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Faculdade de Ciências

Departamento de Matemática e Informática


Exame de Recorrência de Análise Funcional. Correcção.

Duração: 2 horas 03.12.2012


Todas as respostas têm que ser justicadas! Se na resolução estão apresentados elementos das frases
das respostas, é preciso terminar as frases.

1. a) (2 valores) O que signica que duas normas em um espaço normado X são equivalentes?
b) (2 valores) No espaço de Banach l1 consideremos o conjunto M = {en : n ∈ N} onde
en = (0, . . . , 0, 1, 0, 0, . . .). Demonstre que o subespaço gerado topologamente por M
| {z }
n
coincide com l1 .
Resolução: a) Duas normas ∥ · ∥1 e ∥ · ∥2 em um espaço normado X chamam-se equivalentes,
se existem constantes positivas C1 e C2 tais que

∥x∥2 ≤ C1 ∥x∥1 , ∥x∥1 ≤ C1 ∥x∥2 (∀x ∈ X).

b) Sp M é conjunto de todas combinações lineares dos elementos de M , de outras palavras, o


conjunto de todas as sucessões que têm só um número nito de coordenadas diferentes de 0.

.) ∈ l1 e ε > 0. Pela denição de l1 , a série ∞
Sejam, agora, x = (x1 , x2 , . .∑ n=1 xn converge,
então, existe k ∈ N tal que ∞
∑∞ n=k+1 xn < ε. Temos que y = (x1 , x2 , . . . , xk , 0, 0, . . .) ∈ Sp M
e ∥x − y∥ =
n=k+1 xn < ε. Logo x ∈ Sp M , e, respectivamente, Sp M = l1 .

2. a) (2 valores) O que signica que um operador linear T : X → X em um espaço normado X


é compacto?
b) (2 valores) Verique se o operador (Ax)(t) = t2 x(0) + t3 x(1) − t4 x(2) no espaço C[0, 2] é
compacto.
c) (2 valores) Calcule a norma do operador A, denido na alínea anterior, no espaço C[0, 2].
Resolução: a) Um operador linear T : X → X em um espaço normado X chama-se compacto
se transforma qualquer conjunto limitado em X para conjunto relativamente compacto.
b) Sim. Im A = Sp {t2 , t3 , t4 } é subespaço de dimensão nita, e pelo Teorema 6.4(2) o operador
A é compacto.
c) Para todo x ∈ C[0, 1] temos

∥Ax∥ = max |t2 x(0) + t3 x(1) − t4 x(2)| ≤ max |t2 | · ∥x∥ + max |t3 | · ∥x∥ + max |t4 | · ∥x∥ ≤ 28∥x∥,
t∈[0,2] t∈[0,2] t∈[0,2] t∈[0,2]

então, ∥A∥ ≤ 28.


De outro lado tomemos alguma função x∗ ∈ C[0, 2] satisfazendo as condições ∥x∗ ∥ = 1, x∗ (0) =
x∗ (1) = 1 e x∗ (2) = −1. Temos

∥Ax∗ ∥ = max |t2 x∗ (0) + t3 x∗ (1) − t4 x∗ (2)| = max |t2 + t3 + t4 | = 28.


t∈[0,2] t∈[0,2]

Então, 28 = ∥Ax∗ ∥ ≤ ∥A∥∥x∗ ∥ = ∥A∥, o que junto com ∥A∥ ≤ 28 dá-nos ∥A∥ = 28.

1
3. Consideremos no espaço de Hilbert L2 = L2 [−1, 1] o operador A denido por
∫ 1 ( )
(Ax)(t) = 15 t4 + s4 x(s) ds.
−1

Observação. Na resolução é cómodo


∫1 usar a seguinte propriedade: para função x ímpar e
integrável em [−1, 1] tem lugar −1 x(s) ds = 0, mas para função y par e integrável em [−1, 1]
∫1 ∫1
tem lugar −1 y(s) ds = 2 0 y(s) ds.

a) (2 valores) Calcule o produto interno dos elementos u e (6I − A)u, onde u(t) = t + 1
(t ∈ [−1, 1]).
b) (2 valores) Ache o espectro do operador A.
c) (2 valores) Ache ker(A + 4I). Observação: é cómodo usar elementos de cálculo em b).
d) (2 valores) Usando alternativa de Fredholm, e resultados em b) e c), investigue, qual é a
quantidade das soluções da equação
∫ 1 ( )
15 t4 + s4 x(s) ds + 4x(t) = 2t3 − 4 sen 5 t
−1

no espaço L2 (não é resolúvel, ou única, ou duas, ou três, ... , ou innidade das soluções?).

e) (2 valores) Usando resultado em b), ache lim n ∥(A + 4I)2n ∥ .
n→∞

Resolução: a) Temos
∫1 ∫1
(Au)(t) = 15 −1
(t4 + s4 ) (s + 1) ds = 30 0
(t4 + s4 ) ds = 30t4 + 6 ⇒
((6I − A)u)(t) = 6t + 6 − 30t4 − 6 = 6t − 30t4 ⇒
∫1 ∫1
(u, (6I − A)u) = −1 (t + 1)(6t − 30t4 ) dt = 2 0 (6t2 − 30t4 ) dt = 4 − 12 = −8.

b) A é operador compacto no espaço L2 de dimensão innita, logo, 0 ∈ σ(A), pelo Teorema


6.8. Pelo mesmo teorema todos os pontos do espectro não-nulos são autovalores. Autovalores
não-nulos de A são tais λ ∈ C \ {0} que a equação (A − λI)x = θ tem solução não-nula.
Escrevemos esta equação na forma
∫ 1 ∫ 1
15C1 t + 15C2 − λx(t) = 0 onde C1 =
4
x(s) ds, C2 = s4 x(s) ds. (1)
−1 −1

Multiplicando (1) por 1 e t4 , e tomando integral pelo intervalo [−1, 1], obtemos o sistema das
equações lineares algébricas em relação aos C1 , C2 :
{ ∫ {
1
(15C1 t4 + 15C2 − λx(t)) dt = 0 (6 − λ)C1 + 30C2 = 0
∫1
−1 ⇔ (2)
−1
(15C1 t8 + 15C2 t4 − λt4 x(t)) dt = 0
10
C + (6 − λ)C2 = 0
3 1

É claro que sistema algébrico (2) tem solução (C1 , C2 ) não nula se e só se o determinante ∆ do
sistema é igual a zero.

6 − λ 30
∆ = 10 = (6 − λ)2 − 100 = (6 − λ − 10)(6 − λ + 10) = (λ + 4)(λ − 16) = 0

3
6−λ

2
As raízes da equação ∆ = 0 são λ1 = −4 e λ2 = 16. Então, σ(A) = {0, −4, 16}.
c) Observamos que H = ker(A+4I) é autoespaço, associado ao autovalor λ = −4. Para λ = −4
as soluções (C1 , C2 ) de (2) são (−3C, C) onde C ∈ C é arbitrário. Então, de (1) obtemos
15 15
x(t) = − (C1 t4 + C2 ) = − (−3Ct4 + C) = D(3t4 − 1), ∀D ∈ C.
4 4
Então, H = ker(A + 4I) = Sp {3t4 − 1}.
d) Observamos que operador A é auto-adjunto. Como λ = −4 é autovalor do operador A = A∗ ,
e pela alternativa de Fredholm, a equação (A + 4I)x = f onde f (t) = 2t3 − 4 sen 5 t é resolúvel
se e só se f ∈ H ⊥ , e caso resolúvel tem innidade das soluções. Como H ⊥ = ( Sp {3t4 − 1})⊥ =
{3t4 − 1}⊥ , é suciente vericar se f ⊥(3t4 − 1). Temos
∫ 1
(2t3 − 4 sen 5 t)(3t4 − 1) dt = 0,
−1

visto que a função sob o sinal integral é ímpar. Então, f ∈ H ⊥ , e, respectivamente, a equação
tem innidade das soluções.

e) Seja B = (A + 4I)2 . Pela denição, a = lim n ∥(A + 4I)2n ∥ = r(B). Em designação
n→∞
g(λ) = (λ + 4)2 temos B = g(A). Pelo teorema de aplicação dos espectros, e usando resultado
em b), obtemos

σ(B) = σ(g(A)) = g(σ(A)) = g({0, −4, 16}) = {16, 0, 400} ⇒ a = r(B) = sup |λ| = 400.
λ∈σ(B)

Prof. Doutor Yury Nepomnyashchikh

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