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Adriano Borges Rabelo e Fernando Ferreira Manso
1 A invenção do planı́metro
Em 1854, o matemático suı́ço Jacob Amsler inventou um dispositivo mecânico capaz de medir a área de regiões
planas limitadas. Na ocasião e até hoje o instrumento foi enxergado com muito entusiasmo. Se considerarmos a
dificuldade de medir áreas de planos extremamente irregulares, teremos idéia do quão inovador foi o planı́metro
no século XIX.
Julgando o planı́metro um instrumento bastante interessante, pensaremos um pouco mais a respeito do seu
funcionamento. Mecanicamente, o instrumento tem uma construção muito simples, possui dois braços de
tamanho igual ou não, comumente feitos de metal. Esses braços são capazes de variar o ângulo entre eles, desde
0 a 180 graus.
Na extremidade de um dos braços, temos uma ponta que pode ser fixada em superfı́cies planas. Na outra ponta,
temos uma rodinha que gira perpendicularmente ao braço na qual é fixada. Na ponta dessa rodinha temos
um contador, que mede o número de voltas que ela dá quando a ponta móvel do instrumento se desloca em
uma superfı́cie plana. Quando esta ponta se desloca sobre uma curva plana fechada, o contador indicará a área
cercada pela curva.
Ao pensarmos em um instrumento tão simples, somos imediatamente induzidos a imaginar como este pode
executar cálculos que a princı́pio tem um grande grau de complexidade. E nesse contexto que surge inseriremos
o Teorema de Green.
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entrou na Universidade de Caius, em Cambridge. Formou-se em quatro anos, com desempenho desapontador,
possivelmente por estar engajado em sua pesquisa. Publicou trabalhos sobre luz e som, e morreu em 1844.
Quatro anos depois seus trabalhos iniciais foram novamente publicados, sendo então considerados de imensa
importância para teorias modernas de eletricidade e magnetismo.
Isso significa que a integral de linha em uma curva de um campo F(x,y) é igual a integral dupla, na região
cercada pela curva, da diferença das derivadas parciais das componentes do campo, f(x,y) e g(x,y), em relação
a y e x respectivamente.
A partir dessa importante relação, podemos perceber que no caso em que a diferença de derivadas parciais do
membro da direita for igual uma constante, podemos retirá-la da integral e ficaremos com a seguinte situação:
Z Z Z
f (x, y)dx + g(x, y)dy = κ × dxdy = κ × área cercada por C
C
R
Assim, podemos dizer que a área procurada é a integral de linha do membro esquerdo multiplicada por k −1 .
Como podemos perceber, o teorema de Green pode ser usado para encontrarmos a área de uma região plana
limitada por uma curva C.
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Para usar o Teorema de Green, precisamos descrever o campo de direções definido pelo pelo instrumento. Para
tal, comecemos definindo coordenadas x e y. Como podemos fazer qualquer escolha, coloquemos a origem na
ponta do planı́metro que é fixada e, a partir dela, dois eixos perpendiculares x e y. Como a rodinha gira
perpendicularmente ao braço no qual está fixada, o campo F(x,y) definido pelo planı́metro é perpendicular ao
braço móvel e podemos supor que tenha módulo 1.
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Da segunda linha temos que:
x2 + y 2 xa
= +b
2y y
e logo
x2 + y 2 − 2xa
b= .
2y
Substituindo na equação do cı́rculo centrado em (0,0), e desenvolvendo, teremos:
A escolha do valor positivo de a implica simplesmente que o caminho a ser percorrido pelo braço do planı́metro é o
sentido anti-horário (sentido padrão de funcionamento). Com esse valor, o valor de b aparece, consequentemente,
como sendo: p
y x R2 x2 − R4 + 4y 2 r2
b= + ,
2 2Ry
ou seja, s
y x 4r2
b= + −1
2 2 x2 + y2
Agora que calculamos os valores de a e de b temos que o campo para o planı́metro é:
s
4r2
1 1 y x
f (x, y) = − (y − b) = − + − 1
r r 2 2 x2 + y 2
s
4r2
1 1 x y
g(x, y) = (x − a) = − − 1
r r 2 2 x2 + y 2
∂g 1 8xyr2
r = + q
∂x 2 2 4r 2
−1
x2 +y 2 x2 +y 2
∂f 1 8xyr2
r =− + q
∂y 2 2 4r 2
−1
x2 +y 2 x2 +y 2
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Logo,
∂g ∂f ∂g ∂f
r −r =r − =1
∂x ∂y ∂x ∂y
e
∂g ∂f 1
κ= − =
∂x ∂y r
Assim, pelo Teorema de Green aplicado ao planı́metro, a constante que multiplica a área só depende do com-
primento dos braços, ou seja
Z
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f (x, y)dx + g(x, y)dy = × área cercada por C
C r
No caso em que a força não tem módulo constante, podemos subdividir a distância percorrida em intervalos de
tamanhos ∆x e supor que a força é constante em cada um dos pedacinhos. Assim W ≈ Fi ∆x e, tomando o
Rb
limite quando ∆x tende a zero, teremos W = a F dx.
Podemos então mudar a direção da força atuante sobre o objeto. Se seu módulo e direção forem constantes,
podemos determinar sua componente na direção do movimento ( | F | cosθ ) e assim determinar o trabalho
como W =| F | cosθ(b − a).
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No caso em que o módulo da força não é constante, novamente torna-se necessária a integração dessa força ao
Rb
longo de toda a trajetória e W = a | F | cosθ dx.
Também é possı́vel fazer com que a direção de atuação da força sobre a partı́cula varie durante a trajetória,
além da variação já incluı́da do módulo da força.
Nesse caso, torna-se necessário definir um vetor ~v unitário, que representa a direção do movimento do objeto.
O produto escalar do vetor força F pelo vetor direção ~v nos dá o módulo da componente da força na direção do
movimento (| F | cosθ = F · ~v ) uma vez que ~v é unitário. Integrando esse produto escalar por toda a trajetória
Rb
obtemos o trabalho W = a F · ~v dx. Lembramos que nesse caso apenas o vetor F é variável, o vetor ~v é
constante.
Finalmente temos o caso em que, além do módulo e direção da força sobre o objeto serem variáveis, a direção
do movimento também varia.
Para determinarmos o trabalho nesta situação é necessário realizar uma parametrização da curva por compri-
mento de arco. Também é preciso determinar um vetor unitário ~v que represente a direção do movimento do
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objeto. O produto escalar dos vetores variáveis Força F e direção ~v terá como resultado o módulo da compo-
nente da força na direção do movimento em cada ponto da R s trajetória. Integrando esse produto escalar durante
todo o comprimento da curva, obtemos o trabalho W = 0 F · ~v ds.
Seja F = (f (x, y), g(x, y)). Como ~v é um vetor tangente a uma trajetória curvilı́nea parametrizada por compri-
dy
mento de arco s então ~v = ( dx
ds , ds ) e
Z s Z s Z
dx dy
W = F · ~v ds = f +g ds = f dx + gdy
0 0 ds ds C
Assim, no caso em que o campo é um campo de forças, a integral de linha calcula o trabalho realizado para se
mover sobre a cuva C sob a ação do campo. O planı́metro, em princı́pio, não determina um campo de forças e
a integral de linha, então, não calcula trabalho.
Também podemos procurar as curvas ortogonais do campo, isto é, as curvas que são sempre perpendicu-
dy
lares ao campo. Procuramos curvas (x(s), y(s)) tais que o vetor tangente ~v = ( dx ds , ds ) é perpendicular a
(f (x, y), g(x, y)) = F , ou seja ~v · F = 0. Na prática, procuramos soluções do sistema de equações diferenciais
dx dy
ds = −g(x, y) e ds = f (x, y). Se | F |= 1 então a curva sai parametrizada por comprimento de arco e a integral
de linha de um campo unitário em cima de uma curva ortogonal será nula, pois
Z Z s Z s
dx dy
f dx + gdy = f +g ds = F · ~v ds = 0.
C 0 ds ds 0
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Traduzindo para o funcionamento fı́sico do Planı́metro, quando este percorre uma curva integral do campo,
a rodinha fixada perpendicularmente na extremidade do braço móvel, roda perfeitamente livre. O contador
acoplado a esta rodinha mede o número de voltas que ela dá ao se deslocar sobre a curva. Seja k esta medida
e d o diâmetro da rodinha. O comprimento total da curva integral será então kπd. Chamando novamente de
F = (f, g) o campo associado ao Planı́metro e de C a curva integral temos:
Z
f dx + gdy = comprimento de C = kπd
C
Quando o Planı́metro percorre uma curva ortogonal, a rodinha não roda nada e logo, o medidor acoplado na
rodinha indicará zero, ou seja, o valor da integral de linha do campo sobre a curva ortogonal.
Assim, em qualquer um dos casos Z
f dx + gdy = kπd
C
onde k é o número medido pelo contador acoplado à rodinha.
Qualquer curva fechada C, contida no primeiro quadrante, pode ser aproximada por vários segmentos de curvas
integrais e ortogonais intercaladas, que denotaremos por C1 , C2 , ...Cn . Então
Z Z Z Z
f dx + gdy ≈ f dx + gdy + f dx + gdy + ... + f dx + gdy = (k1 + k2 + ... + kn )πd
C C1 C2 Cn
6 O funcionamento do Planı́metro
Chamemos de r o comprimento de cada braço do Planı́metro, d o diâmetro da rodinha colocada perpendicu-
larmente ao braço móvel e de k o o número dado pelo contadorR ao se percorrer C no sentido anti-horário. O
campo determinado pelo Planı́metro é F = (f, g). Então kπd = C f dx + gdy = 1r × área cercada por C ou seja:
πd
área cercada por C = k
r
.
De todo conteúdo colocado, podemos ver o quão interessante é esse instrumento que baseado num teorema
relativamente simples, tem aplicações extensas e extremamente úteis na engenharia, geologia e etc.
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Teorema de Green: Seja F = (f (x, y)dx, g(x, y)) um campo derivável no plano, C uma curva fechada e
R a região cercada por C. Então
Z Z Z
∂g ∂f
f (x, y)dx + g(x, y)dy = ( − )dxdy
C ∂x ∂y
R
Prova:
Consideraremos a região R e a curva C como mostradas na figura abaixo.
Temos, então:
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Z Z Z Z Z Zb Zb
f (x, y)dx = f (x, y)dx+ f (x, y)dx = f (x, y)dx− f (x, y)dx = f (x, l1 (x))dx− f (x, l2 (x))dx
C I1 I2 I1 −I2
a a
Zb Zb Zb lZ2 (x) Z Z
y=l2 (x) ∂f ∂f
=− [f (x, l2 (x)) − f (x, l1 (x))]dx = − f (x, y)y=l1 (x) dx = − dy dx = − ( )dxdy
∂y ∂y
a a a l1 (x) R
A prova de que
Z Z Z
∂g
g(x, y)dx = dxdy
C ∂x
R
Desse modo, provando essas duas igualdades, fica comprovado o teorema de Green.
Apesar de termos provado o Teorema de Green utilizando uma curva C completamente convexa, podemos
expandir o resultado para curvas com partes côncavas. Por exemplo, se tivermos a curva C como mostrado
abaixo:
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Nesse caso, basta dividirmos a curva côncava em mais partes.
O resultado é válido também para os casos em que a curva tem uma parte reta, paralela um dos eixos (x ou
y). A parte reta impossibilita a realização dos cálculos como foram feitos acima. Nesse caso, realizamos uma
rotação do eixo, fazendo com que a reta não seja mais paralela a este, e assim podemos realizar a divisão da
curva e fazer os cálculos que comprovam o teorema de Green.
8 Bibliografia
• ANTON, H.: Cálculo, um Novo Horizonte, Volume 2, 6a Edição, Ed. Bookman. Porto Alegre, 2000.
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