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Faculdade de Ciências

Departamento de Matemática e Informática


Exame Normal de Análise Funcional. Correcção.

Duração: 2 horas 25.11.2013


Todas as respostas têm de ser justicadas!
1. a) (2 valores) Apresente a denição da norma num espaço linear.
b) (2 valores) Sejam x = (1, 2−1 , 2−2 , . . .) e e1 = (1, 0, 0, . . .). Verique se x ∈ U , onde U é
bola aberta de centro e1 e de reio 32 no espaço normado l2 .
c) (2 valores) O conjunto U denido em b) é relativamente compacto em l2 ?
Resolução: a) Seja X um espaço linear sobre corpo P. Um funcional ∥ · ∥ : X → R chama-se
norma se satisfazer as seguintes condições:
(N1) ∥x∥ ≥ 0 (∀x ∈ X), sendo que [x = θ] ⇔ [∥x∥ = 0];
(N2) ∥cx∥ = |c| ∥x∥ (∀x ∈ X, c ∈ P);
(N3) ∥x + y∥ = ∥x∥ + ∥y∥ (∀x, y ∈ X).
b) Sim. A pergunta é equivalente a seguinte pergunta: vericar se ∥x − e1 ∥2 < 23 . Temos
v v √
u u∞ √
u ∑∞
u∑ 1 1/4 3 2
t
∥x − e1 ∥2 = |1 − 1| +
2 |2−n+1 − 0| =
2 t = = < ,
n=2 n=1
4n 1 − 1/4 3 3

então x ∈ U .
c) Não. O espaço de Banach l2 é de dimensão innita. Pelo Teorema 6.2, o conjunto U não é
relativamente compacto em l2 .
2. (2 valores) Demonstre que um operador linear e compacto em um espaço de Banach é operador
limitado (observação: a proposição é uma parte dum teorema conhecido do curso, mas na
resolução é preciso demonstrar esta proposição, não só dizendo que a proposição é conhecida).
Resolução: Seja X um espaço de Banach e A : X → X um operador linear e compacto. Então,
A transforma qualquer conjunto limitado M em X para conjunto relativamente compacto
A(X). Mas, qualquer conjunto relativamente em um espaço normado é limitado. Então A
transforma qualquer conjunto limitado para conjunto limitado. Pela denição, o operador A é
limitado.
3. (2 valores) Calcule a norma do funcional f ∈ (C[−8, 5])∗ denido por f (x) = 5x(−3) − 7x(4).
Resolução: ∀x ∈ C[−8, 5]
|f (x)| = |5x(−3) − 7x(4)| ≤ 5|x(−3)| + 7|x(4)| ≤ 5∥x∥ + 7∥x∥ = 12.
Logo, ∥f ∥ ≤ 12.
De outro lado, consideremos x∗ ∈ C[−8, 5] satisfazendo as condições: ∥x∗ ∥ = 1, x∗ (−3) = 1 e
x∗ (4) = −1 (a existência de tal x∗ é evidente). Temos
|f (x∗ )| = |5x∗ (−3) − 7x∗ (4)| = |5 · 1 − 7 · (−1)| = 12,
logo, 12 = |f (x∗ )| ≤ ∥f ∥ ∥x∗ ∥ = ∥f ∥. Daqui e da desigualdade ∥f ∥ ≤ 12 implica ∥f ∥ = 12.

1
4. (2 valores) Consideremos a seguinte Proposição: se X é um espaço de Banach, An ∈ L(X)
(n ∈ N) são operadores compactos e An → A em L(X), então A é operador compacto.
Um estudante gostaria de refutar a Proposição, e apresentou o seguinte raciocínio:
1. Consideremos os operadores Pn : l1 → l1 denidos pela fórmula
Pn x = (x1 , x2 , . . . , xn , 0, 0, . . .), x = (x1 , x2 , . . .) ∈ l1 , n ∈ N.
2. É claro que Im (Pn ) = Sp {e1 , . . . , en }, então os operadores Pn são de dimensão nita.
3. Alem disso, como é evidente, Pn são limitados.
4. De 2. e 3. implica que os operadores P∑ n são compactos.
5. De outro lado, ∀x ∈ l1 ∥Pn x − x∥1 = ∞ ∑ |xk | = Rn → 0, quando n → ∞,
k=n+1
visto que Rn é o resto da série convergente ∞ k=1 |xk |.
6. Então, a sucessão {Pn } converge em L(l1 ) para operador idêntico I .
7. Mas o operador I em l1 não é operador compacto, como é fácil vericar
usando denição e o facto que dim l1 = ∞.
8. De 4., 6. e 7. implica que a Proposição é falsa.
Analisando o raciocínio do estudante, explique, porque este raciocínio não é correcto.
Resolução: Alínea 6. do raciocínio do estudante não é correcta. Realmente, de 5. implica que
p
Pn x → Ix em l1 para todo x ∈ l1 , o que signica Pn → I . No entanto, daqui não implica a
convergência uniforme da sucessão {Pn } para operador I (≡ a convergência de {Pn } em L(l1 )).
5. Consideremos o espaço de Hilbert complexo L2 = L2 [−1, 1], o elemento f ∈ L2 e o operador
K ∈ L(L2 ) denidos pelas expressões
∫ 1
f (t) = χ[0,1] (t), (Kx)(t) = (1 + 3ts) x(s) ds.
−1

a) (2 valores) Encontre um elemento não-nulo u ∈ Im K que é ortogonal ao elemento f .


b) (2 valores) Demonstre que único autovalor não-nulo do operador K é λ = 2.
c) (2 valores) Demonstre que o autoespaço H , associado ao autovalor λ = 2 do operador K ,
tem a dimensão dois, e ache uma base ortonormal de H .
d) (2 valores) Encontre a distancia do f até subespaço
M = {g ∈ L2 : a equação Kx = 2x + g é resolúvel}.
{∫ ∫1 }
Resolução: a) É claro que Im K = −1 1
x(s) + 3t −1 sx(s) ds : x ∈ L2 = Sp {1, t}. Então,
de u ∈ Im K implica a forma u(t) = a + bt para alguns a, b ∈ C. Usando que u⊥f (o que é
equivalente à igualdade (u, f ) = 0), obtemos
∫ 1 ∫ 1
b
(u, f ) = (a + bt)χ[0,1] (t) dt = (a + bt) dt = a + = 0 ⇒ b = −2a ⇒ u(t) = a(1 − 2t).
−1 0 2
Então, qualquer u procurado tem a forma u(t) = a(1 − 2t) onde a ∈ C \ {0}. Por exemplo,
pode ser escolhido u(t) = 1 − 2t.
b) Os autovalores não-nulos de K são tais λ ∈ C \ {0} que a equação (K − λI)x = θ tem
solução não-nula. Escrevemos esta equação na forma
∫ 1 ∫ 1
C1 + 3C2 t − λx(t) = 0 onde C1 = x(s) ds, C2 = sx(s) ds. (1)
−1 −1

2
Multiplicando (1) por 1 e t, e tomando integral pelo intervalo [−1, 1], obtemos o sistema das
equações lineares algébricas em relação aos C1 , C2 :
{ ∫ {
1
(C1 + 3C2 t − λx(t)) dt = 0 (2 − λ)C1 = 0
∫−1 ⇔ (2)
1
−1
(C1 t + 3C2 t2 − λtx(t)) dt = 0 (2 − λ)C2 = 0

É claro que sistema algébrico (2) tem solução (C1 , C2 ) não nula se e só se λ = 2. Então, único
autovalor não-nulo do operador K é λ = 2.
c) Para λ = 2 as soluções de (2) são todos (C1 , C2 ) ∈ C2 . Então, de (1) obtemos
1
x(t) = (C1 + 3C2 t) = D1 + D2 t, ∀D1 , D2 ∈ C.
2
Então, o autoespaço, associado ao autovalor λ = 2 é H = ker(K − 2I) = Sp {1, t}. Como 1 e
t são linearmente independentes, o conjunto {u, v}, onde u(t) = 1 e v(t) = t, é uma base de H
e, respectivamente, dim H = 2.
A partir da base {u, v} achemos uma base ortonormal de H usando processo de Gram-Schmidt.
√∫ √
1
∥u∥ = 12 ds = 2 ⇒ e1 = u

e1 (t) = √12 ;
−1 (
∥u∥
∫ )
1
y2 = v − (v, e1 )e1 ; ⇒ y2 (t) = t − −1 s · √12 ds · √12 = t;
√∫ √ √
1
∥y2 ∥ = −1
2
s ds = 3 ; 2
e2 = ∥y2 ∥ ⇒ e2 (t) = 32 t.
y2


Então, a base ortonormal de H é {e1 , e2 }, onde e1 (t) = √12 e e2 (t) = 32 t.
Observamos que em vez do processo de Gram-Schmidt pode-se ver que{ u⊥v ,}então {u, v} é
uma base ortogonal de H e, respectivamente, uma base ortonormal é ∥u∥
u v
, ∥v∥ .
d) O núcleo k(t, s) = 1 + 3ts do operador K satisfaz a condição k(t, s) = k(s, t), então K = K ∗
(K é autoadjunto). Pela alternativa de Fredholm, a equação (K ∗ − 2I)x = g é resolúvel
exactamente quando g ∈ H ⊥ . Mas como K = K ∗ e equação (K ∗ − 2I)x = g é mesmo que
Kx = 2x + g . Então, M = H ⊥ .
Pelo Corolário 5.7, L2 = H ⊕ H ⊥ . Usando Teorema de Riesz (Teorema 5.12) junto com
Corolário 5.9, obtemos f = h + g , sendo que h = Proj H f = (f, e1 )e1 + (f, e1 )e2 e

ρ(f, M ) = ρ(f, H ⊥ ) = ∥h∥ = |(f, e1 )|2 + |(f, e2 )|2 .
Calculando, obtemos
∫ 1 ∫ 1
1 1 1
(f, e1 ) = √ χ[0,1] (s) ds = √ ds = √ ,
∫−11 √2 ∫ 1√
0 2 2√
3 3 3
(f, e2 ) = sχ[0,1] (s) ds = s ds = .
−1 2 0 2 8
Então, v
u( (√ )2 √
u 1 )2
ρ(f, M ) = t √
3 1 3 7
+ = + = √ .
2 8 2 8 2 2

Prof. Doutor Yury Nepomnyashchikh

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