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Resolvendo problemas em Geometria Diferenciais

com o uso do método das variações

Stefani Rose Teixeira stefanirose1995@gmail.com


Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil
Gil F. de Souza gilsouza@iceb.ufop.br
Universidade Federal de Ouro Preto, Ouro Preto, MG, Brasil

Resumo
Neste trabalho estudamos uma parte da vasta aplicacão do Lema Fundamental do Cálculo das
Variações. Tais aplicações são problemas de otimização na busca de máximos ou mínimos do
Cálculo Diferencial para funcionais.

Palavras-chave
Multiplicadores de Lagrange, Problema Isoperimétrico, Superfícies Mínimas, Variações.

1 Introdução

O Cálculo das Variações nos fornece técnicas analíticas para obter soluções
de problemas do seguinte tipo:

• O caminho mais curto entre dois pontos em uma superfície.

• A superfície que possui menor área superficial.

• a trajetória de uma partícula que, sujeita a um campo gravitacional constante,


sem atrito e com velocidade inicial nula, se desloca entre dois pontos no
menor intervalo de tempo.

• Obtenção de Soluções de equações diferenciais parciais que possuam uma


estrutura apropriada.

Mesmo a Física Matemática atual se sustem em grande parte, via o Príncipio


do menor esforço. O cálculo das variações lida com o problema de encontrar ex-
tremais de “funcionais", o que é, de certo modo uma generalização do problema
c 2017 by Periódicos UFOP Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:29-50 2017 : 2237-8103
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de encontrar extremais de funções de várias variáveis do cálculo. Esta generali-


zação é bem direta, desde que se tenha conhecimento de Cálculo Diferencial.

2 Lema fundamental do Cálculo de Variações

Sejam u = (u1 , . . . , un ) e v = (v1 , . . . , vn ) de Rn , o produto interno (ou


escalar) desses vetores é dado por

hu, vi = u = u1 v1 + . . . + un vn .

Uma curva parametrizada em Rn é uma aplicação α(t) = (α1 (t), . . . , αn (t))


em que t pertence a um intervalo. No caso em que α é de classe C 2 , o seu
vetor tangente é dado por α0 (t) = (α10 (t), . . . , αn0 (t)) e seu vetor derivada é
α”(t) = (α1 ”(t), . . . , αn ”(t)).
Uma superfície parametrizada regular é uma aplicação X(u, v) =
(x(u, v), yx(u, v), z(u, v)), (u, v) ∈ U , definida em um aberto U ⊂ R2 tal
que
Xu (u, v) × Xv (u, v) 6= 0,

em que Xu e Xv são as derivadas parciais de X.


O Cálculo de Variações é uma espécie de generalização da teoria de Máximos
e Mínimos do Cálculo Diferencial, porém neste caso trabalhamos com funcionais
definidos em um espaço de funções ou curvas de nosso interesse.
O Cálculo das Variações trata principalmente da determinação de pontos
(ou funções) críticos(as) e a obtenção de máximos ou mínimos de funcionais
. O Resultado principal do Cálculo de Variações é o Lema Fundamental do
Cálculo de Variações que é enunciado a seguir.
Lema 1 (O Lema Fundamental do Cálculo de Variações). Se uma função contí-
nua f : [0, 1] → Rn é tal que
Z 1
hf (t), h(t)i dt = 0,
0

para toda função h : [0, 1] → Rn de classe C 2 com h(0) = h(1) = 0, então


f ≡ 0.
As funções h : [0, 1] → Rn e h(0) = h(1) = 0 do Lema fornecem uma
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“perturbação"da função f que queremos tratar, permitindo-nos encontrar mais


facilmente funções críticas de um funcional.
Uma alteração ( ou mesmo aplicação) do Lema Fundamental do Cálculo de
Variações é uma versão dos Multiplicadores de Lagrange para o Cálculo Variaci-
onal e é utilizado para resolver problemas de maximização de funcionais restritos
por alguma informação denominada vínculo. O método de Multiplicadores de
Lagrange do Cálculo das Variações é a aplicação de do Lema 1 a funcionais do
tipo
S̃[α] = S[α] − λ(vínculo)

3 Aplicações

Nesta seção apresentaremos uma série de resultados que são aplicações do


Lema 1 ou de sua forma alterada, o método dos multiplicadores de Lagrange.

3.1 Geodésicas no plano

Como primeiro exemplo, vamos à verificação de que a curva de menor


comprimento (geodésica) unindo dois pontos no plano é, de fato, o segmento de
reta com extremidades nos pontos avaliados. Porém, antes introduziremos um
pouco de notação.
Seja f : U ⊂ Rn uma função diferenciável, x ∈ U é um ponto crítico de
f de Df (x) = 0, em que Df (x) é a matriz jacobiana de de f . Esta condição é
equivalente a Df (x)ε = 0 para todos os vetores tangentes ε em x. Esta condição
é equivalente a
d
f (x + sε) = 0.
ds s=0

Proposição 1. A curva de menor comprimento ligando dois pontos em R2 é um


segmento de reta. A conclusão de que a curva α é, de fato, a solução vem do fato
que o funcional avaliado é convexo e portanto a curva crítica encontrada é a
que minimiza o funcional.

Demonstração. Para melhor compreensão da proposição e do método analítico,


observe a figura 1, ela contém diversas curvas interligando o ponto P ao ponto
Q.
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Figura 1: Menor caminho entre P e Q.

A intuição geométrica leva-nos a concluir que a curva de menor compri-


mento ligando P a Q é um segmento de reta. Para a comprovação desse fato,
efetuaremos cálculos analíticos que nos conduzirão ao resultado.
Considere uma curva α(t) = (x(t), y(t)), t ∈ [0, 1], de classe C 2 , tal que
α (0) = P e α (1) = Q. O funcional comprimento de arco do caminho α(t) é :
Z 1 Z 1 q
S [α] = 0
kα (t)k dt = x0 (t)2 + y 0 (t)2 dt
0 0

Considerando uma aplicação ε tal que ε(0)= ε(1) = 0, a “perturbação”


α(t) + sε(t) é de extremidades fixas em P e Q e calculando a variação de
S[α + ε] à procura de uma função crítica, teremos

 Z 1 
d d 0 0
S[α + sε] = ||α (t) + sε (t)|| dt = 0, ∀ε ∈ [0, 1]
ds s=0 ds 0 s=0
(1)
Na equação (5), podemos derivar sob o sinal de integral pelo Teorema de
Leibnitz para integrais, e o cálculo de
Z 1 
d d 0 0
S[α + sε] = kα (t) + sε (t)kdt =0
ds s=0 0 ds s=0
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que após simplificações, nos leva a


1
hα0 (t) + sε0 (t), ε0 (t)i
Z
=0 (2)
0 kα0 (t) + sε0 (t)k

Realizando s = 0 na equação (2) :

1
α0 (t) 0
Z  
d
S[α + ε] = , ε (t) dt (3)
ds 0 kα0 (t)k
Aplicando a integração por partes na integral da equação (3), e utilizando o
fato de ε(0)= ε(1) = 0
Z 1   0 
d d α (t)
S[α + sε] =− ε(t), dt = 0, ∀ε(t) ∈ [0, 1]
ds s=0 0 dt ||α0 (t)||
(4)
2
Sendo
0
 é valida para todo ε(t) de classe C , o que nos leva a
(4)
d α (t)
0
= α00 (t) = 0.
dt kα (t)k
Para que a α00 (t) seja o vetor nulo, α0 (t) deve ser uma constante vetórial e
isto ocorre se, somente se α(t) for um segmento de reta.

3.2 Geodésicas na esfera


Proposição 2. A curva de menor comprimento entre dois pontos distintos na
superfície de uma esfera é um arco de um círculo máximo unindo estes dois
pontos.

Demonstração. Tome dois pontos distintos P e Q na superfície de uma esfera


unitária S 2 em R3 e uma curva α de classe C 2 tal que α(0) = P e α(1) = Q.
Utilizando coordenadas esféricas, podemos escrever α como

α(t) = (cos θ(t) sin φ(t), sin θ(t) sin φ(t), cos φ(t)).

Sendo a expressão do vetor tangente α0 (t) dada por

(−sinθ(t) sin φ(t)+cos θ(t) cos φ(t), cos θ(t) sin φ(t)+sin θ(t) cos φ(t), − sin φ(t))φ0 (t)
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Após simplificações, a norma do vetor tangente é

kα0 (t)k = (θ0 )2 sin2 φ(t) + (φ0 )2 (cos2 φ(t) + sin2 φ(t))

e portanto, o funcional comprimento de arco da curva será


Z 1 q
S[α] = (θ0 (t))2 sin2 φ(t) + (φ0 (t))2 dt. (5)
0

Utilizando a mesma técnica da subseção anterior, podemos obter a o menor


caminho entre P e Q. Além disso, podemos simplificar os cálculos com a
substituição simples de θ por θ(φ):

dφ = φ0 (t)dt (6)

θ(t) = θ(φ(t))

Derivando em função de t obtemos:

θ0 (t)
θ0 (t) = θ0 (φ(t))φ0 (t) ←→ φ0 (t) = (7)
θ0 (φ(t))

Substituindo o valor de φ0 (t) obitido na equação (2) na equação (5):


s 
1 2
θ0 (t)
Z 
S[θ, φ] =  (θ0 (t))2 sin2 φ(t) +  dt =
0 θ0 (φ(t))
s !
1
(θ0 (t))2
Z
= (θ0 (t))2 sin2 φ(t) + 0 dt =
0 (θ (φ(t)))2
Pela equação 2 utilizaremos a substituição simples.
Z φQ q 
2
S[θ] = sin φ(θ0 (φ)2 + 1 dφ
φP

Aplicando uma “perturbação” em θ(φ) com extremidades fixas nos pontos


P e Q sendo esta curva θ(φ) + sθ̄(φ) que contém as propriedades de θ̄(φ(Q) ) =
θ̄(φ(P ) ) = 0 pertencente ao R3 , podemos afirmar que cada θ(φ) corresponde a

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um θ̄(φ), para cálculo do comprimento da distância entre os pontos P e Q as


funções estão descritas na fígura 2.

Figura 2: Representação da area superficial da esfera.

Estas equações nos levam a uma equação diferencial que nos conduziarão à
obtenção da natureza da curva de menor comprimento que une P e Q.

 Z φQ q  
d d 2 0 2
S[θ + sθ̄] = sin φ[(θ(φ) + sθ̄(φ)) ] + 1 dφ =
ds s=0 ds φP s=0

Z φQ q  
d d 2
S[θ + sθ̄] = sin φ[(θ(φ) + sθ̄(φ))0 ]2 + 1 dφ =
ds s=0 φP ds s=0

! !
φQ
2 sin2 φ[θ0 (φ) + sθ̄0 (φ)]θ̄0
Z
= p 2 dφ
φP 2 sin φ[θ0 (φ) + sθ̄0 (φ)]2 + 1 s=0

Realizando s=0 valido para ∀θ̄.


" !#
φQ
sin2 φ[θ0 (φ)]
Z
d
S[θ + sθ̄] = θ̄0 p 2 dφ
ds s=0 φP sin φ[θ0 (φ)]2 + 1
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Utilizando o lema fundamental de variações a igualdade é válida se sin2 φ


ou θ̄0 (φ) são iguais a zero. A primeira opção, sin2 φ = 0, resulta em φ(θ) = 0 ou
φ(θ) = π, mostrando que ψ não depende de θ e é constante, portanto, obtemos
um círculo máximo relativo a um dos meridiandos de S 2 . No caso em que
θ0 (φ) = 0, teremos θ(φ) = Const., com o φ variando e isso nos leva a um
círculo máximo da esfera passando pelos pontos P e Q. Com isto, concluímos a
Proposição.

3.3 Obtendo a Superfície de Revolução de menor área superficial

Uma superfície de revolução é obtida como a rotação de uma curva denomi-


nada geratriz, em torno de um eixo de revolução que pertence ao mesmo plano
da curva.
Por exemplo, um cone duplo é superfície de revolução gerada pela rotação
da geratriz x = y em torno do eixo y que é o eixo de revolução. A figura 3 é uma
parte da superfície obtida pela rotação da curva em torno do eixo y.

Figura 3: Superficie de Revolução

Pelas informações do triângulo da figura 5, podemos escrever como os pontos


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Figura 4: Relação

Figura 5: Relação da figura 6

da superfície de revolução como.

X(x, θ) = (x, f (x)cos(θ), f (x)sen(θ)), ∀x ∈ [a, b]|f (x) 6= 0

.
Com a hipótese que f (x) > 0, para todo x, teremos que a superfície de
revolução estudada é uma superfície parametrizada regular (i.e, Xx × Xθ 6= 0),
podemos obter dois vetores distintos:


• [X(x, θ)] = Xx = (1, f 0 (x)cos(θ), f 0 (x)sen(θ)) ;
∂x


• [X(x, θ)] = Xθ = (0, −f (x)sen(θ), f (x)cos(θ))
∂θ

Cujo produto vetorial é


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X(x)×X(θ) = (f (x)f 0 (x), − cos(θ)f (x), − sin(θ)f (x)) = (f (x)(f 0 (x), − cos(θ), − sin(θ))

Dado que a área superficial de superfície S é dada pela fórmula


Z bZ 2π
A(S) = kXx × Xθ k dθdx (8)
a 0

Substituindo os valores de Xx e Xθ na equação 8:


Z bZ 2π p
A(S) = f (x) 1 + (f 0 (x))2 dθdx
a 0

Z b p
= f (x) 1 + (f 0 (x))2 θ|2π
0 dx
a

Z b p
= 2π f (x) 1 + (f 0 (x))2 dx.
a

Após esta breve introdução às superfícies de revolução, enunciamos a aplica-


ção do Lema Fundamental do Cálculo de variações desta subseção.

Proposição 3. A a geratriz da superfície de revolução menor área superficial é


uma catenária.

Demonstração. Considerando uma variação com extremidades fixas dada por


uma função g(x) tal que g(a) = g(b) = 0. Teremos

 Z b 
d d p
0 2
A(f + sg) = 2π (f (x) + sg(x)) 1 + (f (x) + sg(x)) dx =
ds s=0 ds a s=0

Z b
d  p
0 2

= 2π (f (x) + sg(x)) 1 + (f (x) + sg(x)) )dx =
a ds s=0
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! !
b
(f (x) + sg(x))(f 0 (x) + sg(x))g 0 (x)
Z p
= 2π g(x) 1 + (f 0 (x) + sg(x))2 + 1 dx =
a (1 + (f 0 (x) + sg(x))2 ) 2 s=0

Realizando s=0 obtemos:

!!
b
g 0 (x)f (x)f 0 (x)
Z p
= 2π g(x) 1 + (f 0 (x))2 + 1 dx =
a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

! !
Z b Z b 0 0
p
0 2
g (x)f (x)f (x)
= 2π (g(x) 1 + (f (x)) )dx + 1 dx =0 (9)
a a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

Utilizando a integração por partes na segunda integral da equação (9), válido


pra todo g(x) no internalo [a, b] :
!
b
g 0 (x)f (x)f 0 (x)
Z
1 dx =
a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

" # b !
b
g(x)f (x)f 0 (x) (f (x)f 00 (x) + (f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 )
Z
1 − g(x) 3 dx =
(1 + (f 0 (x)2 ) 2 a
a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

!
b
(f (x)f 00 (x) + (f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 )
Z
− g(x) 3 dx. (10)
a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

Subistituindo a equação (10) na equação (9):

! !
Z b Z b 00 0 2 0 4
p (f (x)f (x) + (f (x)) + (f (x)) )
= 2π (g(x) 1 + (f 0 (x))2 )dx − g(x) 3 dx =
a a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

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! !
b
(f (x)f 00 (x) + (f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 )
Z p
= 2π g(x) 1 + (f 0 (x))2 − 3 dx = 0.
a (1 + (f 0 (x)2 ) 2

Pelo lema fundamental do cálculo de variações a igualdade é válida quando:

1 (f (x)f 00 (x) + (f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 )


(1 + (f 0 (x))2 ) 2 − 3 = 0,
(1 + (f 0 (x)2 ) 2
que pode ser manipulada como segue

1 3
(1 + (f 0 (x))2 ) 2 (1 + (f 0 (x)2 ) 2 − (f (x)f 00 (x) + (f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 ) = 0

(1 + (f 0 (x))2 )2 − (f (x)f 00 (x) + (f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 ) = 0

1 + 2(f 0 (x))2 + (f 0 (x))4 − f (x)f 00 (x) − (f 0 (x))2 − (f 0 (x))4 = 0

1 + (f 0 (x))2 − f (x)f 00 (x) = 0

1 + (f 0 (x))2 − f (x)f 00 (x) = 0

Obtemos a equação diferencial da superfície de revolução de menor área


superficial que é: " #
d f (x)
p =0 (11)
dx 1 + (f 0 (x))2
Integrando a equação (11):

f (x)
p =C
1 + (f 0 (x))2
p f (x)
1 + (f 0 (x))2 =
C

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p 2  f (x) 2
1 + (f 0 (x))2 =
C
 2
0 2 f (x)
1 + (f (x)) =
C
 2
0 2 f (x)
(f (x)) = −1
C
s 2
0 f (x)
f (x) = −1
C

f 0 (x)
r 2 =1 (12)
f (x)
C
−1

Integrando a equação (12) obtemos:


 
Z 0 Z
 r f (x)
 
 dx = 1dx (13)
  2 
f (x)
C
−1

f (x)
Utilizando substituição simples na equação (13): u = , Cdu =
C
f 0 (x)dx.
Z ! Z
1
C p du = 1dx (14)
(u)2 − 1
Realizando a substituição trigonométrica na equação (14): u = cosh(t),
du = sinh(t)dt.
Z !
sinh(t)
C p dt = x + D (15)
(cosh(t))2 − 1

Aplicando a identidade trigonométrica hiperbólica sinh2 (t) = cosh2 (t) − 1


na equação (15):

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 
Z
C  qsinh(t)  dt = x + D
sinh2 (t)
Z  
sinh(t)
C dt = x + D
|sinh(t)|

x+D−E x D−E
Z
±C 1dt = x+D ↔ ±Ct+E = x+D ↔ t = ↔t=± ±
±C C C

x
t=± ±K
C
f (x)
Substituindo o valor de t obtido em u = cosh(t) da equação (15) e u =
C
da equação (14) :

f (x)  x 
u = cosh(t) ↔ = cosh ± ± K
C C
Para a igualdade da equação (9) seja verdadeira, a função que representa
a distância do eixo
 xde revolução
 e o ponto contido na superfície do objeto é
f (x) = C cosh ± ± K , ou seja uma catenária.
C

3.4 A Desigualdade Isoperimétrica


Há a lenda da Rainha Dido de Cartago, que teve que fugir com seus seguido-
res da cidade Tiro onde vivia, a vida de todos estavam ameaçadas por disputas de
poder. Após viajar durante muito tempo, chegou ao norte do continente africano
e pediu à população local um assentamento para a construção de um vilarejo.
Eles a impuseram que ficasse com a área que pudesse ser cercada pela pele de um
boi. O problema que envolvia Dido era encontrar o contorno do assentamento de
tal maneira que área delimitada fosse máxima. Inteligentemente ela cortou a pele
do boi em tiras muito finas formando uma corda e manuseou-a até formar um
semicírculo perpendicular ao mar Mediterrâneo. A rainha resolveu o que hoje
chamamos de Problema Isoperimétrico relativo. Essa é a lendária história da
fundação de Cartago contada por Virgílio (70 a.C.-19 a.C.) no livro Eneida.
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A seguir, o enunciado do resultado desta subseção.

Proposição 4. A curva α fechada e simples(sem auto-interseção) no plano, de


l
comprimento dado `, que delimita maior área é o círculo de raio .

Demonstração. Utilizaremos o método dos multiplicadores de Lagrange para


solucionar este problema. Sem perda de generalidade, suporemos que a curva α
está parametrizada pelo comprimento de arco, ou seja, adicionaremos a hipótese
p
que ||α0 || = (x0 )2 + (y 0 )2 = 1. Segue do Teorema de Green que a àrea delimi-
Z `
1
tada por α é (xy 0 − yx0 ) dt, queremos maximizar este funcional restrito ao
Z ` p0 2
vínculo (x0 )2 + (y 0 )2 dt = `, ou seja, pelo método dos multiplicadores de
0
Lagrange do Cálculo Variacional devemos trabalhar com o funcional
Z ` 
1 0 0
p
S[α] = (xy − yx ) − λ (x0 )2 + (y 0 )2 dt, λ ∈ R.
0 2

Realizando variação da curva α que contém comprimento l fixo, para uma curva
α + s que mantém o mesmo perímetro l de α, sendo que 1 (0) = 2 (0) =
1 (l) = 2 (l) = 0, teremos

d
S[α + s] =0
ds s=0
ou

d
S[α + s] =
ds s=0

Z `   
d 1 0 0 0 0
= (x + s1 )(y + s2 ) − (y + s2 )(x + s1 ) − λkα + s k dt =
ds 0 2 s=0

Z `   
d 1 0 0 0 0
= (x + s1 )(y + s2 ) − (y + s2 )(x + s1 ) − λkα + s k dt =
0 ds 2 s=0
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 Z ` 
1 0 0 0 0
= [(1 )(y + s2 ) + (x + s1 )(2 ) − (2 )(x + s1 ) − (y + s2 )(1 ) )]dt −
2 0 s=0

!
1 0 (x + s1 )0 + 2 0 (y + s2 )0
Z
− λ dt =
(x + s1 )0 ]2 + [(y + s2 )0 ]2
p
s=0

Realizando s=0.

`
1 0 x0 + 2 0 y 0
Z
1 0
[y 1 + x(2 )0 − x0 2 − y(1 )0 ] − λ p dt (16)
0 2 (x0 )2 + (y 0 )2
Dividiremos a integral da equação (16) em 3 diferentes, para obter uma
relação entre os elementos contidos dentro de cada integral. A segunda e na
terceira integral utilizaremos o método de integração por partes para obter o
1 e 2 pois sabemos o valor que eles assumem nas extremidades. Também
utilizaremos o fato de α ter parametrização por comprimento de arco que ||α|| =
p
(x0 )2 + (y 0 )2 = 1.

Z ` Z ` Z `
1 1 0 0
0
y 1 − x 2 dt + 0
x(2 ) − y(1 ) dt − λ (1 )0 x0 + (2 )0 y 0 dt =
2 0 2 0 0

Z ` Z ` Z `
1 0 0 1 0 0
= h(y , −x ), (1 , 2 )i dt+ h(y , −x ), (1 , 2 )i dt+λ h(x00 , y 00 ), (1 , 2 )i dt
2 0 2 0 0

Somando as integrais.

Z `
1 1
= h(y 0 , −x0 ), (1 , 2 )i + h(y 0 , −x0 ), (1 , 2 )i + λ h(x00 , y 00 ), (1 , 2 )i dt =
0 2 2

Z `
= h(y 0 , −x0 ), (1 , 2 )i + λ h(x00 , y 00 ), (1 , 2 )i dt =
0

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Z `
= h(y 0 + λx00 , −x0 + λy 00 ), (1 , 2 )i dt = 0, ∀1 , 2 ∈ [0, l]
0

Tal igualdade só é possivel se (y 0 + λx00 , −x0 + λy 00 ) = 0, ou

y 0 + λx00 = 0

−x0 + λy 00 = 0

Utilizando u = x0 e v = y 0 .

1) v + λu0 = 0

2) −u + λv 0 = 0 ↔ u = λv 0

Substituindo u = λv 0 na primeira expressão e obtemos v + λ2 v 00 = 0, cuja


soluçãão pode ser obitida pelo método que utilizaremos abaixo.
Suponhamos que a solução seja do tipo v = ert e substituamos na última
equação.
v + λ2 v 00 = 0 ↔ ert + λ2 (r2 ert ) ↔
r
−1 −1 i
↔ ert (1 + λ2 r2 ) = 0 ↔ (1 + λ2 r2 ) = 0 ↔ r2 = 2 ↔ r = 2
↔r=±
λ λ λ
Os valores de λ nos levam aos seguintes casos
i
i) r =
λ
   
it t t
~v1 = e( λ ) = cos + i sin
λ λ
i
ii) r = −
λ
   
it t t
~v2 = e(− λ ) = cos − i sin
λ λ
Observado que todas as soluções da equação diferencial acima são escritas
como combinação linear de ~v1 e ~v2 , teremos

~v = a1~v1 + a2~v2 (17)


Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:45-50 2017 45
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~v1 + v~2 ~v1 − v~2 t


Se realizarmos e obtemos respectivamente ~v1 = cos( ) e
2 2i λ
t
~v2 = sin( ) que são duas soluções reais da equação diferencial. Substituindo ~v1
λ
e ~v2 na equação (17), teremos
   
t t
v = C1 cos + C2 sin
λ λ
Como v = y 0 , integrando v obtemos y:
Z Z    
0 t t
y dt = C1 cos + C2 sin dt
λ λ
   
t t
y = λC1 sin − λC2 cos + C0 (18)
λ λ
Derivando v = y 0 para obter y 00 para u e x em 1 e 2.
   
00 1 t 1 t
y = − C1 sin + C2 cos
λ λ λ λ
Substituindo em 2:
    
0 −C1 t C2 t
−x + λ sin + cos =0
λ λ λ λ
   
0 t t
x = −C1 sin + C2 cos (19)
λ λ
Integrando (19) em ambos os lados da igualdade para obter o valor de x.
Z Z    
0 t t
x dt = −C1 sin + C2 cos dt
λ λ
   
t t
x = λC1 cos + λC2 sin + C3 (20)
λ λ
Após as contas realizadas obtemos y na equação (18) e x na equação (20).
As constantes C3 e C0 só translada o gráfico com isso podemos ignorá-las para
os passos seguintes.

• x:
Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:46-50 2017 46
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t t
x = λC1 cos + λC2 sin =
λ λ

"    #
p λC1 t λC2 t
= (λC1 )2 + (λC2 )2 p cos +p sin =
(λC1 )2 + (λC2 )2 λ (λC1 )2 + (λC2 )2 λ

    
p
2 2
t t
= (λC1 ) + (λC2 ) sin(δ) cos + cos(δ) sin =
λ λ

 
p t
x = (λC1 )2 + (λC2 )2 sin δ +
λ

• y:

   
t t
y = λC1 sin − λC2 cos =
λ λ

"    #
p λC1 t λC2 t
= (λC1 )2 + (λC2 )2 p sin −p cos =
(λC1 )2 + (λC2 )2 λ (λC1 )2 + (λC2 )2 λ

    
p t t
= (λC1 )2 + (λC2 )2 sin(δ) sin − cos(δ) cos =
λ λ

 
p
2 2
t
y = (λC1 ) + (λC2 ) cos δ +
λ
Como
   
p t p t
x= (λC1 )2 + (λC2 )2 sin δ + 2 2
e y = (λC1 ) + (λC2 ) cos δ + ,
λ λ
p
segue que o raio do círculo é (λC1 )2 + (λC2 )2 , dado que o mesmo possui
Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:47-50 2017 47
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comprimento igual a ` e o perímetro de um círculo é dado por P = 2πr obtemos

p p `
2π (λC1 )2 + (λC2 )2 = ` ←→ (λC1 )2 + (λC2 )2 = .

Substituindo o resultado em x e y, obtemos


   
p
2 2
t ` t
x = (λC1 ) + (λC2 ) sin δ + = sin δ + (21)
λ 2π λ
   
p
2 2
t ` t
y = (λC1 ) + (λC2 ) cos δ + = cos δ + (22)
λ 2π λ
Como a curva é tal que||α0 || = 1.

s
  0 2   0 2
p ` t ` t
||α|| = (x0 )2 + (y 0 )2 = sin δ + + cos δ + =
2π λ 2π λ

s  2   2
p ` t −l t
= (x0 )2 + (y 0 )2 = cos δ + + sin δ + =
2πλ λ 2πλ λ

s      s 2 
l2 t t l
= cos2 δ + + sin2 δ + = =
(2πλ)2 λ λ (2πλ)2

`
= = 1 ←→ |λ| = 2π` ←→ λ = 2π`
2π|λ|
Substituindo o valor de λ na equação (21) e (22).
   
` t ` t
x= sin δ + = sin δ +
2π λ 2π 2π`
   
` t ` t
y= cos δ + = cos δ +
2π λ 2π 2π`

Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:48-50 2017 48


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A curva α é caracterizada como


    
` t ` t
α(t) = sin δ + , cos δ + ,
2π 2π` 2π 2π`

concluindo a demonstração.

4 Conclusão

Nesse trabalho, apresentamos aplicações do Cálculo das Variações a alguns


problemas em Geometria Diferencial. Outras aplicações possíveis, dentro da
Geometria Diferencial, é a obtenção de superfícies de revolução vinculadas a um
volume fixado, cujo desenvolvimento leva-nos a obter as Superfícies de Delaunay
que aparecem no estudo das Superfícies de Curvatura Média Constante que são
amplamente estudadas na literatura. O Cálculo das Variações é usado ostensi-
vamente em diversas áreas da Matemática e uma área em que é amplamente
utilizada é o de Equações Diferenciais Parciais em que funcionais são associados
a equações que possuam uma “estrutura variacional"e cujas soluções são funções
críticas de tais funcionais.
Dadas as inúmeras aplicações do Cálculo das variações, concluímos que
o estudo do Cálculo das Variações é de grande importância em diversas áreas,
sendo o seu estudo justificado e de extremo interesse aos envolvidos no projeto.

5 Agradecimentos

Agradeço a todos que ajudaram para que este trabalho de iniciação cientifica
se tornasse realidade, principalmente ao meu orientador Gil Fidelix de Souza,
pelo suporte, orientação, confiança e apoio na elaboração deste trabalho. Ao
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), pela
oportunidade de desenvolver este tema como bolsista.
Às pessoas que sempre estiveram ao meu lado; minha mãe Rosilene, meu
pai Luiz, meu irmão Luigi e aos meus amigos Ana, Bárbara, Isabela, Mônica e
Pedro do #vai time.

Referências

[1] C. Delaunay; Sur la Surface de Revolution dont la Courbure Mouyenne est


Constante, Journal de Mathematiques Pures e Appliquées, (1841), 309-320,
Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:49-50 2017 49
Universidade Federal de Ouro Preto

Paris.

[2] M. P. do Carmo, Geometria Diferencial de Curvas e Superfícies. Sociedade


Brasileira de Matemática, 3a edição, Coleção Textos Universitários.

[3] J. Eells, The Surfaces of Delaunay. The Math. Int. vol. 9, no 1, Springer-
Verlag New York, (1987), 53-57.

[4] J. Figueroa-O’Farril, Brief notes on the Calculus of Variations.Disponível


online em http://www.maths.ed.ac.uk/ jmf/Teaching/Lectures/CoV.pdf.
Acesso em 10/05/2016.

[5] E. L. Lima; Álgebra Linear, terceira edição. SBM, Coleção Matemática


Universitária, (1998).

[6] E. L. Lima, Curso de Análise, Volume 2, quinta edição. SBM, Projeto


Euclides, 1999.

[7] J. Oprea; Differential Geometry and its Applications. Association of Ame-


rica, 2nd edition, 2007.

[8] J. Stewart; Cálculo, Volumes 1 e 2. Ed. Cengage Learning, 7a edição.

[9] K. Tenenblat; Introdução à Geometria Diferencial. Ed. Edgard Blücher, 2a


edição.

Revista de Matemática de Ouro Preto v.1 pp:50-50 2017 50

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