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Sinopse

Quando Mara é sequestrada e tirada do conforto de sua Matilha da


Pureza por um lobisomem misterioso, Alpha Kaden, ela se encontra no
meio de um confronto perigoso entre rivais mortais.
Mas quando Mara descobre os sinistros segredos da família Kaden, ela
pode ser a única capaz de quebrar uma terrível maldição, encontrando
aliados e amor onde ela menos esperava.
Classificação etária: 18+
Autor original: Midika Crane
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!


Sumário dos Livros
Livro 1
–Livro 2 – Sem Revisão
–Livro 3 – Sem Revisão
Livro 4 – Sem Revisão
Livro 5 – Livro Ainda Não Lançado
Livro 1
Capítulo 1
HORA DE REZAR
MARA

Eu afasto lentamente a borda da cortina e espio a rua.


Está ficando escuro, a lua ilumina a calçada deserta.
Para qualquer outra pessoa, a cena pode parecer inofensiva e até
pacífica. Todas as casas com suas portas trancadas e cortinas fechadas..
Seus portões cerrados e seus filhos em segurança.
Porém, todos estão em alerta máximo, como acontece noite após
noite..
Suspiro profundamente, minha respiração embaça o vidro à minha
frente.
Esfrego-o com a manga para poder enxergar outra vez. Exceto que
não há nada para ver.
Nunca há, porque, diferente de outras matilhas, aqui não existe uma
alma viva nas ruas de noite.
Por quê? Porque minha matilha de lobisomens, a Matilha da Pureza,
tem medo da Matilha da Vingança.
Talvez não precisamente a Matilha da Vingança, mas seu líder, Alpha
Kaden.
Durante os últimos vinte anos ele tem destruído o equilíbrio que
tínhamos estabelecido entre a igualdade e a desordem dentro de nosso
grupo.
Ele roubou tudo. Especialmente a nossa liberdade.
Nossa matilha não é amada por outros lobisomens.
Ela está localizada no centro da Zona das Matilhas, no Quartel
General, no lado mais frio da linha do Equador.
Rodeados por uma espessa parede destinada a nos manter seguros,
estamos protegidos em nosso pequeno mundo de religiosidade e paz.
Kaden perturba este mundo quando ele invade nosso território.
Ele raptou muitas meninas inocentes de nossa matilha.
Ninguém sabe o que aconteceu com elas, mas muitos pensam que ele
as mata ou as vende aos membros de sua matilha, que ganharam a
mesma desonra aos olhos da Matilha da Pureza.
Talvez ele faça disso um negócio. Não sabemos ao certo. Ele também
mata os nossos criminosos.
Qualquer pessoa que infrinja a lei é assunto da Matilha da Disciplina.
Mas qualquer um que mata é assunto do Alpha Kaden. Ele deixou isso
claro.
— Mara, sai daí!
Minha mãe me puxa pelo ombro para longe da janela.
Eu tropeço para trás enquanto ela fecha a cortina com raiva
novamente.
Ela se vira para mim, com as mãos nos quadris.
Eu amo minha mãe, mas às vezes ela pode ser muito protetora.
Ela viveu a vida inteira acreditando em apenas uma coisa: a Lua é
nossa salvadora e sempre será.
Ela acredita que a Deusa controla tudo o que fazemos e decide nosso
futuro através de algum tipo de magia oculta.
Apesar de ter crescido nesta matilha, eu não acredito nisso. Mas
respeito..
Na escola, eles nos ensinaram uma cantiga para manter vivo em nós o
medo de Alpha Kaden: Travem suas portas, selem-nas bem.
Fechem as cortinas, antes de dizer amém.
Não olhe para fora, caso ele esteja lá.
Viva sempre com medo total.
Mesmo que signifique sacrificar seu companheiro,
Não deixe Alpha Kaden selar seu destino inteiro.
Até a minha mãe acata isso.
— Mãe, tudo bem, — eu lhe asseguro. — Ninguém me viu.
Ela suspira e passa a mão pelo rosto. O estresse está gravado em suas
rugas.
Ela não sabe como lidar comigo às vezes — especialmente quando eu
decido ir contra suas regras estritas.
Não faço de propósito, mas minha curiosidade incessante continua
me tentando.
— Nossos vizinhos podem ter visto você, — ela insiste. — Você sabe o
que eles dizem na igreja sobre você, Mara. Eles agem como se eu fosse
uma péssima mãe.
Eu reviro os olhos.
— E se Kaden te visse? — pergunta ela com firmeza.
— Bem, eu não saberia porque eu não sei como ele é, — eu retruco,
levantando a voz.
Minha mãe me encara com olhar de reprovação.
Ela odeia a ideia de eu saber alguma coisa sobre Kaden.
Sua aparência ainda é desconhecida para mim. Ele poderia passar ao
meu lado na rua e eu não saberia.
Minha mãe não me diz nada, mas eu sei de algumas coisas pelas
garotas na escola.
Em um dia bom, talvez eu descubra se ele matou alguém ou não.
Às vezes, quando apenas minha mãe e meu pai estão acordados, eu
desço bem devagar pra escutar as conversas. Foi assim que descobri que
meninas estavam desaparecendo na cidade.
— Mara, por favor. Não seja difícil, — implora minha mãe,
exasperada.
Eu cruzo os braços sobre meu peito.
Dizer que estou farta de estar entocada todas as noites é um
eufemismo.
Já até desisti de ver meus amigos nas sextas à noite.
Estou a um passo, bem pouco mesmo de me formar, mas isso não
significa que minha mãe vai afrouxar as regras.
Ela provavelmente só vai sossegar quando arranjar um companheiro
para mim.
É essencial dentro de nossa cultura, encontrar um companheiro
quando jovens.
A quantidade de machos jovens com quem apertei a mão no último
mês é ridícula.
— Está tudo bem aqui? — me viro ao ouvir a porta da frente abrindo e
meu pai entrando.
Está chovendo lá fora, mas não me lembro de ter notado isso
enquanto olhava pela janela.
Ele tira o casaco encharcado e coloca sobre a mesa da cozinha.
Nossa casa não é muito grande, o que torna ainda pior passar grande
parte do meu tempo nela.
Meus pais seguem a vida simples que a Deusa da Lua desejaria.
Não sou a favor de luxos materiais, mas às vezes sinto falta de algumas
coisas.
— Nada...
— Apanhei nossa filha espreitando pela janela novamente, — disse
minha mãe, me interrompendo.
Fico a encarando. Ela parece estar sempre querendo criar problemas
entre mim e meu pai.
Ele me olha de maneira severa.
— Kaden não vai estar lá fora, — eu protesto. — Você está exagerando
quando diz que ele pode estar.
Vejo o olhar do meu pai encontrar o da minha mãe.
Ele faz um sinal com a cabeça para que ela saia, afinal sabe que nós
duas discutimos facilmente.
Com a saída dela, ele me conduz até o sofá para que possamos sentar.
— Você conhece a filha do vizinho? Mandy, certo?
— Milly, — eu o corrijo.
Meu pai faz que sim com a cabeça.
— Kaden a levou na semana passada. Ele a raptou da cama e ela não
foi vista desde então.
Sinto meus olhos arregalando.
Milly? Ela é um ano mais velha do que eu e muito mais atraente.
O fato de ela ter sido selecionada para fazer parte de qualquer negócio
que Kaden esteja fazendo não me surpreende de forma alguma.
— Por que você está me dizendo isso? — pergunto.
Eu gosto de estar informada, mas não esperava que meu pai também.
— Estou preocupado que ele possa levá-la. Todas as manhãs tenho
medo de entrar em seu quarto e descobrir que ele raptou você durante a
noite.
Faço que não com a cabeça. A probabilidade de eu ser levada é
pequena.
Se ele levou uma garota do meu bairro, isso deve significar que ele não
voltará aqui por pelo menos um mês.
É o tipo de jogo que ele gosta de fazer com as pessoas.
Ele nos engana com uma falsa sensação de segurança, até que muda
seu padrão nos deixando totalmente confusos.
Meu pai segura minha mão e me olha nos olhos.
Ele vai me fazer rezar?
— Todos nós nos perguntamos por que ele faz isso, Mara. Prometo
que vamos descobrir e detê-lo o mais rápido possível.
Ele aperta a minha mão levemente.
Meu pai é responsável pela igreja local, o que me leva a acreditar que
sua capacidade de deter Kaden não é tão grande assim.
O homem de quem temos tanto medo é um Alpha de uma matilha
notória por sua falta de misericórdia.
Após a Grande Guerra que espalhou as matilhas pelo mundo, novas
formas de sociedade e códigos morais foram adotados.
Nomeados a partir de nossas crenças fundamentais, cada matilha
deveria manter a paz com seus vizinhos, assim o sistema provou ser bem-
sucedido por muitos séculos.
Entretanto, com todas as matilhas fundamentadas na justiça e na
igualdade, foi preciso apenas uma matilha para sair da linha e destruir a
tranquilidade de todos.
Essa foi a Matilha da Vingança.
— Tudo vai ficar bem, — eu lhe assegurei. — Alpha Rylan vai resolver
as coisas eventualmente.
Meu pai sorri. Rylan é nossa única esperança para acabar com este
sofrimento. Se ele não puder fazê-lo, não temos nenhuma chance.
Eu me retiro e decido ir direto para a cama.
Quando entro no quarto, sou atingida por um ar gelado. Não costuma
estar frio assim...
Eu acendo minha luz e olho para ver de onde vem o frio.
O espaço é pequeno com um simples armário, uma escrivaninha e
cama. Nada muito chamativo ou extravagante.
A origem do frio é bastante óbvia: minha janela está totalmente
aberta. Eu nunca a deixo assim. Nunca.
Minha mãe me mataria se visse que minha cortina não estava fechada
durante à noite.
Eu certamente ficaria de castigo se ela descobrisse.
Quando eu era mais nova, ela começou a me pegar na escola depois
que fiquei fora brincando com meus amigos até o anoitecer.
Com cuidado, vou até a janela.
Consigo ouvir a chuva forte na rua lá fora.
Uma tempestade se forma, acompanhada pelo distante estrondo dos
trovões. Quanto mais rápido eu fechar a janela, melhor.
Fecho a janela e me volto para meu quarto.
Uma súbita pancada de chuva atinge o vidro, fazendo-me pular de
susto. Sempre detestei trovões e relâmpagos.
Eu só preciso me acalmar e ir dormir, digo a mim mesma enquanto
fecho as cortinas. Estou deixando o caso da Milly me afetar.
Solto meu cabelo e entro no banheiro. Talvez um banho possa lavar
toda essa ansiedade.
Eu ligo a água muito quente e tiro toda minha roupa.
Debaixo do chuveiro, sou transportada para outro mundo — um
mundo onde não tenho que ouvir as regras de outras pessoas o tempo
todo.
Onde meus pais não ditam cada decisão que eu tomo.
Encosto minha cabeça nos azulejos.
— Talvez eu esteja destinada à Matilha da Liberdade, — murmuro
para mim mesma. — Uma matilha onde eu possa fazer o que eu quiser.
Estou pensando o quão estúpida eu pareço quando de repente uma
sombra surge do nada.
Surpresa, eu levanto minha cabeça depressa.
Espreito para fora do chuveiro e olho em volta com cautela.
Nada.
Estou me sentindo ainda mais ridícula agora.
Eu saio do chuveiro, desligando a água atrás de mim.
Enquanto enrolo a toalha ao redor do meu corpo, tento descartar
todos os pensamentos paranoicos. A sombra era provavelmente apenas
um fruto da minha imaginação. Eu sou conhecida por ter uma fértil.
Kaden não é alguém que normalmente influencia minha imaginação.
Estou plenamente consciente da ameaça que ele representa para mim
e para minha família, mas não posso temê-lo em circunstâncias normais.
Entretanto, o frio na espinha que senti esta noite me deixou confusa
sobre o que realmente acreditava.
Apenas de toalha em frente ao espelho, eu me observo.
Sou muito parecida com qualquer outro membro da Matilha da
Pureza.
Meu cabelo parece marrom quando está molhado, mas na verdade é
de um tom de loiro fechado.
Meus olhos azuis são talvez mais sem graça do que os da maioria das
pessoas.
Minha pele é mais pálida e minhas bochechas quase não têm cor
alguma.
Estas devem ser as razões pelas quais nenhum garoto nunca quis
namorar comigo. Há sempre opções melhores.
Mas eu ainda me amo. Não tenho outra escolha.
Um estrondo de trovão vindo de fora me faz gritar de susto.
Graças à Deusa da Lua que as cortinas bloquearam o brilho do
relâmpago por completo. Eu me seco e volto para o quarto, rapidamente
vestindo minhas roupas de dormir.
Então eu apago as luzes e vou direto para a cama com as cobertas
puxadas até o queixo.
Só quero que essa tempestade passe e que amanhã chegue logo sem
nenhum Kaden atormentando meus pensamentos.
Mas quanto mais eu tento ficar confortável na cama, mais difícil
parece expulsá-lo de minha mente.
Minha visão interior está bloqueada por sombras estranhas.
Estou a ponto de adormecer ao som da chuva que bate contra minha
janela quando sinto uma mão tapar minha boca.
Nunca me ensinaram autodefesa e não tenho a mínima ideia de como
agir.
Mexo os braços desnorteada, mas alguém me segura de maneira firme.
Eu luto o máximo que posso enquanto o som do meu grito é abafado
pela mão estranha.
Chuto o ar enquanto sou arrancada da minha cama. Sinto alguém
pressionando meu pescoço e por um segundo penso que estou prestes a
morrer estrangulada.
Bem, eu não vou sem lutar!
Minhas pernas são as únicas armas que eu tenho.
Eu me debato tentando agarrar os tornozelos do meu capturador. Mas
cada vez que falho encontro apenas ar com meus pés descalços.
— Acalme-se. Tudo terminará em breve.
A voz suave e masculina é a última coisa que ouço antes de desmaiar
completamente.
Capítulo 2
LABIRINTO
MARA

Eu me sinto despertando e meus olhos começam a abrir.


No entanto, estou imersa em escuridão, o que me deixa
desequilibrada por um momento.
A dor acomete a parte de trás da minha cabeça, atravessando minha
visão em uma variedade de cores brilhantes.
— Onde estou?
Posso dizer que estou presa a algo e aquilo que me prende está ferindo
meus punhos. Respiro fundo, tentando manter a calma.
A dor é imensa, mas não vale a pena ficar pensando nela.
Fui sequestrada. Eu sei disso.
Por quem e por quê ainda não consigo entender bem.
Tenho uma ideia de quem possa ser, mas não quero pensar sobre isso.
Se eu fui capturada por... ele... é horrível demais para sequer imaginar.
Todos os meus maiores medos estão se tornando reais e parece que
não há nada que eu possa fazer a esse respeito.
Apesar do escuro, sei que estou sentada em uma cadeira numa sala
fria.
Tento me concentrar no que me rodeia, mas meu lobo interior está se
contorcendo.
Sinto que há alguém me observando.
Eu puxo um pouco mais as amarras, mas é inútil.
Estou completamente presa, até mesmo com meus pés amarrados às
pernas da cadeira. Não há como me libertar, portanto, devo esperar.
Talvez se eu permanecer calma, vou pensar em uma maneira de sair
daqui.
Então, detecto passos. Eu congelo, encolhida.
Há alguém nesta sala comigo. Agora mesmo. Os passos confirmam.
Eu não me mexo, apenas fico quieta.
Escuto atentamente os passos, tentando avaliar de onde vem o som e
onde esta pessoa está na sala.
Seja quem for, está perto de mim. Eu posso senti-lo e ouvi-lo.
Inspiro profundamente e fecho meus olhos.
Considero dizer algo, mas só dizer algo não me tirará daqui.
Quem me raptou tem uma razão... Eu só preciso descobrir qual é essa
razão.
Eu gosto de pensar que sou bastante inteligente.
Na matilha, sempre fui eu que considerei primeiro as coisas antes de
fazê-las.
Agora, porém, tudo o que posso fazer é me preocupar freneticamente
com o que vai me tirar das garras do meu sequestrador.
Um silêncio denso enche a sala.
Os passos cessaram e sinto o ritmo do meu coração acelerar
novamente.
Pensar que estão brincando assim com meus sentidos, me deixa mais
do que irritada.
Ter sido sequestrada da minha cama era aterrador, mas saber que
alguém está lá, me observando e eu não posso vê-los... Eu quero vomitar.
Eu me sinto terrivelmente isolada; o silêncio insuportável pesa sobre
meus ombros.
— Travem suas portas, — uma voz suave sussurra no meu ouvido
esquerdo.
Eu salto, virando minha cabeça para ver quem está atrás de mim, mas
só vejo escuridão..
A voz é chocantemente desconhecida.
— Selem-nas bem, — a voz sussurra novamente, desta vez no meu
ouvido direito.
A voz pertence a um homem. É suave e rouca, como nada que eu já
tenha escutado antes.
Quem quer que seja este sequestrador, eu não o conheço. Pelo menos,
não pessoalmente.
— Fechem suas cortinas, — retoma a voz, desta vez bem em frente ao
meu rosto. — Todas as noites.
Eu tento me desvencilhar das amarras, fechando bem meus olhos.
O medo explodiu e consumiu todo o meu corpo, afugentando toda a
razão anterior, até que fiquei sem nada além do desejo de escapar.
Um dedo desliza pela minha bochecha.
É uma sensação suave, mas há uma pressão por trás disso. É como o
toque de uma luva de couro escorregadia.
— Não olhe para fora, caso ele esteja lá, — a voz continua, soando
mais distante agora.
Eu quero gritar de terror. Eu quero me debater. Eu quero correr.
Mas eu estou paralisada. Não consigo me mover. Duvido que eu
pudesse, mesmo que estivesse de pé sem as amarras.
Os passos se aproximam até que param bem na minha frente.
Tive a sensação que meu coração ia sair pela boca. Este homem, seja ele
quem for, poderia me matar num piscar de olhos. Ele poderia me matar e eu
não poderia fazer nada para detê-lo.
— Viva sempre com medo total.
Fico ofegante enquanto sinto sua respiração contra meu rosto. Ele
está muito perto de mim.
De repente, através de todo o meu susto, percebo o que ele está
cantando.
Esta voz suave, aterradora e melódica está recitando o mesmo poema
que foi colocado em minha cabeça pelos meus pais e professores ao longo
dos anos.
— Mesmo que signifique sacrificar seu companheiro, — a voz
murmura, embora agora venha de trás de mim.
Eu posso sentir sua respiração no meu pescoço, cobrindo minha pele
arrepiada..
Então percebo que as amarras nos meus braços estão sendo cortadas.
Estou atordoada e não consigo pensar em como reagir.
— Não deixe Alpha Kaden selar seu destino inteiro...
Eu me inclino, meus dedos pegajosos lutando para desatar os nós
grosseiros ao redor de meus tornozelos.
Meu único desejo é sair daqui o mais rápido possível, de quem quer
que esteja nesta sala zoando comigo.
Sem dúvida ele gosta de me ver lutando para sobreviver, mas eu não
estou prestes a dar-lhe mais satisfação.
Uma vez desatados ambos os nós, eu levanto num salto e tento me
afastar com as mãos estendidas para o caso de eu bater numa parede.
Ainda não consigo ver nada, mas temo que, se eu não me mover
rápido o suficiente,, certamente terei um final infeliz.
Logo encontro um muro.
O papel de parede é aveludado sob a ponta dos meus dedos em
comparação com o concreto duro e frio debaixo dos meus pés.
Eu encosto minha testa contra a parede tentando me orientar.
— Não se pode escapar de algo que não se pode ver, — diz a voz do
homem, logo atrás de mim.
Desta vez, eu grito. Um grito alto e estridente ao estender as mãos.
Mas não há nada ali.
Estou ficando louca?
Eu tropeço para a direita, mantendo minha mão sobre a parede.
Preciso encontrar uma saída daqui. As risadas vindas do outro lado da
sala estão me dando dor de cabeça.
— Isto é um jogo? — eu berro.
Não tenho certeza se meu sequestrador pode me ver.
Ele deve ser capaz, pondero, se ele souber onde estou o tempo todo.
É claro que este é um jogo — um jogo doentio e perverso dirigido por
um homem igualmente doentio e perverso.
Eu continuo até sentir a superfície de uma janela de vidro debaixo da
minha mão.
Sou tomada por uma explosão de esperança, mas tenho que pensar.
Meu sequestrador nunca me deixaria sair tão facilmente.
Provavelmente há um senão.
Mas esse é um risco que devo correr. Não tenho outra escolha.
Eu bato minhas mãos contra o vidro, mas ele não quebra. Apenas
dobra e se curva diante dos meus repetidos golpes.
Eu caio de joelhos.
— Por que estou aqui? — eu pergunto para o ar.
Assim que as palavras saem da minha boca, uma luz brilha, me
cegando.
Eu cubro meus olhos até que eles possam se ajustar. Já estou há tanto
tempo no escuro.
Depois de piscar algumas vezes, começo a ver o que está ao meu redor.
A sala em que estou é maior do que eu esperava. A cadeira da qual
acabei de fugir está bem no meio.
E nessa cadeira está sentado um homem.
Mal consigo vê-lo. Ele está vestindo uma espécie de capuz que lhe
cobre o rosto.
O resto de suas roupas são todas de couro preto, mas ainda posso ver
que ele é um homem grande, com um físico marcante.
Ver meu sequestrador pela primeira vez na minha frente assim é
angustiante. Tenho um medo horrível, mas também tenho a vontade de
correr em sua direção e atacá-lo.
Ele se acomoda confortavelmente, girando um pedaço de corda por
entre a luva que veste.
A mesma corda, eu presumo, que foi usada para me manter presa à
cadeira.
— Você quer saber por que eu só levo garotas da Matilha da Pureza? —
pergunta ele.
Sua voz é suave e branda, mas ouço cada palavra. Eu ignoro sua
pergunta e faço a minha própria.
— Você é Alpha Kaden?
— Minha reputação me precede, — ele ri. — Mas você é uma garota
inteligente. Responda minha pergunta. Por que eu tenho como alvo as
garotas da Matilha da Pureza??
Eu não tenho tempo para pensar em uma resposta inteligente, por
isso, eu digo a primeira coisa que me vem à mente.
— Porque você é um covarde.
Ele dá uma risada debochada, depois joga a corda casualmente sobre
seu ombro e fica de pé.
Nervosa, observo enquanto ele se aproxima, seu andar faz parecer que
ele flutua através do chão, seus passos são tão suaves. Eu me encosto o
mais longe possível na parede.
— Isto não tem nada a ver com ser um covarde. — E antes que você
pergunte, isto não é uma vingança contra seu Alpha. Ele é um homem
bastante agradável, — ele me diz.
Ele está em cima de mim agora, com a cabeça inclinada para baixo, na
minha direção. Mas eu ainda não consigo ver além da sombra que
mascara seu rosto.
Ele cruza as mãos pela frente do corpo.
— Eu odeio o agradável. — Ele se ajoelha na minha frente, ficando na
mesma altura e minha respiração trava na garganta.
Odeio que ele esteja muito perto de mim.
E odeio não ter coragem de atacá-lo e machucá-lo.
— Eu rapto meninas do Matilha da Pureza porque elas são fracas,
patéticas e acreditam na besteira que vive no céu, — ele me diz.
Aí está. De alguma forma, eu não esperava menos dele. Eu lhe dou
meu olhar mais duro, apesar do meu medo.
— Bem, eu acho fantástico, — responde ele, rindo.
Quero esbofeteá-lo por dizer tais coisas, mas nem tenho certeza se ele
tem um rosto. E isso é o que mais me assusta.
— Então, o que... Sou seu animal de estimação agora? Ou você vai me
vender para um de seus outros membros desesperados da matilha? — Eu
o questiono com raiva.
Eu nunca quis ferir alguém tanto quanto quero ferir este homem.
Como ele poderia fazer isso comigo? Ou a qualquer outra pessoa?
Ele roubou minha vida antes mesmo de eu ter tido a chance de vivê-la.
— Você não vai compartilhar o mesmo destino que essas outras
meninas. Fique tranquila, você não irá nem mesmo conhecer minha
matilha, como elas. Não, eu tenho uma proposta diferente a fazer.
Ele diz isso lentamente, como se eu tivesse alguma escolha.
— Estou de olho em você já há algum tempo, — diz ele. — Eu sei que
você normalmente não tem medo de mim. — Ele junta as mãos. —
Embora talvez agora você esteja...
Decidi arriscar. Eu me lanço sobre ele, tentando machucá-lo de
alguma forma.
Mas ele apenas me agarra antes que eu possa fazer qualquer coisa.
Minha pele entra em contato com o couro de sua roupa por vários
longos segundos enquanto ele me segura pelos punhos, depois me joga
sem esforço algum como se eu fosse um pedaço de lixo.
Aterrisso com força no chão e me encolho de dor.
— Você é ousada, — ele comenta secamente. — Você tem certeza de
que é da Matilha Pureza?
Eu continuo encolhida no chão, cuidando dos meus ferimentos.
— O que você precisa entender, — ele me diz pacientemente, — é que
eu sou um Alpha e você é minha presa. Não o contrário.
Ele está estabelecendo regras básicas? Estou sendo avisada para não tentar
algo assim novamente?
Se eu não estivesse à sua completa e total misericórdia, eu tentaria
outro ataque contra ele agora mesmo para lhe mostrar o que penso sobre
isso.
Mas eu ainda tenho uma voz.
— Não serei sua escrava, — digo com raiva.
Ele ri.
Kaden ri... Estou na presença do Alpha mais mortal do mundo.
Ele não mostrou misericórdia com ninguém, então por que ele seria
misericordioso comigo?
— Seu destino será um pouco mais interessante do que o de uma
escrava, — murmura.
Ele volta para mim e estende sua mão.
Eu não quero aceitar, mas sei que se não aceitar, ele pode fazer algo
ruim comigo.
Deixei que ele me colocasse de pé.
Ele é mais alto do que eu, mas eu ainda não consigo ver debaixo de
seu capuz.
Tudo o que vejo é sombra, uma escuridão que já anseio por iluminar
com uma chama.
— Eu gostaria que você conhecesse alguém especial, — diz ele.
Ele bate palmas, eu me afasto e inúmeras portas se abrem do outro
lado da sala.
Se eu tivesse ido pelo outro caminho no escuro, poderia tê-las
encontrado e conseguido escapar. O que quer que esteja do outro lado,
só pode ser melhor do que isto.
Um homem de aparência mais jovem entra na sala cheio de estilo.
Ele tem dezenas de cicatrizes e arranhões em seus braços despidos e
alguns em seu rosto.
O padrão e o número de arranhões só poder ter vindo de outro
lobisomem, sem dúvida alguma.
Tudo nele indica que se trata de outro membro da Matilha da
Vingança.
Eu posso dizer pelo olhar maligno em seus olhos escuros que não terei
nenhuma ajuda ou simpatia ali.
Ele parece ter sido espancado ou caído de uma grande altura. Até
manca um pouco..
— Mara, eu gostaria que você conhecesse meu irmão. Kace.
Capítulo 3
DESTINO E CONSEQUÊNCIA MARA
Kace me olha em silêncio. Eu correspondo seu olhar.
Por que ele está aqui? Eu não me importo se ele é irmão de Kaden. Sua
existência só interessa se for para me ajudar a sair daqui. Encarei furiosa
os dois.
— É melhor você se acostumar com ele, — disse Kaden, em resposta
ao meu olhar.
Eu não sei por que Kaden está escondendo seu rosto de mim,
enquanto Kace não faz questão nenhuma de esconder o dele.
A curiosidade toma conta da minha mente, provocando uma vontade
de saber mais.
— Por que? — eu questiono.
— Porque você vai ser sua esposa.
Meu queixo cai. Um rompante de raiva me atravessa, mascarando o
choque.
Esposa?
É por isso que ele me roubou da minha família? Para me tornar a
esposa de algum estranho?
E não qualquer estranho. Este é o irmão do Alfa da Vingança!
Kace sorri maliciosamente. Ele planejou isso.
Ele queria um membro da Matilha da Pureza como esposa — para
abusar e humilhar. Agora eu consigo entender, está escrito em seu rosto
presunçoso e cheio de cicatrizes..
Eu olho para os dois. Eu quero bater neles, mas provavelmente
revidariam.
— Vá para o inferno, — eu respondo com raiva.
Kace dá um passo em minha direção, estendendo os braços como se
esperasse que eu andasse de boa vontade até eles.
Eu dou um passo para trás por instinto, querendo o máximo de
distância entre nós e Kaden agarra o ombro de seu irmão, contendo-o.
— Deixe sua futura esposa comigo. Você terá uma companheira
submissa pela tarde, — Kaden sussurra para Kace, como se pensasse que
eu não posso ouvi-lo.
Se ele acha que eu iria me submeter a ele, ele está louco. Eu prefiro
morrer. Kace me dá uma última olhada e sai da sala.
Eu fico olhando para o chão, recusando-me a encarar Kaden enquanto
ele anda ao meu redor. Sinto seu olhar vigilante, avaliando cada
centímetro de mim.
Nesse momento, meus pés parecem surpreendentemente mais
interessantes do que os dele.
— Eu não me casarei com ele, — digo a ele depois de alguns minutos
de silêncio.
Ele não responde. Em vez disso, ele continua me rodeando, me
avaliando como se eu fosse sua presa. É o que parece, de qualquer
maneira.
O silêncio corrói no fundo da minha mente. Ele está usando isso para
me manipular.
— E eu com certeza preferia morrer do que ficar aqui..., — acrescento
amargamente.
Eu sei que ele vai me matar se eu não fizer exatamente o que ele diz. É
assim que ele funciona.
Ele é um assassino psicopata. Eu finalmente vejo isso agora. Eu
gostaria de ter levado mais a sério as preocupações dos meus pais.
Ele para na minha frente e eu o encaro.
— Você não vai morrer. Bem, a menos que eu mude de ideia, — ele
responde suavemente.
Não sei dizer se ele está olhando para mim agora. Seu rosto
permanece completamente coberto.
Eu decido provocá-lo sobre isso.
— Por que você não me mostra seu rosto. Assustado?
Ele ri e se aproxima de mim. Eu não recuo, sabendo que ele vai pensar
que eu sou fraca se eu fizer isso.
Eu mantenho minha posição, tentando ver sob a sombra, mas é
impossível.
Ele estende a mão enluvada para tocar meu rosto. Eu permaneço
imóvel. Seu dedo desliza pela minha bochecha, então ele segura meu
queixo.
Talvez eu deva mordê-lo ou algo assim.
— Não tenho medo de ninguém, — ele murmura.
— Então me mostre.
— Eu não posso te mostrar. Você pode se sentir atraída por mim se eu
fizer isso, — diz ele despretensiosamente.
Há uma seriedade implícita em seu tom que desperta minha
curiosidade.
Agora eu quero arrancar seu capuz — para provar que não sou
influenciada por boa aparência alguma.
Se minhas suposições estiverem corretas, ele está se escondendo de
mim porque tem medo.
Eu movimento minha cabeça para ele, mas estou limitada enquanto
ele ainda segura meu queixo.
— Desculpe dizer, assassinos não são meu tipo.
Ele ri.
— Alguém já disse que você não é muito legal?
Ele solta meu queixo. Eu não posso deixar de me perguntar como
todas as outras eram — aquelas que ele sequestrou no passado.
Elas estão mortas? Ele realmente as matou?
Este homem é irritante — consigo deduzir isso simplesmente das
poucas frases que compartilhamos entre nós.
Me lembro de uma garota da minha escola que foi sequestrada.
Eu a conhecia. Eu gostava dela, até. Ela sempre me defendeu, até que
Kaden a pegou no meio da noite.
— De volta ao assunto de Kace..., — ele recomeça.
— Eu te disse, não vou casar com ele, — digo com firmeza.
De alguma forma, posso sentir seu sorriso mesmo sem vê-lo.
— Você não tem escolha, minha querida.
Por um momento, não nos falamos, apenas olhamos um para o outro.
Eventualmente, ele se afasta e aponta para o assento em que acordei.
— Você pode querer sentar-se para ouvir isso.
Sento instantaneamente. Eu acredito nele. Ele está prestes a me dizer
algo de que não vou gostar e não quero ser o tipo de pessoa que desmaia
no chão em desespero.
Dar a ele essa satisfação me machucaria mais do que ouvir suas
ordens.
— Você será pedida em casamento em frente ao meu bando amanhã à
noite. A notícia vai se espalhar rapidamente, — explica.
Eu discordo franzindo a testa, mas permaneço em silêncio.
— Depois que você disser sim, seu verdadeiro trabalho começará, —
ele me diz.
— E o que poderia ser isso? — eu pergunto.
Ele balança a cabeça de forma negativa para mim.
Eu não me preocupo em insistir mais, já que Kaden obviamente gosta
de fazer as coisas em seus próprios termos.
Ele só pensa que sou uma garota boba e ingênua da Matilha da
Pureza. Ele não vai me dar ouvidos.
— Você descobrirá o resto mais tarde. Por enquanto, você vai dormir,
— diz ele alegremente.
Eu bato meu pé quando ele se vira para ir embora. Ele para e olha para
mim.
— Essa conversa não me fez querer ficar de jeito nenhum.
Kaden grunhe.
— Você gostaria de tentar a sorte fugindo, Mara?
— Você não pode me manter aqui para sempre, — retruco.
O desafiarei até o fim. Se ele pensa que pode me manter aqui contra
minha vontade, ele está louco.
Não vou parar de tentar escapar e voltar para minha matilha de
verdade.
Vou tentar escalar cada parede e abrir cada fechadura para sair deste
lugar.
Eu não ficarei.
Ele anda atrás de mim, mas não me viro na cadeira, embora esteja
tremendo.
Não vou dizer que ele não me assusta, pois estaria mentindo. Ele
coloca as mãos nos meus ombros, me fazendo hesitar.
— Você não tem ideia de quanto controle eu tenho sobre você, — ele
murmura no meu ouvido.
Ele se abaixa, me fazendo sentir sua respiração quente contra meu
pescoço novamente.
Fico ainda mais intimidada. Eu odeio o efeito que ele tem sobre mim.
— Você é muito desafiadora, — ele observa. — Eu amo isso. Por quê?
Porque todos os outros do seu bando são patéticos. — Suas palavras me
fazem estremecer ainda mais. — Você, por outro lado, me intriga.
Intrigar ele? Isso deve ser uma coisa ruim.
— Mas ainda somos tão diferentes, — ele continua.
— Por que? — Minha voz está trêmula e sei que é estúpido da minha
parte esperar uma resposta.
Ele anda de volta para ficar bem na minha frente e se ajoelha
novamente, trazendo seu rosto encoberto para perto. Desta vez, quase
consigo ver o contorno de algumas de suas feições.
Estendo minha mão para tocar seu rosto, para descobrir se ele
realmente é tão atraente quanto aparenta ser.
Em vez disso, ele agarra meu punho antes mesmo de eu chegar perto.
Ele empurra com força no meu peito, me fazendo estremecer.
— Porque eu fiz mais coisas na minha vida do que você pode imaginar,
— ele sussurra asperamente.
O homem está louco. Por que eu ainda pensei em ousar tocá-lo?
— Já viajei para cada matilha do país, — ele continua.
Eu pressiono minha mandíbula.
Ele está torcendo meu braço de tal forma que a dor surge na parte de
trás da minha cabeça. Ele está tentando me humilhar.
— Eu aprendi mais do que você, — ele continua rispidamente.
Recuso-me a dar voz à minha dor. Eu não vou deixá-lo se divertir.
— Eu machuco por prazer!
Ele torce ainda mais meu braço e eu solto um gemido desesperado.
— E eu matei qualquer um que entrou no meu caminho!
Eu não duvido disso. Sinto as lágrimas se formando em meus olhos,
mas as contenho.
Eu não sou fraca. Ele solta meu punho e eu evito esfregá-lo, embora
queime muito.
— Eu sei que você ama sua família, então não duvide por um segundo
que eu não vou trazê-los aqui e matá-los bem na sua frente, — ele rosna.
Finalmente ele se afasta me dando algum espaço para respirar.
— E não antes de levá-la contra aquela parede primeiro.
— Você é doente! — esbravejo.
Ele ri.
— Mas vou deixar isso para o seu marido.
Ele joga meu cabelo para cima. Eu pego de volta e seguro sobre meu
ombro.
— Que tipo de irmão eu seria se te ensinasse quanto prazer você
poderia ter comigo em comparação com ele? — ele zomba.
Eu não digo nada. Estou com medo de que ele mate meus pais.
Eu seria uma filha horrível se fossem mortos por causa da minha
arrogância.
Eles não merecem nada disso. Eles são boas pessoas.
Kaden parece notar.
— Vejo que você entendeu meu ponto. Não gostaria que seus pais se
juntassem aos meus no Inferno.
— Meus pais são ótimas pessoas, — digo baixinho.
Não espero que ele responda, então é uma surpresa quando ele o faz.
— E você também era. Até que decidiu que queria fugir e se casar com
Kace, seu amante secreto, — diz Kaden.
Ele continua.
— Seus pais vão entender. Eu ouvi você falando com eles sobre mim
na noite passada. E eu poderia dizer que você não temia minha sentença.
Então, por que você ficaria?
De repente, percebo o porquê ele espera que eu concorde com tudo
isso. Isso faz meu coração parar.
— É por isso que você me escolheu? Porque você sabia que eu não
tinha medo de você?
Ele me dá um breve aceno de cabeça.
— Eu planejo para cada imprevisto.
Eu o odeio. Eu realmente, profundamente, desprezo este homem na
minha frente.
— Agora, é hora de você ir para a cama. Devo acompanhá-la ao seu
quarto? — pergunta ele, repentinamente educado.
Ele estende o braço para mim para que eu o envolva também.
Com o pensamento de meus pais ainda no fundo da minha mente, eu
obedeço e saímos da sala juntos.
Capítulo 4
UM ACORDO
MARA

Quase não dormi.


Eu não posso dizer quanto tempo passou. Não há janelas, então não
sei se o sol nasceu ou não.
Dois valentões me trouxeram para um quarto que aparentemente me
arrumaram e, desde então, me revirei na cama, tentando pensar em
como escapar.
É impossível manter minha mente quieta por mais de cinco minutos.
Como posso dormir quando minha família está lá fora, provavelmente
se perguntando onde estou?
Conhecendo-os, estarão presumindo o pior e, desta vez, estarão
certos.
Ou pior ainda, eles sabem que eu sumi?
Acho que consegui esquecer um pouco das coisas por pelo menos uma
hora, mas quando voltei a mim percebi instantaneamente onde estava e
meu coração afundou no peito mais uma vez.
Eu deslizo para fora da cama. Quando eles me trouxeram pela
primeira vez para este quarto, eu pude ver muito pouco em meu estado
de sonolência. Agora, porém, minha respiração fica presa na garganta
quando percebo onde estou.
Este é meu quarto!
Tudo que eu conheço e amo está aqui. Escolhi a paleta de cores,
pendurei as fotos e escolhi o jogo de cama. Está tudo aqui!
Corro para a porta, mas está trancada.
Eu me sinto desorientada. Foi tudo um pesadelo? Estou em casa?
Não, não pode ser... Lembro-me de ter sido sequestrada e de falar com
Kaden.
Mas isso poderia ser um sonho? Algo desencadeado pelos avisos dos
meus pais? Uma vibração de esperança enche meu peito.
Eu bato na porta.
— Mãe! Pai! Sou eu, me deixe sair!
Não há resposta às minhas chamadas. Eu volto para o meu quarto.
Está tudo igual. O tapete cinza, as paredes azuis...
Vou até as fotos e pego uma de minha mãe e de meu pai. Eles parecem
tão felizes. Uma lágrima cai dos meus olhos e atinge o vidro, cobrindo o
rosto de minha mãe.
O que eu estou fazendo? Este não pode ser o meu quarto!
Isso tudo é coisa da minha cabeça, e meus pais não estão aqui para me
salvar. Eu tenho que me virar sozinha.
Deitando de volta na minha cama, eu fecho meus olhos. Não consigo
dizer o que é real e o que é falso. Não posso dizer se estou em casa ou
ainda com a Matilha da Vingança. Eu sinto que estou flutuando entre
duas realidades.
Isso é sua culpa. Kaden. Este é mais um de seus jogos. Ele quer que eu
me sinta confusa porque assim fico vulnerável.
De repente, eu o odeio mais do que nunca.
Minha mãe me disse para nunca odiar, mas essa angústia no meu
peito não pode ser suprimida.
Eu me levanto, bloqueando as lembranças ao meu redor e tento abrir
a porta novamente. Desta vez, ela abre, mas na minha direção. Eu
tropeço para trás quando alguém entra.
Um jovem está parado na porta, olhando para dentro.
Ele parece um pouco diferente do que eu acho que a maioria dos
membros da Matilha da Vingança se parece.
Ele tem cabelos escuros, olhos escuros e sua pele é perfeita.
Ele é muito atraente, mas tem um mistério e uma escuridão sobre ele.
Basicamente, ele é o oposto de qualquer membro da Matilha da
Pureza. Não é enfadonho. Não é chato.
Instantaneamente me sinto nervosa e deslocada.
Estou vestida apenas com uma camisola fina e branca que me lembro
vagamente de ter colocado na noite anterior.
Era a única coisa no guarda-roupa que se parecia com roupa de
dormir.
Este homem, por outro lado, usa uma armadura de couro completa,
incluindo luvas, iguais às de Kaden.
Por que todos aqui usam luvas?
Ele levanta uma sobrancelha para mim enquanto eu me afasto
lentamente.
— Mara? — ele pergunta. Sua voz é profunda e tem um sotaque
exótico. Eu aceno com cautela.
O que ele quer comigo? Percebo como ele não adentra o quarto.
Respeitoso, pelo menos.
— Quem é você? — Eu exijo uma resposta, soando mais rude do que
eu pretendia.
Agora, entretanto, qualquer um da Matilha Vingança é meu inimigo e
eu preciso manter isso assim.
Quando eu escapar, vou deixar cada um deles para trás.
— Você pode me chamar de Coen, — ele diz gentilmente.
Ele estende a mão para mim e eu fico olhando para ela.
Está envolta em couro, a lateral de suas luvas decorada com pequenas
joias azuis. Curioso.
Eu engulo.
— Odeio couro.
Ele retrai a mão e olha para ela por um momento.
Ele é muito bonito, odeio admitir. E, até agora, a pessoa menos
intimidadora que conheci aqui.
— Justo, — ele comenta.
Ele tira as luvas e as enfia dentro do bolso da jaqueta.
Sua jaqueta é tão maravilhosa quanto as luvas, cravejada das mesmas
jóias. Ele oferece sua mão novamente.
Desta vez, eu pego.
Seus dedos quentes se fecham em torno dos meus, e então eu o deixo
me levar para fora da sala através de um corredor mal iluminado.
— Você vai tomar café da manhã com o seu... — ele para.
Kace e eu não somos companheiros. O casamento é para a realeza e eu
também não faço parte disso Ele parece desconfortável.
— Com Kace, — ele termina.
Meu estômago se contrai e começo a me sentir mal.
Estar na mesma sala com Kace já era ruim o suficiente, mas comer
com ele?
Talvez eles me deem uma faca, mas eu não saberia o que fazer com
uma, mesmo que me dessem. A violência é um pecado.
Decido tentar questionar meu acompanhante.
— O que você é para ele? Kaden, quero dizer.
Ele suspira.
— Um guarda pessoal.
Estranho. Guarda pessoal?
Quem diria que o alfa mais temido de todos eles tem um guarda
pessoal?
Não consigo pensar em ninguém que ousaria machucá-lo.
Eu mordo meu lábio.
— E onde está Kaden?
Eu realmente não me importo, mas ainda estou curiosa para saber.
Eu gostaria de ter a confiança de repreendê-lo pelo que ele fez no meu
quarto.
As decorações são propositais, ele está me provocando com o que
tirou de mim.
— Ele está lidando com negócios com outros grupos, — responde
Coen.
Claro, ocupado demais roubando mulheres para fazer qualquer coisa
com sua própria matilha.
Coen me pega revirando os olhos.
— Você tem todo o direito de desprezá-lo, mas tenha isso em mente
— ele gosta que suas mulheres sejam submissas.
Eu cerrei meus dentes em desgosto.
— Felizmente, eu não sou dele.
Quando chegamos à sala de jantar, encontramos Kace já sentado. Ele
está cutucando um pedaço de abacaxi em seu prato.
Ele está vestido casualmente, como se já fôssemos um casal que se
reúne para um café da manhã todos os dias há anos.
Espera-se que a gente divida um quarto depois da nossa união?
Ele olha para cima e encontra o meu olhar enquanto entramos. Eu
retribuo seu olhar de desdém com um olhar furioso.
Sinto que ele não quer ser meu par quase tanto quanto eu não quero
ser o dele.
Pelo menos temos algo em comum.
Eu me sento na ponta da mesa.
Não estou com fome, mas de qualquer maneira, Coen vai buscar um
prato de comida para mim. Então, fico sozinha com Kace.
— Posso presumir que você não quer me pedir em casamento esta
noite, — digo a ele.
Ele aperta a mandíbula e abaixa o olhar. Ele não quer admitir isso para
mim?
Ele parece ser bem esquentadinho, então não há razão para ele tentar
esconder qualquer coisa de mim.
Ele deixa cair o garfo.
— Você não sabe de nada.
— Eu sei que você pode me tirar daqui. Se eu sair, você pode ter quem
quiser.
Ele bate as mãos na mesa, fazendo os talheres saltarem e depois se
levanta. Eu olho nervosamente para ele. Estou andando no fio da
navalha.
— Você não entende? Você não pode escapar dele. Ele vai encontrar
você e vai trancá-la para que você nunca mais veja a luz do sol, — ele me
diz.
Meu coração quase para com suas palavras. Eu acredito nelas.
Kace se recosta novamente e passa a mão no rosto.
— De nada me importa. A garota que eu quero tentou me matar.
Eu olho para os cortes e hematomas em seu rosto e me pergunto se
essa garota de quem ele está falando fez isso com ele.
Como ele ainda poderia desejá-la depois do que ela fez?
Eu não saberia, é claro. Nunca experimentei o amor.
— E ela ama outro homem, — ele diz rispidamente, enfiando um
pedaço de abacaxi na boca.
Coen volta para a sala segurando um prato de frutas. Eu me pergunto
de onde a Matilha da Vingança obtém seus frutos. Ele coloca o prato na
minha frente e se afasta.
Ele é meu guarda agora?
— Você poderia ter coisa melhor, — digo a Kace. Ele me ignora e
continua comendo. Eu posso adivinhar o que ele está pensando: Qual é o
motivo? Qual é o sentido de esperar por alguém quando você está sendo
forçado a se casar com outra pessoa?
Começo a me perguntar como será minha vida amorosa em potencial
e balanço a cabeça com as conclusões a que chego.
Mas a Deusa da Lua evidentemente decidiu que esse é o meu destino,
então devo aceitar e lidar com isso com o melhor de minhas habilidades.
Se eu não tiver que ver Kaden, ficar aqui pode não ser tão ruim. Mas
ainda tentarei escapar — para ver minha família e a matilha novamente.
Mesmo que isso me mate.

Logo depois, eu me retiro e passo o resto do dia andando pelo meu


'quarto'.
Eu escovo meus cabelos e olho para a foto dos meus pais enfiada em
um canto do espelho. Eles sorriem alegremente.
Eu me pergunto o que eles estão fazendo agora. Aposto que não estão
tão felizes agora quanto na foto. Eles devem sentir minha falta, certo?
Abaixei minha escova, desejando que meu cabelo brilhasse tanto
quanto o das outras garotas. Um pouco de maquiagem também ajudaria.
Minha pele pálida não é nem um pouco atraente — especialmente
não esta manhã com minhas bochechas manchadas de chorar na noite
passada.
Disseram-me que o pedido será feito na próxima hora.
Sentar nesta sala, assim como a de casa, é estranhamente relaxante.
Está tendo exatamente o efeito oposto ao que Kaden, sem dúvida,
pretendia que tivesse.
Uma batida na minha porta me faz virar na cadeira.
Coen deveria estar de prontidão do lado de fora, garantindo que eu
não tentasse escapar e, ao mesmo tempo, me dando um pouco de
privacidade.
A única outra opção seria a janela, mas quando puxei a cortina,
encontrei uma parede de concreto olhando para mim.
A porta se abre e sou saudada por Kaden encapuzado. Imediatamente
fico irritada com sua presença, ao invés de assustada.
Estou tentada a agarrá-lo pelo pescoço e estrangulá-lo até a morte,
mas não consigo ver nada que possa agarrar...
Ele vestiu um terno, percebo, embora ainda esteja usando luvas de
couro.
Eu resisto mais uma vez ao desejo de levantar seu capuz para revelar o
rosto sob ele. Como ele conseguiu prender um capuz em seu terno está
além da minha compreensão.
— O que você quer? — eu pergunto friamente.
Ele não deveria estar do lado de fora, festejando junto com os outros
membros da matilha? O pensamento me dá ânsia.
Eles comemoram enquanto nem eu, nem Kace queremos continuar
com tudo isso.
Os membros da Matilha da Vingança não têm coração. Devo me
lembrar disso.
— Eu vim para garantir que você chegará na hora certa. Vejo que você
ganhou o vestido que fiz para você, — diz ele.
Como Coen, ele permanece do lado de fora da minha porta sem
cruzar a soleira, como se isso fosse matá-lo.
Eu olho para o vestido que fui instruída a usar.
O espesso material roxo escuro se agarra ao meu corpo. O corpete
está brilhando com joias que eu nunca poderia ter comprado.
É realmente muito bonito e se eu estivesse em qualquer outro lugar,
adoraria usá-lo.
Na Matilha da Pureza, não temos permissão para usar roupas escuras
e ricas como essa.
Significa a crença no Destino que nenhum de nós tem permissão para
desafiar.
— Você espera que eu fuja? — eu o desafio.
Ele fica em silêncio por um momento.
Eu me pergunto se, sob seu capuz, ele é como todos os outros nesta
matilha. Os mesmos traços? A mesma aparência exata, talvez?
— Sim, — ele responde.
Como se eu pudesse de fato fugir.
Como eu poderia escapar do alfa mais notório e sua matilha? Mas
ainda faço a pergunta.
— Por que?
— Porque você parece tola o suficiente para fazer isso.
Fico brava com ele.
— Você parece ainda não ter entendido que posso matá-la. E sua
família também, — ele continua.
Ele levanta a mão direita enluvada, limpando a poeira inexistente com
a outra mão.
— Mas você não precisa se preocupar. Eu não vou te matar.
Ele estende o braço para mim, desejando que eu o pegue.
Eu fico olhando para ele.
Qual é o sentido de se rebelar agora? Não há nenhum.
Então eu enlaço meu braço no dele e partimos.
Ele se inclina para o meu ouvido.
— Ainda.
Capítulo 5
PEDIDO DA MATILHA
MARA

Kaden separa nossos braços enquanto esperamos na lateral de um


palco erguido em um grande salão.
Mesmo que ele seja meu inimigo jurado, sua ausência me deixa
angustiada.
De repente, fico nervosa demais para me importar com quem está me
acompanhando, mesmo que seja a pessoa que menos gosto no mundo.
Ele se dirige para o centro do palco na frente de seu bando reunido.
Todos estão torcendo e gritando seu nome.
Depois de alguns momentos, ele consegue acalmá-los um pouco.
Aos meus olhos, eles não são nada mais do que bestas selvagens sob o
domínio de um homem igualmente selvagem.
— Boa noite a todos, — ele murmura.
Um microfone é desnecessário, pois sua mera presença no palco
chama a atenção de todos.
Kace está no lado oposto do palco, esperando sua deixa para me
encontrar no centro.
Ele nem se preocupa em olhar para mim.
Não consigo deixar de pensar, O que aconteceria se eu fugisse agora?
Eu não conseguiria sair do prédio antes que um dos membros do
bando de Kaden me encontrasse e me arrastasse de volta para ele.
Talvez eu nem mesmo voltasse viva.
— Tenho um anúncio muito especial a fazer, — afirma Kaden.
Todos respondem com gritos e uivos.
Muitos de seus membros são criminosos de outras matilhas. É isso
que ele faz. Ele os deixa viver aqui, em um lugar onde eles não podem
fazer mal a ninguém além de si mesmos.
Percebo que mesmo agora Kaden cobre seu rosto. Ele deve se mostrar
para sua matilha, certo?
Ninguém parece esperar que ele tire o capuz, então talvez eles estejam
acostumados.
— Uma convidada se juntará a nós no palco, — ele diz suavemente.
Ele se vira, gesticulando para que eu vá para o seu lado. Demoro um
segundo para tomar coragem de mover meus pés. Para me comprometer
de fato.
Nervosa, subo no palco para que todos possam me ver.
O silêncio que cai sobre a multidão é imediato. É óbvio que ninguém
esperava que um membro da Matilha da Pureza estivesse aqui hoje.
O espanto em alguns dos presentes é intrigante.
Fico ao lado de Kaden — não tão perto, no entanto.
— Esta é Ma...
A multidão se aproxima, interrompendo Kaden. Eles agarram a borda
do palco, todos se empurrando para ter uma visão melhor.
Eu não tinha ideia de que eles reagiriam dessa maneira. Se eu tivesse,
poderia ter considerado fugir como uma opção possível.
Kaden agarra meu braço e me puxa para trás.
Estou pressionada em suas costas, meu rosto encostado contra
músculos e ossos, posso sentir o calor vindo de sua camisa.
Este é o mais próximo que já estive de um homem que não seja meu
pai, embora a roupa ainda nos separe.
— Saiam de perto! Não a toquem! — ele grita para a multidão.
A voz de Kaden é tão alta e seu tom tão cruel que eles se acovardam.
Uma vez que todos estão a uma distância segura, Kaden me puxa para
seu lado.
Ansiosa, volto ao meu lugar olhando para o chão para que eu não
tenha que ver os olhares ferozes nos olhos sem alma dos membros do
bando.
Kaden, então, pede a Kace para subir ao palco.
Ele assume sua posição do outro lado. A expressão de indiferença em
seu rosto é assustadora.
Por que ele não pode simplesmente enfrentar seu irmão e parar tudo
isso?
— Estamos reunidos aqui para celebrar nosso domínio sobre a
Matilha da Pureza, — anuncia Kaden.
Meu coração despedaça. A multidão fica louca, respondendo às
palavras de Kaden com entusiasmo bestial.
A maneira como eles estão se comportando torna bastante óbvio
como eles se sentem em relação à minha matilha.
Eles nos odeiam.
— Assim, eu anuncio a união desta jovem da Matilha da Pureza com
meu irmão, Kace, — Kaden declara.
Sinto as lágrimas brotando em meus olhos, mas luto para evitar que
escorram pelo meu rosto.
Ele nem mesmo diz meu nome a eles. Isso demonstra o quão pouco
eu significo para eles.
Todo mundo aplaude. Eu observo o olhar de Kace. Ele parece bravo ou
ao menos perturbado. Talvez ele esteja pensando duas vezes antes de
realizar os desejos de Kaden.
Por favor.
Kaden se afasta e Kace caminha até mim com as mãos estendidas.
Sabendo que não tenho escolha, eu as seguro.
Posso senti-lo tremendo e fico surpresa ao descobrir que ele parece
ainda mais nervoso com tudo isso do que eu.
— Mara, da Matilha da Pureza, — ele murmura, — quer se unir a mim
e, no futuro, se tornar minha companheira?
O silêncio ao nosso redor é pesado. Eu quero dizer não e escapar de
tudo isso. Nada me deixaria mais feliz do que simplesmente ir embora.
Em vez disso, digo:
— Sim.
Kace cerra os dentes enquanto o público grita em aprovação, batendo
palmas ao mesmo tempo.
Eu me viro e olho por cima do ombro para ver Kaden assentindo.
Então Kace me conduz para descer do palco, sua mão descansando na
parte inferior das minhas costas para me guiar.
— Isso é tudo? — eu pergunto, uma vez que estamos seguros fora do
palco.
Kaden, que havia me seguido, balança a cabeça para mim.
— Não, vamos jantar no salão principal em alguns momentos.
Engulo a seco a resposta que estava na ponta da língua. Atacar parece
uma ótima ideia na teoria, mas na prática provavelmente serei morta
imediatamente.
Sou conduzida por um corredor até uma sala de jantar já cheia de
pessoas discutindo coisas em voz baixa. A conversa cessa quando
entramos na sala.
Todos se levantam, baixando a cabeça em sinal de respeito.
É exatamente o que aconteceria na minha matilha com Alfa Rylan.
Kace tem seu braço junto ao meu, então parece que estamos
realmente noivos e comprometidos. Isso me faz sentir mal...
Kaden se senta na ponta da mesa longe do resto do grupo, sem
parecer notar ninguém na sala. Enquanto isso, um por um, os outros se
aproximam de Kace e de mim.
— Parabéns, — diz um jovem, apertando a mão de Kace.
Ele nem mesmo olha para mim antes de voltar para seu assento. Os
outros fazem o mesmo.
Eles se aproximam, apertam a mão de Kace, o parabenizam, sorriem e
se retiram sem um único olhar em minha direção.
— Eles estão me ignorando, — eu sussurro no ouvido de Kace.
Ele sorri levemente e concorda comigo.
— É porque você é um membro da Matilha da Pureza.
Sou levada para sentar ao lado de Kace. Do meu outro lado, um
homem que não conheço toma seu lugar próximo a mim e olha
fixamente para frente.
Decido não me preocupar em iniciar uma conversa com ele ou
qualquer outra pessoa. Eu não quero estar aqui de jeito nenhum.
O jantar é servido logo e eu como devagar. Não estou com fome e meu
estômago está revirado. Eu gostaria de chorar, mas não quero.
Eu sei que não havia nada que eu pudesse fazer, mas pensar em como
eu disse sim para Kace me faz subir um gosto amargo na boca..
Estou comendo uma batata quando sinto algo roçar na minha coxa.
Eu sei instantaneamente que é a mão de Kace.
Ele a coloca firmemente na minha coxa, seus dedos pressionando em
minha pele. Eu olho para ele, mas ele nem mesmo olha para mim.
— Tire agora! — digo, tentando dar um tapa em sua mão.
Mas ele não se move. Quanto mais tento tirar seus dedos de mim,
mais o sinto resistir.
— Por que? — ele exige, finalmente se virando para olhar para mim. —
Você vai ser minha oficialmente muito em breve, Mara.
Tenho um desejo irresistível de dar um tapa na cara dele, mas me
contenho, sabendo que isso vai atrair a atenção.
Eu apenas adiciono isso às muitas razões que tenho para odiá-lo.
Assim que o jantar acaba, recebo ordens para ir ao meu quarto para
me preparar para dormir. Kaden anuncia que é seu dever me escoltar.
— Meu noivo não deveria estar fazendo isso? — eu questiono
enquanto caminhamos.
O capuz ressoa enquanto ele balança a cabeça.
— Você pode estar noiva, mas a relação sexual é proibida até que você
se case, — ele me informa.
Estou tão assustada que paro abruptamente. Ele para alguns passos à
minha frente e me olha. Pelo menos, acho que ele está olhando para
mim.
— Você certamente é muito sincero sobre a maneira como faz as
coisas, — observo friamente.
Ele concorda.
— Estou apenas sendo cauteloso.
Caminhamos então para o meu quarto em silêncio. Em vez de abrir a
porta, me viro para encará-lo.
— Eu sei que nunca vou sair daqui, — informo-o de forma
desafiadora, — mas quero que saiba que nunca vou querer estar aqui.
Sua cabeça se inclina para baixo e me pergunto se ele está olhando
para seus pés.
Ele está com vergonha? Ele sente remorso? Claro que não. Ele é um
monstro e sempre será.
— Não posso fazer você gostar daqui, Mara — diz ele. Sua voz está
estranhamente tensa, como se ele estivesse lutando para pronunciar as
palavras.
Ele faz menção de se afastar, mas eu agarro sua manga e ele congela.
— Por que você não me mostra seu rosto? — perguntou-lhe.
Ele suspira.
— Eu pensei ter te dito... você vai se sentir atraída por mim se olhar
nos meus olhos. Você não será capaz de resistir.
Ele diz isso tão seriamente que quase acredito nele por um segundo.
Mas então percebo que isso nunca poderia acontecer com alguém como
eu.
— Você está mentindo, — retruco.
Ele ri levemente.
— Você não tem que acreditar em mim. Mas você não verá meu rosto,
não importa o quanto isso a irrite.
Sua arrogância me enfurece — e ele sabe disso.
— Você deixa seu bando te ver? — Eu pergunto.
Um aceno de cabeça é sua única resposta. Ele abre minha porta e faz
um gesto para que eu entre, como se eu o estivesse irritando tanto
quanto ele está me irritando.
— Você deveria dormir, Mara, — diz ele.
Suspirando, entro no meu quarto, fechando a porta atrás de mim.
Menti quando disse que sabia que não poderia sair. Eu vou tentar. Vou
continuar tentando até o dia da minha morte.
Capítulo 6
FORMOSA FERA MARA
Sento-me na beira da cama por horas a fio, sem conseguir dormir. Eu
atribuo isso à combinação do calor no meu quarto e os nervos ainda
borbulhando à flor da pele.
Dizer sim para Kace será para sempre uma memória terrível gravada
em minha mente.
As fotos da minha família ao redor da sala estão começando a me
deixar maluca. Deve ser assim que Kaden se entretém, provocando
aqueles que ele sequestrou.
Eu me levanto e ando por algum tempo.
Tenho uma natureza curiosa e a necessidade de sair desta sala agora é
urgente — apenas para explorar, não necessariamente para tentar algum
tipo de fuga, porque sei que fracassarei nisso.
Porém, se uma oportunidade se apresentar...
Testando minha coragem, tento abrir a porta. Para minha surpresa,
ela se abre.
Estranho que ninguém se preocupou em trancá-la.
Eu olho para fora, checando o corredor. Espero ver Coen lá, mas o
lugar está deserto. Sinto um sorriso malicioso surgir em meus lábios.
Agora é minha vez de jogar.
Eu sigo pelo corredor, mantendo meus passos os mais silenciosos
possíveis. Seria uma verdadeira decepção ser descoberta antes de
desvendar qualquer coisa.
O que mais me surpreende, porém, é que o lugar é tão silencioso e não
apresenta nenhum sinal de vida.
Isso me deixa nervosa, como se estivesse caindo em algum tipo de
armadilha.
Desço algumas escadas, verificando a esquerda e a direita. O caminho
está livre e eu escolho ir para a direita.
Minha rota me leva para a escuridão, quanto mais longe vou, as luzes
vão ficando cada vez mais fracas. A sensação é estranha.
O fato de poder ser pega a qualquer momento me estimula a seguir
em frente.
Nunca saí da linha na minha vida e este é o primeiro risco que ouso
correr.
Desço mais dois lances de escada.
O primeiro foi polido recentemente e quase escorrego a cada passo.
O próximo lance de escadas tem uma luz direcionada aos degraus
feitos de pedra.
Sei que devo parar agora e refazer meus passos, voltar para o meu
quarto e dormir, mas a curiosidade me puxa como um cachorro na
coleira.
Quanto mais longe eu vou, mais quero continuar.
Eu faço uma pausa. Um som estranho vem de baixo, me fazendo
estremecer de medo.
O som só pode ser descrito como um barulho de batida forte, algo
como metal contra metal.
Isso causa arrepios na minha pele e faz meu sangue gelar.
Tenho que investigar, senão vou passar a noite inteira no meu quarto
me perguntando o que é.
Movendo-me mais devagar agora, desço os degraus com muito mais
cuidado em direção ao som.
Ele fica mais alto conforme eu continuo descendo. No momento em
que estou ao pé da escada, o som parece estourar meus tímpanos.
Aqui a temperatura está muito mais alta e posso sentir o suor na testa.
Eu afasto meu cabelo do rosto e continuo caminhando.
Ainda não tenho ideia do que estou prestes a descobrir aqui.
Uma pessoa normal poderia retornar neste ponto, mas não tenho
nada a perder, então continuo.
Eu passo por várias portas, verificando cada cômodo e conforme
passo, percebo que o som está vindo do final do corredor.
Eu me encontro diante de uma porta parcialmente aberta e ouço
alguém se movendo lá dentro, batendo coisas ao redor.
Não sei o que posso encontrar e sei que posso estar arriscando minha
vida ao entrar.
Se for esse o caso, digo a mim mesma, então pelo menos estarei livre da
desgraça de ser mantida prisioneira aqui.
Mordendo meu lábio, chego mais perto, na ponta dos pés. Rezando
para não ser pega, espio pela fresta da porta e quase engasgo com o que
vejo.
Um homem. Nu. Bem, quase nu.
Meus olhos deslocam-se a partir de seus pés, em seguida movem-se
em direção a sua calça preta até suas costas nuas.
Linhas detalhadas de tinta adornam os músculos bronzeados,
banhados por uma leve camada de suor.
Meu olhar dança por seus braços musculosos empunhando uma
grande marreta de aço.
Eu até aprecio seus cabelos bagunçados, tão escuros quanto a noite.
O estranho bate com o martelo em algo de metal provocando um
estrondo que me faz pular.
Quero ver o que ele está fazendo e como ele está de costas para mim,
entro no quarto. Eu sei que é estúpido, mas não consigo me conter.
Agora vejo que as paredes estão cobertas de armas.
Existem espadas, adagas, vários tipos de lâminas, todas brilhantes e
mortais.
Eu definitivamente não deveria estar aqui. Este homem
provavelmente é um psicopata que vai me matar se me ver.
Por um segundo, fico tentada a pegar uma das armas para usar contra
ele, mas, de novo, sei que não tenho coragem de fazer isso. E é contra
minha religião.
Pego-me desejando que meus pais tivessem pelo menos me ensinado
algo sobre autodefesa.
Eu me viro para a porta, mas meu pé trava em alguma coisa — eu caio.
Eu me levanto, mas sou muito lenta para conseguir escapar.
— Pare aí mesmo!, — o homem grita.
Eu pulo aterrorizada. Imediatamente, a voz soa familiar e gela meu
coração.
Eu paro; o caminho para minha fuga a apenas alguns centímetros de
distância.
Lentamente vou me virando e levanto minhas mãos como se ele
estivesse apontando uma arma para mim.
Meu olhar é atravessado por um par de olhos negros como obsidiana.
Eles são tão escuros que posso ver meu reflexo horrorizado dentro da
íris.
Ele me encara por baixo de uma espessa camada de cabelo.
O homem me olha através dos fios desgrenhados caídos sobre sua
testa, me avaliando.
Seu rosto é algo que não consigo descrever em palavras. Quero tocá-
lo, sentir cada contorno da pele macia, mas mantenho meus dedos
trêmulos ao meu lado.
Meus olhos rastreiam, absorvendo cada detalhe de seu abdômen
definido com admiração.
O que realmente chama minha atenção, entretanto, é a ponta da
espada que ele está segurando tão perto do meu rosto.
— Mara — ele sussurra, com uma voz rouca.
E eu tenho certeza... Eu mal posso respirar enquanto o choque me
consome. Eu sei exatamente quem é esse homem extremamente
atraente.
— Kaden.
Sua mandíbula se contrai — uma mandíbula bem delineada, não
posso deixar de notar — quando ele joga a espada na bancada fazendo-a
tinir.
Eu permaneço imóvel, incapaz de tirar meus olhos dele.
Dizer que sua aparência não é o que eu esperava é um eufemismo.
Achei que ele estava escondendo o rosto de mim de vergonha.
Eu esperava que ele fosse feio, talvez até desfigurado.
Eu não poderia estar mais longe da verdade.
— Você não deveria estar aqui, — ele murmura.
Eu luto para tirar meus olhos dos dele e finalmente consigo desviar
meu olhar para o chão. Estou consciente de que provavelmente pareço
ridícula para ele, andando pelo covil da Matilha da Vingança apenas com
uma camisola leve.
Ele suspira e pega um pano do banco para enxugar a testa.
Passo a língua nos meus lábios e olhando para cima, finalmente
encontro minha voz.
— O que você está fazendo aqui?
Seu olhar segue o meu até a parede de armas.
— É um hobby meu. Transformar algo tão horripilante quanto uma
arma em uma obra de arte, — ele me diz.
Seu tom é relutante, mas noto orgulho em sua voz também.
Isso é o que realmente importa para ele. Tento fazer o meu melhor
para não me render à minha vulnerabilidade absoluta.
— Arte mortal, — sussurro.
Kaden então pega suas luvas de couro e as desliza sobre as mãos, sem
tirar os olhos de mim nem uma vez.
Não aguento a pressão de olhar para ele. Eu viro meu olhar para as
paredes de armas.
Quantas foram colocadas em uso? Ele tem uma favorita?
O medo inunda meu corpo quando percebo que tentei escapar e agora
meu algoz está aqui com uma sala cheia de espadas ao alcance.
Ele tem todas as desculpas para testar cada uma em mim.
— Você não deveria estar aqui. Eu deveria mandar você se curvar ao
lado da minha cama agora por seu comportamento — ele rosna,
torcendo as mãos.
Meu coração quase para com suas palavras.
Então ele estende a mão para mim.
— Pena que é trabalho do meu irmão.
Ao mesmo tempo em que fico enojada com suas palavras, estou
aliviada por ele não estar ameaçando minha vida ou algo assim.
Já me expus o suficiente, arriscando minha vida bem na sua frente e
de todas aquelas armas.
Pego sua mão e espero que ele não perceba como estou tremendo.
A sensação do couro entre meus dedos é angustiante.
— Por que você nunca me toca? — eu deixo escapar enquanto saímos
da sala.
Me arrependo de ter feito a pergunta quase assim que a faço e mordo
o lábio.
Ele me lança um olhar velado.
— Nós estamos nos tocando, — diz ele, apertando minha mão.
Dotada de uma ousadia repentina, reviro os olhos.
— Eu quis dizer, o que há com as luvas? Por que você não toca na
minha pele?
Ele grunhe.
— Por que? Deseja meu toque?
Eu balanço minha cabeça e ele dá uma risada curta enquanto subimos
as escadas.
— Estou apenas curiosa, — digo a ele honestamente. E é verdade. De
repente, não me arrependo da minha curiosidade. Veja onde isso me
levou.
Isso me faz pensar por um segundo — Kaden alguma vez teria me
mostrado seu rosto se eu não tivesse bisbilhotado?
— A curiosidade traz punição — ele rosna tenebrosamente.
Eu sinto meus olhos arregalados.
— Punição? — Eu chio. Ele não pode estar pensando em me punir por
isso?
Então, novamente, eu me lembro, ele é o alfa da Matilha da Vingança...
Repito meu pedido para tocá-lo várias vezes, mas ele não me dá
ouvidos até que chegamos no último andar, perto do meu quarto.
Na verdade, ele parece completamente alheio a qualquer coisa que eu
digo até estarmos diante da porta do meu quarto.
— Mas, falando sério, por que você não pode me tocar? — eu
pergunto, exasperada.
Eu não entendo porque Coen livremente tirou as luvas e me tocou,
mas Kaden não.
— Acredite em mim, se eu tocar em você, você se sentirá atraída por
mim, — ele diz calmamente.
Ele está falando sério?
— Isso é o que você disse sobre o seu rosto, mas eu acabei de ver e não
senti nada, — digo a ele.
Não sei dizer se estou mentindo ou não. Eu sei que poderia ficar
olhando para ele por muito tempo e não ficar entediada.
De repente, ele salta para frente, agarra meu braço e me empurra
contra a parede, com a mão segurando meus punhos acima da minha
cabeça. A outra empurra meus quadris contra a parede, de modo que
nenhum centímetro de sua pele toca a minha.
— Não brinque comigo, Mara! Não quando estou considerando
seriamente entre cortar sua garganta ou rasgar suas roupas, — ele sibila.
Seus lábios estão tão perto dos meus que sinto sua respiração na
minha pele.
Não digo uma palavra, mas imagino que minha respiração ofegante
está dando a ele toda a resposta de que ele precisa.
Ele me solta e me empurra para o meu quarto. Eu tropeço para trás,
tentando recuperar o foco.
— A punição começa amanhã, — ele murmura antes de fechar a porta
na minha cara atordoada.
Capítulo 7
CHARADAS
MARA

— Nunca vou encontrar meu companheiro agora, — reclamo, tirando


as sementes de uma fatia de melancia.
Kace levanta os olhos do café da manhã com surpresa. É a primeira
vez que falo desde que entrei na sala de jantar.
Ele abaixa sua caneca de café e me encara.
— Companheiros não existem, — ele responde.
Eu suspiro. Continuamos nos olhando enquanto corto um pedaço de
melancia e coloco na boca.
Ele não diz uma palavra enquanto eu mastigo.
Os membros da Matilha da Vingança não acreditam na Deusa da Lua
como a Matilha da Pureza, o que significa que eles também não
acreditam em companheiros.
O companheiro prometido pelo destino é a única coisa em que
acredito.
Meus pais são companheiros e sabiam que deveriam ficar juntos assim
que se viram.
O relacionamento deles é o exemplo do que eu adoraria ter um dia.
— Sim, eles existem, — informo-o depois de engolir a fruta.
Ele tosse e se recosta na cadeira.
— Como você pode ter tanta certeza? — ele pergunta. Ele parece
curioso, o que me pega de surpresa.
Afasto meu prato.
— O verdadeiro amor existe...
— O verdadeiro amor é uma piada.
— Só porque o seu verdadeiro amor tentou te matar, não significa que
ele não existe, — eu retruco.
Ele recua, estreitando os olhos. Eu provavelmente não deveria ter dito
isso.
Às vezes, gostaria de ter sempre um rolo de fita adesiva presa no cinto,
para poder manter a boca fechada quando necessário.
Ele se levanta, seus músculos faciais estão tensos. Tento ao máximo
não parecer intimidada.
— Pelo menos eu não acredito em uma cadela que mora no céu! — ele
cospe.
De repente, não me arrependo de nada que já disse a ele.
— A Deusa da Lua deve ter ouvido isso, — respondo cruel.. — Ela vai
punir você.
Kace levanta as sobrancelhas.
— Oh, danadinha.
Eu empurro minha cadeira para trás e ficamos cara a cara, ostentando
minha melhor expressão brava. Tento encará-lo, conjurando o máximo
de ódio possível em meu olhar. Ele apenas sorri em resposta.
— Um dia, Kace, vou machucar você! — Juro.
Ele balança a cabeça perplexo.
Sinto uma mão em meu braço e giro até encontrar Coen olhando para
mim com olhos gentis, mas de advertência.
Ele é o único em quem sinto que posso confiar ou pelo menos espero
poder.
No pouco tempo que passamos juntos, sinto que nos entendemos. Se
eu não gosto de algo, ele não me pressiona muito.
Para alguém que vive na Matilha da Vingança, ele é tão... normal.
— Leve-a embora, — Kace ordena.
Contra minha vontade, Coen me leva para fora da sala. Eu odeio que
me digam o que fazer e o poder que todos parecem ter sobre mim aqui
me enoja.
Ele me solta assim que chegamos no corredor e me dá a chance de me
permitir recuperar o fôlego antes de dar um soco em alguém.
É assim que eu sei que estou brava, porque eu sei que nunca iria
realmente recorrer à violência.
— Kaden quer ver você, — diz ele depois de alguns minutos de
silêncio.
Eu reclamo. Kaden é a última pessoa que quero ver agora, mas depois
de ontem à noite, não tenho escolha a não ser obedecer a cada comando
que ele dá.
Eu sigo Coen através do labirinto que é o covil da Matilha da
Vingança, muito do qual permanece desconhecido para mim.
Este lugar será minha casa para o resto da minha vida, mas ainda não
sei os meandros disso.
Provavelmente é porque todos os corredores pelos quais caminho se
parecem uns aos outros.
Eu presumo que Kaden nunca vai deixar eu me acostumar de fato
com isso. Ele gosta de seus jogos mentais e qualquer chance que eu tenha
de escapar parece fadada a ser roubada por ele.
Sou conduzida a uma pequena sala com piso de concreto.
Coen fecha a porta atrás de mim em vez de entrar também.
Privada de sua companhia, de repente fico nervosa.
Há uma cadeira no meio da sala, me sento nela.
Leva doze minutos — eu conto os segundos na minha cabeça — antes
de Kaden casualmente entrar.
Ele está usando o capuz de novo, o que me faz suspeitar.
Não me diga que ele vai ignorar o fato de que eu vi seu rosto ontem à
noite! É algo que nunca vou esquecer, não importa os truques que ele tente
usar.
— Bom dia, Mara — diz ele baixinho, parando na minha frente.
— Você está parecendo bem hoje, — murmuro sarcasticamente.
Ele suspira antes de puxar o capuz para trás para que eu possa ver seu
rosto.
Por um segundo, estou distraída mais uma vez por sua beleza
atraente. Eu odeio isso. Tento me concentrar em seus olhos negros e
frios.
— Então, o que estou fazendo aqui?
Kaden me rodeia.
— Você fez algo muito ruim na noite passada. — Ele arrasta um dedo
enluvado pelo meu ombro, por cima da minha nuca e para o meu outro
ombro.
Eu tremo em resposta, mas fico quieta ao invés de testar minha sorte
com uma resposta sarcástica.
— Eu gosto de jogos, — ele começa.
— Estou ciente, — eu interrompo.
Como eu poderia não estar se ele está brincando comigo desde o dia
em que cheguei aqui?
Ele para na minha frente mais uma vez e olha para mim como se eu
fosse sua presa.
— Mas você quebrou as regras, Mara. Andar por aí sem permissão,
sem respeitar a autoridade. Não eram esses exatamente os mesmos
problemas que você tinha na Matilha da Pureza?
Meu batimento cardíaco acelera. Como ele soube disso?
Kaden continua.
— Você precisa ser punida.
— O que você vai fazer desta vez? — eu retruco, sem ao menos me
importar com o que vai acontecer. — Me marcar como um animal?
Chicotear-me até ficar em carne viva? Ou usar uma de suas facas
'especiais'? Vá em frente, faça o seu pior!
Kaden ri.
— Nada tão vulgar. Não, eu tenho uma charada para você.
Ótimo.
— Se você responder a charada corretamente, — ele continua, — eu a
dispensarei de mais punições. — O sorriso malicioso em seu rosto está
fazendo meu estômago embrulhar.
— E se eu errar?
Ele ri. É um som maldoso, quase maníaco, que me dá arrepios na
espinha.
— Que surpresa, — ele me informa.
Eu acho inquietante. Para começar, não gosto de surpresas. E gosto
ainda menos de charadas.
Em sala de aula, eu nunca gostei de responder a essas coisas. E eu não
estava sob o tipo de pressão que estou agora.
Kaden para ao meu lado e eu prendo a respiração.
Estou tentada a pedir para escolher outra coisa, mas não quero dar a
ele esse prazer.
— Isso vai ser fácil, — ele me diz.
Eu concordo com a cabeça lentamente.
— Se é informação que você busca, venha me ver, — ele começa. — Se
você precisa de pares de letras, tenho duas iguais alternadas, — ele
finaliza.
Eu inclino minha cabeça e expiro.
— Isso não faz sentido, — murmuro com minha mente já agitada.
Como isso se relaciona com alguma coisa?
Seus lábios se curvam. Ele acha que me pegou.
— Você tem dez segundos. Dez...
— Espera!
— Nove.
— Eu preciso de mais tempo!
— Oito.
Eu bato a mão contra minha testa. Ele não vai parar.
— Sete.
Letras iguais alternadas... O que isso poderia significar?
— Seis.
— Dê-me mais algum tempo! — Eu imploro.
Ele balança a cabeça. O olhar triunfante em seu rosto me dá náuseas..
— Cinco.
Eu cubro meus ouvidos para não ter que ouvir sua voz contar após
cinco.
A sensação de aperto no estômago é insuportável.
Pular de uma ponte agora parece melhor do que qualquer destino que
Kaden tenha reservado para mim.
— Um, — ele termina, quando tiro as mãos das orelhas.
Ficamos sentados em silêncio por alguns momentos enquanto eu me
preparo para o pior.
Kaden apenas me encara com seus olhos brilhantes.
— A resposta?
Eu balanço minha cabeça já sem esperança.
— Biblioteca, — ele me diz suavemente.
Claro.
Sentada, penso sobre o quão idiota eu sou quando Kaden vai até a
porta e a abre. Eu olho para cima quando alguém entra.
Milly. Parecendo desesperada e assustada — a última garota que
Kaden sequestrou antes de mim. Eu sei imediatamente que é ela por
causa do seu cabelo loiro platinado e corpo esguio.
Ela era a garota que todo garoto queria, apesar de sua crença em
companheiros.
Agora, porém, ela é uma imagem de terror adoecida. Ela parece
desnutrida e está vestida somente com trapos.
Ela deve estar aqui há semanas e sabe-se lá como Kaden a tratou...
Um guarda que não reconheço a empurra para o centro da sala com as
mãos amarradas nas costas.
Ela me encara enquanto vem cambaleando mais perto de onde estou
sentada.
Seus olhos parecem opacos e há olheiras sob eles. Ela está horrível.
Kaden olha para ela antes de voltar para mim, sorrindo com a
descrença em meus olhos.
— M-mara, — ela gagueja, — o que você está fazendo aqui? — Sua voz
está rouca, como se ela não a usasse há muito tempo.
Ela parece genuinamente triste pelo fato de eu estar aqui também,
embora eu tenha certeza de que pareço em muito melhor condição.
Em comparação, fui tratada como uma rainha. Eu não posso dizer a
ela que vou me casar com o irmão do alfa...
Eu vou falar, mas Kaden me interrompe.
— Ela teve a oportunidade de salvá-la, — diz ele a Milly.
Seus olhos se arregalaram, uma centelha de esperança brilhava neles..
Meu coração está despedaçado.
— Mas, infelizmente, ela falhou, — continua Kaden com sua voz
suave e sorriso que ficará gravado em minha mente para sempre.
Milly está confusa e olha para mim em busca de apoio.
Se eu tivesse a oportunidade de tirar uma de nós daqui, eu a
escolheria.
O guarda que a trouxe entra e fica atrás dela. Milly se vira e começa a
entrar em pânico.
— O que está acontecendo?
— Gostaria que você pensasse em Mara quando estiver em sua cela, —
diz Kaden.
Apesar dos meus protestos, o guarda agarra Milly e começa a arrastá-
la para fora da sala.
Eu pulo da minha cadeira e corro na frente com a esperança de
proteger sua inocência desses monstros.
Kaden agarra minha cintura e me puxa de volta. Eu o soco com raiva e
tento soltar seus dedos, mas não consigo segurar suas luvas de couro.
Como odeio essas coisas.
— Me larga! — eu grito, observando a porta fechar e Milly desaparecer
da minha vista.
Kaden me segura, não importa o quanto eu tente lutar contra.
— Mara, acalme-se.
— O que você vai fazer com ela? Ela é inocente — ao contrário de
você! — eu grito.
Quase não estou ouvindo os sons que saem da minha boca.
— Escute...
— Você me escuta! Você é uma pessoa nojenta! Você nem mesmo toca
em uma garota, mas permite que um animal como aquele faça o que
quiser com ela! — eu esbravejo Estou apenas deixando as lágrimas
escorrerem pelo meu rosto enquanto penso no que pode estar
acontecendo com Milly.
Isso me dá vontade de jogar meu café da manhã no chão.
— Você está brava. Que bom. — Kaden responde calmamente. —
Pegue essa raiva e transforme-a em vingança, — ele murmura em meu
ouvido.
Eu empurro seu peito e desta vez ele me solta.
Eu tropeço para trás, enxugando as lágrimas do meu rosto.
Ele quer que eu seja como ele! Eu não sou como ele! Eu nunca serei
como ele!
— É isso que você quer? Para eu ser como você? — eu questiono, com
minha voz tremendo. Ele suspira.
— Não, não como eu. Quero ajudá-la a pertencer a algo, só isso.
Eu caio de joelhos e soluço com as mãos no rosto. Não consigo
descrever meu ódio por Kaden. Ele é um monstro.
E ele quer me transformar em um também.
Bem, ele pode até querer que eu caia nessa, mas não farei isso. Pelo
bem de garotas como Milly, eu não posso desistir.
Capítulo 8
FUGA?
MARA

Depois da minha punição, Kaden deixou o bando por conta própria e


não apareceu mais.
Tenho ficado no meu quarto o tempo todo, lendo o livro estranho que
Coen me traz.
Isso me mantém entretida pela maior parte do dia antes que meus
olhos fiquem cansados e eu tenha que parar a leitura.
Eu encontro Kace três vezes ao dia para as refeições. Ele permanece
em silêncio apesar dos meus questionamentos.
Eu pergunto a ele o que ele faz o dia todo. Eu sou ignorada.
Eu pergunto a ele quando devemos nos casar. Ignorada novamente.
Eu pergunto a ele onde está Kaden. Ignorada.
Estes últimos dias têm sido tão chatos que acabei fazendo desenhos
com a unha no papel de parede azul suave, criando memórias de casa.
Às vezes eu rezo. Pela minha casa. Pela minha família. Pela liberdade.
Outras vezes, apenas choro. Por Milly. Por mim.
Estou distraída trançando meu cabelo quando Coen abre a porta e
entra.
Acabei de terminar uma trança francesa usando um elástico que
encontrei debaixo da minha cama.
Está magnífico como sempre, vestindo uma capa que chega até seus
pés. Ela assovia em torno de suas pernas quando ele anda.
Ele não tem sua espada embainhada hoje, o que me deixa um pouco
apreensiva. Nunca pensei que a falta de uma espada me preocuparia.
— Boa tarde, — ele me cumprimenta.
Eu sorrio de volta para ele, feliz por ter contato com outra pessoa.
— Entre.
Ele respira fundo e parece atormentado. Percebo que ele não deve
entrar no meu quarto.
Obviamente, algumas novas restrições foram colocadas em prática
sem eu saber.
Ele me surpreende, no entanto, parecendo ter tomado uma decisão e
entrando sem hesitar em vez de se sentar ao meu lado na cama, ele fica
sem jeito em pé no meio do quarto.
— Eu vim para lhe fazer companhia.
Mesmo que eu não seja uma mulher...
— Bem, obrigada, Coen, — eu digo honestamente.
Ele dá um leve sorriso. Noto que ele nunca sorri com os dentes.
— Venha e sente-se, — eu digo, apontando o local ao meu lado na
cama.
Ele me encara como se fosse um dragão prestes a cuspir fogo nele se
chegar muito perto.
Eu inclino minha cabeça confusa.
— Sentar na cama de uma noiva é imperdoável, — ele me diz.
Ele olha para os próprios pés, mas ainda consigo perceber o rubor que
atinge suas bochechas.
Claro, eu não deveria ter sido tão direta. Se Kace ou Kaden
descobrirem, ele pode perder o emprego ou pior ainda...
Decido sentar no chão com as pernas cruzadas.
Coen dá uma risadinha por causa do meu jeito e se senta na minha
frente.
— Você acredita em companheiros? — pergunto depois de alguns
momentos em silêncio.
Minhas palavras parecem ter um grande efeito sobre ele. É como se
um enorme fardo tivesse se acomodado, pesando em seus ombros.
Eu disse algo errado?
— Sim, — ele me diz.
Isso me deixa surpresa.
Pelo que Kace disse, os membros da Matilha da Vingança não estão
acostumados a acreditar em companheiros ou mesmo no amor
verdadeiro.
Eu decido continuar.
— Você tem alguém?
Ele balança a cabeça devagar, seus olhos exibem apatia. Durante um
tempo ele olha para o nada, aparentemente voltando às suas memórias.
Eu fico em silêncio, olhando para ele com curiosidade.
Sempre há algo específico nos olhos de alguém quando conheceu o
amor e o perdeu. No caso de Coen, está escrito em seu rosto.
— Tenho.
Ele parece tão triste que faz meu coração doer.
Companheiros devem trazer alegria e felicidade. Talvez Kaden o
proíba de estar com ela?
— Ela me rejeitou, — ele explica antes que eu possa perguntar.
Eu me envergonho por perguntar. Quão estúpida eu poderia ser em
trazer esse assunto à tona quando obviamente é algo sobre o qual ele não
quer falar?
Ser rejeitado por seu companheiro é uma experiência terrível pela
qual ninguém deveria passar. Eu sinto pena dele.
— Eu sinto muito...
— Não sinta. Ela encontrou outra pessoa e é isso, — diz ele, com uma
expressão de derrota nos olhos. Seu rosto fica pálido.
Eu balanço minha cabeça.
— Eu não entendo. Quem quer que seja, que estava apaixonada por
você, deveria ter perdido a capacidade de se interessar por qualquer
outro homem.
Isso é o que me ensinaram. Essas foram as palavras de Alpha Rylan.
Ele se mexe desconfortavelmente.
— Ela já estava apaixonada. Não havia nada que eu pudesse fazer.
— Posso saber o nome dela?
— Althea.
— Da Matilha do Poder?
— Sim.
Suas palavras me deixam triste. Este é um destino horrível.
— Sabe, isso significa apenas que a Deusa da Lua quer você com outra
pessoa, — digo a ele, tentando dar-lhe uma luz de esperança no escuro.
— Talvez alguém que perdeu seu companheiro como você.
Coen me encara e posso perceber que ele nunca considerou isso antes.
Ele agarra minha mão e até ensaia um sorriso.
— Obrigado, Mara. Você é a única que entende, — diz ele
calorosamente.
Suas palavras me deprimem, entretanto, quando considero minha
própria situação.
Eu nunca vou encontrar um companheiro nesta sociedade sem amor
— não enquanto eu permanecer confinada neste bando por aquele
assassino Kaden.
Ficamos sentados em silêncio por um tempo.
— Você também encontrará alguém, — ele diz gentilmente.
Nossos olhos se encontram. Os dele são tão quentes em comparação
com os de Kaden.
Eu balanço minha cabeça.
— Talvez. Mas não alguém da Matilha da Vingança.
Ele aperta minha mão.
Sua tentativa de me confortar até ajuda, mas não está preenchendo o
buraco escuro que parece ter se formado em meu coração.
— Simplesmente não é justo. Você não merece estar aqui, — ele diz
suavemente.
Isso me faz suspirar. Ele tem razão. Eu não fiz nada para merecer esse
destino.
Eu o olho e quase posso ler a mente de Coen, como se ele estivesse
pensando em como me tirar dessa.
E ele de fato está.
— Eu poderia ajudá-la a escapar, — ele diz de repente.
Olho espantada.
Ele está falando sério?
Seus olhos estão repletos de animação. Ele pula de pé, sem soltar
minha mão, então sou forçada a ficar de pé com ele.
— A parede! — ele diz, dando um largo sorriso.
Eu inclino minha cabeça.
— Que parede?
— A parede que mantém a matilha dentro. Eu conheço uma saída.
Kaden a usa e acha que não sei a senha!
Meu coração dá um salto. Se isso for verdade, talvez eu tenha um
meio de voltar para minha família.
De repente, estou tão animada quanto ele, a luz da esperança brilha
no fim do túnel.
— Você tem certeza disso?
— Sim. Devemos ir agora, antes que Kaden volte. Devo levá-la para
jantar, — disse Coen apressadamente.
Eu concordo. Se Kaden me encontrar tentando escapar,
provavelmente estarei em apuros.
Mas se ele encontrar Coen me ajudando na minha fuga, ele pode
matá-lo.
Com meus dedos ainda entrelaçados com os de Coen, eu o deixo me
levar até a porta.
Ele não parece estar preocupado com a existência de outros guardas
por perto, como se soubesse que o caminho estaria limpo.
Isso me faz pensar se eles estão com Kaden — e onde possa estar.
— A Estrada fica do outro lado da parede, — explica Coen. — Você
deve ser capaz de contatar alguém para levá-la de volta ao seu bando.
A Estrada. É a única parte deste mundo pertencente a todas as
matilhas.
Ninguém pode reivindicá-la como sua; está aberta para todos usarem
quando quiserem.
Alguém certamente me levaria de volta a Matilha da Pureza.
Coen me leva por um labirinto de corredores que eu nunca vi antes.
Isso me desorienta, mas a ideia de voltar para casa me dá uma
sensação de determinação que nunca senti antes.
Logo vemos a luz do dia. Eu suspiro de alívio, sentindo o sol no meu
rosto. Eu não saio há muito tempo.
Até paro para notar como a área por onde passamos está bem cuidada.
Kaden deve contratar alguém para jardinar para ele, já que não posso
imaginá-lo sujando as mãos dessa forma.
— Por aqui, — Coen indica, puxando minha mão. Ele está ansioso
para me tirar daqui.
A parede é enorme.
Eu nunca percebi isso antes porque em casa nós nunca falamos muito
sobre a Matilha da Vingança e sua zona. Parece interminável.
Coen me conduz pela grama, indo o mais rápido possível.
— Onde fica essa porta? — pergunto-lhe. Estou examinando a parede
à nossa frente, mas não consigo ver a maçaneta ou botão de qualquer
tipo.
Coen dá um risinho.
— Bem aqui, — diz ele.
Ele pressiona vários tijolos por vez.
Eu percebo que eles têm números rabiscados e que ele os pressiona
em uma determinada sequência. Observo com espanto quando o
primeiro tijolo cai para trás e desaparece na parede.
De repente, outros tijolos começam a desaparecer na parede.
Então eu percebo que eles não estão desaparecendo, mas sim sendo
retraídos por braços mecânicos que os puxam para trás para criar um
espaço pelo qual podemos passar.
E posso ver o mundo além da muralha.
Eu começo a avançar, mas Coen agarra meu braço.
— Espere.
— Você vai vir? — pergunto-lhe.
Ele balança a cabeça negativamente.
— Eu não posso. Devo ficar e servir Kaden. É meu trabalho. E de
qualquer maneira, eu não sobreviveria lá. Não sem uma matilha. Não
tenho boas memórias.
Ele solta minha mão e ela cai pesadamente ao meu lado.
Eu não posso acreditar no que ele está dizendo. Eu não posso deixá-lo
ficar aqui com aquele monstro do Kaden.
— E se Kaden descobrir que você me ajudou a escapar? — eu
pergunto.
A boca de Coen se contrai.
— Ele não vai — Ele me empurra em direção à saída. — Agora vá,
antes que seja tarde demais.
Eu me inclino para frente e envolvo meus braços em volta dos ombros
de Coen. Ele me abraça de volta, embora um pouco apreensivo.
— Obrigada, — eu sussurro.
Um sentimento de perda enche meu coração, mas tento afastá-lo.
Coen quer ficar aqui. Ele nasceu aqui e, como disse, deve servir Kaden
como prometeu. Agora sei que não tenho tempo para ficar e convencê-lo
do contrário.
— Vejo você por aí, Mara.
A grama roça minhas pernas enquanto eu passo pela muralha e
começo a correr em direção à rodovia.
Existem alguns carros na estrada — os automóveis aumentaram em
número desde que a Matilha da Sabedoria os colocou na moda.
Nunca imaginei que essas máquinas mortais pudessem um dia ser a
chave para salvar minha vida.
Quando chego ao lado da estrada, no entanto, ninguém para.
Eu aceno pra cima e pra baixo, esperando que alguém me veja e se
ofereça para me ajudar a chegar em casa.
Mas ninguém me ajuda.
Alguns motoristas olham para mim, é verdade, mas nenhum deles
para.
Eles não veem como estou desesperada para sair daqui?
De repente, um veículo preto parecido com um caminhão dá a seta
para a esquerda e encosta no acostamento.
Solto um suspiro profundo, extremamente grata que finalmente
alguém apareceu para me resgatar. Suspiro aliviada quando os alcanço.
A janela está abaixada e coloco minha cabeça para agradecer ao
motorista. Então meu coração salta da minha boca.
É
É Kaden.
Capítulo 9
ESCONDE-ESCONDE
MARA

— Bem, o que temos aqui?


Kaden se senta presunçosamente em sua cadeira, olhando para mim
pela janela aberta.
Ele parece que acabou de ganhar o maior prêmio da loteria por roubar
o bilhete de outra pessoa.
Aproveito para avaliar a situação.
Eu poderia correr. Eu quero correr. Se eu sair pela estrada, não andarei
mais do que trinta metros antes que ele me alcance.
Se eu voltar pela grama, vou me deparar com a muralha da zona da
Matilha da Vingança, onde ele pode facilmente me encurralar.
Se eu entrar na caminhonete, vou morrer. Se eu correr para o outro
lado da estrada, posso chegar à floresta e ter uma chance de escapar.
Mas vou precisar ter certeza de que ele não espera por isso.
— O que você está fazendo aqui? — eu pergunto, tentando ganhar
mais tempo para pensar.
— Eu estava prestes a te perguntar a mesma coisa, — ele reflete.
Seus lábios se curvam em um sorriso que só pode ser descrito como
maligno.
Ele é mau. E sabe disso.
— Estou indo embora, — declaro em tom desafiador. Sua expressão se
transforma em choque, como se ele não pudesse acreditar que estou de
fato defendendo a mim mesma.
É isso que quero que ele pense — que estou realmente enfrentando-o,
em vez de tramar minha fuga.
Ele provavelmente estava esperando que eu fugisse imediatamente.
Então ele sorri.
— Entendo. Sem minha permissão?
Eu o encaro. Sua permissão?
— Seu marido sabe?
— Não somos casados ainda.
De repente, ele se inclina sobre o banco do passageiro e abre a porta. É
como um convite.
O ar frio do ar-condicionado sopra nas minhas pernas, me atraindo
como dedos gelados.
— Ainda, — diz ele, saboreando a palavra em sua língua.
Será que ele realmente acha que vou entrar no carro e sair sem destino por
aí?
Se for assim, ele está seriamente perdido, porque essa é a última coisa
que estou planejando fazer.
— Ótimo, — ele me diz. — Isso significa que você é minha por hoje.
Temos muito o que discutir...
— Discutir? Não estou interessada em outro de seus jogos, — rebato.
Ele suspira profundamente, olhando para frente.
Carros passam voando, nem percebendo o que está acontecendo no
acostamento.
— Jogos são divertidos, — é tudo o que ele diz.
— Curiosamente, eu não acho suas punições divertidas.
— Entre no carro e eu vou te mostrar o quanto meus castigos podem
ser divertidos, — diz ele com um sorriso diabolicamente bonito no rosto.
Eu cerro meus dentes em desgosto.
Eu vejo uma garrafa de água no suporte ao lado de Kaden. Então, uma
ideia surge na minha cabeça.
— Eu vou, mas com uma condição.
Ele estreita os olhos para mim. Eu posso dizer que ele está curioso.
Uma condição é algo que ele pode manipular; percebo o que ele está
pensando.
Mas isso é algo que ele nunca poderia manipular...
— Dê-me aquela garrafa.
Ele franze a testa. Ele não tem ideia do que está passando pela minha
mente agora.
— Você quer água?
— Sim, por favor.
Ele grunhe.
— Você está desperdiçando minha gasolina.
— E eu vou continuar até que você me dê o que eu quero.
— Eu poderia sair desta caminhonete e acabar com você na frente de
todos nesta estrada agora mesmo, — diz ele.
Um rosnado baixo de raiva surge na minha garganta.
— Mas já que estou gostando de suas travessuras, vou te dar o que
você quer. — Ele se inclina para o porta-copos, que contém uma garrafa
de água pela metade.
Ele joga para mim e eu consigo pegá-la.
Abro a tampa e tomo um gole. Ele está me observando com atenção,
então finjo que é tudo o que estou querendo esse tempo todo — apenas
um gole d'água.
Eu entro no carro, mas não fecho a porta atrás de mim. O couro dos
assentos gruda na minha pele quente quando me sento. Kaden me
observa com cautela.
Pegando-o de surpresa, jogo a água em seu rosto. Então, sem ficar
para ver sua reação, saio pela porta e corro pela estrada desviando do
tráfego e rezando para sair dessa com vida.
— Eu vou te matar! — eu o ouço gritar atrás de mim.
Ok, então eu posso não sair viva disso...
Minha garganta começa a queimar, assim como minhas coxas,
enquanto corro pela vegetação rasteira do outro lado da Estrada.
Não estou em forma, mas estou com muita adrenalina. Eu corro pela
grama, já consigo avistar a floresta. Se eu conseguir alcançá-la, posso
encontrar uma árvore para escalar e esperar até que Kaden desista.
Eu viro minha cabeça para ver se Kaden está vindo atrás de mim. Eu
não o vejo. Não estou surpresa — ele provavelmente não quer causar
uma cena em público.
Eu chego na floresta e sinto um certo grau de alívio.
Eu me desloco rapidamente por entre as árvores.
Felizmente para mim, é muito mais fresco sob as folhas e há muita
sombra. No entanto, meu coração ainda está batendo furiosamente no
meu peito.
Quando me viro novamente para olhar por cima do ombro, ainda não
vejo Kaden atrás de mim. Eu o despistei?
Eu me escondo atrás de uma árvore, pressiono minhas costas contra
ela e fecho os olhos. Tudo que posso ouvir é o som da minha respiração
ofegante enquanto tento recuperar minha compostura.
Se eu não me acalmar, ele vai me ouvir.
Prendo a respiração por um momento, escuto passos. Nada.
— Mara? — ouço a voz dele. Está vindo de algum lugar à minha
esquerda e parece uma boa distância, mas ainda perto demais para o meu
gosto.
Eu solto minha respiração lentamente. Preciso subir em uma dessas
árvores e me esconder.
— Você sabe como eu gosto de jogos? — eu o ouço chamando.
Tento bloquear sua voz.
Ele sabe que estou nesta floresta em algum lugar, mas espero que ele
não consiga descobrir onde exatamente.
Eu olho para cima, mas não consigo ver nenhum galho disponível
para me agarrar e me subir.
Eu digo algumas palavras que nenhum membro da Matilha da Pureza
deve pronunciar, mesmo em voz baixa.
— Esconde-esconde é o meu favorito, — Kaden diz. Ele parece mais
perto desta vez.
Eu caminho silenciosamente em direção à próxima árvore. Também
não tem galhos que eu possa alcançar. Eu me sinto amaldiçoada.
— Não vou apostar, mas acho que vou ganhar este jogo, — ouço-o me
provocando, parecendo muito mais perto agora. — Que significa...
Ele surge e, de repente, o mundo fica em silêncio. Cinco segundos, dez
segundos... É como se os pássaros parassem de cantar e eu posso ouvir
meu próprio batimento cardíaco.
— Você me deve.
Um par de mãos enluvadas me agarrou pela cintura e me prendeu
contra uma árvore, me fazendo gritar.
— Me larga! — Eu grito, lutando em seus braços. Posso sentir sua
respiração quente contra meu pescoço. Ele provavelmente está sorrindo
aquele sorriso doentio dele.
— Eu deixei você se divertir, — ele murmura no meu ouvido.
Ele me gira e me pressiona firmemente contra a árvore.
Sinto como se não pudesse respirar. Eu não consigo me mover.
Seu belo rosto está tão perto do meu, posso ver cada curva e linha
dele.
Sua pele parece tão macia, eu quero tocá-la, quero senti-la sob meus
dedos pela primeira vez.
Ver um monstro de perto torna impossível negar que é real.
Ele me pressiona com mais firmeza contra a árvore, mas não dói.
Estou distraída pela proximidade de Kaden e pela forma como me
olha.
Por um segundo, acho que vislumbro uma alma em seus olhos.
Ele se inclina e posso sentir a energia entre nós.
A tensão nos aproxima; seus lábios estão tentadoramente perto dos
meus agora.
Estou consciente de sua pelve pressionada contra a minha, garantindo
que não tenha chance de escapar.
E, estranhamente, só por um momento, não me importo.
Estou gostando.
Eu só teria que me mover um centímetro para beijar o assassino mais
famoso da história dos lobisomens.
Seus olhos estão em meus lábios e me pergunto se ele sente o calor
entre nós tanto quanto eu. Está aquecendo meu rosto, meu corpo
inteiro.
Acho que detectei uma contradição interna acontecendo em seus
olhos.
É
É como se eu pudesse ver dois demônios dançando em seus ombros,
discutindo com ele sobre o que é errado e o que é certo.
No entanto, pra mim não se trata de opção sendo uma garota da
Matilha da Pureza, o que me permite me recuperar antes que ele também
possa e assim afastá-lo com firmeza.
Ele tropeça para trás e aproveito a oportunidade para começar a
correr novamente. Exceto que minhas pernas estão fracas depois do que
aconteceu — algo que eu não entendo.
A atração entre nós era diferente de tudo que eu já experimentei.
Não precisamos nos tocar para que eu sinta o maior prazer que já tive.
Não leva mais do que alguns passos longos para Kaden me alcançar e
me puxar de volta.
— Ninguém escapa de mim uma segunda vez! — ele vocifera.
Apesar de eu lutar contra ele, mantém um forte controle sobre mim.
Eu não vou sair dessa de novo.
— Kaden, por favor...
— Sim, continue dizendo meu nome assim. Eu adoro quando vocês
resistem, — ele provoca.
Eu balanço minha cabeça furiosamente.
De repente, sinto seus dedos contra meu pescoço e percebo o que ele
está fazendo. Mas é tarde demais para eu fazer qualquer coisa antes de
desmaiar.
Capítulo 10
DE VOLTA À MASMORRA MARA
Uma onda repentina de medo me desperta. Meus olhos se abrem.
A posição em que estou é muito familiar. Estou em uma cadeira.
Amarrada.
Eu viro minha cabeça e ouço meu pescoço estalar em protesto. Por
quanto tempo estive desacordada?
Demoro um momento para me orientar, mas quando o faço, percebo
que alguém está sentado bem na minha frente.
Kaden.
Ele está em uma cadeira a apenas alguns centímetros de distância.
Suas mãos estão entrelaçadas e ele está olhando para mim.
Não consigo entender o que sua expressão significa.
É como se ele tivesse um interruptor e pudesse desligar suas emoções
ao seu bel prazer.
Seu cabelo ainda está molhado da água que joguei. Ele gruda em sua
testa, alguns fios caindo sobre os olhos.
Sua mandíbula está cerrada com força. Meu coração se angustia
quando percebo a posição em que estou.
— Você tem alguma ideia de como estou bravo com você agora?
Eu engulo. Ele terá algum tipo de punição em mente, disso tenho
certeza.
— Não sei o que você espera de mim, — murmuro.
Ele passa a mão pelo rosto.
Sua angústia é evidente e está profundamente gravada entre as linhas
fracas ao redor de seus olhos, na maneira como ele morde a ponta do
lábio.
— Eu preciso te dizer o verdadeiro motivo pelo qual você é necessária,
— ele confidencia.
Eu estremeço. Não pode haver muitas coisas piores do que ter que
casar com o irmão de Kaden e, se houver, não quero saber sobre elas.
— Eu não entendo...
— Você se casar com Kace é apenas um plano para enganar sua família
e impedi-los de descobrir o real motivo de você estar aqui.
Sua voz parece quase relutante, como se ele desejasse não ter que me
contar sobre seu plano.
— Eu quero que você faça algo por nós.
Eu não gosto da maneira como isso está acontecendo.
— O que?
— Alguém, não faz muito tempo, traiu meu irmão, — ele me diz
solenemente. Ele olha nos meus olhos, desafiando-me a questionar.
— E...?
— O nome dela é Althea. Eu quero que você dê um jeito nela.
Meu coração se despedaça. A companheira de Coen? Ele quer dizer
que quer que eu mate a companheira de Coen?
— Eu não posso machucá-la. Ela é a companheira de Coen, — eu
deixo escapar.
Os olhos de Kaden se estreitam e meu coração fica preso na garganta.
Eu não deveria ter dito isso.
Depois de alguns segundos tensos, Kaden relaxa e balança a cabeça.
— Não, você não vai machucá-la. Ela não vai morrer.
Isso já é alguma coisa, pelo menos. Mas não posso deixar de me
perguntar como essa garota Althea foi se meter num buraco tão grande.
Ela rejeitou Coen, mas ele parece que vai superar isso agora. Pelo
menos eu acho que ele vai. Mas se ela tentasse matar Kace ou algo
assim...
— O que você quer que eu faça então? — eu pergunto
apreensivamente.
Kaden esfrega as mãos. Ele parece pouco à vontade.
— Althea está tendo o filho do Alpha Landon da Matilha do Poder.
Eu hesito.
— E daí?
— Eu acho que você pode adivinhar... — Sua voz some.
Um nó se forma na minha garganta, tão grande que quase engasgo. Ele
não pode realmente dizer o que eu acho que ele quis dizer.
— Você quer que eu o mate? — meu coração está entorpecido.
A ideia de matar uma criança me dá vontade de chorar ou vomitar. Eu
não posso — eu não vou fazer isso.
Kaden franze os lábios.
— É o único...
— Isso é ideia de Kace, não é? — Eu digo levantando-me. — E você
não se importa porque é assim que os membros da Matilha da Vingança
são.
Kaden se levanta, evitando meus olhos.
— Isso precisa ser feito.
Eu fico olhando para ele em total descrença.
— A cura do câncer precisa ser feita, não isso!
— Esse bebê é um produto de mentiras e ódio.
— Você é um produto de mentiras e ódio! — eu respondo de volta,
cruzando os braços sobre o peito.
Kaden dá um passo à frente, mas eu correspondo indo para trás. Eu
não o quero perto de mim.
— Eu não acho que você entende o quão importante é esta missão, —
ele murmura.
Meus dentes estão cerrados com tanta força que minha mandíbula
começa a doer.
Como ele pode ficar ali e dizer essas coisas com aquele olhar
inabalável no rosto?
— Eu não acho que você está entendendo que eu não vou fazer isso.
Kaden respira fundo.
— Eu sabia que você diria isso.
Eu espero que ele continue.
— Não quero ter que continuar ameaçando sua família, Mara. Você
quer que eu mate Milly? Ela está detida em minha posse e não tenho
medo de fazer isso, se você não obedecer.
Estou com tanta raiva agora que mal consigo me conter para não
atacá-lo.
Suas mãos enluvadas chegam em minha direção e prendem meus
bíceps.
Em vez de me jogar fora como se eu fosse uma boneca patética como
da última vez, ele me segura firmemente em suas mãos.
— Ela será libertada, junto com você, se você fizer isso, — ele negocia.
Eu olho para ele, tentando ignorar o contato físico entre nós.
— Você vai me libertar? — pergunto em descrença. — E Milly?
Ele afirma que sim com a cabeça lentamente.
Sinto uma lágrima rolar pela minha bochecha.
— Diga-me o que eu tenho que fazer.

Naquela noite, me pergunto se cometi um grande erro fazendo Kaden


pensar que irei acatar seu plano.
Eu não vou fazer isso, é claro.
Ele pode pensar que eu concordei, mas ele é louco se pensa que eu
algum dia consideraria fazer algo tão desprezível.
Eu me sento e balanço minhas pernas para fora da cama. O ar está
muito mais fresco esta noite e acalma minhas pernas e braços despidos
enquanto me aventuro para fora do meu quarto.
Da última vez que fiz isso, resultou em punição. Mas não posso ficar
naquela caixa e pensar em como concordei em matar um bebê que ainda
nem nasceu. Então, uma será aventura.
E por aventura, quero dizer vagar pelo covil, evitando problemas, se
puder.
Eu sigo pelo corredor, meus dedos roçando na parede, indo em uma
direção diferente do que da última vez.
Os quartos pelos quais passo estão quase vazios e parece não haver
ninguém por perto.
Eu saio em um grande saguão e vejo um conjunto de escadas que leva
até o andar de cima.
Eles são cobertos com carpete marrom e dourado. Uma corda é presa
de cada lado do corrimão, uma maneira sutil de dizer — fique longe.
Eu considero isso por um momento. Ok, talvez evitar problemas
simplesmente não seja algo que eu faça.
Eu deslizo por baixo da corda e sinto uma onda de excitação percorrer
meu corpo. Eu subo as escadas, dois degraus de cada vez.
No topo, posso escolher entre três corredores. Eu escolho o do meio.
Enquanto o percorro, não posso deixar de me perguntar onde estão os
dormitórios de Kaden. O pensamento só vem à minha cabeça porque
essa área parece ter o mesmo cheiro suave que ele.
— Eu sei.
Uma voz vinda de uma sala em algum lugar à minha frente me faz
congelar. É familiar, mas não é de Kaden.
Eu coloco uma mão na parede para me apoiar. Meu coração está
batendo descontroladamente no meu peito.
— Você tem certeza? Isso é importante.
Eu reconheço a voz de Kaden. Eu reconheceria essa rouquidão em
qualquer lugar.
— Eu ainda não consigo entender porque tenho que fazer isso, — diz
a primeira voz.
Eu prossigo pelo corredor em direção às vozes. O som de mãos
batendo contra uma superfície dura faz meu coração parar por um
segundo, mas eu continuo andando.
— Porque eu ainda sou seu alfa, Kace! E você tem que me ouvir.
Então é Kace quem está com ele. Hmm. Do que eles estão falando?
— Você pode ser meu alfa, mas ela será minha esposa muito em breve.
Arregalo meus olhos. Estou quase na sala em que eles estão agora.
A porta que dá para a sala está parcialmente aberta e eu chego o mais
perto que posso. Isso vai me matar. Digo pra mim mesma, mas afasto o
pensamento.
— Você sabe o que ela é para mim? — ouço Kaden dizer.
Eu mordo meu lábio.
— Você sempre me disse que os negócios vem antes do amor, —
retruca Kace.
Tentando me esconder ao máximo, espreito cautelosamente pela
porta. Só consigo ver uma pequena parte da sala.
Eles estão em um escritório. Kaden está atrás de uma mesa. Não
consigo visualizar Kace.
Kaden parece glorioso, odeio admitir.
A camisa que ele está vestindo é uma camisa branca de botões, mas
está aberta mostrando seu tórax.
Tento não olhar muito para os músculos e tatuagens que estão
expostos.
Percebo que ele parece estressado e seu cabelo escuro está
despenteado por ele passar muito as mãos.
— Você sabe como é difícil? — ele pergunta. Sua voz está tensa.
Esta é a primeira vez que testemunhei emoções vindas dele que tenho
certeza que são reais.
Eu posso ver em seus olhos o quão desesperado ele está. Isso aquece
um pouco meu coração.
— Você matou minha verdadeira companheira! — Kace retruca.
Se eu pudesse ver seu rosto também — ele parece tão zangado, tão
magoado e dilacerado.
As palavras de Kace me fazem parar.
Kaden matou sua companheira? Eu pensei que eles não acreditassem
em companheiros...
— Você não saberia como é a sensação de dor, Kaden.
Capítulo 11
NA ESTRADA MARA
Sento-me em silêncio, olhando pela janela.
Coen se senta no banco do motorista dirigindo como se ele também
não tivesse pressa em chegar aonde estamos indo. Sou grata por isso.
Eu não posso acreditar que isso está acontecendo. Kaden ordenou que
eu fosse escoltada até a Matilha do Poder para que eu iniciasse minha
missão.
Se é que se pode chamar assim. As missões devem ser feitas por
espiões, profissionais.
— Quanto tempo mais? — eu pergunto, quebrando o silêncio que se
estabeleceu entre nós por tantas horas.
Somos vizinhos da Matilha do Poder, mas ainda temos um longo
caminho pela frente. Sinto minhas pernas começarem a doer por ficar
sentada na mesma posição por tanto tempo.
— Não muito, — ele murmura.
Não muito? O que isso significa?
Coen tem estado terrivelmente silencioso todo esse tempo. É
enervante... O motivo parece óbvio, mas decido investigar mais.
— O que você acha desta missão? — eu pergunto. A palavra missão
tem gosto azedo na minha boca.
Que tipo de missão envolve matar um bebê que nem nasceu ainda?
Talvez eu devesse perguntar a um membro da Matilha da Disciplina,
eles são conhecidos por sua justiça rápida e pena capital.
A expressão de Coen fica sombria e seus dedos apertam o volante.
O suspiro que sai de sua boca evoca extrema tristeza em vez de raiva.
Só posso imaginar como ele está se sentindo agora.
— Não importa o que eu penso, — ele murmura.
Acho que é tudo o que vou conseguir dele.
É como se ele estivesse se fechando. Nunca quis tanto olhar dentro da
mente de alguém antes. O olhar taciturno em seus olhos desperta minha
curiosidade.
Na chegada a zona da Matilha do Poder eu presumi que eles nos
fariam parar e verificar nossa identidade no mínimo.
Esta é suposta ser a matilha mais forte de todas e eles provavelmente
pretendem manter isso assim por muito tempo. Mas eles nos dão
permissão para entrar sem dizer uma palavra.
Eu olho para Coen sem entender.
— Eles sabem que esta é a caminhonete de Kaden.
Estou impressionada com a aparência do lugar.
A grande muralha que separa a matilha do mundo exterior faz um
bom trabalho em ocultar os tesouros escondidos lá dentro.
A estrada pela qual dirigimos é cercada por uma vegetação exótica.
Só acho as plantas estranhas porque não cresci aqui, eu sei, mas tudo
parece muito diferente de qualquer matilha que já vi antes.
Depois de ficar confinada na Matilha da Pureza por toda a minha vida,
posso dizer com segurança que esta é minha primeira aventura no
exterior, tirando meu sequestro.
Baixando a janela, noto que até o ar parece diferente de alguma forma.
Também estou impressionada — não de um jeito bom — com o
número de seguranças que circulam por ali.
— Para onde exatamente estamos indo? — pergunto. Eu levanto meus
olhos por uma fração de segundo, antes de imediatamente desviar o
olhar quando percebo que um dos guardas está olhando profundamente
em minha direção.
A expressão fria nos olhos do homem me faz estremecer. É óbvio o
quão sério eles levam seus empregos.
— Para a propriedade de Alpha Landon — Coen me informa.
Meu coração dá um salto.
— Não é na beira de um penhasco? — eu pergunto, tentando me
lembrar das minhas aulas de geografia na escola.
Coen balança a cabeça lentamente.
— O mesmo penhasco que Althea atirou Kace.
Eu penso por um momento. Então, essa Althea é definitivamente a
mesma garota por quem Kace disse que estava apaixonado...
Eu olho para Coen, mas ele não parece nem um pouco perturbado por
estar me dizendo isso.
Como dois homens tão próximos um do outro podiam se apaixonar
pela mesma garota?
Coen sim, já que ela é sua companheira — mas Kace?
— Kace amava a sua companheira — eu comento, procurando uma
maneira de conseguir algo mais dele.
As sobrancelhas de Coen sobem e ele acelera um pouco, fazendo-me
agarrar ao assento.
Lembro-me da expressão nos olhos de Kace quando ele falou sobre
Althea.
Mesmo por trás de aparente frieza, eu ainda podia ver uma centelha
de calor quando ele estava falando sobre ela — mesmo que ela tivesse
partido seu coração.
— Você verá o porquê em breve, — diz Coen.
Adentrando o território da Matilha do Poder, passamos por uma série
de cidades.
Levamos cerca de uma hora para chegar à propriedade de Alpha
Landon.
Estranhamente, parece haver menos segurança quanto mais nos
aproximamos.
Eles presumem que ele pode cuidar de si mesmo? o pensamento me faz
estremecer.
Sem avisar, Coen desvia, quase me fazendo bater com a cabeça na
janela do carro. Ele para na beira da estrada e desliga o motor.
Pisco algumas vezes.
— Você deve caminhar a partir daqui — Coen me diz, — você sabe o
que tem a dizer?
Por um breve momento, quase posso ver um traço de Kaden em seus
olhos. Eu me pego concordando.
— Eu acho que estou perdida. Não me lembro quem sou, mas acho
que meu nome é Mara.
As palavras soam tão comuns saindo da minha boca. É exatamente o
que Kaden me mandou dizer.
Coen acena com aprovação. Então ele sai do carro e faz sinal para que
eu me junte a ele.
— Precisamos fazer com que pareça que você já passou por muita
coisa para chegar aqui, — ele murmura.
De repente, ele agarra a manga da minha camiseta e a rasga na
costura. Eu grito e o afasto.
— Você está brincando?
Coen sorri timidamente, então me arrasta para longe da estrada, onde
um buraco raso foi escavado.
Está cheio de água turva que olho sem entender.
Coen se ajoelha e enfia a mão na água para recolher um grande
punhado de lama e detritos.
Então ele se vira para mim.
— O que você está fazendo com isso? — eu pergunto nervosamente,
certificando-me de que meu olhar permaneça em sua mão para que ele
não tente nada.
— Eu preciso fazer com que pareça que você caminhou por milhas...
— Não ouse...
Antes que eu possa terminar, ele se lança em minha direção,
apontando a mão para o meu rosto.
Eu grito em protesto e tento me esquivar dele, mas sou muito lenta.
Posso sentir a sujeira escorrendo pelo meu rosto e pescoço.
Afastá-lo agora é fácil porque ele não se aguenta de tanto rir.
— Você é nojento! — eu grito com ele.
A sensação da lama grudada em meu rosto e pescoço me dá vontade
de vomitar.
— Eu sou nojento? — Coen engasga com a risada, — você deveria se
ver!
Só com grande esforço sufoco os palavrões que chegam aos meus
lábios.
Coen recupera o fôlego e pega um punhado de grama.
— Esfregue isso nas pernas ou algo assim, você não parece suja o
suficiente.
— Eu vou te mostrar o sujo, — eu resmungo.
Pego a grama e esfrego nas pernas até que fiquem cobertas de
manchas verdes.
Coen acena com a cabeça em aprovação, então se inclina para frente.
— Espere... — ele bagunça meu cabelo, ignorando o olhar que estou
lhe dando. — Feito.
— E agora? — pergunto.
Coen aponta para a longa estrada à nossa frente. Parece não ter fim,
sem um prédio à vista. Eu suspiro em resignação.
— Eu tenho que andar até lá?
Coen acena com a cabeça e dá um passo para trás em direção ao carro.
Aflita, eu o vejo entrar e ligar o motor. Ele abre a janela.
— Kaden vai te ver esta noite.
E com isso ele vai embora, deixando uma nuvem de poeira para trás
que atinge meu rosto.
Tossindo, eu balanço minhas mãos, tentando dispersá-la.
Tenho uma longa caminhada pela frente.

Quando a propriedade aparece, estou perto da exaustão. Eu só quero


entrar em algum lugar para poder tomar banho e limpar meu corpo.
Minha pele coça — espero poder tirar todas as manchas.
Surpreendentemente, os portões da propriedade de Alpha Landon
estão destrancados. Sem guardas, nem nada. Nervosa, eu caminho,
esperando alguém surgir do nada.
Um caminho estreito me leva até a porta da frente. O lugar todo é
mais extravagante do que eu esperava, mas acho que é a única opção para
um alfa.
Demoro alguns minutos para ganhar confiança suficiente para bater
na porta.
Quando ela se abre, fico surpresa com quem vejo na porta.
Eu esperava um guarda ou mesmo o próprio alfa. Em vez disso, me
deparo com uma garota de cabelos escuros não muito mais velha do que
eu.
Ela me encara com olhos escuros em um lindo rosto em formato de
coração.
Ela franze a testa enquanto me olha de cima a baixo confusa.
— Quem é você? — ela fala com um sotaque estranho da Matilha do
Poder.
Eu respiro fundo.
— Você é Althea, — ouço-me dizer.
Eu provavelmente não deveria ter dito o nome dela. Agora eu
estraguei meu disfarce com certeza.
Ela afirma que sim, balançando a cabeça lentamente.
— Você não respondeu à minha pergunta, — diz ela um pouco
irritada.
Eu olho para baixo. O fato de ela estar grávida é óbvio.
Isso faz meu coração quase parar de bater. Lá dentro está o bebê que
eu devo matar...
— O fato é: eu não sei quem eu sou.
— Eu preciso de ajuda, — eu imploro. — Você pode me salvar?
Eu vejo a expressão de Althea suavizar.
— Entre, venha sentar-se, — diz ela, guiando-me para dentro.
Eu cruzo a soleira da porta, mas assim que entro, sou puxada pelo
braço e empurrada contra a parede. O olhar de preocupação anterior de
Althea agora é de raiva.
Enquanto me segura no lugar, ela tira uma faca da parte de trás de seu
cinto e a pressiona contra minha garganta.
— Você é uma péssima mentirosa, — ela exclama. — Agora me diga a
verdade — Estou dizendo a verdade, — eu gaguejo. Althea zomba.
— Eu posso sentir o cheiro de Alpha Kaden em você, — ela fala. —
Você é da Matilha da Vingança. Então me diga a verdade ou cortarei seu
pescoço!
Capítulo 12
MEDO DA VERDADE
— Alpha Kaden, — zomba Althea. — Eu posso sentir o cheiro dele em
você.
— Você cheira a seu fedor.
— Você pode estar interpretando o papel de uma garotinha pura, mas eu sei
quem você realmente é...
— Você é exatamente como ele.
MARA

Althea pressiona a lâmina da faca mais profundamente em meu


pescoço até que a pele começa a cortar.
— Então, me diga porquê você está realmente aqui, — diz Althea com
raiva. — Ou será seu último suspiro.
— Kaden... ele me enviou... para espionar você, — eu gaguejei. — Ele
disse que mataria minha família se eu não cooperasse.
Althea tira a faca com cautela e ergo minha mão até o pescoço,
agradecida por ainda estar intacta.
— Por que você? — ela questiona.
— Meu nome verdadeiro é Mara e eu na verdade sou da Matilha da
Pureza. Ele achou que eu poderia ganhar sua confiança.
Meus olhos se fixam na barriga de Althea. Ela mal está aparecendo —
provavelmente grávida de apenas alguns meses.
Eu prefiro deixar de fora a parte sobre como devo matar seu bebê. De
alguma forma, eu duvido que ela me deixe manter minha cabeça se eu
falar sobre isso.
— Você é uma das garotas que ele sequestrou? — ela pergunta,
examinando minha aparência.
— Sim e eu acho que ele tem outras. Por favor, você tem que me
ajudar. Se ele descobrir que você sabe de tudo isso, ele matará minha
família sem um pingo de hesitação. Ele é um monstro. Você não tem
ideia do que eu vi, — eu digo enquanto as lágrimas começam a inundar
meus olhos.
Sinceramente, não tenho certeza se são reais ou se estou apenas
tentando ganhar a simpatia dela.
Althea me avalia por um momento.
— Suponho que posso providenciar para que você seja levada de volta
a Matilha da Pureza...
— NÃO! — eu grito um pouco rápido demais. — Isso só vai piorar as
coisas. Ele vai apenas me encontrar e me levar de novo e matar todos que
amo.
— Preciso consultar meu marido sobre isso, mas por enquanto, você
pode ficar na casa de hóspedes, — diz ela, com algum apreço. — Mas você
precisa me contar tudo.
— Claro, — eu digo, aliviada. — Muito obrigada. Eu só quero que esse
pesadelo acabe.
Pelo menos eu consegui algum tempo para bolar um plano... mas o relógio
está em contagem regressiva.

Eu me admiro no espelho enquanto corro minhas mãos pelo vestido


de cetim liso que Althea me deu para usar.
Suas roupas são tão bonitas quanto ela. Ela certamente percorreu um
longo caminho desde a Matilha da Pureza.
Sinto que temos muito em comum e que em outra vida poderíamos
ter sido amigas, mas ela nem sonha com o real motivo da minha vinda.
Enfio a mão no bolso das vestes de pureza de Milly, pego o mapa que
Kaden me deu e coloco em meu vestido novo.
Já está escurecendo. Vou ter que fugir depois do jantar. Sinto como se
estivesse jogando em dois lados agora e não posso levantar suspeitas
sobre nenhum deles ou tudo irá por água abaixo.
Deixo a casa de hóspedes e atravesso o gramado perfeitamente
cuidado até a mansão de Alpha Landon.
Um criado me faz entrar e me leva até a sala de jantar onde um
verdadeiro banquete me espera.
Alpha Landon está sentado na ponta da mesa. Ele não é tão alto
quanto eu esperava que um alfa fosse, mas compensa em músculos.
O título de alpha da Matilha do Poder definitivamente combina com
ele.
Althea está sentada ao lado dele em um longo vestido de renda. Ela
me dá um sorriso caloroso.
— Venha se juntar a nós, querida, — diz ela, acenando para mim. —
Você deve estar morrendo de fome. Eles devem ter alimentado você
como um cachorro vira-lata na Matilha da Vingança.
Na verdade, eles me alimentam muito bem, considerando que estou noiva
do irmão do Alpha, mas ela não precisa saber disso.
— Sim, foi horrível, — eu digo, me acomodando em uma cadeira em
frente a ela.
— Esse Kaden é uma mancha no nome alpha, — Landon diz
bruscamente. — A Matilha da Vingança — são bárbaros — todos eles.
Nesse assunto, tenho que concordar.
— Como você chegou a se relacionar com qualquer um deles é
desconcertante para mim, — diz ele, fazendo uma careta para Althea.
— Eu era jovem. Esses dias estão no passado, — diz ela friamente.
Quase me esqueci de sua conexão com Coen e Kace.
Ela realmente os traiu? Ela realmente atacou Kace brutalmente e deu
a ele aquelas cicatrizes?
Ela parece tão agradável, mas também vi um lado diferente dela
quando me confrontou na casa de hóspedes. Ela pode ser mais perigosa
do que parece...
Landon acena para um servo que começa a encher meu cálice de
vinho.
— Oh, eu não deveria, — digo, surpresa.
Além de bebericar o ocasional vinho da comunhão da lua, eu nunca
tive realmente a chance de beber álcool.
— Eu insisto. É o melhor vinho da matilha, — diz Landon com
entusiasmo.
— Por favor, beba por mim, — diz Althea, acariciando sua barriga. —
Eu gostaria de poder me dar ao luxo, mas infelizmente...
Suponho que um copo não pode machucar...
Tomo um gole profundo do líquido vermelho e imediatamente sinto
um calor na boca do estômago. Ele gira na minha barriga, em seguida,
sobe para a minha garganta, me fazendo rir.
Eu me sinto tão solta e livre. É uma sensação estranha. O vinho da
igreja nunca me fez sentir assim...
Eu seguro a mesa e começo a me sentir tonta.
O que está acontecendo comigo?
— Como você está se sentindo, Mara? — Althea pergunta
calmamente.
— Estranha, — eu digo, rindo.
— Mara é seu nome verdadeiro? — Landon pergunta.
— Sim, — eu respondo automaticamente.
— Kaden mandou você aqui?
— Sim, — eu digo novamente.
Oh merda... eles devem ter me dado algum tipo de elixir da verdade.
Não consigo controlar nada do que estou dizendo. Sinto-me
absolutamente obrigada a dizer a verdade e apenas a verdade.
Se eles fizerem as perguntas certas tudo pode desmoronar...
— Ele sequestrou você da Matilha da Pureza e ameaçou a vida
daqueles que você ama? — Althea pergunta, inclinando-se mais perto de
mim.
— Sim.
— Você sente que sua própria vida está em perigo?
— Não, — eu digo, e me surpreendo.
Althea e Landon se olham, confusos.
— Alpha Kaden assusta você? — Althea pergunta.
Hesito enquanto penso sobre o medo nos olhos de Kaden quando ele
estava se transformando. Eu penso sobre a primeira vez que vi seu rosto
— seu lindo rosto.
Eu penso sobre como me sinto atraída por ele.
— Não, — eu digo novamente.
Eu paro por um momento e em seguida, olho Althea diretamente nos
olhos.
— Ele me apavora.
KADEN

Onde diabos ela está? Ela está atrasada.


Eu impacientemente bato meus dedos contra a árvore enquanto meus
olhos examinam o perímetro da cidade em busca de qualquer sinal de
Mara.
Eu também não posso cheirá-la.
E se Althea descobrisse o plano? Ela não é idiota. Na verdade, eu a
respeito, e é por isso que essa coisa toda é uma merda.
Mas se Althea ou Landon colocarem o dedo em Mara, eu vou...
Meu coração acelera e minha visão começa a ficar embaçada.
Eu raspo minhas garras na base da árvore, cravando-as em sua casca.
Mantenha tudo sob controle! Não deixe isso te controlar!
Eu inspiro e expiro fundo, começando a me sentir relaxado
novamente.
É mais fácil de controlar quando estou a centenas de quilômetros do
bando.
Quando estou a centenas de quilômetros de...
— KADEN! — Mara grita de repente.
Eu pulo quando a vejo se aproximando de mim, cambaleando para
frente e para trás. Será que ela está bêbada pra caralho?
— Cale a boca, — eu rosno. — Você vai chamar atenção de toda a
maldita matilha. Tem certeza que ninguém te seguiu?
— Não, eu usei seu mapa, — ela diz, com a fala arrastada.
Um odor pungente de repente toma conta dos meus sentidos.
— Que diabos é esse cheiro? Isso é você? — pergunto com nojo.
— Seu mapa me levou através dos esgotos para evitar os guardas, —
diz ela, inclinando-se contra mim para se equilibrar.
Claro, é por isso que eu não pude sentir o cheiro dela.
— Você é muito bonito, — ela diz, estendendo a mão para tocar meu
rosto.
Eu me afasto violentamente, não acreditando nas palavras que ouço
saindo de sua boca.
— O que diabos há de errado com você?
— Elixir da verdade, — ela afirma com naturalidade.
— Oh... OH, — digo, percebendo a gravidade da situação. — Você
disse a eles? Ela sabe que você está aqui para matar o bebê? — eu
pergunto, sacudindo-a.
— Não, ela não sabe — Mara responde, rindo.
Aliviado, eu a coloco encostada contra a árvore para que ela não caia.
— Por que você não me toca?
— Do que você está falando? — eu rosno.
— Com a sua pele... Você está sempre com essas luvas. Por que você
tem medo de me tocar?
— Eu... isso não é da sua conta, — digo rispidamente. Felizmente não
fui eu que tomei o elixir da verdade.
Ela não pode saber a verdade. Ela estaria ainda mais em perigo do que
já está.
Além disso, o jeito que ela me olha... como se eu fosse um monstro...
mal posso suportar.
Todas as coisas terríveis que fiz... Se eu pudesse contar a verdade a ela,
sei que entenderia.
Mas eu não consigo.
— Mara... você responderia uma pergunta?
— Sim, — diz ela, sonolenta.
— Você me odeia?
Seus olhos começam a se fechar enquanto ela cai no chão, mas ela
deixa escapar um sussurro suave.
— Não.
Ela disse não...
É improvável que ela se lembre de alguma coisa amanhã e é melhor
que seja assim.
Eu não posso simplesmente deixá-la aqui...
Se o esgoto mascarou o cheiro dela, talvez mascare o meu também.
Vale a pena arriscar.

Deitei Mara gentilmente na cama, seu verdadeiro cheiro ainda no ar


me guiando para a casa de hóspedes.
Ela parece tão bonita e tranquila quando está dormindo.
Meu estômago revira quando penso na dor que fui forçado a causar a
ela. A maneira como ela vai olhar para mim quando acordar.
Como se eu fosse um monstro.
Eu lentamente tiro minha luva, mesmo enquanto meu corpo luta
contra mim.
Eu encosto meu polegar em seus lábios rosados e suas bochechas
pálidas, fazendo com que faíscas emanem devido ao contatos de nossas
peles.
Uma sensação de calor percorre todo o meu corpo, como eletricidade.
Se eu pudesse dizer a ela...
Que ela é minha companheira.
Capítulo 13
ESCOLHAS IMPOSSÍVEIS
Minha cabeça está latejando.
Meus membros parecem pesar uma tonelada.
Minha garganta está tão seca que engolir parece a coisa mais difícil que já fiz.
Deve ser assim que eles chamam...
Uma ressaca.
MARA

— Urghhhh, que diabos, — eu gemo enquanto me esforço para sentar.


O que aconteceu ontem à noite? Eu nem me lembro de ter ido para a
cama.
Isso é tão constrangedor... Devo ter ficado bêbada no jantar.
Porra, é muito constrangedor... e se eu tiver dito algo que possa me
comprometer?
Em primeiro lugar, estaria viva pra sentir essa ressaca caso tivesse dito
algo?? Provavelmente não.
Eu olho para as minhas palmas e percebo que elas estão cobertas de
sujeira. Meus cotovelos também.
E... Deusa... Estou fedendo como um esgoto.
Sério, no que diabos eu entrei?
Eu me pergunto se encontrei com Kaden na noite passada...
Parece que sim, mas a noite toda está muito confusa para ter certeza.
Ele provavelmente ficará furioso comigo na próxima vez que nos
encontrarmos.
Preciso de um plano antes disso, mas agora não tenho nada.
Se Althea descobrir o real motivo pelo qual estou aqui, estou morta...
E se Kaden descobrir que ela sabe que sou um espiã, estarei morta de
novo...
Minha dor de cabeça piora e não sei se é por causa da ressaca ou da
ansiedade.
Meu estômago começa a revirar e, de repente, recupero minhas forças
novamente enquanto levanto e corro para a pia no canto do quarto.
Coloco minha cabeça para dentro da pia e vomito todo o conteúdo do
meu estômago.
Vou ficar longe do vinho pelo resto da minha vida.
Enquanto limpo o rosto com um pano úmido, ouço uma batida suave
na porta e Althea entra com uma bandeja cheia de comida.
Oh Deusa, que anjo que ela é.
— Achei que você pudesse estar se sentindo um pouco pior pelo
desgaste, — diz ela alegremente.
— Eu me sinto tão envergonhada, — eu digo, pegando a bandeja dela.
— Eu nunca fico bêbada.
— Não se preocupe, você foi uma convidada perfeita para o jantar.
Tivemos as conversas mais francas, — diz ela com um sorriso estranho.
— Você tem sido muito gentil. Eu não consigo agradecer o suficiente
por sua hospitalidade, — eu digo, mastigando um pouco de bacon.
— Qualquer coisa por uma colega membro da Matilha da Pureza, —
diz ela com sinceridade. — Agora, fique apresentável e vamos dar um
passeio na floresta. Temos muito o que discutir.

É calmante caminhar pela floresta com Althea enquanto a luz do sol


surge através da copa da folhagem acima de nós, mas também é estranho
passar pelo local onde me encontrei com Kaden durante à noite.
Eu definitivamente estava aqui ontem à noite.
Althea e eu conversamos sobre a natureza restritiva e limitadora da
Matilha da Pureza e suas visões conservadoras.
Falamos sobre os padrões irreais que eles pedem que suas mulheres
sigam.
Falamos sobre nossa resistência para ter fé na Deusa da Lua, embora
queiramos acreditar nela.
É tão revigorante falar com outro membro da Matilha da Pureza como
ela, mas há um assunto sobre o qual estou muito curiosa...
— Qual é a sua história com Alpha Kaden? — Eu pergunto hesitante.
— Se você não se importa que eu pergunte...
Fico surpresa quando Althea sorri como se estivesse se lembrando de
algo com carinho.
— Eu conhecia bem a família de Kaden, — diz ela. — Acredite ou não,
eu passei algum tempo com a Matilha da Vingança depois que fugi da
Matilha da Pureza pela primeira vez.
Então, é assim que ela está conectada a Kace e Coen...
— Eu sei que parece loucura, mas Kaden nem sempre foi um monstro.
Ele costumava ser um bom homem, um bom líder... mas nos últimos
anos, algo mudou, — diz ela com tristeza. — Seu coração endureceu.
— O que aconteceu? O que causou essa mudança?, — pergunto.
— Acho que teve a ver com a morte dos pais dele. Ninguém sabe
exatamente como eles morreram, mas muitos assumem que Kaden os
matou e foi quando a escuridão o consumiu.
— E o que você acredita?
— Kaden nunca quis poder. Ele nunca quis ser o Alpha. Isso é o que
seu irmão queria. Qualquer que seja a vontade de Kaden agora, eu não sei
dizer. Eu só sei que suas ações são indefensáveis, — ela diz em um tom
sombrio.
Seu irmão? Ela quer dizer Kace?
— E quanto ao seu companheiro, Coen? O que aconteceu com ele? —
eu pergunto.
Althea para de repente e me lança um olhar severo, mas a tempestade
em seu rosto se transforma em calmaria depois de apenas um momento.
Ela agarra minha mão e continuamos caminhando.
— Então, você sabe, — ela diz, suspirando. — Prefiro não falar sobre
esse assunto. Tudo o que direi é que éramos adolescentes e nunca o amei
como ele me amou.
— Ou a maneira como Kace te amava? — eu digo.
— Oh, doce Kace. Ele era uma criança tão fofa... um cachorrinho, —
ela ri. — Ele estava certamente apaixonado. Eu me pergunto como ele
está...
Ele é meu noivo, mas não vou dar essa informação.
É a minha vez de parar de repente porque tudo que sei sobre Althea
não está batendo.
— Espere, então você não odeia Kace?
Ela se vira e olha para mim, confusa.
— Claro que não, por que você acha isso?
— As cicatrizes — ele está coberto por elas. Ele disse que eram por
causa de seu amor por você.
Althea parece que realmente não tem ideia do que estou falando.
— Mara, eu não vejo aquela família há anos, mas Kace não tinha
nenhuma cicatriz quando eu o conheci e certamente não sou responsável
por nenhuma delas.
À medida que continuamos caminhando, começo a questionar tudo.
Parece que a família de Kaden tem muitos segredos obscuros e eu sei
ainda menos do que pensava.
KADEN

Não posso acreditar como fui estúpido ontem à noite... me


permitindo tocar a pele de Mara.
E se ela tivesse acordado?
E arriscar ser pego entrando na cidade?
Estúpido pra caralho.
Já estou jogando um jogo perigoso, mas vou colocá-la em um risco
ainda maior se ela descobrir a verdade sobre ser minha companheira.
Quanto mais tempo passo com ela, mais me sinto atraído. Ela está se
tornando irresistível e não tenho certeza se posso confiar em mim
mesmo perto dela.
A coisa mais segura para Mara será se casar com Kace. Vou antecipar o
casamento quando voltarmos.
Ela pode acabar me odiando, mas pelo menos ela estará segura.
Mesmo que isso signifique ver minha companheira me desprezar todos
os dias, pelo menos eu posso cuidar dela.
Quanto mais cedo terminarmos esta missão, melhor.
Enquanto tiro um pequeno frasco de líquido roxo do bolso, vejo Mara
se aproximando.
— Vamos acabar com isso hoje à noite, — eu rosno.
— Por que a pressa? Você não quer esperar mais seis meses até a
criança nascer? — Mara pergunta em tom de desgosto.
Coloco o frasco em sua mão e olho seus lindos olhos. Se ela fizer isso...
vai mudá-la para sempre.
— Você usará este frasco — é veneno. Isso afetará apenas o bebê, não
Althea.
— Ah tá, porque matar seu filho que ainda nem nasceu não a afetará
em nada, — diz Mara com raiva.
— Tem que ser feito, — eu rosno em retaliação. — Não me teste,
Mara.
Minha cabeça começa a latejar e fica difícil pensar direito.
— Faça você mesmo, seu covarde. Você matou seus próprios pais,
então porque não uma criança também?
O que ela acabou de dizer? Meus pais...
A dor se torna insuportável.
Sinto um veneno subindo em minhas veias. Ele se infiltra em meu
corpo como uma doença.
Eu não consigo me controlar.
Eu sorrio para Mara ao sentir uma onda de ódio tomar conta de mim.
— Sim, eu os matei... mas não é com meus pais que você deve se
preocupar. Se você não fizer isso esta noite, eu vou cortar a garganta dos
seus pais e me banhar no sangue nojento deles. Você entende, garotinha?
Me diga se você entende.
Mara confirma em silêncio enquanto as lágrimas enchem seus olhos.
MARA
Enquanto Althea carrega uma bandeja de chocolate quente para o
terraço nos fundos da mansão, eu apareço de repente.
— Althea, por favor, deixe-me ajudar, — eu digo, sorrindo. — Você
está grávida. Você não deveria estar carregando isso.
— Oh, não se preocupe comigo. Eu ainda consigo me equilibrar, — ela
ri.
— Independentemente disso, eu sinto que preciso fazer algo. Você já
fez muito por mim, — eu digo. — Tudo bem, leve isso para fora e eu pego
alguns biscoitos. Confie em mim, eu faço os melhores biscoitos.
— Eu mal posso esperar para prová-los.
Enquanto Althea desaparece na cozinha, eu saio e coloco a bandeja
sobre a mesa.
Três canecas de chocolate quente — uma para mim, uma para Landon
e uma para Althea.
Eu nervosamente coloco o dedo no frasco de veneno em meu bolso.
Eu realmente vou fazer isso?
O sorriso maligno de Kaden pisca diante dos meus olhos.
A melhor pergunta é: eu realmente tenho escolha?
Depois disso não tem volta atrás... Como teria?
Mas nunca vou me perdoar se algo acontecer com meus pais.
Eu tenho que fazer uma escolha.
Eu abro a tampa do frasco roxo e despejo todo o conteúdo em uma
das canecas.
Althea sai para o terraço com uma bandeja de biscoitos.
— Acabaram de sair do forno, — diz ela, sentando-se à mesa. —
Landon vai se juntar a nós logo.
Ela vai pegar uma caneca mas me antecipo e dou uma a ela,
observando enquanto ela toma um gole profundo.
— Delicioso, — diz ela, lambendo os lábios e tomando mais um gole.
Pego minha própria caneca e vejo um círculo roxo claro girando na
superfície do chocolate quente.
Eu olho para Althea intensamente e ela parece alarmada.
— Althea... preciso de sua ajuda.
Capítulo 14
ESTRADA PARA A LIBERDADE
Ir para casa não é uma opção.
E nem correr Ele vai apenas me pegar.
Então eu preciso me esconder.
Eu preciso ir a algum lugar que ele nunca vai me encontrar.
Em algum lugar onde eu possa simplesmente desaparecer.
Eu preciso ir para a Matilha da Liberdade.
MARA

O sol ainda nem nasceu enquanto Alpha Landon empacota alguns


suprimentos para mim no porta-malas de seu carro.
— Graças à Deusa que todos os alfas têm carros, — digo enquanto
Althea me abraça.
— Não o alpha da Matilha da Liberdade, — diz Althea com um toque
de desgosto.
— Como é a Matilha da Liberdade? — eu pergunto. — Eu só ouvi
rumores.
Althea suspira e pega minha mão.
— Talvez não seja a utopia libertadora que você foi levada a acreditar,
minha querida.
— O que você quer dizer? É seguro?
— Não há dúvida de que a Matilha da Liberdade é o melhor lugar para
você ir se quiser desaparecer, — ela responde. — Mas isso não significa
que seja seguro. O Alpha, Grayson... dizem que ele está um pouco...
estranho.
— Estranho como?
— Como em insano, fora de sua mente, uma coisa meio louca, — diz
ela rispidamente. — Provavelmente seria do seu interesse ficar o mais
longe possível de Alpha Grayson.
— Ótimo, outro Alpha de merda para me preocupar. — eu digo com
desdém.
— Contanto que você fique quieta, você deve ficar bem. A Matilha da
Liberdade nem passa pela cabeça de Kaden. É o último lugar para onde
um membro da Matilha da Pureza iria, — Althea reflete.
— Espere, por que isso? — eu pergunto nervosamente.
— Vamos apenas dizer que eles são muito mais ousados lá... mais
expostos.
Não sei do que ela está falando, mas tenho a sensação de que vou
descobrir em breve.
Ela me dá um último e longo abraço e coloca a mão no meu rosto.
— Desejo o melhor a você, Mara. Espero que nossos caminhos se
cruzem novamente em circunstâncias menos terríveis.
— Sim, eu também espero — digo, sorrindo.
Eu subo no banco de trás do carro de Landon e me deito para que
ninguém me veja quando ele sai da garagem.
O ronco suave do motor me embala para dormir enquanto sonho com
minha nova vida na Matilha da Liberdade.

Uma pancada seca me acorda. Em seguida, outra me faz cair da


cadeira.
Estamos tendo um maldito terremoto?
Eu coloco minha cabeça sobre o assento e olho para a estrada sem fim
atrás de nós, se é que se pode chamar isso de estrada.
Parece mais um enorme mar de buracos e cascalho.
Limpo o suor do rosto enquanto observo a paisagem árida ao meu
redor. Está quente pra caralho aqui. Acho que estamos em um deserto.
Enquanto Landon para o carro perto de uma parede em ruínas, ele
vira para trás e olha para mim. Ele tem olheiras.
A julgar pelo sol poente, devo ter dormido o dia todo.
— Chegamos, — diz ele, apontando para a parede decrépita.
— Mesmo? — eu pergunto com reserva.
— Receio que sim, — diz ele, suspirando. — Escute, sua melhor opção
é encontrar algum abrigo. Aqui é um inferno de quente durante o dia,
mas as noites são frias. Isso é o mais longe que posso levá-la.
Eu aceno com a cabeça, pegando minha mochila e saindo do carro. Eu
me inclino para a janela do passageiro e dou a Landon um meio sorriso.
— Obrigada por fazer isso. Você e Althea têm sido incríveis. Tenho
certeza que seu bebê vai trazer muita alegria para vocês dois.
— Sabe, você me lembra Althea quando ela tinha a sua idade. —
Landon sorri. — E se você for como ela, você vai ficar bem.
Enquanto Landon dirige pela estrada esburacada, dou outra olhada na
Matilha da Liberdade.
A entrada está coberta de grama alta e o cheiro é uma mistura de odor
corporal e enxofre.
Não era isso que eu esperava.
Eu adentro na grama que chega acima da minha cabeça e a afasto para
frente, sem conseguir ver nada.
O matagal se torna tão denso que preciso começar a engatinhar.
Quando finalmente atravesso a folhagem, grito ao ser abordada por
algo completamente inesperado.
Um pênis.
Bem na minha cara.
Cubro minha boca, horrorizada, mas o homem nu não se incomoda.
Ele continua seu caminho.
Uma mulher nua areja suas partes íntimas sob uma tenda malfeita
próxima.
De repente, entendo o que Althea quis dizer quando disse que a
Matilha da Liberdade é mais exposta.
Ninguém usa roupas aqui.
Se eu não quiser me destacar, estou usando a roupa errada e, com isso,
quero dizer qualquer roupa.
Algumas crianças desnutridas passam por mim e desaparecem em
uma cabana.
Este lugar é sombrio, mas me lembro do conselho de Landon.
Encontre um abrigo.
Eu me movo mais para dentro da matilha, tentando o meu melhor
para não demonstrar minha roupa com todas as pessoas nuas circulando.
Passo por um círculo de pessoas fumando algo em um cachimbo. Eles
parecem mais relaxados do que qualquer pessoa que eu já vi.
Eu provavelmente poderia usar um pouco disso para acalmar meus
nervos.
Eu encontro uma árvore grande o suficiente para fornecer alguma
sombra em um local remoto, jogo minha mochila no chão e aproveito
para me recostar.
Vai levar algum tempo até me acostumar...
— Pensei ter sentido o cheiro de alguém novo por aqui, — diz uma
voz com um sotaque desconhecido, logo acima de mim.
Eu olho para cima e me deparo com outro pênis balançando no meu
rosto e este é significativamente maior do que o anterior.
Eu engulo em seco enquanto me levanto e observo o homem diante
de mim, evitando olhar para sua parte inferior novamente.
Ele é robusto e bonito, com a pele bronzeada pelo sol e cabelos
escuros desgrenhados.
— Você cheira muito doce para ser da Matilha da Liberdade... Matilha
da Pureza, talvez?
Acho extremamente difícil desviar os olhos da coisa balançando entre
suas pernas enquanto ele fala comigo.
— Você realmente deveria colocar algumas roupas, — eu digo, soando
puritana.
— Sim, definitivamente da Matilha da Pureza, — ele ri. — Você sabe
que é realmente desrespeitoso aos meus costumes você usar roupas. Você
simplesmente entra em uma nova matilha e insulta seu Alpha?
Ai merda, este é Alpha Grayson.
— Você é Grayson... — eu digo lentamente.
— Ah, então você já ouviu falar de mim? Minha reputação me
precede. E o que exatamente você ouviu?
— Que você é... hã... excêntrico, — eu digo, lutando para encontrar as
palavras certas.
— Bem, isso é verdade, — diz ele, parecendo se divertir.
De repente, percebo que estamos sozinhos. Juro que havia outras
pessoas há poucos momentos, mas agora não há ninguém à vista.
Grayson olha para mim com um sorriso libertino.
— Mas você também ouviu que eu sou louco?
KADEN

Ela está atrasada pra caralho... de novo.


Eu disse a ela antes do pôr do sol e o sol está se pondo.
Eu me pergunto se ela fez o que eu mandei... se ela completou sua
tarefa?
Para o bem dela e para o meu... realmente espero que sim. Haverá
consequências se ela não o fizer, consequências sobre as quais não tenho
controle.
Andar em círculos não está me fazendo bem.
Se ela não vier até mim, irei até ela.
Jogo o capuz sobre o rosto. Se eu entrei na cidade sem ser detectado
uma vez, posso fazer de novo.
Eu me esgueiro para o lado da parede e entro na água que sai do
grande cano que se projeta de sua base.
Eu me agacho e me movo rapidamente pelo túnel escuro, passando
por vários corredores até chegar a uma escada.
Se bem me lembro, este caminho deve sair perto da propriedade de
Landon..
Eu subo a escada até que minha cabeça atinge a superfície e assim
posso sentir o cheiro de ar fresco novamente.
Esses esgotos realmente fedem...
Estou em um beco, em frente à propriedade. Eu posso ver a casa de
hóspedes. Tem uma luz acesa.
Mara ainda não deve ter saído...
Quando a barra está livre, eu entro e saio das sombras enquanto faço
meu caminho para a cabana.
Eu rapidamente abro a porta e fecho atrás de mim, aliviado por não
ter sido visto.
— Mara, o que diabos você está pensando, me fazendo vir até aqui
para...
Quando olho ao redor da sala, percebo que Mara não está lá. E
nenhuma de suas coisas também.
— PORRA! — eu rosno, batendo minhas garras na parede.
Pra onde diabos ela foi? Ela poderia estar em qualquer lugar.
Isto é ruim. Muito ruim.
Ela não tem ideia do tipo de perigo que está correndo.
MARA

Eu me afasto de Grayson quando seus olhos começam a se contorcer.


— Você está... você está bem?
O sol se pôs e a lua agora nos banha com uma luz pálida.
Grayson se agita para frente em um espasmo involuntário, seu corpo
inteiro em convulsão.
Suas costas começam a se alongar e os músculos de seu corpo
começam a se inchar.
— Grayson? O que está acontecendo? Responda-me! — eu grito.
Enquanto ele se agacha de quatro, suas garras começam a se estender
de seus dedos e suas presas de sua boca.
De repente, o som de dezenas de ossos estalando perfura o ar e eu
tremo de terror.
Já vi esse tipo de mudança antes.
Eu vi isso acontecer com Kaden.
Grayson estica o pescoço torto em minha direção e vejo o mesmo
medo em seus olhos.
— Vá... vá, — ele gagueja.
Meus olhos se arregalam enquanto suas mandíbulas se abrem.
— VÁ ANTES QUE EU MATE VOCÊ!
Capítulo 15
OCULUS VIDENS
Passei minha vida inteira desejando liberdade.
Ansiosa por descobrir o que está além da muralha.
Para explorar o que o mundo tem a me oferecer.
E agora que eu realizei meu desejo...
Eu gostaria de poder voltar atrás.
MARA

Estou sem fôlego enquanto caminho pelo matagal o mais rápido que
posso.
Eu não consigo parar.
Nem por um momento.
Se aquela coisa for parecida com a fera em que Kaden se
transformou... ele nunca vai parar de caçar até que pegue sua presa.
Um uivo agudo ecoa pelo céu noturno quente e úmido.
Minhas roupas suadas grudam na minha pele como se estivessem
fundidas ao meu corpo.
Eu caio de joelhos e começo a espalhar lama em meus braços, peito e
pernas.
Talvez se eu pudesse pelo menos mascarar meu cheiro...
Deusa, por favor, me dê força.
Por que sempre recorro à Deusa da Lua em momentos como este? É
como um reflexo...
Ninguém vai te salvar, Mara. Então, salve-se a si mesma, porra.
Eu fico de pé e começo a atravessar o matagal denso novamente,
movendo com força as grossas folhas de mato para fora do meu caminho.
À medida que ganho um pouco de fôlego, começo a correr, mas meu
pé afunda em uma poça de lama que me suga como um vácuo.
Eu grito ao sentir meu tornozelo torcer.
Eu luto para tirar meu pé, mas ele não se move.
De repente, o matagal ao longe começa a se abrir e balançar como
força.
Merda, ele está vindo.
Eu arranco meu pé para fora da bota, deixando-a para trás e me
livrando da outra no caminho.
Vou ter que correr descalça... mas para onde diabos estou correndo?
Eu ouço o barulho de patas pisando na lama atrás de mim.
Quando viro a cabeça, vejo um dorso peludo curvado mergulhando
acima e abaixo do matagal como uma serpente marinha.
Porra, eu não consigo continuar correndo direito. Ele vai me alcançar em
segundos.
Eu faço uma curva fechada e caio pra fora da grama direto na terra.
Meus pés descalços sangram quando passo por cima de pedras
pontiagudas, porém à frente vejo algumas ruínas.
Não tenho outras opções... Manco em direção à estrutura, rezando
para encontrar um lugar para me esconder.
Rastejando nas ruínas, eu me espremo por baixo de uma parede caída.
O luar brilha através de cada fenda no teto, criando um conjunto
estranhamente belo de luzes fluindo.
Um barulho forte no telhado faz com que detritos caiam na minha
cabeça.
Está no telhado... procurando uma maneira de entrar.
Em pânico, tento encontrar um pedaço de algo resistente para me
esconder, mas todo este lugar parece que está à beira de desmoronar.
TUM.
TUM.
TUM.
Ele está tentando entrar.
Eu não tenho muito tempo.
Eu rastejo sob uma estátua quebrada da Deusa da Lua, segurando
meus joelhos e fechando meus olhos.
CRASH!
O teto desaba quando Grayson cai e pousa no centro das ruínas.
Do meu esconderijo, posso ver suas patas com garras enormes,
tilintando na superfície do chão.
A fera fareja o ar e se volta para a estátua.
Ele sabe que estou aqui.
A fera se agacha o mais baixo possível no chão, e eu me pego olhando
diretamente em seus olhos escuros e frios.
Ele rosna com sede de sangue e eu não tenho para onde correr.
AAAAA-UUUUU!
O uivo de outro lobisomem tira a atenção da fera de mim.
O lobisomem corre para a sala, colidindo com a fera e cravando os
dentes em sua lateral.
Eu me atiro para fora do meu esconderijo, disparando pela sala
enquanto os dois lobisomens se jogam no ar.
Um lobisomem cor de areia menor está lutando contra a fera,
jogando-a contra as ruínas, tentando derrotá-la.
Todo esse lugar vai desabar.
Eu subo uma rampa de pedra, me levantando até uma janela, assim
que o lobo cor de areia passa por mim ele afunda suas garras nas costas
da fera.
Enquanto eu caio em um terreno aberto, os dois lobisomens se
chocam contra a parede, lutando do lado de fora.
Eu manco até a árvore mais próxima e me encosto contra ela
enquanto observo as duas silhuetas sombrias de lobo lutando e se
golpeando sob o luar.
Depois de um momento, ambas as sombras diminuem voltando para
a forma humana...
Mas apenas um surge.
À medida que a figura caminha em minha direção, um homem nu
com cabelo louro-claro se torna visível.
— Não tenha medo, — ele diz em um tom calmo. — Ele não pode
machucar você agora.
— Ele está morto? — eu pergunto, olhando para o corpo
aparentemente sem vida de Grayson.
— Não, ele está apenas inconsciente. Ele ficará assim até amanhã, e
então voltará ao que era.
— Isso já aconteceu antes? — pergunto em estado de choque.
— Sim, Grayson tem uma condição... bem, na verdade uma maldição.
Ele não consegue controlar quando se transforma e então se torna algo
mais do que um lobisomem... Ele se torna...
— Um monstro. Já vi isso antes, — digo. — Obrigada por intervir. Eu
estaria morta se não fosse por você.
— Eu só queria ter chegado a ele mais cedo. É meu dever protegê-lo,
— diz ele em tom solene.
— Você é o Beta dele?
— Seu irmão, — ele responde, estendendo a mão. — Meu nome é
Evan. E você é?
— Mara, — eu respondo, retribuindo o aperto de mão. — Eu sou nova
aqui.
Evan me lança um olhar simpático.
— Fugindo de alguma coisa?
— De alguém, — eu o corrijo.
— Bem, você pode ficar comigo e com minha esposa, se quiser. É o
mínimo que posso oferecer depois que meu irmão atacou você — Evan
diz, carinhosamente.
Grayson está esparramado no chão, espancado e machucado e Evan
não parece muito melhor.
Isso deve ser um fardo... para os dois.
Evan pega Grayson e o coloca sobre o ombro.
— Vá na frente, — eu digo, aceitando sua oferta.

É preciso caminhar um pouco, mas fico surpresa ao descobrir que a


Matilha da Liberdade tem uma cidade real... ou algo parecido com uma,
de qualquer maneira.
Não é muito, mas existem casas de verdade e não apenas cabanas ou
tendas.
Eu até noto várias pessoas usando roupas.
Uma pequena fonte sem graça no centro da rua esguicha um jato
fraco de água no ar.
Eu mergulho minhas mãos e jogo um pouco de água no meu rosto,
olhando para o meu reflexo.
Estou imprestável, coberta de lama seca e arranhões ensanguentados.
Meus pés estão em estado ainda pior, cobertos de cortes.
Coloco ambos na fonte, sentindo um alívio imediato assim que a água
penetra em minhas feridas.
Evan sai de uma casa próxima e acena para mim.
— Ok, Grayson está seguro. Você pode entrar.
Eu o sigo até a aconchegante sala de estar, onde o fogo está crepitando
na lareira.
Uma mulher baixa com um rosto suave e olhos amáveis entra
correndo na sala com uma energia curativa.
— Oh, minha Deusa, o que você deve ter passado! Sente-se aqui,
querida, — diz ela, ajudando-me a sentar em uma cadeira perto do fogo.
— Deixe-me trazer um pouco do chá que eu fiz.
— Essa é minha companheira, Leia, — diz Evan, rindo. — Ela não vai
deixar você descansar até ter certeza de que você está bem cuidada. Eu
nunca poderia lidar com Grayson sem a ajuda dela.
— Ela parece adorável. — eu sorrio, mas meu sorriso desaparece
quando penso na condição de Grayson. — Existe uma maneira de ajudá-
lo? Uma cura?
— Não há cura... não no sentido médico de qualquer maneira, —
afirma Evan com tristeza.
— O que você quer dizer? — pergunto.
— Como eu disse antes, a condição dele... é realmente uma maldição.
E a única pessoa que pode quebrar uma maldição como essa é uma
companheira.
— Bem, onde está a companheira de Grayson? Certamente ele tem
uma, certo? — Não sei porque me sinto tão empenhada nisso, mas meu
coração dói por essas pessoas.
Talvez seja porque eu veja algo semelhante em Kaden... tantos
demônios... mas não há como se libertar.
— Eu gostaria de saber mas ela desapareceu há muito tempo. Pode
nem estar mais viva — Evan diz, com a voz embargada.
— Se você me der licença, eu preciso ir ver como ele está.
Enquanto Evan sobe as escadas, Leia entra com o chá e se senta à
minha frente.
— Aqui está, querida, bebida especial, — diz ela, entregando-me uma
xícara.
Tomo um gole do líquido quente que imediatamente aquece meu
corpo de dentro para fora.
Leia me olha com curiosidade, como se estivesse tentando me ler.
Ela cora quando me vê notar.
— Oh, sinto muito, querida, não é minha intenção ficar olhando. É só
que... você tem uma aura muito interessante, — diz ela, continuando a
beber. — Eu sou uma Oculus Videns, então tenho uma tendência a ficar
olhando um pouco demais. Se isso te deixar desconfortável, é só me
avisar.
— O que é uma Oculus Videns? — eu pergunto, intrigada.
— Eu sou abençoada pela Deusa da Lua. Posso ver o futuro pelos
olhos dos outros, — diz ela.
Agora eu me lembro de ouvir sobre os Oculus Videns. Minha mãe
costumava dizer que eles eram fraudes — fingindo que a Deusa da Lua
lhes deu habilidades especiais a fim de enganar as pessoas com seu
dinheiro.
Mas Leia não parecia uma vigarista...
— O que você vê quando olha nos meus olhos? — eu pergunto.
Leia pega minha xícara de chá vazia e a vira em um pires. As folhas de
chá formam uma imagem, talvez um animal, mas é muito difícil dizer.
— Interessante... — ela diz para si mesma.
Leia agarra minha cabeça e me encara profundamente. Suas íris lilases
são hipnotizantes.
— Fascinante... eu vejo algo... algo nebuloso, — ela diz em uma voz
distante.
Talvez isso seja mesmo besteira...
De repente, seus olhos ficam nublados e seu controle sobre meu rosto
se intensifica.
— Você está fugindo... você está fugindo do Alpha, — ela diz em um
tom assustador.
Que porra... Eu não estou gostando disso.
— Mas ele não vai parar de procurar por você... Ele nunca vai parar de
procurar por você.
— Leia, estou desconfortável. Você disse que pararia se eu estivesse
desconfortável, — eu peço.
Ela fixa no meu olhar e eu não consigo nem piscar.
— Você pertence a ele, Mara.
Capítulo 16
CORRENDO SELVAGEMENTE
Estou presa em um quarto escuro sem saída — apenas uma cadeira
vazia.
Minha veste da pureza esvoaçante atrás de mim enquanto eu corro
freneticamente ao redor da sala, procurando por uma porta.
— Por que você corre, Mara?
A voz de Kaden ecoa por todo o quarto.
Isso é real? Já estive aqui antes.
Foi para cá que Kaden me trouxe depois que ele me sequestrou.
Eu tropeço em um corpo e caio no chão.
Eu me viro esperando encontrar Kace, mas em vez disso, vejo Milly...
Seu corpo está gravemente mutilado e a expressão congelada em seu rosto é
de angústia.
A boca de seu cadáver de repente começa a se mover.
— Por que você não me salvou, Mara?
Gritando, eu recuo.
Eu sinto a luva de couro de Kaden envolver meu pescoço por trás.
Ele aperta com força, sem soltar
— Você pertence a mim, Mara.
MARA

Acordo suando frio, pulo da cama e abro as cortinas para ter certeza
de que não estou em um quarto falso... e que não fui sequestrada
novamente.
Estou aliviada ao ver a degradada praça da Matilha da Liberdade do
lado de fora.
Não importa o quão longe eu corra de Kaden, nunca vou escapar dele
em meus pesadelos.
Mas o que mais me assombra é Milly...
E a expressão em seus olhos quando ela descobriu que eu tinha a
chance de salvá-la.
Sinto como se a tivesse abandonado, desaparecendo assim do nada.
Mas se eu nem consigo me defender, como posso defender os outros?
Ou estou apenas dizendo isso a mim mesma para justificar minha
decisão egoísta de me esconder? Tenho medo de Kaden e do que ele fará
com meus amigos e família se eu não voltar para ele — e que novo
castigo doentio ele vai propor para mim.
Mas tenho mais medo de outra coisa...
Tenho medo de continuar fugindo disso, a culpa vai me corroer.

Leia me leva a um mercado à tarde e começo a ver um lado diferente


da Matilha da Liberdade.
É cheio de pessoas alegres e aglomerados de barracas coloridas com
gente fazendo negócio com qualquer coisa que você possa imaginar.
Isso me lembra que a Matilha da Liberdade se baseia na diversidade e
na franqueza.
Todo mundo aqui vem de outras matilhas originalmente.
Descontentes com suas antigas vidas, eles vêm até aqui para começar
uma nova.
— O que você acha? — Leia pergunta, percebendo a maneira como eu
observo o mercado com admiração.
Leia não se lembra do que me disse quando leu meu futuro e não
tenho intenção de lembrá-la.
Ainda não consigo acreditar que ela disse que eu pertenço a Kaden.
Acho que essa será minha primeira e última leitura com um Oculus
Videns.
Evan e Leia sabem que estou fugindo de alguém, mas não têm ideia de
que é o Alpha mais assustador de toda a existência.
Estou colocando-os em perigo por estar aqui e se eles descobrirem...
É
— É maravilhoso, — eu digo, tirando Kaden para fora da minha
mente. — Acho que poderia passar o dia todo aqui. Há muito para ver.
— Vou montar minha tenda de leitura no lado sul do mercado, se você
quiser se juntar a mim, — ela diz alegremente. — Eu posso te dar outra
leitura!
Oh Deusa, inferno, não.
— Acho que vou ficar vagando por aí um pouco, mas encontro você
mais tarde, — digo, sorrindo educadamente.
Enquanto Leia sai correndo, acenando, tento decidir onde quero
começar a explorar.
Vou até uma barraca de roupas coloridas, pensando na ironia do
vendedor estar totalmente nu.
Felizmente, há muitas outras pessoas na cidade que usam roupas
semelhantes à minha, então não pareço muito deslocada.
Enquanto corro meus dedos por um manto de seda roxa
deslumbrante, ouço o som inconfundível de couro raspando e congelo.
Olhando no espelho pendurado na cabine, vejo um homem vestido da
cabeça aos pés em couro escuro com uma espada ao lado, observando o
mercado.
Não há dúvida sobre isso... ele é da Matilha da Vingança.
Kaden deve estar enviando seus homens a todos os lugares para
procurar por mim, mesmo em lugares remotos como este.
Lugar nenhum é seguro.
Eu discretamente roubo um lenço, quando o vendedor não está
olhando e imediatamente o coloco sobre na minha cabeça.
Evitando contato visual e mantendo minha cabeça baixa, eu
prontamente passo pelo guarda e me enfio em uma barraca próxima.
Talvez se eu apenas ficar escondida por tempo suficiente ele vá
embora e informe a Kaden que ninguém que corresponda à minha
descrição está na Matilha da Liberdade.
De repente uma mão envolve minha boca, abafando meu grito.
Dou uma cotovelada nas costelas do meu agressor, libertando-me de
suas mãos.
Quando eu me viro, fico surpresa ao ver Grayson vestido com uma
túnica e calças largas, me dando um sorriso pesaroso.
— Ai, porra, você sabe que acabei de acordar de um dia inteiro
inconsciente, — diz ele, esfregando as costelas.
— Você não pode simplesmente se aproximar das pessoas assim, — eu
digo em tom de censura.
— Você estava esperando outra pessoa... um guarda da Matilha da
Vingança, talvez? — ele questiona.
— Merda, você viu, né? Grayson, posso explicar...
— Não há necessidade de explicar, — diz ele, levantando a mão. — Eu
sei tudo sobre Kaden, confie em mim. Se você estiver fugindo dele, farei
tudo o que puder para garantir que ele não a encontre.
Uma onda de alívio me atinge, mas nenhum favor é gratuito, mesmo
na Matilha da Liberdade.
— Por que você faria isso por mim? Você nem me conhece! — eu
pergunto.
— Esta Matilha foi fundada para servir como um porto seguro para
aqueles que procuram um, — ele responde. — E, além disso, estou
totalmente em dívida com você depois que tentei te matar.
— Evan me contou sobre a maldição. Eu sei que não foi intencional,
— eu digo, tranquilizando-o.
— Sim, você escolheu o pior momento possível para chegar, — ele ri.
— A festa de boas-vindas do inferno.
Eu gosto dessa versão de Grayson — ele é caloroso, engraçado e bem-
apessoado. Nem um pouco o que eu esperava.
— Com que frequência isso acontece? — eu pergunto.
— Só nas noites de lua cheia, como na noite passada. Normalmente,
Evan já teria me acorrentado, mas quando eu senti o seu cheiro atraente,
eu tive que ver você por mim mesmo, — ele diz com um sorriso sedutor
que me faz corar.
Ele está muito perto de mim... um pouco perto demais.
— Devemos verificar se o guarda ainda está lá, — eu digo, nervosa.
Grayson afasta os panos e espia para fora da tenda. Quando ele coloca
a cabeça para dentro, ele sorri.
— Tudo limpo por enquanto, mas provavelmente seria melhor se você
ficasse longe dos mercados hoje. Ou em qualquer lugar da cidade.
— Onde devo me esconder?
— Eu tenho uma ideia. — ele sorri maliciosamente. — Venha comigo.

Grayson me leva a um campo aberto a uma boa distância da cidade.


Eu olho ao redor, tentando descobrir porque de todos os lugares ele
me trouxe justamente aqui, mas não consigo pensar em nada.
— Por favor, não acredito que você vai me dizer que este é o melhor
lugar para se esconder, — eu digo sarcasticamente.
— Dê-me um pouco de crédito, — diz Grayson enquanto começa a
tirar suas roupas.
— Hã, o que diabos você está fazendo? — eu digo, desviando o olhar,
envergonhada.
— Eu odeio aquilo que você viu antes... aquele monstro. Aquele não
sou eu — Grayson diz em um tom sério.
Ele toca meu ombro e eu me viro para encará-lo.
— Deixe-me mostrar que sou alguém em quem você pode confiar.
Venha correr comigo.
— Uma corrida? Você quer dizer como lobos? — eu pergunto
hesitante.
Não consigo nem me lembrar da última vez que me transformei
totalmente. Faz muito tempo.
É considerado deplorável que as garotas da Matilha da Pureza se
transformem, mas, novamente, tudo que é divertido é considerado
deplorável naquela matilha.
— Quero mostrar a você que não há nada a temer quando me
transformo normalmente, — diz ele. — Então, você vai se juntar a mim
em uma corrida?
Sem medo das consequências e cheia de energia, começo a tirar
minha blusa.
— Quer saber, foda-se — eu digo, sorrindo. — Vamos lá.
KADEN

Meus homens estão vasculhando cada matilha por essas áreas, mas até
agora não houve nem sinal de Mara.
Mesmo estando furioso com a fuga dela, temo por sua segurança.
Pelo menos quando ela está aqui na Matilha da Vingança, posso ficar
de olho nela o tempo todo e garantir que nenhum dano aconteça a ela.
Lá fora, não posso garantir sua segurança... ou a segurança de sua
família.
As coisas só vão piorar se eu não a encontrar e se eu for forçado a
machucar sua família... ela nunca vai me perdoar.
Eu também não me perdoaria.
Mara é inteligente e desbocada. Eu sei que ela pode cuidar de si
mesma, mas eu preciso encontrá-la logo.
Perdi o controle da minha matilha.
Perdi o controle da minha companheira.
E perdi o controle de mim mesmo.
Meu mundo inteiro é um pesadelo, mas Mara é o único feixe de luz
em toda a escuridão.
Eu irei até os confins da terra para encontrá-la se for preciso.
Eu agarro os cantos da minha mesa quando sou repentinamente
tomado por um cheiro poderoso. Sinto-me tonto, intoxicado pelo aroma
floral e frutado.
Mara... ela se transformou, liberando seu perfume para seu
companheiro.
Mesmo de longe, sinto o cheiro dela como se ela estivesse bem aqui.
— Eu sei exatamente onde você está.
Capítulo 17
PRIMEIRO TOQUE
Minhas garras se abrem enquanto eu agacho com as quatro patas.
Meu cabelo cor de mel surge por todo meu corpo como pelo.
Tudo tem um cheiro mais intenso.
Tudo parece mais estimulante.
Acabei de me transformar pela primeira vez em anos.
E eu me sinto completamente livre.
MARA

Minhas patas batem contra a terra com determinação enquanto


alcanço Grayson e tento ultrapassá-lo.
Ele mostra suas presas de brincadeira e desvia para a floresta, pulando
sobre uma árvore caída.
Seu lobo — seu lobo normal, não a fera amaldiçoada em que ele se
transforma uma vez por mês — é cinza-escuro com uma pequena
mancha branca sobre o olho.
Ele parece saudável e feliz e estou grata por ele ter decidido me
mostrar esse seu lado.
Eu preciso tirar Kaden de minha mente, e uma corrida é a distração
perfeita.
Eu passo por Grayson e pulo através de um riacho, desafiando-o a me
seguir.
Corremos lado a lado, mantendo o ritmo até que uma ravina aparece
na nossa frente.
O comprimento da fissura é de quase quatro metros, talvez mais.
Meu lobo sorri para Grayson e ele sorri de volta.
É isso mesmo?
Não há tempo para voltar atrás agora.
Eu corro a toda velocidade em direção à borda do penhasco e pulo
sobre ele, voando para o outro lado com espaço de sobra.
AAAAA-UUUUU-UUU!
Eu uivo em vitória pelo meu feito, mas quando vejo Grayson
derrapando até parar ofegante na borda tenho que uivar de tanto rir.
Ele rosna, irritado, mas volta e começa a correr antes de pular para o
outro lado ao meu lado.
Sua pata traseira atinge a borda do penhasco, deixando rolar algumas
pedras para o fundo da ravina.
Cortando um pouco perto disso, Grayson.
Enquanto continuamos correndo pela floresta, eu olho para Grayson e
sinto um laço entre nós... não de acasalamento, mas de amizade.
Sinto que finalmente conheci alguém em quem posso confiar para me
dar apoio. Vou precisar de um amigo como ele se algum dia enfrentar
Kaden.
O pensamento de Kaden me paralisa, e eu paro para dar uma olhada
ao meu redor.
Estou em uma clareira tranquila com um enorme lago cercado por
montanhas e pinheiros. A vista é absolutamente deslumbrante.
É um contraste gritante com as ruínas degradadas da primeira
impressão que tive da Matilha da Liberdade, mas esse lugar é melhor do
que eu imaginava.
Grayson acena para que eu o siga, e ele me leva a um tronco de árvore
próximo ao lago.
As iniciais — G + L — estão gravadas na madeira com um coração por
baixo.
Grayson volta a ser humano e me olha com expectativa.
— Bem, você vai se transformar ou só ficar aí olhando?
Eu realmente não estou com vontade de andar por aí com Grayson
completamente nua, mas preciso superar minhas inibições.
Esta não é a Matilha da Pureza.
Eu lentamente me transformo de volta para a forma humana, mas não
me sinto exposta como esperava.
Sinto-me surpreendentemente desinibida e livre.
Grayson me olha exatamente como faz quando estou vestindo roupas.
Para ele, isso é natural.
— Este lugar é lindo, — eu digo, olhando ao meu redor novamente. —
Você vem aqui frequentemente?
— Eu costumava, — diz ele com uma pitada de tristeza.
Eu me pergunto quem é o — L — esculpido no toco. Poderia ser a
companheira desaparecida que Evan mencionou?
Estou morrendo de vontade de perguntar, mas agora pode não ser o
momento certo. Ele vai me revelar isso quando estiver pronto.
— Talvez eu deva apenas construir uma cabana e morar aqui na
floresta, — digo, realmente considerando isso. — Kaden nunca me
encontraria.
— Você não pode fugir dele para sempre, Mara — Grayson diz em tom
sombrio. — O passado sempre vai pegar você.
— Eu sei, mas não tenho certeza de como serei capaz de enfrentá-lo.
Há algo sobre Kaden que me apavora profundamente.
— Bem, sim, ele é um psicopata, — Grayson afirma.
— Honestamente, não é isso... embora devesse ser. É outra coisa — eu
digo, perdida em pensamentos. — Mas eu ainda não descobri.
— Bem, eu conheço uma maneira de superar o medo, — diz Grayson
com um sorriso malicioso. — Espere um segundo.
Ele desaparece atrás de alguns arbustos e começa a cavar na terra.
— Que diabos está fazendo? — eu rio. — Cavando para mim uma
cova?
Grayson retorna com algo embrulhado em um pano sujo e o coloca
em minhas mãos.
— Um presente para você.
Eu desembrulho o pano para encontrar uma adaga de prata curva com
um cabo incrustado de joias.
— Pertenceu aos meus pais e agora estou passando pra você, — diz
Grayson.
— Mas isso parece uma preciosa herança de família. Por que me dar
algo assim? — eu pergunto, espantada.
— Porque... eu vou te ensinar a se defender.
KADEN

A Matilha da Liberdade. Muito inteligente, Mara.


O último lugar que eu esperaria que um membro da Matilha da
Pureza fosse é neste buraco sujo.
Mas Mara não é como as outras garotas da Matilha da Pureza. Ela não
tem os mesmos constrangimentos e timidez profunda.
Este lugar é provavelmente um respiro de ar fresco para ela.
Enquanto torço meu nariz com o cheiro de odor corporal flutuando
do lado de fora da entrada, não consigo imaginar que este lugar já tenha
cheirado fresco para alguém.
Espero que o fedor disfarce meu cheiro enquanto puxo minha capa
firmemente contra meu corpo e caminho pelo matagal.
Normalmente eu não teria ideia de para onde estou indo, mas a
energia de Mara permeia o ar e me atrai para ela.
Quanto mais longe eu vou, mais forte o cheiro dela fica...
Mais anseio por seu toque...
E mais forte é o desejo de estar com minha companheira.
Mas isso é impossível. Não importa o quanto eu queira. Eu não posso
ceder a esses impulsos.
Já sequestrei Mara no meio da noite uma vez. Posso fazer de novo...
embora em circunstâncias diferentes desta vez.
Encontro-me no meio de uma praça da cidade que está vazia, exceto
por uma fonte patética.
Meu olhar é atraído para uma casa próxima com uma luz solitária na
janela do andar de cima.
Mara está naquela sala. Eu posso sentir isso.
Sinto-me compelido a caminhar em direção à casa, mesmo sabendo
que não deveria.
Controle-se, Kaden. Você vai estragar tudo.
Quando vejo a luz se apagar, subo por uma treliça coberta de hera até
a janela do segundo andar que está entreaberta.
E se ele descobrir sobre isso?
Ele vai me obrigar a fazer algo terrível...
Foda-se, vou correr o risco. Ela é minha companheira... eu preciso
sentir seu toque.
Eu abro a janela e entro na sala escura.
MARA

Eu visto uma camiseta larga enquanto me preparo para dormir,


provavelmente uma camiseta velha de Grayson. O calor aqui nunca
diminui, então abro a janela, esperando pelo menos uma brisa.
Eu deslizo a adaga de Grayson sob meu travesseiro por segurança.
Ele é um excelente professor e já me sinto mais forte, não tanto meu
estado físico, mas meu estado de espírito.
É bom apenas estar fazendo algo e não simplesmente esperar que o
destino siga seu curso.
Eu apago minha luz e vou para a cama, deitando sobre as cobertas e
me abanando.
Estou exausta por causa da minha corrida com Grayson hoje e assim
que minha cabeça bate no travesseiro sinto meus olhos ficando pesados.
Pisco quando a fresta de luz da minha janela é repentinamente
coberta por uma sombra.
Há alguém no quarto comigo.
Eu rapidamente deslizo minha mão sob meu travesseiro, agarrando a
adaga.
— Quem está aí? — eu grito.
A figura sombria não responde, mas também não se move.
Eu deveria estar pirando, mas algo sobre sua presença está acalmando
meus nervos como se eu estivesse sendo massageada de dentro para fora.
Meu corpo inteiro está formigando.
A figura sombria de repente se lança sobre mim, mas antes que eu
possa gritar, sua mão cobre minha boca e a sensação mais extraordinária
que já experimentei percorre meu corpo.
Faíscas se iluminam quando sua mão desliza afetuosamente pela
minha bochecha.
Ele passa o dedo pelos meus lábios e eu os abro um pouco, querendo
mais.
Minha cabeça está girando, meu corpo cambaleando, mas uma
palavra quebra toda a euforia e ecoa em minha cabeça...
— Companheiro, — eu digo pausadamente.
Eu beijo seus lábios e ele retribui com paixão.
Eu nem sei quem é esse homem, mas agora, eu não me importo.
Só sei que o quero mais do que qualquer coisa na minha vida.
Estamos conectados...
Somos um só...
Perfeitamente sincronizados.
Seus beijos começam a se arrastar pelo meu corpo e eu agarro seus
cabelos empurrando sua cabeça para baixo.
Eu quero senti-lo dentro de mim tanto quanto desejo seu toque na
minha pele.
Eu me rendo completamente quando ele abre minhas pernas e sua
língua me dá prazer de uma maneira que eu nunca pensei ser possível.
Eu aperto meus seios e jogo minha cabeça para trás, gemendo de
êxtase.
Eu odeio o quanto amo isso.
Ele explora sem pudor o resto do meu corpo com a língua enquanto
eu cravo minhas garras em suas costas.
Eu quero mais. Eu preciso de mais.
Enquanto eu envolvo minhas pernas em volta de seu corpo, monto
nele, quando de repente ele me empurra abruptamente.
Sua respiração se intensifica como se ele estivesse com medo e sem
aviso prévio ele se levanta, afastando-se da cama.
— Espere, — eu grito enquanto ele rapidamente sobe pela janela
aberta e desaparece.
— Quem é você?
Capítulo 18
O PECADO VALE A PENA A Deusa da Lua realmente observa cada
movimento nosso?
Eu tenho minhas dúvidas...
Parece que ela deve ter coisas melhores para fazer, mas de vez em quando, é
agradável imaginar que uma deusa onisciente e luminescente está cuidando
de mim.
Minha fé sempre foi um pouco instável, mas sempre me dá conforto quando
mais preciso.
Então, sim, se a Deusa existir, eu realmente espero que ela sorria para mim de
vez em quando e me envie uma ou duas bênçãos.
Mas não ontem à noite...
Eu rezo para tudo que é de mais sagrado que ela estava olhando qualquer
outra coisa que não seja o que estava acontecendo na minha cama na noite
passada.
MARA

Ainda me sinto entorpecida depois do que aconteceu.


Eu tenho um companheiro, caralho.
E um que aparentemente é um covarde, já que fugiu no momento em
que as coisas estavam esquentando.
Não me arrependo da noite passada. Não me importo se sou uma loba
não marcada. Parece tão certo.
Meu único arrependimento é não ter descoberto quem diabos é meu
companheiro.
O punho de Grayson passa zunindo pelo meu rosto e eu caio no chão,
assustada.
— O que diabos você está sonhando acordada? concentre-se, Mara, —
ele grita comigo.
Estamos treinando perto do lago de novo, mas focar em qualquer
outra coisa, exceto em meu companheiro misterioso, parece impossível
agora.
— Desculpe, não dormi muito, — digo, pegando sua mão e
levantando.
— Assuma a posição, — ele late.
Grayson dá uma série de socos, que bloqueio com sucesso até o último
me acertar, me derrubando novamente.
— Droga, — eu grito, frustrada. — Você não está me dando tempo
suficiente.
— Isto não é uma creche, Mara. Eu não estou aqui para cuidar de
você. Estou aqui para ajudá-la a atingir o seu potencial máximo, —
Grayson me repreende. — Mas você precisa me dar tudo de si. O que está
acontecendo com você esta manhã?
Não estou disposta a contar para Grayson sobre minhas escapadas
sexuais com um companheiro misterioso da meia-noite, então decido
mentir.
— Estou apenas preocupada com Kaden vindo atrás de mim...
Espere, por que não estou mais preocupada com isso?
— Esse é o objetivo deste treinamento, — diz Grayson, suspirando. —
Então você estará pronta quando ele o fizer. Agora levante-se.
No momento, estou cheia de frustração sexual reprimida, então posso
muito bem direcioná-la para algum lugar.
Eu puxo minhas garras e golpeio Grayson, lembrando do trabalho de
pés que ele me ensinou para manter meu oponente na defensiva.
Eu me abaixo quando ele dá um soco e acerto a boca de seu estômago,
derrubando-o.
Ele olha para mim, rindo de surpresa.
— Ei, eu não te ensinei isso... que porra é essa?
— Foi improvisação, — eu dou de ombros, sorrindo.
Desta vez, ajudo Grayson a se levantar.
Eu noto o tronco de árvore com o entalhe — G + L — novamente.
— Grayson... o que aconteceu com sua companheira? Evan disse que
ela desapareceu há muito tempo, — eu digo com cautela.
Ele corre os dedos pelos contornos irregulares do coração cravado no
tronco e parece que está pensando em tempos mais agradáveis.
— O nome dela era Lexia, — diz ele. — Ela foi levada... pela Matilha da
Vingança. Ela era ainda mais jovem do que você quando aconteceu.
— Foi o Kaden? — Eu pergunto, engolindo em seco.
— Por membros de seu bando. Ele não tinha controle sobre eles nessa
época — Grayson diz em tom grave. — Eu não tive notícias ou senti o
cheiro dela após o seu desaparecimento.
— Mas você deve ter procurado por ela, certo? — eu pergunto,
horrorizada.
— Fui amaldiçoado naquela mesma noite, Mara. Tentei lutar contra
eles, mas a brigada da Vingança tinha um feiticeiro com eles. Ele me
rogou uma maldição e sumiu com a única pessoa que poderia quebrá-la.
— Mas ela é sua companheira. Por que você não está procurando por
ela dia e noite? — eu digo indignada.
— Eu nunca a marquei... nós éramos muito jovens. Uma vez que
ambos os parceiros percebam sua conexão, se eles não forem marcados,
com o tempo a conexão desaparece. Eu não saberia onde encontrá-la...
isso se ainda estiver viva.
As palavras de Grayson ecoaram na minha cabeça.
Uma vez que ambos os parceiros percebam sua conexão, se eles não forem
marcados, com o tempo a conexão desaparecerá.
Quem é meu companheiro? Nossa conexão também desaparecerá?
Deve ser a sensação mais triste do mundo, saber que sua alma gêmea
está por aí em algum lugar, mas não saber como encontrá-la.
— Sinto muito, — eu digo, pegando sua mão. — Ninguém deveria ter
que viver com isso.
— Você aprende a conviver com suas maldições, Mara. Se não o fizer,
elas o engolirão inteiro. — Eu quero confortá-lo, dizer a ele que ainda há
esperança...
Ela pode ainda estar por aí, apenas esperando que ele a encontre, mas
o meu lado que teria acreditado nisso não existe mais.
Grayson está certo. Temos que aprender a conviver com nossas
maldições.
— Já treinamos bastante por hoje. Vamos voltar, — ele diz, sentindo
minha inquietação.
Enquanto caminhamos silenciosamente de volta para a cidade, através
do mar de abetos, noto marcas de garras cravadas em uma árvore bem à
frente.
Também há marcas de garras na próxima...
E na próxima.
Cada árvore no caminho está coberta de cortes profundos.
Uma sensação de pavor toma conta do meu corpo quando vejo uma
mensagem gravada na árvore mais alta com as mesmas marcas de garras.
— Valeu a pena o pecado? — Grayson lê em voz alta.
Ele me lança um olhar sem entender.
— Kaden, — eu digo, minha voz travando na minha garganta. — Ele
está aqui.
E ele sabe quem é meu companheiro...
KADEN

— Valeu a pena? — Eu grito comigo mesmo enquanto ando de um


lado para o outro. — Valeu a pena arriscar a segurança de Mara?
Eu não posso acreditar o quão impulsivo eu fui. Agora Mara sabe.
Ela sabe que tem um companheiro.
Meu único consolo é que ela não sabe que sou eu.
Eu nunca tive a intenção de tocá-la... prová-la...
Ainda posso sentir sua doçura em meus lábios e quero mais.
— PUTA QUE PARIU. — eu rosno furiosamente, pegando a cadeira
mais próxima e a jogando contra a parede.
Deixei meu desejo por Mara me dominar, mas não vou deixar isso
acontecer de novo.
Se ele descobrir que Mara é minha companheira...
Um arrepio percorre minha espinha. Eu vi um monte de coisas
horríveis na Matilha da Vingança, mas nada me assusta como ele.
As pessoas pensam que sou um monstro... sou apenas um monstro
por causa dele.
Se ele perceber que estou agindo contra sua vontade eu estou ferrado.
Mas tenho outros problemas agora, aquele tal Alpha da Matilha da
Liberdade.
Eu olho ao redor da — humilde — casa de Grayson, cheia de móveis e
ornamentos feitos à mão.
Eu rosno ao pensar naquele hippie de merda sozinho na floresta com
Mara. Se tocar nela vou cortar sua garganta.
Mara está em perigo aqui. Grayson é amaldiçoado — a maldição foi
conjurada por minha própria família.
Eu deveria saber o perigo que ele representa para Mara melhor do que
ninguém.
Eu também tenho essa mesma maldição de merda. É justamente por
isso que ele representa uma ameaça para mim também. Ele não vai
simplesmente desistir de Mara e não é como se ela fosse vir comigo de
boa vontade.
Então eu vou ter que dar um jeito nele.
Arrasto uma cadeira de madeira pelo chão e a coloco no meio da
entrada da casa de Grayson.
Agora só tenho que esperar aquele desgraçado voltar para casa. Ele vai
se arrepender de ter chegado perto da minha companheira.
A maçaneta começa a abrir, sento-me e meus lábios se curvam em um
sorriso.
Quando Grayson me vê sentado casualmente em seu corredor, ele me
lança um olhar de puro desdém.
— Sempre aparecendo onde você não é bem-vindo, mas também onde
que você é bem-vindo hoje em dia, não é mesmo? — ele diz
sarcasticamente.
— Você tem algo meu e eu quero de volta, — eu rosno, brandindo
minhas garras.
— Ela não é sua propriedade, seu psicopata, — Grayson rosna de volta.
— Eu nunca disse que ela era minha propriedade, — eu digo,
estreitando meus olhos.
Grayson de repente parece entender tudo e ele tem que se apoiar
contra a parede.
— O que ela é para você? — Grayson exige uma resposta.
— Eu te disse. Ela é minha — eu rosno possessivamente. — E se você
colocar um único de seus dedos imundos sobre ela...
— Você é... você é o companheiro dela, não é? — ele diz, chocado.
Eu imediatamente fico de pé e mostro minhas presas.
— Nunca repita isso ou vou rasgar a porra da sua garganta, — eu
rosno.
Os olhos prateados de Grayson de repente ficam em um tom
profundo de vermelho.
— Eu nunca vou deixar você levá-la! — eu rosno.
— Não me lembro de ter perguntado — exclamo, me lançando contra
ele.
Nós quebramos as paredes da casa frágil como se ela fosse feita de
papel, destruindo tudo em nossa fúria.
Grayson consegue dar um soco de sorte e me joga contra a parede da
sala para a cozinha.
As costuras da minha roupa rasgam quando eu começo a me
transformar.
Dói tanto como se fosse um veneno fluindo pelo meu corpo, mas
Grayson não é fraco como eu me lembrava.
— Não sei qual é o seu jogo desta vez, Kaden, mas sendo sua
companheira ou não, Mara não vai voltar para a Matilha da Vingança —
Grayson grita, de pé sobre mim.
Estou tentando protegê-la, seu idiota de merda.
Eu dou uma rasteira e pulo sobre ele, cavando minhas garras enormes
de cada lado do chão.
Minha visão fica escura enquanto o ódio nubla minha mente e minha
mandíbula se abre enquanto a baba escorre no rosto horrorizado de
Grayson.
Minha voz ressoa por toda a sala.
— VOCÊ ESQUECE QUE EU NÃO PRECISO DE UMA LUA CHEIA
PARA ME TORNAR UM MONSTRO! POSSO DESENCADEAR A FERA
SEMPRE QUE QUISER!
Forçando o controle sobre mim mesmo, volto ao normal, ofegante e
respirando pesadamente.
Grayson está sem palavras.
Eu me levanto e tiro a poeira, tentando recuperar minha compostura.
— Não vou forçar Mara a ir comigo, — digo, passando por um buraco
na parede e entrando novamente no corredor. — Ela vai cair em si.
Tenho certeza que você cuidará disso.
— Por que diabos eu iria convencê-la a ir a qualquer lugar com você?
— ele cospe, ficando de pé.
Eu me viro e sorrio ao sair.
— Porque eu sei onde Lexia está... e ela é a única que pode quebrar sua
maldição.
Capítulo 19
BEIJO CONTAGIANTE
Depois de ver aquelas árvores mutiladas, eu sabia que nenhum lugar era
seguro.
Onde quer que eu fosse, ele me encontraria.
Eu não viveria minha vida fugindo.
Eu estava farta de correr.
Era hora de lutar.
MARA

Giro a colher na mesa, vendo meu cereal ficar empapado.


Leia, Evan e Grayson listam todas as razões pelas quais eu não deveria
me entregar a Kaden, mas o que eles não entendem é que eu não sou
uma cadela submissa da Matilha da Pureza.
Eu me recuso a bancar a vítima enquanto meus amigos e familiares
ainda estão em perigo.
— Não quero arrastar vocês três para isso comigo — digo. — Eu
trouxe Kaden para o seu bando e eu sei o estrago que ele pode causar.
— Já estamos envolvidos — Grayson responde, — A matilha de Kaden
sequestrou minha companheira, lembra? Ontem à noite ele estava aqui e
tentou usá-la como pretexto para me fazer entregá-la. Nada do que ele
diz pode ser confiável.
— Se você for até ele, você vai desaparecer, assim como o resto das
garotas que ele pegou, — acrescenta Evan, andando na minha frente. —
Pelo menos agora você tem uma chance. Podemos esconder você.
— Chega, — eu digo, batendo a colher contra a mesa. — Eu já me
decidi, e nenhum de vocês pode mudar isso, — eu rosno. — Eu preciso
enfrentá-lo. — Um olhar de preocupação varre seus rostos quando
percebem que não há como me convencer do contrário.
Não sei se é uma boa ideia ou não, mas é melhor do que ser covarde.
Respire.
A cada passo que dou fico mais nervosa. Estou começando a ter
dúvidas sobre ser tão teimosa, mas não posso voltar atrás agora.
Eu preciso encontrar Kaden.
O que pretendo fazer é contra tudo o que a Matilha da Pureza me fez
acreditar, mas há uma razão pela qual nunca me encaixo nisso.
As folhas rangem sob meus pés enquanto eu caminho mais fundo na
floresta.
O cabo da adaga pressiona contra minha mão. Estou mais pronta do
que nunca para finalmente enfrentar esse monstro. Pela última vez...
Meu plano é simples: vou atrair Kaden para a floresta e enquanto ele
está fixado em mim, Grayson e Evan vão prendê-lo.
O que não compartilho com os outros é meu plano de fazer Kaden
sangrar. Para fazê-lo implorar por sua vida e implorar por misericórdia.
A única incerteza é minha determinação.
Eu sei que uma coisa é desejar mal a outra pessoa, mas outra é fazê-la.
Devo acreditar que irei conseguir quando chegar a hora.
Independente disso, preciso do elemento surpresa se quiser ter
sucesso. Só espero que ele não me surpreenda primeiro.
Pela primeira vez, eu quero ser aquela que está um passo à frente neste
jogo.
Eu paro em uma clareira. Aqui, pelo menos terei a chance de vê-lo se
aproximar.
— Kaden! — eu grito.
Minha voz ecoa nos troncos das árvores e irradia pela floresta como
uma sirene.
Pareço desesperada e precisando de ajuda. Talvez Kaden chegue aqui
mais rápido se pensar que estou vulnerável.
— Você venceu, ok! Eu me rendo.., — acho que isso é suficiente para
chamar a atenção dele onde quer que esteja.
Nada. Por cinco minutos espero que ele escute meus chamados, mas
nada acontece.
Apoiada na base de uma árvore, oro à Deusa da Lua para que meu
plano funcione.
Vale a pena arriscar.
Quando minha esperança começa a se esvair, uma mão me agarra por
trás e me puxa ao redor da árvore.
Ofegante, estou pressionada entre o tronco e um corpo firme e
quente. Quando eu olho para cima, encontro os olhos escuros cruéis de
Alpha Kaden.
Ele está sorrindo, é claro.
— Você me chamou?
Meu plano era apunhalá-lo bem no coração e fugir. Mas no momento
em que sinto seu corpo pressionado contra o meu, fico sem fôlego e
minha mente trava.
— Sim... sim, — eu gaguejo incoerentemente.
Espere o quê? Por que diabos estou enrolando a língua?
Kaden prende um dos meus pulsos contra a árvore enquanto o outro
está preso nas minhas costas. Ele não tem ideia de que estou segurando a
adaga naquela mão.
— Senti sua falta, Mara — murmura ele.
Por um momento quase acredito que ele está falando sério. Mas o
brilho em seus olhos me faz pensar que sim.
Ele não suspeita que estou prestes a estragar seu jogo.
Meus dedos apertam o cabo da adaga.
— O sentimento não é mútuo — eu retruco.
Ele ri profundamente.
— Sempre com uma resposta na ponta da língua. Grayson não te
ensinou nada sobre os perigos de responder a mim?
Sua menção a Grayson fortalece minha determinação. Eu penso em
sua companheira, mantida refém pela Matilha da Vingança.
Não vou me deixar ser vítima do mesmo destino.
— Então, diga-me, Mara, por que você me chamou quando se
esforçou tanto para escapar das minhas garras?
Este é o momento que estou esperando.
Só é preciso um golpe. Um golpe tão poderoso que afunde a lâmina
profundamente em seu peito. Eu quero que ele sinta uma dor horrível.
Ele está muito perto de mim, no entanto. Eu preciso de um pouco
mais de espaço.
Enquanto sua mão enluvada acaricia meu braço não consigo não
relaxar. Eu preciso focar.
— Eu quero que você libere a companheira de Grayson, — digo com
confiança.
Eu realmente quero que ele a solte, mas esse não é o motivo pelo qual
eu toco no assunto.
Kaden levanta uma sobrancelha desconfiado.
— Por que você se preocupa com a liberdade de Lexia? — Eu engulo e
desejo não ser uma mentirosa tão ruim.
— Por que eu não deveria? É um crime preocupar-se com os outros?
— Bem, você não está realmente em posição de negociar algo assim,
— diz ele, me apertando ainda mais.
Ele tem razão. Estou imprensada entre uma árvore e um Alpha que
pode me matar a qualquer momento. Mas eu me recuso a deixá-lo me
intimidar.
— Por favor..., — eu imploro, tentando soar convincente.
Eu preciso enrolar mais para que eu possa liberar meu braço de trás
das minhas costas.
Ele sorri perversamente.
— Você só precisa... me convencer, — ele murmura em meu ouvido.
Minha mandíbula aperta enquanto me forço a olhar em seus olhos.
Quero ver a surpresa em seu rosto quando o aço perfurar sua pele.
— Como? — Eu pergunto em um sussurro ofegante.
Ele sorri e, de repente, percebo o quão perto seu rosto está do meu.
Ele está tão perto que sua respiração está se misturando à minha. Eu
sinto o gosto do ar quando sai de sua boca e bate no meu rosto.
Sua mão livre aperta minha cintura com força.
— Implore, — ele sussurra em meu ouvido.
Eu me contorço em suas mãos.
— Você é patético.
— Você parece pensar que tem alguma escolha, — Kaden comenta
arrogantemente.
Não tenho certeza do que ele está insinuando. Eu nem quero pensar
sobre isso.
— Apenas me deixe ir, — eu murmuro, tentando ignorar o fato de que
sua mão está vagarosamente deslizando para baixo da minha cintura.
A diversão em seus olhos é evidente.
— Por que?
Eu cerro meus dentes assim que seus dedos enluvados tocam minha
coxa.
— Eu não estou aqui para você me tocar assim, — eu grito.
— Por que você está aqui então?
Estou prestes a responder de maneira sarcástica quando os dedos de
Kaden alcançam a parte do meu corpo reservada exclusivamente para o
meu companheiro.
Eu suspiro de indignação e tento me esquivar, mas a pressão de seus
dedos só aumenta. E pela expressão em seu rosto, ele não vai parar.
— Você testou meus limites, Mara. Agora sou eu quem vai testar o
seu.
Suas palavras me fazem estremecer e sei que ele percebe.
— O que você quer de mim? — pergunto rispidamente.
— Diga meu nome. Diga-me que eu ganhei e darei a você a liberdade
que você tanto quer.
— Nunca, — eu rosno.
Fechando os olhos tento me concentrar em algo que não sejam as
pontas de seus dedos fazendo círculos certeiros na minha pele delicada.
Eu quero sentir nojo do seu toque, mas ele tem algum domínio sobre
meu corpo que não posso explicar. Quanto mais eu luto, mais poderoso
ele se torna.
Ele ri baixinho no meu ouvido. É óbvio que ele está gostando disso.
Como ele não gostaria?
Minha mão aperta a adaga com força. Se eu conseguir me concentrar
poderia colocar um fim nisso.
Em vez disso, minhas pernas involuntariamente apertam em torno da
mão de Kaden enquanto seus dedos enluvados me massageiam através
das minhas roupas.
A maneira como ele está controlando meu corpo me dá vontade de
gritar.
Um gemido ameaça escapar dos meus lábios, mas cerro os dentes e o
prendo dentro. Eu me recuso a dar a Kaden o prazer de ouvir isso.
— Renda-se a mim, — ele insiste.
É essa palavra que quebra seu feitiço sobre mim.
Renda-se.
Nunca! Eu nunca vou me render a esse monstro.
Em um movimento súbito, eu levanto a adaga por trás das minhas
costas e enterro-a profundamente no peito de Kaden.
Ele tropeça surpreso e me solta.
Suas mãos agarram a faca cravada em seu peito. Ele a puxa para fora e
o que vejo me dá vontade de gritar.
Um espectro horrível sai de dentro da ferida e sobrevoa nossas cabeças
em movimentos espirais. Ele abre sua boca e emite um guincho de gelar
o sangue antes de desaparecer no ar.
Aterrorizada, eu olho para Kaden e a adaga está revestida de uma
mistura espessa de fluído vermelho e preto que goteja da lâmina.
Demoro um momento para perceber o que fiz.
Eu não apenas esfaqueei o Alpha. Eu o envenenei.
O olhar nos olhos de Kaden, o que eu pensei que iria me satisfazer, na
verdade me perturba profundamente. Ele cai de joelhos na minha frente,
largando a adaga na grama.
— Não... não, não! — Eu gaguejo. Uma compaixão repentina e
inexplicável aperta meu coração ao ver o sofrimento de Kaden.
Eu caio na frente dele, agarrando seus ombros. Qualquer que seja o
veneno que Grayson usou nesta adaga, está funcionando rápido.
— Eu juro que não tive a intenção de fazer isso! — Eu imploro.
Eu queria feri-lo, enfraquecê-lo, não matá-lo com veneno.
Ele dá um leve sorriso antes de cair no chão. Eu o viro para que ele
fique deitado de costas. Ele me encara, a traição girando no fundo de
seus olhos de obsidiana.
— O que eu faço? — Eu exijo freneticamente.
Eu pressiono minhas mãos contra a ferida que jorra, mas o fluxo
quente de sangue envenenado escorre pelos meus dedos.
— Diga que você me ama, — ele engasga.
Eu paro e olho para o rosto de Kaden. Está pálido como um cadáver e
sinto o veneno dominando-o.
Ele está morrendo.
Nós dois sabemos disso.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, não sei como isso pode
ajudar.
Ficando mais fraco a cada segundo, ele luta para tirar uma de suas
luvas. Eu assisto em confusão e então encontro seus olhos suplicantes.
— Eu não posso morrer até que você saiba, — ele murmura, sua voz
tensa e sem fôlego.
Ele estende a palma da mão para mim.
Ele quer que eu o toque.
Eu não hesito.
Eu não penso.
Eu boto sua mão junto à minha, envolvendo meus dedos em torno de
seus dedos moribundos, eu me surpreendo com o que sinto.
Faíscas se formam no ar.
Capítulo 20
LINHAS DO AMOR
Como eu poderia voltar para minha matilha agora?
Eu era quase culpada do maior pecado de todos.
Além do mais, como eu poderia enfrentá-los depois do que senti na floresta?
Como meu coração poderia me trair assim, depois de toda desgraça que esse
monstro infligiu ao meu povo?
MARA

Eu olho para o corpo de Kaden.


Minha respiração continua embaçando a janela da porta do hospital.
Ele está deitado na cama, o lençol branco esterilizado cobrindo sua
metade inferior.
Seus olhos estão fechados e seus lábios estão parcialmente abertos. Ele
parece quase em paz.
Grayson se aproxima e eu mudo meus olhos em direção a ele antes de
voltar meu olhar para Kaden.
— Por que você não me contou? — Eu questiono, minha voz áspera e
instável.
Quase não falei nos últimos quatro dias. Passei a maior parte do meu
tempo ao lado de Kaden, tentando entender tudo que aconteceu.
Uma hora estou rezando para que ele acorde. Na próxima, estou
pensando em sufocá-lo com um travesseiro.
— Eu pensei que você queria que ele sofresse, — Grayson responde
alegremente.
Eu olho para ele.
Quase não dormi e estou prestes a desmaiar. Eu descanso minha testa
contra o vidro.
Eu sinto a mão de Grayson descansar no meu ombro. Eu me viro e
vejo o olhar simpático em seu rosto.
— Se eu o quisesse morto, não o teria trazido aqui, — diz ele. — Ele
ainda mantém minha companheira como refém. Eu o quero vivo tanto
quanto você. Para ser honesto, não achei que você daria um golpe tão
certeiro. O veneno foi uma precaução.
Ele está certo, mas suas palavras me oferecem pouco consolo.
Tudo o que sinto é culpa.
Não tenho certeza se é por causa do jeito que fui criada na Matilha da
Pureza ou se o sentimento é remorso genuíno.
Eu quero que Kaden acorde para que eu possa implorar por seu
perdão e, em seguida, quebrar sua cara por toda a merda horrível que ele
me fez passar.
Por que alguém faria isso com sua companheira? O homem me
sequestrou e torturou. Ele abusou de mim física e mentalmente. O fato
de eu querer o perdão dele é uma loucura.
É por isso que preciso de respostas.
— Eu estou entrando, — eu digo.
Eu empurro a porta e entro no quarto sem cor. Kaden permanece
inconsciente e sem resposta.
Sento-me ao seu lado, me inclino contra a grade da cama e vejo seu
peito subir e descer em um movimento estável e curto.
Me agarro na pouca fé que me resta na Deusa da Lua e oro para que
ele acorde, pelo menos para que eu possa obter as respostas que vão
tranquilizar meu coração e minha mente.
Cuidadosamente, eu corro meus dedos em sua pele macia e perfeita.
As faíscas me lembram que esse idiota sádico é meu companheiro.
— Ele te ama, — ouço Grayson dizer atrás de mim.
O Alpha da Matilha da Liberdade parece ferido, quebrado. Por que
Grayson está mostrando compaixão por Kaden? Ou ele está apenas
tentando me fazer sentir melhor?
— Não vai parecer real até que eu o ouça falar pessoalmente, —
respondo baixinho. — Por que ele não acorda?
Grayson suspira profundamente.
— Eu usei um veneno forte para...
Eu pulo quando Kaden estremece sob meus dedos.
Eu olho atentamente para ele, mas seu rosto permanece impassível.
Eu olho para os tubos saindo de seus braços e inspeciono a bolsa de
sangue envenenado que está lentamente sendo drenado de seu corpo.
Eu puxo minha cadeira para trás e toco no ombro de Kaden
suavemente. Ele não responde.
Eu fecho meus olhos. Talvez eu estivesse alucinando e ele realmente
não se mexeu.
Talvez ele realmente partiu...
— Ei, tudo vai ficar bem, — Grayson me tranquiliza.
Ele me vira e me puxa para um abraço. Sinto as lágrimas começarem a
brotar em meus olhos enquanto encosto meu rosto na camisa de
Grayson.
Por que estou chorando por esse monstro?
— Grayson, tire suas mãos da minha companheira...
Eu me viro para ver Kaden olhando diretamente para mim. De
repente, as lágrimas secam.
Eu caminho até sua cama e dou um soco em seu ferimento. Seu
gemido de dor coloca um sorriso no meu rosto.
— Desculpe, — murmuro, aliviada.
Um sorriso vagaroso se espalha por suas feições e sinto meu coração
disparado começar a se acalmar.
— Bom dia, linda, — diz Kaden, sua voz áspera e quase inaudível. — É
bom ver que estamos retomando de onde paramos.
— Na verdade, já é de tarde, — eu o corrijo, colocando sua mão entre
as minhas. Meu corpo todo fica arrepiado. Ele olha para mim, sentindo a
mesma coisa.
Parte de mim ainda quer esmurrar sua cara, mas um desejo instintivo
queima dentro de mim, me dizendo para colocar meus lábios nos dele e
deixar suas mãos correrem por todo o meu corpo.
— Você tá acabada, — ele murmura, provavelmente percebendo as
olheiras sob meus olhos.
— Não posso dizer que você parece melhor eu, — retruco, apertando
seus dedos.
Ele ri. Só que desta vez não é a risada sinistra que assombra meus
sonhos. É mais caloroso, quase em tom amoroso.
— De quem é a culpa? — ele diz.
Eu olho para os meus pés, incapaz de encontrar seus olhos.
— Mara... está tudo bem, — ele murmura.
— Você é um idiota por não me dizer nada, — digo a ele.
Percebo que Grayson não está mais na sala. Kaden ri novamente.
Sem aviso, ele me puxa em sua direção, envolvendo os braços em volta
das minhas costas. Eu me apoio ao lado da cama, com medo de esmagá-
lo.
— Podemos apenas nos beijar agora e conversar depois? — ele
pergunta.
Tento me desvencilhar, mas ele me envolve com seus olhos.
Quanto mais eu encaro seus olhos escuros, menos reconheço esse
Alpha que me tem presa em seus braços.
Qualquer vestígio do assassino de coração frio que teve tanto prazer
em meu tormento se foi.
Seu jeito é o mesmo, mas é como se um novo alpha estivesse olhando
para mim.
A transfusão deu a ele uma nova alma também?
Eu corro meus dedos por seu cabelo preto macio, observando-o cair
em torno dos meus dedos.
O que estou fazendo? Isso é loucura. Eu preciso sair daqui.
— Vou chamar o médico, — digo, levantando-me.
Ele agarra minha mão, não querendo que eu vá. Seu olhar me derrete,
mas eu não quero ceder.
Na esperança de aliviar um pouco a tensão, eu me inclino sobre ele e
beijo sua testa. Quando me afasto, ele coloca as mãos em cada lado do
meu rosto e de repente sinto uma doce pressão contra meus lábios.
Nosso primeiro beijo de verdade.
Eu acordo me sentindo péssima.
Estou no quarto ao lado do de Kaden, onde a equipe fez uma cama
para mim.
Na época, eu queria estar perto dele, mas agora tudo que quero é estar
em algum lugar longe, onde possa me recuperar até que a dor em meu
coração vá embora.
A cama range e eu tiro o travesseiro do rosto. Kaden está sentado ao
pé da cama, sorrindo.
— O que você está fazendo aqui?
— Está frio.
A maneira como ele me olha sugere que ele está farto de ficar sozinho
em uma cama de hospital.
— Você dormiu treze horas seguidas, — diz ele, colocando a mão na
minha perna. — Achei melhor vir e checar como você está.
Um silêncio se instala sobre nós enquanto nos olhamos. Seus olhos
ainda são familiares e calorosos. Então, não foi uma ilusão.
Por alguma razão, eu esperava que eles fossem mais uma vez frios e
cruéis. Ele pega minha mão e se aproxima.
— Quero que saiba que não te odeio por me esfaquear. Eu mereci, —
ele diz suavemente.
— Você mereceu mesmo. Especialmente por manter o fato de que
somos companheiros em segredo, — eu digo, não tenho certeza porque
essa é a primeira coisa que eu menciono, considerando a longa lista de
coisas horríveis que ele fez comigo.
Ainda assim, preciso saber há quanto tempo ele sabe e porque esperou
tanto para me dizer.
Ele suspira profundamente como se lesse meus pensamentos.
— Eu provavelmente deveria começar do começo.
Kaden está ao meu lado em cima dos lençóis. Eu me viro de lado para
que possamos nos encarar.
— Na noite em que vim buscar você... — Ele faz uma pausa, incapaz
de encontrar meu olhar. — Na noite em que nos conhecemos, eu...
quando te toquei, senti as faíscas e imediatamente soube que você era
minha companheira.
— Então por que você...
— Apenas escute, — ele diz, me interrompendo.
Ele respira fundo, tentando se recompor.
— Eu entrei em pânico. Eu não sabia o que fazer. Eu sabia que não
poderia deixar ninguém mais ter você e nunca mais quis deixá-la longe
de mim.
— Mas por que você me aterrorizou? — Eu pergunto com firmeza. —
Por que você não me deixou tocar em você? Por que você me tratou tão
cruelmente?
Posso dizer que ele está escondendo algum segredo, um motivo mais
sombrio do que ele gostaria de compartilhar.
Estou a segundos de pressioná-lo ainda mais quando ele pega sua mão
e coloca uma mecha de cabelo atrás da minha orelha. Sua mão é tão
quente e macia.
Sem pensar, eu o trago para perto de mim.
Nós dois sabemos o que queremos. Nossos corpos se unem e nos
beijamos apaixonadamente.
Seus lábios estão ainda mais suaves do que eu me lembro. Eles já
exploraram cada centímetro do meu corpo, mas agora que conheço seu
dono, eles se tornaram ainda mais inebriantes.
Seu beijo se torna mais violento. Eu respondo na mesma moeda,
esperando que este momento nunca acabe.
Kaden se inclina sobre mim. Sinto-me indefesa sob sua paixão
impiedosa.
Minhas mãos agarram suas costas, sentindo cada contorno de seu
corpo musculoso. Nunca quis tirar a roupa de um homem tanto quanto
agora.
Kaden tira seus lábios dos meus, mal conseguindo recuperar o fôlego.
Seus olhos estão acesos com um fogo ardente que queima direto em
mim.
Ele observa meu corpo ofegante.
— Você sabe como foi difícil evitar que minhas mãos tocassem cada
centímetro de você?
Antes que eu possa responder, ele se inclina novamente, seus lábios
quentes cobrindo meu pescoço com beijos calorosos.
Meus dedos flutuam em seu cabelo, entrelaçando-se nos fios escuros e
macios.
Ele planta beijos leves no meu pescoço, sua respiração como óleo
quente no fogo.
Kaden rasga minha camisa e a deixa cair ao lado da cama. Um suspiro
escapa dos meus lábios enquanto seus dedos correm pelo meu corpo nu.
Kaden lambe meu ombro enquanto sua mão desliza nas minhas costas
para desfazer o fecho do meu sutiã.
Então a porta se abre e ouço a voz de Grayson.
— Vejo que vocês dois estão se acostumando bem com a Matilha da
Liberdade.
Eu me cubro com os lençóis enquanto Kaden se recompõe.
— O que você quer? — Kaden pergunta, enlouquecido com a
interrupção.
— Os médicos querem ver você de volta lá embaixo, — diz ele
rispidamente. — Vou dizer a eles que você precisa de um minuto. — Ele
sai, fechando a porta.
Kaden suspira e desliza o dedo ao longo da minha bochecha.
— Eu prefiro ficar com você.
Eu olho para sua ferida. Ainda está inchada e estranha.
— Não vem querer me enganar. Você ainda não respondeu às minhas
perguntas, — eu digo.
Ele estreita os olhos para mim.
— Eu gostaria que fosse fácil assim, Mara.
Eu fico olhando para ele, confusa. Ele é o Alpha da Matilha Vingança.
O que poderia torná-lo tão cauteloso?
Colocamos a roupa e descemos para ver os médicos.
Seus jalecos brancos engomados e seus tablets de última geração
parecem deslocados na alternativa Matilha da Liberdade.
— A ferida não está cicatrizando tão bem quanto pensávamos, —
conclui um deles solenemente.
— Eu sou um alpha, — protesta Kaden. — Vou me curar sozinho sem
o seu remédio.
O outro médico ajeita os óculos de aro grosso no nariz. Ele parece
nervoso com Kaden.
Eu não o culpo. Kaden é meu companheiro e ele ainda me deixa
nervosa.
— Temo que essa declaração seja prematura, — ele responde. —
Temos considerado uma possível razão pela qual você não está se
curando tão rapidamente.
Kaden e eu trocamos olhares apreensivos.
— Acreditamos que pode ser porque este ferimento foi infligido por
sua companheira, — continua o primeiro médico.
— Talvez, Alpha Kaden, você deva considerar marcá-la, — acrescenta
o segundo médico. — Completar o vínculo pode lhe dar a força para
sobrepujar o efeito do veneno.
Para minha surpresa, Kaden fica pálido e uma expressão de pânico se
espalha por seu rosto.
— O que há de errado? — Eu pergunto, pegando sua mão.
Ele procura meu rosto como se procurasse refúgio em meus olhos,
mas sua mandíbula se contrai quando ele não consegue encontrar.
— E-eu não posso te marcar, — ele gagueja.
Agora eu sinto como se tivesse sido apunhalada no coração. O que ele
quis dizer com não poder me marcar?
— Por que não? — Eu me ouço perguntando. — Você é meu
companheiro.
Eu vejo a dúvida inundar os olhos de Kaden.
— Ele quer me machucar, Mara. Ele vai me machucar ao machucar
você.
Não consigo entender o que ele quer dizer. De quem ele poderia ter
medo?
Eu não aguento mais o mistério. Eu preciso de respostas.
— Kaden, de quem você está falando? Quem vai me machucar?
Ele olha por cima do meu ombro como se estivesse com medo de que
a pessoa em questão possa aparecer a qualquer segundo.
— Diga-me! — Eu grito, agarrando-o pelos braços.
— Meu irmão.
Eu levanto uma sobrancelha.
— Kace?
Ele engole profundamente antes de suspirar e balançar a cabeça.
— Não... Coen.
Capítulo 21
LAÇOS DE FAMÍLIA Nada disso faz sentido.
Coen é o único vislumbre de bondade que vi na Matilha da Vingança.
Ele me ajudou a escapar.
Não tem como Kaden estar dizendo a verdade.
Este deve ser mais um dos jogos distorcidos do Alpha, certo?
MARA

Após a confissão de Kaden, Grayson apressa os médicos para fora da


sala. Agora somos apenas nós três.
— Explique o que está acontecendo, — eu digo.
Kaden olha para Grayson.
— Não olhe para ele. Sou eu que estou falando.
Kaden se senta na mesa de exame, tensionando seus músculos.
— Coen é meu irmão gêmeo.
— Vocês não se parecem em nada, — eu retruco.
— Somos gêmeos bivitelinos, — ele responde rispidamente. — Ele
nasceu logo depois de mim e é por isso que herdei o título de Alpha. Ele
era um irmão ciumento. Estávamos sempre competindo.
— E quanto a Kace? Ele sequer é seu irmão? — Eu pergunto, não
tenho mais certeza do que é real.
— Sim, ele é nosso irmão mais novo.
— Se tudo isso é verdade, então porque Coen se apresentou como seu
guarda-costas? — eu pergunto, cruzando meus braços. — Por que ele me
ajudou a escapar?
— Se você me deixar terminar, — Kaden diz, aborrecido.
— Tudo bem, — eu digo. — Continue.
— Quando tínhamos doze anos, Coen estava farto de ser o segundo
na linha e fugiu. Nossos pais vasculharam todas as matilhas atrás dele,
mas ele não foi encontrado. Todos nós presumimos que ele estava morto
ou nunca mais voltaria.
Então, anos depois, ele reapareceu com um único objetivo: vingança.
Ele havia aprendido a conjurar magia negra, que usou para matar nossos
pais e me forçar a cumprir suas ordens.
— É por isso que você começou a sequestrar todas aquelas garotas? —
Grayson pergunta.
A menção dos sequestros traz dor ao rosto de Kaden.
— Sim, eu me tornei o Alpha infame sobre o qual você canta. A
maldição de Coen trouxe à tona um lado vil de mim que eu não
conseguia repelir.
Minha boca abre em descrença.
— É por isso que você me mandou matar o bebê de Althea?
— Essa foi uma ordem de Coen também. E não sei o porquê ele
ajudou você a escapar. Talvez ele planejasse capturar você para ele
mesmo, talvez ele quisesse ver se eu iria atrás de você.
— Você disse que ele te forçou a fazer tudo isso, — diz Grayson. —
Como? Você é muito maior do que ele.
Kaden sorri.
— Você, de todas as pessoas, deveria saber.
Grayson aperta os olhos em consternação.
— Ele me forçava a me transformar em uma fera incontrolável, uma
tão selvagem que tudo que eu ansiava era sangue e destruição.
— Você quer dizer, — diz Grayson, juntando as peças em sua cabeça,
— Coen é responsável pela minha mudança?
— Exatamente, — responde Kaden. — Ele me forçou a pegar Lexia e
aprisioná-la nos guetos da Matilha da Vingança.
— E quanto a Milly e o resto das garotas? — Eu deixo escapar.
O rosto de Kaden se fecha.
— Coen as mantém em cativeiro para sua diversão. E quando ele se
cansa delas...
Ele não precisa terminar. Eu posso juntar as peças sozinha.
— Como sabemos que esse lado maligno não vai voltar? — Grayson
pergunta.
— Eu estava com medo disso até que os médicos mencionaram Mara.
— Eu? — pergunto.
— Sim, — diz Kaden, levantando-se e pegando minhas mãos. —
Quando você me apunhalou, quebrou a maldição. Estou certo disso.
— Era aquela coisa que saiu de você e desapareceu no ar? — Eu
pergunto.
— Sim, — responde Kaden. — Apenas sua mão poderia expulsar o
demônio que Coen selou dentro de mim.
— Se essa é a chave, então você pode me ajudar a libertar Lexia, —
exclama Grayson, socando uma mão contra a outra.
Kaden balança a cabeça.
— Eu não sei onde ela está. Não sei onde nenhuma das garotas está.
Coen as esconde de mim e eu nunca mais as vejo. Se ele descobrir que
Mara é minha companheira e que a maldição foi quebrada, ele matará
todas elas e virá atrás de nós.
Minha cabeça está girando, tentando assimilar tudo isso.
Tudo parece fazer sentido, exceto meu noivado com Kace. Eu não
conseguia ver como isso se encaixava no enredo de Coen.
— Por que envolver Kace nisso?
Kaden esfrega minhas mãos, enviando faíscas pelos meus braços e no
meu peito.
— Foi a única maneira de salvá-la do mesmo destino das outras.
De repente, pensar em todas aquelas garotas indefesas transforma as
faíscas em um inferno de raiva.
Penso no rosto cadavérico de Milly, a expressão sem vida em seus
olhos. O fato de ter confiado em Coen me dá vontade de vomitar.
— Vamos acabar com seu reinado de terror. Eu não me importo o que
vai custar.
Kaden e Grayson olham para mim com surpresa. Eles não esperavam
que eu tivesse tanta determinação dentro de mim?
Eu olho para os dois.
— Você vai me levar de volta à Matilha Vingança como sua prisioneira
e vamos encontrar a localização dessas meninas e da companheira de
Grayson.
Kaden abre a boca, mas desiste.
Em vez de discutir, ele balança a cabeça. Ele sabe que não há como eu
mudar de ideia.
— Grayson, você pode providenciar transporte para nós?
— Sim, vou começar imediatamente, — ele responde. — Podemos
conversar mais pela manhã. Vocês dois podem ficar na minha
propriedade esta noite.
— Obrigada, — eu digo antes de me virar para Kaden. — Aproveite
enquanto pode. Amanhã vou ter que te odiar novamente.
Um sorriso apareceu em seus lábios. Eu posso dizer que vai ser uma
longa noite.

— Me responda uma coisa, — murmura uma voz suave.


Minhas mãos se apertam no parapeito da janela.
— Se eu fosse te tomar para mim agora, quanto tempo você acha que
levaria até que todo este lugar ouvisse você gritar meu nome?
Um arrepio percorre meu corpo. Lentamente, eu me viro e encontro
os olhos de Kaden. A luz da lua cai assustadoramente em seu rosto.
Nossas mãos se juntam. Quando meus olhos encontram os dele, eu
noto um olhar provocador que ele não se incomoda em suprimir.
Ele me leva em direção à cama.
Um momento depois, ele envolve seus braços em volta de mim e eu
inalo seu cheiro inebriante. Ele fuça no meu pescoço, seus lábios perto
do meu ouvido.
— Diga-me, Mara... o que você quer que eu faça com você?
Eu paraliso.
Ele sabe muito bem o que eu quero que ele faça.
Ele me leva para a cama. A maneira como ele está sobre mim é tão
intimidante que não posso deixar de estremecer.
Eu me deito nos lençóis e vejo meu companheiro tirar sua camisa,
revelando o torso tatuado e musculoso por baixo. Só a visão me dá
vontade de passar a mão entre as coxas.
Estendo meu braço, chamando-o para mim. Tudo que eu quero agora
é cravar minhas garras em suas costas e gritar seu nome com todo meu
fôlego.
Kaden se inclina sobre mim, seus braços fortes apoiando seu peso.
Seus lábios descem em direção aos meus até que o suave sussurro de um
beijo me surpreende.
— O que você está esperando? — Eu pergunto provocativamente. Eu
o sinto sorrindo.
— Você vai manter sua pureza esta noite, meu amor, — ele sussurra de
volta.
Uma pontada de decepção aperta meu peito. Eu quero que ele tome
tudo de mim.
Empurrando Kaden de costas, jogo minhas pernas sobre seus quadris,
montando nele.
Sua sobrancelha levantada me diz que ele está intrigado.
Eu tiro minha camisa e jogo em seu rosto. Ele ri, levando-a ao nariz e
sentindo meu cheiro.
— Sonho em ter você desde o momento em que nos tocamos.
— Shhh, — eu digo, colocando meu dedo em seus lábios.
Eu tiro meu sutiã, deixando as alças deslizarem pelos meus ombros.
Kaden lambe os lábios e a intensidade do seu olhar sobre meus seios
aquece meu rosto. Eu posso sentir ele ficando duro embaixo de mim.
Pego as mãos de Kaden e coloco-as firmemente em meus seios.
Instantaneamente, ele começa a massagear, brincando com meus
mamilos. A sensação é como nenhuma outra que já experimentei.
Meu corpo inteiro balança enquanto ofego de desejo.
Minhas mãos agarram seus punhos, minhas unhas cravando em sua
pele.
Eu sinto seus quadris me levantarem enquanto seu membro rígido
implora para sair. Eu puxo suas mãos de mim, para seu desgosto, em
seguida, deslizo para baixo entre suas pernas.
Eu olho para cima para ver Kaden me dando um olhar cauteloso. Ele
está prestes a dizer algo, mas eu o silencio novamente.
— Não fale, — eu digo lentamente desabotoando suas calças. Abro o
zíper e coloco minha mão sobre seu volume pulsante.
Coloco as pontas dos meus dedos na protuberância latejante. Ele me
aperta mais forte e seus olhos se fecham. Estou me divertindo torturando
ele.
— Eu me pergunto o que aconteceria se eu...
Arrastando-me, enganchei meus dedos na faixa de sua cueca e a puxei
para baixo, expondo seu membro rígido.
Lambendo a palma da minha mão, eu a deslizo lentamente ao longo
de sua masculinidade.
Finalmente é demais para ele aguentar. Ele me puxa em sua direção e
me vira de costas. Eu relaxo enquanto Kaden tira minhas calças.
Ele desce pelo meu corpo, deixando um rastro de beijos no caminho.
Meus olhos se fecham quando sinto os dedos de Kaden puxar a minha
calcinha. Um momento depois, sinto seus lábios quentes em mim.
Abro os olhos e vejo a boca de Kaden pairando entre minhas pernas
abertas.
Eu me sinto tão vulnerável que minhas pernas começam a se fechar,
mas Kaden intervém. Suas mãos fortes alcançam minhas coxas e as
mantêm abertas enquanto ele se aninha entre elas.
A antecipação do que ele está prestes a fazer quase me leva ao
orgasmo.
Kaden olha para mim. Seus olhos carregam uma mensagem de amor,
luxúria e sede.
Tenho certeza de que minhas expressões traem as minhas emoções.
Ele sorri, em seguida, seus lábios me sentem molhada.
Minhas mãos agarram os lençóis e deixo escapar um gemido. Isso é
melhor do que da última vez.
Hoje à noite, ele é meu por completo.
Meus calcanhares cavam em suas costas e minhas mãos se movem
para seus ombros, agarrando-os com tanta força que minhas mãos
chegam a formigar.
Cada movimento de sua língua me faz soltar um grito selvagem de
prazer.
Uma pressão formigante começa a se formar entre minhas pernas.
Kaden percebe isso e intensifica seus esforços.
Eu tensiono meu corpo, tentando me segurar.
Kaden traz seus lábios junto ao meu clitóris e eu perco a cabeça.
Eu salto para frente enquanto ondas de prazer percorrem meu corpo.
É algo que nunca experimentei antes...
A doce liberação de um orgasmo.
Enquanto meu corpo vibra, Kaden se recusa a remover sua boca,
certificando-se de que não estou privada de qualquer prazer.
Eu caio para trás. Meu corpo está exausto.
Eu pisco para Kaden com os olhos turvos e empurro sua cabeça para
longe.
— Eu me rendo.
Ele ergue os olhos e sorri.
— Mas estou apenas me aquecendo.
Não consigo imaginar passar por aquele prazer inexplicável de novo,
mas minha ansiedade se dissolve no momento em que sinto seu dedo
indicador acariciando suavemente minhas dobras. Lentamente, ele se
move pelo meu corpo até que nossos rostos se encontram. Ele mantém a
mão abaixo da minha cintura, brincando comigo.
— Implore, — ele sussurra, beijando os cantos da minha boca.
Não tenho certeza do que estou implorando, mas não me importo.
— Por favor, por favor.
Em um movimento suave, seus dedos deslizam profundamente
dentro de mim e fico sem ar.
Sinto uma nova onda de prazer me consumir.
— Diga-me o quanto você ama isso, — Kaden sussurra em meu
ouvido, acelerando o ritmo.
— Kaden, não pare! — é tudo que consigo falar.
Ele segue minhas instruções e muito em breve estou beirando o
prazer novamente e implorando a Kaden por mais.
Com mais alguns toques de seus dedos, ele atende meu pedido.
Eu desfaleço embaixo dele, meu corpo está suado e fraco.
Enquanto recupero o fôlego, Kaden remove os dedos e se joga ao meu
lado. Eu viro minha cabeça em direção a ele. Ele estende a mão e tira uma
mecha de cabelo da minha bochecha.
— Amo você, Mara, — ele diz.
Meu coração se enche de emoção.
— Eu também te amo, Kaden.
Capítulo 22
RETORNO À VINGANÇA — Se na noite passada estava pecando,
por favor, Deusa da Lua, deixe-me pecar novamente.
Murmuro a oração com lábios cansados.
Tenho medo de acordar porque pode significar que a noite passada foi
um sonho.
Mas o cheiro dele no meu travesseiro me garante que o amor que
compartilhamos era real.
MARA

Acordo com uma deliciosa sensação entre minhas pernas que me


lembra nossa travessura noturna.
Eu me alongo nos lençóis, esticando meus músculos doloridos.
— Vamos, levante-se, — diz Kaden, entrando com um prato de bacon
e croissants. — Temos que estar na estrada em uma hora.
Quase pergunto para onde estamos indo, mas então me lembro.
O pensamento em Coen acaba com meu bom humor.
— Você já conversou com Grayson?
Kaden coloca a comida na minha frente, beijando minha testa.
— Sim, vou lhe contar o que discutimos no carro. Primeiro, você
precisa comer. Você tem um longo dia pela frente.

Assim que chegarmos à fortaleza da Matilha da Vingança, tudo


acontece em questão de segundos.
Sou arrastada do carro algemada e encapuzada. A mão de Kaden no
meu ombro é a única coisa que me mantém calma enquanto tropeço
para frente.
O medo invade meu peito.
Eu conseguiria mentir bem o suficiente para enganar Coen?
Kaden me apressa pelos corredores. Paramos abruptamente e me
sinto empurrada para uma cadeira de metal.
Seus dedos pressionam com força contra meu pescoço. Eu ouço o
tilintar de correntes e sinto meus braços puxados com força contra a
estrutura da cadeira.
Meu capuz é arrancado e meus olhos se estreitam sob a luz intensa da
sala.
O local parece familiar.
Eu logo percebo que é o mesmo quarto que Kaden me levou na noite
em que me sequestrou.
É estranho estar de volta ali, na mesma posição, mesmo que as
circunstâncias tenham mudado um pouco.
Parece que tudo o que aconteceu desde então foi um sonho do qual
estou apenas acordando.
Kaden se inclina contra a parede do outro lado da sala. Um sorriso
malicioso de diversão dança em seu rosto enquanto ele me contempla.
Estou prestes a dizer algo a ele quando vejo Coen na porta.
Sua presença me lembra que devo odiar Kaden.
— Parece que nosso jogo chegou ao fim, — diz Kaden, se
aproximando.
Sua voz é impiedosa e implacável, e me lembro do medo que uma vez
tive dele.
Este é Alpha Kaden, não meu companheiro. E eu não sou sua
companheira. Eu sou sua prisioneira.
— É uma pena, — continua. — Como eu gostei de perseguir você.
Ele me lança um olhar longo e lascivo que desce lentamente pelo meu
corpo.
Eu me sinto exposta e vulnerável, como se minhas pernas nuas
estivessem abertas para ele.
— Deixe-me ir, — eu digo com voz rouca.
Dou uma rápida olhada em Coen para ver se ele acredita na minha
atuação. Ele olha fixamente para nós dois.
Kaden está muito perto agora e se ajoelha na minha frente. O canto
de sua boca se curva em um sorriso, desafiando-me a dizer algo.
Eu olho para as mãos de Kaden e vejo que elas estão mais uma vez
cobertas por aquelas luvas miseráveis.
Ele passa a ponta do dedo sob meu queixo, olhando com prazer
absoluto enquanto eu estremeço.
— Oh, Mara... você pensou que poderia escapar de mim.
Eu puxo minha cabeça o desafiando.
— Eu deixei você me pegar, — eu retruco. — Você não fez merda
nenhuma.
Ele agarra meu queixo, quase dolorosamente.
— Vou sentir falta de brincar com você, Mara. Embora eu duvide que
seu futuro marido se oponha aos meus tormentos ocasionais.
Kaden corre o polegar sobre meu lábio inferior, e em seguida, se vira
para seu irmão.
— Coen, leve essa vadia de volta para o quarto dela. E certifique-se de
que ela não escape novamente.
— O prazer é meu, — Coen responde.
Agora que sei a verdade, seu sorriso parece tão sinistro e doentio. Não
sei como não vi isso antes.
Kaden sai da sala e agora eu realmente sinto medo.
Somos apenas Coen e eu e estremeço só de pensar no que devo fazer
se quisermos encontrar as outras garotas.
Coen destranca a porta do meu quarto e me conduz para dentro, mas
em vez de sair, ele permanece.
— Eu senti falta de ter você aqui, — ele diz, me olhando.
Cada pedaço de mim quer pegar o objeto mais próximo e acertá-lo na
cabeça, mas prossigo com o plano.
Caminhando para a cama, sento-me, apoiando em meus braços para
que meu peito fique em evidência.
— Sentiu mesmo? — Eu digo, sorrindo.
Eu tento o meu melhor para evitar que isso se transforme em um
constrangimento.
Ele dá um passo à frente, fechando a porta com força.
Meu coração dispara. Certamente ele me vê tremendo. Ele sabe, tenho
certeza disso.
— Quero conversar, — diz ele, sentando-se ao meu lado na cama.
A cama afunda sob seu peso e tento o meu melhor para não cair em
seu colo.
— É difícil não ter um companheiro, — ele começa ameaçador, — e
não deve ser fácil para você aqui, eu sei... — Ele lambe os lábios e olha
seriamente para mim. — Quero que saiba que estou sempre aqui.
Eu pulo quando ele coloca a palma da mão na minha coxa. Eu fico
olhando para ele por um momento, resistindo à vontade de dar um tapa
nele.
— Isto é, — ele continua, — se você precisar... dar uma relaxada.
É uma luta manter meu sorriso enquanto olho em seus olhos. Acho
que vejo um lampejo de dor.
Percebo o quão solitário Coen é. A perda de sua companheira o
transformou em uma pessoa amarga e destrutiva.
Ainda assim, não consigo sentir simpatia por ele. Ele amaldiçoou
Kaden e Grayson e torturou dezenas de meninas inocentes. Ele é uma
aberração sádica. Não admira que Althea tenha partido.
Eu me ajeito na cama para que nossas pernas não se toquem mais.
— Sempre vi você como a única pessoa em quem posso confiar aqui,
— confesso a ele.
Ele sorri, deslocando a mão mais para cima na minha coxa.
— Como eu disse, você pode vir até mim para qualquer coisa.
Eu quero perguntar a ele onde ele está mantendo as meninas. Eu
gostaria de ter a adaga de Grayson para que eu pudesse segurá-la em sua
garganta e forçá-lo a me dizer.
De repente, Coen se inclina e me beija, enfiando a língua em minha
boca.
No começo, eu congelo, sem saber o que fazer. Então fico enojada,
com náuseas pela sensação de seus lábios viscosos nos meus.
Ele é rude e desajeitado com seus beijos. Eu quase engasgo, mas me
contenho, mesmo quando sua mão se move até o meu rosto.
Eu aperto meus olhos e tento suportar a experiência terrível.
Sem aviso, ele me empurra para trás na cama e sobe em cima de mim.
Medo cresce em meu peito enquanto ele passa a ponta dos dedos pela
minha cintura. Isso está indo longe demais.
Onde está Kaden? Eu silenciosamente imploro para ele entrar, mas a
porta permanece fechada.
Os lábios de Coen se movem da minha boca para o meu queixo.
Eu respiro fundo e coloco minhas mãos contra seus ombros para
impedi-lo de ficar mais perto do que já está.
— Eu não acho que deveríamos estar fazendo isso! — Eu protesto.
Ele me ignora, quase machucando meu pescoço.
— Coen! — Eu insisto. — E se Kaden ouvir?
Ele rosna baixo em sua garganta, determinado a ignorar meus apelos.
Dizer isso foi estúpido da minha parte. Por que Kaden se preocuparia
com Coen e eu juntos? Ele não sabe que somos companheiros.
Além disso, Coen ainda acha que pode controlá-lo.
No momento em que suas mãos frias deslizam sob minha camisa, eu
começo a surtar. Eu empurro seu ombro, desta vez com muito mais
força.
Eu levanto meu punho para acertá-lo, mas ele me pega pelo braço e
me prende na cama.
Tento me libertar, mas ele é grande demais. Há uma expressão
doentia em seus olhos. Eu sei do que ele é capaz e não tenho dúvidas
sobre o quão longe ele está disposto a ir.
Eu respiro fundo, prestes a gritar, mas Coen tampa minha boca antes
que qualquer som escape dos meus lábios.
De repente, a porta se abre e um cheiro familiar invade o quarto.
Meu corpo suspira de alívio quando Kaden puxa Coen de cima de
mim e o joga no chão.
Eu vejo meu companheiro pegar seu irmão e levantá-lo até que seus
rostos estejam no mesmo nível. Apesar do olhar temeroso de Kaden,
Coen está sorrindo.
Meu coração para por um momento. Kaden pode tê-lo pendurado a
centímetros do chão, mas Coen sabe que ainda tem controle sobre seu
irmão Alpha.
Kaden sabe que também tem que fazer sua parte. Em vez de arrancar a
cabeça de Coen, ele o empurra em direção à porta. Coen tropeça para
trás contra a parede. Kaden me lança um último olhar e sai furioso.
O olhar em seus olhos me mata. Está cheio de arrependimento, raiva,
dor.
Coen, por outro lado, endireita a camisa, um sorriso triunfante
espalhado em seu rosto. Ele não parece mais interessado em mim e sai
sem dizer uma palavra.
Eu tomo banho e escovo meus dentes com força. Então eu os escovo
novamente, incapaz de tirar o gosto de Coen da minha boca.
Enfio meu rosto no travesseiro e grito.
Eu olho ao redor do quarto, tentando descobrir o que farei se Coen
retornar para terminar o que começou.
A noite se transforma em madrugada, mas não consigo dormir. Tenho
muito medo do que vai acontecer se baixar a guarda. Chaves tilintam na
fechadura.
Meu coração para.
Eu arranco a perna estilhaçada da mesa de cabeceira e a seguro como
um porrete.
A porta se abre e das sombras, uma figura entra.
Quase choro de felicidade quando meu companheiro vem para a luz.
Mas então eu vejo seu rosto.
Suas bochechas estão manchadas de lágrimas enquanto ele me encara.
Rapidamente, envolvo meus braços em torno dele, implorando por uma
explicação sobre sua tristeza.
Mas ele não precisa dizer uma palavra.
Eu o sinto estremecer ao meu toque e tiro minhas mãos. Elas ficam
cobertas de sangue.
— Vire-se, — eu sussurro.
Ele obedece e vejo que a parte de trás de sua camisa está rasgada em
pedaços. Dezenas de lacerações escorrem sangue por suas costas,
manchando sua camisa de vermelho e colando tiras de tecido em sua
pele.
Tudo o que posso fazer é segurar o choro.
— Ele chicoteou você, — eu digo, olhando nos olhos indefesos de
Kaden.
Levando-o para a cama, ajudo a tirar sua camisa ensanguentada,
puxando-a cuidadosamente sobre sua cabeça.
Kaden desliza para fora da cama, caindo sobre as mãos e joelhos.
As feridas estão abertas e vermelhas, escorrendo pus. Não consigo
imaginar a dor que ele está sentindo.
Enquanto seguro Kaden em meus braços, fica claro para mim o quão
sádico Coen realmente é.
Eu preciso encontrar Milly. Eu preciso encontrar todas as garotas.
E eu tenho que fazer isso logo... por todos nós.
Capítulo 23
FERIDAS DE AMOR
Estar finalmente livre de sua maldição foi uma bênção que eu nunca
pensei que experimentaria.
Mas agora eu tinha que fingir que ainda era seu prisioneiro.
Foi necessária toda a minha força para não torcer seu pescoço, mas eu sabia
que um monstro doentio como Coen abraçava a dor.
A tortura não revelaria a localização das garotas tal como matá-lo.
KADEN

Meus joelhos estão dormentes. Estou nesta posição há mais de quinze


minutos, minha cabeça baixa enquanto me ajoelho na frente do meu
irmão.
Eu poderia derrubá-lo com um golpe. Mas eu fico parado, imóvel.
Coen caminha casualmente pela sala, um longo chicote de couro
enrolado em sua mão. Agachado na minha frente, ele levanta meu queixo
com o cabo de seu chicote.
O sorriso presunçoso em seu rosto fica marcado em minha mente.
— Mamãe sempre gostou mais de você, — diz ele, examinando meu
rosto.
Eu fico olhando em seus olhos frios, jurando-o de morte em silêncio.
— Não sei porquê, — diz ele. Ele agarra meu rosto, seus dedos
cravando fortemente em minha mandíbula. — Sempre achei que você
tinha uma aparência rude e pouco evoluída.
Eu olho de volta para ele, expressando meu ódio absoluto. Ele o
ignora, continuando seu monólogo.
— E, no entanto, as garotas sempre quiseram você, — ele murmura.
Ele solta meu queixo, batendo suavemente na minha bochecha.
— Bem, olhe onde isso te levou. — Ele se levanta e continua andando
em volta de mim em um círculo. — Agora eu que estou me divertindo.
Meu estômago se revira sabendo como fui cúmplice de seus delírios.
Já perdi a conta do número de garotas que ele me forçou a sequestrar.
— A noiva de Kace é linda, — ele provoca.
Minhas mãos se fecham em punhos.
— É uma pena que você nos interrompeu, — ele continua. — Talvez
todos nós possamos compartilhá-la.
O fato de ele achar que Mara está interessada nele faz meu sangue
ferver.
— Tenho certeza de que ela teria gostado do que eu planejei, — ele
continua.
Eu começo a me levantar, mas Coen estala o chicote perto da minha
cabeça, e eu sinto a onda de choque bater no meu rosto, quase
estourando meu tímpano.
— Querido irmão. Receio que você ultrapassou seus limites
novamente. Você sabe que não posso deixar você ficar impune. Que tipo
de exemplo eu daria?
Meu olhar se fixa na ponta do chicote, que está no chão alguns metros
à minha direita.
As cicatrizes nas minhas costas são a prova de que esta não é a
primeira vez que suportei seus castigos doentios. Mas este é o primeiro
que eu os encaro como homem livre.
Estou fazendo isso por minha companheira, por Mara, por todas as
garotas que sequestrei. Esta é minha penitência.
— Que tal uma chicotada para cada metida que eu estava planejando
dar naquela vadia, hein?
Eu cerro meus dentes. Na minha cabeça, estou enrolando o chicote
em seu pescoço e observando seu rosto ficar roxo enquanto a vida é
drenada de seu corpo.
Mas, na realidade, mordo minha camisa e me preparo para o castigo
que estou prestes a receber.
O dia em que encontrarmos essas garotas é o dia em que meu irmão
morre. Isso eu prometo.
MARA
Eu corro meu polegar suavemente pelo rosto de Kaden.
Eu cuidei de suas feridas da melhor maneira que pude, dados os
curativos limitados que Kace me trouxe.
A Matilha da Pureza pode não ter me preparado para mentiras e
violência, mas me ensinou como cuidar dos outros.
Isso vai mudar quando Kaden e eu retomarmos o controle deste
território.
Enquanto eu estava cuidando dele, Kaden revelou nosso plano para
Kace. Meu ex-noivo agora estava sentado na ponta da cama, perdido em
pensamentos.
— Eu entendo se você quiser ficar fora disso, — diz Kaden, dolorido
enquanto tenta se virar e enfrentar seu irmão mais novo. — Eu não vou
usar isso contra você.
— Não, — responde Kace. — Eu quero vingança tanto quanto você.
— Fico feliz em ter você do nosso lado, — diz Kaden, sorrindo pela
primeira vez desde que entrou na sala. — Estou convencido de que as
garotas não estão aqui na fortaleza. Já examinei cada centímetro deste
lugar e não encontrei nenhum vestígio delas. O que significa que há
apenas um outro lugar onde ele poderia escondê-las.
— A Cidade da Vingança, — afirma Kace.
— Exatamente, — responde Kaden. — Eu não posso ir lá sozinho.
Coen iria suspeitar. Mas você, por outro lado... ele nem cogitaria.
Kace acena com a cabeça.
— Você tem algum plano em vista?
— Há um homem chamado X que dirige os guetos da zona leste. Ele
opera na velha usina e pode ter informações pelo preço certo.
Kace se levanta.
— Vou sair amanhã depois do café da manhã. No momento, acho que
já esperamos muito.
— Eu concordo, — diz Kaden, ofegando de dor enquanto tenta se
levantar.
— Espere um segundo, — eu interrompo. — O que diabos eu devo
fazer durante tudo isso?
— Fique aqui, onde posso ficar de olho em você, — responde Kaden.
Eu o empurro de volta na cama para que ele caia de costas.
Ele cerra os dentes, sufocando um uivo.
— Não vou esperar que seu irmão tente me estuprar novamente. Você
deixou que ele te punisse uma vez. Não espero que você consiga se
segurar da próxima vez.
Kaden faz uma cara feia. Ele sabe que estou certa.
— Você tem um plano B em mente?
— Sim, — eu digo, suavizando meu tom. — Deixe-me ir com Kace.
Os dois homens se olham para ver o que o outro está pensando. Eles
balançam a cabeça quase no mesmo momento.
— Absolutamente não, — responde Kaden. — A cidade da Vingança é
uma fossa cheia de gangues e bandidos de todos os tipos. Não é seguro.
Mesmo eu tenho cuidado quando vou lá.
— Além disso, — acrescenta Kace, — uma mulher como você vai atrair
muita atenção.
Eu não posso acreditar no que estou ouvindo.
Kaden esqueceu como eu o esfaqueei no peito? Porra, acho que posso
cuidar de mim quando estiver devidamente armada.
Então me dei conta. Eu sabia como os convencer.
— Eu sou a única que pode identificar as garotas, — eu digo.
— Não é difícil identificar uma garota da Matilha da Pureza, — Kace
responde. — Por que você acha que eu disse que você se destacaria?
— Eu não fui torturada e abusada por meses a fio, — eu respondo de
volta. — Eu vi o que apenas algumas semanas sendo uma marionete de
Coen fez com Milly. Além disso, posso usar minha suposta ingenuidade
da Matilha da Pureza como uma desculpa para ver a cidade.
Eu os vejo considerando minha proposta. É engraçado ver a expressão
no rosto dos homens quando percebem que uma mulher tem razão.
— Tudo bem, — Kaden diz calorosamente. — Mas, ao primeiro sinal
de problema, quero que vocês dois saiam.
— Vou garantir que nada aconteça com ela, — diz Kace.
— Com licença, eu irei garantir que nada aconteça comigo, — eu
respondo.
Kace olha para mim, não convencido.
— Claro, Mara.
Ele caminha até a porta e a abre, verificando o corredor antes de sair.
— Vejo você no café da manhã, — diz ele antes de fechá-la.

Na manhã seguinte, sou chamada por uma batida na porta. Com base
no padrão, já sei quem é.
Meu estômago revira.
A trava levanta e Coen entra dançando como se nada de ruim tivesse
acontecido entre nós.
— Bom dia, linda, — ele me cumprimenta, com um sorriso sinistro
estampado no rosto.
Eu cerro meu punho.
— Está aqui para me acompanhar no café da manhã? — Eu pergunto,
tentando manter a atmosfera leve e amigável.
— Como você adivinhou?
Pego seu braço estendido e Coen me leva pelo labirinto de corredores
até a sala de jantar.
A cada passo, estremeço ao pensar no que acontecerá se ele decidir vir
pra cima de mim novamente.
Não há ninguém por perto. A fortaleza está assustadoramente
silenciosa.
Quando reconheço a porta da sala de jantar, suspiro aliviada.
Pelo menos eu sei que Kace está a apenas alguns metros de distância
agora. Dois contra um são chances muito melhores.
No café da manhã, sento-me de frente para Kace. Ele não encontra
meu olhar. Eu tenho que dar o braço a torcer, ele é um bom ator.
Cutucando minha quiche, decido que agora é a hora de colocar nosso
plano em curso.
— Eu preciso de um favor, — eu digo incisivamente.
Coen levanta a cabeça quando me ouve falar. Kace apenas olha para o
leite girando em torno de sua colher.
— Que tipo de favor? — ele pergunta.
— Eu quero visitar a Cidade da Vingança.
Kace olha para cima, seus olhos escuros encontrando os meus
finalmente. Eles refletem algum tipo de emoção — medo, talvez?
— Acho que não, — diz ele.
Ele pega o jornal na frente dele, como se estivesse cortando a conversa
ali mesmo. Isso faz parte do ato ou ele mudou de ideia? Eu não sei dizer.
Eu abaixo o jornal das mãos dele.
— Por que não?
Ele suspira.
— Lá não é seguro. Você se lembra de como eles agiram em nossa
cerimônia de noivado. É uma fossa, — diz ele, enfatizando a última
palavra.
Relaxo. Kace está me deixando saber que ele está apenas
desempenhando seu papel. Eu olho para Coen, que está ouvindo, mas
não particularmente interessado em nossa conversa.
— É por isso que estou pedindo que você me leve, — eu insisto. —
Como meu noivo, você deve demonstrar ao bando que estou sob sua
proteção e ninguém deve ousar colocar um dedo em mim.
Kace estreita os olhos para mim.
— Tudo bem. Vou levá-la para a cidade, então, — ele responde, sem
rodeios. — Tenho certeza de que Coen adoraria uma pausa nas tarefas de
babá.
As palavras de Kace me deixam apreensiva. Ele deveria ter
mencionado Coen diretamente?
— Esse é um pensamento gentil, mas eu realmente não me importo,
— ele responde, arrancando a casca de uma laranja.
— Eu, no entanto, acho bom expor sua delicada noiva à realidade da
vida fora desse lugar. Talvez isso torne a perspectiva de fuga menos
agradável.
Ele pega uma uva e a rola pela mesa, depois a esmaga com a mão. Ele
ri, me dando uma piscadela que faz minha pele arrepiar.
Eu olho para a faca na minha frente.
Eu me imagino afundando a faca em seu pescoço e vendo o sorriso de
satisfação desaparecer de seu rosto.
Desculpe, Deusa da Lua, algumas regras merecem ser quebradas.
Capítulo 24
O X MARCA O LUGAR
Traga-me seus miseráveis, seus vagabundos, seus cidadãos errantes.
Sedentos para roubar livremente.
Aqueles que se recusam a mudar.
Envie estes, os assassinos, gananciosos, moralmente perdidos para mim.
Aqui, todos esses demônios têm sua vez.
Este é o credo da Cidade da Vingança.
MARA

Eu cruzo meus braços sobre o peito e olho incisivamente para Kace


enquanto ele nos leva para a Cidade da Vingança.
O corpete de couro rígido aperta desconfortavelmente contra minha
cintura, e minhas pernas parecem estranguladas pelas calças de couro
apertadas que as protegem.
Achei que tinha idade suficiente para me vestir sozinha, mas,
aparentemente, estava errada.
— Eu não precisava ter me trocado, — eu comento secamente,
mexendo com o capuz que esconde meus cachos loiros.
— Você não entende como é o lugar para onde estamos indo, — Kace
repete pela centésima vez.
— Parece que saí de um caixão, — respondo.
Ele suspira e pisa no acelerador.
Depois de vinte minutos, o horizonte aparece. Depois de mais trinta,
estamos dirigindo entre os arranha-céus.
Não temos nada assim na Matilha da Pureza, mas posso dizer pela
arquitetura que os edifícios foram construídos há muito tempo, antes da
Grande Guerra.
Multidões de pessoas se empurram nas ruas. Não parece tão ruim
quanto Kaden e Kace fizeram parecer.
Logo passamos para um bairro residencial mais tranquilo. Tudo
parece chique e recém-construído. Estou confusa.
— Apenas espere, — diz Kace, vendo a expressão em meu rosto.
À medida que continuamos descendo a rodovia, a riqueza se esvai. As
belas e modernas casas desaparecem e, em seu lugar, surgem os guetos.
Eles emergem da terra como úlceras sujas, expelindo um cheiro
pungente, resíduos e uma terrível sensação de ilegalidade.
Os prédios pelos quais passamos estão degradados e abandonados. De
repente, estou muito feliz por estar dentro de nosso carro.
Não há outros veículos na estrada ou pedestres nas ruas.
Eu juro que posso ver vislumbres de movimento nos escombros, mas
podem ser apenas meus olhos pregando peças em mim.
— Você acha que encontraremos Lexia aqui? — Eu pergunto a Kace.
— Quem? — ele responde, sem tirar os olhos da estrada.
— Companheira de Grayson. Aquele que Kad... Coen aprisionou.
— Meu palpite é que ela está com o restante das garotas, — ele
responde. — Para ser honesto, ficarei feliz se conseguirmos sair daqui
inteiros.
Eu imagino uma pobre Lexia indefesa sendo arrastada de sua matilha
e trazida para este lugar de pesadelo.
Pensar nela e em Milly, sozinhas entre essas sombras só reforça minha
decisão de trazê-las para casa.
— Aguente firme. Eu vou te encontrar, — eu sussurro sob minha
respiração.
Kace para o carro em um beco próximo a um cortiço destruído. Ele
paira sobre nós como uma torre assustadora. Tenho certeza de que isso
vai desabar sobre nós a qualquer momento.
Kace desliga o motor.
— Estamos saindo do carro? — Eu engulo em seco.
As fechaduras da porta se abrem em resposta.
— Você queria vir junto.
Ele tem razão. Eu pedi por isso. Agora eu preciso ter coragem.
Eu deslizo meu dedo na parte interna da minha bota, certificando-me
de que a faca que escondi ainda esteja ao meu alcance. Rezo para não
precisar usá-la.
Saímos do carro e sou atingida por uma brisa sufocante que tem gosto
de produtos químicos e cinzas.
O céu é uma manta inconstante de fumaça cinza e preta. Não existem
pássaros. Mesmo o sol não consegue perfurar as nuvens sufocantes, seu
brilho é quase imperceptível.
Eu puxo a capa de Kace para mais perto do meu corpo e de repente
estou feliz que ele me fez vesti-la.
— Me ajude com isso, — diz Kace, puxando uma lona esfarrapada do
porta-malas. — Se alguém encontrar o carro antes de voltarmos, iremos
para casa a pé.
Nós escondemos o carro e então saímos pelas ruas. Kace dá passos
largos, tornando difícil acompanhá-lo.
— Você não acha que poderíamos ter estacionado mais perto?
— Você vê mais alguém dirigindo? — Kace responde secamente. — Ou
ser sequestrado pela segunda vez faz parte do seu plano infalível?
Ele tem razão. Eu olho por cima do meu ombro. A rua está vazia, mas
não consigo afastar a sensação de que tudo o que fazemos está sendo
vigiado.
— Para onde vamos?
— Aquelas chaminés, — responde Kace, apontando para três tubos
grossos à distância. — Essa é a velha estação de energia.
Andamos pelas ruas laterais e passamos por terrenos cheios de
entulho até finalmente chegarmos aos arredores da estação.
Espremendo por um buraco na cerca de arame, nos aproximamos do
prédio principal com cautela. Uma grande porta de aço está
ameaçadoramente entreaberta.
A tinta verde descascada e a ferrugem se espalha em suas bordas. Eu
espio pela fenda na escuridão que é o interior.
— Bem, não podemos voltar agora, — digo, deslizando meu corpo
pela abertura.
Kace segue. À medida que nossos olhos se ajustam, vejo um longo
corredor com fios e canos pendurados no teto.
— E agora? — Eu sussurro. — Como encontramos X?
— Seu palpite é tão bom quanto o meu.
Dou um passo à frente e o silêncio é quebrado pelo barulho de vidro
sob minha bota. Tanto cuidado pra nada.
O rangido de uma dobradiça enferrujada ecoa pelo corredor.
Está na nossa frente ou atrás? Eu não sei dizer.
Prossigo, quase sem ver, tropeçando nos destroços que estão
espalhados pelo chão.
Meu pé pega em um balde de metal e ele faz barulho. Eu me culpo por
não ter pensado em trazer uma lanterna.
— Kace, você pode ver alguma coisa?
Eu não ouço uma resposta. Eu faço uma pausa. O único som que
escuto é minha própria respiração.
— Kace? — Repito, meu coração disparando.
— KaaAAaace, — diz uma voz desconhecida, zombando de mim.
Eu me viro, tentando saber de onde vem. Nem vestígio de Kace.
Quatro feixes de luz vermelha atingem meu corpo.
Uma das tochas se ergue para o céu, iluminando um homem
mascarado.
— KaaAAaace, — ele zomba novamente. — Seu amigo está bem,
querida. Ele está aqui conosco. — Ele aponta sua lanterna para Kace, que
está amordaçado com fita adesiva.
Quatro outras figuras mascaradas emergem das sombras, segurando
lâminas toscamente feitas.
Eu não titubeio.
— Estamos aqui para ver X.
— É assim mesmo? — o líder diz. — Você tem um compromisso? —
ele pergunta sarcasticamente.
— Estamos aqui em nome de Alpha Kaden, — eu respondo.
Não tenho certeza se é uma boa ideia mencionar o nome do meu
companheiro, mas espero que isso os deixe curiosos o suficiente para não
nos machucar.
— Do caridoso Alpha Kaden, hein? Essa é nova.
A lanterna do líder se apaga e ouço sussurros, em seguida, os passos
seguem em direção às sombras.
— Seu pedido está sendo processado, — responde o homem com
fingida formalidade.
Logo, uma figura se aproxima. Os homens se afastam e uma mulher
adentra no feixe de luz vermelha.
Ela está vestida como uma assassina, com calças de couro preto e uma
capa pesada.
Eu vejo o brilho de uma lâmina curva amarrada em seu cinto e um
lenço cobre a parte inferior de seu rosto.
Seu cabelo escuro e crespo está preso em uma trança, mas alguns fios
rebeldes caem em seu rosto, emoldurando seus olhos verdes eletrizantes,
que me avaliam com uma mistura de curiosidade e desprezo.
— O que você quer com o X?
Eu faço uma pausa. Eu sei que devo escolher minhas próximas
palavras com cuidado.
— Fale, garota ou eu vou acabar com você.
Sua ameaça me faz dizer a primeira coisa que vem à mente.
— Eu quero a ajuda dele para encontrar as garotas da Matilha da
Pureza sequestradas. Achamos que elas estão presas aqui.
Os bandidos ao meu redor riem e a mulher puxa o lenço para baixo,
com um sorriso nos lábios.
— Todos aqui são prisioneiros, garota.
Ela se aproxima, me inspecionando.
— E, por favor, me ajude a entender como o Alpha conseguiu colocar
seus brinquedinhos no lugar errado e por que eu deveria me importar.
Eu engulo em seco.
Se não acreditasse na inocência de Kaden, convencer esses criminosos
do mesmo será difícil. Não sei por onde começar. O que quer que eu diga
vai parecer estúpido.
É agora ou nunca.
— Kaden as sequestrou, mas foi forçado a fazê-lo por seu irmão
malvado, Coen. Foi ele que pegou as garotas e as prendeu aqui. Alpha
Kaden irá recompensá-lo por sua ajuda.
A expressão da mulher muda com a menção do nome de Coen.
— Por que eu deveria acreditar em uma vagabunda da Matilha da
Vingança como você?
Pego o capuz da minha capa e olho para Kace.
Seus olhos se arregalam. Ele sabe o que estou pensando e balança a
cabeça, implorando para que eu não o faça.
Desculpe, Kace.
Eu jogo para trás o capuz da minha capa e solto meu cabelo, deixando
as mechas loiras em cascata pelos meus ombros.
— Eu sou da Matilha da Pureza e essas meninas são minhas irmãs.

Um dos capangas mascarados abre uma escotilha no chão e seguimos


a mulher por um lance de escada de metal.
Kace está livre novamente e a tensão hostil do corredor se dissipou em
uma casualidade inquieta.
— X está aqui embaixo? — Eu pergunto.
— Sim, você o encontrará em breve, — responde a assassina.
O espaço que entramos a seguir é bem iluminado e cavernoso.
Passarelas elevadas envolvem as laterais para vários andares, e de cada
corrimão caem cortinas coloridas e aparecem suaves luzes brancas.
Parece um oásis ofuscante neste deserto sombrio.
Finalmente, vejo pessoas de todas as idades, centenas delas.
Algumas riem, algumas gritam. Outras se amontoam contra as
paredes, tentando dormir ou olhando fixamente para lugar nenhum.
— O que é este lugar? — Kace pergunta, esfregando as mãos.
— Isso tudo pertence ao X, — responde a mulher, sem se virar. — Ele
é dono de tudo nesta parte da cidade.
A gente cruza a multidão até chegarmos a uma seção do corredor
isolada por grandes telas de sucata de metal.
As garotas ficam do lado de fora em sofás. Eu examino seus rostos.
Nenhum delas é da minha matilha.
Um homem desalinhado se aproxima e conversa com uma das
garotas. Ela sorri e pega a mão dele, levando-o além das telas.
Quando meus ouvidos se concentram, ouço vozes de mulheres e
gemidos guturais de homens que emanam de trás da barreira.
A compreensão do que está acontecendo rapidamente se instala.
— Isto é um... um purgatório? — Eu pergunto.
— Você realmente é da Matilha da Pureza, — responde a mulher. —
Sim, é um bordel. Mas ninguém está aqui forçado. Minhas damas são
livres para entrar e sair quando quiserem.
— Suas damas? — Eu digo. — Você quer dizer...
Ela sorri, sem dúvida apreciando a expressão de pura confusão no
meu rosto.
— Isso mesmo. Eu sou X.
— Então, por que Kaden pensou... — Kace diz, sem se preocupar em
terminar seu pensamento.
— Vivemos em um mundo de homens, — X responde. — A arrogância
de seu gênero não tem limites.
X volta sua atenção para mim.
— Você é bem-vinda para examinar minhas garotas e qualquer outra
pessoa aqui, mas se eu tivesse uma garota da Matilha da Pureza sob meu
teto, eu saberia disso.
— Não estamos apenas procurando garotas da Matilha, — eu
respondo.
— Não? — X diz, levantando uma sobrancelha.
— Há uma da Matilha da Liberdade. Ela foi tirada de seu
companheiro e aprisionada aqui. O nome dela é Lexia.
X fica pálida. Seus olhos se intercalam entre mim e Kace.
Eu posso dizer que ela está em choque total.
Então, sem aviso, ela me agarra, empurrando a lâmina de sua adaga
em minha garganta.
— Diga-me como você sabe meu nome verdadeiro!
Capítulo 25
UMA CONEXÃO OBSCURA A adaga gira entre seus dedos.
A lâmina reflete a luz em meus olhos.
Ninguém fala.
Eu, por medo.
Ela, por frieza.
MARA

Lexia se senta na nossa frente, recostando-se em sua cadeira. Seus


olhos verdes me encaram friamente.
Estamos em uma grande sala com botões e interruptores em todas as
paredes. Deve ter sido a sala de controle da usina.
Agora são os aposentos de Lexia.
Ela nos convidou para vir aqui depois que eu insisti que não era
necessário cortar minha garganta.
Sinto que Kace e eu estamos sendo julgados.
Talvez seja o fato de que o resto dos guardas de Lexia estavam em pé
atrás dela, também olhando para nós com hostilidade.
— Então, meu companheiro disse a você meu nome, — diz ela, com as
sobrancelhas erguidas em incredulidade.
Concluí que ela não gosta do conceito de ter um companheiro.
— E como ele sabe que é meu companheiro? — ela pergunta.
Sua pergunta me confunde. Como ela não se lembra de Grayson?
— Suas iniciais estão gravadas em uma árvore na Matilha da
Liberdade, — protesto. — Eu vi com meus próprios olhos.
Lexia joga a cabeça para trás e ri.
— Ah, aquele noivado gravado em casca de árvore? Sim, eu lembro. A
garota que fez essa marca morreu há muito tempo.
Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Como ela pode repudiar
seu companheiro?
— Mas Alpha Grayson...
— Eu não preciso de um companheiro, muito menos de um Alpha! —
Lexia afirma.
Eu mordo minha língua. A boca de Lexia se contorce em um sorriso
quando ela registra meu medo.
Ela se inclina para frente em sua cadeira.
— Você sabe o que aprendi enquanto morava aqui?
Eu balancei minha cabeça negativamente.
— Nunca confie em ninguém, nunca — especialmente em um Alpha.
Eu vejo seu rosto ficar amargo e feroz.
Então, por razões desconhecidas para mim, a severidade desaparece
do rosto de Lexia e uma risada louca emana de sua garganta.
Ela se dobra, quase caindo da cadeira.
Seus olhos brilham loucamente e me dou conta de como todos na
Cidade da Vingança são malucos.
Provavelmente estaria, também, se passasse tempo suficiente aqui.
— Amigo? Ninguém aqui quer um companheiro de merda! E um
Alpha? Você deve estar brincando comigo... sério, me diga que você está
brincando.
Eu fico olhando para ela sem expressão. Ela realmente está fora de si.
— Temos novidades, — ela ri, percebendo minha expressão, — Eu não
conheço uma única alma aqui que não mataria um alfa se tivesse a
chance.
Sua indiferença é desconcertante. Talvez eu não tenha explicado a
situação bem o suficiente.
— Todas as noites seu companheiro é forçado a se transformar em
uma fera furiosa. Eu vi em primeira mão. Ele quase me matou.
— Certo, — Lexia diz. — Coen o amaldiçoou também. É isso mesmo,
certo?
— Sim, e você é a única que pode quebrar a maldição. Se você voltar
com a gente, você pode libertar Alpha Grayson e...
— Escute, vadia, passei os últimos seis anos lutando para chegar ao
topo. Esta parte da cidade funciona como um negócio. Se você não está
no topo, você não vale nada, — ela diz cruelmente.
Ela faz uma pausa antes de continuar.
— É comer ou ser comido neste lugar. Você tem ideia do que é preciso
para ganhar respeito nesta cidade?
Estou em silêncio. Claro que não.
— Você acha por um segundo que eu vou embora porque alguma
princesa da Matilha da Pureza vem aqui me culpando por causa de um
companheiro que eu não quero?
Encolhendo-me, eu abaixo meu olhar.
— Não, eu...
— O que? Fale, princesa. Talvez se você sair dessa sua bolhinha
privilegiada para que eu possa ouvi-la direito.
Eu engulo, apesar da minha garganta seca. Ela me deixou sem fôlego e
não tenho certeza de como responder.
Na verdade, estou começando a ficar irritada com o quão pouco ela se
preocupa com a situação de Grayson.
Sem mencionar que ela continua me chamando de — princesa.
Kace coloca a mão no meu braço, sentindo minha irritação.
— Se você não voltar com a gente, vai pelo menos nos ajudar a
encontrar as garotas sequestradas? — ele pergunta.
Lexia joga os pés em cima da mesa e tira sujeira das unhas com a
adaga.
Kace e eu ficamos em silêncio esperando seu veredicto. Minha mente
se desloca para a faca na minha bota. Ainda não está claro para mim se
vamos conseguir sair deste lugar ou não.
Ela continua sentada em sua cadeira, seu humor mudando novamente
e bate a lâmina contra sua mão.
— Eu não sei onde as garotas estão. Mas eu gosto de vocês dois. Seus
corações são bons.
— Isso significa que você não tem nenhuma informação para nós? —
Eu pergunto.
— Olha, eu vou te dizer o que eu sei, mas eu não quero nem sentir o
cheiro de vocês no meu território novamente.
Ela continua.
— Eu não preciso de estranhos metendo o nariz no meu negócio,
principalmente Alpha Kaden e o resto de seu clã consanguíneo. — Tenho
medo de pensar no que ela faria se soubesse que estava falando com a
companheira e o irmão mais novo de Kaden.
— Kaden foi inteligente ao enviar embaixadores. Se ele tivesse vindo
pessoalmente, eu teria cortado sua garganta, — ela acrescenta,
admirando sua adaga.
— Nós prometemos que você nunca mais nos verá novamente por
aqui, — Kace concorda. — Não vamos contar a ninguém sobre este lugar.
Lexia parece satisfeita com sua resposta.
— E você? — ela pergunta, olhando para mim.
— Se as pistas me apontarem de volta para cá, você me verá
novamente.
Ela sorri.
— Se você se cansar de trabalhar para o Alpha, eu poderia usar alguém
com sua coragem.
— A informação? — Kace pressiona.
— Alguém está ansioso, — brinca Lexia. — Sua companheira está
entre elas ou algo assim? Ou você gosta de bancar o herói mesmo?
— Por favor, — eu pergunto. — Não podemos ficar aqui muito mais
tempo.
— Quer dizer que não vai jantar conosco? — Lexia pergunta
seriamente. — Estamos assando os corpos agora.
Kace e eu trocamos olhares preocupados. O que ela quer dizer com
corpos? Antes que eu possa resmungar uma desculpa do por que não
podemos comparecer, Lexia cai na gargalhada de novo.
— Vocês caem muito fácil, — diz ela. — Você realmente acha que
comemos nossa própria espécie?
Lexia se levanta e enfia a adaga de volta em seu cinto.
— Tudo bem, vou parar de brincar com você. Aqui está o que eu sei.
Há alguns meses, esses homens estranhos chegaram aos guetos do norte.
Ela continua.
— Não muito depois, as pessoas começaram a desaparecer. Logo,
todos fugiram para o sul, e agora ninguém passa dos trilhos.
— Estranho como? — Kace pergunta.
— Todos eles usam sobretudos e raspam a cabeça. E cada um deles
tem uma marca escura no rosto.
— Como uma tatuagem? — Eu pergunto.
— Não, elas não são desenhos. Como marcas de nascença ou uma
mancha. Todos eles compartilham essa mesma forma. Eles meio que se
parecem com ampulhetas, — ela responde. — Aqui, vou desenhar para
você.
Lexia pega sua adaga e grava um — X — na mesa, então conecta as
pontas de forma que forme dois triângulos com suas pontas se tocando.
— Pronto, parece algo assim.
Eu traço o contorno com meu dedo. A forma parece inocente, mas
quanto mais eu olho para ela, mais sinistra ela fica.

Felizmente, o carro está onde o deixamos e voltamos à civilização sem


problemas.
Assim que puxamos o portão da fortaleza, eu pulo para fora do carro e
corro para os aposentos de Kaden.
A viagem não foi tão frutífera quanto eu esperava que fosse, mas pelo
menos resolvemos o mistério do que aconteceu com a companheira de
Grayson. Ainda não sei como vou dar a notícia a ele. É claro que não há
como salvar Lexia.
— Indo para algum lugar?
Eu me viro para ver Coen parado atrás de mim. Seus olhos se arrastam
pelo meu corpo e não posso evitar o arrepio de nojo que desce pela
minha espinha.
Tenho um desejo poderoso de socá-lo bem no rosto.
— Espero que você não esteja tentando se esgueirar para os aposentos
de Alpha Kaden, — ele brinca, como se soubesse mais do que aparentava.
Eu respiro fundo.
— Eu estava só de passagem.
— Você se importaria de se juntar a mim, então? — ele responde, sua
voz suave como brisa.
Lembro a mim mesma que ainda não temos informações suficientes
sobre as garotas.
Tudo que eu preciso é de alguma pista de onde ele as está mantendo.
Naquele momento, vejo Kaden nos observando do topo da escada.
Ele parece diabolicamente bonito, mas seus lábios estão definidos em
uma linha sombria.
Ele disfarçadamente bate algumas vezes em seu relógio, em seguida,
faz um gesto por cima do ombro.
Ele quer que eu o encontre em seu quarto quando eu terminar.
E eu quero.
— Então, — murmuro, voltando minha atenção para Coen, — por que
você e eu não conversamos sobre isso no seu quarto?
A ideia parece agradá-lo e ele me leva escada acima.
Quando chegamos ao quarto de Coen, ele se joga na cama. Ele
claramente espera que eu me junte a ele.
Em vez disso, vagueio pelo quarto, tentando fazer parecer que estou
inocentemente fascinada com o que me rodeia.
Na verdade, estou vasculhando o local em busca de qualquer
informação útil que possa encontrar.
— Eu já te disse que você é linda? — Coen pergunta preguiçosamente.
Eu franzo o rosto, feliz por ele não poder ver, pois estou de costas.
Os papéis em sua mesa contêm pouco mais do que rabiscos mal-feitos
de um psicopata entediado.
— Talvez, — eu respondo, continuando minha busca velada.
O quarto é surpreendentemente vazio para um sequestrador
assassino, embora me ocorra que os ornamentos simplórios não são
diferentes do meu próprio quarto.
— Bem, você é linda, — ele insiste.
Antes que eu possa dar mais um passo, eu o sinto atrás de mim.
Seus braços envolvem minha cintura e eu recuo quando seu peito
pressiona contra minhas costas e seus lábios acariciam minha nuca.
— Como você está nervosa! — Ele provoca, rindo no meu ouvido.
Soltei uma risada ofegante, tentando soar descontraída.
— Estou um pouco nervosa, Alpha Kaden pode entrar novamente, —
eu respondo, minhas mãos apoiadas contra a mesa.
Ele me empurra para frente, esfregando sua pelve contra minhas
costas.
— Ele não vai, — Coen me assegura, tentando mordiscar minha
orelha. — Eu me certifiquei que ele entendesse quem manda.
Coen ainda não tem ideia de que seu domínio sobre Kaden foi
quebrado.
Eu me pergunto como vai ficar sua cara quando ele descobrir.
Coen parece mudar de ideia sobre me levar para a mesa e me empurra
para a cama.
Sento-me nervosamente na beirada enquanto ele se deita nos lençóis,
me olhando com interesse.
Enquanto ele tira os sapatos e as meias, eu vasculho minha mente,
tentando pensar no que fazer a seguir.
Então, algo em seu tornozelo chama minha atenção. É um par de
manchas escuras, cada uma não maior que uma moeda.
Eles parecem aleatórios, mas de alguma forma familiares.
Eu inclino minha cabeça e imediatamente reconheço a forma.
É uma ampulheta.
Eu congelo, paralisada. Tento esconder meu medo, mas é tarde
demais.
— Oh, você notou minha marca, — diz ele, enrolando a perna da
calça. — Você gosta disso?
— O que é? — Eu pergunto, fingindo curiosidade.
Coen esfrega o polegar contra a marca, em seguida, olha para mim e
sorri.
— É minha maldição.
— Como você conseguiu isso? — Eu pergunto, esperando por outro
bocado de informação.
Ele balança a cabeça e sorri.
— É um segredo. Mas chega de falar sobre mim, — diz ele, acariciando
meu cabelo. — Vamos falar sobre você.
Eu olho em seus olhos e sei que preciso agir rapidamente.
Eu me levanto sem dizer uma palavra.
Eu preciso sair daqui. Eu preciso encontrar Kaden.
A tatuagem de ampulheta é apenas uma pequena pista, mas é um
começo.
— Onde você está indo? — Coen pergunta.
Eu lanço para ele um sorriso doce.
— Ao banheiro feminino. Tenho andado com a Matilha da Liberdade
nos últimos dias. Eu preciso me recompor.
Estou prestes a abrir a porta, mas pulo para trás assustada quando
Coen se lança para fora da cama.
Ele gira em torno de mim, bloqueando minha fuga. Ele bate à porta.
— Oh sério? — ele diz. — Mas estamos apenas começando a nos
conhecer...
Eu engulo em seco.
Eu preciso passar essa informação para Kaden.. mas eu sei que Coen
não vai me deixar.
Como vou sair daqui?
Capítulo 26
TRAMAS E PACTOS
Temos um rastro, uma pista.
Agora eu preciso sair daqui.
Mas aquele olhar em seus olhos...
Que preço estou disposta a pagar para resgatar Milly?
MARA

Coen se inclina para perto.


Tento suprimir meu medo. Posso dizer pelo olhar em seus olhos o que
ele quer fazer.
Minha mente luta por uma desculpa para sair. Acho que apelar para o
ego dele pode ser a melhor maneira.
Eu cerro os dentes e me preparo para contar a maior mentira do
mundo.
— Sabe, Coen, acho que você seria um Alpha e líder melhor do que
Kaden. Ele é um covarde... enquanto você é forte e... tão bonito.
Coen sorri e eu relaxo por um momento. Isso pode funcionar. Mas
então ele me pega de surpresa.
— Você não quer ficar comigo? Se fôssemos companheiros,
poderíamos levar este bando à grandeza.
— Eu quero ser sua, — eu digo. — Mas eu quero que nossa primeira
vez seja especial, não é?
Urgh.
Meu estômago se revira quando as palavras deixam minha boca.
Eu aproveito e emendo outra mentira:
— Sem falar que estou no meu período menstrual.
Coen franze o rosto em desgosto.
Bom. Agora é minha chance.
— Vamos esperar então, — ele diz. — Eu não gosto de bagunça.
Eu evito Coen e abro a porta, lutando contra a vontade de correr
enquanto eu lentamente me afasto.
No momento em que estou fora do seu alcance, fujo para o único
lugar da fortaleza onde me sinto segura.
Batendo suavemente na porta do quarto de Kaden, ouço o barulho de
pés do outro lado.
— Espere um segundo, — diz Kaden através da porta. Tento a
maçaneta, apenas para descobrir que está trancada. Eu olho por cima do
ombro, esperando que Coen apareça a qualquer segundo.
— Eu preciso entrar! — Eu insisto em uma voz tão alta quanto ouso.
Eu ouço a fechadura abrir e não espero por Kaden. Empurrando a
porta, fecho-a rapidamente atrás de mim e a tranco.
— Por que demorou tanto? — Eu exijo.
— Desculpe, eu estava tentando me vestir. Está tudo bem? — Kaden
pergunta, seu torso sem camisa à mostra.
— Oh, você sabe, seu irmão gêmeo malvado acabou de tentar me
foder novamente. As coisas de sempre.
— É isso, vou tirar você daqui, — ele responde. — Eu não posso
suportar a ideia de ele tocar em você.
— Você não precisará fazer isso por muito mais tempo, — eu digo.
Os olhos de Kaden se iluminam.
— Você encontrou algo?
— Bem, primeiro eu preciso explicar o que aconteceu na Cidade da
Vingança.
— Kace já me contou tudo, — diz Kaden, me interrompendo. —
Lamento ouvir sobre Lexia, mas ela poderia ter sofrido um destino muito
pior.
— Kace disse a você o que ela nos contou? Sobre os homens com as
marcas?
— Sim, ele disse, — responde Kaden.
— Bem, seu irmão tem a mesma marca no tornozelo. Eu vi quando
estávamos em seu quarto. Ele me disse que é sua maldição, mas eu sei
que tem que ter alguma conexão com seus poderes.
Eu observo o rosto de Kaden enquanto ele processa as informações.
Ele está pensando em algo, mas não sei o quê.
— Você tem um plano? — Eu pergunto.
— Isso é o que estou tentando descobrir.
Ele olha para mim e seu rosto brilha. Minha mente não consegue
evitar pensar em sexo.
Anos de dogmas da Matilha da Pureza deveriam me proteger contra
tentações como essas, mas meu corpo excitado é a prova do dogma
delirante de meu bando.
— Seu zíper está abaixado, — eu digo, caminhando até ele com um
olhar sedutor.
Ajoelho-me para ajudá-lo, mas em vez de fechar sua braguilha, abro o
botão de sua calça.
Eu olho para cima para ver sua reação.
Ele lentamente coloca sua mão sob meu queixo, sua palma quente
contra minha pele.
— Suba aqui, — ele diz afetuosamente.
— Eu gosto da vista aqui embaixo, — eu digo, olhando para a
protuberância crescente em sua cueca.
Em um flash, Kaden me puxa e silencia meus protestos com um beijo
ardente.
Eu envolvo meus braços em volta do seu pescoço e saboreio os beijos
que ele marca na minha pele. Estou morrendo de vontade de ficar entre
os lençóis e deixá-lo me tomar por inteira.
Eu sinto suas mãos vagando pelo meu corpo e indo para a parte de
trás das minhas coxas.
Entendendo suas intenções, eu pulo, envolvendo minhas pernas em
volta de sua cintura.
Ele me leva até sua cama de dossel e me deita.
Eu deslizo minhas mãos sobre os lençóis de seda. Parece que estou
flutuando na água.
Kaden paira sobre mim, seus olhos brilhando com a mesma paixão
intensa que eu sinto queimando dentro de mim.
Ele retoma o ataque de beijos e lambidas que faz tão bem. Ele me livra
da camisa e do sutiã e pressiona sua pele nua contra a minha.
Suas mãos acariciam minha cintura e seios, me estimulando de
maneiras que nunca conheci.
Minhas próprias mãos exploram os sulcos de suas costas largas,
tomando cuidado com suas cicatrizes recentes.
O toque de sua boca contra meu peito me faz pular e gemer de prazer.
Eu corro minhas mãos pelo cabelo de Kaden enquanto ele levanta
meus quadris alto o suficiente para deslizar minha calça e calcinha.
Pego seu rosto com as duas mãos e o forço a olhar para mim.
— Seja gentil, — eu digo, tremendo de antecipação.
— Eu vou te reverenciar, — ele responde, beijando minha mão.
— Você sabe que eu te amo, certo? — Eu digo, quase engasgando com
a sinceridade em minhas palavras.
Seu olhar se suaviza e ele balança a cabeça lentamente.
Não tenho certeza do que aconteceu comigo, que doença do desejo e
da necessidade assumiu minha mente, mas Kaden me consome
completamente. Tudo o que desejo é estar perto dele.
— Eu não sei se serei capaz de me segurar... — Ele para, suas pontas
dos dedos passando pelo meu pescoço onde sua marca iria.
Eu pego sua mão e aperto.
— Vamos, — eu imploro, levantando meus quadris para que
pressionem contra os dele.
A doença da luxúria se espalhou por todo o meu corpo e agora está
além do meu controle.
Kaden exala e posso ver as últimas restrições de sua compostura se
esvaindo como água.
— Prometa-me que você se tornará um membro da Matilha Vingança,
— ele insiste, seus lábios roçando os meus.
Eu me sinto balançando a cabeça. Não há nada que eu não faria por
ele.
— Perfeito, — ele ronrona. — Eu não vou me segurar.
Ele tira o resto de sua roupa e me monta.
Seus olhos se embriagam ao me ver. Agora eu quero vê-lo.
Eu fico olhando para baixo entre suas pernas. O que vejo me deixa
boquiaberta.
Eu vi pênis na Matilha da Vingança, mas nenhum como o dele.
— Eles são tão grandes assim? — eu grito, alarmada com a ideia dele
cabendo dentro de mim.
Ele sorri e beija minha testa.
— Eu sou um Alpha, lembra?
Eu suspiro nervosamente. Estou totalmente indefesa sob ele, com
meus braços ao lado do corpo e minhas pernas abertas.
Ele beija meu pescoço suavemente.
— Você está pronta?
Isso está realmente acontecendo. Não há como voltar agora.
Eu aperto minha mandíbula e aceno com a cabeça.
— Sim, eu confio em você, Kaden.
E eu confio.
Ele desliza para dentro de mim e minhas unhas cravam em seus
braços musculosos.
A dor que sinto não é nada que já experimentei antes. Isso me faz
chorar de surpresa.
Kaden olha para mim, seus olhos preocupados quando ele faz uma
pausa.
— Eu posso parar se você quiser.
Eu vejo a maneira como ele fica olhando para o meu pescoço e sinto a
forma como seus músculos se tensionam.
Ele está se segurando. Contendo-se do desejo selvagem e primitivo
que eu sei que ele anseia ceder.
Eu balancei minha cabeça. Eu quero isso. Eu quero meu companheiro,
agora e para sempre.
Eu envolvo minhas pernas em volta de sua cintura, puxando-o para
perto.
Eu sinto a plenitude dele dentro de mim. Ele rola seus quadris
deliciosamente contra os meus, e a dor começa a diminuir.
Seu corpo pulsa contra o meu; o poder de cada impulso me faz gemer
incontrolavelmente.
Eu não me importo com quem ouve. Tudo que desejo é o prazer que
Kaden me dá.
Sua velocidade aumenta, para minha excitação.
Seus lábios roçam meu pescoço e posso dizer que ele está resistindo à
vontade de me marcar.
Eu capturo seus lábios com os meus, distraindo-o enquanto fazemos
amor ao luar que flui através de sua janela.
E quando de repente eu perco o controle do meu corpo, minha mente
consumida pelos pensamentos do meu companheiro, eu cravo minhas
unhas em suas costas e grito impotente.
Kaden segue logo atrás, mergulhando profundamente dentro de mim
e gemendo enquanto expele sua liberação quente.
Exausto, sinto Kaden sair de mim.
Ele rola, tentando recuperar o fôlego.
Eu viro minha cabeça e sorrio para ele, ignorando a dor persistente
entre minhas pernas.
Eu o amo.

Deitamos juntos e trocamos beijos suaves por horas.


É perigoso — estarmos aqui juntos — mas não nos importamos.
Esta não deveria ser a — nossa — história. Apaixonar-se não era o
plano.
Mas nunca senti emoções tão poderosas antes e nunca me senti tão
bem.
Somos puxados para fora do nosso mundo com o som de alguém
passando no corredor do lado de fora.
— Precisamos nos separar, caso Coen nos veja, — Kaden diz, saindo
da cama. — Eu deveria ir investigar os homens com a marca negra.
Eu tropeço para fora da cama atrás dele e imediatamente sinto o calor
inundar meu corpo. Eu balanço e Kaden me pega.
— Você está bem? — ele diz.
Eu aceno e gaguejo uma resposta:
— Sim, apenas me sentindo um pouco quente.
Nós nos vestimos, então Kaden sai enquanto eu desço para o corredor
principal para tomar café da manhã.
Kace já está sentado à mesa de jantar.
Quando me sento, sinto uma sensação de queimação percorrer meu
corpo.
Kace franze a testa para mim do outro lado da mesa.
— O que? — Eu pergunto, largando meus talheres.
— Você é companheira de Kaden, — ele responde, brincando com a
comida em seu prato, — mas ele não marcou você.
Eu franzo meus lábios.
— Não podemos permitir que Coen saiba sobre nós.
— É um jogo perigoso.
Ele parece genuinamente preocupado com o fato de que Kaden e eu
não estamos oficialmente acasalados, mas não entendo por quê.
— O que você quer dizer?
— Você vai sentir a Febre em breve, — ele diz sem rodeios.
— Febre? O que é isso?
— O que eles te ensinam na Matilha da Pureza? — ele diz, incrédulo.
— Lobisomens que não marcam um ao outro logo depois de perceber
que são companheiros ficam um pouco... loucos.
— É claro que a Matilha não sabe disso, — Kace diz para si mesmo. —
Vocês estão todos acasalados e casados, assim que fazem dezoito anos. —
Eu tento me lembrar da escola e se já ouvimos falar de algo assim. Então
eu me lembro... da Febre Escarlate.
Eles até nos ensinaram uma pequena rima:
Quando você encontrar seu companheiro, Melhor ser marcado por inteiro,
Pois se tudo que você faz é fornicar, Você será a presa Escarlate,
E uma febre em você vai borbulhar,
Sim, você terá a Febre Escarlate,
Não há mais nada que você possa fazer, Até que cada homem te encha de
prazer.
Kace continua:
— Tudo começa com o primeiro toque. Ele aumenta lentamente
conforme eles se aproximam cada vez mais, antes de finalmente estourar.
— Mas como pode ser tão forte? — Eu pergunto. — Nós só fizemos
sexo pela primeira vez na noite passada.
Kace balança a cabeça.
— Não é sexo; é baseado no toque.
Tento me lembrar. Quando Kaden me tocou pela primeira vez?
Ele está usando luvas de couro o tempo todo... mas não as estava
usando quando me arrancou da cama.
Isso foi há quatro semanas. Foi um mês inteiro da Febre aumentando.
— Por que Kaden não me contou? — Eu pergunto.
Kace dá de ombros.
— Ele provavelmente nem sabe. Antes de você, ele era apenas um
buscador de prazer e não se importava com as mulheres com quem
estava.
— O que vai acontecer comigo? — Eu sussurro.
Kace explica:
— Primeiro você terá febre... Então todos os outros lobos não
acasalados tentarão reivindicá-la.
Me reivindicar?!
— Existem centenas de lobos não acasalados que vivem na Cidade da
Vingança, — murmura Kace. — E todos eles estarão atrás de você.
Kace prolonga sua explicação, como se gostasse de me ver em pânico.
Ele continua.
— Eles vão te caçar, e você não será capaz de detê-los, porque você só
vai ser uma cadela no cio.
Kace sorri com sua piada grosseira, em seguida, pega seu prato e sai.
Uma horda de lobos com tesão vindo atrás de mim. Excelente.
Eu estou perdida.
Kaden poderia me marcar e eu não iria ter a Febre.
Mas se fizermos isso, Coen saberá que estamos juntos.
O que vou fazer?
Capítulo 27
PERSEGUIÇÃO FEBRIL
Ainda não consigo acreditar que a noite passada aconteceu.
Mara, nua, na minha cama.
Eu faria qualquer coisa para estar com ela agora.
Mas minha matilha guarda segredos obscuros.
Eu preciso saber quais são.
KADEN

Foi imprudente da minha parte fazer amor com Mara quando Coen
ainda é uma ameaça, mas nossas paixões nos fazem de tolos.
Eu quero ficar com ela, ficar perto de seu corpo quente, mas tenho
que ir embora.
Sua menção à marca de Coen não passou despercebida por mim.
Sei que ele está deixando a fortaleza por alguns dias a negócios que se
recusa a revelar. Não faz diferença.
O importante é que agora tenho liberdade para fazer algumas
investigações por conta própria.
Todo mundo pensa que eu negligenciei os podres da Cidade da
Vingança, mas isso faz parte do meu plano.
O governante dos guetos sabe de tudo e de todos que vão e vêm na
minha matilha e quero ver o que dizem quando os consultar com essas
novas informações.
Só espero que o líder me deixe entrar. Não temos nos falado desde
que a roubei de sua matilha.
O fedor da cidade entra nas minhas narinas como leite estragado.
Eu furtivamente faço meu caminho através dos montes de lixo fétido
até a usina de energia, onde ela estará.
Só espero que ela não atire em mim imediatamente.
Assim que chego à porta da frente, uma flecha é disparada no chão a
apenas alguns centímetros do meu pé.
Eu olho para cima e vejo as silhuetas dos guardas, cada um apontando
uma besta para mim.
Estou cercado por todos os lados, não tenho como escapar.
— Eu só quero conversar, — eu grito, minha voz ecoando ao redor da
praça.
Uma mulher negra emerge das sombras, seu cabelo encaracolado
ondulando atrás dela.
Ela é flanqueada por seis soldados mascarados brandindo uma
variedade de porretes e machados mal construídos.
— Alpha Kaden. Tive a sensação de que você nos faria uma visita.
Alguns dias atrás, eu não reconheceria a mulher na minha frente, mas
depois das descrições de Kace e Mara, não tenho dúvidas sobre sua
identidade.
— Meu Deus, Lexia, como você cresceu, — eu respondo.
Eu deixei minha mão cair de volta para o meu lado, e Lexia fez um
gesto para que seus homens abaixem as armas.
— Fale logo, — ela diz. — Por que você está aqui?
— Estou aqui apenas para descobrir como Coen se conecta aos
homens marcados.
Lexia ri.
— Você é realmente tão cego, Kaden? Enquanto você relaxa em sua
torre de marfim, não consegue ver as formigas ocupadas erodindo suas
fundações.
— O que você está falando? — Eu pergunto, tentando o meu melhor
para permanecer diplomático.
— Uma insurreição está sendo planejada. Seu irmão e seus homens
estão apenas esperando o momento certo para desencadear o caos.
— Ele já tem o controle do bando, — eu falo de volta. — Pelo menos
ele pensa que sim. Que razão ele tem para esperar?
— Ele não está apenas atrás do seu bando de merda, — Lexia sibila,
seus olhos ganhando vida. — Ele quer controlar todas as matilhas.
Esse plano é ambicioso, mas percebo que não está fora do reino das
possibilidades.
Coen tem o poder de nos amaldiçoar. Grayson ainda está sob seu
feitiço.
Por que ele não tentaria colocar os outros alfas sob seu controle?
— Por que você está me contando isso? — Eu pergunto.
Lexia se aproxima, seus olhos esmeralda pulsando na escuridão.
— Eu nunca vou ser escrava de ninguém novamente, Kaden. Nenhum
de nós pode parar Coen por conta própria. O que você acha, Alpha? Você
está disposto a fazer um acordo?
Lexia lambe os lábios e mostra suas presas brancas ofuscantes.
Eu olho para seus homens e considero minhas opções. Se eu recusar,
há poucas chances de eu sair daqui vivo.
Eu penso em Mara. Ela não tem ideia de que estou aqui.
O pensamento de vê-la novamente é tudo o que importa.
— Tudo bem, Lexia, vamos conversar.

Eu me pressiono contra as pedras irregulares que dão para a velha


estação de trem, tentando não me mover.
Lexia arrumou um jeito para eu entrar nos guetos do norte para que
eu possa ver melhor esses homens marcados.
Eles emergem de um túnel escuro cavado no solo, transportando
caixas e equipamentos para um vagão abandonado.
Suas cabeças raspadas e respiradores dão uma aparência quase
estranha.
Para onde leva o túnel? O que tem aí?
Quando terminam de transferir a carga, eles se dispersam de volta
para os guetos, longe do túnel.
Eu me arrasto para frente, certificando-me de que a barra está limpa,
antes de correr silenciosamente para a entrada.
Eu olho para o vazio, mas não vejo nada. Com os ouvidos atentos
ouço ecos de máquinas e estrondos de metal vindos do outro lado do
túnel.
Meu instinto diz para não ir até lá, mas essa pode ser a peça que
faltava no quebra-cabeça.
Dou um passo e sou imediatamente engolido pela escuridão.
MARA

Enquanto espero por Kaden, o calor dentro de mim começa a piorar.


Nervosamente ando pelo corredor, tentando dissipar a chama que
está percorrendo meu corpo.
Eu pulo quando ouço rodas no cascalho perto do portão da frente.
Eu corro para a porta e vejo dois carros pretos passando pela entrada.
Um é definitivamente o carro de Kaden, então quem está no outro?
Os carros param e Kaden sai, seguido por Grayson e Evan.
Eu corro para Kaden e o abraço. O calor dentro de mim se dissipa
imediatamente.
— Eu fui para a Cidade da Vingança esta manhã, — Kaden diz
enquanto acaricia meu cabelo.
— Eu fui até onde os homens marcados estão e descobri que estão
operando no subsolo. Eles têm toda uma rede de túneis, que vão da
Cidade da Vingança até o Labirinto de Knossian.
— O labirinto o quê? — Eu pergunto.
— Você se lembra do labirinto onde você acordou quando eu te trouxe
aqui?
Eu estremeço com a memória. Parece que foi há muito tempo, mas
ainda me lembro do horror que senti com uma clareza chocante.
— Sim, eu me lembro.
— Eu só desci um túnel, mas havia muitos mais, — responde Kaden.
— Tenho certeza de que as garotas estão lá em algum lugar.
— Então o que estamos esperando? — Eu grito. — Vamos reunir seus
homens e invadir os túneis!
— Não é tão simples, — responde Kaden. — Eu também falei com
Lexia. Ela me disse que Coen está planejando uma insurreição para
assumir o controle de todos os bandos.
Kaden gesticula para Grayson e Evan atrás dele antes de continuar.
— Eu preciso reunir os outros Alfas antes de atacarmos. A Matilha da
Liberdade já prometeu apoio, mas preciso de mais. Isso levará alguns
dias.
— Minhas irmãs estão sofrendo lá embaixo, — grito. — Não temos
tempo para você falar com os outros Alfas. Precisamos fazer algo, agora!
— Coen é o vilão, assim que o pegarmos, podemos salvá-las, — diz
Kaden. — Mas não podemos entrar com pressa, Mara.
Sinto uma explosão de fogo percorrer meu corpo.
— Eu preciso que você fique comigo! — Eu respondo.
— Por que? Algo está errado? — Kaden pergunta, seu rosto cheio de
preocupação.
— Estou queimando quando não estou com você, — eu digo. — Kace
me contou sobre a Febre. Se você for, todos os lobos não acasalados na
cidade da Vingança vão tentar me possuir!
Kaden fica branco.
— Ah não! Não pensei que isso fosse acontecer tão cedo!
— Está aumentando desde que nos tocamos pela primeira vez, — eu
digo. — Eu preciso que você me marque!
— Eu não posso marcar você, — diz Kaden. — Se eu fizer isso, Coen
saberá que algo está errado e ele vai matar as garotas.
— O que vamos fazer então? — Eu pergunto.
— Eu organizei um encontro com os outros Alfas para esta noite, —
Kaden responde. — Assim que eu voltar marcarei você, mas agora não é o
momento. Eu tenho que ir.
Lágrimas começam a rolar pelo meu rosto. Ele está indo embora, bem
quando eu mais preciso dele.
— Ligue se acontecer alguma coisa, — diz ele.
Ele fica em silêncio por alguns segundos antes de me agarrar pela
cintura e me beijar. Ele deixa seus lábios demorarem nos meus.
Meu coração dói e minha pele esfria quando ele se vira e volta para o
carro com Grayson e Evan.
Eu fico e vejo seu carro se afastar na noite.
Mal posso esperar por ele voltar para salvar minhas irmãs.
Uma hora pode ser a diferença de uma outra garota viver ou morrer.
Eu não vou mexer um dedo enquanto Kaden estiver brincando de
diplomata.
Não tenho ilusões sobre o que acarreta a inexplicável — viagem de
negócios — de Coen.
Acho que terei que resgatá-las sozinha.
Eu corro de volta para dentro e pego Kace saindo de seu quarto. Eu
chamo por ele.
— Mara? — ele diz, virando-se. — Fique longe de mim. Não quero seu
odor hormonal aquecido perto de mim!
Eu me encolho com suas palavras, mas vou direto ao assunto.
— Kace, me dê suas chaves. Kaden me disse que as garotas estão no
labirinto. Eu vou salvá-las.

Kace insiste em vir comigo para salvar as garotas.


Ele sabe que não há maneira de me parar e que Kaden vai arrancar
cada membro de seu corpo se descobrir que me deixou ir sozinha.
A lua cheia lança uma luz esbranquiçada no labirinto.
É estranho estar de volta, olhando para as paredes das quais tentei sair
quando corri para salvar minha vida.
Tudo parece tão pitoresco da minha vista na colina, seu formato
assustador quase agradável.
Não demorou muito para localizarmos o brilho vermelho de uma
lanterna serpenteando pelo labirinto.
— Veja! Simplesmente desapareceu, — eu digo, apontando para o
local onde a luz se apagou. — Aposto que é onde fica o túnel.
Eu rastejo para frente de bruços. Quando tenho certeza de que Kace e
eu estamos sozinhos, me levanto e vou para a abertura.
Eu olho para a entrada do túnel, mas está escuro como breu. Mesmo a
lua acima de nós não consegue penetrar na escuridão.
O cheiro de solo úmido emana de dentro.
Pego uma lanterna no bolso, mas Kace faz sinal para que eu a guarde.
— Nós seremos vistos se você usar isso. Nossos olhos vão se ajustar, —
diz ele. — Até então, vamos ficar perto das paredes. Eu irei primeiro.
Estendendo as mãos, Kace caminha para o vazio.
Ouço o som de um cabo e o ranger de uma dobradiça. Ouve-se um
ruído sibilante seguido de um baque abafado.
Kace emite um grito gorgolejante e seu corpo fica mole, mas de
alguma forma ele permanece de pé. Eu coloco minhas mãos em volta
dele e descubro o motivo.
Um par de estacas de madeira projetam-se de seu peito. Foi uma
armadilha.
Nunca vi tanto sangue em minha vida.
Os olhos de Kace estão revirados. Seu corpo sem vida está suspenso
no ar como uma espécie de manequim macabro.
Eu luto para segurar o grito que está preso na minha garganta. Não
tenho dúvidas de que o grito de Kace já os alertou de nossa presença.
Eu me afasto do corpo de Kace e me viro para correr, mas alguns
metros à frente, meu caminho está bloqueado por três homens grandes
em sobretudos.
Estou presa.
Agora vou me juntar a Milly como prisioneira do labirinto.
Capítulo 28
VISÃO NOTURNA Não consigo tirar da minha cabeça a aparência
de Mara quando saí.
Foi inteligente deixá-la? Estou fazendo a melhor escolha?
Apenas três dos nove Alfas restantes vêm me encontrar Será que os outros
acham que sou somente um lobo uivando para a lua?
Eles que morram então quando a guerra chegar
KADEN

Tenho pouco tempo.


Quero voltar para Mara, cuidar dela e fazer amor incessantemente.
Mas também tenho que combater a ameaça de Coen, e essa é a única
maneira de fazer isso.
Estou na Matilha do Amor. É o único lugar que todos os Alfas
concordam em se encontrar.
O lugar me enoja. Garotas e garotos com olhos grandes e inocentes
andam seminus, agarrando-se uns aos outros.
Uma atmosfera descarada de flerte casual e feliz ingenuidade permeia
o ar.
Alpha Rylan da Matilha da Pureza e Alpha Landon da Matilha do
Poder estão sentados do outro lado da mesa. Grayson se senta ao meu
lado.
— Alguém viu Alpha Malik? — Eu pergunto. — Eu quero começar.
— Talvez ele esteja tentando matar o bebê de alguém, — Landon
comenta, lançando um olhar frio em minha direção.
É óbvio que ele ainda está chateado com Althea, apesar da minha
explicação.
A porta da sala do conselho se abre e eu encontro um par de olhos
azuis vítreos em um rosto familiar.
Alpha Malik da Matilha do Amor.
Para um Alpha, ele parece não muito arrumado. Anos de boemia
suavizaram seu corpo e avermelharam suas bochechas.
Percebo que os botões de sua camisa estão todos desabotoados e seu
cabelo está desgrenhado.
— Eu estou atrasado? — ele diz, sentando na cadeira em frente a mim.
Ele exibe um meio-sorriso arrogante, deixando claro que sua pergunta
é mais sarcástica do que sincera.
— Ora, ora. Kaden, — ele murmura.
Suas palavras se misturam no estranho sotaque cantado com o qual
essas aberrações da Matilha do Amor sempre falam.
Com o canto do olho, vejo uma jovem enfiando a cabeça pela porta.
Ela não parece ter mais de quinze anos.
Ela olha para dentro e pisca para Malik antes de se retirar. É bastante
óbvio o que os dois estavam planejando.
— Seu bando sabe que você fode garotas assim por diversão?
O sorriso de Malik não vacila. Em vez disso, seus olhos azuis
intensificam o brilho.
— Oh, Kaden. Você é sempre tão duro com tudo. Eu faço amor com
minhas parceiras, — diz ele, esticando os braços em direção ao teto.
Ele continua.
— Embora eu não espere que você entenda a diferença. Se não me
engano, é você que tem o hábito de sequestrar garotas antes de fazer sexo
com elas.
Suas palavras doem.
— É por isso que estou aqui, — respondo.
— Aparentemente, Kaden estava sob alguma maldição, — diz Landon.
— Ele está dizendo a verdade, — Grayson rosna. — Eu vi a maldição se
desfazer com meus próprios olhos. Coen amaldiçoou Kaden como ele me
amaldiçoou.
— Se você sabe como quebrar a maldição, então por que ainda está
aflito? — Landon pergunta.
— Porque só pode ser quebrado por um companheiro, — Grayson
responde, sua frustração fica evidente.
Eu vejo o desespero em seus olhos.
Já sou responsável por tanto sofrimento que não tenho certeza se
posso suportar a culpa de esconder de Grayson o que sei sobre Lexia.
— Isso tudo é fascinante, senhores, de verdade, mas podemos voltar
ao real motivo de vocês nos chamarem aqui? — entoa Rylan em seu jeito
de falar da Matilha da Pureza, sempre querendo ser o senhor da razão.
Ele e eu nunca ficamos cara a cara por motivos óbvios.
Ele cheira a uma aura hipócrita que faz com que todos se dobrem de
joelhos. Todos menos eu, é claro.
— Eu preciso de sua ajuda, — eu admito, forçando as palavras a
saírem por entre meus dentes cerrados.
Não é fácil para um Alpha solicitar a ajuda de outro. Especialmente de
Landon e Rylan, que têm todos os motivos para me desprezar.
Malik sorri. Ele está amando isso.
— E como podemos ajudá-lo? — Rylan pergunta.
— Meu irmão, Coen, está planejando uma revolta para assumir o
controle de todos os bandos.
Os outros Alfas se olham e sorriem.
— Não é uma piada, — eu rosno. — Ele criou uma legião de
seguidores e eles estão operando no subsolo dos guetos da Cidade da
Vingança.
— Parece que você tem um problema, — Landon responde. — Por que
devemos ajudar a controlar seu irmão?
— Você não entende o quão forte são seus poderes, — eu digo,
fechando minha mão em um punho. — Se ele pode assumir o controle de
Alfas como Grayson e eu, imagine o que ele pode ter sobre os plebeus.
— Esse seu irmão parece que não teve amor suficiente quando
criança. Convide-o para nos visitar eu posso remediar isso, — reflete
Malik.
Os outros riem.
— Você vai nos perdoar por não nos unirmos ao seu lado, — diz Rylan,
— mas não vou arrastar minha matilha para alguma briga familiar.
— Então você está satisfeito com o desaparecimento de mais garotas?
Isso o cala.
— E, Landon, o filho de Althea nunca estará seguro enquanto Coen
estiver por aí.
Malik se inclina para trás em sua cadeira e coça o estômago.
— Digamos que continuemos com essa história que você expôs diante
de nós. Que motivo Coen tem para iniciar uma revolta?
A pergunta de Malik é boa e não tenho certeza se tenho a resposta.
Se Coen quer assumir o poder, por que não o fez antes?
— Suas motivações não importam, — grita Grayson. — Coen deve ser
interrompido!
É claro que Grayson é meu único aliado na sala.
— Se você não está mais amaldiçoado, — Rylan começa, — por que
você não o matou?
— Por causa das garotas da sua matilha, — eu respondo. — Ele as
aprisionou no subsolo em algum lugar, e se eu o matar, elas morrerão.
— Estou enganado, ou o temido Alpha Kaden sente empatia? — Malik
zomba. — O que aconteceu com você, Kaden? Você parece um novo
Alpha.
— Isso é o que estou dizendo, — Grayson se intromete. — Os poderes
de Coen são reais. Eles transformaram Kaden e ele fará o mesmo com
você.
Há algo no ar enquanto os outros três Alfas trocam olhares
preocupados.
— Você nos dá licença um minuto? — Landon pergunta.
— Claro, — eu respondo, caminhando para a porta.
— Você também, Grayson, — Landon acrescenta. — Nós já sabemos
de que lado você está.
Grayson balança a cabeça e se junta a mim enquanto saímos da sala e
esperamos no corredor.
Eu ouço uma risadinha e vejo a jovem de antes. Ela acena para nós por
trás de uma coluna.
Eu aceno de volta e ela faz uma reverência, em seguida, sai correndo
rindo. Essas pessoas da Matilha do Amor são tão peculiares.
— Esses três são tão teimosos que chega a ser irritante, — diz
Grayson, encostado na parede.
— Eles têm razão para ser, — eu respondo. — O que eu fiz para Rylan
e Landon é imperdoável.
— Não foi você, — Grayson responde. — E pelo que eu sei, eu te
perdoo por levar Lexia.
Ele faz uma pausa antes de continuar.
— Apenas me prometa que você não vai matar Coen até que ele nos
diga onde ela está. Eu sei que ela ainda está viva. Eu posso sentir isso.
Sua bondade me mata. Não posso mais esconder isso dele.
— Grayson, — digo, olhando para os meus pés, — Eu sei onde Lexia
está.
MARA

Estou presa no labirinto.


Três dos homens de Coen estavam na minha frente.
Suas cabeças raspadas e casacos longos e protuberantes os fazem
parecer monstros saídos direto de um pesadelo.
Cada um tem a bochecha marcada com a marca escura.
Eu alcanço a adaga de dentro da minha bota. Não vou cair sem lutar.
Eles riem, revelando seus dentes podres.
Sob seus casacos, eles tiram espadas horríveis que parecem poder
partir um homem em dois.
Enquanto o pânico preenche minha mente, três objetos passam rentes
acima da minha cabeça e eu vejo os homens marcados caírem no chão,
com flechas enterradas em seus peitos.
— Você tem um talento especial para se meter em problemas, — Lexia
grita ao alto. — Suba aqui antes que cheguem mais.
— Não podemos deixar Kace, — eu digo.
Eu volto para onde o deixei e me assusto.
Seu corpo sumiu.
Como isso é possível?
— Mara, venha aqui AGORA ou vou deixá-la aqui — Lexia rosna.
De repente, ouço madeira estalando e a entrada do túnel desaba,
envolvendo-me em uma nuvem de poeira.
Começo a tossir incontrolavelmente e tento tatear até a parede.
Sinto um par de mãos ásperas me puxando para fora. Eles me
arrastam até a metade da cidade antes de pararmos.
Eu sou colocada em uma cadeira e uma caneca é colocada em minhas
mãos.
— Beba, — Lexia ordena.
A água em meu copo é turva e suja. Não tenho certeza se regaria
plantas com ele.
Mas minha garganta ainda está coberta de poeira e a única alternativa
é essa água escura que cheira a gasolina.
Eu fecho meus olhos e engulo a água.
Meu rosto se contorce com o gosto.
— Desculpe, estamos sem água limpa, — Lexia brinca, gostando do
meu desconforto. — Então, quer me dizer o que você estava fazendo lá
embaixo?
— Eu e Kace...
Kace!
— Lexia, precisamos voltar para o labirinto. O corpo de Kace está...
— Não é problema meu, — Lexia interrompe. — Você e eu vamos ficar
sentadas até que Kaden volte com os outros Alfas.
Um acesso de raiva cresce dentro de mim. Por que todos estão tão
contentes em não fazer nada?
— Isto é seu problema se Kaden descobrir que você não fez nada para
resgatar o corpo de seu irmão.
— Isso foi tudo culpa sua, — Lexia sibila. — E você deveria ser mais
grata. Se não tivéssemos te encontrado durante nosso patrulhamento,
você também estaria morta.
É óbvio que Lexia não pode ser intimidada. Inferno, a última vez que a
vi, ela jurou cortar a garganta de um Alpha se tivesse a chance.
Se vou fazer progressos, preciso mudar de plano.
— Esqueça Kaden e os outros Alfas, — eu digo. — Faça isso pelas
garotas.
— Elas foram burras o suficiente para se deixarem sequestrar. Isso é
por conta delas, — Lexia responde, puxando sua adaga.
Eu sinto seu humor mudar. Ela começa a mexer na mesa com a ponta
da faca.
— Você quer dizer burras como você e eu? — Eu respondo.
Ela finca a faca na mesa com ainda mais força. Tenho que tentar fazer
com que ela concorde comigo.
— Nós tivemos sorte, Lexia, — eu digo. — O que elas tiveram que
passar...
— Você não tem ideia do inferno que eu passei, — Lexia grunhe.
Eu não a pressiono.
Eu sinto outra onda de calor passar por mim. Tomo um gole da bebida
que Lexia me deu, esperando que isso pudesse me refrescar, mas sem
sucesso.
Eu puxo minhas roupas e me abano, mas de alguma forma estou
ficando mais quente a cada segundo.
— É a Febre, né? — Lexia diz.
— Você sabe sobre isso? — Eu pergunto.
Ela acena com a cabeça.
— Eu passei por isso, — Lexia diz friamente. — No primeiro mês que
estava na Cidade da Vingança eu tive a Febre... Como eu disse, você não
tem ideia do que eu tive que passar.
— O problema é que Kaden agora foi encontrar os alfas, então ele não
pode me marcar e pará-la.
Lexia ri.
— Há outra maneira de parar a Febre.
— Como? — Eu pergunto. Eu faria qualquer coisa para me livrar da
dor correndo pelo meu corpo.
— Fazer sexo agora mesmo, — diz Lexia. — Loiras não são muito o
meu tipo, mas eu não diria não. Ou eu poderia perguntar aos meus
guardas se eles estão dispostos a ajudar você.
Urgh. Não!
— Eu vou sobreviver, — eu digo trêmula.
Ficamos em silêncio novamente. Começo a formular um plano em
minha cabeça.
Coen deve ter encontrado o corpo de Kace agora e se ele voltar para
descobrir que Kaden e eu fomos embora, ele saberá que algo está errado.
— Eu preciso voltar para a fortaleza, — murmuro.
— Por que? Para se entregar a Coen em uma bandeja? Você quer
morrer? Ele sentirá sua Febre também. Ele não tem companheira; ele vai
tentar marcar você.
— Ele não vai suspeitar de mim, — eu respondo. — Eu sou apenas
outra garota da Matilha da Pureza para ele brincar. Ele só me quer
porque sabe que Kaden me ama.
— Você sabe onde encontrar outra entrada? — Lexia pergunta. Eu me
mexo na cadeira antes de responder.
— Não. O túnel em que estávamos provavelmente está bloqueado.
Seus homens estarão em alerta máximo. Preciso de outra maneira de
chegar até lá.
Lexia para de brincar com a adaga e me encara. Eu sinto seus olhos
esmeralda atravessarem minha alma e tudo que posso fazer é olhar de
volta, paralisada por sua intensidade.
— O que você daria para salvar essas garotas? — ela pergunta.
Sua pergunta me deixa surpresa.
O que eu daria?
Eu penso em tudo que é precioso para mim: meu companheiro,
minha família, meus amigos.
A imagem de Milly me vem à mente. Sua aparência cadavérica e seu
corpo machucado me aterrorizam.
Penso nos rostos das outras garotas cujas fotos estão espalhadas por
toda a cidade na Matilha da Pureza, seus sorrisos congelados em uma
época melhor.
Eu me pergunto se eles voltarão a sorrir e, se o fizerem, será que tudo
voltará a ser como antes?
Quanto vale minha vida em comparação com a delas?
Quanto valia a vida de Kace?
— E aí? — Lexia me pressiona.
Não hesito em responder.
— Eu daria tudo.
Lexia se recosta na cadeira e cruza os braços.
— Se é assim que você realmente se sente, então posso saber uma
maneira de levá-la de volta aos túneis.
— Mostre-me! — Eu digo.
— Você vai ter que se mover rapidamente, — Lexia responde. — Uma
vez que sua Febre tenha passado, seu cheiro ficará muito forte. Cada lobo
macho estará correndo em sua direção.
Ela coloca uma mão no meu ombro.
— Você não conseguirá escapar se eles chegarem até você, — finaliza
Lexia.
— Eu tenho que tentar, — eu respondo.
Eu preciso. Eu tenho que fazer isso pelas garotas...
Capítulo 29
TRÉGUA
O fogo, a Febre implacável...
Nada vai amenizá-lo.
Isso me consome, me queima viva.
Se Kaden estivesse aqui, ele poderia cessar isso.
MARA

A água fria jorra do chuveiro, batendo contra minha pele nua. Isto não
é suficiente para aplacar o calor enlouquecedor.
Eu olho para o meu braço, meio que esperando ver a água evaporando
com o contato. Cada centímetro de mim parece que está sendo
queimado pelo sol.
Se eu não soubesse porque estava queimando, teria pensado que a
Deusa da Lua estava liberando sua fúria sobre mim por todos os meus
pecados.
Eu imagino que ela seja uma vadia malvada.
Lexia me disse para tomar banho imediatamente para tentar me
refrescar e lavar meu cheiro, mas o fogo dentro de mim é muito forte.
A única outra maneira de pará-lo é sentir o toque de outro lobo sem
companheiro.
Eu só tenho sentimentos por Kaden. Eu preciso dele aqui para apagar essa
chama interna.
Mas e se eu mesmo tentar? Nunca cheguei ao orgasmo sozinha, nunca
consegui terminar. Talvez funcione.
Eu trago meus dedos até o meio das minhas coxas e lentamente
começo a brincar.
Eu movo meus dedos em pequenos círculos ao redor do meu clitóris,
mas o fogo continua ardendo.
Eu me solto, primeiro com um dedo, depois outro, e começo a movê-
los para frente e para trás.
Uma sensação que eu já conheço, mas não está adiantando.
Eu continuo e acelero meu ritmo. Todo o meu corpo se contrai
enquanto a euforia passa por mim.
Acabei de chegar ao orgasmo pela primeira vez, mas ainda estou
fervendo de calor.
Droga!
Eu desisto e saio do chuveiro.
Enquanto eu me seco com a toalha, as fibras parecem queimar como
centenas de minúsculas cabeças de fósforo.
Tento me vestir, mas as roupas só pioram a sensação.
Tudo é como uma lixa na minha pele. Até minha blusa de caxemira
me faz contorcer.
Finalmente decidi por um vestido sem mangas, mas a minha vontade
é de arrancá-lo.
Meu coração parece uma fornalha, mas eu não posso me deixar levar
pelo desconforto.
Lexia disse que a parte febril logo acabaria. Assim que isso
acontecesse, os lobos seriam capazes de sentir meu cheiro.
Preciso ir logo antes que isso aconteça... e Coen volte.
Saindo furtivamente do meu quarto, sigo as instruções de Lexia e
desço para os níveis inferiores da fortaleza.
Está escuro e úmido. Não há janelas. A única luz vem de lâmpadas
antigas penduradas na parede.
Apenas um punhado ainda funciona, e aqueles que sobraram emitem
apenas um brilho fraco.
Eu corro meus dedos ao longo das pedras maciças das antigas
fundações. Elas são geladas e escorregadias.
Eu pressiono meu corpo contra elas, mas isso pouco adianta para me
esfriar.
Concentre-se, Mara.
Chego à sala que Lexia descreveu. Está vazia, exceto por um altar de
pedra ao fundo no qual está uma estátua antiga da Deusa da Lua.
Uma espada enferrujada repousa sobre suas mãos estendidas.
Então a Matilha da Vingança costumava acreditar nela também?
Lexia disse que a entrada do túnel ficava aqui, mas tudo é feito de
pedra — as paredes, o chão, o teto. Cada superfície é rocha sólida.
Eu me agacho ao lado do altar e inspeciono sua base. Talvez haja um
alçapão e a estátua seja o gatilho?
Enquanto passo minha mão ao longo da estátua, ouço o barulho de
pedras raspando e imediatamente me escondo atrás do altar.
A raspagem para e eu espio por trás da estátua.
Para meu choque total, um buraco se abre na parede e da escuridão sai
Coen.
Ele está sozinho e vestido com seu traje habitual. Suas luvas
adornadas com joias brilham, mesmo com pouca luz.
Alcançando a mão para cima, ele pressiona uma pedra na parede e a
abertura começa a se fechar.
Eu tomo nota de qual pedra é para que eu possa abrir a porta quando
ele se for.
Está insuportavelmente quieto na sala agora, tão quieto que posso
ouvir a respiração de Coen.
Ele cheira profundamente o ar. Prendo minha respiração, desejando
que meu coração pare de bater.
O calor inunda minhas veias, tornando-se insuportável dentro de
mim.
Só espero que ele ainda não possa me cheirar.
Eu ouço seus pés se arrastarem para fora da sala e pelo corredor.
Eu luto contra o calor que assola meu corpo até ter certeza de que ele
não consegue me ouvir, então deixo escapar um suspiro abafado.
Lutando para ficar de pé, me aproximo da parede e tateio em busca do
trinco.
Sinto uma pedra ceder e a parede se abre diante de mim.
— Estou indo, Milly.
Eu luto contra o calor que assola meu corpo até ter certeza de que ele
não consegue me ouvir, então deixo escapar um suspiro abafado.
Lutando para ficar de pé, me aproximo da parede e tateio em busca do
trinco.
Sinto uma pedra ceder e a parede se abre diante de mim.
— Estou indo, Milly.
KADEN

Mara, me dê força.
Uma bagunça está se desenrolando na minha frente.
Cada Alpha tem suas próprias demandas. Eu só quero voltar para casa
com minha companheira.
Eles têm discutido por tanto tempo que eu nem percebo.
Só consigo pensar na maneira como Mara me olhou quando saí.
Eu quero senti-la em meus braços novamente, cheirá-la, tocá-la.
Para fazer amor com ela, fazê-la gritar meu nome e finalmente marcá-
la.
Uma pancada me tira do meu torpor. Landon dá um soco na mesa
antes de falar.
— Sejamos honestos uns com os outros, — diz Landon. — A Matilha
do Poder fará a maior parte da luta. Portanto, o resto de vocês deve me
compensar por meu sacrifício.
— Isso é absurdo, — rebate Rylan. — Os membros da Matilha da
Pureza são tão capazes quanto os seus.
— Seus membros são todos pacifistas! — Landon rebate. — Eles não
servem nem para afastar as moscas. Em vez de lutadores, por que você
não contribui com alguns dos recursos que tem acumulado?
— Minha matilha tem todo o direito às nossas reservas de recursos.
Não devemos ser punidos por nosso estilo de vida. Nós vimos o que
acontece com aqueles que levam uma existência gananciosa, — Rylan
diz, apontando para Malik.
— Julgue-me o quanto quiser, — responde Malik. — Vocês dois
subestimam o poder reformador do amor.
Ele levanta a mão como se estivesse incrustada de joias e continua o
monólogo.
— Eu mudei mais vidas com estes dedos do que a espada de qualquer
soldado ou o tesouro do imperador. Se tivéssemos mais amor neste
mundo, não haveria necessidade de conflito.
Rylan responde com uma risada debochada.
— O que você está dizendo, Malik? Você pretende amar Coen e seus
homens até a morte?
— Você zomba, mas não consigo pensar em nenhuma maneira melhor
de entrar no reino da lua, — responde Malik, com um largo sorriso no
rosto. — Uma metida, estou neste reino, e na próxima, estou no nirvana.
— Urgh, isso é nojento, — Rylan responde, franzindo o rosto.
Malik balança a cabeça e sorri.
— Venha para minha cama, Alpha Rylan e eu o ajudarei a abraçar o
que você claramente reprime.
— Como eu disse, — Landon interrompe, — enquanto seus dois
bandos se apaixonam, Kaden e eu estaremos lutando.
— Minha matilha também pode lutar, — rebate Grayson. Agora
Landon está totalmente divertido.
— Você não tem matilha, Grayson. — Ele diz. — Você cuida de um
bando de hippies rebeldes.
— Só porque eu não os faço curvar-se a mim não significa que não vão
se unir à nossa causa, — retruca Grayson. — Um povo livre sempre lutará
mais duramente do que aqueles que são pressionados a servir um tirano.
A cadeira de Landon voa pela sala enquanto ele pula de pé e Grayson
responde da mesma forma. Antes que Rylan e eu possamos intervir, os
dois Alfas se lançam um contra o outro em meio a socos e palavrões.
Malik foge da briga e balança a cabeça.
— Irmãos, irmãos, onde está o amor?
— Você vai me ajudar a acabar com isso? — Eu pergunto a Rylan.
Ele assume um ar desinteressado e estala os dedos.
— Com prazer, se você estiver disposto a se desfazer de uma parte do
suprimento de gasolina de sua matilha.
Essa é a gota d'água.
Pela primeira vez desde que Mara me libertou, sinto a escuridão
começando a invadir meu corpo. Isso incha meus músculos e deixa
minhas unhas saltadas.
Coen inventou um feitiço para controlar minha ira, mas a escuridão
sempre esteve dentro de mim, um lobo puro-sangue da Vingança.
Agarrando Grayson pelo tornozelo, eu puxo meu braço para trás e o
mando deslizando pelo chão.
Seu corpo bate na parede, fazendo com que uma das estátuas de
querubim caia de sua coluna e se espatife pelo chão.
Malik emite um grito enquanto corre para o cupido caído e ergue seu
falo cortado.
— Eros, o que eles fizeram com você?
— Chega! — Eu grito, silenciando a sala.
Eu fecho meus olhos e respiro fundo, deixando a escuridão diminuir.
Tenho que ter cuidado para não me deixar dominar completamente.
Quando meus olhos se abrem, vejo os outros Alfas se afastando.
Bom. Estou feliz por ter sua atenção.
— Não podemos parar Coen se estivermos lutando um contra o outro,
— eu rosno.
Eu continuo.
— Na verdade, provavelmente era isso que ele pretendia desde o
início. Prometa-me sua ajuda ou condene suas matilhas a um destino de
escravidão e desgraça.
Eu olho para cada um deles, me perguntando quem terá a coragem de
falar primeiro.
Grayson dá um passo à frente.
— Você sabe que estou com você, Kaden.
Eu aceno em apreciação.
Depois que contei a Grayson sobre Lexia, ele quase socou a parede. Eu
sei que ele está faminto por vingança.
— A Matilha do Poder ficará com você, — declara Landon. — Vou
fazer seu irmão beber seu próprio veneno.
Eu olho para Rylan, que torce o nariz como se estivesse considerando
se algum de nós vale seu tempo.
— Visto que é contra os ensinamentos da Deusa fazer mal, não posso
levantar as armas contra o seu irmão. Mas, como protetor de minha
matilha, é igualmente pecaminoso ficar parado enquanto o mal se
aproxima.
— Abandone o duplo discurso divino e tome uma decisão, —
respondo.
Rylan faz uma cara pensativa e esfrega o pingente da Deusa da Lua
que está pendurado em seu pescoço.
Ele começa a balançar e fazer barulhos baixos, o que deixa todos,
exceto Malik, desconfortáveis.
— A Deusa vai me conceder clemência por meu envolvimento, —
proclama Rylan.
Eu rolo meus olhos.
— Envie à Deusa meus cumprimentos.
— Kaden, você sabe que eu sou um apreciador do amor, não um
lutador, — diz Malik, passando o braço por cima do meu ombro. — Estou
convencido de que existe uma solução pacífica.
— Você não conhece Coen, — eu respondo. — Ele está além da
salvação.
— Hmm, — responde Malik, esfregando minhas costas. — Parece que
você precisa de um pouco de atenção também.
— O que você quer dizer? — Eu respondo de volta.
— Você não marcou a sua companheira ainda, não é? — Malik
responde. — Eu posso sentir a tensão em sua aura.
— Não é sobre isso que vim falar. — eu digo. — Eu posso lidar com
isso sozinho.
— Sim, mas a Febre virá em breve.
— Eu disse que posso lidar com isso, — eu retruco.
Malik levanta uma sobrancelha.
— Ah sim, mas você confia em seu irmão para não marcá-la?
— Kace nunca faria isso, — eu digo.
Malik ri sombriamente.
— E o seu outro irmão? A razão de estarmos todos aqui? Você pode
confiar nele perto dela? — ele responde.
Eu sinto como se tivesse sido atingido por um raio.
Coen!
Ele vai cheirá-la imediatamente.
Eu não posso esperar.
Preciso chegar até Mara antes que meu pior pesadelo se torne
realidade.
Capítulo 30
ACHANDO UMA BRECHA O ponteiro passa para o vermelho.
O motor grita em protesto.
Eu desligo e tento fazer o mesmo com Mara.
Estou falhando com ela.
Olhos na estrada.
Mente na estrada.
Meu carro não consegue se mover rápido o suficiente.
Não consigo chegar em casa rápido o suficiente.
KADEN

— Você vai explodir o motor, — diz Grayson do banco do passageiro.


Eu finjo não ouvi-lo.
Enquanto os outros Alfas partem para organizar suas matilhas,
Grayson insiste em vir comigo depois de enviar Evan para cuidar dos
preparativos da Matilha da Liberdade.
Ele precisa ver Lexia tanto quanto eu preciso ver Mara.
Eu olho para o medidor de combustível. Não tenho certeza se temos o
suficiente para voltar, mas tenho que arriscar. Eu não posso parar agora.
Pensar nas mãos de Coen no corpo de Mara faz pisar mais fundo.
O acelerador se torna a cabeça de Coen e forço todos os músculos da
minha perna para esmagá-la.
— Kaden! — Grayson grita, me socando no braço. — Se você explodir
o motor, demorará ainda mais para chegarmos até Mara.
Eu soltei o pedal e o motor suspirou de alívio.
— Tenho fé em Kace, — diz Grayson, tentando me acalmar.
Suas palavras têm o efeito oposto.
— Eu corri o risco de deixá-la lá. Eu nunca teria feito isso se soubesse
que ela estava exaltada. Assim que Coen voltar para a fortaleza, ele vai
pegá-la, e ninguém será capaz de detê-lo.
— Mara é forte, — responde Grayson. — Ela não vai deixar chegar a
esse ponto.
Espero que Grayson esteja certo, mas eu não tenho tanta esperança.
Eu só acredito no que posso ver.
E quando você viu o que eu vi, você sabe que a dor é a única coisa real
e a esperança é uma ilusão patética.
MARA

O feixe da minha lanterna é brilhante o suficiente para me mostrar


onde estou pisando. Uso a saia do meu vestido para disfarçar um pouco a
luz, mantendo-a esticada contra a luz.
Estou caminhando há tanto tempo que minhas pernas estão
dormentes e a constante descarga de adrenalina começa a me cansar.
Sinto algo diferente sob meus pés e olho para baixo.
Concreto.
Tudo até este ponto era terra ou tábuas.
Eu levanto minha lanterna e vejo o contorno de uma porta.
Parte de mim quer voltar. Quase fui pega uma vez hoje e não quero
abusar da sorte.
Eu sei que Coen deve estar se perguntando onde Kace e eu estamos, e
isso é exatamente o que Kaden queria evitar.
Porra. O que eu faço?
Estou tão perto de encontrar as garotas. Eu consigo sentir isso....
Se a porta estiver trancada eu volto, mas se estiver aberta...
Aproximando-me, vejo que a porta é feita de ferro com grandes
pontas metálicas projetando-se na superfície.
Uma barra de metal grossa se estende através da porta e desaparece
em um buraco no batente.
Por que a fechadura está deste lado?
Então eu percebo.
Esta porta não foi feita para manter as pessoas do lado de fora. Está
aqui para manter as pessoas lá dentro.
Excitação e terror se misturam em meu peito enquanto agarro a alça
que se projeta para fora da barra de metal e lentamente a deslizo para
trás.
É mais pesada do que eu esperava e, depois de abrir alguns
centímetros, recusa-se a se mover.
Trazendo meus ombros perpendiculares à porta, eu me inclino para a
maçaneta com todo o meu peso, e a barra desliza para trás fazendo um
barulho muito alto.
Merda, alguém deve ter ouvido isso.
Não tenho tempo a perder agora. Apesar de parecer travada, a porta se
abre facilmente e eu entro em um corredor mal iluminado.
Sou imediatamente atingida por um déjà vu.
Sob meus pés está o chão de concreto inconfundível do labirinto em
que fui presa.
Kaden disse que o túnel leva ao labirinto. Os homens de Coen devem
ter levado muitos meses para cavar seu caminho até aqui.
Eu continuo. Meus sentidos vibram a cada passo. Eu devo estar perto.
Eu imediatamente sinto o calor evaporar dentro de mim.
Estou instantaneamente com frio. Meu vestido leve não faz nada para
me proteger da temperatura severa.
Oh não, a Febre se foi!
Os lobos estarão a caminho!
Eu tenho que encontrar as garotas agora e sair o quanto antes!
Eu começo a aumentar meu ritmo enquanto tento ficar o mais quieta
possível.
Chego à primeira porta do corredor e vejo que também está trancada
por fora.
Elas podem estar aqui. É isso.
Reunindo minha coragem, abro a fechadura e faço uma pausa. Não há
som.
Eu empurro a porta e pulo para trás, caso alguém esteja esperando
para me emboscar do outro lado.
Não há ninguém. Apenas uma caixa de concreto vazia, sem janelas ou
portas.
No meio da sala está uma cadeira.
Este é o quarto em que acordei.
Eu me afasto e tranco a porta, deixando as memórias ruins para trás.
Lá fora estava o corredor que corri antes de tropeçar no labirinto.
Percebo o quão perto cheguei de me juntar a Milly e as outras. Elas
podem estar a poucos metros de distância.
Se não fosse por Kaden, eu poderia nunca mais ter visto a luz do sol
novamente.
Pensar nisso fortalece minha determinação, pois agora tenho certeza
de que as garotas estão em uma dessas salas.
Sem me preocupar, eu corro pelo corredor até chegar à próxima porta.
Eu puxo a fechadura e a abro.
Vazio.
Eu corro para a próxima e faço o mesmo.
Nada.
Tento mais quatro portas com o mesmo resultado. Coen mudou as
garotas depois que encontrou Kace?
Claro. Por que ele não iria?
Mas ainda não estou pronta para desistir. Não sabendo o quão longe
eu cheguei.
Viro em um novo corredor com ainda mais portas que o anterior.
Tem que ser uma dessas. Eu sei isso.
Vamos, Deusa da Lua, sua vadia rancorosa, me ajude.
Eu marcho até a primeira porta e respiro fundo. Eu abro a fechadura e
empurro a porta.
Trevas.
Silêncio.
Meus ombros caem de decepção. Começo a fechar a porta quando, de
repente, ouço um barulho que faz meu coração pular.
Eu me viro, pressionando minhas costas contra a parede externa. Pego
minha adaga, pronta para enfiá-la em quem quer que seja.
Meu coração está batendo fora do meu peito e minha respiração
acelera. Fico agachada em antecipação, pronta para a batalha, mas
ninguém aparece.
Era tudo minha imaginação?
Aproximo-me mais da porta para tentar ouvir melhor.
Eu ouço de novo, um gemido fraco em algum lugar na escuridão.
Ligando minha lanterna, eu olho ao redor da porta e ilumino o quarto
com seu feixe de luz.
Ele pousa em uma jovem encolhida em um canto. Seu cabelo está
desgrenhado e sujo, escondendo seu rosto.
Posso ver que seus joelhos estão machucados e um vestido sujo cobre
seu corpo magro.
Ela se encolhe na luz, protegendo os olhos enquanto tenta recuar mais
para o canto.
— Está tudo bem, eu não vou te machucar.
Ela parece se acalmar com o som da minha voz.
— Qual é o seu nome, hein?
Afastando o cabelo do rosto, ela aperta os olhos para mim, ainda sem
saber o que fazer.
— Desculpe, — eu digo, tirando a luz de seu rosto e apontando em
direção ao teto. — Eu sou da Matilha da Pureza. Estou aqui para libertar
você e as outras garotas. Você pode me levar até elas?
Os olhos escuros da garota procuram os meus, sem dúvida decidindo
se deve ou não confiar em mim.
Eu a reconheço de uma das fotos postadas na parede de garotas
perdidas.
Vendo seu olhar fixo em minha mão esquerda, percebo que ainda
estou segurando minha adaga.
— Desculpe, pensei que alguém ruim poderia estar aqui.
— Não, — ela responde em uma voz meio sufocada. — Ele saiu há
pouco tempo.
— Quem saiu? — Eu pergunto.
Ela faz uma pausa e vejo seu rosto estremecer como se estivesse
lutando contra uma memória ruim. — O homem com as luvas com joias
azuis. — Eu conheço essas luvas. O pensamento de que elas haviam me
tocado também fez meu estômago revirar.
Então é aqui que Coen estava antes de eu vê-lo sair do túnel.
— Você pode me levar até as outras garotas?
Ela acena com a cabeça.
— Qual o seu nome? — Eu pergunto, ajudando a menina a se levantar.
— Cyntoia, — ela responde.
— É um nome lindo, — eu digo. — O meu é Mara.
Ela sorri.
— Eu gosto do seu também.
Quero parar e confortá-la, mas sei que já estou aqui há muito tempo.
— Ok, Cyntoia, para onde vamos?
Ela pega minha mão e me leva para fora da porta. Não posso deixar de
notar os hematomas e cortes em seus tornozelos e punhos.
— Eles cobrem nossas cabeças quando nos levam para sair, mas eu
memorizei os passos, — ela disse antes de fechar os olhos e começar a
andar pelo corredor.
Enquanto ela caminha à minha frente, continuo procurando por
qualquer vestígio de Coen ou de seus homens.
Chegamos a uma intersecção no corredor e Cyntoia para.
— Chegamos? — Eu pergunto.
Ela balança a cabeça negativamente.
— Não, é por ali, mas há um guarda.
Eu me abaixo até o chão e rastejo em direção ao canto.
Espiando pelo corredor, vejo um homem grande de sobretudo sentado
em um banquinho. Ao lado dele está um machado do tamanho de um
arbusto.
Ele está muito longe para eu tentar alguma coisa.
Eu vejo sua cabeça se virar em nossa direção e eu recuo.
A Febre. Ele provavelmente pode sentir o meu cheiro.
Eu olho para Cyntoia, que está atrás de mim, com as pernas tremendo.
— Você confia em mim? — Eu pergunto.
— Sim, — ela responde.
Conto a ela meu plano e, segundos depois, ela dá a volta na esquina e
fica à vista do guarda.
— Ei! — ele rosna. — Como você saiu da cela? Não se atreva a se
mover, ou corto suas pernas fora.
Eu o ouço se levantar e irromper pelo corredor. Seguro minha adaga
desembainhada, pronta para emboscá-lo lateralmente.
Cyntoia começa a recuar e então consigo vê-lo.
Eu pulo para frente, mas não sou rápida o suficiente.
Ele vê a faca chegando e bate a mão no meu punho, fazendo minha
faca voar.
Eu lanço um soco que acerta em seu rosto, mas ele permanece imóvel
enquanto minha mão lateja de dor.
Ele agarra minha garganta e me pressiona contra a parede.
— Bem, o que temos aqui?
Ele me cheira e vejo seus olhos escurecerem.
— Um rosto tão bonito, sem parceiro e com a Febre! Vou me divertir
com você!
Ele aperta meu pescoço ainda mais e minha visão fica turva.
Com toda a energia que me resta, coloco meus polegares em seus
olhos e sinto a carne ceder enquanto meus dedos afundam em suas
órbitas.
Ele grita, me jogando no chão. Eu olho para cima para vê-lo com as
mãos nos olhos, sangue escorrendo pelo rosto.
— Sua vadia! Eu vou te matar!
Ele tropeça para trás, uma expressão de dor e pânico em seu rosto.
Cyntoia se aproxima dele por trás, minha adaga na mão. Ela levanta a
lâmina e corta a parte de trás do joelho dele.
Ele grita de novo, caindo no chão, mas antes que ele possa fazer outro
som, ela enfia a adaga em seu crânio.
Ele faz um barulho agudo que me dá um arrepio na espinha.
É
Cyntoia está atrás dele, uma expressão de prazer em seu rosto. É claro
que ela queria fazer isso há muito tempo.
Apoiando o pé na cabeça do homem, ela puxa minha adaga e a limpa.
— Toma, — diz ela, devolvendo-me a adaga.
Juntas, nos aproximamos da porta.
— Tem certeza de que não há mais ninguém lá dentro? — Eu
pergunto.
Ela balança a cabeça enquanto abre a tranca. O que vejo do outro lado
parte meu coração.
Amontoadas em colchões rançosos, estão duas dúzias de garotas que
passaram pelo mesmo inferno que Cyntoia.
— Mara?
Eu me viro para ver Milly, seus olhos ainda mais fundos do que antes.
Eu corro e a abraço. Ela parece tão leve em meus braços.
Lágrimas escorrem pelos nossos rostos.
— Eu pensei que nunca mais veria você, — eu digo, chorando.
— Eu orei para a Deusa da Lua, — Milly responde. — Eu orei e ela
respondeu.
— Há mais garotas? — Eu pergunto, enxugando minhas lágrimas.
— Estão todas aqui, — diz Milly. — Depois que ele fica entediado, ele
nos vende para outros bandos, para outros Alfas.
— Outros Alfas?
— Sim, eles fazem questão que você saiba quem eles são. Eles querem
que você esteja ciente que está sendo fodida por alguém importante.
Eu olho em volta e percebo que nem todas as garotas estão vestindo
roupas da Matilha da Pureza.
— Eu pensei que ele apenas sequestrava garotas da Matilha da
Pureza...
Milly balança a cabeça.
— Nós somos as mais caras, mas ele gosta de variedade.
— Todos aqui podem andar? — Eu pergunto, com um senso de
urgência.
— Sim, — Milly responde. — São só vocês? Como...
— Eu posso responder tudo isso mais tarde. Agora precisamos sair
daqui antes que outra pessoa apareça. Você deixa as meninas prontas
para fugir e eu vou garantir que a barra esteja limpa.
Milly acena com a cabeça e eu corro de volta para o corredor para
esconder o corpo do guarda.
Uma grande poça de sangue se formou ao redor de sua cabeça. Isso
será impossível de limpar, mas deixar o cadáver dele será uma pista
muito clara de nossa fuga.
Eu me abaixo e tento envolver meus braços em volta de suas pernas.
Ele é mais pesado do que eu esperava e não consigo tirá-lo do lugar.
— Precisa de uma mãozinha?
Minha cabeça vira e meu corpo fica dormente.
É Coen.
E seus olhos estão cheios de uma volúpia que eu nunca vi antes.
Capítulo 31
LEVANTANDO VOO
Eu não quero acreditar
Ele não pode ser real.
Mas a fome insaciável em seus olhos diz o contrário.
— Estou esperando há muito tempo por isso, Mara.
Eu já vi Coen me olhar com desejo antes, mas isso é algo diferente.
Ele está louco, ele está possuído.
Ele está atrás de apenas uma coisa.
Eu.
MARA

As narinas de Coen dilatam quando ele sente meu cheiro.


Seu corpo estremece como se ele tivesse acabado de inalar uma droga
e seus olhos estão dilatados, ele nem pisca.
Oh não, ele vai se transformar a qualquer momento agora!
Eu tento me mover, mas tropeço para trás e caio de bunda. Enquanto
tento me levantar, Coen continua avançando em minha direção.
Vejo suas mãos tremendo e ele tenta conter sua empolgação por
quaisquer jogos doentios que pretenda jogar comigo.
Minha pele se arrepia enquanto eu olho para ele.
— Mara... — ele murmura baixinho.
Eu imediatamente fico paralisada, possuída, e meus braços caem para
os lados.
O que diabos está acontecendo? Por que não consigo me mover?
Ainda consigo controlar minha mente, mas ele tem meu corpo preso
com seu olhar psicótico.
— Você vai ter que me matar primeiro, — eu grito, o desafiando.
— É isso, Mara, deixe sair — ele responde calmamente.
Ele dá um passo à frente, a loucura pulsando em seus olhos. Eu assisto
com horror crescente enquanto ele tira sua jaqueta, revelando um torso
de músculos e robustez.
Tento me mover, mas o poder de Coen é muito forte.
Ele se ajoelha ao meu lado e alcança meu rosto.
Quando seus dedos fazem contato com minha pele, estremeço.
Apesar de ser seu irmão gêmeo, Coen não se parece em nada com
Kaden.
O toque de Kaden é suave, mas caloso, gentil, mas firme. O de Coen é
úmido e controlador, áspero e desajeitado.
Kaden é atencioso e amoroso, enquanto Coen é um monstro
completo.
Ele amaldiçoou seu irmão, roubou garotas de outras matilhas e tentou
me virar contra meu companheiro.
Tento me libertar de suas amarras, mas não consigo mover um único
músculo.
— Você vai gostar, Mara. Eu sou muito maior e melhor do que Kaden,
— diz ele, lambendo os lábios. — Eu sei que você vai ter um gosto divino.
Agora há uma distância em seu olhar, um apavorante distanciamento
da realidade.
É claro que ele não me vê mais como uma pessoa. Não sou nada mais
do que um objeto que atende às suas necessidades.
— Deixe-me mostrar como é estar com um verdadeiro Alpha, — ele
sussurra em meu ouvido.
Meus olhos se arregalam de medo e ele emite uma risada ofegante.
— Você realmente achou que eu não iria descobrir? — ele diz, tirando
o cabelo do meu pescoço. — Kaden foi um tolo por não te marcar
quando teve a chance.
Mais uma vez, tento me afastar, mas Coen apenas balança o punho e
meus quadris sobem como se eu fosse uma marionete pendurada em
uma corda.
Como ele está fazendo isso? Que tipo de magia das trevas ele domina?
— Você é patético, — eu esbravejo.
Ele arrasta a mão ao longo da parte interna da minha coxa, me
fazendo ofegar de terror.
Eu fecho meus olhos, me contorcendo quando sua mão está prestes a
alcançar aquela parte de mim que apenas Kaden tocou.
Você tem que impedi-lo, Mara. Lute de volta.
Tento afastar sua mão, mas meu braço não obedece. Não vai adiantar.
Ele vai vencer.
Ele finalmente terá o que queria o tempo todo.
Eu aperto meus olhos com mais força e tento fingir que é um sonho
horrível, que nada disso é real.
PLAFT!
O corpo de Coen desaba em cima de mim, tirando o ar dos meus
pulmões. Ele não está se movendo.
Abro os olhos para encontrá-lo deitado sobre meu corpo como uma
boneca de pano, com a cabeça sangrando no meu ombro.
— Agora é a segunda vez que eu salvei tua pele.
Eu olho para cima para ver Lexia parada acima de mim como um anjo
da morte vestido de couro.
Ela tira o corpo mole de Coen de cima de mim com um chute forte e
cutuca a cabeça dele com seu bastão manchado de sangue.
— Acho que dá até pra ver o cérebro dele, — ela reflete.
— Como... — eu murmuro, ainda em choque.
— Um simples obrigada está bom, — ela responde, ajudando-me a
ficar de pé. — Eu conseguia sentir seu cheiro da superfície. Eu tive que vir
aqui sozinha, caso contrário, eu teria que nocautear o meu subalterno
também.
Tento achar as palavras certas, mas minha mente ainda está
processando o que acabou de acontecer. Não sei como responder. —
Você... você veio. Como você...
— Depois que você saiu, eu reavaliei algumas coisas. Não podia deixar
você vir até aqui sozinha e desarmada.
O rosto de Lexia fica estático como se ela estivesse revivendo alguma
memória desagradável em sua cabeça.
— Você não é a única que perdeu irmãs para ele.
Antes que eu possa responder, Milly e as outras garotas vêm correndo
pelo corredor.
— Mara, — ela começa, — o novo guarda estará aqui em breve.
Precisamos nos apressar.
Eu pego Milly olhando para o corpo de Coen.
— Ele está morto? — ela pergunta.
— Sim, — eu respondo.
— Eu esperava matá-lo eu mesma, — diz ela, olhando para Coen.
— Você não era a única, — eu respondo.
Enquanto o resto das garotas se reúnem ao redor, eu observo seus
rostos fixos em seu ex-agressor. Algumas xingam, outras cospem nele,
mas a maioria fica em silêncio.
Eu não consigo entender o que está acontecendo em suas cabeças.
Eu só tinha provado uma pequena amostra da tortura que elas
suportaram e meu ódio por Coen era implacável.
— Vamos, — Lexia rosna. — Qual o caminho para a fortaleza? Não
podemos voltar por onde eu vim.
— Por que não? — Eu pergunto, esperando que ela assuma o controle
a partir daqui.
— Eu deixei alguns corpos para trás que tenho certeza que os homens
de Coen já descobriram.
Eu me viro para as garotas.
— Alguma de vocês sabe como sair?
Todas elas balançam a cabeça negativamente.
— Cyntoia, você pode me levar de volta para onde eu te encontrei? —
Eu pergunto.
Caminhando até a frente do grupo, ela pega minha mão. Eu sinto a
força em seu aperto enquanto ela me puxa para frente.
Andamos pelo corredor com Cyntoia e eu na frente e Lexia na
retaguarda.
Assim que chegamos ao quarto onde encontrei Cyntoia, tento me
lembrar do percurso que me trouxe até lá.
Na minha pressa para encontrar as garotas, não me preocupei em
marcar meu caminho de volta.
Culpo-me por trancar todas as portas atrás de mim, mas, na hora, não
queria deixar nenhuma pista se alguém aparecesse atrás de mim.
— Não me diga que você está perdida, — Lexia diz. — Como você
esperava sair daqui?
— Eu não estava pensando, ok! — Eu retruco. As veias da minha
cabeça começam a latejar conforme o estresse da situação começa a
surgir em mim. — Achei que você conhecesse esses túneis como a palma
da sua mão.
— O que fez você pensar isso? — Lexia responde.
— Você sabia sobre o túnel que leva à fortaleza.
— Alguém está vindo! — Milly grita.
Realmente, o eco sinistro de passos viajava pelo corredor, ficando mais
alto a cada segundo.
— Todo mundo fique atrás de mim, — Lexia dá a ordem, deixando
cair sua capa no chão e revelando um arsenal afiado amarrado a seu
corpo.
Uma pequena besta está pendurada em suas costas, que ela
habilmente carrega e puxa para o ombro.
Em questão de segundos, um grupo de homens marcados vêm pra
cima de nós, com as espadas desembainhadas e a boca aberta de raiva e
excitação.
Eles podem sentir o cheiro causado pela minha Febre. Vieram para
pegar seu prêmio.
Lexia solta a flecha e ela assobia no ar, atingindo o primeiro homem e
o derrubando.
Os outros não se intimidam e continuam sua investida contra nós.
Ela tira duas facas debaixo dos braços e arremessa pelo corredor uma
atrás da outra.
Uma atinge o alvo bem na garganta, mas a outra bate contra o chão de
concreto.
Restam cinco homens.
Lexia puxa uma machadinha de seu cinto e desembainha sua adaga
curva. Ela está em desvantagem, mas ela não se intimida.
— Eu vou contê-los, — ela grita. — Tire elas daqui, vá!
Os homens marcados avançam sobre Lexia, que se esquiva ao redor
deles, desferindo golpes com seus instrumentos mortais.
Eu me viro para correr, mas as garotas permanecem imóveis em seus
lugares.
— Milly, vamos lá, — eu insisto. — O que há de errado com vocês?
— A gente cansou de fugir desses monstros marcados, — ela
responde.
Tirando o vestido, Milly solta um uivo arrepiante e começa a se
transformar. As outras garotas seguem o exemplo, e logo estou cercada
por uma matilha de lobas vorazes.
Elas saltam pelo corredor e se lançam na briga, pegando os soldados
restantes de surpresa e rasgando sua carne.
O ar está cheio de gritos horrorizados de homens sendo comidos
vivos, mas seus gritos logo são silenciados.
Após a carnificina, as garotas voltam com sangue escorrendo de suas
bocas.
Nenhuma delas diz uma palavra enquanto colocam os vestidos
novamente e limpam as evidências de sua agressão.
— Alguém está ferida? — Lexia pergunta, examinando as garotas. Elas
balançam a cabeça. Satisfeita, Lexia volta sua atenção para mim.
— Mara, você não tem tempo para pensar. Apenas confie em seus
instintos e vá. Nós vamos te seguir.
Respiro fundo e tento esquecer que a vida de todas agora está em
minhas mãos. Se eu conseguir chegar à porta de ferro, é só um passo até
a fortaleza.
— Milly, você pode pedir orientação à Deusa da Lua, — digo com uma
piscadela. — Eu mesmo perguntaria a ela, mas não estamos realmente
nos falando.
— Claro, — ela responde, sorrindo.
Tentando pensar, saio pelo corredor.
Tento me lembrar de quantas voltas dei e, depois de alguns minutos
vagando pelos corredores mal iluminados, estou convencida de que
caminhamos em círculos.
Pronta para desistir, viro em outro corredor e meu corpo se anima
com a visão da porta de metal pesada.
— Aqui embaixo, — eu grito, correndo para a porta.
Lembro que a porta trava do outro lado e espero que minha sorte não
acabe.
Eu puxo a tranca para baixo e empurro. A porta se abre e eu conduzo
as garotas para dentro.
Nunca pensei que o cheiro de terra úmida me faria tão feliz.
Minha lanterna acesa à frente, nós praticamente galopamos pelo
túnel.
O que parecia uma eternidade agora leva apenas alguns minutos.
Posso sentir a tensão no ar enquanto corremos em direção à
liberdade.
Todas nós podemos sentir o gosto da liberdade, mas só vamos
acreditar quando estivermos fora deste túnel.
A abertura na parede ainda está lá quando chegamos. Coen deve ter
tido pressa em me encontrar.
— Milly, está todo mundo aqui? — Eu pergunto. Ela conta as garotas
rapidamente.
— Sim, mas onde estamos?
— Na fortaleza da Matilha Vingança, — eu respondo.
As garotas suspiram horrorizadas.
— Por que você nos trouxe aqui? — Milly questiona, seu rosto cheio
de terror e confusão.
Eu esqueci que elas não sabem sobre a maldição de Kaden.
— Eu posso explicar isso mais tarde, mas você está segura agora. Eu
prometo.
Enquanto Milly abre a boca para protestar, um uivo de gelar o sangue
reverbera do túnel.
Todas nós nos viramos e olhamos para a escuridão.
— Mara, você trancou aquela porta de ferro? — Lexia pergunta.
Meu rosto empalidece. Com toda a emoção, até esqueci de fechá-la.
Corro para a parede e aperto a pedra que serve como alavanca de
abertura.
O buraco começa a fechar, mas já ouço o bater de patas e o rosnado
grave de um lobo enfurecido.
— Corram! — Eu grito.
Assim que as palavras saem da minha boca, um lobo gigante irrompe
pela parede emitindo um rosnado feroz.
O ferimento em sua cabeça não deixa dúvidas em minha mente.
É Coen, e ele está aqui para matar todas nós.
Capítulo 32
PRESTAÇÃO DE CONTAS
Eu cheiro o ar novamente.
Ela está aqui em algum lugar
Mas o que traria Mara a esta parte da fortaleza?
E onde está Kace?
Ela está correndo? Se escondendo?
Ou ela foi trazida aqui contra sua vontade?
KADEN

Meu ritmo acelera conforme os feromônios de Mara ficam mais


fortes. Grayson está apenas alguns passos atrás de mim. Ele também os
cheira.
Eu continuo olhando por cima do ombro para ter certeza de que ele
não ficará descontrolado.
Essa é a última coisa com a qual preciso lidar agora.
Chegamos a um longo corredor forrado com lâmpadas meio apagadas
quando um uivo feroz chega aos nossos ouvidos.
Eu sei bem isso.
É o Coen.
Eu começo a correr a toda velocidade.
O cheiro de Mara fica mais forte a cada passo e temo o pior.
Ouço Mara gritar e o som de pedras caindo. Arrancando minhas
roupas, eu me transformo enquanto corro, deixando Grayson para trás.
Eu vejo a porta à frente, luzes piscando.
Eu me jogo além da soleira.
O sangue corre para meus músculos.
Minha mente se aguça.
Estou pronto para a batalha.
Gritos enchem o espaço enquanto o grupo de garotas recua de medo.
Elas estão presas entre mim e Coen.
Procuro por Mara em seus rostos.
Ela e Lexia se colocam entre as garotas e Coen. Seu pelo é de um
marrom avermelhado sem alma com manchas de prata no focinho e no
peito. Seu pelo é brilhante, traindo o coração pútrido por dentro.
— Legal da sua parte se juntar a nós, irmão, — Coen sibila. — É uma
pena que você perdeu o evento principal. Eu teria adorado uma plateia
quando botei Mara de costas.
Suas palavras fazem meu cabelo arrepiar, e eu solto um rosnado cruel,
mostrando minhas presas para Coen.
Ver ele falando como lobo me perturba. Não é natural. Mas nada
sobre Coen é natural.
— Kaden, — grita Mara. — Ele não fez isso. Ele tentou, mas Lexia o
impediu.
— Você ouviu isso, Kaden? Sua companheira tem vergonha de dizer a
verdade. Envergonhada demais para admitir o quanto ela gostava de mim
dentro dela. Você deveria ter visto como ela gritou meu nome quando
gozou.
— Kaden, não é verdade! — Mara implora.
— Não dê ouvidos a ele, Kaden, — Lexia acrescenta.
— O que você vai fazer sobre isso, Kaden? — Coen provoca. — Ou
você quer mais cicatrizes nas suas costas?
Os lados da minha boca recuam enquanto eu mostro meus dentes.
— Você terá sorte de sair com cicatrizes apenas, Coen. Mara quebrou
seu domínio sobre mim. Eu não vou mais fazer o seu jogo.
Coen abaixa o rabo e murcha as orelhas. Ele sabe que não estou
blefando.
— Tire as garotas daqui, — eu digo.
O grupo se dirige para a porta, ainda sem saber se Coen e eu vamos
atacá-las.
Assim que as primeiras garotas escapam, Grayson invade a sala. Os
olhos de Coen se iluminam e sua confiança retoma.
— Alpha Grayson, você é exatamente a pessoa que eu queria ver.
— Bom, porque tenho algumas coisas que quero perguntar a você
depois de te esfolar, — responde Grayson.
Não gosto de quão confiante Coen está. Os lados de sua boca se
contraem em um sorriso nauseante.
— Você parece tão deslocado na forma humana, — comenta Coen. —
Por que você não convida seu lobo para se juntar a nós. Aqui, deixe-me
ajudá-lo.
Os olhos de Grayson se arregalam e seu rosto se contorce.
— Não, seu filho da — ahhh...
Seu corpo cai no chão e ele se contorce de dor, com espasmos
incontroláveis.
— Faça sua escolha, irmão, — sussurra Coen. — Enfrente-me ou salve
as garotas de Grayson.
— Eu vou te poupar da decisão, — Lexia chora, jogando suas armas no
chão. As costuras de suas roupas se rasgam quando ela também começa a
se transformar.
Eu não espero por mais nada.
Lançando-me em direção a ele, abro minha mandíbula na esperança
de fechá-la em torno da garganta de Coen. Ele me encontra no ar e nós
colidimos em uma fúria de dentes e pelos rasgados.
Atrás de mim, o lobo furioso de Grayson ruge em uma agressão
desenfreada. Ouço Lexia rosnar de volta e as garotas gritarem, mas não
há nada que eu possa fazer.
Coen e eu rolamos no chão, rasgando e arranhando um ao outro. Eu o
empurro com minhas patas traseiras e ele bate contra a parede.
Suas costelas se quebram com o impacto.
Eu fico de pé e vou para matar.
Coen recua bem a tempo e meus dentes se fecham no ar.
Nós nos rodeamos, nossas caudas estendidas atrás de nós.
Nossos olhos se fixam em um olhar mortal. Ambos sabemos que
apenas um de nós sairá vivo desta sala.
Tento não prestar atenção à luta selvagem entre Grayson e Lexia, mas
o uivo agudo de um lobo ferido tira minha atenção para longe de Coen.
Eu me viro por apenas um momento, mas é tudo que Coen precisa.
Uma dor lancinante irrompe em meu ombro enquanto os dentes de
Coen afundam em meu músculo.
Eu tropeço para trás, tentando ficar de pé, mas Coen me joga de
costas.
Estou preso em um canto com minha barriga e pescoço expostos.
Eu não me importo com o que acontecerá comigo agora.
Preciso ganhar o máximo de tempo possível para Mara e as garotas.
MARA

Depois de apressar as garotas para fora da porta, eu corro de volta para


ver a loba de Lexia em pé sobre a forma humana de Grayson. O sangue
escorre de sua boca enquanto ela inspeciona seu corpo trêmulo.
Onde está Kaden?
Meus olhos se viram para o rosnado no canto da sala e eu vejo as
costas do lobo de Coen investindo contra meu companheiro, prendendo-
o no chão enquanto ele tenta se defender.
Não, não pode acontecer desse jeito.
Não vou deixar Coen vencer.
Ele terá que matar nós dois se quiser aquelas garotas de volta.
Eu olho para minha adaga. Eu preciso de algo maior.
Meus olhos pousam na estátua da Deusa da Lua e na espada
enferrujada.
Eu a pego com as duas mãos, envolvendo meus dedos em torno do
cabo corroído.
Gritando, eu corro em direção a Coen e enfio a lâmina nele com todas
as minhas forças.
Seu corpo se contorce, arrancando a espada de minhas mãos.
Ele uiva e grita, girando em círculos, pintando a sala com seu sangue.
Eu me viro para Kaden, cujo corpo humano está mutilado no canto.
Suas pálpebras caem e sua respiração é difícil.
— Kaden, espere. Fique comigo, — eu imploro, caindo de joelhos. —
Não estou pronta para deixar você ir, — digo, acariciando seu cabelo
encharcado de sangue. — Nem pense em desistir.
Kaden esfrega o polegar no meu braço. Seu toque é leve, mas carrega a
ternura de mil beijos.
Eu o puxo para mais perto para que ele possa ouvir as batidas do meu
coração.
— Ele só bate por você, Kaden.
Eu ouço um rosnado e olho através da sala para ver a loba de Lexia
olhando para Coen.
Ele está arrastando as coxas pelo chão e estalando a mandíbula,
avisando-a para ficar longe. Uma trilha espessa de sangue o segue.
Seus ossos começam a rachar e suas feições de lobo se esvaem. Ele está
muito fraco para ficar na forma de lobo.
Logo ele está deitado nu no chão, a espada ainda enterrada em suas
costas.
— Você gosta do que vê? — Coen engasga, me encarando.
Eu caminho até ele. Ele parece tão patético e fraco agora.
Eu agarro a espada e a giro. Ele grita de dor.
— Ah, sim, de novo, Mara. Faça isso novamente! Eu vivo para isso. —
Seu sorriso doentio é ainda mais assustador do que antes.
Não vou alimentar seus desejos masoquistas. Eu largo a espada.
— Aonde você vai, Mara? — Pergunta Coen. — Não seja estraga
prazer.
Eu ouço o barulho de pés atrás de mim e na porta estão as garotas.
— Oh, aí estão vocês, — grita Coen, cuspindo sangue. — Já estão com
saudades de mim? Não se preocupem, estarei bem o suficiente para
brincar com cada uma de vocês novamente em breve.
Elas olham para ele com desgosto silencioso. Cada garota com suas
próprias memórias, seus próprios votos de vingança.
Lexia muda de volta para a forma humana e caminha até onde ela
deixou sua machadinha.
— Agora sim, — diz Coen. — Lexia, quanto tempo faz desde que eu
tive você? Desde que deixei todos aqueles outros Alfas experimentarem
você?
Ignorando-o, Lexia se vira para o resto de nós como se pedisse
permissão.
Milly e o resto das meninas acenam com a cabeça.
— Oh, o que você vai fazer com isso? — Coen tosse. — Seja o que for,
espero que doa.
Lexia levanta a machadinha e a desce entre as pernas de Coen. Um
grito estridente enche a sala quando ela desfere outro golpe.
Alcançando entre suas coxas, ela segura um órgão flácido coberto de
sangue.
Coen olha para sua virilidade pendendo em sua mão.
— Oh, vadia, você...
Lexia enfia o membro, empurrando-o profundamente em sua
garganta com o punho. Seu rosto fica roxo e suas mãos agarram sua boca.
Lexia remove as mãos dele com chutes. O resto de nós olha enquanto
Coen sufoca até a morte.
Ele finalmente para de se mover e eu sinto um peso ser tirado da
minhas costas.
— Não vou arriscar desta vez, — Lexia diz, ajoelhando-se ao lado dele.
Ela desce a machadinha no pescoço dele.
Slash!
Slash!
Slash!
Ela golpeia seu pescoço cada vez mais rápido, acertando os golpes
como uma louca. Ela continua muito depois de a cabeça de Coen ter
rolado para longe do resto de seu corpo.
Pela primeira vez desde que a conheci, vejo o rosto de Lexia suavizar.
Isso dura apenas um momento. Ela logo está de pé, caminhando em
direção a Grayson, um olhar assombrado em seus olhos.
— Não! — Eu grito, me jogando na frente dele. — Não o machuque.
Ele é seu companheiro!
— Eu te disse antes. Eu não quero um companheiro, Mara.
Principalmente aquele que tenta me matar. Agora fique de lado.
Eu mantenho minha posição.
— Você não entende...
— Lexia? — Grayson murmura atrás de mim.
Eu me viro para ver o Alpha ferido lutando para se apoiar. Seus olhos
ganham vida com a visão dela.
— Você é... você é linda.
— Aproveite a vista enquanto pode, — ela responde. — É a última
coisa que você verá.
— Lexia, pare! — Eu berro, empurrando-a para trás com minhas
mãos.
— Deixe-a fazer isso, — diz Grayson com uma voz pesada. — Eu
prefiro morrer do que estar vivo sabendo que minha companheira me
abandonou.
— Como você sabe que sou sua companheira? — Lexia exige.
— A maldição de Coen... você a quebrou, — ele responde.
Sua voz é tão fraca que mal passa de um sussurro. Lexia olha seu
corpo nu. Eu vejo algo mudar em seus olhos. Ela estende a mão, mas
rapidamente a puxa de volta.
— Pronto, acabou tudo, — ela diz. — Kaden, você ainda está vivo aí?
— Sim, — ele grita de volta. — Você não pode assumir o controle do
meu bando ainda.
Um sorriso irônico surge no rosto de Lexia.
— Tudo bem. Sou uma mulher paciente.
Enquanto ajudo Kaden a se levantar, não posso deixar de me
perguntar se ela está brincando ou não.
Capítulo 33
BEM-V INDAS DE VOLTA Eu coloco minhas mãos contra a
parede do chuveiro...
Rezando para sair viva.
Este calor é implacável...
Consumindo todo o meu corpo...
Sem me oferecer trégua... sem refúgio.
MARA

Já faz um dia e ainda não consigo domar o calor.


Pelo menos eu sei o que é agora, mas Kaden tem que ficar bom logo.
Eu tenho que esperar ele me libertar.
Eu fecho meus olhos, tentando me concentrar na água fria
derramando sobre meu corpo.
Sinto um par de braços envolver minha cintura e duas mãos grandes
agarrar minha barriga nua.
Sou inundada instantaneamente por uma espécie de alívio que faz
meus joelhos enfraquecerem.
Eu não preciso questionar quem é.
— Quem o deixou sair da cama? — Eu digo, inclinando-me para trás,
sentindo seu peito pressionar contra minhas costas.
Se ele está incomodado com a água gelada, ele não demonstra. Em vez
disso, ele acaricia suavemente minhas curvas molhadas com os dedos.
— Eu mesmo me deixei sair, — ele responde, roçando os lábios na
minha orelha. — Eu sou o Alpha, afinal.
Eu inclino minha cabeça para trás em seu ombro.
Eu posso sentir seu sorriso. Sua urgência é óbvia enquanto ele passa as
mãos suavemente sobre meus seios.
Seu toque não deixa apenas faíscas, mas um desejo avassalador. Vou
ficar realizada finalmente.
— Você não tem ideia de quanto tempo estou esperando por isso, —
ele murmura em meu ouvido, enviando arrepios dançando na minha
espinha.
Eu me viro lentamente. Ele está tão nu quanto eu, e posso sentir que
ele me quer tanto quanto eu o quero.
Eu acaricio seu rosto suavemente, as cicatrizes recentes ainda estão se
curando. Há uma mistura inebriante de paixão e luxúria em seus olhos.
Ele me beija suavemente, mas eu não esperei aqui em agonia o dia
todo para ser beijada assim.
Tomando a rédeas, agarro seu cabelo encharcado entre meus dedos e
o forço a se aproximar.
Ele começa a sair do chuveiro, levando-me com ele.
Atordoada, eu desligo a água enquanto Kaden me levanta pelas
minhas coxas. Eu não me canso dele.
Eu não me importo se chegarmos à cama. Eu preciso liberar essa
paixão dentro de mim.
Nós batemos contra a parede, sua boca quente envolvendo meus
mamilos frios. Eu não consigo manter minhas mãos paradas. Elas
agarram e apertam cada parte dele que está ao alcance.
— O que você está esperando? — eu digo, esfregando meus quadris
contra ele.
Eu sinto seu corpo estremecer enquanto arrasto minha língua em sua
bochecha.
Me afastando da parede, ele me traz para a cama e me empurra contra
os lençóis.
Eu não poderia me importar menos que nós dois estejamos
encharcados. Kaden é tudo em que posso pensar e tudo que quero
pensar.
Ele paira sobre a cama como se estivesse esperando um convite. Eu
não perco tempo dando a ele um. Mordendo meus lábios, eu abro
minhas pernas e passo minhas mãos ao longo da parte interna das
minhas coxas.
— Você vem?
A visão de seu corpo nu, brilhante e molhado me dá vontade de
brincar comigo mesma enquanto ele assiste.
— Talvez, — ele responde, me provocando.
Ele se abaixa, acomodando-se entre minhas pernas.
Ele me beija novamente, e qualquer traço de umidade evapora da
minha pele.
Eu sinto seu membro roçar contra a parte interna da minha perna,
avançando mais perto de seu destino final.
Kaden se abaixa e assume o controle, esfregando a cabeça de sua
ereção contra meus lábios.
Me deixa louca. Eu não aguento mais.
— Eu quero você dentro de mim, — eu gemo.
Ele sorri. Eu sei que ele gosta de me ver implorar.
Kaden começa a esfregar sua pelve contra meus quadris. Cada vez que
seu membro desliza contra mim, eu prendo minha respiração, esperando
que entre em meu vazio sedento.
Estou molhada, estou pronta.
Quando eu olho em seus olhos, eu o sinto mergulhar em mim.
O ar se esvai de meus pulmões enquanto eu aperto meu corpo.
Ele fica enterrado dentro de mim enquanto planta uma trilha de
beijos ao longo do meu pescoço. Sei que é minha primeira vez, mas não
quero que ele seja gentil comigo.
— Kaden, — eu gemo, com foco no prazer de sentir meu companheiro
dentro de mim.
O som de seu nome em meus lábios parece inspirá-lo.
Suas estocadas me fazem arquear as costas e gritar de prazer. Ele
aumenta o ritmo até que o som de nossos corpos batendo um contra o
outro preenche a sala.
A sensação é indescritível e não quero que nunca acabe.
Descansando sua testa contra a minha, Kaden olha profundamente
em meus olhos enquanto continua a apagar meu calor.
Minhas unhas cravam em suas costas quando o sinto começar a
perder o controle. Seu ritmo é implacável. Eu sinto que vou me dividir
em duas.
— Implore, — Kaden ordena em meu ouvido.
Estou chegando ao limite, mas ele diminui o ritmo de suas estocadas.
Estou desesperada para que ele me leve ao total prazer.
Minhas unhas cravam com mais força em suas costas. Eu não dou a
mínima para as cicatrizes recentes. Vou presenteá-lo com novas.
Ele sorri e continua com suas investidas preguiçosas.
— Kaden! — Eu rosno, empurrando meus quadris para ele.
Em vez de atender ao meu apelo silencioso por mais, ele empurra
meus quadris para baixo e continua seu ritmo lânguido.
— Implore, — ele murmura, movendo a mão do meu quadril para o
feixe de nervos sensíveis entre as minhas pernas.
Eu quase entro em combustão quando seus dedos esfregam pequenos
círculos contra meu clitóris. A sensação está além da imaginação.
— Você gosta disso? — Ele pergunta, sua respiração quente contra o
meu pescoço.
Eu me encontro balançando a cabeça e correndo minhas mãos até seu
cabelo.
O prazer em seus olhos é evidente enquanto ele continua a brincar
com meu sino e empurrando lentamente dentro de mim.
— Não pare, — eu choramingo, meus quadris respondendo ao
movimento dele. Mas ele para.
Ele puxa sua mão e sai de mim, seu rosto cheio de graça.
— Você acha isso engraçado? — Eu digo, sem fôlego. — Isso é uma
tortura...
Ele inclina a cabeça e acaricia minha coxa com a ponta dos dedos. Eu
quero dar um tapa nele, mas sei que isso apenas o encorajará mais.
— Oh, Mara, eu poderia mantê-la aqui assim por horas, — ele suspira.
Eu cerro meus dentes.
Isso é ótimo para você, querido, mas estou queimando e preciso do seu pau
para apagar o fogo.
Minha paciência acabou. Eu prendo minhas pernas em suas costas e o
forço contra mim.
— Foda-me com força, Kaden, ou não me foda de jeito nenhum, —
ordeno, jogando fora o que resta da minha pureza pela janela.
Kaden me encara com surpresa, como se ele não pudesse acreditar no
que eu acabei de dizer. Mas quando eu sinto ele me apertar mais forte e
seu rosto se iluminar com luxúria, eu sei que ele gosta.
— Eu posso fazer melhor, — diz ele, sua voz áspera e profunda.
Ele abaixa a cabeça, pressionando os lábios no meu pescoço. Eu sei sua
intenção, e isso faz minha pele formigar.
Em um segundo, tudo muda. Eu vou de não acasalada para acasalada
enquanto Kaden afunda seus dentes no meu pescoço e mergulha seu
membro duro profundamente dentro de mim.
Eu grito com o prazer de sua entrada e a dor de seus dentes
perfurando minha pele.
Olho em seus olhos e, pela primeira vez, sei, sem hesitação, que
pertencemos um ao outro.
Ele levanta minha perna direita e deixa suas estocadas ainda mais
profundas.
Seu ritmo acelera e eu tenho que morder meu lábio para não chorar
de prazer.
— Deixe sair, — ele ronrona em meu ouvido. — Não se segure.
Eu não preciso que ele me diga duas vezes.
Gemidos e uivos de prazer desenfreado saem de meus lábios. Eu sinto
que Kaden fica mais duro dentro de mim e ver seu abdômen inchar de
fadiga.
Ele pega meu corpo e o possui totalmente, reivindicando-me da
maneira mais requintada e entorpecente.
Eu sou dele em todos os sentidos inimagináveis.
Eu me sinto perdendo o controle e sei pelos gemidos de Kaden que
não haverá nenhuma provocação desta vez.
— Kaden, eu quero sentir você gozar dentro de mim, — eu grito,
deslizando minha mão entre minhas pernas e massageando meu clitóris.
Eu o deixei maluco e sinto a tensão crescendo em nós dois. Eu olho
para ele e ele olha para mim.
Juntos, experimentamos uma explosão de sensações. Meus músculos
se contraem em torno de seu membro enquanto ele despeja cada grama
que tem dentro de mim.
Caímos nos braços um do outro, inúteis, exaustos.
O calor finalmente se foi, e tudo neste momento parece perfeitamente
no lugar.
Eu viro minha cabeça e vejo Kaden olhando amorosamente de volta
para mim.
— Nunca pensei que me sentiria tão perto de outra pessoa, — diz ele,
entrelaçando os dedos nos meus.
— Somos dois, — eu respondo antes de pressionar meus lábios nos
dele.

Eu me olho no espelho.
Daqui a algumas horas estarei viajando com Milly e o resto das garotas
de volta a Matilha da Pureza para nos reunir com nossas famílias.
Espero que meus pais não tenham um ataque cardíaco quando
descobrirem que estou agora acasalada com Alpha Kaden.
Estou ansiosa para a volta ao lar, mas sei que não vou ficar. Meu lugar
é aqui, como Luna da Matilha da Vingança.
Kaden cedeu toda a Cidade da Vingança para Lexia em troca de sua
ajuda para derrotar Coen.
Ela conseguiu seu reino exatamente como queria. Quanto a Grayson,
bem, ela o deixou viver, o que é mais do que eu esperava.
Eu vejo Milly entrar no reflexo do espelho.
Seu cabelo está lavado e escovado e a sujeira foi removida de sua pele.
Um vestido floral envolve seu corpo. Mas o mais importante, há uma
faísca em seus olhos. Uma ânsia de vida que foi extinguida durante seu
tempo nos túneis.
— Você parece tão feliz, — eu digo.
Ela sorri e balança a saia do vestido.
— Você pode imaginá-los nos deixando usar algo tão colorido em
casa?
— Não, — eu digo, rindo. — Irmã Lumina teria um ataque.
Milly ri também. Seu sorriso irradia esperança e um novo começo.
Nós nos abraçamos com força, sem dizer uma palavra.
Nós não precisamos.
Somos irmãs.
KADEN

Envio uma página com as instruções finais para o serviço fúnebre de


Kace.
Lexia vasculhou os túneis com seus homens e eles nunca encontraram
seu corpo ou os dos homens marcados que mataram.
Cada vestígio dos homens e de sua organização secreta desapareceu
durante a noite.
Não consigo me livrar da culpa que aperta meu coração. Eu nunca
deveria ter deixado ele e Mara sozinhos.
Eu ouço uma batida e Grayson entra na sala.
— Eu pensei que você estaria lá embaixo com sua companheira, — ele
diz, fechando a porta e mancando até mim.
Eu posso ver a dor em seus olhos quando ele diz essas últimas
palavras. Ele ainda está tentando lidar com a rejeição de Lexia.
— Eu queria dar a ela um tempo com as garotas antes de entrar. Ela
está perguntando por mim?
— Na verdade, — Grayson responde, — quero falar com você em
particular por um momento.
— Claro, — eu digo, puxando uma cadeira para ele.
Ele prefere ficar em pé.
— Não, está tudo bem. Vou me encostar na mesa. — Um sorriso surge
em seu rosto. — Quando você se tornou tão atencioso?
— Eu culpo minha companheira, — eu digo. — Então, o que você quer
discutir?
O rosto de Grayson fica solene.
— É sobre os outros Alfas, aqueles que compraram garotas de Coen.
Precisamos ir atrás deles. Precisamos fazer com que eles paguem.
As palavras de Grayson trazem o assunto de volta à minha mente.
As garotas nos deram uma lista de nomes e todos os Alfas ausentes do
meu conselho estavam nela. Mesmo aqueles que apareceram ainda
estavam sob escrutínio... incluindo Grayson.
Mantenha seus amigos perto...
Sei que devolver as garotas não as manterá fora de perigo. Elas não
estarão seguras até que eu venha a público com o que sei. Mas até eu
devo ter cuidado agora.
Coen pode estar morto, mas uma série de novos inimigos surgiram
para substituí-lo.
Não tenho certeza se Mara e eu algum dia teremos paz. Talvez esse
seja o fardo dos justos.
Eu volto minha atenção para Grayson, que está esperando pela minha
resposta.
Colocando minhas mãos em seus ombros, eu olho em seus olhos.
Procurando.
Considerando.
— Paciência, amigo. Eu vingarei todas elas.
KACE

Eu ouço o barulho de metal e minhas pálpebras se abrem. Tento me


mover, mas meus pulsos e tornozelos estão presos.
A caverna ao meu redor é banhada por luz fluorescente e, à distância,
serras e furadeiras soltam seu gemido mecânico enquanto moem e
cortam.
Sinto uma pulsação no peito e olho para baixo para ver manchas
grosseiras cobrindo duas grandes feridas em meu torso.
— Ele está se movendo, — uma voz chama por trás.
Merda.
Eu luto contra minhas algemas, mas nada cede.
— Economize suas forças, menino bonito, — diz a voz.
Dois homens se inclinam sobre minha cabeça. Estampada em cada
uma de suas bochechas está a marca escura.
Um tem olhos azuis e cabelos ruivos desgrenhados. O outro tem uma
cicatriz onde costumava estar seu olho direito e a cabeça raspada.
Nenhum dos dois parece particularmente amigável.
— Onde estou? — Eu exijo. — Onde está meu irmão? Onde está
Coen?
— Coen? — diz o homem de olhos azuis.
— Sim, — eu atiro de volta. — Coen, seu líder.
Os dois homens riem enquanto trocam um olhar.
— Veja, você está enganado aí, amigo, — diz o homem de olhos azuis.
— Coen não é nosso líder.
Livro 2 – Sem Revisão
Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Capítulo 1
LAR DOCE LAR
MARA

— Mara, vai ficar tudo bem...


— Duvido seriamente disso.
— Estamos trazendo suas meninas desaparecidas para casa. A Matilha da
pureza vai se apaixonar por mim. Assim como você fez.
— Eu não teria tanta certeza, Alpha Kaden...
Eu fico olhando para as paredes altas, Kaden ao meu lado. Parece que
já faz um milhão de anos desde a última vez que estive aqui com a
Matilha da Pureza. Eu era apenas uma garotinha boba quando parti.
Agora sou Luna da Matilha da Vingança e meu companheiro é Alpha
Kaden.
O grande lobo mau.
Eu me pergunto o que meus pais vão pensar.
Kaden está certo. Temos as meninas desaparecidas. Depois de
explicarmos tudo, eles terão que gostar dele. Certo?
Certo?!
Eu ouço um gemido mecânico alto quando duas grandes portas se
separam na parede.
Respiro.
Agora é tudo ou nada...
Kaden e eu seguimos os guardas da Matilha da Pureza dentro das
paredes. Milly e as meninas desaparecidas caminham atrás de nós,
olhando estranhamente para as ruas e prédios que conhecíamos tão bem.
Depois dos horrores que experimentaram nos túneis, voltar para casa
deve parecer surreal.
Chegamos à praça da cidade. Parece que todo o bando se reuniu para
nos encontrar.
Meus olhos se enchem de lágrimas.
Por mais que a Matilha da Pureza tenha me enganado e me
envenenado contra meu futuro companheiro, ainda é bom estar em casa.
— Milly!
Seus pais explodem na multidão, envolvendo sua filha no abraço mais
apertado que eu já vi.
O rosto de Milly brilha com lágrimas de felicidade. Ela ergue os olhos
para me dar um sorriso agradecido.
Eu sorrio. Estou muito feliz por ela.
Os pais das outras meninas encontram suas filhas, compartilhando
abraços chorosos. Meu coração incha. Nunca vi tanta emoção em nossa
matilha. Com todas as nossas regras rígidas e religião, você não pensaria
que tínhamos isso dentro de nós.
Eu vejo Kaden enxugando os olhos. Ele me nota e se afasta.
— O que? Eu tenho um pouco de sujeira neles, só isso.
Kaden é secretamente um sentimental?
Oh meu Deus.
Eu o amo mais do que nunca.
— Mara!
Eu reconheço a voz da minha mãe. Deixo o lado de Kaden para
procurar na multidão por ela. Encontro meus pais em pé ao lado da
estátua da Deusa da Lua no meio da praça.
Típico.
Agora estou chorando muito. Eles também estão. Enquanto nos
abraçamos, tento esquecer que a última vez que os vi, estávamos em uma
discussão amarga. Parece que foi há muito tempo.
— Senti tanto a sua falta, — consigo murmurar.
— Oramos todas as noites para que a Deusa da Lua trouxesse você
para casa, — diz meu pai sem fôlego. — Toda noite. — Mamãe balança a
cabeça fanaticamente.
Ugh. Poderíamos ter um bom momento em família sem a estúpida Deusa
da Lua?
Eu seguro minha língua. A velha Mara teria adorado dizer a eles que a
Deusa da Lua não tem nada a ver com isso, mas estou acima de
discussões infantis agora.
De repente, um lamento alto silencia a conversa feliz ao nosso redor.
Os olhos de todos se voltam para um casal de meia-idade. A mulher
estremece de tristeza.
— Amber? Amber? Onde está minha Amber?
Oh merda.
Não pegamos todas elas.
Meu coração se parte pela mulher devastada, vagando pela praça
como um fantasma, intrometendo-se nas reuniões de família para
perguntar às meninas se elas viram sua filha desaparecida.
Eu sei que é loucura, mas parece que tudo isso é minha culpa.
— Onde ela está? Me responda, seu grande filho da puta!
— Eu não sei!
Eu olho para ver o marido da mulher se aproximando de Kaden, um
olhar assassino em seus olhos.
Caramba! Nunca ouvi ninguém na Matilha da Pureza xingar antes —
exceto eu, é claro. Essas meninas desaparecidas deixaram nossa pequena
comunidade conservadora de pernas para o ar O homem aperta os olhos
para as tatuagens que cobrem os braços musculosos de Kaden.
— Espere um minuto... você é da Matilha da Vingança!
Acho que foi apenas uma questão de tempo, especialmente
considerando todos os pôsteres Anti-Matilha da Vingança que agora
noto que estão espalhados pela praça.
Corro para o lado do meu companheiro. Ele não parece saber como
reagir ao pai enlutado se movendo sobre ele com ódio em seus olhos.
— Pare! Não é culpa de Kaden!
Eu vejo queixos caídos ao meu redor.
Merda, merda, merda!
Por que eu disse Kaden?!
Eles nunca o teriam reconhecido sem seu capuz e luvas.
Eu continuo sem jeito...
— Ele foi amaldiçoado.... Ele ajudou a salvar essas meninas...
— Mara está certa!
— Kaden não é o cara mau!
Milly e as outras meninas intervém para defender Kaden, mas
nenhum deles parecem acreditar.
Os pais fixam olhares temerosos em Kaden. Eu ouço seus suspiros e
sussurros.
Meu companheiro de repente se encontra sob a grande tenda deste
circo.
Ele dá um passo trêmulo para frente, parecendo um pouco incerto.
— Eu sou Alpha Kaden da Matilha da Vingança. Sei que muitos de
vocês acreditam que tenho algo a ver com suas garotas desaparecidas e,
bem, eu tinha...
Ele se esforça para encontrar as palavras certas. Eu sei que é difícil
para ele admitir isso, especialmente na frente de algumas centenas de
lobisomens agitados que já o odeiam. Mas eu sei que ele pode chegar até
eles.
Vamos, Kaden. Você pode fazer isso.
— Eu... eu estava sendo controlado pelo meu irmão malvado... — ele
gagueja, começando a perdê-los.
— Besteira! — Um grito trêmulo abre as comportas. A multidão vibra
como uma colmeia chutada.
— Diga-nos a verdade, Alpha Kaden!
Eu ouço as vozes dos meus próprios pais se juntando à multidão.
— Onde está Amber?
— Onde está Amber?!
Kaden parece oprimido. A comunicação nunca foi realmente sua
praia. Mais e mais vozes raivosas se erguem ao nosso redor. Isso não
poderia estar pior...
O pai de Amber pega uma pedra do chão e joga sobre a minha cabeça
em direção a Kaden. Ele mal se esquiva.
Mais pais pegam pedras, gravetos, lixo — qualquer coisa ao alcance do
braço — e os lançam em Kaden.
— Seus tolos! Eu não sei de nada!
Kaden ferve de raiva enquanto se protege dos objetos que chovem.
Posso dizer que ele está gastando toda a sua energia para não lutar. Eu
posso praticamente ver seu lobo tentando sair, porque o meu também
está.
Eu não posso acreditar que a Matilha da Pureza é tão ignorante. Tão
relutante em ouvir.
Trouxemos de volta as meninas desaparecidas. Eles deveriam pelo
menos dar uma chance a Kaden.
Foi uma má ideia o trazer aqui. Eu deveria ter pensado melhor.
— Pare!
Uma voz dura se eleva acima do barulho. Todo mundo congela.
Alpha Rylan atravessa a multidão em direção a Kaden, a expressão sob
seu cabelo prateado curto arrumado parecendo com uma esfinge.
A multidão se separa. Todos, exceto Kaden, abaixam seus pescoços em
relação ao líder da Matilha da Pureza. Até eu.
Eu sei que estou na Matilha da Vingança agora, mas acho que velhos
hábitos são difíceis de morrer.
Kaden dá um passo à frente para encontrar Alpha Rylan, latas e
garrafas esmagando ruidosamente sob seus pés.
— Saudações, Alpha Rylan. Eu devolvi suas meninas desaparecidas.
Os olhos de Alpha Rylan vagarosamente flutuam pela multidão,
parecendo identificar cada garota. Seu olhar me encontra por último.
Parece que ele está olhando diretamente para minha alma. Ele pode
dizer que eu mudei? Que eu acasalei, com nosso suposto inimigo?
Eu me sinto contorcida e estranha.
Eu me sinto julgada.
É como se eu fosse uma garotinha de volta à aula com as Irmãs da
Deusa da Lua.
Finalmente, Alpha Rylan se volta para Kaden. Ele oferece o menor
aceno de cabeça.
— É bom tê-las de volta.
— Não, graças a você, — bufa Kaden. — Você deveria enviar ajuda,
lembra?
Alpha Rylan sorri levemente.
— Eu orei para a Deusa da Lua para que nossas meninas fossem
encontradas em segurança. Todo o crédito pertence a ela.
— O crédito pertence a Matilha da Vingança, — Kaden rosna. —
Enquanto você sentava na sua bunda dizendo suas orações, estávamos
arriscando nossas vidas. E, francamente, acho que você nos deve um
pouco de gratidão. Risca isso. Muita gratidão.
Puta merda.
Ninguém fala com Alpha Rylan assim.
Eu ouço alguns rosnados baixos na multidão.
Eu admiro a paixão de Kaden, mas me preocupo que ele tenha levado
isso longe demais. A matilha da Pureza fará qualquer coisa para defender a
honra de seu Alpha.
Eu vejo o sorriso sumir do rosto de Rylan. Como o resto da Matilha da
Pureza, eu prendo minha respiração, nervosamente esperando sua
resposta.
— Vamos continuar essa discussão em meus aposentos.
Kaden sorri.
— Mostre o caminho, Alpha.
Rylan começa a caminhar na direção do templo da Deusa da Lua. A
torre alta e antiga se destaca acima dos outros edifícios dentro de nossas
paredes.
Kaden pisca para mim antes de entrar na fila atrás de Rylan. A
multidão se abre para eles.
Muitos olhos carrancudos observam Kaden, mas ele mantém a cabeça
erguida, ignorando todos.
Eu gostaria que meu companheiro não estivesse agindo como um
idiota.
Mas, ao mesmo tempo, acho que isso é bom para a Matilha da Pureza.
Eles precisam de uma pequena sacudida de vez em quando.
A empolgação acabou, a multidão começou a se separar. Eu posso ver
as meninas desaparecidas conversando com seus pais sobre Kaden.
Espero que um deles acredite.
Mais uma vez, localizo meus pais. Desta vez, eles não parecem tão
felizes em me ver. Posso sentir seus sentimentos de desconforto.
— O que é?
— Por que você estava defendendo Alpha Kaden? — Papai pergunta
com um tom suspeito. — Você sabe que ele é o inimigo jurado de nosso
bando. Certamente nós a criamos melhor do que isso.
— Você não sabe nada sobre Kaden, — eu digo, sentindo minha
temperatura subir.
— Então me diga o que eu devo saber.
— Vamos levar você de volta para casa para uma boa refeição caseira,
— mamãe interrompe, sentindo a tempestade se formando. — Não
precisamos conversar sobre o que aconteceu.
Eu observo meus pais em silêncio por um momento.
Eu tenho que contar a eles.
Claro, eu poderia esperar. Talvez tentar dar a notícia durante o jantar
ou algo assim. Mas de que adianta?
Cada célula do meu corpo está perdidamente apaixonada por Kaden.
Eu não podia esperar esconder isso deles.
Ainda sinto a pontada maçante da marca que ele me deu apenas
algumas noites antes. A memória de nossa noite apaixonada juntos faz
meu corpo formigar.
Eles têm que saber.
Eu engulo em seco.
— Eu tenho que te contar algo sobre Kaden.
— Ele machucou você, Mara? Mamãe pergunta baixinho. Papai se
enfurece.
— Se essa besta tocou um fio de cabelo da sua cabeça, eu juro que vou—
— Apenas ouça, ok? Kaden não me machucou. Ele nunca me machucaria.
Eles se olham, confusos. Eu fico olhando para o chão.
— Mãe, pai... Kaden é meu companheiro.
Capítulo 2
LOBO NA CASA DAS GALINHAS
MARA

— Estou tendo um ataque cardíaco!


— Não, você não está, pai.
— Minha filha não pode ser a companheira de Alpha Kaden! E impossível!
— E muito possível. Aconteceu.
— Por que a Deusa da Lua nos puniria assim? Como a desagradamos?
Diga-nos, Deusa da Lua! Nos diga! Conte-nos!
Meus pais continuam assim durante todo o caminho de volta para
casa. Eu mal consigo dizer uma palavra. Eles estão em modo de colapso
total.
Eles continuam pensando que a Deusa da Lua os está punindo.
Ou estou inventando.
Ou estão prestes a sofrer alguma condição médica relacionada ao
estresse.
Não acredito que costumava pensar que essas pessoas eram adultos.
De nós três, agora me sinto a única adulta racional. Quando chegamos
em casa, estou atingindo meu limite.
— Ele deve ter feito uma lavagem cerebral em você, — meu pai
raciocina enquanto caminha pela sala de estar. — Você é apenas uma
adolescente.
Mamãe me abraça. — Não é sua culpa, Mara. Você não conhece nada
melhor.
Não perca a paciência, Mar a...
— Eu não sou uma garotinha estúpida. Sou uma mulher adulta.
— Mara, você está em choque. Você não sabe o que está dizendo...
— Não estou em choque. Apenas... apenas olhe. Você precisa ver isso.
Eu puxo a gola da minha blusa, expondo as marcas que Kaden me deu
algumas noites atrás. Duas grandes perfurações com crostas de sangue
vermelho-púrpura escuro.
Meus pais ficam boquiabertos, sem palavras pela primeira vez no que
parecem horas.
Acho que finalmente tenho a atenção deles.
— Olhem. Eu não fui submetida a uma lavagem cerebral. A Deusa da
Lua não está punindo vocês. Vocês não estão tendo uma convulsão,
ataque cardíaco ou aneurisma cerebral.
— Kaden é meu companheiro. Não é porque ele me sequestrou, é
porque eu o amo e ele me ama. Vocês podem tentar entender isso?
Meus pais ficam em silêncio por um momento.
— E tudo o que Alpha Rylan disse sobre ele? A Matilha da Vingança é
mau. Ele não iria simplesmente inventar tudo.
— Kaden era controlado por seu irmão gêmeo, Coen, que estava
envolvido com magia negra. Ele não era ele mesmo até muito
recentemente. Eu quebrei a maldição.
— Você quebrou-? Como?
— Bem, eu meio que... o esfaqueei.
— Você esfaqueou -Alpha Kaden?
Papai parece meio impressionado.
Ele poderia estar voltando?
Eu respiro fundo.
— Eu sei que provavelmente não parece para você, mas eu cresci
muito desde a última vez que você me viu. Eu sou a Luna da Matilha da
Vingança agora. Eu realmente gostaria que você pudesse aceitar quem eu
me tomei e o homem que escolhi para passar minha vida.
— Mara, ele sequestrou você, — minha mãe me lembra.
— Nenhuma história de amor é perfeita, — rebato. — Papai não te
chamou para sair um milhão de vezes antes de você finalmente dizer
sim? Muitas pessoas pensariam que isso é meio louco e perseguidor, mas
aqui está você, anos depois, felizmente acasalada e conversando com sua
filha de dezoito anos.
— Não é a mesma coisa, — resmunga papai, que eu provavelmente
não deveria ter descrito como um perseguidor.
— Não sei... — diz minha mãe, com nostalgia na voz. — Pensando
bem, se você pudesse escapar impune de me sequestrar, certamente o
teria feito.
Papai fica furioso. Mamãe deve estar certa.
Eu aproveito minha chance.
— Por que não o convidamos para jantar? — Eu sugiro. — Você pode
conhecer o verdadeiro Kaden. O homem por quem me apaixonei, não o
bandido das canções de ninar.
— Alpha Kaden? Em nossa casa? Para jantar — Desta vez, mamãe
parece que vai desmaiar. — O que os vizinhos pensariam?
Os vizinhos?! Quem diabos se importa com o que as outras pessoas
pensam?
Apenas todos na Matilha da Pureza, eu me lembro. Se eu quiser que
isso funcione, tenho que manter a calma e pisar com cuidado.
— Eu sei que isso é difícil de processar, mas Kaden faz parte da nossa
família agora.
Parece que mamãe engoliu uma aranha, mas eu continuo.
— A família sempre vem em primeiro lugar para vocês. Para todos
nós. Não faz sentido que todos nós devemos sentar e nos conhecer?
Eles olham um para o outro. Estou conseguindo falar com eles? Difícil
dizer. E hora de buscar alguns pontos de simpatia...
— Kaden não tem mais nenhuma família. Seus pais morreram quando
ele era pequeno. Ele acabou de perder seus dois irmãos. Estou sempre
dizendo a ele que vocês são ótimos pais...
Eu literalmente nunca -disse isso a ele, mas de qualquer maneira...
— Eu sei que ele realmente valorizaria conhecer as pessoas incríveis
que me criaram e passar algum tempo de qualidade em família juntos.
Ele estará em seu melhor comportamento. Eu prometo.
Espero.
Eu selo o lance com o sorriso mais cheio de dentes que posso reunir.
Alguns momentos tensos se passam. Papai finalmente suspira.
— Eu acho que um pequeno jantar não nos mataria. Provavelmente.
Mamãe acena com a cabeça trêmula. — Tudo bem, Mara. Mas só
estamos fazendo isso porque amamos você.
Meu coração salta! Eu abraço os dois. Estou feliz por eles estarem nos
dando uma chance.
— Vocês não vão se arrepender disso. Vocês vão se apaixonar por ele,
eu sei disso.
Papai sorri tristemente. — Eu certamente espero que sim...
Seu tom mata meu humor comemorativo.
Caramba. Há um problema. Eu sei que há um problema...
— Porque se Kaden não puder causar uma boa impressão e provar que
o julgamos mal todos esses anos, — papai continua, — ele não será bem-
vindo aqui na Matilha da Pureza.
— Mas se ele não é bem-vindo na Matilha da Pureza, — eu raciocino,
— isso significa que eu também não vou voltar. Somos companheiros
agora. É um Matilha.
— Se é assim que você realmente se sente, — papai diz, olhando para
as mãos, sua voz ficando baixa. — Então, infelizmente, é assim que deve
ser.
— O que?! Quer dizer que você simplesmente me expulsaria? Bem
desse jeito?
Mamãe acena com a cabeça solenemente. — Sinto muito, Mara, mas
seu pai e eu estamos de acordo. A família é muito importante para nós...
mas nossa Matilha vem primeiro.
De repente, sinto que estou me afogando. Não ser mais bem-vinda na
Matilha da Pureza?
Quero dizer, é claro, estou planejando viver com Kaden no Castelo da
Vingança.
Eu sou Luna pelo amor de Deus.
Mas saber que nunca poderia voltar para ver meus pais, meus velhos
amigos, minha casa de infância... Só de imaginar isso está me destruindo
por dentro.
Eu nunca teria vergonha de Kaden, mas espero como o inferno que ele
não estrague este jantar.
Quero que meus pais conheçam o homem maravilhoso que aprendi a
entender e amar, não o bruto desajeitado que eles viram antes.
Meu coração está contando com você, Kaden. Não me decepcione KADEN
Rylan murmura uma oração silenciosa enquanto eu olho pela janela
para a grande parede feia que cerca a Matilha da Pureza.
Eu escolheria a Cidade da Vingança em vez dessa utopia falsa em
qualquer dia da semana.
Rylan abre os olhos e me encara em silêncio.
Como se eu fosse algum tipo de espécime. Este velho desgraçado
flácido sabe como me irritar.
Não sei mais o que fazer, então começo a falar.
— Acontece que Coen estava traficando essas meninas. Ele tinha
clientes em outras Matilhas. Eu quero encontrá-los e levá-los à justiça.
Precisamos enviar uma mensagem de que isso não pode continuar.
— E você gostaria da minha ajuda com isso?
— A maioria das vítimas veio de sua matilha. Achei que você gostaria
de ajudar.
Rylan ergue o nariz.
— Você assumiu errado. Não vou me associar a um membro da
Matilha da Vingança. Especialmente com Alpha Kaden, com certeza não-.
Ele cospe meu nome como uma espinha de peixe. Tento controlar
meu temperamento.
— Coen estava me controlando. A maldição foi quebrada. Eu sei que
não concordamos muito, mas minha nova companheira é da Matilha da
Pureza. Vamos deixar o passado no passado. Se esquecermos o passado,
nossas duas matilhas terão um futuro mais forte.
Rylan esfrega o pingente da Deusa da Lua em seu pescoço. Eu fico
mais e mais chateado conforme seu silêncio se estende.
— Nós temos um monte de estátuas da Deusa da Lua no Castelo da
Vingança que ninguém está usando. Se isso melhorar o negócio, elas são
todas suas.
— Eu não tenho nenhum desejo de mais confraternização entre
nossos bandos, — Rylan responde com desdém. Agradeço que nossas
meninas tenham retomado, mas de agora em diante, deixe-nos em paz.
— Mas Alpha Rylan—
— Leve sua companheira de volta para a Matilha da Vingança, onde
vocês dois pertencem. Sua maldição pode ter sido quebrada, mas você
ainda é o hedonista vil que sempre foi.
— Seu filho da puta!
Eu pulo de pé. Eu deveria arrancar a garganta desse cretino piedoso,
mas isso só provaria que ele estava certo.
Eu deveria ter pensado melhor antes de pedir ajuda a ele novamente.
Este é o Rylan que todos conhecem. Ele é o Alpha da Matilha da Pureza
há décadas. Ele sempre odiou a Matilha da Vingança, mesmo antes do
meu tempo.
Eu o vejo me olhando com diversão e faço tudo que posso para me
acalmar.
— Assim seja, — eu rosno, mal mantendo meu autocontrole.
Agora Rylan se levanta.
— Estou feliz por temos chegado a um entendimento.
Ele cruza o chão e se ajoelha em um pequeno altar da deusa da lua.
— Isso é tudo. A menos que você queira ficar e orar comigo?
Eu bufo.
— Prefiro comer vidro.
Rylan me dá seu sorriso fino irritante novamente e se vira em direção
ao altar.
— Nesse caso, por favor, deixe meu território imediatamente. Você
criou uma grande confusão aqui, e acho que todos nós gostaríamos de
um retorno à normalidade.
Ele inclina a cabeça, aparentemente encerrando a conversa.
Espero nunca mais ver esse idiota hipócrita de novo.
MARA

Estou sentado na varanda da frente dos meus pais quando vejo Kaden
vagando pela rua.
É estranho pensar que, poucas semanas atrás, a visão de Alpha Kaden
andando pela minha rua teria me feito perder a cabeça de medo.
Então, novamente, eu não tinha visto aquele rosto lindo dele.
Eu estava louca por me apaixonar por ele?
Tornando-se sua companheira?
Estar de volta a Matilha da Pureza está começando a me fazer duvidar.
Todo mundo aqui ainda tem tanto medo dele.
— Kaden!
Quando digo seu nome, me lembro com culpa da preocupação de
minha mãe com os vizinhos. Felizmente não tem ninguém por perto.
O sorriso de Kaden me faz esquecer meus pais. O jantar. A Matilha da
Pureza. Tudo menos ele. É como o sol nascendo depois de uma
tempestade.
Se estou louca, espero nunca estar sã novamente.
Kaden se junta a mim na varanda, sentando perto. Eu acaricio seu
ombro. Ele coloca um braço em volta de mim. Meu coração parece
inteiro novamente.
Meus vizinhos provavelmente estão assistindo esta cena escandalosa
se desenrolar através de suas cortinas agora, mas francamente, eu não
poderia me importar menos.
— Como foi com Alpha Rylan?
Kaden suspira.
— Ele não vai ajudar.
— O que? Mas ainda há garotas da Matilha da Pureza por aí.
— Eu sei eu sei. Mas ele diz que não vai se associar com a Matilha da
Vingança. Mesmo com minha maldição suspensa.
— Que idiota!
Kaden sorri.
— Eu ia chamá-lo de imbecil, mas claro, idiota funciona.
Nós dois rimos.
— Precisamos sair daqui, Mara. Rylan não me quer em seu território.
— Mas eu prometi aos meus pais que jantaríamos com eles.
Os olhos de Kaden se arregalam.
— Jantar? Com seus pais?
Eu encolho os ombros inocentemente.
— Eles realmente querem te conhecer.
Kaden balança a cabeça e se levanta.
— Depois da recepção que tive na cidade mais cedo, estou bastante
confiante de que é uma mentira descarada.
Eu agarro seu braço.
— Kaden, por favor isso é importante para mim.
Eu quero que vocês gostem um do outro. — Mara, sou o Alpha da
Matilha da Vingança. Eu não participo de jantares para os pais.
— Sim, você participa minhas unhas cavam em sua pele e sinto Kaden
enrijecer. Ele para e se vira, me deixando puxar ele para mais perto.
— Meus pais me disseram que não sou bem-vinda na Matilha da
Pureza se não pudermos causar uma boa impressão. Ninguém sai da
Matilha da Pureza, então isso significa que nunca mais os verei.
Kaden se senta novamente. Meu dedo traça círculos em seu peito
duro e maciço.
— Você é melhor sem a Matilha da Pureza. Nós dois sabemos disso.
Esqueça seus pais. Vamos lá. Se eles realmente se importassem com você,
eles ficariam felizes com qualquer -companheiro que você escolhesse.
Kaden está certo, é claro, mas as coisas são diferentes na Matilha da
Pureza. Eu quero que meus pais vejam que Kaden não é o cara mau que
todos pensam.
Se pudermos convencê-los, talvez possamos convencer o resto da
Matilha da Pureza.
Eu esfrego sua coxa, minha mão avançando cada vez mais perto de sua
virilha. Eu vejo a protuberância crescendo em seu jeans.
— Kaden, por favor...
Ele geme baixinho.
— Você realmente quer isso, hein?
Eu pego a protuberância.
— Mais do que nada.
Kaden faz uma careta. Posso praticamente ver o calor subindo de seu
corpo.
Para ser honesta, estou muito excitado comigo mesma. Nunca estive
com um cara na casa dos meus pais. E aqui estamos nós, na porra da
varanda da frente, para toda a vizinhança ver.
Eu beijo seu pescoço, meus dedos atrapalhando-se com sua braguilha.
— Lindo, por favor?
Minha mão serpenteia dentro de sua calça e aperta seu pau inchado.
Ele se rende imediatamente.
— Está bem, está bem! Você ganhou!
Com uma sensação de vitória, eu o beijo com força. Quando nossas
línguas se encontram, é como ser atingido por um raio.
As mãos de Kaden rondam meus seios. Então, de repente, ele se afasta.
— Se você quer que eu dê uma boa impressão, provavelmente
deveríamos levar isso para dentro, — ele murmura, olhando para cima e
para baixo na rua vazia.
Eu me levanto e o arrasto em direção à porta. Meu corpo está
implorando por ele.
— Meus pais estão fazendo compras no mercado.
Kaden ri quando entramos em casa e começamos a tirar nossas
roupas.
— Essa é a coisa mais sexy que você já disse.
Eu o levo para a sala e o puxo para baixo em um sofá.
Achei que queria que ele se comportasse da melhor maneira possível.
Mas agora, vendo seu corpo nu e rasgado subindo em cima do meu, seu
pau grande endurecendo a cada segundo...
Eu quero ele no seu pior
Capítulo 3
O JANTAR
MARA

Ele cobre meus seios com beijos, Enquanto seus dedos rastejam abaixo da
minha cintura.
Ele toca meus botões como um músico, E a qualquer segundo, vou cantar
Eu fecho meus olhos e coloco minha cabeça para trás no sofá, sentindo
os dedos de Kaden trabalhando sua magia no meu sexo.
Um gemido escapa da minha garganta. Fico maravilhada em como um
homem tão corpulento pode ter esse toque delicado.
Mas agora eu quero ríspido.
Minhas mãos agarram a bunda nua de Kaden e o puxam para mim.
Sinto sua ereção deslizar pela minha perna, cada vez mais perto de seu
alvo úmido e trêmulo.
— Me fode agora eu ordeno.
Kaden sorri.
— Como quiser, Luna.
Eu o sinto esfregar sua cabeça para cima e para baixo em meus lábios
inferiores, tão gentil quanto seus dedos.
Meu companheiro está me torturando.
Eu gemo alto.
Coloque!
Ele finalmente se posiciona sobre mim, e eu sei que ele está pronto
para penetrar.
Eu me preparo para o impacto de seu primeiro golpe de quebrar o
crânio...
Espere, o que é isso?
A porta da frente está se abrindo?
— Mara, estamos em casa!
Merda, merda!
Empurro Kaden de cima de mim enquanto ouço os passos dos meus
pais se aproximando da sala de estar.
Temos apenas alguns segundos.
Como pude ser tão imprudente?!
Kaden pega nossas roupas do chão. Pego um cobertor do sofá.
Os passos dos meus pais estão do lado de fora da porta!
— Mara? Você está aqui?
— Hum, sim!
Kaden tenta dançar em seus jeans, mas não há tempo. Eu o puxo de
volta para o sofá e jogo um cobertor sobre nós. Graças à deusa é grande o
suficiente para cobrir nós dois.
Meus pais entram na sala.
— Tirando uma soneca de gato, Mara...
A voz da mamãe desaparece quando ela percebe Alpha Kaden debaixo
das cobertas comigo.
— Oh! Eu não percebi... nosso hum... convidado já estava aqui.
Os olhos desconfiados de papai focam em Kaden.
Eu o vejo farejando. Franzindo a testa.
Eu estremeço.
Não há como eles não sentirem o cheiro do que estávamos fazendo.
— Mãe, pai, este é Kaden.
— Olá, — Kaden diz sem jeito.
Meus pais estão em silêncio, então, em vez disso, Kaden se levanta do
sofá. Sem camisa. Calça jeans desabotoada. Ele limpa meus sucos em seu
peito tatuado antes de estender sua mão para apertar a dos meus pais.
— Mara me falou muito sobre você.
Mamãe e papai apenas fumegam. Eu quero jogar o cobertor sobre
minha cabeça.
Pelo menos não pode ficar pior.
Espero.
Meu garfo bate ruidosamente no prato vazio. Terminei o bolo de
carne da mamãe há alguns minutos, mas ninguém está falando, então
limpo meu prato para tornar o silêncio menos constrangedor.
Eu olho para Kaden, lutando com seus próprios talheres. Eles parecem
estranhos para ele. Ele continua deixando cair o garfo e a faca como se
estivesse sendo reprovado na escola de malabarismo.
— Este é um ótimo bolo de carne, — ele diz com a boca cheia de
comida. Seu cabelo ainda está uma bagunça de nossa aventura no sofá.
Mamãe e papai me encaram sem expressão.
Portanto, as maneiras de Kaden são um pouco deficientes. Ele é o
Alpha da Matilha da Vingança. O que eles esperavam? Isso não significa
que ele é um cara mau.
Eu sei que este jantar se tomou o pior pesadelo dos meus pais, mas
tenho certeza -que posso tirar tudo isso da roda.
— Kaden, por que você não conta a mamãe e papai sobre seus
hobbies?
Kaden me olha estranhamente.
Hobbies?
— Sim, — eu cutuco. — Sua coleção.
— Oh, certo! Sim, eu forjo minhas próprias armas de combate corpo a
corpo. Espadas, facas, machados de batalha, esse tipo de coisa. Eu tenho
uma parede inteira deles no Castelo da Vingança.
Ele sorri ansiosamente, nerdando um pouco.
— Vocês dois sabem alguma coisa sobre armas?
— Estamos na Matilha da Pureza, — responde papai, revirando os
olhos. — Somos pacifistas.
— Claro. Você odeia a violência. Claro, — Kaden diz, caindo.
Dou uma cotovelada em meu pai.
— Mas você também tem hobbies.
— Certo, tudo bem. — Ele suspira. — Eu gosto de ler. E às vezes eu
escrevo poesia.
Boom!
— Viu? Você e Kaden têm algo em comum.
Kaden semicerrou os olhos em descrença.
— Nós temos?
— Claro, — eu respondo com naturalidade. — Vocês dois são criativos
— vocês fazem coisas. Kaden forja armas. Papai escreve poesia.
Ok, então estou alcançando. Do outro lado do oceano. Mas estou
tentando trabalhar com o que tenho.
Kaden e papai se encaram do outro lado da mesa, suas expressões
ilegíveis.
Então, inacreditavelmente, papai abre um sorriso e começa a rir.
Kaden também.
— Mara, você está maluca!
Mamãe ri também.
Siiiim!
Acho que estamos chegando a algum lugar.

Na sobremesa, todos estão de melhor humor.


Kaden e meus pais literalmente não têm nada em comum, mas de
alguma forma eu sinto que eles estão gostando um do outro.
Meus pais ouvem com muita atenção enquanto contamos a história
de como resgatamos as meninas dos túneis.
Mamãe realmente coloca uma mão reconfortante no ombro de Kaden
quando contamos a ela o que aconteceu com Coen.
— Deve ser horrível perder seu irmão, — ela diz.
Kaden acena sombriamente.
— Infelizmente, ele estava perdido para mim há muito tempo.
— Foi horrível ver aquele casal na praça da cidade hoje, — digo. — Eu
me sinto culpada por não podermos resgatar todas elas.
— Estava claramente fora do seu controle, Mara, — papai diz. — Além
disso, se a Deusa da Lua protegeu vocês, meninas, tenho certeza de que
ela está cuidando do resto.
Eu decido deixar a merda da Deusa da Lua passar desta vez.
— Pobre Amber, no entanto, — mamãe diz, franzindo a testa. — Os
pais dela são amigos queridos nossos. Todos nós, famílias com meninas
desaparecidas, nos tornamos muito mais próximos.
— Eu não reconheci esse nome... Amber, — eu admito.
— Ela é um pouco mais jovem. Eles se mudaram da Matilha do Amor
há apenas alguns anos.
— Estou surpreso que Alpha Rylan os tenha deixado entrar, —
pondera Kaden. — Eles ficam muito ajoelhados ali, mas geralmente não é
para a Deusa da Lua...
Surpreendentemente, sua piada grosseira deixou meus pais em crise.
Kaden está indo bem.
— Com toda a seriedade, — meu companheiro continua, — Eu quero
caçar o resto dos lobos envolvidos neste deplorável comércio e levar eles
à justiça. Não podemos permitir que isso continue sem verificação.
— Você sabe que sou um pacifista, — papai diz, — mas concordo com
você. É apenas uma questão de tempo até que alguém tome o lugar do
seu irmão. II — Claro.
— Toda a minha confiança está na Deusa da Lua, — meu pai
acrescenta, — mas existem outras forças mais sombrias em jogo em
nosso mundo.
— Eu gostaria que seu Alpha percebesse isso, — Kaden diz com pesar.
— Ele se recusa a se associar a Matilha da Vingança. Mesmo para algo tão
importante quanto isso. Não é uma loucura?
Pela primeira vez desde o jantar, meus pais ficam quietos.
Caramba.
Kaden teve -que falar sobre política.
Mamãe de repente começa a pegar pratos de sobremesa. Algo me diz
que nossa pequena bolha de vínculo feliz acabou de estourar.
Kaden pula de pé.
— Me deixe ajudar com isso, — ele diz, pegando os pratos.
Eu quase explodi de tanto rir.
Alpha Kaden -ajudando com a louça?
Ele vai quebrar todos os pratos da casa!
Claramente pensando a mesma coisa, mamãe me agarra.
— Tudo bem, Alpha Kaden...
— Apenas Kaden está bem, senhora.
— Kaden, então. Sente-se. Mara vai me ajudar.
Vocês, homens, podem ficar aqui.
Ela dá a papai um olhar significativo e privado e, em seguida, me
conduz para a cozinha.
— O que você acha de Kaden? — Eu pergunto a mamãe à queima-
roupa enquanto ela me entrega um prato para secar. — Eu sei que foi um
começo difícil, mas parece que vocês se gostam.
Mamãe pega outro prato sujo da pia, esfregando enquanto escolhe as
palavras.
— Ele é encantador, — ela começa. — E o mais importante, ele parece
certo para você. Sempre tivemos problemas com o seu lado rebelde
enquanto crescia. Mas ao lado de Alpha Kaden, você parece
relativamente tranquila.
Ela ri, mas não sei dizer se é uma piada.
Pego o prato dela, sabendo pelo olhar que ela trocou com papai que há
mais por vir.
— O problema é, Mara, — mamãe diz, hesitando e hesitando, — se
Alpha Rylan se recusa a se associar com a Matilha da Vingança, mesmo
depois do que aconteceu, bem, nós também não podemos.
Ela está falando sério?
— Mas nós tivemos um bom jantar juntos. Você admitiu que gosta de
Kaden!
— Nada disso importa. A palavra de Alpha Rylan é lei.
— Alpha Rylan está fora de alcance. Ele é absolutamente louco por
não ajudar Kaden a parar a rede de tráfico. As garotas da Matilha da
Pureza são protegidas e não treinadas para se defenderem. Vocês têm
muito a perder!
— Eu sei que você é Luna da matilha da Vingança, mas não vou ouvir
você desrespeitar Alpha Rylan sob este teto. Este assunto está fora de
nossas mãos, Mara. Eu sinto muito. Seu pai e eu estamos de acordo.
Eles devem ter falado através do link mental, comunicando entre si
em curtas distâncias usando apenas suas mentes.
Eu odeio quando eles fazem isso. Acho que apenas lobisomens de uma
certa idade podem fazer isso. Sem falar que você tem que ter um vínculo
muito forte.
— Depois de terminarmos os pratos, temos que nos despedir. Você
não é bem-vinda de volta aqui na Matilha da Pureza, contanto que esteja
acasalada com Alpha Kaden.
Depois de terminarmos os pratos? Ela é psicótica?!
Deixo meu prato no balcão e vou para a sala de jantar. Kaden e papai
levantam os olhos da conversa. Posso dizer pela expressão de Kaden que
ele estava recebendo a mesma — conversa — que eu.
— Vejo que você e sua mãe conversaram, — papai diz, se levantando.
Mamãe me segue para fora da cozinha.
— Alpha Rylan é seriamente mais importante para vocês do que sua
própria filha?
— Somos pessoas devotas, Mara. Alpha Rylan é o mais próximo da
Deusa da Lua. Temos que colocar nossa fé nele.
Eu quero gritar. Eu grito. Gostaria que meus pais pudessem pensar
por si mesmos. Fodida Deusa da Lua. A Matilha da Pureza pode ser
muito tóxica.
Kaden se levanta da mesa.
— Acho melhor partirmos, Mara.
— Foda-se!
Eu me volto para meus pais.
— Mãe, pai, vamos. Não seja assim. Vocês não querem me ver de
novo?
Os olhos da mamãe brilham com lágrimas. Papai pega a mão dela, sua
expressão firme.
— Sempre amaremos você, Mara, mas você precisa ir.
Meus olhos se enchem de lágrimas também. Eu sinto o peso das mãos
de Kaden em meus ombros.
— Mara...
Ouvimos um estrondo.
Algo voa pela janela da cozinha, espalhando vidro por toda parte.
Um coro de vozes zangadas e cantando vaza pelo buraco. Atordoados,
todos nós olhamos para fora, para o anel de luz brilhante em tomo da
casa.
Parece que toda a Matilha da Pureza está lá fora. Eu vejo tochas. Sinais
da Anti-Matilha da Vingança feito à mão erguidos no ar. Fotos de Kaden
com Xs estampados.
Quando olho para as centenas de rostos zangados, entendo o que suas
vozes estão dizendo.
ALPHA Kaden, SAIA! ALPHA Kaden, SAIA!
Percebo o aperto da mandíbula de Kaden. Seus punhos cerrados. A
veia latejante em sua testa ameaçando estourar como um encanamento
ruim.
O que ele vai fazer?!
Capítulo 4
PURA VINGANÇA MARA
Eu nunca vi a Matilha da Pureza funcionar assim.
Meu ex-bando, minha família e amigos...
Rostos contorcidos de raiva...
Latindo como cachorros...
Olhos fixos cruelmente em meu companheiro.
Pacifistas chamados às armas por seu ódio pelo amor da minha vida.
O que vamos fazer?
— ALPHA Kaden, SAIA! ALPHA Kaden, SAIA!
Eu não posso acreditar no que estou -vendo.
Minha casa de infância, rodeada pelo que parece ser a porra da
Matilha da Pureza, todos gritando para meu companheiro deixar a
cidade.
Obviamente, eu sei que a Matilha da Pureza odeia Kaden. Mas ver
todos esses rostos familiares aqui, sinais ondulando ameaçadoramente
no ar, está me rasgando por dentro.
Família. Amigos. Pessoas que conheci durante toda a minha vida.
Não há nada como ver sua velha professora de jardim de infância
gritando com seu companheiro com uma tocha acesa na mão. Mas lá está
ela, no centro da primeira fila.
Acho que não é nenhuma surpresa que Milly e as outras meninas não
possam falar com seus pais depois do que aconteceu com os meus.
Pelo menos posso me consolar com o fato de não os ver lá fora.
Kaden começa a ficar tenso. Ele estava perto de se perder na praça esta
manhã. Só posso imaginar o que ele está passando agora.
Mamãe agarra papai, apavorada. Papai olha para mim e Kaden.
— Basta olhar para o que você fez!
— Isso não é minha culpa.
— Mara, pegue seu companheiro e dê o fora daqui. Vocês dois fizeram
sua cama. Não force sua mãe e eu a nos metermos nisso.
Eu olho para minha mãe, mas ela balança a cabeça entre lágrimas em
concordância.
— Eu não posso acreditar que Mara saiu de suas desculpas patéticas
para lobisomens, — diz Kaden, sua voz pinicando com nojo. Parece que
ele poderia jogá-los através de uma janela.
— Mantenham sua Matilha da Pureza repressiva. Vocês merecem, —
ele rosna. — E quando mais garotas suas desaparecerem, não venha
chorar para nós.
Ele agarra minha mão.
— Vamos, Mara.
Estou feliz que Kaden repreendeu meus pais. Eles precisam ouvir isso.
Estou feliz por ter um companheiro que não deixa ninguém me dar
merda, mesmo minha própria carne e sangue.
Mas ainda... eu hesito. É difícil deixar as coisas assim.
Eu amo mamãe e papai. Mesmo que eles tenham sofrido uma lavagem
cerebral pela Matilha da Pureza.
Eu não quero dizer adeus para sempre.
Uma pedra destrói outra janela. Com um último olhar para meus pais,
permito que Kaden me puxe em direção à porta da frente. É hora de ir.
Caminhamos até a varanda da frente.
— Lá está ele — Alpha Kaden e sua companheira!
A multidão entra em frenesi. Isso não é nada parecido com a Matilha
da Pureza que eu conheço.
— TRAIDORA!
— CADELA!
Projéteis voam em nossa direção. Kaden me empurra atrás dele, me
protegendo. Apesar de tudo, me sinto segura, mesmo quando o círculo se
aperta ao nosso redor.
— Você quer que a gente saia? — Kaden rosna. — Faça a porra do
caminho!
Um tijolo surge do nada e acerta o lado de sua cabeça. A multidão
irrompe em aplausos macabros.
— Kaden!
Eu aperto a mão do meu companheiro. Ele esfrega a cabeça,
examinando as pessoas ao nosso redor, assassinato escrito em seu rosto.
— OK. Já é suficiente.
Seu corpo treme. Eu ouço o estalo familiar de seus ossos.
Ah Merda. Ele está mudando.
— Kaden, o que você está fazendo? Kaden -?!
Um silêncio toma conta da multidão. Esta é a Matilha da Pureza. As
pessoas não mudam aqui. Alguns deles provavelmente nunca viram algo
assim antes.
Eu vejo Kaden se transformar em seu lobo preto majestoso, quase tão
alto quanto eu em forma humana. Ele aponta sua cabeça para o céu.
ARRRR-ROOOO-OOO!
O uivo arrepiante faz com que metade da multidão se espalhe como
coelhos assustados.
ARRRR-ROOOO-OOO!
Como num passe de mágica, um caminho se abre diante de nós. Bem,
não exatamente mágica. Ninguém quer ficar no caminho do lobo
lendário de Alpha Kaden.
Kaden pisa no chão e olha para mim. Esperando.
Ele quer que eu mude com ele? Aqui? Na frente de toda a Matilha da
Pureza?
Na frente dos meus pais?
Mudar é o maior pecado na Matilha da Pureza. Se tivesse escolha, eu
realmente preferiria ser pega fazendo sexo antes do casamento.
Eu examino a multidão. Kaden e eu não teremos essa chance a noite
toda. Logo eles vão se fechar sobre nós novamente. Quem sabe o que esta
encarnação infernal da Matilha da Pureza fará com um tiro livre em seu
inimigo, em Alpha Kaden? Eles já estão tão desequilibrados.
Tenho medo de correr, mas tenho mais medo de não correr. Esses
lobisomens perderam o controle. Eles podem nos destruir em pedaços a
qualquer segundo.
Sinto arrepios na pele.
Eu não quero ver meu companheiro machucado novamente.
Sentindo como se um milhão de pares de olhos estivessem em mim,
começo a mudar. Meus ossos se quebram e se reconstroem no esqueleto
do meu lobo. Minhas roupas se rasgam em farrapos enquanto eu cresço e
me transformo, pelos grossos brotando da minha pele.
Eu corro para o lado de Kaden. Ele me acaricia suavemente. Ele
aponta a cabeça para o céu mais uma vez e eu me junto a ele.
ARRRR-ROOOO-OOO!
Corremos da varanda e depois subimos a rua em direção ao portão de
saída da cidade.
Estamos saindo da Matilha da Pureza.
Para sempre.

Eu sigo Kaden por quilômetros e quilômetros de floresta.


Horas sem fim passam.
Não tenho ideia de para onde estamos indo.
O quão perto estamos da Matilha da Vingança.
Ou da Matilha da Pureza.
Os eventos de hoje continuam girando em meu cérebro.
Normalmente, quando mudo, me sinto completamente livre. Meu
cérebro humano se rende ao lobo, e não penso em nada além do chão
macio da floresta sob minhas patas e o céu infinito acima.
A Matilha da Pureza entendeu tudo errado, não há experiência mais
pura do -que mudar.
Mas esta noite estou totalmente fodida. Meus pensamentos humanos
não param. As novas memórias do que aconteceu com meus pais, com
minha velha matilha, parecem distorcidas e amplificadas. Meu cérebro de
lobo está tendo dificuldade em processar minhas complexas emoções
humanas.
Vejo membros da Matilha da Pureza irritados nos observando das
copas das árvores.
Meninas desaparecidas sofrendo nas sombras.
Eu ouço o refrão da multidão sempre que o vento sopra.
— ALPHA Kaden, SAIA! ALPHA Kaden, SAIA!
E, claro, meus pais. Me assistindo. Me julgando.
Eu deveria ter ficado?
Kaden mal percebe minha volúpia. Ele continua avançando.
Obviamente, ele quer colocar o máximo de distância possível entre nós e
a Matilha da Pureza. Eu não posso culpá-lo.
Chegamos a uma clareira enorme coberta por um pavimento preto
rachado. Kaden me leva por todos esses veículos longos e enferrujados
com triângulos de metal projetando-se das laterais.
Ruínas de antes da Grande Guerra, eu acho. Quem sabe para que
foram usados.
Ele me leva a um prédio abandonado há muito tempo, algum tipo de
shopping antigo ou prédio comercial com uma torre gigante na frente. E
um pouco assustador.
Kaden e eu voltamos à forma humana. Minha mente não relaxa
muito.
— Vamos passar a noite aqui, — Kaden diz. — Eu sei que você está
cansada.
Eu aceno com a cabeça cansada.
— Obrigada.
Ele puxa nossos corpos nus para perto e beija minha testa
protetoramente.
Normalmente seu beijo é como um oásis no deserto. Mas agora eu me
sinto muito bêbada para registrar.
Estou exausta e nervosa ao mesmo tempo. Como se eu tivesse bebido
um gole de café depois de uma noite sem dormir.
Kaden vai encontrar algumas roupas enquanto procuro um lugar
decente para dormir.
A princípio, tudo o que vejo são fileiras e mais fileiras de cadeiras de
plástico conectadas.
Então eu encontro uma porta marcada SALA DE PRIMEIRA CLASSE.
Eu gosto do som disso. E hey, está desbloqueada...
Eu entro e olho ao redor da sala, meu queixo praticamente batendo
no chão.
Eu morri e fui para o céu?
Está cheio de sofás e cadeiras confortáveis!
Eu jogo minha bunda cansada no sofá, tossindo por causa da nuvem
de poeira que se eleva no ar.
Então não é o lugar mais limpo do mundo, mas depois de todo aquele
tempo correndo pela floresta, parece o paraíso.
Quando Kaden me encontra, estou olhando por uma janela
impressionante onde consigo ver uma grande clareira. Eu vejo as árvores
ao longe, balançando suavemente ao luar. E calmante.
Kaden limpa a garganta. Eu me viro e o vejo em uma espécie de
uniforme escuro, completo com um chapéu bobo com pequenas asas
douradas nele.
— O que você acha?
Eu ri. — O que há com o chapéu?
— Eu não sei. Eu simplesmente gostei.
Kaden o tira, coloca na minha cabeça e puxa sobre os meus olhos. Eu
sorrio como uma garotinha. Ele nunca é tão brincalhão. Se ele está
tentando me fazer sentir melhor, está funcionando.
Eu tiro o chapéu bobo e olho para o meu companheiro. Estou vendo
ainda outro lado dele. Um lado refrescantemente normal. Eu gostaria
que ele fosse assim com mais frequência.
É este quem ele era antes da maldição? Antes de toda a tragédia que
ele enfrentou? Devo estar tirando isso dele.
Ele deixa cair outro uniforme escuro no meu colo.
— Aqui. Nós combinamos.

Kaden me pega no sofá, acariciando meu cabelo lentamente. Seu


toque temo e rítmico normalmente me apagaria como uma luz. Mas esta
noite, o sono não virá.
— Kaden? O que vamos fazer com essas meninas?
Sinto seu corpo ficar tenso atrás de mim.
— Honestamente, Mara... eu digo foda-se a Matilha da Pureza. Alpha
Rylan é um velho idiota que permite que uma religião retrógrada
atrapalhe o bom senso. Quer ele pretenda ou não, ele está envenenando
as mentes de toda a sua matilha. Pessoas como seus pais. E eles não têm
ideia.
Ele suspira. — Não acho que possamos fazer nada por eles.
— Mas não estamos fazendo isso por eles — digo. — Estamos fazendo
isso pelas meninas. Para nossos companheiros lobisomens. Não devemos
desistir só porque a Matilha da Pureza é uma merda. E aquela garota?
Amber? Ela ainda está lá fora.
— Não vale a pena confrontar Alpha Rylan. Eu sei que ele deveria ser
um grande pacifista, mas você viu como seu povo se voltou contra mim
hoje. Eles podem ser perigosos.
— Alpha Kaden tem medo da Matilha da Pureza?
— Estou falando de política. Esta é uma situação em que acho que
devo agir com cautela.
Grosso. Kaden está realmente colocando a política antes da vida de
uma garota?
Eu amo meu companheiro porque ele geralmente é apaixonado.
Impulsivo. Corajoso.
Isso não parece nada com ele.
Kaden me puxa para mais perto.
— De manhã, vamos voltar para o Castelo da Vingança e esquecer
tudo isso que aconteceu. Planejaremos uma grande festa para te
apresentar formalmente como minha Luna e... e...
— Mara, onde você está indo?
Estou saindo da cama. Uma festa? Agora? Ele está falando sério?
— Mara, pare! Me responda!
Capítulo 5
TURBULÊNCIA MARA
Eu pensei que sabia tudo sobre meu companheiro.
Acontece que não sei a primeira coisa.
Como ele pode colocar sua política estúpida antes da vida de uma garota?
Alphas podem ser verdadeiros idiotas.
Eu corro pelo chão da sala.
— Mara, onde você está indo?
Kaden sai do sofá e me segue.
— Se você prefere planejar uma festa estúpida do que encontrar
aquela garota desaparecida, fique à vontade. Mas você vai fazer isso
sozinho.
— Mara, espere.
Eu não estou esperando por merda nenhuma.
— Eu não preciso de sua ajuda. Eu posso ir para Alpha Grayson. Ou
Alpha Landon. Tenho certeza de que a vida de uma garota significa algo
para eles.
Estou quase na porta quando ele me agarra. Suas mãos fortes me
giram para encará-lo. Eu evito seu olhar, lutando como um animal feroz.
— Mara ouça. Ouça
Eu paro de me mover e olho para o chão. Ele passa a mão pelo cabelo,
exasperado. Estou feliz por estar irritando sua pele.
— Você sabe que eu me importo com isso. Mas encontrar Amber —
ou qualquer outra garota — será difícil sem a aprovação de Alpha Rylan.
Ele existe desde sempre e tem mais influência do que eu entre os outros
Alphas. Eu não posso simplesmente fuçar em busca de pistas em
qualquer matilha que eu quiser.
Eu olho em seus olhos. Tão claro e sério. Eu não quero ficar chateada
com ele.
Mas eu estou.
— Não é que o que você está dizendo não esteja fazendo sentido, —
eu começo. — Eu só pensei que você não se importasse com todo esse
procedimento e decoro. Você é o Alpha Kaden. Você faz o que bem quer.
Os olhos de Kaden endurecem.
— Agora você parece uma garota ignorante da Matilha da Pureza. Eu
estava sob uma maldição, lembra? Eu não estava no controle. O
verdadeiro eu nem sempre é um bárbaro imprudente. Quero ser um bom
Alpha e fazer as melhores escolhas para minha matilha. Nossa matilha—
Eu balancei minha cabeça.
— Não posso fazer parte de uma matilha que só tem os melhores
interesses em mente. Você odeia tanto Alpha Rylan? Essa é a Matilha da
Pureza de novo. É apenas uma questão de tempo até que você esteja
construindo um muro.
Isso realmente acerta Kaden em cheio. Quase posso ver o vapor
subindo de suas narinas.
— Não sou nada parecido com aquele velho estúpido!
Eu dou a ele um sorriso desafiador.
— Não é? Prove.
Kaden puxa seu cabelo. Por um segundo, acho que ele pode mudar.
— Ughhhh! Você me deixa louco! — Ele uiva, invadindo o outro lado
da sala.
Boa. Eu o tenho aonde quero.
— Vamos, Kaden. E se eu fosse Amber? Se eu estivesse desaparecida?
Você não faria nada ao seu alcance para me encontrar?
Ele se joga no sofá. Eu sento ao lado dele.
— Você sabe que eu iria. Eu iria até os confins da terra por você.
Eu pego sua mão.
— Exatamente. E a vida de Amber é tão valiosa quanto a minha. E
qualquer outra garota que ainda esteja por aí. Então, imagine... todos elas
poderiam ser eu.
Kaden olha pela janela. Eu vejo engrenagens girando em sua mente.
— Eu não preciso de sua ajuda, Kaden, mas eu quero.
Ele balança a cabeça lentamente.
— OK. Se o seu coração está tão decidido... Estou dentro. Desculpe ter
demorado tanto para me aquecer. Não estou pensando direito depois do
que aconteceu na Matilha da Pureza. Você tem razão. A vida de uma
garota vale mais do que uma política mesquinha.
Eu imediatamente envolvo meus braços em tomo dele e o beijo nos
lábios. Esse é o Kaden que eu conheço.
— Eu te amo, — digo a ele, olhando em seus olhos, nossos rostos a
centímetros de distância.
— Eu também te amo, — ele diz, com as bochechas rosadas.
Sim. Totalmente fofo.
Kaden e eu deitamos. Estou feliz por estarmos na mesma página. No
fundo do meu cérebro, há uma pequena preocupação mesquinha de que
não estávamos desde o início, mas tento ignorá-la. Os casais não
precisam concordar o tempo todo, certo?
Eu bocejo, pronta para um descanso bem merecido.
— Boa noite, Kaden.
— Boa noite.
Eu me viro para dar ao meu companheiro um último beijo antes de
irmos dormir. Quando nossos lábios se tocam, eu sinto um pouco
daquela velha centelha que senti na casa dos meus pais de volta.
Então, talvez eu queira mais do que um beijo miserável. Eu sei que
Kaden quer. Aqueles olhos cansados olham para mim como se ele fosse
me comer viva.
— Nós nunca terminamos o que começamos no sofá da sua sala, —
ele me lembra, acariciando meu rosto. — E aqui estamos nós de novo.
Em um sofá.
— Coincidência interessante, — eu pondero, bancando a tímida.
— Muito -interessante, — Kaden diz, seu rosto se movendo para a
curva do meu pescoço.
Eu fecho meus olhos, sentindo-o lamber e beijar cada centímetro do
meu pescoço antes de desabotoar minha blusa para dar atenção aos meus
seios.
Algo está errado. Normalmente estou ofegante de desejo agora. Mas
por alguma razão esta noite eu sinto... nada.
Seus beijos parecem vazios. Vazio.
Talvez eu esteja apenas cansada? Não. E sobre a noite em que Kaden
entrou furtivamente em meu quarto na Matilha do Poder e me deu meu
primeiro orgasmo? Eu também estava exausta, mas com certeza me
animei quando sua língua estava passando rapidamente entre minhas
pernas.
Isso é algo diferente. Só não estou excitada agora.
Kaden suga e mordisca meus mamilos. Mas não há calor. E como se
estivesse assistindo acontecer de outra sala. Eu não estou presente.
É por causa da nossa discussão? O que aconteceu na Matilha da
Pureza? Eu estaria mentindo se dissesse que não estava ainda na minha
mente.
Eu conheço um lado de Kaden que ninguém mais conhece. Mas isso
também me leva a aprender algumas coisas novas sobre ele. E algumas
dessas coisas, eu não gosto.
Eu olho para a sua marca, exposta pela minha blusa aberta.
É possível que tenhamos pulado nisso muito rapidamente?
Kaden traça o nariz na minha barriga, indo para minhas regiões
inferiores. Mas eu não acho que posso fazer isso.
Eu gentilmente bato em suas costas.
— Kaden?
— Mara ele sussurra com uma voz sexy.
— Não, Kaden. PARE.
Ele para e olha para cima. E difícil para mim dizer não para aqueles
olhos magníficos, mas...
— Eu não posso fazer isso esta noite.
Seus olhos saltam. Isso é doloroso para ele ouvir. Seu rosto está
pairando cinco centímetros acima da minha vagina, e é a segunda vez
que nos interrompo hoje.
— Qual é o problema? — Ele diz, sua voz suavizando. — É minha
culpa?
Ele se senta e segura minhas mãos. Agradeço a preocupação de meu
companheiro, mas seus dedos não oferecem o mesmo calor que
costumam oferecer.
— Não... eu não sei... — Eu gaguejo.
Os olhos de Kaden me pressionam. Qual é o problema? Tento
formular uma resposta. É difícil definir meus sentimentos exatos. Eu não
quero dizer nada para machucar Kaden. Não é culpa dele.
É isso?
— Foi apenas um longo dia. Já passamos por muito. Acho que só
preciso dormir um pouco, — digo honestamente. Mesmo que não seja
toda a verdade.
Kaden procura meus olhos.
— Tem certeza disso?
Eu aceno rapidamente, bocejando para causar efeito.
Kaden desliza ao meu lado, envolvendo um braço sobre o meu corpo.
Eu me sinto segura ao seu lado, mas conforme o sono me alcança, eu sei
que algo ainda está errado.

Esta manhã Kaden e eu acordamos com o nascer do sol sobre a


floresta no final da clareira. Observamos o céu passar de roxo escuro para
azul claro sem trocar uma palavra.
Minha mente está menos confusa do que na noite anterior. Mas estou
feliz que Kaden não tente me solicitar para sexo matinal. Ainda estou
resolvendo meus sentimentos. Ainda não estou pronto para ser íntima.
Estar aqui em seus braços é bom, sentindo sua respiração subir e
descer em seu peito. Isso está me deixando mais calma. Mais segura.
Estou completamente dedicada ao meu companheiro. E ele para mim.
Nosso amor é tão vital quanto o ar que respiramos, mas ainda sou
atormentada por uma sensação incômoda de que algo está terrivelmente
errado.
— Estive pensando, — ele diz, as primeiras palavras que falou durante
toda a manhã. — Não estamos muito longe da Matilha do Amor. Pode
ser um bom lugar para começar a procurar pistas.
Direito. As meninas desaparecidas. Melhor se concentrar na tarefa em
mãos. Qualquer coisa para me manter fora da minha própria cabeça.
— Meus pais disseram que a família de Amber veio originalmente da
Matilha do Amor, — eu me lembro.
Kaden acena com a cabeça.
— Exatamente. E tem mais uma coisa...
Ele hesita.
— O que? — Eu cutuco.
— Na minha última visita, Alpha Malik parecia estar envolvido com
uma jovem que interrompeu nosso encontro Alpha. Na época, segurei
minha língua, mas ela não parecia ter mais de quinze ou dezesseis anos.
Eu sou totalmente a favor do amor livre se isso é coisa sua, mas isso me
deixou desconfortável.
Que nojo. O pensamento de uma garota da Matilha da Pureza com
algum mestre de cerimônias de orgia velha e desagradável me deixa mal
do estômago. Eu quero encontrar Amber, mas espero que ela não seja a
garota que Kaden viu.
— Alpha Malik soa como um verdadeiro canalha.
— Só quando você vai conhecê-lo, — brinca Kaden.
— Mas você realmente acha que ele poderia ter levado garotas? Pelo
que eu sei, ele é tudo sobre amor livre.
Kaden encolhe os ombros. — Malik é mais sobre qualquer tipo de
amor que ele pode conseguir. E a libido hiperativa. Ele parece pensar que
se não conseguir encontrar um novo buraco para seu pau a cada cinco
minutos, ele vai explodir. Eu não colocaria isso no passado dele. Ele não
ofereceu nenhuma ajuda para lutar contra Coen.
— Definitivamente suspeito, — eu concordo.
— Então, para a Matilha do Amor? — Kaden pergunta.
Eu concordo. — Vamos lá.
Kaden e eu deixamos o prédio abandonado e seguimos para a floresta.
Estou cheia de energia. Formamos uma equipe incrível. Trabalhando
juntos, sei que encontraremos essas meninas.
Estou realmente prestes a ir para a Matilha do Amor?
Pelas histórias que ouvi, é muito mais libertino do que a Matilha da
Vingança.
Mas talvez seja a garota do Matilha da Pureza em mim falando. Alpha
Malik soa superficial, mas tenho certeza de que há alguns lobisomens
decentes na Matilha do Amor.
Já passei um tempo com Alpha Grayson e seus nudistas de espírito
livre na Matilha da Liberdade. E na maior parte, eu me diverti.
Quão ruim poderia ser a Matilha do Amor?
Capítulo 6
A MATILHA DO AMOR
MARA

Aqui estamos. A Matilha do Amor.


Sinto o cheiro de sexo em cada esquina.
Gritos de prazer ecoam pelos corredores. O som percussivo de corpos
suados.
Manchas de amido espalham-se pelo chão. As paredes. Os tetos.
E realmente onde eu quero estar, com a maneira estranha que tenho me
sentido em torno de Kaden?
Ele será capaz de se controlar?
Eu ir ei?
Kaden e eu seguimos os guardas por corredores escuros decorados
com obras de arte alarmantemente explícitas.
Minutos dentro dos limites da Matilha do Amor e já estou
aprendendo posições sexuais que não achei que fossem fisicamente
possíveis.
Kaden e eu trocamos olhares. Posso dizer que ele está fazendo
anotações mentais.
Talvez em um momento diferente, eu também estaria, mas não estou
sentindo a mesma emoção que ele. A única parte de mim formigando são
meus pés. E isso é porque eles estão doloridos de toda essa viagem.
Mas, falando sério, é normal que eu esteja me sentindo tão insatisfeita
com meu relacionamento? Ou é possível que eu esteja ficando com
medo?
Um guarda nos leva a um conjunto de portas de madeira e bate.
Percebo que as alças parecem pênis curvos. Presumo que seja
intencional.
— Quem é?
A voz de um homem mais velho vem de dentro. Sem fôlego. Como se
ele estivesse correndo uma corrida a pé. Ele silencia algumas risadinhas
femininas. As molas saltam sob eles.
Nojento! Nojento! Nojento!
Ele está mesmo no meio de...
Onde diabos estamos?!
— Alpha Malik, sou eu. Alpha Kaden, — Kaden fala ao meu lado.
— Kaden! O que você está esperando aí fora no frio? Junte-se a nós!
Eu congelo.
O que exatamente ele quer? Que participemos?

O guarda abre a porta.


Tento cobrir meus olhos, mas Kaden me faz parar. Suponho que não
seja um decoro apropriado. Então, novamente, também não é convidar
um Alpha e sua Luna em visita para assistir você fornicar.
Alpha Malik está deitado em uma cama que parece ocupar todo o
quarto. Um colete de pelos encharcados de suor cobre seu torso flácido,
subindo e descendo com sua respiração pesada.
Um jovem e uma mulher — cada um com 20 anos, no máximo —
descansam sob seus braços.
Alpha Malik nos abre um sorriso amarelado e dá um tapinha em uma
cadeira na cama.
Eu quero vomitar. Como alguém poderia achar este monstro atraente?
— Nós ficaremos aqui, Alpha. Parece que você está no limite.
— Eu nunca estou na capacidade máxima, — Malik diz com uma
piscadela, seus olhos lascivos se transferindo para mim. Eca Ele parece
uma axila sensível. Cheira como uma também. Eu ofereço um sorriso
indiferente enquanto Kaden faz uma apresentação.
— Malik, esta é Mara, minha nova Luna.
— Muito nova, — Malik diz, farejando. — Eu posso sentir o cheiro de
sua marca fresca.
Ele agarra minha mão e dá um beijo babado nela. Duplo eca.
Preciso de sabão e água imediatamente.
— Meus parabéns, Alpha Kaden. Ela é arrebatadora.
Ele se recostou na cama, nos olhando de brincadeira.
— Então você veio passar a lua de mel aqui na Matilha do Amor? Eu
não sabia que você era um amante tão progressista, Alpha Kaden. Ou
Mara é a desviante?
Eu? Uma desviante? Olha quem Está Falando!
— Na verdade, estamos aqui com um propósito diferente, Malik, —
Kaden diz.
— Oh claro, — diz Malik, aconchegando-se mais perto de seus
companheiros de cama. — Bem, cuspa isso. Ou engula. Sua escolha.
— Como você sabe, meu irmão estava mantendo as garotas da
Matilha da Pureza desaparecidas como reféns nos túneis abaixo da
Cidade da Vingança. Supostamente, havia garotas de outros bandos
também.
— Isso é terrível. — Malik balança a cabeça, vagarosamente sacudindo
os mamilos da jovem.
— Pelo que entendemos, havia uma operação de tráfico clandestino
em andamento. Coen estava vendendo as meninas para diferentes
matilhas. Achamos que alguns ainda estão faltando.
Percebo os dedos de Malik param de se mover.
Ele sabe de alguma coisa?
Eu pulo dentro
— Há uma garota da Matilha da Pureza que ainda está faltando.
Amber. Seus pais costumavam ser membros da Matilha do Amor.
Esperamos que você possa compartilhar algumas informações sobre eles.
Qualquer coisa.
Malik de repente se levanta da cama. Fecho os olhos, mas é tarde
demais.
O vislumbre de meio segundo de seu grande pênis de cenoura podre
queima minhas retinas, e estará lá para o resto da vida.
— Estou completamente faminto, — ele diz finalmente, cobrindo sua
nudez com um roupão de banho de seda. — E eu não acho que vou ser
muito útil com o estômago vazio.
Não parece vazio para mim.
— Vocês dois gostariam de jantar comigo?
O estômago de Kaden ronca em resposta. Não comemos bem desde
que voltamos para a casa dos meus pais e eu não estava prestando muita
atenção à comida.
Eu me pergunto o que Malik tem no menu...
— Eu poderia jantar um pouco, — Kaden diz, olhando para mim.
— Claro que você poderia! — Malik sorri, indo para a porta. — E
vinho. Muito vinho!
Kaden ri, se soltando. — Depois do que passamos recentemente, isso
também não soa tão ruim.
Malik joga um braço fraternal ao redor dele. Quando saímos da sala,
eu olho para trás para o casal que ficou para trás. Eles estão entrelaçados
nos braços um do outro. Se beijando. Lambendo. Acariciando.
Que nojo. Isso alguma vez para por aqui?

Servidores com pouca roupa trazem prato após prato de comida para
nossa mesa no nível do chão.
Kaden, Malik e eu sentamos em grandes almofadas confortáveis, que
imagino serem muito úteis nas ocasiões em que as coisas ficam estranhas
depois do jantar.
— O que você acha da comida?
Eu vejo Malik atacar uma perna de cordeiro, saliva e carne caindo em
seu colo. Você pensaria que ele era um animal faminto.
Comer é evidentemente uma atividade de que ele gosta tanto quanto
sexo.
— Delicioso, — diz Kaden, tentando esconder um arroto. Para minha
consternação, suas maneiras são apenas uma ligeira melhora em relação
às de Malik.
— Tem mais de tudo, — diz nosso anfitrião, acenando para uma
garçonete e beijando ela na bochecha enquanto ela põe outra bandeja de
carne grelhada. Corando, ela enche nossas taças de vinho pela enésima
vez.
— Agora que já nos saciamos, — digo, tentando voltar ao assunto, —
você pode nos contar alguma coisa sobre essa garota, Amber?
— Quem? — Malik pergunta, espancando o servidor em seu caminho
de volta para a cozinha.
O que há com esse cara?!
— Amber, — repito com uma voz frustrada. — Ela é da Matilha da
Pureza. Os pais dela deixaram a Matilha do Amor há alguns anos.
— Por que eles fariam isso? — Ele pondera, bebendo metade do vinho.
— Temos um ambiente muito divertido e amigável aqui. Quase ninguém
sai!
— Então você deve saber algo sobre eles, — diz Kaden, vindo em meu
auxílio.
Malik franze a testa para nós.
— Kaden, Mara. Por que você está tão focado nisso agora? Teremos
muito tempo para conversar depois do jantar. Olhe para este tabuleiro de
delícias sensuais na sua frente, — ele diz, gesticulando para as bandejas
de comida reabastecidas. — Vamos nos divertir.
Malik está realmente me dando nos nervos.
Posso dizer que ele está tentando evitar falar sobre as garotas. O que
ele está escondendo?
Tomo um gole de vinho para manter a calma.
Odeio admitir, mas na verdade é muito bom.
Quem sabe quanto bebi depois de todas essas recargas.
Kaden pega outro pedaço de carne, apertando os olhos para Malik.
— Derrame o feijão, Malik. O que você sabe?
— Eu sei que estou exausto dessas perguntas. — Ele suspira. —
Seriamente. Ouça a si mesmo. Novos companheiros, cheios de juventude
e vigor. Por que desperdiçar seu precioso tempo tagarelando sobre esse
absurdo? Mime-se comigo com os frutos da vida!
O servidor traz mais vinho.
Malik a puxa para seu colo. Ela grita e grita de tanto rir enquanto ele
enterra o rosto em seus seios.
Eu ouço uma risada e lanço um olhar para Kaden. Ele toma um gole
de vinho, tentando fingir inocência.
— O que?
— Você sabe o que! — Eu assobio.
Ele se aproxima com um sorriso infantil. Ele está ficando tonto? Me
lembro do lado brincalhão com que ele me provocou ontem à noite.
Gostei, mas agora não é hora de jogos.
— Talvez possamos esperar até amanhã para falar sobre isso.
Que diabos? De que lado ele está? E quanto a Amber?
Eu tomo um grande gole de vinho. Droga.
Está ficando — melhor.
— Kaden, não. Você não pode ver que ele está nos distraindo de
propósito?
Ele encolhe os ombros.
— Talvez precisemos de -um pouco de distração.
— Do que você está falando?
— Vamos, Mara. Quando é que vamos ter a chance de relaxar? Já
passamos por tanta coisa juntos em tão pouco tempo. Quebrando minha
maldição... Parando Coen... Enfrentando seus pais e a Matilha da Pureza.
Agora aquela garota desaparecida...
Ele se atrapalha desajeitadamente com a minha mão.
— Não estou dizendo que essas coisas não tenham sido incrivelmente
importantes para nós dois. Mas você não acha que merecemos uma noite
de folga? n Não sei dizer se é o vinho ou não, mas ele parece estar
fazendo algum sentido.
Não tivemos um momento de paz desde que nos conhecemos. Desde a
noite em que ele me sequestrou concordo com uma risada.
Talvez seja por isso que estou me sentindo estranha. Eu deixei todas
essas emoções intensas e experiências sombrias me consumirem
completamente.
Pode ser bom ter uma noite em que posso esquecer tudo...
Me esquecer...
Me render aos meus desejos mais simples...
Kaden afasta uma mecha de cabelo dos meus olhos. Nós nos
encaramos intensamente. Estou começando a sentir algumas centelhas
de calor novamente.
— Decidiu seguir meu conselho, não é? — interrompe Malik, olhando
maliciosamente por cima da mesa.
Uau! Esqueci que ele estava aqui.
O braço de Kaden envolve em torno de mim como um lenço em uma
noite fria de inverno.
Um sorriso surge em meus lábios, e tomo mais um gole de vinho.
Você sabe, talvez Malik não seja tão ruim.
Então ele ama o amor. O que há de errado nisso?
Ugh. Pare de pensar tanto, Mara.
Existe algo neste vinho?
Mara! Pare!
Sou uma bola de energia incandescente.
— Eu quero dançar, — eu grito de repente.
— Eu também! — Kaden disse.
Oh minha deusa, eu amo amo amo ele!
Malik fica de pé, dançando pequenos movimentos sinuosos para o
nosso lado da mesa. Alguma música de dança funky começa a tocar.
Malik pega nossas mãos. Nós giramos em um círculo juntos.
Mara. Kaden. Malik. Novos melhores amigos.
Nossos rostos ficam borrados.
O que está acontecendo comigo?
Há definitivamente -algo neste vinho...
E a julgar por quão rápido meus pés estão se movendo, e quão lento
minha mente está trabalhando, eu definitivamente -não estou no
controle.
Mas eu não tenho medo de estar com medo — não agora. Porque,
enquanto eu olho do meu companheiro para o Alpha da Matilha do
Amor, não posso deixar de sentir alegria.
E essa intensidade de alegria... ela corta todos os outros sentimentos.
Eu não consigo pensar.
Eu não consigo falar
Eu apenas sou.
Capítulo 7
A RESSACA MARA
Nossos corpos trituram em tons hipnóticos.
Prisioneiros da pista de dança.
Braços, pernas, peitos, seios me cercam, Mas o único rosto que vejo é o de
Kaden.
Segure firme, meu amor. Porque se você não...
Vamos nos perder.
Uggggghhhhhhhh....
Acordo com a pior dor de cabeça da minha vida. Parece que fui
atingida por um martelo.
Abro os olhos, mas a luz me apunhala como adagas. Eu gemo em
agonia mortal.
Tento voltar a dormir, mas a dor continua latejando... latejando...
latejando...
O que aconteceu ontem à noite? Lembrar dói.
Sons e imagens nebulosas lentamente aparecem em minha mente.
Uma pista de dança... Música estranha.... Corpos nus...
Suados... Fedorentos... Sexo...
E Malik no centro de tudo.
Uggggghhhhhghh...
Nota mental: tente não pensar em coisas que me deem vontade de
vomitar.
Definitivamente havia algo naquele vinho. Eu me sinto pior do que
quando bebi aquele suco da verdade na Matilha do Poder. Eu nem bebi
muito.
Isso é uma mentira. Eu bebi muito
Foi bom ter uma noite de folga, com certeza, mas definitivamente
exageramos.
Assim que eu me recuperar, vou encontrar Malik. Não acredito que
aquele idiota nos drogou. Que idiota!
O que ele sabe sobre Amber? Ele obviamente sabe de alguma coisa, e
eu quero algumas respostas do caralho!
Ou seja, quando eu for capaz, estarei me movendo.
— Kaden... — eu resmungo. Sem resposta. Ele ainda deve estar
dormindo. Eu tateio a cama ao meu lado, certa de que ele está a apenas
alguns centímetros de distância. O abraço pode ser a cura para a ressaca
de que preciso.
Mas a única coisa que minha mão toca é o ar.
Huh. Isso é estranho.
Ele não está lá.
— Kaden? — Eu chamo. Nada ainda. Arrisco abrir meus olhos. A luz
ainda arde, mas em alguns momentos, eu me ajusto.
Estou deitada em travesseiros em uma sala escura e sem janelas.
Parece uma cela de prisão confortável. Não muito diferente de onde eu
costumava ficar no Castelo da Vingança quando fui sequestrada pela
primeira vez.
Eu olho em volta. Nenhum sinal do meu companheiro em qualquer
lugar.
Talvez ele esteja no banheiro?
Depois de alguns longos minutos ouvindo a música dançante abafada
do lado de fora da sala, estou bastante convencida de que ele não está
fazendo xixi.
Quero procurá-lo, mas com essa ressaca paralisante, mal consigo me
mover.
Em vez disso, fico olhando para o teto. Furiosa. Eu não posso acreditar
que meu companheiro me deixou sozinha na Matilha do Amor.
Especialmente depois de como as coisas foram na noite passada.
Onde diabos está Kaden?!
KADEN

Onde diabos estou? Estou com muita ressaca para abrir os olhos.
Eu acumulo minhas memórias lamacentas, tentando juntar as peças
do que aconteceu na noite passada. Depois do jantar com Malik, tudo
fica marrom. Me lembro de muito vinho, de muita dança...
E sobre isso.
Droga. Eu devo ter sido drogado. Eu nunca -danço.
Ainda assim... foi bom ver Mara tão livre pela primeira vez. O que eu
lembro de ter visto dela, de qualquer maneira. Com tudo o que
aconteceu, ela precisava se soltar. Ambos precisávamos.
Tenho que me lembrar de perguntar a Malik onde ele conseguiu
aquele vinho.
Logo depois de chutar a bunda dele por nos drogar.
Ele realmente pensou que não notaríamos?
O que é que aquele velho pervertido escondido sob o assoalho?
Quero Mara. Eu a quero perto. Logo depois de dormirmos, vamos
chutar algumas portas para baixo. Vou fazer Malik nos dizer tudo o que
sabe sobre aquela garota desaparecida.
Lá está Mara. Eu sinto seu corpo quente próximo ao meu.
— Bom dia, meu amor, — eu sussurro meio grogue.
— Bom dia, — ela responde com uma risadinha.
Espere um maldito segundo
Essa não é a voz de Mara.
O que diabos está acontecendo?
Meus olhos se abrem. Sou recebido por uma cabeça de cabelo ruivo
curto.
Merda! Porra! Merda!
A cabeça também não é da Mara.
A ruiva se vira para me encarar, um par de olhos azuis deslumbrantes
no meio de seu rosto bonito e enrugado pelo sono.
Ah Merda. Isso não está acontecendo.
Eu traí Mara?
Eu não poderia ter feito isso.
Nunca, em meus sonhos mais loucos, poderia estar com alguém além
de Mara. Se procurasse por um milhão de anos, nunca encontraria uma
companheira mais perfeita.
Ela é leal. Amorosa. Independente. Ela me desafia e me toma mais
forte.
Sem mencionar que ela é gostosa pra caralho.
Meu corpo fica tenso quando a ruiva se aproxima, seus olhos azuis
brilhando de desejo. Ela está de topless, seus seios são carnudos como
pêssegos maduros, e eu não posso deixar de olhar.
Droga, Kaden, feche os olhos!
Mas eu não consigo. Estou muito distraído. Desorientado.
No meu perfeito juízo, eu nunca faria isso...
Mas na noite passada, eu não estava em meu juízo perfeito.
Então o que aconteceu?
Abro a boca para perguntar à ruiva, mas ela coloca um dedo nos meus
lábios e me cala.
— Sem falar, Alpha Kaden, — ela ronrona.
Eu sei que não deveria, mas me sinto um pouco excitado.
Kaden, controle-se
O que é esse lugar
Começo a me sentar, mas a ruiva me empurra de volta aos
travesseiros, me deixando sem equilíbrio por causa da ressaca.
Ela desliza o dedo pelo meu queixo, pescoço, peito nu...
Cada vez mais baixo...
Faça alguma coisa, Kaden
Eu quero impedi-la.
Eu tento.
Mas eu só... não consigo me mover.
MARA

Eu abro a porta e cambaleio para fora do meu quarto. Minha cabeça


ainda está com uma dor monumental, mas pelo menos consigo me
levantar e me mover.
Eu tenho que encontrar Kaden. Odeio dizer isso, mas parte de mim
não confia nele sozinho aqui.
Por que ele me deixaria em uma cama sozinha?
Meus incômodos sentimentos de incerteza estão borbulhando à
superfície novamente. Mas, desta vez, não acho que eles sejam
injustificados.
Por favor, não me decepcione, Kaden. Nunca sonhei que teria que me
preocupar com você sendo infiel.
O corredor está tão escuro e sem janelas quanto o meu quarto. E
impossível dizer se é dia ou noite. Estou totalmente desorientado.
Talvez eu tenha dormido apenas algumas horas.
Talvez alguns dias.
Kaden, onde você está
A música de dança fica mais alta quando me aproximo de uma grande
câmara no final do corredor.
Eu passo por muitas portas, ouvindo gritos e gemidos lascivos atrás da
maioria delas.
Knock! Bater! Bata!
Eu quase salto para fora da minha pele quando ouço batidas na porta
ao meu lado, mas acho que quem está lá não quer que eu abra.
Finalmente entro na câmara, a música pulsante afetando minha dor
de cabeça.
Eu olho em volta para um mar de carne. Eu vejo corpos nus em todos
os lugares. E quase como se eu estivesse de volta a Matilha da Liberdade,
mas isso não tem a mesma vibração relaxada.
É como uma sauna aqui. O ar está denso com a transpiração e o odor
corporal.
Vozes sem palavras. Alguns sussurros. Alguns gritos.
Eu suspiro...
É uma merda de orgia
Portanto, as histórias são verdadeiras.
Estou quase com muito medo de procurar Kaden, mas não posso me
virar como uma garotinha assustada.
Eu tenho que seguir em frente.
Quase tropecei em um homem e uma mulher no chão transando
como coelhos.
Um braço se estende e me puxa em direção a um ménage à trois, mas
eu o empurro e me apresso, quase esbarrando em um casal feminino
mais velho em uma mesa lambendo o sexo um do outro.
Eu estou o oposto de excitada.
Eu dou uma volta no labirinto depravado, nervosamente examinando
os fornicadores em busca do torso tatuado de Kaden, pisando em corpos
se contorcendo e evitando convites mais atraentes.
Mãos desencarnadas golpeiam minha bunda e alcançam meus seios.
Pelo menos estou usando roupas.
Não vejo Kaden em lugar nenhum e respiro um pequeno suspiro de
alívio.
Mas se ele não está aqui, onde ele está Eu vejo Alpha Malik — segurando
a corte — no final da sala.
A cabeça do jovem de antes balança vigorosamente entre suas pernas
nuas.
Uma mulher massageia seus ombros peludos.
O Alpha bebe de uma garrafa de vinho com uma expressão vidrada.
Este troll é a última pessoa que quero ver agora. Então, novamente,
ele pode ser minha única maneira de encontrar Kaden. Eu respiro fundo
e me aproximo.
Malik se ilumina quando me vê se aproximando.
— Luna Mara! Que bom que você decidiu se juntar a nós. Você saiu
como um bebê na noite passada. Um bebê muito sexy, — acrescenta ele,
me olhando como uma sobremesa enquanto acaricia a cabeça
balançando em seu colo.
Eu não posso jogar bem com esse canalha.
— Você nos drogou, Malik, — eu digo, à queima-roupa.
— Achei que você se divertiria mais, — ele responde com um encolher
de ombros indiferente. — Eu sou bom em ler as pessoas. Você e Alpha
Kaden têm muito drama. Não há romance suficiente.
Uma velha se arrasta e começa a chupar seus dedos do pé. Eu me
encolho.
— Você nos deve algumas respostas sobre Amber e as meninas
desaparecidas.
— Eu não devo nada a você.
— Você está escondendo algo, — declaro.
— Minhas safras, — ele diz, tomando mais um gole de vinho.
Eu quero puxar meu cabelo.
— Você poderia pelo menos me dizer onde Kaden está?
Malik abre um sorriso peculiar.
— Três portas no corredor à sua direita.
Oh. Essa foi fácil.
Muito fácil?
— Obrigada, — murmuro enquanto a velha passa para o outro pé
dele.
— Você é... muito... bem— coooome... — Eu ouço Malik gritar, sua voz
quebrando em êxtase.
Eu tenho que dar o fora daqui.

Conto três portas no corredor à minha direita. E paro.


Ele provavelmente está apenas dormindo. Não devo tirar conclusões
precipitadas. Faz todo o sentido que ele acabe em uma sala
completamente diferente da minha...
Na verdade, não faz sentido.
O que vou encontrar atrás desta porta?
Não me decepcione, Kaden repito em minha mente.
Eu bato suavemente.
— Kaden?
Sem resposta.
Giro a maçaneta e abro...
E então eu grito.
Porque, quando abro a porta, vejo Kaden deitado em uma cama de
travesseiros.
Uma ruiva nua está sentada em cima dele. Girando em sua cintura.
Kaden I Eu poderia te matar!
Ele olha para cima ao som do meu grito.
— Mara, espere! Não é o que parece!
— Então que porra é essa? — Eu exijo, meus lábios tremendo.
Enquanto eu olho diretamente para o meu companheiro, esperando
sua resposta, parece que o mundo para de girar. Porque eu sei que não
quero que ele minta para mim.
Mas também não sei se consigo lidar com a verdade.
Capítulo 8
SEXO E AMOR
MARA

Meu coração está partido, porra.


Meu companheiro está me traindo, e estou literalmente pegando ele em
flagrante!
Todas aquelas preocupações, todos aqueles sentimentos estranhos, eles
estavam -certos.
Eu nunca deveria ter confiado em Kaden com meu amor minha alma.
Meu ser.
Alguém me acorde deste pesadelo terrível. 'O que diabos aconteceu?! —
Eu exijo.
Kaden olha impotente para a ruiva e depois de volta para mim.
— Eu... eu... eu não sei.
Nunca estive tão chateada na minha vida.
Meu coração está batendo como um tambor...
Estou tremendo de raiva... Estou vendo vermelho...
Deve ser assim que um vulcão se sente antes de entrar em erupção.
GRRRRR.
Eu marcho até Kaden e arrasto a vadia da Matilha do Amor de cima
dele. Preso pelo meu olhar afiado, o grande e mau Alpha realmente
parece um pouco assustado.
Bom Ele deveria estar.
— O que... diabos... aconteceu? — Eu repito, fervendo.
— Mara, eu não sei. Honestamente. Acabei de acordar aqui, e ela
estava ao meu lado...
— Ela não estava perto de você. Ela estava em cima de você. Nua!
— Bem, sim, mas isso foi depois...
— Kaden! — Mara, estou dizendo que não sei o que aconteceu. Alpha
Malik nos drogou. Eu não estava no controle. Você sabe que eu nunca
faria nada para te machucar em meu juízo perfeito.
— Então o que estava acontecendo quando eu entrei? Você parece
estar no seu perfeito juízo agora!
— Estou de ressaca. Ela pulou em cima de mim. Ela já estava despida!
— E por que isso?
— Eu não sei!
Eu bato no chão perto de sua cabeça. Ele pula.
— Eu estou te dizendo a verdade! Pergunte a ela!
Ele olha com urgência para a ruiva. Ela abre a boca para falar, mas eu a
silencio com um olhar gelado.
— Isso é entre nós. Não ela você tem fodido tudo, Kaden. Viemos aqui
para obter informações sobre as meninas desaparecidas. Lembra disso? E
se você tivesse sido mais direto com Alpha Malik como eu disse para ser,
não estaríamos aqui agora!
— Precisávamos de uma noite de folga!
— Talvez sim, mas não precisamos disso! — Eu argumento,
apontando para a ruiva.
— Se eu puder falar por um minuto... — ela começa.
— NÃO! — Eu grito.
Kaden abaixa a cabeça. Sua voz sai embargada de emoção.
— Mara, sinto muito. Eu realmente não sei o que fiz ontem à noite,
mas claramente a evidência está bem na nossa frente. Eu só quero que
você saiba que não há ninguém em meu coração além de você. E nunca
haverá. Eu sou um idiota por deixar isso acontecer.
Mesmo que seu pedido de desculpas suavize um pouco minha raiva,
eu me recuso a mostrar isso. — Você está absolutamente certo, você está,
— eu digo a ele, tristeza misturada com a raiva ainda dentro de mim. —
Você me deixou em paz, Kaden. E nós dois sabemos que este lugar não é
seguro. 1
Ele acena fracamente.
Kaden pode ser meu sol, lua e estrelas, e eu posso amá-lo mais do que
a própria vida, mas não quero um companheiro que aja assim. Eu tenho
que me respeitar mais do que isso.
— Eu não mereço você, — ele diz.
E não posso corrigir o que ele disse, honestamente.
Estou sentindo lágrimas nos olhos. Eu gostaria que nunca tivéssemos
vindo a este lugar horrível. Eu gostaria de ter um companheiro em quem
pudesse confiar. Eu desejo... eu desejo...
— Kaden, não fizemos nada! — A ruiva finalmente grita, frustrada.
Nós dois olhamos para ela.
O que
— Eu vim aqui ontem à noite procurando um lugar para dormir e
encontrei Kaden desmaiado. Eu estava cansada demais para continuar
procurando, então adormeci aqui. Nada aconteceu.
Hmmmm... ela não parece -estar mentindo. Mas não responde a todas
as minhas perguntas.
— E quando eu acabei de entrar?
— Eu estava tentando brincar, — ela diz com indiferença, como se
fosse apenas uma manhã normal. — Mas eu comecei. Ele estava apenas
deitado no chão parecendo assustado. Nós nem nos beijamos. Se eu
soubesse que ele tinha uma companheira, não o teria tocado. Eu sei que
estou na Matilha do Amor, mas respeito isso. A menos que você tenha
algum tipo de acordo.
— 'Definitivamente, não.
A ruiva dá de ombros.
— Cada um com sua mania.
Hmmm. Eu olho em seus olhos azuis brilhantes.
Eles parecem honestos e, francamente, estúpidos demais para mentir.
Eu quero acreditar nela. Mas é a verdade real?
Eu nunca vi Kaden tão abalado. Ele parece um homem quebrado, não
um trapaceiro.
— Não há ninguém em meu coração além de você, — ele diz, olhando
para mim.
Suas palavras ecoam em minha mente.
Eu quero confiar nele. Eu confio nele.
— Ok, — eu finalmente digo. — Eu acredito em você.
Kaden salta para me abraçar. Eu recuo. Estou feliz que ele não me
traiu, mas não estou exatamente pronta para aceitar ele de braços
abertos.
— Você ainda me deixou sozinha naquele quarto. Eu não me importo
com o quão confuso você fique. Nunca mais me assuste assim.
Kaden acena com a cabeça gravemente. — Você tem minha palavra.
ECA. Não posso ficar com raiva desse rosto lindo. Eu o puxo para mim
e dou um beijo em sua bochecha, mais do que um pouco feliz por nossa
luta ter acabado.
— Então, o que é esse negócio de 'garotas desaparecidas'? — Pergunta
a ruiva enquanto nos separamos. Felizmente, ela finalmente está
colocando algumas roupas.
— Algumas meninas desapareceram da Matilha da Pureza, — eu
explico. — Elas faziam parte de uma quadrilha de tráfico. Nós resgatamos
a maioria delas, mas algumas meninas ainda estão por aí.
— Viemos a Alpha Malik para ver se ele sabe de alguma coisa, —
acrescenta Kaden. — Mas, obviamente, nos desviámos um pouco.
A ruiva coça o queixo.
— Hmmm... Bem, Alpha Malik teve -algumas novas adições ao seu
harém recentemente. Elas não interagem muito conosco, mas as que eu
vi não parecem mais velhas do que adolescentes. Parece que as garotas
dele estão ficando cada vez mais jovens, — ela disse, franzindo o nariz
como se ela cheirasse algo podre.
Bingo.
Eu sabia que aquele canalha tinha algo a esconder.
— Onde fica o harém? — Eu pergunto.
— Último andar, — ela responde com naturalidade. — Normalmente
há alguns guardas por perto, mas acho que a maioria deles está de folga
esta noite. Ou, você sabe, saindo.
Todos nós rimos da piada.
É estranho que uma pequena parte de mim esteja começando a gostar
dessa garota?
Kaden e eu seguimos as instruções da nossa nova amiga até uma
escada em espiral que leva ao último andar do castelo Começo a ficar
tonta por causa de todos os círculos, o que não ajuda em nada minha
ressaca, mas meu coração esperançoso me faz continuar.
Podemos estar a minutos de encontrar o resto das garotas
desaparecidas.
Penso na expressão no rosto de Milly — nos rostos de todas as
meninas — quando as encontrei nos túneis. A compreensão emocional
de que tudo ficaria bem.
Eu quero dar isso a essas meninas.
Para Amber.
Elas também mereciam.
— Você acha que ela está aí em cima? — Eu pergunto a Kaden.
— Quem? — Ele pergunta, ofegante. Ele está passando por um
momento pior nesta escada do que eu.
— Amber, — eu o lembro.
— Eu não teria muitas esperanças, Mara, — ele diz. — Não sabemos
nada sobre essas meninas. Elas poderiam ter vindo para a Matilha do
Amor por conta própria.
— Malik está claramente as escondendo por uma razão, — eu
argumento. — E que adolescente em sã consciência iria se juntar de bom
grado ao harém dele? Ele parece um saco de lixo coberto de pelos do
corpo.
— Verdade. Mas talvez elas gostem de sua personalidade.
— Muito engraçado.
— Olha, Mara, tudo o que estou dizendo é que Amber não tem muita
chance de estar lá. Não sabemos quantas meninas desaparecidas existem.
De quantas matilhas elas vieram. Teríamos que ter muita sorte. Eu não
quero que você fique desapontada.
— Estou otimista, — decido.
— Tudo bem. Eu acho que alguém precisa ser, — Kaden diz com um
sorriso fatal.
Chegamos ao topo da escada e encontramos um pequeno corredor
inundado de luz solar.
Eu tenho que me impedir de correr para pressionar meu nariz nas
janelas. Parece que já faz séculos desde que vimos o ar livre.
No final do corredor, um guarda está parado em uma porta com
aquelas estranhas alças curvas de pênis. Suponho que esta seja a sala do
harém.
O guarda franze a testa quando Kaden e eu nos aproximamos.
— Quem são vocês? — Ele exige.
Eu ouço a voz de uma jovem cantarolando atrás da porta.
Pode ser de Amber
— Eu sou Alpha Kaden da Matilha da Vingança, — Kaden
confiantemente diz ao guarda. — Alpha Malik nos enviou para visitar a
sala do harém.
Os olhos do guarda se estreitam com suspeita.
— Isso é estranho. Alpha Malik nunca permite que outros machos
visitem a sala do harém.
— Então eu sou a exceção à regra, — diz Kaden sem pestanejar. — Eu
tenho aqui uma garota da Matilha da Pureza por quem ele tem um
interesse excepcional, e ele me pediu para acompanhá-la para conhecer o
resto das garotas.
Estou impressionado com seu raciocínio rápido. É uma aposta que
vale a pena.
O guarda me examina e, seguindo o exemplo de Kaden, tento o meu
melhor para parecer bonita e inocente.
Kaden bate o pé com impaciência. — Isto é ridículo. Você quer que eu
traga Malik aqui? Isso não é maneira de tratar um Alpha em visita, — ele
late em seu tom mais arrogante.
O guarda parece pesar suas opções. Finalmente ele abre a porta.
— Eu acredito que vou falar com Malik sobre isso sozinho.
— Ei, é a sua bunda, não a minha, — brinca Kaden quando entramos
na câmara.
— Muito impressionante, — murmuro quando a porta se fecha atrás
de nós.
— Obrigado. Mas vamos nos apressar. Não temos muito tempo.
A sala está repleta de colunas de pedra e estátuas nuas. Tem cheiro de
plantas queimadas. Me lembro do perfume da Matilha da Liberdade.
Mulheres seminuas dormem em travesseiros espalhados pelo chão.
Há cerca de uma dúzia no total, e cada uma parece mais jovem que a
anterior.
Eu me sinto mal do estômago, e não é por causa da ressaca.
— Devemos acordá-las? — Kaden pergunta, inclinando-se sobre uma
das meninas.
De repente, ouvimos um zumbido. Uma garota abandonada dança
atrás de uma coluna, valsando ao redor da sala com um parceiro invisível.
Ela não pode ter mais de dezesseis.
— Hum, com licença... — eu começo.
A garota abre os olhos e volta para a dança.
— Siiiiiiiiim? — Ela pergunta em uma voz cantada. Ela pisa em uma
das garotas, que parece perdida demais para reagir.
O que diabos há de errado com ela 1 Aposto que Malik a drogou
também. Ele provavelmente drogou todas elas.
— Nós somos da Matilha da Vingança, — digo a ela. — Nós sabemos
que Alpha Malik comprou vocês, meninas, e viemos resgatá-las.
— Resgatar... nós? — Ela ri, seus olhos brilham.
Ela está realmente rindo agora? Estou tentando salvar a vida dela!
— Sim, para resgatá-la. As meninas que foram levadas para cá.
— Não queremos ir embora, — ela afirma ao ver que estou falando
sério. E então ela dança para longe, um sorriso enorme em seu rosto,
deixando eu e Kaden paralisados e atordoados.
O QUE -?!
Capítulo 9
ZOOEY
MARA

Eu fico olhando nos olhos dela. Feliz, mas... vazia. Algo está errado.
Será que alguém pode ser realmente feliz aqui?
Vivendo no harém de uma lesma como Alpha Malik?
De jeito nenhum. É fodidamente impossível...
Não é?
Eu fico olhando para a garota. Estupefata.
— O que você quer dizer com não quer ir embora? — Eu pergunto
com cuidado.
— Você está louca? — Kaden adiciona asperamente.
Eu dou a ele um olhar silencioso. Eu tenho um palpite de que
devemos pisar levemente aqui, não pular no balanço, ao estilo da Matilha
da Vingança.
Claramente a garota está sob a influência de algo. Não queremos
perdê-la.
— ’Minha mente... é cristalina, — ela diz, continuando sua dança
vacilante em círculos ao nosso redor.
— Eu nunca estive mais... dentro -disso.
— Meu nome é Mara, e este é meu companheiro, Kaden. Qual o seu
nome? — Eu pergunto, tentando uma tática diferente.
— Zooooooeeeeeey... — ela canta.
— Zooey. E um nome bonito, — eu digo.
— Malik... diz isso também...
Concentre-se, Mara.
— De qual bando você é? Você pode nos dizer como você chegou aqui?
— Eu voei... em um raio... de sol.
Kaden geme como uma criança mimada. Eu gostaria que ele pudesse
ser mais paciente. Tenho certeza de que posso arrancar a verdade de
Zooey com um pouco de tempo.
— Você tem certeza sobre isso? — Eu pergunto com calma.
— Não... — Ela ri. — Alguns homens nos trouxeram aqui.... homens
maldosos e assustadores...
Viu? Estamos chegando a algum lugar!
— Um deles se chamava Coen?
— Coooooeeeeen... — Ela balança o nome em sua boca. — Isso soa
com um sino. Ding, ding, ding Kaden e eu trocamos olhares.
Finalmente. Prova que Alpha Malik estava envolvido no tráfico de
meninas desaparecidas!
Claro.
E daí se Zooey não for a melhor testemunha? Ela é melhor do que
nada.
— De que matilha você é? — Kaden pergunta com a sutileza de um
machado de batalha. Ele mal consegue esconder sua empolgação.
Zooey de repente dá um passo errado e cai para trás no chão,
colidindo com uma das garotas adormecidas. A garota muda apenas
ligeiramente, seus olhos permanecem fechados para o mundo.
Eu me agacho ao lado de Zooey. — Você está bem?
Ela balança a cabeça lentamente.
— Todas essas perguntas... Elas dão muito trabalho... Estou ficando
cansada...
— Oh, por favor. Nós quase não perguntamos nada a ela, — Kaden se
encaixa. — Mara, estamos perdendo tempo aqui. Vamos acordar essas
garotas e dar o fora daqui enquanto ainda temos tempo. Podemos fazer
essas perguntas mais tarde.
— Mas eu não quero ir embora!
Zooey bate os punhos nos travesseiros como um bebê chorão.
— Por que não? — Eu pergunto. — Você disse que homens
assustadores trouxeram você aqui. Por que você ficaria?
Ela se atrapalha no chão até que suas mãos encontram um pequeno
cachimbo de vidro escondido nos travesseiros. Ela o pega e o estuda
cuidadosamente, uma carranca se formando em seus lábios.
— Eu preciso de um fósforo.
— Zooey, você poderia, por favor, responder à pergunta. Diga-nos
porque você quer ficar aqui.
— Eu preciso de um fósforo! — Ela berra.
— Tudo bem, — eu respondo suavemente, me levantando.
Eu começo a olhar ao redor da sala. Kaden me observa, batendo o pé.
Eu sei que ele está frustrado, mas de que outra forma vamos conseguir
informações mais concretas dela?
Se ela quer um fósforo, vou conseguir um maldito fósforo!
Encontro uma caixa de fósforos pela metade em uma mesa ao lado de
uma lata de algum tipo de erva verde.
Eu trago para Zooey. Ela acende o cachimbo e inala profundamente,
tossindo uma enorme nuvem de fumaça branca. Instantaneamente, ela
parece relaxar.
— Isso é... melhor... — Ela suspira. — Quer um pouco?
Ela me oferece o cachimbo. Sim, certo Eu tive substâncias estranhas o
suficiente para uma visita a Matilha do Amor, obrigada.
Eu educadamente coloco sobre os travesseiros.
— Diga-nos por que você quer ficar aqui, — eu repito, a suavidade em
minhas palavras desaparecendo lentamente.
Agora, minha -paciência está começando a se desgastar.
— É divertido aqui. — Ela encolhe os ombros. — Eu posso fazer o que
eu quiser.... Jogamos o dia todo... E quando não estamos brincando,
estamos dormindo... E quando não estamos brincando ou dormindo,
estamos... — Seu rosto se ilumina com um sorriso diabólico. — Fodendo...
Eu faço o meu melhor para não imaginar essa pobre garota na cama
com aquele glutão ofegante.
— Alpha Malik nunca maltrata você?
— Nunca... Ele nos dá a melhor comida... o melhor vinho... as
melhores drogas...
Ela pega o cachimbo, acendendo ele novamente.
— E o melhooooooooor clímax...
Ela se contorce de prazer com o pensamento.
Infelizmente reconheço sua expressão. E a mesma aparência vidrada
que tenho quando estou sonhando acordada com o conjunto de
habilidades incomparáveis de Kaden.
É possível que ela realmente ame Malik? Ele deve ser trinta anos mais
velho que ela.
Pelo menos.
Ela nem parece legal para os padrões da Matilha da Pureza.
Eu olho para Kaden. Para ser justa, ele também não é exatamente uma
imagem da juventude.
Zoey parece apenas alguns anos mais nova do que eu. Eu realmente
não quero fazer as contas, mas eu estimo que meu companheiro é uma
espécie de ladrão de berços.
— Todas vocês, meninas, se sentem da mesma maneira? — Eu
pergunto, olhando para as outras espalhadas nos travesseiros. Zooey
percebe minha preocupação.
— Pergunte a elas. Jana... Jana... — Ela começa a sacudir a garota em
quem ela caiu mais cedo. Jana, aparentemente. Ela abre um par de olhos
verdes injetados de sangue.
— Os homens maus trouxeram Jana aqui também... Eles trouxeram
todos nós, — Zooey explica. — Jana, você gosta daqui, certo? Diga qual é
o nome dela... — Ela aponta para mim.
— Mara, — eu a lembro.
— Marjorie, — Zooey diz a Jana.
Jana tateia em busca do cachimbo e dos fósforos, e então dá uma
pequena tragada.
— É o paraíso na terra, — ela ronrona antes de fechar os olhos
novamente.
— Viu? — Zooey diz, se aconchegando ao lado dela. Ela fecha os olhos
também.
Oh não.
— Zooey, espere! Temos mais o que conversar! — Eu digo, batendo
em seu ombro.
— Mara, esqueça-a. Se elas não querem ir, vamos deixá-las.
Precisamos sair daqui antes que Malik nos encontre, — Kaden diz, se
virando para a porta.
Do que ele está falando? Estamos muito perto de obter mais
respostas!
Eu me levanto e o interrompo na frente da porta.
— Kaden, — digo a ele em voz baixa, — não vamos a lugar nenhum
até obtermos mais informações dela. Nem perguntei a Zooey sobre
Amber. E você realmente acha que Alpha Malik é a única pessoa que
Coen vendeu garotas também? Porque eu não.
— Ela está toda drogada. Quase não aprendemos nada além da
habilidade sexual de Malik. O que te faz pensar que ela vai te dizer algo
realmente útil?
— Eu só acredito.
Kaden procura meus olhos em dúvida. Por que ele não pode
simplesmente confiar em mim? Eu dei um salto acreditando que ele não
me traiu. Por que ele não pode dar um agora?
— Tudo bem, — diz Kaden finalmente. — Mas estamos fazendo isso
do meu jeito. Você está perdendo muito tempo cuidando dela.
Precisamos ser mais agressivos.
ERRADO.
— Kaden, não...
Mas ele já está caminhando para o lado de Zooey.
— Zooey, ACORDE, — ele comanda. Seus olhos se abrem.
— Mara e eu precisamos sair daqui, mas precisamos de algumas
respostas primeiro. De que matilha você é? Você conhece uma garota
chamada Amber? Para quem mais Coen estava vendendo garotas?
Zooey o encara em silêncio com um sorriso sonhador.
— Fale, droga! — Zooey responde fechando os olhos e se aproximando
de Jana. Kaden rosna, puxando seu cabelo.
Eu não posso acreditar que ele pensou que ia funcionar.
— Alpha Kaden, mestre do interrogatório, — eu digo sarcasticamente,
sentando no travesseiro ao lado de Zooey. Kaden sai furiosamente para o
outro lado da sala.
— Zooey, é Mara de novo. Eu só quero conversar um pouco mais com
você. — Eu esfrego suas costas suavemente. A espinha de Zooey se curva
como a de um gato carinhoso.
— Não quero mais falar com aquele cara mal-humorado, — ela
murmura.
— Você não precisa. — Eu ouço Kaden bufar atrás de nós. Ele está
sendo tão imaturo.
— Continue esfregando minhas costas... por favor... — Zooey diz.
Eu continuo esfregando.
— Você conhece uma garota chamada Amber? — Eu pergunto. — Ela
foi levada com o resto de vocês, meninas. Ela é da Matilha da Pureza.
— Amber da Matilha da Pureza... Hmmm... — Zooey pondera. — Sim,
eu a conheço...
Sim! Ela conhece Amber!
Não perca a calma, Mara. Precisamos de mais informações — Ela está
aqui? — Eu olho para as meninas adormecidas, esperançosa. Mas Zooey
balança a cabeça.
— Não... Alpha Malik não gosta de garotas da Matilha da Pureza... —
Ela ri. — Ele diz que elas não são boas na cama...
Com licença? Eu peço desculpa, mas não concordo! Mas esta não é a
hora de entrar em um debate sobre a reputação sexual da minha ex-
matilha.
— Onde você acha que ela foi?
Zooey dá de ombros. — Ficando com sono...
— Zooey, por favor...
— Mara, realmente temos que ir, — Kaden me diz. — Nós sabemos
que Amber está lá fora. Agora -você está apenas abusando da sorte.
Eu olho para ele. — Dê-me mais um minuto.
Os olhos de Kaden estreitam. — Sessenta... cinquenta e nove...
cinquenta e oito... — conta ele.
EC A! Ele é mais frustrante do que Zooey.
— Por favor, Zooey. Você tem alguma ideia de onde Amber poderia
estar?
Ela balança a cabeça.
— Há mais alguma informação que você possa me dar? Por favor. Eu
realmente quero ajudar as outras garotas lá fora. Nem todas elas
acabaram em um lugar tão bom.
Zooey abre os olhos. Eu vejo uma pitada de tristeza. Estou
conseguindo falar com ela?
— Eu não... sei, — ela diz.
Droga. Eu tinha certeza que ela iria me dizer algo. Eu aceno,
desapontada. — Obrigada por sua ajuda, Zooey.
Ela fecha os olhos. Eu começo a me levantar. Aliviado, Kaden vai para
a porta.
— Espera!
Eu viro. Zooey nos observa com o rosto dilacerado de remorso.
— Ugh, e agora?! — Kaden resmunga.
— Um segundo, — eu sibilo, esperando Zooey falar.
— Diga a Matilha da Igualdade... Estou bem... — Zooey diz, sua voz
fortalecendo.
— A Matilha da Igualdade?
Minha mente dispara, tentando descobrir se a ouvi direito. Nunca
ouvi falar de uma Matilha da Igualdade antes.
— Sim. Matilha da igualdade, — ela ecoa. — É daí que eu venho...
Diga a eles... Estou bem...
A luz nos olhos de Zooey se apaga. Ela encosta a cabeça no travesseiro
novamente.
— Onde encontramos a Matilha da Igualdade, Zooey? Zooey! — Eu
pressiono.
Mas posso dizer que ela saiu.
— Mara, vamos embora! Agora!
— Mas precisamos descobrir...
Kaden me pega pelos ombros, me guiando rudemente em direção à
porta.
— Você esqueceu que sou um Alpha? Eu sei onde encontrar a maldita
matilha da Igualdade. — Ele cospe o nome deles com nojo.
O que ele sabe sobre eles?
Pelo olhar dele, posso dizer que não é nada bom.
Capítulo 10
ADEUS, AMOR
MARA

A Matilha da Igualdade? Eu vasculho meu cérebro, mas tenho certeza de


que nunca ouvi falar deles. Nós, garotas da Matilha da Pureza, realmente
não saímos muito.
Quem são eles? Por que não ouvi falar deles?
Eles saberão onde encontrar Amber?
Eles poderiam tê-la levado?
Eu realmente gostaria que Zooey tivesse nos dado mais respostas do que
perguntas!
Kaden e eu corremos para fora da sala do harém. Temos sorte. O
guarda suspeito não está à vista.
Acho que ele desceu para se juntar à orgia.
Enquanto caminhamos pelo corredor, minha mente volta para Zooey.
O que diabos é a Matilha da Igualdade? O nome não me dá nenhuma
pista. Eles são amigáveis? Ou perigoso?
Kaden percebe que estou distraída.
— Eu vou te dizer o que eu sei sobre a Matilha da Igualdade assim que
sairmos daqui. Agora menos pensando, mais movendo!
Eu entendo a mensagem e acelero o ritmo.
Chegamos ao topo da escada em espiral, a tempo de encontrar um
Alpha Malik bufante com seu guarda do harém a reboque.
Tanto para uma fuga limpa.
— Alpha Kaden e Luna Mara! Estou tão feliz que vocês dois se
encontraram. Você escolheu um ponto de encontro bastante infeliz, no
entanto. Este andar é estritamente proibido para todos, exceto eu e meus
guardas, — Malik diz, um rosnado desconhecido em seu tom.
— Bem, eu achei que você poderia quebrar as regras para nós desta
vez. Você sabe, porque você nos drogou? — Kaden atira de volta,
igualmente salgado.
— Eu simplesmente queria que você se divertisse.
— Nós não fizemos, — rosna Kaden. — E eu não acho que nossos
companheiros Alphas ficariam muito satisfeitos em ouvir sobre a
recepção que você nos deu.
— Nem eles ficariam satisfeitos em saber que você está bisbilhotando
meu castelo sem minha permissão, — Malik responde, o sorriso em seu
rosto imperturbável.
— Você pode não ser mais amaldiçoado, Alpha Kaden, — ele
continuou, — mas você certamente não é confiável. Isso só o solidifica.
As veias se contraem na testa de Kaden. Acho que ele está finalmente
começando a odiar Alpha Malik tanto quanto eu. Eu pulo para ajudá-lo.
— Nós sabemos sobre as meninas, — eu digo a Malik. — Sabemos que
você os comprou de Coen.
Para meu prazer, vejo o rosa sumir das bochechas carnudas do Alpha.
— Você precisa sair. Agora, — ele late.
Kaden sorri. — Estávamos tentando. Até que sua bunda gorda
atrapalhasse.
Alpha Malik dá um passo para o lado, furioso.
— Vocês dois estão oficialmente banidos da Matilha do Amor, — ele
consegue dizer em meio à sua raiva. — Para a vida toda!
Para a vida toda?! Não que eu queira voltar para essa favela do sexo,
mas Malik tem muita coragem.
Eu abro minha boca para dar a ele um pedaço da minha mente.
— Tudo bem por nós, — diz Kaden, me interrompendo antes que a
pele voe.
Ele agarra minha mão e me puxa escada abaixo, deixando Malik em
nossa poeira.
Boa viagem, Matilha do Amor.
KACE
Eu vejo os homens abastecerem dois de nossos caminhões em ruínas.
Eles são umas belezas.
Nós vasculhamos as peças por toda a Cidade da Vingança. Estripamos
qualquer coisa com rodas e um motor. Soldando os melhores pedaços
juntos. Maior, mais malvado, mais malvado.
Eu sorrio. Eles me lembram, bem, eu.
Fiquei chocado por estar vivo depois do que aconteceu nos túneis.
Kaden tinha ido reunir os Alphas contra nosso irmão Coen enquanto
eu ajudava Mara a procurar as meninas desaparecidas nos túneis abaixo
da Matilha da Vingança.
Durante a nossa busca, eu cai em uma armadilha. Perfurado por
estacas de madeira.
Eu tinha certeza que a morte estava vindo para mim, mas de alguma
forma, esses homens estranhos me colocaram de volta no lugar.
Eu olho para os remendos metálicos rígidos cobrindo minhas feridas.
É ciência? Magia? Eu não faço ideia. Seja o que for, me sinto mais forte do
que nunca.
Originalmente, pensei que esses homens trabalhassem para Coen.
Todos eles têm sua tatuagem de triângulo duplo em suas bochechas. Mas
eles me disseram que, desde que ele morreu, sou o novo líder.
Estou falando sério.
Eles fazem tudo o que eu digo.
É louco. Nunca liderei ninguém antes. Eu nunca fui o primeiro em
uma corrida! Isso sempre foi coisa dos meus irmãos, não minha.
Eu acho que gosto disso, no entanto. Tenho muito mais ideias sobre
liderança do que pensava.
E, claro, tenho uma ajudinha...
— Senhor!
Um dos homens corre até mim, interrompendo meus pensamentos.
Ele tem cabelo ruivo brilhante e olhos azuis gelados.
— O que é?
— Estamos quase prontos, — Olhos Azuis me diz.
Eu examino os caminhões.
— As armas estão carregadas?
— Acontecendo agora, senhor.
Homens carecas com máscaras de gás puxam carrinhos de armas de
prata reluzentes para fora da boca do túnel. Eles os carregam em
enormes baús de batalha nas caçambas dos caminhões.
Minha mão enluvada passa pela faca de prata embainhada em meu
cinto. Esses pobres tolos nunca vão nos ver chegando.
Coen e Kaden nunca poderiam vir com um plano como este eu acho
presunçosamente.
— Você reuniu um grupo da Matilha da Vingança?
O careca abaixa a cabeça, evitando meus olhos.
— Eles não nos ouvem. Eles têm sido um pouco... indisciplinados.
— Indisciplinado? — Eu repito, meu tom endurecendo.
Isto é um ultraje. Minha própria matilha não vai me seguir na batalha?
Inaceitável.
— Talvez você devesse falar com eles, senhor? — Olhos Azuis diz,
esperançoso. — Tenho certeza de que você tem os meios de... convencê-
los.
Eu aceno lentamente. Eu certamente tenho.
— Acho que voltarei para o Castelo da Vingança, então, — digo a
Olhos Azuis, me virando nos calcanhares. — Certifique-se de que
estamos prontos para ir no segundo em que eu voltar.
Olhos azuis concorda. — Nenhum problema, senhor.
Eu vou em direção ao Castelo da Vingança, desembainhando minha
faca.
Minha matilha vai me seguir. De uma forma ou de outra.
MARA

Enquanto Kaden e eu caminhamos por quilômetros e quilômetros de


floresta, ele finalmente me fala sobre a Matilha da Igualdade.
Estou na ponta da cadeira... er... pés. Estou morrendo de curiosidade
sobre este novo Matilha misterioso.
— A Matilha da Igualdade, — ele explica, — é muito misteriosa.
— Isso eu percebi.
— A interação deles com outras matilhas é mínima. Eles
principalmente guardam para si mesmos. Não acho que tenha visto o
Alpha deles por pelo menos dez anos. Não sentimos muito a falta dele.
Cara grande com um pavio curto.
— Parece familiar, — eu brinco. Kaden me pune com um tapa na
bunda.
— Fofa. Mas estou falando sério. O cara é um verdadeiro pedaço de
merda. Extremamente odioso para as mulheres. Sempre falando mal de
sua 'imprestável' Luna.
— Isso não é jeito de tratar uma companheira, — eu digo, meio em
advertência.
— Não sei, — ele diz, bicando minha testa.
— Você acha que há alguma chance de ele estar com Amber?
— Ele não é um suspeito improvável, considerando o quão duro ele é
com as mulheres. E eu podia ver por que aquela maluca da Zooey preferia
a Matilha do Amor. Então, novamente, — ele raciocina, — já se passaram
mais de dez anos desde que o vi. Pessoas mudam.
Eu não sei. As pessoas não mudam muito.
Se este Alpha é o idiota que odeia mulheres que Kaden diz que é,
tenho certeza de que ele sabe de algo. Mas se ele vai nos ajudar ou não, é
outra questão.
Só espero que encontremos Amber logo. Quanto mais procuramos,
mais preocupada fico.
À medida que continuamos caminhando, as árvores ao nosso redor
aumentam de tamanho. Logo nos encontramos em uma floresta repleta
de troncos gigantes cobertos por uma casca avermelhada. Elas são largas
como um carro e parecem subir no céu por quilômetros.
— Estamos chegando perto, — diz Kaden, examinando as árvores.
— Tem certeza? — Eu pergunto.
Não há sinal de civilização, e nossos passos são os únicos sons que
ouvi além do zumbido de insetos e pássaros cantando.
Se houver um bando por perto, provavelmente já veríamos alguma
evidência.
— Eu disse a você, eles são reservados, — Kaden responde. — É por
isso que eles estão aqui entre as sequoias. Eles não querem ser fáceis de
encontrar. — Eles deveriam apenas construir uma parede como a
Matilha da Pureza, — eu sugiro.
— Sim... Eles são um pouco mais primitivos do que a Matilha da
Pureza...
Primitivo
— O que você quer dizer? — Eu pergunto a Kaden.
Ele levanta a mão, me silenciando.
— Você ouviu isso? — Ele diz. Sua cabeça gira em todas as direções.
Eu escuto. Ainda nada além de insetos e pássaros.
Espera...
Eu ouço um galho estalar próximo, mas não consigo ver nada além de
árvores. Talvez tenha sido apenas o vento?
Uma lança voa pelo ar, afundando no chão a poucos metros de mim e
Kaden.
Que porra é essa?!
Kaden levanta ambas as mãos no ar, gesticulando para que eu faça o
mesmo.
— Eu disse que estávamos perto.
Sombras aparecem entre as árvores, rastejando em nossa direção
como uma névoa.
Vejo silhuetas de lanças, e mais lanças, machados e inúmeras outras
armas que podem me matar.
— Eu sou Alpha Kaden da Matilha da Vingança. Esta é minha Luna,
Mara. Estamos aqui para -ver Alpha Garth da Matilha da Igualdade, —
Kaden grita para as árvores.
Como ele pode parecer tão calmo?
Estou prestes a fazer xixi!
O círculo sombrio se aperta ao nosso redor, finalmente parando. Eu
aperto os olhos, mas ainda não consigo ver nenhum rosto entre as
sombras.
— Alpha Kaden da Matilha da Vingança, hein?
A voz vem de uma mulher saindo do meio das árvores. Ela usa uma
mistura de peles de animais e armadura de metal enferrujada. Seu rosto
está manchado de pintura facial. Ela se move com uma arrogância e
confiança que me lembra Lexia, a chefe do submundo da Cidade da
Vingança.
Kaden se ilumina, parecendo reconhecê-la. Ele abaixa os braços.
— Luna Nessa? Isso é você? O que faz, uma década?
— Não é mais Luna, Kaden.
Ela arranca a lança do chão e aponta a ponta para a garganta de
Kaden.
— É Alpha.
Kaden fica pálido.
Espera. Uma fêmea -Alpha?! E mesmo possível?!
Alpha Nessa joga a cabeça para trás e uiva. O círculo uiva de volta,
seguindo ela para fora das árvores. Eu olho em volta para os rostos
rosnados manchados de pintura facial.
Sem chance.
Cada rosto é feminino.
E como se as mulheres... assumissem o controle.
Capítulo 11
A MATILHA DA IGUALDADE
MARA

Um bando só de mulheres? Eu não sabia que tal coisa poderia existir Deve
ser legal sem machos arrogantes mandando nelas ou sendo muito agressivos
ou possivelmente traindo elas...
Não que eu esteja pensando em alguém em particular Na verdade, estou
muito impressionada.
Eu só queria que elas não estivessem prestes a nos matar!
As mulheres da Matilha da Igualdade deixaram Kaden e eu amarrados
e amordaçados nos aposentos da Alpha Nessa.
Eles não têm um castelo como os outros bandos, é uma aldeia de
cabanas feitas de materiais da floresta — gravetos, galhos, folhas, peles de
animais.
Estou começando a entender o que Kaden quis dizer com —
primitivo.
Alpha Nessa tem uma casa na árvore no oco de uma sequoia com vista
para as cabanas abaixo e nas profundezas da floresta além.
Tento apreciar a vista, considerando que provavelmente estaremos
mortos nos próximos minutos.
Talvez nem seja preciso dizer, mas eu realmente -espero que elas não
nos matem.
Para me confortar, eu me movo o mais perto possível de Kaden, mas
as guardas continuam nos separando com suas lanças.
Eu apoio a coisa de matilha só de mulheres, mas essas são algumas
cadelas sem coração.
Alpha Nessa finalmente entra, se sentando em um trono de osso.
Tenho quase certeza de que os braços são feitos de crânios humanos.
— Alpha Kaden, — Nessa começa enquanto as guardas removem
nossas mordaças. — Gostaria de poder dizer que foi um prazer. Mas não
aceitamos bem os invasores do sexo masculino aqui na Matilha da
Igualdade.
— Não tínhamos a intenção de invadir, — Kaden diz honestamente.
— Pretendíamos apenas falar com a Matilha da Igualdade sobre algumas
meninas desaparecidas.
— Silêncio! — Nessa grita, batendo no chão com a coronha da lança.
— Eu não suporto o som da voz masculina. Todos vocês parecem porcos
grunhindo.
— Me perdoe, Alpha Nessa, mas como você chegou a esta posição?
Kaden me disse que a Matilha da Igualdade costumava ter um Alpha
masculino.
Nessa escurece. — Isso foi há muito tempo atrás. — Sua mão se move
para um conjunto de cicatrizes profundas em seu rosto. Não as notei sob
a pintura facial.
Eles parecem que foram feitos por um animal. Ou talvez... outro
lobisomem.
— Meu companheiro era Alpha Garth. Ele era um líder terrível. Um
bêbado. Um adúltero. Um abusador. E os outros machos da matilha
viviam por seu exemplo.
— Ficou tão ruim que minhas irmãs e eu não aguentávamos mais.
Então, uma noite, quando os machos estavam desmaiados de bêbados de
uma de suas farras que duravam a noite toda, nós nos levantamos juntas
e pegamos a matilha de volta para nós.
Ela testa a ponta da lança.
— O que aconteceu com os homens? — Eu perguntei.
Alpha Nessa sorri diabolicamente.
— Tiramos a maioria deles do bando, mas alguns ficaram. Você
poderia dizer que Garth e eu ainda somos inseparáveis. — Ela acaricia
um dos crânios no braço da cadeira.
Gulp.
Tenho a sensação de que sei onde Garth está.
— Alpha Nessa, Kaden e eu viemos falar com você sobre algumas
meninas desaparecidas dos outros bandos. Queríamos saber se você teria
informações para compartilhar.
— Com Alpha Kaden? Absolutamente não. Os homens não são mais
permitidos dentro de nossas fronteiras, — ela diz, apontando sua lança
ameaçadoramente para Kaden. — Sob pena de morte.
Kaden fica furioso, mas permanece em silêncio.
Estou feliz por ele não dizer nada. Alpha Nessa parece que ela ficaria
muito feliz em matá-lo.
— Você, por outro lado... — ela diz, virando sua lança para mim. Meu
corpo todo fica rígido. Essa lança parece muito afiada quando está a
trinta centímetros de sua garganta.
Alpha Nessa acena para as guardas, que começam a me desamarrar.
— Você parece uma mulher razoável, Luna Mara. Vamos dar um
passeio? Posso ser capaz de lançar alguma luz sobre a situação da menina
desaparecida.
Dar um passeio?
Com essa assassina psicopata?
Amber, eu me lembro. Amber.
— OK.... Mas e Kaden? — Eu pergunto com cuidado.
— Sim. O que tem ele? — Ela diz brincando, sorrindo para Kaden
enquanto a lança balança de volta para seu pomo de Adão. Tenho a
sensação de que ela está saboreando isso.
— Tragam-no ao Doador de Sementes, — ela diz aos guardas. — Eu
não gostaria de privar nosso amiguinho de uma oportunidade de união
masculina.
Os guardas puxam Kaden.
Nossos olhos se conectam uma última vez antes que ele desapareça do
buraco.
— O que é um doador de sementes? — Eu pergunto a Nessa enquanto
ela desce de seu trono.
— Temos um homem na Matilha da Igualdade, mas puramente para
fins práticos, — diz ela com uma piscadela. — Você conhece o velho
ditado. Não posso viver com eles, não posso viver sem eles.
Alpha Nessa e eu percorremos um caminho pela aldeia e depois
saímos por entre as sequoias. Ela usa sua lança como bengala.
Me sinto estranhamente segura ao lado dela. Agora que Kaden se foi,
ela está visivelmente mais relaxada. Há quase uma aura maternal sobre
ela.
— Você quer saber sobre as meninas desaparecidas, — ela começa. —
Tenho algumas informações que podem enviar alguma luz sobre a
situação.
Meu batimento cardíaco acelera.
— O que? — Eu pergunto ansiosamente.
Ela sorri sabiamente. — Eu sei que o irmão de Kaden estava envolvido
com esse negócio de tráfico horrível.
Eu me viro para olhar para ela. Sério -1
— Por favor, Mara. Podemos nos isolar aqui na Matilha da Igualdade,
mas vivemos nas árvores, não sob as rochas. Por mais estranho que possa
parecer, — ela continua, — compramos algumas das garotas dele.
Eu paro de andar.
A Matilha da Igualdade comprado -garotas desaparecidas?
Que tipo de merda esquisita elas estão fazendo com elas aqui?!
Nessa percebe minha expressão de pânico. — Antes que você entre em
pânico, por favor, me deixe explicar, — ela diz, sua voz ainda calma.
— Nós compramos as meninas... para libertá-las. Sabíamos que Coen
as estava vendendo como escravas. Ele até sequestrou algumas de nossas
jovens garotas da Matilha da Igualdade. Não tínhamos os meios para
lutar contra sua magia negra, então, em vez disso, jogamos de acordo
com suas regras.
Isso... realmente faz algum sentido. Eu decido continuar ouvindo.
— Compramos o máximo que pudemos. Como você pode perceber,
não somos o bando mais rico de todos, mas colocamos o máximo
possível. As meninas tiveram a escolha de retomar para suas matilhas ou
se juntar a nossa. Muitas escolhem a nossa.
Uau. A Matilha da Igualdade investiu dinheiro para comprar de volta
as garotas desaparecidas? Isso é tão comovente. Meu coração está
nadando de emoção.
— Tem uma garota da Matilha da Pureza... O nome dela é Amber... —
eu gaguejo.
Alpha Nessa sorri.
— Sim, ela está aqui. Venha e você pode conhecer ela.

Alpha Nessa me leva para uma grande cabana, uma espécie de sala de
aula. Uma professora dá uma aula para adolescentes sobre a história da
Grande Guerra.
Isso me lembra de todas as minhas lições terríveis com aquelas irmãs
idiotas da deusa da lua.
Isso foi realmente apenas alguns meses atrás
— Amber, — Alpha Nessa chama da porta, acenando para uma das
meninas.
Uma garota tímida com cabelo loiro sujo aponta para si mesma
interrogativamente.
— Sim você! — Nessa ri. — Alguém quer te conhecer. Rápido agora.
Amber olha para sua professora, que acena em aprovação. Ela corre
até nós. Eu olho para ela de cima a baixo em descrença.
A -Amber! Em pessoa!
Amber me olha estranhamente. Obviamente ela não tem ideia de
quem eu sou.
— Sinto muito, Amber, devo parecer uma completa desastrada. Meu
nome é Mara. Eu sou da Matilha da Pureza. Estive procurando você por
toda parte. I!
— Mara? Oh Já ouvi falar de você! Você está um pouco acima de mim,
certo? As Irmãs da Deusa da Lua costumavam falar sobre você.
Eu ri. — Elas disseram somente as coisas boas, espero?
Amber também ri. — Nunca.
— Meu companheiro e eu acabamos de resgatar um grupo de garotas
da Matilha da Pureza da Cidade da Vingança. Mas você estava faltando.
Viemos para te levar para casa.
— Oh! Hum... obrigada...
Amber franze a testa, olhando para trás em sua sala de aula. Posso
dizer imediatamente o que está acontecendo em sua mente.
Ela não quer voltar.
— Se você não quiser ir, Amber, eu entendo. A Matilha da Pureza
também não é para mim.
Amber acena com a cabeça, suas bochechas ficando rosa.
— Eu só queria que houvesse uma maneira de dizer aos meus pais que
estou bem, — ela diz.
— Tenho certeza de que podemos descobrir uma maneira de dizer a
eles, querida, — interrompe Nessa com um tapinha reconfortante nas
costas. — Agora, volte correndo para a aula.
— Prazer em conhecê-la, Mara — Amber diz antes de voltar correndo
para sua mesa.
— Você também, — eu digo suavemente. Nessa me guia de volta ao
longo do caminho pela aldeia.
— Antes que eu esqueça, — digo, — conheci uma de suas garotas na
Matilha do Amor. Zooey. Ela queria que eu lhe dissesse que ela está bem.
Ela gosta de lá.
O alívio inunda o rosto de Nessa. — Obrigada por me dizer isso.
Estávamos preocupados com ela, como você está com a jovem Amber.
Direi à mãe dela imediatamente.
Tenho que admitir que estou começando a gostar da Nessa. E bom
passar o dia em um mundo sem homens. Essas mulheres parecem
realmente cuidar umas das outras.
A Matilha da Vingança, sem falar na Matilha da Pureza, certamente
não tem o mesmo tipo de camaradagem.
Nessa me olha de perto. Quase me estudando.
— Sabe, Mara, você poderia ir longe neste bando.
EU? Na Matilha da Igualdade?
Tentei imaginar, mas simplesmente não consegui. — Estou lisonjeada,
Alpha Nessa. Mas eu tenho um companheiro, e da última vez que
verifiquei, sua matilha tinha uma política de tolerância zero quando se
trata de machos.
Alpha Nessa encolhe os ombros. — Só estou dizendo que você veio
aqui para libertar mulheres escravizadas. E aqui está você, escravizada.
Por um companheiro.
— Eu não estou 'escravizada'...
— O que você chama de estar presa a alguém para sempre? Ele
marcou você, não foi? Isso significa que você é propriedade dele. É
degradante.
Eu instintivamente toco a marca em meu pescoço. Nunca pensei
sobre isso antes, mas meio que me faz sentir... possuída.
Mas, ao mesmo tempo, amo Kaden. Mais do que tudo.
A noite em que ele me marcou foi a experiência mais íntima e
romântica da minha vida.
Mas, novamente... ele realmente me aprecia? Confia em mim? Me
respeita? Ele me trata como igual?
Ultimamente... não.
Mara, não seja louca
De jeito nenhum eu me juntaria a Matilha da Igualdade...
Certo?
Nessa parece ciente do debate acontecendo dentro de mim. Ela
oferece um sorriso reconfortante.
— Não há necessidade de dar uma resposta agora, Mara. Só estou lhe
dando o que pensar. Você é uma garota esperta. Não gaste sua vida a
serviço de um homem simplesmente porque a sociedade quer que você o
faça.
Eu aceno e continuamos andando, mas minha cabeça ainda está uma
bagunça.
Eu realmente preciso de um companheiro?
Ou a sociedade me forçou?
Se eu realmente amasse Kaden, não deveria ser mais fácil decidir?
KADEN

As guardas me levam por uma passagem para outra casa na árvore.


Esta é significativamente menor do que o de Alpha Nessa e tem barras de
madeira nas portas e janelas. Mas, felizmente, não há mais tronos feitos
de esqueletos.
Uma das guardas estala a língua para mim enquanto ela tranca a
porta.
É humilhante estar preso por um bando só de mulheres. E absurdo
que tal coisa possa acontecer.
Como elas realizam qualquer coisa sem machos?
Provavelmente é por isso que moram nessas cabanas. Embora, para
ser justo, eles também fizeram quando Alpha Garth estava no comando.
— Quem está aí? — Uma voz fraca pergunta atrás de mim. Eu aperto
os olhos na semi-escuridão.
— Alpha Kaden da Matilha da Vingança, — eu anuncio. — Você é o
doador de sementes?
Eu ouço uma risada ofegante.
Um homem seminu sai mancando das sombras. Ele é carnudo, careca
e parece não ter dormido ou tomado banho há anos.
— O doador de sementes? É assim que elas estão me chamando agora?
— Ele pergunta secamente. — Eu ouvi pau de foder. Doutor Galo e Bolas.
Canhão de porra. Mas doador de sementes, isso tem um significado. Eu
deveria fazer alguns cartões de visita.
Ele ri novamente. Desta vez, termina com uma tosse forte.
— Elas dizem que você é o único homem neste bando, — eu digo. —
Por que elas mantêm você aqui?
— Por que você acha? — Ele dá um tapinha grosseiro na virilha. — Eu
sou o garanhão.
Eu franzir a testa. — Eu não entendo muito bem.
O lamentável homem empoleira-se em uma cama coberta de manchas
imundas, me chamando para mais perto.
— Sente-se, Alpha Kaden. Eu vou te dizer como essa coisa de matilha
só de mulheres realmente funciona...
Capítulo 12
O CONTO DO DOADOR DE SEMENTES
KADEN

Eu ouço com horror silencioso enquanto o Doador de Sementes conta sua


história.
Essas mulheres tiraram sua dignidade, sua liberdade, sua masculinidade...
E muito mais.
Eu tenho que escapar antes que elas tirem algo de mim.
O doador de sementes coça o couro cabeludo escamoso e começa a
falar.
— Nessa deve ter contado a você como elas derrubaram os machos da
matilha. Bem, elas deveriam ter. Os machos eram porcos. Idiotas.
Bêbados. Eu saberia porque fui um deles, — confessou.
Ele respirou fundo e continuou.
— Alpha Garth foi um dos sortudos. Elas o mataram imediatamente.
Elas mataram muitos caras.
Alguns conseguiram escapar. Eu não.
Seus olhos parecem afundar nas órbitas enquanto ele se lembra da
memória.
— Nessa me trancou aqui por semanas. Eu não tinha ideia de por que
ela me mantinha vivo. Todos os outros machos morreram ou escaparam.
Ele me olha com uma pitada de ciúme.
— Perceba na época, eu parecia com você. Grande. Forte. Com a
cabeça cheia de cabelo. — Ele coça o couro cabeludo novamente. — Eu
era o homem mais bonito do bando. Eu sei disso porque é o que me
manteve vivo.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto.
— Eu preciso soletrar para você? — Ele suspira, frustrado. — Um
bando só de mulheres não durará muito sem meios de conseguir novos
É
membros, — ele diz com uma voz cansada. — É aí que eu entro. Elas me
mantêm por perto para engravidá-las.
Meu queixo cai. — Todas elas?
O Doador de Sementes acena com a cabeça tristemente. — Pareceu
um show doce no início. Mas quando você está atendendo a uma matilha
de cem mulheres, as coisas ficam um pouco turbulentas. Às vezes, elas
querem engravidar. Às vezes, elas só querem bater nas botas. Estou de
plantão 24 horas por dia, sete dias por semana, 365 dias por ano.
Eu estremeço. A Matilha da Igualdade fez desta criatura miserável seu
escravo sexual.
— O que acontece se você não conseguir se apresentar?
— Felizmente isso não aconteceu até agora. Mas se isso acontecer... —
Ele passa um dedo pela garganta. — Elas me mantêm vivo enquanto eu
puder manter isso. Mas com o abuso constante, é uma batalha perdida,
— ele diz, franzindo a testa para a virilha.
— Fica pior. Apenas as meninas são bem-vindas na matilha. Se uma
delas tiver um filho... — Ele passa o dedo pela garganta novamente.
— Elas matam -os bebês? Isso é monstruoso!
Uma lágrima desce aos olhos do Doador de Semente. — Não quero
pensar em todos os filhos que tive ao longo dos anos. Mas pelo menos
tenho muitas filhas. Mesmo que elas apenas me conheçam como... o
doador de sementes...
Ele começa a soluçar.
Eu quero confortá-lo, mas seu cheiro pútrido me mantém longe. Eu
não sei o que dizer de qualquer maneira. Nunca ouvi falar de uma
existência mais sombria.
Tenho que encontrar Mara e dizer a ela do que esse bando macabro é
capaz.
Se não chegarmos a um plano de saída — e rápido — posso estar
olhando para o meu futuro.
MARA

Alpha Nessa me encontra um quarto aconchegante em uma das


cabanas para passar a noite, mas não posso dormir sem saber que Kaden
está a salvo.
Mas agora que conheci mais de Nessa, não acho que a Matilha da
Igualdade vai prejudicá-lo.
Então, novamente, ela estava se divertindo muito com aquela lança
antes...
Saio sorrateiramente da cabana sob a cobertura da noite, com cuidado
para que ninguém me veja. Mas eu não tenho ideia de onde encontrar
esse — Doador de Sementes — que elas colocaram Kaden junto.
Estava claro que nenhum homem jamais teria uma posição honrosa
na Matilha da Igualdade.
Talvez elas o mantivessem como uma espécie de prisioneiro penso comigo
mesma com um calafrio.
Enquanto procuro na aldeia, penso no que Nessa me disse mais cedo
sobre como eu poderia ir longe na Matilha da Igualdade. Mas isso
significaria que eu teria que desistir de Kaden.
E por mais que tenhamos problemas ultimamente, eu tinha certeza de
que não poderia sobreviver sem ele — contanto que ele comece a me
tratar com a confiança e o respeito que eu mereço.
Eu olho para as sequoias e vejo um brilho fraco vindo de uma cavidade
ligeiramente removida da vila. Barras cobrem as portas e janelas como
uma espécie de cela de prisão.
Será aqui que está o doador de sementes?
Eu subo a escada até a passarela do lado de fora. Não há guardas e está
tranquilo lá dentro.
Eu coloquei meus olhos nas barras, perscrutando a escuridão.
— Hum... Alôôô? — Eu pergunto com a voz trêmula. — Doador de
sementes?
— Mara?
Eu reconheço a voz de Kaden imediatamente. Ele corre como um
cachorrinho faminto por atenção. Nunca o vi tão feliz em me ver. Nossos
dedos tocam as barras.
— Mara, meu amor, temos que sair daqui. Você nunca vai acreditar
nas coisas terríveis que ouvi sobre este lugar...
Eu o cortei.
— Não há nada de terrível neste lugar. Passei o dia todo com Alpha
Nessa. Acontece que a Matilha da Igualdade comprou um monte de
garotas desaparecidas de Coen. Eu conheci Amber hoje. A -Amber! E ela
parece realmente gostar daqui.
— Estou feliz em saber que as meninas estão bem. Mas eu -não. Não
acho que Alpha Nessa tenha explicado toda a verdade sobre este lugar
para você. Essas mulheres... elas são monstros!
Aqui vamos nós novamente.
Kaden pisando em mim. Pensar que ele está certo sobre tudo. Quero
dizer, quem passou mais tempo com a Matilha da Igualdade, eu ou ele?
— Kaden, eu sei que ser mantido em cativeiro por uma matilha só de
mulheres é um golpe para o seu ego Alpha frágil, mas eu gosto de Alpha
Nessa. Ela realmente ajudou essas meninas.
— Pode ser, mas você ainda não entendeu a história toda.
— Como você sabe? Por que Kaden está sempre certo e Mara sempre
errada? Está tudo fodido, Kaden. Eu sou sua companheira, e você deve
me respeitar como sua igual. Eu não sou apenas sua propriedade.
Eu puxo a gola da minha blusa, mostrando minha marca para
enfatizar.
Kaden parece assassino. — Mara, você realmente quer ter uma
conversa sobre nosso relacionamento? Aqui No covil do Doador de
Sementes? Você percebe que lugar é este?
Eu olho para ele com tanto veneno.
— Eu não me importo. Você precisa saber o que estou sentindo.
Ele geme.
— Mara, a Alpha Nessa está envenenando você contra mim. Ela odeia
homens, lembra? Você deveria ouvir sobre o doador de sementes. Elas o
aprisionaram aqui para fazer bebês com todas as mulheres...
Eu o cortei antes que ele tivesse a chance de terminar. — Oh, boo-
hoo. Parece uma fantasia masculina.
— Mais como uma história de terror. Eu faria o coitado lhe contar
pessoalmente, mas os guardas simplesmente o arrastaram para ser
’ordenhado’.
Posso vê-lo tentando se acalmar, mas há medo em seus olhos. Não é
uma emoção que vejo com frequência.
— Mara, eles matam bebês do sexo masculino neste bando, e se você
entrar como um adulto, elas fazem você matar seu companheiro. Essas
mulheres... elas estão doentes...
Espere... o quê -7
Eu me afasto das grades.
— Mara, pare! Eu estou te dizendo a verdade! — Ele sacode a porta. —
Me tire daqui!
— Não é verdade... — eu sussurro, incerta.
Não pode -ser. Como uma matilha que salva meninas do tráfico pode
se virar e matar homens?
O doador de sementes deve estar mentindo. Essa é a única explicação.
— Luna Marci!
Eu me viro para ver duas das guardas de Nessa descendo a passarela.
Um homem meio nu passa mancando na frente delas, assediado por suas
pontas de lança.
Ah Merda. Eu não queria que ninguém me pegasse com Kaden.
Felizmente, vejo as guardas sorrindo à medida que se aproximam.
— Que feliz coincidência encontrar você aqui. Alpha Nessa pede a sua
presença imediatamente, — diz uma das guardas. A outra destranca a
porta do buraco e joga o homem de aparência esgotada para dentro.
— Sem problemas. Mas é um pouco tarde, não é?
O sorriso da guarda se alarga.
— Sempre realizamos a cerimônia à meia-noite.
Uhhh... do que ela está falando?
— Cerimônia?
A outra guarda cutuca Kaden para fora do buraco e tranca a porta
novamente.
— Venha comigo. Você vai descobrir em breve.
As guardas trazem Kaden e eu para uma grande clareira. Uma fogueira
no meio projeta sombras sinistras nos troncos de sequoia. Um mar de
estrelas cintila acima de nós.
Parece que viajamos no tempo até o início da civilização.
Toda a Matilha da Igualdade está reunido.
Talvez seja por isso que foi tão fácil para mim me esgueirar pela aldeia
procurando por Kaden. Vejo Alpha Nessa em pé ao lado da lareira. Seu
rosto se ilumina quando ela nos vê.
— Nosso convidado de honra chegou, — ela berra, jogando os braços
em volta de mim. Ela aperta um pouco forte demais.
— O que está acontecendo? — Eu pergunto, tentando mascarar o
medo em minha voz.
Eu sou totalmente a favor de uma fogueira, mas algo sobre a vibração
parece estranho. Eu não gosto de como a Matilha da Igualdade está
olhando para Kaden. Eu vejo algumas mulheres lambendo os lábios como
se ele fosse um pedaço de carne.
Kaden poderia estar certo sobre o doador de sementes?
Impossível. Este é o bando que salvou Amber, que deu a ela uma nova
vida. Elas não poderiam tirar Kaden só porque ele é homem.
Talvez a cerimônia seja apenas algum tipo de evento de irmandade...
algo inofensivo, algo para formar uma equipe.
Alpha Nessa me libera de seu aperto firme e, em seguida, levanta
minha mão no ar.
ARRRR-ROOOO-OOO!
Ela uiva para a matilha.
ARRRR-ROOOO-OOO!
A Matilha da Igualdade uiva cem vezes mais alto.
Eu olho para Kaden. Eu vejo o mesmo medo em seus olhos que eu
tinha visto antes, mas desta vez, é mais forte. Muito mais forte.
O que é -essa cerimônia?
— Matilha da Igualdade, — grita Alpha Nessa, — esta noite, damos as
boas-vindas a uma nova irmã para a nossa família. Conheça Mara, ex-
integrante das Matilhas da Vingança e Pureza!
O que ela acabou de dizer
— Hum, Alpha Nessa...
Meu protesto é abafado enquanto a matilha uiva em vivas. Alpha
Nessa me dá um sorriso privado.
— Vamos, Mara. Não lute contra isso. Nós duas sabemos que você
quer isso.
Ela se volta para a matilha. — Como vocês sabem, pegamos Mara
procurando seu companheiro. E enquanto eles ainda estiverem
acoplados, ela não pode se juntar a nós.
Os guardas empurram Kaden para frente com suas lanças. A matilha
cospe e rosna.
Alpha Nessa empurra sua lança na minha mão.
— Mara, com consideração especial por seu título como Luna da
Matilha da Vingança, eu lhe dou esta escolha: mate seu companheiro,
Alpha Kaden, aqui e agora, antes de todas as suas novas irmãs, ou -deixe-
o viver — como nosso novo doador de sementes!
A matilha explode em mais uivos.
A cor se esvai do rosto de Kaden.
Meu coração começa a bater fora de controle, enquanto os olhos de
cada loba se fixam em mim.
Elas estão esperando. Para eu matar meu próprio companheiro ou
forçá-lo ao destino mais humilhante que se possa imaginar.
Oh não
As mesmas mulheres que salvaram as meninas desaparecidas do mal
de Coen são más elas mesmas apenas de uma maneira diferente.
— O que vai ser, Mara? Alpha Nessa pergunta, suas palavras fazendo
meu pânico crescer ainda mais. Eu tenho de fazer alguma coisa. Agir.
Tomar uma decisão.
Mas tudo que posso fazer é olhar para meu companheiro.
Com o medo em seus olhos.
E percebo que ele estava certo o tempo todo.
Capítulo 13
A DECISÃO
MARA

Eu fico olhando para a lança em minha mão enquanto Alpha Nessa


espera pela minha resposta.
Eu mato Kaden ou o deixo se tornar um escravo sexual da Matilha e da
Igualdade?
Se eu virar a lança contra mim, isso resolverá alguma coisa?
Agora que estou diante da escolha, vale realmente a pena morrer por
Kaden?
Alpha Nessa está respirando no meu pescoço por uma resposta, como
se fosse uma decisão simples de escolher entre matar meu companheiro
ou deixar a Matilha da Igualdade foder com ele até a morte.
Não há saída.
Exceto me matar. Mas não sei o que isso resolveria.
Quanto mais as palavras de Nessa penetram em mim, mais claro fica.
Kaden morre, não importa a escolha que eu faça. Ele tem zero chance
de sobrevivência.
Eu preciso escolher a opção que acaba com seu sofrimento, sua
humilhação, o mais rápido e sem dor possível. Ele faria o mesmo por
mim.
Mas posso realmente matar o amor da minha vida?
Minha mão aperta em tomo da lança.
Eu olho para Kaden, um prisioneiro indefeso das guardas, e pisco para
conter minhas lágrimas.
Sinto muito, meu amor...
— Alpha Nessa, eu escolho...
VROOOOOOOOM!
Um rugido mecânico me interrompe.
Alpha Nessa tem mais horrores guardados?
Mas ela parece tão assustada quanto eu. Toda a matilha se vira na
direção do rugido, ficando mais alto a cada segundo.
Dois conjuntos de luzes brilhantes aparecem na escuridão, cada vez
maiores...
Faróis!
Dois caminhões enormes invadem a clareira um após o outro, fazendo
círculos ao redor da matilha.
A Matilha da Igualdade se espalha em terror. Alguns membros não são
rápidos o suficiente para ultrapassá-los. Os pneus incompatíveis dos
caminhões borrifam sujeira e sangue.
Kaden agarra uma lança de um de seus guardas e a empala no peito.
— Mara Mara!
Ele corre para mim, as tripas pingando de sua ponta de lança.
— Onde está Nessa? — Ele rosna.
Minha boca responde lentamente. Estou desorientada.
Num minuto estou prestes a matar meu companheiro, e no seguinte...
Bem, honestamente, não sei o que diabos está acontecendo agora.
— Eu não sei, — digo a Kaden. — Ela fugiu...
Kaden parece chateado. Posso dizer que ele quer vingança.
Ele está coberto de pequenos furos sangrentos das lanças da Matilha
da Igualdade. Estou feliz que não seja pior.
Tento enterrar meus pensamentos sobre o que teria acontecido se
aqueles caminhões não tivessem aparecido.
Nós olhamos ao redor da clareira.
Um dos caminhões estacionou perto da fogueira. Os homens
perseguem as mulheres restantes até a clareira com espadas e machados.
— Quem são eles? — Eu pergunto nervosamente.
Esses caras parecem mais assustadores do que a Matilha da Igualdade,
e eles não parecem nos resgatar de propósito.
Enquanto meus olhos correm nervosamente ao redor e a adrenalina
bombeia pela minha corrente sanguínea, eu percebo. Há uma boa chance
de estarmos indo da frigideira para o fogo.
Kaden olha para os estranhos, silhuetas pela fogueira furiosa. Eles
estão ficando cada vez mais próximos. De repente, meu companheiro
abre um largo sorriso.
— Puta merda. — Ele ri. — É a Matilha da Vingança!
Eu fico boquiaberta. Sem chance.
— Tem certeza?
— Eu reconheceria minha matilha em qualquer lugar. Vamos! — Não
tenho tempo para pensar, porque Kaden agarra minha mão e me puxa
em direção ao caminhão. Ele começa a correr e eu me esforço para
acompanhá-lo.
— Matilha da Vingança! Sou eu! Alpha Kaden! — Ele diz, acenando
com os braços. Alguém sai do caminhão quando nos aproximamos.
Kaden de repente para de repente.
— O que foi? — Eu pergunto sem fôlego. Kaden encara a pessoa
caminhando em nossa direção da caminhonete.
— Não pode ser... De jeito nenhum...
Seu tom está trêmulo. Parece que ele viu um fantasma.
— Kaden, me diga, — eu exijo. — Eu pensei que você disse que era a
Matilha da Vingança.
— É, — ele diz com a mesma voz trêmula. E é então que reconheço o
homem caminhando em nossa direção.
Oh meu Deus...
Minha respiração engata.
Meu pulso acelera.
Minha mente dispara.
Não pode ser...
Mas é isso.
— Muito tempo, não é mesmo, irmão, — ele diz, puxando Kaden para
um abraço.
Seu rosto cheio de cicatrizes é mais jovem, seu corpo mais magro, mas
há uma semelhança inconfundível entre os dois.
Eu reconheceria o homem sob aquela estranha couraça de metal em
qualquer lugar.
É
— É bom ver você, Kace, — responde Kaden.

A Matilha da Vingança destrói a vila da Matilha da Igualdade, mas a


maioria das mulheres consegue escapar.
Montamos acampamento na clareira para a noite, e logo Kaden, Kace
e eu estamos sentados juntos fora de uma tenda, cozinhando um jantar
tardio.
Observo as cabanas em chamas à distância com uma dor latejante no
coração. A Matilha da Igualdade realmente merece isso?
Eu desvio meus olhos, tentando tirar o pensamento da minha mente.
Eles estavam prestes a me fazer matar Kaden.
Eu me viro para olhar para Kace. A última vez que o vi, ele parecia
uma almofada de alfinetes. Eu repasso a memória novamente e
novamente.
Não há como ele ter sobrevivido.
Mas, novamente, acho que coisas mais estranhas aconteceram nos
últimos dias.
Pelo menos Kace sobreviver é uma coisa boa.
Kaden e eu ouvimos com muita atenção enquanto ele conta sua
história.
— Para ser honesto, — ele começa, — não tenho ideia de como
Sobrevivi ao que aconteceu nos túneis. Mas quando acordei, estava
totalmente curado.
Espere o que?
Isso não faz sentido. Eu levanto uma sobrancelha cética, mas Kaden
despenteia calorosamente o cabelo de Kace.
— Estamos tão felizes por você estar vivo, Kace.
E pensar, há pouco tempo, estava fazendo os preparativos para o seu
funeral. Eu estava com o coração partido.
— Eu vaguei pelos túneis por muito tempo, — Kace continua com
emoção. — Quando saí e voltei para o Castelo da Vingança, você e Mara
já haviam levado as garotas resgatadas de volta a Matilha da Pureza. Não
havia como dizer o que aconteceu.
— Então, o que você está fazendo aqui? — Eu pergunto.
Não me entenda mal. Estou extremamente -grata que Kace nos
resgatou, mas algo não bate.
Como ele sabia que estávamos aqui, com a Matilha da Igualdade?
— A Matilha da Vingança capturou alguns dos homens de Coen
depois que você partiu, — Kace nos conta. — Eu liderei o interrogatório.
Eles nos disseram que venderam algumas das garotas para a Matilha da
Igualdade. Eu vim aqui para colocá-los fora do mercado.
Então Kace foi pelas costas do nosso Alpha e levou um bando de
lobisomens da Matilha da Vingança para um ataque não autorizado?
Eu olho para Kaden. Ele tem que dizer algo.
— Estou orgulhoso de você por ter tomado a iniciativa, irmão. Bons
instintos. Não, ótimos -instintos. Você apareceu na hora certa.
O choque não começa a cobrir o que está acontecendo em minha
mente.
Kaden está elogiando Kace por fazer uma atividade de Alpha? Quando
ele não é o Alpha Mas Kace não parece achar estranho. Ele apenas
continua falando. — Sentimos seu cheiro a favor do vento e sentimos
que você estava em perigo. Uma coincidência meio maluca, mas
estávamos mais ou menos na mesma trilha.
E uma explicação muito fácil. Eu não estou acreditando.
— Kace, eu sei que você tinha boas intenções, mas você está errado
sobre a Matilha da Igualdade, — interrompi.
Kace e Kaden olham para mim.
— Sim, elas estavam comprando meninas.
Mas apenas para libertá-las. Todas as garotas desaparecidas que elas
compraram puderam retomar para suas próprias matilhas. Ou elas se
juntaram aqui.
— Você está do lado do Alpha Nessa?
— Eu não estou do lado dela, — eu digo defensivamente. — Estou
explicando o outro lado da história. Algumas das mulheres que você
acabou de atacar costumavam ser garotas desaparecidas. E se você não
tivesse vindo lutando, talvez você soubesse disso.
— Se ele não tivesse vindo lutando, eu estaria morto! — Kaden grita.
— Essas mulheres são claramente loucas. E se algumas meninas
desaparecidas decidiram se juntar a elas, elas merecem seu destino.
Por um segundo, eu gostaria de ter matado Kaden com aquela lança.
Ele parece incapaz de entender a razão.
A história de Kace não bate. Na melhor das hipóteses, é superficial,
mas Kaden está comendo essa merda de cavalo com um garfo e uma
colher.
Eu não posso fazer ele me ouvir.
Você pode se afogar na tensão entre nós. Kace tenta desobstruir o ralo.
— Olha, foi um longo dia para todos nós. Vocês dois em particular.
Vamos todos descansar um pouco antes de voltarmos para o Castelo da
Vingança amanhã. Tenho certeza de que todos estaremos de acordo pela
manhã.
Ele dá um tapinha nas costas de Kaden enquanto se levanta para
encontrar sua tenda.
— E bom ver você de novo, irmão.
— Você também, — diz Kaden. — Por mais horrível que pareça, uma
parte de mim deseja que Coen possa completar a reunião. Mas suponho
que já faz um tempo que ele não era nosso irmão de verdade.
Kace oferece um sorriso misterioso. — Ele sempre será nosso irmão.
Kaden se deita na tenda. Eu me enrolo o mais longe possível dele.
Não posso estar perto dele agora. Ele está me deixando com muita
raiva.
— Mara, o que você está fazendo? — Ele pergunta.
— Dormindo, — eu respondo laconicamente.
Ele rasteja pelo chão. Eu sinto suas mãos gentis esfregando círculos
nas minhas costas. Eu realmente não quero que ele me toque, mas acho
que é bom.
Conforme eu caio no sono, suas mãos se movem mais e mais até que
eu finalmente o sinto roçar minha bunda.
— Mara... Você ainda está acordada?
Eu conheço esse tom muito bem. Kaden deve estar louco se pensa que
estou fazendo sexo com ele esta noite.
— Kaden, não.
— Eu nem te perguntei nada!
— Não se faça de bobo comigo.
— Qual o problema com você? Achei que poderíamos aliviar um
pouco a tensão.
— Não haveria nenhuma tensão se você apenas me ouvisse, pelo
menos uma vez!
Eu me viro, olhando para ele. Kaden parece surpreso, e isso me deixa
ainda mais furiosa.
Por que ele continua pensando que vou deixar seu mau
comportamento passar?
— Você não acha estranho que Kace simplesmente apareceu para nos
salvar aqui no meio do nada?
Vivo Você é mesmo tão cego?
— Por que você está tão desconfiada? Você deveria ser o otimista.
— Eu repassei isso em minha mente de novo e de novo, — eu digo a
ele lentamente. — Eu fico pensando em cenários em que posso estar
errada, mas no final do dia, eu sei o que vi.
— O que?
Eu respiro fundo.
— Kaden... eu vi Kace morrer. Estou certa disso.
— Você tem certeza disso?
— Sim. Nunca tive mais certeza de... de... nada.
Kace morreu. E agora... ele está de volta.
Capítulo 14
ALPHA VS. LUNA MARA
Kaden me estuda cuidadosamente. Seu olhar estoico não trai um único
pensamento.
Será essa a hora em que ele finalmente acreditará em mim?
Eu não posso esquecer aquelas estacas atravessando o peito de Kace. Eu sei
que o vi morrer.
Algo estranho está acontecendo e eu vou chegar ao fundo disso.
Kaden, não me deixe esperando... 'Kace morreu. E agora... ele está de
volta.
Kaden permanece em silêncio por um longo tempo. Quanto mais ele
demora, mais frustrada eu fico.
Sei que estou entre irmãos e sei que é difícil para ele processar. Mas eu
sou sua companheira. Ele deveria confiar em mim mais do que em
qualquer outra pessoa. Não é isso que sua marca estúpida significa?
Os lábios de Kaden finalmente se movem.
— Mara, Kace é família. Temos que confiar nele.
Eu quero abrir um buraco na parede desta tenda frágil.
— Eu sou sua companheira. Você tem que confiar em mim
Ele evita meus olhos.
— Eu confio em você. Do que você está falando?
— Você deveria saber do que estou falando, Kaden. Eu mencionei isso
inúmeras vezes nos últimos dias. Eu disse para você ser mais direto com
Malik. Eu disse que poderia obter mais informações com Zooey. Eu disse
a você que a Matilha da Igualdade salvou aquelas garotas desaparecidas...
— Lá vamos nós com a porra da Matilha da Igualdade de novo. Elas
estavam tentando fazer uma lavagem cerebral em você para se juntar a
elas, Mara. Você não pode acreditar em nada que Alpha Nessa te disse.
— Eu vi Amber com meus próprios olhos. Ela estava feliz. Até que
Kace apareceu e incendiou toda a aldeia. Agora eu nem sei se ela está
viva. — É verdade. Todo o tempo que passamos procurando por Amber,
os quilômetros que viajamos, as brigas que lutamos... Arriscamos nossas
vidas! E Kace jogou fora nossos sacrifícios em segundos.
É desanimador que Kaden não se importe mais.
— Pare de arrastar Kace pela lama. Ele acabou de salvar nossas vidas.
— Sim, mas por quê?
— Eu disse para parar! — Eu sei que acertei um nervo, mas continuo.
Kaden precisa ouvir isso.
— Eu sei que ele é seu irmão, mas Coen também era. Ninguém está
acima da influência da magia negra, e há muito disso na Cidade da
Vingança. Você, entre todas as pessoas, deveria saber disso.
Kaden parece magoado, mas não estou dizendo a ele nada que ele já
não saiba.
— Kace não é mau, — diz Kaden com firmeza. — Você está tirando
conclusões precipitadas. Pode haver um milhão de explicações para o
motivo de ele ainda estar vivo. Talvez você não tenha visto o que pensou
que viu.
Meus olhos se estreitam.
— Então você não -acredita em mim?
— Não, só estou dizendo... — ele diz, recuando.
— Talvez parecesse pior do que era.
— Ele caiu em uma armadilha e foi esfaqueado no peito com varas
afiadas. Ele parecia uma porra de maçã doce. Agora ele está andando por
aí como se nada tivesse acontecido? — Eu balancei minha cabeça. —
Explique como isso é possível!
Os lábios de Kaden procuram por uma réplica digna, mas nós dois
sabemos que ele não tem nada.
Em vez disso, ele se afasta de mim.
— Droga, Mara, ele é tudo o que tenho. Coen está morto. Meus pais
morreram. Eu pensei que tinha perdido Kace... — Sua voz some. — Você
não entenderia. Você tem -pais.
— Isso praticamente me deserdou, — eu o lembro. — Eu escolhi você
em vez de minha família, ao invés de minha matilha inteira. Porque eu
confio em você completamente. Por que você não pode me mostrar o
mesmo respeito? Eu sou sua Luna. Sua igual. Devemos ser parceiros.
— Você tem sido minha Luna por menos de um mês. — Kaden
explode. — Você mal entende o título!
— Eu entendo que não posso estar com alguém que pensa que sou
apenas um pedaço de propriedade fodível. Eu não sou a sua maldita
doadora de sementes.
Eu levanto. Kaden não se move. Espero que ele esteja me ouvindo,
porque não poderia ser mais claro.
— Talvez eu tenha cometido um erro ao deixar a Matilha da Pureza,
— eu digo, torcendo a faca.
Kaden agarra meu braço.
— Você não cometeu um erro.
Seus olhos procuram os meus. Posso dizer que o estou machucando,
mas não estou pronta para fazer as pazes. Ele precisa saber que estou
falando sério.
— Prove, — eu digo, me afastando. — Fale com Kace. Descubra o que
realmente está acontecendo.
Eu ando até a porta da tenda. Eu preciso de um pouco de ar fresco.
Talvez isso me acalme.
— Você quer que eu confie mais em você?
Eu paro. — Você sabe que eu sei.
— O que você ia decidir se Kace não aparecesse? Me diga
honestamente. Se você quer minha confiança, eu quero a verdade.
Oh, certo. Isso
Eu me viro. Kaden me observa como um leão perseguindo uma gazela.
Ele cruza os braços, esperando. Pensando que ele me tem.
Hesito enquanto meu cérebro repassa a memória daquela decisão
intensa e dolorosa apenas algumas horas atrás.
O que eu vou fazer?
Eu com certeza não iria matar Kaden.
Eu nunca poderia fazer isso.
Enquanto a lança tremia em minha mão, percebi que não poderia
viver sem ele. Eu sei que é estúpido. Sei que ele não me respeita, não
confia nem me valoriza o suficiente, mas eu o amo.
E, conforme estou aprendendo, o amor verdadeiro não faz muito
sentido.
Lágrimas escorrem pelo meu rosto. Essa discussão está me
destruindo, torcendo uma adaga dentro do meu estômago, uma e outra
vez, até que estou tão insensível à dor que me sinto entorpecida.
Dou uma olhada em Kaden, tentando não desmoronar.
— O fato de você estar me perguntando que... que você não sabe deixa
claro que nosso relacionamento está... com problemas.
Kaden me acerta como uma flecha no coração.
Deixo a barraca chorando. E ele não me segue.

Volto tarde naquela noite.


Kaden já está dormindo. Eu não me aconchego ao lado dele como
normalmente. Em vez disso, durmo do outro lado da barraca, sozinha.
Talvez eu deva me acostumar com isso.
De manhã, não trocamos uma palavra. Não é agradável como a manhã
tranquila no Lounge da Primeira Classe vendo o nascer do sol.
Nosso silêncio é ensurdecedor. Mas não tenho mais nada a dizer a ele,
e ele também parece não saber o que dizer.
Espero que Kaden seja forte o suficiente para admitir o quão mal ele
está fodendo. Espero que sua arrogância e orgulho não atrapalhem seu
próprio caminho.
Ele diz que quer ser um bom Alpha, mas assim que Kace apareceu, o
idiota egocêntrico esqueceu tudo sobre Amber e as garotas
desaparecidas. Se ele não fizer algumas mudanças, sua teimosia será sua
ruína.
Mas neste ponto eu não sei mais.
Estou esperando muito dele? Eu o julguei mal?
Espero que não. Afinal, ele é um Alpha.
A Matilha da Vingança levanta acampamento. Quando Kaden e eu
entramos na caminhonete com Kace, vejo as cabanas arruinadas da
Matilha da Igualdade queimando à distância.
Eu penso em Amber. Ela está segura? Nossa busca foi em vão?
Eu sei que é um pouco fodido, mas me sinto mal pela Matilha da
Igualdade. Elas não mereciam ter sua aldeia destruída.
Claro, elas não eram inocentes por nenhum trecho da palavra. Alpha
Nessa teria matado Kaden de bom grado. Mas a forma como tratam os
homens não é inteiramente culpa delas. Elas não os odiariam tanto se os
machos não tivessem sido tão cruéis com elas primeiro.
— Vocês dormiram bem? — Kace pergunta com um sorriso.
Kaden e eu resmungamos respostas evasivas, sem olhar um para o
outro. Pela expressão de Kace, acho que ele entendeu.
Ele liga o motor. Felizmente, o rugido abafa qualquer tentativa de
conversa. Estou aliviada por não ter que conversar. E um longo caminho
de volta ao Castelo da Vingança.
O caminhão refaz a trilha de terra bagunçada que abriu na floresta,
achatando plantas e quebrando galhos.
Eu olho pela janela... espera, o que é isso?
Vejo a silhueta de alguém nas profundezas da floresta. Parado. Nos
assistindo. Quando eu pisco, ele desaparece.
Poderia ser... a Matilha da Igualdade?
Ou estou vendo coisas?
De alguma forma, durmo a maior parte do caminho. Quando nosso
comboio finalmente para várias horas depois, eu olho para as agora
familiares muralhas, torres e torres do Castelo da Vingança com um mal-
estar resignado.
Lar Doce Lar. Eu acho.
Não que eu tenha outro lugar para ir, eu acho, lembrando como
deixamos as coisas com a Matilha da Pureza.
Kaden salta do caminhão primeiro. Ele admira o castelo e respira um
pouco de ar fresco. Ele está feliz por estar de volta. Pelo menos um de nós
está.
Ele olha para mim com um sorriso largo, esquecendo
momentaneamente nossa guerra fria. Quando ele vê meu rosto
carrancudo, seu sorriso desaparece.
É
Não é minha culpa, Kaden! É sua!
Kace dá um tapinha nas costas de Kaden.
— Bom estar em casa?
Kaden se afasta de mim, respondendo a seu irmão em um tom
distraído.
— Sim... maravilhoso...
Enquanto subimos as escadas, nossos companheiros da Matilha da
Vingança saem do castelo para nos encontrar. Percebo Kaden se
preparando para a recepção.
Não acho que nenhum de nós queira interagir com muitas outras
pessoas agora.
Precisamos nos limpar, descansar um pouco mais, fazer uma boa
refeição e conversar como adultos sobre nosso futuro juntos.
Presumindo que temos um.
— Alpha! Estamos tão felizes por você ter retomado!
Kaden cumprimenta a Matilha da Vingança com calor forçado.
— Mesmo aqui. Eu quase não consegui fazer isso inteiro.
Ele estende a mão para apertar algumas mãos...
Mas a Matilha da Vingança passa direto por ele.
Kaden vacila. Parte de mim quer rir alto, vendo-o sem saber como
lidar com essa gafe social. Mas é estranho que a Matilha da Vingança
simplesmente passou por ele.
Ele é o Alpha deles. O respeito é um requisito.
O Matilha de Vingança para na frente de Kace, apresentando seus
pescoços em um sinal de deferência. Kaden levanta uma sobrancelha.
— Uh, pessoal? Estou aqui. Kace e eu não nos parecemos muito, não
é?
Kace acena para a Matilha da Vingança. Eles chamam a atenção.
— Desculpe, Kaden, isso é um pouco estranho. Enquanto você estava
fora, reorganizamos parte da liderança aqui.
Kaden franze a testa. — Do que você está falando? Eu estive fora por
apenas alguns dias!
Kace se aproxima dele. — Sim, bem, a questão é... eu sou o novo Alpha
agora.
Espera. Kace não pode ser o novo Alpha. Não, a menos que Kaden
morra. E mesmo assim, há algum tipo de cerimônia, um monte de
bobagens políticas...
Eu sabia que sentia o cheiro de problemas.
Kaden fica na cara de seu irmão. — Me diga o que está acontecendo,
Kace, — ele exige.
Mais homens saem do castelo, mas não os reconheço como parte da
Matilha da Vingança. Eles têm rostos horríveis e retorcidos. Alguns têm
cabeças carecas com cicatrizes. Outros usam máscaras de gás
assustadoras.
E estão todos marcados com a tatuagem de triângulo duplo de Coen.
Merda! Eles são os caras assustadores do túnel!
Eles formam um anel apertado em tomo de mim e Kaden.
O que diabos Kace tem feito?
Capítulo 15
MUDANÇA DE PODER
MARA

Os olhos de Kaden ardem da traição.


Eu sabia que Kace estava tramando algo. Mas eu gostaria de não estar
certa.
E estranho imaginar Kace como um Alpha. Eu não sabia que ele tinha
tanta fome de poder. Não é sua personalidade de forma alguma.
Talvez eu não o conhecesse tão bem quanto pensava. Assim como Coen.
E Kaden, para ser honesto.
O círculo se fecha ao nosso redor. O que Kace está planejando?
Se ele nos quisesse mortos, ele já teria nos matado.
Kaden treme de raiva. Seus lábios mal conseguem juntar as palavras.
— Como, — diz ele, fervendo, — você poderia fazer isso comigo?
— Foi mais fácil do que parece, — Kace responde maliciosamente.
Os olhos de Kaden parecem que podem atirar fogo. Apesar de tudo,
meu coração está com ele.
Eu sabia que algo estava acontecendo com Kace, mas não conseguia
imaginar que ele destronaria Kaden pelas costas. Nunca tomei Kace por
um traidor.
Então, novamente, tenho certeza de que Coen já foi um cara muito
legal também.
— Traidor, — cospe Kaden.
Eu olho para a Matilha da Vingança, esperando que eles pareçam
desconfortáveis com a dinâmica de poder ou, pelo menos, inseguros
sobre onde jurar fidelidade.
Huh. Isso é estranho.
Por que suas expressões são tão vazias?
Eles odeiam Kaden também?
Sem chance. A Matilha da Vingança sempre mostrou lealdade eterna a
Kaden. Mesmo quando ele foi amaldiçoado.
Não faz sentido abandoná-lo durante esta luta pelo poder.
Certamente pelo menos um deles ficaria ao seu lado?
Mas aqui estão eles. Assistindo com olhos mortos. Eles se parecem
com zumbis, apenas completamente inalterados.
Kaden treme mais intensamente, e posso dizer que ele vai mudar. Não
quero ver irmãos brigarem, mas não acho que haja outro jeito.
Tenha cuidado, Kaden. Espero que saiba o que está fazendo...
— Você não pode mudar para sair dessa, Kaden, — Kace rosna,
desembainhando uma faca de seu cinto.
Antes que eu tenha tempo para realmente processar, corro para Kace,
mas um par de mãos me agarra. Eu luto contra o aperto forte do cara
careca assustador, mas não consigo me livrar.
Kace levanta sua faca. Kaden é uma mistura vulnerável de homem e
lobo, apenas na metade da mudança...
— Kaden! Atenção! — Eu grito antes que as mãos cubram minha boca.
A faca de Kace mergulha na caixa torácica de Kaden. Ele cai de quatro.
Nãoooooooooo!
Eu também sinto que fui esfaqueada. Eu me retorço e me contorço
nas mãos de meus captores, mas não consigo me livrar. Tudo o que quero
fazer é correr para o lado de Kaden.
Kace dá um passo para trás de Kaden, embainhando sua faca. Kaden,
agora quase todo lobo, muda de volta para a forma humana.
Ele encara Kace, confuso.
— Como você... Por que eu...
Kaden toca a ferida em seu lado. Ele parece completamente pasmo. —
Eu... eu não mudei.
Kace zomba, dando tapinhas na bainha. — E você não vai ficar por
muito tempo.
O que ele fez com Kaden? Que tipo de poder Kace está exercendo?
Kace acena para a Matilha da Vingança. Um punhado de nossos
companheiros de matilha de olhos mortos içaram Kaden e o arrastaram
em direção ao castelo.
— Me deixar ir! Eu sou seu Alpha! Por que você está fazendo isso? —
Os protestos de Kaden desaparecem enquanto ele desaparece dentro do
castelo.
A Matilha da Vingança responde com um silêncio pétreo.
Kace dá um passo em minha direção, ainda usando o mesmo sorriso
de escárnio horrível. Parece não natural em seus traços gentis. Ele
acaricia o lado do meu rosto e eu estremeço com seu toque.
— Agora, — diz ele, — podemos finalmente ficar sozinhos.
KADEN

Porra do Kace!
Como meu irmão pode se tomar um traidor? Ele não está agindo
como o Kace que eu conheço. Sua personalidade está distorcida pelo mal.
Eu ando pela pequena sala sem janelas em que eles me trancaram.
É uma porra de uma jaula.
Mara... Meu amor...
Eu sou um idiota. Um idiota irremediável.
Eu deveria ter ouvido ela. Ela está certa sobre tudo.
Sobre as meninas desaparecidas.
Sobre Malik.
Agora Kace.
Fiquei tão emocionado ao ver Kace novamente que Fiquei cego para a
lógica e a razão.
Mara, não mereço seu perdão.
Tenho sido um Alpha solitário por muito tempo. Não sou bom em
confiar e comunicar. Não sei como compartilhar minha vida com outra
pessoa. Não estou acostumado a ter um igual.
Não é desculpa, porra. Veja onde isso me levou. Preso em meu próprio
castelo. Traído por minha própria matilha. E outro irmão!
Se algum dia eu escapar disso, vou compensar você, Mara. Eu juro
pela minha vida — da minha matilha — -farei o que for preciso.
Serei um bom parceiro. Vou te dar tudo o que você precisa.
Eu amarei.
Eu vou escutar.
Eu vou confiar.
Não seremos apenas iguais. Serei seu servo e você, minha rainha.
Se eu escapar disso...
Kace deve estar envolvido com alguma magia muito negra. Se ele
realmente morreu, alguém teve que ressuscitá-lo. Mas quem poderia ser
tão poderoso?
E o que havia com aquela faca estranha?
Eu toco minhas costelas. A lâmina mal cortou minha pele, mas a dor é
mais profunda.
De alguma forma, voltei a ser humano assim que senti sua picada.
Estava além do meu controle.
Kace disse que eu não seria capaz de mudar por — muito tempo. — O
que ele quis dizer com isso?
Eu me sinto fraco, mas vou tentar mudar. Eu preciso saber.
Eu cerro os dentes... Meu corpo treme... Eu entrego minha mente e
alma ao meu lobo...
Mas nada acontece. Não estou experimentando aquela sensação
estimulante quando meu corpo se transforma. Não estou
experimentando nada.
O que diabos você fez comigo, Kace?
Contra o que estamos lutando?
Minha companheira está segura?
É melhor Kace não tocar em um único fio de cabelo de sua cabeça.
Porque se alguma coisa acontecer com ela... é tudo culpa minha.
Eu bato nas paredes até minhas juntas sangrarem. Até que toda a sala
treme. Até que eu caio de joelhos com os pulmões exaustos, lágrimas
quentes caindo dos meus olhos.
Mara... Meu amor...
Por favor, fique forte.
MARA

Kace se senta no Trono da Vingança. Sem a altura e constituição de


Kaden, ele parece um garotinho fingindo.
Seus guardas assustadores estão ao meu redor. Eu conjuro um olhar
de puro ódio, mas isso só faz Kace sorrir. Eu poderia dar um tapa nele. Na
verdade, eu poderia fazer muito mais.
Mas, por enquanto, tento recuperar a compostura. Eu quero
respostas.
— O que realmente aconteceu nos túneis, Kace?
— Você quer dizer como eu Sobrevivi? — Ele pergunta, se mexendo
em seu assento. — Sinceramente, não está longe do que eu disse a você e
Kaden. Eu realmente não tenho ideia. Mas eu sei quem me ajudou.
Ele aponta para um dos guardas, um homem de olhos azuis e cabelos
ruivos flamejantes.
— Devo minha vida a esses homens, — ele diz, emocionado.
Eu franzo a testa para a tatuagem de triângulo duplo na bochecha do
guarda. Eu saberia em qualquer lugar.
— Estes são os homens de Coen, — eu digo.
— Não mais. Quando acordei, eles me informaram que agora
trabalham para mim.
— E isso não levantou uma bandeira vermelha?
— Bem, eu certamente não iria morder as mãos que me
ressuscitaram! — Ele gargalha.
— Eu me senti estranho, — ele admite, ainda procurando por um
lugar confortável no trono.
— Eu nunca tinha liderado ninguém antes. E de repente eu tinha um
exército obedecendo cada palavra minha. Toda a minha vida eu segui nas
sombras dos meus irmãos mais velhos. Mas percebi que gosto de estar no
comando.
Esta história fede.
Kace acordou com um bando desses caras carecas assustadores o
seguindo? O que realmente aconteceu? Como ele foi trazido de volta à
vida?
E possível que Coen ainda esteja vivo? Controlando ele de alguma
forma? Eu penso em sua morte horrível.
Não. Lexia cortou sua cabeça. Eu acho que isso é o mais morto que
fica.
Então, novamente, eu pensei isso sobre Kace.
Eu não terminei com minhas perguntas. Longe disso.
— Como você conseguiu a Matilha da Vingança do seu lado? Eles
nunca trairiam Kaden.
Kace sorri secretamente.
— Digamos que dominei a arte da persuasão.
O que isso significa?
Eu olho para um par de membros da Matilha da Vingança guardando
as portas. Seus rostos estão vazios, seus olhos parecem zumbis.
O que ele fez com eles?
Kace se levanta do trono e caminha em minha direção.
— Já estou farto de suas perguntas, Mara. Agora tenho uma para você.
Bem, não tanto uma pergunta, realmente, mais como uma proposta II
Chegando perto, ele faz cócegas na ponta do meu queixo. É repugnante.
Eu não consigo me controlar para não agarrar seu dedo.
Ele ri, batendo levemente na minha bochecha. Sua mão demora
alguns momentos a mais.
— Eu sempre amei sua agressividade.
Meus olhos se estreitam.
— O que você quer, Kace? E realmente você aí.
— Duzentos por cento, — diz ele.
Eu não acredito nele. Alguém mais deve estar por trás disso. Mas
quem?
Kace circula pela sala, me olhando de cima a baixo. Seus olhos me
despem enquanto ele lentamente se aproxima.
Eu sinto o calor de seu corpo. Eu sinto sua energia escura e carnal.
Mais do que nunca, ele me lembra Coen.
— Bem, Mara, agora que sou o Alpha da Matilha da Vingança, estou
sentindo aquele velho instinto de me acalmar. E vendo que você já é da
nossa matilha, Luna, não faria sentido para nós... fazermos bem?
O que ela está dizendo? Que eu deveria ser sua companheira? De jeito
nenhum!
Estou tão cansada de machos pensando que sou sua propriedade.
— Eu sou a companheira de Kaden, — eu digo com cuidado, tentando
manter uma aparência de calma.
— Mas você foi prometida a mim primeiro, lembra? — Ele diz, se
inclinando para frente, seus lábios invasores quase tocando minha
orelha.
— O que você me diz, Mara? Que tal terminarmos aquele negócio
inacabado?
A maneira como ele diz — negócios inacabados — me dá calafrios na
espinha.
— Eu amo Kaden, — eu insisto.
Kace ri asperamente. — Você acha que eu dou a mínima?
Ele se vira e se arrasta de volta ao trono.
— Ele é seu irmão, — eu o lembro, minha voz tremendo.
Este não é o Kace que eu conhecia. Ele é como uma espécie de
fantoche demoníaco.
O chamado Alpha se empoleira no trono, cravando as mãos nos
braços. — Irmãos compartilham tudo, — ele sibila. — E goste ou não...
agora você é minha.
O brilho maligno em seus olhos parece me chamar para ele. Meus pés
avançam por conta própria. Tento parar... Mas, estranhamente, não
consigo...
Kace lambe os lábios provocantemente.
Mara, pare! Pare!
Capítulo 16
DANÇA PROIBIDA MARA
Isso é impossível!
Eu o vi morrer
Mas lá está ele bem na minha frente.
Ele parece o mesmo, mas seus olhos de obsidiana dizem algo diferente.
A maneira como ele se move, a maneira como ele fala... este não é o
mesmo Kace que eu conhecia antes.
Quem é essa pessoa?
Não há como negar suas intenções lascivos.
— Eu nunca serei sua companheira! — Eu desaprovo. — Assim como
você nunca será Alpha!
Meu movimento em direção a ele para. Mas ele não vacila.
— Apenas a própria Deusa da Lua pode fazer tal nomeação. Você não
passa de um usurpador! — Eu digo sem hesitação.
Kace sorri.
— Você, entre todas as pessoas, realmente acredita nisso?
Ele me pegou desprevenido. Ele sabe que a doutrinação religiosa da
Matilha da Pureza me deu dúvidas.
— Eu sou o Alpha da Matilha da Vingança! — Ele berra para a dúzia
ou mais de guardas olhando para o nada. — Alguém aqui desafia minha
afirmação?
Mas nenhuma palavra é dita. A matilha está em silêncio. Estes não são
os mesmos lobos que conheci antes. Tenho medo e pena deles.
— Como você pode ver, — ele diz, erguendo os braços, — a fé deles
está em mim.
Não estou convencida.
— Como sua Luna, — eu grito para os lobos, — Eu sou a legítima líder
desta matilha. Eu ordeno que vocês peguem este charlatão de uma vez!
Mas os lobos não vacilam. Eles permanecem firmes, inabaláveis, como
se eu nem estivessem lá. Não é natural.
— Temo que o título de — Luna — não seja mais seu, — diz ele com
arrogância.
Eu puxo para baixo a gola do meu vestido, expondo meu pescoço.
— A marca de Kaden diz o contrário! — Eu respondo.
Isso chama a atenção de Kace. Ele mais uma vez desce de seu poleiro e
para a menos de trinta centímetros de mim. Ele estende a mão e toca
minha ferida, mas eu não vacilo. Eu mantenho minha posição, apesar da
dor aguda causada por seu toque.
— Ainda fresco, — ele diz enquanto examina a marca de Kaden, — o
que significa que a ligação ainda não foi concluída.
— Uma vez que uma marca é feita, ela não pode ser quebrada — eu
grito de volta. — Mesmo alguém tão estúpido quanto você deveria saber
disso.
— Meus novos poderes como Alpha dizem o contrário, — ele diz,
passando o dedo pelo meu pescoço e sob meu queixo, — mas não
preocupe sua linda cabecinha. Você será Luna de novo... minha Luna.
Como você deveria ser.
As narinas de Kace dilatam quando ele sente meu cheiro antes de
voltar para o trono.
Isso me deixa louca.
Não posso mais reprimir a fúria crescendo dentro de mim.
— Seus poderes são uma merda! Eu nunca serei sua Luna! — Eu grito
enquanto corro em direção a ele. Minhas roupas rasgam quando eu
começo a mudar. Eu o golpeio com minhas garras, mas antes de fazer
contato, ele se vira e me encara profundamente.
Meu impulso para... Não consigo me mover.
Completamente congelada.
Kace se aproxima de mim no meu estado congelado, e eu começo a
mudar de volta para a forma humana. O que sobrou das minhas roupas
está pendurada no meu corpo.
Que porra é essa?!
Eu luto para me mover, mas não adianta.
Ele me tem.
— Eu respeito sua determinação, mas você claramente não tem ideia
do que sou capaz. Sou mais poderoso do que qualquer um dos meus
irmãos jamais sonhou ser, — ele diz, olhando para minha carne exposta
antes de assumir seu lugar injustificado no trono.
— E você vai fazer o que eu digo.
— Eu nunca — Eu consigo deixar escapar antes que minhas cordas
vocais parem de funcionar.
Ele solta um longo silêncio e sorri. — Não fale mais.
Eu grito com ele, mas nenhum som sai.
— Agora... mova seus quadris, — ele comanda.
E sem meu consentimento, minha pélvis começa a balançar para
frente e para trás. Tento resistir, mas quanto mais luto, mais intensos
meus movimentos se tornam.
— Relaxe seu corpo.
E eu faço. Meus membros estão livres. Eles abraçam uma dança
rítmica — como se alguma música oculta enterrada lá no fundo estivesse
finalmente sendo liberada. Não consigo parar.
Kace me observa ansiosamente.
— Aproxime-se.
Meu corpo obedece. Subo vários degraus até estar bem na frente dele.
Minha dança continua enquanto ele me observa com maior intensidade.
— Mais, — ele diz.
Minhas mãos começam a explorar involuntariamente para cima e
para baixo em meu corpo, me tocando lentamente por toda parte. É
como se elas tivessem vontade própria — correndo pelo meu cabelo,
massageando meus seios, acariciando a parte interna das minhas coxas...
Eu sei que isso está errado.
Eu não quero isso, mas meu corpo não se cansa.
Kace não está escondendo o fato de que está ficando excitado. Eu
posso ver ele me provando com sua mente. Me deixa doente.
— Mais, — ele profere entre respirações profundas.
Meu corpo imediatamente se vira para ele enquanto minhas costas
começam a se esfregar nele. Ele está duro como uma rocha, mas mantém
suas mãos longe de mim. Ele está me — deixando — fazer todo o
trabalho.
Pedaço de merda nojento.
Eu o arrancaria e o faria engasgar se pudesse, como Lexia fez com
Coen.
Antes que eu perceba, estou escalando o Trono da Vingança e
esmagando-o... Não consigo parar.
Seu sorriso arrogante me diz que ele está aproveitando cada minuto
disso, que parece uma eternidade.
Posso sentir o suor escorrendo pelo meu corpo enquanto minhas
pernas começam a enfraquecer. Estou ficando tonta, minha visão está
embaçada...
Eu mal percebo o som de sua risada quando desabo no chão, meu
corpo ainda lutando para se mover.
Eu luto para manter meus olhos abertos.
Seu rosto cheio de cicatrizes se inclina para o meu. — Agora você vê?
— Ele sussurra em meu ouvido.
Enquanto minha visão continua a esmaecer, vejo uma tatuagem
familiar de dois triângulos em seu pulso. Então tudo fica preto.
KADEN

Eu acordo para a escuridão.


O ar viciado enche meus pulmões. Consigo me levantar, mas não
consigo ir muito longe. Meus braços e pernas foram restringidos.
Cada centímetro do meu corpo dói. Uma dor aguda continua
latejando em minhas costelas por causa do ferimento da faca de Kace.
Como um objeto tão pequeno pode me derrubar assim?
Meus olhos finalmente se ajustam e, pela primeira vez, reconheço
meus arredores... a mesma cela em que uma vez aprisionei Mara. Só que
agora, os papéis estão invertidos.
— Mara! — Eu grito, mas sou recebido pelo silêncio. Não consigo
sentir a presença dela.
Ela está em perigo?
Ela está machucada?
Se alguma coisa aconteceu com ela, eu nunca poderia viver comigo
mesmo. Eu tenho que sair daqui.
O som de correntes me prendendo ecoa por toda a câmara enquanto
tento me soltar, mas mal consigo me mover. Estou muito fraco e desabo
no chão.
Uma quantidade desconhecida de tempo passa antes que eu ouça
passos ressoando por um longo corredor. Uma luz de tocha ilumina a
sala quando a porta da minha cela se abre, me cegando.
Alguém está aqui comigo. Eu posso ouvir sua respiração. Eu posso
sentir o cheiro dele. — KACE! — Eu rujo enquanto me levanto do chão.
— É bom ver você também, — responde meu irmão traiçoeiro. —
Estou surpreso por você não ter resistido muito. Muito decepcionante.
— Onde está Mara? — Eu grito. — O que você fez com ela?
— Ela está bem. Nós estivemos... criando laços.
— Se alguma coisa acontecer com ela, eu vou te matar!
Minha besta selvagem deseja desesperadamente ser solta, mas quanto
mais luto, mais fraco me tomo. Meus joelhos cedem quando desabo de
volta no chão.
Kace ri.
— Você vê? Agora esse é o velho Kaden que eu conheço, — ele
provoca.
— Tranque suas portas, feche-as bem.
Feche suas cortinas, todas as noites.
Não olhe para fora, caso ele esteja aí. Sempre viva com medo total.
Nunca se desvie e tome um companheiro, para que Alpha Kaden não
sele seu destino.
O rosto de Kace emerge da escuridão. As sombras de sua chama
tornam suas cicatrizes muito mais monstruosas.
Este não é o mesmo Kace de antes. E algo novo — sinistro.
Poderia ser a mesma escuridão que consumiu Coen?
— Agora olhe para você, — Kace sorri, — patético!
— Mara... o que você fez com ela?
— O que acontece entre os lençóis da minha futura Luna e eu não é
da sua conta.
— Não toque nela, porra! — Eu uivo.
— Oh, pretendo fazer mais do que apenas tocá-la.
— Seu filho da puta! Eu vou matar você! Você me escutou? Você está
morto, porra!
— Você não está em posição de fazer ameaças, — ele diz enquanto tira
sua pequena lâmina brilhante de antes. — Agora, me insulte de novo. Vá
em frente... faça isso!
Tento evitar liberar minha raiva, mas não consigo evitar.
— Você sempre foi o mais fraco da família! É por isso que nenhuma
mulher poderia, ou jamais poderá amar você! — Eu rosno.
A lâmina de Kace penetra minhas costelas antes que eu tenha a
chance de reagir.
Eu cuspo sangue enquanto o líquido vermelho enche meus pulmões.
Estou sufocando.
MARA

Eu acordei abruptamente com a lua cheia. Estou em pânico, mas não


tenho certeza do porquê.
Tudo parece normal. Estou no meu quarto, vestindo roupas limpas,
sinto cheiro de banho... Devo ter tido um pesadelo... Não! Não foi um
sonho! Está realmente acontecendo!
As meninas desaparecidas, a Matilha da Igualdade, minha dança
forçada... Tenho vergonha do que Kace me fez fazer.
E Kaden! Onde está Kaden?
A última vez que o vi, ele estava caído indefeso no chão, sangrando.
Ele ainda está vivo? Eu tenho que encontrá-lo!
Corro para a porta, mas está trancada por fora.
Merda!
Tento as janelas, mas elas também não se movem.
Estou presa!
Eu começo a andar ao redor do quarto e paro quando vejo a cama. Eu
sou instantaneamente lembrada das intenções lascivas de Kace. Só há
uma razão para ele me manter aqui.
Kace poderia me remarcar? Me fazer sua Luna? Só de pensar nisso,
minha pele se arrepia.
Com tudo que aconteceu desde que Kaden me trouxe para a Matilha
da Vingança, estou disposta a acreditar que tudo é possível.
Ele claramente se tomou muito mais poderoso do que qualquer um de
nós poderia ter imaginado. Mas isso não significa que não vou desistir
sem lutar.
Eu viro minha cabeça em direção à porta ao som de uma chave
entrando na fechadura.
É ele!
Eu vasculho a sala, procurando por algo que possa ser usado como
uma arma, mas não encontro nada. Eu deveria saber que ele seria muito
inteligente para deixar qualquer coisa perigosa para trás.
Eu pulo com o som da porta se abrindo.
Uma cadeira próxima chama minha atenção, então eu a pego e a
seguro bem acima da minha cabeça enquanto uma grande silhueta
aparece na porta.
Corro em direção à porta, sem pensar, pronta para bater em quem
quer que esteja no meu caminho, mas paro quando a figura de repente
cai no chão. O sangue derrama no chão de pedra.
É um dos guardas tatuados de Kace!
Eu olho para cima e vejo um rosto familiar de pé no corredor,
empunhando uma espada.
— Isso é três que você me deve agora, — Lexia diz presunçosamente.
Lexia? É realmente ela? Estou vendo coisas?
— Três? — Eu digo, e posso sentir o olhar estúpido no meu rosto.
— Vem depois de duas. Agora vamos embora! — Ela diz, gesticulando
para que eu a siga.
Receber ordens nunca foi meu forte, mas para Lexia, farei uma
exceção.
Estou fora da porta em um piscar de olhos.
— E abaixe isso antes que você se machuque, — ela diz, apontando
para minha cadeira, ainda agarrada em minhas mãos. Envergonhada,
jogo no chão enquanto corremos pelo corredor.
Idiota...
Capítulo 17
CÉUS ACIMA, SOLO ABAIXO
MARA

10 milhas.
50 milhas.
100 milhas.
200 milhas.
48 histórias.
Chegamos.
Estou o mais distante que já estive do meu companheiro.
Meu coração se parte.
Eu fico olhando pela janela de um arranha-céu em forma de pirâmide.
O prédio fica de guarda bem acima da Cidade da Vingança. Olhar para
baixo é quase estonteante.
Lá embaixo, multidões de pessoas se agitam pelas ruas, cuidando de
suas vidas diárias. Eles parecem pequenos e insignificantes.
Atravessando um canal, uma grande ponte laranja irradia sob o sol
poente. E mais longe, uma floresta infinita de sequoias dominam o
horizonte.
É uma das vistas mais incríveis que já vi. As pessoas que vieram antes
de nós devem ter realmente confundido para perder um lugar como este.
Eu gostaria que Kaden estivesse aqui para ver isso.
Eu sei que ele está tão preocupado comigo quanto eu estou com ele —
nenhum de nós sabendo o paradeiro um do outro, temendo o pior... Eu
não queria deixar meu companheiro para trás.
Eu lutei com Lexia todo o caminho, mas no final, ela me convenceu de
que ir atrás de Kaden era suicídio. Simplesmente não há como alcançá-
lo... não agora, de qualquer maneira.
Preciso de todas as minhas forças para não desmoronar.
— Lindo, não é? — Lexia pergunta enquanto se aproxima, me
entregando minha terceira taça de vinho.
— Sim, é, — eu respondo, tomando um grande gole.
Eu sei que não deveria beber tanto, especialmente depois do que
aconteceu com Malik e a Matilha do Amor, mas eu acho que o álcool vai
me ajudar a esquecer, embora eu esteja começando a me sentir pior.
— Claro, você não pode ver a podridão e a sujeira da cidade deste
ponto de vista, — ela diz com desdém.
Lexia realmente subiu no mundo quando Kaden entregou a ela as
chaves da Cidade da Vingança. Não mais nas favelas subterrâneas, ela
assumiu a responsabilidade de alcançar o ponto mais alto imaginável.
Os rumores da — ressurreição — de Kace foram o que trouxeram
Lexia para a Matilha da Vingança em primeiro lugar. Ela precisava ver as
coisas por si mesma em primeira mão. Somente quando ela testemunhou
a derrota de Kaden e minha captura, ela realmente entendeu o que
estávamos enfrentando.
Kace é muito poderoso, mesmo para a líder da Cidade da Vingança
enfrentar sozinha. E ela não está prestes a entrar em uma situação em
que não sabe o que está reservado para ela.
Lexia teve apenas tempo suficiente para me alcançar e, mesmo assim,
mal conseguimos sair vivas.
No momento em que confiscamos um dos veículos de Kace, ela havia
matado sozinha uma dúzia de fanáticos carecas de Kace.
E então ela me trouxe aqui — Ninho da Águia, — como ela chama.
Afirma que é o lugar mais seguro para se estar. Mas, por mais que tente
racionalizar nossas ações, não posso deixar de sentir amargura em
relação a ela.
— Eu entendo como deve ser difícil deixar Kaden onde está, — Lexia
diz, — mas não tínhamos escolha.
— Ainda não significa que seja justo, — eu respondo. — Ele pode estar
ferido ou morrendo.
— A vida não é sobre o que é justo, — Lexia rebate. — É sobre
sobrevivência. E ele é um sobrevivente.
Eu só resgatei você porque preferia Kaden no Trono da Vingança do
que Kace.
— Então você fez isso para sua própria autopreservação.
— O que mais me faria? Preocupar-se com os outros apenas atrasa. Eu
aprendi isso da pior maneira.
Ela está se referindo a Grayson, o companheiro que ela deixou para
trás?
— Bem, talvez se você realmente amasse alguém fora de tudo isso, —
brinco, apontando para sua construção escultural, — então talvez você
entenda.
Eu sei que é tolice insultar alguém como Lexia, visto que ela poderia
me derrubar sem um momento de hesitação, mas eu realmente não dou
a mínima... não mais. Estou muito ferida para me importar.
Ficamos em silêncio por vários minutos observando o sol se dissipar
antes de Lexia se virar para mim e dizer: — Apesar do que você possa
pensar, eu me importo com o bem-estar dos outros. Você, por exemplo, é
alguém que admiro desde o momento em que a conheci. E Kaden —
apesar de minhas dúvidas sobre ele no passado — também ganhou meu
respeito. Eu devo muito a ele.
Isso é novidade para mim.
É como se ela estivesse revelando um lado dela mesma que ela
mantém em segredo do resto do mundo.
— Então, se vamos ajudar um ao outro, preciso que você me diga
todos os pequenos detalhes que puder lembrar, — Lexia diz, me levando
para dentro da — cobertura, — como ela chama.
Ela nos senta perto da lareira. — Você disse que Kace pode controlar
os outros com sua mente?
Só de pensar nisso, sinto calafrios na espinha.
— Sim, muito mais forte do que qualquer coisa que senti em Coen. —
admito. Lexia conhece o controle da mente muito bem. Se não fosse por
sua primeira intervenção com Coen, ele poderia ter feito o que queria
comigo... poderia até mesmo estar vivo.
Digo a ela como Kace usa suas habilidades mentais para controlar a
matilha e como ele exercia o mesmo poder para me controlar.
É difícil relatar o que ele me forçou a fazer, mas Lexia é
surpreendentemente compreensiva. Ela nunca fala muito sobre seu
passado, mas os detalhes da minha — dança — tocam o nervo.
— Aquele filho da puta! — Ela exclama, jogando seu vinho pela sala.
— Mas por mais terrível que tenha sido, — eu continuo, — a lâmina
que apunhalou Kaden é o que mais me preocupa.
— Continue...
— No momento em que aconteceu, ele foi incapaz de se transformar.
Tomou ele impotente. Ele tentou superá-la, mas era demais.
— O que isso se parece?
— Apenas uma faca comum... Não estou muito familiarizada com
armas, mas agora que penso sobre isso, me lembro de emanar um leve
brilho prateado, — digo, terminando minha bebida, — como algum mal a
força foi envolvida em torno dele.
Lexia se perde em pensamentos antes de falar novamente.
— Como você deve saber, os fanáticos carecas de Kace estão
invadindo meu território há algum tempo. E se o que você diz é verdade,
acho que posso saber por quê. — Lexia estende a mão e me ajuda a ficar
de pé.
— Venha comigo. Eu quero te mostrar algo.

Levamos quase uma hora para atravessar a fossa de uma cidade. E ela
estava certa... pela segurança de sua torre, uma pessoa pode facilmente
perder de vista o mundo abaixo.
Qualquer pessoa normal seria louca de vir aqui. Felizmente, minha
guia é o tipo exato de louco de que preciso. Ela conhece essas ruas como
a palma da sua mão.
Passamos por baixo de um dossel de arranha-céus e nos encontramos
na paisagem tóxica pela qual a Cidade da Vingança é mais conhecida... as
favelas em constante expansão. Os faróis dos carros revelam indivíduos
decadentes que claramente não querem ser vistos.
Meu coração está acelerando. Uma coisa é vir aqui durante o dia, mas
à noite, parece que a qualquer momento alguém ou alguma coisa está à
espera para nos emboscar.
Percorremos becos, voamos por estacionamentos abandonados e
passamos por incontáveis incêndios espalhados por toda essa miséria.
Como alguém pode viver assim?
Uma tatuagem de texto no antebraço de Lexia chama minha atenção.
Ele brilha sob o luar.
— Traga-me seus miseráveis, sua sujeira, seus moleques errantes,
Desejo de roubar gratuitamente.
A conspiração se recusa a queimar.
Envie para mim esses assassinos, gananciosos e sem moral.
Aqui, todos esses demônios têm sua vez.
Este é o credo da Cidade da Vingança.
Claro, isso é o que está escrito.
— Machucou? — Eu pergunto, apontando para a inscrição.
Lexia me olha como se eu tivesse dito a coisa mais estúpida que ela já
ouviu. Mesmo no escuro, posso dizer que minhas bochechas estão
ficando vermelhas.
Lexia passa por mais e mais barracos até desligar os faróis e virar em
um beco estreito.
Ela confia em sua visão noturna pelo resto do caminho e para quando
chegamos a um pátio de ferrovia.
— É isso? — Eu pergunto.
— Me siga. Não diga uma palavra, — ela comanda.
E eu faço.
Eu saio do veículo e a sigo até uma tampa de bueiro. Eu vejo como
suas mãos mudam e levantam a tampa com facilidade, liberando um
cheiro ruim de baixo. O odor fétido é nauseante e me faz engasgar.
— Estamos realmente indo para lá? — Eu sussurro.
— Eu disse para não falar! — Ela atira de volta enquanto desce uma
escada.
Eu gostaria que ela apenas dissesse para onde estávamos indo. O que é
tão importante que ela tem que me mostrar pessoalmente?
Eu a sigo de qualquer maneira, tentando acompanhar.
Esses túneis já foram à casa de Lexia. Alguns são largos o suficiente
para um ônibus passar, enquanto outros nos obrigam a rastejar sobre
nossas mãos e joelhos. Isso não incomoda nem um pouco Lexia, mas me
faz sentir claustrofóbica.
Ela poderia navegar neste labirinto com os olhos vendados, se
quisesse.
É melhor não nos separarmos porque não tenho ideia de como voltar.
Espero que cheguemos aonde estamos indo em breve.
Lexia para de repente e olha para trás.
— Estamos aqui, — ela sussurra. — Fique abaixado.
Eu sigo seu exemplo, e o túnel se toma cada vez mais brilhante
conforme o som de máquinas enche meus ouvidos.
O que está acontecendo aqui?
Saímos de um túnel e nos encontramos empoleirados em uma
saliência. Olhando para baixo, vejo um grande poço cheio de mineiros
usando equipamentos industriais para escavação.
Não parece nada fora do comum até que Lexia gesticula para dar uma
olhada mais de perto. Eu suspiro quando vejo dezenas de homens carecas
com tatuagens triangulares.
— Esses são... — eu começo.
— Os mesmos.
E eles não estão apenas minerando. Eles estão forjando armas. Meus
olhos se arregalam quando percebo que o material que eles estão usando
brilha em prata luminescente.
O mesmo material da lâmina de Kace!
Capítulo 18
AS MINAS
MARA

Eu olho em volta sem acreditar.


Cada rachadura e fenda brilha neste metal prateado luminescente.
Está em todo lugar
Quando Lexia me trouxe aqui, presumi que a luz fosse feita pelo
homem, mas vem das próprias rochas!
Eu agarro minha barriga e fecho meus olhos. Uma sensação de náusea
me invade. O fedor de rastejar nos esgotos realmente me afetou... isso ou
o vinho.
Eu sou um peso leve.
— Você está bem? — Lexia pergunta com uma preocupação
surpreendente.
— Sim, eu vou ficar bem, — eu respondo, tentando permanecer
composta. — Como você encontrou esse lugar?
— Como eu disse antes, eu venho rastreando esses idiotas há algum
tempo. Eles têm uma rede de túneis de mineração em toda a parte
inferior da cidade, — ela diz, apontando para várias entradas e saídas que
levam a diferentes caminhos.
Lexia pega um mapa e o coloca no chão, revelando uma rede gigante
de túneis subterrâneos. Estou impressionada com os detalhes
intrincados.
— Demorou um pouco, mas depois que meu pessoal traçou tudo,
descobrimos que todos os túneis levam de volta a um lugar — aqui, — ela
diz, apontando para o centro do mapa, — onde estamos agora.
Olhando para baixo, vejo os trabalhadores continuarem a escavar,
derreter e forjar o material em várias armas. Existem espadas, adagas,
machados — centenas deles.
— É como se estivessem construindo um exército, — digo com
confiança.
— Exatamente meus pensamentos, — ela reafirma.
— Se este metal é tão letal quanto pensamos que é, Kace poderia usar
essas armas para ameaçar todos os grupos.
Esses homens, sejam eles quem forem, estão trabalhando nisso há
algum tempo. Muito antes de Kace se transformar no que é hoje. Seu
irmão Coen devia saber disso.
Será que os mesmos idiotas que foderam com a cabeça de Coen estão
mexendo com a de Kace também?
Kaden continua pesando muito em minha mente. Eu sei que ele ainda
está vivo. Eu posso sentir isso.
Mas por quanto tempo?
Não consigo imaginar o inferno que Kace deve estar fazendo com que
ele passe. O pensamento dele com dor provoca minha própria besta
feroz. E preciso cada grama de força para me impedir de destruir todo
este lugar.
Eu rapidamente apago essa linha de pensamento da minha mente.
Preciso me concentrar no que está diante de mim.
— Precisamos colocar nossas mãos em uma dessas armas para um
exame mais detalhado, — eu digo.
— Concordo, — Lexia responde. — Tentei analisar os próprios
extratos de metal, mas está muito além da minha compreensão.
Precisamos de um especialista em armas para nos dizer com o que
estamos lidando.
Minutos se passam enquanto espero por sua sugestão, mas ela
permanece em silêncio.
— Você não tem contatos no mercado negro a quem possamos
recorrer? — Eu pergunto impaciente.
— Eu sou aquele contato do mercado negro, — ela retruca.
Certo. Estúpida...
Eu vasculho meu cérebro tentando pensar em alguém — qualquer um
— que possa nos dizer o que precisamos saber. E então me ocorre.
— Grayson, — eu sussurro baixinho.
— Com licença?! — Lexia rosna.
— Ele saberia!
O Alpha da Matilha da Liberdade, em toda a sua glória nua, tem um
conhecimento íntimo de armamento. Aprendi isso quando
originalmente fugi para sua matilha em busca de refúgio. Ele foi a
primeira pessoa a me ensinar como me defender.
Eu vejo um fogo crescendo dentro de Lexia, pronto para explodir a
qualquer segundo. Ela está claramente me matando em sua mente.
— Absolutamente não, — ela diz definitivamente. — Não depois da
última vez!
Eu não a culpo.
Quando Coen lançou a besta de Grayson, Lexia quase o matou. Fazer
isso quebrou a maldição colocada sobre ele, mas ela não poderia se
importar menos.
Pelo menos ela finge não se importar.
— Prefiro me jogar dessa borda do que ver seu rosto sarnento de novo,
— ela cuspiu.
— Bem, o que você sugere? Você tem uma ideia melhor?
— Olha, se você quiser pedir o conselho dele, fique à vontade. Mas eu
não terei nada a ver com ele.
— Covarde. — Eu respondo sem pensar.
Eu sinto o gume frio da lâmina de Lexia em minha garganta antes que
eu tenha tempo de reagir.
— Que porra você acabou de dizer para mim?! — Lexia late, me
levantando.
Hesito, mas fico composta.
— Eu disse que você é uma covarde de merda! Você é realmente tão
orgulhosa que não consegue deixar de lado a briga de seus amores
mesquinhos? Existem incontáveis vidas — e incontáveis bandos — em
jogo!
Ela aplica uma pressão maior no meu pescoço, mas a lâmina não
rompe a pele. Ela olha ferozmente nos meus olhos quando começo a
engasgar, mas não recuo.
Faça isso -meus olhos zombam.
Ela pisca primeiro, me deixando cair no chão. Eu tusso e recupero o
fôlego quando uma onda de náusea me atinge novamente.
— Só para deixarmos claro, se você fosse qualquer outra pessoa, eu
teria cortado sua garganta em um instante, — Lexia diz com desdém.
Eu acredito nisso.
— Então isso é um sim? — Eu respondo.
Ela suspira e estende a mão.
— Vamos. Se vamos fazer isso, precisamos colocar nossas mãos em
uma dessas lâminas, — diz ela, me levantando. — E tire esse sorriso de
comedor de merda do seu rosto!
Opa.
Eu sigo Lexia enquanto nós serpenteamos através dos túneis,
nenhuma vez usando seu mapa.
Trinta minutos se passam antes de chegarmos ao nível do solo da
mina. A partir daqui, escondido atrás dos trilhos de uma grande
escavadeira, temos um acesso direto para as armas.
O único problema é que há quase duas dúzias de fodidos carecas em
nosso caminho.
Concordamos que ir direto para isso é suicídio. Precisamos de uma
distração.
Observo Lexia escanear os arredores em busca de opções até que seus
olhos pousam na máquina com garras atrás da qual nos escondemos.
— Ao meu sinal, — Lexia ordena, — pare para pegar as armas. Pegue a
primeira coisa que você puder colocar suas patas e corra como o diabo.
Isso não parece bom.
— Qual é o sinal eu consigo cuspir, mas ela está no meio da escavação
antes que eu possa terminar.
Isso vai ser uma merda.
Eu pulo para trás com o som do motor da escavadeira ganhando vida.
Os mineiros parecem tão surpresos quando Lexia empurra a máquina
diretamente para eles. Não se move rapidamente, mas envia os homens
para longe.
O braço com garras balança para frente e para trás tentando pegar
qualquer um que puder, tirando com sucesso alguns carecas.
Lexia então aponta seu cavalo de guerra em direção a uma esteira
rolante, esmagando-o sob seus trilhos. Metal e detritos voam por toda
parte.
Era esse o sinal?
Parece tão bom quanto qualquer outro, então eu corro o mais rápido
que posso em direção às armas. Passei por vários mineiros ao longo do
caminho, mas nenhum me deu atenção. Eles estão muito distraídos pelo
monstro de metal causando estragos em sua mina.
Antes que eu perceba, estou no depósito de armas. Mas assim que
pego uma lâmina, sou atingido por outra onda de náusea.
Qual é, sério?!
Meus joelhos dobram e eu começo a cair, mas consigo me manter de
pé. Sinto vontade de vomitar, mas consigo controlar.
É isso aí. Sobriedade de agora em diante.
Quando minha força retoma, pego a arma embainhada mais próxima
e corro para o túnel. Olhando para trás, vejo Lexia pular para fora da
escavadeira enquanto ela se choca contra uma furadeira, acendendo uma
bola de fogo. Alguns dos mineiros se dispersam enquanto outros lutam
para apagar o incêndio.
Lexia, muito mais rápida do que eu, facilmente me alcança.
— Você poderia ter sido menos sutil? — Eu observo, mas tudo que
consigo é um sorriso de satisfação.
Eu agarro meu saque para salvar a vida enquanto corremos de volta
pelos túneis.

KACE

Eu fico olhando para a desculpa patética do ex-Alpha, ajoelhado em


uma poça de seu próprio sangue.
Esta cela combina com ele.
Admiro as lacerações da minha lâmina cruzando seu peito.
— Tenho uma confissão a fazer e preciso da sua opinião, — digo à
figura pálida acorrentada. — Eu adoro a ideia de Mara e eu destruindo
um ao outro do pôr do sol ao nascer do sol, mas tenho que ser honesto...
não sei nada sobre o que a deixa selvagem.
Kaden não vacila.
Ele está se controlando ou está fraco demais para se importar.
— Então eu acho que será melhor para todos nós — na noite em que
eu a marcar como minha companheira — que eu tenha você lá olhando
para me aconselhar sobre a melhor maneira de — como devo dizer...
montar ela. O que você me diz?
Mas, novamente, ele não reage. Seu silêncio me irrita ainda mais,
então eu dou um soco em seu rosto.
Ele cospe mais sangue, mas continua em silêncio.
Enquanto fico ao lado dele, para minha surpresa, sou tomado por um
sentimento de pena dele e dou um passo para trás. Eu vejo seu sangue
pingar da minha lâmina para o chão.
Eu fui longe demais?
Eu realmente quero isso?
Por que a hesitação?
Limpo minha faca antes de guardá-la.
Ao fazer isso, de repente sinto uma dor latejante aguda em minha
cabeça enquanto um zumbido alto enche meus ouvidos. Eu me seguro na
parede para me equilibrar e agarro minha têmpora, gritando em agonia.
Eu respiro fundo até a dor passar.
Que diabos foi isso?
Não importa.
Conforme o toque para, começo a me sentir eu mesmo novamente.
Eu olho para Kaden e o vejo me observando. — Que porra você está
olhando? — Eu digo, batendo nele várias vezes com meu punho. Mas,
novamente, ele permanece em silêncio.
Eu ouço o eco de passos se aproximando do corredor, pouco antes de
a porta da cela se abrir.
— O QUE?! — Eu lati para o guarda assustado.
— Desculpe, Kace — Alpha Kace. — Sua voz treme. — É sobre Mara—
— Mara? Então o que foi? — Eu interrompo.
— Ela se foi.
— Sumiu? — Ele tem toda a minha atenção. — O que você quer dizer
com ela ’se foi’?
— Os homens que a protegiam estão mortos. Ela escapou!
— Escapou?! Você a deixou escapar?!
Incapaz de conter minha raiva, uivo enquanto corto a garganta do
guarda. O sangue espirra por todas as paredes e respinga em minhas
botas, mas não me movo. O guarda tenta estancar o sangramento com as
mãos, mas desiste rapidamente antes de cair morto.
Como isso pode ter acontecido?
Eu ando pela sala, sem saber o que fazer. Isso não faz parte do plano.
Ela deveria ser minha. Esse é o acordo!
— Guardas! — Eu grito quando dois homens aparecem nervosamente
na porta. — Faça uma busca nos terrenos e no território circundante. Ela
não pode ter ido longe.
— Sim. Alpha, — os homens dizem antes de abaixar a cabeça e sair
correndo.
Tento me convencer de que tudo vai dar certo, mas sentimentos de
dúvida começam a correr em minhas veias.
Eu viro minha cabeça para Kaden quando ouço uma risadinha atrás de
mim.
Eu posso ver sua vida se esvaindo bem na minha frente, mas atrás de
seus olhos, há um pequeno lampejo de triunfo queimando dentro de si.
Pego minha lâmina, pronta para extinguir aquela chama.
Capítulo 19
RODOVIA DA LIBERDADE
MARA

A janela do carro está abaixada.


Uma corrente fria de ar noturno enche a cabine quente.
Meu braço balança na janela enquanto o vento sopra em meu cabelo.
E rejuvenescedor.
Libertador.
Por um momento, sou capaz de esquecer.
Estamos viajando pela estrada agora. Destino? A Matilha da Liberdade
— mas ainda temos muitos quilômetros pela frente.
Depois de adquirir a adaga, Lexia e eu corremos por uma teia de
túneis antes de ressurgir do submundo. O ar tóxico da Cidade da
Vingança foi um alívio muito bem-vindo em comparação com os vapores
pungentes de baixo.
O veículo de Lexia estava vazio, então esperamos que um veículo
desavisado passasse antes de tirá-lo de suas mãos, como salteadores de
estrada fora da lei. Em pouco tempo, estávamos bem fora da Cidade da
Vingança.
Provavelmente Kace está procurando por mim. então escolhemos
viajar à noite para mascarar melhor nossa jornada. Mantemos os faróis
apagados e deixamos a lua guiar nosso caminho. Passamos por
incontáveis veículos abandonados. Os séculos afetaram o que restou de
suas molduras — servindo como um lembrete de que todas as coisas boas
podem acabar.
Quanto mais avançamos na estrada, mais meu desejo por Kaden
cresce. Eu me sinto começando a enfraquecer. É por estar longe dele por
tanto tempo?
É difícil acreditar em tudo o que aconteceu.
Eu mal dormi desde que deixei a Matilha da Vingança, então não é de
se admirar que eu esteja começando a desmaiar. Talvez o sono
finalmente esteja me alcançando.
Eu só quero que os braços fortes de Kaden me abracem com força...
para sentir seu calor, para respirar seu cheiro... Eu quero estar inteira
novamente. Companheiros não devem ficar tão distantes.
Deve ser um pesadelo para Grayson — saber que sua companheira
está lá fora, mas te rejeitando completamente. Não consigo imaginar o
que ele está passando, especialmente depois de tantos anos.
Todo o desejo, a solidão...
Lexia e eu não falamos sobre ele.
Minhas pálpebras ficam pesadas quando o carro começa a me
balançar para dormir.
Eu acordo quando o carro sai da estrada brevemente, me sacudindo
para o lado. Lexia retoma o controle e segue em frente.
— O que aconteceu? — Eu pergunto.
— Nada, — ela diz letargicamente. — Estou bem.
Lexia não parece bem. Mesmo na escuridão da noite, posso ver os
anéis em torno de seus olhos. Ela também está lutando para se manter
acordada. — Talvez devêssemos encostar. Durma um pouco, — eu
sugiro. E para minha surpresa, ela concorda.
Encontramos um arvoredo próximo e estacionamos o carro embaixo
dele.
Nenhuma de nós quer dormir no veículo. Isso nos faz sentir presas,
então acendemos uma pequena fogueira e montamos um acampamento
sob as estrelas.
Há muitas. Eu posso ver a constelação de lobos, Lupus. Kaden pode
ver também, ou as paredes de sua prisão obstruem sua visão?
Eu não consigo pensar sobre isso.
Enquanto continuo admirando o céu noturno, aquele padrão de
estrelas é a última imagem que vejo antes que minha mente comece a
vagar.
Meus olhos se abrem com o som de passos farfalhando nas folhas. Eu
me sento e olho ao redor, mas não vejo nada.
O som para.
Lexia permanece intacta nas proximidades.
O estalo de um galho próximo chama minha atenção.
Eu viro minha cabeça em direção a ele. E é quando eu vejo... a silhueta
escura de um ser assombrando entre as árvores.
Isso me assusta no início, até que uma sensação calmante toma conta
de mim. Há algo familiar sobre a figura.
Ele começa a se afastar, como se me chamasse para segui-lo, então
rapidamente me levanto e corro atrás dele.
A figura está se movendo mais rápido do que eu imaginava e acho
difícil acompanhá-la, especialmente sem sapatos.
Estou errada em seguir?
Estou perdendo algum perigo invisível?
Eu continuo de qualquer maneira. Estou atraída por isso.
A figura permanece habilmente nas sombras, com cuidado para não
pisar no luar. É como se estivesse me provocando.
Quem é você, ou mais importante, o que é você?
Eu continuo a seguir cada vez mais fundo na floresta.
Serei capaz de encontrar meu caminho de volta?
Eu não me importo.
A figura escura e eu continuamos com o jogo até segui-la para fora do
bosque e chegar a uma clareira.
Lá, pairando no alto, está a cachoeira mais linda que já vi,
derramando-se em uma piscina cristalina abaixo. O céu noturno se
reflete em suas águas.
Meu coração dá um salto quando vejo quem está parado perto da
piscina.
— Kaden! — Eu digo enquanto corro para ele e enterro minha cabeça
em seu peito musculoso e nu. Eu não o solto, e ele também não.
Nossos batimentos cardíacos são sincronizados como um só.
Começo a falar, mas ele pega sua mão e me leva para a água antes que
eu possa.
Ainda estou usando minhas roupas, mas não me importo.
Eu suspiro com o quão frio está e rapidamente pulo de volta em seus
braços. Estou tremendo, mas o calor que ressoa dele me aquece.
Eu olho em seus olhos enquanto ele gentilmente envolve a palma da
mão em volta da minha cabeça, me puxando para perto. Uma onda de
energia preenche cada parte do meu corpo enquanto seus lábios abraçam
os meus... E sensacional.
Enquanto sua língua suavemente massageia a minha, eu me derreto
nele.
Eu posso senti-lo ficando excitado debaixo d’água, o que me excita
ainda mais.
Eu puxo meu vestido pela cabeça e fico nua.
Não sinto mais frio. Ele remove o resto de suas roupas também e
facilmente me levanta em torno de sua cintura. Eu flutuo minhas pernas,
envolvendo-o enquanto ele me puxa para perto.
Ele começa a esfregar sua masculinidade contra o meu núcleo.
Eu corro minhas mãos por todo o seu corpo molhado enquanto ele
planta beijos ao longo do meu pescoço e no meu peito, o tempo todo me
levando mais para dentro da piscina até estarmos debaixo da cachoeira.
E a água mais pura que já provei.
Solto um gemido suave quando sua boca pressiona contra meus
mamilos firmes, dando pequenas, mas cuidadosas mordidas em torno da
borda enquanto ele ondula contra mim debaixo d'agua.
Eu não aguento mais.
Meus impulsos primários estão implorando para serem liberados!
Eu preciso dele dentro de mim.
E naquele momento, como se ele lesse minha mente, eu o sinto
envolver seus braços em volta dos meus quadris enquanto se empurra
para dentro de mim.
Meus olhos rolam para a parte de trás da minha cabeça enquanto
solto um gemido de euforia. Meu corpo treme quando ele começa a
empurrar lentamente para dentro e para fora de mim, gradualmente
ganhando velocidade.
Estou paralisada demais para me mover. A única coisa que posso fazer
é deitar e deixar a água me manter à tona. Kaden faz todo o trabalho.
As estrelas giram em tomo de mim enquanto olho para o céu.
Kaden então me leva para trás da cachoeira e me deita em uma praia,
o tempo todo continuando a se empurrar para dentro de mim.
Ele cruza as mãos nas minhas e as pressiona na areia acima da minha
cabeça enquanto beija ao longo do meu pescoço.
Quanto mais fundo ele empurra, mais imóvel eu fico... Eu quero que
isso continue para sempre.
Eu fecho meus olhos enquanto seu corpo consome o meu, mas
quando eu os abro, eu suspiro de horror.
Porque não são os olhos de Kaden que estou olhando... mas os de
Coen!
Ele lambe os lábios enquanto continua empurrando em mim.
Mas não pode ser Coen! É impossível! Eu o vi morrer!
Conforme suas estocadas se tomam mais fortes e mais rápidas, eu vejo
em choque enquanto cicatriz após cicatriz começa a dilacerar seu rosto
até que eu não estou mais olhando para Coen... mas para Kace.
Tento gritar, mas não sai nada.
O que está acontecendo?
Isso não pode estar acontecendo.
Tento empurrá-lo, mas sua força é muito grande. Eu fecho meus olhos
e espero que isso acabe.
Quando os abro novamente, encontro um mundo diferente do que
havia antes.
As estrelas são pretas.
A lua está em chamas.
As quedas não derramam mais água, mas sangue.
Quanto ao homem em cima de mim... Não é mais Kace, mas uma
figura de capuz escuro cujo rosto não consigo distinguir.
Ele continua entrando em mim, rindo enquanto vai... tendo prazer
com meu pesadelo.
Ele não para.
Eu respiro fundo enquanto pulo do chão. Eu olho em volta para me
orientar e vejo que estou de volta à fogueira. Eu estou segura.
— Foi só um sonho, — digo para mim mesma. — Um sonho muito
ruim, porra.
Eu quero rir disso, mas não consigo tirar a memória da minha cabeça.
Foi tudo tão vívido. Eu poderia jurar que era real. E aquela figura
encapuzada... quem era ele? Não consigo identificá-lo.
A Matilha da Pureza nos ensinou que os sonhos são a maneira da
Deusa da Lua falar conosco diretamente, embora eu nunca tenha
prestado muita atenção nisso. — Apenas superstição boba, — eu sempre
digo — pelo menos, espero que seja.
O som de resmungos chama minha atenção para Lexia. Para meu
choque, vejo que seu corpo está tremendo como uma convulsão. Ela
murmura para si mesma enquanto seus movimentos se tornam mais
frenéticos.
— Não... não... — eu a ouço dizer.
Ela está tendo um pesadelo também!
Eu agito seu braço para acordá-la.
— Lexia... Lexia, acorde. Acorda!
— Não, — ela murmura mais alto, — Não... NÃO!! — Eu caio para trás
quando ela salta do chão, cortando o ar com a lâmina que ela mantém
escondida sob o cobertor.
— Lexia, sou eu! Mara! Você estava tendo um pesadelo, — eu digo
para acalmá-la. — Tudo bem.
Mas ela não está ouvindo a razão.
Ela deixa cair sua lâmina e corre para mim, me prendendo no chão
com o joelho. Eu tusso enquanto ela envolve as duas mãos em volta do
meu pescoço e começa a apertar.
Sua fúria é implacável e seu aperto continua a aumentar.
Ela não é apenas um pouco mais forte do que eu.
Ela tem um maldito punho de ferro.
Eu não consigo respirar!
Capítulo 20
A MATILHA DA LIBERDADE
MARA

Eu sinto suas mãos apertando.


Há uma raiva queimando em seus olhos.
Eu choro por ajuda, mas minha voz está silenciosa.
As unhas de Lexia perfuram minha pele.
Eu posso sentir o cheiro de sangue escorrendo pelo meu pescoço
enquanto seu delírio a estimula.
Por que ela não me reconhece?
Ela não sabe quem eu sou?
Eu tento o meu melhor para deslizar meu dedo entre as palmas das
mãos e minha garganta, para gritar para ela parar, mas seu aperto de
ferro não se move.
Ele prende meus gritos na minha garganta.
Eu empurro e chuto com todas as minhas forças, mas nenhum dos
dois tem efeito.
E então me ocorre...
Mudança caramba!
Meus ossos começam a rachar e eu imediatamente sinto a dor de
dentro enquanto meu corpo começa a se transformar. Eu sinto meu
poder de lobo aumentar. Isso me permite deslizar minhas garras por
baixo de suas mãos e obter o mínimo de alívio.
Eu respiro um pequeno gole de ar, mas minha força começa a
enfraquecer e eu começo a voltar.
Não, não, não, não, não!
Estou de volta à forma humana em poucos segundos, e Lexia sufoca
meu fluxo de ar mais uma vez.
Não entendo... Isso nunca aconteceu antes. Sempre fui capaz de
completar uma transformação.
Meus braços golpeiam Lexia e se agitam quando começo a entrar em
pânico.
Eu murmuro para ela parar, mas sua ira é implacável. Estou me
esgotando.
Minha visão fica embaçada.
Minhas mãos caem para os lados enquanto uma onda de calma passa
por mim.
Eu paro de me importar enquanto tudo escurece.

Uma lufada de ar enche meus pulmões enquanto minha visão começa


a se recuperar.
Eu tusso e suspiro quando sinto o aperto de Lexia ceder. Ela sai do
meu peito e eu continuo engolindo em seco.
Lexia desmaia ao meu lado, perplexa com suas ações. Ela estende a
mão para me confortar, mas eu bato em sua mão e me afasto.
— Mara, eu... — ela diz, tremendo.
— O que diabos há de errado com você?! — Eu grito com a pequena
voz que tenho. — Você perdeu a cabeça?!
— Eu não—
— Você quase me matou! — Eu sussurro.
Lexia agarra o lado de sua cabeça enquanto as lágrimas começam a
escorrer de seus olhos.
— Não sei, não sei, não sei! — Ela lamenta. — Eu estava sonhando.
Eles estavam ao meu redor. Eu não conseguia mais lutar contra eles, e eu
vi você e pensei que você estava...
Ela olha diretamente para mim.
— Eu sinto muito, muito mesmo. O que eu fiz é imperdoável! — Ela
se vira, olhando para longe.
Ficamos sentadas em silêncio enquanto nossas lágrimas começam a
diminuir.
O som da fogueira é nossa única companhia.
Minha raiva por ela diminui conforme os minutos passam.
Nunca a tomei por uma pessoa que precisava de conforto, mas engulo
meu orgulho e me aproximo dela de qualquer maneira.
Eu hesitantemente envolvo meu braço em tomo dela.
— Tudo bem. — Eu consigo reunir pelo menos isso. Então posso
continuar. — Você não sabia o que estava fazendo. Foi apenas um sonho
ruim. Isso é tudo.
Ela respira fundo quando seu corpo começa a relaxar.
— Isso nunca aconteceu comigo antes, — ela diz, parecendo confusa.
— Nem comigo, — eu respondo.
Ela se vira para mim. confusa. — O que você quer dizer?
— Eu também tive um pesadelo. No começo foi maravilhoso, mas
depois...
Eu não posso dizer isso. Ainda parece tão real.
— Então nós duas tivemos sonhos infernais? Ao mesmo tempo?
Eu levei um momento para absorver isso.
— Agora que você mencionou, isso parece estranho. Não pode ter sido
uma coincidência, não é? — Nós quebramos nossos cérebros tentando
pensar qual poderia ter sido a causa, mas não encontramos nada.
— Bem, eu sei que não vou dormir esta noite, — eu digo com
confiança.
— Concordo. Podemos muito bem pegar a estrada, se for esse o caso.
E eu concordei. Melhor tentar agir contra o mal que sabemos ser real
do que ser confrontado novamente por um mal em nossos sonhos.
Juntamos os poucos suprimentos que temos e os jogamos na parte de
trás do carro.
Quando pego minha mochila, algo cai dela, atingindo o chão com um
estrondo. Eu olho para ver o que é, mas paro no meio do caminho
quando vejo uma lâmina luminescente familiar deitada no chão, sem
bainha.
Lexia também vê. Nós olhamos maravilhadas. Seu brilho assustador
parece nos insultar.
Será que esse foi o culpado?

Um grupo de cabanas aparece quando o amanhecer começa a romper


nos arredores da Matilha da Liberdade. Nosso carro ficou sem gasolina
há quase uma hora, e temos andado correndo desde então. Felizmente,
não precisamos ir muito longe.
Quando Lexia e eu nos aproximamos da entrada, somos recebidos por
dezenas de crianças nuas ansiosas para ver os estranhos. Seus pais não
ficam muito atrás.
Não demorou muito para que um rosto familiar nos recebesse.
— Eu podia sentir seu cheiro vindo de quilômetros de distância, —
Grayson diz com um sorriso, o pênis balançando ao vento.
Não que eu não aprecie a anatomia masculina, mas eu vi o pau
daquele homem mais vezes do que gostaria. — É bom ver você
novamente.
Agradeço educadamente a ele enquanto Lexia faz o possível para
ignorar seu companheiro... e seu pênis. A última vez que se viram, seu
lobo selvagem tentou matá-la e ela quase o matou em resposta.
— Venha, — ele diz, gesticulando em direção ao centro da cidade. —
Temos muito que discutir.
O irmão de Grayson, Evan, e sua companheira, Leia, juntam-se a nós
na casa de Grayson para jantar. Eles usam roupas para nos acalmar —
graças à Deusa!
Explicamos tudo o que aconteceu desde a última vez que nos vimos,
especificamente em relação à aquisição de Kace, o esfaqueamento de
Kaden, as minas e a lâmina.
Deixamos de lado a parte dos nossos sonhos.
Eles não são algo de que estamos especialmente orgulhosas no
momento.
— Bern, vamos ver então, — Grayson insiste.
Tiro a lâmina da mochila e coloco sobre a mesa. Grayson o
desembainha e o inspeciona de perto. Seus olhos se arregalam e seu
humor jovial diminui.
— Então, estamos de acordo? — Ele diz a Evan e Leia, que parecem
profundamente perturbados. Eles acenam com a cabeça sim. Grayson
olha para nós. — Você realmente não tem ideia do que é isso?
Eu encolho os ombros, esperando por sua resposta, mas ninguém diz
nada.
— O que? O que é? — Eu deixo escapar impacientemente.
Ele respira fundo antes de responder.
— Prata Lunar, — ele diz gravemente.
Lexia começa a rir. — Prata Lunar?! — Ela gargalha. — Você está
brincando certo?
Mas Grayson não pisca.
— É um mito! — Lexia diz com certeza.
Estou começando a me sentir excluída, como se eu fosse a única que
não está na piada.
— Alguém poderia me explicar do que você está falando, — eu digo,
mais dura do que pretendo.
Grayson entrega a lâmina para Leia, a observadora da matilha.
— Prata Lunar é um metal muito raro que caiu do céu há muito
tempo, — explica Leia. — Alguns dizem que veio de uma estrela cadente,
e outros dizem que veio da própria lua. Apesar de tudo, descobriu-se que
tinha um poder incrível. Acima de tudo, o poder de neutralizar a
habilidade de um lobisomem de mudar.
— Kaden! — Eu deixo escapar.
— Exatamente, — Leia responde.
— E ele é um Alpha, — Evan interrompe, — o mais forte de sua
matilha. Imagine o que isso poderia fazer aos outros.
— Logo depois que o metal caiu na terra, — Grayson continua, — o
povo antigo descobriu o que ele poderia fazer e começou a manejá-lo
para seus próprios fins destrutivos. Ninguém sabe ao certo como isso
aconteceu, mas acredita-se que tenha sido a faísca que iniciou a Grande
Guerra.
— Eu ainda digo que é besteira, — Lexia responde. — Se essa coisa é
tão forte quanto você diz, como é que Kace é capaz de manejá-la? Por que
não está afetando ele?
Ela tem razão.
— Pode haver um milhão de razões diferentes, — eu empurro de volta,
— mas você viu o que isso pode fazer, Lexia — como enfraquece e drena
a energia de um lobo, o que fez conosco na floresta... — O
comportamento obstinado de Lexia rapidamente se transforma em culpa
e vergonha. Os outros estão confusos.
— O que aconteceu na floresta? — Grayson pergunta.
— Deixa pra lá, — Lexia diz ao sair para outra sala.
— Mara, — diz Evan, — você disse que os encontrou forjando essas
armas nas minas?
— Devia haver centenas delas, — eu respondo. — Parecia que eles
estavam planejando algo — algo grande.
Eu não tive que elaborar mais nada. Eles sabiam o que significavam as
implicações. Se Kace e seus capangas colocassem as mãos em um número
suficiente deles, eles poderiam ser imparáveis.
— Então, o que fazemos? — Dirijo minha pergunta ao grupo, mas é
recebido com silêncio.
KACE

Eu termino de afiar minha lâmina e passo o dedo em sua lâmina.


Corta a pele, fazendo com que o sangue goteje no chão do meu quarto.
Estou muito perto de terminar o que comecei, mas a vitória ainda
parece tão distante. Capturar Kaden foi muito mais fácil do que eu
esperava, mas ainda me sinto vazio por dentro.
Eu olho para trás para o meu dedo cortado e vejo que já está curado,
mas quando toco meu peito nu, as feridas ainda estão doloridas. Não faz
sentido.
Eu sou tão forte quanto penso que sou?
Eu corto minha lâmina em uma tapeçaria próxima, cortando-a ao
meio, e então rapidamente coloco todos os pensamentos de dúvida sobre
mim mesma para descansar.
Enquanto eu embainho minha lâmina, minha mente recebe uma
mensagem de meu mestre misterioso.
Mestre: Alpha Kace.

Kace: Sim, meu senhor. Eu te escuto.

Mestre: Nossos inimigos estão se reunindo enquanto falamos.

Kace: Inimigos? Quais inimigos? Kaden é meu prisioneiro. Quem mais poderia...

Mestre: Não me questione! O que eu digo para você é verdade. Eu mesmo vi.

Kace: Minhas desculpas. O que você quer que eu faça?

Mestre: Prepare seus homens para a batalha. A hora de agir é agora!


Capítulo 21
ESCOLHA DE MARA MARA
Eles querem ir atrás das minas.
Mas Kaden está sendo mantido como refém.
— Se não formos atrás de Kaden agora, eles vão matá-lo! — Eu grito.
Todo mundo está exausto. Debatemos a maior parte da manhã e
início da tarde e ainda não estamos perto de decidir o nosso melhor
curso de ação.
Estou defendendo o resgate de Kaden. Grayson e Lexia querem
destruir as minas enquanto Evan e Leia ainda não decidiram.
— Mara, — Grayson diz com um suspiro, — você sabe que não
gostaríamos de nada mais do que a libertação de Kaden. Mas sua devoção
inabalável está cegando você para o quadro mais amplo.
— Se Kace colocar as mãos nessas armas, — Lexia pula, — ele tem o
potencial de acabar com qualquer bando que estiver em seu caminho.
Mesmo o pior do pior da Cidade da Vingança não poderia pará-lo.
— Então você simplesmente vai abandonar Kaden? Jogá-lo de lado
como apenas mais uma vítima da guerra? Depois de tudo que ele fez por
cada um de vocês!
Meu sangue está fervendo.
— Não quero ser dura, — continua Lexia, — mas a vida de um alpha
não vale o risco de dezenas de milhares de outros serem vítimas da
lâmina de Kace.
Estou lívida. Eu não posso acreditar no que estou ouvindo. Eles estão
realmente dispostos a deixar Kaden morrer?
Um inferno estrondoso está crescendo dentro de mim. Estou
perdendo o controle.
— Recupere o juízo, Mara — insiste Grayson. — Você sabe que
estamos certos.
— Você é um hipócrita! — Eu atiro de volta. — É óbvio que você só
concorda com Lexia porque está tentando reconquistá-la! — Eu deixo
escapar.
Não acredito que disse isso.
Todo mundo está surpreso. Sei que não foi certo da minha parte dizer,
mas não me importo. E do meu companheiro que eles estão falando.
— Isso estava fora de linha, — Lexia responde.
— Fácil para você dizer, — eu gritei de volta. — Você estava de olho no
Castelo da Vingança desde o momento em que te conheci! Quanto antes
Kaden sair do caminho, mais fácil será para você derrubar o bando!
Eu não posso acreditar no que está saindo da minha boca. Quem é
essa pessoa?
Lexia respira fundo.
Ela está tentando manter a calma... o que é um comportamento
incomum para ela.
— Eu vou deixar isso passar. Você sabe muito bem que isso não é
verdade, — ela responde friamente.
Eu olho para Evan e Leia. — Em algum momento, você planeja entrar
na conversa?
Eles se olham com hesitação.
— Falo por nós dois, — começou Evan, — quando digo que temos
empatia por você e pela situação de Kaden de todo o coração... mas
concordamos com os outros. Devemos fazer o que é melhor para todos
os bandos. A destruição das minas deve vir primeiro.
Eu me sinto traída... Ninguém virá ao meu lado?
Eu me ajoelho na frente de Leia e pego suas mãos.
— É isso que você vê em nosso futuro? — Eu digo a ela. — Dê-me uma
leitura do olhar. Olhe nos meus olhos e me diga o que você vê. Se formos
atrás das minas, você pode garantir a segurança de Kaden?
— Você não acha que eu tentei? — Ela responde.
— Então tente novamente! — Eu exijo.
Ela suspira e relutantemente olha nos meus olhos. Nosso olhar está
travado por vários momentos antes de ela balançar a cabeça e se virar.
— Seu futuro não está claro. É como se uma força invisível estivesse
me cegando do que está por vir. ti — Quão conveniente! — Eu zombo.
Estou ficando sem argumentos.
— E se fosse ela, Evan? — Digo, apontando para Leia. — Ou, Grayson,
e se fosse Lexia no lugar de Kaden? Algum de vocês estaria disposto a
deixá-los para trás? Me diga que é exatamente o que você faria!
Eles ficam em silêncio enquanto deixam o cenário se desenrolar em
suas cabeças.
Evan abaixa a cabeça enquanto Leia se estica para confortá-lo.
Grayson hesita enquanto olha para Lexia com amor. Há um breve
momento de sinceridade entre eles antes que ele feche os olhos e diga: —
A segurança de muitos excede em muito a de qualquer indivíduo. Isso é o
que significa estar em uma matilha.
Eu luto contra as lágrimas.
Não importa o que eu diga, não há como convencer ninguém.
Eu não aguento mais!
— Certo. Vá atrás de suas minas preciosas! Se ninguém aqui ficar do
meu lado, vou sozinha! Eu exclamo, saindo pela porta da frente.
KADEN

Minhas surras continuam diariamente... ou talvez a cada hora. Não


tenho ideia de quanto tempo estou aqui embaixo. Quando você não
consegue ver a luz do dia, o tempo se toma irrelevante.
Estou coberto de lacerações e hematomas, mas meu corpo está
dormente. Eu não sinto mais dor.
Quando meu lobo é forte, meu corpo pode se recuperar em pouco
tempo, mas algo aconteceu comigo que não posso explicar. E como se
aquela parte de mim, antes selvagem e livre, agora estivesse trancada em
algum lugar bem no fundo — presa.
Não está nem uivando para sair. Simplesmente... se foi.
Mas ainda estou vivo, o que significa que Mara também. Se ele não
tivesse, ele teria me tirado da minha miséria muito antes de agora.
Kace paira sobre mim agora, me provocando com sua lâmina.
Isso nem é um interrogatório. Ele está fazendo isso para seu próprio
prazer.
Ele está lá, sorrindo para mim.
Quando eu olho para ele, é o mesmo rosto que eu sempre conheci,
mas o homem que ele costumava ser está longe de ser encontrado. Ele
não é aquele irmão mais novo autoconfiante e carismático que eu
conheci. Como Coen, há um monstro escondido dentro dele.
O que aconteceu com você?
— Você parece uma merda. Você sabe disso? Pior do que esta cara. —
Kace aponta para si mesmo. — O que diz muito.
Eu o olho diretamente nos olhos, mas não estou mais com raiva de
suas ações. Eu tenho pena dele.
— O que você está olhando? Você tem algo a dizer?
Mas tudo que faço é olhar... esperando para ver o brilho do garoto que
conheci.
Por um momento, ele não vacila com o meu olhar, mas então ele fica
desconfortável e se vira.
Pronto!
Naquele momento de hesitação, eu o vi! Uma parte do seu velho eu
ainda reside dentro!
Apesar das minhas circunstâncias, eu sorrio.
— Porra, você está tão tonto? Essa última surra não foi suficiente? —
ele diz enquanto embainha sua lâmina e alcança um chicote próximo.
— Ainda há algo bom em você. Eu posso ver, — eu consigo falar com
os lábios inchados.
Isso o faz parar em seu caminho. Ele parece petrificado quando se vira
para mim. Ele sabe a verdade, mas não quer acreditar.
— Você ainda tem uma escolha.
— É tarde demais. Minha escolha foi feita por mim, — ele diz,
levantando a mão.
Ouço o estalo do chicote me cortando, mas não sinto dor.
MARA

Me sento atrás de várias caixas no beco atrás da casa de Grayson. A


noite caiu. Estou escondida aqui há quase uma hora, constrangida pela
maneira como me comportei.
Eu não preciso de nenhum de vocês! Vou invadir o castelo sozinha!
Raaaaar!
Devo ter soado como um idiota de merda. Uma criança.
Minha raiva está se transformando em tristeza — meu corpo, mole.
Eu finjo conhecer os caminhos do mundo, mas estou apenas
tropeçando ignorantemente como todo mundo.
Não posso acreditar em todas as coisas dolorosas que disse. Além de
Kaden e meus pais, essas pessoas são a coisa mais próxima que tenho de
uma família.
Eu sou tão orgulhosa de estar disposto a deixar essas pessoas irem?
Não. Eu não vou perdê-los também. A dor seria demais.
Um conjunto de passos correndo para fora da porta dos fundos da
casa de Grayson chama minha atenção.
— Por favor, não vá, — Grayson diz, perseguindo Lexia. — Eu quero
falar com...
— Não, — Lexia interrompe. — Eu sei o que você vai dizer. Não há
mais nada para discutir. — Ela continua se afastando dele, mas Grayson é
implacável.
— Nós compartilhamos um momento juntos lá atrás. Você não pode
negar que sentiu algo também.
Lexia se vira abruptamente.
— Não ouse ditar minhas emoções para mim! — Ela grita de volta. —
Você não tem ideia do que estou sentindo! Eu sabia que era um erro vir
aqui.
Ela anda novamente, mas Grayson circula na frente dela, fazendo ela
parar.
— Espere, — ele diz.
— Saia do meu caminho.
— Apenas me ouça.
— Eu não me importo com o que você tem que—
— Nunca houve ninguém mais neste mundo para mim além de você,
— ele declara.
Isso chama a atenção de Lexia.
— Eu me importei com você por tanto tempo que preciso segurar
cada fibra do meu ser para não tomá-la em meus braços e nunca mais
soltá-la.
Ele começa a engasgar.
Eu vejo a tensão no corpo de Lexia desaparecer quando ela começa a
relaxar.
— Você diz que toda a afeição que tinha por mim acabou, — ele
continua, — mas por que eu ainda me sentiria assim se não houvesse
algo aqui? A Deusa não faria isso. Não se ela não tivesse um propósito.
— Objetivo... — ela murmura.
Ele se inclina para perto, e estou esperando que ela se afaste.
Mas ela não sabe.
— Você é minha companheira, — ele diz com ternura, — sempre foi e
sempre será. Para mim, não há outra.
Meus olhos se arregalam quando suas mãos começam a se tocar.
Não me atrevo a respirar.
— Mesmo que o que você diga seja verdade, — Lexia se esforça para
dizer, — tanta coisa aconteceu entre nós... eu fiz tantas coisas terríveis
para os outros, para você... coisas que nunca podem ser perdoadas. Sinto
muito, mas não há como voltar.
Ela tira a mão da dele e se afasta. Grayson a observa até que ela não
esteja mais à vista.
Estou atordoada, incapaz de me mover.
Isso realmente acabou de acontecer?
Grayson se vira e olha diretamente para mim.
Merda!
Mas antes que eu possa dizer uma palavra, ele volta para dentro,
fechando a porta atrás de si.
Meu coração dispara por ele. Mas por mais que eu queira vê-los
juntos, não posso deixar de sentir que Lexia está certa. Ela fica longe
porque não tem escolha. Estar separada não é um sacrifício que ela
queira fazer — mas um que ela tem que fazer.
E então me ocorre.
Eu sei o que tenho que fazer
Às vezes, devemos sacrificar nossa própria felicidade para um bem maior
Capítulo 22
O DESPERTAR
MARA

Eu não consigo dormir.


Não importa o quanto eu tente.
Sentimentos primitivos gritam para que eu corra para ele.
Devo resistir.
Não tenho um ramo de oliveira para dar, mas na manhã seguinte, no
refeitório da Matilha da Liberdade, digo à minha oposição que eles estão
certos e peço desculpas por meu comportamento irracional.
Tenho vergonha de colocar meus próprios desejos e vontades pessoais
não apenas acima de minha matilha, mas acima de todas as matilhas.
O resgate de Kaden terá que esperar.
As minas devem vir primeiro.
— Tem certeza de que é isso que você quer? — Grayson pergunta.
— É o que deve ser feito, — respondo, embora meu corpo diga o
contrário.
É como se uma batalha estivesse acontecendo entre a lógica e o
desejo.
O desejo de voltar ao meu companheiro é uma sedução sem fim, mas
eu permaneço forte e mantenho essa tentação sob controle.
Eu acompanho Evan e Leia, que flanqueiam Grayson na cabeceira de
uma longa mesa. Lexia está misturada com outros membros da matilha
mais abaixo, claramente perturbada pela confissão de Grayson na noite
anterior.
O que ela está sentindo? -Eu me pergunto.
Tento tomar o café da manhã, mas não consigo aguentar. Há muito
em que pensar.
— Então, o que você tem em mente? — Eu me forço a perguntar.
— Embora a Matilha da Liberdade seja forte, não seria sensato
enfrentar Kace e seus homens sozinhos, — Grayson responde.
Ele empurra o prato vazio para longe. — Pelo que sabemos, ele já pode
estar à nossa espera. Depois que você saiu ontem à noite, tivemos uma
longa discussão e decidimos que seria melhor buscar ajuda com os outros
bandos. Se eles se juntarem a nós, os números por si só nos darão
vantagem.
— Nós descartamos a Matilha do Amor, — Evan entra na conversa. —
Embora eles tenham vindo ao chamado de Kaden no passado, eles não
são exatamente o tipo de lutador.
A menos que foder nossos inimigos até a morte seja uma estratégia viável.
Eu inadvertidamente ri com o pensamento disso, causando reações
curiosas dos outros. Mas então me lembro do Doador de Sementes da
Matilha da Igualdade, que foi explorado praticamente até a morte, e
minhas risadas param.
— Desculpe, continue, — eu digo.
— Achamos que as Matilhas do Poder e Pureza virão em nosso auxílio,
— continuou Evan, — mas não há tempo para convocar uma reunião,
então devemos ir nós mesmos até eles.
— Evan e Leia vão entregar a lâmina de prata lunar para a Matilha do
Poder, — Grayson diz, — que deve ser tudo o que eles precisam para
convencer. Você, eu e Lexia iremos atrás da Matilha da Pureza.
— Eu? — Eu digo, surpresa.
— Eles são sua velha matilha. Não consigo pensar em ninguém mais
adequado para o trabalho.
Oh, não.
Não, não, não, não não.
Esta não é uma boa ideia.
— A última vez que estive lá, Kaden e eu fomos expulsos da cidade por
uma multidão enfurecida, — eu respondo. — Não sou exatamente a
embaixadora ideal.
— Não se preocupe, — Grayson diz de forma asseguradora, — Alpha
Rylan e eu nos conhecemos há muito tempo. Embora possamos ter
diferenças de opinião sobre as escolhas de estilo de vida, — ele diz,
apontando para membros nus de sua matilha, — ele não vai me rejeitar
Eu olho para Lexia.
— E você está bem com isso? — Eu digo a ela, sabendo muito bem que
ela deve estar apreensiva sobre viajar com Grayson.
— A estratégia é boa, — ela responde impassivelmente.
— Então o que você diria? — Grayson pergunta, esperando em
antecipação pela minha resposta.
O quê? Voltar para a Matilha da Pureza?
Absolutamente não!
Mas guardo esse pensamento para mim.
Sacrifícios, eu me lembro.
— Se essa é a melhor opção que temos... então vamos fazer isso.
— Excelente! — Grayson comemora, levantando-se. — Vamos partir
imediatamente.
E isso encerra tudo.
Estou me comprometendo com outra longa jornada. Não gosto da
ideia de ficar longe de Kaden ainda mais agora, mas se isso finalmente o
libertar, farei o que tiver que ser feito.

Há mais de um dia viajamos a pé, parando apenas uma vez para


acampar à noite. Grayson diz que não temos muito mais caminho a
frente, mas vou acreditar quando vir.
Meus pés estão doendo. Eu deveria ter usado sapatos melhores.
Fazemos o possível para ficar em trilhas escondidas na floresta. Eu
gostaria de poder apreciar mais a paisagem, mas a gravidade do que está
em jogo pesa demais em minha mente.
Evan e Leia já deveriam ter alcançado Alpha Landon e Luna Althea da
Matilha do Poder.
Felizmente, eles terão.
Se eles recusarem nosso pedido de ajuda, será um grande revés, mas
não totalmente impossível de superar.
Lexia caminha à nossa frente durante a maior parte da viagem para —
explorar à frente. — Acho que ela usa isso como uma desculpa para
manter distância de Grayson.
Não a culpo, embora não consiga deixar de pensar no breve momento
de intimidade que os vi compartilhar.
Lexia não vai admitir, mas sei que ela está em conflito.
Eu pego Grayson olhando para ela enquanto avançamos. Ele não disse
uma palavra o tempo todo sobre eu vê-los juntos, o que é um alívio.
Ele quer desesperadamente ir até ela. Eu posso ver em seus olhos.
Eu não deveria dizer nada, mas...
— Vá até ela, — declaro.
Ele se vira para mim, chocado.
— Isso não é seu ele diz em um tom abafado.
— Apenas vá! — Eu insisto.
Ele pensa por um momento e depois se apressa. Lexia fica surpresa ao
ver Grayson quando ele chega, mas não o rejeita. Eles caminham juntos
por algum tempo.
Gostaria de ouvir o que estão dizendo, mas mantenho distância.
Tenho grandes esperanças.
Parece estar indo bem — até que vejo Grayson ficar frustrado,
marchando com raiva à frente. Lexia para de andar e o deixa continuar.
Quando me aproximo, Lexia se vira para mim.
— Fique fora disso, — ela diz com veemência, antes de olhar para a
frente.
Merda.
Só estou piorando as coisas.
E é quando eu ouço... um grito de gelar o sangue berrando à frente.
Lexia se volta para mim. Ela também ouviu.
— Grayson! — Eu a ouço sussurrar baixinho antes de correr em
direção ao som. Eu sigo o exemplo.
Saímos da orla da floresta e entramos em um campo aberto. À
distância, posso ver as paredes familiares da Matilha da Pureza elevando-
se sobre a paisagem.
Nós conseguimos!
Mas quando olho para a frente, vejo Grayson deitado no chão em
agonia.
Uma lança está enfiada em seu peito e nas costas. O sangue flui sem
parar. Ele tenta falar, mas apenas gorgoleja bolhas de um líquido
vermelho.
Ele estende a mão para Lexia, que o olha com horror.
— Não! — Ela grita, correndo para ele.
Ela se ajoelha na poça de sangue que o rodeia e cuidadosamente o
embala em seus braços.
Seu rosto está ficando pálido.
Eu vou até eles e tento achar um jeito de estancar o sangramento, mas
não adianta. Não podemos tirar a lança sem causar mais danos.
Eu me sinto tão inútil. Tudo o que podemos fazer é vê-lo sangrar
lentamente.
Ele ofega por ar como se estivesse se afogando.
Lexia carinhosamente passa as mãos pelo cabelo dele, tentando
confortá-lo, dizendo que vai ficar tudo bem, mas então seus olhos rolam
para trás e sua respiração para. Seu corpo se toma um cadáver sem vida.
Nenhuma de nós diz uma palavra. Simplesmente olhamos.
QUE PORRA FOI ISSO?! Isso realmente aconteceu?
Ele estava vivo há cinco segundos e então... se foi.
Quem poderia ter feito isso?
Por que?
— Mara! — Eu ouço uma voz me chamando de trás.
Quando me viro para olhar, vejo várias dezenas de mulheres armadas
emergindo da floresta.
Liderando elas está... Alpha Nessa.
A Matilha da Igualdade!
— Estou surpresa em vê-la novamente tão cedo, — ela diz friamente.
Ê
— QUE DIABOS VOCÊ APENAS FEZ?! — Eu grito quando ela se
aproxima, mas Nessa permanece imperturbável. O resto de sua matilha
nos rodeia.
— Fazendo o que sempre fazemos, — diz ela, se elevando sobre o
corpo de Grayson.
— Você tem alguma ideia de quem você acabou de assassinar? Era o
Alpha Grayson da Matilha da Liberdade!
Mas ela não se comove.
— Boa. Um alpha a menos, melhor, — ela brinca.
— Você estava nos seguindo? O que você está fazendo aqui?! — Eu
choro.
— Você se dá muito crédito. Quando os homens de Kace atacaram,
eles nos espalharam pela floresta e queimaram nossa aldeia até o chão.
Não temos uma casa para onde voltar. Estamos vagando desde então,
graças a você.
— Eu?
— Você se infiltrou em nossa matilha apenas para levar aqueles cães
raivosos até nossa porta! Você estava nisso o tempo todo! — ela diz
enquanto começa a me rodear.
— Eu não tive nada a ver com isso!
— MENTIRA! — Nessa late na minha cara. — Eu sabia que não
deveria ter confiado em você. Me dê uma boa razão para eu não matar
vocês duas aqui mesmo!
Eu olho para trás para Lexia, mas seu foco está exclusivamente em
Grayson.
Ela está coberta com o sangue dele.
— Porque você claramente não tem a menor ideia do que vingança -
significa. Eu sou a legítima Luna da Matilha da Vingança, e ali está a líder
da Cidade da Vingança! Se alguma coisa acontecer a qualquer uma de
nós, nosso pessoal irá rastreá-la e matá-la!
— Então é verdade! Você está aliada a Alpha Kace! — Ela diz, pegando
sua espada e apontando para minha garganta.
Mas antes que eu possa responder, o cheiro familiar de membro da
Matilha da Pureza enche meus pulmões.
Amber!
Ela corre para mim.
— Pare! — Amber chora. — Mara não teve nada a ver com isso! Ela
veio até nós procurando por mim! Isso é tudo!
— O que você sabe? Você veio do mesmo culto que ela! — Nessa diz,
apontando para mim. — Pelo que eu sei, você estava tão envolvido
quanto ela!
— Eu não... — Amber insiste.
— Cale a boca, vagabunda! Matilha da igualdade!
— Nessa diz, apontando para nós com sua lança.
— Faça o que vocês fazem melhor!
Eu pisco, assistindo tudo em câmera lenta. É isso... é assim que tudo
termina.
Mas antes que a matilha tenha chance de reagir, o som de músculos se
partindo e ossos quebrando chama a atenção de todos.
Quando me viro, vejo a massa volumosa de um lobisomem untado
com sangue em pé na minha frente. Os olhos do monstro estão
selvagens. Seus músculos flexionam e a espuma pinga de sua boca como
uma criatura raivosa — cheia de uma fúria como nenhuma outra.
Ele solta um rugido ensurdecedor, fazendo com que a matilha recue.
Lexia!
Garras passam por mim enquanto Lexia rasga o ar, em direção a
Nessa.
Ninguém busca vingança como um amante perdido na dor.
Capítulo 23
O INFERNO NÃO TEM FÚRIA
LEXIA

Estou cheia de puro ódio.


Cada centímetro do meu corpo queima com fúria absoluta.
Ela matou meu companheiro.
E agora vou matá-la também.
Seu sangue penetra em minha pele e agora faz parte de mim. Posso
sentir sua essência correndo calorosamente em minhas veias — a única
parte de você que conseguiu sobreviver.
Isso me envolve... me consome.
Você pode me sentir também?
Posso justificar minhas ações de todas as maneiras imagináveis, mas
ainda assim não desculpa o inferno que fiz você passar. O desejo... a dor
no coração... a fome pelo meu amor...
Você estava certo o tempo todo.
Nós nascemos para ficar juntos. Agora, no final, pela primeira vez,
meu corpo finalmente parece inteiro, mas meu espírito está vazio.
Foi esta tragédia horrível do jeito que deveríamos ser?
Era este o nosso destino?
Oh, Grayson...
Sinto muito... por tudo.
Mas sou eu quem tem as chaves da Cidade da Vingança... e a vingança eu
tomarei!
Não sinto a enxurrada de flechas e lanças que perfuram minha pele.
Elas não fazem nada para me atrasar. Eu dou as boas-vindas aos seus
idiotas. Eles me enfurecem ainda mais.
Eu rasgo vários membros da matilha que ficam no meu caminho,
cortando-os em dois com um único golpe de minhas patas. Eu envolvo
minhas mandíbulas em tomo da garganta de alguém e arranco sua
traqueia.
Sou uma força imparável.
Eu a vejo parada na minha frente, sua líder — a assassina.
Ela está totalmente mudada para a forma de lobisomem no momento
em que a alcanço, mas não estou desanimada. Eu estou nela em um
instante.
Nós lutamos.
E garra.
E morder.
E rugir.
Sangue e pele voam — pura selvageria.
Eu a bato contra uma árvore e ouço suas costelas quebrarem. Ela solta
um uivo, mas não a desacelera.
Ela agarra meu pescoço, mas eu agarro seu focinho e mandíbula,
mantendo-a afastada. Afastando sua cabeça, meu adversário agarra um
tronco próximo, e seus braços se agitam quando ela o lança em minha
direção, mas eu facilmente o desvio.
Eu perfuro minhas garras profundamente em seu abdômen,
arrancando a carne, derramando mais sangue.
Ela está começando a enfraquecer.
Eu vejo medo em seus olhos de lobo. Ela corre.
Meu inimigo é mais rápido do que eu imagino, mas sou capaz de
acompanhar. Vamos cada vez mais fundo na floresta, onde as árvores
ficam sem vida e o solo se transforma em lama. Meu peso afunda na
terra, mas eu continuo.
Desesperada para fugir, o lobo em pânico sobe em uma árvore, mas eu
a agarro pela perna e a jogo no chão.
Ela está momentaneamente atordoada, que é todo o tempo de que
preciso.
Eu pulo sobre ela e começo a chorar... batendo nela uma e outra vez
até que ela quase não esteja consciente. Só quando ela está à beira da
morte, paro de atacar.
Eu a agarro pelo tornozelo e começo a arrastá-la para fora da floresta.
As pedras e a vegetação rasteira rasgam sua pele, causando lacerações por
todo o corpo.
Logo emergimos da linha das árvores onde sua matilha espera, mas
elas se seguram e me deixam passar. Ninguém se atreve a ficar no meu
caminho.
Boa.
Eu a deixo ao lado de Grayson.
Ela desesperadamente tenta se levantar, mas seu corpo a trai. Ela
desabou no chão. Ela mal consegue manter as pálpebras abertas.
Eu vou para Grayson e arranco a lança de seu peito. Eu o seguro bem
alto antes de empalá-lo bem no coração do meu inimigo.
Esta — alpha — solta um uivo de agonia e desespero que pode ser
ouvido a quilômetros de distância. Uma fonte de sangue jorra para o céu.
Seu corpo desmorona.
Ela está morta. Eu soltei minha respiração.
Sua matilha começa a se reunir, chocada com o que acabaram de
testemunhar.
Implacável, mesmo pela morte, coloco seu pescoço em um
estrangulamento e puxo com todas as minhas forças. Eu ouço o som de
seu pescoço estalando, e então sua cabeça se desprende de seu corpo. Eu
jogo em sua matilha, espalhando-os. Um rio de sangue jorra de onde
antes residiu seu crânio.
Solto um rugido demoníaco enquanto saboreio minha vitória.
Mas quando olho para baixo, vejo que nada mudou. Grayson ainda
está morto e não há nada que eu possa fazer para trazê-lo de volta. A
emoção que senti com a destruição do meu inimigo desaparece.
Meus ossos quebram mais uma vez quando eu mudo de volta.
Quando estou totalmente recuperada, vou para o meu amor e o tomo em
meus braços novamente.
— Lexia... — Mara profere fracamente, mas rejeito seus avanços. Eu
sento lá, nua, e seguro meu companheiro com força. Eu o balanço para
frente e para trás, me recusando a soltar.
O bando se aproxima. Sou vulnerável nesta forma, mas não me
importo. Deixe-os vir. Deixe que eles acabem com minha vida. Isso pelo
menos acabaria com meu sofrimento.
Mas, para minha surpresa, elas baixam a cabeça.
Eu não entendo. Por que elas não estão atacando? Elas estão zombando
de mim?
Eu olho para Mara. Ela está tão confusa quanto eu — até que a garota
desaparecida da Matilha da Pureza se aproxima, que reconheço pela
descrição de Mara. Ela me olha quase com reverência e pronuncia uma
única palavra...
— Alpha.
MARA

Meu coração se parte por Lexia.


Não consigo imaginar a perda que ela está passando. Ela não disse
uma palavra desde a morte de Grayson.
Tento estender a mão, mas a Matilha da Igualdade a leva embora
antes que eu possa.
Elas nos levam para a floresta, onde montaram um acampamento
temporário. Com Lexia como sua nova líder, elas fazem tudo o que
podem para confortá-la e honrá-la. Sua mente parece perdida, como se
ela estivesse realizando os movimentos, mas não estivesse realmente lá.
Elas trazem comida para ela, mas ela não come.
Elas trazem vinho, mas ela não bebe.
Leva algum tempo para ela acordar, antes de finalmente ceder ao
banho.
A maneira como elas esfregam sua carne nua pareceria quase
cerimonial, se não fosse pelo líquido vermelho escorrendo por seu corpo.
Quando o sangue acaba, elas esfregam seu corpo com óleos
perfumados e a vestem com as melhores peles e armaduras que têm a
oferecer. Ela é o Alpha delas. Se ela quer o título ou não, não é mais sua
decisão.
O corpo de Grayson é preparado de maneira semelhante. Ele parece
estar em paz.
Ao cair da noite, elas cavam um terreno para ele em uma clareira de
uma árvore, para que os raios da lua possam brilhar sobre ele. Quando o
abaixam na terra, enfeitam seu corpo com flores e ervas.
Uma alta sacerdotisa canta um elogio em uma língua que não consigo
entender, mas sei que é para acompanhá-lo em seu caminho para a vida
após a morte.
Lexia observa incrédula enquanto cada um dos membros da matilha
se revezam colocando terra sobre ele até que a terra o envolva em seus
braços.
Só mais tarde naquela noite, tarde da noite, é que sou capaz de
alcançá-la.
Eu a encontro vagando pela borda do acampamento sem supervisão,
mas não é a mulher que eu esperava encontrar. Há algo diferente nela.
Ela parece orgulhosa, até estoica, como se não estivesse mais de luto.
— Lexia, — eu chamo ela, mas estou sem palavras.
O que você diria para alguém que acabou de perder a melhor parte de
si mesmo, mesmo que apenas percebesse que a melhor parte estava lá?
Mas ela não precisa do meu conforto. Ela já estava em paz.
Nós vagamos silenciosamente pela floresta pelo que parecem horas.
— Grayson é uma parte de mim agora, de uma maneira que eu nunca
imaginei, — ela diz, quebrando o silêncio. — E um sentimento que não
posso explicar, mas me consola.
Ela se vira para mim e olha fundo nos meus olhos.
— Se você quiser sair daqui e libertar Kaden, não vou impedi-la, — ela
diz. — Eu não tenho o direito de ficar entre você e seu companheiro. Faça
o que tem que fazer.
Suas palavras me atingiram como uma tonelada de tijolos.
Eu estaria mentindo para mim mesma se não quisesse correr para ele
neste exato momento, para atacar os portões e libertá-lo de sua prisão.
Eu estava certa o tempo todo? Eu deveria ter lutado mais por sua
libertação?
A tentação estava lá.
Tudo que eu tinha que fazer era estender a mão e pegá-lo.
Mas se eu fizesse, tudo desmoronaria. A morte de Grayson, como
tantas outras que viriam, seria em vão.
— Quando amanhecer, nós vamos para a Matilha da Pureza, — eu
digo definitivamente. — Cumprimos o plano. — Isso faz Lexia parar. Não
são as palavras que ela esperava. — Depois de tudo o que aconteceu, não
se sinta obrigada a...
— Bom dia, então, — ela reafirma.
Mesmo no escuro, posso ver seu sorriso. O jeito que ela olha para
mim... é como se ela estivesse orgulhosa.

Eu luto para dormir.


Tudo o que posso fazer é me mexer e virar.
Estou na minha barraca, mas deito em cima do meu saco de dormir.
Estar enrolado por dentro me faz sentir presa.
Lexia perdeu seu companheiro, e a ideia de perder o meu assombra
todos os meus momentos de vigília. O que aconteceria se eu perdesse o
meu? Não sou tão forte quanto Lexia. Não sei se conseguiria viver
sabendo que ele se foi.
Eu enterro meu rosto no meu travesseiro enquanto penso nele.
Seus olhos escuros. Seus braços fortes. Seu charme irritante.
Eu sei que Kaden ainda está vivo. Eu posso senti-lo. Mas a cada dia eu
sinto que essa conexão fica cada vez mais fraca. Kace o está mantendo
vivo apenas o suficiente para manter sua cabeça acima da água.
Eu quero estender a mão e tocá-lo — para curar suas feridas e aliviar
sua mente perturbada.
Kaden... Eu irei até você.
Eu sei que você não pode me ouvir, mas espere.
De repente, sou dominada por uma sensação de calor que invade
minha mente. E como nada que eu já senti antes. E então acontece...
Kaden: Sim, Mara.

Kaden: Eu posso te ouvir.


Eu me sento e suspiro.
— Kaden!
Capítulo 24
ME VEJA, ME OUÇA, ME BEIJA, ME TOQUE
MARA

Eu posso ouvir sua voz dentro da minha cabeça.


Chamando por mim,
Como se ele estivesse ao meu lado.
Kaden... é realmente você?
Kaden: Sou eu, meu amor.

Mara: Onde você está?

Mara: Você está bem?

Kaden: Kace está me mantendo trancado em uma das celas do castelo.

Mara: Você está ferido?

Kaden: Não importa.

Kaden: Estou feliz por finalmente ouvir sua voz.

Isso tem que ser um truque. Alguma força negra está fazendo isso
comigo. Essa é a única explicação, não é? Mas parece tão real... como se
seus braços realmente estivessem se estendendo para mim.
Kaden: Garanto a você, isso é real.

Ele leu meus pensamentos de novo!


Kaden: Nós temos uma ligação mental.

Kaden: Isso nos permite ouvir os pensamentos uns dos outros.

Mara: Nunca fiz isso antes!

Mara: Não achei que fosse capaz!

Kaden: Você criou um portal entre nós.


Mara: Eu?

Kaden: Estou muito fraco para ter um vínculo com você.

Kaden: Foi a primeira vez que ouvi sua voz me chamando.

Kaden: Apenas os lobos mais poderosos podem fazer tal conexão.

Kaden: Especialmente de tão longe.

Mara: Mas eu não fiz nada!

Mara: Só estava pensando em você!

Kaden: Com concentração suficiente, é tudo o que preciso.

Kaden: Você não tem ideia de quão poderosa você realmente é.

Kaden: Nem eu.

Eu? Poderosa?
Kaden: Se meu lobo não estivesse completamente drenado, eu teria conectado com
você há muito tempo.

Kaden: Perdi todas as minhas forças...

Kaden: Foi você quem me procurou.

Mara: Kace envenenou você!

Mara: A lâmina dele é feita de prata da lua.

Kaden:... prata da lua...

Kaden: Então as lendas são verdadeiras.

Kaden: Por favor, me conte tudo.

E eu fiz. Nós conversamos assim por horas. Eu contei a ele tudo o que
aconteceu depois de sua captura...
Minha — dança — com Kace...
O resgate de Lexia...
As minas...
A revelação da prata da lua...
E, finalmente, a morte de Grayson.
Reviver o que passei é doloroso, mas, ao mesmo tempo, um alívio —
até estranho. E Kaden tem sido mais do que compreensivo,
especialmente com o que Kace me forçou a fazer.
A notícia da morte do Alpha atinge Kaden de maneira
particularmente forte. Posso sentir em seu pulso... está batendo forte.
Seu coração chora por ele.
Kaden não responde por um bom tempo.
Kaden: Me desculpe por não acreditar em você, meu amor.

Kaden: Eu deveria ter ouvido você sobre Kace.

Kaden: Eu deixei meu amor por ele me mascarar da verdade...

Kaden: Eu deveria ter confiado em você.

Mara: Você não tem nada pelo que se desculpar.

Mara: Estou grata por você estar vivo.

Kaden: Você não tem ideia do quanto eu quero você por perto.

Kaden: Para cheirar seu perfume...

Kaden: Para provar seus lábios...

Kaden: Eu preciso de você,

Mara: Então eu irei até você!

Mara: Amanhã a esta hora estaremos juntos novamente.

Kaden: Não!

Kaden: Meu resgate pode esperar.

Kaden: Destruir as minas deve vir primeiro.

Kaden: Confie em seus instintos.

Eu gostaria que ele não estivesse certo. Preciso de todas as minhas


forças para não abandonar o que me propus a fazer. Mas meu corpo está
lutando contra mim.
Sinto meu peito apertar.
Meu coração está acelerando.
Estou suando.
Minha respiração fica curta e frenética.
Eu me sinto tonta e caio no travesseiro.
Kaden: Domine seus pensamentos, meu amor.

Mara: Como posso fazer isso quando só penso em você?!

Kaden: Apenas relaxe...

Kaden: Respire fundo e solte... relaxe.

Eu faço o que ele diz.


Aos poucos, sinto minha pressão arterial baixar à medida que minha
visão fica mais clara.
Minha pele não parece mais úmida. Quanto mais respirações
profundas, mais calma me sinto.
Mas não sou eu quem está me fazendo sentir melhor. É como se
Kaden estivesse massageando minha mente com a dele.
Kaden: Pronto, viu?

Kaden: Você vai ficar bem.

Kaden: Sente-se melhor?

Eu aceno, esquecendo que ele não pode me ver — estúpida!


Mara: Sim, o melhor que posso.

Kaden: Feche os olhos.

Mara: Para quê?

Kaden: Apenas faça.

Kaden: Por favor.

Fecho os olhos, mas tudo o que vejo é ele.


Posso sentir as correntes enroladas em seus pulsos e o chão frio e
úmido que sustenta seus pés. Ele está tão fraco... E é então que me
ocorre.
Os receptores de dor em minha cabeça começam a queimar de desejo.
Uma liberação de produto químico flui por trás dos meus olhos e se
espalha pelo resto da minha mente.
Eu jogo minha cabeça para trás e passo minhas mãos pelo meu
cabelo... é emocionante!
Ele está fazendo isso?
Mara: Kaden...

Kaden: Não fale, apenas sinta.

Uma onda de calor derretido começa a fluir pela minha medula


espinhal enquanto minha mente é envolvida por seu toque. Ele se
ramifica ao longo de cada um dos nervos, da ponta dos meus dedos às
solas dos meus pés.
Isso é algum tipo de magia negra de Kace?
Não. Não pode ser. Não me sinto impotente ou fora de controle.
Estou cheia de amor e cuidado genuíno. Isso só pode ser do meu
companheiro.
Kaden: Agora imagine que estou aí com você.

Kaden: Eu beijo você ao longo do seu pescoço e bochechas enquanto corro minhas
unhas pelo seu cabelo.

Soltei um gemido suave. Eu posso sentir isso! Pequenos surtos


elétricos sobem e descem pelo meu couro cabeludo. Quase faz cócegas,
mas não o suficiente para querer que ele pare.
Kaden
Eu beijo na beirada da sua boca...
Kaden: Eu beijo na beirada da sua boca...

Kaden: Você tenta beijar de volta, mas eu não deixo você... ainda não.

Eu me pego tentando beijar de volta. Minhas mãos agarram a terra


abaixo de mim e começam a se torcer.
Kaden: Eu continuo fazendo isso enquanto minha mão desce pelo seu corpo...

Kaden: Raspando seu queixo...


Kaden: Sua clavícula...

Kaden: Abaixo do seu peito...

Kaden: Passo pelo seu abdômen até eu colocar minha mão em seu lugar especial.

Eu começo a gemer ainda mais alto.


Minha mão viaja pelo meu corpo enquanto alcanço entre minhas
pernas.
KADEN: Não! Mantenha as mãos para o lado. Apenas sinta.
E eu faço. É difícil resistir no início, mas posso sentir ele assumindo o
controle.
Kaden: Gentilmente, pressiono meus dedos sobre seu ponto sensível.

Kaden: Eu lentamente começo a fazer círculos.

Kaden: Aos poucos eu começo a acelerar.

Minhas costas arqueiam quando uma onda de energia quente começa


a crescer em meu núcleo. Eu aperto minhas coxas e as cruzo juntas para
evitar que essa sensação transborde. Meus sulcos estão começando a
fluir.
Kaden: Eu pressiono com mais força para baixo enquanto mordo e beijo suas orelhas.

Kaden: Você sente minha nuca enquanto beija meu pescoço... sentindo meu cheiro.

Kaden: Seus lábios procuram os meus, mas eu não deixo que você os pegue...

Kaden: Ainda não...

Kaden: Você não merece.

Kaden: Você me quer dentro de você, mas não é o que você vai conseguir...

Kaden: Não esta noite.

Eu me pego rindo enquanto gemo ainda mais alto. Meu corpo está
angustiado. Ele deseja desesperadamente liberação. Meus olhos rolam
para trás quando a pressão começa a aumentar... Eu quero explodir!
Mara: Kaden... por favor, me beije!

Kaden: E eu quero
Kaden: Eu bloqueio meus lábios nos seus, e não solto.

Está acontecendo!
Eu me jogo para trás enquanto o êxtase toma conta, consumindo meu
ser.
Eu quero gritar, mas eu forço meus lábios a se fecharem. Eles ainda
estão presos aos dele. Ter que segurar minha voz toma minha liberação
ainda mais intensa.
E então acontece de novo... e de novo...
Eu não aguento mais.
Eu imploro que ele pare.
E lentamente, a onda pulsante começa a diminuir.
Eu fico lá tremendo.
Kaden: Você está bem?

Mara: Mais do que bem...

Mara: Estou flutuando no ar...

Kaden: Bons sonhos, meu amor... estaremos juntos em breve.

E como se fosse um comando, meus olhos se fecham e eu entro no


mundo dos sonhos. Espero vê-lo lá também...

Na manhã seguinte, ainda estou me recuperando da noite anterior.


Quase esqueci minha missão e porque estou aqui em primeiro lugar.
Quero ficar onde estou e nunca sair, mas sei o que deve ser feito.
Para a matilha.
Por Kaden.
Lexia me cumprimenta quando eu saio da minha barraca. Ela parece
radiante. Há uma determinação sobre ela que eu nunca vi antes, e ela
exerce esse poder sem esforço sobre seu bando adotado.
Era este o seu destino?
Isso era meu?
Depois de uma refeição leve, desmontamos o acampamento e
começamos a última etapa de nossa jornada em direção a Matilha da
Pureza.
As paredes externas brilham quando o sol nasce. Apesar dos
sentimentos de animosidade em relação às pessoas encolhidas atrás das
paredes, não posso deixar de sentir uma sensação de paz ao vê-los
novamente.
Afinal, já foi minha casa.
Além dos últimos meses, é onde vivi toda a minha vida. Aprecio os
bons momentos, mas sei que nunca poderei voltar, nem quero voltar. Eu
guardo as boas lembranças... meus amigos, minha família Meus pais! O
que eles vão dizer? Posso enfrentá-los novamente?
Nossa caravana não demora muito para chegar aos portões, que estão
trancados. Não há uma alma à vista.
Eles devem ter nos visto vindo a quilômetros de distância. Pensamos
em mascarar nossa abordagem, mas sentimos que a surpresa só os
alarmaria ainda mais.
Lexia e eu vamos até o portão. Eu bato pela primeira vez na porta
mecânica, mas encontro o silêncio. Eu bato novamente.
— Esta é Mara da Matilha da Vingança! — Eu grito. — Você me
conhece. Eu vim aqui com Lexia, recém-nomeada Alpha da Matilha da
Igualdade. Buscamos uma audiência com Alpha Rylan. — Nada.
— Temos negócios urgentes para discutir com ele.
Nada ainda.
— Ei! Abra essa porra! — Eu digo, jogando todas as formalidades de
lado.
O som de flechas corta o ar quando dois raios atingiram o solo perto
de nossos pés.
Eu olho para cima e vejo uma fileira de arqueiros alinhando o topo da
parede. Seus arcos estão puxados, mas eles seguram o fogo. Eu quero
fugir, mas fico calma.
— Bem, isso chamou a atenção deles, — diz Lexia.
Dou um passo à frente e mantenho minha cabeça erguida.
Aqui vamos nós.
Capítulo 25
SEGUNDO REGRESSO A CASA MARA
Nunca pensei que voltaria.
Não depois da última vez.
Eu sempre discordei de muitos de seus ensinamentos, mas nos expulsar da
cidade...
Essa multidão era mais selvagem do que a besta de Kaden jamais foi.
E agora, esses animais me têm em vista.
De novo.
Meus pais ainda estão lá.
Eles vão querer me ver?
— Segurar! — Um grito veio da parede. — Que negócios você tem
conosco?
Eu olho para Lexia, e ela acena com a cabeça em encorajamento.
— Meu nome é Mara, legítima Luna da Matilha da Vingança. Eu já fui
uma de vocês. Meu negócio é com Alpha Rylan e apenas ele, — eu
respondo.
Os guardas conversam entre si.
— Você não é mais bem-vinda aqui! — Ele rosna de volta, — e a
presença delas é uma ameaça direta à segurança de nosso povo, — ele
diz, apontando para a Matilha da Igualdade.
— Como Alpha da Matilha da Igualdade, — Lexia interrompe, — Eu
posso garantir que não faremos mal a vocês. Viemos aqui apenas como
uma demonstração de solidariedade com a Luna da Vingança.
— Luna? — uma nova voz grita. — A última vez que ouvi, Kaden não
era mais Alpha.
Eu procuro nas paredes, mas não consigo encontrar a fonte do
insulto.
— Eu sou a legítima Luna! Quem diabos disse isso? — Eu atiro de
volta.
E é quando eu o vejo... Alpha Rylan. Usando sua túnica cerimonial da
Deusa da Lua e um boné alto e pontiagudo, ele se posiciona
ameaçadoramente acima do portão principal. Ele está tentando causar
uma boa impressão e está funcionando.
— Todos os laços que você tinha com este bando foram cortados, —
ele continua. — A última vez que você esteve aqui, você foi expulsa da
cidade. Por que diabos eu iria permitir que você voltasse?
Ele está tentando me irritar.
Eu mordo meu lábio e ignoro seu comentário.
— Porque eu trouxe uma de suas garotas desaparecidas, — eu digo, e
Amber dá um passo à frente.
O Alpha hesita. Ele não esperava por isso.
Posso vê-lo discutir esse novo desenvolvimento com vários de seus
conselheiros.
— Muito bem, vou permitir, — diz ele com relutância, — mas só você
e a garota desaparecida. O resto terá que ficar fora dessas paredes.
— Você negaria a entrada de um companheiro alpha? — Eu digo, me
referindo a Lexia. Sei que estou pressionando a sorte, mas não posso
deixar passar.
— A Matilha da Pureza não reconhece sua reivindicação de sucessão.
A Deusa da Lua considera que tais títulos podem ser detidos apenas por
homens. Qualquer coisa menos seria uma abominação aos olhos dela.
Estou furiosa. O resto da matilha também. Lexia parece que poderia
mudar a qualquer momento, mas ela se conteve. Não há como contornar
suas visões estreitas. Ele tem a vantagem. Mas entrando sozinha, ficaria
vulnerável.
Antes que eu possa responder, Lexia dá um passo à frente.
— Como um sinal de boa fé, — diz Lexia, — minha matilha consentirá
com seus desejos e se retirará de suas paredes. Esperamos que com o
tempo você veja este gesto como o primeiro passo para construir uma
amizade duradoura entre nossos dois grupos.
Tenho que admitir que estou impressionada.
A disposição de Lexia de recuar me permite não ceder um centímetro
e salvar a cara. Para uma ladra, ela com certeza está provando ser uma
política e tanto.
— Muito bem, — o alpha berra. — Abram os portões!
Não gosto da ideia de entrar sem ela, mas vou fazer o que devo — pelo
bem de Kaden.
Ao entrar, Amber relutantemente retoma para a casa de seus pais. A
julgar por sua carranca, é o último lugar no mundo que ela deseja estar.
Eu sigo o Alpha.
Ao contrário da multidão de pessoas que antes nos recebiam de braços
abertos, desta vez sou saudada por carrancas e olhares frios. Eu esperava
dar uma olhada em meus pais no meio da multidão, mas não os vejo em
lugar nenhum.
Eles sabem que estou aqui?
Eles estão escolhendo ficar longe?
Eu tenho que manter esses pensamentos fora da minha cabeça.
— Por que sempre que há uma emergência fora das paredes, todos
vêm correndo para a Matilha da Pureza? — Rylan diz, me levando para o
Templo da Deusa da Lua.
— Se outros adotassem nosso estilo de vida, então esses problemas
certamente seriam uma memória distante, — acrescenta ele, presunçoso.
Eu o ignoro.
Passamos por várias Irmãs da Deusa da Lua dando graças em um altar.
Elas olham para mim como se eu fosse uma — coisa impura.
Sério, essas cadelas devotas precisam transar.
— Me ocorreu, — ele continuou, — que, enquanto você viveu aqui,
você e eu nunca fomos apresentados de forma adequada.
Eu gostaria que tivesse continuado assim.
— Eu conheço seus pais bem. Eles são pessoas boas e devotas.
Meus pais... ainda me dói não os ter visto.
Ele murmura uma oração ritualística.
Ver ele agitar os braços traz de volta as memórias de ser forçada a
frequentar o templo.
Embora ainda esteja aberta ao conceito dos ensinamentos da Deusa
da Lua, sempre fui firmemente contra o dogma da religião organizada.
— Mas, indo direto ao ponto, eu só trouxe você aqui porque queria
deixar claro, de uma vez por todas, que a Matilha da Pureza não quer ter
nada a ver com as brigas do seu novo bando. 'Alpha Kaden'... 'Alpha
Kace'... Eu não poderia me importar menos com quem se senta no Trono
da Vingança.
— Então você sabe por que estou aqui, — eu digo.
— Tenho o hábito de saber tudo o que se passa nos territórios. E como
eu sobrevivo.
— Então você conhece as minas de prata lunar! — Eu exclamo.
— Abaixe a voz imediatamente, mocinha, — ele rebate. — Este é um
lugar sagrado!
Oh, você não apenas usou aquele tom condescendente comigo.
Eu fecho meus punhos, mas permaneço composta. — As armas que
estão sendo forjadas são uma ameaça para todas as matilhas — não
apenas para a minha, mas para a sua também.
Ele zomba.
— De certa forma, consideramos que Kace está nos fazendo um favor,
— ele diz.
— Não que eu apoie a violência, mas como você bem sabe, a Matilha
da Pureza considera a mudança uma abominação. Prata Lunar não é
exatamente contrário aos nossos princípios fundamentais. Do que você
acha que isso é feito? — Ele diz, segurando o pingente da Deusa da Lua
em volta do pescoço.
Eu dou um passo para trás, não querendo estar em qualquer lugar
perto daquela coisa.
Ele não é afetado por isso também?
— Então você tolera as ações dele?! — Eu atiro de volta.
— Oh, não seja estúpida. Claro que não. Você está perdendo o... Olhe,
querida, eu tenho o título de Alpha há muito tempo. Já lidei com
dificuldades e ameaças muito maiores do que um filhote adolescente
acenando com alguns brinquedos brilhantes.
— Não são apenas as armas, — eu digo com firmeza. — Ele cresceu em
poder também. E como se alguma força negra o estivesse controlando.
— Força negra! — Ele berra. — Você ao menos se ouve?
Ok, eu poderia ter formulado isso um pouco melhor.
— A Matilha da Vingança é dirigido por um bando de crianças. Já era
hora de você crescer um pouco. Talvez esta crise auto infligida seja
exatamente o tipo de surra de que sua matilha precisa.
Minha pressão arterial está subindo.
Eu quero mudar aqui mesmo, apenas para esfregar meu lobo —
abominável — rosnando em seu rosto feio.
— Eu aprecio tudo o que você fez pela garota desaparecida, mas até
que você coloque sua casa em ordem, você estará por sua própria conta.
Tenha um bom dia.
Rylan se vira e vai embora.
E foi isso.
A noite já caiu quando chego à casa dos meus pais. Estou relutante em
visitar, especialmente depois do fiasco da última vez, mas tenho que vê-
los.
Eu bato na porta.
Momentos depois, minha mãe o abre. Ela está surpresa em me ver,
mas não o tipo de surpresa boa.
— Mara! O que você está fazendo aqui? — Ela pergunta em um tom
abafado.
— Eu estava na cidade. Eu tinha que ver você. Onde está o papai? —
Eu digo, tentando espiar, mas ela sai e fecha a porta atrás dela.
— Agora não é um bom momento.
— O que você quer dizer?
— Você não tem ideia do quanto você o machucou. Se ele te ver de
novo... é apenas uma má ideia.
Estou realmente ouvindo isso? Meu próprio pai não quer me ver?
Sinto como se tivesse perdido o fôlego.
— Lamento muito a forma como as coisas correram, mas me recuso a
acreditar que sou a única culpada. Você mal deu uma chance a Kaden.
— Isso é como pedir para dar uma chance a uma doninha raivosa!
Eu levo um momento para me recompor.
— Olha, não é por isso que estou aqui.
Eu a informo rapidamente sobre a ameaça de prata da lua, mas ela não
acredita em mim, ou se ela acredita, ela não está preocupada. Digo que
ela não está segura e que ela e papai deveriam vir conosco, mas ela se
recusa.
— Isso é problema de outra pessoa, — ela finalmente responde. —
Estamos bastante seguros onde estamos.
— Não! O problema afeta a todos nós. Alpha Rylan está em negação.
Ele vai matar pessoas! Essas paredes não serão suficientes para impedir o
que está por vir.
Mas ela não vai ouvir mais.
— Eu tenho fé na Deusa para nos manter seguros, — ela responde. —
Só isso me dá força.
Não há como chegar a ela. Não importa o quanto eu tente, ela não
dará ouvidos à razão.
— Então acho que não tenho mais nada a dizer, — respondo
enquanto me viro para sair.
— Mara, espere!
Eu paro.
— Eu só quero que você saiba que não importa onde você se encontre
— Matilha da Pureza, Matilha da Vingança — você sempre será nossa
filha. Seu pai e eu te amamos muito. Você significa mais para nós do que
qualquer coisa no mundo, — ela diz, com a voz trêmula.
— Ainda não é tarde para voltar para casa. Por favor... reconsidere ir.
Por um breve momento, sim.
De certa forma, seria tão fácil voltar correndo — tê-la nos braços, me
dizer que vai ficar tudo bem, acreditando que tudo o que aconteceu foi
um sonho ruim — mas eu não posso.
— Eu tenho uma casa, — eu digo, me afastando, lutando contra as
lágrimas.
Saio me perguntando se algum dia a verei novamente.
Amber e eu encontramos Lexia e o resto do bando fora dos portões da
cidade. Amber nos contou que seus pais imploraram para que ela não
fosse, mas ela já estava decidida bem antes de passar pelos portões.
Uma parte de mim sente empatia por eles, assim como meus próprios
pais, mas lembro a mim mesmo que sua devoção religiosa cega os toma
fracos.
Não deveria ser uma surpresa que o bando não se unisse à nossa
causa, mas ainda me dói saber que falhei. Lexia sabia o resultado antes
que eu dissesse uma palavra. Ela podia ler no meu rosto.
— Aquela merda piedosa. Espero que Kace queime este lugar, — ela
diz amargamente.
— Meus pais ainda estão lá, — eu respondo.
Eu posso dizer que ela imediatamente se arrepende de sua escolha de
palavras.
— Do jeito que está, a Matilha da Pureza é proibido, — continua
Lexia, — a Matilha da Liberdade não tem liderança e não ouvimos falar
da Matilha do Poder.
— Estamos por nossa conta, — eu digo.
O clima fica sombrio. O Matilha da Igualdade pode se defender em
uma luta, mas será que elas podem lutar contra um empreendimento tão
grande?
— Então o que você quer fazer? — Lexia pergunta.
— Eu? — Eu pergunto.
— Você tem mais coisas em jogo do que qualquer uma de nós. A
decisão é sua.
Eu não hesitei.
Depois de tudo que passamos, só havia uma coisa a fazer.
— Nós fazemos para Cidade da Vingança.
Capítulo 26
REINOS DE VINGANÇA MARA
Kaden está em silêncio.
Tento entrar em contato com ele, mas tudo que ouço são meus próprios
pensamentos.
Kaden, você pode me ouvir?
Por favor, meu amor, responda!
Minha preocupação com ele cresce, mas ainda o sinto.
Ele ainda está vivo, mas fraco.
Precisamos agir rápido.
Nós — pegamos emprestado — um ônibus amarelo surrado de uma
gangue de invasores e agora vamos para Cidade da Vingança. Pegamos
trinta das guerreiras mais fortes da matilha e deixamos o resto para trás.
O grupo para em um mercado de pulgas e troca suas roupas
tradicionais da Matilha da Igualdade pelo tradicional traje — foda-se —
dos moradores da cidade. Nossos corpetes de couro e capas nos fazem
parecer piratas. Além das calças justas, tenho que admitir que parecemos
durões.
Enquanto voltamos para o ônibus, um grupo de homens se aproxima
e começa a nos assobiar.
— Ei, baby, você quer um pouco disso? — Um chama, agarrando sua
virilha.
— Eu tenho um belo pau grande com o seu nome nele! — Outro grita.
Não leva muito tempo para o bando bater a merda sempre amorosa de
cada um deles. Outras gangues recuam rapidamente.
Lexia nos leva pelas favelas até chegarmos à floresta de arranha-céus.
A Matilha da Igualdade encara os arredores com admiração, nunca tendo
visto nada parecido antes.
— Você realmente mora aqui? — Amber pergunta a Lexia, com a boca
aberta.
Mas a Alpha não diz uma palavra... apenas sorri, como um pai
orgulhoso.
E fácil esquecer o quão incrível este lugar pode ser.
Chegamos à torre em forma de pirâmide de Lexia para cercar seus
bandidos. Apesar da apreensão do bando de trabalhar com — doadores
de sementes, — elas concordam que ter uma mistura de moradores locais
funcionará a nosso favor. E se as coisas ficarem complicadas, podem pelo
menos servir como bucha de canhão.
Mas Lexia vai embora rapidamente antes de estacionar.
Para nossa surpresa, seu povo está acompanhado pelos asseclas
carecas de Kace.
— Que porra é essa?! — Lexia exclama. — Aqueles bastardos
traiçoeiros me apunhalaram pelas costas!
Eles devem ter sido pagos — um golpe sem derramamento de sangue.
Lexia está furiosa.
Nunca a ouvi xingar tanto na minha vida, insultos que nunca pensei.
— Saca-rolhas estupradores de cabras!
Vou ter que me lembrar desse.
Ainda furiosa, Lexia nos derruba em um engavetamento de carros em
um cruzamento.
Chega de sutileza.
— Você quer que todos saibam que estamos aqui? — Eu exclamo.
Ela me encara, mas sabe que estou certa e começa a relaxar.
Decidimos que a melhor estratégia daqui para frente é ir direto para
as minas.
KACE

Kaden está enrolado e nu contra a parede da cela.


Quase não reconheço o que está sob as lacerações e hematomas.
Vim para mais um dia de tormento, mas agora que olho para ele —
fraco e miserável — mal consigo me forçar a fazer isso.
Crescendo, fui visto como o inferior entre meus irmãos.
Eles pensaram que eu era uma piada e me chamaram de nanico.
Nunca fui apreciado, nem por Kaden ou Coen ou por Althea, meu único
amor. Então, racionalizei sua tortura como minha maneira de recuperar
meu status, tornando-o meu igual.
Tive prazer em seu sofrimento, mas quando olho para ele agora, não
posso deixar de me sentir na obrigação de confortá-lo. Dizer a ele que
tudo vai ficar bem.
Eu me tornei Alpha da Matilha da Vingança, mas agora que a tenho,
não parece o suficiente. Existe um vazio.
É isso que eu quero?
O que estou fazendo?
De repente, tenho uma enxaqueca debilitante.
Eu caio no chão e agarro minha cabeça, gritando de dor, e é quando
eu ouço a voz na minha cabeça.
Mestre: O que você está fazendo?!

Eu olho em volta, confuso.


Kaden olha para mim. parecendo genuinamente preocupado.
Kace: Eu estava... eu...

Mestre: Por quanto tempo você vai manter esse jogo mesquinho?

Kace: Eu não estava tentando...

Mestre: Você é incapaz de cumprir as responsabilidades que lhe foram atribuídas?

Mestre: Coloquei minha fé na pessoa errada?

Kace: Não!

Kace: Claro que não!

Mestre: Então pare com essa bobagem de uma vez.

Mestre: Há um trabalho muito mais importante a ser feito.

Kace: Sim, eu sei.

Mestre: Ele já deveria estar morto há muito tempo.

Mestre: Pare de brincar com ele e acabe com isso.


E então a dor de cabeça passa.
Eu olho para minha lâmina e de volta para Kaden. Isso tem que ser
feito.
Eu vou até ele e seguro a ponta em sua garganta.
Ele não resiste.
— Sinto muito, irmão, — digo a ele, — mas você sabia que esse dia
chegaria.
Ele olha para mim com tristeza, mas ainda não resiste.
Eu tensiono meu braço para desferir o golpe final, mas paro quando a
porta da cela se abre.
Um guarda entra correndo.
— Alpha Kace! — Ele brada. — As minas!
— As minas? O que tem elas?
— Houve um incidente!
Eu largo minha lâmina de seu pescoço.
— Que tipo de incidente?
MARA

Alcançamos o perímetro do pátio da ferrovia sob a cobertura da


escuridão.
Cercas de arame farpado e barreiras bloqueiam todas as entradas. Os
guardas estão posicionados nos telhados dos edifícios que circundam as
instalações, bem como quatro torres improvisadas dentro do recinto.
Vemos caminhões entrando e saindo de um único depósito.
— Lá! — Eu aponto. — Essa deve ser a entrada para a mina.
Lexia concorda.
No entanto, há cerca de vinte homens rondando a entrada. Não
estamos conseguindo passar sem ter que nos envolver com eles.
Não demorou muito para Lexia e as outras elaborarem um plano.
A Matilha se divide em grupos menores.
Elas seguem em direção aos guardas mais próximos pelo telhado. Elas
escalam escadas de incêndio, escalam paredes. Muitas delas deslocam as
mãos e os pés para ajudar a acelerar a subida. Quando elas alcançam o
topo, elas silenciosamente pegam os guardas um por um.
Com o perímetro externo seguro, um segundo grupo liderado por
Lexia entra na instalação.
As luzes do estádio iluminam a maior parte da área circundante, mas
o pelotão é capaz de se manter nas sombras e não ser detectado.
Eu assisto com admiração enquanto elas lutam para subir nas torres
de vigia e neutralizam nossos inimigos.
— Cacete! — Eu digo baixinho.
Estou totalmente impressionada com as habilidades e rapidez da
Matilha da Igualdade.
Agora ficamos com o grupo em torno da entrada. Eles são iluminados
sob luzes brilhantes, então não há como chegarmos lá sem sermos vistos
— AKA, minha deixa.
Ligo o motor do ônibus e começo a dirigir desajeitadamente em
direção a eles. No nosso caminho para CV, Lexia me deu um curso
intensivo — sem trocadilhos — sobre o básico de direção.
As barreiras são removidas e eu lentamente faço meu caminho em
direção ao armazém. Conforme me aproximo, percebo que todos os
olhos estão em mim.
Se Kaden pudesse me ver agora!
Os guardas acenam para eu parar, e eu paro.
Para a surpresa deles, uma dúzia de mulheres seminuas, incluindo eu,
vem desfilando para fora do veículo. Pela expressão em seus olhos, posso
dizer que os guardas estão babando por baixo das máscaras.
Nós caminhamos lentamente até eles.
— Bem, bem, o que temos aqui? — Um deles diz.
— Nós somos um presente, — eu digo. — Hoje é o seu dia de sorte.
Baixando a guarda, eles nos deixaram aproximar. Esfregamos nossas
mãos sobre eles.
Pego um deles pela virilha. Ele tem um enorme tesão. Provavelmente
não está transando há anos.
— É isso que você quer? — Eu digo.
Ele acena ansiosamente.
É tão degradante.
As outras meninas fazem o mesmo.
— Então por que você não me deixa ver? — Eu sussurro em seu
ouvido.
E assim que ele começa a se revelar para mim, eu cravo uma adaga
escondida em seu peito e continuo a esfaqueá-lo o mais rápido que
posso. Incapaz de agarrar sua arma, ele cospe sangue e cai de joelhos.
Eu corro minha faca em sua garganta, e ele cai no chão.
Olhando para trás, eu vejo o resto da matilha trabalhando sua magia
também, e logo os guardas estão todos mortos.
Isso foi mais fácil do que eu pensava!
Mas quando deslizamos as portas do armazém abertas, nos
encontramos olhando para outro grande grupo de homens de Kace.
Vendo-nos de pé entre seus camaradas caídos, eles se armam com
espadas e machados e correm em nossa direção.
Os brutamontes atacam e cortam, mas a Matilha da Igualdade é muito
mais ágil e se esquiva facilmente de seus ataques. Dois homens têm as
tripas derramadas logo de cara, enquanto outro tem a perna decepada. A
cabeça de outro se perde por causa de um golpe na garganta, que é
chutada durante o corpo a corpo.
Então o bando traz a luta para eles.
A linha de frente das mulheres luta com espadas largas, enquanto a
fileira de trás dispara pequenas bestas de mão que esconderam. E uma
tática mortal, e os homens mascarados caem a torto e a direito.
Um guarda rompe as linhas. Amber, que fica ao meu lado, joga uma
adaga em seu coração. Embora eu tenha aprendido uma ou duas coisas
sobre luta, não sou uma guerreira, então fico para trás. Eu consigo dar
alguns golpes com minha adaga quando outro se aproxima.
Mas então uma de nossas mulheres é atingida. E depois cai outra, e
depois outra... Começamos a enfraquecer.
O que está acontecendo?
Olhando ao redor, eu finalmente percebo que a sala tem montes de
prata lunar empilhados ao redor.
Oh merda!
Algumas tentam se transformar, mas o metal as impede de fazer isso.
Aquelas presas no meio da transição são rapidamente eliminadas.
Merda!
As coisas estão piorando.
Precisamos sair daqui — rápido!
— Recuem, — eu grito para as lutadoras restantes.
Nós disparamos para a saída, mas nosso inimigo está nos perseguindo.
Quando emergimos, encontramos Lexia e o resto da matilha
esperando por nós. Ela está segurando um longo objeto parecido com um
bastão, que eu não reconheço, em seus braços.
Ela aponta para nós.
— Abaixe-se! — Ela grita.
Estou confusa, mas faço o que ela diz.
Assim que atingimos o solo, uma série de altas explosões rat-a-tat-tat-
tat-tat irromperam da ponta de seu cajado. Eu cubro meus ouvidos — é
ensurdecedor. Quando eu olho para trás, vejo nossos adversários no
chão. Eles estão mortos ou bem encaminhados.
Há um zumbido alto na minha cabeça.
— Que porra é essa?! — Eu grito, segurando minhas orelhas.
— Um upgrade! — ela diz, levantando no ar seu bastão assassino de
morte ígnea.
— Você não pensou em usar isso antes?! — Eu digo, ainda mal
conseguindo ouvir.
— Vamos lá, — ela diz, dando um sorriso de autossatisfação. — Vamos
acabar com isso.
Em um instante, atravessamos o armazém e começamos a serpentear
pelo túnel.
Eu não sei o que é isso, ou onde ela conseguiu, mas eu quero um!
Capítulo 27
ASCENSÃO E DESCIDA MARA
Para baixo e para baixo nós vamos.
Como o sopro de um dragão, o calor da mina consome meu ser Traços de
prata da lua irradiam ao redor Saturando meu corpo em seu brilho
luminescente.
Pesa muito no meu corpo.
Lutando comigo.
Ele quer que eu voe para muito longe daqui.
Mas eu resisto.
Estamos muito perto de atingir nosso objetivo.
Um passo mais perto de alcança-lo.
Encontramos pouca oposição à medida que descemos mais fundo na
terra.
Sentimos a dor dos membros da matilha que perderam suas vidas.
Sentiremos sua falta, mas não temos tempo para lamentar. Todos nós
sabemos o que está em jogo.
A julgar pelo que vimos até agora, Kace aumentou a produção em dez
vezes. Há caixotes de armas ao longo de todo o nosso caminho e
caminhões cheios de minério bruto de prata lunar — montes dele
esperando para serem processados.
Eu não sei se os trens acima do solo estão operacionais, mas se eles os
colocarem em funcionamento, a prata lunar pode chegar a todos os
cantos do território de cada matilha em um piscar de olhos.
E então esse sentimento me invade — uma onda de náusea, como
antes.
Merda. De novo não.
Eu paro e me seguro contra a parede do túnel para não vomitar. Achei
que estaria melhor preparado para isso desta vez, agora que entendi a
causa, mas ainda assim me deu um soco inesperado.
Está me atingindo ainda mais forte do que antes.
Quando eu olho em volta, vejo que isso afeta outros membros do
Matilha da Igualdade também. Até Lexia, que parecia imune da última
vez que estivemos aqui, está passando por momentos difíceis.
Tento encorajar todas a se levantarem, mas ninguém se move.
O calor está piorando.
Algumas garotas vomitam, fazendo com que outras façam o mesmo.
Eu fico olhando para o corpo de um guarda que despachamos
recentemente.
Por que o metal não está afetando eles também?
É quase como se eles estivessem imunes.
Não é como se eles fossem diferentes de qualquer um de nós. Eu
posso sentir seu cheiro de lobo. E cada vez que os encontramos, eles
provaram ser um oponente formidável — nem um pouco fraco.
Mais magia negra?
Eu continuo olhando para o cadáver mascarado entre os vômitos
secos, e então me dou conta... suas máscaras respiratórias!
É isso!
Tem que ser!
Eles estão de alguma forma mantendo seus corpos estáveis — não
afetados pela prata lunar. E a única explicação lógica.
— Magia negra, — eu digo baixinho.
Eu realmente preciso parar de pular para essa conclusão. Essa é a
minha parte da Matilha da Pureza sangrando.
Então, estendo a mão e removo a máscara de seu rosto. Eu engasgo
quando puxo os tubos de sua garganta. Eles pingam saliva.
— Você deve estar brincando comigo, — Lexia diz, sabendo muito
bem o que estou prestes a fazer. Mas eu fecho meus olhos, coloco o
protetor facial em volta do meu nariz, coloco os tubos em minha boca e
engulo.
É nojento pra caralho.
Nunca estive tão enojado na minha vida, mas esqueço tudo isso no
momento em que respiro pela primeira vez — alívio instantâneo!
A doença evapora e eu fico de pé.
Percebendo o que elas têm que fazer, o resto da matilha encontra
outros carecas falecidos e segue o exemplo. Assim que estivermos todas
recuperados, continuamos nossa jornada para baixo.

Não muito depois de colocarmos as máscaras, me encontro em uma


caverna familiar — as minas! Espero ver as ruínas do passeio de Lexia,
mas tudo foi consertado.
Uma fila de dez caminhões blindados estacionados no túnel principal
nos impede de ser vistos. Eles estão cheios de caixotes prontos para
serem despachados sabe-se lá onde, e são exatamente o que precisamos.
— Você sabe, — eu sussurro para Lexia, olhando os caminhões
avidamente, — Eu aposto que não demoraria muito para destruir este
túnel.
— Exatamente meus pensamentos, — ela responde.
Seguindo a deixa de Lexia, entramos em ação.
Nós imediatamente descartamos os motoristas que esperavam nas
cabines. Depois de removidos, verificamos os medidores de gás e
verificamos se eles estão cheios.
Infernos, sim!
Em seguida, arrancamos tiras de pano dos cadáveres, abrimos os
tanques de gás de cada um dos caminhões e os enfiamos o mais longe
possível, deixando pequenas pontas para fora.
— Ilumine-os! — Lexia grita, sem se importar se ela ouviu ou não.
Nós disparamos pelo túnel no segundo em que as extremidades são
iluminadas.
Não avançamos muito antes de ouvimos a explosão do primeiro
tanque de gás, mas continuamos correndo.
Ouvimos o segundo disparar.
Depois o terceiro.
Depois o quarto e assim por diante...
Eu ouço a terra gemendo lá de cima e sinto uma onda de calor nos
perseguindo por trás.
Tento mudar para ter uma velocidade extra, pensando que as
máscaras vão ajudar, mas não consigo.
Merda!
O teto começa a desabar atrás de nós. Meu corpo começa a drenar,
mas me empurro com mais força. Eu não tenho escolha.
Poeira e detritos giram em tomo de nós. Mal consigo ver um metro e
meio à minha frente.
Eu corro mais e mais rápido, e antes que eu perceba, estou
cambaleando para fora da boca para o submundo, não parando até que
eu esteja fora das portas do armazém.
Eu consegui!
Eu olho em volta e vejo que as outras também.
Todo mundo arranca suas máscaras. Posso sentir o gosto da sujeira do
ar poluído da CV e considerá-lo um alívio muito bem-vindo ao lado do
inferno de onde acabamos de sair.
Olhamos um para o outro sem acreditar.
Nós realmente acabamos de fazer isso?
Eu olho para o túnel. A entrada é preenchida de cima a baixo com
pedras e pedregulhos. Ninguém vai entrar ou sair tão cedo.
Uma onda de euforia se espalha por toda a matilha, mas a sensação
não dura muito quando vemos um grupo de homens fortemente
armados emergir da escuridão.
Estamos cercados...
KADEN

Um tremor me tira do meu sono inconsciente.


Pequenos seixos e poeira caem de cima, dificultando a respiração.
Eu olho em volta e vejo Kace dando ordens para vários homens, mas
não consigo entender o que ele está dizendo. Todo mundo está correndo.
A julgar por sua reação, é claro que ele também sentiu.
O que foi isso?
Não consigo me concentrar o suficiente para me importar.
Não como há dias. O último copo d'água que bebi estava tão cheio de
sujeira que era praticamente lama.
Mas algo aconteceu claramente.
— Cuidado com ele! — Eu ouço Kace dizer enquanto ele sai furioso da
sala. Dois guardas são deixados para trás.
O que está acontecendo?
E então tudo volta correndo para mim... as minas
Elas devem ter feito isso.
Que outra explicação poderia haver?
Uma pequena onda de energia me preenche. Eu não me sentia assim
há muito tempo. É esperança. Eu levanto meu peito nu do chão e tento
me levantar.
— E onde você pensa que está indo? — Um dos guardas grita.
Um soco no estômago me joga no chão.
Tento falar, mas nenhuma palavra sai.
Minha visão escurece de um cacete na cabeça.
Abro meus olhos para o mesmo inferno de antes.
Quanto tempo se passou?
Minutos?
Horas?
Dias?
Semanas?
Parei de tentar manter o controle há muito tempo.
O que isso importa. Todos os dias são iguais.
Mas quando eu volto, percebo que algo está diferente. Eu posso sentir
isso. E como se uma faísca interior, uma vez apagada, finalmente
retomasse. A agonia que sinto começa a diminuir.
O que está acontecendo comigo?
Estou morrendo?
É assim que se sente a morte?
E então me ocorre.
Não é a morte que estou sentindo — mas a vida!
Minha força está começando a retomar. As lacerações estão
desaparecendo. Meus ossos quebrados estão inteiros de novo Estou
curando!
Então me lembro do tremor.
Essa é a causa do meu rejuvenescimento?
Não, não pode ser. Isso não faz sentido. Mas o que é então?
É então que um calor familiar começa a me inundar. Ele está me
chamando.
E a sensação de calor que só o verdadeiro cônjuge pode dar.
Mara!
Minha Luna está próxima! Eu posso senti-la — mas algo está errado.
Eu posso sentir isso. Ela não estaria tão perto a menos -
ELE TEM ELA!
Antes que eu perceba, estou de pé e sinto cada osso do meu corpo
começar a se quebrar enquanto meus músculos se contorcem... Estou
mudando.
MEU LOBO ESTÁ DE VOLTA!
É como se tivesse vontade própria. Posso controlar se quiser, mas não
quero. Eu anseio por seu lançamento...
ME LEVE!
Estou cheio de um vigor recém-descoberto e minhas mandíbulas
soltam um uivo terrível.
Os rostos dos guardas ficam pálidos.
— Ah Merda! — Um deles diz, antes de eu avançar e agarrá-lo pelo
pescoço.
Eu aperto até sentir as pontas dos meus dedos se tocando. Eu o jogo
de lado como uma boneca de pano quando sei que a vida se esvaiu dele.
O outro guarda corre para a porta, mas eu o jogo contra a parede
oposta e corto sua barriga, derramando sangue e entranhas no chão. Ele
tenta desesperadamente empurrá-los de volta, mas eu pego seus
intestinos e os puxo de volta.
Ele cai no chão.
Soltei outro uivo.
Minha besta selvagem foi libertada.
Corro para a saída e arranco a porta das dobradiças.
Eu corro pelo corredor úmido como um trem desgovernado. Não
estou deixando nada atrapalhar. Não há como me parar agora.
Estou indo, Mara!
Capítulo 28
SEM FUGA MARA
Eu sou sua prisioneira.
Não há como escapar.
Tudo o que fiz foi em vão.
Foi tudo por nada?
Qual foi o objetivo de tudo isso?
Eu falhei com a família.
Eu falhei com meu bando.
Eu falhei com você.
Estou de volta onde tudo começou... Castelo da Vingança.
Como isso pôde acontecer?
Kace me acorrentou a uma parede dentro de seus aposentos pessoais,
junto com Lexia. Eu olho para ela em busca de conforto, mas ela está tão
assustada quanto eu.
Isso não pode estar acontecendo.
Isso não pode estar acontecendo.
Isso não pode estar acontecendo... mas está. Isso aconteceu.
Estamos presas.
Os homens de Kace avançaram sobre nós assim que escapamos das
minas.
Eles cercaram os outros membros da matilha, mas não sei para onde
foram levados.
O único consolo é saber que derrubamos as minas.
Nós cumprimos o que nos propusemos a fazer.
O que quer que Kace estava planejando foi frustrado... pelo menos por
agora.
E agora estamos aqui.
Eu sou sua prisioneira, assim como Kaden.
Eu posso senti-lo perto... sua dor, seu sofrimento...
Eu o alcanço com minha mente, mas não obtenho resposta.
Onde você está, meu amor?
Por favor... diga alguma coisa — qualquer coisa!
Nada.
Estávamos tão perto...
Estou assustada com o som da porta se abrindo. Só pode ser uma
pessoa... Posso sentir o cheiro dele.
— Mara, — diz o falso Alpha, entrando na sala. — Você não tem ideia
do quanto significa vê-la novamente. — Vários guardas entram atrás dele.
Ele se aproxima.
— A lógica me diz que eu deveria bater em você pelo que você e suas
amigas fizeram, — Kace continua, — mas não posso deixar de respeitar
você ainda mais. Sua ousadia e bravura simplesmente confirmam o que
eu já sabia... que você deveria ser Luna — minha Luna. Como foi
planejado desde o início.
Eu estremeço com o pensamento disso.
— Me sinto compelido a tomá-la em meus braços e sentir seu corpo
ao lado do meu... e beijá-la. — Ele dá mais um passo à frente e se inclina
para perto. Posso sentir sua respiração em meus lábios. Eu bato minha
cabeça para frente para bater em seu crânio, mas ele facilmente se afasta.
Ele ri.
— Mas eu conheço você muito bem. Você não está pronta para isso —
pelo menos ainda não — mas você estará.
— Você está fora de si se pensa que algum dia eu estaria de bom grado
com você, — respondo.
Eu não me importo com quanto poder ele exerce. Eu me recuso a
tolerar suas besteiras.
Ele pomposamente anda para frente e para trás.
— Eu acho que você está se esquecendo da última vez que estivemos
juntos. Se bem me lembro, você não conseguia tirar as mãos de mim.
— É a única maneira de você conseguir?
Forçando-se sobre os outros? — Lexia comenta maliciosamente.
— Cale a boca, vadia! — Kace ruge, batendo no rosto dela com as
costas da mão.
Um filete de sangue escorre de sua boca, mas ela não recua.
Ela sorri.
— Mesmo? Isso é tudo que você tem, homenzinho?
— Ela diz, acenando com o dedo mindinho.
Kace bate nela mais duas vezes, mas Lexia não cede.
Por que ela o está provocando?
Pare de dizer qualquer coisa, sua idiota! Você só está piorando as coisas!
Pelo menos, é o que quero dizer a ela. mas sei que ela não vai ouvir
uma palavra do que eu digo. Ela é muito teimosa, como eu.
Lexia começa a rir incontrolavelmente.
— Você gosta de bater em mulheres? — Ela diz entre risadas. — Isso te
deixa ligado? Você fica duro? Aposto que você não consegue nem levantar
sozinho! Você precisa de um desses fluffers para fazer isso por você! —
Ela diz, se referindo aos guardas.
Ele fecha o punho e recua para outro golpe.
— Kace, pare! — Eu grito.
Mas ele o faz de qualquer maneira, socando-a dessa vez. Ele continua
a bater nela até ela tossir sangue e cair no chão — sem rir mais.
— Viu? Não é tão engraçado agora, não é... 'Alpha'? Você é uma
abominação. Essa é a piada!
— Ela é mais Alpha do que você jamais será! — Eu exclamo. — Um
cachorro selvagem seria mais adequado do que você!
Ele dá um passo à frente e olha nos meus olhos, mas eu não desisto.
— Você não é nem metade do Alpha que Kaden é, nem poderia ser, —
eu digo friamente.
Seus olhos se arregalam e suas narinas dilatam. Seu lobo está
tentando emergir. Ele está tentando desesperadamente controlá-lo.
— Você quer dizer a besta que uma vez sequestrou você de sua casa,
trancou você em uma cela, te chantageou para tentar matar um bebê por
nascer... — ele diz, chegando ainda mais perto, — Lembre-me... quantas
vezes seu lobo tentou matar você?
— Não foi culpa dele, e você sabe disso! Ele foi feito para fazer essas
coisas!
— Mesmo? Você tem certeza sobre isso?
Eu corro em direção a ele, mas minhas correntes me prendem.
— Eu sufocaria você com isso se eu tivesse a chance! — Eu digo,
segurando minhas correntes.
— Aposto que sim, — ele diz, me olhando de cima a baixo com desejo.
Ele está começando a liberar feromônios. Eles permeiam toda a sala.
— Oh, Mara, quanto mais você resiste, mais eu quero você. Acho que
é hora de você ser marcada.
Eu jogo minhas costas contra a parede.
— Não tenha medo de mim, — ele diz, incapaz de se afastar da marca
de Kaden.
Isso o está deixando louco.
Seu desejo de acasalar é mais forte do que eu já vi. Posso ver a
desculpa patética entre sua perna começar a crescer.
Eu suspiro quando seus olhos mudam de humano para lobo —
amarelo e penetrante.
Ele dá um passo em minha direção.
— Não se aproxime!
Ele para.
— Talvez você esteja certa... Você vem até mim, — ele diz, me
comandando com os olhos.
Meu corpo sente a necessidade de fazê-lo. Eu começo a seguir em
frente.
É isso.
Acabou tudo.
Eu fecho meus olhos e penso em Kaden.
Por favor, me perdoe, meu amor.
Mas então acontece algo que eu não esperava. A atração em direção a
ele para, assim como meus pés. Não sinto absolutamente nada. É como
se o controle que ele tinha sobre mim de repente tivesse desaparecido.
Abro os olhos e vejo que o rosto cheio de cicatrizes de Kace está tão
confuso quanto o meu. As veias de seu pescoço começam a inchar
enquanto ele luta para me manter sob sua vontade, mas não tem efeito.
Estou resistindo!
Ele perdeu seu domínio sobre mim.
Eu me viro para Lexia, e ela parece tão chocada quanto eu.
Kaden está certo? Eu sou mais poderosa do que qualquer um de nós
imaginava?
Como estou fazendo isso?
— Isso é impossível, — ele grita, ofegando pesadamente por sua luta.
Minha confiança está crescendo. Posso sentir minha força interna
começando a crescer.
Ele quer que eu vá até ele contra minha vontade, então, em vez disso,
dou um passo à frente por conta própria — minha escolha.
Ele está surpreso.
— Eu sou Mara, a legítima Luna da Matilha da Vingança, — eu digo,
olhando diretamente nos seus olhos. — E você não tem poder sobre
mim... não mais!
Kace olha em volta como um animal enlouquecido, sem saber o que
fazer.
Ele então me agarra pelo pescoço e me joga contra a parede. Ele puxa
o decote do meu corpete e olha para as minhas marcas de mordida
vorazmente.
— Deixe ela ir! — Lexia grita, mas ele a ignora.
Eu empurro contra ele, mas ele é muito forte.
Tento mudar, mas ainda não consigo.
Ele abre a boca quando seus caninos começam a crescer. Eu posso
sentir sua ereção latejante contra minha perna. Seu lobo está assumindo
o controle.
Ele me agarra pelos meus cachos loiros e puxa minha cabeça para trás,
expondo minhas marcas ainda mais.
— Vou aproveitar isso, — ele sussurra em meu ouvido. — E você
também.
Seus lábios roçam levemente minha bochecha e pescoço até que ele
esteja bem sobre minhas marcas, mas eu me recuso a cair sem lutar.
Eu me torço e me contorço, mas não consigo me livrar de seu aperto.
Eu cuspi na cara dele, mas isso só o excitou ainda mais. Ele grita de dor
com um chute na virilha, então me vira e me empurra contra a parede.
Eu chamo a Deusa quando sinto seus caninos pressionando contra
minha pele. Eu não consigo me mover.
E isso!
Mas então ele para de repente e se afasta. Algo fora da janela chama
sua atenção. Eu me esforço para ouvir, e então ouço também... um
estrondo baixo seguido por muitos gritos de vozes.
— Não... — Kace diz baixinho.
Dou um passo à frente para ter uma visão melhor e, para minha
surpresa, vejo centenas de lobos correndo em nossa direção com um lobo
cor de areia familiar liderando o caminho.
— Evan! — Eu grito.
— É a Matilha da Liberdade e do Poder! — Lexia exclama, seus olhos
olhando através do vidro também. — Eles conseguiram reunir o seu
apoio!
Kace balança a cabeça em descrença enquanto observa as forças
combinadas de ambas as matilhas investirem em direção ao castelo.
— Isso não pode estar acontecendo. Isso é impossível, — Kace diz, se
afastando da janela enquanto o exército escala as paredes sem esforço e
começa a enfrentar seus guerreiros mascarados. Ele olha para seus
guardas. — Distribua as armas! Agora!
Mas antes que os guardas cheguem à porta, uma rajada de ar sopra na
sala quando a porta se abre. Parado na porta está um lobo.
Seu pêlo preto como breu combina com seus olhos.
Seu cheiro — inebriante.
Ele solta um uivo agudo, enviando arrepios na espinha de todos. Ele é
magnífico.
— Kaden! — Eu chamo por ele.
Ele também me vê.
Ele flexiona seus músculos rasgados e garras enquanto encara Kace,
rasgando-o em sua mente — provocando-o.
— Eu deveria ter matado você quando tive a chance! — Kace chora. —
Não vou cometer o mesmo erro de novo!
O corpo de Kace começa a se contorcer e espasmos quando seus ossos
começam a se quebrar. Tufos de pelo começam a rasgar sua pele
enquanto seu nariz se projeta e suas presas se estendem.
Kaden solta um rugido final antes de se lançar na direção de Kace.
Um desses irmãos não está saindo daqui vivo.
Capítulo 29
CARNE E SANGUE
KADEN

Mara!
Meu amor.
Minha única companheira.
Faz tanto tempo que não nos vemos.
Estar tão perto torna difícil respirar.
Eu quero correr para você.
Pegar você em meus braços e nunca mais soltar.
Mas eu não posso.
Ainda não acabou.
Ainda há um último obstáculo no meu caminho.
— KACE! — Eu grito com minha voz de lobo enquanto corro em
direção a ele.
Ele está completamente mudado, mas vejo que ainda há medo em
seus olhos. Seu rosto cheio de cicatrizes parece ainda mais grotesco em
forma de lobo.
Ele range os dentes e agita as garras quando eu me aproximo, mas
antes de alcançá-lo, sou interceptado por três dos guardas mascarados de
Kace, cada um empunhando armas luminescentes — prata lunar!
Não! Não desta vez!
Cada um deles dá um tapa em mim, mas eu sou muito rápido. Minha
agilidade supera a deles.
Eu agarro um deles pelo braço empunhando a espada e estalo minhas
mandíbulas em tomo dele, quebrando-o em dois. Um gosto metálico
enche minha boca enquanto seu sangue escorre pela minha garganta. O
guarda grita de agonia e cai no chão, segurando o que resta de seu braço.
Ele não vai durar muito. Seu ferimento é muito grave, então eu o
deixei sangrar.
Um segundo guarda empurra sua espada para frente, mas eu
facilmente me afasto. Ele atinge a parede atrás de mim. Minhas garras
envolvem sua cabeça e eu torço até seu pescoço estalar.
Ele cai no chão.
Um terceiro guarda atinge meu ombro com seu mangual brilhante.
Eu grito de dor.
Posso sentir que estou começando a voltar à forma humana no ponto
de impacto, mas resisto. Eu não deixo isso me levar. Apesar da dor
latejante da prata da lua, não consigo mudar.
O guarda não consegue acreditar.
Nem eu posso.
Então eu agarro o guarda pela garganta e o jogo pela janela,
quebrando o vidro em milhares de pedaços. Ele grita em seu caminho
para baixo, cortando o silêncio quando seu corpo respinga no chão
abaixo.
— Kaden! — Eu ouço a voz de Mara gritar pouco antes de uma força
poderosa me derrubar no chão.
Kace!
Ele pula e me agarra com uma fúria que nunca vi antes. Ele dá vários
bons golpes antes que minhas patas poderosas o lancem de cima de mim,
o jogando contra a parede.
Ele não é mais meu irmão. Ele é outra coisa — algo monstruoso e
maligno. Seja o que for, não vai durar muito mais tempo.
Estou nele em um instante.
Minhas mandíbulas rasgam um pedaço de carne de seu lado, sem
pensar duas vezes.
Ele bate na minha cabeça com o punho, me jogando para trás, mas eu
lanço sobre ele novamente e passo minha garra em seu focinho e outra
em seu peito.
Vejo Mara me observando, me revigorando ainda mais.
Meus braços gemem sobre ele com tanta fúria que se toma um borrão.
Ele tenta contra-atacar, mas eu habilmente me esquivo e desvio seu
ataque.
Eu o chuto no estômago, tirando o fôlego dele.
Eu ouço seus ossos quebrarem quando eu bato em sua mandíbula.
Ele cai no chão.
Ele está de costas para mim — a garganta exposta.
Eu o tenho!
Abro minhas mandíbulas enquanto pressiono sua jugular, mas
quando me aproximo, meu impulso é repentinamente frustrado.
Eu não consigo me mover.
Uma dor intensa dispara pela minha coxa e começa a se espalhar pelo
resto do meu corpo. Eu olho para baixo e vejo uma lâmina de prata lunar
saindo de mim — a pata de Kace em tomo do cabo.
Eu nunca vi a lâmina.
Ele deve ter se agarrado ao chão quando caiu.
Posso sentir que estou começando a mudar.
Eu luto, mas é demais — não consigo me controlar. Eu desabo no
chão enquanto meu corpo enfraquecido se torna humano novamente.
Kace arranca a lâmina da minha perna e fica sobre mim. Seu lobo o
segura acima do meu peito.
— Nããão! — Eu ouço Mara gritar do outro lado da sala. Eu posso ver
ela e Lexia tentando mudar, mas elas não conseguem.
Kace olha para mim, mostrando suas presas como se estivesse
sorrindo.
Oh merda, merda, merda!
Ele vai me matar! Ele realmente vai fazer isso!
E na frente de Mara! Não consigo imaginar um horror maior do que
ver seu único amor verdadeiro assassinado diante de seus olhos...
Não! Eu não posso deixar isso acontecer!
Tento me levantar do chão, mas o pé de Kace me chuta de volta.
Minha cabeça bate no chão de pedra, causando desorientação. Tudo se
toma um borrão.
Só consigo distinguir Kace de pé sobre mim. Eu o vejo erguer a faca
em preparação para o golpe final.
É
É isso.
Mas ele hesita!
Seus músculos ficam mais relaxados quando a fúria dentro dele
começa a diminuir. Ele começa a abaixar sua arma, mas então a levanta
de volta no ar.
Por que ele está fazendo isso?
O que diabos está acontecendo com ele?
Sua espada começa a tremer.
Para meu alívio, Kace cambaleia para longe de mim e começa a atacar
como se estivesse atacando um inimigo invisível.
Sua boca começa a espumar. Ele parece fora de si. Ele está deixando
cair sua lâmina e agarrando sua cabeça de dor, uivando no ar.
Ele é uma visão assustadora.
Ele então se vira e corre em minha direção com a faca na mão. Ele
segura a ponta da minha garganta, mas se afasta novamente. Ele bate na
cabeça com a mão livre.
É enervante.
E para meu horror, ele estende a lâmina e a enfia no estômago,
soltando outro grito terrível antes de cair no chão.
— Não! — Eu grito.
Eu vou até ele e vejo como ele faz a transição para a forma humana.
Por que ele fez isso?
Oh, Kace... o que você fez?
Eu cuidadosamente puxo a faca dele e, no momento em que o faço,
um espectro diabólico sai voando de sua ferida — como aquele que saiu
de mim quando Mara me esfaqueou, me libertando da minha maldição!
Ele dá voltas pela sala, gritando, antes de desaparecer pela janela.
Eu sigo como ele avança.
Bem abaixo da torre, vejo a Matilha da Vingança parada, não mais
defendendo as paredes do castelo. A batalha entre os bandidos carecas de
Kace e os outros bandos continua ao redor deles, mas a Matilha da
Vingança não se move. Eles apenas olham em volta confusos, como se
tivessem acabado de acordar.
Que diabos?
Mas então eu vejo uma faísca acender em seus olhos. Quando eles
percebem o que está acontecendo, eles se voltam para os homens de Kace
e começam a matá-los.
Estou realmente vendo isso?
À medida que o Matilha de Vingança se junta aos Matilhas de
Liberdade e Poder, os aliados invadem o resto do terreno do castelo,
matando qualquer pessoa e qualquer coisa que fique em seu caminho.
Eles não deixam prisioneiros.
O controle da mente foi levantado!
Eu rapidamente encontro as chaves das correntes de Mara e Lexia e as
liberto.
MARA

Eu pulo nos braços fortes de Kaden e o seguro forte, tão forte que
parece que eu poderia quebrá-lo. Eu amo a sensação de seu peito nu
contra minha bochecha. Posso sentir as batidas rítmicas de seu coração.
Eu inalo profundamente para sentir seu cheiro.
Ele ainda está completamente nu, mas não se importa com quem vê.
Nossas bocas plantam beijos um no outro, pequenas explosões
detonando a cada toque — eu senti tanto a falta dele! Eu não quero que
isso pare. Pela primeira vez em muito tempo, me sinto segura.
Ele então se afasta para olhar nos meus olhos. Há lágrimas — não
apenas as minhas, mas as dele também.
Ele passa as mãos pelo meu cabelo e eu, o dele.
Não dizemos uma palavra. Nós não precisamos. Nós apenas
sabemos... estamos inteiros de novo.
Um gemido de Kace quebra nosso abraço.
— Kace! — Kaden diz, e vamos até ele.
Ele perdeu muito sangue, mas está respirando.
— Ele ainda está vivo! — Eu digo.
Com o canto do olho, vejo Lexia agarrar uma lâmina próxima e
avançar em direção a Kace. — Não, espere, — diz Kaden, segurando-a.
— Me solte! — Ela exclama.
— Simplesmente pare! Olhe para ele! Ele não é a mesma pessoa de
antes!
— Eu não me importo! — Ela diz sem remorso pela criatura ferida a
seus pés. — O que ele fez comigo — para nós! Não pode ser perdoado! —
Ela continua a lutar. — Me solte, ou eu vou acabar com você também!
E Kaden faz.
Lexia está sobre o homem que colocou tudo em movimento — o
homem que a acorrentou e bateu nela, o homem que inconscientemente
matou seu companheiro. Ela está consumida pela raiva.
Ela agarra a espada com força e aponta a ponta da lâmina sobre o
coração dele.
Sua respiração se intensifica.
— Você não quer fazer isso, Lexia, — eu digo.
— Não me diga como me sinto! — Ela grita de volta. — Se não fosse
por ele, Grayson ainda estaria vivo!
— Você tem razão. Eu sinto Muito. Mas pergunte a si mesma... matar
Kace tornará tudo melhor? Porque não importa o quanto você queira,
isso não trará Grayson de volta.
Ela me olha bem nos olhos. Seu rosto se contrai quando as lágrimas
começam a se formar. Ela agarra a lâmina com mais força.
— Eu não posso deixá-lo escapar impune!
Kaden olha impotente. Ele está totalmente perdido.
— Faça o que você tem que fazer, — ele diz tristemente.
Mas ela não segue adiante.
Ela larga a arma, cai no chão e começa a chorar. Ela está consumida
pela dor. Tudo está voltando, como se todas as emoções reprimidas que
ela sentia por dentro estivessem finalmente sendo liberadas.
Eu vou para o lado dela, e ela me deixa abraçá-la. Eu a balanço para
frente e para trás, dizendo a ela que vai ficar tudo bem, enxugando suas
lágrimas.
Ela me segura.
KADEN

Kace encontra forças para me alcançar.


Eu vou até ele e pego sua mão. Posso ver em seu rosto que todo o mal
que o atormentava se foi. Meu irmão está de volta.
Eu olho para as feridas que infligi a ele e estou cheio de vergonha. Não
era isso que eu queria — eu nunca teria desejado isso para ninguém. O
sangue continua a fluir dele enquanto eu começo a curar suas feridas
com qualquer coisa que posso encontrar.
Eu não estou perdendo ele.
— Kaden... eu estou... — ele murmura, mas eu o calo e olho para ele
com ternura.
— Não diga outra palavra. Vou te curar de novo. Isso é uma promessa.
Ele dá um sorriso fraco e eu sorrio de volta.
Eu me afasto dele e vejo Mara segurando Lexia. Aquece meu coração
ver minha companheira confortá-la, ver a maneira como ela abraça seus
instintos maternais. Não há outra que poderia servir melhor como a mãe
de nosso bando.
Eu sou seu Alpha, e ela é minha Luna — a Luna. Era o seu destino.
Eu então cuidadosamente levanto o menino que eu conheci em meus
braços e o levo para fora da sala para encontrar um curandeiro.
Ele geme em agonia.
— Não se preocupe, irmãozinho. Eu não vou deixar nada acontecer
com você.
Espero estar certo.
Capítulo 30
ALPHA-LUNA MARA
Nós conseguimos.
As matilhas se reuniram no grande salão para um banquete. A Matilha
da Vingança, a Matilha da Igualdade, a Matilha da Liberdade e a Matilha
do Poder, todos reunidos sob o mesmo teto.
A Matilha da Igualdade e a Matilha de Vingança trocam dicas sobre a
melhor forma de matar alguém enquanto os membros da Matilha da
Liberdade convencem lobos embriagados da Matilha do Poder a se juntar
a eles em nudez pública — muitos genitais flácidos.
Kaden e eu sentamos na mesa principal olhando para este espetáculo,
junto com Alpha Landon e Luna Althea, Alpha Lexia e os recém-
nomeados Alpha Evan e Luna Leia.
Estou muito feliz que Evan foi nomeado Alpha do Matilha da
Liberdade. Não consigo pensar em ninguém mais adequado para liderar.
Ainda estou triste com o que aconteceu com Grayson, especialmente
para Lexia, mas ela é forte e sei que vai perseverar.
Depois de um tempo, Kaden se levanta para se dirigir à multidão. Ele
faz um longo brinde aos nossos compatriotas e agradece o apoio, mas
quase não ouço uma palavra que sai de sua boca. Eu apenas fico olhando
para ele com amor. Tenho certeza de que tudo o que ele está dizendo é
importante, mas tudo o que importa para mim é que ele está aqui.
Nunca mais o quero fora da minha vista.
Um grito alto me tira do transe e todos bebem.
Kaden pega minha mão e a beija com ternura, e eu o beijo de volta.
Mas quando eu olho em seus olhos, meu afeto começa a se transformar
em outra coisa... — O que é? — Ele diz curiosamente.
Eu me inclino e sussurro em seu ouvido: — Me siga.
KADEN
Peço licença para sair da mesa e deixo Mara me levar embora. Eu
pergunto aonde ela está me levando, mas ela não diz uma palavra, apenas
que é — uma surpresa.
Ela me leva para fora e me conduz pela escada em espiral de uma das
torres de vigia do castelo. Assim que alcançamos o topo, Mara se vira e
tranca o portão gradeado atrás dela, me prendendo dentro da torre. Ela
parece absolutamente linda sob o luar.
— O que você pensa que está fazendo? — Eu digo timidamente.
Mara encolhe os ombros.
— Você vai abrir o portão?
Ela balança a cabeça negativamente.
— Por que não?
Ela se aproxima.
— Porque eu estava pensando que poderíamos fazer outra coisa, — ela
diz maliciosamente, olhando entre duas barras de metal.
— Me beije, — ela diz.
Eu decido jogar seu jogo e me inclinar para ela, gentilmente beijando
ao longo das bochechas até que eu alcance sua boca — nossas línguas
dançam suavemente.
Nós derretemos um no outro através da barreira.
Sem tirar os lábios dos meus, Mara solta meu cinto através das barras
antes de enfiar a mão na calça e agarrar meu pau.
Soltei um gemido suave.
Ela segura com firmeza, embora não com muita força, deixando claro
que ela está no controle. Ela começa a massagear meu comprimento,
estimulando o fluxo sanguíneo. E uma sensação notável.
Eu a sinto envolver sua mão em volta da minha cintura, e ela me leva
para o portão, me guiando suavemente até que meu membro esteja
completamente dentro.
— O que você acha que está—
Ela me cala e depois fica de joelhos. É quando eu sinto... sua boca
molhada deslizando pela minha ereção. Eu agarro as barras e suspiro
quando ela pressiona sua boca em volta do meu eixo antes de deslizar de
volta para cima.
Eu gemo de novo, mais alto do que antes.
Ela se move mais para baixo, continuando esses movimentos
repetitivos por tempo suficiente para que eu veja as estrelas e a lua
orbitando no alto.
Meus joelhos enfraquecem.
Eu agarro as barras com ainda mais força.
As dobradiças da porta se tensionam sob minha pressão enquanto
tento me conter, mas ela começa a gemer — me estimulando ainda mais.
Estou perdendo o controle.
— Estou prestes a terminar, — advirto enquanto começo a me afastar,
mas ela não quer. Ela agarra minha bunda e me puxa para mais perto,
movendo-se para cima e para baixo ainda mais rápido — mais
intensamente.
Eu não posso aguentar mais. Estou prestes a explodir.
E então acontece.
Meus olhos rolam para trás e deixo escapar um gemido quando ela me
deixa liberar dentro de sua boca. Ela pega tudo de bom grado. Eu mal
consigo ficar de pé.
Ela afasta os lábios de mim, mas suas mãos não me soltam. Elas
continuam a me massagear. Há um brilho de travessura em seus olhos,
orgulho pelo que ela me fez fazer. Eu me sinto revigorado. — Isso é tudo
que você tem? — Ela me pergunta, me desafiando.
Mesmo que ela já tenha me feito gozar, isso imediatamente me deixa
ainda mais duro.
— Nem perto, — eu digo ansiosamente.
Mara tira a calcinha, mas nada mais.
Ela se aproxima do portão e vira as costas para mim.
Levantando o vestido, ela pressiona seu traseiro contra o portão e
agarra as barras acima de sua cabeça por trás. Eu alcanço minha mão
através das barras para tocar sua boceta, mas ela me empurra de volta.
— Apenas me leve, — diz ela por cima do ombro.
Eu sorrio enquanto pego minhas mãos e as envolvo em volta de sua
cintura, gentilmente a guiando de volta para as barras.
MARA

As mãos firmes de Kaden puxam minhas costas ainda mais para o


portão, seu pau saindo por entre as barras. Solto um gemido quando
sinto seu pau duro deslizando para frente e para trás entre minhas coxas
úmidas enquanto ele se esfrega entre minhas dobras, me provocando.
Isso me faz rir, mas me excita ainda mais.
— Você está pronta? — Ele sussurra ternamente. — Se você precisar
de mais tempo...
— Apenas faça isso, porra, — eu respondo severamente.
Ele não hesita.
Solto um grito que ecoa pelas paredes do castelo enquanto o sinto se
pressionar completamente dentro de mim. O impulso inicial quase me
desequilibra, mas ele se segura com firmeza enquanto agarro as barras
atrás de mim para me apoiar.
Ele lentamente se afasta — não completamente — em seguida,
empurra-se de volta para dentro de mim, causando uma onda de
adrenalina em todo o meu corpo.
Soltei outro gemido.
Ele continua puxando e empurrando de volta, gradualmente
ganhando velocidade enquanto bate minhas costas contra as barras. Não
dói. Gosto da sensação do metal frio contra minha pele.
Uma onda de energia quente cresce dentro de mim, pulsando ao
redor.
Ele passa a mão pelo meu vestido e ao redor dos meus seios enquanto
a outra envolve mais apertada em tomo dos meus quadris. O calor
derretido continua subindo de baixo, e eu me vejo ficando cada vez mais
alto. Eu não me importo com quem ouve.
Seu hálito quente fumega contra meu pescoço enquanto ele pressiona
mais forte em mim por trás, as barras ainda entre nós.
Eu não aguento mais.
Minhas coxas apertam e minhas mãos apertam os portões.
Solto um grito de êxtase enquanto a fúria do meu núcleo me ataca —
me punindo por estar longe por tanto tempo — mas ele não para. Ele
continua antes que a sensação diminua, fazendo com que a intensidade
aumente ainda mais.
Solto outro grito enquanto vou novamente. É inacreditável! Nunca fui
duas vezes tão rápido antes.
Minhas mãos perdem toda a força e eu escorrego, mas ele me impede
de cair.
Ele para de empurrar.
— Você foi? — Eu pergunto sem fôlego.
— Nem perto, — ele responde.
Minhas pernas estão fracas.
Ele se inclina e sussurra em meu ouvido: — Isso é tudo que você tem?
Eu olho por cima do ombro e sorrio, balançando a cabeça
negativamente.
Ele me olha ansioso.
— Afaste-se, — ele diz.
Ele se puxa para fora de mim e eu tropeço na parede para me apoiar.
Eu ouço o som de ossos quebrando.
Quando eu olho para trás, vejo seus braços e mãos mudando. Depois
de concluído, ele agarra o portão e o arranca das dobradiças, jogando-o
de lado. Não há nada entre nós agora.
Seu pau parece mais massivo do que eu já vi.
— Não sei se consigo ficar em pé, — digo nervosamente quando ele se
aproxima.
— Você não precisa, — ele responde enquanto sem esforço me levanta
no topo da parede do castelo. Eu suspiro com a queda de nove metros
atrás de mim. E assustador, mas estimulante ao mesmo tempo.
Ele se coloca dentro de mim pela frente, e eu envolvo minhas pernas
em volta dele para me apoiar, segurando-o com força.
— Não me deixe cair agora, — eu digo, minha voz ainda trêmula.
Ele sorri e começa a empurrar ritmicamente em mim. Eu puxo meu
vestido pela cabeça e jogo para o lado, não me importando para onde vai.
Sinto como se pudesse cair a qualquer momento, mas sei que ele nunca
vai me deixar ir.
Eu rio enquanto as gárgulas da torre nos observam de cima.
Deixe-os assistir!
É quando essa sensação começa a subir mais uma vez... o inchaço
orgástico não adulterado.
Eu mudo meus olhos para a forma de lobo para aumentar a
intensidade.
Seus olhos mudam também.
Eu o solto e me inclino para trás, deixando meus braços e parte
superior do tronco pendurados na parede.
Ele bombeia mais forte, mais rápido. Ele está prestes a ir... e eu
também.
— Me marque! — Ele diz entre as respirações.
— Tem certeza?! — Eu digo, não querendo mais nada.
— Faça!
Eu grito para a Deusa quando a fúria toma conta antes de me lançar
para frente e perfurar meus caninos alongados em seu pescoço. Ele solta
um rugido bestial com o prazer da minha mordida enquanto se liberta
dentro de mim.
Jogo minha cabeça para trás e uivamos juntos sob o luar.
Quando a sensação começa a diminuir, ele me puxa para perto, me
levando em seus braços.
Quero dizer que te amo, mas não consigo pegar ar para dizer isso.
Ele está me beijando profundamente enquanto me segura com força.
Permanecemos presos juntos — eu na parede do castelo, ele dentro de
mim. Eu nunca vou desistir.
Na manhã seguinte, visitamos Kace na enfermaria e, pelo que parece,
ele parece estar se recuperando. Suas feridas ainda precisam de um
tempo para cicatrizar, mas seus cuidadores dizem que ele deve se
levantar em algumas semanas.
Deitado na cama, ele faz uma cara boa, mas posso dizer que ele está
relutante em nos ver.
— Não posso me desculpar o suficiente pelo que fiz, — ele diz,
baixando a cabeça. — Não há nada que eu possa dizer ou fazer para
compensar o que fiz.
— Eu já te disse, — Kaden diz carinhosamente, — você não precisa...
— Eu sei, — Kace interrompe, — mas ainda não apaga a culpa que
sinto por dentro. É por isso que decidi que, quando estiver totalmente
recuperado, vou deixar a Matilha da Vingança para sempre.
Kaden parece que teve o vento o nocauteado. Não era isso que ele
esperava ouvir. Depois de tudo o que passamos, até eu não consigo
deixar de me sentir desapontada. Kace voltou a ser aquela pessoa boa
novamente.
— Não! Você não pode fazer isso! — Kaden grita.
— Eu não tenho escolha! Como posso mostrar minha cara por aqui
com todos sabendo o que eu fiz? Eu simplesmente não posso.
Kaden fica em silêncio.
— Onde você irá? — Eu pergunto.
— Não sei... em algum lugar longe daqui.
Kaden tenta esconder, mas posso ver que seu coração está partido. Ele
ama muito seu irmão e não quer vê-lo partir. Mas ele sabe que o que Kace
diz é verdade, então ele não luta mais com ele.
— Obrigado a vocês dois por tudo o que fizeram. Seu perdão significa
mais para mim do que você jamais saberá.
Kaden envolve os braços em tomo de Kace e o beija na testa.
— Você fica bem agora, ouviu?
— Vou tentar, — ele responde.
Começamos a sair.
— Mais uma coisa, — Kace diz, chamando nossa atenção.
— Sobre o que aconteceu comigo... a escuridão... Você deve conhecer
o homem responsável por tudo isso.
Ele sabe quem é? l
— Quem? — Kaden pergunta.
O rosto de Kace fica pálido.
Sua mão começa a tremer.
— Não, não posso! — Ele diz rapidamente, retirando sua declaração.
— Kace…
— Não! Você não entende! Você não tem ideia do que ele é capaz!
Kace começa a suar enquanto sua respiração se intensifica. Ele está
começando a me assustar.
— Kace, por favor... nós temos que saber.
— Se ele descobrir que fui eu, ele vai me matar!
— Eu não vou deixar isso acontecer. Se você sabe quem é, você tem
que nos dizer.
Seus olhos percorrem a sala como os de um animal selvagem. Quem
poderia instilar tanto medo nele?
— Por favor, — digo suavemente, pegando sua mão, — você é o único
que pode nos ajudar.
Depois de um momento, ele respira fundo e começa a se acalmar.
— Tudo bem, — diz ele, — se você realmente precisa saber...
Ele fecha os olhos. A antecipação está me matando.
— Alpha Rylan.
Tudo para.
Kaden e eu estamos em choque total.
— Alpha Rylan?! — Kaden pergunta, — como Alpha Rylan da Matilha
da Pureza? Tem certeza?
— Juro pela minha vida, — responde Kace. — As garotas
desaparecidas, a prata lunar, a magia negra... tudo. Era tudo ele.
Eu não posso acreditar. Depois de todo esse tempo, ele é o único
responsável? Como ele pôde fazer isso? Por que -ele faria isso?
— Se ele é tão poderoso quanto você diz que é, — eu respondo, —
estamos correndo um perigo muito maior do que imaginávamos.
E então me ocorre. Não somos os únicos em risco.
— Meus pais!
Livro 3 – Sem Revisão
Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!

E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD


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Capítulo 1
ADEUS
Então, Alpha Rylan é... mau?
Meu antigo Alpha. O líder da Matilha da Pureza.
Eu quero acreditar em Kace. Mas não tenho certeza se compro essa história.
Eu conheço Rylan minha vida inteira. Claro, ele é um idiota de primeira
classe.
Excessivamente conservador. Perigosamente resistente a mudanças.
Mas ele não é um cara mau.
Ou será que é?
MARA

O dia todo estive pensando no que Kace nos contou na enfermaria. A


maior parte da noite também. Eu me viro na cama muito tempo depois
que Kaden vai dormir. Ouvir sua respiração lenta e suave sempre me
envia direto para a terra dos sonhos, mas esta noite, minhas perguntas
sem respostas são um grande obstáculo.
Será que meu antigo Alpha realmente é mau?
Não há dúvida de que Kace estava sob controle mental. Toda o
Matilha da Vingança estava. Eles eram pessoas completamente
diferentes.
Eu estremeço, pensando no olhar escuro e penetrante de Kace. Seu
toque espinhoso. Ele até tentou me marcar, quando estou claramente
comprometida com seu irmão!
Ele era Coen de novo.
Não há nenhuma maneira de Alpha Rylan ser o mentor. Isso
significaria que ele estava por trás das meninas desaparecidas também.
Por que ele sequestraria membros de sua própria matilha? Isso não faz
sentido.
Luxúria não está no dicionário de Alpha Rylan. Ele é o cara mais
abotoado que conheço. Conservador. Devoto. Devoto demais, na
verdade.
E muito fodidamente controlador, agora que estou pensando nisso.
Mas isso não significa nada. Não é uma prova concreta.
Talvez Kace esteja apenas confuso. Ele já passou por muito. Sua mente
deve estar uma bagunça.
A minha está.
Eu fico olhando para Kaden ao meu lado, tentando me acalmar. Ele
parece um bebê gigante, musculoso e tatuado. Como ele pôde dormir tão
profundamente? Parece que enfrentamos uma nova crise a cada dia.
Talvez ele apenas se acostumou, eu acho com um pequeno sorriso.
Eu me deito ao lado dele, tentando afastar meus pensamentos de Kace
e Alpha Rylan. Não há nada a fazer sobre isso agora. Eu inalo o perfume
masculino do meu companheiro como uma droga, lentamente caindo...
KACE

Verifico minha mochila uma última vez, verificando três vezes se


tenho tudo de que preciso para a viagem. De repente, não consigo me
lembrar de levar uma escova de dentes.
Eu vasculho comida, roupas e mapas e...
Aí está. No fundo. Ufa.
Espere — onde está a pasta de dente?!
Nesse ponto, percebo que estou procrastinando. Eu realmente não
quero deixar a Matilha da Vingança.
Eu sei que preciso.
A escuridão que me consumiu era horrível. Eu assumi o controle da
Matilha. Tentei marcar Mara.
Eu torturei e quase matei Kaden, meu próprio irmão.
Eu sei que todos me perdoaram. Mas acho que não mereço. Estou
mortificado com meu comportamento, mesmo que não estivesse no
controle dele.
Eu estava fraco. Susceptível.
Eu não posso deixar isso acontecer novamente.
Fecho minha mochila pela última vez e caminho pelos corredores do
Castelo da Vingança até o saguão. É o amanhecer, mas Kaden e Mara já
estão esperando por mim.
Eu não queria alarde, mas estou feliz por eles estarem aqui para se
despedir de mim — mesmo que isso não amenize meus sentimentos de
traição. Eu mal consigo encará-los enquanto eles me abraçam em
despedida.
— Você sabe que nós te perdoamos, Kace, — Kaden me lembra pela
milionésima vez. — Você não tem que sair.
— Sim, mas eu quero, — eu suspiro.
Meu irmão balança a cabeça carrancudo, piscando para conter a
emoção. Eu mal consigo conter as lágrimas. Somos tudo o que nos resta
da nossa família, e nós dois tivemos muitos problemas ultimamente. Isso
é doloroso para nós dois.
Pelo menos ele tem Mara.
Eu olho para minha Luna sem jeito. Eu me sinto estranho abraçando
ela depois de todas as coisas nojentas que a escuridão me fez fazer com
ela. Aquela dança assustadora. Tentando forçá-la a acasalar comigo...
Mas, Mara, sendo Mara, quebra a tensão jogando seus braços em volta
de mim.
Agora não consigo parar de chorar.
— Tchau, Mara, — eu sufoco.
Ela me aperta com mais força.
— Tchau, Kace, — ela diz, sua voz tão tensa quanto a minha.
— Para onde você irá? — Kaden pergunta enquanto Mara e eu nos
separamos.
Eu olho pela janela para a estrada à frente, semicerrando os olhos ao
sol da manhã.
— Se eu tiver que enfrentar o mal novamente, eu preciso ser mais
forte. Preciso aprender como derrotar a escuridão em meu coração e
mente. Para mim e para nosso bando.
Eu volto para eles, meus olhos endurecendo com resolução.
— Estou indo para a Matilha da Disciplina.
Kaden acena com a cabeça. — E então você vai voltar? — Ele pergunta,
um toque de esperança em sua voz.
Eu hesito.
— Voltarei quando sentir que fiz as pazes. Com você... e comigo...
Eu jogo minha mochila e começo a descer as escadas em direção à
porta.
— Kace, espere!
Mara me alcança.
— Você tem certeza que foi Alpha Rylan quem assumiu o controle de
você? — Ela pergunta, procurando meus olhos como uma exploradora.
— Positivo?
Positivo? Tão positivo quanto estou respirando. Tão positivo quanto o
sol nasce de manhã e a lua à noite. Alpha Rylan é pura verdade — pura
maldade. Nunca vou esquecer o que ele fez comigo. Meus olhos
estreitam com o pensamento daquele bastardo doente.
Eu fixo Mara com um olhar duro.
— Positivo.
KADEN

Mara e eu ficamos do lado de fora observando Kace até que ele se


tome um pontinho à distância. Eu odeio dizer adeus depois de me
encontrar com ele tão recentemente. O verdadeiro ele. Mas eu entendo
sua escolha. Eu teria feito a mesma coisa.
Guio Mara de volta ao castelo. Agora que estamos de volta a algum
nível de normalidade, temos um assunto urgente para tratar.
— Mara, — eu digo enquanto nos dirigimos para a sala de jantar para
o café da manhã. Ela me olha, distraída. Não posso culpá-la por estar
chateada com Kace. Mas quanto mais cedo eu contar a ela, melhor.
— Como você sabe, você é minha Luna agora, — eu começo, — e por
gerações, a primeira ordem de negócios para cada Luna da Matilha da
Vingança sempre foi a mesma...
— Se tiver alguma coisa a ver com cozinhar ou limpar, você pode calar
a boca agora mesmo, ' Mara se encaixa. Eu amo sua agressividade.
— Não exatamente, — eu digo com um sorriso. — Você precisa
planejar nossa cerimônia de acasalamento.
Mara para. — Eu pensei que nós estávamos acasalados oficialmente.
Ela franze a testa, esfregando o pescoço no local onde a marquei. Só
de pensar naquela noite apaixonada minhas calças ficam um pouco mais
apertadas. Eu a pego em meus braços e levanto seu queixo.
— Nós somos oficiais. A cerimônia de acasalamento é apenas uma
formalidade. É uma noite para o bando celebrar o início de uma nova Luna e
seu Alpha encontrar o amor verdadeiro.
Ela sorri. — O amor verdadeiro?
— Não poderia ser mais verdadeiro.
Mara entrelaça seus dedos nos meus, seu corpo pressionando contra o
meu.
— Então, estou planejando nosso casamento?
— Você com certeza está.
Ela faz uma dancinha animada. Estou feliz que ela esteja satisfeita. Eu
não queria estressá-la jogando tudo isso em seu colo. Mas eu deveria
saber que Mara poderia lidar com isso.
Afinal, ela pode cuidar de mim.
O doce cheiro de seu cabelo dourado me deixa selvagem.
Caramba. Estou com uma ereção completa no meio da porra da sala
de jantar. Mara parece notar imediatamente. Eu sinto sua mão rastejar
em direção ao meu zíper...
— Mara — advirto, olhando para a porta da cozinha. Tenho certeza de
que um dos servidores sairá com o café da manhã a qualquer minuto.
Que desperdício. Eu nem estou mais com fome.
De comida, de qualquer maneira.
Mara parece ler minha mente. Ela desliza pela porta e sai alguns
momentos depois, segurando algo nas costas.
— Eu disse a eles que faríamos nosso próprio café da manhã, — diz ela
timidamente. — Eles não vão nos incomodar.
Minha companheira é uma atrevida total. Ela pula na mesa e começa a
tirar as roupas. Eu rapidamente sigo sua liderança. Estou mais duro que
um diamante. Meu pau está implorando por ela.
Ela se senta na beirada da mesa e abre as pernas, exibindo suas dobras
já brilhantes quando me aproximo. Assim que estou prestes a colocar
minha boca sobre ela — cada centímetro quadrado dela — ela empurra
algo na minha mão. Algum tipo de lata de alumínio...
— Eu estava falando sério sobre fazer o café da manhã, — ela diz em
um sussurro sexy.
Eu olho para o rótulo, rindo enquanto leio.
Chantilly.
Eu avidamente olho o corpo da minha companheira. Seus seios
maduros. Seus mamilos de cereja.
Eu os molhos em uma doce espuma branca.
Mara ri. — Faz cócegas, — ela diz.
— Vou mostrar as cócegas, — advirto, começando a lamber...
MARA

Depois de um, bem, café da manhã orgástico, Kaden e eu nos lavamos


e retomamos ao saguão para nos despedir dos Alphas e Lunas visitantes.
Agradecemos novamente por terem vindo para o resgate com toda a
situação do Kace do mal. Todos ficam emocionados quando
mencionamos a próxima cerimônia de acasalamento.
Alpha Landon e Luna Althea nos dão abraços e apertos de mão.
— Espero ver vocês novamente em breve, — eu digo enquanto eles se
dirigem para as portas.
— Não tão cedo. — Alpha Landon ri.
Alpha Evan e Luna Leia estão em espíritos compreensivelmente mais
baixos. Como nós, eles estão sentindo a perda de Grayson, o Alpha
anterior da Matilha da Liberdade, mas Evan é talvez o mais afetado de
todos nós: Grayson era seu irmão.
Dou um longo abraço em Alpha Evan. Ele está aguentando muito
bem, considerando todas as coisas. Ele sempre pareceu tão forte,
equilibrado e perspicaz. Grayson deixou para trás grandes sapatos para
preencher, mas tenho a sensação de que Evan será um Alpha incrível
também.
— Bem, é hora de pegar aquela trilha empoeirada, — Alpha Evan diz,
me liberando. — Pronta, Leia?
— Só um minuto, Evan!
Ela sorri para mim e Kaden.
— Estou muito feliz em saber que vocês estão oficializando isso. Eu
estava pensando antes de irmos e tudo mais... Mara, você gostaria de
uma leitura? Tenho certeza de que há muita felicidade em seu futuro.
Você deve querer um vislumbre disso.
Eu hesito. E uma oferta gentil, mas a última vez que Leia me deu uma
leitura foi um tanto... perturbadora. Mas antes que eu possa abrir minha
boca, Kaden me cutuca para frente.
— Ela adoraria isso, — ele diz com um sorriso político. — Vá em
frente, Leia, leia.
Eu lanço um olhar para Kaden e ofereço minha mão a Leia. Eu amo
minha companheira Luna, mas tenho a sensação de que isso é uma má
ideia.
Leia toca minha palma e traça as linhas finas e ranhuras. Ela fecha os
olhos em concentração. Eu prendo minha respiração.
— Entendo... um vestido preto...
Uh... eu acho que ela quis dizer branco mas, por outro lado, até agora
tudo bem...
— Kaden parece tão bonito no altar com você...
Vocês dois parecem tão felizes...
Eu começo a relaxar. Tudo parece muito bom até agora. Acho que vou
planejar o inferno dessa cerimônia de acasalamento. Não que eu esteja
surpresa, é claro.
De repente, uma carranca escurece o rosto de Leia.
— Vejo fogo... muito fogo...
Hum, o que foi isso agora?
Os olhos de Leia se abrem e rolam para dentro de sua cabeça. Eu não
gosto disso nem um pouco.
— Kaden parece tão bonito no altar com você...
Vocês dois parecem tão felizes...
Eu começo a relaxar. Tudo parece muito bom até agora. Acho que vou
planejar o inferno dessa cerimônia de acasalamento. Não que eu esteja
surpresa, é claro.
De repente, uma carranca escurece o rosto de Leia.
— Vejo fogo... muito fogo...
Hum, o que foi isso agora?
Os olhos de Leia se abrem e rolam para dentro de sua cabeça. Eu não
gosto disso nem um pouco.
— Entendo... entendo... entendo...
— O que você vê?! — Eu exijo, incapaz de aguentar.
— O apocalipse... — ela profere, em transe. — E você é a causa disso...
Meu coração afunda. Eu? A causa do apocalipse?!
Eu sabia que essa leitura era uma má ideia!
Capítulo 2
VISÃO DE LEIA
Como eu poderia causar o apocalipse?
Eu sou apenas um lobisomem normal de dezoito anos! E totalmente
impossível!
Nem em um milhão de anos eu poderia trazer o fim para a terra!
Estou totalmente abalada...
Minha própria alma...
Do que diabos Leia está falando?!
MARA

O apocalipse... E você é a causa disso...


As palavras assustadoras de Leia ecoam em minha mente.
— O que você quer dizer? — Eu sussurro, minha voz quebrando com
medo.
Leia engasga, tentando falar, mas as palavras parecem presas em sua
garganta. Seu corpo treme como se ela estivesse à beira de uma
convulsão.
— O... apocalipse... — ela diz com voz rouca.
Sem aviso, Leia desaba nos braços de Alpha Evan, mole como uma
meia. Kaden pede água fria enquanto Evan e eu a colocamos em uma
cadeira. Evan acaricia e abana sua Luna quando ela acorda.
— Você está bem, meu amor? — Evan pergunta, piscando para conter
as lágrimas de preocupação.
Ela acena fracamente. Ele pega a mão dela. Kaden oferece a ela um
copo de água gelada. Leia dá um longo gole. Eu a observo, minhas
entranhas se retorcendo em nós. Eu sei que este não é um bom momento
para perguntar, mas caramba, eu não posso evitar-
— O que você viu, Leia?
Kaden e Evan olham para mim com um aviso de fogo nos olhos, mas
Leia acena com a cabeça cansada.
— Eu vi o fim do mundo. Você e Kaden estavam em um altar sob a lua
cheia. A mais brilhante que já vi. Foi espetacularmente lindo... e
espetacularmente aterrorizante...
Seus olhos ficam momentaneamente em transe novamente. Eu ouço
sem fôlego enquanto ela continua.
— A lua estava em rota de colisão com a Terra.
E você, Mara... você era o centro de tudo. Seu vestido preto ondulando
com os ventos fortes, suas mãos estendidas para o céu noturno, seus
olhos... seus olhos...
Ela balança a cabeça, tentando livrar sua mente da visão perturbadora.
Pelo menos uma de nós pode.
— Sinto muito, Mara. — Suas mãos seguram as minhas. Mas agora
sou eu que estou tremendo.
Eu poderia realmente ser responsável por trazer o fim do mundo?
Parece absolutamente maluco. Por outro lado, prever o futuro é o tipo de
coisa da Leia...
Minha vida tem estado muito maluca ultimamente, mas isso está fora
da porra do universo. Talvez Leia tenha comido algum peixe ruim ou
algo assim. Simplesmente não parece fazer sentido. Quer dizer, a lua
colidindo com a Terra? Seriamente. Como isso pôde acontecer?
Leia se levanta enquanto a cor retorna ao seu rosto branco como um
fantasma. Evan envolve um braço de apoio em tomo dela enquanto ela se
dirige para a porta.
— Acho que devemos ir.
Evan acena uma despedida silenciosa para Kaden e eu. Leia ganha
velocidade.
— Vejo vocês na cerimônia de acasalamento! — Eu grito, tentando
deixar as coisas com um tom alegre. Mas minha única resposta é um
rangido alto quando as portas se fecham atrás deles.
Meu sorriso falso cai aos meus pés.
Não sei o que pensar.
KADEN

Eu me sinto um idiota.
Eu só tinha que bancar o bom anfitrião e fazer Mara ver sua sorte.
Eu não acredito nessa porcaria de mágica, é besteira. Achei que Mara
também não. Mas ela parece realmente abalada por essa coisa de profecia
do apocalipse. O dia todo ela esteve distante, distraída, desligada. Ela está
toda em sua cabeça sobre isso.
No sentamos para jantar, na mesa em que transamos esta manhã. Mas
aquela sexy e brincalhona Luna me deixou. Agora eu vejo minha
companheira mexer a comida em seu prato, seu garfo dando voltas na
corrida mais chata do mundo.
— Mara, fale comigo.
Ela ergue os olhos sem expressão.
— Não deixe a previsão de Leia afetar você. Esse negócio de fim do
mundo é besteira. Não é real.
— Você tem certeza sobre isso?
— Claro que tenho certeza! — Eu estalo. — Não há nada com que se
preocupar. Confie em mim.
— Eu confio em você, — ela diz, hesitante. — Mas também confio em
Leia. Ela estava totalmente consumida por sua visão. Tremendo e outras
coisas. Ela claramente não estava inventando. — Vamos, Mara, — eu
suspiro. — Foi apenas um Sonho. Um pesadelo. Vamos esquecer isso e
seguir em frente. Temos coisas mais importantes com que nos
preocupar. Como nossa cerimônia de acasalamento.
Tento colocar as mãos dela sobre a mesa, mas ela se afasta.
— Não vamos ter uma cerimônia de acasalamento se o mundo acabar,
— ela resmunga.
Eu gemo. — Mara, por favor! O mundo não vai acabar. E se eu vir essa
lua maldita descendo aqui, vou chutar sua bunda de volta para o céu!
Mara ri. Ver seu sorriso me enche de alívio.
— Você não pode lutar contra a lua, idiota.
— Eu posso e vou, — eu insisto em minha voz mais arrogante. — Não
se esqueça — eu sou Alpha Kaden.
Eu me levanto da mesa e caminho até a janela.
— Ouça isso, lua? Nem pense em vir aqui para foder minha cerimônia
de acasalamento! Caso contrário, você vai conseguir um pouco disso!
Eu flexiono ameaçadoramente até ouvir Mara rir novamente.
— Eu acho que você mostrou o seu ponto.
Eu marcho de volta para a mesa. Ela revira os olhos e dá uma mordida
na comida. Não falamos sobre essa profecia idiota pelo resto da noite.
MARA

Esta manhã, tento esquecer a profecia de Leia. Devo me encontrar


com algum tipo de planejador da cerimônia de acasalamento para fazer a
bola rolar. E hora de colocar minha cara de jogo. Eu quero mostrar a
Matilha da Vingança como sua nova Luna é arrasadora.
Tenho que admitir que estou um pouco nervosa. Toda garota sonha
em planejar sua cerimônia de acasalamento. Mas eu sempre imaginei que
seria amarrada a algum cara da Matilha da Pureza, não o grande e mau
Alpha Kaden. Estou percebendo que não sei nada sobre os costumes e
tradições da Matilha da Vingança.
Seremos compatíveis?
Eles não podem ser tão diferentes da Matilha da Pureza. Uma
cerimônia de acasalamento é uma cerimônia de acasalamento, certo?
Eles provavelmente são um pouco mais casuais, e talvez não mencione
tanto a Deusa da Lua. Tenho certeza que vamos fazer funcionar.
Vou encontrar Claude depois do café da manhã. Kaden disse que ele
ajudou a planejar todas as cerimônias de acasalamento da Matilha da
Vingança nos últimos quarenta anos. Ele até trabalhou com os pais de
Kaden. Estou animada para conhecer uma parte viva da história de nosso
bando.
Mas quando chego aos meus aposentos de Luna, o lobisomem
esperando por mim não é nada como eu esperava que um planejador de
cerimônia de acasalamento se parecesse. Ele é um velho desalinhado, alto
como uma árvore e mais do que alguns quilos acima do peso. Parece que
ele não muda de roupa desde os trinta.
— Então você é a nova, hein? — Claude late, me avaliando.
— Eu sou Mara, — eu digo, apertando sua mão. Quase vomito. Ele
cheira a jeans puídos.
— Bem, Sra. Mara, temos muito o que fazer e não temos muito tempo
para fazê-lo. Felizmente, já fiz isso um milhão e meio de vezes. Se quiser,
pode deixar tudo comigo. Planejar uma cerimônia de acasalamento é
como planejar meu jantar. Bife cru. Toda noite. — Ele lambe os lábios
com nojo.
— Então, mocinha, o que você me diz? Quer fazer isso da maneira
fácil ou da maneira mais difícil?
Eu fico olhando para o homem Ogro por cerca de meio segundo. Não
há decisão a ser tomada.
— Vou insistir em estar o mais envolvida possível.
Claude franze atesta. — Sim. Compreendo.
Ele me leva até a mesa, me entregando algumas folhas de papel
amassado cobertas de rabiscos ilegíveis.
— As primeiras coisas primeiro, você vai querer se familiarizar com a
tradicional cerimônia de acasalamento da Matilha da Vingança. Anotei a
estrutura básica do evento. Você e eu resolveremos o resto. Lista de
convidados. Arranjos de assentos. Refeições. Eu tenho um ótimo bife, se
você estiver interessada...
— Claude, — digo, segurando suas anotações infantis, — não consigo
ler isso.
— Claro, você vai querer escolher o vestido primeiro, — o velho
divaga, me ignorando. — Eu sei que vocês, senhoras, adoram brincar de
se vestir. Não temos muita seleção no departamento de roupas femininas
aqui na Matilha da Vingança, mas tenho duas ou três para você testar.
— Dois ou três vestidos? É isso?!
Claude encolhe os ombros. — Esses números são bons para mim.
Eu examino suas roupas velhas e gastas, salpicadas com manchas de
um zilhão de bife cru de jantares.
— Por curiosidade, você tem uma companheira, Claude? — Eu
pergunto, minha voz tremendo de frustração.
— Não, — ele responde claramente. — Por que você pergunta?
Claude é um desastre. Eu não posso acreditar que ele está planejando
cerimônias de acasalamento da Matilha da Vingança por quase meio
século. É um milagre para mim que ele possa vestir calças de manhã.
Então, novamente, ele provavelmente nunca as tira.
É uma merda. Ele não escuta nada do que eu digo. Ele já fez isso
muitas vezes. Ele não se importa em me dar a minha cerimônia de
acasalamento dos sonhos, ele só quer tomar sua vida o mais fácil
possível, seguindo os movimentos.
Eu queria que minha mãe estivesse aqui. Ela costumava planejar
muitos grandes eventos quando eu estava crescendo. Festas de
aniversário. Reuniões de família. Eventos do templo.
Em diferentes circunstâncias, sei que ela adoraria me ajudar a planejar
minha cerimônia de acasalamento. Ela definitivamente não aceitaria
nenhuma merda de Claude.
Infelizmente, meus pais essencialmente me renegaram quando
descobriram que eu estava acasalada com Alpha Kaden, o inimigo mortal
da Matilha da Pureza. Quando todos nós jantamos juntos, eu poderia
dizer que eles estavam começando a gostar de Kaden, mas como de
costume, eles acabaram ficando do lado de Alpha Rylan. Chocante.
Encontro Kaden sozinho em suas câmaras Alpha. Eu preciso
desabafar.
— Como está indo a cerimônia de acasalamento? — Ele pergunta.
— Fodidamente horrível, — eu digo, à queima-roupa. — Onde você
encontrou esse tal de Claude?
— Ele veio com o castelo, — brinca Kaden. — Ele é realmente tão
ruim assim?
Sim! Eu quero gritar. Demita Claude e traga literalmente qualquer
outra pessoa na Terra para me ajudar!
Mas eu me lembro que agora sou uma Luna.
Kaden é igual. Ele me confiou para planejar nossa cerimônia de
acasalamento, e eu tenho que cuidar sozinha. Não quero que ele pense
que sou incapaz.
— Ohhhh... eu vou descobrir, — eu suspiro. — Eu só queria que
minha mãe estivesse por perto. Nós batemos muitas cabeças quando eu
estava crescendo, mas eu ainda sempre a imaginei por perto para planejar
minha cerimônia de acasalamento.
Kaden franze a testa para mim.
— Mara, não precisamos de seus pais. Eles são dois zumbis da Matilha
da Pureza. Eles nos trataram como uma merda quando fomos lá para
jantar.
— Isso não significa que eu ainda não os ame, — retruco, minha voz
aumentando de emoção.
— Eu entendo isso. Mas se é a aprovação deles que você está
procurando, você não vai conseguir. Sua matilha me odeia. E seus pais
são muito fracos para pensar por si mesmos.
— Eu sei disso! — Eu grito, surpresa com minha própria raiva. Eu levo
um segundo para relaxar. Não é culpa de Kaden que meus pais sejam
idiotas.
— É só... eu quero que tenhamos a cerimônia de acasalamento
perfeita. E não será perfeito para mim se minha mãe e meu pai não
estiverem aqui. Mesmo que eles sejam um tipo de merda. Você consegue
entender isso?
Kaden me toma em seus braços e acaricia suavemente meu cabelo.
— Eu entendo. Mas o que nós podemos fazer? Eles claramente não
querem interagir conosco.
Ele tem razão. Mas preciso tentar mais uma vez, droga. Se Claude vai
me fortalecer para um jantar de casamento completo da Matilha da
Vingança, preciso de um pouquinho da Matilha da Pureza para equilibrar
as coisas. Não estou procurando a aprovação dos meus pais. Mas no meu
grande dia, quero sentir alguma retribuição do amor que ainda tenho por
eles.
Eu me decidi. Eu olho nos olhos do meu companheiro.
— Kaden, estou voltando para a Matilha da Pureza.
Capítulo 3
O CONVITE
De volta a Matilha da Pureza.
De novo.
Estou nervosa por enfrentar meus pais. Mas eu tenho que dar a eles outra
chance. Minha cerimônia de acasalamento não vai se sair bem sem eles.
Eu não esqueci o que Kace disse sobre Alpha Rylan também.
Ele tinha certeza de que Alpha Rylan assumiu o controle dele.
Vamos, Mara. Uma coisa de cada vez.
Mamãe e papai, prontos ou não, aí vou eu.
MARA

Nas minhas últimas visitas a Matilha da Pureza, fui com companhia.


Kaden e as meninas desaparecidas. Lexia e uma horda de lobas sedentas
de sangue.
Agora estou sozinha e posso entrar nas paredes altas com muito mais
facilidade. Por um momento, espero que as coisas tenham mudado aqui.
Bem... eles não mudaram. Enquanto meus pés percorrem a rota
familiar, reconheço rostos nas ruas. Rostos que vi me ameaçando com
tochas e facas literais apenas algumas semanas atrás. Eles olham para o
outro lado quando me veem. Eu também.
Eu sei que não deveria sentir vergonha pelo que aconteceu quando
toda a matilha descobriu que eu estou acasalada com Alpha Kaden. Mas
eu quebrei uma das regras mais sérias de nosso bando quando me mudei
na frente deles. Não posso fingir que não me incomodou, e estar de volta
aqui só piora meus sentimentos de vergonha e culpa.
Eu passo pela varanda da frente dos meus pais, a mesma varanda em
que eu estava quando Kaden e eu estávamos encurralados, nossas vidas
ameaçadas. Meus pais ficaram parados e não fizeram nada.
Eu subo a passarela. Minha mão trêmula alcança a porta...
Eu bato lentamente.
Não ouço nada por alguns momentos. Em seguida, passos de dentro.
Eu me preparo para o reencontro estranho.
— Quem é?
Alguns momentos depois, ela abre a porta.
Sua mandíbula se abre em choque quando ela me vê.
— Ei, Milly...
Eu embaralhei meus pés desajeitadamente. Então eu sinto os braços
da minha melhor amiga em volta de mim.
— Mara, estou tão feliz em ver você!
Pelo menos alguém da Matilha da Pureza ainda se preocupa comigo.

Milly e eu sentamos em volta da mesa da cozinha com meus pais. Não


há nenhuma maneira de entrar neste campo de batalha emocional sem
ela. Eu preciso de apoio.
Além disso, meus pais sempre gostaram de Milly. Se virem que ela está
do meu lado, talvez sejam um pouco mais tolerantes.
Agora, porém, seus rostos parecem esculpidos em pedra.
— Uma cerimônia de acasalamento da Matilha da Vingança? — Papai
zomba quando eu conto. — Você é louca?
— O que há de tão louco em querer que meus pais comparecessem à
minha cerimônia de acasalamento? — Eu atiro de volta.
— Mara, nós não nos associamos com a Matilha da Vingança. Acima
de tudo, Alpha Kaden. Especialmente depois daquele episódio da
mudança. Você percebe como isso foi mortificante para nós?
— Para vocês?!
Droga. Já estou perdendo a cabeça. Sempre esqueço o quanto meus
pais me irritam.
Milly me olha nos olhos, sem palavras me instruindo a me acalmar.
Ela não está errada.
— Olha, — eu suspiro, tentando um novo tato, — Eu sei que o jantar
com Kaden poderia ter sido melhor. Mas isso é diferente. Sua garotinha
vai se casar. Eu sou sua única filha.
Percebo a expressão da minha mãe suavizar um pouquinho. Ela sonha
com o dia do meu casamento tanto quanto eu. Eu continuo.
— Eu não estou tentando forçar vocês a gostarem de Kaden. Continue
odiando-o cegamente, se quiser. Eu só quero saber que vocês estarão lá
para mim quando eu estiver naquele altar. Eu amo vocês, e não seria uma
cerimônia de acasalamento perfeita sem vocês.
Meu pai cruza os braços, mas posso dizer que mamãe está
enfraquecendo.
— É claro que queremos estar presentes no dia do seu casamento, —
ela diz, com a voz ameaçando chorar. — Mas por que tem que ser ele? Há
muitos garotos legais na Matilha da Pureza. Você poderia ter qualquer
um deles. Você ainda pode, — ela acrescenta, esperançosa. — Certo,
Milly?
— Mas eu amo Kaden, mãe. Ele é minha alma gêmea. Ele me desafia.
Me deixa mais forte. Me deixa melhor. E eu faço o mesmo por ele. Não
consigo imaginar a vida com mais ninguém.
Lágrimas caem livremente dos olhos de minha mãe. Dos meus
também.
— Ele é um bom homem, — Milly interrompe, olhando com seriedade
para meus pais. — Ele ajudou a nos libertar de seu irmão malvado. O
verdadeiro Alpha Kaden é bom e gentil. Não é o monstro que Alpha
Rylan gostaria que vocês acreditassem.
— Ele parecia... meio legal... — minha mãe balbucia.
Milly começa com a ajuda! Essa é minha garota!
Meu pai se levanta da mesa.
— Mara, a resposta é não. Nós não vamos. E ponto final, — ele diz um
pouco secamente. — A palavra de Alpha Rylan é lei. Não iremos contra
nossa igreja por Alpha Kaden ou qualquer outra pessoa. Agora, por favor,
saia antes que você nos aborreça ainda mais. Isso é difícil para nós
também, você sabe.
Que idiota! Eu olho para minha mãe. Ela balança a cabeça tristemente
em concordância, seus olhos vermelhos de tanto chorar.
Por que eu pensei que poderia influenciá-los? Kaden está certo. Eles
são incapazes de pensar por si próprios.
Afasto minha cadeira da mesa e saio correndo sem dizer mais nada.
Eles não valem o meu fôlego.
Milly e eu caminhamos pela vizinhança por um longo tempo. Eu não
digo nada. Nem ela. Estou apenas tentando o meu melhor para não ter
um colapso total.
Esta é a gota d'água. Meu relacionamento com meus pais acabou
oficialmente. Eles só se preocupam em saber como minhas decisões os
afetam. Eles não pensam em como me machucam.
Eu fui de uma criança problemática para Luna da Matilha da
Vingança. Porque me arrisquei com Kaden. Porque me arrisquei no amor.
Porque eu pensei por mim mesma.
Só porque não estamos mais no mesmo bando, não significa que não
podemos ainda amar e respeitar uns aos outros. Por que eles continuam
deixando sua religião estúpida nos separar?!
Não consigo me acalmar. Eu queria que Kaden estivesse aqui.
Espere, não, não quero. Porque se ele tivesse que comer a merda que
acabei de comer, ele bufaria e sopraria e derrubaria todo a Matilha da
Pureza.
Sim, não importa, eu desejo gostaria que Kaden estivesse aqui.
Milly pode dizer que não estou nem perto de relaxar, mas está
começando a ficar tarde. Nós duas deveríamos voltar para casa.
— Você sabe o que sempre me faz sentir melhor quando estou
chateada? — Ela pergunta.
— Não.
— Eu visito o Templo da Deusa da Lua.
— Vamos, Milly, — eu gemo. — Você sabe que não sou muito crente.
— Você não tem que ser, boba, — ela repreende.
— Quer dizer, vou lá orar. Mas talvez você possa meditar. É um lugar
relaxante.
Ela está certa sobre isso. Apesar do fato de que eu praticamente
desprezo todos os valores conservadores que a Matilha da Pureza
representa, o Templo da Deusa da Lua é um lugar lindo e infernal. Fontes
borbulhantes. Estátuas de mármore. O coro ocasional. Pode valer a pena
parar antes de voltar para o Castelo da Vingança.
— Obrigada, Milly. Você sempre dá os melhores conselhos.
— Aqui está um pouco mais então, antes de você ir, — ela diz. —
Dane-se seus pais. Case-se com Kaden. Não importa se eles vão aparecer
ou não. Você deveria estar com o cara que te faz mais feliz. Mesmo se ele
for Alpha Kaden.
Dou a Milly o maior abraço que consigo reunir. Espero não estar
sufocando ela.

Eu entro no Templo da Deusa da Lua ao anoitecer. Felizmente, parece


que ninguém está por perto. Eu ando pelos corredores do prédio antigo,
onde participei de tantos serviços e eventos quando era criança. Parecia
muito maior então. Ainda é tão impressionante quanto eu me lembro,
porém, e silêncio e tranquilidade são exatamente o que eu preciso agora.
Sento-me em um banco de pedra no pátio, observando as estátuas da
Deusa da Lua recortadas sob os últimos traços roxos de luz do sol.
Depois do que aconteceu com mamãe e papai, esta pode ser minha
última vez visitando a Matilha da Pureza. É melhor eu absorver a vista.
— Mara? — Uma voz familiar chama do outro lado do pátio. Eu olho
para cima para ver Alpha Rylan caminhando em minha direção.
Ugh. A última pessoa que quero ver agora.
— Quem deixou você entrar aqui? — Ele rosna.
— Eu... uh...
— Só estou brincando, — diz o velho com um sorriso estranho. —
Estou bem ciente de todos que entram nessas paredes. A Luna da
Matilha da Vingança dificilmente seria uma exceção. Posso me juntar a
você? O pátio parece tão bonito sob esta luz, você não acha? — Ele se
senta no banco sem esperar por uma resposta.
Assistir ao pôr do sol com esse monstro psicopata? Sim, vou passar. Já
estou ficando arrepiada.
— Desculpe, Alpha Rylan, — eu digo, me levantando, — Mas eu
realmente deveria voltar para o Castelo da Vingança. Está ficando muito
escuro e...
Sua mão dispara, apertando meu pulso como uma cobra.
— Veja o nascer da lua comigo, Mara. É tudo o que peço. Eu luto
contra seu aperto. É surpreendentemente forte para um homem de sua
idade.
— Solte... Você está me machucando...
Um sorriso estranho ilumina seu rosto.
— Criança, você não sabe nada sobre a dor.
Ele me encara como se estivesse paralisado, seus olhos claros
brilhando levemente na escuridão acelerada. — Mas você irá. Oh, você
vai...
Agora ele está realmente me assustando. Eu luto com mais força, mas
seu aperto só aumenta. Ele está cortando minha circulação...
— Você sabe como você é especial, Mara? — Seus olhos mudam para a
deusa da lua. — Você é uma garota de sorte. Sim, eu vejo agora. Você
sempre foi destinada à grandeza. Eu fui um tolo por não perceber isso
antes.
Ele me puxa para mais perto. Eu sinto sua respiração quente e
irregular. Seu olhar lascivo.
Eca, Eca, Eca!
Alpha Rylan está vindo para cima de mim?!
— Você sabe quem você é? — Ele pergunta, seus olhos dançando de
loucura.
— Sim, — eu lati. — Eu sou Mara, Luna da Matilha da Vingança. E se
você não me soltar neste maldito instante, vou fazer chover fogo do
inferno sagrado em sua bunda!
O velho dá uma gargalhada desagradável. — Aquele bu ão não chega
perto do meu poder. Ou o seu.
Meu poder? Do que ele está falando? Estou quase obrigada a
perguntar, mas então sinto sua mão se soltar abruptamente. Alpha Rylan
ficou de queixo caído, seus olhos arregalados voltados para o horizonte.
Eu olho para fora para ver o brilho da lua crescente baixa no céu.
Alpha Rylan observa, hipnotizada, como uma criança olhando um mobile
girando.
Quero saber mais, mas prefiro dar o fora daqui. Deixo o pátio o mais
rápido que posso, correndo para as paredes da Matilha da Pureza.
Meu poder...
O que isso significa?
Isso tem algo a ver com a profecia de Leia?
Capítulo 4
A MATILHA DE DISCIPLINA Eu fui libertado do mal dentro de
mim.
Mas eu sei que ainda pode estar lá. Esperando.
Preparado para crescer como uma erva daninha a qualquer momento e
terminar o trabalho que começou.
Eu tenho que aprender a lutar contra minha escuridão.
E só há um lugar que vai me ensinar...
KACE

Acordo cedo, observando o céu da manhã enquanto as estrelas


cintilam, a escuridão se rendendo aos tons pastéis do amanhecer.
Tomo um café da manhã ralo e preparo meu minúsculo acampamento
à beira da estrada. Eu não vi uma alma desde que deixei a Matilha da
Vingança, alguns dias atrás, e meus mantimentos estão começando a
diminuir.
Felizmente, a primeira etapa da minha jornada está quase no fim.
Pelo menos eu espero que sim.
Apertando as alças da minha mochila, eu fico olhando para as dunas
varridas pelo vento indo infinitamente para longe. A areia do deserto
brilha intensamente ao sol da manhã.
Em algum lugar lá fora está meu destino.
A Matilha da Disciplina.
Pego o caminho estreito que localizei ontem à noite, marcado com
apenas algumas pedras espalhadas e praticamente escondidas da estrada.
Pelo que sei sobre a Matilha da Disciplina, eles não são exatamente 'bem-
vindos’ aos visitantes.
O caminho parece levar direto ao coração desse esquecimento
arenoso. Sigo a rota por quilômetros, até que a estrada atrás de mim
desaparece como uma miragem. Eu suo com o calor que aumenta
rapidamente, tirando minha jaqueta e depois minha camiseta. Paro para
beber do meu cantil, rindo baixinho para mim mesmo.
Essa é apenas a parte fácil.
Se a Matilha da Disciplina me aceitar, serei levado aos meus limites
físicos. Eles vão me espancar, me esticar, me quebrar e me reconstruir do
zero.
E é exatamente disso que preciso. Aumentar minha força física é um
passo enorme e necessário para conquistar minha escuridão.
Mas como eu disse, eles têm que me aceitar primeiro. Há uma chance
de que eu esteja fazendo essa jornada por nada, de que nem mesmo
encontre a Matilha da Disciplina. Eles raramente se comunicam com o
mundo exterior.
Mas, droga, preciso tentar.
As dunas ficam mais altas. Meus pés afundam na areia como água. O
caminho se toma menos claro a cada passo. Eu caminho para frente, indo
mais devagar, esperando que este seja o caminho certo. Ficar perdido
aqui pode me matar. Eu não sobreviveria por muito tempo no calor
escaldante do deserto.
O vento aumenta. Eu luto contra as rajadas fortes, cego pela agitação
da areia. Não consigo ver à frente ou atrás de mim. Tudo parece igual.
Não há como voltar agora.
Depois de mais alguns quilômetros, tenho certeza de que estou
acabado. Eu perdi o caminho. Não consigo ver nada, e só tenho comida e
água o suficiente para durar o dia todo.
Me sento no topo de uma duna para esperar a tempestade de areia
passar.
É quando eu vejo.
O oásis.
Esfrego meus olhos para ter certeza de que não estou tendo
alucinações, mas é real. Uma mancha verde e azul à distância. Palmeiras.
Água.
Vejo uma pequena vila à sombra de uma pirâmide enorme erguendo-
se das areias movediças.
A Matilha da Disciplina.
Eu encontrei!
Eu ando pelas ruas de areia, encontrando meu caminho para a
pirâmide. Caracteres estranhos e hieróglifos são esculpidos nas colunas
de pedra externas.
Eu entro com cautela, seguindo uma longa passagem iluminada por
tochas. Ele se abre para uma grande sala vazia adornada com mais
entalhes. Uma dúzia de velhos está sentada imóvel ao redor de uma
fogueira tremeluzindo no centro.
Os homens mal me reconhecem quando dou um passo à frente,
incerto.
— Olá. Meu nome é Kace. Eu venho da Matilha da Vingança. EU—
— Não nos importamos com quem você é, jovem. Apenas o que você
procura.
O velho mais próximo da fogueira ergue os olhos. Seu longo cabelo
branco está preso em um rabo de cavalo e ele tem uma barba que quase
toca o chão. Seu corpo magro está envolto em mantos pretos lisos.
— O que você procura?
— Procuro conquistar a escuridão dentro de mim. Por qualquer meio
necessário.
O velho alisa a barba, me avaliando. Ouço alguns murmúrios dos
outros velhos, ganhando vida como brinquedos de corda.
— O treinamento não será fácil, — afirma.
— Tudo bem, — eu respondo.
O fogo crepitante ilumina o sorriso tênue do velho. Obviamente, era a
resposta certa.
— Você vai se machucar.
— Estou ansioso por isso, — eu rebato.
— Você não vai gostar.
— Eu não esperava férias.
O velho alisa a barba novamente. Com uma rapidez surpreendente,
ele pula de pé e caminha ao redor do fogo para apertar minha mão. Seu
aperto de ferro quase quebra meus ossos.
— Eu sou chamado Alpha Ip. Bem-vindo a Matilha da Disciplina. —
Ele aponta para um corredor. — Você pode dormir aqui na pirâmide esta
noite. Esteja pronto amanhã ao amanhecer.
Esteja pronto? Para que?
Não querendo parecer estúpido, eu aceno agradecido e caminho em
direção ao corredor.
Estou dentro. Inferno, sim!
MARA

Cheguei em casa tão tarde da Matilha da Pureza ontem à noite que


não me incomodei em contar a Kaden sobre meu encontro assustador
com Alpha Rylan. Ele já estava tão preocupado.
Eu assegurei a ele através do link mental muitas vezes que eu estava
totalmente bem, mas ele não estava satisfeito até que eu estivesse em
segurança dentro das paredes do Castelo da Vingança. Sua atitude
protetora me faz sentir amada quando preciso ser.
Infelizmente, esta manhã, Alpha Rylan é a única coisa em que posso
pensar. E estranho dizer, mas a maneira como ele me agarrou parecia
quase... sexual.
Não é algo que eu esperaria de meu ex-líder de igreja. É
profundamente perturbador. Tomo um longo banho, tentando limpar a
sensação de seu toque frio e úmido.
O que foi toda aquela conversa sobre destino e grandeza? Meu poder?
Alpha Rylan sempre costumava me rotular como uma encrenqueira. Eu
não entendo sua mudança repentina de coração. Ele estava apenas
tentando entrar nas minhas calças ou algo mais estava acontecendo?
Eu penso sobre a maneira como ele olhou para a lua. Ele era como um
zumbi.
Este não é o Alpha Rylan que eu conheço e odeio. O que diabos deu
nele?
Ele está finalmente ficando senil?
Como de costume, Kaden percebe que algo está errado comigo.
Depois do café da manhã, ele me leva até meus aposentos de Luna. —
Você vai me contar como foram as coisas com seus pais?
Direito. Meus pais. Emoções dolorosas enchem meu coração. Depois
do que aconteceu com Rylan, eu quase esqueci.
— Eles não estão vindo.
— Idiotas de merda.
— Eu sei. Mas é como você disse... eles não conseguem pensar por si
próprios. Eu só tenho que aprender a aceitar que meus pais sofreram
uma lavagem cerebral completa pela Matilha da Pureza. Eles nunca serão
quem eu quero que sejam. Eles não podem ser livres como nós.
Admitir isso em voz alta me sufoca. Kaden coloca um braço temo em
volta de mim e acaricia meu ombro, me deixando chorar.
— Foda-se eles, Mara. Não precisamos de ninguém. A única razão pela
qual estou indo em frente com esta maldita cerimônia de acasalamento é
porque é tradição. Eu poderia ser feliz sozinho com você em uma ilha
deserta para sempre. Somos toda a família de que precisamos.
— Obrigada, Kaden. — Eu fungo, suas palavras gentis de alguma
forma me deixando ainda mais emocional. Beijo seus lábios suavemente,
saboreando seu doce sabor.
— Você está errado sobre a cerimônia de acasalamento, no entanto, —
eu digo enquanto me afasto. — Não é bobo. Eu quero estar lá em cima
com você. Quero que todos vejam o quanto nos amamos. Como somos
perfeitos juntos. Eu poderia ser feliz em uma ilha deserta com você
também, mas isso é tradição e temos responsabilidades para com nosso
bando.
Kaden sorri. — Você é uma Luna incrível, Mara.
— Me diga algo que eu não saiba, — respondo.
Nós compartilhamos outro beijo antes que ele me deixe em meus
aposentos.
Eu tenho o melhor amigo do universo.
RYLAN

Me sento na torre mais alta do Templo da Deusa da Lua, observando o


brilho da lua crescente no céu, aguardando ansiosamente a melodia
sobrenatural de sua voz. Eu costumava falar em nosso relacionamento.
Orando para ela todos os dias, de manhã, ao meio-dia e à noite.
Agora, ela finalmente responde.
Foi a Deusa da Lua quem finalmente revelou seu verdadeiro
receptáculo para mim. Depois de meses e meses de busca, de tentativa e
erro, pensei que nunca encontraria aquela que cumpriria a profecia.
Eu deveria saber. Sua rebeldia. Não conformidade. Franqueza. Ela não
podia ser contida pelas regras estritas de meu humilde bando.
Oh, como eu gostaria de ter sabido antes, quando ela estava bem na
minha frente. Eu poderia ter intervindo. Agora ela se contaminou ao se
acasalar com aquele rufião babão do Matilha da Vingança.
Não importa. Mara perceberá seu verdadeiro destino em breve.
A Deusa da Lua a escolheu como seu canal terrestre. Um corpo
humano a habitar para que ela possa se misturar entre nós neste fim dos
tempos para o mundo como o conhecemos.
Sim, a grande limpeza está próxima. Meu coração acelera com o
simples pensamento. Logo os impuros terão suas sobremesas justas. E os
puros... vamos ter a recompensa que esperávamos.
A lua sobe mais alto no céu. Vou ouvir minha deusa esta noite?
Começo a ter minhas dúvidas, mas permaneço vigilante. Ela disse que
tinha instruções para mim...
Rylan...
Sua voz enche minha cabeça como água em um balde. Eu foco minha
atenção.
— Sim, Deusa da Lua? Como posso servi-la?
Capítulo 5
O FOSSO EM CHAMAS
Outro enlouquecedor encontro com Claude.
Eu não posso deixar essa desculpa patética de planejador da cerimônia de
acasalamento destruir meu casamento.
Eu preciso enfrentar esse desajeitado.
Ninguém me fecha.
Eu sou a porra da Luna!
E esse bastardo gordo vai aprender a me respeitar!
MARA

Claude está atrasado.


Espero em meus aposentos por uma boa meia hora antes que o velho
gordo entre, demorando-se.
— Bom dia, Sra. Mara, — ele diz brilhantemente. Sem surpresa, ele
está vestido com as mesmas roupas da última vez.
— Uh, Claude? — Aponto para o relógio, irritada.
— Belo relógio, — ele diz, se sentando à mesa com o que parece ser
uma total ignorância.
Sério, de que planeta esse cara é?!
Não posso ter outra reunião como da última vez. Preciso mostrar a
esse preguiçoso trapalhão quem manda. Mas antes que eu tenha tempo
de castigá-lo, seus lábios babados já estão batendo a mil por hora.
— Espero que você tenha tido a chance de revisar aquelas notas sobre
a cerimônia que eu dei a você da última vez, porque hoje vamos
conversar sobre o local...
— Achei que poderíamos fazer no telhado do castelo, — digo,
interrompendo-o. Depois da noite romântica que Kaden e eu
compartilhamos lá recentemente, eu não conseguia pensar em um lugar
melhor. Há muito espaço para os convidados, e você pode ver
quilômetros e quilômetros em todas as direções. Até a Cidade de
Vingança parece uma boa vista de cima.
Claude me encara do outro lado da mesa, incrédulo, como se eu
tivesse dito algo para ofendê-lo. Eu começo a ficar com raiva. Tudo sobre
esse idiota me ofende!
— Mocinha, quero que saiba que levo meu trabalho muito a sério e
espero que faça o mesmo. Você claramente não leu minhas anotações.
Ele está castigando a mim? Ohhh inferno não!
— Escute, Claude, eu sou sua Luna e você precisa se dirigir a mim com
um pouco mais de respeito.
— Você não é nossa Luna ainda, mocinha, — Claude cospe. — Não até
que esta cerimônia de acasalamento aqui aconteça. E até agora, não
parece uma garantia!
Eu quero pular sobre a mesa e estrangulá-lo. Como ele ousa falar
assim comigo? Não apenas para sua Luna, mas para qualquer pessoa.
Em vez disso, respiro fundo. Não posso deixar esse porco me atingir.
Kaden não iria.
— Claude, tentei ler suas anotações, mas como te disse da última vez,
sua caligrafia deixa muito a desejar. Por favor. Me esclareça sobre o que
preciso saber.
Ele franze a testa.
— De acordo com os costumes da Matilha da Vingança, — ele começa
em um tom cheio de condescendência, — as cerimônias de acasalamento
da linhagem Alpha acontecem no fosso eternamente em chamas nos
arredores da Cidade da Vingança.
— Você disse 'poço eternamente em chamas '? — Eu pergunto incerta.
Não há nenhuma maneira de ouvi-lo corretamente. Quem gostaria de se
casar em uma fogueira? Talvez seja apenas o nome de um restaurante
chique.
— Com certeza, — Claude rebate indignado, — e se você tem
esperanças de uma cerimônia de acasalamento no topo do castelo, pode
esquecer. Temos feito isso no fosso desde que comecei este show. Desde
meu antigo chefe, Scratchy também. É uma tradição que remonta a
gerações.
— Mas é realmente como uma cova em chamas? — Eu só preciso
verificar antes de ir de chateada para muito chateada.
— Bem, é claro que é uma cova em chamas! Fumaça, fogo, tudo isso. E
uma chama eterna, você sabe. Nunca para de queimar. Eu sei que não
parece um conto de fadas, e bem... não é. Todo mundo cheira a fogueira
de acampamento depois, e leva semanas para sair de suas roupas. Uma
vez, o vestido da noiva pegou fogo. E por isso que temos apenas três
agora.
Minha raiva aumenta com cada palavra. Eu fico esperando ele dizer —
te peguei. — Para Kaden sair de seu esconderijo, revelando que ele está
na brincadeira sem graça. Isso é muito confuso para ser verdade.
— Mas por que? — Eu pergunto impotente. — Quem gostaria de se
casar em uma cova em chamas?
— A fogueira é o local de todas as grandes cerimônias da Matilha da
Vingança. Tem muita importância para a linhagem de Alpha Kaden. Não
me pergunte por quê.
Bem, certamente estarei perguntando a Kaden. Esta é uma tradição da
Matilha da Vingança da qual não vou apoiar. Que garota gostaria que sua
cerimônia de acasalamento acontecesse em uma cova, muito menos em
uma fogueira? Como as gerações de Lunas da Matilha da Vingança
poderiam passar por isso?
Eu quero a cerimônia de acasalamento perfeita. Isso está soando
como um pesadelo literal.
— Olha, vamos passar para o catering. Uma grande coisa sobre o fosso
é a proximidade de chamas abertas. Podemos selar alguns bifes
rapidamente, no entanto, você me conhece, eu gosto deles crus, n
— Certo. Hum, você poderia me dar licença por um momento?
Eu me levanto e saio correndo da sala. Vou perder a cabeça se tiver
que ouvir Claude dizer mais uma palavra.
Eu não queria incomodar Kaden com as coisas da cerimônia de
acasalamento, mas isso foi longe demais.
Eu não vou me casar na porra de um buraco de fogo!
Eu invadi as câmaras Alpha, onde Kaden está realizando uma pequena
reunião com alguns de seus homens. Ele ergue os olhos. Eu odeio fazer
uma cena, mas a lua cheia é em apenas algumas semanas. Isso não pode
esperar.
— Nós precisamos conversar. Agora
Kaden levanta uma sobrancelha, dispensando seus homens com um
aceno de mão. Assim que a porta se fecha atrás deles, ele se senta comigo.
— Qual é o problema, meu amor?
— Claude é o problema, — eu grito, minha raiva finalmente fervendo.
— Ele acabou de me dizer que vamos ter nossa cerimônia de
acasalamento em uma porra de uma cova em chamas. Isso é verdade?
Kaden passa a mão pelo cabelo.
— Bem, sim. E tradição.
Meus olhos saltam.
Sim? Sim?!
— Por que você não me contou? — Eu exijo.
Kaden encolhe os ombros timidamente. — Honestamente, eu não
pensei que seria um grande negócio. Por que importa onde nos casamos?
Ugggghhhh. Está claro que meu companheiro não sabe tanto sobre
mulheres quanto suas proezas sexuais poderiam sugerir. Aparentemente,
tenho que soletrar para ele.
— Kaden, — eu suspiro, — toda garota cresce sonhando com a
cerimônia de acasalamento perfeita. O casamento de conto de fadas dos
seus sonhos. E por isso que quero meus pais aqui. Quero me casar em um
lindo jardim ou em algum lugar com uma vista espetacular. Não em um
buraco.
— Eu sinto muito, — Kaden responde, sua voz suavizando com a
inocência. — Na Matilha da Vingança, toda garota cresce querendo se
casar no fosso. Eu não pensei sobre isso.
— Existe alguma maneira de nos casarmos em outro lugar? Tipo,
talvez no telhado? — Eu sugiro, pegando sua mão. — Ainda penso em
nossa noite mágica lá em cima, dando tudo o que tínhamos um ao outro.
Há muito espaço para convidados. Seria o local perfeito.
Kaden sorri com a memória, mas balança a cabeça suavemente.
— Seria bom, mas temo que seja impossível. Realizar cerimônias de
acasalamento Alpha na cova em chamas é uma de nossas tradições mais
sagradas. Como a nova Luna, especialmente de outra Matilha, não ficaria
bem se você mudasse o local. Parece que você não está respeitando
nossos costumes.
É uma pílula difícil de engolir... mas Kaden está certo. A cerimônia de
acasalamento deve ser minha inauguração oficial como Luna. Não quero
parecer uma chata arrogante. Eu me comprometi com a Matilha da
Vingança. Meu passado na Matilha da Pureza ficou para trás.
Mas ainda assim... uma porra de uma cova em chamas? Eu nem
consigo imaginar.
— Você está certo, — digo a Kaden. — Mas não estou feliz com isso.
— Terei prazer em compensar você, — diz Kaden, me puxando para
perto. Eu posso sentir seu calor crescente. Tenho quase certeza de que a
cova em chamas não tem nada contra ele.
— Você não está no meio de uma reunião?
— Eu sou o Alpha, — ele sussurra, me deixando em chamas enquanto
seus beijos percorrem meu pescoço. — Eles podem esperar...
Enquanto vou dormir naquela noite, ainda estou pensando na cova
em chamas. É uma merda, mas tenho que aproveitar ao máximo. Eu
preciso mostrar a Matilha da Vingança que sua Luna pode ser confiável.
Vou fazer Claude me levar para uma visita. Quem sabe? Talvez não seja
tão ruim. Só espero que meu vestido não pegue fogo.
Ao fazer as pazes com meu futuro inevitável, sinto o sono me
dominando.
— Estou de pé no altar da cova em chamas. Não é tão ruim. Um anel
de fogo envolve o espaço semelhante a uma cratera, os assentos cheios de
convidados do casamento.
Toda a Matilha da Vingança está presente e todos os nossos amigos dos
outros Matilhas. Alpha Landon e Luna Althea. Alpha Evan e Luna Leia.
Alpha Lexia. Milly. E...
Meus pais!
Eles realmente vieram! Meu coração se enche de felicidade. Eu sabia que
eles tinham que enfrentar Alpha Rylan.
Eu vejo Kaden, de pé na minha frente no altar, arrumado e preparado
para a ocasião. Ele nunca pareceu tão bonito. Eu olho para o meu vestido
preto cintilante.
E a cerimônia de acasalamento perfeita.
— Hoje estamos reunidos para juntarmos a estes dois em
companheirismo...
Ao som de uma voz familiar, eu olho para cima em direção ao oficiante.
Oh não.
É Alpha Rylan.
O velho me olha de soslaio enquanto a cerimônia continua.
— Kaden, você considera a Deusa da Lua como sua companheira, na
doença e na saúde, enquanto vocês dois viverem?
Deusa da Lua?! Eu não sou a Deusa da Lua!
Eu olho suplicante para Kaden. Certamente ele tem algo a dizer sobre o
desagradável velho Alpha psicopata supervisionando nossa cerimônia de
acasalamento. Este é o pior dia da minha vida!
— Sim, — Kaden responde sem pestanejar.
— E você, Deusa da Lua, — Rylan diz, se aproximando de mim, me
despindo com seus olhos selvagens, — me aceita para ser seu companheiro,
na doença e na saúde, enquanto vocês dois viverem?
— Não! Pare! — Eu grito enquanto ele me dá patadas, agarrando minha
virilha e seios.
— Kaden!
Mas meu grito cai em ouvidos surdos. Kaden e a multidão estão imóveis,
observando eu me contorcer enquanto Rylan me ataca, rasgando meu vestido
deslumbrante.
— Eu agora te declaro a Deusa da Lua, — ele sibila enquanto as chamas
queimam mais intensamente, engolfando o altar. Picos de fogo de todos os
lugares.
Eu levanto minhas mãos para o céu, desesperada por uma fuga, mas estou
congelada com o que vejo.
A lua cheia, inchada a um tamanho impossível, arremessando-se em nossa
direção...
Exatamente como a visão de Leia.
— Nãããããããããããããããããããããããão!
Acordo encharcado de suor frio. Um sonho nunca me deixou tão
abalada.
E apenas um pesadelo eu me lembro.
Capítulo 6
O ENCONTRO
Parece loucura, mas meu pesadelo parecia real. Muito real pra caralho.
O poço em chamas. Meus pais. Alpha Rylan.
Todas aquelas coisas da Deusa da Lua.
Tudo isso se relaciona com a visão de Leia. Mas como?
Estou começando a achar que deveria estar preocupada.
Inferno, estou preocupada!
MARA

— Mara? O que está acontecendo? — Kaden pergunta meio grogue.


Meu companheiro acorda ao meu lado. Estou ofegante, ainda suando
do meu pesadelo.
Ou foi uma visão?
— Eu vi... eu vi o que Leia viu — gaguejo. — As chamas... O vestido
preto... A lua, vindo em nossa direção. Foi tudo tão vívido...
— Mara, relaxe. Foi apenas um sonho. — Ele me puxa em sua direção,
beijando minha bochecha. — Volta a dormir. Você vai esquecer tudo pela
manhã.
Eu duvido muito disso. Além disso, cansei de dormir esta noite.
Eu sei de uma coisa que vai me fazer sentir melhor, no entanto.
— Kaden. — digo lentamente, — há algo que não contei a você sobre
minha visita a Matilha da Pureza...
— O que? — ele pergunta, já caindo no sono.
— Eu vi Alpha Rylan.
Seus olhos se abrem.
— Aquele filho da puta. Você deu a ele o inferno por mim?
Bem, eu tentei.
— Fiquei tão chateada com o que aconteceu com meus pais que fui ao
É
Templo da Deusa da Lua para me acalmar. É tão tranquilo, sabe? Eu
estava sentada no pátio assistindo ao pôr do sol quando Alpha Rylan
apareceu do nada. Ele...
— O que ele fez? — Kaden pergunta, agora totalmente acordado.
Hesito, em busca das palavras certas, com vergonha de admitir o que
aconteceu.
— Mara, me diga.
— Ele me agarrou. Pelo pulso, — eu especifico rapidamente. — Ele
continuou tentando me puxar para perto dele. Eu poderia dizer que era
meio... sexual ou algo assim... — Eu tento avaliar a expressão de Kaden,
mas está muito escuro. Eu continuo em seu silêncio.
— Ele continuou falando todas essas bobagens sobre eu ser especial...
destinada à grandeza... E no meu sonho... No meu sonho, ele continuou
me chamando de Deusa da Lua... — Minha voz falha.
— Kaden, diga algo. O que você acha que isto significa? Você acha que
isso tem a ver com a profecia de Leia?
Kaden sai da cama e acende a luz. Ele anda pela sala em sua boxer,
tremendo de raiva. Sua montanha de músculos parece prestes a explodir.
— Que merda de cachorro... Toda aquela devoção da Matilha da
Pureza... e ele era um idiota o tempo todo... — Suas mãos se fecham em
punhos grandes e cheios de veias.
— Eu quero quebrar alguma coisa, — ele grita, examinando a sala em
busca de vítimas em potencial...
— Kaden, se acalme, — digo a ele, preocupada com a nossa mobília. —
Está tudo bem... estou bem...
— Você obviamente não está bem, acordando no meio da noite
gritando assim. Filho da puta falso. Eu deveria dar a esse velho nojento
um grande tour pela minha sala de armas. — Ele apunhala uma espada
imaginária no ar. É terrivelmente realista.
— Como ele ousa desrespeitar minha autoridade? Você é minha Luna
pelo amor de Deus! E nojento!
Eu me levanto da cama, envolvendo meu companheiro na tentativa de
sufocar sua raiva.
— Kaden, não importa para mim o que Rylan fez, — eu explico em um
tom suave. — Estou mais preocupada porque ele fez isso. Ele agiu de
maneira tão estranha. Ele não era ele mesmo. E quase como se ele
estivesse sob controle mental. Mas por quem, não tenho ideia.
Tão perto do meu companheiro, ouço seu batimento cardíaco
acelerado voltar ao normal enquanto ele considera o que estou dizendo.
Eu aprecio o quão chateado ele está com isso, mas não acho que dar uma
surra em Alpha Rylan seja a solução correta... por mais que eu gostaria de
ver.
Há algo mais acontecendo aqui. Talvez muito mais.
— Vou convocar uma reunião com ele, — diz Kaden finalmente, sua
voz afiada com contenção. — Esta é uma afronta direta a você, a mim e a
toda a Matilha da Vingança. Ele não pode escapar impune.
Eu concordo. — Acho que é uma boa ideia.
— Vou descobrir o que deu naquela cobra venenosa, — diz Kaden. —
Talvez Kace estivesse certo. Talvez ele seja -responsável pelo mal que o
possuiu.
Eu aperto Kaden com mais força. Ele me abraça de volta. Nosso
abraço dura muito tempo.
Espero que ele consiga descobrir o que está acontecendo.
Se Alpha Rylan estava realmente controlando Kace...
Quem poderia ser poderoso o suficiente para controlar Alpha Rylan?
KACE

Meu treinamento na Matilha da Disciplina foi rápido e brutal. Eu não


faria de outra maneira. Mas Alpha Ip estava certo. Não é fácil. Estou
dolorido pra caralho, e com certeza não gosto disso.
Isso não significa que estou desistindo. Não por um tiro longo.
Alpha Ip é muito mais forte do que sua aparência frágil poderia
sugerir. Ele tem a energia ilimitada de um adolescente, combinada com a
sabedoria experiente e o intelecto aguçado de seus longos anos. Ele
parece ter um prazer especial em bater na minha bunda, então acho que
isso significa que ele gosta de mim.
Minha rotina diária é assim:
Ao amanhecer, acordo com oito voltas ao redor do oásis, quase
sufocando com o calor seco do deserto. Depois de um café da manhã
esparso, praticamos artes marciais na pirâmide a maior parte do dia,
interrompidas por um almoço mais esparso.
Os velhos basicamente se revezam para me espancar, mas, no
processo, estou aprendendo lentamente suas técnicas avançadas.
No final do dia, eu faço musculação em uma academia, empurrando
meus músculos até seus limites físicos enquanto Alpha Ip grita insultos
para mim. Em seguida, corro mais oito quilômetros ao redor do oásis,
terminando o dia com um jantar particularmente esparso.
Acho que o treinamento está funcionando. Meu corpo está tão
dolorido e fraco que não consigo imaginar que malfeitores possam usá-
lo.
Com toda a seriedade, a disciplina que Alpha Ip me impôs já fez
maravilhas. Eu mal tenho tempo para pensar sobre a escuridão entre
todas as surras. Estes são os dias mais rigorosos da minha vida e talvez os
mais valiosos.
Este treinamento me ajudará a derrotar os últimos fragmentos do mal
em meu coração e me dará a força para proteger a mim e aos outros no
futuro.
Se eu sobreviver, é claro...
KADEN

Alpha Rylan concorda em se encontrar em terreno neutro no meio do


caminho entre nossas matilhas. Não achei que o verme teria coragem de
sair de trás de suas paredes, mas pelo menos ele está me encarando como
um homem. Embora, uma desculpa inútil para um.
Como ele ousava colocar as mãos em Mara? Eu mal posso imaginar
um ato inferior. Vou ter que fazer tudo o que puder para não arrancar sua
cabeça com uma mordida. Ele violou minha companheira e me
desrespeitou.
Estou quase pensando em contar aos outros Alphas. Ele merece seu
desprezo. Mas prefiro lidar com essa situação entre nós. Talvez eu possa
aprender mais sobre seu envolvimento com Kace e todas as bobagens da
Deusa da Lua. Ainda acho que é um monte de bobagens de vidente, mas
Mara parecia tão abalada com seu sonho. Ela não está nem um pouco
assustada...
Eu não posso acreditar que ele a tocou!
Estou exigindo as desculpas mais sinceras de Alpha Rylan. No
mínimo. Se houver justiça no mundo, ele estará de joelhos implorando
por perdão.
Já estou parado na clareira da floresta quando Alpha Rylan chega. Nós
dois estamos sozinhos. Ele se aproxima de mim com um sorriso peculiar.
Eu a encaro, meus olhos penetrantes como flechas.
— Alpha Rylan, — murmuro, cumprimentando ele com um breve
aceno de cabeça.
— Alpha Kaden, — Alpha Rylan diz com uma reverência grandiosa,
claramente com a intenção de ser sarcástico.
Meus punhos se apertam.
Eu me lembro de ficar calmo. Ele está tentando me irritar.
A coragem desse pau...
— Alpha Rylan, — murmuro, cumprimentando ele com um breve
aceno de cabeça.
— Alpha Kaden, — Alpha Rylan diz com uma reverência grandiosa,
claramente com a intenção de ser sarcástico.
Meus punhos se apertam.
Eu me lembro de ficar calmo. Ele está tentando me irritar.
A coragem desse pau...
— Vou direto ao assunto, — digo incisivamente, — porque não quero
estar aqui mais do que você. O que você fez com Mara é imperdoável.
Suas ações são um grave insulto a mim, à minha companheira e a toda a
Matilha da Vingança. Se você não deseja que isso aumente, você me deve
um pedido de desculpas imediato.
Alpha Rylan me encara por um momento, seu sorriso estranho se
contorcendo nos cantos de sua boca.
Mara está certa. Algo está errado com ele. Ele sempre foi frio e
composto. O homem na minha frente parece um maníaco.
Enlouquecido. Uma casca atrofiada de seu antigo eu.
— Você sabe o que eu devo a você? — Ele pergunta em um tom torto.
Ele faz um som sufocado com a garganta — depois cospe no chão
entre nós.
Cospe!
Ele está falando sério?!
Eu poderia matá-lo aqui e agora!
— Como você se atreve, porra. — Eu grito. — Você não pode me
insultar assim e esperar viver.
— Observe-me, — ele diz, seus olhos se tornando duros e
desafiadores. — Você não me assusta, Alpha Kaden. Seus dias estão
contados. Você e sua matilha de porcos logo serão varridos da Terra com
o resto dos impuros.
— Do que diabos você está falando? — Eu rosno.
Rylan simplesmente ri em resposta. A gargalhada risonha soa estranha
e não natural vindo de uma pessoa tão triste.
— O grande expurgo está chegando, — ele avisa enigmaticamente. —
Você vai enfiar na sua cabeça dura em breve.
Grande expurgo? Ele não está fazendo nenhum sentido.
— Explique-se, Rylan. Não tenho tempo para jogos. II
— Eu garanto a você, não é um jogo, — diz Rylan. — Agora vá para
casa e dê um beijo de despedida em sua preciosa companheira. Procure
consolo em saber que ela será poupada, pois ela tem um propósito maior
do que nós dois.
— E qual seria o propósito disso? — Eu exijo, minha voz tremendo de
raiva.
Alpha Rylan ri novamente, até que as lágrimas escorrem pelos lados de
seu rosto. Ele cai e rola no chão, segurando sua barriga trêmula,
aparentemente incapaz de parar.
É isso. Não há como lidar com esse psicopata. Rylan está oficialmente
maluco.
Saio furioso da clareira, ansioso para me separar do velho e de seu
comportamento perturbador.
Os outros Alphas ouvirão sobre isso.
Alpha Rylan ri novamente, até que as lágrimas escorrem pelos lados de
seu rosto. Ele cai e rola no chão, segurando sua barriga trêmula,
aparentemente incapaz de parar.
É isso. Não há como lidar com esse psicopata. Rylan está oficialmente
maluco.
Saio furioso da clareira, ansioso para me separar do velho e de seu
comportamento perturbador.
Os outros Alphas ouvirão sobre isso.
Capítulo 7
DAMA DE HONRA
Não o mate. Não o mate. Não o mate. Não o mate.
Repito meu mantra indefinidamente e indefinidamente e...
Então a porta se abre.
Respiro fundo enquanto Claude entra pesadamente pela porta dos meus
aposentos de Luna.
A simples visão dele me dá vontade de vomitar.
Fique calma, Mara.
Ele é apenas um planejador de cerimônia de casamento.
MARA

Claude se estatela na cadeira em frente à minha mesa. Ele cheira


particularmente forte esta manhã, o cheiro de mijo usual substituído por
algo mais parecido com um gambá desencadeado. Eu luto para não
vomitar.
— Bom dia, Sra. Mara.
— Bom dia, Claude.
— Bem, vamos nos divertir hoje, mocinha, — diz ele, indo direto ao
assunto.
Ugh. Eu só posso imaginar qual é a versão de diversão de Claude.
Provavelmente algo relacionado a bife.
— Precisamos que você faça algumas escolhas. De acordo com o
costume da Matilha da Vingança, a Luna precisa escolher uma dama de
honra. Então, deixe-me saber quem será a garota de sorte.
— Milly, — eu digo imediatamente. Acéfalo.
— Está bem então. É Milly, — diz Claude, rabiscando em seu caderno.
Milly sempre foi minha dama de honra em minhas fantasias de
casamento enquanto crescia. Não conseguia imaginar mais ninguém ao
meu lado. Podemos ter seguido caminhos totalmente diferentes na vida,
mas ela é uma amiga íntima desde que éramos crianças.
Claro, teremos que descobrir um plano para tirá-la da Matilha da
Pureza durante a noite, o que pode não ser fácil, mas tenho certeza que
vamos descobrir algo. Milly não perderia minha cerimônia de
acasalamento por nada neste mundo.
Pelo menos, espero que não...
Preciso ver Milly o mais rápido possível. Eu quero perguntar a ela
pessoalmente. Tenho certeza que ela vai dizer sim. Uma visita ajudaria a
aliviar um pouco o estresse da cerimônia de acasalamento. Minha mãe
pode não estar por perto, mas uma melhor amiga é tão boa quanto.
Talvez até melhor.

Avisei Milly de que preciso falar com ela sobre algo importante. Ela
concorda em me encontrar no Castelo da Vingança na manhã seguinte.
Assim que os guardas me dizem que ela chegou, desço correndo de meus
aposentos para encontrá-la no saguão. Ela me cumprimenta com um
grito e um grande abraço.
— Você conseguiu! — Eu canto feliz.
— Claro. — Ela ri. — Vou aceitar qualquer desculpa para deixar a
Matilha da Pureza por um tempo.
Ela olha ao redor da sala, observando os tetos altos e as paredes
antigas com uma admiração infantil.
— A última vez que estive aqui, estava tão confusa com o meu
sequestro que não tive a chance de olhar em volta. Este lugar é melhor do
que a casa dos seus pais.
— Aposto que sim, — eu brinco, contente por acabar com eles.
— Eu não posso acreditar que minha melhor amiga é Luna da Matilha
da Vingança. Costumávamos dar festas do pijama juntas. Agora você é
como... realeza.
— Acredite em mim, é muito menos glamoroso do que parece, —
confesso. — Você não conheceu o cara planejando minha cerimônia de
acasalamento.
— Uh-oh. O que está acontecendo?
— Eu vou explicar mais tarde. Você está com fome?
— Faminta, — ela diz com um olhar de alívio. — Tenho viajado a
manhã toda.
— Excelente. Vou pedir aos cozinheiros que preparem um pequeno
brunch, e depois vou te mostrar o tour.
Milly bate palmas enquanto eu a levo em direção à sala de jantar.
— Yay! Eu amo passeios! E brunch também!

Pedi à cozinha que preparasse uma pasta maluca para a visita de Milly.
Nós nos empanturramos de panquecas, tortas, ovos, bacon, frutas frescas
e muitas outras coisas para contar. Depois do nosso banquete, ficamos
um tempo vagando nas cadeiras, contando histórias e contando piadas.
Ter minha melhor amiga aqui é uma explosão total. E como se
fôssemos crianças de novo. Passar um tempo com ela me faz esquecer
todas as loucuras da minha vida. Alpha Rylan. a profecia de Leia, a
cerimônia de acasalamento...
Oh, certo. A cerimônia de acasalamento. Acho que provavelmente é
hora de fazer a pergunta.
Merda. -Não sei o que farei se Milly disser não. É melhor ela não dizer
não!
Depois de outra rodada de risos, eu respiro sóbria...
É tão estranho sentir-se tão nervosa para falar com minha melhor
amiga.
— Entãããão... — Eu digo, mudando abruptamente de assunto. — A
razão pela qual eu trouxe você aqui hoje é porque... bem... eu quero fazer
uma pergunta importante.
Milly fica quieta, toda ouvidos.
— O que é?
— Você... Você gostaria de... — Eu torço minhas mãos
desajeitadamente, sentindo meu rosto ficar vermelho. Por que isso é tão
difícil?
— Milly, você seria minha dama de honra?
Ela grita como em um assassinato sangrento.
— Oh meu Deus! Mara! Eu adoraria! Eu esperava que fosse por isso
que você me chamou aqui! — Ela pula da mesa e me envolve em um
abraço choroso. Eu sorrio de alívio, meu coração se enche de alegria.
— Por que você estava tão nervosa? Somos melhores amigas.
— Eu não sei. — Eu encolho os ombros. — Talvez porque é uma
cerimônia de acasalamento da Matilha da Vingança e você está na
Matilha da Pureza. Afinal, meus pais não vão vir.
— Não sou seus pais, Mara, — Milly me lembra. — Eu posso pensar
por mim mesma. Terei prazer em ser sua dama de honra. Apenas me diga
o que devo fazer. Alpha Rylan está tão distraído que não devo ter
problemas para entrar e sair da Matilha da Pureza.
Alpha Rylan.
O próprio som de seu nome contamina este momento feliz.
— Na verdade, ele tem agido de forma muito excêntrica ultimamente,
— Milly continua, recostando-se na cadeira. — Ele iniciou este grande
projeto de construção. Ele colocou a maior parte da matilha para
trabalhar nisso.
— Projeto de construção?
— Sim. — Sua voz está repentinamente ansiosa. — Ouvi dizer que é
uma espécie de abrigo subterrâneo sob o Templo da Deusa da Lua. E
supostamente grande o suficiente para caber toda a Matilha. Mas
ninguém sabe realmente por que ele está construindo.
Estranho. Por que Alpha Rylan precisaria de um bunker?
A menos que...
— ’Milly? — Eu pergunto curiosamente, — Alpha Rylan mencionou
algo engraçado sobre... eu não sei... um apocalipse iminente?
— Apocalipse? -Não. acho que não. Por que?
— Oh, nenhuma razão particular, — eu digo rapidamente. Milly me
olha estranhamente, seus olhos me cutucando para descobrir a verdade.
Eu suspiro, cedendo.
É
— É que Luna Leia da Matilha da Liberdade fez essa profecia
assustadora sobre o dia da minha cerimônia de acasalamento, e Alpha
Rylan foi realmente estranho comigo quando visitei o Templo da Deusa
da Lua. Estou apenas tentando conectar os pontos.
— Bem. acho que me lembraria se ouvisse algo sobre o fim do mundo,
— Milly diz. — Mas vou manter meus ouvidos abertos. Definitivamente
há algo errado com Alpha Rylan. Essa coisa do bunker está realmente
sacudindo o bando. As pessoas estão com medo.
Assustados? Isso me preocupa. A Matilha da Pureza sempre segue
Alpha Rylan onde quer que ele os leve. As coisas devem estar ruins para
seu comportamento desafiar sua confiança.
— Milly, se você precisa de um lugar para ir, é sempre bem-vinda...
— Não não. Estou bem. Honestamente, — Milly me garante. Mas eu
detecto um toque de incerteza em sua voz. — Tenho certeza de que
Alpha Rylan sabe o que está fazendo.
— Não sei Milly...
— Confie em mim, estou bem. Meu lugar é com a Matilha da Pureza,
não aqui. Sem julgamento ou algo assim... Eu só não acho que sou
material da Matilha da Vingança.
— Eu não sei sobre isso eu digo. — Mas eu entendo. Contanto que
você se sinta segura.
Milly acena com a cabeça. Mas ainda tenho a sensação incômoda de
que algo não está certo. Ela pode não estar nervosa, mas eu estou. Estou
preocupada com ela. Estou até preocupada com meus pais.
— Você poderia ficar de olho na minha mãe e no meu pai? Eu só quero
saber se eles estão seguros também.
— Claro, — Milly diz. — Você sabe que estou bem ao lado.
— Obrigada. Isso significaria muito.
Afasto minha cadeira da mesa e me levanto. — Ok, isso é conversa
séria o suficiente por agora. Pronta para ver o castelo?
Milly pula de pé. — Achei que você nunca iria perguntar!
Depois de um passeio pelo castelo e outra passagem pela sala de jantar
para uma sobremesa de sorvete totalmente excessiva. Milk tem que ir
para casa. Eu insisto em um de nossos guardas escoltá-la dentro do
campo de visão da Matilha da Pureza. Não gosto da ideia de ela viajar
sozinha.
Milly promete se apresentar para seus deveres de madrinha sempre
que eu precisar dela. Espero que seja logo. Passar o dia com minha
melhor amiga foi totalmente incrível e mal posso esperar para vê-la
novamente. Eu a abraço por um longo tempo antes de deixá-la ir.
— Vejo você em breve, — ela diz enquanto segue o guarda para fora da
porta.
— Vejo você em breve, — eu digo.
É melhor ser. Se eu ouvir que Alpha Rylan tocou um fio de cabelo em
sua cabeça — na cabeça de qualquer membro da Matilha da Pureza — eu
vou explodir minha pilha.
Depois da minha despedida agridoce para Milly, vou encontrar Kaden
em suas câmaras Alpha. Ele chegou tarde ontem à noite e eu me levantei
cedo para encontrar Milly. Não tivemos tempo de pôr em dia seu
encontro com meu antigo Alpha.
Kaden está sozinho quando entro em seus aposentos. Ele olha
sombriamente para fora da janela, como se ruminando sobre algo
importante.
— Ei.
Ele se afasta da janela. — Como foi com Milly? Desculpe, eu realmente
não pude dizer olá...
— Sem problemas, — eu digo. — Você teve um grande dia ontem.
Ele acena suavemente, voltando para sua cabeça. — Você quer falar
sobre isso?
Eu vejo as engrenagens girando em sua cabeça enquanto ele caça as
palavras certas.
— Você estava absolutamente certa sobre o comportamento dele, —
ele diz. — O velho está fora de si. Ele era absolutamente atroz. Não se
desculpando de forma alguma. Ele continuou falando sobre um grande
expurgo... Ele disse que toda a Matilha da Vingança vai ser destruída...
Coisas de maluco.
— Milly diz que ele está construindo algo sob o Templo da Deusa da
Lua. Todo o bando está envolvido. Ela acha que é uma espécie de abrigo
subterrâneo.
— Bunker? — Ele repete. — Por que?
— Kaden, eu realmente acho que todas essas coisas de Alpha Rylan
estão relacionadas à profecia de Leia. Pelo que você está dizendo, parece
que Alpha Rylan está planejando algum tipo de apocalipse... algum tipo
de apocalipse que eu posso iniciar inadvertidamente!
Eu penso no meu sonho da outra noite, ainda vívido como uma
fotografia na minha cabeça. As chamas crescentes. A lua crescente...
— Pare com isso, Mara. Você não vai começar o apocalipse. Isso é
conversa louca.
Kaden se aproxima, pegando minhas mãos e me acalmando.
— Vou mandar recado para os outros Alphas sobre Rylan. Juntos,
talvez possamos intervir. Combinado com nosso encontro estranho, essa
coisa de bunker não soa bem.
— Ele precisa ser parado, — eu insisto.
Kaden acaricia minha bochecha, seus olhos ferozes olhando nos meus.
— Vamos detê-lo, Mara. Essa é uma promessa do caralho.
É melhor ser.
Eu confio em Kaden. Mas o mais importante... os outros Alphas também?
Capítulo 8
A DERROTA DO ALPHA Os Alphas estão se reunindo para discutir o
que fazer com Rylan.
Ele deve ser parado.
Milly disse que ainda se sente segura na Matilha da Pureza...
Mas por quanto tempo?
Eu me preocupo que ela esteja em perigo. Meus pais estão em perigo. Todo o
bando está em perigo.
Inferno, todo o planeta pode estar em perigo se essa coisa de apocalipse for
real.
Espero que os Alphas encontrem uma solução.
Espero que tudo fique bem.
MARA

Os Alphas entram nos aposentos de Kaden, sentando em uma mesa


redonda que montamos para a ocasião. Há Alpha Landon da Matilha do
Poder, Alpha Evan da Matilha da Liberdade, Alpha Lexia da Matilha da
Igualdade e Alpha Malik da Matilha do Amor.
E, claro, Kaden e eu.
Estou um pouco nervosa por ser a única Luna na sala, mas Kaden me
quer aqui como uma testemunha ocular do comportamento errático de
Alpha Rylan. Quero estar aqui para garantir que esses obstinados Alphas
realmente façam algo.
Eu olho em volta para os outros Alphas. Tenho história com todos
eles. Quem teria pensado apenas alguns meses atrás que uma
adolescente problemática como eu poderia sentar entre esses poderosos
líderes de matilha como uma igual?
Alpha Rylan certamente não.
E agora estamos discutindo o quão perigoso e instável ele se tomou.
Conversando Eu acho, com um sentimento de culpa de triunfo.
Kaden limpa a garganta, iniciando a reunião. O zumbido de conversa
fiada diminui.
— Companheiros Alphas, — ele começa, — vocês sabem por que reuni
todos vocês aqui hoje. Recentemente, nosso irmão, Alpha Rylan da
Matilha da Pureza, exibiu um comportamento muito bizarro em relação
a Matilha da Vingança. Eu acredito que ele não está apto para liderar seu
bando. Proponho que intervenhamos.
— Essas são acusações graves, Alpha Kaden, — afirma Alpha Landon.
— Descreva o que você experimentou para chegar a essa conclusão.
Os outros murmuram em concordância.
Kaden detalha seu estranho encontro com Alpha Rylan, o expurgo, o
misterioso bunker, até mesmo a possibilidade de que Rylan estava
controlando a mente de Kace. Os Alphas ouvem com atenção extasiada.
— Ele tocou Mara de forma inadequada durante uma visita a Matilha
da Pureza, — diz ele, olhando para mim, — e se recusou a se desculpar.
Ele cuspiu na minha cara. Ele desrespeitou minha Luna, meu irmão, eu
— minha matilha inteira. Ele é uma ameaça e precisa ser interrompido.
Kaden fez um bom discurso — exceto por uma coisa.
Ele deixou de fora tudo -sobre o apocalipse!
Eu tenho que dizer algo. Isso pode afetar cada matilha — toda a vida
na Terra!
— Se eu pudesse apenas adicionar algo... — Eu começo.
— Olha, Alpha Kaden, você tem um argumento convincente, — Alpha
Malik diz, me interrompendo.
Eu imagino que seja deliberado. A última vez que o vi, ele baniu Kaden
e eu da Matilha do Amor para o resto da vida. Depois de ele nos drogar!
Eu mal consigo me concentrar nas palavras que saem de sua boca
gorda e feia.
— Mas a questão é, — Malik continua, — todos nós sabemos que você
e Alpha Rylan não estiveram exatamente... como posso dizer isso?
Apaixonados um pelo outro. Como podemos ter certeza de que não é um
plano para sabotá-lo?
Os olhos de Kaden se estreitam para Alpha Malik. — Minha
companheira é da Matilha da Pureza, Malik. Não desejo mal a eles.
Garanto a você, isso é sério. Mara terá o prazer de lhe dar um relato em
primeira mão do que Alpha Rylan fez com ela. Certo, Mara?
— Isso mesmo, — eu respondo rapidamente. — Ele—
— Embora você faça um ponto justo, Malik, — Alpha Landon diz,
intrometendo-se, — Eu não tenho nenhuma razão para não confiar em
Kaden. Mas o que falta aqui são provas. Não podemos verificar nenhuma
de suas acusações.
— Eu sou a prova! — Eu estalo. — E se você apenas ouvir minhas
histórias...
— Mas isso é tudo que você tem. Histórias, — diz Alpha Malik. — Não
é o suficiente. Precisamos de alguma evidência dura, latejante e
penetrante.
— Eu odeio apoiar tais insinuações cafonas, mas estou com Malik, —
Alpha Evan entra na conversa. — Onde está a arma fumegante, Kaden?
Precisamos ouvir o lado de Rylan, pelo menos.
— Não há tempo para isso! — Kaden grita, frustrado. — Estou lhe
dizendo que acabei de me encontrar com ele — o homem está fora de si!
Ele está caindo em chamas. Eu quero pular e ajudá-lo, mas nenhum
desses Alphas parece remotamente interessado em me ouvir. Nós, Lunas,
deveríamos ser iguais, mas agora, estou me sentindo totalmente
ornamental. Eu sou como a porra de um chaveiro.
Eu afundo na minha cadeira, minha mandíbula aperta. Eu amo
Kaden, mas esses Alphas não vão realizar merda nenhuma. Como de
costume, esses idiotas machos vão apenas entrar no seu próprio
caminho.
E quando Lexia finalmente abre a boca...
KADEN

— Eu vi o que aconteceu com Kace, — Lexia diz, vindo em meu


auxílio. — O mal que o controlava. Se Kaden estiver certo, e eu não
tenho razão para não acreditar nele, então devemos agir.
Eu olho para ela. Ela está tão quieta que praticamente esqueci que ela
estava aqui. Seus olhos frios encontram os meus por uma fração de
segundo antes de se virar suplicantemente para o grupo.
— Alpha Rylan pode ser muito poderoso e muito perigoso. Eu digo
que é melhor prevenir do que remediar.
Uau. Nunca pensei que veria o dia em que Lexia viria de bom grado
em meu resgate.
Ser um Alpha pode realmente mudar uma pessoa.
— Quem é você de novo? — Malik estala para ela. — Baby, acho que
você perdeu a porta do calabouço, — ele diz, olhando para o corpete de
couro dela. — Terei prazer em mostrar o caminho.
Sua risada ecoa enquanto todos nós ficamos em silêncio. O brilho de
Lexia poderia derreter o aço.
Piada de mau gosto, filho da puta.
— Eu sou Alpha Lexia da Matilha da Igualdade, — Lexia diz
ironicamente, claramente contendo todo desejo de estrangular Malik
como o porco que ele é. — E você parece suspeitamente defensivo de
Alpha Rylan, Malik.
Malik parece ficar quieto por um momento, mas como de costume,
ele responde de volta.
— Eu só não acho que devemos tirar conclusões precipitadas. Eu não
sei sobre você, mas não posso me estender agora. Bem, mais do que o
normal, isso é...
Ugh. Uma piada de mau gosto não merece outra.
— E o resto de vocês? — Eu insisto. — Vamos. Alpha Rylan deve ser
interrompido. Vamos reunir nossas forças e marchar até a Matilha da
Pureza para cortar isso pela raiz antes que fique pior.
Landon e Evan se olham, duvidosos.
— Errr... eu ainda acho que vamos precisar de evidências mais fortes,
Kaden, — Landon diz.
— Você e Lexia parecem muito confiantes, mas não é o suficiente para
mim. Talvez se ouvíssemos a história de Kace. Talvez se ele pudesse
provar...
— O mesmo aqui, — admite Evan. — Eu ainda estou descobrindo
toda essa coisa de Alpha. Acabamos de enterrar meu irmão, Grayson,
outro dia. É muito para se abordar agora, sem evidências incontestáveis.
— Claro. Covardes. Parece que somos só eu e Lexia então.
— Nós vamos—
Eu me viro para Lexia. Ela se encolhe um pouco na cadeira.
— Desculpe, Kaden. Mas, verdade seja dita, as meninas e eu estamos
enfrentando grandes problemas na Cidade da Vingança. As gangues
estão invadindo nossas ruas. Existe violência. Agora pode não ser o
melhor momento.
— Mas você acabou de dizer que acredita em mim! — Eu rebato.
— Eu acredito, — ela afirma friamente. — Mas é um momento ruim.
Minha matilha vem primeiro.
Lexia fodida. Eu sabia que a ajuda dela viria com uma pegadinha.
Eu fico olhando ao redor da sala. Todos estão em silêncio de
solidariedade.
Mesmo Mara não está falando.
Droga, Kace. Queria que você estivesse aqui.
Você convenceria esses covardes inúteis
KACE

Depois de mais um longo dia de treinamento, vou para o meu quarto


na pirâmide, completamente exausto. Estou todo dolorido. Meu corpo
está tão rígido que poderia ser cortado como uma madeira.
Achei que acabaria me acostumando com isso.
De jeito nenhum. Tudo o que posso fazer é deitar no meu colchão
fino como papel e torcer para conseguir dormir o suficiente para passar
amanhã.
Pouco antes de chegar o sono, sinto uma frieza peculiar. No começo é
refrescante, mas então eu percebo como é bizarro sentir frio no ar quente
e abafado de uma pirâmide do deserto.
Eu tremo, puxando meu cobertor com mais força. Isso não ajuda. O
frio continua chegando.
Não do meu quarto. Mas dentro de mim.
É minha escuridão, regenerando em meu estado de fraqueza.
Meus olhos se abrem.
Merda!
Eu ouço o sussurro sem palavras da escuridão enquanto a sensação de
gelo se espalha por todo o meu corpo.
Tento lutar, mas é como se estivesse paralisado, congelado no colchão.
— Saia! — Eu grito, concentrando minha energia. Eu aperto meus
músculos como esponjas, flexionando e lutando contra seu poder.
A escuridão continua se espalhando. Sinto que tenho apenas mais
alguns segundos até perder o controle. Reúno todas as reservas de força,
minhas últimas gotas de energia...
— SAIA DAQUI! — Eu grito. Tensiono meus músculos em chamas de
uma vez, afastando o mal até que a frieza desapareça de meus membros,
meu peito, minha alma...
Até que tudo se vá.
Eu ofego, ouvindo minha respiração ofegante, saboreando a pura
solidão que não sentia há semanas. Meses.
Eu afastei minha escuridão...
Por enquanto.

Na manhã seguinte, me sinto mais leve que o ar em minha corrida ao


redor do oásis. As dores derretem como neve.
Quando me sento para tomar o café da manhã na pirâmide, sinto
Alpha Ip me observando.
— Há algo diferente em você, Kace, — ele observa.
Eu aceno solenemente. — Ontem à noite, a escuridão veio para mim.
Alpha Ip acaricia sua barba, intrigado.
— E?
— Nós lutamos.
— E?
Eu sorrio. — Eu venci.
Alpha Ip também sorri.
— Parabéns meu amigo. Seu treinamento está completo.
Meu queixo está aberto como uma porta quebrada. Palavras nunca me
deram mais alívio.
— Tem certeza? — Eu pergunto, me certificando de que meus ouvidos
não me traíram. — Quer dizer, eu nunca nem venci vocês em uma luta.
— Você não veio para nos bater, — o velho diz.
Ele cutuca meu peito com um dedo duro. — Você cresceu forte o
suficiente para enfrentar sua escuridão. E você conseguiu. Mesmo vencer
uma única batalha pode virar a maré da guerra.
Os velhos do círculo acenam com a cabeça e murmuram em
concordância.
— Então vocês não vão chutar minha bunda hoje?
— Não, meu amigo, — ele diz, rindo, — não seria justo. Você tem uma
longa jornada pela frente. — Ele olha pela porta para o oceano de dunas
além. — Você ganhou força para vencer sua escuridão. Mas agora você
precisa do conhecimento para garantir que isso nunca aconteça
novamente.
— Onde vou encontrar isso? — Eu pergunto.
— A Matilha da Sabedoria, — Alpha Ip diz, se levantando. — Venha,
meu amigo. Eu vou te mostrar o caminho.
Capítulo 9
SEMPRE VÁ PARA A CAMA COM RAIVA Alphas não servem para
nada.
Eles não me mostraram um pingo de respeito.
Eu me senti uma idiota. Um nada.
Menor que zero.
Eu sabia que eles não iriam realizar nada
O que acontecerá com Alpha Rylan desmarcado?
Eu estremeço ao descobrir.
Pelo menos o sangue não estará em minhas mãos...
MARA

Kaden e eu nos despedimos dos Alphas visitantes no saguão. Mal


consigo olhá-los nos olhos, mesmo os que gosto. Estou tão chateada com
a forma como eles me trataram na reunião que estou tentada a arrancar
suas cabeças se eles me fizerem falar. Nenhum deles parece notar.
Mas é claro que eles não iriam.
Estou começando a achar que essa posição de Luna é uma grande
piada. Kaden diz que me vê como igual, mas quando as grandes decisões
são tomadas, minhas palavras caem em ouvidos surdos. Ninguém se
importa com o que tenho a dizer. Mesmo que eu tenha muito a dizer,
porra!
Não ajuda que aquele astuto desprezível, Alpha Malik, continuasse
tentando desacreditar Kaden. Ele está chateado com o que aconteceu
durante nossa visita a Matilha do Amor, ou ele estava realmente
tentando levantar alguns pontos válidos?
Lexia estava certa. Ele parecia suspeitamente defensiva de Alpha
Rylan. Esses dois normalmente combinam como manteiga de amendoim
e ketchup. Cultos sexuais e religiões rígidas não se misturam exatamente.
Então, novamente, eu sei que Alpha Malik definitivamente teve algum
envolvimento com as garotas desaparecidas. E se Alpha Rylan estava
controlando Kace, e talvez Coen também...
Teria que haver uma conexão.
Estou no caminho certo? Ou é um salto muito grande?
Eu conversaria sobre isso com Kaden, mas ele provavelmente não vai
me ouvir. Ele não mencionou nada do apocalipse na reunião. Ele ainda
parece pensar que é um absurdo. Mas Alpha Evan poderia ter verificado
facilmente as conexões. Ele ouviu a profecia de Luna Leia também.
Hoje à noite na cama, Kaden tenta se aninhar em mim.
Não esta noite, traidor
Eu viro minhas costas para ele e vou até a borda mais distante,
deixando claro que não é um convite para ele ser a concha grande.
Eu não quero ser uma Luna de brinquedo presa com um monte de
trabalhos idiotas como planejar nossa cerimônia de acasalamento. Quero
dizer, claro, eu quero ter o casamento perfeito — brigar com o louco
Claude parece ser uma necessidade do caralho — mas eu quero
responsabilidades reais também.
Sinto falta de estar no encalço dessas meninas desaparecidas. Lutando
contra aqueles caras carecas horríveis. Explodindo a mina de prata lunar
embaixo da Cidade da Vingança.
Eu quero entrar em ação. Eu quero tomar decisões impactantes.
Eu quero ser uma verdadeira líder.
Por mais que eu sempre quis planejar o dia do meu casamento, eu
realmente não considero a escolha entre três prováveis vestidos de noiva
horríveis ser tão importante. Há muita coisa acontecendo agora para
fingir que importa.
— Ei, — sinto Kaden me cutucar. — E aí?
Eu encolho os ombros. Ele deve saber.
— Você estava bem quieta na reunião, — ele adivinha.
— Não por escolha, — eu estalo. — Ninguém parecia interessado em
me ouvir. Até você.
— Do que você está falando? — Kaden argumenta.
— Foi você quem me deixou pendurado. Eu estava morrendo lá, e
você apenas assistia como se fosse um esporte para espectadores.
Eu me viro e olho para ele.
— Você fodeu tudo primeiro. Os Alphas me isolaram à esquerda e à
direita. Você não fez nada para intervir. Tentei explicar o que aconteceu
entre mim e Alpha Rylan... sobre o apocalipse — que, a propósito, você
convenientemente ignorou em seu grande discurso.
— Mara, parece muito maluco. Isso tiraria nossa credibilidade.
— Vale a pena mencionar! Não sabemos se Alpha Rylan era o
controlador da mente de Kace, mas você não teve problemas em falar
sobre isso!
A mandíbula de Kaden aperta. Eu o peguei lá.
— Claro. Você tem razão. Eu deveria ter mencionado algo.
— Eu sei que estou certa, — eu digo. — Se você tivesse me mostrado
um pouco mais de deferência na reunião, talvez os Alphas tivessem
concordado em ajudar. Talvez não estivéssemos sozinhos agora.
— Talvez, — Kaden admite calmamente.
— Eu pensei que ser Luna significava que eu era igual a você, — eu
continuo. — Mas até agora, parece um grande nada. Eu não consigo
tomar nenhuma decisão real. Ninguém me respeita. Nem os Alphas.
Nem você. Nem mesmo aquele idiota do Claude...
— Eu te respeito! — Kaden grita. — Se eu não fizesse, você não seria
minha Luna. Sua opinião significa mais para mim do que qualquer coisa.
A preocupação ansiosa em seus olhos é reconfortante e, no fundo do
meu coração, me derrete. Mas eu tenho um ponto a terminar antes de
deixar meu companheiro fora de perigo.
— Eu me sinto subutilizada, Kaden. Posso fazer contribuições reais
para nosso bando. Eu poderia ser uma verdadeira líder. No momento,
estou apenas enfeitando a janela.
— Você não está enfeitando a janela, — diz Kaden, se aproximando.
Eu ouço a mágoa em sua voz e permito que ele me beije suavemente na
testa. — Desculpe, é assim que você se sente... eu não sabia.
Seus braços me envolvem e eu sinto meu corpo tenso se render ao seu
abraço. Ele beija minha testa novamente. Eu puxo seu rosto para o meu,
parando um pouco antes de nos beijarmos.
— Você vai consertar isso, certo?
— Vou consertar tudo, Mara. Eu faria qualquer coisa para agradar
você.
Eu sorrio.
— Aqui está sua primeira chance.
Eu o beijo com força. Nossas línguas se juntam, movendo-se lenta e
ritmicamente na dança de nossas bocas. Eu sinto sua mão deslizar por
cima da minha calcinha, acariciando minhas regiões úmidas antes de
seus dedos afiarem em meu clitóris.
Ele trabalha sua magia, lançando feitiços de prazer por todo o meu
corpo. Minha boceta parece um caldeirão fervendo. Kaden é um maldito
feiticeiro. Ele me leva à beira do orgasmo, à beira de um penhasco
imponente...
Então seus dedos param.
— Continue, — eu lamento, me separando de seus lábios macios. —
Por favor.
— Sim, Luna, — vem sua resposta, sua boca arrastando suavemente
pelo meu corpo, cada beijo molhado como lava quente na minha pele. Eu
poderia chegar ao clímax apenas com isso, mas aguardo o que ele tem
reservado.
Logo aqueles lábios macios alcançam seu destino final no topo do
meu sexo. Sua língua banha meu clitóris delicadamente, me provocando.
Eu gemo por mais. Ele ganha velocidade, lambendo e me sacudindo em
um frenesi. Eu me contorço na cama como uma mulher possuída.
Mais uma vez eu balanço no precipício do orgasmo, silenciosamente
implorando para ele me empurrar para fora da borda. Ele remove sua
língua e arranca sua boxer, exibindo seu pau magnífico antes de enfiar ele
dentro de mim.
Bombeando e bombeando e bombeando e...
Eu não luto muito. Eu me ouço gritando enquanto ele derruba minha
última barreira e libera as comportas. Parece que estou gozando com
cada fluido do meu corpo. Eu me deleito com o vazio prazeroso, minha
mente clara como vidro.
Kaden está ao meu lado, me segurando, mas eu sinto sua dureza
insatisfeita contra minhas costas. Depois do prazer que ele me deu, seria
injusto deixar ele assim.
Eu me viro e me esgueiro para o seu meio, levando-o em minha boca
enquanto ele me puxa para cima dele, saboreando meus sucos em sua
carne tensa enquanto eu lambo e chupo como se não houvesse amanhã...
Kaden geme, finalmente entregando um bocado de seu néctar quente.
Eu engulo ansiosamente. Minha língua traça sua cabeça trêmula até que
eu sei que não há mais nada.
Eu subo de volta ao lado dele, encontrando meu lugar em seus braços.
Tudo o que podemos fazer é ouvir um ao outro respirar, sobrecarregados
de nossa paixão desenfreada.
Hmm. Talvez devêssemos discutir com mais frequência?

Eu acordo na manhã seguinte, ainda aninhada no abraço de Kaden.


— Bom dia, — eu sussurro.
— Bom dia para você, — ele rosna. Sua voz sexy quase me faz querer
recriar a noite passada de novo, mas infelizmente, temos assuntos mais
urgentes.
— Kaden, — eu digo, — o que vamos fazer sobre Alpha Rylan? Temos
que impedi-lo de tudo o que está tramando. Os outros Alphas precisam
entender o quão perigoso ele se tornou.
Eu me torço em seus braços para poder olhar em seus olhos
pensativos.
— Se eles querem uma prova, — ele diz lentamente, — terei de
arranjar uma prova para eles.
— Como?
— Eu não sei, — ele admite honestamente. — Mas tenho certeza que
você e eu vamos descobrir um plano.
Minha cabeça repousa em seu peito. Estou feliz que ele acredite em
nós.
Só espero que ele esteja certo.
RYLAN

Eu vejo minha matilha trabalhar sob o Templo da Deusa da Lua,


construindo o bunker que protegerá a todos nós quando a Deusa da Lua
descer. Quando seu grande expurgo finalmente estiver próximo.
Estou preocupado. Tempo é essencial. O trabalho da minha matilha é
lento e ineficiente. O trabalho manual não é fácil para eles. Eles sempre
seguiram todos os meus decretos, mas agora sinto que estou perdendo a
confiança deles. Sujeira e suor não podem esconder suas expressões
malignas, os olhares sombrios que compartilham.
Como faço para que eles entendam as gloriosas recompensas que a
Deusa da Lua reservou para nós? Apenas os puros sobreviverão ao seu
expurgo. Após o apocalipse, sairemos deste bunker como os governantes
do planeta, nossos inimigos e inferiores finalmente extintos.
A Deusa da Lua caminhará entre nós, encarnada em Mara, sua
escolhida.
Talvez ela aceite um amante humano digno?
Eu ficaria feliz em dar a ela minha castidade. Eu ficaria feliz em dar a
ela qualquer coisa que sua alma divina desejasse.
O fim dos dias não pode chegar em breve.
Deusa da Lua, eu sou seu
Capítulo 10
A GAROTA DESAPARECIDA
As ruas cruéis da Cidade da Vingança estão mais cruéis do que eu já vi.
Eu gostaria de poder ajudar Lexia com seus problemas, mas temos Alpha
Rylan para nos preocupar
Alguém na Matilha da Igualdade pode ter informações que nos levem à prova
de que precisamos.
Poderia.
Há uma chance de estarmos nos agarrando a qualquer coisa, mas temos
escolha?
A contagem regressiva para o apocalipse já começou.
MARA

Kaden e eu navegamos pelas mas da Cidade da Vingança até o covil de


Lexia.
A Alpha da Matilha da Igualdade não estava brincando sobre seus
problemas aqui. A cidade está em minas.
As pessoas andam pelas mas em trapos ensanguentados. Há grafites
por toda parte. As janelas estão quebradas e cacos de vidro se espalham
pelas calçadas com montanhas de lixo podre.
A Cidade da Vingança nunca foi muito um lugar incrível, mas agora é
como uma visão do inferno.
O que aconteceu aqui?
Eu olho para Kaden, mas ele parece muito focado em nossa missão
para notar.
Para ser justa, ele não tem mais participação na Cidade da Vingança.
O território pertence oficialmente a Lexia. E desde que Kace destruiu a
vila da Matilha da Igualdade na floresta de sequoias, este é o novo lar de
sua Matilha.
Logo chegamos à sede de Lexia. Um membro da Matilha da Igualdade
nos reconhece, nos levando a sua Alpha. O antigo refúgio de Lexia agora
se assemelha a uma espécie de sala de guerra. Ela comanda seus lobos da
Matilha da Igualdade como uma general quatro estrelas.
— Eu preciso de lobas no armazém abandonado, — ela late. —
Acabamos de receber relatórios de um assalto à mão armada.
Algumas garotas da Matilha da Igualdade correm obedientemente,
suas armaduras de osso tilintando atrás delas.
— Vocês três... — Ela aponta para um trio de lobas. — Pegue um
pouco de água e sabão e desça até a Hyde Street. As gangues estão
marcando nosso território novamente e não vou tolerar isso.
Elas saem correndo também. Lexia alisa seus longos cabelos. Juro que
vejo uma moita cair. Parece que ela não dorme há um ano.
— Alpha Lexia, — nosso guarda anuncia, — Alpha Kaden e Luna Mara
da Matilha da Vingança estão aqui.
Lexia franze a testa quando seus olhos encontram os nossos.
— Exatamente o que eu preciso, — ela diz sarcasticamente e então
suspira. — Convidados.
Ela pega uma garrafa de licor marrom de sua mesa.
— Vocês dois querem uma bebida? Eu certamente poderia usar um. —
Ela pega três copos empoeirados, enche-os até o topo e desliza em nossa
direção. No momento em que os pegamos, ela está no meio do dela.
São dez da manhã.
— Então... Como vão as coisas? — Eu pergunto, bebendo minha
bebida educadamente. Tem gosto de gasolina.
— Não posso reclamar. — Lexia encolhe os ombros. — Na verdade, eu
posso...
Ela aponta sua bebida para Kaden.
— Você me deixou com a porra de um inferno, seu idiota!
— Eu?! — Kaden engasga. — Você é quem queria a Cidade da
Vingança. Eu terei prazer em retirá-la.
Os olhos de Lexia se estreitam.
— Era mais fácil quando era só eu, — ela rosna. — Agora eu tenho
uma maldita Matilha inteira para me preocupar. Essas gangues estão na
É
minha bunda como um encontro ruim. É uma anarquia lá fora. Todas as
mudanças de autoridade aqui — Coen, Kaden, Kace, eu — ninguém sabe
quem está no comando. Ninguém se importa.
Kaden está quieto. A situação aqui não é totalmente culpa dele, mas
posso dizer que isso o faz se sentir culpado. A liderança na Matilha da
Vingança não tem sido exatamente consistente ultimamente.
Ela olha seus guardas, suavizando. — Eu faria qualquer coisa pelas
minhas meninas. Mas merda, isso é um monte de merda.
Estou chocada. É compaixão genuína que ouço em sua voz? Cidade da
Vingança está obviamente em uma forma rochosa, mas eu gosto dessa
mudança em Lexia. Eu sabia que ser um Alpha seria bom para ela.
Eu a vejo terminar sua bebida e imediatamente servir outra.
Agora ela só tem que trabalhar no dia bebendo.
— O que você quer mesmo? Se for sobre aquela coisa de Alpha Rylan,
você pode ver com o que estou lidando aqui. Está fora de questão agora.
— Nós só queremos falar com uma de suas garotas, eu digo. — Acho
que ela pode nos ajudar.
— Quem? — Lexia pergunta. — Você quer dizer Amber?
Eu concordo. — Kace tem certeza de que Alpha Rylan estava por trás
do mal que o controlava. Se isso for verdade, Rylan teve que se envolver
com as meninas desaparecidas. Amber pode ter informações que podem
levar a evidências concretas de que precisamos para convencer os outros
Alphas.
Eu disse a Kaden minha ideia ontem. Ele concordou que parecia uma
boa pista. Não temos nenhuma outra pedra para virar agora.
Lexia dá um gole na bebida, pensando.
— Então tudo que você quer fazer é falar com ela?
Eu não tenho que fazer nada?
— Não, — diz Kaden. — Você pode sentar aqui e beber o dia todo.
— É meu desejo, porra, — Lexia diz sombriamente, engolindo seu
licor restante e batendo o copo com força na mesa.
— Vamos. Vamos encontrá-la.
Lexia nos leva a um dormitório instalado em um prédio abandonado
nas proximidades. Encontramos Amber malhando em um pequeno
ginásio miserável com algumas outras garotas da Matilha da Igualdade de
sua idade. Elas se revezam fazendo repetições em um antigo supino.
Eu olho para os meus braços magros e mais uma vez agradeço à Deusa
por não ter escolhido a Matilha da Igualdade em vez de Kaden naquela
fogueira maluca. Exercício e eu não somos amigos de verdade.
— Amber, — Lexia se encaixa. — Alguém está aqui para ver você.
Amber fica radiante quando me reconhece.
— Mara! Kaden! Ei! — Ela se aproxima e me dá um pequeno abraço.
Seus braços fortes quase me esmagam. Ela tem levantado muito ferro
desde a última vez que a vi.
Ei, viva sua melhor vida, garota.
— O que está acontecendo? Vocês vieram nos ajudar com as gangues?
— Amber pergunta esperançosa.
Kaden embaralha os pés sem jeito. Claramente isso doeu um pouco.
— Eles querem lhe fazer algumas perguntas, Amber, — Lexia diz. —
Vou deixar vocês conversarem entre si. — Ela se vira para ir embora. — A
propósito, vocês, meninas, têm algo para beber por aqui?
Amber balança a cabeça. As outras garotas murmuram respostas
negativas.
— Boas meninas. — Lexia acena com a cabeça, desapontada. — Aquilo
foi um teste. Beber é ruim.
— Amber, — digo enquanto sua Alpha se afasta, na esperança de ficar
sóbria, — Kaden e eu estávamos nos perguntando se você poderia falar
conosco sobre seu sequestro. Quem te pegou, como aconteceu...
qualquer coisa.
— Oh, certo, — Amber responde, seu rosto turvando.
Será difícil para ela desenterrar memórias tão terríveis. Mas,
infelizmente, esta é a única maneira de saber o que ela sabe. Dou a ela
meu olhar mais reconfortante.
— Se perguntarmos algo que você não quer responder, é só nos avisar.
Vamos recuar.
Amber acena com gratidão. — Certo. O que você quer saber?
— Quem sequestrou você? — Kaden pergunta, seu tom um pouco
direto. Amber hesita.
— Honestamente... eu não sei. Certa noite, eu estava voltando do
Templo da Deusa da Lua para casa e alguém simplesmente me agarrou.
Ele tinha um capuz preto e capa. Não consegui ver o rosto dele, — Amber
diz. — Para ser sincera, por um tempo, eu assumi que era você, Kaden.
Ele se parecia com você nos pôsteres.
Ela está se referindo a todos os avisos de merda sobre Kaden colados
em toda a Matilha da Pureza. Alpha Rylan tentando nos assustar,
tentando nos controlar e, na maior parte, conseguindo.
— Isso é tudo propaganda. — Kaden funga, ofendido. — Eu vi aqueles
pôsteres idiotas. Meu capuz nem se parece com isso.
— Então, você foi capturada por um homem misterioso encapuzado,
— eu digo, tentando levar a conversa adiante. — O que aconteceu
depois?
Amber se contorce. Por um segundo, acho que ela não vai continuar,
mas então ela respira fundo.
— Houve um... teste.
— Teste? — Eu pergunto. — O que você quer dizer?
Os olhos de Amber vagam para o chão, desconfortáveis.
— Você não tem que nos dizer, — eu a lembro.
— Não... eu acho que é importante... — ela diz. — O homem
encapuzado... ele me levou para esta sala. Eu estava com os olhos
vendados, então não posso dizer onde. Mas definitivamente não era
longe. Não tinha janelas. Apenas paredes de pedra. Elas pareciam antigas.
Me lembro de pensar que poderia ter sido no Templo, mas eu nunca
tinha visto a sala antes. E por que Alpha Kaden me levaria lá?
— Ele me fez tirar a roupa. Até minha calcinha, — ela continua
nervosa. — Então... então veio o teste. Pelo menos, é o que acho que foi.
O homem nunca falou.
— O que aconteceu? — Kaden pergunta suavemente.
— Ele segurou este cajado sobre mim. A cabeça era um pedaço de
metal reluzente. Agora que estou pensando nisso, parecia muito com
aquela coisa de prata da lua.
Kaden e eu trocamos olhares. Aquilo era enorme.
— Ele moveu o cajado sobre cada centímetro do meu corpo, como
uma espécie de vara de adivinhação. Ele parecia estar procurando por
algo, algo que eu não tinha. A fraqueza do metal... Oh minha deusa, foi
como uma tortura.
Ela estremece com a memória. — Depois, ele me fez me vestir. Ele
amarrou a venda de volta. A próxima coisa que eu sabia era que estava na
parte de trás de um veículo e acabei nos túneis abaixo da Cidade da
Vingança. Logo depois disso, a Alpha Nessa me comprou.
Amber ergue os olhos do chão. Eu posso ver o preço que isso tem
cobrado dela.
— Me desculpe, isso é tudo que eu sei, — ela diz, relutantemente
enxugando os olhos vítreos, as lágrimas ameaçando cair a qualquer
segundo.
— Isso foi suficiente, — eu digo. — Você quer um abraço?
Amber acena com a cabeça. Eu a abraço calorosamente, acariciando
sua cabeça enquanto ela funga em meu ombro.
A história de Amber foi -perfeita. Comovente, mas exatamente o que
queríamos ouvir.
Ela não necessariamente nos forneceu provas, mas ela defende o papel
de Alpha Rylan no sequestro das meninas desaparecidas. Quem mais se
vestiria exatamente como o falso Alpha Kaden nos pôsteres da Matilha
da Pureza? Ou levá-la para uma sala no Templo? Ou tem prata da lua?
Mas o que há com o teste? O que ele estava procurando?
Amber nos deu respostas, mas elas estão apenas levando a mais
perguntas.
KACE

Eu verifico novamente o mapa que Alpha Ip me deu de volta no


templo.
É
É isso. A Matilha da Sabedoria.
E, felizmente, parece ser uma grande atualização da Matilha da
Disciplina. Sem querer ofender Alpha Ip, mas eu estava ficando muito
doente e cansado de viver sem água encanada e eletricidade.
Eu fico olhando para as cúpulas e torres da cidade branca cintilante à
frente, envolto em uma parede alta que lembra a Matilha da Pureza. Mas,
a julgar pelas pessoas entrando e saindo, este não é um lugar de
ignorância conservadora, é um lugar onde o conhecimento é
compartilhado livremente.
Em algum lugar dessas paredes está a informação de que preciso para
passar para o próximo estágio de minha jornada. Aumentei minha força
física para afastar a escuridão dentro de mim; agora preciso do
conhecimento para me proteger para sempre.
Coen foi amaldiçoado. Kaden foi amaldiçoado. Eu fui amaldiçoado.
Deve haver uma conexão que posso descobrir aqui. Não pode ser uma
coincidência que todos nós tivemos uma sorte de merda com magia
negra.
Rumores dizem que a biblioteca da Matilha da sabedoria tem todos os
livros do mundo. Um pode ter a chave para isso.
Eu vou em direção à cidade, ansioso para começar a ler.

Em pouco tempo, encontro a biblioteca. Você realmente não consegue


perder. E o maior prédio ao redor, localizado no centro direto da cidade.
Abro a porta enorme e pesada...
Puta merda. Nunca vi tantos livros em minha vida.
Prateleiras e prateleiras e prateleiras e prateleiras cheias até o teto
abobadado alto.
É impressionante. Não sei por onde começar.
Procuro um bibliotecário para me ajudar. O que estou procurando? A
seção de magia negra? Merda, provavelmente há dez delas.
Vejo uma jovem empurrando um carrinho de livros entre as estantes.
Bingo. Eu sigo atrás dela, observando seu lindo suéter, me encontrando
curioso sobre como seu rosto deve ser.
Para ser honesto, sempre tive uma queda por leitoras ávidas.
— Com licença! Senhora!
O carrinho para e a bibliotecária se vira.
Eu paro no meio do caminho. Meu coração pula na minha garganta.
Essa mulher não é apenas a criatura mais deslumbrante que eu já vi...
Ela também é...
Minha companheira.
Capítulo 11
ACASALADO COM A BIBLIOTECÁRIA Eu pensei que isso nunca
aconteceria, mas ela está lá. Parada bem na minha frente.
Minha companheira.
Meu destino.
Ela sabe disso também?
Não consigo ler os olhos por trás dessas molduras fofas.
O que eu faço?
KACE

Eu estou nas pilhas da biblioteca da Matilha da Sabedoria, paralisado


pela bibliotecária enviada do céu. Bela não começa a descrever esse ser.
Seu rosto parece uma pintura de um famoso museu. Um casaco de lã
confortável complementa suas curvas suaves. Um coque doma seu cabelo
rebelde e crespo.
E aqueles malditos óculos sexy...
Como é possível estar assim tão atraído por alguém?!
Estou completamente sem fala. Nunca fui um homem para mulheres,
mas isso é patético até para mim.
Fale, Kace!
Faz quanto tempo? Dez segundos? Dez minutos?
O tempo parece que está parado.
Ela inclina a cabeça e me olha de um jeito engraçado.
Minha deusa, é adorável.
Diga alguma coisa, Kace! Ela vai pensar que você é um psicopata!
Estou desesperado pra caralho. No meio da, provavelmente, maior
biblioteca do planeta, e não consigo juntar duas malditas palavras.
Felizmente, ela pode.
— Posso ajudar? — Ela pergunta, franzindo a testa.
Você pode sempre...
— Uhhh, — eu tropeço. Seu idiota, Kace — Eu só estava procurando...
bem... eu realmente não sei o que estou procurando. — Eu dou uma
risada.
Isso é uma mentira. Estou procurando uma maneira de dizer que ela é
minha companheira. A julgar pela maneira como ela está olhando para
mim, ela não tem ideia.
O que diabos eu devo dizer? Ei, baby, meu nome é Kace, e por falar
nisso, eu sou sua alma gêmea? Vou parecer totalmente maluco!
Então, novamente, me sinto totalmente maluco.
É assim que é o amor?
Não posso dizer nada a ela. Não sou digno deste anjo da terra de
qualquer maneira. Acabei de derrotar a escuridão dentro de mim e ainda
estou me curando das feridas. Minha jornada ainda está longe de
terminar. Agora não é a hora de perder minha mente por causa de uma
garota. Mesmo que ela seja minha companheira.
Ela está me olhando engraçado de novo.
Oh, merda. -Eu sempre me esqueço de falar.
— Desculpe, acabei de chegar da Matilha da Disciplina e estou um
pouco disperso por ter viajado o dia todo.
— Eu posso ver que sim, — ela sorri. — Matilha da Disciplina, hein? E
um longo caminho a percorrer sem saber o que você está procurando.
— Bem, eu vim fazer algumas pesquisas sobre magia negra, mas eu
realmente não sei por onde começar em um lugar tão grande. Eu amo
livros tanto quanto qualquer pessoa, mas este é o próximo nível.
Ela ri. O som é como música.
— Acho que posso apontar a direção certa, — ela diz, abandonando o
carrinho. — Por aqui.
Ela me leva mais fundo no labirinto de estantes. Eu ando um pouco
atrás dela, absorvendo a visão de sua bunda dada pela deusa. Talvez não
muito cavalheiresco, mas inferno, eu sou um lobisomem.
— Eu sou Kace, a propósito, — eu digo a ela, tentando sair do meu
transe.
— Helena, — ela diz.
Helena.
Até o nome dela é como poesia.
KADEN

Mara e eu caminhamos pelas ruas da Cidade da Vingança de volta ao


castelo. Nossa conversa com Amber foi um sucesso. De acordo com a ex-
membro da Matilha da Pureza, é provável que Alpha Rylan tenha
sequestrado as meninas desaparecidas. Aquele maldito filho do diabo.
Mas o que há com seu teste estranho? Deve haver algum motivo para
Alpha Rylan torturar aquelas pobres garotas com prata lunar. Eu
estremeço, pensando em minhas próprias experiências com o metal
estranho.
A maneira como Kace usou para me enfraquecer durante sua
possessão. Muitas vezes me senti a centímetros da morte — e sou um
grande fodão e desajeitado! Só posso imaginar seu efeito nas
adolescentes.
Rylan é inferior à escória. Agora eu preciso de uma prova para
convencer os outros Alphas.
Espero que possamos encontrar.
Ei, o que é isso?
Mara e eu paramos ao ver uma agitação à frente. Pessoas em farrapos
se aglomeram ao redor de um antigo armazém, aplaudindo enquanto
outros saltam de vitrines quebradas fazendo malabarismos com pacotes
de comida. Nós nos aproximamos. Ouvimos risos e gemidos lá dentro,
com sons intermitentes de discussão.
Malditos saqueadores. Não posso ficar parado assistindo, mesmo que
não seja mais meu território.
Deixo Mara para trás e entro na briga.
— Ei! Dê o fora daqui! — Eu rangi, quase mostrando meus dentes. A
multidão se dispersa instantaneamente. Ouço os saqueadores sacudindo
dentro da loja como os últimos amendoins no fundo de uma jarra. Uma
porta bate quando eles saem por trás.
O que aconteceu com esta cidade?
Eu olho para o grafite manchando a vitrine profanada, lembrando das
palavras de Lexia.
Ela está certa. Eu a deixei segurando a bolsa.
Sempre houve uma quantidade saudável de crimes na Cidade da
Vingança, mas a decadência costumava ser charmosa. Parecia uma cidade
fora da lei. No bom sentido.
Isso é pandemônio, e eu mereço a culpa. A cidade desmoronou por
falta de liderança. Ninguém sabe mais a quem responder. A pequena
aparência de lei e ordem virou fumaça. E anarquia.
Eu não deveria ter entregado a cidade para Lexia neste estado de
desordem. Eu deveria ter refreado as gangues sozinho, bloqueado o
excesso de crimes. Eu fodi com minha companheira Alpha.
Não posso culpar a magia negra que possuiu meus irmãos e eu. Não,
eu falhei como líder.
Eu me sinto uma merda.
— Ei. Você está bem?
Eu me afasto da loja. Mara me observa, talvez sentindo meus
pensamentos sombrios.
— Não consigo parar de pensar no que Lexia disse sobre isso ser tudo
minha culpa.
— Ela não disse que era tudo culpa sua.
— Sim ela disse! Ela disse que eu a deixei com a porra de um buraco
do inferno!
— Ela estava sendo dramática demais.
— Não. — Eu suspiro. — Ela estava certa. Eu estraguei tudo e tenho
que consertar isso.
— Mas Cidade da Vingança é responsabilidade de Lexia agora. Temos
que nos preocupar com Alpha Rylan, — Mara argumenta.
— Eu sei, — digo a ela, — mas preciso pensar em nosso bando antes
de fugirmos para outra aventura.
Lexia pode controlar este território, mas a maioria dos lobisomens são
nossos súditos. Ela está limpando minha bagunça sozinha. Que tipo de
Alpha eu seria se deixasse isso acontecer?
— Mas, Kaden, — Mara geme, — estamos tão perto de conseguir a
sujeira de que precisamos de Alpha Rylan. Você ouviu o que Amber disse.
Aquele idiota sequestrou ele mesmo as garotas da Matilha da Pureza!
— Sinto muito, Mara, mas negligenciei a Cidade da Vingança por
muito tempo. A magia negra que controlou meus irmãos e eu não é uma
desculpa. Eu tenho que fazer algo para encurralar esses lobisomens
indisciplinados. Isso não pode continuar, — eu digo, apontando para o
armazém destruído.
Mara acena com a cabeça solenemente, desapontada, mas
compreensiva.
— Como posso ajudar?
No topo da minha cabeça, não tenho ideia. Eu só preciso de algum
espaço para trabalhar minha mente em tomo disso. Tenho certeza que
vou inventar algo bom. Eu sou Alpha Kaden, merda.
— Agora, eu só preciso que você se concentre na cerimônia de
acasalamento e me deixe descobrir isso. Avisarei você quando tiver um
plano.
— Kaden! — Mara grita, ficando vermelha de raiva. — Você sabe que
estou farta dessa porcaria de cerimônia de acasalamento! Vamos apenas
atrasar essa coisa estúpida. Há muito mais acontecendo agora. Eu
poderia te ajudar a bolar um plano — Mara, uma cerimônia de
acasalamento Alpha é uma tradição importante na Matilha da Vingança.
Não podemos simplesmente atrasar. Se não estivermos no altar naquele
fosso em chamas na próxima lua cheia, vai ficar mal. E a julgar pelo que
vimos aqui, já estou no gelo fino com alguns da Matilha.
Eu pego suas mãos com força, fazendo seus olhos tensos olharem nos
meus.
— Precisamos unificar a Matilha agora. E nada diz mais unificação
como uma cerimônia de acasalamento. Eu sei que parece bobo, mas não
é. Avançar com o planejamento é a maior ajuda que você poderia me dar
agora. Verdadeiramente.
— Tudo bem, — ela rosna. — Vou continuar planejando a cerimônia,
mas não estou nada otimista sobre isso.
— Você sabe que eu posso te compensar, — eu digo, caindo em um
tom baixo e sexy.
Mara sai furiosa. — Não em sua vida.
MARA

Quando Kaden e eu voltamos para o Castelo da Vingança, eu


imediatamente me retiro para meus aposentos de Luna sozinha. Estou
tão chateada.
Primeiro, temos que deixar de lado nossa missão de parar Alpha Rylan
por causa da merda acontecendo na Cidade da Vingança. Claro. Entendo.
Eu não gosto disso, mas eu entendo.
Mas então, Kaden me coloca de volta no dever de cerimônia de
acasalamento em tempo integral. Depois que eu apenas argumentei por
mais responsabilidade de liderança! E eu pensei que tinha ganhado!
UGHHHHHHHH!
Eu amo meu companheiro, mas o odeio pra caralho agora.
Eu entendo a importância da cerimônia de acasalamento e como ela
serve para unificar a matilha depois de toda a turbulência que
enfrentamos ultimamente. Mas posso contribuir muito mais.
Tenho que resolver o problema com minhas próprias mãos se quiser
que Kaden me leve a sério. Obviamente, as palavras e o sexo que altera a
mente não estão afetando sua mente.
Veja, Kaden está olhando tudo errado. Ele quer se sentar em seus
aposentos e debater uma ideia, em vez de realmente falar com seu
pessoal e perguntar o que eles querem.
Então, vou voltar para a Cidade da Vingança. Sem Kaden.
Estou cuidando disso sozinha.
Capítulo 12
BLUES E A CIDADE DA VINGANÇA Cidade da Vingança está
fora de controle, e Kaden quer que eu continue na cerimônia de
acasalamento.
Sim, porra, certo.
Eu não posso esperar perto dele para ele me levar a sério.
Eu tenho que resolver o problema com minhas próprias mãos.
Provar que tenho o que é preciso para ser uma verdadeira líder.
Ele gostando...
Ou não.
MARA

Na manhã seguinte à nossa visita à Cidade da Vingança, corro para o


café da manhã com Kaden. Não conversamos muito desde que voltamos
ontem à noite. Kaden sabe que estou chateada por ele me prender com a
besteira da cerimônia de acasalamento enquanto enfrenta a verdadeira
crise sozinho.
O que ele não sabe é que tenho um plano para cortar esta situação
pela raiz mais rápido do que sua bunda teimosa jamais poderia.
Talvez então possamos voltar a tentar impedir Alpha Rylan e um
apocalipse iminente.
Desculpe, meu amor, mas o fim do mundo parece um pouco mais
urgente do que uma onda de crimes na Cidade da Vingança. Mas claro,
sou só eu.
Eu pulo da mesa assim que meu prato está limpo.
— Você está com pressa, — Kaden diz, levantando uma sobrancelha
curiosa.
— Não posso deixar Claude esperando, — eu digo em um tom
encharcado de sarcasmo.
— Eu sei que você está chateada com isso, Mara, mas eu disse a você...
— Não vamos entrar nisso de novo, — eu estalo, cortando ele
bruscamente. — Se você precisar de mim, estarei em meus aposentos
escolhendo vestidos. Porque, aparentemente, é só para isso que sirvo.
— Vamos, Mara...
Eu marchei para fora da sala, deixando Kaden queimando em meu
rastro. Meu companheiro teimoso merece toda a atitude que está
recebendo. Eu ando pelos corredores do castelo, refazendo os passos que
aprendi há muito tempo. Eu passo pela porta de meus aposentos de
Luna, então desço pela cozinha principal e saio para um pátio escondido.
Eu cruzo a pequena ponte para a parede do castelo, olhando para ter
certeza de que estou sozinha.
Eu bato nos tijolos na sequência específica que Coen uma vez me
mostrou. Odeio usar o segredo do meu cunhado traiçoeiro, mas tempos
de desespero exigem medidas desesperadas. Não quero que Kaden ou
qualquer outra pessoa saiba que estou deixando o castelo.
Os tijolos caem e retraem, revelando a porta que sei que está lá. Eu
respiro fundo e abro.
É hora de limpar a Cidade da Vingança.

Eu vou direto para o covil de Lexia na Cidade da Vingança. Uma


guarda da Matilha da Igualdade me leva até a Alpha dela. Encontro Lexia
sozinha, olhando para seu copo de bebida pela metade como uma bola de
cristal.
— Lexia?
Ela aperta os olhos ao ouvir o som da minha voz, vacilando com uma
embriaguez leve, mas óbvia.
Droga, garota. É ainda mais cedo do que ontem — O que é agora? — ela
rosna.
— Calma, Lexia. Eu venho em paz.
— É o que você diz. — Lexia funga. — Eu conversei com Amber depois
de sua pequena conversa ontem. Ela ficou uma bagunça depois que você
e Kaden desenterraram aquelas memórias horríveis.
Meu coração afunda. Eu sabia que seria difícil para ela, mas o que ela
nos disse pode nos levar à prova de que precisamos para mostrar aos
outros Alphas o que Rylan tem feito.
— Eu disse a ela que ela poderia parar se ela se sentisse desconfortável,
— eu argumento. — Ela escolheu continuar falando e acabou sendo uma
grande ajuda.
— Então por que você está aqui em vez de caçar aquele rato bastardo
do Rylan?
— Porque nossa Matilha vem primeiro, — eu digo a ela, sentando em
sua mesa. — Kaden se sente mal com a situação que ele deixou você aqui.
Ele se culpa pela indisciplina da Matilha da Vingança.
— Como ele deveria, — Lexia se encaixa. — Então, onde diabos ele
está?
— De volta ao castelo sentado em sua câmara, tentando descobrir o
que fazer.
— Huh. Isso vai nos fazer muito bem, — Lexia diz, engolindo sua
bebida e pegando a garrafa. Eu deslizo para fora de seu alcance. Ela
relutantemente me dá toda a sua atenção.
— Eu sei que não vai ajudar. E por isso que eu escapei até aqui.
Lexia faz uma careta.
— Sem ofensa, Mara. mas você é uma Luna nova. A maior parte da
Matilha da Vingança nem sabe o seu nome. O que você pode fazer?
Ela pega a garrafa, mas eu a deslizo ainda mais.
— Eu quero conhecer os membros de minha matilha que estão
causando todos esses problemas. Falar com eles. Ver quem eles são.
Descobrir o que eles querem.
— Eles são um bando de malditos animais, Mara — Lexia cospe. — E
isso está vindo de mim.
— Por favor, Lexia. Estou tentando aqui.
Ela me encara, considerando minha proposta.
Eu sei que é arriscado. Esses lobisomens são perigosos e não há
garantia de que eles vão querer falar comigo.
Kaden ficaria louco se ouvisse esse plano, mas claramente sua
liderança não está funcionando. Ele precisa da minha ajuda, saiba disso
ou não.
Um casal de lobas da Matilha da Igualdade irrompe na sala. Lexia e eu
erguemos os olhos.
— Alpha Lexia, acabamos de saber que a Matilha da Retaliação está
marcando a Stockton Street.
Os olhos de Lexia se estreitam. Ela se levanta imediatamente.
Ela disse Matilha da Retaliação? Que diabo é isso?
— Se você quer conhecer esses filhos da puta, Mara, agora é sua
chance — Lexia diz, batendo em si mesma para ficar sóbria.
— Estou dentro.
Eu pulo para cima, pronta para ir. Lexia me dá uma olhada, franzindo
a testa.
— Cuidado com o que você deseja. — Ela se vira para suas lobas. —
Garotas, consigam uma armadura para Mara.
— Um disfarce, — ela me explica. — No caso de eles reconhecerem
você. Se a Matilha da Retaliação perceber que você é a Luna de Kaden,
eles a comerão viva.
Eu rio sem jeito, presumindo que seja algum tipo de piada sombria.
Com base na resposta de lábios apertados de Lexia, aparentemente
não.
No que eu me meti?
KADEN

Estive andando em volta das minhas câmaras Alpha o dia todo e não
tive a porra de uma única ideia. Como diabos vou limpar a Cidade da
Vingança? Como vou mostrar a esses encrenqueiros quem manda?
Eu fico olhando pela janela. Talvez eu ficasse mais concentrado se não
continuasse pensando em Mara. Ela está tão chateada comigo. Eu sei que
ela pode contribuir mais para o bando do que apenas com os planos da
cerimônia de acasalamento. Mas algumas coisas um Alpha deve descobrir
por si mesmo...
Certo?
Talvez eu esteja sendo um idiota. Mara é minha igual. Minha parceira.
Se ela quer me ajudar, devo deixar. Tenho certeza de que não vou chegar
a lugar nenhum por conta própria.
Eu fui um idiota. Sou eu quem defende uma frente unificada, mas
aqui estou eu, relegando-a à cerimônia de acasalamento. Um bom líder
deve derrubar paredes, não construí-las.
Deixo meus aposentos para encontrar minha companheira com meu
rabo entre as pernas. Eu preciso consertar as coisas. Preciso parar de
atrapalhar meu próprio caminho.
Passo por Claude no corredor a caminho do quarto de Mara. O
imbecil gigante assobia vigorosamente, uma gota de cuspe saindo de seus
lábios enrugados enquanto ele me oferece um aceno respeitoso.
Mara está certa. Que desleixado
Espere um minuto.
Eles não deveriam se encontrar agora?
É possível que ela já o tenha dispensado por hoje. Afinal, ela não o
suporta.
— Mara, — eu começo abrindo a porta de seu quarto, — eu devo a
você um pedido de desculpas...
Só que Mara não está lá. A sala está vazia.
Hmm.
Não sei por quê, mas tenho um mau pressentimento sobre isso.
Mara, onde você está 1
Corro pelo corredor em busca de Claude. Acho o idiota que assobia
não muito mais longe do que o deixei. Droga, esse cara é lento.
— Claude, — eu digo, — você sabe para onde Mara foi? Ela não estava
em seus aposentos.
Claude encolhe os ombros. — Não sei, chefe. Não a vi o dia todo.
— Dia todo? Mas ela disse que vocês estavam se
encontrando...
— Isso foi o que eu pensei. Esperei por ela a manhã toda. A pequena
senhora não apareceu.
Meus punhos se apertam.
Que porra é essa? Mara mentiu para mim?
Se ela não se encontrou com Claude, onde ela está?
Ela estava muito chateada...
Merda. Espero que ela não esteja aprontando nada maluco.
MARA

Lexia e eu andamos pelas ruas com um pequeno grupo de garotas da


Matilha da Igualdade. Eu me sinto ridícula em um temo acanhado de sua
armadura de osso de animal. E difícil me sentir disfarçada com minha
bunda e seios tão expostos, mas acho que estou me misturando bem com
as lobas.
No final de um beco, Lexia de repente levanta o punho. Todas nós
ficamos paradas e quietas. Suas orelhas levantam, ouvindo o som
distante de tinta spray. Ela chega até a esquina de um prédio e olha para a
rua. Depois de um momento, ela gesticula para que nos juntemos a ela.
Do nosso esconderijo, vejo alguns caras desalinhados pintando
fachadas alegremente para cima e para baixo na rua, fazendo símbolos
distintos contendo um R e um V.
— Esse é a Matilha Retaliação, — sussurra Lexia. — Nome bonito,
certo? Eles são lobos da Matilha da Vingança, mas eles não se sentem
mais como se pertencessem.
— Por que não? — Eu pergunto.
— Não conversamos muito — murmura Lexia, desembainhando a
espada reluzente da bainha amarrada em suas costas. — Mas, como eu
disse, você pode tentar.
As meninas erguem suas lanças, os olhos em Lexia para o sinal.
Desarmada, me sinto mais nu do que antes.
Mas não estou aqui para lutar. Estou aqui para conversar.
Lexia aponta o dedo para a Matilha de Retaliação. Nós nos mudamos.
— Parem, filhos da puta! — Lexia berra, mostrando sua espada
enquanto caímos na rua.
Os caras da Matilha da Retaliação tentam fugir. Uma das garotas da
Matilha da Igualdade arremessa sua lança. Ela afunda no chão
centímetros à frente dos caras, bloqueando seu caminho. Eles param
mortos.
— Aquilo foi um aviso, — a garota rosna. — Da próxima vez, eu vou
matar.
— Se você tem alguma anua, agora é a hora de largá-la, — Lexia diz
enquanto os cercamos. Os caras jogam várias facas e adagas na rua. —
Nós temos algumas perguntas para vocês.
Ela puxa sua lâmina perigosamente perto de suas gargantas.
— Mara — pergunte à vontade.
Eu respiro fundo. Esta não é exatamente a discussão de mesa redonda
que eu tinha em mente. Esses caras parecem peixes na ponta de um
anzol.
— Eu tenho algumas perguntas para você primeiro, — diz uma voz
atrás de nós.
Nós nos viramos. Um jovem caminha em nossa direção, enfiando os
dedos em um conjunto de soqueiras. Seu cabelo comprido e liso, cor de
corvo, brilha ao sol da tarde, e ele sorri com os dentes mais brancos que
eu já vi. Ele seria muito gostoso se não estivesse ameaçando minha vida.
— O que a Luna da Matilha da Vingança está fazendo fora da
segurança das paredes de seu castelo?
— Você não sabe do que está falando, — Lexia rosna, dando um passo
defensivo em minha direção.
— Eu não sei? — O homem diz brincando, bebendo um olhar cheio de
mim, enviando um arrepio pela minha espinha e, admito, pelo meu sexo.
— Amei a roupa, Mara. Alpha Kaden sabe que você se veste assim nas
costas dele?
— Quem é você? — Eu estalo.
— Meu nome é Brutus, milady, — ele diz com uma reverência
abrangente. — Alpha da Matilha Retaliação.
Na hora, um bando de homens desalinhados emergem dos prédios em
ruínas, superando em muito nosso pequeno grupo. Eles erguem espadas,
facas, machados e morcegos pontiagudos ameaçadoramente no ar.
Porra. É uma armadilha.
— Quem são vocês? — Eu exijo.
— Principalmente ex-soldados — zomba Brutus enquanto seus
homens se aproximam de nós. — Os defensores mais valentes da Matilha
da Vingança. Até que não soubéssemos mais quem estávamos
defendendo. Depois de servir sob o comando de Kaden, Coen, e -Kace,
ficamos fartos das constantes mudanças de regime.
Soldados da Matilha da Vingança? Droga. Não admira que a Cidade da
Vingança seja tão fodida. Kaden comanda alguns dos soldados mais rudes
e resistentes de todas as matilhas.
Ou pelo menos... ele costumava.
Estou apavorada quando o círculo se fecha em torno de nós, mas parte
de mim simpatiza com esses caras também. Eu sei o que é sentir calor e
frio com Alpha Kaden.
— Sinto muito pelo que aconteceu, — eu digo. — Mas as coisas são
diferentes agora. Coen está morto. Kace deixou a Matilha. A maldição de
Kaden foi quebrada e ele voltou ao trono do Castelo da Vingança.
— Mas por quanto tempo? — Brutus rosna. — Estamos fartos da
porra da novela. Queremos nossa própria Matilha. Nosso próprio
território. Alpha Kaden deu a Lexia as rédeas da Cidade da Vingança sem
nos consultar. Está tudo fodido. Nossas casas estão aqui!
Brutus se aproxima de mim. Até que ele pudesse estender a mão e me
tocar.
Uma parte doente de mim deseja que ele...
Posso ver por que Brutus está chateado. Como companheira de
Kaden, tenho apenas uma visão panorâmica do que está acontecendo na
matilha. Não tinha ideia de quanto nossas ações afetaram pessoas como
Brutus.
— Mas agora, temos alguma vantagem, — Brutus diz, ainda se
aproximando. — Nós temos a preciosa Luna Mara de Kaden. E como ela
é preciosa.
Ele dá um soco com a mão fechada em minha direção, congelando a
centímetros do meu rosto.
Meu coração martela no meu peito.
Oh merda. Esse cara poderia realmente me machucar.
Por que eu pensei que poderia lidar com isso sozinha? Vir aqui foi um
erro de merda.
— Matilha da Vingança — reúna-as, — comanda Brutus.
Sou agarrada por um par de mãos ásperas. Lexia e as meninas
também.
Oh não. Para onde eles estão nos levando?!
— Não tão rápido! — Uma voz familiar grita.
Todo mundo se vira enquanto Kaden marcha em nossa direção no
meio da rua.
Meu companheiro! -Bem na hora!
Então eu vejo a expressão em seus olhos. Eles brilham de raiva.
Meu coração pula de pé.
Ele deve estar puto pra caralho agora.
Sinto muito, Kaden.
— Eu não sei quem você é, filho da puta, mas é melhor você tirar suas
malditas mãos da minha companheira! — Kaden rosna, entrando sem
medo no círculo da Matilha da Retaliação.
Brutus simplesmente sorri, gesticulando para o gorila que está me
segurando. Eu sou liberada instantaneamente.
— Alpha Kaden. Que surpresa. Estávamos falando sobre você.
Kaden estala os nós dos dedos ameaçadoramente. — Não gosto
quando as pessoas falam pelas minhas costas.
— Você não pode pensar que pode enfrentar todos nós, não é? —
Brutus diz se divertindo.
— Eu ensinei a vocês fodidos fracos tudo o que vocês sabem, — Kaden
diz. — Ninguém ameaça Mara e vive.
Brutus gesticula para seus homens em direção a Kaden. Alguns ficam
para trás com Lexia e as meninas enquanto o resto corre de frente para
meu companheiro.
Eu quero fechar meus olhos. Agradeço Kaden ter colocado tudo na
mesa para mim, mas isso é suicídio. Ele deveria apenas conversar sobre
isso com a Matilha da Retaliação antes de tentar bater em todos eles.
— Kaden, não! — Eu grito, mas sei que ele não está ouvindo. Seus
ouvidos estão cheios de sangue.
Ele faz um trabalho rápido com a primeira onda da Matilha da
Retaliação, estalando narizes e esmagando rostos com facilidade, mas
seus números são muito grandes. Logo Kaden desaparece sob uma onda
de chutes, socos, punhaladas e golpes.
Meus olhos se enchem de lágrimas. Eu grito até ficar rouca. Isso é
tudo minha culpa.
— Isso é o suficiente, Matilha da Retaliação, — Brutus finalmente
grita. Os homens se afastam do corpo machucado e sangrando de Kaden,
espalhado na calçada como um inseto esmagado.
— Aquilo foi um aviso, — Brutus diz em tom de zombaria, olhando
diretamente para mim. — Da próxima vez, pretendo matar.
Os homens libertam Lexia e as garotas da Matilha da Igualdade e
seguem seu líder na estrada. Eu corro para o lado de Kaden. Meu
companheiro está inconsciente, sua respiração lenta.
Eu pego sua cabeça, embalando-a no meu colo, minhas lágrimas
molhando seu rosto já inchado.
O que eu fiz?!
Capítulo 13
DEMÔNIOS
Todo o meu corpo dói com uma dor incandescente.
Como meus próprios súditos podem descer a tal nível?
Como minha própria Luna poderia trair minha confiança e se perder?
Minha autoridade sobre a Matilha da Vingança parece estar em questão...
Assim que eu sair desta cama, devo fornecer a resposta.
KADEN

Eu acordo na minha cama no Castelo da Vingança. Meu corpo está


dolorido como merda. Abro os olhos fracamente, examinando meus
cortes enfaixados e grandes hematomas escuros.
Estou uma bagunça, mas vou superar.
Tenho apenas vagas lembranças de Lexia e suas lobas da Matilha da
Igualdade curando minhas feridas e me carregando de volta da cidade em
uma maca, minha consciência oscilando dentro e fora.
Me lembro de ver Mara. Chorando com os olhos arregalados.
Ela deveria se sentir uma merda.
Eu não poderia estar mais bravo com ela. Ela me desobedeceu
descaradamente. Indo para a Cidade da Vingança por conta própria... o
que ela poderia esperar realizar?
Este não é o comportamento de uma Luna. E o comportamento de
uma criança.
Estou tão desapontado. Eu quero dar a ela mais responsabilidades de
liderança. Eu quero poder confiar nela, mas este episódio provou que ela
está longe de estar pronta.
Se ela não consegue ficar quieta e realizar as tarefas simples que dei a
ela, como posso acreditar que ela pode me ajudar a liderar o bando como
uma igual, especialmente nestes tempos difíceis?
Desculpe, Mara, mas você foi longe demais desta vez
Falando no diabo
Meus olhos semicerrados a observam entrar sorrateiramente no
quarto e se sentar ao lado da cama. Seus olhos estão inchados de tanto
chorar. Quando ela percebe que estou acordado, uma nova onda começa.
Mas essas parecem felizes.
— Oh, Kaden, — ela choraminga, tentando me abraçar, mas mesmo a
pressão suave de seu pequeno corpo no meu é demais para mim agora.
Eu grito de dor.
Mara retira-se com remorso para sua cadeira.
— Não, — eu a advirto, convocando o tom mais furioso que minha
força permite.
— Eu... eu sinto muito... — ela gagueja. — Eu sei que estraguei tudo.
— Você não fez merda, Mara — rosno. — Você me desobedeceu. Você
traiu minha confiança. Você mentiu pra mim, porra. E veja o que você
causou!
— Eu aponto para meu corpo quebrado. Mara acena com a cabeça
silenciosamente, pela primeira vez, sem uma resposta mal-humorada. Eu
me sinto um pouco mal por repreendê-la assim, mas ela precisa ouvir.
— O que diabos você estava fazendo lá fora?! — Eu exijo, meus olhos
brilhantes perfurando seu rosto abatido.
— Eu estava tentando ajudar, — ela diz. — Eu estava doente e cansada
de ficar presa planejando a cerimônia de acasalamento. Você sabia disso.
Achei que se eu mesma resolvesse a situação, você veria que tenho mais a
contribuir.
— Droga, Mara, sei com o que você tem a contribuir. Já conversamos
sobre isso. Mas porque você não tem paciência, porra, porque você não
pode ouvir absolutamente nada do que eu digo, você acabou de perder
minha confiança em suas habilidades para me ajudar a liderar este
bando.
— Isso não é justo, — ela argumenta. — Pelo menos eu estava
tentando fazer algo sobre Cidade da Vingança. Você estava sentado em
sua torre sem fazer nada. Eu estava tentando falar com nosso bando.
Tentando descobrir de onde eles estão vindo.
— Sim, grande plano de merda, Mara. Parece que você realmente
pensou nisso, — eu digo, minha voz aumentando de fúria. — Aquelas
pessoas com quem você estava 'tentando falar' poderiam ter me matado.
Ou pior, eles poderiam ter matado você.
A verdade em minhas palavras parecem fazer ela hesitar. Sua
mandíbula se contrai de vergonha.
— Eu não queria te assustar, — ela diz finalmente.
— Um bom líder considera as consequências de suas ações, — digo a
ela. — Eles não tomam decisões antes de refletir sobre elas. Se você quer
mais responsabilidade de liderança, precisa usar a cabeça. Você não pode
operar completamente por impulso.
Mara acena com a cabeça lentamente.
— Posso pelo menos dizer a você o que a Matilha da Retaliação tem a
dizer? Isso pode te ajudar a tomar uma decisão mais informada sobre o
que fazer.
Agora meu sangue realmente ferve.
Mara entende alguma coisa do que estou dizendo? Ela não pode me
ajudar a tomar decisões agora — não meros minutos depois de ela ter
cagado completamente na cama.
— Em primeiro lugar, não estou reconhecendo esse nome
absurdamente estúpido, — rebato. — Eu reconheci aqueles lobisomens.
Eles costumavam ser soldados. Eles são a Matilha da Vingança para o
resto da vida, gostem ou não.
— Eu acho que eles discordariam—
— Eu ainda estou falando! — Eu grito. — Em segundo lugar, acho que
eles se comunicaram muito claramente com a porra da surra que me
deram. Eles não têm respeito pela minha autoridade e precisam ser
colocados na linha!
— Kaden— ela começa, mas não consigo ouvir outra palavra de sua
boca sem perder a porra da minha cabeça.
— Está claro para mim que eu preciso governar este bando com
punho de ferro, — digo, interrompendo ela novamente. — Meus súditos
não me respeitam, os Alphas não me respeitam — até mesmo a minha
maldita Luna não me respeita! Eu fui muito mole. Assim que eu sair
desta cama, vou fazer grandes mudanças por aqui.
— Kaden, por favor—
— Mara, eu juro, é melhor você manter a boca fechada. — Minhas
palavras soam com raiva. Ela atira adagas em mim, e eu atiro de volta
nela. Com um gemido altivo, ela sai da sala.
Matilha da Retaliação.
Que piada de merda.
Vou fazer aqueles filhos da puta desejarem nunca ter nascido.
KACE

Helena tem sido uma guia incrível neste labirinto de biblioteca. Eu


vim para a Matilha da Sabedoria sem nenhuma ideia de como rastrear os
livros que me protegem da escuridão e lançar alguma luz sobre o mal que
se apoderou de minha família.
Mas Helena me indicou a direção certa. Todos os dias leio outro livro
que me aproxima do que procuro.
E todos os dias, eu consigo ver Helena.
Ela ainda não tem ideia de que é minha companheira, mas estamos
chegando perto. Eu acho.
Tenho trazido café para ela pela manhã. Ela se junta a mim no meu
cantinho da biblioteca enquanto devoro os livros com que ela me
alimenta. Nossas pequenas conversas parecem durar cada vez mais.
A única coisa é... elas não são exatamente românticas. Nós apenas
conversamos sobre livros.
Mas pelo menos estamos conversando.
Esta manhã chego à biblioteca carregando um café extra para Helena,
mas ela não está em sua mesa como de costume.
Hum. E o dia de folga dela? Helena parece comprometida demais para
isso. Tenho a sensação de que, se dependesse dela, ela viveria nesta
biblioteca pelo resto da vida.
Que nerd sexy...
— Kace! — Helena corre até mim com entusiasmo, acenando com um
livro empoeirado com capa de couro. — Estive procurando por você a
manhã toda! Onde você esteve?
Se ela soubesse o que essas palavras significam para mim...
— Pegando café para você, — eu digo, entregando a ela uma xícara.
Ela toma um gole com sede.
— Néctar dos deuses, — ela diz, saboreando o gosto. — Obrigada.
Fiquei acordada metade da noite.
Meu coração salta. Não com outro lobisomem, espero?!
— Eu estava trabalhando até tarde em um artigo de pesquisa e
encontrei isso. — Helena empurra seu livro para mim, afastando uma
mecha solta de seu cabelo crespo.
— Oh... Trabalho de pesquisa... Certo... — eu digo, aliviado. Com que
cara eu já a vi além de mim? Toda essa coisa de estar apaixonado está me
fazendo perder a cabeça.
— Estou estudando Magia de Luz na universidade. Você sabe, cura,
purificação. Esse tipo de coisas. Ontem à noite eu estava lendo um livro
sobre defesa de demônios e me deparei com um capítulo muito
interessante. Dê uma olhada.
Abro o livro em sua mesa. Ela desliza ao meu lado, virando a página
certa enquanto eu fico bêbado com a fragrância frutada de seu cabelo.
— Aí está, vê? — Ela aponta para uma página amarelada escrita em
símbolos estranhos e hieróglifos semelhantes aos entalhes do templo da
Matilha da Disciplina.
— Não quero soar como um idiota, Helena, mas eu não posso ler isso.
— Claro! Está em wolferunes. Meu erro. Sem dormir, lembra? — Ela
aperta os olhos para as páginas, inadvertidamente se aproximando de
mim. Minha pele formiga com o calor de seu corpo. Desejo estender a
mão e tocá-la...
Mas não está na hora. Ainda não.
— Aqui lemos que, eras de anos atrás, um poderoso demônio
chamado Varmagedda ameaçou os bandos. Alguns dizem que ela era mãe
de lobisomens. Nosso criador — e nosso destruidor...
!!

— Espere, eu pensei que a Deusa da Lua supostamente criou


lobisomens.
— A Deusa da Lua é, na verdade, uma religião mais recente. Apenas
algumas centenas de anos. É meio foda, mas por milhares de anos,
muitos de nossos ancestrais realmente adoraram demônios.
Lobisomens antigos adoravam demônios? -Minha cabeça gira
enquanto Helena continua...
— Varmagedda era forte o suficiente para causar a destruição do
mundo inteiro com sua magia negra. E ela quase o fez. Mas, felizmente,
ela foi derrotada pelo Alpha da Matilha da Vingança antes que ela
pudesse iniciar o fim dos dias.
Matilha da Vingança? Interessante. Minha família liderou nosso
bando desde o início. Este é um dos meus ancestrais.
— O Alpha lançou Varmagedda em um poço onde as chamas agora
queimam eternamente. A lenda diz que ela está presa lá até hoje,
torturada por sua derrota, esperando sua hora de se levantar novamente,
com fome de vingança contra os lobisomens que a desafiaram, — Helena
diz, terminando sua tradução.
— O Poço Ardente? — Eu percebi. — Puta merda. Eu nunca soube.
— Você conhece o lugar? — Helena pergunta.
— Claro. Fazemos todos os nossos grandes eventos do bando lá.
Cerimônias de acasalamento, churrascos familiares...
— Sinto muito, você realiza cerimônias de acasalamento em uma cova
em chamas? Estou ouvindo corretamente?
— Isso é estranho?
Helena ri. Eu derreto.
— Eu não sei. Acho que não saio da Matilha da Sabedoria com tanta
frequência. A menos que seja por meio de um livro, — ela diz,
maravilhada com as pilhas. — De qualquer forma, achei que você
pudesse achar isso encorajador. Eu sei que você está tentando se proteger
da escuridão. Parece que sua matilha tem uma história disso.
Ela me entrega o livro.
— Eu sei que você vai continuar com o bom trabalho.
Ela sorri gentilmente.
Preciso de toda força que tenho para não beijar ela agora.
MARA

Desnecessário dizer que Kaden e eu não estamos compartilhando a


cama esta noite. Enquanto ele se recupera de seus ferimentos em nosso
quarto, recuei para o sofá-cama em meus aposentos de Luna.
Acho que meu companheiro e eu precisamos de um tempo separados.
Eu me sinto horrível por machucar Kaden. Muito do que ele me
repreendeu fazia sentido. Agi impulsivamente e me coloquei em perigo.
Eu desobedeci completamente a ele.
Talvez eu até mereça perder a confiança dele por um tempo. Minhas
ações foram imaturas e tenho vergonha delas...
Até certo ponto.
As informações que obtive de Brutus e da Matilha da Vingança eram
indiscutivelmente importantes. Eles estão fartos de todas as mudanças
na liderança, porque não têm voz para falar ou impedir. Kaden precisa
ouvir seus súditos, não pisar em seus calcanhares.
Quando saí do nosso quarto, ele estava trabalhando em algum tipo de
discurso. Ele quer estabelecer a lei. Afirmar seu domínio sobre a Matilha
da Vingança. Ele acha que é a única maneira de fazer a Matilha da
Vingança entrar na linha...
Pense de novo.
Kaden não vai conseguir sair desse problema se portando como um
idiota. Quer ele goste ou não, a comunicação aberta com Brutus e seus
homens é a única maneira de colocar a matilha na mesma página
novamente.
Eu sei que mereço estar na prisão de Luna agora, mas gostaria de
poder fazer Kaden me ouvir.
Ele está cometendo um grande erro!
Capítulo 14
ESTADO DA MATILHA A partir de hoje, minha autoridade sobre a
Matilha da Vingança será inquestionável.
Minhas palavras os levantarão em um apoio inabalável.
Eles vão cantar os louvores do meu discurso poderoso e unifica dor.
E lembrar de seu significado nos próximos anos.
Eu só tenho que escrever a maldita coisa primeiro.
KADEN

Tenho mancado pelos meus aposentos o dia todo tentando terminar


meu discurso, mas ainda não está certo. O tempo está se esgotando esta
noite e, admito, estou ficando ansioso.
Eu olho para as minhas cicatrizes e hematomas da briga com a
chamada Matilha da Retaliação, ainda estou mais do que um pouco
dolorido. Mas para ser honesto, eu prefiro enfrentar mais vinte
lobisomens do que ficar de pé na frente de toda a minha matilha.
Eu odeio falar em público. Não é algo natural para mim, e minha
consciência de que uma parte considerável da matilha é totalmente
rebelde não toma as coisas mais fáceis. Se eu estragar tudo, eles vão me
devorar como tubarões.
Então, eu não vou estragar tudo.
Eu entro no banheiro e olho para o espelho para selecionar a
expressão adequada para o meu rosto. Mesmo que minhas palavras
falhem, o bando precisa saber que estou falando sério. Estou
estabelecendo a lei, e é melhor que suas bundas se alinhem.
Especialmente aqueles malditos palhaços da Matilha da Retaliação.
Eu faço uma careta, franzo a testa e mostro meus dentes, até que
finalmente pouse na popa e um olhar imponente que sei que ganhará o
medo e o respeito da matilha.
Agora só preciso descobrir o que vou dizer...
Talvez eu deva apenas improvisar? Falar com o coração. Quem se
importa com palavras de milhões de dólares e frases inteligentes? O
sentimento puro deve ser suficiente para conquistá-los.
Sim. Eu deveria concentrar meu tempo em escolher uma espada forte
para trazer comigo.
As armas falam mais alto que palavras.
Saio do banheiro e vejo Mara na porta de meus aposentos. Ugh. -Eu
realmente não quero ver ela agora. Temos discutido sem parar
ultimamente, e eu não preciso de sua doce voz irritante na parte de trás
da minha cabeça quando estou de frente para minha matilha.
— Mara, por favor. Não quero lutar de novo, mas preciso ficar sozinho
agora. Estou estressado o suficiente do jeito que está.
— Sinto muito, Kaden, mas não posso deixar você dar este discurso.
Não se você apenas vai ordenar que a Matilha da Retaliação se deite e
role para você.
Sinto meu pulso acelerar, mas não quero perder o controle.
— A Matilha da Retaliação deveria se considerar com sorte porque
meu discurso é tudo o que eles estão recebendo. Você percebe a dor que
ainda sinto, Mara? Esses filhos da puta traiçoeiros merecem a morte!
Ok, então perdi o controle, mas Mara deveria saber melhor do que me
interromper agora. Mesmo depois do que aconteceu na Cidade da
Vingança, ela não tem nenhum respeito por mim. — Kaden, me escute
por dois segundos. Você não sabe como é para esses caras. Você foi
amaldiçoado, então seus dois irmãos tentaram tomar o trono, e então
você deu a Cidade da Vingança para Lexia... Seu bando está com raiva e
confuso, e eles se sentem totalmente impotentes...
— Eles são -impotentes! — Eu rujo. — Sou a porra do Alpha da
Matilha da Vingança, Mara! Não me importo com os sentimentos de
algumas maçãs podres. Se eles não me obedecerem, vou esmagá-los.
Ela salta para trás quando bato a porta na cara dela.
Terminada a conversa.
Agora, de volta a escolher aquela espada...
Eu estou no palco que montamos em frente ao Castelo da Vingança,
olhando para o mar de lobisomens reunidos diante de mim. Eu nunca
percebi que a Matilha da Vingança tinha tantos membros. Deve haver
milhares lá embaixo...
A maioria deles não verá a expressão em que trabalhei. Ou minha
espada.
Meu coração afunda.
Mara está parada atrás de mim. Tento chamar sua atenção, esperando
um pouco de apoio, mas ela propositalmente desvia o olhar. Talvez eu
mereça isso.
Encaro a multidão novamente, mais uma vez tentando me lembrar do
meu discurso.
Oh sim. Eu não escrevi um.
Eu me amaldiçoo e respiro fundo.
Aqui vai nada...
Literalmente...
— Matilha da Vingança, — eu rosno, minha voz crescendo no sistema
de som. Bom começo.
— Ultimamente tenho notado dissidência em nosso bando. Mudanças
na liderança instigadas por circunstâncias além do meu controle...
Inferno, sim, isso está indo muito bem. Continue assim, Kaden — Hoje
estou aqui para garantir que sou sólido como uma rocha. Conquistei
meus demônios e ninguém vai mexer no meu trono novamente. Estou
confiante na minha capacidade de liderar este bando, e vocês também
deveriam estar. Eu mereço sua confiança e lealdade. Na verdade, eu exijo
isso!
Eu bato no pódio para dar ênfase, minha voz aumentando. Estou bem.
— Tem havido muita folga por aqui ultimamente. Isso acabou agora. Se
um único dedo do pé estiver fora da linha, você responderá a mim
pessoalmente! No Castelo da Vingança e na Cidade da Vingança!
Eu ouço alguns murmúrios vindos da multidão. Eu me inclino para o
microfone.
— Quem se atreve a interromper meu discurso?!
Ninguém dá um passo à frente.
— Mostre-se! — Eu digo, perdendo minha calma. — Eu sou seu Alpha.
Você não pode falar durante meu discurso histórico e se safar!
Mais murmúrios. A matilha se parte ligeiramente e vejo Brutus se
aproximando do palco, flanqueado por sua equipe de punks da Matilha
da Retaliação.
Eu rosno no microfone. Brutus simplesmente sorri.
Eu considero seriamente pular do palco para rasgá-lo membro por
membro.
— O que diabos você quer? — Em vez disso, cuspo.
— Eu gostaria de uma voz, Alpha Kaden, — Brutus diz, voltando-se
para a multidão. — Como muitos de nós.
— Merda difícil!
Eu espero pelos sons de apoio da minha matilha, mas tudo que ouço
são mais murmúrios. E sussurros.
Brutus aproveita o momento.
— Você e seus irmãos têm conduzido este bando para o chão. A magia
negra paira sobre você como uma nuvem negra. Hoje você está aqui para
nos garantir que é, como você disse, 'sólido como uma rocha'.
Eu fico vermelho com a risada dispersa na multidão.
Essa foi uma boa frase!
— Mas e amanhã, Alpha Kaden? Com toda a mudança, é impossível
para nós confiar apenas na sua palavra.
Os murmúrios se transformam em gritos de concordância.
Porra. Estou perdendo meus súditos para a maldita Matilha da
Retaliação!
Isso não está indo como planejado...
— Se você não confia em minhas palavras, o que dizer da minha
espada? — Eu digo, agarrando o punho dourado da minha arma e
acenando no ar, a lâmina curva brilhando sob a meia-lua.
— Estamos cansados de você resolver nossos problemas com
violência, Alpha Kaden. Se uma espada deve ser usada em alguém, eu
pergunto, por que não em você? Estamos cansados de sua ditadura!
Deixe-nos governar a nós mesmos!
A Matilha da Retaliação aplaude em apoio à declaração ousada de seu
líder. Meus dedos se apertam nervosamente em volta da minha espada
enquanto seu espírito rebelde se espalha como fogo na minha frente.
Estou prestes a enfrentar um golpe?!
MARA

Eu deixei Kaden torcer no vento por muito tempo. Brutus e a Matilha


da Retaliação parecem suscetíveis de iniciar um tumulto.
Aparentemente, eles não são os únicos insatisfeitos com a liderança de
meu companheiro.
Eu tentei avisá-lo...
Eu ando até a frente do palco. Eu não me importo se Kaden ficar
chateado. Não posso agitar o bando mais do que ele já fez. Os olhos do
meu companheiro esbugalham-se enquanto o empurro sem palavras
para fora do meu caminho. Eu me inclino para o microfone e começo a
falar.
— Com licença? Olá?
Brutus gira em tomo da multidão barulhenta, olhando para mim com
aquele sorriso sexy e brilhante.
— Bem. Luna Mara tem algo a dizer. Vamos ouvir, milady, — ele diz
com a mesma reverência sarcástica da Cidade da Vingança. Idiota
paternalista.
Ainda está quente, no entanto.
— Se vocês pudessem se acalmar um minuto... — O barulho diminui
enquanto a matilha segue o exemplo de Brutus. Ele me observa,
divertido, como se eu fosse uma criança exibindo meus melhores
rabiscos.
Vou diverti-lo, porra.
— Para aqueles de vocês que não me conhecem, meu nome é Mara.
Eu sou sua nova Luna. Ou pelo menos eu serei se eu sobreviver ao Poço
Ardente, — eu brinco, tentando soltar a multidão tensa.
— Alpha Kaden e eu ouvimos suas vozes, e estamos começando a
entender o quão difícil todas essas mudanças foram para a matilha. Vocês
têm estado impotentes. Sem voz. E sabemos por experiência o que é estar
sob o controle de outra pessoa... bem, realmente é uma merda.
Eu aponto para meu companheiro. — Nosso próprio Alpha Kaden
saberia melhor do que a maioria. Ele só recentemente quebrou uma
maldição do mal que o prendeu por anos. A magia negra se foi para
sempre, mas ele ainda está encontrando sua voz como líder. Nós dois
estamos.
Eu ouço vozes suaves na multidão, não os murmúrios ásperos e
sussurros de antes, mas o som da minha matilha acertando com o que
estou dizendo. Eu prossigo.
— O que Alpha Kaden estava tentando dizer antes da interrupção, —
eu digo, lançando um pequeno olhar para Brutus, — é que ele pretende
ser uma pedra para sua matilha. Isso não significa governar primeiro com
um punho ferro. Isso significa que ele quer apoiar. Queremos ouvir e
entender o que vocês precisam de nós.
No canto do meu olho, vejo Kaden abaixar sua espada.
Graças à Deusa.
— Sim, esta Matilha passou por muitas mudanças recentemente. E
haverá mais. Mas desta vez, para melhor. Somente largando nossas armas
e ouvindo uns aos outros nos tornaremos o melhor bando que podemos
ser!
Eu agarro o pódio, implorando para a multidão. Eles ficam em silêncio
por um momento.
Então Brutus começa a aplaudir. Em seguida, a Matilha da Retaliação.
Depois, toda a Matilha da Vingança.
Eu estou brilhando. Eu inspirei um aplauso lento! Objetivo de vida
alcançado!
Eu sorrio para os milhares de rostos me observando. Sorrindo para
mim.
Pela primeira vez desde que Kaden e eu nos acasalamos, eu realmente
me sinto como uma Luna.
KADEN

Eu me junto aos aplausos para minha amada companheira, minha


raiva de antes evaporando como uma poça após uma tempestade.
Estou pasmo. Mara se redimiu completamente. Ela não é apenas
minha igual; ela é minha melhor. Suas palavras e presença navegaram
neste discurso da beira do caos para a marca d’água mais alta em minha
carreira como Alpha. Sou um idiota por ter duvidado dela.
Eu vejo minha Luna olhando calorosamente para nossa matilha. Seu
afeto por eles parece mútuo.
Nunca me senti tão apaixonado por ela.
Capítulo 15
ALTOS E BAIXOS
Eu não poderia estar mais orgulhoso de Mara pela maneira como ela falou
com nosso bando.
Eu admito que tive minhas dúvidas ultimamente...
Mas ela é realmente a melhor Luna que eu poderia esperar Tudo que eu quero
fazer é ficar sozinho com ela...
Dizer a ela o quanto eu sinto...
E provar o quanto eu a amo.
KADEN

Sigo Mara de volta ao castelo depois de seu discurso. Estou dizendo


seu -porque ela me deu um tapa na bunda. Eu estava prestes a começar
um motim ou ser derrubado pela maldita Matilha da Retaliação quando
Mara apareceu e me salvou.
Eu percebo agora o quão indigno eu sou da deusa que fiz minha
companheira. Lamento tê-la relegado aos planos da cerimônia de
acasalamento, quando ela deveria estar comigo no banco do motorista.
Ela é mais durona do que qualquer espada que já forjei.
Só espero que ela me perdoe por ser um bu ão tão imprudente e
ignorante.
No saguão, eu a encurralo, tentando roubar um beijo. Eu não posso
me ajudar. Mara se esquiva dos meus lábios molhados. Eu a prendo
contra a parede.
— Mara, meu amor, — eu imploro. — Diga que você vai me perdoar.
Por favor.
Ela sorri timidamente.
— Talvez se você ficar de joelhos.
Eu imediatamente caio no chão, pegando sua mão, beijando e
acariciando. Ela ri.
— Pare! Isso faz cócegas!
— Isso significa que você me perdoa? Mara, você foi tão maravilhosa lá
fora. Eu estava assistindo a um milagreiro. Eu tenho sido um porco
ultimamente... E eu só... eu só Luto para pensar em outras maneiras de
me desculpar, mas Mara me puxa ao nível dela e dá um beijo suave em
meus lábios.
— Você está perdoado — com a condição de que se lembre deste
momento na próxima vez que tivermos um desacordo sobre como
administrar a matilha.
Ela estende a mão para apertar.
Eu sorrio. Ela é uma negociadora astuta.
— Concordo.
Nós trememos. Então eu a puxo para outro longo beijo.
— Alpha Kaden! Luna Mara!
Viramos quando nossos guardas trazem uma jovem vestida com um
vestido sujo, com a pele escurecida pela sujeira e hematomas. A princípio
acho que é um dos vagabundos que vimos nas ruas da Cidade da
Vingança. Então eu percebo...
— Milly! — Mara grita, saindo do meu lado e correndo para sua velha
amiga da Matilha da Pureza.
O que diabos aconteceu com ela?
— Mara... — Milly grasna, os olhos molhados de lágrimas. Minha
companheira a abraça. Milly soluça em seus braços.
— O que aconteceu, Milly? — Mara pergunta com a voz enevoada,
acariciando o cabelo da amiga suavemente.
— É Alpha Rylan, — ela resmunga. — Ele... ele... ele enlouqueceu.
— Isso nós sabíamos, — murmuro.
— Ele colocou toda a Matilha da Pureza para trabalhar em seu bunker
sob o Templo da Deusa da Lua. Homens, mulheres, crianças. Estamos lá
dia e noite, o tempo todo, mal parando para comer e beber um pouco.
Ele diz que temos que economizar nossos recursos para... para...
— O apocalipse? — Mara pergunta. Milly acena com a cabeça.
Minha companheira estava certa novamente.
Desta vez, porém, acho que nós dois gostaríamos que ela não
estivesse. Meu coração está com a pobre Milly. Como Alpha Rylan pôde
fazer isso com sua própria matilha?
— Você estava certa. E por isso que estamos construindo o bunker. Ele
diz que só temos até a lua cheia para terminar. E quando ela deveria vir...
— Quem? — Eu pergunto.
Milly me olha seriamente.
— A Deusa da Lua.
Um silêncio arrepiante enche a sala. Será que a Deusa da Lua
realmente está vindo para a Terra? Impossível. A religião de Rylan é um
monte de tolices delirantes.
Então penso na profecia de Leia. E o sonho de Mara. A lua cheia
caindo na Terra na noite de nossa cerimônia de acasalamento.
Minha companheira esteve certa de um apocalipse iminente o tempo
todo. Depois de hoje, sei definitivamente que seus pressentimentos
raramente se provam incorretos. Preciso mostrar mais respeito pelo
julgamento dela.
Tenho que começar a acreditar que esse apocalipse pode ser real.
— Rylan não está deixando ninguém sair, — Milly explica. — Não que
ele deixasse antes. Mas encontrei um jeito. Eu não queria deixar meus
pais para trás... Os seus também...
Ela olha para Mara, a voz sumindo com tristeza.
— Eu sabia que seria mais seguro assim. Para todos nós. Alguém tinha
que escapar para buscar ajuda. Vocês são os únicos que sabem o que está
acontecendo... Vocês são os únicos que poderiam fazer algo...
Ela começa a chorar de novo. Mara a acalma suavemente.
— Nós vamos ajudar, Milly... Nós vamos ajudar...
Eu vejo minha companheira confortando sua pobre amiga.
Alpha Rylan é um louco de merda.
Com ou sem os outros Alphas, devo encontrar uma maneira de ajudar.
KACE

Helena e eu ficamos até tarde na biblioteca. Ela está trabalhando


muito em seu artigo de pesquisa e aceita minha oferta de companhia.
O dia todo estive tomando notas deste livro sobre feitiços defensivos.
Helena encontrou para mim. Parece que há muito aqui com que posso
aprender.
Helena me apresentou a muitos livros incríveis. Seu conhecimento de
magia de luz complementa perfeitamente minha busca por informações
sobre magia negra. Acho que o que estou reunindo será mais do que
suficiente para me proteger do mal, caso seja ameaçado no futuro.
Não demorará muito para que eu possa fazer minhas malas e
continuar minha jornada.
A menos que eu finalmente crie coragem para dizer a verdade a
Helena. Que ela é minha companheira.
No meu coração, sei que não posso sair daqui sem avisar a ela.
Mas estou com medo pra caralho. Não tenho ideia de como ela vai
reagir.
Somos bons companheiros de estudo. Mas eu poderia ser algo mais
para ela?
Tenho tanto medo da rejeição. Já fui queimado muitas vezes. Eu vou
morrer se ela me recusar.
Nunca amei ninguém tanto quanto Helena. Ela é o pacote completo.
Inteligente, sexy como o inferno, gentil, engraçada e, acima de tudo, ela
me entende. Ela abriu meu mundo por meio de seus livros, por meio de
sua conversa atenciosa e inteligente.
Eu olho para ela através de nossa pequena mesa, a lâmpada acima de
nós dando a ela um halo. Ela segura o livro a um centímetro do rosto, os
olhos examinando as páginas com total concentração por trás de suas
molduras irresistíveis. Ela afasta mais uma mecha de seu cabelo rebelde.
Eu quero viver neste momento para sempre. Eu nunca vou colocar os
olhos em um pôr do sol tão perfeito.
Helena me sente olhando e levanta os olhos. Eu enterro meu nariz de
volta no meu livro, mas ela me pegou.
— O que? — Ela pergunta com seu sorriso curioso.
Eu encolho os ombros inocentemente. — EU...
Eu te amo! -Quero gritar para que toda a biblioteca ouça.
— Eu... eu...
Eu sou seu companheiro! -Quero gritar do topo de uma estante de mil
pés.
— Eu só estava me perguntando se você queria um pouco mais de
café, — eu digo, resignando-me com a oferta mundana. Claro que eu não
contaria a verdade a ela.
Ugh. -Kaden me negaria se visse esse comportamento vergonhoso.
— Isso parece ótimo, — responde Helena.
Eu me levanto e pego sua xícara ao mesmo tempo que ela. Nossas
mãos se conectam. E como se eu colocasse meu dedo em uma tomada
elétrica. Todo o meu corpo ganha vida com sentimento e emoção, mais
vibrante do que jamais senti antes.
Meus olhos encontram os de Helena. É claro que ela está
experimentando o mesmo choque. Posso ver em seu rosto o momento
em que ela percebe que estou... Que estamos...
— Você é... meu companheiro? — Helena pergunta, suas palavras um
choque para o meu estado tenro.
A confusão substitui o sorriso em seu rosto.
— Sim, — eu admito, meus olhos caindo no chão.
MARA

Kaden e eu damos a Milly o primeiro quarto em que Fiquei no castelo


— a recriação do meu quarto na Matilha da Pureza. Embora tenha sido
construído para foder comigo, esta noite dá a minha melhor amiga
algum conforto. É como um pequeno pedaço de casa. Depois de um
longo banho e um grande jantar, ela diz boa noite para Kaden e eu e vai
para a cama cedo.
Eu me sinto péssima por ela. Alpha Rylan fodeu com a Matilha da
Pureza. Eu penso em meus pais. Eles ainda estão seguindo sua amada
Deusa da Lua, ou o trabalho manual ininterrupto finalmente os fez cair
em si?
Eu não deveria ser tão amarga. Coisas terríveis estão acontecendo.
Meus pais provavelmente sempre serão idiotas, mas eu os amo e estou
preocupada com sua segurança. Espero que Kaden e eu possamos fazer
algo pela Matilha da Pureza. Mas o quê, eu não sei.
Kaden me encontra em meu quarto de Luna. É tarde, mas estou ligada
com os acontecimentos do dia. Bebo uma taça de vinho tinto,
observando a meia-lua subir no céu noturno.
Faltam apenas duas semanas para o apocalipse, se é que Alpha Rylan
pode ser acreditado.
— Eu estive esperando por você na cama, — Kaden diz, se sentando ao
meu lado no sofá. — Você esteve aqui todo esse tempo?
Eu aceno, bebendo meu vinho. Kaden dá um gole na garrafa.
Nossos olhos se encontram. Ele usa um roupão folgado, seus
músculos tensos e tatuados banhados pelo luar. Bêbada, admiro o físico
escultural do meu companheiro, seguindo sua faixa sexy de pelos no
peito até seu abdômen inacreditável e, em seguida, mais abaixo, onde as
trilhas peludas levam a...
Puta merda. Eu quase rio.
Meu companheiro é mais perfeito do que um diamante.
Ele abre o roupão, revelando sem rodeios sua nudez. Sem boxers nem
nada. Eu fico boquiaberta com seu membro alongado antes de me virar
rapidamente.
— Esqueceu de usar boxers? — Digo, corando.
— Não. — Ele sorri, se aproximando de mim.
Merda. Pode ser o fim do mundo! Eu não deveria estar pensando em
foder Kaden!
Na minha mesa... No sofá... Por todo esse maldito cômodo...
Por outro lado, o apocalipse pode acontecer em menos de duas
semanas...
Devo aproveitar todas as oportunidades para me divertir.
Eu me viro para Kaden. Nossos lábios se prendem enquanto eu me
despojo febrilmente. Meu sexo está doendo para ser preenchido.
Suas mãos quentes agarram meus seios assim que eles estão fora do
meu sutiã. Ele esfrega suavemente meus mamilos enquanto eu me movo
para seu colo, ficando úmida.
Eu sinto seus lábios beijando e sugando suavemente, a picada dos
dentes quando ele tenta mordiscar.
Eu o empurro para baixo no sofá, acariciando sua dureza algumas
vezes antes de guiá-lo para dentro de mim. Eu monto meu companheiro
como a porra de um jóquei, uivando enquanto empurro para cima e para
baixo, cada vez mais rápido, sentindo sua cabeça bater contra minhas
paredes até que estremecem e pingam.
Eu chego ao clímax difícil. Mas nenhum de nós está pronto para que
isso acabe.
Eu desmonto Kaden e caminho até a minha mesa, me virando para ter
certeza de que ele me segue. Eu me curvo sobre a superfície e aponto
minha bunda para o ar como um convite. Logo eu sinto sua língua
quente no meu sexo, me comendo, me amando... Mas não é isso que eu
quero agora.
— Me fode, me fode, — eu comando, desesperada por seu pau
novamente. Kaden entra com um impulso vigoroso que poderia me
dividir em duas.
Ele sabe como eu gosto.
Minha bunda sobe mais alto, ávida por prazer, enquanto Kaden
bombeia mais e mais rápido. Sinto a mesa deslizando sob nós, mas não
dou a mínima. Ele está me dando exatamente o que eu quero. Eu grito na
madeira quando gozo de novo, Kaden terminando comigo, nosso
coquetel de paixão explodindo no chão.
Eu me viro e sento na mesa. Kaden se junta a mim. Eu descanso
minha cabeça em seu ombro. Ficamos sentados em silêncio por alguns
momentos até que ele finalmente fala.
— Mara... Há algo que preciso lhe contar.
— O que é? — Eu acaricio e beijo seu ombro forte até que ele envolve
seu braço em volta de mim.
Meu companheiro suspira sério.
— Minha mente está feita. Estou deixando a matilha para ir atrás de
Alpha Rylan. Sozinho.
Eu congelo com suas palavras, meu bom humor desaparecendo
instantaneamente.
Kaden quer ir embora? Depois de tudo que aconteceu hoje?
E sozinho?!
Eu fico olhando para meu companheiro incrédula.
Como ele poderia pensar que isso é uma boa ideia?
Capítulo 16
DIVISÃO
As palavras do meu companheiro ainda ressoam em meus ouvidos enquanto
tento processar o que ele acabou de me dizer...
Eu realmente ouvi essas palavras saindo da boca dele?
Kaden está indo embora e eu estarei aqui, sozinha...
Isso é a porra de um sonho?
Se sim, eu realmente gostaria de acordar...
MARA

Ele está... realmente saindo.


Eu posso ver em seus olhos. Ele já se decidiu.
Mas não vou deixar meu companheiro ir tão facilmente.
— Kaden, você não pode ir! — Eu grito, pulando e jogando uma
manta em volta do meu corpo nu. — E quanto às suas responsabilidades
para com o bando? Você viu o que aconteceu na cidade. Há mais caos do
que nunca.
Kaden me dá um olhar solene enquanto agarra minha mão e me puxa
de volta para a cama.
— Talvez eu seja a causa desse caos.
— Kaden, o que diabos você está dizendo?
— Eu não sou um bom Alpha. Talvez eu nunca tenha sido feito para
isso em primeiro lugar.
— E quanto ao seu compromisso comigo? Você é um companheiro de
merda também? — Eu grito com raiva, embora não seja minha intenção.
— Eu não posso ignorar o que está acontecendo fora dessas paredes
por mais tempo, — Kaden diz, sua voz crescendo desafiadora. — Os
outros Alphas podem se contentar em chafurdar em sua própria
ignorância, mas algo drástico precisa ser feito sobre Rylan, e eu sou o
único disposto a fazer isso.
— Seu povo precisa de você! — Eu grito na cara dele.
— NÃO, ELES PRECISAM DE VOCÊ! — Kaden rosna de repente.
Eu me sento, atordoada. A maneira como aquelas palavras saíram
dele... eu poderia dizer que elas estavam infeccionadas há muito tempo.
Kaden me dá um olhar de desculpas e coloca a mão no meu rosto,
acariciando afetuosamente.
— Sinto muito, mas... eu simplesmente não estou apto para liderar. Eu
vi isso claramente na hora do discurso. O que o bando estava dizendo
sobre mim era tudo verdade.
— Kaden, isso não é—
— Mas também vi algo mais claramente, — ele diz, com orgulho
brotando em seus olhos. — Eu vi a líder que você se tomou.
Meu coração começa a bater como um tambor...
Eu não gosto de onde isso vai dar.
— Kaden, você é o Alpha Isso significa algo para este bando.
— Não mais. E, honestamente, não tenho certeza do que isso significa
para mim, também, — diz ele, distante. — Isso é algo que eu preciso
descobrir.
— E o que vai acontecer com a sua matilha enquanto você está
descobrindo as coisas? — Eu estalo. — Você está deixando eles sozinhos.
— Eu não vou deixá-los sozinhos, — Kaden responde com calma. —
Estou deixando-os com você.
Mara... quero que você lidere o bando na minha ausência.
Embora seja uma ocorrência rara para mim, estou totalmente sem
palavras.
Meu companheiro está fugindo para a Deusa sabe para onde e me -
pedindo para liderar o bando.
A Matilha da Vingança
Este não vai ser um bando de colegas de turma da Matilha da Pureza
sem noção, procurando a orientação da cadela mais rebelde e teimosa da
classe.
Não, este é um grupo turbulento de criminosos e bárbaros
insatisfeitos, cuja visão de mundo central é baseada em — vingança.
Kaden perdeu a cabeça?
Estou completamente despreparada para lidar com um bando, muito
menos com o mais temível que existe.
Eu finalmente encontro minha voz, mas por mais que eu queira
protestar, gritar com ele, dizer que ele está completamente errado, em
vez disso, me pego dizendo...
— Não sei se posso fazer isso sozinha.
Kaden me abraça e eu enterro minha cabeça em seu peito robusto.
Embora às vezes seja impossível de acreditar, dadas as circunstâncias
de como nos conhecemos, Kaden se tornou meu espaço seguro.
Esta pode ser a última vez que seguro meu companheiro assim por
muito tempo...
— Eu acredito em você, — Kaden diz enquanto passa os dedos
suavemente pelas minhas costas. — Mesmo que eu não acredite em mim
agora.
Eu sei que tenho que deixar Kaden ir, mas isso não torna menos
difícil.
— Talvez devêssemos adiar a cerimônia de acasalamento, — digo,
pensando sobre como o futuro é incerto agora.
Kaden quebra nosso abraço e me dá um olhar sério.
— Não, Mara, se há uma coisa gravada em pedra para nós é que
estaremos oficialmente unidos na frente do bando. Isso eu prometo a
você. Assim que Rylan for tratado, eu voltarei e começaremos nosso
futuro juntos.
Nosso futuro...
O que exatamente isso vai ser?
Não tenho as respostas, mas se meu companheiro confia em mim para
liderar o bando, o mínimo que posso fazer é confiar nele também.
Eu pego o rosto de Kaden em minhas mãos e pressiono meus lábios
contra os dele, lhe dando um beijo longo e profundo.
Ele me envolve em seus braços e me beija de volta com o tipo de
paixão que só é motivado por um adeus inevitável.
— Eu te amo, — eu digo, lutando contra as lágrimas.
— Eu te amo mais do que tudo, Mara, — Kaden diz enquanto coloca
sua testa contra a minha. — Você é a pessoa que me fez sentir completa
novamente. Mesmo que eu não possa fazer o mesmo pela minha matilha,
eu sei que você pode.
Suas palavras são comoventes, mas não posso deixar de sentir um
gosto amargo na boca quando ele me beija novamente.
Nós realmente temos que nos separar para voltarmos?
KADEN

Enquanto caminho pelos corredores de minha fortaleza de pedra,


percebo que posso não fazer isso novamente por algum tempo.
Não tenho mais nenhuma utilidade para a Matilha da Vingança como
um Alpha, mas talvez eu possa encontrar meu propósito fora dessas
paredes.
Não consigo me concentrar em deixar minha matilha no chão.
Não consigo me concentrar em decepcionar meu companheiro.
Eu tenho que me concentrar em uma coisa e apenas uma coisa...
Parando aquele bastardo, Rylan, de qualquer cruzada fodida que ele
está travando.
Não vou apenas fazer disso minha missão...
Vou fazer disso minha obsessão.
Se vou pegar um fanático, terei de pensar como um e, felizmente, fui
controlado por um durante anos, então sei exatamente como eles
funcionam.
A descrição de Milly das atividades de Rylan deixa claro que ele perdeu
o controle e, se os outros Alphas não perceberem que ele está louco, terei
de derrubá-lo eu mesmo.
Eu paro na sala em que uma vez mantive Mara cativa, uma sala que
Coen cruelmente projetou para ser uma réplica de seu próprio quarto na
Matilha da Pureza.
Agora dei este quarto para Milly. Talvez isso lhe ofereça algum
conforto, já que ela é forçada a ser uma refugiada de sua própria matilha.
Bato levemente na porta e ouço a voz suave de Milly responder: —
Entre.
Ela parece surpresa em me ver, mas estou grato por ela não parecer
mais apavorada. Pelo menos o tempo consegue curar algumas feridas.
— Você está se acomodando bem? — Eu pergunto enquanto Milly
dobra algumas roupas que Mara emprestou para ela.
Ela acena com a cabeça, mas seus olhos revelam a dor que está
acontecendo por dentro. Seu povo está sofrendo e ela se sente
desamparada.
Eu conheço o sentimento.
— Eu vou atrás dele, — eu digo abruptamente. — Eu vou atrás de
Rylan.
Eu vejo um pouco de luz retomar aos olhos de Milly quando ela olha
para mim.
— Por favor, Kaden. Você tem que detê-lo. O que ele fez na Matilha da
Pureza... é... — Milly desvia o olhar e começa a chorar.
— Você pode me ajudar, Milly. Como você escapou? Há outros que
acham que Rylan foi longe demais?
— Sim. — Ela acena com a cabeça. — Rylan tem muitos seguidores
cegos, mas nem todo mundo na Matilha da Pureza é uma ovelha sem
sentido.
— Isso é bom, porque provavelmente sou a última pessoa que eles
gostariam de ver conduzindo uma missão de resgate, — digo com
cautela.
— Rylan fez com que todos construíssem o bunker subterrâneo, mas
alguns dos membros descontentes do bando construíram outra coisa que
Rylan não conhece — um túnel secreto, — Milly diz enquanto agarra um
bloco de notas próximo e começa a desenhar um mapa. —
Provavelmente não será segredo por muito tempo. Ele tem olhos em
todos os lugares, e isso inclui muitas pessoas que ele escravizou que
ainda são leais a ele.
— Então, eu preciso ir agora, ou talvez não tenha outra chance, — eu
rosno baixinho. — Obrigado, Milly. Você foi uma grande ajuda.
Quando me viro e saio do quarto, ouço Milly recitar um velho ditado
do Matilha da Pureza.
— Que a Deusa o guie em segurança para casa.
Tenho dirigido pelo que parece uma eternidade, mas finalmente vejo
as paredes altas da Matilha da Pureza à distância.
Eu estaciono meu carro perto de alguns arbustos crescidos e escondo
o melhor que posso. Puxando uma capa sobre a cabeça, me mantenho
nas sombras e encontro o local que Milly marcou no mapa.
O túnel está cuidadosamente escondido perto de uma seção
arborizada da parede e, felizmente, parece ainda estar intacto.
Eu me abaixo no buraco escuro e começo a rastejar em minhas mãos e
joelhos. O túnel é um pouco apertado Eu mal posso acreditar que sou
capaz de me espremer enquanto chupo meu estômago e ombros o
máximo possível.
A luz esperada no fim do túnel ainda não está à vista, e começo a
entrar em pânico, pois talvez o túnel tenha desabado.
De repente, chego a um beco sem saída. Uma parede de terra sólida.
Merda. Isso é ruim.
Um rangido acima de mim chama minha atenção. Eu levanto minha
garra e sinto as pranchas de madeira.
Esta deve ser a entrada! Claro que seria encoberto.
Eu espero até ouvir o silêncio completo e, em seguida, empurro as
tábuas, criando uma abertura pela qual mal consigo puxar meu corpo.
Estou em uma cabana de madeira escura com meia dúzia de colchões
sujos cobrindo o chão. Com cuidado, abro a porta e olho para fora.
As ruas estão vazias — agora é minha chance.
Me arrasto para a estrada de paralelepípedos e subo em um prédio
próximo para ter uma visão melhor.
Enquanto me agacho, pairando sobre a praça da cidade atrás de uma
chaminé, fico chocado com o que vejo.
Bairros e negócios inteiros foram arrasados enquanto centenas de
membros da Matilha da Pureza labutam em condições sujas, construindo
o bunker subterrâneo de Rylan, enquanto seus acólitos os mantêm sob
um olhar vigilante, chicoteando aqueles que não estão trabalhando
rápido o suficiente.
Isso é o que Rylan pensa que a Deusa da Lua deseja? Isso parece um
campo de concentração.
Ouço um barulho repentino quando um dos trabalhadores tropeça e
joga um carregamento de tijolos no chão.
— E assim que você honra a Deusa? Impedindo sua vontade e
desacelerando seu trabalho? — um acólito grita com raiva.
— Não por favor! Foi um acidente! Eu respeito os desejos da Deusa!
Eu faço!
Quando o acólito começa a chicotear o homem uma e outra vez, meu
peito aperta e meus punhos também.
Não é apenas qualquer membro do Matilha da Pureza sendo
chicoteado...
É o pai de Mara.
Capítulo 17
ILUMINANDO O CAMINHO
CRACK!
CRACK!
CRACK!
Enquanto o chicote desce em suas costas repetidamente, tirando sangue, eu
desenho minhas garras.
Uma mulher chorando cai de joelhos e implora ao acólito.
— Por favor, peço misericórdia à Deusa! Meu marido está apenas cansado.
Ele precisa descansar.
Mãe de Mara...
Mesmo agora, ela ora para a Deusa.
CRACK!
Bem, se a Deusa não vai fazer nada sobre isso, então eu mesmo farei isso.
KADEN

Eu salto rapidamente pelos telhados até chegar diretamente ao


canteiro de obras, onde o pai de Mara ainda está sendo chicoteado.
— Deusa da Lua, por favor... por favor... A mãe de Mara estende os
braços para o céu enquanto as lágrimas escorrem por seu rosto coberto
de sujeira.
— Cale a boca, mulher, ou você será a próxima, — o acólito rosna.
Não se preocupe. Suas orações estão prestes a ser respondidas.
Eu mergulho do telhado e caio bem atrás do acólito, pegando seu
chicote com minha mão enquanto ele se prepara para atacar novamente.
— A Deusa da Lua manda lembranças... mas você está indo para um
lugar onde a luz da lua não brilha, — eu rosno em seu ouvido.
— Mas que mer...
Em um movimento rápido, pego a cabeça do acólito com as duas
mãos e giro.
SNAP
Quando seu cadáver cai no chão, os olhos do pai de Mara se arregalam
e sua mãe cobre a boca para não gritar.
Eu abaixo o capuz da minha capa e olho diretamente para eles. Eu
quero que eles vejam quem acabou de salvá-los.
Não a Deusa da Lua.
Não seu precioso e devoto Alpha, Rylan.
Alpha Kaden do caralho.
Depois do que fizeram e disseram a Mara e a mim, não tenho certeza
se merecem minha misericórdia, mas sei que é o que Mara gostaria.
Estendo minha mão para o pai de Mara, mas ele não a pega, em vez
disso, apenas me lança um olhar aterrorizado.
— O que diabos está acontecendo aí?
Merda. Outro acólito está chegando. Eu só tenho um momento.
Os pais de Mara olham um para o outro, e uma percepção de revirar o
estômago toma conta de mim...
Eles vão me delatar.
Mesmo agora, depois de tudo o que viram...
Eles ainda são leais a Rylan.
Eu volto para as sombras e desenho minhas garras, pronto para outra
luta. Mas, para minha surpresa, isso não aconteceu.
O pai de Mara se levanta e empurra o cadáver do acólito para uma
trincheira próxima, pouco antes de mais dois virarem a esquina.
— Que bagunça é essa? — Um acólito atarracado pergunta,
apontando para a pilha de tijolos.
— Foi minha culpa, — diz a mãe de Mara, intervindo. — Tentei
carregar muito de uma vez. Eu só quero cumprir os objetivos da Deusa o
mais rápido possível.
O acólito estreita os olhos, mas acena com a cabeça. — Limpe essa
bagunça e volte ao trabalho.
Enquanto eles se movem para fora de vista, eu respiro um suspiro de
alívio e saio das sombras.
Os pais de Mara me olham com apreensão.
Estou chocado com o comportamento deles. Eles não apenas me
deram cobertura, mas também se livraram do corpo de um acólito e
mentiram para mais dois.
— Como... — a voz da mãe de Mara some quando ela quebra o
contato visual comigo. — Como ela está?
— Ela está preocupada com vocês, — eu respondo enquanto as
lágrimas caem pelo rosto.
— Estávamos tão errados, — o pai diz, com a voz trêmula. — Sobre
Rylan. Sobre tudo.
Dou a ele um aceno severo, mas compreensivo. Eu sei o que é ser
manipulado por alguém. Mara me ajudou a ver que eu poderia usar essa
experiência para o bem.
— Sei que tivemos nossas diferenças, mas estou aqui para ajudar, —
digo, olhando para a cidade destruída à minha frente. — Ele vai
responder pelo que fez aqui.
— Mas o que você pode fazer? Mesmo se você oferecer sua ajuda, a
maioria das pessoas aqui não vai aceitar, — o pai de Mara diz com
ceticismo.
— Você colocou sua confiança no homem errado antes, — eu digo,
colocando minha mão em seu ombro. — Mas eu prometo a você agora,
se você confiar em mim, vou levar Rylan à justiça.
KACE

Enquanto fico maravilhado com as incontáveis fileiras de estantes nos


arquivos do Matilha da Sabedoria, tenho apenas uma pergunta em minha
mente...
Existe um livro entre esses milhares que vai me ensinar como não estragar
meu relacionamento com minha companheira?
Porque eu realmente poderia usar isso agora.
Quando Helena descobriu que ela é minha companheira, ela ficou
sobrecarregada para dizer o mínimo.
Eu deveria ter feito algo, dito algo — qualquer coisa realmente — para
tentar assegurar a ela que eu não iria pressioná-la a um relacionamento
comigo.
Em vez disso, coloquei a porra do meu pé na boca.
— Eu não queria que você descobrisse dessa forma. Eu queria que
você estivesse pronta.
— Espere... Kace... você está dizendo que sabia esse tempo todo? E
você não disse nada? Todo esse tempo que passamos juntos e você sabia
que eu era sua companheira desde o início?
Eu nem sabia que ela poderia ficar tão brava.
Sua doce vibração de bibliotecária tem um lado ardente, e tenho que
admitir que é quente como o inferno.
Mas eu entendo por que ela está chateada. Eu deveria ter sido
honesto.
Somente eu viria para a Matilha da Sabedoria e mostraria uma
completa falta de percepção quando se tratava da pessoa que eu mais me
preocupava.
E agora estou vagando por essas pilhas intermináveis de livros como
se estivesse em um maldito labirinto, tentando encontrar minha
companheira para me desculpar.
Onde iria uma bibliotecária irritada se ela não quisesse ser encontrada?
Provavelmente a seção mais empoeirada e chata da biblioteca...
Arquivos históricos.
À medida que me aventuro nos níveis mais baixos da biblioteca, acho
que meu palpite está correto. Helena está sentada contra uma prateleira
de madeira com a cabeça entre as mãos.
— Achei que pudesse te encontrar aqui embaixo, — eu digo com um
sorriso.
Apesar de sua expressão em conflito, Helena levanta os olhos e
retribui meu sorriso.
— Você me conhece tão bem, Kace, — ela diz, suspirando. — Você até
sabia que eu iria à minha seção favorita da biblioteca.
Merda, pensei que ela veio aqui para se esconder porque ninguém desce
aqui! Vou manter isso para mim...
— Claro, — eu digo, nervosamente coçando meu braço. — Quem não
gosta de livros de recordes antigos?
Me sento no chão ao lado de Helena e olho para a frente, me sentindo
subitamente inseguro.
— Você está... você está assustada por estar acasalado comigo? Por
causa da história da minha família?
Para minha surpresa, Helena agarra minha mão e coloca a cabeça no
meu ombro.
— Não é isso, Kace. Eu sei quem você é, e você é uma boa pessoa. Eu
pude ver isso desde o início. É só isso...
Helena começa a mexer nos cadarços, tentando encontrar as palavras
certas para dizer.
— Estamos em caminhos diferentes, — digo, terminando sua frase.
Ela acena com a cabeça solenemente. — Você está nesta jornada
incrível para se encontrar, e eu apoio totalmente isso, mas minha vida
está aqui na Matilha da Sabedoria. Não sou apenas uma guardiã de
registros. Também sou estudante e não posso simplesmente abandonar
meus estudos. Ambos nos comprometemos com essas jornadas pessoais,
então...
Como podemos também nos comprometer uns com os outros?
Enquanto nos sentamos em silêncio, espero que, em algum lugar
desta vasta biblioteca de conhecimento, possamos encontrar a resposta.
MARA

Embora ele tenha partido há apenas alguns dias, a ausência de Kaden


está me matando.
Parece literalmente que uma parte de mim está faltando.
Mesmo estando cercado por soldados e servos, me sinto
completamente sozinha nesta fortaleza gigante.
Kaden me deixou aqui para liderar, mas tudo que posso pensar é em
como isso parece opressor. O bando precisa de orientação, mas eu nem
sei por onde começar — principalmente porque eu mesma preciso de
orientação.
Posso ter dito as coisas certas naquele momento do discurso, mas
parte de mim parece que acabou de tirar isso da minha bunda.
Eu sou realmente uma líder?
Não posso deixar de pensar em Brutus... a maneira como ele assumiu
o comando da manifestação. Ele era tão dominante, tão comandante. Ele
sabia exatamente o que defendia e quais passos precisavam ser dados a
fim de fazer a merda ser feita.
É hora de eu dar alguns passos sozinha. Não posso decepcionar Kaden
quando ele me deixou com um papel tão importante.
Ele confia em mim para liderar, então agora tenho que confiar em
mim mesma.
E meu instinto está me dizendo...
Preciso me encontrar com Brutus.
Ele pode ser um idiota arrogante, mas também é um bom líder e
realmente se preocupa com o povo da Cidade da Vingança. O primeiro
passo para fazer as pazes será ouvi-lo.
Mas o que Kaden pensaria de eu dar um cargo para Brutus?
Eu tenho que parar e me repreender por ter esse pensamento. Eu não
posso fazer isso sobre o que Kaden faria ou não faria.
Não há espaço para duvidar de mim mesma, nem mesmo por um
segundo.
É minha -hora de assumir a liderança.
KADEN

Ao cair da noite, os pais de Mara me encontram na cabana perto da


parede, junto com vários outros dissidentes.
Enquanto estamos em um círculo, iluminado pela luz de velas, tento
dar-lhes palavras de força, mas, em vez disso, encontro-as me
fortalecendo.
— Tem certeza que não vai sair comigo? — Pergunto de novo, pedindo
aos pais de Mara que se juntem a mim e coloquem a Matilha da Pureza
no espelho retrovisor.
— Não podemos abandonar todo mundo, — diz a mãe de Mara,
balançando a cabeça. — Se não ficarmos e lutarmos por nosso povo,
quem ficará?
— Se eu apenas puder tirar Rylan, isso tudo vai acabar, — eu rosno. —
Vou ficar aqui e ajudá-lo a lutar por dentro.
— Seu lugar não é aqui, Kaden. É isso que viemos dizer a você, — o pai
de Mara diz ao ver minha expressão confusa. — Rylan saiu há apenas
algumas horas.
— Ele saiu? Para onde diabos ele foi?
— O lugar mais sujo e vil que existe, — diz a mãe de Mara em tom de
crítica.
Eu arqueio minha sobrancelha enquanto ela evoca uma expressão de
nojo.
— Ele está indo para a Matilha do Amor.
Capítulo 18
TENSÃO
Viro página após página, mas todas as palavras parecem uma bagunça
confusa.
E impossível focar quando Helena, a garota mais linda que eu já vi, está
sentada bem na minha frente.
Apenas um único toque, um leve roçar, envia faíscas disparando pelo meu
corpo.
Eu a quero.
Não, eu fodidamente preciso dela.
Então, alguém, por favor, me diga como devo manter o foco na pesquisa...
Quando tudo que eu quero fazer é pular sobre esta maldita mesa e beijar
minha companheira.
KACE

— Ei, Terra para Kace... você está aí? — Helena pergunta, acenando
com a mão na frente do meu rosto.
Eu instantaneamente saio do meu devaneio sexualmente frustrado e
meu rosto fica vermelho.
— Oh, uh... sim, desculpe, — eu digo timidamente. — Eu
simplesmente não acho que este volume de Introdução aos Feitiços da Lua
-vai me ajudar a controlar minha escuridão.
— Ei, não lance os feitiços da lua até que você os experimente, — ela
diz, seus lábios se formando em um sorriso adorável. — Embora eu tenha
que admitir que suas qualidades mágicas são um pouco... questionáveis
Sinceramente, não era o livro chato que estava me incomodando.
Depois que Helena e eu tivemos nossa conversa sobre estar em
jornadas que nos levam por caminhos diferentes, toda a tensão que
estava se formando entre nós chegou a um ponto brusco.
Ela não está atraída por mim?
Ela acha que não sou inteligente o suficiente?
Ela tem medo da minha escuridão?
Essas perguntas estão batendo em minha cabeça como uma
enxaqueca, e não consigo pensar em mais nada.
Eu finalmente encontro uma maldita companheira e ela já está
acasalada — com seus estudos.
— Não estou com vontade de passar o dia todo na biblioteca hoje, —
digo, esticando os braços. — Não podemos descobrir como controlar
minha escuridão na, eu não sei, luz -talvez? Sinto que não vejo o sol há
séculos.
Helena bate os dedos na mesa com impaciência e revira os olhos.
— Vamos, Kace, leve isso a sério. Temos dezenas de novos livros que
adicionei ao seu currículo de pesquisa e...
— Por que você está me cavalgando tão forte esta semana, afinal? —
Eu pergunto com cautela, interrompendo-a. — Você me manteve tão
ocupado que mal tenho tempo para urinar.
Helena imediatamente cora e se afasta.
— Eu... eu não sei do que você está falando. Talvez você tenha ficado
mais preguiçoso, — ela retruca com raiva.
Eu sorrio quando percebo o que está acontecendo.
Ela está nos mantendo tão ocupados com o trabalho porque ela está em
conflito com seus sentimentos também? Se estamos distraídos com toda essa
pesquisa, com certeza não há espaço para confrontar os sentimentos.
— Sabe, você está um pouco tensa ultimamente, — provoco. —
Quando foi a última vez que você tirou um dia de folga e se divertiu um
pouco?
— Eu... bem, houve... — ela gagueja, tentando inventar uma desculpa.
Bom, eu a tenho alerta.
— Eu apenas pensei que você fosse mais aventureira, só isso, — eu
digo, me virando e sorrindo.
— Oh, então você acha que eu sou apenas um leitor ávida e chata que
nunca experimentou o mundo, é isso? — Ela diz, emburrada.
— Suas palavras, não minhas, — eu digo, sufocando uma risada.
De repente, me sinto sendo arrastado da cadeira pelos braços
delicados de Helena. Ela puxa a agulha do cabelo, deixando-a cair sobre
os ombros, e agressivamente crava o alfinete na mesa.
Droga.
Eu nunca estive tão excitado.
— Você quer ver o quão aventureira eu sou? — Ela pergunta em um
tom indignado. — Então vamos. — Enquanto Helena marcha na minha
frente, mal posso acreditar que meu estratagema funcionou.
Sua bunda balança para frente e para trás a cada pisada, e eu não
posso deixar de sorrir.
Mostre o caminho, querida. Eu vou te seguir em qualquer lugar

Ao cruzarmos uma ponte que se estende dos Arquivos até a cidade,


fico maravilhado com a beleza da Matilha da Sabedoria. Eu realmente
estive confinado naquela biblioteca por muito tempo.
Os prédios brancos imaculados empilhados verticalmente, a vista do
oceano e o mar salgado borrifando meu rosto... é tudo romântico como o
inferno, e eu nem tirei vantagem disso uma vez -desde que Cheguei aqui.
— Onde estamos indo? — Eu pergunto a Helena enquanto ela aperta
minha mão, desta vez de forma menos agressiva.
— Você vai ver. — Ela sorri diabolicamente.
Eu gosto desse lado dela.
Descemos escada após escada, descendo pelas ruas movimentadas da
cidade. Todos parecem tão ocupados e intelectuais enquanto correm.
Devo me destacar como um polegar dolorido.
Quanto mais nos aproximamos do oceano, mais fria e calmante se
torna a atmosfera.
Helena me leva por uma praia em direção a algumas formações
rochosas impressionantes. Seu brilho cristalino brilha ao sol.
— Vamos ter um dia de praia? Isso significa que você trouxe um
biquíni? — Eu pergunto esperançosamente.
— Você gostaria disso, — ela diz, revirando os olhos, mas posso ver
seus lábios se curvando em um sorriso.
Subimos algumas rochas até chegarmos a uma abertura na encosta da
falésia.
— Uma caverna? — Eu pergunto, um pouco desapontado.
— Não é qualquer caverna, — ela responde, seus olhos brilhando. —
Esta é a antiga Caverna da Sabedoria. Dentro desta caverna existem sete
testes. Nenhum homem terminou todos os sete, e alguns homens nem
mesmo voltam. Mas eles dizem que a sétima prova vai lhe conceder
conhecimento infinito.
Eu engulo em seco. Esta não é exatamente o encontro que eu
esperava.
— Uh... isso parece meio perigoso, certo?
— Você disse que queria aventura, — Helena diz, erguendo a
sobrancelha e cruzando os braços. — Ou foi apenas conversa?
Respirando fundo, eu aceno. Se isso vai provar meu valor para Helena,
então terei que fazer isso.
À medida que caminhamos mais para dentro da caverna escura, meu
coração começa a bater mais rápido. O que são essas provações? Serei
capaz de ultrapassá-los? Não estou nem preparado pra caralho.
Chegamos ao final da caverna, onde a luz se derrama em uma caverna
vazia, destacando uma pequena área de areia com uma pequena piscina
de água. Dezenas de desenhos estão gravados na parede.
— Este é o primeiro teste? É um enigma? — Eu pergunto, minha voz
cheia de determinação.
Helena de repente explode em uma gargalhada, e eu olho para ela,
confusa.
— Kace, você é demais. Eu estou apenas mexendo com você. Não há
Caverna da Sabedoria.
Nem testes. Este é apenas um lugar que eu costumava vir e brincar
quando criança, — ela diz, apoiando-se contra a parede e tentando
recuperar a compostura.
Ok, me sinto um idiota. Mas, caramba, ela me pegou bem.
— E um truque sujo, mas tenho que admitir... você realmente me
convenceu, — digo, balançando a cabeça. — Mas se as únicas provações
que passo hoje são tirar você da biblioteca e fazer você rir, então eu diria
que tive um dia de sucesso. Quem precisa de conhecimento infinito de
qualquer maneira? Eu sei quase tudo que preciso saber. — Helena fecha a
lacuna entre nós, e estamos a apenas alguns centímetros de distância
quando ela coloca a mão no meu peito.
— Quase -tudo?
— Bem, há uma coisa que eu não sei, — eu digo, me inclinando.
— E o que seria isso?
— Como você se sente sobre mim?
Sem um pingo de hesitação, Helena me agarra pelo colarinho e puxa
meu rosto para o dela.
Quando nossos lábios se tocam, sinto um fogo acender dentro de
mim que nunca senti antes.
Eu fecho meus olhos enquanto pressiono meu corpo contra o dela e
entro em um momento mágico de êxtase suspenso.
É nosso primeiro beijo e com certeza não será o último.
MARA

— Estou surpreso por você querer se encontrar comigo, — diz Brutus


enquanto caminhávamos pelas ruas da Cidade da Vingança.
O céu está nublado e cinza, e a cidade compartilha um tom
semelhante de escuridão.
No meu curto tempo com Brutus hoje, já vi partes da cidade que nem
sabia que existiam.
Um orfanato que não tinha leitos suficientes para todas as crianças.
Um hospital cheio de soldados gravemente feridos por ordens dos
irmãos de Kaden.
Mulheres que mal sobrevivem, vendendo-se para sobreviver em um
bando dominado por homens, onde não têm as mesmas oportunidades.
Brutus estava certo — as coisas precisam mudar.
— Eu sei que você e Kaden não concordam, mas eu realmente
acredito que vocês dois têm os melhores interesses para esta cidade no
coração, — eu digo. — Você apenas tem diferentes métodos de operação.
— Sim, parece que o método do seu companheiro é não fazer nada
enquanto o meu é agir, — Brutus diz, zombando.
Por mais que eu queira defender Kaden, sabendo de tudo que ele
passou, não posso negar que há alguma verdade nas palavras de Brutus.
Já se passou muito tempo desde que Kaden esteve realmente presente
para seu povo.
— Quero mudar as coisas tanto quanto você, Brutus. Eu te prometo
isso.
— Veremos, — ele diz, não convencido. — Mas eu direi uma coisa para
você — seu Alpha nunca teria vindo aqui e pedido meu conselho. Você
tem coragem.
— Eu tenho que ter bolas para acasalar com Kaden, — eu digo, rindo.
— Vergonha, quero dizer, — diz Brutus, me olhando com uma pitada
de desejo.
Eu coro com seu olhar, esperando que ele não perceba.
— Como você se sente trabalhando com Lexia? — Eu pergunto
rapidamente quando passamos por seu domínio.
— Aquela vadia? Não posso dizer que estamos na mesma página
quando se trata da Cidade da Vingança. Mas não vou negar que ela fez
muito bem às mulheres desta cidade, — responde.
O estrondo de um trovão no céu emite um aviso de chuva e, em
poucos instantes, somos apanhados por uma chuva torrencial.
— Merda! — Brutus grita, tirando o paletó. — Aqui, fique embaixo
disso.
Brutus está de repente pairando sobre mim, segurando sua jaqueta
acima da minha cabeça e me protegendo da chuva.
Seus braços musculosos tatuados e peito quente me lembram Kaden
quando me encontro avançando mais perto.
— Aqui, — ele diz enquanto me acompanha até um pequeno toldo.
Nós dois mal cabemos embaixo dele enquanto a chuva continua
caindo.
Enquanto nos reposicionamos para evitar nos molhar, encontro meu
corpo pressionado contra o de Brutus e me sinto confusa com o calor
que irradia de seu torso.
Brutus olha para mim e sorri.
— Parece que vamos trabalhar juntos muito próximos
É disso que tenho medo...
Capítulo 19
O PARAÍSO PROMETIDO
Meu peito arfa para dentro e para fora, meus seios aparecendo através da
minha camisa encharcada.
Ele percebe, e embora tente desviar o olhar, seus olhos continuam voltando
para minhas roupas coladas.
Meus olhos vagam por seu peito cinzelado, um torso coberto de tatuagens e
cicatrizes reveladoras. Ele viveu uma vida difícil, mas sua decisão de
sobreviver é ainda mais difícil.
Eu posso me relacionar com isso. Eu sinto que o entendo.
Eu me pego olhando profundamente em seus olhos azul marinho.
Não tenho certeza do que se trata Brutus, mas acho que, juntos, podemos
fazer a diferença.
MARA

Quando volto para o meu quarto na fortaleza, começo a tirar minhas


roupas molhadas.
Brutus me acompanhou de volta em sua motocicleta Achei o carro de
Kaden emocionante na primeira vez em que o dirigi, mas não foi nada
comparado a ficar escarranchado em uma máquina enquanto voava pela
chuva e ao ar livre.
Ainda posso sentir as vibrações zumbindo entre minhas pernas.
Estou sentindo muitas -coisas entre minhas pernas no momento, e
não tenho certeza do porquê.
Talvez seja a motocicleta, ou talvez eu apenas sinta falta de Kaden,
mas agora, estou me sentindo excitada como o inferno.
Com Kaden longe, não tenho ninguém para satisfazer meu calor,
então terei que fazer isso sozinha.
Nua, entro no banheiro e começo a preparar a banheira. Conforme o
vapor sobe da superfície da água, entro na banheira e me sento, deixando
a água quente envolver meu corpo como um cobertor.
Isso parece perfeito pra caralho.
Meus dedos vagam pela minha coxa enquanto coloco minha cabeça
para trás na borda da banheira.
Deusa, gostaria que Kaden estivesse aqui. Eu gostaria que ele estivesse
aqui para me pegar, me prender contra a parede e colocar seu pau
enorme na minha...
Sem nem pensar, vejo meus joelhos balançarem acima da água e
minhas pernas se separarem.
Esfrego meus dedos entre as minhas pernas rudemente, do jeito que
Kaden faz, e então lentamente os deslizo para dentro. A ação provoca um
gemido suave, que gradualmente se torna mais intenso quanto mais eu
me dedico.
— Kaden, — eu choramingo quando penso em seu peito musculoso.
Seus braços fortes e tatuados. Seu sorriso encantador e diabólico.
Mas antes que eu saiba, não é em Kaden que estou pensando...
É em Brutus.
Eu fecho meus olhos e o imagino.
Ele está em cima de mim, bem aqui, nesta banheira.
Eu envolvo minhas pernas em torno dele, e ele abre o zíper das calças.
Ele se empurra para dentro de mim e eu grito de prazer.
Eu mergulho meus dedos profundamente e gemo alto.
— Sim!
— Se divertindo? — Pergunta a voz de uma mulher familiar.
Mortificada, abro os olhos e me debato na banheira, jogando água
para todos os lados.
Lexia está sentada na beira da pia, sorrindo maliciosamente.
— Lexia, o que diabos você está fazendo aqui? — Eu grito, cobrindo
meu peito com meus joelhos. — Você não pode bater, porra?
— Você parecia ocupada... eu não queria interromper. Na verdade,
parece que você tem estado muito ocupada -ultimamente, — ela diz em
um tom acusatório.
— O que você quer dizer? — Eu pergunto, de repente sentindo um
pouco de hostilidade.
— Pensando em alguém em particular quando você estava descendo?
— Lexia questiona enquanto ela circula a banheira.
— Onde você quer chegar?
— Você sabe que tenho olhos e ouvidos por toda a cidade, — ela diz,
se inclinando sobre mim. — E ouvi dizer que você estava passando um
tempo com um certo espinho na minha costela.
Ah, agora eu entendi. Ela acha que estou substituindo ela.
— Brutus não é tão ruim, — eu digo, defendendo. Ou estou me
defendendo? — Sabe, vocês dois têm mais em comum do que pensam.
Vocês deveriam trabalhar juntos.
— Mara, Mara, Mara, — Lexia repreende. — Eu não achei que você
fosse tão fácil.
— Eu vi um lado diferente dele, — eu digo defensivamente. — Ele foi
muito aberto e honesto.
— Sim, os homens tendem a ser abertos, quando querem abrir -suas
pernas, — ela diz sarcasticamente. — Ele não quer o melhor para as
pessoas. Ele quer a companheira de Alpha Kaden. II Normalmente, estou
do mesmo lado que Lexia, mas neste assunto, eu totalmente -discordo...
Eu fico de pé, nem mesmo me importando por estar totalmente nua.
O rosto de Lexia fica vermelho e ela parece surpresa em me ver agindo de
forma tão ousada.
— Eu sou uma garota grande pra caralho, Lexia. Eu me viro sozinha. E
talvez ele realmente veja que tenho uma chance de mudar este lugar.
Talvez ele realmente me veja como uma líder. Nem todos os -homens
estão atrás da minha boceta.
Carrancuda, Lexia se dirige para a porta, mas ela para e me encarar
mais uma vez.
— Só tome cuidado, Mara. Você está chegando muito perto.
RYLAN

— Estou chegando perto! ESTOU ME APROXIMANDO! — Malik


grita, ofegando pesadamente.
Alpha Malik contorce o rosto em êxtase e agonia enquanto ele tem
orgasmo, liberando-se debaixo de sua mesa assim que eu entro em seu
escritório.
Seus olhos pousam em mim e ele me dá um sorriso nojento.
Enquanto Malik bate palmas, um jovem seminu e uma mulher
rastejam para fora da mesa e correm para fora da sala, rindo.
— Alpha Rylan, a que devo o prazer? — Malik pergunta, ajustando
suas vestes. — Embora, sejamos realistas, o prazer é todo meu.
Desculpa vil e nojenta para um Alpha.
— Eu vim com boas notícias, — eu digo, forçando um sorriso. — A
hora está quase chegando.
— Oh, que glorioso Malik diz, levantando de sua cadeira. Eu faço o meu
melhor para evitar olhar para a ereção saindo de seu manto. — Nós devemos
absolutamente comemorar esta noite.
— Com certeza, meu amigo. Você tem sido um discípulo leal da Deusa
da Lua, recebendo aquelas garotas contaminadas da minha matilha e
dando a elas... novos lares. Você merece um lugar no novo paraíso.
— Suas virgens da Matilha da Pureza eram bastante populares. Como
se costuma dizer, 'Sexo vende', — diz Malik, piscando.
É uma pena que eu tenha que me associar com gente como esse tolo
terrível, ou os irmãos de Alpha Kaden, mas todos foram sacrifícios
necessários para chegar a este ponto. Todos eles serviram ao seu
propósito...
Em breve, toda a corrupção será eliminada da face deste planeta... e o
mundo começará de novo.
— A Matilha de Amor está ao seu serviço. E nós realizamos qualquer -
serviço, — Malik diz, lambendo os lábios.
Preciso de cada grama de minha força para não vomitar em seu tapete
felpudo desagradável, mas consigo me manter composto.
— Eu estou bem, mas vou deixar você se preparar para suas
festividades, — eu digo, segurando uma careta. — A Deusa sorri para
você hoje.
A Deusa nem mesmo cuspiria neste Matilha patética e pútrida.
— Habitantes da Matilha do Amor, as festividades estão prestes a
começar, — grita Malik, dirigindo-se aos membros de seu bando em um
terraço ao ar livre com vista para os portões da cidade. — Esta será uma
celebração inesquecível! Em breve, estaremos em um novo paraíso!
Pervertido.
— Vamos beber e festejar e vamos foder até a lua virar sol!
Depravação.
— Vamos deixar o amor consumir todos nós!
Sujeira.
Eu sinto uma raiva profunda dentro de mim enquanto vejo Malik se
despe junto com as centenas de outros homens e mulheres no terraço.
Eu deveria desviar o olhar, mas não posso...
Quero ver esses vermes se contorcendo em sua própria obscenidade.
Eu quero assisti-los até seu -fim.
Duas mulheres se beijam e se acariciam em uma pilha de travesseiros
enquanto Malik derrama vinho em suas cabeças e, em seguida, em sua
própria boca.
Outro grupo de homens e mulheres está tão emaranhado que seus
membros são indistinguíveis um do outro.
O gemido.
A batida.
O tapa.
Uma prostituta faz malabarismos com seus seios para mim enquanto
se senta em cima de outro homem. Ela abre os lábios fazendo beicinho,
soprando um beijo para mim, acenando para que eu me junte.
Estou comprometido com a Deusa, sua vagabunda indigna.
É tudo tão nauseante, mas eu tenho -que ver isso passar.
Eu me sinto endurecer, mas a excitação não é desta orgia sórdida. E
porque eu sei o que está por vir...
E não é o paraíso.
KADEN

Estou indo atrás de você, Rylan.


Eu pressiono o pedal do acelerador e corro em direção a Matilha de
Amor, pronto para acabar com as coisas de uma vez por todas.
Não deveria ser nenhuma surpresa para mim que Malik tivesse algum
tipo de aliança com Rylan. Ele é tão lunático quanto aquele cretino
impiedoso.
Mas a Deusa sabe o que Rylan está planejando. Seja o que for, parece
que já está em andamento há algum tempo.
Tudo o que sei é que ele tem uma escuridão poderosa dentro dele, e se
eu não impedir seu caos, todo o reino pode desmoronar.
Quando chego aos portões da Matilha do Amor, sei que estou em
vantagem.
Não há segurança na Matilha do Amor porque todo mundo está
muito ocupado fodendo, então eu simplesmente entrei sorrateiramente,
sem ser detectado.
Rylan nem sabe que estou indo atrás dele e, embora o homem esteja
definitivamente desequilibrado, posso vencê-lo em uma luta com uma
garra amarrada nas minhas costas.
Ele pode ser louco, mas eu não tenho medo desse pequeno-
Puta merda.
Não havia música quando Cheguei aos portões, nenhum som de festa,
nada de gente chapada ou bêbada tropeçando pelas ruas... e agora eu sei
por quê.
Eu dou um passo em direção às coloridas decorações do festival e
flâmulas alinhando a praça da cidade na minha frente, mas não são o que
me chamou a atenção.
Não, o que eu não consigo parar de olhar são os corpos...
As centenas de corpos nus, jazendo em poças de sangue e vinho.
Eles estão todos mortos.
O sangue e o vinho rodam juntos em um tom vermelho escuro.
As expressões distorcidas nos rostos das vítimas correspondem ao
posicionamento distorcido de seus corpos.
Eles foram envenenados. E não foi rápido. Eles sofreram.
Não sobrou nenhum amor aqui...
Apenas morte.
KADEN

Um Matilha inteira destruída de uma vez...


Rylan é muito mais perigoso do que eu imaginava.
E muito mais poderoso...
Embora eu nunca tenha me importado com a Matilha do Amor e seu
hedonismo, não posso deixar de sentir pena deles.
Este massacre foi estúpido. Apenas mais um grupo de pessoas que
colocaram sua confiança em Rylan... e pagaram o preço final por isso.
Eu passo por cima dos corpos, procurando por algum vestígio de
evidência de Rylan ou de seu paradeiro, mas ele não está em lugar
nenhum. Se isso é o que ele deixa em seu rastro, então é melhor eu
encontrá-lo rápido, ou isso vai acontecer com o próximo bando de
confiança que ele definir.
Quando me viro para voltar em direção aos portões, uma mão agarra
meu tornozelo com força e ouço uma voz distorcida.
— Kk-ka-den.
Embora seu rosto esteja roxo e sua boca coberta de sangue, o bastardo
excêntrico ainda é reconhecível — Malik.
— Como diabos você ainda está vivo? — Eu pergunto, me ajoelhando
e apoiando a cabeça em um travesseiro próximo.
— Pa-pa-paraíso, — ele gagueja. — Ele prometeu.
Malik não está fazendo nenhum sentido, mas isso não é diferente do
normal. O melhor que posso fazer é deixá-lo confortável em seus últimos
momentos.
— Rahhhhh, — Malik grasna, tossindo sangue.
Deusa, ele está mal.
— Não tente falar, Malik. Você só...
— Rahhy-land.
Meus ouvidos de repente se animam. — Rylan? O que tem ele? Você
sabe para onde ele foi?
Enquanto os olhos de Malik ficam vidrados, ele agarra meu braço.
— Haa-arm-onia.
Naquele momento, sinto a vida dele se esvair. Ele se foi para sempre.
Mas eu consegui o que precisava...
Rylan está indo para a Matilha da Harmonia.
Capítulo 20
O QUE FOR PRECISO
KACE

Estou parado no topo de um mar de escuridão, mas curiosamente não


estou afundando. A água abaixo de mim é sólida como o solo.
Meus pés descalços estão molhados de tanto andar na superfície, e quando
eu olho para baixo, posso ver claramente meu reflexo.
Onde é esse lugar? Isso é mesmo real?
— Kace? Você está aqui, Kace? Porque eu estou.
Uma voz estranha ecoa na escuridão, mas eu sou a única pessoa que posso
ver — Quem é você?
— Eu sou sua escuridão, é claro.
Eu vejo uma ondulação na água abaixo de mim e olho para baixo para
ver meu reflexo sorrindo para mim.
Que porra é essa...
O sorriso se contorce em um sorriso maligno, e o reflexo de repente se
torna Rylan.
— Você! — Eu rosno.
— Você se lembra de mim, Kace? Você se lembra de todas as coisas terríveis
que eu fiz você fazer? n — Cale a boca! Dê o fora do meu corpo! — Eu grito
ao pisar no reflexo. A água ondula em pequenas ondas, mas nada acontece.
— Eu não vou a lugar nenhum, — o reflexo diz enquanto muda de volta
para mim. — Você precisa de mim, Kace. Todos nós temos um lado negro,
afinal.
— Eu não quero você aqui! — Eu grito. — Eu não sou uma pessoa má!
— Você é tão ingênuo, — zomba o reflexo, rindo. — A escuridão tem tudo
a ver com equilíbrio. Você pode ter o controle agora, mas quando a balança
inclinar, é a minha vez de sair das sombras novamente.
Sem aviso, o chão se torna líquido e eu imediatamente afundo na água
negra até ficar completamente submerso.
Enquanto eu suspiro por ar, a água negra enche meus pulmões.
Eu não consigo respirar
Não consigo ver
Estou com vontade de desistir

Eu acordei com um solavanco, com falta de ar, encharcado de suor.


Minha garganta está seca e me sinto desidratado. Meu corpo inteiro está
tremendo.
Não foi um sonho normal.
Eu olho para o meu braço e vejo uma veia preta pulsante que não
estava lá antes. Ela serpenteia por baixo da minha pele como um parasita
em crescimento.
Merda.
Está acontecendo.
A escuridão está tomando conta.
Eu uso uma capa de mangas compridas na minha sessão com Helena
na biblioteca hoje. Ela não pode saber o que está acontecendo comigo.
Isso só iria preocupá-la e, agora, precisamos nos concentrar mais do que
nunca.
— O que está acontecendo com você? — Helena pergunta
desconfiada. — Você tem sido muito menos irritante hoje do que o
normal.
— Eu só tenho muito em minha mente, — eu respondo distante.
— Isso não é por causa do... do beijo... é?
Quando eu olho para Helena, vejo uma expressão nervosa e, de
repente, estou nervoso também.
— Não, claro que não! Espere... você está preocupado com isso? Foi
ruim? — Eu pergunto ansiosamente.
— Não, não, não foi ruim, apenas... inesperado, — ela diz de forma
tranquilizadora.
Embora ela tente cobrir o rosto com um livro, posso ver suas
bochechas ficando vermelhas e me sinto aliviado por ela não se
arrepender.
— Vamos começar? — Ela pergunta apressadamente. — Ainda há
muito para cobrir. Existem muitas maneiras de combater a energia
escura. Ainda não experimentamos o treinamento de positividade. Ou —
é um tiro no escuro — mas alguns acadêmicos dizem que a meditação
pode ajudar a se centrar.
Espere... concentrando...
Algo que meu reflexo disse no sonho realmente ficou comigo.
— E os livros em... equilíbrio?
— Equilíbrio. — Helena repete a palavra para si mesma quando vejo
uma luz se acender por trás de seus olhos. — Oh meu Deus! Claro!
Ela se levanta da mesa e corre pelo corredor sem dizer mais nada.
Que diabos? Por que eu nunca sei o que está acontecendo na cabeça
daquela garota?
Momentos depois, Helena volta correndo e joga um livro gigante na
minha frente.
O título do livro é
História da Matilha da Harmonia.
Enquanto Helena sorri para mim, eu apenas fico olhando para ela em
confusão.
— Você vai explicar? — Eu pergunto, me recostando na cadeira e
colocando meus pés sobre a mesa.
— Oh, certo, desculpe, — ela diz, dando um tapa na lateral de sua
cabeça. — Um dos requisitos do meu curso para estudos de magia de luz
era o Misticismo e a Cultura da Matilha. É tudo sobre diferentes rituais e
crenças que são específicos para os valores fundamentais de cada matilha
individual.
Eu aceno junto como se entendesse o que ela está dizendo, mas estou
completamente perdido.
— Em meus estudos sobre a Matilha da Harmonia, encontrei algo
realmente interessante que sempre me intrigou, — ela diz, sem parar
para respirar.
— Eles realizam um ritual de equilíbrio para separar a escuridão de
alguém de seu coração — o coração sendo um substituto para sua alma,
ou qualquer coisa em que você escolha acreditar. Uma vez que eles estão
separados, a escuridão se toma inata.
Uma onda de excitação passa por mim.
É isso.
Isso é o que venho procurando.
— Como faço para aprender? Vamos começar agora, — eu digo
ansiosamente, empurrando o resto dos livros para fora da mesa.
— Bern, há um problema, — diz Helena, levantando a mão. — O
ritual de equilíbrio nunca foi registrado. A Matilha da Harmonia é uma
matilha extremamente remota e isolada localizada no alto das
montanhas. Eles vivem uma vida monástica, abandonando todos os bens
materiais e se dedicando à paz e à simplicidade.
Porra, finalmente encontrei o que preciso e ele está sendo mantido como
refém por um bando de monges nas montanhas.
— Não se preocupe. Amanhã reunirei todos os livros que encontrar da
Matilha da Harmonia e tenho certeza que encontraremos algo útil, —
Helena diz, encorajadora.
Mas ela não percebe que eu não tenho esse tipo de tempo...
A escuridão pode tomar conta antes mesmo que eu descubra como pará-
la.
Eu sinto que já aprendi tudo o que posso na Matilha de Sabedoria. Eu
sei que a Matilha da Harmonia é minha única opção.
Eu não posso simplesmente deixar Helena... ela é minha
companheira. Agora que a conheci, não consigo imaginar a vida sem ela.
Mas se eu ficar...
Eu agarro meu braço, sentindo a veia latejante debaixo da minha
manga.
Partir pode ser a única maneira de mantê-la segura...
MARA
Mesmo que Kaden me tenha feito prometer continuar planejando a
cerimônia de acasalamento, eu estou adiando desde que ele saiu.
É difícil me concentrar em algo tão trivial quando tudo que consigo
pensar é na segurança de Kaden e na segurança dos meus pais e da
Matilha da Pureza.
Sem mencionar a tentativa de ser uma líder para a Matilha da
Vingança.
Ainda assim, Claude é implacável pra caralho, e ele não aceitaria não
como resposta quando eu tentei sair de uma prova de vestido.
Achei que seria uma boa chance de ficar um pouco com Milly, mas ela
mal falou uma palavra. Cada vez que olho no espelho, vejo Milly atrás de
mim, taciturna, triste e à beira das lágrimas.
Quase comecei a chorar quando o alfaiate puxou a costura da minha
cintura, quase me estrangulando.
— Ei! Você não acha que é um pouco apertado? Eu gostaria de respirar
no dia da minha cerimônia de acasalamento.
Ele revira os olhos e continua mexendo no vestido, ocasionalmente
me picando com um alfinete apenas para me manter na ponta dos pés.
Ao contrário de um vestido típico de cerimônia de acasalamento da
Matilha da Pureza, este é preto e elegante. O top sem alças e a cauda de
renda são impressionantes, e eu tenho que dar crédito ao alfaiate,
embora eu queira mudar e arrancar seu rosto.
— O que você acha Milly? E meio sexy, certo?
Ela não responde. Em vez disso, ela apenas olha para os pés.
Eu aceno para o alfaiate. — Você pode nos dar um minuto a sós?
Ele sai da sala e eu me sento ao lado de Milly, segurando sua mão.
— Fale comigo, Milly. O que realmente aconteceu na Matilha da
Pureza?
— Eu... eu sei que você teve suas diferenças com a Matilha da Pureza.
E... e com seus pais. Mas, Mara, você não tem ideia de como está ruim, —
Milly diz, tremendo. — Se o fizesse, estaria fazendo tudo o que pudesse
para libertá-los.
— Milly, estou fazendo tudo o que posso para...
— Não, Mara, você não está! — Milly diz, sua voz aumentando. —
Você pode fazer parte da Matilha da Vingança agora, mas esse ainda é seu
povo na Matilha da Pureza sendo escravizado.
Eu nunca, em todo o tempo que conheço Milly, a vi com tanta raiva.
— Eu... eu sinto muito. Você tem razão. Eu não estou fazendo o
suficiente, — eu digo, minha voz falhando. — É difícil enfrentar essa
parte da minha vida. Eu tentei tanto deixar isso para trás.
Milly se levanta, se vira e puxa o cabelo pelo ombro.
— Abra o zíper, — ela diz, referindo-se ao vestido de dama de honra
que está usando.
— O que? Por que? — Eu pergunto, confusa.
— Apenas faça.
Conforme eu lentamente abro o zíper do vestido, uma marca nas
costas de Milly se torna visível — não apenas uma marca, a marca. Foi
queimada em sua pele...
A forma de uma ampulheta.
Milly se vira, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
— Ele as deu a todos nós, Mara. Ele nos marcou como seus escravos.
Ele disse que éramos presentes da Deusa.
Eu imediatamente abraço Milly enquanto ela chora em meu ombro.
— Oh, Milly, eu sinto muito. Eu não tinha ideia, — digo, segurando-a
com força.
De repente, ela me olha nos olhos com uma intensidade ardente que
nunca pensei ser possível de Milly.
— Mara, você tem que me prometer uma coisa.
— Qualquer coisa, — eu digo, balançando a cabeça.
— Prometa-me que você fará tudo o que for preciso para salvar seu
povo.
— Eu prometo, — eu repito. — O que for preciso.
Capítulo 21
EDUCAÇÃO SEXUAL
Sempre me senti uma estranha na Matilha de Pureza.
E quando me tornei acasalada com Kaden, eles deixaram claro que eu não
era bem-vinda.
Até meus próprios pais me rejeitaram...
A Matilha da Vingança é minha casa agora, por mais estranho que possa
parecer.
Mas não esqueci de onde vim.
Eles podem ter virado as costas para mim, mas eu não vou virar as costas
para eles.
Vou salvar meu povo.
MARA

Foda-se as flores.
Foda-se o menu do banquete.
Foda-se a lista de convidados.
A cerimônia de acasalamento é a última -coisa com a qual quero lidar
agora.
Depois que Milly deixou claro o que realmente estava acontecendo na
Matilha de Pureza, era tudo que eu conseguia pensar.
Kaden e Claude que se danem. Estou adiando todo o planejamento da
cerimônia de acasalamento até que eu liberte a Matilha da Pureza da
escravidão.
Fiz uma promessa a Milly e pretendo cumpri-la.
Enfio tudo mesmo remotamente relacionado à cerimônia em um
armário, incluindo o lindo vestido preto com a cauda de renda. Tenho o
cuidado de não amassar ou rasgar, sentindo uma tristeza inesperada.
Percebo que não estou apenas adiando o planejamento por causa da
Matilha da Pureza...
Eu também estou fazendo isso porque me lembra Kaden.
Não tenho notícias dele há semanas e, quanto mais o tempo passa,
mais sinto falta dele. Ele é minha outra metade, e eu nem sei se ele está
seguro.
Onde diabos você está, Kaden?
Eu fecho a porta do armário, compartimentando meus sentimentos
por Kaden e nossa união iminente.
Eu preciso me concentrar. Existem problemas maiores do que os
meus e, se vou resolvê-los, precisarei de ajuda.
Ultimamente, tem havido apenas uma pessoa em quem sinto que
posso confiar...
Mas quando se trata da Matilha da Pureza...
Não tenho certeza se ele será tão agradável.

Bato timidamente na porta de Brutus, nervosa por ter essa conversa


com ele.
Ninguém responde, então bato de novo.
Isso não é típico de mim. Não sou tímida — nem de longe. Então, por
que estou tão ansiosa com este encontro?
Merda.
Respirando fundo, empurro a porta e entro na cova de Brutus. É
almiscarado e fumegante, mas não me importo com o cheiro. Na
verdade, acho muito agradável.
Brutus não está em lugar nenhum. Ele não está em casa?
Pego uma de suas camisas e a coloco perto do nariz, respirando o
cheiro agradável, mas a deixo cair no chão quando Brutus sai do
banheiro — completamente nu.
— Oh, não sabia que você já estava aqui, — ele diz casualmente. —
Devo me vestir ou você prefere ao natural?
Meus olhos se arregalam com o pau balançando entre suas pernas, e
ele me lança um sorriso malicioso.
— Sim, você deveria se vestir, porra, — eu digo, desviando meu olhar e
pegando a camisa e jogando-a nele.
— Droga, eu não sabia que você era tão puritana, — ele brinca,
puxando um par de jeans sobre sua bunda musculosa. — Você pode tirar
a garota da Matilha da Pureza, mas não pode tirar a Matilha da Pureza da
garota, eu acho.
Suas costas também estão cobertas de cicatrizes, e não posso deixar de
pensar nas cicatrizes semelhantes de Kaden. Esses dois são realmente tão
parecidos que é uma pena que se oponham tão fortemente um ao outro.
— Eu quero que você saiba que eu passei um bom tempo na Matilha
da Liberdade, — eu digo com raiva. — Eu não sou uma puritana. Eu só...
acho que há um momento e um lugar para a nudez.
— Ok, basta você nomear a hora e o lugar, então, — ele diz, piscando.
Ugh, por que ele está tornando isso tão difícil?
— Olha, eu não vim aqui para flertar com você. Tenho algo
importante para discutir, — digo impacientemente.
— Sou todo ouvidos, — ele diz, imitando orelhas de lobo acima de sua
cabeça. Felizmente, ele está totalmente vestido e meu foco está de volta
ao assunto em questão.
— Eu preciso que você reúna o bando, — eu digo séria. — Eles ainda
não confiam em mim, mas vão ouvir você.
— Reuni-los para quê?
— Para libertar meu povo — a Matilha da Pureza — do controle de
Rylan, — eu digo, imediatamente procurando em seu rosto por uma
reação.
Brutus estreita os olhos e range os dentes. — Seu povo? Eu pensei que
nós éramos seu povo.
— Vocês são, mas—
— Não, você precisa escolher um lado, Mara. Quem é você? Uma vadia
da Matilha da Pureza ou a Luna da Matilha da Vingança? Você não pode
ser as duas, — ele rosna.
— E porque não? Porque você -diz isso? — Eu respondo com raiva. —
Desde quando te respondo?
— Não é por isso que você vem constantemente me pedindo
conselhos? — Ele atira de volta. — Ou é apenas minha atenção que você
quer?
Meu rosto fica vermelho, mas é de raiva, não de vergonha. Eu fecho a
lacuna entre nós e aponto meu dedo em seu rosto.
— Como você ousa -falar assim comigo!
Brutus agarra minha mão e meu coração dispara enquanto ele
pressiona seu corpo contra o meu.
— Cuidado, suas raízes da Matilha da Pureza estão aparecendo. Sua
espécie sempre nos desprezou, não é?
— Então você está bem em apenas deixá-los morrer? — Eu pergunto
com raiva.
— Se a situação fosse inversa, eles fariam o mesmo.
Eu quero dizer a ele que ele está errado, mas não posso. Se a Matilha
da Vingança estivesse na mesma posição, a Matilha da Pureza
provavelmente celebraria isso como um ato da Deusa.
Brutus solta minha mão e passa por mim. — Eu não vou te ajudar.
Eles não merecem nossa ajuda.
Eu não posso aceitar isso.
Eu marcho até Brutus e o empurro de volta contra a parede com todas
as minhas forças.
— Você é um hipócrita de merda! — Eu grito. — Eles foram
manipulados e maltratados — algo com o qual você está muito
familiarizado. Mas você é teimoso demais para ver que pode ter algo em
comum com eles!
De repente, estou de costas contra a parede e Brutus está me
prendendo ali com seu corpo corpulento.
— E você está muito presa ao passado para ver que seu lugar é aqui
conosco, não com eles, — ele diz, seus lábios pairando a poucos
centímetros dos meus.
O calor entre nós é palpável e meu corpo relaxa contra o dele
enquanto derretemos juntos.
Eu nem consigo evitar. Anseio tanto pelo toque de Kaden, e quando
olho para Brutus, vejo muito de Kaden nele.
— Pode não ser a escolha fácil, mas é a escolha certa, — eu digo,
olhando profundamente em seus olhos.
— Foda-se a escolha certa, — ele rosna.
Antes mesmo de saber o que está acontecendo, os lábios de Brutus
estão nos meus.
Ele me beijou ou eu o beijei?
Eu nem sei, mas minha mente é um borrão, e eu não consigo pensar
direito.
Eu luto para fora de seu controle e me afasto.
— Mara...
— Não, Brutus. Sinto muito, não posso.
Saio correndo e não olho para trás.
KACE

É a escolha mais difícil que já fiz, mas é algo que tenho que fazer...
Eu tenho que deixar a Matilha da Sabedoria por conta própria.
Eu ainda não consigo controlar minha escuridão, e se eu ficar aqui...
pode acabar me controlando.
Eu sei que Helena tentaria me impedir. Ela diria que não estou
pronto, que preciso de mais preparação.
Mas eu tenho que fazer isso.
Gostaria de poder vê-la mais uma vez, mas se o fizer, talvez nunca
mais vá embora.
Sob a cobertura da noite, eu entro na biblioteca com uma chave que
roubei de Helena e procuro nas pilhas de livros até chegar à seção de
geografia.
Eu encontro o livro que estou procurando e o puxo para baixo,
abrindo-o em um mapa — um que leva à localização remota da Matilha
da Harmonia.
Helena vai me matar por isso...
Puxando a página com força, eu a rasgo do livro.
O som dilacerante ecoa pela biblioteca palaciana e eu me encolho.
— Quem está aí? — Grita uma voz suave, mas severa.
Merda, é a Helena. O que ela está fazendo aqui depois do expediente?
Tento encontrar um lugar para me esconder, mas Helena aparece ao
virar da esquina antes mesmo que eu possa me mover.
— Kace? O que você está fazendo aqui? Já passou da hora!
— Eu poderia te perguntar o mesmo, — eu digo, desviando da
pergunta.
— Eu... venho aqui estudar às vezes... porque é calmo à noite. Espere
um segundo, eu perguntei primeiro! Como você entrou?
Helena percebe que estou escondendo algo nas minhas costas e tento
me esquivar enquanto ela tenta agarrar.
— Kace, me mostre o que você está escondendo agora, ela rosna, sem
vontade de jogar.
Eu volto para uma estante de livros e ela rapidamente arranca o mapa
das minhas mãos.
— Olha, sinto muito por ter rasgado uma página de um dos livros,
mas—
— Pare, — diz Helena, levantando o dedo. Seu rosto mostra uma
expressão de traição, e meu estômago dá um nó. — Você... você ia sair
sem dizer nada? — Meu olhar cai para o chão. — Eu queria ver você. Eu
realmente queria. Mas eu sabia que se o fizesse, isso aconteceria.
— O que aconteceria? — Ela pergunta, dando um passo à frente.
O que eu queria fazer esse tempo todo...
Eu agarrei Helena pela cintura e a levantei, suas pernas
automaticamente me envolvendo.
Nós caímos em uma estante, jogando livros pelo chão, mas nenhum
de nós se importa.
Posso treinar para resistir à minha escuridão o dia todo, mas quando
se trata de resistir a Helena...
Terei prazer em falhar nesse teste.
Nossas línguas lutam entre si enquanto nossos lábios se fecham com
força, e qualquer pensamento de sair desaparece. Eu pressiono minha
protuberância entre as pernas de Helena, e ela engasga quando sente
isso.
— E... uau, é grande, — ela diz, nervosa.
Helena começa a puxar minha camisa para cima, mas eu a paro, não
estou pronto para ela ver o que está por baixo — ver que estou perdendo
o controle da minha escuridão.
— Oh, então você quer brincar de tímido? — Ela pergunta, mordendo
o lábio.
Ela me empurra para trás, fica de joelhos e começa a abrir o zíper da
minha calça.
— Espere, o que você—
— Shhhh, — ela me interrompe. — Estamos em uma biblioteca.
Com um sorriso malicioso e sedutor, Helena puxa meu pau e coloca
seus lábios em tomo dele.
Oh.
Merda.
Quando ela usa a mão e a boca para acariciar o eixo, estremeço com a
sensação incrível.
Quando ela olha para mim do chão com aqueles lindos olhos azuis, eu
perco todo o controle.
Eu a empurro para baixo na pilha de livros caídos e levanto seu
vestido, puxando sua calcinha até os tornozelos.
Minha boca está imediatamente entre suas pernas, provando-a pela
primeira vez — e ela tem gosto de porra de céu.
— Kace, oh minha deusa! — Helena grita enquanto minha língua gira
dentro dela. — Isso é tão bom! Eu quero... eu quero você dentro de mim!
Essas são as palavras mais bonitas que já ouvi.
Estou duro como uma rocha, e deslizo suavemente meu pau em sua
boceta molhada.
Droga, está apertada!
E lento no início, mas conforme seus gemidos se tomam mais
prazerosos e menos doloridos, eu sei quando posso acelerar.
Em pouco tempo, estou empurrando como uma besta e ela uivando
como se fosse uma lua cheia.
Quando vejo o êxtase em seu rosto e a sinto apertar em volta do meu
pau, não consigo evitar.
— Estou chegando! — Eu grito enquanto retiro e alivio minha carga
em uma cópia de Encontrando-se: o caminho para a paz interior.
Eu afundo ao lado de Helena, e nós dois ofegamos pesadamente,
completamente sem fôlego. Ela se aninha no meu corpo e ficamos em
silêncio por um tempo, apenas estando presentes um com o outro.
Nunca me senti mais apaixonado, e neste momento, com Helena
deitada ao meu lado, percebo...
Eu a quero ao meu lado para sempre.
Eu me viro para Helena e acaricio seus cabelos.
— O que está errado? — Ela pergunta, sentindo os sentimentos
agitando dentro de mim.
— Eu sei que você disse que não pode se imaginar deixando este lugar,
mas... eu tenho que ir, Helena. Não apenas por mim, mas pelos outros
que lutam para controlar suas trevas. Pode ser perigoso, mas quero você
ao meu lado.
— Kace...
— Por favor, Helena — venha comigo.
Enquanto as lágrimas brotam em seus olhos, meu coração começa a
bater no meu peito.
Você quer me fazer o companheiro mais feliz do mundo...
Ou você vai quebrar meu coração em um milhão de pedaços...
Capítulo 22
ERROS DE ACASALAMENTO
— Foda-se a escolha certa, — rosna Brutus.
Eu vi seu beijo chegando, e ainda assim, eu não o parei.
Eu só queria sentir algo de novo, mas...
No momento em que ele me beijou... eu senti...
Eu me senti descontente. Eu me senti mal. Eu me senti emaranhado em uma
teia de confusão.
Eu pensei que iria preencher o buraco que Kaden deixou para trás, mas em
vez disso...
Isso só me fez doer mais por ele.
MARA

Eu caio na minha cama e me deito, olhando para o teto.


Eu sou a companheira mais péssima do mundo.
Eu deveria ter ouvido Lexia. Ela viu isso acontecer antes de mim. Ela
me avisou, mas eu não dei ouvidos.
Cheguei perto demais de Brutus e ele cruzou os limites.
Mas não foi só ele que o cruzou...
Eu também cruzei.
A verdade é que gosto de trabalhar com ele. Gosto da pressa que sinto
quando estou agindo e fazendo algo.
Gosto de sair e fazer a diferença, ser uma líder.
Faz meu sangue bombear como poucas coisas.
Talvez eu tenha confundido aquela adrenalina com sentimentos?
Ou talvez eu realmente sinta falta de Kaden e estou sozinha...
De qualquer forma, foi um erro e não pode acontecer novamente.
Eu quero fazer uma mudança, mas não se essa mudança estiver
traindo meu companheiro. O beijo com Brutus ainda está na minha
mente, mas principalmente porque me lembra do que estou perdendo.
Ainda me lembro da primeira vez que beijei Kaden como se fosse
ontem.
Foi eletrizante — senti aquele beijo por todo o meu corpo. A paixão, a
intensidade, o calor.
Acho que estou tentando recapturar esses sentimentos quando estou
com Brutus, porque ele me lembra muito de como Kaden costumava ser.
Tudo está tão confuso agora, e eu preciso limpar as teias de aranha do
meu cérebro. Eu preciso do meu companheiro ao meu lado... não do
outro lado do mundo.
Eu só queria que houvesse uma maneira de falar com Kaden, mesmo
que ele não esteja aqui...
Espere, puta merda! Existe uma maneira!
O link mental!
Quando Kaden e eu nos separamos antes, estabelecemos um vínculo
mental porque nosso vínculo era muito forte e nos permitiu comunicar
como se estivéssemos na mesma sala.
Já faz muito tempo desde que o usamos, mas talvez...
Eu pulo da cama e começo a correr pelos corredores, fazendo meu
caminho para a parte mais profunda do castelo.
Eu poderia ter uma chance melhor se tentar me conectar de algum
lugar onde tenho fortes memórias de Kaden.
Eu finalmente alcanço a porta pesada que leva à falsificação de Kaden,
onde ele cria todas as suas armas, e eu a empurro.
Já faz algum tempo desde que vim aqui, mas me lembro bem deste
lugar.
E onde eu vi o rosto de Kaden pela primeira vez. Seu rosto bonito,
perfeito e robusto.
Lembro como ele não podia me deixar tocá-lo ou eu descobriria seu
segredo — que eu era sua companheira.
Isso parece muito tempo atrás.
Enquanto eu corro meus dedos em uma espada brilhante na parede, a
mesma espada que uma vez brandi para Kaden, eu fecho meus olhos.
Este é um lugar tão bom quanto qualquer outro.
Kaden, se você estiver aí, por favor responda. Eu realmente preciso de você
agora. Preciso saber que você está voltando para casa.
Sinto um leve estalo em minha mente, mas ainda não tenho resposta.
Apenas me dê algum sinal de que você está seguro. Ou que você também
está pensando em mim. Eu só preciso sentir sua presença novamente.
Eu espero enquanto sinto meu cérebro zumbindo, esperando e
rezando para ouvir a voz profunda do meu companheiro crescendo de
volta para mim, mas...
Nada.
Não está funcionando.
Talvez nosso vínculo não seja tão forte quanto eu pensava...
KADEN

Quanto mais avanço nas montanhas, mais estreitas e sinuosas as


estradas se tomam.
Eu sabia que a Matilha da Harmonia não teria um manobrista, mas
isso é ridículo pra caralho.
Tenho bastante gasolina, mas não é o combustível que me preocupa.
Quanto mais rochoso o terreno fica, mais parece que o carro vai
desmoronar.
Eu nervosamente espio pela janela enquanto faço outra curva
acentuada que quase me faz cair do penhasco.
Estou até pensando em rezar para a Deusa, o que eu nunca -faço.
À medida que o penhasco fica especialmente íngreme, o carro começa
a parar.
— Não, não, não, seu balde de parafusos estúpido! Não desista de
mim agora!
Eu ponho o pé no acelerador, tentando forçar o carro até o topo da
colina, mas os pneus apenas cantam, giram e levantam poeira.
Eu ouço um estrondo alto quando um dos pneus estala.
Porra, isso não é bom.
Quando o carro começa a andar para trás, tento pisar no freio, mas
eles não estão funcionando.
Eu chuto abrindo a porta e tiro meu corpo para fora do carro, assim
que ele rola para fora da montanha, acelerando para o desfiladeiro
abaixo.
Ofegante, observo enquanto os destroços distantes pegam fogo.
Acho que abandonei o navio bem a tempo. E isso significa que vou
fazer o resto do caminho a pé.
Fodidamente perfeito.
Ao começar a atravessar a montanha íngreme, minha mente vagueia
até Mara.
Eu me pergunto como ela está se saindo com a cerimônia de
acasalamento. Claude pode ser um verdadeiro idiota.
Ou com os deveres de Luna? Eu meio que deixei uma grande bagunça
para ela limpar.
Porra, por que eu fiz isso? Eu realmente acredito que ela será uma
líder melhor do que eu, mas sei que não foi essa a única razão pela qual
fui embora...
Saí porque estava com medo.
Eu sentia que nada estava mais sob meu controle e que, apenas talvez,
se eu fosse atrás de Rylan, poderia me sentir no controle novamente.
E veja onde isso me levou — escalando uma montanha sem
suprimentos e sem ideia de quando chegarei ao topo.
Eu poderia tentar atribuir isso ao nervosismo antes da cerimônia de
acasalamento que me fez disparar, mas sei que é muito mais profundo do
que isso.
A verdade é que me sinto indigno.
Indigno de ser um Alpha.
Indigno de ser companheiro de Mara.
Depois de todo aquele tempo sendo controlado por Coen, esqueci
quem eu realmente era. Perdi minha identidade.
Preciso descobrir quem sou antes de ser o companheiro que Mara
merece. E o líder que meu bando merece.
Eu só queria poder ver o rosto dela. Tocar sua pele. Ouvir a voz dela.
Tentei quase todas as noites estabelecer uma ligação mental, mas
sempre falhava.
Talvez nosso vínculo esteja enfraquecendo...
Ou talvez eu só esteja quebrado...
KACE

Com o mapa que tirei dos arquivos da Matilha da Sabedoria, chegar ao


topo do Monte da Harmonia não é tão desafiador quanto eu esperava.
Ainda é uma caminhada árdua, mas não tão perigosa quanto seria
escalá-la sem um guia.
Ainda me pergunto se tomei a decisão certa na Matilha da Sabedoria.
A escuridão dentro de mim ainda está crescendo, e posso ser um perigo
não apenas para mim, mas para todos ao meu redor.
Eu puxo minha manga para ver a veia preta subindo pelo meu braço e,
agora, pelo meu ombro.
Tenho que aprender esse ritual de equilíbrio antes que seja tarde
demais.
— Ei, retardado, continue, — Helena diz, me provocando de frente.
Eu sorrio e a provoco de volta. — Ei, eu só estou de volta aqui para que
eu possa olhar para sua bunda. Se eu quisesse, passaria você.
— Sim claro. Você está ofegando como um lobo com uma bola de
pelo, — ela grita de volta.
Porra, eu amo essa garota. -Por um momento, pensei que ela poderia
escolher a Matilha da Sabedoria em vez de mim, mas ela disse que
acabaria de trabalhar com os estudiosos para levar seus estudos de magia
de luz na estrada e não olhou de volta.
Posso ainda estar preocupado por ser perigoso, mas ela consegue se
controlar, e estou feliz por ela estar do meu lado. Ela não está errada
sobre a respiração ofegante. Será que todo esse tempo lendo livros me fez
amolecer?
Chegamos a um beco sem saída, onde o penhasco se toma
impossivelmente íngreme. Tentar escalar provavelmente significaria
morte certa.
— Bem, isso é ótimo pra caralho, — eu digo, suspirando. — Foi para lá
que o mapa nos levou. Eu gostaria de registrar uma reclamação com o
autor do livro do qual extraí isto.
— Oh, vocês de pouca fé, — diz Helena, apontando por cima do meu
ombro.
Eu me viro para ver um sistema de roldanas com uma grande cesta de
vime presa.
— Temos que entrar nisso? — De repente, me sinto mal do estômago.
— De que outra forma você esperava chegar a um mosteiro no topo de
uma montanha? Vamos, vamos.
Helena sobe na cesta vacilante e eu sigo o mesmo, mas de jeito
nenhum estou olhando para baixo.
Enquanto Helena aciona uma alavanca, a cesta começa a subir pela
encosta da montanha.
— Na verdade, isso é bastante engenhoso, — diz Helena, examinando
de perto a mecânica do sistema de polias. — Talvez eu possa escrever
algo sobre isso para os arquivos. Você não acha que é uma boa ideia?
Kace?
Merda, olhei para baixo.
Eu imediatamente vomito para o lado e desabo no chão enquanto
Helena sufoca uma risada.
— Ei, isso não é engraçado, — eu digo, segurando meu estômago. —
Se fossemos feitos para estar tão alto no céu, a Deusa teria nos dado asas,
porra.
Felizmente, a cesta dá um solavanco até parar e, quando olho por
cima dela novamente, vejo chão sólido.
Rastejamos para fora da cesta e nos aproximamos da aldeia no topo da
montanha à nossa frente.
A arquitetura e a paisagem são absolutamente deslumbrantes. Esses
monges podem levar uma vida simples, mas com certeza o fazem com
estilo. Este lugar é um paraíso escondido.
Monges em mantos multicoloridos se curvam respeitosamente
quando passamos, nos cumprimentando como convidados, mas
estranhamente, ninguém diz uma palavra.
— Olá, viemos da Matilha da Sabedoria e buscamos a orientação do
seu Alpha, — digo a um dos monges, mas ele simplesmente sorri e acena
com a cabeça.
— Eles fizeram voto de silêncio? — Helena diz, olhando para todos os
monges silenciosos nos observando. — Alguma coisa não está certa.
Eu também posso sentir. Eu sinto algo... uma escuridão familiar.
— Onde está o seu Alpha? — Eu pergunto de novo.
Quando um dos monges abre a boca para tentar falar, de repente
entendo por que ninguém está me respondendo.
Sua língua foi cortada.
— Você está procurando pelo Alpha? — Escuto uma voz familiar.
Rosnando, eu me viro e puxo minhas garras.
Rylan está na minha frente, sorrindo e vestindo um manto
multicolorido esvoaçante e uma coroa de folhas de figueira.
— Bem-vindo a Matilha da Harmonia.
Capítulo 23
INCENTIVO
Meu povo está escravizado, morrendo...
Estou ficando sem opções e, pior, estou ficando sem tempo.
Tentei perguntar com educação. Tentei a rota diplomática.
Mas o tempo da diplomacia acabou...
Exigirei respeito.
Eu sou a Luna da merda da Matilha da Vingança, e não serei recusada.
MARA

Quando me aproximo do covil de Lexia, seus guardas armados me


deixam passar sem qualquer hesitação.
Embora eu não tenha conquistado a lealdade de todos na Cidade da
Vingança ainda, a facção de Lexia sempre será leal a mim. Nós já
passamos pelo inferno e voltamos.
Lexia percorreu um longo caminho desde que ela usava o nome de —
X — e dirigia as favelas com sua gangue assassina. Ela realmente
encontrou seu propósito em ajudar as mulheres de Cidade da Vingança e
dar-lhes uma vida melhor, e eu não tenho nada além de respeito por isso.
Só espero que ela ainda tenha o mesmo respeito por mim, porque
estou prestes a pedir a ela para fazer uma loucura.
Lexia me cumprimenta na entrada e me conduz a um salão chique,
onde ela nos serve bebidas.
— Este lugar é um grande avanço em relação às favelas, — digo,
impressionada.
— Definitivamente ganhei alguns ativos desde então, em parte graças
a você, — ela diz. me entregando um bourbon.
— Bem. apenas tenha isso em mente quando eu perguntar o que
estou prestes a perguntar a você, — eu digo, bebendo o bourbon como se
fosse uma dose.
— Oh merda, o que é agora? — Lexia diz, erguendo as sobrancelhas.
— Você sempre me apoiou, Lexia. E agora eu preciso desse tipo de
lealdade mais do que nunca, — eu digo nervosamente, contornando o
pedido real.
— Mara, vamos, sou eu. Apenas cuspa.
— Eu quero invadir a Matilha da Pureza e retirá-la do controle de
Rylan. Precisaremos de cada mulher que você puder pensar.
Lexia apenas me encara com a boca aberta.
— Mara, você sabe que estou cem por cento do seu apoio, mas... o que
você está perguntando...
— Eu sei que é loucura, mas nosso tempo acabou. Eu não posso
esperar mais. Por favor, temos que agir agora, — eu digo, implorando.
— Minhas mulheres são fortes, Mara, mas não posso mandá-las para
uma batalha que sei que não podem vencer. Não há como recuperarmos
a Matilha da Pureza sozinhas.
— Então nós realmente perdemos, — eu digo, me sentindo
completamente sem esperança.
— Talvez não, — Lexia diz, embora ela pareça em conflito.
— O que você quer dizer?
— Eu odeio dizer isso — quero dizer realmente -odeio dizer isso —
mas precisamos do Brutus.
Ela está certa. Ele é o único que tem influência suficiente para
convencer a Matilha da Vingança a ajudar a salvar a Matilha da Pureza.
Mesmo pensando, parece impossível.
— Eu já tentei, mas ele não quer nada com um plano que envolve
arriscar vidas da Matilha da Vingança por vidas da Matilha da Pureza, —
eu digo, tentando reprimir a memória do nosso beijo.
— Isso é um monte de besteira, e Brutus sabe disso, — Lexia diz,
rindo. — Com minha força e a dele combinadas, nós subjugaríamos os
acólitos de Rylan antes que eles soubessem o que os atingiu. Você
simplesmente não deu a ele o incentivo -certo ainda.
Incentivo?
Se eu vou conseguir que Brutus convença a Matilha da Vingança a ficar
do lado da minha causa, terei que convencê-lo primeiro...
Quando estive com Brutus antes, tentei apelar para sua moral. Essa foi
uma ideia estúpida.
Então tentei implorar. Ainda mais estúpida. Eu não estarei rastejando
novamente.
Desta vez, farei uma abordagem mais direta. Vou exigir sua lealdade.
Eu entro na cova de Brutus em uma missão e o encontro sozinho,
limpando o sangue de sua lâmina com um pano.
— Se você acabou de polir sua espada preciso falar com você, — digo
com um tom mordaz.
Brutus ergue os olhos e me dá seu sorriso malicioso irritante e
condescendente patenteado.
— Eu sabia que você voltaria para mais.
— Não se iluda — trata-se estritamente de negócios.
— Foi o que você disse da última vez também, — ele diz, baixando a
lâmina e se levantando. — Mas sempre há espaço para o prazer.
— Eu não sei o que você acha que está acontecendo aqui, mas eu
prometo a você, o que estou prestes a dizer não será prazeroso.
Ele pensa que eu não posso lidar com ele, mas ele está completamente
errado.
— Tudo bem, vamos em frente então, — ele diz, cruzando os braços
musculosos.
— Eu tentei pedir-lhe gentilmente, mas estou cansada de jogar certo,
— eu digo, minha voz inabalável. — Você não me deixou outra opção. Eu
ordeno que -você, como sua Luna, reúna a matilha para a batalha.
Estamos atacando a Matilha da Pureza.
Brutus me encara com seus olhos intensos e acaricia o queixo,
considerando meu comando. Ele parece receptivo à minha tática, até -
Ele se dobra e cai na gargalhada.
— Você comanda a mim? — Ele repete em um ataque de riso. — Mara,
você é engraçada pra caralho. Foda-se. Eu realmente precisava disso.
Fodidamente histérico.
Meu rosto fica vermelho quando a risada de Brutus finalmente morre.
— Eu não estava brincando, idiota! Estou ordenando que você
Em segundos, Brutus atravessa a sala inteira e me agarra, me
empurrando contra a parede.
— Ninguém me diz o que fazer. Nem mesmo a Luna. Você entendeu?
Já estive nessa posição com Brutus antes, e estava perto demais para
ser confortável.
— Me solte! — Eu grito.
— Isso é uma ordem oficial da Luna? — Brutus diz zombeteiramente.
— Você é um verdadeiro pedaço de merda, — eu digo, batendo-o no
peito. — Achei que você fosse um homem de verdade, mas acho que
estava errada.
— Se é um homem de verdade que você quer... Brutus me pega como
se eu fosse uma pena e me deita na cama, rastejando em cima de mim.
Porra, a sensação de um homem em cima de mim, especialmente
alguém com um corpo como o de Brutus, é inebriante.
Sua mão desliza pela minha coxa e eu não o impeço. Eu quero que ele
vá mais alto. Alto.
Brutus tira a camisa e monta em mim, sua protuberância pairando a
poucos centímetros do meu rosto. Eu involuntariamente separo meus
lábios enquanto minha mão vai entre minhas pernas, mas Brutus a
afasta.
— Não, me deixe.
Meu vestido de repente fica acima da minha cintura e Brutus beija
minha barriga, descendo do meu umbigo e chegando perigosamente
perto da minha virilha.
Meu corpo está gritando, — não pare, — mas minha cabeça e meu
coração estão dizendo...
— Pare, espere! Eu quero parar! — Eu grito quando Brutus começa a
puxar minha calcinha para baixo.
Ele me olha confuso e frustrado. — Achei que era isso que você
queria.
— E, — eu digo, me afastando e olhando para ele com tristeza. — Mas
não com você.
KACE

Rylan se senta na cabeceira da mesa, enquanto Helena e eu nos


sentamos em frente um do outro na extremidade oposta. A mesa está
coberta por um banquete de produtos frescos e pratos deliciosos,
servidos pelos monges.
Embora Rylan nos — convidasse — para este jantar chique, não parece
muito um convite quando nossas pernas estão amarradas.
Ele estala os dedos e os monges mudos nos deixam com nossa
refeição.
— Eu amo um bando que serve tão voluntariamente à Deusa, — Rylan
reflete.
— Você quer dizer um bando que serve você eu digo em um rosnado
baixo.
— Eles fizeram sua própria escolha de seguir meus ensinamentos. E
minhas palavras vêm direto da própria Deusa, — ele responde com
arrogância doentia.
— Você os doutrinou, — Helena diz, olhando para ele. — Sua
propaganda sobre ser um profeta da Deusa é besteira.
O lábio de Rylan franze quando uma expressão azeda aparece em seu
rosto. — De onde eu venho, as mulheres aprendem a segurar a língua.
— Bem, de onde eu venho, aprendemos a falar o que pensamos, — ela
retruca.
— Sim, bem, não haverá nada disso no novo mundo, — Rylan diz, seus
lábios se curvando em um sorriso.
— O que você quer dizer com novo mundo eu pergunto com cautela.
Rylan enrola a manga para revelar uma tatuagem de ampulheta, a
mesma que meu irmão, Coen, tinha.
— Esta ampulheta é o símbolo de uma ordem antiga. Somos leais à
Deusa e seus planos para limpar a terra e começar de novo. O tempo está
se esgotando. É inevitável.
Rylan se inclina para frente, e seus olhos brilham com malevolência.
— O apocalipse está próximo.
— O apocalipse? Você está louco? — Eu grito, lutando contra minhas
restrições. — E por isso que você tem matado e escravizado pessoas?
— A Deusa trará a lua desabando sobre a terra, e apenas seus
escolhidos viverão para prosperar em seu novo paraíso, — diz Rylan,
parecendo completamente enlouquecido. — Sabe, Kace, você poderia ter
sido um dos escolhidos. Você ainda pode — se apenas abraçar o que está
dentro de você.
— Você está delirando, — rosna Helena. — Kace nunca se juntaria a
você!
— Eu estou? — Rylan diz presunçosamente enquanto se levanta.
De repente, Rylan está ao meu lado, agarrando minha camisa. —
Deixe-me mostrar o que Kace está escondendo lá dentro.
Ele rasga minha camisa, expondo as veias pretas que agora estão se
espalhando por todo o meu corpo.
Helena engasga, as lágrimas brotam de seus olhos.
— Kace... o que está acontecendo? Por que você não me contou?
— Helena, sinto muito. Eu pensei que... eu pensei que eu mesmo
poderia cuidar disso.
Não há chance disso agora...
Rylan cortou a língua de cada pessoa que poderia ter me ensinado
como controlar minha escuridão.
Não há mais esperança.
— Junte-se a mim, Kace. — Conforme Rylan me propõe, posso sentir a
escuridão se contraindo dentro do meu corpo.
— Vá para o inferno, — eu cuspo. — Eu prefiro ser esmagado pela lua
do que ajudá-lo a massacrar pessoas inocentes.
— Ninguém é inocente, — Rylan diz com raiva. — Mas se é isso que
você quer...
Rylan coloca as mãos nos meus ombros e aperta com força enquanto
as veias pulsam com mais força.
— Então você acabou de ganhar um lugar na primeira fila do
apocalipse.
Capítulo 24
TESTANDO OS LIMITES
Eu tenho escalado esta maldita montanha por mais de dois dias...
O único alimento, um pequeno coelho que comi cru.
A única água, escoamento de uma cachoeira inacessível.
Minha energia está gasta.
Minha mente está confusa.
Se existe uma Deusa, apenas me responda uma coisa...
Quando vou chegar ao topo do caralho?
KADEN

Cada um dos meus membros está em chamas, parecendo que vai


explodir a qualquer momento.
Eu não posso dar mais um passo, e ainda...
Eu tenho que continuar. Eu vim até aqui. Eu não posso desistir agora.
Minhas pernas se dobram e eu caio no chão, comendo um pedaço de
terra no rosto.
Foda-se isso. Eu vou morrer nesta maldita montanha.
— Levante-se, Kaden. Isso é constrangedor para nós dois, — diz uma
voz sarcástica, mas reconfortante.
— Mara? — Eu digo, sem fôlego ao vê-la parada perto de mim.
Ótimo, agora estou tendo alucinações.
— Você realmente achou que eu iria deixar seu cochilo preguiçoso
tirar uma soneca nesta montanha enquanto volto para casa com uma
maldita matilha? — Ela diz quando de repente me encontro ficando de
joelhos.
— Soneca? Você está louca, porra? — Eu grito defensivamente. —
Estou desidratado, provavelmente a momentos de morrer!
— Oh, por favor, — ela diz, revirando os olhos. — Você esteve mais
perto da morte do que isso. Lembra quando eu esfaqueei você?
— Como eu poderia esquecer? — Eu murmuro baixinho. Não tenho
certeza de como, mas encontro forças dentro de mim para ficar
totalmente de pé.
Eu dou um passo. E depois outro.
— Por que sempre sou eu que tenho que manter sua bunda viva? —
Mara diz, suspirando.
— Normalmente é você que quase me mata!
— Sim, mas então eu salvarei -você. Deusa, tão ingrata.
Nesse ponto, a única coisa que me impede de desmaiar novamente é
meu aborrecimento com essa miragem de Mara. Ela é sempre tão
enlouquecedora?
Eu mal consigo ver direito, muito menos pensar direito, mas de
alguma forma ainda estou me movendo.
— Isso é o mais longe que eu posso te levar, — ela diz quando eu de
repente alcanço a parede mais íngreme que eu já vi. — Eu tenho outros
incêndios para apagar, vendo como você me deixou sozinha -com um
bando de lobos selvagens.
— Mas... o que eu faço agora? É um beco sem saída.
Mara aponta para trás de mim, e me viro para ver uma cesta de vime
presa a um sistema de roldana.
— Eu... eu consegui.
Quando eu me viro, ela se foi.
Eu rastejo para dentro da cesta e puxo a alavanca, deixando escapar
um suspiro de alívio enquanto subo até o topo. Mesmo que ela não fosse
real, tudo o que ela disse era verdade...
Mara sempre encontra uma maneira de me salvar.
Quando a cesta sobe ao topo da montanha, eu me puxo para fora, sem
saber o que esperar. Mas seja lá o que eu pudesse ter imaginado, não teria
sido tão ruim assim...
Uma dúzia de cadáveres de lobos e cabeças de lobos são empalados em
estacas. Eles parecem grotescos, com a língua pendurada para fora da
boca e os olhos esbugalhados para fora do crânio.
Uma placa está pendurada acima da carnificina. — IMPURE — está
escrito com sangue.
Este é o trabalho de Rylan. Ninguém mais é tão depravado.
O lobo no meio é aberto, suas entranhas penduradas em seu corpo.
A julgar pelo tamanho e pelo arranjo extremamente cruel, aposto que
este é o Alpha.
Este bando está sob o controle de Rylan agora.
Mas não vou deixá-lo vencer de novo. Tudo termina aqui.
KACE

A Matilha da Harmonia não tem celas de prisão, mas Rylan se


encarregou de converter suas câmaras de meditação em câmaras de
privação sensorial.
Estou na escuridão total.
Sem som.
Sem visão.
Sem cheiros.
Não tenho ideia de onde Helena está ou o que Rylan fez com ela.
Ela é a única coisa que está me mantendo lúcido aqui — a única coisa
que mantém a escuridão à distância. Porque quer me consumir. Ele quer
muito. E estou lutando para lutar contra isso.
A voz do meu sonho — minha própria voz — continua me
provocando, me dizendo para ceder. Para deixar a escuridão me envolver.
Sem mais dor. Não há mais sofrimento.
Mas não posso deixar isso acontecer. Não posso deixar Rylan vencer.
Há muito em jogo.
— Não há esperança. Você sabe que este é o fim.
Apenas abrace.
— Cala a boca! — Eu rosno.
— E assim que se fala com um velho amigo? Estou com você há tanto
tempo, Kace. Você não acha que é hora de uma reunião?
Essa total privação sensorial está tornando muito fácil para minha
escuridão penetrar em meu cérebro.
Mas talvez eu possa usar isso a meu favor. Afinal, ainda é uma câmara
de meditação.
Bloqueio tudo, exceto a batida do meu próprio coração.
Eu inspiro e expiro, lenta e continuamente.
Preciso me concentrar em outra coisa — algo leve.
Tento aproveitar todas as boas lembranças para equilibrar a escuridão
dentro de mim. Não tenho certeza do que isso fará, mas é tudo o que
tenho.
Concentre-se na luz.
Concentre-se na luz.
Concentre-se no...
A luz de repente entra na sala quando uma pequena janela se abre na
porta.
Não é o que eu esperava, mas vai servir.
— Olá? — Eu digo, apertando os olhos enquanto tento me concentrar.
Eu rapidamente me esquivo para o lado quando uma maçã vem
voando pela abertura. É seguido por um pãozinho. E então um odre de
água.
Que diabos?
Vou até a janela e olho para fora, mas não há ninguém lá.
Eu ouço um som de fungada, e meu olhar desce para encontrar uma
menininha parada do lado de fora da porta — não mais do que cinco ou
seis anos de idade.
Ela me encara com curiosidade, meu rosto é a única parte de mim que
é visível.
— Uh... obrigada, — eu digo, embora eu saiba que ela não pode
responder depois do que Rylan fez.
— De nada, homem estranho, — ela responde casualmente.
— Você... você pode falar! — Eu grito, quase caindo.
— Você ainda tem uma língua!
— Quando o homem mau apareceu, meus pais me esconderam, — ela
diz. — Eu não gosto dele, mas todo mundo faz o que ele diz.
— Onde estão seus pais agora? Eles podem me ajudar a sair daqui?
A menina desvia o olhar, os olhos cheios de tristeza, embora ela não
chore.
— Eles... eles não vão voltar.
— Oh, me desculpe... — eu digo, sentindo o coração partido por esta
jovem ór ã.
— Meus pais e a família do Alpha não gostavam do homem mau,
então eles mudaram, mas ele... ele...
Ela não tem que terminar. Posso imaginar as coisas horríveis que ele
deve ter feito. Eu os vi em primeira mão.
— Você tem um nome? — Eu pergunto, mudando de assunto.
— Destiny, — ela responde.
— Eu sou Kace. E também não gosto do homem mau.
Isso arranca um sorriso de Destiny, e ela acena com a cabeça.
— Eu podia sentir que você era bom, — ela diz. — Eu senti sua luz.
Ninguém nunca me disse isso antes — apenas que eles podem sentir
minha escuridão.
— Obrigado, — eu digo, tocado. — Na verdade, vim aqui para
encontrar a minha luz. E aprender o ritual de equilíbrio para que eu
possa banir minha escuridão.
Os olhos de Destiny de repente se iluminam. — Eu conheço o ritual
de equilíbrio!
— Você... você conhece? — Eu digo, atordoado.
— Cada criança na Matilha da Harmonia aprende isso, — ela diz
brilhantemente.
— Destiny... — eu digo lentamente, finalmente sentindo uma ponta
de esperança. — Você pode me ensinar?
MARA

Eu estou correndo contra o tempo.


Meu povo está morrendo — meus pais -estão morrendo — e eu estou
sentada aqui, sem fazer nada.
Eu tenho que agir, mesmo que essa ação seja drástica.
Eu não posso mais esperar por Kaden. Eu não sei onde ele está ou se
ele vai voltar, mas como líder da Matilha da Vingança, eu tenho que lidar
com isso sozinha, do meu jeito.
Lexia está certa. Não podemos fazer isso sozinhas. Nós precisamos de -
Brutus se vamos ter alguma chance de sucesso.
Quase estraguei isso antes, durante nosso último encontro, mas não
vou cometer esse erro novamente.
Passei a entender Brutus no mês passado e sei o que ele quer...
A questão é... estou disposta a dar a ele?
Estou realmente pronta para assumir esse compromisso? Para correr
esse risco? O que Kaden diria se soubesse?
Não, não posso basear minha decisão em Kaden.
Tenho que fazer o que acho melhor.
Me lembro da promessa que fiz a Milly...
Eu prometi a ela que faria o que fosse -necessário para salvar nosso
povo.
E é exatamente isso que vou fazer.

Eu me movo rápida e seguramente pelas ruas da Cidade da Vingança,


envolta e coberta pela escuridão.
Vejo uma luz acesa na janela e sei que ele está em casa, embora não
esteja me esperando.
Outra visita noturna ao covil de Brutus...
Mas desta vez, eu sei exatamente o que quero.
Eu apressadamente bato em sua porta até que ele responda, sem
camisa e boquiaberto.
— Ma-Mara? O que você está fazendo aqui? Eu pensei...
— Eu preciso falar com você, — eu digo assertivamente. — Posso
entrar?
Brutus me leva para sua toca e eu me viro para encará-lo, a confiança
crescendo em meu corpo.
— Por que você veio aqui, Mara?
Enquanto olho para Brutus, desamarro lentamente minha capa e a
deixo cair no chão.
Eu sei o que tenho que fazer.
Eu tomei minha decisão.
— Eu tenho uma oferta.
Capítulo 25
INDO FUNDO
Brutus olha para mim, intrigado, enquanto me preparo para fazer minha
oferta.
Não há como voltar agora. Já me decidi.
Já fiz concessões antes, mas esta vai ser explosiva.
Isso pode mudar tudo em meu relacionamento...
Tudo na minha matilha...
Mas eu disse que faria o que fosse preciso.
E eu pretendo.
MARA

— O que é essa oferta que -você tem para mim? — Brutus pergunta,
sorrindo com entusiasmo e me circulando.
— Acho que você ficará muito satisfeito, — respondo, sem desviar o
olhar enquanto ele se move ao redor da sala.
Brutus fica cara a cara comigo e seu dedo desliza na alça do meu
vestido.
— Estou na ponta do meu assento, — ele diz, começando a abaixar a
alça no meu ombro.
Pego a mão de Brutus e a empurro de volta contra seu peito.
— Bem, isso é estranho, — Lexia diz, entrando na sala com as mãos
nos quadris. — Começando sem mim?
Brutus vira a cabeça para trás e para frente entre Lexia e eu, confuso
como o inferno.
— O que diabos está acontecendo aqui? — Ele rosna.
— Eu disse que tenho uma oferta para você — para ambos eu digo,
sorrindo. — É por isso que convoquei esta reunião.
-Eu... pensei que você queria... — diz Brutus, gaguejando.
— Claro que sim, — Lexia diz, rindo. — Homem típico. Bem, você
pode colocar essa barraca em suas calças porque não vai ser útil para você
esta noite. H
Me sento à mesa de Brutus e chuto duas cadeiras. — Temos muito o
que discutir, então vamos em frente.
Lexia e Brutus estão sentados à minha frente, Brutus olhando Lexia
com desdém.
— Se você acha que vou trabalhar com ela então você está apenas
perdendo seu tempo, — ele rosna.
— Olha, não estou gritando para a lua sobre trabalhar com você
também, mas pare de ser um idiota por dois segundos e ouça — Lexia
diz, calando Brutus.
Agora que tenho a atenção deles, inicio meu plano.
— O que estou prestes a propor vai ser controverso, — eu digo,
olhando para eles intensamente. — E basicamente um grande foda-se -
para a tradição, para a alfândega e para o próprio cerne do sistema de
autoridade Alpha.
— Então, basicamente, é minha coisa favorita, — Lexia diz, colocando
os pés sobre a mesa e sorrindo.
— Ok, você tem minha atenção, — diz Brutus, cruzando os braços e se
inclinando.
— Por muito tempo, ninguém na Cidade da Vingança teve uma voz,
exceto o Alpha, e todos nós vimos como isso acabou, — eu digo, ficando
animada que Brutus e Lexia estão realmente receptivos. — Isso vai
mudar, a partir de agora. Eu quero quebrar o status quo — não, eu quero
demoli-lo, porra.
Lexia dá um soco na palma da mão. — Mara, você está falando a porra
da minha língua.
— Tudo isso parece ótimo e tudo mais, mas como exatamente você
vai realizar -isso? — Brutus pergunta. — Falar sobre derrubar o sistema
Alpha é uma coisa, mas realmente fazer isso é outra questão
completamente diferente. Você está falando sobre desmontar centenas
de anos de decretos e estatutos.
— É aí que vocês dois entram. Eu quero estabelecer um conselho no
lugar do acordo atual ’o que quer que o Alpha diga que vai'. E as pessoas
sentadas nesta mesa são os três primeiros membros do conselho, — eu
digo, apontando meu dedo para cada um de nós.
— Isso está cada vez melhor e melhor, — diz Lexia em aprovação.
— Há apenas um pequeno obstáculo em seu plano, — diz Brutus,
acenando com uma garra no meu rosto. — Seu companheiro — você
sabe, o Alpha de merda Você não acha que ele terá algo a dizer sobre o seu
pequeno golpe?
Ele tem razão. Essa é a parte mais arriscada de todas.
O que diabos Kaden vai pensar sobre isso quando ele voltar? Se ele voltar...
— Kaden confiava em mim para tomar as melhores decisões para o
bando, e eu realmente acredito que isso é o melhor, — digo com
convicção. — Ele pode não gostar — e definitivamente não é algo que ele
aprovaria — mas sou eu quem manda, então deixe-me preocupar com
meu companheiro.
— Achei que você estava se preparando para um casamento, mas se
preferir um funeral, fique à vontade, — ele diz, levantando as mãos em
sinal de rendição.
— Eu só preciso saber uma coisa de vocês dois, — eu digo em um tom
sério. — Estão dentro? Porque, se você for, isso significa que temos que
estar unidos. E a primeira coisa que faremos como conselho é libertar a
Matilha da Pureza de seu próprio ditador Alpha.
Lexia nem hesita. — Você está de brincadeira? Isso é o que eu sempre
quis. Foda-se o sistema Alpha. Poder para as pessoas. Estou tão -dentro.
Eu levanto minhas sobrancelhas para Brutus enquanto ele fica
sentado em silêncio. Eu sei que a Matilha da Pureza é difícil de engolir
para ele.
Finalmente, ele rosna e bate com o punho na mesa.
— Foda-se, vamos explodir tudo para o inferno. E se isso inclui as
paredes da Matilha da Pureza, então também estou a bordo.
Ainda não consigo acreditar que isso realmente funcionou, mas estou
sentindo algo que nunca senti antes...
Como uma verdadeira líder.
E é estimulante Talvez seja isso que devo fazer?
— Vamos derrubar algumas paredes, — eu digo, sorrindo.
KACE

Destiny está em um banquinho na frente da porta da minha cela para


que estejamos no nível dos olhos. Ela está tentando me ensinar o ritual
há horas, mas para algo que é ensinado para crianças, é
surpreendentemente complexo.
— Não, você está fazendo errado, — Destiny diz, suspirando. — Assim
assim
Ela junta as mãos em um movimento rápido e fecha os olhos.
Enquanto Destiny respira fundo, suas pequenas presas se projetam de
sua boca e o cabelo se ergue em seu pescoço.
Ok, estou mudando parcialmente — esse é o primeiro passo.
Eu sigo o exemplo e entro em um estado parcialmente alterado.
— Em seguida, expulse todos os sentimentos ruins, — ela diz,
sentando-se e cruzando as pernas. — Todos -eles.
— Como? — Eu pergunto, incrédula. — Eu tenho muitos para contar.
— Você só precisa de um sentimento bom para cancelar o mal, — ela
diz. — O que te faz sorrir?
Helena instantaneamente surge em minha mente e eu sinto uma
onda de felicidade. Ela está certa. Esse pensamento feliz lava todas as
minhas dúvidas.
— Ok, entendi. Qual é o próximo?
— Agora você tem que enfrentar sua escuridão, — ela diz
incisivamente. Parece tão estranho vindo da boca de uma criança de seis
anos. — Quando você encontra isso, você tem que se separar. Ou vai
assumir o controle.
Já conheci minha escuridão uma vez e não foi bom. Na verdade, meu
corpo está parecendo uma floresta de veias pretas neste momento.
Mas estou pronto para a segunda rodada.
— Lembre-se de ir fundo, — Destiny diz quando minha visão começa
a ficar embaçada.
Eu sinto minhas entranhas apertando enquanto a escuridão me
esmaga, e eu caio inconsciente.

Estou no lago das trevas novamente, parado na água negra enquanto ela
ondula abaixo de mim.
— E hora de se tornar um, Kace, — meu reflexo diz com um sorriso
malicioso. — Você sabe que sou a melhor e mais forte versão de você. Juntos,
podemos pegar o que quisermos. O mundo é nosso.
— Vá fundo, — ecoa a voz de Destiny.
À medida que meu reflexo sobe à superfície e fica bem na minha frente, eu
sei o que tenho que fazer
Eu levanto meu punho e bato na água abaixo de mim, quebrando-a como
vidro.
Estou submerso no oceano escuro, mas não luto contra isso. Em vez disso,
começo a nadar cada vez mais fundo.
— Você não pode escapar de mim! — Meu reflexo sombrio grita enquanto
agarra meu tornozelo.
Eu ignoro, continuando a mergulhar mais fundo.
-Quanto mais longe eu vou, mais sou confrontado com todas as coisas
terríveis que já fiz sob a influência da magia negra. Eu revivo isso como se
estivesse acontecendo tudo de novo.
Mas eu não paro. Eu continuo, enfrentando minha escuridão de frente.
Finalmente, eu vejo uma luz — uma pequena orbe brilhante nas
profundezas da minha escuridão.
Estendo a mão para pegá-lo...
— NÃO! — grita meu reflexo.
Estou cego por uma avassaladora inundação de luz.
Quando eu volto, deitado no chão, Destiny está olhando pela janela,
parecendo preocupada.
— Kace? Você está bem? Como você está se sentindo?
— Eu... eu me sinto... em paz, — eu digo, atordoado.
Todo o peso que tenho carregado comigo por minhas ações anteriores
finalmente se -foi.
Eu me sinto mais leve, menos sobrecarregado.
Eu me sinto...
Equilibrado.
KADEN

Quando entro na vila da Matilha da Harmonia, está assustadoramente


vazio, mas não sinto o cheiro da morte...
Bom, isso significa que não estou muito atrasado.
Mas outro cheiro de repente me atinge...
Um perfume que eu nunca teria esperado encontrar aqui.
Eu dou outra lufada de ar apenas para ter certeza de que não estou
louco, mas é inconfundível.
Kace.
O que diabos você está fazendo aqui?
Eu começo uma corrida, seguindo meu nariz enquanto ele me leva a
um conjunto de escadas de pedra que desce sob a vila.
Kace foi embora porque se sentiu vulnerável à escuridão. Ele nos
avisou sobre Rylan antes de qualquer outra pessoa.
E agora, eles estão aqui...
Só espero que ele não perca o controle novamente.
Eu pulei por um corredor, esperando o pior, mas fui interrompido por
uma criança pequena.
— Você é Kaden? — Ela pergunta, olhando para mim.
— Uh... sim, quem é você?
— Eu sou Destiny. Kace cheirou você e me pediu para levá-lo até ele.
Depressa, não é seguro, — ela diz, agarrando minha mão e me puxando
por um corredor.
Depois de algumas voltas e mais voltas, paramos em frente a uma
porta e sinto o cheiro de Kace do outro lado.
— Kaden! — Ele grita com entusiasmo. — Eu não sei como você me
encontrou até aqui, mas graças à porra da Deusa.
— Eu estava rastreando Rylan, — digo, colocando minhas garras na
porta e testando sua estabilidade. — Para trás. Eu acho que posso
romper.
Deixando meu lobo emergir o suficiente para reforçar minha força,
dou uma investida ruidosa na porta, partindo-a em uma dúzia de
pedaços.
— Eu senti sua falta quebrando coisas, irmão. Sempre foi sua
especialidade, — diz Kace, jogando os braços em volta de mim em um
abraço.
— É bom ver você seguro, irmãozinho. Mas não tenho certeza se o
mesmo pode ser dito sobre a aldeia. Quando Cheguei, estava totalmente
vazia.
— Isso é porque eles estão no banquete, — Destiny diz casualmente.
Imediatamente fico entorpecido ao me lembrar do resultado do —
banquete — na Matilha do Amor — aquele horrível festival da morte.
— Precisamos nos mover, — eu rosno. — AGORA.
Capítulo 26
DESMORONANDO
Eu fico olhando para as paredes altas que costumavam me manter confinado.
Elas me limitaram.
Elas me controlaram.
Elas me isolaram e me mantiveram ignorante para o mundo exterior.
Mas não vou mais deixar meu povo ser manipulado e enganado.
É hora de derrubar essas paredes.
MARA

Com os guerreiros de Lexia e a influência de Brutus com a matilha,


reunimos centenas de soldados que estavam dispostos a lutar por nós.
Para alguns deles, eles estavam ansiosos para a batalha por um longo
tempo — a guerra era tudo o que conheciam.
Para outros, como o grupo de Lexia, trata-se de lutar pelos
marginalizados. Muitas de sua facção vieram da Matilha da Pureza antes
de serem vendidas como escravas.
Quaisquer que sejam as razões, estou apenas grata por termos
conseguido isso.
E agora estamos aqui, parados em frente à parede, a momentos de
soltar as amarras que Rylan colocou em meu povo.
Estou usando uma armadura de couro resistente, emprestada por
Lexia, que está adornada com ombreiras pontiagudas e um macacão
preto.
— Você parece um morcego saído do inferno, — digo, admirando sua
roupa de batalha.
— Direto do inferno e aqui para salvar a Matilha da Pureza de seu
próprio destino infernal, — ela diz, balançando a cabeça. — Eu amo a
ironia.
— Estamos realmente salvando esses bastardos de sua própria
autodestruição, — diz Brutus, parecendo um pouco presunçoso. — Eles
derramaram a querosene e -acenderam o fósforo.
Ele tem razão. A Matilha da Pureza tem sorte de nos ter para apagar o
fogo. Se eles vão agradecer à Deusa por alguma coisa, é melhor que seja
isso.
— Qual é o plano? — Eu pergunto, olhando entre Lexia e Brutus. —
As tropas estão posicionadas. Devemos fazer a ligação?
— Podemos usar o aríete no ponto mais fraco da parede, a parte que
Rylan selou às pressas depois que ele saiu.
— E quando quebrarmos? — Eu pergunto.
— Então é melhor você estar pronta para lutar, porra, — Lexia
responde, tocando as lâminas que ela está amarrada ao redor de cada
coxa.
Eu aceno, e nós apertamos as mãos. — Nós já passamos por um
inferno antes. Vamos fazer isso de novo.
— O inferno é uma caminhada no parque neste momento, — Lexia
diz, rindo. — Eu não vou nem suar, estou tão acostumada com o calor.
Brutus fica amuado enquanto Lexia e eu temos nosso momento de
fortalecimento. Nós realmente passamos por tudo isso juntas.
— Venha aqui e coloque a mão dentro, seu bebê enorme — diz Lexia,
revirando os olhos e acenando para Brutus.
Ela nunca vai admitir, mas acho que ele está crescendo com ela.
Brutus se junta a nós, e nós três demos os braços.
— Tudo bem, chega de merda simbólica. Vamos chutar alguns
traseiros! — Brutus grita.
— Concordo, mas primeiro, quero falar com as tropas, — digo
enquanto me dirijo ao mar de soldados.
Eu ando para cima e para baixo nas filas, gritando a plenos pulmões.
— A Matilha da Pureza pode ter uma história de ser vadias julgadoras
e autoritárias, mas a Matilha da Vingança tem uma reputação igualmente
tórrida, se não pior. Somos malditos filhos da puta! Vamos mostrar aos
acólitos de Rylan o quão mesquinho podemos ser!
Os soldados começam a piscar e uivar em concordância.
— Eu sei que este não é o seu povo, e eu sei que eles não merecem sua
ajuda, mas não faça isso por eles — faça por vocês mesmos. A Matilha da
Vingança não trata apenas de vingança. É sobre segundas chances e
recomeçar. E hoje, vocês não lutam por um Alpha. Vocês lutam por vocês
mesmos!
Brutus acena com a cabeça a cada palavra que eu digo e me levanta o
polegar.
— Hoje é um dia em que limpamos a lousa. Este é um novo começo
para ambos os nossos bandos. Hoje nos unimos! Agora, vamos derrubar
essa porra de parede!
O solo treme como um terremoto quando soldados com aríetes
quebram a entrada lacrada e invadimos a cidade.
A Matilha da Pureza, como eu a conhecia, não é mais.
E a Matilha da Vingança como Kaden conhecia também não é mais.
Os ventos da mudança estão sobre nós...
Mas estou descobrindo que a mudança mais chocante está dentro de
mim.

A carnificina e o derramamento de sangue foram mantidos,


surpreendentemente, em um mínimo — para a decepção de muitos
membros da Matilha da Vingança.
Com a partida de Rylan, a cidade estava vulnerável e seus acólitos não
eram páreo para soldados treinados e hábeis táticas de batalha por parte
do conselho.
Enquanto caminho pela minha cidade e a vejo nesta condição —
bairros inteiros dilacerados pela loucura de Rylan — sinto uma tristeza
que nunca pensei que este lugar fosse provocar em mim novamente.
Me encontro subconscientemente fazendo meu caminho para minha
antiga casa. Ainda está de pé, embora pareça degradada e abandonada.
Meus olhos lacrimejam enquanto penso em todas as minhas
memórias aqui...
Se Kaden não tivesse me levado naquela noite fatídica, onde eu estaria
agora?
Meus pais ainda estariam na minha vida?
Meu corpo começa a tremer quando penso em minha mãe e meu pai.
Deixamos as coisas em um lugar tão ruim e...
Eu nem sei se eles estão vivos.
Quando me viro, recebo minha resposta.
Meus pais estão parados a vários metros de distância, minha mãe
segurando meu pai para se equilibrar. Eles parecem ter envelhecido dez
anos, mas ainda estão de pé.
Minha mãe de repente solta meu pai e começa a mancar em minha
direção, com lágrimas escorrendo pelo rosto. Eu corro para encontrá-la, e
caímos no chão juntas em um abraço — lágrimas, sujeira e sangue se
misturando.
Enquanto meu pai coloca os braços em volta de nós, minha mãe tenta
falar comigo através de seus soluços incontroláveis. — Mara, estávamos
tão errados. Por favor, perdoe-nos.
— Mãe, você foi manipulada e controlada por—
— Não, Mara, não dê desculpas para nós, — meu pai diz com
severidade. — Podemos ter nos enganado, mas fizemos nossas próprias
escolhas. E agora que vejo a verdade claramente, não posso acreditar que
a ignorei tão deliberadamente antes.
— Mara, você é o maior presente que a Deusa já nos deu, — minha
mãe diz, colocando a mão na minha bochecha enquanto eu luto contra
as lágrimas. — E você se tomou a mulher mais incrível. Estamos muito
orgulhosos de você.
Nós apenas sentamos nas ruínas de nosso bairro, abraçados por um
tempo.
Em toda essa devastação, de alguma forma encontramos a cura de que
precisávamos.
KADEN

Eu pulei pelos corredores enquanto Kace segue de perto atrás de mim,


carregando Destiny.
Não posso deixar Rylan escapar por entre meus dedos novamente. Ele
tem que pagar pelo que fez e, se ferir outra alma viva, arrancarei sua
cabeça fora sozinho.
— Kaden, espere! — Kace grita, diminuindo a velocidade. — Temos
que fazer um pit stop rápido!
— Um pit stop? Tá falando sério? O que poderia ser importante o
suficiente para...
— Minha companheira, — ele diz, me cortando e cheirando o ar. —
Ela está aqui. Eu posso cheirá-la.
— Sua... sua o quê? — Eu digo, completamente atordoado.
— Sua companheira Destiny repete em voz alta. — Temos que ajudá-
la.
Ok, então eu não apenas imaginei isso.
— Você está fodidamente acasalado? Desde quando?
— Menos perguntas, mais fuga da prisão, — ele responde, correndo na
minha frente e mostrando o caminho.
Paramos em uma porta de madeira ornamentada com uma fechadura
velha.
— Isso não se parece em nada com a câmara de privação sensorial em
que Rylan me colocou, — diz Kace, confuso. — Mas tenho certeza de que
ela está aqui.
— Quem se importa? Não temos tempo para isso, — eu grito,
passando por ele e batendo a porta com o corpo, quebrando a fechadura.
— ETERIT LUX!
Quando a porta se abre, um flash de luz cegante me atinge como um
soco no estômago e me faz voar para trás.
— Para trás, seu psicopata! Eu conheço feitiços mais fortes do que
aquele! — uma garota de óculos mal-humorada grita enquanto corre
para o corredor.
— Helena! — Kace coloca Destiny no chão e corre até a garota, e ele a
abraça, muito feliz, dando um beijo apaixonado em seus lábios.
— Kace, você escapou! Espere, quem são esses dois?
— O cara que você acabou de explodir seria meu irmão mais velho,
Kaden, e esta pequena senhora é Destiny. Ela me ajudou a equilibrar
minha escuridão.
— Você quer dizer... — Helena parece que quase poderia chorar.
— Sim, eu fiz isso.
— EI! — Eu rujo, ainda deitado no chão. — Por que sua companheira
apenas jogou a porra do sol em mim?
— Desculpa. — Ela acena para mim se desculpando. — Eu pensei que
você fosse Rylan. Acho que ele ia tentar fazer algumas coisas de sexo
excêntrico comigo, mas eu estava preparada.
— Você pode dizer isso de novo, — murmuro baixinho enquanto fico
de pé.
— As apresentações vão ter que esperar porque precisamos parar
Rylan antes que ele envenene o bando inteiro, — Kace diz enquanto pega
Destiny e a dá para Helena. — Você pode levá-la a algum lugar seguro?
— Tem certeza que você vai ficar bem? A escuridão...
— Eu prometo — eu tenho tudo sob controle, — eu digo com
confiança.
— Ok, eu voltarei para você, — ela diz, beijando-o na bochecha.
Helena sai com Destiny e Kace se vira para mim. — Você está pronto
para acabar com isso?
Eu aceno, sorrindo. — Vamos colocar esse filho da puta piedoso de
joelhos.
Capítulo 27
ESCURIDÃO
Kace e eu sucumbimos à escuridão no passado.
Todo o legado de nossa família foi atolado nesta escuridão por gerações.
Mas nós dois decidimos nos afastar das trevas do passado e focar no brilho do
futuro.
Um futuro que não tem lugar para Alpha Rylan.
Hoje, a escuridão acaba.
KADEN

Eu irrompo pelas portas do templo e ouço o eco da voz venenosa de


Rylan.
Ele está aqui — e não puxou o gatilho — ainda. A Matilha inteiro se
reuniu sob a convocação de Rylan para um banquete, assim como na
Matilha do Amor.
Enquanto eu olho cuidadosamente ao redor da esquina, vejo os
acólitos de Rylan postados em cada canto da sala. Kace e eu nos
protegemos atrás de um pilar para que tenhamos um melhor ponto de
vista para ver Rylan.
Ele está em uma plataforma elevada, vestindo as vestes multicoloridas
da Matilha da Harmonia, um falso profeta, espalhando mentiras.
Ele está tão ocupado vomitando seu fanatismo que nem percebe que
Kace e eu entramos.
— Irmãos e irmãs, vocês agradaram muito à Deusa com seu ato de
sacrifício, — ele diz. — Fazer votos permanentes de silêncio em
reverência à Deusa da Lua garantiu seus lugares no novo paraíso que ela
trará a esta Terra.
Rylan começa a caminhar entre os monges da Matilha da Harmonia,
apertando suas mãos enquanto ele continua seu vitríolo.
— Seu Alpha era um homem mal orientado, impuro. Ele mudou, indo
contra a aliança mais sagrada da Deusa de permanecer nesses corpos
humanos, que ela nos deu após o nascer da primeira lua no amanhecer
dos tempos.
O que diabos ele está falando? Mudar é uma parte natural da fisiologia de
um lobisomem. Aquele psicopata que se odeia...
Esses monges são um povo simples e devoto, e Rylan é um mestre
absoluto da manipulação. Mas acho que ele realmente acredita em
algumas das bobagens que está pregando, e isso é ainda mais assustador.
— Vamos beber esta comunhão juntos para que possamos nos lembrar
de nos humilhar à luz da Deusa.
Enquanto Rylan levanta um cálice, e a Matilha da Harmonia faz o
mesmo, eu saio do meu esconderijo.
— PARE! — Eu rujo, minha voz ressoando por todo o templo.
Kace está ao meu lado, e eu olho Rylan mortalmente nos olhos.
— Você é um bom ator, Rylan — e talvez você realmente acredite em
algumas dessas besteiras — mas você não está garantindo a ninguém um
lugar no paraíso, e você sabe disso. Tudo o que você está fazendo é
garantir a eles uma sepultura precoce.
— Alpha Kaden, — Rylan disse amargamente. — Fale do impuro e ele
aparecerá.
Eu me viro para me dirigir ao bando. — Este homem é um mentiroso!
Ele pensa que todos são indignos, não importa o quão devotos ou
piedosos. Ninguém se compara à Deusa no mundo de fantasia de Rylan!
— Este não é o seu sacramento, — diz Kace, juntando-se a ele. — Esse
vinho é a sua execução!
— Blasfemadores! — Rylan grita enquanto seus acólitos nos cercam.
Eu aceno para Kace, e ele acena de volta. — Você pega a direita. Vou
pela esquerda.
Trabalhamos rapidamente com os discípulos de Rylan, subjugando-os
facilmente. Todo latido e sem mordida. Pego um deles pelo pescoço
enquanto ele tenta me agarrar e o forço a se levantar.
— Deixe-me mostrar o que Rylan realmente tem reservado para você,
— eu digo, pegando uma taça de vinho de um monge.
— Aqui, — eu digo, abrindo a boca do acólito.
— Beba.
Ele tenta lutar, mas eu despejo todo o -vinho em sua garganta, e ele se
dobra, ofegante, quando eu o solto.
Um momento se passa e nada acontece, até...
O acólito começa a tossir e agarra a garganta.
Ele tece ao redor da sala descontroladamente, correndo para as mesas
e agarrando as pessoas pelas vestes, seus olhos implorando por ajuda.
Ele inclina a cabeça para trás involuntariamente e vomita sangue por
todo o chão do templo. Um momento depois, ele está deitado naquela
poça de sangue, morto.
Todo o bando se volta para Rylan, seus olhos cheios de horror e
traição.
— Seu estratagema acabou, Rylan. Renda-se! — Eu grito.
Cada membro da matilha despeja suas taças de vinho e se volta para
Rylan, estreitando os olhos. Vários deles bloqueiam as saídas, então ele
não tem para onde ir.
Uma fumaça escura e fina começa a subir dos ombros de Rylan
enquanto ele fica furioso, mas então seus lábios se curvam em um sorriso
assustador. — Seus tolos! O apocalipse é inevitável! Você não tem ideia
de quanto você já desempenhou um papel em seu anúncio — e os papéis
que você ainda tem para desempenhar!
— Não estou interessado na sua retórica! — Eu rosno, começando a
mudar. — Vamos acabar com isso, Kace.
Meus ossos quebram e minhas costas se contraem enquanto eu
arranco minhas roupas e mudo para minha forma de lobo.
— Animal imundo! — Rylan grita enquanto lança um raio de energia
negra em mim.
Eu pulo no centro do templo e pulo em Rylan, mas ele não é tão fraco
quanto parece.
Rylan me pega no ar com um feitiço escuro, me mantendo suspenso.
— Se você quiser agir como um animal, então vou esfolar você vivo
como um, — ele grita enquanto sinto meu pelo sendo arrancado do meu
corpo.
— NÃO! — Kace uiva, mudando para seu lobo enquanto ele bate em
Rylan de lado.
Meu corpo cai no chão como uma boneca de pano quando vejo Rylan
se aproximando do meu irmão.
KACE

Rylan dá um passo em minha direção com um brilho maligno em seus


olhos. Ele separou Kaden e eu antes mesmo de começarmos.
Tento dar o bote novamente, mas ele me atinge com outro raio de
energia negra.
— Você é fraco, Kace. Você poderia ter esse poder também, mas você o
recusou tolamente, — Rylan diz, de pé sobre mim. — Mas eu poderia
usar um novo boneco, então talvez eu apenas force você a aceitar.
Rylan se inclina para perto, e seus olhos ficam turvos enquanto ele
tenta controlar a escuridão dentro de mim.
— Há apenas um problema com esse plano, — eu digo, sorrindo. —
Não há mais nada para você controlar.
A surpresa de Rylan o faz hesitar por um breve momento, mas um
momento é tudo que preciso. Eu tenho uma brecha.
Eu chuto suas pernas, derrubando-o, e faço uma pausa para Kaden,
que mudou de volta para sua forma humana. Ele está ferido, sangrando
muito.
— Temos que sair daqui, — digo enquanto o ajudo a se levantar.
— Não, — ele grunhe. — Não sem Rylan.
Rylan não se levanta apenas quando é derrubado...
Ele está flutuando, porra.
Uma tempestade de energia negra envolve Rylan enquanto ele paira
acima do solo, parecendo incrivelmente irritado.
— Vocês, pagãos, vão morrer pelas minhas mãos! — Ele grita.
— Não se suas mãos estiverem amarradas, amigo!
Helena entra correndo no templo, uma aura de luz emanando de seu
próprio corpo.
— CONSTRINGES MANUM EXPELLET EUM TENEBRAE!
Anéis de luz saem de suas mãos e envolvem os pulsos de Rylan,
impedindo-o de usar magia.
Ele cai no chão em uma pilha, sua cabeça batendo na beirada de uma
mesa quando ele cai, deixando-o inconsciente.
Eu fico olhando para Helena com admiração.
Estou acasalado com a porra de um fodão.
— O que? — Ela diz friamente. — Eu disse que voltaria por você.
Kaden manca até uma mesa, ainda coberto com uma variedade de
comida para o banquete, e puxa uma lâmina de açougueiro gigante de
um porco assado.
— Kaden, o que você—
— Estou terminando isso de uma vez por todas, — ele diz
severamente.
Kaden se ajoelha ao lado do corpo de Rylan e segura a lâmina acima
do pescoço, pronto para cortar sua cabeça.
— Kaden, espere! — Eu grito. — Não faça isso!
— Por que não? — Ele rosna. — É o que ele merece!
— Talvez sim. Mas se o matarmos assim, não seremos melhores do
que ele. Isso não é justiça.
O braço de Kaden se contrai como se ele fosse fazer de qualquer
maneira, mas uma pequena mão o estende e o para.
Destiny segura suavemente a mão de Kaden enquanto ele abaixa
lentamente a lâmina e a deixa cair no chão.
— Você tem razão. Seu povo deve decidir seu destino, não eu. Vamos
deixar a Matilha da Pureza decidir como a justiça se parece, — Kaden diz
enquanto Destiny dá a ele um sorriso encorajador.
A Matilha da Harmonia, embora tenham sido irreparavelmente
injustiçados por Rylan, não parecem ter qualquer intenção de prejudicá-
lo. Eles são um povo não violento, pacifistas, e matar Rylan em seu
templo seria desrespeitoso, embora satisfatório.
A matilha se reúne ao nosso redor, colocando as mãos em nossos
corpos e nos dando apoio silencioso.
Este não é um momento para mais violência...
É
É hora de cura.
MARA

Enquanto caminho pelas ruas da Cidade da Vingança, fico


impressionada com o quanto ela mudou em tão pouco tempo.
Algumas garotas da Matilha da Pureza riem enquanto dois garotos da
Matilha da Vingança tentam se exibir, se equilibrando em uma grade e
caindo de bunda.
É um momento tão pequeno e aparentemente insignificante, mas
demonstra um grande passo à frente. Não foi uma transição fácil para a
Matilha da Vingança aceitar a Matilha da Pureza dentro de suas paredes.
Mas não é como se a Matilha da Pureza não tivesse suas próprias
reservas.
Apesar do constrangimento, estou determinado a unir os dois lados
do meu povo e, na semana passada, já vi progresso sendo feito.
Vendetas sendo postas de lado...
Velhas feridas cicatrizando...
Ambos os grupos perceberam que têm mais coisas em comum do que
pensavam.
Isso não quer dizer que Lexia e Brutus não tenham se ocupado em
apagar incêndios a torto e a direito, mas a transição foi muito mais suave
do que o esperado.
A parte mais difícil da transição foi fazer sem Kaden...
As vezes parece que ele nunca mais voltará, e a unificação do bando
tem sido uma distração bem-vinda para esse sentimento.

Quando volto para o castelo à noite, vou para o meu quarto e ligo o
chuveiro, tirando minhas roupas sujas.
Quando deixo meu cabelo cair na frente do espelho, vejo algo sombrio
com o canto do meu olho — um intruso.
Eu me viro e puxo minhas garras, mas elas já estão atrás de mim.
Sinto dois braços enormes envolverem meu corpo com força.
— Tranque suas portas, feche-as bem. Feche suas cortinas, todas as
noites.
Lágrimas caem pelo meu rosto quando ouço sua voz.
— Não olhe para fora, caso ele esteja aí. Sempre viva com medo total.
Mas essas são lágrimas de alegria.
— Nunca se desvie e tome um companheiro...
— Para que Alpha Kaden não sele seu destino, — eu digo, terminando
o velho cântico da Matilha da Pureza que eu tanto odiava.
Kaden me libera e eu me viro, vendo seu rosto pela primeira vez em
mais de um mês. Eu me enterro em seu peito, sem nem saber o que dizer.
Estou tão feliz em abraçá-lo novamente.
— Eu te amo, Mara.
— Eu também te amo, — eu digo, enxugando minhas lágrimas. — Eu
senti tanto sua falta.
Quando eu olho para Kaden, fico surpresa ao ver um sorriso bobo
estampado em seu rosto.
— Amanhã é lua cheia, — ele diz. — Você se lembra do que eu disse
que aconteceria na próxima lua cheia, quando eu voltasse?
Confuso, eu balanço minha cabeça. — Do que você está falando,
Kaden?
— Não quero esperar mais, — ele diz com um largo sorriso. — Vamos
nos acasalar.
Capítulo 28
A CERIMÔNIA DE ACASALAMENTO
Amanhã?
Ele quer ter nossa cerimônia de acasalamento amanhã?
Ele é absolutamente louco?
De todas as coisas distorcidas que Kaden fez, esta pode levar o bolo.
Oh minha deusa!
O BOLO! Não temos nem um bolo!
Isso vai ser quase impossível de fazer, e ainda...
Eu já superei o impossível antes. Mais de uma vez.
Então, por que o dia da minha cerimônia de acasalamento deveria ser
diferente?
MARA

Seguindo o anúncio surpresa de Kaden de que ele quer ser acasalado


amanhã, a Matilha da Vingança entra em um frenesi, com todos,
incluindo eu, tentando se preparar no último segundo.
Agora é a manhã do meu grande dia. e não me sinto nem um pouco
preparada enquanto observo duas dúzias de pessoas diferentes correndo
pelo castelo decorando, cozinhando, medindo e fazendo Deusa sabe o
que mais.
Claude quase teve um ataque cardíaco quando eu contei a ele, e ele
quase mudou.
Mas apesar de nossas diferenças, ele realmente superou na hora final
— literalmente, na hora final
Eu não acho que ele tinha isso nele.
De minha parte, estou apenas tentando ficar de fora e deixar que
aconteça o que acontecer.
Kace voltou com Kaden e começou a jorrar toda essa besteira sobre —
me equilibrar — e — encontrar minha luz interior, — que... Não tenho
ideia do que diabos ele está falando. Estou feliz por ele estar em casa.
E ele trouxe uma porra de uma companheira -com ele. Santo inferno.
Eu nem tive tempo para processar isso com tudo o mais acontecendo.
Claude de repente enfia a cabeça no meu quarto e seus olhos saltam
das órbitas quando me vê.
— Mara, por que você ainda não está com seu vestido de noiva? Você
está caminhando pelo corredor para o poço do fogo que queima
eternamente em uma hora Vista sua bunda preguiçosa da Luna!
Estou chocada ao ver Claude vestindo algo que não está sujo ou
manchado. Ele está usando um temo de bom gosto com abas e uma faixa
na cintura que realmente lhe cai bem. E possível que Claude não esteja
completamente desesperado?
Quando ele sai furioso, pego o lindo vestido de renda preta que está
na minha cama.
É isso... estou finalmente me acasalando. Eu não posso acreditar que este
dia finalmente chegou.
Eu cuidadosamente coloco o vestido e me examino no espelho,
ofegando com a minha aparência.
Eu não pareço apenas com uma garota da Matilha da Pureza. Eu
pareço a Luna que eu deveria ser.
Apesar de toda a loucura e caos, estou realmente feliz.
Meu companheiro está em casa.
Todos os meus amigos e familiares estão aqui.
E estou prestes a me acasalar com o homem que amo.
Mesmo que algo não saia como planejado, nada pode atrapalhar este
dia.
Lexia bate na porta e entra, assobiando ao me ver.
— Droga, garota, Kaden já viu você?
— Claro que não. Todo mundo sabe que dá azar para um
companheiro ver seu companheiro sob qualquer coisa, exceto a luz da lua
cheia no dia da cerimônia, — eu digo.
— Uau, não sabia que você era tão supersticiosa, — ela diz, me
provocando. — Você se lembrou de jogar poeira lunar por cima do ombro
também?
— Muito engraçado, — eu respondo, revirando os olhos. — Estou
apenas tentando respeitar os costumes da matilha.
— Falando em costumes da matilha, — Lexia diz, me olhando com
cautela. — Você já disse a ele? Sobre o conselho?
Merda.
Ok, nada poderia impedir este dia, exceto isso
— Eu... eu só não tive a chance ainda, — eu digo, sabendo muito bem
que é apenas uma desculpa. Eu ainda não sei como Kaden vai reagir —
ele pode estar furioso — e eu não queria que isso atrapalhasse seu
retomo ao lar ou nossa cerimônia de acasalamento.
— E um jogo perigoso manter algo tão grande em segredo, — diz
Lexia, me olhando séria. — Ele vai descobrir de uma forma ou de outra.
— Eu sei, eu sei, — eu digo, suspirando. — Eu só quero esperar até
depois da cerimônia, quando tudo estiver calmo.
— Hmm hmm, — Lexia cantarola, franzindo os lábios. — Só não
espere muito. Divulgue as notícias em seus termos, do seu jeito.
Basicamente, demitimos o Alpha e mudamos toda a infraestrutura do
bando enquanto Kaden estava fora...
Eu não acho que minha apresentação ou entrega importe.
Ele vai ficar puto.
Mesmo sabendo que é ruim, estou mantendo isso em segredo por
mais um tempo.
— Obrigada, Lexia, vou manter isso em mente.
— Você está indo para o poço agora? Eu vou acompanhá-la se você
quiser, — Lexia oferece.
— Tudo bem. Claude me marcou até o segundo em que estou no altar,
— eu digo apressadamente.
Enquanto Lexia sai, me sinto em conflito com todos os segredos que
estou guardando...
Porque eu tenho outro...
Tenho uma última coisa que preciso fazer antes de poder caminhar
pelo corredor.
Eu tenho que enfrenta-lo.

— Você tem certeza disso? — Brutus pergunta quando chegamos às


masmorras. — Estou bastante deprimido com relação ao risco, mas isso
vai contra meu melhor julgamento, e isso quer dizer alguma coisa.
— Sério, Brutus? Eu especificamente pedi a você para me ajudar com
isso apenas para que eu não -recebesse uma palestra, — eu digo, irritada.
— Bem bem. Apenas tenha cuidado. Ele dirá qualquer coisa para
deixá-la irritado. Eu conheço o tipo dele.
— Apenas distraia os guardas para mim. Só vou demorar cinco
minutos, eu prometo. Além disso, a companheira de Kace colocou todos
os tipos de feitiços de luz em sua cela — ele está completamente contido.
Eu sei que isso é loucura, mas preciso ver Rylan. Tenho que confrontá-
lo sobre tudo o que ele fez, e tenho que fazer isso sozinha.
Eu ando até o final do corredor, onde a cela de Rylan emite um brilho
fraco dos feitiços de Helena.
Ele está sentado no canto, encolhido, parecendo completamente
louco. As paredes estão cobertas de marcas de arranhões. Ele desenhou o
mesmo símbolo repetidamente — a ampulheta.
Quando paro na frente das grades, ele vira a cabeça e me lança um
sorriso desconcertante.
— A noiva ruborizada... você veio me pedir para oficializar a
cerimônia? — Ele pergunta ironicamente.
— Eu vim dizer a você que você perdeu, — eu digo friamente. —
Apesar de seus melhores esforços para nos separar, os bandos se uniram e
estamos mais fortes do que nunca.
— A Deusa trabalha de maneiras misteriosas, — Rylan responde
enquanto ri, enlouquecido. — Eu não sei por que ela escolheu você, mas
isso está tudo de acordo com o plano dela. Quem sou eu para questionar
a vontade da Deusa?
— Você vai parar com toda essa merda da Deusa da Lua? Você está
apenas usando a crença das pessoas na Deusa para manipulá-las e está
tentando justificar suas ações malignas dizendo que é a vontade dela.
— É aí que você está errada, — diz Rylan, seu tom mudando
abruptamente. — A Deusa fala comigo. Ela já faz isso a algum tempo. E
aqui, nas paredes da Matilha da Vingança, eu estranhamente me sinto
mais perto dela do que nunca. Posso sentir a presença dela, Mara, e logo
você também sentirá.
Suas palavras soam como delírios de um louco, mas sua voz é
inabalável. Ele realmente acredita no que está dizendo, e é extremamente
perturbador.
Eu me afasto e começo a andar pelo corredor, meus saltos clicando
enquanto eu ganho velocidade.
Eu quero ficar o mais longe possível de Rylan.
— O tempo da Deusa está chegando, Mara. A HORA É AGORA, — ele
grita, gargalhando.

Não tenho certeza se minha visita a Rylan me trouxe o desfecho que


eu procurava, mas certamente me deixou desconfortável.
Independentemente disso, eu disse que não deixaria ninguém
arruinar meu dia de cerimônia de acasalamento e isso inclui Rylan
especialmente.
Empurrando isso para fora da minha mente, eu respiro fundo. Em
apenas alguns momentos, estarei caminhando pelo corredor para
encontrar meu companheiro e cimentar nossa união na frente da
Matilha da Vingança e da Matilha da Pureza.
E uma grande coisa.
De repente, ouço minha deixa, e Claude sibila para mim de fora da
tenda. — Tudo bem, Srta. Mara. arraste essa bunda para o altar!
Quando saio para a passarela de pedra que leva ao altar, fico
impressionada com a visão à minha frente.
Sob a luz da lua cheia e do céu noturno, a fogueira que queima
eternamente parece realmente encantadora e bonita.
Kaden me encara, sorrindo com orgulho. Um temo perfeitamente
ajustado, cabelo liso e sua barba por fazer o tomam mais elegante do que
eu já o vi.
Kace está ao seu lado, parecendo igualmente bonito e mais feliz do
que posso me lembrar.
Eu já vi Kace sorrir? Sua nova companheira é claramente responsável por
isso.
Milly enxuga uma lágrima quando me aproximo dela perto do altar.
Ela parece radiante e cheia de vida. As experiências anteriores de Milly
poderiam ter destruído outra pessoa, mas ela é uma sobrevivente, e estou
muito feliz em vê-la superar seus traumas.
Eu tomo meu lugar em frente a Kaden, e o fogo jorrando ao meu lado
aquece meu corpo e me faz sentir animada.
Todos que amo estão aqui para comemorar este dia especial — meus
pais, com quem estou trabalhando para reconstruir meu relacionamento,
Lexia e Brutus, amigos íntimos e, agora, conselheiros próximos, e até
mesmo Evan e Leia...
Kaden pega minha mão enquanto estamos na frente do poço, e ele
sussurra para mim suavemente. — Você está pronta?
Eu aceno, sorrindo. Eu não tinha certeza antes, mas agora não tenho
dúvidas. Talvez realmente precisássemos desse tempo separados para
voltarmos a ficar juntos?
— Vamos começar, — diz o oficial da cerimônia quando nos viramos
para encará-lo. — Que todos aqui testemunhem esta união sobre estes
solos sagrados.
Enquanto o fogo dança diante de mim, as chamas chamam minha
atenção e sinto uma estranha agitação dentro de mim. Elas são
hipnotizantes, quase hipnóticos.
Eu tenho o desejo repentino de dançar junto com elas enquanto meu
corpo absorve o calor, e eu sou embalada em um estado encantado.
— Mar a...
— Você finalmente está aqui.
— Estive esperando por você.
Eu ouço uma voz sedosa, quase melódica na minha cabeça. E tão
agradável e reconfortante que não quero parar de falar.
— Quem é você? — Eu pergunto a voz.
— Eu sou a chama que queima eternamente.
— Eu sou a escuridão que existia antes do próprio tempo.
— Eu sou o criador e o destruidor de Matilhas.
Eu sou a Deusa da Lua.
Algo nesta voz parece errado. Parece doce, mas parece
indescritivelmente mal. Não pode ser a Deusa da Lua.
Mas me sinto estranhamente compelida a dar a ela o que ela quiser.
— Mara, você aceita seu papel como Luna do Bando? — O oficial da
cerimônia pergunta.
— Mara, você aceita seu papel como meu canal?
— Sim, — eu respondo, atordoada. Eu nem sei a quem estou
respondendo.
— E você toma Kaden como seu Alpha e seu companheiro, agora e
para sempre, vinculado a esta união?
— Você me convida para entrar, formando uma união de nossas almas?
— Sim, — eu respondo novamente.
A fogueira explode de repente, e eu sinto uma escuridão inundar meu
corpo enquanto meus sentidos entorpecem.
Oh minha deusa, o que eu fiz?
Mas a voz responde à minha pergunta: — Não há nenhuma Deusa aqui
Capítulo 29
APOCALIPSE, AGORA Ela está aqui — posso sentir sua presença e...
Ela é gloriosa!
O poder bruto...
A raiva desenfreada.
Eu sou apenas um humilde servo da Deusa da Lua.
Eu sou um arauto do apocalipse, uma limpeza dos pagãos, forjada a partir de
seu desagrado.
E estou ansioso para ver o mundo queimar.
RYLAN

Enquanto a terra treme sob meus pés, sei que o ajuste de contas final
está sobre nós.
Mara abraçou todo o seu potencial como um navio para a Deusa da
Lua.
A pessoa que Mara costumava ser — ela não existe mais. E isso não é
uma grande perda.
Mara sempre impediu minhas tentativas de servir à Deusa da Lua. Por
que ela foi escolhida é um mistério para mim, mas ela deveria se sentir
honrada por desempenhar um papel tão importante no fim do mundo.
Corro os dedos pelas gravuras das ampulhetas que cravei na parede.
— Há muito tempo que espero por este momento.
De repente, a luz mágica ao redor da minha cela escurece até que
esteja completamente extinta. A porta da minha cela estala e se abre
quando a fechadura cai.
Um ato da Deusa, sem dúvida.
Finalmente chegou a hora. Ela me convoca.
Estou pronto para me unir à minha Deusa.
KADEN

Os convidados da cerimônia de acasalamento correm em todas as


direções, gritando, enquanto o chão treme e começa a se abrir.
É diferente de tudo que eu já vi...
E de alguma forma, Mara é a causa de tudo.
Só que não é Mara...
Ela estende os braços para a lua. Ela se autodenomina a Deusa da Lua,
embora eu nunca tenha ouvido a voz horrível saindo da boca de Mara.
— Por muito tempo, eu fui mantida prisioneira pela Matilha da
Vingança, — ela grita, como garras em um quadro-negro. — Eles me
mantiveram longe do meu verdadeiro propósito, mas não mais. Vocês
todos morrerão no meu apocalipse, e vou adorar vê-los se transformar
em cinzas.
Deusa da Lua, minha bunda. Essa coisa é pura maldade.
— Solte minha companheira, sua boceta flamejante!
Avanço na direção de Mara, sem ter certeza de qual é o meu plano,
mas sou afastada por uma força invisível, como se eu fosse um inseto
irritante.
— Foi sua família que me expulsou para aquele buraco miserável, —
ela diz, virando-se para mim. — Vou gostar de esfolar você e seus
ancestrais um por um e, em seguida, chupar seus ossos enquanto o
mundo está desmoronando.
Ok, essa vadia realmente é um trabalho desagradável. E ela não está
brincando sobre o apocalipse.
Enquanto ela continua alcançando a lua, eu vejo que ela está
realmente ficando mais perto.
Ela vai fazer a lua colidir com a Terra. Estaremos todos ferrados se não
conseguirmos trazer Mara de volta.
— Mara! Lute! Eu sei que você está aí, — eu grito, ficando de pé.
O demônio para de puxar a lua por um momento para se concentrar
em mim. — Você está me dando nos nervos, mortal patético. Vou ter que
separar você agora, em vez de mais tarde.
Eu recuo quando Mara corre em minha direção com velocidade
alarmante, mas o demônio é distraído por um homem rastejando até a
beira do poço.
— Oh grande e poderosa Deusa da Lua, seu servo veio para se
humilhar em sua presença, — Rylan diz enquanto se prosta no chão,
curvando-se para o demônio.
Ele realmente acha que estava falando com a Deusa da Lua esse tempo
todo. Idiota do caralho.
— Agora que você encontrou seu recipiente, podemos finalmente ficar
juntos— em carne e osso Rylan diz, olhando para Mara.
Oh inferno, não. É com a porra da minha companheira que você está
falando — possuído por demônio ou não Antes que eu possa chegar até
Rylan, no entanto, o demônio solta uma risada de gelar os ossos.
— De joelhos, meu fiel servo, — ela diz, aproximando-se dele.
— Sim, oh sim, — Rylan geme em um fervor quase sexual.
Mara coloca as mãos em volta do pescoço de Rylan e começa a apertar.
— Oq-o que você... — ele chia, ofegando por ar.
— Você me seguiu cegamente e, por isso, agradeço. Poucos outros
seriam tão tolos. Mas sua utilidade acabou. Estou cansada de sua
reverência incessante.
— Mas... mas eu vivo para servi-la, minha deusa, — Rylan grasnou.
Os olhos de Mara se iluminam com uma alegria maligna. — Não há
Deusa.
— N-não, — ele gagueja enquanto seus olhos se arregalam com a
revelação.
Levantando o corpo inerte de Rylan com um braço, ela o joga na
fogueira. Sua pele derrete de seu corpo assim que atinge as chamas, e
seus ossos derretidos afundam no abismo.
Mara, por favor... encontre o seu caminho de volta para mim.
KACE

Quando uma fissura se abre no chão, ameaçando nos engolir inteiros,


pego Helena pela mão e pulamos para o outro lado.
— Helena, temos que voltar para Mara, — grito. — Essa não é a Deusa
da Lua. É— — Varmagedda, o demônio que sua família baniu centenas
de anos atrás, — ela diz, terminando por mim. — Kace, este é um mal
extremamente antigo. Não sabemos quase nada sobre como pará-lo.
— Minha família já fez isso uma vez, certo? Podemos fazer isso de
novo.
— Eu posso tentar usar minha magia de luz para protegê-lo, — Helena
diz, olhando para a fogueira. — Mas nós temos que ir agora. Parece que
Kaden está tentando distraí-la.
— Helena, você não pode — é muito perigoso, — protesto.
— Kace, estamos nisso juntos. Eu sabia no que estava me inscrevendo.
— Você sabia -que estaríamos enfrentando um demônio primordial,
decidido a acabar com o mundo possuindo minha cunhada e derrubando
a lua na Terra? — Eu pergunto com admiração fingida.
— Não é hora para piadas, Kace! Este é o maldito apocalipse! — Ela
diz, me advertindo.
Helena começa a correr em direção a Mara, uma aura de luz
aparecendo ao seu redor.
— Se não for o apocalipse, então quando? — Digo, irritado. — Só
estou tentando iluminar as coisas porque, você sabe, a porra da lua -está
prestes a cair sobre nossas cabeças.
— Estou totalmente ciente, — ela grita de volta.
— Agora não vamos bagunçar tudo porque só temos uma chance.
Helena ataca Mara com uma onda de luz, jogando-a de costas contra
o altar de pedra. Ela segue com um feitiço de amarração, amarrando
Mara ao altar.
— TODOS VÃO MORRER! — Varmagedda grita.
— VOU COMER VOCÊ VIVO!
— Mara, ouça minha voz! — Kaden grita.
— Kace, nós só temos alguns segundos, então pense rápido, — diz
Helena, seu corpo inteiro tremendo incontrolavelmente.
O ritual de equilíbrio...
Talvez eu possa usar em Mara.
Eu coloco minhas mãos em seu peito, e elas começam a queimar, mas
eu não a solto.
Deusa — ou, porra, qualquer poder superior que exista — espero que
funcione.
MARA

Estou parado no topo de um oceano de água escura, mas não estou


afundando.
Onde diabos estou?
Apenas alguns momentos atrás, eu senti como se tivesse sido
despojado de toda a minha agência — minha voz, meu corpo, meu livre
arbítrio — e forçado em uma caixa minúscula, onde eu estava gritando,
mas ninguém podia me ouvir.
Então, onde quer que seja, é infinitamente melhor do que isso.
— Mara? Essa é realmente você?
Kace de repente emerge do líquido escuro, e ele parece muito calmo
sobre isso.
— Você está realmente aqui? — Eu pergunto, confusa.
— E onde está aqui?
— Esta é a sua mente — e sim, estou aqui — mais ou menos. É
complicado.
— O que está acontecendo lá fora? Não me lembro de nada depois da
cerimônia de acasalamento.
— Uh, bem... você meio que foi possuída por um demônio antigo com
uma vingança contra nossa família, que também estava manipulando
Rylan, para que pudesse iniciar o apocalipse.
Eu gostaria de dizer que estou chocada, mas, honestamente, parece
certo.
— Mara! Mara, você pode me ouvir? Lute! Lute contra a escuridão!
— Kaden? — De repente, percebo que todos que amo estão em perigo
— e sou eu que estou com o dedo no detonador.
— Isso é bom! — Kace diz esperançosamente.
— Se você pode ouvir Kaden, significa que está recuperando o
controle.
— Apenas me diga o que eu tenho que fazer, — eu digo, ganhando
coragem. — Eu farei o que for preciso.
— Você tem que enfrentar seus demônios — neste caso, literalmente,
— ele responde. — Mas eu não posso ir com você. Você tem que fazer
isso sozinha.
Kace se ajoelha e bate na água, criando um efeito cascata.
— Toda a sua escuridão, todas as dúvidas que você já teve, está tudo
abaixo da superfície. Você tem que mergulhar fundo e enfrentá-la de
frente.
Sem hesitar, eu levanto meu pé e o coloco contra a água o mais forte
que posso. Ele se estilhaça como vidro e eu caio nas profundezas escuras.

Sinto que estou afundando há dias, embora tenham se passado apenas


alguns segundos. Vejo cada medo, dúvida e pensamento ruim que já tive.
Cada memória ruim é repetida em detalhes excruciantes.
Mas eu aguento...
Porque eu tenho que voltar para Kaden. Eu me recuso a deixar esse
demônio escolher meu destino — ou o destino do resto do mundo, por
falar nisso.
Na escuridão, uma forma começa a tomar forma. É abstrato no início,
mas depois começa a ficar claro — é o demônio.
Ela é enorme, seu pelo tão afiado quanto lâminas de barbear. Sua
forma é de lobo, embora seu focinho tenha o dobro do comprimento e
sua mandíbula aberta pareça que leva a uma fornalha ardente.
Sua barriga está coberta pelo que parece ser milhões de mamilos,
como se ela já tivesse amamentado milhões de filhotes.
— Quem é Você? — Eu pergunto.
— Eu sou Varmagedda, — ela responde com uma voz profunda e
forte. — Eu sou a mãe de todos os lobos. Eu criei a vida — é meu direito
tirá-la.
— E o que você quer comigo?
— Você se uniu àqueles que me baniram para o inferno. Infelizes
ingratos que deixaram sua mãe queimar na tortura eterna. Eu quero
minha vingança.
— Kaden e Kace não são responsáveis pelo que aconteceu com você.
Nem eu, — eu digo enquanto a enorme forma de Varmagedda se inclina
e ela me olha furiosamente.
— Eu posso te prometer uma coisa, garota. Eu não vou descansar até
que eu mate todos os membros dessa linhagem, incluindo seus membros
atuais...
Um medo intenso de repente se apodera de mim por dentro. Uma
sensação estranha, uma onda de náusea enquanto minhas entranhas se
agitam e tenho vontade de vomitar.
— E seus futuros -descendentes.
Capítulo 30
APOCALIPSE, MAIS TARDE
— Eu posso te prometer uma coisa, garota. Eu não vou descansar até que eu
mate todos os membros dessa linhagem, incluindo seus membros atuais...
— E seus futuros descendentes.
Seus futuros descendentes...
A aversão de Varmagedda pela família de Kaden é tão profunda que ela até
gostaria que seus filhos não nascidos morressem?
Este demônio precisa dar o fora do meu corpo...
Para que eu possa mandá-la de volta para o inferno.
MARA

Flutuando no mar escuro, Varmagedda me circunda como uma


caçadora e sou sua presa.
Mas este é meu -corpo. Ela está em meu domínio, não o contrário.
— O que você ganha com toda essa matança sem sentido? — Eu
pergunto, tentando mantê-la distraída enquanto penso em um plano.
— Criança ignorante. Você é da Matilha da Vingança e me pergunta o
que eu tenho a ganhar com a vingança Sou uma divindade caótica — vivo
para a morte e a destruição.
Parece que você é apenas uma vadia mesquinha.
— Bem. você vai ter que encontrar um novo recipiente porque este só
tem espaço para uma boceta vingativa e essa sou eu, — digo, olhando
para ela.
— Admito que não sei como você conseguiu se materializar neste
reino, mas você não representa uma ameaça para mim, — diz
Varmagedda, lambendo suas garras enquanto me avalia. — Vou esmagar
você, assim como vou esmagar todos os seus amigos.
Eu me pergunto o que está acontecendo fora da minha mente...
Ainda estou causando estragos e causando o apocalipse?
Ou Varmagedda está distraída por mim. aqui, significando que o
mundo está temporariamente seguro?
Só posso esperar pelo último.
— É melhor você ir em frente e me esmagar então porque, se você não
fizer isso, eu nunca vou descansar até que você esteja -morta, — eu digo,
nadando em direção a ela.
— Se você insiste, — ela diz com uma pitada de prazer perverso.
Quando ela levanta sua enorme pata e a desce na minha cabeça, um
campo de força invisível a impede de me tocar.
Ela grita como se tivesse pisado em um prego.
Talvez eu tenha algum poder na minha própria cabeça, afinal?
Apesar de tê-la bloqueado, ainda sinto como se alguém tivesse tirado
o fôlego de mim. Provavelmente não posso continuar assim por muito
tempo.
Kaden, se você pode me ouvir, eu estou lutando de volta! Estou lutando
por você! Por nós...
Varmagedda uiva de raiva e abre sua mandíbula colossal, mordendo
meu corpo. Uma bolha invisível a impede de me morder, mas posso ver o
campo de força começar a rachar.
— Mara, este é o Kace! Se você pode me ouvir, você precisa banir o
demônio. Diga essas palavras...
— Revertere ad infernum. Corpus hinc elect.
— Revertere ad infernum! Corpus hinc elect!
Eu grito.
O pelo nas costas de Varmagedda sobe enquanto seus olhos brilham
de raiva.
— Você nunca pode me banir de verdade, criança!
Eu terei minha vingança!
— Saia do meu corpo, sua vadia de merda!
Revertere ad infernum! Corpus hinc eleci!
— Mara, eu acredito em você! Kace grita.
— Eu não te conheço ainda, Mara, mas eu realmente gostaria de ter a
chance. Por favor, volte para nós em segurança! — A companheira de Kace,
Helena, diz.
— Volte para nós, Mara! Perdemos tanto tempo para compensar — meus
pais imploram.
— Mara... — A voz de Kaden faz meu coração palpitar — Eu nunca
deveria ter deixado você. Eu precisava me encontrar, encontrar meu
propósito, e pensei que parar Rylan iria cumprir isso, mas a verdade é que
estou mais perdido do que nunca.
Meu coração dói com a voz dolorida de Kaden. Enquanto ele estava
fora, eu realmente me encontrei de uma maneira que não pensei ser
possível, mas parece que ele nunca encontrou o que estava procurando.
— Eu preciso de sua ajuda, Mara. Se você não encontrar o caminho de
volta para mim, então nunca encontrarei o meu caminho também. Eu não
posso viver sem você!
Sinto uma força renovada surgindo em minhas veias. É hora de voltar
para meu companheiro.
— Tem sido divertido, mas você atrapalhou minha cerimônia de
acasalamento e, por isso, tenho que te mandar de volta para o inferno, —
digo, sentindo o poder de todos os meus amigos e familiares.
— REVERTERE AD INFERNUM! CORPUS HINCEIECI!
A água escura começa a girar rapidamente como um redemoinho,
sugando Varmagedda para o seu centro.
— Eu não terminei com você, criança! O inferno não pode me
segurar!
Conforme Varmagedda desaparece, fecho meus olhos e faço o mesmo.
KADEN

— Preciso de sua ajuda, Mara. Se você não encontrar o caminho de


volta para mim, então nunca encontrarei o meu caminho também. Eu
não posso viver sem você! — Eu grito, à beira das lágrimas.
Os pais de Mara, Kace e Helena se amontoam em volta de mim
enquanto seguro seu corpo sem vida.
O apocalipse parou, mas o coração de Mara também.
— Você não pode me deixar, — eu digo enquanto as lágrimas
começam a cair. — Assim não.
De repente, os olhos de Mara se abrem e ela tenta respirar, tossindo
água negra.
— Oh, graças à Deusa, — chora a mãe de Mara.
Eu lanço a ela um olhar sujo. Não é realmente o melhor momento
para agradecer a maldita Deusa.
— Bem, isso foi muito estranho, — diz Mara, sentando-se enquanto
eu a apoio.
— E ae se foi? Varmagedda? — Kace pergunta.
Mara acena com a cabeça fracamente e olha para mim. — Kaden,
podemos ir para casa agora?
Eu a pego e a carrego em meus braços.
Sempre planejei carregar Mara além da soleira, mas nunca esperei que
isso acontecesse assim.
— Podemos ir aonde você quiser, minha Luna.
— Você sabe o que é engraçado? — Ela diz, sorrindo enquanto aninha
a cabeça no meu peito.
— O que?
— Não foi a Deusa que me guiou em segurança para casa — foi você.
KACE

Enquanto caminho de -volta para o castelo com Helena, seguro sua


mão, pensando em como ela é incrível e como nunca vou merecê-la.
— Eu realmente te amo pra caralho, você sabe disso, certo?
Ela sorri enquanto empurra os óculos quebrados no nariz.
— Eu também te amo — embora sua família seja louca.
— Então você está dizendo que quer planejar nossa própria cerimônia
de acasalamento? — Eu pergunto, brincando com ela.
— Kace, posso prometer a você que nunca vou colocar os pés perto
daquele poço de fogo eternamente ardente novamente, — ela diz
vigorosamente.
— Acho que não podemos mais chamá-lo assim, — digo. — Certo.
O fogo que queima eternamente não era tão eterno, afinal.
Estranhamente extinguiu-se depois que Mara recuperou a consciência.
— Você acha que Varmagedda realmente se foi? — Eu pergunto. — A
escuridão tem atormentado minha família por milhares de anos. Não
acho que vá embora tão facilmente.
— Você provavelmente está certo, — diz Helena, apertando minha
mão. — Mas você é a prova viva de que sua família pode superar as
trevas. E Mara também.
— Vamos começar a revisar nossa demonologia na biblioteca — só
para garantir, — eu digo, só meio brincando.
— Enterrar meu nariz em um livro? Você não precisa me perguntar
duas vezes, — ela responde, rindo.
Espero que ela esteja certa sobre minha família superar as trevas, mas,
apesar da minha inquietação, estou ansiosa para ver o que o futuro
reserva para nós.
Já parece muito mais brilhante com Helena nele.
MARA

Quando acordo ao lado de Kaden, um sorriso cruza meu rosto. Eu


coço levemente suas costas musculosas enquanto ele acorda.
— Como você está se sentindo? — Ele pergunta enquanto se vira para
mim.
— Normal, — eu digo suavemente. E essa é realmente a melhor
sensação depois de tudo o que aconteceu.
Talvez se eu começar a me sentir normal de novo, todo o resto voltará
ao normal também? Só podemos esperar.
Eu ainda tenho tanto que preciso falar com Kaden sobre...
Ele ainda não sabe do conselho e das mudanças que fiz enquanto ele
estava fora.
Mas há uma hora e um lugar para uma conversa como essa, e não é
agora.
Agora, eu não quero falar.
Eu quero o que venho desejando constantemente há mais de um mês
desde que Kaden foi embora.
Minha mão agarra seu pau e começa a massagear, sentindo-o
endurecer instantaneamente.
— Oh, eu não tinha certeza se você... estaria de bom humor, — disse
Kaden, surpreso.
— Você está de brincadeira? Eu tinha um demônio dentro de mim antes
do meu próprio companheiro na noite da minha cerimônia de
acasalamento, — eu digo, rastejando em cima dele e tirando minha
camisa. — Se não federmos agora, vou perder a cabeça.
Eu gemo quando os dedos de Kaden começam a beliscar meus
mamilos e seu pau esfrega contra minha virilha.
— Então é melhor começarmos a foder, — ele diz, sorrindo. — Mas
não posso prometer que você não vai perder a cabeça.
— Alguém está confiante, — eu repreendo, ficando ainda mais
excitada. — Mostre-me o que você pode fazer. Já faz tanto tempo que
acho que esqueci.
— Deixe-me refrescar sua memória, — diz Kaden, me empurrando
nas minhas costas e espalhando minhas pernas.
Ele começa a sacudir sua língua dentro de mim, ocasionalmente
inserindo alguns dedos, me molhando e aquecendo para seu pau enorme.
Eu cavo minhas garras nos lençóis enquanto meu companheiro me dá
prazer com sua boca. Mas eu quero mais.
— Kaden, eu preciso de você dentro de mim! — Eu gemo.
Ele me levanta e me beija com paixão, nossa doce saliva se misturando
enquanto vorazmente lambemos e mordemos um ao outro.
— Fique por cima. Eu quero que você me monte, — ele comanda.
Eu agarro o eixo de Kaden e lentamente começo a deslizar para
dentro, mas algo parece errado...
— Não pare, — diz Kaden, grunhindo.
De repente, me sinto enjoada enquanto meu estômago se agita como
um mar tempestuoso.
Oh minha deusa, eu vou
Eu me levanto e corro para o banheiro, me curvando sobre o vaso
sanitário e vomitando excessivamente.
— Você está bem? — Kaden grita.
— Sim, estou apenas sentindo um pouco de náusea, — respondo de
volta.
Mas não é só isso...
Tive a mesma sensação nauseante, quase estranha, quando a demônio
me falou sobre os futuros membros da minha família.
Acho que já sei há um tempo. Faz semanas que não menstruo.
Estou... grávida?
Livro 4 – Sem Revisão
Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda!
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros
Capítulo 1
CASAMENTO INTERROMPIDO
Líderes de cada matilha se unem em celebração...
Sorrisos e risadas estão em todos os lugares para onde eu olho.
Há amor no ar.
Pela primeira vez em muito tempo, há esperança.
Mas meu companheiro está sozinho.
Carrancudo.
Como vou dizer a verdade a ele quando ele não consegue nem me olhar?
Como vou dizer a Kaden que estou grávida?
MARA

— Mara, você está bem?


Me viro para ver Althea ao meu lado, um brilho curioso em seus olhos.
Ela está deslumbrante hoje, ainda mais do que o normal.
Seu cabelo ruivo cai em cascata ao redor de seu rosto em forma de
coração, seu vestido verde delicado acentuando perfeitamente suas
curvas.
Desde que deu à luz o primeiro filhote do Alfa Landon, Willow, a
Luna tem brilhado positivamente.
Eu me pergunto se vou ficar tão bem depois de...
— Estou bem, Althea, — digo, um pouco rápido demais, tentando
interromper minha própria linha de pensamento. — Só estou voltando
para o ritmo das coisas, sabe?
— Bem, — ela diz, não convencida, — esta certamente é uma maneira
de fazer isso.
Ela olha para os jardins de nossa matilha, bem cuidados e lindamente
decorados para este evento. Centenas já se reuniram para comemorar
este dia.
A cerimônia de acasalamento de Kace e Helena.
Estamos todos esperando a noiva e o noivo aparecerem — a qualquer
minuto agora — e todos estão vibrando de alegria e entusiasmo.
Já faz um tempo que não temos nada para comemorar.
Desde que banimos Varmegadda de volta para o lugar de onde ela
veio, um mês atrás, as coisas têm estado um pouco tensas na Matilha da
Vingança.
Mas sendo verdadeira, o mundo quase acabou. Então...
Acho que um pouco de normalidade é necessário.
Dada a forma como a última cerimônia foi, decidimos renunciar à
tradição desta vez e celebrar longe da fogueira.
Estou com um pouco de ciúme por Kace e Helena terem esse jardim
lindo, enquanto eu tive que lidar com a porra do Claude.
E um demônio ancestral.
Mas hoje não é sobre mim. Hoje é sobre nossos amigos.
Todo mundo está aqui, consigo ver: Brutus, ocupado encantando as
calças de algumas garotas estudiosas da Matilha da Sabedoria.
Lexia, de olho no perímetro com a Matilha da Igualdade — sempre
cautelosa, mesmo quando não há nem um sopro de perigo.
Destiny, a pequena menina da Matilha da Harmonia, que ajudou Kace
a escapar das garras de Alfa Rylan.
Alfa Hart, o novo líder com lágrimas nos olhos da Matilha do Amor,
que está lentamente se reconstruindo das cinzas.
Ele é muito mais sentimental do que Malik era, com certeza.
Alfa Landon da Matilha do Poder, companheiro de Althea, falando
com Alfa Evan da Matilha da Liberdade.
Todo mundo está socializando. Todo mundo está feliz.
Todos menos meu companheiro.
Nós nos olhamos por um breve momento, e eu me lembro de como
seus olhos escuros são lindos, como seu olhar é penetrante.
Eu gostaria que Kaden olhasse para mim para sempre.
Mas ele pisca, quebrando o feitiço, e se afasta, pensativo.
Silencioso. Ainda está furioso comigo, claramente. E não falando com
ninguém, por falar nisso.
Althea percebe nossa troca.
— Problemas no paraíso? — Ela pergunta.
Eu tento encolher os ombros. — Kaden está... um pouco preocupado,
só isso.
— Por favor, Mara — Althea diz, acariciando. — Nós duas sabemos
que você é péssima em mentir. Vou te lembrar de como nos conhecemos.
Oh sim.
Fui enviada por Kaden, sob o feitiço de Coen, para assassinar Willow
antes mesmo de ela nascer — ainda em gestação no útero de Althea.
Bons tempos!
— Parece uma vida atrás, — eu digo, ainda me sentindo culpada pra
caramba.
— Já passamos dessa fase, — ela diz com um pequeno sorriso. — E
você sabe disso. Eu te vejo como uma amiga, Mara.
Estou aquecida com as palavras de Althea, sua disposição para
perdoar. Mas não gosto daquele olhar penetrante em seus olhos, ou da
maneira como seu olhar desce para a minha barriga.
— É por isso que, — ela continua, — como amiga, acho que você
deveria me dizer de quanto tempo você está?
Merda! Não está nem aparecendo ainda! Será? Como Althea sabe que
estou grávida?
— Não se preocupe, — ela diz. — Seu segredo está seguro comigo,
Mara. A maioria das pessoas não será capaz de te cheirar da maneira que
eu posso. Vantagens de ser uma nova mãe.
— Eu não disse a Kaden ainda, — admito. — Ele está furioso comigo
agora. Desde que criei o Conselho sem contar a ele.
Para ser justa, Kaden abandonou sua própria matilha e me deixou no
comando.
Não era como se eu quisesse desafiar sua autoridade.
Mas se eu não criasse esse conselho e desse mais poder a Lexia e
Brutus, nunca teríamos sido capazes de libertar a Matilha da Pureza das
garras de Alfa Rylan.
Ainda assim, quando Kaden descobriu o que eu tinha feito, ele quase
derrubou toda a casa da matilha de tão indignado.
Até agora, não conseguimos nem mesmo agendar uma única reunião
do conselho.
Kaden se recusa a reconhecer os papéis de Lexia ou Brutus neste novo
governo que formamos.
E ele também não está me reconhecendo muito.
Então, como diabos vou contar ao meu companheiro sobre o nosso
bebê?
— Você saberá quando chegar a hora certa, Mara, — Althea diz. —
Basta viver um dia de cada vez. Eu sei que Kaden voltará ao normal.
Eventualmente.
— Espero que sim, — digo com um suspiro.
Mas quando nossos olhos se encontram de novo, e meu companheiro
olha para mim, tenho a sensação de que não será tão cedo.
Suas mãos se fecharam em punhos trêmulos, seus olhos escuros
queimam de raiva. Se olhares matassem, eu estaria cozinhando no espeto
agora mesmo.
Merda, Kaden fica sexy quando está com raiva.
KADEN

Eu não deveria estar com raiva de Mara. Eu deveria estar ao lado dela
agora, abrindo um sorriso e parabenizando meu irmão por seu grande
dia.
Mas não consigo superar essa porra de negócio do conselho.
A ideia de que eu, Alfa Kaden, o Alfa, devo sentar em uma mesa e
discutir todas as minhas decisões com antecedência com Lexia e aquele
pedaço de merda rebelde do Brutus...
Isso me faz querer cancelar esse maldito casamento antes mesmo de
começar. Só porque eu estive fora por algumas semanas não dá a Mara o
direito
— Olha! — Althea diz. — E Kace! A cerimônia está prestes a começar!
Minha linha de pensamento é interrompida quando vejo meu irmão
caminhando pelo corredor em seu smoking.
Ele nunca pareceu mais feliz.
E, caramba, goste ou não, estou feliz por ele.
Já era hora de meu irmão se casar com sua companheira.
KACE

Eu não posso acreditar que este dia finalmente chegou.


Por anos, pensei que nunca encontraria minha companheira.
Quando Althea rejeitou meus avanços anos atrás, quando ela quebrou
meu coração, tive certeza de que a solidão seria meu estilo de vida.
Pensar em tudo que superei para chegar a esse momento.
No momento de me casar com Helena e solidificar nosso vínculo na
frente de todas as matilhas.
Ainda estou surpreso que Kaden e Mara puderam ser tão gentis e nos
convidar para ter nossa cerimônia aqui.
Especialmente depois das coisas terríveis que fiz sob a influência de
Alfa Rylan.
Mas isso é passado, ao que parece. Graças a habilidade com feitiços de
Helena, ajudamos a salvar a Matilha da Vingança do apocalipse e agora...
Agora, podemos finalmente colocar todo o drama para trás e começar
nossas vidas juntos.
— Kace!
Eu olho para a minha esquerda para ver uma garotinha familiar
correndo, radiante.
É a Destiny. Minha salvadora da Matilha da Harmonia.
Sem ela, eu nunca teria conseguido sair daquelas celas.
Desde aquele dia, ela veio para ficar comigo e com Helena, quase se
tornando como uma filha para nós. Não que tudo esteja perfeito.
Seu treinamento entre os monges da Matilha da Harmonia deixou a
garota um pouco... estranha, para dizer o mínimo. Mas sabemos que ela
tem boas intenções.
— Você está animada, Destiny? — Eu pergunto, ajoelhando-me para
olhá-la nos olhos.
Estamos no meio do corredor, ladeado em dois lados por muitos
assentos brancos que dividem os jardins ao meio. Tudo levando a um
lindo altar decorado com flores no final.
— Estou preparada para jogar flores como me disseram, — Destiny diz
rigidamente. — Muito preparada.
Eu ri. — Bom, Helena e eu ficaremos de olho.
Começo a me levantar e Destiny agarra minha mão, segurando-a com
força. — Obrigada, Kace.
— Por que?
Ela dá de ombros e sai correndo, me deixando ainda mais confuso.
Mas não há tempo para processar a estranheza da menina. Agora,
tenho uma cerimônia de acasalamento para começar.
Quando finalmente chego ao altar, minha barriga está dando voltas.
Estou tão animado e nervoso para ver minha companheira em seu
vestido.
Alfa Hart, o novo líder da Matilha do Amor, está oficializando a
cerimônia.
Mas me preocupo, com base em sua expressão excessivamente
sincera, que ele possa levar seu papel muito a sério.
Não faça a cerimônia durar para sempre, cara. Tenho uma companheira
para marcar.
A multidão fica em silêncio enquanto algumas mulheres ofegam, eu
me viro para ver do que se trata tanto barulho.
É ela.
Minha companheira.
Minha boca se abre em descrença quando a vejo caminhando em
minha direção.
Um véu de renda cobre seu rosto, mas ainda posso ver o sorriso doce
da bibliotecária por baixo.
O vestido é longo e branco e se arrasta atrás dela como uma
vestimenta real de uma rainha.
Que é precisamente o que ela é agora.
Rainha.
Seus seios, normalmente pequenos e empinados, são pressionados
pelo corpete.
Eles parecem que estão prestes a aparecer na frente de todos. Isso faz
meu lobo rosnar de fome carnal.
Em breve, eu prometo a mim mesmo. Ela será toda sua em breve, Kace. E
então podemos arrancar esse vestido imediatamente...
Por fim, ela chega na minha frente e coloca as mãos nas minhas.
O vínculo de acasalamento ganha vida, como um choque elétrico,
fazendo meu coração disparar e meus cabelos se arrepiarem.
Esta mulher. Esta linda mulher. Ela está realmente prestes a ser
minha.
— Um acasalamento, abençoado aos olhos da Deusa da Lua, está
sobre nós hoje! — Alfa Hart recita. Mas quase não o ouço.
Tudo que eu posso ouvir é o THUMP! THUMP! THUMP! Do meu
próprio batimento cardíaco, o sangue correndo para meus ouvidos. E
quando, finalmente, ela levanta o véu...
Meu coração literalmente salta uma batida.
Helena nunca esteve mais bonita.
— Eu quero, — ela diz.
Percebo que é minha vez de responder e gaguejar. — Eu, uh, claro, eu
a amo!
Ela sorri. Eu derreto.
— Então, pelos poderes investidos em mim, — Alfa Hart diz, quase
engasgando. — Eu os declaro formalmente marido e mulher! Você pode
beijar sua companheira!
Eu não preciso ouvir duas vezes.
Puxo Helena em meus braços e trago meus lábios nos dela, beijando-a
com mais paixão do que nunca.
Nossas línguas acariciam suavemente enquanto o calor de nossos
corpos se transforma em uma chama abrasadora.
Quando eu finalmente me afasto, Helena sorri, suas bochechas
vermelhas. — Kace, — diz ela. — Você acha
Eu posso ler sua mente. — Sim, — eu respondo, sorrindo. — Vamos
sair daqui!
Nossos amigos comemoram e jogam pétalas de rosa em nós.
Mas quando pego sua mão e me preparo para correr de volta pelo
corredor, noto uma figura escura no final do corredor.
Eu franzo a testa em descrença.
— Alfa Ip?!
E meu antigo mentor da Matilha da Disciplina.
Eu o convidei, é claro, mas dada sua severa dedicação aos deveres de
seu bando, eu nunca esperei que ele realmente aparecesse.
Mas aqui está ele, caminhando lentamente pelo corredor, parecendo
tão estoico e severo como sempre, sua barba branca mais comprida do
que eu me lembrava.
— Estou tão feliz que você pôde vir! — Eu digo. — Permita-me
apresentar-lhe a minha...
Mas as palavras se dissolvem em minha boca quando vejo o que Alfa
Ip segura em sua mão esquerda.
Uma adaga.
Eu vejo o corpo de Kaden enrijecer quando seus olhos pegam a adaga
brilhando à luz do sol.
Vejo Lexia correndo em sua direção.
Eu vejo o sorriso da minha companheira se transformar em medo
quando Alfa Ip levanta a adaga.
— Cuidado com a Matilha do Caos, — Alfa Ip entoa, quase como se
estivesse rastreando. Mas seus olhos traem o pânico que ele está
experimentando.
O que diabos está acontecendo?! O que Alfa Ip está prestes a...
Então, sem outra palavra, o velho leva a lâmina até o pescoço e corta a
própria garganta.
Capítulo 2
RASTRO DE SANGUE
Sangue.
Há sangue por toda parte.
As pessoas estão gritando. As mães estão protegendo os olhos de seus filhos.
O Alfa entra em colapso no meio do corredor.
Morto.
Um dia que deveria ser para celebrar a vida...
O dia com o qual venho sonhando há anos...
... tornou-se um pesadelo.
HELENA

Meu companheiro solta minha mão e corre para o lado de Alfa Ip,
caído no chão, sangrando no pescoço enquanto toda a cerimônia de
acasalamento se transforma em caos.
Eu fico lá, chocada, em meu vestido de noiva branco.
Não posso acreditar no que estou vendo. Eu nem mesmo ouço a voz
de Mara quando ela corre para o meu lado e pega minha mão, tentando
me puxar para longe.
Eu não vou embora com ela.
Ando pelo corredor em direção à morte, mal percebendo como o
sangue se infiltra no tecido, arrastando-se pelo chão, manchando meu
vestido.
Tudo o que importa agora é estar perto de Kace.
Ele está com medo.
Ele está em choque.
Ele está gritando o nome de Alfa Ip uma e outra vez, tentando
entender o que não tem sentido.
Eu lentamente me abaixo de joelhos e pego sua mão ensanguentada.
— Kace, — eu sussurro baixinho. — Ele se foi.
— Ele estava aqui, ele... ele... — Kace gagueja em descrença. — Por que
ele faria isso?!
Kaden se vira para Lexia, enfurecido. — Você deveria estar no
comando da segurança! Como diabos você pôde deixá-lo entrar aqui com
uma FACA?!
Lexia parece que vai dar um soco no rosto de Kaden.
— Alfa Ip foi convidado, — diz ela, amargamente. — Nunca houve
qualquer razão para acreditar que ele iria...
— Razão?! — Alfa Landon grita. — Que razão você pode prescrever
para alguém que corta a própria garganta?!
— Talvez devêssemos todos parar um segundo para pensar, — Alfa
Evan tenta argumentar, voltando-se para Leia. — Minha companheira
pode…
— NÃO! — Kaden grita. — A última vez que sua companheira se
envolveu, ela disse que o apocalipse estava chegando.
— E isso VEIO não é mesmo-! — Lexia grita de volta.
Todo mundo parece ter uma opinião. Todo mundo está lutando
contra o outro. Posso sentir Kace tremendo, prestes a explodir.
Finalmente, ele o faz.
— QUIETA! — Kace ruge.
Todo mundo fica em silêncio ao mesmo tempo.
Sinto a mão de Kace apertar a minha enquanto ele se levanta
lentamente, tentando não olhar para o cadáver que já foi seu mentor.
— Alguém o tire daqui, — ele diz, sua voz rouca de segurar as
lágrimas. — Mostre a ele alguma dignidade.
Kaden balança a cabeça e me olha nos olhos pela primeira vez. — Leve
meu irmão para o quarto dele, — ele diz. — Nós nos reuniremos quando
tudo estiver limpo.
Eu aceno e começo a puxar Kace para longe, mas ele apenas fica lá,
congelado. — Vamos, Kace, — eu digo. — Não há mais nada que
possamos fazer.
Ele se vira para olhar para mim, perturbado. Uma sombra do homem
com quem acabei de me casar. — O que é a Matilha do Caos?
Eu gostaria de ter a resposta. Em todos os meus livros, em todos os
meus estudos ao longo dos anos nas várias matilhas pelas terras, nunca
tinha lido sobre uma matilha assim.
A Matilha do Caos.
Mas agora, não quero dar a Kace mais perguntas e confusão. Eu quero
dar segurança a ele.
Eu aperto sua mão mais uma vez, me afasto e desta vez ele segue.
KADEN

Que porra está acontecendo?!


Eu nunca conheci Alfa Ip, mas meu irmão falou com muito carinho
dele e de seu tempo de treinamento na Matilha da Disciplina.
Para este homem, supostamente o Alfa mais disciplinado que existia,
fazer uma coisa dessas?
Não parece nada bom.
Especialmente em um dia como hoje, quando todos deveriam estar
comemorando.
Como Alfa, terei que agir rápido para chegar ao fundo disso.
Exceto que, ultimamente, não tenho me sentido muito como um Alfa.
Apenas alguém fazendo o papel do Alfa, fazendo o que deve ser feito.
Especialmente agora — com a porra do Conselho de Mara no
comando.
Deixo os jardins rapidamente, preparando para ver quais dos meus
homens estão prontos para viajar para a Matilha da Disciplina para obter
algumas respostas.
Mas Mara e Lexia estão logo atrás.
— Kaden, espere! — Mara grita. — Por favor!
— Eu não tenho tempo para falar com você agora, — eu rosno. —
Como você pode ver, há uma emergência em minhas mãos.
Eu mal posso olhar minha própria companheira nos olhos depois que
ela foi pelas minhas costas e criou esta piada de conselho.
Jogando fora centenas de anos de leis e costumes apenas para que ela
pudesse salvar sua velha matilha.
Evitando-a, evitando contato visual, evitando confronto — tomou-se
a única maneira de manter minha raiva sob controle nas últimas
semanas.
Mas agora estou prestes a ferver.
— Suas mãos? — Lexia grita. — Você quer dizer nossas mãos, Alfa! A
menos que você tenha esquecido, você responde a um conselho agora.
Isso inclui Mara, Brutus e eu.
Eu giro em Lexia, furiosa. — Foda-se o Conselho!
Eu nunca concordei com isso. Você tem sua própria matilha para
proteger. Lide com eles.
Antes que eu possa me virar, Lexia dá um passo na minha cara.
Ameaçadoramente.
Sempre admirei e respeitei essa mulher, mas se ela tentar alguma
coisa, não hesitarei em atacar primeiro.
— Você estava desaparecido, como você deve se lembrar, Alfa ela diz,
pronunciando o título como se fosse um insulto.
— Sua Luna agiu sabiamente em seu nome, — ela continua. — Se
você não respeita as ordens dela, por que deveríamos confiar na Matilha
da Vingança novamente?
Meus olhos se voltam para Mara, que está ali, quieta pela primeira vez.
Normalmente, ela já teria arrancado minha cabeça com uma mordida.
Mas há algo diferente sobre ela ultimamente.
Algo quieto.
Algo secreto.
— Saia da minha frente, Lexia, — eu digo. — Antes que eu faça algo
estúpido.
Com isso, eu me viro e caminho em direção à casa da matilha.
Reconheço, no fundo, que minha raiva é dirigida menos a Mara do que a
mim mesmo.
Por minhas próprias falhas.
Minhas fraquezas.
Minha incapacidade de liderar meu próprio bando.
Mas agora, não tenho tempo para olhar para o umbigo. Existem
questões mais urgentes em questão.
Se um Alfa está morto, apenas outro Alfa pode decidir o que acontece
a seguir.
MARA

Enquanto Kaden sai como uma tempestade, tento agarrar a mão de


Lexia, e ela a puxa.
— Seu companheiro está fora de controle! — Ela ferve.
— E apenas o orgulho dele, Lexia, — eu digo. — Você conhece os
homens.
— Sim, e nunca gostei de nenhum deles.
Eu dou um leve sorriso. É uma das melhores qualidades de Lexia. Sua
completa independência de todas as coisas relacionadas a homem.
Afinal, foi ela quem matou Coen e enfiou o próprio pau na garganta
dele.
Talvez a coisa mais nojenta e foda que já vi.
Mas agora eu posso dizer que Lexia está chateada — e não apenas
porque sua segurança permitiu que Alfa Ip entrasse na cerimônia de
acasalamento brandindo uma faca.
Não, ela está chateada porque minha promessa a ela não está sendo
cumprida.
— Se este Conselho provar ser apenas uma farsa do caralho, — ela
sussurra, — então Greyson morreu por nada. Então tudo isso foi em vão.
Eu pisco, surpresa. Eu não percebi que Lexia ainda estava de luto por
seu companheiro morto.
Talvez tenha sido por ver o Alfa Evan aqui em seu lugar que despertou
esses sentimentos.
Pela primeira vez em anos, minha amiga parece realmente vulnerável.
— Eu prometo a você, Lexia, — eu digo. — Vou fazer Kaden voltar.
Apenas me dê tempo.
Ela olha para trás, para o jardim onde a cerimônia de acasalamento
acabou, e os homens estão levando o corpo de Alfa Ip embora. Ela
suspira, balançando a cabeça.
— Tempo, — ela diz. — É isso que sempre me pedem. Mais tempo.
Veja como isso acabou até agora. Quantos alfas morreram no ano
passado?
Todos os nomes deles passam pela minha mente.
Greyson.
Nessa.
Malik.
Rylan.
Ip.
— Quem será o próximo, Mara? — Lexia pergunta, tremendo de raiva.
— Porque eu vou te dizer uma coisa com certeza. Não serei eu.
Com isso, ela grita para as mulheres da Matilha da Igualdade,
esperando com atenção, segurando suas lanças como os descendentes da
própria Minerva.
E eu percebo que Lexia está certa. Alfas estão caindo como moscas
ultimamente.
Eu não quero que seja ela, ou qualquer um dos meus amigos.
Mas principalmente, eu não quero que seja Kaden.
Eu preciso falar com meu companheiro.
De uma forma ou de outra.
KACE

Helena se senta ao meu lado em silêncio em nossa cama. Está coberta


de pétalas de flores.
Devíamos estar arrebatando um ao outro agora.
Devíamos estar fazendo amor sem interferência ou preocupação de
qualquer tipo.
Mas não podemos.
— Kace, — ela diz, finalmente, quebrando o silêncio.
— Eu sei que você tem que ir.
Eu me viro para ela, surpreso. — O que?
— Você tem que ir para a Matilha da Disciplina para descobrir o que
aconteceu. Eu entendo. Tudo bem. — Estou sem palavras. Minha
companheira, como sempre, está dez passos à minha frente. Até agora,
eu nem tinha começado a processar meu próximo movimento.
— Mas... — eu começo.
Helena me interrompe com um beijo gentil. — Eu sei que é um
momento horrível. Eu sei que você sente que deve ficar porque acabamos
de celebrar nossa cerimônia de acasalamento.
— Mas você não ficará satisfeito com ninguém que vá em seu lugar.
Eles não conhecem a Matilha da Disciplina como você. Tem que ser você.
Ela está certa, é claro. Normalmente, eu teria esperado fazer esse
argumento com ela. Não o contrário.
Mas essa é a coisa sobre Helena... Ela é diferente de qualquer mulher
no mundo.
Ela é muito inteligente para seu próprio bem.
Na outra sala, eu sei que Destiny está esperando por nós, chutando
seus pés.
Helena vai cuidar bem dela enquanto eu estiver fora, disso tenho
certeza.
Eu abraço minha companheira novamente, beijando-a, desejando que
eu pudesse fazer este momento durar. Não querendo deixar ir.
— Estarei aqui, esperando por você, — ela diz quando eu me afasto. —
Agora vá.
Kaden: Kace, você não pode fazer isso.

Kaden: Você não pode ir sozinho.

Kaden: Você precisa de proteção!

KADEN

Kace está discutindo comigo via link mental.


Dizendo que precisa fazer isso sozinho. Para vingar Alfa Ip.
Embora eu entenda sua perspectiva, não tive a chance de provar
minha força recentemente.
E ir atrás de tudo isso... Matilha do Caos... definitivamente resolveria.
Mas Kace não está ouvindo.
Kace: Não, irmão.

Kace: Isso tem que ser eu sozinho.

Kace: Te vejo em breve.

Eu bato meu punho na mesa e me levanto para olhar pela janela.


Observo enquanto Kace se dirige para a estrada distante, o sol
começando a se pôr, lançando o solo da Matilha da Vingança em uma
névoa laranja macabra.
Raramente me senti tão impotente quanto agora.
É quando eu ouço:
KNOCK. KNOCK
— Quem é?! — Eu grito, esfregando meus olhos.
Tive quase todas as surpresas que um homem pode suportar em um
dia.
A porta se abre e eu me viro para vê-la.
Minha companheira.
Mara.
Ela mudou de roupa, vestindo apenas uma camisola minúscula agora.
Mas é muito cedo para dormir.
— Eu disse a você, Mara, — eu rosno, desviando o olhar. — Não quero
falar agora.
— Eu sei, — ela diz baixinho. — Não precisamos fazer isso.
Eu franzi a testa. O que ela quis dizer?
É quando ela empurra cada alça da camisola para o lado, e ela cai no
chão, deixando-a completamente nua.
Sua pele pálida brilhando como uma noite de luar. Seu corpo lindo,
acenando para o meu.
Seus mamilos estão tão duros que parecem que podem cortar vidro.
Seu centro, seu cheiro de mel, me chamando para mais perto... e mais
perto.
— Há mais de uma maneira de se comunicar, Alfa, — ela sussurra
sedutoramente.
E eu tenho que falar com minha companheira.
Em mais de uma maneira.
Capítulo 3
CATARSE
Seus músculos incham enquanto seus olhos escurecem...
Ele caminha em minha direção, deixando de lado sua raiva...
Esquecendo nossas brigas e silêncios tensos...
No momento, o passado não importa.
Apenas nossos corpos importam.
Apenas este momento presente entre dois companheiros, famintos um pelo
outro...
Deixe a refeição começar.
MARA

Kaden me agarra firmemente pela minha bunda nua e me levanta em


seus braços sem dizer uma palavra.
Deusa, como eu perdi isso.
Ele me joga na cama e começa a desafivelar o cinto.
Estamos indo direto ao assunto hoje.
Embora uma parte de mim saiba que preciso falar com meu
companheiro, dizer a ele que estou grávida, e fazer ele falar sobre o
Conselho...
Outra parte de mim sabe que sexo é a única linguagem que importa
agora.
Qual Alfa pode passar um mês inteiro sem o toque de sua Luna?
Não Alfa Kaden, com certeza.
O cinto voa.
O zíper é o próximo.
Já posso ver a protuberância de Kaden crescendo sob sua calça jeans
preta. Eu levo minha mão em direção a ele, e ele a afasta.
— Não, — ele diz. — Deixe comigo.
Eu juro, a palavra — não — nunca me deixou mais molhada antes em
minha vida.
Algo sobre a solenidade de Kaden agora... é tão diferente de nossa
paixão usual.
É quase mecânico.
Por que isso está me excitando ainda mais?
Ele desliza a calça jeans até os tornozelos, revelando sua
masculinidade em toda a sua glória latejante.
O desejo de tocá-lo, de prová-lo, é demais.
Mas eu sei que é melhor não tentar.
Kaden agarra a base de seu pau com uma mão e a parte de trás do meu
pescoço com a outra, agachando-se para me penetrar em uma posição
ereta enquanto eu fico lá, cativa.
Então, com um único impulso forte, ele entra em mim e eu ofego.
Isso dói pra caralho!
Não que eu esteja reclamando.
A dor diminui rapidamente enquanto Kaden se pressiona mais
profundamente dentro de mim, permitindo que minhas paredes
umedeçam, dando-lhe as boas-vindas.
— Kaden... — eu sussurro, travando os olhos com ele.
Ele não responde com palavras. Apenas ação.
Ele empurra novamente.
E de novo.
Seu ritmo aumentando, sua respiração ficando pesada e áspera.
Ele está fodendo tão forte que mal consigo formar pensamentos
coerentes.
Minha boca escancarada em um grito de êxtase.
Meu corpo, entorpecido.
Minha buceta queimando de desejo enquanto Kaden continua a me
penetrar cada vez mais fundo, isso é tudo que posso sentir. E doloroso e
irresistível ao mesmo tempo.
— Por favor, Kaden, — eu imploro enquanto ele levanta ambas as
minhas pernas acima da minha cabeça, me deixando ainda mais
apertada. — Eu não aguento. Eu não posso...
Eu gemo enquanto seu ritmo diminui. Mas não é porque ele está
ficando sem energia.
Não. É como se ele estivesse pontuando cada movimento.
Lentamente.
Metodicamente.
Me fazendo perder minha maldita mente de deusa.
— KADEN!!!!!! — Eu grito.
E muito. Eu vou—
Ele puxa de repente, usando os dedos para estimular rapidamente
meu clitóris... e acontece.
Eu gozo.
E eu continuo gozando.
Tenho certeza de que estou liberando tanto de mim mesma que
provavelmente encharquei os lençóis.
Eu grito em agonia feliz, arqueando meu pescoço para trás, enquanto
Kaden dá um passo para trás para admirar meu corpo em espasmos.
Ele tem orgulho de seu trabalho manual.
E ele deveria ter mesmo.
Tento me sentar para alcançá-lo, mas ele já está puxando as calças. —
E você, — eu digo sem fôlego. — Deixe-me...
Ele balança a cabeça, me interrompendo. — Tudo bem, Mara. Outra
hora.
Ele rapidamente afivelou o cinto, ainda claramente em sua própria
cabeça.
Eu gostaria de poder derrubar suas defesas. Nem mesmo a catarse do
sexo poderia fazer com que ele se rendesse.
O que está acontecendo dentro de sua cabeça, Kaden?
KADEN

Adoro quando o rosto de Mara fica vermelho assim. Adoro quando o


corpo dela está estendido, extasiado pela euforia pós-orgástica.
Eu amo o quanto ela veio e anseia por estar comigo.
Mas eu não posso.
Eu não mereço isso.
Não quando nosso bando está em turbulência.
Não quando eu não consigo nem passar por uma porra de cerimônia
de acasalamento sem que alguém morra perto de mim.
Que tipo de Alfa se permite prazer quando a dor domina ao seu redor?
Sento na cama ao lado de Mara, ainda ofegante, e coloco a cabeça
entre as mãos, respirando fundo.
Há algo mais, é claro.
Mara está guardando segredos. A Luna que geralmente me
repreendia, que não tolerava besteiras ou desculpas, que me colocava no
lugar...
Ela está longe de ser encontrada. Porque?
— Mara, — eu digo, por fim. — Há algo que você precise me dizer?
Ela desvia o olhar, apenas confirmando o fato de que ela está
escondendo algo. Ela abre e fecha a boca, lutando com suas vozes
interiores.
Eu quero agarrar seu queixo e forçá-la a fazer contato visual comigo.
Mas tenho a sensação de que isso só pioraria as coisas.
— O que foi? — Eu pergunto em vez disso.
Ela se vira e me olha mais uma vez. E desta vez, tenho certeza. E algo
grande.
E algo de mudança de vida que ela está prestes a me dizer.
Mas antes que ela possa pronunciar uma única palavra, ouve-se uma
forte batida na porta do nosso quarto.
— ALFA! — uma voz grita do outro lado. Um dos meus guardas.
— O que é?! — Eu grito, não querendo ser interrompido agora.
— Um intruso foi encontrado nas terras da matilha!
Meus olhos se arregalam. Um intruso?! Talvez eles estejam conectados
à morte de Alfa Ip e este aviso sobre a Matilha do Caos.
Eu rapidamente me levanto e corro em direção à porta.
— Vamos terminar isso mais tarde, Mara, — eu digo.
Então abro a porta e sigo meus guardas para fora.
E hora de obter algumas respostas.

Eu sigo meus guardas para os arredores do território da Matilha da


Vingança.
Lá, vejo o intruso: um homem de joelhos. Sua cabeça está baixa, seu
cabelo laranja pegajoso obscurecendo seu rosto.
Mas, pela estrutura fina e rígida de seu corpo e seu traje extravagante,
tenho a sensação de que esse intruso não representa uma grande ameaça.
Eu digo aos guardas para desamarrá-lo.
— Quem é você?! — Perguntei, dando um passo à frente.
Quando ele levanta a cabeça, minha boca quase cai aberta de surpresa.
Seu rosto está pintado de branco como pó. Suas bochechas estão
vermelhas com um ruge feminino não natural. Seu sorriso cheio de
dentes se estende até as orelhas.
Ele parece que pertence a um carnaval, fazendo malabarismos com
pinos de boliche ou cuspindo fogo.
Como um palhaço. Não é um intruso a ser interrogado.
— Alfa Kaden, se não me engano, — ele rima em uma voz cantante. —
Permita-me conhecê-lo!
Eu pisco, sem palavras, olhando para meus guardas em busca de
respostas. Eles dão de ombros, parecendo igualmente confusos com a
presença desse estranho intruso.
— O nome é Zane! — ele continua com um sorriso largo. — E o que
me falta em inteligência, compenso em entretenimento....
Mas estou irritado. — Você é péssimo em rimar.
— E o meu tempo?
— Cale-se! Quem diabos é você? O que você está fazendo aqui?
A princípio, o sorriso do palhaço vacila um pouco, mas depois ele se
recupera, levantando-se em um salto.
— Infelizmente, — diz ele, — por acaso, Alfa, todos em minha matilha
morreram tragicamente.
Estou surpreso.
— Espere, como assim estão mortos? — Eu perguntei, chocado.
— Foi muito triste. Eu sofri por pelo menos dez...
— Foi muito triste. Eu sofri por pelo menos dez... quinze minutos.
— Então você os honra tirando sarro dos mortos? — Eu rosno.
— Todos nós choramos à nossa maneira, Alfa, — diz ele, puxando a
boca para baixo com os dedos para fazer uma expressão exagerada de
palhaço triste.
Eu faço o meu melhor para ignorá-lo enquanto continuo a pressionar
por respostas.
— O que aconteceu com sua matilha? — Eu digo agressivamente,
tentando ir direto ao ponto. Como eles morreram?
— Ah, a Matilha da Disciplina! — Zane exclama.
— Abençoe suas almas sérias... Eu era seu bobo amado. Embora eles
nunca tenham entendido meu senso de humor...
Meus olhos se arregalam. Matilha de Alfa Ip! Esse palhaço era um
deles?
Zane pode parecer inocente, mas as aparências enganam.
— O que aconteceu com eles? Alfa Ip nos deu um aviso, — eu digo.
— Você sabe... é dito, Disciplina é simplesmente fazer a mesma coisa
da maneira certa, esteja alguém assistindo ou não.
— E por isso que não tenho problema em 'roubar' com a janela aberta.
Eu agarro o palhaço com força, forçando-o a me levar a sério.
— Diga-me agora, ou vou jogar você em uma cela para apodrecer! —
Eu digo. — Como sua bunda ruiva sobreviveu?!
Ele olha para minhas duas mãos, segurando sua jaqueta de veludo, e
suspira.
— A insignificância é uma coisa engraçada, — ele diz.
— E uma dor quando você está entre os vivos. Mas entre os mortos? E
um salva-vidas.
Eu percebo o que o palhaço está dizendo. Ele era muito pequeno,
muito inútil para ser considerado digno de morte.
Quase sinto pena do esquisito de rosto pintado.
— Claro, — ele exclama, — eu ficaria mais do que feliz em estender
meus serviços a você, Alfa Kaden, se você se considerar digno de um
artista do meu calibre.
Ele pisca mãos de jazz indiferentes. — Huzzah.
Eu fico olhando para ele, sem saber o que pensar.
— O seu plano de saúde cobre odontológico?
O que há de errado com esse cara?
Mas antes que eu perceba, eu me pego sorrindo.
Ultimamente, tudo que tenho pensado é na política da matilha e nos
segredos da minha companheira.
Talvez um bobo da corte idiota, mesmo um tão patético como este
Zane ~, possa ser o que este bando precisa.
— Você deveria ser engraçado, certo? — Eu pergunto. — Então prove.
Mostre-me algo engraçado.
Zane me considera como se estivesse tentando extrair meu senso de
humor. Enquanto ele está fazendo isso, um pequeno rato se aproxima de
seu Pé-
— Quer ver um truque de mágica?
Ele levanta uma perna.
— Abracadabra.
E pisa nele.
CRUNCH.
Esmagando o rato sob seu sapato pontudo.
— Ta-dah, — ele sorri.
Estou surpreso. E tão aleatório, violento e chocante que não consigo
evitar... explodi em uma gargalhada de surpresa.
Esse cara é engraçado pra caralho!
De uma forma meio confusa.
Eu me viro para os guardas. — Traga-o para a casa da matilha.
Encontraremos um lugar para ele.
— Ei! Eu não consenti! — Zane exclama.
— Você prefere que eu te mate?
— Só se eu for atropelado por um trator.
Mais uma vez, encontro-me rindo com vontade.
Eu sempre tive um senso de humor tão sombrio?
— Terei mais perguntas para você, Zane, — advirto o bobo da corte. —
Sobre sua velha matilha. E o que aconteceu com eles.
— Esteja pronto para responder por si mesmo. Sério, desta vez.
Ele acena com a cabeça, cruzando seu coração. — Sério como um
ataque cardíaco, Alfa. Eu prometo.
Eu sorrio e me afasto. Mais divertido do que gostaria de admitir.
Kace pode estar em uma jornada para a Matilha da Disciplina para
encontrar respostas. Mas parece que encontrei algumas por aqui.
MARA

Eu termino de me recompor. Estava me preparando para falar com


Lexia e Brutus na reunião do Conselho de hoje e, é claro, Kaden não está
em lugar nenhum.
Ele se recusa a atendê-los, então ultimamente tenho ido em seu lugar.
Hoje, temos mais o que discutir do que o normal, após o suicídio de
Alfa Ip no meio da cerimônia de acasalamento.
Mas quando entro na sala do Conselho, fico surpresa ao encontrá-la
quase vazia.
Não há sinal de Lexia, ou de qualquer membro da matilha da
Igualdade.
Apenas Brutus está lá.
O homem que uma vez ameaçou se rebelar contra Kaden, o homem
que uma vez me beijou, o único homem por quem eu já me senti atraída
além do meu companheiro.
O homem que é a definição da palavra perigo.
Tentei evitar seus olhares penetrantes nas últimas semanas, suas
tentativas de me cortejar.
Mas agora que somos apenas eu e Brutus, que porra devo fazer?
Não é como se eu pudesse evitá-lo quando ele está... bem ali, olhando
para mim.
Ele se levanta e pega minha mão, beijando-a suavemente.
— Mara, — diz ele em sua voz rouca. — Parece que estamos sozinhos.
Capítulo 4
DISTRAÇÕES BEM-VINDAS
Ele sabe que estou acasalado com outro.
Ele sabe que meu coração pertence a Kaden.
Mas, ainda assim, Brutus avança em minha direção.
Nosso beijo ainda o assombra.
Como isso me assombra.
Posso resistir à tentação?
Ou estou condenada a repetir o mesmo erro?
MARA

— Parece que estamos sozinhos, — diz Brutus.


Eu rapidamente afasto minha mão e endireito minha saia lápis.
Limpando a garganta, tento esconder o fato de que só de pensar em
nosso único beijo inocente há muito tempo quase me deixou tonta aqui e
agora.
— Se formos apenas nós dois, provavelmente deveríamos remarcar, —
eu digo profissionalmente, com distância forçada.
— Até que Lexia e os outros voltem, — acrescento.
— Isso é mesmo necessário? — Brutus pergunta. — Com certeza,
somos dois adultos, capazes de tomar nossas próprias decisões, não
somos?
Respiro fundo, me afasto de Brutus e me sento à mesa do Conselho.
— Vamos começar a trabalhar então, — eu digo.
— Fizemos algum progresso em relação à morte de Alfa Ip?
Brutus atravessa a sala, sentando-se à minha frente. — Ouvi dizer que
Kace foi investigar a Matilha da Disciplina por si mesmo. Sozinho.
Eu franzir a testa. — Essa é uma boa ideia? Sem backup? Não
deveríamos ter discutido isso primeiro, antes...
— Por favor, Mara — diz Brutus. — Não vamos fingir que este
Conselho tem qualquer poder enquanto Kaden se recusar a comparecer.
— Agora que Lexia também não está aqui? Não parece
particularmente estável.
Brutus tem razão. Eu esperava que um pouco de sedução pudesse
ajudar Kaden a limpar sua cabeça e trazê-lo de volta à mesa.
Tanto para nada.
— Todo o sistema corre o risco de desmoronar, — diz Brutus. — A
menos que você e eu possamos chegar a um... entendimento.
Eu estreito meus olhos para ele. — O que você está insinuando,
Brutus?
Sua perna roça a minha por baixo da mesa, e eu sinto a cor subindo
pelas minhas bochechas.
— Simples, — diz ele. — Terminamos o que começamos.
Eu ouvi rumores de que um vínculo de acasalamento pode ser
quebrado.
Que se dois lobos transassem fora do vínculo, isso poderia quebrar o
frágil equilíbrio entre os companheiros.
Mas não é isso que estou procurando.
Eu rapidamente afasto minha perna e endureço minha expressão.
— O que aconteceu entre nós foi um erro, Brutus. Um que nunca
podemos repetir, entendeu?
Ele sorri maliciosamente. — Um erro, você chama. Mas sei que ainda
pensa nisso, Mara. O tempo todo. Assim como eu.
Ele se levanta e meu corpo enrijece.
Até agora, eu não tinha percebido o quão alto meu batimento
cardíaco estava ou como minhas mãos estão úmidas.
Brutus realmente me deixa tão nervosa?
E ele está certo? Eu penso frequentemente sobre aquele beijo?
Ele dá a volta na mesa e eu noto pela primeira vez que ele está usando
calças justas, como se ele estivesse prestes a se exercitar depois disso.
E é impossível não notar o contorno de seu pau.
Parece que já está meio inchado — como se simplesmente tocando
minha perna, Brutus tivesse ficado excitado.
Parece enorme.
Bem grosso.
Inclinando-se para a esquerda.
Completamente diferente da masculinidade longa e perfeitamente
reta de Kaden.
Eu sinto uma necessidade repentina de agarrá-lo enquanto ele está
bem ao meu lado. Para colocá-lo em minha boca e levá-lo até o meu...
PARE, MARA! Eu me castigo.
Por fim, Brutus se senta ao meu lado. Posso sentir o calor emanando
de seu corpo musculoso e faço o possível para desviar o olhar.
— Brutus — digo com uma voz hesitante que não soa como a minha.
— O que você está...
Ele coloca a palma da mão na minha coxa direita e eu juro que vejo
estrelas pra caralho. Um toque desse lobo e sou reduzida a nada.
Acorda, acorda, acorda!
Saia dessa merda, Mara!
Eu me levanto com um susto, forçando-o a me soltar. — Eu disse que
era um erro e falei sério.
Ele suspira e se inclina para trás, desviando o olhar. — Tudo bem.
Valeu a tentativa.
— Você tem alguma sugestão séria? Sobre como vamos consertar essa
bagunça?
Ele examina as unhas agora, parecendo um amante desprezado.
— Você prometeu a Lexia e a mim que o Alfa entraria em jogo, — ele
diz.
— Não estamos pedindo a ele que desista de seu papel como líder
cerimonial, — ele continua. — Mas ele tem que reconhecer nosso poder.
Ou...
— Ou o quê, Brutus?
— Ou na próxima reunião, eu também não estarei aqui. E está frágil
aliança entre a Matilha de Vingança, Matilha da Igualdade e Matilha da
Retaliação— — Eu te disse, você precisa encontrar um novo nome para
isso, — eu interrompo.
— Tudo bem, a Matilha da Restauração, feliz? O ponto é... não haverá
uma aliança a menos que você consiga que Kaden reconheça o conselho.
— Se estamos falando sério sobre estender esta aliança a outros
grupos, ele tem que vir para a mesa.
Eu aceno e faço meu caminho para a porta, me perguntando como
diabos eu devo fazer isso acontecer.
— Ah, e Mara? — Brutus diz.
Eu me viro para olhar para ele. — Sim?
— Se você reconsiderar, minha porta está sempre aberta.
Meu estômago aperta em um nó enquanto os olhos de Brutus viajam
ao longo do meu corpo. Vagamente, noto que a protuberância em suas
calças apertadas parece ainda maior agora.
Deusa, ele quer me foder. Merda.
Eu consigo manter minha compostura, no entanto, e aceno
concisamente.
— Brutus.
Então, com isso, saio pela porta e respiro.
Um dia desses, as investidas desse Alfa vão me matar. Então, por que
não quero que ele pare?

Você está grávida, Mara! Eu me lembro. Você está grávida de um filho de


Kaden. A atração por Brutus são apenas os hormônios! Esqueça!
Eu saio da sala do Conselho e faço o meu caminho através do pátio,
correndo em direção ao escritório de Kaden.
Ainda estou tentando me livrar daquele encontro com Brutus.
Tentando me recompor antes de enfrentar meu companheiro.
Espero que, desta vez, consiga falar com Kaden com palavras.
Ações, mesmo as mais libidinosas, não parecem estar funcionando
bem ultimamente.
Eu sei que nossos problemas pessoais precisam ficar em segundo
plano agora.
A gravidez pode esperar.
O que importa é fazer com que o Conselho e a liderança de nossas
matilhas resolvam tudo. Então eu posso voltar a ser Mara, a Luna da
Matilha da Vingança.
Que por acaso tem um mini-Kaden crescendo dentro de seu
estômago.
Você sabe, o de sempre.
Mas quando eu viro a esquina, me preparando para subir as escadas
para o escritório de Kaden, eu ouço. O som da risada de uma multidão
vindo de fora.
Eu franzo a testa, passando pela porta da frente do bando, para ver o
que é toda a comoção.
A princípio, não tenho certeza do que exatamente estou vendo.
No pequeno palco onde Kaden e outros líderes da matilha geralmente
fazem anúncios formais, existe uma figura peculiar, seu rosto pintado de
um branco horrível.
O palhaço estende uma cartola para a multidão, sem revelar nada
dentro dela, antes de girá-la, colocar a mão dentro e puxar um coelho.
Um coelho morto.
Ele o deixa cair e pula para trás horrorizado, agindo como se o roedor
morto fosse um acidente.
O riso ecoa nas paredes da Casa da Matilha.
Abaixo do palco, observando, rindo e aplaudindo, estão vinte crianças
do bando junto com seus pais.
E meu companheiro.
Ele está sorrindo de orelha a orelha como um idiota.
O palhaço finge remorso. Ele então pega um martelo e começa a se
bater na cabeça repetidamente como punição por seu truque de mágica
ter — falhado — — cada vez mais violento do que a anterior.
WHACK!
As crianças riem.
WHACK!
Os pais riem.
WHACK!
O palhaço, estremecendo de dor, bate na cabeça com tanta força que
um rastro de sangue carmesim escorre pelo rosto e chega às bochechas
brancas.
Com isso, Alfa Kaden ri ainda mais.
Eu fico lá em descrença.
Que merda está acontecendo?
Mas o mais surpreendente para mim é observar a reação de Kaden.
Eu não via meu companheiro sorrir assim — rir assim, de doer a
barriga por uma gargalhada — em meses, ao que parece.
Uma performance deste estranho — mágico — de rosto pintado é
como se todos os problemas da matilha tivessem desaparecido.
No começo, fiquei animada com a visão. E um lembrete de quão doce,
como — ouso dizer — simples — meu companheiro pode ser.
Apesar do humor infantil, ele fica muito bem quando é entretido.
Mas então meus olhos voltam para a figura no palco, e eu sinto um
arrepio descer pela minha espinha.
O palhaço fica de pé agora, jogando de lado o martelo antes de agarrar
uma corda.
Fingindo que suas próprias mãos estão trabalhando contra ele, seu
rosto faz caretas e carranca enquanto as mãos amarram a corda em um
laço.
— NÃO! ZH-ANE IZ INNO-ZHENT, HE ZH-VEARS! — ele grita com
um sotaque estranho.
— ESSE COELHO ERA UMA ESPÉCIE EM PERIGO! AGORA VOCÊ
DEVE PAGAR! — Ele responde com uma voz sombria e sinistra,
enquanto suas mãos lutam para colocar o laço em seu próprio pescoço.
Todas as crianças riem mais uma vez.
Por que todo o humor desse palhaço vem da violência? Violência
autodestrutiva esquisita.
Ele continua a lutar com as próprias mãos, apertando o laço,
enquanto o público observa, hipnotizado.
Percebo Destiny entre eles, bem na frente, a garotinha que Kace e
Helena levaram com eles da Matilha da Harmonia.
Seus olhos estão arregalados e animados enquanto o show de Zane
fica mais e mais selvagem a cada segundo.
Corro para o lado do meu companheiro.
— Hum, Kaden, — eu digo, tentando chamar sua atenção. — O que
está acontecendo?
— Oh, — ele diz, notando minha presença, seus olhos ainda grudados
no palco. — Só uma pequena distração à tarde. É bom para a moral do
bando.
— Eu nunca vi ele antes.
Kaden acena com a cabeça. — Ele é novo. Um bobo da corte chamado
Zane. Um fugitivo da Matilha da Disciplina. Eu estava prestes a fazer
algumas perguntas a ele quando ele começou este pequeno show.
Zane foge, sufocando, e cai no chão enquanto sua mão, segurando o
laço acima da cabeça, continua a lutar contra ele.
E uma visão bizarra, para dizer o mínimo.
Mas Kaden está adorando. Sorrindo, balançando a cabeça. Como se
ele nunca tivesse visto algo tão divertido em sua vida.
— Acabei de me encontrar com Brutus, — digo, tentando chamar sua
atenção. — Na reunião do Conselho e...
Zane — acidentalmente — prende o laço no andaime do palco e agora
está no ar, ofegando, chutando e fazendo caretas exageradas.
Jesus...
— Isso pode esperar até depois do show, Mara? — Kaden me
interrompe. — Esse cara está me matando.
Estava mais para se matar — o que considero particularmente
desanimador, dado o suicídio de ontem.
— Isso é realmente apropriado agora, Kaden? — Eu pergunto, ficando
frustrada.
Por fim, Kaden se vira e olha para mim. Seu sorriso se transformou em
uma carranca. — Honestamente, Mara. Tenha senso de humor.
Então, com isso, ele se aproxima da multidão para continuar
assistindo ao show, me deixando sozinha.
Eu?
Senso de humor?
Posso ser hilária quando for a hora certa. Este não é o momento nem
o lugar.
Estou tão brava com meu companheiro que poderia agarrar o martelo
de Zane e acertá-lo na grande e idiota cabeça de Alfa de Kaden.
Mas eu não quero. Eu faço meu caminho de volta para a Casa da
Matilha, ignorando as risadas e aplausos atrás de mim.
Eu olho para trás mais uma vez para ver Zane cortando com sucesso a
corda acima de sua cabeça e caindo no chão.
Mas sua cabeça cai diretamente no canto de uma mesa próxima com
um nauseante THUD.
O bobo da corte cai no chão, sangrando.
Ele não se move. Na verdade, ele não parece consciente.
Todo mundo aplaude. Eles parecem não ter o suficiente.
Kaden está certo, eu me pergunto?
Eu só preciso de uma boa risada agora?
O palhaço começa a tossir, sufocando com o próprio sangue.
Não estou convencida.
— Alguém chame a porra de um médico.
KACE

A jornada tem sido longa e sem sono desde que deixei a Matilha da
Vingança e me dirigi para o deserto em direção ao território da Matilha
da Disciplina.
As vastas extensões de terreno baldio nunca me assustaram como
agora.
Os restos da Grande Guerra, as cidades destruídas, o ar ainda denso de
radiação...
Todos eles parecem ser presságios, uma lembrança do suicídio de Alfa
Ip.
De violência sem propósito.
De morte inútil.
Das cavernas aos picos das montanhas mais altas, eu caminhei,
vagando para longe dessas cidades mortas e dos sons horríveis que
emanam de dentro delas.
Como uivos, mas demoníacos. Sobrenatural em todos os sentidos.
Rumores sugerem que certos monstros ainda moram nas cidades
mortas, festejando com veneno, crescendo.
Existe até o mito de que essa é a origem de nossa espécie.
Que os lobos só existem por causa da explosão nuclear.
Mas não chego mais perto para descobrir se isso é verdade.
Meu objetivo não é aprender a origem da minha espécie. É para
chegar à Matilha da Disciplina.
Depois do que parecem dias sem descanso, vejo a ponta pontiaguda de
uma pirâmide à distância, tremeluzindo. Me dizendo que estou perto.
No começo, tenho certeza que é apenas uma miragem. O sol
pregando peças em mim novamente.
Mas então, conforme me aproximo, fica claro — Cheguei à Matilha da
Disciplina, em toda a sua glória estoica, finalmente.
Eu aumento meu ritmo, aproximando-me da pirâmide e esperando
encontrar algumas respostas para o porquê de Alfa Ip se matar— Por que
ele nos avisou sobre alguma... Matilha do Caos — seja lá o que for.
Mas quando chego à escada, sinto meus cabelos se arrepiarem
enquanto meu nariz capta um cheiro terrível e familiar.
Sangue.
Eu começo minha escalada na pirâmide, o cheiro fica mais forte a cada
passo.
Quando eu finalmente alcanço o pico e vejo que vem da Matilha da
Disciplina com meus próprios olhos, meu estômago embrulha dentro de
mim.
Querida Deusa... O que eles fizeram?!
Capítulo 5
MORTE À DISCIPLINA Sangue em todos os lugares.
Corpos de homens que uma vez chamei de meus amigos...
Rasgado em pedaços.
Quem poderia ter feito isso com a Matilha da Disciplina?
Ou pior ainda...
Como eles podem ter feito isso a si mesmos?
KACE

Eu engasgo, me virando e vomito nos degraus da pirâmide, quase


desmaiando de puro choque.
Uma coisa é ver um cadáver. Outra é ver um bando inteiro —
massacrado.
O sangue e as partes do corpo estão por toda parte, como se
literalmente se despedaçassem.
Limpo minha boca e lentamente me levanto, percebendo vagamente
que minhas mãos estão tremendo.
É difícil acreditar que, apenas alguns meses atrás, esses homens eram
membros estoicos do bando, trabalhando sob o sol escaldante dia após
dia para ser melhor.
Eles foram, cada um deles, uma inspiração enquanto eu tentava banir
o fedor de Coen e a escuridão dentro de mim.
Sua força física, sua severidade de monge, sua recusa em desistir...
Agora, eles se foram.
Mortos.
E a pior parte é — não faz sentido. Assim como o suicídio de Alfa Ip,
não há razão aparente que justifique tal derramamento de sangue.
Eu ando pelas ruínas, olhando para a esquerda e para a direita,
tentando não encarar os restos por muito tempo.
Muitos deles, eu noto, morreram em suas formas de lobo, mudaram
como se eles tivessem ficado selvagens de alguma forma.
Mas por que?
Como?
Rezo para que haja um sobrevivente entre esses destroços que possa
me dar algumas respostas... que é quando eu ouço.
Uma voz familiar me chamando de longe.
Helena: Kace, você está bem?

É Helena. Minha companheira.


Desde nossa cerimônia de acasalamento, nossos corpos estão mais em
sintonia um com o outro, capazes de sentir o que o outro está sentindo.
Claramente, Helena pode sentir meu coração acelerado e meu
estômago se revirando com a visão e o cheiro da carnificina diante de
mim.
Kace: Estou bem, Helena.

Kace: Cheguei na Matilha da Disciplina Helena: O que é, Kace?

Helena: O que há de errado?

Minha companheira não é uma criaturinha débil que me preocupo em


assustar.
Seu conhecimento quando se trata da Grande Guerra que devastou
nosso mundo, mesmo nos detalhes sangrentos, é uma prova de sua
coragem.
E ainda... como vou explicar o inexplicável?
Kace: Eles estão todos mortos, Helena.

Kace: Cada um deles.

Kace: Parece que eles se mataram.

Helena: Deusa, isso é horrível.

Helena: Por quê?

Kace: Exatamente.
Kace: Eu vi feitiçaria horrível reduzir homens a animais. Mas não sinto nenhum vestígio
de magia aqui.

Kace: Parece que...

Helena: Como se tivessem medo.

Helena: Como se estivessem paranoicos que seus próprios amigos estivessem tramando
contra eles.

Eu aceno, embora eu saiba que minha companheira não pode me ver.


Por que eles acreditariam em tal coisa está além de mim. Quando eu
estava neste bando, esses homens eram devotados um ao outro.
Eles trabalharam de mãos dadas. A definição da palavra — disciplina.
Kace: Não faz sentido.

Helena: O caos os consumiu, Kace.

Helena: Te faz pensar...

Kace: Quer saber o quê?

Helena: Por que Alfa Ip viria aqui nos avisar. Você acha que a Matilha de Vingança é a
próxima?

Um arrepio desceu pela minha espinha ao pensar nisso.


Kace: Vou procurar sobreviventes.

Kace: Mas falarei com você em breve, meu amor.

Helena: Kace, tem mais uma coisa.

Helena: Um homem chegou, alegando ser um sobrevivente da Matilha da Disciplina.

Helena: Talvez você deva falar com ele quando voltar!

Kace: Sério? Qual o nome dele?

Helena: Zane. Ele é... um pouco estranho. Mas o Alfa parece gostar dele.

Eu procuro minha mente, tentando me lembrar de qualquer homem


na Matilha da Disciplina com o nome de Zane. Mas não consigo me
lembrar de nenhum.
Dito isso, eu não conhecia a maioria dos homens pelo primeiro nome.
Alfa Ip insistiu que, para sermos devidamente disciplinados, tínhamos
que pensar um no outro apenas como engrenagens de uma máquina.
Não personalidades.
Então, talvez este Zane pudesse lançar alguma luz sobre o que
aconteceu aqui.
Kace: Obrigado, Helena.

Kace: Vou terminar de pesquisar aqui e depois voltar para você.

Helena: Seja rápido, Kace.

Helena: Estou com saudades.

Eu fecho meus olhos, imaginando-a em nosso quarto distante,


sozinha.
E pensar que ainda não consumamos nosso casamento. Me deixa
louco.
Eu irei, eu prometo a ela e a mim ao mesmo tempo.
Em breve, meu amor. Em breve.
KADEN

Quando volto para o meu quarto naquela noite, estou me sentindo


mais como eu mesmo do que há meses.
Assistir ao estranho show daquele bobo da corte, rir, curtir entre os
membros da minha matilha, me deu um renovado senso de propósito.
Isso me lembrou que a política não é tudo. Que meu papel como Alfa,
por mais menosprezado que tenha me sentido ultimamente, não é tão
importante quanto se possa pensar.
Se eu não sou digno de ser o único líder de nosso bando, pelo menos
posso manter meu povo entretido.
Esse é um pequeno presente que este estranho, Zane, me deu.
Estou ansioso para ver quais coelhos mortos ele tirará da cartola em
seguida.
Ouço passos atrás de mim e me viro para ver Mara, parecendo
exausta.
— Kaden, — ela diz, fechando a porta do quarto atrás dela. — Nós
precisamos conversar. Seriamente.
Ela fala sério, isso eu posso dizer por sua testa franzida e seu tom
solene.
Mas não estou com humor para nenhuma seriedade agora. Não
depois do espetáculo de Zane.
— Venha aqui, — eu digo, agarrando sua mão e puxando-a em meus
braços. — Por que não continuamos de onde paramos...
Suas bochechas coram enquanto ela lê minha mente suja. Mas ela me
empurra e entra na sala, mantendo a compostura.
— Não, — ela diz. — Não agora.
Eu franzo a testa, frustrado. — Se isso é sobre o Conselho de novo, eu
pensei que fui claro...
— Você poderia apenas explicar qual é o seu problema?! — ela exclama
em um volume que me deixa perplexo.
— Você se foi, — ela continua, — e eu tive que fazer algo. Você não
entende?!
— Eu entendo, — eu digo com um suspiro. — E eu admito. Foi uma
jogada inteligente, conferindo poder a Lexia e Brutus. Mas...
— O QUE?!
Ela está zangada. As travessuras do palhaço realmente a incomodavam
tanto?
OK. Eu admito que o auto estrangulamento foi um pouco obscuro.
Quer dizer, eu achei engraçado...
— Mas, eu continuo, firme, — Não tenho interesse em participar.
Deixe esses dois tomarem as decisões executivas por um tempo.
— Estou feliz em ver como eles lidam com a responsabilidade.
Ela estreita os olhos, tentando entender meus motivos. — De onde
vem isso de repente?
Eu sorrio, virando meu olhar para fora da janela no palco vazio onde,
minutos atrás, os membros da matilha riram e aplaudiram.
Agora, um zelador está lá, enxugando o sangue de Zane.
— É simples, realmente, — eu respondo. — Eu continuarei sendo o
Alfa para todos os propósitos cerimoniais.
— E quando aqueles dois se ferrarem, o que eles farão, eu irei atacar
para salvar o dia. Como sempre faço.
Ela balança a cabeça em descrença, como se eu tivesse acabado de
dizer as palavras mais horríveis de uma deusa que se possa imaginar. Suas
mãos se fecham em dois punhos agora.
— Que diabos, Kaden?! — Ela grita. — Quando você se tomou tão
cínico?
— Você nem mesmo vai dar a eles uma chance, e agora você espera
que eles falhem para que todo o Conselho desmorone? Mesmo?!
— O que mais você gostaria que eu fizesse? — Eu pergunto, minha
própria raiva começando a crescer. — Jogar junto com essa nova piada de
governo que você formou?
— Sentar e apertar as mãos como um cachorro treinado?
— Eu sou um Alfa!
— Um Alfa que está se comportando exatamente como um burro! —
Ela grita. — Você nunca gostou da ideia de me tratar como uma igual.
— Mas você conseguiu. Para o bem da matilha. Você não vai dar a
Lexia e Brutus a mesma chance?
— Não, — eu respondo, fria como gelo. — Eles não são meus
companheiros. Eles não merecem tal respeito. Deixe-os liderar. Veja
como lhes convém. Estarei esperando.
— E o suicídio de Alfa Ip? Você vai simplesmente esquecer isso?
— Kace tem isso sob controle. Ele está nas terras da Matilha da
Disciplina enquanto conversamos.
— Você vai continuar a me dizer como fazer meu trabalho, Mara? Ou
você gostaria de ser a Alfa?
— Como você ousa! — Ela grita, aproximando-se do meu rosto.
Por um segundo, juro que ela vai me bater. Para me dar um tapa.
Eu insisto com ela.
Eu quero sentir a dor agora. Quero que minha própria aversão seja
validada pelo ódio de minha própria companheira.
Porque embora eu não consiga colocar em palavras a origem desses
sentimentos, eu reconheço que se trata de ser completamente um merda
em liderar ultimamente.
Muitos morreram sob meu comando.
Apenas a porra de um Alfa inútil ficaria de braços cruzados, incapaz.
Apenas alguém como eu.
Minha companheira está lá, olhando nos meus olhos, fazendo-me
sentir ainda menor do que já me sinto.
— Talvez você não seja melhor do que o palhaço, — ela diz. — Um
idiota de merda.
Estou tremendo, estou com tanta raiva neste momento. Se Mara não
fosse minha companheira, juro...
Estou prestes a abrir minha boca para colocá-la no lugar quando ouço
uma batida na porta.
Nós dois nós viramos ao mesmo tempo, gritando em uníssono:
— O QUE?!?!
— Mara, — diz uma voz de menina do outro lado da porta. — É Milly.
Eu esperava que pudéssemos conversar.
Milly? A amiga de Mara da Matilha da Pureza? O que ela está fazendo
aqui?
Penso em perguntar, mas penso melhor. Isso não é da minha conta, de
qualquer maneira.
Mara parece surpresa e se vira para mim, como se pedisse permissão.
— Faça o que quiser, — eu rosno. — Eu nunca parei você antes, não é?
Ela franze a testa e se vira para a porta.
Não gosto de brigar com minha companheira. Mas se ela se recusar a
entender minha perspectiva, que escolha eu tenho?
Eu suspiro, olhando pela janela mais uma vez enquanto a porta bate
atrás de mim.
Eu preciso de uma merda de distração.
Quando é o próximo show de Zane?
MARA
Eu não posso acreditar no que aconteceu com Kaden. Eu sei que ele
está em um lugar frágil desde que abandonou a matilha e me deixou no
comando.
Mas esse novo lado dele? Essa indiferença, esse encolher de ombros
constante, essa preferência pela diversão vazia em vez dos negócios...
Não tenho ideia de como me relacionar com isso.
Quando saio para o corredor para encontrar Milly, minha melhor
amiga neste mundo, não estou me sentindo inteiramente eu mesma.
Ainda abalada pela minha luta com Kaden.
— Ei, Milly, — eu digo sem jeito, abraçando-a. — O que, hum, traz
você aqui?
Ela olha por cima do meu ombro para a porta. Claramente, ela podia
ouvir um pouco da minha briga com Kaden.
Não que seja da conta dela.
— Desculpe interromper, Mara, — ela diz. — E só que... fui enviada
aqui por seus pais.
Eu franzir a testa.
Meus pais?
Para que diabos?
— Desde a morte de Alfa Rylan, a Matilha da Pureza está em
desordem. Eles estão pedindo por você. Convocando você. Você vem
comigo?
. —.. Você quer dizer, agora? — Eu pergunto, chocada.
Ela acena com a cabeça. Eu me viro e olho para trás mais uma vez para
a porta onde meu companheiro está esperando, fervendo, sem dúvida,
em sua própria aversão.
Quer Kaden possa ver ou não, ele precisa de mim agora.
Mas, aparentemente, Milly e meus pais também.
Estou em uma encruzilhada, dividida entre meu companheiro e
minha família mais uma vez.
E eu sei que qualquer escolha que eu fizer agora pode ter sérias
repercussões.
— Mara? — Milly pergunta. — Você está vindo?
Eu respiro fundo.
Então, eu abro minha boca para responder.
Capítulo 6
O NOVO ALFA O mundo voa em um borrão de cores.
Deve ser pacífico.
Deve ser diferente de qualquer experiência que já tive.
Mas eu não me importo para onde estou indo.
Eu só me importo com o que deixei para trás.
Quem eu deixei para trás.
Kaden.
MARA

Estou em outro desses dispositivos móveis chamados de — carros, —


veículos que as pessoas usavam antes da Grande Guerra, e tudo em que
consigo pensar é em Kaden.
Mesmo enquanto o mundo passa por nós, enquanto viajamos em
velocidades que eu nem sabia que eram possíveis, meu companheiro é
tudo o que ocupa minha mente.
A última vez que nos falamos, não foi nada bonito. Nós dois dissemos
algumas merdas desagradáveis.
Não que eu retire algo do que disse, nada disso. Na verdade, se Kaden
estivesse aqui agora, eu provavelmente falaria o dobro.
Ele está sendo um idiota completo ultimamente, totalmente
paralisado por sua necessidade de medir o pau e de se comparar a outros
líderes.
Eu não posso acreditar que ele realmente quer que Brutus e Lexia
falhem.
Que tipo de Alfa faz isso?
— Você está bem, Mara?
Eu me viro e vejo Milly sentada ao meu lado. Ela está com a mesma
expressão preocupada desde o momento em que a encontrei vagando do
lado de fora do meu quarto e de Kaden.
Eu sei que ela apenas quer o melhor para mim, mas agora está apenas
me irritando ainda mais.
— Milly, pare com isso, — eu digo. — Nada dessa merda
misericordiosa. Se você tem algo a dizer, diga.
— É apenas...
— O que?!
— A última vez que vi você e Kaden foi na cerimônia de acasalamento.
Onde...
Onde um demônio ancestral possuiu você e quase trouxe a porra do
apocalipse. Certo.
Suspiro, percebendo que mal havia pensado duas vezes em Milly
durante todo aquele trauma.
Afinal, ela era minha dama de honra. Eu poderia pelo menos ter
estendido a mão.
— Você ainda está... com medo? — Eu pergunto.
Ela acena com a cabeça. — Não do demônio. Eu sei que ela se foi.
— Então o que?
— Estou com medo de... agora, — ela diz. — Quer dizer, o que
acontece agora. Agora que nosso Alfa se foi.
— Agora que somos um bando sem líder.
— Agora que tudo em que acreditamos foi provado ser uma mentira...
— Sim, — eu digo, percebendo o que ela quer dizer. — A incerteza
pode ser muito assustadora agora que você mencionou.
Eu, inconscientemente, sinto meus dedos pousarem na minha barriga.
Não está aparecendo ainda, mas mais cedo ou mais tarde estará. E o bebê
não poderá ser mantido em segredo.
Eu quero tanto contar a Kaden. Mas como, quando ele está neste
estado?
Partir para a Matilha da Pureza agora pode não ser a melhor ideia,
mas espero que algum tempo e espaço ajudem a clarear sua cabeça. E me
deixe cair na real com ele.
Veremos.
— Ei, Mara? — Milly diz.
Eu me viro para ela. — Obrigada por ter vindo, — ela diz. — Eu sei que
vai significar muito para seus pais. Para todos na matilha.
Ainda é difícil entender o fato de que eles estão me convidando depois
que me rejeitaram há muito tempo por escolher Kaden como meu
companheiro. Mas os tempos mudaram.
Eu sorrio e pego a mão de Milly. — Não mencione isso.
Então me viro para considerar este carro insanamente rápido em que
estamos mais uma vez, movendo-se mais rápido do que uma bala, só por
senti-lo.
— Você acredita que todo mundo costumava ter um desses? — Eu
digo. — Não admira que tenha terminado. Eles provavelmente travavam
o tempo todo.
Milly ri e eu sorrio, animada com o som. E uma risada pura. Um ajuste
para uma garota que pertence a Matilha da Pureza.
Eu me preparo.
Aconteça o que acontecer, Mara, lembre-se, digo a mim mesma, você é a
Luna da Matilha da Vingança agora. Pureza está atrás de nós.
Exceto, claramente pela estrada em que estamos dirigindo, está à
frente.
LEXIA

Eu derramo outra dose e tomo em um movimento rápido. GULP.


Deusa, essa bebida é boa. Pelo menos parece algo.
O sol está se pondo na Cidade da Vingança. Sinto o calor minguante
derramar pela janela do quarto em meu rosto e gostaria que já tivesse
passado.
Eu prefiro a escuridão hoje em dia.
Desde que o perdi.
Meu companheiro.
Desta vez, eu desconsidero o copo e tomo um gole direto da garrafa.
GLUG. GLUG. GLUG.
Por sorte, hoje seria a porra do aniversário de Greyson.
Então, estou comemorando sozinha no topo da Torre da Vingança,
fazendo um brinde ao único lobo que eu já amei.
Aquele que me confessou seus sentimentos, aquele que rejeitei por
orgulho, aquele que levou uma lança no coração e morreu sem motivo.
Sentindo a raiva crescer novamente, joguei a garrafa de lado. Ela bate
contra a parede, vidro e bebida voando por toda parte.
Foda-se, eu acho. Vou pegar outra. Eu me levanto, vacilante, só agora
apreciando o quão bêbada eu fiquei. Dou um passo hesitante em direção
à janela para fechar as cortinas.
Não quero ser lembrada de meus deveres como líder da Cidade da
Vingança ou o Alfa da Matilha da Igualdade.
De que adianta se eu nem mesmo sou reconhecida por Alfa Kaden,
meu suposto parceiro?
Esse pedaço de merda maldoso.
Enquanto eu alcanço as persianas, porém, ouço uma batida na porta
de madeira atrás de mim.
Tap tap, tap-tap-tap. TAP-TAP!
Tem um ritmo lúdico, do qual não gosto nem um pouco. Eu giro
instantaneamente, pegando minha adaga.
— QUE PORRA É ESSE?!
Uma figura sombria está parada na porta. Diferente de qualquer
homem que eu já vi antes.
Fino, com cabelo laranja comprido e fibroso. E, mesmo através das
sombras, um sorriso largo e cheio de dentes que poderia iluminar uma
cripta.
— EU DISSE, — eu me repito ainda mais alto, — QUEM. É. VOCÊ.
PORRA?!
— Namaste, Alfa Lexia, — o homem responde em um tom fantasioso,
entrando na luz. — Permita-me dar uma cara ao nome.
Devo estar ainda mais bêbada do que pensava. Porque quem é o
homem que estou olhando agora?
Ele está usando maquiagem para caralho.
Por outro lado, suas roupas são mais coloridas e deslumbrantes do que
um turista da Matilha do Amor.
— Que porra... — eu digo em descrença. — Você é algum tipo de...
palhaço?
— Umm... isso é classista, — ele diz, apontando um dedo acusador.
— O termo politicamente correto é bobo Abaixo a burguesia! — ele
diz, sem brilho, jogando o punho no ar.
— Além disso, os palhaços são mais do tipo circense, — continua. —
Eu sirvo às ordens e chamadas de meus governantes.
— Kaden! Como as antigas cortes — embora eu não seja totalmente
antiquado! Não se deixe enganar... por um tolo.
Onde está minha arma?
— O idiota tem nome? — Eu pergunto, ainda segurando minha adaga.
— E uma razão para ele estar aqui sem alertar meus guardas?
— Ah, esses! — Ele diz, olhando para trás pela porta. — É engraçado
como aqueles guardas estão preocupados com assuntos sérios.
— Como a prostituta morta no saguão.
— O que?
— O quê?
— QUEM É VOCÊ, PORRA?!
— Você pode me chamar pelo meu nome bíblico...
Zane.
Eu agarro minha lâmina. — Você está longe da 'terra prometida', Zane.
— Tende a acontecer quando você vagueia pelas terras devastadas do
deserto por 40 anos, Alfa Lexia...
— Não me chame assim, — eu digo.
— O que?
— Alfa. Não faça isso. É degradante.
Ele parece genuinamente confuso por um momento. Mas então ele dá
um passo para dentro e, de dentro de sua manga fina, tira um buquê de
flores.
— Flores? — Ele oferece.
Após uma inspeção mais aprofundada, eu percebo que ele está
segurando um monte de cabides de arame tortos com fios de grama
enrolados em volta deles.
— Eu não quero isso.
— Então me permita realizar um truque de mágica complementar, —
ele diz enquanto caminha até uma garrafa de bebida pela metade.
— Vou fazer esse uísque desaparecer! — Ele pega a garrafa e começa a
engolir.
— EI! — Eu grito, correndo e arrancando a garrafa de suas mãos.
— Desculpe, esqueci que estava no AA, — diz ele timidamente,
irritando-me ainda mais.
Eu aponto minha faca em sua direção e ele rapidamente salta para
trás.
— Espera! Eu estava simplesmente querendo distraí-la, — diz ele, —
como é costume quando alguém bebe para ser desviado!
— Desvie seu caminho de volta para qualquer buraco de onde você
saiu, como é isso? — Eu cuspo. — GUARDAS!
Imediatamente, meus guardas da Matilha da Igualdade correm para a
sala e apontam suas lanças para o pescoço de Zane. Ele levanta as mãos.
— Calma agora, Senhoritas, — ele diz. — Eu irei em silêncio. Como eu
posso.
Enquanto ele dá um passo hesitante em direção à porta, seus sapatos
rangem ridiculamente alto.
Eu balanço minha cabeça, perplexa.
— Desculpe, Alfa, não sabemos como ele passou por nós. Quer que o
matem?
Eu aceno minha mão como se dissesse — esqueça. Só então, Zane se
volta para mim como se lembrando de algo — seu humor sombrio.
— Você já deve ter ouvido o que aconteceu ao meu antigo bando, —
ele diz.
— Eu sei. Qual o seu ponto?
— Nada, eu... eu só queria dizer que eu também sei o que é perder
alguém querido.
Isso me pegou desprevenida.
— Você é algum tipo de leitor de mentes?
— Como alguém que pinta o rosto para viver, é fácil ver as máscaras
atrás das quais os outros se escondem.
— Pelo que eu sei do seu passado... Sua perda... Bem, eu só pensei que
você poderia usar um pouco de ânimo. Eu vou deixar você em paz, — ele
diz enquanto se vira para a porta.
Assistindo ele sair, eu percebo... este bobo da corte, Zade — ou
qualquer que seja seu nome — ele é exatamente como eu. Uma alma
perdida.
Talvez seja só a bebida falando, mas quase sinto pena dele.
— Você veio até aqui só para me entreter? — Eu pergunto.
Ele concorda. — Ia apresentar a vocês minha adaptação para um show
solo de O Apanhador no Campo de Centeio.
Uma gargalhada irrompe da minha boca antes que eu tenha a chance
de me conter. Não consigo me lembrar da última vez em que realmente
ri alto.
— Como diabos você conhece essa referência? — Eu digo. — Eu só vi
uma cópia em toda a minha vida.
Ele encolhe os ombros. — Certa vez, encontrei um depósito cheio
deles — fardos inteiros! Eu o usei principalmente como papel higiênico.
Eu rio mais uma vez.
O que há de errado com você, Lex?
Eu sei que quero ficar sozinha.
Eu não quero a companhia desse bu ão.
Mas, ao mesmo tempo, sinto-me atraída por ele por razões além da
minha própria compreensão.
— Guardas, deixem-nos, — eu digo de uma vez.
— Você tem certeza, Alfa. A respeito...
— Não me faça repetir.
Eles acenam com a cabeça e correm para fora da sala, deixando Zane e
eu sozinhos.
Eu seguro o uísque.
— Ei, palhaço.
Ele olha por cima do ombro, como se houvesse mais alguém a quem
eu estivesse me referindo.
— Que tal uma bebida?

Estamos bêbados. Agora estou chorando com as piadas de Zane. E eu


tenho que admitir. Há mais no — bobo da corte — do que aparenta.
Ele tem uma tendência perversa que posso apreciar. Quanto mais
mesquinha é a piada, mais gosto dela.
E esse maldito cara pode entreter uma sala, porque as piadas estão
ficando mais e mais escuras.
— Então, esses dois canibais no bar, — ele continua.
— Eles estão comendo o palhaço, quando um se vira para o outro e
diz.
— Isso tem um gosto engraçado? — Eu interrompo, tomando um
gole.
— Não. Eu tenho câncer.
Eu cuspo na cara de Zane.
— Beba, — eu digo, apontando para a garrafa enquanto tusso.
Quanto mais tempo passamos juntos, mais me encontro gostando da
companhia do bobo da corte.
Talvez eu seja apenas uma miserável bêbada, e isso é tudo que posso
suportar. Mas é alguma coisa.
E isso ajuda a manter minha mente longe de...
— Então, os rumores são verdadeiros? Sobre o seu companheiro? —
Zane pergunta, me surpreendendo.
— Sim, — eu digo, me mexendo na minha cadeira. — O que é isso
para você?
— Dizem que um bobo da corte só deve ter um amor e... — Ele faz
uma pausa, parecendo imerso em pensamentos.
— Foda-se um pato. O que foi isso...
— Algo a ver com o público...
— Não consigo me lembrar do resto, mas a piada termina com uma
orgia de sangue induzida pelo vinho.
Eu ri. Quanto mais bêbado ele fica, mais engraçado ele fica, quer saiba
disso ou não. Agora, ele está falando mal.
— Mas você quer saber a verdade? — ele pergunta. — Eu nunca amei o
público. Eu faço, danço como um macaco porque é tudo o que sei. E me
divertir ou me matar, eu acho.
Woah. A merda acabou de se tomar real.
Ouvir o bobo da corte falar sobre suicídio, especialmente depois do
que aconteceu com Alfa Ip, atinge um nervo.
Pego sua mão, me surpreendendo.
— Você tem que amar alguma coisa, — consigo dizer. — Mesmo que
seja estúpido. Mesmo que não tenha sentido.
— Você consegue?
Eu concordo. Por um segundo, eu percebo que nossas mãos ainda
estão entrelaçadas, e eu juro que posso sentir um calor estranho e
enervante entre nós.
Como tomar isso real, abrir tanto está nos abrindo para outras coisas.
Eu rapidamente puxei minha mão.
— De qualquer forma, — eu digo, pegando a garrafa. — Que porra eu
sei?
Mas quando eu começo a levá-la aos lábios novamente, Zane agarra a
garrafa, me parando.
— O que? — Eu pergunto.
— Você é significativa, Alfa Lexia, — ele diz calmamente. — Até um
tolo pode ver isso.
Ele me chamou de Alfa novamente depois que eu o avisei para não
fazer.
Mas, para ser honesta, desta vez, isso não me incomoda. Algo sobre
seu tom, sua expressão...
Ele me vê como eu sou.
Eu sorrio.
Inferno, estou começando a gostar desse cara.
MARA

Quando o carro finalmente para eu saio e espero ver uma cena


silenciosa diante de mim. Uma Matilha da Pureza em frangalhos.
Ninguém à vista.
Mas, para minha surpresa, parece que todo o bando está aqui,
esperando pela minha chegada.
— Mara!
Meus pais estão correndo no meio da multidão e eu mal tenho tempo
para reagir quando eles me abraçam. — Estamos tão felizes por você ter
vindo.
— O que... o que está acontecendo? — Eu pergunto, nervosa.
— Quer dizer que Milly não te contou? — Minha mãe pergunta.
Eu me viro para Milly, que me dá de ombros envergonhada.
— Me contou o quê?
— Mara, — diz meu pai, agarrando minhas duas mãos. — A Matilha
da Pureza decidiu.
— Queremos que você seja nossa nova Alfa.
Capítulo 7
BARRIL DE PÓ
Eu vejo seu rosto.
Eu vejo seu sorriso amoroso, seus olhos bondosos.
Eu sinto suas mãos deslizarem em volta da minha cintura, me puxando para
mais perto.
Ele está me tocando do jeito que eu sempre quis ser tocada.
Ele está me amando do jeito que eu sempre quis ser amada.
Eu sei que ele está morto.
Eu sei que isso deve ser um sonho...
Mas parece tão real.
LEXIA

Estou com Greyson no meio de um campo desconhecido, a luz ao


nosso redor um cinza estranhamente apagado, como se estivesse
indeciso se este é o começo ou o fim de um dia.
Mas nenhum dos detalhes de nosso entorno importa.
O que importa é que ele está aqui. Ele está vivendo, ele está
respirando, ele está ao meu lado.
— Lexia, — ele diz, seus olhos parecendo tristes por algum motivo. —
O que você está fazendo aqui?
— Estou aqui para você, Greyson, — eu digo. — Eu queria retirar o
que eu disse.
Ele sorri e coloca a mão no meu rosto, me fazendo estremecer.
Nenhum homem jamais me tocou dessa forma.
Com carinho. Com ternura.
O único toque que eu já conheci foi daquele bastardo do Coen, e
todos os homens nojentos para quem ele me vendeu anos atrás, quando
eu era apenas uma de suas escravas sexuais.
E a razão pela qual nunca fui capaz de me abrir.
Para me permitir amar. Para ser amada. Porque os homens sempre
acabam me machucando.
Mas Greyson não tem um osso médio em seu corpo. E a sensação de
sua palma calejada contra minha bochecha está me deixando corada.
— Eu sempre soube, — ele disse calmamente. — Mesmo que você não
pudesse admitir, eu sabia que você se importava.
— Eu sinto muito, — eu digo, sentindo as lágrimas se formando em
minhas pálpebras, — que eu não te abracei como meu companheiro.
Quando eu pude.
— Você está fazendo agora, — ele diz. — Isso é tudo que importa.
Ele me puxa para um abraço tão repentino, tão caloroso, meus
instintos de lutar, de resistir, nem mesmo tenho tempo de alcançar meu
corpo.
E agora, pela primeira vez em muito tempo, eu me permito ceder.
— Eu te amo, Lexia, — ele sussurra em meu ouvido. — Eu sempre
vou.
Eu olho em seus olhos, e sei que ele está falando sério. Eu não preciso
responder. Não em palavras. Um beijo terá o mesmo significado.
Então eu o beijo. Nossos lábios se enredam em uma tempestade de
anseios reprimidos, finalmente cedendo a liberação que desejaram por
tanto tempo.
O calor de sua respiração, o gosto de sua língua...
É tudo para mim.
— Leve-me, — eu digo, me surpreendendo. — Eu quero você, Grey
son.
— Não deveríamos, — diz ele, olhando para a esquerda e para a
direita. — Aqui não.
— Onde mais?
Desta vez, ele não tenta lutar contra isso. Ele cede assim como eu
estou cedendo.
Trazendo suas mãos para a barra da minha camisa e lentamente
levantando-a acima da minha cabeça.
Não há nada por baixo, e meus mamilos imediatamente endurecem
com a sensação da brisa fresca.
E estranho me permitir ser vulnerável, nua na frente de alguém.
Mas se há alguém com quem posso fazer isso... é meu companheiro.
Tiro sua camisa em seguida, nós dois correndo para tirar as calças,
enquanto caímos um em cima do outro no campo.
Já posso sentir sua protuberância, inchada, pressionando contra meu
abdômen.
Eu me abaixo para tocá-lo e ele agarra minha mão.
— Você não precisa, Lexia... — ele sussurra. — Só se você tiver certeza.
— Tenho certeza, — digo, sem fôlego.
Quando eu o seguro, sua cintura poderosa pulsando em minha mão,
seus olhos reviram em sua cabeça, e eu me encontro molhada apenas
com a visão de sua própria excitação.
— Você se sente bem, — eu digo. — Você se sente como se fosse meu.
Suas mãos, segurando minha bunda nua, descem atrás de mim para o
meu núcleo e eu tremo em antecipação.
Enquanto seus dedos mergulham dentro de mim, eu desabo em cima
dele, gemendo.
— Há anos imaginei este dia, — ele rosna em meu ouvido, — e é
melhor do que todos os meus sonhos juntos.
Eu sorrio, ofegante enquanto seus dedos mergulham ainda mais,
começando a me massagear de dentro para fora.
Seu pau ainda esfrega contra o meu estômago, e tudo que eu quero é
substituir aqueles dedos por algo real.
Eu o agarro novamente.
— Por favor, Greyson, — eu imploro.
Ele sorri, me levantando, beijando-me no pescoço, preparando-se para
entrar em mim.
— Acho que é a primeira vez que ouço você implorar, Lexia, — ele diz.
— Eu gosto do som disso.
— Eu te amo, — eu respondo.
E tudo o que posso pensar para dizer.
E então, quando seu pau está prestes a entrar em mim, enquanto
nossos corpos estão prestes a se enredar de uma forma que só os de
companheiros podem, pois nosso amor está prestes a ser consumado...

Acordo assustada, ofegante, olhando para a esquerda e para a direita,


percebendo que tudo não passou de um sonho. O sonho mais cruel do
mundo.
Porque meu companheiro está morto.
Porque nunca verei Greyson novamente.
E é então que vejo um corpo nu deitado ao lado do meu na minha
cama. Um homem magro com cabelo laranja pegajoso.
É Zane.
O maldito bobo da corte.
Eu realmente...
Será que eu poderia ter dormido com ele?
Ele pisca, abre os olhos, me lança um sorriso cheio de dentes e tira um
cigarro do nada. — Nascer do sol. Fumaça pós-coito?
Que porra é essa.
Sinto uma vontade repentina de vomitar.
— Dar o fora! — Eu grito. — AGORA!!!
Os olhos de Zane se arregalam e ele rapidamente pula da cama,
juntando suas roupas multicoloridas, sua bunda nua brilhante como a
maldita lua.
Eu caio de volta na cama e fecho meus olhos enquanto ele sai
correndo porta afora. Desejando poder voltar ao sonho. Para meu
companheiro.
Meu Greyson.
MARA

— Você quer que eu seja seu... O QUÊ?


Estamos sentados na sala de estar da minha casa de infância agora,
longe dos cidadãos do bando, para que eu possa ouvir sua proposta em
particular.
Mas não está tornando a ideia mais fácil de engolir.
Esta é a quinta vez que meus pais me explicam isso e, ainda assim, não
consigo entender o que estão dizendo.
Como eu poderia, Mara, me tomar o Alfa da Matilha da Pureza?
Enquanto minha mãe traz chá e biscoitos — ou pão deformado que
parece biscoitos — para o quarto, eu dou uma olhada em meu pai devoto
na minha frente.
Como algum deles poderia querer isso?
— Peço desculpas por não termos uma refeição mais adequada para
você, Mara, — diz minha mãe. — Desde a morte de Alfa Rylan, os
recursos têm estado um pouco baixos.
— Não estou com fome, — digo. — Estou apenas confusa. Desde
quando sou digna da Matilha da Pureza?
Muito menos ser a Alfa?
Eu penso em todas as vezes que minha matilha me evitou.
Os professores batendo em meus pulsos por serem sacrílegos.
Minhas amigas, em seus vestidos longos, fazendo cara feia para
minhas saias minúsculas.
Meus próprios pais se recusaram a reconhecer Alfa Kaden como meu
companheiro.
Claro, eu sei que eles eram manequins que sofreram lavagem cerebral.
Fanáticos religiosos e tudo.
Mas eles realmente mudaram tanto que estão jogando fora todas as
suas tradições?
— Deixe-me explicar, Mara — diz meu pai com uma respiração
instável. — Isso é difícil para nós também, espero que você saiba. Admitir
a culpa... não é fácil para nosso povo.
— Mas estávamos errados. Sobre Rylan. Sobre nossa fé. E,
principalmente, sobre você.
Eu fico olhando em descrença enquanto as lágrimas se formam nos
olhos do meu pai e ele engasga. Minha mãe dá um tapinha nas costas
dele, continuando em seu lugar.
— Querida, — ela diz, — você nos salvou. Estávamos trabalhando em
um bunker como escravos. E você nos libertou.
— Você mostrou ao bando como é a verdadeira liderança. Após a
queda daquele falso ídolo, Rylan, nós voltamos para alguém verdadeiro.
Você.
Eu comecei a rir, incapaz de pensar em uma reação mais razoável. E
tudo muito louco para acreditar.
— Mas, gente, eu não sou pura o suficiente! — Eu exclamo. — Você
mesmo disse isso. Eu nem sei se acredito na Deusa da Lua.
Tanto minha mãe quanto meu pai erguem os olhos, sussurrando uma
pequena prece como se dissessem M? o dê ouvidos a ela. Deusa da Lua. Ela
não sabe o que diz.
— Estou falando sério, pessoal! — Eu grito, me levantando.
Meu pai se levanta e pega minha mão. — Mara, não estamos dizendo
que você precisa decidir agora. Mas olhe para a Matilha. Nosso povo
precisa de você.
— Mesmo que você não acredite, nós acreditamos em você.
— Só você pode restaurar nossa Matilha. Repurifique-nos aos olhos da
Deusa da Lua.
— Por favor, Mara, — diz minha mãe.
Eu olho para frente e para trás para as duas pessoas que me criaram,
incapaz de formar uma resposta. O que devo dizer a eles?
E o que diabos isso significa para Kaden e eu?
KADEN

Com Mara desaparecida e o bobo da corte longe de ser encontrado,


decidi procurar Lexia.
E hora de deixá-la saber que estou confiando nela e em Brutus para
liderar o chamado Conselho.
Vá em frente, eu acho. Foda-se tudo. Vou gostar de assistir.
Chame de cínico, chame de estúpido. Eu não dou a mínima.
Eu sou o Alfa e se há uma coisa que eu sei é que a liderança vem em
muitas formas e tamanhos.
Então, aqui estou eu na Cidade da Vingança, me preparando para me
encontrar com a Alfa da Matilha da Igualdade para discutir os detalhes
mais importantes: Segurança nas fronteiras. Esmagando rebeliões em
potencial. A merda da Matilha do Caos, seja lá o que for.
Sinto falta dos dias em que estava no comando? Quando devo entrar
em ação? Quando meus próprios membros da matilha confiaram em
mim?
Claro que eu me pergunto.
Mas nada disso importa agora.
Eu viajei o dia todo, mais de 200 milhas, e agora ando pelas ruas da
Cidade da Vingança, que, não faz muito tempo, estavam cheias de caos.
E tenho que admitir — admiro o quanto Lexia fez para limpar este
lugar.
Há comércio por toda parte.
Vendedores que vendem alimentos frescos.
Comerciantes discutindo ruidosamente uns com os outros.
Clientes, fora de casa.
Isso não parece tão ruim. Talvez Lexia seja melhor nisso do que eu
pensava.
Que é quando eu vejo isso. Uma pequena figura encapuzada
disparando por um beco, parecendo estar tramando algo ruim.
Meus instintos Alfa para seguir entram em ação.
Eu desço o beco, aumentando meu ritmo, tentando acompanhar a
pequena figura. Tão pequeno que pode ser um anão ou uma criança.
Mas não há como saber com o capuz na cabeça.
Eu vejo que ele está carregando algo. Algo pesado.
Mas o que diabos é isso?
Eu fungo... quase cheira a morango.
Começo a correr para tentar pegar a figura, viro uma esquina e me
encontrar em um beco sem saída.
Acima de mim surge a enorme torre no epicentro da Cidade da
Vingança.
De alguma forma, a pequena figura desapareceu.
Mas não o pacote que ele carregava. Ele está situado na base da torre,
fazendo um som que posso ouvir claramente agora.
TICK. TICK. TICK.
Eu me apresso e rasgo o papel que o envolve, e me assusto para trás.
Estou olhando para um dos dispositivos antigos que foram usados
durante a Grande Guerra para devastar cidades e civilizações.
TICK. TICK. TICK.
O cheiro de morango faz sentido agora. É o C4 embutido nele.
TICK. TICK. TICK..
Estou olhando para... uma bomba.
Capítulo 8
RISOS E FOGO
Eu procurei de cima a baixo.
Do topo da pirâmide até as bordas do deserto.
Miragens e oásis passados de todo tipo.
Mas, ainda assim, não encontro sobreviventes.
Nenhum vestígio de vida da Matilha da Disciplina.
Parei onde irei agora?
Como vou voltar parei a Matilha da Vingança, de mãos vazias?
KACE

Mesmo mudado na minha forma de lobo, usando meu nariz para


procurar qualquer sinal de vida, não encontro nada. Apenas morte.
Os membros da Matilha de Disciplina se foram. Toda esta jornada foi
inútil. Não tenho mais respostas do que quando vim aqui.
E, ainda assim, me pego procurando.
Com esperança.
Rezo.
Alfa Ip não teria vindo à minha cerimônia de acasalamento e se
matado a menos que houvesse um bom motivo.
O que quer que esta Matilha do Caos seja ou não, deve haver alguma
pista escondida nestes destroços.
Ou isso é apenas mais uma ilusão? Outra miragem desaparecendo no
horizonte do deserto ao meu redor?
As respostas não podem ser encontradas?
Quando concluo minha busca do dia, decido que é hora de voltar para
a Matilha da Vingança.
Minha nova companheira precisa de mim. Destiny, aquela doce
menina, ela precisa de mim também.
Eu mudo de volta para minha forma humana, coloco minhas roupas,
pego minha bolsa e começo a caminhar ao longo da estrada.
Eu sei que seria mais rápido se eu permitisse que meu lobo me
carregasse para casa, mas agora... estou muito exausto.
Minha energia está diminuindo. Eu simplesmente caminho. E
caminho. E caminho. Ao longo de uma estrada vazia em direção a lugar
nenhum.
E então eu percebo. A minha frente, quase imperceptível no início,
mas real — sem miragem — há um rastro de sangue.
Como se alguém estivesse caminhando por esta estrada, sangrando.
Um sobrevivente da Matilha do Disciplina!
Uma onda de adrenalina toma conta enquanto eu corro para frente,
seguindo o sangue, esperando que ele me leve a um corpo. Para alguém,
qualquer pessoa, que pode me dar algumas respostas.
Agora estou correndo, notando que as gotas estão ficando cada vez
mais frescas.
Estou perto.
Enquanto corro com todas as minhas forças, vejo uma forma distante
deitada na terra à frente.
Por favor, deixe-os estar vivos!
Eu corro o mais rápido que posso e caio de joelhos ao lado da figura.
Eles estão cobertos de sujeira e sangue e parecem tão mortos quanto
todos os membros da Matilha da Disciplina que encontrei na pirâmide.
Mas quando coloco meus dedos em seu pulso, eu sinto.
Fraco. Mas está aí.
Um pulso.
Uma batida de coração.
Respirações superficiais, dentro e fora.
Eu rapidamente pego o cantil de água da minha bolsa e levo aos lábios
do sobrevivente, endurecido com poeira.
Ele não podia ter mais de vinte anos, pelo que parecia.
Apenas penugem de pêssego onde deveria haver barba.
— Acorda! — Eu digo, sacudindo-o suavemente. — Acene se puder me
ouvir!
Ele engole a água, tosse e, de olhos ainda fechados, acena com a
cabeça. Ele pode me ouvir!
— Diga-me o que aconteceu com a Matilha da Disciplina, — eu digo.
— Por favor.
— Caos... — ele responde, sua voz apenas rouca.
— Caos... em toda parte.
Posso sentir agora que sua força vital está diminuindo. Estas são suas
últimas respirações que estou testemunhando.
Eu o sacudo suavemente mais uma vez, sabendo que preciso aprender
tudo o que puder o mais rápido que for humanamente possível.
— A Matilha do Caos, — eu digo, balançando a cabeça. — Eu sei. Alfa
Ip nos avisou. Mas quem são eles?
— Eles? — ele pergunta debilmente. — Nós? Vocês?
Sua mente está desorientada. O sol escaldante não foi amigo dele. E a
ferida em seu intestino, sangrando dia após dia, certamente também não
ajudou.
— Por favor, me diga, — imploro a ele, — como isso aconteceu?
— Eles estão vindo... — ele sussurra, ofegando por ar.
— Eles estão vindo atrás de você, Kace.
Ele me reconhece. Devemos ter treinado juntos durante meu tempo
na Matilha da Disciplina.
Então, por que não posso identificar seu rosto? Eu estava tão
envolvido em expulsar meus próprios demônios?
— Eles estão vindo para a Vingança a seguir, — ele avisa. — Cuidado...
Meus cabelos se arrepiam quando minhas piores suspeitas são
confirmadas. O aviso de Alfa Ip não foi feito apenas para mim. Mas para
toda a Matilha.
O que o sobrevivente diz a seguir me surpreende.
— Cidade! Vingança...
Então, nosso bando não é o alvo? Alguém precisa contar a Lexia e
Brutus! Antes que eu possa alcançá-los, no entanto, o sobrevivente
continua.
— Cuidado... — ele resmunga entre tosses sangrentas.
— Cuidado com o riso das crianças.
Eu franzo a testa em confusão. O riso das crianças? O que isso quer
dizer?
Mas quando me preparo para perguntar mais uma vez, ele solta um
suspiro de ar mortal, convulsiona e fica imóvel.
Morto.
O último sobrevivente da Matilha da Disciplina morreu, deixando-me
com mais perguntas do que respostas.
E um aviso final:
Cuidado com o riso das crianças.
Mas o que isso poderia significar?
Talvez o outro sobrevivente, este bobo da corte, Zane, possa lançar
alguma luz.
Eu me levanto e mudo para o meu lobo. Não importa o quão cansado
eu esteja agora.
Devo avisar a Cidade da Vingança de uma vez!
Kace: Kaden!

Kace: Kaden, você pode me ouvir?

Kace: A Matilha do Caos tem como próximo alvo a Cidade da Vingança.

Kace: Kaden?

Kace: KADEN!!!

KADEN

Uma bomba. A porra de uma bomba-relógio.


Eu só ouvi histórias sobre esses instrumentos de destruição em massa.
Mas eu conheço um quando vejo um.
Há um relógio embutido nele, funcionando. Três minutos, em
contagem regressiva...
Embora eu ouça Kace me chamando, não tenho tempo para
responder. Eu tenho que me mover neste instante.
A torre que fica no centro de Cidade da Vingança será explodida,
incluindo seus ocupantes. Lexia. Toda a Matilha de igualdade.
Quem quer que tenha colocado isso aqui, aquela pequena figura
correndo pelos becos, terei tempo para perseguir mais tarde.
Agora, preciso parar esta bomba. Mas como?!
Eu levo minhas mãos para a confusão de fios e recuo.
Quem estou enganando? A ideia de que posso desarmar essa coisa é
uma loucura.
Mas eu sou o Alfa. E se há uma coisa que posso fazer é proteger as
pessoas.
Eu mudo para o meu lobo, rasgando minhas roupas, e solto um uivo
de advertência, esperando que Lexia me ouça.
Eu não tenho muito tempo. Mas eu tenho que fazer valer a pena.
Dois minutos e trinta segundos.
Serei rápido o suficiente para impedir isso?
LEXIA

— Você ouviu isso?!


Amber, minha tenente de maior confiança, entra correndo em meu
escritório enquanto eu olho para a Cidade da Vingança, procurando.
Claro que ouvi, porra.
Posso estar de ressaca para caralho com a noite estranha que
compartilhei com Zane, mas isso não fode com todos os meus sentidos.
O uivo de advertência de um companheiro Alfa não poderia ser
confundido em lugar nenhum.
Mas o que Kaden está fazendo aqui? E do que ele está me avisando?
Não acredito no que ele realmente quer — considerando que ele nem
ao menos me reconheceu como ser humano, muito menos como uma
companheira líder.
Mas reconheço o pânico nesse tom, e isso me assusta.
— Diga às mulheres para se mobilizarem, — digo a Amber. — Temos
que segui-lo!
MARA

Estou no carro novamente, voltando para a Matilha da Vingança,


ainda processando o que meus pais pediram de mim.
O que toda a Matilha da Pureza pediu de mim.
Vejo a Cidade da Vingança à distância, passando por ela no nosso
caminho, e me pergunto o que Lexia pensaria disso.
Que é quando eu os vejo. Lobos correndo nos arredores da cidade em
direção à velha ponte decadente.
Que uma vez já teve uma bela cor vermelha. Uma vez chamado de —
Golden Gate — por algum motivo.
O que os lobos estão fazendo?!
— Temos que parar, — diz o motorista, batendo o pé no freio. — Eles
estão preparando um bloqueio da estrada.
— Por que?
Ele encolhe os ombros.
Quando o carro está estacionado, eu saio e sigo meu olhar dos lobos,
correndo em direção à ponte, em direção a outro lobo à distância.
Ele está correndo o mais rápido que pode em direção à floresta do
outro lado da ponte.
Um lobo que eu conheço.
Um lobo que amo.
KADEN!
KADEN

Minhas patas se catapultam pelo cimento da ponte enquanto corro


mais rápido do que já corri antes.
Estou tentando contar os segundos, mas é difícil manter tudo certo.
Tudo o que sei é que essa bomba, pendurada em um saco dentro da
minha mandíbula, vai explodir a qualquer segundo.
E se eu não for rápido o suficiente, isso destruirá a cidade inteira.
E todos nela.
Ouço outros lobos uivando atrás de mim e sei que Lexia está me
seguindo.
Droga!
Eles precisam fugir ou morrerão também.
Corro para a periferia da floresta que já foi chamada de Muir Woods,
de frente para a cidade, na esperança de que, se conseguir me afastar,
ninguém se machuque.
Que é quando um cheiro familiar entra nas narinas do meu lobo. O
cheiro da minha companheira. Mara!
O que ela está fazendo aqui?!
Corro ainda mais rápido, rezando para que ela não seja tola o
suficiente para me seguir.
LEXIA

— PARE!!!! — Eu ordeno os membros da minha matilha quando


chegamos ao meio da ponte.
Todos nós mudamos para nossas formas humanas, observando Kaden
correr à frente na floresta, desaparecendo.
O que quer que ele esteja fazendo aqui, seja lá o que for que essa bolsa
com cheiro de morango esteja carregando, tenho um mau
pressentimento.
Meu instinto está me dizendo para parar por aqui.
Esperar. Para fortalecer nossa cidade em caso de uma ameaça.
— Lexia!
Viro e vejo Mara, ao lado de um carro próximo, correndo em minha
direção.
— O que você está fazendo aqui?! — Eu grito. — Volte para o carro,
Mara!
— O que está acontecendo? Por que Kaden está correndo para a
floresta? O que ele estava carr...
Ã
— EU NÃO SEI! — Eu grito. — Volte para o carro. Pode haver perigo!
Sei que Mara tem boas intenções, mas agora, minha prioridade é
defender minha matilha e minha cidade.
Qualquer que seja a ameaça, qualquer que seja o significado do aviso
de Kaden, devemos estar prontos.
KADEN

Paro no meio de uma clareira e me atrevo a dar uma olhada na bolsa.


Trinta segundos.
Trinta segundos e essa maldita bomba vai explodir, explodindo sabe-
se lá quanto.
Não sei quanto explosivo contém. Mas é grande.
Espero ter me afastado o suficiente da cidade para impedir o raio.
Mas e quanto a Mara? E quanto a Lexia e seus lobos? A explosão ainda
alcançará a ponte?
Pior ainda, isso vai me alcançar?
Eu sei que não tenho tempo para ir mais longe.
Tenho que voltar agora se conseguir. Se eu vou ver minha
companheira novamente.
Minha Mara.
Eu solto a bomba e corro.
Arranco.
Perseguindo minha própria sombra o mais rápido que puder, de volta
à ponte.
Tentando contar os segundos passando na minha cabeça.
Vinte e cinco...
Vinte e quatro...
Vinte e três...
MARA
Eu vejo as árvores se movendo e sei que é Kaden.
Ele está perto! Ele está voltando para nós. Eu agarro o braço de Lexia.
— Esse é ele!
Ele emerge através da linha das árvores em sua forma de lobo, e meu
coração pula de alegria. Fosse o que fosse que ele carregava, sumiu. O
perigo se foi.
— Está tudo bem, Mara, — ela diz. — Tenho certeza que há uma
explicação de merda...
Lexia nunca consegue terminar sua frase.
Um segundo depois, o mundo entra em erupção enquanto as chamas
alcançam os céus e a floresta é reduzida a pedacinhos.
Meu companheiro é lançado pelo ar, muito perto da explosão,
enquanto eu grito de terror.
— KADEN!!!!!!
Capítulo 9
NOS DESTROÇOS
Ofego está em toda parte.
As chamas queimam seu pelo perfeito.
Estilhaços marcam sua linda pele.
E ele jaz, imóvel, entre os destroços.
Meu companheiro... Meu Kaden...
Ele vai conseguir?
MARA

Estou andando do lado de fora do prédio da curandeira, de volta a


Matilha da Vingança com Lexia e Brutus.
Eles estão falando, mas não ouço uma palavra do que estão dizendo.
Após a explosão, tudo é um borrão.
17: 20 @ ©,, i. 79% i
Lembro-me vagamente de correr para o lado de Kaden, agarrando seu
rosto, implorando para que ele abrisse os olhos.
Eu ainda posso ver os membros da matilha de Lexia pegando seu
corpo flácido e correndo com ele para o caminhão.
Lembro-me de lutar para saber para onde estavam levando-o.
Mas parece, de alguma forma, como uma vida atrás. Não apenas
algumas horas.
Agora, os curandeiros do bando estão fazendo o que podem para
revitalizá-lo, e eu estou uma pilha de nervos.
Em primeiro lugar, estou grávida do filho de Kaden.
Em segundo lugar, fui convidada a me tomar a Alfa da Matilha da
Pureza.
Terceiro, meu companheiro quase morreu em um maldito ataque
terrorista.
Então me perdoe se minhas habilidades de me concentrar agora estão
um pouco dispersas. — Mara!
Eu me viro para Lexia, que parece preocupada comigo e não com
Kaden.
— O que?! — Eu pergunto, esfregando minhas mãos pelo meu cabelo
bagunçado com cheiro de fumaça, tentando ganhar compostura de...
alguma coisa.
— Quer se sentar já, para que possamos conversar sobre o que
aconteceu? — Ela pergunta, tentando ser paciente.
Embora eu possa ver como isso é desafiador para ela.
Brutus se levanta, agarrando minha mão e me forçando a olhar em
seus olhos. — Sabemos que não parece ser a hora. Mas não temos
escolha. Temos que agir agora.
— Tudo bem, — eu digo, temporariamente acalmada pelo toque de
Brutus. Ele sempre teve esse efeito em mim.
Sento e considero os outros dois Alfas. — Nós vamos? O que há para
discutir? — Eu pergunto.
— Por que diabos Kaden estava na Cidade da Vingança, para começar,
— Lexia diz. — Você tem alguma ideia?
Eu balancei minha cabeça. — Eu saí para ver meus pais.
— É uma estranha coincidência, — diz Brutus. — O Alfa estando lá
apenas quando um ataque estava ocorrendo.
Eu franzo a testa, olhando para Brutus sem acreditar. — Você está
insinuando...
— Claro que não, Mara. É graças a Kaden que a cidade foi salva. Não
estamos dizendo...
— Que ele teve algo a ver com isso, — Lexia termina a frase. — Mas há
muitas perguntas sem resposta.
— Ele viu quem plantou a bomba? Por que a Cidade da Vingança foi
alvo, de todos os lugares? Onde...
— Estavam seus guardas? — Eu interrompo dessa vez. — Como você
deixou isso escapar, Lexia?
— Cuidado, Mara — ela rosna. — Eu sei que você está sofrendo agora.
Mas eu não sou culpada por isso.
— Ninguém é, — diz Brutus, tentando ser o mantenedor da paz. — O
único culpado é o covarde que plantou a bomba.
— Você acha que está relacionado ao suicídio de Alfa Ip? — Eu
pergunto, lembrado de seu aviso final. — A Matilha do Caos?
Brutus e Lexia trocam olhares de medo. É uma visão estranha, dois
alfas parecendo com medo de qualquer coisa.
Mas quando o inimigo não tem rosto...
E responsável por tanta violência...
Sim. E assustador pra caralho.
Um curandeiro sai e todos nós ficamos tensos.
— O Alfa vai ficar bem, — diz ela, e coletivamente respiramos
aliviados. — O bobo da corte está lá com ele agora, ajudando-o a ficar
consciente.
— O QUE?! — Eu grito no topo dos meus pulmões.
— COMO — QUANDO?!
Lexia agarra meu braço. — Tudo bem, Mara. Eu pedi para ele vir. Zane
é um cara decente. Eu sei o quanto Kaden gosta de seus shows.
Eu arranco meu braço de Lexia. — Essa não é sua decisão. Ele é meu
companheiro.
— A primeira pessoa que ele deveria ver sou eu. Não um palhaço!
Com isso, volto e para o curador. — Leve-me até ele.
Agora.
Corro para o quarto de Kaden e paro, surpresa, quando o vejo rindo e
enxugando uma lágrima divertida.
Ele está enfaixado. Parece uma merda. Queimado, quem sabe o quão
ruim.
E ele está rindo.
Às vezes eu juro — meu companheiro é louco pra caralho.
Zane está dando o show mais surreal que já vi.
Em cada uma de suas mãos está um fantoche de meia de aparência
perturbada. Um que se parece com Coen. Outro que se parece com
Kaden.
. —.. E você me fez sequestrar minha própria companheira! — Zane
rosna em uma voz falsa de Kaden, movendo-se ameaçadoramente em
direção ao fantoche de meia de Coen.
— Não! — Ele geme em uma imitação aguda de Coen. — Eu também
estava sofrendo! Eu estou vestida!
De repente, ele vira a mão e revela um fantoche de meia Lexia que
grita — HI-YA! — quando ela acerta o boneco Coen nas bolas. E...
— Kaden! — Eu digo, tendo visto o suficiente, correndo para o lado
dele. — Você está bem?
— Meu amor, — ele diz, encontrando meus olhos. — Eu estou feliz
por você estar aqui.
— Isso é tudo, meu Alfa? — Zane pergunta com uma pequena
reverência.
— Sim, obrigado, Zane. Você levantou meu ânimo em uma hora
negra.
— E o mínimo que eu poderia fazer, — Zane diz, sorrindo. — Aqui
estão suas meias de volta.
Zane tira as meias de suas mãos e as coloca na cama.
Ele então acena com a cabeça, parecendo agradecido, e se dirige para a
porta.
Pela primeira vez, encontro-me realmente apreciando o bobo da
corte. Ele pode parecer estranho. Mas talvez seu coração seja puro.
E se ele traz alegria ao meu companheiro... eu deveria mostrar a ele a
mesma cortesia. — Obrigada, Zane, — eu digo, embora pareça estranho.
— Espero ver você se apresentar novamente em breve. — E espero
fazer você rir! — ele diz.
— Mesmo que isso me mate! — Ele puxa as mangas e revela cicatrizes
em ambos os pulsos. — Eu estava passando por um período estranho na
minha vida.
A gargalhada ruidosa de Kaden grita por cima do meu ombro.
Com isso, o palhaço deixa Kaden e eu sozinhos. Kaden balança a
cabeça, ainda divertido, e eu enxugo as lágrimas, sentando ao lado dele.
— Eu estava com tanto medo, — admito. — Eu pensei que poderia ter
perdido você. Se você estivesse apenas alguns metros mais perto da
explosão— — Isso não teria me impedido, — diz Kaden. — Nada poderia
me manter longe de você, Mara.
Eu me curvo e o beijo.
Já faz muito tempo desde que simplesmente nos abraçamos, nos
beijamos e falamos o quanto nos importamos.
Talvez seja isso que as experiências de quase morte fazem pelas
pessoas. Aproxima-os.
Certamente supera o aconselhamento de casais. — Eu te amo, Kaden,
— eu sussurro.
Mas quando eu olho em seus olhos, ele está dormindo novamente.
Ainda está se curando.
Ele precisa de tempo.
E preciso de tempo para descobrir como vou contar a ele o que me
pedem. Quem sabe como ele vai reagir.
Mara, Alfa da Matilha da Pureza?
Pelo que sei, isso vai estragar o que começamos neste momento. Essa
doçura entre nós.
Eu descanso minha cabeça em seu peito, tomando cuidado para evitar
as bandagens. e fecho meus olhos.
Se meu companheiro quiser dormir, vou dormir ao lado dele.
KACE

Estou atrasado.
Estou muito fodidamente atrasado.
Isso é tudo que posso pensar enquanto corro para o prédio do
curandeiro.
Acabei de ouvir sobre a explosão que quase dizimou a Cidade da
Vingança e feriu meu irmão no processo.
E eu percebo que o aviso do sobrevivente não poderia ter sido provado
mais verdadeiro. Mas a segunda parte de seu aviso é o que continua a me
assombrar.
Cuidado com o riso das crianças...
Ainda não tenho ideia do que diabos fazer com isso. Viro uma esquina
e encontro Lexia e Brutus discutindo.
— Tudo o que estou dizendo, Lexia, é que posso ajudar se você
precisar, — diz Brutus calmamente. — A morte do Alfa Ip primeiro, agora
isso? Talvez a Matilha da Igualdade tenha muito em suas mãos.
— Afaste-se, Brutus — ela o avisa. — Eu comecei a gostar de você. Não
me faça lamentar isso com uma perda temporária de sanidade.
Brutus está prestes a responder quando me vê se aproximando. —
Kace, você está de volta! Alguma notícia da Matilha da Disciplina?
— Algumas, — eu admito. — Mas como está meu irmão? Como está
Kaden?
— Ele vai ficar bem, — Lexia diz. — Mara está com ele agora.
Sozinhos.
Eu entendi o significado. Deveria deixá-los em paz. Mas tenho muito
a dizer ao meu irmão.
E temo o que acontecerá se eu demorar novamente.
Se eu tivesse encontrado o sobrevivente antes, poderia ter evitado o
ataque e...
— Eu conheço esse olhar, — Lexia diz. — Sua cabeça está girando.
Igual a minha. E assim como a de todos.
— Eu não gosto muito de você, Kace. Mas eu não te culpo por isso.
— Então, eu não sei, faça o que você tem que fazer agora. Eu vou
tomar uma bebida.
Com isso, ela caminha em direção a Zane, o bobo da corte. Eu me viro
para Brutus. Ele encolhe os ombros. — Eu tenho que concordar com
Lexia neste ponto. Vá para o seu companheiro.
Minha companheira.
Helena.
Eu anseio tanto por vê-la que está me destruindo. Mas meu irmão
realmente ficará bem? E as notícias podem esperar?
MARA

Eu acordo para encontrar as mãos de Kaden enrolando em volta da


minha cintura, me puxando para mais perto dele.
Ele se sente como uma besta ao lado do meu pequeno corpo, cada
uma de suas respirações profundas fazendo cócegas em meu pescoço.
Parece como... não há outra palavra para isso... lar.
— Você estava sonhando com algo assustador, não estava, Mara? Ele
pergunta, sua voz baixa estrondosa. — Eu senti seus pés chutando.
— Quer dizer, você quase morreu, — digo, ainda me recuperando da
visão aterrorizante da explosão.
— Mas eu não morri, não é? — Ele pergunta, sorrindo. — Estou vivo e
bem. E com fome Sua mão se move da minha cintura até minha bunda.
Eu sorrio quando vejo um brilho malicioso em seus olhos.
— Estou feliz que a explosão não arruinou seu apetite, — eu digo. —
Nem em um milhão de anos, — ele responde.
Ele está prestes a me beijar quando eu me afasto, lembrando de todas
as coisas que preciso dizer a ele — O que é, Mara? — Ele pergunta. —
Você já passou por muita coisa, — eu digo, me levantando e indo para a
porta. — Eu deveria deixar você descansar. Podemos conversar mais
tarde.
— Mara ele diz impacientemente. — Alguns arranhões não são
desculpa para você continuar a esconder segredos de mim. Desembucha.
Merda. Ele viu através de mim.
Eu me viro para olhar nos olhos de Kaden. Não quero estragar o que
começou a florescer entre nós.
Mas se ele descobrir que fui chamada para ser um Alfa... quem sabe o
que vai acontecer?
— Então, Mara? — Ele pergunta. — Você vai me fazer perguntar duas
vezes?
Eu tenho que dizer a ele a verdade.
Eu tenho que dizer a ele a verdade.
Eu tenho que dizer a ele a verdade.
Está na hora.
Está na hora.
Abro a boca e estou prestes a dizer — quando outra verdade sai
inteiramente: — Kaden, estou grávida.
Capítulo 10
INTERNO
Seus silêncios, seus segredos.
A mudança sutil em seu cheiro.
A maneira como minha companheira gravitou em torno de Althea...
Uma mãe.
Como eu perdi todos os sinais, eu não sei.
Mas a alegria em meu coração não pode ser contida.
Mara e eu... vamos ser pais.
KADEN

No começo, não tenho certeza se Mara está mexendo com minha


cabeça. Ela inventou mentiras mais estranhas antes.
Mas pelo tremor em suas mãos e o olhar lacrimejante em seus lindos
olhos... eu sei que é verdade.
Mara está grávida.
Com meu filho.
Nosso filho.
— Mara... — eu sussurro, chocado e oprimido.
A máquina ao meu lado começa a apitar freneticamente enquanto
meu coração dispara e eu arranco o fio. Ele soa ainda mais alto com isso
— então eu arranco o cabo da parede.
Eu não quero nenhum curandeiro invadindo esta sala agora.
Arruinando este momento entre minha companheira e eu.
— Kaden, — ela diz, — Me desculpe por não ter te contado antes. Eu
não sabia como. E...
— Chega de tristezas, — eu digo. — Venha aqui.
Mara se move em direção à cama com cautela.
Agora posso entender por que ela tem estado tão subjugada
ultimamente, muito mais compassiva do que o normal.
Os hormônios provavelmente estão mexendo completamente com
ela.
Mas eu sei que minha impetuosa Mara ainda está lá.
E agora, eu quero ver isso.
Ela chega à cama e põe a mão na minha. — Como... como você se
sente sobre isso, Kaden?
— Como se eu fosse o lobo mais sortudo da porra do mundo, Mara —
digo, sorrindo. — Você está de brincadeira?
Mara sorri, jogando-se em meus braços tão de repente que solto um
— ufa!
— Oh, desculpe, esqueci que você está ferido...
— Cale a boca e me beije, droga, — eu rosno.
Ela sorri e faz exatamente o que eu mando.
E hora de recuperar o tempo perdido.
E hora de mostrar a minha companheira o quanto eu a amo.
É hora de foder bem gostoso.
MARA

Quando me deito na cama do curandeiro ao lado dele, já posso sentir


o quão duro ele está sob o vestido fino.
Droga, ele sempre foi tão grande?
Eu rapidamente tiro minha calça e suspiro quando a mão de Kaden
imediatamente segura minha boceta nua, provocando meu clitóris com a
ponta dos dedos.
— Oh, Kaden, — eu sussurro, agarrando seu membro latejante.
— Eu quero tanto você, Mara, — ele rosna. E posso ver que ele está
falando sério.
Seus olhos estão negros como a noite agora. Ansiosos por meu corpo e
nada mais.
— Vai doer se eu ficar por cima? — Eu pergunto.
Ele balança a cabeça. Então eu cuidadosamente monto em cima dele,
posicionando sua deliciosa circunferência corretamente...
— Mara, — ele sussurra. — Agora.
Com um movimento repentino, eu me abaixo nele, sentindo-o
perfurar minhas paredes, completa e totalmente me conquistando.
Eu o monto, crescendo cada vez mais rápido, meus seios saltando
enquanto ele belisca e morde os mamilos.
Senti tanto a falta disso, não consigo nem compreender que apenas
algumas horas atrás... Kaden quase morreu na porra de uma explosão.
— Pare de pensar, — ele diz, agarrando meu pescoço com força. — E
fode comigo.
— É isso aí, Alfa, — eu digo com um sorriso. Eu me viro para que
estejamos na posição de vaqueira reversa e, eu juro, Kaden nunca foi tão
fundo dentro de mim.
Eu gemo de agonia e deleite enquanto ele mergulha mais e mais
fundo ainda.
Já estou ensopada e estamos apenas começando.
— Afaste-se, — ele rosna.
Eu não sei o que ele quis dizer no começo.
Mas então ele está puxando fisicamente minhas pernas até o rosto, de
modo que estou enfrentando sua masculinidade gotejante agora, estilo
meia nove.
— Primeira vez para tudo, certo, Mara? — Ele rosna.
Um segundo depois, sinto sua língua devastando meu clitóris e
estremeço de prazer, abrindo minha boca para engoli-lo inteiro.
KADEN

Puta merda.
Mara nunca me surpreendeu assim antes.
Talvez seja o ângulo, mas ela está levando mais de mim garganta
abaixo do que eu pensei que fosse humanamente possível.
Eu estou indo a loucura com meu rosto coberto com seus sucos, e eu
paro para admirar seu trabalho.
Esse ângulo a faz parecer uma mulher completamente diferente.
Como uma máquina. E selvagem.
Eu gemo, agarrando sua bunda e indo ainda mais fundo com minha
língua dentro dela.
Estou fazendo círculos, aproveitando cada espasmo e chute
involuntários.
Ela está à beira, posso sentir.
— Kaden, — ela diz, removendo a boca e me masturbando agora. —
Isto é tão bom. Oh meu...
Ela goza, e eu juro que é como a porra de uma fonte, tanta coisa está
saindo.
Eu amo cada momento doce e pegajoso, lambendo tudo.
E agora posso sentir que estou chegando ao clímax. Sua mão está se
movendo tão rápido que é um borrão. — MARA!!!!
Um segundo depois, meu sêmen banha seus lábios enquanto ela
envolve sua boca em tomo do meu pau mais uma vez, tomando tudo
para si.
Eu tenho uma convulsão, totalmente superada pelo meu orgasmo
quando Mara termina e nós dois desmaiamos, sua cabeça ao lado dos
meus pés. E os dela ao meu lado.
— Sentiu muito a minha falta? — Ela pergunta, limpando a boca.
Eu sorrio, me sentindo o homem mais sortudo do mundo.
E pensar que essa deusa do sexo não é apenas minha companheira...
mas a mãe do meu futuro filho.
Ela rasteja ao meu lado, deitando a cabeça no meu peito, e eu acaricio
seus cabelos.
— Nunca mais quero perder outro momento, Mara — prometo a ela.
— Com você ou nosso filhote.
Meu coração está batendo forte no meu peito.
E não por causa do sexo selvagem que Mara e eu acabamos de fazer.
Porque a mulher que amo mais do que tudo tem uma nova vida dentro
dela.
Sonho com este dia há anos. E agora está finalmente aqui.
Eu sou o homem mais sortudo do mundo, não apenas porque ela é
uma deusa do sexo.
Mas porque ela é minha esposa. E a mãe do meu filho que ainda não
nasceu.
— Eu quero ser um grande companheiro, — eu digo. — Um ótimo pai.
Um grande Alfa. Para todos nós.
— Você vai, — ela diz com aquela confiança clássica de Mara. — Ou
seu nome não é Alfa Foda Kaden.
LEXIA

Eu volto para Cidade da Vingança com Amber ao meu lado.


No início, garanto aos membros da nossa matilha que tudo está sob
controle. Então, quando isso é feito, sigo Amber até o carro e decido
parar no marco zero.
Quero ver os restos dessa porra de bomba e ver o que posso extrair
dela.
Não há muito além de árvores queimadas e terra carbonizada do
outro lado da ponte.
Mas aqui e ali encontro um estilhaço.
Eu recolho cada peça, jogando-a em uma bolsa que Amber está
carregando.
Dada minha proficiência no manejo de metralhadoras e na direção de
carros, poucos sabem mais sobre dispositivos do mundo antes da Grande
Guerra do que eu.
Se alguém conseguir descobrir quem construiu esta bomba, é melhor
que seja seu.
Mas quando paro no toco de uma árvore, fico surpresa com o que
estou vendo.
— Amber, olhe para isso, — eu digo, apontando. — Isso parece... um
brinquedo para você?
Está meio derretido e preto de cinzas, mas tenho quase certeza de que
o que estou vendo é o que as pessoas costumavam chamar de... caixa-de-
surpresa.
Um brinquedo infantil baseado em uma única premissa:
Suspense.
Vire até que o pequeno bastardo saia, assustando todo mundo. Não
muito diferente de uma bomba, suponho.
— O que um brinquedo infantil estaria fazendo no centro de uma
bomba? — Amber pergunta.
A ideia de que uma criança estaria envolvida? É estranho pra caralho.
Mas, olhando as evidências nos olhos, em que mais devo acreditar?
— Pegue isso, — eu digo a Amber. — Nós vamos trazer isso para o
Conselho. E eles decidirão o que fazer com isso.
KACE

Eu volto para minha casa, me sentindo inexplicavelmente nervoso.


Talvez seja porque Helena e eu só nos casamos alguns minutos antes
de eu ter que fugir para fazer uma missão da matilha.
Ou talvez seja porque ainda estou me sentindo mal do estômago com
o aviso final do sobrevivente: Cuidado com o riso das crianças.
Não tenho certeza de qual é a causa, mas no momento em que abro a
porta da minha casa na Matilha da Vingança e vejo minha companheira,
usando seus óculos, o nariz enfiado em um livro...
Todas as minhas preocupações e medos se dissipam.
Ela ergue os olhos e sorri. — Bem-vindo a casa.
Eu gostaria de poder capturar esse momento para sempre, como uma
fotografia.
Eu, na porta, tendo retomado de uma jornada difícil. Helena, com
seus livros, me cumprimentando.
E quase como um sonho.
Certa vez, amei outra mulher, Althea, anos atrás. Mas nunca conheci
um amor assim.
— Você vai ficar aí o dia todo, Kace? — Helena pergunta. — Ou você
vai entrar?
Estou indo. Helena, acho. Espere.
ALTHEA

Acordo, esperando sentir o sol me cumprimentar como faz todas as


manhãs na Matilha do Poder. O clima aqui é sempre quente.
Mas, estranhamente, hoje está cinza. O primeiro dia cinzento de que
me lembro desde que me acasalei com Alfa Landon e demos à luz nosso
primeiro filho.
Estranho, penso comigo mesmo. Eu me pergunto se outros na matilha
sentem o mesmo.
Quando me sento, sinto uma leve tensão no ar.
Uma onda de náusea toma conta de mim por motivos que não
consigo explicar. Algo parece muito, muito estranho esta manhã.
E não apenas o clima.
Eu sacudo Landon para acordar ao meu lado. — Landon, você sente
isso?
— O que?
— Exatamente. Nada. Algo está faltando. Algo está errado.
E então me ocorre. Eu deveria ter ouvido a bebê chorando agora.
Eu me levanto e corro para o berço, esperando ver minha querida
Willow como sempre faço.
Mas ela se foi.
O berço está vazio.
E é quando eu ouço uma onda de gritos ressoando por todo o
acampamento, vindo de todas as direções.
O choro de mães como eu, que perderam seus filhotes.
— O que está acontecendo?! — Landon pergunta, correndo.
— Sumiram. As crianças... — eu sussurro horrorizada.
— Eles se foram todos.
Capítulo 11
COMPANHEIROS, REUNIDOS
Depois de se casarem...
Depois de ser forçado a se separar pelas circunstâncias...
Finalmente, minha companheira e eu estamos sozinhos...
Minha Helena.
Ela está mais bonita do que eu posso me lembrar...
E pelo olhar dela, eu posso dizer...
Ela me quer.
Ela vai me aceitar.
Agora e sempre.
KACE

Jogo minha bolsa no chão e entro em uma casa que mal conheço.
Uma casa que foi reservada para a minha Helena e para mim.
Uma casa dentro da Matilha da Vingança, apesar de todos os pecados
do meu passado.
Meu futuro com minha companheira é uma lousa em branco. E mal
posso esperar para ver como nossa história vai se desenrolar.
Eu pego Helena da cadeira e coloco em meus braços musculosos, e ela
ri, surpresa.
— Kace! O que você está fazendo? Ponha-me no chão!
— Nunca, — eu respondo, olhando em seus olhos através do óculos,
saboreando sua alegria.
— Senti sua falta, — ela diz.
— Não tanto quanto eu senti sua falta, Helena, — eu respondo,
sorrindo.
Dou um passo em direção à cama, ainda segurando-a com força.
Nunca conseguimos consumar nossa cerimônia de acasalamento e,
pelo calor que emana do corpo da minha companheira agora, posso dizer
que ela está pensando o mesmo.
— Compensar o tempo perdido? — Ela pergunta.
Eu aceno, colocando-a suavemente na cama e rastejando em cima.
— Você não tem ideia de quanto tempo estive pensando sobre isso, —
eu digo. — Imaginando.
Sentindo isso. De todos os ângulos possíveis.
— E sério? — Ela pergunta, sorrindo.
— Sim.
Tiro seus óculos para ver seus olhos com mais clareza.
Então eu me inclino e beijo Helena, sentindo todos os pelos do meu
corpo se arrepiarem, como se estivesse sendo eletrocutado.
Esse é o efeito que minha companheira tem sobre mim. — Kace, — ela
sussurra, olhos fechados, rosto corado.
— Beije-me novamente.
Desta vez, eu não paro em um selinho. Eu despejo meu tudo naquele
beijo, querendo manter meus lábios presos nos dela por tanto tempo
quanto for humanamente possível.
Sua língua desliza em minha boca, e eu a cumprimento com fome.
Eu me afasto e olho para ela, os desejos carnais se intensificando a
cada segundo.
Eu não posso esperar mais. Eu preciso dela nua. Preciso de seu corpo
pressionado contra o meu.
Eu preciso dela molhada e gemendo e implorando por mais.
— Helena... — eu rosno.
Minhas mãos alcançam seu jeans, começando a desabotoá-lo, e ela
endurece de empolgação. Finalmente está acontecendo.
Finalmente estamos juntos.
E nada pode nos interromper.
— KACE!!!!
Sento de repente, ouvindo a voz me chamando do lado de fora da
nossa porta.
Helena inclina o pescoço para trás e geme, frustrada. Mas ela está
sorrindo.
É pura descrença que quebra o momento agora. Como isso poderia
ser adiado ainda mais?!
— Destiny? — Eu grito para a porta.
— Você voltou!!!
Um segundo depois, assim que rolei de cima de Helena e cruzei as
pernas para esconder minha protuberância, a porta se abriu e minha
lobinha favorita entrou correndo.
Ela se joga em meus braços, quase me deixando sem ar.
— Eu também senti sua falta, — eu gemo.
Helena ri. Nós dois estamos frustrados porque Destiny nos bloqueou
no ato. Mas, ao mesmo tempo, essa garota é como uma filha para mim
agora.
E estou feliz em vê-la.
— Correu tudo bem? — Ela pergunta. — Sua jornada? Encontrou o
que procurava?
— Bem... — eu digo, sem saber o quanto eu deveria compartilhar. —
Aprendi algumas coisas.
Ela ri e fico temporariamente paralisado com o som. — Kace, você é
sempre tão misterioso!
O riso das crianças.
Estou olhando para uma criança na minha frente. Uma criança que
sinto que conheço bem. Uma pelo qual me preocupo. Então, por que a
risada dela me assusta?
É o aviso final do sobrevivente o suficiente para entrar na minha
cabeça? Estou claramente sendo paranoico e preciso de uma boa noite de
sono.
Eu pareço louco até para mim mesmo.
Nesse momento, ouço outra voz me chamando por meio da ligação
mental, me interrompendo pela segunda vez naquele dia.
Kaden: Kace

Kaden: Venha para a reunião do conselho, é uma emergência.


Kaden: Há muito o que discutir.

Kace: Estarei aí em um minuto, irmão.

Eu suspiro e caio de costas na cama.


Primeiro, eu não consigo ter intimidade com minha companheira.
Agora, não consigo passar mais tempo com minha jovem filha.
Que merda de dia está provando ser.
— Reunião de negócios? — Helena pergunta, parecendo simpática.
Eu aceno, praticamente choramingando, ainda morrendo de vontade
de prová-la. Ela dá um empurrão suave no meu braço.
— Bem, então se apresse, Kace, — ela diz. — Para que possamos voltar
aos nossos... negócios inacabados.
Eu sorrio maliciosamente, sentando e beijando minha companheira
com ternura. Destiny enruga e cobre os olhos. — Ai credo! Vocês dois são
tão nojentos!
Nós dois rimos enquanto eu seguro Helena por mais um segundo.
Então eu me levanto.
Se Kaden está me convocando, deve ser importante.
É melhor ser.
KADEN

Embora eu ainda esteja me sentindo fraco e mais do que um pouco


queimado, digo aos curandeiros para me remendarem e me deixarem sair
da sala.
Há muito com que lidar para perder tempo sentado aqui como um
inválido.
Especialmente agora que minha companheira, minha Mara, me deu
uma nova vida.
Eu seguro sua mão com força enquanto nos aproximamos da Sala do
Conselho. Está, tecnicamente, será a minha primeira participação.
Ainda não gosto do — novo governo — ou seja lá como devemos
chamá-lo.
Uma democracia?
Uma república?
Eu não sei a diferença.
Mas como uma bomba quase explodiu a Cidade de Vingança, o tempo
para queixas pessoais deve ser deixado de lado.
Temos uma emergência em nossas mãos. Uma ameaça desconhecida.
E até que todos os nossos recursos estejam reunidos e tenhamos um
plano sério, não seremos capazes de enfrentá-lo.
Agora, precisamos nos unir. Não importa o que.
Mara aperta minha mão. — Estou orgulhosa de você, Kaden.
— Pelo que?
— Superando seu ego. Encontrando com Lexia e Brutus.
Eu sorrio. — Mara, por favor. Nós dois sabemos que meu ego ainda
está forte como sempre.
Ela sorri. — Tenho certeza que sim.
Abro a porta e entro na sala do Conselho para encontrar Lexia e
Brutus já esperando por mim.
Kace segue logo depois, entrando, acenando com a cabeça em minha
direção com respeito.
— Irmão, — ele diz.
Lexia franze a testa. — O que Kace está fazendo aqui? Ele não é
membro do Conselho.
— E? — Eu digo. — Eu não dou a mínima para títulos agora, Lexia. Ele
foi para a Matilha da Disciplina. Ele tem novidades para compartilhar. Eu
quero ouvi-lo.
Ela fica quieta com isso, felizmente.
Pela primeira vez, respeitando minha liderança.
Brutus acena com a cabeça para Mara com um olhar que não consigo
entender.
— Vejo que estamos todos aqui, — diz ele, impressionado. — Talvez
isso seja um progresso.
— Talvez, — Mara concorda. — Devemos começar?
Estamos todos olhando para o conteúdo da bolsa. Os restos da bomba
que Lexia coletou.
Ainda não consigo acreditar no que estou vendo. — Um o quê?! — Eu
pergunto.
— Uma caixa-de-surpresa, — Lexia soletra. — É um brinquedo de
criança. Por que estaria embutido na bomba, não tenho ideia. É... muito
estranho.
Mais como uma bomba.
Kace se senta, parecendo assustado. — O sobrevivente da Matilha da
Disciplina que encontrei na beira da estrada.
— Ele disse algo sobre crianças. Para tomar cuidado com suas risadas.
Todos nós nos olhamos preocupados. — Cuidado... com as crianças?
— Eu pergunto em descrença. — Para que diabos?
— Não sei, — admite Kace. — Mas eu acreditei nele. Ele disse essas
palavras com seu último suspiro.
Concordo com a cabeça, sentindo um tremor de inquietação descer
pela minha espinha quando a mão de Mara começa a suar na minha. Ela
está claramente assustada também.
— Certo, — eu digo, tentando soar autoritário.
— Kace, quero que você fale com o bobo da corte, — continuo. — Ele
é outro sobrevivente da Matilha da Disciplina. Talvez ele possa nos
contar mais.
Kace acena com a cabeça.
— E o que devemos fazer, sua graça? Lexia cospe, ressentida. — Você
tem pedidos para nós?
— Eu vou te lembrar, Lexia, — eu digo com os dentes cerrados. — Fui
eu quem impediu a bomba de explodir a porra da sua cidade. Um pouco
de apreço é necessário.
Ela abre a boca para replicar, e Brutus coloca delicadamente a mão em
seu braço, impedindo-a.
— Estamos todos do mesmo lado, — diz ele. — Isso é o que importa
agora, não?
Lexia puxa o braço, mas não responde. Eu considero isso um acordo
tácito e deixo por isso mesmo.
— Enquanto estamos reunidos, — diz Mara, — podemos discutir
como este Conselho conduzirá seus negócios daqui para frente?
Eu sei que ela tem boas intenções.
Eu sei que ela está apenas tentando dar a todos um pouco de clareza
sobre como a liderança por aqui funcionará.
Mas, quando estamos sendo atacados, não há tempo para delegar
posições e poder com cuidado.
— Deixe-me dizer isso, — eu respondo. — Sei que Mara fez um
acordo com vocês dois. Para... compartilhar poder. Eu não gosto disso,
mas eu não preciso.
— Se todos nós fizermos nosso trabalho e pararmos esta Matilha do
Caos ou quem quer que esteja por trás do ataque, então podemos discutir
os papéis apropriados. Combinado?
Os lábios de Lexia se contraem com desgosto. — Fazendo as regras à
medida que avançamos? Esse é o seu grande plano, Alfa?
Brutus parece igualmente indignado. Mara, desapontada. Mas o que
diabos eu devo dizer?
A incapacidade de entrar na fila agora está testando minha paciência
como Alfa.
Eu me levanto, me preparando para dar um ultimato quando ouço
gritos distantes do lado de fora.
— O que é aquilo? — Mara pergunta. — Essa voz parece... Althea!
Todos nós rapidamente corremos para fora para ver o que está
acontecendo.
HELENA

Estou trançando o cabelo de Destiny, tentando manter minhas mãos e


mente ocupadas enquanto meu companheiro está em outro lugar,
quando ouço os gritos.
Saio com Destiny para ver uma mulher soluçando.
Ela mal consegue ficar de pé, está tão tomada pela emoção. Parte meu
coração só de vê-la assim.
Mas quem é ela?
— Essa é Althea, — Destiny diz, como se estivesse lendo minha
mente.
Estou surpresa que a garotinha ao meu lado saiba mais do que eu.
Mas então, como Kace aprendeu na Matilha da Harmonia, Destiny
conhece todos os tipos de segredos.
Eu vejo como todos os líderes da matilha saem e cumprimentam
Althea e seu companheiro.
Mara é a primeira a abraçá-la, segurando-a enquanto ela grita de
angústia.
— As-as-crianças da Matilha do Poder... — ela gagueja,
hiperventilando. — Elas foram todas levadas! Minha filha!
Outro lamento terrível deixa os lábios de Althea quando ela cai mais
uma vez nos braços de Mara.
Meu corpo enrijece de horror. As crianças foram levadas?!
Eu vejo Kace correr para o lado dela, parecendo preocupado. Sua
expressão me surpreende. E como se ele conhecesse Althea muito bem.
Como se ele se importasse com ela. Profundamente.
— Ele costumava amá-la, — Destiny diz. — Kace costumava amar
Althea. Ela era sua companheira.
Meus olhos se arregalaram enquanto todos os sentimentos deixam
meu corpo.
Esta mulher, esta estranha, esta Althea foi acasalada com o meu Kace?
Os olhos de Kace fixam-se nos meus naquele momento, e sei que ele
pode ver minha reação.
O que isso significa para nós?
Capítulo 12
MÃES E LUTADORAS
Althea cai em meus braços, soluçando.
Uma mãe sem filho.
Um lobo sem seu filhote.
Uma mulher cujo terror mal consigo compreender.
Mas eu tenho um filho crescendo em meu próprio útero.
A ideia de perdê-lo...
Como Althea perdeu Willow...
É uma ideia que não suporto.
MARA

Ainda estou segurando Althea em meus braços quando me viro para


ver Kaden e os outros membros do Conselho saindo da casa da matilha
atrás de mim.
Todos eles parecem abalados e sombrios.
Acho que já ouviram o que a mulher tem a dizer:
Os filhos da Matilha do Poder se foram!
Se tivéssemos perguntas antes sobre crianças estarem envolvidas
neste estranho enredo da Matilha do Caos, esse enredo ficou muito mais
complicado.
— Mara, — Kaden diz em um tom surpreendentemente calmo, — por
que você não leva Althea para um quarto? Vou falar com Landon agora
sobre como devemos proceder.
Eu concordo. Mas antes que possamos nos mover um centímetro,
Althea está se afastando do meu alcance.
— Não! — ela exclama. — Eu não estou me movendo. Não quero seu
conforto ou hospitalidade.
— Você ouviu uma palavra que eu acabei de dizer? Minha filha está
desaparecida!!!!
Kaden abre a boca e fecha.
Lexia dá um passo à frente. — Compreendemos e, como membros do
Conselho, todos nos reuniremos para encontrar uma solução. Não é
verdade, Alfa?
Os lábios de Kaden se curvam um pouco.
Ele não gosta do fato de Lexia estar se intrometendo. Mas ele precisa
da ajuda dela agora, quer possa ver ou não.
Dela, de Brutus e de Landon.
— Siga-me, — diz ele aos homens, recuando para dentro da casa da
matilha, enquanto eu seguro Althea.
Percebo Helena e Kace se olhando estranhamente, mas não tenho
tempo para analisar o que está acontecendo entre os dois.
Agora, preciso apoiar minha amiga. No entanto, talvez eu não possa.
— Por que não nos sentamos por um segundo? — Eu sugiro.
Ela não parece gostar da ideia no começo, e eu não a culpo. Ela está
girando agora.
Qualquer mãe em sua posição estaria fazendo o mesmo.
Mas, eventualmente, faço Althea me seguir até um banco e sentar.
Suas mãos estão tremendo. Seus olhos indo e voltando como se, se ela
se concentrasse, ela pudesse descobrir tudo isso sozinha.
Improvável.
Mas não vou dizer isso a ela.
— Como isso pôde acontecer? — ela pergunta. — Quem está por trás
disso?
— Eu não sei, — eu admito. — Mas Althea, eu prometo a você, se
alguém pode ajudar, é Kaden. Ele fará o que for preciso.
Ela encara o éter, não convencida. E posso culpá-la?
— Você acha que sabe como é a sua vida, — ela diz. — Você acha que
há algum sentido em tudo isso. E então...
E então fica tudo maluco.
Eu aperto a mão de Althea com mais força. Eu sei que palavras não
vão ajudar agora. E tudo que posso fazer para não segurá-la contra meu
peito e nos balançar para frente e para trás.
Eu olho para a janela da casa da matilha atrás de mim, desejando estar
dentro da Sala do Conselho com Kaden e os outros.
Eles precisam colocar suas cabeças juntas e resolver isso.
Rápido.
Antes de perdermos mais filhos.
KADEN

— Tem que estar conectado, — Kace diz, compassando. — O aviso


daquele sobrevivente sobre crianças e agora isso?
— Conectado como? — Landon grita, indignado. — Se eu entendi o
que você quis dizer, ele advertiu contra crianças.
— Como se eles fossem os culpados! Como minha filha desaparecida
pode ter culpa em tudo isso?!
— Não é só isso, — Lexia diz a seguir. — Aí está o dispositivo de
bomba com...
— CHEGA! — Eu grito, batendo o punho contra a mesa. — Descartar
fatos que já sabemos não é o que precisamos agora. — — Então o que? —
Brutus pergunta, me desafiando.
— Devemos discutir coisas desconhecidas?
— Como o que você estava fazendo vagando pela Cidade da Vingança
em primeiro lugar?
Eu sinto meus caninos se alongarem em minhas gengivas, afiando,
tirando sangue. O que esse bastardo está tentando dizer? — Ninguém
está acusando você de nada, Alfa, — Brutus esclarece seu ponto.
Sabiamente.
— Estou apenas apontando, — continua ele, — que porque não
organizamos ou participamos adequadamente dessas reuniões,
colocamos nossas mentes juntas...
— E isso que você acha? — Eu lati, levantando.
— Que se eu deixasse todos vocês comandarem o show enquanto
estou sentado aqui, girando meus polegares, tudo funcionaria?
— Kaden, — Landon diz. — Por favor, precisamos nos concentrar nas
crianças...
— Por que diabos não? — Lexia diz, me olhando nos olhos. — E se
estivéssemos tão ocupados apenas tentando fazer você vir para a mesa, —
diz ela, batendo o punho, — que não fomos capazes de impedir esses
bastardos de roubar nossos filhos e plantar bombas!
— Você está brincando com fogo agora, Lexia, — eu rosno, avisando.
Esta reunião está rapidamente se dissolvendo em uma briga e por um
bom motivo.
Serei a última pessoa a ser insultada em minha própria casa da
matilha.
— Todos se acalmem, — Kace tenta interromper. — Ir atrás um do
outro, nos separando, isso é exatamente o que a Matilha do Caos quer.
— Como você saberia disso?! — Landon pergunta, apontando um
dedo acusador no rosto de Kace.
— Uma visita a Matilha da Disciplina e você acha que tem todas as
respostas?
Ele nunca gostou muito do meu irmão, já que ele estava apaixonado
por Althea, a companheira de Landon.
Mas agora não tenho tempo para sua rivalidade mesquinha.
— Todos calem a boca, — eu digo, exalando minha autoridade.
— Lexia, Brutus, vocês falharam em proteger sua própria cidade. Kace,
sua jornada foi em vão. Landon, você não pode proteger seu próprio
filho.
— NENHUM de vocês tem o direito de se manifestar!
Todo mundo fica em silêncio com isso. Olhando para mim como se
eles quisessem me matar.
1
Bom. Pelo menos eles estão unidos em sua raiva.
— Me odeie, eu não dou a mínima, — eu cuspo. — Eu preciso de vocês
todos com raiva agora. Nossas matilhas estão escapando do controle e, a
menos que possamos ficar juntos, isso só vai piorar.
Todos respiram por um segundo e penso — não, espero — que esta
reunião pode realmente acabar bem.
Mas então Kace se levanta e sai tempestuosamente da sala. Brutus é o
próximo.
— Eu liderei uma rebelião contra sua liderança uma vez, Alfa Kaden,
— ele diz. — E eu tenho um motivo tão bom hoje quanto eu tinha então.
— Você está fora da linha, — ele continua. — E a menos que você
reconheça todos nesta sala — todos os Alfas — como seus iguais, e dê a
este Conselho a autoridade adequada...
— Estou fora, está me ouvindo?
Alguns lobos simplesmente não conseguem segurar a porra da língua.
KACE

Eu vi a expressão no rosto da minha companheira. Eu sabia que ela


percebeu o quanto eu me importo com Althea, mesmo depois de todos
esses anos. Mas eu tinha que vir primeiro para essa porra de reunião para
ajudar.
Veja como está indo bem.
Eu saio após o último insulto de Kaden.
Ele acha que pode fazer todos nós nos curvarmos e suplicarmos diante
dele como se ele fosse tão alto e poderoso de repente.
Mas eu vou fazer isso. Sangue ou não, minha companheira vem
primeiro agora.
Eu preciso ver ela.
Corro para nossa casa e a encontro reorganizando os livros na
prateleira, parecendo esgotada. Eu rapidamente pego sua mão e a viro
para me olhar nos olhos.
Mas ela não vai corresponder ao meu olhar. Ela se recusa.
— Helena, o que é? — Eu pergunto a ela. — O que está errado?
— Eu sei sobre você e Althea, — ela sussurra. — Eu sei que você
pensou que ela era sua companheira. Antes de mim. Por que você não me
contou?
Que porra é essa...
Como ela poderia ter descoberto isso? Quem contou a ela?
Me ver ir para o lado de Althea não pode ter sido o suficiente, não é?
— Helena, — digo, tentando forçá-la a me olhar nos olhos. — Por
favor me deixe...
— Diga-me agora, — ela late. — Diga-me tudo ou irei sair por aquela
porta e nunca mais voltarei.
Eu fico olhando para a minha companheira, só percebendo agora o
quão alto é o risco.
Estou realmente prestes a perder a mulher que mais amo no mundo?
MARA

Jesus, o que diabos está acontecendo lá em cima? Mesmo de fora da


casa da matilha, Althea e eu podemos ouvir as vozes ficando cada vez
mais altas, cada vez mais furiosas.
Fazendo fronteira com um lado animal.
Depois que Kace sai e corre para sua casa, sem nem mesmo olhar para
Althea ou eu, percebo que a merda está claramente fora de controle.
Sem minha mão firme, a reunião do Conselho está saindo do controle.
Mas como vou deixar Althea agora, quando ela mais precisa de mim?
Quando ela perdeu o que é mais importante para ela?
— Anos atrás, você quase tirou meu filho de mim — sussurra Althea.
— Seguindo as instruções de Alfa Kaden.
— Althea, você sabe que não foi...
— Eu sei, — ela diz. — Eu sei que você não faria. Eu sei quem você
realmente é. Assim como eu conheço meu companheiro.
— A questão é, Mara, você conhece bem o seu?
Ela está dizendo o que eu acho que ela está dizendo? Que Kaden pode
estar de alguma forma envolvido no desaparecimento de Willow?
Eu sei que ela está ferida agora e atacando, mas eu puxo minha mão
dela, independentemente.
— Cuidado com quem você acusa, — eu sussurro. — Kaden não é o
monstro violento de que você se lembra.
Ela levanta uma sobrancelha desafiadora. Um segundo depois, todo o
inferno irrompe quando ouço vidros quebrando e lobos uivando.
Eu giro para ver a janela quebrada quando dois lobos voam pelo
segundo andar, batendo na lama abaixo, rangendo os dentes e se
rasgando com as garras.
E não qualquer lobo.
São Kaden e Brutus.
Não, não, não, não!!!
— KADEN, PARE!!! — Eu grito.
Mas ele não pode me ouvir agora. Seu lobo está olhando para Brutus,
pronto para lutar até a morte.
Tão violento e animal como nunca o vi. E, de repente, minhas últimas
palavras para Althea soaram vazias até para meus próprios ouvidos.
Kaden não é o monstro violento de que você se lembra.
Ou ele é?
Capítulo 13
UMA DISTRAÇÃO BEM-VINDA Dois lobos se encaram.
Dois homens que me mostraram afeto.
Amor, até.
Agora, tudo o que eles veem é assassinato e ódio.
Agora, tudo o que eles querem é matar uns aos outros.
A questão é...
Posso pará-las?
MARA

Está prestes a ficar letal entre Brutus e Kaden. Eles já se jogaram pela
janela da porra da casa de matilha em suas formas de lobo, jorrando
sangue.
Mas isso claramente não será suficiente, se Alfa Kaden tiver mais a
dizer sobre isso.
Ele dá um passo ameaçador na direção de Brutus, mostrando suas
presas. Desta vez, não grito para ele parar.
Eu mudo para o meu lobo e uivo o mais alto que posso, forçando o
Alfa a me olhar.
Mara: CHEGA!!! O que quer que tenha acontecido aí termina agora.

Kaden: Você não sabe o que ele disse, Mara.

Kaden: O que ele ameaçou,.

Mara: Eu não me importo!

Mara: Atrás de mim está uma mulher que perdeu seu filho recém-nascido.

Mara: Ponha a porra do seu orgulho de lado.

Kaden considera Brutus mais uma vez e, por um segundo, lembro do


lobo que uma vez me levou em cativeiro, que infundia medo nos
corações de matilhas em todos os lugares.
Ou, como disse Althea: Alfa Kaden, o monstro.
Mas eu conheço meu companheiro melhor do que isso.
Ele vai parar. Ele tem que parar.
Mara: Kaden...

Mara: Por favor.

Felizmente, Brutus cruza os olhos comigo primeiro e, talvez porque


ainda sinta algo por mim, ou talvez porque ele acabou de voltar ao seu
maldito juízo, ele muda de volta para sua forma humana.
Ele enxuga a testa, seu torso musculoso nu brilhando com suor e
novos arranhões sangrentos.
Eu rapidamente olho para longe de sua metade inferior, por mais
tentador que seja olhar.
— Você foi avisado, Kaden, — diz Brutus. — Reconheça nossos papéis
no Conselho, trate Lexia e eu com algum respeito. Se não.
Com isso, ele se vira e sai correndo. Kaden muda depois que Brutus
sai, e eu corro até ele.
— O que diabos foi isso, Kaden?! Você ainda está ferido pela explosão.
Por que você...
— Agora não, Mara, — Kaden me corta com desdém. — Cuide de
Althea. Ela claramente é o que mais importa agora.
Então ele se vira e entra na casa da matilha sem dizer outra palavra.
Eu olho para a janela quebrada em descrença. Lexia e Landon estão lá,
balançando a cabeça.
Em seguida, os dois se viram.
Se já não estivéssemos sob ataque da Matilha do Caos, eu classificaria
nossa situação como o pior tipo de caos imaginável.
KACE

Ouvimos o vidro se espatifando. Ouvimos os lobos rosnando. Nós


dois ouvimos toda a violência acontecendo bem à nossa porta.
Mas nem Helena nem eu nos movemos um centímetro.
Minha companheira acabou de me perguntar se estou apaixonado por
outra mulher.
E tudo o que importa para mim agora é responder a ela. Não importa
o que diabos esteja acontecendo lá fora.
— Então, Kace? — Ela pergunta, parecendo magoada além das
palavras. — Você só vai ficar aí parado? Ou você vai me responder?
Eu respiro fundo. Não sei por onde começar. Mas eu sei que ela
merece a verdade.
— Uma vez eu pensei que Althea era minha companheira, — eu
admito. — Eu pensei que a amava. Mas ela nunca correspondeu aos meus
sentimentos. Nada jamais se passou entre nós.
— Não? — Ela pergunta, lábios franzidos, olhos frios, — Nem mesmo
um beijinho na bochecha? Um tapa na bunda? Nada?
— Nada, eu juro, — eu digo severamente. — E eu segui em frente. Eu
só amo uma pessoa neste mundo.
Ela balança a cabeça, desviando o olhar. — Eu vi o jeito que você
olhou para ela, Kace. Eu conheço esse olhar. E não me diz 'eu mudei'.
— O que vai dizer então? — Eu pergunto, dando um passo ainda mais
perto para que estejamos apenas a um fio de cabelo de distância. — Se as
palavras estão falhando, o que posso fazer para provar isso a você?
— Não é óbvio?
Seus olhos me desafiam, desafiando-me a desviar o olhar, piscar,
interpretar mal o seu significado.
Pegue o que é seu, Kace, ela está me dizendo. Se você me ama, me mostre
como.
Eu não hesito.
Pego Helena pela nuca e forço seus lábios a encontrarem os meus,
batendo nossos corpos contra a estante.
Eu a beijo com mais paixão do que jamais a beijei antes.
Os livros caem no chão quando eu a levanto e a coloco em uma das
prateleiras, nossas bocas lambendo e mordendo uma à outra com
abandono.
Ansiosos pelos corpos um do outro de uma forma que algumas
palavras de afirmação nunca poderiam satisfazer.
Suas mãos rapidamente desabotoam meu cinto enquanto eu arranco
sua calcinha.
Já estou duro e pronto para ela, e ela está me convidando para entrar
— do seu jeito vicioso.
Não pensei que seria assim que consumamos nossa cerimônia de
acasalamento. Mas, nem preciso dizer, não estou prestes a quebrar a
tensão.
Não seremos interrompidos.
Não dessa vez.
HELENA

Ações falam mais alto que palavras. É algo em que sempre acreditei.
Irônico, admito, visto que fui bibliotecária, cercada por mais palavras
do que qualquer coisa remotamente parecida com o mundo real.
Mas agora Kace está provando que minha velha crença é verdadeira
enquanto me pressiona contra a estante e me beija como se eu fosse a
única mulher no mundo.
Eu quero acreditar nele.
Quero que esse beijo, essa fisicalidade entre nós, seja como um selo,
selando um envelope fechado.
Pondo de lado todas as ideias dele amando alguém que não seja eu.
Mas não sei se será o suficiente. Se, um dia, a carta voltar a ser aberta,
ousarei ler as palavras lá dentro?
— Onde você está? — Ele rosna, olhando nos meus olhos. — Helena,
volte para mim.
Pisco, lembrando-me de onde estou, quando estou. Eu coloquei de
lado o passado e o futuro. Tudo que eu quero agora é o presente.
Com Kace.
— Leve-me, — eu sussurro.
Os olhos de Kace se iluminam de excitação carnal quando sinto sua
ponta, já saliente e dura, massageando minhas dobras. Eu endureço e
suspiro com a sensação disso.
Estamos finalmente continuando o que começamos na cerimônia de
acasalamento. Estamos finalmente nos tornando...
Um.
De repente, ele está dentro de mim, e estou gritando com a espessura
de sua circunferência e meu próprio aperto em tomo dele.
— KACE!!!!
Ele bate em mim, os livros caem de lado, as palavras sem sentido
dentro de tudo, mas esquecidas, enquanto a ação e a adrenalina
assumem o controle.
Já faz tanto tempo que dói no começo.
Eu tenho que morder meu lábio apenas para me impedir de gritar.
— Devo desacelerar? — Ele pergunta, ofegante, parecendo
preocupado.
— Não, — eu sussurro sem fôlego. — Mais rápido. Mais.
Ele sorri, deixando cair as calças até os joelhos, permitindo-lhe mais
amplitude de movimento. Então ele agacha e...
OOOOOHHH! — Eu suspiro.
Eu não acho que ele nunca foi tão fundo dentro de mim antes. É o
ângulo ou apenas a intensidade do momento? Não tenho certeza e não
me importo.
Eu quero mais.
Eu agarro sua bunda, puxando-o ainda mais fundo, enquanto seus
quadris ganham velocidade, me fodendo como se eu nunca tivesse sido
fodido antes.
— KACE!! — Eu grito.
Desta vez, eu não seguro ou mordo meu lábio. Soltei um rugido de
garganta alta quando minhas paredes se contraíram em tomo dele.
Ele está chegando perto. Estou chegando perto.
Nós dois estamos no limite.
— Helena, — ele rosna. — Eu não posso...
— Não, — digo a ele. — Não se segure.
Um segundo depois, seus olhos reviram em sua cabeça e meu núcleo
se contrai.
De repente, sua semente quente está me banhando de dentro para
fora — misturando-se com meu próprio néctar no orgasmo mais
delicioso que já experimentei.
Eu olho em seus olhos e sei que é a hora. O momento que ambos
esperamos. Afinal.
Seus dentes trancam no meu pescoço e mordem, marcando-me
oficialmente como dele. Eu grito de dor abençoada, tendo um orgasmo
novamente.
Meus dentes se alongam e eu mordo seu pescoço em seguida, tirando
sangue. Fazendo ele meu.
Agora e sempre.
Quando acabou, nós dois ficamos ali, ofegantes. Não sobrou um único
livro na estante.
E é exatamente assim que eu quero.
Eu o seguro perto de mim e o beijo. — Eu te amo, Kace.
— E eu a você, Helena.
Por mais difícil que tenha sido a jornada até este momento... Eu sei
com certeza agora — valeu a pena.
MARA

Landon busca Althea logo após a estranha luta entre Kaden e Brutus, e
ninguém, nem mesmo Lexia, vai responder a nenhuma das minhas
malditas perguntas.
Ela sai furiosa para seu veículo sem outra palavra.
Eu sei que há um lobo que vai falar comigo, no entanto. E é melhor ele
me dar algumas garantias.
— BRUTUS! — Eu grito.
Eu o encontro perto de um riacho próximo, lavando seus novos
cortes, ainda nu como no dia em que nasceu.
Seus músculos estão todos à mostra. Seus olhos, virando-se para
encontrar os meus, carrancudos.
Eu olho para longe, tentando evitar aquele olhar ardente.
Aquele que sempre me deixa com os joelhos mais fracos do que
gostaria de admitir.
— O que você quer, Mara? — Ele pergunta. — O que aconteceu hoje...
— E entre você e Kaden, alguma besteira de macho, eu não me
importo! — Eu grito, interrompendo. — Estou aqui porque preciso que
você me faça uma promessa.
— Uma promessa? A última promessa que fizemos, vou lembrá-la,
você quebrou.
— Ajudando você a salvar a Matilha da Pureza para um assento no
Conselho. Como isso acabou?
Ele se levanta em toda a sua altura, de frente para mim. Mais uma vez,
faço o possível para evitar suas regiões inferiores.
— Me prometa que não importa o quanto ele te provoque, você não
lutará com Kaden, — eu digo trêmula. — Ele e eu, estamos grávidos e...
Eu me encontro sem palavras. Tudo que eu tinha tanta certeza há um
segundo está escapando de mim.
Como vou convencer Brutus a lhe dar outra chance?
Mas sua expressão se suaviza. — Mara, eu não sabia...
— Vou te dizer o que mais você não sabe! — Eu grito. — Fui chamada
para ser a Alfa da Matilha da Pureza.
— Ninguém, nem mesmo Kaden sabe disso. Então aí. Mais
informações para você.
Seus olhos se arregalam. — Mara, essa é uma grande honra. Você vai
aceitar?
— Você está de brincadeira? — Eu pergunto, rindo delirantemente. —
Você vê o estado em que estamos?

— Agora parece um bom momento para fechar a loja e sair para outra
Matilha?
— Ponto justo. Então... então o quê?
— Eu tenho que falar com Kaden antes que isso fique ainda pior, — eu
digo. — E para que isso funcione, eu preciso de sua promessa. — Sem
mais lutas. Eu não quero perdê-lo. Ou você.
Seus olhos piscam com o desejo há muito adormecido entre nós.
E eu me pergunto se ele vai se aproximar. Seu corpo nu já está
chamando o meu de maneiras que estão me deixando louca.
— Mara, não gosto do desgraçado, — ele diz. — Mas farei o que for
preciso pelas pessoas que amo.
Compreende?
As pessoas que amo.
Brutus está falando sobre mim?
Eu me esqueço de respirar, sentindo o calor subindo pelas minhas
bochechas, e rapidamente me afasto. — Obrigada, Brutus.
Então eu me viro e volto para a casa da matilha o mais rápido que
posso.
Se aquele Alfa soubesse o efeito que teve sobre mim...
Se fosse esse o caso, tenho a sensação de que a próxima luta entre
Kaden e Brutus deixaria um deles morto.
KADEN

— Zane, embora a distração seja muito bem-vinda agora, — eu digo,


acenando para o bobo da corte, — Estou muito cansado até para rir.
Ele veio aos meus aposentos pessoais para me entreter. Mas eu tenho
muitas feridas que precisam de cura para prestar atenção agora.
— Na verdade, Alfa, — ele diz, ajustando a saia da roupa de enfermeira
que vai até a coxa que está vestindo.
— Eu vim por outro motivo.
— Qual? — Eu pergunto, cansado de surpresas. — Diga, antes que eu
perca a paciência.
Zane sorri, seus olhos brilhando.
— Vim propor uma forma de... amenizar as tensões por aqui, — ele
diz. — Para trazer alegria de volta para as matilhas.
— Para nos lembrar o quão poderoso um riso tônico pode ser.
Ele abre a tampa de um frasco de remédio próximo e engole uma
dúzia ou mais de pílulas — lambendo os lábios depois.
Estou chocado.
— Vou ficar bem, — ele diz.
— Você arriscou seriamente uma overdose de analgésicos por causa de
uma piada?
— Eu queria que você visse o quão sério eu estou falando sobre minha
proposta. Estou totalmente comprometido.
Mais como, DEVE ser cometido...
Mas tenho que admitir. Estou curioso.
— Tudo bem. Vamos ouvir isso.
Capítulo 14
INTRUSO NA NOITE
Bêbado.
Estou tão... caramba... bêbado.
A sala está girando.
Os únicos amigos que tenho parecem inimigos.
E meu amor...
Ele é um cadáver frio apodrecendo no chão.
Morto como meu coração.
Por mais morta que eu esteja se continuar bebendo...
Tão... bêbado.
LEXIA

GLUG. GLUG. GLUG.


Eu tomo outro gole de uísque e engulo tudo, ofegando com a grande
quantidade de toxinas que sou capaz de consumir enquanto ainda estou
de pé.
Que merda foi a reunião do Conselho de hoje.
Que piada.
Assistir Brutus e Kaden — brigando, — mudando como vira-latas
lutando por um osso de cachorro...
É o tipo de exibição masculina patética que tento evitar há anos.
É a razão pela qual concordei em ser a Alfa da Matilha da Igualdade.
De mulheres fortes e independentes.
Mas agora, eu não estou nem gostando de seus olhares e sussurros.
Eu ouvi Amber fora do meu quarto, falando sobre como eu sou apenas
a pequena cadela de Kaden, e eu queria dar um tapa nela.
Mas foda-se. Estou bêbada demais para isso.
Eu tomo outro gole, observando o quarto ao meu redor girar, ficando
cada vez mais borrado.
Se ao menos Greyson estivesse aqui agora, ele me ajudaria a ver
claramente.
Ele me ajudaria a impedir tudo que a Matilha do Caos vai fazer a
seguir.
Porque eu odeio admitir, mas Kaden está certo, porra. Quase deixei
minha própria cidade explodir. Eu falhei.
O que você faria, Greyson?
Eu considero procurar Zane, o bobo da corte estúpido novamente.
Da última vez, temo que possamos ter dormido juntos, mas ele pelo
menos me fez sentir um pouco menos sozinha.
Por um breve momento.
Quem diabos sabe hoje em dia.
Estou cansada quando desabo na cama, a garrafa ainda na mão. Eu sei
que provavelmente deveria me despir e me esforçar para cuidar da minha
bunda.
Mas eu não tenho isso em mim. Sem Greyson, sem um papel
adequado como um Alfa, me sinto tão impotente.
Vagamente, ouço a porta se abrir e vejo uma figura parada na porta
distante. Tento apertar os olhos, sem saber se está na minha imaginação
ou não.
E você, Greyson?
Ou estou sozinha?
MARA

— Um baile de máscaras?!
Estou olhando para Kaden em descrença.
Ele está deitado na cama, parecendo relaxado, como se horas atrás
não tivesse quase matado Brutus em plena luz do dia no meio do terreno
da matilha.
— Sim, — ele diz. — Ideia de Zane. Diz que ajudará a todos a aliviar
um pouco a tensão. Estou inclinado a concordar com ele.
Ok, entendo que meu companheiro tem uma queda pelo bobo da
corte por qualquer motivo. Mas um baile de máscaras de repente?
Quando estamos afundados em ataques e acusações e...
— Posso ver você pensando, Mara, — Kaden diz com um sorriso
malicioso. — Sempre tão sexy quando você pensa.
— Cale a boca, — eu digo, continuando a andar. Não estou com
vontade de ser cortejada. — Como você pode pensar que essa é uma boa
ideia agora?
— Uma pequena celebração nunca fez mal a ninguém. No mínimo,
pode nos unir. Para não mencionar...
Kaden desliza para fora da cama e gentilmente coloca a mão na minha
barriga, já aparecendo.
— Teríamos algo muito emocionante para comemorar, — ele diz,
sorrindo.
Eu olho para o meu Alfa, olhando para mim como um cachorrinho
doce. É difícil acreditar no que vi nele apenas algumas horas atrás.
Esse mesmo monstro violento.
Não este homem que me ama, que está animado por nosso filho, que
está praticamente entusiasmado com isso e quer se exibir.
— Mesmo assim, — eu digo, tentando resistir a seus encantos. — Um
baile de máscaras parece uma maneira engraçada de mostrar isso.
— Vai ser... exótico.
Acho que é a primeira vez que ele usa a palavra porque tem
dificuldade para sair de sua língua — não que ele tenha um vocabulário
extenso...
Eu reviro meus olhos, mas não posso deixar de sorrir.
Meu companheiro é adorável quando ele é um palhaço ignorante. —
Então? — Ele pergunta. — Posso dizer a Zane que estamos de acordo?
— Você é o Alfa, — eu digo, empurrando-o suavemente de volta para a
cama e subindo em cima. — O que você diz vale.
HELENA

Coloco Destiny em sua cama naquela noite, feliz por ela estar longe de
casa quando Kace e eu consumamos nossos votos.
Isso teria traumatizado a pobre garota, tenho certeza.
Mas, quando olho em seus olhos pensativos, ainda sou perseguida por
uma pergunta persistente: como ela sabia?
— Destiny, — eu pergunto. — Quando você apontou para Althea hoje
cedo, como exatamente você sabia sobre ela e a... história de Kace?
Eu não gosto de trazer isso de volta. Mas sinto que é importante. De
qualquer forma, depois do que meu companheiro me mostrou hoje, eu
confio nele de todo o coração.
O que um pouco mais de informação vai doer?
— Não tenho certeza, — ela diz baixinho. — Alguém me disse. Mas eu
não tinha certeza se eles estavam brincando ou não.
Coitadinho Provavelmente um valentão na escola que foi criado no
bando e conhecia toda a sua roupa suja.
Ainda assim, algo sobre sua resposta, a rigidez nela, me dá uma
sensação estranha.
— Algum problema, Destiny? — Eu pergunto a ela.
— Quando salvei Kace na Matilha da Harmonia, — ela começa, —
entendi o motivo. Para ajudá-lo contra um homem mau.
— E?
— Agora, estou tão confusa. Minha própria harmonia dentro de mim
está... desafinada. Não vejo como qualquer uma das peças se encaixam e...
Lágrimas começam a se formar em seus olhos e eu rapidamente a
abraço, percebendo que sua transição para uma nova matilha foi mais
difícil do que eu imaginava.
— Está tudo bem, querida, — eu digo, tentando tranquilizá-la. — Este
lugar vai fazer você se sentir em casa, eu prometo.
— Mas e se... — ela diz, com os olhos arregalados. — E se os planos
forem como as piadas?
— E se não houver razão para eles? E se eles forem apenas... maldosos?
Um arrepio desceu pela minha espinha. Claramente, alguém tem
sussurrado algumas ideias cruéis no ouvido da pequena Destiny.
A ideia de que a vida é apenas uma piada, por exemplo.
Isso não parece algo que uma criança inventaria.
Eu a coloco na cama e beijo sua cabeça. — Não se preocupe, Destiny.
Todos os nossos planos vão dar certo. Eu prometo.
Eu sorrio, e Destiny sorri de volta. Mas algo sobre o sorriso é... tenso.
Encontro Kace na sala de estar, ainda lutando para consertar a estante
e devolver os livros a seus devidos lugares. Eu não posso deixar de sorrir
com a visão.
— Nós causamos alguns danos reais, hein? — Eu digo.
Kace sorri para mim, e percebo que ele não está apenas curvado,
tentando consertar. Ele está lendo. Tomando notas. E muitas delas, ao
que parece.
Eu franzi a testa. — O que você está fazendo?
— Algo em que você é muito melhor do que eu, Helena, — diz ele com
um suspiro, fechando o livro. — Pesquisando.
Sento e dou uma olhada no que ele está lendo. Um dos meus livros,
como descobri.
— Uma história dos grandes bandos, — eu digo, levantando uma
sobrancelha. — Eu não achei que você era um estudioso, Kace.
— Estou tentando encontrar qualquer informação que puder sobre
esta maldita Matilha do Caos. Mas não há nada sobre eles. Em qualquer
lugar.
Ele esfrega os olhos, parecendo exausto, e eu suspiro, desejando poder
ajudá-lo.
Infelizmente, em todos os meus anos de estudo, também nunca ouvi
falar desse bando.
— Deve estar conectado, — Kace murmura baixinho.
— Todos esses eventos, — ele continua, — a morte de Alfa Ip. O
bombardeio. As crianças desaparecidas. Os atos do pequeno caos, em
todos os lugares.
Um lampejo de reconhecimento atinge minha mente como uma
lâmpada piscando.
As palavras do meu companheiro me fizeram lembrar de algo. Algo
que me foi dito há muito tempo.
— O que é? — Ele pergunta, vendo minha expressão.
— Eu te falei sobre o Alfa Hakim da Matilha da Sabedoria, certo?
Ele concorda. — Nunca tive o prazer de conhecê-lo. O que tem ele?
— Alfa Hakim uma vez me disse que, quando criança, ele uma vez
quase foi seduzido pelo caos. Eu sempre imaginei que ele quis dizer isso
metaforicamente. Mas e se...
Os olhos de Kace se arregalaram e ele se senta, agarrando minhas
mãos. — Você acha que Hakim pode saber mais sobre a Matilha do Caos?
— É possível, — digo, sem fôlego.
Kace sorri e pula de pé, já trabalhando em um ângulo que não consigo
nem começar a ver.
— Devo escrever uma carta para ele? — Eu pergunto. — Ver o que
podemos aprender?
— Isso não será necessário, — diz Kace, me surpreendendo.
— Por que?
— Alfa Hakim, junto com cada Alfa na terra, está vindo para a Matilha
da Vingança. Para o baile de máscaras que Kaden acaba de anunciar.
Eu sorrio de volta agora.
— Então vamos perguntar a ele pessoalmente!
— Isso mesmo, Helena, — Kace diz, pegando minha mão. — Acho que
é hora de você nos apresentar.
LEXIA

Greyson... é você?
Não tenho certeza se falei as palavras em voz alta ou se apenas pensei
nelas.
Estou tão bêbada que mal consigo pensar direito, quanto mais falar.
Mas agora tenho certeza de que uma figura entrou em meu quarto.
Quero dizer ao meu companheiro o quanto lamento tê-lo deixado
morrer. Que a lança deveria ter atravessado meu coração em vez do dele.
Que eu não o beijei mais uma vez antes...
— Greyson? — Eu pergunto novamente, semicerrando os olhos.
Porque agora eu percebo que isso não é uma invenção da minha
imaginação. A figura na porta é real.
E não é nenhuma aparição.
Não se parece em nada com Greyson.
Quem quer que sejam, são baixos e magros, usando um capuz que
cobre todo o rosto.
E em suas mãos está uma adaga reluzente.
Eu engulo em seco, olhando para a esquerda e para a direita em busca
de alguma das minhas armas. Mas estou indefesa.
Tudo o que tenho é aquela garrafa de bebida que me incapacitou
completamente.
Tomou-me um alvo fácil.
Porque quem quer que seja esse estranho, agora eu sei.
Eles estão aqui para me matar.
Capítulo 15
MENTE DO CAOS
A adaga brilha na noite de luar
Uma lâmina que em breve cortará minha garganta.
A menos que eu possa impedir.
A menos que eu me levante e lute contra esse intruso.
Mas eu tenho força?
Mais importante...
Eu mereço viver?
LEXIA

— QUEM É VOCÊ?! — Eu grito.


Minha fala ainda está arrastada. Nem mesmo a perspectiva de ser
assassinada pode deixá-la sóbria, ao que parece.
Mas a figura não diz nada, apenas se aproxima. Silencioso.
Eu me pergunto por que esse estranho baixo e encapuzado está aqui
para me matar em primeiro lugar, e depois penso melhor.
As razões não importam agora.
Só sobreviver importa.
Assim que o intruso se lança sobre mim, eu giro para longe, errando a
adaga por centímetros enquanto ela rasga o travesseiro onde minha
cabeça estava.
Penas voam para fora, transformando toda a sala em um campo de
batalha fofo.
Não paro para admirar a vista.
Eu mudo.
Ossos quebrando. Alongamento da mandíbula. Caninos crescendo.
Vou ensinar a esse filho da puta — quem quer que seja — uma lição.
Ninguém tenta assassinar Lexia, a Alfa da Matilha da Igualdade, e vive
para ver outro dia.
Eu rujo, minha visão ainda turva, e pulo no intruso, pronto para
cortar sua garganta. Mas ele é rápido com seus pés.
Eu errei, batendo na parede com um baque pesado enquanto ele se
esquivava e apontava a adaga para mim.
WHOOSH!
Mais um centímetro e teria sido minha garganta. Eu preciso ser mais
esperta.
E isso não significa mais rápida.
Isso significa pensar.
Escolher.
Eu travo os olhos na figura, tentando ver seu rosto sob o capuz, mas
está completamente obscurecido. Eu lentamente dou um passo à frente,
rosnando, minhas patas pesadas, meus dentes afiados pingando.
Eu o encurralei.
Ele não pode correr para a esquerda ou direita ou pular sobre mim —
não quando estou me movendo tão devagar, prendendo-o em um só
lugar.
Ele é meu.
Com um grito agudo, a figura levanta a adaga no ar e avança para
mim.
Eu não pisco. Rapidamente prendo minhas mandíbulas em seu
pescoço e...
SNAP.
Eu sinto sangue e ossos rasgando minhas mandíbulas enquanto a
figura fica mole.
Sem vida.
Eu o jogo no chão e respiro fundo.
É hora de ver quem era esse filho da puta.
Mas quando puxo o capô, desabo no chão em completo horror,
voltando à minha forma humana, incapaz de controlar meu próprio
corpo.
Porque o cadáver que estou olhando...
O intruso que acabei de matar...
É uma criança.
MARA

— Eles estão aqui!


Alguns dias se passaram desde que Kaden decidiu convidar Alfas de
todos os grupos para a Matilha da Vingança para nosso primeiro baile de
máscaras.
Tem sido relativamente pacífico desde o anúncio, e estou grata. A
criança que incha na minha barriga, crescendo a cada dia, merece um
pouco de paz.
E Kaden, por sua vez, tem sido extremamente doce.
Ele coloca as mãos em volta da minha cintura, beijando meu pescoço,
olhando pela janela para os carros parando, carregando Alfas de cada
bando.
— O dia está aqui, finalmente, — ele diz alegremente. — Eu não posso
esperar para você ver o salão de baile.
— Você ouviu falar de Lexia? — Eu pergunto.
Depois da última reunião do Conselho, muitos dias atrás, Lexia parou
de se comunicar com todos. Até Brutus. Ninguém sabe ao certo qual é o
problema dela...
Mas ela se recusa a sair da torre da Cidade da Vingança.
Espero que esta noite ela abra uma exceção.
— Não se preocupe, ela estará aqui, — diz Kaden. — Ninguém vai
querer perder a festa do século.
Eu sorrio e me viro para ele. — Você parece muito confiante, Alfa.
— O que posso dizer? — Ele respondeu de brincadeira. — Eu tenho
uma Luna que sabe exatamente como me edificar.
Ele pressiona sua protuberância contra minha perna, e meus olhos
rolam para trás, famintos por ele.
Mas há muitos negócios na matilha para cuidar, muitos Alfas para
cumprimentar.
E nós dois sabemos disso.
Suavemente, eu o empurro. — As coisas boas vêm para aqueles que
esperam.
— Então, eu ouvi isso mesmo.
Eu franzo a testa, considerando-o, parecendo tão feliz e em paz, e me
pergunto como isso é realmente possível.
Vendo como não fomos capazes de parar ou mesmo identificar a
ameaça que quase...
— Esqueça a Matilha do Caos por um segundo, Mara, — diz Kaden,
lendo minha mente.
— Se qualquer coisa acontecer, — ele continua, — esta noite vai atrair
os bastardos. Eles pensam que somos indefesos. Mas Kace e eu estamos
prontos.
Eu aceno, respiro fundo e volto para a janela. — Bem, nesse caso, —
digo, — devemos saudar nossos visitantes?
— Depois de você.

Depois de alguns cumprimentos cerimoniais, a maioria dos quais


Kaden assume a liderança, íntimo como ele é com os outros Alfas,
eventualmente encontro uma desculpa para ir embora.
Sempre odiei conversa fiada.
Eu decidi dar uma olhada no salão de baile e ver como os preparativos
estão indo, embora Kaden tenha me pedido para esperar até o baile
começar.
Sempre odiei esperar.
De qualquer forma, não resisto a dar uma olhada no que está
reservado para os Alfas e Lunas visitantes de cada matilha.
Quando entro na sala, porém, fico chocada.
O salão de baile parece estar em ruínas!
As tábuas do assoalho foram arrancadas em alguns lugares para
permitir uma pista de dança expandida, expondo pregos e teias de
aranha.
As lâmpadas decorativas estão apenas meio completas, cada escultura
mais estranha do que a anterior — como se cada uma tivesse que ser
completamente única.
Para onde quer que eu me vire, os membros da matilha estão
correndo, suados, em pânico, tentando cumprir o prazo da noite.
Quem diabos está encarregado disso, afinal?!
— Ei! Você perdeu um ponto! — Uma voz grita das vigas.
Eu olho para cima para ver Zane usando uma máscara de cavalo sem
alma, apontando para um buraco flagrantemente óbvio no chão do salão.
— ZANE! — Eu grito. — Desça aqui!
Não posso acreditar que Kaden confiou todo esse baile de máscaras
para ser planejado por um bobo da corte, que, ao que parece, só parece
estar tornando tudo mais complicado.
Ele desce rapidamente e galopa em minha direção. Lembro-me de
como o acho estranho e desagradável.
Eu sei que ele faz Kaden feliz, mas isso não significa que eu tenho que
gostar dele.
— Luna! — Sua voz abafada grita de sua máscara. — Como a lua
acima, banhando todos nós com sua luz puritana, a que devo o prazer?
Não tenho certeza se isso é uma referência ao fato de eu pertencer a
Matilha da Pureza.
Não há nenhuma maneira de Zane saber que fui chamada para ser a
Alfa deles, então por que ele diria isso?
Eu me afasto, tentando me lembrar do motivo pelo qual chamei ele —
para responder por essa bagunça!
— Isso realmente vai estar pronto hoje à noite? — Eu pergunto,
examinando a cena ao meu redor. — Parece que...
Sua máscara de cavalo me encara sem expressão.
— Não parece que... — Eu não consigo colocar pensamentos
coerentes juntos.
O cavalo continua olhando.
Essa porra de máscara.
— Não se preocupe! — Ele exclama. — O baile de máscaras, eu
prometo a você, será absolutamente perfeito.
— Veja! Estamos até instalando uma piscina, — diz o bobo, apontando
para o poço que já foi o piso do salão de baile.
Que porra é essa?!
— Zane, isso está ficando fora de controle. Você precisa simplificar
tudo isso de uma vez.
Compreende?
— Então... sem piscina? — Ele diz, inclinando a cabeça do cavalo para
o lado.
Ele abaixa os ombros, mas acena com a cabeça em concordância. —
Não, é então.
Pelo menos ele é obediente.
Estou prestes a me virar e voltar para a casa da matilha, quando ele
puxa uma máscara diferente de uma bolsa próxima.
Uma máscara que se parece com o lobo de Kaden. No seu estado mais
selvagem e raivoso.
— Eu fiz isso para você, Luna, — diz ele timidamente.
— Pelo que?
E agora, quando Zane sorri, é quase assustadoramente familiar. Como
se ele estivesse se referindo a uma história que ele não poderia conhecer.
— Tranque as portas, — ele rima. — Feche-as bem. Feche suas
cortinas todas as noites.
— Não olhe para fora, caso ele esteja aí. Sempre viva com medo total.
— Nunca se desvie e tome um companheiro, para que Alfa Kaden não
sele seu destino.
A canção de ninar que me assombrou por anos. Por que Zane recitaria
agora?
— É um dos meus favoritos, — ele diz. — E numa noite como esta,
com máscaras e pessoas escondidas à vista de todos, parece
particularmente adequado, não é?
— Do que diabos você está falando, bobo da corte? — Eu digo, ficando
agitada.
— Estou dizendo que seu companheiro tem muitos rostos. E não
apenas máscaras. Quem é o verdadeiro Alfa Kaden, eu me pergunto?
— Esta noite, eu presumo, vamos descobrir!
Com um último sorriso dentuço, ele entrega a máscara e continua a
trabalhar no salão de baile. Eu olho para o rosto do lobo.
Meu companheiro em seu estado mais assustador.
Mas eu me afasto.
Eu conheço Kaden. Eu conheço o pai da criança crescendo dentro de
mim.
E nada, especialmente as palavras idiotas de um bobo da corte, vai
mudar isso.
LEXIA

Eu espero por ele nas sombras.


Quando ele finalmente entra no escritório atrás do salão de baile, eu
salto.
— AHHH! — Zane grita.
Eu seguro uma faca — a mesma faca que foi segurada pela criança que
tentou me matar — em sua garganta e o prendo contra a parede.
— Você, — eu rosno, pressionando a faca contra sua carne. — Você vai
responder por si mesmo.
— Alfa Lexia — desculpe, apenas Lexia ele gagueja. — O que a traz
aqui e de forma tão pontiaguda?!
Ele está com medo, e deveria estar. Tenho pensado nisso, dia após dia,
desde que a criança intrusa entrou em meus aposentos.
Ninguém mais poderia ser responsável. Ninguém.
— Você é o único que sabia o código para entrar no meu quarto,
palhaço, — eu digo trêmula. — Você deixou a criança entrar!
Ele franze a testa, confuso. — Meu senso de humor pode ser infantil,
eu admito, mas não posso alegar ser obra minha.
— A criança enviada para me matar! Foi você, não foi?! Você é o único
estranho entre nós. O único que poderia ser. Tem que ser você!
Mas Zane apenas me encara sem expressão. — Eu sou um artista. Que
alegria possível isso traria?
Penso no sangue no chão do meu quarto. A vida inocente que matei.
Minhas mãos tremem.
Eu mantive o segredo para mim mesma — como alguém poderia me
olhar da mesma forma se soubesse?
Mas agora Zane sabe. — Eu o matei, — eu sussurro. — Ele estava
vindo por mim. Ele devia ter apenas dez anos e eu... eu...
Eu abaixo a faca e solto um soluço estrangulado. Se Zane não é o
culpado, isso só pode significar uma coisa: Eu sou a culpada. Eu e eu
sozinha.
— Olhe para mim, — diz ele, envolvendo uma mão em volta da minha
cintura e levantando meu queixo com a outra.
— Tudo bem. Inocência, pureza... — ele continua, — tudo isso é
relativo, de qualquer maneira.
Ele está tentando me confortar. Eu não posso acreditar. Depois do
meu ato monstruoso. Como ele pode?
— Lexia, — ele diz, olhando profundamente nos meus olhos. —
Criança, homem e Alfa igualmente. Somos todos igualmente corruptos.
— Definir nossas ações como certas ou erradas meramente justifica
nossas ações.
Ele é o único que entende?
Quem me pega?
Talvez até se importe comigo?
Pela primeira vez em muito tempo, não me sinto tão sozinha neste
mundo fodido.
Eu me sinto acompanhada.
Antes de saber o que estou fazendo, fecho meus olhos e trago meus
lábios nos dele.
ZANE

Se ela é a maçã, devo ser o verme. Quero dizer a ela que não há
nenhum dano, é claro. Pois sou, como disse, um artista.
E o que é mais divertido do que um Alfa enlouquecido?
Permito que ela me beije, continue pensando que dormimos juntos,
embora sexo não faça parte do meu vocabulário — muito voltado para
um objetivo para o meu gosto.
Porque Lexia aqui tem um propósito.
Meu propósito.
Exatamente como a criança que mandei para ela. Assim como todas as
crianças que me amam, que veem a vida como ela realmente é: Absurda.
Insanidade aleatória.
Caos.
— Calma, calma, — repito, dando tapinhas nas costas dela. — Hoje à
noite, vamos comemorar e deixar tudo para trás...
. —.. como uma máscara feliz em um rosto caído. O que acha disso,
Lexia?
Ela funga e acena com a cabeça. Eu sorrio.
— Então, — eu digo, — que comece a mascarada!
Capítulo 16
A MÁSCARA
Ela brilha.
Sua beleza, incomparável até mesmo pelos anjos.
Minha companheira coloca o vestido.
Mas eu gostaria que ela deixasse de lado.
Para que eu possa admirar a protuberância que cresce a cada dia.
Nosso filho.
Um testemunho do nosso amor.
Esta noite, no Baile, Mara saberá o quanto esse amor significa.
KADEN

— O que? — Mara pergunta, sorrindo, percebendo meu olhar.


— Não consigo tirar os olhos de você, só isso, — digo. — Ou minhas
mãos.
Eu a puxo para mais perto. Ela está com o vestido agora, mas continua
aberto. Eu poderia facilmente arrancá-lo e...
— Nós vamos nos atrasar, Kaden! — Ela diz, rindo. — Guarde para
mais tarde.
— Eu devo? — Eu pergunto com um suspiro.
— Encontre-me na pista de dança e veremos para onde vai a partir
daí. Combinado?
Eu sorrio. Minha companheira sempre sabe como me deixar louco. —
Combinado.
Ela franze a testa, lembrando. — Isto é, se houver uma pista de dança!
Não sei se o seu bobo da corte Zane vai terminar a tempo.
— Ele vai, — eu digo. — Eu não tenho dúvidas.
A carranca de Mara se toma uma carranca, como se ela se lembrasse
de algo desagradável.
— Há algo estranho nele, Kaden, — ela diz, — estou lhe dizendo.
— Claro que existe! — Eu digo. — Quem mais em sã consciência
concordaria em fazer um trabalho tão ridículo?
Ela balança a cabeça. — Ele me deu esta máscara.
Ela vai até o armário e tira uma máscara, feita apenas para olhar meu
lobo em seu aspecto mais assustador. Eu dou uma olhada, impressionado
com o trabalho manual.
— Eu gosto disso, — eu digo. — Devo experimentar para você?
— Kaden, espere...
Mas eu já coloquei no rosto e virei para ela, fingindo rosnar.
Espero que ela ria ou bata no meu braço como normalmente faria.
Mas, em vez disso, Mara dá um passo trêmulo para longe.
Parecendo... assustada.
— O que está errado? — Eu pergunto.
Tire. Por favor.
Eu encolho os ombros e faço o que me é dito, jogando a máscara de
lado. Ela respira fundo, e percebo o quão pouco minha companheira e eu
falamos adequadamente nas últimas semanas.
Entre o drama da Matilha do Caos, os preparativos para o baile de
máscaras e a revelação de que ela está grávida...
Tem sido muito agitado por aqui.
— Você está bem, Mara? Eu pergunto. — Você sabe que pode falar
comigo.
Ela se força a afastar um pensamento sombrio e sorri. — Claro, eu sei,
Kaden.
Eu a puxo mais uma vez em minhas mãos, esperando que eu possa
mudar sua mente, fazendo cócegas em seus braços nus. E ela balança o
dedo na minha cara.
— Como combinamos, Alfa, — diz Mara. — Encontre-me na pista de
dança.
— Oh, eu vou, — eu digo com um sorriso diabólico. — Apenas espere.
MARA
Depois que Kaden fechou meu zíper, saímos e encontramos os outros
Alfas todos vestidos com esmero fora do salão de baile, se preparando
para entrar.
Percebo que Kaden trouxe a máscara de Zane e estremeço ao pensar
em vê-lo usá-la novamente.
As palavras finais do bobo da corte ainda soam em meus ouvidos: Seu
cônjuge tem muitos rostos.
Quem é o verdadeiro Alfa Kaden?
Eu sei que Kaden estava apenas sendo estúpido e brincalhão, usando a
máscara, mas sendo lembrada que meu companheiro uma vez me
sequestrou e ameaçou me matar...
Isso me deixa extremamente inquieta enquanto nos preparamos para
entrar no salão de baile.
Sem mencionar que a última vez que entrei aqui, o lugar estava em
completa desordem.
Estou esperando o mesmo quando entramos pela porta...
Mas para minha surpresa, como se um milagre tivesse acontecido, o
salão está imaculado!
A música já toca enquanto as pessoas pegam suas máscaras e se
dirigem para a pista de dança.
Eu vejo Kace e Helena, parecendo perdidamente apaixonadas nos
braços um do outro, e sorrio.
Vejo Brutus no bar, flertando com algumas garotas, e balanço a
cabeça.
Eu até vejo Lexia, finalmente mostrando seu rosto, meditando e
bebendo de um frasco enquanto ela se inclina contra a parede.
Não há sinal de Althea ou Landon, é claro. Mas quem esperaria que
eles viessem a uma festa quando sua filha ainda está desaparecida?
Sinto uma pontada de culpa por estar toda arrumada, por ir a uma
festa, quando ainda não sabem onde está sua filha.
Talvez esse baile de máscaras não tenha sido uma ideia tão boa.
— Vai ser ótimo, — sussurra Kaden em meu ouvido, apertando minha
mão. — Encontre-me mais tarde, como prometemos?
Eu aceno, brevemente aliviada. Mas antes de ir, pego sua máscara de
lobo.
— Não é divertido se eu sei quem você é, — eu digo. — Encontre
outra máscara.
É uma desculpa para manter as coisas picantes. Misteriosas. Mas, na
verdade, nunca mais quero ver aquele rosto em Alfa Kaden.
Ele sorri. — Vejo você em breve, Mara.
HELENA

— Alfa Hakim!
Corro até meu antigo Alfa da Matilha da Sabedoria, segurando a mão
de Kace. Espero que ele tenha respostas sobre o caos de seu passado.
Mas ele não parece muito feliz em me ver.
— Helena, — diz ele laconicamente. — E este, eu imagino, é o lobo
que tirou você de seus estudos importantes.
Merda.
Então ele ainda está bravo comigo por deixar a Matilha da Sabedoria.
Vai saber.
Mas Kace, para seu crédito, não leva isso para o lado pessoal.
Ele sabe que há assuntos mais urgentes a serem discutidos.
— Peço desculpas por levar Helena embora, — diz ele. — Mas eu
posso te prometer isso. Sempre respeitarei a Matilha de Sabedoria e tudo
o que ela fez para me ajudar.
Hakim examina as unhas, sem se impressionar.
— Naturalmente, — ele diz. — Lobos da Matilha da Vingança, sempre
tão obstinados.
Eu ignoro seus insultos e pego sua mão, surpreendendo-o. — Alfa
Hakim, — eu digo. — Nós precisamos da sua ajuda.
— Ajuda? Com o que?
— Conte-nos o que você sabe sobre a Matilha do Caos.
LEXIA
Festas. Eu odeio festas.
Não tem nada a ver estar aqui depois do horror que desencadeei no
mundo, matando aquela criança.
Claro, ela entrou sorrateiramente em meus aposentos e tentou me
matar.
Claro, eu estava apenas me defendendo.
Mas isso não toma mais fácil de engolir.
Eu tomo outro gole do meu frasco, observando os Alfas e Lunas
ignorantes colocando suas máscaras e começando a dançar enquanto
Zane lidera as festividades.
Sem ele, não sei o que faria comigo mesmo agora.
Ele é o único que me faz sentir que não sou completamente louca.
E é quando eu vejo: uma pequena figura, usando uma máscara de
pássaro, se esgueirando no meio da multidão. Meus olhos se arregalam.
Será que essa é outra criança vil? Como aquele que tentou me matar?
Eu guardo meu frasco e sigo a máscara.
Vou obter algumas respostas.
MARA

Estou dançando, rindo, sentindo a sala girar ao meu redor em um


torpor multicolorido.
Ainda não consigo acreditar que Zane conseguiu isso.
Eu uso uma máscara veneziana antiquada enquanto um homem após
o outro pega meu braço.
É o tipo de dança em que você troca de pretendentes a cada minuto
ou algo assim.
E embora seja muito divertido, também está me deixando meio tonta.
Eu saio da linha por um momento, tentando limpar minha cabeça, os
cheiros na sala me oprimindo, inebriante.
E quase como se estivesse bêbada, exceto que não tomei um gole.
Afinal, estou grávida. Talvez seja essa a culpa.
Hormônios enlouquecidos.
Quem sabe?
E quando eu sinto uma mão áspera familiar pegar a minha e me puxar
de volta para a dança.
Tento vê-lo claramente, mas ele está atrás de uma máscara escura e
misteriosa que cobre todo o seu rosto.
Ainda assim, posso sentir o calor que emana de seu toque. O amor ao
seu alcance.
Meu companheiro.
Ele nos leva dançando para um canto distante do corredor, onde
podemos ficar sozinhos, e eu lambo meus lábios em antecipação
animada.
Kaden está prestes a cumprir essa promessa?
KACE

Helena e eu trouxemos Alfa Hakim para uma mesa para que ele
pudesse discutir sua história com a Matilha do Caos.
Mas já tenho a estranha sensação de que o que estamos prestes a
aprender não é o que esperamos.
— Eu te disse quando era jovem, — Hakim disse rispidamente, — que
quase fui seduzido pelo caos. Não pela Matilha do Caos. Não existe tal
coisa.
Helena suspira, desapontada. — Então você só quis dizer
metaforicamente?
Hakim faz uma pausa. — Não.
Eu me inclino para frente. — Por favor, Alfa Hakim.
Vidas estão em jogo. Conte-nos o que aconteceu com você.
— Bem, — diz ele, examinando as unhas mais uma vez. — Havia
outro menino na minha aldeia que adorava causar problemas.
— Ele me recrutou, junto com algumas outras crianças, para uma
gangue.
— E? — Eu pergunto, insistente.
— Foi... puro caos, — diz Hakim, parecendo assustado mesmo depois
de tantos anos.
— Nenhuma de suas ações fazia sentido, — ele continua.
— Eles estavam enlouquecidos. E nós o seguimos para o vazio por
nenhuma outra razão a não ser...
que era divertido.
— Alfa Hakim, — Helena diz. — Qual era o nome desse lobo?
Mas Hakim fica em silêncio quando seus olhos se fixam em alguém na
pista de dança lotada.
Eu me viro para ver o que chamou sua atenção. Todos lá usam
máscaras, obscurecendo seus rostos.
Todos menos um homem.
— Ele... — Hakim sussurra, quase sem acreditar. — Esse é ele.
MARA

Ele me pressiona contra a parede e beija meu pescoço enquanto eu me


inclino para trás, tomada por sentimentos. Ainda estou tonta e me
sentindo bêbada só dos feromônios.
Vagamente, sinto que Kaden está agindo de forma estranha. Ele não
está falando ou flertando como normalmente faria antes do sexo.
Mas quem se importa agora?
Graças às máscaras, ninguém sabe que fomos nós que escapamos para
um canto sossegado.
Eu sinto sua mão percorrer meu corpo até meu sexo e estremecer de
prazer. — O que você está esperando? — Eu o provoco.
Mesmo que eu não possa ver seu rosto, posso dizer que ele está
sorrindo para isso.
Um momento depois, seus dedos percorrem cuidadosamente meu
vestido e...
Eu mordo seu ombro para resistir a ofegar em voz alta. Ele está
esfregando meu clitóris com o polegar e o indicador, muito suavemente.
Me provocando. Me deixando louca.
— Mais... — eu imploro. — Por favor.
Ele abaixa os dedos e os pressiona dentro da minha entrada úmida,
me causando espasmos incontroláveis.
É muito bom. De alguma forma, seus dedos estão diferentes do
normal.
Como se usar a máscara o transformasse em outra pessoa.
Seu ritmo ganha velocidade enquanto eu mordo ainda mais forte,
lágrimas de êxtase transbordando em minhas pálpebras.
É tudo muito bom. E tudo demais.
— KADEN! — Eu não posso deixar de chorar.
Mas então ele para, dando um passo para trás como se estivesse
chocado, e não entendo por quê.
— O que? — Eu pergunto.
Ele remove sua máscara e meu rosto desmorona em estado de choque.
Parado na minha frente, os dedos ainda escorregadios de meus sucos,
não é meu companheiro.
É o Brutus.
Capítulo 17
POR TRÁS DA MÁSCARA Eu sigo a criança mascarada na
escuridão...
Eu não quero machucá-lo.
Não como da última vez.
Mas eu tenho que saber para onde ele está indo.
Se houver outra bomba, eu tenho que pará-lo.
Se a Matilha do Caos for meu inimigo...
Estou preparado para lutar contra eles.
Mas e se o inimigo for outra pessoa?
LEXIA

Eu segui a criança mascarada para fora do salão de baile e pelos


corredores subterrâneos que levam à Casa da Matilha da Vingança.
Eu mantenho minha distância. Embora esteja apenas embriagada
agora — não bêbada como de costume — sei que um galho quebrado ou
uma pedra derrubada alertará a criança da minha presença.
Fico pensando no garoto que matei e preciso me livrar da memória.
E muito cruel.
Doloroso demais.
Por que essas crianças estariam trabalhando por uma causa má, eu me
pergunto? O que eles têm a ganhar?
Mas quando a criança entra por uma porta de madeira escura,
reconheço um cheiro familiar.
Não pode ser. Mas eu sei disso com certeza.
E o cheiro do meu companheiro morto.
Greyson.
Todas as intenções de me esgueirar e me esconder vão pela janela
enquanto meus olhos se arregalam e me apresso para abrir a porta.
Ele poderia de alguma forma estar vivo depois de todo esse tempo?!
O quarto é estranho. Cheio de todas as armas que você pode imaginar.
Nas paredes. Mesas cobertas com elas. Uma forja para criá-los.
Esta é a sala de armas de Alfa Kaden. Mas onde está a criança? Como
eles desapareceram?
Eu olho de lâmina em lâmina, tentando dar sentido a isso, tentando
descobrir onde encontrei o cheiro de Greyson.
E então eu vejo.
Um longo bastão de madeira com uma ponta de metal afiado na
extremidade.
Uma arma que jamais esquecerei.
Não se a porra da minha vida dependesse disso.
E a lança que matou meu companheiro. Pendurada como um troféu
na parede de Alfa Kaden.
O sangue seco de Greyson ainda em sua ponta.
Foi assim que senti o cheiro.
Mas se está aqui, de todos os lugares, isso só pode significar uma coisa.
Eu sinto minhas garras se alongando enquanto meus olhos ficam
negros como a noite — a necessidade de assassinato correndo por mim.
Eu sabia que outra pessoa estava por trás da morte de Greyson.
E agora tenho minha prova.
Soltei um uivo ensurdecedor.
Greyson, vou vingar você.
MARA

Eu fico olhando para Brutus, ainda em choque. A sala está nadando ao


meu redor. Os aromas que inicialmente pareciam tão doces azedaram
agora.
Ele e eu estávamos apenas...
Quando eu pensei que ele era...
— Você disse Kaden, — diz Brutus com um olhar confuso. — Por que?
— Eu pensei...
— Certamente você reconheceu meu cheiro, Mara?
— Meu nariz, meus sentidos, eles não estão funcionando como
costumam fazer, — eu digo, em pânico, recuando.
— E se ele nos viu? Oh meu Deus. O que eu fiz?! — Eu exclamo.
— Acalme-se, Mara — diz Brutus. — Ninguém viu nada. Tudo está
sob controle— Somos interrompidos por um uivo rompendo a música,
fazendo com que todas as cabeças no salão se voltem. Eu espero o pior.
Kaden, olhando para mim.
Tendo visto tudo.
Mas, para minha surpresa, eu o vejo sorrindo em cima de sua cadeira
enorme, observando enquanto dois homens se transformam em seus
lobos e se lançam um contra o outro no meio da pista de dança.
Que porra é essa?!
Corro para o lado dele, tentando esquecer o que acabou de acontecer
entre Brutus e eu, rezando para que Kaden não seja capaz de perceber.
Mas ele está muito distraído, aparentemente.
Por conta do show.
— Vamos ver quem tem mais MORDIDA! — Zane anuncia para a
multidão alegremente quando todos começam a aplaudir e os dois lobos
se enfrentam.
— Há mais alguém que queira competir com os dentes?! — Ele acena.
— Kaden, — eu digo sem fôlego. — O que é tudo isso?
— Oh, apenas um pouco de diversão, Mara, — Kaden diz, os olhos
brilhando. — Um pouco de esporte, só isso.
Um lobo corta o rosto do outro e o sangue jorra na multidão que o
observava.
— DIVERSÃO?! — Eu grito. — Você chama isso de diversão? O que
você tem?! Que tipo de Alfa faz isso?
Kaden se vira e me olha nos olhos, ofendido. — Você está me dizendo
como devo agir como Alfa, Mara? Seus olhos parecem frios e sem vida.
Um desafio à sua autoridade e todas as pretensões de amor vão pela
janela.
Como isso é meu companheiro?
O que diabos está acontecendo?!
HELENA

— Você tem certeza?! — Kace diz, olhando com olhos esbugalhados


para o bobo da corte do outro lado do salão. — Ele é o único? Desde a sua
infância?
— Eu poderia jurar minha vida sobre isso, — Alfa Hakim diz,
parecendo pálido.
— Você deve tomar cuidado, — ele continua.
— Seus poderes de persuasão e astúcia não são imediatamente
aparentes.
Kace se levanta e começa a atacar o bobo da corte.
Eu agarro seu braço. — Kace, espere! — Eu grito. — Ouça Hakim.
Temos que ser inteligentes sobre isso.
— O que é inteligente é acabar com isso antes que alguém se
machuque!
Eu agarro seu rosto, forçando-o a fazer contato visual comigo.
— Se você me ama, você vai esperar, Kace, — eu digo baixinho. —
Fazemos isso da maneira certa. Juntos.
Kace respira fundo. Eu posso ver que ele está mudando. E então seus
olhos se fixam em algo atrás de mim.
Não em algo, alguém.
É o tipo de olhar que ele só deveria estar me dando.
O olhar de um amante.
Eu me viro horrorizada ao ver Althea e Alfa Landon da Matilha do
Poder entrando no salão de baile, parecendo furiosos com as festividades.
E então me ocorre.
A expressão no rosto de Kace.
Todas as suas promessas de que tudo estava acabado entre eles.
Toda a sua chamada devoção por mim.
Estas foram apenas palavras o tempo todo.
A verdadeira ação é este momento agora.
Como ele a escolhe.
— Helena, — ele diz enquanto eu me viro para ele. — O
que é, por que...
— Você mentiu para mim, Kace, — eu digo baixinho.
— Você ainda a ama.
— Não, Helena, ESPERE!
Mas eu já me virei e estou correndo em direção à porta. Lágrimas
escorrem dos meus olhos quando todas as minhas piores suspeitas são
finalmente confirmadas.
Eu não me importo com quem me vê chorar ou fugir agora.
Eu sinto que perdi tudo.
ZANE

Agora, a diversão está realmente começando.


Eu vejo enquanto Kaden e Mara discutem.
Ela parece tonta, sem dúvida por causa dos perfumes que espalhei
pelo salão Uma combinação doentia que toma a maioria das mulheres
grávidas particularmente caprichosas.
Lá está Brutus, parecendo um filhote de cachorro apaixonado!
Aí está Helena, correndo do salão, com o coração partido de
bibliotecária!
Lá estão Landon e Althea, chateados porque uma celebração acontece
enquanto seu filho está desaparecido!
Mais e mais membros bêbados estão mudando, juntando-se à luta
inútil — suas máscaras finalmente caindo, revelando seu verdadeiro eu.
Animais, cada um deles. Nada mais.
Oh, e onde está a adorável Lexia, eu me pergunto?
Minha cereja no topo do bolo?
Acho que posso ouvi-la correndo aqui agora.
KADEN
— Você fala por todos os Alfas?! — Eu grito com Mara. — Quando
você não passa de uma Luna barulhenta?
Todos os lobos pararam de lutar para nos observar agora.
Quando um Alfa levanta a voz, é melhor você acreditar que as pessoas
prestam atenção.
Não quero ser cruel, mas já bebi demais e não terei minha
masculinidade questionada na frente de todo o bando e de todos os Alfa
por aí.
Nem mesmo por Mara.
Mas o que ela diz a seguir me choca profundamente.
— Para sua porra de informação, Kaden, — Mara cospe, — Pediram
que eu mesma me tomasse uma Alfa!
— Isso mesmo, — eu continuo. — Da Matilha da Pureza!
— O QUE?! — Eu berrei, levantando da minha cadeira.
Mas eu não tenho a chance de questioná-la, porque um segundo
depois um lobo que eu nem vi na minha visão periférica voa em mim.
— KADEN! — E a última palavra que ouço enquanto o caos irrompe
no salão de baile.
LEXIA

Eu vou matá-lo.
Eu vou arrancar a cabeça dele.
Eu vou arrancar seus olhos.
Kaden matou meu companheiro. Ele conspirou para assassinar meu
Greyson com Nessa.
E agora ele orgulhosamente pendura a lança em sua própria sala de
armas.
Meu lobo voa para o salão de baile, vendo apenas o vermelho.
Outros lobos estão lutando. Porque? Eu não dou a mínima agora.
Existe apenas um lobo que merece minha ira.
E esse é Kaden.
Quando pulo nele, ele nem mesmo me vê chegando.
Eu o joguei no chão.
Estou prestes a rasgar uma garra bem no pescoço quando...
MARA

— PARE!!!
Eu agarro a pata de Lexia, impedindo-a de desferir um golpe mortal
em Kaden. Posso estar com raiva dele agora, mas não o quero morto!
O lobo de Lexia me olha nos olhos sem nenhum reconhecimento.
Ela quer sangue. E não tenho ideia do porquê.
Antes que eu possa dizer outra palavra, ela arranca a pata, me batendo
no estômago e eu desabo no chão.
A dor é diferente de tudo que já experimentei.
Minha barriga.
Meu útero.
Meu filho.
Querida Deusa, não!
Kaden me vê deitada de dor e ruge de raiva, mudando.
Quero dizer a ele para parar com essa loucura antes que piore. Mas
não tenho mais fôlego.
Brutus está ao meu lado, me segurando. Mas eu nem percebo que ele
está lá.
O mundo está desmoronando ao nosso redor.
Lexia e Kaden vão se matar.
KACE

Eu vejo Kaden mudar e atacar Lexia, ambos os lobos circulando e


arranhando e mordendo um ao outro.
Eu vejo Zane rindo histericamente, o monstro.
Vejo meu companheiro correndo para fora do salão de baile.
E eu sei que tenho que fazer uma escolha.
Eu não vou atrás de Helena. Eu vou em direção à luta.
Tenho que parar Zane antes que ele cause mais derramamento de
sangue.
Corro o mais rápido que meus pés podem me levar, estourando no
meio da multidão e agarrando o bobo da corte pela porra de seu pescoço
franzino.
— QUEM É VOCÊ?! — Eu grito, espremendo a vida dele.
Ele sorri, apontando para a loucura que se desenrola ao nosso redor
com deleite.
— Não é óbvio? — Zane pergunta.
— Eu sou o Alfa da Matilha do Caos!
Capítulo 18
SANGUE, EM TODOS OS LUGARES
Ela me quer morto.
Por que, eu não sei.
Eu não me importo.
Ela machucou Mara, minha companheira grávida.
Ela traiu a Matilha da Vingança.
Ela tem que pagar.
Lexia... eu prometo a você...
Você está praticamente morta.
KADEN

Eu ataco Lexia, agarrando seu pescoço enquanto ela golpeia meu


peito com uma de suas garras, tirando sangue.
Eu nem sinto a picada ou o tecido esfolado. Não é nada para mim.
Mas ela vai pagar pelo que fez a Mara.
Lexia: Você matou meu companheiro!

Lexia: E agora vou matar você, Kaden.

Ela acha que eu tive algo a ver com a morte de Greyson? Ela realmente
perdeu o controle desta vez. Sem dúvida, ela tem trabalhado para a
Matilha do Caos o tempo todo.
Essa é a única explicação.
Eu rugi de raiva, jogando-a no chão de madeira já encharcado de
sangue do salão de baile, onde as pessoas estão gritando e se espalhando.
Tanto para uma celebração.
Não, não vou comemorar até que este lobo feroz esteja morto antes de
mim.
Ela golpeia meu rosto de novo, quase arrancando um olho, e decido
que é hora de ela perder algo.
Com todas as minhas forças, eu travo minhas mandíbulas em seu
braço e rasgo...
Rasgar...
Rasgar...
Até eu ouvir os ossos quebrando e seu lobo ganindo em uma dor
horrível…
Por fim, arranco o braço de cima dela e o sangue jorra do toco. Eu
coloco de lado o braço que se contrai e me viro para finalizar o golpe
mortal.
Lexia está mudando de volta para sua forma humana agora. Muito
fraca para continuar lutando. Olhando fixamente para cima enquanto ela
sangra.
— CHEGA!!!!
Brutus me puxa para longe de Lexia. Eu luto para me libertar, mas
seus braços musculosos seguram meu lobo de volta.
— Deixe-a, Kaden! — Brutus implora para mim. — Você já fez o
suficiente. Sua companheira precisa de você.
Eu olho para Mara, ainda deitada no chão com dor, e imediatamente
me lembro de mim mesma.
Eu me mexo, correndo para o lado dela e verifico seu pulso.
Ela está bem.
— Mara, — eu sussurro. — Estou aqui.
Mas ela se esquiva de mim, apavorada. Ela viu o que eu fiz com Lexia.
Ela está olhando para mim, coberta de sangue como...
Eu sou um monstro.
— Kaden!
Eu me viro para ver Kace prendendo Zane, o bobo da corte, no chão.
Que diabos?!
— Ele é o Alfa da Matilha do Caos! — Kace grita. — Ele está por trás
de tudo isso.
Zane ri como se fosse a piada mais engraçada que já ouviu, com
lágrimas fluindo livremente de seus olhos. E eu fico olhando,
horrorizado.
Não.
Como isso está acontecendo? Como eu poderia não ter visto o que
estava bem na frente do meu nariz o tempo todo?!
Fui manipulado... mais uma vez?
— Leve-o para uma cela! — Eu grito.
Então, pego Mara com delicadeza e a carrego para fora do salão.
Percebo curandeiros correndo para o lado de Lexia enquanto Brutus os
chama.
Mas haverá tempo para lidar com aquela vadia mais tarde.
Agora, preciso cuidar da minha companheira.
MARA

Tanta coisa acabou de acontecer, tanto mal, tanto horror — sinto que
estou paralisada da cintura para baixo.
E não é só porque sinto uma dor aguda onde Lexia me bateu.
Não, é porque meu companheiro, meu Kaden, está me levando para a
casa da matilha em silêncio e estou tentando não vomitar com a
sensação de sua pele tocando a minha.
Eu vi o que ele fez com Lexia. Eu o vi arrancar o braço dela no meio do
salão.
Eu sei que ela o atacou — outro momento desconcertante para tentar
e processar — mas Kaden não tinha razão para ir tão longe.
Ele mostrou suas verdadeiras cores esta noite.
E fico apavorada em me perguntar o que isso significa para nós.
Ele finalmente nos traz para o nosso quarto e me deita na cama muito
suavemente.
Sei que deveria ser grata por seu carinho e cuidado agora.
Mas eu não quero.
— Mara, — ele diz, sentando-se ao lado da cama. — Por favor, me diga
que você está bem. O bebê...
— Estou bem, — minto. — Vá embora, Kaden. — Mas, Mara, — ele
diz, parecendo estar em pânico.
— Estou com medo que você... que nós...
Ele não pode dizer isso em voz alta, mas eu sei o que ele está
pensando. Que podemos perder o bebê.
Eu estremeço só de pensar nisso.
— Sobre este negócio de Alfa da Matilha da Pureza, — diz como se
estivéssemos discutindo negócios como de costume, — vamos descobrir
isso mais tarde, ok?
Eu rio, amargamente. — Você quer dizer quando terminar de matar
Lexia?
Seus olhos escurecem de raiva enquanto suas mãos se fecham em
punhos.
Se eu tinha medo de Kaden antes, estou apavorada agora.
— Não, — ele diz. — Uma vez que eu matar aquele palhaço de merda.
KACE

Eu jogo o bastardo risonho na cela e o tranco atrás de mim.


Como eu poderia não ter visto o que estava me encarando o tempo
todo?
O Matilha do Caos estava aqui. Fazendo todos nós dançarmos como
macacos de merda ao ritmo desse tambor doentio.
Quando voltei da Matilha da Disciplina, Zane foi a primeira pessoa
que interroguei.
Afinal, eu acabei de conhecer outro sobrevivente da Matilha da
Disciplina. Certamente, suas histórias se corroborariam.
E...
Droga, eles fizeram.
Eu acreditei em Zane. Ele foi tão convincente. E agora eu percebo o
porquê.
Porque ele estava lá.
Ele não apenas viu tudo acontecer. Ele fez acontecer.
Não pensei que um fracote tão patético e magricela como esse cara,
esse bobo da cara pintada, pudesse estar por trás de tanta carnificina.
Mas ele está. Ele é o responsável por tudo isso.
Pelo suicídio de Alfa Ip.
Para a Matilha da Disciplina se despedaçando.
Para nossa própria matilha agora, à beira da autodestruição.
E ele está adorando.
— Eu tenho que admitir, — Zane diz, ainda rindo, — vocês Lobos da
Vingança podem ser o bando mais engraçado que eu já encontrei.
— Não consigo nem mais manter as coisas certas — quem está
vingando quem?
Ele dá um tapa no joelho novamente e eu resisto à vontade de abrir a
cela e estrangulá-lo com minhas próprias mãos.
— Sério, Kace, — ele diz, — você deveria aprender a lidar com os
golpes. Sim, e veja como me saí bem.
Ele cospe um dente ensanguentado de sua boca, sem dúvida de um
dos socos que dei em sua mandíbula, e eu balanço minha cabeça.
Ele é louco pra caralho.
— Diga-me por quê, — eu pergunto. — Por que Alfa Ip? Por que
destruir a Matilha da Disciplina de todos os bandos? Eles estavam
fazendo bem para o mundo.
— Bem? — Zane pergunta, como se nunca tivesse ouvido essa palavra
antes em sua vida. — Existe uma coisa dessas? Isso é novidade para mim.
— ME RESPONDA! — Eu grito, batendo a mão contra as barras.
Ele pisca. — O caos não escolhe, querido Kace. O caos consome. De
dentro.
— Se eles fossem realmente tão disciplinados, poderiam ter sido
capazes de resistir! Não é nada pessoal.
Estou prestes a desafiá-lo quando ouço a porta das masmorras sendo
aberta.
Eu me viro para ver Alfa Landon e Althea da Matilha do Poder
correndo para frente.
— ONDE ELA ESTÁ, SEU MONSTRO?! — Althea grita. — ONDE
ESTÁ MINHA FILHA?!
— Oh, crianças, — diz ele com um encolher de ombros. — Eles vêm,
eles vão. Como fruta. Todo mundo tem uma temporada.
— Você está sugerindo... — Landon rosna, olhos ficando pretos, veias
salientes,. —.. que nossa filha está morta?!
— Dificilmente! — Zane exclama. — Mas então, o que eu sei?
Crianças, bebês, todos parecem iguais...
Landon dá um passo ameaçador em direção à cela e, por um segundo,
temo que ele possa arrancar as barras imediatamente.
Afinal, ele é o Alfa da Matilha do Poder e é conhecido por sua força
bruta.
Mas antes que ele possa se aproximar, outra voz ressoa. — DEIXE-O!
Todos nós nos viramos para ver Alfa Kaden saindo das sombras. Ele
tem um olhar assassino. E eu percebo...
Landon não é aquele com quem eu deveria me preocupar.
KADEN

Landon, Althea e Kace estão parados lá, mas não vejo nenhum deles.
Tudo o que vejo é o bobo da corte.
O homem que recebi em minha matilha.
O homem que permiti me entreter e distrair.
O homem que plantou sementes de discórdia o tempo todo.
O Alfa da Matilha do Caos.
Eu quero arrancar a cabeça de seus ombros de merda e acabar com
isso. Não há necessidade de interrogatório.
Vamos executá-lo e encerrar o dia.
Mas meu irmão tem outras ideias. — Você não pode matá-lo, Kaden,
— ele diz. — Ainda há muito que não sabemos.
— O que isso importa? — Eu cuspo. — Corte a cabeça, e toda a
matilha se dispersa. Não é assim que sempre funciona?
— Sim! — Zane exclama. — Por favor, por favor, Alfa Kaden, me mate!
As crianças continuarão meu trabalho, sem dúvida. Eles entendem como
é divertido criar um pouco de confusão.
Tudo faz sentido agora.
A figura baixa que vi plantando a bomba. A caixa-de-surpresa que
Lexia encontrou. As crianças trabalharam para este bastardo o tempo
todo.
— Willow é apenas uma criança! — Althea grita. — Quem está
cuidando dela?!
— Hm, uma boa pergunta, — Zane diz, fingindo coçar sua barba
imaginária. — Vou me certificar de pensar sobre isso, uma vez que Alfa
Kaden aqui termine de me decapitar.
Todo o corpo de Althea treme como se ela estivesse à beira de um
colapso. Se matarmos Alfa Zane, ela pode nunca mais ver sua filha
novamente.
Kace agarra meu braço com força. — Kaden, você vê por que não
podemos matá-lo. As crianças— — Ele é um monstro, Kace, — eu rosno.
— Veja o que ele fez com nosso bando.
— Você me dá muito crédito, — Zane diz, batendo a mão
timidamente. — Eu simplesmente mexo a panela. E você, Kaden, que
ferve.
Minhas mãos se fecham em punhos. Já ouvi o suficiente deste
desgraçado do palhaço.
E hora de terminar isso.
— Kaden, por favor, — implora Althea. — Não o mate.
Eu olho em seus olhos, os olhos suplicantes de uma mãe, e me lembro
de minha própria companheira, Mara, que está grávida agora.
O horror com que ela olhou para mim.
O que ela vai pensar de mim agora se eu continuar com isso?
— E então, vamos? — Zane diz, oferecendo seu pescoço. — Estou
esperando com a respiração suspensa, Alfa Kaden!
Pego a faca em meu cinto.
Eu puxo a lâmina da bainha.
E faço minha escolha.
Capítulo 19
PECADOS ANTERIORES
Escuridão.
O mundo é um oceano negro e turbulento.
Tento resistir ao puxão das profundezas.
Mas não consigo nadar.
Meu braço bom se foi...
E minha mente está consumida pelo ódio.
A correnteza me puxa para baixo...
E eu sou impotente.
Afogando.
LEXIA

Eu pisco abrindo minhas pálpebras pesadas, ainda incapaz de


reconhecer as coisas ao meu redor.
É como se eu ainda estivesse nadando em direção a lugar nenhum, o
sonho ainda segurando meus sentidos.
Eu percebo uma forma de pé sobre mim. Alguém familiar. Mas quem?
— Lexia, acorde!
Não.
Eu não quero enfrentar o mundo.
Preciso ficar sob a água escura, para sempre em sua corrente, para sempre
perdida.
— Ouça-me, você foi gravemente ferida!
Ferida?
Lembro vagamente de uma briga com Kaden no meio do salão de
baile, mas os detalhes são confusos.
As razões, no entanto, permanecem claras como o dia.
Jamais esquecerei o que encontrei em sua sala de armas.
Mesmo no inferno, eu nunca vou perder de vista aquela lança
brilhante, endurecida com o sangue de Greyson.
Meu companheiro.
Eu queria tanto poder me juntar a ele agora, me entregar às trevas e
finalmente descansar. Mas a luz é muito insistente. A voz, muito teimosa.
Por fim, abro totalmente os olhos e o vejo.
Brutus.
— Você está bem, Lexia? — Ele pergunta, parecendo sombrio.
Eu considero meu entorno pela primeira vez. Parece a sala dos
curandeiros. As luzes fluorescentes e monitores com sinal sonoro são
uma prova disso.
Meu corpo está horrível. Então, claramente, sou eu quem está sendo
cuidada.
E então eu vejo. Minha mão esquerda está algemada, acorrentada à
cama.
Como uma prisioneira.
E minha mão direita...
É estranho porque ainda posso sentir, como se fosse um membro
fantasma, uma coceira. Eu quero coçar a coceira, para aliviar essa
sensação horrível.
Mas eu não posso.
Porque meu braço direito sumiu. Restou apenas um coto coberto de
ataduras.
Eu fico olhando em descrença. Por alguma razão, quando eu não
conseguia nadar sem o braço em meu sonho, presumi que fosse apenas
uma lógica perversa de sonho.
Eu não tinha realmente perdido meu braço, certo?
Acontece que sim.
— Sinto muito, Lexia — diz Brutus, os olhos injetados de sangue e
exaustos. — Eu tentei parar Kaden, mas ele era muito poderoso.
— Não me importo com meu braço, Brutus, sussurro. Eu me importo
com o que ele fez ao meu companheiro.
— Do que você está falando? Por que você o atacou?
A lâmina brilhando na noite enluarada captura meus sentidos mais
uma vez, e encontro todo o meu corpo tenso.
Eu rasgo a algema segurando meu braço esquerdo, tentando me
libertar.
— Lexia, pare! — Brutus grita. — Ou você perderá a outra mão
também!
— Eu não me importo, — eu sussurro de novo, mas minha voz fica
mais alta, — Eu não me importo, porra! ELE MATOU MEU
COMPANHEIRO!
Agora estou gritando. Em uma raiva que não pode ser apaziguada ou
controlada.
Brutus balança a cabeça. — Isso é loucura. Você viu nessa jogar aquela
lança com seus próprios olhos. Por que Kaden teria algo haver— — Ele
tinha a lança, — eu digo com os dentes cerrados. — Pendurada em sua
sala de armas. Como a porra de um troféu. Ele planejou com ela. Estou
certa disso.
— Lexia, ouça — diz Brutus com um suspiro. — Eu acho que você foi
manipulada. Como todos nós. Tem que ser um engano.
— Meu erro foi confiar em Alfa Kaden, — eu digo. — Olha o que ele
fez comigo. Veja o que ele fez.
Não me lembro da última vez que chorei, mas agora sinto que estou
ficando perigosamente perto.
Percebo que Brutus está segurando uma garrafa de bebida e aceno
para ela, contendo as lágrimas.
— Dê-me isso, — eu digo, rouca.
Brutus, felizmente, não oferece resistência.
Ele entrega a garrafa, que eu começo a engolir de uma vez. Não há
necessidade de chorar quando eu tiver outra válvula de escape.
— Lexia, — diz Brutus quando eu termino, — há outra coisa.
— O que?
— Eles pegaram o Alfa da Matilha do Caos. Ele está atrás das grades.
Eu franzo a testa, surpresa. — Quem é esse?
KACE

Alfa Kaden, Alfa Landon e Althea deixaram as masmorras.


Por um segundo, não tive certeza se meu irmão acataria meu
conselho, mas no final, ele guardou a faca.
— Vou terminar com você mais tarde, — ele avisou Zane antes de sair.
E agora estou aqui sozinho com o maldito bobo de merda, e não
consigo me lembrar por que salvei sua vida.
— Você realmente está fodido, não é, Kace? — Zane diz com uma
pequena risada. — E não no bom sentido.
— Não, sua própria companheira não vai ajudá-lo neste departamento
por muito tempo, pelo que eu poderia dizer.
— Cale a boca, — digo a ele. — Eu sei o que você é, Zane. Eu sei tudo
sobre o seu passado com Alfa Hakim.
Para minha surpresa, Zane fica quieto com isso. E a primeira vez que
vejo aquele olhar em seus olhos — como se ele realmente se importasse
com alguma coisa. Como se não fosse uma piada para ele.
Então, eu torço a faca, na esperança de obter uma reação dele.
— Hakim disse que você era um garotinho pastoso com uma atitude
ruim. Não conseguia fazer amigos, então você começou uma gangue,
forçando as pessoas a 'entretê-lo', causando o caos.
O bobo da corte me encara, sua expressão vazia.
Nunca o achei assustador antes. Nem um pouco.
Com sua maquiagem estúpida e braços magros, do que há para ter
medo?
Mas agora, olhando para aquele olhar morto, aquele vazio dentro
dele...
Eu tenho que admitir. E assustador pra caralho.
— Estou tentando imaginar como deve ter sido, — digo, me
aproximando.
— Um garotinho sem amigos no mundo, fazendo uma bagunça só
para que alguém o notasse...
— Se estou sendo honesto, Zane, quase me faz sentir pena de você.
Pronto! Em seus olhos, por um segundo, tenho certeza que vejo. Um
lampejo de raiva.
A criança petulante, ainda dentro dele de tantos anos atrás.
Mas um segundo depois ele se foi e, para minha surpresa, Zane sorri.
— É uma boa história, Kace, — diz o bobo da corte, agindo como se
estivesse impressionado. — Eu acho que faz sentido. Mas esse é o
problema com vocês, lobos normais.
— Você sempre precisa de uma resposta legal e normal. Uma razão
por trás de tudo. Mesmo um trauma de infância clichê.
— Você está dizendo que estou errado, então? — Eu pergunto.
— Estou dizendo que uma história de origem toma um homem como
eu mais fácil de digerir. Ajuda você a dormir à noite.
— Porque a ideia de que eu poderia ser tão despreocupado, tão
arbitrário, tão caótico te assusta. Não é? — ele pergunta.
Eu sei que ele está tentando me cutucar. Não vou dar a ele a satisfação
de uma resposta.
Mas ele toma meu silêncio como uma confirmação, seu sorriso cada
vez mais amplo.
— Há mais para mim do que um garotinho tentando entender um
mundo sem sentido, Kace.
— Logo, você vai entender. Ou talvez você não vá.
— Ele encolhe os ombros. — De qualquer forma, eu prometo, será
muito divertido.
Já ouvi o suficiente. Eu me viro e vou para a porta.
— Tchau, Kace! — Zane chama atrás de mim. — Até nos
encontrarmos novamente!
HELENA

Sento no sofá com meu vestido de baile, esperando que ele volte, me
sentindo uma idiota. As palavras de Alfa Hakim ressoam em meus
ouvidos.
E este, eu imagino, é o lobo que te afastou de seus estudos importantes.
Quando eu decidi deixar a Matilha da Sabedoria com Kace, nem me
preocupei em contar a Alfa Hakim. Eu apenas peguei minhas coisas e saí.
Foi assim que fui dominada pela paixão.
Não vou cometer o mesmo erro novamente.
Por fim, a porta se abre e Kace entra, parecendo mais cansado do que
nunca.
Por um segundo, quase sinto pena dele, sentindo a necessidade de
confortá-lo.
Mas não é isso que essa conversa vai ser.
— Helena, — ele diz quando seus olhos fixam nos meus.
— Me desculpe, eu só pude vir agora. Tivemos que prender o bobo da
corte e...
Ele para de falar, lendo a expressão no meu rosto.
— Você me viu olhar para Althea, — ele diz, lendo nas entrelinhas.
— Você mentiu para mim, Kace, — eu respondo. — Você me disse que
não a ama mais. E apenas com um olhar, pude ver que não era verdade.
— Helena, você tem que entender, os sentimentos não desaparecem
da noite para o dia. E complicado.
— E sério? — Eu pergunto. — Achei que fosse simples.
Você está acasalado. Você ama sua companheira. Fim da história.
Kace abre a boca e fecha, parecendo derrotado.
Não é um visual que eu gosto nele. E não estou tentando fazê-lo
mentir ou se defender.
Eu quero que ele me mostre o que eu significo para ele.
— Tire suas calças, — eu ordeno a ele.
Kace parece chocado por um segundo, mas então ele obedece,
rapidamente desafivelando o cinto. Eu me levanto e me viro. — Desça
meu zíper.
Novamente, Kace faz o que eu digo a ele.
O vestido cai aos meus pés, me deixando completamente exposta, de
costas para ele. Exatamente o ângulo que desejo.
Portanto, não preciso ver seu rosto.
— Você sabe o que fazer, — eu sussurro.
Kace não perde tempo. Em segundos, sinto seus dedos movendo
minha calcinha para o lado e massageando meu clitóris.
Resisto a gemer de satisfação. Não quero que ele pense que estou
gostando disso. Eu quero que meu companheiro saiba o quão
fodidamente brava estou com ele.
Ele me fode em seguida. Está tão grosso e inchado que preciso morder
a língua para não gritar de agonia.
Normalmente não dói tanto.
Claro, geralmente aquecemos com preliminares e beijos doces. Mas
não agora.
— Foda-me, — digo a ele.
Um segundo depois, ele mergulha dentro de mim, e tenho que colocar
minhas mãos contra a parede para parar de colidir com ela.
É muito.
Os quadris de Kace balançam para frente e para trás enquanto ele
mergulha mais e mais fundo dentro de mim com cada impulso carnal.
E inebriante. E meio assustador.
Posso ouvir ele gemendo e bufando enquanto pressiona todo o seu
corpo contra o meu, me empurrando contra a parede, uma mão
serpenteando em volta da minha garganta.
— Me sufoque, — eu ordeno a ele.
Eu quero que Kace seja duro agora. Mas ele não quer.
Ele ainda está se segurando.
— Do que você tem medo? — Eu pergunto a ele, desafiando.
Ele entende a dica, batendo em mim com tanta força que eu grito. Eu
não consigo me conter.
Ele dá um tapa na minha bunda e pressiona ainda mais do que antes.
Ele se mantém lá, ainda, pulsando, dentro de mim.
Eu nunca gozei por estar absolutamente imóvel, mas isso vai fazer isso
comigo.
Nunca me senti tão completamente cheia.
— Kace... — Eu suspiro.
Um segundo depois, estou liberando toda a sua masculinidade e
clamando em êxtase.
Ele puxa, caindo no sofá, exausto, ofegante, enquanto eu estremeço,
meu rosto ainda pressionado contra a parede fria.
Por fim, me viro para olhar para ele. Ele ainda está meio duro. Ele não
acabou.
Normalmente, eu faria um esforço. Mas agora não é o normal.
Mesmo depois daquela foda com raiva, ainda me sinto vazia por
dentro.
Eu olho meu companheiro nos olhos, sentando para encará-lo.
— O que é? — Ele pergunta, sabendo que estou prestes a deixar cair
algo grande sobre ele.
— Helena...
— Kace, decidi voltar para onde pertenço.
Ele me encara, chocado. Não querendo acreditar enquanto termino
minha frase: — Estou voltando para a Matilha da Sabedoria.
Capítulo 20
UM NOVO PLANO
Seu corpo balança para cima e para baixo enquanto ele dorme.
Seus olhos, fechados.
Quase parecendo em paz.
Mas eu sei o que está dentro dele, dormente.
Eu vi o monstro com meus próprios olhos.
Eu amo meu companheiro enquanto dorme.
Mas quando ele acorda, ele me apavora.
Kaden. O que serei de nós?
MARA

Já se passaram dois dias desde o baile de máscaras do inferno e eu


ainda não consigo dormir, porra.
Cada vez que fecho meus olhos, vejo a máscara que Zane me ofereceu.
O rosto de lobo de Kaden rosnando em seu estado mais selvagem.
Como uma profecia do que aconteceria naquela noite quando ele
arrancasse o braço de Lexia de sua órbita.
Eu tremo na cama só de pensar nisso. Eu sabia que algo estava errado
com aquele bobo da corte. Mas pensar que ele tem sido o Alfa da Matilha
do Caos o tempo todo?
Sim, mesmo para mim isso parece absurdo.
Mas é difícil negar agora, quando ele reivindicou o título e, com tanto
sucesso, colocou todos nós uns contra os outros.
De todos os eventos estranhos que aconteceram naquela noite, são as
ações de Lexia que mais me confundem.
Por que ela atacaria Kaden? Por que ela o chamaria de assassino? Ele
cometeu algum outro pecado horrível que eu não conheço?
Pior — se ele fez isso, isso realmente me surpreenderia?
Estou prestes a me afastar dele, ainda dormindo pacificamente ao
meu lado, quando sinto uma sensação estranha no estômago. Como se
meu umbigo estivesse sendo puxado para cima.
Como se eu fosse...
— Porra! — Eu suspiro, colocando minhas mãos na boca.
Eu rapidamente saio da cama e corro para o banheiro. Eu não posso
parar agora. Eu vou-BLAHHHHHHH.
Eu chego ao banheiro bem na hora, vomitando minhas tripas. Deve
ser enjoo matinal, eu acho.
Um sintoma normal de gravidez.
Exceto...
O que diabos é isso?!
Eu aperto os olhos, olhando para o vômito no banheiro, e vejo algo...
se movendo.
Como um tentáculo preto e furtivo.
Arrepios rastejam pela minha pele quando eu começo a hiperventilar
com a visão, alcançando, tremendo, a alça para liberá-la.
Isso não pode ser real. Isso não pode ser real!
Mas isso é.
A substância preta como tinta ainda se contorcendo em meio ao meu
vômito.
Eu quero gritar.
Isso não é normal.
O que quer que esteja crescendo dentro de mim, não deveria sair
assim.
Por fim, minhas mãos trêmulas conseguem girar a maçaneta, e vejo
como tudo vai girando para dentro do buraco, desaparecendo.
Eu coloquei minhas mãos na minha barriga, balançando para frente e
para trás, com medo. — Mara? Você está bem?
Eu me viro para ver Kaden entrar no banheiro, esfregando os olhos,
ainda meio adormecido. Eu não sei o que dizer a ele.
Sim, Kaden! Você sabe, apenas ocupada vomitando algum tentáculo
demoníaco, tudo bem!
Então eu minto. — Estou bem.
Não consigo olhar nos olhos do meu companheiro desde o incidente
com Lexia e agora não é diferente.
Eu sei que ele está apenas tentando ser doce, cuidar de mim, mas...
— Mara, — diz ele, ajoelhando-se. — Estou aqui por você e nosso
bebê. Não importa o que. Você sabe disso, certo?
Eu concordo. — Claro.
Mas a verdade é... não tenho certeza se estou aqui O que mais me
assusta não é a ideia de que meu companheiro seja um monstro. Mas que
eu posso ser o pior monstro.
Porque que tipo de futura mãe realmente espera que ela possa perder o
filho?
Isso me deixa ainda mais enjoada do que sentia há um minuto.
Mas eu sei que é verdade. Se nosso filho crescer e se tomar algo como
Kaden, posso acabar trazendo alguém terrível a este mundo.
Outro monstro.
É um pensamento que está me atormentando e que não ousei dizer
em voz alta.
Alguns pensamentos são tão terríveis que você tem que mantê-los
enrolados e rezar para que eles simplesmente desapareçam.
Mas quando Kaden me pega e me carrega para a cama, tenho uma
suspeita secreta...
Essa ideia não vai simplesmente desaparecer.
Como o tentáculo oleoso preto que saiu de mim.
Algo dentro de mim está muito muito errado.

Quando acordo de manhã, respiro um suspiro de alívio. Kaden se foi.


Sem dúvida tentando lidar com a situação de Alfa Zane.
Eu não o invejo. Considerando o fato de que crianças ainda estão
desaparecidas — crianças que podem, na verdade, ser seus cúmplices —
eles não podem simplesmente matar o bobo da corte.
Eles precisam de uma estratégia.
Mas de que adianta a estratégia contra o caos?
O caos faz confete com a estrutura, com os planos, com as esperanças
e os sonhos.
O caos é um inimigo mais assustador do que qualquer um que já
conhecemos, até mesmo um demônio antigo.
Porque ela tinha uma razão de ser. Ela tinha um motivo.
Que motivo Alfa Zane tem além de se deliciar com a nossa
autodestruição?
Eu estremeço só de pensar nisso. Felizmente, ele está atrás das grades,
onde não pode causar mais confusão do que já fez.
Pelo menos por enquanto.
É quando eu ouço uma voz familiar me chamando por meio do link
mental.
Brutus: Mara, sou eu.

Brutus: Eu preciso que você venha para a sala dos curandeiros.

Mara: Por quê?

Mara: Kaden me proibiu de visitar Lexia.

Brutus: Foda-se o que Kaden proíbe ou permite.

Brutus: Ele errou cem vezes antes. Ele está errado agora.

Mara: Por que você precisa que eu a veja?

Brutus: Porque...

Brutus: Porque...

Brutus: Porque ela não é ela mesma, Mara. Eu não posso explicar isso.

Brutus: Vocês duas são próximas. Talvez você possa falar com ela.

Eu suspiro, saindo da cama.


Primeiro, acordo com a versão mais fodida do enjoo matinal no meio
da noite. Agora isso.
Sim. Vai ser um dia terrível.

Quando entro na sala dos curandeiros e vejo Lexia, mal posso conter o
suspiro que escapa dos meus lábios.
Ela parece acabada.
Sua pele, pálida como a de um cadáver. Seus olhos, afundados em sua
cabeça. O braço dela, ou melhor... o que restou dele...
— Já vi dias melhores, não, Mara? Ela pergunta, pegando uma garrafa
de bebida e tomando um longo gole.
Tenho certeza de que ela não deveria estar bebendo agora. Mas posso
culpá-la? Quero dizer... a garota está sem um braço, porra.
Meus olhos continuam passando rapidamente para o coto, coberto
com bandagens ensanguentadas, e para longe. Não quero ficar olhando,
mas não consigo evitar.
— O preço que pago por tentar vingar meu companheiro, — ela diz.
— Engraçado que isso acontece na Matilha da Vingança de todos os
lugares. Eu disse engraçado? Eu quis dizer fodido.
Ela está falando mal. Claramente já bêbada, e não é nem meio-dia.
Quero perguntar a ela o que ela quer dizer, mas não tenho certeza se
isso só vai piorar as coisas.
Eu nunca vi Lexia parecer tão sombria.
Parece estar... sem esperança.
— Você acha que isso nos alcança, Mara? Ela pergunta.
— O que?
— Carma, destino, seja lá o que for. Você acha que as pessoas recebem
o que merecem?
— Você não merece isso, Lexia, — eu digo, sentando na cadeira ao
lado de sua cama. — O que Kaden fez foi...
— O que se esperava dele, — ela termina minha frase por mim. —
Afinal, este é Alfa Kaden. O mesmo homem que sequestrou meninas.
— Que mutilou e assassinou. Algum feitiço não faz isso ir embora.
Desvio o olhar, não querendo admitir que tenho tido os mesmos
pensamentos horríveis ultimamente.
— Você sabe o que ele fez, certo? — Ela me pergunta.
— Com Greyson?
— Isso foi nessa. Não Kaden.
— Isso foi o que eu pensei. Mas agora? Eu sei a verdade.
— E se fosse apenas Alfa Zane tentando entrar em sua cabeça? — Eu a
desafio. — E se ele está colocando todos nós uns contra os outros? E este
foi apenas mais um de seus truques de mágica estúpidos?
— Em primeiro lugar, ele não é um maldito mágico, — ela diz. — Ele é
um bobo da corte. Alfa da Matilha do Caos ou não, eu o conheço.
Pessoalmente. Ele não faria isso.
Ela está dizendo o que eu acho que ela está dizendo?
Lexia realmente transou com aquele palhaço assustador?
Nesse caso, ela está ainda mais perdida do que eu pensava que estava.
— A verdade é esta, Mara, — Lexia diz. — Até eu conhecer Zane, o
mundo era fodidamente cruel, sem sentido e estúpido. E agora?
— Agora não é melhor. Mas pelo menos aprendi a rir disso.
E agora ela balança o coto como se fosse um adereço em alguma peça
doentia.
— Olha! — Ela diz. — E meio engraçado pra caralho, não é?
Ela inclina a cabeça para trás e ri quando sinto um arrepio descer pela
minha espinha.
Se ela se tomou tão cínica, se o riso é tudo que lhe resta, não sei se há
uma Lexia para salvar mais.
Eu me levanto e sigo para a porta. — Eu espero que você... se sinta
melhor, Lexia, — eu digo antes de ir.
— Ria e o mundo rirá com você, Mara, — ela recita. — Chore, e você
chora sozinho.
DESTINY
Estou atravessando o pátio da casa da matilha quando ouço uma voz
me chamando por trás.
— Olá, garotinha, — diz a voz. Eu me viro para ver um homem
estranho com roupas engraçadas e maquiagem.
O matador de coelhinhos do show!
— Não pude deixar de notar você aqui sozinha, — ele diz. — Pensei
em iluminar o seu dia!
Ele segura uma boneca escondida atrás de suas costas.
— Para você, — ele diz.
Um bloco de madeira está pregado em sua face.
Eu olho para ele, confusa.
— E como uma metáfora para a vida.
— Como? Você acabou de usar um símile para explicar uma metáfora,
— rebato.
Ele cai na gargalhada incontrolável. — Tão verdade. Como eu poderia
esquecer!
— Eu sou um elefante. Eu nunca esqueço.
— Uma metáfora! Nossa, você é inteligente. — Seus olhos se
arregalam a cada segundo.
— Diga-me então... Que metáfora você vê aqui? — Ele diz, trazendo a
boneca de rosto de madeira para perto de mim.
Eu pego o brinquedo e o encaro intensamente.
Depois de um momento, eu olho para trás e encolho os ombros. —
Não significa nada.
— Boa. — Ele diz, com um sorriso largo, — Como eu disse, é como
uma metáfora para a vida. Quando tudo não significa nada, nada se toma
tudo.
Eu penso no que ele disse, olhando intensamente para a boneca.
— Em outras palavras, — ele continua, — ser nada...
— Deve ser tudo, — eu respondo, interrompendo-o.
Seu queixo cai quando ele tropeça nos pés, quase caindo.
— Bem, podemos apenas fazer de você uma existencialista!
O tamanho do meu sorriso corresponde ao dele.

Isso foi há apenas alguns dias.


É uma loucura como a percepção do mundo pode mudar em um
instante.
Eu ainda carrego aquela boneca.
Quando ninguém está olhando, eu me esgueiro para as masmorras. É
fácil quando você é pequeno como eu.
Eu sei que se Kace e Helena soubessem o que eu estava fazendo, elas
ficariam furiosos. Mas eu não me importo.
Eu não respondo a eles. Eles não são meus pais reais.
Eu encontro Alfa Zane em sua cela e me apresso.
Desde que ele veio para a Matilha da Vingança, eu e todas as outras
crianças passamos a amá-lo.
Ele fala conosco como se fôssemos adultos, não algumas crianças
idiotas para serem dispensadas.
E ele é engraçado.
— Lá está ela! — Ele exclama quando me vê. — A própria garota do
destino, Destiny!
— Que notícias você traz, lobinha? Parabéns pela minha nova morada,
espero.
Eu rio. — Não, claro que não. Não gostamos que você esteja aqui.
— Não se preocupe, — ele diz. — Não será por muito tempo. Agora,
está tudo indo de acordo com o planejado?
Eu aceno, animada. — Assim como você me disse.
— Bom, — ele diz. — Agora, jogue fora isso. Esqueça tudo o que eu
disse. Novo plano! Você decide o que acontece a seguir, Destiny.
Eu fico olhando em descrença. — Eu? Mas Alfa Zane, você é...
— Incapacitado, claro, — diz ele, apontando para as barras. — De
qualquer forma, eu não te ensinei nada?
— Se eu tomar todas as decisões, o que nos toma diferentes de todas
as outras matilhas hierárquicas enfadonhas da terra?
— Vamos sacudir isso, você e eu!
Eu sorrio. — Qualquer coisa por você, meu Alfa.
— Oh e Destiny? — ele diz, agachando-se no chão quando me viro
para ir embora.
— O que quer que você decida, saiba disso. Nada é tão divertido
quanto um Alfa em sua bunda.
Ele pisca, tombando, e eu rio mais uma vez.
Mal posso esperar para deixar Alfa Zane orgulhoso.
O tempo expirou para os adultos. O dia da Matilha de Jovens
finalmente chegou.
Capítulo 21
ADEUS, POR ENQUANTO
Ela está lá, olhando para o horizonte.
Linda. Cuidadosa. Sábia.
Prestes a retornar a Matilha da Sabedoria...
Deixando Destiny e eu para trás.
Eu gostaria de poder fazê-la ficar
Eu gostaria que minha companheira entendesse o quanto eu a amo.
Mas como?
Helena, por favor, fique.
KACE

Alfa Hakim e os outros lobos visitantes da Matilha da Sabedoria


carregam cavalos e caravanas com suas malas.
Ao contrário da maioria das matilhas modernas, eles se recusam a
usar carros ou veículos modernos para transporte.
Os carros podem ser mais rápidos — mas a sabedoria diz que mais
rápido nem sempre significa melhor. Aparentemente, muitos morreram
dirigindo naquelas engenhocas anteriores à Grande Guerra.
Não que eu saiba.
Ou me importe.
Tudo que me importa agora é a mulher que está fazendo as malas com
eles, se preparando para me deixar para trás.
Mesmo que sejamos companheiros. Mesmo que nos amamos.
— Helena, — eu digo, agarrando seu braço. — Me deixe fazer você
mudar de ideia. Eu farei qualquer coisa.
— Kace, — diz ela com um suspiro pesado. — Já falamos sobre isso.
Você entende porque eu tenho que ir.
— Sim mas…
— Não tome isso mais difícil do que precisa ser. Por favor.
Eu começo a falar mas paro. O que há para dizer? Helena está certa, é
claro. Eu a traí mantendo meu amor por Althea vivo.
Embora eu saiba que Althea está acasalada com outro, embora eu ame
Helena de todo o coração, parece que ainda não fui capaz de deixá-la ir
completamente.
E Helena pode ver isso.
Ela sempre vê através de tudo. Como se seus óculos dessem uma visão
de raio-x.
Ela agarra minha mão e a leva aos lábios, beijando minha palma
suavemente. — Eu ainda te amo, Kace, — ela diz. — Isso não é um adeus
para sempre.
— Quando vou te ver de novo? — Eu pergunto.
Minha voz treme quando sinto as lágrimas ameaçando derramar dos
meus olhos.
Não me lembro da última vez que chorei. Mas eu me recuso a deixar
isso acontecer agora.
Helena já me vê fraco. Não vou dar a ela outro motivo.
— Quando depende de você, Kace, — ela responde. — Quando você
descobrir a si mesmo, me encontre. Eu vou estar esperando por você.
Com isso, ela se inclina para frente e me beija. Meus olhos se fecham
enquanto eu entrego-me à pureza do nosso abraço, desejando que
pudesse durar para sempre.
Eu só me afasto quando ouço uma voz familiar atrás de mim.
— Helena!
Nós dois nos viramos para ver Destiny parada ali, parecendo chateada.
— Você está realmente indo embora?
— Estou, — ela diz, ajoelhando-se e abrindo os braços para um
abraço. — Mas vejo você em breve, Destiny. Eu prometo.
Destiny parece que seu coração pode quebrar em um milhão de
pedaços, ela está tão zangada e triste. Ela cruza os braços.
— Vocês são todos iguais, — ela diz. — Adultos. Apenas se
preocupando com vocês mesmos.
— Destiny! — Eu grito, surpreso com sua explosão.
Mas sem outra palavra, ela se vira e sai correndo, com lágrimas
escorrendo pelo rosto. Percebi que ela está agindo de forma estranha
ultimamente.
Mas não tenho ideia de como lidar com uma situação como essa.
Helena suspira e se levanta. — Ela vai ficar bem, Kace. Ela é uma boa
menina.
Eu quero agarrar Helena. Para abraçá-la. Para mostrar a ela que ela é
minha, que ela nunca deve deixar Destiny ou eu.
Mas eu não posso.
Helena entra na carruagem e se vira para me olhar pela janela,
tentando ao máximo manter suas emoções sob controle.
— Adeus, Kace, — ela sussurra.
— Por enquanto, — eu respondo.
— Por enquanto.
Ela sorri tristemente, então os homens no topo da carruagem
chicoteiam os cavalos e eles vão embora. Eu observo a caravana por
alguns minutos, horas talvez, até que eles não sejam nada além de um
ponto distante no horizonte.
E, ainda assim, eu assisto.
Sem minha companheira.
Sem a companhia de Destiny.
Sozinho.
MARA

Ainda estou abalada com meu encontro com Lexia. Como ela parecia
doente, como ela parecia envenenada.
Mas então, considerando minha náusea constante hoje, não tenho
certeza de quem está mais envenenada.
Continuo correndo para o banheiro, com vontade de vomitar, mas
quando tento, não consigo.
O que é ainda pior. Eu simplesmente tento vomitar e nada acontece.
Lembro daquele tentáculo preto e oleoso que saiu de mim e
estremeço de nojo.
Será que algo está errado com o bebê?
Sei que devo procurar um curandeiro imediatamente, mas sei onde
está sua lealdade.
Eles irão pelas minhas costas e dirão qualquer que seja o resultado
para Kaden.
E ele não pode saber que algo está errado. Ou ele vai ficar ainda mais
louco do que já está.
Então, em vez disso, procuro a única amiga que conheço que
entenderia.
— Oi Althea, — digo, encontrando-a sozinha no jardim.
Ela olha para mim e fico impressionado com o quanto parece que ela
envelheceu nas últimas semanas.
Bolsas escuras e roxas penduradas sob seus olhos. Novas rugas
parecem estar por toda parte. Até mesmo alguns fios de cabelo grisalhos.
E posso culpá-la? Sua filha Willow ainda está desaparecida!
— O que é, Mara? — ela pergunta com uma raiva incomum. — Não
quero companhia agora.
— Eu não culpo você, — eu digo com cautela, sentando no banco ao
lado dela. — E não vou demorar muito, eu prometo.
Althea suspira, balançando a cabeça, parecendo completamente sem
esperança.
— Landon está histérico, — diz. — Ele deveria ser o Alfa da Matilha do
Poder, e ele não pode nem mesmo proteger os filhos de todos da Matilha.
Não é uma boa aparência.
— Kaden não está muito bem também, — eu admito. — Você não
pode buscar vingança quando tantos permanecem em cativeiro.
— Aquele desgraçado do Zane merece, — diz Althea. — Eu mesma o
mataria se me deixassem chegar perto dele.
Eu também. Não preciso dizer isso em voz alta. O sentimento não
poderia ser mais mútuo.
Desde que aquele bobo da corte chegou ao nosso bando, tudo tem
dado errado.
Se ao menos entendêssemos o que ele realmente queria...
Se ele estiver mesmo atrás de alguma coisa.
— O que você quer, Mara? — Althea me pergunta abruptamente. —
Você está aqui por um motivo.
Minhas mãos inconscientemente repousam sobre minha barriga.
Althea percebe e acena com a cabeça.
— Você está preocupada com a gravidez? — Ela pergunta.
Eu concordo. — Não tenho me sentido bem ultimamente. E pensei...
se alguém pode ajudar, pode ser uma colega mãe. Gosto de você.
— Se for uma complicação, você deve ir a um curandeiro, não a mim...
— Não é só isso, — eu a interrompo. — Quer dizer... e se eu não for
uma mãe, afinal? E se eu não for feita para isso?
Althea olha para o céu e sorri fracamente.
— Lembro de ter os mesmos medos, — diz ela. — Sempre me vi como
uma mulher independente. Uma fodona.
— A maternidade realmente não se encaixava na equação. — —
Então? O que você fez quando descobriu? Ela fecha os olhos e fico
chocada com o que ela diz a seguir. — Eu rezei, Mara. Eu me virei para a
Deusa da Lua em busca de orientação.
Althea?
Rezando?
E difícil imaginar. Ainda mais difícil de imaginar sou eu fazendo o
mesmo.
Ter sido criada entre um bando de malucos religiosos na Matilha da
Pureza não me deixou com a melhor impressão da Deusa da Lua.
— Não estou dizendo que você precisa acreditar de repente, Mara —
diz Althea, como se estivesse lendo minha mente. — Mas não custa nada
pedir ajuda.
— O que a deusa da lua vai me dizer que você não pode?
Althea dá de ombros. — Ela me disse que era o meu destino. Aquela
Willow cresceria e se tomaria um lobo importante um dia. Quem sou eu
para negar esse tipo de profecia?
Eu fico olhando para ela, surpresa. Não achei que a Deusa da Lua teria
realmente atendido as orações de Althea.
Desde quando um ser imortal interfere na vida de pessoas como nós?
— Como você... a encontrou? — Eu pergunto.
— Eu viajei para o templo dela. Na Matilha da Pureza. O que está
impedindo você de fazer o mesmo? Você é de lá, não é?
Eu aceno minha cabeça lentamente. A última vez que visitei a matilha,
meus próprios pais me pediram para ser a nova Alfa.
Kaden e eu ainda não conversamos muito sobre isso.
Eu sei que é um assunto delicado.
Mas talvez ir lá simplesmente para orar, não para assumir um papel de
liderança, não seja a pior ideia do mundo...
— Não tenha medo de pedir ajuda, Mara — diz Althea, levantando-se.
— Se espero encontrar minha filha novamente, sei que vou precisar
disso.
Antes de Althea ir embora, eu a agarro e aperto, felizmente. — Vamos
encontrá-la, Althea. Eu sei que vamos.
Ela sorri suavemente e se afasta, me deixando sozinha.
Com meus pensamentos.
Com minhas orações.
É hora de eu enfrentar a Deusa da Lua de uma vez por todas?
LEXIA

Estou meio acordada, perdendo e recuperando a consciência, graças a


um coquetel de todas as drogas que estão despejando em meu sistema e à
bebida.
Meu braço — o que era meu braço de qualquer maneira — ainda coça,
me deixando louca.
É difícil acreditar que nunca mais poderei usá-lo. Que sempre terei
um braço só.
Graças à porra do Alfa Kaden.
Eu ainda não xinguei meu Greyson ou pude sair desta sala dos
curandeiros, onde minhas correntes me mantêm trancada. E estou
ficando sem ideias rapidamente.
Se Zane apenas estivesse aqui, ele saberia o que fazer.
Bem, provavelmente não. Ele apenas colocaria fogo em algo e
brincaria com as cinzas. Mas pelo menos seria divertido.
Sem sentido.
Assim como minha vida se tomou.
É quando ouço a porta abrir. Eu me sento direito. Há uma pequena
figura parada ali na porta.
A última vez que um intruso entrou em meu quarto, eu o matei.
Uma criança.
Foi enviado outro para terminar o trabalho?
Ele entra na sala e vejo que, mais uma vez, a criança está brandindo
uma faca. Está aqui para acabar comigo, suponho.
Por que não? Não é como se eu fosse muito útil para alguém no meu
estado atual.
— Vá em frente, garoto, — eu rosno. — Faça o seu pior, porra.
Mas quando ele se aproxima da minha cama e levanta a faca,
preparando para desferir o golpe mortal, algo surpreendente acontece.
Eu ouço um som de corte. Olho para baixo para ver se as restrições de
corda que me seguraram foram cortadas.
A corrente ainda balança em volta do meu pulso esquerdo. Mas estou
livre para ir.
Eu me viro para a criança encapuzada, surpresa. — Por
— Venha comigo, — diz a criança.
Em seguida, ele volta para a porta sem outra palavra. Eu me levanto,
vacilante, e considero dar uma corrida. Mas de que adianta?
Se essa criança me libertou, deve haver um motivo. Se devo fugir com
ele, também posso descobrir por quê.
Pego a garrafa de bebida antes de ir.
O que quer que esteja por vir, tenho a sensação de que vou precisar.
Capítulo 22
ENIGMAS SANGRENTOS
Ele sorri na cela escura.
Me provocando.
Me testando.
Tentando entrar na minha cabeça.
Mas eu não vou deixar. Eu não posso.
Alfa Zane da Matilha do Caos já causou danos suficientes.
É hora de eu impedi-lo.
De uma forma ou de outra.
KADEN

— Aqui estamos. Alfa para Alfa. De homem para homem. Tolo para
enganado. É divertido estar no escuro juntos, não é?
Zane faz agachamentos em sua cela úmida e sombria, e estou surpreso
com a quantidade de energia que ele ainda tem.
Para alguém que mal se alimentou e se recusou a dormir, o cara
certamente tem resistência.
— Não se preocupe comigo... Só trabalhando nos meus glúteos, — diz
o filho da puta magro.
— Eu quero respostas, Zane, — eu rosno ameaçadoramente. — Você
se recusa a nos dizer onde estão as crianças. O que significa que terei que
obrigar você.
— Ah, uma ameaça! — Zane exclama. — Agora estamos conversando.
Você vai arrancar meus dentes? Eu só tenho alguns sobrando, então isso
pode não durar muito.
Abro a porta da cela e fecho atrás de mim. O palhaço é minúsculo em
comparação a mim. Um covarde. Meu poder físico sobre ele não pode ser
questionado.
Então, por que ele não parece com medo?
Eu o agarro pelo pescoço e o bato contra a parede, apertando,
sufocando a vida dele.
Ele respira fundo, mas continua a sorrir.
— Isso é preliminar, Alfa Kaden? — ele pergunta entre as respirações,
fingindo um gemido orgástico.
— Sempre gostei de áspero!
— Cale a boca e responda à porra da minha pergunta! — Eu berro.
— As crianças? — ele pergunta. — Certamente, eles estão fazendo o
que as crianças fazem. Fazendo uma confusão.
— Eu sempre gostei disso neles. Eles entendem que as regras são tão...
Eu aperto ainda mais forte, observando seus olhos incharem.
. —.. apertadas... — ele tosse.
Bastaria um aperto de dedos e o palhaço estaria morto.
Nossos problemas estariam acabados.
A Matilha do Caos seria cortada na cabeça.
— Mas você precisa de mim vivo, não é? — Ele engasga. — Esse é o
problema com os acessórios. Eles sempre colocam em você uma barreira.
Eu o soltei, vendo-o desabar no chão, sufocando por ar.
Ele está certo, é claro. Eu não posso simplesmente matá-lo. Tanto
quanto eu gostaria.
Não até sabermos o que ele fez com nossos filhos.
— Eu não quero ouvir outra porra de enigma, Zane, — eu digo,
elevando-me sobre ele. — Diga o que quiser ou pare de me fazer perder
tempo!
— O que eu quero? — Ele pergunta inocentemente. — Mas não é
óbvio?
— Se fosse, eu estaria perguntando a você?
Zane rasteja até as barras, descansando contra elas, enxugando a testa.
— Digamos que eu queira estar aqui. Digamos que gosto de ser seu
prisioneiro. O que então?
— Eu diria que você está louco pra caralho.
— Claro! — ele exclama. — Porque que tipo de homem racional iria
querer estar atrás das grades? Parece loucura.
— Isso é tudo que você é então? — Eu cuspo. — Um lunático
delirante?
Seu sorriso vacila ligeiramente. — Não, Alfa Kaden. O mundo e meu
lugar nele nunca foram mais claros.
— As pessoas realmente me fascinam, — diz ele.
— O que eles realmente querem. Quem eles realmente são... — Ele se
levanta e se aproxima. — Quem eles fingem ser... a fachada que querem
que o mundo veja... Eu sou um artista.
— E o que acho divertido é ver as pessoas expostas pelo que realmente
são. Neste caso... você.
— E quem sou eu realmente?
— Um Alfa tão temível, contos de fadas e canções de ninar foram
escritos sobre ele. Um Alfa que causa medo nos corações dos homens em
todos os lugares. Um monstro.
Minhas mãos se fecham em punhos enquanto sinto a raiva percorrer
meu corpo. Como ele ousa me chamar assim? Depois de tudo que fiz
para expulsar os pecados do meu passado?!
— Isso não é o que estou dizendo que você é, é claro, — Zane
esclarece. — E simplesmente o que você revela.
— Com bastante calor e pressão, seu ganso, como dizem, fica cozido.
— Então você quer me ver monstruoso? — Eu pergunto.
— Eu vou te mostrar monstruoso.
Eu bato um punho contra o rosto de Zane, sentindo os ossos
quebrarem.
Ele parece temporariamente atordoado, então se vira e cospe um
dente ensanguentado, sorrindo.
— Tive a sensação de que você me deixaria sem dentes, — ele diz.
Eu o soco novamente.
E de novo.
De novo e de novo.
Transformando seu rosto em uma polpa sangrenta, um reflexo da
minha raiva. Só paro quando ouço a voz chamando atrás de mim.
— Basta, KADEN!
Eu me viro e vejo Brutus parado ali, com uma expressão sombria. —
Venha comigo.
Eu considero o palhaço mais uma vez, seu rosto antes pintado de
branco uma máscara de sangue e hematomas recentes.
— Da próxima vez, vou terminar o que comecei, Zane, — eu rosno. —
Você pode ter certeza disso.
— O show tem que continuar! — Zane grita quando eu saio com
Brutus. — O show tem que continuar!

Estamos na sala do Conselho agora e mal estou ouvindo uma palavra


do que Brutus está dizendo. Muito ocupado examinando meu punho
dolorido.
Socar Zane foi bom. Muito bom. E me pergunto se, mais uma vez,
estou brincando com a mão do bobo da corte.
Se tudo isso for parte de uma armadilha que ele armou.
Posso dizer que o bobo da corte está tramando alguma coisa.
Planejando algo.
Um show como ele o chamou.
Mas que tipo de show? E quem exatamente será a estrela?
— Kaden, — diz Brutus, — você precisa me ouvir.
— Se for sobre Lexia, eu já disse a você. Ela teve o que merecia.
Brutus suspira. — Não, Kaden. É sobre Mara.
Eu franzir a testa. Desde quando o Alfa do... como diabos seu bando é
chamado de novo?
a Matilha de retaliação?
a Matilha de ressurgimento?
Qualquer que seja.
Desde quando Brutus quer falar sobre minha companheira? Sempre
suspeitei que o relacionamento deles tem mais camadas do que gostaria
de examinar.
A última vez que Brutus e eu discutimos, ficou feio quando nossos
lobos quase se despedaçaram.
Ele tem sorte de eu ter acabado de socar Zane até o fim, ou
consideraria uma revanche agora mesmo.
— Você vai me dizer como lidar com minha própria companheira
agora, Brutus? Eu desafio.
— Pelo contrário, Kaden, — diz ele. — Eu respeito Mara. Eu vi a
maneira como ela pode reunir nossos bandos. E a ideia de que ela mesma
pudesse se tomar uma Alfa...
Ele faz uma pausa. — E uma que eu imploro que você considere
seriamente.
Eu tenho que admitir. Não era isso que eu esperava que Brutus
dissesse. Sei que todos ouviram Mara e minha explosão no baile de
máscaras.
Mas essa é realmente a prioridade agora? Quando Alfa Zane é nosso
prisioneiro, e a Matilha do Caos está planejando, sabe-se lá o quê?
— O que isso importa para você, Brutus? — Pergunto-lhe. — Por que
você se preocupa tanto com Mara de repente?
— Ela é uma ótima Luna, Kaden, — Brutus diz, olhando para o lado.
— Ela coloca a Matilha em primeiro.
Sempre. E a razão pela qual a amamos. As pessoas a amam.
Ele diz a última parte rápido demais, como se não tivesse a intenção
de escorregar ao dizer: — Nós a amamos.
Mas, para ser honesto, não posso deixar de admirar a lealdade de
Brutus à minha companheira.
Nunca levei seu papel muito a sério, mas talvez devesse.
Talvez ele esteja certo.
Talvez Alfa Mara deixasse a Matilha da Pureza orgulhosa.
É um pensamento que devo pelo menos considerar, especialmente se
todos nós precisamos unir nossas forças contra a Matilha do Caos.
Respiro fundo e encontro os olhos de Brutus. — Obrigado, Brutus.
Vou pensar sobre isso.
Antes que possamos voltar ao trabalho, a porta se abre e Kace entra,
parecendo muito desgastado.
Eu tinha ouvido falar que Helena, sua companheira, estava indo
embora, mas não sei os motivos.
— O que aconteceu? — Ele pergunta, percebendo minha mão
machucada. — Você foi atrás de Zane?
Eu concordo. — Eu não pude evitar, Kace. Eu preciso entender
porque...
— Você não entende? — Ele pergunta, claramente ficando frustrado.
— Não há por que com a Matilha do Caos! Ele não quer ou precisa de
nada além de assistir nossa matilha queimar.
— Ele não terá sucesso, — digo, tentando reunir confiança. — Eu
tenho certeza disso.
— Você acha que alguns socos farão diferença? Não podemos permitir
que ninguém se comunique com ele, entendeu? Principalmente você.
— O que isso deveria significar?
Kace evita meus olhos. — Aqueles que são suscetíveis à influência.
Como você, Kaden. Como eu. Nós dois já fomos manipulados antes.
— Diga-me, — eu digo, levantando. — Lexia era fodidamente
suscetível? Porque ela certamente está bebendo o refrigerante agora!
— Kaden, Kace, — diz Brutus, ficando entre nós. — Lutar entre nós
não vai ajudar.
Todos nós ficamos ali, em silêncio, cientes de que não há solução clara
quando a voz do guarda da prisão Draxon chega até nós de uma vez por
meio de um vínculo mental.
Draxon: Alfas!

Draxon: Lexia, ela se foi!

Draxon: Ela escapou!

Nossos olhos se arregalam enquanto consideramos. Não pode ter sido


Zane — ele está atrás das grades.
Então, quem está ajudando Lexia? Como ela se libertou?
LEXIA

Eu sigo a criança encapuzada pelo esgoto, sem saber para onde ele
está me levando. O fedor arde em minhas narinas e me dá vontade de
vomitar.
Mas eu prossigo.
Quem me salvou teve seus motivos.
Quando finalmente passamos por uma grade, fico chocado ao ver um
enorme espaço cavernoso, que foi convertido em um playground.
Em todos os lugares, crianças estão brincando, vivendo de maneira
violenta: sujas e nojentas e amando cada segundo de suas vidinhas
rebeldes.
Sem pais para mandar neles.
Sem regras.
E eu percebo... estes devem ser acólitos de Alfa Zane!
Mesmo atrás das grades, ele me salvou.
Vejo alguns resquícios de bandeiras de matilha, reaproveitadas como
toalhas e trapos. Muitas dessas crianças vêm claramente da Matilha do
Poder.
Eles não foram sequestrados como todos suspeitavam.
Eles queriam estar aqui.
Quatro meninas estão sentadas em um berço frágil, alimentando um
bebê com colheradas de ervilhas em lata. Deve ser Willow, a filha de
Althea.
Viva e bem.
E demais para entender. E então a vejo dando um passo à frente, as
outras crianças acenando com a cabeça respeitosamente em sua direção,
e reconheço outro líder.
— Olá, Lexia, — Destiny diz. — Zane disse olá. E para te dar isso.
Ela acena com a cabeça para uma das crianças, que corre com uma
caixa de metal pesada, coloca aos meus pés e a abre.
— E de antes da Grande Guerra, — explica Destiny. — Pode não ser
tão bom quanto o seu braço original, mas é alguma coisa!
Eu caio de joelhos maravilhada e alegre.
É um braço mecânico. Claramente, uma parte do robô biônico que foi
reaproveitada.
Eu olho para Destiny, apenas uma garotinha, mas já uma líder a ser
respeitada. Ela sorri.
— Bem-vindo a Matilha Juvenil.
Capítulo 23
ABRAÇADO
Esta sala nunca pareceu mais vazia.
Um quarto que deveria ser um lar...
Como se fosse meu e de Kaden...
É estranho agora.
Enquanto termino de fechar minha bolsa, me preparando para sair...
Eu olho em volta.
Será o mesmo quando eu voltar?
... Se eu voltar?
MARA

Arrumei todas as roupas de que vou precisar para minha viagem para
a Matilha da Pureza e, ainda assim, gostaria que houvesse mais para eu
fazer.
Não quero ter que fazer a última coisa da minha lista de verificação
ainda: Falar com Kaden.
Porque eu sei que ele não vai gostar que eu vá embora.
Desde que tomei a decisão de seguir o conselho de Althea e entrar em
contato com a Deusa da Lua — uma ideia que ainda acho bastante
ridícula, para ser honesta, tenho me preparado para essa conversa.
Kaden e eu ainda não discutimos adequadamente a oferta da Matilha
da Pureza para eu ser a Alfa deles.
E eu não sei como diabos eu me sinto sobre isso.
Ultimamente, estou mais preocupada com o bebê crescendo dentro
de mim enquanto meu estômago incha cada vez mais a cada dia, e minha
náusea fica pior e pior.
Tento não pensar no que joguei no banheiro. Entrar em pânico não
fará bem a ninguém.
Mas a ideia de que algo... estranho... ou mal... está crescendo dentro
de mim?
Isso me assusta muito.
— Mara, o que você está fazendo?
Eu congelo, os cabelos da minha nuca se arrepiaram.
Como eu nem o ouvi abrir a porta? Estou tão envolvida em meu
monólogo interior que nem percebo o mundo exterior?
Eu me viro para encará-lo.
Kaden.
Todo seu corpo com seus músculos protuberantes e seus olhos de
obsidiana olhando diretamente para mim. A mala feita na cama entre
nós.
Eu me sinto temporariamente paralisada enquanto minha língua
tenta formar palavras.
— Eu, um… Kaden, deixe-me explicar, — gaguejo.
— Você está me deixando, Mara? ele pergunta.
Nunca ouvi seu tom de voz soar tão magoado antes. Totalmente
derrotado.
Sinto uma necessidade repentina de correr até ele, de abraçá-lo, de
confortá-lo.
Mas não é isso que devo fazer agora, lembro a mim mesma. Mantenha
a porra da sua determinação, Mara!
— Claro que não, — eu digo sem fôlego. — Só vou fazer uma breve
viagem.
— Onde?
Tento me lembrar que não tenho nada a temer. Este é meu
companheiro.
Violento ou não, ele me ama. Ele nunca tentaria me impedir ou me
machucar.
Ou iria?
— Você está indo para a Matilha da Pureza, não é? — Ele pergunta,
lendo nas entrelinhas. — Para se tomar a Alfa deles?
— Não, — eu digo, balançando minha cabeça muito rapidamente. —
Não para me tomar a Alfa deles. Só para visitar, eu juro.
— Mara, — diz Kaden, entrando na sala em minha direção, me
deixando com os joelhos fracos. — Tudo bem. Faça o que tem que fazer.
Eu... eu te apoio.
Hum. O QUÊ?
Essas foram as últimas palavras que eu esperava que saíssem da boca
de Kaden! Desde quando ele apoia que eu me tome uma Alfa, entre todas
as coisas?
— Conversei com Brutus e percebi... que não deveria impedir você de
cumprir seu destino. Se você deveria ser a Alfa, eu deveria ficar ao seu
lado.
Eu fico olhando, boquiaberta, totalmente sem palavras.
O fato de Kaden e Brutus serem amigos de repente depois de quase se
matarem...
Essa é a menor das minhas surpresas.
Kaden se aproxima cada vez mais, os olhos voltados para baixo, como
se ele estivesse com muito medo de encontrar os meus.
Tão vulnerável e aberto, isso derrete meu coração.
— Eu sei que não tenho sido o melhor amigo ultimamente, — ele diz
com cautela. — Ou o melhor Alfa.
— Mas estou tentando, Mara. E se isso significa aceitar sua nova
função, eu irei.
— Mas... — consigo dizer: — E o bebê? Como...
— Eu não sei, — diz com um encolher de ombros sincero. — Como
vamos e voltamos entre as terras da Pureza e da Vingança enquanto
criamos um filho?
— Eu não tenho ideia. Mas se é o que você quer, vamos fazer
funcionar.
Eu suspiro e pego sua mão, apertando-a suavemente. — Kaden, eu
não vou ser a Alfa. Vou orar para a Deusa da Lua.
Ele levanta uma sobrancelha, surpreso. — Mesmo? Desde quando...
— Eu sei. E estranho para mim também. Talvez sejam os hormônios
da gravidez, não sei.
— A questão é... agora, eu ser uma Alfa, não é algo com que devemos
nos preocupar.
Kaden sorri, parecendo aliviado. — Essa é a primeira boa notícia que
ouço há algum tempo, Mara.
Ele leva a mão até minha barriga, acariciando-a suavemente, os olhos
brilhando de umidade. — Vou orar por nosso bebê também. Por nós. O
que for preciso.
Eu olho nos olhos do meu companheiro, e toda a raiva, medo e dor
derretem em um único instante.
Lembro de nossa paixão.
Nosso futuro.
Nosso amor.
Sem outra palavra, Kaden e eu nos movemos em direção um ao outro
ao mesmo tempo, travando nossos lábios e fechando nossos olhos, nos
abraçando como se nunca tivéssemos nos abraçado antes.
O beijo é elétrico — quase posso sentir as faíscas. O gosto de sua
língua arrebatando a minha é bom demais para ser verdade.
Eu pressiono todo o meu corpo contra o dele e sinto a protuberância
nas calças de Kaden, crescendo a cada segundo, implorando por
liberação.
E eu vou dar a ele.
Eu abaixo minha mão no tecido e o aperto, observando enquanto seus
olhos reviram em sua cabeça, e ele respira em êxtase: — Mara...
Eu sorrio. Deusa, Eu senti falta disso. O controle que tenho sobre ele.
O poder.
Eu caio de joelhos e examino a protuberância mais de perto enquanto
Kaden puxa os fios de cabelo do meu rosto, juntando-os em um nó
apertado.
Assim como eu gosto.
— Você está pronto para mim, Kaden?
KADEN
Quando Mara abre o zíper e agarra meu pau pela base, sinto que vou
explodir ali mesmo. Faz muito tempo que não temos relações íntimas um
com o outro.
Já que permitimos que os lobos dentro de nós vagassem livremente.
Ela mostra a língua e me lambe, do meu saco até a ponta, e todo o
meu corpo estremece de deleite.
Então ela coloca a boca em volta do meu pau e o engole inteiro.
Como ela é capaz de engolir tudo, eu não sei. Mas eu amo isso pra
caralho.
— Mara... — Eu rosno, perdendo o controle quando ela começa a
balançar para cima e para baixo, aumentando seu ritmo.
Eu posso sentir a necessidade de gozar já crescendo dentro de mim...
Mas é muito cedo. E eu quero agradá-la agora.
Ela sai, admirando meu membro latejante, brilhando em sua saliva.
Eu agarro seus braços e a coloco na cama, rapidamente desabotoando
suas calças e puxando-as para baixo.
A calcinha vai embora a seguir.
Eu me abaixo e coloco minha cabeça entre seus joelhos, observando
seus olhos se arregalaram, quando ela percebe o que estou prestes a fazer.
E hora de retribuir o favor.
MARA

— Oh, Kaden...
Sua língua está sacudindo meu clitóris, me provocando de forma
enlouquecedora.
Eu peguei um punhado de seu cabelo curto e o pressionou contra
mim. Mais fundo.
Sua língua rompe minha entrada, e quase engasgo, é tão bom.
Ele rosna, continuando a me estimular por dentro, enquanto minhas
pernas convulsionam. Não sei se aguento.
Kaden.
Kaden.
KADEN!
Antes que eu possa liberar, ele se senta e empurra sua masculinidade
ainda dura como uma rocha dentro de mim com um impulso repentino.
Minhas paredes, já contraídas, mal cabem nele.
— KADEN! — Eu grito desta vez quando sinto meu corpo se perder
no orgasmo.
Mas eu sei que estamos apenas começando.
Kaden esmurra meu núcleo encharcado, pressionando cada vez mais
fundo com cada impulso poderoso. Seus olhos são negros como a noite.
De um animal.
E então, antes que eu saiba o que está acontecendo, ele estremece,
grita e libera sua doce essência dentro de mim, me encharcando
completamente.
Por fim, ele desaba em cima de mim, e nós dois respiramos, nossos
corações batendo forte, nossos corpos suados.
Mas mais perto do que estivemos em meses.
Eu olho em seus olhos e o beijo. — Eu te amo, Kaden.
— E eu, você, Mara, — ele diz. — Volte para mim logo. OK?
— Eu prometo que vou.
Com isso, simplesmente nos abraçamos. A mala caída a apenas alguns
metros de distância, um lembrete da jornada que estou prestes a fazer.
Momentos atrás, eu mal podia esperar para ir.
Agora, tudo que eu desejo é poder ficar.
KACE

Desde a explosão de Destiny quando Helena partiu, não tenho sido


capaz de encontrá-la. Ela não voltou para casa e estou começando a ficar
preocupado.
Estendo a mão para minha companheira, mesmo sabendo que ela está
longe. Talvez ela possa ajudar.
Kace: Helena, sou eu.

Kace: Você pode me ouvir?


Helena: Kace, eu estava quase entrando em contato com você!

Kace: O que é? O que está errado?

Helena: Acabei de falar com Alfa Hakim obre seu tempo com Zane anos atrás.

Helena: E ele disse que as crianças sempre ficavam nos túneis embaixo da matilha.

Helena: Onde os pais não os encontrariam.

Eu congelo, percebendo que minha busca por Destiny pode estar


conectada.
Kace: Você acha...

Kace: E aí que elas estão? As crianças?

Helena: Você tem que olhar, Kace.

Helena: Mas tenha cuidado.

Afastei a primeira grade que encontrei e agora estou no subsolo,


procurando na escuridão úmida por qualquer sinal da Destiny ou das
outras crianças.
Eu considerei ir até Kaden ou Brutus para reforços.
Mas se minha filha adotiva está desaparecida, eu preciso ser o único a
encontrá-la. Sozinho, desta vez.
Eu ouço o eco distante da risada de uma criança e meu sangue gela.
Então, eles estão aqui. Helena estava certa.
Me movo furtivamente para frente, pensando no aviso final do
sobrevivente da Matilha de Disciplina: Cuidado com o riso das crianças.
Agora, eu entendo por quê.
Quando viro a esquina, minha boca cai em descrença no que estou
vendo.
É uma sala cheia de mesas onde as crianças trabalham. Parece que
estão fazendo brinquedos.
Caixa-de-surpresa.
Exceto que amarrados a esses brinquedos estão explosivos. Assim
como aquele que quase explodiu a Cidade da Vingança. MERDA!
Existem centenas dessas bombas!
Eu tenho que correr e avisar os outros imediatamente antes
— VOCÊ!
Eu ouço um grito estridente e me viro para ver uma figura familiar nas
sombras com longos cabelos crespos e um braço mecânico de metal.
Lexia.
— Indo para algum lugar? — Ela pergunta.
Um segundo depois, sinto que alguém me bate por trás e tudo fica
escuro.
Capítulo 24
ENFRENTANDO O PASSADO
Eu não posso acreditar no que estou vendo...
A matilha em que cresci...
A matilha que foi destruída pela crueldade de Alfa Rylan...
O bando que me implorou para ser sua Alfa...
Parece... lindo.
Não está mais em frangalhos.
A Matilha da Pureza começou a ser reconstruída...
E, pela primeira vez em muito tempo, estou feliz por estar de volta.
MARA

— Mara!!!
Estou tão emocionada com o que vejo no início que nem percebo a
garota se jogando em meus braços e me abraçando com força.
E Milly, claro. A minha melhor amiga. E ela nunca esteve melhor.
— Milly! — Digo, surpresa. — O quão...
— Fizemos algum progresso, não é? — Ela pergunta com um sorriso
malicioso. — O que posso dizer? Posso ter sido inspirada por uma certa
amiga minha.
— Você quer dizer que você está por trás disso?
Este, sendo um bando que antes parecia um pesadelo puritano, depois
uma pilha de entulho, agora agitado com a sensação arrogante de uma
cidade a caminho de se tomar uma cidade.
E rápido.
Os mercados estão vendendo produtos frescos, um conjunto
diversificado de estruturas religiosas e, o mais importante, uma
população que parece bem alimentada, feliz e cheia de fé renovada.
Não consigo acreditar na transformação que estou vendo. Mesmo que
ainda tenham um longo caminho a percorrer.
Milly sorri e acena com a cabeça. — Eu imaginei, se você vai ser nossa
Alfa, você precisará de uma Beta forte. E se estou falando sério sobre o
papel, devo começar a limpar!
Milly? Minha Beta? E muita coisa para processar.
E eu não sei como quebrar isso para a garota...
Eu não estou aqui para ser a Alfa. Ainda não, de qualquer maneira.
Mas não estou com vontade de estourar sua bolha ainda.
Porque o fato é? A Matilha da Pureza nunca esteve melhor.
— Você é incrível, Milly, — eu digo, abraçando-a ainda mais forte. —
Meus pais estão por aí?
Ela acena com a cabeça. — Eles estão no templo. Ainda está muito
confuso depois de Rylan, mas eles fizeram de seu projeto pessoal
consertá-lo.
Eu concordo. Bom. Dois coelhos com uma cajadada então.
Eu me viro e sigo para o templo, acenando mais uma vez para Milly. —
Terminaremos de conversar mais tarde! Tenho um compromisso que
tenho que marcar!
Milly franze a testa. — Com seus pais?
Eu balancei minha cabeça. — Não. Com a própria Deusa da Lua.
KADEN

Eu sei que isso é um sonho.


Um pesadelo.
Mas de alguma forma, parece ainda mais real do que o mundo real
agora.
Eu me reviro na cama, sozinho, tentando pensar em Mara.
Tentando tudo que posso para afastar esse horror recorrente que meu
subconsciente parece decidido a me infligir.
Mas não funciona.
Eu vejo meu eu de anos atrás. O Alfa Kaden que estava sendo
manipulado por Coen. Eu o vejo gargalhando com o terror nos olhos de
Mara quando eu a sequestrei.
Vejo o Alfa Kaden que ordenou que Mara matasse o filho ainda não
nascido de Althea.
Willow. A garota que está faltando.
Como se eu fosse o culpado por isso todos esses anos depois.
— Mas você é, não é, Kaden? — A voz de Coen sussurra em meu
ouvido.
Eu me viro para me olhar no espelho, mas onde deveria ver meu rosto,
vejo o de Coen.
Meu irmão está morto. Ele já se foi. Mas ainda assim, ele me
assombra. Por que?!
— Sai da minha cabeça! — Eu grito.
— Nós dois sabemos que isso nunca vai acontecer, Kaden, — ele diz,
— E não apenas porque eu sou seu sangue.
— Mas porque, no fundo, você e eu somos o mesmo. —
MENTIROSO! Eu bato meu punho no vidro, vendo-o se estilhaçar,
criando centenas de reflexos distorcidos. Mas agora o rosto de Coen se
transformou no de outro.
No rosto de Kace. O Kace que estava sob o mesmo feitiço. Não o
irmão que amo hoje.
Ele sorri maliciosamente. — Você sabe que Mara me queria, não é?
Tento me virar, mas o espelho estilhaçado me cerca, os reflexos
carnavalescos para todos os lados. — Cala essa porra...
— Foda-se, Kaden, — Kace ri demonicamente. — Você se lembra
como ela dançou para mim? Como ela me desejou? Implorou-me para
foder com ela?
— PARE!!!!
Eu levanto minhas mãos à minha cabeça, cobrindo meus olhos, meus
ouvidos. Se eu não posso vê-lo, ele não pode me torturar, pode?
Mas agora até minhas pálpebras são superfícies reflexivas. Olhando de
volta para minha alma.
Vejo Rylan, as mãos cruzadas em uma prece psicótica ao demônio que
banimos.
Como se todo vilão estivesse dentro de mim o tempo todo.
— Eu estava errado sobre Mara, — diz Rylan. — E você também,
Kaden. Nós dois fomos seduzidos por suas artimanhas femininas!
— Mara é a única coisa certa no meu mundo, — digo, tentando me
concentrar, recuperar o controle. — Você não passa de um idiota morto,
orando para a mulher errada.
— Varmegadda? — Ele pergunta. — Por favor, ela e a Deusa da Lua são
mais parecidas do que você imagina. Mulheres. Nada em comparação
com homens como nós.
— Mais besteira religiosa antiga! — Eu rujo.
— E isso? — ele pergunta. — Você está dizendo que é tudo apenas
uma farsa? Um show? Porque isso me lembra outra pessoa.
Abro os olhos, tentando forçar Rylan a sair, e agora os espelhos
sumiram. Em vez disso, vejo um lago diante de mim.
Mas quando me aproximo, noto que meu reflexo está errado.
Em vez de Kaden olhando para mim, eu vejo o bobo da corte...
Eu vejo Alfa Zane.
— Você quer desesperadamente ser você mesmo, Kaden, — ele diz. —
Por que lutar contra isso? Ceda. É muito mais divertido ser engraçado.
Ele sorri, e eu sinto minha própria boca se curvando em um sorriso
demente, forçando a corresponder ao dele.
Eu sinto a pintura de rosto branco que ele usa clareando minha pele,
deixando meu cabelo preto laranja e pegajoso.
Estou me tornando ele.
— Encare isso, Kaden, — ri Zane. — Você nunca esteve tão bonito em
sua vida!
— NÃO!!!!

Sento assustado, tremendo, suado. O sonho acabou, mas ainda assim,


sinto seu gosto persistir em minha mente. Como a ressaca mais cruel
possível.
Eu sacudo e me sento. Estou farto de ver minha própria mente
voltada contra mim.
Estou cansado de ser feito de idiota, mesmo com Lexia escapando de
minhas garras.
Eu preciso enfrentar Alfa Zane.
Agora.
Eu digo aos guardas para se foderem — e felizmente eles são
inteligentes o suficiente para ouvir.
Nenhum de nós deveria vir aqui e falar com Zane. Isso foi uma coisa
com que o Conselho concordou.
Mas estou aqui.
Para obter respostas.
Encontro o bobo da corte em sua cela, o rosto ainda endurecido de
sangue e coberto de hematomas da minha última surra. Ele está
assobiando uma melodia extremamente irritante.
Eu bato nas barras. — Zane!
— Kaden, — ele diz, esforçando-se para sorrir. — Eu esperava que
pudéssemos continuar de onde paramos. Falando figurativamente.
— Eu não estou aqui para bater em você, palhaço.
— Não? Então o que?
— Diga-me. Diga-me porque Por que você está fazendo isso?
— Isso é uma pergunta para mim? Ou para você? Não que eu seja
terapeuta — longe disso — mas tenho um talento especial para ler a sala.
Pego uma cadeira e me sento em frente a ele, nivelando-me com ele
pela primeira vez, olhando-o nos olhos.
— Você diz que sou um monstro, — falo devagar. — Desde que
machuquei Lexia, até minha companheira me olha desse jeito. Então é
verdade? É isso que eu sou?
— Essa dificilmente é minha jurisdição como o único artista atrás das
grades do bando, — ele diz, com um assobio baixo.
— Mas arrisco adivinhar que você é simplesmente humano, — ele
continua. — E precisando de uma distração humana decente.
— A última vez que você nos distraiu, quase que todos nós matamos
uns aos outros, — eu o lembro.
— Ponto justo! — Zane exclama. — Mas não por meu fazer. Como eu
disse, eu simplesmente seguro um espelho e vejo o rosto que olha para
trás.
Lembro-me do espelho, das minhas pálpebras, do lago do meu sonho
e estremeço.
— Isso não quer dizer que seu rosto seja engraçado, Kaden. Na
verdade, é bastante bonito...
— Em um sequestrador em série, tipo de estraçalhador de braço, —
diz ele sem indiferença.
Eu fico olhando para ele, sem acreditar que ele continuaria a me
insultar, depois de tudo que fiz a ele. E então eu não posso evitar.
Eu ri.
Não, eu choro de tanto rir. E bom ser reduzido ao alvo de uma piada
de mau gosto.
E catártico pra caralho, se estou sendo honesto.
— Pronto, — Zane diz. — Agora, não se sentiu melhor?
— Então você quer ajudar a me distrair, é isso, Zane? E esse o seu por
que em tudo isso?
— Eu quero te ajudar, Kaden, — Zane diz suavemente. — Eu quero
que você se aceite.
Ele tem minha atenção.
— Sempre seja uma versão de primeira classe de si mesmo, — diz ele
com conhecimento de causa, — e não uma versão de segunda classe de
outra pessoa.
Fiquei surpreso com suas palavras inesperadas de sabedoria.
— Isso foi surpreendentemente perspicaz, — eu digo.
— Você veio com isso?
— Judy Garland.
Quem? Tanto faz.
Eu abro outro sorriso de qualquer maneira, divertido apesar de mim
mesmo. Mas então me lembro de todo o mal que esse bobo da corte fez e
meu sorriso desaparece.
— Não vai funcionar, — eu rosno. — Eu sei o que você é, Zane.
Zane suspira. — Eu invejo você, Alfa Kaden. Se eu tivesse todas as
respostas, você acha que eu estaria aqui? Veja, mesmo isso é uma
pergunta!
— Você sabe o que é, — eu digo. — Não tente se fazer de bobo.
Zane me considera com cuidado. — Kace contou a você sobre minhas
travessuras de infância com Alfa Hakim agora, tenho certeza.
— O que é que tem?
— Hakim me entendeu mal. Ele acha que eu criei a gangue para
diversão.
— A verdade é, — ele continua, — eu não tinha ideia do que mais
fazer. Eu me senti impotente. E agir... me deu um propósito.
De alguma forma, isso soa verdadeiro para mim. Eu sei que Zane é
capaz de mentir. Mas quando se trata de se sentir impotente, poucos
entendem isso melhor do que eu agora.
Mas o que esse bobo possivelmente sabe sobre isso?
— Minha família me jogou na rua. Meus amigos me apunhalaram
pelas costas. Até Hakim — que eu pensei ser um amigo — se voltou
contra mim.
Eventualmente. Como todo mundo faz.
— Porque você mereceu, — eu digo, sem sentir pena dele nem por um
segundo.
— Provavelmente, — Zane diz. — Mas então, isso é o que eu aprendi.
Estamos sozinhos no final.
— Até você, Kaden. Reconheça isso. Por que mais seu cônjuge está em
outro lugar?
Isso me deixa paralisado.
— Eu não espero que você goste de mim ou confie em mim, — Zane
continua. — Mas se você não vê que somos iguais... então você é ainda
mais estúpido do que parece.
Olho para o bobo da corte lamentável na cela e me lembro do sonho
novamente. Sua imagem no espelho me encarando de volta.
— Vou deixar as crianças livres, — ele diz. — Se você me permitir.
— Por que diabos eu faria isso?
— Para que eu possa provar para você... você não tem que ficar
sozinho, — ele diz, aproximando-se. — Deixe-me fazer um último show.
Deixe-me entretê-lo mais uma vez.
Eu sei que ele é um pedaço de merda de vilão. Eu sei que não deveria
deixá-lo ir.
Mas se isso significa libertar as crianças, se significa recuperar o
controle, se significa poder rir de novo...
Talvez seja a decisão certa.
— Bem, Alfa? — Zane pergunta. — O que você diz?
MARA

Eu abraço meus pais pelo que pareceram horas. Estou surpresa com o
quanto eles trabalharam para restaurar o templo.
Claro, ainda tem buracos no teto e o carpete precisa de outra
limpeza...
Mas agora pode ser usado!
O bando pode realmente orar aqui.
— Eles têm opções mais novas agora, — meu pai resmunga infeliz. —
Tudo parte do projeto Pureza 2. O de Milly. Mais diversidade de espaços
de oração.
— Eu acho que é um grande plano da parte dela, — eu digo. — E isso
não toma o seu trabalho menos significativo.
Minha mãe aperta meu braço em agradecimento, admirando minha
barriga. Estou mostrando cada vez mais nos dias de hoje.
— Como você está se sentindo, Mara?
Hesito, então finjo um sorriso. — Claro! Mas eu gostaria de um
momento a sós no altar, se vocês dois não se importam.
Os dois parecem chocados com a perspectiva de eu orar, e não posso
culpá-los.
Provavelmente blasfemei mais do que toda a Matilha do Amor
combinado.
Mas eles acenam com a cabeça e saem pela porta. — Que a Deusa te
guie em segurança para casa, — diz minha mãe, saindo.
Quero lembrá-la de que tecnicamente estou em casa. Mas eu deixo por
isso mesmo.
Então, respirando fundo, me aproximo do altar.
Droga, essa coisa é intimidante.
O rosto de pedra da Deusa sempre me deu arrepios. Mas eu aperto
minhas mãos e sussurro.
— Deusa da Lua, não sei se você pode me ouvir... mas preciso da sua
ajuda. Eu me preocupo com meu filho ainda não nascido. Eu me
preocupo com minha matilha. Por favor me responda.
Silêncio.
Eu respiro, confiante de que toda essa coisa de religião tem sido um
grande estratagema idiota o tempo todo.
Estou prestes a me levantar e sair quando uma voz estridente etérea
quase abre minha cabeça de dentro para fora.
Eu congelo, apavorada e pasma ao mesmo tempo. Isso não está
acontecendo de verdade, está?!
— Mara, você veio finalmente.
Eu abro meus olhos e olho em descrença.
A mulher de pedra na minha frente se transformou em uma mulher
viva, que respira, de carne e osso. Uma divindade brilhante diante de
mim.
A visão é tão avassaladora que caio de joelhos em súplica.
Deslumbrada. Com admiração.
Ela é real.
Ela é realmente real.
Estou olhando para a própria Deusa da Lua.
Ela sorri gentilmente. — Vamos começar, querida?
Capítulo 25
CAOS ENCARNADO
Onde estou?
O que diabos está acontecendo?
E esse som que eu ouço... risos?
O riso das crianças.
De repente, tudo volta rapidamente.
Os esgotos.
As bombas automáticas.
Lexia.
Querida Deusa, eu tenho que pará-los!
KACE

Estou amarrado a uma mesa, incapaz de me mover, mas meus olhos


estão bem abertos enquanto me lembro de tudo com uma clareza
surpreendente.
Eu vi as crianças construindo bombas, se divertindo muito — como se
tudo isso fosse uma espécie de jogo para elas.
Eu entendo agora mais do que nunca como funciona a Matilha do
Caos.
E o prazer infantil da violência que todos nós vimos no parquinho.
Ele ataca nossa repulsa por estrutura e regras.
E eu vou parar com isso, porra.
Tento me mexer, sentindo o pelo brotar de meus braços e meus
dentes se alongando, mas grito de dor ao perceber do que são feitas as
cordas que me prendem: Acônito.
O pior inimigo de um lobo.
— Não é nada pessoal, Kace, — uma voz feminina familiar ecoa na
escuridão.
Eu olho para a esquerda e para a direita para ela e então eu vejo. O
metal brilhando na luz.
Um braço mecânico temível
Lexia.
— Sua vadia! — Eu rosno. — Como você pôde fazer isso? Como você
pode ajudá-los?!
Lexia entra na luz e meu rosto fica horrorizado.
Ela está segurando um bebê com seu braço bom, balançando-o para
frente e para trás contra o peito, arrulhando.
Agindo como se ela fosse a mãe. Com seus olhos fundos, cabelo
revolto e expressão vazia.
Ela nunca pareceu mais perdida em toda a sua vida. E isso é algo para
uma vadia louca como Lexia.
— Isso é... — eu digo, horrorizada, — Willow? Filha de Althea?
— E se for? — Lexia pergunta. — Sua própria mãe não poderia
protegê-la da maneira que essas crianças fazem.
— Lexia, — eu digo, balançando minha cabeça. — O que aconteceu
com você? Você costumava ser a mulher mais forte que conheci.
Ela olha para seu braço mecânico, cerrando o metal em um punho. —
Eu era, não era? Forte. Estável. No comando.
O que aconteceu com seu bando, eu me pergunto? Como a Matilha da
Igualdade, ou qualquer um na Cidade da Vingança, conseguiu sobreviver
sem seu líder?
— E então eu percebi, — Lexia continua. — Eu não estava realmente
no comando. Era mentira.
— Uma farsa. Meu companheiro foi morto sem motivo. E meu braço...
meu poder...
Por um segundo, sinto que ela vai começar a chorar. Estou esperando
por isso, honestamente.
Uma demonstração de emoção, de dor, seria um progresso, pelo
menos. Mas então ela fecha a boca.
— Ele levou tudo embora. Alfa, porra de Kaden.
— Mesmo se isso fosse verdade, — eu digo, balançando minha cabeça.
— Esta é a resposta? Ajudando Alfa Zane a transformar essas crianças em
seus pequenos soldados? Construindo bombas para a Deusa sabe o quê…
— Quem disse que eu tenho as respostas? — ela pergunta. — Quem
disse que qualquer um de nós responde a alguém? Zane não é nosso líder.
Ele é apenas uma parte de nós.
Eu paro, surpresa. Se Zane não é o líder deles, quem é?
Então Lexia se vira em direção à escuridão e acena com seu braço de
metal.
— Por que você não vem dizer oi para o seu velho?
Meus olhos saltam da minha cabeça quando Destiny entra na luz.
A garota que me salvou na Matilha da Harmonia. A menina que
Helena e eu criamos como uma filha.
Ela se tomou um deles.
E não apenas um deles, eu percebo. Sua líder de fato!
Para uma criança, ela sempre foi sábia além da idade.
Então, por que diabos ela faria isso?!
— Oi, Kace, — Destiny diz, parecendo um pouco triste. — Eu sinto
muito que tivemos que amarrar você. Mas adultos não são permitidos
aqui. A menos que sejam convidados.
— Destiny, me escute, — eu digo, tentando soar muito sério, — Eu sei
que você está com raiva porque Helena foi embora.
— E que você não está se sentindo ajustada na Matilha da Vingança.
Mas...
— Não é por isso que estou fazendo isso, Kace, — ela responde
calmamente.
— ENTÃO POR QUE?! — Eu berro.
Eu não posso me ajudar. Não me sinto tão fora de controle desde que
Rylan usou seus jogos mentais para me transformar em um monstro.
— Porque, — Lexia responde. — Destiny entende o que todos os
membros da Matilha Juvenil fazem: — O caos é tudo que existe. O resto
é mentira. Até mesmo os alfas são transformados em cachorrinhos
assustados por causa disso.
— Você está certa, — eu cuspo. — Eu nunca vi um Alfa tão pequeno
quanto você agora, Lexia.
Seus lábios se contraem, mas ela se mantém firme. — Eu parei de ser
Lexia há muito tempo, Kace, — ela responde. — Suas palavras não
significam nada para mim.
Destiny olha entre nós e, por um momento, é quase como se eu
pudesse ver sua mente trabalhando.
Claramente, isso vai contra o treinamento harmonioso que ela teve
enquanto crescia.
Talvez isso seja parte do apelo. A rebelião contra isso.
Talvez eu ainda consiga falar com ela, se não Lexia.
— Destiny, — eu digo, implorando. — Você não tem ideia do quanto
você significa para mim. Não jogue tudo isso fora por causa de algum
palhaço maluco.
Ela parece temporariamente ferida. Mas então ela cruza os braços.
— Aquele palhaço louco tem sido mais legal comigo do que qualquer
um, — diz Destiny. — Ele entende as crianças. Ele é divertido.
Divertido.
Como diabos vou enfrentar isso? Nada sobre a Matilha da Vingança
ou qualquer de sua história sangrenta é divertido, isso é certo.
Observo Lexia continuar a embalar o bebê suavemente contra o seio.
Se Althea estivesse aqui, tenho certeza que ela mataria Lexia com as
próprias mãos.
— Não se preocupe, Kace, — Destiny diz, agarrando minha mão e
apertando-a. — Tudo acabará em breve.
Com isso, ela se vira e segue Lexia no escuro, me deixando sozinho.
— ESTA NÃO É VOCÊ, DESTINY!!!! — Eu grito com toda a força dos
meus pulmões. — EU CONHEÇO VOCÊ! POR FAVOR, NÃO FAÇA
ISSO!
Mas minha voz ecoa no silêncio, e eu sei...
Meus apelos caíram em ouvidos surdos.
O caos está prestes a reinar.
MARA
Eu fico olhando para a divindade brilhante parada diante de mim em
estado de choque e me pergunto, sem saber o que diabos eu devo dizer.
Adivinha? Eu não acreditei em você minha vida inteira!
Eu pensei que vocês fossem alguns adultos fantasiosos feitos para se
sentirem melhor sobre suas vidas vazias! Mas, uh, prazer em conhecê-la!
É, não.
Duvido muito que a Deusa da Lua tenha senso de humor.
Ela tem quase um metro e oitenta de altura, magra como uma
balaustrada, com longos cachos de cabelo loiro e os olhos azuis mais
surpreendentes que eu já vi.
Ela é tão bonita quanto assustadora.
E ainda não entendo por que diabos ela apareceu diante de mim, de
todas as pessoas?
— Você pode se levantar, Mara — diz ela com um sorriso. — Eu sei
que orar deixa você desconfortável.
— Então... você sabe disso, — eu digo, fazendo uma careta, ficando de
pé. — Não é nada pessoal. Eu apenas senti que não era para mim, crescer
na Matilha da Pureza e tudo.
— Você não tem que se explicar para mim, criança, — a Deusa da Lua
responde docemente. — Eu sei tudo sobre você.
Eu a sigo até um banco, ainda sem acreditar.
Seu vestido branco esvoaçante ondula e flutua no ar como se a
gravidade não se aplicasse a ela. O que, agora que penso nisso,
provavelmente não importa.
Afinal, ela é uma divindade do caralho.
Sentamos no banco de metal e ela sorri gentilmente novamente. Mas
eu sinto algo duro por trás de seus olhos.
Algo solene e assustador.
— Pode ser difícil de acreditar, mas tenho observado você todos esses
anos, Mara, — ela diz. — Rylan estava errado sobre muitas coisas. Mas
não sobre a sua importância para este bando.
— Sem ofensa, — eu digo com uma carranca. — Mas se você pode vir
aqui quando quiser e falar conosco, por que você não o impediu?
— Ele massacrou seu povo! Em seu nome!
Percebo que posso ter acabado de falar fora de hora e mordo o lábio
nervosamente. Mas a Deusa da Lua simplesmente acena com a cabeça
com uma expressão melancólica.
— Ser incapaz de... interferir, — diz ela, — às vezes é extremamente
frustrante.
— Mas é assim que nós, divindades, trabalhamos. Não nos metemos
em assuntos mortais.
— E isto? Agora mesmo? — Eu pergunto. — Isso não é intromissão?
Ela balança a cabeça. — Não vim aqui para lhe dar ordens, Mara, ou
para decidir seu destino. Isso é com você e apenas você.
Eu franzo a testa, confusa. — Então o que?
Os olhos da Deusa da Lua descem rapidamente para minha barriga de
grávida. Ela levanta a mão interrogativamente. — Você se importa?
Lembro de repente porque vim aqui. O bebê, claro!
Não interrogar a Deusa da Lua sobre os costumes das divindades.
Eu aceno, nervosa, permitindo que a Deusa da Lua coloque a mão na
minha barriga.
No segundo que sua mão entra em contato com minha pele, algo
acontece.
Eu me sinto caindo para dentro como se meu espírito estivesse
despencando nas entranhas do meu próprio corpo, e eu suspiro, incapaz
de pará-lo, me lançando mais fundo, para baixo, para o desconhecido...
Estou em uma estranha estrutura carnuda. Tudo pulsa e se junta à
vida. A luz está fraca, mas percebo a forma de uma pequena figura.
Um feto.
Meu filho!
Estou em meu próprio útero, olhando para meu filho por nascer. E
quando eu ouço a voz da Deusa da Lua ao meu lado.
— Uma criança linda, não é, Mara? ela pergunta.
— A mais linda, — digo, sentindo as lágrimas ardendo em meus olhos,
embora como um mero espírito, eu não tenho olhos. — E a coisa mais
linda que já vi no mundo.
— Mas olhe lá... — ela diz.
E então eu vejo. Uma substância negra turbulenta se espalha pelo
útero, serpenteando em direção ao cordão umbilical, em direção ao feto
adormecido.
— NÃO!!! — Eu grito.
E a mesma substância horrível que vi no banheiro. Como um
tentáculo do mal. Vindo para o meu filho.
Mas por que?! Como?!
Tento alcançar meu filho, protegê-lo, mas um momento depois...
Eu me sinto voando para fora do meu corpo, para fora da minha
própria boca gritando, e...

Sou eu mesmo novamente, amontoada no chão do Templo da Pureza,


enquanto a Deusa da Lua tenta me confortar. Minhas piores suspeitas
foram confirmadas.
Algo escuro, algo mal está crescendo dentro de mim, ao lado de meu
filho.
— O que é que foi isso?! — Eu grito.
A Deusa da Lua não está mais sorrindo. Ela parece sombria e
determinada.
— Isso, Mara, — diz ela, — é a mancha deixada por Varmagedda.
Quando ela habitou seu corpo, você já estava grávida.
— Ela está agarrada ao seu filho por nascer agora. Ela é uma parte de
você, quer você goste ou não.
Eu quero chorar de angústia, de horror, mas eu simplesmente fico
olhando, congelada pela verdade. Eu deveria saber que a demônio
maligna tinha algo a ver com isso.
E agora não consegui proteger meu filho ainda não nascido.
— O que eu faço? — Eu pergunto à Deusa da Lua. — Eu vou orar. Eu
farei qualquer coisa. Apenas... por favor me ajude.
A Deusa da Lua pega minha mão e me levanta com graça sem esforço,
olhando-me nos olhos, brilhando mais do que antes.
— Se você quer salvar seu filho de uma vida amaldiçoada, Mara, — ela
diz, — você deve quebrar o vínculo de acasalamento e se tomar o que
você deveria ser...
Não. Não diga isso. Por favor, não diga o que eu acho que você vai dizer.
— Mara, — diz a Deusa da Lua, — é hora de você repurificar sua
própria essência, salvar seu filho e se tomar a Alfa da Matilha da Pureza!
Capítulo 26
O PROGRAMA DEVE CONTINUAR
Eu observo meus membros da matilha, construindo.
Pela primeira vez em muito tempo...
Eles parecem felizes.
Eles parecem que merecem comemorar.
Um show é o que eu prometi a eles.
Um show para homenagear nosso bando.
E para nos lembrar...
Nós somos a Matilha da Vingança.
Nada nos assusta.
KADEN

Nas últimas noites, dormi profundamente. Chega de pesadelos ou


visões recorrentes dos vilões que enfrentei no passado.
Não.
Desde que tomei minha decisão, desde que me tomei proativo, me
senti cada vez mais como o Alfa que deveria ser.
E meu pessoal, claramente, está tão feliz em seguir meu plano quanto
eu.
— Aí está onde você quer, Alfa? — Um rapaz carregando madeira
compensada me pergunta.
Eu concordo. — Isso mesmo. No monte mais alto do território da
matilha. Para todos os olhos verem.
O jovem acena com a cabeça e continua subindo a colina enquanto eu
observo, sorrindo. A fundação de madeira já parece segura.
E difícil acreditar que ainda não construímos uma estrutura como
essa. Por que demoramos tanto?
Nesse momento, Brutus se aproxima, parecendo exausto. Enquanto
os membros da matilha carregam suprimentos ao nosso redor, ele os
observa, confuso. — Alfa Kaden, — ele diz. — Qual é o significado disto?
O que eles estão construindo?
— Um anfiteatro, — eu digo. — Vamos dar o show do século.
— Um show? — Ele pergunta, ainda mais confuso. — Pelo que? Do
que você está falando?
Pego Brutus de lado, para não distrair os trabalhadores, e juntos
subimos até o topo da colina. A partir daqui, podemos ver toda a Matilha
da Vingança abaixo de nós.
E, à distância, podemos até ver a vaga silhueta da Cidade da Vingança.
E o local perfeito para todos em quilômetros assistirem nossa história
se desenrolar com admiração.
— Você não sentiu, Brutus, — pergunto a ele, — que ultimamente
algo está faltando em nossas matilhas?
— Sim, — ele diz. — As crianças! Por causa da Matilha do Caos!
Eu aceno com a mão como se quisesse dizer — não foi isso que eu quis
dizer. Porque agora, não tenho dúvidas.
— As crianças vão assistir ao show, — eu explico. — Eles sairão do
esconderijo e voltarão para suas famílias quando tiverem um bom
motivo.
— O que?! Você quer dizer...
— Sim, — eu digo, — Eu aprendi com Alfa Zane, as crianças não são
cativas. Eles estão escolhendo se esconder. Então, vamos recebê-los em
casa!
Ele balança a cabeça lentamente. — Isso é loucura.
— Chame do que quiser, — eu digo. — Vou lhe contar o que está
faltando, Brutus.
— Alegria. Um motivo de orgulho e de comemorar por fazer parte da
Matilha da Vingança, a Matilha da Igualdade. O...
Merda, como seu bando se chamava de novo?
— a Matilha da Restauração, — diz ele, sem parecer divertido.
— Claro, a Matilha da Restauração, — digo, fingindo que sabia o
tempo todo. — Desde que nos unimos sob o Conselho, tudo o que
fizemos foi brigar entre nós.
— Nós não celebramos essa união. Não demos ao povo um motivo
para se alegrar.
— Então é isso? — ele pergunta, cético. — Um teatro apresentando
um show, para que todos possam aplaudir e torcer enquanto a Matilha
do Caos continua a nos atormentar?!
Eu suspiro. — Brutus, a Matilha do Caos é tão poderosa quanto nós
permitimos que seja.
— O que aprendi é que um pouco de caos é aceitável, desde que nos
lembremos do que mais importa: a ordem das grandes matilhas e suas
histórias.
Brutus parece horrorizado com minha resposta. Se ele pudesse
entender. Mas, novamente, toda a sua matilha existe por causa de uma
rebelião recente.
Como ele deve entender um conceito como unidade? História?
Orgulho?
— Este show vai lembrar a todos, inclusive as crianças, — eu
continuo, — que o caos acontece às vezes.
— E não é para ser temido. Não quando estamos unidos.
E quando Brutus cruza os olhos com ele. O mestre de cerimônias
deste show em particular.
Aquele que está escrevendo enquanto falamos, rabiscando e rasgando
páginas atrás do palco.
Alfa Zane.
— Você o deixou livre?! — Brutus grita. — Kaden, ele é o único...
— Zane ainda é meu prisioneiro, — eu explico. — Estou mantendo-o
sob estreita vigilância. Não se preocupe.
— O fato é — é nisso que ele é bom. Espetáculo.
Celebração. Precisamos da ajuda dele agora.
— Você esqueceu o que aconteceu da última vez que o deixou planejar
algo?! — Brutus grita. — O baile de máscaras foi um desastre!
— Por causa de nós, — eu grito de volta. — Não dele! Não vou mais
atribuir toda a culpa aos outros. E hora de assumirmos a
responsabilidade.
— Você está sendo enganado, Kaden, — diz Brutus.
— Não, — eu digo, com força. — Não serei mais manipulado. Não por
meu irmão, por minha companheira, e certamente não por você, Brutus.
Zane cruza os olhos comigo, apontando animadamente para o
anfiteatro semiconstruído, claramente feliz com o progresso.
Eu aceno em resposta.
— Siga o programa ou vá se foder, — digo a Brutus.
— Você vai ver. Vai ser um show diferente de qualquer outro.
ZANE

É sempre divertido ver os Alfas discutindo.


Principalmente quando nenhum dos dois consegue ver a verdade.
Teme-se que eu seja o inimigo.
O outro acredita que não sou nada além de um idiota com alguns
truques de festa.
A verdade, porém, é muito mais complicada. Eu não odeio Alfa Kaden
ou qualquer pessoa da Matilha da Vingança. Eu também não os amo.
Eu simplesmente sou o que sou.
E o que sou, é um maestro da cacofonia, um savant das contradições,
um Alfa de uma coisa e de uma só: o caos.
Meus jovens amigos já estão montando as peças de seu próprio show.
Mal posso esperar para ver com meus próprios olhos o que Destiny e a
— Matilha da Juventude — inventaram.
Este show, homenageando a grande história dos bandos, será de fato
único durante os séculos.
Não vai acabar da maneira que Alfa Kaden espera.
Vejam, lobos, a própria trama de sua própria destruição! Cuidado com
o riso que vem de dentro de todos nós.
Pois todos nós somos crianças.
Não somos?
MARA

Eu tropeço para fora do templo, minha mente dispersa, meu coração


disparado. Uma bagunça do caralho.
Ainda não consigo acreditar que acabei de conhecer a Deusa da Lua.
Mais difícil de acreditar foi seu ultimato: Devo deixar Alfa Kaden e me
tomar a Alfa da Matilha da Pureza se quiser salvar meu filho ainda não
nascido!
Que tipo de regra doentia é essa?
E, se ela é uma Deusa tão grande, por que ela não pode remover a
mancha de Varmagedda sozinha?
Por que isso requer um sacrifício tão terrível?
— Mara! — Milly grita, correndo. — Você está bem?
Ela me ajuda a sentar na grama e acena para um membro da matilha
para nos trazer água enquanto eu continuo a olhar para o éter, nem
mesmo ciente de que ela está lá.
Estou muito impressionada com todas essas revelações para falar
agora.
Sinto muito, Milly.
— A oração ajudou? — Milly pergunta. — A Deusa da Lua respondeu a
você?
Eu concordo. — Sim, ela apareceu, certo.
Os olhos de Milly se arregalam. — Então é verdade! Você realmente
deveria liderar-nos?
Eu franzi a testa. Que diabos ela está tagarelando agora?
— Diz-se que a Deusa da Lua só aparece para os futuros líderes da
Matilha da Pureza. Que significa...
— Que devo ser sua futura líder. — Exatamente! Não sei como contar
a Milly o resto. A ideia de que eu teria que quebrar meu vínculo de
acasalamento com Kaden para fazer isso?
É muito doloroso colocar em palavras.
— Devo levar você para casa? — Milly pergunta. — Eu sei que seus
pais adorariam cuidar de você. Ajudar você a se recompor antes da
cerimônia de juramento.
— Milly, — eu digo, levantando a mão. — Eu disse que concordei em
me tomar a Alfa? Não estou sendo juramentada neste segundo!
— Oh, — diz ela, picada. — Desculpe, eu entendi mal.
Ficamos sentadas em silêncio por alguns minutos.
Eu sei que não deveria estar atacando minha amiga. Ela só está
tentando ajudar. E ela já fez um trabalho maravilhoso, limpando a
matilha como minha — Beta.
Talvez ela fosse uma Alfa melhor do que eu.
Talvez eu pudesse voltar para a Matilha da Vingança, para Kaden, e
deixar a maldição de Varmagedda tentar fazer o seu pior.
E se eu apenas mostrar o dedo à Deusa da Lua?
Foda-se o destino.
Foda-se o que devo fazer.
Sou minha própria mulher e posso tomar essa decisão.
Mas então... penso no que vi em meu próprio útero... o feto crescendo
dentro de mim. Cercado por tentáculos de escuridão...
Posso realmente deixar a maldição consumir meu filho?
Eu me viro para Milly. Estou prestes a dar a ela minha resposta. Que
irei para a casa dos meus pais e me recuperarei o resto do dia.
Então, quando eu dormir, comer e processar essa merda, tomarei
minha decisão.
Mas, quando abro a boca, ouço outra voz distante se aproximando de
mim.
Brutus: Mara, é o Brutus!

Mara: Brutus, o que está acontecendo? Por que você está me contatando?

Brutus: É Kaden.

Brutus: Ele perdeu o juízo, Mara. Eu não sei o que aconteceu.

Brutus: Mas ele deixou Alfa Zane livre!

O QUÊ?!
Kaden deixou o bobo ir embora depois de todo o mal que ele
cometeu?
O que diabos aconteceu desde que saí para visitar minha velha
matilha?
Brutus: Não é só isso.

Brutus: Ele está fazendo algum tipo de show.

Brutus: Estou preocupado que Kaden pense que é uma coisa, mas Zane está planejando
algo totalmente diferente.

Um show?
Isso fica cada vez mais estranho a cada segundo.
Agora, eu percebo com urgência renovada o quão importante é para
mim retomar a Matilha da Vingança e chegar ao meu companheiro.
Antes que algo terrível aconteça.
Mas e a criança?
Quem eu coloco primeiro agora?
— Mara, você vem? — Milly pergunta.
Dividida entre dois destinos, ambos terríveis por si só, o que vou
escolher?
Deusa, eu poderia usar outra conversa com a Deusa da Lua agora
mesmo.
Capítulo 27
O TOQUE FINAL
As crianças riem e brincam.
Eles colocam todas as caixas automáticas em um só lugar Diretamente
abaixo da base da Casa da Matilha da Vingança.
Eu assisto porque eles querem que eu assista.
Impotente para detê-los.
Mas é tarde demais parei falar com minha velha amiga?
Lexia, eu sei que você ainda está ai!
KACE

Eles me empurraram para dentro de seu espaço de esgoto cavernoso


para testemunhar o que está para ser feito.
Eles já estão plantando as bombas em cada canto da enorme sala.
Eu sei o que está acima.
Eu quase fui assassinado no labirinto perto daqui, anos atrás — eu não
esqueceria a geografia, não na minha vida.
Acima de nós está o centro da Matilha de Vingança. A própria Casa da
Matilha.
O que significa que eles vão matar todo mundo.
Lexia fica parada, enquanto eu pressiono as restrições de prata da lua,
queimando minha pele, tentando desesperadamente me libertar.
Mas não adianta.
Eu sou seu cativo.
— Não é tarde demais, Lexia, — eu digo. — Você não tem que fazer
isso. Você não tem que matar todo mundo.
— Matar? — ela pergunta. — Não é isso que estamos fazendo, Kace.
Ninguém vai estar na casa da matilha quando ela virar fumaça.
— Então para quê? — Eu pergunto. — O que você espera realizar?
— Você se lembra quem eu era antes de me tomar um Alfa? — Ela
pergunta, me surpreendendo.
— Você quer dizer...
— Sim, quando eu cuidei das meninas. As putas.
Quando eu era a madame ou o que diabos você queira chamar.
Por que ela está trazendo isso à tona? Para qual finalidade?
— Isso me ajudou a sentir que estava no controle, protegendo-as.
Passei anos sendo fodida como elas. Tratado como sujeira pelos homens.
Por seu irmão, Coen.
Eu estremeço com a memória daquele monstro. Eu sei o que Lexia fez
com ele. Como ela o matou.
O destino mais feio que se possa imaginar para o pior homem vivo.
Mas sempre me perguntei por que Lexia tinha ido tão longe, agido
com tanta brutalidade. E agora está começando a fazer sentido.
Não por vingança.
Para controle.
— Eu falhei, Kace, — ela disse calmamente. — Eu falhei em salvar as
meninas. Para proteger minha cidade. Minha matilha.
— Eu falhei várias vezes porque eu era a mesma. Outro cafetão. Outro
bastardo.
Então, todos os Alfas são Coens para ela? Se eu pudesse tentar
convencê-la do contrário. Um passado cruel não significa que o futuro
não tenha sentido.
— Não vou falhar de novo, — ela diz, com a voz trêmula. — Enquanto
Alfa Kaden governar, enquanto sua família continuar a arruinar essas
terras com seu controle corrupto...
— Eu ficarei na oposição.
— Foda-se o controle.
— Você acha que explodir uma casa da matilha fará diferença? — Eu
pergunto.
Ela se vira para mim e suspira. — Quem disse alguma coisa sobre
uma?
Não. Ela não pode querer dizer...
— Destiny, acho que você pode levá-lo embora agora, — diz ela.
Eu me viro para ver a garota que uma vez considerei uma filha se
aproximando. Ela desamarra minhas pernas para que eu possa andar e
me empurra para frente.
Eu olho para trás para Lexia mais uma vez. Se sua mente não fosse tão
distorcida, seu coração tão desesperado, eu quase sentiria pena dela.
Quase.
— Aproveite os fogos de artifício, Kace, — ela diz. — Ouvi dizer que
você tem um assento na primeira fila.
KADEN

O anfiteatro está quase completo, um trabalho magistral de nossos


melhores artesãos, capaz de acomodar centenas de membros da matilha
de todas as terras.
E esta noite, eles vêm para festejar seus olhos com um espetáculo
diferente de qualquer outro antes na história da Matilha da Vingança.
Estou animado e inquieto para o show começar.
E curioso para saber o que Zane preparou. Eu me aproximo dele,
ocupado ensaiando com atores contratados da Matilha do Drama.
Por seu choro e riso maníaco exagerado, esses lobos da Matilha do
Drama parecem um pouco melodramáticos, se você me perguntar.
— Está tudo dando certo? — Eu pergunto a Zane.
Ele acena com a cabeça, sorrindo. — Como duas virgens pela primeira
vez, meu Alfa! Apenas dando os retoques finais no roteiro.
Eu rio e pego o roteiro. Mas Zane o afasta.
— Não há spoilers! — ele diz. — Acredite em mim quando digo que
sua história como um grande bando estará em exibição grandiosa, para
dizer o mínimo.
O que diabos isso significa.
Parte de mim sabe que Zane provavelmente está planejando algumas
surpresas desagradáveis. Mas se eu não aguento um bom assado, que tipo
de Alfa eu sou?
O objetivo deste show é provar para os membros do nosso bando que
não somos apenas unidos, mas que somos duros como o inferno, nossa
pele é dura.
Inabalável, mesmo em face do riso.
Pois nós não estamos sozinhos.
— Assim seja, — eu digo, cedendo. — Continue com o seu ensaio.
Mas antes que eu possa ir embora, Zane me segue, entrando no centro
do anfiteatro ao meu lado.
— Você está se sentindo excluído, Alfa Kaden? — Zane pergunta. —
Desejando mais um papel, talvez? Talvez até um papel principal em
nosso próprio show?
— Eu tenho assuntos mais importantes em mãos, Zane, — eu digo,
balançando minha cabeça em descrença. — Deixo o entretenimento para
você.
A verdade é que não tenho certeza do que fazer comigo mesmo.
Com Mara ainda longe, Lexia desapareceu, e nenhuma pista sobre o
paradeiro das crianças, eu tenho despejado tudo neste show.
Agora que está quase aqui, não sei o que diabos fazer. E, claramente,
Zane pode dizer.
— Eu costumava ser como você, sabe, — Zane diz, fingindo uma
carranca. — Sentindo-me como se eu não tivesse um lugar. Como se eu
não tivesse grupo. Nenhum propósito.
— Então você sabe o que eu fiz?
Os olhos do bobo da corte se cruzam por um segundo — e não tenho
certeza se isso faz parte do ato ou se ele é simplesmente estranho.
— Eu disse, se o mundo quer ser aleatório, então devo convidá-lo a
entrar, serei aleatório também! Desde então, nunca me senti... mais livre.
Eu levanto uma sobrancelha. — Isso é uma sugestão, Zane? Não te
considerei palestrante.
— Ha-ha-ardly! — ele exclama. — Mais como uma provocação. Do
que está por vir esta noite.
Mais uma vez, considero o palco onde os atores continuam a exagerar
para o conteúdo de seus corações, e Zane, seu estranho líder.
Pensar que um dia o considerei uma ameaça real parece risível agora.
— Vejo você em uma hora, então, — eu digo. — E Zane... Quebre uma
perna.
Experimente qualquer coisa engraçada e eu irei contar para você.
Ele se curva e retoma para sua tropa enquanto eu me preparo para
reunir todos os membros do bando. Chegou a hora de comemorar o
quão longe a Matilha da Vingança chegou.
Só espero que Mara chegue a tempo.
MARA

Eu chego aos arredores da Matilha da Vingança ao anoitecer e


encontro Brutus esperando por mim, parecendo preocupado como o
inferno.
Ele rapidamente me abraça, me segurando com força, e eu encontro
os velhos desejos borbulhando por um breve segundo. Seu cheiro, seus
braços musculosos, seus olhos amorosos...
Todos eles me hipnotizam.
Mas não temos tempo para romance insatisfeito agora. Temos que
chegar ao meu companheiro.
Até Kaden.
— Cheguei tarde demais? — Pergunto a Brutus quando ele entra no
carro e corremos em direção ao terreno da matilha. — O show começou?
Brutus balança a cabeça. — Está prestes a acontecer.
Ele olha minha barriga e eu, e eu noto como nossas mãos estão perto
no carro.
Se não fosse pelo motorista da frente, eu poderia comentar sobre isso.
Mas não quero que se espalhem notícias, nem mesmo um sopro do
que aconteceria entre Brutus e eu.
— Você estava na Matilha da Pureza, Mara? ele pergunta.
Eu concordo. — Eu orei para a Deusa da Lua. Sobre meu filho.
— Espero que você tenha obtido uma boa resposta. Nós realmente
precisamos de ajuda agora.
— Brutus — digo nervosamente, olhando para o motorista na frente,
sabendo que tenho que guardar minhas palavras. — Eu quero agradecer.
Por falar com Kaden.
— Eu sei que não deve ter sido fácil. Vocês dois não são exatamente...
próximos.
Brutus sorri. — E o mínimo que posso fazer, Mara. Eu quis dizer cada
palavra. Você seria uma grande Alfa. Isso pode soar engraçado, mas às
vezes...
Ele para, sabendo que não deveria continuar. Mas eu o pressiono,
curioso.
— O quê, Brutus?
— Às vezes eu imagino como seria... ser um homem Luna. Para ser
seu.
Eu sinto a cor subir para minhas bochechas enquanto eu rapidamente
olho para longe, puxando minha mão de volta para o meu peito.
Sempre soube que a conexão entre nós era forte.
Mas tão forte?
Eu não fazia ideia.
E agora estou sem palavras.
Brutus olha para a colina distante, onde vejo que uma nova estrutura
foi construída. Parece ótimo daqui.
Todas as tapeçarias de madeira e seda colorida e várias pessoas
caminhando em sua direção.
— Esse é o teatro? — Eu pergunto.
Ele concorda. — Eu não sei o que Alfa Zane está planejando. Mas ele
tem seu companheiro sob controle, Mara.
Ainda não consigo acreditar que Kaden deixou o bobo da corte livre.
Eu temo o que a Matilha do Caos planeja fazer a seguir. No entanto
Zane entrou na cabeça de Kaden, eu tenho que encontrar uma maneira
de quebrar o feitiço.
Como eu fiz da última vez.
E na vez anterior.
Eu me pergunto se é assim que sempre será entre nós. Eu correndo
para salvar Kaden de si mesmo, de sua forma mais monstruosa.
E novamente me pergunto se devo dar ouvidos ao aviso da Deusa da
Lua...
E voltar para a Matilha da Pureza. Para o bem.
Brutus pega minha mão e a aperta.
— Você precisa chegar até Kaden, Mara. Antes que seja tarde.
ZANE

Os atores estão em seus lugares. O público está lotado e animado,


animado para ver o que preparamos. O horizonte está limpo,
estendendo-se até a Cidade da Vingança.
Onde nas profundezas do subsolo, assim como sob a Matilha da
Vingança, as crianças se preparam.
Eu fico atrás da cortina, antecipando o momento — o clímax — com a
alegria desinibida de uma criança.
E é quando eu sinto isso. Uma pequena mão puxa minha manga ao
meu lado.
Eu me viro para ver um dos meninos de Destiny, seu rosto sujo, seu
cabelo desgrenhado. Mas em suas mãos está uma pequena caixa bonita
embrulhada em papel roxo brilhante com um laço.
— Para você, Alfa, — diz ele obedientemente.
Eu afago sua cabeça, feliz com a surpresa. O destino certamente sabe
como manter até mesmo este homem na dúvida.
— Bom menino, — eu digo. — Agora, você está pronto? E hora de
explodir!
Capítulo 28
MEDO DO PALCO
Estou seguindo-a pelos esgotos.
Minhas mãos amarradas. Meu corpo amarrado.
Acima de nós, posso ouvir as vozes de um bando animado.
Alheio ao que está para acontecer.
A questão é...
Posso avisá-los a tempo?
Ou posso falar com Destiny primeiro?
KACE

Estamos andando no esgoto escuro e úmido e, por um momento,


lembro da armadilha que quase tirou minha vida anos atrás. E o que isso
me fez no processo.
Eu olho para Destiny caminhando à frente, cheia de determinação.
E eu sei que este é o momento. E aqui que decido que tipo de homem
realmente sou.
Mas se não funcionar, há uma pessoa com quem preciso falar
primeiro. A mulher que amo. Minha companheira.
Eu só espero ter a força, com a prata da lua minando meus poderes.
Kace: Helena, me escute.

Kace: Não sei se você pode me ouvir agora.

Kace: Mas caso algo aconteça comigo... eu preciso que você saiba.

Eu paro, ouvindo apenas o silêncio em resposta. Minha mensagem


pode não chegar até ela. Mas tenho que tentar.
Kace: Eu te amo.

Kace: Você e somente você.


Kace: Althea é meu passado. Mas você é meu presente e meu futuro.

Kace: E nunca vou deixar nada atrapalhar isso de novo.

Kace: Eu prometo.

Então, com uma respiração profunda, paro de andar. Destiny,


segurando minha corrente, sente minha resistência e puxa com mais
força.
— Vamos, Kace, — ela diz, virando-se para mim.
— Estamos quase lá.
— Eu não vou com você, Destiny, — eu digo com confiança. — Você
vai me deixar ir. E vou impedir essas crianças antes que machuquem
alguém.
— Oh sério? — ela pergunta, levantando uma sobrancelha. — E por
que eu faria isso?
— Porque você me ama.
Ela me encara, sem palavras. A garotinha pode estar esperando uma
série de respostas. Mas essa definitivamente não era uma delas.
— Isso mesmo, Destiny, — eu digo. — Você me ama. E você quer me
punir por ser um péssimo pai agora. Eu entendo.
— Você não entende nada! — Ela grita. — Eu perdi meus pais, você...
você...
— Eu não sou um estranho. Eu sou a coisa mais próxima que você tem
de uma família. E a família, não importa o que aconteça, permanece
unida, Destiny.
— Essa é a única coisa que o Caos ou a Matilha da Juventude não pode
quebrar, — eu digo, — nosso vínculo.
Lágrimas enchem os olhos de Destiny enquanto ela desvia o olhar,
tentando permanecer forte. Mas ela está quebrando, eu posso dizer.
— No fundo, eu sei quem você é. Um lobo da Matilha da Harmonia. E
você quer essa harmonia, quer queira admitir ou não.
Ela balança a cabeça. — Zane... Zane me entende.
— Ele está explorando você, Destiny, — eu respondo baixinho. — Ele
está te tratando como um brinquedo para brincar e ser descartado. Ele
realmente não se importa.
— E você sim?
— Sim.
Ela me considera, finalmente fazendo contato visual, e eu sei que ela
pode ver a sinceridade em meus olhos.
— Eu me importo tanto com você que dói, — eu digo, — E eu sei que
falhei. Mas...
Eu respiro fundo. — Dê-me uma chance de consertar as coisas. Ajude-
me a parar Zane antes que ele machuque mais alguém.
Destiny dá um passo em minha direção. Não tenho certeza do que ela
vai fazer a princípio. Eu me preocupo em não ter defendido meu caso
com paixão suficiente.
Mas então ela destrava as correntes, e elas caem no chão do esgoto
com um estrondo.
— Ele enviou uma das crianças para atacar Lexia, — diz ela. — E eles
nunca mais voltaram. Eu penso...
— Acho que ele sabia que eles iam morrer. E ele fez isso de qualquer
maneira.
— Porque ele não é um bom homem, Destiny, — eu digo, ajoelhando-
me na frente dela. — Ele não é bom como você.
— Mas eu fiz tantas coisas ruins, — diz ela, parecendo assustada e
desamparada.
Antes que ela possa dizer outra palavra, eu a puxo em meus braços e a
abraço o mais forte que posso.
— Você é a melhor garota que eu conheço, Destiny, — eu digo. — E eu
não estou dizendo isso apenas porque você salvou minha vida. Duas
vezes.
Ela ri um pouco.
— Viu? Eu posso ser engraçado também, — eu digo com uma
piscadela. — Agora, suba e avise os outros. Certifique-se de que ninguém
esteja no local da matilha no caso de...
Ela acena com a cabeça rapidamente. — Eu posso fazer isso.
Eu me levanto e volto em direção ao esgoto cavernoso de onde
viemos.
— Você vai ficar bem, Kace? — Destiny pergunta. — Contra Lexia?
— Veremos, — eu digo, incerto. — Este lobo velho ainda tem alguns
truques na manga.
MARA

Brutus e eu corremos em meio à multidão para o anfiteatro, olhando


para a esquerda e para a direita em busca de Kaden. Mas existem muitas
pessoas.
E então... as luzes diminuem e um holofote ilumina o palco.
O show está começando.
— Merda! — Eu digo. — Chegamos tarde demais.
— Foda-se o show, — diz Brutus. — Se pudermos chegar a Kaden,
ainda podemos cancelar isso antes...
Antes de o quê? Nenhum de nós sabe. Mas nenhum de nós gosta das
possibilidades também.
Brutus e eu nos separamos, cada um descendo uma fileira,
procurando na multidão enquanto um grupo colorido de atores sobe no
palco e começa sua apresentação.
A princípio, parece ser uma versão bastante normal da história da
Matilha da Vingança.
Há um Alfa Kaden sequestrando meninas enquanto Coen espreita
acima, segurando as cordas como uma marionete.
Kaden, sendo o fantoche.
E então tem a atriz me interpretando, soltando bombas em cada frase,
fazendo-me parecer uma fugitiva Pureza sem classes.
Normalmente, eu poderia ficar ofendida, mas agora, eu realmente não
me importo com o quão mal estou sendo retratada. O que importa é
chegar a Kaden.
Mas assim que eu o vejo, sentado na primeira fila, sorrindo
largamente...
Outro ator entra no palco e arranca a atriz Mara de Kaden.
E ele se parece muito com Brutus.
Oh merda.
— Venha, meu amor, — diz o ator Brutus. — Devemos manter nosso
amor em segredo daquele bruto, Kaden!
— Mas e se ele descobrir... ele vai nos matar! — a atriz Mara recita.
— Não vou deixar, Mara — diz o ator de Brutus, baixando a voz, peles
brotando de seus braços. — Ninguém te fode além de mim... e meu lobo!
A plateia cai na gargalhada enquanto o lobo avança, prendendo a atriz
Mara no chão e finge fazer sexo com ela, transando com sua perna.
Ela grita em êxtase.
Sinto que vou vomitar.
Primeiro, por insinuar que eu traí Kaden...
Segundo, por sugerir que tínhamos algum tipo de relacionamento
infundido de bestialidade...
É doentio.
É precisamente o tipo de merda que Alfa Zane inventaria.
Eu gostaria de poder encontrar o bastardo para estrangulá-lo com
minhas próprias mãos.
Mas ele deve estar atrás da cortina. Puxando cordas como o ator Coen
acima nas vigas. Todos nós seus fantoches.
Eu vejo o sorriso de Kaden desmoronar quando seus olhos saltam de
sua cabeça e seus caninos se alongam de raiva. Eu tenho que chegar até
ele.
Agora.
Antes que isso piore.
KADEN

O que.
O.
PORRA?!
Eu sabia que o bobo da corte poderia tentar me desencadear, mas isso
é péssimo. Não sei quanto mais posso assistir.
Eu tinha ouvido rumores de que Mara e Brutus eram mais do que
íntimos?
sim.
Eu acreditei neles? Nunca.
Porque eu conheço minha companheira. E eu sei o quanto ela me
ama. Ela nunca faria...
Essa não é Mara!
Mas agora os atores avançaram rapidamente para a noite do baile de
máscaras e, enquanto o ator que me retrata está ocupado se embriagando
e rindo como um idiota, Brutus está puxando Mara para um canto e...
— Você não pode me puxar da pista de dança! — Ela grita.
— Tente me impedir, — rosna o ator Brutus.
Eu não posso assistir isso, porra. Estou prestes a me levantar quando
quem deveria correr dobrando a esquina senão a própria Mara. Ela
parece exausta e apavorada.
— KADEN!
Ela corre para o meu lado. — Você tem que parar esse show agora.
— Por que? — Eu pergunto, fervendo. — E verdade? Você e Brutus?
— Não! — Ela exclama. Muito rápido, devo acrescentar. — Não, claro
que não. Quer dizer, houve um mal-entendido. Mas...
Um mal-entendido?
UM MAL-ENTENDIDO?!
O Kaden no palco tropeça até Mara e a puxa de cima de Brutus. —
Vocês dois estão tramando alguma coisa? — Ele balbucia estupidamente.
— Nunca! — a atriz Mara grita.
Mas, assim que ela aperta sua mão, um balão sob sua camisa começa a
se expandir, criando a aparência de uma barriga de grávida.
O ator Brutus encolhe os ombros e faz uma careta. — Desculpe, Alfa.
Acho que minha semente é forte!
De repente, o mundo fica quieto ao meu redor.
Os atores ainda estão imitando as performances, o público ainda está
rindo e aplaudindo.
Mara ainda está ao meu lado, me sacudindo, tentando me fazer
desistir.
Mas não ouço uma única palavra.
Tudo o que vejo é vermelho.
Tudo o que vejo é assassinato.
BRUTUS

Eu corro pelo corredor oposto, nem mesmo prestando atenção ao que


está acontecendo no palco.
Vejo Kaden e Mara na primeira fila. Ela está agarrando-o, implorando.
Ele está olhando silenciosamente para o palco como se estivesse
catatônico.
E então ele se vira para olhar para mim. E eu sei o que está para
acontecer.
Ele vai me matar.
ZANE

— E agora, senhoras e senhores, — eu anuncio, entrando no palco. —


Veja como a linha entre fantasia e realidade se desfaz!
Eu aceno para o ator Kaden que, na hora, se transforma em um lobo
temível e rasga uma garra na garganta do ator Brutus, fazendo sangue
jorrar na primeira fila.
O público fica boquiaberto, sem saber se isso é real ou apenas efeitos
visuais excelentes.
Eu sorrio. Logo, eles saberão a diferença, certo.
O ator Kaden uiva para a lua e começa a massacrar todos os atores no
palco, revelando exatamente que tipo de monstro ele é.
Eu vejo enquanto o verdadeiro Kaden encara, paralisado, na primeira
fila.
Sua verdadeira companheira ao lado dele.
O verdadeiro Brutus correndo até ele.
Kaden se vira e olha para Brutus, e eu sei que o que acabei de inventar
aqui no palco está prestes a se tomar realidade na vida real.
Ele vai matar...
... todos.
Um verdadeiro monstro.
E um show melhor do que eu poderia ter sonhado!
— Vejam, meus amigos, — anuncio, segurando a caixa roxa com o
laço. — Não há Matilha do Caos! Só o que eu crio.
— Você é meti bando agora.
— Vocês são meus amados fantoches.
— Então, o que vocês estão esperando, filhotes?
— DANCEM!
Eu rasgo o papel roxo da caixa, abrindo para revelar um detonador.
Estou prestes a fazer a Matilha da Vingança, a Matilha de Igualdade e
a Matilha de Restauração desaparecerem de uma só vez.
Meu melhor ato como artista até agora.
Basta um clique neste botão...
E...
BOOM!
Capítulo 29
COMPANHEIRO, ESQUECIDO
As crianças estão atrás de mim...
Pronto para assistir há queda do teto.
Preparado para um novo amanhecer, uma nova ordem...
Um novo mundo sem grandes matilhas.
A qualquer segundo, Zane irá clicar no botão...
E o caos, finalmente, reinará.
LEXIA

Eu coloco Willow em seu berço frágil e balanço para frente e para trás
com meu braço mecânico. A criança chora como se soubesse o que está
para acontecer.
Talvez ela queira.
Mas ela não tem nada a temer. Nenhuma das crianças tem. Estamos
longe o suficiente do raio da explosão para podermos observar sem nos
prejudicar.
E que espetáculo provavelmente será.
Acima do solo, eu sei que Alfa Zane está prestes a trazer todo o nosso
trabalho à luz explosiva. Mas por que ele está demorando tanto?!
— LEXIA!!!
Eu me viro, surpresa, ao ver ninguém menos que Kace saindo de um
túnel de esgoto escuro.
As crianças pegam seus bastões e armas improvisadas.
Mas eu levanto minha mão de metal. — Não, — eu digo. — Deixe-me.
Claramente, Destiny mudou de ideia se ela deixou Kace partir. Não
importa.
E hora de ver do que meu novo braço é capaz.
— Isso acaba AGORA! — Kace grita.
— Eu mesma não poderia ter dito melhor, — cuspi.
Um momento depois, Kace muda e catapulta em minha direção, seus
dentes arreganhados, suas garras afiadas. E eu sorrio.
O que é um lobo contra gente como eu?
KACE

No momento em que pulo em Lexia, ela traz de volta seu braço de


metal e o bate bem contra meu focinho, me fazendo voar contra a parede
do esgoto.
A força é tão poderosa que a parede racha com o impacto, pedras e
poeira caem em cima de mim e se amontoam no chão.
Tento me puxar para fora dos escombros, rosnando, mas Lexia já
agarrou meu pescoço e...
WHAM!
WHAM!
Ela bate com o punho de metal na minha caixa torácica
repetidamente.
Sinto as costelas racharem e uivo de agonia.
— Você morreu aqui uma vez antes, Kace, — Lexia rosna. — Você acha
que vai sobreviver uma segunda vez?
Desta vez, ela aponta seu braço mecânico direto para o meu rosto,
mas eu abro minhas mandíbulas a tempo, os caninos agarrando o metal,
fazendo faíscas.
Ela pressiona a mão mais profundamente, como se fosse empurrar
todo o punho na minha garganta e na parte de trás da minha cabeça, e eu
mordo com ainda mais força.
— Seu problema é você se importa, Kace, — ela diz. — Quando não há
nada que valha a pena se preocupar.
A mão de metal se move um centímetro mais fundo, sufocando-me
enquanto luto, arranhando com todas as minhas forças.
Mas posso sentir minha força diminuindo.
Se é o efeito da prata da lua ou da força superior de Lexia, eu não sei.
Mas posso sentir o fim chegando agora.
Cada vez mais perto.
— Desista, — Lexia diz, quase tristonha. — Nada disso importa no
final.
Tenho certeza de que é isso. No momento em que tudo acabar.
Quando ouço uma voz me chamando de longe.
Helena: Kace!

É minha companheira. Helena.


Enfim, posso ouvi-la!
Helena: Eu também te amo!

Essas são as palavras de que eu precisava agora.


Elas me enchem de um calor tão poderoso, um amor tão puro, nem
mesmo um braço feito de metal tem chance de me parar.
Com um movimento feroz, eu puxo o braço de metal de Lexia para o
lado e a jogo no chão, batendo uma garra contra sua cabeça WHAM!
nocauteando-a instantaneamente.
Solto o braço e respiro fundo. Espancado sem sentido.
As crianças me olham com medo.
E eles deveriam estar.
Eu mudo de volta para minha forma humana e aponto o dedo para o
mais próximo. — Vocês, crianças, estão todos metidos em grandes,
GRANDES problemas.
KADEN

Eu bato todo o meu peso em Brutus, jogando-o no chão enquanto


todos na plateia ofegam em estado de choque.
Eles estão assistindo ao show violento no palco se transformar em
uma realidade mais violenta.
E eu não me importo com quem está assistindo.
Eu não me importo com Alfa Zane ou qualquer outra pessoa nesse
assunto.
Tudo o que importa é matar o lobo que eu deveria ter matado meses
atrás.
Eu bato o punho em seu rosto, quebrando-o na mandíbula. Ele cospe
sangue e revida. Mas ele não é páreo para mim.
— Seu desgraçado! — Eu grito. — Como você ousa colocar suas mãos
na minha companheira?! Como você ousa...
— Não é verdade, Kaden! — Brutus diz entre socos.
— Eu a amo, sim, — ele continua, — mas ela nunca aceitou meus
avanços. Ela te ama Eu não dou a ele a chance de terminar a frase.
Eu o pego e o jogo com todas as minhas forças no palco encharcado de
sangue, derrubando um enorme conjunto de madeira.
Ele tenta se levantar, mas já estou pulando na plataforma de madeira
atrás dele.
Eu poderia me transformar em meu lobo e matá-lo, com certeza.
Mas eu quero extrair isso.
Eu quero lutar com ele de homem para homem. Fazê-lo se arrepender
do dia em que colocou as mãos em minha companheira.
A ideia de que nosso bebê, pode ser seu...
Isso me faz perder a porra da minha mente.
Pego um pedaço de compensado caído e bato contra as costas de
Brutus, que cai no chão novamente.
Ele está uma bagunça sangrenta neste ponto, mal sendo capaz de se
defender.
Mas não é o suficiente.
Vejo um prego enferrujado saindo da madeira e o levo até o pescoço
de Brutus.
Eu quero sangrar até secar.
E então eu ouço sua voz.
— KADEN!!! PARE!!!
MARA

Kaden perdeu a cabeça. Tento agarrá-lo. Para gritar com ele. Para
alcançá-lo. Mas ele não para de bater em Brutus até virar uma polpa.
Todo o tempo, Alfa Zane está no palco, rindo, segurando o que parece
ser um detonador em suas mãos.
Então eu percebo — tudo isso é apenas o prefácio.
O verdadeiro show está para ser ainda pior.
— KADEN!!! PARE!!! — Eu grito. — Olha!
Kaden finalmente para, me vê apontando para Alfa Zane e o
detonador, e um lampejo de reconhecimento pisca em seus olhos.
Mas chegamos tarde.
— Foi divertido enquanto durou, — diz Zane com uma pequena
reverência.
Em seguida, ele leva o dedo ao detonador — e clica nele.
ZANE

Huh.
Isso é estranho.
Tento clicar no detonador novamente, mas nada acontece. Não está
funcionando!
Eu olho para a Matilha da Vingança e, em seguida, para a Cidade da
Vingança à distância.
Mas os dois parecem inteiramente intactos.
Nenhum fogo.
Sem explosões.
As crianças falharam comigo?
KACE

Seguro o filho de Althea em meus braços enquanto forço as crianças,


com as mãos amarradas em prata lunar, a me seguirem em fila única.
Acabei de desabilitar as bombas e seu transmissor, chegando à Cidade
da Vingança. E bem na hora, ao que parece.
Lexia acorda e olha em volta, horrorizada. Ela está amarrada em prata
lunar, sendo empurrada pelas crianças em uma velha cadeira de hospital.
— O que é que você fez? — Ela resmunga.
— Restaurei uma coisinha que chamamos de ordem, — respondo. —
O caos realmente não é páreo.
Eu aceno para as crianças. Os pirralhos. Que parecem não ter ideia do
quão perto estiveram de cometer um ato imperdoável.
Consertar suas mentalidades distorcidas levará tempo.
Mas pelo menos posso trazê-los de volta.
Pelo menos algo hoje foi salvo.
KADEN

Sigo o dedo apontado de Mara para Alfa Zane, onde o vejo clicando
em algum controle remoto repetidamente. Mas nada acontece.
— PARE ELE! — Mara grita. — Ele é o vilão, não Brutus!
Eu olho para Brutus, tossindo sangue, e para a prancha de madeira em
minha mão com o prego enferrujado e me pergunto...
Eu fui longe demais?
Não.
Não se o que Zane me mostrou hoje for verdade.
Pego um punhado da camisa de Brutus e trago seu rosto perto do
meu. — A verdade, Brutus, — eu rosno. — Você já tocou nela?
Ele pisca, os olhos focalizando os meus. E eu sei a resposta antes
mesmo que ele diga em voz alta.
— Sim.
Eu o deixo cair no chão enquanto meu corpo arfa, pelo brotando da
minha pele, ossos rachando e se alongando.
O lobo está assumindo o controle. A raiva venceu.
Eu seguro uma garra afiada e dentada para desferir o golpe mortal
quando — KADEN, DEIXE-O! — Mara grita. — Se há alguém que você
deveria machucar, sou eu!
Eu me viro e olho para Mara.
E é como se eu não conseguisse nem reconhecê-la.
Porque minha companheira nunca iria me trair.
Minha companheira nunca deixaria as mãos sujas de outro homem
dentro dela.
Minha companheira não teria um filho com ele.
Quem quer que seja esta estranha, esta prostituta Ela vai pagar.
— Mara! — Brutus engasga, tossindo sangue. — CORRE!
MARA

Eu corro através da multidão de pessoas o mais rápido que posso. Para


onde quer que eu olhe, as pessoas estão em pânico.
O derramamento de sangue no palco foi uma coisa.
Mas ver seu próprio Alfa perder a cabeça? Essa é outra.
Alguns lobos estão lutando entre si, fazendo-se em pedaços. Como se
o caos transformasse todos em animais.
E, ainda assim, eu corro.
Porque eu posso senti-lo perto de meus calcanhares atrás de mim.
Kaden.
Aquele olhar em seus olhos era puro assassinato.
Eu não o vi olhar para mim assim desde... desde anos atrás...
Eu corro para o terreno da matilha, olhando para a esquerda e para a
direita em busca de um lugar para me esconder. Mas onde?!
Eu corro para a casa da matilha e desço a escada estreita, esperando
que seu lobo não seja capaz de me seguir.
Eu me jogo na primeira sala que posso encontrar e bato a porta,
trancando-a.
Só então percebo onde estou.
Meu quarto de infância.
A réplica que Alfa Kaden construiu todos aqueles anos atrás para
brincar com minha mente e me torturar.
E como se o tempo desabasse sobre si mesmo, como se estivéssemos
sendo reduzidos aos nossos piores impulsos.
E então eu o ouço lá fora. Uma garra arranhando a madeira. Um
rosnado baixo e estrondoso.
— Tranque suas portas.
Não, isso não está acontecendo.
— Feche-as bem.
Deusa, de novo não.
— Feche suas cortinas todas as noites.
Como é este meu amado companheiro?
— Não olhe para fora, caso ele esteja aí.
Por favor — por favor, não faça isso, Kaden.
— Sempre viva com medo total.
Oh, Deusa. Oh, Merda. Eu não posso morrer aqui!
— Nunca se desvie e tome um companheiro...
Ele não me ama mais. E isso. E assim que eu morro.
— —A menos que Alfa Kaden sele seu destino.
De repente, a porta se abre e lá está ele, os olhos negros como a noite,
as garras sangrentas de um lobo monstruoso.
Ele dá um passo para dentro da sala em minha direção. E eu percebo...
Meu próprio companheiro está prestes a me matar.
Capítulo 30
REINO DO CAOS
Ele caminha em minha direção...
Meio lobo, meio homem...
Não há amor nesses olhos.
Sem reconhecimento.
Alfa Kaden...
Você realmente vai matar sua própria companheira?
... e seu filho por nascer?
MARA

Como isso está acontecendo?


Como diabos isso está realmente acontecendo?
Quando Kaden me sequestrou e me colocou nesta sala todos aqueles
anos atrás, eu sabia que ele era assustador.
Mas ainda havia algo bonito sobre ele.
Suas ações podem ter sido assustadoras, mas também pude
reconhecer que outra pessoa estava puxando os cordões. Mais tarde,
descobri que era Coen.
O verdadeiro Kaden não era um monstro.
Ou assim pensei.
Agora, conforme ele se aproxima cada vez mais, meio mudado e mais
assustador do que eu já o vi, mal posso acreditar que este é meu
companheiro.
— Kaden, — eu sussurro. — Por favor, não faça isso. Sou eu. Mara.
Mas ele simplesmente inclina a cabeça e dá outro passo ameaçador. —
Você não é Mara, — ele rosna.
— A Mara que eu conheço me ama. Ela não me trairia.
— Ele se aproxima. — Me traiu.
— Eu tentei te dizer, foi um erro, eu nunca...
Ele agarra a cama e a levanta como se fosse apenas um graveto,
partindo todo o colchão ao meio, fazendo com que penas voem por toda
parte.
— NÃO MENTE PARA MIM! — Ele berra.
E agora ele aponta uma garra para meu estômago.
Minhas mãos o cobrem protetoramente enquanto eu dou um passo
para trás, tentando colocar o máximo de distância possível entre ele e eu.
— Essa criança não é minha, é? — Ele pergunta. — E dele!
— Não, Kaden, — eu digo, balançando a cabeça enquanto as lágrimas
começam a cair pelo meu rosto. — E nosso! Você tem que acreditar em
mim.
Mas acho que ele não consegue mais ouvir uma palavra do que estou
dizendo.
Ele foi tão iludido por Alfa Zane, pelo caos, que o mundo está de
cabeça para baixo, e sua própria companheira é uma estranha.
Ele está a apenas um pé de mim agora, e posso sentir o fedor de seu
hálito quente.
Um perfume que eu amei uma vez agora parece contaminado e
sinistro.
— Só há uma maneira de descobrir, — rosna Kaden. — Vou ter que
arrancar de você e ver por mim mesmo, não é?
Sua garra se estende, ficando mais longa e mais afiada, movendo-se
em direção à minha barriga. Meu bebê.
— KADEN, POR FAVOR!!!
Ele vai nos matar. Não há como parar agora. A não ser que-
— Kaden, por favor, acredite em mim quando digo: eu te amo, — eu
digo sem fôlego. — Eu sempre vou.
Por um momento, seus olhos nadam com apreensão. Ele pisca e seus
olhos são da mesma cor do homem que amei. Ele franze a testa.
— Mara? — ele pergunta, confuso. — O que...
Mas ele não tem chance de terminar a frase porque, naquele
momento, uma prancha de madeira bate em sua cabeça e ele cai no chão.
Eu grito de medo, horrorizada porque pode ter sido um golpe fatal.
Mesmo quando ele estava ameaçando me matar, ainda me importo
com ele mais do que comigo. Quão doente é isso?
Mas então vejo quem está segurando a prancha.
É o Brutus.
Ele o deixa cair com um baque e se apressa, me abraçando. — Mara, —
diz ele, ainda ensanguentado e espancado. — Eu sinto Muito. Quase não
Cheguei a tempo.
— Está tudo bem, Brutus, — eu digo.
Eu o solto e me ajoelho para examinar Kaden. Ele mudou de volta
para sua forma humana completa, mas ele está respirando. Ele vai ficar
bem.
A questão é: vamos?
Como podemos continuar a partir daqui? Depois do que ele fez?
— Mara — diz Brutus, ajoelhando-se ao meu lado. — Você tem que ir.
Você tem que deixar essas terras e nunca mais voltar.
— Eu-eu não posso, — eu gaguejo. — Esta é a minha casa. Kaden é
meu companheiro. Ele me reconheceu no final. Ele não é...
— Ele ESTÁ PERDIDO, Mara! — Brutus diz com força. — Você
mesmo viu. E se ele tentar te machucar de novo? A criança?
Eu curvo minha cabeça e a pressiono contra a de Kaden, permitindo
que as lágrimas escorram pelos meus olhos, permitindo que o soluço
tome conta do meu corpo.
— Eu não quero deixar você, — eu sussurro, hiperventilando. — Você
é meu mundo, Kaden.
Mas eu sei, no fundo, que Brutus está certo. O que vi esta noite com
meus próprios olhos é a prova de que Coen, Kace, Rylan, até mesmo Alfa
Zane...
Nenhum desses é a fonte da monstruosidade de Kaden.
Esse mal sempre esteve dentro dele.
Eu estava cega demais pelo amor para ver.
— Vá para a Matilha da Pureza, Mara — diz Brutus, apertando minha
mão. — Vá onde seu povo precisa de você. Seja a Alfa deles. Vou me
certificar de que Kaden seja bem cuidado.
— Você não vai machucá-lo? Depois de tudo que ele fez com você?
Brutus suspira e balança a cabeça, enxugando o sangue da testa. —
Você o ama, Mara. Eu nunca faria nada para machucá-lo.
Porque Brutus me ama.
Ele não precisa dizer isso. Mas eu sei disso.
Eu aperto sua mão, desejando que houvesse outro mundo onde
Brutus e eu pudéssemos estar juntos.
Um mundo sem Kaden.
Mas isso nunca acontecerá.
Devo fazer o que a Deusa da Lua me disse. Devo retomar a Matilha da
Pureza e colocar Alfa Kaden atrás de mim.
Para o bem do meu filho.
Para o bem da minha matilha.
— Obrigada, Brutus — digo, levantando-me e indo para a porta. —
Por me salvar. Por salvar nós.
— Você faria o mesmo, Mara. Agora vá.
KACE

Quando as crianças e eu chegamos à superfície, encontramos um


bando que mergulhou no caos.
Em todos os lugares, os lobos estão lutando. As pessoas estão
gritando.
A folia de bêbados se transformou em pesadelo.
E quando olho para a expressão no rosto das crianças, posso ver que
elas entendem agora o quão perversas têm sido.
Uma mãe reconhece seu filho e corre. — As crianças! — Ela grita. —
AS CRIANÇAS VOLTARAM!
De repente, os membros da matilha abaixam suas armas e mudam de
volta para suas formas humanas, correndo para seus filhos, se reunindo
com suas famílias.
E então eu os vejo: Alfa Landon e Althea.
Eles caminham em minha direção, vendo o pacote em meus braços,
parecendo esperançosos, mas com medo.
— Isso é... — Althea pergunta. — Minha Willow?
Eu aceno e entrego a criança adormecida para Althea. Ela parece que
vai desmaiar de felicidade e alegria absoluta. Lágrimas escorrem por seu
rosto.
— Obrigada, Kace, — ela diz, me abraçando. — Eu nunca vou
esquecer isso.
Landon me abraça em seguida, me surpreendendo. Nunca estivemos
nos melhores termos, considerando que eu costumava ser apaixonado
por sua companheira.
— Você é um bom homem, Kace, — diz ele, com a voz rouca. —
Obrigado.
Observo os três se afastarem e me pergunto como seria minha vida se
Althea e eu tivéssemos juntos. Teríamos sido nós?
Não importa mais.
Eu tenho minha própria companheira. Minha própria filha. Minha
própria família.
Destiny corre e me abraça. — Eu me certifiquei de que todos estavam
seguros, mas...
— Eu sei, Destiny, — eu digo, acariciando sua cabeça. — Agora, onde
está aquele palhaço maldito?

Entramos nos destroços do anfiteatro, olhando de cima a baixo para o


bobo da corte. Mas não há sinal dele.
Apenas carnificina. Sangue. Morte.
Ele quase conseguiu colocar todos nós uns contra os outros, assim
como fez com a Matilha da Disciplina. Mas não funcionou.
Vivemos. Nós reconstruímos. Nunca permitimos que o caos governe
novamente.
— Ele escapou, Kace? — Destiny pergunta. — Zane? 1 — É o que
parece, — eu digo, balançando a cabeça solenemente. — Mas ele não irá
longe.
— Por que isso?
Eu sorrio para a menina, mais sábia do que sua idade. — Porque Zane
é um louco por exibição.
— Onde quer que haja uma audiência para ele atormentar, ele irá. E
estaremos esperando.
— E quanto a Alfa Kaden?
Eu suspiro, olhando ao redor. Não há sinal do meu irmão.
Mas tenho a sensação de que algo terrível aconteceu.
Só rezo para que não seja tarde demais para consertar.
Pego a mão de Destiny. — Nós o encontraremos. Mas primeiro...
temos outra coisa para cuidar.
KADEN

Eu acordo, me sentindo tonto, minha cabeça latejando, em um quarto


que deveria ser familiar. Mas parece errado em todos os sentidos.
— Mara... — eu sussurro. — Onde estão...
E então tudo volta rapidamente. A maneira como perdi o controle. A
maneira como eu a persegui.
Ameaçando-a.
Minha própria companheira.
Sento na cama com um sobressalto, olhando para a esquerda e para a
direita em nosso quarto, e percebo que todas as coisas dela se foram. Ela
fez as malas e foi embora.
Minha companheira se foi.
E posso culpá-la? Depois de como eu agi?
Claro que o bebê é meu! Não tenho dúvidas disso, agora que me livrei
da raiva e posso ver com clareza.
Mas é muito tarde?
Kaden: Mara!

Kaden: Mara, me desculpe!


Kaden: Por favor, me responda!

Mas tudo que ouço em troca é silêncio.


Exatamente o que mereço.
Eu caio da cama, corro para a janela e olho para a matilha que quase
permiti que se autodestruísse.
O anfiteatro está em ruínas, destruído pelo caos que permiti assumir.
Eu falhei com eles.
Eu falhei com minha companheira.
Mas, acima de tudo, falhei comigo mesmo.
O caos me consumiu e me deixou sem nada.
Eu uivo para o céu de dor, me odiando mais do que nunca.
E então eu uivo novamente, esperando que de alguma forma, onde
quer que ela esteja, minha companheira possa me ouvir...
KACE

Giro a chave e tranco a porta da cela, olhando para o novo habitante


com uma mistura de tristeza e raiva. Aqui, Alfa Zane apodreceu,
planejando nossa morte.
Agora, Lexia vai apodrecer aqui em seu lugar.
— Você percebe que ele ganhou, — Lexia diz quando me viro para ir
embora. — Alfa Zane... ele revelou exatamente o que todos nós somos.
Ele revelou a verdade.
— Talvez, — eu admito. — Mas as matilhas ainda estão de pé. Suas
bombas não explodiram.
— E nós somos a Matilha da Vingança. Não vamos descansar até que
ele esteja morto.
— Mate-o, — ela diz com um encolher de ombros, — Não o mate.
Que diferença faz? Você não pode matar uma ideia, Kace.
— E essa ideia criou raízes... quer você goste ou não. Não acredite em
mim, pergunte ao seu Alfa.
Eu ouço de repente. Um uivo horrível de coração partido à distância e
eu o reconheço instintivamente como Kaden.
Lexia balança a cabeça, completamente apática.
Impassível. Morta por dentro.
— As matilhas ainda estão de pé, — ela sussurra. — Mas reina o caos.

Três Meses Depois


— EI! EU DISSE NÃO NA FRENTE DE MIM!
BRUTO!!!
Eu me viro para ver Destiny, braços cruzados, parada na porta, nos
dando uma carranca de desaprovação.
Helena sorri. — Desculpe, Destiny. Seu pai e eu não podemos manter
nossas mãos para nós mesmos.
Eu estou segurando-a. Minha companheira. Juntos novamente depois
de tanto tempo separados.
Estamos no meio da sala de estar, ao lado da estante onde marcamos
um ao outro pela primeira vez.
E sim, não beijar na frente de Destiny foi extremamente desafiador.
— Estou feliz que vocês dois estejam felizes, — diz ela. — Mas eu sou
uma criança! Eu não quero ver essas coisas.
— Você está me dizendo que nenhuma das crianças da Matilha de
Jovens está se beijando ainda? — Eu pergunto com um sorriso.
Destiny desvia o olhar, perplexa com isso.
Desde que a Matilha do Caos se desintegrou e recuperamos alguma
ordem nas terras da Vingança, Destiny continuou a liderar as crianças.
Embora agora eles mantenham todas as suas atividades acima do solo.
E, na maior parte, não é explosivo.
— Vamos ou não? — Ela pergunta com um murmúrio.
— Um segundo, — eu digo.
Ela sai enquanto eu me viro para minha companheira novamente.
Eu não consigo parar de beijá-la. Eu nunca quero parar.
Agora que estamos reunidos, uma família em todos os sentidos da
palavra, nossas vidas nunca foram melhores.
Nossos lábios se tocam e faíscas voam de novo.
— E melhor não a deixar esperando, — diz ela.
Eu concordo. Mas eu continuo segurando sua mão enquanto
seguimos Destiny para fora. Vamos para o lago hoje, só nós três.
Mas quando eu olho para a Casa da Matilha, vejo as cortinas fechadas
na janela do meu irmão e suspiro.
Ele dificilmente saiu desde que Mara foi embora.
Tentei falar com Kaden, mas ele prefere a solidão atualmente.
— Ele vai ficar bem, — Helena diz. — Tenho certeza de que vai
funcionar.
— Espero que sim, — digo, apertando a mão dela.
Ainda não encontramos Alfa Zane, mas nossa busca continua. Nossa
busca por vingança está apenas começando.
A Matilha do Caos causou muitos danos. Algumas coisas, temo, são
irreparáveis.
Eu não posso imaginar o que deve ser para Kaden agora — ficar sem
sua companheira.
Eu olho para a janela escura mais uma vez, orando por meu irmão.
Fique forte, Kaden, eu acho. Esta história ainda não acabou.
Então eu sigo a Destiny, pronto para começar um capítulo totalmente
novo em nossas vidas.
MARA

O tempo passou desde aquela noite terrível do show de Alfa Zane e do


ataque de Kaden e, ainda, eu não consigo dormir direito.
Minha barriga está tão grande agora que tenho dificuldade para andar.
Mas Milly ajuda sempre que pode.
Minha mãe diz que devo esperar qualquer dia agora.
Mas eu ainda não segui o plano da Deusa da Lua.
Eu ainda não aceitei totalmente meu papel como Alfa da Matilha da
Pureza.
Mas tudo isso muda hoje. Hoje, haverá uma cerimônia oficial de
juramento e eu me tomarei uma Alfa.
Por que, então, tudo em que consigo pensar é no Alfa que deixei para
trás?
Eu ouço rumores sobre o que aconteceu com ele, nenhum deles
bonito. E às vezes, à noite, eu o ouço implorando por meio de um vínculo
mental.
Sua voz nada mais é do que um sussurro distante e fraco agora.
A verdade é que, apesar de tudo, sinto falta de Kaden.
Eu penso no primeiro momento em que nos beijamos.
Lembro-me de trazê-lo para casa para conhecer meus pais e quase fui
pego fazendo sexo.
Lembro-me de todas as nossas risadas, nossa alegria, nossa esperança.
Seus olhos se encheram de lágrimas quando ele descobriu que seria
pai.
Eu amo Kaden mais do que o temo.
Mesmo se ele for um monstro, ele é meu monstro.
Mesmo que eu nunca possa estar com ele novamente, eu sempre o
terei perto do meu coração.
Afinal, ele é o pai do meu filho ainda não nascido.
Se você quer salvar seu filho de uma vida amaldiçoada, Mara, Eu me
lembro das palavras da Deusa da Lua, você deve quebrar o vínculo de
acasalamento e se tomar o que deveria ser: A Alfa da Matilha da Pureza!
Mas estou pronta?
— Mara, desça! — Eu ouço minha mãe gritar lá embaixo. — Estamos
todos prontos para você!
Bem, eu acho, aqui vai a merda de nada. E hora da cerimônia começar.
Mas, quando desço a escada pela primeira vez, sinto uma umidade
repentina encharcar minhas pernas e olho para baixo para ver uma poça
no chão.
Minha bolsa acabou de estourar.
O bebê está chegando.
Agora mesmo.
Continua no Livro 5…
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