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Faculdade de Ciências

Departamento de Matemática e Informática


Exame Normal de Análise Funcional II. Correcção.

Duração: 2 horas 02.12.2011


Todas as respostas têm que ser justicadas
1. (2 valores) Consideremos o espaço vectorial X , constituído das funções reais diferenciáveis
continuamente no segmento [0, 1]. Verique se duas normas em X :
∫ 1
∥x∥ = |x(0)| + |x′ (t)| dt e ∥x∥1 = max |x(t)| + max |x′ (t)|
0 t∈[0,1] t∈[0,1]

são equivalentes. Recomendação: considerar xn (t) = n1 tn .


Resolução: Não. Calculemos:
∫ 1 ∫ 1
1
∥xn ∥ = |xn (0)| + |x′n (t)| dt =0+ tn−1 dt = → 0,
0 0 n

1 n 1
∥xn ∥1 = max t + max |tn−1 | = + 1 ̸→ 0.

t∈[0,1] n t∈[0,1] n
Então, {xn } converge para θ(t) ≡ 0 em relação à norma ∥ · ∥ mas não converge para θ em
relação à norma ∥ · ∥1 . Assim, as normas não são equivalentes.
2. (2 valores) Apresente exemplo concreto (designado por f ) de um funcional linear e contínuo
sobre espaço l2 com norma ∥f ∥ = 1.
Resolução:
∑∞ Exemplo é f (x) = x1 (x ∈ l2 ). Segundo teorema de representação f (x) =
x
n=1 n ny onde y = (1, 0, 0, . . .), sendo que ∥f ∥ = ∥y∥2 = 1.
3. Consideremos no espaço C = C[−1, 1] o operador linear integral A denido por
∫ 1
(Ax)(t) = (ts2 − 1)x(s) ds. (1)
−1

a) (2 valores) Calcule o valor do operador 30A − I no ponto u, onde u(t) = t2 , t ∈ [−1, 1].
b) (2 valores) Demonstre que operador A é compacto no espaço C e que ∥A∥ ≤ 3.
Resolução: a) Temos
∫ 1 ∫ 1
2 2
(Au)(t) = (ts − 1)u(s) ds =
2
(ts2 − 1)s2 ds = t − .
−1 −1 5 3
Então,
((30A − I)u)(t) = 30(Au)(t) − u(t) = 12t − 20 − t2 .

b) k ∈ C([0, 1]2 ), então, segundo teorema conhecida do Capítulo 7, A é operador compacto em


C , mais ainda,
∫ 1 ( ∫ 1 ∫ 1 )
2
∥A∥ = max |ts − 1| ds ≤ max
2
|t| 2
s ds + ds ≤ + 2 ≤ 3.
t∈[−1,1] −1 t∈[−1,1] −1 −1 3

1
4. Consideremos o mesmo operador A, que no exercício 3, denido por (1), mas agora no espaço
L2 = L2 [−1, 1].

a) (2 valores) Calcule o produto interno dos elementos v e Av onde v(t) = 3χ[0,1] (t) em q.t.p.
t ∈ [−1, 1].
b) (2 valores) Verique se w ∈ ( Im A)⊥ onde w(t) = 3t2 − 1 em q.t.p. t ∈ [−1, 1].
c) (3 valores) Ache os autovalores não-nulos do operador A e autoespaços correspondentes.
d) (2 valores) Calcule o raio espectral do operador B ∈ L(L2 ) denido por
∫ 1 ∫ 1 ∫ 1
(Bx)(t) = x(t) + 9 (ts − 1)
2
(sτ − 1)
2
(τ ξ 2 − 1)x(ξ) dξ dτ ds.
−1 −1 −1

e) (1 valor) Ache valor λ não-nulo de maneira que a equação


∫ 1
(t2 s − 1)x(s) ds − λx(t) = f (t) (2)
−1

não tenha solução para alguns f ∈ L2 . Recomendação: usar só o resultado obtido em c)


(com justicação), não realizando o cálculo directo como foi feito em c).
f) (2 valores) Ache a distância do elemento g(t) ≡ 1 até conjunto de tais f ∈ L2 , que a
equação (2) com λ concreto considerado em e), tenha solução.
Observação: nas alíneas d),e),f) é cómodo usar o resultado, obtido em c).
Resolução: a) Temos
∫ 1 ∫ 1 ∫ 1
(Av)(t) = (ts − 1)v(s) ds =
2
(ts − 1) · 3χ[0,1] (s) ds = 3
2
(ts2 − 1) ds = t − 3.
−1 −1 0

Então,
∫ 1 ∫ 1 ∫ 1
(v, Av) = v(t)(Av)(t) dt = 3χ[0,1] (t)(t − 3) dt = 3 (t − 3) dt = 3(0.5 − 3) = −7.5.
−1 −1 0

b) Im A = {Ax : x ∈ L2 } = {tC1 + C2 : C1 , C2 ∈ C} = Sp {1, t}. Então,


{ }
( Im A)⊥ = Sp {1, t2 }⊥ = {1, t2 }⊥ = x ∈ L2 : (x, 1) = (x, t2 ) = 0 .

Calculando
∫ 1 ∫ 1
(w, 1) = (3t − 1) dt = 2 − 2 = 0,
2 2
(w, t ) = (3t2 − 1)t dt = 0,
−1 −1

concluímos que w ∈ ( Im A)⊥ .


c) É preciso achar todos os λ ∈ C \ {0} tais que a equação (A − λI)x = 0 tem solução não-nula.
Escrevemos esta equação na forma
∫ 1 ∫ 1
C1 t − C2 − λx(t) = 0 onde C1 = 2
s x(s) ds, C2 = x(s) ds. (3)
−1 −1

2
Multiplicando (3) por t2 e 1, e tomando integral pelo intervalo [−1, 1], obtemos o sistema das
equações lineares algébricas em relação às C1 , C2 :
{ ∫ {
1
(C t3 − C2 t2 − λt2 x(t)) dt = 0 − 23 C2 − λC1 = 0
∫1 1
−1 ⇔ (4)
−1
(C1 t − C2 − λx(t)) dt = 0 −2C2 − λC2 = 0

É claro que sistema algébrico (4) tem solução (C1 , C2 ) não nula sse o determinante ∆ deste
sistema é igual a zero, i.e.

−λ − 32
∆ = = −λ (−2 − λ) = 0.

0 −2 − λ
Então, os autovalores do operador A são 0 e −2. Único autovalor não-nulo é λ1 = −2. Para
λ = −2 temos de (4) {
− 32 C2 + 2C1 = 0
⇒ C2 = 3C1 .
0=0
Então, de (3) obtemos
1 1
x(t) = (C1 t − C2 ) = − (C1 t − 3C1 ) = C(t − 3), ∀C ∈ C.
−2 2
Então, o autoespaço, associado ao autovalor λ1 = −2 é
H1 = ker(A + 2I) = Sp {t − 3}.

d) k ∈ C([−1, 1]2 ), então k ∈ L2 ([−1, 1]2 ). Segundo teorema conhecida do Capítulo 7, o


operador A é compacto em L2 . Como sabemos, todos os pontos do espectro não nulos de um
operador compacto são autovalores. Então, σ(A) = {0, −2}.
Observamos que B = I + 9A3 . Tomando ψ(λ) = 1 + 9λ3 , obtemos segundo Teorema sobre
aplicação dos espectros:
σ(B) = σ(ψ(A)) = ψ(σ(A)) = ψ({0, −2}) = {1, −71}.
Então, r(B) = sup |λ| = 71.
λ∈σ(B)

e) Notemos que a equação (2) pode ser escrita na forma (A∗ − λI)x = f , onde A∗ é adjunto
do operador A. Sabemos que σ(A∗ ) = σ(A), então, σ(A∗ ) = {0, −2}. Portanto, segundo
alternativa de Fredholm, a equação (2) não tem solução para algum f ∈ L2 , quando λ = −2.
f) Designemos a distância, que procuramos achar, por d. Segundo alternativa de Fredholm,
a equação (2) onde λ = −2 tem solução exactamente para f ∈ H1⊥ , onde H1 = ker(A + 2I)
foi achado em c). Temos L2 = H1 ⊕ H1⊥ e decomposição g = h + f onde h = Proj H1 g e
f = Proj H1⊥ g , sendo que d = ρ(g, H1⊥ ) = ∥g − f ∥ = ∥h∥. Lembremos que H1 = Sp {t − 3}.
Em designação φ(t) = t − 3 temos
(g, φ) |(g, φ)|
h= φ ⇒ ∥h∥ = .
∥φ∥2 ∥φ∥
Obtemos ∫ ∫
1 1 √
−1 g(t)φ(t) dt −1 (t − 3) dt 6 3 3
d = ∥h∥ = √∫ = √∫ =√ =√ .
1
|φ(t)| dt
2 1
(t − 3) dt
2 56/3 14
−1 −1

Prof. Doutor Yury Nepomnyashchikh

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