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Faculdade de Ciências

Departamento de Matemática e Informática


Exame Recorrência de Análise Funcional II. Correcção.

Duração: 2 horas 07.12.2011


Todas as respostas têm que ser justicadas
1. Sejam X espaço de Banach e A : X → X um operador linear. Verique se cada das armações
em baixo é verdadeira ou falsa. No caso verdadeira demonstre armação, mas no caso falsa
apresente contra-exemplo.

a) (2 valores) Armação 1. Se A é operador limitado (tal que ∥A∥ < ∞) e xn → x em X ,


então Axn → Ax em X .
b) (2 valores) Armação 2. Se A é operador limitado, então A é compacto.

Resolução: a) Verdadeira. 10 Método. A condição nos termos das sucessões é equivalente


a continuidade de A, e, como sabemos, a limitação de um operador linear é equivalente a
continuidade.
20 Método. Se xn → x, então

∥Axn − Ax∥ = ∥A(x − xn )∥ ≤ ∥A∥ ∥xn − x∥ → 0,

portanto Axn → Ax.


b) Falsa. Se dim X = ∞ e A = I , então A transforma a bola unitária B1 (que é conjunto
limitado) para si mesmo. Mas B1 não é conjunto relativamente compacto em X . Segundo
denições, I é operador limitado mas não é compacto.
2. (2 valores) Verique se a sucessão {xn } onde xn (t) = e−nt , (t ∈ [0, 1], n ∈ N), converge para
2

x(t) ≡ 0 no espaço C[0, 1].


Resolução: Não. Temos
∥xn − x∥ = max |xn (t) − x(t)| = max |e−nt | = 1 ̸→ 0.
2

t∈[0,1] t∈[0,1]

Então xn ̸→ x.
3. (2 valores) Consideremos no espaço C[0, 1] o operador A denido por
∫ 1
(Ax)(t) = x(1) + 12 tsx(s) ds.
0

Calcule o valor do operador 2I − A no ponto u, onde u(t) = 1 − t, t ∈ [0, 1].


Resolução: Temos
∫ 1 ∫ 1 ( )
1 1
(Au)(t) = u(1) + 12 tsu(s) ds = 12 ts(1 − s) ds = 12t − = 2t.
0 0 2 3
Então,
((2I − A)u)(t) = 2u(t) − (Au)(t) = 2 − 2t − 2t = 2 − 4t.

1
4. Consideremos no espaço L2 = L2 [−1, 1] o operador linear integral A, denido por
∫ 1
(Ax)(t) = (3t + s)x(s) ds. (1)
−1

a) (1 valor) Verique se v⊥Av , onde v(t) = t2 em q.t.p. t ∈ [−1, 1].


b) (2 valores) Verique se w ∈ (ker A)⊥ onde w(t) = 5t − 2 em q.t.p. t ∈ [−1, 1].
c) (3 valores) Ache os autovalores não-nulos do operador A e autoespaços correspondentes.
d) (2 valores) Verique se λ = −5 é valor regular do operador B ∈ L(L2 ) denido por
∫ 1 ∫ 1 ∫ 1
(Bx)(t) = x(t) − (3t + s)x(s) ds − (3t + s) (3s + η)x(η) dηds.
−1 −1 −1

∫ 1
e) (2 valores) Verique se a equação (t + 3s)x(s) ds − 2x(t) = t − 1 tem solução no espaço
−1
L2 .
f) (2 valores) Ache o elemento g ∈ L2 o mais próximo do elemento f (t) ≡ 4 tal que a equação
∫ 1
(t + 3s)x(s) ds − 2x(t) = g(t)
−1

tem innidade das soluções.


Observação: nas alíneas d),e),f) é cómodo usar o resultado, obtido em c).
Resolução: a) Sim. Temos
∫ 1 ∫ 1
(Av)(t) = (3t + s)v(s) ds = (3t + s)s2 ds = 2t.
−1 −1

Então, ∫ ∫
1 1
(v, Av) = v(t)(Av)(t) dt = 2t · t2 dt = 0,
−1 −1

o que signica v⊥Av .


{ ∫ 1 ∫ 1 }
b) Sim. ker A = x ∈ L2 : x(s) ds = sx(s) ds = {1, t}⊥ , então (ker A)⊥ = Sp {1, t}.
−1 −1
É claro que w é combinação linear de 1 e t, logo, w ∈ (ker A)⊥ .
c) É preciso achar todos os λ ∈ C \ {0} tais que a equação (A − λI)x = 0 tem solução não-nula.
Escrevemos esta equação na forma
∫ 1 ∫ 1
3C1 t + C2 − λx(t) = 0 onde C1 = x(s) ds, C2 = sx(s) ds. (2)
−1 −1

Multiplicando (2) por 1 e t, e tomando integral pelo intervalo [−1, 1], obtemos o sistema das
equações lineares algébricas em relação às C1 , C2 :
{ ∫ {
1
(3C1 t + C2 − λx(t)) dt = 0 2C2 − λC1 = 0
∫−1 ⇔ (3)
1
−1
(3C1 t2 + C2 t − λtx(t)) dt = 0 2C1 − λC2 = 0

2
É claro que sistema algébrico (3) tem solução (C1 , C2 ) não nula sse o determinante ∆ deste
sistema é igual a zero, i.e.

−λ 2
∆ = = λ2 − 4 = (λ − 2)(λ + 2) = 0.

2 −λ

Então, os autovalores do operador A são ±2. Para λ1 = 2 temos de (3)


{
2C2 − 2C1 = 0
⇒ C2 = C1 .
2C1 − 2C2 = 0

Então, de (2) obtemos


1 1
x(t) = (3C1 t + C2 ) = (3C1 t + C1 ) = C(3t + 1), ∀C ∈ C.
2 2
Então, o autoespaço, associado ao autovalor λ1 = 2 é

H1 = ker(A − 2I) = Sp {3t + 1}.

Para λ2 = −2 temos de (3)


{
2C2 + 2C1 = 0
⇒ C2 = −C1 .
2C1 + 2C2 = 0

Então, de (2) obtemos


1 1
x(t) = (3C1 t + C2 ) = (3C1 t − C1 ) = C(3t − 1), ∀C ∈ C.
2 2
Então, o autoespaço, associado ao autovalor λ2 = −2 é

H2 = ker(A + 2I) = Sp {3t − 1}.

d) Não. k ∈ C([−1, 1]2 ), então k ∈ L2 ([−1, 1]2 ). Segundo teorema conhecida do Capítulo 7, o
operador A é compacto em L2 . Como sabemos, 0 ∈ σ(A) e todos os pontos do espectro não
nulos de um operador compacto são autovalores. Então, σ(A) = {0, −2, 2}.
Observamos que B = I − A − A2 . Tomando ψ(λ) = 1 − λ − λ2 , obtemos segundo Teorema
sobre aplicação dos espectros:

σ(B) = σ(ψ(A)) = ψ(σ(A)) = ψ({0, −2, 2}) = {1, −1, −5}.

Então, −5 não é valor regular de B .


e) Sim. Notemos que a equação pode ser escrita na forma (A∗ −2I)x = f , onde A∗ é adjunto do
operador A. Sabemos que σ(A∗ ) = σ(A), então, λ1 = 2 ∈ σ(A∗ ). Portanto, segundo alternativa
de Fredholm, a equação não tem solução se f ∈ H1⊥ onde f (t) = t − 1, i.e. se f ⊥(3t + 1).
Veriquemos esta condição:
∫ 1 ∫ 1
(t − 1)(3t + 1) dt = (3t2 − 2t − 1) dt = 2 + 0 − 2 = 0.
−1 −1

3
Então, a equação tem solução.
f) Segundo alternativa de Fredholm, a equação tem solução (e neste caso innidade das soluções)
se e só se g ∈ H1⊥ . Então, o elemento g procurado é g = Proj H1⊥ f . Temos L2 = H1 ⊕ H1⊥ e
decomposição f = h + g onde h = Proj H1 f e g = Proj H1⊥ f . Lembremos que H1 = Sp {3t + 1}.
Em designação φ(t) = 3t + 1 temos
∫1
(f, φ) −1
4(3t + 1) ds
h(t) = φ(t) = ∫ (3t + 1) = 3t + 1.
∥φ∥2 1
(3t + 1)2 dt
−1

Então,
g(t) = f (t) − h(t) = 4 − (3t + 1) = 3 − 3t.

Prof. Doutor Yury Nepomnyashchikh

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