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Pegasus Lançamentos

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Pegasus Lançamentos

Seduzida pelo
Lobo

Seduced by the
Wolf

Terry Spear

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Pegasus Lançamentos

Disponibilização: Soryu

Tradução e Revisão Inicial: Amanda H

Revisão Final:Virginia

Leitura Final: Macris Sá

Formatação: Macris Sá

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SOLICITAÇÃO GRUPO PL

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Alguns comentários sobre o livro e sua autora:

"A química do casal transcende as páginas do livro, mas o


que o torna mais envolvente é a maneira como a autora
descreve os personagens e o desenrolar da trama. Como
retrata o mocinho e a sua força junto ao bando, e a perfeita
interação entre o homem e seu lobo. O que torna este
mundo imaginário verossímil e palpável.” - Publishers

Weekly" Chilling;

“Suspense e romance escaldante... O escuro e sexy herói


alfa vai capturar você de corpo, mente e alma."- Nicole

North, autora do livro “Devil in a Kilt";

“Se ação, romance e suspense é o que você está procurando


em uma história, então não procure mais." - Night Owl

Romântico.

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Informação da série:

01 – Coração de lobo – Distribuído

02 – Destino do lobo – Distribuído

03 – To Tempt the Wolf – Distribuído

04 – Legend of the White Wolf– Revisão Final

05 – Seduced by the Wolf– Lançamento

06 – Wolf Fever– Revisão Final

07 – Heart of the Highland Wolf – Revisão Inicial

08 - Dreaming of the Wolf – Revisão Inicial

09 – A SEAL in Wolf's Clothing

10 – A Howl for a Highlander

11 – A Highland Werewolf Wedding

12 – A SEAL Wolf Christmas

13 – Silence of the Wolf

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Sinopse

Sua primeira prioridade é proteger o bando... Como lobisomem e


líder do bando, Leidolf Wildhaven acaba de assumir um grupo
desestruturado. Dentro do qual havia lobos indignos de fazer parte do
bando, empenhados em semear problemas, tornando a situação ainda
mais difícil; isso combinado com o fato de os administradores do
zoológico estarem vigiando a manada de lobos moradora do parque local.
Neste momento, a última coisa que este alfa sexy precisa é de distração
circulando por seu território. Mesmo que venha sob a forma de uma
fêmea empenhada em ajudar os de sua espécie, não tendo importância o
quão bonita e sedutora ela seja...

Ela vai fazer de tudo para ajudar os lobos ... A bióloga Cassie
Roux dedicou sua vida a proteger os lobos selvagens. Em uma missão
desesperada para ajudar uma loba e seus filhotes recém-nascidos, a
última coisa de que precisa neste momento é da intromissão de um líder
de matilha, que está fazendo de tudo para localizá-la. E para Cassie não
importa que ele seja um dos homens mais atraentes que ela já vira.

Diante das situações extremas vivenciadas por Cassie e Leidolf,


proporcionadas pela atuação de lobos mal-intencionados e de caçadores
os ameaçando a todo instante, eles podem encontrar a força necessária
para atravessar este turbilhão em algo muito mais perigoso para ambos:
a atração explosiva existente entre eles...

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Capítulo Um

Com exceção de dois carros estacionados do lado de fora da


Câmara Municipal, o estacionamento estava vazio e parecia que a
bióloga, especialista em lobos, que iria palestrar ali não teria nenhuma
plateia para a qual se apresentar.

O ar do Oregon que o cercava era úmido e frio, nada parecido


com o seco e ensolarado clima que Leidolf Wildhaven deixou no
Colorado. Continuava dizendo a si mesmo que se acostumaria com a
mudança. Antigas lanternas de bronze lançavam um brilho dourado
sobre a calçada. Uma brisa constante agitava as folhas da primavera
dos imensos carvalhos brancos que conduziam o caminho até o edifício
de dois andares. Na torre logo à cima, um relógio antiquado badalou
sete vezes anunciando a todos nas redondezas, que a hora do início da
palestra havia chegado.

Ele soltou a respiração e dirigiu-se ao edifício. Nada relacionado


aos lobos o preocupava, e mesmo que a “doutora” não dissesse nada
que ele já não soubesse, ele queria ver como os outros reagiriam a sua
fala a respeito deles. E, nesse ritmo, parecia que ninguém iria aparecer.

Subindo de dois em dois degraus a escada de tijolo e entrando


no edifício, seu olhar focou nas cadeiras vazias e no púlpito sem orador.

Vestida em um terno cinza, Millie Meekle, a mulher responsável


pelo turismo e eventos especiais na região estava parada perto dali,
quando o viu torceu as mãos e balançou a cabeça, os cabelos grisalhos
pareciam colados, duros, não saiam um milímetro do lugar.

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− Oh, Sr. Wildhaven, é um desastre! A Dra. Roux teve o pneu do


carro furado e como meu marido me deixou aqui, não tenho nenhum
carro para buscá-la. − Ela apontou para os assentos vazios − E
ninguém apareceu ainda.

− Onde ela está hospedada?

Vários homens com expressões irritadas entraram lentamente


na Câmara Municipal, as botas faziam barulho no chão de madeira.

− Onde está a doutora? − Um deles perguntou rispidamente.

Mille respondeu rapidamente.

− Ela está presa na Pousada Cranberry Top. Mas o Sr.


Wildhaven foi muito gentil ao se oferecer para buscá-la. Ela está no
Quarto Azul, na primeira porta à esquerda no final do corredor da
entrada. − Ela orientou Leidolf.

O mesmo homem bufou.

− Nós não precisamos de nenhuma maldita bióloga de lobos para


nos dizer como deveríamos reintroduzir os lobos no meio selvagem
daqui.

− Calma, Sr. Hollis – Millie pediu.

− Nada de “calma, Sr. Hollis”, Millie. Você sabe que eu crio


ovelhas, e se qualquer maldito lobo invadir a minha terra, eu irei matá-
lo bem morto. É isso o que vou fazer.

− Eu vou buscá-la. – Leidolf saiu do calor opressivo do edifício,


de volta para o frio do ambiente exterior.

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Ele não havia imaginado que qualquer criador de animais se


daria ao trabalho de comparecer à palestra, mas depois de ouvir o
homem corpulento, estava preocupado que a palestrante enfrentaria
muitos problemas.

Subindo no seu Hummer, Leidolf presumiu que provavelmente a


mulher não conseguiria falar quase nada, considerando que enfrentaria
uma enxurrada de comentários condenatórios.

Ele ainda não descobriu o porquê dela ter vindo ali, em vez de
palestrar para uma plateia mais intelectualizada como a da cidade de
Portland, que fica a duas horas de distância.

Colocando o veículo em movimento, ele se dirigiu à Cranberry


Top, uma elegante casa de telhado avermelhado, paredes brancas e
uma cerca de madeira pintada de branco. Como várias das casas na
área, o lugar havia se transformado em uma pousada porque estava
situada perto de um riacho perfeito para a pescaria, e o Monte Hood
podia ser visto ao longe. Ótimo para uma escapada de Portland.

Quando Leidolf chegou à pousada, ele viu o carro em questão,


uma caminhonete verde com placas da Califórnia, inclinada para um
lado. Mulheres. Provavelmente não sabem como trocar um pneu ou
ligar para alguém consertá-lo.

Ele mal abriu a porta do seu Hummer quando uma mulher saiu
correndo, os cabelos ruivos cacheados na altura dos ombros,
balançando a cada passo, os olhos de um verde mar, grandes e
esperançosos, a testa franzida enquanto ela agarrava firmemente uma
pasta de couro contra o peito e vinha em sua direção. Dra. Roux? Ao
menos era quem ele imaginava, todavia, esperava alguém com pernas
menores e um visual menos incrível.

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Ele imaginou que veria uma senhora de cabelos grisalhos,


penteados em um coque e com óculos de aros dourados pendentes no
nariz. No entanto, esta mulher aparentava ter seus vinte e poucos anos
e uma forma impressionante, com pernas torneadas e um corpo que era
compatível com elas. Ele a imaginou caminhando pela mata em trilhas
selvagens para observar os lobos, fugindo da ideia que ela era
estritamente uma professora de sala de aula.

− Dra. Roux? − Ele se sentia, agora, como um cavaleiro de


armadura brilhante.

Ela não sorriu, mas aparentava estar preocupada como o


inferno, pois mordia o lábio brilhante e deu um tenso aceno de cabeça.

− Millie mandou você me buscar? − Ela não esperou que ele


respondesse e seguiu em direção a caminhonete. − Eu troquei o pneu.

Ele franziu a testa e deu uma olhada no pneu murcho.

− Alguém foi gentil o bastante em arruinar também o estepe,


quando eu entrei para me limpar. − Ela acrescentou num tom irritado. –
Então já estava muito tarde para mandar consertar o estepe antes da
palestra.

Irritado que alguém da cidade pudesse tratá-la dessa maneira,


ele mordeu um palavrão.

Ainda assim, ele não conseguiu evitar ficar surpreso pela


segunda vez. Primeiro, por sua aparência. E agora, por quão habilidosa
era a pequena mulher.

Ele seguiu em direção ao Hummer.

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− Eu sou Leidolf Wildhaven, fazendeiro com terras ao sul da


cidade. Eu levarei você até a reunião e mandarei um dos meus homens
consertar os seus pneus, enquanto você estiver palestrando.

− Um fazendeiro. − Ela disse baixinho, a voz levemente


condenatória.

Ele deu um pequeno sorriso.

− Sim, mas os pumas são os únicos animais que me incomodam


até o momento. Lobos? Eles são o meu tipo de animal. Protetores e
leais... Você sabe, como um cachorro, melhores amigos do homem.

− Eles são selvagens, Senhor...

− Eu gostaria que você me chamasse de Leidolf.

− Sou Cassie. Nunca antes conheci um fazendeiro que gostasse


de lobos. − Ela soava como se não acreditasse que ele pudesse se
preocupar com lobos. Talvez, até preocupada que ele pudesse causar
algum problema na sua palestra.

Ela subiu no Hummer, tomou um longo fôlego e seus olhos se


arregalaram. Leidolf jurou que se não bloqueasse o caminho dela ao
segurar a porta para fechá-la, ela teria fugido. Ele ouviu a leve ingestão
de respiração e seu batimento cardíaco acelerado. O olhar verde moveu-
se rapidamente sobre ele, como se, de repente, ele se tornasse alguém
de maior importância. Ela engoliu em seco e alisou a saia sobre o colo,
atraindo o olhar dele e então se afastou o máximo que pode dele.

Ela respirou fundo e encontrou seu olhar.

− Os lobos são selvagens e imprevisíveis. Mas você está certo.


Eles também são protetores e leais. Obrigada por vir me buscar.

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Ele sorriu em resposta, gostando que ela fosse uma defensora


dos lobos e os entendesse tão bem, que percebia quão perigosos eles
poderiam ser e sentiu imediatamente uma ligeira conexão com ela.
Antes que ele pudesse fechar a porta, ela rapidamente acrescentou:

− Você... Está me levando para a Câmara Municipal, não é?

− Sim, Millie Meekle disse que você precisava de uma carona.

Cassie ainda parecia um pouco assustada quando Leidolf subiu


no veículo, e ele supôs que poderia entender a desconfiança.
Infelizmente, Millie não deve ter ligado para Cassie, avisando que ele
vinha buscá-la.

− Eu nunca imaginei que teria problemas por aqui. − Ela


prendeu o cinto de segurança no lugar e apertou-se contra a porta do
passageiro, quase como se tentasse se manter o mais longe possível
dele.

Para alguém que estudava lobos, ela aparentava ser um pouco


arisca. O que o fez se perguntar se ela já teve problemas com homens
antes. Imediatamente, este pensamento o incomodou, não importava
que tivesse acabado de conhecê-la.

Leidolf olhou para ela enquanto dirigia de volta para o local da


palestra.

− Por que não palestrar em Portland? Você teria mais sucesso.

Um longo silêncio preencheu o ar.

− As pessoas precisam ser educadas em lugares como este. − Ela


finalmente respondeu.

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Leidolf não retrucou, mas ele estava incomodado com a direção


que aquilo estava tomando.

E ele tinha uma suspeita de já saber qual seria a verdadeira


razão dela vir ali.

Ela olhou pela janela e não disse mais nada.

Ele limpou a garganta.

− Por que em lugares como este?

Um silêncio prolongado preencheu o espaço entre eles,


aumentando a preocupação dele.

Virando a cabeça em sua direção, ela lhe deu uma espécie de


sorriso triste.

− Porque, a não ser que o lobo esteja no jardim zoológico do


Oregon, é improvável que as pessoas de Portland vejam qualquer lobo
correndo por sua bela cidade.

− E por aqui?

Ele sentiu que ela o observava, enquanto ele se concentrava na


estrada. Do mesmo jeito que ela estudava os lobos? Será que ficaria
surpresa em saber que ele também era um deles, sempre que ele tivesse
o impulso de se transformar?

− Eles podem estar aqui, algum dia.

− Você não parece o tipo de pessoa que perde tempo falando


sobre eventos futuros. Você já viu um lobo nesta área? – Ele foi direto
ao ponto. Precisava saber. E se ela tivesse visto algum dos membros da
sua alcateia correndo, na forma peluda, na mata daquela área?

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Ela olhou para fora da janela.

Inferno.

− Cassie, você já viu um lobo por estas bandas?

− Eles foram vistos em vários locais diferentes em todo Oregon.


Pessoas em todos os lugares precisam ser educadas. Isso é o que eu
faço. – Ela disse evasivamente.

Preocupado com o que ela falou, Leidolf parou numa vaga da


Câmara Municipal. Vários veículos agora enchiam o estacionamento.
Ele esperava que a maioria dos bons cidadãos da região se
comportasse. E se ela tivesse visto o que ele suspeitava, maldição,
esperava que não mencionasse isso na palestra. Receava que estivesse
preocupada que ele talvez quisesse os lobos eliminados, caso ela
contasse o que realmente presenciou, porque ele era um fazendeiro,
muito embora tenha dito que gostava de lobos.

Antes que ele pudesse sair de seu Hummer para abrir a porta do
lado dela, Cassie pulou para fora, agradeceu e se apressou para o
caminho de tijolos.

− Desculpe. – Ela fez uma corrida para chegar até a porta da


frente. − Estou quinze minutos atrasada.

Leidolf pensou que ela se apressou para ficar longe dele por
algum outro motivo. Não conseguia entender qual era a razão. Ele a
trouxe sã e salva, além de providenciar um de seus homens para
consertar os pneus dela. Então, por que ela o temia?

O fato de ele ser um fazendeiro? Ou talvez ela estivesse tão


acostumada a estar entre lobos, o tipo de lobo verdadeiro, que não
estava preparada para lidar com a espécie humana de lobo. Por outro

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lado, ele poderia estar imaginando algo que nem existia. Talvez, ela
estivesse muito ansiosa por estar atrasada para seu compromisso como
oradora. Isso era tudo.

Ele andou rapidamente, e abriu a porta antes dela alcançar o


trinco.

− Parece que a maioria das pessoas acabou de chegar, então eu


diria que você chegou na hora certa.

Ela deu um sorriso apertado, mas a tentativa de uma resposta


amigável não alcançou seus olhos. Ela correu para dentro, os saltos
ressoando no chão de madeira, com isso a conversa cessou restando
um silêncio absoluto. Leidolf se sentou na parte de trás, onde poderia
observar a todos. Mas preferia olhar para a mulher atraente, para a
maneira como ela deslizava as mãos suavemente sobre suas anotações,
a maneira como os lábios cheios e brilhantes se separavam enquanto
ela falava, o tom doce de sua voz, presente até mesmo antes, quando ela
esteve preocupada sobre estar atrasada, ou irritada que alguém tivesse
arruinado seus pneus.

Ele forçou o olhar para longe dela e olhou para vários jovens,
que pareciam ser estudantes do ensino médio, sentados de um lado da
sala com canetas e blocos de anotações na mão. Provavelmente iriam
receber algum tipo de crédito especial por virem ali esta noite. Até
mesmo duas meninas gêmeas de sua alcateia estavam entre eles, muito
embora os membros da alcateia estudassem em casa por si mesmos. O
pai delas deve tê-las feito vir. Alice e Sarah olharam para Leidolf e
sorriram. Ele inclinou a cabeça em reconhecimento.

Do outro lado do corredor, ele reconheceu a maioria dos


homens, todos eles fazendeiros.

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Um homem criava cabras anãs, seis outros criavam gado como


ele, e um criador de ovelhas. O homem que realmente chamou a sua
atenção foi um loiro que também recebeu a atenção de Cassie. Seus
olhos estavam alargados e ela se preocupava com suas anotações, mas
ela olhou para ele, que sorria amplamente. Alguém que ela
definitivamente conhecia, mas, aparentemente, não estava muito feliz
em ver. Ela não parecia ser da região. Na verdade, sua biografia dizia
que era da Califórnia, e Leidolf não se lembrava de ter visto nenhum
deles antes. Então o homem a estava seguindo?

Leidolf estudou o homem novamente. Alto, magro, calçando


botas de caminhada, jeans e uma jaqueta de camuflagem. Parecia um
caçador. Leidolf já não gostou dele.

Puxando o celular, Leidolf mandou uma mensagem para seu


segundo em comando, Elgin, dizendo qual era o veículo a ser reparado,
e o que precisava ser feito, e tomasse o tempo que fosse necessário para
terminar o serviço. E então Leidolf recostou-se para ouvir o discurso da
pequena mulher.

Depois que ela terminasse a sua fala, ele pretendia conversar


com ela novamente e descobrir a verdade.

Que tipo de lobo ela viu e onde?

Cassie não conseguia acreditar na sua má sorte. Primeiro, o


idiota ou idiotas estragaram não um, mas dois de seus pneus. Em
seguida, o homem com aspecto de galã que veio resgatá-la era um lobo.

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Como ela poderia ter tanta sorte? E o melhor de tudo? Seu colega
biólogo de lobos, Alex Wellington, a localizou novamente. Qual era o
problema dele? Qual parte do “eu trabalho sozinha” ele não conseguia
entender? Não que ele não fosse bonito ou bom em seu trabalho, mas
às vezes ela gostava de se transformar enquanto estava trabalhando e,
com certeza, não queria que ele a estudasse como um de seus lobos do
projeto.

Evitando olhar para Leidolf, as belas feições másculas, os olhos


penetrantes e perspicazes, Cassie sabia que ele poderia ser um
problema ainda maior. Ela estava tão preocupada com os pneus e sobre
estar atrasada para a palestra que, quando ele disse o seu nome, nem
captou de primeira. Leidolf era o mesmo que “descendente de lobo” na
língua nórdica! E seu sobrenome, Wildhaven, era típico dos lobisomens
vermelhos.

O fato de que ele disse que era um fazendeiro também a


desconcertou. De jeito nenhum ela teria pensado que um lobisomem
poderia estar no ramo de criação de gado. Uma vez que ela sentiu uma
lufada do seu cheiro de lobisomem, ela soube a verdade. Lutou contra
um sorriso. Seu comentário sobre lobos, como os cães, sendo o melhor
amigo do homem, fazia sentido. Do ponto de vista de um lobisomem, de
qualquer maneira.

Ela mal começou a falar sobre lobos, sua história e seu futuro,
quando um dos homens, sentado nas primeiras filas, disse:

− Claro, estamos habituados a matá-los por dinheiro. Lobo bom


é lobo morto.

Querendo saber se o homem barbudo, de aparência


desalinhada, era o responsável por furar seus pneus, ela mordeu a
língua e cerrou os dentes. Seu olhar fixou-se em Leidolf. Ele dava ao

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homem um olhar de que era melhor que ele tomasse cuidado com o que
dizia, e, de repente, ela se deu conta de algo a mais sobre este
lobisomem.

Ele disse que colocaria um de seus homens para consertar seus


pneus. Ela piscou. Ele não poderia ser o chefe da alcateia, não é? Ou
talvez ele fosse um beta. Não que isso fizesse muita diferença, já que ele
reportaria ao alfa que havia localizado uma fêmea vermelha no território
deles.

Ela gemeu internamente a sua má sorte.

− Sr. Hollis, − Millie disse com voz suplicante, invadindo as


ruminações angustiantes de Cassie. – A Dra. Roux responderá as
perguntas ao final de sua palestra. Por enquanto, vamos deixá-la
apresentar o seu estudo. − Ela sorriu um pouco nervosa e fez um gesto
para Cassie continuar.

Cassie deu um sorriso contido. Ela nunca teve tantos problemas


numa palestra antes e, certamente, nunca esperara encontrar um lobo
vermelho na área. Uma vez que ela descobriu a presença de um lobo na
região, sentiu-se no dever de conscientizar as pessoas de que os lobos
não eram uma ameaça para a maior parte da população e que era ilegal
matá-los.

Alex balançou a cabeça, como se aprovando cada palavra dela.

Leidolf estava ocupado mandando mensagens de texto para


alguém. Felizmente, ele não parecia ter sentido seu cheiro.
Aparentemente, o spray de caçador escondeu o seu cheiro de loba. Mas
ainda tinha medo de que se ele chegasse perto demais, poderia detectar
que ela era uma lobisomem vermelho, como ele.

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Ela continuou com seu discurso, querendo acabar logo com isso,
quando normalmente amava defender a causa dos lobos. Todavia,
geralmente ela não palestrava em um território de lobisomem. E isto
poderia significar problemas. Principalmente porque ela era uma fêmea
vermelha sem companheiro e alcateias estavam sempre atrás de fêmeas
sem companheiro.

Ela mal chegou à página dois de suas notas quando o Sr. Hollis
a interrompeu novamente, com uma voz de reprovação.

− No ano passado, uma mulher invadiu o zoológico e soltou um


lobo, pelo menos essa foi a história que os jornais noticiaram. Mulher
nua em zoo liberta lobo vermelho. Então, você defende a soltura dos
lobos do zoológico, também?

Cassie deixou as notas de lado. O homem se referia a Bella


Wilder, uma lobisomem vermelha, que durante o cativeiro, mudou de
sua forma de loba para sua forma humana durante a lua nova. E, a não
ser que o lobisomem tenha linhagem real, com muito poucas raízes
humanas na sua linhagem sanguínea, que era o caso de Cassie e da
Bella Wilder, ele não poderia continuar como lobo ou se transformar em
um, durante a lua nova. Cassie não conseguia imaginar quão
aterrorizante a captura deve ter sido para a mulher.

Leidolf estudou Cassie, as sobrancelhas ligeiramente levantadas,


esperando para ver como ela iria responder à pergunta. Se ao menos ele
soubesse o que ela realmente era, e como ela tratava os lobos, mostraria
a sua própria espécie de lobo.

Alex ainda mantinha o sorriso bobo, torcendo por ela.

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Na tentativa de não se tornar antagônica na resposta da


pergunta do Sr. Hollis, Cassie manteve a compostura e um tom frio,
mas profissional.

− A mulher foi vítima de um crime, Sr. Hollis. Ela foi deixada


nua na jaula dos lobos e o lobo vermelho foi roubado. Ela nunca foi
considerada culpada do crime de soltar o lobo. Além disso, o lobo
vermelho nunca foi encontrado.

Sr. Hollis pigarreou e cruzou os braços sobre o peito largo.

− Você não respondeu a minha pergunta, doutora. Você acredita


que os lobos do zoológico devem ser soltos na natureza? Você mesma
disse que eles não têm o mesmo tipo de vida no zoológico, como eles
têm vivendo em grandes espaços abertos. Você sabe... − Ele fez um
gesto para os outros fazendeiros. − Onde eles podem matar nossos
rebanhos.

− A maioria dos animais do zoológico é nascida e criada nestes


lugares. Então, eles são mais adequados para um ambiente de jardim
zoológico. Muitos nunca viveram na natureza selvagem.

− Então você está dizendo que não, que não devem ser soltos? –
O Sr. Hollis persistiu.

− Isso é o que ela está dizendo. – Alex confirmou, como se


estivesse falando com alguém com dificuldade de compreensão.

Embora ela apreciasse o apoio de Alex, Cassie preferia lutar suas


próprias batalhas.

O Sr. Hollis virou-se e encarou Alex.

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− Ela é a especialista em lobos, aqui. Se eu quiser a sua opinião,


garotinho, eu vou pedir. Do contrário, cuide da sua própria vida.

Alex arqueou uma sobrancelha e ofereceu um pequeno sorriso.


Ele era quase tão especialista em lobos quanto Cassie, apesar de não
dedicar, como ela, tempo integral a atividade. Ela ficou contente que ele
manteve a boca fechada e não disse mais nada.

Um aluno levantou a mão e o Sr. Hollis não disse mais nada,


enquanto ela respondia as perguntas dos alunos. Cassie ficou aliviada
ao ver que a maioria dos fazendeiros estava se movimentando para
deixar o recinto. Mas não o Sr. Hollis. Esperava que não tivesse que
lidar com ele mais tarde. E Alex.

Como no mundo ela iria despistá-lo de modo que pudesse


escapar para a floresta, para estudar o raro lobo vermelho que vira na
mata?

Claro, Leidolf era outro grande problema. Ele já suspeitava que


ela tivesse visto um lobo. Ela franziu a testa. Não poderia ter sido um
dos membros da sua alcateia, poderia? Ela com certeza esperava que
não. E agora, por causa da situação dos pneus, estava presa para lidar
com ele por mais tempo. Pelo menos até ela pagar um dos homens dele
pelo conserto dos pneus e agradecer pelo gesto. Definitivamente não
queria que Leidolf descobrisse que ela era uma de sua espécie. Quanto
mais cedo fosse para bem longe dele e sua alcateia, melhor.

A mão de outra garota levantou e ela fez uma pergunta. Cassie


amava ensinar os estudantes, pois eles eram mais ansiosos a aprender
que os adultos. Mas, agora, ela estava ansiosa para escapar antes que
mais alguma coisa desse errado naquela noite. E lamentaria se algo
acontecesse, pois pretendia tentar fugir de Leidolf sem revelar o que ela
realmente havia visto.

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Capítulo dois

Assim que Cassie terminou de responder às perguntas, o Sr.


Hollis se movimentou para assediá-la no palanque. Leidolf o
interceptou, pretendendo não deixá-lo mais incomodar a Cassie,
enquanto os estudantes se reuniram em torno dela para perguntar
sobre sua escolha de carreira. Dividindo a atenção de Leidolf, o cara
loiro também se aproximou para conversar com Cassie.

Os outros fazendeiros balançaram a cabeça e saíram.

− O quê? – O Sr. Hollis perguntou a Leidolf quando ele bloqueou


o caminho do criador de ovelhas. − Não me diga que você também ama
lobos. Você cria gado, homem!

− Ela é apenas uma educadora. Isso é tudo.

O Sr. Hollis alternou o olhar ameaçador de Leidolf para Cassie.

− Ela deveria estar em algum outro tipo de negócio, pela sua


aparência. Se ela começar a defender a causa de que permitamos que o
Oregon seja um refúgio seguro para os lobos... − Ele deu a Leidolf outra
carranca. − Um grande número de fazendeiros vai se transformar em
caçadores. É tudo o que tenho a dizer. − Ele saiu do edifício.

Feliz que o Sr. Hollis foi embora, Leidolf cruzou os braços e


olhou para Cassie. Ele ficou surpreso com o quanto ela entendia sobre
os lobos. Ela realmente era uma especialista, conhecendo-os por dentro

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e por fora. Sua admiração por ela aumentou. O amor que ela sentia por
eles foi o que realmente o atingiu.

− Alguma vez você já dormiu com lobos de verdade? − uma


garota de olhos arregalados perguntou. − Meu pastor alemão dorme
comigo durante os acampamentos. Será que os lobos que você estudou
na natureza deixariam você chegar tão perto?

Cassie olhou para Leidolf.

Ele estava acostumado a ler as pessoas, e ainda assim, não


tinha certeza sobre a expressão dela. Preocupada que ela pudesse
responder a coisa errada para a adolescente, talvez? Ele não estava
certo. O que o alcançou foi o modo como os olhos dela, de repente,
tornaram-se cheios de lágrimas.

Cassie rapidamente olhou para a garota e respondeu:

− Uhm, não. Eles são selvagens, e mesmo que eu tenha crescido


perto de uma alcateia, até mesmo uivando para que eles se reunissem
em volta de mim como se eu fosse um deles, eu não... Nunca dormi com
eles.

O engate em sua voz, a mudança no tom de voz, a tensão em


sua postura fez Leidolf achar que sim, ela havia dormido com eles. Por
que ela estaria chateada com isso? Por que não falar a verdade?

− Alguma vez você sentiu saudade da alcateia quando os deixou?


− Outra garota perguntou.

Cassie sorriu, mas o olhar era triste. Ela engoliu em seco.

− É claro.

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− Algum deles foi realmente especial para você? Quero dizer, eles
não eram todos iguais, eram? − A primeira menina perguntou.

Cassie balançou a cabeça.

− Não. Todos os lobos são diferentes. Você já teve cachorrinhos?

A garota negou com a cabeça.

− Eu sim, dois cockapoos. – Outra garota respondeu. − Você


sabe, a mistura cocker spaniel-poodles. E eles são muito diferentes um
do outro. Um é muito amigável com todo mundo. O outro só é com a
gente.

− O mesmo acontece com os lobos. − Disse Cassie. − Um eu


chamava Cauda Torta. Ele tinha um pelo que se levantava em todas as
direções, não importava se ele fosse nadar com a gente, ou...

− Você nadou com os lobos? − Um dos rapazes perguntou.

Seu olhar voltou de novo para Leidolf, como se ela quisesse


saber o que ele pensava sobre o assunto. Sua natação com os lobos o
surpreendeu de fato. Ele pensou que ela tivesse sentado com um bloco
de notas e uma caneta, relatando tudo o que os lobos faziam. Ele não
esperava que ela uivasse para reuni-los, ou nadasse com eles.

Ele sorriu. Ela não. Ela parecia tensa por ter até mesmo
mencionado o ocorrido. Ela acenou para o menino.

− Sim. De qualquer forma, não importava o que ele fazia, seu


pelo sempre se levantava para todas as direções.

− E ele tinha um rabo torto. – Uma das garotas afirmou.

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− Sim. E ele era uma espécie de palhaço. Parecia se dar bem


com todos.

Cassie soava mais despreocupada agora.

Ela esperou pacientemente pela próxima pergunta, mas um dos


rapazes olhou para o relógio e disse:

− Eu tenho que ir trabalhar. Obrigado por todas as informações


sobre os lobos.

− De nada. − Cassie parecia aliviada quando o questionamento


chegou ao fim, e começou a recolher suas anotações.

Os adolescentes seguiram para fora, falando sobre as aulas


escolares que acabariam em poucas semanas por conta das férias de
verão, e Millie agradeceu a Cassie e, em seguida, entregou um envelope.

− Cassie, imagine minha surpresa ao vê-la aqui. − Disse o cara


loiro, tomando o lugar de Millie enquanto ela arrumava o salão.

Cassie imediatamente revirou os olhos para o homem e colocou


as anotações da palestra na pasta de couro, juntamente com o envelope
de Millie.

− Alex, das tantas vezes que você já me achou, eu pensei que


você viria com algo mais original a dizer.

− Cassie. − Leidolf foi em seu socorro. Pelo menos, ela parecia


precisar de resgate e ele seria o único a socorrê-la. − Vou levá-la de
volta para a pousada.

− Eu vou levá-la. − Disse o loiro. − Nós somos velhos amigos.

~ 27 ~
Pegasus Lançamentos

Ela parecia dividida, o que intrigou Leidolf. Ela foi bastante óbvia
sobre não querer a companhia de Alex, mas por que estava relutante
em estar na dele, quando tudo o que fez foi oferecer ajuda?

O fato de Alex chamar-se de velho amigo incomodou bastante


Leidolf, embora ele não tivesse nenhum interesse especial, de uma
forma ou de outra, a respeito da relação dela com o homem.

− Cassie? − Leidolf seguiu em direção a porta. Ele ainda


pretendia perguntar sobre o lobo que ela viu, e o cara loiro não iria
atrapalhar.

− Alex, um dos homens de Sr. Wildhaven está cuidando dos dois


pneus murchos para mim. Nós precisamos ter um acerto de contas.

Sr. Wildhaven, era assim agora?

O rosto de Alex caiu. Leidolf quase sentiu alguma compaixão


pelo homem. Quase. Ele deu um sorriso para Cassie, mas ela
rapidamente desviou o olhar e as bochechas coraram levemente. O
sorriso dele se alargou. Ela estava envergonhada por recusar Alex,
alguém que ela conhecia, para passar mais tempo com um homem que
ela mal conhecia?

− Tenho certeza que um dos meus homens já arrumou seus


pneus. − Ele assegurou.

Leidolf esperava que Elgin garantisse que quem estivesse


consertando os pneus, não se apressasse e fizesse tudo muito
meticulosamente. Leidolf esperava que eles assumissem que a razão
para tal, era que a mulher falaria por um bom tempo e a palestra
demoraria a terminar e, com isso, os homens não precisariam se
apressar para concluir o conserto dos pneus.

~ 28 ~
Pegasus Lançamentos

Ele acompanhou Cassie para fora do prédio e pelos degraus. Era


hora de questioná-la ainda mais e esperar que ela não fosse tão evasiva
como antes.

Alex acenou para ela quando entrou em uma caminhonete preta


e esperou. Ela balançou a cabeça.

− Eu ouvi o que você disse lá atrás para ele. Alex está


perseguindo você? − Leidolf perguntou enquanto entrava no Hummer,
tentando manter a voz leve.

− Não, ele é apenas um admirador do meu trabalho.

− E ele seguiu você até aqui desde...?

− Ele também é biólogo de lobos da Califórnia. − Ela finalmente


disse com um bufo.

Inferno. Esse cara também viu um dos membros da alcateia de


Leidolf em sua pele de lobo?

− Então vocês trabalham juntos?

− Não. − Ela balançou a cabeça para enfatizar o ponto. − Mas ele


quer.

Por alguma razão insana, Leidolf ficou feliz que ela não quisesse
trabalhar com o cara, e não gostava que Alex ignorasse os desejos de
Cassie.

Quando Leidolf e Cassie chegaram à Pousada Cranberry Top,


encontraram um macaco suspendendo a caminhonete dela no lado do
passageiro e o estepe arruinado havia desaparecido. Cassie fez uma
careta. Leidolf rapidamente escondeu seu alívio e pegou o celular.

~ 29 ~
Pegasus Lançamentos

− Vou saber quanto tempo isso vai levar. − Ele mandou uma
mensagem para Elgin, mencionando que se o conserto dos pneus da
doutora demorasse um pouco, ele teria tempo para questioná-la sobre
um assunto urgente.

A resposta de Elgin foi imediata.

− Sem pressa. Sete carros à frente do dela. Boa sorte.

De jeito algum teria esta quantidade de veículos esperando para


ser consertados na frente do dela a esta hora da noite, e, além disso, os
seus homens teriam prioridade, considerando o quanto de negócios
foram feitos entre os membros da alcateia e a oficina de reparos de
automóveis. Elgin ajudava como de costume.

Leidolf desligou o celular, soltou a respiração como se


lamentasse a notícia, e então virou para falar com Cassie. Ela estava
olhando para ele, os olhos grandes e expressivos.

− Eu sinto muito em dizer que sete veículos estão na sua frente


− ele revestiu perfeitamente as suas palavras com desculpas.

Instantaneamente, ela estreitou os olhos.

Ele estendeu as mãos.

− Meu funcionário vai avisar assim que os pneus estiverem


consertados. Você gostaria de tomar uma xícara de café?

Cassie sentou-se rigidamente contra o banco de novo,


encostando-se na porta, o mais longe dele possível.

~ 30 ~
Pegasus Lançamentos

− Chá quente? Jantar? − De repente ele acrescentou. – Pensando


bem, lembrei que ainda não comi nada até agora. Conheço um ótimo
restaurante italiano, se você gosta de massas e afins.

Os lábios dela se separaram, mas então os fechou, e franziram


novamente. Ela inclinou o queixo para cima e parecia ainda mais brava
do que antes, se isso fosse possível.

− Você pode me levar até a oficina?

− Perdão?

− A oficina. Para onde o seu funcionário levou os meus pneus


para serem consertados. Talvez eu possa fazer com que o responsável
possa acelerar as coisas. Estou com um cronograma apertado e preciso
ir embora... − Ela hesitou.

Ele ergueu as sobrancelhas.

− Certamente você não planeja dirigir esta noite. O Cranberry


Top certamente vai acomodá-la para uma noite, por causa do atraso da
palestra. − Por um lado, ele suspeitava que ela estava testando seu blefe
sobre a oficina. Ele não sabia o que o entregou. Por outro lado, sabia
que ela tinha outra noite reservada na pousada e que tampouco o
queria verificando a sua história ainda mais.

− Jantar? − Ele perguntou.

− Fast-food. – Ela fez um fofo franzido de testa e cruzou os


braços sobre a cintura.

Ele reprimiu uma risada, amando o jeito tão gracioso que ela se
rendeu. Ele não lhe contaria que a pequena cidade não tinha nenhuma
lanchonete de fast-food a qual ele estivesse disposto a levá-la. E decidiu

~ 31 ~
Pegasus Lançamentos

que o restaurante italiano não seria tão bom como o Forest Club, onde
as mesas ficavam embaixo de falsas árvores, cobertas de ranhuras e
cascas falsas, que pareciam tão reais quanto as árvores dos bosques
que rodeavam sua fazenda.

O “céu” do lugar era de veludo preto, polvilhado de várias


brilhantes luzinhas brancas, e o som de música dançante ao vivo criava
um ritmo ideal para danças sensuais em uma noite fria. O único
problema de verdade era que os donos do lugar eram um dos casais
acasalados de sua alcateia, e muitos dos membros também
frequentavam o local.

Ainda assim, era o lugar perfeito para questionar a doutora


sobre a visão que ela teve do lobo. Uma boa mesa situada na floresta
escura, troncos enormes os escondendo da maioria dos outros
fregueses. E ela provavelmente nunca viu algo tão extraordinário.

Ele a levou para o local que ficava a cerca de um quilômetro de


distância, e quando chegaram ao prédio onde as árvores gigantes se
elevavam sobre o estacionamento de cascalho em intervalos irregulares,
como uma floresta, ela franziu a testa para ele. Ele pensou que ela
ficaria feliz por causa do tipo de trabalho que ela fazia. Ou talvez ela
somente ensinasse e realmente não tivesse vivido entre os lobos como
ele pensava.

Ela abriu a porta e ele correu para fora do veículo para alcançá-
la antes que ela fechasse a porta do passageiro.

− Não é um restaurante fast-food. – Ela disse, com naturalidade.

− Nenhum deles é muito atraente por aqui. Achei que você


poderia desfrutar de algo meio incomum. Já que é uma bióloga de lobos
e tudo mais.

~ 32 ~
Pegasus Lançamentos

Ele chegou por trás dela e, com um leve toque nas costas, guiou-
a para o prédio, que parecia a casa de um hobbit, com um telhado de
palha de apelo singular. As telhas de carbono por baixo da palha
protegiam os ocupantes durante as chuvas frequentes e de uma
tempestade de neve ocasional.

Cassie não estava sorrindo, e ela diminuiu o passo quanto mais


perto chegavam da entrada, enquanto caminhavam por um caminho
coberto pelas folhas caídas dos pinheiros, como se estivessem
passeando por um pinheiral. Ele estendeu a mão para a porta, mas um
de seus homens a puxou, saindo de lá com sua companheira. Assim
que viram Leidolf com Cassie, o homem e sua companheira sorriram na
direção de Leidolf e Cassie e os seguiram para dentro.

Leidolf suspirou. Ele deveria ter percebido que não importava


aonde ele levasse a atraente ruiva, seu povo ficaria curioso quanto ao
que poderia ocorrer. Percebeu que eles não o conheciam tão bem para
entender que, exceto por um caso de uma noite ou duas com uma
humana disposta, ele nunca assumiria uma como sua companheira.

Cassie, de repente, se encolheu para longe de Leidolf e até


gemeu. Ele olhou para ela.

− Você está bem?

Ela parecia um pouco pálida.

− Cassie?

~ 33 ~
Pegasus Lançamentos

O que mais poderia dar errado naquela noite? Cassie não queria
nem formular essa pergunta na cabeça, com medo de receber uma
resposta que não gostaria. O Forest Club era um dos restaurantes mais
interessantes que ela já frequentou desde há muito e se não estivesse
preocupada com a possibilidade de Leidolf e seu povo descobrir o que
ela era, teria adorado.

O problema era que o lugar estava cheio da espécie dele... Bem,


da sua espécie. Ela tomou uma respiração profunda e encorajadora.
Ok, ela poderia fazer isso. Ela estava acostumada a fingir para os seus
colegas que ela era apenas uma humana, bióloga de lobos. Ela podia
fingir que era uma humana bióloga de lobos para esta multidão de
lobisomens. Contanto que o spray de caçador funcionasse. Ou que ela
não se delatasse de alguma maneira.

Leidolf a guiou até uma mesa isolada que formava seu próprio
refúgio na floresta. As outras mesas nas proximidades estavam vazias.

Ela poderia fazer isso.

Felizmente, Leidolf a acompanhou até um lado da mesa, em


seguida, sentou-se em frente a ela, como um perfeito cavalheiro. Ela
supôs que ele estava procurando um pouco de diversão noturna. Ele
não deveria ser acasalado.

− Gostou daqui? − Ele entregou um cardápio que já estava sobre


a mesa, encostado contra um tronco de árvore.

Ela finalmente deu um sorriso genuíno.

− Sim, obrigada. Amei. Sinto-me em casa. Exceto pela música. −


Ela fez um gesto na direção da banda.

~ 34 ~
Pegasus Lançamentos

Ele abriu um largo sorriso de volta, parecendo aliviado por ela


ter mudado de ânimo.

− Talvez você gostasse de dançar mais tarde.

− Hmm, não. Obrigada. Não danço. − Ela rapidamente olhou


para o cardápio e lutou contra o rubor que subia para suas bochechas.

− Nunca? − Ele parecia desapontado.

Ela deu um sorriso rápido destinado a apaziguar, mas


totalmente falso.

− Nunca, desculpe.

− Eu posso ensinar...

− Não.

Ele a observou. Ela não precisava olhar para cima para saber
que ele a estava estudando, tentando entendê-la.

− Você não é uma fanática religiosa, sem bebida, sem dança, não
é?

Ela sorriu, só que desta vez era para valer.

− Não. Eu quero a... − Ela franziu o cenho enquanto estudava o


cardápio. − Floresta Especial de Ouriços do Mar.

− Um prato de vegetariano.

Ela assentiu com a cabeça.

− A carne vermelha não é boa para a saúde, você sabe.

~ 35 ~
Pegasus Lançamentos

Ela imaginou que isso iria despistá-lo se ele tivesse alguma


suspeita de que ela era uma loba, mas estava morrendo de vontade de
acrescentar um frango ou um filé para dar mais sustância. Um pouco
de carne daria mais energia para se sustentar por um tempo maior. E
ela precisaria para sua caminhada pela mata, logo mais à noite, assim
que ela pudesse ter sua caminhonete em ordem para viajar.

− Eu vou querer o filé assado. − Ele fechou o cardápio e fez sinal


a um dos garçons, que se apressou em trazer copos de água.

O homem havia ficado afastado, tentando dar privacidade,


Cassie o viu tentando não ser notado, mas muitas vezes olhando na
direção deles. Provavelmente, todos os membros da alcateia de Leidolf
estavam morrendo de curiosidade para saber aonde isso levaria. O que
provavelmente significava que Leidolf era o líder da alcateia. Ótimo.
Simplesmente maravilhoso.

De repente, Alex surgiu, ele a viu na pequena parte oculta da


floresta, sorriu e se dirigiu para uma das mesas vazias em frente à
deles. Ela se perguntou como ele a encontrou agora. Provavelmente os
seguiu à distância.

O garçom olhou na direção de Alex. Depois que Leidolf fez o


pedido deles, lançou ao garçom um olhar, apontou a cabeça para Alex,
e, em seguida, deu um aceno sutil para o garçom.

Ela sabia o que significava. Alex estava invadindo o território de


Leidolf. Mesmo que Leidolf só quisesse estar com ela por uma noite, não
estava disposto a deixar Alex interferir.

O garçom sorriu para Cassie de um jeito conhecedor e, em


seguida, correu para falar com Alex.

~ 36 ~
Pegasus Lançamentos

Ele falou baixo, mas com sua audição aguçada de loba, ouviu-o
dizer:

− Sinto muito, senhor. Estas duas mesas estão reservadas. E o


resto do lugar foi reservado até o fechamento. Talvez o senhor preferisse
fazer reserva para jantar aqui numa outra noite.

Leidolf não precisou fazer reservas. E ela previu que ninguém


iria se sentar nas mesas em frente a eles, enquanto ela e Leidolf
permanecessem ali naquela noite.

Leidolf abriu a carta de vinhos.

− Quer uma taça de vinho?

− Uh, não, obrigada. – Ela, com certeza, não precisava beber


antes de começar sua longa caminhada esta noite, tentando perseguir o
lobo.

Ele fechou o cardápio.

− Tudo bem. Então, onde você viu o lobo?

Leidolf não conseguia decifrar as mensagens confusas de Cassie.


Um minuto, parecia resignada, como quando ela concordou em jantar
com ele. Ela ficou arisca novamente quando entrou no restaurante e,
em seguida, ficou em pânico quando ele mencionou o lobo. Ele tinha

~ 37 ~
Pegasus Lançamentos

certeza que ela viu um, portanto. Mas onde? E foi um dos seus lobos
vermelhos? Ou era um normal, velho lobo cinzento, nada para se
preocupar?

Ele esperou que ela respondesse a sua pergunta. Onde ela havia
visto o lobo? Ela hesitava, tomou um gole de água e olhou para o
garçom, George, quando ele trouxe as refeições. Ela sorriu para ele e
colocou o guardanapo no colo, ignorando totalmente a pergunta de
Leidolf.

Após George servir a comida, perguntou se eles precisavam de


mais alguma coisa e se retirou. Cassie olhou para o filé de Leidolf. Se
ele não pensasse que ela era vegetariana, por causa do prato que havia
pedido e do seu comentário sobre a carne vermelha não ser boa para a
saúde, ele teria jurado que ela queria um pouco do seu assado.

Ele cortou uma parte, deslizou o pedaço no prato dela, e sorriu.

− Não vai matá-la. Prometo.

Seu olhar saiu dele para a carne novamente, e ela começou a


sacudir a cabeça em recusa, mas ele insistiu. Ela queria. Provavelmente
estava preocupada com a silhueta. Ela não tinha nada com o que se
preocupar com respeito a esse quesito, pelo que ele pode observar.

− Vá em frente, Cassie.

Ela olhou para ele.

− Você disse que não tinha comido e que estava com fome.

− Passe pra cá um pouco da sua comida de coelho. Nós podemos


compartilhar. − Ele riu.

~ 38 ~
Pegasus Lançamentos

Ainda assim, ela hesitou.

Ele olhou os cogumelos refogados em molho picante com


espinafre e brócolis, cenouras e batatas.

− Parece muito melhor do que a boa e velha batata assada.

Ela torceu a boca um pouco e considerou o filé novamente.

− Você tem certeza?

− Certamente. Nós sempre podemos pedir mais, se tivermos


vontade.

Ele não sabia por que isso o agradou tanto, mas queria que ela
gostasse daquele lugar, tanto quanto ele gostava. Queria que ela
gostasse da sua comida tanto quanto ele gostava, e desejava de verdade
que ela dançasse com ele. Talvez para compensar a forma como alguns
bastardos lhe deram problemas na forma de dois pneus furados, ou a
maneira como o Sr. Hollis a interrompeu enquanto ela falava sobre os
lobos. Ou o incômodo que ela sentiu por Alex segui-la. Talvez tivesse a
ver com o fato dela realmente amar os lobos.

Ela parecia gostar do filé, quase tanto quanto ele gostava de


observá-la saboreando cada mordida da carne. Como se fosse a
primeira boa refeição em séculos e fosse a última por mais um longo
tempo.

− Tem certeza que você não quer uma taça de vinho? – Ele
perguntou.

Ela balançou a cabeça negativamente e suspirou


profundamente.

~ 39 ~
Pegasus Lançamentos

− Obrigada por me trazer aqui. Eu nunca vou esquecer.

Ele poderia afirmar que ela queria dizer aquilo, mas uma
pontinha de arrependimento apareceu em sua fala. O que o fez
esperançoso que quisesse ficar com ele por mais tempo. Jantar, bebidas
e, em seguida, um encontro íntimo com uma mulher humana era o
método dele, quando sentia necessidade e encontrava uma mulher que
desejava o mesmo tanto quanto ele. Só que ele não sentia tal
necessidade desde que assumiu a alcateia há vários meses. Não com
nenhuma outra mulher.

Ele realmente queria estar com Cassie esta noite, embora


sentisse que ela o estava afastando novamente. Desde que ela era
humana e ele não poderia desenvolver um relacionamento duradouro
com ela, não deveria ficar incomodado que ela fosse embora tão cedo,
mas, estranhamente, ele ficou.

− Você disse que já dormiu com lobos. Será que isso não poderia
domesticá-los um pouco? Pensei que biólogos de lobos não interagissem
muito com os animais que eles estudavam, com medo deles não terem
mais medo do homem. O que poderia colocá-los em um mundo de dor,
caso caçadores os encontrassem.

Ela encolheu os ombros.

− Nós os estudamos para ajudar na educação das pessoas sobre


a verdadeira natureza dos lobos. Eles são cautelosos com os humanos
até o momento em que algum de nós os ensina a não ter mais medo.

Leidolf ergueu as sobrancelhas.

− Entendi. Eu estava curioso sobre você chamar os lobos. Nunca


ouvi falar de alguém uivando para que um lobo o entendesse. − Um

~ 40 ~
Pegasus Lançamentos

humano, de qualquer maneira. Ele jamais conheceu um especialista em


lobo antes, então o que ela fazia era ainda um mistério a parte.

− Isso é compreensível, já que você é um fazendeiro e eu duvido


que você corra por aí com uma alcateia. − Ela quase parecia sorrir com
a menção.

Quase.

Ele se recostou na cadeira e sorriu para ela. Se ela soubesse...

− Eu adoraria ouvi-la uivar. Você deveria ter feito para os


adolescentes. Eles teriam ficado loucos.

− Eu normalmente não demonstro para o público humano.


Realmente não acho que o Sr. Hollis teria gostado. Não acredito que
alguns dos outros homens na plateia teriam, também. Se você quiser
experimentar uma coisa dessas, há passeios com gente uivando para
pessoas no International Wolf Center1 perto de Ely, Minnesota. Ou uma
excursão com lobos no Wolf Haven International2, onde eles pegam
lobos nascidos em cativeiro, ou no Wolf Park, onde eles têm programas
de uivos noturnos.

− Realmente isso existe? – Ele estava surpreso. – Então eu


imagino que você já esteve lá.

− Claro. Lobos em todo e qualquer lugar me interessam. − Ela


apontou para as mesas arborizadas. − Você e eu estamos em um

1 A Wolf Center Internacional é uma das organizações mais importantes do

mundo dedicados a educar as pessoas sobre os lobos.

2 A Wolf Haven Internacional é uma organização sem fins lucrativos, com sede em

Tenino no estado de Washington, que atua na reabilitação de animais e sua


sobrevivência sustentável, sobretudo, focando nos lobos.

~ 41 ~
Pegasus Lançamentos

restaurante com gente civilizada. Tenho certeza de que ninguém


gostaria que eu, de repente, soltasse um uivo.

Ele apontou para a floresta em torno deles.

− Nós estamos na floresta.

− E se eu atrair um bando de lobos? − Ela ergueu o copo de


água, e os lábios curvaram-se ligeiramente.

− Vou assegurar-lhes que você está comigo. – Ele disse sorrindo.

A mesma expressão divertida iluminou os olhos dela,


arrebatadores, misteriosos, como olhar para duas janelas verde escuro,
e um toque de algo a mais.

Ela balançou a cabeça.

− Tenho certeza que a gerência não iria gostar.

− Sou amigo da gerência.

Desta vez, ela abriu um largo sorriso.

− Vamos. Apenas uma vez. − Ele realmente não acreditava que


ela conseguisse um bom uivo, por ser humana; Embora sua própria
espécie fosse capaz de fazê-lo. Ele estava curioso para saber como ela
soaria.

− Tudo bem. Se nós formos expulsos daqui, lembre-se que eu


avisei.

Ela respirou fundo duas vezes, segurou o fôlego, pôs as mãos


sobre a boca, e inclinou o rosto para o teto de veludo preto que imitava

~ 42 ~
Pegasus Lançamentos

o céu noturno. Ela soltou o uivo, elevando o tom e, lentamente,


diminuindo em cadência perfeita, assim como um lobo faria.

E ela era linda.

Quatro da espécie dele passaram, olharam para eles, sorriram e


continuaram seu caminho.

− Acho que não há nenhum lobo por aqui. – Ela sorriu.

Claro, exceto aqueles que acabaram de inspecioná-los, talvez


eles pensassem agora que ela fosse uma lobisomem e não uma
humana. Inferno, metade do seu povo estava aqui nesta noite,
provavelmente, estavam morrendo de vontade de saber quem era ela,
mas estavam cautelosos, não querendo irritá-lo.

− Muito bom o uivo. Imagino que você possa reunir uma alcateia
inteira.

− Eu uivo muito bem. – Ela se vangloriou.

Quando ela estava falando sobre os lobos, parecia ficar à


vontade. Ele estava curioso sobre o que ela fazia em seu tempo livre,
além de estudar lobos. Ele a imaginou colecionando lobos de pelúcia e
pinturas deles. Talvez ela tivesse até algumas estátuas enchendo de
poeira na casa dela.

− Você tem algum hobby?

Ela fez uma pausa e tomou um gole de chá, olhou para ele
pensativamente, e então disse:

− Não, não realmente. Estou muito ocupada com o meu


trabalho. E você?

~ 43 ~
Pegasus Lançamentos

Ela parecia um pouco triste, e ele percebeu que sua situação


espelhava a dela.

Ele deu de ombros.

− A pecuária tende a tomar muito do meu tempo. − E perseguir


jovens lobisomens recém-transfomados e rebeldes, além de tentar
recuperar uma alcateia marcada pela liderança passada. O que se
relacionava ao fato de se interessar por Cassie. Ele estava sempre tão
ocupado cuidando dos outros, que não tinha muito tempo para atender
suas próprias necessidades. E, pela primeira vez em eras, realmente
queria desfrutar da companhia de uma mulher.

− Tem certeza que você não quer dançar? − Ele persuadiu. −


Uma rapidinha? − ele quase disse que ela gastaria algumas das calorias
extras que ela acabou de ingerir, imaginando que iria convencê-la, mas
depois decidiu que poderia não ser uma boa ideia. Ele se levantou da
cadeira e estendeu a mão.

Ela olhou para a mão e para os seus olhos. Ela não estava
dizendo não. Ela estava pensando.

− Apenas uma. Prometo. Você escolhe a música. Podemos sentar


perto da pista de dança e beber uma água, e quando você entrar no
clima...

− Meus pneus provavelmente já estão arrumados agora.

Ele notou que ela não usava relógio. Na verdade, ela não
encobria a sua beleza natural, com joias e enfeites de qualquer tipo.
Sem brincos, sem pulseira ou qualquer coisa, o que lembrava a sua
própria espécie.

~ 44 ~
Pegasus Lançamentos

− Tenho certeza de que eles estão. Uma dança, e eu vou levá-la


de volta para a pousada.

Ele não acreditava em quão desesperado soou. Ele via nos olhos
dela que o desejo estava lá e, ainda assim, o medo também. Não dele
exatamente ou então ela não estaria considerando dançar com ele.
Talvez tivesse medo de se soltar. Ele não estava certo.

− Vamos lá! − Ele pegou na mão dela e a puxou suavemente da


cadeira. − Apenas uma dança.

O coração dela batia forte. Assim como o dele, como se ambos


estivessem se preparando para sincronizar o ritmo de seus sangues com
a batida da música. Quando ele a acompanhou para o bar e depois para
a pista de dança, as conversas nas mesas, onde alguns do seu povo
estavam sentados, cessaram e olhares passaram a segui-los, enquanto
pequenos sorrisos acompanhavam as expressões. Ninguém falaria na
sua frente até quando voltasse para a fazenda, mas ele ouvia o zumbido
nas suas costas agora. Leidolf havia encontrado uma beleza ruiva para
fazer dela sua companheira.

Não nesta vida. Não, com todas as dificuldades que ele teria de
lidar com os lobisomens recém-transformados. Ou talvez eles só
estivessem contentes de vê-lo, finalmente, viver um pouco.

− Apenas uma dança. − Ela disse. − E então eu tenho que ir.

− Apenas uma dança. − Ele concordou, um pouco ansioso, e


esperava que pudesse continuar dançando até o clube fechar às três da
manhã.

~ 45 ~
Pegasus Lançamentos

Todas as mesas de bebidas perto da pista de dança estavam


cheias e o borrifo das luzes de discoteca acima deles fazia parecer como
se um arco-íris de luzes de fadas estivesse iluminando uma floresta.

Um dos casais sentados próximo a eles rapidamente desocupou


a mesa, sorrindo para ele e para Cassie. Ela não olhou para eles, como
se estivesse com vergonha de se divertir com um perfeito desconhecido.
No entanto, quando ele fez um gesto para George trazer água e o
garçom se apressou a encontrá-los, Cassie continuou andando em
direção à pista de dança.

− Duas águas. − Leidolf pediu para George, esperando que


Cassie não tivesse planejado dançar apenas uma música que já estava
na metade, quando ele correu atrás dela.

O líder da banda deu a Leidolf uma piscadela conhecedora, que


sorriu de volta e, em seguida, pegou a mão de Cassie e a puxou
suavemente em seus braços. Ela dançou como uma fada, os saltos
deslizando pelo chão com facilidade, nunca hesitando, sempre no ritmo,
seu corpo macio, leve e gracioso. Por que ela resistiu tanto para dançar?
Ela era uma excelente dançarina, e ele poderia ficar dançando com ela
assim durante toda noite. Então, novamente, ele se perguntava como
ela dançava tão bem, se era tão ocupada observando lobos, e não tinha
tempo para muito mais.

A música tocava sem parar, e ele descansou a cabeça levemente


contra o topo da cabeça dela.

Ele observou as expressões divertidas nas caras das pessoas do


seu povo, olhou para a banda já que eles não haviam terminado a
música quando deveriam, e os sorrisos das outras pessoas que
dançavam o agradaram.

~ 46 ~
Pegasus Lançamentos

− Hmmm − Cassie murmurou enquanto descansava a cabeça


contra o peito de Leidolf. – A banda esqueceu de terminar a musica. −
Ela parecia perfeitamente satisfeita, no entanto, em continuar a dançar,
e nem um pouco surpresa.

E, então, a banda finalmente terminou a música. Ele esperava


que ela se afastasse para dizer que queria voltar para a pousada, mas,
em vez disso, a banda começou rapidamente outra batida lenta e ela
não fez nenhum movimento para sair da pista de dança. Apenas se
agarrou suavemente a ele, como se não houvesse amanhã.

Ele nunca esteve com uma mulher com a qual se sentisse tão
bem. Até que ela encerrasse a noite, ele deveria ficar contente em ter
dançado com ela o quanto pudesse. Em vez disso, ele já estava tentando
descobrir como conseguir que ela ficasse com ele o resto da noite.
Talvez fosse seu honesto e simples amor aos lobos que o fez gostar de
estar com ela assim. Ele não tinha certeza. Tudo o que sabia era que ele
não queria deixá-la ir. Não tão cedo.

E inferno, ele ainda não conseguiu que ela contasse sobre o lobo
que havia visto!

Cassie sabia que era melhor não dançar com Leidolf. Era
esperta, então, por que estava disposta a correr o risco de ser
descoberta? Se ele descobrisse o porquê dela estar realmente ali, o que
pretendia fazer, e que era um deles, não permitiria isso, caso fosse
realmente o líder da alcateia.

~ 47 ~
Pegasus Lançamentos

E a maneira como todos fanaticamente os assistiam na pista de


dança, a forma como sorriam e pareciam esperançosos, ele tinha que
ser o líder e precisava de uma companheira.

Deus, ele era gostoso. Sem mencionar que o cheiro dele era
delicioso, ar fresco da primavera, masculino, o corpo quente e forte. E
ele a fazia se sentir feminina e desejada. Ela não dançava com um de
sua espécie há um bom tempo, e nunca assim. Ela não esperava por
isso, não a sua gentileza. Provavelmente, pensou que como humana ela
poderia quebrar. Especialmente por estar tão nervosa quanto ela
estava, quando chegaram ali em primeiro lugar.

Dançar com ele parecia certo, mas ela sabia que era um grande
erro.

Ignorando a vozinha que dizia para agradecer, voltar para o seu


lugar e dizer adeus, ela continuou a dançar com ele. Canção após
canção.

A banda foi bastante gentil em não fazer uma pausa entre as


músicas e continuaram tocando, enquanto eles dançavam. Ela poderia
ter dançado até o sol nascer e pensou que se Leidolf pedisse, o clube
teria ficado aberto até então.

Apesar de tentar bloquear o sentimento, no fundo, ela percebeu


que uma parte dela não estava aproveitando a vida por causa de sua
obsessão com a pesquisa dos lobos e as palestras sobre eles. Era mais
fácil, de algum modo, trabalhar o tempo todo do que lidar com o seu
passado.

Mesmo assim, ela sabia que isso tinha que acabar. Ela
finalmente levantou a cabeça e com uma falsa voz de sono disse:

~ 48 ~
Pegasus Lançamentos

− Eles provavelmente já estão prontos para fechar, você não


acha?

Eram três e quinze, ela notou que ninguém foi embora, todos
querendo agradar o líder, provavelmente, eles estavam morrendo de
vontade de dizer ao resto da alcateia que ele esteve com a ruiva bióloga
de lobos durante toda a noite.

− Talvez mais meia hora. – Leidolf pediu.

Ela sorriu e beijou sua bochecha. Ele devolveu o sorriso e baixou


a cabeça para beijar seus lábios, mas ela rapidamente se afastou e
pegou sua mão.

− Todos precisam ir para casa. Eu preciso dormir. Meus pneus


têm que estar arrumados agora.

Ela jurou que o ouviu gemer, mas o pegou inclinando a cabeça


ligeiramente para a banda e para alguns de seu povo enquanto eles
saíam da pista de dança.

− Obrigada por me convidar para dançar. – Ela agradeceu em


voz baixa.

− Eu pensei que você não soubesse dançar. − Ele a puxou


debaixo do braço e a segurou perto enquanto caminhavam para fora,
para o ar frio.

− Só não queria dançar. − Mais do que isso, ela não queria que
ninguém como Leidolf a desviasse do trabalho de sua vida, embora ele
tivesse mais efeito sobre ela do que gostaria de admitir.

Ele lhe deu um leve aperto.

~ 49 ~
Pegasus Lançamentos

− Fico feliz que você mudou de ideia.

Ela poderia dizer pelo tom de voz rouco, que ele estava mais do
que feliz. Agora vinha a parte difícil. Dormir na pousada não fazia parte
do plano. Havia planejado ir direto onde viu o lobo, estacionar a
caminhonete, e procurá-lo. Como iria se livrar de Leidolf quando ele a
levasse para lá, sem dar pistas do que pretendia fazer?

~ 50 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Três

Assim que Leidolf levou Cassie do Forest Club de volta para a


pousada, ele sabia que algo estava errado. Ela ficou em silêncio durante
todo o caminho, o que pode ser devido ao adiantado da hora, mas era
mais do que isso. Ela parecia apreensiva, mordendo o lábio inferior,
suspirando, concentrando-se na janela do passageiro. Pelo menos não
estava sentada rigidamente contra a porta como ela fez anteriormente.
Ele pensou que dividirem uma refeição e dançarem juntos a noite toda
a tivesse curado de qualquer temor que sentisse perto dele.

Ele realmente queria ficar o resto da noite com ela. E ele


esperava, pelo que parecia ser uma conexão entre eles, que ela gostaria
da mesma coisa. Em vez disso, ela estava se distanciando novamente.

− Aqui estamos nós, Cassie. – ele estacionou ao lado da


caminhonete dela.

Ela ergueu a cabeça, e ele percebeu que ela havia adormecido.


Então supôs que ela não era uma pessoa madrugadora e estava muito
cansada.

− Quer que eu a leve para dentro?

Ela bocejou e se espreguiçou, em seguida, puxou um cartão de


acesso para fora de sua mochila.

− Não. Obrigada por tudo, Leidolf. Quanto lhe devo?

~ 51 ~
Pegasus Lançamentos

Ele franziu a testa, sem compreender. Ele não tinha a intenção


que ela pagasse pela refeição no clube.

− Os pneus. − Ela deu um sorriso cansado.

− Nada. Eles não deveriam ter sido esvaziados, em primeiro


lugar. – Ele hesitou em abrir a porta, não querendo que ela fugisse para
a pousada. − Posso vê-la amanhã? Para o café da manhã antes de você
partir?

− Eu não tomo café da manhã, e nesse horário já estarei bem


longe. Se você me der um cartão de visitas e eu estiver na cidade
novamente, ligo para você.

Uma rejeição. Ele não deveria se importar. Ela era humana. Ele
não poderia ter qualquer tipo de compromisso de longo prazo com ela.
Mas isto o incomodava e ele não sabia por quê.

Talvez porque ele não estivera com uma mulher há muito tempo,
e ela parecia perfeita. Queria apenas passar o resto da noite com ela.

Ele notou que um de seus homens estava observando a


caminhonete ao longe, escondido no mato. Bom. Elgin deu a sua
palavra de que se certificaria que ninguém arruinaria os pneus
novamente, enquanto ela estivesse ali.

− Boa noite, Leidolf.

Ela parecia querer beijá-lo, o olhar se deslocou para a sua boca,


a língua pairava sobre os lábios, como se em antecipação, mas quando
ele se inclinou para beijá-la do jeito que realmente queria, ela abriu a
porta e se dirigiu para a pousada.

~ 52 ~
Pegasus Lançamentos

Observando-a se apressar até a calçada, ele sabia que deveria ir


embora. E deixá-la ir. Mesmo assim, ele poderia voltar dali a duas
horas, e tentar vê-la mais uma vez antes dela ir embora de vez. Talvez
ela mudasse de ideia e compartilhasse o café da manhã com ele, de
qualquer maneira.

Ele esfregou os pelos que nasciam no queixo. Inferno, precisava


dar-lhe o seu número, caso ela saísse antes que ele a visse de novo pela
manhã, apenas na hipótese dela voltar à região e querer visitá-lo. Ele
abriu a porta, fechou-a com força, e correu em direção à pousada,
dizendo a si mesmo que tinha a mais nobre das intenções. Mesmo que
ele estivesse morrendo de vontade de dar um beijo de boa noite na
megera, sem ser o doce e singelo beijo no rosto que ela havia lhe dado.
Na verdade, aquele simples sinal de afeto mexeu com ele mais uma vez.

Como um lobo numa caçada, ele acompanhou os passos dela


enquanto a porta da pousada se fechava atrás dela.

O coração de Cassie batia forte enquanto corria pelo corredor,


passando pela cozinha em direção á porta traseira que dava para o
jardim de ervas. Assim que chegou à cozinha, ouviu a porta da frente
ser aberta. Leidolf. Tinha de ser ele. Veio para dizer boa noite?
Esperando por um convite para ficar o resto da noite, talvez. Pelo
menos, ela pensou, ele queria um beijo. E ela lhe teria dado, se não
tivesse medo de que surgisse um problema mais profundo. Ela abriu a
porta da cozinha com um guincho, quase tendo um ataque do coração

~ 53 ~
Pegasus Lançamentos

quando percebeu que ele havia parado diante da porta do quarto dela e
a chamou em voz baixa.

− Cassie? Sou eu, Leidolf. − Ele não disse nada por um


momento. − Eu me esqueci de lhe dar o meu telefone.

Sentindo-se mal em deixá-lo sem resposta daquela forma, ela


saiu da pousada, fechou a porta, e deslizou para trás de alguns
arbustos caso ele ouvisse a porta rangendo e viesse investigar. Ele não
apareceu. No entanto, ela tinha um trabalho a fazer, e estar com Leidolf
ou qualquer outro lobisomem não iria ajudá-la a fazer o trabalho.

Ela esperou até que a porta da frente fosse fechada. Quando o


Hummer de Leidolf rugiu para a vida, ela permaneceu onde estava até
que ele partiu. Então ela correu em torno da sua caminhonete, abriu a
porta e atirou sua pasta lá. Ela mudaria as roupas refinadas quando
estacionasse na mata. Agora era a hora de encontrar o pequeno lobo
vermelho.

Assim que ela estava na estrada, percebeu que estava sendo


seguida. Encarou os faróis atrás dela. Certamente, Leidolf não a estava
observando e esperando que ela saísse escondida e depois a perseguido.

Ela considerou a altura dos faróis. Parecia uma caminhonete.


Bateu os polegares no volante. Alguém provavelmente estava vigiando
sua caminhonete para que ninguém mais estragasse seus pneus. Ou
isso, ou era Alex. Ela gemeu.

Sem nenhuma outra opção, ela dirigiu, por duas horas, fora do
seu caminho, em direção a Califórnia até que a caminhonete finalmente
desistisse. E depois de dirigir mais quinze minutos para garantir que
não a encontrasse novamente, voltou para o local da estrada onde ela
viu o lobo vermelho.

~ 54 ~
Pegasus Lançamentos

No acostamento que dava início a trilha, Cassie estacionou,


mudou de roupa, e dormiu por duas horas. Então pegou a mochila e
partiu para a mata, para localizar o lobo vermelho. Depois de três horas
de caminhada subindo e descendo as colinas e vales, e cruzar dois
riachos pedregosos, tinha certeza que estava se aproximando do lobo
esquivo.

Na perseguição do seu objetivo, ela escorregou na floresta


salpicada pela luz solar que se filtrava pelas árvores e dava uma
aparência fantasmagórica. As botas mal faziam som no chão acolchoado
pelos muitos anos de acúmulo de folhas férteis, o cheiro de terra
misturado com o dos abetos de Douglas da Floresta Nacional do Monte
Hood. Ela ergueu o nariz e cheirou o ar frio da primavera novamente,
tentando localizar o cheiro do lobo que ela havia sentido após segui-lo
até ali.

Era lobo ou um lobisomem?

Tinha que ser um lobo. Um lobisomem não estaria correndo em


sua pele peluda em plena luz do dia. Ou não deveria estar. A não ser
que estivesse em apuros. Então aquilo poderia dar um sentido
completamente diferente à situação.

Como bióloga de lobos, Cassie era naturalmente interessada em


apenas uma coisa, uma planície, um lobo e sua alcateia, de modo que
ela pudesse estudá-los para dissipar os mitos e lendas sobre os grandes
lobos maus, e ser paga para que pudesse continuar a dedicar sua vida a
causa deles. Engoliu um nó na garganta. Ela devia a sua espécie.

Os ombros começaram a pesar, ela mudou a mochila de lugar e


se agachou para observar o chão à procura de sinais das pegadas de
lobo. A água batendo em um dique a certa distância, através das
árvores, chamou sua atenção. Talvez o lobo houvesse deixado pegadas

~ 55 ~
Pegasus Lançamentos

sobre um banco de lama, quando fez uma pausa para beber por lá. A
menos que o banco fosse rochoso...

Cassie seguiu naquela direção para verificar.

O que pareciam passos leves sobre crocantes folhas secas,


chamou a sua atenção.

De repente, ela parou na área densamente arborizada, cheirou o


ar novamente, e escutou. Apenas a brisa acariciando as folhas e
agulhas dos pinheiros em torno dela, e escondidos na folhagem
espessa, pássaros cantando uns com os outros ou a estavam
repreendendo por estar muito perto de seus ninhos, os bebês piando
por outra refeição. No entanto, nas ultimas duas horas, ela se sentiu
como se alguém a estivesse seguindo, monitorando cada movimento
seu. Então, o que... Ou quem a estava seguindo?

Tomando uma grande respiração do ar gelado, ela não captou o


cheiro de alguém ou de outra coisa. Ou ela estava imaginando coisas,
ou o quer que fosse, sabia ficar contra a corrente de ar. Esperava que
não fosse Alex Wellington, tentando localizá-la novamente.

Deixando escapar um suspiro exasperado, ela pensou que nunca


iria convencê-lo de que trabalhava estritamente sozinha. E então
pensou em Leidolf e em sua alcateia. Ela ficou muito quieta, ouvindo,
mas não escutou mais nada. Isso era tudo o que ela precisava. Leidolf
ou um do seu povo a estava seguindo.

Ela afastou os ramos macios das agulhas da cicuta bloqueando


sua visão da fonte de água e... Engasgou.

Não da vista espetacular do lago azul escuro, ainda fechado aos


visitantes até maio, mas devido ao homem nu, em pé na água fria, com

~ 56 ~
Pegasus Lançamentos

a água na altura das coxas, de costas para ela enquanto olhava a


região.

Ela não via o que chamava a atenção dele, além da beleza e a


serenidade da vista. O impressionante Monte Hood, as montanhas
vulcânicas cobertas de neve à distância, o ponto principal de toda a
paisagem, tão proeminente que poderia ser vista de uma centena de
quilômetros de distância.

Bem, teria sido um aspecto proeminente se um homem nu não


estivesse parado no lago em frente à paisagem, despertando-lhe mais a
atenção do que a montanha.

Cabelo castanho enrolado sobre a nuca, mais curto do que ela


pensou que um homem recluso na montanha usaria. Sua parte traseira
era deleite para os olhos, as costas amplas e musculosas e a cintura
estreita e o bumbum tonificado que faria uma garota morrer para ter.

Pernas musculosas desapareciam na água que ondulava com a


leve brisa.

Ela cheirou o ar, mas não conseguiu sentir seu cheiro. Sendo
uma lobisomem, poderia sentir o humor de um indivíduo como
qualquer outro lobo, se ele estivesse com medo, agressivo, intimidado,
ou sexualmente excitado. Pela forma como o homem estava tão em paz,
presumiu que seu cheiro seria uma mistura de floresta, água, almíscar
e uma feliz serenidade.

Antes que ela pudesse virar e sair, ele mergulhou no lago com
uma pancada na água e, com um impulso poderoso, começou a nadar
no estilo livre. Fascinada, ela observou as atraentes braçadas e pernas
cortando a água, pensando como ele tolerava o frio. Inesperadamente,
ele mergulhou para baixo da superfície. Para sempre, ao que pareceu,

~ 57 ~
Pegasus Lançamentos

ela observou as águas azuis escuras, as nuvens em formação fazendo


com que elas parecessem mais escuras.

E nenhum sinal do homem. Ele permaneceu tanto tempo sob a


água que ela finalmente deu um passo a frente como se fosse resgatá-
lo, quando ele de repente se levantou como Poseidon, o deus grego do
mar, respirou fundo e mergulhou novamente. Ela meio que esperava
que ele estivesse empunhando um tridente, enquanto golfinhos
nadavam ao lado dele.

Congelada no lugar, ela continuou a observar aonde ele havia


desaparecido, quando ele de repente disparou novamente. Só que desta
vez, ele se dirigiu para a margem. Ela franziu a testa. Leidolf? Não tinha
certeza por causa da rapidez com que ele disparou para dentro e para
fora da água e a distância entre ela e a margem. Esperando-o
mergulhar de novo, ela não se moveu. Desta vez, ele permaneceu na
superfície e chutou vigorosamente com as pernas, os braços que se
dobravam na água, com a maior parte da cabeça submersa na água,
enquanto ele nadava em direção à costa e a uma pilha de roupas que
ela não havia notado antes.

Para seu alívio, o foco dele permaneceu na margem quando ele


virava a cabeça para respirar. Ela estava com medo de que, se voltasse
para a floresta, ele perceberia o movimento e, Deus não permitisse,
soubesse que ela era uma voyeur a espioná-lo. Não que espioná-lo a
incomodasse excessivamente. Se ele nadava nu em um parque, a culpa
era dele que ela o viu assim. Mesmo assim, não queria que a pegasse o
espionando. Especialmente, se o homem fosse realmente Leidolf.

Assim, o plano era que, tão logo ele se concentrasse em se vestir,


ela escaparia.

~ 58 ~
Pegasus Lançamentos

Ao chegar a águas rasas, ele se levantou, e ela engoliu em seco.


Ele parecia diferente nu e com o cabelo molhado. Mas, era Leidolf.

As pernas fortes cortavam através da água, ele nadou em direção


à costa. O lago ondulava em seu umbigo, gotículas de água projetavam-
se como pérolas translúcidas por toda sua pele dourada, os mamilos
como nítidos seixos. Lindo, poderoso, irresistível. Poseidon em carne e
osso, assim tão masculino e intrigante para as mulheres como o deus
que exercera seu poder sobre eles, assim como seu irmão, Zeus.

Pelo menos esse era o efeito que Leidolf exercia sobre ela. E ela
não era facilmente influenciável pela aparência dos homens. Dentro ou
fora de suas roupas.

Enquanto ele olhava em direção às roupas, ela deu um passo


atrás, para as sombras das cicutas, as agulhas macias escovando seus
braços. Sem ver aonde estava indo, ela pisou em um galho, partindo a
madeira morta em dois. Grande erro.

Com a audição sensível, ela pensou que soava como se o barulho


ecoasse por todo lago, alcançando ao longe o Monte Hood e até mesmo
Portland, à duas horas de distância. Com o coração acelerado, ela não
se mexeu, com medo de fazer qualquer outro barulho, esperando que
ele não tivesse ouvido.

Leidolf sacudiu a cabeça. Ela deveria saber que ele ouviria. Os


olhos verdes dele aumentaram quando a viu quase escondida entre as
cicutas. Rígida e imóvel como uma maldita coelha assustada, sem se
mover um centímetro, ela esperou para ver o que aconteceria em
seguida. Embora ela fosse tão predadora quanto sua espécie de lobo
era.

~ 59 ~
Pegasus Lançamentos

Exceto por um pequeno punhado de barba levemente


avermelhada, a face de Leidolf era a perfeição cinzelada que combinava
com o resto do seu corpo, o abdômen esculpido e braços musculosos
até seu torso e cintura estreita. Cachos de pelos ruivos emolduravam o
grande pênis, distraindo a sua leitura cuidadosa. As gotas de água
deslizavam provocativamente cada centímetro de sua pele, acariciando-
o com um toque delicado e sedoso.

Ela engoliu em seco e olhou para cima. Ele era a excelência


masculina. Pelo menos no departamento físico. E pensar que ela teve
aquele corpo colado ao dela durante metade da noite, dançando bem
devagar.

No início, sua expressão revelou surpresa ao vê-la ali, mas então


ele rapidamente transferiu sua atenção dela para as matas
circundantes, como se estivesse olhando para companheiros de
caminhada. Talvez pensando que ela estivesse com Alex ou outro
alguém. Sua postura relaxada transformou-se em rígida, ele enrolou os
dedos em punhos e apertou a mandíbula. A maneira como ele reagiu às
pressas indicava que estava à procura de perigo, buscando a garantia
que ela estava sozinha. Provavelmente, qualquer homem faria a mesma
coisa, caso ela estivesse com pessoas que poderiam causar problemas.
Especialmente quando ele estava nu, sem armas para se defender.

Aparentemente tranquilizado de que ninguém de natureza


ameaçadora estava nas imediações, ele voltou o olhar aquecido para ela
e dedicou toda a sua atenção.

− Você está perdida, Cassie? – A expressão dele ainda era séria,


enquanto erguia o queixo ligeiramente e inalava uma respiração
profunda, como qualquer lobisomem que se preze faria.

~ 60 ~
Pegasus Lançamentos

Em resposta a sua pergunta, ela balançou a cabeça, mas a


adrenalina já inundava sua corrente sanguínea e mandou seu coração a
um ritmo ainda mais frenético. Ela não sentiu o cheiro dele em sua
caminhada pela floresta, mas então ela provavelmente não cruzou com
seu rastro, e da forma como a brisa soprava, ele não conseguiu sentir o
cheiro dela também. Além disso, se ele nunca tivesse passado por esta
área como um lobo, ele não deixaria marcas do seu cheiro. Com o spray
de caçador que ela estava usando para que pudesse pegar o lobo sem
ser detectada, ele não sentiria o cheiro dela também.

− Pensei que você já tivesse voltado para a Califórnia. − Ele


parecia um pouco perturbado, mas disfarçou a expressão. − Só
caminhando, então? − Não soava como se achasse que ela estivesse
apenas caminhando. Deveria ter descoberto que estava a procura do
lobo que tinha sido visto por ela e que era do seu conhecimento.

Cassie não respondeu a pergunta, não querendo começar uma


conversa com ele e, certamente, não queria explicar o que fazia ali. Ela
achou que não faria mal oferecer um pedido de desculpas.

− Eu não tive a intenção de perturbar o seu isolamento.

Ela deu mais um passo para trás e esbarrou em um galho,


quase tendo um ataque cardíaco, até que constatou que era apenas um
galho mesmo, e não outro homem atrás dela, bloqueando seu caminho
de fuga. Por mais que quisesse se virar e ir embora, ela não conseguia,
não recuaria com o rabo entre as pernas e sairia correndo.

A expressão severa dele mudou para um olhar como se estivesse


um pouco irritado por ter invadida a sua privacidade, quando pensava
que ela havia deixado a cidade e que não a veria mais, para uma ligeira
curva acima dos lábios, os olhos verdes escurecendo, e as sobrancelhas
levantando e abaixando rapidamente, sinalizando tanto diversão como

~ 61 ~
Pegasus Lançamentos

interesse futuro. Pensando que talvez tivesse outra chance de ficar com
ela por mais tempo.

− Não tem problema. Fique e aprecie a vista. Vou só vestir a


minha roupa. − Ele mostrava a expressão mais diabolicamente
pecadora enquanto falava, enfatizando que era ele, e não o Monte Hood,
a visão que ela estava desfrutando.

Ela temia que ele tivesse um plano. Um que significava que ele
queria saber mais sobre o lobo que ela estava procurando. E caiu em si,
neste momento, que Leidolf devia estar preocupado por ela ter visto um
do povo dele.

− Obrigada, mas eu preciso seguir o meu caminho.

No entanto, apesar de advertir-se por isso, ela não estava de


verdade com nenhuma pressa em ir embora. Fazia tempo que não se
divertia tanto como havia se divertido com ele na noite anterior. Viver
com lobos de verdade certamente não era o mesmo. E rápidas
interações sexuais com machos humanos também não eram.

Deus, Leidolf era gostoso! E o corpo dela estava em chamas só


em examiná-lo. Ela deu mais um passo em torno dos galhos, ainda
recuando, o olhar dela segurando o dele. Ele não fez nenhum
movimento em sua direção, mas o seu olhar intensamente intrigado
dizia que queria. Assim, se ela fizesse um movimento brusco, se ela
corresse, ele iria caçá-la. Como um lobo instintivamente faria se algo, de
repente, corresse para longe dele.

Um lado obscuro da loba dela também o queria, desejava ser


saciada como ele parecia desejá-la, o que era mais do que ridículo.
Tinha que encontrar o lobo, localizar a alcateia e integrá-los. Brincar

~ 62 ~
Pegasus Lançamentos

com lobisomem, o tipo líder alfa, não pagaria suas contas e, mais
importante, não ajudaria os lobos.

− Você tem certeza? Que realmente quer ir embora? − Os lábios


dele se levantaram um pouco mais, presunçoso, arrogante.

− Eu tenho certeza. – Ela disse finalmente, mas sua hesitação


provou que não estava tão certa. Sua natureza lobisomem era o
problema, querendo dizer algo sobre o que deveria fazer e como ela
deveria se sentir. Apesar de tentar mantê-la em suspenso.

− Você está procurando um local para... Acampar durante a


noite? − Ele perguntou, a voz sombria, sedutoramente fascinante, e
muito mais atraente do que ela estava disposta a admitir.

Antes que ela pudesse controlar a si mesma, os lábios dela se


afastaram levemente, o olhar dele ficou fascinado com eles.

− Não. – Ela não soou tão severa quanto deveria. Pelo contrário,
soou muito indecisa. Como quando estava dividindo o filé com ele e
dançando também.

O brilho nos olhos dele disse que sabia que parte dela o
desejava.

Ele não fez um movimento em direção a ela, apesar de tudo.


Provavelmente pensou que poderia assustá-la. Talvez pensando como
ele a assustou na noite passada. Parecia que o estava matando ficar
onde estava e não avançar sobre ela, com as mãos ainda cerradas, os
músculos das coxas retesados. Como um lobisomem alfa, ele gostaria
de encurtar a distância entre eles, mover-se mais próximo e checá-la
ainda mais perto. Cheirá-la e tocá-la se ela permitisse, como um lobo
alfa inspecionaria a outro que ele quisesse fazer amizade ou afugentar.

~ 63 ~
Pegasus Lançamentos

O lado sensível dela estava tentando convencê-la a ir embora,


rapidamente, para fazer o trabalho que ela veio fazer. Mas a parte
perversamente curiosa dela foi acordada por ele...

− Há bastante água doce, peixes, trutas, salmão, embora sejam


um pouco esquivos, escondendo-se, difíceis de pegar. – Ele ofereceu.

− Obrigada, mas...

Ele acenou com o braço para o lago, a palma da mão para cima,
convidando-a para ficar e pescar.

− Lagostins são mais fáceis de encontrar. E a terra macia onde


se agachar é perfeita para qualquer coisa que você pensar em fazer,
além disso... Outras conveniências estão disponíveis.

− Você? − saiu de sua boca antes que ela pudesse parar a


palavra.

Ele estava muito confiante na sua maneira de falar, embora ela


imaginasse que a maioria das mulheres derretesse com uma sugestão
dessa, mais parecida com um convite para transar com ele. Mas, ela
sabia muito bem, nunca poderia se envolver com um lobisomem dessa
forma, a não ser que o quisesse como companheiro, então, não achava
que era um caso de excesso de confiança da parte dele, mas apenas o
jeito como as coisas eram quando ele estava interessado.

Ele riu, o tom de humor negro ondulando através dela como um


aviso de farol sobre um perigo delicioso. Ele inclinou a cabeça
ligeiramente para o lado e para ela como se dissesse sim, o que lhe
enviou outro frio enervante à espinha. Se fosse humano, ele poderia ter
dado a ela um sutil e cordial aceno de cabeça, mas seu gesto era a
declaração de um lobisomem alfa.

~ 64 ~
Pegasus Lançamentos

Ela não deveria lhe dar atenção e deixá-lo ali mesmo. Mas
Leidolf a intrigava como nenhum homem jamais havia feito. Não só isso,
mas ela realmente tinha um problema em recuar. Há muito tempo
atrás, ela havia aprendido que tomar essa postura poderia ser muito
traiçoeiro quando enfrentava um problema. Ela não precisava ser um
gênio para saber que Leidolf, definitivamente, era um problema.

Ela cruzou os braços e inclinou o queixo um pouco.

− O acampamento não está aberto ainda. E este não é para uso


noturno, mesmo se estivesse aberto. − Não que ela não quebrasse as
regras quando a situação justificava.

− Não me diga que você nunca aproveitou a natureza de uma


forma mais natural. – Ele desafiou.

Se ele soubesse!

− Eu não acredito em infringir a lei.

Ele ergueu as sobrancelhas.

− Eu também não. Algumas coisas não devem ser proibidas, no


entanto. − eEle suspirou. − Se você preferir ficar comigo em um lugar
mais privado, tenho uma cabana na floresta, não muito longe daqui.

Ela balançou a cabeça.

Sem qualquer indicação de que iria se mover, Leidolf de repente


correu em direção a margem, empurrando a água para os lados com as
pernas poderosas, como se as próprias águas se abrissem para ele,
assustando-a. Os músculos das pernas se moveram com fluidez,
enquanto primorosamente a barriga flexionava e a mandíbula cerrava,
todo o comportamento dele era determinado e focado. E depois? Ele deu

~ 65 ~
Pegasus Lançamentos

a ela um tipo suave e esfumaçado de piscadela cuja mensagem


significava que ela era dele. E isso ela sabia.

No entanto, Cassie estava congelada em sua indecisão. Como


explicaria o que estava fazendo ali, sem ele ir atrás dela, observando o
que fazia, quanto ela sabia, em parte ele estaria lá para proteger a sua
própria espécie. Além disso, tinha certeza que ele continuaria a tentar
persuadi-la a se render, e ter um encontro com ele. Pior ainda, ela não
confiava no modo como se sentia quando estava com ele. Mesmo
durante o dia, ela se repreendia por querer voltar a dançar com ele. No
entanto, ela havia se sentido tão bem, foi muito bom!

Ele saiu da água e caminhou em direção a sua roupa, e ela sabia


antes que ele se vestisse, que era agora ou nunca.

Então, tudo foi decidido por ela.

Ela sentiu o cheiro de lobo, e sua ética de trabalho apareceu de


volta.

Ela virou na direção que sentiu o lobo, tomou outra fungada, e


analisou o perfume. O lobo que Cassie estava perseguindo por tantas
horas, era uma fêmea de lobo vermelho!

Sem olhar para Leidolf, que inspiraria os maiores artistas do


mundo a eternizar seu corpo em mármore e que poderia colocá-la em
sérios problemas se flertasse com ele, ela saiu correndo para uma
caçada.

− Cassie! − Ele gritou, quase desesperado, mas ela ignorou a


vontade de desacelerar e esperar por ele.

A mochila batia contra suas costas enquanto ela deixava o lindo


lobisomem vermelho, para refletir ainda mais sobre a beleza do lago e o

~ 66 ~
Pegasus Lançamentos

seu entorno, na solidão. Embora agora ele não fosse pensar em outra
coisa, além do que ela estava fazendo ali. Esperava encontrar a loba e
sua alcateia antes que escurecesse, e que eles fossem o tipo de lobos
que ela pudesse escrever no seu artigo para uma revista sobre o
comportamento dos lobos. E também que Leidolf Wildhaven não a
localizasse antes que ela estivesse pronta.

Ela desejou que ele não fosse um lobisomem, apenas um homem


garanhão com quem ela poderia passar algum tempo em uma breve
busca do prazer.

O que Leidolf planejava, afinal? Levá-la em seus braços? Beijá-la


sem restrições?

Antes que ele soubesse o que ela era, é claro. Se ele fosse
humano, ela o imaginava segurando-a em seus abraços e a beijando
sem palavras.

Correndo pela floresta, seguindo o cheiro da fêmea o melhor que


podia, ela era incapaz de entender por que achou Leidolf tão
irresistivelmente atraente. Talvez sua gentileza na noite passada,
levando-a para a Câmara Municipal e arrumado seus pneus. Ou a
maneira como ele enfrentou o Sr. Hollis, que estava determinado a
intimidá-la ainda mais depois que ela terminou sua palestra.

Mas o que ela realmente amou foi o modo como Leidolf havia
compartilhado sua refeição com ela, quando percebeu que ela estava
morrendo de vontade de provar um pouco daquele suculento filé
assado. E dançando tão divinamente com ela, quando percebeu que ela
queria dançar, apesar de sua relutância inicial.

~ 67 ~
Pegasus Lançamentos

Ou era algo mais básico, o início da primavera, o renascimento


de flores e a época dos animais silvestres terem seus bebês. O impulso
natural de lobos para acasalar, procriar, de ter seus próprios filhos?

Ela percebeu, então, que havia gastado muito tempo com os


lobos normais, e não fez pausa suficiente para satisfazer uma
necessidade mais primitiva, rapidamente corrigida com uma rapidinha
com um tipo estritamente humano.

O coração batendo descontroladamente, o sentido da


perseguição se renovou, ela pegou o cheiro da fêmea vermelha vindo do
oeste e parou para pegar sua posição. E então, o instinto de caçar a
encheu de sangue, e ela correu novamente para achar a loba vermelha.

Sem a sua permissão expressa, seus pensamentos voltaram para


o lobisomem gostoso e nu que ela havia deixado ao lado da água gelada,
desejando apenas um pouquinho que ele a perseguisse e tentasse pegá-
la, assim como ela estava fazendo com a loba.

O que era simplesmente insano.

Então, quando ela pensou ter ouvido um estalo de galho por


perto, por que ela olhou por cima do ombro, pensando que Leidolf
estava vindo para ela? E esperando que fosse ver aquele brilho verde
malicioso nos olhos dele mais uma vez, e que dizia que ele a queria e se
ela estivesse disposta, ela seria dele. Imaginou o corpo poderoso dele,
ainda nu, correndo atrás dela, formidável como um lobo em fuga,
pronto para derrubá-la.

Numa tentativa de afastar as fantasias pecaminosas que só


iriam frustrar a sua missão se ela cedesse, correu ainda mais rápido
para longe da cena da tentação.

~ 68 ~
Pegasus Lançamentos

Surpreso como o inferno por Cassie ter aparecido ali no seu lago,
correr dele e o deixar para trás mais uma vez, Leidolf agarrou a calça e
começou a vesti-la enquanto estudava a floresta onde a sua ninfa da
floresta havia desaparecido.

Ele não foi capaz de acreditar quando um de seus homens


avisou que ela estava voltando para a Califórnia na noite passada, pois
ele presumiu que ela fosse passar a noite na pousada.

Pensando que ele estaria sozinho em seu isolamento durante o


dia, desfrutando do seu lago, seu refúgio na liderança da alcateia por
algumas horas, ponderando quanto Cassie o afetou na noite passada,
não esperava vê-la novamente. Nunca mais. Se ela estava de volta,
havia dormido em outro lugar, ou ela voltou assim que seu perseguidor
parou de segui-la?

E se era isto, ela viu o seu homem segui-la e esperou para


retornar depois que Carter desistisse e voltasse, ou ela apenas mudou
de ideia e voltou?

Se ela voltou ainda à noite e não parou para dormir em outro


lugar, ela estava na floresta durante o resto da noite? Inferno. E se
alguém da sua alcateia tivesse vindo para esta área usando a pele
peluda e ela o visse como lobisomem?

~ 69 ~
Pegasus Lançamentos

Ele esfregou a barba por fazer no queixo, incapaz de parar de


olhar as árvores de onde ela havia desaparecido, sentindo como se por
algum milagre, de repente, ela reapareceria. Ele sabia que ela vinha
lutando com a ideia de ficar com ele. Se algo não a tivesse provocado
para fugir dele, uma consciência pesada ou qualquer outra coisa, talvez
a necessidade de pegar o lobo, eles poderiam ter compartilhado algumas
horas de felicidade ou mais. E então ele poderia ter entendido seu
trabalho.

Ele puxou a camisa e respirou profundamente, mas a brisa


soprava no sentido errado, e ele não sentia o cheiro dela. Não pode
sentir se tinha havido uma pitada de medo em sua atitude ou não.
Embora ele pensasse que não. Mas, mais do que querer sentir o que ela
estava sentindo, ansiava por ela, o que era uma noção perigosa para
um lobisomem que desejava ter uma companheira e, pior ainda, estava
inclinado à noção desagradável de transformar um ser humano.

Rangendo os dentes, ele fez uma careta. Inferno, como ele


poderia pensar em fazer uma coisa dessas? Ele lidou o bastante com
lobisomens recém-transformados ultimamente, para saber o quão
problemático um poderia ser. E aqui estava ele, integrante da realeza,
com muito poucas raízes humanas em sua linhagem e cogitando fazer
algo que ia de encontro com o seus valores.

Então ele percebeu que não notou qualquer cheiro nela na


última noite, também. Nada que pudesse guiá-lo até onde ela estava, se
quisesse encontrá-la novamente.

Ela tinha que estar usando o spray de caçador. Claro, para que
ela pudesse seguir o lobo. Provavelmente, um dos membros do seu
povo. Ele resmungou interiormente.

~ 70 ~
Pegasus Lançamentos

Sentou-se em uma tora e calçou as meias e, em seguida, as


botas.

Os olhos verde-oliva dela observaram cada centímetro dele, não


importava que ele estivesse nu, talvez principalmente, porque estava
nu. Aquilo atiçou um fogo ardente dentro dele, apesar da água gelada.
Se ela olhasse para o seu corpo por mais tempo, ele tinha certeza de
que a água teria começado a ferver. No entanto, ela não ficou nem um
pouco envergonhada pela forma como o seu corpo reagiu ao seu
fascínio.

Então seus expressivos olhos o desafiaram, um líder alfa! Para


deixá-la sozinha, como se ela fosse orgulhosa demais para se tornar a
conquista de algum homem. No entanto, outro olhar mais fugaz cintilou
em seu rosto... Um olhar de desejo, como se tivesse acolhido o seu
interesse, tanto quanto ele desejava o dela em troca.

Ou era apenas uma ilusão da sua parte?

Ele balançou a cabeça. Se havia uma coisa em que ele era bom,
era em ler os sentimentos das pessoas.

Seus próprios sentimentos e os dos outros. Cassie Roux o


queria, mesmo que estivesse lutando contra si mesma para se divertir
um pouco. Como na noite anterior, quando haviam dançado.

Ele calçou as botas com pressa.

Para onde ela foi compelida com tanta pressa? Localizar o lobo
que havia visto. Tinha que ser.

Ele não gostava que ela estivesse fazendo isso, tão pouco
sozinha. Predadores na forma de ursos e pumas, sem mencionar um
caçador sem escrúpulos ou dois, poderiam fazer picadinho da mulher.

~ 71 ~
Pegasus Lançamentos

Inferno, se ela estivesse procurando por evidências de que seu


povo estava na mata, pensando que eles eram lobos, era dever dele
garantir que ela não encontrasse nada, nem ninguém que não devesse.
Ele se tornaria o guia dela, já que conhecia aquelas matas muito bem. E
se ela quisesse um lugar para ficar, sua cabana atravessando o riacho
era perfeita para fugir do tempo. Perfeita para um encontro. Ele poderia
até fazê-la esquecer tudo sobre os lobos da seita dos peludos.

No modo de caça, ele rumou na direção na qual Cassie saiu


correndo.

~ 72 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Quatro

Em sua forma de loba, Aimee Roux tentou acompanhar a


mulher que ela pensava ser sua prima, Cassie, um nome grego que
significa aquela que enlaça os homens. E sim, ali mesmo, seduzindo um
homem nu em um lago, estava Cassie, se fosse ela, atraindo o homem a
ir até ela. Sem nenhum esforço, ela estava fazendo um grande trabalho,
enganando-o.

Aimee a admirava e desejava que pudesse ser como ela.

Então, o que o nome de Aimee significava? Era amada em


francês. Amada uma ova. Todos os seus relacionamentos terminaram
em desastre. Porém, pior do que isso, ela jurava que estava sempre no
lugar errado na hora errada, quando as coisas ruins estavam por
acontecer.

Aimee teve que correr atrás de Cassie, ela precisava saber a


verdade. Aimee não estava somente focada em se manter longe do
caminho de dois assassinos. Agora, tinha um novo objetivo, descobrir
se a mulher era realmente Cassie.

A verdade, porém, poderia matar Cassie. Quando ela soubesse


que sua prima não havia morrido, mas causou a morte de seus
familiares. Aimee gemeu. Ela fez uma bagunça enorme com tudo.

O homem do lago chegou mais perto do seu esconderijo, e


quando ele passou correndo por ela, ela levantou o nariz como de

~ 73 ~
Pegasus Lançamentos

hábito e deu uma fungada em seu cheiro. Seu coração quase parou de
bater.

Ele cheirava a um lindo lobisomem excitado.

Ela planejava contornar a trilha dele para que pudesse alcançar


Cassie sem esbarrar nele, quando, de repente, ele parou e levantou o
nariz e cheirou o ar.

Uma onda gelada de reconhecimento caiu sobre ela. O homem


provavelmente capturou o cheiro dela. E se ele fosse membro da mesma
alcateia dos homens que pretendiam matá-la?

Um dos amigos deles?

Ela fugiu para a floresta longe dele e de Cassie, esperava como o


inferno que ele não a perseguisse porque ele com certeza a pegaria.

Leidolf tinha toda a intenção de chegar até Cassie, convencendo-


a a ficar com ele por mais algum tempo, e descobrir mais sobre o que
ela viu. Se ela pensava que estava seguindo um lobo, e fosse alguém da
sua alcateia, ele teria que convencê-la a ir embora antes que a situação
ficasse fora de controle. Quando chegou ao lugar onde ela saiu
correndo, parou e cheirou o ar para sentir o humor dela. Mas o que ele
sentiu o surpreendeu. Uma loba?

Ele cheirou o ar um pouco mais. A fragrância feminina de


excitação perfumava o ar também, mas não vinha da direção de onde
sua ninfa da floresta havia corrido. Virando a cabeça, ele provou o ar

~ 74 ~
Pegasus Lançamentos

novamente. Inferno. Ele desejou que por algum milagre, Cassie fosse
uma lobisomem.

Ele não sentia o cheiro de uma lobisomem na direção em que ela


correu. O estranho cheiro vinha da área que ele acabou de passar.

Dividido e indeciso, ele queria ir atrás da mulher que o desafiou


como uma fêmea alfa faria, e o olhou como se quisesse arrebatá-lo ali
mesmo, que dançou com ele como se ela desejasse nunca deixá-lo ir
embora... Isto era o que ele queria.

Mas uma lobisomem fêmea era o que ele precisava.

Ele mudou de direção e se dirigiu para o cheiro da loba, quando


alguém pisou no chão coberto das quebradiças folhas de outono, vindo
da mesma direção em que Cassie havia sumido e como se indo ao seu
encontro. Ela estava voltando para falar com ele?

Em vez de Cassie, o beta quase sem fôlego, Elgin, com o rosto


vermelho, materializou-se fora das espessas árvores e foi direto para ele.
Para a profunda decepção de Leidolf. Em seguida, mais três de seus
homens logo apareceram. Fergus, o terceiro em comando parecia muito
relutante em dar alguma notícia ruim.

Inferno. De jeito algum, Elgin e os outros viriam até ali para falar
com ele a não ser que houvesse algo errado com a alcateia. Mas,
escolheram uma péssima ocasião.

Depois de uma breve hesitação, Elgin coçou a barba e, em


seguida, correu para se juntar a Leidolf. Ele parecia resignado a
compartilhar as más notícias, e danem-se as consequências.

Leidolf estava agradecido, esperando que a alcateia que ele


conquistou no ano passado melhorasse muito mais.

~ 75 ~
Pegasus Lançamentos

Ele começou a se perguntar se Elgin ou qualquer um dos outros


homens viram Cassie. Ela estava vestida como se estivesse caçando
leões nas selvas da África, e a ideia o intrigou. Uma caçadora de
coração, não apenas uma observadora de lobos. Ele, com certeza,
queria que ela fosse uma lobisomem também.

Ele balançou a cabeça para si mesmo. O cabelo vermelho dela e


os olhos verde-oliva despertaram a sua imaginação. O gatilho embutido
para querer ver uma lobisomem vermelha em cada mulher ruiva veio à
tona. E a vontade de correr atrás dela ainda permanecia em seu
sangue.

Ele tomou uma respiração calmante.

− O que há de errado, Elgin?

Elgin pigarreou.

− Quincy, Pierce, e Sarge fugiram em suas peles de lobo,


cruzando o vale e seguiram nesta direção. Mandei nossos homens à
procura deles, e qualquer um que os vir devem informar imediatamente.
Já que nenhum sinal de telefone celular está disponível nessa área, eu
vim avisá-lo. Eles tinham uma boa vantagem inicial e pela corrida de
um lobo, eles poderiam estar em qualquer lugar agora.

Leidolf resmungou baixinho:

− Qualquer indicação de por que os três fugiram? − Era muito


cedo para a cobertura da escuridão da noite ajudar a proteger os lobos
da visão humana.

A carranca de Elgin se aprofundou.

~ 76 ~
Pegasus Lançamentos

− Achamos que Sarge ficou impaciente de ser recém-


transformado e não conseguiu parar a mudança.

Dando um suspiro sombrio e descontente, Leidolf saiu em


direção ao seu Hummer, caminhando num ritmo vigoroso pela floresta,
enquanto Elgin e os outros homens corriam para alcançá-lo. Assegurar
que os seus homens não fossem pegos em suas peles de lobo era
equivalente ao sigilo e segurança de toda a raça. Mas assim que ele
terminasse esta pequena tarefa, estava determinado a descobrir a
verdade sobre a loba que ele havia cheirado. Só tinha que anular o
desejo incomensurável de localizar Cassie. E dadas às circunstâncias,
ela poderia se tornar ainda mais um problema agora.

− Sarge é outra história. Fergus, você deveria ter alguém olhando


para Sarge o tempo todo. – Leidolf pulou uma árvore caída em seu
caminho.

Ele realmente não culpava Fergus, considerando o quanto de


responsabilidade havia transferido para o seu terceiro em comando.
Tudo para tentar fazer o seu povo se sentir necessário e respeitado,
para mudar os maus sentimentos que eles tinham sobre si mesmos,
devido ao governo maníaco de Alfred.

− Desculpe, Leidolf. − Fergus abaixou a cabeça um pouco. −


Sarge estava ajudando Quincy e Pierce a limpar o celeiro, quando vi os
irmãos fugirem atrás de Sarge, todos em suas peles de lobo.

− Inferno. Os irmãos devem saber melhor do que se


transformarem e correrem pela floresta ou qualquer outro lugar durante
a luz do dia. Especialmente agora que temos uma bióloga de lobos à
procura de lobos na área.

Elgin franziu a testa.

~ 77 ~
Pegasus Lançamentos

− A mulher que deu a palestra na noite passada? Carver disse


que ela foi para a Califórnia.

− Sim, bem, Cassie Roux o despistou e voltou aqui. − Leidolf


abaixou-se sob um galho de árvore. − Eu não invejo o nosso vizinho de
costa. Hunter Greymere tem as mãos cheias de lobos recém-
transformados. E tudo o que temos é um, mas este é... Outra coisa.

Sarge era um problema e meio.

− Quincy e Pierce não são muito melhores, e eles nasceram como


lobisomens. Eu sei que você queria recebê-los, já que eles precisam de
uma alcateia para fornecer-lhes orientação, mas...

A paciência de Elgin estava quase esgotada de lidar com os dois


lobisomens de vinte anos, que foram expulsos de uma alcateia no sul da
Califórnia, e não aprenderam a seguir as regras de Leidolf.

Na verdade, os irmãos gêmeos já foram expulsos de três


alcateias, pois ninguém queria lidar com os homens nesta idade que
são intratáveis. Na alcateia de Leidolf, adolescentes eram outra história.
Elgin tinha a paciência de um sábio e velho lobo quando lidava com
eles, mesmo que ele e sua companheira, Laney, não tiveram filhos
próprios.

Leidolf sentia que os irmãos ainda eram recuperáveis.

− Alguém deveria ter-lhes dado mais orientação quando eram


mais jovens. Quando seus pais morreram, foram impostos a outra
alcateia, e o líder não teve coragem para estabelecer limites. Tenho
grandes esperanças que vamos ensiná-los a ser lobisomens exemplares.

Elgin resmungou.

~ 78 ~
Pegasus Lançamentos

Bem, talvez não modelos de lobisomens. Alguns nunca


aprenderiam a viver em uma alcateia e se tornavam solitários. Mas
Leidolf não acreditava que os irmãos fossem sem esperança.

− Eu suponho que você não quer se transformar. − Elgin parecia


desinteressado, apesar de apresentar a questão.

Os outros homens pareciam muito esperançosos de que Leidolf


daria permissão para se transformarem.

− Não. Isso provavelmente levaria uma fração do tempo para


encontrá-los, mas eu não defendo correr nos bosques em plena luz do
dia. Se nos deparássemos com caçadores, teríamos um inferno muito
maior para nos preocuparmos. − Sem mencionar no caso de que Cassie
os visse.

Elgin pigarreou. Leidolf afastou um ramo de cicuta e esperou


que ele fizesse a pergunta.

Elgin limpou a garganta novamente.

Leidolf olhou para ele, os outros homens permaneceram em


silêncio.

O olhar preocupado de Elgin encontrou o de Leidolf.

− Eu vi uma bonita mulher ruiva correndo pela floresta usando


calça cáqui e camiseta, um grande chapéu de domador de leão,
carregando uma mochila, e eu estou preocupado que ela pudesse ter
visto algo que a assustaria. Algo como três lobos vermelhos.

Fergus balançou a cabeça.

− Você a cheirou? – Leidolf pensou que era a sua nifa da floresta.

~ 79 ~
Pegasus Lançamentos

Diante do olhar perplexo no rosto de seus homens, Leidolf


desejou não ter perguntado.

Então Elgin franziu a testa.

− Não, ela estava contra o vento. Por quê?

− Eu cheirei uma loba vermelha.

Os olhos de Elgin se arregalaram.

− Inferno. − Ele olhou para trás, na direção que eles tinham


vindo. − Oh, inferno. Você queria ir atrás dela.

Apesar de sua genética ordenar para ir atrás da loba, Leidolf


queria Cassie, mas ele não queria deixar o seu povo saber disso. Os
cabelos cor de cobre dela, grossos e encaracolados, amarrados, exceto
pelos cachos que haviam escapado de seu confinamento, implorando
para serem acariciados. Ele teria amado jogar o chapéu de aventureira
de safári para o lado e soltar-lhe o cabelo, permitindo que caísse
descuidadamente sobre os ombros. E mergulhar as mãos nos fios de
seda, em seguida, puxá-la para perto e se deliciar com a sensação dela,
o cheiro dela, e beijá-la como ela merecia ser beijada, a sua ruiva ninfa
da floresta como ele desejava desde a noite passada.

A pele brilhando de suor havia corado lindamente com a


averiguação cuidadosa do corpo dele. Os mamilos se enrugaram contra
a regata que usava, as coroas deliciosas esticaram para a liberação.
Dada a oportunidade, ele teria libertado os reféns e os acariciado com a
língua para apaziguá-los.

Elgin coçou o queixo barbudo.

− Você acha que ela viu nossos homens em peles de lobo?

~ 80 ~
Pegasus Lançamentos

− Ela não encontrou nossos homens, apenas um lobo vermelho.


Eu.

− Oh! − Elgin olhou para Leidolf.

− Eu não estava em minha pele de lobo. − As regras de Leidolf


eram as mesmas para ele como para o seu povo, algo que o líder
anterior e seus comparsas não estavam interessados em cumprir.

− Oh! – Elgin repetiu.

Leidolf levantou uma sobrancelha para ele.

− Ela parecia intrigada.

Elgin deu um pequeno sorriso, o olhar esperançoso de que


Leidolf houvesse finalmente encontrado uma mulher pela qual estivesse
interessado. Fergus e os outros homens rapidamente esconderam seus
sorrisos.

− Então, ela mudou de ideia e saiu correndo. – Leidolf explicou.

− Oh!

Leidolf riu.

− Sim, bem, se ela quisesse me violentar, e ela parecia estar a


meio caminho disso, eu teria me dado a ela de bom grado.

Os lábios de Elgin se levantaram lentamente.

Coitado. Ele ainda não estava acostumado à liderança de Leidolf


e ao seu senso de humor, mas ele e o resto do seu povo acabariam
aprendendo que seus modos eram totalmente diferentes dos de Alfred.
E infinitamente mais saudáveis.

~ 81 ~
Pegasus Lançamentos

− Ela era a loba vermelha, então?

Ele não estava prestes a dizer a Elgin o quão desesperadamente


interessado ele estava em correr atrás de Cassie, e como ele não teria
hesitado se seu beta não tivesse chegado com assuntos urgentes da
alcateia, mesmo que Cassie fosse o alvo errado do seu desejo.

Elgin ainda estava sorrindo e Leidolf esperava que seu beta não
espalhasse a informação sobre o seu interesse na mulher. Tudo o que
um líder fazia era importante para a alcateia. Ele não sentia que este
pedacinho de informação precisava ser compartilhado, mas imaginou
que seria mesmo assim.

Mesmo sem querer, ele precisava avisar a Elgin que a mulher


não era uma loba de qualquer variedade.

Felizmente, ninguém disse uma palavra sobre ela quando ele


retornou para a sua fazenda, e nenhum dos homens ali com ele agora
estiveram no clube na noite passada, por isso eles não a reconheceram.

− A loba que eu senti não era a mesma mulher.

O sorriso de Elgin desapareceu, e ele franziu a testa


profundamente.

− Oh. Esta que você cheirou é um de nós?

− Possivelmente.

Elgin não disse nada por alguns segundos.

− Você quer que eu vá atrás dela?

~ 82 ~
Pegasus Lançamentos

Claro que não. Leidolf tentou conter a expressão desagradável


que lançou a Elgin, mas, pelo olhar preocupado no rosto do beta, ele
não disfarçou bem o suficiente.

− Eu não consigo fazer Sarge me obedecer. Você é a única


pessoa que pode. − Elgin avisou.

Como se Leidolf fosse negligenciar seus deveres de líder, quando


isso poderia significar expor sua espécie ao mundo apenas para
perseguir uma possível lobisomem fêmea.

− Eu vou localizá-la mais tarde, depois de ter cuidado deste


assunto.

Parecendo aliviado, Elgin assentiu.

− Há... bem... Outra situação que precisa ser tratada. Irving e


Tynan estão fora em algum lugar novamente, sem avisar a mim ou a
Fergus. Deus sabe onde. Eu realmente acho que eles estão aprontando
alguma coisa, e não é alguma coisa boa.

E acrescentou:

− Quando você chegou para liderar a alcateia, nos livramos dos


quatro que estavam realmente comandando as coisas. Infelizmente,
havia mais alguns que colaboravam com o governo de Alfred. O resto de
nós não poderia lutar contra eles. Mas alguns partidários do antigo
governo que recebiam favores de Alfred por... Bem, trazer mulheres
para ele, podem muito bem ainda existir na alcateia.

− Você acha que Irving e Tynan podem ter sido capangas de


Alfred?

~ 83 ~
Pegasus Lançamentos

− Possivelmente. Os capangas de Alfred eram secretos.


Estávamos sempre olhando por cima dos ombros, imaginando quem
poderia relatar para o Alfred o que nos estávamos dizendo sobre ele e
seus capangas. Cinco homens fugiram imediatamente após Alfred e
seus companheiros morrerem, então nós achamos que eles eram a
parte final da sua rede de contatos, e pensamos que era o fim de tudo.
Agora eu acho que esses dois homens também estavam envolvidos.

− Qual é a história deles?

− Faziam parte da alcateia desde o começo. Eles foram mordidos


e transformados na Califórnia, há duzentos anos. Eles são primos.

Inferno, como se Leidolf já não tivesse um caminhão de


problemas para lidar.

− Eles conhecem as regras. Se trabalham para mim, têm que


avisar se forem sair da região.

Elgin deu um rígido aceno.

− Quando eles retornarem, avisem-me imediatamente. – Leidolf


exigiu.

Um uivo sinistro reverberou nas proximidades, originado há


mais de cinco quilômetros de distância.

− É o Satros. − Leidolf disse baixinho.

O membro mais velho da alcateia e o menos ágil, Satros nunca


deveria estar em sua pele de lobo em plena luz do dia na floresta.

Inferno, e agora?

~ 84 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Cinco

O coração de Cassie disparou de emoção, ela se escondeu na


mata espessa, observando a muito agitada, magrela loba vermelha
caminhar para frente e para trás diante de um emaranhado de amoras
silvestres. O que ela estava fazendo? De costas para Cassie, a lobo
parou, os ouvidos se contorcendo, ouvindo os sons da brisa.

O ar estava pesado com a umidade, e de repente, uma névoa de


chuva começou a tamborilar nas folhas em torno de Cassie.

Então ela ouviu um barulho que fez seu coração quase parar de
bater. O som de filhotes de lobos choramingando. A loba era mãe! E
protegia sua ninhada. Não era à toa que ela estava se movimentado
tanto.

Sentindo-se no paraíso dos lobos, Cassie viu a mãe farejar o ar.


Cassie se esforçou para ouvir qualquer som dos filhotes de novo, mas
eles estavam quietos agora.

Em seguida, a terrível constatação bateu nela. A mãe parecia


estar sozinha. Cassie não viu nenhum sinal de qualquer outro lobo na
área. Sozinha, a mãe e os filhotes não poderiam cuidar de si mesmos.

Mesmo que fosse plena luz do dia, e seus instintos de lobisomem


a avisassem para não se transformar, Cassie não tinha outra escolha.
Não quando ela tinha que proteger a mãe e sua prole, e também trazer
comida para que a mãe pudesse ficar perto dos filhotes e alimentá-los.

~ 85 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie ouviu novamente, desta vez a procura de sons de seres


humanos na área. Ela ergueu o nariz e sentiu a brisa. Sem cheiro
humano também.

Razoavelmente segura que ela poderia se transformar sem que


ninguém a espionasse, tirou a mochila e o chapéu de Indiana Jones.
Em seguida, soltou os cabelos presos em um rabo de cavalo e os
sacudiu. Depois de sentar a bunda na terra fria e úmida, tirou as botas
e as meias, observando a loba o tempo todo.

Ela não deixava de se perguntar sobre Leidolf, a imagem de um


deus do mar ainda gravada em seus pensamentos, e no que ele
pensaria se a visse se despindo antes de se transformar. Se ela não
estivesse usando o spray de caçador, ele teria tentado localizá-la? Era o
mais provável.

As costas da loba ainda estavam voltadas para Cassie, de modo


que a fêmea não a notou. Cassie continuou a se despir, então enfiou as
roupas na mochila, pelo menos, para mantê-las secas da leve garoa que
caía em cima dela, e enterrou a mochila à prova d'água debaixo de
folhas e de uma confusão de galhos. Nua, Cassie estremeceu. Então
começou a se transformar, esticando os músculos.

Deleitando-se com a sensação da transformação, ela tremeu


quando varreu o ar frio em sua nudez, até que o calor da mudança a
esquentou e pelos cobriram sua pele, seu corpo se transformando na
forma de uma loba vermelha instantaneamente. Ela caiu de quatro, as
garras pretas cavando o solo fértil. E imediatamente se sentiu ainda
mais em casa na floresta.

O som de um longo e baixo uivo de repente atravessou o ar,


talvez um quilometro de distância na direção bem atrás dela. Foi
quando a loba virou completamente e olhou na direção de Cassie. Os

~ 86 ~
Pegasus Lançamentos

olhares se encontraram, a mãe loba ficou parada, meio escondida na


vegetação sob as árvores.

Os olhos cor de âmbar travaram nos olhos de Cassie,


observando, a espera da reação dela. Inferno, se Cassie assustasse a
mãe, ela podia abandonar os filhotes. Cassie não estava preparada para
levar todos os filhotes para um lugar seguro neste momento e, em
seguida, capturar a mãe para que ela pudesse se unir aos filhotes.

Apesar do uivo, chamada para uma reunião de lobos por um


macho mais velho, Cassie se concentrou na loba à sua frente, que
também continuou a observar Cassie, a ameaça mais próxima.

Outro lobo uivou, muito mais perto deles do que o outro, e


Leidolf franziu o cenho para Elgin.

− É Quincy respondendo a chamada de Satros. Eu espero que


Pierce...

Pierce também soltou um uivo como resposta. Ele não estava


muito próximo do seu irmão gêmeo, embora ambos normalmente
fossem inseparáveis.

− Agora, onde diabos está Sarge? – Leidolf perguntou.

− O mais provável é que ele não uive. Pelo menos, não antes que
ele tenha se transformado. – Fergus ponderou.

~ 87 ~
Pegasus Lançamentos

− Tudo bem. Você procura na direção que veio o chamado de


Quincy e Pierce. Diga a eles que eu estou aqui e espero que eles o
obedeçam, e será melhor para a vida deles se obedecerem. Eu vou atrás
de Satros. Ele é um velho lobo astuto, e se alguém pode encontrar
Sarge, este alguém é ele.

Elgin tentou esconder um olhar de descrença, mas, em seguida,


rapidamente concordou. Apesar da idade de Satros, ele ainda cheirava e
ouvia quase tão bem quanto qualquer um. No entanto, ele descobriu
um coiote e um casal de cães de pelagem vermelha, que ele achou que
eram lobos vermelhos à distância. Ninguém deixaria o velho esquecer
um erro desses.

Mas Leidolf não deixava de respeitá-lo por tudo o que ele


contribuiu no passado para a alcateia, e a estabilidade que ele fornecia
para o grupo agora. Leidolf não queria que ele ou qualquer outra pessoa
corresse em suas formas de lobo durante o dia. A não ser que
estivessem em um lugar seguro.

− Procurar em nossas formas humanas, certo? – Elgin


questionou.

− Sim. − Leidolf queria correr como um lobo para que pudesse se


mover mais rápido e cheirar o chão para sentir o cheiro deixado pelas
patas da loba. E iria, assim que os seus homens estivessem fora de
visão. Ele não queria compartilhar o perigo com eles, nem queria que
eles soubessem que o alfa da alcateia estava indo contra as próprias
regras.

− Eu vou mandar Satros uivar uma mensagem quando eu


alcançá-lo. Quando você encontrar Quincy e Pierce, leve-os para onde
eu estiver. Vamos reunir a alcateia e, em seguida, procurar como um
grupo por Sarge, se ele não se juntar a nós voluntariamente.

~ 88 ~
Pegasus Lançamentos

− Tudo bem. Conecto-me com você em breve. − Elgin se afastou


com os outros homens na direção em que ouviram o uivo de Quincy.

Leidolf seguiu direto em direção ao som da comunicação da


Satros, concentrando-se em achar uma boa localização para abandonar
as roupas, com a intenção de mudar de forma para localizar Satros
rapidamente, falar com o velho lobo e se transformar antes de chamar
os outros para se juntarem a ele. Antes que ele pudesse encontrar um
bom local para esconder as roupas, ele sentiu o aroma de uma mulher
excitada. Cassie. Mas algo estava errado com a situação. Ela não estava
em nenhum lugar próximo.

Inseguro porque só agora ele sentia o cheiro dela, caminhou ao


redor da área. Quanto mais perto se aproximava de uma pilha de galhos
e folhas, mais forte sua fragrância exalava. Ele vasculhou em torno e
descobriu sua mochila. Por um segundo, ele apenas olhou para ela. Ele
não duvidou nem por um instante, que fosse a mochila verde-oliva de
Cassie. Mas por que ela deixou isso para trás?

Ele a soltou dos ramos e abriu o zíper. Lá dentro, encontrou as


roupas que ela estava usando, então deve ter trocado para outra coisa.
Mas por que deixar a mochila para trás? Duas garrafas de água
estavam empurradas no fundo, juntamente com várias barras
energéticas, mas por baixo de tudo, ele descobriu o spray de caçador.

Ele olhou ao redor da área. As pisadas de suas botas paravam


bem ali, onde ela trocou de roupa. E depois? Rastros de lobo seguiam
para longe do local. Pegadas de lobo menores que as suas. E...

Ele se inclinou para tocar alguns fios de pelos presos a um


galho... Pelos de um lobo vermelho. Se Cassie era um deles, por que não
sentiu o cheiro...

~ 89 ~
Pegasus Lançamentos

Ele arrancou a lata de spray de caçador para fora da mochila.


Ela tinha que ser um deles. Não havia outros rastros perto do local. Só
as pegadas das botas dela até aquele ponto e as pegadas de lobo
seguindo para longe. Não é à toa que ela o fascinou. E por que estava
tão preocupada que ele pudesse descobrir a verdade sobre ela. No
entanto, a inclinação natural de ficar com um de sua espécie deve tê-la
influenciado a dançar com ele durante toda a noite, de qualquer jeito.

Com o nariz de seu lobo no chão, ele detectou o cheiro que suas
patas deixaram no chão e seguiu o rastro dela com muito mais
facilidade. Mesmo o spray de caçador não parava a secreção natural do
cheiro de um lobo, enquanto ele andava. E Leidolf se movia um inferno
de muito mais rápido. Mas o instinto de autopreservação falou mais alto
também, e sabia do perigo que ele enfrentaria se encontrasse um
caçador com a mira nele. O que o fez se perguntar por que ela estava
correndo em sua pele de lobo durante o dia. A menos que não tivesse
outra escolha.

Foi quando ele ouviu o uivo de outra loba ao longe. Talvez cinco
milhas de distância.

A loba soou como se estivesse pedindo ajuda. Lobos chamavam


os outros para se reunirem quando estavam separados. Assim, havia
outros lobos na área? Apenas lobos?

Ela estava à procura de um companheiro? Seria a outra loba que


ele havia cheirado? Ou era a sua ninfa da floresta?

Ele arrancou as roupas, decidiu que a mochila de Cassie era um


lugar tão bom quanto qualquer outro para esconder suas coisas, e as
empurrou para dentro. Então escondeu a mochila novamente, todos os
seus sentidos em alerta máximo enquanto inspecionava a área,
certificando-se de que ninguém estava ali. Uma vez assegurado que

~ 90 ~
Pegasus Lançamentos

estava sozinho, esticou os braços em direção ao céu, acolhendo o calor


nos seus músculos como se tivesse acabado de mergulhar em uma
banheira cheia de vapor projetada para afrouxar a tensão em cada
célula. Em seguida, com super velocidade de lobisomem, ele se
transformou, os músculos e ossos reformulando-se maravilhosamente,
sem esforço, tão rápido que ele era humano num instante e então lobo
no seguinte. A adrenalina corria por seu sangue, enquanto a alegria de
caçar a loba vermelha o enchia de necessidade.

Ele saiu correndo, seguindo em direção à loba em necessidade,


esperando que fosse encontrar Cassie.

Nos casos em que Cassie observou ninhadas como bióloga de


lobos, as alcateias haviam lhe permitido observar os filhotes, até mesmo
brincar com eles à medida que cresciam e começavam a sair do covil,
geralmente na sua forma humana. No caso da alcateia com a qual ela
viveu depois que a sua família morreu, ela havia ficado em sua forma de
loba na maior parte do tempo, por causa da sua juventude e por não ter
mais ninguém para protegê-la.

Esta situação era diferente. A fêmea estava muito cuidadosa e


tinha todo o direito de estar. Ela não tinha ninguém para proteger seus
filhotes, caso Cassie tivesse a intenção de prejudicá-los. A não ser que
os machos que Cassie ouviu uivar fossem da alcateia da loba. Então
Cassie teria uma alcateia inteira para observar. Mas, não fazia qualquer
sentido que eles não estivessem perto da loba, protegendo a ela e os
filhotes.

~ 91 ~
Pegasus Lançamentos

Uma oferta de paz e uma refeição muito necessária para a loba e


os filhotes, poderia ajudar a mãe a aceitar Cassie. Farejando o ar
úmido, ela cheirou um coelho nas proximidades. Pronta para caçar,
Cassie virou-se e galopou em direção ao cheiro, apesar de só ter caçado
por uma questão de sobrevivência quando era uma adolescente, muitos
anos atrás. Quão difícil poderia ser?

Ela era uma loba e caçar tinha que ser instintivo. Como andar
de bicicleta era para um humano.

Cassie fuçou ao redor com seu nariz e viu o furtivo coelho


marrom, meio escondido no mato úmido, com os olhos arregalados.
Cassie pulou na direção dele, mas o coelho com as grandes patas
traseiras, rapidamente se lançou para longe e fugiu. Antes que ela
pudesse alcançá-lo, ele mergulhou em um buraco. Ela fuçou com o
nariz o buraco úmido, a sua esperança de fornecer uma refeição para a
loba esfomeada e os filhotes era seu incentivo primitivo.

O coelho saiu em outra entrada do túnel e foi para uma toca a


poucos metros de distância, em uma moita de amoras. Cassie
empurrou o nariz nas amoras, tentando alcançá-lo, mas ele
desapareceu em outra toca de coelho no meio de arbustos espinhosos.
Não importava o quão duro Cassie escavasse com as patas dianteiras,
querendo alcançá-lo, e empurrasse o focinho através da moita
espinhenta, torcendo as vinhas de amora, arranhando o nariz nos
espinhos, não conseguia pegar a bola peluda. O que a fez pensar em
Alice no País das Maravilhas e o Chapeleiro Louco e como os esforços
dela eram em vão. Exasperada consigo mesma, Cassie cheirou... Água.
E quando ela ouviu atentamente... O som de água corrente. Um riacho
ou rio próximo. Peixe, talvez?

~ 92 ~
Pegasus Lançamentos

Com a chuva ainda caindo levemente, ela correu em direção da


água e logo se deparou com um riacho corrente, respingando sobre as
pedras. Um galho de árvore caído escondia o caminho do riacho de um
lado. Era o Fifteen Mile Creek, se ela recordava do mapa que tinha da
região.

Barbatanas dorsais à tona em todo o lugar! Salmão. E muitos


deles.

Mais perto do centro do riacho, as pedras eram maiores, a água


mais profunda, mais rápida e mais escura. Entrando no riacho na
forma de loba vermelha, com os olhos colados nos salmões, Cassie os
observou nadar mais perto dela, e ela começou a persegui-los nas águas
rasas. Nuvens pairavam baixo no céu, e a água era como neve gelada.
Os pingos de chuva aumentando de volume e frequência, golpeando a
água com um alto som cortante, mas os pelos de Cassie a impediam de
ficar encharcada e evitavam que ela congelasse. Os salmões nadavam
mais perto sobre os seixos, alguns passavam perto de suas pernas,
imersos na correnteza, e batendo nela uma ou duas vezes.

Apenas um minuto ou dois, a paciência sendo uma grande


virtude dos lobos, ela esperou, ofegando, as mandíbulas preparadas.
Quase sorrindo. Então encontrou o maior e mais gordo salmão vindo na
direção dela, perfeito para um banquete dos filhotes, ela se equilibrou.
As patas bem abertas, o equilíbrio certo para não escorregar nas rochas
cobertas de musgo, ela abocanhou o que devia ter cerca de cinco quilos.

O salmão lutava para se soltar. Ela agarrou com mais força, com
a boca pingando água, a densa pelagem molhada. Ela subiu nas pedras
e deixou o riacho, sacudiu-se, e com a cabeça erguida.

Com uma marcha galope, Cassie correu de volta para a área


onde estava a loba e os filhotes, o salmão-rei firme nas mandíbulas.

~ 93 ~
Pegasus Lançamentos

Quando chegou ao local onde havia visto a loba, a fêmea havia


desaparecido. Seu estômago deu cambalhotas, Cassie se apressou para
o local onde ela pensou que os filhotes estavam. Deixou cair o peixe e
remexeu os arbustos de amora.

Cheirando os filhotes, a carne e leite com que a mãe os


alimentou, o que significava que eles tinham cerca de duas semanas ou
mais de vida se comiam carne, mas não ouviu qualquer som deles.
Cassie levantou o nariz. Ela tentou conseguir uma lufada do cheiro da
loba vermelha ou dos filhotes e saber em qual direção ela foi.

Cassie caminhou um pouco, fazendo uma pausa para empurrar


o focinho num buraco que um texugo havia cavado às pressas. Sem
cheiro da loba ou dos filhotes. Ela latiu baixinho, tentando levá-los a
responder, se eles estivessem nas proximidades, porém escondidos de
sua vista.

Uma coruja manchada piou de uma árvore, e Cassie virou a


cabeça em sua direção, ouvindo os sons dos filhotes de lobo
choramingando. Gritando a sua chegada, um falcão voou acima da copa
das árvores coníferas. Cassie não conseguiu detectar mais nenhum som
da ninhada de lobos.

Ela pegou o salmão e, em seguida, roçou num cedro vermelho,


os ramos exalando um cheiro aromático, momentaneamente
adicionando tempero ao cheiro de salmão na sua boca. Ela deslizou
através das samambaias exuberantes, acabou em uma pista de
caminhada, onde os seres humanos andavam, seguiu empurrando mais
algumas samambaias, gotas de chuva agarravam-se às folhas que
pareciam plumas enquanto a chuva ficava mais forte. O coração de
Cassie batia mais forte procurando freneticamente na área pelo novo

~ 94 ~
Pegasus Lançamentos

covil dos filhotes que precisavam de sua mãe por perto. Mas para onde
a fêmea vermelha os havia levado?

Inferno, Cassie sabia que levou muito tempo para chegar ao


riacho e aos peixes. Não que a pesca fosse o problema, ela logo
percebeu, mas ir atrás do maldito coelho tomou um tempo precioso,
quando deveria ter encontrado primeiro o riacho e ido pescar em vez
disso.

Caçar não era o seu trabalho habitual, nem interessava a ela


quando corria em sua pele de loba, mas não havia pensado que seria
tão inepta. Ou que um coelho com cauda de algodão pudesse enganá-la
tão facilmente.

Ela chegou a um ponto alto de uma colina e ficou parada,


ouvindo, cheirando o ar. Vamos lá, aonde você foi agora?

E então algo se moveu à distância por meio de uma clareira. Um


lobo vermelho.

Instantaneamente, ela congelou. O lobo era grande, não era a


loba. Ele não a viu ainda.

Cassie permaneceu congelada na chuva, uma folha cinza caía de


um céu com a mesma cor, a única outra coisa em movimento, o salmão,
a cauda e a cabeça balançando levemente na boca dela. E ela sabia que
se o lobo olhasse em sua direção, ele a veria. A cabeça dele de repente
virou na direção dela. Os olhos cor de âmbar do lobo viram o
movimento dela e do peixe.

O lobo era um macho, tinha que ser de tão grande que era. E
um vermelho bonito. Foi ele quem chamou para uma reunião? Ela não
viu qualquer sinal de outros lobos em qualquer lugar perto da fêmea e

~ 95 ~
Pegasus Lançamentos

dos filhotes. Ela não acreditava que a mãe loba estava sozinha. Ele
estava com ela? Protegendo-a? Isso seria uma boa notícia.

Mas e se ele fosse um lobisomem? Então... Ele não deveria estar


ali correndo à luz do dia em sua pele de lobo, assim como ela não
deveria estar. Talvez ele fosse apenas um lobo.

Como ela, o lobo macho não se moveu, seu olhar focado no dela.
Ela ficou onde estava, esperando para ver o que ele faria. Ela não queria
tentar localizar os filhotes enquanto outro lobo observasse. A maioria
dos lobos adorava os filhotes, brincavam, alimentavam, e lhes
ensinavam como sobreviver, mas ela havia lido sobre um grupo de lobos
fantasmas que matou outra alcateia, deixando os filhotes para morrer
de fome em uma caverna. E então os lobos fantasmas desapareceram
da área.

Em outra situação, um lobo raivoso havia matado uma alcateia


inteira que ele encontrou. Não que este lobo fosse como ambos os casos,
mas, tanto quanto ela estudou o comportamento dos lobos, qualquer
um deles poderia ser imprevisível. De qualquer forma, ela não planejava
levá-lo ao novo covil da loba, se ela pudesse localizá-lo sozinha.

O lobo continuou a observá-la, e então ele deu a versão de um


um sorriso de lobo, como se tivesse tomado uma decisão, e foi direto
para ela.

O coração dela deu um mergulho. Ela era uma intrusa em seu


território, e ele fazia parte de uma alcateia. Apostaria que ele era da
alcateia de lobisomens vermelhos de Leidolf. E se ela não encontrasse a
fêmea e os filhotes, e logo, tinha certeza de que um grupo inteiro de
lobisomens, machos solteiros sedentos por uma companheira, estaria
na área, procurando por ela.

~ 96 ~
Pegasus Lançamentos

Adrenalina inundando suas veias, ela correu para o outro lado


da serra, as mandíbulas ficando cansadas de levar o salmão. Ela tinha
que despistar o macho vermelho, encontrar a loba, dar o peixe, e
descobrir uma maneira de cuidar dos filhotes e da loba em algum lugar
fora do alcance do território da alcateia de lobisomens.

Mas onde estava o maldito novo covil? E como ela despistaria o


macho vermelho nesse meio tempo?

Leidolf estava muito longe para alcançá-la rapidamente, mas


esperava que a loba vermelha no topo da serra, levando um salmão na
boca, fosse Cassie. Assim que chegou ao pico da serra, ele cheirou o
chão e pegou o cheiro dela. E, em seguida, correu de novo. Ele estava
dividido entre localizar seus homens, e encontrar a pequena fêmea
vermelha, mas ela poderia estar em um perigo tão grande quanto os
seus homens. Ele lembrou que havia outros procurando seus
homens, mas ninguém para cuidar dela.

Aconteceu algo esquisito, no entanto. Pois, quando ele pensou


que estava a poucos centímetros de localizá-la, o cheiro de Cassie
desapareceu. Indo para frente e para trás, ele continuou a rastreá-la e
ao pegar outra baforada, correu novamente. Quase como se ela
soubesse que ele a estava seguindo, e estivesse tentando evitar a
captura.

Seu ânimo aumentou, quando ele acreditou que em breve iria


pegá-la. Ao chegar ao rio perdeu o perfume dela, de novo. Não gostando
de estar exposto aos olhos curiosos de possíveis caçadores na margem,

~ 97 ~
Pegasus Lançamentos

ele correu correnteza abaixo com pressa, mas não localizando o cheiro
dela, tentou correnteza acima. A mesma coisa. Ele não conseguia senti-
la de jeito algum. Ele parou e olhou para o rio. Ela deveria ter
atravessado o rio.

Inferno. Ele mergulhou e nadou cachorrinho através das


correntes agitadas. Quando finalmente chegou do outro lado, sacudiu o
excesso de água fora de sua pele e, em seguida, farejou o chão. Nenhum
sinal de seu cheiro ali, também. Ele correu correnteza acima. Nada. Em
seguida, correnteza abaixo.

Ao não encontrar nenhum cheiro dela, ele olhou para o rio. Será
que ela foi pega pela correnteza, não sendo tão forte quanto ele e
incapaz de nadar em linha reta?

− Ei, Joe. − Alguém sussurrou, escondido na floresta ao seu lado


da margem do rio.

− Você vê o que eu vejo?

O coração de Leidolf bateu ainda mais rápido.

− Caramba, um lobo vermelho, mas é grande demais para ser


fêmea, Thompson. Você quer pegá-lo ou o pego eu...

Isso foi tudo que Leidolf ouviu. Correu para o rio, nadando tão
rápido quanto um lobo poderia, o que ele jurava que era o inferno de
muito mais lento do que ele nadava como humano.

Apesar do som da água corrente abafar o barulho, ele ouviu os


homens correndo do outro lado da margem do rio, as botas ressoando
nas pedras. Ele só esperava que as armas não tivessem o alcance para
atirar nele além do rio. E, felizmente, eles não lhe dispararam enquanto
estava nadando.

~ 98 ~
Pegasus Lançamentos

Assim que chegou do outro lado, o seu instinto natural era


sacudir a água dos pelos, mas sua metade humana o obrigou a
esquecer o ritual e seguir direto para a floresta. Um tiro ecoou e Leidolf
se esquivou para a floresta, mas não antes de sentir uma picada no seu
flanco esquerdo. Droga. O que lhe lembrou por que ele e os membros de
sua alcateia nunca deveriam se arriscar a mudar em plena luz do dia e
correr como lobos, a menos que não tivessem escolha.

Ele continuou a correr pela floresta, com a intenção de alcançar


suas roupas e se transformar e depois esconder a ferida. Mas, o que os
homens haviam atirado nele não o estava fazendo sangrar. Ele olhou
para o quadril. Um dardo tranquilizante pendia de seu flanco. Inferno.

Empurrando-se para chegar ao local onde suas roupas estavam


escondidas, Leidolf tropeçou, mas se conteve e continuou correndo. Ele
sentiu como se tivesse bebido uma tonelada de cerveja e que o álcool
estava deslizando através de sua corrente sanguínea a uma velocidade
extraordinária.

Pensamentos sobre a sua ruiva ninfa da floresta passaram pela


sua mente até que ele vislumbrou, em sua consciência desvanecida,
que ele realmente poderia vê-la mudar de forma.

Ele não se lembrava de entrar em colapso, ou de deitar imóvel,


ofegante, enterrado sob refrescantes samambaias rendadas. Ele mal se
lembrava de Joe ou de um cara chamado Thompson, que disparou o
dardo que estava enterrado em seu flanco. Em vez disso, seus
pensamentos foram para o rio, para o perfume de Cassie, o triste uivo
dela, se era dela, e o rio que a havia engolido.

O que diabos aconteceu com ela? Era como se simplesmente


tivesse desaparecido.

~ 99 ~
Pegasus Lançamentos

Tudo o que sabia era que ele precisava encontrá-la antes que os
caçadores a pegassem também.

~ 100 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Seis

Cassie não pensava que a situação poderia ficar pior. Primeiro, a


loba fugiu com os filhotes e os escondeu em outro lugar. Em seguida, a
loba uivou, mas ela estava muito longe para Cassie alcançá-la de
imediato. Não apenas isso, mas uma grande quantidade de lobos
machos estava rondando a floresta.

E então? Cassie descobriu Leidolf a rastreando, obstinadamente


tentando localizá-la. Mas a pior situação possível? Um tiro ecoou vindo
da direção onde o lobo estava.

E se Leidolf foi baleado por causa dela? Ela deixou o rio levá-la
correnteza abaixo por dois quilômetros, para que ele não encontrasse o
cheiro dela tão cedo, o que havia funcionado bem para ela. Mas que
parecia ter causado mais problemas do que ela imaginou ser possível.

Leidolf era um corredor poderoso e um caçador competente. Ela


teve uma vantagem inicial quando o pegou seguindo o cheiro dela, e
enterrou rapidamente o peixe. Se ela não tivesse recuado,
transformando-se e subindo em uma árvore depois de vê-lo, totalmente
confuso, ele a teria pegado. Assim que ele se afastou, ela desceu da
árvore, transformou-se e correu em uma direção diferente. Ele era
muito, muito bom em segui-la, e ela não o despistaria por muito tempo.
O truque do rio funcionou, mas ela certamente não pretendia que o
pobre homem levasse um tiro. Se ele fora baleado.

Sua respiração acelerou por conta de toda a corrida e natação,


ela ofegava no meio da floresta, procurando, correnteza acima, na

~ 101 ~
Pegasus Lançamentos

direção que ele deveria estar. Ela cruzou o rio novamente, retornando
para a margem de onde tinha vindo quando estava fugindo de Leidolf.
Será que ele ainda estaria deste mesmo lado do rio? Ou ele estava do
outro lado agora?

Ela sabia que deveria procurar Leidolf, um de sua própria


espécie, e ter certeza que ele não estava ferido. Não seria bom se os
caçadores se apossassem dele. Embora normalmente não tivesse medo
de muita coisa, caçadores a aterrorizavam. Com o coração batendo e a
garganta seca, ela pensou nos membros da sua alcateia adotada, todos
mortos, apenas por causa de caçadores, e a velha culpa entrou em jogo,
pois só ela havia sobrevivido. E pior, se ela tivesse sido a razão para a
morte deles?

Mas desta vez, ela sabia que era a responsável pelo lobo estar
sob fogo cruzado.

Ela olhou para trás, na direção em que a loba havia uivado.


Inferno. Não importava que ela fosse uma bióloga de lobos, dedicada a
estudar os lobos e educar as pessoas sobre eles, ou que ela precisava
ajudar a mãe loba em necessidade, ela tinha que garantir que a sua
própria espécie não fosse descoberta.

Mas, talvez ele não fora baleado. Ela andou um pouco mais.
Maldição, ela não poderia arriscar e não ir em seu auxílio. E se ela tinha
que protegê-lo contra os caçadores, estava pronta. Pelo menos pensava
que estava. Se não o localizasse, significava que ele estava bem e que
ela poderia voltar para cuidar do problema com a loba e seus filhotes.

Respirando fundo, ela correu através da floresta.

Cassie mal ouvia o som do rio, não muito longe. Ouvia,


principalmente, o sangue correndo em seus ouvidos enquanto corria

~ 102 ~
Pegasus Lançamentos

tentando localizar o lobo, antes que os caçadores o fizessem, no caso


dele estar ferido.

Enquanto se aproximava do local onde ela entrou no rio pela


primeira vez, ouviu vozes de dois homens na outra margem, e congelou
em seu lugar na floresta.

− Eu o atingi. Ele era um macho grande e estava correndo muito


rápido, eu tenho certeza que ele percorreu certa distância, antes que
possamos localizá-lo. Quer atravessar a nado?

− Inferno, Joe, eu não sei nadar bem, e nesta água fria, nós dois
sofreremos de hipotermia antes de chegar ao outro lado. Nós vamos ter
que voltar para o caminhão, e na primeira ponte que nós encontrarmos,
atravessamos para o outro lado, e caminhamos até encontrá-lo.

Silêncio.

Com o coração batendo acelerado, o sangue correndo agitado


por cada artéria, Cassie esperou.

− Tudo bem, Thompson, vamos antes que escureça. Senão nós


nunca o encontraremos.

Chutando pedras, eles andaram ruidosamente pela margem e


desapareceram na floresta.

Eu o atingi, a frase ecoava em seu cérebro. Ela não queria ter


qualquer problema e nem se envolver com uma alcateia de lobisomens
da região. Ela, com certeza, não queria ser a causa da morte de um
lobisomem. Não que ele fosse morrer se fosse atingido com algo
diferente de prata, mas uma vez que eles o encontrassem, poderiam
matá-lo por outros meios. A experiência passada a assombrava com o
conhecimento, e era isso que enviava calafrios por todo seu corpo.

~ 103 ~
Pegasus Lançamentos

Ela sabia que não deveria anunciar sua localização, se outros


membros da alcateia dele também estivessem procurando-a. Se
pudesse, iria alertá-los que ele precisava de ajuda e, em seguida,
desapareceria, como havia feito antes. E se ele estiver sozinho, talvez
ainda tenha forças para se comunicar com ela e facilitar a localização
dele. Depois disso, não sabia o que poderia fazer. Ela tinha que deixá-lo
em segurança, de alguma forma.

Ela cheirou a brisa, que se estivesse soprando na direção certa,


permitiria-lhe sentir o cheiro dele até mais de um quilometro de
distância. Mas não cheirou nenhum sinal dele.

No mais baixo, mais profundo, mais lamentável uivo de lobo


solitário que conseguiu produzir, ela chamou por ele, pedindo-lhe para
responder, rezando para que nenhum caçador e nem os homens de
Leidolf pudessem localizá-la.

Em seu cérebro nebuloso, Leidolf ouviu a loba vermelha


chamando por ele, seu uivo era o mais cativante que ele já ouviu,
apenas a ressonância certa, o tempo certo, sexy e o atiçava
poderosamente, e se não estivesse tão malditamente drogado, ele se
mexeria. Não era o mesmo uivo que ouvira antes. O primeiro não tinha
sido tão profundamente sedutor ou tão perto quanto. Seria Cassie
agora?

Ele tentou responder, mas só conseguiu um fraco latido. Inferno.


Como poderia ele uivar com a cabeça colada ao chão coberto de musgo
da floresta?

~ 104 ~
Pegasus Lançamentos

Em vez disso, ele a escutou repetir a sua chamada, esperando


em sua mente nebulosa que ela se aproximasse mais dele, e sentisse o
seu cheiro já que ele não conseguia indicar a sua localização.

Ela não fez outro som, e ele tentou levantar a cabeça novamente.
Sem sucesso. Amaldiçoando-se pela situação na qual estava, ele pensou
brevemente na sua alcateia e no que eles diriam se pudessem vê-lo
agora. Não só isso, mas o que a sua irmã diria se soubesse o que estava
acontecendo com seu irmão, que nunca cometeu um erro.

E então a escuridão venceu seus pensamentos, como uma névoa


pesada se formando em seu cérebro, nublando seus pensamentos,
tornando-os distantes, até que tudo se apagou.

Quando Leidolf não respondeu, Cassie percebeu que ele estava


desmaiado e incapaz de responder. Freneticamente, continuou
percorrendo a área, em busca de sua localização. Finalmente, sentindo
o cheiro das pegadas dele no caminho pela floresta que seguia para
longe do rio, ela correu atrás dele com o nariz no chão. Não muito longe
do rio, ela localizou o grande macho vermelho deitado de lado,
semienterrado em samambaias e morto para o mundo. Um lindo e
grande vermelho, seu pelo escuro e brilhante, o corpo poderoso e
resistente. Ela precisava levá-lo para algum lugar seguro, onde os
caçadores não conseguissem localizá-lo.

Ela se moveu para mais perto e cutucou o nariz dele com o dela.
Ele não respondeu. Isso não era bom.

~ 105 ~
Pegasus Lançamentos

Ela tentou novamente, desta vez lambendo seu rosto, esfregou


seu focinho contra o dele, e então ela deu uma patada em suas pernas.
Ela latiu baixinho, próximo ao seu ouvido, tentando despertá-lo.

Quão longe os caçadores estacionaram o seu veículo? Quão


longe até a ponte mais próxima, onde eles atravessariam e estariam
desse lado do rio? E quanto tempo levaria para eles localizarem o lobo
macho desde a trilha próxima de onde eles teriam que estacionar?

Talvez horas. A escuridão viria em breve. Mas ela não poderia


esperar. Ela se transformou de loba em humana. Então, em sua forma
gelada e nua, ela se agachou na frente da cabeça do lobo e a levantou,
falando com Leidolf, tentando acordá-lo. Ele não se mexeu. Ela deitou a
cabeça dele de volta e, em seguida, passou a mão sobre seu corpo,
vasculhando seu pelo, em busca de qualquer tipo de ferida, incapaz de
ver onde ele fora atingido. O que significava que ele provavelmente foi
baleado do outro lado.

Só havia uma maneira de fazer isso.

− Desculpe − ela pediu desculpas de antemão, não querendo


machucá-lo, mas precisava ver o estrago. Ela pegou as pernas e as
usou como alavanca para virá-lo. Ele não gemeu, rosnou, não emitiu
nenhum som, o que a preocupou ainda mais.

Ela cuidadosamente passou os dedos por sua pele à procura de


uma lesão. Sem sangue em seu pelo e nenhum ferimento em qualquer
lugar, mas um dardo estava caído no chão, bem próximo. Ela pegou o
dardo. Tranquilizante? Ela não sabia a quê a droga cheirava, de modo
que aquilo não ajudou. Agachando sobre suas costas, ela descansou a
cabeça na sua lateral e escutou. Seu coração batia devagar, cansado,
drogado.

~ 106 ~
Pegasus Lançamentos

Ela soltou uma respiração de alívio. Ele não estava ferido. Mas,
se os caçadores o encontrassem, ele ainda estaria em apuros.

− Você precisa se levantar. − Ela sussurrou em seu ouvido, uma


mão acariciando seu pescoço, a outra no topo da sua cabeça. − Leidolf,
você tem que se levantar antes que os caçadores encontrem você.

Ainda assim, ele não respondeu. Pensando que seria necessário


mais aspereza para acordá-lo, ela rosnou e empurrou suas costas.

− Levante-se, agora! − O que também não deu certo.

Inferno.

Ok, tudo bem. Ela deu um passo em volta dele e se ajoelhou na


frente do seu focinho, com a intenção de oferecer o que ela assumiu que
ele realmente queria, e esperando que ele se movesse o suficiente para
conseguir correr, enquanto ela partia em outra direção como um
chamariz para os caçadores. Ajoelhando-se diante dele, ela acariciou o
topo de sua cabeça entre as orelhas e sussurrou em uma delas:

− Você me perseguiu, e agora que eu sou toda sua, você está


muito cansado para correr e brincar?

Os olhos dele se abriram, mas não pareciam estar concentrados


em nada. Ela esfregou a bochecha contra a dele e esfregou um pouco
mais entre as orelhas.

− Hmm, o grande lobo mau não é mais tão grande nem tão mau.

Ela jurou que ele sorriu do jeito que só um grande lobo mau
faria.

~ 107 ~
Pegasus Lançamentos

Nua, a mulher ruiva de suas fantasias à beira do lago, a mesma


pequena bióloga de lobos que atiçou o seu interesse, acariciou-lhe as
costas e esfregou as bochechas contra as dele, uma reminiscência da
maneira dos lobos, não era apenas uma forma de carinho, mas algo
mais profundo. As sobrancelhas dela franziram, a expressão
permanecia preocupada.

Quando ela estava em sua forma de loba e acariciou o focinho


dele com o dela, as glândulas odoríferas de loba da pele dela, esfregadas
contra as dele, indicavam que ela o estava reivindicado como parte de
sua alcateia. Se ela fez isso de forma consciente ou, como uma maneira
de deixá-lo aos seus pés e não quisesse dizer nada com isso, ele não
tinha certeza. Ele tomou outro profundo fôlego de seu perfume,
memorizando, e conseguiu dar um fraco sorriso de lobo. A natação dela
no rio havia limpado o spray de caçador, e agora ele cheirava o delicioso
aroma dela muito bem.

Inferno, se ele não estivesse tão morto para o mundo, teria


respondido ao toque dela e a reivindicado de volta, dez vezes. Os dedos
suaves percorreram sua pele, examinando cada centímetro dele,
sensualmente como uma amante faria na fase de namoro entre lobos.

Ou como um membro da alcateia trataria um lobo ferido,


confortando-o fisicamente e mentalmente. Ele estaria no céu, se não
estivesse tão fora de si. Maldição.

A respiração dela fez cócegas na sua orelha enquanto ela


sussurrava, e atiçou a sua necessidade de tê-la quando ela pressionou

~ 108 ~
Pegasus Lançamentos

os seios pesados contra seu ombro. Então ela moveu os dedos para a
cabeça, entre as orelhas e começou a coçar. Seu toque não arranhava a
coceira que ela havia criado. O cheiro dos excitados feromônios
femininos, era uma mistura sedutora conforme ela se inclinava para
perto dele.

Ele deveria ter uma violenta ereção. Por que estava tão cansado
para responder aos seus estímulos românticos? Ele não conseguia
entender por que seu corpo não reagia aos estímulos dela ou às
palavras sussurradas em seu ouvido. Ou mesmo antes, quando ela era
uma loba, lambendo seu rosto, beijando-o no estilo dos lobos. Ele, com
certeza, queria mostrar a ela exatamente o que suas atenções
significavam para ele e devolver muito mais em troca.

As duas vezes em que ele conseguiu abrir os olhos, viu a mulher


dos seus sonhos ajoelhada diante dele, a cabeleira ruiva entre suas
pernas o provocando, os seios deliciosos o atormentando.

Mas as últimas palavras que ela falou realmente chamaram a


sua atenção. Alguma coisa estalou em seu cérebro cansado.

− Hmmm − Ela gemeu de uma maneira tão sensual e quente,


que ele estava pronto para virá-la de costas e fodê-la, esquecendo por
um momento que ele era um lobo e ela era a sua ninfa ruiva da floresta,
provocando-o com sua proeza sexual, incitando-o a fazer coisas más
com o doce corpo nu dela.

Ele tentou erguer um olho aberto enquanto o corpo dela


pressionava pesadamente contra ele, mais uma vez.

Ele jurou que as terminações nervosas de cada folículo capilar


da sua pele peluda responderam ao seu toque, enviando uma

~ 109 ~
Pegasus Lançamentos

mensagem urgente para o seu cérebro. Levante-se, mude de forma, e


mostre à mulher o quão perversamente mau você pode ser.

O resto de suas palavras foi ronronado em seu ouvido, e se não


soubesse que ela era uma loba metamorfa, Leidolf poderia tê-la
confundido com uma linda grande gata, um tipo elegante de pantera.

...O grande lobo mau não é mais tão grande nem tão mau, ela
disse, as palavras assustadoramente sedutoras, encorajando-o a
possuí-la.

Ele sorriu. Oh, sim, ele poderia ser muito mau. Se ele não
estivesse tão malditamente cansado. Ela o manteve acordado a noite
toda? Ele a fodeu por horas? Ele não conseguia se lembrar.

Seus pensamentos se afastaram novamente, e ele não se


lembrava de nada até que ela o sacudiu com força.

− Levante-se, idiota preguiçoso.

Leidolf conseguiu abrir um olho novamente e piscou. Sentiu que


a posição do sol havia escorregado alguns graus no céu. O ar estava
mais frio. Suas sobrancelhas franziram, Cassie se ajoelhou diante dele.
Idiota preguiçoso, ela o chamou, ele finalmente percebeu. Ele levantou
um pouco a cabeça e olhou para ela.

A carranca permanecia fixa no lugar, os lábios apertados, as


sobrancelhas ruivas franzidas, o cabelo dela flutuando em cachos
vermelhos sobre os ombros. Ele olhou para seu cabelo, querendo
passear os dedos através dos fios de seda da pior maneira. Focou
novamente nos olhos dela, um mar verde, aquecido... Deus, ela era
linda.

~ 110 ~
Pegasus Lançamentos

Ele tinha que mudar. Mostrar o que ele poderia fazer com ela,
depois que ela tão descaradamente o provocou. Ele mal conseguia
levantar a cabeça. Tentou deitar sobre o estômago, mas não conseguiu
a força suficiente para girar o corpo.

Franzindo a testa, ela parecia preocupada e depois se inclinou,


balançando os seios na frente do seu nariz enquanto tentava empurrá-
lo de modo que ele estava deitado de bruços. Ele lambeu um seio,
incapaz de controlar a si mesmo, desejando que ele estivesse em sua
forma humana. Ela balançou a cabeça, levantou-se para ficar ao lado
dele, e cruzou os braços sobre os seios, o que deixou o resto dela para a
sua apreciação, pernas longas, um tufo de pelos vermelhos cobria o seu
monte, femininos lábios vaginais rosados espreitavam, provocando-o a
ir e se divertir.

− Os caçadores podem estar aqui a qualquer momento, e você


vai estar em apuros.

Ele focou novamente em seu rosto. Ela falou com raiva, mas não
importava o quanto ela rosnasse para ele, ele adorava o som de sua voz,
ela estreitou os olhos verdes cuspindo fogo, os lábios carnudos virados
para baixo. O que desencadeou o desejo de abraçá-la forte e beijá-la até
a submissão.

Assim que ela disse as palavras, ouviram alguém chegando. Os


olhos da ruiva ficaram alertas. Em seguida, ela se agachou ao lado de
Leidolf, os seios atraentes ao nível dos olhos e em seu ponto focal
quando ela sussurrou:

− Deite-se, e eu vou enterrá-lo. Então vou levá-los para longe.


Basta ficar aqui e dormir até acabar o efeito do tranquilizante. Então vá
para casa. E me deixe em paz.

~ 111 ~
Pegasus Lançamentos

O olhar dele subiu, encontrando os olhos expressivos dela,


mostrando uma mistura de preocupação e súplica. Ele não iria se deitar
de lado novamente, não quando ele estava finalmente deitado de bruços
e se sentindo mais no controle. Mas mais do que isso, ele iria protegê-
la, e não o contrário.

Antes que ele pudesse dizer não por meio de um rosnado de


lobo, ela o empurrou de volta de lado e começou a enterrá-lo com
folhas, ele, um líder alfa! Maldição. Então ela se transformou na mais
linda pequena loba vermelha que jamais viu, o pelo de um vermelho
rico, uma máscara ligeiramente mais clara em seu rosto destacando os
olhos amendoados, as orelhas se empertigaram, ouvindo o perigo, a
cauda com a ponta preta projetando-se ereta... Uma fêmea alfa, com
certeza. Antes que ele pudesse levantar a cabeça para dizer o que fazer
no seu jeito autoritário de lobo, ela saiu correndo.

E se ele pudesse, teria xingado em voz alta.

Cassie começou a correr na tentativa de levar os caçadores para


longe de Leidolfem, até que ela cheirou mais lobisomens. Machos, todos
eles, quatro ou cinco, pensou. Ela parou, escondida no mosaico de
sempre-vivas e ouviu seus movimentos, ninguém disse uma palavra.
Eles tinham que ser membros da alcateia de Leidolf. Graças a Deus,
pelo bem dele.

Cassie esperava que eles o encontrassem sem que ela precisasse


se entregar. E se eles o localizassem, ela sairia de lá sorrateiramente.

~ 112 ~
Pegasus Lançamentos

− Elgin, você cheira o que eu cheiro? − Um dos homens


perguntou, a voz baixa e um pouco nervosa.

Porcaria. Ela não imaginou que eles poderiam ter sentido o


cheiro dela. Por que o spray de caçador não estava... Oh, inferno, ao
nadar no rio ele deve ter saído. Tendo acreditado que eram os
caçadores, achou que não precisava se preocupar com eles sentirem o
seu cheiro, até que eles se revelaram ser lobisomens.

− Além do cheiro de Leidolf? Uma fêmea vermelha. Aquela que


ele disse ter cheirado mais cedo, provavelmente. Talvez não devêssemos
ter vindo procurá-lo. Ele vai ficar puto, supondo que ele teve um
encontro com esta fêmea e não queria que nós soubéssemos ainda. −
Elgin disse em um sussurro.

− A loba uivou, e nós tínhamos que ter certeza que ela estava
bem. − Disse um dos homens.

− Tudo bem, Fergus. Mas eu continuo a dizer, que se o


encontrarmos transando com uma ruiva, nós saíremos antes que ele
nos veja, ou você fica responsável por toda a confusão.

Os outros dois homens que estavam em silêncio até agora,


deram uma risadinha. Um disse:

− Fico feliz que eu não sou o beta dele.

− Aqui, oh merda. Leidolf está... − Fergus se abaixou deslizando


completamente as folhas. − Inferno, ele está vivo. A pulsação está muito
lenta, no entanto.

Muito mais do farfalhar das folhas.

− Nenhuma ferida sangrenta. − Elgin disse, parecendo aliviado.

~ 113 ~
Pegasus Lançamentos

− Ele está... caramba, ele está sedado. Vamos tirá-lo daqui,


agora.

− O que ele está fazendo na forma de lobo? − Um dos homens


perguntou.

− Você tem que perguntar? − Elgin repreendeu.

Eles pensavam que ele estava se encontrando com ela como um


lobo em plena luz do dia? Que tipo de líder alfa era ele?

− Ele mudou para sua forma de lobo para localizá-la mais


facilmente. − Acrescentou Elgin, no caso dos outros não terem
descoberto. − Eu sei que ele disse que não faria, mas se ela estava em
necessidade e uivou por ele, ele a teria encontrado mais facilmente
como um lobo.

Oh. Bem, eles acreditavam que ela foi embora. Ela suspirou.
Bom. Odiaria acreditar que eles pensavam que ela estava dando uns
amassos com um lobisomem, como uma loba, antes que se
familiarizasse com ele como um ser humano. Não que ela pretendesse
ver alguma destas pessoas novamente, mas... Ainda assim, ela tinha
um pouco de orgulho.

− E a fêmea? – Fergus perguntou.

Cassie imaginava as sobrancelhas erguidas do homem que fez a


pergunta, esperando a resposta de Elgin.

Pelo que pareceu uma eternidade, embora ela estivesse certa de


que apenas alguns segundos se passaram, ninguém disse nada. O que
não era um bom presságio. Então Elgin disse:

~ 114 ~
Pegasus Lançamentos

− Nós temos que levar Leidolf de volta para a fazenda. E temos


de enviar mais de nossos homens para procurar Sarge e os gêmeos.

Por um segundo, ela soltou um suspiro de alívio.

Leidolf deve ter adormecido, porque ele não deu um pio. Ela
tinha certeza que ele teria um ataque quando soubesse que seus
homens planejaram levá-lo secretamente para longe da mulher que
estava seduzindo, bem diante de seus olhos grogues e que ninguém foi
procurá-la.

Nenhuma outra palavra foi dita, mas como os homens


começaram a se mover e não seguiram todos na mesma direção. Alguns
voltaram pelo caminho que vieram, mas outros começaram a perseguir
os rastros dela.

Inferno, eles certamente usaram sinais com as mãos,


imaginando que ela poderia estar perto e não quiseram assustá-la. O
que significava? Alguns estavam tentando localizá-la. Dando-lhes o
benefício da dúvida, considerou que talvez eles estivessem preocupados
que ela também estivesse sob efeito do tranquilizante, ali por perto.

Ainda em sua forma de loba, ela saiu correndo. O truque do rio


poderia funcionar novamente.

Ai meu Deus, Aimee pensou quando avistou a magricela loba


vermelha movendo seus filhotes para um novo covil. A pele coberta de
pelos agarrava-se às suas costelas, e ela estava muito magra para ser

~ 115 ~
Pegasus Lançamentos

capaz de amamentar os filhotes. Aimee a ouviu uivar e sabia que não


era Cassie, mas a havia perdido algumas horas atrás, se ela era a
mulher com a roupa de safári que tentou acompanhar. E o uivo
provavelmente significava que a fêmea estava em apuros. Aimee queria
ajudar. Mas uma loba de verdade? Quero dizer, Aimee era uma loba de
verdade também, no momento, mas aquela era, por Deus, somente uma
loba normal. Os filhotes começaram a chorar.

Aimee rapidamente foi em busca de comida. Era isso o que sua


prima estava tentando fazer? Cuidar da loba? Soava como algo que
Cassie teria se envolvido.

Aimee ouviu os outros lobos uivando, mas não acreditava que


eles faziam parte da alcateia da loba, ou eles estariam com ela agora. O
que isso significava?

Ela estremeceu. Irving e Tynan, os que estavam tentando matá-


la, estariam chamando um ao outro?

~ 116 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Sete

Assim que Alex Wellington espiou a caminhonete verde de Cassie


Roux estacionado na Floresta Nacional de Monte Hood, 20 milhas a
leste de Portland e ao norte de Willamette Valley, ele pensou que o local
era bem o tipo de lugar dela.

Com noventa quilômetros quadrados de floresta e numerosos


córregos, riachos, vários lagos, mais de um milhão de hectares de terra,
e mais de mil trilhas, a floresta nacional era perfeita para uma alcateia.
Ele imaginou que Cassie poderia ter se deparado com lobos em algum
lugar ali ou ela não estaria na pequena cidade palestrando sobre eles.

Espremendo sua caminhonete atrás da dela, Alex bloqueou


efetivamente a caminhonete dela entre os carvalhos e abetos de
Douglas, de modo que ela não poderia fugir se voltasse antes dele
localizá-la.

Antes de conhecê-la, o trabalho havia sido apenas isso...


Trabalho, um emprego. Mas não com Cassie por perto. Ela fazia daquilo
uma brincadeira. Algo divertido.

Feliz que a chuva passou só para uma névoa espessa, Alex


pegou sua mochila, trancou a porta, e deu a volta na caminhonete dela,
procurando por onde seus rastros levariam.

Ela era uma excelente bióloga de lobos, ele tinha que lhe dar
este crédito. E ele queria saber o que a fazia tão competente. Bem, mais
do que isso. Ele queria que eles fossem bons juntos, uma equipe de

~ 117 ~
Pegasus Lançamentos

biólogos de lobos. O cenário perfeito. Se aquele rico fazendeiro não o


impedisse de visitá-la socialmente após sua palestra...

Ele franziu o cenho e sacudiu as alças da mochila sobre os


ombros, em seguida, olhou para a floresta para um caminho que ela
poderia ter tomado. Espiando, ele começou a andar, o chão esponjoso
amortecendo cada passo, enquanto ramos de folhas verdes e
samambaias estendiam-se à trilha de cinquenta centímetros de largura
e roçavam os lados de suas botas de vez em quando.

Um mosaico de folhas e agulhas de pinheiro vertido no outono


anterior cobria a terra, mascarando o chão e os rastros de quem tinha
andado neste caminho recentemente. Com os olhos no chão, Alex
continuou o caminho, em busca das marcas das botas de caminhada, a
pequena pegada tamanho trinta e quatro de Cassie, ou qualquer outra
indicação de que ela havia seguido naquele sentido. Sem galhos
quebrados, sem samambaias esmagadas fora da trilha principal.

Ele sabia que ela não era chegada a trilhas feitas pelo homem
como as pessoas comuns. Mesmo quando ela caminhava por florestas
virgens, ela deixava a natureza intacta, como se fosse uma fada do
bosque que se integrava ao cenário. Ele sempre a havia admirado por
isso, mas significava que segui-la seria mais demorado e difícil. Tanto
quanto era para ele observar uma alcateia.

Ele fez uma pausa e olhou para a caminhonete dela, que se


fundia a vegetação ao longe. Ela sempre parecia encontrar as alcateias
como se tivesse uma varinha de condão para lobos. Inferno, ele poderia
passar meses antes que finalmente avistasse um. E mesmo assim,
conhecê-los meticulosamente levava um longo tempo.

~ 118 ~
Pegasus Lançamentos

Mas Cassie Roux poderia se misturar em uma alcateia e criar


vínculos, como se sempre tivesse sido uma do grupo, dentro de um
curto período de tempo, que não era normal.

Ele jurava que provavelmente ela fora uma loba em uma vida
anterior. Quando ele disse isso a ela, uma vez depois de ter dado uma
palestra na Universidade da Califórnia, ela lhe deu um sorriso rápido e
seu estômago deu uma cambalhota, e nesse instante, ele se apaixonou
pela mulher.

Com os passos menos firmes, ele voltou atrás no caminho para


retornar até a caminhonete dela. Quando voltou, olhou para dentro do
veículo. Extremamente limpo, como de costume. Nenhum sinal de
qualquer coisa deixada para trás, de modo que qualquer um que
pudesse ser tentado a invadir seu veículo para roubar bens, como às
vezes acontecia nos lugares de começo de trilhas, nem se
incomodariam.

Finalmente, vendo a marca fraca de pisada de uma de suas


botas de caminhada, onde ela tirou as folhas de outonos passados e fez
vários pequenos cortes na terra barrenta entre dois grandes carvalhos,
ele sorriu.

− Achei você.

Mas depois de quatro horas de caminhada, subindo e descendo


encostas através da floresta densa, ele observou um conjunto de
pegadas. Ele mediu o seu pé contra elas. Tamanho quarenta e dois
como ele usava.

E elas estavam seguindo as pegadas de Cassie.

~ 119 ~
Pegasus Lançamentos

Ela estava com outro homem? Outro biólogo de lobos? Seu


coração afundou com o pensamento, mas, em seguida, uma nova
preocupação o atormentou. Alguém a estava perseguindo?

Em seguida, um conjunto de pegadas de lobo chamou sua


atenção, e ele ajoelhou alegremente para examiná-las. Olhando ao
redor, ele notou várias outras, cruzando a área como se estivessem
freneticamente à procura de algo. E pegadas de outro lobo, os rastros
indicam um de maior porte, as pegadas um pouco maiores.

Outra preocupação ofuscou sua emoção ao encontrar as


pegadas de lobo, no entanto.

Perplexo, ele olhou ao redor da área e estudou o solo mais de


perto.

As pegadas dos lobos estavam em todo o lugar, mas o rastro de


pegadas de Cassie e as marcas de sapato do homem terminavam
abruptamente.

− Desde que ele se transformou, nós já servimos dois potes de


café, pura cafeína, para Leidolf. − Laney disse a alguém na sala de
estar, no final do corredor, na casa da fazenda de Leidolf, enquanto ele
estava deitado em sua cama, o tranquilizante que o caçador atirou nele
ainda ativo em sua corrente sanguínea. − E você já trouxe Quincy e
Pierce para casa. Sarge... Bem, Satros disse que ia encontrá-lo e fazê-lo

~ 120 ~
Pegasus Lançamentos

voltar para a fazenda, Elgin. Precisamos encontrar a mulher que estava


com Leidolf antes que ela se machuque. Caso ela já não esteja.

Leidolf sentou na cama, tão grogue que tudo o que sabia era que
precisava fazer xixi e ir para a floresta, assim que fosse humanamente
possível, para resgatar Cassie.

− Ele continua a divagar sobre ela estar em perigo. −


Acrescentou Laney, as palavras expressando sua preocupação, a voz
baixa, mas não baixo o suficiente para que Leidolf não pudesse ouvir.

Sozinho no quarto, Leidolf rosnou para si mesmo:

− Eu não divago.

− Nós já temos dois homens nisso. E eu já falei com ele sobre


mais de nós voltarmos para ela, mas ele diz que não, que tem que ser
ele o único a resgatá-la. Ele não está fazendo nenhum sentido. Ele não
pode ir a lugar nenhum do jeito em que se encontra. Se ela precisa de
nossa ajuda, nós precisamos ajudá-la. – Elgin falou, concordando com a
sua companheira de todo o coração.

− Não há nada de errado com a forma em que estou. − Leidolf


reclamou em um murmúrio.

− Bem, vão procurá-la, Elgin. Você e Fergus. Vão buscá-la e


trazê-la de volta para ele. Não dê ouvidos a ele. Ele está muito drogado
para fazer qualquer sentido. Vocês dois são ótimos rastreadores e são
seu segundo e terceiro, o que significa que se ele está incapaz de liderar
a alcateia, vocês dois comandam.

− Não! − Leidolf gritou.

~ 121 ~
Pegasus Lançamentos

Porra, embora ele mal conseguisse se lembrar do que havia


acontecido, exceto que os caçadores atiraram nele quando estava
rastreando Cassie, e de ela tentando acordá-lo. Rudemente em algum
momento, ternamente em outros. E como nada estava funcionando, ela
recorreu às palavras que ele gostou de ouvir. “Hmm, o grande lobo mau
não é mais tão grande nem tão mau”, a frase retumbou em torno de seu
cérebro, a boca atrevida pronunciando as palavras tão docemente que
até agora em seu estado semidopado, ele estava ficando excitado. E
depois? Ela o chamou de idiota preguiçoso.

Ele bufou, em seguida, tentou sair da cama, mas caiu para trás
contra os travesseiros e xingou sob a respiração.

O grande salão ficou em silêncio, ninguém falou nada nem um


corpo se movimentou. Ele imaginou os membros de sua alcateia
esperando em silêncio horrorizado até que ele desse permissão para
falar. Ele gemeu.

Inferno, as últimas palavras da sua ninfa para ele foram para


deixá-la em paz, e essas palavras ricocheteavam em torno de seu
cérebro cansado. Ela era danada de boa em evasão, tanto quanto ele
era danado de bom em seguir um de sua espécie. Então, ele estava
certo de que, se metade de seus homens fossem atrás dela na floresta,
eles a afugentariam, e ela deixaria prontamente a área para sempre.

Ele estendeu a mão para corrê-las pelos cabelos emaranhados.


Ele tinha que fazer alguma coisa, mesmo que não pudesse fazer muita
coisa.

− Elgin! − Ele tentou conter a raiva, mas não se controlou o


bastante.

~ 122 ~
Pegasus Lançamentos

Alguém correu pelo corredor e, em seguida, enfiou a cabeça no


quarto.

− Você me chamou?

Leidolf rangeu os dentes e encarou Elgin.

− Precisamos de um enfermeiro ou um maldito médico em nossa


alcateia. Agora! Maldição. Se tivéssemos um, ele provavelmente poderia
me dar alguma coisa para combater a droga no meu sistema.

− Sim, senhor, mas não conhecemos nenhum.

− Ajude-me a me vestir.

Elgin não se mexeu um centímetro.

− Você não pode ficar em pé.

Leidolf deu um suspiro exasperado.

− Eu tenho que ter certeza que ela está bem.

− Por que ela não ficou com você até chegarmos? − A acusação
estava bem à frente. Cassie não o queria, é por isso.

− Ela pensou que eram caçadores. Então, ela estava tentando


levá-los para longe de mim, apenas...

Os olhos de Elgin ampliaram-se um pouco.

Sim, Leidolf sabia exatamente o que Elgin suspeitava, que a


mulher percebeu que os homens faziam parte de sua alcateia e havia
fugido, em vez de voltar para casa com eles.

~ 123 ~
Pegasus Lançamentos

− Ela pode já ter um companheiro e uma alcateia. − Elgin


sugeriu.

Não do jeito que ela tentou seduzir Leidolf. Ou teria sido apenas
uma atuação, uma tentativa de protegê-lo, colocá-lo de pé, e a caminho
de um lugar mais seguro? Claro, ela disse isto. No entanto, ela cheirava
muito provocativamente para não estar atraída por ele. E o fato de ela
ter dançado com ele... Ela estava mais interessada do que queria
admitir.

Ele sorriu ironicamente.

Elgin se posicionou.

− Fergus e eu vamos, pessoalmente, buscar a mocinha.

Leidolf franziu a testa.

− Não, ela...

O rosto corado, celular na mão, Fergus correu para dentro do


quarto.

− Todo o inferno desabou. Desculpe, Leidolf. Quincy e Pierce


estão determinados a compensar todos os seus erros, por isso, logo que
souberam que você encontrou uma vermelha na Floresta Nacional do
Monte Hood, saíram para pegá-la e trazê-la de volta para você... usando
suas peles de lobo, mais uma vez.

− Santo inferno. Fergus, reúna nossos homens, e Elgin diga a


Laney para me fazer mais café para levar...

− Vou preparar duas garrafas térmicas. − Laney prometeu,


levantou a voz para que ele pudesse ouvi-la de onde estava escondida

~ 124 ~
Pegasus Lançamentos

no corredor, bisbilhotando. Ela não precisava levantar a voz. Tão perto


quanto ela estava da porta, ele a ouviu muito bem.

Leidolf balançou a cabeça.

Fergus socou os números em seu telefone e se dirigiu para o


corredor.

− O alfa disse que é para irmos em frente, Carver. Espalhe a


notícia para o seu grupo.

− Elgin, me ajude a me vestir. − Leidolf exigiu.

− Mas você mal consegue...

Leidolf deu um olhar que disse que não discutiria sobre isso, e
Elgin foi direto para o guarda-roupa. Não tentou pedir que ele
mantivesse a calma, pois o povo estava preocupado.

Inferno, era ruim o suficiente que Cassie ainda estivesse


correndo pela floresta sozinha e em perigo de ser atingida por
tranquilizantes pelos mesmos homens que atiraram nele, ainda pior que
Pierce e Quincy se juntarem a ela, e poderia transformar tudo em um
desastre total. E Sarge? Ele não confiava totalmente que Satros
conseguisse localizar Sarge sozinho, se não conseguiu até agora.

Cassie escapou com sucesso dos homens de Leidolf e não


encontrou nenhum sinal dos homens com as armas com
tranquilizantes. Então, ela estava de volta ao seu objetivo de encontrar

~ 125 ~
Pegasus Lançamentos

a loba e a ninhada. Depois que voltou para o lugar a um quilômetro de


distância, onde havia deixado o salmão enterrado, ela o desenterrou, em
seguida, mordeu o peixe e correu. A vantagem de ser uma bióloga de
lobos era que os subsídios federais, estaduais e até mesmo revistas,
pagavam a Cassie para fazer o que ela mais amava, misturar-se entre
os lobos selvagens para estudá-los e documentar o comportamento
deles. Se essas pessoas a vissem agora, como ela corria pelos antigos
abetos de Douglas florescendo ao lado do riacho em sua forma de loba
vermelha e com um peixe na boca, eles pensariam que ela era uma das
criaturas que ela era paga para pesquisar. Só precisava ter muito
cuidado, não fornecia às pessoas que lhe pagavam pistas sobre os lobos
que pareciam ter um monte de características humanas, assim, ela não
entregava nenhum segredo sobre sua própria genética de loba.

Além disso, ela era uma raridade em seu campo, além da


diferença óbvia de ser uma loba. Quando outros pesquisadores
estudavam lobos, eles muitas vezes formavam equipes. E muitos
pediam para acompanhá-la em suas pesquisas, desde que ela era tão
bem sucedida em conquistar os lobos. Quais as técnicas que ela usava?
Como ela era capaz de chegar tão perto e documentar tanto?

Um sorriso de satisfação tocou seus lábios. Será que eles não


gostariam de ver agora por que ela tinha um relacionamento tão
especial com os animais selvagens? Ela não esperava encontrar uma
loba em uma situação tão terrível que precisava de sua ajuda. Ou um
lobisomem que ela colocou no caminho do perigo.

Cassie parou e ouviu sons de alguém a acompanhando


novamente. Nenhum lobisomem parecia tê-la seguido. Ou eles estavam
sendo muito silenciosos.

~ 126 ~
Pegasus Lançamentos

Ela se apressou mais agora, queria encontrar a loba antes que


Leidolf acordasse, aonde quer que os seus homens o levaram,
recuperasse sua força, e voltasse a localizá-la, insistindo que ela o
provocasse com suas tentativas de sedução, quando ele estivesse
completamente desperto.

Ela mergulhou na floresta, em busca da loba, e esperava que


isso não durasse o resto do dia e da noite. Ela tinha que dormir em
algum momento. Definitivamente, não durante o dia.

Mas, depois de várias horas, ela roçou através dos ramos de um


abeto de Douglas e parou em uma das trilhas.

Apenas algumas centenas de metros de distância, um homem


agachado sobre uma moita de samambaias. Quase tendo um derrame,
ela parou. Alex Wellington. O loiro, biólogo de lobos de olhos azuis era
atraente e um cara bastante agradável. Ele pensava que era um
verdadeiro conquistador de mulheres, e se ela estivesse interessada no
tipo, poderia realmente ter se apaixonado por ele. Mas, embora ele
amasse lobos, tinha certeza que ele não seria capaz de lidar com o que
ela realmente era. E não estava interessada em se estabelecer nem com
um ser humano, nem com um lobisomem.

A mão de Alex agarrou um pedaço de pau conforme ele remexia


as folhas e afastava as folhas de samambaia, a mochila dele
provavelmente continha equipamentos para uma caminhada de vários
dias. Ele a estava seguindo, caramba. Ou a mãe loba. Em algumas das
áreas que ela atravessou, certamente havia deixado algumas pegadas
lamacentas, o suficiente para entregá-la a alguém como ele, que poderia
rastrear um lobo.

Dois abetos de Douglas a escondiam em parte, então ela estava


metade camuflada na floresta.

~ 127 ~
Pegasus Lançamentos

Com o coração batendo acelerado, ela esperava que ele não fosse
olhar em sua direção e detectá-la antes que pudesse sair dali,
atravessar o rio, e seguir para outra área. Como se lesse os seus
pensamentos, ele levantou a cabeça e olhou em sua direção. Seus lábios
se separaram um pouco, e os olhos se arregalaram.

Ele nunca a viu em sua forma de loba, mas ele tinha o mesmo
olhar de admiração no rosto, quando ela o pegou a observando durante
uma palestra. Ele realmente amava os lobos, e se ela estivesse em sua
forma humana, ela poderia ter recrutado sua ajuda neste momento com
a mãe loba e sua ninhada.

Ele não se moveu, e ela sabia que ele estava com medo de
assustá-la. Ela também sabia que ele não iria machucá-la, mas,
novamente, temia que ele assustasse a mãe loba ainda mais, caso ela
solicitasse a sua ajuda.

Então vozes masculinas chegaram até eles, e ela olhou naquela


direção. Vozes iradas. Vozes perigosas.

− Eu disse a você, caramba. Tudo o que tinha a fazer era


esconder o corpo aqui até que eu pudesse obter as ferramentas
adequadas para enterrá-la. Então, onde diabos está o corpo dela?

O rosto bronzeado de Alex empalideceu quando ele ficou


agachado, imóvel, com a cabeça voltada na direção das vozes dos
homens.

− E eu disse a você. – O outro homem usava um tom mais


sombrio e ameaçador. − Este é o lugar onde eu a coloquei. Aqui mesmo,
droga. Talvez um puma a arrastou para longe.

~ 128 ~
Pegasus Lançamentos

− Então comece a procurar por ela. Nós temos que enterrá-la, ou


ela vai me entregar se alguém se deparar com o corpo. E acredite em
mim, se eu for pego, você também será.

Os dois homens seguiram na direção de Cassie e Alex. Ela


poderia ultrapassá-los, evitá-los, mas Alex estava em muita
desvantagem. Com o coração na garganta, ela largou o salmão e o
cobriu com folhas com sua pata.

Alex não estava se movendo, como se ele estivesse preocupado


com a segurança dela. Ela estava preocupada com a dele! Mexa-se,
Alex!

Ela esquivou-se para a floresta, longe da ameaça. Alguém corria


em sua direção.

Ela olhou para trás. Alex estava quente em seu encalço. Ela
poderia levá-lo para longe dos homens por um tempo, e em breve
ultrapassaria Alex e os homens, mas um deles disparou um tiro em sua
direção. A bala fez um ruído de rachadura, pois atingiu um tronco de
árvore nas proximidades.

− Alguém estava nos espionando! − um dos homens gritou. − Ele


foi naquela direção!

Oh, Deus, não. Alex era o tipo de homem que poderia espalhar
corações partidos em todo o lugar por causa de sua forma fácil com as
mulheres e sua incapacidade de ficar com uma menina por um longo
prazo, mas ele era um cara legal o suficiente em se tratando de homem.
Ela abrandou a corrida. Respirando fácil, Alex estava correndo em sua
direção, o rosto nem mesmo suando, a barba loira apenas aparecendo
em sua mandíbula tensa, os olhos azuis cheios de preocupação.

~ 129 ~
Pegasus Lançamentos

Quando ela parou, ele acenou para que ela continuasse como se
ela soubesse sinais humanos. Mas os homens estavam correndo logo
atrás deles, encontrando o rastro de samambaias e galhos quebrados
pisoteados, ouvindo Alex espatifando a vegetação rasteira e os passos
pesados.

E eles estavam ganhando. Talvez ela pudesse atrasá-los. Ou


desviá-los para que Alex pudesse fugir. Ela não conseguia se comunicar
com ele para que ele soubesse o que ela queria fazer. Ela tinha que
levar em consideração que, embora as balas não a matassem, uma
lesão poderia colocá-la em perigo.

Quando ela parou, Alex também o fez. Ela balançou a cabeça.


Ele tentaria protegê-la.

Ele puxou uma faca de caça, e ela olhou para a faca, em


seguida, olhou em seus olhos. Ele tinha um olhar desesperado em sua
expressão.

Ela não havia pensado em matar os homens, mas Alex estava


certo. Eles estavam em perigo de serem assassinados. Ou pelo menos
Alex estava. Os homens se aproximaram. Alex não sobreviveria
enquanto os homens carregavam armas e ele só estava armado com
uma faca.

Antes que ela pudesse mudar de ideia ou pensar sobre os


filhotes de lobo e o que seria deles se ela não ajudasse a mãe ou se
preocupar em encarar dois caçadores, ela se concentrou em Alex. Seu
único pensamento era salvar a vida de um ser humano. Um ser
humano que era respeitado no campo da biologia de lobos. Um amigo,
não próximo, mas próximo o suficiente.

Ela disparou na direção dos homens.

~ 130 ~
Pegasus Lançamentos

− Não! − Alex gritou.

Droga! Permaneça escondido e fique quieto. Ele correu atrás


dela. Ele ia acabar se matando.

− Por aqui. − O homem disse e mudou de direção, vindo direto


para ela.

Ela circulou em torno de um pinheiro frondoso e ficou cara a


cara com um dos próprios demônios, o Barba Negra, os longos cabelos
negros e encaracolados, a barba muito preta e desalinhada, as roupas
de camuflagem verde oliva do exercito se misturavam com as novas
folhas verdes da floresta. Ela não recebia uma dica do seu cheiro. Desde
que ela estava a favor do vento, deveria ter sentido alguma coisa. O que
ele comeu, alho, carne, o seu cheiro humano masculino, suor, medo.
Alguma coisa.

Spray de eliminação de cheiro de caçador.

Ela estreitou os olhos para a ameaça. Como loba, seu instinto é


de autopreservação. Como lobisomem, ela se preocupava com o sigilo a
todo custo. Como humano e colega do biólogo de lobos, ela tinha que
salvar Alex. No entanto, o que ela estava prestes a fazer era não só
perigoso, mas também era contra seu melhor juízo de lobisomem.

O caçador apontou a arma para ela. Ela saltou sobre ele,


observando que seus olhos castanhos eram quase negros enquanto ele
a olhava com choque e surpresa. Um grito angustiado ressoou de seus
lábios.

Sua ação o assustou tanto, que ele não atirou. Mas o engatilhar
de um rifle a esquerda dela obrigou seus pelos a se arrepiarem desde as
costas de Cassie até a ponta de sua cauda. Meio escondido nas

~ 131 ~
Pegasus Lançamentos

sombras da floresta, o companheiro de crime do homem puxou o


gatilho.

O tiro ecoou pela floresta, o som ensurdecedor para os ouvidos


sensíveis. A bala atingiu o ombro dela, como uma pedra batendo, mas
ela não sentiu nenhuma dor. Ainda não.

Sua estocada abateu o primeiro homem, ainda deitado de


costas, e ela imaginou que o outro iria atirar nela novamente.

Ela não tinha escolha a não ser correr e esperar como o inferno
que Alex tomasse conta de si mesmo. Ela correu para a floresta, e o
homem disparou novamente mais duas vezes, mas errou em ambas as
vezes, as balas fragmentando a casca de duas árvores próximas. Ela
passou direto por Alex, que estava agachado nas samambaias, a faca
ainda na mão.

− O inferno, cara, você está bem? − Um dos bastardos


assassinos perguntou ao seu comparsa.

O outro apenas gemeu.

Bom. Talvez Alex ainda tivesse uma chance de fugir. Mas novos
tiros ecoaram de algum lugar ao longe. Três tiros em rápida sucessão.
Ela ziguezagueou para longe do novo tiroteio, a adrenalina em seu
sistema fluindo tão forte que ela não sentia a dor ainda. Ela sabia que
foi atingida, era melhor estar em algum lugar seguro ou estaria em um
inferno de muito mais problemas.

Embora se esforçando, Cassie sentiu sua corrida desacelerando,


mas não ouviu nenhum som dos homens a seguindo. Alex estava bem?
Permanecia escondido? Com sua velocidade de loba, ela conseguiu
colocar uma boa dose de distância entre eles. O que em parte era bom,

~ 132 ~
Pegasus Lançamentos

talvez eles não a alcançassem, embora tivesse certeza de que eles


estavam mais interessados em matar o homem que os ouviu, do que
numa loba ferida que, provavelmente, iria morrer de qualquer jeito, na
maneira deles pensarem. Mas isso significava, provavelmente, continuar
a procurar Alex.

Cassie tropeçou, seu galope retardando a um trote agora. A


umidade fria emaranhando seu pelo. O coração batia muito forte, e sua
respiração difícil, fazendo os pulmões doerem. Ela tropeçou novamente
e xingou para si mesma. Ela não salvaria ninguém, se não continuasse
em movimento, não deitasse...

Ela caiu. Apenas caiu contra a sua vontade, a força se foi,


incapaz de se mover uma polegada em qualquer direção, a dor agora
explodindo no ombro. Esparramada no chão da floresta, semienterrada
pelas novas samambaias da primavera, ela deitou ofegando de lado
enquanto roxos trílios3 silvestres apontavam para o seu focinho como se
identificando seu esconderijo. Descansaria algumas horas então
esperava que se curasse o suficiente para fazer o caminho de volta para
checar Alex.

O som de duas pessoas correndo pelo mato em direção a ela


alimentou seus piores pesadelos. Ela prendeu a respiração. Os
assassinos iriam matá-la se a encontrassem. Em seguida, os passos
pararam abruptamente. Por alguns segundos, eles ficaram quietos, o
que aumentou a sensação de medo.

E se eles tivessem perdido seu rastro?

3 Tipo de erva norte-americana.

~ 133 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Oito

Apesar da insistência de Leidolf para dirigir o carro, Elgin não


deixou, e Fergus e Carver apoiaram o beta. Quem era o líder da alcateia
por ali, afinal?

Elgin continuou defendendo suas ações.

− Você mal conseguiu se vestir sem a minha ajuda.

Leidolf deu-lhe um olhar de advertência para ele não dizer uma


palavra sobre isso. Carver e Fergus tentaram parecer sérios, mas ele
notou o ligeiro humor em suas expressões. Ele ignorou os outros
homens, não querendo ver o mesmo tipo de sorriso no resto do seu
povo.

Nenhuma vez Leidolf mostrou um lado “bêbado” de si mesmo, e


eles nunca iriam vê-lo assim novamente, se ele tinha algo a dizer sobre
isso.

− Isso foi se vestir. Posso dirigir muito bem.

Seus homens pareciam meio preocupados que ele fosse dar-lhes


o inferno quando estivesse se sentindo melhor, mas Leidolf via que eles
estavam orgulhosos de si mesmos por defenderem o que eles sentiam
que era o certo. Todos o encaravam corajosamente, os queixos
levantados, as expressões determinadas, as sobrancelhas levemente
franzidas.

~ 134 ~
Pegasus Lançamentos

Mesmo em sua mente nebulosa, Leidolf sabia que o fato deles o


estarem enfrentando quando achavam que era a ação correta a ser
tomada, era um passo positivo na direção certa. Se ao menos não
estivesse tão louco, e eles não rejeitassem todas as suas ordens!

Ele rosnou quando Fergus e Carver o levaram para o Suburban


e o ajudaram a sentar no banco do meio. Ele rosnou para eles quando
Carver teve a coragem de apertar o cinto de segurança para ele. E
maldição, se Elgin não dirigisse como um velhinho quando finalmente
pegaram a estrada principal.

− Dirija mais rápido, caramba, Elgin. Eu poderia trotar lá fora


como um lobo e chegaria um inferno de muito mais rápido.

Ele olhou para os rifles que eles trouxeram, e Fergus disse:

− Nós trouxemos armas com tranquilizantes no caso de nos


deparamos com os caçadores que estão armados dessa maneira. Achei
que você não queria atirar em qualquer um com balas.

− Bem pensado.

Carver entregou a Leidolf a primeira das garrafas térmicas de


café quente e preto que Laney fez para ele. Ele agarrou a maldita coisa e
começou a beber. Tomando uma pausa depois de engolir outro gole, ele
disse:

− Elgin... dirija... mais rápido!

Em seguida, o celular dele tocou, e Carver se apressou em pegar


a garrafa térmica dele enquanto Leidolf se atrapalhava para tirar o
celular do bolso, quase o derrubando no processo.

~ 135 ~
Pegasus Lançamentos

Carver ergueu as sobrancelhas para ele como se para ressaltar


que Leidolf não teria conseguido dirigir do jeito que estava. Leidolf deu-
lhe outra carranca severa em retribuição.

Quando ele atendeu o celular, esperando notícias de Laney ou


dos outros homens na caminhonete os seguindo, ele ouviu a voz muito
doce de sua irmã. Acasalada com um lobo cinzento e vivendo em Silver
Town, Colorado, Lelandi, não teria acreditado que o seu severo irmão
estava mimando uma alcateia de lobisomens psicologicamente e
fisicamente abusados. Mas ele não admitiria os problemas da alcateia
para outras pessoas que não fossem integrantes dela. Em outro lugar,
ele assumiria o melhor deles se alguma ameaça perturbasse a sua
espécie.

− Laney ligou e disse que você encontrou a sua companheira.


Quando seria um bom momento para visitá-lo? – Lelandi perguntou.

− Laney se enganou − Inferno, talvez ele quisesse Cassie como


companheira, e ela certamente parecia interessada nele, apesar de um
pouco apreensiva em ser reconhecida como loba, mas no que se tratava
de mulheres, ele nunca poderia ter certeza. E o que possuiu Laney para
dizer a sua irmã o que estava acontecendo, afinal? Inferno, era melhor
ela não dizer nada para a mãe dele.

− Você parece bêbado, querido irmão. O que é totalmente


incomum para você. Na verdade, eu não me lembro de alguma vez você
beber qualquer coisa alcoólica. O que há de errado?

− Eu tenho... − Ele quase disse problemas da alcateia. Não era a


coisa certa a dizer. Inferno, e se o seu cunhado sentisse o desejo de vir e
resgatá-lo? Ou pior, sua irmã? Ele com certeza não iria contar sobre o
caçador que atirou nele um dardo tranquilizante. Ele rosnou. − Eu
estou no meio de... Inferno, não há nada errado.

~ 136 ~
Pegasus Lançamentos

− Deixe-me falar com Elgin.

− Ele está dirigindo. − Assim que as palavras saíram, ele soube


que foi a coisa errada a dizer.

Uma pausa tão longa se seguiu, que ele jurou que poderia ouvir
os pensamentos da sua irmã se agitando. Se fosse a qualquer lugar, ele
sempre dirigia. Desde que fez treze anos e era alto o suficiente para
alcançar o pedal do acelerador, porque o pai deles usava cadeira de
rodas. Bem, era mais do que isso. Ele não confiava em motoristas
mulheres. Ou homens.

− O que há de errado? − Ela perguntou de novo, parecendo


preocupada neste momento.

− Lelandi, não há nada. E não tente me analisar com o curso


que você está fazendo. Seu companheiro deveria saber melhor do que
deixá-la tentar se tornar uma psiquiatra.

− Psicóloga.

− É a mesma coisa. Ambos pensam que podem ler a mente. −


Estática começou a interferir na ligação. − Não consigo escutar. Falo
com você mais tarde. − Ele desligou rapidamente e viu Carver o
observando.

Fergus rapidamente se virou para ver a estrada. Nenhum dos


membros da sua alcateia havia encontrado sua irmã, certamente eles
estavam curiosos sobre o seu relacionamento com ela. Era muito tenso.
Não só ela havia acoplado com um lobo cinzento contra a sua vontade,
o que era um ponto de atrito entre eles, e ela ainda se ressentia dele ter
saído da alcateia quando sua família mais precisava dele.

~ 137 ~
Pegasus Lançamentos

E considerando o que poderia ter acontecido com sua família e


como sua outra irmã havia morrido, ele sempre sentiria culpa. Ele teve
suas razões para sair, mas a morte de Larissa superou qualquer motivo.

Então, uma coisa lhe ocorreu.

− Elgin, por que você foi me procurar na floresta? Você deveria


estar procurando por Quincy e Pierce.

− Nós os encontramos, e Carver os levou de volta para a fazenda.


Nós ainda estávamos tentando rastrear Sarge quando ouvimos o uivo
feminino e localizamos você. – Elgin justificou.

− Será que Elgin lhe disse que uma puma matou dois de nossos
bezerros recém-nascidos? – Fergus perguntou. − Você quer que nós a
caçemos?

A fazenda já havia perdido uma tonelada de dinheiro, mas


Leidolf não conseguia descobrir a causa.

Eles certamente não poderiam se dar ao luxo de perder todo o


rebanho.

Ele não era contador. Nenhum dos membros da sua alcateia se


voluntariou para o trabalho de manter o controle das questões
financeiras também, e ele não estava pronto para forçar alguém a fazer
o trabalho tedioso. Não quando temia que quem fizesse o trabalho, teria
medo de confessar que algo estava errado com as finanças ou não
soubesse como solucionar as discrepâncias, assim como ele não
conseguia.

− Poderia ser uma fêmea com filhotes. Que tal falar com aquele
homem do zoológico que gosta de resgatar animais selvagens? − Leidolf
sugeriu.

~ 138 ~
Pegasus Lançamentos

− Aquele que colocou a fêmea vermelha, Bella Wilder, no


zoológico? Henry Thompson?

− Sim, é esse mesmo. − Sentindo-se esmagadoramente grogue,


como se tivesse trabalhado uma semana direto sem dormir, Leidolf
fechou os olhos por um momento.

O maldito tranquilizante ainda nublava sua consciência.


Quando abriu os olhos, todo mundo estava olhando para ele. Inclusive
Elgin, que deslizou o olhar para o espelho retrovisor para verificá-lo.

Ele não estava dormindo, droga!

− Talvez Thompson leve o puma para o zoológico. Eu gostaria de


conhecer o homem um pouco melhor. Aparentemente, ele ainda está
procurando a loba vermelha “desaparecida”, e eu odiaria pensar que ele
poderia pegar um dos nossos membros da alcateia algum dia, pensando
que é ela. – Leidolf concluiu.

− Alfred disse que deveria tê-lo eliminado quando teve a chance,


depois que o homem colocou a Bella no zoológico. – Elgin falou.

− Alfred disse e fez um monte de coisa que não deveria. E olhe


onde o levou.

Todo mundo ficou em silêncio.

Leidolf soltou a respiração.

− Vamos caçar a puma e entregar ao Thompson, junto com os


filhotes, se houver, e ele tiver interesse. Se o pessoal do zoológico
preferir, eles podem transferi-la para algum outro local aonde não
prejudique o gado. Monitorar parcialmente as atividades de Thompson
pode impedir que um dos nossos seja pego na forma de lobo no futuro.

~ 139 ~
Pegasus Lançamentos

Elgin resmungou baixinho.

− E manter ele ou ela no zoológico.

− Isso ajuda a conhecer o seu... Bem, não exatamente inimigo.


Thompson tem as melhores intenções para manter os lobos seguros.

− Confinados. − Elgin disse amargamente.

Leidolf suspirou, pensando que exigiria um diabo de um esforço


para que sua alcateia se convencesse. Ele estendeu a mão para a
garrafa térmica de café, e quando Carver deu a ele, começou a beber a
coisa quente e preta novamente. Só esperava que pudesse caminhar por
conta própria quando chegassem ao local da floresta.

Ele olhou para fora da janela. Inferno, Elgin estava dirigindo


ainda mais lento agora?

− Elgin!

Ele sentiu o veículo acelerar em frente e sorriu.

No intervalo que bebia a segunda garrafa térmica de café e o


tempo que levou para dirigir de volta a Floresta Nacional Monte Hood,
Leidolf sentia-se quase normal novamente quando eles chegaram.

Talvez não completamente. Ele se sentiu meio drogado e meio


estimulado com a cafeína. Mas Leidolf não estava prestes a relaxar. Não
quando o seu povo e Cassie poderiam estar em perigo.

Em uma corrida para localizar os membros rebeldes e a mulher


de seus sonhos, Leidolf e seus homens finalmente chegaram ao lugar
onde ele havia caído após ser drogado e onde ela havia fugido.

~ 140 ~
Pegasus Lançamentos

− Espalhem-se. − Ele disse aos dez homens com ele. − Passem a


informação se virem qualquer vestígio.

Elgin e os homens rapidamente se espalharam em uma longa


fila pela floresta.

Dentro de minutos, tiros foram disparados, e Leidolf temeu o


pior. Talvez Quincy ou Pierce, os quais foram em busca da fêmea, em
suas formas de lobo, tivessem sido baleados. Ou talvez Sarge ou Satros
ou sua ninfa da floresta. Mas talvez nada disso tivesse acontecido.

Talvez caçadores tivessem matado um veado ou alguma outra


criatura infeliz.

Rezando que seus homens estivessem a salvo e Cassie também,


Leidolf correu em direção ao som dos últimos tiros, enquanto cinco dos
seus homens, liderados por Fergus, partiram para a área onde o
primeiro tiroteio havia soado. Elgin, Carver, e outros três homens
seguiram Leidolf, em busca de alguma pista.

− Fêmea vermelha. − Elgin logo avisou, apontando para gotas de


sangue e tufos de pelo vermelho preso em um ramo.

Com o coração martelando, Leidolf levantou o nariz hábil e


cheirou. Era dela. De Cassie. Seu sangue agitava enquanto estudava
rapidamente o terreno em busca da trilha de sangue que ela deixava
para trás.

− Por aqui.

− É a fêmea que estava com você, cuidando de você, não é? –


Elgin se manteve por perto, em busca de qualquer evidência de sua
trilha. − Nós vamos encontrá-la, Leidolf. Vamos levá-la de volta para a
fazenda com a gente. Nenhum caçador maldito vai matá-la.

~ 141 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf mal o ouviu, seu temperamento pronto para explodir. Se


ele encontrasse o homem que atirou nela... ele tinha que controlar o
lado mais obscuro de sua personalidade, ou cortaria o idiota em
pedaços.

Agora, seu ombro doía como o inferno, deitada no chão sem


condições de correr ou lutar, Cassie sentia como se quem a estava
seguindo tivesse se transformado em um par de fantasmas que
apareceriam de repente diante dela, as expressões macabras enquanto
eles a condenavam à morte. Certamente viu muitos filmes de terror. Os
homens ficaram em silêncio a alguma distância dela, escondidos da sua
vista, na floresta.

− O rastro de sangue leva nesta direção. − A voz rouca de um


homem finalmente falou. − Malditos caçadores. São rastros de lobo,
Joe.

Oh, inferno. Quem quer que fossem, eles a rastrearam.

Mais uma vez, silêncio. Então, o homem falou novamente.

− Pelo vermelho, lobo vermelho.

Ótimo. Eles até sabiam o que ela era. Mais biólogos de lobos?
Isso seria altamente improvável. Eram os homens de Leidolf então?
Ainda procurando por ela, depois de terem levado o alfa para casa?

− Você acha que é ela, não é, Thompson? A Rosa? A loba que


nós capturamos e colocamos no zoológico no ano passado?

~ 142 ~
Pegasus Lançamentos

Seu coração pulou uma batida. Zoológico? Não eram os homens


de Leidolf então.

− Ela é um loba vermelha certamente. Este é definitivamente um


pouco de seu pelo. Tem que ser a Rosa.

Rosa? Era esse o nome da loba com os filhotes que Cassie havia
descoberto?

Ela ficou imóvel, enquanto os homens se dirigiram para ela


novamente, aproximando-se. Não sabia quem eles eram, mas pelo
menos não pareciam ser caçadores com intenção de matá-la. Mas a
menção ao zoológico colocou um novo giro aterrorizante sobre a sua
situação.

Botas pesadas pisoteavam o chão, crescendo cada vez mais


perto.

− Não! Inferno, ela foi atingida. – Thompson parou de repente, os


olhos azuis arregalados, com a testa franzida.

Ele estendeu as mãos como se quisesse mostrar que não iria


matá-la, enquanto um rifle estava pendurado sinistramente em uma
alça sobre o ombro. Suas roupas estavam manchadas de verde e preto,
em uma tentativa de se misturar com a floresta, mas os olhos azuis
chamavam muita atenção. Se ele estivesse escondido numa tenda de
caçador, seus olhos iriam facilmente traí-lo.

Ela se mexeu, ou pelo menos tentou, mas uma dor aguda veio
através de seu ombro, e ela gemeu.

− Calma, menina. Eu não vou machucá-la. − Ele disse em voz


baixa, tranquilizador, como se capturasse lobos ferozes feridos todo o
tempo.

~ 143 ~
Pegasus Lançamentos

Ela levantou a cabeça para rosnar, avisando os dois homens


para ficarem longe, mas não tinha forças.

− Ela está em más condições. Devemos aplicar um


tranquilizante? − Joe se aproximou.

Ele não era tão alto quanto Thompson. Parecia um cara do


exército em roupas camufladas, só que as roupas estavam tão
enrugadas e folgadas, que ela imaginou que ele falharia numa inspeção
em uma formação militar.

− Use uma dose mais leve com ela. Vai ajudar a aliviar a dor.

Não, porra, nada de droga. Ela tentou recuperar as forças e


levantou a cabeça, mas deixou-a cair de volta, exasperada, a força
extinta.

Joe preparou o rifle e atirou. Em seguida, sentiu uma punhalada


no seu flanco. Ela gemeu um pouco em resposta. Não sabia se o dardo
ajudaria a combater a dor. Ela pensou que rosnou para eles, mas não
tinha certeza. Agora sabia como Leidolf havia se sentido. Bem, não
sobre a dor, mas sobre o tranquilizante.

Ela quase desejou que ele estivesse ajoelhado em cima dela, nu,
persuadindo-a a transar com ele, acariciando seu rosto, e empurrando
o corpo mole dela, qualquer coisa para levantar sua bunda preguiçosa
do chão e mover-se como loba novamente. Forte, ágil, rápida, e fora
dali.

Thompson andou em torno dela, examinando sua aparência.

− Deve ser a Rosa. Mas e o outro em que atiramos? Ele deve ser
o seu companheiro.

~ 144 ~
Pegasus Lançamentos

Outro lobo? Então, esses foram os caras que atiraram em


Leidolf! Com um dardo tranquilizante.

Claro. Inferno. No caso, ela salvou a bunda dele, apesar de ter


sido a única a colocá-lo na situação perigosa, em primeiro lugar, mas
onde ele estava quando ela precisava ser resgatada?

Provavelmente feliz dormindo em uma cama macia na casa dele,


enquanto ela acabaria em uma jaula com um piso de concreto e uma
calha de água. Enjaulada! Thompson respirou fundo e se agachou perto
de suas costas, passando a mão sobre ela como se fosse seu cão de
estimação.

− Nós temos que levá-la ao veterinário, remendá-la, e salvar a


vida dela.

Um veterinário? Sua genética de loba pareceria perfeitamente


normal para um veterinário, não haveria problema nenhum. Ela só não
queria um médico de animais bisbilhotando suas entranhas.

− Agarre o focinho, por favor, Joe.

Seja o que for que Thompson planejava fazer, ela assumiu que
não iria gostar.

Cassie tentou afastar a cabeça, mas não conseguia mover uma


polegada de qualquer maneira. Joe tomou conta de seu focinho e
segurou firme. Ela rosnou baixo da sua garganta.

Thompson examinou sua barriga, passando a mão sobre suas


tetas, em seguida, levantou a perna.

− Ela não teve uma ninhada de filhotes, mas está no cio.

~ 145 ~
Pegasus Lançamentos

Sim, e não como uma humana, é claro, mas a qualquer


momento entre janeiro e abril, o lado loba dela entrava no cio, sua loba
estava pronta para um companheiro lobisomem. Ela suspirou. Não é à
toa que Leidolf enviou seus níveis de feromônio correndo até a lua.
Pobre lobo drogado. Se ele estivesse acordado o suficiente quando ela o
localizou, dormindo nas samambaias, para cheirar seus níveis elevados
de estrogênio e sentido o jeito que ela o tocava tão intimamente como
uma amante faria, ele não teria dado nenhuma chance dela escapar. E
ela não tinha certeza se queria escapar, também.

− Só queria ter certeza de que nós não deixamos para trás uma
ninhada em um covil num lugar próximo, quando nós a levarmos
daqui. Mas o grande macho em que nós atiramos já pode ter copulado
com ela.

Gentilmente, Thompson soltou sua perna e se afastou. Joe


rapidamente largou seu focinho e recuou. Ela não tinha forças para
mordê-lo de qualquer jeito, então ele não precisava se preocupar.

− Faça a ligação, se você conseguir algum sinal por aqui. Nós


realmente precisamos encontrar o macho também. – Thompson
decretou.

Ela fechou os olhos. Pelo menos Leidolf estava seguro. E por


isso, ela era grata.

O sol estava baixando rapidamente. O cheiro dos homens


suados e a sensação da brisa fresca no rosto dela desapareceram. Um
calor estranho bombeou por suas veias, até sua mente não conseguir
mais se concentrar em qual era a sua missão. Seus pensamentos sobre
os filhotes e a loba, sobre assassinos e estes homens, e também o loiro,
biólogo de lobos de olhos azuis, sobre veterinários e zoológicos, e
Leidolf, em pé, nu no lago, os olhos verdes querendo-a para passar a

~ 146 ~
Pegasus Lançamentos

noite com ele, sobre a maneira como o provocou para possuí-la quando
ele era um lobo drogado, e a maneira como ele sorriu diabolicamente de
volta, e qualquer outro pensamento que ela tentava agarrar, tudo caia
no esquecimento.

~ 147 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Nove

Leidolf e seus homens andaram mais de um quilômetro,


encontrando o rastro do sangue da loba em alguns pontos, o que os
ajudava a segui-la, quando ouviram dois homens conversando. Ele fez
um gesto para Elgin e os homens pararem no local. Eles estavam muito
longe para ver o que estava acontecendo, mas ouviam a conversa dos
homens muito bem.

− Eu não consegui captar qualquer recepção de telefone no


caminho até aqui também, Thompson. Tentei também mais perto da
autoestrada, enquanto eu estava procurando o lobo macho.

− Inferno, temos que levá-la ao veterinário. Pelo menos o


sangramento parou. Podemos usar essa lona para carregá-la até o
caminhão. Aqui, ajude-me a estender. Mas eu esperava que
pudéssemos chamar mais alguns homens para procurar o companheiro
dela, e que pudéssemos levar ambos para o zoológico, ao mesmo tempo,
Joe.

Companheiro? Inferno, estes eram os dois homens que estavam


no rio, e que atiraram nele! E planejavam levá-lo ao jardim zoológico?

Elgin olhou para Leidolf e sorriu, como se as palavras de


Thompson fossem uma indicação da verdade, no que se referia ao
comentário do companheiro. É melhor ele não estar sorrindo sobre o
fato de que Leidolf poderia ter acabado no zoológico.

~ 148 ~
Pegasus Lançamentos

Thompson? Henry Thompson? Inferno, o homem do zoológico.


Esta não era a maneira que Leidolf tinha em mente para conhecer o
homem.

− Eu não encontrei nenhum sinal do macho, depois de procurar


por ele durante as últimas horas.

− A droga em seu sistema pode ter desaparecido. − Disse Joe. −


Ele pode estar em qualquer lugar agora.

− Mas eu acho que se ela tem um companheiro, isso significa


que não podemos juntar a Rosa com o Vermelho, uma vez que ela esteja
suficientemente curada.

− Nunca se sabe. – Thompson salientou. – Talvez nós nunca


encontremos o macho para acasalá-los novamente, então o Vermelho
poderia ter uma chance. Assim que a levarmos ao zoológico, vou
garantir que algumas medidas adicionais de segurança estejam em
funcionamento, no caso de alguém tentar libertá-la novamente.

De jeito nenhum sua ninfa da floresta seria presa em uma jaula


com um lobo excitado.

− Vamos atirar neles e resgatá-la? − Elgin sussurrou para


Leidolf.

Movendo-se tão silenciosamente como um lobo, Leidolf assentiu,


aproximou-se para obter uma melhor visão dos homens, e levantou o
rifle, mas antes que ele pudesse dar a ordem final, todo o inferno
desabou.

Em suas formas de lobos, os lobisomens novatos correram em


direção a Thompson e Joe, os pelos do pescoço eriçados, os dentes

~ 149 ~
Pegasus Lançamentos

arreganhados, ambos rosnando ferozmente e se preparando para dar o


bote.

Puta merda! Pierce e Quincy!

Leidolf iria matá-los.

Alex se escondeu na mata, desesperado para perseguir a loba


vermelha ferida e cuidar dela, mas ele não se atrevia a se mover. O
homem de barba negra havia caído duro, bateu a cabeça na borda de
uma rocha, e não estava se movendo. Morto, talvez? Pelo menos Alex
desejava. Mesmo que ele acreditasse na justiça através de um
julgamento, em um caso como este, onde o assassino havia apenas
atirado numa loba e estava pronto para matá-lo também, ele esperava
que a rocha tivesse feito o cara no mínimo desmaiar.

O comparsa andou, chamou, tentou levantá-lo, mas o cara era


muito grande. O outro homem tinha o cabelo curto, loiro avermelhado,
no estilo militar, um pequeno cara durão, mas, apesar de sua carranca
temível, ele não conseguia mover o homem maior.

O sangue nas veias de Alex correu como gelo enquanto ele se


preocupava com o destino da loba. Precisava encontrá-la. Ele não
poderia falhar depois que ela o havia protegido.

Ele segurou a faca com mais força. Normalmente, era um


pacifista de coração, mas agora ele queria matar o atirador por ferir
uma rara loba vermelha.

~ 150 ~
Pegasus Lançamentos

Mas o que ele não conseguia entender, era a forma como a loba
atacou o caçador. Embora, não o atacou exatamente. Saltou nele, e Alex
esperava ver uma jugular rasgada. Mas, em vez de machucá-lo, ela o
impediu de atirar, como se tivesse instintos humanos. Como se ela
tivesse sido o animal de estimação de alguém.

Como uma loba, ela deveria ter continuado a fugir. Ela deveria
ter deixado Alex para trás para cuidar de si mesmo. Suas ações não
faziam qualquer sentido.

− Você pode me ouvir? − o cara baixo andou mais um pouco. −


Inferno, você fica aqui então. Vou procurar o cara que estava nos
ouvindo. − Ele levantou o rifle e saiu para a floresta para a esquerda de
onde Alex estava se escondendo.

Assim que o homem desapareceu de vista, Alex foi para a trilha


da loba tão silenciosamente quanto pôde, esperando como o inferno que
o atirador não a encontrasse, também. Ele suspeitava que o atirador só
fosse atrás dele, não da loba ferida. Ele passou por cima das raízes das
árvores, tropeçando através de samambaias e flores silvestres, atrás da
loba, tentando localizar o rastro de sangue que ela estava deixando em
folhas e galhos antes que o atirador descobrisse. Este não era o tipo de
estudo que Alex tinha em mente quando começou sua pesquisa de
lobos há oito anos.

Como uma estranha reflexão tardia, ele se perguntou o que


Cassie faria pela loba, se ela estivesse no seu lugar. Em seguida, uma
nova preocupação inundou seus pensamentos. E se ela estava por perto
e aquele maníaco a encontrasse? E se o atirador pensasse que ela
também ouviu a conversa?

Ela estaria em perigo também!

~ 151 ~
Pegasus Lançamentos

Escondido na mata, Leidolf amaldiçoou seus impulsivos novos


lobisomens vermelhos, antes deles atacarem Thompson e Joe enquanto
eles estavam improvisando uma maca de lona, e a loba continuava
imóvel no chão. Leidolf imediatamente disparou um tiro. Ambos os
lobos fugiram do som do tiro e o dardo acertou o seu alvo.

Thompson pegou o dardo em sua nádega esquerda e tentou se


levantar, mas tropeçou. Antes que um Joe atordoado pudesse reagir,
Elgin disparou um tiro contra ele e o homem repetiu as ações de
Thompson.

− Nós fomos... Fomos atacados. − Joe balbuciou e, em seguida,


desmaiou ao lado da loba.

− Inferno. − Thompson caiu ao lado dele, com os olhos fechados


pelo sono, e começou a roncar.

Leidolf e seus homens correram para verificar Cassie, enquanto


os rebeldes lobisomens lambiam seu rosto, choramingando, e dando
patadas em seus pés, tentando estimulá-la a se mexer. Então, o som de
um estampido pela floresta atraiu toda a sua atenção. Leidolf preparou
o rifle, mas era apenas Fergus, o rosto vermelho com o esforço.

− Temos problemas... − Fergus parou de falar e olhou para a


loba vermelha. − Ela é um de nós?

~ 152 ~
Pegasus Lançamentos

− Sim − Leidolf puxou a jaqueta, depois tirou a camisa e a


amarrou no ferimento do ombro da melhor forma que conseguiu. − Qual
é o problema, Fergus?

− Os caçadores que atiraram nela, eu suspeito, estão a caminho


daqui.

− Tudo bem. Vamos levá-la agora mesmo. − Leidolf vestiu a


jaqueta de volta e, em seguida, levantou Cassie retirando-a da terra
úmida para seus braços.

Ele deu aos novos membros da alcateia uma carranca que dizia
que lidaria com eles mais tarde. Ele precisava colocar todos os lobos
para trabalhar juntos, como uma alcateia genuína. Era a única maneira
deles sobreviverem e prosperarem.

− O que você vai fazer com ela? – Elgin olhava, esperançoso de


que ele ficasse com ela.

A metade lobo de Leidolf disse que a salvasse enquanto ela


estava em seu território, e o lembrou do quanto ela tentou seduzi-lo
quando não foi capaz de responder, o que significava que ela queria ser
dele. Sua metade humana o avisou para se preparar para uma
decepção.

− Ela fica na fazenda até que saibamos por que ela estava aqui.

− Mas você vai fazê-la uma de nós? – Elgin perguntou.

Leidolf levantou uma sobrancelha para ele. Provavelmente todo


mundo na alcateia já sabia que ele estava interessado em Cassie, se ela
estiver livre para acasalar. Mas será que eles pensavam que ele desceria
tão baixo a ponto de forçá-la a se juntar a eles?

~ 153 ~
Pegasus Lançamentos

− E quanto a eles? – Fergus apontou para Thompson e Joe,


enquanto Leidolf carregava a loba ferida para longe dos homens do
zoológico.

− Os caçadores podem cuidar deles. Só seja grato por Thompson


e Joe não nos terem visto. Mas como é que alguém vai explicar o
aparecimento de dois machos vermelhos e de uma fêmea na região? –
Elgin falou.

Sem mencionar o próprio encontro de Leidolf com os homens do


zoológico.

Leidolf soltou a respiração.

− Eles vão pensar que uma alcateia inteira de vermelhos mudou-


se para a floresta. E não existe caça de lobo por aqui há um longo
tempo. Mas outra coisa me preocupa. A loba que eu cheirei
anteriormente era diferente. Cassie estava sozinha? Ou ela estava com
outra?

Elgin coçou o queixo e franziu a testa.

− Se há outra lobisomem disponível na região, você vai ter uma


briga nas mãos, com certeza.

Por somente uma delas. Aquela era, com certeza absoluta, sua
para cortejar.

Conforme eles seguiam em direção ao acostamento que dava


início a trilha, onde o SUV estava estacionado a cerca de quatro
quilômetros, Cassie dormia profundamente nos braços de Leidolf, e ele
a segurava bem perto.

~ 154 ~
Pegasus Lançamentos

Logo, ela se mexeu. Ele esperava que ela continuasse dormindo


até depois que eles a colocassem no SUV, ou melhor ainda, até que
voltassem com ela para sua fazenda, mas ela se contorceu um pouco
mais.

Leidolf mudou seu agarre sobre ela, apertando o punho no caso


dela se tornar combativa.

Um lobo era um lobo, se era um lobo selvagem ou um


lobisomem, qualquer um dois poderia ser problemático caso acordasse
sendo transportado dessa forma, especialmente um que estava ferido.

Elgin franziu a testa.

− Ela está acordando.

Sem brincadeira.

E ela estava acordando rápido. Mais uma vez ela se contorcia,


lutando para se libertar, como se não gostasse de ser confinada por ele.
Ela não havia aberto os olhos e ainda parecia estar dormindo.

Fergus se aproximou.

− Quer que eu segure o focinho dela para que não tente mordê-
lo?

Antes que Leidolf pudesse responder, Cassie mudou de forma.


Direito em seus braços. Ela quase não deu nenhum aviso, apenas
rosnou baixo e ergueu a cabeça, como se fosse mordê-lo. Ela não
mostrou os caninos, mas os olhos verdes se estreitaram quando olhou
para ele, uma cintilação estranha de reconhecimento, e então... Ela
mudou para...

~ 155 ~
Pegasus Lançamentos

...Uma macia, nua, e linda mulher.

− Caramba! – Fergus tirou o casaco.

Elgin foi tirando o seu também, e rapidamente colocou sobre o


corpo nu dela. Ele ergueu as sobrancelhas e os lábios ligeiramente.

− Caramba, ela realmente é a mulher que eu vi correndo pela


floresta ontem. Não é à toa que você dançou com ela até muito além do
horário de fechamento do restaurante.

Leidolf baixou a cabeça devido um galho de árvore e escondeu


um sorriso. Seu olhar teria sido pura maldade por permitir que os
membros de sua alcateia vissem como ele apertava a mulher curvilínea.
Uma quente, lobisomem vermelha em carne e osso. Ele tomou uma
respiração profunda de seu perfume doce, sexy, toda mulher e loba, e
ele apreciou a suavidade de seu corpo, seu sexo pressionando contra
ele.

− Todo mundo disse que ela o puxou para a pista de dança e não
deixou você sair até as primeiras horas da manhã. E você disse que ela
se aproximou de você ontem no lago, certo? E ela agiu realmente
interessada? − Elgin continuou, um brilho nos olhos.

Era a primeira vez que Leidolf via esse lado de Elgin, mais à
vontade, a conversa mais leve.

Com a expressão neutra, Fergus olhou para Leidolf para ver sua
reação. Leidolf se recusou a reagir na frente de seus homens.

− Desde que ela ficou perto de você quando você estava drogado
até que chegássemos, eu diria que há algo ai. − Elgin parecia
calmamente divertido. − Nós vamos ter que garantir que ela fique aqui
por algum tempo e não fuja novamente.

~ 156 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu vou fazer o que puder para ajudar. – Fergus falou sério,


mas Leidolf notou uma ligeira elevação em seus lábios.

Apertando sua posse sobre ela, Leidolf não respondeu. Inferno,


este era o seu problema, não o da alcateia. Ele tomou outra respiração
profunda de seu perfume. Ele estava mais do que pronto para
conquistar a pequena loba vermelha, que parecia mais interessada em
lobos de verdade do que na sua própria espécie.

Ele pretendia ganhar a atenção dela.

Seguindo a trilha da loba ferida, Alex parou quando ouviu vozes


masculinas. Em seguida, elas desapareceram. Ele continuou à procura
de sinais da loba até que empurrou de lado um galho de pinheiro e
parou. Dois caçadores estavam mortalmente imóveis no chão, sangue
encharcava as folhas ao lado deles.

Ele correu para os dois homens, esperando encontrá-los ainda


vivos. Foi quando avistou o dardo nas nádegas de um dos homens.
Tranquilizantes? Mas que diabos?

Alex se agachou sobre o menor dos dois homens e agarrou seu


pulso. Pulso fraco. Ele verificou o outro homem, e encontrou o mesmo
resultado. Aliviado que eles não estavam mortos, examinou seus rifles
equipados com dardos tranquilizantes. Um recentemente disparado.
Um no outro? Mas apenas um havia sido disparado.

~ 157 ~
Pegasus Lançamentos

Antes dele procurar a identificação dos homens, Alex observou


área, à procura de sinais de que a loba ferida conseguiu se arrastar
para longe, assumindo que o sangue era dela.

Tudo o que encontrou foram gravetos partidos, sinais de botas


do tamanho grande, de homens vindo das áreas mais enlameadas pela
chuva recente, os rastros dos homens chegavam ao local de várias
direções, e pegadas de homens se afastando para longe da cena em um
único sentido. E rastros de lobos. Dois conjuntos de pegadas de lobos
correndo ao lado das marcas das botas enlameadas dos homens.

Olhando para a trilha deixada, Alex esfregou o queixo barbado.


Parecia que outros homens atiraram nos homens que agora dormiam
com calmantes, e partiram com os lobos.

Provavelmente, os mesmos homens que acabara de ouvir


falando. Da distância que eles estiveram, ele não conseguiu ouvir nada
da conversa. Graças a Deus ele não chegou ao local poucos minutos
antes, ou provavelmente estaria dormindo ao lado desses homens.

Mais uma vez, ele refletiu sobre as pegadas dos lobos. A loba
ferida e outro que não havia sido baleado parecia ter se movido pela
área. Ele examinou mais o solo lamacento. Não. Dois lobos vieram de
uma direção totalmente diferente da qual a fêmea ferida havia
percorrido, como evidenciado a partir do rastro de sangue que ela
deixou para trás.

Então, um dos homens estava levando a fêmea ferida?

Ativistas dos direitos dos animais?

Alex caminhou na mesma direção que eles deixaram como trilha


e descobriu longas mechas de pelos. Os lobos ainda estavam com

~ 158 ~
Pegasus Lançamentos

camadas pesadas de pelo de inverno, e eles também eram lobos


vermelho, e não cinza. Três lobos vermelhos juntos numa alcateia? No
Oregon? Meu Deus, que achado!

Se encontrasse pegadas femininas de menor tamanho, ele


juraria que Cassie havia se juntado a uma alcateia e tinha, ela mesma,
levado a fêmea vermelha para a segurança. Porém, ela não teria
condições de levantar uma fêmea ferida e levá-la por uma distância
considerável, além disso, não havia sinais da presença dela
absolutamente.

O que era mais do que bizarro, desde que ele seguiu seu rastro
por horas, partindo da caminhonete dela e depois o perdeu. Para
encontrar rastros de lobo. E estes o levaram a uma fêmea de lobo
vermelho. Pelo menos, o atirador que a feriu, parecia não estar se
aventurando nessa direção. Provavelmente com medo de que poderia
enfrentar caçadores com balas também. Ainda assim, ele se preocupava
com Cassie ter desaparecido. E que os homens que dispararam na loba
pudessem se deparar com ela e matá-la.

Alex procurou nos bolsos dos homens e encontrou a carteira de


motorista do homem maior. Henry Lee Thompson de Portland. E o
outro, Joe Smith, também de Portland.

E cartões de identificação do Jardim Zoológico de Oregon.


Caçadores, mas o tipo que colocava animais selvagens em um zoológico.

Alex se inclinou e tentou acordar os homens.

− Henry! − ele gritou, apertando o ombro do homem maior. −


Henry Lee Thompson − Sem sucesso. Em seguida ele tentou com Joe,
primeiro tentando puxá-lo para a posição sentada e, em seguida, o

~ 159 ~
Pegasus Lançamentos

sacudindo um pouco, mas a cabeça do cara caiu para trás, a boca


aberta, e os olhos permaneceram fechados. − Joe, acorde.

Não tendo sorte com nenhum dos homens, Alex pegou o celular
para ligar para a emergência.

Mas o que ele poderia dizer? Dois homens abatidos, atingidos


por tranquilizantes. Uma loba vermelha ferida que estava sumida. Mais
dois lobos, lobos vermelhos, supunha, atravessavam a área com um
bando de homens. Uma bióloga havia desaparecido. Dois assassinos à
solta, um em más condições, talvez sofrendo uma concussão. Talvez o
corpo de uma mulher estava em algum lugar da floresta, talvez
arrastado por um puma? Ou deveria fazer uma versão mais abreviada?

Alex sabia de uma coisa. O seu relatório não incluiria o seu


nome.

~ 160 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Dez

Fechando os olhos, Cassie gemeu, sentindo-se um lixo. O ombro


doía como se estivesse em chamas, e Leidolf a transportando estava
sacudindo-a demais para ser apreciado. O tranquilizante ainda estava
deixando seu cérebro confuso, e seus pensamentos flutuavam desde as
memórias de estudar os lobos do ártico no congelado Ártico Canadense,
até as de verificar os lobos vermelhos na quente e abafada Flórida. E,
em seguida, um lampejo de memória que ela tanto desejava suprimir, a
sua casa e as casas de seus tios todas em chamas, a sufocante fumaça
enchendo o ar, enquanto ela se escondia na mata próxima, incapaz de
salvá-los, incapaz de fazer qualquer coisa, além de salvar a si mesma. E
a culpa horrível que sempre sentiu por ter vivido e eles terem morrido.

Ela piscou para longe as lágrimas e fechou os olhos novamente,


a droga fazendo-a se sentir tonta, fora de controle. Ela inspirou a
masculinidade do viril lobisomem a carregando. Ela precisava saber
qual seria sua posição na alcateia, e quantos problemas ela teria ao
invadir o território deles.

No entanto, era a maldita culpa deles mesmos. Ninguém esteve


naquela área em eras. Ninguém deixou marcas de perfume para
reivindicar estas matas especificamente. Isto ela se lembrava.

Por que ela estava correndo pela floresta, como uma loba
durante o dia? Muito perigoso, não era do feitio dela.

~ 161 ~
Pegasus Lançamentos

Seus pensamentos se desviaram novamente, de volta a Leidolf,


que a segurava firmemente contra o peito, como se já a tivesse
reclamando. A posse é nove décimos da lei, certo4?

Ele a apertou com mais força contra seu corpo duro, como se
tivesse medo que não a estivesse segurando perto o suficiente. Um
pouco mais, e ela colaria nele permanentemente. Mesmo agora, ela
sentia o cheiro que confirmava que ele sentia tesão por ela. Os
feromônios dele fizeram sua parte, gritando que ele a queria.

O aroma era tão tentadoramente sedutor, que atiçava os


próprios hormônios dela à cederem aos seus impulsos biológicos. O
que, para ela, era muito bizarro para considerar. Ela nunca se sentiu
assim em relação a qualquer lobisomem macho, jamais. Provavelmente
porque ela tendia a ficar longe das alcateias da sua espécie. Muito mais
seguro para... Seus pensamentos foram carregados novamente como
notas de perfume na brisa que dispersam e desaparecem.

Ele olhou para ela, a expressão sombria enquanto caminhava


pela floresta, seus homens puxando ramos para longe de modo que ele
pudesse caminhar sem obstáculos com a cabeça erguida, como o rei.
Mas os olhos verdes-oliva lhe chamaram a atenção, e seus lábios se
curvaram numa insinuação. Ele sabia, droga. Ela não conseguia
esconder sua reação física a ele, não com ambos sendo lobisomens. Não
com o olfato tão apurado.

Ele tomou uma respiração profunda, e seu sorriso alargou, um


sorriso matador que poderia seduzir qualquer mulher a despir as suas
roupas e gritar: “Oh Deus, me ame!”

4É uma expressão que significa que manter algo é mais fácil quando se tem a
posse.

~ 162 ~
Pegasus Lançamentos

E ela estava pronta para fazer isso, não importava o que


defendia. Por enquanto, ela não tinha a menor ideia do que era. Achava
que não queria se tornar a companheira de qualquer macho. Mas a
memória da dança com Leidolf voltou com força total, amando o jeito
que ele se pressionava contra ela, a proximidade física que ela não
havia compartilhado com ninguém em eras. E emocionalmente, ela se
sentiu gratificada. Mas ficar com ele não se encaixava com os... Planos
dela.

Seu olhar focou o peito nu dele, abdominais esculpidos


implorando para ela explorar cada centímetro, e um leve punhado de
pelos trilhando para baixo do peito e desaparecendo no... Ela não
conseguia ver. Expondo seu torso, ele usava só uma jaqueta de couro
deixada aberta. Seu queixo teimoso, orgulhoso e elevado, com uma leve
barba por fazer de pelos ruivos o cobrindo, fazendo-o aparecer
pecaminosamente malandro. Ele olhou para ela e sorriu,
maliciosamente neste momento. Sim, ele a pegou o admirando de novo,
mostrando muito interesse.

Ela gemeu e fechou os olhos, tentando bloquear a visão dele, o


cheiro dele, a sensação dele a segurando perto, o calor do seu corpo, a
firmeza, o firme agarre que ele tinha sobre ela. Sua. Isso é o que toda a
postura dele gritava. E por um instante, ela gostou da sensação, mesmo
assim ela lutou contra.

Ela tentou se lembrar o que aconteceu mais cedo, antes de estar


nos braços dele.

Por que Leidolf a estava segurando, aonde ele a estava levando, e


o que diabos havia acontecido?

Sua mente continuava à deriva, impedindo-a de se concentrar


em algo por muito tempo. Ela pegou apenas fragmentos dispersos que

~ 163 ~
Pegasus Lançamentos

não faziam muito sentido, algo sobre caçadores e tranquilizantes,


jardim zoológico e clínica veterinária, e então os pensamentos
desvaneceram novamente, as raias da dor era a única coisa que
impedia seus pensamentos de se desligarem completamente.

E o cheiro e o calor dele. Ele exalava perigo, embora ela


acreditasse que ele pretendia mantê-la segura. Era um tipo diferente de
perigo. Em algum lugar nos recônditos de sua mente, ela reconheceu a
ameaça que ele representava, a sua liberdade estava em perigo, não a
sua vida.

Ela olhou para os dois lobos vermelhos correndo na frente deles,


dois homens mais velhos, mantendo o ritmo com o lobo machão que a
levava. De vez em quando, os dois homens olhavam para ela, sorrisos
em seus rostos. Eles pensaram que seu líder encontrou sua
companheira e estavam tremendamente satisfeitos.

Um grande, preto Suburban ficou à vista, e os dois homens


apressadamente abriram as portas.

Os lobos pularam para o banco traseiros. Os outros homens


esperavam, olhando-a, sorrindo timidamente.

Elgin correu para o lado do motorista.

− Acho que o velho Satros estava certo quando ele nos contou
sobre a pesca de salmão dela mais cedo em sua forma de loba
vermelha.

Leidolf a colocou gentilmente sobre o banco.

− Direto para a fazenda. − Ele subiu e a puxou em seus braços.


Assim, os outros homens passaram para o banco de trás, enquanto o

~ 164 ~
Pegasus Lançamentos

último subia no banco do passageiro na frente. O abraço de Leidolf era


quente e reconfortante.

− Por que ninguém me disse que Satros sabia sobre ela? −


Leidolf finalmente disse, com voz irritada.

− Eu pensei que ela fosse apenas uma loba qualquer. – Elgin


justificou.

Fergus pigarreou.

− Desde que você se tornou líder da alcateia, Satros assumiu


como missão, localizar uma companheira para você.

Leidolf ergueu as sobrancelhas para Fergus. O homem sorriu e


deu de ombros.

− Ele é quieto, não é de falar muito, mas ele sempre teve os


melhores interesses da alcateia em mente. E isso significa ter certeza
que você esteja bem satisfeito em ficar com o grupo e ter uma
companheira para garantir que teremos filhotes para propiciar
desenvolvimento por uma ou duas gerações.

− Ele não estava na sua forma de lobo quando ele estava


tentando encontrar a minha companheira mais cedo então, não é? −
Leidolf deu a Cassie um sorriso diabólico.

Ela fechou os olhos. O velho lobo deve tê-la visto quando estava
pescando no riacho, mas ela nunca o viu. E ela tinha notícia para o Sr.
Confiante Demais... ela não era sua companheira. Ela suspirou. Só
porque ela dançou com ele a noite toda, e só porque ela não conseguira
parar de olhar estupidamente para ele no lago, ou disse o que disse
para pô-lo de pé quando ele estava drogado, não queria dizer que ela
queria Leidolf como companheiro agora.

~ 165 ~
Pegasus Lançamentos

− O velho Satros não disse. – Fergus apontou. − Ele e cinco dos


nossos homens ainda estão procurando Sarge.

Leidolf rangeu os dentes, e Cassie tinha certeza de que ele


percebeu que o velho estava em sua forma de lobo hoje cedo e não
gostou. Ou talvez a irritação de Leidolf tinha algo a ver com quem este
Sarge era, provavelmente, um verdadeiro encrenqueiro.

− Você viu a fêmea vermelha? Ela estava com você? − Leidolf


perguntou a Cassie, seu tom de voz era suave. Ela ainda ouviu o toque
de comando em sua voz, como se ele estivesse tão acostumado a estar
no comando, que ele estava tendo dificuldade em mudar os papéis de
ser um homem preocupado. Por outro lado, ele provavelmente não
queria que seus homens o vissem no papel de homem apaixonado.

Ela descansou a bochecha contra seu peito nu, a pele quente e


os músculos rígidos, e ela vagamente se perguntou por que neste dia
frio de primavera o peito dele estava nu, enquanto os braços estavam
protegidos pelo couro. Ele passou os braços em volta dela de uma
maneira reconfortante.

Ela levantou a cabeça para dar outro olhar para ele, mas o
movimento enviou outra forte dor aguda em seu ombro. A última coisa
que ela lembrava era de deixar cair a cabeça com força contra seu peito
firme e ouvi-lo praguejar baixinho.

Vendo o número de veículos na casa da fazenda enquanto Elgin


dirigia até a calçada principal, Leidolf suspeitou que todos vieram para

~ 166 ~
Pegasus Lançamentos

ver Cassie. Querendo ficar sozinho com ela, até que ela estivesse
melhor, ele rosnou:

− Quem convocou a reunião da alcateia?

No Suburban, ninguém disse uma palavra enquanto Fergus se


apressava em abrir a porta de Leidolf, e Elgin liberava Pierce e Quincy
na parte traseira do veículo. Ambos saíram e saltaram para
cumprimentar Leidolf, como se não tivessem se visto em séculos, talvez
tentando ficar em suas boas graças novamente após o último fiasco.

Leidolf carregou uma Cassie adormecida para casa, mas os


casacos de Elgin e Fergus expunham muito de suas longas pernas bem
torneadas na frente do resto dos seus homens para o seu gosto, apesar
do fato deles estarem acostumados com a questão da nudez quando se
transformavam. Mas mudar de forma ocorria rapidamente, como um
meio de prevenir os humanos de capturá-los no meio de uma
transformação. Isto não era a mesma coisa. Pelo menos foi assim que
ele racionalizou o seu desgosto, por seus homens estarem vendo Cassie
tão exposta.

Então, esse negócio de Elgin reunir toda a alcateia o irritou.


Leidolf lançou-lhe um olhar severo.

Elgin não parecia intimidado. Ele deveria estar, pelo menos


desta vez! Na verdade, se Leidolf tivesse que descrever sua expressão,
ele diria que seu beta parecia bastante satisfeito com os
acontecimentos. Ele estava convencido de que Elgin estava mostrando
algumas verdadeiras qualidades de liderança.

Leidolf não estava prestes a deixar Elgin saber disso, embora, no


caso do seu beta se divertir com a ideia de promover outro golpe como
este.

~ 167 ~
Pegasus Lançamentos

− Elgin?

− Eu disse a Laney que estávamos trazendo a mulher ferida, a


bióloga de lobos que você levou para o clube na noite passada. Ela deve
ter chamado a lista de emergência.

− Por quê? Esta não é uma situação de emergência, onde todos


os membros da nossa alcateia precisam estar presentes. É um alarme
falso. − Leidolf levantou as sobrancelhas para enfatizar a importância
do seu comentário.

− Laney deve ter interpretado mal o que eu comentei. − Elgin


deu de ombros, não parecendo nem um pouco preocupado.

Leidolf olhou para um sorridente Fergus quando ele se


aproximou, mas o homem rapidamente escondeu a expressão. Ninguém
saiu da casa para recebê-los conforme Leidolf se dirigia para a porta da
frente com o seu precioso pacote de mulher suave e macia. Mas Leidolf
notou algum movimento em pelo menos três das janelas.

Ele disfarçou um suspiro exasperado. A mulher não era dele.


Ainda. Ele certamente pretendia que ela o fosse. Não precisava da
alcateia inteira para coagi-la a ficar, ele planejava fazer o seu melhor a
esse respeito.

Fergus saiu do caminho de Leidolf. Para alívio dele, apenas um


par de homens o saudaram na grande sala com expressões sérias,
acenos de cabeça, e nada mais.

Todo mundo estava fora de vista. Provavelmente com medo de


que ele realmente ficasse puto se eles o aborrecessem enquanto a
mulher estava ferida.

~ 168 ~
Pegasus Lançamentos

Laney saiu correndo da cozinha. Elgin rapidamente balançou a


cabeça para ela como se para avisá-la que Leidolf não estava satisfeito
com o que ela fez. Ela ignorou o aviso do seu marido e correu atrás de
Leidolf.

− Ela ainda está sangrando?

− Não. Ela perdeu algum sangue, contudo.

− Precisamos fazer uma transfusão. Nós não podemos levá-la ao


hospital? − Laney corria atrás dele, enquanto ele caminhava em direção
ao seu quarto.

− Ela vai se recuperar rapidamente. Nós não temos equipe


médica no hospital, como você está bem ciente. E não podemos explicar
o ferimento de bala. − Ele olhou para Laney, que estava torcendo as
mãos, e percebeu que, pela primeira vez desde que a conhecia, ela
estava agitada. Ele suavizou o tom. − Ela vai ficar bem com os nossos
cuidados. − Então franziu a testa. − Você não precisava chamar a lista
de emergência para isso.

Laney teve a coragem de olhar inocente.

− Elgin disse que realmente era importante. Que toda a alcateia


precisava saber.

Leidolf olhou em direção de Elgin. Desta vez ele parecia


encabulado.

− Uh-huh. − Leidolf entrou no quarto.

− Eu vou ajudá-lo a cuidar do ferimento, mas depois tenho que


ir ver a Felicity. − Laney correu para puxar as cobertas da cama, e ele
sentiu o cheiro fresco da primavera.

~ 169 ~
Pegasus Lançamentos

Ela deve ter lavado os lençóis com pressa, apenas a tempo dele
trazer a pequena loba vermelha para casa com ele. Pelo menos, aprovou
ela ter feito isso.

− Os bebês não estão a caminho ainda, ou estão? – Ele se


preocupou.

Ele colocou Cassie em sua cama e, em seguida, jogou as


jaquetas de Elgin e de Fergus de lado. A pele dela estava pálida, e
parecia muito mais recatada durante o sono sob a influência da droga.
Ele pegou a mão dela e passou o polegar sobre os ossos delicados em
seus dedos, tão pequenos em comparação com os da sua mão grande.
No entanto, apesar do quão frágil ela parecia às vezes, ela mostrou força
de caráter quando tentou resgatá-lo, em vez de correr para salvar a
própria pele dos caçadores que atiraram nele. Não eram muitos os
lobisomens que teriam feito isso quando nem era mesmo um membro
da alcateia.

Depois de vasculhar as gavetas no banheiro, Laney correu de


volta para o quarto.

− Sim, os bebês estão a caminho. Aqui − ela entregou a fita para


curativo e gaze estéril. − Eu vou pegar algo para limpar o sangue seco. −
Ela correu de volta para o banheiro da suíte principal.

Leidolf puxou as cobertas até a cintura de Cassie e, em seguida,


tirou uma mecha de cabelo sedoso longe de seu rosto. Agora em sono
tranquilo, ela parecia muito diferente. Era como se tivesse sido há
milhares de anos que ele esteve na mesma situação, drogado, embora a
cafeína parecesse estar acabando, e toda a correria que viveu parecia o
estar afetando.

~ 170 ~
Pegasus Lançamentos

Não mais a via como a mulher que se inclinou sobre ele,


atormentando-o com palavras provocantes, aroma e corpo sedutor,
sussurrando com uma voz quente e sexy, tocando-o como se ela já fosse
sua amante. Nem mais a via como a mulher que franziu o cenho para
ele, preocupada, tentando ajudá-lo a ficar de pé, querendo levá-lo para
a segurança.

Agora ela estava em paz, contente, angelical, e ferida. Ele


esperava que a lesão não fosse causar muito desconforto mais tarde,
quando acabasse o efeito do tranquilizante. Ele, na verdade, queria
ajudá-la a dormir e poupá-la de sentir qualquer dor durante a noite.

Então, qual seria o humor dela quando acordasse?

Ele nem queria pensar sobre isso. Combativa? Talvez. Pronta


para fugir? Provavelmente, se a forma como ela fugiu quando seus
homens o encontraram era alguma indicação. Ou o jeito que lhe deu o
fora na pousada, e a Carver também quando o despistou no caminho
para fora da cidade. E Leidolf não esquecia suas últimas palavras para
ele, quando ainda estava drogado, para deixá-la em paz, mordazes e
imponentes.

Se ele fosse outro homem qualquer, ou ela simplesmente


qualquer mulher, poderia ter feito exatamente isso, a deixaria sozinha.
Mas não importava o que ela dissesse, suas ações e, inferno, seus
feromônios falavam muito mais alto e mais claro do que palavras. Ela o
queria. Ele só precisava garantir que ela visse os seus sentimentos
como eram de verdade.

Laney correu de volta para o quarto e entregou a Leidolf um par


de panos quentes, úmidos e uma toalha seca.

− Aqui, eu vou deixar você fazer isso. E volto mais tarde.

~ 171 ~
Pegasus Lançamentos

− Vai ficar com a Felicity? – Ele agachou ao lado da cama, e


começou a lavar o sangue seco no braço da sua ninfa, a pele dourada e
sedosa.

− Sim, sim. Os bebês chegarão em breve.

Leidolf olhou para ela, notando sua ansiedade.

− E as outras mulheres? − Certamente Felicity não estava


sozinha.

− Prontas para ajudar. Acho que Felicity praticamente decidiu


dar a luz como loba. É mais fácil dessa maneira.

Então por que a ansiedade? As mulheres raramente tinham


problemas com os nascimentos múltiplos por causa da sua força de
lobisomem.

Leidolf correu o pano quente sobre a omoplata de Cassie e para


baixo, onde gotas de sangue escorreram para baixo do seio, cuidando
para não tocar a ferida. Ela era linda. Cada centímetro dela.

− Quando você vai voltar? − Ele novamente olhou para a


expressão de Laney, suspeitando que ela tinha motivos mais escusos.
Seis outras mulheres poderiam assistir Felicity e ajudá-la a cuidar dos
bebês. Por que Laney precisa estar lá, também?

Ele então percebeu o quanto dependia da ajuda dela, tanto


quanto ele dependia do companheiro dela.

− Voltarei assim que puder. Elgin disse que você estava com
Cassie no clube até que fechou. Que ela é a bióloga de lobos e que você
ouviu a palestra dela no início da noite. Desde que você a conhece um

~ 172 ~
Pegasus Lançamentos

pouco, provavelmente seria melhor se você ficasse com ela até que eu
retorne. A menos que você queira que Elgin fique.

Leidolf deu um olhar que ela tinha que estar brincando. Laney
deu um sorriso irônico.

− O companheiro de Felicity está com ela?

− Claro. – Laney riu. − Juro que você pensaria que é Harvey


quem vai ter os bebês. Ele tem reclamando de dores de estômago severa
durante toda a tarde. Diz que foi intoxicação alimentar, mas todos nós
somos mais espertos. E você sabe como é quando a fêmea da nossa
espécie tem bebês. A mulher fica finalmente no comando. Toda vez que
ela se estressa com ele, por deixá-la desta forma em primeiro lugar, ele
se sobressalta. E depois dos bebês nascerem, ela ainda vai estar no
comando. − Laney deu um sorriso maligno e acenou para Cassie. −
Lembre-se disso quando chegar a hora.

Prendendo a gaze sobre o ferimento, Leidolf balançou a cabeça.


Harvey era muito ansioso. Leidolf nunca seria assim, embora a noção
de chegar a esse estágio de sua relação com Cassie certamente tinha
seu apelo.

− Deixe-me saber como tudo terminou com Felicity.

− Eu vou. Elgin disse a todos para ninguém perturbá-lo. Voltarei


assim que puder.

Laney saiu do quarto mais rápido do que ela jamais se moveu


antes, e fechou a porta.

Ele assumiu que era um esquema casamenteiro calculado da


parte dela. Assim que ela fechou a porta e a casa ficou em silêncio, a
adrenalina que havia em seu sistema desapareceu. Agora ele se sentia

~ 173 ~
Pegasus Lançamentos

como um velho lobo cansado, precisando de uma soneca bem merecida.


Ele cobriu Cassie com o edredom e, em seguida, atravessou o quarto
para a cadeira que Laney havia comprado para ele, dizendo que ele
precisava daquilo para relaxar.

Ir para a floresta e desfrutar do lago onde ele viu a sua ninfa, era
o seu lugar para relaxar. E o lugar nunca mais seria o mesmo depois de
encontrá-la lá. E desejava que pudessem voltar algum dia e recomeçar
onde eles haviam parado.

A princípio, ele sentou na cadeira, tirou o apoio para os pés, e se


esticou. Tentou manter os olhos abertos, enquanto assistia Cassie
dormindo profundamente. Ela se virou, e o edredom escorregou,
expondo os seios. Ele gemeu, lembrando que como lobo ele lambeu o
esquerdo. Só que estava muito grogue então. Suspirando, desejava que
ela se curasse rapidamente e não sofresse com a lesão por muito tempo.

Ele coçou o queixo e olhou para a bela adormecida. E se ela


acordasse depois que ele caísse no sono? E se ela tentasse escapar sem
que ele ou qualquer um dos membros da sua alcateia percebessem?

Ele não ficaria surpreso se ela fizesse algo idiota assim.

Inferno. Ele esfregou os olhos. Ele não conseguiria ficar


acordado por mais tempo. Ela o provocou, dizendo que ele não era um
grande lobo mau afinal de contas. Sorrindo, ele achava que não seria
tão terrivelmente ruim, mas ela pediu por isto.

Ele deixou a cadeira, caminhou até a cama, e estudou o rosto


adormecido. Ela era linda na sua selvagem forma de loba. Tanto quanto
era radiante como humana. E era sua. Uma vez que a convencesse
disso.

~ 174 ~
Pegasus Lançamentos

Ele subiu na cama, deitou embaixo das cobertas, e a recolheu


suavemente em seus braços. Ela se aconchegou contra ele, como se
pertencesse ali. E ela pertencia realmente. Se não a abraçasse, ele disse
a si mesmo, ela poderia acordar e fugir, enquanto ele dormia e nem
saberia.

A pele acetinada dela contra a sua, o calor do seu corpo, e o


perfume o faziam desejar tudo o mais, mas ele deixou de lado seus
desejos para acasalar, e fechou os olhos, uma de suas mãos acariciando
as costas dela, a outra descansando sobre uma nádega suave. A
bochecha suave estava contra seu peito, e a respiração quente fazia
cócegas em sua pele. Ela era a personificação de tudo que era mágico.

Mulher e loba, e toda sua.

Poseidon subiu do mar como um verdadeiro pedaço de um deus,


gotas de água agarravam-se a ele como pérolas translúcidas, como se
as amêijoas5 tivessem desistido da reivindicação de seus tesouros
escondidos para o deus que elas adoravam. Poseidon era o sedutor de
mulheres, assim como seu irmão, Zeus, o deus de todos os deuses. Era
o deus do mar que prendia a atenção dela agora, teceu um feitiço de
aquiescência sobre ela, incentivou-a a ficar onde estava, de pé ao lado
das cicutas.

5 É a designação comum dada a vários moluscos bivalves. Muitos são utilizados na

alimentação humana. No Brasil, são mais conhecidas pelo seu nome


em italiano: vongola, no plural, vongole.

~ 175 ~
Pegasus Lançamentos

Metade dela querendo ficar com ele, metade querendo sair antes
que fosse tarde demais, ela se levantou em reverência. Olhos da cor do
mar, verdes e expressivos, olhavam para dela como se estivesse lendo
cada pensamento perversamente pecaminoso que ela tinha, desde a
ideia de lamber cada gota de água de seu corpo dourado, até beijar os
mamilos rígidos e os lábios cheios nascidos para seduzir.

E ela era... Ártemis, deusa da caça e da lua. A deusa era para


ser casta, mas Cassie não se sentia nem um pouco inocente conforme
sorria para o deus do mar. Ele a olhava como se não pudesse esperar
mais um segundo para tê-la em seus braços, avançou para ela, dando
grandes passos largos através da água.

De repente, ela, que supostamente era uma caçadora, sentiu-se


caçada e combatida, dando um passo para trás. Vá até ele, uma
vozinha a incitou. Mostre a ele o quanto você realmente o quer.

Seja aquela no comando.

O que convinha muito bem. Em resposta, ela se moveu em


direção a ele, e não de uma forma perseguidora como ele. Com os
passos mais curtos, ela caminhava com tanto propósito, que desejava
que ele recuasse agora. Mas, é claro, ele não o fez. E, de fato, os lábios
se contorceram para cima, os olhos dele brilhavam de alegria.

Era o fim dela estar no comando. Ele a tinha bem onde a queria.
No que lhe dizia respeito, ela sentia o mesmo sobre ele.

Então, antes que ela soubesse o que estava acontecendo, ele a


estava despindo de suas roupas de caçadora, o chapéu de safári, a
mochila, camisa, e a regata. Ela não lembrava do resto, só que ele
estava deitado nu debaixo dela como se ela o tivesse abordado, o corpo

~ 176 ~
Pegasus Lançamentos

aquecido, almiscarado e masculino. Ela sentia o próprio corpo nu


contra o dele, sexy e excitado.

O pelo do peito dele fazia cócegas em seus seios, os mamilos em


posição de sentido, à espera dos beijos dele, e sentiu a ereção cutucar a
sua barriga. Foi a forma como a mão dele acariciava suas costas, com
uma carícia sensual e a outra que descansava em sua nádega que
realmente chamou sua atenção. Mesmo agora, o calor e a dor invadiam
suas entranhas, e ela abriu as pernas, abrindo-se para ele, acolhendo-
o.

Incapaz de dormir ainda, Leidolf segurava Cassie em seus braços


e continuou a acariciar levemente suas costas, amando a sensação de
sua pele sedosa, pensando em tudo o que ela disse e fez quando se
conheceram.

Ele ainda não conseguia acreditar que ela era uma de sua
espécie o tempo todo, e escondeu o fato dele e de todos os outros. Não é
à toa que ela sabe muito sobre lobos. Ele não entendia por que ela
estava tão ligada aos lobos do tipo apenas comum. Compreendia que
ela trabalhasse como bióloga de lobos, estudando-os e defendendo a
causa deles. No entanto, a maneira como ela falou sobre os lobos e seu
amor óbvio por eles, o fez admirá-la.

Ele enfiou os dedos pelos cabelos acetinados, recordando a


conversa que eles tiveram no restaurante. Ela brincou sobre atrair lobos
se ela uivasse, sabendo muito bem que o lugar estava cheio de sua
espécie. Ele sorriu para a desonestidade dela. Mas, entendeu por que

~ 177 ~
Pegasus Lançamentos

ela guardou seu segredo deles. Ela estava no território dele, sob sua
jurisdição.

Correr em sua forma de loba não era permitido, a menos que ele
permitisse isso, ou ela estivesse em perigo se não o fizesse. Ele não
acreditava nem por um instante que ela estivesse em risco, até que ela
se transformou em loba.

A espertinha abriu as pernas em um convite ao sexo, afastando


todos os seus pensamentos. Seu perfume era um afrodisíaco do jeito
que era, o mantendo totalmente duro e querendo. Ela estava acordada e
o querendo também?

Ele acalmou a mão em suas costas e abriu os olhos. E franziu o


cenho para o topo de sua cabeça, o rosto dela descansando
tranquilamente em seu peito. Ela parecia estar totalmente adormecida.
Inferno.

O que ele estava pensando? Esperava que ela estivesse se


oferecendo para ele. Isso era o que ele estava pensando. Ele suspirou.
Os feromônios dela estavam contando a mesma história, se ele
estendesse a mão e tocasse entre as pernas dela, tinha certeza que a
encontraria molhada e pronta para a penetração. Ela estava sonhando
em ter sexo com ele?

Quando ela estiver pronta, ele estará muito disposto a fazer tal
favor. Por enquanto, precisava passar um tempo com ela, mostrar a ela
o que ele era capaz, se ela lhe desse a oportunidade.

Com o mais gentil dos toques, ele recomeçou a acariciar suas


costas, esperando que fosse ajudar a cumprir suas fantasias, mesmo
que ela só estivesse sonhando.

~ 178 ~
Pegasus Lançamentos

Sua verdadeira esperança era que ela acordaria e iria querer o


que ele estava disposto a oferecer, uma alcateia para comandar, uma
família, mas acima de tudo, ele.

~ 179 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Onze

Cassie se deleitava com o toque de Poseidon, a maneira como ele


a acariciava mais e mais para baixo das suas costas, entretanto, de
repente ele parou o ataque sexy na ponta de seu cóccix, os dedos
preparados como se estivesse prestes a continuar a qualquer momento.
Siga em frente, ela queria ordenar.

− Cassie? Cassie, você está acordada? − Ele sussurrou. A voz era


áspera e rouca e agradavelmente sedutora.

Ela queria murmurar sua afirmação, mas não reunia energia


suficiente para responder.

− Eu imagino que todos os meus machos solteiros estão


desejando ser o líder da alcateia agora. – A voz dele ainda estava baixa.

Líder da alcateia? Poseidon?

Ela ainda estava tentando pôr em ordem as palavras dele


quando ele beijou o topo de sua cabeça. Ela queria levantar o rosto e
beijar seus lábios, mas não conseguia reunir forças para mover a
cabeça. Então... Ela conseguiu deslizar os dedos sobre a pele nua da
cintura dele, e ele prendeu a respiração, os dedos dele renovaram os
afagos suaves e sensuais nas costas dela.

Hmm, ela tinha poder sobre o todo poderoso. Ela gostava de sua
possessividade, proteção, do jeito que ele era cauteloso, mas ainda a
desejava.

~ 180 ~
Pegasus Lançamentos

− Cassie! – A voz dele estava tensa com a necessidade.

Ele hesitou em falar qualquer outra coisa por tanto tempo, que
ela pensou que ele havia mudado de ideia.

Ele cerrou os dentes e soltou a respiração.

− Cassie, se você está acordada, eu quero que saiba que nós


temos um monte de solteiros na alcateia. Carver é um, e as filhas dele
são meninas bonitas e podem necessitar de uma mãe.

A mão parou nas costas de Cassie. Ele estava desistindo dela,


justo assim?

− O que eu quero dizer é que desde que você não tem uma
alcateia, eu adoraria que você se juntasse a nossa. Sem amarras. E se
você tem uma amiga que deixou para trás na floresta, ela pode se juntar
a nós também.

Como ele sabia que ela não tinha uma alcateia? E a que amiga
ele estava se referindo?

Ela se aconchegou mais perto dele, deslizou a mão ao redor de


sua cintura, e suspirou. Ele era dela, e ela não seria de qualquer outro
homem. Era sua... Conquista. Bem, não... Não...

Ela levantou a cabeça ligeiramente e olhou em seus olhos.


Leidolf. Em carne e osso. Ela não estava sonhando, afinal.

Ele deu um sorriso preocupado, e ela fechou os olhos e apoiou a


cabeça contra o peito dele novamente.

~ 181 ~
Pegasus Lançamentos

− Hmm, não estou interessada em mais ninguém da sua


alcateia. − Ela murmurou, incrivelmente cansada. – Nenhum da sua
alcateia.

Ele continuou acariciando suas costas, enviando deliciosos picos


de interesse através de seu corpo disposto. Sua mente não estava
apaixonada pela proposta.

− Eu quis dizer que os outros machos solteiros talvez possam


estar interessados na outra mulher, e as duas de vocês podem
participar da nossa alcateia.

Ele a apertou mais em seus braços, como se a reivindicando


para si próprio. Não importava o que sua mente grogue pensava da
situação, ela se sentia em casa com o perverso galã lobisomem.

Por que não poderia ser apenas um bom homem bonito para
uma aventura rápida? Ele era muito mais, e isso é o que a assustava.

− Eu suponho que você descobriu que eu sou o líder da alcateia


em Portland e das áreas circundantes. Então, por que você não me
permitiu participar do seu pequeno segredo que você era uma de nós?
Você achou que eu iria morder? − Ele suspirou profundamente e, por
um instante, ela se sentiu mal por manter sua verdadeira natureza
escondida. Só que ela tinha um trabalho a fazer, e tinha certeza que
Leidolf não a deixaria fazer isso. − Quem é a outra mulher, Cassie?

− Uma fêmea de lobo vermelho. − Ela sussurrou e depois lambeu


os lábios secos, estava tão, tão cansada.

− Uma lobisomem, você quer dizer?

− Não.

~ 182 ~
Pegasus Lançamentos

Ele renovou a gentil carícia arrebatadora.

− Ela não é uma da minha alcateia. Você tem que perceber o


perigo que ela está correndo, enquanto está em sua forma de loba e
correndo pela floresta.

− Eu nunca a vi antes. − Cassie bocejou.

− Desculpe, Cassie. Você deve estar muito cansada ainda. Estou


acostumado a persuadir as respostas dos membros da minha alcateia,
que foram maltratados sob a antiga liderança de outro lobisomem.

− Maltratados. − Ela sussurrou, o pensamento de caçadores


matando lobos veio à sua mente. Ela não conseguia imaginar
lobisomens maltratando uns aos outros. Talvez porque a única alcateia
que ela verdadeiramente conheceu foi da sua família ampliada.6

− Muito maltratados, sim. Então você viu um lobo vermelho em


nossas matas por aqui, palestrou na prefeitura sobre os lobos e sua
importância, e depois foi para a floresta para localizá-lo? Por que foi
sozinha? Por que não me falou sobre isso? Você reconheceu que eu era
um lobisomem. Eu teria que investigar o assunto. Se ela é outra
lobisomem, ela...

− Precisa mostrar quem é que manda?

Ele sorriu.

− Ela é uma loba. Não uma de nós. – Cassie fechou os olhos.

Sua mão parou nas costas dela.

6 Consiste no núcleo da família, mais os parentes diretos ou indiretos, bem

distantes.

~ 183 ~
Pegasus Lançamentos

− Por que você está tão interessada nos lobos? Se ela é apenas
uma loba e não uma de nós, você se coloca em risco por que razão?

− Eles... Eles os mataram. Todos eles. Sem mais mortes. Eu...


Eu tenho que... Educar as pessoas sobre eles.

− Quem matou quem?

Caçadores. Lobos massacrados. Tiros. Pow! Pow! Pow!


Choramingos, gemidos e morte. Sua família adotiva. Não mais existia.

Leidolf não fez mais perguntas. Ele começou a acariciar o cabelo


dela, como se a estivesse confortando, e ele estava. Ele sabia de todos
os toques certos, do tipo que poderia fazê-la derreter contra ele e querer
tudo o que ele estava oferecendo... No momento. Assim que ela estivesse
mais alerta, ela iria embora para fazer o que sabia melhor. Não ser a
companheira de um líder, e não queria viver em uma alcateia, mas
continuar sozinha, ajudando àqueles que precisavam dela.

As mãos fortes deslizaram para descansar em suas costas, e ela


esperou que ele recomeçasse a acariciá-la novamente... Até que ouviu
um ronco baixinho.

Ele estava roncando? Cassie balançou a cabeça contra o peito


largo e suspirou profundamente, vagamente pensando que ela precisava
sair, voltar para a floresta, renovar sua busca para a loba e os filhotes,
até que tudo, os contornos rígidos dos músculos dele, a ereção rígida, o
calor do seu corpo, a sensação de seus braços apertados em torno dela
em um abraço de amante, desapareceu completamente.

Várias horas mais tarde, a escuridão havia tomado conta do


quarto onde Cassie descansava. Com a visão noturna de loba,
conseguia ver uma mulher mais velha sentada, cochilando em uma

~ 184 ~
Pegasus Lançamentos

cadeira estofada, os cachos acobreados misturados com fios de prata


contornava o rosto redondo pacífico no sono. Ela usava jeans e um
suéter, havia um cobertor sobre o colo, como se estivesse passando a
noite, e certamente atuaria como primeiro aviso da alcateia, quando
Cassie acordasse.

Foi quando a mente dela estalou, os pensamentos clareando


instantaneamente. A constatação de que um assassino atirou nela perto
de onde estava procurando a loba e a situação de Alex voltou com uma
enxurrada de lembranças.

E agora? Ela era uma convidada na casa de Leidolf? Quão longe


estava da floresta?

Como ela voltaria para lá?

Cassie havia estacionado a caminhonete cerca de dois


quilômetros do local onde localizou a loba. Uma vez que pudesse chegar
até lá, teria dois sacos de roupa que estavam escondidas debaixo dos
assentos à sua disposição. Ela gemeu e passou as mãos pelos cabelos
desgrenhados, mas um choque de dor trespassou o ferimento de bala
em seu ombro. Ela percebeu que, com exceção de um curativo
volumoso, ela estava deitada nua na cama. Era a maneira normal para
a maioria deles dormir, mas ela não era como os lobisomens normais e,
em vez disso, fazia do seu jeito.

Sentia-se demasiadamente sensual ao dormir nua,


especialmente quando estava deitada em... Ela cheirou os lençóis
recém-lavados. O cheiro dele a inundou com uma quente sensação de
formigamento.

Estava na cama de Leidolf. E inferno, ela havia sonhado que teve


um mau caminho com ele. Ele era Poseidon e ela era Artemis. Cassie

~ 185 ~
Pegasus Lançamentos

balançou a cabeça tentando afastar as fantasias tolas. Nos velhos


tempos, a mãe dela teria dito que era um sinal, que Cassie estava
enterrando sentimentos mais profundos, o que ela não queria
considerar.

A mulher vigiando Cassie se mexeu acordando, e olhou para ela


por um minuto, em seguida, sorriu calorosamente.

− Sou Laney, e agora que você acordou, eu vou chamar Leidolf.

Cassie respirou fundo e cheirou perfume amadeirado dela sobre


os lençóis de algodão ultramacios novamente, o mesmo que sentiu
quando Leidolf a carregou, exceto que o aroma adicional dos feromônios
sexuais dele quando a segurou, agora estavam impregnados em seu
cérebro.

− Ele vai ficar feliz que você está parecendo muito melhor. Ele
trouxe você aqui porque é o melhor de todos os quartos. Ficou cuidando
de você até eu chegar, e advertiu uma dupla do nosso povo para ir atrás
de você caso fugisse em forma de loba. Agora, a estação de notícias local
está relatando que uma alcateia de lobos vermelhos está correndo pela
região. Todo o inferno está desabando.

Cassie suspeitava que Leidolf a levou ali por ser o quarto dele,
não apenas porque era o melhor quarto. As notícias sobre os jornalistas
e caçadores não poderia ter sido pior. Cassie tinha que chegar até a
loba, os filhotes e Alex.

− Preciso de algumas roupas, eu tenho que voltar lá,


rapidamente.

~ 186 ~
Pegasus Lançamentos

A mulher levantou e se dirigiu apressadamente para a porta,


como se para bloqueá-la ou avisar Leidolf que a pequena loba vermelha
estava pronta para fazer sua fuga.

− Você não pode voltar para lá. Não agora. Uma série de
caçadores... Thompson e seu amigo, aquele tal de Joe, que são
filantropos do zoológico... Jornalistas... Você escolhe... Estão todos na
área. Se isso não fosse ruim o suficiente, um cara ligou para a
emergência e relatou que dois homens haviam assassinado uma mulher
e jogado o corpo dela no mato. E que alguém havia sedado Thompson e
Joe. − Laney sorriu. − Claro, Leidolf e meu Elgin foram os responsáveis
por isto, uma vez que eles encontraram você nas mãos deles. Bem, eles
também dispararam os tranquilizantes em parte porque Quincy e Pierce
estavam prestes a atacar os homens, eles são dois novos membros da
nossa alcateia, que estavam em suas formas de lobo durante o dia,
enquanto procuravam por você, e Leidolf tinha que agir rapidamente.
Então, ninguém do nosso povo pode visitar a floresta por um bom
tempo, até que Leidolf autorize. Além disso, você está ferida, pelo amor
de Deus.

− Eles mencionaram algum nome? Quem ligou para a


emergência? − Cassie orou que fosse Alex, que ele tivesse saído de lá
inteiro. Embora, pensando melhor sobre a situação, descobriu que
desde que eles foram os únicos que estavam lá quando ouviram os
assassinos conversando, tinha que ser ele.

− Não. O escritório do xerife está tentando resolver tudo isso.


Eles disseram que um homem havia ligado da autoestrada e informou
sobre os dois homens sedados do zoológico. Então, ele deu instruções
de onde eles estavam localizados, porque não conseguiu sinal no local
onde os homens haviam sido drogados. Informou que durante a
caminhada na floresta, ele ouviu dois outros homens falarem que

~ 187 ~
Pegasus Lançamentos

estavam envolvidos em algum tipo de assassinato. E um dos homens


atirou numa rara loba vermelha, caçando ilegalmente, e tentou matá-lo
por ouvi-los.

Laney parou e sorriu. Depois continuou.

− Para superar isso tudo, alguma bióloga de lobos, estava


correndo ao redor da área, e ele estava preocupado que ela esteja
perdida ou tenha se machucado. Até que a polícia saiba contra o que
estão lutando, eu tenho certeza que eles não dirão quem foi o homem
que ligou para a emergência. Ele provavelmente é considerado um
suspeito em alguns dos acontecimentos. Você sabe como é, já que ele
parece saber muito. Ele descreveu os homens, ambos vestindo roupas
camufladas, um baixinho de cabelo curto, loiro avermelhado, no estilo
militar, e outro com longo cabelo preto encaracolado.

− Barba Negra. − Cassie sussurrou prendendo a respiração.

− O quê? – Laney arregalou os olhos.

− O cara parecia o Barba Negra. O pirata. Você sabe.

− Eu não mencionei que ele usava barba. Ninguém disse nada


sobre isso.

Cassie fechou a boca.

Laney franziu a testa.

− Você viu os homens? − Ela colocou a mão sobre a boca e, em


seguida, deixou cair a mão. − É claro que você viu. Um desses homens
atirou em você. Você é a bióloga de lobos que o homem havia
mencionado. Oh, oh, Leidolf não vai gostar disso.

~ 188 ~
Pegasus Lançamentos

Rapidamente, Cassie mudou de assunto.

− Devido a forma que os jornalistas se apossaram da história,


estou surpresa que eles ainda não descobriram quem fez a chamada de
emergência e não estão divulgando o nome do cara em todo o lugar.

A menos que ele estivesse com medo por sua vida. Claro. Ele era
uma testemunha, e inferno, ela também era. Pelo menos os homens não
deram uma olhada nela em sua forma humana, e esperava que eles não
tivessem visto Alex também.

Ela, de fato, deu uma boa olhada em ambos os homens, e


reconheceria o cheiro deles se não estivessem camuflando com o spray
de caçador. Ela assumiu que era aquilo que encobria o cheiro deles.
Mas lobisomens não interferiam nos assuntos estritamente humanos.
Coisas demais poderiam dar errado.

Inferno, queria ter sentido o cheiro deles. Talvez a polícia pedisse


para ela ficar atrás de um desses espelhos de duas faces e apontar os
dois homens em um fila. Mas, só poderia fazer isso, se tivesse a certeza
de que apontaria os homens certos ao cheirá-los, por que o seu sentido
do olfato era o melhor identificador que existia. Se ela insistisse em
verificá-los dessa maneira, a polícia pensaria que ela era maluca com
certeza.

Laney estudou Cassie da forma pensativa de loba.

− Se um homem ligou para a emergência, dizendo que sabia que


você foi baleada e que ouviu a conversa dos assassinos, e você estava lá
e também ouviu, você conhece o homem que ligou para a emergência?
Ele é seu companheiro?

~ 189 ~
Pegasus Lançamentos

− Não – Cassie não estava a ponto de revelar quem ele era, ou


qualquer coisa sobre ele ou o que ela estava fazendo ali. Os lobisomens
não gostariam de saber que ela esteve em sua forma de loba com um
humano, ou que ela se comportou estranhamente como uma loba na
frente dele.

− Já está escuro. Certamente eles não estão todos lá fora no


meio da noite. Mesmo que estejam, não podem ver muita coisa. – Cassie
ponderou.

O silêncio entre elas estava pesado com a especulação.

As sobrancelhas grisalhas de Laney comprimiram-se juntas.

− Você provavelmente está certa. Já ouvi que alguns caçadores


têm binóculos que permitem ver na meia-luz do amanhecer e ao
anoitecer, mas agora seria demasiado escuro para eles, a menos que
estejam usando óculos de visão noturna. Leidolf está preocupado que
eles queiram matar os lobos, apesar do fato de lobos vermelhos serem
raros. Os repórteres e os outros provavelmente não estariam na floresta
tão tarde. − Então Laney mudou de tópico. − Leidolf é da realeza, por
sinal. Você por acaso não seria da realeza também, não é? − Ela olhava
esperançosa.

Por um momento de cortar o coração, Cassie pensou em sua


própria família, sim, também era da realeza.

Ela não pensava que poderia estar com uma família de


lobisomens, uma alcateia outra vez. A maneira como todos os membros
pareciam cuidar uns dos outros a atraia de algum modo.

Manobras sempre eram efetivas em uma alcateia, querendo


agradar o líder, tentando sempre estar no topo, mas ela perdeu a

~ 190 ~
Pegasus Lançamentos

proximidade com outros da sua espécie. Lutava contra esses


sentimentos há anos. Nunca querendo substituir sua própria família,
como se fosse machucar a memória que tinha deles. Nunca mais
querendo temer perder a família para uma nova ameaça letal, se ela se
unisse a uma nova.

Ela não queria enganar a mulher que lembrava sua mãe,


carinhosa, gentil, mas também não era alguém facilmente influenciável.

O desejo de ter um lar, uma casa e uma alcateia familiar estava


começando a dar nos nervos de Cassie. Ela atribuía à necessidade de se
estabelecer e ter seus próprios filhos, sentimentos que ela vinha
efetivamente esmagando. A primavera e o renascimento das árvores e
flores tinham algo a ver com isso. Estranhamente, a loba e os filhotes
atiçaram essa necessidade de novo, a um grau ainda maior. Bem, e
estar com o macho alfa Leidolf, e a forma como a sua proximidade
atiçava seus níveis de estrogênio, que nem sabia ter. Não queria desejar
um homem como aquele. Nunca. Apesar de seus sentimentos por
Leidolf já correrem fundo, não tinha nenhuma intenção de ceder a essas
necessidades.

− Eu preciso de roupas. − Cassie reiterou, evitando a pergunta


de Laney sobre ser da realeza.

Quando alguns humanos diluíram a linhagem, a maior


vantagem da realeza era ser capaz de mudar na lua nova, ou não ter
que se transformar durante as outras fases da lua.

Ela puxou de lado as cobertas e saiu da cama, mas fez uma


careta quando a dor no ombro enfaixado enviou uma mensagem
diretamente para o cérebro, ela não estava perfeitamente curada ainda.
Sentia-se muito melhor do que antes, apesar de tudo. Provavelmente,
dormir por várias horas ajudou.

~ 191 ~
Pegasus Lançamentos

− Se você foi recentemente transformada, onde está a alcateia


que a acolheu? – Laney perguntou curiosa.

− Nas sequoias da Califórnia.

− Ao norte da Califórnia, oh. − Então Laney franziu a testa, e


instantaneamente, Cassie se preocupou que a carranca dela, significava
que ela sabia que Cassie não era de lá. Em seguida, a mulher deu um
sorriso agradável, que disse que viveu muitos anos para uma jovem
lobisomem tentar enganá-la com histórias de pescador7. − Você não
pode ir embora ainda.

Cassie levantou as sobrancelhas para a senhora, não gostando


do que certamente Leidolf havia ordenado a ela.

Cassie se dirigiu ao armário.

− Estou fazendo algumas pesquisas pelas quais estou sendo


paga, e eu tenho um prazo. Então, quero agradecer a Leidolf e a todos
vocês por cuidarem de mim, mas eu preciso voltar para a floresta,
acabar meu trabalho e voltar rapidamente para casa, para a minha
alcateia.

− Não há roupa feminina aí. − Laney avisou.

Cassie parou no meio do quarto, sabendo que provavelmente


seria o caso, mas ela não se importava. Qualquer roupa serviria. Até
mesmo a roupa do líder da alcateia. Por outro lado, provavelmente
esperaria até que Laney saísse do quarto. O que significava que Cassie
não estava pensando muito claramente e se não precisasse muito

7 No original, “tall tales”, é uma vertente da literatura folclórica americana e é uma

história cheia de elementos irreais, muitas vezes, exagerando acontecimentos reais.

~ 192 ~
Pegasus Lançamentos

encontrar o Alex e também ir ao auxilio da loba, ela descansaria um


pouco mais até que seu cérebro estivesse funcionando mais
adequadamente e o ombro não doesse tanto.

Cassie pensou em dizer a Laney sobre os filhotes da loba, mas


nem todos os lobisomens tinham a mesma simpatia para com lobos
comuns como ela tinha. Enquanto os lobos comuns não interferissem
com a dinâmica própria da alcateia de lobisomens, eles os toleravam.

Ela não queria arriscar falar, se eles achavam que a segurança


dela era mais importante do que a da loba e da ninhada. Ela tinha
certeza de que Leidolf não gostaria de saber que ela planejava arriscar o
pescoço ao voltar para a floresta para checar um humano biólogo,
também.

Sem conhecer a política de Leidolf, não estava disposta a deixá-


lo saber o que tinha em mente. Só que desta vez, ela arriscaria procurar
os filhotes e Alex como humana. Não achava que o homem do zoológico
e seu amigo, ou qualquer caçador mexeria com ela, mas será que
poderia encontrar a loba antes que alguém a matasse? E se os filhotes
forem deixados à própria sorte? Eles nunca sobreviveriam.

Laney refletiu sobre o curativo no ombro de Cassie.

− O seu ombro está doendo muito?

− Não, está tudo bem. − De jeito nenhum Cassie queria Laney ou


qualquer outra pessoa pensando que ela precisava de cuidados médicos
adicionais. E o ombro realmente estava muito melhor.

− Hmm. Vou avisar a Leidolf que você está acordada. − Laney se


virou, abriu a porta e soltou um grito, a mão voando para o peito.

~ 193 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Doze

O coração de Cassie deu um par de batidas quando olhou para


Leidolf de pé na soleira da porta, os punhos erguidos, prontos para
bater na porta. Ele olhou de Laney para Cassie, que ainda estava
parada no meio do quarto dele, totalmente consciente de que estava
nua, exceto pelo curativo por cima do ombro e se sentindo
demasiadamente vulnerável.

Tarde demais para esconder a nudez ou a reação anormal. O que


seria uma indicação concreta de que ela era uma pessoa solitária... E
não vivia com uma alcateia.

Vestindo calça jeans, botas robustas, e uma macia, felpuda


camisa de flanela, Leidolf estava maravilhoso de modo perigoso,
selvagem, e era mais alto do que a maioria dos machos vermelhos que
ela havia encontrado. O cabelo castanho, de tonalidade avermelhada,
estava desgrenhado pelo vento, fazendo-o parecer selvagem e
indomável. Os olhos verdes escurecidos mantiveram os dela cativos por
um momento, como um lobo desafiando, observando para ver se ela
recuaria. Da mesma forma que ele fez quando a viu no lago.

Ela era alfa o suficiente? Isso é o que ele estava tentando


determinar. Ou pelo menos ela pensava assim. Viveu mais tempo com
os lobos comuns do que com os de sua própria espécie, então não era
muito experiente em lidar com um lascivo macho alfa lobisomem que
estava interessado nela. Ainda assim, manteve a mesma postura do
macho alfa.

~ 194 ~
Pegasus Lançamentos

O olhar dele caminhou lentamente para baixo, observando seu


corpo nu, como se ele estivesse olhando para a sua conquista definitiva.
Ela olhou para ele e cruzou os braços sobre os seios, o que enviou outra
pontada de dor em seu ombro. Ela estremeceu, embora tentasse
esconder o desconforto.

− Eu não estou à procura de um companheiro, se você quer


saber a minha posição.

Os olhos dele voltaram a se fixar nos dela. Ela tinha um trabalho


a fazer, e misturá-lo com um lobisomem vermelho líder alfa, e aderir a
uma alcateia não estava nos planos.

Então, a expressão severa suavizou.

− Onde está a sua família, Cassie?

− A minha família está morta. – Ela não contou a verdade a


ninguém por muitos anos.

Dizer isto ainda doía.

A expressão dele tornou-se simpática, ela preferia que ele


estivesse carrancudo com ela. Era muito mais fácil lidar com alguém
que estava irritado com ela, do que com alguém que estava puxando as
cordas do seu coração.8

− Você disse que eles foram mortos. Você quis dizer toda a sua
família? – Ele aventurou.

8Do original “tugging at her heartstrings”, a expressão significa fazer com que ela

sinta um grande amor ou simpatia.

~ 195 ~
Pegasus Lançamentos

Mortos? Ela franziu a testa para ele. Estava certa de que não
contou a história da sua vida quando estava fora de si.

− Eu não lembro o que disse a você. Deve ter sido as drogas.

Ele parecia cético. Então, levantou uma sobrancelha.

− Você não tem um companheiro. − Ela afirmou que não estava


procurando por um, mas isso não fazia nenhuma diferença para ele,
enquanto ela não tivesse ninguém.

− Não, eu não tenho. Como eu disse, não estou procurando por


um. − Ela reiterou sua decisão, porque ele parecia precisar ouvi-la
novamente, mas não soou tão firme em sua determinação como
pretendia.

Ele sorriu profundamente, os olhos diabolicamente especulando.


Ele baixou a cabeça ligeiramente, o tom era carinhoso quando falou:

− Se está se sentindo bem o suficiente e deseja comer algo, você


pode se juntar a nós na sala de jantar. − O jeito que ele falou não foi
uma oferta, mas sim um comando. O olhar deslizou sobre ela
novamente, desta vez de uma forma lânguida, como se ela estivesse lá
para o deleite visual dele. − Eu recomendo que você se vista primeiro.
Meus homens solteiros podem ficar um pouco inquietos ao vê-la.

Como se ele não fosse o único que estava inquieto com a visão
dela!

− Ela disse que é de uma alcateia da floresta de sequoias da


Califórnia. − Laney ofereceu, as sobrancelhas levantadas um pouco.

Será que Laney sabia algo sobre a alcateia que vivia lá, ou estava
apenas desconfiada da história de Cassie?

~ 196 ~
Pegasus Lançamentos

Os olhos de Leidolf se curvaram enquanto olhava de Laney para


Cassie.

− As sequoias da Califórnia? Verdade? E qual o nome do líder da


alcateia?

Cassie cerrou os dentes e, em seguida, tentou um sorriso.


Leidolf provavelmente não conhecia uma alcateia tão longe do seu
território. A maioria dos líderes não conheceria. Por isso, era um blefe
da parte dele, ela tinha certeza.

− Harold Wilden.

− Jura? Pensei que o líder da área das sequoias fosse o líder de


uma matilha de lobos cinzentos.

Os lábios dela se separaram em surpresa.

− Uhm, sim, um cinzento. − inferno, uma alcateia de cinzentos


vivia lá?

− Wilden é o sobrenome de um vermelho. Hunter Greymere era o


líder daquela área até que um incêndio forçou a alcateia a ir para o
norte. Ele assumiu um resort de cabanas do seu tio ao longo da costa
do Oregon. Um dos cinzentos, na verdade, se juntou a minha alcateia.

Oh, era por isso que Leidolf sabia deles. Ótimo.

− Bem, a minha fica um pouco mais ao sul das sequoias −


Cassie emendou.

− Ah. Uma matilha de vermelhos.

− Sim.

~ 197 ~
Pegasus Lançamentos

− O líder tem o nome de Wilden. − Os olhos dele brilhavam na


luz fraca do quarto, e voltou sua atenção para Laney. – Bem, veremos
vocês duas em poucos minutos. − Ele falou como se estivesse deixando
Cassie na supervisão de Laney, e Cassie endureceu um pouco.

Ninguém era responsável por ela. Não quando esteve sozinha


todos esses anos, e se saiu muito bem por conta própria.

− Ela está sofrendo. – Laney a delatando.

Cassie não tomaria nada para a dor. Não quando se tornaria


mais difícil para ela voltar para a floresta.

Leidolf franziu a testa.

− Temos medicação para a dor.

− Não, eu estou bem. − Cassie tentou parecer convincente, mas


ela viu os olhos de Leidolf. Ele sabia que ela precisava de algo para a
dor, mas não queria tomar. E ele sabia o motivo.

Então, ele inclinou a cabeça para Cassie, os olhos cravando-a


com um olhar que dizia que ele a queria e que ela já era sua, então se
acostumasse com a ideia.

− Só para que você saiba a minha posição, eu estou procurando


uma companheira. − Ele abaixou a cabeça um pouco, pontuando sua
observação.

A maneira como ele disse isso e se comportou, era como se ela


estivesse disponível apenas para ele de qualquer maneira. Era tão
arrogante! A última vez que teve que suportar um macho que a queria
assim, ele não foi metade tão egocêntrico, ou metade de tão quente,
também. E ela definitivamente não sentiu nada por ele. Leidolf? Ele era

~ 198 ~
Pegasus Lançamentos

um problema de verdade, provocando necessidades que ela nem sequer


queria considerar. Mais do que apenas sentindo as necessidades físicas,
porém, ela não queria lidar com a bagagem emocional. Ela sempre
trabalhou muito duro para evitar sentir qualquer coisa por algum da
sua espécie, pois trazia de volta lembranças do que havia perdido.

Leidolf estava desfazendo aquela resolução.

E então, o lado físico da equação criava mais punição. Os


mamilos formigaram debaixo de seus braços, traidores, e ela sentiu o
desejo insondável, ou de jogá-lo na cama e o fazer mostrar o que ele
tinha em mente para fazer com ela, ou estrangulá-lo. Ela tentou se
convencer de que era preferível estrangulá-lo. Mas não estava
funcionando.

Ele parecia um pouco hesitante em sair e enfiou as mãos nos


bolsos, o todo-poderoso macho alfa parecendo agora um pouco inseguro
de si mesmo, o que a fez se sentir um pouco tensa. Mesmo Laney
parecia um pouco apreensiva, como se ela não soubesse o que fazer.

Então Leidolf se dirigiu a Laney.

− Você pode nos deixar sozinhos por um momento?

Ela olhou para Cassie, quase como se ela quisesse ficar e


testemunhar, mas rapidamente baixou a cabeça para Leidolf e saiu do
quarto, fechando a porta atrás dela. Leidolf pegou o felpudo cobertor
marrom da cadeira, e o envolveu em torno de Cassie, de tal forma
protetora, carinhosa que lágrimas se formaram nos olhos dela. Droga.

Ele a levou para a cama e a sentou, em seguida, ajoelhou-se ao


lado dela e tomou-lhe as mãos.

~ 199 ~
Pegasus Lançamentos

− Cassie, você estava bastante fora si quando falei com você


antes, eu perguntei se você gostaria de ficar com a nossa alcateia. Sem
amarras. Só se junte a nós. Conheça-nos. E...

Ela tentou um sorriso sincero quando estava realmente tentando


esconder os verdadeiros sentimentos.

Inferno, ela deveria dizer a verdade. Embora se dissesse, ele iria


pensar que tinha muita influência sobre ela.

− Mas eu tenho uma alcateia. − O que, de certa forma, ela tinha.


Apesar de não ser apenas uma, mas várias.

Exceto que os lobos não mudavam de forma.

− Eu quero agradecer a você e ao seu povo por sua generosidade


em cuidar de mim, mas eu realmente tenho negócios a tratar. Então, se
Laney puder me levar de volta para a floresta e me deixar lá, eu ficaria
eternamente grata.

Leidolf deu um meio sorriso vaidoso, não acreditando na sua


história ou no seu pedido.

− Laney deve ter dito a você o que está acontecendo na floresta


agora. Com caçadores rastejando por todo o lugar? Polícia? Repórteres?
Não só isso, mas você ainda está ferida. E não faria bem deixá-la voltar
para lá e se meter em mais problemas.

Ele afastou um cacho de cabelo fazendo cócegas em sua


bochecha e o colocou atrás da orelha. O olhar desviou de seus olhos,
para os lábios, e ela sabia que ele queria beijá-la.

E droga, ela também queria!

~ 200 ~
Pegasus Lançamentos

Uma pequena voz a importunou para beijá-lo, só porque ela


estava morrendo de vontade de sentir como seria ser beijada pelo líder
alfa. Não significaria nada, ela assegurou a si mesma. Apenas um beijo.
Seus lábios estavam secos como o deserto, ela os lambeu. A boca dele
se curvou numa insinuação, e seu olhar focou-se no dela. Então ele
pegou a mão dela e a beijou, como se ele fosse um adequado cavalheiro
Inglês chegando para uma visita.

Isso não é o que ela tinha em mente! Ele se levantou, e


continuou a observá-la, depois gritou:

− Laney!

A porta abriu imediatamente. Cassie descobriu que a mulher


esteve colada à porta enquanto tentava ouvir o que estava acontecendo.

− Sim? − Perguntou Laney, como se estivesse completamente


acima de qualquer suspeita.

− Pegue algo para Cassie vestir para que ela possa se juntar a
nós para o jantar. − Inclinando a cabeça ligeiramente para Cassie, virou
e saiu.

Cassie imediatamente se levantou da cama, o cobertor ainda


envolto em torno dela enquanto olhava para a saída do líder alfa.

Era isso? Esse foi o único tipo de beijo que ele concederia a ela?

Assim que a porta fechou atrás dele, Cassie mudou sua atenção
para Laney, cuja expressão era de diversão contida.

− Roupas? − Cassie perguntou numa voz docemente inocente


que soava demasiadamente calculada para seus ouvidos. E chaves para

~ 201 ~
Pegasus Lançamentos

um rápido carro de fuga? Antes que ela mudasse de ideia e decidisse


ficar.

O sorriso de Laney cresceu.

− Claro. Minhas roupas podem ser um pouco grandes para você,


mas eu devo ter algo que está um pouco apertado em mim. Minha casa
é do outro lado do complexo, mas não demoro nada para ir até lá, pegar
alguns itens, e voltar.

Cassie deu um sorriso fotográfico, ela reconheceu que a mulher


queria que ela ficasse com a alcateia. Provavelmente para satisfazer as
necessidades do líder. Uma cerveja gelada e uma boa mulher faziam
maravilhas para a disposição de um macho alfa. Melhor ainda, para os
membros da alcateia. E como havia menos mulheres na maioria das
alcateias, ela imaginou que Laney gostaria de ter outra mulher para
conversar.

Enquanto esperava por Laney, Cassie rapidamente observou


uma pilha desorganizada de papéis sobre uma mesa ao lado de um
computador do outro lado do quarto, um sofá de couro marrom numa
área de estar e uma estante vazia. Ela levantou as sobrancelhas. Não é
um leitor? Então ela viu um livro aberto em cima da mesa. Imaginando
o que atrairia Leidolf quando ele não tinha nenhum outro livro, ela
olhou um pouco mais de perto e viu um livro de Julia Wildthorn, a
lobisomem vermelha escritora de romances, examinou a biografia9 dela,
e uma foto colorida da ruiva. Provavelmente adulterada com os milagres
de programas que editam imagens.

9 O relato da vida e obra dos autores fica ou na contracapa ou na orelha do livro.

~ 202 ~
Pegasus Lançamentos

Ela franziu a testa. Inferno, aqui estava ele, agindo como se a


quisesse, enquanto estava admirando a imagem de uma autora de
romances? E como evidenciado pela ausência de qualquer outro livro na
sala, ele nem mesmo lia? Talvez ele lesse somente os livros de Julia
Wildthorn. Provavelmente já leu todos os seus livros, assim poderia
dizer o quanto ele amava o trabalho dela quando a visse, se ele amasse
ou não.

Então Cassie viu um calendário de mesa e se aproximou um


pouco mais para dar uma olhada. Uma limpa nota manuscrita no
sábado corajosamente proclamava: Sessão de autógrafo, duas e
quarenta pm10, Julia, no Powell.

Cassie franziu ainda mais a testa. Julia, escrito pelo primeiro


nome. Então, quantas fêmeas vermelhas ele estava perseguindo? Ele
agia como se Cassie fosse a única para ele, e na realidade ele tinha um
bando de fêmeas vermelhas à espera nos bastidores? Em seguida, ela
resmungou baixinho, mais irritada consigo mesma por se importar, do
que por estar irritada com ele. Ele era um lobisomem macho afinal.
Então, qual era a desculpa dela?

Sua atenção mudou para o edredom de veludo macio amassado


sobre a cama kingsize, agora era incapaz de dormir com a preocupação
de outra mulher ter dormido ali, e a tentação das portas do pátio que
levavam para fora, onde o céu estava escuro. Ela olhou para o relógio de
cabeceira. Dez e meia. Um bom momento para procurar a loba e seus
filhotes e saber o que aconteceu com Alex.

Laney limpou a garganta e o coração de Cassie deu um pulo.

10Post meridiem (P.M. ou pm) é uma expressão latina para "após o meio-dia". É

usada para dividir as horas do diano sistema horário de doze horas.

~ 203 ~
Pegasus Lançamentos

Ela pensou que a mulher já havia saído. Parada na porta, Laney


esteve olhando para ela o tempo todo, catalogando tudo o que ela fazia.
Cassie estava acostumada a ser a pessoa que fazia as observações,
embora os lobos observassem cada movimento dela enquanto ela estava
com a alcateia, curiosos sobre ela, intrigados. Por uma razão diferente.
Um arrepio percorreu sua espinha, e ela se sentiu totalmente exposta
por uma lobisomem analisar as suas ações e, sem dúvida, relataria
cada movimento para Leidolf. E ele ficaria malditamente divertido.

− Leidolf não quis ninguém para ajudá-lo a redecorar o lugar,


então removeu algumas coisas, mas a cama e a roupa de cama são
novas. Ele fez Elgin, meu companheiro, se livrar da velha cama, porque
o lembrava do ex-líder da alcateia.

O ex-líder. Leidolf o expulsou? Por mais curiosa que Cassie


estivesse, achava que quanto menos soubesse sobre Leidolf e sua
alcateia, melhor.

− Então, novamente, ele realmente precisa de uma companheira


para ajudá-lo a decorar o lugar. − Laney sorriu novamente. − Talvez
você devesse se deitar até que eu volte. − Ela apontou para o ombro
ferido de Cassie. − Você sabe como é. Descansar nos ajuda a recuperar
ainda mais rápido. Eu já estarei de volta, Cassie. E, querida, bem-vinda
a alcateia. − Ela esperou Cassie concordar.

Irritada, mas tentando não mostrar, Cassie voltou para a cama e


se cobriu com as cobertas, tentando se comportar.

− Volto já! − Laney disse novamente, com um leve sorriso, como


se soubesse o que Cassie estava planejando. Então correu para fora do
quarto e fechou a porta.

~ 204 ~
Pegasus Lançamentos

Assim que a porta fechou num estampido, Cassie planejou


roubar algumas roupas de Leidolf e escapar. Quando pegou o edredom
para jogá-lo de lado, a porta do quarto rangeu aberta. Seu coração
pulsou com a ansiedade por quase ser pega tentando sair da cama
novamente. Virou a cabeça. Pensou que ela estava parecendo culpada
de algum crime, e ela ainda não fez nada, ainda.

− Eu quero que você descubra quem é a mulher e de onde ela


veio, Elgin – Leidolf andava por toda a grande sala, na frente de vários
membros da sua alcateia, todos querendo saber exatamente aonde
aquilo levaria. Ele não conseguia esconder o quão cativado estava, mais
do que jamais esteve por qualquer mulher. Além dos feromônios deles
chutando um para o outro em alta velocidade, ele a desejava muito, a
maneira como ela o desafiou e escondeu a identidade dela de
lobisomem, o jeito que ela estava tão intrigada com ele quanto ele
estava por ela, e continuava focada nos próprios desejos, o ser dele
estava condenado.

Ainda assim, ele conseguia ler em suas ações que ela estava
tendo dificuldade em persistir a quaisquer que fosse seus planos.

Inferno, quando enrolou o cobertor em volta dela, ela chegou às


lágrimas. O que, para ele, significava que não tinha ninguém cuidando
dela em um longo maldito tempo. Ela precisava do que ele tinha para
oferecer, e ele com certeza precisava dela.

Sim, ele desejava seu corpo e alma, e ele sabia que enterrado no
fundo da psique dela, estava o desejo por ficar com ele. Agora, ele só

~ 205 ~
Pegasus Lançamentos

precisava ajudá-la a ver a verdade. Pela forma como ela reagiu, sabia
que não era uma solitária de coração, mas havia se tornado uma por
necessidade. A família dela foi morta, ela disse. Isso tinha que ser a
razão do seu medo de estar com outra alcateia.

Elgin puxou a barba vermelha, pensativo, as raias grisalhas


davam personalidade adicional.

− Laney falou que a mulher tem alcateia.

− Eu duvido que ela tenha. Eles não deixariam uma de suas


fêmeas, não acasalada, correndo ao redor do mundo sem alguém
zelando por ela.

O rosto de Elgin se iluminou, mas depois franziu a testa.

− Laney me advertiu que a mocinha quer voltar para a floresta.

Leidolf bufou.

− Ela não vai a lugar nenhum. O buraco de bala no ombro não


vai curar tão rápido, e toda a ralé certamente está caçando lá fora. –
Leidolf deu a Quincy e Pierce um olhar aguçado. − Não é seguro para
ninguém, muito menos, para uma fêmea sozinha. − Ele olhou ao redor
da sala para a outra grande fonte de discórdia. Sarge, que estava sendo
monitorado de perto por três de seus homens.

Satros estava dormindo tranquilamente em uma cadeira


estofada. A brincadeira para localizar Sarge e, antes, a busca por uma
companheira loba vermelha para Leidolf, tomou grande parte da sua
resistência.

Leidolf considerou os irmãos gêmeos novamente. Se Quincy e


Pierce não precisassem de uma alcateia para mantê-los na linha e, se

~ 206 ~
Pegasus Lançamentos

os problemas que estiveram se metendo não fossem devido à falta de


bom senso, Leidolf os teria expulsado. Foi exatamente isso o que
aconteceu antes, e ele sentia que algum líder precisava ter certeza que
eles se encaixavam em uma alcateia.

Ele notou Evan, um dos adolescentes do sexo masculino, o


observando, e Carver observando o adolescente, a irritação evidente no
rosto do viúvo de meia-idade. Parecia que Leidolf não resolvia um
problema sem que mais seis tomassem o lugar. Ele poderia muito bem
ter uma palavra em particular com o menino. Leidolf acenou para
todos, menos para Evan, sairem da sala. Assim que a porta se fechou e
eles estavam sozinhos, ele acenou para uma cadeira.

− Evan, eu quero que você fique longe de problemas.

Evan soltou a respiração, sentou na cadeira dura e, em seguida,


estendeu a palma das mãos para cima.

− Eu não estou fazendo nada. Sério.

Leidolf ergueu a sobrancelha.

− Fique longe das filhas de Carver.

− Uma delas sempre me persegue. − Evan deu de ombros. −


Sempre que o pai e a irmã não estão por perto, ela está dando em cima
de mim. O que eu devo fazer?

− Fique longe dela. Gentilmente diga que não está interessado.

Com o olhar desafiador, Evan enfiou as mãos nos bolsos.

− Evan?

~ 207 ~
Pegasus Lançamentos

− De todas as meninas, ela é a única que é realmente uma alfa.


Eu gosto que ela venha atrás de mim.

− Sim, e se o pai dela descobrir, ele vai atrás de você... E depois?

− Eu não tenho medo dele.

− Você deveria ter. O pai dela tem a palavra final sobre com
quem ela sai, até que ela seja adulta.

− Ele não quer que ela saia com ninguém, muito menos comigo.
Eu não vou mentir para você. Se Alice quiser sair comigo, eu vou estar
lá para ela.

− Alice, a calminha? − Leidolf franziu o cenho para Evan. −


Inferno, como o seu líder, eu certamente o aconselho a não fazer isto.

− Mas?

− Como um adolescente na sua situação, eu não ouviria a


qualquer um que tivesse um pingo de bom senso, também. Então faça
um favor a ambos. Nada de se esgueirar para ficar com ela. Avise
Carver cara a cara que você quer sair com a filha dele.

O desafio de Evan continuou a brilhar. Então ele deu um aceno


de cabeça agudo.

− Tudo bem. Não vai funcionar, você sabe.

− Não sabe ao certo a menos que você tente.

− Será que isso funcionou para você?

Leidolf deu um pequeno sorriso.

~ 208 ~
Pegasus Lançamentos

− Esperamos que funcione melhor para você do que para mim.

Pisadas passaram em direção ao quarto, e Leidolf disse:

− Faça todos voltarem. Só lembre-se do que eu disse.

− Sim, senhor. − Evan se apressou a chamar todos para se


juntarem a eles.

Quando os homens entraram na sala, Leidolf ficou surpreso ao


ver Irving e Tynan.

Ostentando um curativo na cabeça, Tynan tinha a testa tão


franzida quanto à de Irving. Eles deveriam parecer culpados como o
inferno por não fazerem suas tarefas na fazenda e saírem sem dizer
uma palavra a ninguém, mais uma vez.

− Onde vocês dois estavam? − Leidolf rosnou. − E o que diabos


aconteceu com você, Tynan?

− Estávamos à procura daquele puma. − Irving disse, os olhos de


aço voltados para os de Leidolf, não recuando. Ele apontou o polegar na
direção de Tynan. − Por causa da chuva, ele escorregou em alguns
pedregulhos e bateu com a cabeça contra uma pedra. Cabeça dura,
porém, nada muito danificado.

Pelo menos, os gêmeos não deram a Leidolf novas dores de


cabeça. E Sarge era apenas um grande incômodo. Mas Irving e Tynan?
Leidolf estava começando a suspeitar que eles eram problema de
verdade.

Ele desejou que Elgin não tivesse sido tão relutante em deixá-lo
ciente sobre eles meses antes, logo que Leidolf chegou na alcateia. A
complacência de Leidolf poderia ser vista como fraqueza. Além disso,

~ 209 ~
Pegasus Lançamentos

não perceber o problema era também uma indicação de que ele não
tinha o que era preciso para liderar. Pelo menos qualquer um que
estivesse decidido a desafiá-lo poderia pensar assim.

Leidolf estreitou os olhos para Tynan e Irving.

− Eu não dei permissão para saírem e negligenciarem suas


obrigações, e não deixaram Elgin ou Fergus cientes do paradeiro dos
dois durante vários dias.

O olhar no rosto dos homens permanecia petrificado. Sem


arrependimento por aquilo que eles vinham fazendo. Tão arrogantes
como os comparsas de Alfred foram.

Leidolf fez uma careta para os homens, a voz baixa e


ameaçadora.

− Você matou alguma das garotas humanas, como Alfred e seus


capangas fizeram?

Tynan olhou para Irving, o que disse a Leidolf que Irving estava
comandando o show e também que eles estavam envolvidos de alguma
forma no que Alfred havia feito.

− Você matou? − Leidolf rosnou. Ele sabia que mesmo se eles


tivessem, não admitiriam nada. Eles assinariam a sentença de morte
por fazê-lo. Mas as reações iriam revelar a verdade em parte.

Tynan rapidamente balançou a cabeça.

− Não. – Irving falou arrogante. E a maneira dele, era como um


desafio. Prove se puder.

~ 210 ~
Pegasus Lançamentos

E Leidolf faria exatamente isso. Ergueu o nariz e cheirou o ar,


mas não captou qualquer cheiro dos dois homens.

− Por que estão usando spray de caçador?

− Eu disse que nós fomos à caça do puma. – Irving disse com


um toque sarcástico em suas palavras.

− Suas armas estavam munidas com balas normais?

A vibração de preocupação cruzou o rosto de Tynan.

− É claro. – Irving falou como se a pergunta fosse idiota.

Leidolf aprumou-se, como um líder alfa lobo faria, a postura e


voz ameaçando o caos se os homens não tomassem cuidado.

− O puma será drogado, não morto. Você entendeu?

− Alfred teria matado o felino e acabado com o problema. – Irving


desafiou a autoridade de Leidolf.

Dois dos homens resmungaram algo que Leidolf não entendeu.


Elgin bufou, mas segurou a língua. Ambos, Fergus e Carver franziram a
testa para Irving, punhos apertados, parecendo como se estivessem
prontos para estraçalhar Irving.

Apesar de Irving e seu primo não serem lobisomens de nascença,


eles eram lobisomens há um longo tempo. Mas uma hierarquia ainda
existia, e Irving não seria páreo para Leidolf.

− E você sabe onde Alfred está agora. − Leidolf deu um olhar que
disse que se ele não se importava com as regras da alcateia, ele poderia
se juntar ao seu ex-lider, a sete palmos.

~ 211 ~
Pegasus Lançamentos

Se esses homens assassinaram mulheres inocentes, seriam


tratados da única maneira que a sua espécie tratava com membros da
alcateia que cometiam tais atrocidades. Lobo contra lobo da maneira
antiga. Irving e Tynan tinham que saber disso.

Então, o que os fazia ficar, e não enfiar o rabo entre as pernas e


fugir antes que encontrassem seu destino? A única razão para Leidolf
não atacá-los violentamente, era que antes dele fazer isso, precisava
saber com certeza, sem sombra de dúvida, que os homens eram
culpados de um crime.

~ 212 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Treze

Com apenas uma lanterninha de bolso para iluminar o caminho,


sua lanterna normal parou de funcionar horas antes, Alex chegou a
caminhonete e recostou-se nela. Ele hesitou em voltar para o meio do
mato, próximo de onde ainda poderia encontrar os homens que
tentaram matá-lo e que atiraram na loba vermelha. Ele presumia que a
loba estava em boas mãos agora com os homens que a resgataram do
pessoal do zoológico, mesmo porque alguns lobos os estavam
acompanhando. Eles provavelmente pertenciam aos homens, o que
explicaria o comportamento não natural de proteção da fêmea em torno
dele.

Era o fim da observação dos lobos vermelhos na natureza. Ele


deveria saber que encontrar a alcateia vivendo por ali era bom demais
para ser verdade.

Policiais e uma equipe de ambulância já haviam resgatado os


homens atingidos com traquilizantes que trabalhavam para o zoológico.
Alex se manteve discreto, observando escondido na floresta para
garantir que tudo saisse bem, nunca revelando a si mesmo ou sua
identidade. Mas o que o impedia de deixar a área era a caminhonete de
Cassie. Ele olhou para dentro dela novamente. Ela não esteve ali desde
que saiu ontem, e ele não conseguia deixar de se preocupar com ela.
Não importava o quanto dissesse a si mesmo que ela era uma mulher
capaz de se cuidar quando vagueava pela selva, não conseguia evitar a
preocupação que o incomodava. E se ela entrou em conflito com os
assassinos? Ou se deparou com outro problema? Uma ferida? Um

~ 213 ~
Pegasus Lançamentos

ataque de animal selvagem? Outros caçadores a confundiram com um


animal?

Em seguida, ele se lembrou das pegadas masculinas que


seguiam as de Cassie. Ele estava com ela ou a estava perseguindo?

Alex deixou escapar um suspiro exasperado, jogou a mochila


sobre os ombros, e se dirigiu para a Floresta Nacional novamente,
determinado a ficar até localizá-la.

Assim que Leidolf entrou no quarto, Cassie puxou as cobertas


sobre o corpo, tentando fingir que não tinha a intenção de fugir. Ela
tinha certeza que ele ouvia o seu coração batendo muito rápido. Ele
sorriu para Cassie de uma forma que disse que sabia exatamente o que
ela estava planejando. Tão quente como sentia as bochechas, elas
provavelmente estavam coradas.

− Duas mocinhas da nossa alcateia gostariam de passar um


tempo conversando com você. – Leidolf falou, mas em vez de qualquer
outra pessoa entrar no quarto como ela esperava, ele fechou a porta. −
Mas, primeiro, eu queria falar com você um pouco mais.

Oh, credo11, mais tentativas de convencê-la de que ela precisava


se juntar a sua alcateia. Não a ponto de ser influenciada, mas para ser
educada pelo carinho que ele demonstrava por ela, respirou fundo,

11 O original “brother” é uma interjeição usada para exprimir desde espanto, nojo,

surpresa, decepção, etc.

~ 214 ~
Pegasus Lançamentos

sentou-se contra os travesseiros com as cobertas enfiadas embaixo dos


braços, e fez um gesto para a cadeira.

− Vá em frente.

Ela não intencionava dizer mais nada sobre si mesma, no


entanto. Quanto menos fosse dito, melhor.

Ele mostrou a sombra de um sorriso, a expressão dizendo que


de modo algum colocaria tanta distância entre eles, e, em seguida,
sentou-se no colchão ao lado dela, o quadril pressionado contra o dela.
Ele era a personificação da sedução.

Ela não olharia para seus lábios novamente, imaginando como


eles seriam macios pressionados contra os dela. Em vez disso, ela
inclinou o queixo para cima, e quando ele não disse nada, ela solicitou
de novo.

− Continue.

Ela não sabia se a necessidade dele de falar com ela era uma
manobra de retardamento para dar a Laney tempo para voltar, ou se ele
queria somente ficar perto dela por mais tempo, mas qualquer que fosse
o motivo, quanto mais ficava com ele, mais não conseguia ver Leidolf
apenas como o tipo de cara de uma só noite.

Isso não estava ajudando a manter a objetividade, no mínimo.

Ele finalmente pegou a mão dela e massageou suavemente o


topo com o polegar, que por sua vez, também não estava ajudando a
objetividade nem um pouco.

~ 215 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu deixei minha alcateia há dois anos, devido a problemas


com a liderança, mas era uma situação perigosa para a minha família.
− Leidolf começou, a voz sombria.

Ela já não gostou do tom dessa conversa. Ela manteve os olhos


focados nos deles quando queria desviá-los, enterrar os sentimentos
profundamente, e não falar de família, de perigo ou do que poderia
acontecer entre eles.

− Porque eu os deixei, minha irmã morreu.

Cassie engoliu em seco e dessa vez desviou o olhar. E se ela


tivesse sido a razão pela qual sua família morreu? Porque ela fugiu para
ficar com os lobos naquele dia? E se ela estivesse em casa em vez disso,
e pudesse ter alertado a família antes de serem assassinados?

− Eu tentei fazer a minha família se afastar, mas eles não


quiseram. Meu pai possuía o território antes de ter sido ferido
permanentemente em uma avalanche, e ele estava muito determinado a
ficar. Era a casa da sua família há gerações.

Cassie olhou para ele. Ele ainda a observava e analisava sua


expressão para aprender tudo o que ele poderia a partir das reações
dela. Ela nunca conheceu um homem que fosse tão acostumado a
observar as ações e reações das pessoas, enquanto tentava
compreendê-las.

− Eu tentei fazer minhas irmãs virem comigo, pelo menos. Mas


eu não tive nenhuma sorte, e uma das minhas irmãs morreu.

− Não foi culpa sua – Cassie sabia que não era. Mesmo se Leidolf
pensasse que era o responsável. Ele não poderia ser, não do jeito que
assumiu esta alcateia, que, nas próprias palavras dele, havia sido

~ 216 ~
Pegasus Lançamentos

abusada. Ela engoliu em seco. Embora tivesse certeza de que aquilo não
era culpa dele, ainda não conseguia lidar com a forma como ela mesma
se sentia sobre a sua própria família.

− Você está certa, Cassie, mas por muito tempo eu sentia que
era minha culpa, que eu era a causa da morte da minha irmã. A minha
outra irmã me culpou. O que é pior, ela foi a única que tentou descobrir
o que havia acontecido a nossa irmã, quando deveria ter sido eu a fazê-
lo. Mas eu não sabia que Larissa havia fugido, ou acasalado com um
cinzento, e depois foi assassinada. Mesmo assim, ela era minha
responsabilidade.

− Do seu pai, já que ele ainda está vivo. – Cassie contradisse.

− Meu pai era deficiente.

− No entanto, ela ouviria a ele, não a você. E se seu pai tivesse


se mudado com a família?

Leidolf acenou com a cabeça, mas a dor ainda se refletia em sua


expressão.

− Não foi culpa sua. − Cassie repetiu, suavemente, com


sentimento.

− Eu vim aqui para viver longe da minha casa no Colorado, a


vida de um solitário na selva, um homem da montanha.

− Poseidon. – Ela disse baixinho.

− O quê?

Ela respirou fundo e balançou a cabeça.

~ 217 ~
Pegasus Lançamentos

− Um homem da montanha. Ou amante da natureza. Isso é o


que eu pensei que você era quando o vi no lago. − E como Poseidon, um
deus, sedutor, comestível.

− Eu fui um homem da montanha, desalinhado, barba


desgrenhada, cabelo comprido.

Ela sorriu.

− Eu parecia um lobo mesmo sem estar com minha pelagem


longa. – Ele riu.

− Não quando eu o vi. Pensei que fosse... − Ela encolheu os


ombros.

− Sexy como o inferno? – Ele se inclinou e beijou-lhe a testa,


depois deu uma daquelas piscadelas incrivelmente diabólicas que
diziam que ele a conhecia malditamente bem. − Eu pensei isso sobre
você também.

Ela cruzou os braços e inclinou o queixo para cima.

− O que você tinha a intenção de fazer quando veio caminhando


para fora do lago atrás de mim?

− Ver a sua reação. Ver se você ficava, fugia, ou vinha em minha


direção, pretendendo fazer sexo comigo, como com certeza você parecia
decidida.

Ela sorriu e tocou o botão superior da camisa dele, o olhar


encontrando o dele. Os lábios dela se curvaram um pouco.

Ele suspirou e tirou a mão dela da sua camisa e, em seguida,


beijou-a novamente.

~ 218 ~
Pegasus Lançamentos

− Nós somos muito mais parecidos do que você pensa, Cassie.


Muito mais. − Ele se levantou da cama. − As meninas querem conhecê-
la.

Mais do “vamos ver qual membro da alcateia pode convencê-la a


ficar”.

Leidolf abriu a porta e fez sinal para as meninas entrarem no


quarto.

− Elas vão lhe fazer companhia até Laney retornar com as


roupas.

As garotas adolescentes com cabelos castanho-avermelhados


entraram, ambas sorrindo como os raios de sol em um dia cinzento e
nebuloso, os olhos cor de âmbar alegres quando cumprimentaram
Cassie.

Ela se lembrou das meninas presentes na sua palestra.


Nenhuma delas fizeram qualquer pergunta.

E por que fariam? Provavelmente sabiam tanto sobre lobos,


quanto ela sabia.

A maneira como Leidolf deu a cada uma um olhar severo, a


mensagem implícita significava, “guardem a nossa convidada, e não a
deixem fugir.”

Ele baixou a cabeça para Cassie e deixou as meninas com ela,


mantendo a porta aberta.

Apenas no caso delas terem que gritar por ajuda, se Cassie


tentasse fugir de qualquer jeito.

~ 219 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu sou Alice, e esta é minha irmã gêmea, Sarah. Leidolf nos


disse para lhe fazer companhia, enquanto Laney foi buscar roupas para
você. Vivemos ao lado do Parque Florestal em Portland. Quando Leidolf
foi em busca de você na Floresta Nacional Monte Hood, toda a alcateia,
mesmo aqueles espalhados em cidades próximas ao redor de Portland,
ouviram falar sobre isso. Eles se reuniram aqui enquanto você estava
dormindo. Todo mundo estava morrendo de vontade de vê-la. Mesmo
que Leidolf não tenha pedido uma reunião.

− Sim, eu acho que ele estava um pouco surpreso, a princípio,


ao ver todo mundo aqui. − Sarah opinou. − Ele achou que teria você
para si próprio aqui. − Ela sorriu. − Mas eu acho que ele está gostando
de exibi-la.

− Ele estava à procura de uma companheira, mesmo antes dele


assumir a alcateia. − Sarah virou um longo cacho de cabelo em torno do
dedo e olhou para a irmã como se buscasse confirmação.

Alice chamou sua atenção e sorriu, em seguida, enfrentou


Cassie.

− Sim. Ele tenta não deixar transparecer, mas todos fofocam


sobre isso. Nós todos sabemos que você é a pessoa que ele quer.

− Para ser sua companheira. − Cassie descobriu que a alcateia


fez a suposição, não que o próprio Leidolf disse a eles. Nenhum macho
alfa seria tão arrogante.

− Certamente. − Sarah soltou a faixa que tinha no cabelo,


encostou-se à cômoda, e cruzou os braços. − Você é a escolhida. Claro,
meu pai estava irritado que você já foi tomada porque ele quer uma
companheira. Ele diz que é porque precisamos de uma mãe, mas

~ 220 ~
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estamos velhas o suficiente e realmente não precisamos. Mas, se isso o


faz feliz... − Ela encolheu os ombros. − Nós também ficaríamos felizes.

− Sabemos que ele se sente muito solitário. Ele sente falta da


mamãe terrivelmente. – Alice complementou.

− A mãe de vocês morreu?

− Sim, em um acidente de carro há cinco anos.

− Eu sinto muito ouvir isso. − Cassie percebeu que ela tinha


quase a mesma idade que as meninas quando perdeu a família, e uma
onda de memórias de profunda dor e perda tomou conta dela. De estar
sozinha na selva. De voltar à casa da família, enquanto as chamas a
consumia e nunca mais sentir os aromas únicos de sua família...
Lembrando da sua mãe cozinhando no fogão de lenha, o pai trazendo a
madeira, a irmã tricotando meias, algo que Cassie nunca teve
habilidade... E sua prima, Aimee, que era como uma irmã, era divertido
estar com ela, caminhar, nadar, e compartilhar os sonhos com ela.
Lembrou que também perdeu os tios e tias, e as brincadeiras alegres
deles, com exceção de seu tio não acasalado que poderia ser bastante
severo. Rapidamente, as três casas estavam em cinzas, o som da
natureza invadindo o silêncio de outra forma mortal.

Ela respirou fundo e olhou para as meninas.

− Bem, Leidolf terá de encontrar outra pessoa. Eu tenho uma


alcateia.

Os olhos das meninas rodaram, e em seguida, elas trocaram um


olhar. Sorriram de forma ampla e ambas disseram:

− Claro que você tem.

~ 221 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie estava feliz por não estar sendo entrevistada para um


trabalho como mãe dessas meninas. Nunca seria capaz de esconder
nada delas. Na verdade, estava começando a pensar que não podia
esconder nada de ninguém. Ela não havia percebido o quão bem uma
alcateia de lobisomens poderia lê-la. Claro que, quando ela esteve com a
sua própria família, nunca foi desonesta. Exceto quando se tratava de
ficar com os lobos. Talvez a família dela soubesse disso o tempo todo e
apenas permitiram a ela tirar aquilo do seu sistema.

Antes que ela pudesse pensar mais sobre isso, Alice concordou.

− Sim, Leidolf disse que você tem medo de se juntar a nós.

Medo. Essa era uma palavra odiosa12. Cassie não gostava de


pensar em si mesma como tendo medo de nada. Não depois que sua
família foi assassinada. Não depois que manteve a si mesma antes de ir
viver com a alcateia de lobos que ela fez amizade. Não quando eles
foram mortos também. E não quando se tornou uma solitária
definitivamente. Só que ela tinha medo de caçadores de lobo. Nesse
sentido, havia um medo saudável.

− Sim, enquanto estava dormindo, Leidolf disse que você é uma


solitária, e os solitários podem ser difíceis de se envolverem em uma
alcateia. Ele também era um solitário, então ele sabe tudo sobre isso.
No início, nossos idosos tiveram dificuldade em convencê-lo de que
precisávamos dele, desde que Elgin foi quem matou o último dos lobos
maus em nossa alcateia. Elgin só fez o que tinha que fazer. Ele sabia
que Leidolf estava a caminho de salvar a alcateia. E todo mundo o
queria para ser o líder. – Sarah acrescentou.

12 No original “fighting word”, é uma expressão da língua inglesa que se usa para

provocar uma briga ou hostilidade. Normalmente, são palavras desagradáveis e cheias


de malícia.

~ 222 ~
Pegasus Lançamentos

− Se ele não tivesse brigado com aquele cara muito mau, um


cinzento do Colorado, Leidolf teria matado o último dos maus vermelhos
em vez de Elgin. Leidolf estava muito ferido para lutar contra os
vermelhos assassinos na ocasião. Ou ele teria feito. Elgin não queria
liderar, e está feliz em ser o segundo de Leidolf no comando. Nós vamos
todos ajudar Leidolf a manter você. Então, ele nunca mais vai querer
nos deixar. – Alice falou rapidamente.

Cassie não via Leidolf como o tipo de homem que abandonaria a


sua alcateia, ele tendo uma companheira ou não. Ela se imaginou
sendo algemada, porque essa era a única maneira que garantiria que
ela ficasse num mesmo lugar.

Sarah assentiu.

− Oh, sim. Se ele tiver você para se zagar, ele vai estar mais feliz
com a matilha. Isso é o que Evan diz.

Os olhos das meninas brilharam quando Alice acrescentou:

− Evan é muito bonito, mas papai não nos deixa chegar perto
dele, se ele puder evitar.

− Ele é da sua idade?

− Sim, bem, um pouco mais velho. − Sarah colocou a mão no


coração e suspirou. − Ele não nos incomoda por conta do papai. Eu não
acho que ele tem medo dele... Evan é bem alfa. Ele não quer atiçar
muito as coisas, e deixar Leidolf com raiva. Sendo ele o líder, ninguém
quer irritá-lo.

Cassie reprimiu um gemido. Tudo o que ela precisava era ficar


amarrada com um líder de alcateia cujo temperamento fugia dele à
menor provocação e que descontava em seus liderados.

~ 223 ~
Pegasus Lançamentos

Por outro lado, por que a alcateia queria que ele liderasse tanto
assim? Talvez porque os outros haviam sido tão perversos que Leidolf
parecia um anjo em comparação.

Ela riu para si mesma. Ele definitivamente não era angelical


nem um pouco. Não do jeito que ele a observava com aquela expressão
pecaminosamente sedutora. Um diabo sedutor era mais parecido com
ele.

− Bem, exceto por Sarge. – Alice informou. − Ele é recém-


transformado e irrita Leidolf o tempo todo. Papai disse que Sarge nunca
deveria ter sido autorizado a viver.

− Oh?

− Ele era um Anjo das Trevas. − Sarah se apressou a dizer.

− Anjo das Trevas?

− Assassino de lobisomem. Ninguém gosta dele. Ele é um lobo


ômega, rondando na periferia da alcateia. Um perdedor total. Meu pai
disse que ele usava drogas. Porém, agora não usa mais. Se ele usasse,
meu pai acabaria com ele. – Alice falou baixinho.

− Oh.

− Sim, bem, ele é indesejável. − Sarah apontou para o próprio


braço. − E ele tinha uma tatuagem no braço direito aqui... um Anjo das
Trevas, papai disse. Nós não fomos autorizadas a ver. Eu quero dizer,
por exemplo, nenhum lobisomem poderia ter com segurança uma
tatuagem. Também era o que as...

− As palavras representavam algo – Alice roubou as palavras de


Sarah. − Uma pequena cirurgia a laser e as palavras se tornaram

~ 224 ~
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história. A tatuagem desagrada à maioria dos membros, não importa se


ela sumiu e é apenas uma pequena cicatriz permanente. Sarge não se
importa. Continua vestindo camisas de mangas curtas para exibir como
um distintivo de honra, Evan diz. Ninguém gosta de Sarge, por esta
razão, e porque ele continua causando muitos problemas.

− Então há Irving e Tynan. Papai diz que eles estão aprontando


algo muito ruim. − Sarah assentiu com a cabeça uma vez, enfatizando o
ponto.

Os olhos de Alice aumentaram quando ela acrescentou mais


notícias.

− Ah, sim, e Pierce e...

Passos apressados soaram no corredor, e todas se viraram para


ver quem estava chegando. Cassie desistiu de pensar que poderia sair
da casa da fazenda em breve.

Meio sem ar, Laney correu para o quarto com os braços cheios
de roupas brilhantes e floridas. Ela deu as meninas um olhar severo.

− Espero que vocês tenham falado a Cassie apenas sobre as


pessoas legais que temos na alcateia.

Ambas morderam os lábios e olharam para Cassie. Ela sorriu.


Não iria entregá-las.

− Não são roupas da última moda, mas devem servir. E uma das
senhoras quer conhecê-la. Ela está acamada por enquanto. Você se
importaria em ir vê-la? Ela está no outro extremo da casa e ficará por
poucos dias.

~ 225 ~
Pegasus Lançamentos

Não, Cassie não queria ser envolvida em nenhum assunto, por


medo que acabasse sentindo mais por eles do que era sábio, mas se a
mulher estava acamada e ficaria contente ao ver Cassie, era o mínimo
que poderia fazer.

Ela ergueu as sobrancelhas para os tecidos florais que pareciam


lenços coloridos, sinais de paz... calça boca de sino de seda, coberta de
brilhantes flores cor-de-rosa, uma camisa azul tulipa, nenhuma das
cores ou das flores combinando, e um lenço tingido. A combinação de
cores brilhantes fez seus olhos doerem. Ela pareceria um buquê misto
de flores quando fosse para o jantar. Pior? Ela realmente se destacaria
se tentasse se ocultar na floresta, quando voltasse para lá. Talvez tenha
sido o jeito tortuoso de Laney de ter certeza que ela não saísse tão cedo.
Não seria o suficiente para detê-la.

− Leidolf vai me deixar ir às compras com você para comprar


mais algumas coisas, uma vez que você se curar um pouco mais.

Ela precisava de permissão? Cassie pigarreou. Isto nunca


aconteceria.

Embora tivesse que lhe dar crédito, seu raciocínio era válido,
como ele sabia que ela não iria ficar parada. Hmm, e se ela fosse a uma
loja que vendesse roupas do exército? Pegar algumas boas roupas de
camuflagem como os caçadores vestiam? Embora soubesse que não era
uma possibilidade, com certeza a atraía.

− Você precisa de ajuda para se vestir? − Laney apontou para a


lesão de Cassie.

− Não, obrigada. Eu só preciso de um pouco... − Privacidade, era


o que Cassie quase havia soltado. Mas lobisomens que viviam em
alcateia não precisavam de privacidade ao se vestir. − Uhm, sapatos?

~ 226 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie conseguiu dizer sem estragar sua frágil dissimulação.

− Os meus são provavelmente dois números maiores. − Laney se


desculpou.

Alice apontou para seus pequenos pés.

− Eu provavelmente sou mais do seu tamanho. E Sarah,


também, já que usamos o mesmo número de sapatos.

− Nós não pensamos em trazer qualquer par conosco, e nós


vivemos a duas horas daqui. – Sarah arregalou os olhos. − Você não era
a loba vermelha que nosso pai cheirou no parque, era? Papai teria um
ataque se soubesse que foi você quem ele sentiu antes. Embora ele
soubesse que teria que desistir para Leidolf, supondo que Leidolf a
encontrou.

Alice acrescentou:

− Papai esperava que pudesse localizá-la, e fazer amizade, e


Leidolf teria pena dele e o deixaria tê-la como companheira se ela
estivesse de acordo. Ele procurou pela loba vermelha por dias enquanto
Leidolf estava no Maine, cuidando de negócios importantes da alcateia.
Papai ainda pediu a nós para ajudá-lo a procurar. Nós nunca
conseguimos encontrar nenhum sinal indicando para onde ela fugiu. E
ela não parecia voltar.

Antes que Cassie pudesse responder, Sarah pigarreou.

− Leidolf procurou por ela ontem, e nós estávamos com medo


que ele ficasse louco por papai não contar sobre ela.

− Sim, e ele realmente queria ir com Leidolf para ver se ele a


encontrava dessa vez.

~ 227 ~
Pegasus Lançamentos

− Por que, nós não sabemos. − Sarah colocou o cabelo atrás da


orelha. − Eu acho que ele pensou que ainda poderia ter uma chance
com ela.

− Leidolf não queria deixar o papai ir com ele. Papai não estava
realmente feliz com isso.

− Qual parque? − Perguntou Cassie.

− Parque Florestal, na cidade de Portland. – Alice ofereceu.

− Não, não era eu. − Cassie suspeitou que poderia ser a loba
com os filhotes. O pai das meninas ficaria decepcionado ao ouvir que
ela era uma loba de verdade. Cassie se levantou da cama e vestiu a
camisa, depois a calça. Elas poderiam estar um pouco apertadas em
Laney, mas estavam muito folgadas em Cassie. Se ela soltasse a calça
boca de sino, cairia aos seus pés. − Você por acaso não trouxe um
cinto, não é?

Laney balançou a cabeça.

− Oh meu Deus, não.

Alice levantou a própria camisa e balançou a cabeça. Sem cinto.

− Eu queria colocar um, mas estávamos com tanta pressa para


chegar aqui, que eu esqueci.

− Eu nunca uso cinto. – Sarah anunciou. − Muito incomodo se


eu quiser mudar rapidamente. Não que eu faça isso com muita
frequência, exceto quando preciso. Leidolf é muito rigoroso sobre
quando e onde nos transformamos. A menos que seja na privacidade da
nossa casa. Um cinto é apenas uma coisa a menos a ter que remover.

~ 228 ~
Pegasus Lançamentos

− Talvez Leidolf tenha um − Cassie foi para o guarda-roupa.

Todas ficaram num silêncio mortal, Cassie percebeu que elas


estavam com medo que ele não gostasse que ela fosse para a refeição
usando um de seus cintos, sem a sua permissão. Ela tinha certeza que
ele não gostaria de vê-la vestindo apenas uma blusa curta que
descansava acima do umbigo, e boca de sino que se reunia ao redor de
seus pés.

Ela pegou um cinto de couro preto fora da prateleira, e quase riu


ao ver as meninas e Laney, com a boca escancarada. Em seguida, as
três sorriram.

− Bem, se ela sobreviver a isso, saberemos que ele tem uma


companheira. − Sarah disse e riu.

− Com certeza. – Alice concordou.

− Por que não pensei nisso antes? – Laney balançou a cabeça.

Então, o problema era que as calças florais de Laney não tinham


passadeiras de cinto. Tentando lidar com o que tinha, Cassie prendeu o
imenso cinto em torno da calça.

− Ninguém por acaso tem algo que eu possa usar para fazer
outro furo no cinto, tem?

− Uhmm. – Alice gemeu. − Isso pode estar indo um pouco longe


demais.

Cassie olhou para a cômoda e a mesa de trabalho, mas não viu


nenhum instrumento afiado que pudesse usar. Quando estendeu a mão
para uma gaveta da mesa, Elgin enfiou a cabeça para dentro do quarto.

~ 229 ~
Pegasus Lançamentos

− A comida está na mesa. Estão todas prontas para comer?

As meninas e Laney pareceram muito aliviadas pela interrupção


do que Cassie estava prestes a fazer.

Desistindo da sua missão de fazer outro buraco no cinto, Cassie


o afivelou, mas o couro preto caiu bem abaixo dos quadris e a fez
sentir-se mais exposta do que quando ela não estava usando nada. Ela
esperava que o jantar não demorasse muito antes que pudesse voltar
para a cama, finge dormir, e então fugir pela noite, mas receava que a
calça caísse quando estivesse fugindo. E o tecido era tão sedoso que
estaria muito frio para usar na floresta. Sem mencionar, brilhante
demais.

− Vou levá-la para ver Felicity primeiro. − Laney direcionou


Cassie no corredor.

− Nós queremos ir, também. − As meninas disseram ao mesmo


tempo.

Cassie achou estranho, imaginando que a loba acamada


provavelmente não iria querer toda aquela atenção.

Quando entrou no quarto depois de Laney, encontrou uma sadia


loba dormindo em uma cama com filhotes de lobo dormindo ao seu lado
e em cima dela, os olhos deles bem fechados, as pequeninas patinhas
rosas, os pelos lisos e escuros. Desmaiado em uma cadeira confortável
perto da cama, estava um homem barbudo, roncando, com olheiras sob
os olhos.

Cassie se aproximou lentamente da mãe, que abriu os olhos e a


viu.

~ 230 ~
Pegasus Lançamentos

− Esta é Cassie. – Laney apresentou. − E Cassie, conheça Felicity


e sua ninhada. Ela escolheu ter filhotes de lobos em vez de bebês, mais
fácil de parir e mais fácil de cuidar quando eles são muitos. E este é o
companheiro dela, Harvey. − Ela apontou para o homem dormindo.

Parecia que a provação da companheira dele o desgastou


também.

− Felicity − Cassie apontou para os filhotes. − Posso?

Felicity inclinou a cabeça.

Cassie foi até a cama e pegou um dos filhotes que torceu o nariz
e lambeu os lábios, mas continuou a dormir.

− Oscar. Ele é o macho alfa até o momento. Primogênito,


primeiro a mamar. − Laney soava como uma avó orgulhosa.

Sarah e Alice estavam ao pé da cama e sorriam para os filhotes.

Cassie pegou outro filhote, e ele chorou, assustado. Cassie


esfregou o rosto contra ele. Amava os filhotes de lobo. Não podia evitar,
mas sentia uma afinidade com todos os tipos de lobos, se eram apenas
lobos ou lobisomens.

− Esta aí é Melissa. Ela é doce e tranquila e é melhor ela


aprender logo a dominar ou vai ficar numa situação ruim dentro da
ninhada. – Laney ponderou.

Cassie afagou as costas do próximo filhote, também um macho.

− Keith, o segundo no comando. E a outra fêmea é Pamela, e ela


é uma verdadeira lutadora. Nenhum irmão mandão vai roubar seu
lugar na teta da mãe na hora da alimentação.

~ 231 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie sorriu. Ouviu que esse era exatamente o jeito dela,


quando era apenas uma filhotinha de lobo.

− Eles são lindos. − Cassie disse a mãe, e ela jurou que a loba
deu um suspiro de alívio.

O olhar do lobo deslocou em direção à porta, e Cassie se virou


para ver o que lhe chamou a atenção. Leidolf estava na porta
observando Cassie. Não era o que ela queria. De repente, ela se sentiu
empurrada para o comportamento casamenteiro novamente. Venha ver
o que você pode ter se der a Leidolf uma chance. O rosto dela ficou
quente e depois a sensação desconfortável se espalhou por todo o corpo.

Apesar de não querer alimentar a ilusão de Leidolf, Cassie não


queria ferir os sentimentos de Felicity, então disse:

− Se algum dia eu sossegar de vez, seria muita sorte ter filhos


tão bonitos quanto os seus.

Felicity deu um sorriso de loba. Mesmo que Cassie nunca tivesse


tido seus próprios filhos, ela sempre se sentia ligada às mães. Talvez
porque tenha tendência para cuidar dos outros. Ou talvez porque
sempre amou filhotes e crianças, e eles pareciam adorá-la tanto quanto.

Quando se virou, Leidolf ainda estava esperando por ela. Ela


teve a nítida impressão de que ele queria a sua companhia novamente.

Ela suspirou. Nenhum modo de evitar a questão.

~ 232 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Quatorze

Cassie se juntou a Leidolf e ele a acompanhou pelo corredor, não


deixando um centímetro de espaço livre entre eles, assim como os lobos
que estavam namorando ou acasalados ficavam juntos. Tentando
ignorar sua proximidade, ela espiou mais cinco quartos, todos bem
mobiliados, cada um com áreas de estar e portas para o pátio. A
fazenda deve ter custado uma fortuna.

Quando chegaram à sala, o lugar era elegante, com sofás de


couro, tapetes persas, lustres de cristal e pinturas a óleo da costa do
Oregon. Por todo redor da sala, esculturas de bronze de lobos eram
exibidas em várias poses, desde descansando em grupo, até fuçando
uns aos outros ou rosnando um para o outro.

Por que então o quarto do Leidolf era tão austero? Quase parecia
que preferia viver na mais primitiva das configurações. Uma caverna se
ele pudesse ter conseguido, ela imaginou. Ah, um solitário, as meninas
disseram. Similar a Cassie, nunca desfazendo a mala13 na metade do
tempo ou a mochila. Nenhum lugar era lar o suficiente.

− Nós não queríamos que fosse muito formal. − Laney disse,


apontando para uma mesa arrumada como um buffet com tonelada de
alimentos, filé mignon, frango, fatias de presunto, purê de batatas e
pedaços de queijo, bem como tomates , salada, melões e uvas.

13 Do original “living out of a suitcase”, a expressão tem o sentido figurado de

descrever alguém que fica muito brevemente em vários lugares, nunca desembala sua
bagagem.

~ 233 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf estava à frente de Cassie, dando-lhe algum espaço para


manobrar ao redor da mesa. Ela não notou a extensão de comida tanto
quanto ela notou Leidolf observá-la na multidão de pessoas,
provavelmente entre vinte a trinta membros da alcateia. Ele se
destacava entre os demais, os ombros em linha reta, o olhar sombrio
fixo nela, a cabeça erguida, estava no comando, o macho dominante.
Não importava que a sala estivesse cheia de tensão enquanto todos a
observavam, seu olhar era firme e sincero.

Ele era uma presença calmante, embora ela nunca se sentiu tão
autoconsciente, mesmo falando para um auditório cheio de pessoas,
quanto ela se sentia agora. Talvez porque era impessoal. Ela palestrava,
respondia às perguntas, e depois desaparecia novamente para a
floresta, à procura de lobos para observar e se conectar.

Isso era diferente. Essas pessoas esperavam que ela ficasse. E


eles esperavam que Leidolf fizesse isso acontecer. Todos os olhos
estavam sobre ela, que percebeu que eles tinham a intenção de fazê-la
sentir-se bem-vinda, e ajudariam Leidolf de qualquer maneira para
garantir que ela ficasse.

Com exceção de um dos homens. Ele era mais loiro que o resto
das pessoas, e rondava na periferia. Ele parecia mal-humorado e infeliz
por estar ali. Os dois homens que estavam em cada lado dele pareciam
irmãos gêmeos e aparentemente o estavam vigiando.

Recentemente transformado... Sarge? O Anjo das Trevas? Tinha


de ser ele pelo jeito que ninguém estava perto dele. Ele a observava
firmemente, e ela não gostou do olhar calculista em sua expressão.

Leidolf roubou sua atenção mais uma vez, a maneira como ele
olhou para ela, seu olhar finalmente absorvendo sua aparência, a blusa
curta, a calça de cintura baixa, e seu cinto.

~ 234 ~
Pegasus Lançamentos

Ele ofereceu um pequeno sorriso e apontou para a mesa.

− Cassie.

Todos esperavam que ela fizesse alguma coisa, qualquer coisa.


Ela era a convidada de honra.

Ela suspirou. Esta poderia ser a última boa refeição que teria em
um bom tempo. Poderia muito aproveitá-la antes de fugir.

Quando ela estendeu a mão para um prato, Laney correu para


pegar.

− Descanse seu ombro, querida. Vou fazer o seu prato e você


pode sentar onde quiser.

− Obrigada, mas eu realmente posso fazer isso.

− A honra é toda minha. − Laney sorriu.

Eles a estavam tratando como uma princesa há muito perdida


do reino, o que novamente atiçou seu desejo de pertencer a uma
alcateia. Bem, não qualquer uma. Se ela fosse uma mulher diferente,
alguém que precisasse de um homem, Leidolf e sua alcateia serviria
perfeitamente.

Laney encheu o prato com fatias de presunto e carne assada,


purê de batatas e molho, e salada de tomate e espinafre, coberto com
molho de queijo azul. Tudo isso parecia ótimo e cheirava celestial. Seu
estômago roncou, e ela tinha certeza de que todo o grupo ouviu.

Leidolf ergueu as sobrancelhas um pouco. Sim, ele ouviu. Ela


não conseguia manter muitos segredos dele.

~ 235 ~
Pegasus Lançamentos

Em seguida, dois homens passaram adiante taças de vinho


enquanto outros começaram a encher seus pratos de comida. Todos se
espalhavam pelas cadeiras e sofás, encontrando um lugar para sentar
enquanto comiam e conversavam. Leidolf estendeu a mão e a colocou
nas costas dela, guiando Cassie para um sofá de veludo visivelmente
vazio. Sua mão na pele dela atiçou mais uma vez o desejo por algo mais
do que a vida que ela tinha. Ela tentou ignorar o que o toque dele fazia
com ela, até que a grande mão passou em torno de sua cintura,
puxando-a para perto, enquanto ele contornava com ela dois de seus
homens. Sua ação foi carinhosa, gentil e possessiva. Uma parte dela
gostava daquela possessividade, como se ela pertencesse a ele.

Mesmo assim, todo o corpo dela aqueceu vários graus enquanto


todos assistiam o avanço deles, e ela não lembrava de um tempo em
que se sentiu tão exposta. Quando chegaram ao sofá, Leidolf acenou
com a mão livre para ela se sentar, ainda possessivamente abraçando
seu quadril. Assim que ela se sentou, sentiu falta do calor do seu toque,
o que era simplesmente uma loucura.

Laney entregou o prato para Cassie, e levantando um copo,


Leidolf disse:

− Eu proponho um brinde, para os membros da nossa alcateia


retornarem em segurança.

Ela bebeu um pouco do vinho, encantada com o aroma rico, e


sentiu uma leve embriaguez de imediato, provavelmente porque não
bebeu nada alcoólico desde o Natal anterior, quando se juntou a alguns
colegas pesquisadores numa festinha natalina. E ficou bêbada.
Felizmente, conseguiu escapar antes que fizesse algo realmente
estúpido.

~ 236 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf sentou ao lado dela, muito perto, possessivamente


demais, quando o sofá tinha amplo espaço para eles se espalharem. Por
um lado, a forma como a perna dele tocava a dela a incomodava. Ele
estava em seu espaço, e ela lutou para se afastar um pouco. Mais uma
vez a questão de fugir a fez ficar firme. Por outro lado, uma parte dela
queria mais do seu toque. Ansiava por ele, como se fosse uma loba no
cio. O que tecnicamente, maldição, ela era. E ele estava fazendo todos
os movimentos certos sobre ela, o que ela estava tendo uma maldita
dificuldade em ignorar.

Até agora, o impulso do seu lobo nunca a incomodaram. Droga,


se os feromônios dele não estavam provocando os dela novamente.

Se ela pudesse ter sexo com ele, será que acabaria com o desejo
que sentia por ele? Então estaria acasalada com ele pelo resto da vida, e
não queria nada permanente com um cara. Qualquer cara. Não quando
sabia exatamente aonde isso levaria. Sem mais escapadas para estudar
lobos. Não sem a permissão do seu companheiro. E ela assumia que o
líder da alcateia não daria. Não quando a queria junto com ele para
liderar. E não quando ele se preocuparia com ela estar sozinha na
floresta, enfrentando sabe lá o quê. Talvez outro homem nu num lago
em algum lugar. Ou talvez outro caçador.

Ele se esticou sobre a perna dela para pegar um saleiro na mesa


de café, o braço dele roçou a emprestada calça de seda floral contra a
sua pele, aquecendo-a até o núcleo novamente. Quando ela lhe lançou
um olhar para pará-lo, os olhos dele brilhavam com malícia. Mesmo que
a princípio ela pensou que ele a havia tocado inocentemente, sua
expressão dizia o contrário. Percebeu que Leidolf era o tipo de homem
que estava sempre no controle de suas ações. Planejando, fazendo valer
cada movimento, não deixando nada ao acaso.

~ 237 ~
Pegasus Lançamentos

Quando ele devolveu o sal para o mesmo lugar na mesa, ao invés


de apenas deixá-lo de lado, seu braço descansou desnecessariamente
contra a coxa dela. Ela empurrou o braço dele da perna e sorriu quando
ele ergueu as sobrancelhas, enquanto apresentava um sorriso diabólico.

Ela tinha toda a intenção de provar que não era dele. O que era
o propósito disto. O jogo de acasalamento. Estilo lobisomem.

A grande sala ficou completamente em silêncio, e ela olhou para


cima e encontrou todos os olhos sobre eles.

Um dos homens, alto como Leidolf, quebrou o silêncio.

− As minhas meninas disseram que não era você aquela


andando pelo Parque Florestal.

Respondendo antes que Cassie pudesse, Leidolf balançou a


cabeça e levantou a taça de vinho.

− Não, Carver. A loba tinha um cheiro diferente. Não é a mesma


loba absolutamente.

Cassie percebeu que Carver sabia aquilo, uma vez que suas
filhas disseram que ele estava à procura da outra loba. Então, o que era
realmente tudo aquilo?

Vários dos homens se empertigaram, o interesse refletia nas


expressões intrigadas. Se a loba que Carver e Leidolf haviam cheirado
era a mãe loba com os filhotes, os solteiros ficariam com certeza
desapontados. Cassie não estava prestes a mencionar que a loba tinha
filhotes. Ela provavelmente cometeu um grande erro mencionando a
Laney que pretendia voltar para a floresta de qualquer jeito.

~ 238 ~
Pegasus Lançamentos

− Ela tem algum parentesco com você? – Carver questionou, a


voz grave, como se ele já estivesse deixando os outros homens saberem
sobre o seu interesse na mulher, mas uma pitada de esperança a fez
simpatizar com ele.

− Não. – Cassie odiava desapontá-lo, mas não queria expor a


loba mais longe do que isso. Não que ela soubesse alguma coisa sobre a
loba do Parque Florestal, só suspeitava.

Carver não parecia desencorajado. Ele ficou razoavelmente perto


do sofá e dela, enquanto bebia um copo de vinho e a observava. Será
que ele achava que se a loba fosse parente de Cassie, ela iria falar bem
dele para ela? Ela teria, se isso significasse que as meninas gêmeas
teriam uma mãe.

Ela olhou para Alice e... Sua irmã, Sarah, elas não estavam
juntas como esperava. Cassie observou a sala cheia de pessoas e viu
Alice avançando em direção a um menino em torno de sua idade, alto,
com brilhantes olhos âmbar e que sorria enquanto observava a menina
se aproximar. Ele tinha o diabo em sua expressão, cada pedaçinho tão
atraente como o próprio Leidolf. Não é de admirar que Carver não
quisesse suas filhas perto do garoto. Tinha que ser Evan, o garoto que
foi descrito como um verdadeiro alfa. Ela suspirou. As meninas
precisavam de uma mãe para garantir que garotos como ele não
conseguissem o melhor delas, e que um pai como Carver não matasse o
garoto nesse ínterim se ele fosse um pouco longe demais.

Enquanto tentava ignorar todos ao seu redor, Cassie


entusiasmadamente pegou com o garfo um pedaço de carne e purê de
batata, mas hesitou quando uma pontada de dor em espiral atravessou
seu ombro. Respirou raso através da dor e depois comeu. Ela não tinha
uma refeição caseira como esta há anos, e com certeza estava boa.

~ 239 ~
Pegasus Lançamentos

Embora o jantar que dividiu com Leidolf no Forest Club certamente


estava delicioso. Comer comida liofilizada14 na floresta fica muito
cansativo depois de um tempo. E ela tinha toda a intenção de pegar
outro prato cheio de comida caseira, logo que terminasse aquele.

Conversas recomeçaram em voz baixa, muitos deles estavam


falando para que ela pudesse compreender qualquer conversa em
particular, apesar de ouvir trechos... Ela é perfeita... Certa para ele...
Tem que mantê-la... Não será fácil.

Ela tentou ignorar e apreciar a comida em vez disso. Leidolf


ficando perto dela, a perna pressionada contra a dela, mostrando o
quanto ele a queria, e que estava atiçando seus próprios desejos.
Nenhum homem jamais a excitou com tal gentileza e toque imponente.

Ela ainda imaginava como seria experimentar seus beijos.

O olhar dela vagou para os lábios dele enquanto ele falava com
Elgin. Leidolf tinha lábios carnudos que ela imaginava serem
condenadamente prazerosos pressionados contra os dela. Elgin olhou
para ela, o que provocou Leidolf a olhar também. Seu rosto esquentou,
e ela olhou de volta para a comida, quase no fim.

Ela apertou as mãos, tentando parar o formigamento em seus


mamilos.

− Você poderia me dar um pouco mais de espaço. − Ela falou


para Leidolf com voz normal, o que não deveria chamar nenhuma
atenção.

14Liofilização é um processo de desidratação usado para preservar alimentos

perecíveis, princípios ativos, bactérias, etc, onde estes são congelados e a água é
retirada, por sublimação, sem que passe pelo estado líquido.

~ 240 ~
Pegasus Lançamentos

Mas chamou. Todas as conversas na sala morreram


instantaneamente.

Alguns observavam a reação de Leidolf. Outros apenas sorriram


e foram menos óbvios sobre isso.

− Eu poderia. − Leidolf disse suavemente. Mas não se mexeu. O


olhar firme a desafiava a fazer algo a respeito.

Ela soltou um suspiro pesado em exasperação. Escolha suas


batalhas com sabedoria, seu pai sempre a avisou quando ela era uma
criança e não tomaria qualquer disparate de outros da cidade vizinha.

Valia a pena diminuir a arrogância do líder alfa um ou dois


bocados?

Ela não teria hesitado se estivessem sozinhos. Cada membro da


alcateia assistia para ver como ela reagiria ao desafio do líder. Ótimo.
Ela se aproximou de Leidolf, pressionando os seios contra seu ombro,
inclinando o queixo para cima para falar com ele em particular.

Ele se inclinou para que ela pudesse sussurrar em seu ouvido.

− Dê-me algum espaço para respirar, ou você pode se molhar


com o resto da minha taça de vinho.

Ela inclinou a taça um pouco de lado a lado, advertindo-o, com


uma expressão muito séria.

Ele estalou a língua e se inclinou para sussurrar em seu ouvido,


o que sentiu sensual demais.

− Que desperdício isso seria. − Sua respiração quente e as


palavras sedosas alteravam ainda mais seus sentidos já elevados.

~ 241 ~
Pegasus Lançamentos

Ela se inclinou para longe dele, esperando, armada e pronta se


ele não recuasse.

Os olhos focados nos dela, Leidolf abriu um largo sorriso e, em


seguida, deu um tapa na coxa.

− Cassie, você está ficando um pouco quente demais.

Ela poderia matá-lo! E deu-lhe um olhar que mostrava isso. Ela


jurou ouvir um par de risadas abafadas irromperem mais profundas no
meio da multidão.

Ele deslizou alguns centímetros de distância dela e continuou a


falar com Elgin, como se nada tivesse acontecido.

Com o rosto ainda corado, ela estava quente certamente.


Excitada no início, constrangida no final. Ela não poderia dizer a partir
dos rostos sorridentes das pessoas se eles achavam que ela ganhou o
confronto ou Leidolf.

Ela balançou a cabeça para si mesma. No sentido de racionalizar


o resultado. Leidolf venceu, inquestionavelmente. Embora ela devesse
estar irritada, não deixava de admirar o lobo astuto. Nunca ninguém a
superou em uma situação como aquela. Ele definitivamente era páreo
para ela.

Quase terminando a refeição, ela pôs o garfo no prato. Leidolf


apontou para uma garrafa de vinho, e quando Fergus trouxe, ele
encheu outra taça para Cassie.

Alice e Sarah correram para o sofá, ansiosas para agradá-la


também.

Sarah estendeu as mãos.

~ 242 ~
Pegasus Lançamentos

− Gostaria de mais alguma coisa para comer? Nós vamos buscar


para você.

As duas meninas a faziam lembrar de si mesma e de sua irmã


gêmea, quando elas tinham a mesma idade. Quase sempre juntas,
exceto quando Cassie visitava os lobos algumas vezes. Recordando a
última vez que esteve com a irmã e a prima, enquanto elas ainda
estavam vivas, nadando no rio perto da casa delas num dia quente de
verão, ela piscou para longe a névoa de lágrimas formando nos olhos.

− Purê de batata e outra fatia de carne. Obrigada, meninas.

As meninas estavam muito ansiosas. Todo mundo sorria um


pouco demais. A sala parecia se inclinar um pouco. Leidolf ainda
conversava com Elgin, algo sobre a obtenção de uma enfermeira e de
um contador para a alcateia. Ele viu as lágrimas formarem nos olhos
dela, provavelmente ouviu o leve nó em sua voz quando falou com as
meninas. Ele parecia mais consciente de sua luta para manter as
emoções sob controle, do que qualquer outro homem que ela já
conheceu. Mais do que isso, ele parecia preocupado. Ninguém nunca se
preocupou como ela se sentia, e a expressão dele a desconcertava. Era
muito mais fácil lidar com seus arrependimentos passados, quando
ninguém se importava um tiquinho sobre como ela estava se sentindo.

Ele olhava para ela agora, e Cassie se preocupou que ele fosse
colocar o braço em torno dela e puxá-la para perto. Não precisava do
seu conforto ou sua força. Ela lidava muito bem com seus problemas
sozinha, como sempre fez.

Sua força se esvaiu, ela não conseguia reunir energia para fazer
nada. Contra sua vontade, seu corpo inclinou para trás nas almofadas
do sofá, com a cabeça caindo sobre elas. As almofadas eram macias,

~ 243 ~
Pegasus Lançamentos

como travesseiros preenchidos com pó de fada. Leidolf e Elgin olharam


para ela. E sorriram.

Sorrisos calculados. Sorrisos traidores.

As meninas voltaram com outro prato cheio de comida, mas


Cassie não conseguia erguer a cabeça e sentar, nem sequer levantar as
mãos para pegar o prato. E de uma hora para outra, a taça de vinho
que Leidolf havia enchido desapareceu do seu alcance.

Ela não estava com fome, não mais. Em vez disso, sentia como
se todo o seu ser estivesse escorregando, escorregando, escorregando
para bem longe.

As palavras de Leidolf estavam abafadas enquanto ele falava


sobre tudo o que Cassie passou e que ela não conseguia comer mais
nada agora. As meninas pareciam desapontadas, mas então, suas
expressões doces ficaram borradas.

− Ela está cansada. − Leidolf falou perto do seu ouvido, as


palavras esvaindo-se, o mundo girando em sua cabeça, a escuridão
dominando. − A ferida, o tranquilizante, a corrida, o medo de ser
caçada... Ea precisa descansar.

O vinho... Muito... Muito... Vinho... Para... Beber... Ou...

Ela estreitou os olhos para Leidolf, o olhar firme dele focado no


dela.

... O... Vinho... Foi... Drogado.

~ 244 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Quinze

Leidolf passou os braços sob as pernas e as costas de Cassie, e a


ergueu. Déjà vu, tal como mais cedo naquele dia. Exceto que ela estava
vestida desta vez em seda, a barriga e as costas expostas.

A atrevida estava sofrendo mais do que estava revelando. Laney


o alertou mais cedo, e ele viu a forma como Cassie estremeceu um
número de vezes, sutilmente duas vezes, não tão sutilmente uma vez,
mesmo quando eles estavam comendo e bebendo. Em parte, esta era a
razão pela qual estava sentado tão perto dela, para sentir a maneira
como o corpo dela estremecia quando ela tentava controlar a dor.

Ele sabia que ela não concordaria com qualquer analgésico, não
quando Laney disse que Cassie queria ir embora rapidamente para
voltar para a floresta. Por mais debilitada que Cassie estivesse, falava a
sério. Que foi o motivo de Alice e Sarah fazerem “companhia” a ela até
que Laney retornasse com as roupas. Ele tinha a intenção de mandar
Fergus ou Elgin para ficar de olho nela.

Todavia as meninas eram tão animadas, que descobriu que elas


não deixariam Cassie escapar sob suas guardas. Funcionou bem para
todos os envolvidos.

Não importava como fosse, não permitiria que Cassie sofresse


com dor a noite toda.

− Será que ela vai dormir a noite toda? − Elgin perguntou


enquanto Leidolf a levava de volta para seu quarto.

~ 245 ~
Pegasus Lançamentos

− Espero que sim.

− Você quer que eu ponha um guarda?

Leidolf olhou para Elgin enquanto apertava Cassie em seus


abraços.

− Não será necessário.

Elgin ergueu as sobrancelhas um pouco e sorriu.

− Você vai precisar de mim para qualquer coisa hoje à noite?

− Eu não vi qualquer sinal de Irving ou Tynan no jantar. Será


que eles saíram de novo?

Elgin balançou a cabeça de forma irritada.

− Ninguém os viu depois que você falou com eles mais cedo.
Quando retornarem, serão colocados sob prisão domiciliar, por terem
desobedecido ao saírem sem avisar a ninguém novamente. Nesse meio
tempo, temos dois homens em busca de pistas sobre o que eles
estiveram tramando. Mais uma coisa, Fergus disse que mandou um
homem verificar o barracão e os fuzis deles sumiram. Talvez tenham ido
caçar o puma novamente?

Leidolf não gostou da notícia, temendo que os dois pudessem


entrar em algum problema de verdade com muitos caçadores
procurando os lobos vermelhos. Abandonar a alcateia sem avisar a
ninguém e negligenciar suas obrigações na fazenda não seria mais
tolerado.

~ 246 ~
Pegasus Lançamentos

− Tudo bem. Leve Laney para casa. Se Felicity precisar de


alguma coisa, seu companheiro pode cuidar dela. Todo mundo pode se
retirar por esta noite. Tenho tudo sob controle.

− Farei isso. − Elgin deu um meio sorriso cúmplice, virou-se e


voltou para a grande sala. Leidolf sabia que Elgin iria liberar o lugar em
uma ou duas horas, para que ele pudesse ter paz e sossego. Embora,
por enquanto, Fergus ficaria com Sarge em um dos quartos de hóspedes
e Pierce e Quincy em outro, até que eles aprendessem a se comportar.

Ele imaginou que as conversas ficariam centradas em Cassie e


Leidolf, enquanto outros especulariam sobre a outra misteriosa fêmea
de lobo vermelho. Se já não tivesse planejado sair em caça para tentar
localizá-la em breve, ele sabia que os machos solteiros fariam sem ele.

O que poderia se transformar em briga entre eles ou disputa,


além de buscas frenéticas. Então a primeira coisa que faria na parte da
manhã, seria agendar as buscas e esperava que localizassem a outra
loba sem mais incidentes. A caçada pelo puma também estava em
ordem. E por Irving e Tynan, se eles não aparecessem em breve.

Ele olhou para as feições sonolentas de Cassie enquanto entrava


no quarto dele, a expressão tão pacífica que ele quase pensava que ela
já era dele, mas sabia que a luta espreitava logo abaixo da superfície.
Ele fechou a porta com o pé e caminhou em direção à cama.

Quando ele ultrapassou os limites com ela quando sentaram


lado a lado no sofá, por mais sutis que suas ações tivessem sido, ele
amou a resposta dela. Também poderia dizer a partir da expressão dela,
que ela teria despejado o vinho nele. Ela continuamente tentou
esconder o fato de que o desejava, o que provocou seu interesse por ela
ainda mais.

~ 247 ~
Pegasus Lançamentos

Ele queria sentir se ela estava sofrendo durante a refeição, a


estava testando também, para ver a reação dela, para saber se estava
disposta ou não. Assim como um lobo faria a sua companheira,
tornando-se mais carinhoso com toques e beijos, com corpos
pressionados juntos ao caminhar, cheirar e lamber a companheira.
Suas ações eram tão instintivas quanto eram movidas pela necessidade.

Agora, a façanha seria convencê-la a querê-lo como


companheiro, para sempre. Ele sabia o que era ser solitário. Se ela
realmente era uma solitária, e suspeitava que ela fosse, entendia suas
necessidades. E iria respeitá-las. O máximo que ele pudesse.

Depois de deitá-la na cama, ele desafivelou o cinto, o cinto dele.


Balançou a cabeça. Presumiu que apenas a própria atrevida seria
ousada o suficiente para pegá-lo do seu guarda-roupa. O que enfatizava
ainda mais o fato de que ela era uma alfa, e perfeita como sua
companheira.

Ele removeu o cinto e tirou a blusa berrante de Laney. Depois


tirou a calça, a estampa chamativa e com brilho suficiente para mantê-
lo acordado metade da noite. Pegou as roupas e as jogou em um cesto.
Preferia que Cassie vestisse outras roupas amanhã. Embora Laney
tivesse perguntado sobre levá-la às compras, Leidolf não permitiria. Não
até que soubesse com certeza que Cassie não fugiria.

Ele a cobriu com o edredom e refletiu sobre o curativo em seu


ombro.

Amanhã, daria uma olhada na lesão. Tocou na testa dela com a


palma da mão. Ela estava fria, então não achava que estava tendo
qualquer efeito colateral nocivo, febre ou calafrio. Esperava que a dor
diminuísse em breve.

~ 248 ~
Pegasus Lançamentos

Então tirou a roupa, colocou na cadeira e virou para observar a


beleza ruiva, o rosto tranquilo no sono, os cílios tremulando, a
respiração suave e constante. Acordar e olhar para tamanha beleza pelo
resto de seus dias faria sua permanência na alcateia ainda mais
gratificante. Até mesmo poderia lidar com o caos financeiro no qual se
encontravam, e Quincy, Pierce, e as travessuras do Sarge. E os outros
dois, Irving e Tynan, seja qual fosse o negócio que eles estavam fazendo.

Ele tomou uma respiração profunda. Algo sobre as meninas


perturbou Cassie, no entanto. No início, pensou que alguém havia
indevidamente a aborrecido, possivelmente por causa do interesse
entusiasmado da alcateia para ela ser a companheira do líder, quando
ela afirmava não estar pronta para se comprometer. E, sendo uma
solitária, ela poderia ter ficado sobrecarregada com tanta gente a
cumprimentando de uma só vez, todos animados para conhecê-la.

Mais uma vez lamentou que muitos deles apareceram sem a


autorização expressa dele. Mas não achava que fosse só isso. Ela
parecia sentir alguma conexão com as meninas. O que o incomodava
um pouco. Carver estava ansioso por uma companheira. E se as
meninas realmente precisassem de uma mãe? E Cassie fosse certa para
ele?

Leidolf balançou a cabeça. Cassie tinha tesão por ele, não por
qualquer outra pessoa.

Carver poderia ter a outra fêmea vermelha se ela fosse


verdadeiramente uma lobisomem, e eles conseguissem localizá-la. E se
ela estiver livre para acasalar e de acordo.

Sem dúvida, pelo menos na maneira de Leidolf pensar, Cassie já


era dele.

~ 249 ~
Pegasus Lançamentos

Ele subiu na cama, puxou Cassie para seus braços, e fechou os


olhos. Ela rapidamente se aconchegou contra ele, deslizando a perna
entre as dele, a bochecha macia contra o peito dele, o cabelo sedoso
acariciando a pele dele, o braço apoiado sobre o peito dele, como se
fosse a sua dona.

Ele gemeu. Querendo acreditar que ela estava se entregando a


ele, mas precisava lembrar que era mais esperto que isso. Ele não
esteve com uma mulher humana em um longo tempo. Agora, tinha uma
chance de acasalar com uma lobisomem fêmea que era perfeita para ele
em todos os sentidos... Ele respirou fundo e acariciou suas costas com
um leve toque. Ela foi enviada do céu.

Até certo ponto, não acreditava em destino, mas depois de saber


que Cassie era uma lobisomem, estava repensando suas crenças. Sua
irmã teria apenas sorrido com aquela expressão que dizia que ela o
avisou. Ele provavelmente teria que concordar com ela.

Após meditar por cerca de uma hora sobre tudo o que aconteceu
desde a primeira vez que viu Cassie até agora, e pensar em como iria
convencê-la a ficar com ele, finalmente adormeceu. E voltou em sonho
para o lugar aonde gostava de ir, para fugir, recapturar a selvageria,
apreciar a solidão, reunir os pensamentos e meditar.

O Monte Hood coberto de neve se estendia até o céu enquanto


nuvens fofas abraçavam o pico, o cenário majestoso, monumental,
muito distante.

A água gelada lambia suas pernas, enquanto ele observava a


beleza da praia pedregosa. Ele considerou correr em sua forma de lobo
na floresta, deixando o vento bagunçar seus pelos, esticando as pernas,
afastando-se da alcateia por mais tempo do que o planejado, quando
um galho quebrou na floresta atrás dele.

~ 250 ~
Pegasus Lançamentos

Virando rapidamente, a encontrou olhando para ele. Cabelo


vermelho lutando para se libertar da prisão. Os olhos verdes o
desafiando a ir até ela. Para tomá-la. Para fazê-la sua.

Cassie.

Seu corpo ficou tenso com a necessidade. Os lábios dela


entreabertos acenavam, o chamando para beijá-los. Ela deu um passo
para trás, mas não estava fugindo. Os olhos dela vasculharam cada
pedacinho de sua nudez. Ele sorriu. Ela o queria. E ele a queria. Andou
em direção a ela, com a intenção de ajudá-la a tomar a decisão de ficar.
E então ela estava correndo. Ela era dele. Toda dele, e ele assumiu a
perseguição. Ele era mais rápido. Iria pegá-la. Não a deixaria escapar.

Então ele foi puxado do sonho quando Cassie se arrastou para


cima dele, a boca suave formando palavras silenciosas que não faziam
qualquer sentido, sussurrou contra seu peito, e ela estremeceu. Ela
estava com frio. Ele passou os braços ao redor dela e queria muito
mais, mas até que ela se curasse, até que concordasse em ser dele... Por
mais difícil que fosse, esperaria. Não pararia de tentar ajudá-la a se
decidir mais rápido, apesar de tudo.

Ele voltou para o sonho novamente. Viu a montanha, sentiu o


frio do lago, ouviu o ramo se partir, e encarou a mulher que seria sua.

Cassie lentamente acordou com a sensação de um homem nu


debaixo dela. Não apenas qualquer homem. Leidolf. Seu corpo quente,
duro debaixo dela, a aquecia, e a confortava. Ela respirou sua

~ 251 ~
Pegasus Lançamentos

masculinidade, o cheiro sexy dele, e o desejo por ela. Que confusão ela
se meteu. De alguma forma, precisava deixar essas pessoas. A loba
dependia dela. Estava com medo que Alex também dependesse. No
entanto, já estava se sentindo dividida sobre abandonar a alcateia.

A maneira como eles queriam que ela ficasse, para fazer parte da
família deles, não poderia deixar de sentir algo por eles. Até mesmo a
forma como os membros da banda que tocaram no Forest Club, alguns
dos quais reconheceu olhando e sorrindo para ela enquanto jantavam,
as meninas gêmeas que pareciam admirá-la, Laney que agia
maternalmente com ela... Cassie suspirou. Leidolf não era o único que a
estava fazendo sentir a necessidade de ficar.

Ela ficou imóvel, meio querendo escapar para o que restava da


noite e cuidar dos seus negócios, meio querendo ficar aqui e seduzir o
homem debaixo dela para fazer amor, para ele reclamá-la para si
próprio, bem como ela iria reclamá-lo.

Então, novamente, ela sabia o que precisava fazer. Deixar de


lado esses loucos sentimentos de lobisomem que sentia, e se concentrar
no que era importante. Ela tinha que se afastar de Leidolf, se vestir e ir
embora, mas temia que qualquer movimento pudesse acordá-lo e ele a
impedisse.

Com um esforço monumental para tentar criar a menor


quantidade de atrito entre eles, ela tentou se desvencilhar do homem
possessivo que tinha os dois braços em volta de suas costas e uma
perna enganchada sobre a dela. A mesma perna que ela imprensou
entre as deles. Ela nunca esteve nesta posição sexy com um homem
com quem ela não teve relações sexuais. E estava tendo dificuldade em
não vislumbrar como seria se entregar a ele.

~ 252 ~
Pegasus Lançamentos

Quando ela tentou libertar a perna, sua pele deslizou sobre a


dele. Ele se mexeu, e ela não movimentou um músculo. E então se
preocupou. Ela não teve relações sexuais com ele na noite passada, por
engano, em seu estado sonolento pensando que ele era um humano?
Não tinha certeza se teria parado se tivesse ficado um pouco amorosa, e
se ele estivesse em um estado excitado, pensando que ela estava de
bom grado se entregando a ele. Sentia-se perfeitamente lubrificada,
como se tivesse feito sexo.

Ela suspirou baixinho. Quando tentou libertar a perna o resto


do caminho, a perna dele prendeu a dela de novo, enganchando o
calcanhar sobre ela como uma algema. Ela ficou completamente imóvel.

Ele estava acordado? Seu coração acelerou. Ela não queria ser
pega. Não desta vez.

Então a mão dele desceu pelas costas dela, abaixo até o traseiro,
e ele a acariciou por alguns segundos. Embora ela estivesse
perfeitamente imóvel, seu coração estava batendo muito fora dos
limites, e temia que ele abrisse os olhos e percebesse que ela estava
acordada e planejando escapar.

A mão livre dele deslocou-se para o cabelo dela, e correu os


dedos através dos fios. Oh, Deus, ele estava acordado. Ou semi
acordado, porque tinha certeza que ele notaria quão rápido seu coração
batia, tão astuto como era. E, provavelmente, chegaria à conclusão de
que estava se preparando para fugir. Finalmente, as mãos se
acalmaram e pararam as carícias celestiais.

Ela ficou imóvel para sempre, ao que parecia, sem mover um fio
de cabelo. Ouviu a respiração dele e pensou a partir da constante, e
lenta cadência, que ele estava realmente dormindo. Novamente tentou
se livrar da perna dele, que estava prendendo a dela. E puxou. Ela fez

~ 253 ~
Pegasus Lançamentos

uma pausa, temendo que ele acordasse. A mão dele apertou o traseiro
dela novamente. Macho alfa controlador!

Finalmente ele pareceu adormecer lentamente de novo. Ela se


afastou dele. Ele pousou a mão no peito, e ela colocou um travesseiro
ao lado da cabeça dele e outro sobre o tórax. Para seu alívio, ele parecia
morto para o mundo.

Ela imaginou que liderar uma alcateia era um trabalho


exaustivo. Provavelmente mais do que estudar lobos. Embora tentar
localizá-la e aos seus homens, poderia ter algo a ver com a forma como
ele estava cansado.

Ela hesitou, garantindo que ele realmente estava adormecido. E


então deslizou para fora da colcha, tentando não puxar para longe dele.
Finalmente fugiu para longe dele e fora da cama, o que balançou os
céus apesar do quão suavemente tentou sair da cama. Assim que seus
pés tocaram o chão acarpetado, correu para o amplo closet de duas
portas15.

Caramba, Leidolf teria parecido desprovido, se não fosse pelo


tamanho do quarto e dos recursos suntuosos, colcha de veludo,
pesados e ricos móveis em carvalho, sala de estar, e portas francesas
que davam para um pátio. Mas as paredes estavam nuas, a sombra de
onde pinturas ou imagens estiveram era a única evidência que o lugar
uma vez foi decorado.

Cassie abriu a porta do guarda-roupa, encolhendo caso a porta


rangesse. Não fez barulho, graças a Deus.

15 Nos Estados Unidos, é muito comum este tipo de guarda-roupa, normalmente,

são embutidos na parede e imensos. Por exemplo: http://4.bp.blogspot.com/-


eUBLoAX5UCs/UJFc5hu_jUI/AAAAAAAAAFY/7SxJPAvzinY/s1600/closet09.jpg

~ 254 ~
Pegasus Lançamentos

Um pensamento involuntário cruzou sua mente enquanto


puxava uma camisa do cabide, que o lugar precisava de um toque
feminino na decoração. Sim, como o toque sexy e romântico de Julia
Wildthorn. Se Julia pusesse as mãos no quarto e o redecorasse com o
tema que ela escolhesse, Cassie imaginava um espelho de ouro,
brilhando pendurado no teto sobre a cama, uma banheira de
hidromassagem no banheiro, lençóis de seda azul pálido, e um banheiro
com vista para a floresta e para o Monte Hood ao longe. Ela pigarreou
para si mesma por pensar qualquer coisa do tipo. Ciúme não fazia parte
de sua psique. Nem profissional, nem pessoal. Atribuiu sua irritação
pelo interesse dele na Sra. Wildthorn, devido ao fato dele estar tentando
seduzi-la, e pensando em sair com outra mulher no sábado.

Cassie resmungou baixinho e pegou a camisa de flanela de


xadrez azul e preto. Imediatamente, um raio de dor atravessou o ombro,
e ela conteve um gemido. Não tinha tempo para movimentos cautelosos
e enfiou os braços nas mangas, cerrando os dentes contra a dor.

Ela examinou as roupas dele, imaginando o que ele fez com a


calça floral da Laney. Não que ela vestiria agora. Embora o closet fosse
largo e profundo, com quatro prateleiras para roupas, apenas um
punhado de jeans estava pendurado, juntamente com talvez uma meia
dúzia de camisas de flanela, misturadas com algumas camisas de
manga curta para os meses que era realmente quente o suficiente.
Deslizou uma calça fora do cabide e a segurou pela cintura.

Ela teria um diabo de dificuldade com o comprimento, perfeitas


para as longas pernas do Leidolf, mas muito longas para ela e com
certeza a fariam tropeçar. Ela abandonou o jeans no chão do closet. Um
olhar para a prateleira de sapatos mostrou tudo o que ele possuía, cinco
pares bem usados de botas de cowboy, dois pares de tênis, dois pares

~ 255 ~
Pegasus Lançamentos

de botas, botas de neve, e um par de chinelas. Nada que ela


pudesse usar. Desistindo, voltou sua atenção para o quarto.

Cuidadosamente abriu uma gaveta, encontrou um par de


boxers16. Precisava ser lavada? Ou era apenas simbólicas para manter a
aparência?

Ela abriu mais algumas gavetas tão silenciosamente quanto


poderia até encontrar uma cheia de suéter de lã. Grandes, em pontos
largos, lã quente. Não tendo tempo para abotoar a camisa, puxou o
suéter verde do topo da pilha e o colocou sobre a cabeça. A dor aguda
esfaqueou seu ombro novamente, e ela cerrou os dentes para reprimir
um gemido.

Ela vasculhou outra gaveta, encontrou meias e enfiou nos pés


um par preto, o calcanhar da meia subindo mais alto que os tornozelos.
Pelo menos manteriam seus pés um pouco mais quentes, até que
pudesse chegar a sua caminhonete, vestir as próprias roupas, usar o
spray de caçador que esconderia o cheiro dela, e mover seu carro para
outro local longe de onde ela abandonaria o veículo que planejava pegar
emprestado de Leidolf.

Olhando ao redor do quarto, procurava o jeans que ele esteve


usando, pensando que provavelmente as chaves estariam no bolso,
quando viu um conjunto de chaves repousando em uma tigela de vidro
em cima da cômoda.

Ela pegou e, em seguida, correu para as portas de vidro do pátio,


esperando fugir antes que ele acordasse.

16 As boxers americanas são bem folgadas. Seria o equivalente as nossas cuecas

samba-canção.

~ 256 ~
Pegasus Lançamentos

Cautelosamente, abriu a porta, e uma rajada do frio ar noturno


bateu nela. Um vento constante insinuava chuva, e ela franziu a testa
enquanto deslizava para fora, fechando a porta com um clique suave.
Tudo o que ela precisava era ficar encharcada com uma tempestade
enquanto procurava a loba e Alex.

Então correu para frente da casa em direção à bem-vinda visão


de um enorme Suburban preto parado no caminho circular. Ela apertou
o botão do controle e então puxou a maçaneta da porta. Sem resposta.
Ela tentou o controle novamente. A porta ainda estava trancada.
Inferno, veículo diferente. No caso da bateria do controle estar
estragada, ela tentou inserir a chave na porta, mas não lhe foi permitido
inserir até mesmo uma ponta do metal. Sua pele aqueceu com
ansiedade.

Ela olhou de volta para a casa da fazenda não planejada. Várias


janelas estavam voltadas para frente da propriedade, mas todas
estavam escuras. Ainda assim, ela imaginou as pessoas dormindo em
cada um dos quartos que ela passou em seu caminho para a sala de
jantar. Não deixava de se preocupar que alguém pudesse olhar para
fora de uma das janelas a qualquer momento, e vê-la tentando roubar
um dos veículos de Leidolf.

Não havia câmeras de segurança sob o beiral, assim, pelo menos


parecia que nenhuma força de segurança vigiava por intrusos. Não que
alguém no seu juízo perfeito tentaria roubar de um lobisomem alfa que
tinha todo um grupo de homens em sua retaguarda e disposição. Então
ela viu um Hummer preto e um Jaguar amarelo-brilhante estacionado
em uma garagem, e a porta da garagem aberta. Mais seis caminhonetes
estavam estacionados em outro longo prédio vizinho, e ela suspeitou
que eles pertencessem a alguns dos solteiros dormindo no barracão.

~ 257 ~
Pegasus Lançamentos

Ela correu para o Hummer, os pés com as meias,


silenciosamente patinavam sobre o caminho de cimento.

Quando tentou o controle no veículo, ouviu o leve estalido da


fechadura, mas quando tentou abrir a porta, não abria. Usou a chave
na fechadura do Hummer, mas não funcionou. Exasperada, olhou ao
redor do Hummer e considerou o sedutor fascínio do Jaguar amarelo.
Os faróis amplos, a elegante grade inclinada. Muito chamativo.

Muito visível. Muito caro. Mas era um veículo.

Contornando completamente o Hummer, pensou que talvez ao


apertar o botão do controle, houvesse destrancado a porta do Jaguar
em vez disso. Puxou a maçaneta... E voilà! A porta abriu. Esperava que
seu seguro cobrisse os danos se ela destruísse o carro esportivo, ou ela
estaria entregando suas economias de sua vida inteira para o líder alfa,
isto é, se alguma vez o encontrasse novamente. Não planejava o ver tão
cedo.

Ela subiu, tomou uma respiração profunda do doce cheiro do


novo couro caramelo, e admirou a madeira de bordo levemente polida.
O tecido puído dos assentos do seu carro era acolchoado de modo
econômico, mas ela afundou no banco do motorista do Jaguar como se
estivesse pronta para descansar em casa. Ela empurrou a chave, ligou a
ignição e, em seguida, olhou para a mudança manual. Não era
automático? Ela não dirigia com câmbio manual há séculos...

De repente, uma figura apareceu ao lado da porta do motorista.


Seu coração deu uma batida tripla, mas antes que pudesse reagir, o
loiro do jantar, aquele que a estava vigiando, abriu a porta do lado dela,
e tirou a chave da ignição.

~ 258 ~
Pegasus Lançamentos

− Você está me levando com você. – Ele falou em voz baixa e


determinada, os olhos azuis perfurando-a com a promessa de que, se
não concordasse, ele causaria problemas de verdade para ela.

E Cassie não tinha dúvidas de que ele o faria.

Ela considerou as opções. De jeito nenhum levaria um


problemático lobisomem recém-transformado com ela. No entanto,
presumia que, se tentasse sair sem ele, ele alertaria a todos. Se o
levasse com ela, teria que o abandonar em algum lugar ao longo do
caminho, e aquilo não seria seguro para qualquer um da sua espécie.
Nem para o encrenqueiro, também.

− Apresse-se, Cassie. – O tom dele era ameaçador. − Você tem


um segundo para decidir, ou eu soarei o alarme que você está fugindo
no carro esportivo de Leidolf. − Ele inclinou a cabeça para o lado um
pouco. − E eu poderia ganhar alguns bons pontos com Leidolf agora.

Inferno, de jeito nenhum queria levar esse cara com ela. Ele
absolutamente não aceitaria bem se fosse deixado sozinho em algum
lugar. Duvidava que pudesse confiar nele para ajudá-la, ou ficar quieto
para não levar um tiro.

Como ela ainda não se decidia, ele tentou uma abordagem mais
persuasiva.

− Você é como eu, recém-transformada. E eu sei que você não


quer ficar aqui. Eles vão forçá-la a ficar. Você sabe disso. Assim,
podemos trabalhar juntos.

− Entre. − Ela rosnou. Por que os guardiões desse cara não


estavam garantindo que ele ficasse onde deveria?

~ 259 ~
Pegasus Lançamentos

− Obrigado, fico devendo. Pensando bem... – Ele fez uma pausa


enquanto corria para o outro lado do carro e abria a porta. − Eu acho
que você fica me devendo, porque eu posso protegê-la.

Sim, claro. Ela faria todo o trabalho, tentando manter os seus


traseiros longe do fogo. Ela estendeu a mão para as chaves.

Ele hesitou em dar.

− Não tente inventar nada. Estarei observando.

− O que no mundo que você acha que eu posso fazer? Destruir o


veículo? Nem a pau. O custo do seguro me comeria viva. − Ela ligou o
motor e saiu da garagem.

O motor ronronou, e ela pensou o quanto poderia se acostumar


a dirigir no luxo assim. Quando tentou dirigir para a frente, na estrada
de cascalho, o carro resistiu e parou. Ela olhou para os controles e, em
seguida, percebeu que passou a segunda marcha, em vez da primeira.
Tentaria novamente.

− Você não sabe como dirigir com câmbio manual? Aqui, dê-me
as chaves e eu vou dirigir. – O loiro esticou a mão.

Ele ia pegar as chaves, mas ela deu um tapa forte na mão dele,
mostrando quem estava no comando.

− Eu faço isso.

De jeito nenhum deixaria esse cara ter qualquer controle sobre


ela, bem, não mais do que ele já tinha neste momento. Colocou o
Jaguar em ponto morto, ligou o motor e rolou ao longo da estrada,
desta vez na primeira marcha e avançando num ritmo dolorosamente
lento. Ao passarem pelo barracão, encolheu-se ao pensar que até o

~ 260 ~
Pegasus Lançamentos

último dos machos solteiros viriam atrás dela por roubar o carro
esportivo do líder. Ela imaginou uma perseguição louca de
caminhonetes em caça se eles ouvissem o carro deixando o complexo no
meio da noite. O que ela viu em seguida a surpreendeu como inferno.

Os faróis iluminaram o barracão brevemente, pegando um casal


de adolescentes se beijando nas sombras do edifício, perto do caminho
que ela tinha de tomar, e prendeu a respiração. Inferno... Evan e Alice?

O pai de Alice mataria Evan, ela suspeitava, se ele soubesse que


eles estavam ali fora se beijando no escuro. Pior, ela estava prestes a
ser descoberta.

Os adolescentes se viraram para observar o Jaguar, as bocas se


separaram em surpresa. Os vidros escuros escondiam o interior do
carro o suficiente. Ela só rezava para que eles pensassem que era o líder
que estava saindo no Jaguar. Os adolescentes permaneceram
congelados enquanto ela lentamente passava por eles, não querendo
chamar atenção se de repente acelerasse pelo caminho.

Assim que passou por eles, Evan correu para a casa. Porcaria.
Alice não se mexeu.

Provavelmente não queria que seu pai soubesse que ela estava
sozinha com Evan nas sombras escuras tarde da noite.

− Merda! − O loiro praguejou. − Evan vai avisar a Leidolf, e nós


dois vamos estar em um inferno de um monte de problemas.

Evan, sim, o garoto que Alice e Sarah tinham uma queda. Ele já
era um galã adolescente. Ela se perguntava se Leidolf foi assim, ou era
um solitário desde o início. Provavelmente sempre um solitário. Ou não.
Ela franziu a testa e, em seguida, olhou para o loiro. Ela suspeitava que

~ 261 ~
Pegasus Lançamentos

o cara estaria em muito mais problemas do que ela, apenas por estar
sozinho com ela e por ter ameaçado soar o alarme caso não o levasse
com ela. Ou talvez não. Dependia de como Leidolf era apegado ao seu
hot rod17. Provavelmente muito.

Com a pele salpicada de suor, Cassie acelerou um pouco, mas a


estrada era de cascalho e o carro deslizou um par de vezes. Por que
Leidolf manteria um não prático veículo rebaixado, nas sujas estradas
de cascalho da fazenda? Mentalidade de novo rico, ela palpitou.

− Qual é o seu nome? − Ela perguntou ao loiro, enquanto dirigia


para o que esperava que em breve fosse uma estrada pavimentada,
imaginando que ele era aquele que as meninas chamavam Sarge, mas
queria ter certeza.

− Sarge é o que todo mundo me chama porque eu fui um


funcionário do exército por dois anos.18

− Não gostou do exército?

A visão de um vale, e grama apenas começando a esverdear


devido as chuvas de primavera, surgiu bem abaixo da casa principal.
Havia vários alces à distância e, mais perto, vacas, novilhas e cavalos
em terrenos mais altos. Algumas das pastagens de baixa altitude
estavam debaixo de água, provavelmente devido às fortes chuvas
recentes.

Sarge olhou para fora da janela e, em seguida, olhou para ela.

17Os hot rods são carros tipicamente americanos com os grandes motores

alterados para a velocidade linear.

18 Sarge, em inglês, é o substantivo informal para Sargeant, ou seja, sargento,

patente militar.

~ 262 ~
Pegasus Lançamentos

− Entrei em apuros.

Ela já imaginava. Tinha a sensação de que o cara era problema


de muito mais maneiras do que apenas esse incidente com ela, o que
explicava ele ter sentinelas no jantar. O que aconteceu com os homens
que deveriam estar vigiando-o? Eles certamente sofreriam o inferno
quando Leidolf descobrisse que Sarge estava desaparecido.

− Que tipo de problemas? − Ela queria ouvir a verdade em suas


próprias palavras.

Ele olhou para ela, como se estivesse colocando um feitiço sobre


ela, e sua pele se arrepiou. Não que não pudesse lidar com ele, se
precisasse, mas não gostaria de se misturar com um lobisomem
problemático acima de todo o resto.

Cassie apertou o acelerador um pouco mais e se arrastou um


pouco mais rápido ao longo da estrada da fazenda ao lado do rio. Então,
ela olhou para a casa principal e outras duas que estavam mais além.
Ninguém a estava seguindo, ainda. Assim que o adolescente dissesse a
Leidolf que seu carro estava saindo para um passeio, sem ele, todos
estariam atrás dela.

E alguém com certeza alertaria a Leidolf que seu lobisomem


recém-transformado estava sumido também. Pensava que ele realmente
não gostaria que Sarge estivesse junto com ela. Não que tivesse ajudado
Sarge na fuga, mas ele ficaria preocupado por ela estar com um cara
imprevisível.

Sarge encolheu os ombros e olhou para fora da janela.

− Eu fui expulso do serviço por causa do uso de drogas. Muitos


caras estavam fazendo isso. Não era grande coisa. Só que eu fui pego.

~ 263 ~
Pegasus Lançamentos

O que não explicava como ele chegou até ali.

− Certo. Então, como você veio parar na alcateia de Leidolf?

− Eu era um caçador de lobisomens.

Travando a respiração na garganta, Cassie não disse nada. Ela


sentia que Sarge estava olhando para ela, esperando sua resposta. Tudo
o que as meninas disseram era verdade. Não é à toa que ele estava
sendo tratado como um ômega, alguém que ninguém queria ser amigo.
Um assassino de lobisomens? Ótimo, apenas ótimo. Ela olhou para seu
braço, mas não conseguiu ver a cicatriz de onde a tatuagem foi
removida. Provavelmente, era no outro braço.

− Você não nos mata mais, né?

− Eu não matei nenhum.

Aliviada, soltou a respiração. Não estava com medo dele. Poderia


cuidar de si mesma. Mas levar alguém como ele para longe de Leidolf
era um verdadeiro erro, quando ele precisava de supervisão pesada.

− Aqueles dois homens que estavam com você, estavam servindo


como guardas?

− Pierce e Quincy? Inferno, eles estiveram em quase tantos


problemas quanto eu. Juntaram-se uma semana antes de mim, apesar
de terem nascido lobisomens. Fergus... ele é como Elgin, um beta, o
terceiro em comando... ele é quem deveria estar vigiando todos os três.
E então Pierce e Quincy deveriam supostamente estar de olho em mim.
Eles estavam ocupados assistindo um jogo, de modo que era o fim de
me vigiar. − E Fergus estava procurando por Evan. O garoto que estava
beijando a menina lá atrás no barracão. Meu tipo de garoto. − Sarge
deu um sorriso maligno. − Então para aonde estamos indo?

~ 264 ~
Pegasus Lançamentos

Se a pegassem antes que chegue ao seu destino, ela nunca


conseguiria escapulir novamente, tinha certeza. E líderes alfa
comandavam os seus territórios, então se ela queria ficar ali, tinha que
obedecer as regras de Leidolf. Ou, pelo menos aquelas eram as leis não
escritas de qualquer alcateia de lobisomens. Levar esse idiota com ela
complicava tudo.

− Tenho negócios para cuidar na Floresta Nacional Monte Hood.


Então, quando chegarmos ao local que eu preciso ir, você pode ficar no
carro e esperar por mim.

− E você vai fugir sorrateiramente de mim? E de Leidolf,


também? Não nessa vida, senhora. Quão burro eu pareço? Se eu ficasse
nesta caçamba, seria como ter uma placa de néon colada dizendo: Aqui
estão eles. Aqui. Por que os burros não levaram o Hummer? Menos
perceptível. − Ele balançou a cabeça como se ela fosse algum tipo de
idiota.

Nenhuma outra chave estava na cômoda. Provavelmente Leidolf


não usava muito o Jaguar.

Ela imaginou que Leidolf o dirigiria para a sessão de autógrafos


no Powell, no sábado, porém, para levar a Srta. Julia Wildthorn para
uma volta. Exibir o hot rod e mais alguns aspectos quentes.

− Então, não, obrigado. – Sarge empurrou os pensamentos dela


sobre Leidolf e sua ligação romântica planejada com a autora de
romances. − Eu vou ficar com você. Sei que preciso de orientação para
passar por esse pesadelo. Eu prefiro ter a sua, do que a de Leidolf.
Gosto mais do toque mais gentil de uma mulher. Talvez pudéssemos até
mesmo... Você sabe, começar a gostar um do outro. − Ele sorriu.

~ 265 ~
Pegasus Lançamentos

Ela se absteve de revirar os olhos. Se precisasse enfrentá-lo em


sua forma de loba, tendo que usar os caninos, não teria nenhuma
dificuldade. E ele logo descobriria que poderia ser tão dura com ele,
quanto qualquer homem.

− Então... Quem o transformou?

− Leidolf. Era isso ou me matar, ele disse, por que descobri o que
ele era.

Ela se perguntava se Leidolf estaria repensando tê-lo


transformado, em vez de escolher a outra opção, após Sarge tê-lo
enganado. Provavelmente.

Então ela viu o que parecia ser a estrada principal, e assim que
a alcançou, virou para o sul e acelerou. Pelo menos achava que era a
direção certa. Inferno, era a direção certa? Estava dormindo quando a
levaram para a casa da fazenda.

− Você sabe o caminho que eles me levaram para chegar à casa


da fazenda depois que Leidolf me pegou?

Sarge balançou a cabeça.

− Eles me deixaram em casa, bem guardado. Pierce e Quincy se


meteram em problemas nesse momento, procurando por você na forma
de lobo.

Ótimo. O palhaço não poderia nem mesmo ajudar com a


orientação.

Ela continuou a dirigir para o sul, pensando que se estava indo


na direção errada e Leidolf pensasse que ela seguiria o caminho certo,

~ 266 ~
Pegasus Lançamentos

ele não a encontraria. Ela sempre poderia parar em algum lugar e obter
orientação. Se estava indo no caminho certo, tanto melhor.

Ela não tinha a menor ideia do que faria com Sarge quando
chegasse ao seu veículo, no entanto. Simplesmente não poderia levá-lo
com ela.

Ele tamborilava os dedos no braço, e ela estava prestes a pedir


para parar, quando ele perguntou:

− Você conhece os caras chamados Irving e Tynan?

Cassie balançou a cabeça.

− Eu nunca conheci nenhum dos membros da alcateia dessa


área antes de hoje.

− Eles estão preocupados sobre você.

Ela olhou para Sarge. Ele deu de ombros.

− Eu os ouvi conversando. Disseram que você poderia ser um


problema.

− Como assim?

− Eu não sei, e não estava disposto a deixá-los saber que estava


ouvindo. Eles foram transformados contra a vontade deles há muito
tempo, Fergus me disse. Eles ainda guardam rancor. Planejam matar
quem quer que os tenha mordido. Isso é tudo o que eu sei. Você é
recém-transformada. Você não os mordeu, não é?

− Não. Eu nunca morderia para transformar alguém.

− Eu já pensei nisso. – Ele falou baixinho.

~ 267 ~
Pegasus Lançamentos

− Melhor não. − Cassie fez uma careta para ele.

− Eu não faria isso. – Ele balançou a cabeça. − Apenas disse que


pensei nisso. Nossa. Dá um tempo. Você nunca considerou? E se um
cara chateia você? Você muda e o morde?

− Eu tenho um pouco mais de controle do que isso.

− Sim, bem, viva muito tempo assim, e algum dia você pode
apenas sentir vontade.

Ela balançou a cabeça. Sarge era aquele que era um verdadeiro


problema.

Apenas alguns quilômetros abaixo da estrada, os faróis de um


veículo se aproximavam por trás dela. Talvez o seu destino já estava
decidido. A pele de Cassie se arrepiou em antecipação.

~ 268 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Dezesseis

Antes que Leidolf pudesse acordar totalmente do seu sono


profundo, o melhor sono que desfrutava em meses, Fergus irrompeu no
quarto, com o rosto vermelho, com o coração batendo forte, a respiração
curta, e Leidolf sabia que algo acontecera com alguém da alcateia.

Antes que Fergus pudesse dizer o que estava errado, o filho dele
gritou da sala.

− Pai? Onde você está?

Fergus gritou do quarto de Leidolf:

− Eu estarei com você em um minuto, filho.

− Mas... Leidolf saiu com o Jaguar? – Evan vinha pelo corredor


em direção ao quarto.

Leidolf olhou para o colchão vazio. Foi quando a percepção de


que Cassie não era um sonho, finalmente o atingiu.

− Inferno. − Ele atirou as cobertas de lado e saiu da cama.

Com cada minuto contando, Leidolf notou as gavetas puxadas,


faltando um suéter e um par de meias, e rejeitadas calças jeans
descartadas jogadas no chão do closet. Ele olhou para o vidro onde
guardava a chave reserva de seu Jaguar e xingou sob a respiração. Ele
tinha que lhe dar pontos pela tenacidade.

~ 269 ~
Pegasus Lançamentos

Virando-se, ele quase colidiu com Fergus, Evan não muito atrás.

− Ela pegou meu Jaguar. Provavelmente está indo para o local


onde a encontramos inicialmente. Reúna dez dos nossos empregados da
fazenda para procurar por ela, Fergus. Chame Elgin e diga para que
faça Laney nos avisar se, por algum milagre, ela só saiu para dar uma
volta e retorne antes que nós a localizemos. − Como se a mulher apenas
pegasse o seu Jaguar para um alegre passeio.

Leidolf começou a vestir as roupas descartadas. O que diabos


era tão importante nos malditos bosques que a mulher corria o risco de
voltar no escuro para onde ela já havia sido baleada? A fêmea de lobo
vermelho?

− Posso ir? – Evan corria ao lado de Leidolf enquanto ele seguia


no corredor em direção à sala grande, dando ao seu pai um olhar para
trás em busca de aprovação, enquanto Fergus falava ao telefone com
Elgin.

Dar mais responsabilidade aos adolescentes era sempre um


objetivo de um líder, e Leidolf suspeitava que este foi o problema de
Pierce e Quincy. Eles não foram autorizados a cometer erros quando
eram mais jovens. Ele deu a Evan um breve aceno de cabeça. Embora
em um momento como este, em que os caçadores eventuais miravam
em qualquer coisa que se movesse, ele preferia que Evan ficasse para
trás.

− Quando Elgin chegar aqui, você pode ir com ele.

Evan expos uma expressão desapontada, e Leidolf sabia que o


adolescente queria ir com ele. Olhou para Pierce e Quincy enquanto eles
se apressavam em sair de um dos quartos da casa dele, onde esperava
ter um melhor controle sobre deles, ambos abotoavam as camisas.

~ 270 ~
Pegasus Lançamentos

− Ninguém na forma de lobo desta vez.

Eles tinham carrancas severas quando assentiram, mas parecia


que alguma coisa os estava incomodando.

Leidolf não tinha tempo para isso, mas Quincy respirou fundo e
disse:

− Nós o perdemos. Não queríamos, mas... Bem, estávamos


assistindo a um jogo e não percebemos que a doninha decolou sem nós
sabermos.

− Sarge. − Leidolf resmungou baixinho. E então estreitou os


olhos para eles. − Inferno, é melhor que não tenha ido com Cassie. Ela
não o teria levado de bom grado. Se ele a ameaçou de alguma forma, é
um homem morto.

Pierce e Quincy foram em direção a caminhonete deles, ambos


pareciam que tinham os pescoços na guilhotina. Leidolf sabia que a
única maneira que conseguiria pô-los no caminho certo, era dando-lhes
uma nova chance... o que no caso deles seria provavelmente muitas
chances, do jeito que eles estavam indo.

Leidolf se virou para Fergus.

− Tenha cada homem disponível e que ficou para trás


procurando por Sarge, no caso dele não estar com Cassie. Se alguém o
localizar, avise-me. E coloque um guarda em cima dele! Se ele for
encontrado, eu quero alguém para vigiá-lo em todos os momentos.

Fergus já estava no telefone, transmitindo as ordens. Ele fez


uma pausa no telefone e disse a Leidolf:

− Pode deixar.

~ 271 ~
Pegasus Lançamentos

Pelo bem de todos, Leidolf conseguiu manter a calma, apesar de


estar muito irritado, a mulher iria se meter em um inferno de muito
problemas do jeito que ela estava indo. Idem para o Sarge.

Assim que saiu, encontrou vários de seus homens à espera de


suas ordens, com chaves nas mãos.

− Vocês três vão para o norte, apenas no caso dela ter ido na
direção oposta da qual eu suspeito, só para tentar nos despistar. Os
outros me sigam.

Com cinco picapes na estrada, Leidolf dirigia seu Hummer e


seguia na direção mais óbvia, de volta para onde Cassie foi encontrada,
e esperava que ela não se metesse em qualquer dificuldade antes que a
encontrasse. Ele não deixava de se preocupar que Sarge poderia estar
com Cassie. Não que achasse que ela não poderia lidar sozinha com ele.
Só não gostava da ideia de que ela poderia ser forçada a isso.

Enquanto Leidolf dirigia em direção ao bosque, onde seu povo


normalmente não caçava, muito perto de casa, mas era excelente
quando um membro da alcateia precisava de uma corrida rápida para
desopilar, continuava pensando que iria alcançá-la. Quando não viu
nenhum sinal do Jaguar, começou a perder a esperança de que ela
seguiu naquela direção. O que o fez perceber quão verdadeiramente
diabólica era a mulher.

Apesar de estar tanto irritado quanto preocupado, ele deu um


pequeno sorriso.

~ 272 ~
Pegasus Lançamentos

O veículo seguia Cassie quilômetro após quilômetro, embora


tivesse desacelerado o suficiente para o motorista ultrapassar. Ele não
morderia a isca. Então, acelerou e ele acelerou também, lembrando-a
do problema que teve com um assustador namorado perseguidor. O que
era mais um motivo para não namorar nenhum outro tão cedo. Se o
lobisomem cinzento não tivesse finalmente encontrado uma
companheira, tinha certeza que ele ainda a estaria perseguindo. Não
havia nenhuma lei contra perseguição para lobisomens, infelizmente.
Ela olhou no espelho retrovisor e estreitou os olhos para as luzes
brilhantes.

No início, ela temia que o motorista pudesse ser um policial, mas


não viu um conjunto de luzes no teto do veículo utilitário esportivo.

− Quem é? − Sarge olhou agitado por cima do banco do


passageiro.

− Não sei dizer. Ele não quer passar. Talvez seja alguém cansado
e que esteja hipnotizado com as nossas lanternas traseiras enquanto
nos segue.

Embora fosse um veículo sem identificação, o fato de estar


dirigindo um Jaguar não ajudava. Se fosse qualquer outra marca de
carro, ela provavelmente poderia escapar sem ninguém perceber nada
de diferente. A menos que a alcateia de Leidolf tivesse um policial.
Suspeitava que ele não fosse relatar a policia que ela roubou o carro
dele. Pelo menos esperava que ele não o faria.

− Eu não vejo um conjunto de luzes na parte superior do veículo.


Porque diabos você não roubou um carro menos chamativo?

− Leidolf não deixou todas as chaves para eu escolher a qual


roubar. − Ela resmungou. Embora assim que disse isso, ficou com raiva

~ 273 ~
Pegasus Lançamentos

de si mesma por se explicar. Não devia a Sarge qualquer tipo de


explicação, nenhuma.

Ela olhou de volta para a estrada. Uma árvore torcida chamou


sua atenção, e ela se lembrou de ter passado dirigindo por ali antes.
Seu coração disparou, percebeu que seu carro estava a apenas um par
de quilômetros ao sul daqui.

Foi quando as luzes azuis na grade do veículo atrás dela


brilharam, e seus piores medos se tornaram realidade. Ela estava num
inferno de muitos problemas.

− Inferno. − Sarge reclamou. − O que você fez que colocou a


polícia em nossos rabos? Eu deveria estar dirigindo.

− Apenas fique quieto e deixe que eu falo. − Ela disse


calmamente, mas sua voz estava aguda, e se ele dissesse outra coisa...

Ela diminuiu a velocidade e parou no acostamento, manteve o pé


no freio, devido ao ligeiro declínio no morro. O mini-SUV19 parou a
alguma distância atrás dela, mas ninguém saiu do veículo. As palmas
das mãos dela ficaram suadas enquanto agarrava o volante. O policial
deveria estar conferindo a placa, talvez verificando com Leidolf para ver
se ela roubou o Jaguar, e se ele confiava da condução dela. Sabia que
deveria estar dirigindo mais rápido.

Então, o que Leidolf diria? Se o cara não fosse um lobisomem,


Leidolf provavelmente não mandaria prendê-la. Ou talvez ele fosse.

19Veículo utilitário esportivo (conhecido como SUV, do inglês: "Sport Utility


Vehicle") é um veículo semelhante a uma camionete, normalmente equipado
com tração nas quatro rodas para andar sobre todos os tipos de terreno (on- e off-
road).

~ 274 ~
Pegasus Lançamentos

Líderes de alcateia, cujos membros os testavam, poderiam ser


totalmente imprevisíveis, mesmo que ela não fosse um de seus
membros. Sarge poderia ser outro problema de verdade. Ela não
confiava nele para manter a boca fechada na frente do policial.

O veículo atrás dela continuou em marcha lenta. Vamos lá,


vamos lá. Acabe logo com isso.

Ela escorregou o pé do freio, e o carro rolou para frente, então


percebeu que ele poderia pensar que tentaria fugir. Ela iria, mas não do
jeito que ele provavelmente esperaria. Talvez nada aconteceria. Ele
diria: “Oi, alarme falso” e a deixaria seguir o seu caminho. Sem chance.

− O que ele está fazendo agora? − Perguntou Sarge.

− Apenas sentado no carro dele. Provavelmente verificando a


placa para ver quem é o dono e se alguém denunciou um roubo. Se o
cara é um lobisomem, ele vai apenas nos prender por assim dizer. Se
ele não é, Leidolf pode ter influência suficiente para fazer o cara nos
deter até que ele chegue. De qualquer forma, isso não é bom.

Ela pisou no freio novamente e bateu o outro pé no chão.


Vamos, vamos. Faça alguma coisa.

− Pise no acelerador. O jaguar é rápido o suficiente para que


possamos fugir e deixar bem para trás o veículo dele.

Ela deu um olhar de caia na real. Tão visível como o carro era,
mesmo se eles pudessem fugir da viatura policial, os helicópteros em
breve veriam o Jaguar amarelo em qualquer lugar ao longo da sinuosa
estrada rochosa.

Talvez o oficial tivesse contatado Leidolf e estava esperando ele


chegar para confiscar o veículo, ela e Sarge. Só esperava que o oficial se

~ 275 ~
Pegasus Lançamentos

apressasse e a cumprimentasse no Jaguar. Então ela faria seu


movimento.

Leidolf não chegou longe na estrada quando o celular tocou.


Quando o pegou, reconheceu o número do xerife. Esperava boas
notícias.

− Sim, xerife?

− Mr. Wildhaven, eu parei um Jaguar que estava dirigindo mais


devagar do que o normal, os freios continuavam a ser apertados, e o
veículo oscilava um pouco. Então verifiquei a placa e descobri que era
seu. Nós não temos qualquer outro na área, e você disse que nunca o
dirige, então eu só queria ter certeza que o Jaguar não foi roubado.

Graças a Deus por pequenos milagres. Doar dinheiro para o


departamento do xerife local, que não tinha um lobisomem na equipe,
com certeza tirava a sua bunda para fora de problemas algumas vezes.
Não a sua exatamente, mas as de alguns de seus lobisomens, com
certeza.

− Obrigado, xerife. É a minha noiva. Estamos prestes a nos


casar, mas tivemos um pequeno desentendimento. Ela nunca dirigiu o
Jaguar antes, então não está realmente familiarizada com ele. Onde ela
está exatamente?

O delegado deu a direção, e Leidolf disse:

− Apenas a segure para mim, por favor? Nós já estaremos aí.

~ 276 ~
Pegasus Lançamentos

− Tudo bem, Mr. Wildhaven. E parabéns.

− Obrigado. Qualquer outra pessoa com ela?

− Eu estou indo para o veículo agora. É difícil dizer quem está no


carro desde que as janelas são tão escuras e ainda mais sendo noite.

− Tudo bem. Obrigado. Estarei aí em breve.

Leidolf passou a informação para seus homens, e não poderia ter


dirigido seu Hummer mais rápido na estrada sinuosa depois de receber
a informação que o xerife encontrou a sua pequena loba fugitiva, e
talvez o idiota do Sarge. Será que ela não percebeu o quão evidente
estaria no Jaguar?

Boa coisa para ele. Dessa vez, ela não ficaria longe dele nenhum
milímetro. E saberia a verdade sobre ela. Tudo sobre ela. De uma forma
ou de outra. Quanto a Sarge, se estava com ela e ele a coagiu de alguma
forma, Leidolf não seria responsável por seus atos.

Cassie observava pelo espelho retrovisor, a pele suando


levemente na camisa de flanela de Leidolf e no suéter de lã que cheirava
a almíscar e, se ela estava disposta a ser honesta consigo mesma,
cheirava divinamente. Sarge cheirava a suor e medo. Ela o
estrangularia se ele dissesse alguma coisa que os delatasse.

A porta do motorista do carro da polícia abriu lentamente. A


polícia tinha o costume de dar aos mocinhos, bem, normalmente

~ 277 ~
Pegasus Lançamentos

mocinhos, um ataque de nervos. Você pode se mover mais lentamente


do que isso? Ela queria gritar.

Com os olhos grudados no espelho retrovisor, ela antecipava


todos os movimentos dele como um lobo faria.

Ele bateu um caderno contra a perna dele, o olhar feroz,


certificando-se de colocar o medo da lei dentro dela. E ela derramaria
todos os seus segredos tão logo ele abrisse a boca e começasse a
questioná-la. Claro.

Sarge se mexeu de novo no assento.

− Agora seria um bom momento para fugir dele.

Ela o ignorou, mas mudou o pé para o pedal do acelerador.


Deixar para trás a polícia não estava realmente nos planos. Se
continuasse nesta estrada na direção que estava seguindo, encontraria
seu carro. E se ela tentasse fazer uma parada rápida para trocar de
carro no início da trilha, o policial a pegaria no ato, verificaria sua placa
e saberia exatamente quem ela era.

Ele se aproximou, e apesar dele carregar alguns quilos extras,


parecia muito em forma para andar tão malditamente lento.

Pelo menos ele não mostrou uma arma ainda.

− Inferno. − Sarge disse, cruzando os braços sobre o peito. − Nós


poderíamos tê-lo deixado engasgando com a poeira.

Como se este lugar alguma vez ficasse poeirento, tão chuvoso


como era. Lamacento era mais parecido.

~ 278 ~
Pegasus Lançamentos

Ela abriu a janela do carro e tentou parecer indiferente e


composta.

Quando o policial chegou à sua porta, ela soltou a respiração,


nem mesmo percebia que estava segurando.

− Madame, você pode abrir a porta para mim? E desligar a


ignição, por favor. − O homem de cabelos escuros olhou para o veículo,
os olhos castanhos escurecendo quando viu Sarge.

Agora, ele tinha as mãos perto do revólver. Por mais que não
quisesse, ela abriu a porta e empurrou-a amplamente, mas não
desligou o motor, enquanto ainda apoiava o pé no freio. O olhar dele foi
do seu rosto para baixo até seus pés descalços. A camisa e o suéter
sobre seu colo, mas só atingiam cerca da metade da coxa. Meias, sem
sapatos. Por um minuto, a aparência dela o distraiu, e ele não disse
nada sobre o fato dela não ter desligado o motor.

− Desligue o veículo, senhorita. – As sobrancelhas dele


arquearam um pouco.

Última chance para queimar alguma borracha e fugir. Ela


desligou a ignição. O silêncio parecia ensurdecedor.

− Você tem alguma identificação?

Sim, mas a carteira de motorista estava em seu carro.

− Foi roubada. − Ela falou em voz baixa, destinada a ganhar


alguma simpatia.

A boca do homem curvou-se um pouco, mas os olhos não


refletiram qualquer humor.

~ 279 ~
Pegasus Lançamentos

− Como o carro?

− Leidolf me emprestou o Jaguar.

− Ah, e as roupas dele também?

Ela respirou fundo, mas não sentiu o cheiro de qualquer indício


de que ele era um lobisomem.

Leidolf deve ter dito ao xerife que ela levou tanto suas roupas
como o Jaguar. Ou ele assumiu isso. As roupas eram definitivamente
muito grandes para ela, e masculinas.

− Seu nome?

− Cassie Robbins. − Poderia muito bem ter usado um nome


diferente já que ela não tinha nenhuma identificação de qualquer
maneira. − Você vai me prender ou o quê? − Ela parou de tentar obter a
simpatia dele.

Causa perdida.

− Quem é você? − O xerife perguntou a Sarge, ignorando a


pergunta dela.

− Sarge... uhm... Elmer Rowlington.

Cassie olhou para Sarge, pensando no Hortelino Troca-Letras 20


famoso no desenho animado. Sarge deu um olhar sombrio em troca.

20Elmer Fudd (no Brasil, Hortelino Troca-Letras) é um dos personagens mais


famosos dos desenhos animados Looney Tunes. A maioria das suas aparições
é caçando o coelho Pernalonga e/ou o pato Patolino. Seu nome no Brasil se deve ao
fato de trocar as letras quando fala, principalmente o R pelo como L.

~ 280 ~
Pegasus Lançamentos

− Você é daqui? − Perguntou o oficial.

− Eu sou de Millinocket, Maine. Mas agora estou trabalhando na


fazenda de Leidolf Wildhaven − Ele tentou soar firme, como um
empregado de fazenda soaria, mas a voz engatou, e ele ficou muito
aquém do papel que tentou atuar.

Ela se perguntou como ele poderia ter se envolvido com um


grupo que fazia do seu negócio, matar lobisomens.

− E você está com a Srta. Robbins por qual razão? − O delegado


falou num tom áspero com os dois, mas a voz dele se tornou bem mais
sombria quando falou com Sarge.

Sarge não estava aguentando muito bem, não do jeito que ele
engoliu em seco, o pomo-de-adão sacudindo, ou da maneira como ele
guinchou as palavras.

− Ela queria que eu verificasse se estava dirigindo bem com o


câmbio manual. Ela não dirige há um longo tempo.

O xerife olhou fixamente para Sarge como se estivesse tentando


intimidá-lo a revelar a resposta correta. O cara era facilmente
intimidado e parecia que estava prestes a rastejar sob o assento, a
cabeça baixa, os olhos baixos. O que isso significava? Cassie era o
cérebro e os músculos por trás da operação, enquanto Sarge era apenas
uma vítima.

Inferno, pela maneira como ele agia, o delegado concluiria que


ela era a pessoa que coagiu Sarge a vir junto com ela... Porque ela não
dirigia com um câmbio manual há muito tempo.

~ 281 ~
Pegasus Lançamentos

O xerife voltou sua atenção para Cassie.

− Sem carteira de motorista, meio vestida, dirigindo um carro


emprestado... Que não tinha permissão para pegar... Você está em
algumas dificuldades, senhorita. Mas o Sr. Wildhaven disse que você e
ele tiveram uma desavença e que estava aflito pelo infortúnio, então ele
está vindo para recuperar o Jaguar e levar você para casa. − Ele deu de
ombros. − A ideia do casamento pode ser esmagadora às vezes, mas eu
fui casado por vinte e sete anos, e jovem senhorita, você vai se sair
muito bem.

Casamento? Ela sentiu o rosto esquentar. Melhor Leidolf não ter


dito que eles iriam se casar. Será que o delegado achava que Leidolf
pretendia levá-la para sua própria casa? Ela sabia que isto não
aconteceria.

− Quem é o cara com você? – O xerife perguntou, como se


confirmando a história de Sarge, e se perguntou se ele estava
preocupado que talvez Sarge estivesse atuando, fingindo ser um cara
muito subserviente enquanto, na realidade, obrigou-a a levá-lo para um
passeio no Jaguar.

− Um dos empregados da fazenda de Leidolf, Elmer, como ele


disse. − Ela sorriu. Ensinaria a Sarge o que era ludibriar.

− Tudo bem. Vou informar ao Sr. Wildhaven que vocês dois estão
aqui. Ele deve se juntar a nós em poucos minutos.

Isso seria o fim de sua chance de cuidar da loba, dos filhotes e


localizar Alex. Espere, se Alex fez a chamada para a emergência, o xerife
provavelmente saberia, e ela saberia se ele estava bem. Então, só teria
que procurar a mãe e os filhotes.

~ 282 ~
Pegasus Lançamentos

Ela limpou a garganta.

− Eu ouvi sobre os homens encontrados desmaiados por causa


de tranquilizantes na floresta. Será que Alex Wellington chamou a
emergência?

Os olhos do xerife se arregalaram.

− O que você sabe sobre isso?

Os lábios dela se separaram. Nada bom. Se o delegado


descobrisse que esteve lá, ele poderia supor que sabia sobre os
assassinos também. E se ele a colocasse sob algum tipo de prisão
domiciliar? No mínimo, se Leidolf soubesse disso, ele provavelmente a
colocaria. Bem, muito mais do que ela já estava.

Ela tentou parecer indiferente com um encolher de ombros.

− Apenas soa como algo que ele poderia ter feito. Acho que ele
estava realizando alguns estudos biológicos sobre lobos na área.

− Nós não... Bem, nós não temos lobos por aqui. − Ele estreitou
os olhos para ela. − Pelo menos eu nunca ouvi falar de nenhum antes.
O que a faz suspeitar que ele estava na floresta?

− Ele está sempre procurando por eles. Como eu poderia saber?

− Você acabou de dizer... − O xerife balançou a cabeça. − O cara


que chamou o atendente da emergência nos deu a localização e depois
fugiu. Achamos que estava com medo de que aqueles que ele disse que
assassinaram alguém, poderiam localizá-lo e matá-lo. Você acha que o
cara da ligação pode ser alguém chamado Alex Wellington?

~ 283 ~
Pegasus Lançamentos

Inferno, ela realmente pensou que Alex havia ficado para


garantir que os homens do zoológico estivessem a salvo até que a polícia
chegasse. Dessa forma, quando a polícia aparecesse, eles saberiam
quem era o Alex.

− Uh, não. Agora pensando sobre isso, ele estava trabalhando


em um projeto no Ártico canadense.

− Ártico canadense? − O xerife não soou como se acreditasse.


Ela não teria, também. − Você não pode ser a namorada dele, se vai se
casar com Leidolf.

Ela riu e esperou que o som não soasse muito falso.

− Alex não tem namoradas regulares. Eu sou apenas uma amiga


− ela estava pondo ambos em um buraco cada vez mais fundo.

Agora ela estava com medo de que se o delegado começasse a


procurar por Alex, informações poderiam vazar até os assassinos, que
saberiam que ele era o homem que esteve na floresta ouvindo a
conversa deles.

− Você tem o número dele ou local de trabalho para que eu


possa verificar onde ele está atualmente?

Ela começou a sair do carro.

− Não. Ele é autônomo. Eu não tenho o número dele, e ele se


move por aí um monte.

Sarge estendeu a mão e a tocou no braço como se quisesse


impedi-la, mas ela deu um olhar que disse que se ele tentasse impedi-
la, ele estaria em apuros. Ele rapidamente puxou a mão de volta.

~ 284 ~
Pegasus Lançamentos

O xerife franziu a testa e olhou novamente para as pernas nuas


dela.

− Você não tem que sair do carro. Está frio, e da forma como
você está vestida...

Aquilo foi a última coisa que ele disse enquanto ela tirava o pé
do freio, pulava para fora do carro, e o Jaguar começava a rolar morro
abaixo. Ela esperava que o delegado fosse pegá-lo antes que o carro
batesse em algo, que ele não tentasse detê-la em vez disso, e que Sarge
não ficasse ferido. Era a chance que ela necessitava, e Sarge merecia
sofrer um pouco por forçá-la a levá-lo com ela. Além disso, Leidolf logo
estaria ali para levar o cara de volta em custódia.

Não ela, no entanto.

− Inferno! − o delegado correu pela estrada, muito ocupado


tentando chegar ao carro que pegou velocidade, para lhe dar uma
segunda olhada.

Ela pensou que Sarge tentaria sentar no banco do motorista e


fugir com o carro. Assim que o xerife correu atrás do Jaguar, ela não se
preocupou com mais nada enquanto corria para a floresta, sabendo que
Leidolf logo cuidaria de Sarge e do Jaguar.

Ela ponderou seguir diretamente em direção aos filhotes, mas


pegar suas roupas e um bom par de botas na sua caminhonete parecia
uma escolha melhor. Assim, com as meias enormes de Leidolf, correu
pelo mato, os galhos e ramos arranhando suas pernas nuas enquanto
desejava que pudesse correr ao longo da estrada. Seria muito mais
rápido. Ela só esperava que o delegado pegasse o Jaguar e impedisse
Sarge de ir a algum lugar, até que Leidolf chegasse.

~ 285 ~
Pegasus Lançamentos

Normalmente, seu senso de autopreservação de loba a teria


forçado a desacelerar, e fazer o mínimo de barulho, mas outra parte
dela queria ser bastante barulhenta, supondo que os caçadores
estavam procurando por lobos vermelhos selvagens perambulando
pelas matas, eles perceberiam logo que ela não poderia ser uma loba, de
tão barulhenta.

Ela sentiu o leve odor de um leão da montanha e amaldiçoou


sob a respiração. Ainda assim, achava que ele estava bastante longe.
Mas e se isso significasse que o leão localizou os filhotes?

Ela parou e ficou imóvel, com o coração batendo forte, o sangue


correndo nos ouvidos, tentando abafar qualquer outro som.
Transforme-se, sua mente gritava. Transforme-se e volte a procurar os
filhotes. Ela estaria mais quente e poderia correr um inferno de muito
mais rápido, mais silenciosamente e menos visível.

Então, ao longe, o som de algo pisando pesadamente através das


matas em sua direção deu-lhe mais uma preocupação. Caçadores?
Repórteres? Alex? Os homens do jardim zoológico? Os assassinos?

O delegado? Ele teria vindo no sentido oposto. Duvidava que ele


correria pela floresta no escuro atrás dela, ou que teria tido tempo para
parar o carro e, em seguida, ir atrás dela. E parecia que eram duas
pessoas, e não uma.

Ela se agachou, escondendo-se no mato, mas seu movimento


deve ter chamado a atenção deles, visto que ambos viraram a cabeça
em sua direção. Inferno, eles estavam equipados com óculos de visão
noturna ligado ao capacete, as respirações deles estavam firmes,
enquanto afastavam galhos e olhavam diretamente para ela. Cento e
quarenta metros e diminuindo. Mas os passos deles eram mais lentos

~ 286 ~
Pegasus Lançamentos

agora, como se estivessem com medo de assustar a presa recém-


encontrada.

Ela ergueu o nariz ligeiramente e cheirou. O coração batendo


freneticamente, o sangue gelou. Ambos eram caçadores, ambos tinham
barbas desalinhadas, roupas camufladas e bonés verde-oliva. Por um
segundo, temeu que atirassem nela, pensando que ela era um lobo,
sendo tão paranoícos quanto qualquer outra pessoa seria ao procurar
predadores selvagens para matar, e esperando que qualquer coisa que
se movesse fosse um deles.

A princípio, os caçadores olharam para ela de queixo caído e se


moveram em direção a ela ainda mais lentamente. Ela imaginou que,
por causa da falta da lua ou das estrelas na noite escura e das sombras
da floresta, eles não a tinham visto até que ela se mexeu. Isso foi o que
a delatou.

Subitamente, eles pararam e a observaram. Como se estivessem


vendo um fantasma, sem saber o que eles realmente estavam
observando. Felizmente. Então eles não iriam apenas atirar nela sem
verificar antes.

Mas eles perceberam que ela era uma mulher se escondendo na


mata, e que não estava fazendo um trabalho muito bom com isso? Eles
não saberiam que ela conseguia vê-los também, mas eles deduziriam
que ela teria ouvido a aproximação deles. Talvez eles pensassem que ela
ficou apavorada e, em seguida, ficou petrificada de medo. Se eles
fossem lobos, lobisomens, ou estudiosos da vida dos lobos, como ela,
eles saberiam que ela estava pronta para fugir. Duvidava que eles
reconhecessem isto. E se a perseguissem, não achava que eles fossem
capazes de pegá-la.

~ 287 ~
Pegasus Lançamentos

− Minha nossa, Ben. Ela não é um desses lobos vermelhos. – O


homem sussurrou para o outro. − O que ela estaria fazendo aqui?

Ben respondeu em voz baixa, pondo o rifle no ombro.

− Inferno, se eu não soubesse melhor, diria que ela é aquela


bióloga de lobos que lhe falei que falava bonito sobre os lobos.

Merda, ele não poderia ser o homem que a perseguiu quando


palestrou na Câmara Municipal.

− Eu não sei, mas ela deve estar em algum tipo de problema.


Você contorna nesta direção, muito calmamente para não assustá-la.

Ben deu um polegar para cima e começou a circular um pouco


para a esquerda de Cassie.

Ela soltou a respiração em exasperação. Então, teve uma ideia.


E se tomasse os óculos dos homens e os jogasse fora? Eles não seriam
capaz de ver no escuro ou de segui-la, e eles não poderiam procurar
nem pela loba, nem pelos filhotes, também. Cassie segurou um sorriso
para si mesma. Então, como diabos ela iria tomar os óculos dos
homens?

− Você é... Dra. Roux, senhorita? − Ben perguntou, vindo um par


de passos mais perto. − Você está ferida?

Ela levantou, não havia sentido em fingir que não foi vista.

Ele baixou os binóculos enquanto olhava para suas pernas até


os pés, onde as meias descansavam em uma poça em seus tornozelos.

Ela não esperava que assassinos de lobos expressassem


preocupação com a segurança dela, como seres humanos normais

~ 288 ~
Pegasus Lançamentos

fariam. Mas mesmo que eles parecessem humanos a esse respeito, os


caçadores ainda eram perigosos para os lobisomens e para os lobos que
ela fazia da sua vocação defender. Ela correu para a parte da floresta
mais fechada, imaginando que pudesse ultrapassá-los. Porém, Ben deu
dois passos pesados e a agarrou pelo pulso.

~ 289 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Dezessete

O celular de Leidolf tocou e ele viu que o xerife Whittaker estava


ligando novamente.

− Sim? − Leidolf esperava sinceramente que o xerife estivesse


com Cassie e o Jaguar, que ele soubesse se Sarge estava com ela, e que
tudo estava sob controle.

Esse equívoco foi desfeito imediatamente quando o xerife falou,


bufando, meio sem fôlego.

− Tenho o Jaguar em bom estado, Sr. Wildhaven.

Inferno, Leidolf não se importava em nada com o Jaguar. O carro


era usado pelo ex-líder para atrair mulheres gostosonas. Leidolf não
precisava de nada tão chamativo, e seria o próximo item da sua lista
para se livrar.

− E a minha mulher? − Era tudo com que ele se importava. Bem,


e Sarge. Mas Cassie era sua prioridade.

− A mocinha quase destruiu o seu carro depois de saltar para


fora dele enquanto o freio de mão não estava acionado, e o Jaguar caiu
numa colina. Eu corri para o carro, nunca pensando que ela correria
para a floresta, mas foi isso exatamente o que ela fez. Pelo menos eu
acho. Eu estava muito ocupado salvando o seu Jaguar. E o cara com
ela. Sarge? Ele estava tentando loucamente sentar no banco do
motorista. Eu percebi que ele estava planejado fugir rapidamente com o

~ 290 ~
Pegasus Lançamentos

carro, mas consegui remover as chaves da ignição. Quando finalmente


retornei com o Jaguar e o rapaz ao local, ela havia desaparecido. A
menos que alguém a tenha pego.

Leidolf xingou. Não acreditava que alguém a teria buscado na


estrada isolada, sem que o xerife percebesse, mesmo tão ocupado
quanto ele estava tentando parar o Jaguar desembestado. Mas o jeito
que ela estava vestida nesse frio, nunca chegaria muito longe. E se
transformar em loba e correr nas quatro patas com um ombro
lesionado? Ela não aguentaria manter aquela forma por muito tempo,
tampouco.

Ele enfiou ainda mais o pé no acelerador.

− Eu estarei ai em breve.

− Eu coloquei algemas no cara. Ele não estava muito


cooperativo.

− Ele é primo de um amigo, só precisa de um bom trabalho e de


alguém para vigiá-lo para mantê-lo longe de problemas. Ele vai,
eventualmente, ajustar-se à vida na fazenda. Estarei aí num segundo.

Mas, na verdade, ele estava pronto para exterminar Sarge por


tomar Cassie como refém, porque sabia que ela não teria permitido que
ele saísse com ela de outra forma.

Minutos depois, Leidolf viu as luzes piscando no veículo do


xerife, seu Jaguar estacionado em frente ao veículo. O xerife estava
balançando uma lanterna para a floresta, mas estava escuro demais
para encontrar qualquer coisa. Assim que Leidolf parou atrás do veículo
da policia, o xerife correu para fora do abrigo das árvores e acenou para
ele.

~ 291 ~
Pegasus Lançamentos

− Sinto muito, Sr. Wildhaven. Eu não teria pensado nem em um


milhão de anos que ela fugiria desse jeito.

Várias caminhonetes estacionaram atrás da de Leidolf.

− Nós vamos cuidar disso. – Ele desceu do Hummer.

− Ela mencionou alguém chamado Alex Wellington. Conhece o


homem?

Leidolf franziu a testa.

− Um amigo dela. − Pelo que Leidolf percebeu, o biólogo era mais


um incômodo do que um amigo.

Seus homens e Evan se reuniram em torno deles.

− Tudo bem se levarmos Sarge com a gente? − Perguntou Leidolf.

− Sim. Contanto que você não queira prestar queixa, ele pode ir.

Leidolf acenou para Elgin, que correu para o veículo do xerife


para transferir Sarge para a caminhonete dele.

− Ela disse que Alex era um amigo, e no começo ela pensou que
foi ele quem denunciou o paradeiro dos assassinos na chamada de
emergência. Depois, ela mudou a história, protegendo o cara, eu tenho
certeza, quando soube que a policia não sabia o nome de quem ligou.
Nós precisamos saber o que ele ouviu exatamente, e o que ele poderia
ter visto.

Leidolf rangeu os dentes. Inferno, e se ela estava com este Alex


Wellington e um dos assassinos atirou quando ela estava em sua forma
de loba? Desde o início, Leidolf pensava que um caçador havia atirado
nela.

~ 292 ~
Pegasus Lançamentos

− Nós vamos encontrá-la, xerife.

− Você tem certeza? Eu poderia organizar uma missão de busca


e resgate.

− Não. Eu tenho homens suficientes comigo. Vou cuidar dela. −


Não querendo Evan na floresta em uma missão como aquela, Leidolf
acenou para o adolescente. − Pegue o Jaguar e volte para a fazenda,
faria isso Evan?

Todo o rosto de Evan se iluminou.

− Claro que sim! − Ele correu em direção ao carro esportivo.

− Dirija com segurança. – Aconselhou o pai de Evan, vindo por


trás de Leidolf. – E sem correr.

− Eu vou segui-lo de volta para a fazenda. – O xerife assegurou.


− Avise-me quando a garota estiver em segurança, sim?

− Sim, eu farei isso, xerife. − Leidolf esperou até que Evan


estivesse no Jaguar voltando para a fazenda com o xerife o seguindo.
Então virou para os seus homens. − Ninguém em forma de lobo. É
muito perigoso. Façam ruído suficiente para que se alguns caçadores
estiverem por aqui, eles saibam que vocês são apenas um bando de
homens como eles. E, Fergus, certifique-se que um dos nossos homens
leve Sarge de volta para a fazenda, e o prenda, se precisar.

− Sim, senhor. − Fergus fez sinal para um dos homens, e falou


com ele em particular.

− E se nós não a encontrarmos? − Elgin perguntou a Leidolf.

~ 293 ~
Pegasus Lançamentos

− Nós vamos encontrá-la, mesmo que leve a noite toda.


Espalhem-se, homens. Uma garotinha ruiva não vai escapar da nossa
perseguição por muito tempo.

Leidolf notou Satros saindo rigidamente do SUV do Carver. Ele


deu a Leidolf um pequeno sorriso. Leidolf reconheceu que Satros havia
achado Cassie primeiro, e deu um sorriso de volta, muito embora
Leidolf não tivesse tomado conhecimento de nada, até que a encontrou
por si mesmo. Apreciava que Satros tivesse tentado arduamente
encontrar uma companheira para ele, para garantir a sua permanencia
na alcateia.

− Que bom que você a viu pescando no rio mais cedo, Satros.
Agora, o truque é mantê-la. − O que Leidolf estava obrigado e
determinado a fazer, cada vez mais que ele conhecia a mocinha. Tudo
na vida dele foi um desafio. Cassie seria o seu último desafio. − Vamos
lá.

− Nesta direção − Elgin apontou para o chão enquanto seguia o


rastro dela. − Ela está se movendo rapidamente.

− Espalhem-se − Leidolf acelerou o próprio passo.

Eles correram por entre as árvores, parando apenas o tempo


suficiente para ouvir, cheirar o ar, e pegar o cheiro dela.

− Você acha que um dos homens que assassinaram a mulher


era o mesmo que atirou em Cassie? − Elgin perguntou de vários metros
de distância na mata escura. − E ela estava com um cara chamado
Alex?

− Sim, isso é exatamente o que eu penso. − Leidolf rosnou.

~ 294 ~
Pegasus Lançamentos

− Acha que ele é um lobisomem, também, e é por isso que ele


não ficou por perto e não disse à polícia quem ele era?

− Não. Ele estava na palestra dela na Câmara Municipal. Ele é


um biólogo de lobos também, apenas do tipo humano. − Leidolf rangeu
os dentes. Que diabos Alex esteve fazendo com ela na floresta? Ele a
pressionou quando ela não o queria por perto? Ou talvez a razão pela
qual ela estava tão desesperada para voltar, não tivesse nada a ver com
uma fêmea de lobo vermelho, mas sim com o humano biólogo de lobos.
O que significava que, embora ele normalmente pudesse ler as emoções
do seu povo, ele não tinha noção sobre as de Cassie. E isto ele não
gostou.

Leidolf caminhava rapidamente, tentando conseguir a


localização da sua pretensa companheira.

Cassie estava determinada a quebrar o aperto do caçador em


seu braço e correr livre, mas o outro homem bateu nas teclas do seu
celular.

− Xerife Whittaker? − o homem perguntou. − Aqui é Everett


Hollis. Meu irmão, Ben, e eu encontramos uma mulher seminua na
mata, e estamos a cerca de três quilômetros de... − Ele olhou para ela e,
em seguida, assentiu. – Sim, uma bonita ruiva − Ele sorriu.

− Sim, é ela mesma. Ben disse que ela palestrou na Câmara


Municipal. É aquela bióloga de lobos da Califórnia. Vamos levá-la para

~ 295 ~
Pegasus Lançamentos

a estrada para entregá-la ao Sr. Wildhaven. Claro, xerife. Ela não vai a
lugar nenhum.

Ele desligou o celular e disse a Bem:

− A pequena senhorita pegou emprestado o Jaguar daquele


fazendeiro rico. − Ele olhou para as roupas dela. − Parece que ela pegou
um pouco mais do que isso.

− Eu sempre pensei que as pessoas ricas não tinham nenhum


problema. – Ben franziu o cenho. Depois deu um sorriso maligno. − Eu
aqui pensando que você fosse uma daquelas arrogantes mulheres
educadas, e acabo descobrindo que você é prática como o resto de nós.
− Seu sorriso se alargou.

− Você está machucando o meu pulso. – Ela se queixou,


franzindo a testa para ele. Ele tinha um aperto de garra de ferro, e
estava cortando a circulação dela, embora sua queixa fosse um pouco
mais tortuosa do que apenas querer protestar contra a pressão em seu
pulso.

Quando Ben afrouxou o aperto um pouco, Cassie dobrou para o


lado e para baixo, quebrando o poder dele sobre ela, e correu para o sul
novamente, para o seu veículo.

− Droga, Ben. Como você pôde deixar a mulher fugir?

Eles andavam ruidosamente atrás dela em uma busca furiosa.


Se ela pudesse alcançar a caminhonete antes que esses homens a
apanhassem, ela poderia sair dali. Então poderia voltar para a área
onde tinha deixado o salmão e localizar a mãe lobo e sua ninhada. Alex
provavelmente já havia deixado a área.

~ 296 ~
Pegasus Lançamentos

Ela franziu o cenho enquanto percorria através de galhos de


árvores e arbustos. A menos que Alex se preocupasse com a loba ferida,
ela, e a estivesse procurando. Droga. Quando chegasse na sua
caminhonete, poderia ligar para Alex, se o sinal de celular o alcançasse,
e o avisaria que ela havia levado a loba a um veterinário para que ele
não se preocupasse com isso, no caso, com ela. As mentiras logo iriam
sufocá-la.

Deixou os caçadores muito atrás, certamente eles não a


alcançariam. Continuou correndo até que viu o acostamento estreito
onde estacionou o seu veículo. Quando chegou ao local, encontrou a
caminhonete de Alex estacionada atrás da dela, bloqueando-a. Ela
queria gritar. Mas o fato de que ele não foi embora a levou a se
preocupar com a segurança dele novamente.

Ela não tinha outra escolha. Pegou a chave escondida na parte


de baixo, e abriu a sua caminhonete, em seguida, jogou para dentro as
suas roupas, as roupas de Leidolf, mais exatamente, e arrancou o
curativo do ombro. Uma dor aguda atravessou seu músculo e irradiou
pelas costas, e ela soltou um gemido triste. Ela empurrou as roupas e o
curativo sob o banco do passageiro, fechou a porta, e se transformou.

A transformação doeu. Aterrissar sobre as patas dianteiras em


sua forma de loba doeu. Tudo doía. Mas, se a caminhonete de Alex
ainda estava aqui, ele não estava a salvo. Nem ela estava. Por enquanto,
tinha duas missões frenéticas de resgate para realizar, e não iria parar
até que as cumprisse.

~ 297 ~
Pegasus Lançamentos

O celular de Leidolf tocou de novo, e ele parou de andar pela


floresta para olhar para o número, enquanto seus homens paravam
para ouvir as notícias. O xerife. Leidolf levou o telefone para sua orelha.

− Sim?

− Acabei de receber a informação de que dois caçadores se


depararam com uma mulher vestida como a que dirigia seu Jaguar.
Ben e Everett Hollis se preocuparam que ela fosse uma fugitiva ou
tivesse sido traumatizada, pela forma como ela estava vestida, mas
então reconheceram que era aquela bióloga que deu a palestra sobre
lobos na outra noite. Ben disse que ele a tem a tiracolo, seguindo para a
estrada para entregá-la a você.

Leidolf deu um suspiro de alívio.

− Boas notícias. − Ele achava que os criadores de ovelhas a


manteriam segura, mesmo que eles não gostassem da diplomacia dela
com relação aos lobos.

Mas antes que ele pudesse desligar, o delegado disse:

− Espere, tenho outra mensagem chegando. − Ele pareceu


pausar por uma eternidade antes de falar novamente com Leidolf, e o
suspense o estava matando. − Eles a perderam. Ela se soltou das mãos
de Ben e se dirigiu para o sul novamente, mas eles estão em busca dela.

− Usando óculos noturnos? – certamente estariam, e poderiam


ver como lobos na escuridão da noite.

− Sim. Você quer que eles continuem atrás dela?

− Claro. Vou lhe dar uma atualização daqui a pouco. − Leidolf


não queria soar como se precisasse manter a busca escondida do

~ 298 ~
Pegasus Lançamentos

departamento do xerife. Não nesse momento. Ele presumiu que Cassie


não permitiria que os irmãos a pegassem novamente de qualquer
maneira. − Nós estamos indo na mesma direção. − Leidolf encerrou a
ligação. Queria Cassie sob sua proteção e não gostava da ideia que os
homens a maltratassem.

− Ela seguiu para lá. − Elgin disse um pouco longe. − O


acostamento está logo a frente.

− Ela provavelmente estacionou lá. Inferno, se ela entrar no


veículo, os rastros dos pneus serão a última coisa que veremos dela. –
Leidolf começou a correr.

Ele não a deixaria ir até que soubesse da história dela. Bem,


esta não era exatamente a verdade. Não tinha a intenção de deixá-la ir
nunca, apesar de que, convencê-la que ele tinha genuinamente os
melhores interesses, seria tarefa árdua.

Elgin e os outros começaram a correr numa formação


espalhada. Caçar a mulher fazia o lado lobo dele querê-la ainda mais.

Em seguida, eles invadiram a clareira em direção ao


acostamento. Eles viram duas caminhonetes, ambas escuras, ninguém
nelas, uma bloqueando a outra na trilha.

− A verde é dela. Aquela preta é do Alex. − Ele se virou para


Pierce. – Procure a chave, e espere por ela dentro do carro, no caso dela
retornar. Quincy, você cuida da caminhonete de trás. Se ela retornar
com Alex, pode tentar sair com ele. Precisamos ter certeza de que
nenhum deles vá embora antes que eu possa interrogá-los.

− Sim, senhor. − Ambos os homens concordaram.

Elgin apontou para o rio Willamette.

~ 299 ~
Pegasus Lançamentos

− Ela seguiu nesta direção, Leidolf.

Uma boa meia hora depois, ele ouviu o barulho do rio e a viu em
sua forma de loba vermelha perto da borda da água, mancando
enquanto andava, farejando e buscando na área... Pelo quê? E o que
diabos ela estava fazendo em sua forma de loba, arriscando levar outro
tiro?

Tentando localizar Alex? O irritava o pensamento, embora a


sensação de alívio tomasse conta dele por vê-la ilesa, exceto pela lesão
antiga.

Quando Cassie os ouviu se aproximar, parou e estreitou os


olhos. A cor fluorescente deles brilhava no ainda escuro início da
manhã, mas ela parecia cansada, o corpo, cauda, e cabeça pendendo. O
ombro estaria doendo muito.

− Você está procurando por Alex Wellington? − perguntou


Leidolf, apontando para os seus homens para cercá-la, mas mantendo a
atenção dela. Ele não a deixaria ir, não do jeito que ela estava ferida.
Ela não chegaria a qualquer lugar seguro quando o sol brilhasse em
poucas horas.

A expressão dizia que era melhor ela nem pensar em cruzar o


rio. Ele não acreditava que ela ligasse para ele, se não estivesse
sofrendo tanto.

− Nós vamos encontrá-lo, mas você precisa voltar para a fazenda


para sua própria segurança. − Ele não pretendia soar tão irritado, mas
o pensamento dela arriscar a vida e expor sua espécie para ficar com
Alex o irritava como o inferno.

~ 300 ~
Pegasus Lançamentos

De repente, Elgin e Fergus saíram de trás dos ramos de um


abeto de Douglas, ambos segurando os braços de um homem. Os olhos
azuis do homem estavam vermelhos, mas ele não via no escuro como
eles.

Alex Wellington.

− O que diabos você está fazendo aqui? E quem são esses caras?
− Alex puxou os braços para se libertar, mas os homens de Leidolf iriam
segurá-lo apertado até que Leidolf dissesse o contrário.

Alex foi um amante humano de Cassie? Se assim fosse, Leidolf


planejava remediar a situação rapidamente. Ele franziu a testa.

− Os homens que você ouviu dizerem que haviam assassinado


uma mulher, também atiraram na loba vermelha?

Alex não disse nada, mas ficou um pouco pálido.

Leidolf não gostava de ter que se repetir, e, se Alex pudesse ver o


olhar que ele estava lhe dando por sua desobediência, ele teria tomado
mais cuidado.

Leidolf tentou novamente. Desta vez, ele rosnou:

− Foi algum deles?

Elgin soou igualmente feroz quando apertou o braço de Alex.

− Responda a pergunta.

− Tudo bem, tudo bem. Isso não é da sua conta. Inferno, tudo o
que você é, é um maldito fazendeiro.

~ 301 ~
Pegasus Lançamentos

Em resposta, Elgin sorriu. Carver balançou a cabeça. Satros


estudou o biólogo, mas não disse uma palavra, a expressão rígida. Ele
não tinha muito em comum com os seres humanos, mesmo tão velho
quanto ele era. E ele não os tolerava muito bem, quando tinha que lidar
com eles. Fergus limpou a garganta como se fosse falar, mas então ficou
calado.

− É a sua caminhonete no acostamento ao sul daqui? − Leidolf


perguntou, embora já soubesse que era.

− Sim. Por que você está perguntando? − Alex finalmente se


soltou de Elgin e Fergus, depois que Leidolf deu o sinal verde para
libertá-lo.

− O que você ainda está fazendo aqui? – Leidolf rosnou.

− Se é da sua conta, eu estava procurando por Cassie, e uma


loba ferida. Mas em vez de encontrar a loba, ela me encontrou
novamente. Mas eu não descobri nenhum sinal de Cassie.

Nada disso explicava o que Cassie estava fazendo na beira do


rio. Por que ela não levou Alex de volta à caminhonete dele? Não, ela
estava inquieta, andando perto da água, como se estivesse à procura de
algo mais.

− Temos um veterinário na fazenda. Vamos levá-la com a gente e


obter assistência médica. − explicou Leidolf, tentando conter sua
irritação com ela, e com este amigo dela.

− Se você é fazendeiro, por que diabos iria querer cuidar de um


lobo?

~ 302 ~
Pegasus Lançamentos

− Ela não é um problema. Estamos tendo problemas com um


puma, no entanto. Matou dois de nossos bezerros. Mesmo assim, nós
iremos entregá-lo para o jardim zoológico, quando o doparmos.

Os olhos de Alex se reviraram.

− Você não atirou naqueles homens do zoológico com


tranquilizantes, não foi?

Leidolf sorriu, sabendo que o homem não via sua expressão no


escuro.

− Estamos aqui apenas para conseguir ajuda médica para o lobo


e colocar o puma no zoológico.

A expressão de Alex indicava que ele pensava que Leidolf havia


atirado nos homens e pegado a loba para protegê-la. O rosto de Alex se
iluminou, mas então ele franziu a testa.

− Você atirou tranquilizante nos homens e a levou para casa


com você, não foi? Ela deve ter fugido e veio me procurar. − Ele esfregou
o queixo com a barba por fazer e olhou para o chão. − Ou ela voltou por
causa de outra coisa. Eu não entendo, no entanto. Ela parecia ansiosa,
como se estivesse procurando alguma coisa, mas estava com medo de
me deixar sozinho. Ela ainda está ferida, também. Mancando muito. Por
que você não a manteve em segurança em casa? Quer dizer, eu sou
grato por ela ter me encontrado e, em seguida, você me encontrou, mas
você deveria tê-la trancado para sua própria segurança.

− É exatamente o que eu pretendo fazer. − Leidolf deu a Cassie


um olhar que significava que seria fiel àquelas palavras.

− Deixe-me ir com você. – Alex pediu.

~ 303 ~
Pegasus Lançamentos

− Não é necessário. Fergus pode acompanhá-lo de volta até a


sua caminhonete. O xerife quer falar com você sobre o que você ouviu a
respeito do envolvimento dos homens.

− Você acha que ele poderia me proteger? Ela derrubou um dos


homens, mas nem mesmo o mordeu. Ela estava me protegendo. Ela
deve ser seu animal de estimação. Não é?

− Sim, ela é minha. Ela fugiu. Mas nós vamos levá-la daqui. −
inferno, Cassie. Como ela poderia ter se envolvido tanto com um ser
humano? Leidolf deu-lhe um olhar irritado.

− Vocês tem óculos de visão noturna? Eu não posso ver


nenhuma maldita coisa por aqui com apenas esta minha lanterna. −
Alex acenou com a pequena luz ao redor, destacando algumas folhas do
abeto de Douglas na frente dele com um pontinho de luz. − Eu pensei
que teria que esperar até amanhecer para localizar a Cassie, quando
apareceu a loba. Qual é o nome dela, por sinal?

− Vermelha – Leidolf disse rapidamente.

Fergus tirou uma lanterna de bolso.

− Nós somos da região e conhecemos os bosques de cabo a


rabo... De olhos vendados. Vamos. Vou levá-lo até a sua caminhonete.

− Mas Cassie está em algum lugar por aqui, também.

Leidolf caminhou em direção a ele, pronto para saber a verdade


sobre seu relacionamento com ela.

− O que ela é para você?

~ 304 ~
Pegasus Lançamentos

Os olhos do rapaz se arregalaram. Inferno, Leidolf queria


perguntar sobre ela, não soar como um maldito amante ciumento.

Seus homens sorriram para ele. Cassie resmungou baixinho em


sua forma de loba, agora deitada de bruços, nariz nas patas, os olhos
focados em Leidolf. Ele continuou a carranca, e Alex fez uma careta.

− A mulher com quem eu vou me casar. Nós vamos fazer um


time danado de bom.

O cara não poderia ter surpreendido Leidolf mais com a notícia.


Os homens pareciam tão atordoados quanto ele, as bocas
escancaradas.

− Casamento? − ele jurou que ela deu um olhar “quem se


importa”, embora parecesse desgastada.

− Sim, nós vamos fazer uma fantástica equipe de marido e


mulher. Realmente ir a lugares, uma vez que fizermos o pacto. Não é
seguro para ela andar sozinha na natureza selvagem.

− Ela é sua noiva? – Leidolf não se preocupou em esconder o


ceticismo em seu tom de voz.

Alex enfiou as mãos nos bolsos da jaqueta.

− Assim que eu possa propor adequadamente. Imaginei que


quando eu tivesse feito a descoberta da loba. − Ele apontou para Cassie.
– E encontrasse a Cassie, eu compartilharia a boa notícia com ela e isto
seria o suficiente. Inferno, se a loba é apenas um animal de estimação,
não vai interessá-la.

~ 305 ~
Pegasus Lançamentos

− Se você pedir a ela para se casar com você, ela não vai dizer
sim. − Leidolf não sabia o que Cassie estava pensando, mas ela estava
olhando para Alex, esperando por uma resposta.

Leidolf poderia com certeza gritar o que estava pensando.


Nenhuma loba vermelha solteira iria transformar um ser humano em
companheiro.

− Claro que ela vai dizer sim. Tão logo ela perceba o quão
perfeito nos seremos um para o outro.

− Vocês são amantes?

Todo mundo estava esperando entusiasticamente pela resposta.


Leidolf pensou ter ouvido Cassie emitir um grunhido muito baixo,
dirigido a ele, e não para Alex.

− Não é da sua maldita conta.

Leidolf sorriu. Exatamente a resposta que ele queria. Não, eles


não eram amantes.

Leidolf cruzou os braços sobre o peito e se aprumou.

− Eu posso dizer agora, que ela não vai se casar com você. Nós
estamos prestes a nos casar. Duas semanas, e oficializaremos a união.

Cassie balançou a cabeça e estreitou os olhos para Leidolf.

− Sim, eu vou ser o padrinho do casamento. – Elgin abriu um


largo sorriso.

Apontando para os outros homens, Carver falou:

− Todos nós somos padrinhos de Leidolf.

~ 306 ~
Pegasus Lançamentos

Alex fechou a boca escancarada. O pobre coitado estava em


desvantagem e manipulado. Valia a pena, em momentos como este, ser
membro de uma alcateia de lobisomens.

− Cassie está em casa na cama, onde ela deveria estar, sã e


salva. Mas agora eu preciso levar a Vermelha ao veterinário para cuidar
da sua lesão. E trancá-la, para que ela não fique solta e se machuque
ainda mais. − Leidolf deu-lhe um olhar aguçado. − Fergus, leve Alex até
a sua caminhonete, por favor?

Alex olhou para Cassie.

− Eu gostaria de aparecer e dar a Cassie os meus parabéns pelo


seu futuro casamento, e ver a Vermelha quando ela estiver curada.
Onde você disse que ela está?

− Fergus? − Leidolf não estava prestes a deixar o cara chegar


perto de Cassie novamente, se ele pudesse evitar.

− Vamos lá. – Fergus liderou o caminho com sua lanterna de


bolso.

Alex caminhou atrás dele na direção do acostamento,


murmurando baixinho:

− Eu não sei como você pode ver qualquer coisa nesse escuro.
Sua luz é ainda menor que a minha. − De repente, ele parou e se virou.
− E a respeito dos outros lobos?

Leidolf sentiu a tensão no ar renovar entre os homens.

− Que outros lobos? − Ele tentou conter sua agitação, o cara


continuaria a interrogá-lo.

~ 307 ~
Pegasus Lançamentos

Alex endureceu e deu a Leidolf um olhar do tipo “eu não sou tão
burro”.

− Eu sou biólogo de lobos por profissão. Pelo menos dois outros


lobos estavam nas proximidades de onde os homens do zoológico
estavam. Conforme evidenciado pelas trilhas que deixaram para trás, os
lobos correram ao lado dos homens, que provavelmente drogaram os
caras do zoológico. Então, onde estão os outros lobos?

− Leve-o de volta para o veículo dele, Fergus. − Inferno, o que


mais Leidolf poderia dizer? Ele tinha uma alcateia na fazenda, mas não
tinha licença para manter animais silvestres no local? Ele não tinha
mais nenhum outro lobo, e Alex saberia que ele estava mentindo? Pelo
menos ele presumia que o homem sabia a diferença entre patas de lobo
e patas de cão, ou ainda patas de híbridos cães-lobos. A não ser que os
animais fossem mais lobos do que cães.

Além disso, ele estaria condenado se precisasse explicar tudo


para um pretenso amante de Cassie.

− Tudo bem. − Alex bufou. Virou e se dirigiu com Fergus na


direção da caminhonete.

Uma vez que eles estavam além do alcance da voz, Elgin


advertiu:

− Ele acredita que temos uma alcateia inteira lá na fazenda.

Leidolf franziu o cenho para Elgin.

− Eu não vou transformar outro maldito humano e levá-lo para a


alcateia. Certo como inferno, ainda mais quando o cara tem tesão por
Cassie.

~ 308 ~
Pegasus Lançamentos

− Você não acha que ele está sabendo demais, não é? – A


expressão sombria no rosto de Carver dizia que ele cuidaria do cara de
uma forma ou de outra.

− Diga a todos para estarem alerta para uma caminhonete preta


com placa da Califórnia. Se ele vier até a fazenda, certifique-se de que
ninguém esteja em suas formas de lobo e o mande diretamente para
mim.

− Ele sabe que nós drogamos os homens do zoológico. Ele parece


aprovar, muito provavelmente porque quer estudar os lobos em estado
selvagem e não encurralados no zoológico, mas ele ainda poderia contar
às autoridades que nós fomos os responsáveis por nocautear Thompson
e seu amigo. – Elgin falou.

Leidolf deu a Cassie um olhar severo. Era isto o que acontecia


quando os lobisomens se envolviam nos assuntos humanos.

− Nós enfrentaremos o problema quando surgir. Chame Quincy e


Pierce, se você conseguir sinal no celular. Caso contrário, envie alguém
para ir à frente e avisá-los para desocupar os veículos e ficarem
escondidos. Uma vez que Alex tenha ido embora, mande-os levarem a
caminhonete de Cassie para a fazenda.

Ele se virou para Cassie.

− E você está voltando comigo para a fazenda agora. − Ele andou


em direção a ela. − Você está convidada a mudar de forma. − Ele sorriu
um pouco. – É mais fácil de carregar. − Mais do que isso, ele queria
reivindicá-la como mulher, abraçá-la apertado, desfrutar da sensação
dela estar próxima de novo, mas percebeu que ela já sabia como ele se
sentia sobre ela.

~ 309 ~
Pegasus Lançamentos

Embora ele quisesse saber se ela estava interessada em acasalar


com um humano e transformá-lo. Tinha toda a intenção de elucidar o
assunto.

Carver apontou para o rio.

− Inferno, Leidolf, é mais um deles.

Leidolf parou ao lado de Cassie e olhou através do rio. Um lobo


vermelho os olhava. Menor do que um macho, tinha de ser uma fêmea.
Cassie ficou de pé em um instante, como se ela tivesse extraído uma
bolsa de energia. Antes que ele pudesse parar o que ela estava prestes a
fazer, ela mergulhou no rio.

− Inferno e maldição, mulher!

~ 310 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Dezoito

− Você não pode segui-la vestido do jeito que está. − Carver


advertiu Leidolf e parecia como se estivesse pronto para mergulhar no
riacho para ir atrás de Cassie.

Leidolf já estava se desfazendo das roupas, enquanto mantinha


Cassie à vista. A água rapidamente a levou correnteza abaixo, enquanto
ele estava tendo um momento infernal tentando desatar os cadarços
molhados das botas.

− Diga ao resto dos homens aonde eu fui. Elgin, você está no


comando enquanto eu estiver fora. Vou levá-la para a cabana até que
ela esteja suficientemente bem para voltar. Basta deixar minhas roupas
escondidas nas proximidades.

− Você tem certeza que não quer que eu vá com você? – Carver
franziu o cenho.

− Você tem as meninas para cuidar. − Mas Leidolf pensou que


Carver estava interessado na outra loba vermelha, no caso de que ela
fosse uma lobisomem também, e queria ser o primeiro a ter uma
oportunidade com ela, antes dos outros machos solteiros.

− O que você vai fazer sobre o tal cara, Alex? − Carver olhava
Cassie descendo mais abaixo no rio e lutando contra a corrente para
chegar à margem oposta.

~ 311 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf soltou a respiração e abandonou o jeans e, em seguida, a


camisa.

− Ele pode ver Cassie, uma vez que eu volte com ela para a
fazenda e ela esteja se sentindo melhor. Então ela pode mandá-lo
passear.

Ele rapidamente mudou de forma e, como lobo, correu pela


margem do riacho rochoso para chegar ao local onde Cassie se afastara.
Em seguida, ele mergulhou na água fria, espalhando água pelos ares, e
nadou em direção a ela. Àquela altura, ela estava ao meio do caminho
para atravessar o riacho.

A outra loba era irmã de Cassie, o que explicava porque Cassie


tinha sido tão teimosa em voltar? Mas por que ela apenas não disse a
verdade? Todos os seus homens iriam em busca da mulher. O que,
talvez, fosse a razão pela qual ela não falou nada.

Leidolf nadou através do riacho, jurando que este estava ficando


mais amplo enquanto o atravessava. Ele, com certeza, corria bem mais
rápido como lobo do que conseguia nadar como um. Mesmo com ela
tendo uma boa margem de vantagem, ele a estava alcançando enquanto
ela lutava contra a correnteza para chegar ao outro lado. Então, de
repente ela afundou. Seu coração capotou.

Seus homens gritaram da margem perto de onde ele pulou na


água.

− Inferno, Leidolf! − Elgin disse, a voz cheia de preocupação.

− Você quer que a gente entre? − Carver gritou.

Mas Leidolf continuou nadando para chegar no último lugar que


ele a tinha visto, o olhar dele buscando por qualquer sinal dela, o

~ 312 ~
Pegasus Lançamentos

coração batendo espasmodicamente. Deus, Cassie, eu não posso perder


você agora.

Então, a cabeça de Cassie surgiu inesperadamente, as orelhas


arrebitadas bem altas, o nado lento e arrastado.

Ela estava se aproximando da costa. Inferno, ele desejava nadar


cachorrinho mais rápido. Se a alcançasse a tempo, a agarraria pela
nuca e a puxaria para cima. Ou rapidamente mudaria para a sua forma
humana e a carregaria pelo resto do caminho até a margem.

Ela finalmente chegou à margem e tropeçou, caindo de bruços.


Cassie.

Fique! Apenas fiquei aí! Ele queria gritar para ela. Ele queria
exigir dela, como um lobo no comando faria a outro, para fazê-la
obedecer.

Arfando o peito, ela sentou na borda do riacho. Ele pensou que a


alcançaria a tempo, antes que ela pudesse fugir. Até que ela olhou para
trás e o viu perto da margem.

Maldição. As orelhas dela se contraíram, os olhos arregalaram, e


ela fechou a boca ofegante.

Ele deu o melhor olhar determinado “é melhor você me obedecer”


que um líder alfa poderia transmitir. E Inferno, ela saiu correndo para a
floresta num pesado mancar.

Quando ele alcançou o outro lado do rio, olhou para Carver e o


resto de seus homens, todos olhando-o para para ver se ele sobreviveu.
Em seguida, baixou a cabeça para que eles reconhecessem que estava
bem e obedecer as suas ordens. Depois de sacudir o excesso de água
escorrendo de sua pelagem, ele se virou e partiu na direção de onde a

~ 313 ~
Pegasus Lançamentos

pequena loba vermelha tinha ido, a pequena loba vermelha dele. A


outra... Bem, se um de seus homens pudesse convencê-la a ficar na
alcateia também, melhor ainda. Mas Cassie era dele. Como Alex tinha
afirmado, Leidolf apenas tinha que convencê-la do fato. Só que ele seria
o vencedor, não um patético humano biólogo de lobos.

Depois de correr pela floresta por cerca de dois quilômetros,


Leidolf se deparou com Cassie sentada em samambaias protegidas por
abetos de Douglas, ofegante e com o olhar perdido na distância, a
energia dela totalmente gasta. Assim que ela o percebeu chegando, ela
virou a cabeça, o olhar prendendo-se no dele. Sim, aqui está o grande
lobo mau, chegando para levá-la em segurança para casa, mocinha.

O rosto de Cassie parecia cansado pela dor. Cautelosamente, ele


se aproximou dela, não querendo afugentá-la e causar mais dor, mas
garantir que ela não fugisse de novo, também. Ele não viu nenhum
sinal da outra fêmea e presumiu que Cassie não conseguiu ir mais
longe com o ombro tão ferido.

Ela não fez nenhum movimento para fugir. Na verdade, ela se


deitou de lado, retirando a pressão do ombro lesionado.

Ele se aproximou e acariciou o rosto dela. Ela não rosnou para


ele, como rosnaria se não quisesse a atenção dele. Ela não o lambeu de
volta, muito embora, como se ela estivesse cansada demais para fazer o
esforço ou tivesse desistido e não estava feliz com isso. Decidindo que
ela estava muito desgastada, ele planejava levá-la para sua cabana
perto do riacho onde ela poderia descansar até que fosse capaz de voltar
com ele.

Leidolf cutucou o nariz de Cassie, tentando fazê-la se mexer,


mas ela fechou os olhos e pareceu estar dormindo ou simplesmente o

~ 314 ~
Pegasus Lançamentos

ignorando. Ele esperava que eles pudessem alcançar a cabana sem se


deparar com ninguém na floresta, e logo.

Não gostando do que tinha que fazer a seguir, ele se transformou


para a forma humana, nu e com frio, inclinou-se e levantou Cassie tão
delicadamente quanto podia. Ela gritou.

− Eu sinto muito, Cassie.

Ele percebeu que o seu pedido de desculpas teria ganhado um


par de risadas de seus homens, se eles tivessem testemunhado. Odiou
ouvir a dor no seu grito, e tentou carregá-la tão cuidadosamente quanto
pôde. Pelo menos estaria escuro por várias horas, e se tudo corresse
como o planejado, ela poderia curar enquanto descansava. Por outro
lado, sem roupas, eles teriam que permanecer lá até que a escuridão
caísse novamente para que eles pudessem voltar ao Hummer dele em
suas formas de lobo.

Quando começou a caminhar, ele se preocupou com a outra


loba. Ela estaria em um perigo tão grande quanto ele e Cassie estavam
em suas formas de lobo, se caçadores os localizassem e quisessem
eliminar a ameaça lupina. Assim que Cassie estivesse segura na
cabana, ele iria procurar pela outra loba. Em sua forma de lobo. Era
mais rápido para correr, mas não tinha certeza se ele assustaria a loba
ou não.

Durante meia hora, Leidolf carregou uma adormecida Cassie


apertada contra o peito, surpreso, considerando o quanto ele
amaldiçoou quando pisou em um arbusto espinhento de amoras ou
tropeçou em raízes de árvores expostas que ele não conseguia ver por a
estar levando, que ela não tivesse despertado.

~ 315 ~
Pegasus Lançamentos

Ela esteve imóvel em seus braços, mas, de repente, começou a


se mexer, como se ela não gostasse de ser confinada.

− Não vou soltá-la se você não se importar. − Leidolf advertiu,


apertando seu poder sobre ela e tentando não soltar a loba que se
contorcia. Ela tentou se afastar, mas ele apertou com mais força. −
Comporte-se. − Ele disse, em uma voz abafada perto de sua orelha,
como se estivesse sussurrando sentimentos doces para ela.

A sutil fragrância feminina dela excitou os seus sentidos, o fez


desejá-la, e tudo o que pensava era em como iria convencê-la a ficar na
alcateia, com ele.

Ele considerou que, talvez, como uma lobisomem recém-


transformada, ela quisesse transformar um macho humano num
companheiro para que ele fosse o mesmo que ela. O que o fez pensar
nos lobisomens do novo Ártico que ele teve que lidar no Maine. Ele não
apoiaria Cassie em transformar um humano num companheiro.

Então Cassie lutou mais, e antes que ele pudesse se preparar,


ela estava mudando. Ou ela não tinha controle sobre a transformação, o
que significava que era fundamental que ela ficasse na alcateia dele. Ou
ela preferia que ele a segurasse firme em seus braços fortes como uma
mulher, ao invés de como loba. Carregar uma mulher seria mais fácil de
manejar, mas não gostava que ela estivesse tão gelada quanto ele.

Entretanto, quando ela se transformou e ele estava segurando a


ninfa de pele sedosa nos braços, ele deu um sorriso diabólico enquanto
ela franzia a testa.

− Muito melhor. − Ele reajustou o domínio sobre ela e apertou o


corpo pequeno mais próximo, tentando garantir que ela não ficasse
muito fria.

~ 316 ~
Pegasus Lançamentos

Ele tinha toda a intenção de definir as regras.

− Então, vamos esclarecer as coisas entre nós, Cassie Roux,


pequena bióloga de lobos. Você é uma solitária, não tem uma alcateia e
tem tesão por mim. − Ele sorriu no final.

Ela fechou os olhos e gemeu. Ela poderia fingir tudo o que


quisesse, que não estava interessada nele, da mesma maneira que ele
desejava tê-la. Ela se aconchegou mais perto dele e respirou fundo.
Aproveitando a maneira como os feromônios dele revelavam o quanto
ele a desejava?

Os dela estavam deixando-o louco.

− E você não vai ter um patético biólogo como companheiro.

Ela soltou a respiração em um suspiro doloroso, o olhar fixando-


se no dele, lindos olhos se estreitaram um pouco em desafio... E ele
adorou isto.

− Eu não tenho nenhuma intenção de acasalar com Alex. É tudo


ideia dele e, sinceramente? Ele não poderia se comprometer com uma
mulher mesmo que a vida dele dependesse disso. Mas eu tenho um
trabalho a fazer, pelo qual estou sendo paga, e ninguém vai me parar.

− Você não vai correr pela floresta sozinha, Cassie. Não ferida
como você está e não quando aqueles assassinos ainda podem estar
aqui à procura de corpo de uma mulher.

Ignorando-o, ela resmungou:

− E, além disso, pare de dizer a todos que estamos noivos.

~ 317 ~
Pegasus Lançamentos

Então ela franziu o rosto com a dor, estremeceu nos braços dele,
e começou a se mexer novamente. Antes que ele pudesse avisar que
estava prestes a soltá-la, e apertando o seu poder sobre ela, ela mudou
mais uma vez. Ela tinha que ser muito recentemente transformada. O
que o fez se perguntar se algum lobisomem a transformou e ela fugiu
antes que ele acasalasse com ela.

Ele cerrou os dentes, percebendo que, embora ele não a quisesse


explorando mais a floresta, ele deveria pelo menos perguntar que
trabalho era tão malditamente importante. A loba fêmea?

O que ela pretendia fazer com a loba?

− Então qual é a razão pela qual você voltou para a floresta?

Ela parecia estar dormindo e não mudaria de volta para a forma


humana, ou parecia nem ter ouvido a pergunta. Ele resmungou
baixinho. Assim que pudesse, saberia a verdade.

E então, ele deu um suspiro de alívio quando viu a cabana


aninhada entre as árvores, cerca de cinquenta metros quadrados de
tamanho, uma parede inteira de pedra de um lado, toras arredondadas
nas outras três paredes, encardidas janelas nas três paredes de
madeira, e uma extensão de pedra cimentada nas extremidades das
janelas. Todo o material, exceto o vidro, foi reaproveitado da paisagem
circundante. O teto estava coberto de musgo, grama alta e samambaias
roçavam as laterais da construção, e ramos de uma cicuta cutucavam
uma das paredes. Versão humana de um covil de lobisomem. Perfeito
para a recuperação de Cassie.

Ele empurrou a porta com o quadril e olhou para a escuridão.


Um par de cadeiras rústicas de madeira repousava perto de uma
pequena mesa ao lado de uma parede. A lareira foi construída na

~ 318 ~
Pegasus Lançamentos

parede de pedra, enegrecida com fuligem pelos anos de uso. Um colchão


de veludo vazio estava jogado no empoeirado chão de madeira. Como
loba, Cassie não se importaria. Embora, assim que tivesse tempo, ele
tentaria encher o colchão ou fazer algum outro tipo de cama.

Ele a deitou ao lado da lareira. Ela abriu os olhos e olhou para


ele, a expressão cansada.

− Eu voltarei, Cassie. Vou pegar um pouco de lenha e fazer uma


fogueira. Apenas fique aqui.

Ela fechou os olhos, e ele se preocupou que ela pudesse ficar


doente antes que melhorasse, tão apática como estava.

− Cassie? − Agachou-se na frente dela e tocou seu nariz. Ele


estava molhado e frio.

Ele sabia que um nariz seco e quente não significava


imediatamente doença. Letargia, em adição a isso, e perda de apetite
seria mais sério.

− Eu voltarei... Eu voltarei logo.

Ele dirigiu-se para a porta e virou para olhar para ela, mas ela
não abriu os olhos ou reconheceu de forma alguma que sabia que ele
estava saindo. Um pensamento realmente terrível passou por sua
mente, que ela estava apenas fingindo, e que, assim que ele a deixasse,
fugiria novamente. Inferno.

Ele odiava duvidar dela.

Ele caminhou para fora, fechou a porta, e cheirou o ar, tentando


sentir o cheiro de qualquer sinal de outro lobo, ou de seres humanos
que estivessem na área, enquanto ele esperava para garantir que Cassie

~ 319 ~
Pegasus Lançamentos

não estivesse planejando fugir. Ele não sentiu nada além das cicutas e
a água do riacho nas proximidades, pinheiros e monotropas21, e um
coelho que estivera na área recentemente. Ele olhou através de uma das
janelas empoeiradas. Cassie não moveu um músculo.

Ele suspirou e foi recolher a madeira, fazê-lo nu, não era muito
divertido. Arrepios de frio cobriam cada centímetro de sua pele, mas
não tinha outra escolha. Quando voltou para a cabana com os braços
cheios de lenha, encontrou Cassie ainda morta para o mundo. Carregou
a lenha para a lareira e encontrou um esconderijo de fósforos
impermeáveis sobre a lareira. Depois que o fogo realmente começou a
pegar, ele observou o peito de Cassie subir e descer, subir e descer. As
pernas dela chutavam um pouco como se estivesse correndo no sonho,
e ela choramingou.

Queria olhar para ela para sempre, não querendo deixá-la


sozinha, mas ele tinha que procurar pela outra loba, caso ela estivesse
em apuros. Ele se inclinou e coçou entre as orelhas de Cassie.

− Eu voltarei, Cassie, depois que eu encontrar a outra loba.


Apenas durma. Eu voltarei daqui a pouco.

Ela não acordou ou, pelo menos, não reagiu às atenções dele.

A cabana era tão pequena que estava esquentando muito rápido,


o que tornava ainda mais difícil para ele deixar o local. Ele saiu, fechou

21 Sem nome popular no Brasil, a “Monotropa hypopitys” é uma planta que tem

como característica o seu único cacho de flores voltado para baixo, parecendo uma
bengala. Hypopitys deriva dos termos gregos hypo(abaixo) e pitys (pinheiro), em
referência ao habitat sombrio que é natural para esta herbácea - que também ocorre
em matas caducifólias úmidas, com outras coníferas ou faias, e até em algumas
dunas.

http://www.ct-botanical-society.org/galleries/pics_m/monotropahypo_group.jpg

~ 320 ~
Pegasus Lançamentos

a porta, e saudou a mudança. Não que ele quisesse correr na luz do dia
como um lobo, mas a pelagem era bem-vinda devido a brisa fria.

Como lobo, ele correu de volta para o riacho onde eles cruzaram,
e viram a outra loba, começou a procurar por seu rastro. Seus homens
haviam ido embora, e esperava que eles não estivessem fora procurando
a loba por conta própria.

Mas o lobo era uma fêmea, com certeza. As pegadas deixaram


um cheiro, e ele correu ao longo do rastro até chegar a outro riacho. E
então, aquilo era a coisa mais estranha. A loba entrou no riacho, mas
quando ele atravessou a água veloz sobre as pedras escorregadias, não
encontrou seu cheiro na margem oposta. Ele seguiu o riacho por algum
tempo correnteza abaixo e, em seguida, tentou novamente correnteza
acima. Nada. Inferno, era como se ela tivesse simplesmente evaporado.
Ou ela ficou no riacho por muito mais tempo do que ele imaginava. Ele
se perguntou se Cassie fez a mesma coisa quando ele tentou encontrá-
la e, em seguida, foi baleada pelos homens do zoológico.

Leidolf recruzou o riacho e correu correnteza abaixo, pensando


que, talvez, a loba vermelha tivesse entrado no riacho, caminhado ao
longo do riacho mais do que ele tinha imaginado que ela faria, tentando
pegar um peixe, e, em seguida, saiu dele. Ele ainda não conseguia
encontrar o cheiro dela naquela direção ou correnteza acima, também.
O que era mais do que bizarro. Por outro lado, ela estava começando a
soar como fosse realmente uma lobisomem tentando evitá-lo, assim
como Cassie, e não uma loba que não pensaria como uma humana.

Seguindo a trilha de novo, tentou ver se ela recuou o seu


caminho como lobos fariam e, em seguida, atravessado o riacho. Ele
não saberia dizer. Se ela tinha recuado, deveria ter acentuado o cheiro

~ 321 ~
Pegasus Lançamentos

dela. Frustrado por não chegar a lugar nenhum com a busca, balançou
a cabeça. Hora de voltar para Cassie e cuidar dela.

Ele correu de volta para a cabana, na esperança de que ainda


pudesse ter um vislumbre da outra loba, mas sem sorte. Quando viu a
fumaça saindo da pequena cabana rústica, sentiu um leve indício de
realmente chegar em casa, apesar de quão austero ela fosse. Ele nunca
precisou de muito num lugar para se sentir em casa. E se tivesse a
mulher dos seus sonhos com ele, isto era tudo que poderia pedir. Se
conseguisse convencê-la disso.

Sem toda a alcateia observando cada movimento seu, este era


um lugar tão bom quanto qualquer outro para o conflito de vontades
que se desdobrariam.

~ 322 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Dezenove

A água batia na margem do lago, o som suave embalava Cassie


em uma sensação de segurança enquanto ela observava o bronzeado
Poseidon sair da água, todos os músculos se movendo com uma
poderosa urgência, o olhar esverdeado focado no dela. O olhar na
expressão dele dizia tudo. Ela era dele. Mas o que ele não sabia, era que
ele era dela. E ele não tinha escolha no assunto.

Ela lançou um sorriso tímido. Deus do mar, eu sou a caçadora


que enredou você, e não o contrário.

Ele caminhou até a margem, a pele brilhando com gotas de


água, a expressão tensa com a necessidade. De alguma forma, o chapéu
de Indiana Jones e mochila dela, o short, casaco, blusa, meias, botas e
tudo tinha desaparecido, e ela estava entre as árvores como a deusa da
caça, nua, pronta para pegar sua presa. Vinde a mim, Poseidon.
Mostre-me do que você é capaz.

Em câmera lenta, ele se aproximou, como se tivesse medo que


ela tentasse fugir. Ela não tinha intenção de fugir como uma coelha
com destino a sua toca.

De repente, ela estava caindo, tombando na escuridão, o cheiro


de terra, a aterrissagem suave conforme ela entrava na toca do coelho.
Seria a revelação de um mundo novo, em que um coelho gigante a
cumprimentaria, usando o chapéu, mochila e o casaco dela.

~ 323 ~
Pegasus Lançamentos

Desesperada, ela arranhou o buraco, tentando sair, tentando


chegar a Poseidon, para mostrar ao deus que ela não estava fugindo
dele, não tinha intenção de se esconder, e Poseidon pediu silêncio.

− Cassie, quieta. Fique parada. Você está segura.

Ele a levantou nos braços e a beijou muito docemente, quando


ela desejava ser violada por seu toque. Ela tentou abrir os lábios, queria
beijá-lo de volta, lançar a língua em sua boca, para convidá-lo, e tomar
o seu prazer dentro dela, como ele provocaria o prazer dela.

− Cassie, se você continuar com isso, eu vou ser obrigado a ser


menos do que honrado.

O sorriso dele era diabolicamente previsível, típico de lobo, nem


um pedaçinho honrado, e ela adorou.

Ela lambeu os lábios, umedecendo-os antes de beijá-lo, e se


contorcer contra o abraço firme dele, arrancando um gemido de dentro
do peito dele. Ela não conseguia levantar a cabeça para olhá-lo
novamente e, em vez disso, deu um suspiro cansado.

Os dedos dele passearam pelos cabelos dela enquanto ela ouvia


o coração dele batendo com força, como se ele tivesse corrido durante
todo o dia. E a pele dele estava molhada, cheirando fresca e limpa,
selvagem e livre.

Os hormônios dele em fúria, o cheiro sexy chamou a atenção


dela. Os feromônios dela... E os dele. O sinal revelador de que eles
estavam prontos para levar o relacionamento adiante.

Com um esforço terrível, conseguiu lamber o peito dele, provou a


pele salgada e gotas de água, e, novamente, Poseidon gemeu.

~ 324 ~
Pegasus Lançamentos

− Malvada.

Cassie pulou acordada, só que ela já não era uma loba, mas
uma mulher, deitada contra um homem nu e de corpo quente. Não
Poseidon. Leidolf. Ele colocou os braços em volta dela, descansando
contra um leito de folhas de pinheiro em uma pequena cabana de
madeira, o próprio corpo dele servindo a ela como colchão, enquanto ele
estava deitado imóvel, os olhos fechados, as gotas de água em sua pele,
o cabelo molhado, um colchão vazio, enrolado debaixo da cabeça dele
como um travesseiro. Lá fora estava escuro, nublado, o cheiro de chuva
pesado no ar, e ainda dia. Ela supôs que era meio-dia ou mais um
pouco.

Ela suspirou e fechou os olhos, descansando a cabeça contra o


peito dele novamente. Se desejasse um companheiro, gostaria que ele
fosse como Leidolf, protetor e poderoso.

No entanto, mesmo tão autoconfiante como ele era, viu seu lado
sensível. A maneira como ele comandava o seu povo ao redor, como
estava totalmente no comando, mesmo assim, um lado vulnerável
continuava a aparecer. A maneira como ele se desculpou quando a
levantou enquanto ela estava em sua forma de loba e gritou. Ela não
queria, mas a dor havia disparado através do seu ombro, e não
conseguiu evitar. Pensou que ele poderia soltá-la, ele parecia muito
preocupado. E então, a forma como ele a trouxe para esta cabana,
acendeu a lareira, e até procurou pela loba que vira do outro lado do
rio, mas sentiu que ele não queria deixá-la, mesmo que por um minuto.

Embora ela soubesse que era devido, em parte, à natureza


controladora dele, talvez ele se preocupasse que ela fugisse, ela também
sabia que ele estava preocupado que alguém pudesse encontrá-la e
tentasse eliminá-la. Ela olhou para os arranhões nos braços dele que,

~ 325 ~
Pegasus Lançamentos

provavelmente, vieram de carregar a lenha. E ouviu a batida do coração


dele, o sangue correndo por suas veias, o corpo quente e a pele de puro
prazer tátil. Desse jeito, ela quase desejava tê-lo como companheiro.

Quase. O problema com companheiros era que eles tinham um


monte de exigências. Muitas necessidades que precisavam ser
atendidas. Especialmente quando o companheiro era o líder alfa. E ela
teria que ser a fêmea alfa. Não que ela não tivesse isto dentro dela. Ela
nunca poderia ser uma beta 22. Apostaria seu último salário que ele não
gostaria que ela continuasse seu trabalho, estudando os lobos onde
quer que ela consiga localizar espécies de lobos. E nunca, em um
milhão de anos, que ela desistiria da sua vocação profissional. Não
quando os lobos salvaram a sua vida. No entanto, não importava o
quanto trabalhasse nisto, nunca poderia recompensar a alcateia que a
acolheu.

Em seguida, um plano começou se formar. E se ela de fato


acasalasse com Leidolf? Não teria mais que lidar com homens que
queriam uma fêmea solteira. E se ele a quisesse tanto que ela pudesse
negociar os termos?

Ela ponderou ao longo de alguns segundos. Ela se imaginou


fazendo as malas para uma viagem à Carolina do Norte para estudar os
lobos vermelhos lá, mas quando chegasse à porta da frente da fazenda,
encontraria Leidolf de pé ao lado da porta, com os braços cruzados
sobre o peito largo, pernas afastadas em posição de batalha, a
expressão era um enfático não.

22 Beta é a segunda letra do alfabeto grego. No contexto, Cassie se nega a ser uma

segunda em comando, sendo subordinada a alguém.

~ 326 ~
Pegasus Lançamentos

Então, não, seria um terrível engano. Ele não concordaria que


ela trabalhasse, tinha certeza, e ela ficaria presa, liderando ao lado dele,
nunca cumprindo seu próprio destino.

Os dedos de Leidolf varreram as costas dela numa carícia suave,


e ela olhou para cima para vê-lo olhando para ela.

− Há quanto tempo você está acordada? – O timbre da voz dele


era sombriamente sedutor.

− Hmm – Ela enterrou a cabeça no peito dele, fechando os olhos


novamente. − Acabei de acordar. Há quanto tempo eu me transformei?

Ele acariciava descendo cada vez mais, baixando nas costas, até
que chegou às nádegas, e fez pequenos redemoinhos circulares nas
duas bandas sensíveis.

− Horas atrás. Tentei inflar o colchão, mas não teve jeito. Então
eu fiz uma cama com folhas de pinheiro e, em seguida, a tirei do chão
frio para que pudéssemos compartilhar um pouco do calor corporal.

Ela abriu os olhos e olhou para a lareira, as chamas que se


estendiam para cima em pequenos arabescos, enviando o calor
constante aquecendo a pequena cabana.

− Hmm. Você fez um bom fogo, e você é um colchão


extremamente bom.

− Você é um cobertor fantástico. − E a maneira como ele disse


isso a fez pensar que ele acreditava que eles se encaixavam numa
perfeita harmonia.

Ela era esperta o bastante. Perfeito significava ter certeza que o


lobo tivesse condições justas.

~ 327 ~
Pegasus Lançamentos

Embora a maneira que Leidolf a estava tocando a fazia desejar


algo mais. Os dedos dele continuaram a acariciar vagarosamente sua
pele, aquecendo seu sangue.

Ela não queria sentir nada por ele, mas ele já estava dando
curtos-circuitos nos seus feromônios, provocando sua necessidade de
tê-lo, para ficar com ele, para cumprir as fantasias sexuais. Mas mais
do que isso. Ela ainda se imaginou cuidando dos filhotes de Felicity e
isto desencadeou as suas próprias necessidades maternais. Ela abafou
um suspiro. Tudo e todos estavam se agrupando contra ela, tentando
coagi-la a tomar outro caminho.

− Como está o seu ombro? − Leidolf invadiu o estado de sonho


que ela ainda estava aproveitando.

− Está muito ruim. − Ela mentiu, sabendo exatamente aonde


este diálogo estava levando.

Os dedos dele pararam em sua cintura. Então ele começou a


lenta e metódica carícia novamente.

− Então, estar em cima, como você está agora, é menos


confortável?

− Para quê? − Ela sabia onde ele queria chegar. O líder alfa tinha
um trabalho a fazer.

Tomar uma companheira. Criar sua prole. Garantir o futuro de


sua alcateia de lobisomens. Semelhante a existência das alcateias de
lobos, apenas o elemento humano que não entrava em jogo. Ele parecia
estar deixando essa parte de fora.

~ 328 ~
Pegasus Lançamentos

Ele suspirou profundamente e, em seguida, mudou as mãos


para cima de sua cintura, os polegares tocando a curva da parte inferior
de seus seios.

− Você sabe o que nós dois precisamos. O que nós dois


queremos. Nós somos certos um para o outro. Você seria uma adequada
companheira do líder da alcateia.

A princípio, ela não disse nada em resposta, sua ira


instantaneamente despertou. Inferno, é claro que ela seria uma
companheira adequada ao líder. O que aconteceu com: Eu quero você...
Eu preciso de você... Eu não posso viver sem você? O elemento
humano, imbecil?

Pensando bem, os machos alfas não demonstravam as emoções


abertamente, e se ela tivesse que adivinhar sobre o que era tudo isso,
diria que ele não revelaria seus sentimentos até que ela dissesse “eu
aceito”23 na sua forma de lobisomem. Conquistando uma companheira
que parecia inconquistável. Reivindicando uma fêmea quando havia
menos delas para serem tomadas. Talvez ele nunca fosse capaz de dizer
que realmente a amava.

Ainda assim, sentia como se estivesse descendo uma montanha


escorregadia de respostas negativas, e quando chegasse ao fundo, ela,
no fim das contas, acabaria dizendo sim.

Apesar da mente dela dizer que ele estava errado, que não
precisava de um companheiro, seu corpo continuava dizendo que, por
um lado, ele estava muito certo e ela tinha que reconsiderar. Ela tinha

23 “I do” no original – a frase dita ao final do casamento, quando os noivos

confirmam a vontade de se casar. Cassie quer dizer que Leidolf só demonstraria suas
emoções depois que eles se casassem.

~ 329 ~
Pegasus Lançamentos

sido uma solitária por muito tempo. Tinha um trabalho a fazer. Isto é o
que a fazia completa. Não a ideia de liderar alguma alcateia com um
macho alfa. Mesmo que ele fosse tão delicioso como Leidolf.

Leidolf moveu as mãos para os lados da cabeça dela e virou-a de


modo que ela estava descansando o queixo no peito dele, os olhos
verdes desafiando-a a ser honesta com ele.

− Diga-me a verdade, Cassie. Você não pertence a uma alcateia.

Ela virou a cabeça e colocou a bochecha de volta em seu peito


novamente.

− Então, o que me denunciou?

Ele riu levemente.

− Cada centímetro da sua pele corou quando eu olhei para você,


desde as bochechas, até os dedos dos pés. Você estava envergonhada. O
que informou que não estava com uma alcateia e não esteve com uma
há muito tempo. Há quanto tempo você perdeu sua família, Cassie?

A voz dele era suave, como ela imaginava que a voz de um


psiquiatra seria, enquanto ele a fazia deitar no sofá e revelar a culpa
que ela sentia por só ela ter sobrevivido à brutalidade dos humanos
contra a sua família.

Ela engoliu em seco e piscou as lágrimas. Poderia viver mais


duzentos anos, mas as imagens, a fumaça, o calor escaldante, as
chamas mirando o sol como para se juntar numa labareda profana,
nunca desapareceriam completamente de sua mente.

− Cassie, há quanto tempo?

~ 330 ~
Pegasus Lançamentos

− Desde que eu era adolescente. Treze anos. Os perdi quando eu


tinha treze anos.

− Mãe, pai?

− Meus pais, irmã, três tios, duas tias e uma prima. Era um dia
bonito de verão, e eu estava procurando por uma alcateia numa floresta
perto de um rio onde eu os encontrei na primavera passada. Meu pai
continuava me avisando para ficar longe deles, aconselhando-me que
nós não éramos como eles. Que sem a nossa tendência humana, eles
poderiam ser perigosos. Mas eu não acreditava nisso.

− Eles brincavam como nós brincamos, caçavam, e protegiam


uns aos outros, assim como nós fazíamos. Eles até mesmo me deixavam
chegar perto dos filhotes da fêmea alfa e brincar com eles. Quando eu
sentia o cheiro dos lobos na área novamente, eu estava curiosa para
saber os quão diferentes eles estariam da nossa própria espécie e se
eles me aceitariam como um membro da alcateia, mesmo se eles não
tivessem me visto há mais de um ano. Apenas por diversão. − Ela
deixou escapar o fôlego em um suspiro de frustração.

Leidolf acariciou os cabelos dela, os dedos acariciando


gentilmente as costas dela, fazendo-a se sentir querida mais uma vez, o
que a aterrorizava. E se ela ficasse muito apegada a ele e ele fosse morto
também?

− Cassie?

Ela rangeu os dentes, desejando que tivesse feito algo mais,


desejando que tivesse se vingado.

− Nós éramos caçadores, comerciantes, vendíamos peles. Não


agricultores, criadores de ovelhas, ou fazendeiros como nossos vizinhos.

~ 331 ~
Pegasus Lançamentos

Nós nunca tivemos nada a ver com nenhum deles. Eles não se
importavam conosco, e nós não queríamos que eles soubessem o que
nós realmente éramos. Então ficamos longe deles e tudo estava bem.
Mas naquele dia, eu cheirei o fogo queimando vindo da direção de
nossas casas, as três cabanas não muito longe umas da outras na
floresta. Preocupei-me que a floresta estivesse em chamas. Corri para
casa, na minha forma de loba para chegar mais rapidamente. Foi
quando eu vi os homens, uma família de fazendeiros, o pai, dois filhos e
dois sobrinhos assistindo as casas queimando.

Ela tomou outra respiração profunda e pode sentir o cheiro da


fumaça acre, o ar quente queimando seus pulmões como se isto
estivesse acontecendo agora, viu as chamas se estendendo para cima
enquanto observava o fogo na lareira.

Leidolf beijou o topo de sua cabeça.

− Eu pensei que eles tinham vindo para resgatar a minha


família. Pensei que tinha chegado tarde demais, o fogo crepitando, o
calor das chamas como Hades24 enquanto as casas desmoronavam e
caíam. Eu esperava que a minha família tivesse saído a tempo. Então, o
homem mais velho disse algo como “a morte deles não vai trazer os
meus filhos e o meu sobrinho de volta, mas, pelo menos, eu não vou
precisar saber que eles estão vivendo, enquanto meus parentes estão
mortos.”

Leidolf esfregou o braço de Cassie.

− Soa como assassinato por vingança.

24Hades, na mitologia grega, é o deus do mundo inferior e dos mortos – do inferno.

~ 332 ~
Pegasus Lançamentos

− Mas pelo quê, Leidolf? Meu pai nunca gostou de Wheeler ou de


sua família. Ninguém da minha família gostava. Os meninos estavam
sempre roubando nosso comércio ou outras fazendas ao redor. Metade
do tempo, o velho estava no bar local, apostando e bebendo. Pagando
prostitutas também, quando tinha dinheiro. Era mais do que provável,
que os filhos dele se meteram em algum problema e alguém os matou.
Mas não a minha família. Eles não tinham nada a ver com o
assassinato.

Leidolf permaneceu em silêncio, mas ela não se importava se ele


não acreditava nela. Ela sabia a verdade.

− Eu odiava os Wheelers, os persegui por meses, um por um. Eu


queria matar cada um deles como eles mataram a minha família.

− Mas você não os matou, não é, Cassie?

− Eu era muito covarde. − Ela engoliu em seco.

Ele soltou a respiração.

− Você não poderia tê-los matado a sangue frio.

− Depois de perder toda a minha família, você pode apostar que


eu poderia ter matado. – Ela deu uma risada arrogante.

Novamente, ele não respondeu.

− Eu poderia. − Ela reiterou, desejando que não os tivesse


deixado viver. Então suspirou profundamente, novamente. − Eu não
poderia viver por conta própria. Não tão jovem. Não sendo uma menina.
Minhas opções eram limitadas. Ou eu tinha que ir para a cidade mais
próxima da Califórnia e viver como humana, tentando esconder o meu
lado loba, e esperar que alguém que eu não conhecia me acolhesse

~ 333 ~
Pegasus Lançamentos

como empregada doméstica ou algo assim. Eu poderia ter terminado


com alguns tipos realmente ruins. Eu simplesmente não conseguia
imaginar a minha vida assim. Ou eu poderia viver com... − Seus olhos
ficaram nebulosos. − Os lobos. Eles não se importavam que eu fosse
metade humana. Eles me aceitaram como uma da alcateia.

− Viveu em uma alcateia de lobos. Esta é razão para você


estudá-los? Inferno, é uma coisa boa que o líder alfa não tentou fazê-la
sua companheira.

Cassie mostrou um sorriso choroso.

− Ele tinha uma companheira. Apenas me certifiquei de não ser


tratada como uma ômega25, a loba no mais baixo nível hierárquico da
alcateia.

− Você será a mais elevada no nível hierárquico da minha


alcateia.

Ela acariciou seu braço musculoso.

− Hmm, bem, eu não vou ingressar numa alcateia de


lobisomens. Não tão cedo. Eu tenho trabalho a fazer. E assim que eu
termino um, vou para outro, e outro. Os lobos precisam de mim como
sua defensora.

− Eu preciso de você. Nossa espécie precisa de você. − Ele


renovou as carícias sensuais, cada ação projetada para levá-la a se
render.

25Ômega (a última letra do alfabeto grego) é muitas vezes usado para denotar o

último, o fim, ou o limite último de um conjunto, em contraste com o alfa, a primeira


letra do alfabeto grego.

~ 334 ~
Pegasus Lançamentos

E se ela não estivesse tão obstinada a não aderir a uma alcateia,


poderia ter se rendido. A declaração de que ele precisava dela poderia
ter feito isto, mas foi seguida muito de perto por “nossa espécie precisa
de você” e foi isso que a trouxe de volta para seus sentidos. Para o bem
de sua espécie. Mas e quanto ao bem dos lobos? Eles não eram tão
importantes no esquema das coisas, pelo ponto de vista dos
lobisomens. Mas eles eram para Cassie.

Ela suspirou e fechou os olhos, amando o jeito que ele a tocava,


desejando o que ele estava oferecendo, mas não a ponto de ceder. Do
jeito que ele falou, não tinha nenhum interesse nos lobos comuns e em
seus filhotes. Apenas numa lobisomem que ele queria fazer de
companheira.

− A verdade é que meu ombro está muito melhor. − Ela olhou


para ele. − Eu preciso voltar ao trabalho.

Ele passou os braços em torno dela e franziu a testa.

− Você não pode ir a qualquer lugar agora. Não despida como


está. E não até o anoitecer em sua de forma loba.

− Você tem que me deixar ir. – A voz de Cassie beirava a um


rosnado. Ela arriscaria tudo para localizar a mãe e os filhotes para
garantir que eles fossem alimentados e protegidos.

− Por quê? O que é tão importante sobre a sua pesquisa que


você apostou correr como uma loba e acabou sendo baleada por isto?

Ela ouvia a sua tentativa de manter a voz calma, mas a irritação


o entregou.

Ela não tinha escolha a não ser dizer a ele. Inferno, ele podia até
ser razoável sobre o assunto. Mas duvidava.

~ 335 ~
Pegasus Lançamentos

− O importante é a sobrevivência de uma loba e seus filhotes.


Eles não têm ninguém para protegê-los. Nenhum macho alfa. Nenhuma
alcateia.

Ele não disse nada por um bom tempo. Qualquer coisa seria
melhor do que o silêncio. Então, como se pensasse que ela ainda estava
mentindo, ele disse calmamente:

− A loba é uma lobisomem.

Ela estreitou os olhos para ele.

− Eu ouvi os filhotes. Ela é estritamente uma loba, não uma


lobisomem. Uma lobisomem não teria filhotes na natureza.

− Ela se comportou como uma de nossa espécie. Encontrei a


trilha dela e a segui até um riacho, mas depois ela me despistou. E
acredite em mim, nenhuma loba que esteve na área recentemente teria
me evitado. Exceto uma lobisomem como você. Era como se ela tivesse
processos do pensamento humano, que ela soubesse exatamente como
eu a procuraria, e ela fez o inesperado.

Uma estranha sensação formigou através da coluna vertebral


dela. Há muito tempo atrás, sua irmã e sua prima despistavam umas as
outras usando o truque da água. Não que a manobra fosse
exclusivamente conhecida só por elas, mas, ainda assim, sentiu um frio
fantasmagórico de reconhecimento. Que ela e sua irmã, Rhoda, e a
prima, Aimee, usaram o mesmo artifício em jogos de fuga e evasão.

Tentando ignorar a sensação estranha deslizando através de


seus ossos, Cassie pensou nas vezes que elas perseguiam umas as
outras através do rio, e inventavam histórias assustadoras, ela respirou

~ 336 ~
Pegasus Lançamentos

fundo, falavam sobre o tipo de companheiro que elas queriam quando


estivessem mais velhas.

Não parecia correto que ela fosse a única das três meninas a ter
um companheiro. Ela cerrou os dentes, então reiterou:

− A fêmea que eu encontrei tinha filhotes.

− Tudo bem. − Ele não soou como se concordasse com ela. − E


se há duas delas lá fora? Uma loba com filhotes, e a outra loba, uma
lobisomem.

Apesar de se odiar por isso, as lágrimas umedeceram seus olhos.


Ela rapidamente as eliminou, mas ele notou, como ele parecia perceber
acerca de tudo o que ela fazia ou dizia.

− Talvez.

Cassie não achava que seria possível que outra lobisomem


estivesse correndo ao redor da floresta, a qual não fazia parte da
alcateia do Leidolf.

− A menos que você seja nova neste negócio, você tem que saber
que proteger a nossa própria espécie tem prioridade sobre cuidar de
uma loba selvagem. – A voz dele tinha uma leve aspereza, voltou a ser o
dominador, ao invés de ser autocomplacente.

Ela estreitou os olhos para ele.

− Não é apenas uma loba selvagem, caramba. – Ele era incapaz


de ver o quão importante era para ela. – É uma mãe e seus filhotes.

− Lobos selvagens, ainda. O que você estava pensando?

~ 337 ~
Pegasus Lançamentos

− Em salvá-los! O que você acha? − Ela pôs os punhos no peito


dele.

Leidolf deixou escapar um suspiro de exasperação. Ela riu para


si mesma. Aqui ela estava, pensando que estar com um de sua espécie,
com sua alcateia também, poderia ser vagamente viável, se ele
concordasse com suas condições. Agora, ela descobriu que ele havia
acabado de rir do que ela proporia, e por isso ela não estava prestes a
mencionar mais nada.

E então ele disse o inesperado.

− Você percebe que a sua necessidade de salvar a loba e os


filhotes tem haver com um desejo profundo de ter seus próprios bebês.

Surpresa como o inferno que ele pensasse dessa forma, sentou


rapidamente. Claro, pensava em ter seus próprios bebês. Tudo isto ela
atribuiu a primavera, a loba e a ninhada e aos feromônios de Leidolf,
que a estimulavam, mas não precisa de nenhum macho alfa lembrando-
a disso, caramba. Não queria nem pensar em algo similar.

Nunca. Bebês significavam se estabelecer permanentemente. E


ela realmente não estava pronta para isso.

Ela se levantou, de joelhos sobre a cama de folhas de pinheiro,


montada nele de uma forma provocante, com a cabeça acima do rei, e
se estivesse ostentando uma cauda agora, ela estaria erguida bem alta,
também, mostrando sua dominação, ao invés da subordinação ao
poderoso líder.

Ele parecia satisfeito com a posição dela, o olhar dele se


estabeleceu em seus seios, o jeito que ela tinha as pernas abertas sobre

~ 338 ~
Pegasus Lançamentos

ele, como se convidando-o, e ela sentiu a pele corar. Ele sorriu e, em


seguida, cruzou os braços atrás da cabeça.

− Outro problema, no entanto, que eu não estava pensando.


Sem lua por um tempo.

− Lua nova. – Ela disse baixinho. Inferno, se ele a visse se


transformar na lua nova, ele perceberia imediatamente que ela era da
realeza, já que só eles se transformavam durante essa fase da lua.
Então ele a quereria ainda mais.

Ela nunca prestou atenção nos ciclos da lua, uma vez que, como
realeza, ela não era afetada de uma forma ou de outra, então nem
percebeu que já era aquele período.

− Tudo bem. Então procure pela lobisomem e acasale com ela.


Vou cuidar da outra loba e dos filhotes ao mesmo tempo.

− Sem nenhuma roupa para vestir? − Ele balançou a cabeça.

− Ok, então eu vou ficar aqui enquanto você encontra as lobas.


Apenas lembre-se de voltar dentro de um período razoável de tempo,
com roupas para mim.

− Por mais sincera que você seja, eu não acredito que você não
fugiria nua para procurar a loba e os filhotes. − Ele estendeu os braços
para frente e colocou as mãos sobre as coxas dela e acariciou sua pele.

Seu toque a fez ficar molhada para ele, e ela lutou bravamente
para não se alinhar ao longo da sua ereção e simplesmente ceder a suas
necessidades sexuais.

~ 339 ~
Pegasus Lançamentos

− Se a outra loba é uma lobisomem, ela estará mudando de volta


para a forma humana, também. Quer dizer, provavelmente já mudou.
Então, ela estará congelando e precisando da nossa ajuda.

− Se ela não for da realeza. − As mãos dele pararam na junção


das coxas dela, os polegares acariciando sedutoramente suas coxas.

− Viu? Se ela for, o problema está resolvido. Ela seria da realeza.


Você também é. O casal perfeito − então ela pensou em outro ponto de
discórdia. − Oh, exceto por um problema. Você já tem outra fêmea
vermelha arranjada. − Ela deu de ombros, tentando ser indiferente
quando isto realmente a incomodava, tornando-a ciumenta. − Se a que
você vai procurar agora não der certo, ainda permanecerá a outra
opção.

Ela pretendia descer dele, mas ele agarrou seu pulso e franziu a
testa.

− Que outra mulher?

− A escritora de romances? Julia Wildthorn? − Cassie revirou os


olhos. − Não me diga que já esqueceu o seu encontro com ela.

− Julia... − As sobrancelhas de Leidolf se levantaram em


reconhecimento. − Inferno, isto é coisa da Laney e do Elgin. Ambos são
casamenteiros. Como você... − Ele deu um pequeno sorriso diabólico. −
Você bisbilhotou na minha mesa?

Ela sentiu o rosto esquentar de vergonha e tentou se recuperar


sem mostrar muita irritação.

− Eu tive que ir até sua mesa enquanto tentava escapar do seu


quarto, e apenas aconteceu de ver o livro aberto na foto dela e a nota na

~ 340 ~
Pegasus Lançamentos

sua agenda. E não havia mais nenhum outro livro à vista. Então, o que
você acha que eu entendi disto?

Assim que ela falou, ficou com raiva de si mesma por explicar
algumas de suas ações para ele, mesmo que uma parte fosse invenção.
Então fez a pergunta que estava morrendo de vontade de saber a
resposta e imediatamente sentiu vontade de se chutar por perguntar.

− O que você acha dos livros de romance dela? − Com certeza


não queria que ele pensasse que ela se importava. Mesmo que se
importasse muito.

Um lampejo de diversão atravessou o rosto dele. Então ele ficou


sério.

− Eu não concordo com ela, acho que ela não deveria escrevê-
los. Muito fácil dar, acidentalmente, pistas verdadeiras sobre nós. E
você nunca sabe quando as pessoas podem pensar que ela está se
baseando em lobisomens de verdade. Que nós realmente existimos.

Cassie sorriu, feliz que ele não apreciava muito a ocupação de


Julia. Então, ela franziu a testa. Ele provavelmente não apreciava a
dela, também.

− Deixe-me ir, Leidolf. Eu não estou na sua alcateia, e eu não


estou procurando um companheiro.

− Eu não estou à procura de qualquer outra mulher. Não


quando eu já encontrei a minha companheira.

Então ele a soltou, e ela rapidamente se afastou dele. Ele estava


de pé tão rapidamente que a lembrou de um lobo se preparando para
derrubar sua presa.

~ 341 ~
Pegasus Lançamentos

− Você sabe o que eu gosto em você, Cassie?

− Não, mas eu suspeito que você vai me dizer. − Ela se afastou


dele enquanto ele caminhava em sua direção. Ela percebeu que ele
estava a encurralando em um canto da cabana.

− Você é sagaz, obstinada com uma causa, apesar de que eu não


concordo com ela, sensível às minhas necessidades... − Ele sorriu
quando ela sorriu.

Ele é tãaaao arrogante!

− Eu amo como você me desafia com estes seus olhos verdes


sensuais, nunca recuando, nem mesmo quando está envergonhada,
nem mesmo quando sabe que vai perder.

− Você acha que eu vou perder se eu me tornar sua


companheira? – As costas dela bateram na parede.

Ele sorriu maliciosamente.

− Nós dois seremos vencedores, então. − Ele a enjaulou,


apoiando as mãos na parede ao lado da cabeça dela, o olhar focado no
dela, o corpo perto, o cheiro amadeirado dele a atormentava, o toque do
calor corporal era bem-vindo. − Não, eu estou falando de perder... Nos
argumentos. Eu sempre vou ganhar.

− Sempre?

Ele enfiou os dedos nos cabelos dela e, em seguida, agarrou


algumas mechas, enquanto baixava o rosto para encontrar o dela.

− Sempre. − Ele sussurrou, e ela pensou que derreteria,


concordando com qualquer coisa.

~ 342 ~
Pegasus Lançamentos

Ele ia beijá-la, e por mais que ela soubesse que não deveria
permitir isto, que nada de bom viria disto, ela fechou os olhos e inclinou
a cabeça para cima, antecipando o beijo, a fome, o impulso, a
ferocidade deste. Quando nada aconteceu, olhou para ele, um pouco
surpresa e muito desapontada.

Ele tinha o mesmo sorriso imenso de antes, e ela empurrou as


mãos espalmadas contra o peito dele, para empurrá-lo para fora do seu
caminho. Ele era muito musculoso, ela não conseguia movê-lo. Ele
sorriu um pouco mais, no entanto. Leidolf estava se divertindo por ela
ter revelado o quanto o queria, mesmo dizendo não o tempo todo?

E então ele segurou o rosto dela entre as mãos e a beijou. Um


beijo suave, tão leve que foi como o toque delicado de asas de borboleta,
vibrando contra seus lábios sensíveis, mas foi o suficiente para iniciar
um lento incêndio dentro dela. Fazendo-a querer muito mais.

Foi quando ela estendeu as mãos em torno dos braços


musculosos e se esticou para beijá-lo mais fortemente. Não tão forte,
mas apenas o suficiente para ele se lembrar de que ela teria a chance
de conhecer um cara humano bonito e ter um caso de uma noite.
Porque depois de estar com o Senhor Totalmente Quente e Tentador, ela
teria que ter suas necessidades atendidas de alguma forma, ou ela
explodiria em chamas com o desejo insatisfeito.

O seu beijo mais exigente ficou sem resposta. E ela sentiu um


pouco mais do que decepção novamente. Entretanto, percebeu que ele
estava se segurando a menos que ela concordasse em ser sua
companheira. Exigindo o seu afeto. Ainda assim, ela só queria um beijo.
Então, subiu as mãos rapidamente e descansou-as na parte de trás da
cabeça dele, segurando-o onde ela o queria. Então o beijou
impetuosamente. Ele respondeu de forma demasiada, deslizando os

~ 343 ~
Pegasus Lançamentos

braços atrás das costas dela, entre ela e a parede, e a pressionou contra
sua ereção, pulsando com o desejo.

Os lábios dele ainda estavam evasivos, mesmo que o resto do


corpo falasse a favor de querer muito mais. Então, quando ela tocou a
língua dele, ele a devorou como se uma maldita represa, que retinha as
águas de uma tempestade, havia se rompido. Feroz e determinado,
quente e exigente.

E ela respondeu descaradamente, caindo sob o feitiço do líder


alfa, a língua dela provando, tocando e exigindo a dele, os dedos
curvando-se nos cabelos acetinados dele, o corpo derretendo contra o
dele, despertos, vivos, desejosos.

Mas, de repente, Leidolf se afastou, os olhos escurecidos e


nublados com luxúria.

− Inferno, mulher. Se você não está pronta para me aceitar como


companheiro, não me beije desse jeito.

Ela quase gemeu quando ele se afastou.

− Eu só queria saber qual seria a sensação de ser beijada por


alguém como você.

Ele estendeu a mão para os ombros dela, e os esfregou com os


polegares, uma ação possessiva, mas amorosa.

− Você não queria ser beijada por qualquer um, Cassie. Apenas
por mim. − Sua voz estava rouca e áspera com a necessidade, e ele
encostou a cabeça na dela.

− O seu ombro está realmente bem?

~ 344 ~
Pegasus Lançamentos

− Melhor. − Desta vez, ela não contou uma mentira. A ferida


estava cicatrizando e o ombro estava menos dolorido, mas mesmo
assim, não queria mexer com ele. − E se... − Ela hesitou em fazer a
pergunta. Estava morrendo de vontade de tê-lo, mas não estava
disposta a ir até o fim. − E se nós apenas déssemos uns amassos?

~ 345 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte

Leidolf arqueou uma sobrancelha, com as mãos descansando na


cintura estreita de Cassie, não acreditando no que ela acabou de
propor. Dar uns amassos? Nada mais? Ele lutou para não dar um
sorriso de satisfação. Inferno, ela o queria, e estava disposta a
aproveitar parcialmente. Ela não seria capaz de parar por ali por muito
tempo. Ela deu a abertura que ele estava esperando.

− Sem acasalamento. Nós poderíamos ficar terrivelmente perto


da coisa de fato. Apenas para satisfazer alguma... Necessidade
primitiva. − Ela soava um pouco insegura.

− Sexo sem penetração. – Ele tinha que saber o que ela desejava,
não querendo ir muito longe se aquela não fosse a intenção dela. estava
matando-o não carregá-la de volta para a cama improvisada e torná-la
sua companheira.

− Ou não. Foi apenas uma ideia.

Ela já estava se distanciando. O que ele não aceitaria.

Ele deslizou os dedos entre as pernas dela e acariciou os úmidos


lábios femininos.

− Apenas isso? − Ele lambeu a orelha dela. A mão livre segurou o


seio dela, o polegar e os dedos acariciando o monte carnudo com um
movimento circular.

~ 346 ~
Pegasus Lançamentos

− É isso o que você quer? − Ele falou sedutor, solicitando a


rendição dela. Os dedos esfregando a protuberância sensível, já
inchada, cada terminação nervosa gritando por mais. Ela estava pronta
para ele, provavelmente por um maldito longo tempo, de tão molhada e
preparada como ela estava.

Ela estendeu a mão para acariciar o seu pau, mas ele parou a
mão dela.

− Eu quero você toda, Cassie. O sexo, o acasalamento, a


companheira que vai se unir a mim... Acordar com você todas as
manhãs, tirar cochilos preguiçosos de lobo com você no meio do dia.
Mas, por agora, eu vou dar apenas o que você quer.

Leidolf não tinha certeza se conseguiria se segurar. Não do jeito


que ele se sentia com ela. Os mamilos endurecidos dela, os cachos
encharcados entre as pernas, e a fragrância erógena, tudo indicava que
ele era a pessoa certa para ela. Nenhum outro.

Ele realmente almejava tê-la para mais do que sexo. Com Cassie,
ele queria sossegar, e achava que finalmente teria o que estava
procurando, algo que dissolveria a sua necessidade de encontrar
desculpas para fugir da alcateia e refugiar-se no seu próprio recanto
solitário.

Ele não precisaria mais, se sempre a tivesse por perto.

Ela estendeu as mãos de novo para ele, mas ele não a deixaria
tocá-lo. Estava pronto para estourar, muito perto. Mas, antecipar o
prazer fazia tudo ainda mais erótico.

~ 347 ~
Pegasus Lançamentos

− E eu que pensei que você fosse o lobo mau... − Ela murmurou


contra seu rosto, as mãos descendo pelos braços em uma carícia
tentadora.

− Eu sou. − Ele sussurrou no cabelo dela, a respiração tocando-


lhe a orelha, as mãos segurando seu rosto. Ele se inclinou para tomar
um mamilo entre os lábios, a língua provocando rapidamente o botão
duro.

Ela teria deslizado pela parede se ele não a tivesse erguido nos
braços e a levado de volta para a cama.

− Como é melhor para o seu ombro, Cassie?

− De qualquer maneira que você quiser fazer isso. − A voz dela


era ofegante de desejo.

Ele deu um pequeno sorriso. O jeito que ele queria fazer, era se
enterrar profundamente dentro dela e a fazer sua companheira agora e
sempre. Mas tinha certeza de que não era isto o que ela quis dizer,
entretanto, ele sentia que poderia forçá-la a desejá-lo a longo prazo, se
manejasse corretamente o jogo da sedução.

Ele queria deitá-la, relaxando o ombro, para que pudesse


mostrar exatamente como ele poderia lhe dar o prazer máximo. Porém,
ela rapidamente mudou os planos dele. Ela o fez deitar e, em seguida,
colocou-se em cima dele, os lábios femininos molhados pressionados
eroticamente contra seu pau latejante. Sabia que ela queria provocá-lo
até a morte com seus encantos sedutores. Ele estava disposto a tê-la de
qualquer maneira que pudesse, também.

− Gosta de estar em cima, não é? − Ele pegou as mãos dela,


agarrou-as e a puxou mais para perto.

~ 348 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu gosto de estar no controle do meu destino, já que tantas


vezes no passado... − Ela parou de falar, e uma sombra do seu passado
doloroso assombrou sua expressão.

Ele se perguntou quais outras dificuldades ela encontrou para


fazê-la desconfiar tanto de uma alcateia, e tinha toda a intenção de
afastar cada uma de suas preocupações.

− É realmente difícil para mim ficar perto de você assim, Cassie,


sem... Finalizar corretamente.

Ela torceu a boca. Suas pernas permaneceram espalhadas para


ele, a doce abertura implorando para ele preenchê-la, se ela
concordasse com o compromisso.

Ela não estava aceitando a sua sugestão, todavia, então ele


pousou as mãos sobre as pernas dela, os polegares acariciando a carne
do interior de suas coxas. Ela abriu as pernas ainda mais, os lábios
femininos pressionando mais pesadamente contra sua ereção. Ele
gemeu baixo.

Ela sorriu maliciosamente. Megera.

Ele roçou os polegares contra a fenda feminina entre as pernas


dela, e ela começou a delirar. Ele desejava tê-la debaixo dele, onde
poderia chupar seus mamilos doces e beijar sua boca tentadora e
queria estar em cima, no controle, possuindo-a. Somente quando ela
aceitasse ser dele. E então ele poderia transar com ela, de qualquer
forma ou em qualquer momento que ela desejasse.

Ele mergulhou os dedos em sua umidade e, em seguida, circulou


o clitóris inchado com um toque provocador. Ela fechou os olhos, a
boca aberta, e um gemido rouco escapou de seus lábios.

~ 349 ~
Pegasus Lançamentos

Ela arqueou as costas e deslizou contra seu pênis. Então ela


abriu os olhos e deu um pequeno sorriso diabólico. Inclinando-se, ela
beijou a testa dele, e assim ela fez isso, ele segurou os dois seios
generosos no seu aperto ganancioso.

Mas a atenção dele se voltou para os lábios macios roçando a


bochecha dele, abaixando-se calmamente até que ela capturou sua
boca.

Em seguida, as mãos dela estavam nos mamilos dele, as pontas


dos dedos persuadindo-os à submissão.

E a língua dela. Doce deuses, a língua abriu os lábios dele e, em


seguida, enfiou-se dentro de sua boca como ele queria fazer com seu
pênis entre as pernas dela.

Foi quando ele assumiu o controle e gentilmente deitou Cassie.


Seus olhos estavam escurecidos pelo desejo, e ela parecia envolvida na
paixão do momento, quase disposta a se render. Pelo menos ela parecia
assim. Ou poderia ser um caso de ansiedade desesperada da parte dele.

Mas, vendo-a com os joelhos dobrados, as pernas abertas para


ele, o olhar dizendo que ela o queria tanto quanto ele a queria, odiou
não satisfazer as necessidades primitivas dos dois.

Ainda assim, ele se ajustou entre as pernas dela e cobriu sua


boca com a dele. Sua língua arrastou-se em torno da dela numa erótica
e devastadora dança. Os dedos moldaram-se em torno dos seios dela,
enquanto os polegares acariciavam os mamilos inchados, e sua ereção
pesada pressionava contra a abertura dela.

E então ele separou os lábios femininos com os dedos e


pressionou o comprimento de seu pênis entre eles, deslizando contra o

~ 350 ~
Pegasus Lançamentos

seu clitóris, o erotismo do atrito entre eles satisfazia um pouco da sua


necessidade essencial. Embora ele ainda quisesse estar dentro dela.

Mais rápido e vigorosamente ele se movia, adicionando


combustível ao fogo que já aquecia seu sangue. Ela agarrou o cabelo
dele e separou os lábios. A boca dele se aproveitou do seu convite livre.
Beijos tempestuosos foram adicionados ao clímax crescente, até que ela
começou a chupar. Primeiro suavemente, depois com mais força, mais
rapidamente, e ele não aguentava mais, a respiração rápida, o coração
batendo em um ritmo frenético. Deslizando os dedos no clitóris, ele a
acariciou até que ela gritou, um brilho de leve transpiração e um olhar
da pecaminosa satisfação no rosto dela.

Ele sentiu o mundo explodir em volta dele quando gozou


também, derramando sua semente em cima dela. A culpa era dela por
não permitir mergulhar desesperadamente dentro dela, onde ele
pertencia.

Ela deu um sorriso maliciosamente delicioso, as mãos


segurando os braços dele e puxando-o para cima do seu estômago.

− Hmmm, você é bom.

− Poderia ter sido muito melhor. − Ele beijou os lábios macios,


ouviu o coração dela ainda acelerado e tomou uma respiração profunda
da maneira como ela cheirava, ainda totalmente excitada.

− Nada poderia ser melhor. – Ela colocou os braços ao redor


dele.

Porque não haveria nenhum compromisso. Mas já havia. Ele


passou os dedos pelos cabelos sedosos dela e beijou sua bochecha. Ele
pensou que ela iria dizer algo sobre procurar a loba, mas ela não disse

~ 351 ~
Pegasus Lançamentos

mais nada. Em vez disso, ela deu um suspiro quebrado e fechou os


olhos.

− Ah, Cassie, você é uma maravilha. − Ele saiu de cima dela e a


puxou suavemente para seus braços, ainda preocupado com o ombro
dela. Outras duas horas de descanso lhe fariam um bem imenso. E a
ele também. Até que a questão das duas lobas vermelhas correndo
soltas na floresta pudesse ser resolvida.

Quando eles acordaram, Leidolf abraçou Cassie mais apertado.


O fogo ainda ardia na lareira e a cabana ainda estava quentinha. Ele
beijou sua testa e ela suspirou, um suspiro sexy e bem satisfeito. Ele
soltou a própria respiração, não gostando das opções que eles
precisavam enfrentar.

− Eu procuraria as lobas sozinho, mas não quero deixá-la aqui


sozinha.

Ela não disse nada, apenas brincava com o mamilo dele,


atiçando a compulsão dele para com ela novamente. Era dia, ainda não
era o melhor momento para ele sair na sua forma de lobo, procurando
as outras lobas de qualquer maneira. E se ela queria voltar a se
divertir...

Ela colocou as mãos atrás da cabeça dele e olhou em seus olhos.


Isso não era sobre sexo, ele imaginou. Algo mais profundo. Outro
segredo?

~ 352 ~
Pegasus Lançamentos

Ele passou as mãos pelas costas dela em um movimento suave,


esperando que ela falasse o que estava em sua mente. Em seguida, ela
deitou a cabeça no peito dele, e ele temia que ela decidisse não falar
sobre o que a estava incomodando. Com os membros da sua alcateia,
ele muitas vezes os deixava falar quando estivessem prontos. Mas com
Cassie, temia que o assunto que a estava perturbando se interporia
entre eles, e ela nunca contaria o segredo.

− Cassie?

Cassie sabia que não deveria revelar a verdade para Leidolf, mas
não tinha escolha. Se ele estava disposto a procurar a loba e os filhotes,
ela tinha que ser honesta. O seu plano anterior de tentar localizá-los
depois que Leidolf a deixasse sozinha poderia não funcionar. Ela estava
com medo que ele a quisesse ainda mais do que ele já queria agora. Ela
levantou a cabeça de novo e olhou em seus olhos preocupados.

− Eu posso me transformar em loba, apesar da lua nova lá fora.

Ele olhou para ela por um minuto como se estivesse tentando


determinar se estava sendo sincera naquele momento.

− Você não é recém-transformada. − Ele não fez uma pergunta,


mas parecia incrédulo.

− Eu achei que você já tivesse adivinhado. − Ela encolheu os


ombros.

Ele abriu um largo sorriso e passou as mãos pelos cabelos dela


novamente e esfregou o rosto contra os fios.

− Inferno, você é da realeza. Isso é outra coisa que eu gosto em


você. Você é quase tão tortuosa quanto eu sou quando me convém.

~ 353 ~
Pegasus Lançamentos

− Você não me deixou escolha.

− Ótimo. Eu teria descoberto a verdade logo, não se engane


sobre isso. Então vamos nos transformar e correr juntos, desde que
você possa aguentar bem com este seu ombro.

Tão arrogante!

− Colocando nós dois como alvos? Não seria melhor se nós


separássemos as forças? − Parte dela achava que era a melhor ideia,
embora realmente o quisesse perto desta vez. E isso a assustava. Ela já
estava confiando muito nele para ser seu herói?

− Não. Eu não vou deixar você longe da minha vista. Lembra o


que aconteceu da última vez que você esteve por conta própria? Não
estará escuro por um par de horas. Vou pegar alguns peixes, e nós
podemos cozinhá-los na lareira. Quando escurecer, nós vamos procurar
as lobas.

O que deveria ser uma coisa boa. Para uma certa loba sim, com
os filhotes e tudo mais.

Mas, Cassie já não gostava muito que ele quisesse encontrar a


outra loba. E ela nunca teve ciúmes em sua vida.

− E quanto aos seus homens? Será que eles não virão procurar
por nós? − Ela perguntou lambendo seu mamilo. Jurava que ele gemeu
um pouco em resposta.

− Não tão cedo.

− Você me queria só para você. − Ela franziu a testa para ele.

~ 354 ~
Pegasus Lançamentos

− Você foi aquela que fugiu. Eu não queria a realeza da minha


alcateia se transformando, nadando pelo rio, e correndo pela floresta
atrás de você.

− Você me queria só para você. − Ela repetiu timidamente.

Ele sorriu e segurou a bunda dela com as duas grandes mãos.

− Qualquer motivo serviria. Fique aqui enquanto eu vou pegar


alguns peixes.

− Eu preciso me lavar.

Ele tocou a pele abaixo do ferimento dela.

− Você precisa descansar um pouco mais antes de mudar


novamente. Você se extenuará do jeito que está. Então, depois de se
lavar, eu quero que você volte direto para cá e descanse mais.

Então ele a beijou longamente, profundamente e fortemente,


com as mãos na cintura dela, o corpo pressionado levemente contra o
dela, tocando, buscando mais.

− Vamos lá. − No entanto, ele levou mais tempo do que o


necessário para soltá-la, como se ele estivesse tentando pensar numa
maneira de convencê-la a se render a ele agora. Para tornar-se a sua
companheira.

Então ele lançou um sorriso diabólico, beijou-lhe a testa, e


levantou da cama de folhas de pinheiro para ajudá-la a ficar em pé.

Mas algo havia mudado no relacionamento deles, apesar dela


pensar que nada mudaria com uma sessão quente de sexo,
estritamente o tipo de uma ficada só. Ele olhava para ela mais

~ 355 ~
Pegasus Lançamentos

ternamente agora, enquanto tirava algumas folhas de pinheiro de seu


cabelo. Como se ela tivesse se tornado sua companheira, mesmo que
eles não tivessem acasalado. Como se a pressão tivesse acabado.

− Com medo de que a água esteja muito fria? − Ele apontou para
um velho balde de metal. − Eu poderia encher com água e aquecê-lo em
cima da lareira e você poderia se lavar dessa maneira.

− Ou eu poderia me transformar.

Antes que ele pudesse dizer outra palavra, ela mudou de forma.
A boca dele caiu um pouco de surpresa. De jeito nenhum ela iria se
banhar na forma humana com água de neve derretida.

Ele balançou a cabeça e abriu a porta.

− É um ato corajoso de alguma forma.

Ela tinha coragem, e cérebro também. Ela correu para o riacho


que fluía rapidamente e pulou para dentro, espirrando água para todo
lado, mordendo as gotículas com as mandíbulas poderosas, incapaz de
controlar essa parte dela que vinha tão naturalmente nos lobos, a
vontade de brincar quando nenhuma ameaça de perigo existia.

Leidolf riu da margem, e ela virou para vê-lo olhando para ela,
com os braços cruzados sobre o peito nu, com os olhos brilhando de
prazer.

Naquele instante, ela se perguntou de novo se de alguma forma


eles poderiam se comprometer. Ela poderia se tornar sua companheira
e experimentar o melhor sexo que já teve, desde que ele a permitisse
conduzir sua pesquisa desimpedida posteriormente.

~ 356 ~
Pegasus Lançamentos

Certo. Uma vez que ele acasalasse com ela, não permitiria deixá-
lo nunca, assim como ele não permitiria que ela saísse de sua vista, e
eles nem sequer eram acasalados!

Leidolf observou as emoções no rosto de Cassie enquanto ela


estava como loba no riacho, e se perguntou o que elas significavam. Ela
tinha um jeito intenso de olhar quando estava pensando
profundamente, e ele sabia que tinha que ser sobre os dois. Foi ele
rindo dela, enquanto ela brincava como se fosse um filhote de lobo em
sua primeira aventura, que chamou a atenção dela? Ele caminhou para
frente, a brisa fria chicoteando sua pele aquecida. A mulher seria a
morte dele, se não pudesse acasalar com ela em breve. Ele finalmente
encontrou sua parceira da realeza, e mesmo assim, aquilo não era tudo
o que o atraía. Ela poderia ser uma recém-transformada que não
importaria.

Tudo o que sabia era que a queria como nunca quis nenhuma
outra mulher. Sua irmã gêmea tinha razão. Lelandi havia dito um dia
que ele encontraria a mulher dos seus sonhos e nenhuma outra mulher
serviria. Apesar de acreditar que o que ela falou era um total absurdo,
percebia agora que Darien, o lobo cinzento que ela escolheu como
companheiro, só poderia ter sido a primeira e única escolha dela.

Ele respirou fundo o ar frio.

Cassie era a escolha dele. Ele se perguntou o que Lelandi diria


sobre isso. Sua mãe estaria ali num piscar de olhos, acolhendo Cassie
na família antes que a pequena loba vermelha até mesmo concordasse

~ 357 ~
Pegasus Lançamentos

em ser sua companheira. Seu pai cadeirante iria, sem dúvida, dar-lhe
um olhar severo e mandar que ele se comportasse bem com Cassie ou a
perderia.

Leidolf balançou a cabeça. De qualquer maneira, não acreditava


que Cassie o quisesse. O problema vinha do passado dela. Ela viveu
como uma solitária por muito tempo, certamente não tinha nada a ver
com ele não sendo atraente para ela.

Ele andou para dentro do riacho, indo diretamente para Cassie.


No momento, planejava fazê-la esquecer os peixes. O olhar dela
permaneceu trancado no dele, tentando entendê-lo, para determinar o
que ele estava tramando. Ele estava pronto para brincar com sua
pequena loba vermelha. Isto era o que ele estava tramando.

Assim que ele mergulhou para ela, ela saiu correndo,


espalhando água do riacho. Ele riu quando afundou, a água gelada até
o queixo barbudo.

− Você nunca vai fugir de mim, Cassie.

E isso era uma promessa. Só tinha que elaborar um plano para


convencê-la daquilo que ele já sabia em seu coração, e que era verdade
para os dois. Eles estavam destinados a serem companheiros.

Cautelosamente, ela veio por trás dele e o cutucou na bunda


com o nariz. Ele sorriu.

− Você vai se arrepender disso, querida.

Ele virou e a agarrou pelo pescoço peludo, mas ela saiu da


pegada dele, e mergulhou na água fria. A perseguição era metade da
diversão. Ele ficou de pé e correu na água rasa atrás dela. Ela sorriu
para ele enquanto o esperava se aproximar.

~ 358 ~
Pegasus Lançamentos

Logo, ele esperava, agarraria sua companheira e ganharia o jogo.

No riacho onde Leidolf havia cruzado, Elgin e Fergus


conversavam perto, enquanto Satros estava sentado em um toco de
árvore há uma centena de metros de distância, e Carver olhava através
do riacho, observando qualquer sinal de retorno de Leidolf. Esperava
que ele tivesse Cassie sob controle, e a trouxesse de volta para a
alcateia em breve. A mulher era justamente o que Leidolf precisava.
Muitas vezes nos últimos meses nos quais Leidolf era o líder, ele havia
fugido para cuidar de negócios da alcateia em locais bem distantes. Mas
Carver sabia que Leidolf fez isto, em parte, na esperança de descobrir
uma companheira em algum outro lugar e voltar à alcateia para
começar uma família. Carver suspirou. Ele conhecia o sentimento, a
saudade, o desejo. Ele deveria estar satisfeito por ter tido uma
companheira que ele amou de todo o coração, e que lhe deu duas filhas
lindas. Ele desejava que fosse ele no acidente de carro, e queria que as
meninas ainda tivessem a mãe.

Ele estreitou os olhos, enquanto observava os arredores do local


onde a loba vermelha correu pela floresta através do riacho. Ele queria
ir atrás desesperadamente, para saber se ela era uma lobisomem, e
para trazê-la em segurança para a alcateia se ela fosse.

− O que você está pensando? − Elgin chegou ao lado de Carver.

− Eu quero muito ir atrás deles. Leidolf, Cassie, e a vermelha


desconhecida.

~ 359 ~
Pegasus Lançamentos

− A vermelha desconhecida principalmente. − Elgin observou.

− Todos eles. – Carver não se importava se soava nervoso.

− Leidolf quer fazer isso sozinho. Ele era um solitário, antes que
viesse até nós para assumir a alcateia. Ele precisa de um tempo longe
do grupo, algumas vezes, para obter o senso de equilíbrio. Sem falar
que a mocinha é, provavelmente, uma solitária também. Ele precisa
ficar sozinho com a mulher.

Carver caminhou até o rio, as pontas de suas botas cutucando a


beira da água.

− E a outra?

− Ela pode ser apenas uma loba selvagem.

− Ou ela pode ser uma lobisomem. Nós não saberemos até


encontrá-la.

Elgin balançou a cabeça e cruzou os braços.

− Leidolf quis que nós avisássemos os outros onde ele estava.


Nada mais. Fergus levou Alex, aquele biólogo, para um hotel distante,
duas horas mais longe do que ele queria, deixando-o pensar que não
havia outros disponíveis, devido a uma exposição de carros antigos na
área. Então ele está controlado no momento. Nós levamos a
caminhonete de Cassie para a fazenda.

Elgin olhou para outro lado do rio, a floresta resplandecente.

− O Jaguar está novamente na garagem, onde vai continuar a


juntar mais poeira até que Leidolf nos diga para vendê-lo. Evan está lá,
sã e salvo. Sarge está sob forte vigilância. Não são apenas Pierce e

~ 360 ~
Pegasus Lançamentos

Quincy a vigiá-lo, mas outros dois homens também estão, e deixaram


as algemas do xerife nele até o retorno de Leidolf. E nós fizemos o que
ele nos pediu para fazer. Agora, ou nós voltamos para a fazenda e
esperamos notícias futuramente, ou ficamos aqui e esperamos por ele.

Elgin soltou a respiração.

− Outra questão, também. Irving e Tynan retornaram. Irving


disse que falaria apenas para Leidolf sobre o que eles estavam fazendo.

Carver poupou-lhe um olhar.

− E você perguntou, é claro.

− Você sabe como eles são. Eles poderiam não estar fazendo
nada de errado no que dizia respeito ao antigo líder. Eles não acreditam
que devem explicações a ninguém. Eu suspeito que estejam fazendo
algo ruim, mas não tenho como provar nada. Eles pareciam
malditamente abalados que nós tivéssemos uma lobisomem ferida na
casa, todavia.

− Por quê?

− Inferno se eu sei. Eles pareciam ainda mais preocupados que


ela tenha fugido e que Leidolf foi atrás dela.

Carver franziu a testa enquanto olhava através do rio. Ele nunca


gostou dos dois homens, que estavam sempre quebrando as regras que
Leidolf estabeleceu desde que chegou. Ambos foram os preferidos de
Alfred, e qualquer um do círculo de amigos dele deveria ser vigiado. Mas
Leidolf queria dar a todos da antiga alcateia uma chance, se não
tivessem feito nada como Alfred e seus capangas fizeram.

~ 361 ~
Pegasus Lançamentos

− Inferno. Leidolf é o melhor homem que tivemos para a posição


de liderança. Bem, você e Fergus fazem um excelente trabalho o
apoiando, mas se esse Tynan e Irving pretendem apunhalar Leidolf
pelas costas, eles terão que lidar comigo.

− O mesmo vale para mim, Carver.

− E Leidolf? Se precisar da nossa ajuda, como ele poderá se


comunicar conosco?

− Ele vai uivar.

Carver esfregou a mão sobre as bochechas.

− Tudo bem, vamos esperar. Se ele não voltar com ela até
amanhã, eu vou procurar por eles.

Carver não se importava se não era um dos líderes, e não estava


autorizado a assumir o comando da situação. Não queria a
responsabilidade de liderar, por conta de criar duas filhas sozinho. Mas
não esperaria para procurar o seu alfa e as mulheres por mais tempo do
que ele determinou. Não quando finalmente tinha uma alcateia decente
para cuidar.

~ 362 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Um

Não sendo capaz de pegar Cassie como loba no riacho gelado e


com a pele meio congelada, Leidolf mudou de forma. Na forma de lobo,
olhou para ela com interesse, a sua pequena loba vermelha. Ela parou
ofegante, levantou a cabeça e estalou os maxilares fechados, o olhar
ordenando que a pegasse agora, como um lobo pegaria.

Ele deu seu melhor sorriso de grande lobo mau. Pronta ou não,
ele iria atacar. Correu em direção a ela, enviando água que espirrava
por todo o caminho. Como um desafio, ela esperou. Ele ficou com medo
que colidisse direto nela, e com o seu tamanho mais pesado, ele a
derrubaria. Direita ou esquerda, Cassie? Qual o caminho que você vai
se esquivar?

Ele olhava nos olhos dela, o jeito que ela o observava,


desafiando, desejando que fosse até ela, a maneira sutil que ela moveu
o corpo entregou os planos dela. À esquerda, ele pensou. Assim que ele
antecipou a torção do corpo dela naquela direção, em uma tentativa de
escapar, ela se virou para a direita. E ele errou o alvo. Ele queria rir. Ela
era dele... Toda dele.

Ele beliscou o traseiro dela enquanto ela corria para fora do seu
alcance. Se ela estivesse na forma humana, ele jurava que estaria rindo
imensamente. Então ela o tirou totalmente para fora do seu passo,
quando se virou e se lançou sobre ele, com os pés em cima das costas
dele, a cabeça virada para morder o pescoço dele. Ah, Cassie, querida,
você é minha!

~ 363 ~
Pegasus Lançamentos

Ele virou e planejou um ataque frontal, pretendendo colocar as


patas dianteiras em volta do pescoço dela e desafiá-la, focinho contra
focinho. Ela abaixou as patas dianteiras numa posição agachada,
abanou o rabo, e sorriu.

Ele sorriu de volta. Então sentou no meio do riacho. Ela


ganhou... Seu coração, sua matilha, tudo. Ela se levantou e, em
seguida, correu até onde ele estava sentado e acariciou seu rosto. Ele
lambeu-a de volta. Mesmo que ela ainda não pudesse ser capaz de se
comprometer com ele, sentia a mudança sutil no relacionamento deles.
Sentia que não precisava mais competir pela afeição dela. Ela era dele.
Agora, havia um laço muito forte.

Ela gostava de brincar com ele como parte da fase da corte 26 dos
lobos, e não achava que ela gostaria de desistir dele completamente.

Embora pensasse que ela queria que ele capturasse os peixes,


não estava pronto para parar de se divertir com ela. Ele se levantou e
ela o observou, esperando pelo que ele planejava fazer a seguir. Ele
caminhou até a margem seca e se deitou. Ela ainda o observava,
provavelmente se perguntando o que ele estava fazendo. E então ele
rolou de costas, com as patas no ar, esperando ela reagir. Ela não
reagiu de início. Talvez um pouco íntimo demais para ela naquele
momento? Talvez não estivesse disposta a admitir que ele estava
expondo a garganta e a barriga de uma forma que revelava que confiava
nela completamente.

Então ela correu para fora da água, e isto requereu todos os


nervos que ele possuía para não se levantar e se preparar para o

26 No mundo animal, a corte se refere ao ritual de cortejar dos animais. Alguns

animais fazem uma dança, como peixes, outros lutam uns com os outros e, neste
caso, brincam um com o outro , como se fosse uma fase do namoro.

~ 364 ~
Pegasus Lançamentos

ataque. Ele não estava acostumado a desnudar as suas


vulnerabilidades para outro lobo. Não sendo um alfa.

Ela lançou-se sobre seu peito, e mordeu a boca dele em uma


luta simulada, e ele adorou. Ele rosnou e grunhiu tanto quanto ela o
fez, os dentes em choque, o corpo dela o prendendo no chão.

Ou deveria dizer que ele a deixou prendê-lo, porque se ele


quisesse se levantar, ela não tinha peso suficiente para mantê-lo
deitado. Depois de um exercício vigoroso, ela se deitou ao lado dele, e
eles assistiram o riacho fazer um som profundo e a brisa farfalhar as
folhas da floresta ao redor deles. Deixar a alcateia para escapar um
pouco, nunca mais seria o mesmo se não tivesse Cassie ao seu lado.

Ela se inclinou contra ele e deitou a cabeça nas patas dele e, em


seguida, fechou os olhos.

Ele lambeu sua orelha, mas continuou a observar o entorno


deles, sempre vigilante. E quando Cassie acordou, levantou-se, um
pouco tensa, ele pensou, e se espreguiçou. Então os dois correram para
o riacho para pegar peixes para o jantar.

Ele estava tão ocupado observando o jeito que ela se focava na


água, esperando uma chance para pegar sua presa, que quando ela
pegou um peixe, percebeu que deveria estar pescando também. Adorava
observá-la em tudo o que ela fazia. Ela pegou o peixe e foi para fora da
água. A expressão no rosto dela dizia tudo: Eu tenho o meu... Onde está
o seu?

Então ela correu de volta para a cabana, a cauda e a cabeça


erguida, as orelhas arrebitadas, peixe na boca. Depois do jantar, ele
sabia exatamente o que teria para a sobremesa.

~ 365 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie sabia que brincar com Leidolf no riacho era um grande


erro. No entanto, depois de ter o melhor sexo que jamais teve, ela se
sentia eufórica. Qual melhor jeito de prolongar a sensação de poder,
senão brincando um pouco? O problema era que o jogo tinha
conotações sexuais, não inocentes no mínimo. E o pior de tudo? Ela
adorava Leidolf por participar com ela. Desde que perdeu a família, não
havia se envolvido em recreação com outro lobisomem na forma de loba.
Nem lembrava o quão divertido poderia ser. Ela olhou para Leidolf ainda
tentando pegar o peixe no riacho. Ele olhou para ela e deu um sorriso
de lobo.

Internamente, ela riu. Em seguida, dirigiu-se para dentro da


cabana e colocou o seu peixe na panela.

Depois de alguns minutos, Leidolf entrou com o seu peixe entre


os dentes, a truta menor do que a dela. Sentia-se preguiçosa, enquanto
descansava ao lado do fogo, secando a pele, esperando dar ao ombro
uma pausa. Não deveria ter brincando tão fortemente.

Não dar todo o seu melhor quando desafiava o macho alfa, não
era o seu modo, mas agora a lesão estava voltando para assombrá-la.

Leidolf largou o peixe na panela, em seguida, aproximou-se e


acariciou o rosto dela com a seu.

~ 366 ~
Pegasus Lançamentos

Em seguida, ele voltou a ser o lindo pedaço de ser humano, as


gotas de água deslizando desde o cabelo, passando pela sombra da
barba, descendo pela pele lisa.

− Nós fizemos muito esforço. − Ele franziu a testa, enquanto se


agachava ao lado dela e passava a mão sobre a cabeça dela. − Sinto
muito, Cassie. Eu deveria ter dado mais atenção ao...

Cassie mudou para a forma humana e rolou de costas sobre a


cama de folhas.

− Apresse-se e cozinhe o peixe, Leidolf. − Ela correu um dedo


sobre a coxa musculosa dele. − Eu estou faminta. - Um lento e faminto
sorriso apareceu em seus lábios.

− Ainda estamos apenas na fase dos amassos, Cassie? − Ele


passou os dedos pelo cabelo molhado dela. − Ainda não está pronta
para a coisa de verdade?

Ela olhou para a virilha dele. A “coisa” já estava inchada com


interesse.

− Nós teríamos que fazer um acordo. – Ela disse suavemente, os


olhos voltados para ele.

− Um acordo?

Ela sabia que ele não gostaria do que iria oferecer. O tom dele já
estava distante e sua postura rígida. Ninguém fazia acordos com os
machos alfas.

− De que tipo, Cassie? − Ele passeou os dedos pelo braço dela,


numa caricia terna e extensa.

~ 367 ~
Pegasus Lançamentos

− Se eu me tornar sua companheira, eu vou continuar a


trabalhar. A qualquer hora, em qualquer lugar, sem a interferência de
ninguém. − Ou seja, é claro, a dele.

Leidolf respirou fundo e soltou o ar de uma forma insatisfeita.


Não disse nada de imediato, apenas continuou a encará-la. Então disse:

− Eu tenho uma alcateia para liderar, Cassie. − Ele continuou a


tocá-la de forma amorosa.

− Sim, eu sei. E é por isso que eu tenho que ter sua garantia de
que se eu me tornar sua companheira, eu continuarei a fazer a minha
pesquisa.

− E quando você estiver grávida?

Ela torceu a boca.

− Nós não usamos métodos contraceptivos. – Ele lembou o jeito


da alcateia.

− Tudo bem, quando eu engravidar, ficarei em casa. Mas só


quando começar a aparecer a barriga. Não desde o início.

Os dedos pararam no seu braço, e ele rangeu os dentes.

− Tudo bem?

− E depois que nossos filhos nascerem?

Ela soltou a respiração, exasperada.

− Leidolf, quando forem pequenos, eu vou estar lá para eles.


Quando ficarem mais velhos...

~ 368 ~
Pegasus Lançamentos

− Você não vai levá-los em expedições na mata.

Ela levantou uma sobrancelha.

− Só quando tiverem idade suficiente. − Ele complementou


rapidamente.

− Qual idade? Eu quero tudo resolvido agora. Não quero você me


dizendo mais tarde que eu não posso levá-los comigo na minha
pesquisa até que eles tenham dezoito ou alguma bobagem do tipo.

Leidolf subiu na sua altura máxima e cruzou os braços.

− Qual idade então? – Ele desafiou.

Ela encolheu os ombros e fez uma careta.

Ele franziu as sobrancelhas, agachou-se ao lado dela.

− Cassie, você não deveria ter brincado tão fortemente. Agora


você está sofrendo, não é? − Ele tocou seu rosto com tanta ternura, que
ela queria chorar.

Ninguém se preocupava com ela se ferindo desde que a própria


família havia demonstrado preocupação com ela há tantos anos. Mas
não o deixaria se desviar sobre as questões importantes.

− Dez.

− Dez anos de idade? De jeito nenhum. Eles estarão planejando


todos os tipos de travessuras nessa idade.

− Por quê? Por que você fez muitas travessuras?

Ele sorriu timidamente.

~ 369 ~
Pegasus Lançamentos

− Sim, e uma vez que eles serão do meu sangue, já posso


imaginar o problema que eles causarão. Sem mencionar que você
provavelmente teve o seu quinhão de travessuras quando tinha essa
idade.

Ela teve, mas não estava prestes a admitir. Ela fez uma careta
para ele.

− Doze então.

− Dezesseis. − Ele pigarreou.

− Dezesseis? Você tem que estar brincando. Eles estariam


prontos para liderar a fazenda nesta idade. Treze.

− Quatorze.

− Treze − ela estreitou os olhos.

− O que os nossos membros da alcateia dirão quando virem a


fêmea alfa sempre deixando a alcateia?

− Os membros da alcateia vão sobreviver. Assim como eles se


viram bem sem mim agora. E não se atreva a descontar na sua alcateia
quando eu deixá-lo responsável por si mesmo. − Cassie avisou.

Leidolf suspirou sombriamente e pegou a mão de Cassie e


esfregou o dorso na sua bochecha.

− Quando você veio para me salvar depois que eu fui atingido


pelos dardos tranquilizantes, você me reivindicou, Cassie. Esfregou seu
perfume no meu rosto, declarando que nós éramos um casal, que eu
era seu. E eu quero declarar isto de volta. Mas uma fêmea alfa não
define as regras para o macho alfa.

~ 370 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie lambeu os lábios secos. Embora Leidolf estivesse certo,


ela não admitiria exatamente o ponto dele.

− Uma fêmea grávida define. Apenas pense em mim como


estando permanentemente grávida.

Os lábios dele se levantaram em um sorriso arrogante.

− Quero dizer, imagine isso, não o torne realidade


imediatamente. – Ela corrigiu.

Ele hesitou, como se dando ao assunto sérios pensamentos, mas


ele estava tão tenso, que Cassie percebeu que ele queria se envolver e
concordar com todo o seu coração de imediato.

− Tudo bem. − Ele finalmente disse. − Nós temos um acordo.

A expressão dele era muito satisfeita, e ela tinha certeza que


caiu em uma toca de coelho sem saída. Ela se sentia como se estivesse
fazendo um pacto com o diabo, que ele não faria as concessões que
havia concordado na realidade, e um pressentimento de medo passou
rapidamente por ela. A liberdade dela estava em jogo. O contrato oral
era vinculativo. Ela expôs as regras... Inferno, deixou alguma coisa
importante de fora? Ele concordou. Agora eles só tinham que consumar
a relação, e seria um negócio feito.

− Eu concordei, Cassie. Você quer comer primeiro ou...

− Não pode haver qualquer manipulação...

− Não há mais cláusulas. Eu concordei. Agora, comer primeiro


ou... Inferno, eu não quero correr o risco de você mudar de ideia. –
Leidolf sorriu.

~ 371 ~
Pegasus Lançamentos

Ele deu uma piscadela e ela deu um pequeno sorriso. Ela


definitivamente fez um pacto com o diabo. O que quer que acontecesse,
esperava que eles pudessem resolver as coisas para a satisfação de
ambos.

Agarrou o braço dele e o puxou para ela. Essa era a fantasia


dela. Era a caçadora, e pegou o deus do mar. Lambeu uma gota de água
do mamilo dele.

Ele sorriu e passou as mãos pelos cabelos dela, com o corpo


quente e duro pressionado contra o dela, com as pernas entre as dela,
apenas se preparando para o momento de fazê-la sua.

Ela momentaneamente esqueceu sobre o modo como a ereção


dele cutucava seu monte, enquanto ele cobria sua boca com a dele, a
língua empurrando, arrebatando, conquistando, consumindo tudo.
Como um homem que foi amado, e privado por eras. E ela ansiava por
seu toque raivoso, gostava de reagir de volta tão apaixonadamente
quanto, a língua provocando e degustando a dele, os dentes mordendo
os lábios dele, a boca sugando a língua dele. Ele gemia baixo, um som
que dizia que ela o estava empurrando para além dos limites.

Ele mudou a mão para a lateral dela, o polegar roçando a lateral


do seio dela, e a boca pairando sobre o pescoço dela, sobre o seio dela e
mais abaixo do seio. A língua lambeu o mamilo rígido, o hálito quente
tornando-o ainda mais sensível conforme o ar fresco na cabana
misturava-se com a umidade. Ela passou as mãos nas costas dele, mais
para baixo, tomando conta de suas nádegas e apertando, relembrando o
modo que o viu nadando no lago. Que bunda maravilhosa! E agora? O
deus do mar era todo dela. Ela o capturou na caçada, tal como
pretendia.

~ 372 ~
Pegasus Lançamentos

Com a boca apertando o outro mamilo dela, ele começou a


esfregar o clitóris sensível, lentamente a princípio. No entanto, ela
sentia como se ele estivesse se segurando, de tão tenso que todo o corpo
dele estava, querendo cuidar da “coisa” de verdade, mas querendo
agradá-la primeiramente. E o estava matando esperar, a ereção pesada
martelava contra o corpo dela com a necessidade.

− Hmmm, Leidolf... − Ela sussurrou, não sendo capaz de dizer


muito mais, do jeito que ele a estava acariciando.

Os malvados dedos dele aceleraram, esfregando o montículo


fortemente, a língua rodeando o mamilo dela, os lábios o agarrando e
puxando delicadamente. Ela se arqueou contra ele, querendo mais do
seu toque, assim como freneticamente acariciava a pele de seus braços
musculosos e de volta para sua bunda deliciosa, querendo tocar cada
parte dele também.

Desta vez, ela gemeu, abrindo as pernas mais amplamente,


querendo-o dentro dela... Imediatamente. A dor entre as pernas
implorava liberação, satisfação, o cheiro sexy dele, os feromônios de
ambos misturados como um sensual afrodisíaco de lobos, estimulando,
obrigando a terminar o que começaram.

As ações dela também o estimulavam, cada vez que ela apertava


seu traseiro, sua ereção saltava. Quando Cassie lambeu seu ombro,
beliscou-o e beijou e, em seguida, arqueou para ele, querendo gritar
para penetrá-la, quase entrou nela. Quase. Ele não tinha acabado de
torturá-la ainda com seu toque primorosamente masculino.

Ele estendeu a mão e segurou o rosto dela num cuidado


amoroso, e olhou em seus olhos, os dele próprios nublados com luxúria,
como se estivesse perguntando pela última vez se ela queria isso, e ela
soube então que o amava. Ela sorriu.

~ 373 ~
Pegasus Lançamentos

− Se você não se apressar, estou cancelando o contrato. − Ela


sussurrou com a voz estranhamente rouca.

− Isso não vai ser possível, Cassie. Eu disse que você era toda
minha.

− Então...

Ela não teve tempo para implorar nada, ele se posicionou entre
suas pernas, e aliviou-se dentro dela. Então, estava introduzido
totalmente dentro dela, os corpos unidos, dois seres primitivos como
um só, com tesão, sem reservas ou arrependimento, e destinados um ao
outro.

O sentimento de júbilo a encheu conforme as estocadas


profundas dele aumentavam o clímax que ondulava através dela, uma
onda quente caindo sobre ela de novo e de novo. Ele manteve o olhar no
dela, observando a expressão dela, a admiração, o acúmulo, a
culminação, apenas inclinando-se uma vez para beijar seus lábios.

Houve um grito áspero dele e um suspiro dela quando ele gozou


e esquentou o interior dela com o calor de sua semente, ainda
introduzindo com o último de seu poder, o próprio orgasmo dela
enchendo-a com tremores, e ela jurou que tinha que estar brilhando
como a lua cheia em uma noite clara e fria, tão gloriosa quanto ela se
sentia.

Ainda dentro dela, ele se moveu lentamente para o lado


puxando-a com ele ao mesmo tempo, de modo que ela estava em cima
dele, o pênis ainda conectando-os como uma corda salva-vidas de aço.

~ 374 ~
Pegasus Lançamentos

Ela era dele, mas ele era dela também. Pela primeira vez, se
sentia em casa. Não na cabana com folhas de pinheiro como cama. Mas
com Leidolf, seu companheiro e seu amado.

O qual parecia ter o tipo de resistência que ela precisava em um


homem.

Ele já estava acariciando suas costas, e ela cruzou os braços


sobre o peito dele e apoiou o queixo nos braços dela, olhando para ele.
Os olhos e lábios deles sorriram como o diabo.

− Não me diga que você quer comer agora. − A voz dele ainda
estava rouca de desejo.

− Algo me diz que você tem outra coisa em mente. − A voz dela
soava muito intrigada.

− Sim, Cassie, e eu não sou facilmente dissuadido.

− Então... O que você está esperando, Leidolf?

As festividades sexuais duraram apenas uma hora, quando eles


ouviram algo se movendo na floresta além da cabana. A escuridão havia
envolvido a floresta e era tempo para eles se transformarem, e
procurarem as duas fêmeas vermelhas, mas a chegada prematura de
convidados indesejados surpreendeu o coração de Cassie.

Leidolf apontou para o canto da cabana onde ela achou que ele
queria que ela esperasse por ele.

Ela não iria deixá-lo.

− Cassie! − Ele sussurrou. − Se forem caçadores, não nos


atreveremos a mudar de forma. Envolva o colchão ao seu redor, e fique

~ 375 ~
Pegasus Lançamentos

fora da vista naquele canto do outro lado da lareira. Se eles forem


problema, seja quem for, nós sempre poderemos mudar de forma e
cuidar deles.

− Você não pode enfrentar caçadores sozinho, Leidolf.

Seu rosto escureceu, Leidolf escoltou Cassie para o outro lado da


lareira.

− Fique aqui. − Ele sussurrou e ela fez uma careta para ele.

Ela não era uma maldita flor murcha27.

Quem quer que se movia do lado de fora da cabana grunhiu, e


Leidolf olhou de volta para Cassie com as sobrancelhas levantadas.

− Urso? − Ela sussurrou.

Pequenos gritos angustiados se seguiram, e Cassie sorriu.

− Filhotes de urso e a mãe. − Ela sussurrou. Mas uma mãe


sendo protetora com seus filhotes, seria perigosa se Leidolf ou Cassie se
aventurasse para fora, fosse na forma de lobo ou na forma humana.

− Provavelmente cheiraram o nosso peixe. Vou cozinhar quando


ela se afastar. − Leidolf se afastou da porta. − Depois que comermos,
nós podemos rastrear as lobas.

− E depois? – Cassie lançou mais alguns galhos no fogo.

27 No original, "wallflower", é uma popular expressão que designa pessoas tímidas


ou impopulares. O termo vem da imagem de uma pessoa se isolar de áreas de
atividades sociais no salão de festas, onde as pessoas que não queriam dançar (ou não
tinha parceiro) mantinham-se perto das paredes do salão de dança. No contexto,
Cassie quer dizer que ela não é uma decoração ou mosca-morta.

~ 376 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu vou precisar avisar nossa alcateia que estamos bem. − Ele


olhou para Cassie. − Seu ombro, está bem?

− Depois de me devorar durante horas, agora que você


pergunta? – Ela sorriu.

Os olhos dele brilharam, e ele deu um sorriso diabólico de volta.

Mas, agora, a relação deles realmente mudou, Cassie percebeu.


Ela teria que conhecer a família dele, e mesmo que não tivesse a
intenção de ficar sempre com a alcateia, eles também eram sua nova
família, com problemas como todas as famílias tinham. Mas pior, o
medo miudinho de que Leidolf não pudesse liberá-la quando chegasse a
hora dela ir em sua próxima missão... Isto é o que realmente a
incomodava. Pensava no que aconteceu quando a ursa se aproximou.

Ela observou Leidolf cutucando o peixe na panela sobre o fogo e


temeu o pior cenário, ele usando qualquer desculpa para mantê-la
sempre ao seu lado.

~ 377 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Dois

Quando o dia se transformou completamente em escuridão, as


nuvens bloqueando qualquer indício de estrelas, Leidolf e Cassie
deixaram a segurança relativa da cabana de madeira, e saíram com a
missão de procurar as duas fêmeas vermelhas.

Leidolf tentou muito duramente não prestar atenção a cada


movimento que Cassie fazia conforme corria pela floresta, quando ela
continuamente parava para cheirar as lobas vermelhas e, em seguida,
corria novamente. Ele gostava de observá-la em sua forma de loba, a
forma como ela se movia com tanta fluidez, correndo para um lado e
depois o outro. O jeito que ela mantinha a cabeça e a cauda erguida,
alerta, como alfa. O jeito que ela se concentrava na missão, como se
nada ou ninguém mais existisse.

Ele estava procurando também, mas adorava assistir a procura


dela pelas duas vermelhas.

Ela subitamente virou a cabeça em direção a ele, as orelhas


torcendo para frente e para trás enquanto ela ouvia...

Inferno, ele ouviu também. Filhotes choramingando. Cassie


cavou em torno de um monte de folhas, farejando, e então se virou. Ela
dirigiu-se para uma moita de amoras e empurrou o focinho num
buraco. Puxando o focinho para fora do buraco, ela abanou o rabo e fez
um pequeno som de au-au. Minúsculos au-aus responderam.

~ 378 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf se juntou a ela e então cutucou o rosto dela em


saudação. Havia pensado em pegar alguns peixes para a loba. Mas o
que ele não esperava ver, era Cassie num caso desenvolvido de empatia
pela mãe loba e sua ninhada. Vendo o entusiasmo dela em encontrar os
filhotes o fez desejar ter filhos com Cassie ainda mais.

Com um último olhar, ele a observou sentar perto do covil em


modo de guarda, então ele decolou em direção ao riacho.

Cassie estava perto do covil, vigiando os filhotes e esperando ver


a mãe em breve. Quando Leidolf saiu, ela não poderia estar mais
orgulhosa dele. Sabia que ele iria pegar comida para a mãe e, por
enquanto, ele a deixaria fazer o que ela precisava fazer, fornecer
proteção.

Mas foi quando o problema de verdade começou. Ela pensou ter


cheirado um ser humano. Ela ergueu o nariz e respirou o ar. Um não,
dois. Ela congelou no lugar. Não, não, não. Os homens do zoológico
estavam em algum lugar por perto. Ela rezou para que não a vissem, ou
a Leidolf. Que eles não estivessem espionando a mãe loba.

Em seguida, um tiro soou na mata próxima e uma pontada


familiar de dor atravessou seu ombro como uma lembrança do passado,
mesmo não sendo baleada neste momento. Queria ter certeza de que
Leidolf estava bem, mas não deixaria os filhotes sozinhos. O que quer
que acontecesse, não os abandonaria.

Tudo ficou tranquilo, quieto demais, e ela temia que os homens


do zoológico a estivessem observando. Não conseguia vê-los, mas ainda
sentia o cheiro deles. Se saísse correndo e eles a dopassem, existiria a
chance deles não descobrirem a existência dos filhotes.

~ 379 ~
Pegasus Lançamentos

Era um impasse. Ela não se moveu. Eles não se mostraram.


Outro tiro ecoou em outra direção. Seu coração batia em pânico.
Leidolf. Onde estava Leidolf?

Antes que discernisse o resto dele camuflado na floresta, ela viu


os olhos azuis de Thompson. Ele tinha o rifle preparado. Ele planejava
atirar nela. Ela levantou. Ele empunhou o rifle. Ela virou e puxou um
filhote do esconderijo.

− Caramba! – Joe emergiu das árvores. − Ela tem filhotes.

Thompson baixou o rifle, apontou para o chão, e sorriu.

− Nós vamos cuidar de você, Rosa. Você, os outros dois e os


filhotes. − Ele levantou o rifle novamente e disparou.

Cassie amaldiçoou Thompson quando o dardo golpeou seu


flanco. Ela desmaiou e soltou o filhote.

− Acha que há mais deles? − Joe perguntou, apressando-se com


Thompson para verificar Cassie, que estava deitada de bruços no chão,
o maldito tranquilizante rapidamente correndo através de seu corpo.

Se ela pudesse, teria mordido o bastardo. Ela queria que os


filhotes e a mãe fossem cuidados, não ela!

− Não. Pela aparência das pegadas, havia três lobos. Dois outros
além da Rosa.

− Espere. – Joe levantou a perna de trás da Cassie. − Ela não


está amamentando. Nós deveríamos ter verificado antes e descoberto
que ela não teve filhotes.

~ 380 ~
Pegasus Lançamentos

− Então, ela é a babá. Talvez a irmã da outra. Ok, bem, vamos


transportá-los para as gaiolas, levá-los de volta para Portland, e fazer o
veterinário examiná-los. − Thompson enfiou a mão no covil. − Cara,
olha isso. Um, dois...Três... E quatro. Dois machos e duas fêmeas.

− Ei, então o macho que nós pegamos era o companheiro


daquela que teve os filhotes, você não acha? Então Rosa ainda precisa
de um companheiro.

− O Vermelho vai ficar feliz em saber disso. − Thompson


concordou.

Cassie gemeu.

Em seguida, com o canto do olho, ela viu outra fêmea vermelha e


piscou.

Aimee? A droga a estava fazendo alucinar, se agora estava vendo


a sua prima há muito tempo morta.

Thompson se virou para ver o que ela estava olhando tão


fortemente, mas a loba se virou e desapareceu no meio das árvores, os
ramos que ela roçou balançando ligeiramente. Cassie piscou e baixou a
cabeça para o chão. A loba não poderia ser real.

Quando Leidolf acordou ainda em sua forma de lobo, ele cheirou


dezenas de cheiros de animais e percebeu que estava numa gaiola, em
algum tipo de sala cheia de suprimentos médicos e mesas de exame de
metal. Merda. Ele olhou ao redor da sala e viu uma loba vermelha de

~ 381 ~
Pegasus Lançamentos

aparência esfarrapada, eliminando o tranquilizante ao dormir, dentro de


outra gaiola. A mãe loba. Nenhum sinal dos filhotes, no entanto. Mais
ao longe, viu Cassie em outra gaiola. Ela estava dormindo também.
Inferno. Eles estavam no zoológico?

Provavelmente uma sala de espera de algum tipo para serem


examinados. Certificar-se de que eles não tinham vermes ou outros
problemas médicos.

Um elefante trombeteou a distância, o som abafado. Sim, eles


estavam no jardim zoológico. Droga.

Ele se sentou e latiu para Cassie, tentando chamar sua atenção.


Em vez disso, a mãe loba levantou a cabeça, mas estava muito grogue,
baixou a cabeça e piscou para ele.

− A fêmea que teve os filhotes foi tratada para vermes. − um


homem disse, empurrando a porta para o lado, com Thompson
entrando com ele. − E ela tinha um caso grave de ácaros da orelha.

− Ele está acordado. – Thompson observou Leidolf. − Ele é um


lindo lobo vermelho mesmo vivendo em estado selvagem, você não acha,
Dr. Chávez?

− Saudável, bom peso. – O médico concordou. − Dentes de boa


aparência. − Ele acenou com a mão para Cassie. – O mesmo com a
fêmea. Mas, a mãe loba estava esfomeada, no entanto. Não posso
entender isso. O companheiro dela deveria ter levado alimento para ela
e os filhotes.

− E se ele não for o companheiro da mãe?

− Você disse que eles eram os únicos lobos vermelhos que você
encontrou. O macho e a fêmea tem que ser o casal alfa.

~ 382 ~
Pegasus Lançamentos

− Parece que sim. E quanto à outra? Ela está em idade


reprodutiva. No que diz respeito à saúde, podemos acasalá-la com o
Vermelho em breve?

− Nós teremos que colocá-los juntos e ver como eles lidam um


com o outro. Na natureza, ela não teria tido a chance de acasalar, a
menos que ela começasse sua própria alcateia. Aqui, se ela estiver
disposta, Vermelho é todo dela. − O veterinário sorriu.

− Eu acho que esta aqui é a Rosa. − Thompson agachado, olhava


para a gaiola de Cassie.

− Ela não queria o Vermelho antes. Mas talvez agora que ela está
um pouco mais velha, ficará mais interessada nele. − Thompson
levantou. − Ela não encontraria outro macho na floresta. Ela tem sorte
de ter o Vermelho como companheiro.

Leidolf levantou. Inferno, eles planejavam dar Cassie a um


verdadeiro lobo vermelho?

E Leidolf estava se juntando a mãe e os filhotes? Quando o seu


povo souber que ele será emparelhado com uma loba normal, e acusado
de ser o pai dos filhotes...

Ele balançou a cabeça, irritado consigo mesmo. Não queria nem


pensar no que eles diriam. Não na cara dele, é claro.

− Quando é que você vai deixá-la ver o Vermelho de novo?


Talvez, desde que ela ficou longe dele por um tempo, ela ficará contente
em ver um rosto familiar. − Thompson olhou para Leidolf. − Ele parece
ansioso. Talvez devêssemos deixá-lo ir para sua companheira.

− Assim que ela acordar nós vamos movê-los para uma jaula
juntos.

~ 383 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie levantou a cabeça, e Leidolf viu o olhar de descrença em


seus olhos. Ele sentia o mesmo, só que ele era o responsável por ela.
Como ele pôs a si mesmo e a ela em tal dificuldade? Mais importante,
como ele iria tirá-los disto?

Cassie levantou-se a uma posição sentada em sua gaiola,


enquanto Leidolf queria desesperadamente ir até ela, para confortar e
protegê-la.

Thompson coçou o queixo barbudo enquanto a observava.

− Ela parece estar em tão boa forma como quando nós a


encontramos no ano passado, apesar de ter sido baleada.

Alguém bateu na porta da sala. Uma jovem mulher enfiou a


cabeça dentro.

− Os filhotes precisam da mãe. Eles podem se juntar a ela?

Como se numa deixa, a loba sentou. Ela ainda parecia um pouco


atordoada, os olhos um pouco ofuscados.

− Vamos levá-los para a área de observação. – Decidiu o médico.


− Rosa parece pronta o suficiente para fazer uma visita ao Vermelho.
Você tem um nome para o casal alfa, Henry?

Thompson esfregou a barba no queixo e, em seguida, cruzou os


braços enquanto olhava para a loba.

− Eu vou pensar sobre isso. − Ele virou e observou Leidolf. − A


mesma coisa com ele.

~ 384 ~
Pegasus Lançamentos

A mulher desapareceu e logo depois reapareceu com um monte


de homens. Eles carregaram as gaiolas em carrinhos e as empurram
para fora da sala, um longo corredor, e depois uma porta de metal.

− Ela vai para a outra área de observação. – Thompson apontou


para Cassie.

− Vermelho vai se juntar a ela ali, quando ela estiver pronta.

Leidolf pensou, pela primeira vez desde que colocou os olhos


sobre Cassie, que ela parecia realmente abalada. Ele queria rasgar
qualquer um em pedaços que levasse a sua companheira para longe
dele, mas sua metade humana alertou para as consequências. Em vez
disso, embora o matasse ficar quieto, ele se comportou e manteve o
olhar nela tentando transmitir calma, até que a gaiola dele e a dela
fossem para suas respectivas áreas.

Dentro da sala, as paredes eram de metal, e o piso de concreto.


Havia uma calha de água em uma parede. Não havia janelas, nem
barras, apenas um local para conhecer a sua “companheira”, a suposta
mãe de seus filhotes, que já estava lá. E uma porta de visualização, com
uma janela de vidro de bom tamanho.

Os homens abriram as portas das gaiolas, e mais dois homens


trouxeram os filhotes da loba, deixando-os ao lado dela, e em seguida,
todos os homens recuaram, observando a reunião. A loba examinou os
filhotes, inspecionando-os conforme eles ansiosamente pisavam uns
nos outros, tentando chegar até as tetas dela para o jantar. Ela estava
tão absorvida no retorno de sua ninhada, que ignorou os homens na
sala e o macho alfa que estava longe, olhando para ela.

− Algo não está certo. − disse Thompson em voz baixa, como se


para não perturbar a reunião familiar dos lobos.

~ 385 ~
Pegasus Lançamentos

Joe enfiou as mãos nos bolsos.

− O macho deveria ter saudado a fêmea e os filhotes.

Se Leidolf tivesse saudado, ele arriscaria que a fêmea ficasse


violenta com ele e chateasse os filhotes. Melhor ficar distante e deixar o
pessoal do zoológico resolver tudo por si mesmos.

− Talvez nós o estejamos aborrecendo. – Joe sugeriu. − Talvez se


nós os deixarmos sozinhos, ele se juntará a ela. Percebeu a forma como
ele continua a nos observar? E não a ela? Ele não gosta que nós
estejamos aqui com ela e com os filhotes.

− Algo mais não está certo. Eu não sei exatamente o quê... Mas,
se eu fosse por em termos humanos, é quase como se tivesse algo
rolando entre ele e a Rosa. – Thompson cruzou os braços.

As sobrancelhas de Joe subiram.

− Bem, inferno, se for esse o caso, talvez devêssemos colocar os


dois juntos.

Thompson balançou a cabeça.

− Ele tem que ser o macho alfa, e a fêmea não teria tido filhotes,
se não fosse a fêmea alfa. Olhe para a postura dele. Cauda alta, orelhas
arrebitadas, costas rígidas, o olhar focado em... Mim. Na verdade, todo o
tempo que eu estive falando, ele esteve me observando. Mesmo quando
você falou, Joe, ele continuou a me encarar.

− Ele sabe que você está sempre no comando. – Joe riu.

− Tudo bem. – Thompson sorriu para Leidolf. − Vamos verificar a


Rosa e ver como ela está interagindo com o Vermelho.

~ 386 ~
Pegasus Lançamentos

Thompson virou, e um dos membros da equipe abriu a porta.


Em seguida, os quatro saíram e Thompson fechou a porta.

Leidolf não tirou os olhos da porta, e com certeza, em breve


Thompson olharia através da janela. Thompson sorriu conforme Joe
dava uma olhada também.

− Veja, ainda está me observando, quase como se ele pensasse


que eu iria verificá-lo.

− Sim, nós temos que dar-lhes um pouco de privacidade por um


tempo e depois voltar mais tarde e verificar. Mas eu meio que suspeito
que ele ainda estará observando a porta por perigo, ou talvez uma rota
de fuga. Eventualmente, ele vai baixar a guarda e se juntar a sua
companheira.

Não nessa vida. Mas Joe estava certo. Leidolf continuou a


observar a porta. E sabia exatamente o que tinha que fazer a seguir.

Cassie sacudiu os efeitos do tranquilizante e olhou para o lobo a


observando em uma sala fechada. Ela cheirou o ar. Ele era um macho
vermelho, mas por causa da genética deles, ele cheirava como um lobo,
tanto como ela cheirava a loba para ele. O que não era bom. Algumas
vezes, quando ela esteve com uma alcateia de lobos em sua forma de
loba, algum macho super indisciplinado havia pensado em acasalar
com ela. Se não fosse o líder alfa desencorajar os machos mais jovens,
ela teria estado em sérios apuros. Entretanto, agora ela estava sozinha

~ 387 ~
Pegasus Lançamentos

em uma situação que nunca pensou enfrentar. Vermelho parecia muito


interessado. Ainda assim, ele se segurou e farejou o ar.

Ela manteve sua posição, de costas para a porta. Era


definitivamente um impasse. Sem mover uma polegada em qualquer
direção, seus olhares se encontraram, o dela dizendo para ficar longe, o
dele dizendo que ele já estava caído de amores.

Passos vinham na direção da sala, mas ela continuou a vigiar o


Vermelho.

Quem se aproximava não era metade do problema que o lobo


poderia ser.

Ela se perguntou como Bella Wilder havia tratado o Vermelho.


Provavelmente rosnou para ele se afastar. Um lobo macho não tentaria,
geralmente, tirar proveito de uma fêmea se ela não estivesse disposta.
Isso não queria dizer que ele não continuaria tentando se ela estivesse
pronta para a ação.

A porta se abriu, e Thompson e Joe pararam na abertura


olhando para ela.

− Ela não parece estar mais interessada no Vermelho, do que ela


esteve antes. − Thompson parecia desapontado.

− Ela ainda está usando as calças na família28 – Joe


acrescentou.

− Vamos mudá-los e ver o que acontece. – Thompson decidiu.

28 Expressão comum também no Brasil. Significa que é ela quem manda na

família, a dominante.

~ 388 ~
Pegasus Lançamentos

− Você tem certeza? – Joe hesitou.

− Se não funcionar, podemos trocá-los de volta.

Assim que os homens passaram com a gaiola de Leidolf pelo


corredor, ele ouviu os planos para juntá-lo a Cassie. Mesmo que não
quisesse estar em exposição para os funcionários do jardim zoológico,
precisava mostrar que Cassie era sua companheira, e não a mãe com os
filhotes.

Quando eles rolaram a gaiola de Leidolf para dentro da sala, as


orelhas de Vermelho se arrebitaram. Leidolf saiu da gaiola e correu para
Cassie. Mas Vermelho fez um movimento em direção a ela, e Leidolf
rosnou baixo e ficou entre eles.

Vermelho arreganhou os dentes, mas Leidolf avançou tão de


repente, que Thompson disse:

− Puta merda, tire um dos machos daqui, agora!

Brandindo armas tranquilizantes, os homens entraram na sala.


Leidolf recuou e encurralou Cassie contra a parede. Inferno, ele não
queria que os homens atirassem nele e cometessem o erro de manter
Vermelho com ela.

Ela rapidamente lambeu várias vezes o rosto de Leidolf em uma


demonstração de afeto.

− É ele! Leve o Vermelho para fora. Os dois estão juntos. −


Thompson sorriu. − Caramba, parece que vamos ter mais filhotes de
lobos em breve, se não nesse ano, no próximo, com certeza.

Joe lhe deu um tapa nas costas.

~ 389 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu juro que, pela forma como eles olham nos olhos um do


outro, eles estão expressando-se claramente na linguagem dos lobos.

− Eles estão. − Thompson fez um sinal para um dos homens. −


Eles já foram examinados. Você pode levá-los para o cativeiro.

O pesadelo anterior que apavorou Cassie quando Thompson e


Joe atiraram nela com tranquilizantes e falaram sobre colocá-la no
jardim zoológico havia, agora, se tornado realidade. Um leão rugiu ao
longe, e Cassie se aconchegou ao lado de Leidolf, dormindo em uma
cama de palha. Como no mundo eles iriam sair dessa bagunça? Pelo
menos eles tinham uma jaula livre de outros lobos, e ela tinha Leidolf
para se aconchegar.

No caso de Bella Wilder, seu herói veio em seu socorro. E no de


Cassie? Seu herói precisava de resgate tanto quanto ela!

Cassie levantou-se e se espreguiçou. Dormir em uma cama de


palha não era uma ideia divertida, até mesmo na forma de loba. Preferia
muito mais uma cama de cachorro.

Enquanto ela caminhava pelo túnel de rocha falsa que levava da


caverna de cimento para a parte exterior do cativeiro dos lobos, notou
uma janela borrada de impressões digitais para os visitantes do jardim
zoológico verem os lobos em seu covil. Era quase hora de fechar o

~ 390 ~
Pegasus Lançamentos

zoológico, e em breve, ninguém estaria cutucando o nariz na janela,


espiando Leidolf e ela. Esperava.

No final do túnel, ela olhou para fora. Olhou para cima e ao


redor. E respirou aliviada. Sem câmeras. Thompson não conseguiu
instalá-las em tão curto espaço de tempo.

As árvores de sombra29cobriam trechos do terreno inclinado,


enquanto que outras áreas eram expostas às intempéries. Pedras e
montes foram espalhados por todo o lugar.

Ela pulou em cima de uma pedra e saltou para uma ainda maior
para ter um melhor ponto de observação para ver a disposição do
cativeiro e planejar como eles poderiam fazer a fuga.

Atrás deles, alces dormiam em um terreno em declive coberto de


grama e outras plantas. Um celeiro e cercado estavam localizados numa
extremidade. Uma cerca de arame entre eles era a única coisa que
separava os lobos de sua presa natural.

Do outro lado do fosso, uma plataforma elevada, coberta para


proteger os visitantes da chuva e do sol, fornecia uma visão do Prado
dos Alces e todos os seus habitantes. Essa plataforma, a chave para a
liberdade, era o lugar onde ela adoraria estar.

Ela ergueu o nariz e cheirou. Ao lado, viviam mais lobos. Ela


esticou o pescoço, tentando ver mais alguma coisa. Dois jovens lobos
cinzentos, ambos deitados no terreno gramado, olhavam para ela.

29 Do original "shade tree", é um termo para designar qualquer árvore plantada

com o intuito de gerar sombra. Algumas das árvores de sombra mais populares
em países de clima temperado são carvalhos e bordos.

~ 391 ~
Pegasus Lançamentos

Ela atravessou o cativeiro até uma parede de dois metros e meio


com uma cerca na parte superior para manter os visitantes do zoológico
longe do covil. E para manter os animais dentro.

Do ponto de vista do autor da história, Bella havia escorregado


no fosso e em seguida, tentado sair. Mas uma vez que ela estava no
fosso, não conseguiu arrastar-se para fora, não importava o quanto ela
tentasse. Então, eles devem ter mudado o cativeiro, desde então. Cassie
olhou de volta para o cativeiro dos alces. Certamente ela e Leidolf
poderiam saltar por cima da cerca em suas formas de lobo. A altura
era... cerca de três metros e meio. Ou... era mais alto?

E agora? Cassie olhou para o covil. Leidolf estava de pé na


abertura, observando-a. Ele espreguiçou-se e, em seguida, galopou
através do cativeiro até ela, pulou numa pedra, e então na maior onde
ela estava. Ele lambeu o rosto dela, e a maneira como o pelo dele estava
liso, as orelhas arrebitadas, a cauda erguida, ele não parecia nem um
pouco ansioso ou preocupado.

Ela não estava também. Ainda.

Leidolf acariciou o rosto dela como se a confortasse, e ela o


acariciou de volta, avisando-o que se ele precisava de conforto, ela
poderia fazer isso. Ela jurou que ele sorriu de volta.

Ele ergueu o focinho alto, e ela soube que ele pretendia pedir
ajuda. Ele uivou.

Como aquilo os ajudaria? O povo dele estava na Floresta


Nacional do Monte Hood, demasiado longe.

Os lobos cinzentos se levantaram e observaram Leidolf. Em


seguida, os dois levantaram a cabeça e uivaram. Se ela pudesse, teria

~ 392 ~
Pegasus Lançamentos

rido. Não só Leidolf tinha uma personalidade magnética no que dizia


respeito a ela e ao povo dele, como conseguia chamar lobos de verdade
em seu auxílio.

No interior, onde quer que eles estivessem mantendo Vermelho,


a loba e os filhotes, um novo par de uivos irrompeu.

Que diabos. Cassie poderia muito bem juntar-se ao coro.


Jogando a cabeça para trás, ela lançou seu próprio uivo especial.
Leidolf juntou-se a ela novamente.

Pegadas correram na direção deles. Funcionários? Ela duvidava.


O mais provável era que fossem os visitantes do zoológico que queriam
ver os lobos uivando e descobrir o motivo.

Leidolf cutucou-a para deixar a pedra. Ela saltou para a pedra


mais abaixo e de novo para a encosta gramada. Leidolf se juntou a ela e
lambeu seu rosto, em seguida, apontou com o nariz em direção à
caverna. Ele tinha algo em mente.

Assim que eles fizeram o caminho através do túnel, duas


crianças correram para vê-los através da janela de visualização, Leidolf
encorajou Cassie a regressar à cama de palha deles. Entre a janela no
túnel e outra no “quarto”, ela notou uma pequena área onde ninguém
poderia vê-los.

Desesperadamente, ela queria se comunicar com Leidolf,


apresentar um plano de fuga, e ouvir o que ele achava. Mas, de jeito
nenhum queria mudar, e ser pega como a segunda mulher nua
encontrada no cativeiro dos lobos no zoológico, a loba estaria
desaparecida também, assim como antes.

~ 393 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf aninhou-se ao lado dela na palha e colocou a cabeça


sobre as costas dela, mas da forma como o coração dele continuava a
bater com firmes e fortes pancadas, não soava como se ele estivesse
entrando no modo de dormir.

Ele estava esperando que os visitantes do jardim zoológico e os


funcionários saíssem, e então? Ela tinha certeza que ele tinha um
plano.

~ 394 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Três

Assim que Alice ouviu Leidolf uivando à distância, ela correu, o


coração batendo forte, para o quarto da irmã, onde Sarah estava
deitada na cama lendo um romance com lobos da Julia Wildthorn,
fones de ouvido canalizando música nos ouvidos.

− Sarah! Eu estava em pé na varanda de trás, olhando um


esquilo correr para cima de uma árvore, quando ouvi Leidolf uivando. E
outro lobo, também. Então mais alguns lobos. Muitos mais, só que eu
nunca ouvi os uivos dos outros lobos antes.

Ela pegou a mochila, se prepararia para qualquer eventualidade.

Roupas para Cassie de seu guarda-roupa e roupas para Leidolf


do armário de seu pai. Apenas no caso de que eles precisassem delas.

− O quê? − Sarah perguntou, os olhos espantados enquanto


arrancava os fones de ouvido.

− Cassie. Talvez fosse o uivo dela também. Eu não sei sobre os


outros lobos.

− Do que você está falando? Papai disse que Leidolf foi atrás de
Cassie nas matas da Floresta Nacional do Monte Hood. Eles não
estariam aqui.

− Eu os ouvi! Eles estavam uivando por ajuda.

~ 395 ~
Pegasus Lançamentos

− De perto? De que direção? − Sarah ficou boquiaberta. − O


jardim zoológico? − Sussurrou.

− Sim, o jardim zoológico. Vamos, temos que ir.

− Você tentou chamar o papai? − Sarah saltou da cama e jogou o


livro de lado.

− Ele ainda está no meio da floresta, junto com a maioria dos


outros homens. Sem recepção de telefone. As mulheres estão cuidando
dos bebês da Felicity. Alguns dos homens estão vigiando Sarge e
aqueles irmãos gêmeos que continuam causando tantos problemas.
Então, nós somos a ajuda. Evan assim mandou.

− O quê? – Sarah ficou surpreendida.

− Ele está a caminho daqui. Desde que nós vivemos ao lado do


Parque Florestal e o zoológico é bem ali, nós somos as mais próximas da
cena do crime.

− Isto não é um romance de mistério. − Sarah avisou.

− Não, é pior. Nós iremos ao zoológico, nos escondemos


sorrateiramente em torno do cativeiro dos lobos, e avaliaremos a
situação. − Puxando um suéter, Alice dirigiu-se ao corredor.

− Você tem que estar brincando. Papai vai nos matar.

Alice ignorou a previsão de morte iminente de sua irmã. Elas


não tinham outra escolha.

− A caminhonete de Evan não está funcionando, e o único


veículo que ele tem as chaves é o Jaguar.

− O que isso significa? − Sarah parou no meio do corredor.

~ 396 ~
Pegasus Lançamentos

− Que ele vem dirigindo o Jaguar do Leidolf. É o único jeito.

Sarah gemeu.

− Ele já o dirigiu. Ele sabe ser cuidadoso.

− Sim, e ele vai acelerar todo o caminho até aqui, ter um


acidente e ser acusado de roubar o carro de Leidolf... − Sarah balançou
a cabeça e correu atrás de Alice. − Aonde você vai? Papai disse para
ficarmos aqui enquanto ele estiver fora.

− Quando Leidolf está nos chamando para ir resgatá-lo e nós


somos a ajuda, nós temos que fazer alguma coisa.

Apressada, Alice empurrou a porta da cozinha, e saiu pelo


quintal. Quando chegou à parede rochosa que separava a propriedade
no beco sem saída do Parque Florestal, escalou o muro e deslizou pelos
abetos de Douglas.

Sarah correu atrás dela.

− O Parque Florestal está fechado a esta hora. – Sarah mordeu o


lábio e olhou para Alice. − Por que você chamou Evan?

Alice sorriu.

Sarah gemeu novamente.

− Eu suponho que você o tem visto sem que ninguém saiba.

− Ele é legal.

− Ele é problema. Papai disse que nós não devíamos chegar


perto dele. Além disso, o zoológico está fechado a esta hora. Nós nunca
seriamos capazes de... Oh, sim. Nós não entramos furtivamente lá

~ 397 ~
Pegasus Lançamentos

desde que nós nos mudamos para cá, com medo de que papai nos
pegasse... E se o pessoal do jardim zoológico nos pegar?

− Se formos apanhadas, seremos apanhadas. Seremos apenas


duas adolescentes tendo um pouco de aventura. Nada horrível.

− A não ser que nós... Como foi que o pessoal do jardim zoológico
os pegou? Leidolf deve estar realmente louco. Talvez possamos escapar
com eles sem que a alcateia nunca saiba. − Sarah correu atrás de Alice.
− Não estamos esperando por Evan?

− Ele não vai estacionar na nossa casa e se juntar a nós. Ele


sabe onde nos encontrar.

− Nós não estamos autorizadas a nos transformar sem um


adulto estar presente, você sabe. Quer dizer, nós não podemos mudar
em torno de um menino quando não estamos sendo supervisionadas. −
Sarah corou. − Você sabe o que pode acontecer.

− Nós não vamos nos transformar, Sarah. Vamos como


humanas.

− Promete?

− Olha, é claro que eu sei o que pode acontecer. − Franzindo a


testa, Alice parou e encarou a irmã. − Como você acha que mamãe ficou
grávida?

O queixo de Sarah caiu.

Alice começou a correr pela floresta novamente, ficando longe


das trilhas humanas e indo direto para o zoológico.

~ 398 ~
Pegasus Lançamentos

− Isso não é verdade − Sarah levantou a voz. − Retire o que


disse.

Alice soltou a respiração.

− Sarah, você tem que saber por que nos expulsaram da alcateia
do papai. O tio dele estava furioso que papai e mamãe saíram numa
caminhada quando eram adolescentes, se perderam, foram roubados,
mas antes que eles mudassem, eles se... Distraíram. Após eles
encontrarem o caminho para casa, tudo estava bem, por um tempo.
Quando a barriga da mamãe começou a crescer... − Alice deu de ombros
e começou a andar, mais lentamente desta vez.

Sarah não disse nada por um longo tempo. Então, perguntou:

− É por isso que nós não fomos aceitos em três outras alcateias?
Eles souberam que nós fomos um erro?

− Nunca diga isto ao papai. – Alice levantou as sobrancelhas. − É


claro que nós não somos um erro. Nós só viemos... Um pouco mais cedo
do que deveríamos. E tudo deu certo. Agora estamos em uma alcateia
que nos aceita assim como nós somos.

− Como é que eu não sabia nada disso? – Sarah pigarreou.

− Você não tem como hábito escutar as conversas dos outros. –


Alice revirou os olhos.

− Não é a toa que o papai não nós quer perto de Evan. Ele tem
medo que nós acabemos como a mamãe. − Os olhos de Sarah
aumentaram. − Evan beijou você?

Alice sorriu.

~ 399 ~
Pegasus Lançamentos

− Se o papai descobrir...

− Sarah, eu já disse, nós não vamos dizer nada, e nem Leidolf.


Ninguém precisa saber.

− Se nós não formos pegas. E quanto ao Evan? E se ele quiser


dizer a todos como ele ajudou a resgatar o nosso líder?

− Ele não vai. − Mas Alice não soou tão segura de si mesma,
como ela queria. E se Evan, de fato, dissesse ao resto da alcateia como
ele resgatou Leidolf? Ele poderia. Ele deixaria Sarah e ela fora da sua
versão de resgate, se pedisse a ele, tinha certeza. − Ele não vai contar a
ninguém. − Alice disse, com um pouco mais de convicção.

− Claro. Sempre que você não está certa de uma situação, você
repete para si mesma.

Alice ignorou Sarah, odiando quando ela estava certa.

Elas correram pela floresta em direção ao jardim zoológico com


outros quilômetros a percorrer antes de chegarem ao perímetro. E
agora? Elas teriam que ser pacientes até que Evan chegasse.

− Quanto tempo você acha que vai demorar até que Evan chegue
aqui? − Sarah perguntou.

− Duas horas. Isto é o que leva de viagem da fazenda de Leidolf


até Portland. O zoológico fecha às sete, provavelmente poucos
funcionários permanecem depois disso.

− Eu me pergunto como Leidolf foi pego. − Sarah disse


novamente.

~ 400 ~
Pegasus Lançamentos

− Resgatando Cassie. − Alice levou as mãos ao peito em um


gesto dramático. − O amor verdadeiro. Nada vai separá-los. Os homens
do zoológico a levaram como prisioneira. Ele veio resgatá-la, e foi
nocauteado com tranquilizantes. Isso é o que deve ter acontecido.

− E se Leidolf foi baleado primeiro, e Cassie foi em seu socorro


em vez disso? Julia Wildthorn escreve como suas heroínas salvam
líderes de alcateria algumas vezes. – Sarah mordeu o lábio inferior. −
Então talvez Cassie estivesse tentando resgatar Leidolf, e levou um tiro.

− Ela de fato tentou ajudá-lo na primeira vez que ele foi atingido.
– Alice tentava imaginar o cenário.

Sarah assentiu.

− Não. Tem que ser o contrário dessa vez. Leidolf a estava


resgatando quando... – Alice balançou a cabeça.

Um galho quebrou a vários metros de distância, e as meninas


paralisaram. Com o coração acelerado, Alice ouvia, tentando identificar
o que fez barulho.

− Ali! − Carver avistou a lobo vermelha que os observava através


do riacho. Meio escondida nos bosques escuros, os olhos fluorescentes
brilhavam como um farol de boas-vindas na noite. Não era Leidolf ou
Cassie, mas aquela que eles perseguiram inicialmente.

Elgin e Fergus a localizaram também.

~ 401 ~
Pegasus Lançamentos

− Estou mudando. Ela está ali parada por uma razão. − Carver
desabotoou a camisa.

− Eu vou com você. – Elgin ofereceu.

Carver agarrou o braço dele antes que ele começasse a se despir.

− Você está no comando, enquanto Leidolf não está aqui. Você e


Fergus. Se eu me afogar, não há problema.

− Suas filhas. − Fergus disse baixinho, sempre a voz da razão,


fosse desejado ou não.

Carver tirou a camisa.

− Certo. Então eu não vou me afogar. Basta pensar nisso como


delegação de responsabilidade.

− Sim, mas nós deveríamos ser aqueles dando ordens. – Elgin


lançou a Fergus uma piscadela.

Fergus concordou enquanto Carver parava, as mãos nos


cadarços.

− O que você está esperando, Carver? Mãos à obra. − Fergus


ordenou.

Carver deu um meio sorriso, tirou o resto das roupas. Então,


mais rápido do que ele jamais se moveu, correu em forma de lobo para
o riacho.

Embora ele não tivesse certeza do que iria fazer, quando


alcançasse a loba vermelha.

~ 402 ~
Pegasus Lançamentos

− Como assim ele pode ir atrás da garota? − um dos machos


solteiros reclamou. Desde que muitos deles não eram membros da
realeza, tendo muitas influências humanas em suas origens genéticas,
eles não tinham como mudar durante a lua nova, e teriam que localizá-
la na forma humana.

− Porque eu disse. − Elgin explicou, com a voz dura. − Enquanto


Leidolf estiver fora, isso é tudo que você precisa saber.

Isso foi tudo o que Carver ouviu antes que o som da correnteza
do riacho encheu seus ouvidos.

Ele, certo como o inferno, desejava que pudesse nadar


cachorrinho mais rápido do que isso. Nunca havia percebido o quão
lento nadava como lobo, mas nunca havia precisado do talento numa
emergência. Manteve os olhos na fêmea, enquanto ela permanecia onde
estava na floresta. Ocasionalmente, ela olhava para os outros homens,
como se perguntando se eles viriam também, mas não parecia estar
com medo dele. No entanto, uma vez que chegasse à margem, ele
suspeitava que ela pudesse mudar de opinião e correr.

Nesse caso, ele teria apenas que mudar de volta.

Assim que chegou à outra margem, Carver sacudiu o excesso de


água fora da pelagem e olhou para os homens, todos o olhavam com
grande expectativa. Fergus acenou para ele ir alcançá-la. Então se virou
para observar a fêmea. Ela permanecia imóvel, com o olhar no dele. No
entanto, algo na expressão dela dizia que ela ia correr rapidamente,
orelhas ligeiramente achatadas, a cauda para baixo.

Ele correu em direção a ela, certo de que se ela fugisse, a pegaria


em breve.

~ 403 ~
Pegasus Lançamentos

Ela correu mais fundo dentro da floresta, e ouviu os homens


gritando através do riacho.

− Vá pegá-la, Carver. Você pode fazer isso!

− Ela é sua, uma vez que a pegue!

− Boa sorte!

Ele sorriu, mas apenas porque ele estava se aproximando, ou ela


estava desacelerando. Ele a alcançaria em breve.

Os últimos visitantes do zoológico foram embora, as luzes foram


apagadas, e Leidolf levantou a cabeça e, em seguida, pôs-se de pé.
Nenhum dos membros da sua alcateia apareceu para resgatá-los, por
isso, era quase hora dele por o plano B em ação. Caminhou até a área
escondida das janelas de visualização, só teria que se baixar quando
mudasse. Cassie o observava, e ele pensava que ela parecia
esperançosa de que ele os tiraria daquela armadilha. Ele esperava que
as filhas de Carver pudessem avisar aos outros membros da alcateia
sobre a bagunça que eles estavam envolvidos. Ele e Cassie não
poderiam esperar até o amanhecer, o que significava a chegada de
novos visitantes no zoológico. E o incômodo de ter que esperar até a
noite cair novamente e o zoológico fechar.

Ele se transformou e se sentou no concreto áspero. Cassie


correu para se juntar a ele, lambeu a bochecha dele, e depois se

~ 404 ~
Pegasus Lançamentos

alongou antes que se transformasse. Assim que ela mudou para a


forma humana, ele admirou a beleza dela. Nunca cansaria dela, desde
os cachos vermelhos até a pele leitosa. Delícia sensual e sedosa. Ele
puxou o corpo nu dela em seus braços, e ela se sentou em seu colo e
colocou os braços ao redor de seu pescoço.

− E agora, meu herói? − Ela sussurrou.

Ele sorriu e beijou o nariz dela.

− Agora é hora de resgatar a donzela em perigo.

− Hmmm, parece que você está na mesma situação que eu. Seu
povo está ainda, provavelmente, na Floresta Nacional do Monte Hood,
você não acha? Esperando o seu retorno? E a localização da sua
fazenda não é tão perto do Zoológico, não é?

− As meninas de Carver devem estar em casa. Eles vivem no


perímetro do Parque Florestal, próximo ao zoológico. Cerca de dois
quilômetros daqui.

− Ele deixa as meninas em casa sozinhas? − Cassie perguntou,


aconchegando-se a Leidolf no frio e úmido covil cimentado dos lobos.

− Talvez. Nós daremos uma chance. Se as meninas estavam em


casa e nos ouviram, elas saberão ligar para a fazenda e alertar quem
quer que esteja lá, talvez Laney ou um dos homens. Eles saberão o que
fazer.

− E se eles não souberem?

− Vai levar duas horas e meia ou mais para eles chegarem até
nós. Já passou quase esse tempo. Se não tivermos sinal de ninguém em
poucos minutos, faremos do nosso jeito.

~ 405 ~
Pegasus Lançamentos

− E que jeito seria?

− Nós vamos escalar por cima da cerca, embora eu não quisesse


que nós ficássemos expostos desta maneira. Muita especulação se nós
formos apanhados, mais duas pessoas nuas no zoológico? Mais dois
lobos vermelhos desaparecidos? − Ele balançou a cabeça. − Eu esperava
que alguns do nosso povo pudessem ter começado a nos tirar daqui
enquanto permanecíamos em nossas formas de lobo, no caso que
alguém nos visse tentando escapar.

− Nós não poderíamos simplesmente pular a cerca, como lobos?

− Muito alta.

− Bella não conseguiu também. – Cassie suspirou.

− O cativeiro era diferente naquela época. O fosso e a parede


eram tais que ela não conseguiu escapar. O cativeiro dos alces não fazia
limite com o cativeiro dos lobos, na época, com apenas uma cerca entre
eles, também.

− E se nós sairmos daqui sem problemas, eu tenho uma


pergunta para fazer.

Leidolf apertou seu abraço sobre Cassie.

− Você pode muito bem perguntar agora. Nós não temos nada
melhor para fazer para matar o tempo.

Ela ficou em silêncio por algum tempo, ele passava os dedos


acariciando o braço dela, o silêncio o matando.

~ 406 ~
Pegasus Lançamentos

Ele finalmente soltou a respiração e disse o que tinha a dizer,


mesmo que ela não conseguisse encontrar a coragem de fazer a
pergunta dela.

− Cassie, no fundo você não é uma loba solitária.

− Eu venho sendo uma desde sempre.

Ele passou os dedos pelos cabelos dela e a segurou firme.

− Você fez o que tinha que fazer no início como necessidade. Mas
depois... − Ele olhou em seus olhos verdes, a vivacidade o atraindo. −
Depois, você continuou com isso porque estava acostumada a ficar
sozinha.

− Eu não queria perder mais ninguém que eu gostava.

− Você não pode impedir essa parte de si mesma de existir. − Ele


se inclinou e beijou seus lábios, a boca dela recebendo desejosa a dele.
− Você não pode esconder o que o seu coração está realmente dizendo.
Que você deseja bebês. Você deseja ser parte de uma alcateia. Você
quer ter uma família. Um companheiro. Fisicamente, você está muito
consciente de suas necessidades. Psicologicamente, eu sinto que ainda
está se contendo.

− Você não pode entender. Eu sei que você disse que a sua irmã
morreu, mas você não pode sentir que a culpa foi sua, não como na
minha situação. Eu queria perguntar como você se tornou um solitário,
apesar de tudo.

Ele tocou o polegar em seu lábio inferior e brevemente o


acariciou.

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Pegasus Lançamentos

− Eu deixei minha família no Colorado para evitar não ser morto


por confrontar o líder que havia assumido quando o meu pai ficou
ferido. Eu viajei por todo os Estados Unidos, até que eu me estabeleci
numa cabana nas montanhas, longe da civilização. Mas eu sentia
saudade da minha família e de ter uma alcateia, suas idiossincrasias, o
bom e o ruim. Meu pai... − Ele tomou uma respiração profunda. − Ele
foi ferido numa avalanche. A alcateia inteira morreu. Quando eu
cheguei aqui, eu vi os problemas que a alcateia estava tendo, mas eu
não poderia lutar contra os responsáveis. Não com todos eles. Era como
viver toda a terrível situação novamente. Em primeiro lugar, eu lutei
contra a ideia de que esta alcateia precisava de mim. Então, eu percebi
que eles eram exatamente o que eu precisava para viver novamente.

Ele acariciou a bochecha dela.

− Eu ainda amo escapar, mas os negócios da alcateia têm


prioridade, e eu precisava deste foco de novo na minha vida. Você
estuda os lobos porque quer o que eles têm, a dinâmica da alcateia, a
proximidade, a lealdade. − Ele sorriu e beijou sua testa. − Brincar. Você
estava apenas com medo de ser parte de uma alcateia de lobisomens.
Agora que me encontrou, você tem que perceber que esse é o seu lugar.

Quando ela não disse nada, ele levantou o queixo dela e olhou
em seus olhos.

− Cassie?

− Eu sou uma bióloga de lobos.

− Disto eu estou bem ciente. − Ele beijou o topo de sua cabeça.

− Eu não desistiria do meu trabalho por nada. A alcateia de


lobos que me acolheu salvou a minha vida. Então caçadores os

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mataram. Até o último deles. Por um preço. Eles foram pagos para
matá-los! Os filhotes também. Eu só escapei por me transformar na
forma humana e então, os homens me pegaram. Eles acreditavam que
eu era uma criança selvagem criada por lobos. Eu era, mas não da
maneira como eles pensavam. Eu fugi deles e corri mais para o sul.

Ela inclinou a cabeça contra o peito dele.

− Eu tenho que mostrar que os lobos não são monstros, apenas


sobreviventes como todo mundo. − Ela rangeu os dentes. − Tudo o que
eu conseguia pensar era em como poderia tê-los salvo. Eles foram
minha segunda família, e eu os perdi, também.

− Eu prometo que você não vai nos perder também. E eu não


posso me dar ao luxo de desistir de você.

− Mas eu sou uma bióloga de lobos.

O que ele ainda não estava feliz sobre o assunto, mas controlou
sua reação.

Ela gentilmente puxou os pelos do braço dele e olhou para ele


com lágrimas nos olhos.

− Eu não vou desistir de estudá-los e compartilhar o que eu


aprender com o mundo.

Ele não discutiu mais o assunto. Ele não a queria estudando


lobos selvagens e colocando-se em perigo, apesar de prometer a ela que
permitiria isto.

− Os lobos selvagens são os únicos que você pretende cuidar?

Ela torceu a boca e depois deu um pequeno bufo refinado.

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Pegasus Lançamentos

− Como se você realmente acreditasse nisso.

− Eu tenho uma alcateia para liderar.

− Então a lidere. Nada vai mudar. Apenas eu vou voltar e nós


teremos sexo alucinante, e então eu vou sair para fazer meus estudos
novamente.

Ele suspirou sombriamente.

− Eu tenho uma pergunta para você. Sarge forçou você a levá-lo


com você?

Cassie sorriu.

− Sim, ou ele me deduraria. Ele não estava ferido, estava? E o


seu Jaguar?

− O Jaguar era o carro esportivo do ex-líder. Nada importava


para mim além de que você estivesse a salvo.

− E Sarge.

Leidolf resmungou.

Cassie correu os dedos sobre o peito dele, numa carícia


provocante, atiçando-o.

− Você reclama, mas se você realmente sentisse que ele


precisava ser morto, já teria feito isso. Admita. Você tem um ponto fraco
com o cara.

− Eu o teria matado se ele a tivesse machucado de qualquer


jeito. Ou se ele tivesse matado alguém quando era caçador de
lobisomem. Mas pela cooperação dele, ele se safou muito mais fácil do

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Pegasus Lançamentos

que o resto dos Anjos das Trevas 30. Você tem certeza que ele não
ameaçou você?

− Se tivesse, ele teria visto alguns perversos dentes de loba. Ele


vai mudar de comportamento. E eu suspeito que você também acredita
que ele vai mudar.

− Talvez você possa influenciá-lo a se acalmar.

− Quando eu o deixei no carro sozinho, descendo a colina? –


Cassie riu baixinho. − Não acho que ele ficaria feliz comigo de modo
algum.

− Ele mereceu, por mexer com a minha companheira. − Leidolf


reforçou seu domínio sobre ela. − Eu acredito que é hora de organizar a
nossa fuga para fora do zoológico por nossa conta.

Aimee esperava que não estivesse cometendo um erro, confiando


uma informação ao homem que corria atrás dela como lobo, enquanto
ela pulava sobre outra árvore caída. Ela tinha que avisar alguém que
sua prima foi capturada e levada para o zoológico. A mãe loba e seus
filhotes seriam bem cuidados. Mas o homem que estava com Cassie
precisava de resgate também. E isto estava acima da capacidade dela.
Ela só rezava para que o homem em frenética perseguição dela não
fosse um dos amigos dos vilões que planejavam matá-la.

30 Já mencionado no decorrer do livro, é como os integrantes do grupo que mata

lobisomens se intitulam.

~ 411 ~
Pegasus Lançamentos

− Espere, eu não vou machucá-la. – O homem gritou da floresta,


passando à sua forma humana. − Você é uma lobisomem?

Ela parou entre um conjunto de cicutas, enquanto leves folhas


roçavam o pelo dela e esperou que o homem a alcançasse. Ele apareceu
muito nu, coberto de gotas de água do riacho, com o cabelo molhado. A
respiração dele vinha forte e rápida, e ele piscou um par de vezes, como
se não acreditando que ela fosse real. Ele era bonito, de certa forma
robusta. Uma mandíbula robusta, olhos âmbares que sugeriam um
passado tempestuoso, sem franzir a testa, e nenhum sorriso também.

Ele definitivamente atraía num nível físico fundamental. O jeito


como ele veio atrás dela... Ela gostava que ele tinha coragem. A voz,
também, profunda e autoritária, mas ansiosa, semelhante à sua
expressão, a intrigava. Ela era uma causa perdida quando se tratava de
homens fortes com necessidades.

Ele esperou nervosamente, como um cara no primeiro encontro,


apertando as mãos até que ele cruzou os braços ao redor do corpo.

− Você está procurando por uma alcateia?

Ela desejava que tivesse algumas roupas para vestir. Não que se
transformar na frente de lobisomens fosse um problema quando era
membro de uma alcateia, mas quando ela não era, era um pouco
desconfortável. Além disso, estava malditamente frio ali.

Inferno, não tinha escolha se ela queria solicitar ajuda para


Cassie. Ela respirou fundo e se transformou.

O homem olhou para ela, estupefato em princípio e depois,


finalmente, ele disse:

− Você é uma de nós. Sou Carver.

~ 412 ~
Pegasus Lançamentos

Ela manteve os braços em volta de si mesma e estremeceu.

− Sou Aimee Roux.

− Irmã de Cassie! − Carver correu adiante e antes que ela


pudesse reagir, ele a puxou para um abraço quente, aquecendo a pele
gelada dela.

− Eu sou prima de Cassie. A irmã dela morreu há muitos anos.


Os... Os homens do zoológico levaram Cassie como prisioneira. E um...
Homem, também.

− Leidolf?

− Quem estava com Cassie.

− Leidolf. Nosso líder da alcateia. Inferno. Você vai voltar


comigo?

− Um de seus homens planeja me matar. – Ela disse. Carver a


apertou com mais força, e ela certamente poderia ficar terrivelmente
acostumada ao abraço quente dele. − Irving. E Tynan estava com ele. −
Ela explicou. − Você pode me proteger? Manter-me segura deles?

Ele sabia que os bastardos estavam tramando alguma coisa,


mas nunca suspeitou de nada assim.

− Claro que sim. Transforme-se, e nós vamos voltar para o resto


da alcateia. Parece que nós estamos sujeitos a um passeio ao zoológico.
E não é nosso lugar favorito.

Aimee transformou-se de uma beldade de pele sedosa para uma


igualmente majestosa beldade de pelo vermelho.

~ 413 ~
Pegasus Lançamentos

Então, ele se transformou. Ela correu de volta para a floresta na


direção do riacho. Ele seguia atrás dela, e quando chegaram às árvores
perto do riacho, todos os homens se aproximaram da margem,
ansiosos. Elgin tinha uma expressão preocupada, assim como Fergus.
Mas Aimee parou na fileira de árvores. Carver lambeu o rosto dela e
acariciou sua bochecha, incentivando-a a ir. Ele a protegeria a todo
custo.

Então ele correu em direção ao riacho, esperando como inferno


que ela seguisse sua liderança. Ele não olhou para trás. Todos os
membros da alcateia a observavam. Então ele ouviu os passos dela
sobre as pedras escorregadias, e ela bateu no flanco esquerdo dele,
assegurando que estava com ele nisso, que confiava nele para mantê-la
segura. Ele não iria desapontá-la.

− Você ouviu isso? − Sarah sussurrou, enquanto ela e Alice


estavam congeladas no meio das cicutas.

Alice respirou fundo, tentando sentir o cheiro de quem estava


por ali.

− Tynan – Alice respondeu, com a voz abafada.

O pai dela avisou que ele e Irving estavam fazendo algo errado.
Mas e se ele pudesse ajudá-las a tirar Leidolf do zoológico? Se ela, sua
irmã e Evan fracassassem, eles estariam em sérios apuros. Com todo
mundo. Mas se um adulto como Tynan estivesse com eles, ele seria o
responsável, sendo o mais velho.

~ 414 ~
Pegasus Lançamentos

Ainda assim, Alice estava hesitante em chamá-lo, um sexto


sentido avisando-a que ele não era confiável.

Então, tudo foi decidido. Ela sentiu o cheiro de Irving, o líder dos
dois homens. Fazendo barulho ao correr no mato, os dois homens vindo
direto para ela e Sarah.

~ 415 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Quatro

Tentando não apressar Cassie no concreto enquanto eles se


arrastavam para fora do túnel, Leidolf liderou o caminho sobre as mãos
e joelhos e rezou para que eles não fossem pegos.

Ela agarrou o pé dele e o sacudiu.

− Depressa, Leidolf. Quero sair deste lugar.

A voz dela não era de pânico ou medo, ela falou de forma


provocante, como se tentasse diminuir a tensão entre eles.

Amando o jeito que ela lidava com o dilema deles, ele riu.

− Este concreto é áspero contra meus joelhos. Você deve ser


mais estofada.

− Eu pensei que você fosse mais resistente do que isso. Vou ter
que sempre lembrar que você tem joelhos delicados. – Ela bufou.

− Você pode beijá-los quando estivermos fora daqui.

− Hmmm, e muito mais do que isso. Se nós saírmos, algum dia


nós devemos revisitar aquele lago em que o encontrei nadando.

− Pronta para aceitar a minha oferta? − Ele hesitou e olhou para


trás para ver sua expressão.

− Talvez. Eu ouvi que o chão faz uma cama confortável. − Ela


sorriu, conforme ele levantava uma sobrancelha.

~ 416 ~
Pegasus Lançamentos

− Ou podemos ter samambaias para deitar em cima, abetos de


Douglas servindo como nossas paredes e teto. Parece bom para mim.

− E o Forest Club. Eu quero voltar e dançar. Mas desta vez eu


vou pedir o prato de filé.

− Não teve o suficiente da última vez?

− Você foi um cavalheiro. Obrigada por compartilhar comigo.

− Eu tinha que compartilhar. – Ele fez uma pausa. − Se você


lambesse os lábios mais uma vez enquanto salivava sobre o meu
assado, eu teria que voar para o seu lado da mesa e beijá-la ali mesmo.
Não achei que você estava completamente pronta para isso. Então, eu
dividi o bife com você em vez disso.

Ela riu baixinho. Ele sorriu novamente.

Ele chegou ao fim do túnel e ficou de lado, para que Cassie se


ajoelhasse ao lado dele.

− Nós vamos subir por lá. – Ele apontou para a cerca do lado
norte do cativeiro dos lobos. − Parece que há mais uma ou duas cercas
para além daquela. Uma vez que tenhamos atravessado todas as cercas,
vamos nos transformar em lobo, e atravessar o Parque Florestal, que
está fechado agora. Podemos chegar à casa de Carver rapidamente.

Ele tomou o rosto de Cassie e beijou a boca dela ansiosamente e


duramente.

− Nós não podemos ser pegos, Cassie. Não importa o que, não
podemos ser pegos.

~ 417 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu não planejo isso. – Ela suspirou. − Certo. Vamos fazer. −


Cassie saiu primeiro do túnel e correu ao lado de uma construção e
através de um grupo de árvores e, então, mergulhou em cima da cerca.

Com a intenção de protegê-la, Leidolf a acompanhou,


observando qualquer sinal de problemas, coletando amostras do ar por
cheiros humanos, ouvindo a chegada de ninguém. Nessa hora da noite,
Leidolf percebeu que ninguém estaria perambulando pelos jardins, a
menos que alguém pensasse que os lobos vermelhos estavam em perigo
de ser libertados novamente. Ele sorriu ironicamente.

Quando ele se juntou a Cassie na tentativa de escalar a cerca


alta, estendeu a mão e deu um empurrão na bunda dela.

− Obrigada. − Ela sussurrou, lutando para chegar ao topo. − Nós


teremos que trazer cortadores de arame da próxima vez.

− Não haverá próxima vez. − Ele caiu do outro lado, e em


seguida, estendeu a mão e a ajudou a descer.

Eles correram para a próxima cerca e para a promessa de matas


profundas e para a segurança do Parque Florestal, os insetos zunindo
em um coro como se os animando. Enquanto os guardas do parque não
os pegassem correndo nus no parque depois que estava oficialmente
fechado, eles se sairiam muito bem.

− Como estão os seus joelhos? − Cassie perguntou, tentando


alcançar o topo da próxima cerca.

− Precisam de amor e carinho.

Ela balançou a cabeça. Ele deu-lhe um novo impulso.

− Ahh... − Ela gemeu. − Cuidado onde você coloca os dedos.

~ 418 ~
Pegasus Lançamentos

− Desculpe, a mão escorregou, mas alguém parece pronta para


mim novamente.

− Sim, mas agora não é realmente um bom momento. − Ela


olhou de volta para a primeira cerca. Os lobos cinzentos os estavam
observando do local deles. − Espero que ninguém os veja olhando para
cá e venha fiscalizar.

Eles tiveram êxito na segunda cerca quando Leidolf agarrou a


mão de Cassie e correu a toda velocidade para a segurança da floresta.

Pegadas correram em direção ao cativeiro dos lobos, e a voz


profunda de Thompson disse:

− Eu sei, Joe. Não estou feliz com isso também. O pessoal que
vem instalar as câmeras de segurança ainda demorarão por mais duas
de semanas. Eles têm que ter o financiamento aprovado, ordens de
trabalho, e o que mais você disser.

− Isso significa que nós teremos que fazer alguma vigilância. Mas
a informação não vai vazar até amanhã. Se alguém quiser roubá-los, vai
levar algum planejamento e...

Leidolf continuou a correr com Cassie pela floresta e, em


seguida, puxou-a para uma parada.

− Vamos mudar. Você está bem?

Ela assentiu com a cabeça, o rosto corado, a respiração rápida.

− Eu acabo correndo um monte quando estou perto de você.

− Fugindo de mim, você quer dizer. – Ele balançou a cabeça. –


Mas desta vez nós estamos correndo juntos. − Beijou-lhe os lábios

~ 419 ~
Pegasus Lançamentos

novamente, e esfregou os braços gelados dela. − Vamos nos


transformar.

− A qualquer momento, Thompson e Joe saberão que nós


escapamos. – Cassie deduziu.

− Onde eles estão? − Joe perguntou.

Cassie mudou de forma e, em seguida, esperou por Leidolf.

− Fique perto de mim, Cassie.

Em seguida, ele se transformou e saiu correndo na direção da


casa de Carver, sua companheira loba ao seu lado.

Mas dessa vez ele pretendia mantê-la segura.

Tynan parou um pouco longe enquanto Irving inclinava a cabeça


para o lado e sorria, mas o olhar era maldade pura quando ele encarou
Alice e sua irmã.

− Seu pai não gostaria de vocês, meninas, correndo num parque


fechado durante a noite, não é? – Tynan meneou a cabeça. − Não. Vocês
deveriam estar na cama. Saiam agora.

− Leidolf... − Sarah disse.

Alice colidiu no braço dela como se tivesse perdido o equilíbrio.


Não confiava nos homens, e elas deveriam ficar quietas sobre Leidolf e
seu confinamento no zoológico.

~ 420 ~
Pegasus Lançamentos

− Nós estávamos apenas dando um passeio. Acho que perdemos


a noção do tempo. − Alice disse friamente.

− Nós não vamos dizer ao pai de vocês. Vão para casa agora. −
Irving não era muito mais alto do que Alice, e do jeito que ele a avaliou,
como se finalmente percebesse que ela não era mais uma garotinha,
deu-lhe arrepios.

Alice não gostava que ele penssasse que poderia mandar nela.
Seu pai, sim. Leidolf, certamente. Um dos outros líderes, é claro. Mas
não estes homens que quebravam as regras de Leidolf o tempo todo.

− Obrigada. – Alice agarrou a mão de Sarah e correu de volta na


direção da casa.

− E quanto a Leidolf? − Sarah sussurrou para ela, tentando


acompanhar o ritmo acelerado de Alice.

− Nós teremos que rodear mais ao longe, talvez até o cativeiro


dos alces. − O telefone de Alice vibrou, e ela o tirou do bolso. − Evan,
onde você está? − Ela perguntou com a voz abafada.

− Estou bem atrás da cerca do cativeiro dos lobos. Mas eu


cheirei Leidolf e Cassie além da cerca. Acho que eles já escaparam. Se
eles de fato escaparam, devem ir para a casa de vocês. − Ele disse em
voz baixa.

− Irving e Tynan estão aqui.

Silêncio.

− Evan?

~ 421 ~
Pegasus Lançamentos

− Vá para casa. Estou seguindo nessa direção. Não pare por


nada. Apenas vá.

− Evan, o que há de errado?

− Confie em mim... Vá.

O coração de Alice estava batendo irregularmente enquanto


empurrava o telefone de volta no bolso.

Ela agarrou a mão da irmã e correu para a casa.

− O que há de errado? − Sarah sussurrou.

− Eu não sei. Evan sabe algo sobre Irving e Tynan, mas não quis
me dizer. Isso não é bom. A boa notícia é que Leidolf e Cassie
conseguiram fugir e estão a caminho da nossa casa.

Foi quando os tiros soaram. Alice e Sarah congelaram e caíram


no chão.

− De onde está vindo o tiroteio? − Sarah sussurrou.

− Bem atrás de nós.

− De onde nós acabados de deixar Irving e Tynan − Sarah


acrescentou.

− Provavelmente algum deles estava carregando um rifle. − Alice


tentou ouvir qualquer som que indicasse que os homens estavam vindo
na direção delas, mas com exceção dos insetos fazendo todo o seu
barulho e a brisa sacudindo os galhos ao redor, nenhum outro som
dispersou.

− Então, alguém está atirando neles.

~ 422 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu quero que você fique no Hummer. − Carver disse a Aimee


quando eles pararam o carro ao longo de uma rua perto do jardim
zoológico, com outras cinco caminhonetes, pertencentes a membros da
alcateia, estacionando atrás deles conforme chegavam em modo de
resgate para libertar Leidolf e Cassie do zoológico.

Mas Aimee não ficaria para trás. Se ela pudesse salvar sua
prima desta vez, estaria lá para ela.

− Qual é o plano? − ela saiu do veículo vestindo a camisa,


jaqueta e cueca de Carver, enquanto ele usava suéter e jeans.

− Você não está vestida para esse tipo de clima, sem sapatos
ainda por cima. − Ele a repreendeu, tentando convencê-la a ficar para
trás.

Elgin, Fergus, e os outros homens se reuniram.

− Eu vou deixar dois dos meus homens com você. – Elgin


propôs.

− Não ficarei preocupada com Irving se eu estiver com você. −


Ela puxou o suéter de Carver.

Elgin cheirou o ar. Em voz baixa, ele disse:

− Leidolf e Cassie já fugiram por conta própria. Mas Evan está


por aqui também.

~ 423 ~
Pegasus Lançamentos

− Ele vai ficar de castigo por um ano. − Fergus resmungou


baixinho.

Carver correu para se juntar a eles com Aimee a tiracolo,


juntando-se na conversa, mas mantendo a voz baixa, no caso do
pessoal do jardim zoológico estar nas proximidades.

− Eles seguirão para a minha casa. Venham. Vamos.

Foi quando eles ouviram os homens correndo para fora do


cativeiro dos lobos. Carver e o resto da alcateia ficaram na mata,
escutando silenciosamente.

− Eu não posso acreditar que eles realmente não estão aqui. –


Joe reclamou. − Como diabos eles sabiam que os lobos já estavam aqui?
E os libertaram tão rapidamente? Não há cercas cortadas que eu possa
ver. Apenas as pegadas dos pés descalços de um homem e de uma
mulher. Inferno, como alguém poderia estar correndo por aí com os pés
descalços, neste frio, e por quê?

− Nós vamos pará-los dessa vez. − disse Thompson. − Eles não


libertaram a loba com filhotes e o Vermelho. − ele fez uma pausa no
próximo cativeiro. − Os lobos cinzentos ainda estão aqui. Os ladrões
estavam somente atrás do casal de lobos vermelhos. Vamos.

− Você sabe o que isso me lembra?

− O que, Joe?

− Aquela Bella Wilder encontrada nua aqui no ano passado.


Você não acha que é algum tipo de culto que é associado a ficar nu com
lobos, não é?

~ 424 ~
Pegasus Lançamentos

− O inferno se eu sei. – Thompson riu. − Talvez eles achassem


que nós não poderíamos rastreá-los se eles deixassem pegadas em vez
de marcas de botas. Quem sabe?

Carver e os outros voltaram para os veículos e se dirigiram para


a casa de Carver. Construída no final do século dezenove, a casa tinha
grandes varandas fechadas e cinco quartos. Era perfeita para encontros
da alcateia quando os membros estavam em Portland porque a casa
fazia fundos com o Parque Florestal.

Pela primeira vez, Carver sentiu uma pontada de compaixão por


Fergus ter que lidar com um filho que estava muito ocupado beijando
as meninas para fazer qualquer trabalho de verdade na fazenda, e agora
estava com tantos problemas quanto os novos membros. Entretanto, ele
se lembrava de agir da mesma forma quando era adolescente, e com
certeza não queria Evan perto das suas filhas por causa disso.

Quando Carver chegou em casa, ele se surpreendeu quando


avistou o Jaguar amarelo de Leidolf parado na calçada, e imediatamente
pensou em... Evan.

Mas o que ele estava fazendo na sua casa? Não, eles sentiram o
cheiro dele no zoológico. Ele deve ter ido resgatar Leidolf.

Suas meninas!

Um medo doentio o encheu. Ele mataria Evan se as meninas


tivessem ido com ele e algo de ruim tivesse acontecido com elas.

~ 425 ~
Pegasus Lançamentos

− Será que suas balas atingiram Leidolf? − Tynan sussurrou, em


algum lugar a vários metros de distância de onde Alice e Sarah estavam
imóveis nas samambaias. Aterrorizada, Alice pegou a mão da irmã e
segurou firme.

− Eu acho que não. Ele teria gritado − Irving sussurrou de volta.

Eles pretendiam matar Leidolf?

Sarah estremeceu, e um arrepio percorreu a espinha de Alice.


Elas tinham que avisar Cassie e Leidolf. Elas tinham que avisar Evan.

O telefone de Alice vibrou em seu bolso, mas ela não se atrevia a


pegá-lo com medo que Irving e Tynan vissem a luz dele.

− Temos que alcançá-los antes que eles cheguem à casa de


Carver. A alcateia vai se reunir lá assim que souberem que Leidolf
esteve no zoológico. − Irving avisou.

− Eu acho que nós devemos apenas dar o fora daqui. Deixe como
está. Nós não conseguimos encontrar o corpo daquela mulher, e se
Leidolf ou qualquer um dos outros homens descobrirem, estaremos em
apuros. Perdemos a chance de matar Leidolf novamente. Nós vamos
acabar como Alfred, alimentando os vermes debaixo da terra. − Disse
Tynan.

− Ele nos acolheu, caramba. Quando nenhuma outra alcateia


nos queria, Alfred nos deu uma casa e nos ensinou o que precisávamos
saber sobre sermos lobisomens. Ele nos apreciava por tudo o que
fizemos por ele. Então aquele maldito Leidolf assumiu, e se ele soubesse
o que fizemos... inferno, uma vez que nos livremos dele
permanentemente, poderemos assumir. Elgin e Fergus nunca serão
capazes de liderar a alcateia por conta própria, sem ter que buscar

~ 426 ~
Pegasus Lançamentos

conselhos de alguém para orientá-los. E eles terão. A mim. Vamos lá,


estamos perdendo tempo.

Eles se afastaram das meninas, o telefone de Alice vibrou


novamente. Mas os homens ainda estavam muito perto para Alice se
arriscar a atender.

Assim que os passos dos homens desapareceram


completamente, Alice abriu o celular e olhou para as chamadas não
atendidas.

− Uma do papai e outra do Evan – Alice sussurrou para Sarah.

Já que Evan estava na floresta e em mais perigo, ela ligou para


ele primeiro.

− Evan, Irving está tentando matar Leidolf.

− Tranque todas as portas. Passe o ferrolho. Você está em casa,


certo?

Lágrimas nos olhos, ela balançou a cabeça.

− Não, nós não conseguimos. Irving começou a atirar, e nós


caímos no chão.

Uma pausa significativa se seguiu.

− Tudo bem. Fique onde está. Eu estou rastreando eles.

− Não, Evan. Fique longe deles.

− Meu pai ligou para me checar quando voltava para a cidade e


conseguiu sinal novamente. Ele me disse que Irving e Tynan estão

~ 427 ~
Pegasus Lançamentos

prestes a serem levados em custódia e presos na fazenda. Eles tentaram


matar a prima de Cassie.

− A prima de Cassie?

− Sim, Aimee é o nome dela. Apenas fique ai. Ligo mais tarde.

− Você disse a ele sobre Leidolf e Cassie estarem no zoológico?

− Não. Eu pensei que já que o grupo estava vindo para a cidade,


ele provavelmente já sabia. Eu não mencionei que já estava aqui. Eu
pensei que iria receber uma bronca. Especialmente quando ele
descobrir que eu peguei o Jaguar. Tenho que ir. Apenas fique quieta.

− Irving está armado, Evan. Você não pode se arriscar a ir atrás


dele.

− Ele pode estar armado, mas não do jeito que ele pensa.
Mantenha-se segura, Alice. Eu vou ligar para você. − Em seguida, ele
desligou e o silêncio ensurdecedor a atiçou para ação.

Alice ligou para o pai. Ele respondeu imediatamente.

− Pai... − Ela começou.

− Onde... – Ele gritou.

Alice o interrompeu antes de ouvir uma grande bronca.

− Irving e Tynan estão tentando matar Leidolf. Estamos na mata


a cerca de um quilômetro de casa. Sarah e eu estamos nos mantendo
imóveis, mas você precisa salvar Leidolf e Cassie! Evan está tentando
rastrear Irving e Tynan, mas ele vai acabar se matando. − Indesejáveis
lágrimas escorreram pelo rosto dela.

~ 428 ~
Pegasus Lançamentos

− Vocês estão seguras?

− Sim, estamos bem. Mas os outros não.

− Nós estamos a caminho. Fique onde está. – Ele ordenou.

Mas ficar parada não era nada o que Alice tinha em mente.

Assim que os tiros soaram no Parque Florestal, o coração de


Leidolf saltou, e ele conduziu Cassie, encostado no ombro dela, para
correr numa direção mais ao oeste. Como os homens do zoológico os
localizaram tão rapidamente? Ele não achava que seriam caçadores.
Mas em qualquer caso, quem estava atirando neles não poderia
acompanhar o ritmo de um lobo. As sirenes da polícia soaram ao longe
enquanto se aproximavam do jardim zoológico. Com o coração
trovejando, tudo com o que Leidolf se importava era levar Cassie em
segurança até a casa de Carver. A ideia de que ela levasse um tiro
novamente fazia o seu sangue gelar.

As sirenes soavam mais alto à medida que chegavam. Thompson


e Joe deveriam ter descoberto que Cassie e ele escaparam do cativeiro
dos lobos vermelhos. Ou talvez a polícia estivesse atrás de quem estava
atirando ilegalmente no parque fechado.

Leidolf e Cassie estavam a menos de meio quilômetro da casa de


Carver quando a floresta animou-se com os seus homens, Elgin, Fergus
e Carver, armado com um rifle, e pelo menos quinze outros, e uma
mulher ruiva que se parecia com Cassie, os olhos dela arregalaram-se

~ 429 ~
Pegasus Lançamentos

quando viu Cassie. A irmã dela? Espantado que ela ainda tivesse
família, ele não poderia ficar mais feliz por Cassie.

− Ai meu Deus, Cassie! É você realmente! – A mulher correu em


direção a Cassie com os braços bem abertos.

Cassie hesitou e, em seguida, correu para cumprimentá-la,


saltando nela como se estivesse numa brincadeira e quase derrubando
a mulher.

Mas, enquanto a mulher estava abraçando Cassie, Carver


rapidamente falou com Leidolf:

− Minhas meninas estão lá fora! Irving e Tynan estavam


planejando matá-lo, e as minhas meninas ainda estão lá fora.

− E Evan também. − disse Fergus, a expressão tanto preocupada


como irritada.

Leidolf rapidamente mudou de forma para falar com seus


homens.

− A polícia está a caminho. Vou pegar uma muda de roupa.


Cassie pode ficar na casa de Carver, e você também. − Ele disse a
parente dela.

− Aimee Roux. Sou prima de Cassie.

− Bem vinda à alcateia, Aimee. Carver, se livre da arma. Se a


polícia pegar você com isso, vai suspeitar que você fez os disparos. −
Leidolf voltou para a forma de lobo, acariciou o rosto de Cassie, e depois
a incentivou a correr com ele o resto do caminho até a casa. Ele
esperava que ela fosse sensata e não quisesse ir com eles.

~ 430 ~
Pegasus Lançamentos

Na casa, Carver apressou-se a pegar roupas para Cassie e


Leidolf, e uma vez que mudaram de forma e estavam vestidos,
encontraram-se com os homens na sala de estar.

− As mulheres vão ficar aqui e nos avisar se as meninas


chegarem em casa antes que nós as localizemos. – Leidolf preferia
perseguir Irving e Tynan como lobo, mas não queria ser pego dessa
forma, se a polícia descesse sobre a área em massa.

Cassie estava lutando contra as lágrimas enquanto abraçava a


prima novamente, mas então, ela a soltou e deu um abraço apertado
em Leidolf.

− Não se machuque. Prometa.

Ele sorriu e beijou-lhe os lábios.

− Eu não posso me dar ao luxo. Se os homens vierem nessa


direção, não os deixem entrar. Apenas ligue para o celular do Carver. −
então ele a beijou de novo, abraçou-a forte, e se apressou a sair com
seus homens. Irving e Tynan seriam homens mortos.

Assim que Leidolf e os outros saíram, Aimee pegou a mão de


Cassie e a levou para o sofá. Embora Aimee estivesse mais cheinha,
mais mulher, estava tão bonita e do mesmo jeito como Cassie se
lembrava. O mesmo punhado leve de sardas abrindo caminho no nariz
que a fazia parecer endiabrada de um jeito doce. O cabelo enrolado na
altura dos ombros, os olhos brilhantes e úmidos, ela era Aimee, sua
prima, tão próxima como sua irmã havia sido.

− O que... O que aconteceu com a nossa família foi tudo culpa


minha. − As lágrimas encheram os olhos de Aimee quando sentou-se
com Cassie e segurou a mão dela, como se nunca fosse soltar.

~ 431 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie abraçou-a novamente, não aceitando que a morte da


família delas fosse culpa de Aimee, mas ainda assim, não conseguia
acreditar que Aimee estava realmente ali, não morta como Cassie havia
pensado todos esses anos.

− Eu... Eu não posso acreditar que você está bem. Melhor do que
bem, Aimee. Mas você está errada sobre a nossa família.

− Não, você não sabe o que aconteceu. Eu vi dois dos filhos do


fazendeiro, os Wheelers, roubando a sua casa enquanto o seu pai
estava pescando. Sua mãe estava lavando roupa no rio com sua irmã, e
eu pensei que você estivesse com eles. Eu ouvi barulhos vindo da sua
casa, acreditando que era aquele maldito guaxinim que continuava
invadindo nossas casas, eu fui investigar e então eu peguei os homens
no flagra, transportando um saco de ração cheio de coisas, os preciosos
castiçais de prata de sua mãe e uma bandeja de prata que eu pude ver.
Eu deveria ter saído de lá antes que eles me vissem. Mas eu estava tão
chocada de que não fosse o guaxinim, que eu hesitei. Eles atiraram em
mim um par de vezes, e eu gritei. − Ela olhou para o chão e limpou as
lágrimas.

Lágrimas caíam pelo rosto de Cassie também. Ela não sabia o


que havia acontecido antes do fogo, só o final.

− Eu não deveria ter feito um som. Eu deveria ter me fingido de


morta. Ao invés disso, por causa da minha gritaria estúpida, sua família
veio correndo do rio. Seu pai matou os meninos de uma só vez, sem
hesitação, conforme ele os encontrou na casa e eu sangrando no chão.
Provavelmente o velho Wheeler estava nas matas próximas com seus
outros dois filhos. Certamente ele enviou os dois para começar o
incêndio.

~ 432 ~
Pegasus Lançamentos

− Ele e os dois filhos emboscaram nossas famílias. Consegui


rastejar para fora da casa e fui para a floresta. Meu único pensamento
era fugir. Acreditava que nós ficaríamos todos bem. Que curaríamos as
nossas feridas. Mas depois, quando voltei a mim, encontrei todas as
casas queimadas até o chão, ainda fumegando.

− Não foi culpa sua, Aimee. Foi deles! Eles estavam sempre
roubando as casas vizinhas. Eles causaram a morte de nossas famílias.
Eles deveriam ter sido presos muito antes disso. Você não poderia saber
como eles iriam se comportar.

Aimee sacudiu a cabeça e rapidamente enxugou mais lágrimas


escorrendo pelo rosto.

− Eu mal consegui escapar por causa dos meus próprios


ferimentos, mas arranquei minhas roupas e mudei de forma. Essa foi a
única maneira que eu pensei que teria uma chance para sobreviver.
Achei que você também havia morrido no fogo.

− Eu estava com os lobos. − Cassie engoliu em seco. − Estava


com eles, quando eu deveria estar com a minha família.

− Você teria sido morta, também. − Aimee deu um tapinha no


ombro de Cassie. − Somos tudo o que restou da família. Você me
perdoa?

− Não há nada a perdoar, Aimee. Deus, eu estou feliz que você


está aqui comigo agora. Você não fez nada errado. – Cassie a abraçou
novamente.

− Quando eu me curei, planejei matar os assassinos de nossas


famílias. Mas Wheeler trapaceou no carteado, entrou em um confronto
com o xerife, e foi morto a tiros na rua. Os dois filhos restantes

~ 433 ~
Pegasus Lançamentos

entraram numa briga com dois vaqueiros bêbados mais tarde naquela
noite. Eu planejei matá-los depois que eles fossem expulsos do bar e
começassem a tropeçar até a casa no estupor bêbado. − Aimee hesitou e
tomou uma respiração profunda. − Mas eu... Perdi a coragem.

Cassie lembrou como havia se movido silenciosamente como


loba, cuidadosamente permanecendo nas sombras dos edifícios, noite
após noite, seguindo-os.

− Eu os persegui por vários dias também, logo depois que eles


mataram a nossa família. Então, como você, não consegui fazer nada.
Eu desisti, saí da cidade, e me juntei a uma alcateia de lobos. Os lobos
com quem vivi também foram todos mortos mais tarde. Então jurei que
proclamaria a todas as pessoas, que os lobos merecem viver na
natureza como todos os seres merecem sobreviver e não serem caçados.

− Eu deveria ter adivinhado que se você tivesse sobrevivido, teria


ido morar com eles. Mas eu tinha certeza de que ninguém da nossa
família havia sobrevivido. Mas pensando bem...

− E se...? − Cassie e Aimee, disseram ao mesmo tempo.

− E se nem todos morreram? − Cassie terminou pelas duas. −


Você e eu não morremos. E se alguém mais da nossa família
sobreviveu?

Aimee apertou as mãos de Cassie.

− Eles podem não ter sobrevivido. Podemos ficar esperançosas


por nada.

Animada por pensar na possibilidade, Cassie levantou do sofá e


começou a andar.

~ 434 ~
Pegasus Lançamentos

− Mas e se algum deles estiver vivo?

Aimee não disse nada de imediato, como se estivesse refletindo


sobre a possibilidade.

Finalmente, ela perguntou:

− Como nós poderíamos localizá-los?

− Eu não sei. – Cassie balançou a cabeça. − Eu tenho publicado


em várias revistas. Eles não teriam ouvido falar de mim e, em seguida,
tentado entrar em contato comigo?

− Revistas sobre natureza? Científicas? Regionais? Será que


alguém da nossa família teria lido?

− As chances são bastante reduzidas. − Cassie teve de concordar


com a prima.

− Espere! − Aimee parou. − Sua mãe e a minha estavam sempre


pesquisando genealogias, curiosas para descobrirem o quão longe as
nossas origens da realeza viriam. Elas encontraram um parente na
França e dois na Inglaterra, e até se corresponderam com eles. Lembra?
Claro que, naquela época, demorou um ano para receber a resposta.

− Você... Você acha que talvez se elas ainda estiverem vivas,


ainda poderiam estar pesquisando as raízes genealógicas?
Provavelmente existem sites sobre isso agora. Vamos!

Cassie e Aimee correram pela casa de Carver até que


encontraram um computador no escritório, mas quando ela ligou, o
acesso era bloqueado. O mesmo acontecia com os computadores nos
quartos das meninas.

~ 435 ~
Pegasus Lançamentos

− Nós teremos que fazer isso mais tarde. – Cassie exasperada,


levou a prima de volta para a sala, sentia a esperança crescer de que
elas pudessem localizar alguns familiares. − Como é que você veio parar
aqui?

− Eu ensino botânica na Faculdade Comunitária de Portland −


ela encolheu os ombros. − Eu fui de subir em árvores quando éramos
jovens, para ensinar sobre elas. Bem, estudo vários tipos de plantas.
Amante da natureza está em nós, eu acho... exceto que eu me foco em
plantas em vez de lobos.

− Alguma vez você correu pelo Parque Florestal na forma de


loba?

− Sim. – Aimee suspirou. − Eu não tinha mudado em eras, mas


a lua estava cheia e eu havia terminado com um professor de geologia, e
eu só queria correr como loba para voltar ao normal. Você sabe como é
para nós.

− Ele não era um da nossa espécie, era?

− Não, apenas um amante e um amigo. Então ele sentiu tesão


por uma professora de biologia do ensino médio. − Aimee rosnou no fim.

Não querendo aborrecer a prima com a questão do ex-amante,


Cassie perguntou:

− Você não sabia a respeito da alcateia vivendo aqui?

− Não. Eu nunca cruzei com nenhum eles. A cidade não é tão


grande quanto Portland. E muitos deles vivem fora dos limites da
cidade.

Cassie assentiu.

~ 436 ~
Pegasus Lançamentos

− E eu aqui pensando que era a loba cujo cheiro Carver e Leidolf


se depararam no Parque Florestal.

− Não, provavelmente era eu. Mas eu encontrei Irving e Tynan


numa loja de conveniência e os ouvi falando sobre assumir uma
alcateia e como eles haviam escolhido uma mulher que não era
domável. Eles a mataram, Cassie. Deixaram o corpo na floresta. Foi
quando eles me viram no espelho de segurança, no outro corredor. Saí
de lá o mais rápido que pude, mas eles me seguiram. Atiraram em mim,
mas eu me transformei e corri para a floresta. Após Irving tentar me
matar e eu ver você, eu não poderia ir embora. Não antes que eu
soubesse a verdade. Que você era de fato a minha prima. − Ela
recostou-se no sofá e sorriu para Cassie. − Você aceitou Leidolf como
seu companheiro, não foi?

− Sim, mas só com o acordo de que eu continuaria a fazer os


meus estudos sobre os lobos.

− Ele concordou?

− Claro, ele tinha que concordar. − Cassie virou-se para ouvir a


porta dos fundos. Ela jurava que ouviu um barulho.

− Eu acredito que você finalmente encontrou seu par. − Aimee


olhou para a cozinha. − Você ouviu alguém usando uma chave na porta
de trás?

~ 437 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Cinco

Leidolf e seus homens vasculharam a floresta, cuidando para


não alertar Irving e Tynan que estavam procurando por eles. Se Irving
pensava em matar Leidolf, prata era o único tipo de bala que poderia
funcionar.

Carver já havia ligado para os celulares das meninas várias


vezes, mas nenhum estava respondendo. Fergus também tentou falar
com Evan, mas ele não atendeu também.

Todo mundo estava tenso e em silêncio enquanto continuavam a


busca pela floresta.

Nenhum outro tiroteio havia soado. Irving e Tynan abortaram a


missão?

Então, luzes subitamente apareceram como fantasmas,


atravessando a espessa paisagem florestal, flutuando aqui e ali e em
toda parte. E passos ruidosos. Homens se aproximando. Vários. Sem
conversa, no entanto. Silenciosamente.

Leidolf acenou para os homens pararem. Ou eles eram policiais


ou funcionários do zoológico, Leidolf presumiu. Percebeu que Irving e
Tynan teriam fugido rapidamente do local, antes que a polícia os
pegasse carregando rifles.

− Polícia! − gritou um homem, identificando-se a alguém mais


profundamente na floresta.

~ 438 ~
Pegasus Lançamentos

− Coloque as mãos onde eu possa vê-las.

Inferno, um dos homens de Leidolf estava em apuros. Leidolf


correu na direção de onde veio a voz do policial.

− Estamos à procura de três adolescentes, policial − ele gritou,


esperando não alarmar o homem e levar um tiro. − Dois homens estão
atirando nessa floresta, e três de nossos filhos se perderam. Quando as
meninas ligaram para nos avisar, elas ouviram os tiros e estão
agachadas em algum lugar.

− E você é? – O policial perguntou, alto, focado, as sobrancelhas


unidas numa carranca, a arma na mão.

− Leidolf Wildhaven. Possuo uma fazenda fora da cidade, mas a


casa do meu funcionário Carver está localizada bem ao lado do parque.
As filhas dele, gêmeas de dezesseis anos de idade saíram para uma
caminhada, e Evan, filho de Fergus com dezessete anos, foi procurá-las.
Eles podem estar separados. Nós não sabemos. Eles não estão
atendendo os celulares agora.

− Tudo bem. − O homem informou os detalhes para outra pessoa


e deu a localização dele, e o local logo estava repleto de policiais.

− Nós as encontramos. − Disse um policial, correndo por entre


as árvores, trazendo as garotas com ele.

Elas se soltaram e correram para abraçar o pai, com os olhos


cheios de lágrimas.

− Onde está o Evan? − Fergus perguntou rapidamente.

− Nós não conseguimos encontrá-lo. − Disse Alice. − Ele foi... −


Ela olhou para os policiais e hesitou. − Nós não sabemos.

~ 439 ~
Pegasus Lançamentos

− Se estiver tudo bem para você, policial, nós vamos levar as


meninas para a casa do pai delas, no caso dos atiradores ainda estarem
por aqui. − Disse Leidolf.

Depois de verificar os nomes e endereços, os policiais os


liberaram com um aviso.

− Até que os bosques estejam seguros, fiquem em casa.

− Inferno, Leidolf, eu tenho que encontrar Evan. − Fergus


pisoteava com raiva pela floresta até a casa de Carver, parecendo que
estava pronto para matar qualquer um, se dissessem alguma coisa para
ele.

− Você sabe que ele está bem... − Leidolf disse, mas então algo
fez os cabelos na parte de trás do seu pescoço ficarem em pé em
atenção. Ele não tinha certeza do que era, um ruído ao longe ou apenas
algo que o pôs inquieto. − Estou me transformando. Leve minhas
roupas, Elgin, por favor?

Leidolf rapidamente se despiu, transformou-se e saiu correndo


como se sua vida dependesse disso. Mas não era com a vida dele que
estava preocupado.

− Eles estão aqui. − sussurrou Cassie, cheirando os homens que


ela presumia ser Irving e Tynan. Medo e raiva as cobriram, ela e Aimee
estavam em apuros. Cassie apontou para o rifle de Carver. − Munição?

− Dardos tranquilizantes. – Aimee verificou.

~ 440 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie fez uma careta.

− Ele não teve tempo para por outra coisa. E ele provavelmente
não tem balas de prata. – Aimee sussurrou, e agarrou a camisola que
ela usava e começou a levantá-la, mas Cassie a parou.

− Eu vou me transformar. E você usa o rifle.

− Mas... – Aimee queria contestar.

− Eu a sujeitaria, mesmo que você seja um pouco mais alta do


que eu. E você sempre foi uma atiradora melhor do que eu. Sem tempo
para discutir. − Cassie tirou os jeans e a blusa emprestada, e se
transformou.

Aimee ligou a TV na sala, e então elas esperavam para emboscar


suas presas.

Aimee moveu-se para o sofá e disse em voz alta:

− Eu amo este filme. Romance com o Lobo, Julia Wildthorn


certamente sabe escrever sobre lobisomens com o exato toque certo.

De pé ao lado da porta, pronta para atacar, Cassie queria rosnar


para o comentário de Aimee. Aimee silenciosamente se moveu para o
outro lado do batente da porta, a espingarda pronta enquanto o filme
progredia.

Você é apenas uma meio-sangue. O homem no filme estava


dizendo com um ar arrogante.

Então você é um sangue azul. Quem disse que você é melhor do


que eu?

~ 441 ~
Pegasus Lançamentos

Um lobo rosnou nas proximidades e o homem disse: Eu posso


mudar de forma e lutar contra a ameaça. E você?

Ela riu. Eles não vão gostar do meu tipo de balas, prata.

Você, fique aqui, onde pode continuar bonita e segura.

Eu sou uma caçadora de recompensas, Seth. Eu sou paga para


parecer bonita e assumir riscos. Ela passou por ele e o empurrou.

Cassie ouviu os passos suaves de duas pessoas vindo pelo


corredor. O assoalho rangeu um pouco, e os passos morreram
instantaneamente.

Rosnados irromperam do filme, danificando os fios apertados


dos nervos de Cassie.

Não! A mulher gritou na televisão.

Mais rosnados no filme entraram em erupção, e, então, os


passos no corredor se apressaram em direção a sala novamente, desta
vez mais rápido, como se os homens pensassem que o ruído do filme
fosse abafá-los.

Cassie ficou tensa, nunca se sentiu tão pronta para matar, mas
nunca com tanto medo, não por si mesma desta vez, mas pela prima.
Ela não queria“perdê-la” uma segunda vez. Só que desta vez poderia ser
para sempre.

O homem errado moveu-se através da porta. Aquele sem o rifle.

− Ela é uma loba! − Barba Negra advertiu o primo.

~ 442 ~
Pegasus Lançamentos

O homem ruivo começou a entrar na sala, o rifle pronto para


atirar, quando os rosnados do filme pareciam ecoar pelo corredor. Um
rosnado raivoso e feroz como ela nunca ouviu antes.

− Puta merda! – O ruivo disse, girando para atirar na nova


ameaça.

A emboscada perfeita. Leidolf no resgate.

Barba Negra colocou a mão no rifle de Aimee, e seria apenas


uma questão de segundos antes do cara muito maior do que ela, puxar
a arma. Cassie pulou, mordeu forte o braço dele e o segurou, ele
imediatamente soltou a arma. Ele gritou e caiu no chão, com os olhos
lacrimejando, o braço sangrando.

Aimee atirou no peito dele e o nocauteou, e, em seguida, Cassie


correu para o corredor para ajudar Leidolf. Ele ainda estava rosnando,
com os olhos em chamas, caninos perversamente grandes totalmente a
mostra, os pelos do pescoço levantados.

Atrás dele estava Carver, na forma de lobo também, e


aparentemente calmo, mas ela reconheceu através desse exterior
controlado, que ele estava pronto para continuar a luta se Leidolf
hesitasse.

− Elas não são de prata. − Evan disse, ofegante, enquanto corria


pelo corredor atrás de Carver. − As balas. Elas não são de prata. Eu as
mudei antes que Irving e o irmão desaparecessem de novo, dizendo que
estavam caçando o puma. Eu troquei uma vez antes, também, só que
eu me esqueci de mencionar a alguém.

O rosnado de Leidolf escorregou num pequeno sorriso, mas os


olhos brilhavam com desprezo enquanto continuava a pressionar o

~ 443 ~
Pegasus Lançamentos

inimigo. Cassie esperava que ele matasse o desgraçado. Ele acenou com
a cabeça na direção de Cassie. Ele queria que ela matasse o homem?

Um disparo explodiu ao lado dela. Aimee havia atirado. Um


dardo atingiu o homem, e ele caiu.

Estava decidido então. O julgamento seria entre os lobos. Assim


que os homens pudessem se transformar, quando a lua crescente
brilhasse novamente no céu e todos os lobisomens pudessem mudar de
forma.

− Temos novos problemas. − Leidolf disse a Cassie, enquanto


eles retornavam para o quarto na fazenda, mas tudo o que ela
conseguia pensar era em fazer uma busca por sua família, libertar a
loba vermelha do jardim zoológico e, ela franziu o nariz, tomar um
banho para se livrar do cheiro da cama de palha que ela repousou no
zoológico.

Aimee dormiria em um dos quartos de hóspedes, até que o


problema fosse resolvido com Irving e Tynan. Cassie estava grata que o
jovem Evan tivesse salvado a vida dela quando foi baleada, antes, ao
trocar as balas de prata pelas comuns. Irving e Tynan estavam presos
no celeiro de Fergus, que programou para o filho, tarefas extras de
pecuária como a primeira tarefa na manhã seguinte, por pegar o Jaguar
de Leidolf sem permissão, por não se certificar que os mais velhos
soubessem o que ele estava fazendo, por não falar sobre as balas de
prata, e por querer fazer justiça com as próprias mãos.

~ 444 ~
Pegasus Lançamentos

− Além da infinidade de outros problemas que temos, os


problemas financeiros e as dificuldades com Pierce, Quincy e Sarge,
sem mencionar Irving e Tynan, nós não temos uma enfermeira ou um
contador. − Leidolf olhou para Cassie, esperançoso.

− Não olhe para mim. Eu nem sou enfermeira, nem tenho cabeça
para números. − Ela começou a se despir das roupas emprestadas,
contente de que os homens levaram sua caminhonete para a fazenda de
Leidolf, onde ela tinha duas malas de roupas escondidas lá dentro. Ela
ainda precisava voltar para a floresta para recuperar sua mochila e seu
equipamento favorito de safári, todavia. − Você tem acesso à Internet?

Ele ergueu as sobrancelhas e começou a tirar as roupas


também.

− Já está planejando ir embora para estudar mais lobos? − Ele


parecia um pouco irritado.

Ela inclinou o queixo e deu-lhe um olhar condenatório. Era


melhor ele não ter problema com ela saindo cada vez que ela sugerisse
isto.

− Eu poderia ser capaz de localizar um pouco mais da minha


família.

− Oh, desculpe, Cassie. Eu pensei... Que você estava se


preparando para me abandonar.

Por um instante, ela se sentiu culpada. Mas, por outro lado,


estava um pouco irritada que ele tentasse fazê-la se sentir culpada. Ela
suspirou. Talvez pudesse esperar por alguns dias, até que a situação
com Irving e Tynan fosse resolvida e ela tivesse mais tempo para ficar
com a prima. Entretanto, ela precisava cumprir o prazo com a revista

~ 445 ~
Pegasus Lançamentos

para o artigo que ela deveria escrever, e com a loba vermelha presa no
jardim zoológico, isto não iria acontecer.

− Eu terei todos trabalhando nisto para ver se podemos localizar


a sua família. − Leidolf acrescentou.

Ela sorriu para ele, mas antes que pudesse beijá-lo para mostrar
seu apreço, ele deslizou a mão na dela e a levou para o banheiro.

Ela esperava encontrar elegância, mas nada como isto. Mármore


branco em todos os lugares, pisos, bancadas e uma grande, grande
banheira com sauna. Luminárias de bronze e porcelana, mosaicos na
parede com o desenho de lobos descansando em um lago, e uma
pintura de céu azul e de nuvens brancas no teto.

Mas o chuveiro realmente chamou sua atenção. Ela abriu a


porta de vidro transparente para o chuveiro, onde toda a metade
traseira se abria para apreciar a vista lateral do penhasco dos bosques
circundantes. Uma privativa parede de vidro era tudo o que estava entre
eles e a natureza selvagem. Os lábios dela se separaram quando pensou
em qual seria a reação de Julia Wildthorn sobre isso, para um de seus
livros de romance selvagem.

− Hmmm − Cassie estendeu a mão para ligar a água quente.

Leidolf se aproximou por trás, colocou as mãos nos quadris dela,


e pressionou a ereção contra seu traseiro.

− Hmmm, é certo, Cassie. − Ele se esfregou contra ela, e ela riu.

− Você está pronto para algo? − Ela tinha quase certeza de que
não importava quão quente o sexo fosse, ele não aceitaria seu próximo
plano de ação, libertar a loba selvagem e seus filhotes. Mas... Este era o
seu próximo objetivo de qualquer maneira.

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A água escorria sobre os ombros e os seios dela, caindo na


cintura e mais abaixo enquanto ele pegava um frasco de sabonete suave
com cheiro adocicado, a refrescante fragrância de tangerina e limão era
celestial.

Ele começou a ensaboá-la e ela foi direto para o seu membro,


grosso, curvado, e pronto para a ação. O penis saltou nas mãos dela, e
ele respirou fundo.

Ele segurou o rosto dela com as mãos escorregadias e a beijou


na boca fortemente, como se tivesse sido privado do afeto dela por
muito tempo, como se tivesse medo de perdê-la em breve.

O beijo dele não era nada gentil, era exigente, provocante,


excitante. Cassie mordiscou os lábios dele, a língua, as mãos deslizando
por todas as superfícies duras dele, o peito, a cintura, o quadril. Deus,
ele era perfeito. Seu deus do mar. Poseidon. Sedutor de mulheres, só
que ela estava seduzindo-o em vez disso.

Paixão crua ardia por ela enquanto colocava uma perna em


torno dele, enganchando o calcanhar em torno dele, e esfregava o sexo
contra a coxa dele.

− Você está molhada para mim, Cassie, não está? − Ele


murmurou contra seus lábios, os olhos vidrados de desejo, a voz rouca,
a qualidade de barítono enviando arrepios de necessidade correndo
através dela.

− Sempre. − Ela sussurrou de volta, pressionando o corpo


firmemente contra o dele, esfregando, fazendo com que cada pedacinho
dela fosse muito mais sensível ao toque dele, os mamilos provocando os
leves pelos do peito dele, os lábios femininos acariciando a coxa tensa, o
quadril brincando com o sexo rígido dele.

~ 447 ~
Pegasus Lançamentos

Ele gemeu e deu um sorriso maroto. Ela tinha caçado e


capturado, e ele era dela, por toda a eternidade. Ele se inclinou e
deslizou a mão ao redor do traseiro dela, e mais abaixo até que
encontrou os lábios femininos e enfiou os dedos.

− Quente, úmida e desejosa.

A pele dela parecia febril com o toque dele e com o calor da água.
Apenas o ar frio de fora a impedia de se queimar no local. Ele
mergulhou os dedos mais profundamente, preparando-a ainda mais
para a sua penetração.

Ou talvez ele a tenha capturado! Ela pretendia prolongar a


maneira extraordinária que ele a estava tocando, acariciando-a com
abandono selvagem até a lenta queimação se transformar numa
fogueira, as chamas cintilando em direção ao céu enquanto ela se
aproximava do pico.

Arqueando para mais perto dele, Cassie concentrou-se no


perverso jeito que ele a tocava, até que explodiu com sensações
ardentes de requintado prazer. O corpo dela tremia do prazer
consumado, o queria dentro dela agora. Ela abriu mais as pernas, se
esfregou com mais força contra ele e sussurrou:

− Se você tiver acabado de me torturar...

Ele riu com força.

− Você é a pessoa que está me fazendo sofrer. − Ele levantou as


pernas dela ao redor da sua cintura, apertou-a contra uma parede, e
entrou nela com um movimento rápido.

Céus, ela estava em êxtase! O próprio corpo dela ainda em


convulsão com o orgasmo, apertou seu agarre sobre o pênis

~ 448 ~
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introduzindo. Até o fundo ele penetrou, com as mãos segurando-a firme


contra ele, empurrava com urgência selvagem.

Com um frenesi que não era seu estilo habitual, Leidolf penetrou
uma e outra vez, transando com a mulher que amava, expressando o
desejo que sentia por ela e que jamais seria extinto.

Com cada impulso, ele a tomou como sua, sua companheira


para sempre.

Ele cavalgava apaixonadamente, cada curva do corpo dela era


um prazer tátil. Ele buscou a boca dela novamente, enquanto ela
respirava com dificuldade, com os olhos semicerrados de desejo. Ele
lembrou quando a impulsionou sobre a cerca do zoológico, os dedos
deslizando em sua fenda úmida e o quão duro que tinha ficado, apesar
da situação.

A mulher era um afrodisíaco para ele, não importava onde eles


estivessem ou o que estivessem fazendo. Ela gemeu, assim que a
semente dele derramou dentro dela, e por um segundo, um pensamento
perverso atravessou sua mente. Grávida, a barriga dela crescendo com
seus bebês. Ele gemeu enquanto liberava o restante da sua semente,
amando-a e desejando que ela nunca quisesse deixá-lo.

Depois de soltá-la e lavá-la delicadamente, ele pegou uma toalha


e começou a secar seu doce corpo, corado devido a excitação.

− Eu quis você a partir do momento em que a vi. − Ele tomou


uma respiração profunda, o olhar fixo no dela.

Ela sorriu e pegou outra toalha do gancho e começou a se


enxugar.

− Você pensou que eu era humana.

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− Você amava os lobos. – Ele sorriu. − Isso era tudo o que eu


precisava saber. Se eu soubesse o que você era, nunca teria se afastado
de mim. − Levantou-a em seus braços e a levou para a cama, pensando
em dormir por um tempo, ou não. Dependia do quanto Cassie poderia
lidar com mais amor esta noite. O jeito que ela estava provocando o
mamilo tenso dele, suspeitava que ela não estivesse pronta para dormir.

Até que ele ouviu alguém correndo em direção a porta do quarto.


Inferno.

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Capítulo Vinte e Seis

A batida forte na porta do quarto de Leidolf foi seguida por Pierce


dizendo:

− Elgin me enviou para dizer que Thompson está aqui. Elgin


disse a ele para voltar num horário decente, mas o homem insiste que
se você não falar com ele, ele conseguirá uma ordem judicial para ter o
lugar revistado.

Leidolf xingou baixinho e colocou Cassie na cama.

− Fique. Estarei de volta em breve. − Em seguida, ele vestiu um


jeans e uma camisa. Irritado, ele saiu do quarto, fechou a porta não
muito gentilmente, e caminhou em direção à sala com Pierce ao seu
lado.

− Desculpe, Leidolf. Eu sei que você não queria ser incomodado,


mas Elgin disse que se nós não lidássemos com isso direito, você
realmente ficaria puto.

− Não é culpa sua. Eu sabia que isso eventualmente voltaria


para nos morder na bunda de uma maneira ou de outra.

Elgin correu para encontrar Leidolf antes que ele chegasse à


grande sala.

− Eu o deixei esperando na sala. Thompson está aqui para vê-lo


sobre os lobos vermelhos. E aquele biólogo de lobos? Alex Wellington?
Está com ele.

~ 451 ~
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− Inferno. Isso é como provavelmente Thompson soube sobre


nós. Tudo bem. Avise Felicity e todos os outros na fazenda.

Leidolf encontrou Thompson de pé na sala e estendeu a mão,


dando um firme aperto de mão. Os olhos azuis de Thompson o
estudaram de volta, medindo-o, categorizando-o. Como um lobo
analisaria o seu potencial inimigo. Leidolf ofereceu um pequeno sorriso.

Apesar de o cara o ter sedado, ele o admirava por querer


proteger os lobos.

− Leidolf Wildhaven.

− Henry Thompson. − O homem olhou para Alex.

− Nós nos conhecemos. Sou Alex Wellington. Onde está Cassie?


Você disse que me avisaria quando a localizasse. − Ele soava irritado.

Alex logo perceberia que havia perdido qualquer chance que ele
pensava ter com Cassie, quando soubesse que Leidolf a reivindicou.

− Ela está dormindo. − Leidolf fez sinal para Thompson e Alex


sentarem no sofá. − O que eu posso fazer por você? − Ele perguntou a
Thompson.

− Disseram-me que você tem alguns lobos no local. Raros lobos


vermelhos. − Thompson olhou para Alex, confirmando de onde havia
recebido a informação.

Leidolf deu um olhar para Alex, como se dissesse que não estava
surpreso.

Quando Thompson e Alex se estabeleceram no sofá, Leidolf


sentou-se em sua cadeira, a única peça do mobiliário que Laney o

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convenceu a escolher. Como se fosse o seu trono, ele era o único que
sentava nele, mesmo oferecendo aos outros para se sentar lá. Eles não
se atreveriam.

Pierce e Quincy se juntaram a Leidolf como se fossem o reforço


dele, juntamente com Sarge, o qual eles ainda estavam vigiando. Era
melhor ele manter a boca fechada. Fergus logo se juntou a eles
também.

Thompson olhou para eles brevemente, provavelmente se


perguntando por que Leidolf parecia precisar de tantos músculos. Mas
sendo a dinâmica da alcateia como era, não manteria o seu povo no
escuro sobre um potencial problema. Se ele tivesse que transformar
Henry Thompson e o biólogo de lobos, ele transformaria. E o seu povo
tinha que saber a razão.

Thompson se inclinou para frente.

− Vamos começar com o motivo real de estarmos aqui.

Leidolf aproveitou a oportunidade para inverter a situação de


modo a beneficiar a alcateia.

− Você soube que nós poderíamos precisar da sua ajuda, é isso?

Thompson fechou a boca escancarada, e se sentou um pouco


mais reto.

Leidolf encolheu os ombros.

− Um puma vem matando nossos bezerros recém-nascidos. Três


deles já. Nós poderíamos simplesmente abatê-lo nós mesmos, mas nós
ouvimos falar que você estava interessado em preservar a vida selvagem
sempre que possível. Elgin deveria ter entrado em contado com você

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antes, mas estivemos tentando rastrear o puma, sem sucesso, nesse


ínterim.

− Um puma. − Thompson foi claramente desviado do rastro dos


lobos momentaneamente. − Elgin não disse nada sobre um puma. Mas
eu disse a ele que queria falar com você sobre os lobos vermelhos que
você tem na sua fazenda.

Bem, inferno, o rastreador de lobos não era tão facilmente


enganado.

− Você não está interessado no puma? − Leidolf suspirou


dramaticamente para fazer efeito. − Eu esperava que você pudesse
encontrar um lar para ele. Eu prefiro não ter que... – Estremeceu
visivelmente. − Matá-lo.

− Então você tem rifles, Sr. Wildhaven.

− Claro. Viver numa fazenda tão isolada faz disso uma


necessidade.

− Você, por acaso, não teria dardos tranquilizantes, não é?

− Sim. Nós esperávamos abater o puma nós mesmos.


Pacificamente, se possível. Quem falou que tínhamos lobos vermelhos
por aqui? – Leidolf esticou as pernas.

Thompson hesitou em dizer, como se estivesse prolongando o


suspense. Então ele encostou-se no sofá e acenou para Alex.

− Alex finalmente se apresentou, e disse que foi ele quem


encontrou o meu amigo e eu drogados na Floresta Nacional do Monte
Hood. Fez alguma caça por lá recentemente? Talvez procurando o

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puma? Mas acertou outra coisa por acidente? − Ele levantou uma
sobrancelha.

− Não posso dizer que não.

− O Sr. Wellington disse que você estava por lá, procurando a


sua loba vermelha. Chamou-a de Vermelha. Alex disse que ela o
protegeu de dois homens, e desde que é um biólogo de lobos, sabia que
isto não era natural para um lobo selvagem, então percebeu que ela
tinha que ter sido o animal de estimação de alguém. Tanto quanto lobos
selvagens possam ser animais de estimação. Mas dois outros lobos
estavam com ela. Então, onde foi que você disse que seus lobos estão
na fazenda?

Para a surpresa de Leidolf, Cassie caminhou para dentro da


sala. Ele não queria que Alex a visse nunca mais. E não a queria
exposta aos questionamentos de Thompson.

Ela sorriu para Thompson, inclinou a cabeça para Alex em


saudação, e então seguiu direto para a cadeira de Leidolf, inclinou-se e
o beijou na bochecha.

− Você contou ao Sr. Thompson sobre o puma, querido? Como


ele está matando nossos pobres bezerros pequenos? Eu acho que é uma
mãe alimentando os filhotes. Portanto, seria horrível se ela fosse caçada
e os filhotes não fossem cuidados.

Leidolf puxou Cassie para o colo dele e passou os braços em


volta dela.

O olhar no rosto de Thompson era estranho, como se as ações


deles revelassem algo importante para ele. Ele esfregou o queixo
barbudo.

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− Você é aquela bióloga de lobos que Alex estava procurando?

− Cassie Roux, sim. Ele não estava me procurando tanto quanto


estava procurando os lobos para a pesquisa dele.

− Pelo que Alex disse, você é da Califórnia. Está aqui há muito


tempo?

− Há um tempo.

Imediatamente, Leidolf não gostou de Thompson questionando a


sua companheira. Quando ele deu um aperto no corpo dela para avisá-
la disto, ela recostou-se contra ele e relaxou, indicando que ela não
estava preocupada com as perguntas, então Leidolf não devia se
preocupar. Claro que ele se preocupava. Qualquer resposta errada
poderia ser desastroso.

− Você por acaso não conheceu Bella Wilder, não é? − Thompson


perguntou.

− Eu ouvi sobre o caso. – Ela sorriu. − Qualquer coisa sobre


lobos me chama a atenção.

− Você não gostaria de tirar um lobo do zoológico, gostaria?

Ainda relaxada, ela balançou a cabeça.

− Eu estudo lobos em estado selvagem. Lobos enjaulados e de


estimação não se qualificam para o tipo de pesquisa que eu faço. Eu
estudo a dinâmica de uma alcateia, como eles caçam juntos, agem entre
si, a unidade familiar. Num ambiente de jardim zoológico, não seria o
mesmo.

− Então, você não gostaria de vê-los em um jardim zoológico.

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Ela não respondeu.

− Ela não disse nada disso. − Leidolf parecia perturbado. Ela


parecia aborrecida por ele responder em seu nome. Mas não gostou que
ela hesitasse em responder. Isso a fazia parecer culpada como o pecado.
O que ele suspeitava que ela fosse, quando se tratava de não querer
lobos presos no zoológico.

Thompson pigarreou, sentou-se mais ereto e cruzou os braços


sobre o peito largo, e dirigiu seu comentário para Leidolf.

− Acredito que você atirou dardos em mim e no meu amigo,


quando descobrimos Rosa ferida na Floresta Nacional do Monte Hood.
Eu suspeito que você fugiu com a Rosa, a qual você se refere como
Vermelha. Ela não só era um dos seus animais de estimação, como você
tem mais um par de lobos aqui na fazenda. E eu suponho que você
soltou a Rosa e seu companheiro do zoológico hoje mais cedo.

Cassie enrijeceu as costas e Leidolf apertou o abraço sobre ela,


preocupado que ela fosse dar um soco em Thompson ou dizer algo que
não deveria.

− O senhor sabia que uma loba filha matou a loba mãe, e um


lobo filho matou o lobo pai durante o cativeiro, Sr. Thompson? – Cassie
perguntou.

Thompson abriu a boca para falar, mas fechou antes de dizer


alguma coisa, ele parecia claramente surpreso.

− Na natureza, os lobos vivem em unidades familiares. – Cassie


continuou. − Eventualmente, as crianças seguem em frente, iniciam
suas próprias alcateias, tornam-se os líderes, e começam suas próprias

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famílias, em seus próprios territórios. Quando eles são forçados a viver


em um ambiente de cativeiro, a ordem natural não é mais natural.

Ela ondulou o dedo para ele numa forma de bronca.

− Deixe-me contar outra situação, Sr. Thompson. Na natureza, o


macho alfa e a companheira alfa, são carinhosos com antecedência,
durante a fase de namoro. Então ela é tratada como rainha, quando
tem seus filhotes. − Ela olhou para Leidolf e sorriu.

Ele lhe deu um sorriso de satisfação de volta.

− Mas ela tem que estar grávida primeiramente. – Ele salientou,


e colocar Cassie nessa situação, seria metade da diversão.

− Eu já observei lobos em cativeiro, Sr. Thompson, onde o


comportamento da alcateia é retorcido. Um macho estava tentando
acasalar com uma fêmea no cio. Ele montou nela, e ela o mordeu, não
querendo a atenção dele. A cauda dele e a dela estavam para baixo o
tempo todo. Ele não era o macho alfa. Apenas um lobo com tesão. O
macho alfa ficou por perto e colocou a cabeça sobre o dorso da fêmea
num momento, as orelhas erguidas, a cauda para cima, com o olhar
focado no encrenqueiro.

Cassie suspirou, olhou diretamente para Thompson e continuou.

− Quando o macho beta tentou acasalar com a fêmea de novo, o


que o alfa fez? Ela estava tentando chegar o mais próximo dele que
podia para se proteger. O macho alfa arrastou o seu traseiro em torno
da parte traseira dela e, o macho alfa e a fêmea alfa ficaram lado a lado,
enquanto ele tentava pacificamente protegê-la. Você acha que o macho
alfa teria aceitado aquele comportamento de um beta se eles estivessem
na natureza? Ele teria arreganhado os dentes, grunhido, e rosnado. Ele

~ 458 ~
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provavelmente o teria mordido, empurrado-o para baixo, e o obrigado a


aceitar sua liderança.

Thompson abriu a boca, mas, em seguida, fechou-a novamente


sem comentar.

− Então, você vê, eles estão melhor na vida selvagem.

− Mas isso não significa que nós tiraremos a fêmea e os filhotes


do zoológico. − Leidolf disse, apressadamente.

− Eu suspeito que, no fundo, você percebe o quão perigoso seria


para a mãe loba e seus filhotes viver na natureza sem um companheiro.
− Thompson quase pareceu simpático sobre toda a bagunça.

− Eu concordo. Ela não poderia durar muito sem outro lobo para
ajudá-la a criar os filhotes. – Cassie suspirou.

− Então, onde está o companheiro dela? O pai dos filhotes?


Onde? Na fazenda? − Thompson perguntou, e desta vez ele soava como
se tivesse feito besteira, e separado uma família.

− Ela é estritamente selvagem. − disse Cassie. − Eu imagino que


caçadores mataram seu companheiro.

− Há quanto tempo você conhece o Sr. Wildhaven? – Thompson


mudou de tática.

− Por que todas essas perguntas, Sr. Thompson? − Cassie


perguntou, soando um pouco surpreendida.

− Nós nunca fomos capazes de entender como Bella ficou nua no


clima congelante do zoológico. Então uma loba vermelha que colocamos
na jaula com um lobo macho desapareceu. Mas não o macho. Apenas a

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fêmea. Alguém que gosta de lobos pode ter tido interesse em retirá-la da
jaula. Especialmente se ela fosse um animal de estimação e tivesse
fugido.

− E atrapalhou seus planos?

− Ela é uma rara loba vermelha. − Thompson olhou para Leidolf.


− Posso ver a Rosa... Vermelha?

− Ela não está aqui agora. − Leidolf levantou-se, terminando o


interrogatório que ele deveria ter terminado desde que começou.

− Pelo menos, quem roubou os dois lobos tiveram bom senso de


deixar a mãe loba com os filhotes no zoológico para a própria segurança
deles. − Thompson lançou a Leidolf um olhar ardente.

− Mas o que eu não entendo é por que ninguém quis roubar o


Vermelho. Por que apenas a Rosa e, agora, o companheiro dela? −
Thompson bateu os polegares sobre os braços da cadeira e levantou.

− Várias câmeras de segurança serão colocadas no local, em


outras palavras, mais segurança no zoológico, caso você esteja
pensando em levá-la e os filhotes.

Alex levantou do sofá também, a expressão no rosto enquanto


estudava Cassie, era de admiração e de desejo.

Leidolf puxou Cassie para perto novamente. Ela claramente teve


a impressão de que ele queria que ela deixasse a situação como estava.
Mas, quanto mais Cassie pensava na loba no zoológico, mais queria
libertá-la. Não aqui, onde não havia lobos vermelhos, mas ela poderia

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viver no Refúgio Nacional de Vida Silvestre Alligator River31, no nordeste


da Carolina do Norte, onde outros lobos vermelhos foram reintroduzidos
na natureza e agora viviam em alcateias familiares?

Ela não estava certa se Vermelho poderia viver solto na natureza


selvagem com um bando de lobos selvagens, mas odiava deixá-lo
sozinho no zoológico. Além disso, apenas a forma como Thompson
falava sobre o Vermelho, o homem parecia preocupado que o lobo
macho fosse deixado sozinho se eles não o roubassem também. Ou
talvez fosse apenas uma ilusão de sua parte.

− O Vermelho era originalmente um lobo selvagem ou foi criado


em cativeiro? − Cassie perguntou.

As sobrancelhas de Thompson subiram, e um pequeno sorriso


tocou os seus lábios, como se soubesse que ela perguntaria e ele sabia
exatamente o porquê, também.

− Selvagem, trazido há um ano, pouco antes da Rosa ser


capturada.

Bom. Ele provavelmente se ajustaria a voltar a viver na


natureza.

− Se você acabou. − Leidolf apontou para Thompson e Alex


sairem.

− Obrigado por seu tempo. − Thompson disse secamente.


Quando ele e Alex se dirigiram para a porta da frente enquanto Leidolf

31 No original: "Alligator River National Wildlife Refuge".Foi criado com o objetivo de


preservar e proteger uma espécie única de pântano e a vida animal associada a esta.
Também é conhecido por atrair visitantes do mundo inteiro para programas de
observação de lobos vermelhos.

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andava com Cassie para ver os convidados sairem, eles ouviram os


filhotes de lobos de Felicity choramingarem e latirem.

Inferno.

Imediatamente, Thompson mudou de direção e seguiu pelo


corredor em direção ao quarto de hóspedes que Felicity estava
hospedada enquanto Leidolf corria atrás dele.

− Você não pode entrar aí.

− Eu ouço... filhotes, caramba. Como você poderia ter roubado a


loba e os filhotes tão rapidamente? − Thompson olhou por cima do
ombro para Leidolf, enquanto Alex corria atrás deles.

− Esta é uma propriedade privada, e você não pode perturbar


uma mãe e seus recém-nascidos.

Thompson riu.

− Recém-nascidos? Claro. − Ele empurrou a porta do quarto de


Felicity, e ficou imóvel na porta. Cassie espiou através de Leidolf,
esperando que Felicity e sua ninhada tivesse tido tempo suficiente para
mudar de forma.

Com um bebê mamando em cada mama, Felicity parecia


cansada e irritada com a interrupção. Harvey segurava um bebê em
cada braço e fez uma careta.

− Quem diabos é você? Caia fora do nosso quarto.

− Eu... Eu pensei, eu... − O rosto de Thompson estava vermelho.


− Desculpe, erro meu − Ele fechou a porta e enfrentou um Leidolf
furioso.

~ 462 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu devo chamar a polícia sobre invasão de privacidade, ou


podemos acabar com isto agora? − Leidolf perguntou.

Thompson olhou de volta para a porta.

− Eu poderia jurar... − Ele balançou a cabeça e olhou para Alex


para confirmação, mas o biólogo parecia tão chocado quanto ele. −
Basta lembrar o que eu disse sobre a vigilância e alarmes. Serão
instalados amanhã de manhã, depois do que aconteceu esta noite. −
Thompson avisou. Ele deu a Cassie um olhar severo, e ela jurou que
estava dizendo a ela para tirar os lobos antes que ela perdesse a chance
de libertá-los.

Ela sorriu.

− É bom que os lobos tenham um defensor como você. − ela


tomou-lhe o braço e o levou pelo corredor, ignorando a forma como o
companheiro dela parecia estar prestes a ter um acesso de raiva. − Eu
espero que você pegue o puma. Se você precisar de alguma ajuda para
capturá-lo, tenho certeza que Leidolf ou seus funcionários ficariam
felizes em ajudar.

Thompson parou na porta da frente.

− Não há espaço para pumas aqui?

− Você sabe como é. Cães e gatos brigam. − ela encolheu os


ombros.

− Sabe, Cassie, você com certeza me lembra de Bella Wilder.


Você não é parente dela, não é?

− Nunca se sabe. Você apenas nunca sabe.

~ 463 ~
Pegasus Lançamentos

− Sim, isso é o que eu estava pensando. − Ele olhou para Leidolf.


− Obrigado pelo seu tempo. Aviso se eu souber alguma coisa sobre o
puma.

− Cassie, você vai procurar lobos em breve? – Alex finalmente


quebrou o silencio.

− Em breve, sim. Se você não sabia, Leidolf e eu nos casamos.

− Já? Não era para ser...

− Nós não pudemos esperar − Leidolf puxou Cassie para seus


braços, protegendo-a do intruso.

Outra dica estranha de reconhecimento atravessou o rosto de


Thompson. Como se fosse um déjà vu. Alguém, Bella e Devlyn talvez,
agiram de forma semelhante e Thompson reconheceu a semelhança.

− Adeus, Alex, Sr. Thompson. – Cassie se despediu.

− Lembre-se do que eu disse sobre a segurança. − Thompson


saiu, enquanto Alex dava a Cassie um último olhar de desejo.

Fergus apressou-se a fechar a porta enquanto vários outros se


juntaram a eles.

− Está tudo bem? – Elgin tinha uma expressão preocupada.

− Está tudo bem. − Leidolf disse a Cassie. − Nós não vamos


soltá-la. Ela e os filhotes estão seguros no zoológico. − Leidolf deslizou o
braço em volta da cintura dela, enquanto os pensamentos de Cassie se
concentravam em como exatamente eles poderiam roubá-la.

~ 464 ~
Pegasus Lançamentos

− E se nós... − Quincy começou a dizer. A carranca de Leidolf o


calou. Pierce enfiou as mãos nos bolsos, parecendo que queria oferecer
um conselho, mas pensou melhor.

Elgin parecia desconfortável. Cassie pensou que poderia ser


porque ele temia que isto poderia causar um grande abismo entre ela e
Leidolf. Ele estava certo.

Ela começou a se afastar. Leidolf apertou os braços ao redor da


cintura dela.

− Já é tarde – Leidolf disse.

Cassie não estava de bom humor.

Laney cruzou os braços e olhou zangada para Leidolf.

Se Cassie não estivesse tão irritada com ele, teria sorrido ao ver
a reação da sua gente. Pelo menos ela tinha o voto de confiança deles.

− Ela não pertence ao zoológico. Você sabe disso, e eu sei disso.


− Cassie disse a Leidolf.

− Mesmo se você libertá-la e levá-la para algum lugar onde


existam lobos vermelhos, ela pode não ser aceita. Ela precisa de um
companheiro e território próprio.

− Exatamente o que eu estava pensando.

Leidolf soltou a respiração.

− Cassie, se você está pensando no Vermelho...

− Eu estou.

~ 465 ~
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− Eles precisam de tempo para conhecer um ao outro.

− Aqui. Com todos os outros lobos vermelhos − ela deu um


sorriso rápido.

− Eu acabei de tirar você do zoológico. – Ele balançou a cabeça.


− E agora você quer voltar? Eles estarão esperando por você, Cassie, e
então eu vou ter que encontrar uma maneira de tirá-la da cadeia.

− Aquele xerife é seu amigo, não é? Você pode pedir para ele me
soltar.

Leidolf passou a mão pelo braço dela, em seguida, pegou sua


mão e apertou.

− Acho que não vamos conseguir dormir esta noite, até


tentarmos esse seu esquema louco.

Ela tomou uma respiração profunda.

− É a minha vocação defender os lobos. Ela não pertence ao


zoológico. Eles cruzam muitos dos animais em cativeiro para manter os
cativeiros cheios, e os animais nunca conhecem outra coisa senão uma
vida de prisão. Ela é selvagem, não é a mesma coisa.

− Tudo bem, Cassie Roux, pequena bióloga de lobos. Você está


prestes a nos meter em um monte de problemas, mas que se dane. −
Ele olhou para Elgin. − Você está no comando enquanto eu estiver...
Nós estivermos fora.

− Você não pode ir sozinho. – Elgin franziu a testa.

− Pierce e Quincy vêm comigo. – Leidolf decidiu.

~ 466 ~
Pegasus Lançamentos

Sarge olhou esperançoso, mas Leidolf balançou a cabeça para


ele.

− Quando você aprender a se comportar, e eu digo tomar a


minha companheira como refém, quando ela escapulir com o meu
Jaguar, então você pode vir em missões como esta.

Cassie mordeu a língua. Ela pensava que talvez Sarge finalmente


se encaixasse, se ele pudesse fazer algo positivo. Mesmo fazendo isto,
que era algo ilegal. Provavelmente, era a razão pela qual ele queria ir
junto, em primeiro lugar. Mas ela finalmente conseguiu a aprovação de
Leidolf, e não queria ir contra a decisão dele sobre o assunto. “Escolha
suas batalhas sabiamente” ecoou a frase em torno de seu cérebro.

− Eu vou acompanhá-lo. – Fergus se ofereceu.

− Tudo bem. Isso faz cinco de nós. Vamos, porque eu quero


dormir ainda esta noite. − Ele deu a Cassie uma de suas piscadelas
diabólicas que diziam que ele não tinha a intenção de dormir
absolutamente, e era melhor ela malditamente compensá-lo.

Ela estava totalmente pronta, mas depois que eles completassem


a missão.

~ 467 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Sete

Quando Cassie e o time de resgatadores da loba chegaram ao


exterior escuro da segunda cerca do cativeiro dos lobos três horas
depois, ela sentia excitação e apreensão. Não fazia muito tempo que ela
e Leidolf fugiram do local e agora, todos vestidos de preto, os cinco,
Fergus, Quincy, Pierce, Leidolf, e ela, faziam um louco grupo
heterogêneo.

Tudo estava tão quieto que ela suspeitou de uma armadilha.


Fergus, Pierce, e Quincy estavam prontos com gaiolas para os lobos,
uma para cada um dos adultos e outra para os filhotes, enquanto
Leidolf se preparava para cortar o fio de uma das cercas.

− Esperem. − Thompson gritou, saindo detrás da área dos lobos


com Joe seguindo atrás. − Eu vou facilitar para vocês.

Leidolf moveu Cassie para trás dele.

− Vai, Cassie. Vá para casa. Vou lidar com isso. Fergus, vá com
ela.

− Não, eu vou ficar com você. Eu sou a culpada, e eu vou ficar


com o meu companheiro. − Ela disse.

Thompson parou na primeira cerca e respirou fundo:

− Eu sabia que você ia tentar roubá-la, Cassie. Você vai levar a


loba, os filhotes e o Vermelho para a fazenda primeiramente, e depois
para onde?

~ 468 ~
Pegasus Lançamentos

Estupefata, Cassie olhou para ele.

− Nós não temos muito tempo. A equipe de segurança vai estar


aqui em uma hora mais ou menos. – Thompson alertou. − Eles ligaram
e disseram que estão vindo mais tarde, por causa de outros trabalhos
prioritários que têm que concluir devido a furtos.

− Você está falando sério. − Leidolf deu um sorriso irônico.

− Que diabos? − Thompson levantou as mãos, com as palmas


para cima. − Vocês iriam roubá-los de qualquer maneira. Poderiam
muito bem fazer direito. E com segurança para todos os envolvidos. Mas
eu quero que o Vermelho vá com a família. E eu não quero que eles
sejam soltos lá fora, onde os caçadores possam atirar neles facilmente.

− Não. Nós só vamos movê-los quando os filhotes forem mais


velhos. Para um lugar onde outros de sua espécie vivem. − Cassie
informou enquanto Thompson abria o portão de segurança.

Eles correram para levar as gaiolas ao recinto interior, onde a


loba, os filhotes, e o Vermelho estavam. Todos ajudaram a colocar os
lobos nas gaiolas o mais rápido possível.

− Joe e eu vamos ajudar a levá-los até o portão.

− Mas e se você for pego? − Perguntou Cassie.

Thompson acenou com um pedaço de papel.

− Documentos de transferência forjados.

− Obrigada, Sr. Thompson.

− Você fez um argumento muito persuasivo lá na fazenda de


Leidolf, mocinha. – Ele ergueu as sobrancelhas. − Nós ainda temos os

~ 469 ~
Pegasus Lançamentos

lobos cinzentos para a exposição, e eles vieram de outro zoológico, por


isso são habitantes do jardim zoológico por completo. Espero que você
não planeje movê-los. Talvez algum dia, nós teremos vermelhos em
exposição que nasceram em cativeiro.

Ela apertou sua mão, os olhos embaçados com lágrimas.

− Obrigada mais uma vez.

Então eles passaram com as gaiolas pelo portão e Thompson o


fechou novamente.

− Mantenha-os seguros. Oh, e nós pegamos a puma. Ninhada de


cinco. Todos eles estão felizes e saudáveis e bem alimentados, dormindo
na exposição de grandes felinos. Parece uma troca justa.

Dessa vez, foi Leidolf quem agradeceu, e eles seguiram através


da floresta em direção à rua onde estacionaram a van. Depois de
carregar a preciosa carga, dirigiram de volta para a fazenda. Cassie
finalmente recuperou o fôlego, quando Leidolf disse:

− Eu não sei como você me convenceu a fazer isso.

− Ela é como uma da alcateia. – Cassie levantou o queixo.

− Por quanto tempo nós vamos manter a mãe, os filhotes e o


Vermelho na fazenda?

− Até que eles estejam prontos para começar uma nova vida na
Carolina do Norte. Os guardas florestais de lá não se surpreenderão ao
ver as novas adições.

− Você não vai cuidar deles esta noite. – Leidolf decretou.

~ 470 ~
Pegasus Lançamentos

− Eles ficarão bem deixados fazendo o que queiram. Você tem


um lugar seguro para mantê-los?

− Agora que você pergunta. – Leidolf bufou.

− Sim. – Respondeu Fergus. − Temos um local fechado com


espaço ao ar livre que vai ser perfeito. Pierce, Quincy e eu podemos
fazer uma grande cama de palha para eles.

− Tem alguma outra coisa em mente para fazer com o que restou
da noite? − Leidolf perguntou a Cassie.

− Só desmaiar na cama e dormir, a não ser que o meu


companheiro tenha outra coisa em mente.

− Exatamente o que eu esperava que você dissesse, Cassie.

Desde que chegaram em casa, não dormiram nada, exceto por


alguns cochilos. Cassie sentia que estava perto de estar no céu. O jeito
como Leidolf era tão sintonizado às necessidades dela, o jeito que ela
podia excitá-lo, e estimulá-lo de tal forma que ela o levava diretamente
para o ápice, era tudo magnífico.

Cassie suspirou, amando como ele não se cansava dela, assim


como ela não se cansava dele, e aconchegou-se ao lado dele enquanto
ele dormia profundamente mais uma vez.

Durante três dias, ela lutou contra a compulsão de sair e fazer


seu trabalho. Ela não viu Aimee, mas sabia que ela, Carver e as
meninas estavam começando a se conhecer e Cassie estava feliz com
isso. Mas o iminente prazo final para um artigo encomendado por uma
revista estava levando os nervos de Cassie ao limite. Ela nunca perdeu
um prazo... nunca. E não conseguia parar de pensar nisso.

~ 471 ~
Pegasus Lançamentos

De alguma forma, ela conseguia dormir entre os banquetes de


amor com Leidolf, mas depois de compartilhar uma refeição com ele e
voltarem para o quarto, onde ele começou a meditar sobre o caos
financeiro que a fazenda estava, ela andava de um lado para outro.

− Não se preocupe, Cassie. Eles podem usar o artigo de outra


pessoa, e você envia o seu mais tarde. − Leidolf olhou para ela. − A
menos que você esteja aqui para me distrair disso... Para que possamos
voltar àquilo. − Ele apontou para a cama.

Ela rapidamente aprendeu que, quando ele estava tentando


entender as finanças, era melhor deixá-lo matutar sozinho. Ela sabia
que se mencionasse sair para ele novamente, ele pararia o que estava
fazendo e daria outra desculpa para que ela não pudesse sair ainda. Ela
tinha que sair.

− Eu poderia apenas correr para Idaho e fazer um artigo sobre os


lobos de lá. – ela cruzou os braços.

− Não. Minha mãe, meu pai e minha irmã chegarão em breve


para conhecê-la.

− Em breve. Isto pode significar semanas.

Leidolf misturou mais papéis, cutucou uma maquina de calcular


e comparou com os números confusos do papel.

− Eu poderia estar de volta muito antes deles aparecerem.

− Precisamos cuidar de Irving e Tynan. Desde que a lua nova


deu lugar à lua crescente, eles podem mudar, para que possamos
cuidar desse negócio de uma vez por todas. Esta noite. Você precisa ver
que a justiça prevalece.

~ 472 ~
Pegasus Lançamentos

− Tudo bem. – Ela suspirou profundamente. E caminhou um


pouco mais. Parou de repente. − Minha mochila. Preciso voltar para
onde eu a escondi. Minha roupa favorita para observar os lobos está lá
dentro.

Leidolf estava franzindo o cenho enquanto olhava fixamente para


os papéis, murmurando números para si mesmo.

− Não devo demorar muito. Vejo você mais tarde. Assim que
encontrar a minha mochila, volto logo. − Ela saiu do quarto.

Ela quase chegou à porta da frente quando Leidolf saiu do


quarto.

− Aonde você está indo?

Ela virou e lançou um olhar exasperado.

− Para o lugar onde eu escondi a minha mochila.

− Sozinha? − Ele agia como se ela fosse fazer uma viagem à lua,
sozinha.

− Sim, sozinha. Todo mundo tem trabalho a fazer. Eu estou


apenas indo para a floresta. Eu pegarei a minha mochila e retornarei.
Você está ocupado com seus relatórios financeiros e...

− Eu vou com você. − Ele gritou para Elgin. − Cassie e eu


estamos indo para a Floresta Nacional do Monte Hood.

Elgin saiu da cozinha, segurando um copo de leite e um pão de


aveia. Fergus apareceu com Evan, que apressadamente mordia um
pedaço de torrada antes de começar suas tarefas extras.

~ 473 ~
Pegasus Lançamentos

− Você está no comando, Elgin. Vamos decidir o destino de


Irving e Tynan hoje à noite.

− Nós temos tudo sob controle aqui. – Elgin tinha uma presença
muito imponente, a conotação sendo que Leidolf e Cassie poderiam ficar
no lago por quanto tempo eles quisessem.

− Obrigado, Elgin. − Leidolf pegou a mão de Cassie e se dirigiu


para fora enquanto Fergus, Elgin, e Evan os observavam sair. − Você
quer ir pescar? − Leidolf perguntou a Cassie.

− Pescar?

− Eu vi uma caçadora no meu lago, vestida com roupa de safári,


mas, antes que eu pudesse fazê-la minha, ela desapareceu em um mar
verde de plantas.

− Eu vi um deus do mar pingando água, mas antes que eu


pudesse tirar proveito dele, eu cheirei minha presa, a mãe loba e fugi.

Leidolf pegou as chaves do seu Hummer.

− Deus do mar? Eu gosto disso. Muito mais impressionante do


que líder da alcateia.

− Hmmm − Ela gemeu quando ele a abraçou. − Então eu devo


ser uma deusa.

− Sem dúvida. − Ele olhou para Elgin e Fergus. − Eu vou voltar


logo, mas se certifique que ninguém pegue o meu Jaguar para um
passeio sem a minha expressa permissão. − Ele deu a Evan um olhar
duro.

~ 474 ~
Pegasus Lançamentos

− Acho que não há nenhuma chance de levá-lo para dar uma


volta em um encontro. − O adolescente sorriu e curvou a cabeça.

Leidolf balançou a cabeça para ele. Traços de si mesmo naquela


idade, exceto que Jaguares não haviam sido inventados na época.

Dentro da garagem, Leidolf pegou um saco de dormir e outro


saco com equipamento de camping.

− Conforto humano. Eu normalmente não me preocupo com isto


quando vou para o lago, mas para a minha ninfa...

− Eu recebo um tratamento de realeza?

− E eu aqui pensando que você fosse recém-transformada e, em


vez disso, você é da realeza. – Ele riu.

− Sim, bem, às vezes é uma boa ideia minimizar a nossa


herança.

Eles subiram no Hummer e, com tanta pompa quanto a realeza


receberia, várias pessoas pararam de trabalhar para acenar para eles.

− Quando o gato sai, os ratos fazem a festa. − Cassie comentou,


sorrindo, relaxando confortável no banco. Definitivamente não dormiu o
suficiente. Olhou para o céu cheio de nuvens. Não conseguia vê-la, mas
sabia que a brilhante lua crescente estava seguindo o seu caminho ao
céu noturno. − Você acha que Irving e Tynan são igualmente culpados
dos crimes que cometeram?

− Sim. Mesmo que Tynan fosse um seguidor, ele participou,


tanto quanto Irving.

− Eu, bem, nunca presenciei uma briga de lobos até a morte.

~ 475 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf estendeu a mão e esfregou na coxa dela.

− Você não tem que ver, se não quiser.

− É diferente quando o lobo está atacando você. Então eu não


teria nenhum escrúpulo.

− Eles vão atacar, fique certeza.

− Você não lutará com os dois de uma só vez, não é?

− É a única coisa justa a fazer.

− Então o que você estará tentando provar? O quão valente você


é? – Ela fez uma careta.

Leidolf não respondeu, e ela percebeu que atingiu um ponto


fraco.

− Por que você tem que provar alguma coisa? Você é o líder.
Todo mundo o admira e respeita.

Então, ela se lembrou do que Alice e Sarah haviam dito. Que


Leidolf não lutou com Alfred ou com os outros do comando da alcateia
para libertá-los do mal. Que ele estava muito ferido até mesmo para
aparecer. Ela mordeu o lábio, odiando ter tocado no assunto. No
entanto, se ele não lutou contra quatro lobos de uma vez, ele poderia
gerenciar dois? O outro que ele lutou foi um grande cinza. Irving e
Tynan eram vermelhos, e apesar de terem vivido uma vida longa, eles
não nasceram lobisomens.

Cassie cerrou os dentes. Droga.

− Você está cerrando os dentes, Cassie. Por quê?

~ 476 ~
Pegasus Lançamentos

Ela fechou e abriu as mãos, tentando aliviar a tensão.

− Você não tem que provar nada a ninguém. Muito menos para
sua alcateia. E certamente não para mim.

Leidolf não disse nada. Ela estava prestes a dizer que não ficaria
para assistir o confronto. Que partiria para Carolina do Norte e
conheceria as alcateias de lá, antes de introduzir o Vermelho, a loba e
os filhotes na área.

Leidolf pegou a mão dela e apertou.

− Nem pela alcateia, ou nem mesmo por você, Cassie. Eu tenho


que fazer isso por mim.

Ela mordeu a língua. Apesar dele dizer que não era para provar
nada a ninguém além de si mesmo, ela era esperta o suficiente. Ele era
obrigado a ser o lobo superior, e resolver uma questão como esta,
provaria isto. Apesar de desesperadamente querer ir embora para não
vê-lo ferido, sabia que ele a queria lá, o apoiando, e animando.

Ela tentou apreciar a paisagem durante o caminho até o


acostamento, onde Leidolf estacionou o Hummer. Cassie tentou
aproveitar a mão dele segurando a dela, a maneira como ele roçava o
corpo contra o dela enquanto caminhavam pela floresta. Respirando
profundamente, ela tentou se concentrar no jeito como a terra cheirava
tão rica e cheia de minerais, as árvores perfumadas com monotropas,
um indício de chuva na brisa. Mas a luta iminente continuava a encher
seus pensamentos.

Depois de uma breve busca, eles encontraram a mochila dela, e


ela sorriu ao ver as roupas dele amassadas dentro também.

~ 477 ~
Pegasus Lançamentos

− Parece que você planejava morar permanentemente comigo há


muito tempo.

− Sim, mala, mochila, casa, até mesmo jaula de zoológico,


qualquer variação. − Ele deu um sorriso rápido e ela devolveu.

Quando eles finalmente chegaram ao lago, ele deixou cair o


equipamento de camping, puxou-a de volta contra seu peito, passou os
braços firmemente ao redor dela, e olhou para a vista do Monte Hood ao
longe.

− Quando eu estava aqui antes, eu queria me transformar em


lobo e correr todo o caminho até o Monte Hood, apenas pela diversão.

− Mas você não fez isso.

− Eu me distraí.

− Eu estava procurando pela loba vermelha e, em seguida,


encontrei um garanhão de pé, nu no lago. – Ela sorriu. − Distraindo-me
totalmente da minha missão, também.

− Mas de um jeito bom. Eu só queria tê-la distraído o suficiente


para que você não tivesse me deixado. Quer nadar?

− Nesse tempo frio? Como humana? − ela balançou a cabeça.

− Quer pescar?

− Eu imaginei algo um pouco mais... íntimo.

− Na floresta? − Ele esfregou os braços dela. − Ou aqui, à beira


do lago?

~ 478 ~
Pegasus Lançamentos

Ela se soltou, pegou o saco de dormir, e se dirigiu para a


floresta.

− Íntimo. − Ela sorriu de volta para Leidolf. − Aqui fora, à beira


do lago é muito... Exibicionista.

− É a natureza, tão natural quanto estar aqui apenas com


animais silvestres como nossas testemunhas. − Ele puxou o saco de
dormir da mão dela e deslizou o braço em volta de seus ombros. − Você
tem que experimentar de tudo um pouco.

− Eu nunca tive relações sexuais com um homem em um


chuveiro aberto para o mundo inteiro.

− Viu o que uma pequena experiência pode fazer? − Ele soltou o


saco de dormir no chão, mas quando ela se agachou para estendê-lo,
ele agachou-se atrás dela, joelhos espalhados, prendendo o traseiro dela
com corpo dele, o pênis duro como um pau pressionado contra ela.

Ela olhou sobre o ombro e sorriu para ele.

− Será que você não quer usar o saco de dormir?

Ele alcançou a frente dela e começou a desabotoar a blusa dela.

− O que você quiser, Cassie. − Ela poderia dizer pelo tom da voz
dele, grossa com o desejo, que ele estava pronto para amá-la nas
samambaias, o saco de dormir que se danasse.

E ela o amava por isso, por desejá-la com tanta paixão que ele
não conseguia controlar suas necessidades, por querer apenas a ela, e
nenhuma outra.

− Hmm, bem, eu vou apenas estender o saco de dormir, então.

~ 479 ~
Pegasus Lançamentos

Não havia sentido em deitar sobre a terra úmida. Mas os dedos


dele já estavam arrancando a blusa dela, e se aproximando para
acariciar os seios ainda confinados na regata e no sutiã. A maneira
como ele pressionava a ereção contra a bunda dela, mostrandoo quanto
ele a queria e logo, realmente chamou a atenção dela. Bem, os dedos
acariciando os mamilos dela através do tecido de algodão da camiseta e
do sutiã de renda fizeram isto também.

Ela já estava molhada com a necessidade, a dor crescendo entre


as pernas, os joelhos espalhados, enquanto tentava manter o equilíbrio
enquanto tentava desenrolar do saco. Mesmo vestida, ela ainda se
sentia exposta, sexy e selvagem.

De alguma forma, ele conseguiu tirar a regata por cima da


cabeça dela e, em seguida, puxou o sutiã, sem se incomodar em abri-lo.
Ele apenas o puxou para cima, libertando os seios, deslizou sobre a
cabeça dela e o soltou sobre as samambaias ao lado deles.

− Hmmm − Ela gemeu, estava com os joelhos e as mãos no chão,


pronta para esquecer o saco de dormir, e se abrir para o sexy deus do
mar.

A respiração pesada de Leidolf acariciou o pescoço dela,


enquanto os polegares acariciavam os mamilos dela, tornando-os duros
com seu toque tentador. Ela estava congelada no tempo e espaço,
incapaz de se mover enquanto o sentia agitar-se contra seu traseiro.

− Hmmm, Cassie, você me faria desistir do mundo só para ter


você comigo para sempre.

Ela endureceu um pouco por causa das palavras dele, mas


então suspirou. Ela não o mudaria da noite para o dia sobre esse
assunto. Daria tempo para ele se acostumar com o fato de que ela tinha

~ 480 ~
Pegasus Lançamentos

que se afastar algumas vezes para trabalhar. Levantando o traseiro


levemente, ela se esfregou contra a virilha dele.

Ele gemeu em voz alta.

− Inferno, mulher, eu estou tentando ir mais devagar dessa vez.

Ela riu, amando como poderia manipular o pobre lobo para amá-
la mais rápido e não torturá-la até a morte com seus lentos movimentos
sedutores. E isso foi o que bastou.

Rapidamente, ele a levantou e a deitou no saco de dormir, como


se estivesse se preparando para a investida final. E ela estava pronta.

Ela deitou de costas no confortável e suave saco de dormir,


puxou os cadarços das botas de caminhada, e as jogou de lado.
Estendeu a mão para abrir o jeans enquanto um lobo mau arrancava as
próprias roupas, o olhar lascivo travado no dela. Antes que ela pudesse
se desvencilhar do jeans, as grandes mãos dele estavam deslizando
para baixo das pernas dela e jogando-as para cada lado.

Ele empurrou os joelhos bem abertos dela, deu um de seus


sorrisos mais malandro, e ajoelhou-se diante dela. Ela pegou a mão dele
e o puxou contra seu corpo necessitado, amava a sensação de sua
dureza, seu calor, enquanto a brisa fresca circulava em torno deles.

A boca dele estava na dela, a língua mergulhando entre os lábios


entreabertos dela, as mãos em seus seios, afagando e acariciando-a em
submissão. Ela passou a mão pelo cabelo dele, provocou a língua dele, e
sorriu quando ele gemeu.

− Minha irmã disse que ela sabia, quando eu permiti que Elgin
me levasse até a Floresta Nacional do Monte Hood, que tinha que ser
por uma mulher. Não qualquer mulher, mas aquela que capturou o

~ 481 ~
Pegasus Lançamentos

meu coração. − Ele correu os dedos pelos cabelos dela e olhou para ela
com tanto desejo que ela sabia que ele a amava, mesmo sem dizer.

Parecia que só havia os dois no mundo.

− Ela sabia que eu tinha que estar numa forma muito ruim,
ferido, drogado, para permitir Elgin dirigir e ainda insistir para voltar
para a floresta nas minhas condições. − Ele beijou os lábios de Cassie
suavemente agora, não tão apressado, a ereção pressionada contra o
montículo, mexendo com a necessidade. − Eu sempre quis o que os
outros homens encontravam em uma mulher, admirava-lhes por
conseguirem satisfazer o desejo de seus corações, e agora... − Ele
suspirou profundamente. − Cassie, você é ela. Aquela que me faz
completo.

Ela não o fazia. Não de verdade. Não se ele ainda sentia que
precisava lutar contra dois lobos hoje. Foi quando ela realmente
entendeu a coisa. Ele disse que estava fazendo isso para si mesmo, mas
ele não estava. Ele estava fazendo isso para vingar a família dela. Para
empatar o placar com Alfred e seus capangas. Para acertar as coisas
com Cassie. Ele estava fazendo isso por todos os outros. Sempre
cuidando da alcateia, e dela. Talvez, lá no fundo, ele tivesse que resolver
a própria necessidade de ser um lobo superior, mas percebeu que as
necessidades dos outros sempre teriam prioridade.

Ela puxou seu cabelo e sorriu.

− Você realmente é um lobo mau. E é todo meu.

Ele sorriu de novo, e ela não tinha certeza se ele gostava mais de
ser o deus do mar ou o lobo mau dela. O fogo dele acendeu novamente,
e impulsionado, ele levou a mão entre eles e começou a acariciar seu
botão já preparado, até que tudo o que ela conseguia se concentrar era

~ 482 ~
Pegasus Lançamentos

na forma como o seu coração batia forte e o dele também, a forma como
eles quase não respiravam enquanto ela acariciava a pele dele,
deslizando as mãos mais abaixo até que sentia as nádegas tensas, a
forma como ele ansiosamente lambia seus mamilos, a brisa acariciando
os bicos molhados... oh, doce erotismo.

− Aqui, deixe-me retribuir. − Ela queria fazer o mesmo com ele, a


língua fazendo cócegas nos mamilos dele, molhando-os, o ar fresco
varrendo-os, um sorriso perverso no rosto dele.

E então os dedos dele acariciaram seu clitóris mais rápido, como


se o pobre homem não aguentasse mais, e ela arqueou sob seus
cuidados, esquecendo de tudo, exceto do prazer do seu toque. Um
pedaço da lua estava ao seu alcance, tão perto, tão, tão perto que ela
sentiu que poderia tocá-la com a ponta dos dedos, quando o maremoto
a atingiu, impulsionado pela lua e pelo lobo, enchendo-a com deliciosos
tremores do clímax. Mas antes que ela pudesse afundar em exaustão,
ele a encheu com seu eixo grosso, empurrando profundamente.

Os beijos se renovaram, ela sondou a boca dele e, em seguida,


chupava sua língua, fazendo-o gemer baixinho. Então agora quem era o
lobo mau?

E então ele gozou, as ações dela o fazendo se render muito mais


rápido. Ela adorava fazê-lo perder o controle. Mostrando quem
realmente estava no comando.

A semente quente enchia o interior dela, levada pela onda de


clímax ainda tremulando através dela. Ele desabou contra ela, exausto,
saciado, totalmente satisfeito. Ele rolou de costas para as samambaias e
arrastou-a com ele. Ela aconchegou-se contra seu corpo, puxando o
saco de dormir sobre eles para cobri-los. Num dia primaveril vagando

~ 483 ~
Pegasus Lançamentos

para a noite, eles dormiram, um homem e uma mulher, dois lobos


acasalados para sempre, apreciando a beleza da natureza.

Só que a ameaça da luta mais tarde naquela noite ainda pairava


sobre eles.

Quando Leidolf abriu os olhos muito mais tarde, bocejou e


acariciou as costas sedosas de Cassie. Ele imaginava que ela iria querer
nadar como loba para se limpar, e esta era a melhor maneira para eles
pescarem. Entrar em alguma brincadeira de lobos ao mesmo tempo era
atraente. O que ele não queria pensar agora era em voltar para a
fazenda e lidar com Irving e Tynan. Mas o tempo estava chegando, e se
ele quisesse passar mais tempo com Cassie, ele precisava fazer a bola
girar32.

− Cassie?

− Hmmm − Ela varreu os dedos para baixo da cintura dele.

− Está com fome?

− Hmm-hmm. Vá buscar para gente um pouco de peixe.

− Você pega peixes maiores do que eu. – Ele riu.

32 Expressão que significa: começar algo.

~ 484 ~
Pegasus Lançamentos

Ela gemeu e afastou o cabelo do rosto.

− Só está dizendo isso porque você quer que eu trabalhe


também.

− Como lobos, certo?

− Você não me verá nessa água a não ser que eu esteja com
minha pelagem de loba. − Ela deslizou para longe dele e sorriu.

Deus, ela era linda. Ele levantou e a beijou nos lábios.

− Eu pensei que nós poderíamos brincar um pouco como lobos,


mas se você prefere fazer outra coisa...

− Nunca nos alimentaremos nesse ritmo. − Ela se afastou e


esticou os braços sobre a cabeça, e antes que ele pudesse piscar duas
vezes, ela era uma loba, correndo para o lago.

Ele logo a seguiu, imaginando pular o jantar. Ele estava pronto


para jogar primeiramente. Eles espirraram água, mordiscando as
gotículas, perseguindo um ao outro de um lado para outro até que
Cassie parou de repente e olhou para a floresta.

Os pelos do pescoço imediatamente se levantaram. Leidolf


mexeu-se ao redor para ver o que a preocupou, esperando a ursa com
filhotes ou outro puma. Ele nunca esperou ver os lobos, um vermelho e
um preto, galopando em direção a eles, os olhos duros, as orelhas
ligeiramente achatadas.

Irving e Tynan. Como diabos eles se soltaram? Isso significava


que alguém estava morto ou ferido lá na fazenda.

~ 485 ~
Pegasus Lançamentos

Capítulo Vinte e Oito

Irving era o líder no que se referia a Tynan, então Leidolf saltou


para fora do lago sobre ele, sem correr, sem hesitação, sem aviso prévio.
Com dois deles para enfrentar, não poderia permitir que qualquer um
deles o derrotasse e matasse a Cassie.

Tão logo ele se aproveitou de um Irving assustado, que tentou


apressadamente ficar fora do caminho de Leidolf sem sucesso, Tynan
correu atrás de Cassie. Uma distração, Leidolf pensou. Para tentar fazê-
lo parar o ataque ao seu primo. Merda, Irving era de longe o lobo menor.
O líder, sim, mas Tynan era maior e poderia facilmente matar Cassie.

Depois de nocautear Irving, Leidolf virou e perseguiu Tynan que


ainda estava tentando pegar Cassie. Ela era inteligente, sabendo que o
lobo iria matá-la se ele a pegasse. E ela era rápida. Incrivelmente
rápida. Ele não poderia estar mais orgulhoso dela.

Mas, por todo o tamanho de Tynan e mesmo com o machucado


que Cassie infligiu no braço dele na casa de Carver ao mordê-lo, o lobo
negro era muito rápido também. E ele estava se aproximando de Cassie.
Antes que Leidolf pudesse chegar até Tynan, Irving atacou suas costas,
mordendo forte. Leidolf tropeçou. Se estivesse preparado para o ataque
de Irving por trás, poderia ter lidado melhor. Mas a demora colocava
Cassie em maior risco.

Furioso, Leidolf atacou Irving, dentes a mostra, o pêlo em pé, a


sua reação o fazia parecer maior e mais ameaçador. Ele não precisava
de aparências.

~ 486 ~
Pegasus Lançamentos

De pé sobre as patas traseiras, as patas dianteiras pousaram


sobre os ombros de Irving enquanto o lobo menor lutava para ficar em
pé e lutar contra a fúria de Leidolf.

Os dentes deles se chocaram. Leidolf provou sangue, o seu e o


do outro lobo. Mas antes que ele pudesse virar a cabeça ao torno de
Irving para obter uma boa mordida na garganta do outro lobo enquanto
o agressivo lobo virava a cabeça para frente e para trás para impedir
Leidolf, Cassie gritou.

Com o coração na garganta, Leidolf desistiu de Irving e virou


para cuidar da ameaça à sua companheira. Ele não deixaria Irving
distraí-lo novamente.

Cassie estava encurralada entre um aglomerado de rochas,


arreganhando os dentes e rosnando, mas não importava o quanto
bravamente ela lutasse, não venceria o lobo maior.

Leidolf investiu contra o lobo negro, enquanto Irving mergulhava


para Leidolf. Cassie abaixou a cabeça, mas em vez de fugir, pulou para
atacar Tynan, e o mordeu forte no peito enquanto Leidolf pulava em
suas costas.

Tynan girou no espaço confinado e tentando se defender de um


lobo do seu tamanho. Leidolf tinha mais experiência combatendo lobo
contra lobo.

Nada como o cardápio normal de Tynan, que seria bater e matar


com uma arma. Essa era a vantagem do Leidolf. Experiência na luta
entre lobos.

~ 487 ~
Pegasus Lançamentos

Cassie foi esmagada contra as rochas enquanto Leidolf se


esforçava para dar um aperto fatal no lobo negro. Pelo menos nenhum
dos lobos a estavam atacando, por enquanto.

Ela não estava assistindo passivamente, tampouco. Conforme os


caninos assassinos de Leidolf e Tynan atacavam um ao outro enquanto
eles faziam a valsa mortal, as patas dianteiras nos ombros um do outro,
saltando para frente e para trás, Cassie mordeu Tynan novamente.
Forte. Deve ter doido, do jeito que ele uivou. Do jeito como ele se
afastou de Leidolf. Do jeito como ele tentou se virar para matar Cassie
pelo o que ela havia feito.

Nesse meio tempo, Irving havia desaparecido misteriosamente


atrás de Leidolf, o qual estava esperando outro covarde ataque por trás,
quando ouviu rosnados bem perto. De Irving e... Inferno, de Evan.

Irving gritou, em seguida, Evan também.

Leidolf mordeu a traseira de Tynan, uma vez, duas vezes


enquanto o lobo negro continuava a tentar morder Cassie. Ela estava
agachada agora, incapaz de se mover em qualquer direção, com os
olhos faiscando de raiva, provavelmente mais de si mesma do que de
Tynan por ter se colocado em tal posição.

Leidolf mordeu o traseiro de Tynan novamente, e o lobo negro


virou, muito zangado para cuidar da garganta. Leidolf voou no pescoço
dele e o esmagou, soltando-o para ver os últimos suspiros do lobo.

Por uma fração de segundo, Leidolf olhou para Cassie, que


estava de pé mais reta, agora que ela tinha mais espaço, mas o ombro
dela estava sangrando. Então ele se virou para cuidar de Irving antes
que ele matasse Evan.

~ 488 ~
Pegasus Lançamentos

Evan era um garoto magro e mais alto do que Irving. Mas sem a
constituição sólida que Irving tinha. Assim que Irving se distraiu ao ver
Leidolf se aproximando, Evan fatalmente o atacou. A morte foi rápida e
indolor, Irving caiu e expirou.

A ferida nas costas de Leidolf começou a arder conforme a brisa


chicoteava a floresta. Cassie mancou para o lado dele. Ele lambeu o seu
rosto. Eles se juntaram a Evan, que parecia orgulhoso com as orelhas
erriçadas e a cauda erguida, mas rapidamente as baixou para mostrar
arrependimento sincero por estar ali sem a permissão de alguém.

Cassie se aproximou e lambeu o rosto dele, o elogiando pelo


trabalho bem feito. As orelhas de Evan arrebitaram um pouco, até que
ele olhou para Leidolf, e então elas se curvaram novamente.

Leidolf se juntou a eles, cutucou Cassie para seguir sua


liderança, e os dois voltaram para suas roupas na floresta. Após
mudarem de forma, ajudaram um ao outro a se vestirem. O ombro de
Cassie estava sangrando, e as costas de Leidolf doíam como o diabo. É o
fim de fazer amor por um tempo.

Eles voltaram até Evan, e Cassie o verificou.

− A orelha dele está partida, mas eu diria que ele se safou sem
muito mais do que um arranhão.

Eles ouviram o movimento na mata e, em seguida, gritos:

− É Elgin, Leidolf! Você está bem? − Elgin gritou, ainda a alguma


distância antes que eles pudessem vê-lo.

− Nós estamos bem!

~ 489 ~
Pegasus Lançamentos

Elgin, Carver, Fergus, e um punhado de outros homens


correram para eles com rifles nas mãos. A boca de Fergus caiu quando
viu Evan em sua forma de lobo, sangrando, e Irving aos seus pés.

− Droga, Evan, Leidolf não disse para não pegar o Jaguar para
mais uma volta?

− Ele tinha um encontro muito importante. – Cassie o defendeu,


deslizando para baixo do braço de Leidolf.

Elgin acenou para os outros homens.

− Peguem os corpos deles. Enterrem no bosque. Você está bem


Leidolf? Inferno, Fergus com duas escoltas, Pierce e Quincy, foi levar a
última refeição para Irving e Tynan. Eles haviam mudado de forma.
Rasgaram nossos outros homens e nocautearam Fergus. Quando
Fergus conseguiu dar o alarme, já havia passado várias horas.

− Pierce e Quincy estão bem? – Cassie se preocupou.

− Sim. Eles queriam vir, mas nós não precisávamos de mais


homens feridos por aqui.

− Como diabos você chegou aqui tão rápido? − Fergus perguntou


ao filho. − Esqueça. Eu sei como. Você veio com o Jaguar até aqui, não
foi?

Carver balançou a cabeça e deu um tapinha no ombro de


Fergus.

− Pelo menos ele se safou bem. O xerife nos deu uma multa que
foi por isso que atrasamos tanto para chegar aqui. Você tem um filho
para se orgulhar. E Leidolf? Cuidado. O garoto pode tomar o seu lugar
um dia.

~ 490 ~
Pegasus Lançamentos

− Eu acabei de assumir, e já tem alguém tentando me superar. –


Leidolf balançou a cabeça.

− Aimee está bem? – Cassie perguntou a Carver.

− Ela está preocupada com você. Eu a convenci a ficar com as


meninas e se certificar que elas ficassem para trás. Ela queria dizer que
infelizmente não teve sorte em encontrar algum sinal de mais alguém
da família de vocês. − Carver avisou.

− Nós vamos continuar procurando. – Cassie falou, mas Leidolf


percebeu que a notícia não era a que ela queria ouvir.

− Vamos lá! − Leidolf estava contente que o negócio com Irving e


Tynan havia acabado. Então ele parou. − Inferno, se você está aqui e
Fergus, Quincy e Pierce foram feridos, quem está vigiando Sarge?

Elgin ficou um pouco pálido. Fergus ficou também. Exatamente


o que Leidolf pensou. Ninguém.

Inferno. Ele pegou a mão de Cassie.

− Você está bem, Cassie?

− Minhas mordidas não parecem metade tão desagradável


quanto as suas. Eu acho que não vou a lugar algum por um tempo. −
Cassie suspirou. − Isso significa que eu vou perder o meu prazo da
revista.

− Onde você estava planejando ir, Cassie?

− Carolina do Norte.

− Nós vamos parar no Colorado. Ver a minha família. Eles têm


um hospital lá criado especificamente para atender lobisomens feridos.

~ 491 ~
Pegasus Lançamentos

Então vamos continuar até a Carolina do Norte, onde podemos estender


nossas férias. Nenhuma companheira minha vai tirar férias sem mim.

Ela ergueu as sobrancelhas para ele.

− Eu estarei trabalhando.

− Eu estarei de férias então. − Ele beijou sua testa.

Ela balançou a cabeça.

− Se eu trabalhar, você tem que trabalhar também. Você pode


segurar a câmera.

− Você tem certeza que confia em mim? Eu sou passível de focar


apenas em uma única pessoa. Uma pequena loba vermelha, do tipo
lobisomem, o amor do meu coração.

Alguns dos homens riram atrás deles. Sim, ele tinha certeza de
que Cassie e ele resolveriam as coisas muito bem com mútuas
concessões, agora que seus homens estavam quase prontos para
comandar enquanto ele estava fora por um tempo prolongado.

Quando chegaram aos veículos, Leidolf deu permissão a Fergus


para dirigir o Jaguar enquanto Evan escapulia para o banco do
passageiro ainda na forma de lobo.

− Sem marcas de garras no couro. − Leidolf avisou. − Tenho que


vender o Jaguar um dia desses. Talvez isso vá nos ajudar com a
bagunça financeira que nos encontramos.

O restante dos homens entrou em um SUV, e Leidolf levou


Cassie para a fazenda no Hummer enquanto ela dormia profundamente
por todo o caminho. Assim que chegaram em casa, Quincy e Pierce,

~ 492 ~
Pegasus Lançamentos

com os braços enfaixados, estavam esperando com a maioria da


alcateia. Eles pareciam meio aliviados que Cassie e Leidolf estavam
bem, mas meio preocupados que Leidolf ficasse furioso que eles
deixaram Tynan e Irving fugirem, quando ele confiou a segurança da
alcateia à sua gente.

Conforme todos se amontoavam fora dos veículos, Laney


entregou um rolo de fita adesiva médica para Leidolf para as feridas
dele e de Cassie e, em seguida, correu para abraçar Elgin. Alice e Sarah
gritaram ao ver Evan galopar em direção a elas, e ambas envolveram os
braços ao redor do peludo pescoço do lobo. Com lágrimas nos olhos,
Aimee deu a Cassie um abraço cuidadoso. Satros caminhou para eles, o
lobo mais velho, lançando a Leidolf um aceno de cabeça como se ele
soubesse que Leidolf finalmente provou que tinha o que era preciso
para ser o líder da alcateia.

Sarge correu para fora, e Leidolf estava malditamente grato que


não precisaria persegui-lo, ao menos dessa vez. Ele estava acenando
uma pilha de papéis.

− Eu descobri sua bagunça!

Vários homens gemeram ao ouvir as palavras de Sarge.

Quincy caminhou para a frente dele.

− Eu já não disse para ter cuidado com o que você diz para o
alfa?

Sarge fez uma careta para ele e, em seguida, sorriu para Leidolf.

− Nós não estamos falidos afinal de contas. Metade dos recibos


da venda de gado só não foi computada. Eles estavam enterrados em
um monte de livros de romance no fundo de uma das gavetas da sua

~ 493 ~
Pegasus Lançamentos

mesa. Ter sido funcionário das finanças no exército valeu alguma coisa,
afinal de contas.

− Você era funcionário das finanças33? − Leidolf perguntou,


incrédulo.

− Sim.

− Por que diabos você não me disse, em primeiro lugar? − Leidolf


rosnou.

− Você me mordeu. Eu poderia estar confuso com isto por um


tempo. − O sorriso de Sarge ficou ainda maior, se isso era possível. Em
seguida, desapareceu. − Quando tudo estava um alvoroço e ninguém
estava me observando, eu pensei, que diabos, se Leidolf viver para ver
outro dia, eu vou provar para ele que eu não sou um... De que todos me
chamam?

Ninguém disse nada durante um minuto, então Sarah disse:

− Um lobo ômega.

− Sim, um desses. Então eu não sou mais. Sou?

− Você conseguiu o trabalho de contador-chefe − Leidolf


anunciou, esperando que não fosse se arrepender.

− Sem mais tarefas na fazenda? − Os olhos de Sarge se


arregalaram.

− Não, a menos que você precise de um treino físico para manter


a forma. − Leidolf levou Cassie para dentro da casa.

33 Espécie de contador do exército.

~ 494 ~
Pegasus Lançamentos

− Livros de romance? − Cassie perguntou. − A gaveta cheia


deles?

− Sim. – Leidof sorriu. − Mas eu não vou à sessão de autógrafos


da Julia Wildthorn. Laney, as meninas, e Aimee irão, se você quiser,
pode ir junto.

Cassie pigarreou.

− A gaveta cheia dos livros dela? Não me diga que você nunca
leu nenhum deles.

Ele a guiou pelo corredor até a suíte principal deles, onde eles se
limparam, cobriram as feridas, e tomaram as providências para a
viagem para o Colorado e Carolina do Norte.

− Ela descreveu diversas posições sexuais intrigantes que eu não


tenho certeza se são fisicamente possíveis. Quer experimentá-las?
Quando estivermos nos sentindo melhor, é claro. − Ele fechou a porta
do quarto.

Cuidadosa com o ferimento nas costas de Leidolf, Cassie


envolveu as mãos ao redor da cintura dele.

− Então, quais posições a senhorita Julia Wildthorn exatamente


descreveu nesses livros de romance de lobisomem?

Ele lançou um sorriso diabólico.

− Vou demonstrar mais tarde. Se você não se importar de ser...


Amarrada um pouco.

Ela riu sombriamente e arrastou uma unha no peito dele.

− Não, se você não se importar tampouco.

~ 495 ~
Pegasus Lançamentos

Leidolf pode ter provado que ele era o lobo superior da alcateia
de uma vez por todas para si mesmo, para ela e para toda a alcateia.
Mas ela finalmente percebeu que nada era mais importante do que ser
parte de uma alcateia, ser a companheira de Leidolf, e encontrar sua
prima novamente. Depois de ser uma solitária por tanto tempo, estava
feliz por não estar mais sozinha no mundo.

− Vamos, meu herói. Deixe-me cuidar das suas feridas. Quanto


mais rápido você se curar...

− Tem alguma echarpe de seda? − Ele segurou seu rosto e se


inclinou para dar um beijo escaldante.

Eles precisavam ir às compras...

FIM

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Pegasus Lançamentos

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Pegasus Lançamentos

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