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Sinopse

Brooke larga tudo para cair na estrada com a família e ajudar o marido a
completar sua lista de últimos desejos. O que ela não imagina é que a
felicidade dela é parte da lista, o que é uma pena porque um certo alfa
está preste a mudar a vida deles para sempre. Slate é um lobisomem
amaldiçoado com o destino de ter uma parceira humana, mas quando ele
vê Brooke, a maldição se torna uma benção. O problema é que ela é
casada... Será?
Classificação etária: 18+
Autor Original: BD Vyne
Livro sem Revisão
E-book Produzido por: Galatea Livros e SBD
https://t.me/GalateaLivros

Livro Disponibilizado Gratuitamente! Proibida a Venda


Capítulo 1
BROOKE

— Certo, então estamos definitivamente perdidos.


As árvores pelas quais passamos agora eram idênticas às árvores que
passamos há uma hora.
Parecia tudo igual, e nada nos dava qualquer indicação de que
encontraríamos algo diferente à nossa frente.
De vez em quando, captávamos o movimento de animais grandes
vagando logo além da linha das árvores, confirmando o fato de que
estávamos vivenciando a natureza no seu melhor e me dando um leve
calafrio na espinha.
Estava à nossa volta, abraçando-nos, quase nos sufocando com o seu
esplendor.
— Nah, não podemos estar perdidos. Temos GPS!
Com um sorriso atrevido, ele me lançou um olhar antes de voltar sua
atenção para a estrada mais uma vez.
Levantando minhas sobrancelhas, me virei no assento o máximo que
meu cinto de segurança permitiu e toquei na tela digital do carro.
— Sobre isso... o que significa quando o mapa não mostra nada além
de verde?
Sua risada divertida preencheu o carro. Era tão bom ouvi-lo rir.
— Sem dúvida, isso significa que deveríamos ter atualizado seu GPS
antes de fazer esta viagem.
Nós dois rimos quando coloquei minha mão em seu braço e o
cutuquei levemente.
— Talvez devesse ter sido uma pista quando o asfalto virou terra?
— Você acha? — Eu sorri.
Além de nossas vozes, apenas roncos suaves ocasionalmente
interrompiam o silêncio no carro.
Nossos meninos estavam dormindo pacificamente no banco de trás,
cada um com a cabeça apoiada no outro em uma gloriosa massa de
cabelos loiros e castanhos caindo em seus rostos angelicais.
Definitivamente era hora de cortar o cabelo deles, mas não era uma
prioridade nesta viagem.
Um dia, quando estivéssemos de novo em casa, eu faria os
agendamentos necessários para isso, mas por enquanto, eu só queria
curtir estar aqui com todos eles.
Eles eram o meu mundo e eu não queria pensar no que faria quando
meu marido não pudesse mais lutar contra sua doença.
— Aqui é lindo.
Seu rosto tinha um sorriso estampado sobre ele, mas havia algo que
ele estava escondendo por trás do sorriso.
— Mark, você está bem?
Como eu não tinha visto os sinais antes? Seu rosto parecia
ligeiramente contraído e cansado, e mais pálido do que o normal.
Quando ele se encolheu com a pergunta, foi suficiente quanto
qualquer confirmação verbal.
— Sim, — ele respondeu enquanto olhava para mim. Quando ele viu
minha expressão, ele fez uma careta.
Eu levantei uma sobrancelha enquanto cruzava os braços sobre o
peito. Minha testa franzida podia rivalizar com qualquer resmungo
formidável.
Era um olhar com o qual ele estava familiarizado agora e que lhe dizia
que eu não estava acreditando no que ele estava me dizendo.
Ele estava sempre tentando me proteger. A missão de sua vida parecia
ser fazer a mim e às crianças felizes, e eu sabia que ele ficaria sem para
que pudéssemos ser.
Esse era meu marido, o homem a quem me dediquei durante os
últimos dez anos de minha vida.
Tentando mudar de assunto, ele perguntou: — Você acha que esses
caras podem nos dar informações?
Mark já tinha começado a desacelerar o carro e eu virei minha cabeça.
Pessoas? Aqui? No meio do nada?
Homens vestidos com uniformes azuis escuros estavam parados na
estrada à nossa frente.
Cada um deles estava armado, embora observando melhor, as armas
não eram necessárias para intimidar a maioria dos invasores.
Isso simplesmente aumentava a sensação de intimidação.
Meu marido era alguns centímetros mais alto do que eu, mas esses
homens eram mais altos do que ele.
Sem mencionar que eles estavam em muito melhor forma do que
qualquer um de nós que os encarávamos pelo para-brisa.
Não era aquele físico encorpado de eu moro na academia. mas mais
parecido com o modo como eles viviam tomava seu físico esguio e
musculoso uma necessidade. Uma necessidade?
Isso disparou um alarme em minha cabeça que me esforcei para
deixar de lado.
Baixando a janela, seguimos até parar diante da construção de
madeira mais do que ampla que forneceria abrigo para os guardas de
plantão, e esperamos que eles se aproximassem.
Um homem com cabelo loiro e olhos castanhos sorridentes acenou
brevemente em nossa direção enquanto se aproximava do carro. — Boa
noite.
Dois outros guardas recuaram alguns metros e olharam para o
horizonte como se esperassem que algo surgisse.
— Oi, acho que podemos estar um pouco perdidos.
Meu marido sorriu e encolheu os ombros, mas o movimento o fez
estremecer. Depois de colocar a mão no bolso, ele tirou o que parecia ser
sua habilitação e documento do veículo.
Talvez ele pensasse que essas pessoas eram um tipo de autoridade ou
talvez quisesse que eles percebessem que não éramos uma ameaça.
O homem franziu a testa para Mark depois de examinar os itens que
ele havia recebido, prestando atenção em um deles por mais tempo do
que parecia que seria necessário.
— Normalmente, as únicas pessoas que acabam aqui querem estar
aqui. — Ele lançou um olhar estranho a Mark antes de passá-lo para
mim.
Mark balançou a cabeça e me lançou um sorriso rápido.
— Ser aventureiro não é realmente um dos meus pontos fortes. Não
sei por que escolhi fazer isso hoje.
Um dos outros homens se inclinou para frente, examinando o carro e
todos os passageiros.
Quando ele se levantou, ele voltou seu olhar para o horizonte e
respirou fundo o ar quente da noite que começou a se instalar ao nosso
redor.
Parecia um pouco estranho, mas talvez o cansaço que vinha se
instalando o tivesse tomado ainda mais.
Voltando meu foco para o homem em nossa janela, perguntei: — Até
que ponto nos afastamos da pista?
O sorriso de Mark era tímido, mas seu rosto estava ainda mais pálido
do que antes.
Os três homens sorriram amplamente e se entreolharam como se
compartilhassem algum segredo antes que o homem respondesse.
— Isso dependeria de para onde você estava indo.
— Uh, bem, nós estávamos apenas passeando, você sabe. Sendo
aventureiros, — Mark lembrou o homem.
Ele tentou rir, mas saiu soando mais como se ele estivesse sufocando.
— Na verdade, não tínhamos um destino, estávamos apenas
admirando a paisagem. — Ele segurou minha mão e apertou muito
suavemente.
O homem na janela sustentou o olhar de Mark, franzindo a testa cada
vez mais.
Meu marido estava se esforçando e minha preocupação com ele
crescia exponencialmente.
Aqueles sinais reveladores de que ele precisava de descanso estavam
muito claros agora: o olhar desolado em seu rosto, a cor pálida de sua
pele, a boca e os olhos comprimidos, e eu quase podia distinguir as
pequenas faltas de ar quando sua respiração se tomava mais irregular a
cada segundo.
A partir daqui um grande edifício podia ser visto logo acima da linha
das árvores. A alguns quilômetros de distância, no máximo.
Um lugar onde esperançosamente nos deixariam passar para que
pudéssemos descansar por alguns minutos antes de partirmos mais uma
vez.
Um lugar onde Mark pudesse ter um momento para comer alguma
coisa, e tomar o remédio que tanto temia.
Algum lugar um pouco mais tranquilo e menos intimidante do que
esta construção à beira da estrada.
Inclinando-me para frente mais uma vez, coloquei um sorriso no
rosto.
— Peço desculpas, imagino que seja um grande inconveniente para
todos vocês, mas realmente preciso usar o banheiro feminino.
Movendo-me no assento, apertei minhas coxas para acentuar a
declaração.
— Será que eu poderia usar o banheiro antes de voltarmos por onde
viemos? Não vi nada que se parecesse com a civilização por horas até
agora.
Isso os deu motivo para risadinhas.
— Isso seria uma afirmação correta. Vocês estão a cerca de oito horas
de qualquer cidade que poderia acomodá-los durante a noite.
Isso fez meu rosto enrugar. — Oh, entendi.
Minha mente já estava tentando pensar em outra alternativa.
O sol já estava chegando ao horizonte e só seria visível por algumas
horas.
No momento, Mark só precisava de uma pausa.
Ele precisava de um lugar para se sentar, um lugar para respirar, um
lugar para se acalmar, e eu precisava descobrir uma maneira de oferecer
isso a ele.
Parte de mim queria discutir com ele por insistir que seguíssemos
nessa direção sem saída.
Se ao menos nós soubéssemos.
Embora agora eu tivesse outras preocupações, como evitar que seus
sintomas se tomassem ainda mais insuportáveis.
Uma longa pausa se seguiu antes que o homem falasse novamente.
— Você recebeu autorização.
Essas palavras me pareceram engraçadas. Como é que nos foi
concedida autorização? Nenhum deles possuía qualquer tipo de aparelho
de rádio.
E de quem nos foi concedida autorização?
— Se você apenas seguir a estrada até chegar à casa que você pode ver
daqui, haverá pessoas lá que podem ajudá-los melhor.
Aquilo era uma casa?
O homem franziu a testa para Mark mais uma vez antes de
acrescentar: — Parece que vocês gostariam de uma pausa.
Era quase como se soubesse que Mark não estava bem.
Colocando minha mão no ombro de Mark, sorri para os homens.
— Muito obrigada. Eu não posso explicar o quanto nós agradecemos.
Mark fez uma careta enquanto eu falava, mas tentou transformá-la
em algo que pudesse passar por um sorriso.
Os homens acenaram para que passássemos e, como prometido,
outros com o mesmo traje nos guiaram até a enorme construção à nossa
frente.
Era uma bela cabana de madeira, grande o suficiente para constituir
uma mansão, se é que uma cabana de madeira pode ser chamada como
tal.
Algumas janelas enfeitavam uma parte do local que emitia um brilho
suave e dourado das luzes de dentro à medida que o crepúsculo se
tomava mais predominante.
Virei-me para olhar no banco de trás e fui saudada por dois pares de
olhos jovens, ainda nublados pelo sono enquanto olhavam com
curiosidade.
Sem dúvida, eles precisavam de uma pausa, tanto quanto nós.
O que mais me preocupou foi aquele olhar de curiosidade nos olhos
do meu mais novo; nunca levou a nada de bom, embora seu coração
estivesse sempre no lugar certo.
Parando no local indicado pelos homens, todos nós começamos a
desatar os cintos de segurança.
Antes mesmo de o carro estacionar, abri minha porta, antecipando-
me a esticar as pernas e encontrar os itens de que Mark precisava.
Os meninos não estavam muito atrás quando saíram correndo e
começaram a perseguir um ao outro ao redor do veículo.
Lembro-me vagamente de chamar a atenção deles por cima do ombro,
antes de voltar a vasculhar o porta-malas.
— Olhem por onde andam!
Quando eles quase colidiram com um dos guardas, eles pararam. O
homem se abaixou e franziu a testa, e meu mais velho segurou a mão do
mais novo.
— Oh. Desculpe, senhor.
O homem bagunçou o cabelo e sorriu para os dois.
— Que menino educado.
Aaron estava nas nuvens quando sorriu para o homem.
Um olhar de compreensão passou entre eles, o que foi um pouco
estranho para mim. Mas pensando bem, Aaron amava quando os outros
o elogiavam.
Gostaria de poder dizer a mesma coisa sobre Hayden.
Mexendo nos itens do porta-malas, procurei a bolsa de emergência de
Mark.
Dentro havia salgadinhos para ele colocar alguma coisa no estômago e
a medicação que precisava ingerir junto com a comida.
A dosagem era forte e ele precisava de comida para forrar seu
estômago e evitar que se alimentasse através da camada de proteção.
Encontrando o que estava procurando, peguei a bolsa e fechei o porta-
malas.
Mark já estava fora do carro e se recusou a apoiar-se em mim quando
me aproximei dele.
Tirando a bolsa de mim, ele me deu um pequeno empurrão para
frente. — Vá em frente. Eu alcanço você depois.
Ele sorriu brevemente antes de dar um passo em direção a um
pequeno banco que dava para um jardim grande e bem cuidado ao lado
da casa.
Estava repleto de flores de todas as cores imagináveis, e o ar estava
preenchido com suas fragrâncias exóticas.
Seria bom para ele simplesmente apreciar a vista e relaxar por alguns
minutos antes de ser forçado a tomar o remédio.
O remédio o deixava tonto e provocava cólicas estomacais. Sem
mencionar que ele afirmou que o colocava em um estado pouco
funcional.
Ele sabia o que precisava ser feito.
Minha maior preocupação era esta: ele faria isso se eu não estivesse ao
lado dele? Mas ele havia melhorado nesses últimos meses.
Desde que estamos na estrada, ele administra seus próprios
medicamentos e dosagens.
Tudo o que eu podia ter certeza nesses dias era que os comprimidos
estavam desaparecendo, mas isso tinha que significar alguma coisa.
Qualidade de vida versus quantidade. Era o mesmo velho argumento,
não era?
Os entes queridos queriam o máximo que podiam, mas as pessoas
queriam aproveitar ao máximo o que tinham.
Quem poderia me culpar por querer meu marido ao meu lado
enquanto eu pudesse, enquanto víamos nossos filhos crescerem?
Percebendo que minha loucura estava se tomando uma realidade, me
movi em direção à construção depois de me certificar de que Mark havia
se acomodado.
As portas de vidro à frente mostravam mais do que algumas pessoas
vagando no local à frente. Uma casa de acordo com o guarda.
Várias pessoas estavam em pequenos grupos em uma conversa
preguiçosa, como se estivessem esperando por algo, enquanto um
pequeno grupo descia um lance de escadas.
O número de pessoas presentes me fez parar antes de ousar abrir a
porta.
Talvez houvesse outra instalação aqui que não estivesse tão ocupada
neste momento.
Várias outras construções surgiram a poucos passos daqui e abriram
caminho pela paisagem, fazendo parecer que esta era uma pequena
cidade que surgiu e sobreviveu no meio do nada.
Lojas, comércios e outros edifícios enchiam a área que rodeava este, e
ainda parecia que esta pequena cidade era agitada no início da noite. Que
sorte a minha!
Se você olhar além dos negócios locais, poderá ver pequenos bairros
que se afastam daqui à medida que avançam lentamente pela encosta.
Perto do topo de uma das colinas, onde se esperaria que as vistas
fossem espetaculares, você podia ver casas muito maiores que exalavam
riqueza e destaque.
E se você olhar por tempo suficiente, poderá ver uma construção
enorme no topo da montanha que imaginei que poderia competir com
esta.
Por um momento, tentei me lembrar da pequena cidade da qual
havíamos saído esta manhã e imaginar como deveria ser vista de cima.
Inalando profundamente, encerrei minha procrastinação e empurrei a
pesada porta de madeira.
Quando ela se abriu, as pessoas que ocupavam a área ficaram quietas.
Homens e mulheres se viraram para mim enquanto olhavam para a
pessoa que invadiu seu santuário.
Os cabelos da minha nuca começaram a se arrepiar, e meus instintos
de luta ou fuga imploravam para que eu escolhesse a última opção.
Endireitando meus ombros, franzi meu rosto enquanto dava a todos
eles um olhar que dizia. Eu realmente, realmente odeio perguntar isso,
mas...
Mas eu na verdade não o fiz.
Agora eu sabia que não iria longe se não usasse as instalações. Deve
ser todo aquele conceito de que, se você pensar bastante sobre algo, isso
se tomará realidade.
— Desculpem interromper, mas os rapazes do lado de fora disseram
que havia um banheiro aqui que eu poderia usar?
Meu olhar deslizou pelos presentes, cada um em seus próprios
pensamentos.
Procurei um rosto que fosse amigável o suficiente para que eu pudesse
sustentar seu olhar e transmitir a necessidade de minha pergunta.
As mulheres pareciam estar me avaliando, cada uma decidindo que
tipo de ameaça eu era para elas.
Olhando para suas formas elegantes e belos traços, presumi que elas
teriam que descartar a noção de que eu era qualquer ameaça.
No entanto, suas expressões não hesitaram.
Os homens eram uma história diferente.
Cada um tinha uma expressão diferente: alguns cautelosos, alguns
aprovadores e um quase tirou o fôlego dos meus pulmões.
Desde o dia em que conheci Mark, nunca houve um momento em que
qualquer outro homem me tivesse roubado o fôlego... até agora.
Capítulo 2
BROOKE

Minha respiração ficou suspensa por um segundo a mais do que eu


estava confortável.
O que estava errado comigo? Este homem era mais Grizzly Adams do
que o próprio Grizzly Adams.
Sua barba escura e bem cuidada aproximava-se do peito, enquanto
seus longos cabelos negros deslizavam por seus ombros.
Por mais robusto que fosse, era aquele incrível par de olhos cinzentos
que podia fazer qualquer mulher desmaiar.
Eles eram da cor de nuvens escuras de chuva antes de uma
tempestade.
Sua boca foi moldada no que eu imaginei ser um sorriso, mas
combinados com seus olhos, eles arderam quando capturaram meu
olhar.
Um dos homens ao lado daquele com olhos incríveis parecia
finalmente sair de qualquer transe em que todos pareciam estar.
— Claro que sim. Por aqui.
Com um grande sorriso plantado nos lábios, ele acenou na frente dele
com a mão para indicar a direção que eu deveria seguir.
Sem hesitar, recebi de bom grado a distração do homem grande e
dominador que parecia preencher a sala inteira com sua presença.
Seu olhar tinha um pouco mais de calor e conhecimento do que eu
estava confortável, e só piorou o fato de me ter permitido aproveitar
aquele momento por mais tempo do que deveria.
Uma voz profunda e ressonante percorreu a sala atrás de nós, e
pareceu incitar outras pessoas a continuar suas conversas.
Estranhamente, meu coração pareceu parar de bater quando o calor se
espalhou por todo o meu corpo.
Fiquei perplexa e momentaneamente me perguntei se estava tendo
ondas de calor prematuras.
Depois de conhecer as instalações e fazer uso delas, joguei água no
rosto e pressionei um pano frio contra o pescoço.
Os meninos precisariam usar a água corrente disponível antes de
continuarmos, mas eu queria ficar por um momento no banheiro mais
do que espaçoso.
Estava pacífico neste momento, exceto pelas risadas abafadas e
conversas altas que emergiam da sala.
O cansaço estava tomando conta e lutei muito para mantê-lo sob
controle. Meu corpo e minha mente não tinham o sono necessário para
funcionar normalmente.
Infelizmente, tinha sido assim desde que Mark foi diagnosticado.
Dormir era um luxo.
Sentindo como se minha cabeça estivesse um pouco mais no lugar, saí
do abrigo do banheiro e comecei a me encaminhar para a porta da frente.
O fluxo constante de vozes na conversa me fez sentir mais confiante
sobre minha saída, percebendo que eu realmente não era tão
interessante assim.
Não que eu não fosse uma pessoa confiante por natureza,
simplesmente não estava funcionando normalmente.
Quanto mais cansada estou, mais ridículas são minhas palavras e meu
comportamento.
— Com licença, senhorita.
Quem mais surgiria no meio do nada por capricho apenas para se
divertir? E veja aonde isso nos levou!
Em alguma estranha cidade escondida nas montanhas, tendo que usar
a casa de algum estranho para usar um banheiro porque o mais próximo
fica a oito horas de distância.
Com quem mais essas coisas acontecem?
Naquele momento, percebi que não tinha educação.
Certamente, seria apropriado agradecer a pessoa que permitiu que
você invadisse a casa dela para usar o banheiro, certo? Qual é a etiqueta
nisso?
Especialmente quando parece que eles estão dando uma espécie de
festa.
Será que eu apenas vou até lá e digo, ei, obrigada por me deixar usar o
banheiro?
E, se eu fizesse isso, a quem eu agradeceria dentre todos? Todos eles
pareciam pertencer lá.
Bem, talvez não Grizzly Adams tanto quanto os outros, mas
certamente havia uma presença sobre ele.
O pensamento dele causou um pequeno tremor na minha pele.
Eu preciso dormir.
Quando uma mão tocou meu ombro através da minha blusa, me
assustei.
Eu estava tão envolvida em meus próprios pensamentos que não
percebi que havia alguém perto de mim.
O pequeno tremor se transformou em um raio de eletricidade que
agora deslizava pelo meu braço até a ponta dos dedos.
Eu me virei para encarar a pessoa que interrompeu meu progresso e
senti aqueles belos arrepios que percorreram minha pele.
Minha boca ainda estava escancarada com a energia que ainda
emanava de onde seus dedos aqueciam minha pele através da minha
blusa.
Por um momento, tudo que pude fazer foi olhar antes que algo em
meu cérebro se reconectasse às minhas funções corporais.
— Oh, onde está minha educação?
Minha cabeça reagiu mais rápido do que meu corpo. Seus olhos cinzas
perfuraram em mim, e desejei que meus pés se afastassem dele para
quebrar o contato.
— Por favor, agradeça... uh, bem... quem nos permitiu usar as
instalações. Não posso agradecer o suficiente por nos permitir recuperar
o fôlego e usar seu banheiro.
Eu dei um pequeno sorriso torto. — Posso imaginar como é incomum
receber visitas aqui.
Seus olhos tinham o mesmo sorriso que seus lábios. Era largo e cheio
de dentes brancos quando ele acenou com a cabeça em minha direção.
— Muito incomum, mas definitivamente não é indesejável.
— Bem, é muito gentil da sua parte dizer isso.
Meu rosto ficou vermelho, como se um rubor tivesse começado a
surgir em minhas bochechas. A intensidade em seu olhar certamente
poderia ser a causa disso.
Um erro levou a outro e estendi a mão. — Meu nome é Brooke
Marlin.
Antes de apertar minha mão na sua, ele olhou para a oferta com um
pouco de curiosidade.
Sua mão avançou tão depressa que perdi de vista o movimento até
sentir todo o meu corpo tremer com o contato.
O rubor que subiu pelas minhas bochechas agora inundava meu
corpo, como se eu tivesse sido marcada por seu toque.
O pânico se infiltrou, meu cérebro oprimido entre o cansaço e o
choque.
Soltando minha mão da dele, fiquei alarmada porque o contato não
havia quebrado.
Ambas as mãos dele estavam agora nas minhas, envolvendo-as
completamente nas dele.
— Prazer em conhecê-la, Brooke.
Ele deixou sua boca discorrer meu nome como um crítico culinário
em uma experiência gastronômica cinco estrelas.
Eu não conseguia entender como algo assim poderia enviar ondas de
choque sobre meu corpo.
Um pequeno gemido escapou antes que eu colocasse minha outra
mão sobre minha boca, horrorizada com o pequeno som e rezando para
que ninguém mais tivesse ouvido.
O que estava acontecendo comigo? Oh sim, falta de sono.
Essas coisas absurdas e comportamentos estranhos que fazem parte
do percurso quando falta sono.
Vozes infantis romperam o contato quando a porta da frente se abriu
e meus meninos correram em minha direção.
Liberando minha mão de seu confinamento, ajoelhei-me para pegá-
los em um abraço enquanto corriam para mim a todo vapor.
Meu filho mais velho não era uma criança pequena, e o peso dos dois
quase me derrubou no chão.
Uma mão quente nas minhas costas me impediu de perder o
equilíbrio e enviou outra onda de calor através de mim. Eu realmente
preciso dormir.
Eu ri de suas travessuras, tentando ignorar o calor nas minhas costas.
— E estes eu disse enquanto me levantava e bagunçava seus cabelos, —
estes são meus maiores presentes de alegria e frustração.
Ambos riram quando eu apertei seus narizes.
Assim que eles começaram a se esquivar em tomo de minhas pernas,
peguei cada um pela mão para evitar que se perseguissem.
O homem à minha frente nos observava com um brilho divertido nos
olhos e uma curiosidade que eu não conseguia entender.
— Estes são Aaron e Hayden. Aaron e Hayden, este é...
Foi então que me dei conta de que ele não havia me falado seu nome.
Este grande homem montanhês abaixou-se ao nível deles, com seu
corpo grande e maciço recusando-se a diminuir de tamanho.
— E um prazer conhecer vocês dois. Eu me chamo Slate.
— Prazer em conhecer—espere, o quê? — Hayden franziu as
sobrancelhas enquanto tentava determinar se o que ouviu era real. —
Quer dizer como o vilão com quem Robin luta?
Slate olhou para mim, com uma interrogação em seu rosto.
— Oh, — eu ri. — Ele está falando sobre Robin, de Batman e Robin, —
eu disse, dando a ele dicas sobre as reflexões de meu filho mais novo.
Eu segurei a pequena mão de Hayden na minha, encorajando-o a
olhar para mim quando me inclinei.
— Não, querido. O nome dele é Slate, não Slade. Robin não está atrás
do Sr. Slate.
Pelo menos, eu acho que não. Eu sorri pra ele.
— Oh, entendi. Mas—hmm...
Ele deixou um dedo bater em seu queixo por um minuto, como se
estivesse em profunda contemplação sobre os problemas do mundo,
enquanto avaliava o homem à sua frente.
Finalmente, seus olhos brilharam quando se arregalaram.
— Mas talvez Slate trabalhe com Robin para pegar bandidos. Talvez
ele seja um super-herói.
Balançando a cabeça, eu agora podia ver como anos de super-heróis
corromperam a mente do meu filho.
— E, — eu sugeri a palavra, sem saber para onde mais ir com ela. —
Vamos acreditar nisso.
Slate, um super-herói?
Soltei sua mão e voltei meu olhar para Slate, tentando vê-lo como a
ideia de super-herói de uma criança de cinco anos.
O poder que o homem emitia sem nem mesmo tentar, a sensação de
segurança que alguém podia sentir quando estava perto dele, a força e
determinação que escorria dele, e as proezas sexuais que fluíam de seu
próprio ser, tudo parecia se encaixar, certo?
Espere! Proezas sexuais? Isso era uma característica de super-herói?
A porta da frente se abriu lentamente e eu pude apenas distinguir o
barulho de pés calçados de tênis.
Seus movimentos hoje em dia sempre foram um pouco mais
pensados... um pouco mais cautelosos.
— Brooke?
O sorriso que ele exibiu quando me virei para ele parecia melhor do
que momentos antes, e eu estava agradecida.
Agradecida pelo fato de que seu rosto não exibia mais a dor que ele
estava começando a sentir antes de chegarmos aqui.
Um sorriso aliviado cruzou meu rosto.
— Mark! — Eu poderia ter ido até ele, se não fosse pelos meninos
indisciplinados ao meu lado.
— Venha conhecer o Sr., hum, Slate.
Virando-se para Slate, houve um olhar de surpresa que cruzou seu
rosto antes de eu reparar que seus olhos ficaram com um tom de cinza
mais escuro.
A expressão em seu rosto ficou ainda mais sombria do que seus olhos
transmitiam.
— Você está bem?
Capítulo 3
BROOKE

Mark respondeu primeiro, ele estava tão acostumado que eu lhe


fizesse essa pergunta que se tomou tão normal quanto respirar para ele
hoje em dia.
— Sim, estou bem, querida. Só precisava de um pouco de ar fresco e
algo para beliscar. Deu certo!
Havia uma rigidez nele que eu não estava familiarizada.
Seus olhos estavam fixos em mim, mas ele estava bem ciente de todos
os outros na sala.
O fato de ele não ter mencionado a medicação não passou
despercebido, e eu me perguntei se ele esperava que sua explicação fosse
deixada sem contestação.
Agora, no entanto, não parecia ser o momento de mencionar esse
pequeno descuido.
Eu olhei de Slate para meu marido. Todos lá estavam agora nos
observando como se suas vidas dependessem disso, e era muito
desconfortável.
Entre a expressão sombria de Slate e a aparência humilde do meu
marido, eu estava pronta para colocar todos de volta no carro e ir
embora.
Ainda segurando as mãos dos meninos, me aproximei de Mark.
A intenção de levá-los ao banheiro foi quase esquecida enquanto eu
observava os dois homens diante de mim.
Esbarrando deliberadamente em Mark, eu perguntei em tons
sussurrados.
— Está... — Eu olhei de relance para Slate — ... tudo bem?
Os olhos de Slate se estreitaram em meu marido, e havia uma ameaça
lá que não fazia sentido para mim.
Mark, por outro lado, ficou com a cabeça ligeiramente curvada antes
de incliná-la de lado em minha direção.
O pequeno sorriso em seus lábios não era nada reconfortante, mas ele
estendeu a mão e deu um tapinha no meu braço.
A frieza de sua mão através da minha camisa me assustou antes que
ele dissesse: — Sim, tudo vai ficar bem agora.
A escolha das palavras me surpreendeu, mas não tive a chance de
questioná-las.
— Vá em frente. — Ele sorriu para mim suavemente. — Eu sei que
Hayden não conseguirá segurar por muito mais tempo.
Seu olhar caiu sobre o nosso filho mais novo, que estava se remexendo
um pouco mais do que o normal.
— Nós dois sabemos que a dança do xixi é a próxima.
Ele riu, e a tensão dentro de mim diminuiu ligeiramente enquanto eu
ria.
— Sim, está bem.
A escuridão no rosto de Slate tinha diminuído apenas ligeiramente,
mas pelo menos ele não parecia estar pronto para atacar.
Eles se conheciam?
— Já volto, — eu prometi.
Mark apertou meu braço e seus olhos desviaram de mim para o chão
abaixo dele.
Deixando os dois homens, deixei meus pés se moverem um pouco
mais rápido para tirar os meninos de perto deles.
Mark e Slate já começaram a falar um com o outro em tons abafados,
muito baixo para eu ouvir.
Talvez Slate não tenha ficado tão satisfeito quanto inicialmente
revelou sobre estarmos lá.
Enquanto eu guiava meus filhos para longe, o ar mudou
momentaneamente quando uma onda de energia bateu contra mim, me
fazendo ofegar.
Os outros na sala ficaram quietos quando um rosnado profundo e
gutural ecoou contra as paredes.
Segurando as mãos dos meninos com ainda mais força, empurrei-nos
para frente enquanto tentava procurar a criatura que fazia o barulho.
O som fez minhas entranhas estremecerem, embora não fosse
inteiramente o medo que ressoava dentro de mim.
Logo, a atmosfera na sala voltou ao normal, e a tensão diminuiu,
permitindo-me respirar mais uma vez.
Ninguém mais parecia incomodado com o fato de que parecia que
uma fera selvagem estava com eles neste lugar, e as conversas animaram
a sala mais uma vez.
Talvez fosse tudo na minha cabeça, um efeito colateral da fome e do
sono me deixando maluca.
Conseguimos chegar ao banheiro quando direcionei o zeloso Hayden
para dentro do toalete maior do que o normal.
Como era de sua natureza, ele queria explorar tudo antes de fazer seu
negócio.
Quase precisei prendê-lo até conseguir acomodá-lo o suficiente para
finalmente sentar-se no assento.
Uma vez que ele estava lá, me senti confortável o suficiente para
deixá-lo... brevemente.
Enquanto saía, eu queria lembrá-lo das regras.
— Não se esqueça de...
Hayden resmungou para mim de seu trono.
— Eu sei. mamãe. — Suas palavras diminuíram para pouco mais do que
um sussurro de pânico. — Mas você precisa fechar a porta, antes que eles me
vejam-.
Seus olhinhos se arregalaram momentaneamente, então ele parecia
ter se lembrado de algo importante. — Por favor.
O sorriso bobo que se espalhou por seu rosto me fez saber que ele
estava orgulhoso de si mesmo por se lembrar de ser educado.
Durante anos, o menino não se preocupou nem remotamente com
sua nudez.
Aparentemente durante a noite, ele se tomou tão modesto quanto um
monge.
Certo, talvez ninguém pudesse realmente vê-lo, mas ele estava mais
do que pronto para defender sua modéstia.
Contanto que ele não se esquecesse das pequenas coisas—dar
descarga, lavar as mãos—eu ficaria feliz em atender a seu pedido.
A sala além estava zumbindo alto enquanto as pessoas falavam entre
si, com a atmosfera sendo perfurada com risos periodicamente.
Era um grande contraste com apenas alguns momentos antes.
Meu marido e Slate ainda estavam em uma conversa profunda. Ao
observá-los, não tinha certeza de como estava indo.
A expressão de Slate se iluminou até certo ponto, mas ele ainda
parecia... perigoso.
Todo o corpo de Mark permaneceu tão tenso e humilde como antes.
Sua linguagem corporal falava de algo importante acontecendo entre
eles, mas o que poderia ser tão importante entre estranhos?
Havia uma familiaridade ali, mas eu não conseguia imaginar como
eles poderiam se conhecer.
No entanto, a empresa para a qual Mark trabalhou era uma empresa
internacional, então era possível que se conhecessem a partir dos
negócios da empresa.
Isso explicaria parte da hostilidade de Slate?
O homem que tinha sido tão gentil em me mostrar o banheiro em
primeiro lugar estava vindo na minha direção mais uma vez.
Seus olhos verdes pálidos estavam praticamente sorrindo para mim
enquanto seus cabelos lisos e loiros caíam sobre a testa.
O próprio charme que ele exalava me lembrava dos tempos em que os
meninos estavam prontos para explodir de emoção sobre um segredo
que queriam compartilhar.
Deve ter sido o largo sorriso em seus lábios, junto com o rubor de
excitação que revestia seu rosto como um brilho fino.
É certo que seu charme era um pouco mais maduro do que meus
filhos, mas não havia como esconder que ele estava encantado com
alguma coisa.
Ele definitivamente era tão atraente quanto qualquer um deles em pé
ao redor da sala.
Geneticamente falando, essas pessoas pareciam ter recebido o melhor
dos genes, pelo menos fisicamente.
Pouco antes de chegar até nós, ele já estava fazendo um convite.
— Estamos prestes a jantar no salão. Seria um prazer tê-los conosco.
Por algum motivo, meu rosto ficou com uma expressão quase vazia,
como se eu não entendesse o que ele estava me dizendo.
Na verdade, eu ouvi tudo o que ele disse, mas meu cérebro ainda não
tinha determinado uma resposta a dar a ele.
Devo ter ficado ociosa em pensamentos e palavras um pouco demais,
pois o homem voltou a falar tentando me convencer do convite.
— Está ficando tarde. Quando chegarem à cidade mais próxima,
imagino que a maioria dos lugares que servem qualquer coisa comestível
estaria fechada.
Ele sorriu para mim.
Havia algo tão amigável e de bom temperamento em todo o seu
comportamento, algo que o tomava instantaneamente simpático.
Embora ele fosse quase tão alto quanto Slate, ele ainda era capaz de
transmitir um charme quase infantil.
Seus olhos mantinham um brilho constante, embora eu me
perguntasse se era emoção ou malícia que os fazia brilhar tanto.
A necessidade de provocar este homem era demais para conter.
— Eu não sei. Você pode apresentar um argumento mais convincente?
Hayden quase saltou do banheiro no momento mais oportuno.
— Mamãe, você precisa ver o sabonete espumoso que eles têm. Tem
cheiro de morango.
Bem, pelo menos não precisei perguntar se ele havia lavado as mãos.
Aaron aproveitou esse momento para entrar no toalete que Hayden
tinha acabado de sair.
— Quando vamos comer? Estou com fome, — lamentou Hayden.
Antes que eu pudesse responder, o homem respondeu: — Você vai
jantar conosco esta noite, se quiser.
Quando olhei para o homem que ofereceu o convite, sua boca se
curvou em um sorrisinho vitorioso.
Nossa pequena garrafa de energia começou a pular quando Hayden
concordou ansiosamente com o convite. Touché!
— Parece que temos planos para o jantar, — Mark sorriu ao se
aproximar de nós, com apenas uma leve tensão aparecendo nas laterais
de sua boca.
Se era por causa de sua doença ou de sua conversa, ninguém sabia.
Capítulo 4
SLATE

A mulher que praticamente invadiu a sala era nada menos que a


perfeição.
Nem mesmo a tensão que a dominou não poderia prejudicar o efeito
instantâneo que ela teve sobre mim.
A deusa certamente me abençoou, e foi mais do que superficial.
Havia uma aura deliciosa que a rodeava, e um perfume delicioso que
aludia a uma mulher que valia a pena conhecer.
Seu cheiro era familiar, e nos cantos da minha mente eu sabia o
porquê.
Assim que coloquei os olhos nela, o lobo em meu interior quase
avançou. Como meus irmãos, ele queria reivindicá-la quase que
instantaneamente.
Os humanos não eram como metamorfos, e a maioria não tinha ideia
de nossa existência.
Não, por ela eu esperaria, mesmo que tivesse que enjaular meu lobo
para fazê-lo.
Quando ela entrou, descobri que não podia fazer mais do que
observá-la. Ela era deslumbrante e mexeu com aquela parte de mim que
pensei que nunca encontraria satisfação.
Então eu observei, com medo de que sua aparição desaparecesse.
Com medo de que aquelas tantas vidas que eu esperei por ela
continuassem seu curso temido.
— Bern, olhe só para isso!
Carter falou ao meu lado. Do canto do olho, vi sua cabeça intercalar
entre mim e a mulher que prendia minha atenção.
— Se eu não te conhecesse bem... — ele ponderou provocadoramente.
Sorrindo, eu brinquei, — Mas você conhece, então não há necessidade
de especular mais. Entretanto, parece que ela pode precisar de ajuda.
Carter a observou por mais um minuto quando ela começou a falar.
— Desculpem interromper, mas os rapazes do lado de fora disseram
que havia um banheiro aqui que eu poderia usar?
Seus olhos examinaram a multidão. Se houvesse alguma dúvida sobre
sua conexão comigo, ela desapareceu no momento em que seus olhos
encontraram os meus. Perfeição!
Ao meu lado, Carter riu.
— Que tal eu ficar com esta, — ele brincou enquanto dava um tapinha
no meu ombro.
Rosnei baixo com a brincadeira, mas estava contente em beber com a
visão dela.
Os membros da matilha ficaram em silêncio neste momento, então
comecei uma conversa com os mais próximos.
Outros entenderam a intenção sem que eu dissesse uma palavra
enquanto começavam suas próprias conversas, embora a maioria girasse
em tomo da mulher estranha que entrou em nossa casa da matilha.
Rapidamente, Carter a conduziu ao banheiro e voltou com um sorriso
genuíno no rosto.
Brincando, perguntei: — Do que você está rindo? — Meu próprio
rosto exibia um sorriso muito parecido com o dele.
Carter encolheu os ombros. — E muito bom ver você sorrir.
Ele passou a mão pelo cabelo loiro, tentando afastá-lo da testa, mas foi
inútil quando ele caiu de volta sobre a testa, descuidadamente.
— Você esperou muito tempo por ela, e eu odiei ver isso desgastar sua
alma como antes.
Eu resmunguei, — Você tem sorte de ser o meu braço direito e
acontecer de eu precisar de você. Caso contrário, eu o jogaria em uma
cela por me fazer parecer tão fraco.
O homem riu da minha pobre tentativa de humor, mas minha
atenção já havia se voltado para a mulher que estava saindo.
Meus pés se moveram em sua direção por vontade própria.
O lobo em meu interior rugiu sua aprovação quando eu a alcancei.
— Com licença, senhorita. — Deixá-la ir embora não era uma opção.
Embora eu tenha falado, não houve resposta da mulher perante a
mim.
Ela estava em seus próprios pensamentos, e isso me fez sorrir ao ver a
expressão suave e vazia em seu rosto.
As linhas gravadas em sua feição pareciam quase permanentes de
preocupação e ansiedade, e eu queria apagar sua existência de seu
semblante.
Estendendo a mão para chamar sua atenção, tomei cuidado onde a
tocava. Tocar em sua pele colocaria as engrenagens do destino em
movimento.
Duas luas, esse era o tempo limite de nosso acasalamento se eu
quisesse permanecer Alfa Superior.
As regras eram ligeiramente diferentes para mim e minha família do
que para outros alfas.
Se duas luas passarem sem completar o vínculo de acasalamento, eu
perderia meu título e os poderes que vêm com ele.
Um presente e uma maldição da deusa, embora a mulher antes de
mim fosse tudo menos uma maldição.
Quando toquei sua manga, pude sentir sua energia se estendendo
para somar à minha.
Era uma bênção, e eu me esforcei para sufocar o suspiro que queria
escapar em sua presença.
Sua surpresa me fez sorrir e sua voz me fez cantarolar. Ouvi-la se
desculpar era como ouvir anjos em coro.
Mas, quando ela estendeu a mão, dizendo-me o sobrenome que
cruzaria meus lábios em êxtase, quase me engasguei.
Sua mão era delicadamente esculpida, uma força que jazia por trás da
fachada de pele perfeitamente pálida.
Eu observei com curiosidade. Depois de pegá-la, teria apenas duas
luas.
Respirando fundo, eu inalei o ar ao nosso redor. Seu cheiro estava
quebrando minha decisão, mas eram os outros que estavam em volta
dela que eu precisava considerar.
Eles eram predominantes enquanto procuravam combinar seu sabor
com o dela, mas nenhum que a cobrisse como um amante o faria.
Havia apenas cheiros que pareciam se encostar nela em vez de possuí-
la.
Ainda que ela não fosse embora sem minha marca, eu concederia a ela
as duas luas. Eu estava determinado a dar isso a ela.
Minha mão disparou, meu lobo se aproximando da superfície.
Envolvendo sua mão na minha, todo o meu corpo pulsou enquanto eu
dizia seu nome pela primeira vez.
Era como dar uma mordida em sua refeição favorita e fazer uma pausa
para apreciar os sabores que dançavam em sua língua.
Mas, na realidade, era mais do que isso.
Meu corpo a inspirou como se eu finalmente tivesse ascendido de
águas turvas nas quais estive imerso por muito tempo.
O momento foi interrompido por dois aromas que giraram em tomo
dela.
Dois meninos pequenos correram pela porta enquanto ela arrancava a
mão de minhas garras.
Meu corpo inteiro ficou rígido quando os meninos se jogaram nos
braços de sua mãe.
As crianças eram criaturinhas incríveis, e tão inocentes e aceitadoras
de tudo que surgia em seu caminho.
Eles eram mais flexíveis do que a maioria acredita.
Filhos não eram um problema para mim, mas eles teriam outro pai
que poderia ser.
Duas luas. Nosso tempo já estava começando a passar.
Abaixando-me, tentei me apresentar.
O mais jovem tinha um tipo de espírito sobre ele. Ele atraía as
pessoas, as fazia sorrir e as deixava mais felizes do que quando chegaram.
Uma personalidade contagiante.
O menino mais velho era uma maravilha por si só.
A maneira como ele se posicionava o fazia parecer observador,
inteligente demais para sua idade, sem perder nada.
Sua própria natureza protetora daqueles que amava.
Embora ambos fossem muito diferentes, suas qualidades eram
igualmente cativantes.
Se eles me aceitassem em suas vidas, eu seria abençoado por tê-los na
minha.
Depois de ouvir sua breve troca, percebi que precisaria me familiarizar
com os super-heróis.
Quando eu era criança, tínhamos nossos mitos e lendas que
recontávamos à luz do fogo.
Os deuses nórdicos e os mitos romanos eram nossas histórias para
dormir, e aqueles que nos ensinavam moral e tendências.
Agora, parecia que havia uma quantidade enorme de seres
sobrenaturais que eu precisava aprender para ser capaz de manter
qualquer forma de conversa com os dois enquanto o mais jovem
tagarelava sobre um homem morcego e um Robin.
Tratava-se de homens? Que estranho.
Parecia incongruente que um homem se comparasse a um morcego.
Eles nem eram uma espécie dominante.
A tensão que se apoderou de mim diminuiu um pouco quando deixei
um sorriso brincar na minha boca. Essa pequena unidade familiar me
lembrou do que eu havia desejado.
A pontada que senti ao ver os dois pela primeira vez bateu forte em
meu peito, uma energia que não continha mais ansiedade, mas desejo.
A porta da frente foi destrancada e lentamente revelou outro intruso.
Quando o nome dela escapou de seus lábios, meu coração trovejou
em meus ouvidos.
Eu conhecia o homem, e a primeira vez que senti o cheiro dela veio à
tona em minha mente.
Não pude mais escapar do que estava escondido ali, uma luz brilhou
sobre ele como se o próprio sol o iluminasse.
Cada músculo do meu corpo ficou rígido, e eu curvei meus punhos
em um esforço para controlar o lobo em meu interior de tentar eliminar
a ameaça.
Não haveria nenhum argumento com o lobo, e eu não estava pronto
para expor minha companheira a um mundo que eu não tinha certeza se
ela conhecia.
Meus olhos permaneceram fixos no homem diante de mim enquanto
ele inventava desculpas que mandariam Brooke embora.
As bordas dos meus olhos ficaram prateadas quando começaram a
sangrar.
Era o que eles sempre faziam quando eu sentia meu lobo tentando me
empurrar, tentando forçar seu caminho para existir.
Sem dúvida, eu pareceria quase selvagem para este homem.
Ele cheirava mal, mas eu já sabia disso.
Foi a doença dele que forçou nosso encontro há mais de um ano, e
agora ele aparece na minha porta com minha companheira.
Se não fosse por sua submissão, não tenho certeza se seria capaz de
controlar meu lobo.
Uma vez que Brooke estava fora de alcance, não consegui mais evitar
que as palavras viessem.
— Explique-se, — eu grunhi com os dentes cerrados.
O homem manteve a cabeça curvada por respeito enquanto falava
baixinho. — Eu sei quem ela é para você.
Suas palavras me fizeram arder ainda mais. Saber quem ela era para
mim e trazê-la aqui para exibi-la na minha frente era impensável.
O pensamento torturante se espalhou por mim como um incêndio
enquanto irradiava de mim em massa.
Minha pele parecia que estava pegando fogo, como sempre acontece
quando meu lobo está prestes a tomar conta.
Minha voz irrompeu, fazendo um grunhido reverberar por toda a sala.
— Essa explicação vai acabar com você. Você tem alguma ideia do que
fez?
Mark lançou um olhar incerto ao redor da sala antes de sussurrar para
mim mais uma vez.
— Eu trouxe sua yamala jyoti para você.
Dando um passo mais perto, deixei minha altura pesar sobre ele. — E
há quanto tempo sabe desta pequena informação?
O homem diante de mim estremeceu. Oh, isso ia ser bom!
— Desde o dia em que você visitou meu quarto de hospital.
Mark empalideceu antes de continuar.
— Seus parceiros notaram seu comportamento quando você cheirou
Brooke no meu quarto. Eles pensaram que você poderia atravessar o
hospital procurando por ela e ficaram surpresos quando você não o fez.
Eu quase fiz. O impulso de encontrá-la e acasalar com ela era quase
tão forte quanto quando coloquei os olhos nela.
Foi por um mero fio que resisti, a mortalidade do homem tendo
precedência naquele momento.
Quando voltei mais tarde, vasculhei todo o prédio para sentir o cheiro
que tanto me cativou. Não havia nada. Ela não estava lá.
Se não fosse por um caso enorme que nos levou quase um ano para
resolver, eu poderia ter conhecido a situação de minha companheira
antes disso.
No estado atual, eu acabei de voltar e nem mesmo desfiz as malas.
Meu rosto se enrugou. Não deveria importar agora, mas importava.
— E você não pensou em me contar isso antes, — eu rosnei.
Naquele momento, Mark pareceu ganhar coragem. Eu não tinha
certeza se devia ficar impressionado ou ofendido.
Ele endireitou os ombros, ainda mantendo a cabeça baixa o suficiente
para que meu lobo ficasse satisfeito.
— Você a terá para o resto de sua vida. Eu só a queria para o resto da
minha.
Não havia necessidade de perguntar o que ele queria dizer. O cheiro
doentio o encharcava.
No entanto, minha tarefa de completar o vínculo de acasalamento
dentro de duas luas parecia mais assustadora.
A pausa pairou entre nós antes de ele acrescentar: — Não a toquei
desde então.
A confissão soou como se doesse para ele admitir. Certamente
explicaria a falta do aroma de um amante.
Ele pensou que estava me fazendo um favor, mas apenas tomou
minha vida muito mais difícil.
Eu respirei fundo, exalando o máximo de minha frustração que pude.
— Permitir a entrada de um humano é uma coisa, e fazê-lo em duas
luas é bastante difícil. Agora isso.
A necessidade de correr estava me oprimindo, mas não havia
nenhuma maneira de deixar meu lobo avançar agora.
Ele acabaria com o homem perante a mim, e mais provavelmente
assumiria Brooke à força como sua companheira.
— Duas luas?
— Sim, eu tenho duas luas para concluir o vínculo com...
As palavras que deveriam sair não saíram. Chamá-la de sua esposa
parecia desrespeito ao vínculo de companheiro.
— ... Brooke.
O homem se encolheu, sua sobrancelha baixando tanto que quase
fechou seus olhos no processo.
— Não vou interferir no que precisa ser feito, nós dois sabemos que
não vou chegar à primeira lua. Apenas... apenas me prometa que você
irá... cuidar dela e das crianças.
Eu não pude evitar o rosnado que saiu.
O homem me ofendeu. Ele achava que eu não valorizaria minha
companheira e qualquer filho que a representasse neste mundo?
Eles se tomariam minha prioridade, o que significava que se tomariam
a prioridade do meu bando.
— Se você acha que isso não aconteceria sem uma promessa, então
você não sabe nada sobre mim.
Virando-me, forcei meus pés a colocar alguma distância entre mim e
Mark.
Se eu conseguisse não acabar com o homem antes que sua doença o
levasse, tanto meu lobo quanto eu ficaríamos surpresos.
Por enquanto, eu tinha que descobrir como conquistar minha
companheira sem parecer um destruidor de lares. Ótimo!
E duas luas era tudo que eu tinha!
Capítulo 5
BROOKE

Enquanto Mark caminhava em nossa direção, olhei por cima do


ombro. Não havia sinal de Slate, e meu marido estava ainda menos
estável do que antes.
Foi ainda mais estranho quando Mark desviou os olhos de mim,
mantendo-os atraídos para os meninos e o homem que emitia o convite
para jantar.
Estendendo a mão, Mark se apresentou.
— A propósito, eu sou Mark. Mark Marlin.
O homem segurou fortemente a mão de Mark e pude vê-lo
estremecer quando o homem a apertou.
Não havia maldade, e ele rapidamente afrouxou o aperto quando viu
seu efeito.
— E esta é minha esposa, Brooke, e meus dois filhos...
Ele rapidamente olhou ao nosso redor e viu nosso pequeno pacote de
energia saltando ao redor da sala e olhando para todas as peças
decorativas que nos cercavam.
— ... Hayden e Aaron está...
— Lá. — Apontei para a porta fechada.
Ele deu uma risadinha. — Ah, bem, isso explica tudo!
Aaron nunca se afastava de nós.
— Hayden, tire as mãos daí!
Seu rostinho estava pressionado dentro da borda de um dos grandes
vasos no chão, completamente oculto na cor preta e dourada.
— Sim, temos que tomar cuidado com aquele ali. — Eu sorri enquanto
pegava a mão de Hayden para puxá-lo ao nosso lado mais uma vez.
Seria muito tentador para ele puxar inadvertidamente um daqueles
vasos de aparência cara, fazendo com que se espatifasse no chão polido.
Definitivamente, não teríamos condições financeiras de substituir os
itens que ocupavam esta área.
— É um prazer enorme conhecer todos vocês. Sou Carter, ao seu
dispor.
Ele fez uma breve reverência simulada com um sorriso brincalhão.
Aaron voltou cheirando as mãos. Acho que não precisava perguntar a
ele se tinha as lavado.
— Eles devem estar quase prontos para servir o primeiro prato.
Vamos?
Ele começou a mostrar o caminho para a grande mesa de jantar que
quase preenchia todo o salão.
Mark ainda não tinha usado as instalações.
Quando ele tentou abafar uma tosse, eu sabia o que viria a seguir. Eu
fiz uma careta quando ele confirmou minhas suspeitas.
— Podem ir sem mim. Eu preciso de um minuto, — ele sorriu com
tristeza enquanto me olhava brevemente, e meu coração se partiu.
Eu coloquei a mão em seu braço, acariciando a área antes de deixá-la
cair mais uma vez.
— Tudo bem, meninos. Vocês conhecem as regras.
Voltando minha atenção para eles, comecei a me afastar de Mark.
— Mãe, não somos mais bebês.
— Não, não somos. Já tenho cinco anos, — Hayden interrompeu,
mostrando e abrindo quatro dedos com covinhas e um polegar para
enfatizar o que ele queria dizer.
Bem na nossa frente, ouvi Carter rir.
— Eu sei que você está quase crescido, mas ainda tem que seguir as
regras.
Eu levantei minhas sobrancelhas tentando conter o sorriso que
ameaçou se espalhar pelo meu rosto. — Vamos lá?
Ambos resmungaram.
— Sem gritar na mesa, sem bater, sem reclamar e sem usar facas como
armas.
Aaron recitou-as com perfeição e Hayden tentou o seu melhor para
copiar as palavras enquanto Aaron falava. Era o jeito deles.
Carter lançou um olhar questionador para a recitação.
— Dois meninos, em um restaurante público, facas para carne. Eles
imediatamente pensaram que eram ninjas com catanas.
Sua risada ecoou no corredor e me fez rir também. Ele tomava mais
fácil estar neste lugar cheio de estranhos.
Os outros pelos quais passamos sorriam para os meninos, riam de
suas ações ou apenas nos observavam com expressões curiosas.
Meu marido teve uma boa ideia.
Ele nos deixou levar a pressão de sermos observados enquanto ele
fechava a retaguarda com o máximo de anonimato possível. Sortudo!
Quando chegamos à mesa, Carter parou em um local com quatro
cadeiras.
Depois de acomodar os meninos, comecei a me mover para a cadeira
mais distante da ponta da mesa antes de ser redirecionada.
— Você não foge tão facilmente. — Carter sorriu enquanto segurava a
cadeira que estava ao lado da ponta da mesa.
— Você pode se sentar na minha frente! — Ele me concedeu seu
sorriso mais encantador.
— Oh, tudo bem.
Por dentro, fiquei bastante aliviada em saber que estaria em sua
companhia, já que me sentei um tanto desajeitadamente antes de
agradecê-lo.
Quando me sentei, um pensamento me ocorreu.
Virando minha cabeça para encará-lo, perguntei: — Não sou
debutante, e etiqueta definitivamente não é meu ponto forte, mas este
assento não deveria ser para... bem, qualquer um além de mim?
Carter riu e eu corei.
Eu deveria ter mantido minha boca fechada. Agora eu apenas parecia
uma tola tentando falar sobre não saber etiqueta.
— Este é o assento perfeito para você.
Ele se inclinou e sussurrou em meu ouvido.
— Eu não me lembro de todas essas regras malditas também. Então,
não tente me enganar durante a refeição. Eu não distinguiria um garfo de
jantar de um garfo de salada de um garfo de sobremesa.
E, assim, meu constrangimento se dissipou. Pelo menos sobre
etiqueta à mesa.
Examinar os outros presentes me fez perceber o quanto estávamos
despreparados para jantar neste lugar.
A maioria usava temos e vestidos caros. Meu jeans e minha camisa de
mangas compridas pareciam destoar entre eles, e eu me sentia mais do
que um pouco monótona.
Felizmente, Carter e Slate não pareciam ter a mesma compulsão de
usar roupas elegantes para o jantar.
Os dois usavam calças simples cáqui e polos.
Certo, então eles ainda estavam vestidos um pouco melhor do que
nós, mas este foi um convite de última hora. Ainda dava tempo de
recusar?
Os meninos estavam animados e jogavam um jogo de adivinhação
tentando imaginar o que seria servido no jantar.
Hayden queria que eu os informasse de que queria batatas fritas e
molho de churrasco, como se estivesse pedindo um menu em vez de ser
um convidado.
Aaron não se importava, ele só queria comer alguns vegetais com sua
refeição.
À medida que suas especulações ficavam mais altas, eu sabia que não
demoraria muito para que eles quebrassem uma das regras.
Eu abri minha boca para repreendê-los por seu mau comportamento
enquanto Carter colocava diante deles alguns livros de super-heróis, giz
de cera e pratos de batata frita com molho de churrasco e vegetais para
dar-lhes algo para fazer e mordiscar.
Ele sorriu para mim enquanto os meninos se alimentavam de sua
comida e atividades sem outra palavra. Balançando minha cabeça, eu
sorri de volta.
— Você já fez isso antes, não é?
Ele encolheu os ombros, com um sorriso agora provocante. — Talvez
uma ou duas vezes.
A mesa acomodava cerca de cinquenta pessoas, embora nem todas as
cadeiras estivessem ocupadas esta noite. A maioria estava conversando
entre si enquanto o primeiro prato havia sido colocado à nossa frente.
Mark ainda não tinha aparecido e parte de mim queria ir ver como ele
estava. A outra parte queria que eu o deixasse com sua dignidade.
Eu estava dividida quando me virei em meu assento, observando a
porta esperando por ele fazer sua aparição.
— De onde você é?
A voz era profunda e intensa, ressonando dentro de mim.
Eu podia sentir em todo o meu corpo como se alguém tivesse pegado
um diapasão e colocado contra a minha pele.
Alguém se sentou ao meu lado e eu estava muito preocupada para
notar.
Ainda ponderando minhas opções de verificar Mark ou continuar
esperando, lancei minha resposta por cima do ombro.
— Geórgia. Moramos perto de Savannah.
Na minha cabeça, eu me repreendi. Nós morávamos perto de
Savannah, mas a casa foi vendida para pagar a viagem.
Não nos pertencia mais, e um impulso momentâneo atingiu meu
coração antes que eu me obrigasse a deixá-lo ir.
Mark estava entrando pelas portas e eu exalei o ar que foi capturado
em meus pulmões.
Eu não tinha percebido o quão ansiosa sua ausência me deixava.
Foi então que fui capaz de voltar minha atenção para o homem que
estava falando comigo—um homem que tinha deixado um resmungo
baixo, ou talvez até um rosnado, escapar dele.
— Oh, Slate. Você está bem?
O que havia comigo perguntando aos homens ao meu redor se eles
estavam bem?
— Há quanto tempo vocês dois estão juntos? — Seus lábios quase
rosnaram, o que achei muito estranho.
— Estamos casados há dez anos.
Eu tentei o meu melhor para sorrir, mas havia algo que parecia quase
doloroso cruzando sua feição.
Slate observou meu rosto por um longo momento, me fazendo
queimar sob sua intensidade antes de falar mais uma vez.
— O que te fez vir até aqui? É muito longe de casa. — Michigan era
muito longe de casa, mas era um dos lugares na lista de desejos de Mark,
embora eu só tivesse descoberto isso recentemente.
Talvez ele suspeitasse de nossos motivos. Suponho que ele possa ter
inimigos que gostariam de lhe fazer mal.
Talvez ele não estivesse muito distante de um vilão como Hayden
pensava.
Isso trouxe um sorriso ao meu rosto.
— Estávamos tentando visitar o máximo de pontos de referência
nacionais que podíamos.
Eu mergulhei um garfo na minha salada, sorrindo enquanto lançava
um olhar rápido para Carter para ver qual garfo ele estava usando. Ele
percebeu meu olhar e sorriu, balançando a cabeça.
Levantando meu garfo, voltei minha atenção para o vinagrete
balsâmico que pingava antes de enfiá-lo na boca.
Slate não disse nada, apenas me observou enquanto eu mastigava
minha comida, o que só fez o sabor do pedaço saboroso ficar insípido.
Seus olhos me estudaram, quase como se soubesse por que estávamos
aqui, mas queria ver se minha resposta era a que ele procurava.
Suponho que a resposta que dei não foi boa o suficiente.
Parte de mim queria encolher os ombros e ignorá-lo enquanto eu
comia.
Mas isso seria uma refeição desagradável. Minha comida já tinha
gosto um pouco melhor do que papelão.
Depois de engolir, decidi me explicar... até certo ponto. Este homem
não precisava ouvir sobre a doença de Mark, pelo menos não de mim.
— Às vezes não valorizamos os lugares que nos cercam quando
buscamos ver o mundo. Mas aqui, onde vivemos, ainda é uma grande
parte do mundo que fazemos questão de ver.
Dei de ombros, determinada a experimentar outra mordida da salada
à minha frente.
— Portanto, optamos por viajar pelos Estados Unidos este ano. — Eu
enchi o garfo com mais salada.
— Eu teria que concordar com você.
Quando esse homem sorria, eu só conseguia imaginar quantas
mulheres ao seu redor desmaiariam.
— Embora eu a inveje por ser capaz de reservar um tempo e explorar
lugares pelo que eles realmente têm a oferecer. Quando viajo, geralmente
estou a negócios e tenho poucas oportunidades de explorar os lugares
que visito.
O comentário excêntrico saiu antes que eu pudesse impedi-lo. —
Então não é muito bem uma visita é?
Seu sorriso se estendeu além de seus cabelos desgrenhados, e o
homem estava intoxicante de tirar o fôlego.
Não havia nada sobre ele que eu mudaria naquele momento.
Seu sorriso era contagiante e eu senti um dos meus abrindo caminho
em meu próprio rosto.
Foi nesse momento que percebi que ele provavelmente era casado e
olhei em volta da mesa para ver se alguma mulher estava prestando
atenção em algo.
Não é de surpreender que a maioria das mulheres o observasse com
interesse. Suponho que, se quisesse saber, teria que perguntar.
Mas como alguém pergunta algo assim, e por que isso importa para
mim?
Definitivamente não era um pensamento com o qual eu me sentia
confortável, especialmente quando olhei para o outro lado da mesa e vi
Carter me olhando com um sorriso conhecedor.
Graças a Deus, o próximo prato estava sendo servido e eu poderia
voltar minha atenção para ele.
Pratos e mais pratos eram servidos enquanto os vazios eram
recolhidos. Antes de chegar o terceiro, descobri que já estava satisfeita.
Quando colocaram o próximo prato na minha frente, o fato de ser
recheado não me impediu de provar aquele ou os outros que estavam
colocados sobre a mesa. Era tudo tão maravilhoso.
Carter e Slate estavam em uma conversa profunda, discutindo uma
coisa ou outra enquanto eu cuidava dos meninos.
Acalmá-los consistia em avisar que o prato de sobremesa estava em
um futuro não muito distante.
Se eles quisessem, eles precisavam se comportar e Hayden precisava
comer um pouco mais.
— Mas estou muito cheio, — lamentou Hayden.
— Como você pode comer sobremesa se está muito cheio? — Aaron
racionalizou o que estava em meus lábios para dizer. Era uma conversa
com a qual estávamos muito familiarizados.
Hayden cutucou o lábio e fez
beicinho. — Hmph. — Então ele pensou melhor sobre sua situação. —
Quantas garfadas mais eu tenho que dar?
Essa criança comeria besteira o dia todo se deixasse, mas ela precisava
comer mais proteínas e vegetais.
Então, eu dei a ele uma resposta que sabia que ele não gostaria.
— Que tal três garfadas no seu frango e outras três nos seus vegetais?
O menino evitava vegetais como a peste. Quanto mais verdes eles
eram, mais ele tendia a descartá-los completamente.
Com o garfo, cutucou os brócolis e as batatas e fez uma careta.
— Mas eles são nojentos!
A sobremesa estava no horizonte e ele tentou se comprometer. —
Posso comer cenouras em vez disso?
Ah sim. O único vegetal que poderíamos fazer com que ele comesse,
mas que não estava em seu prato.
Ele era uma daquelas crianças que era muito doce quando queria, mas
suas reações tendiam a ser excessivas na maioria das vezes.
Sorrindo, eu deixei minha mão acariciar sua cabeça.
Olhando diretamente para seu prato, dei-lhe um minuto para
processar sua própria pergunta antes de responder a ele.
— Hayden, você está vendo alguma cenoura no seu prato?
Franzindo a testa para mim, pude ver seu pequeno cérebro girando
enquanto ele tentava encontrar uma solução para seu dilema.
— Talvez Carter tenha um pouco...
Suas palavras pararam quando seu herói estava ao seu lado com um
pequeno prato de cenouras cruas, praticamente conjuradas do nada pelo
simples pedido.
O homem era rápido, isso era certo.
Minha cabeça estalou de sua cadeira atualmente vazia para o homem
ao meu lado, enquanto minha boca abria e fechava como se eu fosse um
peixe ofegante.
Eu nem tinha percebido que ele havia saído da mesa.
Independentemente disso, Hayden estava grato.
— Obrigado! Três garfadas, certo, mamãe?
Com um sorriso e um olhar agitado a Carter, eu baguncei o cabelo do
meu filho mais novo.
— Agora que o jogo mudou, você precisa comer três pedaços de
frango e quatro cenouras.
— Mamãe, isso é trapaça! — Ele franziu a testa para mim. — Eu vou
ficar muito cheio de verdade agora, — ele resmungou, mas começou a
mastigar as cenouras de qualquer maneira.
Os dois homens mais próximos de mim riram de sua resposta mal-
humorada enquanto Carter voltava ao seu lugar.
— Obrigada, Carter. Parece que os caprichos das crianças não são tão
estranhos para você.
O sorriso em seu rosto falava de um pai orgulhoso.
— Eles são muito parecidos com meus filhos.
Ele sorriu antes de apunhalar seu bife com o garfo e a faca e arrancar
um pedaço que ele prontamente levou à boca.
— Bem, obrigada a ambos por sua hospitalidade.
Olhando para Mark, eu o vi mantendo o fim de uma conversa com
uma mulher adorável.
Havia uma tensão na parte superior de seu corpo, sempre presente
nos dias de hoje.
— Sei que meu marido também agradece por isso.
Uma vez dito, não consegui impedir que as palavras seguintes saíssem
da minha boca quando me virei mais uma vez para olhar para Slate.
— Então, como vocês dois se conheceram?
Mark quase engasgou com a água que estava bebendo e Slate olhou
em sua direção.
A conversa que ele estava mantendo com a moça foi agora esquecida
quando ele se inclinou em minha direção.
— Slate é CEO de uma organização conservacionista e empresa de
litígios que trabalha em prol de condições de trabalho seguras para...
todos nós. Ele faz muitos negócios se contorcerem quando ele aparece.
Ele e Carter riram, mas Slate permaneceu estoico.
— Oh, então você sabe sobre a doença de Mark.
O homem deixou algumas emoções correrem por seu rosto, mas seus
olhos permaneceram fixos nos meus. — Estou ciente, sim.
A esperança cintilou dentro de mim, mas eu não tinha certeza do
porquê. Ele era apenas um conservacionista e advogado, certo? Não é
como uma espécie de especialista médico.
E ainda assim, eu não conseguia afastar a emoção que crescia em meu
peito.
Reagindo a algum comando desconhecido, estendi a mão para colocá-
la sobre a dele.
— Então você pode ajudar?
No momento em que minha mão se fechou sobre a dele, senti as
faíscas voarem e tive que lutar para impedi-las de explodir em meu
cérebro.
Seus olhos se fecharam quando ele quase gemeu, e isso fez meu
coração pular. Puxando minha mão de volta, eu estava sem palavras.
A sensação de ter olhos sobre nós só foi confirmada quando olhei para
Carter do outro lado da mesa e os deslizei para Mark.
As palavras foram ditas de forma suave e sombria.
— Estamos investigando isso.
Ele tirou a mão da mesa e colocou-a no colo enquanto brincava com a
comida com a outra.
Algo me obrigou a pedir desculpas, pensando que tinha feito algo
errado.
Segurar sua mão foi um impulso, mas ele não parecia se opor a
segurá-la antes.
— Eu sinto muito. Eu não queria...
O que exatamente aconteceu?
— ... ofendê-lo.
Havia uma certa incerteza aí.
O homem parecia exausto e desgastado. Ele fechou os olhos e
respirou fundo antes de finalmente abri-los para me olhar atentamente.
— Seu toque nunca poderia ser ofensivo para mim, Brooke.
Seus olhos vagaram pelo meu rosto.
— Embora seu toque com pensamentos em outra pessoa será a minha
ruína.
Hesitando com suas palavras, minha mente tentou compreender o
que ele estava dizendo para mim. A realidade era que não tinha certeza
do que ouvi.
As palavras soaram claras o suficiente, mas a interpretação delas não
poderia ser o que estava girando em minha cabeça.
Antes que eu pudesse questionar mais o significado, nossos garçons
voltaram para recolher os pratos da penúltima refeição.
Quando eles removeram os pratos para abrir espaço para a sobremesa,
Hayden estava quase pronto para pular da cadeira de alegria.
Aaron revirou os olhos para ele antes que ele não pudesse evitar sorrir.
— E só sobremesa, Hayden.
— Talvez seja chocolate!
Isso fez os dois quase babarem um pouco antes de os bolos de
chocolate cremoso serem colocados diante de nós.
Oh, a alegria de dois meninos felizes comendo sua sobremesa era
incrível!
Depois de alguns minutos da sobremesa, meu marido estava
começando a se cansar. Eu podia ver em seu rosto.
As linhas gravadas lá estavam ficando mais profundas com o passar do
tempo, mas ele continuou tentando sorrir.
— O que você vai fazer... quando você... voltar para casa?
O rosto de Slate estava um pouco contraído enquanto ele falava.
Parte de mim esperava que eu não fosse mais de muito interesse para
ele, mas aquela voz enviou tremores agradáveis sobre mim a ponto de eu
querer ouvi-lo falar por horas e horas.
Dei de ombros sem olhar em sua direção, focando minha atenção na
sobremesa na minha frente o máximo que pude.
— Honestamente, eu não pensei com tanta antecedência. Talvez volte
para o meu antigo emprego.
Não, eu não tinha a menor ideia do que faria.
Esta viagem foi feita para esquecer as coisas que nos atormentavam no
mundo real para focar nos momentos felizes que estávamos passando
juntos. Isso não significa que elas não tenham passado pela minha
cabeça, mas tentei mantê-las o mais longe que pude, nos cantos da
minha mente.
Havia uma boa chance de eu conseguir meu antigo emprego de volta,
mas eu não tinha certeza se seria uma renda suficiente para sustentar a
mim e às crianças.
Era apenas um trabalho de meio período para que eu pudesse ser a
mãe que sempre quis ser.
Deixar as crianças na escola pela manhã, trabalhar algumas horas
durante a semana, buscá-las, tirar férias.
Com o trabalho de Mark, não precisávamos de dinheiro, mas foi bom
colocar o que ganhei em uma conta poupança para aumentar.
Embora já tivéssemos praticamente gastado tudo agora.
— Entendi. O que você fazia?
Arrisquei um olhar rápido e sorri para ele. — Eu era professora
substituta.
Para minha sorte, o prato veio com uma colher para consumir o
delicioso chocolate cremoso à minha frente, então eu não tive que
adivinhar qual usar.
Perfurando o meio do bolo com minha colher, observei com prazer
enquanto a gosma de chocolate derramava de dentro.
— Depois que me formei em pedagogia, comecei a lecionar enquanto
Mark entrava no mundo corporativo trabalhando para a fábrica de
produtos químicos.
Olhar para ele fazia minhas entranhas apertarem, então eu me
concentrei no prato à minha frente.
— Depois que tivemos filhos, me tomei uma mãe dona de casa. Mas
quando Hayden começou a pré-escola, comecei a trabalhar como
substituta. Era mais fácil do que assumir as responsabilidades de ensino
em tempo integral.
— Você sabe, o planejamento de aulas, as notas, o trabalho de
assistência que precisa ser elaborado se uma das crianças está doente e
não pode ir à escola.
— Tudo pode ficar sufocante quando meu coração estava com as
crianças. Agora...
Encolhi os ombros enquanto deslizava minha colher por baixo de um
pedaço de chocolate e o levava aos lábios.
Não havia maneira elegante de comê-lo. Quando eu dei uma mordida,
espalhou chocolate no meu lábio inferior.
Minha língua deslizou pelo meu lábio para sugar os restos de
chocolate lá, e um estrondo baixo quase fez meu corpo explodir.
Algo estava muito errado comigo.
Virar-me na direção de Slate foi uma reação, e eu estava hipnotizada.
Os olhos de Slate estavam escuros com um forro prateado nas bordas
externas que eu só estava percebendo agora.
Eles eram incríveis, e a prata parecia rastejar ligeiramente para dentro,
ou talvez fosse minha imaginação.
Inclinando-se para mim, sua boca se curvou em algo tão íntimo e
sensual que tive que reprimir minha reação.
— Delicioso, — ele sussurrou.
Isso enviou um fogo derretido através de mim quando meu núcleo se
apertou. Este homem era perigoso.
Mark se levantou, trazendo a realidade de volta ao meu redor.
Movendo-se para o meu lado, ele se inclinou para sussurrar em meu
ouvido.
Um rosnado se moveu suavemente pelo ar quando Mark começou a
falar, e eu me perguntei se de fato ele havia tomado a medicação e estava
afetando seu estômago.
— Infelizmente, não estou me sentindo muito bem. Você pode ficar,
mas eu preciso me deitar.
Ele sufocou uma tosse antes de continuar.
— Por favor, dê meus cumprimentos ao nosso anfitrião. — Ele me deu
um beijo na têmpora. — Eu te amo.
Eu nunca tive a chance de responder. Antes que ele pudesse se afastar
de mim, ele desabou.
— Mark! — Eu gritei enquanto voava para fora da minha cadeira e ao
redor de seu corpo desmoronado.
Sua cabeça ricocheteou no piso de madeira polida com um baque
forte antes que eu pudesse puxá-lo para o meu colo.
Todo o seu corpo tremia enquanto convulsionava na minha frente.
Minhas mãos o apertaram contra o peito enquanto me ouvia
chamando seu nome repetidamente.
Capítulo 6
BROOKE

Embora parecesse anos, eu soube em minutos que estava sendo


puxada para longe de meu marido por mãos grandes e fortes.
Mãos que fizeram minha pele formigar e meu estômago embrulhar.
A dor em meu coração superou o frio na barriga enquanto eu estendia
a mão para a forma indiferente do meu marido esparramado no chão.
Dois homens rapidamente tomaram meu lugar ao lado de meu
marido enquanto o colocavam na maca que os esperava.
Eles chegaram tão rápido, mas eu não queria questionar como eles
conseguiram fazer isso.
Fiquei simplesmente grata por eles terem chegado tão rapidamente e
trazido uma maca.
Uma maca significava atendimento e um médico que poderia ajudar
Mark.
Enquanto o imobilizavam, Mark começou a ter convulsões. Antes de o
levarem, eles trabalharam nele até que suas convulsões parassem.
Tudo o que podíamos fazer era assistir enquanto eu enviava orações
silenciosas ao homem lá em cima. Meus filhos estavam em silêncio, mais
silenciosos do que nunca.
Todos nós já passamos por isso antes e sabíamos que tudo que
podíamos fazer era deixá-los fazer o seu trabalho e esperar que nos
avisassem.
Eles eram muito jovens para ter que entender isso, mas as
circunstâncias forçaram suas mentes jovens e inocentes a se
familiarizarem com o que estava acontecendo.
Assim que seu corpo se acalmou, eles começaram a empurrá-lo para
fora da sala.
Eu me movi para segui-lo, mas meu corpo foi puxado para perto de
um calor que ansiava.
Até aquele momento, eu não tinha percebido como meu corpo estava
frio sob a pele.
O calor era convidativo e eu queria aproveitar seu brilho, mas meu
marido precisava de mim.
— Eu preciso ir com ele.
Não havia força real em minhas pernas, e minha voz era pouco mais
do que um sussurro sem emoção neste momento.
O formigamento em minha pele ainda estava lá, embora não houvesse
nenhuma sugestão romântica em seu toque. Ele simplesmente me
segurou perto para me impedir de seguir.
— Deixe-os fazer o seu trabalho. Eles farão um trabalho melhor sem
ter que se preocupar em consolá-la.
— Mas...
Minha indecisão estava me puxando. Aaron estava chorando, seu
corpo inteiro tremendo com seus soluços silenciosos.
A boquinha de Hayden estava aberta, confusão franzindo sua testa.
— Mamãe?
A voz de Hayden soou tão baixa. Era estranho quando na maioria das
vezes nossos meninos não conseguiam falar sem gritar.
— O que há de errado com o papai?
Livrando-me do aperto do homem, caí de joelhos e abracei meus
filhos.
— Ele vai ficar bem. Ele só precisa descansar um pouco. Esses homens
vão ajudá-lo.
Aaron deixou seu corpo afrouxar contra mim, pegando emprestado a
pouca força que eu tinha.
— Está tudo bem, Aaron. A mamãe disse que o papai vai ficar bem.
Hayden inclinou a cabeça para tentar olhar Aaron no rosto.
Ele acreditava em tudo que dizia a Aaron, e eu não tinha dúvidas de
que isso faria Aaron se sentir melhor em algum grau.
Então, por que de repente eu senti que estava piorando as coisas?
Uma mão quente apertou meu ombro. — Quando foi a última vez que
você dormiu?
Virando meu rosto para ele, eu balancei minha cabeça. As lágrimas
começaram a transbordar, mas lutei para contê-las.
— O hospital terá um lugar para descansarmos enquanto esperamos
as notícias?
Slate fez uma pausa enquanto várias emoções passavam por seu rosto,
mas eu não fui capaz de decifrar uma.
Parecia que ele estava medindo suas palavras antes de finalmente
falar.
— Brooke, há quanto tempo seu marido está doente?
Eu liberei todo o ar do meu corpo, tentando me livrar da ansiedade,
do medo e da desesperança que ameaçavam me destruir.
Correndo a mão pelo meu cabelo, eu me levantei, segurando Aaron ao
meu lado com minha mão livre.
— Dois anos. Ele foi diagnosticado com câncer há dois anos.
Slate franziu a testa para mim, cerrando os lábios.
— Seu marido disse que tem câncer? — Era uma pergunta curiosa.
Minha testa franziu enquanto eu tentava entender o que ele
realmente estava perguntando ou insinuando com sua pergunta.
— Não, o médico o diagnosticou com câncer. O crescimento anormal
de células se espalhou por seu peito. Eles normalmente dizem que os
pacientes com câncer podem viver até cinco anos ou mais, dependendo
do tratamento e da rapidez com que foi detectado para o tipo com o qual
foi diagnosticado. Mas...
— Um médico humano?
A incerteza repousou em seu rosto enquanto esperava pela minha
resposta. Mas como responder a isso? Que outro tipo de médico seria?
Eu fiz uma careta com a pergunta. — Ao contrário de um alienígena,
sim?
A resposta terminou como uma pergunta. A pergunta era estranha,
mas toda a minha experiência neste lugar até agora poderia ser resumida
usando a mesma palavra.
Estranha.
Eu suspirei.
— Eu não sei. Sabíamos que essa hora estava chegando, mas parece
tão... cedo.
Meus olhos se encheram de lágrimas quando meus dedos seguraram
meus filhos com mais força, embalando-os contra mim.
Eles estavam contentes em se agarrar a mim, e Hayden até deixou seu
braço livre circular ao redor de seu irmão.
O vínculo deles era mais do que emocionante, e eu sufoquei um
soluço.
Slate não disse nada, simplesmente se aproximou como se sua
proximidade me desse forças.
Talvez sim, mas eu não tinha certeza de nada além das puras emoções
no momento.
— O câncer dele não foi provocado pelo fumo, como muitos
acreditam. Ele trabalhou para aquela fábrica de produtos químicos por
anos antes de implementarem o uso obrigatório de máscaras
respiratórias. Os produtos químicos tomaram o câncer mais... agressivo.
— E esta viagem? — Sua voz tomou conta de mim.
A simpatia, a preocupação e a compaixão quase me derrubaram em
sua intensidade, e me descobri querendo extrair minha energia dele.
Tê-lo me puxando para ele e sussurrando que tudo ficaria bem.
Mas não ficaria, não é?
— Sim, chame de lista de últimos desejos, se quiser.
As lágrimas não seriam mais contidas. Eles transbordaram e correram
pelas minhas bochechas.
Tínhamos visto tanto juntos e feito tanto, que parecia surreal estar
chegando ao fim.
— Você estava falando sobre dormir?
Capítulo 7
BROOKE

Carter foi gentil em nos mostrar o nosso quarto. Inicialmente, o


quarto do outro lado do corredor deveria ser para os meninos.
No entanto, antes que ele pudesse abrir a porta, ele me lançou um
olhar questionador.
Não havia dúvida sobre isso, eu os queria comigo. Eles seriam um
conforto tão grande para mim quanto eu seria para eles.
O quarto que ele abriu para nós a seguir era grande, felizmente
exibindo uma cama king size à minha esquerda.
Havia uma lareira na parede em frente ao pé da cama, e uma janela
em cada lateral, dando ao quarto uma simetria maravilhosa.
À direita da entrada havia uma porta que prontamente me disseram
levava a um banheiro compartilhado e, além dessa porta, à esquerda e à
direita, havia duas portas que levavam à varanda.
O quarto era maravilhosamente decorado com adornos prateados e
azuis, e as cortinas prateadas roçavam suavemente uma parede azul clara.
Quando Hayden pareceu desapontado por não haver televisão, Carter
pegou um controle remoto ao lado da cama e apertou um botão.
Uma tela deslizou suavemente do teto antes que um projetor
ganhasse vida de um recesso acima da cama.
Embora Aaron estivesse emocionalmente esgotado e sonolento, ele
conseguiu parecer impressionado com a tecnologia oculta.
Quando Carter estava prestes a sair, ele recebeu um telefonema.
Atendendo, ele se virou para mim com uma expressão preocupada.
Observando-o de perto, sua expressão passou de preocupada a
aliviada quando um pequeno sorriso apareceu.
— Mark está estável, — ele disse.
Meu corpo inteiro queria desmoronar com a notícia.
As pernas embaixo de mim não conseguiram mais suportar meu peso
quando desabaram. Eu me sentei na cama.
— Graças a Deus, — eu sussurrei enquanto colocava minhas mãos
sobre meu coração.
Carter me lançou um pequeno sorriso e me deixou com as crianças
para descansar.
— Aaron, — chamei-o suavemente. — Venha aqui, querido.
Aaron se aproximou de mim para que eu pudesse pegá-lo e colocá-lo
na cama.
Eu o ajudei a tirar suas calças e meias antes de colocar o edredom em
volta dele.
Hayden estava mais contente deitado no sofá da área de estar em
frente à lareira enquanto observava a grande tela ganhar vida, então eu o
deixei.
Eu não tinha mais energia, e tentar convencer Hayden a se deitar na
cama conosco teria sido mais energia do que eu gostaria de gastar.
Embora eu não quisesse nada mais do que afundar naquela cama de
aparência confortável, eu senti a sujeira da viagem por toda parte.
Por mais tempo do que deveria, eu debati o que eu queria mais: fechar
os olhos ou tomar um banho.
Quando tirei minha blusa, a decisão estava feita.
Embora o cheiro não fosse horrível, também não era bom.
Deslizando pelo chão de madeira da cama ao banheiro, comecei a tirar
minhas roupas.
Trancando as duas portas do banheiro, liguei o chuveiro tão quente
quanto meu corpo permitiria antes de escaldar minha pele e entrar.
A água aquecida explodiu em vários bicos de uma vez, e meus
músculos começaram a liberar a tensão que os dominava por horas.
Não houve pressa para terminar meu banho, e me permiti apenas ficar
lá, desfrutando da água.
Torcendo meu corpo de um lado para o outro, permiti que todo o
meu ser sentisse os efeitos da maravilha fumegante.
Por enquanto, Mark estava estável. Conseguimos mais tempo, mas eu
não sabia a que custo.
A dor com a qual ele vivia não era algo que eu desejaria ao meu pior
inimigo.
Compartilhamos o sofrimento que ele sentia, mas em níveis
diferentes.
Ele sofria com a dor que atormentava seu corpo, eu e as crianças
sofríamos com o desamparo que era consequência disso.
Usando o sabonete líquido no chuveiro, ensaboei todo o meu corpo.
O cheiro tomou conta de mim, e era familiar... até mesmo reconfortante.
Passando a bucha sobre meu peito e pescoço, inalei profundamente,
deixando o cheiro atingir o fundo da minha garganta.
Com a familiaridade veio a identidade. Sussurrei o nome para dentro
do chuveiro.
— Slate.
A bucha subiu pelos meus ombros e se enrolou no meu pescoço, e eu
continuei inalando a fragrância. Suspirando em seu cheiro luxuoso de
especiarias, ouvi algo deslizar contra a porta que conectava o banheiro ao
quarto compartilhado.
A água do chuveiro ainda estava caindo contra mim, e eu não sabia o
que era. Uma mão que começou a bater, mas pensou melhor, talvez?
Seja qual for a razão por trás do barulho, claramente alguém queria
entrar. Meu banho havia acabado.
Virando devagar, enxaguei a espuma restante do meu corpo
ligeiramente avermelhado.
Depois que tudo foi pelo ralo, peguei uma toalha, me sequei e vesti a
roupa íntima e a camisa que estava usando naquele dia.
Talvez não fosse a coisa mais higiênica a fazer, mas pelo menos a
maior parte da sujeira do dia tinha sido lavada.
Antes de sair do local, virei a fechadura da porta adjacente para que a
pessoa no outro quarto pudesse acessar o banheiro e me afastei.
Quando estava fechando a porta do banheiro que levava ao meu
quarto, tive um vislumbre daqueles incríveis olhos forrados de prata que
sem dúvida assombrariam meus sonhos.
Eles se fixaram nos meus e me senti estranhamente segura ao fechar a
porta.
Capítulo 8
BROOKE

Depois de finalmente subir na cama, Aaron estendeu a mão para mim


quando sentiu meu peso ao lado dele.
Por mais que eu gostasse de abraçar meus meninos, eles eram super
inquietos e tomavam o sono quase impossível quando se mexiam
durante a noite.
O sono foi intermitente, na melhor das hipóteses. Embora isso fosse
normal no último ano.
Desde que Mark foi diagnosticado, eu acordava gritando pelo menos
uma vez por semana no meio da noite.
Mark tentou insistir para que eu fosse conversar com alguém, mas
cada centavo que tínhamos foi desviado para os cuidados dele.
Além disso, meu problema era fácil de diagnosticar: tinha medo de
perder meu marido e pai de meus filhos.
Não era algo que eu tivesse compartilhado abertamente com ele, mas
ele estava tão ciente disso quanto eu.
Em determinado momento, lembro-me de levantar e verificar
Hayden.
Ele tinha adormecido no sofá da sala de estar com a televisão mais alta
do que eu deveria ter conseguido dormir ouvindo.
Tendo encontrado um travesseiro e um cobertor sobressalentes em
um baú ao pé da cama, coloquei-o no colchão e tive uma vaga noção de
que estava voltando para ele.
Cada parte de mim parecia estar exausta. Meu corpo parecia pesado,
minha mente sobrecarregada, minha alma cansada.
Até meu coração estava pesado, embora não parecesse me impedir de
sentir nada.
Quando minha respiração finalmente encontrou seu padrão rítmico,
um alarme soou em meus sonhos e me forçou a sentar.
O eco parecia ir ao longe por vários quilômetros, o que era estranho
por si só.
Era quase como ouvir uma sirene de furacão e ecoava ao longe
também.
Aaron e Hayden estavam ao meu lado, com seus olhinhos arregalados.
— Mamãe, o que é isso?
Hayden não tinha tentado encontrar conforto em mim, mas ele ainda
se aproximou de mim. Sua pergunta foi estimulada mais por curiosidade
do que por medo.
Com uma voz cansada, Aaron respondeu a seu irmão mais novo.
— E uma sirene, como quando papai foi ao hospital.
Ele olhou para mim depois de falar as palavras, e eu soube
imediatamente que ele estava se perguntando se esta era uma noite
como a anterior.
— Está tudo bem, querido. — Abaixei-me e beijei sua testa enquanto o
apertava com força.
— Papai está bem? — O rosto de Hayden se contraiu.
Puxei Hayden para mim e beijei o topo de sua cabeça. — Sim, querido.
Seus olhos não mostraram que ele estava convencido com minha
resposta.
— Vamos fazer assim, vou verificar como ele está. Mas vocês dois têm
que me prometer ficar neste quarto. Vou trancar a porta atrás de mim.
Vocês podem assistir desenhos animados até eu voltar.
Não havia como admitir para eles, mas aquelas sirenes dispararam
preocupação e ansiedade por todo o meu corpo.
Eu precisava ir verificar Mark, mas eles precisavam ser tranquilizados
primeiro.
Colocando os dois sob as cobertas um ao lado do outro, assegurei-lhes
de que tudo ficaria bem e que voltaria assim que verificasse o papai.
A maçaneta girou facilmente na minha mão e quase colidi com dois
homens que estavam perto do meu quarto.
Os homens deram um passo para o lado, permitindo-me passar
hesitantemente.
Corri pelo corredor e desci as escadas tão rápido quanto meus pés
permitiam, sem me preocupar em tropeçar.
Havia outros lá embaixo, alguns gritando ordens enquanto outros as
seguiam.
Era tudo um borrão enquanto eu corria para tentar chegar à porta da
frente.
Havia um fluxo de movimento em todos os lugares ao meu redor, mas
eu me desliguei enquanto mantive meus olhos grudados no meu destino
pretendido.
Talvez eu devesse ter prestado mais atenção. Então, eu teria visto a
enorme montanha contra a qual colidi quando ela entrou no meu
caminho.
Mãos grandes me seguraram por baixo dos braços enquanto meus pés
deslizavam debaixo de mim no chão polido.
Em um movimento suave, ou não tão suave, minhas pernas varreram
entre as dele enquanto seus braços eram a única coisa que impedia meu
traseiro de bater contra o chão.
Me deixando cara a cara com seu...
Uma onda de vermelho tomou conta de mim enquanto eu o afastava e
me virava de barriga para baixo.
Foi tão vergonhoso que quase arrebentei meu traseiro, mas estar em
uma posição tão intimamente comprometedora onde minha boca estava
tão perto de—bem, isso era impensável.
Ou talvez pensável demais para meu próprio conforto.
De barriga para baixo, eu me empurrei para trás para me livrar de suas
pernas e rapidamente me sentei.
De jeito nenhum ele iria me impedir de minha tarefa.
Saltei do meu lugar no chão e desejei que minhas pernas acelerassem.
Elas mediram a área tanto quanto podiam, sem sentir que iriam se
dividir no processo.
A maçaneta de bronze brilhou na iluminação branca do interior.
Quase pude sentir a suavidade fria quando estendi minha mão para
segurá-la.
Antes que minhas pontas dos dedos pudessem tocar a maldita coisa,
um braço estendeu-se para me arrancar do meu caminho e me puxar
para um canto semiescuro perto da entrada.
Todo o seu corpo me encurralou perto da parede enquanto seus
braços me prendiam no local.
Batendo meus punhos em seu peito, eu gritei com ele.
— Me solte! Eu preciso ver meu marido!
Eu bati contra ele novamente, tentando empurrá-lo para longe de
mim para que quebrasse o contato que enviava aqueles arrepios por
minha pele.
— Me solte!
— Pare com isso! Escute-me!
Suas palavras retumbaram contra o seu peito e o meu conforme
vibraram entre nós, fazendo-me interromper minhas breves tentativas de
fuga e sugar uma grande golfada de ar.
Ele se pressionou contra mim ainda mais, e formigamentos se
transformaram em eletricidade quando seu cheiro me envolveu.
Colocando os dedos embaixo do meu queixo, ele me forçou a olhar
para ele.
Aqueles olhos cinzentos estavam nublados, as emoções ali escritas
poderiam ser decifradas apenas pelo autor. Determinação, talvez?
— Seu... Mark está mais seguro naquele hospital do que você aqui.
Ele fez uma pausa para enfatizar suas palavras.
— Aquele lugar tem janelas com chumbo que se estendem pelas
paredes por pelo menos 60 centímetros em cada direção, sem falar nas
barras de titânio em todas as janelas. As paredes têm vergalhões por toda
parte e foram vazadas com uma liga de cimento de titânio.
— Não existe cimento de titânio, — disparei enquanto o interrompia.
— Só porque você não ouviu falar dele, não significa que não exista.
Aquelas palavras pareciam pesadas, como se ele estivesse se referindo
a muito mais do que apenas cimento de titânio.
— O teto foi revestido em tela de kevlar antes de ser cimentado com a
mesma liga. Acredite em mim, Brooke, ninguém poderia chegar até ele.
Finalmente, ele me soltou quando eu não parecia mais lutar contra
ele. Como eu poderia lutar com essa lógica?
— Você precisa voltar para o seu quarto! Há guardas no corredor, na
escada e na varanda do seu quarto. Eles estão lá para proteger você e seus
filhos. Se a luta ficar muito perto da casa, eles vão escoltar você e as
crianças para uma sala do pânico.
— Você deve segui-los, sem perguntas. Os vizinhos... aliados foram
notificados e virão te ajudar se não tivermos sucesso.
Eu estava boquiaberta. Luta? Aliados? O que diabos estava
acontecendo aqui?
— Oque...
O homem estava pronto para me empurrar escada acima antes que
seus olhos percorressem meu comprimento.
Por mais do que alguns tique-taques do relógio, ele simplesmente
ficou lá observando meu corpo vestido com a camisa.
Embora eu devesse estar um pouco envergonhada, não consegui
reunir energia.
Enquanto eu estava diante de seu olhar aberto, eu juro que minha
imaginação deve ter estado à solta. Por um instante, eu quase juraria que
aquele anel de prata brilhante circulando a cor de seus olhos estava lá.
Era intenso e parecia aumentar de tamanho enquanto ele me olhava.
A intensidade em seu olhar causou um arrepio na minha espinha.
Quando mais gritos ecoaram pelo saguão, ele pareceu sair de qualquer
pensamento que o tivesse dominado.
Quando ele levantou a bainha da camisa sobre a cabeça em um
movimento fluido, meus joelhos quase desabaram sobre mim pela
segunda vez naquele dia.
Posso não ser uma adolescente, mas não era imune ao fabuloso físico
do homem à minha frente. Seu corpo inteiro ondulava em sinfonia.
Cada movimento dele os fazia dançar com maestria no ritmo, como
um concerto para os olhos.
Quando eu respirei fundo para reabastecer meu cérebro com
oxigênio, seus olhos brilharam, mas foram sufocados assim que apareceu.
Seu tom se tomou gentil. — Aqui, vista isso.
Ele deslizou a camisa pela minha cabeça antes que eu pudesse discutir.
— Suas qualidades não são para todos admirarem. — A camisa caiu
abaixo das minhas coxas e minha boca se abriu como se quisesse dizer
algo, mas por onde eu começaria?
— Sian, leve-a de volta para o quarto dela.
O homem conhecido como Sian sorriu para mim antes de permitir
que seus dedos segurassem suavemente meu cotovelo.
Não houve força ou pressão para eu seguir, nada além de seu sorriso
encorajador e suas palavras gentis.
— Vamos levar você de volta para seus filhos. Tenho certeza de que
eles vão se preocupar com você.
Eu nem tinha percebido que meus pés já seguiam aquele homem
quando subimos na metade da escada.
Nesse momento, as sirenes foram desligadas. Embora na maioria dos
casos isso fosse um bom sinal, não pude deixar de sentir que não era o
caso aqui.
— O que isso significa?
Sian tentou sorrir, mas havia uma preocupação transparecendo
naquele sorriso.
— Isso significa que devemos nos apressar.
Capítulo 9
BROOKE

A casa de madeira era bem isolada e só algumas vezes ouvimos ruídos


de animais ecoando à noite.
Achei estranho que apenas ouvíssemos animais circulando pelo
terreno e nunca ouvimos nenhum homem gritar ou berrar.
Não havia como sabermos a que distância de nós a luta havia se
afastado de casa, então não era impossível que estivessem longe demais
para serem ouvidos.
Porém, os ruídos dos animais também não eram tão reconfortantes.
Sem mais ninguém na casa, exceto os guardas que foram deixados
para trás, estava assustadoramente quieto.
Os homens deviam ser bem treinados em furtividade. Nunca ouvimos
um pio deles.
Os meninos ficaram bastante satisfeitos com a explicação de que era
um alarme falso, e continuaram a assistir aos desenhos animados.
Depois de se passar uma hora desde que voltei para o meu quarto,
meus filhos tinham adormecido com as palhaçadas dos bons e velhos
Tom e Jerry.
Clássicos.
O sono me evitou por um longo tempo depois que levou meus
meninos, já que as possibilidades do que as sirenes significavam estavam
passando pela minha cabeça.
Raios do amanhecer estavam começando a dissipar a escuridão, e eu
resmunguei quando percebi que não demoraria muito para que eles
acordassem meus filhos.
Acabou? Eu ainda não tinha certeza do que tinha acontecido ou do
que se tratava.
Do jeito que Slate falou, parecia que havia a possibilidade de alguns
não conseguirem voltar. O que poderia importar tanto para que eles
estivessem dispostos a tirar vidas por isso? A vida era tão passageira por si
só.
As perguntas e possíveis respostas giravam em minha cabeça, fazendo
meus olhos doerem e minha cabeça latejar.
Quando os pequenos corpos se mexeram ao meu lado, eu estava ainda
mais exausta do que antes.
Enfiando minha cabeça no travesseiro, eu resmunguei alto. A
necessidade de dormir superou minha necessidade de verificar Mark.
Meu corpo não estava pronto para deixar o conforto das cobertas
quentes, e meu cérebro racionalizou que, se ele piorasse, eu seria
notificada.
A batida suave na porta mal foi audível, e uma segunda logo se seguiu
quando eu não respondi a primeira.
Lembro-me de saudar vagamente a pessoa do outro lado da porta
antes que ela se abrisse um pouco.
Carter enfiou a cabeça pela porta, sorrindo para os meninos e para
mim.
Parece horrível, mas acho que ele me perguntou se poderia mostrar o
lugar aos meus filhos e depois deixá-los brincar com as outras crianças.
Devo ter murmurado algo que soou como consentimento, pois Carter
ajudou os dois a se vestir e conseguiu tirá-los porta afora sem me
perturbar muito.
Embora eu me sentisse mal com isso mais tarde, naquele momento,
foi uma bênção.
Um silêncio puro e feliz dominou o quarto enquanto me envolvia em
seu conforto, seu cheiro ao meu redor da camisa que eu ainda usava.
Minha mente cansada não levou muito tempo para aproveitar o
momento conforme indicava para meu subconsciente ser liberado de seu
dever ativo.
Imagens começaram a flutuar em minha mente, e eram daquelas que
eu não pude deixar de me perguntar se eu estava realmente sonhando ou
acordada e me atrapalhando com os movimentos. De dentro de um véu
fino, eu podia me ouvir tentando falar, mas soava como grunhidos e
gemidos incoerentes aos meus próprios ouvidos.
E, no entanto, eu sabia que significava algo, mas não algo que meu
cérebro ativo pudesse entender.
Então, em vez disso, meu subconsciente estava na direção enquanto
continuava sua espiral descendente para um lugar mais escuro
armazenado em algum lugar dentro de mim.
Minha garganta parecia apertada, e palavras ainda mais incoerentes
chegaram aos meus ouvidos, mudando o tom e a altura para enfatizar
sua importância.
Uma dor crua fez minha garganta ficar sensível enquanto meu
subconsciente lutava para se comunicar comigo.
A sensação de queimação atrás das minhas pálpebras estava se
tomando mais perceptível antes de eu tentar limpá-las com as mãos.
No entanto, meus membros estavam tentando funcionar em uma
névoa induzida pelo sono.
Não havia coordenação em meus movimentos, o que me deixou mais
frustrada quando comecei a me debater e me contorcer.
Quando minha mão fez contato com algo quente e duro, meus olhos
se abriram.
Quando tentei falar, não saiu nada. Minha garganta ainda estava
apertada enquanto eu lutava para formar qualquer pensamento coerente.
Em vez de acordar de um sonho, caí de volta em outro.
Agora, eu estava deitada no colo do homem de aparência mais
incrível, com olhos da cor de aço alumínio.
Seu cabelo curto e espesso era escuro como a meia-noite e
ligeiramente despenteado como se ele pudesse ter acabado de sair da
cama.
Aqueles lábios pecaminosamente sensuais estavam quase me
chamando para experimentar o luxuoso veludo deles contra o meu.
A familiaridade dele me atingiu, e eu sabia que estava olhando para
Slate.
Porém, este Slate não usava mais os cachos ásperos e a barba que
exibia apenas algumas horas antes.
Não, este não era o verdadeiro Slate. Talvez fosse o Slate dos sonhos.
Seu rosto preocupado estava começando a se transformar em outra
emoção.
O olhar quase me fez derreter.
Fazia muito tempo desde que eu tinha visto aquele olhar, e meu corpo
respondeu antes que eu pudesse pensar sobre a última vez que eu vi.
Desejo, luxúria, paixão... as coisas que fazem uma mulher desmaiar e
implorar por mais.
Desde a alta de Mark do hospital, era algo que eu pensei que tinha que
desistir.
Os tratamentos e a doença de Mark tomavam a intimidade física
impossível.
Qualquer atividade extenuante causava nele uma forte reação, e essa
foi uma das atividades de que tivemos de abandonar como casal.
E agora, aqui estava, olhando para mim. A onda de eletricidade passou
pelo meu corpo e derreteu meu núcleo.
Por que não podia deixar meu subconsciente dar um tempo do infeliz
celibato em que estava preso? O homem mal havia me tocado, sua mão
empurrando o cabelo suavemente para fora do meu rosto enquanto a
outra embalava minha nuca.
Meu corpo estremeceu de antecipação, mesmo com o menor dos
toques deste homem dos sonhos.
Já havia decidido o que queria e não tenho certeza se poderia recusar
neste momento.
Lentamente, levantei minha mão para poder tocar seu rosto. O calor e
a suavidade disso enviaram minúsculos raios de prazer através de mim.
Meu corpo respondeu a ele com uma ferocidade que eu nunca tinha
experimentado antes.
Ele me puxou para mais perto, envolvendo os braços em volta de mim
com força.
Ele estava tão perto que eu podia sentir seu batimento cardíaco contra
meu próprio peito enquanto seu cheiro de cedro e especiarias me
envolviam.
Sua boca suave e generosa hesitou, posicionada acima de mim
enquanto ele deixava seus olhos escanearem minhas feições antes de
retomar para encontrar meu olhar.
Por um breve momento, pensei que ele quisesse me dizer algo, mas
depois pensou melhor.
Em vez disso, ele abaixou a cabeça e envolveu meus lábios com os
dele.
A ternura explodiu um desejo ardente em mim, me deixando sem
limites com a infinidade de suas profundezas.
Nunca tive um desejo tão intenso e esmagador de ser possuída por
alguém.
Sua necessidade combinava com a minha enquanto a ternura se
transformava em uma busca mais exigente por satisfação.
Meu corpo latejava sob seu aperto, saboreando a sensação dele contra
mim.
Senti a sensação e o sabor dele enquanto ele escorregava por qualquer
pequeno esforço a que eu pudesse ter tido de resistir.
A sede me estimulou enquanto eu envolvia um dos meus braços em
volta do seu pescoço para puxá-lo ainda mais perto.
Meu corpo se virou enquanto eu me endireitava para encará-lo, sem
quebrar o contato de seus lábios e a atenção que ele prestava aos meus.
O calor de suas mãos traçou caminhos pelos meus braços enquanto
ele finalmente se movia para meus quadris.
Essas mãos grandes e fortes seguraram meus quadris como se fossem
moldadas apenas para ele, e me puxaram ainda mais perto dele.
Uma de suas mãos deslizou de seu pedestal em meu quadril para
deslizar delicadamente sob minha camisa.
Seus dedos acariciavam minha pele enquanto percorriam a lateral do
meu corpo.
Eles avançaram para cima até que minha respiração engatou quando
eles roçaram levemente contra a pele macia do meu seio.
Seus dedos deslizaram suavemente pelo monte até que seu polegar foi
capaz de dançar delicadamente sobre o nó animado.
O choque elétrico que enviou através de mim acumulou no meu ápice
enquanto eu arqueava meu corpo em direção a ele.
A cada pincelada, seu toque se tomava mais familiar em sua busca por
mim.
E eu dei a ele todos os motivos para pensar que sim.
Seus beijos se arrastaram para o lado da minha boca e deixaram fogo
em seu rastro enquanto ele abria um caminho pelo meu pescoço até
onde se juntava ao meu ombro.
Lá, sua boca continuou sua tortura em minha mente e corpo
enquanto ele mordiscava e beijava aquele ponto sensual.
Ele prestou homenagem a um lugar que eu nunca teria imaginado que
poderia me fazer contorcer de desejo como aconteceu.
Envolvendo minhas pernas em volta de sua cintura, uma onda de
calor me inundou quando uma sede frenética assumiu.
Puxando-o para perto, eu podia sentir o volume dele pressionado
contra mim, seu desejo evidente na própria força e comprimento.
Era muito tentador, muito lascivo, e eu não iria resistir.
Movendo-me contra ele, eu gemi. Meu cérebro quase entrou em curto
quando me apertei contra ele, desejando que as roupas que estavam
obstruindo não existissem entre nós.
Ele envolveu minha boca mais uma vez enquanto deixava algo entre
um gemido e um rosnado ricochetear através de mim.
Meu corpo quase explodiu com sua intensidade e gritei de prazer.
Nunca antes uma loucura luxuriosa se apoderou de mim, e eu não
conseguia imaginar nada tão maravilhoso além dos sonhos.
Era tão incrível que só pude imaginar brevemente como seria capaz de
enfrentar sua pessoa quando finalmente acordasse e voltasse para o
mundo desperto.
O pensamento foi facilmente deixado de lado quando ele agarrou
meus quadris e se enterrou em mim, encontrando minha necessidade
com a dele.
Talvez um pouco alto demais, eu gemi mais uma vez. As vibrações de
sua resposta mergulharam no meu núcleo, me encharcando.
Como é inebriante ter um homem quase me empurrando até o limite
sem nunca violar meu lugar mais secreto.
Um ruído estridente rompeu a névoa de emoção que caiu sobre mim.
Instintivamente, meu corpo ficou tenso com o barulho e me afastei dele.
Meus olhos procuraram seu rosto, confusão estampada em ambas as
nossas feições, mas por razões muito diferentes.
O som ecoou pela sala novamente, e eu pulei para longe dele.
Slate estendeu a mão e tentou segurar a minha, mas eu a puxei para
longe dele e pulei para fora da cama.
Eu tropecei em direção à janela que dava para aquela parte da
pequena cidade com o hospital em seu centro.
Isso não foi um sonho!
Colocando uma mão na minha cabeça para acalmar o pânico que
começou a se infiltrar, comecei a andar na frente da grande janela.
— Não, não, não, não, não. — Soou como uma gagueira.
Ele rosnou quando enfiou a mão no bolso de trás da calça jeans e
puxou um telefone celular.
Rapidamente, ele recusou a ligação antes de largar o celular na cama e
se virar para mim.
— Brooke, — ele começou, então fez uma pausa como se estivesse
tentando encontrar as palavras certas.
A vergonha me revestiu como uma laca pesada. O que eu estava
pensando?
— Não, não diga nada.
O frio do ar ao meu redor agora trouxe um desejo pelo calor que
quase saiu de controle entre nós.
Ele guerreou com minha mente para encontrar uma compreensão que
minha cabeça não permitiria.
Deixando minha mão cair, arrisquei um olhar para ele.
Ele era um Adônis para minha franqueza. O que ele estava pensando?
Uma aventura rápida?
Eu podia sentir a cor sumir de mim com esse pensamento e tive que
desviar o olhar.
Não haveria nada mais que eu pudesse oferecer a ele, e nem sequer
isso era permitido por minha moralidade.
E mesmo assim...
— Isso não era para acontecer.
Eu disse isso mais para mim mesma do que para qualquer outra
pessoa, quase como se estivesse tentando me assegurar de que não era
uma pessoa má por causa do que aconteceu.
— É aí que você está errada, Brooke.
Eu podia ouvi-lo tirar seu peso da cama e o peso de seus passos
enquanto se movia lentamente pelas pranchas de madeira do chão.
— Isso é exatamente o que deve acontecer entre nós. Eu posso
explicar.
Seus passos estavam cada vez mais próximos, e eu não podia permitir
que ele se aproximasse muito de mim com medo de meu corpo me trair.
Eu me virei contra ele.
— Não! Não, você não tem direito a opinar sobre o que acontece aqui.
Não está em debate, e você não pode esperar que eu simplesmente pule
de volta na cama com você, como qualquer outra mulher faz quando
você olha daquele jeito para elas.
O pensamento de outras mulheres em sua cama alimentou um
ressentimento que eu não sabia que era capaz.
Eu deixei isso abrir caminho através de mim para me dar forças para
resistir a este homem e construir um muro entre nós que intensificaria
minha determinação.
Intencionalmente, eu deixei imagens me atormentarem dele
seduzindo outras mulheres, uma mulher diferente a cada noite.
Qualquer coisa para diminuir os restos de luxúria que corriam em
minhas veias.
— Eu não sou uma delas. — Por que eu sinto que estava tentando me
convencer?
Sua mandíbula cerrou e suas sobrancelhas se afundaram.
— Não vou fingir que não houve mulheres no meu passado, mas você
não pode esperar que eu tivesse permanecido puro até que você decidisse
aparecer na minha porta. Um virgem esperando sua chegada?
Claro que, quando ele disse assim, minhas palavras pareceram
insensatas.
No entanto, não era tola em pensar que isso significava algo diferente
de um acontecimento único, embora uma parte de mim tenha ficado
desapontada com a especulação.
Isso me deixou frustrada e mais envergonhada quando o vermelho
invadiu meu rosto e pescoço.
— Não foi isso que eu quis dizer...
— Então o quê, Brooke? Você está realmente zangada porque sente
que me aproveitei de você, ou é porque parecia mais certo do que
qualquer outra coisa que você já encontrou?
Eu não poderia ter ficado mais surpresa se ele tivesse me despido
fisicamente em vez de apenas emocionalmente.
— Eu sei que você teve que sentir o que eu senti. Aquilo Brooke, — ele
começou, apontando para o lugar onde eu quase perdi minha sanidade.
— Aquilo foi mais real do que qualquer coisa que encontraremos em
qualquer lugar e com qualquer outra pessoa.
Quando tentei falar, minhas palavras falharam e só consegui gaguejar.
Mas quando ele se aproximou, eu recuei, interrompendo seu avanço.
Arrepios estavam se espalhando pela minha pele, e eu pressionei as
palmas das minhas mãos com força nas órbitas dos olhos enquanto
lutava para me controlar.
— Você não pode dizer coisas assim! Eu não posso —nós não
podemos. Eu sou uma mulher casada, e isso...
Eu olhei para a cama que ele indicou apenas alguns momentos antes,
e uma onda de calor se espalhou por todo o meu corpo enquanto o
vermelho subia mais uma vez.
Embora não quisesse, senti que precisava olhá-lo nos olhos para dizer
o que faria a seguir.
— Isso foi um erro.
Seu rosto desabou, e eu não poderia ter me sentido pior se tivesse lhe
dado um tapa forte e roubado seu gatinho.
Em um instante, foi substituído por uma mandíbula cerrada com
tanta força que tive medo de que seus dentes quebrassem.
— Você não...
— Um erro! — Eu repeti, tentando colocar o máximo de convicção que
pude em minhas palavras. — E nunca mais vai acontecer de novo.
Por dentro, eu me senti horrível enquanto meu coração balançava
com minhas próprias palavras.
Seu peito retumbou e o ar pareceu ficar mais denso no quarto.
O cheiro de cedro e especiarias atingiu meu nariz com força enquanto
me envolvia, revestindo-me em sua essência.
Mordi meu lábio inferior com força para conter um gemido que
queria se libertar.
— Veremos.
Então, ele se afastou de mim, pegando o telefone da cama e saindo do
quarto, me deixando com uma sensação de vazio.
Capítulo 10
BROOKE

Não muito depois de Slate sair furioso do quarto, Carter bateu na


porta.
Em suas mãos havia uma muda de roupa e uma bandeja com comida.
Se não fosse pelo fato de termos deixado nossa bagagem trancada no
carro, eu poderia vestir minhas próprias coisas.
No entanto, na situação atual, ou eram minhas próprias roupas que
tinham o fedor da vergonha ainda grudado nelas, ou algo um pouco
menos indecente.
A comida que ele trouxera parecia mais do que atraente, mas eu não
consegui comer.
— Se me permite dizer, você vai precisar da sua força, — disse ele. —
Não consigo imaginar como tem sido difícil para você nos últimos
tempos, mas aposto que não se preocupou tanto consigo mesma quanto
tem se preocupado com todos os outros.
Meu primeiro instinto foi dizer-lhe para cuidar da própria vida, mas
isso não seria justo com ele.
Ele estava apenas tentando ser gentil, e eu estaria apenas atacando de
uma frustração que não era culpa dele.
— Eu sei, só não estou com muita fome agora.
— Se você decidir que quer comer alguma coisa, sempre haverá
alguém por aqui para pegar algo para você.
Ele sorriu para mim, um sorriso quase triste de desculpas. Era
reconfortante de uma maneira estranha.
— Obrigada, Carter. Eu agradeço.
Fui em direção ao banheiro com as roupas que ele havia me trazido.
— Espero que Mark melhore logo, assim podemos sair daqui.
Assim que ouvi o que disse, olhei para ele. Eu não senti falta do
estremecimento.
— Oh, isso soou mal, não é?
Carter encolheu os ombros, mas deixou um sorriso no rosto.
— Eu honestamente não posso agradecer o suficiente por tudo que
você fez. Para mim, meu marido, meus filhos. Você tem sido tão
acolhedor e—eu não quis parecer ingrata.
Carter deu uma risadinha. — Eu gostaria de poder levar todo o crédito
por tudo isso, mas sou apenas o mensageiro.
Minha boca se abriu para dizer algo, mas fui cortada quando ele
começou a falar novamente.
— Ah, por falar nisso.
Ele enfiou a mão no bolso da jaqueta e tirou um telefone celular.
— Seus telefones não funcionam aqui, mas você pode precisar entrar
em contato com alguém se tiver uma emergência. Este é seu. Ele está
conectado via satélite.
Ele entregou o telefone para mim e eu olhei para o equipamento
bastante sofisticado.
— Já tomei a liberdade de salvar meu número, do hospital e do
médico, e coloquei as coordenadas de GPS de vários locais na
propriedade que podem ser do seu interesse.
Ele sorriu de orelha a orelha, quase cobrindo o rosto na largura.
O sorriso, combinado com o cabelo loiro rebelde que caia sobre sua
testa com orgulho, proporcionava a ele uma qualidade jovem e inocente
em sua aparência.
Olhando para o dispositivo, inclinei-o e a tela inicial se iluminou.
Havia uma foto da propriedade de uma perspectiva aérea e isso quase
me tirou o fôlego. A pequena cidade espalhava-se por entre a floresta de
tal forma que não impedia a generosidade e a beleza do ambiente natural
que a envolvia.
Uma comunidade trabalhando em perfeita harmonia com a natureza.
— É lindo.
Carter parecia satisfeito consigo mesmo enquanto sorria. — Bem,
obrigado. Obrigado.
Sorri para ele enquanto pegava o telefone e o puxava para baixo das
roupas em meus braços.
— E, se você não se importa... Eu esperava que você me permitisse
levar os meninos para minha casa para brincar com meus filhos hoje.
Hesitei, e ele deve ter interpretado minha hesitação como
desconfiança.
Nem um pouco—esse homem não tinha sido nada além de gentil e
atencioso desde que chegamos, e agora ele sentia que precisava me
oferecer algum consolo em seu pedido.
— Eu salvei as coordenadas da minha casa para que você possa ir até
lá sempre que quiser, seja para buscá-los ou apenas para checá-los. E
claro, posso trazer meus filhos aqui, se isso deixar você mais confortável?
O canto de sua boca se ergueu quando ele sorriu um pouco
timidamente para mim.
Poucos momentos antes, eu tinha ouvido seus gritos e risadas vindos
de fora da janela enquanto corriam pelos jardins.
Eles precisavam de ar fresco.
Eu sabia que eles eram difíceis. Eu sabia que Hayden era difícil.
Soltando uma enorme respiração, reuni meus pensamentos.
— Eu—bem, eu acho que tudo bem. Pelo menos até eu ter a chance de
ver Mark, e então talvez eu consiga ir buscá-los. Se você tiver certeza.
Eu fiz uma careta, me perguntando se ele sabia no que estava se
metendo.
Quando ele sorriu, descobri que não importava. Ele pareceu satisfeito
com minha decisão.
— Claro. Isso seria ótimo! Minha esposa adoraria receber você e seus
filhos para jantar. Ela adora crianças e acha que já passou da hora de Slate
encontrar...
Suas palavras pararam imediatamente e seu rosto ficou um pouco
mais pálido do que o normal.
Eu podia sentir minha própria cor começando a subir, mas não de
vergonha. Minha humilhação ainda era insuficiente.
— Encontrar o quê?
Não era culpa de Carter, eu me lembrei. Depois de deixar as palavras
voarem, tentei colocar um sorriso tenso no rosto.
Só porque eu quase perdi minha cabeça antes, e talvez até meu casamento,
não significa que eu tenho que perder minha educação agora.
Por mais de um momento, ele me olhou horrorizado e se
desculpando. Finalmente, ele deixou as palavras fluírem.
— Me... desculpe, eu...
Ele parecia quase dolorido ao dizer as palavras.
— Eu estava me referindo a um colega de brincadeiras para o meu
filho, Simon. Quis dizer que já passou da hora de Simon encontrar um
colega para brincar... sabe... alguém da idade dele.
As palavras pareceram dar-lhe um pouco mais de conforto à medida
que seu sorriso se suavizava e se tomava menos forçado. A tensão em seu
corpo diminuiu enquanto ele continuava.
— Embora haja muitos de nós por perto, a maioria está nos arredores
de nossa pequena cidade. Nossos filhos não veem seus amigos com a
frequência que gostariam. Estando aqui na mansão, você e seus meninos
estão relativamente perto de nossa casa.
— Estou feliz que eles terão você e sua família por perto enquanto
estivermos aqui.
Sinceramente, me fez sentir melhor saber que o único rosto amigável
na multidão não estava muito longe de mim.
— Obrigada, Carter.
Seus olhos verdes claros se iluminaram e eu voltei para o banheiro. Já
era hora de me livrar da vergonha em que estava me afundando.
Depois de tomar banho e me vestir, fui para o hospital.
Quando entrei no prédio, meu estômago roncou ruidosamente. Havia
dois culpados: fome e nervosismo.
Talvez eu devesse ter aceitado a comida que Carter ofereceu.
Abençoado seja, ele parecia estar ao nosso dispor sempre que necessário.
Ao puxar o suéter que servia um pouco bem demais, eu caminhei pelo
corredor enquanto um frio na barriga se agitava dentro de mim na
expectativa de ver meu marido.
Era como se eu estivesse em um primeiro encontro com ele, em vez de
ter passado a maior parte dos meus anos da vida adulta com ele.
— Bom dia, Srta. Marlin.
Um homem da minha idade, usando um jaleco de médico, veio do
posto de enfermagem para me cumprimentar.
Ele tinha um rosto amigável e seu cabelo castanho escuro estava
ligeiramente para trás.
Alguém poderia pensar que as rugas nos cantos dos olhos e a retração
da linha do cabelo o fariam parecer mais velho.
Mas aqueles olhos azuis brilhantes chamavam a atenção de todos e o
fizeram parecer mais jovem do que imaginei.
Embora não tenha passado despercebido o uso de Srta. em vez de Sra.,
não me ofendi com isso. Nos dias de hoje, era difícil saber o estado civil
de alguém.
Tantas famílias mistas, famílias divorciadas e famílias monoparentais
—fazia sentido que a maioria das pessoas fosse leviana.
— Bom dia. — Tentei sorrir, mas estava começando a me cansar de
sorrir educadamente para todos que encontrava.
No meu caminho para cá, devo ter encontrado quase trinta ou mais
pessoas vagando pela mansão antes de sair para o hospital.
Sem mencionar aqueles que cruzei enquanto caminhava pelo centro
da cidade.
A maioria foi educada e tranquila ao me cumprimentar, mas havia
alguns que simplesmente me estudavam: alguns com rostos sorridentes,
outros com um olhar mais desafiador.
Desde o início, acreditei que havia algo estranho e único neste lugar.
Que outra cidade precisava de segurança em sua entrada, e que outro
lugar parecia estar se preparando para a batalha quando as sirenes
tocavam?
Se eu achasse que Mark estava em condições de partir, teria feito as
malas e ido embora ao amanhecer.
Quando me aproximei de onde ele estava esperando por mim, percebi
que ele tinha o mesmo sorriso no rosto que a maioria dos outros exibia.
— Mark está esperando por você.
Não havia nenhuma maneira de manter a expressão fechada longe do
meu rosto.
É
— Eu sei, eu deveria ter vindo antes. É que...
Seu rosto ficou solene quando ele ergueu a mão.
— Eu entendo completamente. A noite passada nos deixou um pouco
abalados. Sem mencionar que você não parecia ter dormido muito.
Como era normal naquele dia, fiquei pasma. Nada mais era
confortável e previsível.
— Oh, você estava na casa grande ontem à noite?
— A mansão? Sim.
Ele inclinou a cabeça de tal forma que, se estivesse usando óculos,
estaria olhando por cima da borda deles para mim.
— E você, minha querida, parece que não dorme bem há anos.
Correndo a mão pelo meu cabelo, eu lentamente deixei o ar sair dos
meus pulmões na esperança de aliviar um pouco a tensão que eu estava
sentindo.
— Simplesmente não há tempo suficiente durante o dia, você sabe.
Algo tem que ceder. — Eu sorri fracamente. — O que de fato aconteceu
noite passada?
Eu me senti uma tola por não ter pensado nisso antes. A culpa deve
ter consumido mais células cerebrais do que eu acreditava.
O médico se levantou enquanto erguia uma mão ao ombro. Afagando
seu ombro, ele me respondeu.
— Não foi nada demais, na verdade. Apenas alguns animais selvagens
que conseguiram ativar o sistema de alarme.
Ele sorriu, mas parecia que ele estava escondendo algo.
— Entendo... — Não valia a pena insistir, não quando nossa estadia
era temporária. — Então, como está meu marido?
Honestamente, eu esperava que ele me dissesse que estava melhor. Se
ele não estivesse, não posso imaginar que teríamos sido tão casuais em
nossa conversa.
Sem mencionar que ninguém me ligou para dizer que havia algo
muito errado.
Isto é, algo mais gravemente errado do que antes de seu colapso na
noite anterior.
Eu não estava esperando aquilo que ele me disse.
— Mark se recuperou muito bem do episódio de ontem à noite. Ele é
um homem de sorte por termos instalações aqui para atender às suas
necessidades.
De repente, este homem parecia vários anos mais velho enquanto
franzia a testa. Todo o seu rosto parecia inundar de consternação.
— Na verdade, podemos ter encontrado uma espécie de cura.
Ele quase parecia incomodado ao dizer isso.
Meu coração falhou, assim como minhas palavras.
— O-o quê?
Ter meu marido de volta como novo estava além do que eu poderia
esperar. Poderíamos voltar à vida que costumávamos ter.
Não poderíamos?
Por um minuto, tentei me lembrar como seria. Nossas vidas mudaram
muito desde aquela época.
— I-isso é bom, certo?
Por Deus do céu, eu não conseguia entender por que ele parecia tão
horrorizado quando me contou.
Fazendo uma careta, ele ergueu os ombros uma fração.
— Seus filhos teriam o pai de volta.
Um sorriso se espalhou pelo meu rosto enquanto eu praticamente
jorrava de emoção.
— Isso—isso é incrível!
Fui em direção à porta onde pensei que era o quarto de Mark, mas ele
colocou a mão no meu ombro, me impedindo de caminhar.
— Mas tem que ser escolha dele. Ele tem que aceitar... bem, aceitar o
que vem com a cura.
Seus olhos perfuraram os meus, tentando carregar o peso de suas
palavras.
Meu coração ficou muito mais leve por saber que Mark poderia viver
uma vida plena novamente.
Embora eu tenha ouvido o que ele disse, foi difícil prestar muita
atenção em suas palavras.
Mark era muito jovem e uma pessoa muito boa para este mundo
perdê-lo tão cedo. Seus filhos eram muito pequenos e eu precisava dele.
— Por que ele escolheria qualquer outro caminho? Ele é dedicado a
nós. Ele nos ama.
Minhas sobrancelhas estavam arqueadas, tentando determinar se
havia alguma outra escolha. Mark era um homem amoroso, um pai
excelente e um marido dedicado.
Eu já tinha me afastado de sua mão em meu ombro e estava pronta
para abrir a porta. Atrás de mim, juro que ouvi o médico dizer:
— A devoção dele por você é o que mais me preocupa.
Capítulo 11
BROOKE

— Mark!
Correndo para ele, não pude acreditar como ele parecia bem naquele
momento.
Ele tinha mais cor do que eu havia visto há muito tempo e estava
praticamente sentado na cama.
Envolvendo meus braços em volta de seus ombros, quase me senti
como eu novamente.
Foi nesse momento que percebi o quão confortável estava com Mark.
Diariamente, ele me dizia como eu era sua rocha. Que, sem mim, ele
estaria perdido.
Eu era sua âncora no mar da loucura. Só agora eu percebi que também
havia tirado minha força dele.
Havia conforto com ele, talvez até um pouco de previsibilidade.
Nunca discutíamos e ele sabia quando me dar meu espaço se algo me
incomodasse.
Ele nunca tentou me desafiar ou me forçar a fazer ou pensar qualquer
coisa que eu não quisesse. Ele me conhecia bem.
Ele era meu melhor amigo.
— Brooke!
Ele acariciou o braço que eu envolvi em tomo dele antes de levantar a
cabeça enfaixada para olhar para mim.
— Eu estava me perguntando quanto tempo levaria até você chegar
aqui.
Lá estava aquele sorriso que eu havia sentido falta. Um sorriso tão
juvenil, e não marcado com indícios de dor ou dúvida como tinha sido
nos últimos tempos.
Esperando que meu rosto não tivesse corado, tentei encontrar seu
olhar.
— Lamento não ter vindo antes.
Ele sorriu, sem se importar com minha resposta. Quando seu ombro
se moveu, meus dedos roçaram em algo logo abaixo da roupa de hospital
que ele usava.
Empurrando para trás, meu olhar foi imediatamente atraído para a
gaze branca visível e a fita adesiva que se agarrava ao seu ombro.
Meus dedos puxaram talvez um pouco rudemente demais a roupa
para expor a bandagem em sua totalidade, e Mark se encolheu.
Ele olhou para seu ferimento enfaixado antes de olhar para mim com
uma careta.
— Não é nada, Brooke.
A pele logo após a gaze estava vermelha e ligeiramente enrugada.
Olhando para a própria gaze, você podia ver a descoloração dela
através das muitas dobras.
Não parecia com nada.
— Mark, o que aconteceu?
Minha voz estava firme e calma, desmentindo o que eu estava
sentindo por dentro. A faixa em sua cabeça fazia sentido, eu entendia.
Mas como ele conseguiu o ferimento no ombro, e um que parecia que
poderia doer?
O médico havia entrado naquele momento. Eu me virei para ele.
— O que você fez com ele?
As sobrancelhas do médico ergueram-se drasticamente, sem suspeitar
do ataque que eu estava pronta para soltar sobre ele.
— Desculpe?
Meu marido segurou minha mão suavemente e beijou as costas dela,
fazendo-me mover minha atenção do médico para ele.
— Querida, o Dr. Thomas não fez nada além de tentar salvar minha
vida.
A tensão que eu estava abrigando estava me impedindo de pensar
direito, então tirei minha mão dele e belisquei a ponta do meu nariz.
— Certo, então o que aconteceu? — Eu deixei meu olhar se mover por
cima do ombro. — Isso parece muito feio.
Mark e o médico se entreolharam e houve uma pausa na resposta.
Não era típico do meu marido esconder nada de mim, mas ele
certamente estava hesitando agora. — Ouça, não foi mesmo nada. Um
cachorro, — ele lançou ao médico um rápido olhar e depois olhou para
mim, — entrou no prédio ontem à noite.
— Um cão selvagem?
— Não, não, querida. Apenas uma cadela doce e domesticada. Estava
com medo, com todas as sirenes tocando e tudo mais.
Ele sorriu e ficou pensativo por um minuto.
— Ela entrou e colocou o nariz na palma da minha mão. Eu acho que
ela só precisava de consolo. Quando ela se sentiu um pouco mais calma,
colocou a cabeça no meu peito.
Encolhendo os ombros casualmente, notei que ele estremeceu um
pouco quando a bandagem se moveu ligeiramente contra a ferida ainda
aberta.
— Suponho que quando aqueles homens entraram repentinamente
aqui, ela se assustou. Não foi uma mordida feia, mas rasgou um pouco a
pele.
— Um pouco? Parece que ela arrancou um pedaço do seu ombro.
Ele apenas me ofereceu um sorriso torto em resposta. Apenas mais
um caso em que ele se ocultava para me proteger de algo grave, sem
dúvida.
— Como sabemos que não tinha raiva? Pode ter sido um vira-lata
selvagem, pelo que sabemos.
Eu não tinha certeza de como me sentir. Suspirei intensamente
enquanto tentava moderar minhas palavras, com minha própria culpa e
vergonha me deixando nervosa.
— O... cachorro, — disse o Dr. Thomas, embora hesitasse antes de se
permitir dizer isso.
Seu rosto quase se contorceu de nojo, mas ele conseguiu se expressar.
— Ela não tem raiva e nós a levamos para um local seguro.
Um local seguro—o que isso significa?
Meu queixo caiu. Mesmo que eu não gostasse de saber que ela havia
mordido meu marido, eu não queria que se machucasse.
Afinal, Mark havia dito que ela estava com medo.
— Você não vai...
Eu deixei as palavras sumirem. Dizer as palavras significava que
poderia ser uma realidade.
Um sorriso genuíno cruzou o rosto do médico. Não o sorriso que ele
me deu antes, para me dar as boas-vindas, mas um sorriso verdadeiro e
profundo.
— Estou feliz em ver que a vida dela significa algo para você.
Começando a dizer mais alguma coisa, ele balançou a cabeça.
— Não, ela está bem. Estamos apenas mantendo-a até tomarmos uma
decisão sobre algumas coisas. Assim que resolvermos isso, ela será solta.
Até então, ela será tratada com o máximo cuidado.
O médico passou por mim e começou a verificar os sinais vitais de
Mark e as respostas.
Saí do caminho dele para me sentar em uma cadeira no canto da sala
ao lado da porta.
— Sinto muito, suponho que minhas emoções estão um pouco
confusas. Meu dia foi estranho. Primeiro, soube que meu marido poderia
ser curado, e me disseram que isso deveria ser escolha dele...
— Em seguida, me disseram que uma instalação segura que ninguém
poderia entrar foi invadida, ainda por cima por uma cadela. Depois, me
disseram que ela mordeu meu marido, mas foi uma mordida leve, então
estava tudo bem.
Embora eu tenha tentado manter o sarcasmo fora da minha voz, ele se
infiltrou.
— Sem mencionar como minha manhã começou antes de agora.
Estou apenas tentando descobrir como processar tudo isso.
Assim que disse as palavras, estremeci. Nunca guardei segredos de
Mark, então meu filtro quase não existia perto dele.
Havia toda a intenção de contar a Mark o que aconteceu, embora eu
estivesse temendo.
Mas não era algo que eu quisesse compartilhar na frente do simpático
médico. E Mark era quase nada previsível.
— Oh? O que aconteceu esta manhã?
E lá vamos nós. Tive vontade de me encolher nas almofadas da
cadeira.
Minhas mãos estavam moles no meu colo e eu deixei meu polegar
deslizar ao longo da ponta de um dos meus dedos enquanto observava,
tentando encontrar a melhor maneira de dizer a ele que sua esposa é
uma traidora, e uma imoral.
Até mesmo neste momento, eu quase podia sentir a sensação da boca
de Slate enquanto ela se movia contra meu pescoço, o cheiro dele me
envolvendo, a sensação de seu enorme volume pressionado contra mim...
Eu me movi sobre seu corpo em um esforço para me livrar de um
pouco do calor que havia se formado simplesmente por sua proximidade.
E até mesmo neste momento, só de pensar nele, eu podia sentir o
calor se espalhar sobre mim e a excitação começar a se acumular no ápice
das minhas coxas.
Embora eu não quisesse enfrentá-lo, senti que deveria. O que eu fiz
não foi justo com ele.
— Eu... Bem, eu... beijei Slate.
Meu rosto todo enrugou assim que eu disse as palavras, esperando o
ataque que viria.
O silêncio permeou o quarto. Até o Dr. Thomas fez uma pausa no
exame de meu marido.
Lágrimas queimaram no fundo dos meus olhos— era muito silencioso
para suportar.
Quando ouvi uma risada, mal pude acreditar no que estava ouvindo.
Meus olhos saltaram entre eles, sem registrar o que estava
acontecendo.
O médico ainda estava de costas para mim enquanto ouvia o coração
de Mark, mas a leve sacudida de seus ombros sugeria que era ele quem
estava rindo de mim.
Minha humilhação foi quase completa, e o sorriso do meu marido só
fez com que eu me sentisse pior.
— Isso é tudo? Caramba, eu mesmo quase quis beijar o homem
quando o conheci. Ninguém poderia culpar você por isso.
— Mark, isso não é engraçado. Eu estou falando sério.
Como eu queria que ele gritasse e berrasse comigo por tê-lo traído, me
chamar de algum nome horrível.
Talvez tenha sido bizarro, mas senti que merecia.
Uma parte de mim sentia que, se ele ficasse bravo e gritasse comigo,
isso me faria lembrar daquela paixão que eu sabia que ainda estava lá
dentro dele, enterrada por esses últimos anos.
Eu juro que não conseguia imaginar como ele estava reagindo com
tanta calma.
Sua sobrancelha se ergueu e ele fez uma careta.
— Tudo bem, você quer que eu fale sério? Estou quase —ele ergueu o
polegar e o indicador a centímetros um do outro para enfatizar seu
ponto... — pulando da cama e apertando a mão do homem que trouxe de
volta a luminosidade em sua pele, e o brilho daqueles lindos olhos verdes.
Fiquei surpresa e tudo que consegui reunir foi um fraco, — O quê?
— A partir do momento em que fiquei doente, você perdeu sua luz.
Seu entusiasmo pela vida. Você se tomou minha babá, amiga, cuidadora,
cozinheira, dona de casa...
Ele sinalizou cada item em seus dedos enquanto falava.
— E isso cobrou seu preço. Seu cabelo, seus olhos e sua pele perderam
todo o brilho.
Ele se inclinou para frente e balançou a cabeça enquanto o médico
saía pela porta.
— Era eu quem estava morrendo, Brooke, mas você parou de viver.
Minha cabeça balançou de um lado para o outro, chocada com sua
acusação.
— Isso não é verdade. Essa viagem toda...
Um sorriso triste torceu sua boca.
— Esta viagem estava acabando com você. Era a sua despedida de
mim, uma forma de você tentar me dar um último alento. Tudo que eu
queria era ver você sorrir e viver novamente.
As lágrimas deslizaram sem qualquer impedimento.
— Nós nos divertimos. Tiramos muitas fotos. Lembre-se daquela na
praia, e não percebemos que era uma colônia de nudistas até olharmos
para a tela e vermos aqueles dois caras...
Eu tentei o meu melhor para rir, mas saiu mais como um grasnido
entre lágrimas. Eu limpei minha bochecha com as costas da minha mão.
A cama rangeu quando ele se moveu para a beira dela. Eu sabia que ele
não gostava quando eu chorava, não que muitos homens pudessem
tolerar isso.
Ele se levantou da cama, cerrando seus lábios em uma linha fina
enquanto ele fazia uma careta, tentando se dar tempo para se ajustar à
sua posição ereta antes de ir para onde eu estava sentada.
Lentamente, ele se ajoelhou na minha frente e comecei a protestar,
mas ele ignorou minhas objeções.
— Nós nos divertimos e gostamos da companhia um do outro tanto
quanto duas pessoas podem, sabendo que o tempo que passam juntos
está acabando. Não estou dizendo isso, Brooke.
Sua mão se moveu suavemente contra minha bochecha enquanto ele
enxugava uma lágrima rebelde.
— O que estou dizendo é que a situação não tem sido justa com você,
e ainda assim você assume as responsabilidades como se fossem seu
fardo.
Empurrando o cabelo para trás do meu ombro, ele observou seus
dedos deslizarem.
— Quando a doença tirou nossa intimidade, quase me matou ter você
por perto, mas não ser capaz de tocá-la.
Peguei sua mão entre minha bochecha e uma das minhas.
— Mas, o médico disse que havia uma cura...
Uma cura. Isso deveria trazer esperança e felicidade. Mas seu rosto se
contraiu e seus lábios se apertaram com firmeza.
— Sim, mas não é tão fácil. Isso tem um custo.
— Não entendo. Isso vai te salvar! Você pode ver seus filhos crescerem
e nós podemos...
— Nós podemos o quê? Voltar para o jeito que as coisas eram? E isso
que você acha?
Ele se afastou de mim e deixou seu traseiro bater no chão.
Puxando os joelhos para cima, ele pegou sua cabeça enfaixada em suas
mãos, embalando-a.
Ele parecia tão perturbado e dividido.
Era uma expressão estranha para mim.
Mesmo quando ele me contou sobre o câncer, ele ainda conseguiu
evitar que o desespero que ele deve ter sentido se manifestasse.
— Bern, talvez?
Eu não entendia sua frustração com a ideia.
— Não parece uma decisão difícil de tomar.
Seu corpo inteiro ficou tenso antes que eu visse a centelha de paixão
que eu ansiava ver, mas de uma forma que eu nunca esperava.
— Sério, Brooke. Sério? É tão fácil para você tomar essa decisão?
Porque está me matando por dentro!
Ele nunca tinha me atacado dessa forma antes, e meu corpo se afastou
dele por instinto.
— Um bom e velho beco sem saída. Eu aceito e perco você. Eu não
aceito, e pelo menos eu morro sabendo que você está ao meu lado.
Ele riu, mas não havia alegria por trás disso.
— Escolha muito fácil!
O Dr. Thomas abriu a porta e foi para o lado de Mark. Ajudando-o a
se levantar, ele olhou para mim com uma carranca no rosto e uma
interrogação em seus olhos.
— Temo que ele esteja ficando muito agitado para o seu próprio bem,
Sra. Marlin. Talvez possamos tentar novamente mais tarde?
E assim, fui dispensada.
Capítulo 12
SLATE

Os cubos de gelo tilintaram contra o copo enquanto eu balançava o


conteúdo transparente.
Era a melhor vodca que a Mãe Rússia poderia produzir.
Quando mencionei encontrar minha yatmala jyoti para meus irmãos,
as perguntas deles giraram em tomo de por que eles ainda não haviam
sentido o vínculo.
A vodca foi enviada atrás de mim, confessando minhas intenções em
relação a minha jyoti para eles.
— Você vai precisar, irmão, — disse meu irmão mais velho, Grant. —
Isso não vai deixar você bêbado, mas pode diminuir a necessidade de
marcá-la antes que seu lado humano esteja pronto.
Quando sua risada ecoou pela ligação, eu fiz uma careta.
Todos os meus irmãos encontraram suas companheiras, e nenhum
deles perdeu o equivalente a uma lua marcando a deles.
— Você vai passar por uma viagem e tanto.
Eu tomei outro gole do líquido transparente, segurando com força ao
redor do copo de vidro.
Embora eu odiasse admitir, meu irmão estava certo.
Fazia apenas alguns dias desde aquele desastre pela manhã, e a atração
para marcá-la estava surgindo mais a cada dia.
O sol da manhã apenas começou a pairar no horizonte enquanto eu
olhava pela janela do meu escritório.
Alguns diriam que beber de manhã cedo não era nada bom, mas a
visão abaixo de mim tomava um requisito para entorpecer o prazer
torturante que ela provocava em mim.
Os lindos fios loiros sopravam suavemente em seu rosto, e meus
dedos coçavam para ser os únicos a afastá-los de seu rosto e colocá-los
atrás das orelhas.
Em vez disso, foi ela quem os afastou do rosto. Então, ela
delicadamente torceu a massa e amarrou-a atrás da cabeça.
Por mais casual que fosse o visual, nela era gracioso e elegante, uma
vez que balançava suavemente contra seu pescoço esguio com seu peso.
Um gemido ficou preso no fundo da minha garganta quando levei o
copo aos lábios mais uma vez.
Inclinei o conteúdo para trás, mas o frio do gelo quando atingiu meus
lábios fez pouco para extinguir o calor dentro de mim enquanto eu
drenava o que restava no copo.
Minhas calças se apertaram na minha virilha quando eu olhei para ela,
e eu me mexi um pouco para aliviar a tensão ali.
Felizmente, meu encontro com o Alfa da matilha vizinha me deu uma
razão para usar algo diferente do jeans que eu preferia nos meus dias de
folga.
Estas calças permitiam um pouco mais de espaço para meu eixo do
que meu jeans.
A rotina dela era previsível. Antes que o amanhecer pudesse romper
totalmente, ela vagava pelos jardins logo abaixo das janelas do meu
escritório.
Seus dois filhos estariam logo atrás, e seu rosto exibia uma expressão
de adoração tranquila enquanto ela observava os dois brincarem.
O simples olhar dava a ela uma aparência quase etérea enquanto o
amanhecer derramava seu brilho dourado sobre ela.
Dali, eles caminhariam até o hospital para permitir que os filhos
visitassem o pai.
Em seguida, eles caminhariam até a casa de Carter para deixar os
meninos brincarem com seus filhos antes que ela voltasse para o hospital
para visitar Mark sozinha.
Era a última parte de sua rotina que me fazia encher meu copo mais
uma vez com o líquido âmbar de escolha.
Nos últimos dias, eu estava relutantemente tentando dar espaço a ela.
Meus esforços para isso me forçaram a encontrar um quarto para
dormir em outra parte da casa da matilha.
A tortura de estar tão perto dela, pegando fortes amostras de seu
cheiro e ouvi-la gritar no meio da noite eram demais para suportar
quando eu não podia tê-la por perto.
Quando eu não podia tocá-la.
A decisão de dar espaço a ela foi praticamente feita por mim.
Na manhã seguinte ao nosso quase acasalamento, nós dois nos
encontramos em lados opostos da sala de jantar.
O sorriso no meu rosto foi instantâneo quando eu me aproximei de
onde ela estava na entrada do salão, mas desabou instantaneamente
quando vi seu olhar baixar e ela se afastar de mim.
Não havia um grama de raiva em seu rosto. Eu poderia lidar com a
raiva.
O que eu não poderia lidar era a vergonha que ela deixou envolvê-la.
Como ela poderia ter vergonha do que aconteceu entre nós?
Comia minha própria alma vê-la usá-lo como se merecesse punição
em vez de reverência.
Foi nesse momento que decidi dar-lhe espaço para clarear a mente.
Combater essa emoção de frente era quase impossível, e ela precisava
deixá-la desaparecer de sua existência antes que eu fosse capaz de seguir
em frente.
O tempo longe dela estava cobrando seu preço em mim e no meu
lobo, mas eu pretendia retificar a situação esta noite.
Alfa Superior, Alfa Jackson está esperando para vê-lo.
Sian começou a assumir algumas das funções que normalmente
seriam atribuídas a Carter.
Todos os meus homens foram bem treinados, embora Sian
geralmente trabalhasse mais treinando nossos guerreiros mais
disciplinados.
Ainda assim, ele era mais do que adepto de preencher onde eu
precisava dele.
Especialmente porque Carter foi atribuído à tarefa mais importante
de cuidar da minha jyoti enquanto ela continuava a me evitar.
Obrigado, Sian. Mande-o entrar, por favor
Como esperado, o comando foi seguido sem hesitação.
Relutantemente, eu me afastei de minha vista além da minha janela
para encarar o recém-chegado.
— Alfa Superior. — O homem curvou a cabeça em sinal de respeito
enquanto erguia o punho para colocá-lo sobre o coração.
Era a forma tradicional de reconhecer um Alfa Superior, ligeiramente
diferente do reconhecimento de um Rei Alfa.
Meu pai era do tipo tradicional, e qualquer um que não se dirigisse a
ele da maneira tradicional era executado.
Ele tinha pouca paciência para desrespeito ou desobediência,
superado apenas por seus sentimentos sobre a raça humana.
Até que eu pudesse reivindicar minha companheira, deixei claro que a
saudação tradicional seria suspensa em nossa cidade.
A portas fechadas, isso seria tolerado.
Até o momento, ela não estava preparada para o que precisava saber
sobre nós.
Isso iria mudar... esta noite.
Eu estava preparado para contar tudo a ela. Ela precisava saber o que
estava acontecendo ao seu redor.
Acenando com a cabeça em direção ao homem diante de mim, me
dirigi a ele.
— Alfa Jackson.
Depois que me dirigi a ele, ele se endireitou.
— Como posso ajudá-lo?
O alfa perante a mim respirou fundo, preparado para entrar em sua
explicação do que o trouxe aqui. Em uma expiração, tudo saiu jorrando.
— Três noites atrás, nossa patrulha de fronteira cruzou com um
selvagem em nossos territórios. O selvagem estava acompanhado por
alguns outros, embora não tenhamos certeza da contagem exata. Era
como se seus cheiros estivessem misturados e era difícil distinguir um do
outro. No entanto, temos certeza de que há pelo menos um selvagem
entre eles.
Eu assenti. — Entendo. Você capturou o selvagem? — Não havia razão
para realmente responder. O homem estava simplesmente tentando
respirar, o que me deu uma maneira de reconhecer que ouvi o que ele
estava dizendo.
O homem balançou a cabeça ao começar a falar mais uma vez.
— Não. Eles tinham a vantagem do tempo a seu lado. Nós os
perseguimos até nossa fronteira e eles escaparam para seus territórios.
O homem estremeceu quando viu minha mudança de expressão.
— E você achou que seria prudente me dizer isso só agora?
Imediatamente, sua cabeça desabou diante dele, claramente exibindo
vergonha e um pedido de desculpas.
— Tentamos falar com você a respeito disso, mas seus territórios
estiveram em alerta máximo por dois dias. Presumimos que você havia
encontrado a ameaça e a eliminou.
— Presumiram errado, — eu grunhi. — Uma fêmea alfa e dois de seus
companheiros de matilha entraram em nossas terras, mas todos eles
cheiravam como a matilha dela.
Jackson franziu a testa enquanto erguia a cabeça. — Tem certeza?
Meu lobo se irritou com a pergunta, mas eu certamente entendi
porque a pergunta estava sendo feita.
Era possível que eles disfarçassem o selvagem em seu cheiro para
escondê-lo da detecção?
Em caso afirmativo, qual seria o propósito?
— Eles estão todos em celas separadas há dois dias. Mesmo se eles
tivessem mascarado um de seus cheiros, já teria passado.
O alfa à minha frente acenou com a cabeça em concordância. Este alfa
era um aliado, e eu sabia que sua lealdade e coração estavam no lugar
certo. — Nossas terras são vastas. Vou acionar um rastreador, a fim de ver
se perdemos algo no caos.
— Isso é prudente, — disse ele. Baixando a cabeça e erguendo o
punho contra o peito, ele estava pronto para me deixar.
Antes que ele pudesse voltar para a porta, ele se virou ligeiramente e
perguntou: — Está tudo bem? — Estreitando meus olhos sobre ele, uma
parte de mim se sentiu perturbada por alguém estar me perguntando
isso.
— Por que você perguntaria isso?
Jackson balançou a cabeça levemente, quase como se ele estivesse
lutando consigo mesmo sobre divulgar ou não.
— Somos aliados e amigos há décadas. Entenda o que eu digo é para o
bem de nosso bando e para o seu próprio. A aura que o cerca parece...
reduzida.
Eu me levantei até minha altura máxima. Ele estava questionando
minha autoridade?
O homem abaixou a cabeça em deferência. Não, ele sabia quem estava
no controle aqui.
Com a cabeça baixa, ele continuou.
— Toda a força disso envolve seus territórios, mas quanto mais perto
estou de você, mais eu percebo que não o envolve em sua totalidade.
Parece— compartilhado, talvez.
Minha respiração ficou pesada e rápida, e Jackson pode ter percebido
isso como raiva.
Jackson abriu a porta e saiu em silêncio antes de deixar meu
escritório:
— Eu espero que você saiba o que está acontecendo. Juntos, nossos
bandos são fortes. Mas não vou negar que é o seu sangue Alfa Superior
que protege nossas terras mais do que minha força na equação. Se
houver algo que eu possa fazer, estou à sua disposição.
Assim que a porta foi fechada, me sentei pesadamente no canto da
mesa.
Era a outra razão pela qual meus irmãos não esperaram muito para
acasalar com suas correspondentes humanas.
A cada dia que passa, um pouco do meu poder passa para a minha
jyoti. O objetivo era preparar a nós dois.
Para ela, deveria prepará-la para o poder que viria uma vez acasalada.
Para mim, era um lembrete de quem era minha correspondente.
Humana, e sem os dons da Deusa.
Minhas mãos esfregaram com força contra meu rosto.
Embora eu nunca perca minha força totalmente, vou continuar
enfraquecendo até que não tenha mais nada além da força que vem de
ser um alfa.
Mais uma razão pela qual eu estaria compartilhando meu segredo
com ela esta noite.
Se a notícia se espalhasse, isso nos deixaria expostos para um ataque.
E eu não queria aquela preocupação na minha matilha.
Capítulo 13
BROOKE

A lanchonete onde eu estava sentada agora começou a ficar um pouco


mais ativa desde que cheguei.
Do canto da sala onde eu estava, pude ver os clientes entrando e
saindo.
As mesas que enchiam o interior da lojinha estavam todas cheias, de
modo que quem vinha almoçar era forçado a levar a comida para viagem
depois de não encontrar um lugar para se sentar.
Bebendo meu chá chai de baunilha e mordiscando o panini de peru e
parmesão que a mulher do balcão sugeriu, eu não tinha nada além de
tempo em minhas mãos.
E hora de refletir sobre nossa estadia aqui e sobre minha visita ao meu
marido naquela manhã.
Há menos de meia hora, sentei-me com meu marido em seu quarto
de hospital.
Desde a primeira manhã em que o visitei, evitei perguntar sobre a
possível cura.
Eu tive dificuldade em entender sua hesitação, mas tinha que confiar
que ele faria o que achava ser o melhor.
No entanto, independentemente de ele aceitar a cura ou não, sua
saúde melhorou.
Por isso, eu estava grata.
Enquanto eu estava visitando, o Dr. Thomas verificou os sinais vitais
de Mark e o ferimento, agora quase curado.
Mark estava ansioso para ter suas bandagens removidas, e o médico
havia prometido a ele que, se as feridas parecessem estar sarando bem e
os resultados do teste parecessem promissores, ele permitiria que Mark
saísse do repouso.
Foi uma pequena vitória, mas qualquer vitória era uma vitória neste
momento.
Quando o médico tirou um pouco de sangue para fazer os exames,
não pude deixar de notar como Mark parecia cansado.
Embora ele tivesse mais cor na pele do que em mais de um ano, ele
ainda parecia mais do que um pouco pálido.
A emoção de potencialmente receber alta parecia estar tendo um
efeito adverso.
— Eu sei que você está ansioso para sair dessa cama, mas talvez você
devesse tirar uma soneca antes de ser exonerado.
Ele riu da minha pobre tentativa de humor, tentando ignorá-la.
Porém, depois de ver a preocupação que se instalou em meu rosto, ele
finalmente concordou em descansar.
— Isso vai atrapalhar sua rotina, — ele repreendeu.
Eu o observei sorrir para mim conscientemente. Pegando o travesseiro
leve da cadeira em que eu estava, joguei nele.
Sua risada encheu o quarto quando ele pegou o travesseiro facilmente
no ar antes que tivesse a chance de realmente acertar o alvo.
— Eu posso funcionar fora de uma rotina, você sabe. Tenho feito isso
nos últimos meses. — Eu mostrei minha língua para ele.
Isso me rendeu ainda mais risadas às minhas custas, mas não me
importei. Era bom ouvi-lo rir.
— Certo! Vamos ver. Levantar-se ao romper da aurora, tomar café da
manhã, pegar a estrada. Fazer um pequeno passeio turístico até por volta
das onze e meia, quando paramos para almoçar, depois outro um passeio
turístico um pouco mais até por volta das seis, quando jantamos. Então,
finalmente. encontramos um lugar para descansar durante a noite por
volta das oito. Parece bom?
Ele me deu uma piscadela atrevida antes de rir de mim enquanto eu
resmungava para ele, tentando o meu melhor para parecer indignada
antes que ele continuasse.
— Mesmo na tentativa de não seguir uma rotina, você consegue
funcionar como um relógio.
— Sim, tanto faz. As crianças precisam de uma rotina, sabe.
Eu sorri presunçosamente, orgulhosa de mim mesma por inventar
uma razão tão lógica e racional para o que parecia ser um
comportamento obsessivo-compulsivo.
— Hum, Brooke. Você é assim desde que te conheci, e eu te amo por
isso, e todas suas pequenas peculiaridades.
Sua risada era fácil e me fazia sorrir.
Eu me levantei da cadeira e fui até ele. Inclinando-me para frente, dei
um beijo rápido em sua testa.
— Tudo bem, sabe-tudo. Durma um pouco. Vou encontrar pessoas
para bater um papo que não podem usar minha previsibilidade contra
mim!
Risos me seguiram para fora do quarto enquanto eu me permitia rir
junto com ele.
Saindo do prédio, o sol quase me cegou. Depois de dar uma rápida
olhada no meu relógio, suspirei.
Embora eu não estivesse com fome, era pouco depois das onze e meia.
As palavras de meu marido ecoaram em minha cabeça e eu
resmunguei para mim mesma.
Embora eu desejasse poder dizer que ele estava errado, ele não estava.
Sabendo que as crianças estariam sentadas para almoçar com Carter e
sua família, desisti de ir buscá-las mais cedo.
Isso significava que eu estava sozinha, mas também significava que
podia explorar um pouco da cidade em que nos encontrávamos.
Encontrar um lugar para ficar até a hora de buscá-los não foi difícil na
cidade que se espalhava na minha frente.
O conceito de uma cidade de praças não era novo para mim vindo de
Savannah, uma cidade construída sobre o mesmo princípio das praças
em seu centro.
Embora Savannah pareça ter perdido a funcionalidade das praças que
tinha antes, as praças aqui se adaptaram às lojas ao seu redor...
Ou talvez as lojas se adaptassem às praças que cercavam.
No meio das praças havia belos jardins paisagísticos com ervas e flores
de cheiro celestial, fontes projetadas para oferecer às crianças e até aos
pais alívio do calor do verão, playgrounds, uma estrutura em miniatura
do tipo anfiteatro.
Todas as praças eram facilmente atravessadas, e cada uma das lojas ao
longo das praças parecia se encaixar no que quer que fosse ao redor.
Lojas de roupas infantis, sorveterias e confeitarias cercavam essas
praças com playgrounds, enquanto lanchonetes, cafeterias e livrarias
cercavam parques e jardins.
O anfiteatro era cercado pelo que parecia ser uma experiência
gastronômica sofisticada e lojas de roupas de alta qualidade.
O plano da cidade foi bem pensado e planejado, e tinha um tipo de
charme e apelo que me lembrou de casa.
Foi em uma dessas praças que encontrei a lanchonete onde agora
estava sentada. Do lado de fora da janela, pude ver a praça preservada.
Esta exibia salgueiros bem cuidados que caíam em cascata sobre
pequenos bancos feitos à mão em cantos opostos da praça.
Os outros dois cantos estavam cheios de arbustos de alecrim, com
pequenos manjericões e orégãos plantados em volta deles que lançavam
um perfume em toda a área cada vez que soprava o vento.
Isso fez meu estômago roncar.
Sem dúvida, o aroma enviou mais do que alguns clientes aos
restaurantes que ocupavam a praça.
Pegando o jornal que comprei, deixei meu olhar viajar pelo nome do
diário que estava orgulhosamente exibido em grandes letras em negrito
na parte superior.
Ele anunciava o nome Lunar Ridge Gazette.
Lunar Ridge era um nome interessante para o lugar que havíamos nos
deparado inadvertidamente.
Nome lindo, pessoas lindas, lugar lindo...
Um pequeno paraíso no meio do nada.
Assim que comecei a ler um artigo sobre um homem chamado
Serevolk doar uma pequena fortuna a uma organização sem fins
lucrativos para construir moradias para famílias desabrigadas, meu corpo
começou a formigar.
A loja inteira ficou em silêncio e eu pensei que com certeza devia estar
perdendo alguma coisa.
Olhando para cima, eu mal sufoquei um gemido. Lá estava ele na
entrada da lanchonete, e todos os olhos estavam sobre ele.
Não é de admirar—o homem era uma imagem da perfeição.
O temo escuro que ele usava não fazia nada para esconder seu físico
musculoso, e a gravata prata apenas realçava aqueles olhos cinza com
aros prateados dançando em suas bordas.
Eles tinham uma cor única, e eu fui mais uma vez sugada para suas
profundezas enquanto ele me observava de onde estava.
Foi o silêncio no local que me poupou de me afogar nessas mesmas
profundezas.
O ambiente estava muito silencioso, como se houvesse um segredo a
ser contado e ninguém tivesse coragem de dizer uma palavra.
O silêncio invadiu meus sentidos enquanto minha mente procurava
encontrar aquele segredo que todos aqui pareciam abrigar.
Quando ele acenou para mim, prendi a respiração. Meu corpo e
minha mente foram divididos, cada um claramente separado em seus
próprios campos.
O campo que mantinha a mente repreendeu aquele que mantinha
meu corpo aprisionado, dando-me um amargo lembrete de que eu era
casada.
Memórias da manhã depois de chegarmos aqui vieram à tona, e
tingiram minha pele enquanto eu tentava controlar aquelas malditas
borboletas que giravam em minhas entranhas.
Era como se todo o meu corpo se tomasse um traidor e lutasse contra
minhas sensibilidades.
Slate se virou para a mulher atrás do balcão, e minha mente
praticamente tocou uma melodia de vitória enquanto meu corpo ficava
de mau humor.
Este homem poderia provocar as mais estranhas sensações em mim, e
mesmo sem tentar.
Certamente era motivo de preocupação.
Talvez estivesse na hora de ir.
Já era ruim o suficiente que eu quase perdi o controle sobre ele
quando estávamos sozinhos, eu não precisava de nenhuma testemunha
da minha fraqueza.
Levantando-me, peguei o que restava do sanduíche e do jornal e
joguei na lixeira próxima.
Então, peguei meu copo de papel com chá e comecei a ir em direção à
porta.
Mantendo meus olhos longe do homem que fazia meu corpo zumbir,
empurrei a porta e saí para a tarde brilhante de outono.
A luz do sol quase me cegou enquanto iluminava toda a vida ao meu
redor.
Dizer que este lugar era bonito poderia ser um eufemismo.
Dando-me um momento para me ajustar ao sol, eu estava pronta para
descer da calçada e ir em direção ao jardim da praça quando aquela voz
profunda e acentuada chamou meu nome.
— Brooke.
O arrepio que percorreu minha espinha foi delicioso, e a culpa que
deixou em seu rastro parecia uma tortura. Fechando meus olhos, respirei
algumas vezes.
Embora eu estivesse em conflito com esse homem, não havia como
ser rude, especialmente depois do que ele fez por mim e minha família.
Olhar para ele fez meu coração disparar e meu corpo queimar. Por
falar nisso, apenas tê-lo por perto tomava a vida complicada.
Forçando um sorriso no rosto, me virei para ele.
— É bom ver você de novo, Slate.
Eu não consegui encarar seus olhos.
Meus olhos caíram para o copo em minha mão enquanto eu apertava
meus dedos em tomo do calor que exalava e tentava encontrar uma
maneira educada de pedir licença.
Quando ele riu, isso enviou outra de arrepios em minha espinha, os
tons quentes e ricos, profundos e sensuais.
— Ou pelo menos seria se eu estivesse sendo mantido em suas mãos
em vez de ficar diante de você.
Embora ele quisesse dizer isso de brincadeira, ser criticada por aquele
homem era humilhante. Eu fui tão transparente?
— Pensando bem —ele começou quando deu um passo mais perto...
— isso soa muito atraente, para dizer o mínimo.
Respirando fundo e dando meu próprio passo para trás, usei isso para
fingir uma coragem que não estava lá.
Eu deixei meus olhos encontrarem os dele, e esses olhos capturaram
os meus.
O efeito imediato foi protelar todas as palavras que pensei em dizer.
Minha boca estava pronta para falar e permanecia aberta de vez em
quando, o que fazia com que um sorriso aparecesse nos cantos de seus
lábios.
Em vez de dizer qualquer coisa, ele me deixou continuar a perpetuar
em meu próprio estupor enquanto dava mais um passo em minha
direção.
Isso não estava indo do jeito que eu esperava, e eu podia sentir a
necessidade irresistível de fugir antes que ele se aproximasse de mim.
Forçando um sorriso no rosto, me afastei dele para mais uma vez
tentar atravessar a rua.
Quando senti o calor de sua mão perfurar minha roupa até a pele sob
ela, a intensidade da sensação quase me chocou.
Pulando, me virei e o copo em minha mão voou enquanto o conteúdo
se espalhava por toda a frente da camisa Oxford de grife e do blazer desse
homem.
Eu não poderia ter ficado mais envergonhada ao observar, impotente,
o líquido aquecido começar a se infiltrar em suas roupas.
— Oh! Eu sinto muito!
Minhas mãos já estavam tentando tirar o líquido de sua camisa em
um esforço para conter o excesso.
Sem um guardanapo à vista, entrei no modo de piloto automático
quando o instinto materno em mim saiu antes que eu pudesse detê-lo.
— Você tem que tirar isso antes que absorva o calor e a queimadura
seja absorvida em sua pele.
As palavras nunca tiveram a chance de serem absorvidas.
Minhas mãos puxaram a camisa do limite de sua calça e comecei a
desabotoar a Oxford de baixo para cima.
Bem ali na esquina da lanchonete em frente a Deus e todos os
estabelecimentos da tarde na praça!
Quando eu vi a pele exposta de uma camisa parcialmente desabotoada
me dei conta do que eu estava fazendo.
Arrancando minhas mãos dele, minha cabeça se ergueu para ver um
sorriso se espalhar em seu rosto.
O rubor se aprofundou em todo o meu corpo enquanto eu tropeçava
para longe dele e gaguejava algumas palavras de desculpas.
Cada palavra de desculpas só me fazia sentir pior. — Estou mais do
que feliz por você continuar a se preocupar com meu bem-estar, — ele
brincou, embora eu não tivesse certeza do quanto era uma brincadeira.
— Slate!
O som de uma mulher chamando por ele me tirou do meu
constrangimento.
Uma mulher com cabelos escuros sedosos se aproximou dele,
movendo-se ao lado dele enquanto deixava sua mão estender-se para
tocar seu braço.
Ela era deslumbrante. Seus olhos pareciam ser de um tom de azul que
contornava o violeta e criava uma ilusão contra a tela de seu rosto.
— O que diabos...?
Sua sobrancelha franziu profundamente quando ela olhou para Slate.
Seu olhar seguiu o dele para finalmente entender a situação, e meu
constrangimento voltou.
— Bern, isso é... estranho, — disse a mulher finalmente. — Eu volto
para casa, e isso é o que eu encontro, — ela repreendeu
provocativamente.
Slate lançou um olhar furioso antes de deixá-lo voltar para mim.
— Celeste, gostaria que conhecesse...
A mulher chamada Celeste deu um lindo sorriso para Slate, e meu
estômago parecia querer sair pela boca.
Eles pareciam incríveis juntos, sua aparência se complementava
perfeitamente.
— Nosso alfa encontrou...
Ela parou quando os dois se encararam, suas expressões como um
espelho.
Não havia mais nada para eu ver aqui. Isso não deveria ter me
incomodado, mas meu corpo e coração não estavam sendo lógicos.
Sem qualquer hesitação, afastei-me da cena diante de mim e
atravessei a rua rapidamente.
— Brooke!
Eu o ouvi chamar meu nome, mas não estava com disposição para me
virar.
Eu sabia que ele era bom demais para ser solteiro, e só piorou o fato
de eu desejar que ele estivesse.
O único pensamento era fugir deles e sair daqui.
Tudo o que mais estava sendo dito foi bloqueado pelo latejar na
minha cabeça.
Meu pulso acelerou e o sangue que bombeava ritmicamente em
minhas veias era tudo que eu podia ouvir.
Capítulo 14
BROOKE

De volta à mansão, não demorou muito para perceber o quão inquieta


eu havia me tomado.
Quando deixei os dois pombinhos parados na calçada, liguei para
Carter e falei sobre buscar meus filhos.
No entanto, quando ele colocou Hayden no telefone implorando com
aquela voz doce, suave e inocente para ficar e brincar com seus recém-
encontrados amigos, eu sabia que não poderia dizer não.
O que é pior?
Carter sabia que eu não poderia dizer não a ele também.
Suspirei intensamente com minha própria previsibilidade. Todos me
conheciam melhor do que eu mesma?
Antes que eu percebesse, concordei em sua primeira festa do pijama
na casa de Carter.
Agora, eu estava como um gato enjaulado sem meus filhos para
proteger e servir.
Era diferente estar sem alguém por perto para cuidar.
No momento, a sensação era de que eu tinha todo o tempo do mundo
para mim. Mas a solidão de tudo parecia me invadir.
Eu estava acostumada a ter alguém por perto, alguém sob os pés ou
alguém que precisava da minha atenção.
De pé sozinha no meu quarto, percebi que ansiava por essas coisas
porque não havia mais nada para mim, e isso causou uma dor no meu
peito.
Meus filhos se tomaram meu mundo, e meu marido se tomou meu
propósito.
O que aconteceria comigo quando meus filhos crescessem e se meu
marido decidisse não receber tratamento?
Depois de andar ao redor do quarto por mais alguns minutos, eu
verifiquei meu relógio.
Certamente Mark receberia alta a qualquer momento, e eu fiz uma
careta para a camisa e os jeans amassados que eu usava enquanto olhava
para o meu corpo.
Na verdade, ele merecia me ver um pouco mais arrumada do que eu
estava.
Talvez um banho fosse exatamente o que eu precisava.
Depois do banho, me joguei na cama. Eu queria pensar em qualquer
coisa, menos em Slate, mas ele se recusou a sair da minha cabeça.
Esperançosamente, Mark estava prestes a ser liberado e eu não tinha
pensado muito em sua alta desde que deixei seu quarto.
Talvez eu pudesse convencê-lo a jantar no jardim comigo.
Já se passou muito tempo desde que ele e eu tivemos uma noite
romântica juntos.
Agora que ele estava se sentindo melhor, esta poderia ser a melhor
oportunidade de aproveitar isso.
O pensamento me deixou um pouco tonta.
O romance não foi realmente uma grande parte da minha vida no ano
passado.
Reacender o que Mark e eu tínhamos uma vez poderia erradicar os
pensamentos de um certo galã sob este teto que estava se intrometendo
em meus pensamentos.
Uma vez que o pensamento tomou conta, não havia como pará-lo até
que eu conseguisse descobrir uma maneira de fazê-lo funcionar.
Sentei-me na beira da cama e estendi a mão para o telefone celular
que estava na mesa de cabeceira ao alcance dos braços.
Discando, recostei-me e esperei por uma resposta. Ótimo! Caixa
postal.
— Ei, Carter.
Como eu odiava deixar mensagens de voz!
— Estava esperando que você atendesse. Pensei em jantar no jardim
com meu marido esta noite, mas não tinha certeza de como fazer isso.
Talvez você pudesse me dar alguma ideia. Acho que vou tentar ligar mais
tarde.
Ugh, isso foi doloroso.
Verificando a hora, suspirei.
Esperançosamente Carter me retomaria em tempo de sobra para
combinar um jantar com meu marido.
Como ainda faltavam algumas horas até então, coloquei meu telefone
no bolso da calça jeans e saí para procurar alguém que pudesse me dar
uma assistência mais imediata.
O corredor principal no andar de baixo era bastante silencioso em
comparação com o quão movimentado esse lugar normalmente parece.
Todas as vezes que estive nesta sala, sempre houve atividades que
tentei contornar sem muito aborrecimento.
Agora, havia apenas algumas pessoas espalhadas e nenhuma parecia
estar com vontade de parar o que estavam fazendo para me ajudar.
Enquanto eu me movia silenciosamente pelo espaço em busca de um
rosto familiar, por acaso encontrei um.
Não um que eu fiquei terrivelmente feliz em ver.
— Brooke, não é?
A bela de olhos violetas atravessou a sala até onde eu estava.
Por um momento, eu era um cervo sob os faróis que foi pego
completamente desprevenido.
Claro que ela estaria aqui. É lógico que, se este era o lugar onde ele
estava, seria aqui que ela estaria.
Mas ele não era problema meu, certo?
Assentindo, tentei responder com o mesmo entusiasmo que ela usou
em sua saudação. Tenho certeza de que falhei miseravelmente.
— Isso mesmo. É bom te ver de novo...
Eu deixei minha frase morrer, não querendo chamá-la pelo nome,
embora não tivesse certeza do porquê.
— Celeste. — Ela sorriu para mim enquanto estendia a mão.
Parte de mim se perguntou se ela sabia que eu lembrava seu nome,
enquanto a outra estava feliz por ela não ter me questionado sobre isso.
— Receio não ter causado uma boa impressão antes. Eu esperava que
nos encontrássemos para que eu pudesse me desculpar.
— Não há nada para se desculpar, — eu assegurei a ela.
Era mais porque eu estava tentando encerrar a conversa e ir embora
do que tentando tranquilizá-la.
— Oh, mas eu acho que Slate ficaria chateado se eu pelo menos não
tentasse, — ela sorriu.
A familiaridade dela com ele fez os pelos do meu braço se arrepiarem.
— Sabe, eu estive viajando a—negócios nos últimos meses. Esta
manhã foi a primeira vez que o vi em quase um ano, desde que ele partiu
para tentar resolver um caso ou outro. Acho que o caso do seu marido foi
parte do motivo pelo qual ele desapareceu.
Ela deu um sorriso malicioso que me fez mal ao estômago.
— Provavelmente, — eu tentei dar a ela um sorriso amigável. Mate-os
com bondade, não é esse o ditado?
— Foi muito bom falar com você de novo, mas eu realmente preciso
resolver uma coisa. Talvez nos encontremos por aí qualquer hora.
Meus pés seguiram para a porta, mas o som de seus sapatos no chão
de mármore ecoou o meu.
— Talvez eu possa ajudar?
Ela era mais difícil de se livrar do que a gripe no verão.
— Oh, não é nada, de verdade. Eu ia dar uma olhada nos jardins.
Quando ela enganchou seu braço ao meu, quase reclamei alto. — Eles
são magníficos, não são?
Ela praticamente ronronou enquanto me puxava junto com ela para
fora da porta da frente.
— Os que ficam de frente para o vale são provavelmente os mais
impressionantes, — ela explicou enquanto caminhávamos naquela
direção.
O caminho que conduzia ao lado da mansão com vista para o vale
abaixo não era realmente tão longe. Depois de contornar a lateral da
mansão, eu arfei.
— Viu, eu disse a você, — ela brincou enquanto dava seu sorriso mais
premiado.
A vista aqui me pegou completamente desprevenida.
Era impressionante, e eu sabia que tinha encontrado o local perfeito
para desdobrar meu plano para esta noite.
— É de tirar o fôlego!
Fiquei maravilhada quando deixei meu olhar viajar por toda a
vegetação exuberante, lindos arbustos e flores, e a incrível vista da tarde
das colinas que levavam à pequena cidade que ficava a mais do que
algumas horas deste local.
Eu só poderia imaginar essa mesma vista em algumas horas, depois
que as estrelas surgissem, a cidade se iluminasse e a luz das velas
apagasse o seu brilho.
— É perfeito!
Celeste sorriu amplamente.
— Eu pensei que seria. Venho aqui para pensar de vez em quando.
Poucas pessoas realmente vêm aqui. Na verdade, acho que apenas Slate e
eu usamos esses jardins.
Claro que ela tinha que mencionar o nome dele. No entanto, eu não ia
deixar isso arruinar os planos que eu estava formulando em minha
cabeça.
— Existe um lugar para fazer um pequeno piquenique?
Eu já estava começando a me mover em direção à entrada do jardim
para encontrar o que estava além da visão inicial.
Ela deu uma risadinha.
— Mas é claro. Tem algo na manga, não é?
Eu balancei a cabeça enquanto continuava a explorar os jardins,
absorvendo tudo.
— Eu posso ajudar. Um pouco de música para criar o clima, uma cesta
de vinho, queijo, frutas e outras delícias para consumo.
Lançando a ela um sorriso rápido e grato, eu balancei a cabeça. Foi o
primeiro sorriso que dei a ela que foi honesto e não forçado.
— Isso seria ótimo. Mesmo.
Seus olhos dançaram com entusiasmo.
— Eu cuidarei disso. Tudo que você tem a fazer é aparecer.
Ela tirou o braço do meu e bateu palmas com entusiasmo.
— Oh, isso vai ser muito divertido!
O entusiasmo era contagiante. Claro que isso seria divertido. Olhando
para a mulher com os belos olhos violetas, eu sorri.
— Sério? Você vai me ajudar?
— Você está de brincadeira? Isso é incrível, e eu posso fazer parte
disso! A essa altura, eu não acho que você poderia me impedir, — ela riu.
— Bem, tudo bem então. Obrigada.
Eu segurei seu braço em agradecimento antes de me virar e começar a
me afastar. — Vou apenas avisá-lo...
— Não se preocupe, Brooke. Deixa comigo. Apenas se preocupe em se
arrumar. Tudo estará resolvido, e aquele seu homem estará esperando
aqui por você... por volta das sete?
Isso estava indo ainda melhor do que eu havia planejado. — Tem
certeza? Quer dizer, posso avisá-lo...
— Certeza absoluta.
Ela era a imagem da felicidade. — Preocupe-se apenas em ficar linda.
Você não se decepcionará!
Antes que eu fosse muito longe, ela me chamou.
— Se você quiser, também tenho o vestido perfeito para você. Azul
safira, decotado na frente, fenda alta acima da coxa, e completamente
deslumbrante e sugestivo. Vou mandar para o seu quarto para você
experimentar, mas tenho certeza de que vai servir perfeitamente.
E foi isso.
Não havia necessidade de se preocupar se Carter me ligaria de volta a
tempo, não havia necessidade de se preocupar com nada de acordo com
esta linda mulher de olhos violeta.
Relaxando com um sorriso plantado em meus lábios, voltei para o
meu quarto para ficar apresentável.
E por apresentável, eu quis dizer enfatizar cada uma das minhas
qualidades para garantir que ele tome conhecimento de todas elas.
Esta noite, meu marido estava prestes a se lembrar como era sentir o
desejo correndo em suas veias e a paixão consumindo seu coração.
Capítulo 15
SLATE

O brilho das luzes da pequena cidade abaixo prendeu meu olhar.


Pelo menos até que Brooke contornasse o prédio, fazendo meu
coração começar a martelar e minha excitação aumentar.
A mulher sempre foi linda aos meus olhos, mas esta noite ela estava
mais deslumbrante do que eu poderia imaginar qualquer mulher ser.
Tudo sobre ela quase roubou minha respiração.
A forma como o vestido safira realçava seu magnífico cabelo dourado.
A maneira como ela prendeu seu cabelo, enfatizando a bela curva de
seu pescoço.
O jeito que sua perna iria aparecer quando ela cruzasse o caminho
para onde eu estava esperando por ela nas sombras.
Aquele sorriso lindo e sensual e brilho tentador em seus olhos que
deixavam o mundo saber que ela era realmente uma tentação.
Alguém que pretendia reivindicar seu prêmio.
Meu coração doeu.
Por ser aquele que causou aquele sorriso sedutor, por inspirar aquela
emoção que brilhava em seus olhos, por encorajar o jeito sedutor com
que ela se movia naquele vestido...
Ser o homem capaz de a provocar a tomar-se a visão que ela era, seria
o desejo do meu coração.
Saber que era tudo por outra pessoa quase me devastou.
Quando Carter me contou sobre sua mensagem de voz, arrepiou o
pelo do meu lobo.
No entanto, quando Celeste acrescentou sua opinião, quase me
deixou louco.
Tanto que me vi marchando para o hospital para discutir o assunto
com o homem em questão.
Enquanto eu estava lá, passei uma mão áspera pelo meu cabelo
enquanto tentava controlar meu temperamento.
Meu lobo vagava por dentro enquanto esperava por sua oportunidade
de se libertar.
O homem diante de mim parecia abalado, mas era o olhar
melancólico que eu queria reprimir.
— A melhora da sua saúde deu a ela uma esperança renovada.
O homem diante de mim lutou para manter o sorriso longe de seu
rosto, a ideia da sua mulher com pensamentos românticos sobre ele era
demais para não considerar.
Mas ele sabia o risco que representava para mim, e podia sentir meu
lobo sob a superfície.
Meu lobo estava esperando, antecipando... esperando por sua hora de
reivindicar o que era seu por direito, e disposto a defender seu direito de
fazer isso ou acabar com aqueles que estavam em seu caminho.
Ele estava inquieto e a necessidade de reivindicar sua companheira
estava sempre presente.
Finalmente, o homem suspirou ao olhar para as próprias mãos.
— Você tem que entender. Os últimos anos não foram fáceis para ela.
Caramba, eles não têm sido fáceis para mim. Ela merece coisa melhor.
Sua voz sumiu como se terminar aquela declaração falasse de um mal
que ele não queria nomear.
— Ela tem algo melhor, — eu praticamente rosnei para ele.
Este homem estava cheio de desculpas, e nenhuma delas ajudou a
acalmar minha fera.
Era hora de ir embora. Estar aqui, perto deste homem, não estava
ajudando em nada para resolver este problema.
Um problema que ele havia criado com sua incapacidade de dizer a
verdade a Brooke.
— Você criou essa bagunça. Eu espero que você faça algo sobre isso.
Eu estava pronto para empurrar a porta e sair quando ele decidiu que
falaria mais uma vez.
— Você deveria ir... no meu lugar.
A ideia de encontrar minha companheira no lugar dele fez minha pele
arrepiar.
Olhando por cima do ombro, mostrei minha repulsa.
— Você acha que eu desejo enganar minha companheira? Permitir que
ela se contentasse comigo porque você é muito covarde para fazer o que
deveria ter feito em primeiro lugar?
Minha mão apertou com força ao redor da maçaneta da porta.
Se eu olhasse para ele, poderia não ser capaz de me conter, mas sua
voz tremeu quando ele falou em seguida.
Ele sabia que estava jogando contra o destino.
— Espere! Me ouça.
Continuei trabalhando para conter minha fera interior.
— Se você for, terá esse tempo a sós com ela. Ela só precisa se ajustar,
sabe. Explorar o que ela sente por você.
Ele inspirou fundo e expirou, e eu sabia que ele diria algo que doeria.
— Minha Brooke nunca beijaria outro homem, nunca a menos que
houvesse algo que a dominasse.
Havia tristeza e dor em sua voz. Ele sabia que iria perdê-la, mesmo
que ela não soubesse.
— O fato de que ela admitiu o que fez comigo me mostrou que
significava mais para ela do que ela imaginava.
Eu rosnei baixo.
— Vamos deixar uma coisa bem clara. Ela não é mais sua. Você
desistiu desse direito quando apareceu na minha porta.
Por mais que eu odeie admitir, ouvi-lo dizer que ela se sentiu atraída
por mim fez meu lobo praticamente ronronar.
Eu sabia que ela sentia, não havia como ela não sentir.
Esperar que ela percebesse que era o problema, não era?
— Sim, certo, — ele praticamente sussurrou. — Mas você deve
aproveitar a oportunidade. Parece que é um ambiente que a atrai e vai
dar a vocês dois a chance de... conversar.
Ele disse a última palavra em derrota.
Minha pele se arrepiou. Eu não precisava dele me dizendo o que eu
deveria fazer.
— E você deveria contar a ela a verdade. Lidar com a confusão que
criou não facilita em nada o meu trabalho.
Quando saí daquele quarto, não tinha intenção de encontrar minha
companheira. Não quando ela pensava em outro.
No entanto, aqui estava eu observando-a caminhar em minha direção,
e quase paralisado demais para me revelar tão contente quanto estava
simplesmente em olhar para ela.
Quando ela se aproximou de mim, deixou seu olhar cair sobre a
variedade de delícias antes de absorver a cena abaixo.
O sorriso que apareceu em seus lábios era sedutor.
Suas pálpebras se fecharam um pouco quando uma brisa soprou
contra ela, mas quando ela estremeceu, eu sabia que tinha que ir até ela.
Tirando minha jaqueta, saí das sombras.
Quando ela me ouviu, ela se virou para mim com o sorriso mais lindo
que poderia enfeitar o rosto de uma mulher... era fascinante.
E quando ele se desfez, meu coração doeu.
Capítulo 16
BROOKE

— Slate, — eu gaguejei.
Meu coração estava batendo forte contra meu peito quando ele
emergiu das sombras. Cada parte do meu corpo pareceu entrar em curto-
circuito ao mesmo tempo.
O homem estava lindo em seu temo escuro e seu cabelo bem cortado.
Adicione isso ao fato de que aqueles olhos cinzentos dele pareciam me
perfurar, e era uma bela visão.
Uma receita para o desastre à minha espera.
O homem tinha uma expressão de sofrimento, e desejei poder apagá-
la de seu semblante.
Quando ele se aproximou de mim, ele colocou sua jaqueta em volta
dos meus ombros e me deu o mais breve dos sorrisos.
— Boa noite, Brooke.
Suas sobrancelhas baixaram enquanto ele inclinava a cabeça
ligeiramente em minha direção, ainda tentando manter aquele pequeno
sorriso.
Aquelas suas mãos lindamente esculpidas permaneceram em meus
ombros por quase muito tempo enquanto o calor delas se infiltrava e
aquecia minha pele.
Encontrando minha compostura, permiti que meu próprio sorriso
curvasse meus lábios. Ele sempre foi um cavalheiro.
— Eu estava procurando... eu pensei que...
Meu olhar fugiu dele enquanto eles consideravam a comida, bebida e
louça distribuídas por um cobertor de pelúcia lindamente trabalhado
espalhado pelo chão logo à frente.
Celeste realmente se superou. Estava lindamente apresentado, mas
não era exatamente o que eu esperava.
Voltando-me para o homem, vi como seus olhos seguiram os meus
antes que ele desviasse o olhar do piquenique romântico de volta para
mim.
Eu abri minha boca para dizer algo, mas ele balançou a cabeça.
Suas mãos deslizaram dos meus ombros e ele as enfiou nos bolsos da
calça.
— Ele não vem, Brooke.
Ele hesitou enquanto olhava para mim por mais um minuto, então ele
suspirou ao desviar o olhar.
— Eu achei que você devesse saber.
Ele se afastou de mim e eu coloquei minha mão em seu braço. A
eletricidade dançou nas pontas dos meus dedos!
— Ele disse por quê?
Seus músculos ficaram tensos sob a ponta dos meus dedos e deixei
minha mão cair para longe dele. Inclinando a cabeça para trás, ele
resmungou.
— Essa é uma conversa que é melhor ter com ele.
Meu rosto desabou. — Isso não é típico de Mark, — eu murmurei,
mais para mim mesma.
Cenários começaram a passar pela minha cabeça antes que eu sentisse
algo semelhante ao pânico começar a se instalar no meu peito.
Como se pudesse me ler, Slate colocou uma mão forte em meu braço
para ter certeza.
— Ele está bem, Brooke. Não é por isso que ele não vem.
Isso fez minha cabeça virar na direção dele. — Mas t!
Slate balançou a cabeça enquanto abaixava a mão.
— Ele, — ele começou antes de deixar uma careta aparecer em seu
rosto, — ele só... precisa descansar.
Seus lábios estavam esticados, semelhante ao que se esperaria se ele
tivesse um gosto ruim na boca.
— Entendo, — eu sussurrei no espaço entre nós dois.
Curvando-se brevemente, ele girou nos calcanhares para se afastar de
mim.
A jaqueta que estava enrolada em meus ombros tinha seu cheiro por
toda parte, e eu me encontrei envolvendo-a ainda mais em tomo de mim
quando outro arrepio percorreu meu corpo.
— Slate, — eu sussurrei, incerta enquanto meus olhos mediam o
piquenique que Celeste tinha tido tanto trabalho para montar.
Tendo falado tão suavemente, fiquei surpresa que ele me ouviu. Seus
passos pararam, mas ele se recusou a virar em minha direção.
— Você gostaria de jantar comigo? — Eu perguntei.
A forma como todo o seu corpo parecia ficar rígido me fez pensar se
eu estava fazendo a coisa certa.
— Celeste teve muito trabalho para organizar tudo isso, e seria um
desperdício se alguém não aproveitasse. Além disso —eu me aproximei
dele com um sorriso... — Eu adoraria ter companhia.
Colocar minha mão em seu braço só fez com que sua postura ficasse
ainda mais rígida e tomou mais importante, por algum motivo, tê-lo
comigo.
Vê-lo assim mexeu com algo em mim que me fez querer apagar a
tensão que o prendia em suas mãos e a tristeza que ele nutria naquele
momento.
— Por favor, — sussurrei enquanto seus olhos que estavam tentando
evitar os meus finalmente vagaram em minha direção com incerteza.
— Brooke, não posso, — ele começou.
— Claro que você pode, — eu respondi enquanto me movia ao redor
dele para encará-lo de frente.
Sorrindo, inclinei minha cabeça para o lado. — Não aceito não como
resposta.
Sua cabeça pendeu para trás enquanto seu peito subia, seus pulmões
inspirando profundamente.
Depois do que pareceu uma eternidade, ele finalmente abaixou a
cabeça enquanto deixava seus olhos escanearem meu rosto.
Aqueles lindos olhos cinzentos olharam profundamente nos meus,
aquelas bordas prateadas enunciando suas profundezas.
Eles eram magníficos e eu tinha dificuldade em desviar o olhar
enquanto meu coração martelava no peito.
— Eu não acho que poderia dizer não para você, jyoti.
Sua voz era profunda e pura com uma emoção que fez meus joelhos
fraquejarem.
Olhando para o chão, empurrei uma mecha imaginária de cabelo.
Foi um comentário tão doce, mas parecia que não era uma decisão
fácil para ele decidir ficar.
Com um pequeno sorriso de agradecimento, eu murmurei.
— Tenho certeza de que você conseguiria, se tentasse o suficiente.
Eu deixei meus olhos viajarem para encontrar seu rosto.
— Obrigada, Slate. Por ficar, quero dizer.
Ele parou diante de mim e eu senti o calor de seu corpo praticamente
aquecendo o meu.
Levantando o cotovelo em minha direção, ele me deu um sorriso.
— Não consigo imaginar uma maneira melhor de passar a noite do
que em sua companhia.
Foi a vez dele de me lançar um grande sorriso quando eu ri levemente
e peguei seu braço.
Acompanhando-me até um ponto no cobertor, ele me abaixou
suavemente enquanto eu tentava me ajustar naquele material justo que
Celeste chamava de vestido.
Embora ela estivesse certa sobre ser sexy e sedutor, mover-se
livremente nele era mais do que um pouco desafiador.
Slate serviu uma taça de vinho para nós dois quando começamos a
discutir os tópicos que eu achava seguros.
Coisas como o tempo, a vista, meu trabalho em casa...
Eu o achei um ótimo conversador.
Claro que ele era. Ele foi sempre atencioso, curioso e acompanhado de
um tom de brincadeira leve.
Eu ria facilmente com ele enquanto contava outra história das
travessuras de meus amados meninos. Slate balançou a cabeça e riu.
— Eles certamente são cheios de energia, — comentou.
— No entanto, temo ter que pedir para você explicar quem é esse
personagem Pinguim, e como algo tão inofensivo pode ser uma ameaça
para um lugar que seus filhos chamam de Gotham.
Mais risadas escaparam do meu peito enquanto eu lutava para
recuperar o fôlego.
— Esses meninos e seus super-heróis!
Eu trouxe a mão ao meu peito enquanto tentava recuperar o fôlego. —
Eu não posso acreditar que você nunca ouviu falar de Batman e Robin.
Isso parece tão estranho.
Slate me lançou um sorriso torto e um encolher de ombros.
— As histórias com que fui criado eram um pouco diferentes.
— De qualquer forma, suponho que devo me atualizar ou enfrentar a
expressão de decepção mais uma vez no rosto do querido Hayden
enquanto ele tenta explicar quem eles são e qual é seu superpoder, antes
de me dizer como eles podem ser trazidos para seus joelhos.
Novamente, me peguei rindo da imagem cativante que ele criou.
Esse é o meu Hayden!
Sempre pronto para explicar as coisas, mas sempre curioso para saber
por que você ainda não entende o que ele está lhe explicando.
— Oh, tenho certeza de que ele sente alguma satisfação em poder
compartilhar sua sabedoria com você.
Tomei mais um gole do vinho doce que Celeste incluiu no jantar.
Abaixando meu copo, eu balancei minha cabeça maravilhada.
— Estou apenas surpresa por ele não ter tentado dar a você um
superpoder e uma fraqueza para começar!
Slate deu uma risada curta, e eu percebi que meu adorável Hayden já
tinha feito exatamente isso.
Quando ele fez isso, era uma pergunta para outra hora.
— Se bem me lembro, era força e velocidade sobre-humanas. — Ele
sorriu enquanto levava sua própria taça aos lábios.
Eu levantei minha sobrancelha enquanto me inclinei em uma fração.
— Ele me disse que meu era o poder de persuasão. — Eu ri antes de
acrescentar: — Eu acho que é porque eu tenho uma maneira de fazê-lo
tomar banho quando tudo o que ele quer fazer é permanecer sujo!
Slate acenou com a cabeça. — Certamente posso ver que ele tem o
dom de interpretar superpoderes.
Quase bufei ao responder: — Então, você tem força e velocidade
sobre-humanas, hein?
Slate deu de ombros enquanto me observava, um olhar passando por
seu rosto enquanto ele parecia ficar sóbrio por um momento.
Então, como se pensando melhor, ele deixou um sorriso deslizar de
volta ao lugar.
— Nós treinamos um pouco aqui e ali. A maioria se recusa a treinar
comigo atualmente.
Ele sorriu enquanto massageava a nuca com uma de suas mãos fortes.
— Suponho que isso possa ser visto como uma força sobre-humana,
— ele sorriu.
— Sim, bem. Você certamente tem o superpoder de anfitrião. — Eu
sorri enquanto levantei meu copo para ele.
Ele me deu um meio sorriso enquanto falava baixinho.
— Você torna mais fácil para mim querer ser um anfitrião.
Eu tentei desviar o olhar, sentindo de repente como se nossa conversa
estivesse indo por um caminho que eu não conseguia controlar... que
simplesmente não era seguro.
— Você está incrível esta noite, — Slate sussurrou.
Ele estendeu a mão e pegou meu queixo entre as pontas dos dedos
enquanto gentilmente me virava em sua direção.
Quando meus olhos pousaram nele, ele concluiu seu pensamento.
— Brooke. Eu sou muito sortudo.
Hesitando, uma mágoa passou por seus olhos antes que ele concluísse
seu pensamento.
— Não, eu estou grato que você me pediu para ficar para o jantar.
As borboletas rodopiaram em meu estômago, e eu tive que me virar
enquanto despejava o conteúdo restante da minha taça na minha
garganta.
Colocando-a de volta no chão, levei um momento para me recompor.
Finalmente, eu disse: — Vocês todos têm sido tão bons com meus
meninos...
Quando me virei para olhar para ele, ele me abriu um sorriso fácil.
— ... e com Mark e eu, — eu terminei.
Seu rosto se encolheu e eu fiz uma careta.
— Olha, — comecei, sem ter certeza do que realmente queria dizer,
mas sabendo que precisava dizer algo. — Isso tem sido legal, bem legal.
Quando ele soube que eu continuaria, ele me interrompeu. — Não
termine esse pensamento, Brooke.
— É que... eu realmente gostei do nosso tempo juntos esta noite.
Eu deixei meus olhos olharem para a minha mão, e meus dedos
começaram a torcer a simples aliança de ouro em meu dedo.
Quando seus olhos pousaram em minhas ações, ele soltou um
rosnado baixo. Esta era uma conversa que seria melhor se tivéssemos
rapidamente.
— Eu realmente acho que precisamos estabelecer alguns limites, —
continuei.
Slate pegou sua taça de champanhe e bebeu o conteúdo com um
único gole.
Quando ele terminou, ele jogou o copo em um dos arbustos bem
cuidados que cercavam a área. Voltando-se, seu tom estava cheio de
agitação.
— Na verdade, eu tenho lutado contra esses limites que você insiste
em manter desde que chegou. A única vez que você me deixou
remotamente chegar perto foi quando estava meio dormindo! E isso que
preciso fazer, Brooke, para chegar perto de você? Permanecer ao lado da
sua cama até acordar?
Eu ofeguei e comecei a me levantar antes de Slate segurar minha mão.
— Porque se for, eu faria, jyoti. Para estar perto de você, para que você
esquecesse de seus limites e pusesse de lado suas inibições, eu esperaria a
noite toda ao lado de sua cama para que pudesse abraçá-la pela manhã.
Ele me puxou para perto e deixou que os seus lábios ficassem sobre os
meus.
— E enquanto você estiver pensando em mim, vou esperar por uma
eternidade.
Seus lábios roçaram os meus e eu deixei meus lábios se separarem
levemente com o choque elétrico que percorreu através de mim.
Quando ele ergueu a outra mão para envolver a parte de trás do meu
pescoço e me puxar para mais perto, sua boca desceu sobre a minha mais
uma vez enquanto sua língua deslizava para dentro para explorar o meu
calor.
A suave provocação enviou arrepios deliciosos sobre mim enquanto
eu gemia, apreciando o sabor dele.
Naquele instante eu me esqueci, esqueci minhas circunstâncias e
apenas aproveitei o momento.
Quando meus lábios não estavam mais presos, ele deixou seus lábios
percorrerem meu rosto.
Quando ele aproximou a boca do meu ouvido, movi minha cabeça de
forma a facilitar o acesso a ele.
Foi um ato tão involuntário e feito sem o menor pensamento.
— Jyoti, — ele respirou enquanto provava aquela parte do meu
pescoço que enviava ondas de choque sobre mim.
Quando ele beliscou a pele com os dentes, eu gritei.
— Ah, minha linda jyoti.
Aquele pequeno beliscão e ele me chamando de sua foi o suficiente
para me tirar do transe de suas belas palavras e olhares hipnotizantes.
— Droga.
Eu coloquei minhas mãos em seu peito e me afastei dele. Colocando
meus dedos contra minha boca, eu resmunguei.
— Estar perto de você é perigoso para mim.
Slate estendeu a mão e tocou meu braço.
— Não, Brooke. Estar comigo é o seu lugar.
Tentar abafar o arrepio que seu toque enviou por mim era quase
impossível. Eu deslizei para longe dele e de seu toque.
De pé, tive que me afastar dele. Seguir para longe de seu olhar, seu
toque, seu calor, seu cheiro.
— Obrigada pela companhia esta noite, Slate.
Eu dei alguns passos para longe dele enquanto ele se levantava.
Quando ele tentou se aproximar de mim, evitei suas mãos.
— Não, Slate. Eu acho que é melhor se você não me tocar. — Meus
olhos ardiam e eu não tinha um motivo válido para isso. — Por favor.
Com isso, movi meus pés rapidamente pelos jardins para voltar para
dentro.
Uma vez que estava longe dele, senti a primeira lágrima deslizar pela
minha bochecha.
Qual era o meu problema?
Capítulo 17
BROOKE

O sono me escapou enquanto eu o perseguia como um cão


perseguiria a sua própria cauda.
Sem nunca alcançar o transe elusivo que poderia acalmar os meus
nervos.
Quando o amanhecer finalmente rompeu, rolei para fora da cama
com os últimos resquícios de esperança de obter qualquer descanso
desaparecendo a cada passo cansado.
Meu corpo inteiro reclamou enquanto eu fazia meu caminho para o
banheiro para lavar a rebelião com a qual todo o meu ser estava sendo
atacado.
Sem qualquer noção de tempo, consegui tomar banho e me vestir.
Caminhando de volta para o quarto, sorri para os pequenos seres que
se espalharam na minha cama na minha ausência.
Parte de mim queria voltar para a cama com aqueles meninos lindos.
Eles realmente não se importavam com o mundo.
Seria uma felicidade ser capaz de fingir, mesmo por um momento, que
eu também não.
Hayden conseguiu virar-se de lado na cama e agora estava
praticamente pendurado na beirada.
Sentei-me ao lado dele e afastei seu cabelo macio de sua testa.
Sua respiração era profunda e rítmica enquanto o sono o mantinha
preso.
Inclinando-me para frente, sussurrei em seu ouvido. — Bom dia, meu
macaquinho.
Beijei a lateral de seu rosto e ri enquanto me sentava e o observava
esticar o pescoço e estalar os lábios sem ousar abrir os olhos.
Aaron se mexeu do outro lado da cama. Sua audição era quase
impecável e ele acordou mais rápido do que o pequeno ao meu lado.
Esfregando os olhos, ele bocejou antes de me cumprimentar: — Bom
dia, mamãe.
Suas mãos caíram para os lados enquanto ele se esforçava para
despertar totalmente e deixar seus olhos se concentrarem nos itens do
quarto.
Inclinei-me para ele e baguncei seu cabelo antes de esticar meu
pescoço para dar um beijo em sua bochecha.
— Bom dia, meu homenzinho.
Bem, tecnicamente, ele não era mais assim tão pequeno, mas alguns
termos de carinho são difíceis de esquecer.
Aaron se espreguiçou enquanto deslizava para se sentar na beira da
cama. Seus olhos avistaram o relógio, e eu pude sentir o pânico começar
a se instalar em seu pequeno corpo.
— Estamos atrasados! Papai vai pensar que algo aconteceu conosco,
— Aaron disse alarmado.
Ele já havia vestido a calça que havia separado na noite anterior e
estava pegando a camisa.
— Aaron, — chamei em uma voz gentil enquanto silenciosamente me
arrastava pelo chão em direção a ele.
— Eu estava pensando que você e Hayden gostariam de passar um dia
na casa do Sr. Carter. Talvez brincar com Nick e Simon?
Embora eu tenha feito isso soar como uma pergunta, era mais uma
questão de acostumar Aaron com a ideia de mudar nossa rotina.
Eu mal resisti a colocar minhas mãos em ambos os ombros com medo
de que isso levantasse suspeitas e preocupações.
Em vez disso, sentei-me no banco ao pé da cama enquanto o
observava cuidadosamente.
A verdade é que eu não sabia no que estaria me metendo quando
chegasse ao hospital esta manhã.
Já que Mark não tinha aparecido para o jantar ontem à noite, eu sabia
que haveria um motivo.
Até saber o que era, não queria arriscar levar os meninos.
Minha filosofia ultimamente era simples: deixá-los aproveitar seu
tempo se divertindo tanto quanto possível. Haveria tempo para lamentar
mais tarde.
Agora não era essa hora.
Aaron se virou para mim, seu rosto dizendo o que seu cérebro tentava
traduzir em palavras.
— Aw, querido. — Eu resisti a todos os instintos maternais de não cair
de joelhos diante dele e segurá-lo com força contra mim.
— Seu papai está bem. Ele só precisa de um pouco mais de descanso
esta manhã, e eu pensei que seria muito mais divertido para vocês dois
passarem um tempo brincando com seus novos amigos.
Seu rosto ainda carregava uma dúvida que eu não acreditava que
pudesse apagar totalmente.
— Não vai demorar muito para voltarmos para casa, — tentei mais
uma vez. — Você não gostaria de passar um pouco mais de tempo com
eles antes de partirmos?
Consegui! Ele estava começando a deixar sua preocupação
desaparecer de suas feições.
— Foi sugestão do seu pai.
Tudo bem, essa última parte era uma mentira, mas eu só queria vê-lo
aproveitar o resto do tempo enquanto estivéssemos aqui.
Haveria um momento em que não poderíamos mais nos esconder do
futuro, mas é onde eu queria mantê-lo por hoje—no futuro.
Com essa última declaração, a maior parte da preocupação
desapareceu de seu rosto e uma nova resolução tomou seu lugar.
Hayden preguiçosamente rolou da cama e foi para as gavetas onde
suas roupas estavam enquanto ele ainda tentava se livrar dos efeitos do
sono.
Arrastando os pés pelo chão, ele murmurou algo sonolento sobre
brincar com Simon no parquinho.
— Isso é tudo que você faz na casa deles, — Aaron provocou o garoto
sonolento.
— Não, não é, — Hayden tentou argumentar com a língua arrastada.
Aaron soltou uma risadinha. — É sim.
Antes que Hayden pudesse argumentar, ele acrescentou: — Diga o
que mais você faz quando vamos para a casa de Simon?
Da gaveta, Hayden tirou o par de calças mais amassado que ele
conseguiu encontrar e eu ri.
Ele não poderia se importar menos, desde que eles coubessem e
fossem confortáveis.
Um grande contraste com aqueles dois, considerando que Aaron havia
cuidadosamente separado suas roupas na noite anterior.
— Eu também almoço, — ele rebateu.
Nada poderia se interpor entre Hayden e sua comida. A maneira como
ele disse isso tão seriamente fez Aaron e eu rirmos.
Era bom estar com meus filhos e eu sabia que precisaria deles nos dias
que viriam, mais do que eles precisariam de mim.
Seu amor um pelo outro, sua resiliência a qualquer situação e sua
perspectiva de vida os ajudariam a superar.
— O que foi? — Hayden perguntou enquanto mantinha um sorriso
confuso no rosto.
Alcançando a camisa que havia jogado na pilha na noite anterior, ele
perguntou: — O que tem para o café da manhã, mamãe?
E com isso, Aaron e eu rimos ainda mais alto.
Capítulo 18
BROOKE

Embora não demorasse muito para caminhar da mansão até a casa de


Carter, sempre era tempo suficiente para meus dois filhos pequenos de
alguma forma começarem a discutir um com o outro.
Mesmo que eu ache que Aaron às vezes começava intencionalmente,
Hayden nunca desistia daquilo em que acreditava.
Já que estive perdida em meus próprios pensamentos durante a
primeira parte de nossa caminhada, levei mais de um minuto para
entender sobre o que era a discussão mais recente.
— Slate não é um príncipe! — Aaron tinha um toque de autoridade na
voz.
— É sim, — replicou Hayden.
Sim, essa seria uma daquelas discussões. Aquela em que Hayden não
estava prestes a desistir do que ele acreditava.
Normalmente, quando eu caminhava com meus filhos para a casa de
Carter, tentava ficar um pouco mais atenta às conversas deles.
Dessa forma, se eu começasse a vê-los rumo a terreno perigoso,
poderia navegar por temas um pouco menos argumentativos.
No entanto, eu pisei na bola esta manhã.
Hayden tinha uma imaginação muito vivida, isso era certo, e Aaron
estava muito feliz em lembrar a Hayden o quanto ele sabia melhor do
que ele.
— Hayden, ele não pode ser um príncipe. Ele não tem um castelo, —
Aaron disse como se isso provasse suficientemente seu ponto.
— Ele não precisa de um castelo para ser um príncipe, — Hayden
começou, então olhou para mim. — Ele precisa, mamãe?
Oh, ótimo! Agora eu teria que ser a vilã. — Bern, não, ele não precisa,
mas...
— Viu, eu disse.
Ele sorriu para Aaron como se tivesse conquistado alguma vitória.
— Então, onde está a coroa dele?
Mais uma vez, Aaron sorriu como se tivesse marcado outro ponto na
discussão... e novamente, Hayden se virou para mim para resolver a
discussão.
— Ele não tem que usar uma coroa o tempo todo, não é, mamãe?
Suspirei. Hayden iria ouvir o que ele queria ouvir, independentemente
do que eu dissesse.
Quando abri a boca, Aaron acrescentou: — É preciso haver um rei e
uma rainha para ter um príncipe.
— Nuh-uh. E se o papai dele morreu?
O silêncio tomou conta quando Aaron parou seus passos.
Embora Hayden não tivesse a intenção, suas palavras foram como
uma navalha por um motivo completamente diferente. Não consegui
ignorar o fato de que ele apenas disse papai.
Na idade dele, as crianças acreditavam que seus pais eram imortais e
viveriam para sempre. E assim que as crianças deveriam pensar.
No entanto, ele sabia que a doença que paralisava seu pai roubava sua
vida a cada dia que passava.
Eu esperava que ao vê-lo melhorar de saúde os ajudasse a ver as coisas
de forma diferente, mas estava em seu tom quando ele falou.
Não foi intencional, mas estava ali.
— Nosso pai não está morrendo, Hayden! — As lágrimas começaram a
se acumular em seus olhos azul-claros.
O rosto de Hayden desabou. Era estranho pensar que ele não tinha
juntado os fatos depois de falar suas próprias palavras.
— Não foi isso que eu disse.
— É o que você quis dizer, — ele gritou para o irmão mais novo. —
Você acha que só porque nosso pai está doente ele vai morrer.
Hayden se aproximou de mim e pegou minha mão.
— Não, não é, — ele defendeu baixinho. — Nosso papai está
melhorando. Logo ele nem vai estar mais doente.
Outra lágrima começou a descer pelo rosto pálido de Aaron e eu me
aproximei. Quando ele olhou para mim, pude vê-lo tentando conter seus
sentimentos.
Colocando a mão em suas costas, sorri para ele gentilmente enquanto
ele limpava o rosto com a manga.
Quando ele olhou para mim mais uma vez, ele tinha um olhar
determinado em seu rosto.
— Ele está melhorando, — disse ele, como se tentasse transformar a
crença em realidade.
Eu concordei. Foi tudo o que pude fazer.
Ele acenou de volta para mim antes de mais uma vez se mover na
direção da casa de Carter. Antes de ir longe demais, ele lançou por cima
do ombro, — Mas não há nenhuma maneira de Slate ser um príncipe.
Eu ri baixinho com a mudança de conversa.
Hayden sabiamente deixou a discussão passar. Em vez disso, ele olhou
para mim com aqueles olhos inocentes e disse: — Acho que gostaria de
ser um príncipe... não, talvez um rei.
Rindo dele, eu baguncei seu cabelo.
— Eu acho que você nasceu na família errada para ser qualquer um
desses, meu macaquinho. Mas continue sonhando. Nunca é demais
sonhar grande.
Em um sussurro quase triste que eu mal ouvi, ele comentou: — Se eu
fosse rei, poderia fazer com que nunca mais ninguém tivesse que morrer.
Meu coração se partiu e demos os últimos passos em silêncio.
Eles realmente eram muito jovens para que a morte lhes ensinasse
lições cruéis.
Capítulo 19
BROOKE

Depois de deixar os meninos, fui para o hospital.


O ar estava fresco o suficiente para me manter acordada, mas não o
suficiente para evitar que minha mente ficasse preocupada.
— Tire suas mãos imundas de mim! — A voz indignada de uma
mulher soou. — Me solte!
Uma rajada de cabelo cobre chamou minha atenção enquanto uma
mulher de estrutura pequena rosnava para dois homens que estavam de
cada lado dela.
Apenas um deles segurava seu braço, e ela estava arranhando a coisa
ofensiva como se sua vida dependesse disso.
— Ele não quer ver você. Você deveria desistir, moça. — Um dos
homens disse a ela.
O outro homem deu uma risadinha. — Ela não é nenhuma moça!
Embora pretendesse ser uma piada, o primeiro homem não achou
graça nisso. Ele lançou um olhar de advertência para seu companheiro.
A mulher de cabelos cor de cobre continuou a se debater e a tentar
arrancar o braço das mãos do homem.
— Apenas espere! Quando o efeito desta droga passar...
— Você estará a cem milhas daqui, — o primeiro homem terminou
por ela.
A mulher gritou de frustração.
— Alfa, eu sei que você pode me ouvir! Ele é meu! Você me ouve? —
ela gritou a plenos pulmões. — Você não pode me manter longe dele! —
O homem puxou seu braço com força, afastando-a de mim.
— Você deveria agir com dignidade, — disse ele, repreendendo-a por
seu comportamento.
— E você deveria respeitar seus superiores, — ela fervia. — Mas saiba
de uma coisa, não vou sair daqui sem ele.
O homem a empurrou para frente mais uma vez em um esforço para
mantê-la em movimento, forçando-a a quase tropeçar em seus pés.
— Não cabe a você decidir. Ele fez sua escolha, e não é você. Seja mais
sutil em sua perda.
A mulher rosnou. — Eu não perdi—ainda.
Foi a última conversa que consegui ouvir antes que eles se afastassem
demais para que eu pudesse entender alguma coisa.
Virando-me, olhei com curiosidade para o prédio diante de mim e me
perguntei quantas pessoas estavam lá.
A quem exatamente esta mulher estava se referindo? E quem era esse
alfa?
Balançando a cabeça, puxei as portas duplas do hospital.
Estranhamente, o andar térreo parecia menos movimentado do que o
normal.
Não havia nem um administrador na recepção quando passei, embora
não tivesse parado se houvesse.
Eu tinha visitado com tanta frequência nas últimas semanas que não
me incomodava mais em parar lá.
Em vez disso, aqueles que estavam de plantão simplesmente sorriam e
acenavam para mim para reconhecer minha presença.
Tomou-se o padrão nas últimas semanas, mas agora estava tudo
quieto.
Foi quando me aproximei do corredor do quarto de meu marido que
ouvi os primeiros sinais de vida no prédio.
— Você aceitaria um não como resposta?
A voz era baixa, mas havia uma certa dose de alegria nela que era
inconfundivelmente do Dr. Thomas.
Houve um grunhido de reconhecimento antes que uma resposta se
seguisse.
— Há uma diferença em ser rejeitado sabendo de todos os fatos e ser
rejeitado por lealdade.
Meus pés pararam de se mover. A outra voz pertencia a ninguém
menos que o próprio Slate.
Pensei em ir embora e voltar uma ou duas horas depois que ele tivesse
partido.
Eu ainda não estava pronta para outro encontro com ele.
— Talvez, mas vocês dois são teimosos por não reconhecer a derrota.
Hesitei, jogando o jogo — devo ficar ou devo ir.
O silêncio aumentou no corredor, e eu me perguntei por um breve
momento se eles já sabiam que eu estava lá.
Eu pude ouvir um deles respirar fundo, e então soltar o ar meio como
uma risada, meio como um suspiro de frustração.
— Quando a toco, posso senti-la
estremecer. Quando eu a beijo, posso sentir seu pulso acelerar. E
quando eu seguro seu corpo perto do meu, posso sentir sua necessidade
como se fosse minha.
Ele fez uma pausa como se quisesse deixar que absorvesse, e minha
mão pressionou contra a parede enquanto eu colocava meu peso.
Era possível que ele estivesse se referindo a mim?
Repreendendo-me por estar bisbilhotando, endireitei-me e me
preparei para encontrar os dois homens enquanto dobrava o corredor.
Quando ele falou mais uma vez, parei.
— Mas se ela me dissesse que não queria nada comigo, que não sentia
nada por mim e nem queria esse vínculo que existe entre nós, eu
respeitaria.
Outra pausa prolongada e percebi que não podia mais ficar ali me
comportando como uma espiã.
Plantei um sorriso no rosto e virei o corredor.
Eu não estava preparada para ter os dois olhando na minha direção
como se soubessem que eu estava ouvindo a conversa deles.
Meu rosto corou e se moveu sobre meu pescoço quando a culpa
tomou conta de mim.
Forçando um sorriso, cumprimentei os dois homens.
— Dr. Thomas. Slate, — eu disse enquanto acenava para cada um. —
Eu estava indo ver Mark.
A culpa estava me corroendo a ponto de me reduzir a afirmar o óbvio.
Slate deixou seus olhos permanecerem nos meus até que eu deixasse
meu olhar encontrar o dele.
— É só dizer, Brooke, — foi tudo o que ele disse antes de passar por
mim e seguir pelo corredor.
Fechei os olhos e reclamei silenciosamente, sabendo agora que
certamente tinha sido pega.
O Dr. Thomas deu uma risadinha, o que só aumentou minha
infelicidade. Deixando uma pálpebra abrir para olhar para ele, eu o
repreendi.
— Você não ajuda em nada.
Isso só o fez rir mais.
— Quando se trata de cirurgia cardíaca, eu sou o cara. Quando se
trata de questões amorosas, temo estar tão perdido quanto você parece
estar.
Eu fiz uma careta para ele. — Não há questões amorosas que me
preocupem a não ser em relação ao meu marido.
O Dr. Thomas ergueu as mãos como se estivesse se defendendo de um
ataque.
— Não diga isso a mim, — afirmou ele antes de acenar com a cabeça
na direção que Slate foi. — Diga a ele.
Minha boca se abriu como se fosse protestar, mas eu prontamente a
fechei. Ele estava certo.
— Enquanto isso, eu estava indo dar uma olhada em Mark, se você
quiser se juntar a mim.
O Dr. Thomas se virou para o quarto de Mark e esperou brevemente
que eu me deslocasse ao seu lado.
— Vai nos supervisionar mais uma vez? — Embora eu estivesse
brincando, não era tudo uma brincadeira.
Houve mais de uma vez que parecia que ele estava intencionalmente
se colocando entre Mark e eu.
Pode ser um pensamento ridículo, mas era uma sensação que às vezes
não conseguia afastar.
— Isso é algo que eu preciso fazer, — ele brincou de volta, abrindo um
sorriso peculiar. Eu lancei a ele um sorriso torto antes que ele
continuasse.
— Mark tem perguntado sobre você.
Ele se inclinou para mim e me provocou: — Eu tive que fazer tudo
menos sedá-lo quando você não apareceu no seu horário normal.
Ótimo pensei. Como se eu precisasse de alguém para me fazer sentir
culpada por chegar tarde.
Um momento de raiva começou a tomar conta de mim antes que eu
deixasse a culpa da minha noite com a Slate me revestir.
Suspirando, peguei os fios de cabelo que conseguiram escapar do rabo
de cavalo para prendê-los cuidadosamente atrás da minha orelha.
— Receio não ter dormido muito na noite passada.
— Hmm, — ele começou enquanto dava uma rápida inspeção no meu
rosto. — Não melhorou desde que você está conosco?
Eu ri. — Receio que não, doutor. Talvez seja apenas ficar longe de casa
por tanto tempo.
Uma enfermeira que eu via de vez em quando em minhas visitas
caminhou silenciosamente até o Dr. Thomas para lhe entregar uma
prancheta com o que presumi ser documentos médicos anexados.
Ao folhear as páginas para ler o que havia nos documentos, ele
murmurou uma resposta distraidamente.
— Na verdade, é muito provável que a sua falta de sono se deva às
grandes doses de feromônios alfa com que o seu corpo tem sido
confrontado desde que está aqui sem completar o...
Antes que ele pudesse terminar sua declaração, ele parou. Ele sacudiu
a cabeça do documento que estivera lendo com um sorriso meio aberto.
— Feromônios alfa? — Eu perguntei.
— Ah, — ele estalou a língua no céu da boca antes de dar uma
pequena risada.
— Multitarefa nunca foi realmente meu forte.
Ele me deu um sorriso juvenil antes de continuar.
— O que eu quero dizer é que isso é esperado quando seu marido está
doente há tanto tempo. Eu imagino que você passou muitas noites sem
dormir durante a doença dele.
Ele ofereceu um sorriso mais compassivo e conhecedor com sua nova
explicação.
— Claro, de jeito nenhum eu teria sido capaz de impedi-lo de vir te
encontrar já que ele está em melhor forma esta manhã,
O Dr. Thomas continuou a caminhar pelos corredores do hospital em
direção ao quarto de Mark.
Meus pés hesitaram e ele se virou para mim depois de dar alguns
passos à frente. Qualquer raiva que estava crescendo havia desaparecido
completamente com suas palavras.
— O que você quer dizer? — A culpa começou a rastejar mais uma vez.
O Dr. Thomas colocou a mão em meu ombro.
— Ele está bem, Brooke. Ele acabou de ter uma reação adversa a um
dos tratamentos que recebeu. Ele está muito melhor esta manhã. Tanto
que, podemos até deixá-lo se juntar a nós no salão para o jantar.
Ele me deu uma piscadela enquanto abria a porta do quarto de Mark
e, em seguida, gentilmente me conduzia para dentro.
Mark estava sentado em sua cama quando entramos. Ele sorriu para
mim de onde estava sentado, e uma onda de alívio tomou conta de mim.
— Mark, — eu chamei enquanto ia para o seu lado.
Eu joguei meus braços em volta do meu pescoço tentando abraçá-lo o
máximo que pude, sem colocar muito do meu peso sobre ele.
Ele acariciou afetuosamente meu braço antes de me afastar dele.
— Aqui está a minha garota.
Ele se virou para olhar ao meu redor antes de me lançar um olhar
confuso. — Onde estão os meninos?
— Eu... — Eu mordi meu lábio. — Eu não tinha certeza se você estaria
pronto para isso quando você não apareceu na noite passada. Eu pensei
que talvez...
Eu podia sentir minha garganta começar a se fechar.
— Ei, — ele sussurrou enquanto segurava minha mão. — Tudo bem.
Observei nossas duas mãos em volta uma da outra por um breve
momento, e isso trouxe uma dor.
Aqui estava meu melhor amigo, mas cada toque entre nós só tinha
acentuado nosso relacionamento dessa forma.
Não havia paixão que impulsionasse nossas ações há um bom tempo.
Como eu sentia falta daqueles dias...
Não me preocupei em erguer os olhos quando falei com ele.
— O Dr. Thomas disse que você poderia vir jantar esta noite. Talvez
possamos tentar ir para os jardins novamente, — eu ofereci.
O Dr. Thomas pigarreou. — Eu disse claramente que ele poderia se
juntar a nós no salão, — ele interrompeu.
— Não tenho certeza se entendi a diferença, — eu reclamei.
Os dois homens trocaram um olhar.
— Com as temperaturas mais frias à noite, o Dr. Thomas disse que
não é uma boa ideia jantar sob as estrelas.
Eu puxei minha mão da dele.
— Brooke, é apenas prevenção. Para garantir que meu sistema
imunológico não seja comprometido.
— Eu entendo, — sorri para ele. — Era só uma ideia.
Deixei o pensamento de lado e fui para a cadeira que sempre ocupava
quando fazia companhia a Mark.
— Como está sua mordida?
Olhando para seu ombro, ele riu. — Receio que um pouco
infeccionada. Thomas enfaixou bem para ajudar a mantê-la seca e limpa.
Ele colocou a mão sobre a bandagem e fez uma careta.
— Eu sinto muito pela noite passada, Brooke. Eu queria ir, acredite em
mim.
Tentei amenizar a situação.
— Não foi nada. Eu entendo que você não pôde ir.
Mark me observou atentamente e me senti contorcendo-me na
cadeira.
— Eu pedi a Slate para te fazer companhia. Eu esperava que ele
pudesse explicar as coisas...
Com a menção do nome de Slate, o Dr. Thomas saiu pela porta.
Eu fiz uma careta. — Você pediu a Slate para me encontrar em um
jantar romântico?
Quando me ouvi pronunciar essas palavras, soou ridículo aos meus
próprios ouvidos.
Ele soltou uma risada nervosa. — Eu acho que sim, — disse ele
calmamente.
— Não importa. — Tentei sorrir para ele. Obviamente, ele não pensou
no que estava pedindo que Slate fizesse.
— Importa sim, Brooke. Eu quero que você seja feliz.
Meu sorriso falso se desfez completamente. — O que você está
dizendo, Mark?
Ele encolheu os ombros. — E tão ruim ser desejada por um homem
digno de você?
A culpa só fez minha raiva ganhar vida.
— Você. Mark— você é aquele que deveria estar me desejando. Você é
meu marido. Por que você pensaria que estaria tudo bem se outro
homem desejasse sua esposa?
A confusão que embaçou meu cérebro me deixou ainda mais agitada.
— Brooke, — ele falou suavemente. — Eu vou te desejar até o meu
último suspiro. Mas é hora de começar a pensar sobre sua própria vida,
para quando meu último suspiro chegar.
Meu queixo caiu.
— Slate é um bom homem.
— Pare! — Falei mais alto do que pretendia. O Dr. Thomas não estava
mais no quarto, mas de alguma forma senti que até ele me ouviu.
— Não vamos ter essa conversa, — eu disse, não acreditando no que
estava ouvindo.
— Tudo bem, — ele comprometeu. — Mas apenas pense no que estou
tentando dizer a você, está bem?
Eu olhei para ele. Seu rosto estava pálido onde, minutos antes, uma
bela cor de pêssego o tomava vivo. Eu refleti sobre suas palavras.
— Você ainda está morrendo, — eu disse.
Os lábios de Mark se contraíram em um sorriso dolorido. — Receio
que sim.
Ele deixou seu olhar se mover para a janela para olhar para fora.
— O Dr. Thomas está fazendo o possível para me deixar confortável.
Receio que seja o máximo que ele pode oferecer.
Eu me levantei bruscamente. — E a cura?
Mark balançou a cabeça, seu olhar permaneceu fixo no que havia além
da janela.
— Não vai funcionar, Brooke. O preço é muito alto.
— Eu não dou a mínima para o preço. Vamos encontrar uma maneira.
Quanto eles
querem? Podemos conversar com nossos pais, começar uma coleta de
doações—tudo o que tivermos que fazer...
Mark suspirou e esfregou o rosto com a mão.
— Não é assim. Ela vem com dor. Acredite em mim quando digo que
viver com essas coisas não é uma vida que eu quero. Acredite em mim... se
houvesse uma cura que me permitisse passar o resto dos meus anos
naturais com você e os meninos, eu tomaria em um piscar de olhos. Mas,
o que você acha que é uma cura é mais como uma maldição.
Seus olhos imploraram para que eu entendesse.
— Eu teria que passar meus dias em sofrimento eterno, e sem você e
os meninos. E melhor assim. Por favor, confie em mim, Brooke.
— Então, agora estamos de volta à estaca zero...
A tristeza rasgou meu intestino.
— Receio que sim, — respondeu ele. — Mas, ei, pelo menos eu tenho
mais alguns dias verdadeiramente bons com você e os meninos.
Seu sorriso encheu seu rosto, mas não conseguiu mascarar a tristeza
em seus olhos.
Tentei entender o que ele queria dizer e coloquei de volta a máscara
que estava usando há dois anos.
A máscara que usava para que seus últimos dias conosco fossem
felizes e sem confrontos.
Minhas feições voltaram a funcionar como se tomaram tão familiares
durante sua doença.
— Então, o que você gostaria de fazer?
Passamos as horas seguintes conversando sobre as aventuras que ele
queria ter conosco como família.
Rimos enquanto ele falava sobre escalar a montanha até a grande casa
no cume, só para ver como era aquele lugar de perto.
Rimos até chorar quando falamos das travessuras de Hayden e Aaron
e das aventuras que eles nos proporcionaram apenas por sermos seus
pais.
Rimos, mas foi uma encenação, um meio de proporcionar um
conforto que nenhum de nós realmente sentia.
Meu melhor amigo estava tentando me deixar ir, para me poupar da
agonia de perdê-lo.
Eu entendia isso agora, mas ainda doía como o inferno.
Capítulo 20
BROOKE

Quando saí do hospital, estava ainda mais exausta do que quando


cheguei.
No meu caminho de volta para a mansão, liguei para Carter e pedi um
favor.
Perguntei se ele se importaria de ficar com os meninos por mais
algumas horas para que eu pudesse descansar um pouco.
Não foi surpresa que ele disse sim, e com bastante ansiedade.
Parece que nossos filhos estavam planejando algo enquanto
arrastavam sacos de dormir e lanches para o forte que era seu ponto de
encontro favorito.
Quando comecei a me deitar, o telefone tocou. Pensando que era
Carter, eu atendi.
— Brooke?
Por dentro eu resmunguei. — Olá, Sra. Marlin.
Tentei esconder o máximo de decepção em minha voz.
— Brooke! Quantas vezes já fizemos isso? Me chame de Dana.
— Desculpe, velhos hábitos são difíceis de esquecer. — Eu me apoiei
ligeiramente na esperança de não adormecer.
Tentar manter meu tom leve não foi fácil.
A mulher sempre parecia saber quando eu estava mentindo, quando
eu estava doente e até mesmo quando eu estava grávida.
Ela sabia antes de mim todas as vezes.
Esconder algo pelo telefone nunca foi fácil, mas era ainda pior
pessoalmente.
— Como você está, querida? Você está se acomodando bem?
Fiquei tocada pela preocupação genuína em sua voz. Com tudo o que
estava acontecendo, quase me fez chorar.
Admito que ouvi-la perguntar se eu estava me acomodando me atingiu
em cheio.
Parecia mais algo que alguém perguntaria depois de comprar uma
casa nova, em vez de ser um hóspede.
Eu não estava planejando me estabelecer aqui.
Isto era temporário.
— Estamos bem, — eu esperava ser capaz de manter o tom sombrio
longe da minha voz.
Passar a tarde com Mark enquanto relembrávamos e planejávamos
nossos próximos dias foi ótimo, mas definitivamente me deixou
melancólica.
— Esperamos que Mark esteja bem o suficiente para voltar para casa
em alguns dias.
Eu coloquei muito pensamento positivo por trás dessas palavras,
quase desejando que existissem.
Com essas palavras veio um pequeno alívio da dor, mas apenas um
pouco.
Eu estava segurando-as no momento como se fossem um salva-vidas
para uma mulher que está se afogando.
— Voltar para casa em alguns dias? Tem certeza de que isso é
prudente?
Minha garganta travou quando uma dor começou a crescer. — Você
sabe, não sabe?
O silêncio tomou conta do outro lado da linha. Suspirei, sentindo a
emoção começando a subir abaixo da superfície.
— Talvez seja hora de voltar para casa. Estar perto da família.
Houve uma longa pausa do outro lado da linha antes que ela
respondesse. — Tem certeza de que é isso que ele quer?
Ela estava começando a soar como eu.
— E-eu não tenho certeza do que ele quer. Em um minuto ele parece
muito melhor, como se ele pudesse correr uma maratona. No próximo...
Deixei o resto das palavras no ar.
— Brooke, A... ahh—o Sr. Serevolk é um bom homem. Ele vai se
certificar de que você e as crianças sejam bem cuidados e que Mark
receba o melhor tratamento disponível.
O que mais me impressionou foi como ela estava conformada com
tudo isso.
Aqui estava sua mãe, me consolando e tentando fazer com que eu me
sentisse melhor. Certamente isso devia estar afetando-a profundamente.
— Sinto muito, Dana. Eu sei que isso não é fácil para você.
— Não é fácil para nenhum de nós, incluindo Mark. Ele te ama...
nunca se esqueça disso. As coisas que ele faz são para você e para os
meninos. Sempre foi assim.
Senti uma lágrima escorrer pelo meu rosto com suas palavras.
Embora parecesse que havia algo em suas palavras que implicava
muito mais, ainda me deu grande conforto ouvi-las. Eu poderia descobrir
seu significado mais tarde.
— Eu sei, — eu disse suavemente ao telefone. Foi quando me dei
conta.
— Você conhece essas pessoas?
Sr. Serevolk era o nome que eu havia lido no jornal local. Estávamos
do outro lado do país, e ela conhecia esse nome.
Outra pausa na linha durou mais tempo do que deveria. Finalmente,
ela respondeu com um suspiro pesado.
— Temos parentes por aí. Eu suspeito que é por isso que Mark queria
te levar até o local... para conhecê-los.
O quarto começou a girar ao meu redor.
Mark queria fazer essa viagem. Não foi por acaso que acabamos aqui.
Embora a viagem tivesse sido ideia minha, ele traçou o curso.
Era a sua lista de desejos que estávamos tentando cumprir, então eu o
deixei assumir o controle, controlar para onde íamos.
E ele insistiu em dirigir no dia em que encontramos este lugar.
Eu deveria ter percebido muito antes. Mark conhecia Slate.
Ele pretendia pegar aquela estrada para o meio do nada.
Nunca estivemos realmente perdidos.
Não me lembro do final da conversa, ou até mesmo se houve algo
mais do que eu desligando após suas últimas palavras.
Meus olhos fecharam com força contra os pensamentos que
invadiram minha mente, e o sono se apoderou de mim.
Era mais fácil do que tentar imaginar por que Mark nos arrastaria até
a metade do país para acabar aqui.
Mais fácil do que tentar descobrir quem era o Sr. Serevolk, quem eram
os parentes de Mark entre eles e por que razão eles estavam tão dispostos
a aceitar nossa presença aqui.
Capítulo 21
SLATE

Os limites de nossas terras se estendiam amplamente e longe.


A paisagem das árvores transformava-se em lagos e espalhava-se por
montanhas que nunca deixaram de fazer o meu corpo vibrar.
Consolo podia ser encontrado aqui, rodeado pela natureza, e era uma
pena que toda a humanidade não pudesse sentir o mesmo.
Meus olhos ficaram prateados enquanto eu olhava para as bordas,
deixando meus sentidos aguçarem bem além do rastreador mais bem
treinado.
Cada terminação nervosa do meu corpo sentia algo estranho, mas era
difícil identificar exatamente o porquê.
Havia algo errado, e eu sabia que tinha algo a ver com aquela besta e
seus companheiros de matilha que chegaram na mesma noite que
Brooke.
Alfa Gretchen e os outros com ela estavam escondendo algo, e eu
esperava descobrir o que era antes de expulsá-los de minhas terras esta
noite.
— Não estou gostando disso, — Alfa Jackson disse enquanto se
aproximava de mim. — Eu não consigo pegar um traço do cheiro do
selvagem. Você consegue?
Ele se virou para olhar para mim, seus lábios se curvaram com dúvida
e inquietação.
— Sim, mas o cheiro não é totalmente de um selvagem. É no mínimo
estranho.
Jackson ficou olhando à distância enquanto eu mesmo examinava
cada galho e arbusto diante de mim.
Eu podia senti-lo perto de mim enquanto ele se virava para me olhar.
Calmamente, ele perguntou: — E ela quem está consumindo sua
energia? Você conheceu sua companheira?
Não era surpresa que ele sentisse o cheiro de Brooke em mim. Depois
que ela foi embora ontem à noite, descobri que não conseguia tirar o
cheiro dela de mim.
No entanto, quando ele a mencionou, fiquei agitado.
Rosnei baixo, meu lobo ainda perto da superfície enquanto eu
confiava em seus sentidos.
Mesmo sendo meu amigo e aliado, era um assunto delicado para mim.
Jackson riu baixinho da minha resposta primitiva. — As mulheres
podem fazer isso com um homem.
— Ela não é qualquer mulher, ela é minha yamala jyoti, — eu rosnei
entre lábios cerrados.
E melhor deixar essa conversa entre Jackson e eu.
Jackson respirou fundo. Um minuto se passou.
— Você ainda tem que marcá-la, — afirmou ele.
Suspirando, deixei minha cabeça cair para trás. — Existem—
circunstâncias que devem ser atendidas antes que eu possa reivindicá-la.
Jackson acenou com a cabeça em compreensão, embora eu duvide que
ele realmente entendesse.
Ele tinha encontrado sua companheira muitas luas atrás... uma
companheira lobo.
Ele não teria a menor ideia da turbulência em que minha vida havia se
tomado desde que Brooke entrou nela.
Jackson não entenderia as complicações de uma companheira
humana.
Com uma careta, ele apertou suavemente meu ombro. — Se eu puder
fazer alguma coisa...
Ele deixou a frase derivar no pensamento.
Eu estava grato por sua oferta, embora soubesse que seria apenas isso.
Eu balancei minha cabeça suavemente, reconhecendo o fato.
— Alfa? — Jackson e eu nos voltamos para Sian. — Encontrei duas
rotas logo depois do rio.
Havia um arbusto turbulento ao longo da margem do rio que observei
anteriormente e estava bem ciente do que isso significava.
— Envie os exploradores para as cavernas ao norte. Mande-os reportar
o que encontrarem, mas não permita que eles se envolvam.
Sian acenou brevemente e se virou para dar a ordem.
— Você sabia, — disse Jackson. Eu apenas balancei a cabeça.
— Eu deveria ter imaginado que você sabia. Você estava testando seus
rastreadores, — ele riu enquanto balançava a cabeça.
Meu lábio se curvou em um sorriso satisfeito. Esses homens eram os
melhores. Eles tinham que ser.
As matilhas no continente norte-americano confiavam neles para
serem os melhores dos melhores.
Se alguma coisa acontecesse comigo, eu contaria com meus homens
para continuar protegendo a matilha e todas as matilhas em todo o país.
Para tanto, não poderia haver espaço para erros. — Alfa, — Carter me
chamou enquanto caminhava para ficar ao meu lado.
Quando ele olhou para Jackson incisivamente, mas respeitosamente,
Jackson acenou com a cabeça e foi embora.
Tanto Carter quanto Sian eram, por direito próprio, alfas.
Eles, junto com alguns outros que serviam sob minhas ordens,
receberam distritos nos Estados Unidos para supervisionar.
Assim, eles eram classificados um pouco acima dos alfas que
comandavam matilhas nesses distritos.
Poucos alfas se atreveriam a desafiá-los, mas menos ainda escolheriam
desafiar Carter.
Esperando, observei enquanto Carter tentava colocar em palavras o
que queria dizer. Ouvindo seus pensamentos, eu o observei franzir a
testa antes de retribuir.
— Não se intrometa, Carter.
Eu me virei para ir embora. As cavernas ficavam a apenas duas horas
daqui, na minha forma de lobo.
— Espere, me escute, — ele gritou nas minhas costas. Parei, mas não
me virei para ele. — Ela estará lá esta noite. Pode ser um bom momento
para...
Eu me virei para ele.
— Para o quê? Para pedir a ela para deixar o marido? Para marcá-la ali
enquanto a sobremesa está sendo servida? Ou assistir sua devoção
inabalável a ele enquanto isso me dilacera por dentro? Qual opção,
Carter?
As palavras saíram de mim enquanto tremores percorriam meu corpo.
Meu lobo não queria nada mais do que marcá-la, sentir seu corpo sob
o meu enquanto eu reivindicava cada parte dela.
Pensamentos de levar o seu prazer a cada clímax aumentavam em
mim à medida que engrossava o meu eixo.
O homem entendia minha maldição, mas também sabia onde meu
coração estava.
— Apenas fale com ela. Quando vocês dois conversam sem aviso
prévio, ela se toma radiante. Nenhum de vocês percebe os outros na sala
até que ela seja lembrada de seu dever. Ela não é imune a você.
Por vários momentos, eu o encarei.
O lobo no interior havia se decidido, mesmo que o homem lutasse
contra as circunstâncias. Os exploradores teriam um relatório até o fim
do jantar.
Até então, nada me impedia de estar na companhia de minha Jyoti.
Eu deixei meu olhar deslizar mais uma vez para trás de mim na
direção das cavernas. Meus homens eram altamente treinados e eu
confiava neles.
Então, o que me impedia de seguir meu instinto?
A rejeição de minha companheira.
Eu resmunguei quando comecei a andar. Desta vez, afastei-me das
cavernas e fui em direção à mansão.
Era hora de ver se ela realmente me rejeitaria.
Capítulo 22
BROOKE

O sol estava se pondo quando abri meus olhos. Minha cabeça estava
começando a doer quando me sentei na cama.
As crianças ainda não tinham chegado em casa, mas suspeitei que
logo estariam aqui.
Alcançando o telefone, vi que havia uma mensagem esperando por
mim.
Oi, Brooke. As crianças queriam montar uma barraca no quintal e assar
marshmallows em uma fogueira. Tudo bem se eles passarem a noite aqui?
Junto com a mensagem, ele enviou uma foto dos dois meninos e seus
amigos, todos com olhares suplicantes em seus rostos.
Oh, o homem era bom! Ele sabia exatamente como conseguir o que
queria de mim.
Eu não respondi imediatamente.
Parecia tão estranho que estivéssemos aqui há pouco tempo e, no
entanto, tantas coisas já tivessem acontecido.
Ambos os meninos tinham amigos e estavam dormindo na casa deles.
Mark estava no hospital e parecia muito melhor do que nos últimos
meses de sua doença.
Eu quase cheguei a trair o meu marido.
Descobri que ele tem uma rotina secreta, e que foi atacado por um
cão.
Quero dizer, a vida de quem mais pode acabar assim?
Arrastando-me para o banheiro, me movi com propósito até a pia para
jogar água em meu rosto.
Quando me olhei no espelho, fiquei surpresa com o que vi.
Já se passou muito tempo desde a última vez que realmente olhei para
mim mesma e avaliei o preço que minha vida cobrou de mim. Mark não
estava errado em sua avaliação outro dia.
Meu cabelo, olhos e pele ainda pareciam opacos, na minha opinião.
Beliscando minhas bochechas, tentei colocar um pouco de cor de
volta no meu rosto.
Em vez de parecer corada, parecia mais como se tivesse levado um
tapa.
Ótimo! Não há como disfarçar minha imagem lamentável esta noite.
Decidindo não me preocupar muito com minha aparência, escovei
meu cabelo para trás, coloquei um elástico para prendê-lo, e não me
preocupei com meu rosto mais do que já tinha feito.
Antes de tentar encontrar algo para vestir, enviei uma mensagem para
Carter.
Embora eu gostaria de poder dizer a você que sua tentativa de
conseguir o que quer foi um fracasso, eu não posso! Você jogou baixo!
Eu adicionei um rosto sorridente no final por hábito e apertei o botão
enviar.
Então, antes que ele tivesse a chance de responder, enviei outra
mensagem.
É claro que eles podem ficar! Obrigada por cuidarem deles. Não sei o
que teria feito sem vocês!
Toe, toe
O barulho me assustou e quase dei um pulo.
Quando segui em direção à porta, ouvi uma pequena tosse. Antes de
abrir, eu sabia quem seria.
— Brooke. — Mark sorriu para mim do outro lado da soleira.
Eu lentamente caminhei até ele e passei meus braços em volta do seu
pescoço.
— Mark, — eu sussurrei em seu pescoço.
Parecia haver muito a dizer, mas eu estava contente em apenas deixá-
lo me abraçar no momento.
Ele passou os braços em volta de mim brevemente enquanto eu
enterrava minha cabeça em seu pescoço, inalando profundamente.
Foi quando percebi que havia algo diferente. Era sutil, mas estava lá.
Seu cheiro havia mudado.
Era difícil explicar, mas antes ele cheirava mal.
Mais ou menos como se o remédio que ele tinha que tomar vazasse
por todos os poros de seu corpo.
Isso e o aroma sutil de bergamota, com o qual ele costumava tomar
banho.
Agora, ele cheirava... diferente. Ainda havia um leve cheiro de sua
doença, mas parecia fraco agora.
O cheiro de bergamota ainda estava lá, mas parecia haver um novo
cheiro adicionado ao dele, como o de lavanda.
Estranho como eu percebi isso. Não era algo que eu andasse por aí
fazendo, cheirando pessoas.
Mas agora que percebi, achei difícil não analisar.
E o que me surpreendeu mais foi que eu me peguei comparando-o
com o perfume que era exclusivo de Slate.
Ficamos ali por apenas um breve momento, enquanto eu tentava
encontrar conforto em seus braços.
No entanto, como tinha sido o padrão nos últimos dias, ele me beijou
suavemente contra minha têmpora e me afastou.
Suspirei quando ele deu um passo para trás para olhar para mim.
— Então, pronta para o jantar? — Ele estendeu o braço para mim e eu
resmunguei.
— Jantar, — eu disse, passando minhas mãos rudemente pelo meu
rosto e, em seguida, deslizando-as sobre meu cabelo bagunçado.
— Eu não posso, estou um desastre. Além disso, eu realmente não
estou disposta a jogar conversa fora esta noite. Não podemos jantar aqui
em cima, no meu quarto? O Dr. Thomas não disse nada sobre estar
dentro de casa no meu quarto.
Então, outro pensamento me ocorreu.
— Ou talvez possamos apenas fazer as malas e ir jantar na cidade.
Então poderíamos nos hospedar em um hotel para passar a noite e
começar a dirigir de volta...
Mark estava balançando a cabeça. — Não podemos fazer isso e acho
que, no fundo, você sabe que não podemos.
— Por quê? Por que não podemos?
Eu estava apertando meus punhos fechados.
— O que há aqui para não podermos voltar para casa? Podemos até
pegar um avião de volta... fazer meus pais virem nos buscar no aeroporto
— alguma coisa. —Qualquer coisa.
Segurando meus punhos em suas mãos, ele sorriu com tristeza para
mim.
— Neste momento, é aqui que devemos estar. Para o bem ou para o
mal, precisamos ficar aqui mais um pouco, pelo menos.
Meu rosto desabou.
— O que você não está me dizendo, Mark?
Eu observei seu rosto, na esperança de encontrar minhas respostas.
Ele olhou para minhas mãos enquanto esfregava o polegar sobre elas.
O que quer que fosse, ele não estava pronto para me dizer.
— Em breve, Brooke. Hoje à noite, vamos apenas aproveitar um jantar
juntos.
Ele sorriu, mas não havia alegria ali.
— É difícil aproveitar um jantar juntos quando não estamos sozinhos,
— reclamei enquanto franzia a testa e olhava para baixo, onde ele ainda
segurava minhas mãos.
— Ei!
Ele pegou meu queixo com o dedo indicador e o ergueu para
encontrar seu olhar.
— Desde quando você não está pronta para um desafio? Você sempre
foi a destemida, aquela que sempre leva as coisas na esportiva e tira o
máximo proveito de tudo. Por que não agora?
Eu resmunguei. — Por que isso é tão importante para você?
Ele alisou minha bochecha com a mão.
— Essas pessoas nos deram um lugar para ficar, comida, cuidados
médicos, tudo sem nenhum custo. Sem motivo. Eles cuidam de nossos
filhos.
Sua mão deslizou pelo meu pescoço para parar no meu ombro.
— Seria rude da nossa parte não aceitar o convite para jantar. E o
mínimo que podemos fazer para mostrar gratidão por seus esforços.
Meus ombros caíram e eu resmunguei enquanto jogava minha cabeça
para trás.
— Jogando pesado e me dizendo para agir como uma mulher adulta!
Por que você está sendo tão lógico de repente?
Ele riu e encolheu os ombros. — Alguém tem que fazer isso!
Afastando-me dele, dei-lhe um pequeno soco brincalhão no braço. —
Está bem!
Embora tenha saído mais como uma reclamação, eu ainda sorria. Eu
me virei para o guarda-roupa antes de continuar a falar.
— Mas não pense que você pode me convencer para mais nada!
Olhando para as roupas que trouxemos conosco em nossa viagem,
não havia muitos itens lá que parecessem propriamente adequados para
um jantar de adultos.
Eu franzi a testa até notar uma mala de roupas escondida no canto
direito. Abrindo o zíper, recuperei o fôlego.
Havia alguns vestidos, camisas sociais, saias, calças e outras seleções
mais íntimas lá.
O que foi ainda mais surpreendente é que eram todos do meu
tamanho.
— De onde diabos vieram essas coisas?
Mark encolheu os ombros, mas parecia haver um sorriso malicioso em
seu rosto que sugeria que ele sabia.
— Encontrou alguma coisa interessante?
— Você fez isso? — Eu me virei para olhar para ele, com a suspeita
escrita em meu rosto.
Ele ergueu as mãos à sua frente.
— Não, senhora! Há muito tempo aprendi a não comprar roupas para
você!
Revirando os olhos, puxei o zíper da mala.
Eu poderia aceitar a hospitalidade dessas pessoas, mas não tinha
certeza se poderia aceitar que me vestissem também.
Alguns desses itens eram... bem, muito reveladores.
— Tanto faz. Eles terão que lidar comigo usando minhas roupas
casuais. — Eu sorri. — Vamos lá.
Peguei uma calça confortável e uma camisa de botões.
Olhando para ele, percebi o que ele estava vestindo. Eu inspecionei de
perto.
— Eu suponho que você não precise de nada, não é? Quem escolheu
para você tem bom gosto. Você está muito bonito.
Não tenho certeza se eram as roupas ou não, mas certamente havia
algo diferente em Mark.
As roupas caíam bem nele e permitiam que seu físico jogasse contra o
tecido.
A fisioterapia fazia parte de sua rotina? Talvez eu simplesmente não
tivesse prestado muita atenção ultimamente ao que estava lá o tempo
todo.
Uma leve cor subiu para suas bochechas. — Aww, obrigado.
Já fazia tanto tempo que eu não o elogiava?
Tendo encontrado algo que parecia apresentável, caminhei em
direção ao banheiro.
— Os mesmos convidados da última vez?
Eu estava determinada a ter uma boa noite com Mark.
O que quer que estivesse pendurado entre nós, eventualmente seria
resolvido, mas não está noite.
Era justo eu dar isso a ele depois que ele ficou acamado pelos últimos
dias.
Mark encolheu os ombros. — Eu honestamente não tenho ideia. Eu
presumo que sim. Quando passei por lá, há alguns minutos, não havia
ninguém por perto.
Fechando a porta entre nós, me vesti rapidamente.
Tomou-se um hábito não me despir na frente de Mark desde sua
doença. Eu não comprava mais lingerie sexy, ou qualquer coisa sexy em
geral.
Calça jeans e camiseta eram o uso diário para mim, e eu só tendia a
me amimar um pouco para o trabalho.
Não que eu não tenha gostado da expressão em seu rosto quando eu
costumava usar esse tipo de roupa, mas foi o que ele me disse da última
vez que usei algo revelador.
Brooke, você está me matando!
Embora ele tivesse dito isso com um sorriso e na intenção de ser um
comentário provocador, o olhar pálido e tenso em seu rosto foi o
suficiente para me impedir de tentar novamente.
Assim que puxei a camisa pela cabeça, voltei a conversar com ele.
— Talvez tenhamos sorte e sejamos apenas nós, — sorri com o
pensamento.
Sem chance, mas uma garota pode ter esperança. Já fazia muito tempo
que não tínhamos uma noite sozinhos.
— Bela ideia, mas sem chance.
Isso é exatamente o que eu havia pensado. Comecei a enfiar minhas
pernas nas calças.
— O médico mencionou que podemos ter algum tipo de baile aqui em
algumas semanas.
Dando um pequeno salto, puxei o topo da minha calça para colocá-la
sobre meus quadris. Eu fiz uma careta com o comentário de Mark.
— Um baile?
Sério? Não era para adolescentes, debutantes e pessoas ricas que
estavam entediadas com suas vidas?
E por que ele disse podemos?
— Sim, parece que viemos na hora certa para curtir as festividades.
Eles fazem um baile de outono todos os anos.
Fiz uma pausa, com minha mão no zíper da minha calça.
Ele disse algumas semanas, certo? Mesmo agora, ele ainda parecia
muito melhor do que antes.
Parte de mim gostaria de poder convencê-lo a voltar para casa agora,
mas já vi como ele reagiu a isso.
— Hum, Mark? Quanto tempo você acha que ficaremos aqui?
A pausa se estendeu por mais tempo do que me deixava confortável.
Puxando o zíper com uma mão, abri a porta que nos separava com a
outra.
Seu rosto estava pensativo e ele enfiou as mãos nos bolsos da calça.
Com os olhos fixos em algum ponto do chão aos meus pés, ele
finalmente respondeu.
— Não posso responder a isso, Brooke. Eu simplesmente não sei, mas
ir embora agora não é uma opção.
Suas palavras foram quase sussurradas, mas eu sabia o que tinha
ouvido.
— Nós sempre temos...
— Além disso, — ele animou-se um pouco, interrompendo-me no
processo. Ele sabia o que eu estava prestes a dizer, mas claramente não
estava com humor para explicar.
— Enquanto eu ainda preciso ficar na clínica, o médico disse que eles
estão preparando uma das casas vazias da propriedade para você e as
crianças.
Foi quando ele finalmente olhou para mim.
— Eu contei a ele sobre seu amor por ervas frescas e árvores frutíferas,
e eles disseram que este lugar tem de tudo. Uma estufa, um jardim de
ervas, flores, árvores frutíferas, uma piscina nos fundos, um parquinho...
— Quando eles vão liberar você?
Engraçado como ele apenas tentou apressar essas palavras, quase
enterrando-as em um ataque de características que eu poderia amar na
casa.
Ele se encolheu. Claramente, ele esperava que eu não tivesse notado.
— Eu não sei ainda. Pelo menos, posso ir à mansão e jantar com você
todas as noites. Quer dizer, eu acho que posso. Quando eu conseguir.
Ele sorriu; aquele sorriso bobo que me disse que ele não tinha certeza,
mas faria acontecer se estivesse ao seu alcance.
Por um momento, ele deixou seu olhar vagar por mim.
— Você está linda, Brooke. — O sorriso jovial cresceu ainda mais. —
Claro, você sempre está.
Estendendo o cotovelo em minha direção, ele se virou ligeiramente.
— Vamos?
Havia uma turbulência interna acontecendo dentro dele, e eu não
tinha dúvidas de que era sobre nossa conversa no hospital.
Quem era eu para tentar forçá-lo a me dizer o que estava
acontecendo? Por enquanto, eu só queria desfrutar de sua companhia.
Forçando um sorriso no rosto, deslizei minha mão na dobra de seu
cotovelo.
Embora eu não tenha dito nada enquanto descíamos as escadas para o
salão, tentei manter as coisas leves com pequenos murmúrios de
concordância e acenos de aprovação enquanto ele falava sobre como
seria ótimo para mim e para as crianças morarmos naquela casa
enquanto ele estava no hospital.
Quando chegamos ao final da escada, podíamos ouvir conversas
animadas, risos e aquela voz profunda de barítono que me causava
arrepios na espinha.
Em segundos, antes mesmo de entrarmos no salão, tudo parou.
Não falei mais, não rimos mais, e uma nova sensação começou a se
espalhar por mim.
Uma espécie de percepção louca e intensificada fazendo os cabelos da
minha nuca se arrepiarem.
Ou Mark estava muito alheio para notar, ainda tagarelando sobre a
cozinha que havia nesta casa, ou não achou estranho que a sala de jantar
tivesse ficado silenciosa.
A sala de jantar estava apenas um pouco mais cheia do que quando
comi aqui pela última vez, e os convidados estavam nos observando
quando entramos.
Meu pobre marido tinha que estar alheio, eu suponho.
Ele nos conduziu através das pessoas presentes e deu um sorriso e um
aceno de cabeça ao cumprimentá-las de passagem.
Ele parecia estar tranquilo com a coisa toda.
As pessoas foram educadas o suficiente, acenando em nossa direção.
Na minha cabeça, era quase como se eles estivessem nos olhando e
tentando resolver um enigma.
— Brooke, Mark! Estava me perguntando se vocês dois viriam. Estava
começando a pensar que talvez tivesse que ir buscá-los!
Bendito Carter! Ele era sempre tão amigável e bondoso. E educado.
Ele veio em nossa direção, plantando-se ao lado de Mark enquanto ele
apertava sua mão.
Ele começou a levantar a mão para apertar a minha também, mas me
afastei de Mark para dar um abraço no homem.
Ele e sua esposa eram tão gentis em cuidar de nossos filhos, ele se
preocupava com nosso conforto e não nos tratava como uma pintura de
museu ao chegar em um ambiente.
Suas sobrancelhas se ergueram em surpresa, e ele corou, em seguida,
empalideceu levemente. Eu não pensei, apenas agi.
— Desculpe, eu não queria passar dos limites. É que... você tem sido
tão bom para mim e minha família desde que chegamos aqui. Não
consigo explicar o que isso significa para mim... para nós. Obrigada.
Dando um passo para trás, esbarrei em algo duro nas minhas costas.
O calor instantaneamente cresceu dentro de mim.
Parecia o paraíso e o inferno ao mesmo tempo, queimando e fazendo
arder um caminho por todo o meu ser antes de me inundar com uma dor
intensa e avassaladora em meu núcleo.
Não havia dúvida de quem era, eu sabia pelo próprio cheiro que agora
pairava ao meu redor.
Meu marido tinha uma expressão de espanto no rosto, e Carter estava
com um meio sorriso.
Sem me virar, murmurei: — Boa noite, Slate.
Ele estava muito perto de mim e minha respiração tomou-se irregular.
Sentindo as mãos sob meus cotovelos, ele me virou suavemente em sua
direção.
— Boa noite, Jyoti.
Suas palavras foram ditas suavemente, como se apenas para meus
ouvidos.
Com mãos gentis, ele passou uma contra minha bochecha, tirando
meu cabelo do rosto, e então fez o mesmo com o outro lado do meu
rosto.
Deixando sua mão deslizar pelo braço que eu tinha ligado a Mark
alguns momentos antes, ele finalmente me levou para minha cadeira.
Era a mesma da última vez que jantei aqui, e ele a puxou para que eu
me sentasse.
Olhando para o meu marido, ele me deu um leve encolher de ombros
e sorriu. Então, eu me sentei. Depois de empurrar meu assento, Slate se
inclinou e sussurrou em meu ouvido. — Você está linda esta noite.
Suas mãos estavam em meus ombros e eu podia sentir o calor através
da minha camisa, sem mencionar a própria força delas.
Um flash de como seria a sensação delas contra minha pele nua
irrompeu em minha mente antes que eu pudesse reprimi-lo, e um
pequeno tremor percorreu meu corpo.
Seu toque era tão impressionante agora quanto era quando eu pensei
que era um sonho, e minha mente estava a mil para encontrar uma
maneira de escapar de sua tortura.
— Sabe, eu devia ter ido ao banheiro feminino antes de vir.
Com isso, me levantei o mais rápido que pude e fui direto para o
banheiro, deixando para trás algumas risadinhas e palavras sussurradas.
Capítulo 23
BROOKE

Do interior do banheiro, que era maior do que o banheiro principal


que eu tinha em casa, eu podia ouvir o volume das conversas
aumentando.
Minhas mãos estavam sob a torneira fria e observei a água fluir sobre
elas.
De vez em quando, eu colocava água em minhas mãos e as colocava
no rosto e no pescoço tentando saciar o calor que parecia rasgar meu
corpo com a proximidade do Slate.
Eu sabia que deveria colocar o homem em seu lugar.
Cada vez que eu tentava fazer exatamente isso, minha mente hesitava,
minha boca não funcionava direito e meu corpo agia como um cão no
cio.
Era frustrante demais, e parecia que Mark não iria interferir tão cedo.
Embora, verdade seja dita, não fosse o seu jeito. Sempre tivemos um
vínculo forte e confiamos um no outro.
Não que eu já tenha notado, mas Mark sempre disse que eu mandava
todas as mensagens certas para que os homens soubessem que eu não
estava interessada, que era um casamento feliz.
Então, por que não agora?
Não era como se eu estivesse escondendo meu casamento, mas Slate
nem mesmo reconhecia isso. Respirando fundo algumas vezes para me
acalmar, fechei os olhos e fechei a torneira. Eu deixei o ar entrar em meus
pulmões, enchendo-os ao máximo.
Então, após uma breve pausa, eu lentamente o soltei mais uma vez,
desejando que todos os músculos do meu corpo relaxassem.
Desejando que minha mente fosse coerente. Desejando que meu
corpo se alinhasse com minha cabeça.
Bem, era o melhor que eu iria conseguir.
Abri a porta e saí para o saguão antes de ir para a sala de jantar.
O volume das conversas baixou mais uma vez, mas pelo menos todos
continuaram a conversar.
Eu permiti que um sorriso se plantasse em meu rosto, determinada a
fazer melhor esta noite.
Se por nenhuma outra razão além de que Mark merecesse, eu seria
uma convidada melhor e me socializaria mais com o resto do grupo.
Aqueles que olhassem em minha direção, eu olharia direto nos olhos
com um sorriso estampado.
Fiquei aliviada quando percebi que eles olhariam para mim por alguns
segundos, sorririam de volta e depois olhariam para baixo.
Era engraçado, mas quase parecia que eles estavam acenando em
reconhecimento, embora eu não conseguisse entender o
reconhecimento do quê.
Por enquanto, eu estava contente em deixar as pequenas vitórias
melhorarem meu humor e o sorriso plantado se transformar em algo
mais autêntico.
Quando finalmente consegui chegar ao meu lugar, me senti corajosa e
ousada o suficiente para me virar para Slate.
O sorriso em seu rosto era quase angelical e me tirou o fôlego.
Uma mão no meu braço foi minha salvação de ser puxada para o
buraco negro que era Slate.
Estar perto dele era como um pescador lançando sua linha, e eu era o
peixe preso no anzol.
Sem muito esforço, parecia que ele era capaz de me envolver com uma
habilidade que faltava à maioria dos homens.
E meu marido queria que eu jantasse todas as noites neste lugar... com
este homem?
Por falar em maridos, o meu colocou a mão no meu braço e se
inclinou na minha direção.
— Você está bem?
Era hora de colocar aquele sorriso plantado de volta no meu rosto.
Outros olharam preocupados em nossa direção e eu prometi a mim
mesma que me sairia melhor perto de Slate e seus colegas.
Antes de responder, peguei o copo d’água na minha frente e bebi um
gole na esperança de poder reforçar minha resolução com seu conforto
frio.
Depois de colocar a água de volta na mesa, movi minhas mãos sobre
as dele e abri um grande sorriso.
— Claro. Está tudo ótimo.
Eu acariciei sua mão enquanto ele me cutucava com a lateral de seu
corpo. — Como estava a sopa? Estar no banheiro tinha suas
desvantagens. Senti falta dos aperitivos e quase perdi o segundo prato,
que era a sopa.
— Jambalaia. Mas não acredito que vá querer tomá-la. Está mais do
que um pouco apimentada.
Eu olhei para a tigela que ainda estava na minha frente e a empurrei
para longe de mim.
— Sim, boa escolha, — ele riu.
— Suponho que, enquanto eu tiver minha água, não seria tão ruim.
Meu copo já estava quase vazio. Eu realmente tinha acabado de beber
o copo inteiro?
Mark balançou a cabeça. — Não sei se você gostaria de desafiar o
destino.
Eu tentei o meu melhor para parecer ofendida, zombando da própria
ideia de que desafiaria o destino.
— Para sua informação, eu consigo comer comida apimentada.
Seu sorriso se espalhou por seu rosto antes que ele abaixasse o queixo
ligeiramente e erguesse as sobrancelhas para mim.
— E há quanto tempo nos conhecemos?
— Psh, como isso influencia em alguma coisa?
A essa altura, a equipe havia retomado para retirar as tigelas de sopa.
A minha deixou a mesa intocada. Observei enquanto era levada por
um momento, então voltei minha atenção para Mark.
— Acha que o próximo prato será apimentado também?
Ele encolheu os ombros, mas não tivemos de esperar muito.
— Não sei se é apimentado, mas com certeza parece bom.
O peixe que foi colocado à nossa frente tinha um cheiro divino.
— Me pergunto o que é, cheira muito bem, — falei baixo para Mark,
mas ele não foi o único a me responder.
— Linguado.
Os arrepios começaram. Pelo canto do olho, eu o vi inclinando-se um
pouco para mim.
Seu próprio cheiro se misturou ao do linguado, enquanto o dele era o
que mais agradava meus sentidos.
— Oh? Parece ótimo.
Era hora de assumir o meu papel de convidada social, sendo convidada
a palavra-chave.
Não adolescente hormonal ou vadia traidora — Chef Ramon faz o
melhor linguado picante. Você não encontrará ninguém que faça isso
melhor do que ele.
A mulher de olhos violetas, Celeste, estava sentada na minha frente.
Ela sorriu brilhantemente em minha direção, e havia uma pequena
parte de mim que estava grata por ela estar ali.
Ao meu lado, Mark começou a rir. — Você não tem um descanso!
Dei-lhe uma cutucada com o cotovelo, apenas um pouco mais forte
do que normalmente.
— Aí, — ele resmungou, esfregando o braço de brincadeira.
— Há algum problema? — Slate parecia um pouco preocupado. — Se
você não se importar, podemos arranjar outra coisa para você...
A preocupação nos olhos de Slate me deixou mais determinada a ser
uma convidada agradecida.
A mulher do outro lado riu, sua voz tilintando sobre as outras vozes.
— O Chef Ramon não ficará feliz com isso.
Slate franziu a testa. — Ele fará o que lhe for dito.
Ótimo. Não foi como eu planejei esta noite.
— Não, está tudo bem. — Eu fiz uma pequena careta. — Meu marido
está apenas tentando ser engraçado.
Todos ao redor da mesa já tinham começado a comer, exceto eu, Mark
e Slate. Sorrindo com coragem, peguei meu garfo.
Linguado picante... quão picante poderia realmente ser?
Eu estava prestes a descobrir quando peguei uma garfada bastante
generosa e corajosamente ou estupidamente enfiei o punhado em minha
boca.
— Hum, Brooke? Tem certeza de que foi uma boa ideia?
Mark conhecia minha intolerância a comidas realmente apimentadas,
mas não havia ninguém na mesa que parecesse ficar mal depois de
experimentar o peixe.
Se todos eles pudessem fazer isso, seria realmente tão ruim?
Então, eu dei um sorriso e encolhi os ombros quando os sabores
começaram a se espalhar pela minha língua.
Os sabores poderosos me atingiram, e ainda não parecia tão ruim.
Estava realmente muito saboroso, e eu estava gostando enquanto
mastigava minha comida lentamente, esperando os sabores picantes
começarem a aparecer.
Em pouco tempo, pude sentir que começava a queimar a minha
língua antes de pegar fogo e se espalhar pela minha boca.
Graças à minha miopia, só então me lembrei de que o copo de onde
eu estava bebendo estava quase vazio.
O restante quase inexistente no copo não foi suficiente para apagar o
fogo que estava começando a incomodar.
E quando comecei a olhar em volta em busca de algo mais para
engolir o peixe picante, não pude deixar de notar o sorriso malicioso de
meu marido.
O peixe ficou áspero enquanto eu tentava engolir através da
queimadura.
Outros estavam começando a perceber meu desconforto, e risadinhas
só estavam fazendo com que eu me sentisse pior com a minha decisão de
comer tanto de uma vez só.
Maldito orgulho! Eu me levantei, estimulando alguns outros a se
levantarem, enquanto abanava freneticamente minha boca.
O copo de meu marido estava quase cheio até a borda. Quando meus
olhos caíram sobre ele, meu marido começou a protestar.
— Não, Brooke, — ele avisou.
Seu aviso caiu em ouvidos surdos.
Pegando o copo, fiquei muito aliviada ao sentir a sensação gelada
contra a palma da minha mão e rezei para que proporcionasse o alívio
que eu precisava com todo aquele tempero.
O que eles estavam pensando? Isso era pimenta suficiente para criar
um dispositivo do apocalipse.
A carbonatação atingiu o fundo da minha garganta enquanto eu
jogava de volta o conteúdo do copo do meu marido.
Ótimo, refrigerante! Sim, eu sabia o que isso faria comigo.
No momento em que a carbonatação gelada atingisse minha boca,
não haveria como parar os goles até que o copo fosse drenado ou a
queimação acabasse.
Para meu horror, engoli tudo.
Colocando o copo na mesa com um pouco mais de força do que
pretendia, respirei fundo algumas vezes.
Talvez a carbonatação não—tudo bem, já estava começando.
As pequenas bolhas estavam escapando de seus limites pela boca do
estômago e subindo.
Meu esôfago começou a apertar e tentei desesperadamente manter
minha compostura.
— Brooke, você está bem?
Assim que a mão de Slate tocou meu braço, pude sentir todo o meu
corpo enrijecer, a eletricidade fazendo com que as bolhas ficassem mais
agitadas, se possível.
Virando-me para ele, tentei tranquilizá-lo. — Umm, sim. Estou...
E o que eu estava tentando conter não podia mais ser contido. Meu
peito inteiro roncou assim que o salão ficou em silêncio.
Céus, implorei ao homem acima para deixar o chão se abrir e me
engolir inteira.
Eu havia simplesmente arrotado na cara desse homem.
Um homem que as mulheres desmaiam, que os homens imitam e que
as crianças admiram.
E então, eu dei a ele um banho de... o quê? Linguado picante e coca!
Assim, o pensamento ganhou vida própria.
O pensamento de que eu acertei este homem no rosto com algo
equivalente a uma bomba de fedor fez cócegas em meu senso de humor
sem fim.
A risada estourou de dentro e se espalhou quando vi a confusão e
indecisão que estava estampada em seu rosto naquele momento.
Tudo somado para me colocar sob um adequado ataque de histeria.
Embora a maioria das risadas fosse contagiosa, apenas alguns acharam
tão engraçado quanto eu.
Mas nem isso pararia as gargalhadas que se espalharam enquanto eu
me abaixava para me segurar contra os joelhos, lutando para recuperar o
fôlego e ganhar o controle de mim mesma.
Embora fosse inútil. Cada vez que eu olhava para seu rosto, fazia a
risada crescer e transbordar novamente.
— Oh... Deus. — As palavras saíram hesitantes, entre gargalhadas.
Tentar recuperar o fôlego era impossível, embora eu continuasse
procurando o ar a qualquer momento. Quando bufei, meu
constrangimento e minha histeria aumentaram.
— Eu acho—que vou—fazer xixi—na calça.
Batendo minha mão com força contra o joelho, a ardência não
conseguiu nem me tirar da minha risada delirante.
Nossa, eu realmente acabei de falar sobre fazer xixi na minha própria
calça?
E por que isso tomava as coisas mais engraçadas?
Bendito seja o meu marido. Estávamos tão acostumados com os
costumes e personalidades um do outro que ele não conseguiu conter o
riso.
Eu podia ouvi-lo rindo alto enquanto me observava rir.
Infelizmente, não me ajudou a recuperar minha compostura.
Parecia que meus pulmões estavam batendo contra minha bexiga e a
sensação estava começando a se tomar terrível.
Por que exatamente eu não usei os recursos quando estava enfurnada no
banheiro?
Tentando me levantar, tive que me forçar a enfrentar o homem que eu
havia fornecido com uma bomba fedorenta de minha própria fabricação.
Entre risadas abafadas, tentei me desculpar por minha falta de
educação.
— Eu sinto muitíssimo. E que... seu... rosto.
As risadas continuaram e, para minha surpresa, outras pessoas
começaram a rir comigo. Embora eu ainda encontrasse humor em sua
expressão, fiquei aliviada quando o ouvi dar uma pequena risada.
— Eu só... eu só... é que foi tão... tão... engraçado!
Minha respiração engatou quando coloquei minha mão em seu peito.
E, sem mais nem menos, a risada ficou presa no meu esôfago.
Capítulo 24
BROOKE

Suas grandes mãos cobriram as minhas.


Minhas mãos estavam presas ali por alguma força própria, mantendo-
me nas suas garras em condições piores do que papel autocolante para
moscas.
Tentei respirar, meu cérebro precisava de oxigênio para pensar, mas
na melhor das hipóteses só consegui obter pequenos resquícios.
Meu corpo lutou contra mim, tirando todo o controle de mim.
Os olhos do homem eram uma tempestade enorme, pronta para ser
liberada a qualquer momento.
Em volta dos olhos cinza-aço, uma luz prateada parecia brilhar por
trás.
Olhando para eles, eu senti que estava olhando para mais do que
apenas o homem.
O que estava me encarando de volta não era inteiramente Slate. Um
mistério que esperava ser resolvido.
Meu sangue pulsava no ritmo do coração que batia contra minha
palma, sincronizando por conta própria.
Sua respiração soprou contra meu rosto enquanto ele abaixava a
cabeça em minha direção.
No fundo do meu cérebro, havia um alarme soando, mas parecia tão
distante. Como se talvez fosse algo que não era tão urgente no momento.
Talvez seja como apertar o botão de soneca do alarme por mais dez
minutos de sono.
De qualquer forma, o latejar do sangue em minhas veias nublou meu
julgamento, pois escondeu os alarmes em minha cabeça com sua
pulsação pesada.
Quando sua cabeça se abaixou, meu rosto se ergueu por vontade
própria.
Eu não era mais uma participante ativa, era uma refém assistindo
tudo se desenrolar na minha frente enquanto experimentava todas as
emoções que surgiam sobre mim.
Mas eu não era uma vítima, pois aproveitei cada emoção e sensação
que tomou conta de mim.
Seus lábios pressionaram suavemente contra os meus e eu gemi
contra eles.
A energia surgiu dentro de mim e aqueceu todo o meu ser em seu
calor. Fluía entre nós como se, juntos, completássemos o circuito.
Era maravilhoso e inebriante, e... aquele sinal de alerta soou
novamente, tentando chamar minha atenção com urgência.
Slate aprofundou o beijo, deixando sua língua deslizar delicadamente
na parte inferior do meu lábio antes de reivindicar minha boca como se
fosse algo a ser adorado.
Uma mão se afastou de seu aperto na minha enquanto agarrava
minha cintura e me puxava para mais perto dele.
Meu corpo queria se fundir com o dele, dobrar-se em cada canto e
recanto que era ele.
Esfregar seu cheiro em mim e me banhar em seus cuidados. Mas, o
que há com esse alarme na minha cabeça?
Palmas!
Não era um alarme. As pessoas estavam batendo palmas. E o que eles
estavam dizendo?
Espere, havia pessoas aqui. Quem?
Minha mente começou a funcionar, as engrenagens girando
lentamente enquanto Slate se esforçava para me fazer esquecer.
As palavras sussurradas foram ditas por perto, mas não alto o
suficiente.
O calor cresceu dentro de mim de luxúria e vergonha, e estava se
tomando insuportável. Sua boca se moveu contra a minha e eu congelei.
Cada músculo se acalmou e ele se afastou para que pudesse olhar para
mim.
— Brooke? — Suas palavras me acariciaram, implorando para que eu
fosse vítima de seu abraço mais uma vez.
As bordas prateadas de seus olhos estavam se espalhando para dentro,
quase a meio caminho de sua retina.
Um estrondo baixo veio de seu peito, e meu corpo se apertou com a
vibração disso.
Minha voz, baixa e frágil, finalmente saiu. — Mark?
Era suave, mas poderosa o suficiente para me fazer me afastar do
homem na minha frente.
Água fria e gelada não teria sido mais potente.
Eu me virei para longe de Slate, procurando ao meu redor
freneticamente por Mark. Não havia sinal dele.
— Mark? — Chamei de novo, mais alto.
Carter falou, seu rosto em conflito.
— Mark teve que ir, Brooke. Ele não estava... se sentindo muito bem.
Meu coração se partiu. É claro que ele não estava se sentindo bem.
Eu o traí... traí nosso casamento. Na frente dele.
Eu o desrespeitei completamente e a santidade de nossos votos.
Caminhando em direção à porta, deixei minha frustração e tormento
abastecer meus passos.
Slate tinha outros planos. Segurando meu braço, ele me interrompeu.
— Me solte! — Tentei puxar minha mão para longe dele, mas ele
segurou firme.
— Me solte! — Eu gritei enquanto me virava sobre ele, erguendo
minha mão no ar antes que eu pudesse pensar sobre o que estava
fazendo.
Minha mão o atingiu com força e rapidez no rosto.
Nunca bati em outro ser humano. Nunca havia sentido tanta emoção.
Este homem virou minha vida de cabeça para baixo, e não consegui
evitar que perdesse o controle.
Era como assistir a um trem desgovernado e não ter como impedi-lo.
O som da minha mão contra sua pele ecoou na sala de jantar.
Houve um silêncio que se seguiu por longos momentos enquanto ele
continuou a apertar meu braço em sua mão, sem tirar seu olhar vigilante
de meu rosto.
— Você vai querer descansar. — Ele acenou com a cabeça para alguém
atrás de mim, então voltou sua atenção para mim. — Temos muito o que
conversar.
Quando eu puxei meu braço para longe dele desta vez, ele me soltou.
Rapidamente, me afastei dele... de seu cheiro e seu calor. Ao seu
alcance, isso tomava conta de mim.
— Nós não temos nada para conversar. Eu preciso ver meu marido.
Eu me virei para longe dele e passei por aqueles que estavam lá.
Sian estava ao meu lado em um instante. Sem olhar para ele, me dirigi
a ele.
— Não, Sian. Nem tente. Não estou com humor para uma escolta até
um lugar que Slate considerou necessário para mim.
Depois disso, eu lancei a ele um olhar fulminante quando ele
estendeu a mão para tocar meu cotovelo.
— Se você realmente quer tentar, vá em frente. Mas nenhum de nós
vai sair ileso.
Eu estava pronta para defender meu direito de ir aonde eu quisesse.
Ele olhou por cima do ombro, tenho certeza de que estava tentando
algum tipo de autorização do homem que eu estava tentando deixar para
trás. Antes que ele pudesse, as portas da frente se abriram.
— Você!
A mulher ruiva estava fora de si e com raiva. Seu belo rosto estava
manchado com resquícios de lágrimas, os rastros delas claramente
delineados pela pouca maquiagem que ela usava.
— Você está fazendo isso com ele! Você está matando-o! Você está
matando meu companheiro, sua vad...
Antes que ela pudesse terminar sua última palavra, ela tinha... se
transformado.
Em um momento havia uma mulher magra e ruiva, no próximo havia
um... lobo ruivo?
Louco! Meu mundo estava louco!
A mulher havia se transformado diante dos meus olhos e rosnava
enquanto corria a toda velocidade em minha direção.
— Sian, leve-a para um local seguro! — Eu ouvi a voz, e sabia de quem
era, mas estava muito focada no impossível à minha frente.
A loba correu pelo chão de mármore, suas patas atravessando
facilmente a superfície lisa.
Quando ela estava prestes a pular, mais dois lobos pularam na minha
frente.
Um grande, bege, e um imenso lobo prateado luminescente.
Seu pelo quase brilhava como enfeites de prata de uma árvore de
Natal iluminada por luzes brancas. Eles pararam os passos da besta de
pele de cobre enquanto ela rosnava para eles, cada um dando a ela um
rosnado baixo que a alertava sobre os perigos de desafiá-los.
De onde diabos eles vieram? Oh, eu cansei!
— Estou farta dessa loucura-!
Minha vida havia se tomado uma loucura desde a nossa chegada.
Depois de descobrir que meu marido estava escondendo coisas de
mim para meus hormônios loucos, minha vida ficou completamente fora
de equilíbrio.
Nada mais fazia sentido.
Devo ter chocado a todos, pois ninguém se moveu. Dois dos lobos
pararam de avançar para me observar, enquanto o prateado não deixou
nada escapar de seu olhar.
Marchando para a frente, empurrei os dois cães de guarda para ficar
cara a cara com a fera ruiva.
Eu estava com raiva, confusa, frustrada, emocionalmente
desequilibrada, chocada, apavorada... nada fazia sentido.
Peguei a loba pelo focinho, a adrenalina correndo em minhas veias
para me dar uma dose extra de estupidez e força.
— Sua loucura não tem nada a ver comigo. Isso é entre você e Slate!
Eu empurrei seu focinho para longe de mim e para o lado. Surpresa,
ela cambaleou para longe de mim, levando alguns segundos para se
recompor.
Essa tinha que ser outra mulher de Slate, certo?
— Resolva isso com ele!
Ela recuou sobre as patas traseiras, como se fosse saltar sobre mim.
Seus lábios estavam curvados em um grunhido para expor presas
cruéis; a saliva da loba escorria enquanto ela rosnava antes de lançar seu
corpo no ar.
Eu a observei, sem emoção alguma, e não pensei em me afastar de seu
ataque iminente.
Sian estava ao meu lado em um piscar de olhos quando me agarrou
pelos pés e me tirou do caminho antes que ela tivesse a chance de se
atirar em mim.
O lobo prateado a alcançou antes que ela pudesse realmente fazer um
grande ataque.
Ele se lançou ao lado dela, derrubando-a e fazendo-a voar pelo chão.
Pelos e patas caíram e deslizaram pelo mármore polido.
Limpando a baba de lobo do meu rosto, eu dei uma olhada ao meu
redor. Tudo parecia surreal.
— Loucos, todos vocês são loucos, — resmunguei enquanto
caminhava de volta para a escada.
Talvez eu precisasse superar a loucura antes de ver meu marido.
Se eu fosse até ele falando sobre pessoas se transformando em lobos, o
que ele pensaria?
— Talvez seja eu, — murmurei para mim mesma.
Sian estava alguns passos atrás de mim, mas não se atreveu a me tocar
enquanto eu caminhava para o meu quarto.
— Eu sou definitivamente. Absolutamente. Uma doida varrida.
Capítulo 25
BROOKE

A escuridão se instalou no quarto em que eu estava hospedada.


Não tinha ideia de quando me deitei na cama ou há quanto tempo
estava dormindo, mas senti que estava me esquivando de algum tipo de
pesadelo.
Agora, no entanto, meu estômago começou a roncar.
Eu ao menos jantei? Lembro-me de um linguado picante, mas isso era
parte do pesadelo?
Lembrando-me do que se seguiu ao linguado, rezei para que fosse.
Por enquanto, meu estômago não seria ignorado. Era hora de me
levantar e me alimentar.
Vestindo um par de calças de ioga e uma camiseta usada favorita sobre
a minha camisola, eu verifiquei o telefone na minha mesa de cabeceira
para ver que horas eram.
Já passava das duas da manhã, mas o que me chamou a atenção foram
as mensagens de Carter.
Deslizando a tela inicial para desbloquear, abri minhas mensagens de
texto.
Fotos dos meus meninos brincando na tenda com seus novos amigos
encheram minha tela.
Cada um deles tinha uma lanterna e ambos as seguravam sob o queixo
em um esforço para serem assustadores.
No entanto, seus grandes sorrisos eram tudo menos assustadores.
Todas as crianças estavam sentadas dentro da barraca fazendo poses
para a câmera, e todas elas tinham sorrisos tão largos quanto seus rostos
permitiam.
E aqui que me agarro à minha sanidade.
Meus filhos me colocavam no chão quando me sentia desequilibrada,
e Carter parecia saber disso. Ambos pareciam se encaixar perfeitamente e
pareciam felizes. O calor encheu minha barriga e as lágrimas queimaram
a parte de trás dos meus olhos.
Eles se sacrificaram tanto quanto Mark ou eu por esta viagem, e me
senti envergonhada por fazê-los desistir de suas vidas estruturadas para
viver como temos vivido nos últimos meses.
Uma lágrima rebelde caiu.
Eles eram bons meninos, e nós os amávamos muito. Não há nada no
mundo que não lhes daríamos se estivesse em nosso alcance fazê-lo.
Até Mark adoecer. Depois disso, pedimos a eles que também fizessem
os sacrifícios. Era doloroso.
Depois de rolar por todas as fotos, percebi que Carter havia enviado
uma mensagem.
Você está disponível para o almoço amanhã? Pamela diz que não
aceitará um não como resposta.
Ele colocou um pequeno emoji no final que parecia uma careta.
Isso me fez sorrir, permitindo-me afastar o pesadelo que parecia se
apegar a mim.
Sabendo que ele não receberia a mensagem até acordar, enviei-lhe
uma resposta rápida, esperando que ele não tivesse o sono leve.
Brooke: Como eu poderia dizer não depois de todas essas fotos
sorridentes dos meus filhos? Apenas me avise a hora.
Coloquei meu emoji de sorriso habitual no final e apertei enviar.
E hora de encontrar comida!
Quando abri a porta, meu telefone tocou. Olhando para ele, eu vi que
Carter tinha o sono leve, afinal.
Carter: Mandarei um carro por volta do meio-dia para buscá-la.
Nos vemos em breve.

Carter: Tente dormir um pouco.


Desta vez, ele adicionou um emoji de aparência rude no final.
Eu ri. Verificando a hora no meu telefone, eu balancei minha cabeça.
Você não deveria estar dormindo? Ou sexta-feira não é um dia útil
para você como no resto do mundo?
Usei o emoji que tinha uma de suas sobrancelhas levantada.
Se a primeira resposta fosse qualquer indicação, eu sabia que ele
responderia em breve.
Desfiz meu rabo de cavalo do cabelo, coloquei o elástico na boca e
ajeitei meu cabelo e todas as mechas soltas em uma pilha no topo da
minha cabeça antes de recolocar o elástico.
Antes que eu tivesse a chance de enrolá-lo em volta da massa de
cabelo, Carter respondeu.
Havia um assunto que precisava da minha atenção imediata esta
noite. Mais importante ainda, minha amiga sem sono, por que você não
está dormindo?
Hesitei, sem saber como explicar esse estado de confusão em que
parecia estar suspensa no momento. Finalmente, eu respondi.
Tive um sonho maluco. Mas, agora que estou acordada, estou
morrendo de fome. Estou saindo para encontrar algo para comer.
Carter: Quer conversar sobre alguma coisa?
Fiquei grata por Carter. Ele se desdobrou desde que chegamos aqui
para nos fazer sentir bem-vindos e disposto a ajudar de todas as maneiras
que podia.
Foi só um sonho, mas obrigada por estar ao meu lado.
Eu respirei fundo algumas vezes enquanto tentava deixar o sonho de
lado. O telefone vibrou novamente.
Sabe, Brooke, eu não sou o único que quer estar aqui com você.
Estremeci ao ler a mensagem. Não parecia ser o momento de entrar
nessa conversa, então não respondi ao seu comentário.
Em vez disso, perguntei:
Então, onde uma garota pode conseguir lanches da meia-noite neste
lugar?
Depois de mais de um minuto, Carter ainda não havia respondido.
Desligando o telefone, imaginei que o que quer que o mantivesse
acordado, poderia estar prendendo sua atenção.
Este lugar era grande, então me perguntei com que facilidade eu
poderia encontrar uma cozinha.
Mais tempo se passou enquanto eu comecei a me perguntar se eu
teria que encontrar uma maneira de contornar este lugar sozinha.
No entanto, quando me levantei, o telefone vibrou e a tela se
iluminou.
Carter: Fico feliz em ver que você não desistiu totalmente da
comida. No andar de baixo, primeiro corredor à direita da escada,
vá até o fim. Porta à direita.

Carter: É uma cozinha pequena, mas deve estar bem abastecida.

Brooke: Obrigada, Carter.


Outro emoji sorridente.
Meu estômago roncou, me avisando que estava menos do que
satisfeito com meus hábitos alimentares ultimamente, ainda mais do que
Carter.
Jogando o telefone de volta na cama, me dirigi para a porta.
Eu só esperava que as instruções de Carter fossem tão fáceis de seguir
quanto pareciam.
Depois de alguns minutos tentando ser como um ninja enquanto
caminhava por este lugar, eu encontrei a porta que Carter disse que me
levaria para a cozinha.
Antes mesmo de abrir a porta, ouvi o tilintar de metal contra
porcelana.
Ótimo, outra pessoa tinha a fome da meia-noite. Eu fiz uma careta.
Eu esperava ter a cozinha só para mim, sem me preocupar em ter que
bater papo ou ser educada.
Pensando se deveria entrar ou não, meu estômago roncou alto.
Bem, esse foi o fator decisivo. Empurrando a porta com cuidado, eu
congelei.
À minha frente, encostado no balcão e bebendo o que cheirava a café
fresco, estava Slate.
É
É claro que era ele! Mark estava certo, eu não tinha um descanso.
Seu cabelo escuro parecia úmido do banho enquanto balançava para
um lado e para outro, seu rosto mostrava que o sono era tão estranho
para ele quanto para mim.
Uma calça social escura deslizava sobre pernas musculosas que
pressionavam o tecido delicadamente. Logo acima da cintura, seu
abdômen e tórax estavam à mostra sob uma camisa Oxford desabotoada.
As mangas da camisa estavam enroladas o suficiente para que seus
antebraços não tivessem qualquer cobertura.
Os músculos tensos flexionavam a cada movimento que ele fazia.
Cada linha ao longo de seu corpo e cada músculo eram fortes e
definidos, até a cintura estreita abaixo do abdômen esculpido.
Seus dedos fortes seguravam a caneca fumegante em suas mãos
enquanto ele trazia a borda para sua boca lindamente traçada.
Havia algo em seu rosto que era difícil de ler, embora meus olhos não
demorassem muito para tentar decifrá-lo.
O homem simplesmente ficou lá e me deixou absorver toda a sua
visão. Ele não tentou se mover além de tomar um gole de sua bebida
amarga de escolha.
Sua cabeça estava praticamente inclinada sobre a caneca fumegante
enquanto ele mantinha os olhos longe de mim, embora soubesse que eu
estava lá.
Seus olhos simplesmente fitavam o líquido escuro que ele segurava
firme entre as duas mãos.
Era quase como se ele quisesse que eu tivesse aquele momento só para
mim. Para tomar uma decisão sem sua influência.
A intensidade do calor que despertou em mim foi quase instantânea, e
eu sabia que não poderia estar sozinha na companhia desse homem.
Inferno, se meu sonho fosse alguma indicação, eu não poderia estar
com ele em uma sala cheia de gente.
O local parecia quase pequeno demais e estava ficando difícil respirar.
Eu dei um passo para trás e Slate exalou em sua caneca.
Foi um som quase derrotado... desamparado, e eu senti uma onda de
ternura percorrer meu corpo.
O homem parecia perdido naquele momento. E então meu estômago
expressou sua opinião. Resolvido.
Ignorando o calor crescente dentro de mim, levantei meu queixo
levemente na esperança de que isso reforçasse minha determinação em
tomo dele.
Entrei na cozinha e me sentei na banqueta que ficava do outro lado da
ilha de onde ele estava.
Pelo menos havia alguma separação.
— Você gostaria de comer alguma coisa?
Sua voz era profunda e aveludada. Se eu pudesse dar-lhe uma cor,
seria como um âmbar profundo que deslizava sobre mim e através de
mim.
Eu pressionei minhas pernas juntas, sentindo o efeito que o som de
sua voz se misturando com a sua visão tinha em mim.
Fechando os olhos, ele inalou profundamente, e seu corpo enrijeceu
enquanto seus pulmões se expandiam até à sua capacidade.
— Ah, jyoti.
Seus olhos se abriram para olhar para mim, e aquele contorno
prateado sensual ao redor de seus olhos cinza quase me fez cair do meu
assento.
Vários segundos se passaram e ele finalmente colocou seu café na ilha
à sua frente.
Meu corpo inteiro ficou rígido e uma preocupação tomou conta de
mim. Onde estava minha determinação?
Outra expressão passou por seu rosto antes que ele finalmente falasse
outra vez.
— Vamos alimentá-la.
Capítulo 26
BROOKE

O cheiro de bacon encheu a cozinha de tamanho maior do que o


normal, embora Carter a tivesse chamado de pequena.
A obsessão do meu estômago agora tinha um controle completo sobre
mim, e nem mesmo meus pensamentos obscenos sobre um Slate seminu
podiam competir com isso.
Nem mesmo o próprio homem poderia mudar meu foco neste
momento. Eu estava faminta, mas por comida desta vez.
O prato que ele deslizou pela mesa estava repleto de bacon, algumas
fatias de torrada e alguns ovos fritos.
Ele já havia abarrotado a ilha com manteiga, geleias, sucos, leite e café.
Quando ele colocou uma caneca de café na minha frente, eu
instintivamente enruguei meu nariz enquanto a empurrava. Ele levantou
uma sobrancelha e eu encolhi os ombros.
— A coisa é muito amarga para mim.
Ele sorriu e se virou enquanto terminava sua tarefa no fogão.
Estava pacífico, apenas o som dos utensílios esfregando contra as
panelas de metal, o tilintar dos copos e o barulho dos talheres quebravam
o silêncio.
Além do chiado do bacon e dos ovos na cozinha, é claro.
Quando perfurei a gema com o garfo, quase babei.
Foi uma bela visão, e fiquei feliz em aproveitar o momento enquanto
pegava uma fatia de pão e a embebia na felicidade dourada.
Saboreando depois de colocá-la em minha boca, exalei um zumbido
agradável.
Depois de dar algumas mordidas e saborear minha comida, olhei para
cima para ver Slate me observando.
Ele não tinha tocado na sua comida, mas continuou bebendo aquela
substância amarga como se ela lhe trouxesse vida.
— O que foi? — Eu perguntei, me sentindo um pouco nervosa. —
Estou com gema no meu queixo?
Pegando um guardanapo, eu estava pronta para erguê-lo até o queixo
para limpar qualquer sujeira que pudesse cobrir meu rosto.
Slate colocou a mão sobre a minha, me interrompendo. — Não, seu
rosto é lindo.
Um rubor tomou conta de mim, e eu sabia que ele podia perceber.
— Estou feliz que você esteja gostando de sua comida.
Lembrando o que Carter havia dito antes, eu senti a necessidade de
me defender.
— Eu como bastante, sabia? Pode não parecer, mas eu simplesmente
não me dou bem com coisas picantes.
Eu fiz uma careta enquanto pegava um pedaço de bacon, separando-o
e observando os óleos que ele derramava em meus dedos.
Aquele pedacinho parecia tão delicioso que chupei o pedaço direto do
meu polegar, absorvendo a gordura com ele.
Ele deu uma risadinha. — Então, eu percebi.
Demorou apenas um segundo para sua resposta ser absorvida e meus
olhos se arregalaram.
— Então... não foi um sonho?
O bacon que antes tinha um gosto maravilhoso agora tinha gosto de
papelão. Slate apenas olhou para mim sem expressão.
— O linguado picante?
Ele riu novamente e acenou com a cabeça suavemente em lembrança.
Um rubor tomou conta de mim.
— Então... eu... na sua cara? — Eu não conseguia falar daquela ação
vergonhosa.
— Foi o que você fez, jyoti. — Seu rosto estava cheio de diversão,
embora eu estivesse claramente humilhada com tudo isso.
Envergonhada além do imaginável, o bacon caiu de minhas mãos
enquanto eu colocava as palmas em meus olhos.
— Oh Deus! Estou enlouquecendo. — Virei os olhos cheios de horror
para ele. — O beijo? E Mark?
E então eu me lembrei, e minhas mãos agarraram o material da minha
camisola e camiseta, encharcando o material com a gordura dos meus
dedos.
— Aquela mulher... ela... ela realmente se transformou em um lobo?
Oh Deus! E eu realmente segurei a besta pelo nariz?
Slate tinha uma expressão pensativa no rosto, optando por
simplesmente me deixar tirar minhas próprias conclusões em vez de
oferecer qualquer coisa que eu pudesse achar conclusiva.
— Estou enlouquecendo. Eu tenho que estar, — eu murmurei mais
para mim mesma do que para qualquer outra pessoa.
— Coma sua comida, jyoti. Você vai precisar da sua força.
Mas tudo aconteceu de verdade, não foi? Quer dizer, não houve
choque com minha fala, nem descrença.
Se ele não mostrasse nenhum sinal de estar surpreso com o que eu
disse, restaria apenas uma opção.
— E tudo real, — eu sussurrei.
Então me lembrei de mais um pequeno detalhe. Fiquei apavorada em
saber a resposta, mas a pergunta estava queimando na minha cabeça.
— E os outros dois?
Prendendo a respiração, esperei por sua resposta.
Ele franziu a testa e abaixou a cabeça mais uma vez para olhar para o
líquido escuro em sua caneca antes de responder.
— Poucos de sua espécie sabem sobre a nossa, — ele começou. Ele
falava suavemente e parecia proferir cada palavra lentamente.
— Porém, aqueles que inadvertidamente descobriram nossa espécie
na história recente nos chamaram de metamorfos, mímicos, lobisomens,
transmorfos, licantropos e teriantropos. No entanto, ainda somos muito
humanos, — concluiu, sem realmente responder à minha pergunta.
Eu o encarei como se o estivesse vendo pela primeira vez. Ele disse
nossa.
— Do que vocês se chamam?
Slate colocou sua caneca sobre a mesa, mas permitiu que as pontas
dos dedos continuassem a roçar sua superfície. Ele observou meu rosto
enquanto cada palavra saía de seus lábios, avaliando o quanto eu poderia
aguentar.
— Nós nos identificamos como metamorfos como um coletivo,
embora os metamorfos venham em muitas formas.
Nada fazia sentido, mas eu fiquei sentada ali tentando entender de
qualquer maneira. — Entendo, — respondi.
Slate grunhiu uma resposta, não acreditando realmente em mim, mas
esperando fornecer um pouco mais de visão.
— Nossa história é mais antiga do que o homem. Os metamorfos
fizeram parte de todas as civilizações desde o alvorecer da humanidade, e
o homem e os metamorfos viveram lado a lado pacificamente por muitos
séculos. Há evidências do homem e do metamorfo vivendo em harmonia em
quase todas as histórias antigas contadas. Com o passar dos séculos, as linhas
se tornaram tênues... e nos tornamos mitos.
— As lendas nórdicas falam do primeiro lobo, as pirâmides antigas
têm pictogramas de nossos ancestrais em meia transformação ou
transformação completa pintados em suas paredes, textos sumérios e
muitos outros têm histórias de nossa ancestralidade escritas em suas
páginas, paredes das cavernas de antigas tribos nativas têm ilustrações, e
a lista continua... está tudo bem à vista, mas atualmente nós escolhemos
permanecer um mito.
— Quanto mais o homem se tomava agressivo com o próximo, mais
nos separamos da humanidade como um meio de nos proteger... a fim de
proteger nossa espécie.
Isso era real.
O homem permaneceu à minha frente contando-me a história de sua
espécie, deixando pouco espaço para dúvidas.
Minha cabeça girava com cada palavra que ele pronunciava.
Nossos ancestrais sabiam mais do que nós sobre o que acontecia à
noite, e acreditávamos que seu trabalho era uma arte interpretativa, e
não um fato histórico.
Eu assenti, mas não tinha certeza do que estava respondendo.
Slate suspirou e deixou seus dedos deslizarem suavemente pela ilha da
cozinha para roçar nos meus, a eletricidade de seu toque saltando pela
minha pele.
— Eu sei que isso é demais para tentar entender em pouco tempo,
mas espero que você me deixe explicar melhor assim que você aceitar o
que ouviu.
Seus olhos eram simpáticos, havia um calor dentro deles que me
chamava. Ele sabia que eu tinha atingido meu limite.
Meus olhos estavam fixos em seu olhar sem realmente enxergar, e eu
assenti mais uma vez sem qualquer afirmação verdadeira.
Sem dizer outra palavra, empurrei meu acento para fora da bancada
da cozinha e me levantei.
Como se estivesse atordoada, me movi em direção à porta da cozinha,
meu apetite havia desaparecido completamente. Era uma pena, mesmo...
a comida estava muito boa.
Quando Cheguei à porta e coloquei minha mão sobre ela para abri-la,
Slate me chamou.
— Brooke, você está segura aqui, — afirmou ele com firmeza,
desejando que eu acreditasse nele. — Eu queria que você soubesse que
não precisa ter medo. Eu nunca deixaria ninguém te machucar.
Sem me virar, eu assenti mais uma vez e saí da sala. De alguma forma,
meus pés conseguiram me levar de volta ao meu quarto.
O que eu sonharia agora?
Capítulo 27
SLATE

Eu queria ter dito muito mais a ela, mas ela simplesmente não estava
pronta para ouvir mais nada.
Minha primeira prioridade foi trazer um senso de realidade para o que
ela acreditava ser um sonho, ou um pesadelo pela expressão que ela
apresentava.
Meu corpo inteiro parecia drenado quando deixei minhas mãos
cruzadas na ilha à minha frente.
Cada dia que passava sem reivindicá-la pesava sobre mim, mas eu
estava determinado e decidido a que ela me escolhesse.
A cozinha estava silenciosa como uma tumba agora que ela havia
saído.
Já sentia falta do batimento rítmico de seu coração e respiração que
pulsavam em meus ouvidos.
Quando ajustei meu peso na cadeira, o rangido que fez embaixo de
mim ressoou no local como uma câmara de eco.
Levantando minhas mãos, enterrei meu rosto nelas.
Alfa Superior, acho que você pode querer ouvir isso.
Resmungando, esfreguei minhas mãos no rosto. Para Sian arriscar
interromper meu tempo com Brooke significava que tinha que ser
importante.
Todos aqueles com qualquer posição em meu bando estavam muito
cientes das implicações das circunstâncias em que eu estava.
Foi aí que tudo terminou.
Estou a caminho, respondi.
Em minutos, encontrei meu caminho de volta para as celas que eu
havia deixado anteriormente para me encontrar com minha jyoti.
Meu segundo em comando fez questão de colocar tempo suficiente
entre suas mensagens para Brooke para que eu tivesse tempo de chegar
até ela.
Ele até incluiu tempo para eu tomar banho e me trocar, para que eu
não tivesse que ir como estava. E por isso que ele era meu braço direito.
— O que conseguiu? — eu perguntei em um tom cortante enquanto
entrava nas celas subterrâneas.
Este era o melhor lugar para esta mulher, já que precisávamos que ela
ficasse completamente fora de vista e odor de qualquer um dos selvagens
que acreditamos tê-la seguido em nossas terras.
Carter acenou com a cabeça em direção a Sian, e Sian rosnou para a
mulher ruiva amarrada em uma cadeira de metal.
Como um alfa, ela seria capaz de tolerar um limite muito alto de dor.
Mas, como um alfa, ela não aceitaria bem ser dominada em todos os
aspectos e ser forçada a se submeter aos dois homens nas celas com ela.
A mulher cerrou a mandíbula, e Sian chutou a cadeira com o pé,
fazendo-a deslizar violentamente pelo chão e bater na parede de pedra
do outro lado da sala.
Embora abalada, ela sofreria danos mínimos. Sian rosnou mais uma
vez.
A mulher zombou de Sian, extraindo seus caninos por uma fração na
ameaça em seu rosnado.
— Chega ordenei com os dentes cerrados.
Eu segui em direção à mulher com passos firmes. Quando eu estava
na frente dela, eu deixei a prata dos meus olhos sangrar.
Quando ela olhasse para mim, quando ela falasse comigo, ela saberia
quem estava no controle aqui.
— Eu acho que você tem algo a dizer, — eu grunhi com a mandíbula
cerrada.
Ela bufou, mas não quis me negar.
O poder do meu lobo atravessava cada parte desta sala, e seria difícil
para ela ignorar.
— Eu não ia machucá-la, — ela admitiu, embora o tom rude
ultrapassasse os limites do aceitável na opinião do meu lobo.
— Hmm, — eu disse. — Então, você sempre tenta atacar um humano
com a ilusão de que não pretende fazer mal?
A mulher enfurecida resmungou, mas eram palavras abafadas.
Embora ela tenha ficado em silêncio o suficiente para a maioria, eu
entendi a essência do que ela disse.
Finalmente, ela falou alto o suficiente para todos nós ouvirmos.
— Eu precisava assustá-la. Ela está matando-o!
O lado protetor e justo de mim ganhou vida.
— Ela não entende isso! Ele é o culpado por suas circunstâncias, não ela!
Minha voz trovejou enquanto eu rosnava sobre esta mulher miserável.
Ela não se importava realmente com ninguém, apenas consigo mesma.
Seu puro egoísmo fez meu sangue ferver. O fato de que ela agiria de
forma tão fútil contra um não-metamorfo me tomava mais difícil de
acalmar.
A mulher rosnou, não passando dos limites por um fio.
— Você acha que eu não sei disso? — ...
Ela sacudiu a cabeça para o lado para encarar a parede, longe de
qualquer olhar curioso enquanto ela lutava contra seus próprios
demônios.
— Como você pode ser tão indiferente com sua própria companheira? —
...
Ela falou suavemente, mas havia um tom doloroso em sua voz.
Eu ri sem humor. Ela não tinha nenhuma ideia do que eu estava
passando e de como não estar com minha jyoti estava me afetando.
— Seu ego impede você de ver a verdade de muitas coisas, Gretchen.
Sua natureza egoísta me irritava.
Ela estava por ela mesma, e isso poderia significar um desastre para
qualquer um em seu caminho quando ela se autodestruísse. Quando, e
não se.
Isso não era sobre mim, e eu não estava prestes a ser arrastado para
seu raciocínio ilógico.
— Você é esnobe demais para perceber que ele a ama?
Quando ela se encolheu, todo o meu corpo ficou rígido.
— Você sabe, — eu rosnei.
Embora ela continuasse mantendo o rosto voltado para o lado, pude
sentir a repulsa se apoderando de mim. — O que você fez, Gretchen?
O silêncio tomou conta da sala e eu senti meus olhos tremerem.
Sua respiração havia ficado perceptível para todos na sala, e havia um
fio de medo contaminando o ar.
Ainda assim, ela se recusou a olhar para mim, e eu deixei meu poder
penetrar ainda mais no espaço entre nós. Ela não me negaria.
Seu corpo ficou tenso enquanto ela farejava o ar.
— Tudo bem, — ela grunhiu. Embora eu soubesse que ela queria
fingir submissão para resistir à minha compulsão, eu não desistiria.
— Eu sabia que era ela quem ele amava. Se ele não se acasalar comigo
por mim, ele o fará por ela.
A sala inteira ficou mortalmente silenciosa. Finalmente, Carter falou.
— Ela estará na minha casa esta tarde.
Eu assenti. — Busque-a assim que ela acordar. Mantenha-a com você
até eu chegar lá. Monitore seus sinais vitais e não deixe-a
desacompanhada.
Eu já sabia—mas a mulher iria confessar o que tinha feito antes de eu
ir embora.
Girando a cadeira para me encarar, inclinei-me para frente para
colocar meu rosto a centímetros dela.
Meus caninos se alongaram ameaçadoramente enquanto eu sorria
para ela para dar a ela o efeito completo do meu lobo na superfície.
Meus olhos ficaram completamente prateados e ela respirou fundo
contra a besta que agora estava enfrentando.
Quando falei em nossa língua nativa, sua cabeça caiu para a frente.
— Vamos conversar.
Capítulo 28
BROOKE

Enquanto caminhava para o meu quarto, senti a necessidade de me


aninhar com meus meninos e me consolar com a sensação deles ao meu
lado. Eu queria sentir as coisas que eram próximas a mim e reais na minha
vida.
Totalmente reais.
No entanto, eu sabia que eles não estariam lá. Mesmo quando abri a
porta e desejei que eles se aninhassem na minha cama, eu sabia onde eles
estavam... e não estavam.
Pegando o edredom da cama enquanto eu passava, fiz meu caminho
em direção a uma das janelas do chão ao teto no quarto.
Um baque forte soou no ambiente quando o celular que antes
repousava sobre o edredom agora estava no chão.
Quando me aproximei das janelas, pude sentir o frescor do ar
noturno, pois ele resfriava a janela e entrava alguns metros à frente dela,
antes que o calor do quarto eliminasse sua existência.
Sentando no chão ao lado da janela, puxei o edredom para mim e o
enrolei.
Pressionei meu rosto contra a vidraça e foi assim que acordei.
Depois de algumas horas de descanso feliz, eu estava com minha boca
aberta e meu rosto pressionado contra a vidraça.
Com o tom estridente do meu telefone, eu me mexi preguiçosamente
onde estava sentada. O barulho infernal conseguiu me tirar da felicidade
para mais uma vez enfrentar uma realidade da qual eu não tinha tanta
certeza.
O telefone parou de tocar incessantemente e a pessoa que ligou foi
enviada para a caixa postal.
Meus olhos se fecharam mais uma vez enquanto tentava pegar os
resquícios dos sonhos que me mantinham segura e sã.
Durou pouco quando o telefone começou a tocar novamente no
quarto silencioso. Eu resmunguei para o telefone antes que ficasse em
silêncio novamente.
Uma onda de culpa caiu sobre mim quando comecei a me perguntar
se talvez o hospital estivesse tentando entrar em contato comigo.
Na próxima vez que ele tocou, eu me movi lentamente do meu
edredom enquanto rastejava pelo chão para atender a ligação.
— Alô, — eu disse ao telefone.
Meu intestino apertou com incerteza enquanto rezava para que não
fosse o hospital.
— Bom dia, luz do dia, — uma voz mais do que alegre soou.
O alívio tomou conta de mim, mas foi seguido de perto por um
resmungo involuntário.
— Carter, — eu disse. — Você sabe que horas são?
Eu nem sabia que horas eram, mas tinha certeza de que não era nem
perto do meio-dia.
Minhas palavras soaram arrastadas, mas devem ter sido coerentes o
suficiente.
Minha boca parecia que estava mastigando algodão e minha garganta
doía com o que parecia ser lágrimas não derramadas.
Incapaz de resistir, voltei para a vidraça fria para pressionar meu rosto
contra ela mais uma vez.
A sensação disso contra minha pele era um alívio para o calor que
parecia estar caindo sobre mim.
— E mais perto do meio-dia do que o contrário, — ele brincou.
— Mais perto como e por definição de quem, — rebati.
— Eu apostaria que a maioria concordaria. — Carter respirou
profundamente, enchendo seus pulmões.
— Eu acho que devo fazer você apresentar isso por escrito e adicionar
em meus termos, — eu zombei em algo como um sussurro, tentando
evitar uma risada quando minha garganta ficou irritada.
Olhando brevemente para a hora no meu telefone, um sorriso se
plantou em meus lábios.
— Sabe, eu só preciso de cerca de trinta minutos para me preparar
para o almoço.
O outro lado da ligação permaneceu em silêncio e, de repente, fui
capaz de sentir a tensão em sua extremidade.
— O que está acontecendo, Carter?
O silêncio persistiu por mais alguns segundos antes de Carter suspirar
e finalmente decidir responder.
— Nada que não possamos controlar, Brooke. Eu preciso que você
faça uma mala para você e os meninos.
Pela primeira vez desde que cheguei, seu tom não manteve o humor
normal.
A falta de humor em seu eu jovial habitual me fez agir antes de pensar
muito em suas palavras.
Com movimentos lentos, consegui arrastar a mala do meu armário
para o chão e comecei a empacotar roupas para os meninos e para mim.
— Carter, — comecei a perguntar. No entanto, isso foi tudo que eu
consegui... Eu não sabia o que perguntar.
Houve um pânico repentino que começou a se apoderar de mim,
apenas para agravar meus sintomas anteriores.
Tentei desesperadamente me concentrar em minha tarefa, mas meus
membros pareciam estar se movendo como se estivessem congelando.
Meu rosto ficou vermelho e eu pude sentir o calor varrer sobre mim
enquanto minha cabeça girava.
— Brooke, preciso que você fique calma.
Sua voz era uniforme e calma, mas era estranha para mim. Houve um
barulho do outro lado da porta do meu quarto.
— Você pode destrancar a porta para mim?
Congelando onde eu estava, observei as sombras brincarem sob a
porta. — Carter?
— Brooke, estou aqui, — ele bateu na porta para ilustrar suas palavras.
— Eu só preciso que você abra a porta para mim.
Dei um passo hesitante em direção à porta, sentindo um
pressentimento passar por mim.
Meus olhos turvaram e eu pisquei várias vezes para limpá-los antes
que um ruído estridente penetrasse em meu cérebro.
— Carter, eu não estou me sentindo...
— Brooke!
Ele bateu na porta novamente, fazendo as batidas reverberarem em
minha cabeça.
A tontura tomou conta de mim, mas tentei me concentrar em ficar de
pé. A porta nadou diante de mim e o mundo se inclinou para o lado.
Meu corpo balançou perigosamente antes de desabar no chão.
A porta se abriu com lascas. Foi a última coisa que vi antes que tudo
escurecesse. Eu ouvi seus passos quando ele se aproximou.
— Vai ficar tudo bem, Brooke. Eu prometo.
Essas foram as últimas palavras que ouvi antes de senti-lo me levantar,
e então parei de lutar contra a escuridão que se seguiu.
Capítulo 29
BROOKE

— Quanto tempo ela vai ficar apagada?


A consciência era algo alcançável e vozes vagavam pela névoa.
— Pamela, temos que deixar nosso Alfa cuidar disso. Não é da nossa
conta... — Carter usou uma voz suave com sua esposa.
— Ela precisa saber. Talvez se ela soubesse antes, ela não estaria onde
está agora.
Sua frustração ecoava em suas palavras, e me senti impotente para
confortá-la.
— Ninguém poderia ter previsto que isso aconteceria, — Carter
tentou fazer o que eu não pude.
Mesmo agora, eu lutava para abrir meus olhos.
— Aquela besta ruiva sabia o que iria
acontecer! Você estava lá. Ela disse a você o que estava fazendo, aquela
calculista maligna filha de uma...
Um fogo acendeu cada vogal que ela falou. Pamela estava furiosa!
— Nosso alfa tem tudo sob controle, — ele a interrompeu.
A sala ficou em silêncio e tudo o que ouvi foram os estalos da lareira
acesa.
Eu podia sentir que queria voltar a dormir bem antes que ela falasse
mais uma vez, como se ela estivesse formulando um plano.
— Sabe, ele poderia marcá-la enquanto ela estivesse dormindo. Isso a
ajudaria a se curar, e talvez não precisássemos da ajuda daquela mulher
diabólica.
— Se isso fosse salvá-la, você sabe que ele o faria sem pensar duas
vezes. Mas ela é humana, Pamela. Sua marca e o veneno daquela besta
juntos podem causar uma parada cardíaca.
Ele suspirou.
— E então, — Pamela falou, — ficarmos aqui sentados a vê-la sofrer?
Porque, Carter, eu não consigo.
— Ei, ei, — ele murmurou. — Desde quando você parou de acreditar
nela? Não foi você quem disse o quanto ela era mais forte do que
acreditamos? Como se ela pudesse ficar cara a cara com uma besta alfa que
ela certamente era digna de..
— Eu sei o que eu disse, — ela resmungou.
— Slate vai resolver isso, — disse ele suavemente.
O sono começou a se estabelecer, e as palavras estavam se
transformando e se misturando em sonhos que flutuavam ao meu redor.
— Ele e Mark foram até ela. De uma forma ou de outra, aquela mulher
obedecerá. Do contrário, tenho medo do que Slate possa fazer com ela.
Se não fosse pelo fato de que ela era a salvação de Mark, e agora a dela,
ele teria se livrado dela há muito tempo.
— Eu rezo para a Deusa que ele faça isso. O que acontecerá se as
outras matilhas começarem a sentir a transformação? Pobre Brooke, ela
não tem ideia do quão grande isso realmente é...
Aqueles olhos prateados estavam lá, em meus sonhos... eles me
chamavam de uma forma como nenhuma outra.
O resto da conversa caiu no esquecimento enquanto eu seguia aqueles
olhos prateados em um sono profundo.
Eu estava flutuando no chão... ou, espere. Havia braços em volta de
mim?
Meu cérebro se esforçou para entender o que eu estava sentindo e eu
me esforcei para abrir os olhos.
O calor gerado dentro de mim era demais, e o corpo de calor que me
carregava era apenas um pouco menos quente.
Parte do meu corpo queria mergulhar nele e se aninhar em seu
conforto.
A outra parte já havia começado a lutar dentro de seu alcance,
desejando se livrar de mais calor com que entrasse em contato.
Ruídos guturais me cercaram enquanto eu tentava me afastar da
pessoa que me tinha em suas garras.
Embora eu estivesse familiarizada com esses músculos e força, aquele
cheiro ficava mais atraente cada vez que eu estava perto dele.
— Eu posso andar, me ponha no chão, — foi o que tentei dizer, mas
mais daquela coisa gutural e incoerente encheu meus ouvidos.
Era mais gemido e grasnado do que uma linguagem real.
Certo, talvez eu não pudesse andar, mas eu estava muito... muito o
quê? Muito quente, muito cansada, muito frustrada, muito excitada,
muito...
— Shh. — Sua respiração soprou em meu rosto e eu me permiti
afundar contra ele por um momento.
Quando a luz atingiu minhas pálpebras, foi quase insuportável.
Eu tentei o meu melhor para desviar minha cabeça e proteger meus
olhos, mas ela estava pesada demais para eu me mover.
Slate me puxou para mais perto de seu corpo e reposicionou minha
cabeça para eu afastar a luz.
— Aqui, leve-a para o chuveiro.
Chuveiro
O som de água saindo de vários chuveiros, batendo contra as paredes
e pisos em ângulos diferentes, me apavorou no momento.
Meu corpo começou a lutar novamente. Em minha própria mente, a
luta foi real, embora eu só possa imaginar como meus esforços foram
lamentáveis na realidade.
Grunhindo, eu tentei o meu melhor para proferir palavras que fossem
coerentes. — Não, por favor.
Quando Slate respondeu, fiquei realmente satisfeita porque pelo
menos uma palavra foi clara.
— Brooke, temos que baixar sua temperatura. O Dr. Thomas mandou
buscar o remédio de que você precisa, mas temos que fazer algo agora.
Você já teve uma convulsão. Você entende?
Suas palavras foram ditas suavemente, de forma reconfortante, mas
havia uma tensão por trás delas que me alarmaram.
Por um momento, cores brilhantes e vivas encheram minha visão e
um tremor começou a percorrer meu corpo.
— Agora, Alfa!
As palavras eram urgentes e Slate não hesitou em reagir a elas.
A ardência de água gelada caindo contra mim parecia como agulhas
perfurando minha pele.
Um som estranho para mim saiu da minha garganta e inundou o
local.
Era uma mistura de choro e grito, mas soou mais animal do que
humano.
O calor de seu corpo permaneceu comigo, enquanto ele me
posicionava para um lado e para outro, permitindo que a água fria me
lavasse em uma tentativa de me libertar do calor incômodo que vinha de
dentro.
Eu podia sentir os soluços me sufocando e as lágrimas começaram a
cair, mas meus olhos não tinham forças para abrir e meu corpo tinha
ainda menos forças para lutar.
Calafrios explodiram em minha pele, e eu o senti me puxar para perto
antes que eu não pudesse mais aguentar.
O frio que se dane, a escuridão era o que eu desejava.
Capítulo 30
DR. THOMAS
— Você acha que eu não sei o que ela quer? — Ele zombou. — Ela
deixou isso claro como o dia para mim.
De onde eu estava, eu a ouvi se mover inquieta em sua cama.
Ela estava perdendo e recuperando a consciência desde que Carter a
trouxe para mim.
A mulher era uma guerreira, mesmo que ela mesma não acreditasse.
Com tudo que ela fez para proteger sua família e cumprir a lista de
desejos de Mark, sabendo o que ela enfrentaria quando ele não existisse
mais, ninguém poderia me convencer do contrário.
Mark alegou que ela era sua rocha, e eu podia ver o porquê.
Eu me virei para fixar os olhos nele. Claramente, ele não estava
entendendo o recado.
Acho que terei que soletrar para ele.
— Se você não ceder às exigências dela, sua esposa morre e seus filhos
ficam sem os pais.
Embora eu odiasse usar as palavras — morrer — e — morte, — ele
tinha que entender o que estava em jogo aqui.
Eu entendo como as coisas não correram exatamente como ele
planejou, mas isso faz parte da vida.
Às vezes, fazemos ajustes ao longo do caminho, como o que eu fiz para
minha própria companheira.
Bem, isso só me causou muita dor que eu deveria ter continuado a
reprimir.
O rosto do homem se contorceu de raiva e frustração. Ele gritou em
agonia quando deu um soco na parede.
Suponho que ele tenha se esquecido de que ainda não estava
totalmente familiarizado com seu lobo.
Ele grunhiu e sibilou ao puxar a mão.
Tudo isso poderia ter sido evitado se ele simplesmente decidisse
confessar à esposa quem ele realmente era... mas ele era um covarde.
Não me leve a mal, eu entendo. As mulheres fazem de todos nós
covardes.
Depois de um momento, Mark suspirou. — De que lado você está,
afinal?
Embora ele não pudesse ouvi-la, eu podia. Sua respiração ficou mais
áspera, e rezei para que ela começasse a recuperar consciência por conta
própria.
Seria um acaso, na melhor das hipóteses, se ela o fizesse, mas eu ainda
tinha esperança.
— Por que ele não pode simplesmente marcá-la, reivindicá-la como
sua? Eu não ficaria em seu caminho! Dessa forma... eu não vou perdê-la.
— Ele disse as últimas palavras em um suspiro. Ele a amava de verdade e
queria saber se ela seria cuidada quando ele partisse.
Era bonito, mas não o tomava menos covarde.
— Você já sabe a resposta para isso.
Embora tentasse manter a calma, não consegui evitar o fio de agitação
por trás de cada palavra dita.
O silêncio permeou a sala enquanto ele pensava em todas as soluções
possíveis, mas você sempre nota quando um homem está ficando sem
opções.
Eles captam um cheiro que significa derrota.
Não o cheiro azedo do medo, como vinagre, mas um cheiro quase
enjoativamente doce que vem com a desistência.
O aroma estava começando a permear o ar entre nós enquanto eu
observava suas expressões faciais mudarem a cada pensamento.
Quando a voz de Mark flutuou para dentro da sala, ela veio com um
amplo suprimento de um perfume doce nauseante.
— Eu vou perdê-la.
As palavras realmente fizeram meu coração se partir por ele. Eles
estavam tão desamparados e sem esperança.
No entanto, ele precisava entender a situação, e aquele momento
realmente era essencial.
Ele manteve os olhos na mãe de seus filhos durante a maior parte da
conversa, tentando encontrar um caminho que o levasse de volta a ela.
Seria difícil para qualquer metamorfo, ou mesmo humano, não ver
que os laços já estavam começando a ligá-la ao nosso alfa—e bom,
também.
Eu levantei minha mão para apertar seu ombro, um pequeno sinal de
compaixão que eu me senti obrigado a fazer.
Ele não era um cara mau. Eu gostava do homem.
Havíamos passado muitos dias apenas conversando sobre sua infância
e comparando-a com a vida em nossa pequena cidade.
— Isso acontece com qualquer escolha que você fizer, — eu disse a ele.
— A diferença é que ela vive, seus filhos têm a mãe e você ainda terá
um relacionamento com ela... assim que ela o perdoar.
A última coisa eu disse como um lembrete de tudo o que ele precisava
confessar a ela.
Ele tinha muito o que consertar, embora eu realmente não pudesse
culpá-lo.
Quem poderia imaginar que as coisas teriam terminado assim?
— Talvez, — respondeu ele, principalmente para si mesmo. — Eu só
queria que houvesse outra maneira.
Mark se aproximou para ficar ao lado da cama. Ela sentiria sua
presença?
— A sua situação é difícil, com certeza. Sei que você já passou por
muita coisa e que a marca dela está começando a perder um pouco de
sua potência. Mas você é a solução aqui.
Eu podia sentir que ele estava tentando mais uma vez encontrar uma
maneira diferente de sair dessa bagunça. Ele precisava saber.
— Você sabe que ele queria vir esta manhã. Falar com você. O
escritório dele está destruído, e ele está tentando controlar seu lobo. Eu
pensei que teria que tranquilizá-lo para impedi-lo de vir.
— Por que você está me contando isso? Para me ameaçar?
Bem, ele captou um pouco do meu intuito, pelo menos. Só não tudo.
Suspirei enquanto me encostava na parede.
— Não, não inteiramente. — Eu não iria mentir para ele.
— É para lembrar a você que não há muito tempo para considerar
todas as opções que existem. Foi ela quem contraiu a doença. Sabemos que
foi intencional. Gretchen planejou isso. Também sabemos que somente o
veneno dela pode curá-la. Não há como extrair o veneno dela se estiver
morta... ela precisa estar viva. Com essa extração vem um preço.
— Prefiro ficar na frente de um esquadrão de fuzilamento sem venda
nos olhos, — murmurou Mark.
— E isso pode ser inofensivo em comparação com o que Slate faria
com você se você a deixasse morrer.
Houve um silêncio que tomou conta da sala antes que eu tentasse
mais uma vez argumentar com este homem.
— Você estava disposto a morrer por ela—talvez seja a hora de viver
por cia.
— Doutor, se eu não o conhecesse bem, diria que você está me
manipulando.
— Pode ser. Se é isso que você precisa para ver as coisas com clareza.
Se você a ama, viva por ela. Aceite o acordo.
Mark me lançou um olhar acalorado enquanto se ajoelhava ao lado da
cama. — Merda!
Ele agarrou a mão dela e segurou-a contra a testa por vários minutos,
respirando o cheiro dela com inalações profundas.
Beijando ferozmente as costas de sua mão, ele finalmente colocou-a
gentilmente junto dela antes de se levantar mais uma vez.
— Está bem! Faça os preparativos, — ele rangeu os dentes.
— Apenas faça isso rápido para que ela melhore. Se ela morrer, não
haverá acordo.
— Certo, — eu disse, aliviado por ele finalmente ter entendido.
Quando Mark saiu furioso da sala, entrei em contato com nosso alfa.
Seria a primeira boa notícia que ele receberia em quatro dias, e eu
estava grato por poder dar a ele uma luz.
Capítulo 31
BROOKE

Meu corpo inteiro começou a se agitar.


Havia uma dor atingindo meus ossos profundamente, do tipo que
você sente quando seu corpo está sentado em uma posição por muito
tempo e quer se rebelar quando você finalmente o move.
Há quanto tempo estou nesta cama para começar a me sentir assim?
O som de vozes abafadas chamou minha atenção enquanto eu tentava
virar na direção deles. Rolando para o lado, tentei abrir os olhos.
Cada parte de mim queria resistir ao despertar, pois, quando o fizesse,
teria que enfrentar os demônios que atormentavam meu sono.
Mais de uma vez, pensei que estava prestes a acordar antes de ser
jogada de volta na escuridão da minha mente.
Os trechos de conversa que eu havia recolhido ao longo do tempo não
traziam clareza e apenas me faziam querer evitar aqueles momentos de
despertar.
A luminária de cabeceira era fraca, mas meus olhos semicerraram-se
por causa do brilho. Mal registrando que murmurei algo, alguém se
mexeu nas proximidades.
Mãos quentes foram colocadas contra meu pulso, capturando a pele
macia entre um polegar e dois dedos fortes.
Outra mão passou pela minha testa, removendo quaisquer fios de
cabelo ofensivos que tentavam rastejar pelo meu rosto.
Em seu rastro, deixou aqueles belos arrepios que eu conhecia tão bem.
Eles eram pouco mais que sombras, mas eu sabia quem ocupava o
espaço comigo.
Nenhum dos dois falou, tomando o interior da sala silencioso.
Minha respiração era superficial, mas doía muito tentar inspirar
profundamente.
Em vez disso, fechei os olhos mais uma vez, contente por saber que
podia sentir algo.
Embora, no momento, não fosse tão agradável sentir o desconforto do
meu próprio corpo enquanto ele estava lá.
A febre e o calor, no entanto, não eram mais meus companheiros. Por
isso, eu estava grata.
O Dr. Thomas soltou minha mão suavemente enquanto Slate
continuava a traçar carícias leves como uma pena no meu rosto, fazendo
com que essas sensações saltassem pela minha pele.
Meu corpo ansiava pelo dele, o próprio toque ajudando a combater as
dores que eu estava começando a me familiarizar.
O desejo de me empurrar em seu toque era forte, embora eu não
tivesse ideia se era ou não forte o suficiente para fazer isso de fato.
O silêncio permaneceu ali, como se houvesse algumas palavras não
ditas das quais eu não tinha conhecimento.
Mais uma vez, tentei abrir os olhos, forçando as pálpebras a se abrirem
por pura vontade enquanto compelia minha boca a pronunciar palavras
que simplesmente não queriam vir.
Minha boca estava seca, fazendo os ruídos passarem por minha
garganta. Lágrimas brotaram dos meus olhos enquanto minha frustração
crescia.
Virando minha cabeça, eu pude sentir uma lágrima escorrer, causando
uma sensação desconfortável quando o gosto salgado chegou em meus
lábios rachados.
Seu toque nunca me deixou.
— Shh, jyoti. Eu estou aqui.
Um soluço ficou preso na minha garganta, fazendo com que o
desconforto aumentasse.
Um copo d’água estava em suas mãos enquanto ele me ajudava a
sentar o suficiente para beber.
Tomando alguns goles, fiquei surpresa que apenas metade conseguiu
descer pela minha garganta enquanto o resto respingou no meu queixo.
Slate se aproximou de mim e deu um beijo na minha testa.
— Você precisa descansar agora.
A sensação das mãos que se alisavam contra minha pele era muito
boa, e me inclinei sobre elas tanto quanto meus movimentos permitiam,
fechando os olhos mais uma vez.
Uma pontada no ombro me fez sibilar, durando apenas um segundo...
ou dois.
Eu não tinha certeza porque estava me perdendo em seu toque,
permitindo que seu toque me embalasse em sua suavidade enquanto eu
encontrava conforto nele.
O toque rítmico me envolveu em sua magia e comecei a cair no sono.
Quando a porta se abriu, me assustou. Foi quase o suficiente para me
tirar daquele momento feliz.
O que o médico me deu?
— Brooke?
Eu podia ouvir a preocupação na voz de Mark, mas era difícil resistir o
que quer que o médico tenha me dado.
— Ela está... funcionou?
Nenhum ruído foi feito, nenhum grunhido de afirmação, mas ele deve
ter recebido sua resposta.
Eu ouvi um arrastar de pés, e então ouvi um rosnado quando Slate
rugiu ao meu lado. Quando Mark falou novamente, havia um tom de
tristeza.
— A matilha dela chegou. Quando ela estiver bem, finalizaremos
minha parte do acordo. No baile de outono...
Sua parte do acordo? O baile de outono?
Era algo para outra hora. Quando eu acordasse, teria que perguntar.
Capítulo 32
SLATE

Detenha-o!
O comando soou em minha mente enquanto o lobo encarregado
desta operação disparava ordens através de uma versão solta de uma
conexão de matilha entre selvagens.
Certamente era fácil de hackear, mas o lobo encarregado não parecia
sentir a intrusão nem um pouco.
Isso era lamentável, pois significava que ele não era o chefe nesse
bando de desajustados.
Dois lobos surgiram e eu parei meus movimentos enquanto eu agora
calmamente permanecia em minha forma meio transformada,
observando e ouvindo o próximo comando de dentro da cobertura de
árvores.
Quanto mais o lobo que emitia as ordens falava, mais eu poderia
restringir sua localização.
Uma espécie de triangulação, sem a tecnologia.
Os dois lobos na pequena clareira eram barulhentos e destreinados
como guerreiros.
Aos meus olhos, o pequeno marrom parecia muito jovem para estar
bem preparado para o que estava sendo levado.
O lobo preto mais velho parecia apenas um pouco mais maduro, e não
muito mais treinado.
Sian e Jackson foram na frente para perseguir a meia dúzia de lobos
que receberam a ordem de descer sobre nossa pequena cidade.
Com não metamorfos vivendo entre nós, não seria de nosso interesse
permitir que esses selvagens se aproximassem demais.
No entanto, eu não deixaria passar cada um deles para travar uma luta
poderosa contra as bestas tolas que vagueavam pelo nosso território.
Eu não estou vendo-o, o lobo menor falou hesitantemente através da
conexão mental precária.
Encontre-o. a voz rouca trovejou através da conexão comunitária.
Isso mesmo, continue falando garotão... deixe-me descobrir sua
localização.
Os pensamentos estavam mais fortes em minha mente quanto mais
perto dessa besta eu ficava, e eu pretendia chegar muito perto.
Eu virei minhas costas para os dois homens que estavam me
procurando, sabendo que eles não seriam uma ameaça.
Meu cheiro estava disfarçado e, nesse ritmo, eles só seriam capazes de
me encontrar se eu deixar que me encontrassem.
Meu objetivo naquele exato momento era cortar o mal pela raiz e
então assistir o resto murchar.
Os dois lobos pisavam com cuidado, tentando ao máximo não fazer
barulho, mas era inútil com a falta de treinamento.
Quando os ouvi inspirar profundamente, me virei para ver seus
narizes no ar.
Sorrindo, não pude resistir a deixar meu cheiro de alfa permear a área,
absorvendo tudo entre mim e eles com meu cheiro claramente
dominante.
Se eles fossem sábios, eles atenderiam ao meu aviso.
O menor deles começou a sentir o meu cheiro.
Ele está aqui, ele entrou em pânico.
Encontre-o e mate-o a voz trovejou.
Eu—ele é um—nós não podemos ele gaguejou pela conexão.
Lobo sábio.
Acho que você não entendeu o que está em jogo aqui, LOBO.
As palavras eram ameaçadoras e eu parei minha perseguição para
voltar minha atenção para os jovens lobos.
Talvez você tenha esquecido e precise de um pequeno lembrete.
O lobo no comando deu uma pequena pausa dramática para enfatizar
seu ponto.
Se você não seguir em frente, você e sua filha ficarão sem comida por uma
semana! Estamos entendidos?
A voz era condescendente e ameaçadora, sem o menor sinal de
compaixão.
Sim o pequeno lobo marrom praticamente choramingou pela
conexão.
Uma raiva que eu não sentia há alguns anos, além da que sentia pela
Alfa Gretchen, começou a ferver dentro de mim.
Você não pode fazer isso, o lobo ligeiramente maior ao lado dele
finalmente falou.
Não me irrite, Novac! Você concordou com isso. Você deve ganhar seu
sustento. o rosnado filtrou-se. Agora, encontre aquela besta e mate-a!
Os dois lobos lançaram um olhar cauteloso entre eles antes que eu
ouvisse aquele chamado Novac falar pela conexão novamente.
Está bem, ele falou com firmeza.
Eu observei seus maneirismos, estreitando meus olhos para ver o
conjunto firme de sua determinação cair como uma máscara sobre suas
feições.
Então, assim será!
O lobo menor começou a choramingar e Novac balançou a cabeça. Na
clareira, ele fez um apelo sincero ao seu companheiro por meio de uma
conexão mais privada.
Ouça-me, Birch.
Você tem que voltar para o acampamento. Tire sua filha, meu filho e
minha esposa de lá. Devo ficar aqui para que nossa conexão com Malcolm
não seja rompida.
Se ele suspeitar do que estou lhe dizendo para fazer, ele mandará matar
todos antes que possamos voltar para lá.
Então, o animal no comando se chama Malcolm, não é?
Resmungando baixo, eu me perguntei que outras informações esses
dois estavam a par.
Mas... Birch começou.
Novac balançou a cabeça.
Lembre-se do que eu te ensinei. Rompa sua conexão com Malcolm. Direi a
eles que você não sobreviveu ao ataque.
Birch rosnou baixo quando ele começou a ganhar coragem. Não, eu
posso ficar e lutar!
Novac rosnou para o lobo mais jovem.
Você deve viver para voltar para sua filha! Ela é muito nova para ficar sem
pai. Pegue sua filha, minha esposa e meu filho, deixe o acampamento dos
selvagens e vá procurar ajuda.
Houve uma pausa e eu pude sentir a transformação no ar.
Eu não vou aguentar muito tempo contra uma besta como ele, então
aproveite o tempo que posso dar a você. Vá, agora!
Você não pode lutar com ele!
Novac começou a se afastar de
Birch. Infelizmente, ele respondeu por meio da conexão,
Eu preciso fazer isso! Se não, ambos pagaremos com a vida e nossas
famílias sofrerão.
Com essa admissão final, Novac ergueu o nariz outra vez e estremeceu
ligeiramente.
Minha mandíbula cerrou tanto que fiquei surpreso que os dois não a
ouviram estalar com a raiva que eu sentia contra tal tirania.
Antes que o menor pudesse ir embora, eu pisei nas patas traseiras.
Eles deram uma olhada e eu pude sentir o cheiro do medo vazando
por seus poros.
Novac foi o primeiro a cair em si e enviou um olhar astuto ao
companheiro antes de tentar me atacar.
Quando ele estava a quase 2, 5 metros de distância, eu estendi minha
mão na minha frente.
Seus pés se atrapalharam sob ele quando ele caiu de cara na terra sob
seus pés.
O lobo marrom tentou correr na direção oposta, mas eu precisava dos
dois a bordo se queria que isso acontecesse.
Eu estendi minha outra mão para impedir sua fuga.
Quando os congelei como uma audiência em cativeiro, falei por meio
de sua conexão privada.
Quem está usando suas famílias como uma arma de obediência?
Minha voz rosnou através da conexão, e eu pude sentir o nojo viajar
com ela.
Novac lançou um rápido olhar para seu companheiro e rosnou.
Embora eu já soubesse quem era o traidor, ele fez questão de anunciar.
Não diga nada, Birch!
No momento, eu tinha controle de meus poderes e dos dois lobos na
minha frente.
Se mais aparecessem, eu não tinha certeza de quantos eu seria capaz
de controlar antes que meus dons de Alfa Superior vacilassem.
Chegando perto de Novac, eu sabia que tinha que agir rapidamente.
Se você quer poupar sua família, comecei quando meu peito roncou com o
desgosto de ter que forçar alguém a me permitir salvá-los, então você não vai
impedi-lo de responder
Meus olhos prateados brilharam quando eu os estreitei em Novac, e
ele engoliu em seco.
Quem está usando suas famílias como uma arma de obediência? Repeti a
pergunta.
E só para ficar claro, acrescentei, e quero o nome do lobo que está no
comando. Aquele que comanda Malcolm.
Que gosto amargo esse nome na minha língua! Qualquer pessoa que
usasse mulheres e crianças inocentes para dominar não valia muito na
minha opinião.
Mas se eu realmente quisesse a cabeça da cobra, não seria a de
Malcolm.
Como esperado, foi Birch que finalmente cedeu.
Por favor. implorou. Por favor, se contarmos, eles vão matá-los. Eles
vão matar todos eles!
Quando me virei para olhar para Birch, eu tinha um meio sorriso que
pareceria ameaçador na minha forma meio transformada.
Bem, eu diria que você tem duas opções, então.
Você quer me dizer o que eu quero saber e minha equipe e eu resgataremos
suas famílias, ou você segura a sua língua e corre a mínima possibilidade de
ter sucesso com sua pequena manobra.
Está claro que nenhum de vocês foi treinado o suficiente para caçar
coelhos, muito menos ajudar toda a sua família a escapar sem ser pego e
abatido.
Eu liberei meu aperto sobre os dois, sentindo uma leve tensão com o
esforço.
Assim que os soltei, Novac tentou mais uma vez correr em minha
direção e eu o contive facilmente.
Ele precisava saber que não tinha chance contra mim, mesmo sem
usar meus dons.
Quando ele correu mais uma vez, eu me desviei dele e estendi meu
braço ao meu lado. Acertei-o na garganta quando ele caiu sem fôlego no
chão.
Birch ficou a apenas alguns metros de distância enquanto observava
com uma expressão petrificada.
Agora, quem faz isso?
A voz de Birch estremeceu através da conexão.
Seu nome é—
Não, não!
Novac o interrompeu, tentando impedi-lo de dizer o nome que temia
selar o destino deles.
Novac tentou se levantar, mas sua respiração ainda estava ofegante.
Que tal isso, então? Ajoelhei-me em direção a Novac, abaixando-me
intencionalmente para onde nossos olhos estavam no mesmo nível.
Dentro da minha conexão com minha própria matilha, eu emiti
comandos que poupariam esses lobos e suas famílias, estivessem eles
dispostos ou não.
Naquele momento, muitos uivos começaram a envolver nós três
naquela pequena clareira, e eu vi algo como medo e admiração passar por
seus olhos.
Vamos agora salvar suas famílias.
Ambos os lobos trocaram olhares esperançosos e então se viraram
para me olhar mais uma vez.
O que você ganha com isso? Novac perguntou.
Era uma pergunta justa, mesmo que eu não gostasse de ser
questionado sobre meus motivos.
Depois de recuperá-los, você me diz o nome do homem no comando.
Quero saber tudo o que você sabe sobre ele e seus seguidores.
Embora Birch estivesse muito disposto a aceitar o negócio, Novac
empalideceu.
Existem boas pessoas entre eles. Não podemos simplesmente entrar e
massacrar todos eles!
Minha sobrancelha se ergueu e o pelo prateado ultrapassou minha
pele.
Então você pode querer se conectar com todos que deseja poupar e dizer a
eles que estamos chegando. E se eles atacarem a mim ou aos meus homens,
eles não sobreviverão.
Com isso, deixei a transformação me envolver totalmente.
Birch já estava começando a correr na nossa frente para nos guiar até
o acampamento onde suas famílias estariam.
Novac se esgueirou ao meu lado quando comecei a seguir seu
camarada.
Como podemos confiar em você? Você pode simplesmente matar todos
eles.
Você não pode confiar em mim..., mas vai.
Slate, Carter me chamou, temos a confirmação daqueles que estão sob
nossa custódia. Sian e eu estamos indo para o acampamento.
Temos diversos sentinelas no perímetro da propriedade e dispensando os
selvagens restantes que não estão obedecendo
Eu não respondi. Não havia necessidade.
E Slate?
Não respondi, simplesmente esperei.
O Dr Thomas disse que você pode querer voltar para casa. Brooke está
começando a acordar
Com essa mensagem, minhas patas quase pararam. A notícia quase fez
meu coração explodir no peito.
Por muito tempo eu tinha ficado sentado ao lado da cama na
esperança de que ela acordasse, e ficava decepcionado a cada dia com seu
sono contínuo.
Estar perto dela apenas preenchia essa dor em um pequeno grau.
Agora eu estava diante de uma decisão que me consumia, mas eu
sabia qual seria o resultado.
Por mais que eu quisesse estar lá quando seus olhos se abrissem, eu
sabia que precisava ajudar a trazer as famílias desses homens para um
lugar seguro.
Mande as coordenadas!
Houve apenas uma pequena pausa antes que Carter as enviasse pela
conexão. Estava claro que ele queria discutir comigo, mas pensou
melhor.
Sabendo meu destino, respirei fundo e empurrei minha besta para se
mover mais rápido.
Quanto mais cedo libertarmos os prisioneiros deste acampamento,
mais cedo poderei voltar a convencer Brooke do seu lugar a meu lado.
Eu resmunguei baixo.
Definitivamente, derrubar todo o acampamento seria mais fácil do
que a tarefa que me esperava quando voltasse.
Restava-me esperar que ela fosse mais receptiva.
Capítulo 33
SLATE

Meus homens cercaram o acampamento e, no momento, aguardavam


ordens minhas.
Novac, Birch e eu não estávamos nem perto do acampamento, e com
bons motivos.
A trilha que deixei atrás de mim com meu cheiro era intencional.
Seria o suficiente para levá-los direto a nós.
Agora era a hora de o resto do plano se desenrolar.
Antes de deixar nossa pequena cidade, Sian e Carter colocaram cada
um dos lobos que receberam ordens de matar e mutilar aqueles em nossa
cidade em sua própria cela.
Suas celas estavam contidas dentro do labirinto subterrâneo esculpido
na rocha da montanha.
Cada um deles ocupava sua própria seção na prisão subterrânea.
As celas eram pequenas o suficiente para não criarem o efeito de eco
que se poderia suspeitar que encontraria nas cavernas abaixo.
Depois de interrogar cada um, eles descobriram que três dos quase
doze capturados eram leais a este animal selvagem.
Os lobos restantes estavam lá pelas mesmas razões que Novac e Birch:
proteger suas famílias.
O pensamento trouxe outra onda de raiva em minha pele.
Eu respirei profundamente com nojo.
Você tem certeza de que...
Carter começou a perguntar e então parou como se estivesse tentando
encontrar as palavras certas, mas eu sabia o que ele iria perguntar antes
mesmo que ele tivesse a chance de terminar seus pensamentos.
Você tem certeza de que tem força para fazer isso... sem causar ferimentos?
Conversamos por meio de uma conexão privada e pude ouvir a
preocupação em seu tom normalmente jovial.
Nós dois sabíamos que sua força estava em sua calma... em sua
habilidade de considerar a seriedade de cada situação e lidar com ela com
uma qualidade serena sobre ele.
Sua preocupação me deixou nervoso. Era uma tarefa tão simples, na
verdade.
Porém, com o enfraquecimento do meu poder, isso colocaria uma
tensão em mim que poderia levar alguns dias para me recuperar.
A essa altura, eu nem tinha coragem de reclamar da pergunta. Ambos
sabíamos o que estava em jogo.
Vamos fazer isso funcionar
Era a maneira mais segura de libertar essas famílias de seus
sequestradores. Fracassar não era uma opção.
Carter permaneceu com um pequeno grupo de soldados de elite e
caçadores enquanto aguardavam o comando de Sian.
Ele e seus homens e mulheres estavam a cerca de 400 metros do
acampamento enquanto Sian e sua equipe testavam o perímetro.
O momento tinha que ser perfeito para que tudo acontecesse como
eu planejei.
Quando Sian finalmente falou, senti um pouco da tensão se dissipar.
Na verdade, havia uma grande chance de tudo correr conforme o
planejado.
Foi um pequeno consolo, considerando como as coisas estavam ruins
em outras áreas da minha vida, especialmente na minha vida pessoal.
Há guardas posicionados em intervalos ao redor do perímetro, Sian falou.
Ele estava fazendo um reconhecimento em tomo do acampamento e
era o último elemento que estávamos esperando.
Nós conseguimos cuidar deles?
Depois de colocar as coisas em ação, eles seriam os primeiros a serem
contidos.
Sim Sian respondeu.
Mesmo que ele tenha respondido minha pergunta, eu ainda podia
sentir sua presença na conexão.
Esperando, acalmei minha mente para sentir a energia que ele emitia.
Havia algo mais... algo que o preocupou o suficiente para enviar ondas
desse sentimento através da conexão.
Fale, Sian.
Encontramos gaiolas, Alfa. A situação... não é nada boa. Crianças e
mulheres em sua maioria. Elas estão sendo mantidas em pequenas celas ao ar
livre.
A raiva estava feroz dentro de mim e eu a deixei transbordar.
Isso me ajudaria a aproveitar meus dons. Raiva sempre era melhor
servida fresca.
Parece que eles transportam as crianças em uma grande cela...
acorrentadas. Elas não têm... nada.
A própria fúria de Sian queimava profundamente e eu queria ser capaz
de dar satisfação a ele.
Tudo o que elas usam é uma coleira de metal que parece estar ligada a um
detonador.
Tempo... tudo estava no tempo perfeito, e estava chegando a hora.
Carter, você tem um dispositivo EMP em seu arsenal?
Esperei a afirmação mais do que um pouco impaciente, mas sabia que
esses homens estavam sempre preparados para qualquer eventualidade.
Hoje não seria diferente.
Afirmativo, Carter respondeu.
Assim que o perímetro estiver seguro, programe-o para desativar as
coleiras. Pode ser necessário chamar o Mac para removê-las, se necessário.
Mac era um dos homens delegados a um dos territórios aqui neste
continente.
Era uma missão relutante, incentivada por meu pai.
Um homem que respeitava o poder sobre a misericórdia, a
intolerância sobre a compaixão e a força sobre a ternura.
Por insistência do meu pai, concedi a ele o território do Nordeste aqui
nos Estados Unidos.
Não havia território menor aqui, mas ele teve sorte em ter sequer um.
O único valor do homem era seu gênio tecnológico.
Ele poderia trabalhar com a maioria dos equipamentos eletrônicos e
criar ferramentas valiosas para os alfas e as matilhas em nosso próprio
território.
Ferramentas normalmente destinadas a impedir os humanos de
descobrir nossa verdadeira natureza, mas neste caso, ele estaria ajudando
a proteger nossa espécie dos impiedosos que prosperavam entre nós.
Eu direcionei meus olhos para os lobos de cada lado de mim, dando-
lhes um olhar significativo. Ambos baixaram a cabeça em concordância.
Novac me lançou mais um olhar cauteloso com o canto do olho antes
que eu fechasse os olhos para me concentrar na minha tarefa.
Mais uma vez, abri a conexão de três vias entre mim, Carter e Sian.
Eles saberiam no momento em que tudo começasse. O perímetro
seria tomado primeiro e rapidamente.
Concentrando-me nos alvos que Sian me deu, quebrei a conexão
frágil entre o alvo e o grupo desorganizado de selvagens.
Pop... pop... pop.
A sensação era de alguém torcendo plástico-bolha em lenta sequência.
Cada vez que uma conexão era cortada, Sian e seus homens
restringiam o lobo que agora estava isolado do resto.
Pop... pop... pop. Até que todo o perímetro estivesse seguro.
Seguro. ele confirmou quando eu cortei o último de sua tênue
conexão.
Minha respiração estava um pouco ofegante no final dessa tarefa, mas
foi o suficiente para me fazer pensar no resto do meu plano.
Coloque-os no transporte. Certifique-se de acorrentá-los como aqueles que
eles aprisionaram.
Sian seguiria meu comando e teria imensa alegria em executar essa
forma de punição. A postos!
Enviei a ordem por meio da conexão para meus comandantes.
Os dois homens ao meu lado pareciam inquietos. Novac estreitou os
olhos no meu rosto.
Eu balancei minha cabeça de um lado para o outro, avisando-o para
não continuar olhando muito profundamente.
Nesse momento, os dois homens deveriam ir embora.
Em alguns segundos, sua conexão seria dizimada junto com as outras,
mas meu cheiro continuaria a ser um farol para aqueles que ainda eram
leais.
Quando ele me deu as costas, Birch fez o mesmo. Os dois homens se
posicionaram diante de mim e pararam completamente de se mover.
Fiquei surpreso ao ver que os dois simplesmente lançaram um olhar
rápido por cima do ombro antes de entrarem em posições defensivas.
Esses homens pretendiam me proteger!
Minha consideração sobre eles aumentou consideravelmente, embora
eu acreditasse que eram tolos.
Isso não fazia parte do plano. Embora, eu tenha ficado honrado com o
gesto.
Não sejam tolos, eu disse.
E não pense que não podemos perceber quando você precisa de nós. Você
pode ser o grande e mau Alfa Superior, mas precisa de ajuda. E... eu não
tenho o hábito de... abandonar alguém quando ele mais poderia precisar.
Eu poderia discutir com eles, mas a verdade é que precisava deles.
Eles sabiam o que estava prestes a acontecer e eu precisava que eles
desempenhassem seu papel.
Resmungando baixinho, percebi que teria que encontrar uma maneira
de protegê-los. De qualquer forma, foi um gesto gracioso.
Se você insiste. resmunguei para ele. Agora, chame-o para nós.
Eu deixei minha mente tranquila enquanto alcançava profundamente
a conexão que Novac e Birch mantinham.
Nós o encurralamos! Birch disse pela conexão.
Veja, enquanto todos os outros corriam em direção ao acampamento,
nós fugimos dele.
Deixar um rastro do meu cheiro seria o suficiente para encorajar
aqueles que vasculharam a floresta procurando por mim a me
encontrarem, e mantê-los a quilômetros de onde eles não eram
desejados.
Excelente!
E lá estava ele. Exatamente o homem que eu precisava.
Estou enviando mais para sua localização. Equipe Delta...
Ele nunca teria a chance de emitir esse comando. Eu tinha-o
bloqueado, e agora me concentrei em cortar todas as conexões que ele
mantinha.
Foi como bater um cilindro invisível com pontas afiadas sobre todo o
seu ser, da cabeça aos pés.
Quem quer que estivesse realmente no comando estava ligado apenas
a Malcolm, e era Malcolm quem mantinha o vínculo provisório sobre
aqueles que ele comandava aqui.
Foi engenhoso, quase como se houvesse alguém nas hierarquias que
soubesse como seus poderes funcionavam.
Mas também funcionaria contra eles. Agora eles estavam ficando no
escuro!
Com cada grama de energia que tinha em mim, forcei as conexões a se
separarem. A sucessão de estalos encheu meu crânio, ecoando nos
recessos do meu cérebro.
O esforço quase me derrubou enquanto vários segundos se
arrastavam, cada conexão cedendo mais rápido do que a anterior.
O último pop ressoou em minhas veias. Estava feito.
Meus joelhos dobraram sob meu peso e tropecei para me segurar.
Os dois lobos que insistiram em me defender começaram a rosnar, e
isso só poderia significar uma coisa. Eles estavam vindo.
A conexão provisória que eu mantinha com Malcolm zumbia
vibrantemente com sua raiva.
Você acha que ganhou? Este é APENAS o começo.
O rosnado em seu tom sublinhou suas palavras antes que ele
quebrasse a conexão.
Embora pudesse recuperá-lo se conseguisse um pouco mais de força,
precisava de tudo o que tinha para aqueles que se aproximavam.
Por meio da conexão, pude ouvir meus dois comandantes se
comunicando para garantir a segurança de todos os envolvidos.
O EMP soou e os soldados receberam um dispositivo magnético para
colocar sobre os colares eletrônicos para evitar que alguém pudesse
disparar o detonador.
Eles estavam recolhendo os detritos, e fechando-os um a um.
Por mais grato que estivesse por saber que tudo havia corrido como
planejado, também estava lutando contra o cansaço para enfrentar o que
estava por vir.
Três lobos emergiram das árvores em uma rajada de pelos, correndo
em nossa direção com dentes ferozes e rosnadores.
Novac e Birch avançaram com os caninos expostos, rosnando
ferozmente enquanto corriam para enfrentar o ataque.
Enquanto eu me levantava com as pernas trêmulas, rosnei
ferozmente.
Mesmo em meu estado enfraquecido, eu ainda seria mais rápido e
mais forte do que essas feras se pudesse apenas conseguir forças.
Mais três animais se moveram das árvores à minha direita e me virei
para encará-los.
Um deles se jogou no meu flanco enquanto eu cambaleava para o lado
para evitar que seus dentes afundassem em minha pele.
Outro tentou me distrair me acertando de frente enquanto o terceiro
deu a volta para me atacar por trás.
Todas as táticas justas na batalha, pelo menos contra aqueles que não
treinaram contra eles.
Com minha energia diminuindo, tive que usar minhas próprias
estratégias. Enquanto eu tropeçava, deixei minhas patas recolherem
pequenos seixos e areia dentro de seus limites.
Depois de me mover de uma das mãos, esperei que a outra circulasse
diretamente atrás de mim.
Assim que ele cambaleou para frente, coloquei minhas patas atrás de
mim enquanto reunia energia suficiente para avançar.
Os pequenos seixos e areia atingiram com precisão treinada.
Eu ergui minhas garras diante de mim e as afundei com força sobre a
besta que tentou me atacar.
Birch gritou quando um lobo cravou os dentes em seu ombro, e isso
me deu um novo impulso. Minha forma de lobo avançou com as
mandíbulas abertas.
Minha visão ficou vibrante quando ele assumiu o controle total e, pela
primeira vez na minha vida, eu o deixei!
Com mandíbulas poderosas, meu lobo rasgou a carne do pescoço da
besta que segurava Birch. Foi primitivo e feroz.
Balançando-se nas patas, ele abaixou a cabeça quando um deles
avançou e o jogou prontamente sobre o corpo.
O lobo caiu com um baque alto atrás de mim, e então meu lobo
lançou uma pata enorme na direção do outro que estava convergindo.
A pata cortou o rosto do jovem lobo que estava atacando e deixou sua
mandíbula quebrada e em pedaços.
Três lobos abatidos, três e ainda faltam alguns.
Mais entraram no espaço, cada um com desenhos pelo meu sangue.
Meu lobo rosnou com uma selvageria que eu nunca tinha visto antes.
Ele precisava de sangue... precisava de vingança... precisava de sua
companheira.
Tudo me inundou: sua raiva e fúria, sua necessidade, sua
possessividade, sua angústia.
Cada lobo que se atreveu a chegar ao seu alcance sentiu cada emoção
enquanto guerreava dentro dele, descontrolado e feroz.
Novak e Birch se posicionaram ao meu lado enquanto frustravam os
ataques da retaguarda, mas agora sabiam que nem eu nem meu lobo
permitiríamos que mais alguma coisa acontecesse com eles.
A clareza de visão, os cheiros aguçados e os sons agudos estavam
inundando meu ser.
E eu o deixei colocar para fora seu sofrimento com cada besta que ele
derrubou.
Os sons dos meus homens se aproximando me deram satisfação
quando a força do meu lobo diminuiu mais uma vez.
Quando Carter apareceu, ele se deparou com um monte de feras
derrotadas para enfrentar.
Com sua presença, meu lobo se retirou e eu caí no chão, sem forças.
Capítulo 34
BROOKE

Quando finalmente consegui acordar, estava em um quarto que não


reconhecia.
Eu fiz uma careta enquanto tentava rolar e olhar ao meu redor.
As cortinas estavam fechadas, mas a luz que as rodeava me fez
acreditar que a noite já havia passado.
A cama era enorme, e o edredom estendido sobre mim era feito de
penugem e muito confortável.
As paredes eram pintadas de um azul prateado com guarnições
brancas e sancas.
As cortinas eram de um prata brilhante com véu branco cobrindo-as e
espreitando por trás delas.
A cama e os móveis eram todos brancos para combinar com os
acabamentos.
Era um quarto lindo e decorado com bom gosto como o último em
que estive.
Tentando me sentar, gemi com o esforço. Minha cabeça doía, mas
meu estômago roncava por alimentação.
Uma solução intravenosa estava fixada ao meu braço com esparadrapo
e quase me perfurou quando tentei mover meu braço.
Sibilando, tentei arrancar a coisa ofensiva do meu braço.
— Oh céus! Não tente tirar isso ainda. Deixe-me buscar Brett.
Pamela saiu rapidamente do outro lado do quarto e disparou porta
afora.
Uma onda de tontura tomou conta de mim e eu tive que me deitar
por alguns minutos antes de me permitir mover novamente.
Antes que eu pudesse controlar qualquer outro movimento, Pamela
voltou com o Dr. Thomas.
Quando ele entrou no quarto e me viu, ele sorriu brilhantemente.
— Bern, bom dia, Srta. Marlin. Bem-vinda de volta à terra dos vivos.
Pamela cutucou seu braço quando ele disse
isso. — Não assuste a pobrezinha.
Ela se virou para mim. — Você estava muito doente, mas tudo isso
ficou para trás agora.
Ela puxou o edredom ainda mais em tomo de mim, como se estivesse
me cobrindo.
Ela era muito atenciosa. Não me surpreende que as crianças
adorassem estar perto dela. Ela tinha uma natureza tão amorosa sobre
ela.
Então, por que tudo isso me deixou tão desconfortável?
O Dr. Thomas riu dela.
— Você certamente é uma mulher de muita sorte. Você tem um grupo
de apoio muito atencioso.
Ele sorriu para Pamela enquanto ela se movia pela sala ocupando-se
até que ele fizesse o que precisava. Ele pegou minha mão e verificou meu
pulso.
— Muito melhor. Forte e estável.
Ele moveu a mão em volta do meu rosto, em seguida, verificou
minhas extremidades.
— Você precisará se adaptar para se mover e andar. Mais de uma
semana na cama pode deixar seus membros um pouco fracos. Então,
tenha calma. Não tente fazer muito de uma vez.
Ele me lançou um olhar severo.
— Estamos entendidos?
Eu balancei a cabeça ligeiramente.
— Esforço excessivo pode colocá-la de volta na cama.
Então ele sorriu.
— Algumas pessoas querem muito ver você, mas vou limitar seus
visitantes pelos próximos dois ou três dias até que você volte a ser como
era antes.
Eu abri minha boca para dizer algo, mas meus lábios rachados e
garganta seca não permitiriam que mais do que um som áspero saísse.
Essa deve ter sido a deixa de Pamela. Ela empurrou o médico para fora
do caminho para ficar ao meu lado.
Colocando um canudo contra meus lábios, tomei alguns goles que
derramaram sobre o percurso ressecado em minha boca.
Foi curativo e doloroso ao mesmo tempo—além de bem-vindo.
— As crianças estão morrendo de vontade de vê-la, mas Brett diz que
eles têm que esperar alguns dias.
Ela lançou um olhar feio a ele, que depois virou um olhar resignado
para mim.
— Embora, olhando para você agora, eu posso ver por que ele quer
que você espere. Eles são cheios de energia, e você ainda precisa ir com
calma.
Ela riu.
— O pequeno Hayden tem falado de todos os jogos que deseja jogar
com você, mas não tenho certeza se você está pronta para warball e pega-
pega.
Pamela riu com uma meia careta no rosto.
— Ele definitivamente é um espoleta.
Um sorriso deslizou pelo meu rosto. Ele sempre foi o mais ativo dos
dois meninos.
Sem dúvida Aaron teria inteligência suficiente sobre ele para ser capaz
de lidar com uma visita, mas Hayden não deixaria algo assim acontecer
sem ele estar junto.
Então, uma pequena parte de mim estava grata pelo Dr. Thomas ter
feito algumas restrições no momento, pelo menos. Mas, nossa, como
sentia falta deles!
Tentei mais uma vez resmungar palavras que fizessem sentido. —
Onde...
Essa pequena palavra mal saiu da minha boca quando Pamela
respondeu. — Onde você está?
Eu concordei.
— Oh! Eles trouxeram você para cá quando você estava doente.
Eu franzi a testa.
— Aquele seu alfa é tão superprotetor. Ele queria colocar você em
quarentena de todos. Ele estava preocupado que um de nós pudesse estar
com um resfriado ou um vírus que você pudesse pegar e piorar as coisas.
Embora eu tenha lançado a ela um olhar engraçado, ela não pareceu
notar. Em vez disso, ela pegou um pano e enxugou minha testa.
— Eu juro que tive que passar por tantos obstáculos antes que aquele
homem estivesse disposto a me deixar chegar perto de você.
Sua risada suave era boa de ouvir.
— Você deu um susto em todos nós.
Eu fiz uma careta. Cada vez que a mulher falava, eu sempre descobria
que tinha mais perguntas do que respostas.
Por mais que tenha me frustrado, era uma bênção. Pelo menos alguém
estava disposto a me dizer algo
— Todo mundo colaborou para deixar este lugar pronto para você. Os
jardineiros têm trabalho quase sem parar desde que você... bem, estou
apenas surpresa que eles não a acordaram.
Ela sorriu ao dar um tapinha na minha mão, então se levantou e
voltou para a janela que ela estava mexendo antes.
Agora, ela abriu apenas uma fresta nas cortinas para deixar entrar
mais luz.
Por mais que eu quisesse ver além das cortinas, o brilho que entrava
era mais do que meus olhos estavam prontos para receber.
— Assim que você estiver pronta, as crianças poderão se mudar para
seus quartos.
Ela se virou para mim, mas estava de costas para a luz e eu não
conseguia ver seu rosto com clareza.
Ela deve ter visto minha cara e descoberto que eu estava pronta para
protestar, pois ergueu a mão para me impedir de tentar.
— Deixe-me reformular isso. Assim que você estiver pronta e Brett
liberar, então eles podem se mudar
Eu franzi meu rosto para refletir minha desaprovação, e ela apenas riu
de mim antes que eu voltasse a mesma expressão para o bom médico ao
meu lado.
O Dr. Thomas balançou a cabeça e riu.
— Não se preocupe em olhar para mim assim. Você ainda precisa
descansar.
Ele pegou uma seringa e esvaziou seu conteúdo na bolsa intravenosa.
Comecei a protestar, mas era tarde demais. Ele olhou para mim.
— E apenas para aliviar e vai ajudar com a dor de cabeça.
Ele se afastou de mim e recolheu suas coisas.
— Eu voltarei e verificarei você esta noite.
Pamela ficou comigo a maior parte da manhã e adorei sua companhia.
Ela passou o tempo falando sobre os eventos atuais de sua cidade
escondida e o baile que se aproximava.
Eles pareciam uma comunidade muito unida, e eu me perguntei
brevemente como seria a sensação de fazer parte dela.
Sem dúvida seria bom às vezes, mas eu também poderia imaginar o
quão importuno poderia ser em outras.
Depois do almoço, Pamela limpou os vestígios da nossa refeição.
Enquanto ela estava na cozinha, alguém bateu na porta.
Minha voz ainda estava fraca, na melhor das hipóteses, então não
tentei dizer nada, mas infelizmente isso não evitou a interrupção que se
seguiu.
Quando a porta se abriu, Slate enfiou a cabeça para olhar o interior do
quarto.
No momento em que o vi, duas emoções guerreavam uma com a
outra. Uma parte de mim quase gemeu.
Eu não precisava de mais complicações na minha vida, e ele parecia
ser uma complicação enorme.
A outra parte deleitou-se com a proximidade e o cheiro dele.
Ela absorveu-o por inteiro e envolveu-o em todas as suas partes que
conseguia aguentar sem se sobrecarregar.
Loucura, apenas outra forma disso.
Minha vida não era mais previsível.
— Se importa se eu entrar? — O timbre quente em sua voz era mais
como um bálsamo curativo do que a injeção que o médico me deu antes
de ir embora.
Não havia muito que eu pudesse dizer, então simplesmente desviei o
olhar dele e dei de ombros, tentando colocar um ar de indiferença entre
nós.
Fechando a porta atrás dele, ele deixou seu olhar vagar sobre mim.
Eu sabia que ele tinha estado comigo algumas vezes durante minha
doença, e uma grande parte de mim era grata por tudo o que ele tinha
feito por mim.
O problema não era realmente ele e como ele me tratava.
Era tudo eu, minha devoção à minha família e meu desespero para me
apegar ao que eu conhecia.
Mas, a cada nova coisa que aprendia, ficava insegura sobre mim
mesma e ainda menos segura sobre Mark.
Quando seus pés caminharam enquanto ele cruzava o quarto para a
cadeira ao lado da minha cama, meu coração apertou.
Rapidamente, ele segurou as costas da cadeira para se apoiar, e uma
carranca profunda se formou em seus lábios e sobrancelha.
— Slate, — eu tentei dizer enquanto meu corpo balançava para frente.
Eu nem fui capaz de mexer minhas pernas sobre a cama antes que ele
gritasse asperamente: — Pare!
Ele respirou fundo. — Você precisa descansar. Eu estou... bem, — ele
disse com os dentes cerrados.
Estava absolutamente claro que ele não estava nada bem, mas ele
estava sendo teimoso como sempre.
Minha garganta estava escaldante por tentar chamá-lo, e as lágrimas
surgiram na parte de trás dos meus olhos com a dor que deixou em seu
rastro.
Minha boca se tomou uma linha fina e firme enquanto eu observava
seus movimentos lentos e dolorosos para manobrar em tomo da cadeira.
Quando ele finalmente se sentou, tirou um pouco do olhar torturado
de seu rosto.
As palavras borbulhavam na minha garganta, mas não me atrevi a
pronunciá-las. A dor na garganta foi um lembrete do que aconteceria se
eu tentasse.
Procurando ao meu redor, encontrei meu telefone na mesa de
cabeceira.
Ao pegá-lo e abrir a tela, pensei em um milhão de perguntas que
queria fazer, mas a mais importante era: Você está bem?
Sim, minha pergunta favorita de tempos passados. Pressionei enviar e
esperei, tão paciente quanto uma criança na véspera de Natal.
Ele enfiou a mão no bolso para pegar o telefone, mas seus olhos
permaneceram fixos em mim.
Quando ele olhou para baixo, ele sorriu. — Está preocupada comigo,
— ele perguntou provocadoramente.
Revirei meus olhos para o teto antes de tentar dar a ele um olhar
fulminante. Isso só o fez rir. E, no entanto, ele parecia não ter pressa em
responder à minha pergunta.
Então?
Eu digitei a palavra rapidamente em um esforço para fazê-lo falar em
vez de simplesmente me observar.
Esse olhar ardente nunca me fez bem... sempre levava a coisas pelas
quais minha mente e corpo lutaram, e deixava meu coração preso em
algum lugar no meio.
Ele suspirou fortemente sem olhar para o telefone.
— Não é nada, jyoti Eu só estou um pouco... como posso dizer...
danificado.
Ele tentou abrir um sorriso brincalhão, mas notei a tensão em tomo
de sua boca e olhos.
— Thomas disse que ficarei bem em alguns dias.
Meus lábios formaram um sorriso duvidoso enquanto eu digitava
outra mensagem.
Sinceramente, duvido que ele o tenha liberado do repouso absoluto. O
homem é IMPOSSÍVEL.
Depois de ler a mensagem, ele explodiu em uma risada profunda de
barítono que fez todo o meu corpo zumbir.
Por um breve momento, fiquei grata por ser aquela que o fez rir.
Por um momento, baixei a guarda e senti algo proibido.
— Receio que eu possa concordar com você nesse ponto, — ele riu. —
Como você está se sentindo?
Ele se inclinou para a frente na cadeira com cuidado e deixou seus
antebraços descansarem contra os joelhos para maior apoio.
Com as mãos cruzadas entre os joelhos, ele me observou enquanto
esperava por sua resposta.
Suspirei profundamente e desviei o olhar de seu olhar perscrutador.
Onde está o Mark?
A carranca que cruzou seu rosto enquanto ele lia aquelas quatro
simples palavras me mostrou que minha mensagem encontrou seu alvo.
Quando ele ergueu os olhos ao ler, havia uma mágoa em sua
expressão que fez meu próprio coração doer.
Foi para melhor, no entanto. Pelo menos, era o que eu dizia a mim
mesma.
— Ele não vem, Brooke.
A ironia de sentir que já tivemos essa conversa antes me atingiu.
Franzi os lábios antes de pegar o telefone e digitar uma palavra:
Por quê?
Eu o observei de perto, esperando por qualquer sinal revelador em seu
rosto.
Ele estudou a mensagem por mais tempo do que eu gostaria, então
acrescentei outra.
Então?
Olhando para mim, eu sabia o que estava por vir.
A frustração começou a ferver abaixo da superfície.
Não se atreva a tentar me dizer que esta é uma conversa que preciso ter
com ele! Ele não está aqui—você está! Por que ele não vem, Slate?
Ele nem se deu ao trabalho de olhar para o que escrevi. Seus olhos
prendiam meu olhar enquanto eu deixava a irritação fluir através deles
da melhor maneira que pude.
Finalmente, ele suspirou intensamente e balançou a cabeça.
— Brooke, eu dei minha palavra para Mark que ele teria uma chance
de falar com você antes de eu... antes de nós terminarmos nossa conversa.
Meus olhos rolaram sem que meu cérebro lhes desse o comando. Ele
reagiu com suas palavras mais rápido do que meus dedos.
Por quê?
As duas palavras seriam exibidas para ele ler com facilidade e, depois
de um olhar superficial, ele se endireitou na cadeira.
— Foi o único pedido dele antes de concordar com as exigências de
Gretchen.
Quem é Gretchen?
Ele resmungou, olhando para o telefone como se quisesse xingar por
tomar as coisas mais difíceis para ele do que ele gostaria.
— Ela é a besta ruiva que você encontrou no salão antes de... antes de
ficar doente.
Ele estremeceu de vez em quando conforme meus olhos se
arregalaram. Essa era uma memória que não estava no topo da minha
lista para lembrar.
Quando recuperei a compostura, tentei mais uma vez.
Certo, mas quem é ela?
Slate lançou um rápido olhar para seu telefone antes de olhar para
mim mais uma vez.
— Você terá que perguntar a ele, — respondeu ele.
Honestamente, a cara que ele fez mostrava que dizer aquelas palavras
poderia deixar um gosto de bile em seus lábios.
Estou perguntando a você.
Tentei mais uma vez fazer com que ele respondesse, sentindo minha
frustração com sua recusa em responder crescendo dentro de mim.
Slate se mexeu na cadeira, desconfortável.
Ótimo! Se ele não ia me responder, pelo menos eu não estava
facilitando para ele.
— Brooke, por favor, entenda que Mark quer a oportunidade de
discutir esses assuntos com você primeiro.
Eu deixei meus olhos estreitarem sobre ele, e ele encontrou meu olhar
de frente.
— Foi o único pedido que ele fez.
Eu deixei uma lufada de ar jorrar por entre meus lábios antes de
começar a golpear o teclado digital mais uma vez. Parecia inútil.
De que adiantava ele vir me ver se não planejava realmente falar
comigo?
Sobre o que deveríamos conversar? O clima?
E isso que minha vida se tomou?
O pensamento me irritou muito.
Então não há razão para você estar aqui! Você veio conversar, mas se
recusa a responder às minhas perguntas. Por que veio, afinal?
Ele soltou um resmungo baixo, e o que soou como um palavrão
escapou enquanto ele lia a mensagem.
Ele apertou o telefone em seu punho antes de responder, me deixando
um pouco preocupada que ele pudesse esmagar a maldita coisa.
— Porque não consigo ficar longe de você, assim como não há
nenhuma maneira de você realmente querer que eu fique longe de você.
Suas palavras foram arrancadas dele, como se eu as estivesse roubando
contra sua vontade.
Com a mão livre, ele ajeitou aqueles fios escuros, alisando-os para
longe de sua sobrancelha enquanto seu tom se tomava baixo e rouco.
— E, Deusa me perdoe, mas eu não me arrependo. — Seus olhos
prenderam os meus, o calor deles cruzando o espaço entre nós e fixando-
se firmemente no meu núcleo.
A respiração que eu prendi bateu contra o ar ao meu redor.
Sua confissão, se é que foi uma, fez meu estômago revirar e meu pulso
disparar.
Sem nem mesmo tentar, ele poderia obter uma resposta agradável de
mim.
Eu queria negar. Eu queria dizer que ele estava delirando, que
realmente não havia nada entre nós, mas um interesse casual, na melhor
das hipóteses.
Brincando com meu telefone, me forcei a desviar o olhar dele para a
minha tela.
Tentei pensar em qualquer coisa que pudesse dizer a ele que abafasse
o calor entre nós.
Quando eu desbloqueei a tela, ele colocou a mão sobre ela enquanto
respirava fundo.
Em seguida, ele disse: — Não negue ou menospreze, como se o que há
entre nós fosse insignificante. Nós dois sabemos que não é.
Meu queixo caiu, e eu queria discutir com ele, gritar para ele sair da
minha cabeça.
Em vez disso, o melhor que pude fazer foi digitar uma mensagem e
enviá-la.
Ele baixou os olhos para o que escrevi e apertou o dispositivo com
mais força antes que se partisse ao meio.
Sua mandíbula flexionou com a pressão que ele colocou sobre ela, e eu
não poderia dizer qual parte do texto o deixou mais irritado.
Ele olhou para mim, com mágoa pelas bordas de seu olhar.
O forro prateado ao redor de seus olhos cinza esfumaçados surgiu, e o
fascínio deles me fez inspirar profundamente.
A prata começou a sangrar para dentro e, antes que eu pudesse me
perder nelas, ele se levantou rápido demais e perdeu o equilíbrio.
Com uma determinação absoluta que eu nunca tinha visto antes, ele
caminhou com as pernas trêmulas até a porta e saiu da sala.
Houve um momento em que pensei que ele estava prestes a dizer
algo, mas ele segurou a língua.
Agora, tudo o que eu podia fazer era olhar para o meu colo para a
última mensagem que enviei.
No meu mundo, luxúria e sexo são insignificantes. Sexo casual! Minha
família é o que é importante para mim. E onde eu pertenço, com meu
marido. Não aqui com você.
Não com alguém que nem consegue ser transparente e honesto comigo.
Eu apenas rezei para que, nos próximos dias, Mark e eu estivéssemos
bem o suficiente para deixar este lugar para sempre.
Capítulo 35
BROOKE

Amanhã seria o infame Baile de Outono, mas hoje era muito mais
importante para mim: meus meninos puderam vir me ver.
Não havia nada que alguém pudesse me dizer que me manteria na
cama hoje.
Embora o médico tivesse me avisado sobre me esforçar demais, fazia
mais de uma semana desde que eu tinha visto meus filhos.
Mais importante ainda, já fazia mais de uma semana desde que eles
me viram.
Pamela insistiu em me ajudar a tomar banho e me trocar, pois meus
membros ainda estavam um pouco fracos por causa da falta de uso.
Quando tentei recusar sua ajuda, ela simplesmente sorriu para mim.
— Tudo bem. Acho que Slate estaria muito disposto a ajudar... Ajudar
você a se despir, tomar banho e, consequentemente, ajudá-la a se vestir.
Eu fiz uma careta para ela, mas meu corpo traidor quase desmoronou
com o pensamento.
— Isso, ou você me deixa te ajudar.
Ela inclinou a cabeça para o lado, com um sorriso vitorioso em seus
lábios.
Como essa mulher ficou tão boa em me convencer?
Resmungando, respondi com um áspero — está bem — antes de ir
para o banheiro e tomar um banho muito necessário.
Os lavatórios levam uma pessoa até certo ponto para fazê-la se sentir
limpa.
Assim que me vesti e me senti mais humana de novo, tive a tarefa de
implorar a Pamela que me deixasse escapar do confinamento de casa.
Resmungando para mim, ela disse: — Você sabe o que Brett disse. E se
alguma coisa acontecer com você...
— Não vai. Você vai estar lá.
Eu estava tentando manter minhas falas breves e objetivas. Minha voz
ainda não estava cem por cento, e minha garganta ainda parecia ferida.
— Sim, mas aquele seu homem ficaria louco com algo simples como
um resfriado.
— Meu homem?
Pamela me lançou aquele olhar astuto, revirei os olhos e zombei.
— Ele não é meu
Pamela acenou com a mão no ar. — Como quiser, Brooke. A negação é
o primeiro passo para a aceitação.
Sua voz continha um sorriso que eu queria ignorar.
— Se você não ajudar, eu mesma farei isso.
Quando seus braços se entrelaçaram com os meus, eu sabia que tinha
vencido. — Você é teimosa demais para o seu próprio bem.
Empurrando minha cabeça de volta para o quarto que tínhamos
acabado de sair, perguntei: — Você preferia que eles me vissem lá?
Ainda havia soro intravenoso e outros suprimentos médicos que o Dr.
Thomas precisava recolher, sem mencionar que ainda tinha aquele
cheiro doentio que enchia o quarto.
Mesmo agora meu cheiro normal estava fraco, e estava dominado por
outra coisa... algo da própria doença que vazou pelos meus poros.
Pamela tentou mover meu corpo para mais perto para me encostar
nela, e eu grunhi.
— Eu acho que não. Pelo menos você cheira melhor agora que está
limpa.
— Caramba, valeu.
Ao nos aproximarmos da balaustrada, me movi para colocar a maior
parte do meu peso contra ela. A cada passo que demos, inclinei-me no
corrimão para aliviar o peso que colocava sobre Pamela.
Verdade seja dita, ela estava praticamente me carregando escada
abaixo.
Olhando por cima do corrimão de madeira da escada, pude ver o
saguão abaixo.
O lustre de cristal estava polido com perfeição enquanto lançava seu
brilho nas paredes e no piso de mármore abaixo dele.
As pesadas portas de madeira na entrada eram lindamente
trabalhadas com intrincados trabalhos de ferro que envolviam o vidro
embutido em ambas.
Eles facilmente se elevavam sobre mim, mas havia algo acolhedor
sobre eles.
Embora muitas das portas estivessem fechadas, você ainda podia ter a
sensação de que este lugar era enorme.
Assim que meu pé tocou o piso de mármore, Pamela nos levou para a
parte de trás da casa.
Embora normalmente ela fosse muito tagarela, ela parecia estar me
dando um momento para olhar ao redor e ver este lugar pela primeira
vez.
Ela continuou a segurar a língua enquanto nos conduzia pela grande
cozinha.
Havia uma ilha que caberia facilmente a uma família de dez pessoas
em tomo dela, apenas através da divisória de meia parede.
Dois fogões a gás, quatro fomos, três geladeiras, potes e panelas nas
prateleiras penduradas que pendiam do teto, três pias, um bar...
E outras coisas que eu não tive tempo de entender enquanto
caminhávamos para o hall de entrada.
— Quem precisa de tanto?
Ela riu enquanto continuava a se sobrecarregar com meu peso como
se eu não pesasse nada.
— Tenho certeza de que um dia você encontrará utilidade para tudo
isso.
Então, como se ela pensasse um pouco mais sobre isso, ela se retratou.
— Ou, talvez não, considerando quem ele é.
Agora, a pergunta implorava para ser feita. — Quem é ele?
O olhar que ela lançou me pareceu um pouco estranho. — Slate... seu
companheiro, — ela declarou lentamente.
As palavras, embora declaradas com bastante facilidade, foram
suficientes para quase me deixar sem fôlego.
— Por que você o chamou assim? — Fiquei atordoada e as palavras
saíram quase como um sussurro.
— Porque é a verdade, e ninguém mais por aqui parece estar falando
francamente, — ela comentou.
Ela usou o ombro para empurrar uma porta aberta para que
pudéssemos passar antes que ela continuasse a andar.
— Se Slate não fosse um homem tão respeitável, você não estaria tão
às escuras sobre o andamento das coisas por aqui. Ele está tentando
permitir a você uma escolha que...
Ela balançou a cabeça em vez de tentar terminar o comentário. Sem
dúvida, havia algo mais que ela parecia querer dizer, mas parecia que ela
pensou melhor.
O hall de entrada era grande, assim como tudo nesta casa.
Havia estantes de organização lindamente elaboradas, destinadas a
sapatos, mochilas, casacos, etc.
Armários cercavam a sala, e aquecedores de casaco e sapatos estavam
escondidos nos espaços entre os armários.
Este lugar certamente parece uma casa destinada a uma família
grande. Uma família grande e rica, aliás.
— Este lugar foi feito para uma família. Estou feliz que finalmente
tenha uma.
Foi quase como se a mulher tivesse lido minha mente e eu a lancei um
olhar surpreso.
Ela não olhou para mim quando empurrou a porta que nos levaria
para fora. Em vez disso, ela encolheu os ombros.
— Foi uma pena vê-la vazia durante tanto tempo.
A varanda dos fundos era ampla e balanços de diversos tipos enchiam
o espaço ao redor das mesas decoradas com flores recém-colhidas.
— É legal, pensando bem.
— Oh, não ache que você enganou ninguém, mocinha. Nós sabíamos
que você não seria impedida de sair de casa com seus filhos. Eu apenas
tive que tentar e espero que você tenha visto o motivo. Mas, como
previsto, você não é alguém com quem discutir!
Cutucando-a, quase perdi um passo. Para minha sorte, ela estava lá
para me ajudar.
Passamos por uma grande estufa que tinha videiras e caules crescendo
dentro e passamos por baixo de um arco coberto de hera com vários
bancos espalhados ao longo de seu caminho antes de finalmente
chegarmos ao nosso destino.
O parquinho era estranhamente familiar e havia outros equipamentos
de recreação além do forte.
Olhando para ele por mais do que algumas respirações, percebi onde
eu o tinha visto.
— Ele se parece com o seu.
Sua mão apertou minha cintura quando ela mudou meu peso para o
lado.
— Slate e Carter fizeram um conjunto combinando, — ela disse
enquanto sorria com ternura.
— Slate e Carter? — Minha mente deu um clique antes que as peças se
encaixassem. — Então esta casa...
Quando ela se encolheu, senti em todo o seu corpo.
— É sua.
Enquanto eu tentava argumentar, ela me guiou para virar à direita
para que eu pudesse apreciar a vista fantástica do topo da colina onde
estávamos agora.
— Slate deu esta casa a você. A casa dele. É sua pelo tempo que você
quiser.
Sua cabeça virou bruscamente para o lado como se tivesse ouvido um
barulho, mas eu estava sem fôlego olhando para a vista do quintal da casa
que ela chamava de minha.
A pequena cidade se espalhava diante de mim enquanto eu olhava
para baixo de minha posição no topo da montanha.
Esta era a casa que meu marido ameaçou escalar a montanha
imponente para chegar.
Esta casa, com seu tamanho impressionante e presença crescente, era
a casa que praticamente acenava para você a quilômetros de distância.
Pamela falou mais uma vez, tirando-me do meu devaneio.
É
— E aí estão seus meninos. É melhor você se sentar antes que a
derrubem no chão.
Sim, esses eram meus meninos, com certeza.
Com mais um breve olhar, me virei para deixar Pamela me ajudar a
sentar.
Quando Aaron chegou até mim, Pamela me colocou em um dos
bancos mais próximos do forte.
Eles devem ter sido avisados porque, quando ele estava ao meu lado,
ele deu o abraço mais suave que eu já o vi dar.
Era tão diferente de seu comportamento normal de correr em minha
direção a toda velocidade com os braços bem abertos.
— Mamãe, adivinha o que eu sei fazer?
Seu rosto estava vermelho e ele parecia muito ansioso. Havia nele
uma característica contagiante de entusiasmo.
— O quê, querido? — Eu o aninhei perto de mim enquanto fazia a
pergunta.
Carter estava logo atrás deles. — Oi, Brooke! Você parece estar melhor
hoje!
— Qualquer coisa parece melhor do que alguém ressuscitado do
mundo dos mortos. — Eu fiz uma careta para ele.
Hayden tinha aparecido quando a última declaração foi feita.
— Você é um zumbi, mamãe?
Pela expressão em seu rosto, eu não tinha certeza se ele estava
horrorizado com a perspectiva ou animado.
— Não, — eu ri, — não, não um zumbi, querido. Posso me sentir
como um, e também parecer como um, — eu fiz uma careta, deixando
minha mão alisar os fios soltos ao redor do meu rosto, — mas eu não sou.
— Você não parece morta, mamãe. Você está linda.
As palavras eram doces, embora ‘linda’ tenha saído mais como —
bonitinha. — Isso me fez sorrir.
Eu tinha sentido tanta falta deles.
Enquanto olhava ao redor do quintal, seus olhos pousaram no
parquinho. Seu último comentário para mim foi esquecido.
— Este é o mesmo forte que você tem, tio Carter! — Subindo até os
dedos dos pés, ele começou a pular. — Aaron, vamos lá!
Aaron parecia desanimado.
— Mas eu queria contar à mamãe o que eu sei fazer.
Seu desagrado era profundo enquanto seu tom assumia um pouco de
choramingo.
Antes que eu pudesse perguntar a ele o que ele sabia fazer mais uma
vez, observei Carter e Pamela trocarem um olhar.
— Que tal se nós compartilharmos isso com ela mais tarde? Sua mãe
já passou por muita coisa, e seu irmãozinho quer alguém para brincar
com ele.
Carter apertou suavemente o ombro de Aaron. Depois de alguns
minutos de debate silencioso, ele se levantou e correu atrás de Hayden.
Eu olhei de um para o outro enquanto os dois observavam os
meninos. — O que foi isso? — Eu finalmente perguntei.
Ambos se viraram para mim com uma interrogação em seus rostos. —
O que foi o quê?
Pamela respondeu, pouco antes de perceber que Hayden estava
gritando com Aaron.
— Ei, vocês dois. — Dando passos largos, ela estava sobre eles em um
instante. — O que é tudo isso?
E assim, minha pergunta foi descartada.
Não que ela realmente precisasse interromper uma discussão... eles
tinham uma tendência a perdoar e esquecer momentos depois de
gritarem um com o outro.
Não, se eu tivesse que adivinhar, era uma discussão que eles estavam
tentando evitar no momento.
Em vez disso, os dois me fizeram companhia enquanto observávamos
os meninos correndo pelo forte, sendo seus problemas uma coisa do
passado, assim como a discussão que havíamos trilhado momentos antes.
A conversa estava carregada de expectativa para amanhã à noite, e
Pamela falou sobre o Baile de Outono.
Pamela sendo Pamela, nem Carter nem eu tínhamos uma palavra a
dizer, a menos que ela estivesse procurando a confirmação de seu
marido.
Então, nós dois nos sentamos e a observamos com amor enquanto ela
preenchia nosso tempo com seus contos de bailes anteriores em Lunar
Ridge.
Após cerca de uma hora sentados e curtindo o momento uns com os
outros, ouvimos algo uivar na parte de trás da propriedade da casa.
Fui pega de surpresa e quase me dei um golpe quando me virei onde
estava sentada.
Quando um enorme lobo prateado emergiu das árvores, minha
respiração ficou presa na garganta.
Começando a engasgar e gaguejar, Carter pegou minha mão e
segurou-a suavemente. Nenhum deles parecia surpreso ou preocupado.
— Está tudo bem, Brooke. Eu prometo a você, ele não vai te machucar.
Ele só quer... conhecê-la.
— E-ele era o lobo daquela noite, não era?
A noite em que quase tive minha garganta arrancada pela loba ruiva.
Foi ele quem a impediu de pular em cima de mim. Ele era... humano?
Carter simplesmente acenou com a cabeça em resposta à minha
pergunta.
Como Slate os chamava? Metamorfos?
Do meu outro lado, Pamela olhou para o marido e sussurrou: —
Temos certeza disso?
Respondendo no mesmo tom abafado, talvez com medo de me
assustar, ele disse: — Ela é mais forte do que acreditamos. Você nos
lembrou disso. Lembra? — ...
Não vi a expressão em seu rosto, pois estava hipnotizada pelos
movimentos graciosos da criatura diante de nós.
Mas eu peguei a dela com o canto do olho e senti uma pontada de
ciúme no fundo do meu cérebro.
Havia muito amor, alegria, companheirismo e conclusão em seu
olhar. A emoção teria me impressionado se a criatura não tivesse
praticamente exigido minha atenção.
Ele era magnífico!
Os passos que o trouxeram foram cuidadosos e lentos, como se ele
tivesse medo de me assustar.
Como eu poderia estar com medo? Ele salvou minha vida.
Seus movimentos eram ágeis e graciosos, todos os músculos
trabalhando juntos para criar um movimento fluido a cada passo.
Quanto mais perto ele chegava, mais lentos eram seus passos.
Com a cabeça baixa, ele parou a poucos metros de onde estávamos.
Este momento parecia tão pessoal, tão íntimo como se o ser na minha
frente estivesse desnudando sua própria alma.
Embora eu não estivesse com medo dele, me peguei segurando a
camisa de Carter com força enquanto me levantava com as pernas
trêmulas.
Não tenho certeza do porquê, mas parecia me manter com os pés no
chão... saber que eu não estava sonhando com isso.
Os dois garotos aproveitaram aquele momento para espiar por uma
das janelas do forte e quase pularam dela quando viram o enorme lobo
diante de nós.
Meu coração bateu forte no meu peito quando os vi correndo para a
besta.
Aproximando-me mancando do lobo, entrei no caminho de meus
filhos para ficar entre eles e a criatura prateada.
Sentindo minha hesitação em ter meus filhos por perto, Pamela os
interceptou e os impediu de chegar muito perto.
A bela besta abaixou a cabeça abaixo dos ombros diante de mim e deu
mais um passo para mais perto.
Mesmo com o focinho perto do chão, seu tamanho ainda era
impressionante quando ele chegou ao meu nariz.
Inalando profundamente, coloquei minha mão para permitir que a
besta farejasse meu cheiro.
Quando o cheiro de cedro e especiarias atingiu o fundo da minha
garganta, quase desmaiei.
A enorme cabeça me pegou enquanto eu me sentia balançando para
frente, e me vi encostada contra ele, olho no olho.
Faíscas voaram de seu pelo cor de ouropel enquanto minhas mãos
deslizavam pela pele macia. Os olhos eram todos prateados, com apenas
um toque de cinza que aparecia ao redor da íris.
— Slate, — eu sussurrei.
A língua longa e larga escorregou para lamber suavemente minha mão
enquanto eu continuava a deixar meu corpo pressionar contra ele.
Meus olhos fecharam, eu deixei a eletricidade deslizar pelos meus
dedos enquanto continuava seu caminho percorrendo o resto do meu
corpo.
Passaram-se alguns dias desde a última vez que o vi, e eu queria me
deleitar com aqueles belos arrepios.
Perdida no momento, quase esqueci que meus meninos estavam logo
atrás de mim.
Hayden foi o primeiro a correr em volta de mim, depois Aaron.
Ambos correram em direção ao um lobo enorme perante a mim,
tendo conseguido escapar de minha contenção.
Ambos riram e se divertiam enquanto o lobo os cutucava e os lambia.
O lobo gentilmente deu uma patada neles enquanto eles explodiam
em histeria e eu dava um passo para trás.
O que exatamente estava acontecendo aqui?
Voltando-me lentamente para Pamela e Carter, pude ver os sorrisos
que se estendiam em seus rostos.
Por alguns minutos, eu apenas observei os meninos e Slate fascinada.
Quem poderia imaginar que coisas como essa poderiam realmente
acontecer?
Os meninos subiram desajeitadamente nas costas da criatura
prateada, e ele andava com eles com muito cuidado, pois quase caíam de
tanto rir.
Foi... emocionante.
Quando ele colocou os dois gentilmente de volta no chão, ele se virou
para mim mais uma vez. Seus olhos estavam brilhando quando ele se
aproximou de mim.
Quando ele estava perto o suficiente, estendi a mão e os deixei brincar
delicadamente contra seu focinho, deleitando-me com os pequenos
choques elétricos que eram visíveis ao toque e zumbiam contra meus
dedos.
— Por quê? — Sussurrei baixinho enquanto deixei meus dedos
acariciarem a pele ao redor de seu rosto.
Era difícil não ficar encantada pela besta, e eu o encarei mais do que
um pouco atordoada.
Sua única resposta foi abaixar a cabeça antes de me cutucar
suavemente.
— Transparente e honesto? — O lobo lambeu minha mão com
ternura e eu suspirei. — Suponho que isso seja colocar tudo para fora.
O lobo deixou sua boca aberta por um minuto com sua língua
pendurada para fora do canto. O riso machucou minha garganta, mas
não pude evitar essa expressão.
Eu precisei perguntar: — E essa a sua maneira de rir de mim?
As crianças estavam atrás de nós, sendo perseguidas por Carter e
gritando conforme conseguiam escapar.
Pamela se aproximou de mim e estendeu a mão para tocar meu
ombro.
— Precisamos levar você de volta para dentro, Brooke.
Virar minha cabeça exigiu um pouco de esforço, senti os efeitos
atordoados da tarde cobrando seu preço. — Por quê?
Sua sobrancelha franziu profundamente e ela se aproximou um pouco
mais de mim.
— Porque você não parece muito bem agora. Acho que isso tudo foi
demais para um dia.
Ela se virou enquanto chamava seu marido para me ajudar a caminhar
de volta para casa.
No entanto, eu me sentia bem. Ter o sol no rosto era incrível depois
de ficar longe dele por tanto tempo, deixando-o derramar seu calor
contra minha pele.
O lobo trouxe consigo esses formigamentos incríveis que fizeram
minha pele ficar eletrizada e me fez sentir viva.
E as risadas das crianças encheram meu coração, fazendo-me sentir
mais alegre do que era capaz de me lembrar em dias.
— Não, estou bem, de verdade. — Eu já estava voltando para o lobo de
Slate antes de ouvir Aaron gritando atrás de mim.
— Ei, mamãe! Olha o que eu sei fazer!
Quase esqueci que ele queria me contar sobre um novo truque que
aprendeu. Virando-me, senti minhas pernas se dobrarem embaixo de
mim.
Sentado onde meu filho deveria estar havia um pequeno e bege...
filhote de lobo.
Capítulo 36
BROOKE

O sol estava começando a nascer enquanto eu o via surgir no solário.


Tons de cor beijando o céu antes de finalmente fazer sua aparição
eram espetaculares neste lugar.
Escondida sob um par de cobertores enquanto me sentava em uma
das janelas de sacada da sala, eu olhei para a vista, tentando entender o
que tinha acontecido no dia anterior.
Não houve muito, depois do que aconteceu, que eu tivesse entendido.
Carter era o mais próximo de mim quando eu desmaiei, pelo menos
eu acho que ele era. De qualquer forma, foi ele quem me trouxe para
dentro.
Pamela ficou do lado de fora com os meninos enquanto ele me deitava
no sofá da sala. Dando um beijo rápido na minha testa, ele se virou e saiu
da sala.
Slate era meu único outro companheiro naquela noite. Quando ele
tentou me levar para cima, recusei.
Não que eu realmente tenha dito algo, mas suponho que tenha sido
em minha linguagem corporal.
Não importa, eu não tinha deixado este cômodo desde que Carter me
trouxe aqui.
Quando o jantar chegou, ele me trouxe um prato de comida.
Uma parte do meu cérebro estava curiosa para saber se ele havia
cozinhado ou não, mas eu não estava interessada o suficiente para
perguntar.
Em vez disso, simplesmente olhei para a comida e depois me virei para
observar as estrelas no céu noturno.
A expressão em seu rosto quando ele voltou para buscar minha
bandeja e a encontrou intocada foi feroz.
— Você precisa comer, Jyoti.
Minha resposta foi devolver um olhar casual para ele, depois para a
comida e, finalmente, voltar para o céu noturno. Ele estava preocupado,
mas eu simplesmente estava desinteressada.
Quase saindo da sala, ele deixou o prato para trás na esperança de que
eu cedesse a uma fome que simplesmente não sentia.
O sono finalmente me consumiu antes que ele tivesse a chance de
voltar para o prato ainda cheio.
Quando acordei, havia um par de cobertores que me cobriam
enquanto eu estava encostada na janela um pouco fria.
O café da manhã me esperava na mesinha de cabeceira e consegui
engolir um pedaço da torrada com manteiga e geleia de morango.
Embora minha garganta não estivesse tão ferida e dolorida como
estava quando acordei, ainda estava um pouco sensível.
Uma batida na porta da sala me fez virar no assento.
Depois de um segundo sem resposta, Slate entrou e seu olhar
imediatamente caiu de mim para o prato que ele havia compilado para
mim esta manhã.
Ele suspirou fortemente, e eu pude ouvir um grunhido querendo
estourar no fundo de sua garganta.
— Você precisa comer.
Minha cabeça inclinou ligeiramente para o lado enquanto eu olhava
para ele. — Eu comi.
Seu olhar voltou para o prato tentando avaliar o que eu poderia
possivelmente ter comido da montanha de alimentos que ele forneceu
para mim.
O reconhecimento caiu sobre ele e ele zombou. — Você precisa de
mais do que isso, jyoti.
Eu me virei de volta para a janela, mas não pude evitar a réplica que
escapou de meus lábios.
— Engraçado como você acha que sabe do que eu preciso. Eu achava
que havia algo um pouco mais urgente de que eu precisava, mas ninguém
parecia querer dar para mim.
Como, talvez, algumas respostas?
No momento em que as palavras saíram, eu senti como se estivesse
cercada por seu cheiro.
Seu grunhido caiu do fundo de sua garganta e se espalhou pela sala
enquanto disparava pela minha espinha, fazendo meu corpo inteiro se
contrair.
Tentando abafar o efeito que ele tinha em mim, mordi meu lábio com
força para amenizar o calor que crescia em meu interior.
— Ah, Jyoti estou feliz em fornecer o que você precisa.
O poder de sua proximidade era avassalador e inebriante quando ele
deu um passo em minha direção.
— Seria um grande prazer atender todas as suas necessidades.
Suas palavras foram baixas, sedutoras e fizeram meu núcleo derreter.
Ele falou suavemente como se acariciasse cada sílaba com uma luxúria
que era muito fácil de desejar.
Ele deu mais um passo em minha direção e meu corpo estremeceu.
— Esse desejo que você sente? E meu fardo também.
Outro tremor percorreu meu corpo. Sua voz era profunda e sedutora,
seus olhos ardiam.
— Ah, jyoti provar você em meus lábios mais uma vez...
Meus dedos se levantaram para meus lábios, espontaneamente.
— Tudo sobre você me chama, e eu anseio por conhecer cada
centímetro seu.
O estrondo no fundo de sua garganta dançou deliciosamente pela
minha espinha.
Se ele me tocasse, eu derreteria. Mordi meu lábio com mais força,
tirando sangue no processo e tentando desesperadamente me agarrar à
minha sanidade, suportando a dor.
Outro passo ecoou no piso de madeira, e a umidade em meu ápice
estava se manifestando em antecipação ao seu toque.
Embora eu lutasse contra isso, meu corpo o queria... cada fibra do
meu ser o queria. Mas a que custo?
Ele não podia me tocar, eu não podia deixar.
O que minha mente precisava e o que meu corpo decidiu que queria
no momento eram duas coisas diferentes, e seu cheiro estava tentando
nublar minha mente para me fazer esquecer o que eu realmente queria
agora.
Respostas... certo? Eu queria... não, eu precisava... de respostas.
A inspiração profunda criou um caos em minha mente.
— Minha linda jyoti. Eu quero saborear o que seu corpo me oferece
com tanta facilidade.
Meu corpo começou a se desfazer, e o gemido que eu estava
mordendo escapou dos meus dentes cerrados.
Aos poucos, eu podia sentir cada parte de mim cedendo, sem me
importar com nada, mas deleitando-se com seu toque.
A ideia de aliviar essa necessidade dentro de mim que não era
satisfeita por mais de um ano era quase tentadora demais para ser
negada.
E ainda...
Empurrando-me contra a janela semigelada, rezei para que isso me
desse um alívio do calor que me atingiu.
Talvez até me dê clareza em um momento em que nada fazia sentido.
Seu rosnado permeou a área entre nós, e eu podia sentir meu núcleo
apertar com algo mais animalesco do que eu já experimentei antes.
A força absoluta disso me fez pular e cambalear para longe dele. Era
primitivo, inebriante e proibido!
Com fraqueza, estendi minha pequena mão na minha frente. Um ato
tão pequeno não o manteria longe de mim se ele ousasse seguir em
frente.
E se ele fizesse isso, eu estava perdida.
— O que eu preciso, — eu disse, respirando intensamente, — São
respostas.
As sensações de desejo golpearam minha resolução, tentando me
manter como refém. Em minha cabeça, rezei para que ele não se mexesse
mais.
Eu não conseguia olhar para ele, não conseguia olhar em seus olhos
para ver o quanto ele me controlava.
Até mesmo olhar para seu corpo vestido estava aumentando os
estremecimentos de prazer que não podiam ser interrompidos. Olhando
para o chão, terminei o que estava em minha cabeça antes que se
perdesse para mim.
— A menos que você esteja disposto a me dar respostas, sugiro que
encontre alguém que esteja!
Deve ter funcionado, pois ele deu um passo para trás e eu peguei um
dos cobertores do banco.
Envolvendo-o em tomo de mim, tentei o meu melhor para me afastar
dele com o que restava da minha dignidade e orgulho intactos.
Resistir a ele estava exigindo muito de mim.
Capítulo 37
BROOKE

Depois de algum tempo e tentativa e erro, finalmente encontrei meu


caminho para o quintal e fui surpreendida mais uma vez com a beleza de
tudo.
Envolvendo o cobertor com mais segurança em tomo de mim, deixei
meus passos me guiarem até o banco mais próximo.
Vários bancos lindamente esculpidos à mão estavam sob o toldo de
hera no caminho para a área do parquinho.
Escolhendo o mais próximo de mim, juntei o cobertor com firmeza ao
meu redor para cobrir tudo, exceto o topo da minha cabeça antes de me
sentar.
Meu corpo estava estremecendo, embora não fosse por causa do leve
frio da manhã de outono.
Meu marido não tinha voltado para me ver desde que acordei com a
febre e os calafrios que a doença trouxe.
E, pelo que parecia, Slate estava cumprindo sua palavra para permitir
a ele a chance de falar comigo antes que ele proferisse uma palavra.
Ótimo! Onde estava a nobreza quando eu a queria?
Certo, uma parte de mim achava essa qualidade admirável, mas não
quando fui vítima dela. Parte de mim se perguntava se ele me seguiria,
talvez até consentisse em me dar respostas para me acalmar.
Por mais que eu desejasse, isso não aconteceu.
Antes de ontem, tudo parecia tão simples. Os únicos objetivos que eu
tinha eram melhorar e depois voltar para casa.
No entanto, em um dia, tanta incerteza se instalou. Meu coração
doeu.
Doeu por uma vida que eu conhecia há dez anos, doeu pelo homem
que tinha sido meu marido e melhor amigo, doeu pelos meus filhos, e
doeu por tudo que eu parecia estar perdendo, incluindo minha sanidade.
O baile seria esta noite e Pamela com certeza estava com os meninos.
Antes, o plano era levá-los com ela para a cidade para deixá-los
prontos para o evento desta noite.
Pelo que ela me contou, eles ficaram entusiasmados com isso, pois
sabiam que eu estava acordada.
Por um momento, toquei o telefone que ainda estava no meu bolso,
milagrosamente intacto com tudo o que aconteceu nas últimas vinte e
quatro horas.
Se eu ligar, o que eu diria?
Eu sabia o que diria, e era muito egoísta da minha parte.
Traga meus meninos para mim. Eu preciso deles.
Posso ou não ter incluído o por favor no meu pedido. No momento,
não estava me sentindo muito gentil.
Em vez disso, inclinei minha cabeça para trás contra a treliça e deixei
meus olhos fecharem enquanto o sol espiava através da hera crescendo
sobre mim.
Estava bastante quente para um dia de outono e parecia divino ter o
sol beijando meu rosto, mesmo que fosse apenas um leve toque dele.
O tempo se esvaiu de mim enquanto a paz dos jardins me sustentava
em seu conforto.
O tempo havia passado e devo ter ficado sentada ali por quase uma
hora antes de qualquer intromissão em minha paz.
— Ahem. — Mark estava parado na minha frente.
Quase pulando da minha cadeira com a intrusão, segurei o cobertor
com mais força em minhas mãos.
O desejo de encontrar conforto em seus braços penetrou em meus
pensamentos pacíficos antes que eu percebesse seu sorriso dolorido.
Gentilmente, me levantei tentando manter o cobertor em volta do
meu corpo.
Este tinha sido meu melhor amigo por tanto tempo, e deixou um
enorme buraco no meu coração saber que ele estava escondendo algo de
mim.
No passado, eu sempre consegui encontrar conforto com ele, então
coloquei minha cabeça contra seu peito.
Quando ele passou os braços ternamente em volta de mim e me
abraçou, uma percepção repentina se apoderou de mim: não havia
conforto ali.
— Senti sua falta.
As palavras foram arrancadas de mim e quase guturais em sua entrega.
Ouvir essas palavras em meus próprios ouvidos fez meu coração doer.
Eu sentia falta da vida com ele. A vida que fazia sentido com o homem
que fazia sentido.
No entanto, o homem que me abraçava não era mais aquele homem, e
eu chorei por minha perda.
Ele fez uma careta antes de deixar um beijo suave na minha testa. —
Eu também senti sua falta.
Afastando-se de mim, ele me guiou de volta para o banco que eu havia
desocupado apenas alguns momentos antes.
— Acho que precisamos conversar.
— Sim, acho que sim. — Meu aperto em meu cobertor ficou mais
forte enquanto eu antecipava as respostas que mudariam para sempre
minha vida.
A partir daqui, não haveria mais volta, e eu sentia essa verdade no
fundo dos meus ossos.
Parte de mim desejava impedi-lo de falar comigo para que eu pudesse
viver na abençoada ignorância que eu conhecia tão bem. Mas havia
Aaron.
— Aaron...
A palavra mal saiu da minha boca antes de ele lançar seu olhar para
seus pés. — Sim, Carter me contou.
Ele se sentou no banco ao meu lado e deixou seu pedido de desculpas
inundar suas palavras, com seus olhos implorando nos meus.
— Eu sinto muito que você tenha descoberto dessa forma. Lamento
não ter tido a oportunidade de conversar com você primeiro.
Ele fez uma pausa quando um brilho angustiado caiu sobre seus olhos.
— Lamento ter sido um covarde.
Uma lágrima escorregou pelo meu rosto enquanto eu buscava
entender o que ele estava tentando dizer.
— E-eu nem tenho certeza do que foi que descobri.
Ele pegou minha mão, colocando-a nas suas enquanto abaixava seus
lábios para encontrá-las.
Sussurrando palavras na caverna que nossas mãos criaram, tive que
me esforçar para ouvi-las.
— Eu juro que não sabia. Eu teria te contado, se eu apenas tivesse
suspeitado. Mas eu nunca pensei que eu... que nós...
Erguendo seu olhar, ele procurou meus olhos. Lágrimas
transbordaram dele enquanto eu lutava para segurar as minhas.
— Eu nem sei por onde começar.
— Aaron, — foi tudo que consegui dizer.
Removendo minha mão de seu aperto, eu a deixei cair de volta no
meu colo. Mark suspirou ao se levantar e deixar seu olhar se concentrar
nas árvores que circundavam a propriedade.
Ele enfiou as mãos nos bolsos da frente enquanto deixava suas
emoções se acalmarem. Foi uma reação tão familiar para ele, mas parecia
tão distante.
Segundos se arrastaram para minutos antes que ele encontrasse sua
voz mais uma vez.
— Nós somos lobos metamorfos. Almas de humano e de lobo que
coexistem na mesma forma.
— Nós?
Slate havia me dito a mesma coisa duas semanas antes. Fazia tanto
tempo?
O que me pegou desprevenida não foi a menção de metamorfos, foi o
fato de que ele estava se incluindo entre eles.
O aceno de cabeça foi lento e quase imperceptível.
— Há cerca de dez matilhas e grupos aqui no momento. Alguns para
assistir ao baile esta noite, alguns para as cerimônias que serão realizadas
antes. No entanto, também há um punhado de humanos entre nós. Você
e Hayden...
Ele fez uma pausa.
— Bem, suponho que ainda não vimos evidências do lobo de Hayden.
Ele pode não ser...
Novamente, ele fez uma pausa.
Um nó estava se formando na minha garganta. — Por quê?
Havia tantos questionamentos.
Por que ele não me contou isso anos antes, quando eu acreditava que
não tínhamos segredos?
Por que ele escolheu esperar até agora para me dizer?
Por que não senti isso antes?
Quando ele começou a andar, fui levada de volta ao dia em que ele me
pediu em casamento. Ele estava tão nervoso, e foi a primeira vez que
consegui identificar isso como um de seus sinais.
Um que eu costumava achar cativante nele, seu nervosismo saindo em
massa.
— Eu era humano, pelo menos todos nós pensávamos que eu era.
Nem todo mundo nascido de pais metamorfos são metamorfos, e todos
nós pensamos que eu estava melhor no mundo humano vivendo como
um humano.
— Seus pais? — Meus dedos puxaram o cobertor enquanto esperava
por mais notícias indesejadas.
Ele me deu uma olhada rápida antes de assentir e se virar mais uma
vez. — Sim, eles também.
Ele soltou uma lufada de ar e se moveu para se sentar ao meu lado
mais uma vez.
Sem perceber, eu me afastei dele levemente. Quando eu fiz isso, seu
rosto desmoronou.
Internamente, eu me repreendi, mas não era algo que eu pretendia
fazer.
— Sinto muito... só estou tentando...
Com um sorriso triste, ele balançou a cabeça.
— Está tudo bem, Brooke. É muita informação para digerir e você
deveria ter tido dez anos para descobrir isso, em vez de apenas alguns
dias. Eu nunca teria escondido isso de você se eu pensasse...
Colocando minha mão sobre a dele, tentei sorrir, precisando de uma
distração de seu próprio tormento. — Então, por que Savannah?
Seus dedos envolveram os meus, nós dois encontrando um fragmento
de conforto no contato. — Savannah é linda, é claro.
O sorriso era para ser atrevido, mas apenas me lembrou de como
nossa vida havia se tomado uma bagunça.
Percebendo que sua tentativa de humor falhou, ele tentou
novamente. Ele soltou meus dedos e cruzou as mãos na frente dele,
encostando-se em seus joelhos.
— É raro que um metamorfo tenha uma companheira humana.
Extremamente raro. — Ele riu um pouco de seus próprios pensamentos,
mas não os compartilhou.
— Então, não era provável que eu encontrasse uma companheira
dentro da matilha, sendo humano. Era melhor ir embora e viver no
mundo humano do que tentar ficar. Eu teria permanecido sem
companheira e miserável em minha própria matilha, sem ninguém com
quem compartilhar minha vida.
— Eu acreditava no meu coração que estaria melhor entre os
humanos, viveria minha vida entre vocês, talvez me casasse e tivesse
alguns filhos.
Suas palavras se tomaram mais suaves quanto mais ele falava.
— Então eu te encontrei, e minha vida estava completa. Pelo menos,
foi isso que eu pensei—o que todos nós pensamos.
Ele suspirou enquanto fazia uma pausa e olhava para a linha das
árvores enquanto continuava em um tom abafado.
— Estávamos tão felizes e apaixonados, não é?
Lentamente, ele se virou para olhar para mim, parecendo inseguro se
ele queria saber a resposta para sua própria pergunta.
Minhas mãos seguraram minha boca, como se quisesse evitar que as
palavras saíssem da minha boca.
Estávamos?
A palavra não passou despercebida e uma lágrima espontânea escapou
de minha resolução.
Finalmente, deixei minhas mãos voltarem para o meu colo,
observando meus dedos enquanto os deixava deslizar um sobre o outro.
Eu balancei a cabeça e sussurrei: — Estávamos.
— Sim, — ele exalou antes de continuar sua explicação.
— Quando fui diagnosticado pela primeira vez e no hospital, foi
quando as coisas pareceram ter vida própria. O que eventualmente nos
trouxe aqui.
Uma de suas mãos se ergueu e ele a usou para indicar a pequena
cidade abaixo. Estava movimentada com mais atividade do que o normal.
Mesmo daqui, podíamos ver que as ruas e lojas tinham ficado mais
movimentadas à medida que a manhã avançava e o sol seguia seu
caminho previsível.
Como eu sentia falta do previsível.
A viagem para o hospital naquela noite foi difícil para mim, e os
meninos ficaram assustados quando os deixei com nosso vizinho.
O som de sirenes os deixou aterrorizados e nenhum dos dois
conseguiu pronunciar uma única sílaba.
Eles se agarraram a mim antes que minha vizinha e seu marido quase
tivessem que arrancá-los de minhas pernas, e isso fez meu coração doer
quase tanto quanto ver Mark pálido e inconsciente na maca.
Enquanto o levavam para a ambulância, tentei confortar meus
meninos o máximo que pude antes de acompanhar Mark para o pequeno
confinamento do veículo de emergência.
Poucos dias depois, ele saiu da UTI e nossos filhos puderam visitá-lo.
A sala cheirava a desinfetante que não conseguia esconder a doença
que se atrelava a ele, e os únicos sons eram das máquinas que
monitoravam seus sinais vitais.
Até o barulhento Hayden tinha perdido a efervescência quando
entrou na sala.
Tanto quanto me foi permitido, fiquei com Mark. Na maioria das
vezes, eu me enrolava na cadeira com um cobertor em volta de mim para
lutar contra o frio da sala.
Durante os momentos em que ele estava grogue, eu lia para ele
enquanto ele adormecia.
Durante seus momentos de vigília, tentei ter conversas leves que o
impedissem de se sentir estressado ou ansioso.
Quando Mark estava pronto para visitar as famílias, parecia que sua
saúde havia começado a melhorar.
Pouco depois, ele me contou sobre alguns advogados e um especialista
que vieram visitá-lo, e fiquei esperançosa. Agora, eu sabia que aqueles
homens eram Slate e sua equipe.
Minha boca estava se movendo antes que eu pudesse impedir, e eu
murmurei, — Foi quando você conheceu Slate... quando ele entrou em
cena. Por que não me surpreende que ele esteja na raiz de nossos
problemas? — ...
Verdade seja dita, eu não estava chateada com Slate.
Longe disso... Eu estava amarga em como minha vida mudou
aparentemente da noite para o dia, sem a oportunidade de entender o
que estava acontecendo.
Uma risada genuína irrompeu dele, e levantei minha cabeça para
olhar para ele com uma sobrancelha levantada.
— Você é verdadeiramente feita para ele. Tudo sobre você o
complementa, incluindo sua resistência a ele.
Sua voz estava sombria quando ele terminou. — Uma verdadeira
companheira em todos os aspectos.
Foi então que o que ele disse anteriormente se encaixou. — Mas eu
sou humana.
As palavras foram libertadoras e debilitantes ao mesmo tempo. Eu
levantei meu queixo um pouco.
Que mulher queria ficar com um homem por causa de algo
semelhante ao destino?
Talvez eu fosse masoquista. Uma parte de mim queria exatamente
isso.
Seu sorriso era gentil, triste.
— Eu disse que era raro, Brooke. Não impossível. Há um pequeno
número de metamorfos que foram... atribuídos a companheiros
humanos.
Eu fiz uma careta. — Você faz os companheiros parecerem tão...
sagrados.
Embora eu estivesse começando a entender a palavra, não havia
dúvida de que, naqueles momentos em que se falava, era com uma
reverência que invejava.
Quase como se fosse algo destinado a acontecer, independentemente
de qualquer pensamento consciente.
Mark parecia desconfortável e ergueu a mão para coçar a cabeça.
— Primeiro, você tem que entender que nossa situação é... bem...
diferente.
Ele colocou as mãos nos bolsos e começou a andar mais uma vez.
— Companheiros são sagrados. Eles nos completam... eles são a outra
parte de nossa alma. Com eles, somos mais fortes, todas as nossas habilidades
são aumentadas e isso nos dá aquele alguém com quem podemos procriar —
Mas, nós não somos...
Parando seus movimentos, ele deixou seu olhar vagar de volta para
prender o meu olhar. Havia algo que ele estava procurando, algo que
esperava ver.
— Não, nós não somos companheiros. Como eu gostaria que fosse
esse o caso.
Ele continuou a prender meu olhar, mas havia algo diferente na
maneira como ele olhou para mim.
— Nunca estivemos destinados a ter filhos, mas meu lobo nunca tinha
aparecido antes de nos conhecermos. O Dr. Thomas parece pensar que
minha alma humana dominou e quase estrangulou meu lobo. Ele acha
que foi assim que fomos capazes de contornar o fato de sermos
acasalados e por que nossos dois meninos puderam ser concebidos. Acho
que desabrochei muito tarde.
— Você...
Eu queria fazer a pergunta, mas não queria ouvir a resposta.
Seus suaves olhos castanhos perfuraram os meus, e eu sabia que ele
não queria me dizer a resposta para o que eu estava perguntando.
— Sim, — ele finalmente suspirou. — Eu tenho. O nome dela é
Gretchen.
— A loba que tentou me matar?
Minha raiva estava no limite e minha respiração começou a acelerar.
Ele era companheiro da besta?
Não apenas seu rosto estremeceu, mas todo o seu corpo pareceu se
encolher.
— Sim. As fêmeas alfas são muito... protetoras do que acreditam ser
delas. Ela não gostou do fato de que eu preferia rejeitá-la a morrer sem
você. A marca que ela me deu na primeira noite aqui despertou o lobo
em mim, mas ele está em perigo de morrer a menos que eu complete o
vínculo de acasalamento.
Colocar as peças do quebra-cabeça juntas na minha cabeça não levou
muito tempo, mas o resultado é o que parecia estranho aos meus
ouvidos.
— A cadela que mordeu você?
Ele assentiu.
— Ela marcou você... com sua mordida? — ...
Quando ele acenou com a cabeça novamente, minha cabeça começou
a zumbir.
— Ela despertou o seu lobo?
Despertar um lobo parecia tão surreal, mas não havia muito nesta
conversa que parecesse real.
Meu marido tinha uma companheira, e não era eu.
O rosto de Mark estava começando a mostrar sinais de cansaço. Essa
conversa estava cobrando seu preço, mas ele continuou a me encarar
enquanto me ajudava a juntar todas as peças.
— Quando eu estava no hospital, Slate trouxe um médico da matilha.
Eles foram capazes de diagnosticar minha condição adequadamente.
Os pensamentos em minha cabeça começaram a nadar, e eu não tinha
certeza do quanto mais eu podia ouvir.
— Você não tinha câncer? Você não estava morrendo?
Meus dedos se enrolaram em tomo do material macio do cobertor que
me rodeava e eu o agarrei como se fosse minha salvação.
Ele fez uma pausa e eu o observei. Era como se ele estivesse
escolhendo e selecionando respostas, mas incerto quanto a qualquer uma
delas sendo dita.
— Eu não tinha câncer, mas estou morrendo.
A respiração jorrou de meus pulmões enquanto meu intestino se
revoltou com sua confissão.
Na minha cabeça, pensei em todas as visitas ao consultório, os
medicamentos, os tratamentos... tudo por nada. Seu sussurro gentil
flutuou até meus ouvidos.
— Meu lobo está morrendo e está matando meu lado humano.
Afundando no assento, tentei livrar-me da tensão que comprimia
meus músculos.
Minhas mãos esfregaram meu rosto com as memórias.
Todas aquelas noites em que ele expulsava tudo do estômago
enquanto eu ficava com ele.
A tortura dos médicos que tratavam de uma doença inexistente.
Nossas vidas mudando drasticamente por uma doença que nunca
existiu.
Ele estava morrendo nas mãos de seu próprio lobo.
O que ele disse? A menos que ele completasse o vínculo de
acasalamento... será que eu queria sequer saber?
— O vínculo de acasalamento?
Foi quando o rubor tomou conta de seu rosto e ele se afastou de mim.
Meu estômago embrulhou e eu sabia que queria vomitar.
— Oh Deus. Você não...
Achei que tinha minha resposta antes que ele falasse.
— Não, Brooke. Pelo menos, ainda não.
A agonia passou por mim enquanto os pensamentos de meu marido
com outra mulher me atormentavam.
Como eu era melhor? Quase fiz a mesma coisa, não fiz?
— Mas é parte do motivo pelo qual pedi para falar com você antes que
Slate o fizesse.
Seus passos o trouxeram de volta ao banco enquanto ele se sentava na
beirada, com seus olhos castanhos abatidos quase implorando aos meus.
Suas mãos avançaram em direção às minhas enquanto ele deixava as
pontas dos dedos roçarem na minha pele.
— Fiz um pacto com o diabo para que você pudesse viver. Eu não
poderia deixar você morrer.
— O quê? — A conversa que ele e o médico tiveram no meu quarto
estava ecoando na minha cabeça. — O que você fez?
Minhas mãos tremiam e minha boca ficou seca.
Com dedos trêmulos, ele segurou os meus.
Ele os observou como alguém faria se tivesse medo de que se
dissipassem no ar, talvez até tentando gravá-los na memória antes de
dizer o que precisava ser dito.
— Eu concordei em completar o vínculo de acasalamento. Concordei
em aceitá-la como minha companheira.
O ar saiu rapidamente de todo o seu ser, seu corpo desabando sobre si
mesmo enquanto sua cabeça abaixava e a energia que o sustentava
parecia afastar-se para longe dele.
O aperto que ele ainda tinha em meus dedos era a única indicação de
que ele ainda se agarrava a uma esperança de que seu corpo se
enfraquecera.
Eu estava para além de mortificada, com a raiva a pulsar contra as
minhas têmporas. Minha mão tremia em seu toque enquanto eu fervia.
— Por que viemos aqui em primeiro lugar?
As lágrimas não derramadas em seus olhos eram insuportáveis. — Por
você, Brooke. Viemos aqui por você.
Eu quase rosnei minhas palavras.
— Eu não pedi para vir aqui. Você queria vir aqui. Você incluiu na sua
lista de desejos, não eu.
— Porque eu sabia que Slate era seu companheiro! Seu verdadeiro
companheiro!
Minhas entranhas se torceram. — O quê?
As palavras de Pamela ecoaram em minha mente. Palavras que tentei
tirar da cabeça.
Ele abaixou a cabeça de uma forma indescritível enquanto colocava as
mãos entre os joelhos.
— Quando Slate entrou naquele quarto de hospital todos aqueles
anos atrás, eu sabia que você era a companheira dele. O olfato dele sentiu
você antes mesmo de ele entrar. Ele estava tão confuso com suas reações
ao cobertor que você deixou que não percebeu o significado de tudo isso.
Mas o restante de nós? Nós sabíamos.
— Eu não poderia desistir de você naquele momento. Eu não poderia
deixar você ir. Eu sei que foi egoísta da minha parte, mas eu queria que
meu último suspiro fosse com você.
Uma lágrima não conseguiu controlar minha raiva.
A confissão me fez pular do assento, pisando na ponta do cobertor e
quase o arrancando de minhas mãos.
— Você me trouxe aqui para ele?
Ele estava me penhorando a outro homem!
— Não é o que parece!
Embora sua voz ainda estivesse controlada, a minha começou a
aumentar de tom, e eu estava grata que as crianças estivessem com
Pamela.
Eu nunca tinha discutido com Mark, mas não estava disposta a recuar
agora.
— É exatamente o que parece. Você me trouxe aqui para me entregar a
outro homem... para cuidar de nós? Você não confiava em mim? Você não
achou que eu poderia cuidar de mim e das crianças?
— Você não consegue entender! Você é a yamala jyoti dele... A alma
gêmea dele. Vocês dois se completam. Ele não é um alfa comum, Brooke.
Com ele, você pode encontrar a felicidade que deveria ter.
— Como você ousa pensar que pode decidir quem me faz feliz! Eu
estava feliz! Eu tinha tudo que queria!
As lágrimas escorriam livremente. Eu não iria poupá-lo de seus
sentimentos.
— Eu não preciso dele... eu não preciso de você... eu não preciso de
ninguém!
Meus pés já estavam se movendo para a porta dos fundos da casa de
Slate.
Atrás de mim, Mark me chamou.
— E quanto a Aaron, Brooke? Realmente não há volta para ele. Ele
precisa de uma matilha para ajudá-lo a entender quem ele é, ajudá-lo nos
desafios. Alguém para mostrar a ele como as coisas funcionam. Um
bando ao qual pertencer. Agora que ele se transformou, seu lobo vai
ansiar por fazer parte de uma matilha.
Encurralada. Eu me senti encurralada.
— Eu não preciso de você e não preciso dele!
Meus passos tomaram-se mais determinados a chegar ao seu destino.
Quanto mais longe de meu marido eu pudesse ficar, melhor.
Eu precisava de tempo... tempo para pensar... tempo para respirar.
— Você pode ir para o inferno!
Ao virar o corredor da estufa, ouvi um rosnado baixo.
Olhos verdes não naturais me espiavam de um enorme lobo preto, e
eu rolei meus olhos para o céu.
Eu não tenho um descanso.
Capítulo 38
BROOKE

Mark devia saber que algo estava errado. Antes mesmo que eu tivesse
a chance de dar um passo à frente, ele virou o corredor atrás de mim.
— Brooke! Não se mexa!
Eu encarei aqueles olhos verdes e não pude deixar de me perguntar
por que de repente eu estava aparentemente no menu para lobos.
A besta tinha seus lábios puxados para trás em um rosnado cruel, e
seus caninos estavam em plena exibição para todo o mundo
testemunhar.
Parte de mim queria correr, enquanto a outra parte estava
simplesmente blasé sobre a maldita coisa toda.
Fiquei surpresa ao descobrir que possivelmente estava encarando a
morte de frente, e uma parte de mim não estava incomodada com isso.
Não havia vontade de me mover ou até mesmo de desviar o olhar.
Enquanto eu estava lá respirando intensamente, eu podia sentir
aquela parte de mim que queria desafiar essa criatura.
Não era bravura ou estupidez, mas simplesmente era o sentimento.
A criatura quebrou seu olhar comigo por tempo suficiente para olhar
para Mark antes de retomar seu brilho de volta para mim.
Com um som gutural baixo, Mark ordenou ao lobo que se afastasse.
Era profundo e rouco, mas me lembrava unhas arranhando um
quadro-negro. Cada terminação nervosa se revoltou ao som disso.
Quando a besta de olhos verdes soltou um gemido baixo, pensei que
Mark poderia ter sido capaz de lidar com a situação.
Mas, quando se virou para olhar para mim mais uma vez, pude ver que
ele estava apenas parcialmente impressionado com a tentativa de Mark.
Seus olhos verdes estavam grudados em mim, observando cada
movimento meu até o subir e descer do meu peito.
Ele estava avaliando seu ataque e pensamentos sobre meus filhos
começaram a surgir em meu cérebro.
Eu não podia simplesmente permitir que essa coisa me matasse. Eu
tinha que fazer alguma coisa.
Então, eu fiz o que qualquer pessoa sã sem nenhuma noção sobre
lobos faria. Eu corri.
O cobertor escorregou para o chão e eu corri o mais rápido que pude
em meu estado em direção à casa. Tropeçando, desejei que minhas
pernas se movessem mais rápido.
Se eu conseguisse chegar lá antes que ele me alcançasse, poderia
trancá-lo do lado de fora e... ligar para a polícia? Controle de animais?
Havia apenas cerca de cinquenta metros entre nós antes de minhas
pernas começarem a funcionar, e rezei para que fosse o suficiente.
Com minha respiração presa, eu movi minhas pernas o mais rápido
que pude.
Com as pernas cansadas e instáveis, me impulsionei para a frente em
direção à porta dos fundos.
Eu o ouvi... ouvi sua respiração pesada enquanto rolava em enormes
lufadas de ar atrás de mim.
Ele estava fechando a pequena vantagem que eu poderia ter. Os
cabelos da minha nuca se arrepiaram e eu sabia que ele estava se
aproximando de mim.
Que chance minhas duas perninhas tinham em comparação com suas
quatro fortes patas?
Fechando meus olhos brevemente, eu orei silenciosamente. Eu
esperava sentir sua respiração no meu pescoço a qualquer momento, e
meu coração trovejava descontroladamente no meu peito.
A escada estava lá, e eu forcei todos os músculos do meu corpo em um
esforço para alcançá-la.
— Pare!
A voz disparou através de mim e fez meus joelhos dobrarem sob mim.
A força disso me fez tropeçar nos meus próprios pés um pouco antes
de parar bruscamente.
Meus joelhos bateram com força na parte inferior da escada para a
qual eu estava me dirigindo obstinadamente.
A dor me atingiu quando espalmei minhas mãos por baixo para evitar
que minha cabeça se movesse para frente e se quebrasse contra um dos
degraus mais altos.
Meu corpo se encolheu, todos os músculos tensos de pura expectativa.
O latejar em meu peito inchou em meus ouvidos, e eu não conseguia
levantar a cabeça.
Fechei meus olhos com força, antecipando que o lobo estaria sobre
mim a qualquer segundo para arrancar minha cabeça.
Depois que alguns segundos se passaram, eu ouvi um gemido da besta
que tentou me derrubar.
O baque em meus ouvidos diminuiu quando meu pulso começou a
desacelerar.
Permitindo-me lançar um olhar de lado, vi o lobo preso ao chão por
alguma força invisível.
Bem atrás dele, eu vi Mark em uma situação semelhante enquanto seu
corpo se ajoelhava em uma pose que falava de veneração.
Meus membros pareciam pesados e eu podia sentir uma presença
avassaladora em minha cabeça que latejava e girava ao meu redor.
Energia pura, quase palpável.
Lutando contra a ideia de ficar plantada onde estava, me ergui sobre
as pernas instáveis.
Uma dor de cabeça estava começando a se formar e havia uma
sensação de queimação em meus músculos.
Subi lentamente os degraus da varanda de trás para colocar um pouco
mais de distância entre mim e a criatura que havia apenas alguns
instantes antes de me perseguir.
A única maneira de conseguir subir os degraus era me segurando no
corrimão para ajudar a suportar o peso extra de algo invisível caindo
sobre mim.
Um gemido alto e lamentável saiu da besta, o medo contido nela me
fazendo girar e quase perder o equilíbrio.
Slate estava sobre o animal, com as mãos cerradas à sua frente à
procura de qualquer coisa no mundo, como se ele percebesse algo
invisível entre eles.
Enquanto eu observava, o punho de Slate apertou o objeto invisível
enquanto ele torcia os pulsos, dando a impressão de que estava dobrando
o ferro à sua vontade.
A força absoluta dele era emitida em ondas e encharcava todos nós
enquanto olhávamos, incapazes de desviar o olhar do que estávamos
testemunhando.
Seus olhos eram quase prateados, apenas uma pequena parte de sua
pupila aparecendo por baixo dos redemoinhos de prata e relâmpagos que
brilhavam dentro deles.
O lobo de olhos verdes soltou um grito estridente quando um barulho
alto ecoou ao nosso redor.
O vermelho sangrou sobre suas íris e o lobo começou a rosnar.
Ele não tinha mais a aparência de uma besta inteligente, de alguém
com pensamento consciente.
Agora ele parecia selvagem, e em busca de sangue, enquanto seus
olhos se estreitaram no homem a sua frente.
Foi quase como se algo no fundo da besta se quebrasse.
Enquanto o lobo se erguia em toda a sua altura, a boca de Slate se
torceu em um sorriso amargo.
A criatura era sombria, descontrolada e irracional.
Havia um olhar de desejo por sangue em suas feições que eu nunca
tinha conhecido e esperava nunca ver novamente.
Os latidos, rosnados e grunhidos que vinham de dentro do lobo
pareciam maldosos, mas a saliva que pingava e balançava de sua boca
enquanto a escuridão o envolvia o fazia parecer raivoso.
A preocupação agarrou-se ao meu coração enquanto a besta se
preparava sobre suas patas traseiras.
— Slate! — Eu gritei quando o lobo raivoso se lançou no ar.
Enquanto a besta voava na direção dele, Slate o pegou no ar,
agarrando a besta selvagem pelo pescoço.
O canino selvagem se retorceu e rosnou enquanto suas mandíbulas
mordiam qualquer coisa que pudesse estar ao alcance, a ferocidade de
suas ações me fazendo preocupar com toda a nossa segurança.
Havia uma expressão tensa na boca de Slate enquanto ele segurava a
besta diante de si. Ele me deu uma breve olhada, fixando seus olhos nos
meus.
— Desvie o olhar, jyoti.
Havia uma gentileza na ordem, e algo que poderia ser confundido
com remorso antes que ele desviasse o olhar e deixasse sua mão apertar o
pescoço da forma retorcida.
Eu sabia o que ele estava prestes a fazer, mas fiquei paralisada
enquanto observava a cena se desenrolar. Sua mão apertou
significativamente antes que ele simplesmente o torcesse.
O estalo alto soou ao meu redor apenas alguns momentos antes de a
cabeça da criatura pendurar mole em um ângulo estranho contra a mão
de Slate.
Meu intestino se revoltou com a exibição não natural diante de mim,
e minha mão cobriu minha boca.
Embora eu soubesse o que ele iria fazer, nada poderia ter me
preparado para realmente assistir.
Ondas de náusea me atingiram e se agarraram ao fundo da minha
garganta, ameaçando expelir o conteúdo do meu estômago a qualquer
momento.
Quando o corpo bateu no chão com um baque, eu dei um pulo.
Minhas pernas não funcionavam mais direito e meu traseiro bateu no
degrau com um som retumbante e desagradável.
O degrau superior raspou contra a pele na parte inferior da minha
espinha, fazendo-me ofegar com a dor aguda.
Quase dei boas-vindas à distração momentânea de dor.
Slate se virou em minha direção com uma expressão preocupada antes
de virar os olhos raivosos para o homem que permaneceu ajoelhado.
Quando seus passos o levaram em direção a Mark, o medo apertou
meu coração.
Com a exaustão começando a tomar conta de mim, meu estômago
revoltando-se contra mim, minhas pernas recusando-se a oferecer muita
ajuda e minhas costas queimando de dor por causa dos arranhões e
hematomas que sofreram, tropecei no chão que se estendia entre meu
marido e eu.
Slate já estava de pé sobre ele, e seus punhos estavam cerrados ao lado
dele enquanto ele olhava para o homem ainda imóvel.
— Não, — eu respirei enquanto a energia necessária para suprir a
distância me deixou sem fôlego.
Para enfatizar meu ponto, levantei a mão trêmula enquanto me movia
entre os dois.
Não havia dúvida de que algo tão escasso não poderia detê-lo se ele
quisesse passar por mim, mas eu tinha que fazer algo.
Slate simplesmente olhou para mim com uma expressão estranha. Ele
abriu a boca para se dirigir a mim, mas foi Mark quem falou.
— Brooke, entre, por favor!
Eu me virei. Por que Mark me pediria para sair?
Ele achou que Slate iria me machucar? Será que eu achei que Slate
poderia me machucar?
Não, não foi nem mesmo um pensamento, e meu interior se aqueceu
com a compreensão.
— Levante-se, Mark. Nós dois podemos entrar.
Um rosnado baixo foi a primeira resposta às minhas palavras.
— Jyoti? — Havia um tom de pergunta, mas eu não tinha certeza do que
ele estava perguntando.
— Vá para dentro, Brooke, — Mark repetiu.
— Não, venha comigo.
Minha mão se esticou para agarrar uma das mãos dele que estava
descansando em seu joelho.
O pensamento era ajudá-lo corajosamente a se levantar quando nem
eu mesma estava em posição de ficar de pé sozinha.
No entanto, quando meus dedos roçaram sua mão, ele se encolheu e
eu me retirei.
— Eu... não posso. — Ele ergueu a cabeça um pouco para olhar para
mim. — Se eu pudesse resistir, seria exilado.
Exílio
Isso não parecia tão ruim, certo? Seríamos forçados a deixar este
lugar... ir embora para longe daqui e resolver as coisas.
— Tudo bem, deixe-o nos exilar. Podemos ir para casa...
Um nó se formou em meu estômago e me virei para olhar para Slate.
Seus olhos tristes ainda estavam me observando e ele enfiou as mãos nos
bolsos.
— Você não entende, Brooke. — Mark sussurrou atrás de mim. — Eu
acabaria como Malcolm.
Malcolm? O lobo que me perseguiu se chamava Malcolm?
E meu marido o conhecia?
Eu me virei para o homem que pairava e reluzia sobre nós. — Por quê?
Slate fez uma pausa e pude ver um pouco do cinza de suas íris
infiltrando-se lentamente.
Eu o observei enquanto esperava por uma resposta, enquanto a
infelicidade nos seus olhos me invocava, quanto mais esperava.
No entanto, foi Mark quem mais uma vez respondeu à minha
pergunta.
— A desobediência a um comando de um alfa superior resulta no
exílio. — Ele grunhiu antes de continuar suavemente.
— O exílio resulta no corte de todos os laços de qualquer matilha. Um
lobo que perde sua conexão com sua matilha e se depara com não ser capaz
de criar outra está... arruinado. Para a maioria, os efeitos são
instantâneos.
Ele fez uma pausa enquanto deixava seu olhar cair sobre o corpo
amarrotado que era chamado de Malcolm. Quando ele continuou, suas
palavras eram um sussurro.
— Só ouvi falar de um que sobreviveu ao exílio, embora, depois do
que vi, ele possa ser um mito.
Seus olhos procuraram os meus, implorando para mim.
— Você entende agora por que Aaron precisa estar perto de um
bando?
— Não, — eu ofeguei com a palavra enquanto a forcei de meus lábios.
Meu mundo inteiro oscilou em seu eixo.
Os dois homens eram os responsáveis por essa sensação que me
deixou cambaleando.
Minha raiva, sofrimento, miséria e dor precisavam de uma válvula de
escape. Eu me virei para Slate mais uma vez.
— Você!
Todo esse tempo, Slate ainda não disse nada.
Ele simplesmente observou minha reação ao que estava sendo dito e
deixou tudo o que estava sentindo deslizar por trás de uma máscara que
eu não conseguia ler.
Minhas mãos pressionaram contra o chão, tentando
desesperadamente me colocar de pé para enfrentar Slate.
A dor nas minhas costas me fez sibilar enquanto minha camisa
deslizava contra a pele ainda sensível e minhas pernas balançavam
precariamente.
Seus braços estavam em volta de mim antes que elas tivessem a
chance de desistir mais uma vez.
As faíscas deslizaram suavemente sobre minha pele e as dores
diminuíram. Uma sensação renovada de energia brotou de dentro, e eu a
deixei tomar conta de mim enquanto inalava profundamente.
Seu cheiro me encheu e girou em tomo de meus sentidos. Isso me
irritou e me acalmou.
Olhando para a massa de pelos sem vida, tentei me lembrar do que
esse homem era capaz.
— Alfa Superior?
— Não para você, — afirmou simplesmente.
Eu balancei minha cabeça enquanto tentava sair de seus braços, mas
seus braços se apertaram em volta de mim como um tomo.
Resistindo ao desejo de lutar mais contra ele, voltei minha atenção
para um vinco em sua camisa Oxford abotoada.
— Por que você está atrás do meu marido?
Se eu achava que seu aperto em tomo de mim era forte antes, percebi
meu erro depois da minha pergunta. Seus braços ficaram ainda mais
tensos, me prendendo mais perto de seu corpo alto.
Cada parte aquecida dele pressionou contra mim e eu fiquei rígida,
ordenando ao meu corpo que se recusasse a obedecer ao calor que
enxameava sobre mim.
Eu mantive meu olhar no vinco imperfeito que marcava sua camisa
imaculada. Atrás dele estava o corpo sem vida que havia, poucos
momentos antes, respirado.
Mark inspirou um pulmão cheio de ar. — Brooke...
— Porque aquele lobo era parte da matilha dele Slate rosnou, o calor de
seu corpo rivalizando com suas palavras.
Todo o seu corpo estava rígido, e ele me puxou contra ele como se isso
trouxesse sanidade ao mundo louco que nos cercava... um mundo do
qual ele parecia tão intrincadamente fazer parte.
— Eles não são minha matilha... — Ele fez uma pausa, deixando o ar
sair de seus pulmões. — Ainda não, de qualquer maneira.
O ar era um luxo, mas consegui me distanciar o suficiente de Slate
para virar lentamente em seus braços.
Mark não olhou para mim, mas manteve o olhar abaixado.
— Mark? Quem era Malcolm?
Mais uma vez, ele se encolheu. Mas não foi ele quem respondeu.
— O irmão de sua companheira
Fechando meus olhos, desejei que meu coração parasse de acelerar.
Desejei minha cabeça não tirar conclusões precipitadas. — Você...
Eu queria saber a resposta? Uma vez respondida, eu não poderia me
aquecer na ignorância.
— Você sabia?
O balançar de sua cabeça me deu algum alívio, mas então ele falou. —
Eu suspeitei.
Levantando a cabeça lentamente, ele olhou além de mim para Slate.
— Mas ele não estava agindo sob as ordens de Gretchen. A matilha
dela não está feliz com a escolha da Deusa para seu companheiro, e...
minha relutância em aceitá-la.
Mais uma vez, ele olhou para o chão abaixo dele.
— Ela não está segura aqui... não com tantos deles por perto.
— As precauções já foram tomadas. — Embora Slate falasse com
confiança, senti os músculos de seus braços se contraírem. Ele estava
preocupado.
— Não os subestime. Poucos deles têm um pingo de honra ou respeito
correndo em suas veias. E agora...
— Você acha que eu não posso proteger minha própria companheira?
A prata estava começando a eclipsar o cinza.
— Uma que tenho estado à espera durante vidas? Eu mataria todos
eles antes de deixar que lhe fizessem mal.
Meu olhar intercalou entre eles antes de finalmente me soltar do
aperto de Slate.
Ambos estavam preocupados com minha segurança—e esquecendo
que eu estava bem ali.
— Você acabou de matar o irmão deles.
Embora seu tom fosse acusatório, Mark manteve o olhar baixo.
— Você acha que a matilha dela vai simplesmente ignorar isso? Ela
pode perdoar por causa das circunstâncias, mas seus irmãos não foram
criados pelo pai dela. Eles são selvagens. Malcolm já era ruim o suficiente,
mas eles são muito piores! — ...
Meu rosto se torceu em um olhar zangado. Com minha força
renovada, comecei a mancar para longe deles e da conversa.
— Deixe-os vir.
Foi dito sem maldade, mas com confiança.
— E quanto a Brooke?
Eu os interrompi enquanto lançava uma resposta por cima do ombro
enquanto marchava em direção à casa.
— Brooke vai cuidar de si mesma e dos meninos. Vocês dois, divirtam-
se!
No que eu me meti? Não, do que eu estava saindo e livrando meus
meninos?
Era a hora de ir!
Capítulo 39
SLATE

Normalmente, eu saberia no instante em que uma besta sem matilha


pisasse em minhas terras.
O fato de que demorei quase uma hora para sentir seu já familiar sinal
de energia foi apenas mais uma prova do enfraquecimento do meu
poder.
Ele funcionava para permanentemente defender a sua reivindicação, e
eu estava lutando a todo momento para não marcar minha companheira
para que tudo se equilibrasse mais uma vez.
Quando contornei a lateral da casa, meu lobo avançou.
Malcolm estava perseguindo minha companheira enquanto Mark
fazia tentativas débeis de superar algum tipo de controle sobre a
situação.
— Pare, — eu ordenei. Com um certo esforço, levei cada um deles a
uma pausa surpreendente e vigorosa.
Todos os três pararam seus movimentos e meus olhos pousaram em
minha linda companheira amontoada sobre os degraus.
Meu coração foi torturado ao vê-la se curvando de medo.
Saber que ela poderia não ter sobrevivido se eu tivesse chegado apenas
um segundo depois me consumia por dentro.
Esse era o seu plano?
Embora os tremores de raiva tensionassem todos os músculos do meu
corpo, meu tom permaneceu assertivo e imponente.
Você não pode nem imaginar o que temos reservado para vocês, ALFA
SUPERIOR DE MERDA.
O tom amargo nas palavras de Malcolm não foi inteiramente dirigido
a mim.
Nós? Quando minhas palavras seguintes vieram, foram ditas
meticulosamente com uma frieza inegável.
Você quer dizer a matilha de Gretchen? Os que te entregaram para testar
minha capacidade?
Aqueles que o enviaram para o abate para determinar o que eles estavam
enfrentando?
Embora isso seja algo que eu nunca permitiria que acontecesse em
minha própria matilha ou mesmo naquelas com as quais me aliei, ouvi
dizer que as matilhas mais arcaicas e bárbaras ainda praticam tais
medidas estratégicas.
Sacrificar os fracos ou derrotados para coletar informações. Era uma
prática brutal e implacável.
Você não sabe de NADA — Malcolm disparou pela conexão.
Havia um desafio em seus olhos enquanto eu olhava para a estrutura
congelada.
Eu sei mais do que você pensa!
Eu o observei me olhar com ceticismo. Erguendo minhas mãos na
minha frente, segurei o fio de luz que o conectava a tudo o que existia.
Quando estalasse, ele seria um lobo solitário.
Ele não teria mais a bênção de se conectar com outra pessoa e teria
sorte de sobreviver sozinho na selva, se chegasse tão longe.
Pouco antes de torcer meus pulsos, eu o contei meu segredinho. Veja,
seus irmãos não foram muito espertos em conspirar com um dos meus.
Minha única pergunta é se Mac foi direto para você, ou ele passou por
Gretchen?
O olhar de medo cruzou seu rosto quando ele soltou um pequeno
gemido, e eu tive minha resposta.
Antes que ele pudesse enviar o SOS para seus irmãos, torci meus
pulsos.
Em um instante, ele passou do medo para a sede de sangue. Eu nunca
tinha visto o resultado de outra maneira.
Quando o lobo exilado correu em minha direção, minhas mãos
facilmente o arrebataram do ar.
Um suspiro suave atraiu minha atenção quando o lobo ficou suspenso
do meu aperto, seus dentes rangendo contra si enquanto ele procurava
qualquer carne para rasgar.
— Desvie o olhar, jyoti, — quase implorei que ela se virasse.
O que eu precisava fazer era algo que ela não precisava ver. Por mais
que eu odiasse a besta por ir atrás de minha companheira, o animal em
minhas mãos merecia misericórdia. Eu pretendia conceder a ele.
Quando o pescoço dele estalou, ouvi seu pequeno grito. Então ela não
iria desviar o olhar.
Ela estava lutando contra minha compulsão e, como uma verdadeira
companheira, era capaz de se mover contra ela.
Sua força e tenacidade eram admiráveis, além de cansativas.
Quando ela pousou de costas, ouvi uma forte entrada de ar. Lesão
após lesão... ela era boa nisso.
Se a criatura esguia simplesmente me permitisse cuidar dela, ela não
conheceria mais a dor ou a tristeza.
Se ao menos ela se permitisse ouvir sua intuição..., mas sua lealdade
era implacável.
Mas ter isso como meu não teria preço.
Com esse pensamento, veio o próximo. O homem que se ajoelhou ao
meu comando.
Minha raiva por ele era dupla, e nem todo o fardo era dele para
carregar.
Marchando em direção a ele, cerrei meus punhos com força ao meu
lado.
Antes que eu pudesse ficar sobre ele, a devoção de minha
companheira disparou em alta velocidade.
Ela quase contornou o chão em suas mãos e joelhos enquanto ela
lutava para ficar entre nós.
Mulher sábia.
Se não fosse por eu ligar para Mark para encontrá-la nos jardins, ele
nunca teria aparecido.
Ele esperava se acasalar e partir antes mesmo de enfrentá-la com suas
confissões.
Certamente teria sido difícil para mim manter minha palavra e seria
mais difícil para ela perdoar qualquer um de nós.
— Não, — ela exigiu entre suspiros de ar.
A ação não foi de todo uma surpresa, mas sua defesa veemente dele
depois que ele revelou seus segredinhos sujos foi um tanto curiosa.
Mesmo quando Mark implorou para que ela entrasse, ela ficou ao lado
dele.
— Jyoti 1
Uma coisa estava clara, ela não tinha medo de mim.
Mas ela realmente acreditava que eu faria mal ao pai de seus filhos?
Ela acreditava que eu era um monstro?
A forma inerte atrás de mim foi um ato de misericórdia, mas será que
ela perceberia isso?
Meus olhos encontraram os dedos dela alcançando os dele, e eu senti
um estrondo no fundo da minha garganta.
Cada vez que sentia que estávamos avançando, era forçado a dar
vários passos para trás.
Enquanto Mark explicava a questão do exílio e o que isso significaria
para um lobo, eu me vi bebendo cada parte de sua ferocidade.
Ela realmente era um espetáculo para ser assistido. Quando seus
olhos procuraram os meus, meu pulso disparou.
— Por quê?
Toda a sua expressão me envolveu e implorou por uma resposta que
faria tudo ficar bem.
Eu não poderia dar isso a ela. Não havia como voltar atrás.
Mark continuou a descrever os efeitos de um exílio e eu continuei a
observar suas feições delicadas enquanto ela passava por várias emoções.
A menção de Aaron me deixou tenso, e enviei uma oração silenciosa
para que ele contasse a ela sobre a cerimônia.
— Não, — respondeu ela.
Sua voz estava rouca e incrédula. Isso respondeu à minha pergunta
não feita. Isso enviou ressentimento pela minha espinha.
— Você!
Eu era agora o foco de sua própria animosidade reprimida.
Brooke ficou em pé com as pernas instáveis e eu a segurei por instinto.
As faíscas deslizaram sobre cada parte de mim, e eu senti um pico de
força renovado com ela em meus braços.
— Alfa Superior?
Havia um fragmento de desdém e raiva ali. Claramente, ela não tinha
muito respeito pelo título.
Ou talvez fosse simplesmente a mim que ela não respeitava.
— Não para você.
Ter minha companheira me chamando de Alfa Superior em vez de
querido, amor ou qualquer outra forma de verdadeiro carinho seria um
golpe esmagador para mim.
Embora ela lutasse em meus braços, eu sabia que soltá-la a faria cair
no chão.
Por mais teimosa que fosse, ela já havia sofrido ferimentos o suficiente
hoje.
Sem mencionar que tê-la em meus braços era muito mais agradável
para mim.
— Por que você está atrás do meu marido?
A fúria branca me cegou por mais de um segundo enquanto eu lutava
pelo controle.
Ela ainda o chamava de marido, e isso me atormentou mais
profundamente do que nunca.
Mark percebeu minha agitação, mas me recusei a permitir que ele
falasse por mim. Ela precisava saber tudo e não apenas o que ele queria
dizer a ela.
— Porque aquele lobo era parte da matilha dele t!
— Eles não são minha matilha, — ele defendeu. Então, seu rosto
desmoronou. — Ainda não, de qualquer maneira.
O jogo que ele estava jogando não fazia bem a ninguém.
— Mark? Quem era Malcolm?
Mais uma vez, ele estava optando por permanecer em silêncio.
— O irmão de sua companheira — Eu não tinha essa compulsão.
Quer Mark admitisse ou não, ele já estava se relacionando com a alfa
ruiva. Mesmo agora, ele a estava defendendo para sua esposa e para mim.
— Ela não está segura aqui. Não com tantos deles por perto.
O homem era um idiota! Com o número de soldados treinados,
estávamos mais bem equipados para protegê-la do que se ela deixasse
minhas terras.
Uma vez que sua identidade fosse conhecida, não haveria nada
impedindo outros selvagens de tentarem encontrá-la e eliminá-la.
E agora que eu sabia que seu segredo já havia sido revelado, o número
de homens que eu planejava designar para ela seria dobrado.
O que foi mais desconcertante foi como eles descobriram essa
informação.
Meu palpite? Gretchen.
— As precauções já foram tomadas.
— Não os subestime. Poucos deles têm um pingo de honra ou
respeito...
— Você acha que eu não posso proteger minha própria companheira?
Uma que tenho estado à espera durante vidas? Eu mataria todos eles
antes de deixar que lhe fizessem mal.
O homem não sabia quando parar! Sua preocupação era clara, mas sua
confiança estava perdida.
Brooke se levantou e se afastou de mim.
Instantaneamente, eu senti falta de seu cheiro e calor enquanto as
palavras de Mark continuavam a vir.
— Deixe-os vir, — eu disse. Eu estava pronto para a conversa
terminar.
— E quanto a Brooke? — Eu rosnei com suas palavras. Ele não estava
ouvindo uma palavra do que eu disse?
— Brooke vai cuidar de si mesma e dos meninos. Vocês dois, divirtam-
se!
Lançando um olhar feroz para o homem ainda ajoelhado, eu
resmunguei para ele. — Você fica!
— Jyoti? — Minhas pernas cobriram o chão entre nós em longas passadas.
A porta da casa se fechou firmemente entre nós e eu suspirei. Abrindo
a porta, encontrei-a no meio da escada.
— Brooke...
Seu queixo levantou uma fração quando a determinação apareceu,
mas ela ainda se recusou a olhar para mim.
— Brooke, — chamei-a mais uma vez.
Sem olhar por cima do ombro, ela resmungou: — Vá embora, Slate.
Pelo menos ela estava falando comigo.
— Você sabe que eu não posso, e não irei, jyoti. Eu já expliquei isso.
Eu a segui escada acima.
— Vá para o inferno, Slate.
Embora sua voz fosse inexpressiva, ela não conseguia me enganar. A
emoção a engoliu e eu queria ser a boia naquele oceano.
— Ah, jyoti. O inferno para mim seria uma vida sem você.
Eu não poderia falar uma verdade mais sincera, e não poderia fazer
uma pessoa acreditar nela mais do que naquele momento.
Meu coração saltou quando ela parou de andar e se virou para mim.
— Você tem que parar de dizer coisas assim!
A incerteza em seus olhos fez meus braços coçarem para segurá-la
contra mim. A dor que estava lá fez meu coração doer.
Meu olhar varreu seu rosto enquanto eu ficava parado, memorizando
meticulosamente cada detalhe antes de me permitir encontrar seu olhar.
— Parar de ser honesto?
Suas palavras me atingiram no peito. Eu não poderia ser outra coisa
senão honesto com ela.
— O que você prefere que eu seja, jyoti: transparente e honesto ou
mudo? Porque eu jamais mentiria para você!
Uma pitada de surpresa brilhou em seus olhos antes de sumir.
— Por que você insiste em dizer coisas impossíveis?
— Impossíveis? — Meus lábios se torceram com a palavra. Mesmo
assim, ela não conseguia entender o que significava para mim.
— Sim, impossíveis. Eu não sou do seu mundo. Eu não pertenço a—
a...
Ela acenou com a mão no ar à sua frente.
— Eu não pertenço a tudo isso!
Tentar entender as coisas do ponto de vista dela estava começando a
me dar dor de cabeça. Era tão difícil de entender?
— Claro que você pertence.
Eu sorri para ela enquanto prendia seu olhar. Se ela não entendia
antes, eu queria deixar isso claro agora.
— Você é meu m...
— Ah, não, não diga isso! Estou farta de ouvir as pessoas usarem esse
termo hoje!
Não pude evitar a recuada que veio com sua resistência.
— Eu não sou uma de vocês. Suas tradições e cultura não são minhas.
Tudo isso não é minha vida!
Um pouco de culpa se apoderou de mim. Culpa por ela ter visto o que
viu antes de ter a chance de entender nossos costumes.
O que ela viu foi um caso extremo, não o habitual.
No entanto, não tive vergonha do que aconteceu, nem teria feito de
outra forma. Tinha que ser feito.
— Lamento que você tenha que ver isso. Embora não seja comum,
isso acontece.
Sua própria cultura não era totalmente inocente de crimes contra a
humanidade, e certamente ela sabia disso.
— Mas isso acontece na sua cultura também, talvez até mais do que
na nossa.
— Eu sei, mas isso... parece...
Ela deixou seu olhar cair para o chão enquanto ela lutava para
encontrar as palavras para preencher os espaços em branco.
— Olha, eu sou uma mãe, uma esposa...
Meu peito apertou enquanto esperava pela compreensão surgir.
— ... era uma esposa, — ela sussurrou.
Seus olhos começaram a brilhar com o primeiro vislumbre de
lágrimas. Minha companheira estava de luto pela perda de sua antiga
vida.
O final de um capítulo sempre significou o início de um novo, e eu
pretendia tomá-lo o melhor, se ela me deixasse.
— Ahh, jyoti. — Eu ansiava por enxugar aquelas lágrimas. — Você está
se apegando a cerimônias humanas triviais.
— Triviais? Me apegando?
As palavras saíram daqueles lábios divinos e eu franzi a testa.
Seus olhos se fecharam e ela respirou fundo, e eu só poderia me
preocupar com o que eu disse que a deixou irritada.
Quando seus olhos se abriram mais uma vez, eles foram preenchidos
com uma intensidade que me paralisou.
— É à minha sanidade que estou me apegando!
Uma das minhas sobrancelhas abaixou enquanto eu a observava
cuidadosamente, completamente confuso.
— O casamento faz você se sentir sã?
Meu olhar vagou por seu rosto, em busca de uma resposta para seu
enigma.
— Tudo bem, então vamos nos casar.
Seu rosto mudou de choque e surpresa para algo que aqueceu meu
coração. Ela não se opôs totalmente à ideia.
— Não, não, você não entende. Mark me faz sentir sã... me fazia sentir
sã.
Ela fez uma pausa e pude ver as engrenagens em sua mente
começando a girar.
— Ele colocava meus pés no chão. Perto dele, eu sentia confiança em
minhas decisões, em quem eu era como pessoa. Com ele, me sentia forte
e empoderada.
Minhas sobrancelhas caíram sobre meus olhos enquanto meus lábios
se estreitaram em uma linha sombria.
O que ele fez com ela foi mentir e guardar segredos.
O que ele fez com ela foi encobrir seu papel nas circunstâncias dela
enquanto eu era forçado a suportar seu coração torturado.
Seu nervosismo estava começando a se tomar mais perceptível
enquanto ela movia os olhos para o chão mais uma vez.
— Você! Você me deixa louca. Não consigo expressar nenhum tipo de
pensamento coerente, não consigo agir corretamente. Inferno, eu mal
consigo respirar na maioria das vezes.
Embora eu tenha tentado conter meu sorriso com sua divagação, foi
uma batalha que fiquei muito feliz em perder.
— Meu estômago sempre parece estar revirado. Minha pele sempre
parece estar pegando fogo. Meu coração parece receber uma grande dose
de anfetaminas. Perto de você, me sinto pequena e insignificante, nada
confiante. Minha decisão é fraca e não tenho controle. Eu...
Embora houvesse alguma satisfação em ouvir suas palavras, não
permiti que ela continuasse a se degradar.
— Seus pensamentos são erráticos quando estou perto porque você
descuidadamente joga fora aqueles que fazem mais sentido.
A aspereza do meu tom a forçou a olhar para cima.
Bom, ela precisava prestar atenção ao que eu disse. Quando ela
começou a interromper, levantei a mão e balancei a cabeça.
— Me deixe terminar.
Meu tom suavizou quando lancei a ela um pequeno sorriso que
continha um grande desejo.
— Tudo sobre você foi feito para se encaixar em mim, assim como
tudo sobre mim foi feito para se encaixar em você, jyoti. Sua mente sabe
que algo está faltando. Seu coração dispara porque ele me reconhece.
Aproximando-me dela, levantei minha mão para tocar sua bochecha
delicada. O calor de sua pele acendeu a minha.
— É porque você luta contra nós que seu corpo se revolta contra você
Ela abriu a boca para discutir, mas não conseguia encontrar as
palavras para me negar.
Em vez disso, ela soltou o corrimão e deixou seu traseiro cair no
degrau abaixo dela com um leve assobio para acompanhá-lo.
Por mais perdida na conversa que estivesse, ela havia esquecido seus
ferimentos.
O calor do meu corpo aumentou quando eu deslizei suavemente para
o degrau ao lado dela. Mesmo agora, ela não conseguia olhar para mim
enquanto lutava para conciliar os fatos.
— Como isso é tão fácil para você? — ela finalmente perguntou.
— Não tem nada fácil nisso.
Meus dedos abraçaram a curva de seu queixo enquanto eu erguia seus
olhos para encontrar os meus.
A intensidade da minha emoção seria evidente, e tomou-se
importante para mim ajudá-la a perceber que não estava sozinha... e para
ela ver o efeito que tinha em mim.
— Desejar tanto algo e saber que tenho que resistir até que você esteja
pronta para me aceitar é quase doloroso.
Meu polegar roçou suavemente a curva de sua mandíbula.
— Depois que mais de algumas vidas se passaram, quase perdi a
esperança de que você existisse, ou que um dia existiria. Agora que você
está aqui, você deve saber que não há nada que eu não vá fazer para
eliminar sua dor, aliviar seus medos, carregar seus fardos e enxugar suas
lágrimas para que em seu caminho você entenda a bênção que você é.
— Um verdadeiro presente da Deusa, e um que irei acalentar até meu
último suspiro.
Uma pequena lágrima escapou e rastejou ternamente por sua
bochecha. Gentilmente, eu a afastei com as costas do meu dedo.
— Você não pode dizer coisas assim.
Não havia convicção em suas palavras, apenas uma declaração dita à
toa.
Minha mão escorregou para sua nuca enquanto eu a puxava para mim
e beijava o topo de sua cabeça.
Então eu a levantei suavemente em meu colo e coloquei sua cabeça
perto do meu coração.
No meu peito, meu coração trovejava descontroladamente enquanto
eu alisava o cabelo de seu rosto.
— Então você escolheu que eu fosse mudo, — eu sussurrei
provocadoramente contra sua testa, pressionando meus lábios mais uma
vez.
O tempo durou mais do que alguns minutos, e eu me deliciei com a
sensação de todo o seu ser relaxando contra mim.
O ritmo de sua pulsação diminuiu quando ela deixou seus olhos se
fecharem, uma declaração de confiança que ela havia escolhido me
conceder.
Permanecemos nos braços um do outro, proporcionando o conforto
que ambos buscávamos até que as portas da frente se abriram e uma voz
raivosa ecoou pelo saguão.
— Deixe-o ir!
Capítulo 40
BROOKE

Assustada, tentei me afastar de Slate, embora ele não estivesse tão


inclinado quanto eu para que eu deixasse o círculo de seus braços.
— Deixe-o ir, — a ruiva furiosa repetiu.
— Gretchen, — Slate rangeu, e o rosto da mulher ficou vermelho.
— É Alfa Sommers.
Sua indignação por ser chamada por seu nome não tinha limites. Eu
achei que ela fosse tentar atacá-lo.
Slate apenas rosnou, e a mulher falou mais uma vez, tentando
mascarar sua clara irritação.
— Desculpe interrompê-los.
Sua voz se suavizou um pouco, mas a amargura não havia
desaparecido.
Slate olhou ameaçadoramente para a mulher, tomando evidente sua
agitação com a intrusão.
— Sim, bem, você se importa em deixá-lo ir?
A pergunta estava mais perto de uma exigência do que de um pedido,
e o estrondo que vibrou em seu peito me fez saber que ele também
percebeu.
A sala ficou desconfortavelmente silenciosa enquanto seus olhos se
estreitaram perigosamente.
Ele era o dominante na sala e queria deixar isso perfeitamente claro.
Ele trouxe sua cabeça para perto da minha, nunca tirando os olhos
dela, e deu um beijo suave na minha testa, recusando-se a ser comandado
pela linha do tempo dela.
A mulher observou, fervendo sob a pele enquanto mantinha seu
temperamento sob controle.
Finalmente, ele deixou seu olhar vagar preguiçosamente de volta para
mim e sorriu sedutoramente.
A onda de calor me consumiu com o olhar ardente, e eu tive que lutar
contra o desejo de subir em seu colo pela pura intensidade disso.
— Estou comprometido de outra forma no momento.
Sua voz era baixa e manchada com uma pitada de luxúria.
— Você não pode estar...
Slate ergueu a mão. As mãos da mulher alcançaram sua garganta,
prendendo suas palavras.
A aparência comprimida em tomo da boca de Slate me preocupou.
— Você está bem? — Sussurrei, percebendo a tensão.
Lançando-me um olhar cauteloso, ele deu um beijo em minha
têmpora com uma palavra simples. — Mais tarde.
A palavra foi dita com um sorriso gentil antes que ele se virasse mais
uma vez para a mulher. Slate jogou uma mão desdenhosa em sua direção
enquanto ele falava.
— Ele é membro da sua matilha. Sinta-se à vontade para levá-lo com
você quando for embora.
Antes de permitir que a mulher falasse mais uma vez, ele acrescentou:
— E mande alguém para recolher o corpo do seu irmão.
Seu brilho foi apontado em seu significado, e até eu engoli em seco
com a intensidade dele.
Quando ele liberou qualquer controle que tinha sobre ela, ela
resmungou e zombou antes de responder. — Está bem! Importa-se de
libertá-lo?
As mãos dela estavam nos quadris, e ela olhou para ele com tanto
veneno mal disfarçado em seu olhar que eu pensei que ele certamente
deveria sentir o veneno escorrendo em suas veias.
Seus braços ainda estavam em volta de mim, e eu podia sentir seus
polegares traçando delicados padrões circulares na parte ilesa da parte
inferior das minhas costas.
Parte de mim se perguntou quem estava acalmando quem neste
momento.
Inclinando-se para mim, ele deixou seu nariz roçar na minha
bochecha e então descer em direção à minha orelha. Uma vez lá, ele
respirou fundo e suspirou.
Não havia nenhuma inclinação em suas ações para apressar a
demanda desta mulher.
Olhando para ele, estava claro que ele tinha toda a intenção de fazê-la
esperar por qualquer resultado que ele estivesse disposto a fornecer.
Outra mulher contornou a porta e entrou na sala. Celeste estava ainda
mais deslumbrante do que eu me lembrava.
— Desculpe, Alfa. Ela é uma atrevida traiçoeira...
Quando seus olhos se ajustaram à luz fraca, ela sorriu.
— Oh, desculpe, senhor. Não tive a intenção de interromper.
Quando ela percebeu meu olhar, ela sorriu amplamente, quase como
se ela tivesse ganhado uma vitória pessoalmente.
— E a segunda vez que ouço isso, — ele resmungou para as duas pela
intrusão, e o momento perdido que agora parecia estar diminuindo
diante de seus olhos.
Mais uma vez, tentei me afastar dele. Desta vez, ele cedeu e me pôs de
pé.
Quando eu estava de pé sobre meus próprios pés, seus dedos
deslizaram contra minha palma antes de unir aos meus.
— Todos receberam suas ordens?
Ela baixou a cabeça para o peito ao responder. — Sim, Alfa. Todas as
precauções foram tomadas.
Seus olhos deslizaram significativamente para a outra mulher. —
Todas as precauções?
Celeste estremeceu quando ele voltou seu olhar para ela.
— Não foi culpa de Birch, Alfa, — ela começou. — Ela só...
Slate ergueu a mão e balançou a cabeça.
— Ele ainda é muito jovem e sem treinamento para tal
responsabilidade. Além disso, ele tem outras preocupações no momento.
Leve-a para seus aposentos até que possamos concluir a cerimônia e
mandá-los embora.
Celeste baixou a cabeça e começou a mover o punho contra o peito
antes de pensar melhor.
— Como quiser, Alfa.
— Estou bem aqui, — Gretchen fervia de raiva. — E eu não vou a lugar
nenhum até você libertar meu companheiro!
Quando o aperto de Slate aumentou, eu me preparei.
— Estou farto dessa sua audácia, — ele falou calmamente, e soou
mortal.
— Você está aqui como convidada mas seu comportamento justifica
algo um pouco menos hospitaleiro.
A ameaça estava lá, e até eu sabia que ela estava pisando em uma linha
muito tênue.
— Se você deseja sair com seu companheiro, alfa, então eu sugiro que
você mesma o solte.
Gretchen ficou parada como um peixe fora d'agua, a boca aberta
enquanto seus lábios tentavam formar palavras que simplesmente não
saíam.
Celeste não teve esse tipo de reação quando explodiu em uma
gargalhada.
— Oh, isso é ótimo! Suponho que você esteja ciente de que ela já
tentou isso?
A essa altura, ela começou a rir ainda mais.
— Ela falhou miseravelmente. A alfa não conseguiu levantá-lo!
Ela estava quase gargalhando de sua própria piada obscena.
A mulher de cabelos cor de cobre empurrou a recém-chegada com
força. — Cale-se!
— Oh, eu adoraria ver você tentar me calar.
Gretchen começou a cercá-la antes que Slate erguesse a mão livre.
— Esta é minha casa.
Ambas as mulheres ficaram congeladas enquanto olhavam uma para a
outra, nenhuma delas capaz de se mover em seu estado atual.
— Celeste, leve-a de volta para seus aposentos. Faça com que Sian
organize um melhor gerenciamento de nossa convidada.
Ele enfatizou sua posição entre eles enquanto nivelava seu olhar sobre
ela.
— Minha hospitalidade está se esgotando.
Dessa vez, Gretchen baixou a cabeça a contragosto. Sem levantar a
cabeça, ela perguntou mais uma vez sobre Mark.
— E meu companheiro?
Havia mais respeito em seu tom do que eu imaginava que ela tivesse.
Slate se virou para subir as escadas comigo atrás dele.
Depois de dar alguns passos, ele fez um movimento por cima do
ombro sem olhar para trás.
— Acredite que ele estará onde precisa estar quando precisa estar.
Não pude deixar de olhar para trás para a mulher e fiquei arrepiada
com a expressão em seu rosto.
Não havia nada de dócil nela.
Quando ela me viu olhando para ela, sua expressão se transformou
em um sorriso de desdém, expondo um canino branco que só eu podia
ver.
Meus olhos se arregalaram e um sorriso obsceno e alegre encheu seu
rosto apenas alguns momentos antes de Celeste agarrar o braço da
mulher e empurrá-la para frente.
A coordenação em meus pés desapareceu quando comecei a tropeçar
nos degraus diante de mim.
Slate me lançou um olhar curioso antes de me levantar em seus braços
para me carregar pelo resto do caminho para o quarto.
Uma vez lá, ele me colocou no chão.
— Ela não é confiável. — Minha voz soou tão estranha para mim
enquanto minha garganta tentava confiscar.
As costas de sua mão alisaram minha bochecha enquanto ele sorria
gentilmente.
— Eu sei, jyoti. Deixe-me preocupar com isso.
— Mas...
Slate balançou a cabeça. O cansaço tomou conta de seu rosto e ele
parecia ter envelhecido uma década em apenas alguns dias.
— Brooke, apenas me prometa que ouvirá os homens que coloquei
para protegê-la.
Ele segurou minhas mãos nas suas e seus olhos imploraram por mim.
— Eu... mas...
— Eu preciso que você me prometa. Amanhã vou te contar tudo.
Apenas me prometa, esta noite, você vai ouvir aqueles que estão aqui
para protegê-la.
— Eu... — Seus olhos perfuraram os meus. — Eu...
sim...
Com um suspiro de alívio, ele se inclinou para frente e pressionou
seus lábios quentes contra os meus.
A sensação impediu que quaisquer outros pensamentos se formassem.
Seus braços envolveram minha cintura enquanto ele me puxava para
ele.
Sua mão deslizou em meu cabelo. Movendo meus lábios nos dele, não
pude conter um suspiro de contentamento.
Minhas próprias mãos deslizaram contra o peito musculoso contra o
qual eu estava pressionada.
Com movimentos inseguros, deixei meus dedos traçarem os músculos
que estavam escondidos sob a camisa Oxford que ele usava.
Com uma intensidade que só conheci com ele, ele possuiu minha
boca como um homem se afogando.
Meu corpo se fundiu ao dele enquanto eu deslizava meus braços ao
redor de seu pescoço, meu corpo se tomando complacente ao seu toque.
Seus lábios marcavam o caminho para o canto da minha boca e
através do meu rosto.
Cada lugar que seus lábios agraciaram deixaram uma trilha ardente
que fez meu corpo desejar mais.
A ponta de sua língua acariciou o lóbulo da minha orelha antes que
ele deixasse seus dentes roçarem com ternura.
Enquanto sua mão segurava suavemente a curva acima da minha coxa
e a pressionava mais ansiosamente em direção ao seu corpo, o som
estridente de seu telefone nos trouxe de volta aos nossos sentidos.
Com uma respiração ofegante, ele xingou.
Fechando meus olhos, me afastei dele para recuperar minha
compostura. Abaixei minha cabeça e escovei meus dedos contra meus
lábios.
Era muito fácil encontrar meu caminho para seus braços, e era quase
impossível querer estar lá.
Slate tirou o telefone do bolso para verificar o identificador de
chamadas e gemeu.
— Brooke, eu...
Oferecendo a ele um sorriso que espero expressar. Está tudo bem, não
se preocupe com isso dei mais um passo para trás.
— Você tem coisas que precisa fazer, eu entendo.
Slate deu os dois passos em minha direção que nos separavam, e seus
lábios queimaram os meus antes que ele deixasse um sorriso sensual
tomar conta.
— Não há nada que eu preferisse fazer do que o que penso em fazer com
você, jyoti. Nunca duvide disso.
Como se quisesse impressionar seu significado em mim, ele deixou
sua mão deslizar para o meu traseiro e se pressionou com mais firmeza
contra mim.
A pura magnificência do que estava rígido sob suas roupas me fez
gemer.
— Hmm, — ele rugiu, fazendo meu corpo responder com uma
ferocidade que combinava com a dele.
A umidade instalou-se entre minhas coxas e não passou despercebida.
— Ah, eu quero tanto provar aquele creme que você tão prontamente
me oferece.
Meu rosto ficou vermelho, e mais uma vez me afastei enquanto olhava
incisivamente para o celular em suas mãos.
— Eu não deveria estar te atrasando.
Levou tudo em mim para não gaguejar e forçar uma calma que eu não
tinha.
Slate me observou, mas eu não conseguia olhar para ele.
Erguendo meu queixo, ele sorriu para mim e parecia muito melhor do
que apenas alguns momentos antes.
— Eu vou voltar. Pretendo terminar o que começamos.
Depois de deixar um beijo puro em meus lábios, ele se virou, desceu as
escadas e saiu da casa.
Suspirei e encostei-me no batente da porta.
Havia mais do que minha própria guerra eterna acontecendo, e eu
não tinha certeza se poderia permitir que meus filhos permanecessem
naquele ambiente.
Se Malcolm e Gretchen pudessem passar pela segurança, o que mais
poderia passar?
Por mais que isso me doesse, eu precisava pensar em meus filhos.
Era hora de organizar minha vida. Uma vida sem Mark.
Capítulo 41
BROOKE

Todas as três malas estavam feitas.


Algumas das coisas de Mark também se misturaram às minhas e às
das crianças, mas não me preocupei em separar nada.
Eu fechei todas elas antes de puxar as alças telescópicas de duas
enquanto colocava a terceira no topo de uma e as empurrava escada
abaixo.
Quando terminei as malas e desci as escadas, o sol estava se pondo.
Os tons de laranja e vermelho que enchiam o céu eram de tirar o
fôlego, mas eu não queria perder muito tempo pensando em sua beleza.
Eu não tinha certeza de quando Pamela traria as crianças de volta,
mas queria estar pronta quando ela o fizesse.
Meu carro estava estacionado na estrada circular para onde alguém o
levou enquanto eu estava doente.
Até então, eu não tinha permissão para ficar sozinha, nem tinha
permissão para sair, na verdade. Pelo menos não de verdade.
Fiquei grata por eles não considerarem um problema deixá-lo comigo.
Descendo a varanda panorâmica, passando pelos degraus de pedra e o
caminho para a entrada de ladrilhos, as malas faziam seu barulho
ritmado enquanto eu caminhava para o carro.
A casa e a vista da cidade abaixo com o pôr do sol ao fundo eram
incríveis.
Diminuindo a velocidade, respirei fundo e apreciei a vista.
Eu queria guardar cada centímetro disso na memória...
Eu queria gravar todas as coisas boas daqui na minha memória, mas
muito disso estava emaranhado em tomo de tudo que parecia estar
dando errado.
Quando Cheguei ao carro, cliquei no controle remoto que abriria o
porta-malas.
Era um sedã branco mais antigo, e tinha sido um bom carro.
O interior era grande o suficiente para acomodar minha família, mas
não tinha muito espaço sobrando com todos os cobertores, travesseiros e
dispositivos que meus filhos trouxeram.
Para aqueles longos períodos de viagem, aqueles dispositivos,
cobertores e travesseiros foram uma bênção.
As malas pesadas eram quase pesadas demais para eu levantá-las
sozinha para o porta-malas.
Em vez disso, tive que empurrá-las o melhor que pude contra a parte
de trás do carro e tentar erguer o peso do fundo da mala.
Foi apenas um pouco melhor, e eu me encolhi ao ouvir o barulho de
metal e plástico contra o carro enquanto as empurrava para dentro.
Embora fosse um carro antigo, ainda estava em bom estado.
Preparando-me para fechar o porta-malas, ouvi alguém perguntar: —
Está tudo bem, senhora?
Eu me assustei e olhei ao redor do porta-malas para ver um homem
uniformizado parado ao lado do carro.
Eu tenho certeza de que a culpa estava estampada em meu rosto.
Antes que ele tivesse a chance de se aproximar do porta-malas, fechei-
o com força.
Talvez eu tenha usado um pouco de força demais, mas estava
preocupada que ele visse as malas e me dedurasse.
Mas eu era uma mulher adulta, certo? Livre para ir e vir quando
quiser? Por que isso importaria se ele contasse a Mark? Ou até mesmo
Slate?
A resposta era bastante simples. Se Slate soubesse, eu temia que ele
tentasse me impedir.
Não que eu tivesse medo de que ele usasse a força. Não, era pior do
que isso. Eu tinha medo de que ele usasse sutileza.
Eu tinha medo de que ele me mostrasse o quanto meu corpo e meu
coração me trairiam se tivesse a chance.
Eu tinha medo de perder minha determinação e minha cabeça.
Não importava que tipo de inferno eu testemunhasse, ela queria o que
queria.
— Umm, sim. Estou bem. Está tudo ótimo. Eu apenas...
E sério que eu ia dizer a ele o que eu realmente estava apenas fazendo?
Eu não queria mentir, especialmente porque eu não tinha uma boa cara de
pau.
Mentir não era algo em que eu fosse boa.
Por um momento, ele me observou com um olhar curioso antes de
lançar seus olhos brevemente sobre o porta-malas do meu carro.
Havia uma parte de mim que sabia que ele suspeitava do que eu estava
fazendo, mas de forma alguma eu queria confirmar seus pensamentos.
Decidindo que era melhor não dizer muito mais, simplesmente disse:
— Acho que devo voltar para dentro.
Eu dei um sorriso fraco antes de me mover para contornar o outro
lado do carro.
— Você não vai ao baile esta noite? — Ele disse isso quase como se
fosse uma expectativa de que eu estaria lá.
Meus passos continuaram, mas consegui responder: — Sinto muito,
mas não estou me sentindo muito bem hoje. Pode ser melhor se eu não
estiver perto de outras pessoas esta noite.
Era verdade. Estar perto de Slate, Pamela, Carter ou Mark não era
realmente uma coisa boa para mim agora.
Cada um deles me faria questionar minhas ações, me fazendo
reconsiderar o que eu estava fazendo.
Minha decisão não foi baseada no que eu queria, mas no que eu
precisava fazer por mim e pelos meninos.
— Lamento ouvir, Sra. Marlin. Tenho certeza de que seus filhos e
companheiro sentirão falta de sua presença.
Ele falou com naturalidade, sem julgamento. Por isso eu estava grata.
— Tenho certeza de que eles ainda vão se divertir. — Eu sorri
timidamente antes de voltar para dentro em um ritmo muito mais
rápido.
Depois de fechar a porta, joguei minhas chaves na vasilha sobre a
mesa ao lado da porta e tirei meu telefone do meu suéter.
Agora, eu precisava que Pamela trouxesse os meninos para casa.
Não haveria melhor oportunidade para ir embora do que durante o
baile. Era a distração perfeita.
O relógio na tela de bloqueio marcava 5h45 e eu esperava conseguir
falar com Pamela antes que eles partissem para o baile.
Começava às sete, certo?
Ei, Pamela! Você e os meninos se divertiram na cidade?
Decidi que deveria enviar uma mensagem a ela como faria em
qualquer outro momento. Eu realmente sentiria falta dela.
Em poucos minutos, ela respondeu.
Nós nos divertimos muito. Aaron escolheu uma gardênia para usar
com seu pequeno smoking. Ele disse que cheirava a você. Foi a coisa mais
fofa do mundo!
Brooke: Gardênia?
Sem ser capaz de resistir, eu levantei meu braço e cheirei a curva dele.
Eu definitivamente não sentia o cheiro de gardênias.
Claro. É um perfume vibrante e doce. Está em você inteira. Isso e o
cheiro reconfortante de baunilha.
Bem, isso soou estranho. Baunilha e gardênias?
Acho que é melhor do que cheirar a esgoto. LOL!
Foi difícil tentar ter uma conversa normal por mensagem de texto
quando na verdade eu só queria dizer a ela para trazer os meninos para
casa.
Hayden tem o conjunto mais fofo. Ele estava mais preocupado em
comprar flores para você do que tentar encontrar uma que pudesse usar
na lapela. Então, tivemos que nos comprometer com ele.
Pamela: Ele comprou um buquê de flores para você e escolheu
uma delas para usar em seu terno. Aquele homenzinho doce
tentou enfiar flores secas na lapela!

Pamela: Ele não queria escolher nenhuma das flores grandes


porque queria que você ficasse com todas elas. Eventualmente,
nós conseguimos dar um jeito.
Quando recebi a resposta, não pude acreditar quão longa era a
mensagem dela. No entanto, a mensagem me fez sorrir.
Meus meninos eram criaturinhas incríveis e eram tudo para mim.
Parece que eles se divertiram muito. E, de novo, eles sempre se
divertem com você!
Pamela: A única coisa que teria tornado tudo melhor seria se você
estivesse conosco. Sentimos sua falta hoje! Eu senti sua falta hoje.
Foi estranho não poder passar a maior parte do dia com você.

Pamela: Talvez amanhã possamos todos ir e levar os meninos para


acampar! Minha família tem uma cabana logo depois do cume. Ela
tem um lago enorme logo na porta da frente e está cheio de
peixes enormes.

Pamela: Hayden adoraria! Além disso, podemos passar algum


tempo de garotas juntas.
Foi engraçado ler suas mensagens. Posso imaginá-la dizendo cada
palavra.
Assim como ela fala, suas mensagens explodem com sua
personalidade.
E com essas palavras, eu senti como se ela soubesse o que tinha
acontecido hoje e estava tentando usar sua magia para me fazer esquecer.
Eu adoraria. Eu realmente adoraria. A que horas vocês vão sair para o
baile esta noite?
Mordendo meu lábio inferior, esperei pela resposta. Quando
finalmente chegou, fiquei arrasada.
Carter levou os meninos mais cedo por causa da cerimônia. Isso me
deu alguns minutos extras para me arrumar.
Pamela: Você sabe como nós, mulheres, precisamos de um pouco
mais de tempo para ficarmos bem arrumadas. Estou quase pronta
agora. Tentando sair daqui para que eu possa estar lá quando eles
forem introduzidos na matilha.

Pamela: Eu não consigo explicar o quão animada estou de que


eles farão parte do nosso bando. Uma verdadeira parte da nossa
família! Aposto que você mal pode esperar para chegar lá e vê-los.

Pamela: Eu posso passar por aí e pegar você para irmos juntas, se


quiser!
Introduzidos na matilha? Como eles podem fazer isso sem minha
permissão?
Eu encarei a mensagem e tudo o que meu marido disse antes disso
veio à tona.
Ele agiria pelas minhas costas sobre algo assim?
Talvez eu não entendesse tudo o que acontecia ao meu redor, mas
entendia o suficiente para saber que isso era algo importante.
Como ou por que ainda estava fora do meu alcance, mas isso não
mudava a reação que todos pareciam ter sobre a ideia.
E, no final do dia, isso estaria acontecendo com meus filhos.
Se ele queria se juntar ao bando de alguém, ele era um homem adulto.
E então havia Hayden.
Os humanos poderiam ser parte de uma matilha?
Havia tantas perguntas girando em minha cabeça antes do som de
outra mensagem me forçar a me afastar delas.
Brooke? Eu abri minha boca grande de novo?
Definitivamente, eu geralmente descubro mais dela do que qualquer
outra pessoa. É ela que não está escondendo coisas de mim
intencionalmente.
Talvez, mas eu te amo por isso. É por isso que você é tão querida para
mim. — Você não está tentando esconder as coisas de mim.
Eu praticamente pude ouvi-la suspirar enquanto lia sua próxima
mensagem.
O que quer que tenha sido feito foi para sua proteção, e para que você
tivesse tempo de se ajustar. Eu poderia ter feito a mesma coisa se tivesse
um filtro, mas todos sabemos que não existe.
Embora fosse verdade, eu estava grata por ela não ter filtro. De que
outra forma eu faria com que as pessoas aqui explicassem como as coisas
funcionam?
Como posso me ajustar a tudo se não tenho ideia do que está
acontecendo ao meu redor?
Eu sei que Mark é superprotetor, e eu sei que Slate deu a Mark sua
palavra de que ele não revelaria nenhum de seus segredos. Mas você pode
imaginar como é para mim?
Vários minutos se passaram, e eu pensei que talvez ela tivesse deixado
a conversa terminar com essa observação.
Pegando o telefone, comecei a escrever uma nova mensagem antes
que a dela aparecesse na tela.
Você acha que talvez seja por isso que, quando pedi para ser sua babá,
Slate concordou tão facilmente? Ele, mais do que ninguém, sabe que não
tenho filtro.
Por alguma razão estranha, o pensamento me confortou.
Mesmo que ele tenha cumprido sua palavra, ele se certificou de que
houvesse alguém que pudesse vazar informações para mim.
Isso me deu recursos suficientes para começar a ter essas conversas
com Mark, sem mencionar confrontar Slate com algumas das
informações.
Que horas é a cerimônia? Eu sei que pode não fazer muito sentido
para você, mas eu não acho que estou pronta para ter meus filhos como
parte de uma matilha... ainda. Preciso entender muitos dos meus
sentimentos primeiro.
Brooke: Eu entendo que isso é importante para todos, mas...
Olhando para o relógio, fiquei surpresa com quanto tempo havia
passado. Já passava das seis, quase seis e meia.
A introdução fazia parte do baile?
O fato de já ser tão tarde me fez agir mais rápido.
Pegando meu telefone, desci correndo e peguei minhas chaves da
vasilha ao lado da porta.
Eu não estava vestida para um baile, mas não planejava ficar.
Se eu tivesse, eu sabia que havia um vestido de gala que Slate tinha
encomendado e alguém colocou no armário para mim vários dias atrás.
Meu plano era começar a longa jornada para casa bem antes que o
baile acabasse e o sol nascesse.
Em oito horas, deveria conseguir hospedagem na cidade mais próxima
que oferecesse quartos.
Pelo menos, esse era meu objetivo.
Enquanto eu estava indo para o carro, o telefone tocou novamente.
Pamela: Querida, já começou.
Capítulo 42
BROOKE

Meu pobre carro velho nunca tinha sido dirigido de forma tão
desorientada.
Pisei no acelerador o mais forte que pude e consegui ver marcas de
pneus na calçada circular de ladrilhos enquanto acelerava.
Havia apenas um mínimo de culpa por ter estragado a bela superfície,
deixando marcas que não seriam facilmente removidas.
Agora era um lembrete de sua traição.
Depois de cerca de quinze minutos descendo a montanha em alta
velocidade, finalmente cheguei à mansão abaixo que Pamela chamava de
casa da matilha.
Mal conseguindo estacionar o carro, empurrei a porta do sedã sem me
preocupar em desligar o motor.
Não havia muitas pessoas circulando do lado de fora, o que significava
que todos deviam estar lá dentro.
Assistir a uma cerimônia que não era para acontecer.
Enquanto eu corria para a varanda da frente do enorme edifício, não
pude deixar de notar a multidão de pessoas além das portas.
Os dois guardas parados na porta me deram uma longa e
questionadora inspeção, avaliando minha aparência, meu
comportamento e meu carro ainda ligado.
Nada disso importava para mim, e eu estava pronta para irromper
entre os dois para chegar aos meus meninos.
Olhando para eles, quase disparei: — Bern, vocês vão me deixar
passar? Meus filhos estão lá!
— Senhora, lamento que não seja permitida sua entrada sem a
vestimenta adequada.
Um dos guardas teve a decência de parecer apologético, enquanto o
outro apenas manteve o olhar no horizonte.
— Você pode enfiar essa vestimenta adequada em seu...
— Acho que o que ela está tentando dizer é que você não deve negar a
entrada de nossa futura Luna Superior nesta função.
Eu me virei para encontrar Celeste em um lindo vestido vermelho
decotado que revelava uma grande quantidade de pele.
Ela sorriu para mim, mas havia uma tristeza que eu não deixei passar.
— Ele sabia que você viria, — ela disse suavemente. — Apenas ouça o
que ele tem a dizer antes de ir embora.
Por vários segundos, eu apenas fiquei olhando para ela com minha
boca aberta. Ela sabia o que eu havia planejado?
A que ele ela se referia?
Os guardas hesitaram apenas brevemente antes de se afastarem e
entrarmos no saguão.
De fora, os números pareciam impressionantes. Por dentro, eles eram
quase opressivos em seu volume.
Grupos de pessoas pareciam se aglomerar ao redor e fluir do salão de
baile e eram quase impenetráveis para passar.
Lançando um olhar momentâneo para Celeste, agradeci quando ela
me deu um sorriso torto e acenou para eu continuar.
— Vá buscá-los, Luna.
Essa foi a segunda vez que ela usou esse termo, e em algum nível ficou
registrado.
Quando os aplausos explodiram de dentro do salão diante de mim,
meu coração começou a afundar. Qualquer pensamento sobre o que
Celeste quis dizer foi passageiro.
Usando meu ombro para atravessar a multidão, abri meu caminho
com cotoveladas passando por mais de algumas pessoas para chegar até a
porta.
Assim que finalmente consegui passar por um conjunto de portas
duplas, me apertei contra a parede de trás tentando desesperadamente
encontrar um ponto de vista onde pudesse ver o que estava acontecendo.
Uma coisa era interromper a aceitação de meus filhos nesta família,
mas invadir o evento de outra pessoa era algo que eu estava relutante em
fazer.
Movendo-me para a lateral da sala, pude ver alguns vislumbres da
seção frontal do salão de baile organizada como um palco.
O cheiro exótico de gardênias chegou ao meu nariz a partir daqui, e
foi quando quase congelei no lugar.
Era como se a massa de pessoas quisesse que eu testemunhasse o que
estava acontecendo.
Uma pequena faixa de clareza se abriu na minha frente, e eu pude ver
Aaron e Slate no palco juntos.
Ao lado de Slate estava Carter, e eles estavam focados exclusivamente
em meu filho.
Dando um passo em direção ao palco, abri minha boca para parar o
que quer que estivesse acontecendo.
Quando as palavras começaram a se espalhar, uma mão segurou
minha boca com força para abafá-las antes que pudessem ser ouvidas.
Outra mão alcançou minha cintura e me puxou para um corpo longo
e esguio enquanto eu quase fui arrastada de volta contra a parede mais
próxima do local.
O cheiro de bergamota encheu meu nariz e eu me contorci e tentei
gritar pela palma da mão. Todos os meus esforços e gritos foram em vão.
Aproximando-se de mim, ele sussurrou asperamente.
— Shh. Não faça isso, Brooke. Agora não!
Ele nunca havia usado sua força contra mim. Antes, toda vez que ele
me tocava, era sempre gentil e reconfortante.
Nunca tinha experimentado a quantidade de força com que ele me
segurava agora.
Meus olhos voltaram para o palco, esperando além da lógica e do
raciocínio que Slate me visse e parasse a cerimônia. Ele faria isso?
Mesmo se ele me visse, ele pararia?
De qualquer forma, a sorte não estava do meu lado.
O destino definitivamente não estava sorrindo para mim hoje.
Slate cortou sua palma profundamente, e o sangue fluiu livremente da
ferida infligida a si mesmo.
Carter estava com Aaron, e juntos eles fizeram um corte menor em
sua palma enquanto o rostinho de Aaron estremecia de dor.
Atrás da mão que mantinha minha voz cativa, gritei.
— Está tudo bem, Brooke. Nós curamos rápido. Esse corte terá
desaparecido pela manhã. — Mark tentou manter a calma que a pressão
que usava contra mim não transmitia.
Suas mãos e corpo tremiam muito suavemente, mas eu podia sentir
quando ele me pressionava com força contra ele.
Ele nunca usou a força para tentar me controlar, mas não era
exatamente o mesmo homem com quem me casei.
Aaron estendeu o braço e ouviu Carter o orientar sobre o que deveria
fazer.
Slate se ajoelhou diante de Aaron e estendeu sua mão enorme e
apertou a do meu filho na sua.
A energia irradiava ao redor dos dois e era impressionante.
A energia era quase visível a olho nu e parecia haver ondulações no ar
ao redor deles.
— Eu, Alfa Superior Slate Serevolk, dou as boas-vindas ao nosso mais
novo membro, Aaron Curtis Marlin, à família Serevolk. E meu dever e
honra vos proteger, suprir e cuidar, a fim de que chegue a todas as
matilhas e reinos, e eles saberão que você é sangue do meu sangue Sua voz
era clara, autoritária, e caiu contra mim e todos os outros no corredor,
causando um choque em meu sistema.
Minha respiração saiu áspera, e eu involuntariamente me contraí com
os efeitos disso me varrendo.
Carter se inclinou em direção ao meu filho e sussurrou palavras em
seu ouvido.
— Eu, Aaron Curtis Marlin, aceito meu lugar na família Serevolk e
honrarei e protegerei nossa família. Vou me esforçar para preservar toda
a vida e respeitar as leis em vigor para proteger e suprir para todos nós.
Ele foi tão corajoso, ficando na frente de todas essas pessoas enquanto
se comprometia com uma família que ele estava apenas começando a
conhecer.
Havia uma força nele que eu estava vendo pela primeira vez, e isso me
deixou orgulhosa e triste.
Ele estava crescendo, mas era tão novo.
Carter se levantou, mas meu filho ainda não havia terminado o que
queria dizer.
Quando ele falou novamente, o fundo dos meus olhos começou a
arder com a sensação de lágrimas se aproximando.
— Obrigado por acreditar em mim. Eu não vou te decepcionar.
Slate puxou meu filho para seus braços.
A multidão ao nosso redor explodiu em gritos e aplausos quando Slate
envolveu os braços fortes em tomo dele e deu-lhe um aperto suave.
Quando ele se afastou, ele se inclinou para beijar a testa.
Atordoada, todo o meu corpo ficou mole, pois tudo que eu podia fazer
era assistir a troca.
Soltando meu filho e se afastando dele, ele estendeu a mão e pegou
uma toalha molhada antes de limpar o sangue da palma da mão de
Aaron.
Depois que parecia relativamente limpo, ele pegou um pouco de
pomada e esfregou suavemente contra o ferimento.
A quantidade de cuidado e ternura foi comovente, e a sensação de
queimação das lágrimas tomou a ameaça de chorar uma realidade
próxima.
O aperto de Mark em mim afrouxou apenas um pouco quando Carter
levou Aaron para fora do palco.
A margem estava meu filho mais novo, e ele estava muito preparado
para entrar no palco. Carter apertou a pequena mão de Hayden na sua.
Hayden parecia extremamente animado quando ele praticamente
saltou para o palco, puxando um Carter risonho atrás dele.
Mesmo com as risadas e sorrisos, eu podia ouvir sua voz baixa.
— Yay! Minha vez! Acho que me lembro das palavras, mas você pode
me ajudar um pouco, se quiser.
Uma vez na frente de Slate, ele passou os braços em volta das pernas
de Slate.
Fiquei surpresa e me perguntando quanto tempo ele havia passado
com eles que eu não sabia.
Como ele poderia tê-los conquistado tão facilmente?
Slate se abaixou e o pegou em seus braços enquanto ele esmagava sua
pequena forma contra ele e o girava.
Hayden riu enquanto a multidão derretia com o gesto afetuoso.
— Você está pronto, moye ditya?
Hayden acenou com a cabeça quando Slate o colocou de volta em seus
próprios pés.
Os braços de Mark se apertaram em volta de mim mais uma vez
quando comecei a me contorcer.
Hayden não era um metamorfo, e Mark iria apenas deixá-lo passar
pela mesma coisa que Aaron passou.
Carter estava ao lado do meu filho mais novo e sorriu para ele.
Slate pegou a mesma faca de antes e reabriu sua ferida já curada.
Os olhos de Hayden se arregalaram e sua boca ficou frouxa.
Carter deve ter percebido a mudança no humor do meu filho quando
ele se inclinou e falou em seu ouvido.
— Parece doloroso.
Ele falou alto. Carter deve ter repetido o que disse, e Hayden olhou
para ele pensativamente.
— Espere, o quê? Sim, porque isso é para adultos, e a mamãe diz que
não posso brincar com facas.
A multidão riu de sua inocência.
— Talvez quando eu tiver sua idade, eu possa fazer isso. Mas não
posso fazer isso agora.
Ele já estava começando a balbuciar, e isso me fez querer apertá-lo
contra mim. Mark apenas me segurou com mais força.
Slate se ajoelhou na frente de Hayden como ele tinha feito na frente
de Aaron, e Carter colocou uma pequena engenhoca circular na parte de
trás do ombro de Hayden.
Uma vez que foi segurado firmemente contra sua pele, ele sussurrou
algo no ouvido de Hayden e deu uma torção rápida.
Mal foi um som, mas ouvi seu pequeno suspiro ofegante.
Talvez tenha sido mais porque eu o vi ficar tenso quando Carter o
torceu, mas isso lhe causou algum desconforto.
Slate colocou a palma da mão ainda ensanguentada contra os
pequenos arranhões nas costas de Hayden, e ele repetiu as mesmas
palavras de antes.
— Eu, Alfa Superior Slate Serevolk, dou as boas-vindas ao nosso mais
novo membro, Hayden Trent Marlin, à família Serevolk. É meu dever e
honra vos proteger, suprir e cuidar, a fim de que chegue a todas as
matilhas e reinos, e eles saberão que você é sangue do meu sangue Mais
uma vez, a força em sua voz me atingiu.
Constrangimento me inundou enquanto meu corpo estremecia
contra Mark. O tecido de seda que me separava da calça jeans estava
úmido.
Meu marido xingou atrás de mim.
Carter se inclinou para frente para sussurrar as palavras para Hayden.
Slate inalou e eu fiquei tensa quando ele lançou um olhar suspeito ao
redor da sala até pousar em mim.
Esses arrepios dispararam através de mim quando seus olhos fizeram
contato com os meus, e seus olhos brilharam como prata enquanto ele
rosnava.
Meu marido xingou novamente.
— Eu, Hayden Trent Marlin, quero fazer parte da sua família. — Ele
sorriu enquanto olhava para Carter. — Foi bom?
A multidão riu, e Slate teve que se forçar a desviar o olhar quando a
raiva começou a brilhar naqueles olhos prateados cintilantes.
Eu o vi respirar fundo e, em seguida, abrir um sorriso para Hayden.
— Foi perfeito, moye ditya.
Pegando um pano úmido de uma tigela que foi oferecida a ele, Slate
enxugou meu filho mais novo com cuidado e esfregou um pouco de
creme contra o pequeno arranhão em sua omoplata.
Ajoelhando-se mais uma vez, ele envolveu meu filho em seus braços e
deu-lhe um aperto suave antes de beijá-lo na testa.
Hayden apertou os braços ao redor da montanha de homem antes de
soltá-lo.
Ele colocou suas pequenas mãos em cada lado do rosto dele para virá-
lo em minha direção e deu um beijo molhado em sua bochecha.
Meus olhos estavam fixos nos dele e suas emoções estavam divididas
no momento.
Havia uma ternura ali, resultado da demonstração de carinho de meu
filho, mas também havia uma raiva crescendo por trás da qual eu não
sabia dizer a quem era dirigida.
Meu marido foi até uma das portas francesas que davam para fora,
arrastando-me com ele.
Ele empurrou a porta de vidro com o pé enquanto continuava a me
segurar contra ele com minha boca coberta.
O desejo de lutar com ele estava lá, mas de que adiantaria neste
momento?
Assim que saímos, ele me soltou e eu rapidamente me virei contra ele.
Empurrando com força, eu praticamente gritei.
— O que diabos você fez?
Capítulo 43
BROOKE

— O que diabos você fez?


Minha respiração estava irregular, e tentei respirar devagar para me
acalmar. O esforço foi em vão.
O rosto de Mark estava contraído e sua boca formava uma linha firme.
— Eu fiz o que tinha que fazer.
Sua voz estava baixa e eu podia ouvir o tremor presente, embora ele
tentasse manter um tom uniforme.
— Tinha que fazer? Você nem me deixou ter uma opinião sobre o
assunto. Você simplesmente fez tudo sozinho! Eu sou a mãe deles,
deveria ter algo a dizer. Você não tinha o direito!
— Não tinha o direito? — Ele ergueu a voz e praguejou.
— Você disse não, Brooke. Você não tem ideia do que está acontecendo,
mas você disse não. Você não tinha nenhuma intenção de deixar isso
acontecer! Eu tive que fazer o que fiz. Alguém tinha que fazer isso!
Alguém tinha que proteger nossos filhos!
Suas palavras quase me deixaram sem fôlego e com uma sensação
dolorosa em seu rastro.
Smack!
Nós dois ficamos parados, apenas nossa respiração preenchia o espaço
entre nós.
Pela primeira vez na vida, bati em meu marido. O som ecoou ao nosso
redor ao atingir as vigas da varanda.
A expressão de dor escrita em seu rosto rasgou meu intestino, mas ele
não se moveu.
Por um momento, eu queria me sentir culpada pelo que havia feito.
No entanto, cada vez que eu sentia um lampejo disso, pensamentos de
sua traição o levavam embora.
— Eu os teria protegido. Você deveria ter confiado em mim, — eu
sussurrei, com suas acusações girando em minha cabeça. Depois de dez
anos, como ele poderia não ter fé em mim?
O toque suave no meu braço me fez desejar tempos mais simples.
— Você não pode protegê-los do que você nem entende, Brooke. Não
é que eu não confiasse em você... Eu simplesmente não confio neles.
As bolhas de aborrecimento estavam rastejando sobre mim, e suas
palavras enigmáticas só serviram para me irritar. Ignorando seu toque,
expressei minha irritação.
— E quem são eles Mark? Quem poderia ser tão ruim que você faria
isso comigo?
— Minha matilha, Brooke! Minha matilha.
Mark murmurou algo baixinho que eu não consegui entender.
Enfiando as mãos nos bolsos, ele desviou o olhar.
— Será que alguma vez você pensou porque é que eu não fiz Aaron se
juntar a meu bando, mas em vez disso, os dois se juntaram ao de Slate?
Ele se virou e olhou para mim, e então passou a mão pelo cabelo
enquanto esperava por uma resposta.
Na verdade, o pensamento nunca me ocorreu. A breve conversa que
tivemos sobre tudo isso foi aberta e fechada, no que me dizia respeito.
— Deixe-me adivinhar. Para que você possa nos deixar aqui enquanto
sai vagabundeando com sua namorada?
Foi um golpe baixo, e eu sabia que tinha sido. Eu queria que ele
sofresse. Eu queria que ele sentisse uma fração do que ele estava me
fazendo passar.
O amor que ele tinha por seus filhos era profundo, e eu nunca poderia
negar isso. Havia um motivo, mas era difícil estar disposta a ouvi-lo.
Meu comentário doloroso atingiu seu alvo. Se um rosto podia se
retrair, o dele fez isso. A expressão se manteve por mais alguns
momentos antes de desabar.
— Depois de dez anos, isso é realmente o que você acha que sou capaz
de fazer?
A angústia que carregava cada palavra parecia minas prontas para
explodir ao mais leve suspiro.
Não havia como impedir que as palavras saíssem e parecia que eu
estava esfregando sal em uma ferida aberta.
— Depois de dez anos, descobri que não conheço você de verdade,
muito menos o que você é capaz de fazer.
Sua cabeça caiu para trás enquanto suportava o impacto das minhas
palavras.
— Eu mereço isso, — ele finalmente sussurrou antes de abaixar a
cabeça mais uma vez para olhar para mim.
As palavras foram como um remédio para uma ferida aberta, e eu
pude sentir um pouco da potência de minha raiva diminuindo.
— Olha, eu sei que você ama seus filhos, mas...
— Eu amo. Eu amo muito todos vocês. O suficiente para desistir de
você se isso é o que irá mantê-la segura e feliz.
Meus olhos fecharam enquanto eu tentava bloquear suas palavras.
Elas eram muito dolorosas de ouvir e muito puras. — Mas por que...
Enfiando as mãos nos bolsos, ele se afastou de mim mais uma vez e
começou a andar. Depois de alguns minutos, ele começou sua explicação.
— Gretchen era filha única, nascida do alfa de seu bando. Seu pai era
muito apaixonado pela mãe e adorava Gretchen quando criança.
— Mas durante um ataque de selvagens, ele perdeu sua companheira.
Ambos assistiram enquanto o líder daqueles selvagens matava sua mãe
antes que seu pai pudesse matá-lo. Nesse ataque, ele encontrou e acolheu
dois filhotes ór ãos e permitiu que uma mãe e seus filhos se mudassem
para as terras da matilha depois que ela perdeu o marido.
Eu abri minha boca para dizer algo, mas ele ergueu a mão.
Ele nem mesmo olhou para cima para ver o que eu estava prestes a
fazer, mas simplesmente sabia que eu estava prestes a fazer.
— Depois de um ano de luto, ele finalmente cedeu à viúva que o
perseguia e eles fizeram uma união, dando ao seu bando uma nova Luna.
Isso elevou seu número total de filhos a Gretchen e cinco filhos: os dois
que ficaram ór ãos de seu próprio bando e os três filhos da viúva.
Era hora de interromper. Eu não tinha certeza para onde isso estava
levando, mas ouvir sobre a mulher que era sua companheira não estava
realmente na minha lista de coisas a fazer.
— Então, por que a aula de matemática? Há um motivo?
O sorriso em seu rosto exalava paciência quando ele parou de andar
para me dar uma pista, e eu sabia que ele estava me levando em uma caça
ao ovo de Páscoa.
— Malcolm era um dos três irmãos. Os outros dois são tão vis quanto
ele, senão mais. Sua mãe os criou para acreditar que eles eram destinados
à vida alfa, e que nenhuma mulher merecia ser uma alfa. Que elas eram
fracas, e isso significava que seu pai era fraco por nomeá-la a próxima alfa
em seu leito de morte.
Ele passou as palmas das mãos no rosto, deixando-as esfregar contra
sua pele antes de continuar.
— Eu aposto que mataram o pai dela. Fizeram uma encenação para
parecer um ataque de selvagens. Acontece que o ataque foi semelhante
àquele em que sua esposa morreu, só que em menor escala.
Eu fiz uma careta enquanto minhas sobrancelhas enterraram
profundamente nos meus olhos. — Por que eles fariam algo assim?
— Se ele morresse antes de nomear um alfa para assumir seu lugar, a
tarefa cairia para sua Luna... a mãe deles. Ela teria nomeado um de seus
filhos, provavelmente o mais velho, Adam. Não tenho muito para apoiar
minha teoria... pelo menos não ainda.
Seus dedos esfregaram sua testa enquanto ele continuava, embora
parecesse que ele estava falando mais consigo mesmo do que comigo.
— Eu honestamente acredito que a tentativa de Malcolm foi feita para
parecer que eu o tinha feito. Então, eles podem ter finalmente
conseguido tirar o título de Gretchen.
Ele se moveu para ficar na minha frente. A preocupação gravada em
seu rosto mais profunda do que qualquer linha de expressão.
— Eu acho que eles sabem que eu suspeito deles, mas eles estão em
desvantagem enquanto estiverem nas terras da matilha do Alfa Superior.
Eles não sabem que provas eu tenho, ou se eu compartilhei isso com
Slate. Mas, eles usarão quaisquer meios necessários para me impedir de
expô-los e ascender como um companheiro para sua alfa... incluindo
você e os meninos.
— É mais fácil usar todos vocês para me controlar do que tentar me
matar abertamente, especialmente depois que a tentativa de Malcolm
falhou. Meus filhos, eles não hesitarão em sequestrar ou até mesmo matar
para chegar até mim. Mas eles nunca sonhariam em colocar as mãos nos
filhos de Slate-.
— Espere! O quê?
As palavras de meu filho mais novo tinham sido facilmente adotadas
como minhas ultimamente.
Uma salva de palmas irrompeu da sala além da janela, e me virei na
direção do barulho.
Outra cerimônia subiu ao palco.
Um homem, uma mulher e um garotinho estavam lado a lado
enquanto ficavam na frente de Slate sorrindo, recitando palavras em
união que eu não conseguia ouvir através do vidro.
Eles deram as mãos enquanto falavam, e eu tinha acabado de notar
que nenhum deles teve que tirar o próprio sangue como meus dois
meninos.
O tempo passava enquanto eu observava a jovem família, os pais
quase chorando enquanto completavam sua declaração para a matilha e
eram admitidos.
Havia uma felicidade genuína para eles por fazerem parte do bando
que eu não conseguia imaginar.
Tentar entender o conceito de matilha estava doendo minha cabeça.
A família apertou as mãos de Slate e Carter com gratidão, sorrindo
para eles e para qualquer outra pessoa que os parabenizasse por sua nova
admissão.
Certamente, fazer parte de um bando era algo mais do que apenas
entrar para um clube do livro, e eu só me perguntei se algum dia
realmente entenderia.
Mark mudou, e eu lentamente virei minha cabeça para encará-lo mais
uma vez.
— Moye ditya?
Ele assentiu. — Significa meu filho
Não havia emoção que explicasse como eu me sentia. Não estava
paralisada, mas também não poderia definir.
— Como você está bem com tudo isso?
As linhas em seu rosto pareciam mais profundas, de alguma forma.
A atitude juvenil e infantil se foi, e em seu lugar estava um homem
que estava triste e determinado.
— Não é que eu esteja em êxtase com isso, mas eu tenho que estar
bem com isso. Para conseguir fazer tudo o que preciso, eu tenho que estar
bem com isso.
Ele se moveu para se encostar no corrimão da varanda, seu corpo
cedendo sob o próprio peso. — Agora, só falta você.
Eu quase me engasguei, e ele se apressou para ficar ao meu lado e dar
tapinhas nas minhas costas enquanto eu tossia algumas vezes para
limpar minha passagem de ar.
— Eu? — Soou como um grasnido.
A mão nas minhas costas parou de me acariciar e começou a esfregar
minhas costas como costumava fazer no passado. Parecia tão familiar e,
ao mesmo tempo, tão estranho.
— Sim, você. — Ele tentou sorrir, mas pareceu mais triste do que
qualquer coisa.
— Aquele homem ali dentro tem a paciência e determinação de um
santo, e você tem a vontade de um burro.
Eu deixei choque fingido cruzar meu rosto enquanto o cutucava. —
Você está me chamando de idiota?
Por um momento, foi como sempre tinha sido.
Nós rimos da resposta monótona, e aquele conforto que eu conhecia
por tanto tempo tentou aninhar-se entre nós antes que ele me trouxesse
de volta ao presente.
Ele deixou sua mão subir pelo meu ombro e descer pelo meu braço
enquanto sussurrava: — Vou sentir muito a sua falta, Brooke.
Minha garganta apertou e eu sufoquei o soluço que ameaçava escapar.
— Está na hora.
As palavras foram baixas, mas o choque que enviou subiu pela minha
espinha...
Mark tirou a mão do meu braço e se virou para Slate. Sua cabeça
curvou-se um pouco antes de dar um passo em minha direção.
Inclinando-se para frente, ele deu um beijo na minha têmpora antes
de sussurrar.
— Eu te amo, Brooke. Mas é hora de você parar de ser uma idiota.
O estrondo na varanda me atingiu novamente, e o soluço saiu sem
que eu o quisesse deixar.
— Mark.
Mark se virou para Slate.
— Deste momento em diante, você não tem liberdade com minha
companheira. Isso não será mais ignorado.
Seu rosto estava sério e os músculos de sua mandíbula se contraíram.
Mark simplesmente sorriu com tristeza antes de responder. — Eu
entendo.
Ele fez uma pausa antes de estender a mão para Slate. Slate olhou para
ele com curiosidade antes de oferecer a sua.
— Você é totalmente digno dela... e de meus filhos.
Capítulo 44
SLATE

Carter trouxe os meninos para fora, para os braços de sua mãe à


espera.
Eles correram para ela no momento em que a viram, e ela manteve os
braços bem abertos para eles.
As flores que Hayden levou para dar a ela eram uma memória
distante, pois foram esmagadas no abraço que ela compartilhou com
eles.
Quando vi Mark puxá-la para fora do saguão, quase explodi, exceto
pelo jovem inocente que compartilhava seu amor comigo tão
graciosamente.
O sentimento foi suficiente para derreter os icebergs mais frios e
aplacar minha raiva para onde ela simplesmente fervia sob a pele.
Saber que Mark não machucaria Brooke era a única coisa que me
impedia de virar o lobo completo sobre o homem.
— Mamãe, você me viu? — Hayden voltou os olhos animados e
inocentes para a mãe.
Eles estavam tão cheios de amor e admiração, mas eles não buscavam
aprovação.
Hayden estava ansioso por isso desde o dia que Mark abordou o
assunto comigo.
As duas crianças estavam com ele e animadas com a perspectiva,
embora Hayden parecesse querer um pouco mais, se possível.
O pequeno era incrível e um presente para todos que o conheciam.
Ambos eram, mas certamente havia algo sobre Hayden que eu não
conseguia compreender totalmente. Ele se entregou puramente em tudo
o que fez.
Os olhos de Brooke estavam cheios de incerteza, e eu desejei poder
carregar o fardo como se fosse meu.
— Eu vi, — ela sorriu para ele enquanto bagunçava seu cabelo. — Eu
Fiquei tão orgulhosa de você!
Ela puxou os meninos para perto dela mais uma vez. — Estou tão
orgulhosa de vocês dois. Nenhuma mamãe poderia ter mais sorte do que
eu!
Os meninos agarraram seu pescoço por vários momentos antes que
ela se afastasse para olhar para eles.
O brilho em seus olhos me rasgou, especialmente sabendo que eu não
fazia parte de sua aflição.
Quando ela fez menção de se levantar, coloquei meus braços em volta
dela para ajudá-la.
Seus músculos ficaram tensos sob meu toque, e eu sabia que ela me
considerava responsável.
Por mais que eu desejasse poder dizer o contrário, Mark tinha razão
sobre o que fez para proteger seus filhos.
Não era algo que eu queria fazer sem que ela soubesse, mas era o
mínimo que eu poderia fazer para proteger as crianças que ela adorava
com cada fibra de seu ser.
Com o tempo, só rezei para que ela entendesse a natureza de minha
escolha.
Nós quatro caminhamos até o carro que aguardava, com os dois
garotos segurando cada uma de suas mãos.
Hayden estendeu sua pequena mão para mim com um sorriso
familiar, e fiquei comovido com a oferta.
Pegando delicadamente sua mão, me senti melhor em apaziguar a ira
de Brooke. Para proteger os dois, eu faria isso de novo.
Mesmo que não necessariamente protegesse seu ser, protegeria seu
coração... e o meu também.
O carro estava silencioso enquanto meus homens desligavam o motor
e fechavam as portas. Em uma ordem rápida, ela conseguiu colocar
Aaron para dentro, seguido pelo mais jovem.
Uma vez que Hayden estava dentro do carro, ele franziu a testa
enquanto olhava para as flores velhas que ainda estavam em suas mãos.
— Nós compramos isso para você, — seus olhos tristes olharam para
sua mãe. — Eu queria que você tivesse flores para dizer que te amo, mas
agora estão todas esmagadas.
Brooke acariciou seu rosto enquanto sorria. — Eu não preciso de
flores para você me dizer que me ama.
— Elas eram especiais, — ele fez beicinho.
Ela riu dele enquanto pegava as flores dele. Colocando o nariz nas
flores agora esmagadas, ela inalou profundamente.
— Eles cheiram muito bem, Hayden. Muito obrigada por um presente
tão atencioso. — Ela sorriu para ele enquanto batia na ponta de seu
nariz. — Posso até secá-las e guardá-las para sempre, — disse ela com um
entusiasmo que não foi totalmente sentido.
Por um momento, uma centelha de esperança encheu seus olhinhos.
— Você gostou delas, mamãe?
— Claro que sim, — disse ela enquanto colocava o nariz entre os
caules quebrados mais uma vez. — Elas são tão adoráveis!
O rosto de Hayden iluminou-se. — E porque te amamos.
Ele sorriu ao olhar para Aaron. O homenzinho pensativo queria
incluir seu irmão na apresentação de seu presente.
Aaron balançou a cabeça, sorrindo para seu irmão. — Eu queria
gardênias.
Hayden resmungou, mas voltou a sorrir para sua mãe. — Agora
podemos ficar aqui para sempre, mamãe!
Esse comentário a fez parar quando ela me lançou um olhar.
— Podemos falar sobre isso mais tarde.
Com a porta do carro fechada, ela se virou para mim.
— O que aconteceu pode ser desfeito? — Ela foi direto ao ponto.
— Não, — eu estava falando sério, colocando minhas mãos nos bolsos
para me impedir de tocá-la.
— Mas eu não concordei com isso.
A frustração que a atingia me fez sofrer. — Não, mas Mark sim.
— Ele não fala por mim
Baixando minha cabeça, eu acenei brevemente em acordo. — Você
está certa, ele não fala por você.
Ela exalou bruscamente e colocou a mão na testa.
Eu deixei uma de minhas mãos alcançar a mão que ela segurava em
seu rosto, movendo-a em minha direção com um desejo que eu mal pude
conter.
Faíscas dançaram entre nós por vários momentos enquanto eu
acariciava a pele lisa antes de continuar.
— Não discordo da decisão dele, Brooke.
— O quê? — Depois que o choque passou, ela tirou a mão do meu
alcance.
Ela deve ter tido esperança de que eu ficasse do lado dela neste
assunto, mas eu nunca mentiria para ela.
Por mais que me doesse o fato de Mark não esclarecer a situação, o
resultado era necessário.
— Há pessoas atrás de você, e dos meninos. O que fizemos esta noite
irá protegê-los de serem sequestrados, ou pior.
Enquanto falava, observei seu rosto procurando por qualquer
compreensão.
Era inconcebível exigir que ela conciliasse tudo o que soube
recentemente em apenas alguns dias, mas aqui estava eu pedindo a ela
para fazer exatamente isso.
A cor sumiu de seu rosto e eu me senti nauseado por ter causado a ela
essa angústia. — Pior?
Assentindo, coloquei minha mão de volta no bolso. Não havia
necessidade de entrar em detalhes e eu realmente não queria evocar
essas imagens em sua mente.
Ela se sairia bem sozinha sem o meu incentivo. Em vez disso, eu só
queria dar a ela algum alívio.
— Meu sobrenome é temido entre os metamorfos. Meus irmãos são
implacáveis, e meu pai ainda mais. Com meu sangue ligando aqueles
meninos à minha família, meu nome estaria por trás em todas as esferas
da vida. Se alguém ao menos pensasse em prejudicá-los, isso traria a ira
da família Serevolk sobre eles. Não há um metamorfo no mundo que
desejaria isso.
A cabeça dela moveu-se de um lado para o outro. — Quem é você?
Fechei meus olhos e suspirei. Não era a hora nem o lugar para tentar
ajudá-la a entender.
O baile estava acontecendo, mas já havia avistamentos confirmados
de selvagens circulando no perímetro da propriedade de Jackson.
Soldados e caçadores já estavam em ação e sua presença não passou
despercebida na reunião.
Havia uma estática no ar de antecipação, e eu precisava que ela e os
meninos voltassem para a casa onde os soldados foram colocados em
tripla proteção.
No entanto, como eu poderia deixá-la se afastar de mim com aquela
expressão horrorizada no rosto?
Dando um passo à frente, deixei minhas mãos abraçarem seus
ombros.
Raspando o tecido de sua camisa, minhas mãos deslizaram sobre seus
braços antes de entrelaçar com seus dedos.
— Eu sou seu muito honrado e superprotetor companheiro, e você é
aquele ser em todo o universo que pode me comandar completamente.
Brooke...
As palavras estavam na ponta da minha língua para dizer a ela o
quanto eu me importava com ela.
Dizer isso não mudaria a situação, e hesitei.
— Se eu posso comandar você, então ordeno que desfaça o que fez aos
meus filhos, — disse ela.
Seus olhos procuraram meu rosto, esperando por uma resposta
diferente.
Eu balancei minha cabeça e ela soltou minhas mãos enquanto
caminhava ao redor do carro até a porta do motorista. — Jyoti entenda
que se as circunstâncias fossem diferentes, eu nunca teria considerado
isso sem sua aprovação explícita.
Ela nem mesmo me dignificou com um segundo olhar enquanto se
movia atrás do volante, ligava o carro e fechava a porta.
Colocando o carro em marcha, ela saiu da pequena garagem e
acelerou para longe de mim.
Suspirando, coloquei minhas mãos de volta no bolso.
Celeste?
Apenas alguns segundos se passaram antes que ela respondesse. Sim,
irmão?
Eu preciso que você proteja minha companheira... por favor.
A pausa foi um pouco mais longa e eu só podia imaginar o que se
passava em sua mente.
Por favor, hein?
Claro, é a isso que ela se agarraria.
Sim, por favor. Se não pudermos conter o perímetro, preciso que você a tire
daqui.
Você sabe que eu te amo e ficaria feliz em fazer qualquer coisa no mundo
por você, mas desde quando você não confia em seus homens?
Não havia sentido em esconder o que estava acontecendo com ela.
Desde que Mac começou a mirar em nosso território.
Embora eu tivesse suspeitado anos atrás que ele tinha sido
comprometido por um alfa selvagem em seu território, era apenas um
pressentimento.
Agora, não havia dúvida em minha mente.
Mac? Tem certeza?
Oh, eu tinha certeza. A confusão com o cheiro de selvagem na noite
em que Brooke e sua família apareceram foi o começo.
Mac era o guru da tecnologia neste continente.
Ele era o único que tinha um dispositivo que podia bagunçar o cheiro
de um lobo, tomando mais difícil identificá-lo até que você estivesse bem
próximo a ele.
Embora fosse destinado aos alfas que mantinham territórios sob meu
domínio, estava claro que estava sendo usado para outras coisas.
A única coisa que me deixava perplexo era: quem havia contado a ele
sobre meu estado de enfraquecimento?
Gretchen? Era possível, já que sua matilha estava em seu território.
Positivo.
O ar estava ficando fresco quando o sol começou a descer no
horizonte.
Nossos irmãos sabem?
Era a única vez em que minha família não entraria em cena... um
desafio de poder.
Mesmo que o desafio fosse sem honra, era um desafio, no entanto.
Era um fato comum que minha família se envolvesse à margem da
honra.
Eu imagino que eles suspeitaram que isso seria iminente
No mínimo, a Vodca Beluga Epicure que eles enviaram era uma prova
de como eles achavam que as coisas iriam se desenrolar.
Será que eles...
A pergunta não precisaria ser feita. Ela sabia tão bem quanto eu como
nossos irmãos foram criados.
Mesmo que ela tivesse apenas três anos quando minha mãe a acolheu,
todos nós a considerávamos nossa irmã e ela entendia a natureza das
coisas em minha família.
Em vez disso, continuei a pedir sua ajuda enquanto dava a ela uma
lista de itens para fazer.
Ela já fez as malas. Faça com que os homens as levem para o SUV
reforçado.
Mantenha as chaves com você, só por precaução. Leve-a para a casa
segura na Flórida. Sian entrará em contato com seus alfas naquele território,
e eles ajudarão de todas as maneiras que puderem.
Mais do que alguns minutos se passaram, e eu estava pronto para me
transformar e garantir que Brooke e os meninos chegassem em casa em
segurança.
Você tem certeza de que ela não vai fugir agora?
Pela primeira vez naquela noite, sorri. Ela era tão cabeça-dura.
Eu não duvidaria. É por isso que meus homens colocaram um desativador
no carro dela.
O carro dela seria aquele que eles estariam procurando se ela fugisse
agora. Essa era a razão pela qual compramos o novo SUV reforçado.
Na minha cabeça, ela resmungou.
Você vai fazer a mulher desprezá-lo, se ela já não fizer isso.
O pavor me consumiu.
Talvez, mas pelo menos ela estará viva. Mesmo que eu nunca possa tê-la,
vou garantir a segurança dela e dos meninos.
Os pensamentos que ela permitiu que passassem por sua cabeça
começaram a nublar os meus enquanto ela decidia o que queria
perguntar.
Você já pensou em simplesmente explicar tudo para ela?
Seria muito mais fácil se ela apenas concordasse em ajudar
Esse pensamento se instalou como uma pedra em meu estômago.
Você acha que esperei tanto tempo para que minha companheira
concordasse em ficar comigo por querer ajudar?
Mesmo que eu passe o resto dos meus dias como um mero alfa, é melhor
do que passá-los como Alfa Superior e ligado a uma mulher que fica comigo
por pena.
Celeste deu uma risadinha pela conexão. Quem teria imaginado que
você fosse um romântico?
Eu resmunguei alto.
Tudo bem, tudo bem! Vou fazer uma mala e voltar para casa. Mantenha-
me informado.
Afirmativo.
Com isso, deixei a transformação fluir por mim.
A energia interior diminuiu significativamente desde que a beldade
chamada Brooke invadiu minha vida, e estava começando a se tomar
uma mudança de estilo de vida.
Meus irmãos podem não entender minha resistência em acasalar com
ela sem sua completa aceitação e compreensão, mas eles foram criados
exclusivamente por meu pai.
Fui abençoado com um avô que me compreendeu e me incentivou a
seguir meu próprio caminho.
Quando nos acasalássemos, seria sem segredos, sem agendas ocultas e
com uma afirmação completa de quem e o que somos um para o outro.
Quando eu perdesse meus dons completamente, meus irmãos e meu
pai saberiam.
A partir disso, o território norte-americano que era meu para
supervisionar precisaria ser concedido a um de meus irmãos.
Por enquanto, eu manteria minha matilha unida com o último
resquício de força que me restava, e esperava que isso fosse o suficiente
para nos ajudar até que meu território pudesse ser reivindicado por outro
Alfa Superior.
Talvez então eu possa levar meu doce tempo para conhecer minha
companheira e cortejá-la como qualquer outro homem em seu mundo
humano faria.
Ela não merece nada menos.
Capítulo 45
BROOKE

As sombras das flores de outono do jardim se espalhavam pelo


caminho enquanto eu me sentava sob uma das arcadas cobertas de
videiras.
O jardim se enchia com as risadas das crianças enquanto os meninos
corriam pelo parquinho que eles carinhosamente chamavam de deles.
Os únicos outros sons eram da brisa suave soprando nas folhas e
passos ocasionais do homem que me trouxe de volta para esta casa
quando meu carro decidiu morrer de repente.
Se eles pensavam que meus filhos e eu estávamos planejando ficar
depois do que aconteceu, eles estavam redondamente enganados!
No entanto, antes mesmo de chegar aos portões da frente, meu carro
de repente parou no meio da estrada.
Para minha sorte, alguns homens em patrulha estavam por perto e me
ajudaram a voltar para casa.
Um dos guardas—Novac, eu acho—insistiu em ficar.
Meu guarda-costas pessoal, ele brincou, embora, na verdade, ele
nunca tenha ido muito longe.
O homem me deu meu espaço enquanto patrulhava a propriedade. Eu
o encontrei me observando pela visão periférica mais de uma vez.
Com o crepúsculo se tomando escuro, seus passos invadiram mais o
espaço que ele tinha inicialmente me dado.
Se eu fosse honesta comigo mesma, admitiria que ele parecia um
pouco inquieto e isso não ajudava em nada para aliviar meus nervos.
No momento, eu estava frustrada por não estar indo embora deste
maldito lugar esta noite como pretendia.
Em vez disso, teria que esperar meu carro ser devolvido amanhã à
tarde, de acordo com o que me disseram.
Bem, pelo menos significava que eu poderia partir depois de uma boa
noite de sono.
Depois do dia que tive, certamente o descanso seria bem-vindo.
Levantando-me, deixei meu corpo esticar para aliviar um pouco o
estresse das últimas semanas.
Minha vida nunca voltaria a ser normal... o que quer que fosse normal.
Essa não era a parte assustadora para mim.
Era ter que descobrir por conta própria que me deixou mais
apreensiva.
Chamando meus meninos, comecei a vagar lentamente de volta para a
entrada dos fundos da casa.
Não demorou muito para que eles me alcançassem e segurassem
minhas mãos enquanto caminhávamos juntos.
Eles falaram em ir acampar com Pamela e seus filhos e eu não tive
coragem de dizer a eles que estaríamos perdendo aquela aventura.
Eu os deixei ter este momento antes que a realidade mais uma vez
colidisse sobre nós.
Depois que meus dois filhos tomaram banho e se aconchegaram em
suas próprias camas durante a noite, beijei-os antes de me retirar para o
meu quarto.
Toda a rotina foi observada nas sombras interiores por minha própria
sombra autoproclamada.
Ele parecia ser uma boa pessoa e certamente levava a sério a
responsabilidade, mas a razão de ele ficar tão perto era um pouco
inquietante.
O comentário que Slate fez mais cedo sobre ouvir seus homens ecoou
na minha cabeça, seguido por memórias da primeira noite em que
estivemos aqui e acordamos com aquelas sirenes estridentes.
A energia no ar parecia elétrica... palpável. Algo certamente estava
acontecendo.
Percebendo que dei um tiro no pé ao embalar tudo o que possuía, fiz o
que pude com o que tinha.
O melhor que eu podia fazer no momento era dormir com minhas
roupas de baixo, o que certamente era melhor do que dormir com meus
jeans desgrenhados e suéter.
Agora, eu só queria deitar e dormir.
Mesmo que mal passasse das oito, eu me joguei no colchão e me
acomodei.
Enquanto eu estava lá ouvindo o silêncio do quarto, descobri que
meus pensamentos estavam vagando.
Várias vezes tentei fechar meus olhos diante de todas as questões e
possibilidades que me atormentavam, nenhuma delas parecendo oferecer
uma opção viável.
A única fonte de conforto era saber que meus meninos estavam
dormindo profundamente ao final do corredor, mas até mesmo isso era
apenas um pequeno conforto esta noite.
Minutos se transformaram em horas e eu continuei me mexendo e me
virando.
Xingando, pensei em como esse sono evasivo era semelhante aos
meus meninos que fugiam da hora do banho.
A falta de sono devido ao caos da minha situação atual era muito
parecida com a capacidade deles de enrolar e demorar quando se tratava
de tomar banho.
Sempre outra desculpa do por que não poderia ser agora.
Finalmente, eu tirei as cobertas de cima de mim, exasperada. O tapete
amorteceu meus pés descalços enquanto eu me levantava e caminhava
pelo quarto.
Minha mente disparou e tentou encontrar uma solução para as coisas
que a ocupavam.
Era como tentar montar um quebra-cabeça, mas parecia que faltavam
peças suficientes para mascarar o panorama geral.
A imagem fragmentada era o resultado, e o suficiente para esconder
alguma verdade intangível de mim.
Meu orgulho ardeu, meu coração se partiu, mas meu corpo queimou.
Embora eu tenha me sentido enganada e manipulada, também senti
as palavras de Slate enquanto continuavam ecoando em minha mente.
Oh, mas como eu gostaria de poder desligá-las enquanto elas giravam
em minha cabeça:
Eu sou seu muito honrado e superprotetor companheiro, e você é aquele
ser em todo o universo que pode me comandar completamente.
O homem fez o possível para ficar ao meu lado, ou pelo menos tentou
quando eu não estava tão ocupada tentando afastá-lo.
Manter a promessa que fiz a Mark quando nos casamos sempre foi tão
fácil, aquela promessa de amor e devoção... até que ele entrou em minha
vida.
E mesmo assim, quando eu não estava lutando contra minha cabeça,
ele estava entrando de fininho em meu coração.
O vento jorrou de meus pulmões. Meu coração trovejou e meu
estômago apertou.
O homem exigente e impossível que essas pessoas chamavam de Alfa
estava construindo um lar onde ele não tinha o direito de construir um.
E eu estava me apaixonando por ele.
Droga!
O fato tomou mais urgente que eu fosse embora. Um tempo longe
dele significará tempo para analisar o que realmente estava acontecendo.
Agora, ele estava muito perto... muito acessível.
Slate estava invadindo minha vida e ocupava meus pensamentos mais
do que deveria. Falar com ele era fácil até que ele me tocasse.
Então meu corpo respondia como se ele tivesse a chave para algum
acesso secreto que eu nunca soube que existia.
Era quase como se ele soubesse como despertar aquela parte oculta de
mim que de alguma forma havia vazado entre as fissuras até agora.
Pensamentos como esses eram o que estava me colocando em apuros.
Já se passou mais de um ano desde que tive qualquer tipo de intimidade.
Certamente isso era mais problema meu do que Slate.
Eu estava vendo em Slate o que estava faltando em Mark. Simples
assim! Tensão sexual reprimida.
Suspirando, fui preguiçosamente para o banheiro.
O calor do chuveiro pode ajudar meus músculos a relaxarem e, com
sorte, minha mente logo seguiria meu corpo.
Ser capaz de deixar tudo de lado por algumas horas seria uma bênção.
O botão do chuveiro girou facilmente na minha mão enquanto eu
selecionava a temperatura para ser o mais quente que minha pele
permitiria.
Em questão de minutos, o vapor formou redemoinhos nas paredes do
chuveiro antes de gentilmente cair em cascata sobre o vidro e se espalhar
pelo cômodo.
Depois de tirar minhas roupas, entrei no chuveiro e desejei que o
calor saturasse todo o meu ser.
Quando a água atingiu minha pele, suspirei profundamente. A
sensação era muito boa... até mesmo incrível!
De pé sob a ondulação suave do chuveiro, eu esqueci de tudo.
Tudo o que passamos desde que saímos de casa e pegamos a estrada.
O trabalho que ele largou e o que eu tirei uma licença.
A casa que vendemos para pagar esta viagem, a última diversão para o
meu marido, pelo menos era assim que chamava.
Ele chamava afetuosamente de sua lista de desejos.
Ninguém no trabalho me culpou pelo que fiz, embora eu tenha
certeza de que muitos pensaram que eu era louca. Talvez eu seja.
No final do dia, eu sabia que minha família nos ajudaria enquanto nos
recuperávamos, e nenhum deles me julgou pelo que eu havia feito.
Nenhum deles poderia entender nossas circunstâncias.
A bucha deslizou sobre mim, liberando sua fragrância quando eu a
esfreguei contra minha pele.
O cheiro de groselha negra e baunilha encheu o local e me lembrou de
Slate.
Aqueles olhos cinza-prateados dominaram minha mente, junto com
aquele torso longo e magro que se estreitava na cintura da calça de seu
pijama.
Os leves cachos escuros que iam até a cintura de sua calça eram um
convite para segui-lo até o pote de ouro do outro lado de seu incrível
arco-íris.
Essas mechas escuras e grossas que emolduravam um rosto forte e
confiante faziam meus dedos coçarem para se enterrar em seu desejo.
Seus próprios dedos incrivelmente esculpidos e fortes deixavam
rastros de calor em todos os lugares que tocavam minha pele, queimando
sua memória em minha própria alma.
A bucha se arrastou onde seus dedos uma vez passaram, as
lembranças fazendo minha pele esquentar sob seu toque. Debaixo do
meu queixo, no meu pescoço, nos meus seios.
O pensamento daquele homem permaneceu em seu rastro.
Deixar a bucha viajar com cuidado sobre cada seio criou uma onda de
calor dentro de mim e suspirei.
A pele cor de rosa endureceu com o meu toque enquanto eu a deixava
dançar entre os bicos dos meus seios.
O movimento delicado criou um calor em meu abdômen, e meu
núcleo se apertou com os pensamentos lascivos.
As sensações eram como um velho amante me recebendo de volta em
seus braços.
A negligência só os tomou mais intensos à medida que meu corpo
ansiava por mais, e eu estava muito disposta a obedecer enquanto a
bucha traçava círculos delicados em meu abdômen.
Com minha mão livre, acariciei um daqueles botões tensos entre
meus dedos. A corrente elétrica que isso criou foi direto para o meu
núcleo enquanto ele apertava com força.
Meus dedos rolaram sobre eles com mais vigor, criando uma fricção
que levou a sensação a novas alturas.
Parecia inebriante, erótico, tabu, sedutoramente bom.
A pulsação entre minhas coxas se tomou mais forte quando eu
belisquei a pétala de rosa em meu peito.
Um suspiro escapou e eu apenas meio que me perguntei se minha
sombra estaria ao alcance para ouvir.
Não importava, amanhã ao meio-dia eu já teria ido embora, nunca
mais tendo que enfrentar nenhum olhar consumidor.
As sensações espiralaram dentro de mim enquanto um calor delicioso
se acumulava no meu ápice, a dor aumentando para uma pulsação mais
persistente enquanto implorava por uma atenção da qual tinha sido
privada por muito tempo.
Com a vontade se intensificando, meu toque rastejou para o ápice das
minhas coxas.
Com um leve toque de meus dedos, os primeiros estremecimentos de
prazer passaram por mim enquanto deslizava sobre o mais sensível dos
lugares.
Meu corpo inteiro tremia em seu rastro, enquanto a necessidade
aumentava em um ritmo rápido.
O desejo de saciar essa necessidade que quase me consumia.
Mais uma vez meus dedos deslizaram por minhas dobras, a umidade
ali uma mistura de sabonete líquido e minha própria essência.
Dedos hesitantes dançaram através daquele nó tenso, e as ondas de
prazer aumentaram quando aquela fera sensual profundamente
enraizada emergiu.
A pressão do meu toque aumentou enquanto o prazer disparava
através de mim em estremecimentos irregulares e picos elétricos que
rastejavam sobre minha pele.
Mesmo com o toque superficial, havia uma falta que eu ansiava.
A dor na boca do estômago ardia e latejava com a vontade, não, a
necessidade.
Um atrito que simplesmente não estava satisfeito com minhas ações
atuais.
Embora aquele nó tenso tenha sido despertado pelo meu toque
contínuo, não iria liberar aquele desejo que eu estava sentindo no meu
íntimo.
Ele ansiava por mais, e as imagens que encheram minha cabeça
deixaram claro quem ele desejava Meus dedos encontraram o caminho
para a entrada divina e mergulharam dentro enquanto circulavam
lentamente o canal quente ali.
O movimento me esticou um pouco e o desejo me segurou em suas
garras enquanto olhos prateados brilhavam em minha mente.
Aqueles lábios nos meus tatuaram sua existência onde quer que eles
agraciassem.
Nunca haveria escapatória para mim, não dele.
Ele se fez conhecido por mais do que apenas minha mente, e eu deixei
as memórias dele e seu toque varrerem sobre mim.
Deixando dois dedos deslizarem ainda mais fundo, meus olhos se
fecharam e minha cabeça se inclinou para trás enquanto um suspiro
silencioso saiu dos meus lábios.
Fazia muito tempo desde que eu me permitia qualquer satisfação
sexual, e meu corpo estava preparado e exigente.
— Slate, — eu sussurrei no calor fumegante.
Seu nome em meus lábios enviou outra espiral de prazer rasgando-
me, meu corpo estremecendo enquanto eu tentava abafar outro gemido.
Continuando a pressionar meus dedos o mais profundamente que
podiam, comecei a ofegar enquanto minha essência se derramava mais
ansiosamente no canal apertado.
Aquele ponto que meus sentidos ansiavam parecia fora do meu
alcance, mas não me impediu de tentar alcançá-lo.
A frustração estava crescendo na área da minha luxúria sabendo que
eu simplesmente não conseguia saciar aquele desejo que consumia, mas
o formigamento da eletricidade ainda dançava ao longo da minha pele.
Há quanto tempo ele estava formigando contra a minha pele?
Lentamente, permiti que minha cabeça caísse para frente e meus
olhos se abrissem.
Lá estava o homem que ocupava meus pensamentos, e ainda mais
sedutor do que eu poderia imaginar.
Há quanto tempo ele estava me observando, eu não tinha ideia, mas
meu corpo quase desfez com o simples pensamento dele me observando
em uma posição tão comprometedora.
Seus olhos prenderam os meus, desafiando-me a desviar o olhar. Não
havia nenhuma maneira que eu pudesse se eu quisesse.
Seus movimentos eram lentos e determinados, um homem que
avaliava cada reação minha aos seus movimentos.
Cada passo o trazia mais perto da entrada do chuveiro, e eu congelei
no lugar.
Meu cérebro entrou em curto, mas meu corpo gritava de entusiasmo.
Com cada passo seu, meu corpo me traía com espasmos sensuais que
fluíram com antecipação.
Este homem poderia saciar meu desejo—até mesmo minha mente
não estava disposta a discordar.
Quando ele entrou no chuveiro ainda vestindo a calça do pijama de
flanela que ia até a cintura, todo o meu corpo estava em chamas.
Dentro de alguns passos, seu corpo estava a poucos centímetros do
meu. Minha respiração estava irregular, batendo contra a solidez dele.
Sua mão se ergueu para descansar contra minha bochecha como se ele
estivesse testando as águas.
Aqui estava o homem que dominava meus pensamentos, o homem
que era a causa e a cura da luxúria que corria por mim, e mesmo assim
fiquei paralisada.
O que aconteceria se eu permitisse que ele se aproximasse?
Era disso que eu precisava para expulsá-lo de minha pele e mente?
Seu rosto se inclinou em direção ao meu e ele deixou seus lábios
roçarem nos meus. Um leve gemido escapou de mim, e isso encorajou
seu tormento contínuo em meus sentidos.
Ele se aproximou, deslizando sua mão para minha cintura e puxando
nossos corpos enquanto pressionava sua boca contra a minha mais uma
vez.
Foi mais exigente, e meu corpo começou a vibrar com uma
necessidade ainda maior que ultrapassava de longe qualquer coisa que eu
já conhecia.
Deslizando a outra mão pelo meu braço, estremeci enquanto ele
traçava um caminho para baixo em direção ao local onde minha mão
tinha avidamente buscado liberação.
Ele deixou seus dedos se fecharem em volta do meu pulso enquanto
puxava minha mão do lugar onde ela tentava administrar lamentáveis
tentativas de prazer.
Não, este homem saberia tudo sobre prazer, e minha pele estava
sintonizada com ele de uma forma tão estranha e intensa que era ao
mesmo tempo confusa e inebriante.
Puxando minha mão entre nós, ele se separou do nosso beijo. Quando
abri meus olhos, ele estava observando meu rosto.
— Incrível, — ele sussurrou.
Seu olhar travou com o meu enquanto ele puxava minha mão para
aquela boca lindamente trabalhada.
Arrastando meus dedos sobre seus lábios, eu suspirei com a
intimidade disso.
Embora uma parte de mim estivesse quase envergonhada que minha
fragrância e essência permanecessem ali, a euforia em seu rosto me
mantinha cativa.
Eu assisti com fascinação quando sua língua trouxe meus dedos em
sua boca para envolver e extrair meu sabor de cada um.
Meu núcleo teve um espasmo e minha cabeça se inclinou para trás
mais uma vez quando outro gemido de prazer preencheu o espaço entre
nós.
Ele era habilidoso em manipular meu corpo e sem se intrometer em
suas profundezas.
Cada sensação que tive foi intensificada a um grau que nunca havia
experimentado.
Tudo girava em tomo de mim: seu cheiro natural misturado com o
meu e o aroma do sabonete enchendo o ar ao nosso redor...
O calor de sua pele tocando a minha.
O comprimento dele pressionado contra meu abdômen.
O gosto dele na ponta da minha língua, uma vez que demorou-se
depois do beijo.
O som do meu coração batendo forte contra o meu peito.
O sempre tão delicado pop quando ele soltava um dos meus dedos
daquela boca sensual.
Fechando meus olhos, redemoinhos de cores acentuaram o delírio de
prazer que violava cada parte do meu corpo e mente, tocando bem no
fundo de mim.
Essa parte de mim nunca foi exposta a ninguém, nem mesmo a Mark,
e ainda assim ele parecia ser uma grande parte disso sem nenhum
esforço.
Trazendo gratificação para algo que eu não tinha percebido que estava
contido, e apenas com sua proximidade.
Soltando meu braço suavemente, ele me puxou para ele com mais
força.
A sensação de cada parte de seu corpo contra o meu guardava tantas
promessas.
Sua mão deslizou pelo meu braço delicadamente, traçou um caminho
logo acima da minha clavícula e desceu em cascata pelo meu peito para
circular graciosamente meu seio.
Quando seu polegar pressionou meu mamilo, meu corpo arqueou e
pressionou contra o dele, deixando suas demandas claras.
Murmurei algo incoerente aos meus próprios ouvidos e isso o
estimulou.
Sua cabeça mergulhou quando ele colocou um dos pequenos bicos em
sua boca, girando sua língua e mordiscando-o antes de finalmente
libertar seu prisioneiro.
Um gemido de prazer explodiu dentro de mim com seu toque.
Se eu não tivesse sido envolvida pelas sensações avassaladoras,
poderia ter sido humilhada pela explosão.
Uma mão deslizou suavemente pela minha pele e pude sentir sua boca
percorrendo meu corpo.
Com cada carícia delicada, sua boca tomava posse, passando do meu
seio, para meu abdômen, meu quadril, minha coxa.
Eu vacilei e me lancei contra ele enquanto minhas pernas se
apertavam contra o ataque.
Já havia quase alcançado o topo do precipício que vinha escalando, e
as emoções e sensações eram quase insuportáveis.
A minha própria essência derramava no meu ápice e se misturava com
a água que corria sobre nossos corpos.
Embora as emoções estivessem me afogando, ele não seria facilmente
impedido de sua missão.
Ambas as mãos massagearam suavemente minhas coxas enquanto ele
soltou um rosnado suave que rasgou meu corpo, fazendo-o obedecer ao
seu chamado.
Outra onda de líquido se acumulou dentro de mim, deixando-me fora
de controle.
Essas mãos generosas o expuseram suavemente ao calor na minha
entrada enquanto ele mais uma vez continuou seu caminho tortuoso,
ainda provando e beliscando minha pele com sua boca.
Meu corpo agiu por vontade própria, concedendo-lhe acesso à minha
terra prometida.
Sua mão traçou a pele sob uma das minhas coxas enquanto ele a
erguia para a curva fascinante de sua boca, beijando e beliscando antes de
levantá-la suavemente por cima do ombro.
Com uma força que só ele poderia possuir, ele moveu a outra mão por
baixo da minha outra coxa para me erguer ainda mais na parede e me
firmar.
A força dele me excitou e agregou aos redemoinhos enlouquecedores
de emoções e sensações dentro de mim.
Minhas mãos se moveram da parede do chuveiro para se agarrarem ao
seu magnífico cabelo.
O cabelo escorregadio pela água era liso contra meus dedos e palmas
enquanto eles se entrelaçavam e o agarravam pela nuca.
Quando ele soltou um pequeno gemido de prazer, eu deixei minhas
unhas delicadamente brincarem contra ele. Meu controle durou pouco.
Sua boca pressionou firmemente sobre minha entrada e eu
desmoronei. Quando sua língua deslizou por minhas dobras, gritei de
prazer.
Slate deixou sua língua deslizar contra aquele nó tenso, enquanto seus
dedos prestavam homenagem à minha entrada.
Eu cavei meus dedos mais profundamente em seu cabelo, agarrando
os fios magníficos em um esforço para me firmar.
Um dedo deslizou dentro de mim, e não pude controlar os gemidos de
prazer, os gritos de êxtase que agora facilmente passavam por meus
lábios.
Minha entrada se prendeu a ele, querendo mais.
Querendo ele.
Ele estava muito feliz em oferecer mais, mas continuou negando a
verdadeira satisfação que ansiava.
Outro dedo preencheu o espaço na minha entrada, deslizando e
alcançando facilmente aquele ponto que eu não conseguia.
Me massageando, eu podia sentir todo o meu corpo tremer enquanto
ondulava de prazer.
Um prazer tão intenso que minhas pernas ficaram fracas e agora eu
estava feliz por estar sendo apoiada pelo homem que estava provocando
tal resposta em mim.
O precipício estava agora diante de mim, e as ondas começaram a
bater com força contra mim antes que ele se afastasse.
Eu estava fraca e sem fôlego, mas meu corpo estava carente.
Meu cérebro estava em conflito, querendo que aquelas ondas de
prazer continuassem seu ataque ao meu corpo, fechando minha mente
de qualquer pensamento ou ação.
Antes que eu pudesse pensar, ele deixou sua língua deslizar mais uma
vez, mergulhando na minha entrada. Me bebendo.
Um tsunami de prazer estava se formando e eu não conseguia pará-lo.
Meu corpo inteiro se contraiu, mas estava esperando por algo.
Através da névoa de êxtase, eu sabia que ele estava esperando por algo.
Slate rosnou alto contra minha pele. Ele rugiu contra mim, me
atravessando.
Cada célula do meu corpo reverberou, cada músculo sucumbindo a
ele até chegar ao meu centro.
Como se respondesse ao seu comando, ele liberou.
O tsunami me atingiu e me jogou no precipício. Eu gemi alto
enquanto meu corpo pulsava e estremecia, apertando em tomo dele
antes que não tivesse mais nada para dar.
Slate me segurou suavemente contra ele enquanto eu cedia sob meu
próprio peso. De pé, ele me pegou em seus braços.
Eu não conseguia me mover, e meu corpo estava inerte em seus
braços enquanto minha cabeça caía pesadamente em seu ombro.
As ondas de prazer ainda percorriam meu corpo e pequenos arrepios
de êxtase dançavam em minha espinha.
Ele conseguiu me firmar contra ele com um braço enquanto pegava
uma das toalhas grandes do suporte de aquecimento.
Enquanto ele me levava para fora do banheiro e para o meu quarto,
ele começou a secar meu corpo úmido com a toalha.
Suas próprias calças encharcadas pingavam conforme ele cruzava o
cômodo, mas ele parecia despreocupado com seu próprio conforto.
Quando ele alcançou a cama, ele me deitou cuidadosamente.
Levantando-se, ele estendeu a mão para as cobertas.
Um cansaço profundo se instalou em meus ossos enquanto meu
corpo estava deitado contra o conforto do colchão.
Sem me mover, observei enquanto ele puxava as cobertas sobre mim
para ocultar todo o meu ser.
Quando ele começou a se afastar, chamei com fraqueza, — Slate?
Ele se virou para mim, mas eu podia fazer pouco mais do que deixar
meus olhos deslizarem para baixo em seu peito para ver brevemente sua
excitação pressionando contra a calça de seu pijama antes de corar
profundamente e voltar para seu rosto.
Dando duas passadas, ele estava ao meu lado mais uma vez quando
sentou-se na beira da cama.
Ele se inclinou, beijando meu rosto, pescoço e, finalmente, aquela
junção entre ombro e pescoço.
Ele beliscou, deixando seus dentes morderem a pele macia. Outro
gemido me escapou e meu corpo explodiu mais uma vez.
O cansaço não era rival de seus cuidados no meu corpo, embora fosse
apenas um beijo, por mais bruto que pudesse ser.
Com uma expressão de satisfação no rosto, ele se inclinou e sussurrou
em meu ouvido.
— Quando eu reivindicar você, eu quero tudo de você. Eu vou ter tudo
de você.
As borboletas alçaram voo em um redemoinho dentro de mim. Tudo
de mim? Parecia quase espiritual, lindo.
Meus olhos se fecharam enquanto a escuridão me tomava, o cansaço
finalmente vencendo a luta. Quando entrei nesta escuridão abençoada,
ele falou mais uma vez.
— Eu não terei você de outra maneira, jyoti.
Sorrindo, eu deixei o pensamento tomar conta de mim. Houve uma
certa compreensão no momento antes de o sono me consumir.
Eu já era dele.
Agora, como eu enfrentaria aquele olhar conhecedor da minha
pequena sombra?
Capítulo 46
SLATE

Novac era um soldado diligente e estava aprendendo muito


rapidamente como defender as famílias e os amigos desta matilha.
Ele era habilidoso, um talento que só precisava de orientação.
Quando ele, Birch e muitos outros decidiram se juntar ao meu bando,
fiquei surpreso com o grande volume deles.
A lealdade que ele e Birch tinham era comovente.
Birch ainda precisava de muito mais treinamento antes de eu colocá-
lo entre minhas patentes, mas seu coração estava lá.
Essa era a característica mais difícil de encontrar em alguns
guerreiros: coração.
Ele e Novac tinham aos montes.
Mesmo que Birch ainda fosse muito inexperiente entre as patentes,
ele insistiu em estar na patrulha.
Eventualmente, Sian cedeu e o juntou a outros guerreiros mais
experientes.
No mínimo, seria uma oportunidade para ele aprender pelo exemplo.
Sian e seus homens estavam patrulhando as fronteiras entre a de
Jackson e nossa própria terra.
Jackson havia fornecido mais do que alguns homens para patrulhar e
monitorar a área.
Até ele tinha certeza de que algo aconteceria, e logo.
Proteja-a enviei pela conexão.
Novac havia convenientemente saído para verificar os limites da
propriedade quando eu cheguei. Quando eu estava por perto, era meu
trabalho proteger minha companheira.
No entanto, quando eu não podia estar ao seu lado, era meu trabalho
garantir que alguém estivesse lá para protegê-la.
De qualquer forma, a segurança dela, junto com os meninos, era
minha responsabilidade... minha preciosa responsabilidade.
Uma que me havia sido prometida e antecipando quase toda a minha
existência.
A vontade dela em meus braços me deu esperança, e curou minha
determinação de mais de uma maneira.
Somente aquele sabor enviou um fervor renovado vibrando em
minhas veias, e eu pretendia receber muito mais.
Sim, Alfa ele respondeu de volta.
E, Novac
Sim, Alfa?
Ele foi rápido. Eficiente. Ainda mais, ele foi cauteloso.
Se eles invadirem o perímetro, é provável que se desloquem diretamente
para cá. Fique em alerta e aguarde meu comando.
Houve uma pausa na conexão, mas senti sua presença. Naquele fio
que nos conectava naquele momento, senti um pequeno cabo de guerra
dentro dele.
Finalmente, ele cedeu ao pensamento e falou.
Tem certeza de que quer que eu tenha a honra de...
Não há ninguém em que eu confie mais respondi com firmeza.
Embora Carter e Sian fossem minhas primeiras opções, suas
habilidades eram necessárias em outro lugar.
E este homem havia provado sua lealdade a mim, e sua coragem.
Algo sincero passou pela conexão antes que ela se apagasse.
Obrigado, Alfa. Eu os protegerei com minha vida.
Eu sei respondi antes de fechar a conexão privada entre nós.
Ele era um bom homem e tive o privilégio de poder mostrar-lhe o seu
valor.
Agora, havia algumas questões iminentes a serem consideradas.
Celeste?
Quando seus pensamentos sonolentos me alcançaram, sorri.
E melhor que seja importante, Slate.
Quando ela insistiu em se juntar ao meu bando, eu resisti em saber o
quão temperamental ela poderia ser.
No entanto, ela se tomou um recurso em muitas ocasiões, e fiquei
ressentidamente grato por ela ter aberto caminho para minhas boas
graças.
Há indícios de movimento, prepare-se. Novac está preparado para agir
Celeste bufou. Novac? Seu novo recruta?
Sorrindo, eu entendi sua hesitação.
Ele provou a si mesmo.
Quando seus pensamentos de protesto começaram a preencher a
conexão, enviei um aviso.
Celeste!
O xingamento foi quase audível em meus próprios ouvidos.
Tudo bem, eu confio em você. Ela murmurou pela conexão, quase
inaudível, mas eu ouvi. Só não ele.
Celeste, Eu avisei novamente, embora não pudesse reprimir um tom
mais leve.
Ela se importava com Brooke, e eu não poderia culpá-la por isso.
Antes que eu pudesse encerrar a conexão, ela falou mais uma vez.
E Slate? Tenha cuidado.
E então, para reduzir o constrangimento de seu sentimento, ela
acrescentou.
Eu realmente não quero tentar comandar essa sua matilha desorganizada.
Minha risada soou alto quando encerrei a conexão.
Embora ela nunca tivesse o cargo, sem dúvida ela daria trabalho a
meus irmãos pelo dinheiro.
Não era o fato de ela ser mulher, mas sim de não ter nascido do nosso
sangue.
Meu pai proporcionou apenas homens, e Celeste ocupou o papel de
filha que minha mãe sempre desejou.
Uma esperança que meu pai a contragosto permitiu.
Olhando para trás, para o segundo andar da nossa casa, sorri ao
pensar em Brooke enrolada enquanto adormecia.
A sensação de seus lábios contra os meus, o gosto dela na minha
língua, o som do meu nome em uma respiração ofegante e a visão dela
chegando ao ápice contra a minha boca fez meu próprio corpo latejar.
Esta noite tinha muitas promessas e muito perigo. Se não fosse pela
ameaça, eu poderia ter me perdido nela...
Mas somente após ter explicado o processo de acasalamento.
Eu sorri.
Bem, talvez eu tivesse calmamente mostrado a ela as alturas que eu
poderia levá-la uma e outra vez...
Como eu poderia preencher todas as necessidades e desejos, e expor
aqueles que ela nunca percebeu que tinha.
Essa era a vida dos companheiros.
Algo se moveu nas sombras na fronteira, e eu parei. Meu corpo ficou
tenso quando deixei meu lobo passar.
Com aqueles sentidos aguçados, eu podia ver as formas de vários
lobos se movendo além da linha das árvores.
E eles não eram nossos homens.
Celeste? Novac? AGORA!
Celeste começou a impor a conexão, mas encerrei-a antes de abrir a
conexão de comando.
Houve uma violação!
Onde? Carter já estava distribuindo comandos para seus homens.
Minha casa!
O silêncio que caiu sobre a conexão durou meros segundos, mas falou
muito.
Instantaneamente, eu podia ouvir as ordens sendo emitidas enquanto
deixava o clamor tomar conta de mim. O que me perturbava no
momento?
Assim que as ordens foram emitidas, os lobos se moveram para além
das árvores.
Havia um elo fraco entre meus homens!
Só rezei para que Celeste e Novac tirassem Brooke e os meninos antes
que chegassem à casa.
Capítulo 47
BROOKE

— Levante-se.
Celeste invadiu o quarto, afugentando um lindo sonho que agora
desapareceu da existência.
— O que... Celeste? — Eu gaguejei tentando encontrar minha voz.
Quando ela agarrou meu braço, pude ver a determinação em seus
olhos.
— Não há tempo, Brooke.
Ela quase me arrastou da cama antes que eu gritasse indignada e ela
resmungasse.
— Não podemos sair com você nua, podemos?
Enquanto eu agarrava um cobertor da cama para me cobrir e suavizar
minha vaidade, ela correu pelo banheiro para outro quarto.
Em segundos, ela estava de volta com uma camisa masculina e calças
de corrida.
Empurrando-os em minha direção, ela se virou de costas para mim. —
Brooke, você tem que se apressar!
As roupas eram muito grandes e fáceis de vestir rapidamente.
O que está acontecendo? — Eu perguntei enquanto abotoava a
Oxford sobre o meu corpo nu. — Eu não ouço sirenes.
Celeste balançou a cabeça.
— Eu também não entendo. Mas, temos que tirar você e os meninos
daqui.
Seu comportamento era rígido enquanto ela tentava, sem sucesso,
esperar pacientemente.
Eu deslizei a calça pelas minhas pernas, mas não tive a chance de
enrolá-la. — Está bem.
A palavra mal passou pelos meus lábios antes de Celeste começar a me
puxar para o corredor, meus pés lutando para acompanhar seu ritmo.
Uma vez lá, minha sombra emergiu do quarto dos meninos com um
em meus braços e uma mão segurando o outro.
A lasca de madeira abaixo de nós me assustou, mas os colocou em
ação imediata.
— Escada de serviço, — ela chamou Novac em voz baixa, puxando-me
naquela direção.
Novac estava atrás de nós enquanto ela descia correndo a escada em
espiral. A explosão de madeira ecoava na casa.
Rosnados e grunhidos seguiram a dizimação da porta da frente
enquanto as feras invadiam o que eu costumava pensar como um porto
seguro.
Hayden deu um grito abafado quando Novac o pressionou com força
contra o peito.
O rosto de Aaron estava cheio de medo mal disfarçado quando ele
agarrou a mão do homem maior.
Mesmo com medo, ele aparentava estar agindo no piloto automático,
quase como se estivesse ouvindo e seguindo um conjunto de instruções.
Garras estalaram e arranharam o piso de madeira e as escadas
enquanto invadiam a grande casa.
Celeste irrompeu pela porta dos fundos, eu, Novac e os meninos logo
atrás.
Rosnados chegaram aos nossos ouvidos do segundo andar da casa, e
um par de olhos cor de topázio nos fuzilaram da janela do quarto que eu
ocupava apenas alguns momentos antes.
Celeste apertou um botão em um controle e um veículo rugiu para a
vida.
Ao pressionar outro botão, o clique das fechaduras nas portas da casa
ressoou.
Não iria segurá-los, já que eles foram capazes de derrubar a porta da
frente, mas iria atrasá-los.
Pelo menos, eu imaginei que era esse o objetivo.
O lobo marrom com os olhos topázio voltou à sua forma masculina.
Ele ficou em toda a sua glória olhando para nós.
O homem alto e musculoso tinha uma tremenda semelhança com seu
lobo.
O calor e o desprezo em seus olhos me fizeram estremecer antes que
Celeste me puxasse para fora de sua vista.
Meus pés estavam doloridos de fugir através do pavimento das
passagens, a aspereza delas raspando contra a pele sensível.
Ao contornar a lateral da casa, um lobo enorme saltou diante de nós,
bloqueando nosso caminho. Celeste jogou as chaves para Novac.
— Coloque-os no carro!
Ela extraiu garras alongadas no ar.
— Vamos, — sussurrou Novac com voz rouca, segurando Hayden cada
vez mais perto.
Aaron caiu para trás ao meu lado enquanto segurava minha mão na
sua.
Olhando por cima do meu ombro, Celeste havia dado vários golpes na
besta e conseguido escapar da maioria dos que haviam sido devolvidos.
Apenas os rasgos em sua manga indicavam que ela havia realmente
levado um golpe.
Aaron me puxou para me mover mais rápido, mas em vez disso, meus
olhos pousaram em um grande pedaço de madeira que eu poderia usar
como arma.
— Novac, — chamei antes de mim. Seus olhos brilharam quando
empurrei Aaron em sua direção.
— Vá, querido. Eu já vou!
Envolvendo meus dedos em tomo da madeira grossa, avancei sobre a
besta que continuou tentando acertar suas garras sobre ela.
Com um golpe forte do taco de madeira em minha mão, eu golpeei o
crânio da besta com força.
Um gemido agudo cortou o ar antes que Celeste baixasse as garras
afiadas sobre seu rosto.
Quando ela se virou para mim, sua expressão era de desaprovação.
— Você não deveria ter feito isso! Você está tentando se matar?
Eu lancei a ela um sorriso antes de responder. — Eu esperava um
agradecimento, mas...
Celeste não perdeu tempo quando agarrou meu braço mais uma vez e
começou a me puxar em direção ao veículo.
O barulho de passos atrás de nós me fez entrar em pânico enquanto
meu coração trovejava no meu peito.
— Coloque as crianças no carro. — Celeste me empurrou para frente
enquanto girava nos calcanhares.
Eu voei para frente e agarrei Aaron do chão enquanto corríamos para
o carro.
Novac abriu a porta e praticamente empurrou Hayden para dentro do
veículo enorme antes de arrancar Aaron dos meus braços para repetir o
processo.
Novac moveu-se para o lado para me deixar entrar, mas a porta se
fechou com força quando um animal se chocou contra Novac e contra a
porta que esperava.
Os quadris da besta bateram em mim, jogando-me para trás.
A dor disparou da minha lateral quando caí com força no chão.
Atordoada, me virei para encontrar Novac e o lobo lutando pelo
domínio.
Eles rolaram pelo chão várias vezes antes que Novac pudesse alcançar
a lâmina em seu quadril. Desembainhando a lâmina, ele a mergulhou no
pescoço do lobo e a torceu.
Usando os pés, ele chutou a besta para o lado apenas alguns segundos
antes que outra o atingisse com uma pata enorme.
Eu gritei, mas permaneci enraizada no lugar.
— Ande, Brooke, — gritou Celeste enquanto corria para o carro.
Eu me levantei do chão enquanto cambaleava em direção ao outro
lado do veículo.
Conforme eu contornava a parte de trás do carro, um lobo enorme
deu um passo à minha frente, aqueles olhos de topázio brilhantes me
prendendo em seu olhar.
Eu gritei antes que o explicativo caísse de meus lábios.
Afastando-me, levantei a mão, deixando meus olhos escanearem o
chão ao meu redor procurando por algo... qualquer coisa.
— Não chegue mais perto, — eu ordenei com tanta confiança quanto
eu podia—que era nenhuma.
Os quadris da besta estremeceram e eu sabia que ela estava prestes a
se lançar sobre mim.
Quando seu peso voou pelo ar, gritei, sentindo minhas pernas
congeladas.
Um rosnado alto encheu o ar quando a besta se lançou e minhas
pernas vacilaram debaixo de mim. O instinto de curvar me dominou
quando encolhi minha cabeça.
O lobo gemeu quando uma massa pesada o atingiu. No ar, ele foi
derrubado de seu trajeto por um enorme lobo prateado.
— Slate, — chamei sem fôlego.
Celeste estava ao meu lado, puxando-me para cima e empurrando-me
para a porta do carro.
Empurrando-me de maneira muito parecida com a que Novac fez com
meus meninos, ela abriu a porta da frente com a outra mão.
Quando eu entrei, ela a fechou com força e se jogou no banco da
frente.
Novac já estava sentado atrás do volante do motorista, apertando a
lateral do corpo enquanto colocava o carro em marcha.
Meus olhos se moveram sobre a cena do lado de fora da casa antes
intocada. Janelas e portas foram estilhaçadas e quebradas, e meu coração
doeu.
Mas nada fez meu coração se partir como a cena que eu assisti
enquanto nos afastávamos.
Slate estava cercado por mais de uma dúzia de lobos, com um corte
em sua lateral que mostrava um vermelho brilhante dentro da massa de
pelos prateados.
O lobo com olhos de topázio investiu contra Slate, os outros o
seguiram em rápida sucessão, de forma que ele não pudesse se defender
de uma vez.
— Slate! — Meus gritos encheram o carro, enquanto minhas mãos
estavam pressionadas contra a janela em angústia.
— Não, — eu chorei. — Não, isso não pode estar acontecendo!
Virei-me na cadeira, implorando a Novac. — Nós temos que voltar!
Temos que ajudar!
Percebi a expressão de Novac no espelho retrovisor e testemunhei a
dor ali. Dor por sua incapacidade de fazer o que pedi.
Minha cabeça girou para trás, esperando além da esperança que não
fosse tão ruim quanto parecia.
O lobo com aqueles olhos vis rosnou com caninos ferozes para a
massa de pelos abaixo dele antes de agarrar a carne de Slate em uma cena
horrenda e ensanguentada.
— Slate, — eu sussurrei antes que o carro se movesse além da vista.
Lágrimas escorreram pelo meu rosto enquanto minhas mãos se
curvaram contra a janela.
O silêncio permeou o carro. Ninguém ousou falar; Novac e Celeste
apenas trocaram um olhar.
Eu estava entorpecida. Hayden agarrou minha mão com a sua
pequena e carnuda, e eu desabei.
Capítulo 48
SLATE

Não demorou muito para que os selvagens corressem em direção à


casa. Estava muito claro qual era o objetivo.
Sem Brooke, eu nunca recuperaria todas as minhas forças e poderes.
Sem eles, eu era visto como um alvo fácil.
Eu zombei. Eles não têm ideia do que estão enfrentando.
Eu me pergunto se ele esqueceu que eu continuaria sendo um alfa em
posição igual à dele?
Um sorriso mortal deslizou pelo meu focinho.
Um por um, lancei minhas garras fortes contra aqueles que tentariam
tirar minha companheira de mim.
Cortando, mutilando, rasgando músculo e tendão, onde quer que
houvesse contato.
O grande número deles que emergiu era mais como um pequeno
exército do que um ataque de selvagens, e eu sabia que Mac e seus
homens estariam entre eles.
O rosnado saiu de mim.
Mac!
Toque em minha companheira e você VAI perder sua vida.
Eu deixei cada grama de confiança inundar a conexão.
A conexão ficou tensa antes que eu o sentisse enjaular suas dúvidas.
Alfa Superior, acho que você subestima minha determinação. Você não
acha que eu viria preparado?
Rugindo para a massa de feras feridas, continuei a esfolar qualquer um
que se movesse ao meu alcance.
Por mais que eu quisesse invadir a cobertura de árvores e obliterar
todas elas, eu precisava me assegurar de que Brooke e os meninos
estivessem longe daqui.
Então, eu fiquei onde estava, à vista de todos eles.
Isso poderia ser interpretado de duas maneiras: eles poderiam
confundir com confiança ou com fraqueza.
Eles entraram na casa Novac falou.
Outro lobo se lançou em minha direção, e eu trouxe minhas garras
para baixo em sua barriga, rasgando o músculo encontrado no ponto
sensível abaixo dele.
A besta desabou no chão enquanto o sangue derramava do ferimento.
Estou a caminho!
Minhas pernas nunca se moveram tão rápido enquanto eu voava
sobre o solo para interceptar os selvagens insistentes em pegar o que era
meu.
Gritos de meus próprios homens eram audíveis através da conexão
enquanto eles coordenavam seus movimentos para ir até a casa no topo
da colina.
Ouvindo-os, eu sabia que eles ainda estavam longe demais para
impedi-los de machucar Brooke, a menos que eu os impedisse...
E eles saberiam disso também.
Os meninos não precisavam de resgate. Afinal, eles não estavam atrás
dos meninos.
Mesmo se ela deixasse os meninos para trás, eles permaneceriam
ilesos, se assustados.
Eles só vieram pelo poder, e Brooke era a chave para seu sucesso.
Quando os observei escapar pela porta de serviço, senti um certo
alívio.
Ao ar livre, eu seria capaz de rastreá-los melhor. No entanto, perdi o
foco nas pessoas ao meu redor.
Um lobo veio em minha direção e agarrou meus quadris.
Os dentes da besta causaram um simples arranhão em minhas pernas,
mas foi distração suficiente para me fazer tropeçar.
Meu corpo caiu para a frente quando parou.
Vendo isso como sua oportunidade, o lobo se lançou sobre mim, seus
caninos expostos enquanto ele rosnava ferozmente.
Seus dentes morderam meu pescoço enquanto ele lutava para manter
a vantagem de estar por cima.
Mudar meu peso deu a ele uma vantagem de curta duração enquanto
seus dentes batiam bruscamente no meu pescoço.
Para seu espanto, ele voltou com tufos de cabelo e uma barriga cheia
de garras assim que coloquei meus quadris embaixo dele.
Recuperando meus pés, eu avancei mais uma vez.
Meu coração disparou quando vi Brooke quebrar uma viga de madeira
na cabeça de um lobo que estava lutando corpo a corpo com Celeste.
Sem dúvida que Celeste poderia cuidar de si mesma, mas o fato de que
minha companheira lutava por ela mostrou sua verdadeira natureza.
Havia muitos, no entanto, e ela não deveria se arriscar dessa forma.
Leve-a para o carro!
Celeste a empurrou para frente enquanto eu observava Mac sair da
casa, seus olhos se estreitaram na mulher que derretia meu sangue.
Meu pelo se arrepiou enquanto eu observava seus olhos a seguirem
avidamente.
Antes que eu pudesse lançar meu ataque contra o alfa arrogante,
outro lobo me atacou.
Esquivar-se de um me levou a perder o que havia se movido ao meu
outro lado.
Sem qualquer indício de sua presença, ele fechou as mandíbulas logo
abaixo da minha omoplata.
A dor rasgou minha lateral quando joguei minha cabeça para trás e
deixei meus dentes afundarem no pescoço que ele deixou exposto.
A mandíbula da besta afrouxou e eu afrouxei meu aperto para deixá-lo
cair no chão.
Se sua mordida tivesse sido reprimida melhor, ele teria rasgado o
músculo por baixo.
Do jeito que estava, demoraria algum tempo para curar a ferida.
Embora a dor em minha lateral diminuísse minha velocidade, eu
ainda seguia em frente com uma agilidade e velocidade que eram
abençoadas por minha posição.
Cada passo me trazia mais perto de Mac.
Quando sua vida acabasse, meu rosto seria a última coisa que ele
veria.
Quando Mac deslizou ao lado do carro, coloquei cada grama de força
em minhas pernas. Brooke estava vindo em sua direção.
A enorme besta balançou para trás em suas pernas, pronta para atacá-
la.
Quando ele se lançou no ar, eu mergulhei em direção a ele, jogando
meu peso enorme para tirá-lo de seu caminho.
Pelo canto do olho, notei sua forma delicada enrolada em si mesma e
exalei a respiração que eu estava segurando.
Mac caiu com força no chão antes de seu corpo rolar vários metros do
chão áspero.
Enquanto eu caminhava em sua direção, ele enfatizou seu ferimento
mancando para longe de mim.
Eu sabia que ele estava me atraindo para uma armadilha, mas também
sabia que isso daria a Celeste e Novac tempo para tirá-los daqui.
Era um pequeno sacrifício, na verdade.
Não pense que eu não sei o que você está fazendo, Mac! Você sempre foi
um vira-lata covarde!
Pronto, isso deveria manter seu foco em mim, mesmo que tudo fosse
verdade.
Você não sabe NADA! Você se tornou frágil, assim como nosso domínio
entre os homens! Você não é NADA como seu pai!
O pensamento me fez rosnar, enviando o poderoso
descontentamento pela conexão.
Sobre isso, nós concordamos. Eu não sou nada parecido com meu pai!
Mac parou de cambalear para longe de mim, a ternura de sua lateral
demonstrando uma fraqueza clara.
Afinal, ele não era um ator tão bom.
Seus próprios soldados emergiram da lateral da casa, me cercando
enquanto eu olhava para a besta diante de mim.
A raiva me consumiu com doses saudáveis de nojo.
Eu deveria saber que oferecer a um dos homens de meu pai um
território neste continente seria um erro. Eu sabia.
Você não tem o suficiente, Mac, seu vira-lata avarento?
Seus homens começaram a se aproximar de mim, mas mantive meu
foco no lobo diante de mim.
Era ele quem me queria, e precisaria acabar comigo se quisesse o
poder que buscava.
O que VOCÊ saberia sobre ter o suficiente? Você nasceu com uma colher
de prata para limpar sua bunda! Você não saberia nada sobre ter que lutar
por tudo o que você tem... tudo caiu no seu colo!
Minha risada sangrou pela linha.
E você lutou pelo território que lhe dei... a posição que eu DEI a você?
Você fala sobre lutar por tudo o que você tem, mas UMA vez você foi grato
pelo que lhe foi concedido? Que existência triste... ter tudo o que você quer, e
ainda assim ansiar por mais.
Insatisfeito... incompleto... ingrato... NÃO MERECEDOR!
Houve uma explosão de raiva que se espalhou pela conexão, meus
sentidos aguçados, observando e esperando seus homens convergirem.
Covarde! —ELI disparei pela conexão.
Outra explosão de fúria cravou na conexão. Um lobo esgotado era um
alvo fácil!
Quando um sorriso apareceu no rosto de Mac como se ele tivesse
conquistado alguma vitória, prendi a respiração.
Isso exigiria todo o meu foco. Eu ainda tinha a vantagem.
Até agora, eu não tinha mostrado a nenhum deles que ainda tinha
uma fração de controle ao meu alcance. Quando ele atacasse, eu estaria
pronto.
Cada lobo que me rodeava se movia em sincronia, e eu os deixei.
Eles caíram sobre mim, cada um oferecendo seu peso como um meio
de me capturar debaixo deles, e eu não lutei.
Cada um seguindo uma ordem de um homem que eu conhecia tão
bem.
Ele era ganancioso, impiedoso, calculista e descuidado quando
pensava que tinha a vantagem. Muito parecido com agora.
Mac sabia que para ganhar o poder que ansiava, ele teria que ser o
único a acabar comigo.
Os soldados que carregavam seu peso sobre mim deveriam
simplesmente me segurar, nada mais.
Eu sorri e esperei minha vez. Ele deveria ter suspeitado que eu não
lutei contra seus homens.
Isso, ou ele realmente acredita que é muito superior
O homem possuía uma quantidade mortal de arrogância, mas apenas
um mínimo de percepção e foco.
Seu focinho disparou no ar, sendo meu pescoço seu alvo.
Quando ele se aproximou, enviei um rugido por uma conexão que
debilitaria os soldados que se amontoavam sobre mim, mesmo que fosse
por pouco tempo.
Aqueles que pensavam em me segurar como um sacrifício não tinham
mais forças para isso, seus corpos eram pouco mais que um peso morto.
Com uma poderosa coxa traseira, chutei o ponto fraco que Mac
carregava como uma medalha de honra.
Seus dentes agarraram meu pelo apenas momentos antes de seu uivo
de dor apertar sua garganta.
Com seu rosto tão perto, eu deixei minhas garras dianteiras se
alongarem enquanto eu golpeava e arranhava todo o rosto de Mac.
As garras afundaram e rasgaram sua pele, arrancando seu olho e
deixando-o nodoso e ensanguentado.
O sangue fluía livremente pelo rosto dele, escorrendo pelo meu pelo
em quantidades exorbitantes.
O preço de um ferimento na cabeça.
Mac uivou de dor, minhas garras enroladas e presas em seu rosto.
Arrancar seu rosto do meu aperto foi provavelmente uma das
experiências mais dolorosas que este homem já enfrentou, mas não seria
a pior.
Meus homens estavam se aproximando e ele sabia que seu jogo estava
chegando ao fim. Mac saiu de cena, correndo em direção ao lado íngreme
da colina.
O peso de seus homens em cima de mim me impediu de persegui-lo,
mas ele conheceria minha ira.
Meus próprios soldados me cercaram, levando os restos daqueles que
permaneceram sob custódia.
Assim que fiquei de pé, empurrei o lobo de volta.
Celeste, como ela está? Os meninos?
Houve uma pausa triste e meu coração disparou.
Eles estão vivos, mas ela...
Claro que ela viu o que aconteceu.
Acha que estou morto... Eu deixei o pensamento demorar.
Sim. ela falou pela conexão. Devo...
Não! Eu
não sei o que aconteceu comigo naquele momento, mas eu sabia que
era do interesse dela.
Não diga a ela o contrário.
Mas...
Eu joguei minha cabeça para trás enquanto inalava profundamente.
O que você acha que ela faria se você dissesse a ela que eu ainda estava
vivo?
Bem, eu não sei... talvez voltar e dar uma surra em você? Isso é o que quero
fazer por me dizer para não deixá-la saber que você está vivo.
Eu não pude resistir à risada.
Talvez... mas ela voltaria. Mac ainda está solto. É melhor mantê-la
afastada e acho que você só conseguirá isso se não contar a ela.
Quando ele não for mais uma ameaça, irei até ela.
Tem certeza disso
A incerteza refletia a minha, mas ela corria um perigo muito maior
aqui do que para onde eles estavam indo.
Não. Não, eu não tenho. Mas você deve saber que há alguém em nossas
patentes que estava trabalhando com ele. Não tenho certeza de como, mas
ela não pode estar aqui até que a gente resolva tudo isso.
A manhã estava começando a surgir no horizonte enquanto eu
observava do meu escritório.
Os eventos da noite passada passaram em minha cabeça, implacável
em sua busca para encontrar o traidor em meus homens.
Me deixou furioso saber que alguém entre eles estava espionando para
aquele bastardo ganancioso.
Inclinando-me para a frente na cadeira, assobiei audivelmente. A
lateral do meu corpo queimou com o movimento brusco, e bufei com o
aborrecimento de tudo isso.
Houve uma breve batida na porta. — Entre.
Eu me mexi na cadeira para aliviar a pressão da minha lateral
enquanto Carter passava pela porta.
— Pensei que iria te encontrar aqui, — ele me deu um sorriso um
tanto atrevido, mas havia algo solene em seu tom.
Resmungando, eu lancei a ele um olhar penetrante. — O que você
descobriu?
Respirando fundo, ele se sentou em uma cadeira na minha frente.
— Perdemos alguns. Principalmente os soldados emprestados de
Jackson e alguns das matilhas circundantes...
— Matilhas circundantes? — Como eu não sabia disso?
Os lábios de Carter se estreitaram quando ele os fechou. Quando ele
respondeu, havia ternura ali.
— Sim, matilhas circundantes. Jackson falou com as matilhas vizinhas
porque sabia que proteger você e nossa matilha era o melhor para eles.
Eles enviaram quase trinta homens cada... pode não ter parecido muito,
mas certamente balançou o controle da situação.
O músculo da minha mandíbula pulsou.
— E ninguém achou que valeria a pena me informar?
Carter sorriu, com um olhar astuto. — Por quê? Para que você pudesse
recusar a ajuda?
— Minha matilha, minha escolha!
— Sim, é por isso que optamos por não contar a você.
— Você pode ser meu melhor amigo, mas não é irrepreensível.
Quando ele riu, senti um pouco da raiva diminuir.
— Pode ter que esperar até que essa sua ferida se cure. Não posso
acreditar que você deixou alguém perto o suficiente para fazer esse tipo
de estrago.
Eu bufei. Ficamos sentados em silêncio por alguns momentos antes de
eu revelar minha maior preocupação. — Nem todos entre nós são
confiáveis.
Minha mão alcançou o copo de vodca na minha mesa. Levando-o aos
lábios, engoli seu conteúdo.
O rosto de Carter parecia magoado, muito parecido com o meu
quando descobri a verdade.
— Tem certeza? — ele finalmente perguntou. Todas as provocações e
brincadeiras deixaram suas palavras. Ele estava muito sério.
— Positivo. Aqueles homens sabiam que eu os tinha visto e invadiram
a propriedade assim que você e Sian deram a ordem. Não foi uma
coincidência.
De pé, me movi para encher meu copo de uma das muitas garrafas de
vodca que meus irmãos enviaram. Despejando o conteúdo mais uma vez,
me virei para ele.
— E não foi uma coincidência que fez Mac farejar minha porta.
Carter recostou-se na cadeira e olhou para o teto. — Eu estive
pensando sobre isso.
Ele respirou fundo antes de trazer a cabeça para frente mais uma vez.
— Eu fiz algumas investigações... A matilha de Gretchen reside em seu
território.
Essa era uma conclusão que eu estava pensando, mas o que não pensei
foi o que veio a seguir.
— O pai de Gretchen não foi morto por um selvagem... ele foi morto
por Mac.
Ele pressionou os dedos contra a ponte do nariz e suspirou.
— Não sei como, mas a conexão entre a matilha de Gretchen e o Mac
é muito mais profunda do que imaginamos.
Apoiando-me na mesa, massageei minha têmpora. — Parece que
temos trabalho a fazer.
Meus olhos passaram pelo calendário na minha mesa, observando que
a próxima lua nova ocorreria uma semana a partir de hoje.
Ela estaria pronta antes disso? Eu estaria?
Carter percebeu o que chamou minha atenção. — Ainda há tempo.
Embora ele tentasse parecer positivo, havia uma incerteza que não
deixei passar.
— Você e Sian estarão livres para cuidar de seus próprios territórios.
Eu só peço que você fique até que Brooke esteja segura... por favor.
Foi um pedido difícil, mas eu não podia mais pedir a eles que
permanecessem comigo em minha matilha quando fôssemos iguais.
Carter caiu na gargalhada e minha sobrancelha despencou em minha
testa.
— Você realmente acha que seu título de Alfa Superior é a única coisa
que nos manteve aqui?
Embora ele sorrisse para mim, estava claro que ele estava insultado.
Quando comecei a falar, ele interrompeu.
— Nós ficamos porque você é um bom homem, um líder justo.
Ficamos porque você se preocupa com seu povo e porque, juntos,
fazemos a diferença. Nós ficamos porque, não importa o que mais você
tenha ouvido, nós somos família.
Carter se levantou e caminhou até a porta que dava para a varanda,
acenando para que eu o seguisse.
Segurando a lateral de meu corpo, me movi para ficar ao lado dele. Ele
abriu a porta e me empurrou para dentro.
Abaixo, ao romper da madrugada, estavam os lobos de nossa pequena
cidade.
Cada um deles estava nos jardins abaixo enquanto apoiava os feridos,
ajudava no luto e levantava o ânimo uns dos outros.
Quando seus olhos encontraram o caminho para onde eu estava, meu
coração aqueceu.
A voz de Carter ecoou sobre a multidão: — Não há um de nós que não
estaria ao seu lado.
A multidão ecoou seu sentimento.
— Nenhum de nós deixaria de seguir sua liderança, apoiar sua causa
ou atender sua chamada. Nós somos sua família e você é nossa!
Aplausos explodiram abaixo de nós enquanto eu olhava para a matilha
que eu conhecia e amava.
Minha matilha... e fiquei honrado.
Carter bateu no meu ombro enquanto ficava ao meu lado.
— E não vamos a lugar nenhum.
Minha mão apertou seu braço. Eu não poderia pedir uma família
melhor.
Assim que Brooke e os meninos retomassem, estaria completo.
Capítulo 49
BROOKE

Os meninos corriam pelo quintal da casa para onde Celeste e Novac


nos trouxeram.
Era pitoresca e acomodava-nos bem o suficiente, com espaço de sobra,
mas estava faltando alguma coisa.
Cada vez que começava a notar aquela sensação de vazio, eu
procurava meus filhos.
Saindo para a parte de trás, o riso dominava o ar enquanto os meninos
corriam ao redor do quintal cercado.
O sorriso surgiu no meu rosto sem esforço, e eu aproveitei o
momento enquanto os observava correr ao redor do quintal perseguindo
um ao outro.
Foi bom vê-los felizes e despreocupados.
Esses momentos sempre pareciam um tanto passageiros.
A sensação dos raios quentes contra a minha pele era boa quando
segurei a grade e sentei no degrau mais alto.
O frio no ar trabalhou incansavelmente para anular quaisquer efeitos
de aquecimento que possam ter sido proporcionados pelo calor do sol.
Meus braços envolveram minha barriga para oferecer conforto,
embora não fosse tudo por causa do frio.
Fazia quase dois meses desde que topamos com as terras da matilha
de Slate.
Parecia estranho tentar me encaixar em um mundo sem os amigos
que eu tinha feito lá... sem Slate.
O mundo deles era muito diferente daquele que eu conhecia, mas de
muitas maneiras eu me apeguei ao modo de vida deles.
Eu me apeguei a eles.
Ultimamente, eu me peguei questionando se eles eram realmente tão
diferentes na maneira como viviam, tirando a coisa do lobo, é claro.
Mesmo agora, eu ainda estava em seu mundo enquanto observava
Aaron alegremente brilhar e se transformar antes de se lançar em seu
irmão.
Hayden riu e gritou quando eles rolaram no chão e Aaron mordiscou
suas roupas.
Eu ri baixinho enquanto os observava brincando um com o outro.
A aceitação e compreensão de suas diferenças era comovente e muito
maior do que eles imaginavam.
O mundo pode aprender muito sobre a humanidade simplesmente
observando as crianças brincando.
Os meninos rolaram e tombaram na grama seca de outono, cada um
deles vestindo mais grama do que eu acho que todo o quintal tinha.
Embora, mais do que tudo, os dois estivessem aproveitando o tempo
juntos na reclusão que este lugar proporcionava.
Embora Aaron e Hayden conhecessem as novas regras em relação ao
lobo de Aaron em público, eu ainda não pude deixar de sentir que tinha
que estar vigilante para mantê-los longe dos outros, pelo menos por
enquanto.
Celeste saiu para a varanda carregando uma xícara com um líquido
fumegante. Ela enfiou na minha mão antes de se sentar no degrau ao
meu lado.
Fazendo uma careta, cheirei o líquido ofensivo brevemente antes de
tossir involuntariamente. Coloquei a caneca a alguns metros de mim na
varanda.
Celeste franziu a testa. — Não é tão ruim!
Ela levou a caneca aos lábios, provando o líquido por si mesma.
Quando ela começou a tossir, eu ri.
— Certo, então talvez não seja o meu melhor momento.
Colocando a caneca no parapeito acima dela, ela acrescentou: —
Quem poderia imaginar que eu me arrependeria de não saber fazer um
bom bule de café?
Sorrindo, levantei-me e peguei as canecas contendo a substância
ofensiva que ela chamava de café.
— Por que não faço para nós algo mais... tolerável?
— Certamente, quem sou eu para impedi-la! — Ela se levantou e me
seguiu até a cozinha.
Novac ficou lá com desdém no rosto. Seus olhos estavam vidrados até
a porta dos fundos se fechar.
Ele acenou brevemente em nossa direção quando entramos.
Observando o olhar, fiz uma oferta que imaginei que ele não poderia
recusar.
— Estou prestes a fazer um novo bule de café, se você quiser.
— Graças à Deusa, — disse ele ansiosamente. — Essa coisa é pior do
que terebintina.
Celeste o fulminou com o olhar. — Você é livre para fazer o seu
próprio no futuro, você sabe!
Os dois agiam como irmão e irmã às vezes.
Eles não tinham medo de provocar um no outro e, certamente, não
eram fracos de coração para aguentar. Eles davam o melhor que podiam.
Jogando o líquido excessivamente amargo pelo ralo, os cabelos da
minha nuca começaram a se arrepiar e a sala ficou em silêncio.
Eu balancei minha cabeça e me virei para pegar os itens necessários
para fazer um bule de café decente.
— Vocês dois são piores do que os meninos.
Coloquei um filtro limpo na cafeteira e medi os grãos de café
apropriados que tomariam uma xícara mais apetitosa.
Finalmente, me virei para estreitar o olhar sobre os dois.
— Agora, desembucha!
Eles lançaram um rápido olhar de culpa antes de se virar para mim.
Novac balançou a cabeça e baixou o olhar para os pés.
— Existem apenas algumas coisas que é melhor você não saber, — ele
disse suavemente.
Minhas sobrancelhas se ergueram drasticamente, ameaçando
transbordar do meu couro cabeludo.
— Oh, — eu disse com veemência, — você quer dizer como não saber
que meu marido é um lobo, que passou o gene para meu filho? Ou talvez
entender como funcionam as matilhas e como era necessário ter meu
filho como parte de uma? Ou talvez sobre todas essas coisas de
companheiro, e como isso tirou meu marido de mim?
Eu zombei.
— E veja como tudo acabou bem porque ninguém pensou em me
contar!
Talvez eu estivesse um pouco amarga, ou muito. Nenhum deles
merecia minha ira e eu sabia disso.
Não era o que eu sabia que era o problema. Foi o que eu não sabia que
causou mais reviravoltas na minha vida.
Novac se mexeu nervosamente, mas finalmente encontrou meu olhar.
— Eu não quis ofender. Minhas ordens eram simples. Mantê-la
segura. Receio não ter mais nada a oferecer, — disse ele se desculpando.
Balançando a cabeça suavemente, lamentando minha explosão
enquanto dava um sorriso tenso. Foi o melhor que pude oferecer.
Novac assentiu em reconhecimento e saiu da sala para o quintal, onde
pequenas explosões de risadas ainda ecoavam.
Celeste foi para trás de mim e colocou as mãos no meu ombro.
— Ele tem boas intenções, mas nenhum de nós tem muita experiência
em viver com humanos que não sejam metamorfos. Descobrimos que
não é tão fácil!
Ela me lançou um sorriso torto.
— Só porque todos vocês gostam de esconder seus segredos, —
resmunguei.
Celeste soltou uma risada.
— Vale a pena guardar alguns segredos. Quero dizer, você realmente
quer saber o que se passa na cabeça de Novac o tempo todo?
Ela deu um falso estremecimento para enfatizar seu ponto.
A cafeteira apitou, informando que a bebida estava pronta, e Celeste
moveu-se para pegar mais três canecas.
Pensei em tentar arrancar mais informações dela, mas ela não era
nada, se não previsível.
Quando havia algo que ela queria que eu soubesse, ela me contaria.
Ela não era o tipo de pessoa que poderia ser convencida a lhe dizer algo
que não estava pronta para lhe contar.
Do outro lado da janela sobre a pia, os meninos corriam um atrás do
outro.
Um riacho de grama seguiu seus passos enquanto a grama seca se
desprendia de suas roupas. Celeste colocou outra caneca na minha mão.
— O que vamos fazer agora, Celeste?
Era a mesma pergunta que eu havia feito nos últimos três dias, desde
que chegamos aqui.
Celeste deu um gole audível e respondeu: — Esperar.
E essa era a mesma resposta todas as vezes. Para evitar mais
comentários, ela pegou a caneca extra de café do balcão e voltou.
Embora tenha sido bom ter os dois aqui para mim e para os meninos,
nenhum dos dois era muito rápido com informações.
No entanto, havia alguém sem filtro que eu conhecia. Pegando o
celular, pressionei o número e prendi a respiração.
— Brooke?
— Pamela!
Era ótimo ouvir a voz dela. Embora eu já soubesse que muitos do
bando sobreviveram, eu também estava ciente de que havia outros que
não conseguiram.
Meu coração apertou. — Puxa, é bom ouvir sua voz.
— Como sentimos saudades de todos vocês! Os meninos estão
implorando para ver todos vocês.
Parecia tão surreal estar tendo essa conversa com ela, como se nada
do que eu testemunhei tivesse acontecido. E, no entanto, eu ansiava por
um pouco de normalidade.
— Isso seria ótimo, mas é tão longe.
Eu praticamente pude ouvir a mulher encolher os ombros. — Vale a
pena. Então, conte-me sobre este lugar. Há espaço para todos nós?
Rindo, descrevi a casa e o quintal.
Havia bosques que delimitavam a parte de trás do nosso quintal que
tomaria mais fácil para Aaron correr com seu lobo se ele precisasse.
Na verdade, em mais de uma noite, Celeste e Novac o levaram para
correr. Eles o advertiram mais de uma vez para nunca ir sozinho.
Novac estava sempre por perto, e só percorria o perímetro quando
sentia que Celeste estava à altura da tarefa de estar alerta.
— Aqueles dois são como um casal de velhos. Se Novac não tivesse
uma companheira ainda, eu suspeitaria que os dois poderiam ser.
Pamela sempre foi romântica, mas tinha um nariz bom.
— Você não deveria falar tão alto! Se aqueles dois ouvirem você falar
tal blasfêmia...
Eu deixei minhas palavras sumirem com a sugestão de um motim
engraçado. Era bom conversar com ela. Era bom rir. Era bom me
conectar com aqueles momentos que me aproximaram do Slate.
Uma tortura agridoce.
— Eh, — Pamela riu. Quando ela ficou em silêncio, pude sentir as
palavras vindo a seguir. — Como você está, Brooke?
Prendi a respiração enquanto procurava as palavras para respondê-la.
Finalmente, eu exalei.
— Eu não sei, — eu admiti fracamente.
Pamela não disse nada, mas me permitiu preencher o espaço.
— Eu não tenho mais certeza de como me sentir sobre nada. Passei
meus dias vivendo indiretamente por meio de meus filhos, tentando
apegar-me à alegria deles como se fosse minha. Quando eu olho para
eles, quase consigo esquecer tudo, sabe?
— Eu posso simplesmente levar tudo de momento a momento. Mas
que tipo de vida é essa? Porque no momento em que estou sozinha, tudo
volta rastejando. No momento em que não estou fechando tudo
diligentemente para fora da minha cabeça, ele desaba sobre mim.
As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e as enxuguei com
raiva.
— Como devo me sentir depois de perder meu marido, a família que
conheci, o homem que amo, o...
Pamela arfou e eu hesitei, repetindo minhas palavras em minha
cabeça. Minha voz parou e meu coração gaguejou.
— Ele sabe?
A pergunta perfurou meu coração em dois.
— Não, — eu respirei. — E agora ele nunca vai saber.
Não havia mais nada a dizer. Sem nem mesmo murmurar um adeus,
apertei o botão de desligar e desabei no chão.
Capítulo 50
BROOKE

No dia seguinte, estávamos todos de volta às nossas mesmas rotinas.


Novac caminhou pelo perímetro, Celeste fez sua tentativa em fazer
café e eu sentei na varanda vendo meus meninos brincarem.
Embora as tentativas de Celeste tenham melhorado
significativamente, ainda era difícil tolerar o gosto amargo do café que
ela preparava.
Especialmente porque eu não era uma grande apreciadora de café, de
qualquer maneira.
Esta manhã, os meninos estavam inspecionando as maravilhas
naturais dos insetos!
Sim, aquelas criaturinhas lindamente viscosas que tendem a fazer
minha pele arrepiar. Fiquei feliz em assistir à distância.
Aaron cutucou o espécime mais de uma vez, para grande
consternação de Hayden.
— Pare de fazer isso! — Hayden mais uma vez repreendeu Aaron por
colocar seu dedinho na barriga do inseto.
— Por quê? — Ele franziu a testa para Hayden. — É apenas um inseto.
Hayden cruzou os braços sobre o peito e pressionou a boca. — Ele tem
tanto direito de estar aqui quanto você!
Esse é o meu pequeno Hayden.
— Ele se move tão devagar, — Aaron reclamou.
Hayden fez uma pausa, a mágoa brilhando em seus olhos. — Eu
também, — ele murmurou.
Ele colocou os cotovelos sobre os joelhos e colocou a cabeça entre as
mãos.
Aaron parecia confuso e comecei a abrir minha boca. No final, nunca
precisei dizer uma palavra.
— Você gostaria de ser como eu?
Hayden passou a manga da camisa pelo rosto e minha mão
pressionou meu peito.
— Não, — ele disse. — Você é bom nisso. Eu só quero ser bom em
alguma coisa também.
Aaron bateu com o ombro no dele. — Ei, você sabe no que você é o
melhor?
A resposta de Hayden foi um aceno de cabeça.
— Você é o melhor irmão que eu poderia ter! — Aaron se levantou em
um piscar de olhos. — Peguei! Está com você!
Dentro de instantes, o quintal explodiu em gargalhadas quando
Hayden e Aaron começaram a perseguir um ao outro.
Era evidente que Aaron estava deixando Hayden vencer para levantar
seu ânimo, e me lembrei mais uma vez de como aqueles meninos eram
incríveis.
Assim que soltei um suspiro melancólico, desejando ser tão jovem e
despreocupada, Celeste se sentou ao meu lado com um telefone na mão.
— Aqui está, — disse ela. Seu tom era indiferente, mas quando não
era?
Oh sim, quando ela e Novac se enfrentavam.
Eu segurei o telefone no meu ouvido. — Alô?
— Ei, Brooke!
Um sorriso temo apareceu em meus
lábios. — Mark. Olá.
Havia uma pergunta em meu tom que seria inconfundível.
— Sim, — ele começou. — Eu só queria ver se está tudo bem com
você... e com os meninos, é claro!
— Oh, sim. Claro. Estamos muito bem, de verdade.
Já era ruim eu baixar a guarda com Pamela, não ia deixar isso
acontecer de novo.
— Isso é ótimo, Brooke. — Ele fez uma pausa, sem saber o que dizer a
seguir.
Sentindo pena dele, continuei. — Celeste me disse que você ficou em
Lunar Ridge?
Eu quase podia sentir o constrangimento irradiando dele pelo
telefone. — Uh, sim.
— Oh, não era isso que você queria fazer?
— É que...
Ele tirou um grande fôlego de seus pulmões.
— Muitos de nosso bando morreram naquela noite. Gretchen e eu...
nós ficamos para... eu fiquei para treinar com Sian. Eu precisava ficar mais
forte, aprender a lidar com meu lobo. O bando de Lunar Ridge estava
mais equipado para me ajudar com isso. Não são muitos os bandos que
toleram o início tardio.
Ele falou com um toque de constrangimento.
— Se eu não posso dominar o vínculo entre meu lobo e meu humano,
o que resta de nossa matilha terá pouco ou nenhum respeito por mim.
Eu não poderia fazer isso com Gretchen. Ela merece um companheiro
forte.
Se eu achasse que ele poderia estar ligando por qualquer outro
motivo, aquela explicação logo dissiparia tudo.
Naquele momento, não me senti magoada, nem ciumenta.
Naquele momento, fiquei orgulhosa dele. Ele tinha sido meu melhor
amigo por tanto tempo, e eu queria o melhor para ele.
Sua decisão de ficar com a matilha de Lunar Ridge foi uma que tomou
por sua companheira, por respeito a ela e ao que restava de seu povo.
— Por que tantos morreram?
Embora eu fizesse a pergunta, descobri que na verdade não queria
saber a resposta.
Pela longa pausa na linha, ele não tinha certeza se queria me dizer.
Finalmente, ele suspirou.
— Brooke, eles faziam parte do grupo de lobos que atacou Lunar
Ridge.
Quando ele disse essas palavras, fiquei sem fôlego.
Lembrei-me do que ele me disse no jardim, mas nunca pensei que eles
iriam tentar pegar o bando inteiro.
Por um longo momento, nenhum de nós falou até que eu não
aguentasse mais o silêncio.
— Eles estavam atrás de Slate, — eu resmunguei.
Pelo telefone, quase pude vê-lo assentindo antes que percebesse que
não podia vê-lo. Quantas vezes eu o vi fazer isso na última década?
— Lobos atacam fraqueza, Brooke.
O que ele estava tentando me dizer?
Foi a minha vez de balançar a cabeça para olhos que não veem. Minha
mente girou com esta informação.
— Isso não pode ser verdade. Slate não era...
— Por mais que eu desejasse poder negar, é verdade. Você é a fraqueza
dele, Brooke.
A raiva passou por mim, deixando-me furiosa no telefone. Quando
encarei Celeste, que estava ao meu lado, ela desviou.
— Acho que preciso desligar, — murmurei ao telefone.
Quando terminei a ligação, olhei para Celeste. — O que ele quis dizer?
Ela correu as palmas das mãos sobre a calça jeans, observando seu
movimento.
Por alguns minutos, ela continuou a observar o movimento antes de
finalmente decidir falar.
Inspirar até encher os pulmões de ar era algo que meu marido
costumava fazer quando precisava de um momento para organizar seus
pensamentos.
— Certo. Provavelmente deveríamos voltar ao início. Veja, meus
irmãos foram amaldiçoados.
— Amaldiçoados? — Coisas assim existiam? — Sua família? Como
isso...
A campainha tocou, interferindo em nossos pensamentos. Nos
entreolhamos com curiosidade enquanto nos levantamos para entrar na
casa.
Antes que eu pudesse voltar para a cozinha, a campainha tocou
novamente.
Cada uma de nós se inclinou em direção à entrada da cozinha para
olhar para a porta da frente. Celeste respirou fundo mais uma vez.
— Merda.
A sombra por trás de uma das janelas laterais da porta da frente
parecia ser feminina. Nada parecia fora do lugar.
— O que há de errado?
Celeste saiu disparada pela porta dos fundos, onde os meninos ainda
estavam brincando. — Novac!
— Eu não entendo, — eu disse enquanto corria atrás dela, mas ela me
parou.
— Atenda a porta da frente. Vou verificar Novac.
— Ele está com problemas? E os meninos?
Minha voz quase falhou quando empurrei o volume além de um
sussurro.
— Eu cuido deles.
A porta se fechou entre nós e tentei respirar para me acalmar
enquanto resistia à vontade de segui-la.
Quando a pessoa bateu com força contra o vidro, eu hesitei. Com um
esforço forçado, dei passos rápidos para a porta da frente.
Quanto mais cedo eu me livrasse de nosso visitante, mais cedo
poderia ir para os meus meninos.
Praticamente escancarando a porta, tentei me recompor.
A mulher que estava na porta era talvez um pouco mais velha do que
eu e tinha um par incrível de olhos verdes.
— Oh, estou tão feliz que está em casa. Eu esperava conhecer meus
novos vizinhos.
Ela sorriu abertamente a ponto de eu achar que isso poderia dividir
seu rosto ao meio.
Eu fiquei perplexa. Estávamos no meio do nada.
Alertas começaram a surgir e eu me vi olhando por cima do ombro
para a parte de trás da casa.
Quando voltei minha atenção para ela, fiz uma careta.
— Acabamos de nos mudar e vocês são as pessoas mais próximas que
podemos chamar de vizinhos, — disse ela, como se pudesse ler minha
mente.
Na frente dela, ela ergueu uma cesta de flores que eram um arranjo
estranho, parecendo mais com ervas daninhas do que flores reais.
A mulher parecia amigável o suficiente, mas aqueles alertas estavam se
tomando sirenes muito rapidamente.
Minha atenção estava sendo dividida entre esta mulher e o quintal
onde meus filhos estavam.
Ela colocou a mão enluvada entre nós, dando-me um sorriso largo e
encorajador.
— Meu nome é Gwen, — ela ofereceu.
Por um momento, não pude fazer nada mais do que olhar para a mão
dela. As sirenes soaram ruidosamente e eu lutei contra o decoro comum.
No final, cedi.
Estendendo minha mão dominante, tentei ser agradável antes de dar
minhas desculpas.
— Prazer em conhecê-la. — As palavras saíram mais de civilidade do
que de qualquer verdade.
— Eu sou Brooke.
A mulher apertou minha mão usando aquelas luvas de jardinagem de
borracha, e um sorriso estranho apareceu em seu rosto.
— Receio estar muito ocupada e espero que você me perdoe. Talvez
mais tarde?
A mulher ainda segurava minha mão e estava começando a ficar
desconfortável. Seu sorriso cresceu, assim como minha ansiedade.
Tentar soltar minha mão foi inútil, mas não me impediu de tentar.
Ela podia ser um pouco mais velha, mas era muito mais forte.
Quando me afastei dela, fiquei alarmada ao vê-la dando um passo à
frente, entrando na casa comigo.
— Você achou que eu iria deixar todos vocês fugirem?
Um medo repentino se apoderou de mim e começou a me sufocar.
Aqueles olhos!
Como o lobo que me atacou. Aparência não natural em sua cor. O
pânico começou a tomar conta de mim e minha respiração tomou-se
ofegante.
— O que você quer? — eu respirei.
Já tínhamos passado bem pela soleira e ela largou a cesta de flores e
fechou a porta com o pé.
Quando ela finalmente soltou minha mão, eu a puxei para o meu
peito e esfreguei a área que ela segurou com força.
— Ora, eu quero tudo, é claro.
Sua voz vibrou com seu entusiasmo, atraindo os desavisados a um
falso momento, mas eu sabia que era tudo uma ilusão.
— Sua casa, sua matilha, todos os seus territórios! E eu quero que ele
pague pelo que ele fez!
Engoli em seco, o nó no estômago e na garganta se tomando um
obstáculo para respirar normalmente.
Minha boca se abriu para discutir com ela. Para que ela soubesse que
estava perdendo tempo.
Slate estava morto.
— Você chegou tarde demais... — Minha voz chegou aos meus
próprios ouvidos, soando triste e quebrada.
Quando a porta dos fundos bateu, os olhos da mulher passaram por
mim e ela sorriu mais uma vez.
— Tire suas mãos de mim, Mac!
Girando em meus calcanhares, meus olhos pousaram em um homem
bestial.
O homem com olhos de topázio, exceto que agora um lado de seu
rosto estava retalhado e sensível, com um buraco onde um de seus olhos
costumava residir.
A came cicatrizada se movia através de suas características da testa ao
pescoço, e expunha sua mandíbula entre tiras de pele.
Embora sua aparência me deixasse nauseada, foi o que ele estava
fazendo que fez meu sangue gelar.
Sob um de seus braços, um contorcido Hayden tentava se livrar das
garras do homem.
Agarrado com força na mesma mão, Aaron se debatia enquanto suas
sobrancelhas baixavam confortavelmente sobre os olhos e seus lábios se
contraíam.
Celeste foi empurrada para a frente com a mão livre enquanto ela
gentilmente cobria um corte em seu braço que era uma evidência de que
ela não veio por vontade própria.
No meu coração, eu sabia que ela não faria nada que pudesse
prejudicar os meninos, o que significava que suas mãos estavam
amarradas.
— Ligue para ele! — Eu me virei dando a ela um olhar surpreso.
— Ligar para ele? — A confusão torceu meu rosto enquanto eu olhava
de um para o outro.
Ela soltou um suspiro que soou como se ela quisesse rir. — Ligue para
ele, — ela repetiu seu comando.
O telefone em meu bolso parecia pesado quando meus dedos se
apertaram ao redor do dispositivo. Quem quer que ela quisesse que eu
ligasse, eu ligaria!
— Ligar para quem? Para quem você quer que eu ligue?
Quando o tirei do bolso, a mulher começou a rir.
— Não você, — ela zombou de mim. Ela se virou para Aaron. — Ligue
para ele!
Aaron rosnou para a senhora, com toda a intenção de não ceder às
suas exigências.
Mac soltou a mão de Aaron e suas garras se estenderam.
Puxando Hayden para encará-lo, ele deixou uma das garras afundar
no ponto sensível na base do pescoço.
Hayden gritou quando a garra perfurou a carne e o sangue se
acumulou ao redor da reentrância.
— Pare! — Celeste e eu gritamos.
O dedo do homem parou e Hayden choramingou.
— Você não precisa do menino. Eu posso ligar para ele, — disse
finalmente Celeste.
— Do que vocês estão falando? — Meu coração trovejou no meu
peito. — Celeste, o que você...
Celeste não disse nada, apenas olhou para a mulher.
Quando ouvi o pequeno soluço de Hayden, fiquei furiosa.
Solte-o! — Eu gritei.
Atacando o homem grande e corpulento, joguei meus punhos contra
ele antes de tentar desesperadamente arrancar Hayden de seu captor.
Os olhos de Aaron estavam enormes e ele parecia incerto sobre o que
fazer.
Para cada golpe, o homem rosnava. A pressão de seu dedo aumentou
em advertência e parei meus esforços.
Aaron correu para meus braços.
Gwen caminhou até Celeste, deixando seu corpo ficar a centímetros
do dela e permitindo que sua respiração soprasse sobre o rosto de
Celeste.
— Então, — ela a cheirou, — prima? Irmã? Tia? Onde você se encaixa?
Celeste me deu uma rápida olhada antes de retomar um olhar
melancólico para a mulher.
— Irmã. Solte o menino.
Irmã? Irmã de Slate? Como eu não sabia disso?
— Não. Eu quero que o menino ligue para o Alfa Superior. E mais
poético que sua vida termine com a ligação de um inocente. A honra não
tem lugar entre os lobos!
Aaron sacudiu a cabeça para a mulher, confusão e dor marcando
linhas profundas em seu rosto.
O homem com Hayden se afastou de nós, afastando-se vários metros.
— Slate está morto, — eu disse fracamente. — Meu filho não pode
ligar para um homem morto.
A mulher riu maliciosamente.
— E isso que eles te disseram, — ela perguntou, olhando para Celeste.
— Você realmente deixou a garotinha acreditar que seu príncipe
encantado estava morto?
Minha cabeça virou para onde Celeste estava, mas ela se recusou a
olhar para mim.
Não importa. Eu sabia a resposta.
A mulher à minha frente estava gostando muito disso, e Aaron se
agarrou com força a mim.
— Por que você faria isso? Por que você pediria ao meu filho para fazer
algo tão horrível? Isso é... sádico.
Eu apertei sua pequena forma contra mim, sentindo sua agitação
interna na maneira como ele ficou rígido.
— Porque eu sei que você vai tentar avisá-lo.
Embora ela tenha respondido minha pergunta, foi com Celeste que
ela falou. Pegando sua mão enluvada, ela cobriu a boca e o nariz de
Celeste com ela.
Os olhos de Celeste se arregalaram e seu corpo caiu no chão antes que
ela tivesse a chance de se afastar.
A mulher sorriu para o corpo mole a seus pés.
— Cicuta e acônito. Meus presentes favoritos de boas-vindas.
Arrastando Aaron atrás de mim, fomos em direção à Celeste e nos
ajoelhamos ao lado dela.
— O que você fez?
A mulher olhou para mim como se não fosse nada importante.
— Ela vai dormir um pouco... isto é, até que seja hora de se livrar de
todos vocês.
Ela baixou a voz com um sorriso impertinente no rosto.
— Eu realmente preferia que ele estivesse aqui para testemunhar o
massacre de sua família.
— Mas por que...?
Achei que tivesse deixado toda essa loucura em Michigan quando fui
embora. No entanto, ela ainda nos encontrou.
Naquele momento, não pude deixar de me perguntar para onde
Novac tinha ido. Talvez ainda houvesse uma chance.
A mulher olhou para mim, ódio enchendo a sala como se ela o
expulsasse de seu próprio ser.
— Porque ele matou meus filhos! E eu pretendo causar muita dor antes
de acabar com ele.
Com desprezo, ela voltou seu olhar mais uma vez para Aaron.
— Agora, ligue para ele.
Assim que os olhos de Aaron começaram a ficar vidrados, ela o
interrompeu.
— E se você avisá-lo —ela acenou com a cabeça em direção a
Hayden... — aquele irmão mais novo que você está tentando proteger vai
perder um olho.
Aaron acenou com a cabeça fracamente, então deixou seus olhos
vidrados.
Capítulo 51
BROOKE

Aaron e Hayden estavam aninhados no sofá rústico no meio da sala,


enquanto Celeste estava deitada ao lado dele com a cabeça apoiada em
um travesseiro.
Eles estavam à vista de todos e foi intencional.
O homem chamado Mac nunca se demorou muito, nos observando
como se fôssemos sua próxima refeição.
Quando eu pegava seu olhar demorado em mim, seu rosto nodoso me
fazia estremecer.
O primeiro estremecimento foi muito claro para ele, e isso fez seu
rosto ficar sombrio e zangado.
Desde então, tentei controlá-los para evitar que seus rosnados e
grunhidos assustassem os meninos.
Aaron tinha feito o que exigiam dele, e Mac parecia muito disposto a
impedi-lo de fazer muito mais.
Assim que Aaron mandou a mensagem, ele rapidamente colocou um
dispositivo em seu pescoço para impedi-lo de fazer algo além disso.
— O que você está fazendo? — eu gritei, lutando contra este homem
bruto.
Com uma fúria dentro de mim que eu não sabia que poderia possuir,
eu o arranhei e agarrei para impedi-lo de tocar em meu filho.
Rosnando, ele me empurrou com força. Meu corpo caiu com um
baque duro contra o piso de madeira antes de deslizar alguns metros.
Ficando de pé, estremeci.
Era tarde demais para lutar contra ele, pois o ato estava feito.
Uma sensação nauseante se instalou na boca do meu estômago
enquanto eu me movia ao lado do sofá.
Sentando ao lado dele, empurrei as mechas douradas de sua cabeça.
— Você é uma besta, — eu rosnei para ele.
O homem olhou para mim enquanto ele estava em cima de mim.
— Não podemos permitir que ele diga muito àquele seu homem,
podemos? — Ele zombou.
Ele se ajoelhou um pouco mais abaixo e agarrou meu queixo para que
eu o olhasse bem de frente. O estremecimento passou por mim e ele riu
ameaçadoramente.
— Não sei o que gostaria de fazer primeiro. Profanar você na frente
daquele idiota arrogante, ou estragar aquele rosto bonito como ele fez
com o meu.
O homem moveu a cabeça para o lado para que eu pudesse
testemunhar todos os detalhes no osso e tendão que estavam
selvagemente expostos, o branco puro do osso vívido entre o vermelho
choroso da carne retalhada.
Minha pele se arrepiou.
— Chega, Mac, — Gwen gritou contra a parede.
Mac estreitou os olhos sobre ela antes de resmungar. — Você não dá
as cartas aqui, mulher.
Ele disse isso como se fosse algum tipo de calúnia, e a expressão no
rosto dela me fez acreditar que sim.
Rosnando para ele, ela disparou: — Não se esqueça de quem trouxe
você aqui, Mac!
A contragosto, Mac voltou para seu posto de vigilância, nos
observando enquanto ele se empoleirava contra a porta da cozinha.
Ele claramente não tinha medo de ser visto, as muitas janelas dariam a
qualquer um uma visão clara de onde ele estava.
A sala ficou em silêncio e eu me inquietei. Se Novac estava tentando
alcançá-los, seria melhor se estivessem distraídos.
E quanto ao Slate?
Meu estômago vibrou, mas meu coração se recusou a pensar muito
sobre a ideia.
— Como você sabia onde nos encontrar? — Se eu pudesse mantê-los
falando, talvez fosse o suficiente.
A risada de Gwen irritou meus nervos. — Eles realmente não falaram
sobre mim?
Ela se afastou de mim enquanto continuava.
— Quer dizer, eu sabia que você era ignorante de muitas coisas.
Sua voz quase jorrou sobre a palavra muitas como se ela estivesse
saboreando o gosto dela em sua língua.
— Gretchen disse a você. — Falei baixo e deixei as palavras
simplesmente saírem da minha boca.
A mulher praticamente gargalhou, enquanto Mac deu uma risada
baixa. Os dois estavam loucos, doentes da cabeça.
— Eu acho que você superestima aquela criatura idiota!
Ela deixou muito claro seus sentimentos em relação à enteada, e eu só
podia imaginar que tipo de infância ela ofereceu a Gretchen.
Ela sacudiu a cabeça. — Mac é um gênio da tecnologia.
Mac resmungou baixo: — Você sabe quando ficar quieta?
Gwen deu de ombros, desinteressada em sua opinião.
— Não é como se ela pudesse fazer algo com o que eu digo a ela, — ela
respondeu.
Ela se inclinou conspirativamente e Mac bufou. — Sabe, seu amigo
Novac, ele tem sido um menino tão levado.
Minha respiração ficou presa na minha garganta. — Novac?
A mulher assentiu, rindo enquanto observava a expressão de dor em
meu rosto.
— Oh, não fique tão chocada, — ela riu. — Não é como se ele soubesse
ou algo assim.
O dispositivo no pescoço do meu filho piscou, chamando minha
atenção.
— Um rastreador, — eu questionei.
Ela sorriu, um olhar apreciativo em seu rosto. — Agora você está
chegando perto!
— Onde ele está? — As emoções guerreavam dentro de mim.
Mac grunhiu de onde estava.
— Se você está esperando que ele venha e te salve, você vai esperar
muito tempo.
Ele disse isso com uma satisfação que fez minha pele arrepiar.
Gwen sorriu, uma satisfação presunçosa estampada em seu rosto.
— Aqueles ferimentos na cabeça são bem desagradáveis. Ora, eu não
ficaria surpresa se o menino já tivesse sangrado até a morte.
Seu tom condescendente em relação a Novac fez minhas mãos
apertarem.
Aquele pequeno pedaço de esperança a que eu estava me agarrando
desapareceu. Quem eles estavam esperando para aparecer era a única
esperança que tínhamos.
Mas isso significava ter fé de que Slate ainda estava vivo.
— Você sabe, mesmo se Slate estiver vivo...
Quando eu disse isso, a mulher deu uma risadinha. Eu comecei de
novo.
— Mesmo se ele estiver vivo, ele está em Michigan. Quanto tempo
você espera nos manter aqui?
Deixei meus olhos se moverem ao redor da sala, observando suas
reações, tentando captar qualquer coisa que pudesse ser uma fraqueza ou
de que eu pudesse tirar vantagem sem levantar qualquer suspeita.
A mulher encostou-se na parede em ângulo mais próximo da porta da
frente. Sem muita emoção, ela murmurou.
— Sua vida está em uma corda bamba, por que desperdiçá-la com
questões mundanas ou coisas que você já sabe?
Eu me lembrei das palavras dele... não há como me manter longe de
você.
Meu coração gaguejou.
Sem perguntar, Gwen continuou.
— Por que não perguntar sobre aquela maldição terrível que trouxe
você para Slate? Essa é uma verdadeira tragédia!
Ela levou a mão ao peito, como se quisesse expressar pena. Poderia ter
sido um gesto cativante se fosse para outra pessoa.
Meu olhar se direcionou para Celeste antes de voltar para descansar
nos meus meninos adormecidos.
Ela estava conduzindo a conversa por um caminho de sua escolha, e
eu estava preocupada sobre onde isso iria terminar.
Então decidi mentir e mudar o percurso.
— Eu já sei disso. Por que sua matilha atacou a matilha de Serevolk?
A risada rolou pela sala quando Gwen quase se curvou de tanto rir e
Mac achava tudo divertido.
Quando a mulher finalmente soltou a última de suas risadas às
minhas custas, ela suspirou alto.
— Se você sabe sobre a maldição, você sabe por que nossos bandos
atacaram. Então, qual é? Você sabe, ou você apenas mentiu para mim?
As últimas palavras saíram como um sorriso de desdém.
Eu balancei minha cabeça. — Vocês acharam que ele estava fraco, que
estava perdendo seus poderes como Alfa Superior, mas...
Mas claramente eles estavam errados. A julgar pelo rosto de Mac, até
ele o subestimou.
— Mas vocês se enganaram, — eu terminei.
A mulher ergueu uma sobrancelha para mim enquanto seu tom se
tomou condescendente.
— Não, criança. É aí que você se engana.
Ela saiu de sua posição na parede e caminhou vagarosamente pela sala
de estar.
— Veja, almas gêmeas, yamala jyoti. companheiros predestinados... como
você
quiser chamá-los... eles são muito sagrados. Se tivermos a sorte de
encontrar o nosso e completar o vínculo de acasalamento, isso nos toma
poderosos. Uma coisa incrível.
Os passos que dava em tomo do sofá a cada passada eram exagerados,
ameaçadores.
— Mas, você... você era a companheira predestinada dele. Uma
humana ela zombou.
Ela estendeu a mão e roçou os dedos no meu ombro. Seu olhar seguiu
seu toque como se ela estivesse me avaliando.
— Uma vez que ele tocou em você, ele selou seu destino. A contagem
regressiva começou: duas luas novas para completar o vínculo de
acasalamento.
Seus dedos dançaram até o final do meu ombro, mas eu me segurei.
— Meio romântico, de uma forma irritantemente sentimental. Uma
lua para ele, a próxima para você.
O homem no canto da sala grunhiu. Quando ele se moveu, ele olhou
para o relógio.
— Não vai demorar muito agora, Gwen.
Suas palavras a fizeram olhar para seu próprio relógio. — Parece que
sim.
O crepúsculo havia começado a cair, e a varanda da frente agora
estava na sombra. Se ele chegasse logo, devia estar por perto.
Não há como me manter longe de você.
Tentar inspirar profundamente parecia de repente muito pesado.
Quando Mac reconheceu que Slate estaria lá em breve, isso enviou um
pânico através de mim que quase se espalhou por cada parte de mim que
podia sentir.
A distração pode ajudar a atrasar o inevitável, ou talvez apenas até que
eu possa descobrir outra coisa.
— Não houve duas luas novas ainda, — eu comentei.
Ela parecia muito pronta para me ensinar sobre o assunto, então
parecia tão bom quanto qualquer outro para ocupá-la.
Gwen riu como se acreditasse que eu fosse a pessoa mais ingênua do
planeta.
— Não importa. Ele deveria ter acasalado horas depois de conhecê-la,
mas você é uma humana chorona e frágil. Uma maldição! Se ele fosse
parecido com seus irmãos, ele teria zombado de sua humanidade e
levado você no local. Mas ele tem um ponto fraco pela humanidade.
Ela se inclinou sobre mim com um sorriso zombeteiro.
— Isso é o que o tomou fraco!
Eu tive que conter minha raiva. Eu precisava ficar com a mente lúcida
se quisesse fazer isso.
Minhas pernas se moveram com mais firmeza sob mim, eu me
preparei para fazer um movimento se a oportunidade surgisse.
— Ser humana não me toma frágil!
Um gemido veio a alguns metros de distância, e Celeste começou a se
mexer, mas mantive meus olhos fixos na mulher ao meu lado.
Meus meninos ainda estavam enrolados no sofá, suas testas se
tocando enquanto aparentavam estar dormindo.
Eu poderia mantê-los seguros? Não importa o que eu fizesse, havia um
risco.
— Todos os irmãos foram amaldiçoados com companheiros humanos
pela própria deusa da lua. Um presente invocado por seu avô por causa
de como seu próprio filho se sentia em relação aos humanos... não
apreciava sua fraqueza e insignificância. Se o pai de Slate desprezava a
humanidade, como ele poderia te amar de verdade?
O golpe pretendido acertou o alvo, parecendo um soco no estômago.
Nos últimos dias,
Eu acreditava que o homem estava morto e ninguém pensou em me
corrigir. Ele queria que eu pensasse que ele estava morto.
Mas por quê?
Tudo o que ele fez por mim e minha família, ele fez para nos proteger.
Ele fez isso para nos manter seguros.
Se fosse esse o caso, agora não seria diferente.
Um leopardo não muda suas manchas, assim como um lobo não
muda de ideia.
Não, ele fez isso para me proteger, o homem obstinado e arrogante.
Nenhuma palavra poderia expressar minha ira por esta mulher: ela
havia deixado seu olhar deslizar para Celeste, cujos movimentos
chamaram a atenção de ambas.
Saltando de onde eu estava sentada, agarrei seu cabelo loiro e puxei
para trás com força.
Eu sabia que Mac estaria em mim em questão de segundos, mas estava
determinada a obter minha grama de carne dela.
Gwen engasgou antes de começar a gargalhar. — Pobre humana.
Eu puxei com força a massa espessa em minhas mãos e me joguei
contra ela.
A energia que surgiu através de mim foi... inebriante.
O formigamento começou a dançar na minha pele enquanto a mulher
se espatifava no chão de madeira. Seu suspiro assustado me fez sorrir.
Pobre uma ova!
A adrenalina correndo em minhas veias me fez sentir mais corajosa ou
mais estúpida, dependendo do ponto de vista de quem olhava.
Levantando meu braço, cerrei meu punho apenas alguns segundos
antes de dirigi-lo no rosto que era tão presunçoso e condescendente.
Recuando para outro golpe, Mac impediu antes que eu pudesse
acertar outro soco no rosto da mulher.
Mac levantou meu corpo da mulher abaixo de mim com um puxão
fácil.
Ele envolveu braços enormes em volta de mim em um aperto de urso,
restringindo minha respiração com seu peso esmagador.
Seus braços musculosos me seguraram com força contra seu peito
enquanto eu me contorcia e chutava.
— Me solte! — Os formigamentos se tomaram pulsos elétricos que
alimentaram todo o meu ser. — Me...
Jogando minha cabeça para trás com força, ouvi um estalo nauseante
quando quebrou o nariz do homem.
— ... solte!
Seus braços se afrouxaram com o choque do golpe e eu me arranquei
de suas mãos. Tudo aconteceu em um borrão.
Celeste estava tentando se sentar, fazendo o possível para se livrar dos
efeitos do veneno.
Algo se moveu além da porta da frente, e o homem corpulento já
estava vindo atrás de mim novamente.
Eu deixei meus pés subirem em direção à mulher que estava xingando
a plenos pulmões contra mim e o grande puxão que estava tentando me
conter.
Como eu estava quase em cima dela, ela se transformou na minha
frente.
Meu punho quebrou a transformação e bateu com força contra a
parede.
— Argh! — Puxei minha mão de volta, embalando-a contra mim.
Como ela conseguiu desviar tão rápido?
Mac me agarrou contra ele mais uma vez, me segurando em um
aperto enquanto Gwen rosnava e me mordia.
Pulando em mim, com sua mandíbula bem aberta, ela mostrou seus
caninos afiados.
Plantei meus pés no chão, empurrei com força para sair de seu
alcance.
Mac oscilou a maior parte das frações, e Gwen conseguiu envolver
seus dentes afiados em volta da minha coxa enquanto se agarrava ao
músculo e tendão.
Eu gritei e a besta quase sorriu na minha frente quando sua boca
segurou e começou a puxar a carne de seu focinho.
— Brooke!
A voz do homem soou acima dos rosnados da besta na minha frente e
dos meus próprios gritos.
A criatura rosnando libertou sua mandíbula não muito suavemente
enquanto se virava para ver os intrusos.
Mac deu uma risadinha. — Bern, olhe quem está de volta dos mortos.
O latejar na minha perna me deixou tonta, mas não pude deixar de
notar o olhar preocupado de Novac e Carter.
Eles estavam aqui.
A cabeça de Novac estava totalmente ensanguentada, com seus olhos
espiando da bagunça endurecida que cobria seu rosto. Cada homem se
ergueu de onde estavam na porta da cozinha.
Carter deixou seu olhar escurecido estreitar primeiro no homem e
depois em Gwen, deixando sua raiva fluir sobre os dois.
Celeste tinha rastejado para o sofá e estava segurando os dois meninos
perto de seu peito, protegendo-os com seu corpo.
Da porta, outra voz vibrou e pulsou na sala.
Uma sensação fluiu sobre mim que eu não sentia há dias, e a onda de
energia que se seguiu foi como um anestésico para a dor que inundou
minha perna.
— Largue ela!
Capítulo 52
SLATE

Quando Aaron usou a conexão para entrar em contato com Carter,


não foi nenhuma surpresa.
Aaron era bastante adepto do uso da conexão e a usava com
frequência para retransmitir mensagens de um lado para outro.
No entanto, Carter estava preocupado com dois detalhes da
comunicação.
Aaron tinha falado com ele como se fosse comigo, e sua comunicação
morreu repentinamente sem obter uma compreensão clara da intenção.
Ouvir isso criou um nó na garganta. Algo estava errado.
Mac e a mulher com ele não contavam com uma coisa: Hayden.
Eles acreditavam que, por ele ser um humano sem lobo, ele não
conheceria nossos caminhos.
Quando seu minúsculo fio de pensamento apareceu, o orgulho quase
me consumiu. Ele era incrível.
Slate...
Foi incerto e gentil, pois cutucou meus pensamentos.
Hayden!
Assim que reconheci a conexão, parecia menos sobrecarregado. Ele
tinha esperança.
Eles colocaram algo no pescoço de Aaron
O fio de medo que cruzou a conexão me atormentou.
Eles vão nos matar?
Essas palavras me rasgaram. Os animais que eles são estavam
trabalhando para atormentar aqueles meninos para fazer Brooke sofrer.
Eu sabia que eles não iriam realmente machucar os meninos. Pelo
menos, não a ponto de causar a ira de minha família sobre eles.
Apenas o suficiente para causar a Brooke o máximo de dor possível.
Ela ainda não fazia parte da minha família, e era isso que a tomava um
alvo.
Ouça-me, moye ditya. Você está seguro. Eles não vão te machucar.
O fio foi preenchido com minha confiança para ajudar a aliviar seu
próprio sofrimento mental.
Quando ele relaxou mais na conexão, eu continuei.
Diga-me o que aconteceu.
Inalando, esperei que ele respondesse quando abri a linha para Carter
e Sian.
Quando perdemos a comunicação com a Novac, dirigimo-nos para a
parte de trás da propriedade.
Usando algumas das matilhas mais fortes do território de Sian, ele
emitiu as ordens para se espalhar e esperar por seu comando.
Estávamos brincando no quintal. Ouvimos rosnados na floresta.
Sua voz estava tensa, e eu sabia que isso o incomodaria. Tínhamos que
ser rápidos.
Quantos você diria que havia, moye ditya?
Houve um momento em que pensei que o tínhamos perdido, os
pensamentos eram apenas um sussurro.
Forçando minha força através da linha, eu senti um vislumbre dele e
segurei.
Eu não sei, disse ele calmamente. Apenas dois saíram da floresta.
Apenas dois. Havia mais.
Se fosse quem eu pensava que era, ele não teria o exército de antes.
O número de lobos que ele perdeu da última vez que nos
encontramos reduziria muito aqueles com ele.
Quem está aí com você?
Eu coloquei um pouco mais de força no fio para apoiar seus esforços.
Meu pequeno moye ditya abundou em determinação quando o senti
avaliando sua situação.
Um homem grande. A mulher o chamou de Mac
Meu lobo se eriçou. A confirmação me irritou.
A mulher diz que é a mãe de Gretchen. Celeste não está se movendo.
Mamãe a deitou em um travesseiro.
Não sei onde está Novac. Aaron está comigo. Ele está me ajudando.
Ele fez uma pausa, e eu pude sentir uma onda de exaustão chegar.
Minha cabeça dói ele terminou.
Deixando minha força recuar, xinguei. Era demais para ele neste
momento.
Ele estava melhorando, mas ainda tinha trabalho a fazer.
Por um momento, me perguntei se Brooke pegaria essa habilidade tão
bem quanto ele.
Você foi ótimo, moye ditya. Descanse! Vou manter a conexão aberta para
você, apenas por precaução.
Nesse ponto, Sian ordenou a seus homens que abrissem caminho
silenciosamente pela floresta.
Cada passo que demos foi deliberado e teve como objetivo erradicar a
infestação dentro da floresta.
Embora eles esperassem que isso acontecesse, eles nunca o veriam.
Não haveria nenhum aviso quando eu reivindicasse minha família.
Alfa, encontramos Novac! A voz de Sian estava tensa.
Ele está vivo?
Afirmativo. Ele está muito machucado.
No meu coração, eu sabia que ele daria sua vida para proteger minha
família, só não esperava que fosse quase uma realidade.
Há uma peça de metal... Acho que encontramos nosso informante.
Mac! Um de seus pequenos dispositivos criou um vazamento onde só
havia lealdade. Meu ritmo acelerou quando minha sede de sangue
atingiu o nível mais alto.
Entrando em contato com o Dr. Thomas, ordenei.
Examine Novac e certifique-se de que ele sobreviva.
Com esforços controlados, conseguimos limpar a maior parte da área.
Foi uma luta me impedir de avançar, e Carter entendeu muito bem.
Quase uma hora depois, pude sentir a besta dentro de mim. Tudo
tinha corrido bem até que senti uma onda de medo e pavor.
Hayden
Tentei manter minha voz calma, sentindo o quão abalado ele estava
com a conexão.
Mamãe!
Todos os lados de nossas próprias forças quase convergiram para cada
lado da casa.
Esperando que tivéssemos limpado a maior parte do lixo, enviei a
ordem para invadir a casa.
Minha jyoti estava com problemas.
Carter, vá para a retaguarda! Enviei o comando.
Eu também vou Novac interrompeu.
Não adiantava discutir, eu deixaria Thomas tentar contê-lo.
Quando eu irrompi pela porta, o fogo queimou por mim.
Mac segurava minha companheira com força em suas mãos; a loba
descarada estava presa em sua coxa.
Quando eles me viram, Mac a segurou ainda mais forte.
Carter e Novac estavam atrás deles, cada um esperando por suas
ordens.
Leve os meninos e Celeste para um lugar seguro!
Eles hesitaram e eu deixei meu peito roncar.
Esta é a minha luta.
Cada um deles abaixou a cabeça em reconhecimento antes de atender
ao meu comando, deixando-me para lidar com a punição exigente.
Brooke se mexeu nos braços de Mac, a dor em sua perna fazendo-a
estremecer.
A palidez de sua pele era preocupante quando ela mordeu o lábio
brutalmente para abafar as explosões verbais de dor.
A ferida aberta em sua perna me fez virar os olhos rígidos para a besta
diante de mim.
Enquanto eu estava na porta, a besta voltou seus rosnados para mim.
Eu sorri ansiosamente, desejando que ela agisse.
Quando dei um passo à frente, a besta deu um passo hesitante para
trás.
Apesar de toda a sua ferocidade, acabou me confrontando. Meu olhar
focou nela, observando cada contração e vacilação.
— Não viemos sozinhos!
As palavras ecoaram na sala enquanto Mac tentava forçar cada grama
de força que tinha nele. Ele estava tentando chamar minha atenção da
mulher diante de mim.
Meus olhos deslizaram para o homem que ainda agarrava Brooke
contra ele, e deixei que cada grama do que pretendia fazer com ele se
chocasse contra ele.
Se ele queria se servir de bandeja primeiro, quem era eu para não
agradá-lo?
Dando um passo em direção a ele, deixei minha voz explodir na sala
com os fios da minha força aos quais ainda me agarrava.
— Você deve estar com problemas de audição. Vou pedir mais uma vez
antes que você não tenha redenção. Largue ela!
As palavras fluíram para a sala em uma onda de intensa promessa do
que viria.
Mac hesitou, sua voz tentando sangrar em um fio entre nós, mas eu
suprimi quando senti que tentava abrir caminho em meus pensamentos.
Eu terminei de falar.
Seus olhos se arregalaram antes que ele se afastasse de mim, Brooke
ainda cativa em seus braços.
Meus olhos permaneceram fixos nele, minha visão periférica
mantendo o lobo bem ao seu alcance.
Brooke de repente enfiou o pé na parte interna do joelho exposto do
homem, desalojando a rótula com um estalo nauseante.
Ele grunhiu e seu aperto se afrouxou, quase desabando em cima dela.
Rasgando o espaço entre nós, eu deixei a maior parte do meu corpo
bater no dele e o empurrei contra a parede.
Brooke se afastou de nós, sibilando por causa da dor e do desconforto
de tal ação.
Com a palma da mão aberta, peguei o fio de energia que era sua
conexão com seus territórios.
Assim que meu punho começou a se fechar, o homem juntou
coragem.
Seus olhos estavam muito cientes do que eu estava prestes a fazer.
Ele golpeou com uma cotovelada e colocou o gosto de sua própria
resistência alfa por trás de sua força.
O resultado atingiu meu peito com um golpe forte que fez meus pés
deslizarem pelo chão de madeira para o outro lado da sala.
Quando Brooke voltou para vista, ele soltou um xingamento.
— Sua vad...
Antes que ele pudesse terminar a palavra caluniosa, eu o ataquei mais
uma vez.
Empurrando-o mais uma vez contra a parede, pedaços de drywall
racharam e caíram no chão sob nossos pés.
Minha mão envolveu seu pescoço forte enquanto eu o levantava do
chão e comecei a espremer o ar de dentro.
A loba por trás se lançou em meu pescoço enquanto eu segurava seu
amante no alto.
Levantando meu joelho, eu a peguei no ar enquanto as costas da
minha mão batiam contra seu focinho e a forçava a atravessar a sala.
Mais uma vez, senti Mac tentando abrir uma conexão entre nós.
— Não, — eu grunhi. — Você já disse o suficiente!
Os olhos de Mac se arregalaram e entraram em pânico antes que ele
começasse a lutar por sua vida.
Seus punhos carnudos golpearam com violência, mas eu não senti
nada. Minha força começou a diminuir, mas a raiva me alimentou.
Ele atacou minha matilha e meus aliados, matou meus soldados,
tentou matar minha companheira, aterrorizou minha família.
Ele não merecia misericórdia.
Com um foco mortal em Mac, eu só peguei o vislumbre do lobo que
havia deslizado pelo chão.
Agora, ela girou em uma posição ereta tentando encontrar seu
equilíbrio.
Encontrando aquele fio de energia que pertencia a Mac, agarrei-o com
força em meu punho.
Suas ações se tomaram mais cruéis quando ele soltou sua garra para
rasgar minha barriga, acertando ataque após ataque selvagem.
Mesmo assim, não senti nada.
Os passos de Brooke a levaram a ficar cara a cara com a loba, e eu
perdi meu foco.
O bruto diante de mim juntou as mãos e as ergueu bruscamente,
acertando minha mandíbula.
A força disso me forçou para trás antes que eu pudesse recuperar
minha compostura.
Tomando alguns goles de ar, ele olhou malevolamente para mim,
avaliando seu próximo ataque.
Com meu pé mais estável, ele agiu.
Ele saltou no ar, seus braços estendidos diante dele com garras
afiadas.
O instinto me fez abaixar enquanto ele voava acima.
Quando ele alcançou o auge de seu voo, levantei-me com os ombros,
acertando-o bem no meio do estômago.
O corpo de Mac foi impulsionado para o teto com uma força
inimaginável.
A luminária se estilhaçou com a força de seu peso quando cacos de
vidro choveram sobre mim.
Movendo-me por baixo da massa aerotransportada, estendi a mão
para aquele cordão energético.
Seu corpo bateu com força contra o chão, os rangidos no piso de seu
peso audíveis no espaço ao nosso redor.
Uma onda de energia me inundou quando meu pé bateu contra o
peito do alfa, o estalo de ossos ecoando no chão.
— Você nunca mais vai fazer mal à minha família!
A convicção em minha voz quase me assustou.
Segurando o fio, torci em minhas mãos.
O homem debaixo dos meus pés flamejou, e o lobo enorme agora
existia em seu lugar. Os olhos cor de topázio ficaram vermelhos e sua
ruína ficou clara.
Agarrando o focinho, eu torci.
Minha respiração ofegou em meu peito.
Atrás de mim, minha companheira estava tomando sua própria
retribuição. Seus punhos bateram com força no focinho da besta.
Ela disparou sobre ela, deixando toda a sua angústia e fúria sobre um
alvo desavisado, mas merecedor.
Quando seu punho acertou, a cabeça do lobo disparou para o lado.
Um barulho de estalo soou e eu decidi que era hora de encerrar seu
discurso.
Aproximando-me para tirá-la da besta maltratada, hesitei quando suas
palavras com raiva e apaixonadas sangraram no ar.
— Como você ousa tentar sequestrar meus filhos!
Ela continuou a esmurrar o lobo.
— Como vocês se atrevem a entrar em nossa casa, — ela disse,
lançando outro punho para enfatizar sua raiva.
Seus punhos estavam machucados e riachos de sangue começaram a
escorrer pela pele antes imaculada.
— ... machucar Celeste, meus meninos, tentar matar Slate... como
vocês ousam mexer com as pessoas que eu amo!
A confissão fez meu coração disparar.
Alcançando-a, envolvi braços reconfortantes e amorosos em tomo
dela e a trouxe para perto de mim.
O lobo caiu aos nossos pés enquanto eu embalava Brooke suavemente
contra meu peito.
O formigamento de poder que surgiu entre nós varreu sobre mim, um
sussurro do que viria uma vez que estivéssemos ligados um ao outro.
Com suas pernas dispostas suavemente em meus braços, envolvi a
mão em sua nuca, trazendo sua boca para a minha.
Minha boca se moveu sobre a dela em uma necessidade que me
envolvia.
Tudo o que senti naquele momento foi transmitido em meus lábios
contra os dela.
Quando ela se mexeu em meus braços, ela gemeu de dor.
Afastando-me dela, eu fiz uma careta. Meu olhar deslizou para o corte
em sua perna e um xingamento saiu de meus lábios.
— Thomas!
As janelas da casa tremeram com o trovão em minha voz. Uma pena
para ele que eu tenha feito isso através da conexão também.
Abraçando-a suavemente, nos aproximamos da poltrona. Uma vez
situada, tirei minha camisa e a rasguei em pedaços longos.
Pegando o pedaço mais comprido que pude encontrar, enrolei-o o
mais ternamente possível acima da ferida e apertei bem.
Isso me rendeu um assobio perto do meu ouvido e eu tive que me
lembrar que era para o bem dela.
Depois de dar um puxão firme no torniquete improvisado, Brooke
encostou a cabeça no meu peito nu.
Ela bocejou, enviando um lampejo de preocupação ao meu rosto.
— Quanto tempo você... você sabe... quanto tempo você tem?
Seus olhos não se ergueram para mim. A preocupação e o
constrangimento guerreavam em sua voz.
Eu poderia ter achado encantador se não estivesse preocupado com a
quantidade de sangue que ela havia perdido.
— Para quê, jyoti?
Esta não era uma conversa para se ter aqui e agora, mas ela precisava
continuar falando.
Se ela adormecesse, o risco era maior de não acordar.
— Sua maldição. — Seu rosto estremeceu com a palavra.
Eu ri. Ela não tinha descoberto que ela nunca poderia ser uma
maldição para mim?
— Eu não sou amaldiçoado, jyoti. Eu sou abençoado.
Seu rosto se inclinou para trás em confusão. — Mas você tem uma
humana como companheira.
— E uma melhor que eu não poderia pedir, humana ou loba. Você é
tudo que eu poderia querer e muito mais.
Minhas mãos traçaram delicadamente sobre ela, uma deslizando em
tomo de sua cintura enquanto a outra alisou os fios loiros
despreocupados de seu rosto.
Fiquei maravilhado com a sensação das mechas enquanto as colocava
suavemente atrás das orelhas em movimentos suaves.
Ela suspirou contra mim, deixando seus dedos brincarem contra meus
músculos.
— Aposto que você não esperava que sua companheira viesse com
uma família inteira junto, — ela repreendeu.
Pressionando meus lábios contra sua têmpora, eu a beijei levemente.
— Eles são um testemunho do seu espírito incrível, sua bela alma. Seu
amor por eles é infalível. Você protege aqueles meninos sem medo, sem
hesitação. Eu não poderia querer uma mãe melhor para meus filhos.
Ela gaguejou: — Você quer... filhos?
Eu ri enquanto deixei meu nariz acariciar a lateral de seu rosto.
— Temos dois meninos incríveis.
Eu deixei o sorriso sedutor se estabelecer no meu rosto e levantei seu
queixo para me encarar.
O rubor que invadiu sua pele foi quase instantâneo e eu passaria o
resto dos meus dias saboreando tudo o que ela era.
— Se decidir que quer mais, terei todo o prazer em oferecer os meios.
Ela era linda quando estava nervosa. Eu a deixei mudar facilmente de
assunto. — Você nunca me disse quanto tempo você tinha.
— Eu não tenho uma data de validade, Brooke. Meu título, sim. Eu
ainda vou permanecer alfa para minha matilha, mas vou perder tudo o
que me toma um Alfa Superior.
Ela parecia confusa com a notícia e deixou seu olhar deslizar para
onde seus dedos descansavam contra meu peito.
— Mas como você pode perder algo que é seu direito de nascença?
Suas sobrancelhas baixaram e sua boca estava um pouco fina para o
meu gosto.
Pressionei sua cabeça contra meu peito mais uma vez e continuei a
acariciar seus cabelos.
É
— É o desejo da Deusa que permaneçamos fiéis a nossa yamala jyoti.
Ela escolheu esta criatura incrível para nós, e não haveria nenhuma
renovação para mim ou meus irmãos. Nossa contra parte humana seria
nossa maior força e nossa maior fraqueza.
— Foi uma lição a ser transmitida a todos nós que a humanidade é um
fragmento precioso para o mundo ao nosso redor e que não devemos vê-
los por suas fraquezas, mas por seus pontos fortes.
— Tivemos que deixar de lado quaisquer noções equivocadas de ver a
humanidade como ela realmente é, sem as influências negativas de meu
pai.
— Ele realmente não gosta de humanos?
A sonolência que se instalou em seu semblante fez meu peito roncar.
As pontas de seus dedos contra meu peito pareciam gelo.
Quando ela bocejou mais uma vez, enviei outra ordem pela conexão
antes de responder à pergunta de minha pequena companheira.
Puxando-a para mais perto do calor do meu corpo, sorri suavemente
contra o topo de sua cabeça.
— Meu pai não gosta de nada que ele sinta que não serve a um
propósito... seu propósito. Ele aprendeu a tolerá-los por suas deficiências
percebidas, mas isso é tudo. Ele realmente convenceu dois de meus
irmãos mais novos a completar o vínculo de acasalamento antes que suas
companheiras tivessem a chance de entender nossa verdadeira natureza.
Eu bufei, revivendo a repulsa disso em minha cabeça.
— Suas companheiras humanas demoraram décadas para perdoá-los
por suas ações precipitadas. Eu nunca poderia fazer isso.
— Por quê? — ela sussurrou contra meu peito.
— Eu quero você ao meu lado porque você quer estar, não porque eu
te forcei a estar. Vou te dar todo o tempo de que você precisa, se isso
significar que vou tê-la comigo para o resto de nossas vidas.
Ela se animou um pouco, e o rubor se espalhou por seu pescoço e o
topo de suas orelhas.
— O que acontece com a matilha depois que você não é mais o Alfa
Superior?
Uma conversa que acabei de ter com meus próprios homens. Uma que
me deixou orgulhoso de fazer parte de um bando tão leal.
— Eles são um bando forte e muito leais. Ainda não haveria muitos
que cruzariam com eles, mesmo sem a força de um Alfa Superior por trás
deles.
— Embora meu bando gostaria que eu mantivesse meu status, eu
ficaria feliz em viver minha vida simplesmente como alfa se isso
significasse que você estaria ao meu lado... não porque você tem que
estar, mas porque você quer estar.
O Dr. Thomas entrou pela porta da frente com um sorriso. Meu
rosnado ecoou na sala.
— Desculpe, demorei alguns minutos para chegar aqui, mas tínhamos
alguns problemas para resolver primeiro.
O Dr. Thomas sorriu sem entusiasmo enquanto pressionava os dedos
gentis contra seu pulso para medir sua pulsação.
Satisfeito, ele moveu os dedos contra a carne tenra de sua ferida.
Quando ela grunhiu e sibilou com a ternura ali, deixei meu peito
roncar.
— Eu vou ter que interná-la em um hospital local. Preciso de mais
algumas ferramentas do que tenho aqui. Não vai demorar mais do que
alguns dias antes que ela possa voltar para casa.
— Mas...
A preocupação enrugou sua expressão quando ela se virou de mim
para Thomas.
— E a lua nova? Deve estar chegando!
Thomas ergueu uma sobrancelha enquanto movia seus olhos dela
para mim, e eu balancei minha cabeça.
Dando-lhe um sorriso e um tapinha rápido no ombro, o Dr. Thomas
saiu da sala.
Finalmente, respondi à pergunta que ele deixou sem resposta.
— Podemos falar sobre isso quando você estiver melhor. Por
enquanto...
Eu a levantei em meus braços e fui para a porta da frente.
— ... é com o médico.
Capítulo 53
BROOKE

A dor profunda na minha perna havia se instalado, e eu podia sentir o


latejar enquanto o sangue pulsava para cima e para baixo.
O analgésico que o Dr. Thomas me deu pode ter atenuado a dor, mas
não conseguiu silenciar as sensações da anatomia humana.
O torpor ainda pairava sobre mim enquanto eu tentava me forçar a
acordar.
Havia um calor envolvendo minha mão, o aperto suave me
oferecendo mais do que um pequeno conforto.
Um beijo prolongado foi deixado na minha têmpora.
A gentileza e o carinho disso me envolveram como um casulo e
momentaneamente abafaram a dor.
Meus lábios se contraíram em uma tentativa de sorrir enquanto meus
olhos se abriam lentamente para se ajustar à iluminação da sala.
Quase como se soubesse, o Dr. Thomas entrou na sala com sua
lanterna em uma das mãos e uma pasta na outra.
— Bom, você está acordada.
Gemendo, eu resmunguei para ele enquanto murmurava fracamente.
— Acabei de acordar. Por acaso você tem um alarme que o alerte sobre
essas coisas?
Os dois homens na sala riram antes que o médico respondesse.
— Não, apenas muito bons sentidos. — Ele bateu em uma das orelhas.
— Então, coisa de lobo?
O médico acenou com a cabeça, lançando um breve olhar para Slate,
cuja estrutura ocupava a cadeira ao lado da minha cama.
Ele me observou com um sorriso adorável no rosto. Isso me fez querer
aproveitar sua glória.
O Dr. Thomas não me deu muito tempo para fazer qualquer tipo de
aquecimento antes de caminhar até o lado vago da cama e piscar em
meus olhos com sua lanterna laser de alta potência.
Certo, talvez não de alta potência ou um laser, mas certamente me fez
silvar involuntariamente com a intrusão.
— Tudo parece bem, — disse ele lentamente, passando a caneta de um
olho para o outro pela última vez. De pé, ele continuou,
— A sonolência deve passar nas próximas uma ou duas horas, mas
vamos mantê-la com a medicação para dor por mais um ou dois dias para
ajudar com o desconforto. No entanto —
Ele sorriu enquanto sacudia a cabeça em direção ao Slate
... — se você o mantiver por perto, na verdade, você não precisará da
medicação para dor.
Eu levantei uma sobrancelha e o Dr. Thomas explicou.
— Ter seu companheiro por perto ajuda a recuperação. É como ter seu
próprio armário de remédios ambulante de várias maneiras.
Ele sorriu para mim quando começou a se mover para o pé da cama,
fazendo anotações em sua prancheta.
— Assim que estiver pronta, podemos pensar em como levá-la para
casa.
— Onde estão os meninos, — perguntei meio grogue, ainda tentando
me livrar dos efeitos da medicação.
— Eu acredito que eles estão arrastando Carter e Celeste pela loja de
presentes com o pretexto de comprar para você um presente, embora eu
não tenha certeza de como você se sente sobre os bonecos de ação do
Homem-Aranha e do Batman.
As travessuras dos meus meninos me fizeram sorrir. — Parece que são
meus meninos.
Slate apertou minha mão.
— Como eles estão... depois do que aconteceu? — Embora eu
soubesse que fisicamente eles estavam bem, a cicatriz emocional de
coisas como essa poderia durar uma vida inteira.
O Dr. Thomas parou de escrever em sua pasta e olhou para mim com
olhos bondosos.
— Um pouco abalados, mas vão ficar bem, Brooke. As crianças são
mais fortes e resistentes do que imaginamos.
Quando ele olhou de volta para o arquivo em sua mão, ele anotou
mais algumas coisas antes de terminar seu pensamento.
— A parte mais difícil foi tentar convencer Aaron de que ele fez tudo o
que podia.
Ele se moveu para o outro lado da cama como se estivesse indo para a
porta.
Eu fiz uma careta. — Ele acha que traiu Slate.
Aaron foi avisado para ligar para Slate... para levá-lo para casa sem
avisar no que ele estava entrando.
Como uma criança de sete anos poderia lutar contra aqueles dois?
Especialmente com Hayden em risco?
Sem ter que mexer muito minha cabeça, olhei entre os dois homens.
Lembrando do juramento do meu filho quando ele se juntou ao bando
de Slate, meu coração ficou pesado por meu filho mais velho.
Cada palavra se repetiu em minha memória enquanto eu sussurrava:
— Ele acha que não fez tudo o que podia para nos proteger.
Ele ficou tão orgulhoso quando recitou aquelas palavras, e o resultado
do caos que aquela mulher causou me fez querer acertar meus punhos
em seu rosto mais uma vez.
Estranho, já que eu não era uma pessoa violenta, mas eu realmente
queria que aquela mulher sofresse pelo que tinha feito à minha família.
— Ele não me traiu, ou sua família.
Os dedos quentes de Slate dançaram nas costas da minha mão. O Dr.
Thomas riu.
— Aquele seu garoto enganou aqueles dois desde o início, e eles não
sabiam o que estava por vir. Em vez disso, ligou para Carter, o que
obviamente levantou suspeitas. E como ligar e falar com seu pai quando
sua mãe está na linha.
Outra risada.
— Ele instruiu Hayden a abrir uma conexão direta com o alfa para que
ele os mantivesse informados sobre o que estava acontecendo dentro de
casa enquanto os de nossa matilha e a matilha local eliminavam os
selvagens do lado de fora.
Ele balançou sua cabeça.
— Para um menino de sete anos, ele se mostra muito promissor. Forte
e corajoso.
— Aaron é brilhante, intuitivo e protetor, — observou Slate, radiante
quase tanto quanto eu, — três das qualidades alfa mais essenciais.
As palavras me atingiram, fazendo com que meu sorriso diminuísse
uma fração.
— Espere, o quê? Um alfa?
O Dr. Thomas sorriu ao sair pela porta.
A mão de Slate se ergueu para o meu rosto e traçou o contorno com
um toque suave.
— Aaron e Hayden são sangue do meu sangue agora. Parte de nossa
família.
Minha sobrancelha se ergueu. — Isso não foi apenas algo que eles
disseram para se juntar a um bando ou para se comprometerem?
Quando ele balançou a cabeça, não tive certeza do que sentir.
— Não foram meras palavras, mas uma promessa um para o outro,
feita com sangue e abençoada pela própria deusa da lua.
— Então, Aaron será um alfa?
Slate balançou a cabeça e eu soltei um suspiro de alívio, embora não
tivesse certeza do porquê.
— Não, jyoti. Ele é um alfa.
Minhas sobrancelhas se arquearam e não senti mais os efeitos
sonolentos da medicação embotando minhas reações.
— E, como ele agora faz parte da minha família, é possível que a
Deusa o escolha como Alfa Superior um dia.
Seu toque era enlouquecedor enquanto ele continuava a deixar seus
dedos dançarem ao redor do meu rosto e mandíbula.
— Qual seria a diferença?
— Bern, o comando sobre qualquer lobo ou alfa, além dos membros
da minha família. A habilidade de banir qualquer lobo para o exílio, o que
nunca deve ser considerado levianamente... muito poucos sobrevivem ao
banimento, muito menos ao exílio. Conexão mental com qualquer lobo
ou humano...
Eu interrompi: — Você pode fazer isso?
A cabeça de Slate se curvou.
— Comigo?
Ele balançou a cabeça enquanto soltava uma risada ofegante.
— Isso é algo que eu não posso fazer. Pelo menos, não até que
estejamos completamente acasalados. Outro presente da Deusa para
nivelar o campo de jogo entre nós e nossas companheiras.
Seus lábios se transformaram no sorriso mais lindo e amoroso que eu
já tinha visto, e isso roubou minha respiração.
Seu dedo levantou para o meu rosto quando ele começou a traçar os
contornos da minha bochecha.
Como eu queria me perder naqueles olhos calorosos e prateados.
Com seu toque estonteante e as novidades sobre meus meninos,
minha cabeça girou.
Apenas alguns meses atrás, meus meninos eram apenas isso... meus
meninos. Especiais e incríveis para mim.
Agora, eles eram especiais para muitos, e me senti orgulhosa e triste
ao mesmo tempo.
— Eles estão em risco?
Slate sorriu para mim e meu coração começou a bater mais rápido.
— Eles são abençoados pela Deusa, amados por sua família e
protegidos por todos nós. Nosso alcance é muito amplo e nossa
reputação é conhecida. Não há ninguém tolo o suficiente para arriscar
suas próprias vidas.
— Diga isso para Gwen e seu idiota!
Os olhos de Slate ficaram prateados em um instante quando eu pude
sentir o poder na sala mudar.
Isso pesava muito em mim, e eu o senti apertar minha mão com ainda
mais força enquanto ele me acariciava com os traços de penas na lateral
do rosto.
— Não há mais ninguém para dizer isso.
Tentei sufocar o suspiro que começou na minha garganta.
Não precisei perguntar. Eu sabia que eles não estavam mais vivos.
Sua raiva invadiu a sala, e eu queria aliviar sua dor do jeito que ele
estava fazendo com a minha.
Colocando a mão sobre a dele contra o meu rosto, sorri suavemente.
A prata em seus olhos começou a brilhar enquanto ele sentia meu
toque, a opressão na sala diminuindo tão rapidamente quanto veio.
Afastando minha mão da dele, puxei as cobertas.
Surpreso com o gesto, ele olhou para mim um pouco atordoado antes
de deixar seus olhos desviarem para minha perna enfaixada com um
olhar de preocupação.
A risada pode ter sido involuntária, mas não poderia ser evitada.
O olhar em seu rosto não tinha preço, pois aqueles olhos prateados
brilhavam intensamente com adoração e algo mais, enquanto seu rosto
se contorcia de preocupação em me machucar.
— Você vai se juntar a mim ou não? Está ficando frio aqui.
Eu sorri para ele enquanto ele hesitava.
— Não é como se eu fosse pular em você, você não precisa ter medo,
— provoquei.
O sorriso de Slate deslizou por seu rosto e eu pude sentir o calor se
espalhando por mim.
Era como manteiga derretendo em um pão quente, e os efeitos
espelhavam o calor que corria por minhas veias antes de atingir meu
núcleo e se acumular.
— Oh, mas se você pudesse.
Ele se levantou, movendo-se para sentar na beira da cama enquanto
ainda segurava minha mão com a sua.
Inclinando-se para frente, ele ergueu minha mão e pressionou seus
lábios nas pontas dos meus dedos, um por um, enquanto falava.
— Eu elevaria seus espíritos, alicerçaria sua alma, daria prazer ao seu
corpo e consumiria sua mente... te levaria à exaustão total, à conclusão
irrevogável.
Suas palavras eram sensuais e cheias de promessa, e quase deixei cair
as cobertas quando suas palavras se chocaram contra mim, meu peito
arfando de emoção e desejo.
— Companheiro, — eu respirei.
— Jyoti.
Ele deixou a parte de trás de sua mão livre cair contra minha
bochecha enquanto ela se movia para baixo, e então a deixou deslizar
pelo outro lado para acariciar meu pescoço.
Minha respiração estava irregular quando coloquei minha mão sobre
a dele, nossas mãos aninhadas naquela curva que unia o pescoço ao
ombro.
— E aqui que você... me marcaria?
Minha mão permaneceu sobre a dele quando ele a deslizou para o
local onde me reivindicaria, nenhum de nós desviando o olhar um do
outro.
Quando sua mão alcançou seu destino, ele deixou seus dedos
deslizarem por aquele pedaço de pele que me marcaria como dele.
— É aqui que nossas duas almas se ligarão para sempre. Onde nos
livramos de qualquer incerteza e dúvida, e nos unimos em uma vida
inteira de união.
Um arrepio percorreu cada nervo do meu corpo.
Esse sorriso sedutor se tomou malicioso quando ele observou o efeito
que tinha sobre mim.
Dando um beijo na minha testa, ele se moveu ao meu lado na cama do
hospital.
Quando ele deslizou sob as cobertas e se moldou ao meu lado, isso
não fez nada para apagar o calor que ele causava por dentro.
Cada parte de mim queria este homem, e era evidente que seu corpo
não era imune a mim enquanto seus quadris pressionavam contra minha
perna boa.
— Uma mordida, só isso?
O pensamento de seus dentes contra minha pele enviou outra
explosão de calor correndo por mim.
— Uma mordida para reivindicar você, sim.
Sua mão se moveu sobre meu braço, o formigamento e o calor
fazendo meu coração bater mais rápido e minha respiração irregular.
Em algum lugar da minha cabeça, comecei a questionar minha
sanidade por convidá-lo para a minha cama, enquanto todo o resto
queria envolver-se em tomo de cada parte dele.
Ele beijou a curva do meu ombro antes de beliscar com os dentes, e
outro arrepio estremeceu dentro de mim.
Sua língua traçou uma linha até o lóbulo da minha orelha antes que
ele terminasse seu pensamento como um sussurro em meu ouvido.
— Mas você vai implorar por mais enquanto explode em uma onda de
êxtase que você nunca soube que poderia existir, jyoti.
Ele esfregou o rosto no meu pescoço enquanto respirava fundo.
— E eu nunca me cansaria de dar isso a você.
Um zumbido vibrou contra meus lábios enquanto o pensamento
sedutor rolava pela minha cabeça e me possuía.
A iluminação da sala contrastava com as rugas de seu rosto e a curva
suave de sua boca.
Eu me fixei em seus traços, querendo memorizar cada uma dessas
linhas antes de traçar seus padrões com a ponta dos meus dedos.
Em vez disso, movi minha mão para segurar sua bochecha, puxando-o
para mim.
Quando meus lábios encontraram os dele, a energia pulsou através do
meu corpo como um raio por uma haste de metal.
Meus dedos do pé enrolaram com a intensidade da sensação, e ele
aproveitou o momento para aprofundar o beijo.
Enquanto sua língua invadia minha boca, suas mãos se moviam pela
minha pele, deixando pequenos arrepios em seu rastro que só ajudaram a
alimentar o fogo que começou a queimar por dentro.
Inalando profundamente, seu cheiro me envolveu enquanto apenas
aumentava minha excitação, criando uma dor que apenas seu toque
poderia extinguir.
Seu toque era céu e inferno ao mesmo tempo, mas nada parecia
mais... certo.
Movendo-se incrivelmente mais perto, o calor de Slate adicionou ao
meu e acelerou meu pulso a um ritmo enlouquecedor.
Minha respiração se transformou em suspiros de necessidade
enquanto meu corpo implorava por algo para extinguir o calor, para dar-
lhe satisfação de maneiras que nunca tinha conhecido... implorando por
ele.
Sua mão viajou sobre o braço que não estava preso entre nós,
correndo pelos meus dedos antes de deixá-lo alisar meu abdômen.
A fina camisola do hospital não fez nada para evitar que o calor de seu
toque perfurasse o tecido.
Os dedos deslizaram pelo meu abdômen para deixar sua palma ficar
nivelada contra a minha pele enquanto eu me deliciava com o gosto e a
sensação dele.
Com um toque suave, sua mão se moveu para a lateral de meu corpo
antes de começar a inclinar-se.
Eu quase ronronei com sua carícia, minha pele subindo e descendo
para aproveitar seu toque da forma mais íntima.
Tudo adicionado para criar uma loucura luxuriosa dentro de mim,
uma que eu sabia que só ele seria capaz de invocar e saciar.
Quando sua mão roçou a parte inferior do meu seio, meu corpo
derreteu.
Meus ossos se liquidificaram enquanto eu gemia em sua boca, meus
dentes beliscando e explorando os limites de sua boca.
O calor aumentou e ele respirou fundo.
Eu não precisava ser um lobo para saber que minha própria excitação
estava infundindo o ar entre nós, misturando-se com seu próprio sabor
para criar um perfume inebriante que causava estragos contra nossos
sentidos.
Sua mão brincou em meu seio, meu mamilo endureceu ao mais leve
sussurro de um toque.
Meu peito arqueou em seu toque, querendo continuar querendo mais,
querendo ele.
Tremores irradiaram através de mim, o prazer intenso escapando em
um gemido em meus lábios. Seu gosto, seu toque, seu cheiro, sua
proximidade... êxtase absoluto.
Meu corpo queria estar mais perto, precisava estar mais perto.
Ele deixou seus dentes arranharem minha língua enquanto ele
beliscava aquele botão alegre.
Gemendo, joguei meus braços atrás de mim para puxá-lo para mais
perto.
Quando mudei meu peso, soltei um gemido. Tudo parou, sua mão
parou contra meu peito.
Nossos lábios estavam a milímetros um do outro, nossa respiração
espiralando e enchendo o espaço entre nós, e ainda nenhum de nós havia
se movido para fechar a lacuna.
— É muito cedo, jyoti.
Ele soprou as palavras contra mim, a preocupação espalhando-se em
seu rosto.
— Você vai se curar em breve. Temos todo o tempo do mundo.
Ele se afastou, permitindo-me espaço para recuperar minha
compostura—algo que eu realmente não queria.
Quando ele começou a deslizar para fora da cama, minha mão voou
para interromper seus movimentos.
— Não, — quase gritei. A ideia de ele me deixar quase me fez entrar
em pânico. — Por favor, fique comigo.
Consegui acalmar as últimas palavras, mas ainda eram mais uma
súplica do que um pedido.
Gentilmente, ele se acomodou ao meu lado mais uma vez.
— Descanse, meu amor. Eu não vou te deixar.
Meu amor.
As palavras reverberaram em minha cabeça, e eu as deixei cantar suas
canções uma e outra vez, gostando de pensar nelas.
Meu amor. Meu coração disparou, enchendo-se de um calor e uma
alegria que somente o nascimento dos meus filhos poderia competir. —
Meu amor, — eu sussurrei para dentro da sala, quase inaudível, mas
apreciando o som das palavras enquanto saíam dos meus lábios.
Slate riu baixinho ao meu lado, seu peito roncando muito
suavemente.
— Sim, jyoti — ...
Ele deu um beijo leve na minha têmpora, claramente lutando contra
suas próprias emoções, e então deixou sua boca se mover ao lado da
minha orelha.
Ele soprou suas próximas palavras contra mim, e meu coração voou
tão perto do sol que derreteu em sua descida, e eu nunca me senti mais
viva do que naquele momento.
— Você é meu tudo: meu começo, meu fim, cada respiração minha.
Eu te amo, Brooke, minha jyoti.
Capítulo 54
BROOKE

O farfalhar de sua jaqueta finalmente me tirou do sonho que eu tinha


sido complacente em permanecer antes que seu calor deixasse minha
cama.
Foi como um choque para o meu sistema e quase pulei da cama.
— Slate? — Sussurrei a palavra na escuridão mal iluminada.
Suas costas ficaram rígidas e suas mãos pararam na gola da jaqueta
antes de ele finalmente dar um estalo rápido, colocando-a no lugar.
Ele deve ter estado em profunda contemplação sobre algo. Nunca fui
capaz de pegá-lo desprevenido antes.
Virando-se para me encarar, ele me deu um sorriso suave e triste.
Suas passadas eram pesadas enquanto ele se movia em minha direção,
evidência do peso que ele carregava nos ombros.
Quando ele se sentou na beira da cama, ele envolveu minha mão com
as suas.
— Eu tenho que voltar para a matilha. Eu estive longe por muito
tempo.
Já usei o controle remoto para colocar a cama do hospital na posição
vertical para ter uma visão melhor do homem à minha frente.
— Slate, o que há de errado?
Por mais de um momento, ele apenas observou suas mãos moldarem
as minhas.
Havia certa cautela em suas feições. Continha incerteza,
incredulidade e dor.
Pode não ter havido lágrimas, mas isso não parou a tristeza em seu
rosto.
— Meu pai está morto.
As palavras foram ditas suavemente, mas com naturalidade.
Meu cérebro vibrou com palavras que pareciam sem sentido, ou
aquelas que pareciam não serem suficientes.
— Seu pai está...
Eu não conseguia dizer a palavra, mas ele não precisava que eu
dissesse. Ele assentiu brevemente em resposta à minha pergunta.
— O Rei Alfa?
Outro breve aceno enquanto ele deixava seus olhos se moverem para
encontrar os meus.
— E-eu sinto muito, Slate. — O sentimento caiu por terra. Eu não
tinha certeza do que deveria sentir.
Movendo-me para frente, inclinei-me para ele. Meus braços
envolveram seu pescoço e eu ofereci a ele conforto da melhor maneira
que pude.
Ele se inclinou para mim enquanto deixava seu rosto se encaixar na
curva do meu pescoço e inalava meu cheiro.
Sua mão deslizou pelo meu braço, fazendo pequenos arrepios
aparecerem sobre a pele após seu toque.
— Está tudo bem, jyoti.
Ele se afastou de mim e deu um beijo na minha têmpora.
— Faz muito tempo que meu pai e eu não ficamos na mesma sala. Ele
pode ter sido meu pai, mas eu não concordo com seus métodos.
A ligeira curva de seus lábios era sombria.
— Ele me mandou morar com meu avô quando eu ainda era um
adolescente rebelde, há mais de um século.
— Um século? — Quase engasguei com a palavra.
Sua mão deslizou sobre minha pele, fazendo com que todo o meu
corpo estremecesse antes que ele capturasse minha mão novamente com
a dele.
Ele riu baixo. — Eu disse que esperei vidas inteiras por você, jyoti.
— Eu notei.
O choque temperou meu tom com incredulidade. Eu acreditava que
eram apenas palavras... uma expressão.
A sala ficou em silêncio por vários segundos.
— Não era para seu pai ser invencível ou algo assim?
Sua mão roçou minha bochecha enquanto ele tirava o cabelo do meu
rosto.
— Existem aqueles que têm a capacidade de viver por toda a
eternidade, mas ainda assim têm suas fraquezas. Não somos deuses.
Aqueles lindos olhos escanearam meu rosto antes de seguirem seus
dedos pelo meu cabelo.
— A humanidade costumava pensar que eles eram os maiores
predadores. A maioria ainda não pensa de forma diferente. Mas para cada
ser que pensa estar no topo da cadeia alimentar, outro vem à tona. A cada
geração, nascem novos seres que são mais rápidos, mais inteligentes,
mais fortes e mais capazes do que nós.
O toque quente de seus dedos se moveu sob meu queixo e o levantou
muito suavemente, enviando um arrepio pela minha espinha.
Ele se inclinou para frente lentamente, deixando seus lábios roçarem
nos meus.
Sua boca se moveu ternamente contra a minha, doce e lenta como se
ele estivesse saboreando seu vinho favorito.
Eu exalei quando ele finalmente se recostou mais uma vez, seu beijo
demorando e preenchendo todos os vazios como massa em drywall.
Quando finalmente encontrei seus olhos, ele estava sorrindo para
mim.
Foi então que percebi que ainda estava com a cabeça inclinada para
trás após seu toque e corei.
Tentando desviar a atenção do meu constrangimento, limpei a
garganta e coloquei para fora o que veio à mente primeiro.
— Então, não invencível. Entendi. — Limpei minha garganta
novamente, por precaução.
Sua risada retumbou em seu peito enquanto a deixava se espalhar pela
sala. Meu mas era celestial.
— Não é invencível. Mas também não é fácil de matar.
Seu polegar traçou padrões deliciosos no topo da minha mão, aqueles
olhos cinza prateados observando o movimento com ávido interesse
antes de ele continuar.
— Pelo que pudemos discernir, foram caçadores. A incapacidade de
meu pai de aceitar a humanidade e sua aversão a eles como espécie foram
sua ruína. Como um super-herói cria seu próprio inimigo, então meu pai
foi a causa da ascensão dos caçadores.
Os ruídos abafados do corredor se infiltraram na sala enquanto nós
dois ficávamos em silêncio.
Sua mão ainda traçava padrões enquanto eu me encontrava olhando
para todos os pequenos detalhes de seu rosto.
Este era o homem com quem eu queria passar o resto da minha vida.
O desejo me chamou para puxá-lo para perto e mostrar a ele o calor
que seu pai havia recusado. Mostrar a ele como eu o amava.
Antes que eu pudesse abrir minha boca para dizer qualquer coisa,
Slate se levantou da cama.
— Se eu não for agora, receio que não vá nunca.
De pé sobre mim, ele deu um beijo na minha testa e então fez como se
fosse sair pela porta e me deixar para trás.
— Espere!
Ele parou seus passos e eu tirei as cobertas.
— Eu vou também. — Eu deslizei minhas pernas para fora da cama,
tentando abafar os ruídos sibilantes que brotaram na minha garganta.
— Podemos pegar os meninos com Carter antes de sairmos, e eles
podem dormir no carro.
Eu estava mancando até um robe que tinha sido colocado nas costas
de uma das cadeiras na sala antes de Slate tentar impedir meu progresso.
— Não, Brooke. Você precisa descansar. — Seu rosto parecia pálido e
contraído de preocupação. — Você precisa se curar.
Enquanto colocava meus braços no robe, fiz uma careta para o
homem diante de mim.
— Não me diga o que eu preciso fazer. Acho que sou perfeitamente
capaz de tomar minhas próprias decisões, Sr. Alfa.
— Brooke —ele deixou meu nome dançar em seus lábios e língua
enquanto seu peito retumbava com o grunhido de um comando alfa... —
volte para a cama. Você precisa descansar.
A onda requintada de poder me lavou e chamou aquela parte mais
primitiva de mim.
O prazer percorreu meu corpo e me senti obrigada a obedecer. Por
pouco.
Embora eu tenha segurado o encosto da cadeira brevemente para me
apoiar, faltou autoridade para me deixar de joelhos como antes.
De pé, dei um nó no cinto na minha frente e olhei para ele.
Mancando em direção a ele, me movi até ficar na frente dele. Eu o
cutuquei no peito enquanto falava.
— Eu vou e ponto final, Slate.
Eu agarrei o homem pelo colarinho e o puxei para mim. Seus lábios
eram como veludo quando eu deixei os meus tocarem neles.
Minha boca se moveu contra a dele enquanto eu deixei minha língua
provocá-lo e atiçá-lo antes que ele finalmente superasse o choque da ação
e passasse os braços em volta de mim para me puxar para mais perto.
Quando ele me concedeu acesso, deixei minha língua mergulhar em
sua boca para prová-lo.
O gosto inebriante dele combinado com seu cheiro me consumiu e
me fez desejar mais.
Quando pressionei meu corpo contra o dele, o Dr. Thomas entrou na
sala.
A expressão severa dele me deixou saber muito bem que ele não estava
feliz comigo.
— Eu—oh. Você não deveria estar fora da cama, Brooke.
O Dr. Thomas falou baixinho, não querendo quebrar o transe que nos
mantinha ali.
— Você precisa descansar essa perna para não puxar os pontos e
sangrar novamente.
Tirando meu olhar de Slate, me virei lentamente para o Dr. Thomas.
— Eu acho que você vai descobrir que Slate e eu estamos de acordo.
Vamos sair esta noite.
Slate relutantemente me soltou enquanto eu calçava os chinelos na
beira da cama.
— Você pode precisar me medicar, doutor, mas eu vou.
Fiz uma pausa e olhei para pegar Slate me observando, parado a
apenas alguns metros de mim com as mãos nos bolsos.
Uma sensação de admiração iluminava seus olhos e seu rosto exibia
um sorriso profundo.
Meu coração disparou. Tudo sobre ele falava comigo, e eu queria ouvir
cada palavra que dizia.
— Nós ficamos separados por muito tempo. Não estou prestes a
começar a melhor parte da nossa vida com você me deixando.
Quando ele caminhou até mim, eu não tinha certeza do que me
chocou mais: que ele me pegou suavemente em seus braços, ou que seus
olhos prateados brilharam mais forte do que eu já os tinha visto fazer.
Ele enterrou o nariz no meu pescoço e sussurrou em meu ouvido.
— Nunca mais, jyoti
Envolvendo meus braços em volta do pescoço dele, tentei ignorar a
sensação de alfinetadas na minha coxa.
Em vez disso, suspirei... contente. — Agora, vamos buscar os meninos.
Enquanto Slate me carregava pela porta, Thomas riu.
— Vou pegar seus remédios e vamos acompanhá-la para casa.
Casa. Eu deixei minha cabeça descansar no ombro de Slate.
Eu estava indo para casa.
Capítulo 55
BROOKE

Havia tantos motivos pelos quais resistir ao sono era quase impossível
na viagem de avião para casa.
A medicação que o Dr. Thomas me deu, o fato de ser madrugada e o
movimento rítmico do avião funcionaram para me acalmar para dormir.
Sem falar que os assentos do jato particular eram ainda mais
confortáveis do que aquela maldita cama de hospital.
Slate sentou ao meu lado, segurando minha mão enquanto eu dormia.
Na ocasião, eu podia ouvir sua voz de barítono enquanto ele e os
outros discutiam um assunto ou outro.
O tom calmante me manteve em meu sono apenas sabendo que ele
estava comigo.
— O que seu irmão disse a você?
Carter e Slate estavam no meio de uma dessas conversas, tentando
manter a voz baixa para não me acordar.
— Ninguém mostrou quaisquer sinais. — Ele suspirou
profundamente.
— Todos nós teríamos pensado que a deusa já teria feito sua escolha, e
que haveria sinais.
Eu me mexi na cadeira, ainda segurando a mão que segurava a minha.
Bocejando, perguntei: — O que está acontecendo?
O sono ainda me dominava enquanto eu esfregava meus olhos com
minha mão livre.
— Nada, jyoti.
Ele levou minha mão aos lábios e beijou-a com ternura.
— Estaremos pousando dentro de uma hora. Celeste trouxe uma
roupa para você trocar, se quiser tirar essa roupa de hospital.
Olhando para a minha frente, eu resmunguei.
— Sim. — Sentei-me lentamente, alongando-me: — Acho que não
quero me apresentar nessas roupas.
Slate riu. — Não, suponho que não.
Então ele se aproximou, sussurrando em meu ouvido.
— A menos que você queira testar como elas são de fácil acesso.
O sangue correu para a superfície da minha pele, fazendo meu rubor
ficar profundamente vermelho.
— Não me tente, — eu murmurei de volta, querendo distribuir o que
ele estava dando.
Celeste estava ao meu lado e me ajudou a mancar até o quarto e o
banheiro privativo na parte de trás do avião.
Enquanto eu caminhava em direção à parte de trás, ouvi a voz de
Carter.
— Ela já sabe?
Quase torcendo meu pescoço, girei o suficiente para pegar Slate
balançando a cabeça.
Ótimo! Mais segredos!
Não, sem mais segredos. Parando no meu caminho, me virei e
manquei de volta para os dois homens.
— Pensando bem...
Inclinei-me para a frente, apoiando todo o meu peso na cadeira. Cara
a cara com Slate, sorri sedutoramente.
A expressão curiosa que ele usava logo foi substituída por desejo. Te
peguei!
— Por que você não me diz exatamente o que eu não sei.
Ainda sorrindo docemente, eu quase quis rir quando o rosto de Slate
desabou e ele soltou um rosnado.
Ele virou uma carranca para Carter. Carter ergueu as mãos à sua
frente como se fosse se defender de um ataque.
— Ei, pensei que ela já sabia.
A risada estava em seus olhos enquanto ele tentava conter uma risada.
Endireitando-se, levantei minhas sobrancelhas. — Então?
— Duas fases da lua nova já se passaram, — ele finalmente admitiu,
seus olhos percorrendo todo o meu rosto.
— O quê? Por que você não me contou?
O homem agiu como se a notícia não fosse grande coisa, mas eu senti
no fundo do meu coração que era. Talvez pelo fato de me sentir
responsável.
— Brooke, estamos juntos. Se eu sou Alfa Superior ou não, é trivial em
comparação com isso.
Ele estendeu a mão para agarrar minha mão, mas eu a puxei para
longe dele.
Furiosa, me virei para me mover em direção aos aposentos privados
na parte de trás do avião mais uma vez.
Todo o caminho de volta, descobri que estava murmurando para mim
mesma.
Quando estava dentro do quarto e pronta para fechar a porta,
descobri que Slate havia me seguido.
Olhando ao redor dele, procurei na cabana qualquer sinal de Celeste e
minhas roupas.
Não havia sinal dela.
O homem ficou na minha frente, e seu cheiro espiralou em tomo de
mim, fazendo meu coração disparar. Para pensar, tive que me afastar
dele.
— Por que você não me contou? Transparente e honesto, lembra
disso?
Slate sorriu para mim, aquele tipo doce e sexy que fazia meus joelhos
fraquejarem.
— Ou mudo, — ele provocou. — Pelo que me lembro, foi isso que
você optou.
Mesmo que eu tenha tentado evitar, um pequeno sorriso brincalhão
escapou da barreira.
— Sério, Slate. Por que você não me contou?
Ele deu um passo em minha direção, deixando um pequeno espaço
existir entre nós.
— Porque, jyoti você é simplesmente teimosa e teria tentado fazer isso
acontecer para mim, não importando o risco para você.
Sua mão levantou para tirar o cabelo do meu ombro, e então ele o
deixou deslizar por cima do meu ombro e pelo meu braço, deixando
arrepios em seu rastro.
Parecia divino e me perdi em seu toque.
— Alguém tinha que manter a cabeça fria.
Com a mão livre, ele segurou meu rosto e me inclinei em direção ao
seu toque.
— Eu só queria que você tivesse me dado uma escolha, — eu sussurrei.
Meus olhos se fecharam e deixei o calor de seu toque se espalhar por
mim.
— E eu vou conceder a você qualquer escolha que deseja fazer, a
menos que isso coloque você em perigo de alguma forma.
Quando seus lábios roçaram os meus, um estremecimento visível
percorreu meu corpo.
Suspirando com o toque íntimo, minhas mãos se moveram para
espalhar em seu peito largo.
Sob meus dedos, eu podia sentir o calor de sua pele e as batidas de seu
coração.
Foi como mágica enquanto nosso ritmo sincronizava, a pulsação que
corria pelo meu corpo combinando com o baque contra a palma da
minha mão.
Slate tomou posse da minha boca mais uma vez, e quase gemi
enquanto ele explorava seu interior como um mestre habilidoso.
Cada vez que sua língua deslizava contra a minha, o calor líquido
aumentava.
Ambas as mãos embalaram meu pescoço enquanto ele inclinava
minha cabeça para aprofundar o contato enquanto meu corpo
pressionava mais perto do dele.
Meus seios se ergueram contra seu peito, os bicos tensos se eriçando
enquanto roçavam o tecido de algodão áspero da camisola do hospital.
Eles responderam à sua carícia, a cada respiração que ele dava, a cada
beijo que ele me envolvia, a cada batida de seu coração.
Quando suas mãos deslizaram do meu pescoço para deslizar
delicadamente pelas minhas costas antes de segurar minha bunda, eu
senti minha excitação me destruindo.
O estrondo baixo em seu peito tomou muito aparente que ele estava
ciente da minha crescente luxúria.
O comprimento dele que pressionou contra mim só me deixou saber
que ele estava do mesmo jeito.
Suas mãos desamarraram habilmente o cinto do meu robe antes de
colocá-las dentro do tecido de pelúcia e empurrá-lo para longe do meu
corpo.
Seus dedos se moveram suavemente contra minha pele quando o robe
caiu no chão em uma pilha aos meus pés.
Escovando uma mecha de cabelo solta para trás, ele deixou suas mãos
repetirem seu caminho, a fenda na parte de trás do vestido permitindo
que cada toque me torturasse em seu rastro.
Quando suas mãos seguraram minha bunda mais uma vez, ele gemeu.
— Oh, céus, — ele sussurrou contra meus lábios antes de esmagá-los
contra os meus.
Minhas mãos cravaram no cabelo de sua nuca, minhas unhas
dançando na pele e provocando um gemido do homem diante de mim.
Tendo vontade própria, minhas mãos traçaram seu caminho até os
botões de sua camisa.
Elas pararam sobre cada um para desfazê-los, liberando o tecido que
os mantinha de seu destino desejado.
Uma vez que todos os botões foram liberados de seus limites, eu me
afastei de seu beijo.
Eu queria me deliciar em sua perfeição, ver a pele tensa que se
estendia pelos músculos que subiam e desciam em bela sincronicidade.
Embora ele não tenha se movido, suas mãos permaneceram no
território que reivindicaram.
Seu grunhido de aprovação me deixou saber que ele estava muito feliz
em me deixar saborear a visão dele.
Minhas mãos brincaram ao longo das curvas de seu abdômen
enquanto se moviam em direção ao seu peito largo.
Deslizando suavemente pela superfície, deixei meus dedos roçarem
seus mamilos.
Fui recompensada com um gemido suave quando ele inclinou a
cabeça um pouco.
Quando tirei a camisa de seus ombros, seu peito retumbou. Sorrindo
para ele, eu cutuquei mais uma vez quando ele finalmente cedeu.
Liberando seu domínio sobre mim, ele me permitiu tirar sua camisa.
Meus dedos deslizaram sobre os músculos de seus braços antes de se
entrelaçar com os dele quando sua camisa atingiu o chão. Meus olhos
deslizaram sobre sua carne exposta.
O homem era lindo além das palavras.
Quando eu deixei meus olhos vagarem de volta para encontrar os
dele, eu respirei fundo. Olhos prateados radiantes encontraram os meus.
— Lindo, — eu respirei.
A palavra escapou em um suspiro, uma das minhas mãos se libertando
para pressionar contra sua bochecha.
Puxando-me para ele, o calor de sua boca procurou a minha com uma
necessidade que eu entendi muito bem.
Com mãos hábeis, ele puxou todos os laços que prendiam a roupa no
lugar e puxou-a para fora do meu corpo.
Tudo o que se interpôs entre mim e sua visão de todo o meu ser era
um pedaço fino de seda, e ele teve tempo para deixar seus olhos
percorrerem o meu comprimento.
— Deusa me ajude, você é maravilhosa, jyoti
Seu corpo tremia sob meus dedos.
— Eu não posso resistir a você, mas eu nunca me perdoaria se eu te
machucasse. Estou lutando para não me enterrar em você e reivindicá-la
aqui e agora.
Agarrando sua mão livre, dei um beijo em sua palma antes de
pressionar a mão forte contra a carne em meu ombro.
Lentamente, eu deslizei sua mão pelo meu peito e a movi para segurar
meu seio.
Minha mão segurou a dele enquanto eu fixava os olhos nos dele.
— Então, o que está impedindo você? — Meu tom gotejou com
excitação.
Um rosnado torturado rasgou por ele enquanto ele tomava sua
decisão.
— Na cadeira, jyoti. Descanse seu peso contra as costas dela.
Virando minhas costas para ele, inclinei-me contra as costas da
cadeira. Com uma pitada de constrangimento, me virei para observar sua
reação à minha oferta.
O estrondo ainda vibrava em seu peito, seus olhos fixos na seda que o
impedia de ver o que havia além.
Quando seus olhos voltaram a prender os meus, era como se ele
pudesse ver dentro da minha alma.
O arrepio percorreu meu corpo.
Ele deu um passo em minha direção em movimentos lentos e
calculistas, quanto mais perto ele estava, mais meu corpo estremecia de
necessidade.
A necessidade que começou a me oprimir era quase dolorosa em sua
presença.
Quando sua mão dançou se moveu ao redor de mim e sobre meu seio,
estremeci de desejo lascivo.
— Oh, isso. — Eu pressionei meu peito em suas mãos, implorando por
mais enquanto minha respiração saia irregular.
Aceitando o convite, seus dedos prestaram homenagem aos bicos
escuros que se animaram com seu toque e deixaram uma poça de calor
em minhas profundezas.
Sua mão livre se moveu pelas minhas costas, da nuca até a parte
inferior delas.
Aqueles dedos fortes deslizaram pelo tecido em direção ao meu calor.
Minha respiração engatou enquanto eles se moviam através da minha
necessidade e, em seguida, sobre a minha protuberância que implorava
por atrito.
Ele era mais do que complacente. Eu gritei com sua oferta, e ele
gemeu atrás de mim.
O que deixou sua boca foi algo entre um grunhido e um gemido.
— Eu não posso esperar, jyoti. Eu preciso de você agora — Ele se moveu
atrás de mim. — Sinto muito.
— Para quê, — eu respirei. Meu corpo estava preparado e eu estava
pronto para implorar por satisfação.
— Isso, — ele grunhiu enquanto retalhava a roupa de baixo.
Uma vez que o tecido rasgado foi atirado para o outro lado da sala, ele
deixou sua mão voltar para deslizar contra o meu sexo.
Estremeci a cada estocada, a cada passagem por aquele botão de
prazer.
— Droga, jyoti. Você é a perfeição!
Enquanto seus dedos continuavam a oferecer uma onda de prazer,
minhas pernas tremeram.
Em uma dessas passagens, ele deixou um dedo deslizar em meu
interior, fazendo-me gemer.
Ele deslizou profundamente dentro do meu canal antes de enrolá-lo
contra aquele pedaço de carne na frente das minhas paredes que me fez
desmoronar.
— Hmm. — O som saiu dele e vibrou contra mim.
Essas vibrações ressoaram profundamente enquanto ele acariciava seu
dedo contra aquele ponto doce. Eu gritei novamente, desesperada para
ter mais.
Querendo oferecer mais, ele deslizou outro dedo enquanto bombeava
para dentro e para fora do meu lugar mais secreto.
Meus sucos me inundaram e o revestiram enquanto ele aumentava
seu ritmo.
— Por favor, Slate, — eu implorei. A onda de êxtase ameaçou tomar
conta de mim e meu corpo ficou tenso.
— É isso, jyoti. Venha até mim.
Entre seu pedido e sua atenção para aquele local que ameaçava me
levar para o limite, meu corpo começou a tremer.
Liberando meu seio, ele deslizou para baixo sobre meu abdômen.
Quando ele moveu um dedo forte sobre a protuberância, eu
desmoronei.
Meus ossos se dissolveram quando meu peso caiu contra ele e a
cadeira embaixo de mim.
Ele rosnou, e outra onda balançou através de mim.
— Isso é muito sexy, — ele sussurrou com uma reverência que me
trouxe de volta à vida.
— Ver você se desfazer assim em meus braços...
hmm.
Seus dedos se moveram contra mim mais uma vez, deixando-os
deslizar pela recompensa de seu toque.
— Jyoti, — disse ele, com desespero em sua voz, — se não é isso que
você quer, você precisa me dizer agora.
Arqueando minhas costas, concedi a ele um acesso mais fácil e ele
quase gemeu.
— Eu não estou impedindo você, Slate.
— Você entende o que está pedindo. — Sua voz parecia torturada.
— Sim, — eu respirei, seus dedos me desequilibrando mais uma vez.
Sua voz se tomou suplicante. — Diga,
Brooke. Diga-me por favor.
Meu corpo tremia com o poder absoluto dele, e o poder que ele me
concedeu.
— Me faça sua, companheiro
Em segundos, ele tirou as calças.
Ele pressionou o calor dele contra mim, e a suavidade aveludada
deslizou facilmente entre minhas dobras.
Para cada impulso, ele criou uma fricção que criou deliciosas ondas de
calor correndo por mim.
Meu corpo arqueou e se moveu, buscando refúgio do calor crescente.
— Por favor, — eu ofeguei com um suspiro.
Eu não teria que pedir novamente. Tomando todo o corpo dele em
suas mãos, ele o deixou balançar suavemente na minha entrada.
Com ele revestido com nosso sabor, ele passou a mão pelas minhas
costas para me apoiar, segurando meu ombro antes de gentilmente se
guiar em meu calor.
A sensação dele era divina enquanto ele avançava para dentro tão
cuidadosamente quanto sua resolução permitia.
A cada onda, eu gemia de êxtase.
Quando ele foi enterrado bem no fundo, ele deu a nós dois um
minuto para nos ajustarmos.
Lentamente, ele começou a empurrar dentro de mim. Com contenção
que era quase desumana, ele tomou seu tempo enquanto deixava seu
ritmo e sua investida aumentarem.
Meu corpo começou a agarrar a parte dele que afundava dentro de
mim, apertando em tomo dele enquanto meu corpo se preparava para
uma liberação que iria me consumir.
Seu ritmo acelerou, o aperto da minha passagem encorajando suas
estocadas profundas.
Meu corpo começou a tremer quando pude sentir a culminação
tomando conta de mim.
— Ainda não, Brooke. — Ele se inclinou sobre mim, seu orgasmo tão
próximo quanto o meu.
— Prepare-se, amor.
Eu não tinha certeza do que ele queria dizer, minha atenção absorvida
no puro êxtase que ele extraia de cada poro do meu ser.
Sua boca se moveu em meu pescoço, sua língua e dentes beliscando e
provando seu caminho até aquele lugar que me faria dele para sempre.
Assim que a sensação de entendimento se agarrou a mim, ele mordeu
a parte sensível do meu ombro.
Eu gritei, alto o suficiente para todo o avião ouvir.
Tão rápido quanto meu cérebro reconheceu a dor disso, ele passou
para a euforia que agora se derramava.
Desta vez, quando eu gritei, foi puro prazer quando todo o meu ser o
agarrou em um êxtase que nunca soube que existia.
Não havia nenhuma parte de mim que não estivesse completamente
saciada... nenhuma parte que não estivesse completa.
Exaltação, euforia, amor... Eu montei nas marés de todos eles
enquanto sua semente me inundava.
Sua língua lambeu a ferida resultante de sua própria ação.
Cada golpe enviou um arrepio através de mim, como se meu corpo
estivesse se preparando para mais uma rodada.
Minhas pernas já haviam cedido debaixo de mim e eu estava grata pela
cadeira em que agora estava encostada.
Slate me pegou e me levou para a cama, com cuidado para não
esfregar contra minha coxa ferida.
Com uma respiração irregular, puxei-o para onde estava deitado na
cama.
— Isso foi...
— Do jeito que deve ser entre companheiros.
Ele sorriu para mim antes de beijar minha testa antes de envolver um
braço em volta de mim.
— Tente descansar.
Aconchegando-me o mais perto que pude, suspirei. Contentamento
me revestiu enquanto eu estava deitada ao lado dele.
Bocejando, coloquei a mão em seu peito enquanto deixei minhas
pálpebras caírem perigosamente para baixo.
— Boa noite, bons sonhos, — comecei brincando. — Eu te amo.
Abaixo da minha cabeça, seu coração trovejou em seu peito e uma
onda de alegria explodiu dentro de mim.
— Eu te amo, jyoti.
Com um sorriso estampado no rosto, adormeci.
Capítulo 56
BROOKE

A viagem de volta à Lunar Ridge a partir da pista de pouso particular


foi animada.
Os meninos estavam conversando incessantemente sobre ver todos os
seus amigos novamente, especialmente os filhos de Carter, e voltar para
seu forte.
A conversa deles enchia o carro, o que não permitia muita interação
entre Slate e eu.
Estávamos contentes em segurar a mão um do outro durante a
viagem.
— Eu e Chase podemos brincar nos balanços...
Hayden começou seu pequeno salto enquanto ficava mais animado
com seus pensamentos.
— Talvez possamos montar uma barraca em nossa casa. Isso seria
divertido.
Aaron sorriu para Hayden de seu lado do SUV.
Quase como se o estivesse incitando, ele respondeu: — Talvez
pudéssemos contar histórias assustadoras de novo.
Hayden se virou para seu irmão e franziu a testa. — Chase não é
assustador.
Seus pensamentos vagaram para outro lugar antes de acrescentar: —
Mas ele é muito bom em esconde-esconde. Ele sempre me encontra.
Aaron deu uma risadinha. — E porque você cheira mal.
Ele puxou os dedos para cima para apertar o nariz enquanto seu rosto
se enrugou para reforçar suas palavras.
— Ei! Eu não cheiro mal. — Hayden voltou seus olhos suplicantes
para mim. — Diga a ele que eu não cheiro mal, — ele choramingou.
O sorriso que abriu meu rosto foi fácil, e tudo isso parecia... certo.
— Não, querido. Você não cheira mal. Aaron quer dizer apenas que
Chase pode sentir seu cheiro. Ele tem um olfato muito bom.
Eu deixei meus olhos percorrerem o interior do carro antes que eles
colidissem brevemente com os de Slate.
Seus olhos brilharam com encanto, causando um arrepio sobre mim.
— Oh, você quer dizer porque ele é um lobo, — Hayden raciocinou.
Esse sorriso pertence exatamente onde está. Isso rouba meu fôlego.
Suas palavras me fizeram corar, até que transpareceu que ele não
abriu a boca para falar.
— Espere, você acabou de...
O vínculo de acasalamento.
Ele deixou seus olhos caírem de lado e sorriu para mim antes de
deslizá-los de volta para a estrada à frente.
— Então, eu posso...
Ele moveu nossas mãos entrelaçadas para que um de seus dedos
pressionasse suavemente contra meus lábios, efetivamente parando o
resto das palavras e perguntas que eu estava pronta para disparar.
Movendo nossas mãos para deixar o mesmo dedo tocar sua própria
têmpora, ele me lançou um sorriso encorajador. Os pensamentos se
confundiram em meu cérebro.
— Mas como...
Slate riu e balançou a cabeça enquanto levava nossas mãos aos lábios e
pressionava um beijo contra as minhas.
Inspire, concentre-se no QUE você quer dizer e para QUEM você quer
dizer expire e libere seus pensamentos.
Respirando fundo, deixo expandir em meu peito. Pegando um
pensamento, exalei minha respiração.
Assim?
O pensamento soou diferente na minha cabeça.
Ele soou mais verdadeiro em meus ouvidos, e eu pude sentir mais do
que ouvir o entusiasmo e admiração por trás do próprio pensamento.
Mesmo que fosse meu próprio pensamento, era mais íntimo do que
qualquer coisa que eu havia imaginado antes.
Havia um saber de que o pensamento seria ouvido por outros e
continha mais do que apenas palavras.
Se possível, o pensamento tomou-se uma expressão viva
tridimensional em oposição à expressão bidimensional em palavras.
Slate assentiu e beijou as costas da minha mão mais uma vez
enquanto ria. Eu era como uma criança em uma loja de doces, cujos
olhos eram maiores do que seu orçamento.
Respire e concentre-se. Você vai me dar dor de cabeça se continuar
projetando como está.
Isso é incrível! Fiquei entusiasmada e minha mente tropeçou em
palavras para expressar minha admiração por tudo isso.
Então suas palavras me atingiram.
— Oh espere! Quer dizer que você pode ouvir tudo o que estou
pensando?
O pensamento me surpreendeu, me agradou e me deixou inquieta ao
mesmo tempo.
No momento, você está projetando tudo em sua cabeça. Coisas que você
quer me dizer estão aparecendo, mas são demais ao mesmo tempo.
Juntos, trabalharemos para tranquilizar sua mente, proteger seus
pensamentos e transmitir instantaneamente.
Quando ele sorriu, pude sentir o calor se espalhar por mim como se
eu fosse a única sorrindo.
Mas, por enquanto, vamos trabalhar na respiração e na concentração.
Arrastando outra respiração, eu estava pronta para tentar novamente
quando senti seu humor mudar.
No momento em que a consciência mudou no carro, eu senti.
Não tenho certeza de que sentimentos fluíram através de mim no
momento, mas espinhos de advertência fizeram uma aparição em minha
pele. Um carro foi deixado sem vigilância no acostamento com as luzes
de emergência acesas.
Havia um pano branco fino pendurado para fora da janela que enviou
um aviso silencioso, e um arrepio percorreu minha espinha.
Ainda estávamos a vários quilômetros dos portões da matilha,
praticamente em uma terra de ninguém.
Meu estômago apertou e uma rápida sensação de mau presságio me
dominou.
Eu agarrei a mão que ainda estava enrolada na minha.
Lancei a Slate um olhar cauteloso enquanto ele reduzia a velocidade
do veículo. — Alguém que você conhece?
Slate balançou a cabeça lentamente.
— Eles podem estar visitando as terras de nossa matilha, — ele disse
em um tom abafado, dando uma inspeção próxima ao veículo e seus
arredores.
— Você está ciente de alguém visitando?
— Não, — ele respondeu.
Seus olhos se estreitaram no veículo, em seguida, vasculharam a
floresta circundante enquanto ele estacionava o veículo. Quando ele
estacionou, ele se virou para mim.
— Espere aqui enquanto eu verifico. Provavelmente não é nada.
Embora ele tentasse manter seu tom leve, havia uma tensão em seus
lábios que me preocupou.
— Por que você tinha que dizer isso? As famosas últimas palavras, —
eu resmunguei.
Ele me lançou um sorriso enquanto apertava minha mão.
Se alguma coisa acontecer, sente-se no banco do motorista e vá embora.
Entendeu?
Olhando para ele, percebi que ele sabia tão bem quanto eu que algo
estava errado.
Não, eu não entendi. Devemos chamar reforços.
Ele sorriu para mim. Já fiz isso.
Com isso, ele abriu a porta. Seus movimentos eram praticados
enquanto seus olhos continuavam a examinar a área.
Lentamente, ele vagou ao redor do veículo abandonado, seu peito
expandindo enquanto ele inspirava profundamente.
O olhar perplexo em seu rosto com o que ele cheirou me deixou ainda
mais ansiosa.
Sem aviso, seu corpo ficou mole e desabou no chão.
Quase engasguei com meu grito e os meninos ficaram em silêncio no
banco de trás.
O choque embaralhou meu cérebro antes que eu arrancasse o cinto de
segurança de mim.
— Meninos, fiquem aqui, fechem as portas e não deixem ninguém
entrar. — Eu disse por cima do ombro.
Abrindo a porta do carro, eu praticamente caí do SUV. Minha perna
teve um espasmo enquanto eu meio que rastejei e meio que andei até
onde Slate estava imóvel na estrada empoeirada.
Eu podia ouvir vagamente as vozes dos meninos me chamando
enquanto eu tropeçava no chão, mas não conseguia discernir o que eles
estavam dizendo.
Alcançando Slate, puxei-me para mais perto dele antes de colocar sua
cabeça no meu colo.
— Slate! Slate, — eu gritei enquanto corria minhas mãos em seu rosto.
A lateral da minha mão bateu contra um pequeno dardo de madeira
que havia penetrado em sua pele cerca de meia polegada de
profundidade.
A parte saliente tinha talvez uma polegada de comprimento, mas era o
que estava nela que me preocupava.
O maldito objeto era tão leve que, quando o arranquei da lateral do
pescoço dele e joguei para longe de mim, ele só conseguiu cair a poucos
metros de onde eu estava.
Balançando-o no meu colo, senti lágrimas se formarem em meus
olhos.
— Não, você tem que estar bem, eu acabei de te encontrar, — eu
sussurrei, desejando que as palavras fossem verdade.
— Por favor, Slate —afastei o cabelo de seu rosto... — por favor, abra
os olhos. Por favor...
Olhando para seu rosto, parecia tão pacífico em meio à minha própria
preocupação. As lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto.
Inclinando-me sobre ele, beijei sua testa enquanto minhas lágrimas
caíam em sua bochecha.
Meus dedos trêmulos se moveram em seu rosto para descansar contra
a pulsação em seu pescoço. Quando não consegui sentir nada,
pressionei-os contra seu pescoço com mais firmeza, rezando por um
resultado diferente. Nada ainda.
Meu estômago embrulhou quando o pânico tomou conta de mim.
Isso não poderia estar acontecendo!
Respire e concentre-se!
Se eu não me controlasse, seria inútil ajudá-lo.
Inspirando profundamente, eu segurei enquanto tentava novamente.
Meus dedos percorreram o lado de sua garganta, em busca da
pulsação que aliviaria a dor que crescia em meu peito.
Cada lugar em que pousavam, eu os pressionava firmemente contra
sua pele, prendendo a respiração para sentir até o menor pulso.
Finalmente, lá estava ele... o mais fraco dos latejantes contra as pontas
dos meus dedos.
Drogado! Ele estava apenas drogado.
O que quer que estivesse naquele dardo o fez desmaiar da mesma
forma que Celeste.
Eu vasculhei meu cérebro tentando lembrar como Gwen chamava
isso, mas me iludiu.
As vozes abafadas dos meus filhos foram registradas agora que eu
sabia que Slate ainda estava vivo.
Suas vozes agudas soavam mais estridentes do que o normal e eu me
virei para onde eles ainda estavam trancados no carro.
— Você, — eu assobiei.
A mulher abriu um sorriso largo e ameaçador.
— Olá, Brooke, — ela rosnou, levantando seus lábios para expor
aqueles caninos afiados.
— Gretchen? — Uma voz masculina chamou das profundezas da
floresta, quase inaudível.
A voz de Mark.
Seus olhos rolaram para o céu antes de me encarar mais uma vez.
— Parece que terei que ser rápida, não é? Não gostaria que meu
companheiro visse o que estou prestes a fazer.
— As crianças estão bem ali. Eles podem ver tudo o que você faz. Ele
ama essas crianças mais do que sua própria vida. Como você vai explicar
isso a ele?
Embora fosse um tiro no escuro, eu tinha que tentar.
A mulher diante de mim encolheu os ombros.
— Acho que vamos ter que começar de novo. Você sabe, aliviar a
bagagem dele.
Ela torceu o nariz enquanto zombava de mim. — Mas há aquele
terrível pacto de sangue.
— Suponho que terei apenas que ver o que resta no estoque de coisas
do Mac. Talvez uma pequena lavagem cerebral. Ou amnésia temporária.
Ela encolheu os ombros.
— Não será da sua conta.
— Gretchen! — Mark chamou novamente.
Ele estava mais perto, mas até eu poderia dizer que ele estava se
movendo lentamente através do labirinto de árvores, levando seu tempo
enquanto seguia seu rastro.
Colocando-me na frente de Slate, eu queria manter sua atenção em
mim. Até então, talvez seus homens já estivessem aqui. Eu precisava
ganhar tempo para eles.
— Ele tentou ajudar você, ajudar Mark. Por que você o atacaria assim?
Embora eu falasse com ela, meus olhos continuavam se movendo da
linha das árvores para meus filhos.
A mulher riu, a mágoa vincando o som perverso.
— Ele não fez isso por nós. Ele fez isso por você. Você acha que eu sou
estúpida? Nenhum outro alfa deixaria os membros de uma matilha de
lobos atacando viver. Não por minha causa ou por Mark —por causa de
você.
Ela deu mais um passo enquanto deixava seu olhar aquecido fixar-se
em sua forma inconsciente.
— Mas ele ultrapassou o limite quando matou minha mãe!
A bile na minha garganta queimou enquanto eu sufocava minha raiva.
— Sua mãe tentou matar a mim e a ele. Ela não era diferente de seus
irmãos.
Meu olhar agora totalmente focado em seu rosto, em suas reações.
Gretchen zombou.
— Meus irmãos eram tolos, com pressa demais para pegar o que
acreditavam ser deles por direito, desafiando minhas ordens. Eles
tiveram o que estava guardado para eles.
Seus punhos estavam cerrados ao lado do corpo.
— Mas minha mãe ficou muito triste com a perda de seus filhos, e
tudo em que Slate conseguia pensar era em vingar sua companheira.
Sua voz se arrastou pelas últimas palavras como se estivessem
doentes. Ela deu passos ameaçadores em nossa direção de onde havia
emergido da linha das árvores ao lado da estrada.
— Você não faria isso. Você não tentaria matar o Alfa Superior. Seria
uma sentença de morte!
Foi um blefe, que eu esperava que ela não me chamasse.
A risada perversa que explodiu de dentro dela enviou calafrios pela
minha pele.
Droga. Ela sabia.
— Minha deusa, mas como todos parecem manter segredos de você?
Ainda a alguns metros de nós, ela se agachou perto do chão,
inclinando-se para a frente com uma das mãos para ficar no nível dos
meus olhos.
Tinha uma semelhança assustadora com um gato brincando com sua
presa e pronto para atacar a qualquer momento.
— A lua nova já passou. E com isso, seus poderes. — Seus olhos
percorreram meu rosto. — Mas você sabia disso, não é?
Não respondi sua pergunta, apenas a encarei com o máximo de
desafio que pude chamar à superfície.
Cacarejando, ela deixou o peso de seu corpo rolar para trás contra
seus pés.
— Esquece. Eu tenho minha resposta.
A beldade ruiva com belos olhos castanhos se levantou e se limpou.
— O que importa é que, depois de todos esses séculos, finalmente
teremos a liberdade de expandir nossas terras da matilha sem a
interferência do grande — lobo mau Seus olhos estavam quase selvagens.
— Eu pensei que você acreditasse nas leis deles?
— Por que, porque Mark te disse isso? Pfft. — Ela lançou seu olhar
para o céu antes de olhar para mim.
— Ele é um escoteiro!
Ela cuspiu a palavra como se a enojasse. Como ela podia sentir tanta
animosidade por seu companheiro?
— Ele não teria entendido. Eu tive que mantê-lo no escuro sobre
muitas coisas.
A ironia não passou despercebida, mas meu coração doeu por ele.
— Gretchen!
Ele estava se aproximando e eu enviei uma oração silenciosa para que
ele conseguisse antes que ela se mexesse.
Quando ela se virou para a linha das árvores, peguei a mão de Slate se
contorcendo com o canto do meu olho. Rapidamente, movi minha mão
sobre a dele para escondê-la de sua visão.
Quando ela voltou seu olhar para mim, ela zombou do gesto.
— Aw, encontrando conforto em seus últimos momentos juntos?
Pena que ele não estará acordado para eles.
Ela caminhou pelo chão para ficar aos pés dele e então lhe deu um
chute rápido.
— Eu amo acônito e cicuta. Eu não tinha certeza da dose, mas devo
ter chegado perto o suficiente. Minha mãe realmente sabia das coisas
quando se tratava de ervas e alquimia.
— Ela não era sua mãe, — eu sussurrei. Em algum lugar ao longo do
caminho, a menina dentro dela se perdeu para aquela mulher.
Ela se moveu tão rapidamente que não tive tempo de reagir. Sua mão
me atingiu com força no rosto.
Minha cabeça virou para o lado com a força absoluta, e levei um
segundo para me concentrar e voltar minha atenção para ela.
Recusei-me a esfregar o ponto que agora estava vermelho brilhante,
para dar a ela a satisfação.
— Aquela mulher me apoiou em tudo o que eu fiz. Isso é mais do que
posso dizer sobre meu próprio pai.
Ela ergueu uma mão petulante na frente dela.
— Ele acreditava em toda aquela merda tradicional. A hierarquia, as
regras, os idiotas que comandavam todo o negócio. Eu? Prefiro governar
sem consequências.
Minha mão correu pelo chão abaixo de mim, procurando qualquer
meio de nivelar o campo de jogo.
— Você quer dizer que ela... fez uma lavagem cerebral em você.
Enquanto dizia as palavras, vi um lampejo de metal em suas mãos.
O lampejo de raiva brilhou tão duramente quanto o lampejo de metal
que ela segurava. Ela ficou perto de mim e ergueu a mão.
— Parece que você será a primeira, — ela rosnou.
A saída de Mark da linha das árvores foi como um bálsamo em uma
ferida, mesmo que ele ainda estivesse muito longe para ajudar.
Foi o suficiente para que ele chamasse sua atenção por apenas alguns
segundos.
Pegando um punhado de terra e seixos que estavam espalhados abaixo
de mim, eu os lancei o mais forte que pude em seu rosto quando seus
olhos voltaram a encontrar os meus.
Eles tiveram o efeito desejado.
Fazendo uma careta de dor, inclinei-me o máximo que pude sobre
minha perna machucada, empurrei minha outra perna para trás e chutei
o mais forte que pude nas rótulas da mulher.
Gretchen cedeu com o impacto antes de ter a chance de limpar sua
visão.
Seu grito não era tanto de dor do ferimento, mas de fúria e frustração
de ter uma humana levando o melhor dela.
Um sussurro de um gemido grave caiu de Slate quando sua mão fez
uma contração involuntária.
Fechando meus olhos por um breve momento, apelei aos céus para
que ela não percebesse.
— Não! Não!
Ela enxugou os olhos com as mangas para limpar a visão, a faca em
suas mãos agarrada com força.
— Você não vai escapar assim tão fácil!
Se eu tinha alguma esperança de que ela não o tivesse ouvido, ela foi
destruída naquele momento.
Quando ele gemeu novamente, eu a vi pronta para balançar sua arma
com o barulho que ele estava fazendo. Sua atenção foi atraída para sua
localização.
— Você acha que isso é fácil?
Eu rastejei para longe de seu corpo, chamando sua atenção para mim
enquanto falava.
Deslizando pelo chão, minha mão tocou uma lasca de madeira.
O dardo não tinha ido muito longe de mim, e eu meio que me
perguntei se a coisa toda tinha sido mergulhada em seu veneno, ou se
havia alguma quantidade restante em sua ponta.
Meus dedos envolveram o dardo enquanto eu continuava a me afastar
do homem que eu amava. Pelo menos eu podia prever isso.
Sua mão balançou descontroladamente na frente dela em direção à
minha voz enquanto ela continuava a enxugar os olhos na manga.
Quando o corpo dele se mexeu contra o cascalho, ela desviou sua
atenção de mim para o barulho farfalhante.
Respiração... foco... liberação.
Não se mova. Você tem que ficar quieto, meu amor.
— Você ainda pode fugir disso, Gretchen.
Continuei a deslizar de volta pela terra, chamando sua atenção mais
uma vez para a minha localização.
Mark estava correndo em nossa direção, mas ela estava apenas focada
em ouvir o movimento à sua frente.
Meus pontos puxaram enquanto eu rolei meu corpo sobre a terra,
mudando de direção bruscamente para impedi-la de antecipar meu
próximo movimento.
Enxugando os olhos mais uma vez contra a manga, ela balançou a
adaga em um golpe violento na frente dela.
Quando passou pelo meu rosto, peguei seu pulso com uma das mãos.
Ela rosnou, puxando a mão e me levantando do chão enquanto o
fazia.
Eu sibilei por entre os dentes ao sentir a dor aguda em minha perna
passando por mim.
Ela era definitivamente mais forte do que eu, mas isso não significa
que eu não pudesse machucá-la. Minha outra mão que segurava o dardo
surgiu no ar em direção ao seu peito.
Ela me atacou com dentes alongados um pouco antes do dardo
perfurar sua pele.
Rezando para que houvesse o suficiente daquele maldito acônito, eu
empurrei ainda mais na carne entre seu ombro e seio antes de aterrissar
com força contra o chão.
Eu gritei quando bati no chão e senti os pontos esticarem em uma
nova extensão.
O rosto de Mark se contorceu de preocupação enquanto ele
rapidamente fazia seu caminho para o meu lado, agachando-se para me
ajudar a levantar.
Ele passou os braços fortes em volta de mim enquanto eu gemia de
dor, obrigando-o a ser mais gentil.
O grito de Gretchen encheu o ar como o de uma banshee, e ela girou
em direção aos sons do meu sofrimento.
Ela ergueu a mão mais uma vez, o lampejo de metal mortal em seu
brilho evidente apenas alguns momentos antes de ela atacar.
Minha mente gritou antes de sair da minha garganta.
Eu assisti com horror quando sua mão desceu com força e afundou na
carne, seus gritos combinados com os meus enquanto o sangue
derramava.
Capítulo 57
BROOKE

— Papai!
Aaron e Hayden gritaram quando abriram a porta e correram para
onde seu pai estava estendido no meu colo, sua vida diminuindo a cada
batimento cardíaco.
Meu coração se partiu quando o choque deixou o tempo escapar de
mim. As vozes das crianças pareciam distantes, embora estivessem quase
ao meu lado.
A besta estava na minha frente lutando contra seus próprios
demônios enquanto seu corpo tremia de uma dor desconhecida.
Do canto dos meus olhos, eu observei enquanto Slate tentava se
endireitar, os efeitos do acônito ainda se apegando a ele.
Forçando-se a se levantar, ele cambaleou e tropeçou em seus pés
enquanto lutava muito para limpar sua visão.
— Brooke?
Embora o tenha ouvido, não pude responder.
Depois de remover a adaga do peito de Mark, joguei-a do outro lado
da estrada para longe.
Seu lobo não poderia curar a ferida se ela permanecesse, disso eu
sabia.
Minhas mãos estavam cobertas com o sangue de Mark enquanto eu as
pressionava firmemente contra sua ferida, desejando que o sangue
voltasse de onde veio.
— Mark, por favor, — eu sussurrei enquanto continuava a empurrar
para baixo o mais forte que podia.
A dor na minha perna agora estava mascarada pela dor no meu peito.
Gretchen se dobrou segurando o peito, a dor rastejando por todo o
seu ser de uma maneira que fez o meu parecer uma brincadeira de
criança.
— Mark? — Lágrimas não derramadas fizeram seus olhos castanhos
parecerem úmidos e vidrados.
— Mark, — ela sussurrou. Seu corpo caiu no chão sobre os joelhos já
estourados.
— O que eu fiz, — ela se perguntou.
Slate, ainda tonto e lutando para se manter de pé, gentilmente
segurou meu braço para me ajudar a deslizar para fora do corpo de Mark.
Algo entre um gemido, grito e berro passou pelos meus lábios
enquanto eu lutava para me mover.
— Deixe-me ajudá-lo, jyoti ele disse ternamente.
Colaborando, eu o deixei me ajudar a afastar-se para que ele pudesse
se posicionar melhor para ajudar.
Rasgando sua camisa, Slate a enrolou antes de colocá-la contra o
ferimento.
— Vamos, Mark. Acesse seu lobo, — Slate comandou.
Seu rosto fez uma careta quando ele deixou o comando alfa rolar por
ele. Mark cuspiu e tossiu em resposta.
— Mark?
Eu me movi para o topo de sua cabeça e deixei minha mão segurar sua
bochecha enquanto Slate continuava tentando.
As lágrimas tomaram quase impossível notar o movimento ao meu
lado.
— Fiquem longe dele!
Gretchen tinha se arrastado a distância restante para se sentar ao lado
de seu companheiro, expondo suas garras e nos empurrando para longe
do homem que estava sangrando.
— Vão! Saiam!
Sua outra mão disparou e me empurrou para longe dele, mostrando
garras alongadas como uma ameaça antes de apertar sua mão na dela.
Suas feições suavizaram enquanto as lágrimas escorriam por suas
bochechas.
— Por favor, querido. Eu sinto muitíssimo. Por favor, não me deixe.
Slate pegou minha mão e me deslizou em direção a ele do outro lado
de Mark, mantendo-me bem fora do alcance de Gretchen.
A cabeça de Mark caiu em minha direção, sua boca estalando antes
que ele tentasse sorrir.
A faca deve ter perfurado um pulmão. Ele moveu os lábios, mas
nenhuma palavra saiu. Eu não precisava de palavras para saber o que ele
murmurou para mim.
Eu te amo, minha rocha.
Um pequeno fluxo de sangue fluiu de sua ferida enquanto Slate me
ajudava a levantar do chão, me puxando contra ele, sustentando meu
peso.
Soluçando, me agarrei a Slate quando a luz deixou os olhos de Mark,
meu coração apertado.
Os meninos se agarraram a nós enquanto estávamos de pé, seus
pequenos corpos tremendo com suas próprias emoções.
Gretchen uivou algo desesperado e lamentável para o céu da manhã.
O som triste perfurando as árvores ao nosso redor.
A profunda tristeza dentro de seu chamado acenou para algo mais
primitivo antes de descer sobre ela como soluços cheios de angústia e
desesperança.
De dentro da floresta, lobos e animais da floresta uivavam, gritavam e
rugiam enquanto uma onda de energia crua varria ao nosso redor.
Os sons ecoaram e a brisa aumentou enquanto descia sobre nós como
energia tangível.
O próprio lamento desesperado de Gretchen misturou-se ao rugido
do vento que soprava ao nosso redor.
Meus meninos e eu nos agarramos uns aos outros, e os braços
poderosos de Slate se apertaram ao nosso redor.
A onda tomou conta de nós, esvaindo e fluindo ao redor de nós quatro
como se estivesse limpando nossa própria alma.
Quando o vento se acalmou e o silêncio voltou, levantei meus olhos
para Slate.
— O que foi isso eu sussurrei.
Ele olhou para mim, suas sobrancelhas puxadas para baixo enquanto
sua boca levantava de lado. — Eu acho que...
Hayden se afastou de nosso amontoado e sorriu inocentemente para
nós.
Os belos olhos castanhos agora eram ouro liquefeito. Slate respirou
fundo antes de Hayden virar o rosto para a mulher triste.
— Você é um lobo sem companheiro, um lobo sem matilha, um lobo
sem causa. Sua incapacidade de lidar com sua dor causou-lhe uma vida
de dor.
A voz de Hayden era suave e não julgava. Era sua voz, mas... diferente.
Ele deu passos lentos e cuidadosos na direção de Gretchen.
Quando eu o alcancei para puxá-lo de volta, Slate pegou minhas mãos
e balançou a cabeça.
— Você aprendeu tudo o que pode nesta vida, lobo.
Hayden se moveu para ficar diante dela, a altura dele sombreada por
sua força.
Gretchen baixou a cabeça diante dele, seus soluços sacudindo seu
corpo fatigante. Não houve luta nela.
— Sim, Rei Alfa.
Meu corpo ficou rígido quando eu virei um olhar suplicante para
Slate.
Ele sorriu com orgulho, levando minha mão à boca para pressionar
seus lábios contra ela.
— E hora de voltar para a lua antes de fazer sua jornada através das
estrelas.
Hayden estendeu sua mãozinha para a mulher e eu ofeguei.
Cada impulso em mim queria arrancar meu filho da mulher ofensora.
Slate simplesmente me segurou contra ele.
A forma derrotada e esgotada de Gretchen ergueu-se diante dele.
Quando sua mão caiu na de Hayden, ela soltou uma lufada de ar de
seus pulmões e caiu no chão ao lado de Mark.
— Durma bem, pequeno lobo.
Hayden sorriu amorosamente para a forma sem vida, então moveu a
mão sobre o rosto dela para mascarar seus olhos cegos.
Quando ele voltou para nós, seus olhos eram da cor de uma lua cheia,
uma prata dourada que rivalizava com o sol em seu brilho.
Olhando para cada um de nós, ele nos deu um sorriso etéreo antes de
sua cabeça cair para frente.
Corremos para frente, nenhum de nós sabendo o que fazer ou dizer.
Slate e eu seguramos sua mãozinha na nossa. Os olhos de Aaron
estavam arregalados e ele se abaixou para olhar o rosto de seu irmão mais
novo.
Quando ele olhou de volta para nós, seus olhos estavam de volta ao
seu lindo castanho.
Por um momento, todos nós olhamos um para o outro antes de
Hayden comentar: — Nós realmente deveríamos buscar ajuda.
Meus olhos estavam arregalados. Eu fiquei pasma.
— Slate, — deixei meu olhar vagar para ele, — o que aconteceu?
— A Deusa escolheu, — ele respondeu como se fosse óbvio.
— O que isso significa? — Eu olhei em seu rosto como se isso
trouxesse mais significado às suas palavras.
— Significa que devemos nos preparar. Nosso novo Rei Alfa não tem
alma de lobo, mas sim espírito de lobo. Haverá aqueles que lutarão
contra a mudança que está por vir, e precisamos estar prontos.
Meu queixo caiu. Devo ter parecido um peixe fora d’água.
Hayden não tinha esse problema. Ele ergueu suas mãozinhas e as
colocou em ambos os lados do rosto de Slate.
— A mulher me disse para lhe dar isso.
Suas mãos brilharam enquanto a luz se movia de suas próprias mãos
minúsculas para revestir o Slate em seu esplendor.
O brilho se espalhou pelo topo de sua cabeça e se espalhou por todo o
seu ser como xarope caindo sobre panquecas.
Fluiu sobre ele, agarrou-se a ele e saturou-o com sua luz e calor.
As palavras flutuavam ao nosso redor como se o próprio vento as
soprasse.
Rei interino que você agora será;
até que o menino da juventude esteja livre.
Poderes de reis que você irá adquirir;
Governando com temperança com quem você deseja.
Reinando acima de todos os altíssimos;
como o jovem rei e o lobo se unirão.
Com essas palavras de despedida, o vento parou e Hayden removeu
suas mãos.
O formigamento começou nos meus pés, depois percorreu todo o
meu corpo como se um raio tivesse caído.
Quando consegui me orientar, me virei para o Slate. Seus olhos
giraram, manchas de ouro em um mar de prata.
Eu o encarei, absorta. Sua mão se estendeu para mim e nos
levantamos.
A dor que havia queimado em minha perna antes agora era uma dor
nula.
Ele deu um passo em minha direção, sua mão deslizando sob meu
cabelo e segurando meu pescoço.
Inclinando-se em minha direção, sua boca pressionada contra a
minha. O calor bateu contra mim instantaneamente enquanto eu gemia.
Quando ele se afastou, meu olhar se agarrou ao dele.
— Nossas vidas vão mudar agora, não vão? — Sussurrei.
Ele riu, e isso espalhou um brilho acolhedor por mim.
— Não, jyoti. Elas mudaram no momento em que coloquei os olhos
em você.
Sua outra mão alisou minha bochecha, deslizou contra meu ombro e
dançou ao redor da marca na minha pele.
— Nós apenas temos um novo propósito.
Capítulo 58
BROOKE

Slate sentou-se atrás de sua mesa enquanto eu andava de um lado


para o outro no chão do escritório.
A sala de repente parecia muito pequena. Muito confinante.
Eles estavam aqui, e meu coração quase me sufocou ao se alojar na
minha garganta.
— Jyoti vai ficar tudo bem, — Slate sorriu para mim com aqueles olhos
prateados.
As manchas douradas neles giravam e, no entanto, por causa daquelas
manchas douradas cintilantes, eu sabia que ele também estava
preocupado.
Ele não conseguia esconder de mim, mesmo que o vínculo entre nós
não fosse tão forte quanto antes.
Eu parei de andar por um breve momento enquanto meus olhos o
examinavam.
O pequeno sorriso compassivo em seus lábios tentou me oferecer um
mínimo de conforto quando suas próprias emoções estavam guerreando
dentro dele.
Sua força nunca deixou de me surpreender, mas a profundidade de
seu amor e compaixão quase me oprimiu.
A coisa mais bonita é que eu poderia me deleitar com isso pelo resto
da minha vida, e isso iluminava meu coração e minha alma cada vez que
testemunhava aqueles momentos.
Embora ele estivesse sentado atrás de sua mesa, sua atenção era
exclusivamente minha. Ele se apoiou nos cotovelos, cruzando as mãos na
frente dele.
Seus olhos seguiram meus movimentos durante todo o estudo e
continuaram a me observar.
Quando eles começaram a dançar travessamente, me perdi em suas
profundezas.
As manchas douradas acenderam e um estrondo baixo encheu o
espaço entre nós.
As sensações que passaram por mim quando ele fez isso foram
instantâneas.
Isso fez meus joelhos ficarem fracos, minha pele esquentou, meu
cérebro ficou em frangalhos e meu núcleo se apertou. E ele estava muito
ciente de seu efeito sobre mim.
Tentando o meu melhor para empurrar os pensamentos lascivos do
meu cérebro, inclinei minha cabeça.
Minhas sobrancelhas se levantaram e tentei castigá-lo por tais
pensamentos amorosos.
— Isso não vai acontecer!
Não tentei esconder minha resposta dele. Não fazia sentido, embora
tenha levado alguns meses sendo marcada para perceber isso.
Slate riu, os tons profundos e sedosos aquecendo a sala. Mas não foi
só isso que esquentou.
Oh, mas os pensamentos que você colocou na minha cabeça.
Minha boca se abriu enquanto eu olhava para ele. — Não me culpe
pelos seus hormônios!
Embora já tivesse se passado um ano, eu ainda não tinha um bom
domínio de como me comunicar com ele telepaticamente.
Sempre havia muitos pensamentos na minha cabeça ao mesmo
tempo, e ficava um tanto confusa quando eu tentava.
Se eu levasse meu tempo, eu poderia fazer isso. Mas era isso, não era?
Era mais fácil simplesmente dizer do que levar meu tempo e enviá-lo
telepaticamente.
Embora Slate ainda conseguisse me forçar a praticar a habilidade,
explicando que tinha um alcance muito maior do que gritar com ele.
Slate se inclinou para frente nos cotovelos, tentando inutilmente se
aproximar de mim.
Mas, jyoti, é tudo culpa sua. Ninguém mais poderia me fazer sentir como
você.
A voz sensual na minha cabeça era suave, profunda, rica. Ele sorriu
maliciosamente.
Então, você é a culpada.
Você me faz querer me enterrar profundamente, me afogar em sua própria
essência e preenchê-la de todas as maneiras imagináveis enquanto grita meu
nome.
Bem ali, no local, eu derreti.
Ele tinha um jeito de me fazer sentir como se não houvesse outra
alma nesta terra que significasse mais para ele. Uma mistura de
resmungo e gemido saiu.
— Você é impossível, sabia? — Eu praticamente gemi para ele.
O sorriso do homem se espalhou por todo o seu rosto quando ele se
levantou e se aproximou de mim.
Mesmo depois de um ano, meu coração disparava e as borboletas
enxameavam com sua proximidade.
Quando ele me tocava, a eletricidade ainda deslizava pela minha pele,
acendendo um fogo no meu núcleo.
Então eu subi em sua estimativa. De meramente dizer coisas impossíveis, a
ser impossível.
Seus dedos dançaram sobre o tecido da minha camisa, traçando o
padrão de sua marca. Seu toque naquela marca me enviou uma espiral.
Minha cabeça caiu para trás, e ele aproveitou a oportunidade para
capturar minha boca com a sua.
O mundo inteiro desapareceu. Todas as preocupações que eu tinha
sumiram.
Seus dentes morderam meu lábio inferior, atraindo-o para ser
admitido.
Obrigando-se, ele deixou sua língua mergulhar para dentro para
patinar na ponta da minha antes de deslizar mais uma vez.
Uma mão forte agarrou minha cintura, puxando meu corpo em
direção ao dele e envolvendo-o em seu calor e cheiro.
A outra mão alisou minhas costas para embalar minha nuca,
ganhando um acesso mais profundo e aproveitando ao máximo.
Com seu corpo pressionado contra o meu, eu podia sentir o
comprimento dele pressionado contra meu abdômen.
Eu conhecia cada centímetro dele e estremeci com o conhecimento
do prazer que só ele poderia dar.
Meu corpo avançou mais perto, esfregando suavemente contra sua
ereção, provocando um grunhido em resposta.
Seus braços me envolveram, um agarrando minha bunda com firmeza
através do vestido de algodão que eu usava enquanto ele pressionava seus
quadris contra mim em resposta.
Um gemido rouco retumbou em sua garganta enquanto nossos corpos
se fundiam, cada um procurando chegar mais perto.
— Sim, — eu respirei enquanto sua mão deslizou pelas minhas coxas,
juntando o tecido em seu punho e puxando-o para cima.
Com menos tecido entre nós, ele segurou a curva posterior acima dos
meus quadris mais uma vez.
Ele apertou a carne antes de deixar uma mão brincar com o tecido de
seda que escondia aquele playground sensual que ele procurava.
Seus dedos deslizaram ao redor da borda do tecido delicado,
dançando muito perto daquela parte aquecida de mim enquanto ele
contornava a borda.
Levantando descaradamente uma perna, joguei-a sobre seu quadril,
concedendo mais acesso ao seu membro rígido.
O pequeno ato foi recompensado quando ele me pressionou contra a
parede mais próxima, deixando sua metade inferior esfregar contra a
minha.
Minha cabeça descansou contra a parede enquanto eu gemia alto, o
barulho ecoando nas paredes e tomando-o mais agressivo em suas
perseguições.
Alcançando abaixo da cobertura de seda, seus dedos deslizaram
através das dobras lisas ali. Eu engasguei quando ele sussurrou meu
nome.
Sua boca desceu sobre a minha mais uma vez, tomando posse de onde
foi dada enquanto pressionava um dedo forte na minha entrada,
cobrindo e provocando com sua intenção.
Eu gemi novamente, pressionando contra ele, encorajando-o a
explorar. Querendo me envolver em tomo dele, puxando-o mais
profundamente.
Quando ele atendeu minhas demandas, eu gemi. Mordendo meu
lábio inferior, não pude lutar contra a vontade de pressioná-lo.
— Maravilhosa, — ele sussurrou contra minha boca enquanto seu
dedo pressionava mais profundamente dentro de mim, me deixando sem
fôlego.
Jyoti.
As palavras na minha mente pararam quando uma batida soou.
Slate reclamou, mas não me soltou. Sua testa caiu contra a minha
enquanto ele lentamente inalou nosso perfume.
Minha respiração estava irregular e tentei controlá-la.
O fato de seu dedo ainda estar alojado profundamente dentro de mim
não ajudou minha causa, mas ele também não parecia ter pressa em
removê-lo.
— São seus irmãos, — eu sussurrei.
Ele rosnou. Que se danem meus irmãos!
Colocando meus lábios contra os dele, deixei um beijo prolongar-se
sobre os dele antes de me afastar mais uma vez.
— Vamos acabar com isso. — Suspirei, tentando me recompor.
Ele resistiu enquanto abaixava a cabeça para me atrair de volta sob seu
feitiço. Eu me afastei e um estrondo chicoteou o ar.
Meus joelhos enfraqueceram e eu o repreendi.
— Slate, — eu avisei, tentando impedir o desejo de inundar minhas
palavras.
— Isso é importante, — eu sussurrei enquanto ele abaixava a cabeça,
colocando beijos sensuais no meu pescoço.
Sua mão balançou contra mim e eu sufoquei o suspiro de prazer que
lutou para subir pela minha garganta.
Como eu queria esquecer seus irmãos naquele momento e terminar o
que havíamos começado...
Mas esse encontro com seus irmãos era crucial.
— Precisamos saber se temos o apoio deles. — As palavras eram
ásperas e indesejadas, mas precisavam ser ditas.
Este encontro com seus irmãos determinaria como lidaríamos com as
novidades de seu novo Rei Alfa com todos os outros bandos em todo o
mundo.
Embora indiretamente, Hayden fazia parte de sua família.
E ele foi o escolhido pela Deusa.
Mas ele também era muito humano, pelo que qualquer um de nós
poderia dizer.
Slate parou seu ataque a mim. Seu corpo ficou rígido com a
antecipação do que poderia vir.
A batida soou mais uma vez e Slate suspirou.
Deixando minha perna cair de seu quadril, ele lentamente deslizou o
dedo de dentro das minhas dobras.
Trazendo-o aos lábios, sua voz se intrometeu em meus pensamentos:
Terminaremos isso mais tarde!
Um arrepio percorreu meu corpo enquanto ele sugava minha essência
de seu dedo. Mordendo meu lábio, eu apertei meus olhos e coxas com
força.
O tecido do meu vestido voltou ao lugar enquanto ele me mantinha
entre ele.
— Entre.
Embora eu tentasse me mover ao redor dele, ele me manteve
enjaulada onde estávamos.
— Ah, irmão.
Um homem da mesma altura e constituição de Slate entrou na sala.
Ele riu em uma inspeção mais aprofundada.
— Vejo que você não se cansou de sua companheira.
Seu sotaque russo era forte e pesado.
Um por um, três de seus irmãos entraram no escritório, semelhantes
em constituição, enchendo a sala com sua presença rapidamente.
— Duvido seriamente que qualquer um de vocês tenha se cansado das
suas.
Slate não se preocupou em olhar para nenhum dos homens quando
eles entraram, seus olhos fixos em mim.
As promessas que estavam lá não fizeram nada para conter o calor.
— Não mesmo, é verdade.
O homem sorriu afavelmente, a risada retumbando em seu peito. —
Mas eu soube que ela quase fez você perder tudo, irmão.
Sua voz caiu uma oitava quando ele enfiou as mãos nos bolsos e
deixou seus olhos azuis se estreitarem em mim.
Slate rosnou para ele e me soltou quando ele se virou para seus
irmãos, ficando protetoramente na minha frente.
— E aí que você se engana, irmão. Ela foi a única ame dar tudo.
O homem riu.
— Foi o que fiquei sabendo. Ela até deu a você uma família pronta.
Embora seu inglês fosse bom, ainda era um pouco enferrujado.
— Um filho metamorfo e filho humano.
As últimas palavras foram cheias de desgosto, como se ser pai de uma
criança humana estivesse abaixo dele.
Seus olhos nunca me deixaram, me observando como se ele estivesse
categorizando cada uma das fraquezas que encontrou sob sua inspeção.
Meu queixo se ergueu enquanto eu olhava de volta para o homem
diante de mim.
A raiva que começou nas bordas da minha mente agora se infiltrava
em todas as partes do meu corpo.
Eu voei em tomo de Slate, querendo que o homem sentisse toda a
força da minha raiva.
— Ora, seu arrogante...
Ele ergueu a sobrancelha e exibiu um sorriso torto, encontrando
humor no ataque que eu estava pronta para lidar com ele.
Em vez disso, parei. Isso não era quem eu era, quem eu estava criando
meus filhos para serem.
Virando, peguei a expressão nos olhos de Slate.
Ele teria me deixado atacar seu irmão, e teria ficado lá para apoiar
todas as minhas ações.
Deus, como eu amava o homem.
Foi o brilho ali que também me fez saber que eu era melhor do que
aquilo que me fez pensar.
Me recompondo, fui até a janela.
Abaixo de nós, brincando em seu forte, estavam meus filhos... nossos
filhos.
Aaron e Hayden estavam perseguindo Simon, Nick e Carter.
Mesmo daqui, eu podia ouvir suas risadas, e isso colocou um sorriso
no meu rosto contra a raiva que quase deixei passar por mim.
Foi essa sensação de plenitude que me permitiu relaxar na companhia
deles.
Apontando para eles, voltei meu olhar para aqueles que brincavam
juntos.
Relutantemente, eles se moveram ao meu lado, cada um procurando o
que chamava minha atenção.
Slate se moveu atrás de mim, envolvendo seus braços em minha volta
e me puxando para perto dele.
Por vários longos momentos, eu apenas observei, recusando-me a
dizer uma palavra até que eles tivessem a chance de ver o que eu via.
Dois dos irmãos sorriram ao ver todas as crianças brincarem e viram
Carter se transformar em uma parte do playground quando todos
decidiram que era mais divertido tentar escalar.
Carter cintilou e as crianças riram, agarrando-se ao seu pelo enquanto
tentavam ser as que vencessem a fera.
Meu teimoso Hayden estava misturado com todos eles. Ele agarrou-se
ao pelo de Carter com uma determinação que era toda sua.
Cada vez que um dos outros começava a escorregar, ele estendia a
mãozinha para ajudá-los.
Um por um, cada um deles conseguiu chegar ao topo, vitória deles
porque trabalharam juntos.
Porque eles não tinham as mesmas barreiras que nós.
Finalmente, deixei meu olhar desviar.
— Você consegue dizer qual é o humano?
Eu sabia que eles não seriam capazes. Os cheiros se entrelaçavam tão
profundamente enquanto rolavam e se chocavam um contra o outro.
Todos eles mascarariam o cheiro de Hayden.
— Lá embaixo não há julgamento, nem rótulos, nem preconceitos. Se,
como crianças, eles são receptivos a todos em todas as esferas da vida,
por que, como adultos, optamos por nos limitar?
Carter se inclinou para frente com as patas dianteiras e pressionou a
metade dianteira de seu corpo no chão, criando uma espécie de
deslizamento.
Simon e Nick escorregaram de suas costas, gritando de alegria
enquanto o faziam.
Obviamente, algo que eles estavam acostumados a fazer.
Os outros dois irmãos riram enquanto batiam nas costas do mais
velho.
O mais velho resmungou, o rosto contraído por ter sido erguido.
Slate aproximou seu rosto ao lado do meu enquanto esfregava sua
bochecha contra a minha.
Você é incrível, jyoti.
Finalmente, o irmão mais velho se virou para Slate.
— Não é por isso que viemos.
Slate exalou e depois se afastou de mim. — Vemos que você foi
escolhido.
— A Deusa tem... — Slate começou.
Uma sensação de advertência tomou conta de mim de repente.
Algo dentro de mim engatou, e meus olhos não deixaram as feições
risonhas de Hayden enquanto ele cumprimentava Simon.
— Nenhum de vocês foi escolhido, — eu sussurrei, interrompendo
Slate de terminar sua declaração.
— E nenhum de sua prole.
Hayden tentou ficar na parte de trás da massa bege em movimento,
enquanto Aaron tentava impedir que o espírito aventureiro caísse sobre
sua cabeça.
— Suponho que foi fácil descobrir quem ela escolheu, visto que Slate
não tem descendência.
— Isso não é inteiramente verdade, — disse um dos outros irmãos.
Ele tinha um rosto amigável e parecia muito mais tranquilo do que
qualquer um de seus irmãos.
Jyoti, o que você está fazendo?
— Grant diz que, se uma criança está ligada por sangue, ela também
pode ser escolhida.
O mesmo irmão falou novamente, indicando que o irmão mais velho
se chamava Grant. Então, eles estavam falando sobre as possibilidades.
Inspirando, concentrei-me em usar a conexão.
Eles não podem saber. Eu não posso explicar isso, mas eles não podem
saber.
Não sei se fui capaz de transmitir meus pensamentos corretamente.
Como de costume, minha cabeça estava um turbilhão de
pensamentos.
O mais jovem deles franziu a testa. — Os dois estavam ligados por
sangue.
Slate me observou em silêncio, a ascensão e queda de seu peito era a
única indicação do estado em que estava.
Os longos puxões de ar que ele trouxe, e a liberação pesada foram sua
maneira de manter a calma que ele estava pronto para perder.
— Eles estão, — ele falou, sua voz calma com algo mais sinistro por
baixo.
— Ambos são meus filhos. Todos vocês farão bem em se lembrar disso.
Estremeci com essas palavras, enrijecendo quando isso trouxe mais
atenção para eles do que eu gostaria.
Já havia muito foco neles do que eu estava confortável.
O irmão do meio falou mais uma vez, um sorriso surgindo em seu
rosto com um pensamento que lhe ocorreu.
— Já pensou? E se a deusa da lua escolher o menino humano como o
próximo rei?
Minha respiração ficou presa em meus pulmões antes de me forçar a
deixá-la ir.
O peito de Slate continuou subindo e descendo, seu rosto
indecifrável.
O irmão que acabou de falar observou Slate cuidadosamente, uma
faísca do amanhecer registrando lá.
O rosto de Grant ficou sombrio, seus lábios finos.
— A Deusa não seria tola o suficiente!
O irmão mais novo franziu a testa. — Mas não seria impossível. Ele é
parte da nossa família.
— Não seja tolo, Travers. Não é possível. A Deusa não desejaria guerra
entre nosso povo.
Grant observou Slate, tentando ler além da expressão indiferente dele.
Pelo menos eu sabia que o irmão mais novo se chamava Travers.
Slate rosnou, deixando o poder gotejar lentamente para dentro da
sala.
Cada um dos irmãos sentiu isso, inclinando a cabeça enquanto
sucumbia a isso.
— Quando ela fez sua escolha, esperava-se que a obedecêssemos, —
ele repreendeu.
Depois que um momento se passou, o irmão do meio se aproximou de
Slate. — Bem, que bom que ela escolheu você então, eh, Slate.
O irmão do meio parou diante de Slate e bateu palmas antes de
apertar seus ombros.
Havia uma intensidade em sua expressão enquanto observava Slate
atentamente.
Demorou por um momento antes que ele se virasse mais uma vez
para os outros irmãos com um largo sorriso, a intensidade de seus olhos
agora desaparecendo.
— Não sei sobre todos vocês, mas estou morrendo de fome. E, minha
linda companheira não vai comer a si mesma.
Todos os irmãos olharam para ele e ele ficou profundamente
vermelho.
— Quero dizer, não vai comer sozinha. Dialeto americano louco.
E, assim, o ar da sala mudou.
Os homens saíram em fila da sala, todos discutindo as dúvidas da
língua que tem um dicionário maior do que qualquer outro.
Quando eles deixaram Slate e eu sozinhos mais uma vez, me movi
rapidamente para encontrar conforto em seu abraço.
Seus braços me envolveram protetoramente.
Após vários momentos permitindo que o silêncio nos envolvesse, falei.
— Isso não foi muito bem.
Basal sabe. Ele manterá o segredo de Hayden, mas avisou que devemos
fazer o mesmo Eu fiquei tensa em seus braços e ele beijou minha testa.
Eu nunca vou deixar que machuquem ele, jyoti. Eu te prometo isso.
Então ele me puxou para mais perto dele.
Mas acho que é prudente seguir sua sugestão. Para que Hayden possa ter
sua infância.
Virei meu rosto em seu peito, as lágrimas encharcando sua camisa.
Meu filho era corajoso, forte, independente, obstinado e tão ingênuo.
Slate deixou seus dedos alisarem minhas costas enquanto eu estava
com ele e chorei.
Deixando sua energia fluir sobre mim, eu sabia o que precisávamos
fazer.
Nós daríamos a ele sua inocência enquanto pudéssemos, protegendo-
o do mal, protegendo-o de ser contaminado.
Quando fizesse dezoito anos, seria coroado rei.
Até então, nós o protegeríamos de toda a escuridão e ódio que enchia
o mundo.
Ele se tomaria o homem que deveria ser, não devido às circunstâncias,
mas por seus próprios feitos, realizações e fracassos.
E não havia alma na terra que pudesse nos impedir de dar essa
oportunidade a ele.
Maldição para aqueles que tentassem!
Capítulo 59
HAYDEN

— Você se atreve a ameaçar meu filho!


A voz de Slate ecoou pelo interior de seu escritório, sua voz ecoou nos
objetos que dominavam a sala.
O homem que agora estava diante dele estava tremendo visivelmente,
a autoridade, o poder e a ameaça por trás das palavras do meu pai
estavam muito claros.
Embora o homem entendesse o perigo que existia aqui, sua boca não
conhecia esse medo.
— Você nos faria acreditar que a deusa da lua escolheria um mero
humano para governar sobre lobos metamorfos? A humanidade é uma
ameaça à nossa existência!
Quando ele deu uma rápida olhada em minha direção, pude ver o
desafio em seu rosto.
Mas, ainda mais, eu pude ver o medo.
De onde me sentei no braço da cadeira, sorri para ele—não com
chacota, mas com compaixão e compreensão.
Nem mesmo eu entendi a decisão da Deusa, e tive treze anos para
lidar com isso.
Esperava-se que essas matilhas aceitassem algo de que só descobriram
no ano passado.
Meus pais decidiram que seria do meu interesse manter minha
ascensão em segredo, mas para alguns membros de confiança do bando
que juraram segredo.
Agora, tendo testemunhado essa mesma discussão pela décima vez no
escritório de meu pai, e sabendo que o resultado sempre seria o mesmo,
eu entendi completamente seu raciocínio.
Os olhos do meu pai não mudaram desde aquele dia, muitos anos
atrás, e as manchas douradas giravam pesadamente através da prata que
agora era uma constante.
Alguém poderia dizer quando sua raiva estava aguçada quando
aquelas manchas douradas brilhavam no mar prateado, e aquele homem
deveria ter visto aquelas faíscas a um quilômetro de distância.
— A Deusa amava um mero humano antes que ele fosse tirado dela.
Nossa existência foi uma manifestação de sua dor, mas, mais importante,
de seu amor. Seu amor por um mero humano.
— As circunstâncias não são mais como antes! Os humanos provaram
que eles não podem coexistir com metamorfos.
— Não, — meu pai quase rugiu. — Os metamorfos provaram que têm
medo de confiar nos humanos.
O homem gaguejou, seu desafio e aborrecimento aumentando.
— E você nos faria confiar em um menino? Como podemos esperar
que sigamos um menino que viveu menos de duas décadas... que tem menos
de uma vida de experiência e compreensão com nossa espécie?
O rosnado rolou pelo peito de Slate quando seu lábio se ergueu,
mostrando caninos alongados.
— Eu gostaria que você confiasse em nossa Deusa, em sua decisão e no
Rei Alfa que ela indicou.
Slate respirou fundo e enfiou as mãos no bolso.
Foi uma mudança que meu pai fez quando tentou moderar suas
palavras, quando tentou racionalizar com os alfas que vieram antes dele
com as mesmas ameaças ao meu futuro ou à minha vida.
Tomando um momento para forçar seus caninos a recuar, ele deixou
seus olhos deslizarem para encontrar os meus.
— Talvez ela o tenha escolhido porque ele não está preso a uma vida que
já existiu. Talvez nossa existência dependa de estarmos dispostos a fazer uma
mudança. Deixar nosso passado de lado e entrar em uma nova era.
Meus olhos se fixaram no rosto do homem enquanto eu agarrava o
peso de papel globo de vidro em minhas mãos, esperando por uma
resposta diferente da dos outros alfas que se apresentaram na frente do
meu pai.
No início, estava em branco, seus olhos segurando os do meu pai
enquanto ele deixava as palavras trabalharem por si mesmas em sua
mente. Eu estava esperançoso.
Talvez desta vez fosse diferente... talvez...
O homem zombou.
— Deixar de lado nosso passado? É porque abraçamos nosso passado e
experiências que sobrevivemos por tanto tempo!
Suas mãos gesticulavam descontroladamente na frente dele—quanto
mais ele pensava no que meu pai estava pedindo dele, mais agitado ele
ficava.
— Como você pode ter esquecido nosso tormento e quase extinção
nas mãos de caçadores? Você nos levaria a um massacre!
Seus punhos cerraram-se ao lado dele, o poder alfa irradiando ao
redor dele, fazendo com que aqueles abaixo dele caíssem de joelhos em
reconhecimento de sua força e posição.
— Meu filho, nosso futuro Rei Alfa, nos levará a um novo começo. Um
onde seu medo não pode corromper nossa própria ascensão em um
mundo de unidade e evolução. O mundo inteiro está mudando, e ainda
assim você se apega ao nosso passado como se fosse mais sagrado do que
o nosso destino.
O peso de papel globo de vidro em minhas mãos era frio ao toque e
macio.
Minhas mãos o seguraram enquanto se moviam sobre o objeto,
deleitando-se com a sensação dele contra a minha pele.
Na verdade, eu queria ir embora. Eu sabia o que estava por vir, o
resultado.
O homem zombou, lançando sua repulsa sobre mim antes de
enfrentar Slate mais uma vez.
— Você fala de evolução, mas e da aniquilação?
O homem sacudiu a cabeça.
— Continuaremos a aderir à sua regra, mas se você insistir em realizar
o rito de passagem... Sinto muito, Rei Alfa Serevolk, mas os dados estarão
lançados.
O homem abaixou a cabeça.
Ele respeitou meu pai, lutou ao lado dele, compareceu a reuniões por
respeito a ele, mas sua desconfiança e medo da humanidade eram
profundos.
Quando sua cabeça baixou, ficou claro que ele sabia tão bem quanto
eu o que estava por vir.
— Eu não posso deixar uma ameaça contra meu filho, e seu futuro Rei
Alfa, ficar sem consequências.
O homem manteve a cabeça baixa e deu um breve aceno de cabeça
enquanto seus lábios pressionavam em uma linha fina. Meu pai avançou.
— Espere!
Eu não podia assistir outro metamorfo cair devido a alguma injustiça
percebida.
— Pai, por favor. Talvez haja outra maneira.
O alfa à frente dele rosnou para mim antes de voltar para o meu pai.
— Eu não quero sua pena, ou sua interferência, — ele disparou
enquanto dava um passo em direção ao meu pai.
O peito de Slate retumbou e seus olhos penetraram no homem.
— Anda logo!
Meu pai hesitou, sua raiva movendo-se pela sala em uma corrente de
seu próprio poder, mas seus olhos observaram meu rosto.
Ele falou de mudança, e havia esperança em sua expressão que me fez
perceber o quanto ele realmente pensava que eu poderia ajudar o homem
e o metamorfo a se unirem.
Foi assustador e fortalecedor ao mesmo tempo.
O homem diante dele rosnou: — Tudo bem, então vou acabar com
isso!
Ele pegou um abridor de cartas de prata da mesa e tentou me cobrar.
Eu assisti totalmente pasmo, mas não me movi do braço da cadeira
onde eu estava sentado.
Meu pai não permitiu que ele fosse muito longe. Sem se mover, ele
jogou o braço na frente dele.
Suas garras alongadas cortaram a jugular do homem tão suavemente
quanto uma faca quente na manteiga fria, o próprio movimento do
homem para frente causando sua morte.
A justiça do meu pai foi rápida e eu hesitei. Os outros homens se
afastaram de Slate.
Meu pai deixou seu olhar deslizar sobre os dois enquanto seus olhos
se demoravam em cada um, tentando avaliá-los.
— Envie a mensagem de volta para sua matilha. Se alguém decidir
desafiar os desejos da Deusa, seu destino estará selado.
Ele acenou com a cabeça em direção ao corpo de seu outrora alfa.
— Leve o corpo dele para ser enterrado em suas terras. Respeite e
honre sua morte—embora o medo o mantivesse refém, ele agiu por amor
ao seu bando.
Os homens baixaram a cabeça enquanto recuavam para fora da porta,
levando seu alfa com eles.
Todos os outros saíram da sala, deixando meu pai e eu sozinhos.
Slate caminhou atrás de sua mesa, pegando uma toalha e limpando
suas garras ensanguentadas.
Ambos deixamos o silêncio encher a sala, cada um em seus próprios
pensamentos. Eu não deixei isso demorar muito.
— Sabe, não é uma má ideia.
Deixei as palavras ali, esperando sua resposta. O globo de vidro foi
gentilmente jogado de uma mão para a outra enquanto eu me
concentrava no movimento.
— Você sabe que isso não é uma opção. Em uma semana, você será o
Rei Alfa. — Ele me observou, com a testa franzida. — Por que você está
com medo?
A pergunta me fez contorcer.
— Não é que eu esteja com medo, realmente. Só acho que você é um
líder melhor do que eu jamais poderia ser. Quero dizer, por que diabos
ela me escolheria em vez de você? Isso não faz sentido para mim.
De minha visão periférica, eu o vi se mover em minha direção.
Quando ele se aproximou, ele colocou a mão no meu ombro e se
ajoelhou na minha frente.
— Você se lembra daquele dia, quando a Deusa escolheu você?
Embora eu tentasse esquecer alguns aspectos daquele dia, quanto
mais tentava, mais me lembrava. Eu balancei minha cabeça.
— Gretchen não merecia sua compaixão, mas você a deu livremente.
Você deu a ela paz quando ela não tinha nenhuma, você deu a ela perdão
onde não deveria haver nenhum, e você ofereceu sua bondade quando
ela não se sentia digna de nada.
Ele apertou meu ombro.
— Você viu quem ela realmente era, e não o que ela se permitiu ser.
Isso é o que torna um líder. Para entender que toda vida vale a pena, mesmo
quando é difícil ignorar os atos que cometeram.
Sua mão se moveu para a parte de trás do meu pescoço enquanto ele a
apertava.
Meu pai tinha muita fé em mim, no que ele pensava que eu poderia
alcançar, e eu estava com medo de falhar com ele.
Afinal, estava com medo.
Eu abri minha boca para discutir, mas meu pai balançou a cabeça
enquanto se levantava. — Sem argumentos. Você tem treinamento.
Olhando para os prédios abaixo, fiquei maravilhada com o quanto o
lugar havia mudado desde que chegamos aqui.
Era difícil acreditar que a serenidade da natureza e as duras linhas da
civilização pudessem se unir de uma forma tão bela e expressiva.
— Hayden? — a voz de uma menina chamou.
Eu sorri enquanto saía de vista, empurrando meu corpo ainda mais
para os arbustos, onde estava evitando meus exercícios de treinamento.
Foi inútil, mas não me impediu de tentar.
— Hayden, eu sei que você está aqui!
A garotinha com os cabelos escuros do meu pai e os olhos verdes
vividos da mãe bateu o pé com força no chão.
Saltando, eu tentei o meu melhor para fazer um barulho alto e
estridente. Parecia que eu estava sufocando.
Olivia começou a rir e gargalhar enquanto eu a perseguia.
Seus fios de seda escuros saltaram ao redor de sua cabeça enquanto
ela disparava de um lado para o outro, evitando minha captura.
Finalmente, ela não poderia mais me evitar.
Fingi para a esquerda e avancei para a direita, capturando a coisa
aparentemente delicada em meus braços enquanto minhas mãos faziam
cócegas nela sem piedade.
Sua risada e gritos ecoaram pelo ar, e a minha a seguiu.
— Está bem, pare, pare, — ela disse em meio a ataques de riso.
Obrigando-me, dei-lhe um aperto rápido e um beijo em sua coroa
antes de colocá-la de volta em seus próprios pés.
Eu sorri para ela enquanto ela alisava o vestido e passava os dedos
pelos cabelos.
Balançando a cabeça, me virei para olhar para os edifícios abaixo de
nós mais uma vez.
Dali, eu podia ver os guardas e soldados de elite do meu pai treinando
em um grande campo aberto abaixo.
Agarrei um galho de árvore logo acima da minha cabeça enquanto
inclinava meu peso para frente, observando seus movimentos perfeitos
abaixo.
Era como assistir a uma dança coreografada, só que mais mortal em
sua intenção.
Olivia inclinou a cabeça para mim. Ela era uma bela mistura de minha
mãe e meu padrasto.
O nome dela, porém, veio do meu pai: Mark Oliver Marlin.
— Eu pensei que você deveria estar treinando.
O olhar em seus olhos a delatou, mas eu estava acostumado com ela
se divertindo às minhas custas.
— Para sua informação, estou treinando! — Eu respondi, um sorriso
enorme no meu rosto.
Olivia era esperta. Minha irmã tinha as mãos sobre esta cidade,
mesmo que ela tivesse apenas oito anos.
— Apenas se você estiver treinando em como evitar o treinamento.
Ela colocou a mão no quadril enquanto sorria presunçosamente para
mim.
— Veja, eu treino tão bem que você sabe exatamente o que estou
fazendo. Eu chamo isso de vitória! — Eu ofereci um sorriso infantil para
minha explicação plausível.
Olivia balançou a cabeça, riu e se moveu ao meu lado com um sorriso
ainda plantado em seus lábios.
— Por que você acredita que eles são melhores do que você?
A pergunta era tão profunda, embora não devesse ter me chocado.
Minha irmã não era uma criança típica de oito anos.
Ela era mais observadora do que a maioria dos adultos, seus sentidos
mais aguçados e aguçados do que os da maioria dos lobos.
As vezes era estranho ter uma conversa com ela— soando e parecendo
uma criança de oito anos, mas com tanta perspicácia.
Ela parecia ser um monge tibetano que tinha uma consciência mais
elevada e estava sintonizado com a frequência de existência da Terra.
Franzindo a testa para ela, eu levantei uma sobrancelha.
— Primeiro, eu não acho que eles são melhores do que eu. Eu
simplesmente sei que eles são mais hábeis em certas coisas do que eu.
— E ainda assim não te incomoda, — ela disse para falar a verdade.
— Não, na verdade não.
Fiquei olhando para todos eles, observando seu movimento fluido.
— Sou grato por eles serem dotados e talentosos da maneira que são.
Cada um deles serve a seu propósito de maneira incrivelmente bem,
como uma máquina bem lubrificada.
Ela sorriu para mim, mas parecia pensativa.
Eu me virei e dei um tapinha no nariz dela.
— Em algum lugar de tudo isso, tenho meu propósito a cumprir. Só
preciso de tempo para descobrir como vou fazer isso.
Quando terminei, ouvi um movimento nos arbustos atrás de nós.
Esquivando-me para a direita, segurei meu braço ao meu lado.
— Agh! — Aaron caiu no chão.
Eu pulei para longe dele, colocando um ou dois passos entre nós.
Aaron se levantou e se lançou contra mim, me acertando bem no
peito antes de cairmos no chão.
Rolando, ele ganhou uma vantagem sobre mim enquanto me prendia
embaixo dele.
— E é por isso que você não deve faltar no treinamento!
Embora eu estivesse respirando de forma ofegante, eu respirei fundo
antes de empurrar meu peso para cima, virando o jogo contra meu
irmão.
— E é por isso que você não deveria me subestimar!
Nós rimos, ajudando um ao outro a levantar e tirando a poeira de nós
mesmos.
Olivia balançou a cabeça, um sorriso cruzando seus lábios.
— Meninos! Eu nunca vou entender como vocês podem gostar de
ficar tão sujos.
Nossa irmã era como uma princesinha. Mas ela era sábia para sua
idade, e gentil além de suas possibilidades.
Certa vez, ela deu a uma jovem sem-teto de uma das vizinhanças a
camisa que ela tirou das costas.
Tudo bem, uma jaqueta de inverno quente e os sapatos que ela estava
usando.
Ela voltou para a nossa mãe e nosso pai com nada além do vestido que
escolhera para a ocasião.
Nem é preciso dizer que ela impressionou as duas matilhas naquele
dia.
Aaron e eu nos sentamos na base do carvalho, puxei meus joelhos para
cima e me inclinei contra eles.
Aaron pegou uma folha de grama e a dissecou enquanto falava.
— Eu sei que você não pediu por isso, Hayden, mas você tem que
confiar em si mesmo. Estaremos todos lá. Vou apoiá-lo da maneira que
você precisar.
Era óbvio que ele estava ouvindo antes de seu ataque furtivo.
— Obrigado, Aaron. Eu vou cobrar isso de você. Eu posso precisar de
um limpador de banheiro real, — eu ri quando ele jogou sua folha
mastigada de grama em mim.
— Quer que eu limpe o seu...
Eu apertei minha mão sobre sua boca enquanto lançava um olhar
significativo na direção de Olivia.
— Braço! Sim, isso mesmo, você pode limpar meu braço com
sabonete.
Eu brincando, joguei um dos meus braços sobre o dele enquanto
deixei minha mão cair de sua boca.
Olivia balançou a cabeça enquanto me observava, estudando meu
rosto.
— Eu sei o que ele ia dizer, eu não sou burra!
— Sim, bem, eu quero tentar mantê-la inocente enquanto eu puder.
— Eu sorri para ela e baguncei seu cabelo.
Resmungando, ela passou a mão nele para endireitá-lo mais uma vez.
— Você não pode me manter inocente mais do que pode impedir que
o rito aconteça.
Foi a minha vez de resmungar. — Que jeito de acabar com o clima,
nossa.
Olivia suspirou.
— Você é digno disso, e você vai trazer mudanças para nossa espécie. E
sua escolha que tipo de mudança você deseja fazer.
Eu fiz uma careta para ela.
— Com a orientação de sua família, da Deusa e de sua companheira,
você fará grandes coisas.
As palavras pareceram proféticas, me deixando atordoado.
Ela sorriu como se soubesse um segredo que não estava disposta a
compartilhar completamente.
— Minha... minha companheira?
Aaron e eu olhamos um para o outro. Esperávamos que Aaron tivesse
uma, mas seria possível que eu também tivesse?
— Acho que você está enganada, Olivia. Pela primeira vez, sua
intuição falhou!
Ela riu quando começou a pular para longe. — Você vai ver, — ela
gritou para nós por cima do ombro.
Meu irmão me deu um tapinha nas costas.
— Tudo bem, então. Parece que nós dois temos que olhar para frente
em nossos horizontes próximos.
Eu fiz uma careta. — Tem que ser um engano! Eu não posso ter uma
companheira!
Ele me observou, perplexo.
— Você faz isso soar como uma coisa ruim. Você a ouviu, cara. Ela vai
te deixar mais forte.
Meu rosto estava pálido e meu estômago embrulhou-se ao pensar em
qualquer mulher que pudesse ter a infelicidade de estar ligada a mim.
As imagens do que pode acontecer às pessoas associadas a mim
sempre me horrorizam.
Mas minha família era forte e protetora. Muitos não os ameaçariam, e
eles nunca me deixariam rejeitá-los.
Eu estava preso a eles e era grato por isso.
Mas, uma mulher desconhecida ou metamorfo que a Deusa escolheu
para mim, trazida para o meu mundo de caos e morte... — ou morrer
tentando. — Eu me virei para olhar para meu irmão, uma carranca
enrugando minha testa profundamente. — Eu sei como você pode me
ajudar.
Aaron torceu o nariz. — Eu não gosto de como isso está soando.
Eu também não gostava, mas odiava a ideia de fazer outra pessoa ser
ferida ou morta de forma pior.
— Impedir-me de encontrar minha companheira! — Aaron soltou um
sopro de ar de seus pulmões. — Cara, pense sobre isso! Isso é louco! Você
não pode estar falando sério...
Meu rosto estava firme, sem nenhum sinal de brincadeira.
— Dê-me sua palavra, Aaron. Quando descobrirmos quem ela é, você
precisa mantê-la o mais longe possível de mim, e você não pode deixar
ninguém saber.
— Eu não posso—você sabe que eu não posso.
Um estrondo soou no fundo da minha garganta, pegando nós dois de
surpresa.
— Prometa!
Meu tom era profundo, enunciado pelas ondulações retumbantes da
minha garganta.
Os olhos de Aaron estavam arregalados. Ele acenou com a cabeça por
um momento antes de encontrar sua voz.
— Eu prometo. Eu não gosto disso, mas eu prometo.
Senti meu corpo relaxar enquanto deitava contra o tronco do
carvalho. Uma preocupação a menos para mim. Um sacrifício a menos
em nome da evolução.
Eles saberão meu nome, conhecerão minhas ações e protegerei
aqueles que são meus.
Meu nome é Hayden Serevolk, e eu sou o humano que está destinado
a ser o Rei Alfa.
Fim
Continua no Livro 2…
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