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Existe um sentimento coletivo de que a Escola precisa de mudanças significativas para que a
sua função social seja coerente com a prerrogativa de que a Escola prepara a Sociedade.
O movimento Maker, por exemplo, ensaia uma abordagem bricoleur, tornando os aprendizes
em verdadeiros faz-tudo capazes de idealizar e realizar os projetos mais fantásticos que
poderemos imaginar. Desde a montagem peça-a-peça de robôs com diferentes graus de
sofisticação, direcionados a todas as idades, até à construção de circuitos elétricos e
eletrónicos de significativa complexidade, sem esquecer a impressão tridimensional
doméstica de pequenos objetos, nós e as nossas crianças somos confrontados com um novo
mundo de estímulos, que forçosamente mudarão a Escola. Esperamos! Na mesma onda de
expectativas, a indústria educacional, longe de inocente ou desinteressada deste movimento
convergente de construcionismos, concorre com uma variedade de abordagens e kits que nos
desafiam a criar.
A escolarização, alerta Neil Postman, tanto pode ser subversiva como conservadora, mas é,
certamente, circunscrita e subordinada à prática dialética com a realidade, avisa Paulo Freire.
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aplicação e valor oposto, procurámos dignificámo-lo ao não considerar vítima nem carrasco
quem tripaliare - trabalhar.
Um pouco por todo o Mundo têm despontado iniciativas que estimulam a incorporação da
robótica na pedagogia escolar, acompanhando uma tendência generalizada de desmistificação
da robótica como elemento puramente ficcional e inatingível, colocam desafios sérios a todos
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os atores da Educação, quer pela multidisciplinaridade que implicam quer pela dificuldade de
ajuste curricular. Na verdade, a robótica pedagógica posiciona-se numa etapa da construção
de conhecimento que requer reflexão e articulação entre os diferentes protagonistas do
processo de aprendizagem, apelando a metodologias diferenciadoras, a diferente organização
dos espaços de aprendizagem e ao desenvolvimento de trabalho colaborativo e inclusivo
baseado em projetos. Vista de uma perspetiva positiva, a robótica educativa tanto pode ser
veículo de concretização de conceitos científicos e de aprendizagens disciplinares específicas
como considerada elemento de meta-aprendizagem no ensino de programação, em fases
precoces do desenvolvimento cognitivo humano. Mas, se adotarmos uma perspetiva mais
cética, também realista, a pouca reflexão em redor das implicações das tecnologias na
aprendizagem pode escamotear os fatores construtivistas e construcionistas destacados por
Piaget e Papert e, em vez de transformar o ambiente escolar, incrementa o descrédito das
novas tecnologias nos processos de ensino e de aprendizagem.
Considerando que a evolução tecnológica modifica a forma como nos relacionamos entre nós
e a forma como nos relacionamos com o conhecimento, sua construção e convocação
quotidiana, os artefactos tecnológicos evidenciam-se cada vez mais como elementos não
neutrais. Desse modo, computadores, robôs e outros dispositivos que usamos no dia-a-dia
conformam a nossa vida, o nosso modo de ver, de pensar e de agir em sociedade. Logo,
também interferem na forma como desempenhamos os nossos papéis na Escola e, a este nível,
a tentação de transpor metodologias antigas para a utilização de tecnologias novas, supera
quase sempre a nossa capacidade racional. Papert, já nos tinha alertado para este risco, ao
enfatizar os aspetos sociais e motivacionais da aprendizagem, riscos que, no entanto, podemos
controlar através de projetos próprios das crianças, permitindo que escolham os temas que
querem investigar, adotando ferramentas que favoreçam a flexibilidade curricular e
proporcionando uma maior variedade de experiências e oportunidades de aprendizagem,
suscitando a adaptação dos conceitos aprendidos a novos cenários.
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em experiências centradas nas capacidades, nos interesses, nos estilos de aprendizagem e nas
formas prediletas de expressão.
A concluir, assumimos que o processo de ensino não acontece desconectado da realidade dos
alunos, exigindo práticas contextualizadas em que os alunos reconheçam nelas mais-valias
para o seu processo de aprendizagem. A literacia digital é, por isso, imprescindível para a
inclusão do cidadão no mundo e, desse ponto de vista, ao criar espaços enriquecedores da
aprendizagem estaremos a contribuir para a formação integral de cidadãos que compreendem
e refletem sobre a sociedade digital. A robótica educativa revela, neste movimento, um
infinito potencial na educação integral do Homo Sapiens Digitalis.