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Instituto Superior Técnico

Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 1)

1 Notação
Rn = R × R × · · · × R

x ∈ Rn : x = (x1 , x2 , · · · , xn ) ; xk ∈ R ; k = 1, 2, . . . , n
Casos importantes:

i) R2 : (x, y)

ii) R3 : (x, y, z)

2 Norma. Distância. Bola


p
a) Norma de um vector em Rn : k x k= x21 + x22 + · · · + x2n
Casos importantes:
p
1. R2 : k (x, y) k= x2 + y 2
p
2. R3 : k (x, y, z) k= x2 + y 2 + z 2

b) Distância entre dois pontos x e y em Rn :


p
k x − y k= (x1 − y1 )2 + (x2 − y2 )2 + · · · + (xn − yn )2 .

c) Bola de centro num ponto a ∈ Rn e raio R:

BR (a) = {x ∈ Rn :k x − a k< R}

Na figura(1) está representada uma bola de raio R e centro no ponto (a, b) em R2 .


y

(x, y)

R
(a, b)

0 x

Figura 1: R2 : Bola centrada em (a, b) e raio R

3 Interior, Exterior e Fronteira


Seja D ⊂ Rn .
i) int(D): a ∈ Rn é um ponto do interior de D se ∃R>0 : BR (a) ⊂ D.
ii) ext(D): a ∈ Rn é um ponto do exterior de D se ∃R>0 : BR (a) ⊂ D c .
iii) ∂(D): : a ∈ Rn é um ponto da fronteira de D se
∀R>0 : BR (a) ∩ D 6= ∅ ∧ BR (a) ∩ D c 6= ∅

Exemplo 3.1 Consideremos o conjunto D = {(x, y) ∈ R2 : x > 0} (ver figura(2)). Então,


- int(D) = {(x, y) ∈ R2 : x > 0}
- ext(D) = {(x, y) ∈ R2 : x < 0}
- ∂(D) = {(x, y) ∈ R2 : x = 0}

a) D ⊂ Rn diz-se aberto se D = int(D).


b) D ⊂ Rn diz-se fechado se D = int(D) ∪ ∂D.
c) Ao conjunto D = int(D) ∪ ∂D chama-se fecho ou aderência do conjunto D.
Note-se que se um ponto pertence à fronteira de um conjunto D, por definição, também
pertence à fronteira do complementar de D.
Note-se também que Rn = int(D) ∪ ∂D ∪ ext(D).
Portanto, é claro que um conjunto é aberto se e só se o respectivo complementar for fechado.

2
y

x>0

0 x

Figura 2: Interior, Exterior e Fronteira de D ⊂ R2

4 Sucessões em Rn
Uma sucessão (xk ) é uma função N ∋ k 7→ xk ∈ Rn , que a cada k ∈ N faz corresponder um
vector xk = (xk1 , xk2 , . . . , xkn ) ∈ Rn .
Diz-se que uma sucessão (xk ) converge para um ponto a se dado δ > 0 existe uma ordem
k0 a partir da qual os termos da sucessão se encontram na bola Bδ (a), ou seja

∀δ>0 ∃k0 k > k0 ⇒k xk − a k< δ

Neste caso, escreve-se lim xk = a ou xk → a.


k→∞
Seja (x, y) ∈ R2 . Então,

(| x | + | y |)2 =| x |2 + | y |2 +2 | x || y | ≥ | x |2 + | y |2 ≥ | x |2

e, tomando a raiz quadrada nesta sequência de desigualdades, obtemos,


p
| x | + | y | ≥ | x |2 + | y |2 ≥ | x |,

ou seja,
| x | + | y | ≥ k (x, y) k ≥ | x | .
Do mesmo modo, obtemos

| x | + | y | ≥ k (x, y) k ≥ | y | .

3
É claro que para x = (x1 , x2 , · · · , xn ) ∈ Rn teremos

| x1 | + | x2 | + · · · + | xn | ≥ k x k ≥ | xj |, ∀j = 1, 2, . . . , n. (1)

Seja (xk ) uma sucessão convergente para a = (a1 , a2 , · · · , an ). Usando a desigualdade (1),
obtemos

| xk1 − a1 | + | xk2 − a2 | + · · · + | xkn − an | ≥ k xk − a k ≥ | xkj − aj |, ∀j = 1, 2, . . . , n.

Assim, concluı́mos que a sucessão (xk ) converge para a se e só se cada uma das sucessões,
ditas componentes ou coordenadas, (xk,j ), converge par aj , em que j = 1, 2, . . . , n. Ou seja

xk → a ⇔ xk,j → aj , j = 1, 2, . . . , n

Note-se que as sucessões componentes são sucessões de termos em R.

 
1
Exemplo 4.1 1. lim ,1+ e −k
= (0, 1)
k→∞ k
 
1 2
2. lim , 1 + e , 3,
−k
= (0, 1, 3, 0)
k→∞ k 1 + k2
 
1 k
3. A sucessão lim , 2 não é convergente porque a segunda componente não é uma
k→∞ k
sucessão convergente.

A aderência de um subconjunto de Rn pode ser caracterizada recorrendo a sucessões con-


vergentes.
Seja D ⊂ Rn e a ∈ int(D). Seja BR1 (a) ⊂ D de acordo com a definição de interior de
D e seja x1 ∈ BR1 (a). Tome-se R2 < R21 . É claro que BR2 (a) ⊂ BR1 (a). Seja x2 ∈ BR2 (a).
Tome-se R3 < R22 . É claro que BR3 (a) ⊂ BR2 (a). Seja x3 ∈ BR3 (a). Deste modo, podemos
construir uma sucessão (xk ) de termos em D, tal como se ilustra na figura (3).
R1
Note-se que k xk − a k< , ou seja, xk → a.
k
Do mesmo modo se pode construir uma sucessão (xk ) de termos em D tal que xk → a
para o caso em que a ∈ ∂D.
Por outro lado, se (xk ) for uma sucessão convergente, de termos em D, o respectivo limite
não poderá encontrar-se no exterior de D, ou seja, só poderá estar na aderência de D. Note-se
que centrada num ponto exterior existe uma bola que não intersecta D.
Assim, a ∈ D se e só se for limite de uma sucessão de termos em D.
Portanto, um conjunto D será fechado se e só se os limites das suas sucessões
convergentes estiverem em D.

4
y

0 x

Figura 3: Construção de uma sucessão convergente

5 Funções em Rn
5.1 Exemplos
i) Campo vectorial: F : R2 \ {(0, 0)} → R2 definido por
 
y x
F (x, y) = − 2 , .
(x + y 2 ) (x2 + y 2 )

ii) Campo vectorial: F : R3 \ {(0, 0, 0)} → R3 definido por


(x, y, z)
F (x, y, z) = .
(x2 + y 2 + z 2 )3/2

iii) Campo escalar: φ : R3 \ {(0, 0, 0)} → R definido por


1
φ(x, y, z) = − p .
x2 + y 2 + z 2

iv) Campo escalar: φ : R2 \ {(0, 0)} → R dado por


xy
φ(x, y) = .
x2 + y 2

v) Trajectória ou caminho: γ : R → R3 dada por

γ(t) = (cos t, sen t, t).

vi) Parametrização de um parabolóide: g : R2 → R3 definida por

g(x, y) = (x, y, x2 + y 2).

5
Em geral, as funções serão do tipo f : D ⊂ Rn → Rm em que D designa o respectivo
domı́nio.
Casos especiais importantes:

a) Campo vectorial: n = m

b) Campo escalar: m = 1

c) Trajectória ou caminho: n = 1 e m = 2 ou m = 3.

d) Parametrização de superfı́cies: n = 2 e m = 3.

Usaremos a notação seguinte:

f (x) = f (x1 , x2 , · · · , xn ) = (f1 (x), f2 (x), · · · , fm (x))

em que cada função componente fj : D ⊂ Rn → R é uma função escalar,

fj (x) = fj (x1 , x2 , · · · , xn ) , j = 1, 2, . . . , m.

5.2 Funções Contı́nuas e Sucessões


Uma função f : D ⊂ Rn → Rm é contı́nua em a ∈ D se

∀ǫ > 0 ∃δ > 0 ∀x ∈ D, k x − a k< δ ⇒k f (x) − f (a) k< ǫ

em que k x − a k é calculada em Rn e k f (x) − f (a) k é calculada em Rm .


Por outras palavras, dada uma bola de Rm , de raio ǫ centrada em f (a), ou seja, Bǫ (f (a)),
existe uma bola, de Rn , de raio δ centrada em a, Bδ (a) tal que se x ∈ Bδ (a) ∩ D então
f (x) ∈ Bǫ (f (a)). (ver figura (4))

Rn Rm

f (x)
δ ǫ
x
f f (a)
a

Figura 4: Definição de função contı́nua

6
Seja (xk ) uma sucessão em D tal que xk → a. Então existe um inteiro positivo k0 tal que
k xk − a k< δ para todo k > k0 . Sendo f contı́nua em a, teremos k f (xk ) − f (a) k< ǫ, ou
seja, f (xk ) → f (a).
Por outro lado, se f não fosse contı́nua em a existiria um ǫ > 0 tal que, para qualquer
δ > 0 haveria um ponto x ∈ D verificando

k x − a k< δ e k f (x) − f (a) k ≥ ǫ

Tomando sucessivamente δ = k1 , k ∈ N, terı́amos uma sucessão (xk ) tal que

1
k xk − a k< e k f (xk ) − f (a) k ≥ ǫ,
k
ou seja, xk → a mas a sucessão (f (xk )) não seria convergente para f (a).
Assim, podemos concluir que uma função f : D ⊂ Rn → Rm é contı́nua em a ∈ D se
e só se dada uma sucessão (xk ) tal que xk → a, então f (xk ) → f (a).
Note-se que, tendo em conta a desigualdade (1), facilmente se conclui que uma função
f : D ⊂ Rn → Rm é contı́nua em a ∈ D se e só se cada uma das funções componentes
fj : D ⊂ Rn → R, ∀j = 1, 2, . . . , m, for contı́nua em a ∈ D.
Portanto, neste contexto, basta estudar as funções escalares.

5.3 Continuidade e Limite


Seja f : D ⊂ Rn → R uma função contı́nua e a ∈ D = int(D) ∪ ∂(D).
Diz-se que f (x) tende para b se e só se para todo ǫ > 0 existe δ > 0 tal que sempre que
x ∈ D e k x − a k < δ se tenha k f (x) − b k < ǫ.
Neste caso escrevemos lim f (x) = b.
x→a
Portanto, a função f é contı́nua no ponto a se e só se lim f (x) = f (a).
x→a
Assim, tendo em conta a noção de limite, facilmente se verificam as propriedades seguintes
das funções contı́nuas.
Sejam f : D ⊂ Rn → R e g : D ⊂ Rn → R duas funções contı́nuas e α ∈ R. Então,

a) A função αf é contı́nua.

b) A função f + g é contı́nua.

c) A função f g é contı́nua.

d) A função f /g, sendo g 6= 0, é contı́nua.

e) Seja f : A ⊂ Rn → Rm uma função contı́nua em a ∈ A e g : B ⊂ Rm → Rp uma função


tal que f (A) ⊂ B, contı́nua em f (a). Então, a função composta g ◦ f : A ⊂ Rn → Rp é
contı́nua em a.

7
Exemplo 5.1 A função definida por f (x, y) = x é contı́nua em R2 . De facto,
p
| f (x, y) − f (a, b) |=| x − a | ≤ (x − a)2 + (y − b)2 =k (x − a, y − b) k

e, portanto, dado ǫ > 0, com δ = ǫ temos

k (x − a, y − b) k< δ ⇒| f (x, y) − f (a, b) |< ǫ,

ou seja,
lim f (x, y) = f (a, b) = a.
(x,y)→(a,b)

Do mesmo modo se vê que a função f (x, y) = y é contı́nua em R2 .


Em geral, a função f (x) = kk , k = 1, 2, . . . , n é contı́nua em Rn .

xy
Exemplo 5.2 Seja f (x, y) = .
x2 + y2
i) Pelas propriedades das funções contı́nuas f é contı́nua no seu domı́nio D = R2 \{(0, 0)}.

ii) A fronteira de D é o conjunto {(0, 0)}. Vamos ver que f não pode ser prolongada por
continuidade à origem. De facto,

x2 1
f (x, x) = 2
=
2x 2
2
x 1
f (x, −x) = − 2 = −
2x 2

e, portanto, para y = x temos


1
lim f (x, y) = lim f (x, x) =
(x,y)→(0,0) x→0 2
e para y = −x,
1
lim f (x, y) = lim f (x, −x) = − ,
(x,y)→(0,0) x→0 2
ou seja, a função f não pode ser prolongada por continuidade à origem.

x2 y
Exemplo 5.3 Seja g(x, y) = .
x2 + y 2
i) Pelas propriedades das funções contı́nuas g é contı́nua no seu domı́nio D = R2 \{(0, 0)}.

8
ii) A fronteira de D é o conjunto {(0, 0)}. Vamos ver que g pode ser prolongada por
continuidade à origem. De facto, para y = mx, temos
m
lim g(x, y) = lim g(x, mx) = lim x = 0, ∀m ∈ R.
(x,y)→(0,0) x→0 x→0 1 + m2

Portanto, lim g(x, y) = 0 desde que este limite seja calculado segundo qualquer
(x,y)→(0,0)
linha recta que passa pela origem. Vamos ver, recorrendo à definição, que de facto
temos lim g(x, y) = 0.
(x,y)→(0,0)

Usando a desigualdade (1), temos


p
x2 y (x2 + y 2) x2 + y 2 p
| g(x, y) |=| 2 | ≤ ≤ x2 + y 2 =k (x, y) k,
x + y2 x2 + y 2

Portanto,
| g(x, y) | ≤ k (x, y) k,
ou seja,
lim g(x, y) = 0.
(x,y)→(0,0)

sen(x2 + y 2 )
Exemplo 5.4 Seja h(x, y) = .
x2 + y 2
i) Pelas propriedades das funções contı́nuas h é contı́nua no seu domı́nio D = R2 \{(0, 0)}.
Note-se que h é a composição de funções contı́nuas

R2 → R → R
sen(x2 + y 2 )
(x, y) 7→ x2 + y 2 7 →
x2 + y 2

sen r
ii) Dado que lim = 1, teremos lim h(x, y) = 1.
r→0 r (x,y)→(0,0)

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Resumo das Aulas Teóricas (Semana 2)

1 Funções Contı́nuas. Classificação de Conjuntos


Seja f : Rn → R um campo escalar contı́nuo, α ∈ R e consideremos o conjunto

Aα = {x ∈ Rn : f (x) ≥ α}.

Seja (xk ) uma sucessão de termos em Aα e convergente para um ponto a. Dado que f é
uma função contı́nua, teremos
lim f (xk ) = f (a)
k→∞

e, sendo f (xk ) ≥ α, necessariamente f (a) ≥ α, ou seja a ∈ Aα .


Portanto, o conjunto Aα é fechado.
Do mesmo modo se mostra que os conjuntos da forma

{x ∈ Rn : f (x) ≤ α}

são também fechados.


Aos conjuntos da forma {x ∈ Rn : f (x) = α} dá-se o nome de conjuntos de nı́vel α da
função escalar f.
Assim, os conjuntos de nı́vel de uma função escalar contı́nua são fechados.
Sabendo que o complementar de um aberto é um fechado, concluı́mos que os conjuntos da
forma
{x ∈ Rn : f (x) > α}
ou da forma
{x ∈ Rn : f (x) < α}
são abertos.

1.1 Exemplos de Conjuntos Fechados


a) Um Cı́rculo em R2 .

i) Cı́rculo de raio um e centro na origem de R2 . (ver fig. 1).


ii) {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1}. Trata-se, portanto, de um conjunto fechado.
y

x2 + y 2 ≤ 1

0 x

Figura 1: Cı́rculo definido por {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 ≤ 1}

b) Uma Esfera em R3 .

i) Superfı́cie esférica de raio um e centro na origem de R3 . (ver fig. 2).


ii) {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 − 1 = 0}, ou seja, conjunto de nı́vel zero da função
contı́nua F : R3 → R definida por F (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 1. Trata-se, portanto,
de um conjunto fechado.

iii) “Pilha” de circunferências de raio 1 − z 2 e centro em (0, 0, z) em que 0 ≤ z ≤ 1. De
facto temos x2 + y 2 = 1 − z 2 .
iv) Pode ser vista como o resultado de uma rotação, em torno do eixo Oz, de uma semi-
circunferência tal como se ilustra na figura (2).
p
De facto, definindo ρ = x2 + y 2 , temos ρ2 + z 2 = 1.
Note-se que ρ representa a distância de um ponto de coordenadas (x, y, z) ao eixo Oz,
ou seja, ao ponto de coordenadas (0, 0, z). Portanto, fazendo rodar a semi-circunferência
em torno do eixo Oz obtemos a esfera.

c) Um Cilindro em R3 .

i) Superfı́cie cilı́ndrica de raio um em R3 . (ver fig. 3).


ii) {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 − 1 = 0}, ou seja, conjunto de nı́vel zero da função contı́nua
F : R3 → R definida por F (x, y, z) = x2 + y 2 − 1. Trata-se, portanto, de um conjunto
fechado.
iii) “Pilha” de circunferências de raio um e centro em (0, 0, z) em que −1 < z < 1.
iv) Pode ser visto como o resultado de uma rotação, em torno do eixo Oz, de um segmento
de recta vertical tal como se ilustra na figura (3).
p
De facto, definindo ρ = x2 + y 2 , temos ρ = 1.

2
z
z

ρ2 + z 2 = 1

0 ρ

y
x

Figura 2: Esfera definida por {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}

d) Um Parabolóide em R3 .

i) {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 }, ou seja, conjunto de nı́vel zero da função contı́nua


F : R3 → R definida por F (x, y, z) = z − x2 − y 2. Trata-se, portanto, de um conjunto
fechado.

ii) “Pilha” de circunferências de raio z e centro em (0, 0, z).
iii) Pode ser visto como o resultado de uma rotação, em torno do eixo Oz, de uma parábola
tal como se ilustra na figura (4).
De facto, definindo ρ = x2 + y 2 , temos z = ρ2 .
p

e) Um Cone em R3 .
p
i) {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 }, ou seja, conjunto de nı́vel zero da função contı́nua
F : R3 → R definida por F (x, y, z) = z 2 − x2 − y 2 , em que z ≥ 0. Trata-se, portanto,
de um conjunto fechado.
ii) “Pilha” de circunferências de raio z e centro em (0, 0, z).
iii) Pode ser visto como o resultado de uma rotação, em torno do eixo Oz, de uma recta
tal como se ilustra na figura (5).
p
De facto, definindo ρ = x2 + y 2 , temos z = ρ.

f) Um Toro em R3 .

3
z z

ρ=1

0 ρ

y
x

Figura 3: Cilindro definido por {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = 1 ; −1 < z < 1}

p
i) {(x, y, z) ∈ R3 : ( x2 + y 2 − 3)2 + z 2 = 1}, ou seja,
p conjunto de nı́vel zero da função
contı́nua F : R3 → R definida por F (x, y, z) = ( x2 + y 2 − 3)2 + z 2 − 1. Trata-se,
portanto, de um conjunto fechado.
ii) Pode ser visto como o resultado de uma rotação, em torno do eixo Oz, de uma circun-
ferência tal como se ilustra na figura (6).
De facto, definindo ρ = x2 + y 2 , temos (ρ − 3)2 + z 2 = 1.
p

1.2 Conjuntos Compactos. Teorema de Weierstrass


Um conjunto A ⊂ Rn diz-se limitado se existir uma bola centrada na origem que o contenha,
ou seja,
∃R > 0 : A ⊂ BR (0) ⇔ ∃R > 0 ∀x ∈ A : k x k< R
Um conjunto A ⊂ Rn diz-se compacto se for limitado e fechado.

Exemplo 1.1 i) É claro que uma bola em Rn é um conjunto limitado.

ii) A superfı́cie cilı́ndrica (3) é um conjunto limitado porque, sendo

x2 + y 2 = 1 ; −1 < z < 1,

teremos
x2 + y 2 + z 2 ≤ 2,

ou seja, está contida na bola de raio 2 e centro na origem.

4
z

z = ρ2

x y 0 x

Figura 4: Parabolóide definido por {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 }

iii) O toro (6) é um conjunto limitado. De facto, sendo


p
( x2 + y 2 − 3)2 + z 2 = 1,

é claro que p
2 ≤ x2 + y 2 ≤ 4 ; z 2 ≤ 1,
e, portanto,
x2 + y 2 + z 2 < 17.

iv) O parabolóide (4) e o cone (5) não são conjuntos limitados.

É sabido que em R uma sucessão limitada tem pelo menos uma subsucessão convergente.
Em Rn acontece o mesmo.
Para vermos que assim é, consideremos apenas o caso de R2 . Seja (xk , yk ) uma sucessão
limitada, ou seja,
∃R > 0 ∀k k (xk , yk ) k ≤ R
e, sabendo que
| xk | ≤k (xk , yk ) k,
a sucessão (xk ) é limitada em R e, portanto, tem uma subsucessão convergente. Seja (xk′ )
essa subsucessão.
A sucessão (xk′ , yk′ ) é uma subsucessão de (xk , yk ) e note-se que (yk′ ) é também limitada
em R e tem, portanto, pelo menos uma subsucessão (yk′′ ) convergente.
Assim, a sucessão (xk′′ , yk′′ ) é uma subsucessão convergente da sucessão (xk , yk ).

5
z

z=ρ

y
x 0 ρ
p
Figura 5: Cone definido por {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 }

Recorde-se que uma sucessão convergente, com termos num conjunto fechado, tem limite
nesse conjunto.
Portanto, um conjunto A ⊂ R é compacto se qualquer sucessão com termos em A tem
pelo menos uma subsucessão convergente com limite em A.
Seja f : Rn → Rm uma função contı́nua e D ⊂ Rn um conjunto compacto e consideremos
o respectivo conjunto imagem f (D).
Seja (yk ) uma sucessão em f (D) e consideremos a sucessão (xk ) de termos em D tal que
yk = f (xk ).
Sendo D um conjunto compacto, a sucessão (xk ) tem uma subsucessão (xk′ ) convergente

(ρ − 3)2 + z 2 = 1

0 ρ
y
x

p
Figura 6: Toro definido por {(x, y, z) ∈ R3 : ( x2 + y 2 − 3)2 + z 2 = 1}

6
com limite a ∈ D e, dado que f é uma função contı́nua, teremos

lim f (xk′ ) = f (a)


xk′ →a

e, portanto,
lim yk′ = f (a) ∈ f (D),
k ′ →∞

ou seja, a sucessão (yk ) tem uma subsucessão (yk′ ) convergente com limite em f (D).
No caso escalar, f (D) será um conjunto compacto em R e, portanto, terá máximo e mı́nimo.

Teorema 1.1 (Weierstrass) Seja D ⊂ Rn um conjunto compacto e não vazio. Então


qualquer função escalar contı́nua em D tem máximo e mı́nimo nesse conjunto.

7
2 Funções Diferenciáveis
Definição 2.1 Uma função f : D ⊂ Rn → Rm diz-se diferenciável num ponto a ∈ int(D)
se existir uma aplicação linear Df (a) : Rn → Rm , denominada derivada de f em a, tal que

f (a + h) − f (a) − Df (a)h = o(h),

ou seja,
o(h) f (a + h) − f (a) − Df (a)h
lim = lim =0
h→0 khk h→0 khk

Seja {e1 , e2 , · · · , en } a base canónica de Rn . Fazendo h = tek com t ∈ R, teremos

f (a + tek ) − f (a) = Df (a)(tek ) + o(tek )

e, sabendo que Df (a) é uma aplicação linear, então

f (a + tek ) − f (a) = tDf (a)ek + o(tek ),

ou seja,
f (a + tek ) − f (a) o(tek )
= Df (a)ek + .
t t
Portanto,
f (a + tek ) − f (a)
lim = Df (a)ek .
t→0 t
Note-se que

a = (a1 , a2 , . . . , ak , . . . , , an ) ; a + tek = (a1 , a2 , . . . , ak + t, . . . , , an )

e a razão incremental
f (a + tek ) − f (a) f (a1 , a2 , . . . , ak + t, . . . , , an ) − f (a1 , a2 , . . . , ak , . . . , , an )
=
t t
obtem-se, fixando todas as coordenadas excepto a k-ésima.
Sendo f (x) = (f1 (x), f2 (x), . . . , fm (x)), temos

f (a + tek ) − f (a)

f1 (a + tek ) − f1 (a) fm (a + tek ) − fm (a)

lim = lim , . . . , lim .
t→0 t t→0 t t→0 t

Note-se também que o conjunto de pontos definido por {a+tek : t ∈ R} é a recta que passa
fj (a + tek ) − fj (a)
pelo ponto a e com a direcção do vector ek . Assim, a razão incremental é
t
a taxa de variação da função escalar fj na direcção ek .

8
Definição 2.2 Ao limite
∂fj fj (a + tek ) − fj (a)
(a) = lim
∂xk t→0 t
chamamos derivada partial de fj , com j = 1, 2, . . . , m, no ponto a em ordem à variável
xk , com k = 1, 2, . . . , n.

∂fj
Note-se que para calcular a derivada partial (a) devemos fixar todas as variáveis excepto
∂xk
xk . Portanto, trata-se de calcular a derivada de uma função de uma variável real xk .
Por outro lado, Df (a)ek é a k-ésima coluna da matriz que representa a derivada Df (a).
Portanto, a matriz que representa a derivada Df (a) será
 ∂f1 ∂f1 ∂f1

∂x1
(a) ∂x 2
(a) · · · ∂x n
(a)
 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2
 ∂x1 (a) ∂x (a) · · · ∂xn (a) 

 2 
 
Df (a) =  . . ... . 


 . . ... . 
 
 . . . . . . 
 
 
∂fm ∂fm ∂fm
∂x1
(a) ∂x2 (a) · · · ∂xn (a)

À matriz Df (a) também se dá o nome de matriz Jacobiana de f.


No caso em que m = 1, ou seja, f : D ⊂ Rn → R, então Df (a) terá apenas uma linha
h i
∂f ∂f ∂f
Df (a) = ∂x1 (a) ∂x2 (a) · · · ∂xn (a)

e podemos representá-la na forma vectorial


 
∂f ∂f ∂f
Df (a) = (a), (a), · · · , (a) ,
∂x1 ∂x2 ∂xn
a que chamaremos gradiente de f em a.
Passaremos a designar este vector pelo sı́mbolo ∇f (a), ou seja,
 
∂f ∂f ∂f
∇f (a) = (a), (a), · · · , (a) .
∂x1 ∂x2 ∂xn

Exemplo 2.1 i) A função f (x, y) = x, definida em R2 é diferenciável em qualquer ponto


de R2 .
Seja (a, b) um ponto qualquer de R2 . Fixando y = b e derivando f como função apenas
de x obtemos
∂f
(a, b) = 1.
∂x
9
Fixando x = a e derivando f como função apenas de y obtemos
∂f
(a, b) = 0.
∂y

Portanto, h i
∂f ∂f
 
Df (a, b) = ∂x
(a, b) ∂y
(a, b) = 1 0
e  
  h
Df (a, b)(h, k) = 1 0 = h.
k

Assim,

f (a + h, b + k) − f (a, b) − Df (a, b)(h, k) a+h−a−h


lim = lim =0
(h,k)→(0,0) k (h, k) k (h,k)→(0,0) k (h, k) k

e, portanto f é diferenciável em (a, b), de acordo com a definição (2.1).


x
ii) O gradiente da função f (x, y) = no ponto (x, y) do respectivo domı́nio é o vector
y
   
∂f ∂f 1 x
∇f (x, y) = (x, y), (x, y) = ,−
∂x ∂y y y2

10
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 3)

1 Derivadas Parciais. Exemplos


Seja f : D ⊂ Rn → Rm uma função diferenciável num ponto a ∈ int(D) e consideremos a
matriz que representa a derivada Df (a) dada por
 ∂f1 ∂f1 ∂f1

∂x1
(a) ∂x2
(a) · · · ∂xn
(a)
 
 ∂f2 ∂f2 ∂f2
 ∂x1 (a) ∂x (a) · · · (a)

∂x
2 n

 
 
Df (a) =  . . ... . 


 . . ... . 
 
 . . . . . . 
 
 
∂fm ∂fm ∂fm
∂x1
(a) ∂x2 (a) · · · ∂xn (a)

Note-se que na j-ésima linha de Df (a) se encontra o gradiente da função coordenada fj ,


ou seja, para construir a matriz Df (a) basta considerar cada uma das funções coordenadas de
f. Assim, iremos apenas tratar funções escalares, ou seja, m = 1.
∂f
Recordemos que a derivada parcial (a) é calculada fixando todas as variáveis excepto
∂xk
xk , o que significa calcular a derivada de uma função real de variável real.
Na figura (1) encontra-se uma representação gráfica deste procedimento em R2 .

Exemplo 1.1 Consideremos a função



 x2xy
+y 2
, se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0 , se (x, y) = (0, 0)

Para (x, y) 6= (0, 0), fixando y e derivando em ordem a x teremos


∂f y 3 − x2 y
(x, y) = 2 .
∂x (x + y 2)2
Fixando x e derivando em ordem a y
∂f x3 − xy 2
(x, y) = 2 .
∂y (x + y 2)2
z
z = f (x, y)

x fixo

y fixo
y
x

Figura 1: Procedimento para cálculo de derivadas parciais

Na origem deveremos usar a definição de derivada parcial. Assim, teremos


∂f f (t, 0) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =0
∂x t→0 t
porque f (t, 0) = f (0, 0) = 0.
Do mesmo modo
∂f f (0, t) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =0
∂y t→0 t
porque f (0, t) = f (0, 0) = 0.
Portanto, as derivadas parciais existem em todos os pontos de R2 .
No entanto esta função não é diferenciável na origem. De facto, se tal sucedesse,
terı́amos
f (h, k) − f (0, 0) − ∇f (0, 0)(h, k)
lim = 0.
(h,k)→(0,0) k (h, k) k
Mas, sendo f (0, 0) = 0 e ∇f (0, 0) = (0, 0), o limite
f (h, k) hk
lim √ = lim √
(h,k)→(0,0) h2 + k 2 (h,k)→(0,0) (h2 + k 2 ) h2 + k 2
não existe, como facilmente se verifica fazendo k = h.
Note-se que f não é contı́nua na origem e, portanto, não poderı́amos esperar que fosse
diferenciável nesse ponto.
Na figura (2) encontra-se o gráfico desta função.

2
z

xy
Figura 2: Gráfico da função f (x, y) = x2 +y 2

Exemplo 1.2 Consideremos a função



xy
 √x2 +y2 , se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) =
0 , se (x, y) = (0, 0)

Na figura (3) encontra-se o gráfico desta função.


z

y
x

Figura 3: Gráfico da função f (x, y) = √ xy


2 x +y 2

Tendo em conta que


xy x2 + y 2 p
|p |≤ p = x2 + y 2 =k (x, y) k
x2 + y 2 x2 + y 2
é claro que esta função é contı́nua na origem.
Para (x, y) 6= (0, 0), fixando y e derivando em ordem a x teremos
∂f y3
(x, y) = p .
∂x (x2 + y 2 ) x2 + y 2
Fixando x e derivando em ordem a y
∂f x3
(x, y) = p .
∂y (x2 + y 2 ) x2 + y 2

3
Na origem deveremos usar a definição de derivada parcial. Assim, teremos
∂f f (t, 0) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =0
∂x t→0 t
porque f (t, 0) = f (0, 0) = 0.
Do mesmo modo
∂f f (0, t) − f (0, 0)
(0, 0) = lim =0
∂y t→0 t
porque f (0, t) = f (0, 0) = 0.
Portanto, as derivadas parciais existem em todos os pontos de R2 .
No entanto esta função não é diferenciável na origem. De facto, se tal sucedesse,
terı́amos
f (h, k) − f (0, 0) − ∇f (0, 0)(h, k)
lim = 0.
(h,k)→(0,0) k (h, k) k
Mas, sendo f (0, 0) = 0 e ∇f (0, 0) = (0, 0), teremos
f (h, k) hk
lim √ = lim 6= 0,
(h,k)→(0,0) 2
h +k 2 (h,k)→(0,0) h + k 2
2

como facilmente se verifica fazendo k = h.


Portanto, esta função não é diferenciável na origem.
Note-se que as derivadas parciais de f não são contı́nuas na origem. Basta fazer y = mx
∂f ∂f
para verificar que os limites lim (x, y) e lim (x, y) não existem.
(x,y)→(0,0) ∂x (x,y)→(0,0) ∂y

2 Derivada Direccional. Gradiente


Seja D ⊂ Rn um conjunto aberto, f : D → R uma função escalar diferenciável em D e
consideremos um vector v ∈ Rn tal que k v k= 1.
Seja a ∈ D e, sendo f diferenciável teremos

f (a + h) − f (a) = ∇f (a)h + o(h).

Fazendo h = tv em que t ∈ R, teremos

f (a + tv) − f (a) = t∇f (a)v + o(tv),

ou seja,
f (a + tv) − f (a) o(tv)
= ∇f (a)v + ,
t t
e, portanto
f (a + tv) − f (a)
lim = ∇f (a)v. (1)
t→0 t

4
z = f (x, y)
z

x
y

Figura 4: Procedimento para calcular a derivada direccional segundo v

Note-se que o vector v determina a recta ou direcção de pontos da forma a + tv, t ∈ R.


Assim, o limite anterior é calculado tomando apenas pontos sobre a direcção determinada por
v. Trata-se, portanto da taxa de variação de f na direcção de v como se ilustra na figura (4).

Definição 2.1 Ao limite


f (a + tv) − f (a)
Dv f (a) = lim
t→0 t
chamamos derivada direccional de f em a segundo o vector v.

Da equação (1), concluı́mos que


Dv f (a) = ∇f (a)v. (2)
Portanto, para saber do comportamento de f na direcção determinada por v basta conhecer
o respectivo gradiente.
Note-se que
 
v1
 v2 
h i
 .

∂f ∂f ∂f
Dv f (a) = ∇f (a)v = ∂x1 (a) ∂x2 (a) · · · ∂xn (a)  

 .

 .
vn
∂f ∂f ∂f
= (a)v1 + (a)v2 + · · · + (a)vn .
∂x1 ∂x2 ∂xn

5
Portanto, na forma vectorial, a derivada direccional Dv f (a) é o produto interno dos vectores
∇f (a) e v.
Assim, sendo k v k= 1, temos

Dv f (a) = ∇f (a) • v =k ∇f (a) kk v k cos α =k ∇f (a) k cos α

em que α é o ângulo determinado pelos vectores ∇f (a) e v.


Podemos então concluir que a derivada direccional Dv f (a) será a maior possı́vel no caso
em que cos α = 0, ou seja, quando os vectores ∇f (a) e v são paralelos.
Portanto, o vector gradiente ∇f (a) determina a direcção segundo a qual a derivada direc-
cional de f em a é a maior possı́vel.

Exemplo 2.1 Consideremos a função f (x, y) = x2 + xy e o ponto (1, 1).


Então,  
∂f ∂f
∇f (x, y) = (x, y) , (x, y) = (2x + y , x)
∂x ∂y
e no ponto (1, 1) teremos
∇f (1, 1) = (3, 1).

Consideremos o vector v = (1, 2). Dado que k (1, 2) k= 5, para calcular a derivada
direccional de f em (1, 1) na direccção determinada por v deveremos usar, de acordo com
v
a definição, o vector . Assim, teremos
kvk
v 1 2 5 √
Dv f (1, 1) = ∇f (1, 1) = (3, 1) • ( √ , √ ) = √ = 5.
kvk 5 5 5
Podemos também determinar a direcção segundo a qual a derivada de f em (1, 1) é
nula. Essa direcção será determinada por um vector unitário v tal que

Dfv (1, 1) = ∇f (1, 1) • (v1 , v2 ) = 0,

ou seja,
(3, 1) • (v1 , v2 ) = 0 ⇔ v2 = −3v1 .
1 3
Fazendo v1 = 1 temos v = ( √ , − √ ).
10 10

6
3 Identificação de Funções Diferenciáveis. Propriedades
O uso da definição de função diferenciável pode tornar-se penoso. Esta tarefa pode ser facilitada
recorrendo às propriedades das funções diferenciáveis. Neste contexto, a propriedade mais
importante é a que se refere à derivada da composição de funções.
Consideremos a seguinte composição de funções diferenciáveis
g f
Rn −→ Rp −→ Rm

x 7→ g(x) 7→ f (g(x))

a 7→ b = g(a) 7→ f (g(a)) = f (b)


e sejam U ∈ Rn e V ∈ Rp conjuntos abertos tais que f (U) ⊂ V.
Sejam a ∈ U e b = g(a) ∈ V. Sendo g diferenciável em a teremos

g(a + h) − g(a) = Dg(a)h + og (h).

Seja k ∈ Rp tal que g(a + h) = b + k. Sendo f diferenciável em b = g(a) teremos

f (b + k) − f (b) = Df (b)k + of (k)

e, portanto,

f (g(a + h)) − f (g(a)) = Df (g(a))k + of (k)

= Df (g(a))(g(a + h) − g(a)) + of (k)

= Df (g(a))(Dg(a)h + og (h)) + of (k)

= Df (g(a))Dg(a)h + Df (g(a))og (h) + of (k).

Assim, a função f ◦ g será diferenciável em a e a respectiva derivada será

D(f ◦ g)(a) = Df (g(a))Dg(a)

desde que se verifique


Df (g(a))og (h) + of (k)
lim = 0.
h→0 khk
Os detalhes desta verificação podem ser vistos na bibliografia da disciplina.

Teorema 3.1 (Função Composta) Se g é diferenciável no ponto a e f é diferenciável


no ponto g(a), então f ◦ g é diferenciável no ponto a e

D(f ◦ g)(a) = Df (g(a))Dg(a).

7
Note-se que a matriz que representa a derivada Dg(a) tem p linhas e n colunas e a que
representa a derivada Df (g(a)) tem m linhas e p colunas. Assim, a matriz que representa
a derivada da função composta D(f ◦ g)(a) tem m linhas e n colunas por ser o produto
Df (g(a))Dg(a).

Sejam f : D ⊂ Rn → R e g : D ⊂ Rn → R duas funções diferenciáveis em a ∈ int(D) e


consideremos a seguinte composição
h s
Rn −→ R2 −→ R
(3)
x 7→ (f (x), g(x)) 7→ f (x) + g(x)

em que h(x) = (f (x), g(x)) e s(u, v) = u + v.


Pelo teorema da função composta temos

D(s ◦ h)(a) = D(s(h(a))Dh(a)

em que
 ∂s ∂s
  
Ds(h(a)) = Ds(f (a), g(a)) = ∂u
(f (a), g(a)) ∂v
(f (a), g(a)) = 1 1

e  ∂f ∂f ∂f

∂x1
(a) ∂x2
(a) ··· ∂xn
(a)
Dh(a) =  
∂g ∂g ∂g
∂x1
(a) ∂x2
(a) ··· ∂xn
(a)
e, portanto,

D(s ◦ h)(a) = D(s(h(a))Dh(a) =


 ∂f ∂f ∂f

 ∂s ∂x1
(a) ∂x2
(a) ··· ∂xn
(a)
∂s

= ∂u (f (a), g(a)) ∂v (f (a), g(a))  
∂g ∂g ∂g
∂x1
(a) ∂x2
(a) ··· ∂xn
(a)
 ∂f ∂f ∂f

  ∂x1 (a) ∂x2 (a) · · · ∂xn (a)
= 1 1  
∂g ∂g ∂g
∂x1
(a) ∂x2 (a) · · · ∂xn (a)
h i
∂f ∂g ∂f ∂g ∂f ∂g
= ∂x 1
(a) + ∂x 1
(a) ∂x 2
(a) + ∂x 2
(a) · · · ∂xn
(a) + ∂xn
(a)

= Df (a) + Dg(a)

Se notarmos que s(h(x)) = f (x) + g(x), concluı́mos a soma de funções diferenciáveis é


uma função diferenciável e a respectiva derivada é dada por

D(f + g)(a) = Df (a) + Dg(a),

ou seja, a derivada da soma é a soma das derivadas.

8
Se na composição (3) fizermos s(u, v) = uv facilmente concluı́mos que o produto de funções
contı́nuas é uma função diferenciável e a respectiva derivada é dada por

D(f g)(a) = f (a)Dg(a) + g(a)Df (a).


u
Do mesmo modo, se em (3) fizermos s(u, v) = , com v 6= 0, o quociente de funções
v
diferenciáveis é uma função diferenciável e teremos
 
f g(a)Df (a) − f (a)Dg(a)
D (a) = ,
g g(a)2

desde que g(a) 6= 0.

Exemplo 3.1 A função (ver a figura (3))



xy
 √x2 +y2 , se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) =
0 , se (x, y) = (0, 0)

não é diferenciável na origem mas é diferenciável em R2 \ {(0, 0)}.


h(x, y) p
De facto, f é o quociente f (x, y) = em que h(x, y) = xy e g(x, y) = x2 + y 2 .
g(x, y)
A função h é diferenciável por ser o produto de funções diferenciáveis.
A função g é a composição r ◦ s,
s r
R2 −→ R −→ R
p
(x, y)7→ x2 + y 2 7→ x2 + y 2

em que s(x, y) = x2 + y 2 e r(u) = u são funções diferenciáveis.

Da definição fica claro que uma função diferenciável é necessariamente contı́nua.


É também claro que se f for uma função diferenciável e α ∈ R então αf, é diferenciável.

Exemplo 3.2 A função (ver a figura (2))



 x2xy
+y 2
, se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) =
0 , se (x, y) = (0, 0)

não é contı́nua na origem e, portanto, não será diferenciável nesse ponto. Em R2 \ {(0, 0)}
é diferenciável por ser o quociente de funções diferenciáveis.

9
Exemplo 3.3 Seja f : R2 → R uma função definida por

f (x, y) = sen(u(x, y)v(x, y))


em que u e v são funções escalares, diferenciáveis em R2 , tais que u(1, 0) = 2 e v(1, 0) = π.
É uma função diferenciável por ser a composição f = g ◦ h de funções diferenciáveis
h g
R2 −→ R2 −→ R

(x, y) 7→ (u(x, y), v(x, y) 7→ sen(u(x, y)v(x, y))


em que
h(x, y) = (u(x, y), v(x, y))
e
g(u, v) = sen(uv).
Assim, dado que h(1, 0) = (2, π), teremos

∇f (1, 0) = Dg(h(1, 0))Dh(1, 0) = Dg(2, π)Dh(1, 0) =


 ∂u ∂u

 ∂g  ∂x (1, 0) ∂y
(1, 0)
= ∂u (2, π) ∂g
∂v
(2, π)  =
∂v ∂v
∂x
(1, 0) ∂y
(1, 0)
 ∂u
(1, 0) ∂u

∂x ∂y
(1, 0)
= ∂u (2, π) ∂g
 ∂g 
∂v
(2, π)  
∂v ∂v
∂x
(1, 0) ∂y (1, 0)

h i
∂g ∂g ∂g ∂g
= ∂u
(2, π) ∂u
∂x
(1, 0) + ∂v
∂v
(2, π) ∂x (1, 0) ∂u
(2, π) ∂u
∂y
(1, 0) + ∂v
(2, π) ∂v
∂y
(1, 0)

h i
∂g ∂g ∂g ∂g
= ∂u
(2, π) ∂u
∂x
(1, 0) + ∂v
∂v
(2, π) ∂x (1, 0) ∂u
(2, π) ∂u
∂y
(1, 0) + ∂v
(2, π) ∂v
∂y
(1, 0)

Sabendo que
∂g
(u, v) = v cos(uv)
∂u

∂g
(u, v) = u cos(uv),
∂v
e, portanto,
∂g
(2, π) = π
∂u

∂g
(2, π) = 2,
∂v
10
teremos
∇f (1, 0) = π ∂u ∂v
(1, 0) π ∂u (1, 0) + 2 ∂v
 
∂x
(1, 0) + 2 ∂x ∂y ∂y
(1, 0) .
Na forma vectorial será
 
∂u ∂v ∂u ∂v
∇f (1, 0) = π (1, 0) + 2 (1, 0) , π (1, 0) + 2 (1, 0) .
∂x ∂x ∂y ∂y
Note-se que, num ponto qualquer (x, y), teremos
∂f ∂g ∂u ∂g ∂v
(x, y) = (u(x, y), v(x, y)) (x, y) + (u(x, y), v(x, y)) (x, y)
∂x ∂u ∂x ∂v ∂x

∂f ∂g ∂u ∂g ∂v
(x, y) = (u(x, y), v(x, y)) (x, y) + (u(x, y), v(x, y)) (x, y)
∂x ∂u ∂x ∂v ∂x
ou duma forma mais concisa,
∂f ∂g ∂u ∂g ∂v
= +
∂x ∂u ∂x ∂v ∂x

∂f ∂g ∂u ∂g ∂v
= +
∂y ∂u ∂y ∂v ∂y

A função estudada no exemplo (1.2) é contı́nua na origem mas as respectivas derivadas


parciais não são e a função não é diferenciável nesse ponto.
Será que se as derivadas parciais fossem contı́nuas na origem a função seria diferenciável
nesse ponto?
Para vermos que a resposta a esta questão é sim vamos considerar apenas o caso em que
temos uma função escalar f : R2 → R com derivadas parciais contı́nuas numa bola centrada
num ponto (a, b) ∈ R2 .
Tendo em conta a definição de função diferenciável deveremos ter

f (a + h, b + k) − f (a, b) − ∇f (a, b)(h, k) = o((h, k)),

ou seja,
f (a + h, b + k) − f (a, b) − ∂f
∂x
(a, b)h − ∂f
∂y
(a, b)k
lim √ = 0.
(h,k)→(0,0) h2 + k 2
A variação f (a + h, b + k) − f (a, b) pode ser calculada (ver figura (5)) do seguinte modo

f (a + h, b + k) − f (a, b) = [f (a + h, b + k) − f (a + h, b)] + [f (a + h, b) − f (a, b)] .

Note-se que a variação f (a + h, b + k) − f (a + h, b) é calculada ao longo do segmento de


recta vertical em que x = a + h e a variação f (a + h, b) − f (a, b) é calculada ao longo do
segmento de recta horizontal em que y = b. Portanto, em ambos os casos, uma das variáveis
está fixa, ou seja, a função f dependerá apenas de uma das variáveis.

11
Usando o teorema do valor médio para funções reais de variável real, existirá d ∈]b, b + k[
tal que
∂f
f (a + h, b + k) − f (a + h, b) = (a + h, d)k
∂y
e, do mesmo modo, existirá c ∈]a, a + h[ tal que

∂f
f (a + h, b) − f (a, b) = (c, b)h.
∂x
Assim,
∂f ∂f
f (a + h, b + k) − f (a, b) − (a, b)h − (a, b)k =
∂x ∂y
   
∂f ∂f ∂f ∂f
= (c, b) − (a, b) h + (a + h, d) − (a, b) k
∂x ∂x ∂y ∂y

Dado que as derivadas parciais são contı́nuas e que


h k
|√ |≤ 1 ; | √ | ≤ 1,
h2+k 2 h + k2
2

teremos
f (a + h, b + k) − f (a, b) − ∂f
∂x
(a, b)h − ∂f
∂y
(a, b)k
lim √ = 0.
(h,k)→(0,0) h2 + k 2

b+k

0 a c a+h x

Figura 5:

Definição 3.1 (Funções de classe C 1 ) Diz-se que uma função f : D ⊂ Rn → R, em


∂f
que D é aberto, é de classe C 1 se em cada ponto x ∈ D as derivadas parciais (x) , k =
∂xk
1, 2, . . . , n existirem e forem contı́nuas.

12
Teorema 3.2 (Condição Suficiente de Diferenciabilidade) Seja D ⊂ Rn um con-
junto aberto e f : D → R, uma função de classe C 1 . Então f é diferenciável.

Exemplo 3.4 Consideremos a função (ver (3))



xy
 √x2 +y2 , se (x, y) 6= (0, 0)

f (x, y) =
0 , se (x, y) = (0, 0)

Já sabemos que f é contı́nua em R2 , diferenciável em R2 \{(0, 0)} mas não é diferenciável
na origem.
Note-se que
∂f ∂f
(0, 0) = 0 ; (0, 0) = 0
∂x ∂y
É fácil verificar que as derivadas parciais
∂f y3
(x, y) = p
∂x (x2 + y 2) x2 + y 2

∂f x3
(x, y) = p
∂y (x2 + y 2) x2 + y 2
não são contı́nuas na origem.

4 Linha. Tangente
Exemplo 4.1 Consideremos a função γ : R → R2 dada por
γ(t) = (cos t, sen t).
Sendo cos2 t + sen2 t = 1 e fazendo (cos t, sen t) = (x(t), y(t)), fica claro que a imagem
da função γ é a circunferência de raio um e centro na origem de R2 que se encontra
representada na figura (6).

Exemplo 4.2 Consideremos a função γ : R → R3 dada por


γ(t) = (cos t, sen t, t).
Sendo cos2 t + sen2 t = 1 e fazendo (cos t, sen t, t) = (x(t), y(t), z(t)), fica claro que a
imagem da função γ é uma linha assente sobre a superfı́cie cilı́ndrica vertical de raio um e
que se encontra representada na figura (7).

13
y

γ(t) = (cos t, sen t) = (x(t), y(t))

0 x

γ ′ (3π/2) = (1, 0)

Figura 6: Uma circunferência em R2

γ(t) = (cos t, sen t, t) = (x(t), y(t), z(t))

γ ′ (π/2) = (−1, 0, 1)

x y

Figura 7: Uma hélice cilı́ndrica em R3

Dos exemplos anteriores fica claro que funções de uma variável real γ : R → Rn descrevem
linhas em Rn .
No caso em que γ é uma função de classe C 1 a respectiva derivada será dada por

γ(t + h) − γ(t)
γ ′ (t) = lim .
h→0 h
γ(t + h) − γ(t)
Note-se (ver figura (8)) que, pictoricamente, os vectores secantes trans-
h
formam-se, à medida que h → 0, num vector γ ′ (t) que é tangente à linha no ponto γ(t). Esta
ideia leva-nos à definição de vector tangente a uma linha num dado ponto.

Definição 4.1 (Vector Tangente) Seja γ : R → Rn uma função de classe C 1 e consi-

14
deremos a linha descrita por γ. Ao vector derivada da linha

γ(t + h) − γ(t)
γ ′ (t) = lim
h→0 h
chamamos vector tangente à linha no ponto γ(t).

γ ′ (t)
γ(t)

γ(t + h)

Figura 8: Tangente a uma linha

No exemplo (4.1) temos


γ(t) = (cos t, sen t)
e, portanto,
γ ′ (t) = (− sen t, cos t).
Na figura (6) estão representados os vectores tangentes γ ′ (π) = (0, −1) no ponto γ(π) =
(−1, 0) e γ ′ (3π/2) = (1, 0) no ponto γ(3/2π) = (0, −1).

No exemplo (4.2) temos


γ(t) = (cos t, sen t, t)
e, portanto,
γ ′ (t) = (− sen t, cos t, 1).
Na figura (6) está representado o vector tangente γ ′ (π/2) = (−1, 0, 1) no ponto γ(π/2) =
(0, 1, π/2).

Seja L uma linha descrita por uma função γ e a um ponto de L tal que a = γ(t0 ). Seja
~
T = γ ′ (t0 ) o vector tangente a L em a.

15
A recta que passa em a e com a direcção de T~ , designada por recta tangente a L no
ponto a, é o conjunto de pontos definido por
{x ∈ Rn : x − a = λ T~ ; λ ∈ R}
No caso da hélice cilı́ndrica do exemplo (4.2) a recta tangente no ponto (0, 1, π/2) é dada
por
(x, y, z) − (0, 1, π/2) = λ (−1, 0, 1) , λ ∈ R,
ou seja,
π
x = −λ ; y − 1 = 0 ; z − =λ
2
e, portanto, é a recta definida pelas duas equações seguintes
π
y =1; x+z = .
2

5 Conjunto de Nı́vel. Normal


Dada uma função escalar F : Rn → R de classe C 1 , consideremos o conjunto de nı́vel zero de
F dado por
N0 = {x ∈ Rn : F (x) = 0}
e um ponto a ∈ N0 .
Seja L ⊂ N0 uma linha (assente em N0 ) descrita por uma função γ :] − ǫ, ǫ[→ Rn , com
ǫ ∈ R, e tal que
a = γ(0).
Dado que L ⊂ N0 , temos
F (γ(t)) = 0 ; −ǫ < t < ǫ
e, pelo teorema da derivada da função composta,
∇F (γ(0))γ ′(0) = 0,
ou seja,
∇F (a)γ ′ (0) = 0.
Assim, os vectores γ ′ (0) e ∇F (a) são ortogonais entre si.
Note-se que o vector γ ′ (0) é tangente a L em a. Nesta situação, diz-se que o vector
T~ = γ ′ (0) é tangente a N0 no ponto a.
Seja N ~ um vector ortogonal a T~ , ou seja N ~ • T~ = 0. Ao vector N
~ chamamos vector
normal a N0 no ponto a.
Assim, o gradiente da função F no ponto a, ou seja, o vector ∇F (a) é um vector normal
ao conjunto de nı́vel N0 de F.
Portanto, o gradiente de uma função escalar num ponto é normal ao respectivo
conjunto de nı́vel dessa função.

16
Exemplo 5.1 Consideremos o parabolóide P definido por

P = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < z = 1 − x2 + y 2}

e que se encontra representado na figura (9).

z
~ = ∇F (a, b, c)
N

F (x, y, z) = 0
Plano tangente

x y

Figura 9: Normal e plano tangente

Seja F : R3 → R a função escalar definida por

F (x, y, z) = z + x2 + y 2 − 1.

Então o parabolóide P é o conjunto de nı́vel zero de F, e em cada ponto (a, b, c) ∈ P


a respectiva normal será dada pelo gradiente de F nesse ponto ∇F (a, b, c) tal como se
representa na figura (9).
O vector normal N ~ = ∇F (a, b, c) determina a recta normal a P que passa pelo ponto
(a, b, c) e será o conjunto

{(x, y, z) ∈ R3 : (x, y, z) = (a, b, c) + λ∇F (a, b, c)}.


~ são tangentes a P no ponto
Por definição de vector normal, os vectores ortogonais a N
(a, b, c) e constituem um espaço linear de dimensão 2.
O plano gerado pelos vectores tangentes e que passa pelo ponto (a, b, c) chama-se plano
tangente a P no ponto (a, b, c) e é dado pela equação

(x − a, y − b, z − c) • ∇f (a, b, c) = 0.
~ = ∇F (0, 0, 1) =
Dado que ∇F (x, y, z) = (2x, 2y, 1), no ponto (0, 0, 1) teremos N
(0, 0, 1) e, portanto, a recta normal nesse ponto é dada por
~,
(x, y, z) − (0, 0, 1) = λN

ou seja,
(x, y, z − 1) = λ(0, 0, 1) ⇔ x = 0 ; y = 0 ; z ∈ R

17
que é o eixo Oz.
O plano tangente será dado por
~ = 0 ⇔ (x, y, z − 1) • (0, 0, 1) = 0 ⇔ z = 1,
(x, y, z − 1) • N

ou seja, é o plano horizontal definido por z = 1.

18
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Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 4)

1 Derivadas de Ordem Superior


Seja f : D ⊂ Rn → R, definida num aberto D, uma função de classe C 1 e consideremos as
respectivas derivadas parciais
∂f
; k = 1, 2, . . . , n.
∂xk
Note-se que estas derivadas são também funções escalares definidas em D. Portanto, se
forem diferenciáveis podemos considerar as respectivas derivadas parciais.
Assim, teremos as funções
 
∂ ∂
; j = 1, 2, . . . , n ; k = 1, 2, . . . , n
∂xj ∂xk

que são as derivadas parciais de ordem dois (ou de segunda ordem) de f. Por convenção, serão
designadas por
∂2f
 
∂ ∂
= ; se j 6= k,
∂xj ∂xk ∂xj ∂xk
e por
∂2f
 
∂ ∂
= ; se j 6= k.
∂xk 2 ∂xk ∂xk
Se as derivadas de ordem dois forem funções diferenciáveis, podemos também considerar as
respectivas derivadas parciais

∂2f
 

; i = 1, 2, . . . , n ; j = 1, 2, . . . , n ; k = 1, 2, . . . , n,
∂xi ∂xi ∂xj ∂xk

ou seja, as derivadas parciais de ordem três de f, que serão designadas por

∂3f
.
∂xi ∂xj ∂xk
Exemplo 1.1 Seja f (x, y) = xy 2 + yx3 . Então, as derivadas parciais de ordem um serão
as funções
∂f
(x, y) = y 2 + 3yx2
∂x
∂f
(x, y) = 2xy + x3 .
∂y
As derivadas parciais de ordem dois serão as funções
∂2f
 
∂ ∂f
(x, y) = (x, y) = 6xy
∂x2 ∂x ∂x
∂2f
 
∂ ∂f
(x, y) = (x, y) = 2x
∂y 2 ∂y ∂y
∂2f
 
∂ ∂f
(x, y) = (x, y) = 2y + 3x2
∂y∂x ∂y ∂x
2
 
∂ f ∂ ∂f
(x, y) = (x, y) = 2y + 3x2
∂x∂y ∂x ∂y
e algumas de ordem três serão
∂3f ∂2f
 

3 (x, y) = (x, y) = 6y
∂x ∂x ∂x2
∂3f ∂2f
 

2 (x, y) = (x, y) = 6x
∂y∂x ∂y ∂x2
∂3f ∂2f
 

3
(x, y) = =0
∂y ∂y ∂y 2
∂3f ∂2f
 

2
(x, y) = =2
∂x∂y ∂x ∂y 2
∂3f ∂2f
 

2
(x, y) = = 6x
∂x ∂y ∂x ∂x∂y

Diz-se que uma função f é de classe C k se as derivadas parciais de ordem menor ou igual
a k existirem e forem funções contı́nuas.
Diz-se que f é de classe C ∞ se for de classe C k para quqlquer k ∈ N.
∂2f
Note-se que as derivadas parciais de ordem dois da função do exemplo anterior, e
∂x∂y
∂2f
, são iguais.
∂y∂x
Esta coincidência não acontece por acaso. De facto temos

2
Teorema 1.1 (Schwarz) Seja f : D ⊂ Rn → R uma função de classe C 2 no aberto D.
Então
∂2f ∂2f
= .
∂xj ∂xk ∂xk ∂xj

A demonstração deste teorema pode ser vista na bibliografia da disciplina.

2 Extremos de Funções Escalares


Uma forma bastante conveniente de analisar o comportamento de uma função escalar num
ponto é a de a restringir a uma linha recta que passe por esse ponto. Foi deste modo que se
introduziu a noção de derivada direccional segundo um vector.
Seja f : D ⊂ Rn → R uma função de classe C 1 no aberto D.
Consideremos a recta que passa pelo ponto a e tem a direcção do vector h, ou seja a linha
descrita pela função γ : R → Rn definida por

γ(t) = a + th.

Note-se que γ(0) = a e γ(1) = a + h.


Seja x = γ(t) um ponto desta recta e tal que o segmento de recta entre a e x esteja contido
em D..
Então, teremos f (x) = f (γ(t)) e a função f passa a ser analisada apenas na recta que
passa pelo ponto a com a direcção do vector h, recorrendo à função composta
γ f
R −→ Rn −→ R

t 7→ γ(t) 7→ f (γ(t))

que é uma função real de variável real que designaremos por g, ou seja

g(t) = f (γ(t)).

É claro que γ é de classe C 1 e γ ′ (t) = h. Portanto,

g ′ (t) = ∇f (γ(t)) • γ ′ (t) = ∇f (γ(t)) • h,

e para t = 0, teremos
g ′ (0) = ∇f (γ(0)) • γ ′ (0),
ou seja,
g ′(0) = ∇f (a) • h.
Sendo g de classe C 1 , pelo teorema de Lagrange para funções reais de variável real, existirá
t0 ∈]0, 1[ tal que
g(1) − g(0) = g ′ (t0 ),

3
ou seja,
f (a + h) − f (a) = ∇f (c) • h
em que c = γ(t0 ) é um ponto no segmento de recta entre a e a + h.

Teorema 2.1 (Lagrange) Seja f : D ⊂ Rn → R uma função de classe C 1 no aberto D


e sejam a e a + h dois pontos em D tais que o segmento de recta entre eles esteja contido
em D. Então existe um ponto c nesse segmento de recta tal que

f (a + h) − f (a) = ∇f (c) • h,

com c distinto de a e de a + h.

Seja a ∈ D e consideremos uma bola Bǫ (a) ⊂ D tal que ∇f (x) = 0 para qualquer ponto
x ∈ Bǫ (a).
Pelo teorema de Lagrange, teremos f (a + h) = f (a) para qualquer vector h tal que a + h ∈
Bǫ (a), ou seja, a função f será constante na bola Bǫ (a).
Portanto, uma função de classe C 1 e com gradiente nulo numa bola será contante
nessa bola.

Definição 2.1 (Ponto Crı́tico) Diz-se que a ∈ D é um ponto crı́tico da função f se


∇f (a) = 0.

Seja f : D ∈ Rn → R uma função de classe C 2 e seja a ∈ D um ponto crı́tico de f.


Consideremos a recta que passa em a e com a direcção de um vector h ∈ Rn , ou seja, o
conjunto de pontos da forma a + th com t ∈ R.
Tal como acima, seja γ(t) = a + th e consideremos a função composta
γ f
R −→ Rn −→ R

t 7→ γ(t) 7→ f (γ(t)).

Sendo a um ponto crı́tico, é claro que g ′(o) = ∇f (a) = 0.


Pela fórmula de Taylor para funções reais de variável real teremos
1 ′′ 1
g(t) − g(0) = g ′ (o) + g (0)t2 + o(t2 ) = g ′′ (0)t2 + o(t2 ),
2! 2!
ou seja,
g(t) − g(0) 1 ′′ o(t2 )
= g (0) + . (1)
t2 2! t2
o(t2 )
Sabendo que lim 2 = 0, para t suficientemente próximo de zero, a diferença g(t) − g(0)
t→0 t
tem o mesmo sinal da derivada g ′′(0).

4
Note-se que
n
X ∂f
g ′(t) = ∇f (γ(t)) • h = (γ(t))hk
k=1
∂xk

e, portanto,
n X
n
X ∂2f
g ′′(t) = (γ(t))hj hk ,
∂xj ∂xk
k=1 j=1

ou seja,
n X
n
X ∂2f
g (0) =
′′
(a)hj hk .
∂xj ∂xk
k=1 j=1

À matriz com n linhas e n colunas cujas entradas são as derivadas parciais de ordem dois,
designada pelo sı́mbolo D 2 f (a), ou seja,
 2
∂2f ∂2f

∂ f
 ∂x2 (a) (a) · · · (a)
 1 ∂x2 ∂x1 ∂xn ∂x1  
 ∂2f ∂2f ∂2f 
(a) (a) ··· (a)
 
 ∂x1 ∂x2 2
∂x2 ∂xn ∂x2 

2
 
D f (a) =   
 . . · · · . 


 . . · · · . 

 2.
 . ··· . 

 ∂ f 2 2
∂ f ∂ f 
(a) (a) · · · (a)
∂x1 ∂xn ∂x2 ∂xn ∂x2n
chama-se matriz Hessiana de f no ponto a.
Assim, a derivada g ′′(0) poderá ser apresentada na forma matricial

g ′′ (0) = hT D 2 f (a)h

ou na forma vectorial
g ′′ (0) = h • D 2 f (a)h.
Portanto, da fórmula de Taylor (1), obtemos

f (a + th) − f (a) 1 2 o(t2 )


= h • D f (a)h + .
t2 2! t2
Seja λ ∈ R um valor próprio da matriz Hessiana D 2 f (a) e h 6= 0 um vector próprio
associado a λ, ou seja,
D 2 f (a)h = λh.
Então, teremos
g ′′ (0) = h • D 2 f (a)h = λh • h = λ k h k2
e, portanto, o sinal de g ′′ (0) será o sinal do valor próprio λ.

5
Portanto, se a for um ponto crı́tico de f na direcção do vector próprio h associado ao valor
próprio λ da matriz Hessiana D 2 f (a), teremos

f (a + th) − f (a) 1 2 o(t2 )


= λ k h k +
t2 2! t2
Note-se que, pelo teorema de Schwarz, a matriz Hessiana é simétrica e, por isso, é diagona-
lizável, os respectivos valores próprios são números reais e os correspondentes vectores próprios
constituem uma base ortonormada de Rn .
Assim, para classificar os pontos crı́ticos devemos analisar o comportamento da função nas
linhas rectas determinadas pelos vectores próprios através dos sinais dos correspondentes valores
próprios da matriz Hessiana D 2 f (a).
A uma linha recta determinada por um vector próprio chamaremos direcção própria ou
direcção singular.
Podem ocorrer as situações seguintes.

a) Os valores próprios de D 2 f (a) são todos positivos: a é um ponto de mı́nimo de f.

b) Os valores próprios de D 2 f (a) são todos negativos: a é um ponto de máximo de f.

c) A matriz Hessiana D 2 f (a) tem pelo menos um valor próprio positivo e pelo menos um
negativo: a não é um extremo de f. (Por vezes chamado ponto de sela)

d) A matriz Hessiana D 2 f (a) tem pelo menos um valor próprio nulo e os restantes têm o
mesmo sinal. Neste caso, a função f deve ser analisada nas direcções próprias associadas
aos valores próprios nulos recorrendo às derivadas de ordem superior a dois.

No último caso, esta análise pode não ser conclusiva. Então só um estudo directo do
comportamento da função nas vizinhanças de a poderá esclarecer o problema.

6
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Resumo das Aulas Teóricas (Semana 5)

1 Extremos de Funções Escalares. Exemplos


Nos exemplos seguintes iremos determinar e classificar os pontos crı́ticos de cada uma das
funções.

Exemplo 1.1 Consideremos a função f (x, y) = x2 + y 2. É claro que f é, pelo menos, de
classe C 2 .

a) Pontos Crı́ticos: ∇f (x, y) = (0, 0).


∇f (x, y) = (2x, 2y) = (0, 0) ⇔ (x, y) = (0, 0).

A origem é o único ponto crı́tico.


b) Classificação do ponto crı́tico (0, 0).
A matriz Hessiana
∂2f ∂2f
 
2
(0, 0) (0, 0) "
2 0
#
∂x ∂y∂x
D 2 f (0, 0) = 

 ∂2f
 =
∂2f 
0 2
(0, 0) (0, 0)
∂x∂y ∂y 2 (0,0)

apresenta dois valores próprios positivos λ1 = λ2 = 2 e, portanto, o ponto crı́tico (0, 0)


é um ponto de mı́nimo de f.
Note-se que esta análise é desnecessária dado que f (x, y) = x2 + y 2 ≥ 0 e a origem é o
único ponto em que f é nula. Na figura 1 encontra-se o gráfico desta função.

Exemplo 1.2 Consideremos a função f (x, y) = x2 − y 2. É claro que f é, pelo menos, de
classe C 2 .

a) Pontos Crı́ticos: ∇f (x, y) = (0, 0).

∇f (x, y) = (2x, −2y) = (0, 0) ⇔ (x, y) = (0, 0).

A origem é o único ponto crı́tico.


z

x y

Figura 1: Exemplo de ponto de mı́nimo: f (x, y) = x2 + y 2

b) Classificação do ponto crı́tico (0, 0).


A matriz Hessiana
∂2f ∂2f
 
2
(0, 0) (0, 0) "
2 0
#
∂x ∂y∂x
D 2 f (0, 0) = 

 ∂2f
 =
∂2f 
0 −2
(0, 0) (0, 0)
∂x∂y ∂y 2 (0,0)

apresenta um valor próprio positivo λ1 = 2 e um valor próprio negativo λ2 = −2 e,


portanto, o ponto crı́tico (0, 0) não é um extremo de f.
Neste caso dizemos que é um ponto de sela. Na figura 2 encontra-se o gráfico de f que
ilustra e justifica a designação de ponto de sela.

y
x

Figura 2: Exemplo de ponto de sela: f (x, y) = x2 − y 2

Note-se que na direcção em que y = 0 a função apresenta um mı́nimo e na direcção


x = 0 a função apresenta um máximo na origem. Trata-se de um ponto de sela.

2
Exemplo 1.3 Consideremos a função f (x, y) = (x − y)2 − x4 − y 4 .

a) Pontos Crı́ticos: ∇f (x, y) = (0, 0).



x − y − 2x3 = 0
∇f (x, y) = (2(x − y) − 4x3 , −2(x − y) − 4y 3) = (0, 0) ⇔
 − (x − y) − 2y 3 = 0

ou seja,
  
x − y − 2x3 = 0 x − y − 2x3 = 0 x − y − 2x3 = 0
⇔ ∨
x3 − y 3 = 0 y = x y = −x = 0

donde se conclui que os pontos crı́ticos são: (0, 0) , (−1, 1) , (1, −1).
Para os classificar recorremos à matriz Hessiana
 2
∂ f ∂2f

2
(x, y) (x, y) "2 − 12x2 −2
#
∂x ∂y∂x
D 2 f (x, y) = 

=
 ∂2f ∂2f −2 2 − 12y 2

(x, y) 2
(x, y)
∂x∂y ∂y

b) Classificação dos pontos crı́ticos (−1, 1) e (1, −1).


As matrizes Hessianas nestes dois pontos são iguais,

−10 −2
" #
D 2 f (−1, 1) = D 2 f (1, −1) =
− 2 −10

e apresentam dois valores próprios negativos, λ1 = −8 e λ2 = −12. Portanto, estes dois


pontos são pontos de máximo de f.

c) Classificação do ponto crı́tico (0, 0).


A matriz Hessiana
2 −2
" #
D 2 f (0, 0) =
−2 2
tem um valor próprio nulo λ1 = 0 e outro positivo λ2 = 4.
Portanto, na direcção definida pelo vector próprio associado a λ2 = 4, a função f tem
um mı́nimo na origem. Isto quer dizer que se a origem for um extremo de f deverá ser
um ponto de mı́nimo.
Na direcção singular correspondente ao valor próprio nulo λ1 = 0 deveremos passar
à análise das derivadas de ordem superior a dois. No entanto, podemos analisar o
comportamento de f directamente em torno da origem.

3
Note-se que na direcção definida por y = x temos f (x, x) = −2x4 ≤ 0 e, portanto, a
função f tem um ponto de máximo na origem.
Concluı́mos assim que a origem não é um extremo de f.
Na figura 3 encontra-se o gráfico de f onde se pode constatar a natureza dos pontos
crı́ticos.

x y

Figura 3: Gráfico da função: f (x, y) = (x − y)2 − x4 − y 4

Exemplo 1.4 Consideremos a função f (x, y) = y 2 − 4x2 y + 3x4 .


a) Pontos crı́ticos: ∇f (x, y) = (0, 0).

x(−2y + 3x2 ) = 0
∇f (x, y) = (−8xy + 12x3 , 2y − 4x2 ) = (0, 0) ⇔
y − 2x2 = 0

donde se conclui que o único ponto crı́tico é a origem.


b) Classificação do ponto crı́tico (0, 0).
A matriz Hessiana
∂2f ∂2f
 
2
(0, 0) (0, 0) "−8y + 36x2 −8x# "
0 0
#
∂x ∂y∂x
D 2 f (0, 0) = 

= =
 ∂2f ∂2f − 8x 2 (0,0) 0 2

(0, 0) (0, 0)
∂x∂y ∂y 2
tem um valor próprio nulo λ1 = 0 e outro positivo λ2 = 2. Portanto, se a origem for
extremo será um mı́nimo.
Note-se que a função f pode ser dada de outra forma
f (x, y) = y 2 − 4x2 y + 3x4 = (y − x2 )(y − 3x2 ).

Em torno da origem teremos:

4
i) f (x, y) > 0 para y > 3x2 ou para y < x2 .
ii) f (x, y) < 0 para x2 < y < 3x2 .

Assim, em torno da origem, a função f toma valores tanto positivos como negativos,
ou seja, a origem não é um extremo de f.
Na figura 4 encontra-se o gráfico de f onde se pode constatar a natureza da origem
como ponto critico.

x y

Figura 4: Gráfico da função: f (x, y) = (y − x2 )(y − 3x2 )

5
2 Função Implı́cita. Função Inversa
Exemplo 2.1 Consideremos a equação da recta em R2 dada pela equação x + y = 1. (ver
figura 5).

1
x+y =1⇔y =1−x

1 x

Figura 5: Recta dada por: x + y = 1

Note-se que
x+y =1 ⇔y = 1−x
e, portanto, a mesma recta pode ser descrita de duas formas diferentes:

i) Como o conjunto de nı́vel zero da função F : R2 → R definida por F (x, y) = x + y − 1,


ou seja, o subconjunto de R2 em que F (x, y) = 0.

ii) Como o gráfico da função f : R → R dada por f (x) = 1 − x, ou seja, como o


subconjunto de R2 em que y = f (x).

De outra forma, podemos dizer que a equação F (x, y) = 0 define uma das variáveis
como função da outra y = f (x).

Exemplo 2.2 Consideremos a equação que define a circunferência de raio um e centro na


origem de R2 , ou seja x2 + y 2 = 1. (ver figura 6).
É claro que temos

x2 + y 2 = 1 ⇔ y = 1 − x2 , se y > 0,

e, portanto, a parte da circunferência em que y > 0 pode ser descrita de duas formas
diferentes:

i) Como o conjunto de nı́vel zero da função F : R2 → R definida por F (x, y) = x2 +y 2 −1,


ou seja, o subconjunto de R2 em que F (x, y) = 0.

6
y


x2 + y 2 = 1 ⇔ y = 1 − x2


y = − 1 − x2

Figura 6: Circunferência dada por: x2 + y 2 = 1


ii) Como o gráfico da função f : ] − 1, 1[ → R, dada por f (x) = 1 − x2 , ou seja, o
subconjunto de R2 em que y = f (x).

Assim, para y > 0, a equação F (x, y) = 0 define uma das variáveis como função da
outra y = f (x).
Note-se que em torno dos pontos (−1, 0), (1, 0) a equação F (x, y) = 0 não define y
como função de x, mas define x como função de y. De facto, para x > 0, temos
p
x2 + y 2 = 1 ⇔ x = 1 − y 2 .

Este exemplo mostra que a equivalência

F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x)

não se verifica globalmente em todo o conjunto definido pela equação F (x, y) = 0 mas
apenas localmente em torno de cada um dos pontos desse conjunto.

Exemplo 2.3 Consideremos o subconjunto de R2 definido pela equação

xy + sin(x + y) + cos(x + y) = 5.

Neste caso, não parece fácil concluir que a equação dada defina uma das variáveis como
função da outra, ou seja, descrever localmente este conjunto como o gráfico de alguma
função.
Na figura 7, encontra-se a representação gráfica deste conjunto que permite concluir
que se trata de um conjunto que pode ser descrito, localmente, como gráfico de alguma
função de uma variável.

7
y

Figura 7: Conjunto definido por: xy + sin(x + y) + cos(x + y) = 5

Do exemplo 2.3 surge a questão de saber se uma equação do tipo F (x, y) = 0 define uma
das variáveis como função da outra e se é possı́vel obter alguma informação sobre a natureza
dessa função. Note-se que pode não ser possı́vel estabelecer uma das variáveis como função da
outra directamente a partir da equação F (x, y) = 0.
Seja F : R2 → R uma função de classe C 1 e (a, b) um ponto tal que F (a, b) = 0.
Suponhamos que, em alguma bola centrada no ponto (a, b) se tem

F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x),

sendo f uma função real de variável real de classe C 1 e definida em algum intervalo contendo
o ponto a.
Assim, teremos F (x, f (x)) = 0 e derivando obtemos

∂F ∂F
(a, b) + (a, b)f ′ (a) = 0
∂x ∂y
Portanto,
∂F
(a, b)
f ′ (a) = − ∂x
∂F
(a, b)
∂y
desde que se verifique a condição
∂F
(a, b) 6= 0.
∂y
Concluı́mos então que, em certas condições, é possı́vel calcular a derivada f ′ (a) mesmo não
sendo possı́vel determinar f a partir da equação F (x, y) = 0.
Surge, assim, a questão seguinte. Se F : R2 → R for uma função de classe C 1 e (a, b) um
ponto tal que
∂F
F (a, b) = 0 ; (a, b) 6= 0,
∂y

8
existirá alguma função f, de classe C 1 , tal que, localmente em torno de (a, b), se tenha

F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x)?

A resposta afirmativa a esta questão é dada pelo Teorema da Função Implı́cita.

Teorema 2.1 (Função Implı́cita em R2 ) Seja F : R2 → R uma função de classe C 1 e


(a, b) um ponto tal que
∂F
F (a, b) = 0 ; (a, b) 6= 0.
∂y
Então, existe uma função f, de classe C 1 , tal que, localmente em torno de (a, b), se tem

F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x).

A equivalência local deve ser entendida no seguinte sentido. Existe uma bola centrada no
ponto (a, b) em que o conjunto definido pela equação F (x, y) = 0 é o gráfico de uma função
f : ]a − ǫ, a + ǫ[ → R, com ǫ > 0, ou seja y = f (x). (ver figura 8).

y
F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x)

a−ǫ a a+ǫ x

Figura 8: Função Implı́cita em R2

Seja G : R2 → R2 a função de classe C 1 dada por

G(x, y) = (x, F (x, y)).

9
Note-se que G(a, b) = (a, 0) e

1 0
 

det DG(a, b) = det  ∂F ∂F  = ∂F (a, b) 6= 0.


(a, b) (a, b) ∂y
∂x ∂y

Se a função G for invertı́vel, localmente en torno do ponto (a, b), teremos

G(x, y) = (x, F (x, y)) = (x, 0) ⇔ (x, y) = G−1 (x, 0),

ou seja, existe uma função f, localmente definida em torno do ponto a, tal que se verifica a
equivalência
F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x).
Se a função inversa G−1 for de classe C 1 , então a função f também o será.
Portanto, o Teorema da Função Implı́cita depende do estabelecimento da existência local
e da regularidade da função inversa G−1 . Este é o conteúdo do chamado Teorema da Função
Inversa.

Teorema 2.2 (Função Inversa) Seja G : Rn → Rn uma função de classe C 1 e a ∈ Rn um


ponto tal que
det DG(a) 6= 0.
Então, G é localmente invertı́vel em torno do ponto a e a respectiva inversa G−1 é uma
função de classe C 1 .

A existência e a regularidade locais da função inversa devem ser entendidas da forma se-
guinte. Existe uma bola B(a) centrada no ponto a e uma bola B(b) centrada no ponto
b = G(a) tais que a função G : B(a) → B(b) é uma bijecção (injectiva e sobrejectiva) e a
respectiva inversa G−1 : B(b) → B(a) é uma função de classe C 1 . (ver figura 9).
Note-se que, em geral, não é possı́vel resolver directamente as equações do tipo G(x) = b,
ou seja, calcular a função inversa G−1 . O Teorema da Função Inversa estabelece uma condição
suficiente, det DG(a) 6= 0, para que uma função de classe C 1 seja localmente invertı́vel.

Note-se que por definição de função inversa, temos

x = G−1 (G(x)), ∀x ∈ B(a)

e, portanto
DG−1 (b) = [DG(a)]−1 ,
ou seja, a matriz Jacobiana da função inversa G−1 no ponto b = G(a) é a inversa da matriz
Jacobiana de G no ponto a.

10
Rn Rn
G

x y
a
b = G(a)
G −1

Figura 9: Função Inversa

Exemplo 2.4 Consideremos a função G : R2 → R2 definida por

G(x, y) = (ex cos y, ex sen y).

É claro que G é de classe C 1 e a respectiva derivada é dada pela matriz


" x
e cos y −ex sin y
#
DG(x, y) =
ex sen y ex cos y

e, portanto,
det DG(x, y) = e2x 6= 0, ∀(x, y) ∈ R2 .
Assim, a função G tem inversa local em torno de cada um dos pontos de R2 .
No entanto, a função G não é invertı́vel (não é injectiva) em R2 . De facto, temos

G(x, 2kπ) = (ex , 0), ∀x ∈ R, ∀k ∈ Z,

ou seja, embora G não seja invertı́vel em R2 possui inversa local em torno de qualquer
ponto de R2 .

Exemplo 2.5 Seja f : Rn → Rn uma aplicação linear, ou seja, existe uma matriz An×n
tal que f (x) = Ax. Esta função é injectiva desde que det A 6= 0 e a respectiva inversa é
dada por f −1 (y) = A−1 y em que A−1 é a matriz inversa de A.
Note-se que uma aplicação linear é uma função de classe C 1 e a respectiva derivada é
representada pela matriz A , ou seja,

Df (x) = A

Note-se que neste caso se verifica a condição do Teorema da Função Inversa mas não é
necessário usá-lo. Para além disso, a função inversa é global (está definida em Rn ) e não
apenas local.

11
Exemplo 2.6 Consideremos o sistema de equações
4 4

u = x + y

x

v = sen x + cos y

Facilmente se conclui que a resolução deste sistema para x e y não é fácil. No entanto,
recorrendo ao Teorema da Função Inversa podemos determinar os pontos (x, y) para cada
um dos quais o sistema é localmente invertı́vel.
Seja  4
x + y4

G(x, y) = , sen x + cos y
x
a função definida para x 6= 0. Trata-se de uma função de classe C 1 no seu domı́nio e a
sua derivada é dada por
∂u ∂u
  
3x4 − y 4 4y 3

 ∂x ∂y  
DG(x, y) =  x2 x
 ∂v ∂v  = 
 

∂x ∂y cos x − sen y

Portanto, para cada ponto (x, y) , com x 6= 0 , tal que

sen y 4 4 4y 3
det DG(x, y) = (y − 3x ) − cos x 6= 0
x2 x
existirá uma vizinhança em que o sistema pode ser resolvido para x e y como funções de
u e v, ou seja x = x(u, v) e y = y(u, v).
Consideremos o ponto (π, π) . Então G(π, π) = (π 3 , −1) e

3π 2 4π 2
" #
det DG(π, π) = det = 4π 2
−1 0

e, portanto, a derivada da inversa de G no ponto (π 3 , −1) é dada por

0 −4π 2
 
3 −1 1
DG (π , −1) = [DG(π, π)] = 2
−1
,
4π 1 3π 2

ou seja,
∂x 3 ∂x 3
 
(π , −1) (π , −1) 0 −4π 2
" #
 ∂u ∂v
=

∂y 3 ∂y 3

(π , −1) (π , −1) 1 3π 2
∂u ∂v

12
Nota 2.1 1. Nos casos em que det DG(a) = 0 o teorema não se aplica e tudo pode
acontecer.
Considere-se a função G(x) = x2 definida em R. Então G′ (0) = 0 e G não é
invertı́vel em nenhuma vizinhança da origem, porque se trata de uma função par.
A função G(x) = x3 é crescente e, portanto, injectiva em R apesar de G′ (0) = 0.

2. A demonstração do Teorema da Função Inversa pode ser vista na bibliografia da


disciplina.

13
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 6)

1 Função Implı́cita
Exemplo 1.1 Consideremos o plano em R3 definido pela equação x + y + z = 1, (ver
figura 1).

Figura 1: Plano em R3 dado por x + y + z = 1

É claro que temos


x+y+z = 1⇔z =1−x−y
e, portanto, o mesmo plano pode ser descrito de duas formas diferentes:

i) Como o conjunto de nı́vel zero da função F : R3 → R definida por F (x, y, z) =


x + y + z − 1, ou seja, o subconjunto de R3 em que F (x, y, z) = 0.

ii) Como o gráfico da função f : R2 → R dada por f (x, y) = 1 − x − y, ou seja, como o


subconjunto de R3 em que z = f (x, y).

De outra forma, podemos dizer que a equação F (x, y, z) = 0 define uma das variáveis
como função das outras duas z = f (x, y).
É claro que a mesma equação define qualquer uma das variáveis como função das duas
restantes.
z
p
z= 1 − x2 − y 2

x y
p
z = − 1 − x2 − y 2

Figura 2: Esfera em R3 dada por x2 + y 2 + z 2 = 1

Exemplo 1.2 Consideremos a esfera dada pela equação x2 + y 2 + z 2 = 1. (Ver figura 2).
É claro que para z > 0 temos
p
x2 + y 2 + z 2 = 1 ⇔ z = 1 − x2 − y 2

e para z < 0 temos


p
x2 + y 2 + z 2 = 1 ⇔ z = − 1 − x2 − y 2 ,

ou seja, a equação define a variável z como função de x e de y.


Note-se que em torno dos pontos em que z = 0, a equação não define z como função
de x e de y, mas pode definir y como função de x e de z ou x como função de y e de z.
Portanto, contrariamente ao que se passa com o plano do exemplo anterior, a equação
x + y 2 + z 2 = 1 define uma das variáveis como função das restantes apenas localmente
2

em torno de cada um dos pontos da esfera.

Exemplo 1.3 Consideremos a linha recta definida pelo sistema de equações


(
x+y+z = 1
(1)
y = x,

ou seja, a intersecção do plano em que x + y + z = 1 com o plano dado por y = x. (Ver


figura 3).
É claro que temos ( (
x+y+z =1 z = 1 − 2x

y=x y = x,
ou seja, o sistema de duas equações 1 define as variáveis y e z como funções de x.

2
z

x+y+z = 1

y=x

Figura 3: Recta em R3 dada por x + y + z = 1 ; y = x

Exemplo 1.4 Consideremos a circunferência em R3 que resulta da intersecção de uma


esfera com um plano (ver figura 4), ou seja, definida pelo sistema de duas equações
(
x2 + y 2 + z 2 = 1
y = x.

x2 + y 2 + z 2 = 1

y
x
y=x

Figura 4: Circunferência em R3 dada por x2 + y 2 + z 2 = 1 ; y = x

Para z > 0, temos


( ( √
x2 + y 2 + z 2 = 1 z = 1 − 2x2

y=x y = x,

3
ou seja, o sistema de equações define, localmente em torno dos pontos em que z > 0, as
variáveis y e z como funções de x.

Estes exemplos ilustram dois tipos de subconjuntos de R3 :

a) Definidos por uma equação F (x, y, z) = 0 em que F : R3 → R é de classe C 1 .


Em que condições esta equação define, localmente, uma das variáveis com função das
restantes, por exemplo z = f (x, y)?
Quando não for possı́vel por cálculo directo explicitar a função f, que informação sobre f
pode ser obtida a partir da equação?
Se, em torno de um ponto (a, b, c) tal que F (a, b, c) = 0, tivermos a equivalência

F (x, y, z) = 0 ⇔ z = f (x, y),

então,
F (x, y, f (x, y)) = 0
e, derivando em ordem a x e a y, obteremos

∂F ∂F ∂f
(a, b, c) + (a, b, c) (a, b) = 0


∂x ∂z ∂x

∂F ∂F ∂f
(a, b, c) + (a, b, c) (a, b) = 0


∂y ∂z ∂y

e, portanto,
∂F ∂F
(a, b, c) (a, b, c)
∂f ∂x ∂f ∂y
(a, b) = − ; (a, b) = − ,
∂x ∂F ∂y ∂F
(a, b, c) (a, b, c)
∂z ∂z
desde que se verifique,
∂F
(a, b, c) 6= 0.
∂z
b) Definidos por um sistema de duas equações

F1 (x, y, z) = 0
F (x, y, z) = 0
2

em que as funções F1 : R3 → R e F2 : R3 → R são de classe C 1 . Em que condições este


sistema de equações define duas das variáveis como funções da terceira variável, como por
exemplo y = f (x) e z = g(x)?
Quando não for possı́vel por cálculo directo explicitar as funções f e g que informação sobre
elas pode ser obtida a partir das equações?

4
Se, em torno de um ponto (a, b, c) tal que F1 (a, b, c) = 0 e F2 (a, b, c) = 0 tivermos a
equivalência  
F1 (x, y, z) = 0 y = f (x)

F (x, y, z) = 0 z = g(x)
2

então, derivando o sistema 


F1 (x, f (x), g(x)) = 0

F2 (x, f (x), g(x)) = 0


em ordem a x, teremos
∂F1 ∂F1 ∂F1


 (a, b, c) + (a, b, c)f ′ (a) + (a, b, c)g ′(a) = 0
∂x ∂y ∂z

∂F ∂F2 ∂F2
 2 (a, b, c) + (a, b, c)f ′ (a) + (a, b, c)g ′(a) = 0.


∂x ∂y ∂z

Na forma matricial, será


∂F1 ∂F1
   ∂F 
(a, b, c) (a, b, c) 1
 
 ∂y ∂z  f (a)
′ (a, b, c)
   = − ∂x 
 ∂F2 ∂F2

∂F2

g (a)
 ′
(a, b, c) (a, b, c) (a, b, c)
∂y ∂z ∂x

e poderemos calcular as derivadas f ′ (a) e g ′(a), desde que se tenha

∂F1 ∂F1
 
 ∂y (a, b, c) (a, b, c)
∂z 
 6= 0.
det 
 ∂F2 ∂F2 
(a, b, c) (a, b, c)
∂y ∂z

Neste caso teremos


∂F1 ∂F1
 −1 
 
(a, b, c) (a, b, c) ∂F1 
f (a)
′ (a, b, c)
 = −  ∂y ∂z
   ∂x 
  
∂F ∂F ∂F

g ′ (a) 2 2 2
 
(a, b, c) (a, b, c) (a, b, c)
∂y ∂z ∂x

Tal como em R2 a resposta positiva às questões colocadas nos dois casos acima é dada pelo
chamado Teorema da Função Implı́cita que, em Rn , tem a forma seguinte.

5
Teorema 1.1 (Função Implı́cita) Seja F : Rn → Rm , com m < n, uma função de
classe C 1 . Seja (a, b) ∈ Rn tal que a ∈ Rn−m , b ∈ Rm e

F (a, b) = 0 ; det DFy (a, b) 6= 0. (2)

Então, existe uma função f, de classe C 1 , tal que, localmente em torno de (a, b), se
tem
F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x).

Nota 1.1 1. No caso geral, temos um sistema de m equações em Rn que nas condições
2 define implicitamente m variáveis, designadas por y, em função das restantes n − m
variáveis, designadas por x.

2. A existência local da função f em torno de cada um dos pontos do conjunto definido


pelo referido sistema de equações deve ser entendida no seguinte sentido. Existe uma
bola centrada no ponto (a, b) em que o conjunto definido pela equação F (x, y) = 0
é o gráfico da função f : Bǫ (a) → Rm , em que ǫ > 0 e Bǫ (a) ⊂ Rn−m designa uma
bola centrada em a ∈ Rn−m e raio ǫ.

3. Usamos o sı́mbolo DFy (a, b) para designar a matriz das derivadas parciais da função
F em ordem às variáveis designadas por y, no ponto (a, b).

4. A demonstração do caso geral, com as devidas adaptações, faz-se seguindo a mesma


ideia de R2 , recorrendo ao Teorema da Função Inversa.
Seja G : Rn → Rn a função de classe C 1 dada por

G(x, y) = (x, F (x, y)).

Note-se que G(a, b) = (a, 0) e

I 0
" #
det DG(a, b) = det = det Dy F (a, b) 6= 0,
Dx F (a, b) Dy F (a, b)

em que I designa a matriz identidade com (n − m) linhas e (n − m) colunas.


Pelo Teorema da Função Inversa, G é localmente invertı́vel em torno do ponto (a, b),
e teremos
G(x, y) = (x, F (x, y)) = (x, 0) ⇔ (x, y) = G−1 (x, 0),
ou seja, existe uma função f, localmente definida em torno do ponto a, tal que se
verifica a equivalência
F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x).

Dado que G−1 é também de classe C 1 , a função f também o será.

6
Exemplo 1.5 Consideremos a equação

x2 y + sen(x + y) = 0 (3)

Note-se que não é fácil decidir sobre se esta equação define uma das variáveis como
função da outra.
Seja F : R2 → R a função de classe C 1 dada por

F (x, y) = x2 y + sen(x + y)

e consideremos o ponto (0, 0). Então F (0, 0) = 0 e

DF (0, 0) = 2xy + cos(x + y) x2 + cos(x + y) x=0,y=0 = 1 1


   

Portanto, dado que ∂F ∂y


(0, 0) = 1 , existe uma bola B centrada em (0, 0) e uma função
1
de classe C f : ] − ǫ, ǫ[ → R para algum ǫ > 0, tal que f (0) = 0 e

F (x, y) = 0 ⇐⇒ y = f (x) ; em B

Para além disso, temos


∂F
(0, 0) 1
f ′ (0) = − ∂x = − = −1
∂F 1
(0, 0)
∂y

Figura 5: Subconjunto de R2 dado por x2 y + sen(x + y) = 0

Do mesmo modo, dado que ∂F ∂x


(0, 0) = 1 , a equação 3 define implicitamente, localmente
em torno de (0, 0), a variável x como função de y.
Na figura 5 encontra-se parte do conjunto definido pela equação 3.

7
Exemplo 1.6 A equação
x3 z 2 − z 3 yx = 0
define implicitamente z como função de (x, y) localmente em torno do ponto (1, 1, 1).
Seja F : R3 → R a função de classe C 1 definida por

F (x, y, z) = x3 z 2 − z 3 yx

Note-se que F (1, 1, 1) = 0. Sendo

DF (1, 1, 1) = 3x2 z 2 − z 3 y −z 3 x 2x3 z − 3z 2 yx x=1,y=1,z=1 = 2 −1 −1


   

e, portanto
∂F
(1, 1, 1) = −1
∂z
concluimos que, localmente em torno do ponto (1, 1, 1), a equação F (x, y, z) = 0 define
implicitamente z como função de (x, y). Designemos por f (x, y) essa função. Então,
F (x, y, f (x, y)) = 0 e derivando em x , obtemos
∂F ∂F ∂f
+ =0
∂x ∂z ∂x
e, portanto
∂f 2
(1, 1) = − =2
∂x −1
Note-se que para o ponto (0, 0, 0) temos
 
DF (0, 0, 0) = 0 0 0

e, portanto nada podemos concluir através do Teorema da Função Implı́cita.


No entanto, analisando a equação, obtemos

x3 z 2 − z 3 yx = 0 ⇐⇒ xz 2 (x − zy) = 0 ⇐⇒ x = 0 ∨ z = 0 ∨ x = zy

e, portanto, em torno da origem não é possı́vel exprimir nenhuma das variáveis como função
das outras porque se intersectam três superfı́cies, como se ilustra na figura 6.

Exemplo 1.7 O sistema de equações


(
xu + yvu2 = 2
xu3 + y 2v 4 = 2

define implicitamente (u, v) como funções de (x, y) em torno do ponto (1, 1, 1, 1).
De facto, consideremos a função F : R4 → R2 definida por

F (x, y, u, v) = (xu + yvu2 , xu3 + y 2v 4 )

8
z
x = yz

z=0

x=0 y

Figura 6: Subconjunto de R3 dado por x3 z 2 − z 3 yx = 0

Trata-se de uma função de classe C 1 tal que F (1, 1, 1, 1) = (2, 2) e a respectiva derivada
no ponto (1, 1, 1, 1) é dada por
u vu2 x + 2yvu yu2 1 1 3 1
   
   
DF (1, 1, 1, 1) = 

 = 



u3 2yv 4 3xu2 4y 2v 3 x=1,y=1,u=1,v=1
1 2 3 4
e, portanto  
3 1
det Duv F (1, 1, 1, 1) = det =9
3 4
O Teorema da Função Implı́cita garante que localmente em torno do ponto (1, 1, 1, 1)
temos (u, v) = (u(x, y), v(x, y))
Derivando a função F em x , obtemos
∂u ∂v ∂u

x
 + u + y u2 + 2yvu =0
∂x ∂x ∂x
3xu2 ∂u + u3 + 4y 2 v 3 ∂v = 0

∂x ∂x
ou seja, no ponto (1, 1, 1, 1) , temos o sistema
∂u ∂v

3
 + = −1
∂x ∂x
3 ∂u + 4 ∂v = −1

∂x ∂x
de onde concluimos
∂u 1
(1, 1) = − .
∂x 3

9
2 Variedades. Parametrizações
Seja F : R2 → R uma função de classe C 1 e consideremos o respectivo conjunto de nı́vel zero,
ou seja, o conjunto
M = {(x, y) ∈ R2 : F (x, y) = 0}.
∂F
Seja (a, b) ∈ M tal que (a, b) 6= 0.
∂y
Pelo Teorema da Função Implı́cita, localmente em torno do ponto (a, b) temos

F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x),

em que f : ]a − ǫ, a + ǫ[ → R, com ǫ > 0, é uma função de classe C 1 .


Seja g : ]a − ǫ, a + ǫ[ → R2 a função definida do seguinte modo

g(x) = (x, f (x)).

É claro que g é de classe C 1 . Note-se que g(a) = (a, f (a)) = (a, b) e g ′ (a) = (1, f ′ (a)).
Note-se que a função g é injectiva. De facto, se x1 6= x2 então g(x1 ) 6= g(x2 ).
Note-se também que temos

∇F (a, b) 6= (0, 0) ; g ′ (a) 6= (0, 0).

Suponhamos que, localmente em torno do ponto (a, b), um conjunto M ⊂ R2 pode ser
descrito por uma função injectiva g : ]t0 − ǫ, t0 + ǫ[ → R2 , de classe C 1 , tal que

g(t0 ) = (a, b) ; g ′ (t0 ) 6= (0, 0).

Dado que g(t) = (x(t), y(t)), sem perda de generalidade, suponhamos que x′ (t0 ) 6= 0.
Pelo Teorema da Função Inversa em R, a função x = x(t) será localmente invertı́vel, ou seja,
t = h−1 (x) para alguma função de classe C 1 designada por h.
Portanto, teremos
y = y(t) = y(h−1(x)) = f (x).
Fazendo F (x, y) = y − f (x), concluı́mos que, localmente em torno do ponto (a, b), o
conjunto M será definido pela equação F (x, y) = 0.
Assim, temos três formas equivalentes de descrever localmente o mesmo conjunto.

i) Como conjunto de nı́vel zero de uma função F : R2 → R, de classe C 1 e tal que ∇F (x, y) 6=
(0, 0).

ii) Como gráfico de uma função f de classe C 1 , ou seja, y = f (x).

iii) Como a imagem de uma função injectiva g, de classe C 1 , tal que (x, y) = g(t) com t ∈ R
e g ′ (t) 6= (0, 0).

10
Um conjunto descrito desta forma designa-se por variedade de dimensão um e dizemos que
a função g é uma parametrização desse conjunto.
Normalmente chamamos variedade-1 a esse conjunto.

Localmente, em torno do ponto (a, b), teremos


F (x, y) = 0 ⇔ y = f (x) ⇔ (x, y) = g(t),
e, portanto
F (g(t)) = 0
e pelo Teorema da Função Composta, obtemos
∇F (g(t0)) · g ′ (t0 ) = 0,
ou seja,
∇F (a, b) · g ′(t0 ) = 0,
 
∂F ∂F
Geometricamente, o vector gradiente ∇F (a, b) = (a, b), (a, b) é um vector nor-
∂x ∂y
mal ao conjunto M no ponto (a, b) e, portanto, o vector g ′ (t0 ) = (x′ (t0 ), y ′(t0 )) é um vector
tangente a M no mesmo ponto.
Portanto, as diferentes formas de descrever uma variedade fornecem informações geométri-
cas distintas.
Ao espaço linear gerado pelo vector N = ∇F (a, b) chamamos espaço normal a M no
ponto (a, b).
Ao espaço linear gerado pelo vector T = g ′ (t0 ) chamamos espaço tangente a M no ponto
(a, b).

y
T

Figura 7: Recta tangente e recta normal em R2

É claro que a recta tangente a M no ponto P = (a, b) é dada pela equação paramétrica:
X − P = λT, λ ∈ R,

11
em que X = (x, y). (Ver figura 7).
Do mesmo modo, a recta normal a M no ponto P = (a, b) é dada pela equação pa-
ramétrica:
X − P = λN, λ ∈ R.
Note-se que os vectores T e N são ortogonais, ou seja, N · T = 0 e, portanto, a recta
tangente no ponto P = (a, b) será dada pela equação cartesiana

(X − P) · N = 0

e a recta normal será dada pela equação cartesiana

(X − P) · T = 0.

Em Rn com n ≥ 2, estamos interessados em considerar conjuntos definidos por sistemas


de m equações, ou seja, conjuntos M ⊂ Rn da forma

M = {x ∈ Rn : F (x) = 0}

em que F : Rn → Rm , com m < n, é uma função de classe C 1 .


Se o Teorema da Função Implı́cita for aplicável em M então dizemos que se trata de
uma variedade. Quer isto dizer que, localmente em torno de cada um dos seus pontos, m
variáveis serão expressas implicitamente como funções das restantes (n − m) variáveis, também
designadas por variáveis livres. A tal conjunto chamaremos variedade de dimensão n − m.
Seja F (x) = (F1 (x), F2 (x), . . . , Fm (x)). Então o conjunto M será definido pelo sistema


 F1 (x1 , x2 , . . . , xn ) = 0

F (x , x , . . . , x ) = 0
2 1 2 n


 ...
Fm (x1 , x2 , . . . , xn ) = 0.

Note-se que o Teorema da Função Implı́cita é aplicável se as linhas da matriz que representa
a derivada de F,
∂F1 ∂F1 ∂F1
 
 ∂x1 (x) ∂x2 (x) · · · ∂xn (x) 
 
 ∂F2 ∂F2 ∂F2 

 ∂x (x) (x) · · · (x) 
DF (x) =  1 ∂x 2 ∂x n


 
. . ··· .
 
 
 
 ∂Fm ∂Fm ∂Fm 
(x) (x) · · · (x)
∂x1 ∂x2 ∂xn
forem linearmente independentes em cada um dos pontos de M.
Note-se também que as linhas da matriz DF (x) são os m vectores

∇F1 (x), ∇F2 (x), . . . , ∇Fm (x).

12
Sabendo que o gradiente de uma função escalar é perpendicular ao respectivo conjunto de
nivel no ponto considerado, as linhas da matriz DF (x) são vectores normais de M.
Ao espaço linear gerado por este conjunto de vectores chamamos espaço normal a M no
ponto considerado.
Suponhamos que as (n − m) variáveis livres são (x1 , x2 , . . . , xn−m ).
Seja u = (x1 , x2 , . . . , xn−m ) e v = (xn−m+1 , . . . , xn ).
Então, localmente teremos

F (u, v) = 0 ⇔ v = f (u) = (f1 (u), f2 (u), . . . , fm (u))

em que f = (f1 , f2 , . . . , fm ) é de classe C 1 .


A função g(u) = (u, v) = (u, f (u)) é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada
 
1 0 ··· 0
 
 0 1 ··· 0
 

 . . ··· .
 

 . . ··· .
 

 . . ··· .
 

 0 0 ··· 1
 

Dg(u) =   ∂f1

∂f1 ∂f1 

 ∂u (u) (u) · · · (u) 
 1 ∂u 2 ∂u n−m


 .
 . ··· . 

 .
 . · · · . 

 .
 . · · · . 

 ∂fm ∂fm ∂fm 
(u) (u) · · · (u)
∂u1 ∂u2 ∂un−m
tem (n − m) colunas linearmente independentes.
À função g chamamos parametrização de M.
Note-se que, por definição de g, temos F (g(u)) = 0 e, portanto,

DF (g(u))Dg(u) = 0

o que quer dizer que as colunas de Dg(u) são ortogonais às linhas de DF (g(u)).
Assim, o espaço gerado pelas colunas de Dg(u) é ortogonal ao espaço normal e será chamado
espaço tangente a M no ponto considerado.
Assim, temos três formas equivalentes de descrever localmente o mesmo conjunto em torno
de cada um dos seus pontos x ∈ M ⊂ Rn .

i) Como conjunto de nı́vel zero de uma função F : Rn → Rm , com m < n, de classe C 1 e tal
que as linhas da matriz DF (x) são linearmente independentes, ou seja, a matriz DF (x)
tem caracterı́stica m.

ii) Como gráfico de uma função f de classe C 1 , ou seja, v = f (u).

13
iii) Como a imagem de uma função injectiva g, de classe C 1 , tal que x = g(t) com t ∈ Rn−m
e as colunas da matriz Dg(t) são linearmente independentes, ou seja, a matriz Dg(t) tem
caracterı́stica (n − m).

Diz-se que M é uma variedade de dimensão (n−m) e usamos a notação variedade-(n−m).

Exemplo 2.1 Consideremos a circunferência em C ⊂ R2 dada pela equação

x2 + y 2 = 1

e que se encontra representada na figura 8.


y

T P

Figura 8: Circunferência C = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 = 1}

É claro que se trata do conjunto de nı́vel zero da função F (x, y) = x2 + y 2 − 1. Esta


função é de classe C 1 em R2 e a respectiva derivada
 
∇F (x, y) = 2x 2y

é nula apenas na origem (x, y) = (0, 0). No entanto, a origem não pertence à circunferência.
Portanto, esta circunferência é uma variedade-1.
Consideremos o ponto P = (0, 1). Dado que o vector N = ∇F (0, 1) = (0, 2) é um vector
normal em P, a recta normal à circunferência nesse ponto será dada na forma paramétrica
por (
x=0
(x, y) − (0, 1) = λ(0, 2) ⇔
y − 1 = 2λ
e, portanto será dada pela equação x = 0. (Ver figura 8).
A recta tangente em P será dada por

(x, y − 1) · (0, 2) = 0,

14
ou seja, pela equação y = 1. (Ver figura 8).
Note-se que para y > 0 temos

x2 + y 2 = 1 ⇔ y = 1 − x2

e definindo g(x) = (x, 1 − x2 ) obtemos uma parametrização da circunferência.
É claro que esta parametrização descreve apenas metade da circunferêcia.
Tendo em conta a simetria da circunferência podemos descrevê-la de outra forma. Note-
se que os pontos de uma circunferência estão todos à mesma distância do centro. Se à
distância ao centro associarmos o ângulo θ tal como se ilustra na figura 9, obtemos novas
coordenadas (r, θ) que se relacionam com (x, y) da forma seguinte

θ
x

Figura 9: Coordenadas Polares (r, θ)

(
x = r cos θ
y = r sen θ.
p
em que r = x2 + y 2 .
Nestas novas coordenadas, denominadas coordenadas polares, a circunferência dada
por x2 + y 2 = 1 passa a ser descrita pela equação r = 1 e, portanto podemos usar a variável
θ para descrever parametricamente a circunferência.
De facto, seja
g(θ) = (cos θ, sen θ) 0 < θ < 2π.
Então, esta função é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada
 
− sen θ
g (t) =

cos θ

tem caracterı́stica um. Para além disso a sua imagem é a circunferência sem o ponto (1, 0),
ou seja g(]0, 2π[) = C \ {(1, 0)}.

15
Note-se também que o vector g ′ ( π2 ) = (−1, 0) é o vector tangente T no ponto (0, 1) tal
como se ilustra na figura 8.
Trata-se, portanto, de uma parametrização da circunferência. Note-se que esta para-
metrização descreve a circunferência excluindo um ponto apenas, ou seja, as coordenadas
polares (r, θ) são mais adequadas do que as coordenadas cartesianas (x, y).
Para descrever completamente a circunferência deveremos ter outra parametrização que
poderá ser dada pela função

h(θ) = (cos θ, sen θ) −π <θ < π

que exclui apenas o ponto (−1, 0).


Assim, as duas funções g e h descrevem completamente a circunferência C.

Exemplo 2.2 Consideremos a esfera S ⊂ R3 definida pela equação

x2 + y 2 + z 2 = 1

que se encontra representada na figura 10.

T2

N
y
x
T1

Figura 10: Esfera definida pela equação: x2 + y 2 + z 2 = 1

Trata-se do conjunto de nı́vel zero da função de classe C 1 definida por

F (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 1.

A derivada  
∇F (x, y, z) = 2x 2y 2z
tem caracterı́stica um em todos os pontos de S, porque o caso contrário ocorre apenas na
origem que não se encontra em S. Portanto, S é uma variedade-2.
O vector ∇F (0, 1, 0) = (0, 2, 0) é normal a S no ponto (0, 1, 0).

16
Os vectores tangentes a S no mesmo ponto resultam da resolução da equação

T · N = 0.

Fazendo T = (α, β, γ), obtemos β = 0 e, portanto,

T = (α, 0, γ) = α(1, 0, 0) + γ(0, 0, 1).

Assim, os vectores T1 = (1, 0, 0) e T2 = (0, 0, 1) geram o espaço tangente a S no ponto


(0, 1, 0).
Na figura 10 encontram-se representados os vectores N, T1 , T2 .
Fazendo X = (x, y, z) e P = (0, 1, 0), o plano tangente a S no ponto (0, 1, 0), será dado
por
(X − P ) · N = 0,
ou seja,
(x, y − 1, z) · (0, 2, 0) = 0 ⇔ y = 1,
e encontra-se representado na figura 10.
A recta normal a S no ponto P = (0, 1, 0), será dada pelas equações
( (
(X − P ) · T1 = 0 x=0

(X − P ) · T2 = 0 z = 0,

ou seja, será o eixo Oy.


Note-se que para z > 0 temos
p
x2 + y 2 + z 2 = 1 ⇔ z = 1 − x2 − y 2
p
e definindo g(x, y) = (x, y, 1 − x2 − y 2 ) obtemos uma parametrização da esfera.
É claro que esta parametrização descreve apenas metade da esfera.
Tendo em conta a simetria da esfera podemos descrevê-la de outra forma. Note-se que
os pontos de uma esfera estão todos à mesma distância do centro. Se à distância ao centro
associarmos os ângulos θ e φ, tal como se ilustra na figura 11, obtemos novas coordenadas
(r, θ, φ) que se relacionam com (x, y, z) da forma seguinte

x = r sen φ cos θ

y = r sen φ sen θ

z = r cos φ

p
em que r = x2 + y 2 + z 2 .
Nestas novas coordenadas, denominadas coordenadas esféricas, a esfera dada por
x + y 2 + z 2 = 1 passa a ser descrita pela equação r = 1 e, portanto podemos usar as
2

variáveis θ, φ para descrever parametricamente a esfera S.

17
z

φ (x, y, z)

x θ y

Figura 11: Coordenadas esféricas (r, θ, φ)

De facto, seja

g(θ, φ) = (sen φ cos θ, sen φ sen θ, cos φ) 0 < θ < 2π; 0 < φ < π

Então, esta função é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada


 
− sen φ sen θ cos φ cos θ
Dg(θ, φ) =  sen φ cos θ cos φ sen θ
0 − sen φ
tem caracterı́stica dois. Para além disso a sua imagem é a esfera sem a linha em que
x ≥ 0, y = 0, ou seja

g(]0, 2π[×]0, π[) = S \ {(x, y, z) : x ≥ 0; y = 0}.

Esta linha está representada a vermelho na figura 10.


Note-se também que as colunas da matriz
 
−1 0
π π
Dg( , ) =  0 0
2 2
0 −1

são os vectores tangentes −T1 e −T2 no ponto (0, 1, 0). (Ver figura 10).
Trata-se, portanto, de uma parametrização da esfera. Note-se que esta parametrização
descreve a esfera excluindo uma linha apenas, ou seja, as coordenadas esféricas (r, θ, φ) são
mais adequadas do que as coordenadas cartesianas (x, y, z).
Para descrever completamente a esfera devemos considerar mais duas parametrizações.
Consideremos o subconjunto de R2 definido por

T =]0, 2π[×]0, π[

18
e as funções h, k : T → R3 definidas por

h(θ, φ) = (cos φ, sen φ cos θ, sen φ sen θ)


k(θ, φ) = (sen φ sen θ, cos φ, sen φ cos θ)

Então, as funções g, h, k são de classe C 1 , injectivas e se definirmos

G = {(x, y, z) : x ≥ 0 ; y = 0}
H = {(x, y, z) : y ≥ 0 ; z = 0}
K = {(x, y, z) : z ≥ 0 ; x = 0}

cada uma das funções g , h , k estabelece uma bijecção entre o conjunto T ⊂ R2 e as partes
da esfera S \ G , S \ H , S \ K, respectivamente. As linhas G, H, K estão representadas
na figura 12.
z

G K

x H
y

Figura 12: Parametrização da esfera

É fácil verificar que, tal como Dg(θ, φ), as derivadas Dh(θ, φ) e de Dk(θ, φ) são matrizes
com caracterı́stica igual a dois.
Portanto, as funções g , h , k parametrizam a esfera S.

Exemplo 2.3 Consideremos o cilindro C ⊂ R3 definido por

C = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = 1 ; −1 < z < 1

que se encontra representado na figura 13.


Trata-se do conjunto de nı́vel zero da função de classe C 1 definida por

F (x, y, z) = x2 + y 2 − 1.

A derivada  
∇F (x, y, z) = 2x 2y 0

19
z

T2

N
T1 y
x

Figura 13: Cilindro definido por: x2 + y 2 = 1 ; −1 < z < 1

tem caracterı́stica um em todos os pontos de S, porque o caso contrário ocorre apenas nos
pontos da forma (0, 0, z) que não se encontram em C. Portanto, C é uma variedade-2.
O vector ∇F (0, 1, 0) = (0, 2, 0) é normal a S no ponto (0, 1, 0).
Os vectores tangentes a S no mesmo ponto resultam da resolução da equação

T · N = 0.

Fazendo T = (α, β, γ), obtemos β = 0 e, portanto,

T = (α, 0, γ) = α(1, 0, 0) + γ(0, 0, 1).

Assim, os vectores T1 = (1, 0, 0) e T2 = (0, 0, 1) geram o espaço tangente a S no ponto


(0, 1, 0).
Na figura 13 encontram-se representados os vectores N, T1 , T2 .
Fazendo X = (x, y, z) e P = (0, 1, 0), o plano tangente a S no ponto (0, 1, 0), será dado
por
(X − P ) · N = 0,
ou seja,
(x, y − 1, z) · (0, 2, 0) = 0 ⇔ y = 1,
e encontra-se representado na figura 13.
A recta normal a S no ponto P = (0, 1, 0), será dada pelas equações
( (
(X − P ) · T1 = 0 x=0

(X − P ) · T2 = 0 z = 0,

ou seja, será o eixo Oy.


Note-se que para y > 0 temos

x2 + y 2 = 1 ⇔ y = 1 − x2

e definindo g(x, z) = (x, 1 − x2 , z) obtemos uma parametrização do cilindro.

20
z

(x, y, z)

y
θ ρ
x

Figura 14: Coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z)

É claro que esta parametrização descreve apenas metade do cilindro.


Tendo em conta a simetria do cilindro podemos descrevê-lo de outra forma. Note-se
que os pontos do cilindro C estão todos à mesma distância do eixo Oz. Se à distância ao
eixo Oz associarmos o ângulo θ e a variável z, tal como se ilustra na figura 14, obtemos
novas coordenadas (ρ, θ, z) que se relacionam com (x, y, z) da forma seguinte

x = ρ cos θ

y = ρ sen θ

z=z

p
em que ρ = x2 + y 2.
Nestas novas coordenadas, denominadas coordenadas cilı́ndricas, o cilindro dado
por x2 + y 2 = 1 passa a ser descrito pela equação ρ = 1 e, portanto podemos usar as
variáveis θ, z para o descrever parametricamente.
De facto, seja

g(θ, z) = (cos θ, sen θ, z) 0 < θ < 2π; −1 < z < −1

Então, esta função é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada


 
− sen θ 0
Dg(θ, φ) =  cos θ 0
0 1

tem caracterı́stica dois. Para além disso a sua imagem é o cilindro sem a linha em que
x1, y = 0, ou seja

g(]0, 2π[×] − 1, 1[) = C \ {(x, y, z) : x = 1; y = 0}.

21
Esta linha está representada a vermelho na figura 13.
Note-se também que as colunas da matriz
 
−1 0
π
Dg( , 0) =  0 0
2
0 1

são os vectores tangentes −T1 e T2 no ponto (0, 1, 0). (Ver figura 13).
Trata-se, portanto, de uma parametrização do cilindro. Note-se que esta parame-
trização descreve o cilindro excluindo uma linha apenas, ou seja, as coordenadas cilı́ndricas
(ρ, θ, z) são mais adequadas do que as coordenadas cartesianas (x, y, z).
Para descrever completamente o cilindro devemos considerar mais uma parametrização.
Consideremos a função h : ] − π, π[×] − 1, 1[→ R3 definida por

h(θ, z) = (cos θ, sen θ, z).

Então, a função h é de classe C 1 , injectiva, a respectiva derivada é igual à derivada de


g e, portanto, tem caracterı́stica igual a dois.
Note-se que a imagem de h é o cilindro sem a linha vertical dada por x = −1 ; y = 0.
Portanto, as funções g e h parametrizam o cilindro C.

22
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 7)

1 Extremos Condicionados
Consideremos a função f (x, y) = x2 + y 2 e a elipse definida pela equação
y2
x2 + =1
4
e que se encontra representada na figura 1.

1 x

y2
Figura 1: Elipse em R2 dada por x2 + 4 =1

Dado que f (x, y) representa o quadrado da distância de um ponto (x, y) à origem, é claro
que os pontos (0, 2) e (0, −2) são os máximos de f na elipse. Os pontos (1, 0) e (−1, 0) são
os mı́nimos de f sobre a elipse. Ou seja, se restringirmos a função f á elipse estes pontos são
os respectivos extremos.
Note-se que a origem é o único ponto de estacionaridade da função f em R2 . De facto,
temos
∇f (x, y) = (2x, 2y) = (0, 0) ⇔ (x, y) = (0, 0).
Portanto os extremos de f, quando restringida à elipse, não se encontram no conjunto de
pontos crı́ticos de f. Assim, deveremos adoptar uma estratégia diferente para determinar os
extremos de f sobre a elipse.
Seja γ(t) = (cos t, 2 sen t) = (x(t), y(t)), com − π6 < t < 11π 6
, uma parametrização da
elipse.
A função composta f ◦ γ é a restrição de f à elipse retirando o ponto (1, 0). Trata-se de
uma função real de variável real. De facto temos
γ f
R −→ R2 −→ R

t 7→ γ(t) 7→ f (γ(t)).

Um extremo da função composta f ◦ γ é um zero da respectiva derivada,


d
f (γ(t)) = 0 ⇔ ∇f (γ(t)) · γ ′ (t) = 0,
dt
ou seja,

(2 cos t, 4 sen t) · (− sen t, 2 cos t) = 0 ⇔ 6 sen t cos t = 0 ⇔ sen t = 0 ∨ cos t = 0

e, portanto, teremos
π 3π
t=0∨t= ∨t=π∨t= .
2 2
Assim, os pontos crı́ticos de f restringida à elipse serão
π 3π
γ(0) = (1, 0) ; γ( ) = (0, 2) ; γ(π) = (−1, 0) ; γ( ) = (0, −2),
2 2
ou seja, exactamente os pontos determinados acima.
Note-se que γ ′ (t) é um vector tangente à elipse no ponto γ(t). Dado que, num extremo,
deveremos ter
∇f (γ(t)) · γ ′ (t) = 0
concluı́mos que o vector ∇f (γ(t)) é ortogonal ao vector tangente γ ′ (t).
Portanto, o vector ∇f (x, y) pertence ao espaço normal à elipse no ponto (x, y).
Consideremos a função
y2
F (x, y) = x2 + − 1.
4
Então a elipse é o conjunto de nı́vel zero de F e o vector ∇F (x, y) gera o espaço normal à
elipse no ponto (x, y).
Assim, o vector ∇f (x, y) é um múltiplo do vector ∇F (x, y), ou seja,

∇f (x, y) = λ∇F (x, y),

em que λ ∈ R.
Deste modo, temos uma estratégia para determinar os extremos de f quando sujeitos à
condição F = 0, que consiste em resolver o sistema
(
∇f (x, y) = λ∇F (x, y)
F (x, y) = 0

2
Este raciocı́nio pode ser aplicado à resolução de um problema mais geral que pode ser
formulado do seguinte modo.
Seja f : Rn → R uma função de classe C 1 e F : Rn → Rm , com m < n, uma função
também de classe C 1 . Determinar os extremos de f sujeitos ao sistema de equações (ou
condições), F (x) = 0, ou seja,


F1 (x1 , x2 , · · · , xn ) = 0

F (x , x , · · · , x ) = 0
2 1 2 n


...
Fm (x1 , x2 , · · · , xn ) = 0.

em que F1 , F2 , . . . , Fm ) são as componentes de F.


De outro modo, trata-se de determinar os extremos de f restringida à variedade definida
pelo sistema de equações F (x) = 0.
Este é o chamado problema dos extremos condicionados.
Tal como para a elipse, é fácil concluir que o vector ∇f (x) deverá ser normal à variedade
definida por F (x) = 0, ou seja, teremos
(
∇(f − λ1 F1 − λF2 − · · · − λFm )(x) = 0
(1)
F (x) = 0.

Note-se que este sistema apresenta (n + m) equações e (n + m) incógnitas e, em geral,


não é linear.
Os escalares λ1 , λ2 , . . . , λm são os chamados multiplicadores de Lagrange e ao sistema
1 chamamos método dos multiplicadores de Lagrange.

Exemplo 1.1 Para o caso considerado acima, temos


  
2x = 2λx x(1 − λ) = 0 x = 0 ∨ λ = 1
(   
∇f (x, y) = λ∇F (x, y) 
λy
⇔ 2y = 2 ⇔ y(4 − λ) = 0 ⇔ y=0 ∨ λ=4
F (x, y) = 0  2 y2
  2 y2
  2 y2

x + 4 =1 x + 4 =1 x + 4 =1

e, portanto, obtemos os pontos (0, −2), (0, 2), (−1, 0), (1, 0).
Note-se que o cálculo do escalar λ é irrelevante para o problema.

Exemplo 1.2 Consideremos o conjunto dos rectângulos em R2 com perı́metro igual a dois.
Qual deles apresenta maior área?
Note-se que o perı́metro fixo é uma condição ou restrição e pretendemos maximizar a
área.
Podemos formular este problema, (ver figura 2), em termos do método dos multipli-
cadores de Lagrange fazendo f (x, y) = xy e F (x, y) = 2x + 2y − 2, ou seja, pretendemos
determinar os extremos de f sujeitos à condição 2x + 2y = 2.

3
y
R

Figura 2: Rectângulo de área dois

Então teremos,
 
y = 2λ y = x
(  
∇f (x, y) = λ∇F (x, y)
⇔ x = 2λ ⇔ x = 2λ
F (x, y) = 0  
2x + 2y = 2 x+y = 1
 

e, portanto, y = x = 12 , ou seja, trata-se de um quadrado de lado 12 .

Exemplo 1.3 Problema: Consideremos o conjunto L definido pelo sistema


(
x2 + y 2 + z 2 = 2
y = x.

Determinar os pontos de L mais próximos do ponto (0, 0, 1). √


O conjunto L resulta da intersecção da esfera de raio 2 e centro na origem com o
plano vertical y = x e, portanto, é uma circunferência.
Seja f (x, y, z) = x2 + y 2 + (z − 1)2 . Esta é a função a minimizar em L. Note-se que L
é um conjunto compacto em R3 e, sendo f de classepC 1 , terá mı́nimo nesse conjunto.
Note-se também que poderı́amos usar a função x2 + y 2 + (z − 1)2 que é a distância
de um ponto (x, y, z) ao ponto (0, 0, 1). No entanto, no método dos multiplicadores de
Lagrange temos de calcular as derivadas das funções envolvidas. É claro que essa tarefa é
mais simples considerando o quadrado da distância em vez da distância propriamente dita.
Assim, seja F1 (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 2 e F2 (x, y, z) = y − x e, portanto,


 2x = 2λ1 x − λ2
 
∇f (x, y, z) = λ1 ∇F1 (x, y, z) + λ2 F2 (x, y, z) 2y = 2λ1 y + λ2


 
F1 (x, y, z) = 0 ⇔ 2(z − 1) = 2λ1 z
 

F2 (x, y, z) = 0 x2 + y 2 + z 2 = 2




y = x

4
donde deduzimos 

 2x(1 − λ1 ) = −λ2

2y(1 − λ1 ) = λ2



z(1 − λ1 ) = 1

x2 + y 2 + z 2 = 2





y = x.

Tendo em conta que y = x, da primeira e segunda equações concluı́mos que λ2 = 0. Da


primeira equação teremos

x(1 − λ1 ) = 0 ⇔ x = 0 ∨ λ1 = 1.

Mas λ1 não pode ser nulo√tendo em conta √ a terceira equação. Assim, y = x = 0 e da


quarta equação teremos z = 2 ou z = − 2. √ √
Portanto, os pontos a considerar
√ são (0, 0, − 2) e (0, 0, 2). É claro que o mais próximo
de (0, 0, 1) é o ponto (0, 0, 2).

5
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Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

Intervalos. Partições. Funções em Escada

1 Definições

Definição 1 (cf. [1, 2]) Um intervalo aberto em Rn é um conjunto da forma

I = {(x1 , x2 , . . . , xn ) ∈ Rn : ak < xk < bk ; k = 1, 2, . . . , n}

em que −∞ ≤ ak < bk ≤ +∞ ; k = 1, 2, . . . , n.

Se designarmos por Ak =]ak , bk [ (intervalo aberto em R), teremos

I = A1 × A2 × . . . × An

e dizemos que I é o produto cartesiano das suas arestas Ak .

I
b3

b2
I A3
I A2
a2 A1
a b
a1 b1 b2
b1

Figura 1: Intervalos em R, R2 , R3

Note-se que em R2 um intervalo é um rectângulo cujas arestas são paralelas aos eixos coorde-
nados. Em R3 trata-se de um paralelipı́pedo cujas faces são paralelas aos planos coordenados e
cujas arestas são paralelas aos eixos coordenados.
No caso em que −∞ < ak < bk < +∞ ; k = 1, 2, . . . , n, diz-se que I é um intervalo limitado.
Na figura 1 representam-se exemplos de intervalos limitados em R, R2 e R3 .

///

Definição 2 Dado um intervalo limitado I =]a, b[⊂ R, uma partição de I é uma colecção finita
de pontos P = {a = p0 < p1 < . . . < pm = b} ; m ∈ N .

Note-se que esta colecção de pontos determina outra colecção de subintervalos {Ik ; k =
1, 2, . . . , m} com extremos nos pontos pk−1 e pk . Assim, a partição P pode ser identificada
com a colecção finita de subintervalos {Ik }m
k=1 cuja união é o intervalo I.
Uma partição de um intervalo limitado I = A1 × A2 em R2 é o produto P = P1 × P2 em
que Pk é uma partição da aresta Ak ; ; k = 1, 2. Sejam m1 e m2 , respectivamente, o número de
subintervalos de P1 e P2 . Tal como no caso anterior, a partição P pode ser identificada com uma
colecção de subintervalos que denotaremos por {Ij,k }m 1 ,m2
j,k=1 .

1
I

Ijk

Figura 2: Partição de um intervalo em R2

Na figura 2 representa-se uma partição de um intervalo em R2 .


Do mesmo modo, dado um intervalo limitado I = A1 × A2 × A3 em R3 , uma partição de I é
o produto P = P1 × P2 × P3 em que Pk é uma partição da aresta Ak ; ; k = 1, 2, 3. Tal como nos
casos anteriores, podemos identificar P com uma colecção de subintervalos {Ijkl }m 1 ,m2 ,m3
j,k,l=1 .
Assim, de uma forma geral, uma partição de um intervalo limitado I pode ser definida por
uma colecção de subintervalos {Ik }N
k=1 em que N < ∞ tais que

I = ∪N
k=1 Ik

0 .5 1

−2

Figura 3: Exemplo de uma função em escada em R

///

Definição 3 • Seja I ⊂ Rn um intervalo limitado. Diz-se que s : I → R é uma função


em escada em I se existir uma partição de I , {Ik }N k=1 e uma colecção de números reais
{sk }Nk=1 , tais que s(x) = s k se x ∈ int(Ik ) , em que int(Ik ) designa o interior de Ik .

• Seja I ⊂ Rn um intervalo não limitado. Diz-se que s : I → R é uma função em escada


em I se existir um intervalo limitado J ⊂ I tal que s é uma função em escada em J e toma
o valor zero em I \ J.

2
///

Definição 4 Dado um intervalo limitado, I ⊂ Rn , chama-se volume de I à quantidade


n
Y
vol(I) = (bi − ai )
i=1

0 6
1

Figura 4: Exemplo de uma função em escada em R2

Definição 5 Dada uma função em escada, s : I → R, chama-se integral de s em I à quantidade


Z N
X
s= s vol(Ik )
k
I k=1

2 Exemplos
i) Seja I =]0, 1[⊂ R e s : I → R a função, cujo gráfico se apresenta na figura 3, definida por
se 0 < x < 12

 1,
s(x) = 3, se 21 < x < 23
−2 se 32 < x < 1

Trata-se de uma função em escada cujo integral é dado por


1 2 1 2 1 1 2 1
Z
s = 1 × + 3 × ( − ) − 2 × (1 − ) = + − =
I 2 3 2 3 2 2 3 3
///

ii) Seja I =]0, 6[2 =]0, 6[×]0, 6[⊂ R2 e s : I → R a função em escada dada por


 4 se 0 < x < 1 ; 0 < y < 1
 2 se 0 < x < 1 ; 1 < y < 2


s(x, y) = 1 se 3 < x < 6 ; 1 < y < 2
4 se 3 < x < 6 ; 5 < y < 6




0 nos restantes casos

3
cujo gráfico se apresenta na figura 4.
O integral de s em I é dado por
Z
s = 4 + 2 + 1 + 1 + 1 + 4 + 4 + 4 = 21
I

///

iii) Seja I =]0, 1[×]0, 2[×]1, 2[⊂ R3 e s : I → R dada por

1 se 0 < x < 1 ; 0 < y < 2 ; 1 < z < 23



s(x, y, z) =
2 se 0 < x < 1 ; 0 < y < 2 ; 23 < z < 2

O integral de s em I é dado por


1 1
Z
s=1×1×2× +2×1×2× =3
I 2 2

Referências
[1] Luı́s T. Magalhães. Integrais Múltiplos. Texto Editora, 1996.
[2] H. A. Priestley. Introduction to Integration. Oxford, Clarendon Press, 1997.

4
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Teorema de Fubini. Cálculo de volumes

1 Teorema de Fubini
O teorema de Fubini (cf. [1, 2, 3]) permite relacionar o integral em Rn , nR> 1, com o
integral em R. Dado um intervalo I ⊂ Rn e uma função integrável, o integral f pode ser
I
calculado por integrações sucessivas numa variável estando as restantes fixas.

Teorema 1 Sejam A ⊂ Rm e B ⊂ Rp , com m + p = n, intervalos tais que I = A × B e


designemos cada ponto de I por (x, y) ∈ A × B. Seja f : A × B → R uma função integrável
em A × B. Então:
Z Z Z  Z Z 
f= f (x, y)dy dx = f (x, y)dx dy.
A×B A B B A

///
Z Z  Z Z 
Os integrais da forma f (x, y)dy dx ou f (x, y)dx dy são designados por
A B B A
integrais iterados. No primeiro integral, fixa-se x ∈ A e procede-se ao cálculo do integral
de f como função de y em B, obtendo-se, assim, uma função de x a qual, de seguida, é
integrada em A. No segundo integral procede-se do mesmo modo trocando os papéis das
variáveis x e y. Portanto, o integral de f em I obtém-se por sucessivas integrações numa
variável mantendo as restantes fixas.

2 Exemplos
Nestes exemplos iremos aplicar o teorema de Fubini ao cálculo de volumes de subconjuntos
abertos e limitados de Rn cuja fronteira pode ser descrita por gráficos de funções contı́nuas.
Seja S ⊂ Rn um aberto limitado e seja I ⊂ Rn um intervalo compacto tal que S ⊂ I e
consideremos a função caracterı́stica de S definida por

1 , se (x, y, z) ∈ S
χ (x, y, z) =
S 0 , se (x, y, z) ∈ I \ S
A função χS é integrável em I e o respectivo integral representa o volume de dimensão n
de S Z Z
voln (S) = χ = 1
S
I S

1
y y

1
x2 + y 2 = 1 x2 + y 2 = 1

y = x2 y = x2
a1 b1 x x

Figura 1: Cortes no conjunto definido por x2 + y 2 < 1 ; y > x2

2.1 Um subconjunto de R2
Consideremos o conjunto definido por

S = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 < 1 ; y > x2 }

representado na figura 1.
Note-se que a circunferência e a parábola intersectam-se nos pontos cujas coordenadas
são determinadas resolvendo o sistema
( (
x2 + y 2 = 1 y2 + y − 1 = 0

y = x2 y = x2 ,

ou seja, são os pontos (a1 , c), (b1 , c) em que


 q√
5−1


 a1 = − 2

 q√
5−1
 b1 = 2


 √
c = 5−1 .

2

tal como se ilustra na figura 1.


R R 
• Para o integral da forma dy dx, fixamos a1 < x = a < a2 e o respectivo corte
será dado por

S ∩ {x = a} = {(a, y) : a1 < a < b1 ; a2 < y < 1 − a2 .

Portanto, √ !
Z a2 Z 1−x2
vol2 (S) = dy dx.
a1 x2

2
R R 
• Para o integral da forma dx dy, fixamos 0 < y = b < 1 e devemos notar que
teremos ( p p
− 1 − y2 < x < 1 − y2
√ √
− y < x < y.

Assim, teremos dois casos a considerar:


√ √
a) Se 0 < y = b < c, então − y < x < y.
p p
b) Se c < y = b < 1, então − 1 − y 2 < x < 1 − y 2 .
tal como se ilustra na figura 1.
Portanto,
Z c Z √
y
! Z 1 Z √1−y2 !
vol2 (S) = √
dx dy + √ dx dy.
0 − y c − 1−y 2

2.2 Uma Pirâmide triangular


Consideremos o conjunto
S = {(x, y, z) ∈ R3 : x + y + z < 1 ; x > 0 ; y > 0 ; z > 0}
representado na figura 2(a).
R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dx)dy)dz, fixamos 0 < z = c < 1 e obtemos
a intersecção de S com o plano z = c
S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : x + y < 1 − c ; x > 0 ; y > 0}
= {(x, y, c) : 0 < y < 1 − c ; 0 < x < 1 − c − y}
que se encontra representada na figura 2(b).
Portanto, Z 1 Z 1−z Z 1−z−y  
vol3 (S) = dx dy dz
0 0 0

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dy)dx, fixamos 0 < x = a < 1 e obtemos
a intersecção de S com o plano x = a
S ∩ {x = a} = {(a, y, z) : y + z < 1 − a ; y > 0 ; z > 0}
= {(a, y, z) : 0 < z < 1 − a − y ; 0 < y < 1 − a}
que se encontra representada na figura 3 e de onde resulta
Z 1 Z 1−x Z 1−x−y  
vol3 (S) = dz dy dx
0 0 0

3
z
1
y
0<z=c<1
x+y+z = 1 1−c
z=c

x= 1−c−y

1 y
1
0 1−c x
x (a) (b)

Figura 2: Intersecção com o plano horizontal z = c

z
x+y+z= 1 0<x=a<1
1−a
z= 1−a−y

x=a 1 y
1 0 y
1−a
x (a) (b)

Figura 3: Intersecção com o plano vertical x = a

4
PSfrag
z
y z

z=x 0<x=a<1

y=x a
0
x=a
x
y= 2

0 a a y
2
x

Figura 4: Intersecção com o plano x = a

2.3 Uma Pirâmide quadrangular


Consideremos o subconjunto de R3 definido por
x
S = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < x < 1 ; < y < x ; 0 < z < x}
2
R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dy)dx , fixamos 0 < x = a < 1. Na figura
4 representa-se o conjunto S e a intersecção de S com o plano x = a que se pode
descrever da forma seguinte
a
S ∩ {x = a} = {(a, y, z) : < y < a ; 0 < z < a}
2
donde se conclui que
!
Z 1 Z x Z x 
vol3 (S) = dz dy dx
x
0 2
0

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dx)dy , devemos fixar 0 < y = b < 1.
Dado que x2 < y < x, teremos b < x < 2b e como 0 < x < 1 devem ocorrer dois
casos. Ou 2b < 1, ou seja, 0 < b < 21 ou 2b < 1, ou seja, 12 < b < 1, tal como se
representa na figura 5.
Para 0 < y = b < 21 , a intersecção de S co o plano y = b é dada por

S ∩ {y = b} = {(x, b, z) : y < x < 2y : 0 < z < x}


1
e para 2
< y = b < 1 temos,

S ∩ {y = b} = {(x, b, z) : y < x < 1 : 0 < z < x}

5
z
y
z 1
z 1
0<y=b< 2
<y=b<1
z=x 2
1 1
z=x
y=x 2b b
0 1
y= 2
z=x
x b
y= 2
0 b 1/2 2b 1 x 0 1/2 b 1 x

Figura 5: Intersecção com o plano y = b

o que nos permite escrever o volume de S como a soma de dois integrais iterados
Z 1 Z 2y Z x   Z 1 Z 1 Z x  
2
vol3 (S) = dz dx dy + dz dx dy
1
0 y 0 2
y 0

R R R
• Para o integral da forma ( ( dx)dz)dy, teremos as inequações
(
0<z<x<1
y < x < 2y.

1
Portanto, para 0 < y = b < 2
teremos
(
0<z<x
y < x < 2y,

e deveremos fixar z em dois intervalos: ou 0 < z < y, ou y < z < 2y.


1
Para 2
< y = b < 1 teremos (
0<z<x<1
y < x,
e deveremos fixar z em dois intervalos: ou 0 < z < y, ou y < z < 1.
Assim, o volume de S será dado pela soma de quatro integrais iterados
Z 1 Z y Z 2y   Z 1 Z 2y Z 2y  
2 2
vol(S) = dx dz dy + dx dz dy +
0 0 y 0 y z
Z 1 Z y Z 1   Z 1 Z 1 Z 1  
+ dx dz dy + dx dz dy
1 1
2
0 y 2
y z

6
z
y y 1 y 1
0<z=c< 2 2
<z=c<1
1 1
y=x
y=x c
1 1
0 y=x 2 2 x
c y= x c y= 2
c 2 2
x
y= 2
x
2
0 c 1
1 x 0 1 c 1
2
2

Figura 6: Intersecção com o plano z = c

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dx)dy)dz , fixamos z = c e, tal como se
representa na figura 6, devem ocorrer dois casos, ou 0 < z = c < 21 ou 12 < z = c < 1.
Em qualquer dos casos, a intersecção de S com o plano z = c d́ada por
x
S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : z < x < 1 ; < y < x}
2
De seguida devemos fixar y = b e, de acordo com a figura 6, para cada um dos casos
obtemos três regiões de integração na variável x.
Note-se que das inequações de definição de S obtemos

0 < x < 1

y < x < 2y

z < x < 2y

e, portanto, (
0<z<x<1
z
2
< y < x < 2y.

Isto quer dizer que depois de fixar z e y teremos x < 1 se 2y > 1, ou seja, se y > 21 ,
ou teremos x < 2y se y < 12 . Por outro lado, teremos x > z se y < z ou x > y se
y > z.
Podemos concluir que, depois de fixar z, para fixar y teremos de considerar os valores
z
2
, z , 21 e, portanto, teremos duas situações distintas (ver figura 6).

a) Para 0 < z = c < 21 , a coordenada y será fixada em três intervalos: ou ] 2c , c[, ou


]c, 21 [ ou ] 12 , 1[.
b) Para 21 < z = c < 1, a coordenada y será fixada em três intervalos: ou ] 2c , 21 [, ou
] 12 , c[ ou ]c, 1[.

7
z

2 y
M
1 0<z=c<2

z=c p x=
p
1 − y2
x = − 1 − y2

0 1 x

0
−1
1 1
x y

Figura 7: Corte no cilindro segundo o plano horizontal z = c

Assim, o volume de S será dado pela soma de seis integrais iterados


Z 1 Z Z  ! z 2y
2
V ol(S) = dx dy dz
z
0 2
z
Z 1 Z 1 Z 2y  !
2 2
+ dx dy dz
0 z y
Z 1 Z 1 Z 1  !
2
+ dx dy dz
1
0 2
y
Z 1 Z 1 Z 2y  !
2
+ dx dy dz
1 z
2 2
z
Z 1 Z z Z 1  !
+ dx dy dz
1 1
2 2
z
Z 1 Z 1 Z 1  
+ dx dy dz
1
2
z y

2.4 Um Cilindro
Consideremos o cilindro vertical de raio um e altura dois dado por

S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < 1 ; 0 < z < 2}


R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dx)dy)dz, fixamos 0 < z = c < 2 e obtemos

8
z
z 0<x=a<1
2 2
M

0
x=a
√ √
− 1 − x2 0 1 − x2y
1 1
x y

Figura 8: Corte no cilindro segundo o plano vertical x = a

a intersecção de S com o plano z = c que se representa na figura 7

S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : x2 + y 2 < 1}
p p
= {(x, y, c) : −1 < y < 1 ; − 1 − y 2 < x < 1 − y 2}

e, portanto,
Z 2 Z 1 Z √1−y2 ! !
vol3 (S) = √ dx dy dz
0 −1 − 1−y 2

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dy)dx, fixamos −1 < x = a < 1 e obtemos

S ∩ {x = a} = {(a, y, z) : y 2 < 1 − a2 ; 0 < z < 2}


√ √
= {(a, y, z) : − 1 − a2 < y < 1 − a2 ; 0 < z < 2}

que se representa na figura 8, e, portanto,


√ ! !
Z 1 Z 2 Z 1−x2
vol3 (S) = √
dy dz dx
−1 0 − 1−x2

2.5 Um Cone
Consideremos o cone
p
S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < z < 1 }

9
z
0<z=c<1
1 y

p
x= z2 − y2
p
x = − z2 − y2
z=c

0 x

0 y
x

Figura 9: Intersecção com o plano z = c

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dx)dy)dz, fixamos 0 < z = c < 1 e obtemos
S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : x2 + y 2 < c2 }
p p
= {(x, y, c) : −c < y < c ; − c2 − y 2 < x < c2 − y 2}
que se representa na figura 9 donde se conclui que
Z Z Z √2 2 1 c z −y
! !
vol3 (S) = √ dx dy dz
0 −c − z 2 −y 2

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dx)dy, fixamos −1 < y = b < 1 e obtemos
S ∩ {y = b} = {(x, b, z) : x2 + b2 < z 2 < 1}
√ √ √
= {(x, b, z) : − 1 − b2 < x < 1 − b2 ; x2 + b2 < z < 1}
tal como se apresenta na figura 10 e, portanto,
Z Z √ 1 Z 1−y 2 1
! !
vol3 (S) = √ √ dz dx dy
−1 − 1−y 2 x2 +y 2

2.6 Um Hiperbolóide
Consideremos o conjunto
S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < z 2 + 1; x > 0; y > 0; 0 < z < 1}
Trata-se de um subconjunto aberto de R3 limitado pelos planos x = 0 ; y = 0 ; z =
0 ; z = 1 e pela superfı́cie x2 + y 2 = z 2 + 1.

10
z

1 z
−1 < y = b < 1
y=b 1

b z=
p
x2 + y 2

|b|

0
b y p
− 1 − y2 0
p
1 − y2 x

Figura 10: Intersecção com o plano y = b

z
1 y
√ 0<z=c<1
1 + c2
p
x= 1 − y 2 + c2
z=c

1 y
1 √
0 1 + c2 x
x 2 2
x +y =1+z 2

Figura 11: Intersecção com o plano z = c

R R R
• Usando o integral iterado da forma ( ( dx)dy)dz, fixamos 0 < z = c < 1 e,
portanto
S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : x2 + y 2 < c2 + 1; x > 0; y > 0}

ou seja, S ∩ {z = c} é um quarto de cı́rculo centrado na origem e de raio c2 + 1 tal
como se representa na figura 11.

De seguida fixamos y = b, com 0 < b < c2 + 1, e obtemos,
√ p
0 < z < 1; 0 < y < 1 + z 2 ; 0 < x < 1 + z 2 − y 2

Assim,
Z 1 Z √
1+z 2 Z √1+z 2 −y2 ! !
vol3 (S) = dx dy dz
0 0 0

11
z z
1 a<1 a>1
1

x=a

x2 + y 2 = 1 + z 2 0 x2 + y 2 = 1 + z 2

x=a 1 y 1 y
1 1
x x

Figura 12: Intersecção com o plano x = a

z √
0<x=a<1 z 1<x=a< 2
1
1

√ √
y= 1 + z 2 − a√
2
a2 − 1 y= 1 + z 2 − a2

0 y 0 y

Figura 13: Intersecção com o plano x = a

R R R
• Consideremos
√ o integral iterado da forma ( ( dy)dz)dx. Neste caso fixamos 0 <
x < 2 e obtemos

S ∩ {x = a} = {(a, y, z) : y 2 < z 2 − a2 + 1; y > 0; 0 < z < 1}

Portanto, devemos ter z 2 − a2 + 1 > 0, ou seja z 2 > x2 − 1.



Assim, se x = a < 1 então z > 0 e 0 < y < z 2 − x2 + 1.
√ √
Se x = a > 1 então z > x2 − 1 e 0 < y < z 2 − x2 + 1.
Nas figuras 12 e 13 apresentam-se as intersecções√de S com o plano x = a para os
dois casos acima descritos: 0 < a < 1 e 1 < a < 2.
Destas figuras obtemos
√ ! !
Z 1 Z 1 Z 1+z 2 −x2
vol3 (S) = dy dz dx +
0 0 0
√ √ ! !
Z 2 Z 1 Z 1+z 2 −x2
+ √
dy dz dx
1 x2 −1 0

12
z z √
0<x=a<1 1<x=a< 2
1
1

p
z= y 2 + a2 − 1 z=
p
y 2 + a2 − 1

0 √ √ y √
1 − a2 2 − a2 0 2 − a2 y

Figura 14: Intersecção com o plano x = a

R R R √
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dy)dx, fixamos 0 < x = a < 2 e obtemos

S ∩ {x = a} = {(a, y, z) : z 2 > a2 + y 2 − 1; y > 0; 0 < z < 1}

ou seja,

– Se x2 + y 2 < 1 então z > 0.


p
– Se 1 < x2 + y 2 < 2 então z > x2 + y 2 − 1.

tal como se apresenta na figura 14.


Assim, temos

– Se x2 + y 2 < 1, então 0 < x < 1 ; y < 1 − x2 e 0 < z < 1.
√ √ p
– Se x2 + y 2 > 1 e 0 < x < 1 então 1 − x2 < y < 2 − x2 , e x2 + y 2 − 1 <
z < 1.
√ √ p
– Se x2 + y 2 > 1 e 1 < x < 2 então 0 < y < 2 − x2 e x2 + y 2 − 1 < z < 1.

Portanto,

√ !
Z 1 Z 1−x2 Z 1 
vol3 (S) = dz dy dx +
0 0 0
√ ! !
Z 1 Z 2−x2 Z 1
+ √ √ dz dy dx +
0 1−x2 x2 +y 2 −1
Z √
2 Z √2−x2 Z 1
! !
+ √ dz dy dx
1 0 x2 +y 2 −1

13
z

y
X

z=c 1 − z2

p
1 − z2 − y2
p
− 1 − z2 − y2

0
y
0 x

x

− 1 − z2

Figura 15: Corte horizontal z = c numa bola

2.7 Uma Bola


Seja S a bola de raio um e centro na origem em R3 ,

S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 < 1 }

Devido à simetria esférica de S basta considerar o integral iterado da forma


Z Z Z
( ( dx)dy)dz.
S

√ −1 < z = c < 1 obtemos, em x, y, um cı́rculo centrado na origem e com raio


Fixando
igual a 1 − c2 tal como se representa na figura 15.

S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : x2 + y 2 < 1 − c2 }
√ p
= {(x, y, c) : |y| < 1 − c2 ; |x| < 1 − c2 − y 2 }

e, portanto,
Z 1 Z √
1−z 2 Z √1−z 2 −y2 ! !
vol3 (S) = √ √ dx dy dz
−1 − 1−z 2 − 1−z 2 −y 2

2.8 Um Toro
Neste exemplo vamos considerar o sólido em R3 limitado por um quarto do toro de raios
R = 3 e r = 1 e pelos planos x = 0 e y = 0 tal como se representa na figura 16.
p
S = {(x, y, z) ∈ R3 : ( x2 + y 2 − 3)2 + z 2 < 1 ; x > 0 ; y > 0}

14
z
y

−1 2

4
x

Figura 16: Parte do Toro de raios R = 3 e r = 1

y
−1 < z = c < 1

3+ 1 − c2


3− 1 −−c2

0 x

Figura 17: Corte no Toro com um plano z = c

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dx)dy)dz, fixamos −1 < z = c < 1 e obtemos
√ p √
S ∩ {z = c} = {(x, y, c) : − 1 − c2 < x2 + y 2 − 3 < 1 − c2 ; x > 0 ; y > 0}
√ p √
= {(x, y, c) : 3 − 1 − c2 < x2 + y 2 < 3 + 1 − c2 ; x > 0 ; y > 0}

tal como se representa na figura 17. De seguida devemos


√ fixar a variável
√ y. Da figura
2 2
√ claro que, devemos fixar 0 < y = b < 3 − 1 − c ou 3 − 1 − c < y <
17 fica
3 + 1 − c2 .
Portanto, o volume de S será expresso pela soma de dois integrais
Z Z √ 2 Z √ √ 22 2 ! !
1 3− 1−z (3+ 1−z ) −y
vol3 (S) = √ √ dx dy dz
−1 0 (3− 1−z 2 )2 −y 2
Z 1 Z √
3+ 1−z 2 Z √ √ 22 2 ! !
(3+ 1−z ) −y
+ √
dx dy dz
−1 3− 1−z 2 0

15
z 0<y=b<2

0 x
√ √
4− b2 16 − b2

z 2<y=b<3 z 3<y=b<4

0 x 0 x
√ √
16 − b2 16 − b2

Figura 18: Corte no Toro com um plano y = b

R R R
• Para o integral iterado da forma ( ( dz)dx)dy, fixamos em primeiro lugar 0 < y =
b < 4.
Note-se que para x = 0 temos

(y − 3)2 + z 2 < 1

e, portanto 2 < y < 4.


Assim, devemos fixar 0 < y = b < 2 ou 2 < y = b < 4 como se representa na figura 18.
Note-se que o caso 2 < y = b < 4 se apresenta subdividido em dois: 2 < y = b < 3
e 3 < Ry =R bR < 4. Esta subdivisão é relevante para o cálculo do integral iterado da
forma ( ( dx)dz)dy que não será considerado nestas notas, mas ficará ao cuidado
do leitor.
Para 0 < y = b < 2, obtemos
√ √
4 − b2 < x < 16 − b2

e q √ q √
− 1 − ( x + b − 3) < z < 1 − ( x2 + b2 − 3)2
2 2 2

Para 2 < y = b < 4, obtemos



0<x< 16 − b2

16
e, tal como anteriormente,
q √ q √
− 1 − ( x + b − 3) < z < 1 − ( x2 + b2 − 3)2
2 2 2

Portanto,
 √  q √  
Z 2 Z 16−y2 Z 1−( x2 +y 2 −3)2
vol3 (S) =  √  q √ dz  dx dy +
0 4−y 2 − 1−( x2 +y 2 −3)2
 √  q √  
Z 4 Z 16−y2 Z 1−( x2 +y 2 −3)2
+   q √ dz  dx dy
2 0 − 1−( x2 +y 2 −3)2

Referências
[1] Luı́s T. Magalhães. Integrais Múltiplos. Texto Editora, 1996.

[2] H. A. Priestley. Introduction to Integration. Oxford, Clarendon Press, 1997.

[3] W. Rudin. Principles of Mathematical Analysis. McGraw Hill, 1996.

17
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

Teorema da Mudança de Coordenadas

1 Mudança de Coordenadas

Definição 1 Seja T ⊂ Rn um aberto. Diz-se que uma função g : T → Rn é uma Mudança de


Coordenadas em T se verificar as seguintes condições:
i) g é de classe C 1 .
ii) g é injectiva.
iii) A derivada de g é injectiva, ou seja, det Dg(t) 6= 0 ; ∀t ∈ T.

Exemplo 1.1 Coordenadas Polares (r, θ) em R2 :


As coordenadas polares (r, θ) são definidas por

x = r cos θ
y = r sen θ
p
De acordo com a figura 1, r = x2 + y 2 designa a distância de cada ponto de coordenadas
(x, y) à origem e θ é o ângulo formado entre o semi-eixo positivo x e o vector (x, y).

y (x, y)

r
PSfrag replacements

0 x

Figura 1: Coordenadas Polares (r, θ) em R2

Seja g(r, θ) = (r cos θ, r sen θ) = (x, y). Então, g é de classe C 1 em R2 e a derivada é injectiva
em R2 \ {(0, 0)}. De facto temos
 
cos θ −r sen θ
det Dg(r, θ) = = r(cos2 θ + sen2 θ) = r.
sen θ r cos θ

Dado que as funções trigonométricas são periódicas, a função g não é injectiva em R 2 \ {(0, 0)}.
Mas, se definirmos
T = {(r, θ) ∈ R2 : r > 0 ; 0 < θ < 2π}
então, a função g : T → R2 é uma mudança de coordenadas.
A função g transforma T no conjunto

g(T ) = R2 \ {(x, y) : y = 0 ; x ≥ 0}

Dado que x2 + y 2 = r2 , para cada r fixo em T obtemos, em (x, y), uma circunferência de raio
r e centro na origem tal como se representa na figura 2.

1
y


θ

PSfrag replacements
0 r R x

0 r R r

Figura 2:

Por outro lado, para cada θ fixo em T obtemos, em (x, y) um segmento de recta tal como se
mostra na figura 2. Portanto, ao cı́rculo centrado na origem e de raio R e do qual se retire o
semi-eixo positivo x corresponde, nas coordenadas polares (r, θ), o rectângulo ]0, R[×]0, 2π[ tal
como se apresenta na figura 2.

Exemplo 1.2 Coordenadas Cilı́ndricas (ρ, θ, z) em R3 :


As coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z) são definidas por

x = ρ cos θ
y = ρ sen θ
z = z
p
De acordo com a figura 3, ρ = x2 + y 2 designa a distância de cada ponto de coordenadas
(x, y, z) ao eixo z, θ é o ângulo formado entre o semi-eixo positivo x e o vector (x, y, 0).

(x, y, z)

PSfrag replacements

0
y
ρ
θ
x
(x, y, 0)

Figura 3: Coordenadas Cilı́ndricas (ρ, θ, z) em R3

Seja
T = {(ρ, θ, z) ∈ R3 : ρ > 0 ; 0 < θ < 2π ; z ∈ R}

2
então a função g : T → R3 definida por
g(ρ, θ, z) = (ρ cos θ, ρ sen θ, z)
é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada é injectiva porque
 
cos θ −ρ sen θ 0
det Dg(ρ, θ, z) = det  sen θ ρ cos θ 0  = ρ > 0
0 0 1
Portanto a função g : T → R3 é uma mudança de coordenadas.
z

z h

PSfrag replacements h

2π θ 0
R y
R
ρ

Figura 4:

Facilmente se verifica que ao cilindro com eixo z, de raio R e altura h e do qual se retire o plano
{x ≥ 0 ; y = 0} corresponde, em coordenadas cilı́ndricas, o paralelipı́pedo ]0, R[×]0, 2π[×]0, h[ tal
como se mostra na figura 4.

Exemplo 1.3 Coordenadas Esféricas (r, θ, φ) em R3 :


As coordenadas esféricas (r, θ, φ) são definidas por
x = r sen φ cos θ
y = r sen φ sen θ
z = r cos φ
p
De acordo com a figura 5, r = x2 + y 2 + z 2 designa a distância de cada ponto de coordenadas
(x, y, z) à origem, θ é o ângulo formado entre o semi-eixo positivo x e o vector (x, y, 0) e φ designa
o ângulo entre o semieixo positivo z o vector (x, y, z).
Seja
T = {(r, θ, φ) ∈ R3 : r > 0 ; 0 < θ < 2π ; 0 < φ < π}
então a função g : T → R3 definida por
g(r, θ, φ) = (r sen φ cos θ, r sen φ sen θ, r cos φ)
1
é de classe C , injectiva e a respectiva derivada é injectiva porque
 
sen φ cos θ −r sen φ sen θ r cos φ cos θ
det Dg(r, θ, φ) = det  sen φ sen θ r sen φ cos θ r cos φ sen θ  = −r2 sen φ 6= 0
cos φ 0 −r sen φ
Portanto, a função g : T → R3 é uma mudança de coordenadas.
Assim, à bola centrada na origem, de raio R e da qual se retire o plano {x ≥ 0 ; y = 0}
corresponde o paralelipı́pedo [0, R[×]0, 2π[×]0, π[ tal como se representa na figura 6.

3
z

(x, y, z)
φ r
PSfrag replacements

0
y
θ
x (x, y, 0)

Figura 5: Coordenadas Esféricas (r, θ, φ) em R3

PSfrag replacements φ
π

T 0
0 y
R 2π θ

r
x

Figura 6:

4
Exemplo 1.4 Transformação Linear de Coordenadas em Rn :
Seja g : Rn → Rn uma transformação linear e seja A a matriz que a representa, ou seja
g(v) = Av ; v ∈ Rn . Tendo em conta que uma transformação linear é de classe C 1 e que a
respectiva derivada é representada pela matriz A, então g é uma mudança de coordenadas em R n
desde que se verifique a condição
det A 6= 0

2 Teorema da Mudança de Coordenadas


Nesta secção apresenta-se uma versão do teorema da mudança de coordenadas. O caso geral e
respectiva demonstração podem ser vistos em [1, 2].

Teorema 2.1 Seja X ⊂ Rn um conjunto aberto, f : X → R uma função integrável em X e


g : T → Rn uma mudança de coordenadas tal que X = g(T ). Então
Z Z
f (x)dx = f (g(t)) |det Dg(t)|dt
X T

Exemplo 2.1 Área de um cı́rculo em R2 :


Seja S o cı́rculo centrado na origem de R2 e de raio R

S = {(x, y) ∈ R2 : x2 + y 2 < R2 }

Seja X o conjunto que se obtém de S retirando-lhe o semi-eixo positivo x

X = S \ {(x, 0) : x ≥ 0}

Considerando a transformação de coordenadas polares em R2

g(r, θ) = (r cos θ, r sen θ) = (x, y)

sabemos que
X = g(T )
em que
T = {(r, θ) : 0 < r < R ; 0 < θ < 2π}
Notando que o semi-eixo positivo x tem medida nula em R2 e, aplicando o teorema da mudança
de coordenadas e o teorema de Fubini, obtemos
!
Z Z Z 2π R
vol2 (S) = vol2 (X) = rdrdθ = rdr dθ = πR2 .
T 0 0

É de salientar que o conjunto T é um intervalo e, portanto, a aplicação do teorema de Fubini


no cálculo do integral duplo é muito simples.

5
Exemplo 2.2 Volume de um cilindro em R3 :
Seja S o cilindro vertical de raio R e altura h dado por

S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < R2 ; 0 < z < h}

Seja X o conjunto que se obtém de S retirando-lhe o semi-plano {y = 0 ; x ≥ 0 }, ou seja,

X = S \ {(x, y, z) : x ≥ 0 ; y = 0}

e consideremos a transformação de coordenadas cilı́ndricas em R3

g(ρ, θ, z) = (ρ cos θ, ρ sen θ, z) = (x, y, z)

Então,
X = g(T )
em que
T = {(ρ, θ, z) : 0 < ρ < R ; 0 < θ < 2π ; 0 < z < h}
Sabendo que o semi-plano {y = 0 ; x ≥ 0} tem medida nula em R3 e, aplicando o teorema da
mudança de coordenadas e o teorema de Fubini, obtemos
! !
Z Z Z Z 2π h R
vol3 (S) = vol3 (X) = ρ dρdθdz = ρdr dz dθ = πR2 h
T 0 0 0

Note-se que T é um intervalo e, portanto, a aplicação do teorema de Fubini ao cálculo do


integral é simples.

Exemplo 2.3 Volume de uma bola em R3 :


Seja B a bola centrada na origem de R3 e de raio R

B = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 < R2 }

Seja X o conjunto que se obtém de B retirando-lhe o semi-plano {y = 0 ; x ≥ 0}

X = S \ {(x, y, z) : y = 0 ; x ≥ 0}

e consideremos a transformação de coordenadas esféricas em R3

g(r, θ, φ) = (r sen φ cos θ, r sen φ sen θ, r cos φ) = (x, y, z)

Então,
X = g(T )
sendo
T = {(r, θ, φ) : 0 < r < R ; 0 < θ < 2π ; 0 < φ < π}
Tendo em conta que o semi-plano {y = 0 ; x ≥ 0} tem medida nula em R3 e, aplicando o
teorema da mudança de coordenadas e o teorema de Fubini, obtemos
Z 2π Z π Z R ! !
4
Z
2
vol3 (B) = vol3 (X) = r sen φdrdθdφ = r sen φdr dφ dθ = πR3 .
2
T 0 0 0 3

Tal como nos exemplos anteriores, o conjunto T é um intervalo e a aplicação do teorema de


Fubini ao cálculo do integral triplo é bastante simples.

6
z

PSfrag replacements
0
y

Figura 7: Calote esférica

Exemplo 2.4 Volume de uma calote esférica em R3 :


Seja S a calote esférica, representada na figura 7 e definida por
S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 < R2 ; z > h}
e seja X o conjunto que se obtém de S retirando-lhe o semi-plano {y = 0 ; x ≥ 0}
X = S \ {(x, y, z) : y = 0 ; x ≥ 0}
Sendo S uma porção de uma bola em R3 , consideremos a tranformação de coordenadas esféricas
g(r, θ, φ) = (r sen φ cos θ, r sen φ sen θ, r cos φ) = (x, y, z)
h
Da condição z > h, obtemos r > cos φ e, portanto,

X = g(T )
em que
h h
T = {(r, θ, φ) : 0 < θ < 2π ; 0 < φ < arccos( ); < r < R}
R cos φ
Assim, o volume de S é dado por
vol3 (S) = vol3 (X)
Z 2π Z h
! !
arccos( R ) Z R
2
= r sen φ dr dφ dθ
h
0 0 cos φ
h
arccos( R )
h3
 

Z
3
= sen φ R − dφ
3 0 cos3 φ
e, tendo em conta que  
d 1 sen x
=2
dx cos2 x cos3 x
obtemos
π
2R3 − 3R2 h + h3

vol3 (S) =
3
Por outro lado, a calote esférica S também apresenta simetria cilı́ndrica em torno do eixo z e,
portanto, consideremos a transformação de coordenadas cilı́ndricas
g(ρ, θ, z) = (ρ cos θ, ρ sen θ, z) = (x, y, z)

7

Da inequação x2 + y 2 < R2 − z 2 obtemos ρ < R2 − z 2 e então

X = g(T )

em que p
T = {(ρ, θ, z) : h < z < R ; 0 < θ < 2π ; 0 < ρ < R2 − z 2 }
Assim, o volume de S é dado por

vol3 (S) = vol3 (X)


Z
= ρ dρdθdz
T
√ ! !
Z 2π Z R Z R2 −z 2
= ρ dρ dz dθ
0 h 0
Z R
= π (R2 − z 2 )dz
h
π
2R3 − 3R2 h + h3

=
3

Exemplo 2.5 Volume de um cone em R3 :


Seja S o cone representado na figura 8 e definido por
p
S = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < z < h}

em que h > 0.

PSfrag replacements

0 y

Figura 8: Cone em R3

Para cada valor de z temos um cı́rculo de raio z, ou seja, S apresenta simetria cilı́ndrica com
eixo em z e, portanto, consideremos a transformação de coordenadas cilı́ndricas

g(ρ, θ, z) = (ρ cos θ, ρ sen θ, z) = (x, y, z)

Seja X o conjunto
p que se obtém de S retirando-lhe o plano {y = 0 ; x ≥ 0}.
Das condições x2 + y 2 < z < h obtemos ρ < z < h e, portanto,

X = g(T )

8
em que
T = {(ρ, θ, z) : 0 < θ < 2π ; 0 < ρ < h ; ρ < z < h}
O volume de S é, então, dado por
vol3 (S) = vol3 (X)
Z 2π Z ! !
h Z h
= ρ dz dρ dθ
0 0 ρ
Z h
= 2π ρ(h − ρ)dρ
0
π 3
= h
3

Exemplo 2.6 Consideremos o sólido V representado na figura 9 e descrito por


V = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 < 1 + z 2 ; x2 + y 2 + z 2 < 5 ; z > 0}


5


2

PSfrag replacements

0
1 y

Figura 9:


Das inequações x2 + y 2 + z 2 < 5 e z > 0, obtemos 0 < z < 5. Por outro lado, as superfı́cies
dadas, respectivamente, por x2 + y 2 = 1 + z 2 e x2 + y 2 + z 2 = 5 intersectam-se segundo a linha
dada pelas equações √
z = 2 ; x2 + y 2 = 3
É claro que V apresenta simetria cilı́ndrica relativa ao eixo z. Assim, em coordenadas cilı́ndricas
(ρ, θ, z), V é descrito por
√ √
i) Para 0 < z < 2, temos 0 < θ < 2π ; 0 < ρ < 1 + z 2
√ √ √
ii) Para 2 < z < 5, temos 0 < θ < 2π ; 0 < ρ < 5 − z 2
Portanto, pelo teorema da mudança de coordenadas, o volume de V pode ser calculado da
seguinte maneira
Z 2π Z √2 Z √1+z2 ! ! Z 2π Z √5 Z √5−z2 ! !
vol3 (V ) = ρdρ dz dθ + √ ρdρ dz dθ
0 0 0 0 2 0
√ √
Z 2 Z 5
= π (1 + z 2 )dz + π √ (5 − z 2 )dz
0 2
√ √
10 5 − 8 2
= π
3

9
Exemplo 2.7 Seja S ⊂ R2 a região representada na figura 10 e definida por
x π x
S = {(x, y) ∈ R2 : −x ≤ y ≤ π − x, − ≤y≤ }
2 4 2
e consideremos função f : R2 → R definida por

f (x, y) = sen(x + y) cos(x − 2y)

x
y= 2
y

PSfrag replacements v

π
2 S
T

0 π u
x

y = −x

Figura 10:

R
Para calcular o integral S
f consideremos a transformação linear (u, v) = g(x, y) definida por

u = x+y
v = x − 2y

Note-se que através desta transformação a função f passa a ser o produto de duas funções de
uma variável cada. Este facto irá certamente simplificar o cálculo do integral.
Sendo linear, para que g seja uma mudança de coordenadas basta que a matriz que a representa
seja não singular. (Recorde-se que para uma transformação linear a matriz que a representa e a
sua derivada coincidem). Assim, g é uma mudança de coordenadas porque
 
1 1
det Dg(x, y) = = −3 6= 0
1 −2

É de salientar que a transformação g permite mudar das coordenadas (u, v) para as coordenadas
(x, y) e o que se pretende é a mudança inversa.
No entanto, a transformação inversa g −1 é também uma mudança de coordenadas e
1
det Dg −1 (u, v) = −
3
Assim, seja T ⊂ R2 tal que S = g −1 (T ). Da definição de S, obtemos
π
T = {(u, v) : 0 ≤ u ≤ π ; 0 ≤ v ≤ }
2

10
Usando o teorema da mudança de coordenadas, obtemos,
Z Z Z Z
f (x, y)dxdy = f (g −1 (u, v)) |det Dg −1 (u, v)|dudv
S T
Z π2 !
1 π
Z
= sen(u) cos(v)dv du
3 0 0
Z π  Z π !
1 2
= sen(u)du cos(v)dv
3 0 0
2
=
3

Exemplo 2.8 Seja S ⊂ R2 a região representada na figura 11 e definida por

S = {(x, y) ∈ R2 : 1 < xy < 2 ; x > 0 ; x < y < 3x}.

e consideremos o integral em S da função definida por


y
f (x, y) =
x(1 + x2 y 2 )

v y
PSfrag replacements y = 3x
3

T y=x
S

1 xy = 2
xy = 1

0 1 2 u 0 x

Figura 11:

Note-se que S é um conjunto limitado e que a função f é limitada e contı́nua em S e, portanto,


o respectivo integral existe.
Tendo em conta que S pode ser dado por
y
S = {(x, y) ∈ R2 : 1 < xy < 2 ; x > 0 ; 1 < < 3}.
x
y
e a função f depende do produto xy e da razão x, consideremos a transformação (u, v) = g(x, y)
definida por

u = xy
y
v =
x
Então,
T = g(S) = {(u, v) : 1 < u < 2 ; 1 < v < 3}

11
ou seja, a função g transforma S no rectângulo T = g(S).
Vejamos que g é uma mudança de coordenadas em S. É claro que g é de classe C 1 . Da
definição de g, obtemos
r
u
x =
v

y = uv

e, portanto, g é invertı́vel, ou seja, injectiva.


A derivada de g é dada pela matriz
 
y x
Dg(x, y) =
− xy2 1
x

e, tendo em conta que, y > x > 0, temos


y
det Dg(x, y) = 2 >0
x
Portanto, g é uma transformação de coordenadas.
Aplicando o teorema da mudança de coordenadas e, tendo o cuidado de notar que a trans-
formação de coordenadas a usar é a função g −1 e que
1
det Dg −1 (u, v) =
2v
obtemos
Z Z Z Z
f (x, y)dxdy = f (g −1 (u, v)) |det Dg −1 (u, v)|dudv
S T
Z Z 2 3 
1 1
= 2
du dv
2 1 1 1+u
= arctan(2) − arctan(1)

Exemplo 2.9 Seja S o cı́rculo centrado na origem de R2 e de raio R e consideremos a função


definida por
2 2
f (x, y) = e−(x +y )
Para calcular o integral de f em S consideremos a mudança de coordenadas polares

g(r, θ) = (r cos θ, r sen θ)

Do exemplo 1.1 sabemos que


g(T ) = S
em que
T = {(r, θ) : 0 < r < R ; 0 < θ < 2π}
Assim, temos
Z Z
f (x, y)dxdy = f (g(r, θ)) |det Dg(r, θ)|drdθ
S T
Z 2π !
Z R
2
= re−r dr dθ
0 0
Z R
2
= 2π re−r dr
0
2
= π(1 − e−R )

12
Note-se que se aplicarmos o teorema de Fubini ao cálculo do integral em coordenadas (x, y),
obtemos Z Z R Z √R2 −x2 !
−x2 −y 2
f (x, y)dxdy = e √ e dy dx
S −R − R2 −x2

e este integral não é facilmente calculável por não termos á disposição uma primitiva para a função
2
e−x .
2
Em coordendas polares este problema não existe porque a função a integrar é dada por re −r
cuja primitivação é imediata.

Referências
[1] Luı́s T. Magalhães. Integrais Múltiplos. Texto Editora, 1996.
[2] W. Rudin. Principles of Mathematical Analysis. McGraw Hill, 1996.

13
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 11)

1 Integrais em Variedades
1.1 Integral de Linha de um Campo Escalar. Comprimento
Sejam A e B dois pontos em Rn . Designemos por ]A, B[ o segmento de recta entre os pontos
A e B. É claro que o comprimento de ]A, B[ é dado pela norma kB − Ak. O segmento de
recta ]A, B[ pode ser descrito pela parametrização γ :]0, 1[→ Rn , definida por

γ(t) = A + t(B − A).

Note-se que, sendo γ ′ (t) = B − A, temos


Z 1 Z 1
kB − Ak = kB − Akdt = kγ ′ (t)kdt
0 0
Z 1
e, portanto, o comprimento do segmento de recta [A, B] é dado pelo integral kγ ′ (t)kdt.
0
Seja Γ uma linha descrita por uma parametrização γ : ]a, b[ → Rn . Para definir o compri-
mento de Γ podemos recorrer ao procedimento ilustrado na figura 1.
γ(t2 )
x = γ(t)
γ(t3 )
γ(t1 )

γ(t4 )
γ
A = γ(t0 )

B = γ(t5 )

t0 t1 t2 t t3 t4 t5

Figura 1: Comprimento de uma linha


Consideremos a linha poligonal constituı́da por segmentos de recta entre os pontos

γ(t0 ), γ(t1 ), γ(t2 ), · · · , γ(tN ),

em que a = t0 < t1 < t2 < · · · < tN = b com N ∈ N. Note-se que na figura 1 temos N = 5.
É fácil aceitar que o comprimento desta linha poligonal é uma aproximação por defeito
do comprimento da linha Γ. Note-se também que o comprimento da linha poligonal cresce à
medida que N → ∞.
Assim, se tomarmos o supremo dos comprimentos das linhas poligonais obtidas desta forma
teremos uma boa definição de comprimento da linha Γ.
Dado que o comprimento da linha poligonal é dado por
N
X
kγ(tk ) − γ(tk−1 k
k=1

o comprimento da linha Γ será definido por


N
X
l(Γ) = sup { kγ(tk ) − γ(tk−1 k}.
N ∈N
k=1

Note-se que, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, temos


Z tk
γ(tk ) − γ(tk−1 = γ ′ (t)dt
tk−1

e, portanto,
N
X N Z
X tk Z b
kγ(tk ) − γ(tk−1 k ≤ kγ (t)kdt =

kγ ′ (t)kdt.
k=1 k=1 tk−1 a

Assim, teremos a seguinte definição de comprimento de uma linha Γ.

Definição 1.1 Chama-se comprimento de uma linha Γ ⊂ Rn descrita pela parametrização


γ : ]a, b[ → Rn ao integral definido por
Z b
l(Γ) = ||γ ′ (t)||dt.
a

Tendo em conta as aplicações, vamos adoptar a seguinte definição de integral de linha de


um campo escalar.

2
Definição 1.2 Seja φ : Rn → R um campo escalar e consideremos uma linha Γ ⊂ Rn
descrita pela parametrização γ : ]a, b[ → Rn .
Chama-se Integral de Linha do Campo Escalar φ ao longo da linha Γ ao
integral definido por Z Z b
φ= φ(γ(t))||γ ′ (t)||dt
Γ a

1.1.1 Aplicações
a) Comprimento de uma Linha
Seja φ ≡ 1. Então, o integral de linha de φ
Z Z b
φ= ||γ ′ (t)||dt = l(Γ)
Γ a

é o comprimento da linha Γ.

b) Massa de um fio
Seja φ : S → R a densidade de massa por unidade de comprimento do material que
constitui um fio descrito por uma parametrização γ : ]a, b[ → Rn . Então, o integral de
linha de φ Z Z b
φ= φ(γ(t))||γ ′ (t)||dt = M
Γ a
é a massa M do fio.

c) Centro de massa
Seja δ : S → R a densidade de massa por unidade de comprimento do material que
constitui um fio de massa M descrito por uma parametrização γ : ]a, b[ → Rn e seja
1
φ(x) = xi δ(x); i = 1, 2, . . . , n
M

O centro de massa é o ponto de coordenadas (x1 , x2 , . . . , xn ) calculadas da forma se-


guinte Z b
1
xi = gi (t)δ(γ(t))||γ ′(t)||dt ; i = 1, 2, . . . , n
M a

d) Momento de inércia
Seja L uma linha recta e designemos por dL (x) a distância do ponto x ∈ Rn à linha
L.

3
O momento de inércia da linha Γ relativo à recta L é o integral de linha da função
φ(x) = δ(x)d2L (x) , ou seja,
Z b
IL = δ(γ(t))d2L(γ(t))||γ ′ (t)||dt
a

1.1.2 Exemplos
1. Seja Γ uma circunferência de raio R e centro na origem de R2 , (ver Figura 2) e descrita
por
γ(t) = (R cos t, R sen t) ; 0 < t < 2π

0 R x

Figura 2: Uma circunferência de raio R em R2

Então, o comprimento de Γ é dado por


Z Z 2π
l(Γ) = ||γ (t)||dt =

Rdt = 2πR
Γ 0

2. Consideremos a parábola P definida pela equação y = x2 , com −1 < x < 1 e que se


apresenta na Figura 3.
Seja γ : ] − 1, 1[ → R2 a parametrização de P definida por g(t) = (t, t2 ).
Então, √
kγ ′ (t)k = k(1, 2t)k = 1 + 4t2
e, portanto, o comprimento de P será dado por
Z 1√ Z 1 √
l(P ) = 2
1 + 4t dt = 2 1 + 4t2 dt.
−1 0

Para calcular este integral recorremos à mudança de variável definida por 2t = sh θ, em


que
eθ − e−θ
sh θ = .
2
4
Sabendo que
eθ + e−θ
ch θ = ,
2
é fácil ver que se tem
ch2 θ − sh2 θ = 1
e
sh′ θ = ch θ ; ch′ θ = sh θ.

Note-se que
sh θ = 0 ⇔ eθ = e−θ ⇔ θ = 0
e √ √
sh θ = 4 ⇔ e2θ − 4eθ − 1 = 0 ⇔ eθ = 2 + 5 ⇔ θ = ln(2 + 5).

Portanto, teremos
Z 1√ √
Z ln(2+ 5)
l(P ) = 2 1 + 4t2 dt = ch2 θdθ
0 0
" √ #
1 (2 + 5)2 1 √
= − √ + 2 ln(2 + 5) .
4 2 2(2 + 5)2

-1 0 1 x

Figura 3: Uma parábola em R2

3. Seja Γ um fio de um material cuja densidade de massa é dada por


1
δ(x, y) = p
1 + x2 + y 2
e tem a configuração de uma espiral descrita por (ver Figura 4)
γ(t) = (t cos t, t sen t) ; 0 < t < 4π.

Então
√ 1
kγ ′ (t)k = k(cos t − t sen t, sen t + t cos t)k = 1 + t2 ; δ(γ(t)) = √
1 + t2

5
y

0 x

Figura 4: Uma espiral em R2

e, portanto, a massa de Γ será dada por


1 √
Z 4π Z 4π
M= δ(γ(t))||γ (t)||dt =

√ 1 + t2 dt = 4π
0 0 1 + t2
A coordenada y do centro de massa é dada por
1 √
Z 4π Z 4π
1 1 1
Z
y= yδ(x, y) = t sen t √ 2
1 + t dt = t sen tdt = −1
M Γ 4π 0 1 + t2 4π 0

4. Seja Γ ⊂ R3 um fio de um material com densidade de massa δ(x, y, z) = z e cuja


configuração é a de uma hélice cilı́ndrica descrita por (ver Figura 5)
γ(t) = (cos t, sen t, t) ; 0 < t < 4π

x
y

Figura 5: Hélice cilı́ndrica em R3


Então ||γ ′(t)|| = 2 e o momento de inércia de Γ relativo ao eixo z é dado pelo
integral de linha Z
2
√ Z 2
4π √
Iz (Γ) = z(x + y ) = 2 tdt = 8 2 π 2
Γ 0

6
Nota 1.1 A fórmula do comprimento de uma linha Γ, parametrizada por uma função
γ : ]a, b[ → Rn ,
Z b
l(Γ) = kγ ′ (t)kdt,
a
pode ser escrita noutra forma.
De facto, p
kγ ′ (t)k = γ ′ (t) · γ ′ (t)
e, se tivermos em conta que a derivada γ ′ (t) é representada por uma matriz com n linhas
e uma coluna, teremos
p p
kγ ′ (t)k = γ ′ (t) · γ ′ (t) = γ ′ (t)t γ ′ (t),

em que γ ′ (t)t designa a matriz transposta de γ ′ (t).


Sabendo que γ ′ (t)t γ ′ (t) é uma matriz com uma linha e uma coluna, teremos

γ ′ (t)t γ ′ (t) = det(γ ′ (t)t γ ′ (t))

e, portanto, Z bp
l(Γ) = det(γ ′ (t)t γ ′ (t))dt.
a
Veremos, mais adiante, que para o cálculo da área de uma superfı́cie ou, mais geral-
mente, para o cálculo do volume-m de uma variedade-m teremos uma fórmula semelhante.

1.2 Área de uma superfı́cie


Seja {e1 , e2 } uma base ortonormada em R2 e consideremos o paralelogramo determinado
por dois vectores {t1 , t2 }. É sabido, da Álgebra Linear, que a área do paralelogramo é dada
pelo determinante da matriz cujas colunas são os vectores t1 , t2 escritos na base {e1 , e2 } .
Por exemplo, considerando a base canónica em R2 , a área do paralelogramo definido
pelos vectores t1 = (2, 0) e t2 = (1, 1) é dada por
 
2 1
det =2
0 1

Consideremos dois vectores linearmente independentes {t1 , t2 } em R3 e o paralelogramo


por eles determinado. Note-se que este paralelogramo é um subconjunto do plano gerado
pelos dois vectores t1 e t2 . Seja P esse plano.
Pelo processo de ortogonalização de Gram-Schmidt aplicado a {t1 , t2 } obtemos uma
base ortonormada {e1 , e2 } de P da seguinte maneira:
t1
e1 =
|t1 |
v2
e2 =
|v2 |

7
em que
v2 = t2 − ht2 , e1 ie1
Note-se que hv2 , e1 i = 0 e, portanto
|v2 |2 = hv2 , t2 i = ht2 , t2 i − ht2 , e1 i2 = |t2 |2 − ht2 , e1 i2
Assim, podemos exprimir t1 e t2 na base ortonormada {e1 , e2 } , da seguinte forma
t1 = |t1 | e1
p
t2 = ht2 , e1 i e1 + |t2 |2 − ht2 , e1 i2 e2
ou seja,
t1 = |t1 | e1
s
ht2 , t1 i ht2 , t1 i2
t2 = e1 + |t2 |2 − e2
|t1 | |t1 |2
e, portanto, a área do paralelogramo definido por t1 e t2 é o determinante
 
ht2 ,t1 i
|t1 | |t1 |
  p
det 
  = |t1 |2 |t2 |2 − ht2 , t1 i2
q 2

0 |t2 |2 − ht|t2 ,t1 |12i

Por outro lado, seja ∆ a matriz cujas colunas são os vectores t1 e t2 . Então
 
ht1 , t1 i ht1 , t2 i
det ∆t ∆ =  2 2
 = |t1 | |t2 | − ht2 , t1 i
2
 

ht2 , t1 i ht2 , t2 i
Assim,√concluimos que a área do paralelogramo determinado pelos vectores t1 e t2 é
dada por det ∆t ∆.
Estas observações motivam a seguinte definição de área de uma variedade de dimensão
2 (superfı́cie) em R3 .

Seja S ⊂ R3 uma variedade de dimensão 2 e seja g : T → R3 a respectiva parame-


trização. Então Z p
vol2 (S) = det Dg(t)t Dg(t)dt
T

1.3 Integral de um Campo Escalar sobre uma Variedade


Seja S ⊂ Rn uma variedade de dimensão p e g : T → Rn uma parametrização de S.
Seja φ : Rn → R um campo escalar.

8
Define-se o integral do campo escalar φ sobre S como sendo o integral
Z Z p
φ= φ(g(t)) det Dg(t)t Dg(t)dt
S T

De seguida apresentam-se casos de campos escalares com interesse nas aplicações em


que S ⊂ R3 é uma superfı́cie descrita por uma parametrização g : T → R3 .

a) Área: Seja φ = 1. Então, o integral de φ é a área de S


Z Z p
vol2 (S) = φ= det Dg(t)t Dg(t)dt
S T

b) Massa: Suponhamos que S representa uma folha de um material com densidade


de massa por unidade de área φ. Então, o integral de φ é a massa de S
Z Z p
M= φ= φ(g(t)) det Dg(t)tDg(t)dt
S T

c) Centro de Massa: Seja S uma folha de um material com densidade de massa α.


Então, o centro de massa de S é o ponto de coordenadas (x, y, z) determinadas por

1 1
Z Z p
x = xα = g1 (t)α(g(t)) det Dg(t)t Dg(t)dt
M S M T
1 1
Z Z p
y = yα = g2 (t)α(g(t)) det Dg(t)t Dg(t)dt
M S M T
1 1
Z Z p
z = zα = g3 (t)α(g(t)) det Dg(t)tDg(t)dt
M S M T

d) Momento de Inércia relativo a uma linha recta: Seja L uma linha recta e
S uma folha de um material com densidade α. Então, o momento de inércia de S
relativo a L é o integral
Z Z p
2
IL (S) = αdL = α(g(t))d2L(g(t)) det Dg(t)tDg(t)dt
S T

em que dL designa a distância à linha L.

1.4 Exemplos
i) Consideremos a superfı́cie esférica de raio R e centrada na origem que designaremos
por S 2 .
S 2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = R2 }

9
Seja g : T → R3 a função dada por
g(θ, φ) = (R sen φ cos θ, R sen φ sen θ, R cos φ)
em que
T =]0, 2π[×]0, π[⊂ R2
Então g é uma função de classe C 1 , injectiva, cuja derivada
 
−R sen φ sen θ R cos φ cos θ
Dg(θ, φ) =  R sen φ cos θ R cos φ sen θ 
0 −R sen φ
tem caracterı́stica igual a dois e
g(T ) = S 2 \ {(x, y, z) ∈ S 2 : y = 0 ; x ≥ 0} = S 2 \ N
ou seja, g é uma parametrização de S 2 \ N. (Ver figura 6).

S2

x N y

Figura 6: Parametrização da esfera

Note-se que
R2 sen2 φ 0
 
t
Dg(θ, φ) Dg(θ, φ) =
0 R2
e, portanto p
det Dg(θ, φ)tDg(θ, φ) = R2 sen φ
Sendo N uma semicircunferência sobre S 2 , temos
Z p
2 2
vol2 (S ) = vol2 (S \ N) = det Dg(θ, φ)tDg(θ, φ)dθdφ
ZT2π Z π 
2
= R sen φdφ dθ
0 0
Z π
2
= 2πR sen φdφ
0
= 4πR2

10
ii) Consideremos a superfı́cie definida por

P = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z < 1}

Em coordenadas cilı́ndricas, P é descrita pela equação z = ρ2 .


Portanto, consideremos a função g : T → R3 definida por

g(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, ρ2 )

em que
T =]0, 1[×]0, 2π[⊂ R2

Esta função é de classe C 1 , injectiva e a sua derivada


 
cos θ −ρ sen θ
Dg(ρ, θ) =  sen θ ρ cos θ 
2ρ 0

tem caracterı́stica igual a dois. Para além disso,

g(T ) = P \ {(x, y, z) ∈ P : x ≥ 0 ; y = 0} = P \ N

x y

Figura 7: Parametrização de um parabolóide

Portanto, a função g é uma parametrização de P \ N. (Ver figura 7).


Note-se que
1 + 4ρ2 0
 
t
Dg(ρ, θ) Dg(ρ, θ) =
0 ρ2
e, portanto, p p
det Dg(ρ, θ)t Dg(ρ, θ) = ρ 1 + 4ρ2

11
Sendo N uma linha sobre P , temos,
Z p
vol2 (P ) = vol2 (P \ N) = det Dg(ρ, θ)t Dg(ρ, θ)dρdθ
T
Z 2π Z 1 p 
= 2
ρ 1 + 4ρ dρ dθ
0 0
π 1
Z p
= 12ρ 1 + 4ρ2 dρ
6 0
π 3/2
= (5 − 1)
6
iii) Seja C a superfı́cie cónica definida por
p
C = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < x2 + y 2 = z < 1}

Em coordenadas cilı́ndricas C é descrita pela equação z = ρ e, portanto, tal como


no exemplo anterior, consideremos a função g : T → R3 definida por
g(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, ρ)
em que
T =]0, 1[×]0, 2π[⊂ R2
Esta função é de classe C 1 , injectiva e a sua derivada
 
cos θ −ρ sen θ
Dg(ρ, θ) =  sen θ ρ cos θ 
1 0
tem caracterı́stica igual a dois. Para além disso,
g(T ) = C \ {(x, y, z) ∈ M : x ≥ 0 ; y = 0} = C \ N

Portanto, a função g é uma parametrização de C \ N. (Ver figura 8).


Note-se que √
det Dg(ρ, θ)tDg(ρ, θ) = 2ρ
Sendo N um segmento de recta sobre C, temos,
Z p
vol2 (C) = vol2 (C \ N) = det Dg(ρ, θ)tDg(ρ, θ)dρdθ
T
Z 2π Z 1 √ 
= 2 ρdρ dθ
0 0
√ Z 1
= 2π 2ρdρ
0

= 2π

12
z

x y

Figura 8: Parametrização de um cone

iv) Consideremos a porção do plano, representado na figura 9, definido por

Π = {(x, y, z) ∈ R3 : x + y + z = 1 ; x > 0 ; y > 0 ; z > 0}

e a respectiva parametrização g : T → R3 dada por

g(x, y) = (x, y, 1 − x − y)

em que
T = {(x, y) ∈ R2 : 0 < x < 1 ; 0 < y < 1 − x}.

Π
y

Figura 9: Parametrização de um plano

Sendo  
1 0
Dg(x, y) =  0 1 
−1 −1

13
obtemos
Z √
vol2 (Π) = 3dxdy
T
Z 1 Z 1−x √ 
= 3dy dx
0 0
√ Z 1
= 3 (1 − x)dx
0

3
=
2

v) Consideremos o toro com raios R e r definido por


p
T 2 = {(x, y, z) ∈ R3 : ( x2 + y 2 − R)2 + z 2 = r 2 }

ou seja, a superfı́cie que se obtém fazendo rodar em torno do eixo z a circunferência


no plano xz com centro em (R, 0) e raio r e descrita pelo ângulo φ , contado a
partir do plano z = 0 no sentido positivo. Designemos por θ o ângulo de rotação
em torno do eixo z e medido a partir do eixo x no sentido positivo.

z
T2
z

φ
N x
x y

Figura 10: Parametrização de um toro

Seja
D = {(θ, φ) ∈ R2 : 0 < θ < 2π , 0 < φ < 2π}
e g : D → R3 definida por

g(θ, φ) = ((R + r cos φ) cos θ , (R + r cos φ) sen θ , r sen φ)

Facilmente se verifica que g é de classe C 1 e injectiva e a respectiva derivada


 
−(R + r cos φ) sen θ −r sen φ cos θ
Dg(θ, φ) =  (R + r cos φ) cos θ −r sen φ sen θ 
0 r cos φ

14
tem caracterı́stica igual a dois. Portanto, g é uma parametrização de

T2 \ N

em que
N = {(x, y, z) : z = 0} ∪ {(x, y, z) : y = 0}
tal como se representa na figura 10.
Sendo N a união de duas linhas em T 2 , temos
Z p
2 2
vol2 (T ) = vol2 (T \ N) = det Dg(θ, φ)tDg(θ, φ)dθdφ
D
Z 2π Z 2π 
= r(R + r cos φ)dθ dφ
0 0
2
= 4π Rr

vi) Consideremos a superfı́cie dada por

H = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 = z 2 + 1 , 0 < z < 1}

e que representa uma folha de um material com densidade de massa dada por
1
α(x, y, z) = √ .
2z 2 + 1

Em coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z) esta superfı́cie é descrita pela equação ρ2 =


z 2 + 1 e, portanto, consideremos a função g : T → R3 definida por
√ √
g(θ, z) = (( z 2 + 1) sen θ , ( z 2 + 1) cos θ , z)

em que
T = {(θ, z) ∈ R2 : 0 < θ < 2π ; 0 < z < 1}

Então, g é de classe C 1 , injectiva e a respectiva derivada


 √ 
−( z 2 + 1) sen θ √zz2 +1 cos θ
 √
Dg(θ, z) =  ( z 2 + 1) cos θ √zz2 +1 sen θ 

0 1

tem caracterı́stica igual a dois, ou seja é uma parametrização de H \ N em que

N = {(x, y, z) : y = 0 , x ≥ 0}

tal como se representa na figura 11.

15
z

x
y

Figura 11: Parametrização de um hiperbolóide

A massa de C é dada por


Z Z 2π Z 1 p

M= α = t
α(g(θ, z)) det Dg(θ, z) Dg(θ, z)dz dθ
C 0 0
Z 2π Z 1 √

1
= √ 2
2z + 1 dz dθ
0 0 2z 2 + 1
= 2π

A coordenada z do centro de massa de C é dada por


Z 2π Z 1 
1 1
Z p
z= zα = t
g3 (θ, z)α(g(θ, z)) det Dg(θ, z) Dg(θ, z)dz dθ
M C 2π 0 0
Z 2π Z 1 
1
= zdz dθ
2π 0 0
1
=
2
p
Seja dz (x, y, z) = x2 + y 2 a distância ao eixo z . O momento de inércia de C
relativo ao eixo z é dado por
Z Z p
2
Iz = αdz = α(g(θ, z))d2L(g(θ, z)) det Dg(θ, z)t Dg(θ, z)dθdz
C T
Z 2π Z 1 
2
= (z + 1)dz dθ
0 0

=
3

16
1.5 Integral de linha de um campo vectorial. Trabalho

Definição 1.3 Seja S ⊂ Rn um aberto e F : S → Rn um campo vectorial e consideremos


uma linha Γ ⊂ S representada pelo caminho g : [a, b] → Rn de classe C 1 (caminho
regular).
Ao integral Z Z b
F · dg = F (g(t)) · g ′ (t)dt
Γ a
chamamos integral de linha do campo vectorial F ao longo do caminho g ou, trabalho
realizado pelo campo F ao longo do caminho g.

Sendo g de classe C 1 , consideremos a sua derivada


g(t + h) − g(t)
g ′ (t) = lim .
h→0 h
Tal como se ilustra na Figura 12, a derivada g ′(t) define a direcção da tangente à linha Γ
no ponto P = g(t). Note-se que à medida que h → 0 a secante [P, Q] vai-se transformando
na tangente.

T = g ′(t)
P = g(t)

Q = g(t + h)
Γ

Figura 12: Tangente a uma linha

Portanto, se o campo vectorial F for, em cada ponto P = g(t) ∈ Γ , ortogonal ao vector


tangente g ′ (t) nesse ponto, então o trabalho realizado pelo campo F ao longo do caminho
g será nulo.

Teorema 1.1 Teorema Fundamental do Cálculo


Seja S ⊂ Rn um conjunto aberto, φ : S → R um campo escalar de classe C 1 e Γ ⊂ S
a linha definida pelo caminho regular g : [a, b] → Rn com inı́cio no ponto A e fim no
ponto B.

17
Então, Z
∇φ · dg = φ(B) − φ(A)
Γ

De facto, sendo A = g(a) e B = g(b), temos


Z Z b
∇φ · dg = ∇φ(g(t)) · g ′ (t)dt
Γ a
b
d
Z
= φ(g(t))dt
a dt
= φ(g(b)) − φ(g(a))
= φ(B) − φ(A)

Definição 1.4 Dado um campo vectorial F : S → Rn se existir um campo escalar φ :


S → R tal que
F (x) = ∇φ(x)
dizemos que F é um campo gradiente e que φ é o potencial escalar de F .

Consequências:
a) O integral de linha de um campo gradiente não depende do caminho. Depende apenas
do ponto inicial A e do ponto final B.

b) Se a linha Γ for fechada, ou seja, se A = g(a) = g(b) = B e se F = ∇φ , então


Z Z
F · dg = ∇φ · dg = 0
Γ Γ

Seja F um campo gradiente e de classe C 1 . Então, existe um campo escalar φ tal que
∂φ
Fi = ; i = 1, 2, . . . , n
∂xi
e, derivando em ordem a xj , obtemos

∂ ∂φ ∂ ∂φ
Dj Fi = = = Di Fj ; ∀i 6= j
∂xj ∂xi ∂xi ∂xj

18
Definição 1.5 Dado um campo vectorial F tal que

Dj Fi = Di Fj ; ∀i 6= j

diz-se que F é um campo fechado.

Assim, ser fechado é condição necessária para que um campo vectorial seja gradiente.

Exemplos:
1. Campo gravitacional:
Seja M uma massa pontual e situada na origem de R3 . O campo gravitacional gerado
pela massa M é dado por

(x, y, z) −

r
F (x, y, z) = −GM 3
= −GM −→
||(x, y, z)|| || r ||3

em que −

r = (x, y, z) e G é a constante universal da gravitação.
Facilmente se verifica que o campo gravitacional é um gradiente e o seu potencial é a
função
1 1 GM
φ(x, y, z) = GM = GM −→ =p
||(x, y, z)|| || r || x + y2 + z2
2

ou seja
 
∂φ ∂φ ∂φ
F (x, y, z) = (F1 (x, y, z), F2 (x, y, z), F3 (x, y, z)) = , ,
∂x ∂y ∂z

Note-se que o domı́nio do campo F coincide com o domı́nio do respectivo potencial φ,


ou seja, F = ∇φ em R3 \ {(0, 0, 0)}.

2. Consideremos o campo vectorial F (x, y) = (x, y) definido em R2 . Trata-se de um


campo fechado porque se tem
∂F1 ∂F2
= =0
∂y ∂x
e, portanto, há a possibilidade de que seja um gradiente. Para determinar o respectivo
potencial escalar, caso exista, consideremos as equações
∂φ

 x = ∂x

∂φ

y =

∂y

19
Da primeira equação, obtemos

x2
φ(x, y) = + K(y)
2
e da segunda equação
y2
K(y) = +C
2
em que C é uma constante.
Assim, o potencial escalar do campo F é dado por
x2 + y 2
φ(x, y) = +C
2

3. Seja F : R2 \ {(0, 0)} → R2 o campo vectorial definido por


 
x y
F (x, y) = ,
x2 + y 2 x2 + y 2

Facilmente se verifica que F é um campo fechado e que


1
F (x, y) = ∇ log(x2 + y 2)
2
ou seja, F é um campo gradiente epo respectivo potencial é o campo escalar φ definido
por φ(x, y) = 21 log(x2 + y 2 ) = log x2 + y 2 .
Tanto F como φ estão definidos no mesmo domı́nio, R2 \ {(0, 0)}.

4. Consideremos o campo vectorial F : R2 \ {(0, 0)} → R2 definido por


 
y x
F (x, y) = − 2 ,
x + y 2 x2 + y 2

Facilmente se verifica que F é um campo fechado. Note-se que para x 6= 0 , temos


y ∂ y x ∂ y
− 2 = arctan ; = arctan .
x + y2 ∂x x x2 + y 2 ∂y x

No entanto, o campo escalar φ(x, y) = arctan xy está definido no subconjunto de R2




em que x 6= 0 e, portanto, não coincide com o domı́nio do campo vectorial F que é o


2 y

conjunto R \ {(0, 0)}. Assim, a função arctan x não é um potencial escalar do campo
F.
Seja Γ uma circunferência de raio R e centro na origem e descrita pelo caminho g :
[0, 2π] → R2 definido por
g(t) = (R cos t, R sen t).

20
Então
2π  
R sen t R cos t
Z Z
F · dg = − , · (−R sen t, R cos t)dt = 2π
Γ 0 R2 R2

Sendo g um caminho fechado, concluı́mos que o campo F não é um campo gradiente


em R2 \ {(0, 0)}.
Se considerarmos o campo F como estando definido apenas no aberto {(x, y) : x > 0} ,
então F é um gradiente cujo potencial é a função
y 
φ(x, y) = arctan .
x

O mesmo se passará para o conjunto {(x, y) : x < 0} ou seja, há subconjuntos de


R2 \ {(0, 0)} em que F é um campo gradiente.
Note-se que o conjunto S = {(x, y) : x > 0} é convexo, ou seja, dados dois pontos
quaisquer P e Q em S, o segmento de recta [P, Q] está contido em S. No entanto, o
conjunto R2 \ {(0, 0)} não é convexo.
Note-se também que o integral de linha de F ao longo de uma circunferência centrada
na origem não depende do raio.

***

Deste exemplo surgem três questões importantes:

a) Será que o campo F é gradiente nos subconjuntos convexos de R2 \ {(0, 0)}?


b) Será possı́vel caracterizar os subconjuntos de R2 \ {(0, 0)} em que F é um campo
gradiente?
c) Será que o integral de linha de F ao longo de uma linha qualquer fechada em torno
da origem é igual ao integral de linha de F ao longo de uma circunferência centrada
na origem?

21
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

CDI-II

Resumo das Aulas Teóricas (Semana 12)

1 Campos Vectoriais Fechados. Homotopia


O campo vectorial F : R2 \ {(0, 0)} → R2 definido por
y x
F (x, y) = (− , 2 ),
x2 + y x + y2
2

é fechado, ou seja,
∂F1 ∂F2
= .
∂y ∂x
No entanto o respectivo integral de linha ao longo de uma circunferência CR , centrada na
origem e raio R, não é nulo. De facto, temos
Z
F · dγ = 2π,
CR

desde que CR seja percorrida uma vez no sentido directo.


Portanto, ser fechado é uma condição necessária para que um campo vectorial seja gradiente
mas não é condição suficiente.
Note-se que o integral de linha de F não depende do raio da circunferência. Seja Γ uma
linha fechada uma vez em torno da origem. Será que temos
Z Z
F · dγ = F · dγ = 2π?
Γ CR

Por outro lado, sabemos que no conjunto S = R2 \ {(0, y) : y ∈ R} o campo F tem um


potencial escalar φ(x, y) = arctan( xy ).
Portanto, o integral de linha de F ao longo de uma linha fechada Γ ⊂ S será nulo.
Seja Γ uma linha fechada mas que não se fecha em torno da origem. Será que temos
Z
F · dγ = 0?
Γ

Se assim for, basta considerar a circunferência centrada na origem e de raio igual a um para
termos o valor do integral de linha de F ao longo de qualquer linha fechada em R2 \ {(0, 0)}.
Seja Γ uma linha fechada em torno da origem e descrita pelo caminho γ : [0, 1] → R2 e
consideremos a função H : [0, 1] × [0, 1] → R2 definida por

γ(t)
H(s, t) = s + (1 − s)γ(t).
kγ(t)k

γ(t)
Note-se que a função descreve a circunferência C de raio igual a um e centro na
kγ(t)k
origem.
Por outro lado, temos
γ(t)
H(0, t) = γ(t) ; H(1, t) = .
kγ(t)k

y
Γ
Γs
γ(t)
C
P
x

Figura 1: Deformação de Γ em C

Para cada s ∈ [0, 1], a função gs : [0, 1] → R2 definida por

gs (t) = H(s, t)

descreve uma linha Γs tal como se representa na figura 1.


Fixando t ∈ [0, 1], a aplicação s 7→ H(s, t) é um caminho que descreve o segmento de recta
γ(t)
[P, γ(t)], em que P = kγ(t)k ∈ C, tal como se ilustra na figura 1.
Portanto, a função H descreve uma famı́lia de linhas que para s = 0 é a linha Γ e para
s = 1 é a circunferência C, ou seja, H descreve uma transformação contı́nua (ou deformação)
da linha Γ na circunferência C, tal como se ilustra na Figura 1.
Estas obsevações motivam a seguinte definição de linhas homotópicas em Rn .

2
Definição 1.1 Diz-se que dois caminhos fechados α, γ : [0, 1] → Rn são homotópicos se
existe uma função contı́nua H : [0, 1] × [0, 1] → Rn com as seguintes propriedades:

1. H(0, t) = α(t) ; t ∈ [0, 1]

2. H(1, t) = γ(t) ; t ∈ [0, 1]

3. H(s, 0) = H(s, 1) ; s ∈ [0, 1].

Suponhamos que a função H : [0, 1] × [0, 1] → Rn , que estabelece a homotopia entre dois
caminhos fechados é de classe C 2 .
Seja Γs a linha descrita pelo caminho gs (t) = H(s, t). Então, temos

d d 1 d 1 ∂H
Z Z Z
F = F (gs (t)) · gs (t)dt =

F (H(s, t)) · (s, t)dt
ds Γs ds 0 ds 0 ∂t
Z 1 n
!
d X ∂Hk
= Fk (H(s, t)) (s, t) dt
0 ds k=1
∂t
n X n n
Z 1 X !
∂Fk ∂Hj ∂Hk X ∂ 2 Hk
= (H(s, t)) (s, t) (s, t) + Fk (H(s, t)) (s, t) dt
0 k=1 j=1
∂x j ∂s ∂t k=1
∂s∂t
Z 1 X n X n n
!
∂Fj ∂Hj ∂Hk X ∂ 2 Hk
= (H(s, t)) (s, t) (s, t) + Fk (H(s, t)) (s, t) dt
0 k=1 j=1
∂xk ∂s ∂t k=1
∂s∂t

porque F é fechado.
É fácil verificar que
n n n
d X ∂Hj X X ∂Fj ∂Hj ∂Hk
Fj (H(s, t)) (s, t) = (H(s, t)) (s, t) (s, t) +
dt j=1 ∂s k=1 j=1
∂xk ∂s ∂t
n
X ∂ 2 Hk
+ Fk (H(s, t)) (s, t)
∂s∂t
k=1

e, portanto,
n
!
1
d d X ∂Hj
Z Z
F = Fj (H(s, t)) (s, t) dt
ds Γs 0 dt j=1 ∂s
n n
X ∂Hj X ∂Hj
= Fj (H(s, 1)) (s, 1) − Fj (H(s, 0)) (s, 0)
j=1
∂s j=1
∂s
= 0

porque H(s, 0) = H(s, 1).

3
Z
Assim, a função F não depende de s, ou seja, podemos concluir que o integral de linha
Γs
de um campo vectorial fechado é invariante para caminhos homotópicos. Dito de outro modo, o
trabalho realizado por um campo fechado tem o mesmo valor em linhas fechadas homotópicas.
Em particular, o integral de linha de um campo vectorial fechado é nulo ao longo de um
caminho fechado e homotópico a um caminho constante. Note-se que a imagem de um caminho
constante é um ponto e, portanto o trabalho realizado pelo campo nesse caminho é nulo.
Portanto, dado um campo vectorial fechado, é importante saber se no respectivo domı́nio
as linhas fechadas são homotópicas a um ponto.

Definição 1.2 Diz-se que um conjunto aberto S ⊂ Rn é simplesmente conexo se qual-


quer linha fechada Γ ⊂ S pode ser transformada continuamente num ponto P ∈ S, ou seja,
se existe uma função H : [0, 1] × [0, 1] → Rn contı́nua, com as seguintes propriedades,

1. H(0, t) = P ; t ∈ [0, 1]

2. H(1, t) = γ(t) ; t ∈ [0, 1]

3. H(s, 0) = H(s, 1) ; s ∈ [0, 1],

em que γ : [0, 1] → Rn é um caminho que descreve a linha Γ. Nestas circunstâncias, diz-se


que a linha Γ é homotópica a um ponto.

Exemplos:
1. Qualquer conjunto S ⊂ Rn convexo é simplesmente conexo. S é convexo se, dados dois
pontos P ∈ S e Q ∈ S, então o segmento de recta [P, Q] está contido em S.
Consideremos a função H : [0, 1] × [0, 1] → Rn definida por

H(s, t) = P + s(α(t) − P ).

Esta função estabelece a homotopia (deformação contı́nua) entre uma linha qualquer
fechada Γ ⊂ S, descrita pelo caminho γ : [0, 1] → Rn , e um ponto qualquer P fixo em
S, tal como se ilustra na figura 2.

2. Qualquer conjunto em estrela é simplesmente conexo. Um conjunto S ⊂ Rn diz-se em


estrela se existir um ponto P ∈ S tal que o segmento de recta [P, Q] se encontra em S
para qualquer ponto Q ∈ S.
A homotopia pode ser definida do mesmo modo do exemplo anterior.

3. O conjunto R2 \ {(0, 0)} não é simplesmente conexo. Dada uma linha fechada em torno
da origem não é possı́vel deformá-la num ponto. No entanto, qualquer linha Γ fechada
em torno da origem é homotópica à circunferência centrada na origem e raio igual a um.

4
Γ
x = γ(t)

P
Γs

Figura 2: Homotopia ou deformação de uma linha fechada num ponto

De facto, seja γ : [0, 1] → R2 o caminho que descreve a linha Γ. É claro que a função
α : [0, 1] → R2 definida por
γ(t)
α(t) =
kγ(t)k
é um caminho que descreve a circunferência centrada na origem e raio igual a um. Assim,
a função
H(s, t) = α(t) + s(γ(t) − α(t))
estabelece a referida homotopia.

4. O conjunto R3 \ L, em que L é uma semirecta, é um conjunto em estrela e, portanto, é


simplesmente conexo.

5. O conjunto R3 \ L, em que L é uma recta, não é simplesmente conexo. Não é possı́vel


deformar continuamente uma circunferência, centrada na recta L e situada sobre um
plano perpendicular a L, num ponto de R3 \ L.

6. O conjunto R3 \ {(0, 0, 0)}, não é em estrela mas é simplesmente conexo. Qualquer linha
fechada neste conjunto pode ser continuamente deformada num ponto qualquer distinto
da origem.
Assim, num conjunto simplesmente conexo o integral de linha de um campo vectorial fechado
ao longo de uma linha fechada é nulo.

***

Exemplos:
 
y x
1. Consideremos o campo F (x, y) = − x2 +y 2 , x2 +y 2
. Já sabemos que F é fechado no
2
seu domı́nio R \ {(0, 0)}. Para além disso, o integral de linha de F ao longo de qualquer
circunferência centrada na origem e percorrida uma vez no sentido positivo tem o valor
2π.

5
y

Γ
C

Figura 3:

Seja Γ uma linha fechada em torno da origem e descrita por um caminho α, tal como se
ilustra na Figura 3. É claro que Γ é homotópica à circunferência C, centrada na origem,
percorrida no mesmo sentido de Γ e descrita por um caminho g. Portanto, temos
Z Z
F · dα = F · dg = 2π.
Γ C

Se a origem não se encontrar no conjunto limitado pela linha Γ, tal como se mostra na
Figura 4, então a linha Γ será homotópica a um ponto e, portanto, o integral de linha de
F em Γ será nulo.
y

0 x

Figura 4:

6
Portanto, o integral de linha de F ao longo de uma linha fechada e percorrida uma vez
no sentido positivo só pode tomar os valores 0 e 2π.

2. Consideremos o campo
 
z x
F (x, y, z) = − 2 2
, y, 2 .
x +z x + z2

O domı́nio de F é o conjunto S = R3 \ {(0, y, 0) : y ∈ R} e facilmente se verifica que F


é um campo fechado. Embora S não seja um conjunto simplesmente conexo, as possı́veis
linhas fechadas, Γ ⊂ S, serão de dois tipos: ou serão homotópicas a um ponto ou serão
homotópicas à circunferência C definida por

C = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + z 2 = 1 ; y = 0}.

Na figura 5 ilustra-se o caso de uma linha homotópica à circunferência C.

C Γ

y
x

Figura 5:

No primeiro caso o integral de linha de F será nulo. No segundo caso, suponhamos que
Γ é homotópica à circunferência C percorrida uma vez no sentido positivo quando vista
de um ponto da forma (0, y, 0) com y > 0, tal como se ilustra na figura 5. Então,
Z Z
F · dγ = F · dg,
Γ C

em que g : [0, 2π] → R3 é o caminho que descreve C, ou seja,

g(t) = (sen t, 0, cos t).

7
Portanto, teremos
Z Z
F · dγ = F · dg
Γ
ZC2π
= (− cos t, 0, sen t) · (cos t, 0, − sen t) dt
0
= −2π

3. Consideremos o campo vectorial



x−1

y
F (x, y, z) = − , ,z .
(x − 1)2 + 4y 2 (x − 1)2 + 4y 2

e o caminho fechado que descreve a linha quadrada no plano z = 1 que une os pontos
(0, −1, 1), (2, −1, 1), (2, 1, 1), (0, 1, 1) e percorrida por esta ordem. Seja C esta linha.
Note-se que o domı́nio de F é o conjunto R3 \ {(x, y, z) ∈ R3 : x = 1 ; y = 0}.
Consideremos também a elipse Γ, definida por (x − 1)2 + 4y 2 = 1 ; z = 0, percorrida no
sentido anti-horário quando observada do ponto (1, 0, 5).
Seja γ : [0, 2π] → R3 , o caminho definido por
 
sen t
γ(t) = 1 + cos t, ,0 ,
2

e que descreve a elipse Γ.


Usando a definição para integrais de linha de campos vectoriais temos
Z Z 2π
F · dγ = F (γ(t)) · γ ′ (t) dt =
Γ 0
Z 2π    
sen t cos t
= − , cos t, 0 · − sen t, , 0 dt = π.
0 2 2

É fácil ver que o campo F é fechado. Dado que o quadrado C e a elipse Γ são linhas
fechadas e homotópicas no domı́nio deste campo, tal como se ilustra na figura 6, podemos
concluir que Z Z
F · dg = F · dγ = π,
C Γ
em que g é um caminho que descreve C.
Note-se que é fácil calcular, pela definição, o integral de linha do campo F ao longo da
elipse Γ. O mesmo não acontece para a linha C.

***

8
z

1 Γ y

Figura 6:

2 Teorema de Green no Plano


O teorema de Green permite relacionar o integral de linha ao longo de uma curva fechada
Γ com um integral duplo na região limitada pela linha Γ em R2 .
Neste texto, iremos usar a seguinte notação para o integral de linha de um campo vectorial
F = (P, Q) ao longo de uma linha Γ:
Z Z
F · dg = P dx + Qdy
Γ Γ

Ao integral de linha de um campo vectorial F sobre um caminho simples e fechado Γ


chamaremos circulação de F ao longo de Γ.

3 Domı́nio Elementar

Definição 3.1 Seja D ⊂ R2 um aberto e limitado. Diz-se que D é um domı́nio ele-


mentar se for descrito, simultaneamente, nas duas formas seguintes:

a) D = {(x, y) ∈ R2 : f (x) < y < g(x) ; a < x < b} em que f, g : ]a, b[ → R são duas
funções de classe C 1 .

b) D = {(x, y) ∈ R2 : φ(y) < x < ψ(y) ; c < y < d} em que φ, ψ : ]c, d[ → R são duas
funções de classe C 1 .

Exemplo 3.1 Um intervalo em R2 é um domı́nio elementar tal como se ilustra na figura


7.

9
y
y = g(x) = d
d

x = φ(y) = a x = ψ(y) = b
c
y = f (x) = c
a b x

Figura 7: Um intervalo é um domı́nio elementar

Exemplo 3.2 Um cı́rculo em R2 é um domı́nio elementar. Na figura 8 encontra-se um


cı́rculo de raio R e centrado na origem. Para este caso temos:
y

y = g(x)

x = φ(y)
x = ψ(y)

R x

y = f (x)

Figura 8: Um cı́rculo é um domı́nio elementar


f (x) = − R2 − x2 ; −R < x < R

g(x) = R2 − x2 ; −R < x < R
p
φ(y) = − R2 − y 2 ; −R < x < R
p
ψ(y) = R2 − y 2 ; −R < x < R

Exemplo 3.3 Um quarto de uma coroa circular no primeiro quadrante de R2 não é um


domı́nio elementar mas é a união de seis domı́nios elementares como se ilustra na figura 9.

Exemplo 3.4 Um losango é a união de quatro domı́nios elementares, D1 , D2 , D3 , D4 ,


como se pode constatar na figura 10.

10
y

Figura 9: Uma coroa circular é a união de seis domı́nios elementares

D1 D2

x
D3 D4

Figura 10: Um losango é a união de quatro domı́nios elementares

11
4 Teorema de Green

Teorema 4.1 Seja D ⊂ R2 um domı́nio elementar e Γ a sua fronteira. Consideremos o


campo vectorial F = (P, Q) : D → R2 de classe C 1 . Então,
Z Z  
∂Q ∂P
Z
− dxdy = P dx + Qdy
D ∂x ∂y Γ

em que a linha Γ é percorrida no sentido positivo.

Dado que F = (P, Q) = (P, 0) + (0, Q) e sendo o integral linear, supomos que D é descrito
na forma
D = {(x, y) ∈ R2 : f (x) < y < g(x) ; a < x < b} ,
e que F = (P, 0).
Assim, temos
!
b g(x)
∂P ∂P
Z Z Z Z
dxdy = dy dx
D ∂y a f (x) ∂y
Z b
= (P (x, g(x)) − P (x, f (x))) dx
a

Por outro lado, a linha Γ é a união de quatro linhas


Γ = Γ1 ∪ Γ2 ∪ Γ3 ∪ Γ4
definidas por
Γ1 = {(x, y) : a ≤ x ≤ b ; y = f (x)}
Γ2 = {(x, y) : x = b ; f (b) ≤ y ≤ g(b)}
Γ3 = {(x, y) : a ≤ x ≤ b ; y = g(x)}
Γ4 = {(x, y) : x = a ; f (a) ≤ y ≤ g(a)}
e percorridas no sentido positivo. Portanto,
Z Z b
F · dg = P (x, f (x))dx
Γ1 a
Z
F · dg = 0
Γ2
Z Z b
F · dg = − P (x, g(x))dx
Γ3 a
Z
F · dg = 0
Γ4

12
ou seja,
b b
∂P
Z Z Z Z Z
P dx = F · dg = P (x, f (x))dx − P (x, g(x))dx = − dxdy
Γ Γ a a D ∂y
Do mesmo modo, considerando F = (0, Q) e D descrito na forma

D = {(x, y) ∈ R2 : φ(y) < x < ψ(y) ; c < y < d} ,

obtemos
∂Q
Z Z Z
Qdy = F · dg = dxdy ,
Γ Γ D ∂x
e, portanto, Z Z  
∂Q ∂P
Z
− dxdy = P dx + Qdy
D ∂x ∂y Γ

***
Exemplo 4.1 O teorema de Green aplica-se também a uma união finita de domı́nios
elementares.
Seja D a união de dois domı́nios elementares, D1 , D2 , tal como, a tı́tulo de exemplo,
se ilustra na figura 11. Seja L a linha comum às fronteiras de D1 e D2 , ou seja,

∂D1 = Γ1 ∪ L , ∂D2 = Γ2 ∪ L

D1
L
D2

Figura 11: União de dois domı́nios elementares

Note-se que ∂D = Γ1 ∪ Γ2 .
Aplicando o teorema de Green a ambos os domı́nios, obtemos
Z Z  
∂Q ∂P
Z Z
− dxdy = P dx + Qdy + P dx + Qdy
D1 ∂x ∂y Γ1 L
Z Z  
∂Q ∂P
Z Z
− dxdy = P dx + Qdy − P dx + Qdy
D2 ∂x ∂y Γ2 L

13
Note-se que o integral de linha de um campo vectorial F ao longo de um caminho tem
o sinal contrário ao do integral de F ao longo da mesma linha mas percorrida no sentido
contrário. Portanto, adicionando ambas as equações, obtemos
Z Z  
∂Q ∂P
Z
− dxdy = P dx + Qdy
D ∂x ∂y Γ

É claro que este procedimento é válido para uma união finita de domı́nios elementares.
Uma união finita de domı́nios elementares será designada domı́nio regular.

Exemplo 4.2 Consideremos um campo fechado F = (P, Q) , ou seja,


∂Q ∂P
= .
∂x ∂y
Seja Γ uma linha fechada em R2 que limita um domı́nio elementar. Então, pelo
teorema de Green, a circulação de F ao longo de Γ é nula.
O mesmo se pode concluir para um domı́nio regular.

Exemplo 4.3 Seja D a coroa circular


D = {(x, y) ∈ R2 : 1 < x2 + y 2 < 4}
e representada na figura 12.
Seja F = (P, Q) um campo vectorial de classe C 1 .
y

Γ2
Γ1

0 x

Figura 12: Coroa circular

A fronteira Γ de D é a união da circunferência de raio igual a dois, Γ2 , percorrida no


sentido positivo, e da circunferência de raio igual a um, Γ1 , percorrida no sentido negativo.
Do exemplo 3.3, fica claro que a coroa circular D é um domı́nio regular.
Aplicando o teorema de Green, obtemos
Z Z  
∂Q ∂P
Z Z
− dxdy = P dx + Qdy + P dx + Qdy
D ∂x ∂y Γ2 Γ1

14
Para o caso em que o campo F é fechado, obtemos
Z Z
P dx + Qdy = − P dx + Qdy
Γ1 Γ2

Se as duas linhas Γ1 e Γ2 forem percorridas no sentido positivo, então


Z Z
P dx + Qdy = P dx + Qdy
Γ1 Γ2

Exemplo 4.4 Consideremos o campo vectorial F : R2 → R2 e definido por

F (x, y) = (−y, x)

e seja D um domı́nio regular cuja fronteira é a linha Γ percorrida no sentido positivo.


Sendo
∂Q ∂P
− =2
∂x ∂y
do teorema de Green obtemos
Z Z Z
2dxdy = −ydx + xdy
D Γ

ou seja, temos uma relação entre a área de D e o integral de linha de F ao longo da


fronteira
1
Z
vol2 (D) = F · dg
2 Γ
Seja S o conjunto limitado por uma elipse, definido por

x2 y 2
S = {(x, y) ∈ R2 : + < 1}
4 9
cuja fronteira Γ é descrita pelo caminho

g(t) = (2 cos t, 3 sen t) ; 0 ≤ t ≤ 2π

Então a área de S é dada por


1
Z
vol2 (S) = −ydx + xdy
2 Γ
1 2π
Z
= (−3 sen t, 2 cos t) · (−2 sen t, 3 cos t)dt
2 0
1 2π
Z
= 6dt
2 0
= 6π

15
Exemplo 4.5 Consideremos o campo vectorial F : R2 \ {(0, 1)} → R2 definido por

y−1

x
F (x, y) = − 2 ,
x + (y − 1)2 x2 + (y − 1)2
e seja Γ a fronteira do quadrilátero com vértices nos pontos
(3, 0), (0, 3), (−3, 0), (0, −3)
2
R por um caminho γ : [0, 1] → R .
percorrida no sentido positivo e descrita
Para calcular o integral de linha Γ F · dg , consideremos a região limitada por Γ e
pela circunferência C de raio igual a um e centro no ponto (0, 1) percorrida no sentido
positivo e descrita pelo caminho
g(t) = (cos t, sen t + 1) ; 0 ≤ t ≤ 2π
como se mostra na figura 13.
y

1 C

0 x

Figura 13:

Facilmente se verifica que o campo F é fechado e que a região considerada é um domı́nio


regular.
Portanto, do teorema de Green obtemos,
Z Z
F · dγ = F · dg
Γ C

Por outro lado,


Z Z 2π
F · dg = (− sen t, cos t) · (− sen t, cos t) = 2π
C 0
e, portanto, Z
F · dγ = 2π
Γ
R
Note-se que o cálculo directo do integral Γ F · dγ , pela definição, seria bastante mais
complicado.

16
Instituto Superior Técnico
Departamento de Matemática
Secção de Álgebra e Análise
Prof. Gabriel Pires

Teorema da Divergência

Nestas notas apresentaremos o teorema da divergência em R3 (Teorema de Gauss) devido ao


interesse das suas aplicações. O caso geral pode ser visto em [2].

1 Fluxo de um Campo Vectorial. Exemplos


Seja M ⊂ R3 uma variedade-2 (superfı́cie), definida por uma vizinhança de coordenadas e seja
g : T → R3 uma parametrização.
Seja F : S → R3 um campo vectorial em que S ⊂ R3 é um aberto tal que M ⊂ S. Ao integral
Z Z p
F ·ν = F (g(t)) · ν(g(t)) det Dg(t)t Dg(t)dt
M T

em que ν(x) designa a normal (unitária) a M no ponto x ∈ M , chamamos fluxo do campo


vectorial F através de M segundo a normal ν.

***
Nota 1.1 Sejam A = (a1 , a2 , a3 ) e B = (b1 , b2 , b3 ) dois vectores em R3 e consideremos o produto
externo de A por B definido por

A × B = (a2 b3 − a3 b2 , a3 b1 − a1 b3 , a1 b2 − a2 b1 )

Facilmente se verificam as seguintes propriedades


• Designando por e1 , e2 , e3 os vectores da base canónica de R3 (ver figura 1), temos

e1 × e2 = e3 ; e2 × e3 = e1 ; e3 × e1 = e2

• B × A = −A × B
• A × B é ortogonal a A e a B.

• ||A × B|| = det ∆t ∆ em que ∆ é a matriz cujas colunas são os vectores A e B.

e3
A×B

0
e2 y
e1 B
x

Figura 1: Produto externo em R3

1
Portanto, se designarmos por D1 g(t) e D2 g(t) , respectivamente, a primeira e a segunda
colunas da matriz Dg(t) , então o produto externo

D1 g(t) × D2 g(t)

é um vector normal a M no ponto x = g(t) porque as colunas da matriz Dg(t) geram o espaço
tangente a M no ponto x = g(t).
Assim, temos

• Uma normal unitária em x = g(t) é dada por

D1 g(t) × D2 g(t)
ν(g(t)) =
||D1 g(t) × D2 g(t)||
p
• det Dg(t)t Dg(t) = ||D1 g(t) × D2 g(t)||

e, portanto, p
ν(g(t)) det Dg(t)t Dg(t) = D1 g(t) × D2 g(t)
ou seja, o fluxo de F é dado por
Z Z
F ·ν = F (g(t)) · D1 g(t) × D2 g(t)dt
M T

***
Exemplo 1.1 Consideremos o campo vectorial F : R3 → R3 definido por

F (x, y, z) = (x, y, z)

Seja S 2 a superfı́cie esférica

S 2 = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 1}

cuja normal ν no ponto (0, 1, 0) tem segunda componente positiva, tal como se representa na
figura 2.

ν(x, y, z)
S2
(x, y, z)

ν(0, 1, 0)
(0, 1, 0)
y
x

Figura 2: Superfı́cie esférica S 2

Para calcular o fluxo de F através de S 2 segundo a normal ν seja

T = {(θ, φ) : 0 < θ < 2π ; 0 < φ < π}

2
e g : T → R3 a parametrização de S 2 \ N dada por

g(θ, φ) = (sen φ cos θ , sen φ sen θ , cos φ)

em que N = {(x, 0, z) : x ≥ 0}.


Então,

D1 g(θ, φ) = (− sen φ sen θ, sen φ cos θ, 0)


D2 g(θ, φ) = (cos φ cos θ, cos φ sen θ, − sen φ)

e, portanto,

D1 g(θ, φ) × D2 g(θ, φ) = (− sen2 φ cos θ, − sen2 φ sen θ, − sen φ cos φ)

No ponto (0, 1, 0) = g( π2 , π2 ) temos


π π π π
D1 g( , ) × D2 g( , ) = (0, −1, 0)
2 2 2 2
ou seja, a normal a considerar é dada por D2 g(θ, φ) × D1 g(θ, φ).
Assim, o fluxo de F através de S 2 segundo a normal ν é dado por
Z Z 2π Z π 
F ·ν = F (g(θ, φ)) · (D1 g(θ, φ) × D2 g(θ, φ))dφ dθ
S2 0 0
Z 2π Z π 
= sen φdφ dθ
0 0
= 4π

***
Podemos calcular o fluxo de F de outra forma. Sendo S 2 dada pela equação

G(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 1 = 0

então, em cada ponto (x, y, z) ∈ S 2 , a normal unitária é dada por

DG(x, y, z) (2x, 2y, 2z)


ν(x, y, z) = = p = (x, y, z)
||DG(x, y, z)|| 2 x2 + y 2 + z 2
e, portanto,
F (x, y, z) · ν(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 = 1
ou seja, Z
F · ν = vol2 (S 2 ) = 4π
S2

***
Exemplo 1.2 Seja F (x, y, z) = (x, y, z) e consideremos a superfı́cie cilı́ndrica M definida pela
equação
x2 + y 2 = 1
e tal que 0 < z < 2. Seja ν a normal unitária a M que no ponto (0, 1, 1) tem segunda componente
positiva tal como se representa na figura 3.
Da equação x2 + y 2 = 1, obtemos a normal

(2x, 2y, 0)
ν(x, y, z) = p = (x, y, 0)
2 x2 + y 2

3
z

2 M

(0, 1, 1)

1
x y

Figura 3: Superfı́cie cilı́ndrica M

e, portanto,
F (x, y, z) · ν(x, y, z) = x2 + y 2 = 1
Assim, o fluxo de F através de M segundo a normal ν é dado por
Z
F · ν = vol2 (M ) = 4π
M

***
Exemplo 1.3 Consideremos o campo vectorial

F (x, y, z) = (−y, x, 0)

e o cone
M = {(x, y, z) ∈ R3 : z 2 = x2 + y 2 ; 0 < z < 1}
Seja ν a normal unitária que em cada ponto de M tem terceira componente negativa tal como
se representa na figura 4.
Em coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z) o cone M é dado pela equação z = ρ. Então, consideremos
a função g : T → R3 definida por

g(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, ρ)

em que
T =]0, 1[×]0, 2π[
Facilmente se verifica que g é uma parametrização de M \ N em que

N = {(x, y, z) ∈ M : y = 0 ; x ≥ 0}

é uma linha sobre M .


Então

D1 g(ρ, θ) = (cos θ, sen θ, 1)


D2 g(ρ, θ) = (−ρ sen θ, ρ cos θ, 0)

e, portanto,
D2 g(ρ, θ) × D1 g(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, −ρ)

4
z

M
1

(x, y, z)

x y

Figura 4: O cone M

e o fluxo de F através de M segundo a normal ν é dada por


Z Z Z 1 Z 2π 
F ·ν = F ·ν = F (g(ρ, θ)) · D2 g(ρ, θ) × D1 g(ρ, θ)dθ dρ
M M\N 0 0
Z 1 Z 2π 
= (−ρ sen θ, ρ cos θ, 0) · (ρ cos θ, ρ sen θ, −ρ)dθ dρ
0 0
= 0

***
Note-se que, da equação G(x, y, z) = x2 + y 2 − z 2 = 0 que define M , podemos calcular a normal
unitária
DG(x, y, z) (2x, 2y, −2z)
ν(x, y, z) = = p
||DG(x, y, z) 2 x2 + y 2 + z 2
Então
(2x, 2y, −2z)
F (x, y, z) · ν(x, y, z) = (−y, x, 0) · p =0
2 x2 + y 2 + z 2
e, portanto, o fluxo de F através de M segundo a normal ν é nulo.

***
Exemplo 1.4 Seja F (x, y, z) = (−y, x, 1) e consideremos a superfı́cie M definida por

M = {(x, y, z) ∈ R3 : z = x2 + y 2 , z < 1

Seja ν a normal a M que no ponto (0, 0, 0) tem terceira componente negativa tal como se
representa na figura 5.
Em coordenadas cilı́ndricas (ρ, θ, z), a superfı́cie M é dada pela equação z = ρ2 . Então, seja
g :]0, 1[×]0, 2π[→ R3 dada por
g(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, ρ2 )
Facilmente se verifica que g é uma parametrização de M \ N em que

N = {(x, y, z) : y = 0; x ≥ 0}

5
z

M
1

(x, y, z)

x ν(0, 0, 0) y

Figura 5: Parabolóide M

é uma linha sobre M e

D1 g(ρ, θ) = (cos θ, sen θ, 2ρ)


D2 g(ρ, θ) = (−ρ sen θ, ρ cos θ, 0)

Assim,
D2 g(ρ, θ) × D1 g(ρ, θ) = (2ρ2 cos θ, 2ρ2 sen θ, −ρ)
Portanto, o fluxo de F através de M segundo a normal ν é dado por
Z Z 2π Z 1 
F ·ν = F (g(ρ, θ)) · D2 g(ρ, θ) × D1 g(ρ, θ) dρ dθ
M 0 0
Z 2π Z 1 
2 2
= (−ρ sen θ, ρ cos θ, 1) · (2ρ cos θ, 2ρ sen θ, −ρ) dρ dθ
0 0
Z 2π Z 1 
= −ρ dρ dθ
0 0
= −π

***
Exemplo 1.5 Seja S a superfı́cie esférica centrada na origem de R3 e com raio R. Consideremos
o campo vectorial F : R3 \ {(0, 0, 0)} → R3 definido por
1
F (x, y, z) = (x, y, z)
(x2 + y 2 + z 2 )3/2
Em coordenadas esféricas S é descrita pela equação r = R e, portanto, consideremos a para-
metrização g :]0, 2π[×]0, π[→ R3 definida por

g(θ, φ) = (R sen φ cos θ, R sen φ sen θ, R cos φ)

Então

D1 g(θ, φ) = (−R sen φ sen θ, R sen φ cos θ, 0)


D2 g(θ, φ) = (R cos φ cos θ, R cos φ sen θ, −R sen φ)
D1 g(θ, φ) × D2 g(θ, φ) = (−R2 sen2 φ cos θ, −R2 sen2 φ sen θ, −R2 sen φ cos φ)

6
e, portanto, o fluxo de F através de S segundo a normal que em cada ponto se dirige para a origem
é dado por
Z Z 2π Z π 
F ·ν = F (g(θ, φ)) · D1 g(θ, φ) × D2 g(θ, φ) dφ dθ
S 0 0
Z 2π Z π 
= − sen φ dφ dθ
0 0
= −4π

2 Teorema da Divergência
Seja D ⊂ R3 um conjunto aberto e limitado e seja (x, y, z) um ponto sobre a fronteira ∂D.
Suponhamos que existe uma vizinhança V de (x, y, z) tal que ∂D ∩ V é uma superfı́cie.

z
D

n(x, y, z)
−n(x, y, z) (x, y, z)

0
y

Figura 6: Normal exterior

Seja n(x, y, z) a normal a ∂D ∩ V no ponto (x, y, z) e suponhamos que existe ǫ > 0 tal que
(x, y, z) + t n(x, y, z) ∈ R3 \ D ; 0 < t < ǫ
(x, y, z) − t n(x, y, z) ∈ D ; 0 < t < ǫ
Então, diz-se que a normal n(x, y, z) é exterior a D. Em cada ponto (x, y, z) ∈ ∂D a normal
n(x, y, z) drige-se do interior para o exterior de D, tal como se representa na figura 6.
Nota 2.1 Suponhamos que ∂D ∩ V é um conjunto de nı́vel de uma função H : V → R tal que
D∩V = {(x, y, z) : H(x, y, z) < 0}
3
(R \ D) ∩ V = {(x, y, z) : H(x, y, z) > 0}
Então, a normal n(x, y, z) = DH(x, y, z) é exterior a D. De facto, se considerarmos a função
ψ(t) = H((x, y, z) + t n(x, y, z)), então
ψ(0) = (x, y, z) ; ψ ′ (0) = DH(x, y, z) · DH(x, y, z) = ||DH(x, y, z)||2 > 0
donde se conclui que existe ǫ > 0 tal que
H((x, y, z) + t n(x, y, z)) > 0 ; 0 < t < ǫ
H((x, y, z) − t n(x, y, z)) < 0 ; 0 < t < ǫ

7
***
Seja S ⊂ R3 um aberto. Dado um campo vectorial F : S → R3 de classe C 1 , a Divergência de
F é o campo escalar divF : S → R, definido por
∂F1 ∂F2 ∂F3
divF = + +
∂x ∂y ∂z

Seja D ⊂ R3 um aberto e limitado. Diz-se que D é um domı́nio elementar (ver [3, 1]) se for
definido, simultaneamente, das três formas seguintes:
a) D = {(x, y, z) ∈ R3 : φ1 (x, y) < z < φ2 (x, y) ; (x, y) ∈ T1 } em que φ1 , φ2 : T1 → R são fun-
ções de classe C 1 e definidas num aberto limitado T1 ⊂ R2 cuja fronteira é uma linha regular
Γ1 . Portanto, na direcção z , o conjunto D encontra-se entre dois gráficos de classe C 1
(variedades-2).
b) D = {(x, y, z) ∈ R3 : ψ1 (y, z) < x < ψ2 (y, z) ; (y, z) ∈ T2 } em que ψ1 , ψ2 : T2 → R são fun-
ções de classe C 1 e definidas num aberto limitado T2 ⊂ R2 cuja fronteira é uma linha regular
Γ2 . Portanto, na direcção x , o conjunto D encontra-se entre dois gráficos de classe C 1
(variedades-2).
c) D = {(x, y, z) ∈ R3 : η1 (x, z) < y < η2 (x, z) ; (x, z) ∈ T3 } em que η1 , η2 : T3 → R são funções
de classe C 1 e definidas num aberto limitado T3 ⊂ R2 cuja fronteira é uma linha regular
Γ3 . Portanto, na direcção y , o conjunto D encontra-se entre dois gráficos de classe C 1
(variedades-2).

z = φ2 (x, y)
M2

M3

T1
M1 y
x Γ1
z = φ1 (x, y) = 0

Figura 7: D descrito na forma a)

Suponhamos que o campo F é dado por F = (0, 0, F3 ) e consideremos o domı́nio D definido


como em a) e tal como se representa na figura 7. Então, a fronteira de D é constituı́da por três
porções de superfı́cie:

M1 = {(x, y, z) : z = φ1 (x, y) ; (x, y) ∈ T1 }


M2 = {(x, y, z) : z = φ2 (x, y) ; (x, y) ∈ T1 }
M3 = {(x, y, z) : (x, y) ∈ Γ1 ; φ1 (x, y) < z < φ2 (x, y)}

8
em que Γ1 designa a linha regular que limita T1 .
Na figura 7 considera-se o caso em que φ1 (x, y) = 0.
Note-se que M3 é uma superfı́cie vertical e, portanto, em cada um dos seus pontos, a normal ν
tem terceira componente nula. Assim, o fluxo de F = (0, 0, F3 ) através de M3 segundo a normal
ν é nulo.
Seja g1 : T1 → R3 a parametrização de M1 definida por
g1 (x, y) = (x, y, φ1 (x, y))
Então,
∂φ1
D1 g1 (x, y) = (1, 0, )
∂x
∂φ1
D2 g1 (x, y) = (0, 1, )
∂y
e o vector
∂φ1 ∂φ1
D2 g1 (x, y) × D1 g1 (x, y) = ( , , −1)
∂x ∂y
é a normal exterior a D no ponto g1 (x, y) ∈ M1 .
O fluxo de F através de M1 segundo a normal unitária exterior é dado por
Z Z
F ·ν = F (g1 (x, y)) · D2 g1 (x, y) × D1 g1 (x, y)dxdy
M1 T1
Z
= − F3 (x, y, φ1 (x, y))dxdy
T1

Do mesmo modo se calcula o fluxo de F através de M2 segundo a normal unitária exterior


Z Z
F ·ν = F (g2 (x, y)) · D1 g1 (x, y) × D2 g1 (x, y)dxdy
M2 T1
Z
= F3 (x, y, φ2 (x, y))dxdy
T1

Portanto, o fluxo de F através da fronteira de D segundo a normal exterior é a soma dos fluxos
sobre M1 , M2 , M3 :
Z Z Z
F ·ν = F3 (x, y, φ2 (x, y))dxdy − F3 (x, y, φ1 (x, y))dxdy
∂D T1 T1

Por outro lado, o integral da divergência de F em D é dado por


Z Z Z Z φ2 (x,y) !
∂F3
divF dxdydz = dz dxdy
D T1 φ1 (x,y) ∂z
Z Z
= [F3 (x, y, φ2 (x, y)) − F3 (x, y, φ1 (x, y))] dxdy
T1

Para um campo F = (F1 , 0, 0) consideramos D descrito como em b) e para um campo F =


(0, F2 , 0) consideramos D descrito como em c).
Tendo em conta a linearidade do integral e da derivada, fica estabelecida a igualdade
Z Z
divF = F ·ν
D ∂D

para um domı́nio elementar D.


Sem grande dificuldade se mostra que o mesmo acontece para um domı́nio que pode ser de-
composto numa união finita de domı́nios elementares e a que chamaremos domı́nio regular.

9
Teorema 2.1 Sejam
• D ⊂ R3 um domı́nio regular,
• F : D → R3 um campo vectorial de classe C 1 .
Então, Z Z
divF = F ·ν
D ∂D
em que ν é a normal unitária exterior à fronteira de D.

3 Exemplos
Exemplo 3.1 Consideremos o campo vectorial dado por F (x, y, z) = (x, y, z) e o domı́nio definido
por
D = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 < 1}
Então divF = 3 e, portanto,
Z
divF = 3 vol3 (D) = 4π
D

Do exemplo 1.1, o fluxo do campo F através da fronteira de D segundo a normal unitária e


exterior é dado por Z
F · ν = 4π
∂D
e, portanto, Z Z
divF = F ·ν
D ∂D
Note-se que D é um domı́nio elementar. De facto, temos
p p
D = {(x, y, z) : − 1 − x2 − y 2 < z < 1 − x2 − y 2 ; x2 + y 2 < 1}
p p
D = {(x, y, z) : − 1 − y 2 − z 2 < x < 1 − y 2 − z 2 ; y 2 + z 2 < 1}
p p
D = {(x, y, z) : − 1 − x2 − z 2 < y < 1 − x2 − z 2 ; x2 + z 2 < 1}

***
Exemplo 3.2 Seja M a superfı́cie definida por

M = {(x, y, z) ∈ R3 : 0 < z = 1 − x2 − y 2 }

e F : R3 → R3 o campo vectorial dado por

F (x, y, z) = (x, y, −z)

Para calcular o fluxo de F através de M segundo a normal que no ponto (0, 0, 1) tem terceira
componente positiva, consideremos o teorema da divergência aplicado ao domı́nio

D = {(x, y, z) : 0 < z < 1 − x2 − y 2 }

Facilmente se constata que D é um domı́nio regular cuja fronteira é a união de duas superfı́cies,
M e B, em que
B = {(x, y, z) : z = 0 ; x2 + y 2 < 1}

10
z

νM
1

x y
B

νB = (0, 0, −1)

Figura 8:

tal como se representa na figura 8.


Dado que divF = 1, do teorema da divergência, obtemos
Z Z
vol(D) = F · νM + F · νB
M B

Mas, em B temos z = 0 e, portanto, a normal unitária e exterior é o vector νB = (0, 0, −1).


Assim, em B, temos F · νB = (x, y, 0) · (0, 0, −1) = 0, ou seja,
Z
F · νB = 0
B

Portanto, ! !
Z Z 2π Z 1 Z 1−ρ2
π
F · νM = vol(D) = ρ dz dρ dθ =
M 0 0 0 2

***
Exemplo 3.3 Seja F (x, y, z) = (xy 2 , x2 y, y) e seja M a superfı́cie cilı́ndrica dada pela equação
x2 + y 2 = 1 e limitada pelos planos z = 1 e z = −1.
Vamos usar o teorema da divergência para calcular o fluxo de F através de M segundo a
normal que no ponto (0, 1, 0) tem segunda componente positiva.
Seja D o domı́nio elementar limitado por M e pelos planos z = 1 e z = −1
D = {(x, y, z) : x2 + y 2 < 1 ; −1 < z < 1}
O integral da divergência de F em D pode ser calculado usando coordenadas cilı́ndricas
Z Z Z 2π Z 1 Z 1  
divF = (y 2 + x2 )dxdydz = ρ3 dρ dz dθ = π
D D 0 −1 0

O fluxo de F através da fronteira de D resulta de três contribuições:


Z Z Z Z
F ·ν = F ·ν + F ·ν+ F ·ν
∂D M B C
em que
B = {(x, y, z) : z = −1 ; x2 + y 2 < 1}
C = {(x, y, z) : z = 1 ; x2 + y 2 < 1}

11
z
νC

1
C

x y
νM

νB

Figura 9:

tal como se representa na figura 9.


Para B consideremos a parametrização g :]0, 2π[×]0, 1[→ R3 dada por

g(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, −1)

e, portanto,
D2 g(ρ, θ) × D1 g(ρ, θ) = (0, 0, −1)
Para C consideremos a parametrização h :]0, 2π[×]0, 1[→ R3 dada por

h(ρ, θ) = (ρ cos θ, ρ sen θ, 1)

e, portanto,
D1 h(ρ, θ) × D2 h(ρ, θ) = (0, 0, 1)
Assim, temos
Z Z 2π Z 1 
F ·ν = − ρ sen θ dρ dθ = 0
B 0 0
Z Z 2π Z 1 
F ·ν = ρ sen θ dρ dθ = 0
C 0 0

Aplicando o teorema da divergência ao domı́nio D, obtemos


Z Z Z Z
F ·ν = divF − F ·ν − F ·ν =π
M D B C

***
Exemplo 3.4 Seja D ⊂ R3 um domı́nio regular e consideremos o campo vectorial F : R3 \
{(0, 0, 0)} → R3 definido por
1
F (x, y, z) = (x, y, z)
(x2 + y 2 + z 2 )3/2
Suponhamos que o ponto de coordenadas (0, 0, 0) não se encontra sobre a fronteira de D.
Então, o fluxo do campo vectorial F através da fronteira do conjunto D segundo a normal
exterior é dado por Z 
4π se (0, 0, 0) ∈ D
F ·ν =
∂D 0 se (0, 0, 0) ∈
/D

12
D

νD

B νB
S
0

Figura 10:

Suponhamos que o ponto (0, 0, 0) ∈ / D. Então o campo F é de classe C 1 em D e podemos


aplicar o teorema da divergência. Note-se que

divF = 0

e, portanto, Z
F ·ν =0
∂D

Para o caso em que (0, 0, 0) ∈ D, o campo F não está definido em D e, portanto, não podemos
aplicar o teorema da divergência directamente.
Sendo D um conjunto aberto, existe uma bola B de raio ǫ > 0 e centrada na origem e contida
em D, tal como se representa na figura 10. Seja S = D \ B. Então, F é de classe C 1 em S e
podemos aplicar o teorema da divergência
Z Z Z Z
0= F · νD + F · νB
∂D ∂B

em que νD e νB se dirigem, respectivamente, para o exterior de D e para o interior de B.


Do exemplo 1.5, temos Z
F · νB = −4π
∂B
e, portanto, Z Z
F · νD = − F · νB = 4π
∂D ∂B

Referências
[1] F. R. Dias Agudo. Cálculo Integral em Rn . Escolar Editora, 1973.
[2] Luı́s T. Magalhães. Integrais em Variedades e Aplicações. Texto Editora, 1993.
[3] J. E. Marsden and A. J. Tromba. Vector Calculus. W. H. Freeman and Company, 1998.

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