapia e drogas pesadas para
endireitar.
Ele não sabia, não é?
Meu pai não era tão fodido.
Mas Penny sabia.
Ela contou a ele?
Ele se importou?
Ele gostou?
Tomei um longo gole de vinho tinto e girei em volta da boca.
— Xavier, — Angela sussurrou ao meu lado depois que ela terminou de
colocar seu pedido.
Ela estava preocupada.
Ela estava sempre preocupada.
Por mim ou sobre mim.
Eu não tinha certeza de qual era dessa vez. Talvez ambos.
Eu não queria sua pena. Seu conforto. Eu só precisava que isso
acabasse. Rapidamente.
Então, assim que o garçom desapareceu, olhei Penny nos olhos e falei.
— Ele sabe a verdade?

Angela
Minha respiração ficou presa na minha garganta quando o silêncio caiu
sobre a mesa, com a pergunta de Xavier pairando no ar.
— Xavier, não, — eu disse e estendi a mão para colocar minha mão em
sua perna.
Penny pigarreou.
— Está tudo bem, Angela.
— Não, não está tudo bem, porra, — Xavier cuspiu. — Ele sabe?
— Filho, por favor, — disse Brad, olhando em volta para se certificar de
que ninguém nos ouvia. — Este dificilmente é o lugar...
— Você escolheu este lugar, pai. — Xavier zombou. — Foi você quem
decidiu me dizer que estava namorando de novo, em público. Foi você
quem escolheu uma mulher três vezes mais jovem do que você.
— Eu acho que talvez seja hora de ir, — eu sugeri suavemente,
colocando a mão em seu ombro.
Se as pessoas não estivessem olhando antes, estavam agora, atraídas
pelos gritos de Xavier. Metade do restaurante estava nos observando.
Assistindo Xavier.
— Não, — disse Xavier, encolhendo os ombros. — Devemos nos
conhecer, vamos nos conhecer. — Com o canto do olho, percebi um
movimento. Quando me virei para o outro lado da sala, meu estômago
despencou.
Tínhamos chamado a atenção de mais do que apenas alguns clientes do
restaurante.
— Xavier… — eu comecei novamente. Eu tive que contar a ele. Para
avisá-lo. Havia um homem, meio escondido atrás de um pilar, com um
celular apontado para nós.
Mas Xavier não tinha interesse em ouvir.
Xavier
— Que tal eu te contar o quão bem Penny e eu nos conhecemos, hmm? —
Eu sorri diabolicamente.
— Você contou a ele sobre o auditório na NYU? Ou que tal quando você
e eu trepamos secretamente na biblioteca?
Penny engasgou, de repente tendo a decência de parecer tão indignada
quanto eu.
— Como você ousa, Xavier.
— Eu? Como você ousa! Você sabia que ele era meu pai.
— Por que não falamos sobre isso mais tarde, Xavier, — meu pai disse,
puxando Penny para ele. Protegendo a puta oportunista de mim.
Ele não viu o que ela estava fazendo? Quem ela era?
Ela não o amava. Ela amava seu dinheiro.
Meu pai já teve o amor de sua vida.
Isso não era nada além de sexo e mentiras, e eu não iria deixá-los
acreditar em mais nada.
— Não, vamos falar sobre isso agora, — eu atirei de volta.
A fúria estava borbulhando agora. Impossível de conter. Abastecido por
vodka e palitos de pão de parmesão.
— Vamos falar sobre o fato de que você está namorando uma mulher
com quem eu transei. Que fiz gritar de prazer. Que me implorou para gozar
dentro dela.
— Você cruzou a linha, Xavier! — Papai disse, com o rosto vermelho.
Ao lado dele, Penny assistia com olhos arregalados. Ela passou os
braços em volta da cintura — como se de repente tivesse escolhido ser
modesta.
Ser a porra de um ser humano decente.
Bem, era tarde demais.
— Não, são vocês dois que cruzaram, — eu cuspi de volta.
— Xavier, — Angela sussurrou novamente ao meu lado. Eu a senti puxar
a manga do meu casaco.
Com minha sorte, minha esposa provavelmente ficou do lado deles.
Provavelmente comprou suas mentiras.
Eu era a única pessoa que conseguia ver essa situação com clareza?

Angela
O homem com o telefone havia se aproximado agora. Ele estava a apenas
algumas mesas de distância.
Xavier estava fazendo um espetáculo tão grande que o homem não
precisava esconder. Não havia um único olho no restaurante olhando para
o cinegrafista. Porque todos eles estavam olhando para nós.
Eu sabia que minhas bochechas ficariam vermelhas, com a atenção e a
vergonha pelas ações de Xavier.
Há muito tempo não estivemos em uma situação que fizesse com que a
raiva de Xavier se manifestasse. Eu quase tinha esquecido o quão
incontroláveis seus acessos de raiva eram.
Só que, desta vez, eu só poderia culpá-lo pela metade.
Ele estava sofrendo. Eu pude ver isso.
Não esperava que uma criança aceitasse bem o namoro de um dos pais
com alguém jovem, muito menos quando era alguém com quem eles
próprios namoraram primeiro.
Não importava quem estava certo ou errado, eu precisava fazer com
que Xavier se acalmasse, antes que ele fizesse algo de que realmente se
arrependesse.
— Xavier, tem gente assistindo, — eu disse e agarrei sua mão,
apertando com força, fazendo-o olhar para mim.
Seus olhos escuros brilharam nos meus por um segundo, apenas para
atirar de volta para seu pai.
— Você quer Angela também, não é?
Fiquei boquiaberta.
— Você está sempre falando sobre como ela é parecida com minha
mãe, — Xavier continuou. — Você está morrendo de vontade de transar
com ela.
— Já basta disso, Xavier. Saia agora. Antes de envergonhar ainda mais
esta família, — disse Brad ao filho.
— Não se preocupe, — disse Xavier, levantando-se e jogando o
guardanapo sobre a mesa. — Você e aquela prostituta já causaram mais
constrangimento a esta família do que eu jamais poderia.
Antes que alguém tivesse a chance de responder, Penny se levantou da
mesa e deu um tapa no rosto de Xavier.
Câmeras piscaram. Pessoas aplaudiram.
Penny saiu correndo no meio da multidão, Brad logo atrás dela. Xavier
saiu furioso na direção oposta.
Afundei ainda mais em meu assento quando três garçons chegaram,
com os braços cheios de pratos quentes.
— O Peixe?
Capítulo 12
As Línguas do amor
Angela
Didi: O que diabos est á acontecendo?!

Didi: Damas dos


Pai e filhoKnights:

brig am por amantes em comum. Xavier


Knight estava indignado ontem... The Hourly
Post (Publicado 1h)

Angela: Eu sei, parece ruim.

Angela: Mas tenho tudo sob controle.

Didi: Brad est á dormindo com a ex de


Xavier? Só quando voc ê pensou que as
coisas com a fam í lia favorita de Nova York
não poderiam... NEW YORK MINUTE
(Publicado 6h )

Didi: Knights em um sonho freudiano! Os


clientes do restaurante Peacock puderam
desfrutar de um show e tanto... The Evening
News (Publicado 3h )
Didi: Xavier protege Angela de um pai
louco por sexo! Xavier Knight foi for ç ado a
proteger Angela de seu pai depois de
Brad... The New York Prophet. ( Publicado 6h )

Didi: Isso n ã o parece estar sob controle

Didi: N ã o posso ter o leil ã o perto de m á


imprensa como esta

Angela: Que tal nos encontrarmos esta


tarde?

Angela: Posso mostrar meu plano de a çã o.

Didi: Ok, venha ao meu escritório à s 13 h

Deixei cair o celular na cama ao meu lado e gemi.


Meu celular ficou aceso durante toda a manhã com alertas de notícias.
Se isso não fosse terrível o suficiente, minha família também estava me
enviando mensagens, perguntando se o que eles tinham visto nas notícias
era verdade.
Você e Xavier estão bem?
Aquele desgraçado está te traindo?
Por que você não volta um pouco para casa para comer?
SANTO DRAMA! Venha me ver no café
Agora, acima de tudo, meu trabalho pode estar comprometido. Eu nem
tinha pensado no fato de que Didi poderia encontrar as fotos. Que ela
poderia decidir me tirar do evento.
Estendi minha mão para o outro lado da cama, o lado de Xavier, o lado
vazio.
Ele saiu cedo esta manhã, antes do amanhecer, sem dúvida para tentar
se antecipar a esse pesadelo de relações públicas.
Eu tentei falar com ele na noite passada sobre tudo o que tinha
acontecido, mas ele não queria ouvir. Ele estava muito cheio de raiva para
pensar com clareza.
Essa seria uma conversa para hoje à noite, quando as coisas estivessem
esperançosamente mais calmas.
Tendo adiado o dia por muito tempo, joguei para trás os cobertores e
saí da cama. Eu só tinha uma hora restante até que eu tivesse que
encontrar Didi.

— Angie. — Didi cumprimentou sem levantar os olhos quando apareci na


porta aberta de seu escritório. — Por favor, entre. Feche a porta.
A sede da Animas era uma fábrica modesta e reaproveitada em Tribeca.
Uma recepcionista me conduziu por um espaço aberto e arejado até
um pequeno escritório no segundo andar.
— Obrigada, — eu respondi, fechando a porta de metal.
Sentei-me na cadeira do lado oposto da mesa de Didi.
Depois da escrivaninha, um cabideiro e uma planta de casa no canto da
sala, havia pouco espaço para mais.
Eu examinei sua mesa desordenada. Documentos e pastas de arquivos
de todos os tipos diferentes espalhados e empilhados na superfície.
Apontei para uma foto emoldurada de uma menina de cabelo de fogo
no canto oposto da mesa.
— Quem é?
— Minha filha, — disse Didi, largando o arquivo que estava lendo.
Demorou um pouco mais do que deveria para responder.
— Ela é linda.
Aqui neste escritório, Didi não era a mulher de negócios com voz de aço
com a qual eu havia me acostumado. Ela era mais suave de alguma forma,
mais humana.
— Então, o leilão, — disse. — Faltam apenas algumas semanas agora.
Eu concordei.
— Sim, quase tudo está definido. As doações, flores, bufê...
— Sim, sim, — disse Didi. — Eu li todos os seus e-mails. Tudo parece
esplêndido.
— Então o que você quer discutir?
— As notícias desta manhã, — disse Didi.
Eu olhei para o meu colo.
— Sim, eu sei que parece ruim, mas a equipe de relações públicas de
Xavier está nisso. A coisa toda será esquecida muito antes do leilão.
Didi recostou-se na cadeira.
— Eu sei como isso funciona. Afinal, estou em marketing. Além disso,
eu mesma fiz manchetes uma ou duas vezes.
— Então, sobre o que é essa reunião? — Eu fiz uma careta.
— Você. — Didi sorriu, caindo para frente para apoiar os cotovelos na
mesa. — Eu só queria saber se você estava bem. Eu sei que pode ser
muito... tudo isso. Especialmente se você não cresceu com isso.
Senti o primeiro sinal de lágrimas formigando em meus olhos e um
desejo irresistível de abraçar a mulher à minha frente.
Ela poderia estar gritando comigo sobre o mal que as notícias fizeram.
Ela poderia ter me despedido. Em vez disso, ela queria saber se eu estava
bem.
— Tem acontecido muita coisa ultimamente, — eu me peguei
admitindo.
Pode não ter sido apropriado abrir-me para um cliente assim, mas foi
muito bom conversar com alguém que não estava envolvido na situação.
Para alguém que não era tendencioso para Xavier ou para mim.
Didi acenou com a cabeça.
— Você falou com Xavier sobre alguma coisa?
— Eu tento, mas... mas as coisas têm estado um pouco estranhas entre
nós ultimamente.
— Estranho como? — Didi franziu a testa.
Hesitei por um segundo, me perguntando se seria uma boa ideia entrar
em tudo isso. Mas Didi tinha sido uma boa amiga. Ela me contratou para o
leilão e me defendeu da Darla. Ela se importou.
Respirei fundo.
— Não nos conhecíamos muito bem antes de nos casarmos, e acho que
isso está chegando até nós agora. Tem sido difícil se comunicar sobre as
coisas. Cada vez que conversamos, parece que não nos entendemos. Só
quero sentir que estamos na mesma página.
— Vou te contar uma coisa que minha mãe me ensinou, — disse Didi,
sua voz séria voltando. — Ela costumava dizer que o amor é falado em
várias línguas. Algumas pessoas através do toque, outras através das
palavras, algumas com presentes.
— Às vezes os relacionamentos se desintegram, mesmo quando duas
pessoas se amam muito, simplesmente porque não entendem como
expressar o que sentem para que seu parceiro os compreenda.
Uma expressão coquete encheu seu rosto.
— Se Xavier é como eu me lembro dele, ele é uma pessoa muito física.
Aposto que ele precisa de expressões físicas para se sentir amado.
Eu corei.
— Expressões físicas?
Didi encolheu os ombros.
— Sim. Afagos, beijos, sexo.
Ela riu, seus olhos nas minhas bochechas.
— Se a cor do seu rosto é alguma indicação, eu diria que você tem uma
linguagem de amor diferente.
Eu balancei a cabeça, corando ainda mais.
Didi suspirou.
— Se você quer se comunicar bem, aprenda a falar a mesma língua. Ou,
pelo menos, para falar duas.
Eu deixei suas palavras pairarem sobre mim.
Pensei em como Xavier parecia precisar de estimulação sexual mais do
que precisava de ar para respirar.
Palavras quase nunca eram suficientes para acalmá-lo, mas o toque
físico poderia mudar seu humor em um piscar de olhos.
Talvez houvesse algo de verdade nisso.
Talvez eu não tivesse dito a Xavier que o amava da maneira certa.
Talvez fosse por isso que parecíamos estar constantemente à beira de
uma briga nas últimas semanas.
Meu coração doeu com esse pensamento. Xavier estava chateado,
magoado, e eu não estava ao seu lado da maneira que ele precisava que eu
estivesse.
Isso tudo mudaria esta noite.
Eu estaria ao seu lado.
Eu iria mostrar a ele como me sentia de uma forma que ele entendesse.

Já era tarde da noite quando cheguei em casa.


Depois do meu encontro com Didi, eu me encontrei com Em e Dustin
no café para dissipar todos os rumores que eles leram online.
Eu também soube que Em e Lucas encontraram uma clínica de
fertilidade e que Dustin estava quase terminando sua peça para o leilão.
Mas ele estava sendo reservado sobre isso e não me deu nenhuma
pista sobre o que a peça se tratava.
— Olá, Lucille, — chamei enquanto entrava na cobertura.
Nossa empregada estava na pia da cozinha lavando batatas.
— Boa noite, Sra. Knight. O Sr. Knight está em seu escritório.
— Ótimo, obrigada, — eu disse a ela, descendo o corredor. Larguei
minha bolsa em nosso quarto e depois me dirigi ao final do corredor, para
o escritório.
Precisávamos conversar sobre a noite passada e não parecia haver um
momento melhor do que o presente.
O jantar estaria pronto em breve, e se não falássemos agora, isso
significaria outra refeição em silêncio.
Bati de leve à porta do escritório, começando a abrir quando um
grunhido respondeu.
Xavier estava sentado na mesa com tampo de vidro, seu computador
aberto na frente dele. Seus olhos piscaram para mim, e ele apontou para
sua orelha, para os fones de ouvido sem fio aninhados ali. Ele estava em
uma ligação.
— Eu não me importo quanto custa, — Xavier rugiu para a pessoa na
linha. — Quero que o vídeo seja removido do site deles. Dê a eles o que for
necessário.
Cruzei a sala e girei minha aliança de casamento ao redor do meu dedo
enquanto esperava ao lado de Xavier.
Então as palavras de Didi voltaram para mim.
Se eu quisesse ter a melhor chance de essa conversa correr bem,
precisava falar com Xavier de uma forma que ele entendesse.
Respirando fundo, joguei minha perna sobre a de Xavier, montando em
seu colo e separando-o de seu computador.
Ele não gritou ou me empurrou. Em vez disso, uma de suas
sobrancelhas se ergueu, sua mão pousou na minha perna.
— S-sim, isso vai ficar bom. Diga-me assim que terminar.
Com a mão livre, Xavier puxou os fones de ouvido e os jogou sobre a
mesa atrás de mim.
Seus olhos correram por mim, lábios se curvando em um pequeno
sorriso.
— O que eu fiz para merecer essa surpresa?
— Precisamos conversar, — eu disse antes de perder a coragem. Antes
que ele pudesse me distrair com seus lábios ou dedos.
Xavier soltou um longo suspiro.
— Nós já estamos.
— Ontem à noite — eu comecei, arrancando um dos botões de sua
camisa.
— Eu sei. Eu... — Ele parou, pressionando os lábios em uma linha fina.
Eu apliquei minhas mãos contra seu peito e as deixei deslizar para cima
e ao redor de seu pescoço.
— Tudo bem. Eu também fiquei surpresa. É demais para absorver.
— Ele nunca esteve com ninguém além da minha mãe, — admitiu
Xavier, mantendo meus olhos firmes. — E Penny não é nada parecida com
minha mãe.
— Eu sei que é difícil, — eu disse gentilmente. — Mas seu pai fez tudo
por você, Xavier. E para o bem ou para o mal, ele é a razão de estarmos
juntos.
Xavier se inclinou para frente, descansando a testa no meu ombro e
envolvendo os braços em volta de mim.
— Por que tem que ser ela?
Eu coloquei meus dedos em seus cabelos.
— Os dois pareciam felizes. Acho que devemos pelo menos tentar estar
feliz por eles.
— Ela é a ex-namorada de Jacques, — ele disse suavemente. — Como
você está bem com isso?
Eu soltei um suspiro.
— Você não pode escolher quem você ama, Xavier. Além disso, ela
terminou com ele, certo? Tenho certeza de que deve ter exigido muita
coragem... especialmente depois do que você me contou sobre eles.
Xavier me contou sobre como Penny ficou com Jacques por muito
tempo, apesar de seu abuso.
Meu coração doeu por ela.
Eu definitivamente poderia simpatizar com cuidar de alguém que te
machucou.
Eu sorri para Xavier.
Especialmente quando você podia ver o que havia de bom dentro deles,
tentando sair...
Ele me observou em silêncio e me perguntei o que se passava em sua
mente.
— Penny passou por muita dor de cabeça, Xavier. Ela está apenas
tentando ser feliz... e todo mundo merece isso.
Xavier cantarolou em resposta. Não estava bem concordando, mas ele
não estava gritando ou quebrando coisas também.
— Eu quero me desculpar, — ele disse, se afastando. Seus olhos escuros
seguraram os meus. — Pelo que eu disse sobre você ontem à noite
também. Por ignorar você.
Eu sorri.
— Acho que você aprendeu a lição.
Xavier gemeu, deixando sua cabeça cair para trás contra a cadeira do
escritório.
— Você não tem ideia de quanto foi uma dor de cabeça hoje.
Normalmente, meu pai lida com toda essa merda de relações públicas, mas
ele não atendia minhas ligações.
— Bem feito para você, — eu brinquei e então imediatamente me
arrependi, quando a expressão de Xavier escureceu.
— O que é que foi isso? — ele perguntou, inclinando-se para frente
para morder meu ombro de brincadeira. — Angela Knight acabou de dizer
algo maldoso?
Eu ri, tentando me livrar de seu aperto, apenas para ter Xavier
apertando seus braços em volta de mim.
— Eu acho que não, — ele rosnou, suas mordidas se transformando em
beijos.
— Xavier! — Eu chorei quando seus dedos se moveram para minhas
costelas.
Então meu celular vibrou na bolsa.
Xavier ergueu a sobrancelha provocativamente, mas parou seu ataque,
me deixando pegar meu telefone.
Em: Eu preciso que voc ê me leve ao
hospital

Angela: O que h á de errado?

Em: É o Lucas.

Em: Ele sofreu um acidente de carro.

Angela: J á estou indo.


Capítulo 13
Pronto ou Não
Angela
Eu estava esperando no Hospital Mount Sinai por duas horas quando Lucas
e Em finalmente entraram na sala de espera.
No segundo que os vi, pulei da cadeira e joguei meus braços em volta
do meu irmão.
— Oh meu Deus, você está bem?
— Estou bem, Angie, — disse Lucas, me apertando com força. —
Apenas alguns arranhões e hematomas. Os médicos só queriam ter certeza
de que minha cabeça estava bem.
— O que aconteceu? — Eu perguntei, dando um passo para trás. Havia
uma bandagem em sua têmpora e alguns pontos em seu antebraço.
— Algum idiota não leu a placa de pare, — disse Lucas. — Ele estava em
pior estado do que eu, pobre coitado.
— Você precisa ficar para mais exames? — Eu me preocupei.
— Não, o doutor disse que estou pronto para voltar pra casa — Lucas
assegurou, estremecendo ao colocar o braço sobre os ombros de Em.
Ela se enrolou ao lado dele, parecendo cerca de cem vezes mais calma
do que quando eu a peguei e a trouxe para o hospital.
Eu sabia muito bem como era receber uma chamada de emergência no
meio da noite.
Era fácil imaginar que o pior havia acontecido e que você nunca mais
veria seu ente querido.
— Bem, vamos levar vocês dois para casa então, — eu disse, ocupando
o lugar do lado livre do meu irmão e passando meu braço em volta de sua
cintura. — Apenas me dê dois minutos para fazer uma parada no caminho.
Eu os conduzi em direção à saída e, após um breve desvio na cafeteria
do hospital, para o ar fresco da primavera.
Marco esperava no Audi, em frente ao hospital.
Xavier estava determinado a vir comigo para o hospital.
Ele só foi convencido a ficar e terminar seu trabalho quando eu prometi
que deixaria Marco me levar.
Já passava da meia-noite e Marco ainda não tinha chegado em casa.
— Você pode nos levar para a casa de Em, por favor, Marco? — Eu
perguntei ao motorista enquanto nos amontoamos no banco detrás.
Estendi a mão e entreguei a ele o café que comprei ao sair.
— Obrigada.
— O prazer é meu, Srta. Knight, — respondeu Marco, aceitando o copo
de isopor. Ele acenou com a cabeça em agradecimento e então tomou um
grande gole de café e saiu para a rua.
— Há algumas más notícias, — disse Lucas. Seus olhos se voltaram para
Em, que se sentou entre nós, por um momento antes de pousar em mim.
— O caminhão que eu dirigia estava cheio dos seus pedidos, Angie.
Senti um aperto em meu peito.
— Você quer dizer as flores para o leilão de amanhã?
Lucas acenou com a cabeça.
— Eu estava no meio do transporte do berçário para a nossa oficina
quando aconteceu o acidente. Você deveria ter visto a rua depois. A coisa
toda estava coberta de flores brancas.
— Está tudo bem, — eu disse a ele. — Podemos conseguir mais. Ainda
há tempo pela manhã.
— Não há como conseguirmos mais três mil orquídeas brancas em
menos de vinte e quatro horas. Especialmente não com um caminhão
destruído, — Em disse, pegando minha mão na dela. — Sinto muito, Angie.
Meus ombros caíram. Eu fiz o pedido de flores para todo o evento com
Em. Não ter flores significava mesas vazias, sem decoração para as peças
do leilão, sem arranjos.
Sem flores, o salão estaria nu.
Respirei fundo para me acalmar. Tinha que haver outra maneira. Eu só
precisava pensar. Respirar.
— O importante é que você não se machucou, — eu disse, meio para
fazer minha amiga e meu irmão se sentirem melhor e meio para me
lembrar do fato.
— Eu posso fazer algumas ligações, — Em ofereceu. — Eles não vão
voltar até de manhã.
— Tudo bem. Eu vou dar um jeito. Você e Lucas já tiveram emoção
suficiente por uma noite, — eu assegurei a eles.
— Por favor, — disse Em. — É o mínimo que posso fazer. Vou consertar
isso, Angie.
— Ok, — eu concordei quando paramos na frente do prédio deles. —
Mas de manhã, por favor.
— Obrigado por vir em meu resgate. — Lucas piscou e foi ajudado por
Em no banco detrás.
— Boa noite. — Acenei.
Assim que a porta se fechou, coloquei meu rosto em minhas mãos.
O leilão estava a menos de 24 horas de distância, e todas as minhas
flores estavam espalhadas em algum lugar nas ruas sujas de Nova York.
Está tudo bem. Uma das conexões de Em terá o que eu preciso.
Ainda há tempo.
Ainda há esperança.
Afinal, quão difícil pode ser encontrar flores?

— O que você quer dizer com você não consegue encontrar as flores? — Eu
disse no meu celular na manhã seguinte.
Eu estava no meio do salão de banquetes do Tribeca Knight Hotel. Os
funcionários do hotel esvoaçavam ao meu redor.
Mesas estavam sendo montadas, cadeiras retiradas, pôsteres e luzes
eram pendurados, mas não havia uma única flor à vista.
— Você disse que um de seus amigos aceitaria o pedido, — pressionei.
Do outro lado da linha, Em suspirou.
— Eu disse que eles talvez aceitem. Sinto muito, Angie. Não sei o que
mais posso fazer. Liguei para todo mundo que conheço. Ninguém consegue
tantas orquídeas em tão pouco tempo.
— E quanto à frésia, então? — Eu perguntei, procurando uma solução.
— Não está na temporada, — Em me disse. — Tulipas e narcisos são as
únicas coisas que você pode encontrar nessa quantidade nesta época do
ano. Eu realmente sinto muito.
— Não é sua culpa, — eu disse, fechando meus olhos. A última coisa
que eu queria era que minha amiga se sentisse culpada por algo que estava
fora de seu controle. — Te vejo mais tarde, ok?
Desliguei antes que Em tivesse a chance de responder. Eu não queria
que ela ouvisse nenhuma evidência das lágrimas que brotaram dos meus
olhos e fizeram minha garganta doer.
O leilão começa em menos de doze horas agora, e eu ainda não tinha
flores.
Eu falhei.
Xavier estava certo. Eu não fui feita para esse tipo de coisa. Eu deveria
ter feito o estágio que ele encontrou para mim.
Agora o evento estava arruinado.
Meu celular vibrou na minha mão e eu rapidamente desbloqueei meu
telefone, esperando que fosse Em com algumas boas notícias.

Xavier: Como est á indo a montagem?

Meus dedos pairaram sobre o teclado por um momento enquanto eu


considerava mentir. A última coisa que eu precisava agora era Xavier se
gabando de como ele estava certo.
Mas eu chacoalhei minha cabeça. Mentir não resolveria nada.

Angela: Nada bem.


Xavier: Por qu ê ?

Xavier: Parece ótimo aqui!

Aqui?

Oh, não...
Com uma inspiração rápida, eu rapidamente me virei, procurando no
corredor o contorno familiar dos ombros largos de Xavier.
De repente, senti alguém se aproximar por trás de mim e um par de
mãos ásperas envolveram minha barriga.
— Surpresa, — Xavier respirou próximo ao meu ouvido.
— O que você está fazendo aqui? — Eu disse muito rápido. Limpei
minhas bochechas, esperando que ele não tivesse visto as lágrimas.
— Eu estava na área para uma reunião e pensei em dar uma passada
para verificar as coisas. — Eu o senti encolher os ombros. — Além disso,
você sabe que o lugar é meu, certo?
Xavier me girou, e o sorriso em seu rosto caiu instantaneamente
quando ele viu meus olhos vermelhos inchados.
— O que há de errado?
Novas lágrimas encheram meus olhos quando a derrota caiu sobre
mim.
— Eu não tenho flores.
— Eu pensei que Em estava fazendo os arranjos. — Xavier enxugou as
lágrimas do meu rosto com os polegares.
— Ela estava, mas as flores ficaram arruinadas no acidente em que
Lucas estava ontem à noite, — eu admiti, finalmente cedendo e me
pressionando contra ele, deixando-o envolver seus braços em volta de
mim.
— Por que você não disse nada? — Disse Xavier.
— Achei que pudesse cuidar disso, mas ligamos para todas as
floriculturas de Nova Iorque, e o aviso é muito curto para conseguir o que
preciso. Eu não sei o que fazer.
Xavier riu.
— Angela, querida. Não há nada com que se preocupar.
— Como você pode dizer isso? Sem flores, todo o evento está
arruinado. Você estava certo; tudo isso foi um engano. Não sou
planejadora de eventos.
Xavier enganchou o dedo sob meu queixo, me forçando a olhar para
ele.
— Você confia em mim?
— Sim, — eu disse sem hesitação.
— Então não se preocupe com as flores. Eu cuidarei disso.
Como Xavier poderia dar um jeito nisso?
Ele gritaria para as flores crescerem mais rápido?
— Mas...
Xavier ergueu uma sobrancelha, interrompendo minhas palavras.
— Confie em mim, — ele disse, colocando um beijo na minha cabeça.
— Quando você estiver vestida para a noite, terá flores.
— Ok. — Eu solucei.
— Ok, — disse Xavier. — Agora, você quer uma carona de volta para
casa?
Eu balancei a cabeça e deixei Xavier pegar minha mão e me levar para
fora do salão de banquetes.
Não havia mais nada que eu pudesse fazer.
Tudo o que restou foi esperar.

Um banho quente e relaxante estava esperando por mim quando voltamos


para a cobertura.
Lembrando-me de agradecer a Lucille por ser tão atenciosa, mergulhei
na água com sabão, deixando-a aliviar o estresse que vinha carregando
desde a noite anterior.
Eu deixei meus olhos fecharem, respirando fundo algumas vezes para
acalmar meus nervos.
O salão estava pronto, as peças que estavam sendo leiloadas haviam
chegado e os bufês já se preparavam nas cozinhas dos hotéis.
Tudo estava pronto... exceto as flores.
Mesmo que a noite toda tenha sido um fracasso, eu estava orgulhosa
do que havia conquistado.
Eu nunca tinha feito nada assim antes na minha vida. Pelo menos, nada
nessa escala. A exposição de arte e a festa de aposentadoria não eram
nada comparadas ao leilão.
Com ou sem flores, eu fiz o melhor que pude, e isso tinha que contar
para alguma coisa.
Quando eu estava com a toalha seca, Lucille veio se juntar a mim e eu
me sentei na penteadeira. Juntas, trabalhamos para trançar e torcer meu
cabelo comprido em uma pilha de aparência luxuosa no topo da minha
cabeça.
Eu apliquei o mínimo de maquiagem — um pouco de cor em minhas
bochechas, um pouco de rímel, um pouco de brilho ao redor dos meus
olhos.
Finalmente, eu vesti meu vestido vermelho-sangue cavado nas costas.
Foi mais revelador do que eu estava acostumada, mas o corte e a cor
me fizeram sentir poderosa e corajosa. Eu imaginei que quanto mais eu
pudesse ter agora, melhor.
Uma bolsa envelope preta e um par de sapatos de salto agulha
dourados finalizaram o visual.
— Pronta ou não, — sussurrei para mim mesma enquanto examinava
meu reflexo no espelho.
— Oh, meu Deus, — eu respirei enquanto entrava no salão de
banquetes trinta minutos depois.
O chão estava coberto de feixes de orquídeas brancas, toda a sala
tomada por seu aroma.
No centro de tudo isso estava Xavier, com as mãos nos quadris.
— Como você fez isso? — Eu disse, com os saltos estalando no chão
enquanto eu cruzava a sala até ele.
— Você está deslumbrante, — ele disse, ignorando minha pergunta.
— De onde veio tudo isso?
Xavier sorriu.
— Angela, você é uma Knight agora. Por mais que eu saiba que você
odeie dar carteirada, nosso nome carrega poder. Não levei mais de meia
hora para encontrar todas as malditas flores de orquídea branca da cidade
e traze-las a este hotel.
— Obrigada, — eu respirei, jogando meus braços ao redor de seu
pescoço. — Muito obrigada.
— Da próxima vez, — disse Xavier, recuando e me olhando nos olhos, —
peça ajuda mais cedo. Você não está sozinha nisso, Angela. Quero ajudá-la
a realizar seus sonhos, não importa quais sejam.
— E se eu decidir ser uma encanadora? — Perguntei, sorrindo.
— Mesmo assim. Agora, há algumas pessoas aqui que estão esperando
para descobrir o que fazer com todas essas flores, e você tem — ele olhou
para o relógio — duas horas até que os convidados cheguem.
— Obrigada, — eu disse novamente, beijando sua bochecha, e então
corri em direção aos buquês.
Xavier tinha me salvado desta vez, mas ainda havia uma longa noite
pela frente.
E talvez fosse o nervosismo ou a síndrome de impostor, mas tive a
sensação dolorosa de que outro desastre me esperava. No entanto,
quando olhei das flores para Xavier e vice-versa, tive uma espécie de
esperança.
Esperava que fôssemos uma equipe e pudéssemos enfrentar qualquer
coisa.
De cabeça erguida.
Juntos.
Capítulo 14
Aberto ao Público
Brad
— Angela, querida, você se superou! — Eu disse, constrangendo minha
nora. Eu recuei, segurando-a com o braço esticado. — E você está divina!
— Você sempre diz isso. — Angela sorriu e beijou Penny nas bochechas.
Aqueceu meu coração ver as duas juntas, amigáveis. Feliz mesmo.
Depois do jantar na outra noite, eu sabia que seria um risco trazer
Penny como meu par esta noite, mas me recusei a mantê-la escondida.
Eu a amava, não importa o que o mundo, ou mesmo meu próprio filho,
acreditasse. E ela merecia ser amada.
Olhei em volta para o corredor movimentado. A sala estava cheia com
os melhores de Nova Iorque, com suas peles, sedas e diamantes. Eles riam
e brindavam com taças de champanhe no reformado salão de baile do pós-
guerra.
Entre os lustres cintilantes e o doce cheiro de orquídeas pairando no ar,
a festa tinha uma sensação de luxo antigo que teria feito Audrey Hepburn e
Grace Kelly se sentirem em casa.
E então havia Penny, em seu moletom enorme.
— Você sabe que eles nem deveriam ter deixado você entrar, — eu a
provoquei. — Há um código de vestimenta.
— Claro, mas estou com o Brad Knight. — Ela riu, agitando os braços
para cima e para baixo enquanto suas mangas balançavam no ar. — Isso
vem com seu próprio conjunto de vantagens.
— Como comparecer a um evento formal de pijama? — Eu me
perguntei.
— Estou tão cansada de usar vestidos, — Penny insistiu. — Eu faço isso o
suficiente sempre que tenho que cantar.
Eu sorri, balançando minha cabeça, maravilhado.
Mesmo em suas roupas casuais, Penny ofuscou todos os outros ali.
E eu tinha que admitir que meio que preferia quando ela não estava
toda arrumada para o palco.
Ela parecia mais confortável. Natural.
Linda.
Penny percebeu que eu estava olhando. Ela corou e olhou para baixo,
de repente descobrindo que seus sapatos Converse eram incrivelmente
interessantes.
Angela pigarreou com uma pequena risada.
— Hum, oi, — ela brincou. — Ainda aqui.
Eu sorri e olhei para minha nora.
— Onde está Xavier? — Eu perguntei a Angela.
— Conseguindo algumas bebidas para nós, — disse Angela, segurando
uma taça de champanhe vazia. — Só pensei em dar um pulo e dizer olá
antes do início dos lances.
— Mal posso esperar para ver o que está em leilão, — disse Penny ao
meu lado. Ela tinha uma afinidade com o que chamava de móveis — retrô.
— Todo o apartamento dela parecia algo da minha infância.
— Existem algumas peças ótimas, se assim posso dizer, — disse Angela,
seu blush característico pintando suas bochechas de vermelho.
Um par de ombros largos familiares chamou minha atenção, me
fazendo virar.
— Ron, — chamei, avistando meu antigo assistente enquanto ele
pegava um canapé de uma das bandejas de prata do garçom. Com um
sorriso tenso, ele se aproximou de nosso grupo.
— É ótimo ver você. Estou tão feliz que você decidiu vir, — eu disse a
ele, apertando sua mão. — Eu ainda me sinto péssimo sobre como meu
filho tratou você.
— O que Xavier fez? — Angela perguntou, com suas sobrancelhas
franzindo de preocupação.
— Ele demitiu Ron! — Eu disse a ela, jogando meu braço sobre o ombro
do pobre menino. — Disse que sentiria como se eu estivesse observando
cada movimento seu com Ron lá.
— Eu entendo a escolha, — disse Ron. — Tive acesso íntimo a todos os
aspectos dos negócios e da vida privada da Knight por anos. Xavier precisa
de um novo começo para se sentir confiante em sua nova função.
— Você sempre foi um homem honrado, — eu disse a ele, batendo em
suas costas.
— Oh! — Angela disse de repente, jogando a mão no ar em um
pequeno aceno. — Ali está minha chefe.
Seu entusiasmo era cativante.
— Você deve nos apresentar, — eu disse.
Angela me deu um olhar confuso.
— Vocês já não se conhecem? Você é quem nos conectou.
— Trabalho com a Animas há anos, — disse a ela. — Barbra, a chefe de
marketing, se aposentou alguns meses antes de mim. Eu não conheci sua
substituta.
— Bem, você vai amá-la. Vou buscá-la e já volto. — Eu assisti a Angela
disparar através da multidão para o lado de uma mulher.
Quando a mulher se virou para nós para abraçar Angela, meu coração
parou no meu peito. O cabelo ruivo, as roupas espalhafatosas... não podia
ser.
— Brad, — ouvi Penny dizer. Sua voz parecia distante. Como se
estivéssemos em lados opostos de um túnel. — Brad, o que há de errado?
Parece que você viu um fantasma.
— Oh, não, — eu sussurrei, balançando minha cabeça. — O que eu fiz?

Angela
Enquanto eu me curvava no meio da multidão em direção a Didi, com o
brilho esmeralda de seu vestido brilhando como a pele de uma cobra sob a
luz do lustre, eu não pude evitar a agitação de nervos que encheu meu
estômago.
O evento estava perfeito até agora.
As pessoas estavam bebendo, sorrindo, conversando, e a sala parecia
exatamente como eu imaginei, os canapés estavam incríveis e os lances
começariam a qualquer segundo.
Tudo parecia ótimo, mas sem o selo de aprovação de Didi, tudo seria
em vão.
Quando me aproximei dela e do grupo de membros do conselho da
Animas com quem ela estava falando, estendi a mão e coloquei minha mão
em seu ombro.
— Desculpa por interromper.
— Angie, — disse Didi, pegando minha mão na dela e beijando meu
rosto no ar. — O lugar parece ótimo! As pessoas já estão comentando
sobre como o leilão deste ano está muito melhor, e o leilão ainda nem
começou.
— Fico muito feliz em ouvir isso, — eu disse a ela, apertando suas mãos
com força. — Eu tenho algumas pessoas que eu gostaria que você
conhecesse. Se eu puder te roubar por um segundo.
— É claro, é claro. — Ela puxou uma das mãos e acenou. — Mostre o
caminho.
Quando me virei para levar Didi de volta para Brad e Penny, um grande
estrondo ecoou pelo corredor, fazendo todos olharem para a frente da
sala.
A leiloeira estava no palco na outra extremidade da sala, batendo seu
martelo.
— Boa noite, senhoras e senhores, — ela disse. — O leilão já está
aberto. Vamos começar com o primeiro item.
Dois homens carregaram um grande retângulo coberto com tecido até
o centro do palco.
— Esta pintura é uma peça original do artista Dustin Sterling. A licitação
começará em dez mil dólares.
O pano foi arrancado da pintura e a sala explodiu em um suspiro
coletivo.
Meu sangue gelou em minhas veias.
Minha taça de champanhe vazia se espatifou no chão.
— Ai, meu Deus, — ouvi Didi dizer. — Aquele é...
Tudo o que pude fazer foi acenar com a cabeça e olhar para o palco
onde, em detalhes realistas, estava uma representação perfeita de Xavier.
Se masturbando.

Xavier
Um bocado de negroni saiu dos meus lábios e tive um ataque de tosse.
— Que porra? — Murmurei, enxugando o queixo com as costas da mão
e olhando para baixo para garantir que não tinha cuspido em todo o meu
terno Valentino.
Alguns dos outros convidados da festa se viraram para olhar para mim.
Seja porque eu acabei de dar banho em todos eles com Negroni ou por
causa da réplica em tamanho real do meu corpo nu exibida no palco, eu
não tinha certeza de qual.
Tudo que eu sabia era que precisava encontrar o maldito Dusty para
poder torcer seu pescoço esquelético.
Como Angela pode ter deixado esta peça no leilão?
Como Dusty sabia como eu parecia?
Enquanto eu abria caminho por entre a multidão de pessoas, ainda
segurando duas bebidas, placas começaram a voar no ar.
— Dez mil dólares. Eu tenho dez mil dólares.
Eu ouvi quinze mil dólares? — o leiloeiro tinha começado.
Senti uma pontada de raiva tingida de vergonha aquecer minha nuca.
Quem diabos iria querer uma pintura minha puxando meu pau pendurado
sobre a lareira?
— Vinte mil dólares. Eu tenho vinte mil dólares. Eu ouvi trinta mil
dólares?
Isso estava ficando fora de controle. Onde diabos Dusty poderia estar?
Parei no centro do corredor, esticando o pescoço, usando minha vantagem
de altura para espiar por cima da multidão.
Eu congelei por um segundo, quando uma cabeça de cabelo vermelho
de aparência familiar chamou minha atenção, mas então balancei minha
cabeça.
Não, não pode ser.
Ela não vinha para esse tipo de coisa.
Ela não seria tão insensata.
Fui tirado de meus pensamentos um segundo depois, quando meus
olhos pousaram em outra pessoa, alguém melhor, e eles estavam
apontando direto para mim.
— Xavier! — Angela disse, com seus olhos arregalados enquanto ela
atravessava a multidão e batia no meu peito.
— Bellini? — Ofereci a ela um dos copos em minhas mãos e disse: —
Que porra é essa?
— Não tinha ideia, — disse ela. — Ele não me contou. Você tem que me
perdoar.
— Apenas me ajude a encontrar Dustin e tirar aquela peça do palco, —
eu disse a ela, caminhando em direção ao leiloeiro.
— O quê? Não! — Angela gritou, pegando meu antebraço. — Não
podemos tirá-la. Você já arrecadou quinhentos mil dólares para a Animas.
— Quinhentos mil dólares? Alguém está pagando quinhentos mil
dólares por uma pintura minha me masturbando? — Eu repeti, atordoado.
E olhei de volta para a pintura, — Eu realmente pareço muito bem.
— Xavier, — disse Angela novamente.
— O quê? Eu nunca percebi o quão bom artista Dustin era antes.
Angela revirou os olhos.
Dei de ombros.
— Você disse que não podemos retirá-lo do leilão. O que eu deveria
fazer?
— Dê um lance, — sugeriu Angela, puxando minha placa do bolso do
meu terno. — A menos que você queira que um estranho compre seu
retrato nu.
— Setecentos e cinquenta mil dólares? — o leiloeiro chamou.
Angela ergueu nossa placa no ar.
— Eu tenho setecentos e cinquenta mil dólares. Eu ouvi oitocentos mil
dólares?
Um novo punhado de placas disparou, me fazendo gemer. Angela se
moveu para levantar o nosso novamente, mas eu estendi a mão, agarrando
a placa.
— Não adianta, — eu disse a ela. — Há muita competição. Não vou
pagar um milhão de dólares por uma pintura do meu próprio pau duro.
Vamos encontrar meu pai. Ele saberá o que fazer.
Se ele estiver disposto a ajudar...
Eu não tinha falado com meu pai desde aquela noite no restaurante. Eu
disse um monte de coisas estúpidas. Estúpidas o suficiente para que eu
não o culpasse se ele não quisesse nada comigo.
— Eu os deixei lá, — Angela disse, me levando em direção ao outro lado
da sala.
A multidão explodiu em aplausos ao nosso redor quando a licitação do
quadro foi encerrada e a próxima peça foi trazida para o palco.
— Brad! — Angela chamou antes de mim, e meu pai e Penny
apareceram. — Brad, a pintura.
— Eu sei, querida, — ele concordou solenemente.
— Eu sinto muito, — disse Angela a ele. — Não fazia ideia que a pintura
era do... Xavier.
— Está tudo bem, minha querida. Nenhum dano causado, — papai
garantiu a ela, puxando-a para um abraço de um braço só.
— Sem problemas? — Eu perguntei. — Alguém acabou de comprar
uma pintura minha daquele jeito.
— Eu comprei, — disse papai.
Eu levantei minhas sobrancelhas.
— Você? Por quê?
— Eu não poderia ter uma pintura do meu filho com seus ovos e bacon
soltos em público, — meu pai disse. — Especialmente depois da má
imprensa no início desta semana.
Eu senti uma sensação desconfortável crescer dentro de mim. Uma que
eu não estava acostumado a sentir. Uma que apenas meu pai e Angela
poderiam me fazer sentir. Meus olhos caíram para o chão como se eu de
repente estivesse fascinado com o design dos meus oxfords, e o calor
começou a subir pelo meu pescoço.
Vergonha.
Culpa.
Arrependimento.
Eu engoli em seco e depois olhei para cima, olhei meu pai nos olhos.
— Obrigado.
— Está tudo bem, filho — ele disse, estendendo a mão e colocando a
mão no meu ombro.
Havia mais palavras borbulhando agora, como se, uma vez que eu
dissesse uma coisa boa, fosse impossível parar.
— E eu... sinto muito por como me comportei na outra noite. Estou feliz
que você encontrou alguém, pai.
O sorriso do meu pai cresceu dez vezes, e ele me envolveu em um
abraço.
— Obrigado, meu menino.
Eu me virei e olhei para Penny por cima do ombro do meu pai.
— Eu também me desculpo com você. Está claro que você está fazendo
meu pai um homem muito feliz.
A linha defensiva de seus ombros caiu, com um pequeno sorriso
brincando nas bordas de seus lábios carnudos. Ela acenou com a cabeça
uma vez, aceitando o pedido de desculpas, seus olhos dançando entre
Angela e eu.
— Estou feliz que você encontrou seu alguém também.
Com o canto do olho, vi um flash vermelho e meu coração parou no
meu peito.
Novamente, eu balancei minha cabeça.
Não. Não poderia ser. Eu estava errado.
Ela não estava aqui.
— Que tal outra bebida? — Papai sugeriu.
Eu me encontrei balançando a cabeça.
— Ah, um segundo, acabei de ver Didi de novo, — disse Angela. — Eu
quero apresentá-la a todos.
— Didi? — Eu fiz uma careta.
— Minha chefe, — disse Angela, e então chamou:
— Didi!
— Oh, não, — meu pai sussurrou ao meu lado, puxando Penny para
perto de seu lado.
Meus olhos se voltaram para ele.
— Eu não tinha ideia, — ele me disse com fervor. — Acredite em mim,
Xavier.
Minha visão ficou vermelha quando Angela puxou outra mulher para
nosso pequeno círculo.
De repente, minha gravata estava muito apertada. Não consegui
respirar ar suficiente.
Meu pulso martelou em meus ouvidos.
A sala começou a girar ao meu redor.
— Claudia, — eu me peguei dizendo, olhando-a bem nos olhos.
Angela se virou para mim.
— Não, é Didi.
Eu balancei minha cabeça.
— Acho que reconheceria a mulher de quem estava noivo.

Capítulo 15
Trovão e Relâmpago
Claudia
Passaram-se anos desde a última vez que estivemos em um quarto juntos.
Anos desde que vi seu rosto, ou senti suas mãos em meu corpo, ou ouvi as
palavras doces que ele sussurrou em meu ouvido.
Minha vida com Xavier parecia ter acontecido séculos atrás, e pode
muito bem ter sido.
Eu era diferente então. Diferente agora.
No entanto, ele parecia o mesmo. Tão sombrio e perigoso, como um
jovem Zeus, crepitando com energia e poder.
Muitas vezes me peguei pensando nele, em nós. Foi tudo há muito
tempo, as memórias eram brilhantes, mas borradas, como o mundo
girando do lado de fora de um passeio de carrossel. O romance, a paixão, o
sexo... tudo tinha sido real?
A memória da maneira como nossos quadris haviam se firmado juntos,
a maneira como nossos lábios e línguas lutavam pelo domínio, era muito
vívida para não ser.
Xavier e eu éramos bons juntos da mesma forma que o trovão e o
relâmpago. Nosso amor foi alto, brilhante e rápido... e acabou tão rápido
quanto havia começado.
Pelo que li, nossa tempestade deixou muitos danos colaterais. Muita
raiva, mágoa e álcool.
Pelo menos eu não era a única com dor.
Mas então ela chegou, quase da noite para o dia, como se tivesse sido
arrancada de uma loja de bonecas e trazida à vida.
Uma pequena Barbie.
Uma princesa perfeita e dócil.
Seu anjo.
De repente, ele estava sorrindo novamente. Feliz novamente. Cheio.
Enquanto isso, fui esquecida. Deixada de lado. Isso me sangrou até ficar
seca e apodrecer.
Não era justo.
Eu merecia mais, melhor e não ia deixar ninguém me impedir de
conseguir. Não ele, não o homem que me fodeu, e definitivamente não
Angela.
Eu podia ver o pânico crescendo nele enquanto agarrava sua esposa e
fugia do salão.
Nós nos conhecíamos muito bem para ele ter ficado. Ter esperado para
ver o que aconteceria, o que eu faria... Esses jogos de gato e rato eram o
que nós dois mais jogávamos.
Angela, sua ratinha minúscula, não passava de um brinquedo. Isso ficou
claro desde o momento em que nos conhecemos. Eu a fiz obedecer a
todos os meus pedidos. Uma mulher assim não poderia lidar com um
Knight.
Não, Xavier precisava de uma leoa, uma mulher forte, e deixe-me dizer,
eu estava à espreita. A única pergunta era: quando eu atacaria?
Eu procurei na multidão no leilão, e meus olhos pegaram o jovem de
ombros largos com quem Brad tinha falado antes, e sorri.
Perfeito.

Xavier
Minha visão estava vermelha.
Não havia nenhum pensamento por trás do que veio a seguir, apenas
puro instinto animal que me fez agarrar Angela pelo braço e correr.
Eu encontrei a porta com meus olhos e empurrei a multidão em direção
a ela.
Não importava quem estava no meu caminho ou quem parou para
cumprimentar. Eu os empurrei de lado, fixado em passar pela porta aberta.
Saia. Saia. Saia.
Mais rápido. Mais. Mais.
A necessidade de fugir, de colocar o máximo de distância entre ela e
nós estava me consumindo.
Eu não tinha visto minha ex-noiva desde a noite em que a encontrei
transando com meu melhor amigo.
Desde que eles me traíram.
Desde a noite em que voltei para casa de uma viagem de negócios para
encontrá-la montada em Daniel, estilo cowgirl, no centro da minha cama.
Minha resposta naquela noite foi a mesma de agora. Afaste-se. Saia.
Corra.
Eu corri direto para a rua, mas ela me seguiu. Gritou comigo. Mil
desculpas saindo de seus lábios.
Eu revivi o momento que veio a seguir mais vezes que eu queria
lembrar. Um táxi dobrando a esquina, vindo direto para ela.
Algum instinto primitivo, ainda voltado para proteger a pessoa que eu
amava, me fez virar e empurrar Claudia para fora do caminho, levando o
impacto eu mesmo.
Tudo depois disso foi dor.
Meu corpo.
Meu coração.
Minha vida inteira, porra.
Eu perdi tudo naquela noite. A mulher que eu amava, minha melhor
amiga, eu mesmo.
Eu usava a cicatriz nas minhas costas como um lembrete constante de
tudo. Eu podia sentir isso queimando agora, como se estar tão perto de
Claudia depois de todo esse ano o tivesse deixado inflamado. Como se
tudo estivesse acontecendo de novo.
Corri para fora do hotel e fui para a rua, só que dessa vez Marco estava
lá esperando.
Carros buzinaram. Portas bateram.
Alguém estava falando perto de mim. Ao meu lado. Dizendo meu
nome.
No entanto, eu não conseguia me concentrar na palavra. Não quando
meu coração estava batendo tão rápido que doía. Não com a sensação de
formigamento que vibrou sob minha pele.
Mais rápido.
Mais longe.
Mais.
Pensamentos e memórias borrados juntos apareceram.
Claudia envolta em meus braços. Claudia me surpreendendo com uma
viagem a St. Barts no meu vigésimo quinto aniversário. A cabeça de Claudia
jogada para trás em êxtase enquanto montava no pênis de Daniel.
Achei que tinha escapado de tudo isso. A dor, o medo e o ódio. Mas de
repente eu soube que nunca faria isso. Se Claudia estivesse de volta, isso
só poderia significar uma coisa. Ela queria algo.
Mas o quê?
Angela
Eu nunca tinha visto Xavier assim antes.
Não achei que o homem soubesse o que era o medo, mas a expressão
em seus olhos quando viu Didi foi de completo terror.
Mesmo agora, enquanto andava de um lado para o outro no piso de
madeira da sala de estar da cobertura, ele ainda zumbia com a energia
nervosa.
Tentei falar com ele, acalmá-lo, no saguão do hotel e no carro, com
pouco sucesso.
Eu não sabia o que fazer com a situação. Havia tantas perguntas que
não paravam de surgir. Com o estado atual de Xavier, não parecia que eu
receberia respostas tão cedo.
— Xavier, — tentei novamente. Eu estava parada a poucos metros dele,
ao lado do sofá.
Nada ainda.
Eu mordi meu lábio, a preocupação me lavando.
Eu precisava de uma nova técnica se quisesse alguma chance de chegar
até ele.
Xavier se virou na frente da sala e eu entrei em seu caminho, jogando
minhas mãos para pressionar suavemente seu peito.
— Xavier.
Finalmente, seus olhos encontraram os meus.
— Angela.
— O que está acontecendo? — Eu perguntei com cuidado. — Você está
me assustando. Me fala o que está acontecendo. Como posso ajudar?
— Não consigo descobrir o que ela quer, — ele disse. — Por que ela fez
isso. Deve haver um plano. Meu Deus, está calor aqui.
Ele puxou a gravata, tentando abrir espaço na garganta, mas suas mãos
tremiam muito para conseguir.
Gentilmente, eu fui até ele, afastei suas mãos e puxei a gravata
borboleta de seu pescoço, desfazendo alguns botões de sua camisa ao
mesmo tempo.
— Que tal pegarmos um pouco de ar? — Eu sugeri.
Ele me seguiu pelo corredor e subiu as escadas que levavam ao telhado.
Tínhamos um jardim lá, completo com terraço e piscina. Contudo,
raramente era usado, exceto nas poucas vezes nos meses de verão que eu
podia sair para ler em uma das espreguiçadeiras.
Peguei Xavier pela mão e o levei para uma daquelas espreguiçadeiras
agora. Fiz ele se sentar ao meu lado.
— O que ela fez com você? — Eu me perguntei baixinho, procurando
seus olhos.
Xavier franziu a testa, cerrando as mãos em seu colo.
— Eu disse a você o que ela fez.
Ele tinha. Eu sabia a verdade. Sabia que ele a pegou o traindo com seu
melhor amigo. Sabia que ela era a razão das cicatrizes nas costas e no
coração.
Ainda assim, sua reação foi muito forte. Eu encontrei outra questão
borbulhando à superfície, a única explicação que fazia sentido para mim.
— Você ainda ama ela?
Xavier inalou audivelmente, seus olhos escuros brilhando nos meus.
— Não.
Eu estremeci de alívio.
— Então por que você está agindo dessa maneira?
— Ela está planejando algo, — ele disse. — Só não sei o quê.
— O que ela possivelmente estaria planejando?
Xavier balançou a cabeça.
— Eu não sei, mas é o que ela faz. Claudia toma o que quer, custe o que
custar. Não posso deixar que ela me machuque assim de novo. Não posso
perder mais pessoas que amo.
Coloquei minha mão em sua bochecha pálida.
— Você não vai perder ninguém.
— Você não sabe disso. Você não a conhece como eu. Você está
trabalhando com ela há semanas, e tudo o que ela fez foi te alimentar com
mentiras.
— Xavier...
— Não, Angela. Eu não quero que você a veja novamente. Por favor. Eu
te amo muito. Eu-eu não posso...
Suas palavras foram cortadas por um músculo pulando em sua
mandíbula enquanto ele lutava com qualquer escuridão que o tivesse
agarrado.
Eu congelei por um momento quando suas palavras me atingiram.
Eu te amo.
Foi a primeira vez que ele disse isso para mim sem ver meu corpo nu.
Eu sabia então do que se tratava. Como eu poderia consertar.
Lentamente, inclinei-me e dei um beijo em sua bochecha.
— Eu também te amo.
Xavier se acalmou, então coloquei outro beijo em seus lábios.
— E eu não vou a lugar nenhum, — eu prometi. — Eu estou bem aqui.
A tensão o abandonou quando eu o beijei novamente.
Ele respondeu ansioso, faminto.
— Diga-me que você é minha.
— Eu sou sua, — eu jurei, falando sério.
Sua mão veio e se enroscou no meu cabelo, sua testa apoiada na
minha.
— Eu preciso de você agora.
— Você me tem.
Estendendo a mão, comecei a abrir caminho para os botões de sua
camisa.
Xavier tirou o paletó e depois me deixou tirar a camisa de seus ombros
largos.
Arrepios se formaram em uma trilha em sua pele enquanto eu corria
meus dedos ao longo de seu peito nu.
Xavier estremeceu.
Meu vestido veio a seguir. Saiu por cima da minha cabeça.
Então Xavier estava me empurrando contra a poltrona, seu corpo
pairando sobre mim. Peito com peito, quadris se esfregando.
Xavier mordeu minha orelha, meu pescoço, meu ombro, com sua mão
descendo pelas minhas costelas para alcançar o topo da minha calcinha.
Pela primeira vez, nenhum medo surgiu. Em vez disso, cravei minhas
unhas em suas costas, precisando dele mais perto.
Encorajado, sua mão mergulhou sob a bainha da minha calcinha, seus
dedos habilmente encontrando meu pequeno centro de nervos.
Eu engasguei, uma onda de prazer rolando sobre mim, enquanto seu
dedo circulava.
A mão de Xavier se moveu para baixo, mais perto do meu núcleo, e ele
soltou um gemido.
— Porra, você está molhada.
— Eu quero você, — eu respirei, com a cabeça girando.
Xavier grunhiu e deslizou minha calcinha pelas minhas pernas. Ele se
atrapalhou com o cinto e tirou os sapatos e as calças.
E então estávamos nos movendo.
Dançando.
Colidindo.
E eu não estava com medo.
Quando chegou a hora, Xavier trabalhou comigo através da dor,
transformou-a em um pico tão brilhante e cegante que eu estava gritando
seu nome.
Depois, quando eu estava envolta em Xavier e me sentia mais completa
do que o céu salpicado de estrelas acima de nós, ele disse: — Case-se
comigo.
Eu ri, corando.
— Estou falando sério, — disse Xavier, empurrando-se um pouco.
Ele pegou minha mão esquerda e deslizou meu anel de noivado do meu
dedo.
Meus olhos se arregalaram quando ele caiu de joelhos diante da
espreguiçadeira, ainda completamente nu.
— Angela, você vai me permitir a honra de fazer isso direito? Fazendo
do jeito que deveria da primeira vez? Eu te amo. Mais do que eu jamais
acreditei ser possível. Você quer se casar comigo?
Lágrimas encheram meus olhos e estendi minha mão trêmula.
— Sim.

Capítulo 16
O dia seguinte
Angela
Eu estava grávida.
Ou pelo menos o mundo pensou que eu estava grávida.
Aparentemente, o mundo incluía as pessoas em minha vida que
deveriam definitivamente saber que eu não estava grávida.
As manchetes eram como tiros disparados, marcando o início de
interrogatórios de telefonemas que chegavam ao meu correio de voz. A
cada segundo, outro telefonema vinha em minha direção.
Agora, todos a quem eu tinha dado meu número tinham me colocado
na discagem rápida.
Meu telefone estava mudo. Eu mal conseguia ouvir meus próprios
pensamentos sobre os sons de alertas de notícias aparecendo na tela do
meu computador como jatos comerciais caindo do céu.
Eu folheei as mensagens de voz, excluindo mensagens preocupadas
como se isso pudesse apagar o caos.
BEEP.
— MDS. Você está grávida? — Dustin disse na máquina. — A In Touch
me ligou, e eu queria saber se eu poderia dar a eles um comentário sobre
seu estado emocional, sendo que eu sou seu número um...
BEEP.
— Angie, por que você não nos contou as notícias incríveis? — Papai
entrou na conversa. — Eu não posso acreditar que finalmente vou ser avô e
tive que descobrir na Us Weekly. Precisamos comemorar...
BEEP.
— Ei, querida, é o Brad. Achei que provavelmente fossem apenas as
revistas... Juro que tentaram publicar que eu estava grávido alguns anos
atrás. Alguma narrativa estranha sobre alienígenas, você sabe, lixo. Mas,
para o caso de não ser uma inseminação artificial de Netuno, ligue-me
rápido antes de eu falir uma empresa de mídia...
BEEP.
— Angela, é a Lucille. Assim que eu chegar em casa, farei meu
ensopado pré-natal especial...
BEEP.
— IRMÃ! Você precisa me ligar agora, ok? Isso é realmente enorme, e
você simplesmente não pode continuar ignorando as ligações de todos.
Eu sabia que não poderia continuar negligenciando o que todos
estavam dizendo. Mas eu poderia ignorar por agora, certo?
Xavier já estava viajando para o Japão para um evento de negócios no
fim de semana, 3. 000 milhas acima da crise. Eu estava sozinha e — de
acordo com as notícias — com meu filho ainda não nascido.
Eu não suportaria sair de seus lençóis de cetim e enfrentar o mundo,
especialmente porque eles ainda tinham seu cheiro almiscarado.
Era quase meio-dia e meu estômago doía por algo, qualquer coisa, para
comer.
Mas eu estava com mais fome de estar perto dele, perto da sensação
de seu corpo se inclinando sobre mim, pressionando minhas mãos para
baixo, seu peito contra meus seios. A maneira como ele me beijou
enquanto abria o zíper do meu vestido, deslizando entre esses lençóis...
Agora eu sabia o quão insuportável tinha sido para ele, ter que esperar
todos aqueles meses por mim. Ele acabou escapando de mim esta manhã,
e já parecia que eu poderia implodir de desejo.
Não pude deixar de lembrar como, depois, eu me encaixaria
perfeitamente no recanto entre seu peito e ombro. Como seus braços
aparados me envolveriam como veludo. Eu não conseguia entender como
ele podia ser tão firme e ao mesmo tempo tão macio, como uma garota
trêmula protegida por mãos de titânio.
Mas agora, o mundo exterior já havia invadido nossa festa.
Nosso romance foi um alerta de notícias.
O relatório era que Xavier e eu, que acabávamos de nos tornar um casal
de verdade, estávamos nos tornando pais.
As manchetes levantaram a questão de "Estou grávida?" dentro da
minha cabeça como açúcar passando por claras de ovo. Era tudo fofo, mas
vazio. Isso obstruiu minhas ondas cerebrais, me tornando incapaz de
pensar em qualquer coisa além disso.
Como os tabloides souberam informar sobre minha — gravidez — logo
depois que Xavier e eu finalmente fizemos aquilo? O momento era
perturbadoramente perfeito.
Abaixei minha barriga. Eu estava inchada, tudo bem, mas tão inchada?
Acordei com náuseas, mas também acordei com milhares de sites que
analisavam meu estado ginecológico. Isso foi o suficiente para deixar
qualquer um doente.
Com minha sorte, provavelmente ficaria grávida exatamente quando
não queria... e queria estar pensando na noite passada.
Eu queria estar enrolada ao lado dele, respirando sua essência com
cada inspiração. Eu queria estar tremendo com ele explodindo dentro de
mim, e seu corpo jorrando sobre mim como uma chuva de meteoros
espetacular.
Era como se suas unhas ainda estivessem cravando em minhas costas,
seus lábios ainda dançando ao longo do meu pescoço... Eu dei a ele tudo
de mim, e ele me deu uma nova pessoa de volta. Cada célula em mim
renasceu, despertou e ansiava por ele mais e mais.
Mas, em vez de Xavier, minhas mãos estavam cheias de mensagens de
voz.
Todos queriam saber o que estava acontecendo, mesmo que eu mal
tivesse acordado, ainda presa na memória vibrante de ontem.
Bem... nem todos.
BEEP. BEEP.
Meu celular vibrou com uma mensagem de Em. Em!
Já era hora.
Eu normalmente despejo todas as minhas emoções confusas sobre ela
o mais rápido possível. Ela provavelmente estava confusa sobre por que eu
não a tinha informado ainda. Peguei meu telefone, pronta para desabafar
com ela sobre Xavier, sobre as manchetes e sobre Didi.

Em: O que diabos est á acontecendo?

Angela: Por onde voc ê andou?

Angela: Eu tenho muito para te contar.

Em: Duvido, quero ouvir.

Em: Ugh, isso é t ã o injusto, Angie.

Em: N ã o acredito em voc ê .

Angela: O que voc ê quer dizer?

Angela: Desculpa.

Angela: Podemos nos encontrar?

Em: Okay

Em: Onde?
Angela: Que tal uma terapia?

Em: Eu preciso de comida reconfortante.

Angela: 🍦🍦🍦 (3 emojis de sorvete)

Em: Talvez.

Angela: O sorveteiro na Quinta?

Em: Vejo voc ê l á .

Enquanto eu caminhava entre as butiques e restaurantes exuberantes, tive


o cuidado de ficar longe de qualquer loja de maternidade. Caramba, eu
nem queria estar perto de um bebê.
Nós nos conhecemos no centro da cidade, onde até as toalhas eram de
alta costura. Luzes de contos de fadas cobriam o exterior de cada exposição
hipnotizante. Segui o caminho arborizado, percebendo que as pessoas
estavam olhando para mim — me reconhecendo.
Isso era impossível. As pessoas sabiam meu sobrenome, não eu.
Mas agora, eles conheciam meu rosto. Senti seus olhos em mim
enquanto me dirigia para a barraca de gelato, onde a única pessoa que eu
encontraria lá não se importava em olhar para mim.
Em já estava comendo sua delícia de mocha de avelã, nem mesmo
percebendo que eu estava lá.
Eu verifiquei meu relógio. Cheguei cinco minutos adiantada. Ela pediu
antes de eu chegar aqui?
Sempre fomos meio bobas, porque eu nunca conseguia me decidir
sobre um sabor e ela sempre queria experimentar dois.
— Você não esperou por mim! — Eu brinquei, apertando Em em um
abraço. Ela não envolveu seus braços em volta de mim. Em fez uma careta,
os olhos inchados de desprezo.
— Bem, Angie, você não esperou por mim.
Sobre o que ela estava falando?
— O que você quer dizer? Estou cinco minutos adiantada, — expliquei.
— Eu não estou falando sobre isso. Estou falando sobre o que todos
estão falando, Angie, — disse ela, esfregando minha barriga. Eu tirei a mão
dela.
— Ouça aqui, sobre toda a gravidez...
— Eu nem sabia que você e Xavier estavam transando! — ela deixou
escapar.
Eu olhei ao redor em pânico. Parecia que ninguém tinha ouvido falar,
mas a ideia de alguém descobrir que eu ainda estava conhecendo meu
marido me fez sentir como um refrigerante sendo sacudido, pronto para
explodir em uma confusão escura e aquosa.
— Bem... — Eu sorri, sentindo minhas bochechas ficarem vermelhas
com a memória da noite passada. — Acabamos de fazer. Uma vez.
— Você transou uma vez, e agora está grávida?! Só pode estar
brincando comigo. Lucas e eu estamos tentando engravidar há meses, —
Em respondeu. — Eu não posso acreditar nisso. Eu sinto... O que há de
errado comigo?
— Oh, Em, não há nada de errado com você, — eu disse, percebendo
que essa possibilidade na minha vida era uma seta gigante de néon
apontando o que não havia acontecido com ela. — Talvez seja... seu
parceiro?
— Você quer dizer meu marido? Você é a irmã dele? — Em disparou de
volta.
Meu nariz enrugou em desgosto.
— Ugh, não me lembre. Não acredito que você transou com ele! — Eu
gemi.
— Oh, querida, levei ele à loucura, — ela enfatizou, piscando para mim,
feliz por me servir de um desconforto vingativo.
— Em, pare com isso antes que eu vomite no seu sorvete! — Eu gritei.
Sim, eu estava com nojo, mas feliz por ela não estar com raiva de mim por
seus problemas de gravidez. Eu certamente precisava da minha melhor
amiga para me ajudar a superar o meu.
— Escute, Em. As únicas pessoas que dizem que estou grávida
trabalham para tabloides. É uma notícia, não a história verdadeira, —
expliquei.
— Então, você não está grávida? — Em disse, com seus olhos brilhando.
Por mais que eu ache que ela quisesse apoiar, ela não podia. Ela
precisava de apoio.
Você não poderia ser uma ponte e o carro passando por ela ao mesmo
tempo.
— Não, eu nunca estive grávida, — admiti.
Eu precisaria dizer isso cem vezes para todas as pessoas que
importavam.
Quem se importava com o que um bando de estranhos pensava? Em
nove meses, eles enfrentariam muitas decepções.
Mas para papai e Brad, e quase todos os outros que me conheceram
antes de eu ser digna das manchetes, essa decepção viria assim que eu
voltasse para casa.
— Então espere, eu estava tão obcecada com meu útero inútil que não
processei algo que você disse, — disse Em. — Você e Xavier selaram o
acordo?
— Nós fizemos amor, Em, — eu sussurrei, tão emocionada por
finalmente contar a alguém a verdadeira notícia monumental.
— Garota, você TRANSOU! Eu estou tão feliz por você! — ela exclamou,
rindo enquanto eu ficava cada vez mais quente e provavelmente vermelha.
Peguei seu sorvete e dei uma mordida enorme.
— Pegue o seu, Angie! — Em repreendeu de brincadeira.
— Oh, desculpe. Eu só precisava resfriar o ar. — Eu ri de volta.
Em, ainda impressionada com minha ousadia, começou a gritar.
— Tudo bem então, minha deusa. É hora de uma festa de despedida, —
ela brincou. Sobre o que ela estava falando? Quem estava indo embora? Eu
lancei a ela um olhar perplexo.
— Pela sua virgindade, — ela explicou e pediu meu próprio sundae de
sorvete.
As coisas finalmente voltaram ao normal.
Eu verifiquei meu telefone para ver a hora. Em e eu ainda tínhamos
muito o que conversar, mas então meus olhos se fixaram nas notificações
no meu telefone.
Eu tinha mensagens esperando por mim.

Didi: Escute, Angela, preciso me explicar.

Didi: Podemos nos encontrar?

Capítulo 17
Um Universo Secreto
Angela
A única coisa que eu sabia sobre Didi era que ela era uma mentirosa.
Ela mentiu sobre quem ela era, o que ela queria e por que ela me
contratou.
Didi tomou um gole de café. Eu tomei um gole do meu. Nós não
falamos.
Não conversamos pelos últimos doze minutos.
Eu realmente não tinha muito a dizer.
Não havia razão para a ex-noiva de Xavier estar na minha vida, muito
menos no meu café favorito em Chelsea.
Eu não queria falar com ela.
Eu nunca teria falado com ela se soubesse quem ela era, mesmo se ela
tivesse dito a verdade desde o início.
Mas ela não o fez.
— Eu não sei o que dizer, exceto que eu sinto muito. Sério, — Didi disse,
com seus olhos penetrantemente intensos. — Por favor, diga-me o que
posso fazer para consertar as coisas e farei isso.
— Eu não sei como você pode consertar isso, Didi...
— Na verdade, é Claudia. Eu escolhi Didi para que Xavier não soubesse
que eu estava contratando você, — ela admitiu. Eu não podia acreditar até
onde Didi, quero dizer, Claudia, tinha ido — e para quê?
— Por que você fez isso? — Eu perguntei.
— Bem, você sabe que Xavier e eu estivemos juntos por quase uma
década e...
— Não, por que você me contratou? — Eu indaguei, sem saber se
deveria esperar uma resposta verdadeira.
— Eu acho... é porque eu preciso da sua ajuda, Angela. Eu preciso
muito disso, — ela disse, nervosamente mexendo em seu café. — Você vê
que este não é o primeiro erro que cometi...
Qualquer erro que Claudia estava lutando para trazer à tona era
pesado. Eu podia ver isso em seu rosto. Mas não saber o que era, me
sufocou, me deixou enjoada, embora fosse problema dela.
Eu precisava saber o que era.
— Todos nós cometemos erros, Claudia. O que há de errado? — Eu
pressionei. Ela não respondeu, então fiz outra pergunta. — Quando isso
aconteceu?
— Três anos atrás... quando Xavier me engravidou.
Engravidou?
Isso significa que... não poderia ser.
Xavier não tem filho.
— Não importa a direção que Xavier e eu estivéssemos indo, sempre
parecia que estávamos batendo um no outro, — Claudia disse em uma voz
distante. — Ele estava com tanta raiva de tudo e de todos.
Eu sabia que ela era uma mentirosa, mas suas palavras soaram
verdadeiras, me atingindo como se eu fosse uma igreja abandonada.
E Claudia estava sentada lá em confissão.
— Eu era o seu saco de pancadas emocional, a única pessoa a quem ele
podia dizer qualquer coisa e que pensava que nunca daria o troco. Eu nem
me sentia mais humana.
— Mas vocês eram noivos, certo?
— Sim. Nós íamos nos casar, basicamente nos odiando. Eu não poderia
fazer com que algo tão especial parecesse um castigo para ele ou para
mim. Então eu terminei. Eu terminei todo o nosso relacionamento.
Terminou?
— Xavier descreveu isso um pouco diferente. Ele disse, — eu limpei
minha garganta, — que ele pegou você com outro homem.
Didi suspirou:
— Sim, é verdade. Xavier queria tentar resolver as coisas depois. Eu
recusei.
— E o bebê? — Eu perguntei, pensando na menina ruiva na foto na
mesa de Didi.
— Ela tem três anos agora. O nome dela é Sophie, — disse Claudia. —
Ela não é apenas minha filha. Ela é meu universo. Antes de ela nascer, não
tive coragem de contar a Xavier sobre ela.
Eu não pude acreditar.
Xavier... tinha uma filha.
Uma filha que ele não conhecia.
Uma filha com Claudia, alguém que eu não conhecia.
Eu podia sentir meu estômago afundar dentro de mim como se
estivesse cheio de cimento.
Uma emoção tremia pelo meu corpo, a sensação de cimento subindo
pela minha garganta, onde um caroço estava crescendo. Eu me senti como
uma estátua congelada de dor, deixada em um museu para apodrecer na
solidão observada.
Sua confissão foi demais para eu aguentar.
Meus ossos congelaram dentro de mim como fósseis.
Meus pensamentos eram armadilhas pegajosas e sujas das quais não
podia escapar, profundas o suficiente para me afogar inteira.
Os olhos de Claudia estavam brilhantes de vergonha.
— Eu fui uma idiota. Eu sei disso. Eu não estava pensando em Sophie,
ou que ela precisaria de seu pai. Eu estava pensando em mim e em como
eu precisava ficar longe dele, — Claudia elaborou, com uma respiração
instável.
Cada uma de suas palavras foi um anzol agarrado à minha carne.
Eu não sabia qual linha me puxou ainda mais para o desespero.
Seria a filha de Xavier que vivia sem ele, como um membro fantasma?
Era porque Claudia estava tão desesperada para se reconectar que ela
estava disposta a me manipular?
Será que nossa amizade tinha sido apenas um estratagema para se
aproximar de Xavier?
Ou foi o fato de que Xavier e minha futura família foram destruídos
antes mesmo de começar?
— Agora, é tarde demais para dizer a Xavier. Se ele descobrisse que
perdeu três anos da vida de sua filha, seria insuportável — continuou
Claudia.
— Então você acha que ele deveria perder mais memórias? — Eu
ponderei em voz alta.
Era errado para ela manter esse segredo — essa pessoa — de Xavier.
Ele tinha o direito de se envolver na vida da filha, não tinha?
Ela não queria que ele estivesse presente na vida da filha, e não apenas
ser um estranho com o mesmo DNA?
— Escute, Angela. Você está apenas ouvindo os fatos. Há anos agonizo
com eles, — afirmou Claudia. — Ser mãe solteira é como tentar construir
uma montanha de areia. E acordar sabendo que, mesmo que você esteja
fazendo o seu melhor, nunca será boa o suficiente.
Pensei em meu pai e em como tínhamos sido duros com ele quando ele
nos criou sozinho. Ele nos deu tudo o que tinha, mas sempre pedimos mais
tempo, mais esforço, mais ele.
Não é de se admirar que, quando fôssemos adultos, seu coração estava
se partindo. Tínhamos retirado muito de sua saúde para nós mesmos.
Eu ainda não entendia por que Claudia não queria que Xavier soubesse
sobre o bebê, mas foi um grande sacrifício — para ela e sua filha — e um
que eu não conseguia entender. Mesmo que eu tentasse. Porque eu estava
do lado de fora, olhando para dentro.
Ela estava certa. Não era minha função julgar suas escolhas ou seu
silêncio.
— Eu ganho um bom dinheiro na Animas, mas não é o suficiente para
criar uma filha, especialmente sem pensão alimentícia, — observou
Claudia.
— Xavier pagaria isso. É sua responsabilidade, — eu disse.
— Não. Eu não posso pedir isso. Não posso complicar suas vidas mais
do que já fiz. Já fui muito egoísta, Angie — disse Claudia, colocando a mão
sobre a minha em simpatia. — Não posso pedir mais nada, exceto que você
mantenha meu segredo.
Naquele segundo, percebi que, ao não pedir nada, Claudia estava pedindo
tudo.

Xavier
Eu mal podia esperar que Angela voltasse para casa.
Honestamente, eu queria arrancar a porra do relógio da parede,
quebrar o tempo pela metade para que ela pudesse vir mais cedo.
Eu não queria mais foder ninguém além do meu anjo, mas queria
possuí-la o tempo todo.
Eu tive muitas mulheres bonitas na minha cama, mas Angela foi a
primeira pessoa com quem eu realmente me conectei... a primeira em que
realmente confiei. Por completo.
Eu amei Claudia. Mesmo. Eu amei sua voz, sua atitude ousada, o jeito
que ela não aceitou nenhuma das minhas besteiras. Mas, na realidade, ela
pensava que eu era uma grande besteira.
Quando ela foi embora, isso foi o suficiente para me cortar ao meio.
Eu senti como se minhas melhores partes tivessem desaparecido.
Mas quando descobri que ela me traiu com meu melhor amigo, Daniel,
percebi que ela era a pior parte de mim.
No início, doeu tanto que eu não conseguia respirar. Ou falar. Ou me
mexer.
Mas então... foi como uma injeção de Novocaína no coração. Eu estava
tão entorpecido... Eu não era eu. Eu era um manequim que podia andar.
Então foi isso que eu fiz — eu caminhei. No mundo todo. Entrando e
saindo de resorts caros, carros caros e mulheres caras.
Até Angela. Ela me deu o poder de sentir novamente, e a noite passada
foi tão gostosa. Sua pele macia na minha...
Por um lado, ela me fez querer fazer coisas de relacionamento, como
abraçar.
Por outro lado, eu queria jogá-la na mesa da cozinha e transar com ela
até que o mogno se partisse ao meio.
Agora eu estava morrendo de vontade de ela voltar para casa, segurála
contra meu peito e beijar o mundo todo.
Foi quando ouvi passos se aproximando.
Assim que Angela entrou pela porta, eu corri na sua direção,
levantando-a, entrelaçando suas pernas em volta dos meus quadris. Eu a
joguei no sofá, deixando beijos em sua cabeça, queixo, clavícula.
Peguei sua mão, colocando um beijo suave nela.
E então coloquei meus dedos em seu coração. Estava
batendo fora de controle.

Angela
Xavier estava a centímetros do meu rosto, mas a uma galáxia de distância.
O silêncio que prometi a Claudia deslizou entre nós, ocupando muito
espaço.
Ele me viu, me viu de verdade, mas não conseguiu se conectar de
verdade comigo. Porque eu estava escondendo algo. Minha armadura
estava levantada, embora eu estivesse deitada em cima dele.
Eu o estava protegendo da verdade.
— Você é o meu mundo inteiro, Angela, — Xavier professou,
mordiscando o lado da minha orelha. As ondas de choque prazerosas
galopavam por mim, tentando me distrair dos fatos que me consumiam
por dentro.
Percebi que, sim, eu era o seu mundo.
Mas Sophie... sua filha... ela poderia ser seu universo.
Fechei meus olhos, desejando, pela primeira vez, realmente manter a
verdade dentro de mim.

Capítulo 18
Virando o jogo
Angela
Xavier era alérgico a manteiga de amendoim, mas adorava chocolate.
Deitei esparramada ao longo da mesa da cozinha enquanto ele regava
cacau derretido para cima e para baixo de minhas coxas, seguindo os
caminhos açucarados com a língua.
Eu podia sentir meus dedos me segurando enquanto a sensação
tomava conta de mim, podia senti-lo deslizar meu vestido do meu peito,
com a confeitaria quente caindo em círculos na minha pele.
Xavier colocou seus lábios contra meus seios, limpando a calda de
chocolate com a língua. Ele permaneceu se pressionando contra mim, sua
respiração colidindo com o calor.
O ar frio na minha carne molhada me fez estremecer de prazer
enquanto ele colocava a boca no meu mamilo e o chupava suavemente.
Ele olhou para mim, seus olhos travessos enquanto minha respiração
ficava instável.
Eu busquei ar quando Xavier cavou uma colher profundamente no
chocolate derretido e jogou em meu vestido.
— Xavier! — Eu exalei, chocada que ele estava fazendo isso. Mas antes
que eu pudesse questioná-lo mais, ele puxou minha cabeça contra a dele
para um beijo profundo e ofegante.
— Acho que você vai ter que tirar, agora está sujo, — ele disse,
desembrulhando meu vestido e deixando-o no chão.
Seus dedos tiraram minha calcinha, abandonando-a no chão enquanto
ele se aproximava de mim.
Eu caí de costas enquanto ele me beijava de cima a baixo no meu torso,
minhas pernas, meu pescoço.
Enquanto eu me contorcia de alegria, a mesa fria da cozinha me deixou
ainda mais excitada.
Mordi meu lábio com força, agarrando cada parte de Xavier que eu
podia alcançar.
Respirações sônicas profundas começaram a escapar de mim.
— Oh, Angela, — Xavier sussurrou. — Meu anjo, meu...
A campainha da porta tocou de repente, interrompendo nossos
movimentos.
Xavier rosnou enquanto seus olhos piscavam em direção à porta.
— Não se mova, — ele avisou, se afastando de mim.
Eu ri e rolei sobre meu estômago, observando seu corpo nu disparar em
direção ao elevador.
— O que é? — Xavier gritou ao interfone. Sua mão se abaixou,
envolvendo em torno de sua masculinidade ereta e movendo-se
languidamente para cima e para baixo.
Eu mordi meu lábio. Assistindo. Espera. Querendo.
— Desculpe interromper seu fim de semana, Sr. Knight, — o porteiro
disse através do dispositivo. — Só quero que você saiba que acabei de
deixar um visitante subir.
Os olhos de Xavier se arregalaram, sua mão parando seus movimentos.
— O quê?
— Ele disse que era o pai da Sra. Knight, — disse o porteiro, e então sua
voz foi cortada quando Xavier soltou o botão de chamada.
— Puta merda, — ele disse, com os olhos disparando das portas do
elevador para o meu corpo nu. — Porra, porra, porra.
Rolei para fora da mesa, pegando meu vestido do chão, enquanto ele
corria de volta para a cozinha e, ao acaso, pegava um alqueire de bananas
e os segurava contra sua virilha.
— Isso não vai funcionar, — eu sibilei, conseguindo puxar meu vestido
pela cabeça quando as portas do elevador se abriram.
— Filhinha! — meu pai anunciou, entrando na sala de estar.
Em pânico, Xavier caiu no chão atrás da bancada da cozinha.
— E-ei, pai, — eu disse, enrubescendo e tentando não pensar no
chocolate pegajoso por toda a minha pele, vestido e cabelo.
— O que você está fazendo aqui?
Os olhos de papai se arregalaram quando ele viu minhas roupas, o
recipiente de calda de chocolate na mesa e...
Oh.
Meu.
Deus.
Meu sutiã azul marinho estava no chão, na terra de ninguém entre meu
pai e eu.
Fiquei tão envergonhada que tive vontade de bater na parede e
selarme dentro do gesso.
Eu estava tão animada que Xavier e eu estávamos finalmente
conhecendo os corpos um do outro, para traçar os mapas na pele um do
outro.
Mas papai não deveria ser uma testemunha disso!
— Bem, — papai começou, — vim fazer uma surpresa para você, mas
posso ver que peguei você no meio de alguma coisa.
— Como você sabia onde me encontrar? — Eu perguntei, distraindoo
para que eu pudesse dar uma olhada em Xavier.
Ele tinha se arrastado até o final do balcão e estava tentando pegar sua
calça de moletom Versace. Eles ficaram onde haviam sido descartados sem
cerimônia no final da mesa de jantar, apenas fora de seu alcance.
— Eu peguei o endereço com Em, — papai disse, observando enquanto
eu abria caminho até as calças. — Como eu disse, queria fazer uma
surpresa para você.
Chegando ao final da mesa, chutei a calça de moletom para a cozinha.
— Surpreender-me como?
— Bem, eu vi as notícias, — disse papai. — Então, pensei em vir e lhe
dar um presente de chá de bebê antecipado.
Meu estômago embrulhou. Eu adiei dizer ao meu pai que não estava
realmente grávida, recusando-me a retornar suas ligações. Não porque eu
queria ignorá-lo, mas porquê... responder à pergunta tinha sido demais.
Parecia que tudo o que eu estava fazendo era responder à pergunta.
E eu sabia que papai ficaria muito feliz com a notícia de uma gravidez,
com a notícia de um neto. Eu só não queria matar sua alegria. Mas agora
ele estava aqui.
Eu deveria saber que ele não esperaria eu retornar sua ligação.
— Pai, eu… — eu comecei, mas Xavier, tendo lutado para colocar suas
calças, me salvou de responder.
— Sr. Carson, — ele disse, surgindo atrás do balcão.
Os olhos do meu pai dispararam quando ele viu o peito nu de Xavier.
— Bonitão... Eu estava me perguntando onde você estava. Vocês dois
deveriam, ah, se endireitar. Danny está a caminho.
— Danny? — Eu me perguntei.
— Sim, nós dois vamos construir um berçário para você.
Oh, Deus. Eu abri minha boca para falar, mas as palavras não saíram.
Papai estava tão animado com isso. Se eu pegasse isso dele, quebraria
seu coração, fisicamente.
Eu não podia arriscar dizer a verdade a ele, não é?
Xavier não me notou em pânico silencioso. Ele tentou dizer ao papai o
que eu não conseguia.
— Isso é completamente desnecessário, Sr. Carson, não estamos
esperando um...
— Eu sei que vocês, Knights, provavelmente têm construtores e
designers de classe mundial — este é o lugar que você tem aqui — mas um
bebê precisa de algo construído com o carinho que só a família pode dar,
— papai disse, interrompendo-o.
Eu tinha que dizer algo antes que ele começasse a quebrar paredes.
— Obrigado, pai, sério. Mas eu não estou grávida, — eu disse.
— Eram apenas notícias de tabloide. As pessoas escrevem todo tipo de
coisas malucas sobre minha família, Sr. Carson, — Xavier elaborou.
Meu pai franziu a testa em descrença.
— Então por que você esperou tanto para dizer isso? — ele sondou, se
aproximando de mim.
— Bem... eu, uh, nunca disse a ninguém que estava grávida em
primeiro lugar. Foi... hum... um boato que outra pessoa começou, — eu
tentei explicar, com muito medo de admitir que gostava da sensação de
suas esperanças estarem crescendo.
Gostei da sensação de fazer meu pai feliz.
Deixando-o orgulhoso.
E dizer a ele parecia... machucá-lo.
— Mas espere, vocês dois estão aparentemente tentando como loucos,
— papai afirmou, não querendo aceitar que ele não teria um neto tão
cedo. — Pelo amor de Deus, você está coberta de calda de chocolate,
Angie.
Fiquei boquiaberta. Eu vi Xavier tentando segurar sua risada por dentro.
— Sr. Carson, agradeço seu... interesse, mas isso é particular, — ele
conseguiu dizer, puramente por minha causa, eu sabia. Mas papai não
estava aceitando. Suas perguntas tornaram-se ainda mais invasivas.
— Vocês dois estão usando proteção? — Papai questionou, como se
estivesse tentando chegar ao fundo desse mistério.
Mas essa foi a gota d'água para mim.
Eu não poderia ficar na cozinha um segundo a mais, não depois que
meu pai, meu pai. estava comentando sobre essa situação.
Eu fugi da sala. Parecia que havia baratas rastejando sob minha pele.
Por causa de como isso tinha sido nojento, sim, mas também porque as
intuições de meu pai estavam corretas. Não estávamos usando proteção.
Eu posso estar grávida.
Deus, eu esperava que não estivesse. E depois do que descobri hoje
cedo...
Xavier nem sabia sobre seu primeiro filho.
Minha respiração ficou instável enquanto eu pensava sobre o que
significaria trazer uma criança para nossa família destruída, para todos
esses segredos abrasadores e mentiras desequilibradas.
Eu me recompus quando meu celular tocou.

Em: Angie, estou atrasada.

Em: Estou ATRASADA!

Angela: Para qu ê ?

Em: meu CICLO est á atrasado.

Em: Acho que estou gr á vida.

Em: Mds, chorando...

Angela: Voc ê fez um teste?

Em: Comprando um agora.


Angela: Compre 2.

Angela: Por favor.

Em: Espere, o qu ê ?

Em: Tipo, 1 para voc ê ?

Angela: Sim.

Em: Mds!

Xavier
Isso já se tornou ridículo pra caralho.
Angela e eu fizemos sexo uma vez.
Uma e meia se você contar antes de Ken nos interromper.
Ela não estava grávida. Todo mundo queria tanto que ela estivesse, de
nossos pais aos tabloides, que ela se convenceu de que poderia estar.
Quando Em veio com o teste, ela trouxe uma porra de uma comitiva
com ela.
Lucas e Danny entraram com ela como se fôssemos assistir futebol,
jogando high-five e abrindo algumas cervejas. Parecia um circo, como se
Angela e minha noite íntima tivessem se tornado um evento público.
Eu não conseguia acreditar que esses eram os pensamentos que eu
estava tendo, mas tudo que eu queria era ficar sozinho com minha esposa!
Aninhado ao lado dela. Sentindo sua pele, seu calor, seu conforto.
Mas em vez disso, eu tinha isso.
Essa comoção.
Esse caos.
E não havia nada privado, nada reconfortante nisso.

Angela
Lucas, Danny e papai estavam espreitando do lado de fora do banheiro
enquanto Em me entregava o teste.
— Gente, Angela e eu precisamos de privacidade, — disse Em. Eles não
se mexeram.
— Estamos muito animados e queremos estar com vocês, a cada passo
do caminho, — Lucas empurrou de volta, recusando-se a nos dar espaço.
— Você vai nos assistir fazer xixi nos testes? — desafiou Em. Eu amei
como ela sabia como falar por si mesma — e por mim — sem nenhum
medo. Ela empurrou os homens para fora da sala e fechou a porta.
— Desculpe, eles insistiram em vir, — Em sussurrou. — Parte da razão
pela qual eu queria que eles saíssem daqui é para que eu pudesse me
desculpar por ser tão chata no outro dia.
Eu levantei minhas sobrancelhas em surpresa. Eu não tinha julgado Em
pela raiva que ela sentiu de mim quando ela pensou que eu estava grávida,
mas a memória permaneceu.
Honestamente, achei que ela me apoiaria sob uma tempestade na
mídia, e não ficaria desapontada por ela não ser a única com as notícias.
Ela me entregou o teste de gravidez e olhou para a parede do banheiro
enquanto eu fazia xixi nele. Na faculdade, nós dividíamos banheiros o
tempo todo. Ela mal fechava a porta quando éramos colegas de quarto no
ano passado.
Isso era normal para nós, mas ainda assim, com apostas tão altas,
parecia algo além de íntimo.
— Eu fui uma melhor amiga de merda, Angie. Eu estava tão brava por
não ser capaz de engravidar, e me culpei por tanto tempo, que no segundo
que soube que você estava esperando um bebê, projetei todas as minhas
inseguranças confusas em você, — Em admitiu.
Eu inalei suas palavras, o que tornou o ar espesso e vulnerável.
Levantei-me e coloquei o teste no balcão enquanto Em pegava o dela.
— Tudo bem. — Eu sorri pra ela. — Eu sei que você está passando por
muita coisa também. Estou muito feliz por estarmos fazendo isso juntas
agora.
— Eu realmente quero isso, Angie. Para nós duas, — ela disse.
Eu encarei a parede, sorrindo.
Foi tão bom receber um pedido de desculpas sem ter que pedi-lo. Já
havia desistido de nossa pseudo-briga. No entanto, era importante que
Emily não tivesse.
Ela bateu seu teste ao lado do meu. Eu me virei para ela.
— Você sabe que será uma mãe incrível, uma mãe muito legal, assim
que chegar a hora certa.
Em pegou minha mão e então ela acenou com a cabeça.
— Só espero que a hora seja agora.
Tentei manter meu sorriso firme, mesmo com a preocupação correndo
em minha mente. Eu não. pensei comigo mesma. Eu realmente não sei.

Xavier
Para a família de Angela, os vinte minutos que as meninas levaram para
fazer os testes de gravidez foram insuportáveis.
Para mim, foi uma perda de tempo.
Angela não engravidaria depois de um ataque de intimidade. A
probabilidade disso era quase nenhuma.
Se fosse algo que realmente aconteceu, você sabe quantos filhos eu
teria por aí?
Isso era ridículo.
E Ken estava ficando ainda mais ridículo a cada segundo.
— Aposto que as duas estão grávidas, — previu ele, agarrando o braço
de Lucas. — Eu sinto isso nos meus ossos.
— Isso seria tão fofo, — concordou Danny, me surpreendendo com seu
entusiasmo. Danny era o mais varonil da família e aqui estava ele delirando
como uma universitária.
— Os bebês podem ser melhores amigos. Poderíamos comprar roupas
combinando para eles e fazer festas de aniversário em conjunto.
— Você realmente acha que elas estão grávidas ao mesmo tempo, e
que têm a mesma data de parto? — Eu soltei. — Isso é ridículo.
Lucas olhou para mim.
Ridículo.
Foi a única palavra que passou pela minha cabeça.
— Você não está nem um pouco animado para ter um bebê? — Lucas
perguntou, olhando para mim como se ele não pudesse me entender. Era
isso.
— NÃO HÁ BEBÊ NENHUM! — Eu trovejei.

Angela
Em e eu olhamos para nossos testes, os resultados desaparecendo
lentamente. Eles estavam um ao lado do outro, e meus olhos voaram de
um para o outro.
Eu podia sentir cada músculo dentro de mim ficando tenso.
Meus pulmões estavam tendo dificuldade para conseguir ar.
Meus dedos tremiam.
Meus joelhos dobraram.
E foi então que apareceram os resultados.
As pequenas marcas, claras como o dia.
Um dos testes deu negativo. Foi o que vi primeiro.
Mas o outro... Eu olhei para Em, com nossos olhos cheios de lágrimas.
Uma de nós estava grávida.

Capítulo 19
Uma pausa grávida
Angela
Em saiu do banheiro antes de mim, seus olhos brilhando com lágrimas de
alegria.
— Estou grávida! — Ela aplaudiu, e a sala explodiu em excitação. Todos
ficaram em êxtase com a notícia.
Exceto por mim.
Não sabia explicar, mas um pedaço de mim queimou de decepção.
Eu gostaria de estar grávida?
Não, não havia como.
Xavier e eu estávamos descobrindo como amar um ao outro.
Não seria justo levar uma criança a essa loucura.
Agora não, pelo menos.
E isso foi antes de pensar em toda questão Claudia/Didi.
Enquanto eu observava Em pular nos braços de Lucas, meu pai pegando
os dois em um abraço exultante, eu percebi qual era a âncora que fazia
meu estômago afundar.
Não fiquei desapontada. Eu era a decepção. A única coisa, a única coisa
importante para nossos pais era dar a eles netos, adicionar galhos à árvore
genealógica que eles plantaram para nós. E eu não estava fazendo isso. Eu
não estava pronta — ainda não.
Xavier estava pronto?
Então me dei conta.
Ele já tinha uma filha.
Como ele poderia não saber? Ele ao menos queria saber?
Não era como se Claudia ainda estivesse com ele, certo? Se ele
descobrisse... ele gostaria de voltar para ela?
Não era como se eu pudesse impedi-los. Eles eram uma família. Xavier
e eu éramos um acordo.
Eu lancei um olhar para Xavier enquanto Emily jogou os braços em volta
de mim, colocando a cabeça no meu ombro em êxtase.
— Não acredito que vou ser mãe, Angie. Eu não sabia que podia me
sentir tão feliz, — ela sussurrou.
Eu a apertei com todas as minhas forças, sorrindo.
— Eu te amo, Em. E eu também a amarei.
— Quem disse que estou tendo uma menina?
— Eu disse. — Eu ri, deixando os pontos de interrogação dentro de mim
se transformarem em pontos de exclamação. Todo mundo estava
comemorando. Lucas estava brilhando, radiante de excitação, como se
tivesse engolido o nascer do sol. Nunca o vi tão luminoso.
— Então ela será sua sobrinha. A melhor parte de tudo isso é que
minha família é sua família agora, — disse Emily.
Naquele momento, eu queria esvaziar todos os arquivos de dor dentro
de mim, dobrar todos os meus medos em guindastes de papel e, em
seguida, dar cada pedaço de mim para Em e sua futura filha.
Fiquei feliz por ela — por todos nós. Nada era mais importante do que
essa criança.
Isso foi o que eu disse a mim mesma, repetidamente. Mas os medos
confusos do que Xavier não sabia — o segredo que eu agora estava
mantendo ativamente — ainda ocupavam um canto escuro assustador em
minha mente.

Xavier
Quando soube da notícia, meu pai insistiu que ele levasse toda a família
para um jantar de comemoração no lugar mais exclusivo que pudesse.
O pai e os irmãos de Angela estavam entusiasmados com a comida
gourmet gratuita, mas não sabiam realmente o preço.
Quando a família de Angela encontrou seus lugares no elegante
restaurante de sushi, papai entrou com as mãos entrelaçadas nas de Penny.
Eu olhei para Angela.
Como ele poderia trazer essa mulher para nosso evento familiar
particular?
Ela não era nada além da drogada que uma vez implorou para estar na
minha cama.
Tentei controlar minha respiração, para abafar minha raiva, mas vêlos
juntos ainda foi um choque para mim.
Ao mesmo tempo, porém, meu pai parecia feliz. Ele estava
praticamente brilhando.
Eu não o tinha visto rir tanto em décadas.
Talvez tenha valido a pena essa situação fodida.
Ele merecia ser feliz.
Enquanto o garçom nos servia martinis de lichia de cor creme, eu tomei
um gole generoso.
Angela percebeu e apertou minha mão, mas eu estava muito ocupado
observando meu pai.
Ele não conseguia tirar os olhos de Penny, não conseguia parar de sorrir
para ela.
Eu bebi mais.
Ele merece ser feliz, eu me lembrei.
Mas então meu olhar mudou para ela.
Ela estava claramente tentando minimizar a questão — ela usava uma
camiseta casual de grandes dimensões e alguns jeans rasgados.
Mas ela não conseguia esconder a bolsa de grife Chanel pendurada no
ombro, ou a pulseira de platina com diamantes em seu pulso.
As vantagens de namorar um Knight. Pensei antes que pudesse me
conter. E isso foi o suficiente para a raiva mostrar seu rosto.
— Penny, deve ser bom estar sentada em um restaurante sofisticado,
sem ter que cantar. — Eu a golpeei com minhas palavras.
— Bem, eu adoro cantar, mas estar aqui é bom, — Penny respondeu,
ilesa.
— Sempre é! — Papai concordou, sorrindo.
Nossos aperitivos haviam chegado e eu não perdi tempo em enfiar na
boca atum apimentado com molho de pêssego.
Depois de literalmente escolher minha esposa, o homem não
conseguiu considerar meus sentimentos — ou mostrar decência humana
— antes de tentar substituir minha mãe.
Eu simplesmente não conseguia entender o que ele viu nela. Sua
história com Jacques, o psicopata. Seus traços delicados, seu cabelo
encaracolado.
Ela era gostosa, mas não gostosa pra casar.
Ela era um tapa buraco.
Era isso.
E agora que ela estava presa ao quadril de meu pai, empurrando-a
direto para os holofotes de Knight, toda a cidade de Nova Iorque tinha um
passe de acesso total para a recuperação de meu pai, décadas em
formação.
Mas apesar de tudo isso, apesar da imprensa negativa e das bocas
abertas ao vê-los, era como se ele nem se importasse.
E a reputação dos Knights era algo com que papai sempre se
preocupou.
Foi por isso que ele se levantou de manhã e foi o último pensamento
que teve antes de dormir.
A única razão pela qual ele me deixou escapar impune foi porque eu era
seu filho. Ele amava ser meu pai mais do que ser um Knight.
Então me dei conta.
Penny significava tanto para meu pai?
— Você realmente acha que ele está feliz? — Sussurrei no ouvido de
Angela.
Ela inclinou a cabeça para Brad, que estava rindo enquanto assistia
Penny lutar com seus hashis. O pãozinho de manga com salmão da garota
estava virando mingau em seu prato.
— Não é óbvio? — Angela sorriu de volta para mim.
Brad
Eu queria ser feliz, de verdade.
Penny era suave e especial. Ela não conseguia preencher o vazio da
minha esposa perdida, mas sua voz delicada era como um fio carmesim
que poderia costurar a ferida com alegria.
Mas sentar naquela mesa, comemorando o nascimento do neto de
outra pessoa, me fez ansiar por mais. Por uma nova vida, um neto meu.
Xavier e Angela estavam juntos há um ano, um ano inteiro, e ainda não
se falava sobre planejamento familiar. Mesmo que eu nunca tivesse
deixado os dois me ouvirem dizer isso, me doeu. Eu não queria nada mais
do que mimar um ou dois netos meus!
— Parabéns ao meu filho maravilhoso, Lucas, e à sua linda esposa, Em!
É uma pena que você não tenha tido essa notícia quando eu estava doente.
Eu juro, ouvir que eu estava tendo um neto teria consertado meu coração e
nos salvado de muito estresse! — Ken brincou, enquanto todos ergueram
suas taças de cristal em comemoração.
Não pude deixar de sentir um pouco de ciúme do homem. Nós dois
fomos criados por mundos diferentes. Não havia dúvida sobre isso. Meus
mocassins de couro italiano e suas botas arranhadas pertenciam a
universos diferentes, mas o pai de Angela parecia feliz.
O homem tinha passado por tudo com sua saúde no ano passado e,
ainda assim, eu nunca tinha visto uma pessoa mais alegre.
Era como se ele tivesse tudo o que poderia desejar. Como se ele
estivesse contente.
Eu nunca estive contente em minha vida, sempre precisei da próxima
coisa. Caramba, eu estava fazendo isso agora, pensando em pressionar
meu filho a ter filhos apenas para que eu pudesse conhecer a alegria de ser
avô.
Eu me levantei da mesa, tremendo. Eu não queria que minha família
me visse assim — tão descontrolado.
— Com licença, — eu murmurei e corri em direção aos banheiros, em
direção à privacidade, em direção a um lugar onde eu pudesse ficar de mau
humor sem falar tudo sobre mim.
Sob a luz fraca das lanternas penduradas sobre mim, joguei um pouco
de água no rosto. Inspire. Expire. Inspire. Expire.
Recomponha-se.
Eu me virei para a porta, observando enquanto Ken entrava. Tentei fixar
um sorriso em meu rosto.
Brilhante.
— Muito obrigado por nos trazer aqui. Este restaurante é excelente.
Juro que nem os peixes resistiriam a esse sushi, — ele disse.
— É um prazer, Ken. É o mínimo que posso fazer. Eu não posso acreditar
que Em e Lucas acabaram de se casar e já estão tendo filhos. É tão
emocionante, — eu disse, tentando manter minha dignidade, fazer a coisa
honrosa.
O homem tinha todo o direito de estar feliz.
— Eu sei que você está chateado, — ele respondeu.
— P-por que eu estaria? — Eu me atrapalhei, tentando manter minha
compostura. Não era frequente um homem me pegar de guarda baixa.
— Porque também estou chateado.
Eu fiz uma careta.
— Você está? Por quê?
— Angela e Xavier são um casal lindo. Já se passou um ano e estou...
esperando alguns netos lindos. Não é?
— Sim, — eu admiti. — Mas esta noite é sobre Em e Lucas.
— Nah, é sobre família, — Ken disparou de volta. — Brad, você e eu
somos uma família e precisamos encorajar nossos filhos a construir as suas.
— Você quer dizer a eles o que está em nossas mentes? Isso é como
pressão de grupo, Ken. Eu não posso fazer isso...
— Oh, mas eu posso.
Eu olhei para o homem na minha frente, vendo um brilho em seus
olhos.
— O que você está falando? — Eu perguntei.
— Um pouco de culpa para ajudar a fazer o truque. Pelo menos esta
condição cardíaca pode finalmente ser bem aproveitada.
Eu não pude evitar. Eu soltei uma risada. Fiquei chocado que Ken fosse
tão ousado, mas uma parte de mim também ficou impressionada.

Angela
Assim que o garçom ateou fogo ao sorvete frito, papai e Brad voltaram do
banheiro, trocando olhares amigáveis. Foi surpreendente e ótimo ver
Xavier e minha família se dando bem.
— Você tem que cavar primeiro, Em, — eu disse, entregando a ela uma
colher. Ela sorriu, esperando que as chamas parassem de ondular sobre a
iguaria, e então deu uma grande mordida.
— Ok, eu faria coisas ilegais por esta sobremesa. E sério! — ela
exclamou. — Vou ter um segundo filho só para podermos voltar a este
lugar.
— Ou podemos voltar quando você engravidar, Angela, — disse meu
pai.
Senti minhas bochechas queimarem, meu rosto provavelmente se
transformando numa rosa manchada.
— Angela é mais o tipo de garota tímida, Ken, você sabe disso —
respondeu Xavier facilmente.
— Você tem razão. Acho que o que estou tentando dizer é que vocês
dois estão casados há um ano, e Emily e Lucas acabaram de fazer seus
votos, — meu pai respondeu. O que ele estava fazendo?
Ele não precisava nos lembrar.
— Eles não estão prontos, — Brad interrompeu, um sorriso se
formando em seus lábios.
Eu vi nossos pais trocando olhares.
Eles planejaram uma emboscada no banheiro masculino?
Papai se esticou sobre a mesa e pegou minha mão.
— Angie, e se algo acontecer ao meu coração de novo? Não suporto a
ideia de deixar este mundo sem ter um neto seu para me despedir.
Ele não ousaria.
Parte de mim não conseguia acreditar na maneira como ele estava
jogando suas cartas, mas a outra parte se encheu de hipóteses. E se ele
estivesse certo?
E se tivesse que acontecer agora?
— Não diga isso, pai. Não posso suportar a ideia de que algo aconteça
com você, — respondi, sentindo o peso do mundo se comprimindo em um
nó na garganta.
Tentei desviar o olhar, mas ele não deixou.
— Você já está prestes a se tornar um vovô!
— E quanto a Brad? Xavier, você é seu único filho. Ele não merece um
neto?
Foi então que senti meu rosto perder a cor.
A verdade passou por mim em ondas elétricas.
Brad tinha uma neta e não sabia que ela existia.
Quando prometi guardar o segredo para Claudia, não apenas jurei
escondê-lo de Xavier. Eu também estava enganando Brad.
Meu sogro era a razão de eu ainda ter um pai. Ele não apenas me deu
Xavier, mas também salvou a pessoa mais importante da minha vida antes
dele.
Esconder a neta dele era como amputar um galho de sua árvore
genealógica.
Eu olhei fixamente para Xavier. Como ele poderia não saber?
O segredo parecia mil telefones tocando dentro de mim, precisando ser
atendidos.
As palavras estavam prontas para sair da minha boca. Então, coloquei o
máximo de sorvete possível lá dentro, praticamente devorando a
sobremesa inteira.
Xavier agarrou minha colher enquanto eu mergulhava para outra
mordida. Ele entrelaçou seus dedos nos meus, alarmado.
— Tem algo errado? — ele pressionou.
Eu balancei minha cabeça, fechando meus olhos com força. Contar a
verdade, aqui, na frente de todos, iria matá-lo. Eu precisava ficar em
silêncio, mesmo que isso estivesse me matando.
Mas ele não me deixaria morrer em paz.
Ele aproximou o rosto, olhando profundamente nos meus olhos.
— O que está acontecendo? Você está... escondendo algo?
Capítulo 20
O Preço certo
Angela
Angela: Podemos nos encontrar?

Didi: Voc ê est á bem?

Angela: Sim, é só que...

Angela: N ã o tenho certeza se posso manter


esse segredo por muito mais tempo.

Didi: Voc ê prometeu.

Angela: Eu sei.

Angela: Mas eu não gosto de esconder


coisas do Xavier.

Angela: Eu realmente acho que voc ê


deveria falar com ele...
Didi: Eu vou.

Didi: Em breve.

Angela: O que significa em breve?

Didi: H á algumas coisas que ainda preciso


resolver.

Angela: Que coisas?

Angela: Talvez eu possa ajudar.

Didi: Ok.

Didi: Vamos nos encontrar.

Didi: Posso explicar.

Eu não queria que Xavier soubesse para onde eu estava indo. Isso
significava que Marco também não poderia saber.
Então, peguei o metrô para o Bronx, correndo de um trem para outro
no frio intenso.
A última vez que peguei o metrô para o Bronx foi bem quando me
mudei para a cidade, quando os trens ainda me confundiam, e eu estava
muito preocupada em não parecer uma turista.
Agora, eu conhecia o sistema de metrô como a palma da minha mão.
E embora o fato de ser dirigido por Marco ter tornado o deslocamento
muito mais fácil, havia algo de muito libertador em navegar sozinha pelas
plataformas do metrô. Foi como uma lufada de ar fresco, bem quando eu
precisava.
Ao mesmo tempo, eu mal conseguia sentir. Eu estava cheia da dura
realidade de que Xavier tinha uma filha — com Claudia.
Claudia tinha que dizer algo sobre isso. Para ele. Eu não sabia por
quanto tempo mais eu poderia me torturar mantendo seu segredo.
Nós nos encontramos num parque em seu bairro no Bronx, o que foi
bom. Nunca veríamos um Knight nesta parte da cidade.
A menos que você conte comigo, eu me lembrei.
Eu me perguntei se eu era realmente uma Knight agora. Conspirando,
conhecendo mulheres pelas costas do meu esposo... talvez eu finalmente
tivesse ganhado meu lugar na família intocável.
Eu esperei no parquinho.
Claudia queria que nos encontrássemos no balanço. Ela não estava lá.
Eu esperei, sentada em um, com minhas pernas me balançando para frente
e para trás em ansiedade. Quando Claudia passou de cinco minutos
atrasada para dez, e depois para vinte, eu balançava mais e mais,
desesperada por uma distração.
E se ela não vier? Eu pensei. Terei que esconder a verdade de Xavier
para sempre?
Quando eu estava prestes a pular do balanço e sair correndo dali,
Claudia correu até mim, parecendo um pouco exausta e com frio. No
entanto, de alguma forma, seu cabelo ruivo brilhante era perfeito, mesmo
com o vento forte.
— Ei, desculpe, o trabalho me atrasou, — ela disse.
— Sem problemas..., — eu murmurei, sem saber por onde começar.
Eu diminuí o movimento do balanço. Ela se sentou ao meu lado.
— Tenho trabalhado muitas horas extras. A pré-escola está prestes a
começar e, claro, eles querem que as mensalidades sejam pagas com
meses de antecedência.
— Oh. — Eu poderia apenas dizer isso? Eu me perguntei. Posso apenas
dizer a ela que Xavier precisava saber?
Se ela não pudesse contar a ele, eu contaria. Eu não pude evitar. Nunca
fui boa em guardar segredos, muito menos de alguém que amava.
— Ouça... vou contar a Xavier sobre Sophie, — afirmou Claudia antes
que as palavras pudessem borbulhar na minha garganta.
— Quando?
— Quando eu puder.
— Por que você não pode fazer isso agora? — Eu me perguntei em voz
alta, pensando em como seria mais fácil ter a verdade revelada.
Claudia respirou fundo, com dor.
— As coisas não estão tão boas para mim financeiramente no
momento. Trabalhar para uma organização sem fins lucrativos não é, bem,
tão lucrativo. Sophie precisa de tantas coisas e não posso dar a ela. Se eu
for para Xavier agora, ele pensará que estou atrás de seu dinheiro, que
estou apenas tentando usá-lo...
Eu gostaria de não saber como era a sensação, mas podia me lembrar
vividamente de como Xavier me odiava quando pensava que eu estava
apenas em sua vida para tirar dele.
— Eu prometo, Angela, vou entrar em contato assim que tiver dinheiro
suficiente para garantir que nossa filha esteja na pré-escola. Apenas me dê
um pouco de tempo. Eu não vou dormir até que possa consertar isso. Faz
muito tempo que não tenho uma boa noite de sono — disse Claudia, com a
voz embargada.
Eu pude ver que ela estava usando todo o seu poder para não chorar, e
meu coração estava pesado no meu peito.
Não era justo.
Eu estava vivendo uma boa vida com Xavier, comendo caviar e
dormindo em lençóis de seda, enquanto Didi e Sophie mal conseguiam
sobreviver.
Eu assisti meu pai criar meus irmãos e eu como pai solteiro. Eu
reconheci a mesma luta em Didi, agora. Ela precisava de apoio.
— O que seria necessário para consertar isso? — Eu perguntei. Didi me
ajudou muito na minha carreira. Certamente havia algo que eu poderia
fazer em troca para aliviar sua carga.
— O que você quer dizer? — Claudia respondeu, com as lágrimas em
seus olhos se transformando em um brilho.
Dei de ombros, tentando pensar em coisas que poderiam ter ajudado
meu pai quando eu estava crescendo.
— Eu poderia ajudá-la a encontrar uma babá, comprar alguns
mantimentos... O que você precisa?
Os olhos de Didi caíram para o chão.
— O pagamento inicial para a pré-escola dela é o que mais está doendo
agora.
Respirei fundo. Eu sabia que as pré-escolas não eram baratas, embora
alguns milhares de dólares dificilmente prejudicariam as contas bancárias
de Knight. Eu tinha certeza que Didi me pagaria assim que as coisas
mudassem para ela...
— Se você não tivesse que pensar nas contas da pré-escola, você
contaria a verdade para Xavier? — Eu me perguntei.
— Você poderia fazer isso?
Mordi meu lábio, me perguntando se eu poderia... se eu deveria.
Era isso realmente o que eu estava oferecendo?
Parecia a melhor solução.
Colocar Sophie em uma pré-escola tiraria muita pressão de Didi. Talvez
com menos estresse, ela seria capaz de resolver contar a Xavier sobre sua
filha.
Dei de ombros.
— Se é disso que você precisa, por que não?!
— Mas por quê? Por que você me ajudaria? — Claudia sondou.
— Nós duas só queremos que isso funcione, certo? — Eu disse. — Para
Sophie. Vocês duas não precisam estar sozinhas. Posso te ajudar. Xavier
pode te ajudar. Mas você precisa ser honesta e dizer a verdade a ele.
— Tudo bem, — disse Claudia enquanto me agarrava, puxando-me para
um abraço caloroso. — Obrigada, — ela sussurrou em meu cabelo. —
Obrigada, Angela. Muito obrigada, — repetiu Claudia, com a voz ainda
trêmula.
Eu a abracei de volta, esperando que isso não fosse um erro.
Esperando que isso trouxesse Xavier mais perto de sua filha e não o
separasse de mim.

— MEU DEUS, você deu o dinheiro a ela? — Dustin gritou, derramando o


café com leite que ele estava me servindo.
— Bem, ainda não..., — eu disse, me perguntando se contar a ele era
uma boa ideia.
— Droga. Eu gostaria de ter o filho de um bilionário. Em vez disso, sou
apenas um artista faminto, fazendo café, tentando dormir nos intervalos,
— brincou Dustin.
— Dustin, — eu repreendi, olhando para os clientes bebendo café ao
nosso redor e esperando que nenhum deles estivesse ouvindo.
A última coisa que eu precisava era a notícia do filho da ex noiva de
Xavier chegando aos jornais antes que Didi tivesse a chance de falar com
ele.
Dustin encolheu os ombros.
— Se essa coisa de pintar não der certo, vou precisar de alguém para
cuidar de mim. Não tenho outros talentos.
Eu acenei para ele, tomando meu café com leite de lavanda. Então eu
tossi.
Nojento.
Parecia que eu estava comendo plantas enlameadas.
Tentei manter o gosto amargo na boca em segredo — e não rir porque
Dustin não era particularmente bom em fazer café.
Mas eu tinha que admitir, quando se tratava de correr riscos estranhos,
meu amigo foi o primeiro a experimentar florais no café. Isso valeu a pena.
— Isso não é verdade, — assegurei-lhe e depois nos direcionei de volta
ao problema em questão. — Então você acha que eu não deveria fazer
isso? Dar o dinheiro a ela, quero dizer.
— Se eu te dissesse que Xavier me engravidou, você me daria dinheiro?
— Isso não é uma piada, Dustin. Isso é sério, — eu choraminguei,
deixando cair meu rosto em minhas mãos.
— Desculpe, Angie. Eu sei que é. Estou feliz que você veio até mim para
desabafar, — observou Dustin, estendendo o braço sobre a mesa e dando
um tapinha na minha mão. — Mesmo se eu estiver piorando, pelo menos
você estava rindo um segundo atrás, certo? Mesmo que fosse apenas no
café com leite de lavanda?
Com isso, sorri. Eu estava feliz por ter ido até ele também.
O segredo me fez sentir tão solitária, como se houvesse uma caixa de
vidro ao meu redor e todos os outros estivessem apenas olhando para
dentro.
Alguém precisava saber o que eu estava fazendo, apenas para ter
certeza de que não sentia que tudo isso era apenas eu sonhando, presa e
pisoteada em um pesadelo louco.
— Não sei o que te dizer, Angie, — admitiu Dustin. — Eu acho que você
precisa confiar em seu instinto. O que parece certo?
Eu olhei para ele. Nada mais parecia certo. Eu não sabia como me meti
no meio dessa grande bagunça emaranhada. Mas eu sabia que não gostava
da ideia de Didi batalhando sozinha.
— Acho que preciso dar o dinheiro a ela, — decidi em voz alta.
— Vadia sortuda. — Dustin piscou e se inclinou para mais perto, com
seus olhos brilhando como sempre faziam quando ele fofocava. — Como
ela se parece?
— Quem?
Dustin revirou os olhos para mim.
Suspirei.
— Confiante. Ela também é bonita.
— Seja específica. Você acha que Xavier tem um tipo?
— Bem... ela é ruiva. Suas roupas são mais barulhentas do que um
show de rock and roll, — observei. Ele olhou para mim preocupado. — Isso
significa alguma coisa? — Eu perguntei, com meus olhos se arregalando.
— Hum... claro que não. Talvez ela fosse loira quando eles namoraram,
— Dustin respondeu.
— O que você quer dizer? Você acha que ele prefere estar com alguém
como ela?
Dustin tomou um gole de café, e seu nariz enrugou com o gosto.
— Querida, seu sobrenome é Knight. Isso significa que você é o tipo
dele.
— E se os tipos não importam? Quero dizer, Xavier é o tipo de todo
mundo. Nunca conheci uma garota que não estivesse interessada nele.
— Dinheiro é uma coisa muito atraente, querida, — Dustin me lembrou
enquanto caminhava para trás do balcão para jogar seu café com leite no
lixo e começar com alguns novos.
Eu senti minhas bochechas queimarem. Eu conhecia muito bem o
poder de atração do dinheiro.
Quando você olha para isso de forma objetiva, o dinheiro foi como eu
acabei me casando com Xavier em primeiro lugar. E agora eu estava
parecendo mal para uma mulher em uma situação igualmente
desesperadora.
Desde quando me tornei tão hipócrita?
Não deveria importar quem era o tipo de Xavier, quem era casado com
ele ou quem tinha seu filho. Didi era uma amiga, minha amiga, e ela
precisava de ajuda.

Depois de deixar Dustin, corri até o banco. O caixa sorriu para mim quando
coloquei meu código.
Seus olhos se arregalaram assim que viu a quantia na conta bancária
conjunta dos Knight.
Ele ainda estava confuso quando eu pedi o dinheiro.
— Eu, hum, gostaria de retirar dezesseis mil dólares, por favor, — eu
praticamente sussurrei.
O caixa me olhou de cima a baixo, mudando de me medir para
mensurar o que tinha na tela.
— Você é a única titular da conta? — ela me perguntou.
— Como é? — Eu respondi, confusa. A única titular da conta?
— Bem, para uma quantia tão alta, temos que notificar o custodiante
da conta sobre o saque, — disse ela. — Vou apenas verificar o arquivo da
conta.
— O guardião da conta? O que isso significa? — Eu questionei.
— Vamos apenas enviar um e-mail rápido para a pessoa que iniciou a
conta para ver se ela aprova a transação.
Minha pulsação acelerou. O suor começou a se formar ao longo do meu
couro cabeludo.
Eu não estava fazendo nada ilegal.
Tudo ficará bem, tentei me assegurar.
Mas ainda assim... era ruim. Era muito, muito ruim.
Eu não queria que Xavier descobrisse sobre sua filha assim, porque eu
fui traída por um banco! E ele saberia que Claudia não apenas mentiu para
ele, mas que eu também estava envolvida. E a única razão pela qual ele
descobriu foi porquê... porque...
— Espere... deixa pra lá, — eu gritei para o caixa. — Eu não preciso mais
do dinheiro, então se você pudesse cancelar o...
— Eu já enviei o pedido, — ele interrompeu, com a irritação escorrendo
de seu tom.
Acabou.
Qualquer chance de redenção, de resgatar Xavier do redemoinho que
ele estava prestes a ser sugado, se foi.
O objetivo de conseguir o dinheiro, de ajudar Claudia financeiramente,
era manter as coisas escondidas, mas agora tudo estava explodindo.
Não haveria sossego.
Na verdade, eu já podia imaginar o tipo de volume que me envolveria
assim que tudo ficasse claro.
Gritos insuportáveis.
Gritos.
Perguntas e respostas voando pelo ar.
Tudo dirigido a mim.
BEEP. BEEP.
O som de uma mensagem recebida no meu telefone tocou no ar, me
fazendo estremecer.
Acabou.
Tudo estava prestes a explodir, tudo porque fui burra demais para
perceber que não poderia simplesmente sacar milhares e milhares de
dólares sem que alguém descobrisse.
Eu decepcionei todo mundo, Xavier, Claudia e até mesmo a pobre
Sophie, tudo em um único descuido.
Eu respirei fundo.
E então tirei meu celular do bolso, olhando diretamente para a tela.

Brad: Est á tudo bem?

Brad: Por que voc ê precisa de tanto


dinheiro?

Brad: Seu pai est á doente de novo?

Brad: Angela!!!

Capítulo 21
A maçã e a árvore
Angela
Eu senti como se meu telefone estivesse prestes a queimar minha mão,
para então queimar o solo e, em seguida, queimar a terra, até o núcleo.
Eu não tinha respondido às mensagens de Brad. Eu não conseguia
enfrentar o dilema em que me coloquei. Mas agora ele estava me ligando.
TRIM! TRIM!
O caixa olhou para mim, parecendo cada vez mais desconfiado.
— Você vai atender? — ele sondou. Eu não sabia como responder, ou
mesmo se eu poderia responder.
Eu abri minha boca para falar, mas suspiros, em vez de palavras, saíram.
TRIM! TRIM! TRIM!
Eu estava petrificada. Eu podia sentir o medo subindo pela minha carne
como gelo, me congelando em um estado de inatividade. Caramba! —
Acho que há um problema aqui, — o caixa gritou para seu gerente.
O medo ardente de que este homem aleatório fosse a única a contar a
Brad — ou Xavier — em vez de mim... Foi o que levou meu corpo a voltar à
realidade, para minha mente começar a funcionar.
— Não há nada de errado... eu... entendi, — murmurei para o caixa e
para o gerente, tentando forçar o sorriso mais doce e seguro que pude.
Eu atendi o telefone.
— Olá? — Eu disse, falhando em soar calma.
— Minha querida Angela, está tudo bem? Acabei de receber um email
do Bank of America, — respondeu Brad.
— Oh... bem, na verdade estou aqui agora, sim. Sou... sou eu.
— Então você estava fazendo o saque?
— Sim. Eu estava, — eu respondi, tentando soar normal em uma
situação nada normal.
Brad sabia que eu não era do tipo que gastava grandes quantias de
dinheiro em compras, ou em saídas, ou em qualquer lugar.
Eu era uma velha garota de jeans e camiseta, de ponta a ponta.
Independentemente do dinheiro a que tive acesso.
Mas esse saque... eu sabia que teria que ser explicado. De alguma
forma.
— Por quê? Para que você precisa desse tipo de dinheiro, querida? —
Perguntou Brad. Ele não parecia irritado ou descontente, nem um pouco.
Ele parecia genuinamente preocupado.
Eu me perguntei se ele podia ouvir meu coração batendo como um
tambor ao telefone. Eu podia sentir meu corpo esquentando, minhas
orelhas latejando, dedos tremendo, como se cada centímetro de mim
estivesse infectado com puro pânico.
— Uh... Eu realmente, hum, precisava... — eu disse, tropeçando nas
minhas palavras.
— Seu pai está bem? — Perguntou Brad. — Por favor, Angela. Você
pode me dizer.
— Ele está bem. Eu também estou bem, Brad. Mesmo. Eu só... não sei o
que dizer. Eu...
Eu olhei para o caixa.
Em seus olhos estreitos, eu era uma ladra.
— Quer saber, você não precisa dizer nada, Angela, — disse Brad com
firmeza.
Uma onda de choque percorreu meu corpo.
— O que você quer dizer?
— Eu confio em você. Sempre confiei em você. Se você precisa do
dinheiro, deve ser por um bom motivo. Além disso, é tão pouco.
Esqueci que, para um Knight, dezesseis mil dólares não era ultrajante.
— Obrigada, Brad. Mesmo. Assim que eu puder explicar o que está
acontecendo, eu irei, — eu prometi.
Brad riu.
— Não se preocupe com isso, Angela. Comece a trabalhar para me dar
netos! — E assim, o calor voltou às minhas bochechas, iluminando meu
rosto em chamas.
Isso de novo não.
— Brad, quero dizer, eu... — A linha telefônica foi cortada.
Um VRUUMMM emergiu da mesa do caixa. O dinheiro saiu disparado
da máquina, como se fosse uma encenação, só para mim.
Eu não pude acreditar.
Eu fiz isso.
Tudo se normalizaria para Sophie, para Claudia, e Xavier não descobriria
a verdade em algum banco do centro da cidade. Ele descobriria
corretamente, quando fosse a hora certa.
O caixa enfiou o dinheiro em um envelope imaculado. Ele estava tão
descrente quanto eu.
— Obrigada. — Eu sorri para ele enquanto pegava o envelope de sua
mão. Ao sair do banco, me misturando aos outros pedestres na calçada,
não pude deixar de sentir uma pontada de orgulho.
Eu estava fazendo a diferença na vida dessa garotinha, na vida da filha
do Xavier.
Não importava o quão bagunçado tudo estava prestes a ficar, isso
colocou um sorriso verdadeiro e honesto em meu rosto.

Angela: Estou com o dinheiro.

Claudia: Voc ê pode passar na minha casa.

Claudia: Eu tenho muito o que fazer agora.

Angela: Ok, me mande seu endere ç o.

Quando Claudia abriu a porta de tela rasgada de seu apartamento,


tornou-se óbvio que ela precisava do dinheiro semanas atrás.
Em suas roupas vivazes e perfeitamente cortadas, Claudia não
combinava com o apartamento em nada. Peguei o envelope de dinheiro,
encontrando no ar o cheiro de carne fresca fervendo.
— Você gosta de hambúrgueres? — Claudia disse, medindo meu
interesse no cheiro delicioso.
Ela entrou na cozinha. Me pegando congelada no lugar, ela acenou para
mim.
E foi então que a vi — Sophie, borbulhando de alegria em seu assento.
Obviamente, ela era adorável; qualquer criança de três anos era.
Mas Sophie era a cara de Claudia, com mechas encaracoladas castanho-
avermelhadas saindo de sua cabecinha. Seus olhos, vibrantes e alertas,
percorreram a sala com curiosidade, engajados em cada canto e fissura ao
seu redor.
Claudia virou os hambúrgueres. Ela acenou com a cabeça para os pães.
— Você me ajuda? — ela perguntou.
Puxei-os para fora e coloquei-os em pratos.
— Desculpe, tudo o que temos é plástico. É mais fácil com uma criança.
— Claudia riu.
— Imagino que seja. É muito... muito acolhedor aqui, — eu disse a ela.
Era para ser um elogio, mas pude vê-la estremecer. Ser caseira não era
exatamente o que as garotas do Upper East Side sonhavam quando
imaginavam seu futuro.
— Pode comer, — disse Claudia, entregando-me um hambúrguer.
— Ei, pimentinha! — Claudia murmurou para Sophie, entrelaçando os
dedinhos da criança nos dela. Ela moveu Sophie para frente e para trás em
uma pequena dança, fazendo-a explodir em risadas irresistíveis.
Claudia colocou o hambúrguer no prato de Sophie.
No entanto, os braços agitados de Sophie derrubaram o prato da mesa.
Crac.
Fechei os olhos, preparando-me para o grito inevitável.
Não veio.
Levantei minhas pálpebras para encontrar Claudia limpando debaixo de
Sophie, que parecia tão tranquila como uma casa de chá na costa do Japão,
imperturbada.
Uau. Se ela conseguiu transformar a filha de Xavier em monge, Claudia
deve ser a melhor mãe da história, pensei.
— Eu sempre faço um extra, só para garantir! — ela disse enquanto
voltava para o fogão.
O que ela não fez certo? Se Claudia era o tipo de Xavier, seu tipo era
perfeito. O tipo de mulher que sabe instintivamente como ser mãe, como
controlar uma sala de reuniões, como iluminar uma sala com uma história.
Eu não poderia fazer isso.
Nunca fui boa em estar perto de pessoas.
Nunca foi... nunca foi eu.
De repente, senti calor. Muito quente. Desconfortavelmente quente.
Como se o peso da expectativa estivesse caindo sobre mim.
Eu precisava sair daqui. Larguei o prato no balcão, tendo apenas dado
uma mordida no hambúrguer, e puxei o envelope da bolsa.
— Aqui, — eu disse a Claudia, colocando suavemente o envelope ao
lado do prato. — Sinto muito, tenho que ir.
Quanto mais tempo eu ficava aqui, menor me sentia. Porque não
parava de pensar que...
Xavier não me escolheu.
Brad o fez.
Por muito tempo, Xavier odiou essa decisão. Ele nem mesmo me queria
em sua vida. Eu era um incômodo respiratório.
Mas Claudia... Ele queria cada centímetro dela, desde o início. Ela era os
fogos de artifício e eu era apenas uma estrela em seu céu.
Uma mensagem vibrou no meu bolso.

Xavier: Cad ê voc ê ?


Angela: Estou fazendo compras.

Xavier: Mande seu endere ç o pro Marco.

Angela: Estou meio que no meio de alguma


coisa...

Angela: est á tudo bem?

Xavier: voc ê descobrir á em breve; )

Xavier: Voc ê mandou sua localiza çã o?

Angela: Eu posso te encontrar a í.

Xavier: N ão

Xavier: N ã o pode.

Xavier: Vai estragar a surpresa.

Angela: Eu prometo que n ã o vou procurar.

Angela: Basta colocar no Uber.


Xavier: Ó timo.

Xavier: Voc ê almo ç ou?

Angela: Na verdade, n ã o.

Xavier: Perfeito.

Xavier
Quando pedi a Angie para renovar nossos votos, fiquei, é claro, animado
com o significado por trás do ritual. O amor prometido, a unidade
prometida, o futuro prometido. Mas mais do que isso, eu estava animado
para ver o sorriso em seu rosto enquanto fazíamos as coisas certas.
Realmente certas.
E mais do que isso?
Eu estava realmente muito animado com o bolo.
Esperando no bistrô mais exclusivo de Manhattan, certifiquei-me de
que eles preparam todos os tipos de bolo para nós. Trufa de chocolate e
framboesa, caramelo salgado, cappuccino, praliné de avelã do sul e até
mesmo os tipos femininos, como limão e morango.
Quando Angela entrou na loja, ela parecia uma princesa. Seu rosto
estava vermelho de frio, com seus lábios e bochechas rosadas de todas as
maneiras certas.
Ela viu a sobremesa espalhada antes de me ver, e seus olhos brilharam.
Fui até ela, envolvendo minhas mãos em torno dela.
— Oi, — eu sussurrei em seu ouvido, dando-lhe um beijo suave.
— Oi pra você. — Ela sorriu de volta para mim.
— Você está pronta para um negócio sério? — Eu perguntei a ela. —
Não posso casar novamente com você se não sei se você é uma garota de
veludo vermelho ou doce de leite.
Ela riu, deixando-me guiá-la até a mesa. Pegamos nossos lugares.
— Como é que isso funciona? — ela perguntou.
— Bem, é um método muito sério. Como um laboratório de biologia.
Muitos passos cansativos, — eu disse a ela, pegando uma garfada de
caramelo e levando à sua boca. Ela deu uma mordida, praticamente
gemendo de prazer.
— Você gosta disso? — Eu perguntei. Ela assentiu com a cabeça e
pegou uma colher do Death By Chocolate, colocando-a na minha boca.
Droga.
Chocolate quente, droga.
Eu me aproximei dela enquanto passávamos por todas as delícias,
sentindo o calor irradiar de seu corpo.
— Eu simplesmente não consigo escolher. Eles são todos tão perfeitos,
— disse Angela, olhando para todos os bolos em potencial. Ela olhou para
mim através dos cílios, lambendo um pedaço de creme dos lábios.
— Sabe, há uma coisa que não consideramos, — respondi, passando
meus dedos por sua coxa. Ela estava usando jeans justos e botas até o
joelho, e as botas nunca deixavam de me deixar louco. — Qual sabor a
deixaria mais satisfeita em nossa noite de núpcias?
Enquanto eu olhava em seus olhos, percebi que ela estava ficando
nervosa com a direção do meu flerte. A ousadia disso. Mesmo assim, ela
não desviou o olhar.
Será que eu finalmente estava corrompendo minha esposa?

Angela
Antes que eu percebesse, estávamos de volta em casa, com os lábios de
Xavier pressionando os meus, seus dedos sob as alças do meu sutiã
enquanto ele beijava todo o meu pescoço.
Ele tirou meu sutiã azul-petróleo de cima de mim e me empurrou no
sofá.
Ele segurou meus seios com os dedos, esfregando meu decote.
Então ele pressionou sua língua contra meus mamilos, circulando, em
êxtase.
— Eu quero fazer você gritar, — Xavier sussurrou. Algo sobre o tom
amoroso de sua voz e as palavras descaradas que ele estava dizendo me
levaram ainda mais além.
Eu precisava dele.
Ele me ajudou a tirar minhas botas e, em seguida, puxou meu jeans
para baixo, deixando-me com nada além de minha calcinha.
Xavier beijou minhas coxas, deslizando os dedos cada vez mais perto de
mim. Eu mal conseguia respirar, estava tremendo tanto, com tanta fome
dele — por tudo dele.
Como ele sabe fazer tudo isso? Para me fazer gemer? Para me fazer
tremer? Eu me perguntei, observando enquanto ele tirava a camisa.
Foi então que me dei conta.
Claudia.
Ela o ensinou.
Eles fizeram isso juntos.
Ele fez isso pra ela.
— Pare, pare... eu não posso, — eu saí, me afastando dele. Xavier
congelou, observando enquanto meu corpo quase nu cruzava o corredor.
Eu podia ver a decepção estampada em seu rosto.
— Você não pode o quê, meu anjo? O que há de errado? — Ele
perguntou, com preocupação misturada à frustração em sua voz.
— Nada, — eu consegui dizer, escondendo meu rosto em minhas mãos.
— Angela... — Ele parou, fechando o espaço entre nós. Ele gentilmente
removeu minhas mãos do meu rosto e me olhou bem nos olhos.
— O que está acontecendo?
Eu respirei fundo.
— Não consigo parar de pensar nela. Em você e ela... juntos...
— Eu e quem?
— Claudia, — eu disse, com minha voz tremendo. — Tem certeza de
que ainda não está apaixonado por ela?
Capítulo 22
Flash
Xavier
Xavier: Precisamos conversar.

Claudia: Quem est á falando?

Xavier: Adivinhe, Didi.

Claudia: Xavier... j á faz muito tempo.

Xavier: Encontre-me na exposi çã o Dali


amanh ã à s 2.

Se há uma coisa em que Claudia era boa, era estragar minha vida.
Mas eu pensei que tinha ficado melhor em me proteger, em pará-la.
Até que ela de alguma forma pegou Angela em sua loucura, levando-a
para um passeio que a consumia. O tipo de passeio que ela não conseguia
tirar da cabeça por tempo suficiente para agir intimamente comigo.
Brincar comigo era uma coisa. Eu era um menino crescido.
Eu poderia lidar com isso, mas colocar Angela em jogos mentais,
manipular sua inocência — sua pureza — era um jogo totalmente
diferente.
E eu não toleraria isso.
Especialmente quando a mulher que orquestra a loucura foi a mulher
que partiu meu coração.
Ela realmente me deu um baita baque. Éramos reais, pelo menos,
pensei que éramos.
Quando eu a pedi em casamento, eu realmente queria oferecer tudo a
ela. Dar a ela o mundo. Dar a ela meu coração.
E então eu a peguei me traindo.
Com meu melhor amigo.
Achei que seríamos capazes de superar isso, mas Claudia deixou claro
que ela havia terminado.
Se não fosse por meu pai me empurrando para a Angela, eu
provavelmente ainda estaria sozinho, amuado e isolado do resto do
mundo, saindo apenas para ter brincadeiras aleatórias para lamber minhas
feridas. Claro, elas eram modelos. Claro, elas eram o sonho de qualquer
cara.
Mas não foi satisfatório.
Não foi realmente nada, para ser honesto.
Agora, eu tinha tudo de novo. Uma mulher que eu não apenas amava,
mas confiava. Uma mulher que eu conhecia como sendo honesta,
cuidadosa, e uma mulher que se preocupava comigo, que queria o melhor
para mim.
E Claudia estava arriscando isso.
Tudo que eu preciso é um motivo para arruiná-la, pensei comigo
mesmo enquanto caminhava em direção a ela. Eu disse a ela para me
encontrar no Museu de Arte Moderna, esperando que o silêncio
obrigatório me impedisse de gritar com ela. Me impedisse de perder minha
cabeça.
Esperançosamente.
Claudia não tinha se vestido para o museu. Ela parecia que estava indo
para um baile de gala, seu vestido perfeitamente passado e seu cabelo
bem arrumado.
Ela sempre parecia seu melhor quando estava na pior, porra. Ela estava
deslumbrante quando me traiu com meu melhor amigo, e ainda mais linda
quando cancelou nosso noivado para fugir com ele.
— Fiquei surpresa que você quisesse me ver, — Claudia admitiu
enquanto olhava para os relógios gotejantes de Salvador Dali. Era minha
pintura favorita, mas eu não conseguia nem apreciá-la ao lado daquela
mulher.
— Espero que esta seja a última vez que te verei, Claudia, — eu disse
uniformemente. — Estou casado agora.
— Eu sei.
— Então você está fazendo tudo que pode para destruir isso?
Claudia baixou os olhos. Eu não poderia dizer se a culpa estava pesando
sobre ela ou se ela estava tentando evitar meu olhar para que eu não
pudesse dizer o que ela estava pensando.
Afinal, eu conhecia bem seu rosto mentiroso.
Eu já tinha visto isso mil vezes antes.
— Angela é uma garota legal, — disse ela, com um tom soando
genuíno.
E você é uma vadia doida, pensei. Ouvir o nome de Angela saindo de
sua boca imediatamente fez meu sangue ferver.
— Você acha que eu não sei disso? Você acha que eu não sei que ela vai
cair na sua e acreditar que você é a boa pessoa que diz ser? É muito fácil
cair nos seus jogos, — eu disse, fervendo. — Mas ela tem a mim para
protegê-la.
Claudia olhou para mim e foi como se seus olhos estivessem
perfurando minha alma.
— Eu te conheço melhor do que você pensa, Xavier, — disse ela
suavemente.
— Você não sabe nada sobre mim.
— Por que estamos no MoMa? Você estava com medo de não
conseguir manter a calma.
Senti o suor acumular em minhas palmas. Por que fiquei surpreso? Não
havia nada que ela não usaria contra mim, incluindo minha própria raiva.
— Eu não vou entrar nisso com você. Nem agora, nem nunca. Você não
vale a pena. Eu só queria dizer a você, pessoalmente, para ficar longe.
De mim, de Angela. Você não faz parte de nossas vidas. — Quando as
palavras a invadiram, eu vi seus lábios se curvarem em uma espécie de
sorriso malicioso.
Algo estava acontecendo.
— É uma coisa desagradável de se dizer à mãe de sua filha, — ela
respondeu.
Eu parei.
Congelado.
Meu sangue esquentou.
Minha mente começou a correr.
Isso não poderia... não havia como...
Ela estava alcançando... Não, ela estava indo com tudo.
— Eu não quero ouvir suas besteiras, Claudia.
— Sem besteira. Você precisa saber disso, Xavier. Eu preciso que você
saiba disso, — ela respondeu lentamente, como se, com cada sílaba, a
terra abaixo de nós pudesse rachar. — Eu tenho uma filha. O nome dela é
Sophie e ela tem três anos. Ela está querendo conhecer seu pai. Você.
Merda.
MERDA!
Merda de merda.
Eu queria gritar que ela estava mentindo, porra.
Eu queria gritar tão alto que o mundo ao meu redor se apagasse, que
ela fosse apagada da minha memória.
Mas não consegui.
Uma bomba atômica detonou dentro de mim, espalhando questões
radioativas em minha corrente sanguínea.
Onde está Sophie?
Ela é realmente minha filha?
Como Claudia pôde mantê-la longe de mim? Por que ela a escondeu de
mim?
Por que ela mencionaria isso agora que Angela e eu somos felizes?
Ela trouxe isso à tona porque Angela e eu somos felizes?
Eu queria jogar as pinturas das paredes e despedaçá-las.
Para perder cada grama da pessoa que eu era.
Mas não consegui.
A raiva invadiu meu corpo tão rapidamente que não consegui me
mover. Eu não conseguia respirar. Eu era uma estátua cimentada em
choque líquido, mais pedra do que homem.
E então Claudia veio para o segundo round.
Ela me puxou contra ela, chocando seus lábios contra os meus em um
beijo amaldiçoado.

Claudia
Flash.
Enquanto eu segurava Xavier contra mim, observei o fotógrafo capturar
nossos lábios se fechando.
Flash.
Corri minhas mãos por seus cabelos e ouvidos para que ele não
pudesse ouvir os cliques do obturador.
Flash.
Por um segundo escorregadio, foi bom, como quando, quando você se
corta, a adrenalina bombeia com o sangue, lembrando você de que ainda é
frágil. Que você ainda está viva.
Flash.
Xavier me empurrou para longe dele com força violenta. Quase bati no
chão, mas fiquei parada, desafiadora, com as pernas tremendo.
Eu tinha acertado em cheio.
— Que diabos está errado com você? — Ele fervia, com sua pele
normalmente bronzeada parecendo horrível.
— Eu... eu pensei que nós éramos uma família. Precisamos fazer isso
funcionar, por nossa filha, — eu implorei, tentando o meu melhor para
soar confusa e com o coração partido.
Mas os olhos de Xavier brilharam de raiva. Eu poderia dizer que ele não
estava acreditando.
— Se você quisesse, não teria deixado três anos se passarem, Claudia.
Você diz que me conhece? Bem, eu te conheço. Você não está aqui pela
sua filha. Você está aqui por você, — ele cuspiu em mim.
— Nossa filha, — eu sibilei, observando as palavras cortá-lo como
pontas de flecha.
— Prove, — ele respondeu no verdadeiro estilo Xavier. — Eu parei de
acreditar em você há muito tempo, e não vou começar de novo agora.
Prove que a criança é minha e podemos conversar novamente.
Eu sabia que ele era um homem difícil. Você não ganhou um lugar entre
os melhores e mais brilhantes do mundo escolhendo a maneira mais fácil
de resolver as discussões.
O que eu não adicionei aos meus cálculos foi que seu ódio por mim era
profundo o suficiente para permanecer resoluto, mesmo com uma criança
na mistura.
Por alguma razão, eu senti uma centelha da paixão, que costumava
correr entre nós, explodir.
Eu alguma vez o amei? Eu honestamente não sabia.
Achei que tinha adorado a ideia dele, de como ele era o homem que
tinha tudo, o herói da história. Meu Deus, até mesmo seu nome era
corajoso e nobre — Knight.
Mas quando nosso noivado acabou, ele se tornou mais Noite do que
Knight, um feitiço escuro lançado sobre mim, que fez até mesmo uma sala
lotada parecer vazia. Era como se eu não pudesse fugir de sua sombra.
Quando eu estava com ele, ele lançava uma sombra sobre toda a
opulência que nos cercava.
Quando eu estava sem ele, toda aquela opulência estava escondida de
mim. Fora do meu alcance.
— Eu sou um homem poderoso, Claudia.
— Eu sei, — respondi, rindo por dentro.
Ele era um grande fantoche que não conseguia identificar suas cordas
de renda.
— Mas eu sou um inimigo ainda pior, — ele declarou, com seus olhos
vermelhos e brilhantes. — Escolha seu próximo movimento com cautela.
A última vez que o vi tão instável foi na vez em que o vi todos aqueles
anos atrás. Quando eu arruinei sua vida pela primeira vez. Ele descobriu
algo naquela noite que partiu seu coração em dois.
E agora, quatro anos depois, eu estava fazendo isso de novo.
Dando a ele uma notícia da qual ele não poderia se recuperar.
Contando a ele um segredo que não apenas destruiria a vida que ele
conhecia, mas alteraria o curso de seu futuro.
Quase me surpreendeu não sentir a menor sombra de culpa. Olhando
para ele, vendo o dinheiro praticamente pingando de cada centímetro de
sua pele, do suéter de cashmere aos sapatos de couro italiano, ele era um
alvo.
E eu estava jogando com ele.
Assim que vendesse a foto do playboy bilionário traindo sua esposa
perfeita e celestial, eu provaria meu gosto de riquezas. O gosto que eu
merecia, por dedicar todo esse tempo. Foi preciso mais do que uma sorte
cega para fazer alguém acreditar que estava em um relacionamento
perfeito.
E eu estava prestes a ser recompensada por meus talentos.

Xavier
Um pai. Eu posso ser a porra de um pai.
Eu senti que ia vomitar.
Eu não tinha ideia do que fazer com uma criança, e ter uma com
Claudia abriria todos os tipos de portas que eu tinha trancado há muito
tempo. Umas que eu não tinha intenção de abrir nunca mais.
Eu balancei minha cabeça.
Não é verdade.
Não pode ser verdade.
Ela está mentindo.
Porque era isso que Claudia fazia. Ela mentia, enganava e manipulava
todos para conseguir o que queria.
Era uma das coisas que eu achava tão atraente nela, sua assertividade
competitiva. Agora ela tinha voltado para me atacar.
Ela e eu sempre usamos proteção. Eu estive fora por duas semanas em
uma viagem de negócios antes de voltar para casa para encontrá-la com
Daniel. A garota poderia ser facilmente dele. Ou qualquer outra pessoa
com quem ela estava me traindo.
Minhas mãos se fecharam em punhos ao lado do corpo e fechei os
olhos, respirando fundo.
Eu precisava me acalmar e pensar nisso de forma racional. Claudia me
queria vulnerável, instável. Foi assim que ela cravou suas garras.
Eu não conseguia acreditar que Claudia pensava que poderia se vingar
de mim jogando uma criança na minha cara. O que ela estava esperando?
Uma grande reunião de família feliz? Eu não passaria outra noite sob os
lençóis daquela vadia nem por todo o dinheiro do mundo, muito menos
brincar de casinha com ela.
Enquanto uma parte de mim desejava poder conhecer a criança, vê-la
com meus próprios olhos, uma parte maior de mim se recusou a negociar
com uma terrorista.
A criança não era apenas uma criança. Ela era a arma com a qual
Claudia confiaria para dividir minha vida, para demolir tudo de bom que eu
tinha. Eu não poderia deixá-la fazer isso.
Mesmo que isso significasse não conhecer minha própria filha, eu
protegeria tudo o que Angela e eu criamos para nós mesmos — a qualquer
custo. Eu já tinha tomado essa decisão e a manteria.
Então, assim que a porra da Claudia me beijou, eu dei o fora de lá. Eu
tornei a ideia de que tinha uma filha como uma ferida grande demais para
pontos.
Eu não sangraria por aquela vadia manipuladora, não mais. Eu já tive
muita dor com ela.
Agora, as coisas eram diferentes. Agora eu tinha uma mulher por quem
daria minha vida.
Ela era a razão de eu acordar todos os dias não apenas contente, mas
feliz.
Quando as portas do elevador do nosso apartamento se abriram, eu
entrei, pronto para pressionar meu peito no dela.
Eu precisava sentir o calor de sua pele, de seu ser, em mim. Eu
precisava dela para me confortar, para me dizer que nada fora de nós
importava.
Não agora, pelo menos.
— Ei, Angela, eu cuidei da questão, — gritei, caminhando pelo corredor
até a cozinha. Foi quando encontrei Angela inclinada sobre a bancada,
tremendo de soluços.
— O que aconteceu? O que há de errado? — Eu perguntei, correndo
até ela.
Ela tentou formar palavras, mas elas foram vencidas por gritos de
angústia.
Tentei embalá-la, para confortá-la, mas ela apenas me empurrou.
Isso machuca. Não fisicamente, mas emocionalmente, como se ela
estivesse me tratando como um estranho invadindo seu espaço. Não como
seu marido, e não como o amor de sua vida.
— O que está acontecendo, Angie? — Eu implorei.
Então ela olhou para mim e meu coração parou. Seus olhos estavam
cobertos de lágrimas e seus lábios tremiam. Me matou vê-la com tanta dor.
Angela pegou seu telefone e tudo o que eu estava sentindo ficou dez
vezes pior.
Porque tinha uma foto na tela de Claudia me beijando. Estava na
primeira página de um site de fofocas, mas logo seria notícia nacional.
Na foto, os braços de Claudia estavam em volta de mim com força.
Nossos olhos estavam fechados, nossos corpos bem juntos. Eu parecia um
participante voluntário, não uma vítima.
— Não é o que parece, Angela. Sério, eu posso...
— Você disse que não a amava! — Angela chorou. E então ela deixou
cair o telefone no balcão, como se fosse muito doloroso de segurar.
E ela correu — direto para o quarto, trancando a porta atrás dela.
Porra.

Capítulo 23
Esqueça, mas não perdoe
Angela
— Ele é um babaca do caralho, Angie! — Dustin se enfureceu enquanto
arrumava o sofá de sua sala para mim.
— Me desculpe, eu não tenho um quarto de verdade para você. Mudar
de um estúdio de merda para um de um quarto foi uma melhora, mas não
o suficiente para abrigar uma melhor amiga chateada, eu acho, — ele
brincou.
Eu sabia que ele estava tentando aliviar o clima, então ofereci minha
melhor tentativa de sorrir.
No entanto, provavelmente ainda parecia que eu estava prestes a
chorar.
Assim que Xavier parou de bater na porta do nosso quarto, implorando-
me para deixá-lo entrar, pressionei meu ouvido na porta e ouvi seus passos
recuando pelo corredor.
Eu sabia que a janela de oportunidade que eu tinha para escapar era
pequena, então enxuguei as lágrimas do meu rosto, respirei fundo e abri a
porta.
E então corri o mais rápido que pude na ponta dos pés, todo o caminho
até o elevador. Quando as portas do elevador se fecharam, eu finalmente
liberei o ar que estava segurando. Então corri direto para a casa de Dustin.
— Sério, Angela, você não merece esse tipo de babaquice, ok? Você é
boa demais para ele, — continuou Dustin, colocando uma mão amiga no
meu ombro.
Mas ainda que muito grata por ele estar me deixando ficar com ele, por
ele estar me dando ouvidos e por todos os abraços que eu precisava, algo
sobre a maneira como Dustin estava criticando Xavier me deixou...
inquieta.
— Podemos falar sobre outra coisa? — Eu perguntei, indo até o sofá. Eu
precisava parar de falar sobre minha vida amorosa indo por água abaixo,
sobre o homem que me traiu. Novamente.
Não que eu não tivesse mil reclamações sobre ele. Meu corpo parecia
uma máquina de vender sentimentos. Basta apertar um botão e uma
retrospectiva cairia, como eu deveria saber que Xavier me trairia.
Ele sempre me traiu.
Ele provavelmente nunca parou.
— Garota, você precisa desabafar. É sério. Se você mantiver tudo
fechado, isso vai corroer seu corpo pequeno.
— Não quero desabafar, Dustin. Eu não quero falar nada.
— Mas ele FODEU COM TUDO! — Dustin gritou. — E você precisa saber
que você merece alguém melhor.
— Você não sabe a história completa, — falei antes que pudesse me
conter. — Você não sabe o que Xavier e eu... o que não tínhamos falado
entre nós...
Dustin ficou boquiaberto.
— Como é que é? Você está tentando me dizer que não sei sobre ser
tratada como merda por homens de merda? — Dustin respondeu. — Cher?
Dolly Parton? Barbra Streisand? Já ouviu falar delas?
— Hum, é claro, — eu respondi, imediatamente confusa. Eu não estava
tentando dizer isso a Dustin, de jeito nenhum, mas ele pensar que isso era
o que minha vagueza implicava era muito melhor do que saber a verdade.
Que eu sabia de algo que Xavier não sabia.
Que eu sabia que ele tinha uma filha... com sua ex.
A quem ele claramente ainda amava.
— O que elas são? — Dustin sondou.
— O quê?
— Cher. Dolly. Barbra.
— Cantoras? — Eu adivinhei, ainda sem ter ideia do que ele estava
tentando provar.
— Verdade. Mas, mais importante, falso. Elas são ícones gays. Quem
você acha que sustentou toda a sua discografia de meninos que tratam o
amor como um jogo doentio? Quem se recusou a descartá-los enquanto
eles ultrapassaram seu auge de Hollywood?
Ele fez uma pausa dramática como se eu soubesse do que ele estava
falando.
— Milhares de gays. Porque sabemos como é, Angie. As únicas pessoas
que os homens fodem e fodem mais do que as mulheres são os outros
homens!
— Não tenho dúvidas de que você sabe como me sinto, Dustin, — eu
disse lentamente, tentando acalmar um pouco sua resposta dramática. —
Só estou dizendo que... não estou com vontade de pensar nisso. Não
agora. Prefiro me distrair.
Dustin olhou para mim e, depois de alguns momentos, acenou com a
cabeça.
— Ok. Sim. Seu trauma é o meu trauma, Angela.
Eu dei a ele um olhar interrogativo. Ele sorriu e se sentou ao meu lado,
agarrando minhas mãos nas dele.
— Você quer assistir a clipes de cães se reunindo com seus pais
soldados que acabaram de voltar da guerra? — Ele perguntou.
Uma risadinha escapou da minha garganta antes que eu pudesse detê-
la. E depois outra. E então, simplesmente assim, eu me perdi em um
ataque de risos, com meus olhos bem fechados.
Eu podia ouvir a risada de Dustin ao fundo, podia sentir suas mãos
ainda envolvendo as minhas, mas não conseguia me concentrar nele. Eu
estava muito ocupada focando no absurdo de todo o resto.
Uma semana atrás, eu estava tão feliz com minha vida.
Eu me sentia tão forte.
E agora... era como se o tapete tivesse sido puxado debaixo de mim,
revelando que nunca houve um piso debaixo dele.

Xavier
Qualquer atuação que eu estava fazendo, fingindo que eu sabia o que
diabos fazer com Claudia, estava acabada.
Quando a deixei no MoMa, realmente acreditei que havia resolvido o
problema. Eu esmaguei o problema antes que ficasse fora de controle.
Mas agora, isso estava claramente errado.
Tudo. Errado. Porra.
Estava oficialmente fora de controle e eu tinha falhado oficialmente em
esmagá-lo.
Era como se Claudia tivesse derramado ácido emocional por toda a
minha vida, destruindo as raízes que me conectavam a qualquer coisa
resistente.
Angela havia desaparecido do apartamento. Meu pai estava ignorando
minhas ligações. Mesmo Lucille não conseguia manter o contato visual.
Quando perguntei onde estava o leite de amêndoa, ela apontou sem
olhar para mim.
Tentei enviar uma mensagem de texto para Angela.
Tentei ligar, deixar mensagens de voz, tudo.
Até tentei ligar para Em.
Mas tudo que consegui foi um monte de nada.
Por mais agravante que isso fosse, enquanto eu estava sentado sozinho
no balcão da cozinha, bebendo meu café da manhã, não era realmente
surpreendente. Fiquei furioso quando cheguei em casa, furioso porque
Angela nem me deixou tentar explicar.
Mas então eu parei.
E me ocorreu que ela tinha visto uma foto comigo e minha ex-noiva nos
beijando. Que o resto de Nova Iorque, o resto do mundo também poderia
ver a foto.
Se as situações fossem invertidas, eu estaria fazendo muito pior do que
dar um tempo. Então parei de ligar para ela a cada cinco minutos. Parei de
enviar mensagens desesperadas e parei de incomodar seus amigos.
Ela sabia onde eu estava.
Quando Angela estiver pronta para falar comigo, ela voltaria.
Ela voltaria para casa.
Por mais que eu tenha repetido essa lógica para mim mesmo ao longo
das últimas sete horas, eu não conseguia me forçar a realmente desistir. Eu
não podia simplesmente sentar e não fazer nada, esperando que ela
voltasse para casa. Esperando que ela voltasse para mim.
Embora eu não quisesse depender de meu pai para trazê-la de volta, eu
sabia que ela e meu pai tinham uma ligação especial.
Ela confiava nele muito antes de confiar em mim.
Então terminei meu café e fui para o elevador, pronto para embarcar
em uma viagem matinal para o centro da cidade.
Assim que cheguei ao prédio de meu pai no Upper East Side, o porteiro
abriu a pesada porta de carvalho.
— Bom dia, Sr. Knight. — Ele acenou para mim.
Eu balancei a cabeça de volta, correndo direto pelas portas até o
saguão.
Então eu estava no elevador particular do meu pai, indo para a
cobertura, um lugar grande demais para uma família de cinco pessoas,
quanto mais para um cara. Mas eu realmente não era de falar.
Eu não era estranho a residências luxuosas.
Não foi até eu estar no elevador que me ocorreu algo. Meu próprio pai
pode não acreditar em mim. Ele poderia pensar que a imagem e as
implicações dela eram reais.
Um pensamento esperançoso surgiu em minha mente. Talvez ele não
tenha visto.
Mas eu me esquivei.
Não seja estúpido. Claro que ele viu. Cinco de seus caras de relações
públicas provavelmente já enviaram fotos para ele.
Ele pode pensar que estou fazendo minhas velhas merdas, meu
comportamento de bad boy e festeiro. E claro, eu poderia tentar convencê-
lo do contrário, mas as ações falavam mais alto do que palavras. Isso foi o
que ele sempre me disse.
E ele viu minhas ações anteriores.
Ele tinha visto a maneira como eu tratava as mulheres antes de Angela.
Uma vez mulherengo, sempre mulherengo.
Mas ele era meu pai. Ele seria capaz de olhar nos meus olhos e ver a
verdade, não é? Ele conheceria meu verdadeiro eu, não a versão fodida
que eles criaram para tabloides.
Ele saberia que eu estava loucamente apaixonado por Angela.
Que eu faria qualquer coisa para protegê-la, mesmo que isso
significasse ficar fora da vida da minha talvez filha.
As portas se abriram e eu entrei no saguão. Imediatamente fiquei
impressionado com o quão diferente parecia. Parecia que alguém
realmente estava morando nele.
Os cobertores de pele de carneiro foram jogados sobre o sofá de couro
feito à mão, os travesseiros de chiffon de dois mil dólares estavam
espalhados por todo o piso de madeira de avelã e, meu Deus, parecia que
ele estava lendo alguns de seus raros livros antigos.
Meu pai estava tentando se aposentar e, vendo seu terreno, parecia um
bom ajuste.
— Olá, pai? — Eu gritei. Ninguém respondeu.
Esperei mais alguns segundos.
— Pai? — Eu tentei de novo.
Foi quando ouvi passos.
O arrastar de chinelos macios — um som distinto que eu mesmo ouvi
algumas vezes.
Merda.
Este era um resultado que eu não tinha pensado.
Uma possibilidade que nem havia passado pela minha cabeça.
Eu fui lá para ver meu pai, para pedir-lhe conselhos — para ajudar a
salvar meu relacionamento — mas nunca esperei ser confrontado com
Penny.
Eu trouxe meus dedos para o meu cabelo, passando-os pelas minhas
mechas como se o mero movimento fosse o suficiente para me tirar dessa
situação.
Mas não foi.
Porque Penny estava saindo da porta no final do corredor, sua camisa
de botão muito grande expondo seu ombro nu, vindo direto na minha
direção.

Brad
Já fazia muito tempo que meu coração não doía tanto.
Em minha vida, vi fotos de meu filho fazendo várias coisas ultrajantes
na imprensa. Mas ele beijando Claudia, sua ex-noiva, enquanto ele era
casado com a mulher mais doce da terra? Isso foi, de longe, a pior.
Eu ansiava por ele, pela confusão e raiva que ele devia estar sentindo
com o retorno dela para sua vida. Rezei para que Angela fosse capaz de ver
além disso, para ver a verdade, para que eles pudessem superar esse
obstáculo juntos.
Isso era o mais importante — que eles permanecessem juntos.
Com a necessidade de ajudar, de fazer alguma coisa, resolvi ir direto à
fonte. Não havia dúvidas em minha mente de quem estava por trás de toda
essa dor.
Meu motorista me deixou em um bar no Bronx.
No instante em que vi a foto nos tabloides, entrei em contato com ela.
A mulher era uma coisa ruim, uma coisa terrível, e era hora de tratá-la
como tal. Eu entrei no bar surrado, vendo-a já em uma mesa. Coloquei a
pasta de couro em sua superfície pegajosa.
— Seja qual for a quantia que você está planejando chantagear meu
filho, isso é mais, — eu disse, mantendo minha voz firme.
Era difícil acreditar que, depois de todos os anos que a tratamos como
família, e todos os anos que Xavier perdeu para a dor da separação, ela
voltaria e faria isso.
Tiraria vantagem de nós desta maneira.
Ela abriu a pasta e encontrou quinhentos mil dólares em dinheiro.
— Não tenho mais fotos de Xavier. Você está me pagando por pagar, —
disse ela, ainda com os olhos no dinheiro. — Não estou chantageando
ninguém.
— Estou pagando para você deixar minha família em paz. Eu sei que
você e Xavier têm sua história, Claudia. Sempre pensei que você fosse uma
garota doce, sob toda aquela manipulação, — eu disse a ela.
Eu a vi estremecer.
— Mas agora você não está apenas o machucando. Você está
machucando Angela, e ela não é como você. Ela age por pureza, por
retidão, e ela não merece ser magoada. Então pegue o dinheiro. E fique
longe dos Knights.
Observei Claudia engolir as palavras.
Depois de alguns momentos, ela deu um leve aceno de cabeça e
endireitou os ombros, deslizando para fora de seu assento.
Ela fechou a pasta e, depois de me lançar uma última olhada, saiu do
bar.
Bem, pensei, respirando fundo, está resolvido.
Quando voltei para o meu carro, tentei limpar a sujeira das minhas
mãos. Mas então percebi que não era a viscosidade da mesa que estava
grudada na minha pele. Era a sujeira de toda a situação.

Xavier
— Onde está meu pai? — Perguntei a Penny, mal fazendo contato visual. Se
dependesse de mim, eu não estaria falando com ela, mas precisava de
respostas. Portanto, reter o contato visual foi o melhor que pude fazer.
— Fazendo negócios, — Penny respondeu.
— Ele está aposentado.
— Apenas no papel. — Ela sorriu, e eu imediatamente me arrependi de
erguer meus olhos até seu rosto. A audácia dela em sorrir. Por apenas estar
no apartamento do meu pai. Como se ela morasse lá. Como se ela fosse a
dona do lugar.
Penny claramente apenas saltou de um homem rico para o outro como
um sapo em um lírio.
— Então, o que você está fazendo aqui, Penny? — Eu disse, dando um
passo mais perto, forçando-a a me olhar nos olhos. Forçando-a a ver isso,
embora meu pai pudesse ser cego de amor, eu certamente não era.
Eu queria que meu pai fosse feliz, com certeza. Mas quando sua
pequena bolha de euforia estourou, eu também queria ter uma pilha de
evidências contra a mulher que a estourou.
— Este é meu apartamento, Xavier, — Penny respondeu, com os olhos
arregalados parecendo sérios.
— Desde quando? — Eu perguntei, pasmo por meu pai deixá-la entrar
tão rápido.
— Algumas semanas.
Porra.
Enquanto eu pensava em maneiras de dizer ao meu pai para ter
cuidado — para cuidar dele de vadias oportunistas procurando uma
cobertura palaciana para chamar de lar — eu pude ver que Penny estava
me avaliando.
— Eu sei que você não gosta de mim, Xavier, mas...
— Você pulou de mim para o meu pai, — eu interrompi. — Sem
mencionar que você namorou aquele psicopata Jacques. Sério, Penny, o
que diabos há de errado com você?
Penny recuou de dor.
— Jacques... foi uma época sombria na minha vida. Mas eu terminei
com ele como você — Não, eu não gosto de você, — interrompi antes que
pudesse ouvir sua história triste novamente. — Mas, além de meus
sentimentos pessoais, você não me deu nenhuma razão para confiar em
você. Objetivamente.
Em vez de fugir com minhas palavras duras, ou cair em um poço de
lágrimas, Penny apenas apertou as mãos com força na frente dela.
— Você confiou em mim o suficiente para ir àquele armazém para
salvar Angela, — ela atirou de volta, com um pouco de fogo em seus olhos.
Eu engoli a resposta amarga se formando em minha garganta.
Ela estava certa.
Logicamente, de qualquer maneira.
Mas sempre que eu olhava para ela, podia sentir o calor subindo pela
minha nuca. Algo se contorcendo sob minha pele que me deixou
furioso.
O que há de errado comigo?
— Eu sei. Eu sei como parece, ok? Eu não sou burra, — disse ela,
olhando para o chão.
Mordi minha língua e ela continuou.
— Mas eu amo ele. Amo seu pai de verdade, Xavier. E farei tudo o que
puder para que isso funcione.
— Você o ama, Penny? Ou você ama o dinheiro dele?
— Nunca foi por dinheiro, Xavier.
— Okay, certo. Posso ver todas as suas novas joias e roupas de grife e...
— Brad me faz usar isso! — Penny disse. Ela riu de repente, o som me
pegando de surpresa. — Na verdade, brigamos um pouco sobre isso... Ele
gosta de me mimar.
— Eu não acredito em você.
Penny suspirou, olhando-me diretamente nos olhos.
— Lembra antes? Quando você e eu costumávamos... — ela fez uma
pausa — nos vermos. Quando você estava presente depois que eu terminei
com Jacques. Você costumava tentar me dar todos esses presentes, e eu
nunca aceitei nenhum deles.
Eu fiquei em silêncio.
Eu não pude negar.
— Eu sei que você pensa que eu sou uma interesseira. Que eu
simplesmente me apego a qualquer homem com dinheiro que vejo. Mas
Brad... Brad é o primeiro homem com quem estive que quer que eu seja
uma pessoa.
Penny sorriu. Ela parecia melancólica e feliz, e...
Parece que ela está apaixonada.
— Ele não quer apenas me ouvir cantar bem. Ele quer ler todos os livros
que eu recomendo a ele. Ele quer jogar jogos de tabuleiro comigo.
— Ele quer me ouvir falar, discutir, ficar com raiva, ser caótica e... e...
humana. Posso ser esquisita e idiota com ele. Então, sim, eu o amo.
— E não tem nada a ver com o dinheiro? — Eu pressionei. Pode ter sido
indelicado — ou totalmente rude — mas eu precisava saber. Eu
precisava ouvi-la dizer isso.
— Eu adoraria aquele homem se ele estivesse quebrado, limpando o
palco depois que eu fiz meu show, — disse ela. — Assim como Angela ama
você, Xavier.
— Você não sabe do que está falando, — eu disse, não querendo entrar
nisso, na minha vida privada no momento atual. Mas Penny não estava
desistindo.
— Não, você não sabe do que estou falando. Eu vi a foto, Xavier. E eu
sei que o que quer que seja... não foi você. Não o você que você é agora,
pelo menos.
Tentei recuar, para impedir que a conversa continuasse, mas Penny
apenas se aproximou de mim e agarrou minha mão.
— Angela vai te perdoar. Se você merece o perdão dela. Você precisa
lutar por ela, Xavier.
Eu fiquei sem palavras.
Até aquele momento, eu tinha pensado que o ato de menina doce de
Penny era tudo uma fachada.
Uma armadilha para atrair seu próximo alvo.
Mas talvez — apenas talvez — eu estivesse errado.

Capítulo 24
(In)Visível
Angela

Lucas: Onde voc ê est á ?


Angela: No caf é de Dustin.

Lucas: Tô tentando ligar pra voc ê .

Angela: Desculpa, o sinal n ã o é muito bom


aqui.

Angela: Est á tudo bem?

Lucas: Em est á no hospital.

Lucas: Eles não conseguem encontrar o


batimento card í aco do beb ê .

Angela: Ai, meu Deus.

Angela: Estou indo.

Conforme eu crescia, as pessoas me perguntavam o que eu escolheria


como meu superpoder.
Sempre disse que escolheria a invisibilidade.
O poder de se esconder, mas ainda assim ter acesso ao mundo. Para
ver, para ouvir, mas sem a pressão da interação.
Eu sonharia em ser invisível.
Honestamente, de muitas maneiras, eu já estava. Na escola, eu sabia a
resposta, mas não levantava a mão. Em casa, eu queria coisas, mas queria
que todos os outros tivessem sua lista de desejos satisfeita primeiro.
Para mim, se pudesse ficar invisível, eu estaria completa. Eu poderia me
mover por este mundo como um eco, ondulando em uma graça silenciosa.
Eu poderia fazer a coisa certa e não sofrer a pressão de poder ser exposta.
Assim, haveria mais espaço para todos os outros, certo?
Mas quando eu soube que eles tinham perdido o batimento cardíaco
do bebê de Em — minha sobrinha — eu não queria ser invisível, não mais.
Eu escolheria um superpoder diferente.
A capacidade de voar. Para chegar lá o mais rápido que pudesse, livre
de tráfego, estacionamento ou estradas.
Mas assim que cheguei ao hospital, estava de volta ao meu eu meio
transparente. Encontrei meu pai, que me olhou como se tivesse visto um
fantasma.
Eu não conseguia acreditar que depois de lutar para viver, depois de
fazer tudo que podia para estar vivo para encontrar seus netos, ele estava
de volta a uma masmorra estéril. Só que desta vez, ele não estava lutando
por si mesmo. Ele estava assistindo a luta de seu neto.
No quarto do hospital, o ar estava pesado de indignação. Lucas se
sentou ao lado de Emily, que estava na cama, segurando sua mão com
força. Papai andava de um lado para o outro enquanto a médica jogava
jargões para nós.
— Vou verificar suas medidas fetais. Só precisamos nos preocupar se
não houver batimento cardíaco fetal em um embrião com comprimento
entre cabeça e nádega maior que cinco milímetros, — disse ela, passando
os dedos pela barriga de Em.
— O que isso significa? — Lucas respondeu, com sua voz carregada de
pânico.
— O técnico de ultrassom chegará em breve para ver se você precisa de
um ultrassom transvaginal ou de um ultrassom abdominal 2D ou 3D, —
explicou a médica.
Aparências de confusão dispararam pela sala como estilhaços.
— Por favor, estamos com medo. Diga-nos o que está acontecendo! —
Em explodiu.
— Acabei de lhe dizer, senhorita, — respondeu a médica.
— Ela quer dizer nos diga o que está acontecendo em português, —
meu pai esclareceu.
— Ela está dizendo que há trovões, mas não necessariamente uma
tempestade, — uma voz anunciou da porta. Todos nós giramos nossas
cabeças e lá estava ele. O homem que amei.
O homem dos meus sonhos.
O homem de quem eu tinha tanta raiva.
O homem que me traiu.
O homem com quem eu me sentia segura.
— Certo? — Xavier perguntou, sua pergunta dirigida à médica. Ela
acenou com a cabeça, claramente tão atraída por ele quanto eu.
— Certo. Não há necessidade para ficar triste ainda, — ela assegurou a
Em. — Vamos fazer esses testes, e então teremos as respostas. Nós vamos
chegar ao fundo disso.
Eu sabia que as palavras da médica se destinavam à emergência médica
em questão, mas não pude deixar de desviá-las em direção ao meu
relacionamento com o homem parado na porta.
Nós chegaremos ao fundo disso.
Porque, se não o fizermos, eu não acho que meu coração será o
mesmo.

Xavier
Eu não tinha certeza se Angela me queria aqui. Mas independentemente
de tudo o que aconteceu, eu sabia que ela precisava de mim aqui. Ela
precisava de alguém estável em quem pudesse confiar.
E mesmo com a tempestade de merda que eu trouxe sobre nós, aquele
cara ainda era eu.
A única coisa era que ninguém mais na sala pensava assim.
Em estreitou os olhos para mim.
— Tire ele daqui, — disse ela a Lucas, uma mão apoiada em seu
estômago.
Lucas olhou para mim, inseguro.
Então Angela se aproximou de mim e minha respiração ficou presa na
garganta.
— Tudo bem. Entendi, — ela disse ao irmão e depois me guiou para
fora da sala.
Estendi o embrulho de macarrão com queijo que trouxera para o
hospital, sentindo-me uma idiota com ele nas mãos, mas ofereci mesmo
assim.
— Lucille diz que Em sempre pede isso quando ela vem, — eu disse
enquanto entregava a ela o macarrão. — Achei que ela precisava de um
pouco de comida reconfortante.
— Obrigada, — respondeu Angela, claramente sem saber como agir. O
olhar desconfortável que ela me deu doeu como uma maldita abelha.
— Eu sei que você provavelmente quer que eu vá embora, — eu disse,
sem saber se contar a ela que Claudia me beijou apenas faria parecer que
eu tinha feito uma emboscada agora. Eu tive que fazer tudo o que podia
para evitar fazer ainda mais merda.
— Apenas vá embora, Xavier. Eu tenho que estar aqui por Em, por
minha família... — Ela parou.
— Nossa família. Eu me torno tio quando você vira tia, Angela. E eu
quero estar aqui por você.
— Hoje. Mas amanhã, você pode querer estar lá pela Claudia, — ela
respondeu. — Você tem uma família, uma filha.
Espere, o quê?
— Como... como você sabe sobre isso? — Eu perguntei antes que
pudesse me conter, e então estremeci. Agora parecia que eu estava
tentando esconder essa parte dela, que eu estava bravo por ela já saber.
— A Claudia me disse, — ela disse suavemente. — E eu... eu a conheci.
— Você conheceu quem?
— A garota, Xavier. O nome dela é Sophie. — Quando os olhos
arregalados de Angela encontraram os meus, meu estômago afundou
ainda mais. Não apenas essa criança era real, mas minha esposa a
conheceu.
— Sophie pode não ser minha, — respondi, tentando encontrar uma
saída. Tentando trazer alguma aparência de esperança para a situação.
— Mas e se ela for? — Angela sondou, com os olhos me procurando
enquanto eu tentava responder e falhei. Ela não estava perguntando de
uma forma mordaz. Ela estava dizendo isso de uma maneira genuína e real.
E isso doeu muito mais.
— Não sei. Eu... há muito que quero discutir com você. Você é meu
amor, não vê isso? Eu só... não é hora de desvendar a bagunça, não agora.
— Você não tem que explicar. Eu entendo, — ela respondeu.
— Entende mesmo?
— Eu era uma substituta na sua vida, a esposa que você precisava até
que você pudesse resolver as coisas com a que você queria, certo?
Suas palavras estavam me cortando, mais afiadas do que qualquer
lâmina que eu conhecia.
— Não. — Eu balancei minha cabeça, tentando o meu melhor para
encontrar uma maneira de convencê-la do que eu sabia ser verdade. — Eu
amo você...
— Mas eu não sou ela, — disse ela, interrompendo minha frase.
Foi quando vi as lágrimas brotando de seus olhos.
— E graças a Deus você não é, — respondi sem perder o ritmo.
— Angela, eu a amei uma vez. Anos atrás. E então descobri quem ela
realmente é. Com filha ou sem filha, você é tudo para mim. Você não vê
isso? É só você. Então você pode me odiar. Você pode me implorar para
sair. Mas não vou. Vou ficar aqui até que Em esteja bem. Até que você
esteja bem. Quer você goste ou não, — eu disse a ela.
— Eu não gosto disso, — disse Angela, com os olhos no chão.
Eu poderia jurar que ela me deu um tapa na cara.
— Você não quer?
— Não. E eu realmente gostaria se... Xavier, se eu significar alguma
coisa pra você... É melhor se você apenas ir para casa.
Angela
Nos dias em que Em estava no hospital, cada um de nós se revezava em
seu quarto. Não importava se ela estava acordada ou dormindo.
Queríamos que ela soubesse que nunca estaria sozinha.
Nesse momento em particular, ela estava dormindo profundamente.
Papai e eu nos sentamos ao lado dela.
— Estou farto de estar aqui, — admitiu papai. — Bem quando eu pensei
que estaria fora do hospital para sempre, aqui estamos nós.
Eu concordei.
— Eu simplesmente não entendo por que isso continua acontecendo.
Somos boas pessoas, não somos?
— Claro, Angela, — ele respondeu, segurando minha mão. — Não
estamos sendo punidos.
— Não me sinto assim.
— Querida, sim, essas coisas horríveis continuam acontecendo. Eu
preferia estar em um chá de bebê do que num quarto de hospital. Mas
adivinhe. Continuamos sobrevivendo, todas às vezes, — ele disse, me
apertando. Eu descansei minha cabeça em seu ombro.
— Em é forte, e tenho certeza que meu neto é ainda mais forte, — ele
disse.
— Você está certo, pai. — Eu exalei. — Lamento estar sendo tão fraca.
Ele se virou para mim, colocando a mão em cada um dos meus ombros.
— O que você está falando? Você é a mais forte de todos nós. Os
sacrifícios que você fez? Ninguém nesta família teve a coragem que você
teve, Angie.
— Casar com um estranho não foi corajoso, pai, — eu o lembrei.
Especialmente um traidor.
— Querida, casar com alguém é corajoso.
— Nós não temos um casamento de verdade. Você viu a foto. Todo
mundo viu.
— E daí? — meu pai perguntou.
Ele estava falando sério?
Como ele não poderia estar indignado?
Fui humilhada, exposta publicamente, de novo.
— Parecia que ela o estava beijando, não que ele estivesse
participando. Além disso, como eles conseguiram aquela foto naquele
exato momento? — Papai perguntou, como se estivesse discutindo com
um júri. — Você conhece a mulher, certo?
— Sim.
— Ela é honesta?
Claudia... ela era perfeita.
Uma boa mãe apenas tentando consertar as coisas para sua filha.
Não era?
Mas eu a conheci quando ela era Didi.
Quando ela estava mentindo sobre ser ex-noiva de Xavier.
Peguei meu telefone, puxando a foto horrível... e percebi que não era
realmente horrível.
Foi perfeito — tirado na distância certa, na luz certa, com a lente e a
moldura certas. Impossível de conseguir se não tivesse sido encenado.
Merda, teria sido quase impossível tirar essa foto.
Eu me virei para o papai. Ele parecia muito preocupado.
— Você acha que eu deveria ficar com Xavier? — Eu perguntei.
Papai se levantou e espreitou a cabeça para fora, em direção à sala de
espera.
— Dê uma olhada, — ele disse, acenando com a cabeça para onde ele
estava olhando. Levantei-me da cadeira e caminhei lentamente em direção
ao meu pai, meus olhos seguindo sua linha de visão.
E, com certeza, lá estava ele.
Meu marido.
Xavier.
Dormindo em uma cadeira de sala de espera miserável. Em uma sala de
espera vazia.
Papai colocou um braço em volta dos meus ombros e sussurrou em
meu ouvido: — Parece que ele vai ficar com você.

Xavier
O amor vai te bagunçar. Ele fará com que você queira tanto alguém que,
quando não o tiver ao seu lado, preferirá não estar acordado.
Curvado sobre o assento de merda da sala de espera, me perguntei por
quanto tempo ficaria aqui. Quanto tempo levaria para o bebê de Emily ficar
bem, para Angela e eu ficarmos bem, para acordarmos para algo que não
parecia um pesadelo.
Abrir os olhos foi como abrir uma lata de pavor. Até que eu pude
entender o que estava vendo.
Porque lá estava Angela, olhando para mim.
— Xavier... — ela disse suavemente.
— Como está Em? — Eu perguntei, esfregando o sono dos meus olhos.
— Eles encontraram o batimento cardíaco, — ela respondeu,
pressionando minhas mãos contra seu peito. Eu podia sentir seu coração
batendo forte, e me senti tão perto dela que não queria que ela abaixasse
minha mão. Nem agora, nem nunca.
— Eu também, — eu disse a ela, sussurrando. — Você me fodeu muito
bem, sabia disso?
— O quê?
— A ideia de perder você, Angela, é pior do que a ideia de perder
qualquer outra coisa. Fui a Claudia para te proteger. Ela... eu não queria...
— Foi uma armação, não foi?
Fios dourados tinham saído de seu coque, deixando-a parecendo uma
deusa em decadência.
— Eu vou te mostrar o que é um beijo de verdade, — eu declarei,
puxando Angela suavemente para mim, unindo nossos lábios. Eu agarrei
seu cabelo, puxando-a para o assento.
Ela montou em mim, minhas pernas entre as pernas dela, e passou as
mãos famintas pelo meu peito.
Nossas línguas entrelaçadas, dedos entrelaçados, olhos fechados.
Eu precisava disso.
Eu sentia falta disso.
Este era meu lar.
Eu a peguei, levando-a para fora da sala de espera vazia e para uma sala
abandonada no final do corredor. Eu a pressionei contra a parede, me
perdendo em seu cheiro, em seu cabelo, em seus gemidos.
Tudo que eu queria agora era estar com ela.
— Tranque a porta, — ela murmurou em meu ouvido, e eu fiquei mais
do que feliz em fazer o que ela disse.

Capítulo 25
Feche o negócio
Angela
Xavier me prendeu contra a porta de um quarto vazio do hospital. Eu sabia
que era inapropriado. Minha melhor amiga e meu pai estavam no final do
corredor, esperando para descobrir o destino de uma criança. E aqui
estávamos nós, nos agarrando.
Mas não parecia impróprio.
Parecia pontuar um — eu — esquecido por muito tempo. Parecia a
única opção, a única maneira de voltar ao normal.
Estava bem.
Foi tão bom.
Tão bom que todo o medo que eu tive sobre Xavier ainda amando
Claudia, sobre ele a escolher em vez de mim, se dissolveu no ar. Ele estava
aqui comigo. Ele estava me beijando.
Ele não estava acampado esperando por ela.
Ele estava aqui, esperando esta emergência emocional sair.
Ele estava me tocando, por toda parte, me fazendo sentir de uma
maneira que ninguém mais poderia. Pressionei meu peito nele, sentindo
um formigamento feliz irradiar por mim.
Coloquei meus braços em volta do pescoço dele, tocando sua barba por
fazer. Adorei a sensação que senti ao arranhar minhas bochechas nuas,
como fez minhas pernas tremerem de êxtase.
Passei minhas mãos por seus cabelos escuros, empurrando-os para trás
e puxando-o para perto de mim.
Foi quando ele pressionou seus lábios em meu pescoço.
Eu engasguei quando senti sua língua desenhar ao longo da minha pele.
Eu não sabia o que era mais gostoso. A maneira como ele me tocou
fisicamente ou a maneira como ele não se importava se fôssemos pegos.
Ele estava tão seguro de si, tão focado em mim, que era como se ele
tivesse esquecido completamente onde estávamos.
Me contorcendo embaixo dele, coloquei minhas mãos entre nós, meus
dedos correndo pelos botões de sua camisa. As mãos de Xavier foram para
seu cinto, sua calça caindo no chão em torno de seus sapatos.
Meu vestido veio em seguida, por cima da minha cabeça.
Quando Xavier deu um passo para trás, seu olhar encoberto percorreu
meu corpo agora nu.
Mesmo que ainda me fizesse corar, adorei sentir seus olhos em mim,
vendo aquele sorriso malicioso aparecer. Eu sabia que ele estava
imaginando algo louco.
Uma sensação avassaladora de intimidade tomou conta de mim. Do
amor.
Mas Xavier não apenas me amava.
Ele me queria. Tudo de mim.
Ele me desejava tanto que não tive medo de desejá-lo, desejar o
melhor e as partes mais safadas dele.
Dominado pela confiança, sussurrei:
— Faça o que quiser, apenas faça rápido.
Ele respondeu me girando e me curvando. Minhas mãos balançaram
em volta dos meus tornozelos, meu cabelo caindo em volta do meu rosto.
Eu podia sentir sua respiração na minha coluna, seu corpo traçando ao
longo do meu, e ele se inclinou sobre mim e deu um beijo na minha nuca,
entre minhas omoplatas.
Eu ansiava por me sentir mais perto dele e me levantei novamente,
pressionando cada uma das minhas curvas contra seus ângulos,
entrelaçando nossos tornozelos, pressionando minhas costas contra seu
peito, minha cabeça contra seu ombro.
Suas mãos alcançaram meus seios enquanto ele balançava para frente e
para trás, sua dureza deslizando ao longo da minha umidade.
Então suas mãos se separaram em direções diferentes. Uma mão se
curvou para envolver a base do meu pescoço em um aperto suave, e a
outra deslizou para baixo entre as minhas pernas, girando sobre o meu
clitóris.
Eu soltei um gemido.
— Mais.
— Tanto quanto você quiser, — respondeu ele e, em seguida, me fez
gritar.
Estremeci de felicidade quando senti Xavier empurrar ainda mais
dentro de mim, sentindo seu corpo mais forte e mais profundo do que
nunca.
Tudo o que pude fazer foi gritar por mais.
Nosso casamento, nosso amor, não foi um bilhete de loteria da sorte.
Era um cubo de Rubik que teríamos que continuar resolvendo conforme
nossas cores mudavam.
Era um quebra-cabeça, não um obstáculo.
Seria difícil, mas se isso fosse qualquer indicação, também seria muito
divertido.

Claudia
Você já teve um momento que porra estou fazendo!
O tipo de momento que faz você analisar toda a sua vida, que faz você
se perguntar onde você pegou o caminho errado que a levou a essa
situação desesperadora?
Eu nem me sentia presente com seu corpo sobre o meu. Como eu
poderia? Seu suor estava por toda a minha pele, sua respiração pesada
bem no meu rosto.
Objetivamente, ele não estava fazendo nada de errado.
Ele estava tocando nos lugares certos, beijando aquele ponto do meu
pescoço que eu gostava, falando sujo sem soar vulgar.
Mas mesmo assim, não foi o suficiente.
Nada foi suficiente.
O dinheiro que ganhei com a foto de Xavier e eu — a foto que vendi
para os tabloides e blogs de fofoca — encheu minha conta bancária,
mas nada mais. Eu poderia ter sido capaz de me presentear com Chanel
ou uma noite no Plaza, mas isso não significava nada.
Não para mim, não mais. Dinheiro
era apenas isso.
Dinheiro.
Ainda me deixou querendo, me deixou precisando, algo mais. Algo mais
quente, mais conectado, mais aterrado.
Merda.
Eu gostaria de poder pegar o dinheiro e fugir. Eu queria de verdade.
Eu gostaria que dinheiro fosse suficiente para acelerar minha
adrenalina, para me fazer sentir tão viva e rejuvenescida como costumava
ser, mas não foi. Não mais.
E então havia Xavier. Ter que vê-lo, ter que vê-lo com ela.
Saber que alguém como ele, alguém como aquele bilionário playboy
havia encontrado o amor — e eu estava sozinha — parecia que eu seria
assim para sempre.
Lembrando-me da minha fraqueza.
De tudo o que eu não tinha, tudo o que não conseguia segurar.
E, no fundo, mesmo quando Xavier e eu estávamos juntos, mesmo
quando éramos felizes, apaixonados, nunca pensei que ele realmente
quisesse se casar comigo. Ele só queria a aprovação de seu pai — na forma
de uma mulher.
Então eu o traí. Daniel era tudo que Xavier não era — obcecado por
mim, generoso com seu carinho, sempre ao meu lado quando eu precisava
dele. Mas mesmo depois que nosso segredo foi revelado, não duramos.
Não poderíamos ter durado.
Havia um holofote muito forte — muito ódio e descrença —
direcionado diretamente para nós. Seria como se casar em um campo de
batalha. Uma vitória se tivéssemos sucesso, mas as probabilidades estavam
contra nós, disparando balas em nossa carne vulnerável.
— Você é tão... gostosa... — O homem em cima de mim grunhiu, e
À
minha mente voltou ao presente. À situação em que me coloquei porque
queria me sentir viva novamente.
— Você também, — eu sussurrei de volta. Eu estava completamente
entediada, mas percebi que o coitado estava quase acabando. Portanto,
devia deixá-lo aproveitar.
Com um gemido final, ele gozou e então rolou de cima de mim. Ele me
puxou para perto dele para que meu rosto ficasse pressionado em seu
peito pálido. Depois de alguns momentos, não consegui segurar minhas
perguntas por mais tempo.
— Você trouxe? — Eu perguntei.
Ron acenou com a cabeça.
Nossa conexão era de conveniência. Nós dois fomos descartados por
Xavier.
O bilionário absorveu tudo o que tínhamos para oferecer e nos deixou
como um lago sem água, um cemitério de memórias submersas. Quando
Xavier descobriu sobre Daniel e eu, ele envergonhou seu amigo em
público, arruinando sua reputação e garantindo que ninguém ousasse
acabar comigo.
E Ron, Xavier o havia despedido sem ao menos um bom motivo. Depois
de décadas servindo seu pai, Xavier herdou o assistente como se ele fosse
uma herança de família. Quando ele decidiu que Ron não era de seu gosto,
ele o cuspiu.
Como eu, Ron precisava lutar.
De maneiras que Daniel nunca poderia.
Tudo o que precisou foi correr para ele depois que ele foi demitido. Ron
e eu nos conhecíamos desde quando eu estava namorando Xavier, todos
aqueles anos atrás. O assistente de Brad nunca estava muito atrás de Brad,
então ele estaria em reuniões familiares e eventos sociais.
E assim eu o encontrei em um Starbucks no distrito financeiro algumas
semanas atrás. Ele me contou o que aconteceu, como ele ainda estava
procurando trabalho. Como ele estava começando a ficar nervoso. Foi
quando eu vi o que ele era: outra pessoa que tinha sido fodida pelos
Knights.
Outra pessoa com informações que eu poderia usar.
E outra pessoa que, sejamos honestos, queria me ferrar.
Então eu o deixei entrar no meu apartamento, e ele me deixou entrar
em sua mente. E cara, ele tinha um grande cofre cheio de informações
ultrassecretas sobre os Knights.
— Eu trouxe. — Ron acenou com a cabeça, beijando minha testa antes
de estender a mão e colocar uma pasta na cama. Ele abriu sua pasta,
escolhendo um longo contrato.
Eu peguei de suas mãos. Estava mais que encantada.
O documento traçava um acordo entre Angela e Xavier, um acordo de
casamento, em troca de dinheiro.
Eles nem mesmo se conheceram antes de ela concordar em ser sua
esposa.
Faz sentido, zombei internamente. A única maneira de Xavier conseguir
que uma mulher esteja com ele é se ela não o tivesse conhecido, se ela não
o conhecesse.
Xavier tinha, para todos os efeitos, alugado uma mulher. Por um preço
colossal. Mas agora seu contrato com ela havia acabado.
Conforme eu folheava as páginas intermináveis do acordo, me sentia
energizada. Essa foi a adrenalina que eu estava procurando, a sensação de
vivacidade que eu tanto desejava.
Logo o mundo inteiro saberia a verdade sobre Angela e Xavier.
Eu me senti tonta.
Eu estava com calor.
— Ei, Ron. — Eu me aninhei de volta para o homem tenso. — Pronto
pro segundo round?
Capítulo 26
Conhecimento Público
Xavier
Eu não conseguia acreditar nos meus olhos.
Eu literalmente não pude acreditar neles.
No começo, achei que fosse um sonho. Um pesadelo.
Talvez eu tivesse comido um brownie com um pouco de erva misturada
sem saber, e esse fosse o barato.
Talvez, apenas talvez, isso fosse uma invenção da minha imaginação.
Mas então eu pisquei e os alertas de notícias ainda estavam lá no meu
telefone. E então mais deles apareceram. E ainda mais.
XAVIER KNIGHT COMPROU SUA NOVA NOIVA
CASAMENTO DE KNIGHT FEITO POR DINHEIRO
ANGELA & XAVIER KNIGHT SÃO UM ACORDO PAGO
Eu queria gritar. Eu queria bater na parede com meu punho, infligir dor
em algo que não era eu. Para focar em machucar alguém, em vez de focar
em minha própria dor.
Eu corri todo trajeto até o prédio do meu pai, não dando a mínima para
que o vento forte parecesse uma bofetada na cara a cada passo que eu
dava. No momento em que seu elevador particular estava abrindo em seu
foyer, eu já estava gritando.
— PAI! — Eu uivei.
Ele cambaleou, parecendo meio adormecido.
— Shhh, Penny e eu dormimos tarde, Xavier, — ele disse, esfregando o
couro cabeludo.
— Acho que você não viu as notícias? — Eu perguntei.
— Acabei de sair da cama. O que está acontecendo? — Papai
pressionou.
— Alguém vazou o acordo. Você sabe, o acordo que você forçou a mim
e a Angela.
— Isso não é possível, — papai disse, sua voz forte e nivelada. Ele
estava totalmente acordado agora.
— Cada página, cada condição, cada detalhe que você exigiu de Angela.
Eles são publicados para o mundo ver.
Eu me aproximei dele.
— O mundo inteiro pensa que eu tive que pagar para ter uma garota.
Eles pensam que eu sou um idiota de pau mole que precisa de seu pai pra
transar.
— Não fale assim comigo, Xavier, — meu pai ordenou. Eu o ignorei.
— E pior, eles acham que Angela é uma noiva de aluguel interesseira!
Você sabe o que acabou de fazer com a vida dela? Para minha vida? — Eu
me enfureci.
Eu estava cansado de me fazer de bonzinho. Não importava o que eu
dissesse. Não havia mais nada que eu pudesse perder. Ele não poderia me
tentar a fazer a coisa certa jogando a empresa na minha cara, jogando um
papel ou, não sei, a memória de minha mãe.
Tudo isso caiu por terra quando ele começou a trepar com minha ex.
O poder do meu pai se foi. Não havia mais nada que ele pudesse tirar
de mim.
Nem mesmo Angela. Ela estava com tanta vergonha de estar perto de
mim, respirando o mesmo oxigênio. E agora ela foi marcada como uma
mulher de aluguel, como se ela fosse minha prostituta em vez do sangue
em minhas veias, mantendo todos os músculos vivos.
Não havia como ela voltar para mim depois disso.
E eu não poderia culpá-la.
Eu também não voltaria.
A pior parte é que nem era verdade. Os jornais não se importaram com
o fato de Angela estar tentando manter seu pai vivo. Eles não se
importaram que ela fizesse meu coração disparar para fora do meu peito,
disparando como um despertador apreensivo.
— Quem você acha que fez isso? — Papai perguntou com cuidado.
Como se ele soubesse que eu tinha uma bomba amarrada ao peito e não
tivesse certeza de quando pressionaria o botão.
— Minha querida ex-namorada, — eu cuspi.
— Claudia?
— Claro que é Claudia, pai. Quem mais? — Eu zombei.
Observei meu pai respirar fundo. Então seus olhos se levantaram
lentamente até que encontraram os meus.
— Filho, isso não é possível. Eu me certifiquei disso. Eu fiz questão de
que ela te deixasse em paz.
Eu congelei.
— O que diabos você fez? — Eu rosnei.
— O que qualquer um na minha posição faria. Eu paguei para ela parar
de prejudicar minha família, — meu pai revelou.
Aí eu fiquei muito furioso.
— Isso não funciona com pessoas como ela! — Eu gritei. — Você
acabou de dar a ela mais recursos para nos atacar! Ela não vai parar até
que minha vida seja tão patética quanto a dela. Você não entende?
Talvez meu pai fosse um homem de bom coração, mas eu não era. Tudo
com Claudia... nunca foi sobre dinheiro. Sempre foi sobre tortura.
E meu pai tinha caído no seu jogo.
Meus olhos correram para ele, e pela primeira vez na minha vida, eu vi
o homem como ele era. Sua bondade era apenas um disfarce, escondendo
a verdade em seu âmago — sua obsessão por controle.
Ele daria, daria e daria, apenas para ser conhecido como a pessoa que
deu.
Só assim ele poderia controlar o resultado, sem qualquer chance de
fracasso.
A raiva saiu de mim. Eu não conseguia mais segurar.
— Eu não posso acreditar que uma pessoa poderia fazer tanta merda.
Coagindo a mim e a Angela a um casamento fodido? Mentindo para cada
um de nós sobre o que estávamos fazendo? Financiar a mulher que partiu
meu coração.
— Tudo o que fiz, fiz por você! — Meu pai respondeu, com agonia em
todas as suas feições. Meu pai começou a hiperventilar, curvando-se sobre
o sofá de dor. Ele estava gaguejando através de respirações dolorosas,
como se eu tivesse dado um soco em seu estômago.
Eu não me importei.
— Não, você fez tudo por você, — eu insisti. — Não acredito que somos
parentes. Não acredito que vim de você.
Eu quis dizer isso.
Papai queria que eu vivesse uma vida que ele não poderia. Mamãe
estava morta e, em vez de se recuperar de seu próprio trauma, ele queria
que eu fizesse isso por ele. Ele queria que eu tivesse o casamento que ele
perdeu, em vez de me permitir abrir meu próprio caminho.
Ele queria que eu seguisse em frente por ele.
Eu me sinto enojado.
— Você não pode ir embora, — disse papai, aninhando-se no sofá. Mas
eu já estava na porta, decidido a deixar essa bagunça para trás.
— Fique olhando, — declarei, embora tivesse ouvido a urgência em sua
voz.
— Não. Há mais uma coisa que você precisa saber.

Angela
O amor não devia ser uma tortura.
Eu sabia.
Sim, com certeza.
Mas mesmo sabendo disso, não poderia ir embora. Não do amor que
tive por Xavier. Mesmo que nosso amor fosse uma tortura, mesmo que,
todos os dias, eu ficasse chocada com as novas maneiras como ele era
capaz de me trazer dor, eu não poderia virar as costas para ele.
Podia?
Todo o nosso relacionamento tinha sido um ciclo de dominós da altura
de um arranha-céu caindo sobre nós. Eu mal conseguia me mover de tão
esmagada pelo peso deles. E o mundo inteiro foi convidado a observar, a
ver os danos.
Neste ponto, eu não tinha certeza se havia momentos felizes o
suficiente entre Xavier e eu para enfaixar as feridas abertas e agonizantes.
Principalmente este.
Para o mundo, eu não era mais Angela. Não, agora eu era o pior tipo de
pessoa. Do tipo que se casa por dinheiro. O tipo que finge amor em troca
de estabilidade financeira.
Desde que me casei com Xavier, a sociedade me conheceu como sua
esposa. Foi difícil se acostumar com aquele título. Demorou e exigiu
prática. Houve um tempo em que tudo que eu queria era voltar para a
Angela que eu era antes dele.
Mas agora, tudo que eu queria era voltar a ser Angela Knight.
Para a mulher que Xavier se casou, só porque eu podia.
Mas não conseguiria. Nem agora, nem nunca.
Porque o acordo estava lá, público, para o mundo ver.
E eu não era nada além daquela garota.
Aquela garota que se casou com um estranho por algum dinheiro.
Aquela garota que mentiu para o mundo, fingindo ter amor por causa
da ganância.
Aquela garota cujo rosto bonito era apenas uma máscara para as
profundezas da repulsiva hediondez por baixo.
A humilhação era... insuportável.
Queimou minha pele, gelou meus ossos e envolveu meu coração em
arame farpado.
Onde quer que eu fosse, meu nome era sinônimo de oportunista.
De interesseira.
Vadia gananciosa.
Para todos, Angela Knight era a mulher que vendeu sua alma por um
anel de diamante.
Eu encarei minha aliança de casamento. Eu me senti ridicularizada por
seu brilho, seu design elaborado e grandioso.
Eles estavam certos.
Eu estava fingindo.
Este anel, este quarto, este luxo, não fui eu. Eu nunca colocaria um
guardanapo na pizza antes de comê-la. Eu nunca teria certeza de que meu
sutiã combinava com minha calcinha ou que meu cabelo estava preso com
segurança em um penteado elaborado.
Eu tinha sido uma invasora nesta festa que Xavier chamava de lar.
E eu sempre seria.
Eu arranquei o anel de diamante do meu dedo e o coloquei na minha
mesa de cabeceira.
Se renovássemos nossos votos de casamento agora, seria uma piada. Já
éramos motivo de riso.
Precisávamos cancelar.
Talvez precisássemos cancelar tudo.
Este romance era uma fera amaldiçoada, sempre levantando uma nova
cabeça mais violenta e mais feia.
Talvez a única maneira de acabar com a dor fosse divorciar-se e deixar
tudo para trás.
Mas eu poderia fazer isso?
Eu poderia esquecer o homem que amei tão intensamente, tão
completamente e genuinamente?
Eu não conseguia parar de pensar em Xavier, não conseguia parar de
me preocupar por ele. Mesmo quando eu estava com raiva dele. Mesmo
quando ele estava errado.
Eu acho que isso era amor — tortura quando está ao redor de nossos
dedos, tortura quando cai através deles.
Minhas mãos estavam vazias agora, meus dedos estéreis.
Crrrr. Crrrr.
Alguém estava caminhando pela madeira dura.
O que significava... Xavier estava de volta.
Eu levantei o anel, olhando seus detalhes glamorosos. Certamente não
era pra mim. Mas, caramba, ele era — exagerado, mas delicado.
Eu deslizei a aliança de volta no meu dedo, assim que Xavier entrou
no quarto.
— Você está bem? — Ele perguntou, pressionando minha cabeça contra
seu peito. Eu não pensei que estar tão perto dele me faria sentir melhor —
que qualquer coisa poderia me fazer sentir melhor — mas aqui estava eu.
Me sentindo melhor.
— Eu não sei, Xavier. Eu não sei, — eu murmurei, e então os soluços
vieram.
Ele suspirou.
— Lamento dizer isso, mas tenho mais novidades...
Eu olhei para ele, tentando vê-lo através das lágrimas.
— Sophie não é minha, — revelou Xavier. Eu olhei para ele, atordoada.
— O que você quer dizer? — Eu funguei.
— Meu pai fez algumas pesquisas... Sophie é filha de Daniel. O DNA
prova isso. O nome dele está até na certidão de nascimento, — explicou
Xavier. — Ela inventou tudo para chegar a mim... a você e a mim.
— Isso não é... quero dizer... é impossível. Ela ama Sophie, — eu
gaguejei. Como Claudia pôde jogar xadrez com a vida da filha assim?
— Talvez, Angela, mas isso não significa que ela não usou a porra da
criança para nos machucar e roubar, — Xavier respondeu, passando as
mãos pelo meu cabelo.
Era por isso que ela não queria pensão alimentícia de Xavier. Sophie
não era filha dele, e isso significava que eu não era sua madrasta.
Os olhos de Xavier estavam injetados. Nunca o vi tão arrasado, tão
furioso. Ele não se parecia consigo mesmo. Ele parecia perigoso, como uma
besta abusada liberada de sua jaula. Pronto para a vingança.
— Vou acabar com eles, — declarou ele.
— Xavier... — Eu disse, tentando acalmá-lo.
— Não. — Ele me cortou, beijando-me nos lábios. — Vou acabar com
todos eles.

Capítulo 27
Superexposto
Xavier
Angela e eu estávamos cercados por mil câmeras, mas desta vez, fui eu
quem as ligou.
Desde que a notícia de que Angela e eu tínhamos um casamento
arranjado, fomos perseguidos por paparazzi desesperados,
pressionandonos por detalhes.
Agora era hora de confessar.
Desta vez, mostraremos nossas cartas. Sem mais segredos, sem mais
mentiras. Angela e eu tínhamos algo real e não tínhamos nada a esconder.
A coletiva de imprensa estava marcada para começar em vinte minutos.
Mas isso não impediu os perseguidores persistentes com câmeras do lado
de fora do nosso camarim.
Eu sabia o que eles queriam.
Eles queriam nos pegar carrancudos, nos pegar lutando. Qualquer coisa
que provasse que éramos tão falsos quanto eles pensavam que éramos.
— Você tem certeza disso? — Angela perguntou, com sua voz suave
preenchendo o espaço entre nós.
Mesmo que ela tenha me feito a mesma pergunta um milhão de vezes,
e mesmo que eu tenha respondido com confiança todas as vezes que ela
perguntou, ela ainda tinha dúvidas.
Não que eu pudesse culpá-la.
A garota foi arrastada pela lama, tudo porque ela se envolveu no caos
que era a minha vida.
Antes de eu fazer as ligações para garantir esta entrevista coletiva na noite
passada, Angela olhou para mim com seus olhos arregalados, sua boca se
abrindo em um meio sorriso.
— Devíamos voltar para a ilha. Aquela em que caímos. — Ela deu uma
risadinha. — Não haverá nenhuma câmera lá. Nenhum paparazzi. Será
apenas eu e você.
Rimos juntos e eu a beijei, maravilhado com a sorte que tive.
Ela estava certa, é claro. Se pudéssemos chegar a algum lugar onde
pudéssemos estar um com o outro, sem complicações, seria muito mais
fácil.
Mas eu era um Knight, e coisas assim não eram fáceis para minha
família.
— Não podemos fugir, — sussurrei para ela em resposta.
— Eu sei. — Ela acenou com a cabeça, esfregando minha bochecha. —
Enquanto estivermos aqui, juntos, serei feliz.
— Promete? — Eu perguntei a ela, me
arrependendo instantaneamente. Porque eu não podia pedir isso a
ela; era demais. Depois de tudo que eu a fiz passar, até mesmo pedir para
ela ficar ao meu lado era demais.
— Eu prometo, — ela murmurou, me beijando novamente.
E eu exalei.
— Xavier? Tem certeza? — Angela perguntou novamente, me trazendo
de volta ao camarim. Aproximei-me dela, puxando-a para um abraço
apertado.
— Tenho tanta certeza disso quanto de que te amo, — respondi,
beijando sua testa.
Mesmo com todo o pânico consumindo-a, ela não pôde deixar de sorrir.
— Ok, então, — ela disse, endireitando minha gravata. Eu sorri,
colocando minha mão sobre a dela.
— Arrasa eles.
Eu tirei um pouco de cabelo do seu rosto, colocando suas bochechas
macias em minhas mãos.
— Por você, — respondi, pressionando seus lábios contra os meus, —
qualquer coisa.

Claudia
Nada poderia tornar o caos de buscar minha filha depois da escola melhor.
A nova babá se ofereceu para pegar Sophie na escola, mas eu
simplesmente não conseguia dizer sim. Eu não conseguia evitar uma
diversão assim.
Além disso, só porque eu podia pagar por ajuda não significava que
queria tudo isso.
O objetivo disso era poder pegar Sophie todos os dias depois da escola,
levá-la a qualquer atividade extracurricular que ela escolhesse. Eu queria
dar a ela a vida que ela queria. Eu queria ter certeza de que ela tinha tudo.
E para fazer isso, precisava de recursos.
Recursos e um pouco de diversão. Para me manter sã.
Eu saí do carro, agarrei Sophie da professora e a ajudei a entrar no
carro. Assim que ela estava segura em sua cadeirinha, sentei ao volante.
— Música! Música! — Minha garotinha cantou.
— Como quiser. — Eu sorri de volta para ela pelo retrovisor. E então
coloquei a trilha sonora de Frozen, deixando a batida passar pelo carro.

Ron: Ei, gata.

Ron: Tenho pensado em voc ê .

Ron: Vamos para Cipriani Wall St esta noite.

Claudia: N ã o posso.

Ron: Outro dia ent ã o?

Claudia: Ocupada.

Ron: Que tal amanh ã?


Claudia: Isso tamb é m n ã o vai dar.

Ron: Por que n ã o?

Ron: Tudo bem?

Claudia: Eu n ã o queria fazer isso por msg,


mas...

Claudia: Acho que n ã o devemos mais nos


ver.

Ron: O qu ê ?

Ron: Por qu ê ?

Claudia: Só n ã o gosto de voc ê .

Ron: Voc ê est á brincando?

Ron: Voc ê me usou!

Ron: Voc ê só queria o contrato do acordo.


Claudia: ...

Claudia: Sinto muito, Ron.

Ron: N ã o, voc ê n ã o sente.

Ron: Voc ê n ã o é melhor que os Knights.

Ron: Voc ê s todos se merecem.

Ron: Fodam-se todos voc ê s.

Xavier

De pé no palanque, eu estava tão apavorado que não conseguia nem ler


meu discurso.
Isso não era meu feitio, o que fez meu pulso disparar ainda mais rápido.
Eu podia sentir o suor escorrendo em minhas têmporas, e minha gravata
parecia muito apertada.
Se eu não pudesse consertar nossa reputação, perderia a empresa.
Nossas ações já haviam caído por causa de todo o caos.
Pobre papai... papai.
Eu não podia acreditar o quão duro eu tinha sido com ele.
Depois disso, eu preciso me desculpar por ser um idiota.
Todos os repórteres estavam gritando perguntas para mim. Limpei a
garganta o mais alto que pude para que pudesse pelo menos responder
algumas.
— Corre o boato de que minha esposa assinou um contrato antes de se
casar comigo, em troca de dinheiro, — anunciei. A multidão de jornalistas
ficou em silêncio. — Não estou aqui para contestar. Estou aqui para lhe
dizer que é a verdade.
Houve um rugido ao meu redor. Todos começaram a cuspir manchetes
em suas câmeras.
Xavier Knight confirma...
... Angela Knight era uma...
... um amor falso, mas uma funcionária de verdade...
Eles não esperaram que eu chegasse à parte boa.
— Essa é a verdade, mas não toda a verdade, — proclamei. — Antes de
me casar, eu era infeliz. Eu vi todos os tipos de mulheres, mas estava
completamente sozinho. Meu pai conheceu Angela e soube imediatamente
que ela era tudo de que eu precisava. Ela não era uma interesseira. Na
verdade, ela tinha muito mais a oferecer do que eu.
Respirei fundo e continuei.
— Mas eu era teimoso. Eu estava emocionalmente isolado. Eu nem
mesmo acalentaria o pensamento de amor, mas meu pai se recusou a me
deixar ficar com sua empresa, a única coisa com a qual eu poderia me
conectar, a menos que casasse com Angela. Então eu fiz.
Eu olhei para Angela. Seu rosto estava inchado de tanto chorar. Suas
bochechas estavam vermelhas, desconfortáveis com os segredos que eu
estava revelando. Mas eu precisava contar mais.
Eu precisava contar tudo.
— Essa foi a melhor escolha que já fiz, — expliquei à multidão. — No
começo, eu era como todos vocês. Eu julguei Angela mal. Achei que ela
estava com fome de dinheiro, disposta a fazer qualquer coisa pela vida da
classe alta, mas ela não estava.
Mais uma vez, arrisquei um olhar para Angela. Seus olhos estavam
fechados, como se ela não pudesse suportar assistir.
— O pai de Angela precisava de uma grande cirurgia cardíaca e a família
dela não tinha recursos para ajudá-lo. Então ela se casou comigo para
pagar suas contas médicas. Angela faria qualquer coisa por sua família,
incluindo se casar com um lixo que ela nunca conheceu.
Eu ouvi um suspiro do grupo de repórteres na minha frente.
Bom.
— Agora, Angela e eu somos uma família. Faremos qualquer coisa um
pelo outro. E isso inclui confessar tudo. Sobre a nossa história.
Um repórter estiloso do Cosmopolitan apareceu na frente da multidão,
chamando por mim.
— Você ao menos gosta dela? — ela comentou.
E finalmente meu pulso desacelerou, meus poros pararam de suar e
meu coração se abriu. Eu sorri.
— Não. Eu não gosto dela.Eu sou exagerado, cafona e apaixonado por
ela. Angela Knight me faz querer ouvir músicas de Taylor Swift. Ela me faz
ansiar pelas férias e me deixa aproveitar as coisas da vida que vêm de
graça. Eu a amo tanto que vou me casar novamente — desta vez de
verdade.
Uma repórter mansa e leal levantou a mão. Sem fôlego e oprimido por
ter acabado de arrancar minha pele para uma multidão avaliar meu
coração, eu a chamei.
— Sr. Knight, você está com raiva de seu pai por forçá-lo a um
casamento arranjado? — ela questionou.
— Não... eu estou muito grato pelo que ele fez. Tudo o que tenho neste
mundo... é por causa dele, — respondi. E então me afastei do palanque e
saí do palco, orgulhoso da verdade que deixei para trás.
Brad
Enquanto eu me sentava sozinho em minha poltrona de couro favorita,
com os olhos espreitando pela janela de vidro do chão ao teto em meu
escritório em casa, e minha mente girando com os eventos das últimas seis
horas.
Eu não podia acreditar que Xavier me odiasse tanto.
Eu não podia acreditar que tinha deixado as coisas saírem do controle.
Eu não conseguia acreditar que o mundo inteiro conhecia os segredos
de nossa família.
Tentei me tranquilizar, dizer a mim mesmo que poderia pensar em algo
para consertar. Sempre havia uma maneira de consertar as coisas.
Assim que as coisas voltarem ao normal, Xavier vai me perdoar.
Isso foi o que eu disse a mim mesmo.
Apenas descubra uma maneira de fazer com que eles voltem ao
normal.
Meu filho estava certo, é claro.
Eu tinha feito o acordo para mim.
Eu queria que ele se casasse porque não suportaria ver a luz da minha
vida se extinguir, tudo porque não havia ninguém para cuidar de suas
chamas. Eu não queria que meu menino lindo, inteligente e teimoso ficasse
sozinho.
A vida não foi feita para ser vivida sozinha.
E agora ele não estava mais sozinho. Ele tinha Angela ao seu lado, para
ajudá-lo a enfrentar o caos do mundo de frente.
Mesmo que ele me desprezasse, o fim justificou os meios. Ele a tinha, e
isso era tudo que eu sempre quis.
Então, talvez eu fosse algum tipo de maníaco por controle.
Talvez eu gostasse de poder mover as peças do quebra-cabeça, para
orquestrar a felicidade daqueles que eu amava.
E daí? Eu pensei com um sorriso.
Então percebi a dor mais profunda e intensa que já senti. Como um
machado no meu crânio. Eu congelei.
Então, eu vomitei.
Em seguida, o tremor começou. Meu corpo inteiro paralisou, com
minha cabeça vibrando sem controle. A cada novo tremor, uma agonia
excruciante passou por mim.
Procurei por algo — qualquer coisa — em que pudesse me concentrar,
uma distração que pudesse me agarrar neste momento de dor inabalável.
Mas minha visão estava embaralhada. A luz parecia anzóis perfurando
meus olhos.
Então parecia que eu não tinha olhos.
Cada parte do corpo parecia que estava evaporando em nada.
Eu senti a vida em cada membro esvair e desaparecer.
Eu não podia morrer.
Assim não.
Agora não.
Tinha que lutar, pela minha vida, pelo meu filho.
Eu não estava pronto para Amélia ainda.
Eu respirei com tudo que pude, mas não adiantou.
Eu respirei e soube que era a última vez.

Capítulo 28
Referência
Xavier
— Um aneurisma cerebral começa com um vaso sanguíneo, — disse o
médico.
As palavras ecoaram por mim enquanto eu deslizava para o chão do
hospital. Eu estava mole, como se tivesse transcendido meu próprio corpo,
como se tivesse perdido a posse de meus membros.
A dor lacerante era tão profunda, tão indescritível, que tinha que
assumir uma forma física. Isso tinha que me queimar e derreter meus
ossos.
Eu encarei as luzes fluorescentes, com minha mente voltando para a
cobertura do meu pai.

Eu estava correndo para ele, para meu pai, para que pudesse me desculpar.
Para que eu pudesse pedir desculpas por ser tão idiota. Por ser ingrato,
duro e injusto.
Eu subi no elevador, ensaiando minhas desculpas a meu pai, pensando
na maneira correta de expressar meu remorso.
O que você fez, armando Angela e eu, não foi um erro, pensei. Foi um
presente, mesmo que tenha sido algo fodido.
Talvez ele tenha feito o casamento um pouco para ele, mas no final das
contas, eu tenho que acordar ao lado dela.
Era eu que tinha que segurar sua cintura fina e perfeita. Era quem sabia
que era amado por uma mulher tão perfeita para mim, uma mulher que só
meu pai poderia saber que foi feita para me amar.
Culpá-lo por nossos problemas era egoísmo.
Fui eu quem me envolvi com Claudia, e se havia alguém que fodeu
minha vida, foi ela. Sempre era ela.
Assim que as portas do elevador abriram, corri para o saguão de papai.
Com sorte, ele ouviu a coletiva de imprensa. Esperançosamente, ele
ouviu minhas respostas sinceras, como eu não tinha mais medo de
confessar a verdade.
De admitir meu amor.
— Pai? — Eu gritei, esperando por uma resposta. Esperando pelo som
de seus pés, de chinelos, caminhando pelo corredor. Mas não havia nada.
O saguão estava silencioso como um maldito centro para surdos.
Andei para frente e para trás, sentindo que algo estava acontecendo.
— Pai? — chamei novamente, decidindo sair pelo corredor. Ele não
estava na sala de estar, na sala de jantar ou na cozinha. Ele não estava no
banheiro de hóspedes ou na biblioteca.
A porta de seu escritório em casa estava fechada.
Tentei bater.
Toc toc.
Toc toc.
Toc toc.
Nada.
Eu tentei a maçaneta, e ela se mexeu sob minhas mãos, a porta se
abrindo com um movimento fluido. Foi quando eu o vi. Estava caído de
frente, dobrando-se sobre si mesmo, na poltrona perto da janela.
— PAPAI! — Eu gritei, correndo em direção a ele. — POR FAVOR! PAPAI!
— Gritei ao sentir o pulso.

— Os vasos sanguíneos atingiram um tamanho perigoso no cérebro, —


disse o médico, me trazendo de volta à realidade.
Os paramédicos colocaram papai em uma maca.
Seus olhos não abriram.
Suas mãos não tremeram.
Sua respiração nem mesmo ficou embaçada no ar fresco de fevereiro.
Tirei meu casaco, cobrindo seu corpo despido com ele, tentando
proteger sua carne insaturada do frio.
— Pai, estou aqui. Eu não vou a lugar nenhum, eu juro, — eu sussurrei
em seu ouvido, sem saber se ele podia me ouvir.
— Muitas vezes parece uma fruta pendurada em um galho, — disse o
médico, continuando sua explicação, e meu desconforto em ouvir tudo
aquilo. — Se o vaso sanguíneo se rompe, causa sangramento no cérebro.
Assim que chegamos ao Hospital Bellevue, jalecos brancos esvoaçavam
sobre papai como pombas.
Eles o arrastaram para dentro, para a sala de cirurgia, tentando cortálo
e colá-lo novamente.
Angela sentou-se comigo, mas eu não conseguia sentir suas mãos em
volta das minhas.
Eu não sentia nada.
Nada, exceto o barulho estridente e violento dentro da minha cabeça.
Meu corpo era um edifício e todos os alarmes de incêndio estavam
gritando.
— Ele vai sobreviver, — Angela disse suavemente depois de horas de
espera, mas eu não tinha certeza se era por ela ou por mim. — Ele tem que
fazer isso. Por favor, ele tem que fazer isso.
No segundo em que o médico se aproximou de mim, soube que meu
pai havia partido.
Que eu receberia um discurso sobre como eles fizeram tudo o que
podiam. Eles tentaram o seu melhor, mas eles não conseguiram. Ele não
sobreviveu. Estava já muito debilitado.
Eu poderia dizer tudo isso pelo olhar agonizante que o médico estava
me dando.
A cirurgia não funcionou.
O sangue vazando matou todas as células ao seu redor.
Também aumentou a pressão dentro de seu crânio, destruindo o
suprimento de oxigênio.
Ele estava sufocando dentro de sua própria mente.
Eu sentia o mesmo.
Eu sabia exatamente o que diabos isso era.

Angela
Eu queria soluçar, mas não consegui.
Pelo menos não hoje.
O funeral tinha que ser planejado, os convidados, administrados, os
paparazzi, exilados. Xavier estava indiferente, uma concha sem nenhum
sinal de vida.
Como ele poderia ser outra coisa?
Pelo menos Em deu uma mão amiga. Ela tinha vindo com montes e
montes de flores, enchendo todo o espaço com lírios brancos.
A flor favorita de Brad.
A flor que trouxe os Knights para minha vida.
No dia mais amargo de nossas vidas, ela se certificou de que o ar
estivesse tingido de doçura.
Quando chegou a hora das pessoas fazerem discursos, eram
principalmente parceiros de negócios. Pessoas que fizeram acordos de
desenvolvimento com Brad, que se sentaram ao lado dele em inúmeras
salas de reuniões.
Xavier estava traumatizado demais para falar. Eu poderia dizer que ele
odiava cada segundo que os homens de terno atestavam a personalidade
de Brad, como se eles realmente o conhecessem.
Até Penny, que estava sentada no banco à nossa esquerda, parou de
soluçar por tempo suficiente para lançar olhares perplexos a esses homens.
Como se eles tivessem a audácia de marcar o fim da vida de um homem
com uma história de sua perspicácia para os negócios.
Como se a soma de suas realizações fosse sua empresa, não sua família.
Não as pessoas que ele amava.
Não foi assim que Brad deixou este mundo — lembrado pelas pessoas
que não o conheciam, que o respeitavam por ganhar milhões, não por
como ele os doou tão generosamente.
Eu não queria falar.
Havia muitas pessoas.
Eu odiava falar em público.
O público ainda pensava que eu era uma mentirosa interesseira.
Mesmo assim, quando o último milionário de terno desceu do
palanque, eu me peguei gravitando em direção a ele. Como se eu estivesse
flutuando, não andando, até o microfone.
— O dia em que conheci Brad Knight foi o pior dia da minha vida, —
falei lentamente, com a voz trêmula. — Até hoje.
Xavier olhou para mim, surpreso.
Mas então ele acenou com a cabeça e seus olhos me imploraram para
continuar.
— Brad acreditava nas pessoas da mesma forma que alguns de nós
acreditam em Deus. Se ele confiou em você, ele confiou em você de corpo
e alma. Sua fé nos outros era sua religião, — concluí.
— Se medirmos a influência em dólares, há muitas pessoas poderosas
aqui hoje. Mas Brad teria a mesma influência se você esvaziasse sua conta
bancária. Ele tinha o dom de ver o potencial e daria tudo o que tivesse para
deixá-lo crescer.
Eu respirei fundo.
— Brad se aproximou de mim naquele dia horrível, há mais de um ano.
Ele me pediu para fazer parte de sua família e perguntou se poderia me
ajudar a salvar a minha. Ele salvou meu pai. Ele me salvou, — eu admiti, e
meus olhos voaram para os de Xavier.
— E ele salvou meu marido.
Xavier tinha lágrimas escorrendo pelo rosto.
Eu nunca o tinha visto chorar antes, e isso me fez querer envolvê-lo em
meus braços, para protegê-lo da dor.
— Brad nos deu tudo. Ele nos deu um ao outro e, com isso, nos deu a
capacidade de sobreviver sem ele.

Xavier
Estava um dia muito frio e chuvoso para ir ao Central Park, mas Angela
insistiu.
Eu estava tão entorpecido que ela poderia ter me arrastado para
qualquer lugar.
Meu corpo parecia carne ensanguentada. Não sobrou nada de mim —
nenhuma capacidade mental, nenhuma capacidade emocional, nenhuma
capacidade espiritual. Eu não era nada mais do que uma criatura morta,
esperando para ser esfolada.
Porque se meu corpo pudesse dar algo a alguém, estaria fazendo mais
do que atualmente faz por mim.
Sentamos em um banco do parque, com Angela tentando me
ressuscitar.
— Este era o lugar especial deles, — afirmou Angela, apontando para o
banco. Ela estava tentando me lembrar de como meus pais sempre
estiveram aqui.
Mas isso apenas me lembrou de que, agora, os dois se foram.
Eu tinha mandado meu pai embora sem um adeus e, pior, a última vez
que nos falamos foi a pior briga que já tivemos. Ele morreu pensando que
eu o odiava, pensando que eu era ingrato por tudo que ele lutou tanto para
me dar.
Ele morreu depois que eu destruí nosso relacionamento até virar uma
polpa sangrenta.
Suspirei, querendo ficar sozinho.
Eu não queria ninguém — especialmente Angela — perto de mim.
Eu não merecia seu amor.
Eu não merecia amor de forma alguma.
Eu era um animal. Não, uma besta.
Uma criatura tão cruel que não tinha lugar na porra do reino animal.
Um monstro.
— Xavier, eu preciso que você fale comigo, — Angela pressionou.
— O que você quer que eu diga? — Eu disse.
— Algo, por favor.
— As últimas palavras que disse a meu pai foram que não conseguia
acreditar que éramos pai e filho, — admiti.
Angela olhou para seus pés.
— Eu sei, — ela murmurou.
O quê? Como?
— Seu pai me ligou para ver se você estava bem antes da coletiva de
imprensa, — Angela explicou, lentamente encontrando meus olhos. — Ele
estava preocupado com você. Ele sabia que você ia se desculpar, Xavier. Ele
já tinha te perdoado.
Besteira.
Ela estava apenas mentindo para me fazer sentir melhor.
— Mas eu não me desculpei. E agora eu... eu nunca vou conseguir.
Essas foram as últimas palavras que eu disse a ele, — eu engasguei,
tentando empurrar minhas lágrimas de volta em meus olhos.
Angela balançou a cabeça.
— Não, Xavier. Só porque ele faleceu, não significa que ele não está
mais entre nós. Você sabe disso. Brad está cuidando de nós, como sempre
fez. Eu posso sentir, — disse ela. — Essas não foram suas últimas palavras
para ele. Ele ainda está ouvindo. Você quer dizer algo para ele? Apenas
faça agora, aqui.
Eu olhei para ela e me dei conta então, enquanto arrepios cobriam cada
centímetro da minha pele, o quão sortudo eu era.
Fechei os olhos, desejando ver meu pai.
Desejando imaginar seu rosto, seus olhos carinhosos e seu sorriso
bobo.
Sinto muito, pai.
Eu sinto muito mesmo.
Você foi o pai perfeito — em todos os sentidos.
Você me mostrou o que significa ser um homem.
E você me perdoou por estragar tudo.
Todas as vezes, você me perdoou.
Todas as vezes, você me recebeu de volta, de braços abertos.
E você me deu ela.
Você a encontrou para mim.
Você encontrou o amor por mim.
Eu te amo.
Sentirei sua falta todos os dias.
Estou tão orgulhoso — tão orgulhoso — de ser seu filho.
Quando abri meus olhos novamente, Angela estava sorrindo para mim.
Ela agarrou minha mão e deu um aperto, e então se levantou, puxando-me
com ela.
— Adeus, Brad, — disse ela baixinho, olhando diretamente para a placa
no banco. Havíamos corrigido as inscrições para que se lesse Rest in Peace,
Amélia & Brad Knight. Agora papai estava de volta com mamãe.
— Adeus, — eu sussurrei para a placa. — Eu amo vocês dois.

Capítulo 29
Registro Permanente
Xavier
Ron: Bro

Ron: Ei

Ron: Xavier

Xavier: O que vc quer?

Ron: Estou do lado de fora.

Xavier: Fora de onde?

Ron: Sua casa!! vai sair!?

Xavier: Sai daqui.

Ron: N ão

Ron: Sai voc ê .

Ron: Eu tenho 🍺 🍺 🍺 (3 emojis de copo


de cerveja)

Xavier: voc ê est á b ê bado?


Ron: Siiimmm.

Ron: Vem aqui

Xavier: Saindo kacete.

A campainha tocou, fazendo-me ranger os dentes. Rapidamente, pulei da


cama e corri para atender antes que o som acordasse Angela.
— Sr. Knight, — a voz do porteiro estalou pelo interfone. — Há um
homem muito embriagado aqui para ver você. Devo escoltá-lo à saída ou
mandá-lo subir?
Liguei o monitor de vídeo. Ron estava cambaleando pelo saguão atrás
do porteiro.
Ele estava tão bêbado que mal conseguia andar.
Queria chamar a polícia, mas Angela e eu não aguentaríamos mais um
escândalo. Os paparazzi haviam recuado desde o funeral, e eu não
conseguia suportar a ideia de fazê-los começar tudo de novo.
— XAAAAVIEEEEEEER! — Ron uivou, como um cachorro clamando por
atenção.
Se não fosse tão chato, teria sido impressionante.
O porteiro olhou por cima do ombro.
— Senhor?
Porra.
— Estou descendo, — eu suspirei. O pobre coitado merecia isso. Ele
não tinha ficado tão chateado por nada.
Eu joguei minha jaqueta e corri para o elevador. Então eu estava no
saguão, caminhando até o idiota bêbado balançando na entrada.
Assim que ele me viu, ele aplaudiu.
— Não posso permitir que ele faça tanto barulho no saguão, — disse o
porteiro.
Eu cerrei meus dentes, então agarrei o braço de Ron.
— Vamos.
O porteiro cruzou os braços sobre o peito enquanto eu arrastava Ron de
volta para o elevador.
Ron estava andando como se tivesse acabado de aprender. Tropeçando
e caindo a cada passo, ele manteve os olhos fixos na manga do meu
casaco.
— Você gasta MAIS em penas de ganso do que em FUNCIONÁRIOS. Me
pagaram uma merreca. Você é um merda, — ele resmungou.
Revirei os olhos, resistindo ao desejo de empurrar o filho da puta para o
chão. Um escândalo público dentro do meu maldito prédio não era o que
eu precisava.
Assim que consegui colocá-lo no elevador, coloquei-o no banco
almofadado.
— O que você está fazendo aqui? — Eu perguntei. Para ser honesto, eu
estava genuinamente curioso.
Ron olhou para mim e começou a chorar como um maldito adolescente
que descobriu que seu cachorro doente não fora enviado para uma
fazenda.
— Você é o único que sabe o que estou sentindo, — ele lamentou.
— Incompetente e bêbado? — Eu perguntei. — Não sei do que está
falando. Não agora, de qualquer maneira.
— Não... Claudia. Ela é...
Oh, Deus.
Por favor não me diga que esse idiota tem dormido com Claudia. É
sério.
Embora parecesse uma punição bastante precisa para os dois.
— Ela partiu meu coração!!!!! — Ron gritou, assim que as portas do
elevador abriram.
Angela disparou para o foyer, com os olhos arregalados de surpresa.
— Ron? O que você está fazendo? Você está bem? — Ela perguntou,
ajudando-o a sair do elevador. Ela me lançou um olhar confuso.
— Esta foi uma má ideia. Ele está indo embora, — eu disse, tentando
arrastar Ron de volta para o elevador. Mas Angela manteve seu domínio
sobre ele.
— Claudia meeee largou. Me tirou tudo, aquela vadia! — Ron
lamentou.
Eu traduzi.
— Eu acho que ele e Claudia estavam envolvidos, e ele veio aqui para
ser solidário?
— Romanticamente? — Angela disse, com seus olhos arregalados. —
Eles estavam...
— TRANSANDO! E eu a ajudei a foder vocês dois, mas então... ela me
fodeu pioooor ainda — Ron admitiu.
Angela e eu trocamos olhares.
Ron... Ele tinha acabado de confessar.
Não foi?
Isso foi uma confissão?
Angela foi até a cozinha pegar água para ele enquanto eu carregava o
idiota inútil para o sofá.
— Sinto muito, — Ron murmurou.
— Desculpe pelo quê? — Eu o persegui.
— Fui eu. Eu vazei, — ele soluçou.
— Vazou o quê?
Angela voltou para a sala com o copo na mão. Os olhos de Ron
correram dos dela para os meus em pânico.
Angela entregou a água a Ron, taciturna.
— Ele vazou o acordo. Foi assim que se tornou público, — ela concluiu.
Aquele imbecil de merda!
Claro. Eu estava pronto para pegar seu crânio vazio entre minhas mãos
e esmagá-lo. Eu queria amassar sua cabeça como um pedaço de papel. Foi
uma boa coisa eu tê-lo despedido.
Ele não era apenas incompetente e desleal, mas também perigoso.
Como ele ousa ter a coragem de vir aqui para limpar sua consciência?
Não havia nenhuma maneira de dar a ele qualquer paz de espírito.
— Você está aqui para se desculpar? — Angela perguntou, sempre
tentando ver o melhor, mesmo nas piores pessoas.
— Não aceito, seu idiota, — eu rosnei, agarrando sua camisa e
puxando-o para mim. Eu olhei para ele, profundamente em seus olhos
brilhantes de bêbado. — Sua vida está arruinada, você sabe disso?
Ele acenou com a cabeça, muito angustiado para deixar o pânico
penetrar. Ele tomou um longo gole de água, ficando cada vez mais sóbrio.
— Eu sei... ela arruinou tudo pra mim. Eu não espero que você me
perdoe. Eu não me perdoo, — Ron admitiu.
Eu podia ver Angela sentindo pena dele, seus olhos amolecendo como
manteiga no microondas, mas eu não estava acreditando.
— Por que você está realmente aqui, Ron?
Ele respirou fundo. Então ele engoliu em seco.
— Você era um chefe terrível. E nós, assistentes, conversamos. Cada
assistente que você já teve o odiou, Xavier.
— Vá direto ao ponto, — eu exigi, fervendo.
— Eu coloquei um dispositivo de gravação em seu escritório. Horas e
horas de abuso emocional contra seus funcionários foram registradas. E
Claudia, foi tudo ideia dela. Foi ela quem me deu a coisinha que fez a
gravação.
— Você não...
Mas Ron deu um tapinha no bolso da calça jeans, como se estivesse
procurando algo com urgência. Então ele puxou seu telefone, clicou em um
botão e algo começou a tocar.
Era a voz de Claudia.
— Ei, Johnny, US Weekly precisa ouvir essas gravações. É o maior furo
sobre os Knights que já tive. Você vai querer esta exclusiva, — sua voz soou
do telefone.
Meus olhos se voltaram para Ron e depois para Angela.
Isso era mais do que chantagem.
Isso era extorsão.
— Eu tenho muito mais do que isso, — disse Ron, inclinando-se para a
frente no sofá. Por um segundo, ele parecia que cairia, mas ele se firmou.
— Sabe o que isso significa? — Eu perguntei a Angela.
Seus olhos estavam mais arregalados do que eu já tinha visto. Mas ela,
muito lentamente, muito cautelosamente, assentiu. — Claudia está em
apuros, — ela sussurrou.

Angela
Xavier queria Claudia na prisão. Ele já havia baixado todas as gravações de
Ron e ligado para seus advogados. Ele estava indo tão rápido que mal tinha
discutido isso comigo.
Eu queria que Claudia fosse punida por todos os estragos que ela
causou, claro.
Eu queria que ela deixasse minha família em paz.
Mas eu não queria que isso custasse a sua família. A ideia de Sophie ser
arrancada de Claudia e ficar sem pais, sem pessoas que a amavam, que
podiam cuidar dela, era devastadora.
O sentimento de culpa era insuportável.
Eu me enrolei na cama e não pude deixar de soluçar.
Ouvindo meus gritos, Xavier terminou seu telefonema com o quarto
advogado do dia.
— Tudo vai acabar logo, meu anjo, — ele prometeu, vindo se deitar ao
meu lado. Ele passou os braços em volta da minha cintura, tentando me
acalmar. Mas ele não entendeu.
— Para quem, Xavier? Não para Sophie. Se mandarmos Claudia para a
prisão... — Eu engasguei, tentando recuperar o fôlego.
— Não é problema nosso. Sophie não é minha filha, Angela. Ela é o
produto da pior memória da minha vida.
— Mas ela é filha de alguém! Ela é uma criança, e precisamos
protegêla, — eu disse suavemente.
— Esse era o trabalho de Claudia. Ela escolheu nos assediar em vez de
cuidar de sua filha — Xavier respondeu, com seus olhos enlouquecidos de
raiva.
— Eu sei. — Eu concordei.
Eu sabia que Claudia estava perturbada. Ela estava com o coração
partido. Ela provavelmente ainda estava apaixonada por Xavier, e essa era a
única razão plausível para ela arriscar tanto para destruí-lo.
Mesmo assim, não odiava a mulher.
E certamente não queria massacrá-la com taxas legais e prisão.
Eu não poderia fazer isso, não com outro ser humano.
Não com uma mãe.
Comecei a hiperventilar. Xavier me apertou com mais força.
— Tudo bem. Tudo vai dar certo. Eu prometo. O que você precisa? —
ele sussurrou.
— Eu preciso que você conserte isso de outra maneira, — eu disse a
ele.

Xavier
Os olhos de Claudia estavam pintados de terror.
Eu tinha acabado de tocar as gravações para ela. Eu gostava de vê-la se
contorcer em pânico, sabendo que ela não poderia fugir da bagunça que
causou.
Tudo o que ela podia fazer era sentar e implorar.
— Por favor, Xavier. Por favor, — ela rastejou. — Eu precisava do
dinheiro. Não consigo fazer com que Daniel pague pensão alimentícia. Eu
nem sei onde ele está.
— Então você decidiu chantagear pelo nosso dinheiro? — Eu não pude
acreditar. Ela não tem acesso ao idiota que ela precisava, então ela tinha
tentado nos foder.
Claudia baixou os olhos.
Seu constrangimento deixou claro que eu estava certo.
— Eu sinto muito. Mesmo. Mas, Xavier, por que você me trouxe aqui?
— Claudia perguntou, olhando em volta para Bryant Park.
A poucos metros de distância estava a fonte.
Três anos atrás, eu a pedi em casamento bem aqui. Era verão, e a água
da fonte estava tão alta que estávamos cobertos de névoa.
Agora, era apenas neblina.
— Porque eu precisava de um lembrete de que nem sempre te odiei —
eu disse.
— Faça o que você precisar, Xavier, de verdade. Mas você não precisa
me separar de Sophie. Por favor, ela já teve um dos pais que a abandonou,
— Claudia implorou.
Tirei um envelope do bolso.
— Há duas passagens aéreas e a escritura de uma casa aqui dentro. Eu
não sei onde você estará. Minha antiga assistente resolveu todos os
detalhes, — expliquei, entregando-lhe o envelope. — Você terá tudo o que
você precisa. Você leva Sophie e dá o fora da minha vida. Pra sempre.
Claudia olhou para o envelope sem acreditar. Ela olhou para mim com
olhos confusos e agradecidos.
— Combinado, — ela concordou, estendendo a mão para apertar a
minha. Mas eu me afastei. Eu não suportava a ideia de ela me tocar.
— Por favor, Xavier, espero que você possa me perdoar.
Mas eu não devia a ela um pedido de desculpas aceito.
Eu não devia nada a ela.
Eu devia a mim o direito de seguir em frente.
— Eu não posso te perdoar. Mas eu posso te esquecer, — eu disse.
Então eu fui embora, deixando-a em minhas memórias.
Capítulo 30
O Acordo Perfeito
Angela
Era o dia do meu casamento.
Novamente.
Isolada no meu camarim, fiquei de calcinha e sutiã.
A última vez que coloquei um vestido de noiva, estava cercada de
pessoas.
Quando andei até o altar, havia uma multidão ao meu redor. Eu olhei
para Xavier no altar e prometi estar com ele na saúde e na doença, e eu
estava completamente sozinha.
Hoje eu não estaria casada com Xavier.
Eu estava me casando com ele.
Eu não era uma troca, mas uma promessa. Honestamente, o que eu
estava prometendo a Xavier não era diferente das coisas que já tínhamos
feito. Estar presente em meio a provações e tragédias? Nós tínhamos feito
isso.
Entre meu pai e o pai dele, acidentes de avião e parceiros de negócios
agressivos, tivemos provações e tragédias suficientes para durar uma vida
inteira.
Ocorreu-me que, quando Brad faleceu, o acordo havia morrido com ele.
Não havia mais ninguém para decepcionar e nenhuma conta de médico
a pagar.
A teia que ele havia costurado, amarrando Xavier e eu juntos, tinha se
desfeito, então era hora de darmos o nó.
Era hora de nos livrarmos de nossas inseguranças como uma segunda
pele. Era hora de dizer sim, e realmente fazer o que fosse necessário para
que nosso amor sobrevivesse.
Coloquei meu vestido de noiva.
Era um vestido magnífico de organza texturizado, com corpete
drapeado embelezado com delicadas rendas.
Eu olhei para meu reflexo.
Eu parecia... de tirar o fôlego.
Mas, ao contrário da última vez, ainda parecia comigo.
Eu estava com um vestido de noiva, não uma fantasia.
Subi as escadas do convés inferior até a enorme seção principal do
veleiro.
O verão havia chegado e sua brisa nos impeliu pelo porto de Nova
Iorque. Meu pai estava esperando, com o pôr do sol destacando seu rosto
brilhante.
Percebi que este não era apenas o primeiro casamento de verdade para
mim, mas para ele também.
Papai envolveu seu braço em volta da minha cintura e me acompanhou
até o altar.
Enquanto eu olhava para os rostos pelos quais eu passava, sorri o maior
de todos os sorrisos.
Todos ao meu redor sabiam quais coberturas eu gostava na minha
pizza, como eu era antes de saber como fazer minha maquiagem e que
amava Xavier mais do que respirar.
Em sorriu para mim, com sua barriga de grávida saliente em seu vestido
de verão de cetim.
Dustin sorriu e apontou para Danny, balbuciando para mim:
— Ele é tão gostoso!
Estávamos rodeados por alfazemas, rosas brancas e pequenos lírios
castanhos. O cheiro era atraente, mas eu não conseguia respirar porque
estava muito sobrecarregada. De alegria, claro.
Meus pensamentos estavam vibrando como uma migração de
borboletas monarca voando pelas Montanhas Rochosas, com milhares de
asas piscando no ar.
Gratidão.
Essa era a palavra que eu procurava. Era a única com que poderia
descrever adequadamente a massa de emoções girando em meu
estômago.
Assim que o veleiro cruzou ao lado da Estátua da Liberdade, cheguei ao
altar.
Eu encarei Xavier. Seu terno tinha um corte perfeito, permitindo que
seus ombros largos se acomodassem em perfeita harmonia com seus
braços atléticos. Eu examinei cada centímetro dele, cada ângulo e veia,
sabendo que esta noite, e para sempre depois, eles pertenceriam a mim.

Xavier
Enquanto as velas ondulavam no céu tangerina, o pastor me perguntou se
eu aceitaria essa mulher como minha esposa.
Eu já a havia levado para ilhas abandonadas, para coletivas de
imprensa, salas de emergência e funerais.
Eu e ela já havíamos vivido o inferno.
Eu a tinha levado para minha casa e a observei fazer um lar que parecia
o paraíso.
Eu tinha tirado sua virgindade.
Eu a tinha confundido com uma interesseira, por um erro.
Eu a tinha dado como certa.
E eu a tinha tomado como minha esposa há muito tempo.
Mas naquele altar, eu só queria tirar a dor.
Eu queria fazer isso até o fim dos tempos?
Foda-se, sim, eu aceito.
Sim.
Sim.
Sim.
Antes que eu percebesse, nossos votos foram renovados e estávamos
nos beijando da maneira como deveríamos no dia do nosso primeiro
casamento.
Da maneira que a deixasse saber que se ela ficasse cega, eu escreveria
seus poemas de amor em braile.
Da maneira que se ela ficasse surda, eu ainda mostraria a ela todas as
minhas melhores partes.
Da maneira que prometi que se não pudéssemos nos tocar, ela ainda
sentiria minha presença.
Eu estava prometendo amá-la do jeito que faço tudo o mais — de
forma irresponsável, apaixonada, sabendo que posso não acertar todas as
vezes. E ela sabia disso. E ela aceitou.
O barco entrou em erupção de comemoração assim que nos casamos
novamente.
Mas quando nos sentamos para comer o banquete, não consegui olhar
para Angela.
Meus olhos estavam grudados no assento vazio à minha frente. Onde
meu pai deveria estar sentado. Decidimos que a melhor maneira de
homenageá-lo seria deixando uma cadeira vazia para ele. Por seu espírito.
Para sua memória.
Mas isso significava que havia um lembrete físico de que ele havia
partido.
Meus olhos se fixaram na cadeira vazia e me senti vazio.
Embora tenham passado meses desde que papai se foi, este foi o
primeiro marco do qual ele se ausentou. Foi a primeira vez que eu não
pude olhar para ele e saber se eu estava fodendo com tudo, ou ficando
mais maduro, gloriosamente.
O peso da morte de papai foi tão grande que mal consegui pegar no
garfo.
Angela tirou das minhas mãos e me alimentou. Ela passou o braço em
volta de mim, mexendo no meu cabelo.
— O que há de errado, Xavier? — Ela perguntou, inocente como
sempre.
— Eu acho... eu não posso comemorar nada sabendo que ele se foi, —
eu admiti. — Tudo o que ele queria era me ver como um pai, e eu não
pude nem fazer isso por ele.
Angela olhou para mim duramente e por muito tempo.
— Tudo o que Brad sempre quis foi que fizéssemos isso, Xavier. Para
você não ficar sozinho, — disse ela. — Eu prometo que você nunca estará
sozinho. Na verdade, estamos comemorando hoje por ele. Em sua honra.
Suas palavras eram como o ar puro em uma tempestade de areia. Esta
era a nossa hora de ignorar todas as merdas e nos alegrar por termos
sobrevivido a tanta merda juntos. Então, tirei minha cabeça da melancolia
e me permiti sentir feliz.
E mais do que feliz... amado.

Angela
Xavier estava me levando para o nosso quarto de hotel, no estilo nupcial
antiquado, mas eu me esquivei de seu abraço.
Eu não queria mais doçura. Eu não queria cavalheirismo. Eu queria
estar presa na cama. Eu queria que ele me tratasse como alguém igual,
uma parceira tão experiente quanto ele. Eu queria que ele me fizesse
gritar.
Eu me afastei dele e o joguei contra a parede, beijando-o com todas as
minhas forças. Com sua surpresa, Xavier conseguiu agarrar meus pulsos,
me girar e abrir o zíper do meu vestido.
— Você está mal-humorada esta noite, esposa.
— Só para você, marido, — retruquei com um sorriso.
Rendas no valor de milhares de dólares foram jogadas no chão, e então
ele rasgou minha calcinha.
Ele pegou meus pulsos com uma mão musculosa e traçou meu torso
com a outra. Seus dedos permaneceram em meus mamilos, cavando em
meus quadris apertados.
Então ele me abaixou no chão, suavemente, e meus joelhos fizeram
contato com o mármore, meu corpo ainda envolto em camadas de tecido.
Eu o observei abrir o zíper das calças, olhando para mim com um
sorriso sujo. Ele se libertou do tecido.
Ele estava latejando e rígido enquanto eu torcia minhas mãos em torno
dele. Eu corri para cima e para baixo enquanto envolvia meus lábios em
torno de sua ponta.
Com meus olhos nele, circulei minha língua em torno dele e sua
respiração ficou pesada.
Ainda assim, Xavier manteve os olhos em mim, imaginando quem eu
me tornei.
Tomei mais e mais dele, surpreendendo a nós dois. Suas pernas
tremiam, sua voz vibrava com gemidos esmagadores até que foi demais.
Ele tinha que me ter, tudo de mim, imediatamente.
Ele agarrou meu pescoço, prendendo-me de costas.
Xavier puxou minhas pernas para cima, beijando meus tornozelos com
entusiasmo terno.
Sua língua estava em toda parte, sua respiração eletrizante na minha
carne.
Comecei a tremer, perdendo o controle. Ele alcançou a pele entre
minhas coxas com a língua e lambeu.
Todo o meu corpo estremeceu, meus ombros envergaram juntos, meu
pescoço foi estendido para trás.
Enquanto eu gritava, ele entrava em mim, uma e outra vez.
Cada estocada era mais profunda, mais rápida, mais entorpecente e
deliciosa.
Eu ainda estava pulsando, e Xavier cruzou meus tornozelos em volta do
pescoço, em seguida, passou os dedos pela raiz do meu cabelo.
Ele não terminou.
Ele beliscou meus mamilos no ritmo com o resto de seu corpo, girando
entre o prazer e a nitidez.
Era como estar em uma ducha fria e depois ser imerso em salpicos de
calor escaldante.
Cada célula de mim estava encharcada.
Cada célula de mim pertencia a ele.
Eu não aceitaria de outra maneira.
— Eu te amo, Sra. Knight, — disse Xavier entre as respirações.
— Eu te amo mais, Sr. Knight, — eu respondi, tão perto do limite, de
me perder, que eu não podia esperar mais um segundo.
O caos, a excitação, a espontaneidade e a paixão.
Era realmente o acordo perfeito.

Em: Angie!

Em: Desculpe te mandar uma mensagem na


noite de n ú pcias...

Em: Mas ainda estou neste barco.

Em: E minha bolsa estourou!


Continua no Livro 4…
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