Você está na página 1de 6

Capı́tulo 1

AULA 09 - Transformações Lineares

Definição 1 Sejam V e W espaços vetoriais e T : V → W uma função. Dizemos que T é


uma transformação linear de V em W se satisfaz as seguintes axiomas.

(T1) T (u + v) = T (u) + T (v), ∀u, v ∈ V ;

(T2) T (λu) = λT (u), ∀u ∈ V e ∀λ ∈ R.

No caso em que V = W é comum chamar uma transformação linear, T : V → V , de


aplicação linear ou, ainda, operador linear. E no caso em que W = R dizemos que uma
transformação linear f : V → R é um funcional linear.

Proposição 1 Sejam V e W espaços vetoriais. Então, uma função T : V → W é uma


transformação linear se, e somente se

X T (u + λv) = T (u) + λT (v), ∀u, v ∈ V e ∀λ ∈ R.

Proposição 2 Se T : V → W é uma transformação linear, então T (0) = 0.

Dem. De fato,
T (0V ) = T (u − u) = T (u) − T (u) = 0W .
Aqui, 0V indica o elemento neutro de V e OW denota o elemento neutro de W . 

Vejamos, agora, alguns exemplos de funções que são transformações lineares.

Exemplo 1 (Transformação Nula) O : V → W definida por O(u) = 0, ∀u ∈ V é linear

Exemplo 2 (Identidade) IdV : V → V definida por IdV (u) = u, ∀u ∈ V é linear.

Exemplo 3 S : R2 → R3 definido por S(x, y) = (x, y, x + y) é linear.

1
Solução: De fato, sejam (x1 , y1 ), (x2 , y2 ) ∈ R2 e λ ∈ R. Então, temos

T ((x1 , y1 ) + λ(x2 , y2 )) = T (x1 + λx2 , y1 + λy2 )


= (x1 + λx2 , y1 + λy2 , x1 + λx2 + y1 + λy2 )
= (x1 + λx2 , y1 + λy2 , x1 + y1 + λx2 + λy2 )
= (x1 + λx2 , y1 + λy2 , (x1 + y1 ) + λ(x2 + y2 ))
= (x1 , y1 , x1 + y1 ) + (λx2 , λy2 , λ(x2 + y2 ))
= (x1 , y1 , x1 + y1 ) + λ(x2 , y2 , x2 + y2 )
= T (x1 , y1 ) + λT (x2 , y2 ).


Exemplo 4 (Operador Diferencial) Sejam C 1 (R) = conjunto das funções reais de R em


R que são deriváveis e sua derivada é uma função contı́nua e C(R) = conjunto das funções
reais de R e R contı́nuas. A transformação T : C 1 (R) → C(R) definida por T (f ) = f 0 é
linear, onde f 0 denota a derivada de f .

Solução: De fato, sejam f, g ∈ C 1 (R) e λ ∈ R, então temos

T (f + λg) = (f + λg)0 = f 0 + λg 0 = T (f ) + λT (g.)

Exemplo 5 (Operador Integral) Seja C([0, 1]; R) = conjunto das funções reais de [0, 1]
em R que são contı́nuas. A transformação S : C([0, 1]; R) → R definida por
Z 1
S(f ) = f (t)dt
0

é linear.

Solução: De fato, sejam f, g ∈ C([0, 1]; R) e λ ∈ R, então temos


Z 1 Z 1 Z 1
S(f + λg) = [f (t) + λg(t)]dt = f (t)dt + λ g(t)dt = S(f ) + λS(g).
0 0 0

Exemplo 6 (Função Avaliação) Sejam F(R) = o conjunto das funções reais de R em R


e x ∈ R fixado. A função Jx : F(R) → R definida por

Jx (f ) = f (x)

é linear.

2
Solução: De fato, sejam f, g ∈ F(R) e λ ∈ R. Então, temos

Jx (f + λg) = (f + λg)(x) = f (x) + λg(x) = Jx (f ) + λJx (g).

Exemplo 7 (Matriz como Transformação Linear) Seja A ∈ Mn×m (R). A transformação


LA : Mm×1 (R) → Mn×1 (R) definida por

LA (X) = AX

é linear.

Solução: De fato, sejam X, Y ∈ Mm×1 (R) e λ ∈ R. Então, temos

LA (X + λY ) = A(X + λY ) = AX + λAY = LA (X) + λLA (Y ).

Exemplo 8 ( Operador Traço ) Seja A = (aij )n×n uma matriz quadrada de ordem n.
Definimos o traço de A, e denotamos por T r(A), a soma das entradas da diagonal principal.
Assim,
Xn
T r(A) = akk = a11 + a22 + a33 + a44 + ... + ann .
k=1

Mostre que a transformação T r : Mn×n (R) → R definida anteriormente é linear.

Solução: De fato, sejam A = (aij ), B = (bij ) ∈ Mn×n (R) e λ ∈ R. Então, temos


n
X n
X n
X n
X
T r(A + λB) = (A + λB)kk = (akk + λbkk ) = akk + λ bkk = T r(A) + λT r(B).
k=1 k=1 k=1 k=1

Vejamos, agora, exemplos de funções que não são transformações lineares.

Exemplo 9 A função f : R → R definida por f (x) = ex não é linear.

Solução: De fato, f (0) = 1 6= 0. 

Exemplo 10 A função g : R → R definida por g(x) = x2 não é linear.

3
Solução: De fato, se g fosse linear terı́amos que

−g(x) = (−1)g(x) = g((−1)x) = g(−x) = x2 = g(x), ∀x ∈ R.

Assim, g(x) = 0, ∀x ∈ R que não é verdadeiro, pois, g(1) = 1 6= 0. 

Exemplo 11 A função T : R3 → R2 definida por

T (x, y, z) = (xz, yz)

não é linear.

Solução: De fato, para os vetores (0, 1, 0) e (0, 0, 1) temos

T ( (0, 1, 0) + (0, 0, 1) ) = T (0, 1, 1) = (0, 1) 6= (0, 0) = (0, 0) + (0, 0) = T (0, 1, 0) + T (0, 0, 1).

Exemplo 12 (Função Determinante) A função determinante det : Mn×n (R) → R não é


linear, se n > 1.

Solução: De fato, seja A ∈ Mn×n (R) e λ = 2. Se det fosse linear terı́amos que

det(2I) = 2 det(I) = 2 6= 2n = 2n det(I) = det(2I).

Vejamos, agora, um resultado que nos “ensina” de certa forma como criar nossas próprias
transformações lineares.

Teorema 1 Sejam V , W espaços vetoriais, β = {v1 , v2 , ..., vn } base de V e w1 , w2 , ..., wn


vetores de W . Então, existe uma única transformação linear T : V → W tal que T (vi ) =
wi , i = 1, 2, ..., n.

Dem. Mostremos inicialmente a existência de uma tal aplicação linear.


Sendo β base de V , dado v ∈ V temos que

v = a1 v1 + a2 v2 + ... + an vn .

Defina,

T (v) = T (a1 v1 + a2 v2 + ... + an vn .) = a1 w1 + a2 w2 + ... + an wn .

4
Afirmamos que a função T definida acima é linear.
Sejam u, v ∈ V e λ ∈ R. Como β é base de V temos que

v = a1 v1 + a2 v2 + ... + an vn e u = b1 v1 + b2 v2 + ... + bn vn .

Como u + λv = (b1 + λa1 )v1 + (b2 + λa2 )v2 + ... + (bn + λan )vn .
Da definição de T temos que

T (u + λv) = (b1 + λa1 )w1 + (b2 + λa2 )w2 + ... + (bn + λan )wn
= b1 w1 + b2 w2 + ... + bn wn + λ(a1 w1 + a2 w2 + ... + an wn )
= T (u) + λT (v).

Observe, ainda, que T (vi ) = wi . De fato, como

vi = 0v1 + 0v2 + ... + 1vi + ... + 0vn

temos que
T (vi ) = 0w1 + 0w2 + ... + 1wi + ... + 0wn = wi .
Mostremos, agora, que T é única, ou seja, se S é uma outra transformação linear tal que
S(vi ) = wi , i = 1, 2, ..., n, então T = S, isto é, T (v) = S(v), ∀v ∈ V .
De fato, seja v ∈ V um elemento qualquer de V . Como β é base de V temos que

a1 v1 + a2 v2 + ... + an vn .

Assim,

S(v) = S(a1 v1 + a2 v2 + ... + an vn )


= a1 S(v1 ) + a2 S(v2 ) + ... + an S(vn )
= a1 w1 + a2 w2 + ... + an wn
= T (v).


Observação 1 A demonstração do teorema anterior nos ensina como definir a transformação


linear T . Sejam v um vetor qualquer de V e β = {v1 , v2 , ..., vn } uma base de V . Os passos
são os seguintes.
Passo (1): Encontre as coordenadas de v em relação à base β. Ou seja, determine
a1 , a2 , ..., an ∈ R tais que
v = a1 v1 + a2 v2 + ... + an vn .
Passo (2): Defina T (v) = a1 T (v1 ) + a2 T (v2 ) + ... + an T (vn ).

5
Exemplo 13 Seja β = {(1, 1, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 0)}. Encontre a transformação linear T :
R3 → R2 tal que T (1, 1, 1) = (1, 1), T (1, 1, 0) = (1, −1) e T (1, 0, 0) = (0, 1)

Solução: Sejam (x, y, z) ∈ R3 e β = {(1, 1, 1), (1, 1, 0), (1, 0, 0)} base de R3 .
Passo (1): Encontrar as coordenadas de (x, y, z) em relação à base β. Se , b, c ∈ R tais que

(x, y, z) = a(1, 1, 1) + b(1, 1, 0) + c(1, 0, 0),

então, a, b, c são as soluções do sistema



 a+b+c = x

a+b = y

a = z

Note que sistema é bem fácil de resolver, a melhor coisa a fazer é considerar a matriz
ampliada do sistema  
1 1 1 x
 1 1 0 y 
 

1 0 0 z
e escalonar até que a matriz dos coeficientes se transforme na identidade. Fazendo isso
obteremos o seguinte resultado  
1 0 0 z
 0 1 0 y−z 
 

0 0 1 x−y
Portanto, temos a = z, b = y − z e c = x − y. Daı́,

(x, y, z) = z(1, 1, 1) + (y − z)(1, 1, 0) + (x − y)(1, 0, 0)

Passo (2): Defina T : R3 → R2 por

T (x, y, z) = zT (1, 1, 1) + (y − z)T (1, 1, 0) + (x − y)T (1, 0, 0)


= z(1, 1) + (y − z)(1, −1) + (x − y)(0, 1)
= (y, x + 2z − 2y)

Você também pode gostar