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Sumário

1 Introdução 2

2 Conceitos Preliminares 3
2.1 Germes e A-classes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 3

3 Geometria de Frentes de Onda 4


3.1 Frentes de Onda em R2 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
3.2 3/2−cúspides e curvatura cuspidal . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
3.3 Comportamento da curvatura cuspidal de 3/2-cúspides . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9

4 Conclusão 13

1
SEÇÃO 1

Introdução

O presente trabalho apresenta um breve estudo introdutório a respeito de Frentes de Onda em R2 baseado
na dissertação de mestrado (1), juntamente com alguns conceitos abordados em (2). Este estudo introdutório
é de grande importância no estudo da área de Singularidades pois superfícies com arestas cuspidais são
imagens de Frentes de Onda.
Nosso objetivo neste trabalho é fazer uma breve e concisa apresentação sobre o tema, de forma que sejam
dados definições, propriedades, resultados e exemplos acerca de Frentes de Ondas no plano. Por conveni-
ência, as demonstrações de tais resultados foram omitidas aqui, entretanto, estas podem ser encontradas
nas referências utilizadas. É importante destacar que aqui neste trabalho, α I ⊂ R −→ R2 denotará
sempre uma aplicação suave em t ∈ I, onde I é um intervalo aberto da reta.

2
SEÇÃO 2

Conceitos Preliminares

Inicialmente, precisamos introduzir alguns conceitos preliminares para que possamos prosseguir com o
estudo. É importante destacar que este é um estudo bastante introdutório a respeito da Teoria de Sin-
gularidades, o qual é uma área de estudo bastante atual e abrangente, dentro da Geometria Diferencial.
Primeiro, precisamos destacar uma importante classe de funções que nos auxilia a trabalhar de forma local
com conjuntos e aplicações.

2.1 Germes e A-classes


Considere um ponto arbitrário q ∈ Rn e dois subconjuntos X, Y ⊂ Rn tais que q ∈ X ∩ Y . A partir disso,
vamos definir a seguinte relação: X é equivalente a Y se, e somente se, existe um aberto U ⊂ Rn contendo
q tal que X ∩ U = Y ∩ U .

Lema 2.1.1 A relação definida acima é uma relação de equivalência.


Demonstração: De fato, se existe aberto U contendo q ∈ X, é óbvio que X ∩U = X ∩U . E se X é equivalente
e Y , também é evidente que Y é equivalente a X.
Além disso, se X é equivalente a Y , e Y é equivalente a Z, então temos que X ∩U = Y ∩U , e Y ∩U = Z ∩U .
Logo, X ∩ U = Z ∩ U . E portanto, a relação é de equivalência.

Definição 2.1.1 A relação de equivalência definida acima é chamada de germe de X em q, e usualmente é


denotada por (X, q).

Definição 2.1.2 Considere X, Y abertos de Rn tais que q ∈ X∩Y . Sejam f : X −→ Rm e g : Y −→ Rm


duas aplicações suaves. Dizemos que f e g são equivalentes, e denotamos por f ∼ g, se existe um aberto
Z ⊂ (X ∩ Y ) contendo q tal que f |Z = g|Z .

Lema 2.1.2 A relação definida acima entre as funções f e g é uma relação de equivalência.

Demonstração: As propriedades reflexiva, simétrica e transitiva podem ser facilmente verificadas de forma
análoga a do Lema 2.1.1.

As classes de equivalência da relação acima são chamada de germes de aplicações suaves. Em estudos apro-
fundados sobre este tema, a classe de equivalência de f é usualmente denotada por f : (X, q) −→ Rm .
Além disso, admitindo-se que X = Rn e Y = Rm , e que f assume o mesmo valor em q, digamos p = f (q),
então o seu germe é denotado por f : (Rn , q) −→ (Rm , p) .

Definição 2.1.3 Considere os germes suaves f, g : R2 −→ R3 . Dizemos que f e g são A-equivalentes,


e denotamos por f ∼A g, se existem difeomorfismos k : R3 −→ R3 e h : R2 −→ R2 tais que
f = k −1 ◦ g ◦ h.

No decorrer deste trabalho, esta definição é utilizada para definir uma importante classe de frentes de
onda. Em estudos mais aprofundados, esta definição é melhor explorada.

3
SEÇÃO 3

Geometria de Frentes de Onda

O estudo sobre frentes de onda é fundamental para um estudo mais aprofundado e avançado sobre
superfícies com arestas cuspidais.

3.1 Frentes de Onda em R2


Aqui vamos sempre considerar, salvo menção em contrário, α : I ⊂ R −→ R2 como uma aplicação
suave, onde I é um intervalo aberto da reta.

Definição 3.1.1 Dizemos que uma aplicação suave β : I ⊂ R −→ R2 é um campo vetorial unitário
normal à α, se para todo t ∈ I, valer que ||β(t)|| = 1 e ⟨β(t), α′ (t)⟩ = 0.

Definição 3.1.2 Uma aplicação suave α : I ⊂ R −→ R2 é uma frontal se existe um campo vetorial
unitário β normal à α. Além disso, se (α, β) : U ⊂ R2 −→ R2 × R2 é uma imersão, então dizemos que α é
uma Frente de Onda.

Observação 3.1.1 Seja U um aberto de Rm . Uma aplicação diferenciável f : U ⊂ Rm −→ Rn é


uma imersão, se para cada x ∈ U , a derivada dfx : Rm −→ Rn é uma transformação linear injetiva.
Isto só é válido quando m ≤ n. Neste caso, dizemos que existe uma imersão do aberto U no espaço euclidiano
Rn .

Observação 3.1.2 Considere J ⊂ R um intervalo aberto. Uma aplicação diferenciável f : J −→ Rn


é uma imersão se, e somente se, seu vetor derivada for diferente de zero em cada ponto t ∈ J.
Vamos mostrar isso no caso onde n = 2. De fato, considere a aplicação f : J −→ R2 dada por
dft : R −→ R2 ,
f (t) = (x(t), y(t)). Suponha que  f′ seja uma imersão. Assim, dado t ∈ J, temos que
x (t)
cuja matriz é dada por dft = , é uma transformação linear tal que Ker(dft ) = {0}.
y ′ (t)
 
0
Isto significa que dft · x ̸= , ∀x ∈ R \ {0}. Mas isto ocorre se, e somente se, x′ (t) · x ̸= 0 ou
0
y ′ (t) · x ̸= 0. Como x ̸= 0, então x′ (t) ̸= 0 ou y ′ (t) ̸= 0. Portanto, a derivada é não nula, como queríamos.

Logo, considerando as Observações 3.1.1 e 3.1.2, se α(t) = (x(t), y(t)) é uma aplicação suave, β(t) =
(β1 (t), β2 (t)) é um campo de vetores normais unitários, e se para todo t ∈ I ⊂ R, mostrarmos que x′ (t) ̸= 0,
y ′ (t) ̸= 0, β1 (t) ̸= 0, ou β2 (t) ̸= 0, então α é uma frente.

Exemplo 3.1.1 Seja α : I⊂R −→ R2 uma curva parametrizada regular dada por α(t) = (x(t), y(t)).
(−y ′ (t), x′ (t))
Assim, para cada t ∈ I, β(t) = p é um vetor unitário normal a α em t. Pois,
(x′ (t))2 + (y ′ (t))2
* !+
′ ′ (−y ′ (t), x′ (t)) 1
(x (t), y (t)), p = p · ⟨(x′ (t), y ′ (t)), (−y ′ (t), x′ (t))⟩ = 0
(x′ (t))2 + (y ′ (t))2 (x′ (t))2 + (y ′ (t))2

Logo, α é frontal. E além disso, como α é regular, segue-se também que α é frente.

Exemplo 3.1.2 Seja α(t) = (t2 , t3 ) a cúspide usual. Observe que α é singular em t = 0, pois α′ (t) =
(2t, 3t2 ), donde α′ (0) = (0, 0).
(−3t2 , 2t) (−3t2 , 2)
Baseado no exemplo anterior, temos que β(t) = √ = √ é um campo vetorial unitário
9t4 + 4t2 9t2 + 4
normal à α.

4
De fato, s
9t2 4
||β(t)|| = 2
+ 2 =1
9t + 4 9t + 4
1
e ⟨α′ (t), β(t)⟩ = ⟨(2t, 3t2 ), (−3t2 , 2t)⟩ · √ = 0. Portanto, α é frontal. Observe que mesmo em t = 0
9t2 + 4
este campo vetorial está bem definido. De fato, seu valor é β(0) = (0, 1).

Agora, note que para t ̸= 0, temos x′ (t) = 2t ̸= 0. Além disso, sendo β(t) = (β1 (t), β2 (2)), temos
1 1
−3(9t2 + 4) 2 + 27t2 (9t2 + 4)− 2 12
β1′ (t) = =− 3
9t2 + 4 (4 + 9t2 ) 2
3
Logo, para t = 0, temos β1′ (0) = − ̸= 0.E portanto, α é frente de onda.
2

Figura 1: Cúspide (t2 , t3 )

Exemplo 3.1.3 Agora iremos analisar a cúspide dada por α(t) = (t2 , t5 ) também definida em R e com
imagem em R2 . Observe que α também é uma curva sigular em t = 0, pois α′ (t) = (2t, 5t4 ), donde
α′ (0) = (0, 0).
(−5t4 , 2t)
Agora, procedendo de maneira análoga ao exemplo anterior, temos para todo t ∈ R que β(t) = √ =
4t2 + 25t8
(−5t3 , 2)
√ é um campo vetorial unitário normal à α.
4 + 25t6
De fato, s
25t6 4
||β(t)|| = + =1
4 + 25t6 4 + 25t6
1
e ⟨α′ (t), β(t)⟩ = ⟨(2t, 5t4 ), (−5t4 , 2t)⟩ · √ = 0. Portanto, α é frontal. Observe novamente que
4t2
+ 25t8
mesmo em t = 0 este campo vetorial está bem definido. De fato, seu valor é β(0) = (0, 1).
Todavia, temos que: x′ (t) = 2t, y ′ (t) = 5t4 , e
1 1
−15t2 (4 + 25t6 ) 2 + 375t8 (4 + 25t6 )− 2 −15t2 (4 + 25t6 ) + 375t8 −60t2
β1′ (t) = = 3 = 3
4 + 25t6 (4 + 25t6 ) 2 (4 + 25t6 ) 2
1 1
−(4 + 25t6 )− 2 150t5 150t5 (4 + 25t6 )− 2 150t5
β2′ (t) = 6
=− 6
=− 3
4 + 25t 4 + 25t (4 + 25t6 ) 2

5
Assim, para t = 0, temos x′ (0) = y ′ (0) = β1′ (0) = β2′ (0) = 0. Portanto, α não é frente de onda.

Figura 2: Cúspide (t2 , t5 )

3.2 3/2−cúspides e curvatura cuspidal


Nesta seção será estudada a geometria nos pontos singulares de um tipo particular de cuvar. Tal curva
é conhecida como 3/2-cúspide. Nosso objetivo aqui é definir o conceito de curvatura cuspidal para este
tipo particular de curva α em um parâmetro t onde α é singular. Nesta seção iremos assumir que t = 0 e
α = (0, 0).

Definição 3.2.1 Dado ϵ > 0, considere α : (−ϵ, ϵ) −→ R2 uma curva suave e t = 0 um ponto singular de α.
Dizemos que α é uma 3/2-cúspide em t = 0 se α for A-equivalente a cúspide usual (t2 , t3 ).

Lema 3.2.1 Uma condiçao necessária e suficiente para que α seja uma 3/2-cúspide em t0 é que os vetores
α′ (t0 ) e α(3) (t0 ) sejam linearmente independentes.

Demonstração: Consultar (1).

Definição 3.2.2 Seja α(t0 ) uma 3/2-cúspide em t = 0. Dizemos que α é uma 3/2-cúspide positiva se
[α′′ (0), α(3) (0)] > 0. Caso [α′′ (0), α(3) (0)] < 0, dizemos que é uma 3/2-cúspide negativa.

Observação 3.2.1 A notação [α′′ (0), α(3) (0)] significa det[α′′ (0), α(3) (0)], em que as colunas desta matriz
são formadas pelas coordenadas dos vetores α′′ (0) e α(3) (0).

Um fato importante a respeito de 3/2-cúspides é que este tipo particular de curva possui sinal invariante
sob um difeomorfismo de R2 que preserve a orientação da curva. Vamos verificar porque isto é verdade.
Considere o difeomorfismo
Φ: R2 −→ R2
(x, y) 7−→ (f (x, y), g(x, y))
e
α : I ⊂ R −→ R2
t 7−→ (u(t), v(t))
uma 3/2-cúspide em t = 0. Suponha que Φ seja um difeomorfismo que preserve a orientação de α, isto é
det(JΦ ) > 0, onde JΦ representa a matriz Jacobiana de Φ. Afirmamos então que Φ ◦ α é uma 3/2-cúspide
que tem o mesmo que α.
De fato, utilizando o Lema anterior, temos que:

6
" !  !  #
∂f ∂f ∂f ∂f
u′′ (0) u(3) (0)

′′ (3) ∂x ∂y ∂x ∂y
[(Φ ◦ α) (0), (Φ ◦ α) (0)] = · , ·
∂g
∂x
∂g
∂y
v ′′ (0) ∂g
∂x
∂g
∂y
v (3) (0)

Desenvolvendo o cálculo, temos:

∂f d2 u ∂f d2 v ∂g d3 u ∂g d3 v
   
[(Φ ◦ α)′′ (0), (Φ ◦ α)(3) (0)] = · 2 (0) + · 2 (0) · · 3 (0) + · 3 (0)
 ∂x 2dt ∂y dt   ∂x dt ∂y dt 
∂f d u ∂f d2 v ∂g d3 u ∂g d3 v
− · (0) + · (0) · · (0) + · (0) =
∂x dt2 ∂y dt2 ∂x dt3 ∂y dt3

∂f ∂g d2 u d3 v d3 u d2 v
 2
d3 u d3 v d2 u
  
∂f ∂g d v
= · 2
(0) 3 (0) − 3 (0) 2 (0) − · − (0) 3 (0) + 3 (0) 2 (0)
∂x ∂y  dt dt dt dt  ∂y ∂x  dt2 dt dt dt 
2 3 3 2 2
∂f ∂g d u d u d u d u ∂f ∂g d v d3 v d3 v d2 v
+ · 2
(0) 3 (0) − 3 (0) 2 (0) − · − 2 (0) 3 (0) + 3 2 (0)
∂x ∂x dt dt dt dt ∂y ∂y dt dt dt dt
| {z } | {z }
=0 =0

d2 u d3 v d3 u d2 v
   
∂f ∂g ∂f ∂g
= (0) 3 (0) − 3 (0) 2 (0) · · − ·
dt2 dt dt dt ∂x ∂y ∂y ∂x

= [α′′ (t)(0), α(3) (0)] · det(JΦ )


| {z }
>0
Portanto, Φ ◦ α possui o mesmo sinal que α, como queríamos.

Definição 3.2.3 Seja α : I ⊂ R −→ R2 uma 3/2-cúspide em t = 0. Definimos a curvatura cuspidal


(Euclidiana) Kc de α em t = 0 por:
[α′′ (0), α(3) (0)]
Kc (0) = 5
||α′′ (0)|| 2
1
Definição 3.2.4 O número é chamado de raio de curvatura cuspidal.
(Kc (0))2
2 3
Exemplo 3.2.1 Considere  = (at , at ), com a ̸= 0. Note que α é uma 3/2-cúspide, pois de fato, tome
 x yα(t)
k(t) = a · t e h(x, y) = , . Sendo γ(t) = (t2 , t3 ) a cúspide usual, temos que:
a a2
 2 2 3 3
a t a t
(h ◦ γ ◦ k −1 )(t) = h(γ(k −1 (t))) = (h(γ(a · t)) = h(a2 t2 , a3 t3 ) = , 2 = (at2 , at3 ) = α(t)
a a

donde (h ◦ γ ◦ k −1 )(0) = α(0) = (0, 0). Logo, αé 3/2-cúspide. Além disso, temos que: α′′ (t) = (2a, 6at) e
2a 0
α(3) (t) = (0, 6a), e assim, [α′′ (0), α(3) (0)] = det = 12a2 > 0. E portanto, α é uma 3/2-cúspide
0 6a
positiva.
12a2 12a2 3
A curvatura cuspidal de α é Kc (0) = √ 5 = p =p . E o raio de curvatura cuspidal
2
( 4a + a) 2 2
4a 2|a| 2|a|
1 2|a|
é = . As três figuras abaixo ilustram exemplos de cúspides para diferentes valores fixados de
(Kc (0))2 9
a ∈ R.

7
Figura 3: Cúspide (0, 1t2 , 0, 1t3 )

Figura 4: Cúspide (−30t2 , −30t3 )

Figura 5: Cúspide (64t2 , 64t3 )

Um outro exemplo também interessante é a cicloide, que veremos abaixo. Observe que encontrar os
difeomorfismos para concluir que uma curva é 3/2-cúspide nem sempre é uma tarefa trivial.

8
Exemplo 3.2.2 Considere α(t) = (a(t − sen(t), a(1 − cos(t))) a cicloide de raio a ̸= 0. Temos que:

1. α′ (t) = (a(1 − sen(t)), a sen(t));


2. α′′ (t) = (a sen(t), a cos(t));
3. α(3) (t) = (a cos(t), −a sen(t)).
   
′′ (3) a sen(0) a cos(0) 0 a
Assim, [α (0), α (0)] = det = det = −a2 . Logo, pelo Lema, α é 3/2-
a cos(0) −a sen(0) a 0
cúspide negativa em t = 0, pois [α′′ (0), α(3) (0)] = −a2 < 0.
a2 1 a
Sua curvatira cuspidal é dada por Kc (0) = − √ 5 = − √ , e o raio de curvatura vale 1 = |a|.
2
( a )2 a (−a− 2 )

As figuras abaixo mostram exemplos de cicloides para valores fixados de a ∈ mathbbR positivo e negativo.

Figura 6: Cicloide com raio a = 1

Figura 7: Cicloide com raio 0, 5, porém a = −0, 5 (64t2 , 64t3 )

Na próxima seção iremos estabelecer um resultado importante que irá facilitar muito a determinação do
raio de curvatura cuspidal de 3/2-cúspides como a do Exemplo anterior.

3.3 Comportamento da curvatura cuspidal de 3/2-cúspides


Nesta seção iremos estudar algumas propriedades importantes envolvendo a curvatura cuspidal, e esta-
belecer uma importante relação entre cicloides e 3/2-cúspides.

Lema 3.3.1 O sinal da curvatura cuspidal é invariante por isometrias em R2 que preservam a orientação.

9
Demonstração: Seja α uma 3/2-cúspide e Φ uma isometria que preserva a orientação, isto é, det(JΦ ) >
[(Φ ◦ α)′′ (0), (Φ◦)(3) (0)] det(JΦ )[α′′ (0), α(3) (0)]
0. Temos que 5 = 5 . Como det(JΦ ) > 0, isto prova o que
[||(Φ ◦ α)′′ (0)|| 2 ] ||(Φ ◦ α)′′ (0)|| 2
queríamos.

O próximo teorema estabelece uma importante relação local entre 3/2-cúspides e cicloides.

Teorema 3.3.1 Seja α uma 3/2-cúspide em t = 0. Então existe uma única cicloide c(t) tal que o raio
de curvatura cuspidal de α coincide com o raio da cicloide c(t). Além disso, α(t) − c(t) = o(3), isto é,
|α(t) − c(t)|
lim = 0, o que significa dizer que c(t) e α(t) expandidos em Taylor coincidem até os termos de
t→0 |t3 |
ordem 3.

Demonstração: Consultar (1).

Note que no Exemplo 3.2.2 a 3/2-cúspide é a própria cicloide. Logo, não seria necessário realizar cálculos
para determinar sua curvatura cuspidal. Bastaria aplicar o Teorema anterior para concluir que o raio de
curvatura de α coincide com o raio da cicloide.

Definição 3.3.1 Seja α(t) uma 3/2-cúspide em t = 0. Defina a função

Nk : R −→ p R
t 7−→ |sg (t)|κ(t)

Essa função é chamada de curvatura normalizada de α, em que sg representa a função comprimento de


arco de α a partir de t = 0 e κ representa a curvatura de α.
p
Teorema 3.3.2 Suponha que α seja uma 3/2-cúspide em t = 0. Seja m(t) = sgn(t) sg (t), que denota a
mudança de parâmetro por meio comprimento de arco. Entao m(t) é uma mudança de coordenada de α em
κc (0)
q
t = 0 e |sg |κ é uma função C ∞ em uma vizinhança de 0. Além disso, lim |sg (t)|κ(t) = √ .
p
t→0 2 2
Demonstração: Consultar (1).

Exemplo 3.3.1 Considere novamente a 3/2-cúspide α(t) = (at2 , at3 ), a ̸= 0. Temos que:
t 3
a((4 + 9t2 ) 2 − 8)
Z
sg (t) = ||α′ (u)||du = sgn(t)
0 27

E  
2at 2a
det  
[α′ (t), α′′ (t)] 3at2 6at 6a2 t2 6
κ(t) = ′ 3
= √ = √ =
||α (t)|| 2 2 2 4
( 4a t + 9a t ) 3 2
(at 4 + 9t ) 3 at(4 + 9t2 )3
assumindo a, t > 0.

10
Logo, pelo Teorema 3.3.2, temos que a curvatura cuspidal de α é dada por
s
3
√ q √ sgn(t)a((4 + 9t2 ) 2 − 8 6
Kc (0) = 2 2 lim+ |sg (t)|κ(t) = 2 2 lim+ · 3
t→0 t→0 27 at(4 + 9t2 ) 2


q
3
12 2a (4 + 9t2 ) 2 − 8
= √ lim p
3a 3 t→0+ t (4 + 9t2 )3
 q 
√ 3
lim+ (4 + 9t2 ) 2 − 8
4 2 t→0
= √ 

p 
3a limt→0+ t · lim (4 + 9t2 )3
t→0+


q
3
4 2 (4 + 9t2 ) 2 − 8
= √ lim
8 3a t→0+ t

s 
3
2  (4 + 9t2 ) 2 − 8 
= √ lim
2 3a t→0+ t2

√ "s 3 √ √ #
2 ((4 + 9t2 ) 2 − 8) · (8 + 4 9t2 + 4 + 9t2 9t2 + 4)
= √ lim √ √
2 3a t→0+ t2 (8 + 4 9t2 + 4 + 9t2 9t2 + 4)
√ "s #
27(27t4 + 36t2 + 16)

2
= √ lim √ √
2 3a t→0+ 8 + 4 9t2 + 4 + 9t2 9t2 + 4
√ "r #
2 27(16)
= √
2 3a 16

2 √
= √ · (3 3)
2 3a
3
= √
2a
Exatamente o valor que foi encontrado no Exemplo ...

Exemplo 3.3.2 Considere a cicloide α(t) = (a(t − sen(t)), a(1 − cos(t))). Temos que:
1. α′ (t) = (a(1 − cos(t)), a sen(t)).
2. α′′ (t) = (a sen(t), a cos(t)).
p √ p
3. ||α′ (t)|| = a2 sen2 (t) + a2 (1 − 2 cos(t) + cos2 (t)) = a 2 1 − cos(t)
√ 3
4. ||α′′ (t)||3 = a3 8(1 − cos(t)) 2
Z tp

   
t
5. sg (t) = a 2 1 − cos(u)du = 4a cos −1
0 2
− sen2 (t)
6. κ(t) = √ 3
2a 2(1 − cos(t)) 2

11
Portanto, pelo Teorema 3.3.2, temos que:
s 
√ − sen2 (t)
  
t 1
Kc (0) = 2 2 lim+ 4a cos −1 · √ 3 = −√
t→0 2 2a 2(1 − cos(t)) 2 a

como esperávamos.

12
SEÇÃO 4

Conclusão

A Geometria Diferencial como área de estudo em Matemática é um campo enorme, e com diversos
segmentos. Em particular, o segmento de Singularidades trata-se de uma área de estudos recentes e muito
abrangente. Com essas considerações, após o término deste trabalho, podemos concluir que este breve estudo
acerca de Frentes de Ondas em R2 consiste apenas em uma pequena introdução sobre o tema como um todo,
e deixa várias possibilidades em aberto para estudos futuros, como Frentes de Onda em R3 , geometria de
superfícies com arestas cuspidais e seus invariantes, etc..
Portanto, podemos afirmar que a base para todo o estudo citado no parágrafo acima tem início aqui neste
trabalho.

13
Referências

1 PANICHE, B. G. Geometria diferencial da cuspidal edge. Universidade Estadual Paulista (UNESP),


2021.
2 CARMO, M. P. D. Geometria diferencial de curvas e superfícies. [S.l.]: Sociedade Brasileira de
Matemática, 2010.

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