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Departamento de Matemática

Licenciaturas em Economia, Finanças e Gestão


Matemática II - 2º Semestre - 2020/2021

Época Normal: 7 de junho de 2021 - Tópicos de Resolução

Duração: 2h
Justifique cuidadosamente todas as suas respostas.
" #
2k k k
1. Considere a matriz Ak = k 2k 0 , k ∈ R\{0}.
k 0 2k
(a) Mostre que, para todo k ̸= 0, o vetor (0, 1, −1) é vetor próprio de Ak e indique a que valor próprio
está associado.
Resolução:
Um vetor v não nulo é vetor próprio da matriz Ak se e só se existe λ ∈ R tal que Ak v = λv. O
escalar λ recebe o nome de valor próprio associado ao vetor v. Portanto, para mostrar que, para
todo k ∈ R, k ̸= 0, o vetor (0, 1, −1) é vetor próprio de Ak calculamos o produto
" #" # " # " #
2k k k 0 0 0
Ak v = k 2k 0 1 = 2k = 2k 1 = 2kv.
k 0 2k −1 −2k −1
Logo, o vetor (0, 1, −1) é vetor próprio de Ak com valor próprio associado λ = 2k, k ̸= 0.

(b) Classifique, em função dos valores de k, a forma quadrática Qk (x) = xT Ak x, com x ∈ R3 e indique,
justificando, se, para algum valor de k ̸= 0, existem x e y ∈ R3 tais que Qk (x).Qk (y) < 0.
Resolução:
A forma quadrática Qk (x, y, z) é dada pela matriz Ak , isto é, se x̄ = [x y z] ∈ R3 :
" #" #
2k k k x
T
Qk (x, y, z) = x̄Ak x̄ = [x y z] k 2k 0 y
k 0 2k z
Como a matriz Ak é simétrica e |Ak | = 4k 3 ̸= 0, para k ̸= 0, calculamos os seus menores principais:

2k k
∆1 = |2k| = 2k, ∆2 = = 3k 2 .
k 2k
O determinante de Ak e os menores principais dependem do valor do escalar k. Sabemos que k = ̸ 0
— podemos então considerar dois casos:
• Para k < 0:
∆1 = 2k < 0, ∆2 = 3k 2 > 0, |Ak | = 4k 3 < 0,
portanto pelo teorema dos menores principais a forma quadrática é definida negativa, e só
toma valores negativos. Isto é, Qk (x̄) = x̄T Ak x̄ < 0, para qualquer x̄ ∈ R3 \{0̄}. Portanto,
fixado k < 0, e para quaisquer x̄, ȳ ∈ R3 \{0̄},
Qk (x̄) · Qk (ȳ) > 0.
| {z } | {z }
<0 <0
• Para k > 0,
∆1 = 2k > 0, ∆2 = 3k 2 > 0, |Ak | = 4k 3 > 0,
portanto pelo teorema dos menores principais a forma quadrática é definida positiva, e só
toma valores positivos. Isto é, Qk (x̄) = x̄T Ak x̄ > 0, para qualquer x̄ ∈ R3 \{0̄}. Portanto,
fixado k > 0, e para quaisquer x̄, ȳ ∈ R3 \{0̄},
Qk (x̄) · Qk (ȳ) > 0.
| {z } | {z }
>0 >0

Então, podemos concluir que, para todo valor de k ̸= 0, não existem x̄, ȳ ∈ R3 tais que a afirmação
do enunciado seja verdadeira.

Poderá ver uma resolução alternativa para a classificação da forma quadrática no fim do exame.

1
2

2. Considere a função f : Df ⊆ R2 → R definida por



x ln (y − 2)2
f (x, y) = p
y − x2

(a) Determine o domínio de f , Df , e represente-o geometricamente.


Resolução:
Df = {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0 ∧ y ̸= 2 ∧ y − x2 > 0}
= {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0 ∧ y ̸= 2 ∧ y > x2 }.

y = x2

y=2


x ln (y−2)2
Figura 1. Em vermelho, Df , o domínio da função f (x, y) = √ .
y−x2

(b) Defina analiticamente o interior e a fronteira do conjunto Df .


Resolução:
Df◦ = int(Df ) = {(x, y) ∈ R2 : x > 0 ∧ y ̸= 2 ∧ y > x2 }

∂Df = f r(Df ) = {(x, y) ∈ R2 : (x = 0 ∧ y ≥ 0) ∨ (x > 0 ∧ y = x2 ) ∨ (0 ≤ x ≤ 2 ∧ y = 2)}

 x3
se (x, y) ̸= (0, 0)
3. Considere a função f (x, y) =
 x + |x − y|
2 2 .
0 se (x, y) = (0, 0)
(a) Estude a continuidade da função f no ponto (0, 0) .
Resolução: A função f é contínua no ponto (0, 0) se e só se
lim f (x, y) = f (0, 0) = 0.
(x,y)→(0,0)

Assim, para provar a continuidade de f em (0, 0) basta provar que


x3
lim = 0.
(x,y)→(0,0) x2 + |x − y|2

Por enquadramento,


x3 = |x| · |x | ≤ |x| · (x + |x − y| ) = |x|,
2 2 2
0≤ 2
x + |x − y|2 x2 + |x − y|2 x2 + |x − y|2
e, como lim(x,y)→(0,0) |x| = 0, fica provado que f é contínua em (0, 0).
3

∂f ∂f
(b) Calcule, ou prove que não existe, (0, 0) e (0, 0).
∂x ∂y
Resolução:
t3 t3
∂f f (0 + t, 0) − f (0, 0) t2 +|t|2 2 2 1
(0, 0) = lim = lim = lim t +t =
∂x t→0 t t→0 t t→0 t 2
∂f f (0, 0 + t) − f (0, 0) 0−0
(0, 0) = lim = lim =0
∂y t→0 t t→0 t
(c) Indique o valor da derivada direcional ∂(2,1) f (0, 0). Utilize este valor e os resultados que obteve
na alínea anterior para justificar que a função não é diferenciável em (0, 0).
Resolução:
(2t)3 8t3
f (0 + 2t, 0 + t) − f (0, 0) (2t)2 +|2t−t|2 2 2 8
∂(2,1) f (0, 0) = lim = lim = lim 4t +t = .
t→0 t t→0 t t→0 t 5
Se f fosse diferenciável em (0, 0) então
∂f ∂f
∂(2,1) f (0, 0) = (2, 1) · ∇f (0, 0) = 2 · (0, 0) + 1 · (0, 0),
∂x ∂y
mas ∂(2,1) f (0, 0) = 8
5 e 2 · ∂f
∂x (0, 0) + 1 · ∂y (0, 0) = 1 + 0 = 1. Portanto, f não é diferenciável em (0, 0).
∂f

4. Considere o conjunto M = {(x, y, z) ∈ R3 : x2 + y 2 + z 2 = 8} e seja f a função de variável vetorial


definida por
f (x, y, z) = 2x + y 2 + 2z.
Justifique que a função f tem no conjunto M extremos absolutos e calcule-os.
Resolução:
A função f é contínua em todo o seu domínio, R3 . O conjunto M é fechado e limitado (ad(M ) = M
e M está contido numa bola de centro a origem e raio suficientemente grande, comprove porquê), e
portanto é compacto. Então, pelo teorema de Weierstrass, a função tem no conjunto M máximo e
mínimo absolutos.
Para achar os extremos absolutos, definimos
g(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 − 8,
e temos que g(x, y, z) = 0 ⇐⇒ (x, y, z) ∈ M . A característica de
∇g(x, y, z) = [2x 2y 2z]
é sempre máxima no conjunto M porque (0, 0, 0) ∈
/ M . Portanto, os extremos absolutos de f em M
são extremos locais da função lagrangiana
L(x, y, z, λ) = 2x + y 2 + 2z − λ(x2 + y 2 + z 2 − 8).
Procuramos os extremos locais,


 ∂L 

 = 2 − 2λx = 0 1

 ∂x 
 x=

 


 ∂L 

λ
 = 2y − 2λy = 0 y(1 − λ) = 0 ⇐⇒ y = 0 ∨ λ = 1
∂y
=⇒

 ∂L 
 1

 = 2 − 2λz = 0 
 z=

 ∂z 
 λ

  2

 ∂L x + y2 + z2 = 8
 = −(x + y + z − 8) = 0
2 2 2
∂λ
A opção y = 0 juntamente com x = z implica que 2x2 = 8 e os pontos que satisfazem estas condições
são
(2, 0, 2), (−2, 0, −2).
A outra opção, λ = 1, implica que x = z = 1 e portanto temos as duas soluções ao sistema
√ √
(1, 6, 1), (1, − 6, 1).
Como √ √
f (2, 0, 2) = 8, f (−2, 0, −2) = −8, f (1, 6, 1) = 10 e f (1, − 6, 1) = 10,
√ √
temos que em (−2, 0, −2) f atinge o mínimo absoluto em M , −8, e em (1, 6, 1) e (1, − 6, 1) o
máximo absoluto em M , 10.
4

5. Considere o conjunto Ω = {(x, y) ∈ R2 : x ≥ 0 ∧ y ≥ x2 − 1 ∧ y + x ≤ 1}. Calcule


ZZ
(2x + 1) sin(x + y − 1)dxdy.

Resolução:
O conjunto Ω pode escrever-se facilmente da seguinte forma (como conjunto de tipo I):

Ω = {(x, y) ∈ R2 : 0 ≤ x ≤ 1 ∧ x2 − 1 ≤ y ≤ 1 − x}.
Assim, temos
ZZ Z 1 Z 1−x 
(2x + 1) sin(x + y − 1)dxdy = (2x + 1) sin(x + y − 1)dy dx
Ω 0 x2 −1
Z 1
y=1−x
= −(2x + 1) [cos(x + y − 1)]y=x2 −1 dx
0
Z 1 
= −(2x + 1) cos 0 − cos(x + x2 − 2) dx
0
Z 1
= (−2x − 1 + (2x + 1) cos(x + x2 − 2))dx
0
 x=1
= −x2 − x + sin(x + x2 − 2) x=0
= −2 − sin(−2).

xα y β−1 + 3x2α
6. Sendo α, β ∈ R, indique, caso existam, valores de α e β para os quais a função f (x, y) =
x2 + 2y 2
é homogénea de grau 2.
Resolução:
Uma função f é homogénea de grau 2 se e só se, para todo λ ∈ R\{0}, f (λx, λy) = λ2 f (x, y).
Temos que
(λx)α (λy)β−1 + 3(λx)2α λα+β−1 xα y β−1 + 3λ2α x2α
f (λx, λy) = 2 2
= ;
(λx) + 2(λy) λ2 (x2 + 2y 2 )
Logo, para que a função seja homogénea é necessário que α + β − 1 = 2α ficando

λ2α (xα y β−1 + 3x2α )


f (λx, λy) = = λ2α−2 f (x, y);
λ2 (x2 + 2y 2 )
Assim, f será homogénea de grau 2 se e só se α + β − 1 = 2α e 2α − 2 = 2; ou seja, resolvendo as
duas equações obtemos α = 2 e β = 3.
5


y ′′ − 9y = 3x
7. Resolva o seguinte problema de valores iniciais:
y(0) = 1, y ′ (0) = − 31

Resolução:
Começamos por resolver a equação homogénea associada
y ′′ − 9y = 0.
A equação característica, D2 − 9 = 0, tem 2 raízes reais distintas: D = 3, D = −3. Desta forma a
solução geral da equação homogénea é
yh (x) = C1 e3x + C2 e−3x , com C1 , C2 ∈ R.
Como o 2º membro da equação é um polinómio de grau 1, f (x) = 3x, vamos procurar uma solução
particular do mesmo tipo, isto é, yp (x) = ax + b.
Se yp (x) = ax + b, vem yp′ (x) = a e yp′′ (x) = 0 e substituindo na equação dada obtemos
0 − 9(ax + b) = 3x
e logo concluímos que a = − 31
e b = 0.
Assim, temos uma solução particular yp (x) = − 31 x e obtemos então a solução geral da equação dada
que é
1
yg (x) = yh (x) + yp (x) = C1 e3x + C2 e−3x − x, C1 , C2 ∈ R.
3
Agora   
 y(0) = 1 (∗)
 C1 + C2 = 1  C1 = 12
⇐⇒ ⇐⇒
 y ′ (0) = − 1  3C − 3C − 1 = − 1  C =1
3 1 2 3 3 2 2
e logo a solução do P.V.I. é
1 1 1
y(x) = e3x + e−3x − x.
2 2 3

(∗) note que yg (x) = 3C1 e3x − 3C2 e−3x − 3
1.

8. Seja g uma função real de variável real, g ∈ C 2 (R), tal que g(0) = 0 e g ′ (z) < 0, para todo z ∈ R.
Considere a função definida por
f (x, y) = xg(x2 + y) + g(x2 + y), ∀(x, y) ∈ R2 .
Calcule e classifique os pontos críticos da função f .
Resolução:
Podemos reescrever a função f como
f (x, y) = (x + 1)g(x2 + y).
(x, y) é ponto crítico de f se e só se
( ∂f 
∂x (x, y) = 0 g(x2 + y) + 2x(x + 1)g ′ (x2 + y) = 0
⇐⇒
∂f
∂y (x, y) =0 (x + 1)g ′ (x2 + y) = 0

(a) g(x2 + y) + 2x(x + 1)g ′ (x2 + y) = 0
⇐⇒
x = −1

(b) g(1 + y) + 0 = 0
⇐⇒
x = −1

(c) y = −1
⇐⇒
x = −1
(a) porque g ′ (z) ̸= 0, ∀z ∈ R; (b) substituindo x = −1 na 1ª equação; (c) como g ′ (z) < 0, ∀z ∈ R, isto é, g é estritamente decrescente,
o único valor para o qual a função g se anula é z = 0.

Assim, o único ponto crítico da função f é o ponto (−1, −1). Temos agora
[ ]
(6x + 2)g ′ (x2 + y) + (2x2 + 2x)2xg ′′ (x2 + y) g ′ (x2 + y) + 2x(x + 1)g ′′ (x2 + y)
Hf (x, y) =
g ′ (x2 + y) + 2x(x + 1)g ′′ (x2 + y) (x + 1)g ′′ (x2 + y)

−4g ′ (0) g ′ (0)
e no ponto (−1, −1) ficamos com Hf (−1, −1) = . Como ∆1 = −4g ′ (0) > 0 e
g ′ (0) 0
∆2 = −g ′ (0)2 < 0 concluímos que o ponto (−1, −1) é um ponto de sela da função f .
6

1b) Uma forma alternativa de classificar a forma quadrática: A forma quadrática Qk (x, y, z)
é dada pela matriz Ak , isto é, se x̄ = [x y z] ∈ R3 :
" #" #
2k k k x
T
Qk (x, y, z) = x̄Ak x̄ = [x y z] k 2k 0 y .
k 0 2k z
A classificação da forma quadrática Qk (x, y, z) a partir desta expressão não é imediata. No entanto,
podemos realizar algumas manipulações que façam a tarefa simples:
" #" # " # " #!
2k k k x 2 1 1 x
Qk (x, y, z) = [x y z] k 2k 0 y = k · [x y z] 1 2 0 y = k · Q̃(x, y, z).
k 0 2k z 1 0 2 z
A forma quadrática Q̃(x, y, z) é definida positiva porque é possível reescrevê-la como soma de qua-
drados:
" #" #
2 1 1 x
Q̃(x, y, z) = [x y z] 1 2 0 y = 2x2 + 2y 2 + 2z 2 + 2xy + 2xz
1 0 2 z
= x2 + y 2 + 2xy +y 2 + x2 + z 2 + 2xz +z 2
| {z } | {z }
(x+y)2 (x+z)2

= (x + y)2 + y 2 + (x + z)2 + z 2 .
Portanto, para qualquer x̄ ∈ R3 , Q̃(x, y, z) é definida positiva.
Então, a forma quadrática Q(x, y, z) = k · Q̃(x, y, z) será definida positiva se k > 0, e definida
negativa se k < 0.

Cotações

1a) 1b) 2a) 2b) 3a) 3b) 3c) 4 5 6 7 8


1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,5 1,0 2,0 2,0 1,5 2,0 2,5

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