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Equações Diferenciais B

Aula 10: Equação da onda

Ronaldo B. Assunção
B.H. 03 de outubro de 2022

UFMG/ICEx/DMat
Sumário

1. Equação da onda

1
Sumário

Equação da onda

2
Equação da onda i

Consideramos a equação da onda

∂2 u(x , t) ∂2 u(x , t)
− α2 =0
∂t 2 ∂x 2

em que u = u(x , t) é uma função das variáveis x e t. Para um


determinado instante fixado t, o valor u(x , t) representa o deslocamento
transversal, na posição x, de uma corda tensionada submetida a
oscilações. A constante α2 = T /D é o quociente da tensão T a que a
corda está submetida e sua densidade linear D. As unidades são
kg × m × s−2 m2
[α2 ] = [T /D] = = 2 ;
kg × m−1 s

veremos que α representa a velocidade de propagação da onda na corda.

3
Equação da onda ii

Apresentamos diversos problemas de valores iniciais e de fronteira para a


corda vibrante. Em contraste com a equação da difusão, para bem
determinar uma única solução da equação da onda devemos impor não
apenas o valor inicial u(x , 0) que representa o deslocamento inicial da
corda mas também o valor inicial ut (x , 0) que representa a velocidade
inicial da corda.
A seguir apresentamos um exemplo típico de problema de valor inicial e
de fronteira envolvendo a equação da onda.

4
Equação da onda i

Exemplo: Equação da onda


Resolver o problema de valor inicial e de fronteira

∂2 u(x , t) ∂2 u(x , t)
EDP − α2 = 0, 0 < x < L, 0 < t;
∂t 2 ∂x 2
CF u(0, t) = 0, 0 É t;
CF u(L, t) = 0, 0 É t;
CI u(x , 0) = f (x), 0 É x É L;
¯
∂u(x , t) ¯¯
CI = g (x), 0 É x É L.
∂t ¯
¯
t =0

As condições de fronteira são denominadas condições de fronteira de


Dirichlet, isto é, a corda está fixada nas duas extremidades.

5
Solução da equação da onda i

A interpretação física do problema: a equação diferencial modela as


oscilações transversais em uma corda flexível, tensionada, feita de
material homogêneo com posição inicial u(x , 0) = f (x) e velocidade inicial
ut (x , 0) = g (x).
Intuitivamente, o movimento da corda é determinado apenas se a posição
inicial f (x) e a velocidade inicial g (x) são conhecidas.
Por exemplo, se a posição e a velocidade iniciais são, respectivamente,
³π ´ ³ 2π ´
f (x) = sen x g (x) = sen x ,
L L
então mostraremos que a solução do problema acima é
³π ´ ³ πα ´ L ³ 2π ´ ³ 2πa ´
u(x , t) = sen x cos t + sen x sen t .
L L 2πα L L

6
Solução da equação da onda ii

No lugar de tentar determinar a solução geral da EDP, procuramos a


solução não trivial da equação da onda que seja a mais simples dentre
todas as soluções da equação, sem maiores considerações a respeito da
condição inicial ou das condições de fronteira.
Uma possibilidade é a forma especial

u(x , t) = X (x)T (t).

As derivadas parciais, ambas de segunda ordem em relação à variável


temporal t e em relação à variável espacial x, são

ut (x , t) = X (x)T ′ (t); ux (x , t) = X ′ (x)T (t);


utt (x , t) = X (x)T ′′ (t); uxx (x , t) = X ′′ (x)T (t).

7
Solução da equação da onda iii

A substituição dessas derivadas na equação diferencial parcial resulta em

X (x)T ′′ (t) − α2 X ′′ (x)T (t) = 0


∴ X (x)T ′′ (t) = α2 X ′′ (x)T (t)
X ′′ (x) 1 T ′′ (t)
∴ = 2 .
X (x) α T (t)

Inicialmente essa equação parece complicada mas o lado esquerdo


X ′′ (x)/X (x) depende apenas da variável espacial x e o lado direito
T ′′ (t)/T (t) depende apenas da variável temporal t. Essa equação
somente pode ser verificada se ambos os termos X ′′ (x)/X (x) e
T ′′ (t)/T (t) forem constantes.

8
Solução da equação da onda iv

De fato, se calculamos a derivada parcial ∂/∂x de ambos os lados da


equação deduzimos que

∂ X ′′ (x) ∂ T ′′ (t)
µ ¶ µ ¶
= = 0;
∂x X (x) ∂x T (t)

logo, X ′′ (x)/X (x) é constante.

Analogamente, se calculamos a derivada parcial ∂/∂t de ambos os lados


da equação deduzimos que

∂ T ′′ (t) ∂ X ′′ (x)
µ ¶ µ ¶
= = 0;
∂t T (t) ∂t X (x)

logo, T ′′ (t)/T (t) é constante.

9
Solução da equação da onda v

Sem perda de generalidade, denotamos a constante por σ, denominada


constante de separação, e escrevemos

X ′′ (x) − σX (x) = 0,
T ′′ (t) − σα2 T (t) = 0.

Como consequência da escolha inicial para o formato mais simples da


solução, na forma u(x , t) = X (x)T (t), obtemos a separação das variáveis
da equação diferencial parcial, que se transforma em duas equações
diferenciais ordinárias. Isso justifica o nome do método de resolução
adotado.

10
Solução da equação da onda vi

Até essa etapa do problema não consideramos as condições de fronteira e


vamos ver suas consequências quanto à separação de variáveis.
Como u(0, t) = X (0)T (t) = 0 para todo número real 0 É t, devemos ter
X (0) = 0, pois em caso contrário, devemos ter T (t) = 0 para todo número
real 0 É t, o que conduz à solução trivial u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0, que
resolve equação diferencial parcial e as condições de fronteira mas
possivelmente não resolve as condições iniciais u(x , 0) = f (x) e
ut (x , 0) = g (x).

Analogamente, como u(L, t) = X (L)T (t) = 0 para todo número real 0 É t,


devemos ter X (L) = 0, pois em caso contrário, devemos ter T (t) = 0 para
todo número real 0 É t, o que conduz à solução trivial
u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0, que resolve equação diferencial parcial e as
condições de fronteira mas possivelmente não resolve as condições iniciais
u(x , 0) = f (x) e ut (x , 0) = g (x).
11
Solução da equação da onda vii

Portanto, associado à equação diferencial ordinária na variável espacial x


devemos ter duas condições de fronteira; e a equação diferencial ordinária
na variável temporal t fica sem outras condições associadas,

PVF X ′′ (x) − σX (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0;


EDO T ′′ (t) − σα2 T (t) = 0.

A seguir, resolvemos em primeiro lugar a equação diferencial ordinária na


variável x juntamente com suas condições de fronteira; em seguida,
resolvemos a equação diferencial ordinária na variável t. Para a equação
diferencial ordinária na variável espacial x há três casos essencialmente
distintos que devem ser considerados separadamente de acordo com o
sinal da constante de separação σ.

12
Solução da equação da onda viii
Caso 1: A constante de separação é positiva.
Nesse caso escrevemos σ = +λ2 e o problema de valor de fronteira na
variável espacial x escreve-se como

X ′′ (x) − λ2 X (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0;

Como é usual, procuramos soluções linearmente independentes na forma


de função exponencial. O polinômio característico é

p(r ) = r 2 − λ2

cujas raízes são reais e distintas, r1 = +λ e r2 = −λ. As correspondentes


soluções são X1 (x) = exp(+λx) e X2 (x) = exp(−λx); a solução geral da
equação diferencial ordinária é

X (x) = AX1 (x) + BX2 (x) = Aexp(+λx) + B exp(−λx).


13
Solução da equação da onda ix

Em seguida, substituímos os valores X (0) = 0 e X (L) = 0, isto é,

X (0) = Aexp(+λ · 0) + B exp(−λ · 0) = 0


X (L) = Aexp(+λ · L) + B exp(−λ · L) = 0,

ou, mais simplesmente,


1A + 1B = 0 A=0
½ ½
⇒ (1)
+λL −λL
e A+e B =0 B =0
ou seja, no caso em que a constante de separação é positiva a única
solução do problema de valor de fronteira associado à variável espacial x
é X (x) ≡ 0 e isso implica que u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0 é a solução trivial,
que não nos interessa já que, embora seja solução da equação diferencial
parcial da onda e das condições de fronteira, possivelmente não resolve as
condições iniciais.

14
Solução da equação da onda x
Caso 2: A constante de separação é nula.
Nesse caso σ = 0 e o problema de valor de fronteira na variável espacial
x escreve-se como

X ′′ (x) − 0X (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0.

Como é usual, procuramos soluções linearmente independentes na forma


de função exponencial. O polinômio característico é

p(r ) = r 2

cujas raízes são reais e repetidas, r1 = 0 e r2 = 0. As correspondentes


soluções são X1 (x) = exp(0 · x) = 1 e X2 (x) = x exp(0 · x) = x; a solução
geral da equação diferencial ordinária é

X (x) = AX1 (x) + BX2 (x) = A + Bx .

15
Solução da equação da onda xi

Em seguida, substituímos os valores X (0) = 0 e X (L) = 0, isto é,

X (0) = A + B · 0 = 0
X (L) = A + B · L = 0,

ou, mais simplesmente,


1A + 0B = 0 A=0
½ ½
⇒ (2)
1A + LB = 0 B =0
ou seja, no caso em que a constante de separação é nula a única solução
do problema de valor de fronteira associado à variável espacial x é
X (x) ≡ 0 e isso implica que u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0 é a solução trivial, que
não nos interessa já que, embora seja solução da equação diferencial
parcial da onda e das condições de fronteira, possivelmente não resolve as
condições iniciais.

16
Solução da equação da onda xii
Caso 3: A constante de separação é negativa.
Nesse caso escrevemos σ = −λ2 e o problema de valor de fronteira na
variável espacial x escreve-se como

X ′′ (x) + λ2 X (x) = 0; X (0) = 0; X (L) = 0.

Como é usual, procuramos soluções linearmente independentes na forma


de função exponencial. O polinômio característico é

p(r ) = r 2 + λ2

cujas raízes são complexas conjugadas com a parte real nula, r1 = 0 + λi e


r2 = 0 − λi. As correspondentes soluções são
X1 (x) = exp(0 · x)cos(λx) = cos(λx) e

17
Solução da equação da onda xiii

X2 (x) = exp(0 · x)sen(λx) = sen(λx); a solução geral da equação


diferencial ordinária é

X (x) = AX1 (x) + BX2 (x)


= Acos(λx) + B sen(λx).

Em seguida, substituímos os valores X (0) = 0 e X (L) = 0, isto é,

X (0) = +Acos(λ · 0) + B sen(λ · 0) = 0


X (L) = +Acos(λ · L) + B sen(λ · L) = 0,

ou, mais simplesmente,


(
1A + 0B = 0
⇒ {A = 0 (3)
+ cos(λL)A + sen(λL)B = 0

18
Solução da equação da onda xiv

e selecionamos B ̸= 0 pois, em caso contrário, obteríamos novamente


apenas a solução trivial X (0) ≡ 0 e, consequentemente, apenas a solução
trivial para a equação da onda, u(x , t) = X (x)T (t) ≡ 0. Dessa forma,
devemos ter

sen(λL) = 0 ⇒ λ= (n ∈ Z).
L

19
Solução da equação da onda xv

As correspondentes soluções são da forma


³ nπ ´
Xn (x) = Bn sen x (n ∈ Z).
L

Como sen((−nπ/L)x) = − sen((nπ/L)x), sem perda de generalidade


podemos considerar apenas os valores de n ∈ N. Dessa forma,
selecionamos os autovalores λn = nπ/L e as correspondentes autofunções
Xn (x) = Bn sen((nπ/L)x) em que Bn ∈ R são constantes reais arbitrárias
para n ∈ N, isto é,
nπ ³ nπ ´
autovalores: λn = (n ∈ N); autofunções: Xn (x) = Bn sen x .
L L

20
Solução da equação da onda xvi

Agora podemos resolver a equação diferencial ordinária na variável


temporal t para os correspondentes autovalores obtidos previamente.
Como os únicos valores que conduziram a soluções não triviais são
σn = −λ2n = −(nπ/L)2 e a equação torna-se

n 2 π2 2
Tn′′ (t) + α Tn (t) = 0 (n ∈ N).
L2
Nesse caso, o polinômio característico é

n2 π2 α2
p(r ) = r 2 +
L2
cujas raízes são complexas conjugadas com a parte real nula,
r1 = 0 + λn i = 0 + (nπα/L)i e r2 = 0 − λn i = 0 − (nπα/L)i. As
correspondentes soluções são (Tn )1 (t) = exp(0 · t)cos((nπα/L)t) e
(Tn )2 (t) = exp(0 · t)sen((nπα/L)t).

21
Solução da equação da onda xvii

A solução geral da equação diferencial ordinária é


³ nπα ´ ³ nπα ´
Tn (t) = Cn cos t + Dn sen t (n ∈ N)
L L
em que Cn , Dn ∈ R são constantes reais arbitrárias para n ∈ N.
Podemos agora multiplicar Xn (x) por Tn (t) para obter

un (x , t) = Xn (x)Tn (t)
³ ³ nπ ´´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= Bn sen x Cn cos t + Dn sen t
³ nπ ´ ³
L ³ nπα ´
L ³ nπα ´´
L
= sen x an cos t + bn sen t
L L L
em que an = Bn Cn e bn = Bn Dn para n ∈ N são constantes arbitrárias.

22
Solução da equação da onda xviii

Finalmente, podemos agora considerar a condição inicial. Se usamos o


valor t = 0 obtemos, para n ∈ N,

f (x) = un (x , 0)
à à ! à !!
³ nπ ´ n2 π2 α2 n2 π2
α2

= sen x an cos 0 + bn sen  2 0

L L2 L
³ nπ ´ 
= an sen x ,
L
que, em geral, não é válida para a maioria das funções f (x) da condição
inicial.

23
Solução da equação da onda xix

Da mesma forma, se derivamos a função un (x , t) acima determinada em


relação à variável temporal t, obtemos

(un )t (x , t) = Xn (x)Tn′ (t)


³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´ nπα ³ nπα ´´
= sen x −an sen t + bn cos t
L L L L L

Se usamos o valor t = 0 obtemos, para n ∈ N,

g (x) = (un )t (x , 0)
³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´ nπα ³ nπα ´´

= sen x −an sen0 + bn cos 0
L L  L L L
nπα ³ nπ ´
= bn sen x ,
L L
que, em geral, não é válida para a maioria das funções g (x) da condição
inicial.

24
Solução da equação da onda xx

Entretanto, isso não significa necessariamente que o método de


separação de variáveis falha na resolução do problema de valor inicial e de
fronteira. Lembramos que a equação diferencial parcial da onda,
utt (x , t) − α2 uxx (x , t) = 0 é uma equação linear; e sabemos que para
equações lineares, as combinações lineares finitas de soluções ainda são
soluções da equação.
Dessa forma, a solução un (x , t) = Xn (x)Tn (t) pode ser substituída pela
combinação linear finita
nX
=N nX
=N
u(x , t) = un (x , t) = Xn (x)Tn (t)
n=1 n=1
nX
=N ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= sen x an cos t + bn sen t
n=1 L L L

em que N ∈ N é uma constante arbitrária.

25
Solução da equação da onda xxi

Nesse caso, se usamos o valor t = 0 obtemos

f (x) = u(x , 0)
nX
=N ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= sen x an cos 0 + bn sen 0
n=1 L L L
nX
=N ³ nπ ´
= sen x (an 1 + bn 0)
n=1 L
nX
=N ³ nπ ´
= an sen x
n=1 L

em que N ∈ N é uma constante arbitrária. Como é de se esperar, também


na maioria das situações não é possível em geral encontrar a solução do
problema de valor inicial e de fronteira se consideramos apenas
combinações lineares finitas.

26
Solução da equação da onda xxii

E se derivamos a função a combinação linear finita das funções un (x , t)


com n ∈ {1, 2, . . . , N } acima determinada em relação à variável temporal t,
nX
=N nX
=N
(un )t (x , t) = Xn (x)Tn′ (t)
n=1 n=1
nX
=N ³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´ nπα ³ nπα ´´
= sen x −an sen t + bn cos t
n=1 L L L L L

Se usamos o valor t = 0 obtemos


nX
=N
g (x) = (un )t (x , 0)
n=1
nX
=N ³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´ nπα ³ nπα ´´
= sen x −an sen 0 + bn cos 0
n=1 L L L L L
nX
=N ³ nπ ´ ³ nπα nπα ´
= sen x −an 0 + bn 1
n=1 L L L
27
Solução da equação da onda xxiii
nX
=N nπα ³ nπ ´
= bn sen x
n=1 L L

que, em geral, não é válida para a maioria das funções g (x) da condição
inicial.

28
Solução da equação da onda xxiv

Entretanto, sabemos que sob certas hipóteses razoáveis que


apresentaremos futuramente, até mesmo as combinações lineares infinitas
de soluções da equação ainda são soluções da mesma equação. Logo,
generalizamos o princípio da superposição e consideramos a série de
produtos de funções trigonométricas e exponenciais,
+∞
X
u(x , t) = un (x , t)
n=0
+∞
X
= Xn (x)Tn (t)
n=0
+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= sen x an cos t + bn sen t .
n=1 L L L

29
Solução da equação da onda xxv

Nesses caso, se usamos o valor t = 0 obtemos

f (x) = u(x , 0)
+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= sen x an cos 0 + bn sen 0
n=1 L L L
+∞
X ³ nπ ´
= sen x (an 1 + bn 0)
n=1 L
+∞
X ³ nπ ´
= an sen x .
n=1 L

30
Solução da equação da onda xxvi

Da mesma forma, se derivamos a função a combinação linear infinita das


funções un (x , t) com n ∈ N acima determinada em relação à variável
temporal t, obtemos
+∞ +∞
Xn (x)Tn′ (t)
X X
(un )t (x , t) =
n=1 n=1
+∞
X ³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´ nπα ³ nπα ´´
= sen x −an sen t + bn cos t
n=1 L L L L L
Se usamos o valor t = 0 obtemos
+∞
X
g (x) = (un )t (x , 0)
n=1
+∞
X ³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´ nπα ³ nπα ´´
= sen x −an sen 0 + bn cos 0
n=1 L L L L L
+∞
X ³ nπ ´ ³ nπα nπα ´
= sen x −an 0 + bn 1
n=1 L L L
31
Solução da equação da onda xxvii
+∞
X nπα ³ nπ ´
= bn sen x .
n=1 L L

32
Solução da equação da onda xxviii

Sendo assim, escrevemos a solução com o uso de combinações lineares


infinitas, denominadas séries trigonométricas ou séries de Fourier.

Para que o método de separação de variáveis funcione para a resolução


do problema de valor inicial e de fronteira diversas perguntas devem ser
respondidas, das quais listamos algumas.

1. Podemos representar as funções f , g : [0, L] → R que indicam


respectivamente a posição e a velocidade iniciais da corda nas formas
+∞
X ³ nπ ´ +∞
X nπα ³ nπ ´
f (x) = an sen x ? g (x) = bn sen x ?
n=1 L n=1 L L

2. Em caso afirmativo, como determinar os coeficientes an , bn ∈ R para


n ∈ N?

33
Solução da equação da onda xxix

3. Uma soma infinita, denominada série, pode de fato representar uma


função? Essa soma infinita converge?
4. Se a soma infinita converge para uma função, essa função é solução
da equação da onda e verifica as condições iniciais e as condições de
fronteira? Em outros termos, se representamos a solução na forma
+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
u(x , t) = sen x an cos t + bn sen t ,
n=1 L L L

então podemos encontrar as derivadas primeira e segunda de u(x , t)


em relação à variável temporal t através da derivação sucessiva
termo a termo da série de u(x , t),

∂u(x , t) +∞
X ³ nπ ´ ³ nπα ³ nπα ´
= sen x −an sen t
∂t n=1 L L L
nπα ³ nπα ´´
+bn cos t ?
L L
34
Solução da equação da onda xxx
Ã
∂2 u(x , t) +∞
X ³ nπ ´ n2 π2 α2 ³ nπα ´
= sen x −an cos t
∂t 2 n=1 L L 2 L
!
n2 π2 α2 ³ nπα ´
−bn 2
sen t ?
L L

Além disso, podemos encontrar as derivadas primeira e segunda de


u(x , t) em relação à variável espacial x através da derivação
sucessiva termo a termo da série de u(x , t),

∂u(x , t) +∞
X nπ ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= cos x +an cos t + bn sen t ?
∂x n=1 L L L L
∂2 u(x , t) +∞
X n 2 π2 ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
= − sen x +an cos t + bn sen t ?
∂x 2 n=1 L 2 L L L

35
Solução da equação da onda xxxi

Se os cálculos acima puderem de fato ser realizados, então a função


+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
u(x , t) = sen x +an cos t + bn sen t
n=1 L L L
é solução da equação da onda. De fato, pelo menos formalmente, isto é,
independentemente das questões de convergência das diversas séries que
aparecem nos cálculos, temos
∂2 u(x , t) ∂2 u(x , t)
− α2
∂t 2 ∂xÃ2 !
+∞
X ³ nπ ´ n2 π2 α2 ³ nπα ´ n2 π2 α2 ³ nπα ´
= sen x −an 2
cos t − bn 2
sen t
n=1 L L L L L
+∞ n 2 π2 ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
− α2
X
− sen x +an cos t + bn sen t
n=1 L2 L L L
à !
+∞
X ³ nπ ´ n2 π2 α2 ³ nπα ´ n2 π2 α2 ³ nπα ´
= sen x −an cos t − bn sen t
n=1 L L2 L L2 L
36
Solução da equação da onda xxxii
+∞
X n2 π2 α2 ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
+ 2
sen x +an cos t + bn sen t
n=1 L L L L
= 0.

Além disso, a função u(x , t) acima definida resolve as condições de


fronteira, pois
+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
u(0, t) = sen 0 +an cos t + bn sen t
n=1 L L L
=0
e também
+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
u(L, t) = sen L +an cos t + bn sen t
n=1 L L L
= 0,

já que sen((nπ/L)0) = 0 e sen((nπ/L)L) = 0 para todo n ∈ N.


37
Solução da equação da onda xxxiii

Finalmente, resta a questão de determinar os coeficientes an , bn para


n ∈ N de modo que as condições iniciais sejam verificadas.

38
Solução da equação da onda xxxiv

A resposta a essas perguntas forma a base da teoria das séries de Fourier.


Para o caso específico do problema da equação da onda com condições
de fronteira do tipo de Dirichlet temos a posição inicial da corda dada
por uma função f : [0, +L] → R. Devemos estender essa função a toda a
reta real e o fazemos em duas etapas.

1. Estendemos f : [−L, +L] → R como função ímpar, isto é,


f (−x) = −f (x) para todo número real x ∈ [−L, +L].
2. Estendemos f : R → R como função periódica de período 2L.

Assim procedendo, os coeficientes an ∈ R para n ∈ N ∪ {0} são dados pelas


fórmulas alternativas
2 +L
Z ³ nπ ´
an = f (x)sen x dx (n ∈ N ∪ {0}).
L 0 L

39
Solução da equação da onda xxxv

Além disso, temos a velocidade inicial da corda dada por uma função
g : [0, +L] → R. Devemos estender essa função a toda a reta real e o
fazemos em duas etapas.

1. Estendemos g : [−L, +L] → R como função ímpar, isto é,


g (−x) = −g (x) para todo número real x ∈ [−L, +L].
2. Estendemos g : R → R como função periódica de período 2L.

Assim procedendo, os coeficientes bn ∈ R para n ∈ N ∪ {0} são dados pelas


fórmulas alternativas
L 2 +L
Z ³ nπ ´
bn = g (x)sen x dx (n ∈ N).
nπα L 0 L

40
Solução da equação da onda xxxvi

Lembramos que a solução da equação da difusão térmica com condições


de fronteira do tipo de Dirichlet contêm um fator trigonométrico e outro
fator exponencial, que decai com a passagem do tempo. Logo, a barra
perde energia na forma de calor e, consequentemente, a “memória” do
estado inicial ou das condições iniciais.

41
Solução da equação da onda xxxvii

Em contraste, a solução da equação da onda com condições de fronteira


do tipo de Dirichlet contêm apenas fatores trigonométricos. As oscilações
não decaem com a passagem do tempo, já que na dedução da equação
da onda os efeitos da aceleração da gravidade e das forças resistivas são
desprezados. Uma vez posta em movimento, a corda oscila
indefinidamente, com período 2L/α, em que L é o comprimento da corda
e α é a velocidade de propagação da onda na corda.

Esse tipo de sistema é denominado sistema conservativo, já que a energia


total do sistema, que é a soma das energias cinética e potencial, é
conservada.

Adicionalmente, o sistema retorna ao seu estado inicial de posição e


velocidade periodicamente, isto é, o sistema mantém a “memória” de seu
estado inicial.
42
Solução da equação da onda i

Teorema
Seja f : [0, +L] → R uma função duas vezes continuamente diferenciável;
e seja g : [0, +L] → R uma função uma vez continuamente diferenciável.
Consideremos o problema de valor inicial e de fronteira que envolve a
equação da onda com condições de fronteira do tipo de Dirichlet

∂2 u(x , t) ∂2 u(x , t)
EDP − α2 = 0, 0 < x < L, 0 < t;
∂t 2 ∂x 2
CF u(0, t) = 0, 0 É t;
CF u(L, t) = 0, 0 É t;
CI u(x , 0) = f (x), 0 É x É L;
¯
∂u(x , t) ¯¯
CI = g (x), 0 É x É L.
∂t ¯
¯
t =0

43
Solução da equação da onda ii
Teorema (continuação)
Então a solução é dada por
+∞
X ³ nπ ´ ³ ³ nπα ´ ³ nπα ´´
u(x , t) = sen x +an cos t + bn sen t
n=1 L L L

em que os coeficientes an , bn ∈ R para n ∈ N são dados explicitamente


por

2 +L
Z ³ nπ ´
an = f (x)sen x dx (n ∈ N)
L 0 L
L 2 +L
Z ³ nπ ´
bn = g (x)sen x dx (n ∈ N).
nπα L 0 L

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