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Revista EDUC-Faculdade de Duque de Caxias/Vol.

03- Nº 2/Jul-Dez 2016

NOVAS COMPETÊNCIAS E DESAFIOS EDUCACIONAIS NA ERA DA


APRENDIZAGEM DIGITAL

Ana Cecília Machado Dias


Mestre em Educação e graduada em Pedagogia pela Universidade Católica de Petrópolis.
Especialista em Educação Infantil, Planejamento Implementação e Gestão da EaD pela Anhembi
Coordenadora de Tutoria EaD em disciplinas de Graduação e Pós Graduação-UNISUAM/RJ
Email: acmdana@gmail.com

Ana Lúcia Guimarães


Doutora em Antropologia PPGSA / UFRJ. Mestre em Sociologia PPGSA / UFRJ
Graduada em Ciências Sociais pela UFRJ e Especialista em Docência Online UNISUAM/RJ
Professora tutora em EaD em disciplinas de Graduação e Pós Graduação-UNISUAM/RJ
Email: profanaluciaguimaraes@gmail.com

Bárbara Cristina Paulucci Cordeiro Martorelli


Mestre em Sistemas de Gestão-UFF/RJ e Especialista em Psicopedagogia-UERJ
Docente da Faculdade de Duque de Caxias/UNIESP. Docente do Curso de Pedagogia da UNISUAM/RJ
Email: barbara_paulucci@globo.com

Nívea Lemos
Mestranda em Novas Tecnologia Digitais na Educação - Unicarioca
Graduada em História. Especialista em Psicopedagogia e OE pela UFRRJ.
Designer Instrucional EaD pela UNIFEI. Tutora em EaD da UNISUAM e Senac Rio
Email: nivealemos@gmail.com

Resumo: Este trabalho corresponde ao produto da reflexão e investigação de um grupo de


pesquisadoras sobre educação e tecnologia, usos e propostas de ensino e aprendizagem na
sociedade do conhecimento e da informação. Com ele identificamos, no contexto da
educação, a importância da aprendizagem digital e refletimos sobre as competências e
habilidades para se aprender nesse universo. Partimos do ponto que o aprender é a maior
vantagem competitiva contemporânea, situada no âmbito de nossa cultura e relações sociais.
O saber é intangível e construído a partir de diferentes perspectivas de interação e
amadurecimento de estruturas cognitivas de cada indivíduo. Assim, vemos que Instituições de
Ensino na atualidade precisam compreender o quanto é necessário situar as formas de ensinar
e aprender para alcançar resultados mais eficazes na formação profissional de seus alunos.
Palavras-chave: Educação. Tecnologia. Aprendizagem digital.
Abstract: This work corresponds to the product of reflection and investigation of a group of
researchers on education and technology, uses and proposals for teaching and learning in the
society of knowledge and information. With it, we identifie in the context of education the
importance of digital learning and reflect about the skills and abilities to learn in this universe.
We start from the point that the learning is the largest contemporary competitive advantage
within the framework of our culture and social relations. The knowledge is intangible and
constructed from different perspectives of interaction and ripening of cognitive structures of
each individual. Thus we see that educational institutions today need to understand how it is
necessary to place the forms of teaching and learning to achieve more effective results in the
professional training of its students.
Keywords: Education. Technology. Digital learning.

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1. SOCIEDADE, CIBERCULTURA E DESAFIOS EDUCACIONAIS

É de grande importância a relação tempo-espaço em que estamos situados


contextualmente. A presença da virtualidade é atualmente reconhecida de forma colaborativa
para a socialização da informação e do conhecimento na vida social e cultural dos diferentes
povos do planeta, o que confere clareza a necessidade de traçar e estabelecer aprendizados e
relações processuais que ajudem os sujeitos sociais a se moverem nessa órbita de rápidas e
constantes transformações. Mas há de se perguntar se a cultura já não é algo dinâmico, que
sempre está em adaptação e redefinição, então, por que tanto se tem falado de vivermos a
sociedade do conhecimento e a era da Cibercultura, se suas bases já vinham sendo desenhadas
ao longo de sucessivas redefinições socioeconômicas e políticas, historicamente arrumadas?

No final dos anos 70, Popper (1978) já dizia que a realidade deveria ser muito mais
percebida como um sistema instável do que como uma nuvem. Sociedade do conhecimento é
também sociedade das possibilidades e da concepção de que informação e conhecimento são
circuláveis para todos os cantos do planeta e que o investimento na capacidade que a
tecnologia pode oferecer para este fim é uma certeza absoluta.

Sotille (2011), em seus estudos, evidencia que a sociedade do conhecimento origina-se


na sociedade da informação, e hoje se apresenta como sociedade da aprendizagem, em função
da grande importância de aprender para sobreviver em contextos cada vez mais exigentes por
competências cognitivas. Castells (1999) chama de sociedade em rede esse momento
histórico, no qual os vínculos e relações, interações sociais, são criados por meio das
informações e do processamento das mesmas, gerando conhecimento e inovação, com a
apropriação da internet e de todos os investimentos e possibilidades do uso da mesma.

Na mesma direção já caminham as ideias de Lévy (1998), que aprofunda estudos sobre
a realidade virtual e procura demonstrar que todas estas interações foram possíveis pela
evolução e desdobramentos gerados a partir da cultura da informática, por isso, a chama de
Cibercultura.

O próprio Castells (1999) ao apresentar o novo paradigma de sociedade, como


destacamos acima, indica características nela presentes. Ele ressalta a importância da
informação como matéria-prima fundamental, o alto grau de penetração das novas
tecnologias, a supremacia de lógicas de redes, a própria flexibilidade em geral, crescente
convergência das tecnologias. O mundo produtivo precisa do processamento da informação

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para gerar novo saberes, ou seja, conhecimento em rede.

Lemos (2004) ao refletir sobre a Cibercultura mostra que ela potencializa tudo que já
era inerente à própria dinâmica cultural das sociedades, isto é, o compartilhamento, a
distribuição, a cooperação e a apropriação dos bens simbólicos. Um resgate da cultura da
troca e da cooperação, uma riqueza que deveria costurar as tramas culturais.

A partir dessas considerações, justificamos a necessidade de repensarmos os espaços


pedagógicos e seus desafios em efetivar os processos de ensino e aprendizagem na era da
aprendizagem digital. Desse ponto de vista, uma instituição de ensino deve sempre ser vista
como um lugar em movimento constante, um organismo vivo totalmente interligado e
interdependente, cuja capacidade de adaptação constante precisa estar em sintonia com sua
vocação maior que é a promoção de saberes transformadores. Segundo Senge (1990), as
organizações que aprendem são aquelas

[...] nas quais as pessoas expandem continuamente sua capacidade de criar


os resultados que realmente desejam, onde surgem novos e elevados padrões
de raciocínio, onde a aspiração coletiva é libertada e onde as pessoas
aprendem continuamente a aprender em grupo. (SENGE, 1990, p.11)

Como as transformações da sociedade atual estão intimamente ligadas à evolução


tecnológica, novos desafios se apresentam também no campo da Educação. Como as
organizações e profissionais dessa área geram uma demanda de grandes proporções por
serviços de informação e formação, neste momento de profundas transformações estruturais.
A Educação a Distância constitui-se num dos campos que mais rapidamente avança no mundo
todo. É sobre esse ambiente de aprendizagem que trataremos a seguir, tendo sempre em mente
como ele pode contribuir para aquele gerenciamento de competências sobre o qual falamos.

2. A ERA DA APRENDIZAGEM DIGITAL

Como vimos, as tecnologias de comunicação criadas na internet contribuíram para


uma mudança no âmbito social e cultural. Hoje, as telas digitais são consideradas como
espaços de escrita e de leitura capazes de trazer novas formas de acesso à informação e,
consequentemente, à aprendizagem, assim como sua produção e compartilhamento.

No Brasil, muitas instituições vêm procurando associar suas práticas aos avanços
tecnológicos e aos novos paradigmas educacionais, utilizando cada vez mais às ferramentas

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da web, não apenas para a democratização da educação e para a atualização, mas também
permitindo que o processo de ensino/aprendizagem não fique limitado apenas aos limites da
sala de aula. Segundo Moran (2001),

é importante que na EaD, os participantes tenham suas


necessidades, habilidades e competências pessoais atendidas com a
interação em grupos, pois a troca de experiências, seja ela virtual ou
presencial, favorece o aprendizado nesta modalidade.

Este autor afirma que daqui em diante estaremos, cada vez mais, combinando cursos
presenciais com virtuais. Para ele, uma parte dos cursos presenciais será feita virtualmente.
Uma parte dos cursos à distância será feita de forma presencial ou virtual-presencial.

É importante, também, compreender que a EaD exige uma boa dedicação de tempo
por parte da equipe pedagógica e dos estudantes, tempo a ser considerado na íntegra. No
ensino presencial são computadas apenas as horas passadas em sala de aula ou nos
laboratórios. Para o sistema educacional vigente a medida é o tempo de sala de aula e não o
tempo de estudo ou de pesquisa de campo.

Nesta modalidade, a interação entre o professor e o estudante é indireta no espaço (por


força da distância) e no tempo (por força da comunicação não simultânea), devendo se valer
de uma estratégia de mediatização que inclua a combinação dos mais adequados suportes
técnicos de comunicação (materiais didático-tecnológicos). Assim, a natureza da relação
ensino-aprendizagem online, se comparada com o ensino convencional, torna essa
modalidade de educação bem mais dependente da mediatização.

3. NOVAS COMPETÊNCIAS E DESAFIOS EDUCACIONAIS NA ERA DA


APRENDIZAGEM DIGITAL

Do nosso ponto de vista, uma instituição de ensino deve sempre ser vista como um
lugar em movimento constante, um organismo vivo totalmente interligado e interdependente,
cuja capacidade de adaptação constante precisa estar em sintonia com sua vocação maior que
é a promoção de saberes transformadores. O tipo de competência que se pretende aqui
promover é aquele que reside na capacidade de extrair a informação que se encontra isolada
nos indivíduos e torná-la acessível, explícita, eficaz e válida para todos.

Assim, as organizações de eensino, como instituição social transmissora da ciência

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precisam estar sempre atualizadas às mudanças sociais e às transformações no mundo do


trabalho, a fim de cumprirem com seus preceitos básicos e funções sociais. A educação,
segundo uma perspectiva crítico-reflexiva, como observa Torres:

Até a pouco, quando se dizia formação ou capacitação docente, entendia-se


formação inicial. Sempre se criticaram as instituições de formação docente
por não se encarregarem da atualização e do aperfeiçoamento contínuo dos
professores. Hoje, ao falar de formação ou capacitação docente, fala-se da
capacitação em serviço. A questão mesma da formação inicial está se
diluindo, desaparecendo. O financiamento nacional e internacional destinado
à formação de professores é quase totalmente destinado a programas de
capacitação em serviço. (TORRES, 1998, p.176)

A prática de aprender e ensinar na era da aprendizagem digital evoca a reconstrução


de novos ambientes em espaços de aprendizagem das Instituições de Ensino, faz-se necessária
para a formação de aprendizes reflexivos, em que a tecnologia é uma forte aliada a despertar
nesse futuro profissional o interesse pelo “aprender a aprender”. A tecnologia é utilizada como
uma ferramenta apropriada para repensar a sua própria prática e preparar os alunos visando à
sua atuação dentro de uma nova perspectiva social, que busca preparar indivíduos para viver
em uma sociedade em transformação.

Formação como processo contínuo, trabalho cooperativo entre formadores e


formandos em ambientes diferenciados, presenciais ou não. É a tecnologia a serviço da
educação. Os novos paradigmas mercadológicos, o surgimento de processos que permitem
ganho de tempo no acesso às informações e à capacidade de aprender são valorizados e
tornam-se aliados na vida dos indivíduos e organizações.

Nesse cenário, Garcia Aretio define que a Educação a Distancia é um sistema

[...] tecnológico de comunicação bidirecional que pode ser massivo e que


substitui a interação pessoal, na sala de aula, entre professor e aluno, como
meio preferencial de ensino, pela ação sistemática e conjunta de diversos
recursos didáticos e o apoio de uma organização e tutoria que propiciam uma
aprendizagem independente e flexível. (ARETIO, 1995)

De acordo com Silva (2004) a aprendizagem deve ser pessoal e intransferível e cada
um de nós possui uma possibilidade de construir seus próprios conhecimentos. Em sua visão,
a ideia de preparar o aluno para ser autônomo é uma proposta que deve ser levada em conta
para a definição do perfil do aluno que buscamos. Esta autonomia liberta o aluno da
dependência do professor e faz com que ele busque mais conhecer por sua própria iniciativa.
Nesse caso, o autor mostra em sua análise do componente saber fazer que é preciso

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autenticidade, motivação, aceitação do outro e empatia. Pontos fortes para que o aluno
aproveite bem essa modalidade de ensino. O aluno passa a ser sujeito de sua própria
aprendizagem.

Delors (1996) classifica as competências necessárias para o século XXI em quatro


pilares: aprender a fazer, aprender a conhecer, aprender a ser, aprender a conviver. Com base
nessas competências, destacamos as habilidades a serem desenvolvidas em tempos de
aprendizagem digital. Reconhecemos que é preciso que preparemos os indivíduos para se
relacionarem com o heterogêneo. Desenvolverem atributos psicológicos e éticos, como:
maturidade emocional, empatia, liderança, cordialidade e, especialmente, a capacidade de
ouvir. Inclua-se nesta direção a capacidade de solucionar problemas e aprender
experimentando.

Como competências primordiais, consideramos ser o desenvolvimento da capacidade


empreendedora, o gosto pela inovação e pela inventividade. Uma busca pela formação
continuada de saberes e conhecimentos técnicos e tecnológicos. O valor da humildade é um
ponto a ser destacado. Os indivíduos podem e devem rever posturas, atitudes e
comportamentos de forma rápida e ágil, o que os permitirá transitar por várias e novas
oportunidades sociais e profissionais. A capacidade de imprimir e gerenciar emoções são
também ingredientes de grande importância nesse contexto.

4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

Conclui-se, então, que a capacidade de gerenciar as diferenças permitirá novas


interações do ponto de vista tecnológico, da comunicação e das instituições.

A reestruturação dos espaços pedagógicos nas instituições só é possível através de


um trabalho conjunto, coletivo, compromissado, numa visão sistêmica, que permita a
construção de forma construtiva da educação universitária. Afinal as IES trabalham com o
material mais precioso: o ser humano.

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5. REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999;

DELORS, J. Educação: um tesouro a descobrir. 2ed. São Paulo: Cortez. Brasília, DF:
MEC/UNESCO, 2003.

GARCÍA ARETIO, L. La Educación a Distancia y la UNED. Madrid: UNED, 1995.

LEMOS, André. Cibercultura. Tecnologia e vida social na cultura contemporânea. 2 ed. Porto
Alegre, Sulina, 2004.

LÉVY, P. A inteligência coletiva: por uma antropologia do ciberespaço. Tradução de Luiz Paulo
Rouanet. São Paulo: Ed. Loyola, 1998.

MARTIN, C. O Futuro da Internet. São Paulo: Makron Books, 1999.

MORAN, José Manuel et al. Novas tecnologias e mediação pedagógica. 6. ed. Campinas:
Papirus, 2000.

POPPER, K. R. Conjectures and refutations: the growth of scientific knowledge. London:


Routledge & Kegan Paul, 1978.

SENGE, P. A Quinta Disciplina: arte, teoria e prática da organização de aprendizagem. São


Paulo: Best Seller, 1990.

SILVA, A. C. R. Educação a Distância e o seu Grande Desafio: o aluno como sujeito de sua
própria aprendizagem. 2004. Disponível em <http://www.abed.org.br/congresso2004/por/htm/012-
tc-a2.htm>. Acesso em 19/06/2017

SOTILLE, Suellen Spinello. Escola, aprendizagem e tecnologias de rede: relações, inconsistência e


potencialidades. 2011. 127 f. (Mestrado em Educação) – Universidade de Passo Fundo, Passo Fundo,
2011. Disponível em: . Acesso em: 22/06/2017.

TORRES, R. M. Tendências da formação de professores nos anos 90. In: WARDE, M. J. (org.).
Novas políticas educacionais: críticas e perspectivas. São Paulo: PUC São Paulo, 1998.

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