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DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA

Ciências Biomédicas
Cálculo II Ano Letivo 2023/2024
Aula 7

CAPÍTULO 2 - FUNÇÕES de Rn em Rm

O principal objeto de estudo na disciplina de Cálculo II serão as funções reais de várias variáveis.
Por estarem definidas em espaços reais de dimensão maior que 1, vamos começar por estudar algumas
propriedades e algumas caracterı́sticas topológicas dos espaços Rn definidos por:

Rn = {(x1 , ..., xn ) : xi ∈ R para todo o 1 6 i 6 n}

Estão definidas em Rn duas operações - a adição entre elementos de Rn e a multiplicação por um


escalar λ ∈ R:

Dados dois elementos x = (x1 , ..., xn ) e y = (y1 , ..., yn ) , tem-se:

x + y = (x1 + y1 , ..., xn + yn )
λx = (λx1 , ..., λxn )
Os espaços Rn são espaços vetoriais porque ambas as operações são comutativas e associativas, a
multiplicação por escalar é distributiva em relação à adição, a multiplicação pela unidade 1 ∈ R é a
identidade e o elemento neutro para a adição é o ponto 0 = ( 0 , ..., 0 ).

Sabemos que podemos identificar os elementos a ∈ R com os pontos de uma reta.

Podemos identificar os pontos (a, b) ∈ R2 com os pontos de um plano representado por dois eixos
cartesianos

3
(1.4, 2.4)
b

2
(−1.8, 1.3)
b

0
−3 −2 −1 1 2
−1

E podemos identificar os pontos (a, b, c) ∈ R3 com os pontos do espaço tridimensional representado


por três eixos cartesianos.
Sabemos que para estudar funções num espaço precisamos de definir a distância entre dois elementos
do espaço, pois o estudo é em muitos dos casos feito localmente, ou seja, arbitrariamente próximo de
um determinado ponto.

Recorde-se que em R:
p
|x − a| = (x − a)2 = d(x, a) = distância entre x e a
|(−2) − 3| = 5

−2 −1 1 2 3 4 5
Podemos recorrer ao Teorema de Pitágoras para deduzir as fórmulas das distâncias no plano R2 e no
espaço tridimensional R3 : p
d ((x, y), (a, b)) = (x − a)2 + (y − b)2
p
d ((x, y, z), (a, b, c)) = (x − a)2 + (y − b)2 + (z − c)2

Mais geralmente, para x = (x1 , ..., xn ) e a = (a1 , ..., an ) , tem-se:


p
d(x, a) = d ((x1 , ..., xn ) , (a1 , ..., an )) = (x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2

Então, um ponto x = (x1 , ..., xn ) está arbitrariamente próximo de um ponto a = (a1 , ..., an ) ∈ Rn se
existir ǫ > 0 tal que:

(x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2 < ǫ =⇒ (x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2 < ǫ2


p
d(x, a) < ǫ ⇐⇒

Nos casos de R2 e R3 reconhecemos as equações:

(x − a)2 + (y − b)2 = ǫ2
(x − a)2 + (y − b)2 + (z − c)2 = ǫ2
como sendo respetivamente as equações de uma circunferência de raio ǫ centrada em (a, b) e de uma
superfı́cie esférica de raio ǫ centrada em (a, b, c) . Podemos observar nestas dimensões qual a confi-
guração da região que tem pontos arbitrariamente próximos de um ponto a = (a1 , ..., an ) ∈ Rn e
justificar assim a seguinte definição:

Definição: Chama-se Bola aberta de centro a = (a1 , ..., an ) ∈ Rn e raio ǫ > 0 ao conjunto em Rn
definido por:

Bǫ (a) = {x ∈ Rn : d(x, a) < ǫ } = x ∈ Rn : (x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2 < ǫ2



O estudo topológico de um espaço passa por identificar quais os conjuntos de pontos nesse espaço que
vamos considerar como conjuntos abertos, os que vamos considerar como conjuntos fechados e
os que vamos considerar como conjuntos limitados.

Definição: Um conjunto A ⊆ Rn é limitado se existir r > 0 tal que

A ⊆ Br (0)

Em particular, qualquer bola aberta de raio finito em Rn é um conjunto limitado em Rn .

Definição: Se A ⊆ Rn , diz-se que um ponto a = (a1 , ..., an ) ∈ Rn é:

· ponto interior a A se ∃ǫ > 0 : Bǫ (a) ⊆ A.

· ponto exterior a A se ∃ǫ > 0 : Bǫ (a) ⊆ (Rn \A).

(Rn \A) 6= ∅.
T T
· ponto fronteiro a A se ∀ǫ > 0 : Bǫ (a) A 6= ∅ ∧ Bǫ (a)
T
· ponto aderente a A se ∀ǫ > 0 : Bǫ (a) A 6= ∅.

Escreve-se int(A) para representar o conjunto dos pontos interiores a A, ext(A) para representar o
conjunto dos pontos exteriores a A, f r(A) para representar o conjunto dos pontos fronteiros de A e
escreve-se A para representar o conjunto dos pontos aderentes a A que designamos por aderência
de A ou fecho de A. Observe-se que:
[
A = int(A) f r(A)

int(A) ⊆ A ⊆ A
Numa bola aberta Bǫ (a) todos os pontos são interiores à bola. Os pontos fronteiros a Bǫ (a) sãos os
pontos do conjunto

Sǫ (a) = {x ∈ Rn : d(x, a) = ǫ } = x ∈ Rn : (x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2 = ǫ2




a que chamamos Esfera de raio ǫ e centro a.

Logo, a aderência ou fecho da bola aberta Bǫ (a) é a Bola fechada definida por:

Bǫ [a] = {x ∈ Rn : d(x, a) 6 ǫ } = x ∈ Rn : (x1 − a1 )2 + ... + (xn − an )2 6 ǫ2



= Bǫ (a)

Mais geralmente,

Definição: Se A ⊆ Rn , diz-se que:

· A é conjunto ABERTO se todos os seus pontos são pontos interiores, ou seja, A = int(A).

· A é conjunto FECHADO se contém todos os seus pontos aderentes, ou seja, A = A.

OBSERVAÇÃO: Se A é aberto então não contém nenhum dos seus pontos fronteiros.
Se A é fechado então contém todos os seus pontos fronteiros.
Ficha 2

2. Represente geometricamente cada um dos seguintes conjuntos. Determine o seu interior, fronteira
e aderência (ou fecho), e justifique se são abertos, fechados ou limitados.
n o
a) A = (x, y) ∈ R2 : x > 4 e) E = (x, y) ∈ R2 : (x − 2)2 + y 2 < 1


b) B = (x, y) ∈ R2 : y ≤ −2 f ) F = (x, y) ∈ R2 : xy < 2 , x < y 6 2x


 

 
x+2
R2

c) C = (x, y) ∈ :x≥4 g) G = (x, y) ∈ R :2 > 2 , y − | ln x| > 0
x

d) D = (x, y) ∈ R2 : xy > 1 h) H = (x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 ≤ 1, 0 < z < 4


 

EXERCÍCIO EXTRA:

Em R3 represente os conjuntos definidos por inequações idênticas às usadas para definir os conjuntos
A, B , C e E. Justifique se são abertos, fechados ou limitados em R3 .
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Aula 8

Funções de Rn em Rm

Sejam n e m números naturais e D ⊆ Rn .


Uma função de Rn em Rm é uma regra ou processo que a cada elemento x = (x1 , ..., xn ) ⊆ Rn faz
corresponder um e um só elemento y = (y1 , ..., ym ) ∈ Rn definido por:

y1 = f1 (x1 , ..., xn )
y2 = f2 (x1 , ..., xn )
.
.
.
ym = fm (x1 , ..., xn )

onde para cada 1 6 i 6 m as funções fi : D −→ R fazem corresponder a cada x = (x1 , ..., xn ) ⊆ Rn


um e um só valor real yi .

Podemos distinguir os casos:

· m=1
Neste caso chamamos função escalar de n variáveis à função

f: D ⊆ Rn −→ R
(x1 , ..., xn ) 7→ y = f (x1 , ..., xn )

· m>1
Neste caso chamamos função vectorial de n variáveis à função


F : D ⊆ Rn −→ Rm
(x1 , ..., xn ) 7→ (y1 , ..., ym ) = (f1 (x1 , ..., xn ) , ..., fm (x1 , ..., xn ))

Em qual quer dos casos chama-se Domı́nio da função ao conjunto

D = {(x1 , ..., xn ) ∈ Rn : fi (x1 , ..., xn ) ∈ R para todo 1 6 i 6 m}

EXEMPLOS:

• f : D⊆ R2 −→ R definida por f (x, y) = ln(x + y)


D = (x, y) ∈ R2 : x + y > 0

x2
• f : D ⊆ R3 −→ R definida por f (x, y, z) = √
√ y− z
D = (x, y, z) ∈ R3 : y − z 6= 0 ∧ z > 0



→ →

 
p 1
• F : D ⊆ R2 −→ R3 definida por F (x, y) = xy, x2 − y,
y−x
D = (x, y) ∈ R2 : x2 − y > 0 ∧ y 6= x

Ficha 2
3. Determine o domı́nio D de cada uma das seguintes funções e represente-o graficamente. Determine
ainda o respectivo interior, fronteira, e fecho. Justifique se o domı́nio é um conjunto aberto ou
fechado e/ou limitado.
x − 3y
p
a) f (x, y) = y − x2
x + 3y e) f (x, y) =
1 − x2
b) f (x, y) = ln(x + y − 1) √
f ) f (x, y) = ln(x2 + y 2 ) + x2 − x

c) f (x, y) = x+y p
4x − y 2
g) f (x, y) =
y−1 ln(1 − x2 − y 2 )
d) f (x, y) = arcsen
x
h) f (x, y) = ln (x2 + y 2 − 4)(y − x2 − 2)


RESOLUÇÃO dos exercı́cios 3.d) , 3.f ) e 3.h)

 
y−1
3. d) f (x, y) = arcsen
x

Resolução:
 
2 y−1
D = (x, y) ∈ R : −1 6 6 1 ∧ x 6= 0
x
y−1 y−1+x + − y−1 y−1−x + −
> −1 ⇐⇒ >0 + − 6 1 ⇐⇒ 60 − +
x x x x

y = 1−x y = 1+x
3 3
2 2
1 bc 1 bc

0 0
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4 −4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1 −1
−2 −2
−3 −3

INTERSECÇÃO

y = 1−x y = 1+x
3
2
1 bc

0
−4 −3 −2 −1 1 2 3 4
−1
−2
−3

3. f) f (x, y) = ln(x2 + y 2 ) + x2 − x

Resolução:

D = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 > 0 ∧ x2 − x > 0 = (x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 6= 0 ∧ x2 − x > 0


 

C.A. x2 − x > 0 ⇐⇒ x(x − 1) > 0 ⇐⇒ x 6 0 ∨ x > 1

porque se trata de uma parábola com concavidade voltada para cima e zeros em 0 e 1.

Como x2 + y 2 6= 0 ⇐⇒ (x, y) 6= (0, 0) , o domı́nio fica representado por:

b
0
−2 −1 1 2 3

−1

3. h) f (x, y) = ln (x2 + y 2 − 4)(y − x2 − 2)




Resolução:

D = (x, y) ∈ R2 : (x2 + y 2 − 4)(y − x2 − 2) > 0




(x2 +y 2 −4)(y−x2 −2) > 0 ⇐⇒ x2 + y 2 − 4 > 0 ∧ y − x2 − 2 > 0 ∨ x2 + y 2 − 4 < 0 ∧ y − x2 − 2 < 0


 
C.A.

Temos que representar a tracejado as linhas de equções: x2 + y 2 − 4 = 0 ⇐⇒ x2 + y 2 = 4 e


y − x2 − 2 = 0 ⇐⇒ y = x2 + 2:

0
−3 −2 −1 1 2

−1

−2
Vamos agora concentrar atenções no caso das funções escalares de duas variáveis:

f : D ⊆ R2 −→ R

Chama-se gráfico de f à superfı́cie no espaço tridimensional R3 definida por:

graph(f ) = (x, y, z) ∈ R3 : (x, y) ∈ D ∧ z = f (x, y) ∈ R




Como o espaço R3 fica definido pelos três planos coordenados: XY, Y Z e XZ, podemos tentar
visualizar os cortes que resultam da intersecção da superfı́cie do gráfico com os planos Y Z (x = 0) e
XZ (y = 0) :

z z

z = f (x, 0)
z = f (0, y)

x y

Outra ferramenta que pode ser útil na representação gráfica de uma função f : D ⊆ R2 −→ R é o
mapa das suas curvas de nı́vel:

Definição: Chama-se curva de nı́vel k de uma função f : D ⊆ R2 −→ R ao subconjunto do plano


R2 definido por:
Ck ( f ) = (x, y) ∈ R2 : f (x, y) = k

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2
C1.5
C2
1

0 C2.5
−2 −1 1 2
−1

−2

EXEMPLOS:

• f (x, y) = 3 • f (x, y) = 4 − x2

• f (x, y) = −y • f (x, y) = 4 − x2 − y 2

Ficha 2

5. Para cada uma das seguintes funções determine o domı́nio e as curvas de nı́vel. Esboce algumas
dessas curvas de nı́vel e o gráfico da função.

a) f (x, y) = 3 f ) f (x, y) = x2 + y 2 + 1
x
l) f (x, y) =
x2 + y2 y
b) f (x, y) = y g) f (x, y) = 1 −
4
m) f (x, y) = x2 − y 2
1
c) f (x, y) = 6 − 3x − 2y h) f (x, y) = 2
x + y2
i) f (x, y) = 8 − x2 − 2y n) f (x, y) = xy
d) f (x, y) = x2 + y 2
o) f (x, y) = cos x
p
j) f (x, y) = 4 − x2 − y 2
e) f (x, y) = 9 − x2 − y 2 p
k) f (x, y) = 2 − x2 + y 2 p) f (x, y) = sen(x2 + y 2 )
Justifique a correspondência de alguns exemplos anteriores com as figuras representadas:

C)
A) B)

D) E) F)

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