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0.1 Teorema de Leibniz de Continuidade e Diferenciabilidade de uma função definida por um


integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
0.2 Integral de uma forma diferencial de grau 1 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
0.2.1 Circulação de um Campo de Vectores . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4

0.1 Teorema de Leibniz de Continuidade e Diferenciabilidade de


uma função definida por um integral
Teorema 0.1.1 ) Seja U um aberto de Rn J = [a, b] um intervalo de R Seja f : U ×J → RN , (x, t) 7→ f (x, t)
uma função contı́nua.
Rb
Defina-se F : U → Rn , x 7→ a f (x, t)dt.
Rb
1. F : U → Rn , x 7→ a
f (x, t)dt é contı́nua
2. Para todo o t ∈ J, ft : U → Rn , x 7→ f (x, t) é de classe C 1 e se ϕ : U ×J → Hom(Rn , Rn ), (x, t) 7→ dft (x)
´’e contı́nua então F é de classe C 1 e para 1 ≤ j ≤ n

Z b
∂F df
(x) = (x, t)dt
∂xj a dxj

Demonstração.

1. Dados ϵ > 0 e x0 ∈ U , para todo o t ∈ J existe um número real r(t) > 0 e uma vizinhança V (t) de t em J
tal que ∀(x, s) ∈ B(x0 , r(t))×V (t), ||f (x, s)−f (x0 , t)|| ≤ ϵ. Seja {V (t1 ), . . . , V (tk )} uma cobertura finita
do compacto J e seja r = min(r(t1 ), . . . , r(tk )). Pelo teorema do valor médio, ∀t ∈ J, ∀x ∈∈ B(x0 , r)
temos ||f (x, t) − f (x0 , t)|| ≤ ϵ. Portanto ∀t ∈ J, ∀x ∈ B(x0 , r), ||F (x) − F (X0 )|| ≤ ϵ Como ϵ é
arbitrário > 0, conclui-se que F é contı́nua em x0 .

2. Um argumento similiar ao anterior mostra que, dados ϵ > 0 e x0 inU , existe r > 0 tal que ∀t ∈ J,
∀x ∈ B(x0 , r), ||dft (x) − dft (x0 )|| ≤ ϵ. Portanto, pelo teorema do valor médio, ∀t ∈ J, ∀h ∈ B(0, r),
||dft (x0 + h) − dft (x0 ) − dft (x0 )h|| ≤ ϵ||h||. Desta propriedade e da continuidade de f . deduz-se que
Z b

∀h ∈ B(0, r), F (x0 + h) − F (x0 ) − dft (x0 )h)dt ≤ ϵ(b − a)||h||.

a
Rb Rb Rb
Como a (dft (x0 )h) = a (dft (x0 )dt)h conclui-se que F é derivável em z0 e que dF (z0 ) = a dft (x0 )dt
Como por hipótese f é cont{ı}nua, pela parte (1.) do teorema, dF : U → Hom(Rn , RN ) é contı́nua.

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Análise III-2021/2022, Carlos Menezes, Departamento de Matemática, F.C.U.P. 2

0.2 Integral de uma forma diferencial de grau 1


Seja U um aberto de Rn .
Definições 0.2.1 1. Seja [a, b] um intervalo fechado de R Uma função de classe C 1 γ : [a, b] → U, t 7→
γ(t) = (γ1 (t), . . . , γn (t)) é um caminho em U de classe C r por bocados onde r ∈ N ∪ {∞} ou seja uma
função contı́nua tal que existe uma decomposição do intervalo [a, b] em intervalos contı́guos tal que no
interior de cada um desses intervalos a função é de classe C r
2. Se γ(a) = γ(b) diz-se que γ é um lacete ou um caminho fechado em U .

3. O inverso do caminho γ é o caminho γ −1 : [a, b] → U, t 7→ γ(a + b − t)


4. Seja η : [c, d] → U, t 7→ η1 (t), . . . , ηn (t) outro caminho em U tal que γ(b) = η(c)
5. A concatenação da curva γ com a curva η (por esta ordem ) é a curva

γ(t) if t ∈ [a, b]
γ ∗ η : [a, b + (d − c)] → U, t 7→
η(t − b + c) if t ∈ [b, b + (d − c)]

Definições 0.2.2
 
Seja α : U → R1×n , P x = (x1 , . . . , xn ) 7→ f1 (x) . . . fn (x) uma forma diferencial de grau 1, também
n
escrita na forma α = k=1 fk (x)dxk e seja γ : [a, b] → U um caminho de classe C 1 por bocados
∗ ′ ′ ′
Seja γ α : [a, b] → U, t 7→ α(γ(t))γ  (t) = [α1 (γ1 (t))γ1 (t), . . . αn (γn (t)γn )(t)]

γ1 (t)

 γ2 (t) 

 
= α1 (γ1 (t)) . . . αn (γn (t))  . 
 .. 
γn′ (t)
Rb
O integral de α ao longo de γ ∗ η é γ α = a (γ ∗ α)(t)
R
R R R
Portanto o integral de α ao longo de γ ∗ η é γ∗η α = γ α + η α e
o integral de α ao longo de γ −1 é − γ α
R

Definições 0.2.3
A forma diferencial α é fechada se, para todos o j, k distintos pertencentes a {1, . . . , n} temos
∂α ∂α ∂α ∂α
dα : ∂xkj = ∂xkj ou seja dα = ∂xkj − ∂xkj = 0.
A forma diferencial α é exacta se existe f : U → R de classe C k+1 tal que df = α ou seja tal que para todo
o k ∈ 1, . . . , n temos
∂f
∂xk (x) = αk (x).
Nesse caso diz-se que f é uma primitiva ou uma função potencial de α

Exemplo 0.2.4 Se f : U → Rn é uma função de classe C k+1 e X = ∇f é o campo de gradientes de f A


forma diferencial trabalho W X associada X é X T e é exacta porque df = W X

Teorema 0.2.5 (Lema Pn de Poincaré) Seja U um aberto estrelado de Rn com centro a e α : U →


Rn (x1 , . . . , xn ) 7→ j=1 αj dxj uma forma diferencial de grau 1 e de classe C r+1 . Então
Z 1
F :U → α(a + t(x − a)).(x − a)dt
0

é uma primitiva de α.
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Pn
Demonstração. Seja g : U × [0, 1] → (x, t) 7→ α(a + t(x − a))(x − a) = j=1 αj (a + t(x − a))(xj − aj )
Para todo i ∈ {1, . . . , n} x = (x1 , . . . , xn ) e t ∈ [0, 1] temos
n  
∂g X ∂αj
(x, t) = t (a + t(x − a))(xj − αj ) + αi (a + t(x − a))
∂xi j=1
∂xi

Seja i ∈ [1, . . . n], Ki un intervalo aberto que contem xi . Defina-se a função de classe C 1
Gi : Ki → Rn , y 7→ g(x1 , . . . , xi−1 , y, xi+1 , xn , t)
∂g
A função h : [0, 1] → Rn , t 7→ ∂x i
(x1 , . . . , xi−1 , y, xi+1 , . . . , xn , t) é contı́nua e integrável em [0, 1].
∂g
Assim para todo o compacto C contido em Ki a função p : Ki ×[0, 1], (y, t) 7→ ∂x i
é limitada no compacto
Ki × [0, 1] o que garante que, localmente esta função é limitada.
Pelo teorema de derivação dum integral com parâmtero e pela fórmula de Leibniz, F admite uma derivada
parcial em ordem a xi definida para todo o x ∈ U pela fórmula
n  
∂F X ∂αj
(x, t) = t (a + t(x − a))(xj − αj ) + αi (a + t(x − a))dt (1)
∂xi j=1
∂xi
∂F
Portanto para 1 ≤ i ≤ n as funcões ∂x i
são de classe C r em U com derivada ∂F
∂i dada pela equação (2) o
r+1
que implica que F é de classe C
Fixado i ∈ [1, . . . , n], como a forma diferencial α é fechada, para todo o x ∈ U , a relação dada pela pela
equação (2), é equivalente a
 
Z 1 X n  
∂F ∂α i
(x) =  t (a + t(x − a))(xj − αj ) + αi (a + t(x − a)) dt (2)
∂xi 0 j=1
∂xj

Temos então para todo i ∈ {1, . . . n} e x ∈ U


∂F
(x) = [tαi (a + t(x − a))]10 = αi (x)
∂xi
Portanto F é uma primitiva de α. □
n r+1
Teorema 0.2.6 Se α : U → R é uma forma diferencial exacta de classe C e f é uma primitiva de α,
então qualquer que seja o caminho γ : [a, b] → U temos
Z b
α = f (b) − f (a).
a
Pn ∂f
Demonstração. Temos α = df = j=1 ∂x i
(x)dxi Se γ : [a, b] → U, t 7→ (γ1 (1), . . . γn (t)) é um caminho em
Rb R b Pn ∂f
U de classe C a df = a k=1 ∂xi (γ1 (t), . . . γn (t))γi′ (t)dt, o que, pelo teorema da derivada da composta, é
1

igual a
Rb d
a dt
f (γ1 (t), . . . γn (t))dt = [f (γ1 (t), . . . f (γn (t)))]ba = f (b) − f (a). □
Corolário 0.2.7 Se α : U → Rn é umaR forma diferencial de grau 1 exacta de classe C 2 e γ : [a, b] → U é um
lacete de classe C 1 por bocados, então γ α = 0.
Um contra-exemplo clássico é o seguinte:
Exemplo 0.2.8 Seja ω = xdy−ydx x2 +y 2 uma forma diferencal de grau 1 e classe C 2 , Esta forma diferencial é
fechada e o seu domı́nio maximal é U = R2 \ (0, 0) que não é um estrelado.
Seja γ : [0, 2π] → R2 , t 7→ (cos(t), sin(t)) uma parametrização de S1 . Então γ(0) = γ(2π) temos γ ω =
R
R 2π
0
cos(t) cos(t) − (− sin(t) sin(t))dt = 2π o que prova que ω não é uma forma diferencial exacta.
Por outro lado, se em vez do aberto U usarmos o aberto V = R∗+ × R que é um produto de dois convexos,
logo um estrelado, α é uma forma diferencial exacta e f : V → R, (x, y) 7→ atan xy é uma função potencial


de α em V
Análise III-2021/2022, Carlos Menezes, Departamento de Matemática, F.C.U.P. 4

0.2.1 Circulação de um Campo de Vectores


Definição
Pn 0.2.9 Seja e1 , . . . , en a base canónica de Rn . Seja U um n n
Pnaberto de R , e X : U → R , x 7→1
k=1 Xk (x)ek um campo de vectores contınuo. Seja γ : [a, b], t 7→ k=1 γk (t)ek um caminho de classe C
em U com imagem Γ = γ([a, b]). A Circulação ou trabalho do Campo de Vectores X é o integral
Rb Pn
X = a ⟨X(t), γ ′ (t) = k=1 Xk (γ1 (t), . . . , γn (t))γk′ (t)dt
R
γ

Notas 0.2.10
R R R
γ∗η
X = γX+ ηX
R R
γ −1
X = − γ X.
R R
Se γ2 : [u, v] é outra parametrização de Γ com a mesma orientação de γ então γ
X= γ2
X

Definição 0.2.11 Um subsespaço D de R2 é um domı́nio elementar se existem funções de classe C 1 , ϕ1 , ϕ2 :


[a, b] → R,
 e ψ1 , ψ2 : [c, d] → R tais que 
D = (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b, ϕ1 (x) ≤ y ≤ ϕ2 (x) = (x, y) ∈ R2 | c ≤ y ≤ d, ψ1 (y) ≤ x ≤ ψ2 (y) O bordo
∂D de um domı́nio elementar é um lacete de classe C 1 por bocados orientado no sentido directo, ou seja, de
tal modo que um observador que percorre o bordo seguindo a orientação vê o domı́nio ∂D do seu lado es-
querdo. Diz-se que o bordo está positivamente orientado e usamos a notação ∂+ D para o bordo positivamente
orientado.

Definição 0.2.12 Seja X = R3 → R3×1 , p = (x, y, z) 7→ X1 (p)e1 +X2 (p)e2 +X3 (p)e3 um campo de vectores
de classe C 1 . O rotacional de X é o campo de vectores rot(X) = ∂X ∂X2 ∂X1 ∂X3 ∂X2 ∂X1
∂y − ∂z e1 + ∂z − ∂x e2 + ∂x − ∂y e3
3

Exemplos 0.2.13 Um rectângulo ou um disco são exemplos de ddomı́nios elementares.


Teorema 0.2.14 (de Green- Riemann) Seja ω = P (x, y) + Q(x, y) + R(x, y) uma forma diferencial de
1 2
R
grau 1 e de classe C definida num aberto U de R que contem um domı́nio elementar D Então ∂+ D =
R  ∂Q ∂P  R R
D ∂x
− ∂y )dxdy ou seja ∂+ D
ω = D

Demonstração. Decomponha-se ∂D numa reunião de duas curvas oeientadas Γ1,+ e Γ2,+ correspondendo
aos gráficos de ϕ1 e ϕ2 . A orientação em Γ1,+ vem da parametrização a → b A orientação em Γ2,+ vem da
parametrização b → a Temos então

!
Z Z b Z ϕ2 (x)
∂P (x, y) ∂P
− dxdy = − (x, y)dy dx (3)
D ∂y a ϕ1 (x) dy
Z b Z b
ϕ2 (x)
= [−P (x, y)]ϕ1 (x) dx = (P (x, ϕ1 (x))) − P (x, ϕ2 (x))dx (4)
Za Z a
Z
= P (x, y)dx − P (x, y)dx = P (x, y)dx. (5)
Γ1,+ Γ2,+ ∂+ D
R ∂Q(x,y) R
De forma análoga mostra-se que D ∂x dxdy = ∂+ D
Q(x, y)dy.
2 1
Nota 0.2.15 Em termos  de campos  de vectores se γ : [a, b] → R é uma parametrização de classe C
da curva ∂+ DR e X = P, Q R R é o campo de vectores associado a ω a fórmula de Green- Riemann é
equivalente a ∂+ D ⟨X, γ ′ ⟩dt = D (rot(X), e3 )dxdy. Ou seja, a circulação de X ao longo de ∂+ D é igual ao
fluxo do rotacional de X através de D

Nota 0.2.16 O teorema de Green Riemann aplica-se ao caso em que o domı́nio de integração é uma reunião
finita de domı́nios elementares compactos. As orientações em fronteiras comuns são opostas para que o
integral ao longo dessas fronteiras seja nulo.

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