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UNIVERSIDADE DO OESTE DE SANTA CATARINA

PÓS-GRADUAÇÃO EM TECNOLOGIAS DIGITAIS APLICADAS À EDUCAÇÃO

CHARLENE PARISSENTI NICHELATTI


JOEL VARISA
PATRÍCIA PEREIRA PIETRO

PRÁTICAS EDUCACIONAIS PERMEADAS PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS –


DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Joaçaba
2022
CHARLENE PARISSENTI NICHELATTI
JOEL VARISA
PATRÍCIA PEREIRA PIETRO

PRÁTICAS EDUCACIONAIS PERMEADAS PELAS TECNOLOGIAS DIGITAIS –


DESAFIOS E POSSIBILIDADES

Trabalho apresentado para a conclusão da


disciplina de Educação e Tecnologias digitais
como requisito parcial para conclusão da
disciplina.

Orientadora: Prof. Dra. Camila Regina Rostirola

Joaçaba
2022
1 INTRODUÇÃO

Uma leitura atenta sobre os elementos elencados em diferentes textos, nos permitem
analisar o quão próximo ou distante se está do desejável, em relação a educação mediada
pelas tecnologias. Compreender os motivos que impossibilitam os modelos educacionais
vigentes acompanhar a era tecnológica e fazer acontecer uma educação permeada ao seu uso
são, ainda, dois paralelos que parecem não estarem muito próximos.
Educadores, em especial os de países subdesenvolvidos, tem um enorme desafio para
conciliar a educação às tecnologias digitais que vão além da falta de investimentos em
formação de pessoas e infraestrutura. A forma da qual muitos professores utilizam para
lecionar suas aulas não só está enraizada na forma como aprenderam, como está moldada a
forma como uma escola é regrada e conduzida. Atrevemo-nos a dizer que qualquer coisa que
se faça diferente, frente ao que tradicionalmente é feito, já seria uma evolução e um começo
para as mudanças.
As atuais gerações não só anseiam, mas dependem de uma formação voltada a era
digital que por sua vez, deve fazer parte do ambiente escolar como uma cultura a ser
disseminada com responsabilidade e foco para um melhor aprendizado e uso por parte do
aluno. Fomentar a cultura digital nas escolas não deveria ser uma opção, visto que é uma
realidade que não pede permissão ou espera que seja acompanhada. Ela está aí para servir a
sociedade e o papel da escola é fundamental para que, de modo geral, os cidadãos façam uso
adequado das tecnologias.
Diante do cenário com tantas inquietações, mudanças são necessárias e possíveis. Seja
a partir de uma leitura, de uma discussão ou uma reflexão, o momento exige que a capacidade
humana de atuar e modificar o meio em que se vive, possa proporcionar uma educação que vá
além da alfabetização e memorização de conteúdos reproduzíveis. Não só é necessário
aproveitar a mudança que a era digital está proporcionando como deve-se ver na cultura
digital que está se formando, a possibilidade de aprender novas formas de ensinar, não para
que sejam alternativas, mas para que sejam ferramentas de transformação e de acesso ao
mundo que diariamente se atualiza e se conecta cada vez mais.
Espera-se que a síntese a seguir, produzida a partir da leitura de diferentes autores e de
diversas discussões em grupo, permita elucidar de que maneira é possível relacionar os fatos
vivenciados não somente na educação, mas na sociedade a qual pertencemos, a uma possível
transformação cultural e evolução tecnológica, afinal, estamos todos conectados esperando
por mudanças que poderão vir por nós mesmos.
2 DESENVOLVIMENTO

Viver em uma era digital, independente das condições financeiras e sociais, implica
hora ou outra de termos de nos relacionar com pessoas e com o próprio ambiente por meio de
aplicativos e dispositivos que evoluíram muito mais rápido do que pudemos acompanhar. A
tecnologia não evoluiu apenas para que possamos nos comunicar instantaneamente ou realizar
pagamentos sem o uso de papel, ela evoluiu e está evoluindo de tal modo que é impossível
pensar que ela será passageira e que voltaremos a viver tempos nostálgicos sem que seja
proposital. No mundo atual, muitas são as áreas que estão se alinhando ao uso de aparelhos
cada vez mais sofisticados e que possibilitam uma imersão virtual cada vez mais simples e
acessível. Muitas, mas não todas. A educação é uma delas.
A velocidade da evolução tecnológica e da cultura que está sendo vivenciada e que
deveria fornecer maiores subsídios para o aprendizado não está proporcional ao modelo de
educação vigente na maioria dos sistemas de ensino. A educação em uma era digital, com
mudanças não apenas no meio, mas também no comportamento das pessoas, não está
acompanhando a crescente evolução que a sociedade está vivenciando. Muito disso,
provavelmente está relacionado ao não desapego de um sistema que moldou a história
moderna e tem raízes ainda muito forte, ao que Bauman (2001, apud SARAIVA, VEIGA-
NETO, 2009, p. 188), classifica como “Modernidade sólida”. Segundo ele, a Modernidade
sólida “derretia os sólidos para colocar outros melhores em seus lugares”. Essa metáfora
usada por Bauman, explica entre outras coisas, o modelo educacional que sempre evidenciou
a figura do professor e o papel da escola como formadores de saberes imutáveis, mas que nas
últimas décadas está se dissolvendo ao que o autor chama de “Modernidade líquida”, a qual
“assume a impermanência e constante mudança de formas, num processo que parece não ter
previsão de término”(idem).
A incessante atualização do mundo contemporâneo se dá pela ressignificação de uma
sociedade que está passando de produtora para consumidora, onde a cultura de pensar a longo
prazo está dando lugar a o imediatismo e a necessidade de satisfazer desejos que não devem
mais ser adiados.
A sociedade na Modernidade líquida passa a valorizar características individuais do
sujeito deixando de lado o controle sobre o coletivo o qual implica muito a hierarquização e a
subordinação, sinônimos que predominam em uma escola desde a sua criação e que estão em
xeque, tamanha volatilidade a qual a escola atual está presenciando. Pode parecer exagero,
mas a escola atual está em apuros em meio a essas mudanças.
Segundo Saraiva e Veiga-Neto (2009, p. 197), a entrada de “novos dispositivos de
controle e ao noopoder1 na governamentalidade, estaria deslocando o privilégio da escola na
produção das subjetividades”, ou seja, a escola não tinha muita concorrência e podia moldar
seu aluno baseando-se em conceitos que julgava serem corretos, essenciais e unilaterais para
sua formação. O autor complementa:

Se na Modernidade sólida, apenas um mundo poderia se efetuar, na Modernidade


líquida efetuam-se infinitos mundos incompossíveis [...]. Os jovens e as crianças que
estão na escola hoje transitam por esses muitos mundos parecendo não se
importarem com tal impossibilidade (2009, p. 197).

A escola precisa se reinventar, “repensar o trabalho docente em termos de sua


crescente flexibilização” (SARAIVA; VEIGA-NETO, 2009, p. 199) para que haja articulação
entre as transformações do mundo do trabalho e a educação. Ainda conforme o autor, mais
importante do que aprender um determinado conteúdo, é aprender a aprender. “Um sujeito em
permanente processo de aprendizagem, em permanente reconfiguração de si, é o que se estaria
pretendendo que a escola formasse a partir dessa estratégia pedagógica” (idem). Acredita-se
que somente assim é possível ressignificar a escola e suas práticas de ensino.
Mas afinal, como a escola pode fazer isso? A resposta pode estar na inovação
educacional. Entender o que é inovação é ponto primordial para que se possa atribuí-la às
mudanças necessárias. Uma gama de autores conceitua inovação de inúmeras formas, as quais
predominam o conceito de desenvolver um novo método, técnica ou instrumentos que
possibilitem “recriar com uma ideia não pensada até então” (NOGARO; BATTESTIN, 2016,
p. 360). Sob o olhar da inovação, Sacristán chama a atenção para os argumentos usados que
muitas vezes são recheados de velhos sentidos.

Hoje o pensamento e as práticas conservadoras empregam roupagens teóricas ou


científicas para empreender contrarreformas que querem refazer história de sua
forma, contando-a de outra maneira. Esquecem seu passado, reconstroem-no e, sem
qualquer vergonha, nos anunciam um futuro esplendoroso (2015, p. 16 apud
NOGARO; BATTESTIN, 2016, p. 360).

Pensar que é simples e objetivar algo novo acreditando que literalmente nada foi feito
antes é perigoso. Na área de educação, anunciar algo como inovador é no mínimo suspeito,
ela ainda não é clara para a maioria dos educadores, principalmente pela falta de teorização e

1
noopoder – “se constitui por técnicas de controle a distância que capturam a memória e a atenção, cujo ponto
de aplicação já não são os corpos, mas que se exercem preferencialmente na modulação da mente”
(LAZZAROTO, 2006)
formação a respeito do assunto. Deve-se, antes de mais nada, verificar de onde vem esse
anuncio e qual seu sentido para não cair em falácias.
Se o conceito para o termo inovação ainda é pouco debatido e caracterizado, para
inovação em educação é mais complexo ainda. Há na literatura, segundo trabalho publicado
pelo autor Fernando Tavares, poucos artigos originais que versam sobre o assunto e ainda são
desconexos uns com os outros. Enquanto alguns autores conceituam a inovação educacional
como um significado de experiência positiva que traz melhorias ao sistema de ensino, outros a
vem como “sinônimo de reforma e mudança, como transformação de propostas curriculares e
como alteração de práticas costumeiras em um determinado grupo social” (TAVARES, 2018,
p. 15). A fragilidade de consenso em relação ao tema é evidente. Os poucos pesquisadores
que abordam o tema o fazem de forma técnica “desconsiderando o quadro social, cultural,
histórico e político” (idem), segundo Tavares. O autor conclui que tais estudos ainda focam
em “difundir e modelizar experiências do que compreendê-las em sua complexidade e
integralidade no âmbito dos atores, processos, relações, dinâmicas, resistências, dilemas,
conflitos e contradições” (idem). É evidente que haja tantas dúvidas e receios. Não deveria,
mas a carência de orientações acaba justificando muitas atitudes de profissionais da educação
que ficam estancados em suas práticas, muitas vezes questionando se é oportuno fazer
diferente.
Mas não é porque o momento é preocupante que tudo o que vier soará como solução,
até porque há uma grande heterogeneidade no modelo educacional que impossibilita que uma
solução seja igualmente aplicada a todos. Às vezes, o professor sair do automático já
configura uma inovação, pois é tão comum a rotina do docente fazer o que sempre faz, que
qualquer atitude diferente já é uma evolução. Infelizmente muitos professores estão
amarrados ao conceito de fazer o mesmo para não errar, assim como destaca Guerra: “Diriam
que o critério mais definitivo de que as coisas estão sendo bem-feitas é o de que estão
fazendo-as como sempre fizeram. Parece que a repetição de costumes é a garantia de
qualidade” (2015, p. 86 apud NOGARO; BATTESTIN, 2016, p. 362). Porém, a necessidade
de inovar na educação é urgente, do contrário, perderá seu rumo e terá dificuldade de um
fazer eficaz.
Para Cunha, algumas características de experiências educativas inovadoras que podem
proporcionar mudanças significativas, sem necessariamente alterar profundamente a rotina
escolar, mas que dependem de comprometimento, são promover
[...] ruptura com a forma tradicional de ensinar e aprender; gestão participativa;
reconfiguração dos saberes; reorganização da relação teórico-prática; perspectiva
orgânica no processo de concepção, desenvolvimento e avaliação da experiência
desenvolvida; mediação e protagonismo (2018 apud NOGARO; BATTESTIN,
2016, p. 363).

Para Imbernón, o professor não é o único responsável em inovar.

Não basta focar no professor quando se pensa em inovação, há que se levar em


consideração o meio onde o processo ocorre. A inovação é uma mistura de formação
e contexto. Para mudar a educação é preciso mudar o professorado e a formação
contribui para isso, mas os modelos de organização e de gestão também precisam ser
alterados. (2012, p. 97 apud NOGARO; BATTESTIN, 2016, p. 363)

Ao atribuir o conceito de inovação na educação, este não deve ser algo linear e
imposto a qualquer custo, pelo contrário, deve ser estimulado e prazeroso para que tenha
efeito positivo. Como já descrito, pode-se começar por algo simples, mas que provoque
rupturas com a forma tradicional de ensinar e aprender, que reorganize a teoria e a prática e
que possa ser protagonista nas mudanças almejadas, no entanto, não se trata apenas do
professor proporcionar essas mudanças. É no mínimo covardia acreditar que apenas ele será o
agente responsável pela transformação. Modelos de gestão e organização escolar, assim como
a reestruturação dos espaços devem contribuir para que tais melhorias sejam concretizadas e
isto deve ser feito o quanto antes. Segundo Sacristán “o futuro como lugar ou espaço do
tempo não existe no presente [...]. O futuro nós o fazemos agora. Educa-se para o futuro
educando no e para o presente” (2015, p. 12 apud NOGARO; BATTESTIN, 2016, p. 364).
Se por um lado a teoria é escassa, de outro, a imaginação é ilimitada. A seguir,
apresenta-se um quadro que organiza as características que estariam presentes em escolas ou
práticas educativas inovadoras, pensadas pelos autores Nogaro e Battestin, que podem ajudar
a compreender e também justificar uma educação inovadora. Nesse caso, as escolas deveriam:

Quadro 1: resumo referente as características e práticas educacionais inovadoras que, segundo os autores, devem
estar presentes em escolas inovadoras
Características/Práticas educativas Definição
Formar para além do espaço da fábrica Não se sabe quais serão as profissões do futuro, portanto a escola
deve formar para que o aluno esteja preparado para qualquer
ambiente, seja em um futuro próximo, ou não. A escola deve
abandonar o modelo fabril de organização e dar espaço a um
modelo mais flexível e dinâmico, suscetível a mudanças e com
garantias de educação de qualidade.
Trabalhar com outra forma de Uso de tecnologias, junto a outras posturas do professor, podem
organização promover o aprendizado de maneira significativa. Além de
democratizar o processo de ensino, elas interligam saberes e
oferecem um leque de opções para a resolução de problemas e
pesquisas que ajudam a desenvolver novas habilidades e formas
de pensar. No entanto, não se deve pensar que isso se concretiza
apenas equipando escolas com aparatos tecnológicos.
Possuir energia criativa para enfrentar a Um ambiente escolar receptivo a mudanças e alinhado ao mundo
complexidade globalizado é o que se espera quando se fala em enfrentar a
complexidade. As constantes transformações do cenário que
vivemos, exige que possamos inovar nas atitudes para que o
processo de aprendizagem seja eficaz.
Ter capacidade de inovar Mais que inovar, é fundamental que se rompa com velhas rotinas
e posturas que impedem qualquer mudança. Ousar e ter coragem
para fazer diferente, mesmo não tendo certeza de que o final do
processo seja exatamente como esperado, na esperança de que a
dúvida não sobreponha a expectativa.
Ser plena quando todos os professores Quando cursos de formação para professores deixarem de ser
forem atores mecanismos reguladores e passarem a ter sentidos e terem os
professores como mediadores de práticas e de compartilhamento
de saberes que efetivem mudanças, baseados em sua realidade
local.
Estar propensa à mudança de método Ambientes de trabalho que possam superar as mesmices e inovar
frente a atual demanda sem receio a julgamentos por não seguir a
tradicional metodologia de ensino por conteúdos.
Ter conhecimento da neurociência para Muitos estudos comprovam que há, para cada caso, métodos mais
ensinar e aprender melhor eficientes para estudos do que apenas ler, prestar atenção ou
repetir procedimentos para a execução de atividades e resoluções
de problemas. Estar a par de tais estudos pode ajudar o educador a
compreender melhor seu aluno e diversificar suas metodologias
para que consiga desenvolver nele habilidades e estimular
aptidões individuais existentes em sua própria natureza.
Preparar a mente aberta à ética para viver Orientar não somente alunos, mas toda a comunidade escolar,
em uma sociedade pluralista para que compreendam a importância da vida em sociedade e a
preservação do meio ambiente, fazendo uso crítico e consciente
de recursos, respeitando as diferenças e crenças individuais e, ou
coletivas, a fim de que fique preservado o direito de cada um.
Educar para a autonomia e a Uma educação consciente tem maior sucesso no enfrentamento de
responsabilidade situações problematizadoras, mas isso não é possível se o
professor não descentralizar a tomada de decisões. Partilhar
escolhas e incentivar o enfrentamento de problemas, irá contribuir
para uma formação integral e emancipadora dos alunos,
permitindo maior criação e interação sobre a aceitação do que já
está pronto.
Ancorar suas ações e atuar com base no É comum alunos reclamarem das rotinas impostas por alguns
planejamento professores. Isso se deve a forma engessada e pouco dinâmica a
qual o planejamento do professor foi feito. Não rever as próprias
práticas, quando estas não produzem o conhecimento, faz com
que o ato de ensinar não se concretize, sendo apenas intensão
dessa e não um fato. Planejar requer conhecimento, ter objetivos e
acima de tudo, vontade, portanto é algo a ser feito e refeito
sempre que necessário, sem hesitação.
Reconhecer e valorizar as emoções No ambiente escolar, muito se valoriza a razão, mas não quer
dizer que a emoção deve ser deixada de lado. Equilibrar esses
termos é necessário para que a interação entre professor e aluno
desperte neste último, maior atenção e interesse em relação aos
estudos realizados, favorecendo os processos de aprendizagem e
memória.

Não apenas a educação pensada e realizada de maneira organizada e bem


fundamentada pode contribuir para as melhorias no processo de ensino-aprendizagem, como
pode ajudar no uso de meios inovadores e tecnológicos que emergiram nos últimos anos e
perpassam por todos os segmentos da sociedade, possibilitando uma educação mais
democrática, atendendo interesses da maioria, sendo mais criativa e desafiadora, a fim de
estimular o pensamento crítico e que desperte o interesse para o novo. Não há como pensar
em inovação sem pensar em evolução, portanto, é imprescindível que todo professor tenha em
mente seu papel de agente transformador, capaz de provocar mudanças sem desconstruir o
passado e de experimentar o novo e se reinventar, afinal, nada está tão acabado que não possa
ser melhorado.
Toda a tecnologia desenvolvida pela humanidade, desde o descobrimento e manuseio
do fogo, por assim dizer, produziu efeitos imediatos, mas também de longo prazo, que se
forem caracterizados, nos evidenciarão que são frutos da necessidade humana de criar ou
aperfeiçoar produtos e serviços de seu interesse, tal qual concorda Bortolazzo (2020, p. 372).
Para o autor, “o termo ‘tecnologia’ apresenta significados que se referem tanto ao
conhecimento técnico e científico quanto às ferramentas cujo uso e desenvolvimento
requerem tempo de aprendizagem, maturação, adaptação e acomodação por parte dos
sujeitos” (2020, p. 371).
Segundo o autor, Marcos Masetto (2000), muitas escolas e seus professores, estão
convictos de que a educação que devem dar a seus alunos é estritamente conteudista e
permeada apenas por conhecimentos culturais, históricos e científicos acumulados pela
humanidade nas mais diversas áreas de conhecimento e que isso pode ser feito verticalmente
como se o aluno não tivesse condições de criar ou aprender por outros meios, tendo ainda
como única forma de avaliar, provas e trabalhos que devem ser reproduzidos tal como foram
ensinados, ou seja, quanto mais fiel for a reprodução em relação ao que o professor
apresentou, maior será a nota, não importando se o aluno aprendeu ou decorou o assunto.
Mesmo que se considere que o aluno aprenda desse modo, dificilmente ele irá absorver todas
as áreas, ficando as que considere de menor interesse, fadadas a serem apenas cumpridas sem
serem assimiladas como deveriam se tivessem sido ministradas de outra forma.
A educação, mediada pelo uso das tecnologias, é uma realidade que pode mudar isso.
Ela tem o potencial que o professor necessita para incentivar o aluno a debater e pesquisar
temas que por muitas vezes foram monótonos e esquecidos imediatamente ao término da aula,
porém, ainda é vista com receio.
O uso de tecnologias na educação no Brasil, não teve um início glorioso. Uma
experiência herdada da era do ensino tecnicista, gerou muitas críticas por parte de educadores
e que tem influência nos dias atuais, pois muitos profissionais ainda não veem significado sua
associação às metodologias de ensino e práticas pedagógicas. No entanto, Masseto acredita
que há ao menos dois novos fatos que devem ser considerados e que não faziam parte da era
tecnicista: o advento da “informática e da telemática” (2000, p. 136) conectada à internet e à
uma formação de professores universitários com interesses pedagógicos, visando melhorar
sua atuação docente e de relacionamento com seus alunos. Com isso, o autor contempla que
há motivos para que o uso das tecnologias seja repensado, tornando evidente a gama de
oportunidades e o que pode ser produzido a partir delas.
Mas antes de se discutir o uso eficiente das tecnologias e seus derivados termos no
meio educacional, é necessário compreender como ela age sobre o meio, principalmente o
sujeito e quais as reais possibilidades em torno de sua implantação e adequação à educação,
visto que há um movimento muito forte que está diretamente ligado a necessidade de ter e
consumir tecnologia, recursos e produtos tecnológicos, denominado “cultura digital” e que
requer atenção para que sejam organizados e conscientemente realizados, a fim de promover
melhorias nos processos de ensino-aprendizagem e não o contrário.
Cultura digital, pode ser entendida como uma onda global em torno do uso de aparatos
digitais e tecnológicos como ferramentas para se informar, comprar online, receber e efetuar
pagamentos instantâneos, entreter-se com jogos online, músicas, filmes, séries e tantos outros
conteúdos produzidos por gente “normal” disponibilizadas em redes sociais e aplicativos que
rapidamente chegam a uma quantidade enorme de pessoas, possibilitando, inclusive, novas
formas de trabalho e renda e também de ser meios de comunicação instantâneo, sejam feitos
por textos, áudios ou vídeos, enfim, vivenciar relações de forma virtual e muito mais rápidas
as quais tradicionalmente eram feitas, muitas apenas por meio físico. A ascensão da cultura
digital é ainda mais notável quando a democratização ao uso de dispositivos e possibilidade
de acesso à internet se deu pela população mais carente e isso só foi possível porque a própria
tecnologia forneceu meios para diminuir e baratear os produtos e seus custos de produção,
“modificando as formas de aquisição, consumo, e acesso aos conhecimentos, que não são
mais fixos, mas inscritos na mobilidade contemporânea” (BORTOLAZZO, 2020, p. 384).
A questão de a tecnologia promover uma cultura digital, tem-se a necessidade de que
essa esteja sempre em evolução. E isso as empresas fazem muito bem. Grandes grupos do
ramo das tecnologias inovam constantemente produzindo não somente produtos, mas serviços
e atividades que também visam lucros e em função disso, induzem a população mais
conectada e que é menos crítica, a hábitos em relação ao que assistem, o que compram, o que
comem, o que usam e fazem isso mapeando interesses individuais por meio de algoritmos que
convertem dados e pesquisas dos próprios usuários e de seus contatos, em possíveis pontos de
interesse, tendo aqui, um ponto de inflexão que pode não ser favorável. O fato de as
tecnologias agirem sobre o meio, implica cuidado, pois a não observância de suas intenções
pode gerar uma desconexão com a realidade do sujeito, fazendo com que esse fique alienado e
passível a situações e tomadas de decisões que podem prejudicar a si mesmo e ao grupo a que
pertence, num curto período de tempo.
A cultura digital é claramente uma fonte de poder, por isso deve ser vista como um
potencial para promover a educação, desde sua concepção básica por conhecimentos
científicos, culturais e históricos, fruto do interesse da escola, até sua formação mais
complexa que envolve a concepção humana do sujeito, a qual pode ser definida pelas
“relações que vivencia no mundo, produz significações e, como ser significante, vivenciar
esta sua condição de ser lhe permite singularizar os objetos coletivos, humanizando a
objetividade do mundo” (MAHEIRIE, 2002). No entanto é necessário que ela seja mediada
para favorecer os processos educacionais, vista que ela é presente e atuante nos meios sociais
e indissociável dos sujeitos pertencentes ao ambiente escolar, inclusive professores.
Aproveitar a tecnologia e interesse por parte do educando para produzir conhecimento é foco
também da BNCC, que pontua cultura digital como necessário para “compreender, utilizar e
criar tecnologias digitais de forma crítica, significativa e ética [...] para comunicar-se, acessar
e produzir informações e conhecimentos, resolver problemas e exercer protagonismo e
autoria” (BRASIL, 2017).
Há ainda um outro elemento a ser considerado que é o efeito de imediatismo que a
cultura digital produz, o qual também pode ser trabalhado se adotado estratégias de ensino
que busquem reconhecer as consequências que o ato de agir possui. O fato de realizar coisas
por impulso ou satisfazer desejos sem analisar nossas opções e implicações que tal ato pode
resultar, vai ao encontro, por exemplo, com a desordem financeira que muitas famílias tem ao
consumirem exageradamente por intermédio da cultura digital a qual são impostas. Negar a
condição digital e o uso das ferramentas digitais e tecnológicas nas escolas é ignorar que elas
são capazes de transformar mais do que o professor poderia fazer, apenas discursando.
Portanto, é indispensável que se tenha práticas voltadas a interação digital de forma
consciente, como descrito na BNCC, para que se possa intervir de forma consciente e evitar
danos irreparáveis nas estruturas sociais de uma comunidade.
Ao identificar a ideia de que é possível atribuir o uso das tecnologias ao processo de
ensino-aprendizagem, é necessário desconstruir o conceito de que o professor é aquele que
ensina e o aluno o que aprende. Isto está muito enraizado no cotidiano escolar e por esse
motivo deve ser revisto, afinal, o verdadeiro papel do professor deve ser “o de mediador entre
o aluno e sua aprendizagem, o facilitador, o incentivador dessa aprendizagem” (MASETTO,
2000, p.140). Já o papel do aluno, segundo Masetto (2000), pode ser descrito como um sujeito
pensante, colaborativo e que se inter-relaciona tanto com seus colegas, quanto com seus
professores com o intuito de mudar seu comportamento e mediante o uso adequado das
tecnologias, pode fazer isso de forma eficiente e autônoma.
Não basta teoria, é necessário para o professor sair de sua zona de conforto, do uso de
suas metodologias inertes para lançar-se ao desafio de junto com seus alunos, construírem
conhecimentos sólidos impulsionando o desejo de mudanças de ambas as partes. Não basta
também apenas substituir o quadro de sala pelo uso de slides, os trabalhos escritos a mão por
trabalhos digitados, as aulas expositivas por vídeo aulas da mesma forma explicativas. O
trabalho deve ser repensado de acordo com os objetivos pretendidos e o uso de interações e
equipamentos para isso deve ser variado, da mesma forma que as metodologias devem ser
reinventadas sempre que não atinjam o resultado esperado, do contrário não haverá professor
mediador e nem aluno aprendiz, só haverá uma falsa estratégia de mudança.
As mediações pedagógicas realizadas por meio de novas metodologias, com uso ou
não de tecnologias digitais, é muito importante não só para o aluno, mas também para o
professor, pois permite verificar suas estratégias de ensino e a eficiência de seu trabalho
docente. Para o aluno, favorecem o diálogo, as reflexões, resolução de problemas e desafios
sob uma nova ótica, o coloca diante se situações onde as informações recebidas precisam ser
verificadas e principalmente questões éticas e morais, de empatia e de liberdade de escolha
diante tomadas de decisões que precisará lidar em determinada etapa da vida ao ingressar
ativamente na sociedade.
Conforme já apontado, muitos professores sentem dificuldade ou são resistentes a
mudanças de suas práticas, seja pelo tempo de serviço, pela idade ou mentalidade formada em
gerações passadas. Segundo Zeichner, Saul e Diniz-Pereira, “essa resistência não aparece
diretamente nos discursos dos professores, mas é revelada nas suas práticas do dia a dia, nas
ações e nas opções que os professores assumem quando fecham a porta da sala de aula”
(2014, p. 2221 apud SOUZA-NETO; LUNARDI-MENDES, 2017, p. 512). Muitos discordam
de que o aluno é capaz de aprender se for indisciplinado, ou seja, se o aluno ficar devidamente
atento às aulas, não importa a metodologia, ela irá aprender de forma igual aos demais. Fato é
que a ciência já comprovou que não aprendemos da mesma forma e que temos potenciais
distintos, aliás, conhecimento científico, segundo Bauman, não é mais um elemento
impulsionador dos movimentos de uma sociedade (2009, apud BORTOLAZZO, 2020).
Retomando a ideia de que o professor deve ser o mediador para o desenvolvimento da
aprendizagem, este, apesar das dificuldades que enfrenta, precisa reconhecer que na
contemporaneidade, as formas nas quais o ser humano tem para adquirir conhecimentos são
múltiplas e cada vez mais tentadoras à medida que oferecem flexibilidade e facilidade de
interação.
Muitos conhecimentos, aliás, já vêm embarcados em tecnologias que facilitam o
manuseio, ou seja, manipular um dispositivo eletrônico não depende mais de instruções
técnicas, basta interação com esse e em pouco tempo, o indivíduo saberá operá-lo com as
competências esperadas. Vê-se então, as tecnologias como uma forma de adquirir
conhecimento. As escolas, não diferente das demais esferas da sociedade, não deve se eximir
de tal responsabilidade.
A globalização levou às escolas um novo universo de oportunidades tidas com
Tecnologias Digitais da Informação e Comunicação, ou apenas TDIC, que precisam ser
compreendidas para então serem utilizadas a favor da educação. Meyrowitz defende que não
se pode mais pensar em educação apenas na forma impressa, pois não há mais segredos que
possam ser escondidos em livros e mantidos fora do alcance dos alunos (1985, apud
BERRIBILI et al, 2019). No entanto, todo uso das tecnologias interativas, principalmente as
com capacidade informativa, devem ser utilizadas criticamente e ter seu funcionamento
conhecido, para que não se tornem instrumentos dominadores de seu público, recaindo
novamente sobre a escola o desafio de mediar como utilizam e o que acessam, já que muitos
pais não conseguem controlar sequer o tempo que seus filhos ficam conectados à internet.
As dificuldades que a escola enfrenta, além da não dominação de professores em
relação ao uso de tecnologias digitais, é quando alunos relutam ao uso pedagógico de seus
dispositivos móveis ou até mesmo em computadores fornecidos pela escola, tendo, segundo
relatos de professores, situações de enfrentamento ou uso inadequado (BERRIBILI et al,
2019, p.306). Os autores ainda destacam que, “na maioria das escolas, o treinamento para
lidar com as TDIC [...] é insuficiente, quando há” (idem) e por esse motivo, o uso de
dispositivos tecnológicos como celulares tem seu uso restrito ou proibido em muitas escolas.
Segundo Souza-Neto e Lunardi-Mendes (2017, p. 510), o não uso por parte de alguns
professores se dá por “desconforto, medo, desmotivação, desinteresse e, principalmente,
insegurança profissional para lidar com as TDIC”. Apesar da necessidade urgente de
embarcar o uso das TDIC às práticas pedagógicas, há dos dois lados um boicote que impede a
inserção das tecnologias e consequentemente modelos inovadores de ensino, ao processo de
aprendizagem de forma eficiente e contínuo e que poderia auxiliar na emancipação da
educação e da cidadania.
A indispensável habilitação de novos professores e sua contínua formação curricular
para o uso das TDIC é papel central para que elas não sejam inseridas nos contextos escolares
sob o pretexto de apenas serem necessárias, pois corre-se o risco de servirem “apenas como
cosméticos e verniz de velhas práticas pedagógicas” segundo descreve Souza-Neto e Lunardi-
Mendes (2017, p. 510), não tendo significado algum, nem para professores, muito menos para
alunos. Para piorar, percebe-se na narrativa dos autores, que quando se aborda o assunto em
relação ao uso das TDIC entre docentes, este é de muita insegurança, pois ainda não
conseguiram adequar suas práticas pedagógicas ao seu uso. Daí a importância que se deve dar
para as formações de professores. Formações estas que devem, antes de mais nada, ouvir os
profissionais e compreender suas necessidades e anseios para que possam se reinventar e
assumir papel de protagonista em relação ao uso das TDIC. Talvez o que esteja faltando aos
professores é confiança, conforme destaca Costa:

[...] ‘sentir-se confiante’ significaria ter, pois, para além de uma atitude favorável,
uma visão global do leque de coisas que se pode fazer com os computadores, o
conhecimento concreto dos recursos que existem numa determinada área científica
e, o que com eles é possível fazer, do ponto de vista pedagógico, com os alunos (o
quê, como e para quê) (2008, p. 517 apud SOUZA-NETO; LUNARDI-MENDES,
2017, p. 514).

A confiança pode determinar as estratégias que estão faltando para o uso das TDIC,
sem que professores deixem de lado o que lhes desestabiliza, o que para muitos é o domínio
de sua área de conhecimento e também que deixem de lado a insegurança de o aluno ter mais
domínio sobre a ferramenta digital do que ele, afinal, dominar um dispositivo tecnológico não
é sinônimo de conhecimento se não o fizer de maneira consciente e responsável. Se a
confiança for um fator motivador, que ela se torne constante e possa ser útil para que
professores possam aperfeiçoar seus métodos e desenvolver novas formas de mediação do
conhecimento.
Infelizmente ainda não é uma realidade para muitos ambientes escolares, mas é
possível que as TDIC deixem de serem apenas facilitadoras de práticas pedagógicas para
serem estratégias didáticas para o ensino dos objetos de conhecimento (SOUZA-NETO;
LUNARDI-MENDES, 2017), que possam aprimorar práticas e tenham destino certo no
avanço da qualidade da aprendizagem e na fluência digital entre professores.
A considerar, poucas formações com foco no uso das tecnologias foram idealizadas
por meio de políticas públicas e as que foram, não subjazem a práticas pedagógicas o
suficiente para garantir ao professor, o papel de idealizador e incentivador do uso das TDIC,
pelo contrário, foram descritas como formas de ensinar o professor a manusear equipamentos
e fornecer meios tecnológicos para a explanação das aulas (PRETTO; PASSOS, 2017). Com
isso, uma descontextualização toma conta, pois formações que deveriam vir para fomentar
novas metodologias, produzem um efeito onde o professor é responsabilizado de não alcançar
os objetivos com seus alunos por não “treinarem” o suficiente, ou seja, se o aluno não aprende
é porque não usufruiu dos recursos que foram disponibilizados para ao professor.
Então, antes de mais nada, para que se possa emanar as mudanças nos sistemas de
ensino, fazendo uso de novas metodologias, de recursos tecnológicos, de conhecimentos com
foco na modernização, é necessário que haja um rompimento com as tradicionais e cansadas
formas de ensino. Não é embarcando de cabeça nas tecnologias que se espera tais mudanças,
pois como defendido por Moran, alguns meios constituem “novos formatos para as mesmas
velhas concepções de ensino e aprendizagem inscritas em um movimento de modernização
conservadora” (2004, apud BARRETO, 2004, p.1183). O uso das TDIC devem ser para além
da substituição das velhas práticas, ou de velhos equipamentos por novos (BARRETO, 2004),
como tem sido feito. A globalização está ofertando a possibilidade de se equiparar as
defasagens educacionais nos mais variados espaços escolares, porém não deve ser vista
apenas como uma ferramenta. Tudo o que está sendo construído, o que está sendo
comunicado, o que está sendo moldado deve ter sentido tanto para os alunos quanto para os
professores e demais membros das equipes escolares para que seja concretizado de maneira
eficiente, prazerosa, democrática e acima de tudo, sem receios.
Temos visto o trabalho docente ser caracterizado como “facilitador, animador, tutor,
monitor, etc” (BARRETO, 2004, p. 1186), como se fossem terminologias normais para as
múltiplas funções que esse exerce ou deverá exercer, subjugando a nobreza de seu trabalho,
no entanto, não se deve pensar que ser professor significa ser inflexível. Um termo adequado
e que se encaixa ao papel de um professor atuante e provedor de conhecimento por meio de
novas práticas de ensino, seria “mediador”, pois dá significado àquele que, por intermédio de
algum meio, auxilia em uma formação de maior aprendizado pelo aluno. Aprendizado esse
que respeita os tempos e limites de cada um, não deixando o aluno com mais facilidade de
aprendizados empacado, em razão das dificuldades que um outro aluno apresenta onde se é
necessário revisitar conceitos e estratégias de ensino para que este supere suas dificuldades.
Contudo, não será possível que tais mudanças sejam realizadas se não forem
superados os investimentos em infraestruturas e formações, tanto iniciais, quanto continuadas
dos professores. Reconhecer que a cultura digital está emaranhada à educação é importante
também. Muito se vê, mas pouco se aprende. Nunca na história da humanidade houve
tamanha fonte de informação na palma da mão do ser humano, a distância de apenas alguns
cliques. É necessário agir, do contrário ficaremos reféns das próprias atitudes ou falta delas,
afinal, a educação é libertadora e se apenas por isso ela não for considerada importante, por
qual outro motivo seria?

3 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Tendo vistas diferentes literaturas relacionadas ao que tange as tecnologias no meio


educacional, foi possível reconhecer que estamos longe do essencial para o que se pretende e
o que se necessita na educação. Todo o esforço para entender em que ponto estamos e onde se
quer chegar, nos mostra que a sociedade está sendo moldada sob novas formas de
comportamento que estão diretamente ligadas a influência digital a qual estão expostas, não
dependendo de sua classe social ou ambiente frequentado.
Nas escolas, essa influência está causando uma desarmonia entre o velho sistema
educacional e seu público atual, ou seja, uma mudança de paradigma que contracena com
metodologias que não dão mais conta de formar o aluno como se deseja. Não apenas os
alunos estão sendo reféns por falta de orientações e oportunidades, como professores estão
perdidos sem saber como fazer para promover melhorias e ofertar uma educação de mais
qualidade. São problemas que muito dependem de esforços de ambas as partes para que seja
possível reaver conceitos de uma educação mais integralizada e que promova o ensino.
É importante que professores compreendam como os alunos aprendem para saber de
que maneira podem ensinar. O uso de novas metodologias, aliadas ao uso de tecnologias
digitais vai ao encontro deste questionamento que muitos professores se fazem ao perceber
que não está mais sendo possível ensinar da mesma forma. Aderir a novas práticas é, para
muitos a única solução. Apesar das resistências apresentadas, muitos docentes reconhecem
que é preciso mudar, porém a pouca formação que recebem, é suficiente para continuarem
negando essas mudanças. Neste contexto, muitos negligenciam o uso, inclusive pontuando
que pela falta de preparo e mesmo sem saber como fazer, sentem-se inábeis, o que afeta a
segurança e traz a percepção de perda da autoridade em sala de aula.
O uso das TDIC nas escolas, não só é possível para promover essa mudança, como é
necessário, mas para isso é preciso reforçar as formações, tanto iniciais quanto continuadas
dos professores, seja por meio de políticas públicas ou por movimentos próprios das escolas e
de professores, além de investimentos em infraestruturas e equipamentos adequados, porém
que não sejam apenas para a reprodução de conteúdos e explicação de aulas por parte do
professor, mas que seja para o aluno, um meio para que possa desenvolver seus aprendizados
e habilidades de forma consciente e eficaz. Estar conectado e saber operar dispositivos
tecnológicos não garantem ao sujeito, seus objetivos de vida. O sucesso de todo trabalho e
esforço depende de como agir aproveitando o melhor que se tem à disposição. Se hoje é
possível fazer mais e melhor usando a tecnologia, então que seja feito. Ir na contramão desse
contexto não é vantajoso para ninguém, afinal, as tecnologias já provaram seu potencial.
Quem a explora, sabe bem as inúmeras possibilidades que tem a disposição, mas para isso, foi
preciso dar o primeiro passo.
REFERÊNCIAS

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Sociedade, Campinas, v. 25, n. 89, p. 1181-1201, set./dez. 2004.

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digital: contornos e práticas de sala de aula. Momento: Diálogos em Educação, v. 28, p.
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BORTOLAZZO, Sandro Faccin. Das conexões entre cultura digital e educação: pensando a
condição digital na sociedade contemporânea. ETD - Educação Temática Digital,
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2022.

MASSETO, Marcos T. Mediação Pedagógica e o uso da tecnologia. In: MORAN, José


Manuel; MORAN, José Manuel; MASSETO, Marcos T. (Orgs). Novas Tecnologias e
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NOGARO A; BATTESTIN C. Sentidos e contornos da inovação na educação. HOLOS, Ano


32, Vol. 2, p. 357-371, 2016.

PRETTO, N. de L.; PASSOS, M. S. C. Formação ou capacitação em TIC? Reflexões sobre as


diretrizes da UNESCO. Docência e Cibercultura. v. 1, n. 1, 2017.

SARAIVA, Karla; VEIGA-NETO Alfredo. Modernidade líquida, capitalismo cognitivo e


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