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Aprendendo

Cálculo de Várias Variáveis


Volume II
WALDECIR BIANCHINI
Aprendendo Cálculo de Várias Variáveis
Volume II
Waldecir Bianchini

Aprendendo Cálculo de Várias Variáveis segue a mesma linha de abordagem


de conceitos e utilização de ferramenta computacional que se fez presente no
Volume I.
No presente texto, também foi utilizado o programa livre Geogebra na cria-
ção de Janelas Gráficas Interativas, para que o leitor possa interagir de forma
dinâmica através de um navegador de internet. Portanto, sem necessidade
de saber qualquer programa ou linguagem de computação. Basta utilizar o
mouse e clicar. Tais Janelas Gráficas Interativas ou “applets” são indicadas
ao longo do texto como auxiliar do processo ensino-aprendizado.
Aprendendo Cálculo de Várias Variáveis
Volume II - Cálculo III

Waldecir Bianchini
Instituto de Matemática - UFRJ

15 de março de 2022
Sumário

Dedicatória iv

Introdução v

1 Integrais Múltiplas 1
1.1 Integral Dupla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1.1 Integral Dupla sobre um Retângulo . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 2
1.1.2 Propriedades . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 Integração - Integrais Iteradas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.2 Integral Dupla sobre Regiões Gerais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 7
1.2.1 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 13
1.3 Mudança de Variáveis na Integral Dupla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3.1 Coordenadas Curvilíneas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 14
1.3.2 Transformação Linear . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
1.3.3 Mudança Polar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21
1.3.4 Aplicações da Integral Dupla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 29
1.3.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
1.4 Integral Tripla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 31
1.4.1 Mudança de Variáveis na Integral Tripla . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 38
1.4.2 Mudança de Variáveis Cilíndricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40
1.4.3 Mudança de Variáveis Esféricas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 44
1.4.4 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 48

2 Integrais de Linha 49
2.1 Campos Vetoriais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 49
2.2 Integral de Linha de Função Escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 51
2.3 Integral de Linha de Campo Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
2.3.1 Propriedades básicas de Integral de Linha de Campo Vetorial . . . . . . . . . . 62
2.3.2 O Teorema Fundamental do Cálculo (segunda parte) e a Independência do
Caminho . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 65
2.3.3 Teorema Fundamental do Cálculo (Primeira Parte) . . . . . . . . . . . . . . . 68
2.4 Teorema de Green . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 73
2.5 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 79

3 Integrais de Superfície 81
3.1 Superfícies Parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 81
3.1.1 Planos Tangentes à Superfícies Parametrizadas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 87
3.2 Área de Superfícies . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 89
3.2.1 Integral de Superfície de Função Escalar . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94

ii
W.Bianchini iii

3.3 Integral de Superfície de Função Vetorial . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 97


3.3.1 Interpretação Geométrica e Física da Integral de Superfície . . . . . . . . . . . 100
3.4 Teorema de Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
3.4.1 Extensão do Teorema de Stokes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 112
3.5 Teorema de Gauss . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 117
3.6 Exercícios . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 123

4 Exercícios de Revisão 127


iv Aprendendo Cálculo de Várias Variáveis

Aos meus netos


Daniel e Felipe
e às minhas netas
Giovanna e Luisa

Vidas minhas que seguem ...

No dia do seu nascimento, você


chorou e o mundo se alegrou.
Viva sua vida de modo que, no dia
de sua morte, o mundo chore e
você se alegre.
–Provérbio Cherokee –
Introdução

Este livro é o segundo volume de Aprendendo Cálculo de Várias Variáveis e, tal qual nosso primeiro
volume, é o resultado de nossos esforços no sentido de retratar a nossa visão do que é ensinar e
aprender matemática: uma atividade criativa que não pode e não deve ser baseada exclusivamente
em aulas expositivas ou na resolução de extensas listas de exercícios. É uma tentativa, também,
de envolver o aluno no processo de “fazer matemática”, transformando-o de paciente em agente do
processo educativo. A ênfase está na compreensão dos conceitos e não somente no desenvolvimento
de habilidades mecânicas.
Este livro é composto de duas partes: uma, é um hipertexto escrito em latex e gravado em
PDF e pode ser utilizado como um livro comum de cálculo; outra, é um conjunto de “applets”
as quais denominamos aqui de JGI (Janelas Gráficas Interativas) desenvolvidas com um programa
computacional livre chamado Geogebra, que pode ser baixado no endereço www.geogebra.org, o qual
reputo como um dos mais completos programas de uso gratuito para o ensino e aprendizagem de
matemática. Tais JGI entram no processo de ensino e aprendizagem produzindo uma interatividade
dinâmica com o aluno tornando-o um agente ativo nesse processo.
No decorrer do texto, procuramos levar o estudante a trilhar o caminho e a sentir o prazer da
descoberta e a entender que aprender matemática é muito mais do que decorar fórmulas e obter
respostas para exercícios-padrão. Tentamos apresentar a matemática como um assunto vivo em
constante construção, e não simplesmente descrevê-la como um corpo de conhecimento pronto e
acabado.
O computador é usado como uma ferramenta para alcançar estes objetivos tanto na parte grá-
fica do texto, bem como na parte interativa em uma abordagem visual, principalmente no espaço
tridimensional no qual os alunos vem do ensino médio com uma grande dificuldade de visualização.
Embora um enfoque computacional esteja presente em todo o texto, o conteúdo é o de um curso
tradicional de Cálculo. O formalismo também não foi esquecido: ao lado de abordagens gráficas
visuais, enfatiza-se a necessidade do uso de provas e demonstrações rigorosas. Esta abordagem
balanceada cria um texto ao mesmo tempo inovador e tradicional, permitindo sua utilização em sala
de aula da maneira que melhor se adapte ao estilo do professor, às necessidades e objetivos do curso e
aos recursos tecnológicos existentes. Aqueles que desejarem usá-lo em um curso tradicional poderão
dar mais ênfase e se concentrar no conteúdo expositivo, nos exercícios e problemas apresentados
na sua versão texto; aqueles que desejarem introduzir o computador como um auxiliar no ensino
e dispuserem de recursos para aulas práticas de laboratório poderão desenvolver as atividades com
este objetivo e fazer uso, em suas aulas expositivas, das animações e outras abordagens gráficas
e numéricas, introduzindo, nestas aulas, um componente exploratório, estimulando a interação e
participação da turma. Devido ao seu caráter interativo pode ser utilizado também no ensino à
distância.
O sucesso do uso das novas tecnologias no ensino, no nosso entender, repousa no discernimento
de onde, como e quando usar os recursos computacionais. Muitos tópicos de Cálculo podem ser
explorados de maneira mais fácil, mais simples e mais rapidamente usando-se a tradicional abordagem
expositiva. Já outros tópicos que envolvem o estudo do movimento, da variação e de uma visão

v
vi Introdução

geométrica espacial clamam pelo uso da máquina. Muito se tem falado do uso do computador
no ensino, em especial no ensino de matemática, mas muito pouco se tem feito para introduzi-lo,
efetivamente, como ferramenta auxiliar em sala de aula. Esperamos que este livro continue o que
iniciamos em Aprendendo Cálculo de Uma Variável e possa contribuir de alguma forma nesta direção.

Como usar este texto em computadores e dispositivos portáteis (Smartphones ou


tablets)

Este livro foi escrito como um hipertexto em versão PDF e pode ser aberto em qualquer navegador
de um computador, smartphone ou tablet para ser visto online ou pode ser baixado para utilização
sem internet para ser aberto por qualquer leitor de pdf, como por exemplo o programa Acrobat
Reader. Para navegar, basta clicar ou tocar com o dedo (dependendo do dispositivo) no item do
sumário para avançar para o capítulo desejado. Também, basta clicar ou bater o dedo na figura ,
que aparece no decorrer deste livro, que se você estiver na internet abrirá uma página com uma JGI
- Janela Gráfica Interativa (applet) existente no endereço:

www.im.ufrj.br/waldecir/calculo3/interativo

referente àquele objeto de estudo. Tem smartphone que é necessário bater novamente com o dedo
na janela para aparecer a figura.

Waldecir Bianchini
waldecir@im.ufrj.br
Capítulo 1

Integrais Múltiplas

Neste capítulo estendemos as ideias de integrais definidas para funções de uma variável, vistas em
Cálculo I, para integrais duplas e triplas para funções de duas e três variáveis. Agora calcularemos
volumes, massas, áreas de superfícies, etc.

1.1 Integral Dupla


 Problema: Cálculo de Volumes
Considere um retângulo em R2

R = [a, b] × [c, d] = {(x, y) ; a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d}

e uma função f ≥ 0 e limitada sobre R. O problema que se coloca é o de calcular o volume V do


sólido S acima de R limitado pelo gráfico de f , conforme figura 1.1.

(a) R = [a, b] × [c, d] (b) z = f (x, y)

Figura 1.1

É claro que se a função f for um plano paralelo ao plano xy, isto é, f (x, y) = k > 0, o sólido será
um paralelepípedo de base retangular R e altura k e seu volume será igual à área da base de R vezes
sua altura k. Isso nos remete ao raciocínio desenvolvido em Cálculo I para o cálculo de área sob o
gráfico de uma função de uma variável. Neste caso, o que faremos é, primeiramente, uma divisão do
retângulo R em subretângulos. Para isso, consideremos duas partições P1 e P2 dos intervalos [a, b] e
[c, d], respectivamente:
a = x0 < x1 < x2 < · · · < xm = b
c = y0 < y1 < y2 < · · · < yn = d

1
2 Cap. 1. Integrais Múltiplas

tais que, se chamarmos ∆xi = xi − xi−1 e ∆yj = yj − yj−1 , então, ∆xi → 0 e ∆yj → 0 quando m
e n −→ +∞. Tais partições chamaremos de regulares. Isso provocará uma divisão no retângulo R
em m · n subretângulos Rij = [xi−1 , xi ] × [yj−1 , yj ], cada um dos quais com área ∆Rij = ∆xi ∆yj .
Chamamos tal divisão de partição regular de R.
Escolhamos agora, um ponto qualquer, ci,j = (x∗i , yj∗ ) em cada subretângulo Rij . Como mostra a
figura 1.2, o produto f (cij )∆Rij é o volume de um paralelepípedo retangular com base Rij de área

Figura 1.2 Figura 1.3

∆Rij e altura f (cij ). Assim a soma


m n
!
X X
Smn = f (cij )∆Rij
i j

chamada de soma de Riemann de f , será a soma de m × n volumes destes paralelepípedos, que


dará aproximadamente o volume V do sólido S, como mostra a figura 1.3. Assim, à medida que
aumentamos os valores de m e n, a soma de Riemann Smn se aproxima cada vez mais do volume V .
Logo, o volume será o limite !
Xm Xn
V = lim f (cij )∆Rij
m,n→∞
i j

Veja as figuras 1.4, 1.5, 1.6 e 1.7, quando aumentamos m e n:

1.1.1 Integral Dupla sobre um Retângulo


Vimos na seção anterior que calcular volumes de sólidos de base retangular e limitados acima pelo
gráfico de uma função de duas variáveis é uma extensão da ideia de calcular áreas sob uma curva de
uma função de uma variável definida sobre um intervalo. Assim, estendemos a ideia de integral de
uma função de uma variável como o limite de uma soma de Riemann para funções de duas variáveis.
W.Bianchini 3

Figura 1.4: m = n = 8 Figura 1.5: m=n=10

Figura 1.6: m = n = 16 Figura 1.7: m = n = 20

Definição 1.1 Seja f uma função definida e limitada sobre um retângulo R ⊂ R2 . Com as notações
da seção anterior, se o limite da soma de Riemann
m n
!
X X
lim f (cij )∆Rij
m,n→∞
i j

existir para quaisquer que sejam as partições regulares P1 e P2 de [a, b] e [c, d], respectivamente, e
para quaisquer que sejam os pontos cij nos subretângulos Rij , então, dizemos que f é integrável sobre
R e sua integral dupla sobre R é definida por:
¨ m
X Xn
!
f (x, y)dx dy = lim f (cij )∆Rij
m,n→∞
R i j

Veja para uma visão geométrica interativa.


4 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Exemplo 1.1 Seja z = f (x, y) = k definida sobre um retângulo R = [−2, 3] × [−1, 2]. Se k > 0,
então, ¨
k dx dy = 10k
R
que é o volume do paralelepípedo de base R cuja área é igual a 10 vezes sua altura k.
Se k < 0, então sua integral dupla será
¨ X m Xn
!
Xm Xn
!
k dx dy = lim k∆Rij = k lim ∆Rij = k vezes a área de R = 10k
m,n→∞ m,n→∞
R i j i j

Observação 1.1 Pela definição de integral dupla, se vê facilmente que se f (x, y) ≤ 0 sobre um
retângulo R, então
¨ ¨
f (x, y) dxdy = − (−f (x, y)) dx dy = −volume do sólido limitado acima por −f e abaixo por R
R R
Mostra-se em cursos de cálculo avançado que funções contínuas são integráveis, i.e,
Teorema 1.1 Toda função contínua definida sobre um retângulo R é integrável sobre R.
E de um modo mais geral que,
Teorema 1.2 Seja f uma função limitada em um retângulo R, i.e., existe uma constante M, tal
que, |f (x, y)| < M, para todo (x, y) ∈ R. Se, além disso, f é contínua em R exceto em um número
finito de curvas que são gráficos de funções contínuas de uma variável, então f é integrável.
Um exemplo interessante do teorema 1.2 é a função escada:
Exemplo 1.2 Seja f definida no retângulo R = [−1, 5] × [1, 4] do seguinte modo:

 5 se (x, y) ∈ [−1, 1) × [1, 4]
f (x, y) = 4 se (x, y) ∈ [1, 3) × [1, 4]
3 se (x, y) ∈ [3, 5] × [1, 4]

Figura 1.8

Claramente f é uma função limitada e contínua em R exceto sobre os dois segmentos azuis. Assim,
pelo teorema 1.2, f é integrável sobre R e sua integral é a soma dos volumes dos três paralelepípedos
com área da base igual a 6 e alturas 3, 4 e 5, ou seja,
¨
f (x, y)dx dy = 18 + 24 + 30 = 72
R
W.Bianchini 5

1.1.2 Propriedades
As propriedades a seguir são demonstradas como no caso de uma variável, utilizando-se da definição
de integral dupla. Vamos supor que as funções são integráveis sobre retângulos.

(i) Linearidade:
¨ ¨ ¨
(c1 f + c2 g)(x, y) dxdy = c1 f (x, y) dxdy + c2 g(x, y) dxdy
R R R

(ii) Monotonicidade: Se f ≥ g sobre um retângulo R, então,


¨ ¨
f (x, y) dxdy ≥ g(x, y) dxdy
R R

(iii) Aditividade: Se o retângulo R = R1 ∪ R2 · · · ∪ Rn , onde Ri é um retângulo, então,


¨ n ¨
X
f (x, y) dxdy = f (x, y) dxdy
R i=1 R
i

Exemplo 1.3 Seja z = f (x, y) = y definido sobre o retângulo R = [−2, 2] × [−2, 3]. Calcule
¨
y dx dy
R

Figura 1.9

Observando a figura 1.9, veja que R = R1 ∪ R2 , onde R1 = [−2, 2] × [−2, 0] e R2 = [−2, 2] × [0, 3].
Assim, pela propriedade (iii) e observação citada anteriormente,
¨ ¨ ¨
y dx dy = y dx dy + y dx dy = −8 + 18 = 10
R R1 R2
6 Cap. 1. Integrais Múltiplas

1.1.3 Integração - Integrais Iteradas


Vimos em Cálculo I o quanto é complicado calcular a integral de uma função de uma variável através
da definição. O passe de mágica em Cálculo I foi o Teorema Fundamental do Cálculo. Imaginem
agora, o quão mais difícil será o cálculo de uma integral dupla através de sua definição. O teorema
a seguir nos mostra como calcular integrais duplas de funções de duas variáveis através de duas
integrais de uma variável.

Teorema 1.3 (Teorema de Fubini) Se z = f (x, y) é contínua sobre um retângulo R = [a, b]×[c, d],
então ¨ ˆ b ˆ d  ˆ d ˆ b 
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy
a c c a
R

De um modo geral esse teorema vale para funções limitadas sobre R e que tenham descontinui-
dades apenas em um número finito de curvas suaves e que a integral exista. ´
d
As duas integrais do lado direito são chamadas de integrais iteradas. A c f (x, y) dy significa
que a variável x é mantida fixa enquanto integramos f com respeito a y desde c até d. Este proce-
dimento é dito integração parcial em relação a y. Assim, ao integrarmos f com relação a y obtemos
uma função de x: ˆ b
A(x) = f (x, y)dy (veja figura 1.10)
a
Se, agora, integrarmos a função A com relação à variável x, desde a até b, obteremos
ˆ b ˆ b ˆ d 
A(x) dx = f (x, y) dy dx
a a c

o que nos dará o valor da integral dupla


¨ ˆ b ˆ d 
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx
a c
R

Da mesma forma, a integral iterada


ˆ d ˆ b 
f (x, y) dx dy
c a

significa que primeiro calculamos a integral em reção a x desde a até b obtendo uma função de uma
variável y e depois calculamos a integral com relação a y desde c até d (figura 1.11).
Note que em ambos os casos, integramos de dentro para fora.
Interpretação Geométrica
Para uma visualização dinâmica das figuras 1.10 e 1.11 clique em e , respectivamente.

Exemplo 1.4 Calcule


(i) ¨
(3 − x − y) dxdy , onde R = [0, 3] × [0, 3].
R

(ii) ¨
(3 − x − y) dxdy , onde R = [−2, 3] × [0, 3].
R
W.Bianchini 7

Figura 1.10 Figura 1.11

Figura 1.12 Figura 1.13

Solução: (i) Se observarmos o gráfico (figura 1.12) da função f (x, y) = 3 − x − y, verificamos que
a integral dupla desta função sobre R é igual zero, pois é o valor do volume da pirâmide de base
triangular que está acima do plano xy menos o valor do volume da pirâmide que está abaixo do plano
xy e estas pirâmides são idênticas.
(ii) Observando a figura 1.12 tem-se,
¨ ˆ 3 ˆ 3 ˆ 3 3 ˆ 3
x2
  
25
(3 − x − y) dxdy = (3 − x − y)dxdy = 3x − − xy dy = − 5y dy
0 −2 0 2 −2 0 2
R
 3
25 5
= y − y2 = 15
2 2 0

1.2 Integral Dupla sobre Regiões Gerais


Para funções de uma variável, a região sobre qual integramos é um intervalo. No caso de funções
de duas variáveis vimos a definição de integral dupla sobre um retângulo. Vamos, agora, definir a
integral dupla para regiões mais gerais que um retângulo, como, por exemplo, a figura 1.14. Vamos
8 Cap. 1. Integrais Múltiplas

supor que a região D seja limitada, i.e, D pode ser colocada dentro de um retângulo R, como na
figura 1.15.

Figura 1.14 Figura 1.15

Consideremos, então, uma função contínua f definida sobre D (figura 1.16). Vamos definir uma
nova função F com domínio R, por

 f (x, y) , se (x, y) ∈ D

F (x, y) =
0, se (x, y) ∈ R \ D

Assim, F é uma função contínua sobre R, exceto, possivelmente, na fronteira de D (figura 1.17).
Logo, se a fronteira de D tiver apenas um número finito de gráficos de funções contínuas, então, pelo
teorema 1.2, F é integrável sobre R e definimos
¨ ¨
f (x, y) dxdy = F (x, y) dxdy
D R

Figura 1.16 Figura 1.17

A integral independe da escolha do retângulo R que contenha D, o que é bastante razoável, pois
se pensarmos em uma função f ≥ 0, a integral dupla de F sobre um retângulo nos dá o valor do
volume do sólido abaixo de f sobre D, pois em R \ D o valor de F é zero . Provaremos isso mais
adiante no teorema 1.4 para determinadas regiões consideradas.
Regiões arbitrárias no plano podem ser coisas muito complexas, portanto, trabalharemos basica-
mente com dois tipos de regiões e outras que podem ser subdivididas nestas duas.
Região do tipo I

D = {(x, y) ∈ R2 ; a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)}


W.Bianchini 9

onde g1 e g2 são funções contínuas definidas em [a, b] e g1 ≤ g2 (figura 1.18).


Região do tipo II

D = {(x, y) ∈ R2 ; c ≤ y ≤ d e h1 (y) ≤ x ≤ h2 (y)}

onde h1 e h2 são funções contínuas definidas em [c, d] e h1 ≤ h2 (figura 1.19).


Observe que estas regiões são fechadas e limitadas pois as funções que definem estas regiões são
contínuas em [a, b].
A característica geométrica de uma região do tipo I é que se passar uma reta perpendicular ao
eixo x por um ponto x de (a, b), esta reta interceptará a fronteira de D em dois pontos, um ponto
em g1 e outro ponto em g2 , como mostra a figura 1.18. A mesma coisa com uma região do tipo II.
Ao passar uma reta perpendicular ao eixo y por um ponto qualquer y de (c, d), esta reta intercepta
a fronteira de D em apenas dois pontos, um ponto em h1 e outro ponto em h2 como mostra a figura
1.19.

Figura 1.18 Figura 1.19

O próximo teorema, Teorema de Fubini para uma região qualquer, nos dará condições de
calcular integrais duplas sobre regiões do tipo I e do tipo II utilizando integrais iteradas.

Teorema 1.4 Seja f uma função contínua num subconjunto limitado e fechado D ⊂ R2 .

(a) Se D é uma região do tipo I, então


¨ ˆ bˆ g2 (x)
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx (1.1)
a g1 (x)
D

(b) Se D é uma região do tipo II, então


¨ ˆ d ˆ h2 (y)
f (x, y) dxdy = f (x, y) dx dy (1.2)
c h1 (y)
D

Dem: Demonstraremos apenas o item (a), pois a demonstração do item (b) é análoga.
Seja R = [a, b] × [c, d] um retângulo que contém D. Por definição e pelo teorema de Fubini para
retângulos (teorema 1.3),
¨ ¨ ˆ bˆ d
f (x, y) dxdy = F (x, y) dxdy = F (x, y) dy dx (1.3)
a c
D R
10 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Figura 1.20

onde F é uma função que coincide com f sobre D e é nula em R \ D. Agora, para cada x fixo em
[a, b] (figura 1.20), a função F é limitada em [c, d] e contínua, exceto, possivelmente nos pontos c e
d. Portanto, sua integral existe e
ˆ d ˆ g1 (x) ˆ g2 (x) ˆ d
F (x, y) dy = F (x, y)) dy + F (x, y) dy + F (x, y) dy
c c g1 (x) g2 (x)

Como F (x, y) = 0 para c < y < g1 (x) e g2 (x) < y < d e F = f em D, então
ˆ d ˆ g2 (x) ˆ g2 (x)
F (x, y) dy = F (x, y) dy = f (x, y) dy
c g1 (x) g1 (x)

Logo, pela equação (1.3) tem-se


¨ ˆ bˆ g2 (x)
f (x, y) dxdy = f (x, y) dy dx
a g1 (x)
D

¨
Observação 1.2 Vimos na demonstração acima que a integral dupla f (x, y) dxdy independe da
D
escolha do retângulo R que contém D.
¨
Exemplo 1.5 Calcule (x2 + y 2 ) dxdy, onde D é a região limitada pelas retas y = 0, x = 1 e pela
D
função y = x2 .
Solução: Observando os gráficos 1.21 e 1.22 vemos que a região D pode ser considerada como uma
região do tipo I ou do tipo II. Vamos resolver como sendo uma região do tipo I.
Observe que para x fixado entre 0 e 1, y varia entre g1 (x) = 0 e g2 (x) = x2 . Logo, usando a
fórmula 1.1, obtemos
¨ ˆ 1 ˆ x2 ˆ 1 x2 ˆ 1
y3 x6

2 2 2 2 2 4
(x + y ) dxdy = (x + y ) dy dx = x y+ dx = (x + ) dx
0 0 0 3 0 0 3
D
1
x5 x7

26
= + = = 0, 248
5 21 0 105
W.Bianchini 11

Figura 1.21 Figura 1.22

Se considerarmos região como sendo do tipo II, usando a equação 1.2 tem-se:

¨ ˆ 1 ˆ 1 ˆ 11
x3

2 2 2 2 2
(x + y ) dxdy = √
(x + y ) dx dy = +y x dy
0 y 0 3 √
y
D
ˆ 1    3/2 1
y y3
 
1 2 y 5/2 2 5/2 2 7/2
= +y − +y dy = + − y − y
0 3 3 3 3 15 7 0
26
=
105

Observe que a escolha da região é importante, pois isto pode aumentar ou diminuir o grau de
dificuldade na resolução do exercício.

¨
Exemplo 1.6 Calcule (x + y) dxdy, onde D é a região limitada pelas retas y = x, y = −2x e
D
y = 2.
Solução: Observando o gráfico 1.23, vemos que a região pode ser do tipo I ou II.

Figura 1.23 Figura 1.24

Se resolvemos a integral como se a região é do tipo I (figura 1.24), temos que dividir a região em
outras duas, pois a função limitante inferior é composta das funções y = −2x e y = x. Assim,
¨ ¨ ¨
(x + y) dxdy = (x + y) dxdy + (x + y) dxdy
D D1 D2
12 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Agora,
¨ ˆ 0 ˆ 2 ˆ 0 2
y2

(x + y) dxdy = (x + y)dy dx = (xy + ) dx
−1 −2x −1 2 −2x
D1
ˆ 0
(2x + 2) − (−2x2 + 2x2 ) dx
 
=
−1
ˆ 0 0
(2x + 2) dx = x2 + 2x −1 = 1

=
−1

e
¨ ˆ 2 ˆ 2 ˆ 2 2 ˆ 2
y2
 
3 2
(x + y) dxdy = (x + y) dy dx = (xy + ) dx = 2x + 2 − x dx
0 x 0 2 x 0 2
D2
2
x3

2
= x + 2x − =4
2 0
Logo, ¨ ¨ ¨
(x + y) dxdy = (x + y) dxdy + (x + y) dxdy = 4 + 1 = 5
D D1 D2

Agora, resolvendo a integral dupla como se a região D fosse do tipo II (figura 1.25), tem-se

Figura 1.25

¨ ˆ 2 ˆ y ˆ 2 y ˆ 2
x2
  
15 2
(x + y) dxdy = (x + y) dx dy = + xy dy = y dy
0 −y/2 0 2 −y/2 0 8
D
 2
5 3
= y =5
8 0

Observamos mais uma vez como a escolha correta do tipo de região é importante na hora de
facilitar os cálculos.
¨
y
Exemplo 1.7 Calcule e x dxdy, onde D é a região limitada por y = x, y = 0 e x = 1
D
Solução: Resolvendo a integral considerando D uma região do tipo I, tem-se:
ˆ 2ˆ x ˆ 2h ˆ 2
y y x
i x2
e x dy dx = xe x dx = x(e − 1) dx = (e − 1)|20 = e − 1
0 0 0 0 0 2
W.Bianchini 13

Figura 1.26: região tipo I Figura 1.27: região tipo II

Agora, se considerarmos D como sendo uma região do tipo II, tem-se:


ˆ 2ˆ 2
y
e x dx dy =???
0 y
ˆ
y
pois a e x dx não tem uma primitiva expressada em termos de funções elementares (veja em
http://www.wolframalpha.com).
¨
Observação 1.3 Se f (x, y) = 1, para todo ponto (x, y) ∈ D, a integral dupla dxdy nos dá a área
D
de D.
ˆ 1 ˆ √
1−x2
Exemplo 1.8 Calcule dxdy.
0 0
Solução: Observe que √
y= 1 − x2 ⇒ y 2 = 1 − x2 ⇔ x2 + y 2 = 1
Esta última equação é a equação de uma circunferência
√ de raio 1. Logo, como a região de integração
é a região limitada por x = 0, x = 1, y = 0 e y = 1 − x2 , temos exatamente um quarto de círculo
de raio 1.
Como a função a ser integrada é f (x, y) = 1, a integral acima é igual à área de um quarto de
círculo de raio 1, ou seja,
ˆ 1 ˆ √1−x2
π
dxdy =
0 0 4

1.2.1 Exercícios
1. Defina os limites de integração para definir uma integral dupla de uma função f sobre as regiões
definidas abaixo, considerando como regiões do tipo I e II.

(a) Um triângulo de vértices A = (−1, 1), B = (−1, −2) e C = (3, −2).


(b) Um triângulo de vértices A = (0, 1), B = (4, 1) e C = (2, 4)
(c) Um losango de vértices A = (0, 1), B = (2, 1), C = (1, 2) e D = (3, 2).

2. Desenhe a região de integração D e troque a ordem de integração das integrais duplas.


¨ ˆ 2 ˆ x2
(a) f (x, y)dxdy = f (x, y) dy dx
−2 0
D
14 Cap. 1. Integrais Múltiplas

¨ ˆ 0 ˆ √
1+x ˆ 3 ˆ √
1+x
(b) f (x, y)dxdy = √
f (x, y)dy dx + f (x, y)dy dx
−1 − 1+x 0 x−1
D
¨ ˆ 1 ˆ ex
(c) f (x, y)dxdy = f (x, y)dydx
0 0
D
¨ ˆ 0 ˆ √
1+x ˆ 1 ˆ √
1−x
(d) f (x, y)dxdy = √
f (x, y) dy dx + √
f (x, y) dy dx
−1 − 1+x 0 − 1−x
D

3. Para cada uma das integrais abaixo, desenhe a região de integração, inverta a ordem de inte-
gração e calcule as integrais. Antes, tente calcular a integral como está e veja se consegue!
ˆ 1 ˆ 1
2
(a) ey dy dx
0 x
ˆ 3 ˆ 9
(b) y sen x2 dx dy
0 y2
ˆ 1ˆ 1 √
(c) √
1 + x3 dx dy
0 y

4. Use integral dupla para calcular o volume de cada sólido.

(a) Sólido limitado pelos 3 planos coordenados e o plano 2x + 3y + 3z = 6.


(b) Sólido limitado pelo cilindro x2 + y 2 = 9 e os planos z = 0 e z = 3 − x.
(c) Sólido limitado pelas superfícies x = 0, y = 0, z = 0, z = 4 − x2 e 3x + 4y = 12.

1.3 Mudança de Variáveis na Integral Dupla


1.3.1 Coordenadas Curvilíneas
Problema: Calcular o volume do sólido limitado por z = x2 + y 2 , pelo plano z = 0 e o cilindro
x2 + y 2 = 1.

Figura 1.28 Figura 1.29


W.Bianchini 15

Pela simetria da figura 1.28 podemos considerar o cálculo de um quarto de seu volume (figura
1.29). Assim, se considerarmos a região D como sendo um quarto de círculo, tem-se:
¨ ˆ 1 ˆ √
1−x2 ˆ 1
V 2 2 2 2 y 3 √1−x2
= (x + y ) dxdy = (x + y ) dxdy = (x2 y + )| dx
4 0 0 0 3 0
D
ˆ 1 √ 1
= (x2 1 − x2 + (1 − x2 )3/2 ) dx
0 3
= ???

Como vemos, caimos em uma integral difícil de se calcular. Nosso objetivo então, é proceder a uma
substituição das variáveis x e y, melhorando o domínio e a função a fim de facilitar o cálculo da
integral acima.
Relembremos que no caso de uma variável utilizamos o método da substituição fazendo x = g(t),
para uma função g derivável e invertível o que nos dá a fórmula
ˆ b ˆ d
f (x) dx = f (g(t)) g 0 (t) dt
a c

onde c = g −1 (a) e d = g −1 (b). Geometricamente, ao fazermos a mudança de variáveis de x para t,


o intervalo [a, b] passou para [c, d] e se pensarmos na área da figura limitada pela curva y = f (x) e
as retas x = a e x = b, com a mudança de variáveis houve uma mudança na escala, logo, temos que
introduzir um fator de correção na nova integral, g 0 (t), para obtermos a mesma área.
No caso de duas variáveis, seja z = f (x, y), definida e contínua num domínio D e

x = x(u, v) e y = y(u, v) (1.4)

funções deriváveis em um domínio D0 , tal que, a cada par (u, v) corresponde um único par (x, y) e
vice -versa. Assim, essas funções definem uma transformação T : D0 7−→ D, T (u, v) = (x, y), injetora
e, portanto, inversível (figura 1.30). Assim, as equações em 1.4 podem ser resolvidas como funções
de x e y, digamos,
u = u(x, y), v = v(x, y) (1.5)
e definem uma transformação do plano xy no plano uv a qual é chamada transformação inversa de

Figura 1.30

T e denotada por T −1 .
Uma maneira de visualizar o efeito geométrico da transformação T é determinar no plano xy
as imagens de retas horizontais e verticais do plano uv. Quando fixamos v, isto é, fazendo v = v0 ,
16 Cap. 1. Integrais Múltiplas

obtemos retas horizontais no plano uv (figura 1.31). A transformação T leva esta reta em uma curva
no plano xy de equações (curvav na figura 1.32)

x = x(u, v0 ), y = y(u, v0 ) (1.6)

Quando fixamos u, isto é, fazendo u = u0 , obtemos retas verticais no plano uv (figura 1.31). A
transformação T leva esta reta em uma curva no plano xy de equações (curvau na figura 1.32)

x = x(u0 , v), y = y(u0 , v) (1.7)

Por esta razão as equações 1.6 são chamadas de coordenadas curvilíneas do ponto P = (x, y).

Figura 1.31 Figura 1.32

Vamos relembrar que a integral dupla de f (x, y) sobre uma região D é definida como o limite de
uma soma de Riemann na qual D é subdividido em subregiões retangulares. A figura 1.33 mostra
como uma região D0 no plano uv subdividida em subregiões retangulares pode ser levada por T
para uma região D subdividida em paralelogramos curvilineos no plano xy. Se prova em livros de
cálculo avançado que sob condições apropriadas a integral dupla também pode ser definida sobre
regiões subdivididas em paralelogramos curvilineos. Tendo isso em mente, para entender a mudança
de variáveis na integral dupla, precisamos entender a relação entre a área de um pequeno retângulo
no plano uv e a área de sua imagem no plano xy sob a tranformação T .

Figura 1.33

Para isto, consideremos uma subregião ∆D0 da região D0 no plano uv limitada pelas retas

u = u0 , u = u0 + ∆u, v = v0 , v = v0 + ∆v

A imagem de ∆D0 por T será um paralelogramo curvilíneo ∆D em xy como mostrado na figura 1.34.
Os lados de ∆D são as curvas correspondentes

curvau0 = x(u0 , v), curvau0 +∆u = x(u0 +∆u, v), curvav0 = y(u, v0 ), curvav0 +∆v = y(u, v0 +∆v)
W.Bianchini 17

Figura 1.34

Considerando o vetor
r = r(u, v) = x(u, v)i + y(u, v)j
o vetor posição da imagem do ponto (u, v) no plano xy, podemos representar a curva constante
curvav0 e a curva constante curvau0 na forma vetorial, respectivamente, como
r(u, v0 ) = x(u, v0 )i + y(u, v0 )j
r(u0 , v) = x(u0 , v)i + y(u0 , v)j
Os vetores tangentes a essas curvas no ponto P = (x0 , y0 ) são
∂r ∂x ∂y
ru = (u0 , v0 ) = (u0 , v0 ) i + (u0 , v0 ) j
∂u ∂u ∂u
∂r ∂x ∂y
rv = (u0 , v0 ) = (u0 , v0 ) i + (u0 , v0 ) j
∂v ∂v ∂v
Desde que ∆u e ∆v são pequenos, a área da região ∆D pode ser aproximada pela área do
paralelogramo definido pelos “vetores secantes”
w1 = r(u0 + ∆u, v0 ) − r(u0 , v0 )
w2 = (r(u0 , v0 + ∆v) − r(u0 , v0 )
como mostra a figura 1.35

Figura 1.35 Figura 1.36

Agora, repare que os “vetores secantes” podem ser aproximados pelos vetores tangentes no ponto
P = (x(u0 ), y(v0 )), imagem do ponto P 0 = (u0 , v0 ) (figura 1.36), como segue:
 
r(u0 + ∆u, v0 ) − r(u0 , v0 ) ∂r 0 ∂x 0 ∂y 0
w1 = ∆u ≈ (P )∆u = (P ), (P ) ∆u
∆u ∂u ∂u ∂u
18 Cap. 1. Integrais Múltiplas

 
r(u0 , v0 + ∆v) − r(u0 , v0 ) ∂r 0 ∂x 0 ∂y 0
w2 = ∆v ≈ (P )∆v = (P ), (P ) ∆v
∆v ∂v ∂v ∂v
Observe, agora, que a área ∆A da subregião ∆D pode ser aproximada pela área do paralelogramo
determinado por estes vetores, ou seja,

∂r 0 ∂r 0
∂r 0 ∂r 0

∆A ≈ ∂u (P )∆u × (P )∆v = (P ) × (P ) ∆u∆v
∂v ∂u ∂v

Computando o produto vetorial, obtemos



i j k

∂x ∂y ∂x ∂x

∂r ∂r ∂x ∂y 0 ∂u
∂u ∂u ∂v
× = = k = k

∂u ∂v ∂u ∂u ∂x ∂y ∂y ∂y

∂x ∂y
∂v ∂v ∂u ∂v

0
∂v ∂v

O determinante acima recebe um nome especial:

Definição 1.2 Se T é uma transformação do plano uv para o plano xy definida pelas equações
x = x(u, v) e y = y(u, v), então o Jacobiano de T é denotado por J(u, v) ou por ∂(x, y)/∂(u, v) e
é definido por
∂x ∂x

∂(x, y) ∂u ∂v ∂x ∂y ∂y ∂x
J(u, v) = = = −

∂(u, v) ∂y ∂y ∂u ∂v ∂u ∂v

∂u ∂v

Assim,
∂(x, y)
∆A ≈ ∂(u, v) k ∆u ∆v

Como k é um vetor unitário, tem-se



∂(x, y)
∆A ≈
∆u ∆v (1.8)
∂(u, v)
Se chamarmos de ∆A0 a área da subregião ∆D0 , temos

∂(x, y) ∂(x, y)
∆A ≈ ∆u ∆v =
∂(u, v) ∆A
0
(1.9)
∂(u, v)
No ponto (u0 , v0 ) esta fórmula (1.9) mostra a relação que existe entre as áreas das subregiões ∆D0 e
∆D na figura 1.34. Observe que para valores pequenos de ∆u e ∆v, a área de ∆D é aproximadamente
o valor absoluto do Jacobiano vezes a área de ∆D0 . Além disso, se prova em cursos de cálculo
avançado que o erro relativo na aproximação tende a zero quando ∆u → 0 e ∆v → 0. Logo, como já
comentamos anteriormente e lembrando da figura 1.34, podemos aproximar a integral dupla sobre a
região D como
¨ Xm X n
f (x, y) dx dy ≈ f (xi , yj )∆Aij
D i=1 j=1
m X
n
X ∂(x, y)
≈ f (x(ui , vj ), y(ui , vj ))
∆ui ∆uj (1.10)
i=1 j=1
∂(u, v)
W.Bianchini 19

onde o Jacobiano é calculado no ponto (ui , vj ). Observe que a última expressão 1.10 é uma soma de
Riemann para a integral ¨
∂(x, y)
f (x(u, v), y(u, v) du dv (1.11)
∂(u, v)
D0

Assim, por 1.10 e 1.11, obtemos a


Fórmula de Mudança de Variáveis para Integral Dupla:
¨ ¨
∂(x, y)
f (x, y) dx dy = f (x(u, v), y(u, v) du dv (1.12)
∂(u, v)
D D0

Observação 1.4 Uma demonstração completa pode ser encontrada em livros de cálculo avançado1 ,
onde são impostas determinadas condições, dentre outras, que T seja uma transformação injetora de
classe C 1 cujo Jacobiano não seja nulo, porém a fórmula acima ainda continua válida se o Jacobiano
for nulo ou T deixa de ser injetora em subconjuntos formados por apenas um ponto ou por gráficos
de funções continuas ou uniões finitas de conjuntos desses tipos.
• Uma Interpretação Geométrica para a Mudança de Variável na Integral Dupla
Vimos que a fórmula 1.9 mostra a relação que existe entre as áreas das subregiões ∆D0 e ∆D,
mas qual a relação entre as áreas de D0 eD?
Para responder a essa pergunta, suponha que a região D0 seja um retângulo [a, b]×[c, d]. Suponha
que o intervalo [a, b] seja dividido em m partes iguais ∆u = b−am
e o intervalo [c, d] em n partes
∆v = n . Assim, a área ∆A de cada subregião ∆D é dada por
d−c 0 0

(b − a) (d − c)
∆A0 =
m n
Logo, se tomarmos f (x, y) = 1 na fórmula 1.10, o seu lado esquerdo nos dá a área A da região D e
tem-se m X n m X n
X ∂(x, y) X ∂(x, y) 1
A≈ ∂(u, v) ∆u∆v =

∂(u, v) mn (b − a)(d − c)

i=1 j=1 i=1 j=1

Veja que a área da região D0 é A0 = (b − a)(d − c), isto é,


m X
n
X ∂(x, y) 1 0
A≈ ∂(u, v) mn A

i=1 j=1

ou seja, neste caso sob a transformação T a área da região D pode ser aproximada por um número,
fator de correção, vezes a área de D0 . Veja para uma visão dinâmica e interativa.

1.3.2 Transformação Linear


Consideremos, como caso particular, a transformação linear T (u, v) = (pu + qv, ru + sv), ou seja,

x = x(u, v) = pu + qv
y = y(u, v) = ru + sv (1.13)
1
Advanced Calculus, R. Creighton Bkuck, McGraw-Hill Company, 1956, teorema 4 - pag.242.
20 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Figura 1.37 Figura 1.38

Figura 1.39

onde p, q, r e s são constantes reais. Uma transformação linear leva retas paralelas em retas paralelas.
Portanto, a imagem de um retângulo no plano uv é um paralelogramo no plano xy. O determinante
Jacobiano desta transformação é dado por

∂(x, y) p q
= = ps − qr
∂(u, v) r s

Assim, a área desse paralelogramo é aquela do retângulo multiplicado pelo fator |ps − qr|. Se esse
determinante for diferente de zero, ou seja, se ps − qr 6= 0, podemos resolver o sistema 1.13 como
função de u e v e encontrar u = u(x, y) e v = v(x, y), i.e, T é inversível em R2 e a fórmula 1.12 de
mudança de coordenadas fica
¨ ¨
f (x, y) dx dy = |ps − qr| f (x(u, v), y(u, v)) du dv (1.14)
D D0

¨
Exemplo 1.9 Calcule a (y − x) dxdy, onde D é uma região limitada por y = x + 1, y = x − 3,
D
y = − 31 + 7
3
e y = − 13 x + 5.
Solução: Considere
x = 34 (v − u)
 
u=y−x
=⇒
v = y + 13 x y = 14 (u + 3v)
Observe que essa transformação leva as retas u = 1, u = −3, v = 73 e v = 5 do plano uv nas retas
correspondentes y − x = 1, y − x = 3, y + 31 = 73 e y + 13 x = 5 do plano xy. Veja a figura 1.40. Assim,
pela fórmula 1.14
¨ ˆ 5 ˆ 1
3
(y − x) dxdy = u dudv = −8
4 7/3 −3
D
W.Bianchini 21

Figura 1.40

¨
Exemplo 1.10 Calcule a (4x − y) dxdy, onde D é uma região limitada pelo paralelogramo de
D
vértices A = (1, 1), B = (3, 2), C = (2, 5) e D = (4, 6).
Solução: Observando a figura 1.41, vamos considerar a mudança de variável

Figura 1.41


  x = − 71 u − 27 v
u = x − 2y
=⇒
v = y − 4x
y = − 47 u − 17 v

Assim, pela fórmula 1.14


¨ ˆ −1 ˆ −3
1 91
(4x − y) dxdy = (−v) dv du =
7 −8 −10 2
D

1.3.3 Mudança Polar


Consideremos agora, como caso particular, as coordenadas polares:

x = r cos θ e y = r sen θ
22 Cap. 1. Integrais Múltiplas

ou seja, a transformação T do plano rθ no plano xy é dada por

T (r, θ) = (r cos θ, r sen θ)

Figura 1.42

Esta aplicação é injetora sobre conjuntos da forma

D0 = {(r, θ) ∈ R2 ; r > 0, θ0 ≤ θ < θ0 + 2π}

como por exemplo, D0 = (0, a] × [0, 2π).


Geometricamente, ela transforma um retângulo ∆D0 do plano rθ em um setor polar ∆D do
plano xy. Veja figura 1.42. Segmentos de retas verticais são levados em semicírculos e segmentos
horizontais são levados em segmentos de semiretas que partem da origem. Se considermos o vetor

p(r, θ) = (r cos θ, r sen θ) = (r cos θ) i + (r sen θ) j

o vetor posição da imagem do ponto (r, θ) no plano xy, então, quando fixamos r = r0 , obtemos
semicírculos concêntricos de raio r0

p(u0 , θ) = (r0 cos θ, r0 sen θ)

Quando fixamos um valor para θ = θ0 , obtemos segmentos de retas que passam pela origem,

p(r, θ0 ) = (r cos θ0 , r sen θ0 )

Os vetores tangentes a essas curvas no ponto P0 imagem de P 0 = (r0 , θ0 ) são

∂p 0
pr = (P ) = (cos θ0 , sen θ0 )
∂r
∂p 0
pθ = (P ) = (−r0 sen θ0 , r cos θ0 )
∂θ
Assim, a área ∆A de um setor polar ∆D pode ser aproximada pela área do paralelogramo formado
pelos vetores
∂p 0
pr = (P ) ∆r
∂r
∂p 0
pθ = (P )∆θ
∂θ
W.Bianchini 23

Neste caso, como o jacobiano é:



∂x ∂x
cos θ −r sen θ

∂(x, y) ∂r ∂θ


J(u, v) = = = = r cos θ + r sen θ = r

∂(r, θ) ∂y ∂y sen θ r cos θ



∂r ∂θ

a área do setor polar (figura 1.43)


∆A ≈ r ∆r ∆θ

Figura 1.43
Figura 1.44

Figura 1.45 Figura 1.46

Logo, como temos uma divisão de D em m × n setores ∆Dij , cuja área ∆Aij ≈ rij ∆rij ∆θij , a
soma de Riemann para a função f sobre a região D será (figuras 1.44 e 1.46)
n X
X m
f (rij cos θij , rij sen θij ) rij ∆rij ∆θij (1.15)
i=1 j=1

Assim, pela fórmula 1.12


¨ ˆ β ˆ b
f (x, y) dx dy = f (r cos θ, r sen θ) r dr dθ (1.16)
α a
D

Pela observação 1.4 esta fórmula permanece válida mesmo em um subconjunto D0 contido em um
conjunto da forma {(r, θ) ; r ≥ 0, θ0 ≤ θ ≤ θ0 + 2π}.
24 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Geometricamente, se a função f > 0 o produto f (r cos θ, r sen θ)r ∆r ∆θ é o volume de um


paralelepípedo de base ∆D e altura f (r cos θ, r sen θ) (figura 1.45). Assim, a soma 1.15 pode ser
vista como uma aproximação do volume V do sólido inteiro de base D, conforme mostra a figura
1.46. Veja também para uma visão interativa.
Se tivessemos uma região polar como da figura 1.47, a fórmula 1.16 seria

Figura 1.47

¨ ˆ β ˆ r2 (θ)
f (x, y) dx dy = f (r cos θ, r sen θ) r dr dθ (1.17)
α r1 (θ)
D

Exemplo 1.11 Voltemos ao “problema” inicial que era o de calcular o volume do sólido limitado por
z = x2 + y 2 , pelo plano z = 0 e o cilindro x2 + y 2 = 1
Solução: Utilizando mudança de coordenadas polares
¨ ¨ ˆ π/2 ˆ 1
V 2 2 2 2 2 2 π
= (x + y ) dxdy = (r sen θ + r cos θ)r drdθ = r3 drdθ =
4 0 0 8
D D0

π
ou seja, V = .
2
¨ p
Exemplo 1.12 Calcule x2 + y 2 dxdy, onde D é limitado por x2 + y 2 = 4 e x2 + y 2 = 9.
D

Solução:

Figura 1.48
W.Bianchini 25

Utilizando coordenadas polares, veja que essa transformação (figura 1.48) leva o retângulo [2, 3] ×
[0, 2π] no anel D. Assim,
¨ p ˆ 2π ˆ 3
38
x2 + y2 dxdy = r2 drdθ = π
0 2 3
D

Exemplo 1.13 Calcule ¨


1
dxdy
(1 + x2 + y 2 )2
D

onde D é um laço da lemniscata (x + y 2 )2 − (x2 − y 2 ) = 0.


2

Solução:

Figura 1.49

Utilizando coordenadas polares, veja que essa transformação (figura 1.49) leva a região D0 na
região D. Substituindo as coordenadas polares na equação da lemniscata, tem-se
p
r4 − r2 (cos2 θ − sen2 θ) = 0 ⇒ r2 − cos 2θ = 0 ⇒ r = | cos 2θ|

Se considerarmos o laço da lemniscata para − π2 ≤ θ ≤ π2 , então, r = cos 2θ. Assim,
¨ ˆ π/4 ˆ √
cos 2θ ˆ
1 π/4
 
1 r 1
dxdy = drdθ = 1− dθ
(1 + x2 + y 2 )2 −π/4 0 (1 + r2 )2 2 −π/4 1 + cos 2θ
D
π/4 ˆ π/4 ! ˆ π/4 !
1 1 1 π
= θ − dθ = − sec2 θ dθ
2 −π/4 −π/4 1 + cos 2θ 2 2 −π/4
1 π

π/4
 1 π 
= − tg θ|−π/4 = −1
2 2 2 2
π−2
=
4

Exemplo 1.14 Considere a transformação

x = 2uv e y = v 2 − u2

(a) Calcule o Jacobiano.


26 Cap. 1. Integrais Múltiplas

(b) Dado um retãngulo R de vértices (1, 1), (2, 1), (2, 3) e (1, 3) no plano uv, represente graficamente
no plano xy a imagem A de R pela transformada dada.
(c) Calcule a área da região A do plano xy encontrada em (b).

Solução: (a)
∂(x, y) 2v 2u
= = 4(v 2 + u2 )
∂(u, v) −2u 2v
(b)
 x
 v=
x = 2v
 
 2
u=1⇒ ⇒
y = v2 − 1  x2
−1

 y=
4
 x
 v=

x = 4v

 4
u=2⇒ ⇒
y = v2 − 4  x2
−4

 y=
16
 x
 u=
x = 2u
 
 2
v=1⇒ ⇒
y = 1 − u2 2
 y =1− x


4
 x
 u=

x = 6u

 6
v=3⇒ ⇒
y = 9 − u2 2
 y =9− x


36

Figura 1.50

(c)
ˆ 2 ˆ 3 ˆ 2  3
v3

2 2 2

A = 4(u + v ) dvdu = 4 u v+ du
1 1 1 3
1
ˆ 2   3  2
26 u 13
= 4 2u2 + du = 8 + u
1 3 3 3 1
160
=
3
W.Bianchini 27

Exemplo 1.15 Determine o volume do sólido que está sob o paraboloide z = 1 + x2 + y 2 , acima do
plano xy e dentro do cilindro x2 + y 2 = 2x.

Solução: x2 + y 2 = 2x ⇔ (x − 1)2 + y 2 = 1. Em coordenada polares

(r cos θ − 1)2 + r2 sen2 θ = 1 ⇒ r2 − 2r cos θ = 0 ⇒ r = 2 cos θ

Portanto, o domínio D0 é dado por

0
n π π o
D = (r, θ); − ≤ θ ≤ , 0 ≤ r ≤ 2 cos θ
2 2

Figura 1.51
28 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Assim,
¨ ˆ π/2 ˆ 2 cos θ ˆ π/2 2 cos θ
r2 r4

2 2 2
V = (1 + x + y ) dxdy = (1 + r )r drdθ = + dθ
−π/2 0 −π/2 2 4 0
D
ˆ π/2
2 cos2 θ + 4 cos4 θ dθ

=
−π/2
ˆπ/2
1 + cos 2θ + (1 + cos 2θ)2 dθ

=
−π/2
ˆπ/2
1 + cos 2θ + 1 + 2 cos 2θ + cos2 2θ dθ

=
−π/2
ˆ π/2  
5 7
= + cos 2θ dθ
−π/2 2 2
 π/2
5 7
= θ + sen 2θ
2 4 −π/2

=
2

Observação 1.5 Em alguns problemas de integração onde é muito difícil resolver as equações

u = u(x, y) , v = v(x, y)

explicitamente para x e y em termos de u e v é conveniente utilizar a relação2

∂(x, y) ∂(u, v)
=1
∂(u, v) ∂(x, y)

¨
Exemplo 1.16 Calcule (x4 − y 4 )exy dxdy, onde D é a região no primeiro quadrante limitada
D
pelas hipérboles xy = 1, xy = 3, x2 − y 2 = 3 e x2 − y 2 = 4.
Solução: Considerando a mudança de variáveis u = xy e v = x2 − y 2 , vemos que a região D é
transformada no retângulo R, como mostra a figura 1.52. O Jacobiano
∂u ∂u
∂(u, v) ∂x ∂y
y x
= −2(x2 + y 2 )
= ∂v ∂v
=
2x −2y
∂(x, y) ∂x ∂y

Assim, pela observação 1.5, temos que

∂(x, y) −1
=
∂(u, v) 2(x + y 2 )
2

2
A demonstração desta fórmula pode ser vista no apêndice do livro Cálculo Diferencial e Integral de Funções de
Várias Variáveis de Diomara Pinto e M.C.Ferreira Morgado.
W.Bianchini 29

Figura 1.52

Assim,
¨ ¨ ¨
4 4 xy 2 2 2 2 xy 2 2
∂(x, y)
u
(x − y )e dxdy = (x − y )(x + y )e dx dy = v(x + y )e du dv
∂(u, v)
D D R
¨ ˆ ˆ
2 2 u 1 1 4 3 u
= v(x + y )e du dv = ve du dv
2(x2 + y 2 ) 2 3 1
R
ˆ
1 4 1
= v(e3 − e) dv = (42 = 32 )(e3 − e)
2 3 4
7
= (e3 − e)
4

1.3.4 Aplicações da Integral Dupla


 Densidade de uma Lâmina
Vamos considerar um objeto, chamado lâmina, fino o suficiente que pode ser visto como uma
região plana bidimensional. Uma lâmina é chamada de homogênea se sua composição é toda
uniforme e é dita não homogênea, caso contrário.
A densidade δ de uma lâmina homogênea de massa M e área A é definida como sendo

M
δ=
A
Para uma lâmina não homogênea, sua composição pode variar ponto a ponto e uma definição
razoável de densidade tem que refletir isto. Como a densidade muda de ponto a ponto e a lâmina
pode ser vista como uma região bidimensional, podemos colocá-la em um plano com um sistema
retangular de eixos xy e associar a cada ponto da placa um ponto do plano xy. Assim, a densidade
em um ponto (x, y) pode ser especificada por uma função δ(x, y), chamada função densidade,
definida da seguinte maneira:
Construa um pequeno retângulo centrado no ponto
(x, y), mas tão pequeno de tal modo que podemos
considerá-lo como homogêneo (figura 1.53). Sejam
∆M e ∆A, sua massa e área, respectivamente. En-
tão, definimos

∆M
δ(x, y) = lim
∆A→0 ∆A

Figura 1.53
30 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Dessa relação, obtemos que


∆M ≈ δ(x, y)∆A (1.18)
Como assumimos que as dimensões do retângulo tendem a zero, o erro dessa aproximação também
tende a zero. Com isso podemos definir o que seja Massa de uma Lâmina.

 Massa de uma Lâmina


Considere uma lâmina ocupando uma região D do
plano xy e uma função densidade δ(x, y), contínua sobre
D. Consideremos um retângulo R contendo D (figura
1.54) e uma partição regular sobre R com n subretângu-
los Rk considerados apenas aqueles cujos pontos centrais
ck = (x∗k , yk∗ ) estejam em D. Suponha que cada subre-
tângulo Rk tenha área ∆Ak . Então por 1.18 sua massa
∆Mk pode ser aproximada por

∆Mk ≈ δ(x∗k , yK

)∆Ak
Figura 1.54
Assim, a massa M da lâmina pode ser aproximada por
n
X
M≈ δ(x∗k , yk∗ )∆Ak
k=1

Logo, quando n → ∞, as dimensões dos subretângulos tendem a zero e assim,


Xn ¨
M = lim ∗ ∗
δ(xk , yk )∆Ak = δ(x, y) dA (1.19)
n→∞
k=1 D

Exemplo 1.17 Uma lâmina triangular com vértices (0, 0), ((1, 0) e (1, 1) tem função densidade
δ(x, y) = xy 2 . Encontre sua massa total.
Solução: Observando a figura 1.55, a massa M da
lâmina é
¨ ˆ 1ˆ x ˆ 1 x
2 1 3
M = δ(x, y)dA = xy dydx = xy dx
0 0 0 3 0
D
ˆ 1 4
x 1
= dx =
0 3 15
Figura 1.55

1.3.5 Exercícios
¨
1. Calcule (x − y) dx dy, onde D é o paralelogramo limitado pelas retas y − 4x + 3 = 0,
D
y − 4x + 10 = 0, x − 2y + 8 = 0 e x − 2y + 1 = 0. Resp: −7
¨ √
x + 2y
2. Calcule dx dy, onde D é a região limitada pelas retas x − 2y = 2, x − 2y = 3,
(x − 2y − 1)2
D
x + 2y = 1 e x + 2y = 4. Resp: 7
12
W.Bianchini 31

3. Calcule o volume da parte do sólido limitado pelas superfícies z = 4 e z = x2 + y 2 e que seja


exterior ao cilindro x2 + y 2 = 1. Resp: 9π
2

4. Determine o volume do sólido limitado pelas superfícies


(a) z = 4 − x2 , x = 0, y = 0, z = 0 e 3x + 4y = 12. Resp: 13
(b) z = 0, x2 + y 2 = 2y e z = x2 + y 2 . Resp: 32
p
9
¨
5. Calcule (x2 + y 2 ) dx dy, onde D é a região no primeiro quadrante do plano xy limitada por
D
x2 + y 2 = 1, x2 + y 2 = 4, y = x e x = 0. Resp: 15π
16
¨
y + 2x2 y/x
6. Calcule e dx dy, onde D é a região do primeiro quadrante limitada pelas curvas
x2
D
y = x, y = 3x, y + x2 = 1 e y + x2 = 4. Resp: 3(e3 − e)
7. Seja R a região do plano uv limitada pelas retas u = 0, v = 0 e u + v = 2. Considere a
transformação T definida por:
x = u + v y = v = u2
(a) Determine e esboce a região D no plano xy, imagem da região R pela transformação T .
¨
1
(b) Calcule q dx dy. Resp: 2
1
D
2 x−y+ 4

8. Utilize uma transformação de coordenadas conveniente para calcular a integral


ˆ 2 ˆ (y+2)/2
(2x − y)2/5 dx dy
0 y

Esboce as regiões de integração correspondentes.

1.4 Integral Tripla


 Integral Tripla sobre uma Caixa
A integral de uma função de uma variável y = f (x) foi definida sobre um intervalo limitado
e fechado de R e a integral dupla de uma função de duas variáveis z = f (x, y) foi definida sobre
uma região limitada e fechada de R2 . Nesta seção definiremos integral tripla de uma função de três
variáveis w = f (x, y, z) sobre uma região limitada e fechada do espaço R3 . Inicialmente, trataremos
do caso mais simples, quando f é definida sobre uma caixa retangular

R = {(x, y, z) ∈ R3 ; a ≤ x ≤ b, c ≤ y ≤ d, e ≤ z ≤ f }

Tal qual fizemos nos casos anteriores, o primeiro passo é dividir R em subcaixas. Para isto, faze-
mos divisões regulares nos intervalos [a, b], [c, d] e [e, f ] em m subintervalos [xi−1 , xi ] de comprimento
∆xi , n subintervalos [yj−1 , yj ] de comprimento ∆yj e p subintervalos [zk−1 , zk ] de comprimento ∆zk ,
respectivamente. Assim, os planos que passam pelas extremidades desses subintervalos, paralelos aos
planos coordenados, subdividem a caixa R em m × n × p subcaixas

Rijk = [xi−1 , xi ] × [yj−1 , yj ] × [zk−1 , zk ]


32 Cap. 1. Integrais Múltiplas

och
Figura 1.56

como mostrado na figura 1.56, onde cada subcaixa tem volume ∆Vijk = ∆xi ∆yj ∆zk . Assim, tomando
um ponto qualquer cijk = (x∗ijk , yijk
∗ ∗
, zijk ) ∈ Rijk , formamos a soma de Riemann
m X p
n X
X
f (cijk )∆Vijk (1.20)
i=1 j=1 k=1

Por analogia com o que foi feito na definição da integral dupla, definimos

Definição 1.3 A integral tripla de f sobre a caixa R é definida por


˚ m X
X p
n X
f (x, y, z) dV = lim f (cijk ) ∆Vijk (1.21)
R m,n,p→∞
i=1 j=1 k=1

se esse limite existir.


Condições sob as quais a integral tripla existe são estudadas em livros de cãlculo avançado.
Entretanto, para nossos propósitos é suficiente que f seja contínua em R.
Assim como para integrais duplas, o método prático para se calcular integrais triplas é o chamado
teorema de Fubini.

Teorema 1.5 Teorema de Fubini: Se f é contínua sobre uma caixa retangular


R = [a, b] × [c, d] × [e, f ], então,
˚ ˆ bˆ d ˆ f
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dx dy dz (1.22)
a c e
R

Além disso, as integrais iteradas podem ser calculadas em qualquer ordem de integração.

Exemplo 1.18 Calcule a integral tripla


˚
x3 y 2 z dV
R
W.Bianchini 33

onde R = {(x, y, z) ∈ R3 ; 0 ≤ x ≤ 3, 0 ≤ y ≤ 2, 0 ≤ z ≤ 1}.


Solução:
˚ ˆ 3 ˆ 2 ˆ 1 ˆ ˆ
3 2 1 3 2  3 2 2 1
3 2
x y z dV = x y z dz dy dx = x y z 0 dy dx
0 0 0 2 0 0
R
ˆ ˆ ˆ ˆ 3
1 3 2 3 2 1 3  3 3 4 3 3 1 4
= x y dy dx = x y dx = x dx = x
2 0 0 6 0 3 0 3 0
= 27

Observação 1.6 No caso em que f (x, y, z) = 1, a integral tripla representa o volume da caixa R,
pois a definição 1.3 fica assim,
˚ m X
X p
n X
dV = lim ∆Vijk = V (R)
m,n,p→∞
R i=1 j=1 k=1

 Integral Tripla sobre regiões mais gerais de R3


Tal qual fizemos com integrais duplas, vamos considerar o problema de definir integral tripla
sobre um regiões fechadas e limitadas D ⊂ R3 , ou seja, um sólido que esteja contido em uma caixa
R (figura 1.57).

Figura 1.57

Consideremos, então, uma função contínua f definida sobre D. Vamos definir uma nova função
F com domínio R, por

 f (x, y, z) , se (x, y, z) ∈ D

F (x, y, z) =
0, se (x, y, z) ∈ R \ D

Assim, F é uma função contínua sobre R, exceto, possivelmente, na fronteira de D. Logo, se a


fronteira de D tiver apenas um número finito de gráficos de funções contínuas, então F é integrável
sobre R e definimos ˚ ˚
f (x, y, z) dV = F (x, y, z) dV
D R
34 Cap. 1. Integrais Múltiplas

e esta integral independe da escolha de R.


Como no caso de integral dupla, iremos nos restringir, neste caso, a três tipos regiões do R3 .
 Região do Tipo I
Uma região D ⊂ R3 é do tipo I se

D = {(x, y, z) ; (x, y) ∈ S, f1 (x, y) ≤ z ≤ f2 (x, y)}

onde S é a projeção de D sobre o plano xy e f1 e f2 são contínuas em D com f1 ≤ f2 . Veja figuras


1.58 e 1.59.

Figura 1.58 Figura 1.59

Neste caso,
˚ ¨ "ˆ f2 (x,y)
#
f (x, y, z) dV = F (x, y, z) dz dA (1.23)
S f1 (x,y)
D

Em particular, se a projeção S for uma região do plano xy do tipo I, como na figura 1.58, então

D = {(x, y, z) ; a ≤ x ≤ b, g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x), f1 (x, y) ≤ z ≤ f2 (x, y)}

e a equação 1.23 se torna


˚ ˆ bˆ g2 (x) ˆ f2 (x,y)
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dz dy dx (1.24)
a g1 (x) f1 (x,y)
D

Agora, se S for uma região do plano xy do tipo II, como na figura 1.59, então
˚ ˆ d ˆ h2 (y) ˆ f2 (x,y)
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dz dx dy (1.25)
c h1 (y) f1 (x,y)
D

 Região do Tipo II
Uma região D ⊂ R3 é do tipo II se

D = {(x, y, z) ; (y, z) ∈ S, f1 (y, z) ≤ x ≤ f2 (y, z)}


W.Bianchini 35

onde S é a projeção de D sobre o plano yz e f1 e f2 são contínuas em D com f1 ≤ f2 .


Neste caso,
˚ ¨ "ˆ f2 (y,z) #
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dx dA (1.26)
S f1 (y,z)
D

Figura 1.60 Figura 1.61

Em particular, se a projeção S for uma região do plano yz do tipo I, como na figura 1.60, então
D = {(x, y, z) ; a ≤ y ≤ b, g1 (x) ≤ z ≤ g2 (x), f1 (y, z) ≤ x ≤ f2 (y, z)}
e a equação 1.26 se torna
˚ ˆ bˆ g2 (y) ˆ f2 (y,z)
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dx dz dy (1.27)
a g1 (y) f1 (y,z)
D

Agora, se S for uma região do plano yz do tipo II, como na figura 1.61, então a equação 1.26 se
torna ˚ ˆ d ˆ h2 (z) ˆ f2 (y,z)
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dx dy dz (1.28)
c h1 (z) f1 (y,z)
D

 Região do Tipo III


Uma região D ⊂ R3 é do tipo III se
D = {(x, y, z) ; (x, z) ∈ S, f1 (x, z) ≤ y ≤ f2 (x, z)}
onde S é a projeção de D sobre o plano xz e f1 e f2 são contínuas em D com f1 ≤ f2 . Então, neste
caso temos que
˚ ¨ "ˆ f2 (x,z) #
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dy dA (1.29)
S f1 (x,z)
D
Analogamente aos dois casos anteriores, a equação 1.29 pode se desdobrar em outros dois casos
dependendo da região plana S ser do tipo I ou II. Assim, teremos, respectivamente,
˚ ˆ b ˆ g2 (x) ˆ f2 (x,z)
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dy dz dx (1.30)
a g1 (x) f1 (x,z)
D
36 Cap. 1. Integrais Múltiplas

e
˚ ˆ d ˆ h2 (z) ˆ f2 (x,z)
f (x, y, z) dV = f (x, y, z) dy dx dz (1.31)
c h1 (z) f1 (x,z)
D

Exemplo 1.19 Calcular o volume do sólido limitado pelos planos x = 0, y = 0 e x + y + z = 1.

Figura 1.62

Observe a figura 1.62 e veja que podemos considerar, por exemplo, o sólido D como sendo uma
região do tipo I. Agora, se considerarmos a projeção S do sólido D como sendo uma região plana
do tipo I, tem-se

ˆ 1 ˆ 1−x ˆ 1−x−y ˆ 1 ˆ 1−x ˆ 1 1−x


y2

V = dz dy dx = (1 − x − y) dy dx = y − xy − dx
0 0 0 0 0 0 2 0
ˆ 1 1
x x2 x 3
  
1 1
= − x + x2 dx = − +
0 2 2 2 2 6 0
1
=
6

Exemplo 1.20 Calcule


˚
x dV
D

onde D é a região limitada pelos planos x = 0, y = 0 e 0 ≤ z ≤ x2 + y 2 , onde x ≥ 0 e y ≥ 0.

Solução: A região D é uma região do tipo 1, como é mostrado na figura 1.63 e sua projeção no
plano xy, S, também. Assim,
W.Bianchini 37

Figura 1.63

˚ ˆ √
2 ˆ √
2−x2 ˆ x2 +y 2 ˆ √
2 ˆ √
2−x2
x dV = x dz dy dx = x(x2 + y 2 ) dy dx
0 0 0 0 0
D
ˆ √
 √
2
3 2
x √ 2 3

= x 2 − x + ( 2 − x ) dx
0 3
 √(2)
2 1 1
= − (2 − x2 )3/2 + (2 − x2 )5/2 − (2 − x2 )5/2
3 5 15 0
 √
 (2)
2 2 3/2 2 2 5/2
= − (2 − x ) + (2 − x )
3 15 0
4 √
= 2
5

Exemplo 1.21 Calcule ˚ p


y 2 + z 2 dV
D

onde D é a região limitada pelo paraboloide x = y 2 + z 2 e pelo plano x = 4.


Solução: A região limitada está representada pelo sólido D na figura 1.64. Se interpretarmos essa
região como sendo do tipo I, então sua projeção
p S sobre o plano xy é mostrada na figura 1.65.
Da equação x = y + z , obtém-se z = ± x − y 2 . Assim, D vista como uma região do tipo I,
2 2

bem como sua projeção S é descrita como


n √ √ p p o
D = (x, y, z) ; 0 ≤ x ≤ 4, − x ≤ y ≤ x, − x − y 2 ≤ z ≤ x − y 2

Logo,
˚ p ˆ 4 ˆ √
x ˆ √x−y2 p
2 2
y + z dV = y 2 + z 2 dz dy dx
√ √
0 − x − x−y 2
D
38 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Figura 1.64: Região de integração Figura 1.65: Projeção sobre o plano xy

Porém, esta integral é extremamente


difícil de calcular. Então, vamos reconsi-
derar o tipo de região e considerá-la como
sendo uma região do tipo 2. Assim, sua
projeção S sobre o plano yz, é o disco
y 2 + z 2 ≤ 4, como mostrado na figura 1.66.
Logo,
Figura 1.66
˚ p ˆ 2 ˆ √4−y2 ˆ 4 p
y 2 + z 2 dV = √ y 2 z 2 dx dz dy
−2 − 4−y 2 y 2 +z 2
D
ˆ 2 ˆ √4−y2 h p i√4−y2
= √ x y2 + z2 √ dz dy
−2 − 4−y 2 − 4−y 2
ˆ 2 ˆ √4−y2 p
= √ (4 − y 2 − z 2 ) y 2 + z 2 dz dy = ∗ (1.32)
−2 − 4−y 2

Novamente caímos em um integral bem complicada. Porém, observe que a região S é um círculo
e desse modo fica fácil converter essa integral para coordenadas polares no plano yz: y = r cos θ,
z = r sen θ. Logo, 1.32 fica igual a
ˆ 2π ˆ 2 ˆ 2π  3 2
4r r5 128
∗= 2
(4 − r )r r dr dθ = − dθ = π (1.33)
0 0 0 3 5 0 15

1.4.1 Mudança de Variáveis na Integral Tripla


Nesta seção iremos estender para funções de três variáveis, a fórmula 1.12 de mudança de variáveis,
que vimos para funções de duas variáveis.
Seja D0 ⊂ R3 uma região fechada e limitada. Consideremos, então, w = f (x, y, z) integrável e
uma transformação T : D0 7−→ D ⊂ R3 , definida pelas equações
x = x(u, v, w) y = y(u, v, w) z = z(u, v, w) (1.34)
onde, x, y, z são funções com derivadas parciais contínuas. Como no caso de 2 variáveis em que a
transformação x = x(u, v), y = y(u, v), leva pequenos retângulos do plano uv em paralelogramos cur-
vilíneos no plano xy, a transformação T definida por 1.34 leva pequenos paralelepípedos retangulares
do espaço uvw em paralelepípedos curvilíneos no espaço xyz.
W.Bianchini 39

Figura 1.67

Para ver isso, basta observar que quando fixamos uma das variáveis, por exemplo, w = w0 ,
a transformação T leva o plano w = w0 do espaço uvw em uma superfície no espaço xyz, pois
T (u, v, w0 ) = (x(u, v, w0 ), y(u, v, w0 , z(u, v, w0 )). A figura 1.68 mostra a transformação T levando
uma caixa subdividida em pequenos paralelepípedos retangulares em uma caixa curvilinea subdivi-
dida em paralelepípedos curvilíneos. Para maiores detalhes e uma visão dinâmica interativa, veja

Figura 1.68

Para chegarmos à fórmula de mudança de variáveis similar à fórmula 1.12, definimos o determi-
nante Jacobiano da aplicação T por

∂x ∂x ∂x




∂u ∂v ∂s


∂(x, y, z) ∂y ∂y ∂y
=
∂(u, v, s) ∂u ∂v ∂s

∂z ∂z ∂z



∂u ∂v ∂s

Agora, para pequenos valores de ∆u, ∆v e ∆w, o volume ∆V do paralelepípedo curvilíneo está
40 Cap. 1. Integrais Múltiplas

relacionado com o volume ∆u∆v∆w do paralelepípedo retangular por



∂(x, y, z)
∆V ≈ ∆u∆v∆w
∂(u, v, w)
a qual é análoga à fórmula 1.9. Usando uma argumentação similar ao caso de duas variáveis, obtemos
uma fórmula similar à fórmula 1.12 para o caso de três variáveis, sob as mesmas condições da
observação 1.4.
Fórmula de Mudança de Variáveis para Integral Tripla:

˚ ˚
∂(x, y, w)
f (x, y, z) dx dy dz = f (x(u, v, w), y(u, v, w), z(u, v, w)) du dv dw (1.35)
∂(u, v, w)
D D0

1.4.2 Mudança de Variáveis Cilíndricas


 Coordenadas Cilíndricas
Três coordenadas são necessárias para mostrar a posição de um ponto no espaco tridimencional.
Frequentemente utilizamos para isso as coordenads cartesianas, cuja representação geométrica plana
é um sistema de três eixos x, y e z, desenhados como na figura 1.69. Entretanto, existem outros
2 sistemas, também, muito utilizados, principalmente para resolver integrais triplas, que são as
coordenadas cilíndricas e as esféricas. Vamos ver, primeiramente, o sistema de coordenadas cilíndricas
representado na figura 1.70, cuja relação com o sistema de coordenadas cartesianas se dá pelas
equações:
x = r cos θ , y = r sen θ e z = z (1.36)

onde r ≥ 0, 0 ≤ θ < 2π e −∞ < z < +∞. Veja e para uma melhor compreensão.

Figura 1.69 Figura 1.70

 Integrais Triplas em Coordenadas Cilíndricas


Em R3 , se tomarmos coordenadas retangulares, as equações
x = x0 , y = y0 , e z = z0
onde x0 , y0 e z0 são constantes, são planos paralelos aos planos coordenados yz, xz e xy, respectiva-
mente (figura 1.71). As equações 1.36 definem uma aplicação T : D0 ⊂ R3 → D ⊂ R3 que é injetora
se
D0 = {(r, θ, z), ; r > 0, θ0 ≤ θ < θ0 + 2π, −∞ < z < ∞} e D = T (D0 )
W.Bianchini 41

Assim, as imagens de r = r0 , θ = θ0 e z = z0 através da aplicação T no espaço xyz são um cilindro,


um semi-plano contendo o eixo z e um plano paralelo ao plano xy como mostrado na figura 1.72.
Para uma visão dinâmica e interativa, veja .

Figura 1.71
Figura 1.72

Assim, uma caixa retangular no sistema rθz subdividida em caixinhas retangulares é levada em
um cilindro subdividido nos assim chamados elementos cilíndricos de volume ou cunhas cilíndricas
como mostra a figura 1.73.

Figura 1.73

O determinante Jacobiano, neste caso é



cos θ −r sen θ 0
∂(x, y, z)
(1.37)

= sen θ r cos θ 0 = r(cos2 θ + senθ ) = r
∂(r, θ, z) 0 0 1

Assim, o volume ∆V de uma cunha cilíndrica pode ser aproximado pelo volume de um paralelepípedo
do espaço rθz do seguinte modo
∆V ≈ r ∆r ∆θ ∆z
Portanto, a fórmula 1.35 se escreve
˚ ˚
f (x, y, z) dx dy dz = f (r cos θ, r sen θ, z) r dr dθ dz (1.38)
D D0
42 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Pela observação 1.4 esta fórmula ainda permanece válida se

D0 ⊂ {(r, θ, z) ; r ≥ 0, θ0 ≤ θ ≤ θ0 + 2π, −∞ < z < ∞}

Observação 1.7 As equações de 1.36 são utilizadas para converter pontos dados em coordenadas
cilíndricas para coordenadas retangulares. Para fazer o contrário, ou seja, se um ponto é dado em
coordenadas retangulares para obter suas coordenadas cilíndricas utilizamos
p y
r= x2 + y 2 , tg θ = , z=z (1.39)
x

Coordenadas cilíndricas são úteis para resolver problemas que envolvem simetria em torno do
eixo z ou um eixo paralelo a ele. Assim,
 se r1 ≤ r ≤ r2 e θ1 (r) ≤ θ ≤ θ2 (r) e z1 (r, θ) ≤ z ≤ z2 (r, θ), então,
˚ ˆ r2 ˆ θ2 (r) ˆ z2 (r,θ)
f (x, y, z) dx dy dz = f (r cos θ, r sen θ, z) r dr dθ dz (1.40)
r1 θ1 (r) z1 (r,θ)
D

 se r1 (θ) ≤ r ≤ r2 (θ), θ1 ≤ θ ≤ θ2 e z1 (r, θ) ≤ z ≤ z2 (r, θ), então,


˚ ˆ θ2 ˆ r2 (θ) ˆ z2 (r,θ)
f (x, y, z) dx dy dz = f (r cos θ, r sen θ, z) r dr dθ dz (1.41)
θ1 r1 (θ) z1 (r,θ)
D

Exemplo 1.22 Calcule o volume do cilindro limitado pelas superfícies:

x 2 + y 2 = a2 , z = 0, z=b

Solução:
ˆ a ˆ 2π ˆ b ˆ a ˆ 2π ˆ a
V = r dz dθ dr = rb , dθ dr = 2πbr dr = πba2
0 0 0 0 0 0

Figura 1.74
W.Bianchini 43

Figura 1.75

Exemplo 1.23 Calcule o volume da esfera x2 + y 2 + z 2 = a2 ??

Solução: Valendo-se da simetria da esfera, iremos calcular um oitavo de seu volume.


Veja figura 1.75.

ˆ a ˆ π/2 ˆ (a2 −r2 )1/2 ˆ a ˆ π/2 ˆ a


V 2 2 1/2 π 2
= r dz dθ dr = r (a − r ) dθ dr = r(a − r2 )1/2 dr
8 0 0 0 0 0 0 2

Fazendo uma substituição de variável: u = a2 − r2 ⇒ du = −2r dr. Assim,


ˆ ˆ
π 2 π π
r(a − r2 )1/2 dr = − u1/2 du = − u3/2
2 4 6

Logo,
ˆ a
a
π 2 π 2 π
r(a − r ) dr = − (a − r ) = a3
2 1/2 2 3/2
0 2 6 0 6

Portanto,
4
V = π a3
3

Exemplo 1.24 Calcule


˚
(2 + x) dx dy dz
W

onde W é o sólido limitado pelas superfícies z = x2 + y 2 e z = x2 + y 2 .


p

Solução: A primeira coisa a fazer é desenhar o sólido W .


Observando a figura 1.76 do sólido W , vemos que o melhor é utilizar coordenadas cilíndricas na
integração. A interseção das duas superfícies que formam o sólido W se dá na origem e no plano
z = 1. Assim, a projeção de W no plano xy é o disco x2 + y 2 ≤ 1. Portanto, θ varia de 0 a 2π, r de
44 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Figura 1.76

0 a 1 e z do paraboloide z = r2 ao cone z = r. Logo,


˚ ˆ 2π ˆ 1 ˆ r ˆ 2π ˆ 1
(2 + x) dx dy dz = (1 + r cos θ)r dz dr dθ = (r2 − r3 ) + (r3 − r4 ) cos θ dr dθ
0 0 r2 0 0
W
ˆ 2π 1 ˆ 2π
r3 r4 r4 r5
  
1 1
= − + − cos θ dθ = + cos θ dθ
0 3 4 4 5 0 0 12 20
 2π
1 1 π
= θ= sen θ =
12 20 0 6

1.4.3 Mudança de Variáveis Esféricas

 Coordenadas Esféricas
O sistema de coordenadas esféricas representado na figura 1.77, cuja relação com o sistema de
coordenadas cartesianas se dá pelas equações:

x = ρ cos θ sen φ y = ρ sen θ sen φ z = ρ cos φ (1.42)

onde ρ ≥ 0, 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ φ ≤ 2π.

Figura 1.77
Figura 1.78
W.Bianchini 45

As equações em 1.42 são utilizadas para converter pontos dados em coordenadas esféricas para
coordenadas retangulares. Para fazer o contrário, ou seja, se um ponto é dado em coordenadas
retangulares para obter suas coordenadas esféricas utilizamos
p y z
ρ = x2 + y 2 + z 2 , tan θ = , cos φ = p (1.43)
x x2 + y 2 + z 2

 Integrais Triplas em Coordenadas Esféricas


As equações 1.42 definem uma aplicação T : D0 ⊂ R3 → D ⊂ R3 que é injetora se
D0 = {(ρ, θ, φ) ∈ R3 ; ρ ≥ 0, 0 ≤ θ ≤ 2π, 0 ≤ φ ≤ π} e D = T (D0 )
Em um sistema retangular ρθφ, as superfícies ρ = ρ0 , θ = θ0 e φ = φ0 são planos paralelos aos
planos θφ, ρφ e ρθ, respectivamente. Assim estes planos, através da aplicação T no espaço xyz, são
uma esfera, um semi-plano contendo o eixo z e um cone com eixo z, respectivamente, como mostrado
na figura 1.78. Para uma visão dinâmica e interativa, veja .
Assim, uma caixa retangular no sistema ρθφ é levada no sistema xyz no assim chamado elemento
esférico de volume ou cunha esférica como mostra a figura 1.79.

Figura 1.79
Figura 1.80

A figura 1.80 mostra a transformação T levando uma caixa subdividida em pequenos parale-
lepípedos retangulares em uma caixa ou cunha esférica subdividida em pequenas cunhas esféricas.

O determinante Jacobiano, neste caso é



cos θ sen φ −ρ sen θ sen φ ρ cos θ cos φ
∂(x, y, z)
(1.44)

= sen θ sen φ r cos θ sen φ ρ sen θ cos φ = −ρ2 sen φ
∂(ρ, θ, φ)
cos φ 0 −ρ sen φ

Visto que 0 ≤ φ ≤ π, então, sen φ ≥ 0. Portanto,



∂(x, y, z) 2
= −ρ sen φ = ρ2 sen φ
∂(ρ, θ, φ)

Assim, o volume ∆V de uma cunha esférica pode ser aproximado pelo volume ∆V 0 de um paralele-
pípedo do espaço ρθφ do seguinte modo
∆V ≈ ∆V 0 = ρ2 sen φ ∆r ∆θ ∆z
46 Cap. 1. Integrais Múltiplas

Portanto, a fórmula 1.35 se escreve


˚ ˚
f (x, y, z) dx dy dz = f (ρ cos θ sen φ, ρ sen θ sen φ, ρ cos φ) ρ2 sen φ dρ dθ dφ (1.45)
D D0

Observação 1.8 Em geral, se utilizam coordenadas esféricas quando a região a ser integrada é
formada por cones e(ou) esferas.

Exemplo 1.25 Calcule o volume da esfera x2 + y 2 + z 2 = a2


Solução: Valendo-se da simetria da esfera, iremos calcular um oitavo de seu volume.

ˆ a ˆ π/2 ˆ π/2 ˆ a ˆ π/2 ˆ a


a
V 2 2 2π π ρ3 π
= ρ sen φ dφ dθ dρ = ρ dθ dρ = ρ dρ = = a3
8 0 0 0 0 0 0 2 2 3 0 6

4
Assim, V = πa3 (compare com o exercício ??, feito com coordenadas cilíndricas).
3
x2 y 2 z 2
Exemplo 1.26 Calcular o volume do elipsoide 2 + 2 + 2 = 1, onde a, b, c > 0.
a b c
Solução:  x 2  y 2  z 2
+ + =1
a b c
x y z
Fazendo a substituição de variável X = , Y = , Z = , tem-se,
a b c
X2 + Y 2 + Z2 = 1

que é a equação de uma esfera de raio 1. Assim fazendo a mudança de variáveis para coordenadas
esféricas,  
 X = ρ sen cos θ sen φ  x = aρ sen cos θ sen φ
Y = ρ sen θ sen φ =⇒ y = bρ sen θ sen φ
Z = ρ cos φ z = cρ cos φ
 

O Jacobiano dessa mudança é J = −abcρ2 sen φ. Assim, lembrando que após a mudança de variável
passamos para uma esfera de raio 1, tem-se,
ˆ π/2 ˆ π/2 ˆ 1 ˆ π/2 ˆ π/2 ˆ 1
V 2 π
= abcρ sen φ dρ dθ dφ = abcρ2 sen φ dρ dθ dφ = abc
8 0 0 0 0 0 0 6
4
Assim, V = πabc.
3
˚
Exemplo 1.27 Calcule z dx dy dz, onde D é a esfera x2 + y 2 + (z − a)2 = a2 .
D

Solução: x + y + (z − a)2 = a2 ⇒ x2 + y 2 + z 2 = 2az. Fazendo a substituição de variáveis


2 2

esféricas, tem-se,

ρ2 cos2 θ sen2 φ + ρ2 sen2 θ sen2 φ + ρ2 cos2 φ = 2aρ cos φ ⇒ ρ = 2a cos φ


W.Bianchini 47

que é a equação da esfera em coordenadas esféricas. Logo, veja figura 1.81, tem-se:
˚ ˆ 2π ˆ π/2 ˆ 2a cos φ ˆ 2π ˆ π/2
2
z dx dy dz = ρ sen φρ cos φ dρ dφ dθ = 4a4 cos5 φ sen φ dφ dθ
0 0 0 0 0
D
ˆ 2π ˆ π/2 ˆ 2π  π/2
4 5 4 1 6
= 4a cos φ sen φ dφ dθ = 4a − cos φ dφ
0 0 0 6 0
4
4πa
=
3

Figura 1.81 Figura 1.82

Exemplo 1.28 Calcule


ˆ √
8 ˆ √
8−x2 ˆ √16−x2 −y2 p
√ √ √ z x2 + y 2 + z 2 dz dy dx
− 8 − 8−x2 x2 +y 2

Solução: Em problemas desse tipo, devemos começar por p desenhar a região de integração. Observe
que na integral acima a variável z varia da função z = x2 + y 2 , que é um cone, até a função
z = 16 − x2 − y 2 , que é uma esfera centrada na origem de raio 4. Isso nos dá a √figura 1.82.
p

Novamente,
√ olhando para a integral vemos que a variável y varia da função y = − 8 − x2 até
y = 8 − x2 . Isso corresponde
√ na figura 1.82 que na√sua projeção no plano xy, a variável y varia da
semicircunferência
√ √ − 8 − x 2 à semicircunferência 8 − x2 e que o limite x de integração varia de
− 8 a 8. Assim, em coordenadas esféricas temos,

ˆ √
8 ˆ √
8−x2 ˆ √16−x2 −y2 p ˆ 2π ˆ π/4 ˆ 4
2
√ √ √
2 2 2
z x + y + z dz dy dx = ρ4 cos φ sen φ dρ dφ dθ
− 8 − 8−x2 − x2 +y 2 0 0 0
ˆ 2π ˆ π/4 ˆ 2π ˆ 2π
45 45  2
π/4 256 512
= cos φ dφ dθ = sen θ 0
dθ = dθ = π
0 0 5 10 0 5 0 5
48 Cap. 1. Integrais Múltiplas

1.4.4 Exercícios
1. Calcule o volume do sólido limitado pelas superfícies:

(a) z = x2 + y 2 e x2 + y 2 + (z − 1)2 = 1, interior ao cone. Resp: π


p
q
2 2
(b) z = 4 − x2 − y 2 , x2 + y 2 + z 2 = 2y com z ≥ 0 e z = x +y
p
3

(c) x2 + y 2 = 1 e x2 + z 2 = 1. Resp:
8
3
(d) z = 2x2 + y 2 + 1, x + y = 1, x = 0, y = 0 e z = 0. Resp: 43

(e) y = 1 − x2 , z = 0, y = 0 e y + z = 2. Resp: 32
15
˚
2. Calcule f (x, y, z) dx dy dz, onde:
W

(a) f (x, y, z) = 1 + x e W é o sólido limitado pelas superfícies z = x2 + y 2 e z = x2 + y 2 .


p

Resp: π6
(b) f (x, y, z) = z e W é limitado pelas superfícies z = 4 − x2 − y 2 , z = x2 + y 2 , y = x e
p p

x = 0 sendo x ≥ 0 e y ≥ 0. Resp: π4
(c) f (x, y, z) = x2 + y 2 + z 2 e W é o sólido limitado por x2 + y 2 + z 2 ≤ x. Resp: 10
p π

(d) f (x, y, z) = x2 e W é o sólido limitado por x2 + y 2 ≤ 1 e 0 ≤ z ≤ 2. Resp: π


2
(e) f (x, y, z) = xyz e W é o sólido limitado por x2 + y 2 + z 2 ≤ 1. Resp: zero
1
(f) f (x, y, z) = z e W é o sólido limitado por x2 + y 2 + z 2 ≤ 1, x2 + y 2 ≥ e z > 0.
4
3. Determine o volume do sólido
p
W = {(x, y, z) ; z ≤ 2 x2 + y 2 e x2 + y 2 + (z − 2)2 ≤ 1}

Resp: 8π
75

4. Determine a massa do sólido W limitado pelas superfícies S1 : x2 + y 2 + z 2 = 9 e S2 :


x2 + y 2 + z 2 = 2y, interior a S1 e exterior a S2 , sabendo-se que sua densidade é dada por
1
f (x, y, z) = 2 . Resp: 10π
x + y2 + z2
Capítulo 2

Integrais de Linha

ˆ b
Neste capítulo vamos ver uma generalização da integral f (x) dx de uma função real sobre um
a
intervalo [a, b], para uma integral de uma função sobre uma curva. Primeiramente, vamos ver isto
para funções escalares e posteriormente para campos vetoriais.

2.1 Campos Vetoriais


Definição 2.1 Um campo vetorial em D ⊂ R2 é uma função F : D → R2 que associa a cada ponto
(x, y) ∈ D um único vetor F (x, y) de R2 .
Como F (x, y) é um vetor de R2 , se costuma escrevê-lo em termos de suas componentes,

F (x, y) = P (x, y)i + Q(x, y)j = (P (x, y), Q(x, y))

ou, ainda, de forma reduzida,


F = (P, Q)
onde, P e Q são funções escalares, i.é, P, Q : R2 → R, também chamados de campos escalares.
Similarmente, se D ⊂ R3 , um campo vetorial em D é uma função F que associa a cada ponto
(x, y, z) de D um vetor F (x, y, z) de R3 . Ele pode ser descrito em termos de suas componentes P , Q
e R como

F (x, y, z) = P (x, y, z)i + Q(x, y, z)j + R(x, y, z)k = (P (x, y, z), Q(x, y, z), R(x, y, z))

ou simplesmente
F = (P, Q, R)
As figuras 2.1 e 2.2 mostram os campos vetoriais da temperatura do ar a 2 metros do solo. A
primeira às 13 hs e a segunda às 19 hs. Dados obtidos da página do INPE
(http://previsaonumerica2.cptec.inpe.br/wrf).
Representações gráficas de campos vetoriais são tarefas um tanto quanto ccdiansativa para fazê-las
manualmente, pois teríamos que desenhar dezenas ou centenas de vetores pontualmente, dependendo
do campo vetorial, para se ter ideia do seu comportamento. Assim, usualmente se utiliza programas
de computador para gerar rapidamente uma representação gráfica e modificá-la de modo a se ter
uma boa ideia do comportamento de tal campo.
A figura 2.3 representa o campo vetorial da velocidade da água em um movimento circular esco-
ando por um ralo central em uma pia.
A figura 2.4 representa o campo vetorial da velocidade da água de um rio em diferentes profun-
didades. Repare que a velocidade é maior perto da superfície do rio e menor nos pontos de maior
profundidade.
Para uma visualização dinâmica e interativa de campos vetoriais no plano, veja

49
50 Cap. 2. Integrais de Linha

Figura 2.1 Figura 2.2


  Figura 2.4: F (x, y, z) = (0, y)
Figura 2.3: F (x, y) = y
, −x
x2 +y 2 x2 +y 2

A figura 2.5 mostra um campo vetorial simulando a velocidade de um fluido girando e escorrendo
para o centro, enquanto a figura 2.6 mostra um centro de força gravitacional.
Para uma visualização dinâmica e interativa de campos vetoriais no espaço, veja

Figura 2.6: F (x, y, z) = −2


(x2 +y 2 +z 2 )3/2
(x, y, z)
Figura 2.5: F (x, y, z) = (y, z, x)

 Campos Gradiente
W.Bianchini 51

Uma classe importante de campos vetoriais são os gradientes de funções. Recordemos que se f é
uma função escalar de duas variáveis, i.é, f : R2 → R, então o gradiente de f é definido como
 
∂f ∂f
∇f (x, y) = , (x, y)
∂x ∂y

Essa fórmula define um campo vetorial no plano chamado de campo gradiente de f.


Similarmente, se f : R3 → R, o gradiente de f é definido por
 
∂f ∂f ∂f
∇f (x, y, z) = , , (x, y, z)
∂x ∂y ∂z

e assim temos um campo vetorial no espaço.


 Campos Vetoriais Contínuos e de classe C 1
Um campo vetorial
F : D ⊂ Rn → Rn
x = (x1 , xn , . . . , xn ) 7−→ F (x) = (F1 (x), F2 (x), . . . , Fn (x))
é contínuo em D se as funções Fi : D ⊂ Rn → R são contínuas em D, para i = 1, . . . , n. Ele é
chamado de classe C 1 se, além disso, todas as derivadas parciais ∂x
∂Fi
j
forem contínuas em D.
 Campos Conservativos
Um campo vetorial F é chamado campo vetorial conservativo se ele for o gradiente de alguma
função escalar, ou seja, se existir uma função f , tal que, F = ∇f . Dizemos que f é uma função
potencial de F .
Por exemplo, o campo vetorial da figura 2.6 é um campo conservativo, pois,
2
f (x, y, z) = p
x + y2 + z2
2

é uma função potencial de


 
−2x −2y −2z
F (x, y, z) = 2 2 2 3/2
, 2 2 2 3/2
, 2
(x + y + z ) (x + y + z ) (x + y 2 + z 2 )3/2

Evidentemente, nem todos os campos vetoriais são conservativos e veremos nas próximas seções
como caracterizá-los e determiná-los.

2.2 Integral de Linha de Função Escalar


Para motivar a definição consideremos o problema de determinar a massa de um fio muito fino no
plano cuja densidade linear em cada ponto (x, y) do fio é dada pelo valor f (x, y) de uma função
densidade f . Para isso, suponha então, que o fio de comprimento S é representado por uma curva C
no plano parametrizada por

r(t) = (x(t), y(t)) = x(t)i + y(t)j, para t ∈ [a, b] (2.1)

Para calcular a massa do fio, vamos dividir o fio em n pedaços pequenos. Para isso, considere
uma partição regular de [a, b]

a = t0 < t1 < t2 < · · · < tn−1 < tn = b (2.2)


52 Cap. 2. Integrais de Linha

Figura 2.7

Tal partição produzirá os pontos correspondentes

P0 , P1 , P2 , . . . , Pn−1 , Pn

onde Pi = r(ti ) = (x(ti ), y(ti )) como mostrado na figura 2.7.


Com isso teremos uma decomposição de C em n arcos de curvas Ci definidas em [ti−1 , ti ]. Seja
∆Mi a massa do i-ésimo arco Ci e seja ∆si o seu comprimento,
ˆ ti ˆ ti
(2.3)
0
p
∆si = k r (t) k dt = (x0 (t))2 + (y 0 (t))2
ti−1 ti−1

Como a partição que tomamos é regular, isto significa que

∆ti = ti − ti−1 → 0 quando n→∞

Agora, considerando que r é contínua com derivada contínua, também, ∆si → 0 quando n → ∞.
Assim, para um valor de n suficientemente grande, o valor de ∆si é muito pequeno e o valor da
densidade f não varia muito ao longo Ci . Portanto, se escolhermos um ponto Pi∗ = (x(t∗i ), y(t∗i ))
qualquer em Ci , sua massa pode ser aproximada por

∆Mi ≈ f (Pi∗ )∆Si

E a massa total M pode ser, então, aproximada por


n
X n
X
M≈ ∆Mi = f (Pi∗ )∆si (2.4)
i=1 i=1

Como ∆si → 0, para todo i, então


n
X
M = lim f (Pi∗ )∆si (2.5)
n→∞
i=1

O limite em 2.5 é o limite de uma soma de Riemann para a função f (x, y) definida sobre a curva C.

Definição 2.2 Dizemos que uma função vetorial r : [a, b] ⊂ R → R2 , r(t) = (x(t), y(t)) é de classe
C 1 se sua derivada r0 (t) = (x0 (t), y 0 (t)) for contínua, i.é, se x0 (t) e y 0 (t) forem contínuas. Também
dizemos, neste caso, que a curva C, imagem de r ou parametrizada por r, é uma curva suave.
W.Bianchini 53

Definição 2.3 Se C é uma curva suave no plano parametrizada por r(t) = (x(t), y(t)) = x(t)i +
y(t)j, para t ∈ [a, b], então a integral de linha de f ao longo de C é definida por
ˆ ˆ n
X
f ds = f (x, y) ds = lim f (x∗i , yi∗ ) ∆si (2.6)
C C n→∞
i=1

desde que esse limite exista e não dependa da escolha da partição ou da escolha dos pontos Pi∗ =
(x∗i , yi∗ ).
Se mostra que para funções contínuas este limite sempre existe.
Evidentemente é impraticável calcular integrais de linha diretamente da definição a não ser em
casos excepcionais. Entretanto, a definição é importante nas aplicações e na interpretação de integrais
de linha. Por exemplo:
 O problema que acabamos de ver sobre o cálculo de massa de um fio, dada a sua densidade.
 Também, no caso em que C é uma curva de comprimento S e f = 1, então, segue imediatamente
da definição que
ˆ Xn
ds = lim ∆si = S (2.7)
C n→∞
i=1

 Interpretação geométrica: Se C é uma curva finita no plano xy e f é contínua e f (x, y) ≥ 0 sobre


C, então, a integral de linha de f ao longo de C pode ser interpretada como a área A de um cilindro
vertical que tem a curva C como diretriz e como geratriz um segmento vertical variável que vai do
ponto (x, y) ao ponto f (x, y) e se move ao longo de C desde o ponto inicial ao ponto final de C (cor
amarela na figura 2.8). Vamos mostrar que a área amarela A da figura 2.8, pode ser aproximada
pela área azul S, da figura 2.9.

Figura 2.8 Figura 2.9

Para isso, tomando uma partição regular em [a, b] como em 2.2, obtemos os pontos P0 , P1 , . . . , Pn ,
onde Pi = r(ti ) = (x(ti ), y(ti )) como mostrado na figura 2.9. Isso divide a área cilíndrica amarela A
em n cilindros de área Ai , cuja base é o arco Pi−1 Pi , cujo comprimento chamamos de ∆si .
Tome um ponto Pi∗ entre cada dois pontos Pi−1 e Pi . O produto f (x∗i , yi∗ ) ∆si nos dá a área de
um cilindro Si tendo como base o arco Pi−1 Pi e altura f (x∗i , yi∗ ) a qual aproxima a área do cilindro
Ai . Veja o detalhe na figura 2.10. Assim,
n
X n
X n
X
A= Ai ≈ Si = f (x∗i , yi∗ ) ∆si (2.8)
i=1 i=1 i=1
54 Cap. 2. Integrais de Linha

Figura 2.10

O que nos remete à definição 2.3 da integral de linha.


Veja a JGI (Janela Gráfica Interativa) em para uma visão dinâmica da interpretação geomé-
trica.
 Calculando Integrais de Linha
Como já foi dito anteriormente, o cálculo de integral de linha pela definição 2.3 só se dá em casos
excepcionais. Entretanto, mostraremos agora, que é possível expressar a integral de linha como uma
integral definida ordinária de uma variável real.
Utilizando a construção que fizemos para definir a integral de linha de uma função escalar (defi-
nição 2.3), o comprimento de arco ∆si entre os pontos Pi−1 e Pi é dado pela integral
ˆ ti
∆si = k r0 (t) k dt (2.9)
ti−1

Seja ∆ti = ti − ti−1 . Pelo Teorema do Valor Méio para integrais, existe um ponto t∗i ∈ [ti−1 , ti ],
tal que, ˆ ti
∆si = k r0 (t) k dt = k r0 (t∗i ) k ∆ti (2.10)
ti−1

Seja Pi∗ = r(t∗i ) = (x(t∗i ), y(t∗i )) e observe que a função composta f (Pi∗ ) = f (x(t∗i ), y(t∗i )) é uma
função real definida sobre [a, b]. Assim, temos
ˆ n
X
f (x, y) ds = lim f (x∗i , yi∗ ) ∆si
C n→∞
i=1
Xn
= lim f (x∗i , yi∗ )k r0 (t∗i ) k ∆ti
n→∞
i=1
ˆ b
= f (x(t), y(t))k r0 (t) k dt
a

Observamos que se f é uma função contínua, a integral acima sempre existe. Portanto, se C é
uma curva parametrizada por
r(t) = x(t)i + y(t)j , t ∈ [a, b]
e r é de classe C 1 , então,
ˆ ˆ b
f ds = f (x(t), y(t))k r0 (t) k dt (2.11)
C a
W.Bianchini 55

ou, ainda escrevemos simplesmente

ˆ ˆ b
f ds = f (r(t))k r0 (t) k dt (2.12)
C a

ou, ainda na sua forma expandida

ˆ ˆ b
(2.13)
p
f ds = f ((x(t), y(t)) (x0 (t))2 + (y 0 (t))2 dt
C a

Observação 2.1 Destacam-se os seguintes aspectos:

- Esta fórmula continua válida se C é suave por partes ou f ◦ r é contínua por partes. Neste caso, a
integral de linha é calculada dividindo-se o intervalo [a, b] em um número finito de intervalos
onde tais funções sejam contínuas. Ou seja, se C = C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn , onde cada Ci é suave,
então, ˆ ˆ ˆ ˆ
f (x, y) ds = f (x, y) ds + f (x, y) ds + · · · + f (x, y) ds
C C1 C2 Cn

- No caso especial em que C é um segmento de reta de (a, 0) a (b, 0), usando x como parâmetro, as
equações paramétricas de C ficam da seguinte forma

x = x, y = 0, x ∈ [a, b]

e a fórmula 2.13 fica


ˆ ˆ b
f (x, y) ds = f (x, 0) dx
C a

e, nesse caso especial, a integral de linha se reduz a uma integral definida de uma variável real.

- No caso particular em que f (x, y) = 1, para todo x ∈ C, pela fórmula 2.12,


ˆ ˆ b
f ds = k r0 (t) k dt = comprimento da curva C
C a

Exemplo 2.1 Calcule a massa do arco de circunferência x = cos t, y = sen t, 0 ≤ t ≤ π, se a


densidade f (x, y) = y.
Solução: ˆ π ˆ π

M= sen t sen2 t + cos2 t dt = sen t dt = [− cos t]π0 = 2
0 0

Exemplo 2.2 Calcule ˆ


(x + y) ds
C

onde C é o triângulo de vértices A = (0, 0), B = (1, 0) e C = (0, 1) (figura 2.11).


56 Cap. 2. Integrais de Linha

Solução: Veja que C = C1 ∪ C2 ∪ C3 , onde

C1 = (t, 0) , t ∈ [0, 1]
C2 = (1 − t, t) , t ∈ [0, 1]
C3 = (0, 1 − t) , t ∈ [0, 1]

então,
ˆ ˆ ˆ ˆ Figura 2.11
(x + y) ds = (x + y) ds + (x + y) ds + (x + y) ds
C C1 C2 C3
ˆ 1 ˆ 1 √ ˆ 1
= t dt + ((1 − t) + t) 2 dt + (1 − t) dt
0 0 0
1 1  1
t2 √ t2 1 √ 1
= + 2 t + t − = + 2+
2 0
0 2 0 2 2

= 1+ 2

Exemplo 2.3 Calcule o comprimento da astroide C (figura 2.12) dada pelas equações paramétricas

x = 2 cos3 t , y = 2 sen3 t , t ∈ [0, 2π]

Solução: Muito embora o gráfico de C não pareça


nada suave, pois ele tem 4 bicos, a curva C é a imagem
da função r(t) = (2 cos3 t, 2 sen3 t) que é de classe C 1 ,
ou seja, suave. Portanto, podemos aplicar a equação
2.13 com f = 1 e dado que a astroide é completa-
mente simétrica em relação aos eixos, iremos calcular
um quarto de seu comprimento. Assim,
ˆ ˆ π/2 p
ds = (6 cos2 t(− sen t))2 + (6 sen2 t cos t)2 dt
C/4 0
ˆ √
π/2 ˆ π/2
= 2 2
6 cos t sen t dt = 6 cos t sen t dt
0 0
Figura 2.12
π/2

2
= 3 sen t = 3
0

Logo, o comprimento total da astroide é igual a 12.

ˆ
Exemplo 2.4 Calcule (x + y 1/2 ) ds, onde:
C

(a) C : r(t) = (t, t2 ), para t ∈ [0, 1] (figura 2.13).

(b) C : r(t) = (1 − t, (1 − t)2 , para t ∈ [0, 1] (figura 2.14).

Solução: (a)
W.Bianchini 57


Se r(t) = (t, t2 ) ⇒ r0 (t) = (1, 2t) ⇒ |r0 (t)| = 1 + 4t2 .
Assim,
ˆ ˆ 1 √
1/2
(x + y ) ds = 2t 1 + 4t2 dt (∗)
C 0

Fazendo a substituição u = 1 + 4t2 ⇒ du = 8t dt. Assim,


ˆ 5
1 5 1 3/2 1 3/2 
(∗) = = u = 5 −1 Figura 2.13
4 1 6 1 6
e assim, ˆ
1 3/2
(x + y 1/2 ) ds =

5 −1
C 6
(b)

Se r(t) = (1 − t, (1 − t)2 ) ⇒ r0 (t) = (−1, −2(1 − t)) ⇒


|r0 (t)| = 1 + 4(1 − t)2 . Assim,
p

ˆ ˆ 1 p
1/2
(x + y ) ds = 2(1 − t) 1 + 4(1 − t)2 dt (∗∗)
C 0

Fazendo a substituição s = 1 − t ⇒ ds = −dt. Logo,


ˆ 0 √ ˆ 1 √
1 3/2 
(∗∗) = − 2
2s 1 + 4s ds = 2s 1 + 4s2 ds = 5 −1 Figura 2.14
1 0 6
Portanto, ˆ
1 3/2
(x + y 1/2 ) ds =

5 −1
C 6
Observe que as integrais de (a) e (b) são iguais, mesmo sendo as parametrizações da curva C de
orientações opostas. Isso ilustra o fato de que o valor da integral de linha de f ao longo de C não
depende da orientação de sua parametrização. Isso vem do fato de que a distância ∆si que aparece
na fórmula 2.6 é sempre positiva.
Observação 2.2 Tudo o que fizemos para uma curva no plano pode ser repetido igualmente para
curvas no espaço, ou seja, se C é uma curva suave parametrizada por
r(t) = (x(t), y(t), z(t)), t ∈ [a, b]
e f : R3 → R, a integral de linha de f ao longo de C é
ˆ ˆ ˆ
f ds = f (x, y, z) ds = f (r(t))k r0 (t) k dt
C C C

ou seja,
ˆ ˆ b
(2.14)
p
f ds = f (x(t), y(t), z(t)) (x0 (t))2 + (y 0 (t))2 + (z 0 (t))2 dt
C a

ˆ
Exemplo 2.5 Calcule a integral de linha (xy + z) ds do ponto (1, 0, 0) ao ponto (−1, 0, π) ao
C
longo da hélice C dada pelas equações paramétricas
x = cos t , y = sen t , z = t, t ∈ [0, π]
58 Cap. 2. Integrais de Linha

Solução: Da fórmula 2.14


ˆ ˆ π p
(xy + z) ds = (cos t sen t + t) (− sen t)2 + (cos t)2 + 1 dt
√ ˆ π
C 0
√ sen2 t t2
 
= 2 (cos t sen t + t) dt = 2 +
0 2 2
√ 2

=
2

Figura 2.15

2.3 Integral de Linha de Campo Vetorial


Se um objeto move-se ao longo de uma reta sujeito a uma força constante F , o trabalho W feito
pela força F para deslocar esse objeto é, por definição, o módulo da componente de F na direção do
deslocamento multiplicado pelo comprimento do deslocamento.

Figura 2.16

W = k v k · k u k = k F kk u k cos α = F · u (produto escalar)


Vamos supor, agora, um objeto se deslocando ao longo de uma curva plana C sujeito a uma força
variável F . Suponha que C é dada por

r(t) = (x(t), y(t)) , t ∈ [a, b]

sendo r de classe C 1 . Queremos calcular o trabalho feito por F ao mover o objeto ao longo de C.
Para isso, consideremos uma partição regular de [a, b]

a ≤ t0 ≤ t1 ≤ t2 ≤ · · · ≤ tn = b

Isso produz uma partição da curva C em n + 1 pontos

P0 = r(t0 ) = (x(t0 ), y(t0 )) , P1 = r(t1 ) = (x(t1 ), y(t1 )) , . . . , Pn = r(tn ) = (x(tn ), y(tn ))

Para n suficientemente grande, a força F é praticamente constante no intervalo de tempo ∆ti =


ti − ti−1 . Considere o ponto Pi∗ = r(t∗i ) para algum ponto t∗i ∈ [ti−1 , ti ]. A distância percorrida pelo
objeto do ponto Pi−1 ao ponto Pi pode ser aproximada pela velocidade no ponto Pi∗ vezes o tempo
decorrido ∆ti . Assim, o trabalho W (∆ti ) executado pela força F para mover um objeto do ponto
Pi−1 ao ponto Pi é dado aproximadamente por (figura 2.17)

W (∆ti ) ≈ F (Pi∗ ) · r0 (t∗i )∆ti = F (r(t∗i )) · r0 (t∗i )∆ti

Portanto, o trabalho W realizado pela força F para deslocar o objeto ao longo de C é dado por
W.Bianchini 59

Figura 2.17

n
X n
X
W = W (∆ti ) = lim F (r(t∗i )) · r0 (t∗i )∆ti
n→∞
i=1 i=1

Desde que r é contínua e F é contínua e C, esse limite exite e assim,


0

Xn ˆ b
∗ 0 ∗
W = lim F (r(ti )) · r (ti )∆ti = F (r(t)) · r0 (t) dt
n→∞ a
i=1

Essa noção física de trabalho nos leva à seguinte definição matemática:


Definição 2.4 Seja F um campo vetorial em R2 , contínuo sobre uma curva C, parametrizada por
uma função de classe C 1 , r(t) : [a, b] → R2 . A integral de linha de F ao longo de C é definida por
ˆ ˆ b
F · dr = F (r(t)) · r0 (t) dt (2.15)
C a

Como no caso de funções escalares, esta fórmula ainda é válida se F (r(t)) · r0 (t) for C 1 por partes
em [a, b].
Veja a JGI (Janela Gráfica Interativa) em e para uma visão dinâmica da definição.
 Se a curva C é fechada, i.é, r(a) = r(b), denotamos a integral de linha por
˛
F · dr
C

 O que fizemos para R , pode ser repetido para R3 de igual forma e obteremos a mesma definição
2

2.4. Assim, se a curva C é uma curva suave no espaço, i.é, se C é parametrizada por r : [a, b] → R3 ,
de classe C 1 ,
r(t) = (x(t), y(t), z(t)) t ∈ [a, b]
e se F é um campo vetorial em R3 , contínuo sobre C e F (x, y, z) = (P (x, y, z), Q(x, y, z), R(x, y, z)),
com P, Q, R : R3 → R, contínuas, a equação 2.15 fica
ˆ ˆ b ˆ b
0
F · dr = F (r(t)) · r (t) dt = F (x(t), y(t), z(t)) · (x0 (t), y 0 (t), z 0 (t)) dt
C a a
ˆ b
= (P (x(t), y(t), z(t)), Q(x(t), y(t), z(t)), R(x(t), y(t), z(t))) · (x0 (t), y 0 (t), z 0 (t)) dt
a
ˆ b
= P (x(t), y(t), z(t))x0 (t) dt + Q(x(t), y(t), z(t))y 0 (t) dt + R(x(t), y(t), z(t))z 0 (t)) dt
a
60 Cap. 2. Integrais de Linha

Portanto, dado que a curva C é dada pelas equações paramétricas

x = x(t) , y = y(t) z = z(t)

usando a notação dx = x0 (t)dt, dy = y 0 (t)dt e dz = z 0 (t)dt, escrevemos


ˆ ˆ
F · dr = P (x, y, z) dx + Q(x, y, z) dy + R(x, y, z) dz (2.16)
C C

ou, simplesmente
ˆ ˆ
F · dr = P dx + Q dy + R dz
C C

Exemplo 2.6 Calcule o trabalho feito pelo campo de forças F (x, y) = (xy, y 2 ) ao mover um objeto
ao longo do arco parabólico C dado por r(t)(t) = (t, t2 ).
Solução: Dado que r(t)(t) = (t, t2 ) ⇒ r0 (t) = (1, 2t) e F (x(t), y(t)) = F (t, t2 ) = (t3 , t4 ), temos por
2.16 que ˆ ˆ 1
7
W = F · dr = (t3 + 2t5 ) dt =
C 0 12

Exemplo 2.7 Calcule o trabalho feito pelo campo de forças F (x, y, z) = (xy, yz, xz) ao mover um
objeto ao longo da cúbica retorcida C dada por r(t) = (t, t2 , t3 ), t ∈ [−1, 1]
Solução: Como r(t) = (t, t2 , t3 ), então, r0 (t) = (1, 2t, 3t2 ) e F (r(t)) = (t3 , t5 , t4 ), assim,
ˆ ˆ 1 ˆ 1
3 6 6 10
W = F · dr = (t + 2t + 3t ) dt = (t3 + 2t6 ) dt =
C −1 −1 7

Exemplo 2.8 Calcular ˆ


x dx + y dy + (x + y) dz
C

onde C é dada pelas equaçoes paramétricas

x = 2 cos t , y = 2 sen t , z = t, t ∈ [0, 1π]

ˆ ˆ 2π
x dx + y dy + (x + y) dz = (2 cos t (−2 sen t) + 2 sen t 2 cos t + 2 cos t + 2 sen t) dt
C 0
2π
= 2 cos2 t + 2 sen2 t + 2 sen t − 2 cos t 0


= 4

ˆ
Exemplo 2.9 Calcule a integral de linha F · dr, onde F (x, y) = (ey , − sen πx) e C é a poligonal
C
P1 = (1, 0), P2 = (0, 1) e P3 = (−1, 0).
W.Bianchini 61

Figura 2.18 Figura 2.19

Solução: Se considerarmos a poligonal C = C1 ∪ C2 com a orientação dada pela figura 2.18, temos a
seguinte parametrização
C1 : r1 (t) = (1 − t, t) , t ∈ [0, 1]
C2 : r2 (t) = (−t, 1 − t) , t ∈ [0, 1]
Assim, r01 (t) = (−1, 1) e r02 (t) = (−1, −1). Logo,
ˆ ˆ 1  1
t t 1
F · dr = (−e − sen π(1 − t)) dt = −e − cos π(1 − t)
C1 0 π 0
2
= 1−e− (2.17)
π
ˆ ˆ 1  1
1−t
 1−t 1
F · dr = −e + sen π(−t) dt = e + cos πt
C2 0 π 0
2
= 1−e− (2.18)
π
Portanto, de 2.17 e 2.18, ˆ  
2
F · dr = 2 1 − e −
C π
Agora, se considermos a poligonal C = C2 ∪ C1 com a orientação como na figura 2.19, vamos
denota-la por C − = C2− ∪ C1− , a parametrização de C com orientação contrária da orientação de C.
Sua parametrização, então, fica
C1− : r1 (t) = (t, 1 − t) , t ∈ [0, 1]
C2− : r2 (t) = (t − 1, t) , t ∈ [0, 1]
Assim, r01 (t) = (1, −1) e r02 (t) = (1, 1). Logo,
ˆ ˆ 1  1
1−t 1−t 1
F · dr = (e + sen πt) dt = −e − cos πt
C1− 0 π 0
2
= e−1+ (2.19)
π
ˆ ˆ 1  1
t
 t 1
F · dr = e − sen π(t − 1) dt = e + cos π(t − 1)
C2− 0 π 0
2
= −1 + e + (2.20)
π
62 Cap. 2. Integrais de Linha

Logo, de 2.19 e 2.20, ˆ  


2
F · dr = −2 1 − e −
C− π
Observe, então, que ˆ ˆ
F · dr = − F · dr
C C−
Essa é uma propriedade básica de integrais de linha de um campo vetorial como veremos a seguir.

2.3.1 Propriedades básicas de Integral de Linha de Campo Vetorial


(i) Linearidade: ˆ ˆ ˆ
(aF + bG) · dr = a F ·r+b G · dr
C C C
onde a e b são constantes reais.

(ii) Aditividade: Se C = C1 ∪ C2 ∪ · · · ∪ Cn , então,


ˆ n ˆ
X
F · dr = F · dr
C i=1 Ci

A demonstração destas propriedades seguem diretamente da definição de integral de linha.

(iii) Troca de Parâmetro: Seja r : [a, b] → R uma parametrização de classe C 1 da curva C e seja
g : [c, d] → [a, b] bijetora e de classe C 1 . Então a função β definida por

β(t) = r(g(t))

é uma função definida sobre [c, d] de classe C 1 tendo o mesmo gráfico C, ou seja, é também
uma parametrização de C e são chamadas de equivalentes.
A função g é dita definir uma troca de parâmetro. Se g 0 (t) > 0 sobre [c, d], g é crescente e
dizemos que as parametrizações r e β traçam C com a mesma direção e dizemos que a função
g preserva a orientação. Se g 0 (t) < 0 sobre [c, d], g é decrescente e r e β traçam C com direções
opostas e dizemos g inverte a orientação de C. Então,

• se g preserva a orientação , ˆ ˆ
F · dr = F · dβ
C β

• se g inverte a orientação, ˆ ˆ
F · dr = − F · dβ
C β

A demonstração deste fato é uma simples aplicação da regra da cadeia.

β(t) = r(g(t)) ⇒ β 0 (t) = r0 (g(t))g 0 (t)

Assim, ˆ ˆ ˆ
d d
0
F · dβ = F (β(t)) · β (t) dt = F (r(g(t))) · r0 (g(t))g 0 (t) dt
β c c
W.Bianchini 63

Fazendo uma substituição de variável nesta última integral, v = g(t) ⇒ dv = g 0 (t) dt e assim,
ˆ ˆ g(d) ˆ b ˆ
0 0
F · dβ = F (r(v)) · r (v) dv = ± F (r(v)) · r (v) dv = ± F · dr
β g(c) a C

Assim, se g preserva a orientação, a = g(c) e b = g(d) e temos o sinal positivo na integral,


agora, se g inverte a orientação, tem-se a = g(d) e b = g(c) e, portanto, temos o sinal negativo
na integral.
Como caso particular temos que,
ˆ ˆ
F · dr = − F · dr
C C−

onde C − é a curva C com orientação oposta. Neste caso, g(t) = −t.


ˆ
Exemplo 2.10 Calcule F · dr, onde F (x, y) = (x, y) e
C

(a) C : r(t) = (t, t2 ) t ∈ [0, 4]

(b) C : β(t) = (t2 , t4 ) t ∈ [0, 2]

Solução:
(a)
ˆ 4 ˆ 4 4
t2 t2

2 3
(t, t ) · (1, 2t) dt = (t + 2t ) dt = +
0 0 2 4 0
= 8 + 128 = 136

(b)
ˆ 2 ˆ 2 2
t4 t8

2 4 3 3 7
(t , t ) · (2t, 4t ) dt = (2t + 4t ) dt = + = 136
0 0 2 2 0
Figura 2.20

Vejam que r e β são parametrizações equivalentes, onde g(t) = t2 : [0, 2] → [0, 4].

Exemplo 2.11 Calcule ‰


y 2 dx + x2 dy
C

onde C é o triângulo com vértices em A = (1, 0), B = (1, 1) e O = (0, 0) orientada no sentido anti-
horário.

Solução: C = C1 ∪ C2 ∪ C3 (figura 2.21), então, pela propriedade (ii),


‰ ˆ ˆ ˆ
2 2 2 2 2 2
y dx+x dy = y dx+x dy+ y dx+x dy+ y 2 dx+x2 dy
C C1 C2 C3

C1 : r(t) = (t, 0) t ∈ [0, 1], então


ˆ
y 2 dx + x2 dy = 0
C1
Figura 2.21
64 Cap. 2. Integrais de Linha

C2 : r(t) = (1, t) , t ∈ [0, 1], então


ˆ ˆ 1
2 2
y dx + x dy = dt = 1
C2 0

C3 : r(t) = (1 − t, 1 − t) , t ∈ [0, 1]
ˆ ˆ 1
2 2 2 1 2
y dx + x dy = −2(1 − t)2 dt = (1 − t)2 0 = −
C3 0 3 3
Portanto, ‰
2 1
y 2 dx + x2 dy = 1 − =
C 3 3

Observação 2.3 É usual, quando não se menciona explicitamente, se usar o símbolo para indicar

que o sentido em uma curva fechada é antihorário e o símbolo para indicar o sentido horário.

Exemplo 2.12 Calcule ˆ


(y + z) dx + (x + z) dy + (x + y) dz
C
onde:
(i) C é o segmento que vai do ponto O = (0, 0, 0) a P = (1, 1, 1) (figura 2.22).
(ii) C é a poligonal O, A = (1, 0, 0), B = (1, 1, 0), P (figura 2.23).

Solução:

(i) C : x = t, y = t, t ∈ [0, 1]. Então,


z = t,
ˆ ˆ 1
1
(y + z) dx + (x + z) dy + (x + y) dz = 6t dt = 3t2 0 = 3
C 0

(ii) C = C1 ∪ C2 ∪ C3 , onde,

C1 : x = t, y = 0, z = 0, t ∈ [0, 1]
C2 : x = 1, y = t, z = 0, t ∈ [0, 1]
C3 : x = 1, y = 1, z = t, t ∈ [0, 1] Figura 2.22
Assim,
ˆ ˆ 1
(y + z) dx + (x + z) dy + (x + y) dz = 0 dt = 0
C1 0

ˆ ˆ 1
(y + z) dx + (x + z) dy + (x + y) dz = dt = 1
C2 0

ˆ ˆ 1
(y + z) dx + (x + z) dy + (x + y) dz = 2 dt = 2 Figura 2.23
C3 0

Portanto, ˆ
(y + z) dx + (x + z) dy + (x + y) dz = 0 + 1 + 2 = 3
C
W.Bianchini 65

ˆ
Exemplo 2.13 Calcule y 2 dx + x2 dy, onde
C

(i) C : r(t) = (t, t) , t ∈ [0, 1] (figura 2.24).

(ii) C : r(t) = (t, t2 ) , t ∈ [0, 1] (figura 2.25).


Solução:

Figura 2.24 Figura 2.25

(i)
ˆ ˆ 1 ˆ 1
1
2 2
y 2 dx + x2 dy = t2 dt + t2 dt = 2t2 dt = t2 =
C 0 0 3 0 3
(ii)
ˆ ˆ 1 ˆ 1  1
2 2 4 2 3 4 1 1 7
dt = t4 + t5

y dx + x dy = t dt + t 2t dt = 2t + t =
C 0 0 2 5 0 10

2.3.2 O Teorema Fundamental do Cálculo (segunda parte) e a Indepen-


dência do Caminho
A curva parametrizada C na integral de linha é chamada de caminho de integração. Um dos mais
importantes problemas é determinar como o caminho de integração afeta o trabalho realizado por
uma força para mover um objeto de um ponto P a outro ponto Q.
No exemplo 2.12 a integral de linha dá o mesmo valor ao longo dos caminhos dos itens (i) e (ii),
ou seja, a integral independe destes dois caminhos. A pergunta é:
- Será que a integral de linha dará o mesmo valor para qualquer caminho que ligue o ponto O ao
ponto P ?
Veja que no exemplo 2.13 o valor da integral é diferente para cada caminho dos itens (i) e (ii), ou
seja, a integral depende do caminho que liga os pontos (0, 0) e (1, 1).
Integrais de linha ao longo de um caminho que liga um ponto A a um ponto B são ditas inde-
pendentes do caminho, ou que seu campo vetorial é independente do caminho, se o seu valor for
o mesmo para qualquer caminho que ligue estes pontos, ou seja, o seu valor só depende apenas dos
pontos inicial e final.
O próximo teorema responde a pergunta sobre quais campos vetoriais tem integral de linha
independente do caminho. Este teorema estende a segunda parte do Teorema Fundamental do
Cálculo para funções reais que diz
ˆ b
F 0 (x) dx = F (b) − F (a)
a

onde f = F 0 é contínua em [a, b]1 .


1
Aprendendo Cálculo com Maple, A. Rocha e W. Bianchini, Editora LTC (veja online em Aprendendo Cálculo de
Uma Variável).
66 Cap. 2. Integrais de Linha

Teorema 2.1 Teorema Fundamental do Cálculo para Integrais de Linha (Segunda parte)
Seja C uma curva suave dada pela função vetorial r : [a, b] → Rn , n = 2, 3. Seja f : Rn → R,
diferenciável, cujo gradiente ∇f é contínuo em C. Então,
ˆ
∇f · dr = f (r(b)) − f (r(a))
C

Dem: Considere a função composta f (r(t)) = g(t), a ≤ t ≤ b. Pela regra da cadeia,

g 0 (t) = ∇f (r(t)) · r0 (t)

Então, desde que a função g é uma função real contínua, pelo Teorema Fundamental do Cálculo,
ˆ b
g 0 (t) dt = g(b) − g(a) = f (r(b)) − f (r(a))
a

Portanto, ˆ ˆ ˆ
b b
0
∇f · dr = ∇f (r(t)) · r (t) dt = g 0 (t) dt = f (r(b)) − f (r(a))
C a a

Se r(a) = A e r(b) = B são pontos de R ligados pelo caminho C e parametrizado por r, escrevemos
n

ˆ B
∇f · dr = f (B) − f (A)
A

Observamos que, apesar de termos demonstrado o teorema para curvas suaves, ele é válido para
curvas suaves por partes. Para isso, basta subdividir C em um número finito de curvas suaves e
somar as integrais.
Como consequência do teorema 2.1 vemos que a integral de linha de um gradiente é independente
do caminho que liga os pontos A e B. Portanto, para um caminho fechado temos A = B e, assim,
f (B) − f (A) = 0. Ou seja, a integral de linha de um campo gradiente contínuo é zero ao longo de
todo caminho fechado suave por partes.
Outra consequência óbvia desse teorema é que para se calcular a integral de linha de um campo
conservativo F , basta calcular sua função potencial f .
 Calculando função potencial

Exemplo 2.14 (a) Dado F (x, y) = (2xy 3 , 3x2 y 2 ), calcule sua função potencial f , se existir.

(b) Calcule
ˆ (3,−2)
2xy 3 dx + 3x2 y 2 dy
(1,2)

Solução: (a)
∂f
= 2xy 3 (2.21)
∂x
∂f
= 3x2 y 2 (2.22)
∂y
Integrando 2.21 em relação a x,
ˆ ˆ
∂f ∂f
dx = 2xy 3 dx ⇒ f (x, y) = x2 y 3 + g(y) ⇒ = 3x2 y 2 + g 0 (y) (2.23)
∂x ∂y
W.Bianchini 67

Comparando 2.22 com 2.23, tem-se

3x2 y 2 = g 0 (y) = 3x2 y 2 ⇒ g 0 (y) = 0 ⇒ g(y) = c

Portanto, de 2.23
f (x, y) = x2 y 3 + c

Onde c ∈ R.
(b)
ˆ (3,−2)
(3,−2)
3 2 2
2 3
2xy dx + 3x y dy = x y = −80
(1,2) (1,2)

Exemplo 2.15 Dado F (x, y, z) = (2xyz + z 2 − 2y 2 , x2 z − 4xy, x2 y + 2xz − 2), calcule sua função
potencial f , se existir.
Solução:

∂f
= 2xyz + z 2 − 2y 2 (2.24)
∂x
∂f
= x2 z − 4xy (2.25)
∂y
∂f
= x2 y + 2xz − 2 (2.26)
∂z
Integrando 2.24 em relação a x,
ˆ ˆ
∂f
dx = (2xyz + z 2 − 2y 2 ) dx ⇒ f (x, y, z) = x2 yz + xz 2 − 2xy 2 + g(y, z) (2.27)
∂x

Logo,
∂f ∂g
= x2 z − 4xy + (y, z) (2.28)
∂y ∂y
Comparando 2.28 com 2.25 tem-se que

∂g
(y, z) = 0 ⇒ g(y, z) = h(z) (2.29)
∂y

Logo, de 2.29 e 2.27

∂f
f (x, y, z) = x2 yz + xz 2 − 2xy 2 + h(z) ⇒ = x2 y + 2xz + h0 (z) (2.30)
∂z
Comparando 2.30 com 2.26 tem-se

h0 (z) = −2 ⇒ h(z) = −2z + c (2.31)

Portanto de 2.27 e 2.29


f (x, y, z) = x2 yz + xz 2 − 2xy 2 − 2z + c

onde c ∈ R.
68 Cap. 2. Integrais de Linha

2.3.3 Teorema Fundamental do Cálculo (Primeira Parte)


O teorema 2.1 extende a segunda parte do teorema fundamental do Cálculo para integrais de linha.
Nesta seção iremos extender a primeira parte do teorema fundamental. Recorde que a primeira parte
do Teorema Fundamental do Cálculo diz que toda função contínua f em um intervalo [a, b] tem uma
primitiva definida por ˆ x
A(x) = f (t) dt
a
i.é,
A0 (x) = f (x) , ∀ x ∈ [a, b]
Para extender este teorema para integrais de linha precisamos de alguns conceitos.

Definição 2.5 Um conjunto D de R2 ou R3 é conexo se quaisquer dois pontos de D podem ser ligados
por alguma curva de classe C 1 por partes, que esteja inteiramente em D. Informalmente, dizemos
que D é conexo se ele não consiste de dois ou mais pedaços separados (figura 2.27).

Figura 2.26: conjunto conexo Figura 2.27: conjunto não conexo

Vamos considerar um campo vetorial F , contínuo sobre um conjunto conexo aberto D. Como D
é conexo, seja C uma curva em D que liga um ponto fixo A ∈ D a um ponto arbitrário X. Considere
o campo escalar definido pela integral de linha
ˆ X
f (X) = F · dr
A

onde r é uma parametrização de C. Para esta definição fazer sentido, a integral de linha não pode
depender de um particular caminho que liga A a X. Portanto, vamos impor a condição de que
a integral de linha seja independente do caminho em D. Com isso temos a seguinte extensão do
Teorema Fundamental do Cálculo:

Teorema 2.2 Teorema Fundamental para Integrais de Linha


Seja F um campo vetorial contínuo sobre um conexo aberto D ⊂ Rn com a condição de que sua
integral de linha seja independente do caminho em D. Seja A um ponto fixo de D e defina um campo
escalar f sobre D por ˆ X
f (X) = F · dr
A

onde r é uma parametrização C 1 por partes de uma curva C que liga A a X. Então, o gradiente de
f existe e é igual a F , i.é,
∇f (X) = F (X) , ∀ X ∈ D
(X = (x1 , . . . , xn ), n = 2, 3)
Dem: Vamos demonstrar no caso particular n = 2, ou seja, quando D ⊂ R2 e
∂f ∂f
F (x, y) = (P (x, y), Q(x, y)) que =P e =Q
∂x ∂y
W.Bianchini 69

Assim, nossa hipótese é de que a integral


ˆ X ˆ X
F · dr = P dx + Q dy
A A

seja independente do caminho que liga A a X = (x, y) em D. Como D é aberto, seja ∆x suficiente-
mente pequeno tal que o ponto X 0 = (x + ∆x, y) ∈ D. Agora,
ˆ X0 ˆ X ˆ X0
0
f (X ) = P dx + Q dy = P dx + Q dy + P dx + Q dy
A A X

Assim, a razão incremental


ˆ X0
f (X 0 ) − f (X) 1
= P dx + Q dy (2.32)
∆x ∆x X

Agora, como a integral de F independe do caminho em D, podemos ligar os pontos X e X 0 por um


segmento de reta horizontal (figura 2.28 ) parametrizado por

α(t) = (x + t∆x, y) , t ∈ [0, 1] ⇒ α0 (t) = (∆x, 0)

Figura 2.28

Assim, dx = ∆x dt e dy = 0. Utilizando o teorema do valor médio para integrais definidas, a equação


2.32 fica
ˆ 1 ˆ 1
f (X 0 ) − f (X) 1
= P (x + t∆x, y)∆x dt = P (x + t∆x, y) dt = P (x + t∗ ∆x, y)
∆x ∆x 0 0

para algum t∗ ∈ [0, 1]. Como, por hipótese, F é contínuo, então, P é contínua. Assim, fazendo
∆x → 0 ⇒ (x + t∗ ∆x, y) → (x, y) e, portanto,

f (X 0 ) − f (X)
lim = P (X)
∆x→0 ∆x
ou seja,
∂f
=P
∂x
∂f
De modo análogo, se mostra que, =Q
∂y
70 Cap. 2. Integrais de Linha

 Condições necessárias e suficientes para um campo vetorial ser um gradiente


A primeira e segunda parte do teorema fundamental do cálculo para integrais de linha nos diz
que a condiçâo necessária e suficiente para que um campo vetorial contínuo seja conservativo é que
sua integral de linha seja independente do caminho. Além disso, se conclui pela segunda parte que
a integral de linha sobre um caminho fechado é igual a zero. O próximo teorema mostra que essas
condições são equivalentes.

Teorema 2.3 Seja F um campo vetorial contínuo sobre um conjunto conexo aberto D ⊂ Rn , n = 2, 3.
Então, são equivalentes:
(a) F é um campo vetorial conservativo em D.
˛
(b) F · dr = 0 para toda curva fechada suave por partes em D.
C
ˆ
(c) F · dr é independente do caminho para qualquer curva suave por partes em D.
C

Dem: A implicação (a) ⇒ (b) já foi mostrada acima como uma consequência da segunda parte do
teorema fundamental do cálculo para integrais de linha.
Para provar que (b) ⇒ (c), considere C1 e C2 duas curvas suaves por partes em D com as mesmas
extremidades, como mostra a figura 2.29. Então, a curva C = C1 ∪ C2 é uma curva fechada em D e
‰ ˆ ˆ ˆ ˆ
F · dr = F · dr + F · dr = F · dr − F · dr
C C1 C2− C1 C2

Figura 2.29

Como estamos supondo que a integral sobre toda curva fechada é zero, então,
ˆ ˆ
F · dr = F · dr
C1 C2

ou seja, a integral independe do caminho que liga dois pontos em D.


A implicação (c) ⇒ (a) foi estabelecida pela primeira parte do teorema fundamental do cálculo
para integrais de linha.
¸
Observação 2.4 Pela equivalência de (a) ¸ e (b), se C
F · dr 6= 0 para uma curva fechada particular,
então, F não é conservativo. Agora, se C F · dr = 0 para uma curva fechada particular ou mesmo
para infinitas curvas fechadas, isso não implica necessariamente que F seja um campo conservativo
como mostra o exemplo a seguir.
W.Bianchini 71

Exemplo 2.16 Mostre que ˆ


x dx + xy dy = 0
C

para toda circunferência C com centro na origem, porém F (x, y) = (x, xy) não é um campo conser-
vativo.
Solução: Considere a circunferência C centrada na origem de raio r parametrizada por:

x = r cos t , y = r sen t , t ∈ [0, 2π] , 0<r∈R

Então,
‰ ˆ 2π 2π
r2 r3

2 3 2 3
x dx + xy dy = (−r cos t sen t) dt + r cos t sen t cos t dt = cos t − cos t =0
C 0 2 3 0

Figura 2.30 Figura 2.31

Observe que o campo vetorial F representado na figura 2.30 é simétrico em relação ao eixo x.
Assim, se pensarmos no trabalho que a força F exerce para deslocar uma partícula na parte de cima
da circunferência vê-se que é igual ao trabalho na parte de baixo com valor negativo o que resulta
na soma zero.
A figura 2.31 sugere que o valor da força nos pontos da circunferência mais afastados do centro
é muito maior que nos pontos próximos da origem resultando em uma integral diferente de zero.
Mas para utilizar a equivalência (a) ⇔ (b) do teorema 3.3 teriámos que fazer as contas. Ao invés
disso iremos utilizar a equivalência (a) ⇔ (c) do teorema 3.3 para mostrar que sua integral de linha
depende do caminho que liga dois pontos, pois as contas são mais fáceis.
Considere os pontos A = (1, 0) e B = (0, 1) e os caminhos que ligam A e B como na figura 2.32.

Figura 2.32
72 Cap. 2. Integrais de Linha

C1 : r1 (t) = (1 − t, 0) ⇒ r10 (t) = (−1, 0) t ∈ [0, 1]


C2 : r2 (t) = (0, t) ⇒ r20 (t) = (0, 1) t ∈ [0, 1]
C3 : r3 (t) = (cos t, sen t) , t ∈ [0, π/2]
A integral de F ao longo de C = C1 ∪ C2 é igual
ˆ ˆ ˆ 1 ˆ 1 1
t2

1
F · dr + F · dr = − (1 − t) dt + 0 dt + 0.t dt = −t + =−
C1 C2 0 0 2 0 2
e ˆ ˆ π/2
π/2
cos2 t cos3 t

1
F · dr = cos t(− sen t) dt + cos t sen t cos t dt = − =−
C3 0 2 3 0 6
Logo, ˆ ˆ
F · dr 6= F · dr
C C3
Muito embora o teorema 3.3 nos dê uma importante caracterização de campos vetoriais conser-
vativos, ele não é uma ferramenta muito efetiva, tendo em vista que não é possível calcular integrais
de linha sobre todas as possíveis curvas suaves por partes em D, como requerem as partes (b) e (c).
O próximo teorema nos dá um teste mais rápido para mostrar que um campo não é conservativo.
Teorema 2.4 Teste para Campo Conservativo. Se F (x, y) = (P (x, y), Q(x, y)) for um campo veto-
rial conservativo de classe C 1 sobre um conjunto aberto D ⊂ R2 , então
∂P ∂Q
= (2.33)
∂y ∂x
em cada ponto de D.
Dem: Se F é um campo conservativo, então, F = ∇f para alguma função potencial f , ou seja,
∂f ∂f
P = e Q=
∂x ∂y
Logo,
∂P ∂ 2f ∂Q ∂ 2f
= e =
∂y ∂y∂x ∂x ∂x∂y
Como F é de classe C , P e Q tem derivadas parciais contínuas em D e, portanto, as derivadas
1

parciais mistas são iguais, ou seja,


∂P ∂Q
=
∂y ∂x
A recíproca deste teorema também é verdadeira, mas com uma condição a mais que veremos na
próxima seção sobre teorema de Green.
Este teorema também vale para campos vetoriais sobre R3 . S e F = (P, Q, R) a condição 2.33
fica
∂P ∂Q ∂P ∂R ∂Q ∂R
= , = , =
∂y ∂x ∂z ∂x ∂z ∂y
Exemplo 2.17 Utilize o teorema 2.4 para mostrar que o campo vetorial do exemplo 2.16 não é
conservativo
Solução: F (x, y) = (x, xy), então,
∂P ∂Q
=0 e =y
∂y ∂x
∂P ∂Q
Desde que (x, y) 6= (x, y), exceto em (0, 0), o campo vetorial F não é conservativo.
∂y ∂x
W.Bianchini 73

Exemplo 2.18 Mostre que o campo vetorial F (x, y) = (−y, x) não é conservativo.
Solução:
∂P ∂Q
= −1 e =1
∂y ∂x
∂P ∂Q
Desde que (x, y) 6= (x, y), o campo vetorial F não é conservativo.
∂y ∂x

Figura 2.33 Figura 2.34

As figuras 2.33 e 2.34 mostram o campo vetorial F (x, y) = (−y, x) e duas circunferências, uma
parametrizada no sentido anti-horário (2.33) e a outra no sentido horário (2.34).
Pode-se ver na figura 2.33 que o produto‰ escalar F (r(t)) · r0 (t) > 0, já que o campo vetorial está
no sentido do movimento na curva. Assim, F · dr > 0.
C
Por outro lado, na figura 2.34 o campo vetorial está no sentido contrário ao deslocamento na
curva, o que nos leva a dizer que o produto escalar F (r(t)) · r0 (t) < 0. Assim, F · dr < 0.
C

2.4 Teorema de Green


Nesta seção veremos um teorema muito elegante que expressa uma ligação entre a integral dupla
sobre uma região do plano e a integral de linha ao longo de sua fronteira. Este teorema, comumente
chamado de Teorema de Green, pode ser visto como uma extensão da segunda parte do teorema
fundamental do cálculo para integrais de linha. Lembre-se que esse teorema estabelece que a integral
de linha do gradiente ∇f ao longo do caminho que liga dois pontos A e B, pode ser expressada em
termos dos valores da f (A) e f (B), ou seja dos valores de f sobre os pontos da fronteira do caminho.
O teorema de Green expressa uma integral dupla sobre uma região D como uma integral de linha
sobre um caminho que é a fronteira de D. Para isso, veremos, antes, algumas definições.

Definição 2.6 Dizemos que uma curva no plano é simples se ela não se autointercepta em nenhum
ponto entre suas extremidades. Uma curva simples pode ou não ser fechada. Assim, se C é uma
curva simples parametrizada por r : [a, b] → R, então, se ela é fechada, r(a) = r(b) e r(t1 ) 6= r(t2 )
para a < t1 < t2 < b. Veja figura 2.38.
Um conjunto conexo D do plano é simplesmente conexo se para toda curva fechada simples em D,
o seu interior contém pontos que só estejam em D. Informalmente, dizemos que um conjunto conexo
D é simplesmente conexo se ele não contiver buracos. Outro modo de dizer que D é simplesmente
conexo é quando uma curva C1 ⊂ D que liga quaisquer dois pontos de D pode ser continuamente
74 Cap. 2. Integrais de Linha

Figura 2.35: Curva simples e não fechada Figura 2.36: Curva simples e fechada

Figura 2.37: Curva não simples e não fechada Figura 2.38: Curva não simples e fechada

deformada em qualquer outra curva de D que liga estes mesmos dois pontos, com todas as curvas
intermediárias durante desse processo de deformação pertencendo a D . Ou, ainda equivalente-
mente, D é simplesmente conexo se toda curva fechada em D puder ser deformada até se reduzir a
um ponto e o seu interior for sempre um subconjunto de D, inclusive o ponto final.
Por exemplo, um anel (figura 2.39) é um conjunto conexo que não é simplesmente conexo, pois
qualquer circunferência que circunda esse anel contém pontos no seu interior que não são do anel.
Um conjunto conexo com um ou mais buracos é dito ser multiplamente conexo (figuras 2.39 e
2.40).

Definição 2.7 Dizemos que a fronteira ∂D de uma região limitada D do plano está orientada posi-
tivamente, se a região D fica sempre à esquerda, ao percorrermos sua fronteira ∂D ( figura 2.40).
Na figura 2.40 a fronteira de D, ∂D = C1 ∪ C2 ∪ C3 , com a orientação positiva como especificada
na figura.

Figura 2.40: Orientação positiva


Figura 2.39: Anel: 1 ≤ x2 + y 2 ≤ 4 ∂D = C1 ∪ C2 ∪ C3

Teorema 2.5 Teorema de Green: Seja D uma região do plano simplesmente conexa, cuja fron-
teira ∂D é uma curva fechada simples, suave por partes e orientada positivamente. Se F (x, y) =
(P (x, y), Q(x, y)) é um campo vetorial de classe C 1 num conjunto aberto que contém D, então,
¨   ‰
∂Q ∂P
− dx dy = P (x, y) dx + Q(x, y) dy
∂x ∂y ∂D
D
W.Bianchini 75

Dem: Inicialmente, vamos considerar que D seja uma região do tipo I e II, simultaneamente (figura
2.41 ), i.é,

Tipo I: D = {(x, y) ∈ R2 ; a ≤ x ≤ b e g1 (x) ≤ y ≤ g2 (x)}


Tipo II: D = {(x, y) ∈ R2 ; c ≤ y ≤ d e h1 (y) ≤ x ≤ h2 (y)}

(a) Região do tipo I e II (b) D vista como tipo I (c) D vista como tipo II

Figura 2.41

Se D é do tipo I, então,
¨ ˆ bˆ g2 (x) ˆ b
∂P ∂P
dx dy = dy dx = [P (x, g2 (x)) − P (x, g1 (x)] dx
∂y a g1 (x) ∂y a
D
ˆ b ˆ b ˆ a ˆ b
= P (x, g2 (x)) dx − P (x, g1 (x) dx = − P (x, g2 (x)) dx − P (x, g1 (x)) dx
a
‰ a b a

= − P (x, y) dx (2.34)
∂D

Agora, se D também é do tipo II, então,


¨ ˆ d ˆ h2 (y) ˆ d
∂Q ∂Q
dx dy = dxdy = [Q(h2 (y), y) − Q(h1 (y), y)] dy
∂x c h1 (y) ∂x c
D
ˆ d ˆ d ˆ d ˆ c
= Q(h2 (y), y) dy − Q(h1 (y), y) dy = Q(h2 (y), y) dy + Q(h1 (y), y) dy
‰c c c d

= Q(x, y) dy (2.35)
∂D

Somando as equações 2.34 e 2.35 tem-se


¨   ‰
∂Q ∂P
− dx dy = P (x, y) dx + Q(x, y) dy
∂x ∂y ∂D
D

Se D não é uma região do tipo I e II, decompomos D em uma união finita de regiões que sejam
do tipo I e II simultaneamente, D1 , D2 ,.., Dn , com fronteiras ∂D1 , ∂D2 , .., ∂Dn , suave por partes e
orientadas positivamente e aplicamos o caso anterior para cada subregião Dk .
76 Cap. 2. Integrais de Linha

Figura 2.42

Por exemplo, se D for igual à figura 2.42, a fronteira de D, ∂D = C1 ∪ C2 ∪ C3 ∪ C4 . Decompomos


D em 3 regiões D1 , D2 e D3 com as respectivas fronteiras mostradas na figura 2.42.
Assim, aplicando o caso anterior a essas 3 subregiões, teremos
¨   ¨   ¨   ¨  
∂Q ∂P ∂Q ∂P ∂Q ∂P ∂Q ∂P
− dx dy = − dx dy + − dx dy + − dx dy
∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y ∂x ∂y
D D D2 D3
‰1 ‰ ‰
= P dx + Q dy + P dx + Q dy + P dx + Q dy (∗)
∂D1 ∂D2 ∂D3

Desde que, ∂D1 = C1 ∪R1 , ∂D2 = C2 ∪R2 ∪C4 ∪R1− e ∂D3 = C3 ∪R2− , as integrais sobre os segmentos
de retas R1 e R1− se anulam, bem como sobre os segmentos R2 e R2− e, portanto, a equação (*) fica
igual
ˆ ˆ ˆ ˆ
(∗) = P dx + Q dy + P dx + Q dy + P dx + Q dy + P dx + Q dy
‰C1 C2 C3 C4

= P dx + q dy
∂D

O próximo teorema extende o teorema de Green para regiões multiplamente conexa.


Teorema 2.6 Teorema de Green para regiões multiplamente conexas: Seja D uma região do plano
multiplamente conexa cuja fronteira ∂D é orientada positivamente (figura 2.43) formada por curvas
fechadas simples suave por partes. Se F (x, y) = (P (x, y), Q(x, y)) é um campo vetorial de classe C 1
num conjunto aberto que contém D, então,
¨   ˛
∂Q ∂P
− dx dy = P (x, y) dx + Q(x, y) dy (2.36)
∂x ∂y ∂D
D

No caso em que D é como a da figura 2.43 a equação 2.36 fica:


¨   ‰ 
∂Q ∂P
− dx dy = P dx + Q dy + P dx + Q dy
∂x ∂y C1 C2
D

Se a região D tiver n buracos a equação 2.36 fica:


¨   ‰ n 
∂Q ∂P X
− dx dy = P dx + Q dy + P dx + Q dy
∂x ∂y C1 i=2 C i
D
W.Bianchini 77

Figura 2.43: Região multiplamente


Figura 2.44: D = D1 ∪ D2
conexa: ∂D = C1 ∪ C2

onde a curva C1 é a fronteira externa e Ci , 2 ≤ i ≤ n são as curvas internas limitando os buracos.


Dem: Por simplicidade, vamos demonstrar o caso em que D tem apenas um buraco. Para mais
buracos a demonstração é análoga.
Vamos dividir a região D = D1 ∪ D2 , como mostra a figura 2.44. Assim, D1 e D2 são regiões
simplesmente conexas e, portanto, aplicando o teorema de Green para regiões simplesmente conexas
temos, ¨   ‰ ‰
∂Q ∂P
− dx dy = P dx + Q dy + P dx + Q dy
∂x ∂y ∂D1 ∂D2
D

Agora, no cálculo das duas integrais de linha, elas se anulam sobre os segmentos de retas S1 e S1− e
sobre S2 e S2− , o que nos dá:
¨   ‰ 
∂Q ∂P
− dx dy = P dx + Q dy + P dx + Q dy
∂x ∂y C1 C2
D

Observe que, se ‰ ‰
∂Q ∂P
= =⇒ P dx + Q dy = P dx + Q dy
∂x ∂y C1 C2
o que nos leva à seguinte aplicação do teorema:
Aplicação: Consideremos o caso de D ser multiplamente conexo com um buraco como sendo um
∂Q ∂P
único ponto A e = em D. Então, se C é uma curva fechada simples suave por partes em D,
∂x ∂y

0 se C 6⊃ A

P dx + Q dy =
C k se C ⊃ A
onde k é o mesmo para todas as curvas que rodeiam A.
Se C 6⊃ A, é óbvio, pelo teorema de Green para regiões simplesmente conexas.
Vamos supor, então, que C1 e C2 rodeiam A e que não se interceptam e que C2 ⊂ C1 (figura 2.45),
então, ‰ ‰
P dx + Q dy = P dx + Q dy
C1 C2
pela observação anterior.
Se C1 e C2 se interceptam, então, existe uma curva C3 ⊃ A que não intercepta C1 nem C2 e está
contida em C1 e C2 (figura 2.46).
Logo, pelo caso anterior,
‰ ‰ ‰
P dx + Q dy = P dx + Q dy = P dx + Q dy
C1 C3 C2
78 Cap. 2. Integrais de Linha

Figura 2.45 Figura 2.46

Exemplo 2.19 Calcule ‰


−y dx + x dy
C x2 + y 2
onde C é uma curva simples e fechada suave por partes em R2 .
Solução: O campo vetorial é definido em todo R2 \ (0, 0), ou seja, aqui o ponto A = (0, 0) e
∂Q y 2 − x2 ∂P
= 2 2 2
=
∂x (x + y ) ∂y
Assim, se C não contém a origem, pela aplicação anterior do teorema de Green, a integral de linha é
igual a zero, ou seja, pelo teorema 3.3, o campo é conservativo em toda região conexa do plano que
não contenha a origem.
Se C contiver a origem, vale k. Para determinar k, escolhemos C como sendo a circunferência de
raio 1: x2 + y 2 = 1 a qual limita um círculo D de raio 1. Assim,
‰ ¨   ¨
∂Q ∂P
k= −y dx + x dy = − dx dy = 2 dx dy = 2π
C ∂x ∂y
D D

Assim, pelo teorema 3.3, o campo vetorial não é conservativo sobre regiões que contenham a origem.
Terminamos essa seção utilizando o teorema de Green para mostrar a recíproca do teorema 2.4.

Teorema 2.7 Seja F = (P, Q) um campo vetorial em uma região aberta simplesmente conexa D.
Suponha que P e Q tenham derivadas contínuas de primeira ordem e que
∂P ∂Q
=
∂y ∂x
em todo D. Então, F é conservativo.
Esboço da demonstração: Se C é um caminho fechado simples qualquer em D e R é a região
envolvida por C, segue pelo teorema de Green que
‰ ‰ ¨   ¨
∂Q ∂P
F · dr = P dx + Q dy = − dx dy = 0 dx dy = 0
C C ∂x ∂y
R R

Se C é uma curva fechada que não é simples, ela se autointercepta em um ou mais pontos e pode
ser dividida em diversas curvas fechadas simples. Como mostramos acima que as integrais de linha
´de F sobre essas curvas simples são todas zero, então, somando essas integrais, podemos ver que
C
F · dr = 0 para qualquer curva fechada C. Portanto, F é um campo conservativo em D, pelo
teorema 3.3.
W.Bianchini 79

2.5 Exercícios
‰  
−y x
1. Calcule 2 2
dx + 3x + 2 dy, onde C é o triângulo formado pelas retas x = 2,
C x +y x + y2
y = 2 e x + y = 2. Resp: 6

2. (a) Encontre uma função potencial para F (x, y) = (2xy, x2 − y 2 ), caso exista.
Resp: f = x2 y − y 3 /3 + c
ˆ
(b) Calcule 2xy dx + (x2 − y 2 ) dy, onde C é o menor arco da circunferência x2 + y 2 = 8 que
C √
vai do ponto A = (− 8, 0) ao ponto B = (2, 2). Resp: 16
3

3. Calcule (xy 2 + sen(ex )) dx + (x2 y + 2xy) dy, onde C é a curva fechada orientada no sentido
C
horário, representada na figura 2.47. Resp: 11
24

Figura 2.47

ˆ
4. Calcule (x − 2xy) dx + (2x + y 2 ) dy, onde C é o arco de curva do gráfico de y 2 = 4x − 1, indo
C
do ponto ( 12 , −1) até o ponto ( 54 , 2). Resp: 9
4

5. Considere o campo de vetores F (x, y) = (12x11 + py, 7y 6 + 3x), onde p é um número real.

(a) Encontre o valor de p para que F seja um campo conservativo em R2 . Resp: p=2
ˆ B
(b) Encontre F · dr, utilizando o valor de p obtido no item (a), onde A e B são pontos da
A
curva C1 da figura 2.48. Resp: p=2
˛
(c) Encontre F · dr, supondo que p = 1 e que C2 é a curva da figura 2.49. Resp: −8
C2

Figura 2.48 Figura 2.49


80 Cap. 2. Integrais de Linha

6. A base de uma cerca é dada por

x = 30 cos3 t , y = 30 sen3 t , 0 ≤ t ≤ 2π

e a altura em cada ponto (x, y) é dada por f (x, y) = 1 + y3 . (x e y em metros).


Se para pintar cada metro quadrado, um pintor cobra R reais, quanto o pintor cobrará para
pintar a cerca toda? Resp: 1800 R reais

7. Considere um pedaço de arame em forma de hélice r(t) = (cos t, sen t, t), 0 ≤ t ≤ 2π, cuja
densidade linear é dada em cada ponto x, y, z pela função f (x, y, z) = x2 + y 2 + √z 2 . Calcule a
massa total do arame. Resp: 2 32π (3 + 4π 2 )

8. Suponha que em cada ponto (x, y, z) da hélice do exercício anterior a temperatura é dada por
f (x, y, z)ˆ= x2 + y 2 + z 2 . Sabendo-se que a temperatura média ao longo da hélice é dada por
1
Tm = f ds, onde C é a hélice e L seu comprimento, calcule Tm . Resp: 13 (3 + 4π 2 )
L C
9. Quais dos campos admitem funções potenciais?
(a) (ex , sen xy) ; (b) (2x2 y, y 3 ) ; (c) (2xy, y 2 ) ; (d) (y 2 x2 , x + y 4 ) Resp: n, n, n, n
ˆ
10. Calcule (2x − y 3 ) dx − xy dy, onde C é a fronteira da região limitada pelas circunferências
C
x2 + y 2 = 4 e x2 + y 2 = 9. Especifique a orientação. Resp: 195π
4
ˆ
11. Considere a integral de linha (y 2 − xy) dx + k(x2 − 4xy) dy.
C

(a) Determine a constante k para que esta integral seja independente do caminho.
Resp: k = − 21
(b) Para o valor de k encontrado em (a), calcule a integral de A = (0, 0) a B = (1, 1).
Resp: 12
ˆ 2
x y dx − x3 dy x2 12
 
12. Calcule , onde C é a curva dada por + y − = 1 percorrida no sentido
C (x2 + y 2 )2 4 2
anti-horário. Resp: −π
ˆ
−y dx + (x − 1) dy
13. Calcule 2 2
, onde C é a circunferênciax2 + y 2 = 4 Resp: 2π
C (x − 1) + y
Capítulo 3

Integrais de Superfície

Neste capítulo discutiremos integrais sobres superfícies. Tais integrais ocorrem em problemas envol-
vendo fluidos, condução de calor, magnetismo, massa e centro de gravidade.

3.1 Superfícies Parametrizadas


A representação gráfica de uma função de duas variáveis z = f (x, y) é uma superfície no espaço. Além
dessas superfícies que são gráficos de funções vimos superfícies cilíndricas, quádricas e de revolução.
De um modo geral, superfícies dadas pela equação F (x, y, z) = 0. Nessa seção veremos superfícies
mais gerais, chamadas superfícies parametrizadas e iremos calcular suas áreas.
Vimos que uma curva no espaço é a imagem de uma função vetorial r : R → R3 , t 7→ (x(t), y(t)z(t).
Agora, como no caso de uma plano no espaço em que precisamos de dois vetores para gerar um plano,
para se obter uma superfície precisamos de dois parâmetros. Assim, definimos uma função vetorial
sobre uma região D ⊂ R2 ,

r : D ⊂ R2 −→ R3
(u, v) 7−→ (x(u, v), y(u, v), z(u, v))

ou, seja, r(u, v) = x(u, v)i + y(u, v)j + z(u, v)k, i.é,

x = x(u, v) , y = y(u, v) , z = z(u, v) (3.1)

são funções reais de duas variáveis definidas sobre D. Assim, à medida que u e v variam sobre D,
os pontos (x, y, z) = r(u, v), vão gerando uma superfície S, ou seja, à medida que o ponto (u, v)
varia sobre D a ponta do vetor r(u, v) vai traçando a superfície S (figura 3.1). A superfície S assim

Figura 3.1

81
82 Cap. 3. Integrais de Superfície

gerada como imagem da função vetorial r é chamada de superfície parametrizada e as equações 3.1
são chamadas de equações paramétricas de S.
Uma maneira mais fácil de visualizar o efeito geométrico na geração de uma superfície através
desta função vetorial é traçar as curvas geradas quando se fixa uma das variáveis u ou v. Esta é
a técnica utilizada em computadores pelos Sistemas Algébricos Computacionais tais como o Maple,
Mathematica, Geogebra, etc.
Quando se fixa a variável u = u0 , uma constante, obtém-se

x = x(u0 , v) , y = y(u0 , v) , z = z(u0 , v)

que são as equações paramétricas de uma curva no espaço, a qual chamamos de curvau . Do mesmo
modo, quando se fixa a variável v = v0 = constante,

x = x(u, v0 ) , y = y(u, v0 ) , z = z(u, v0 )

obtém-se as equaçoes paramétricas de uma curva no espaço, chamada de curvav . Assim, variando
essas constantes, geramos uma família de curvasu e uma família de curvasv , que juntas formam
uma superfície (figuras 3.2 e 3.3). Para uma visão dinâmica e interativa, veja a JGI (Janela Gráfica
Interativa) em .

Figura 3.2

Figura 3.3

Exemplo 3.1 Use um sistema de computação algébrica para traçar o gráfico das superfícies
W.Bianchini 83

(i)
r(u, v) = ((4 + 1.5 cos v) cos u, (4 + 1.5 cos v) sen u, 1.5 sen v)
onde u ∈ [0, 2π] e v ∈ [0, 2π].

(ii)
r(u, v) = ((4 + sen v) cos u, 2u + cos v, (4 + sen v) sen u)
com u ∈ [−4, 4] e v ∈ [0, 2π].

Identifique quais são as curvas da grade com u constante e quais com v constante.
Solução: (i) O gráfico da superfície é chamada de Toro (figura 3.4). Quando a variável u = 0,
por exemplo, tem-se a curvau (figura 3.5)

x = (4 + 1.5 cos v) cos 0 = 4 + 1.5 cos v , y = (4 + 1.5 cos v) sen 0 = 0 , z = 1.5 sen v

que é uma circunferência de centro (4, 0, 0) e raio 1.5. Portanto, quando se faz u = constante, se
obtém circunferências em planos contendo o eixo z. Se v = 0, tem-se a curvav (figura 3.5)

x = (4 + 1.5 cos 0) cos u = 5.5 cos u , y = (4 + 1.5 cos 0) sen u = 5.5 sen u , z = 1.5 sen 0 = 0

que é uma circunferência centrada na origem de raio 5.5

Figura 3.5
Figura 3.4: Toro

(ii) O gráfico se parece com um tubo espiralado (figura 3.6)

Figura 3.6 Figura 3.7


84 Cap. 3. Integrais de Superfície

Fazendo u = 0, obtém-se a curvau

x = 4 + sen v , y = cos v , z=0

ou seja, fazendo u = u0 = cte, obtém-se circunferências por seções transversais

x = (4 + sen v) cos u0 , y = 2u0 + cos v , z = (4 + sen v) sen u0

Quando se faz v = 0, obtém-se uma espiral em torno do eixo y (figura 3.7)

x = 4 cos u , y = 2u + 1 , z = 4 sen u

No estudo de superfícies parametrizadas aparecem dois problemas. O primeiro foi o que vimos
nos exemplos anteriores: dadas as equações paramétricas, desenhar seu gráfico para visualizar a
superfície. Este problema, com o advento dos computadores com seus programas algébricos ficou
fácil de resolver, ou seja, hoje já não se constitue um problema. Os computadores fazem gráficos
maravilhosos rapidamente, coisa impossível até o final do século passado.
O outro problema é: dada a superfície encontrar suas equações paramétricas. Existem, é claro,
muitas equações paramétricas para uma mesma superfície. No caso em que a superfície é gráfico de
uma função z = f (x, y) temos uma parametrização natural

x = x, y = y, z = f (x, y)

ou, se preferirem,
x = u, y = v, z = f (u, v)

Exemplo 3.2 Dado o parabolóide z = 4 − x2 − y 2 (figura 3.8), encontre suas equações paramétricas.
Solução: Uma parametrização natural seria (figura 3.9)

x = u, y = v, z = 4 − u2 − v 2

Uma outra parametrização seria utilizar coordenadas cilíndricas.Para isto, fazendo a substituição
x = r cos θ e y = r sen θ, obtém-se, z = 4 − r2 . Assim, o parabolóide pode ser representado em
termos das variáveis r e θ por (figura 3.10)

x = r cos θ , y = r sen θ , z = 4 − r2

Figura 3.10: 0 ≤ u ≤ 2
Figura 3.8: z = 4 − x2 − y 2 Figura 3.9: −2 ≤ u, v ≤ 2 . 0 ≤ θ ≤ 2π
W.Bianchini 85

Exemplo 3.3 Encontre as equações paramétricas da esfera x2 + y 2 + z 2 = 2.


Solução: A esfera não é gráfico de função, então, não existe uma parametrização natural. Como é
uma esfera, nada mais natural que utilizar as coordenadas esféricas

x = ρ sen φ cos θ , y = ρ sen φ sen θ , z = ρ cos φ


√ √
Como o raio da esfera é 2, tomamos ρ = 2. Assim, as equações paramétricas da esfera ficam
√ √ √
x = 2 sen φ cos θ , y = 2 sen φ sen θ , z = 2 cos φ

com 0 ≤ θ ≤ 2π e 0 ≤ φ ≤ π (figura 3.11 )

Figura 3.11

Na linguagem cartográfica, quando se faz θ = cte tem-se as linhas de longitude e quando se faz
φ = cte tem-se as linhas de latitude.

Exemplo 3.4 Encontre equações paramétricas do cilindro circular

x2 + z 2 = 4 , para −2≤y ≤3

Solução: Considere P = (x, y, z) um ponto qualquer no cilindro como na figura 3.12. Sua projeção
sobre o plano xz é o ponto Q = (x, 0, z). Pela figura 3.12, x = 2 cos v e z = 2 sen v. Assim, uma
parametrização para o cilindro pode ser

x = 2 cos v , y = u, z = 2 sen v , para − 2 ≤ u ≤ 3, 0 ≤ v ≤ 2π

Observe que para u constante, obtém-se circunferências de raio 2, paralelas ao plano xz. Para v
constante obtém-se retas paralelas ao eixo y (figura 3.13).
O cilindro é um exemplo típico de uma superfície de revolução, cuja parametrização veremos a
seguir.
 Parametrização de Superfícies de Revolução
Considere a superfície S gerada pela rotação da curva C no plano xz em torno do eixo z. Suponha
que C tenha equações paramétricas

x = f (u) , z = g(u) , a≤u≤b

Observando a figura 3.14, vemos que uma parametrização para a superfície S pode ser

x = f (u) cos v , y = f (u) sen v , z = g(u) , a ≤ u ≤ b, 0 ≤ v ≤ 2π


86 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.12 Figura 3.13

Figura 3.14 Figura 3.15

quando a curva C é girada no sentido anti-horário. Observe que quando se fixa v = v0 , a curva C gira
de um ângulo v0 e o ponto P = (f (u), 0, g(u)) gira para o ponto Pv0 = (f (u) cos v0 , f (u) sen v0 , g(u))
(figura 3.15). Para uma interpretação dinâmica e interativa, veja .
Agora, se a curva C for girada no sentido em torno do eixo x no sentido anti-horário, uma
parametrização similar ao caso anterior será
π  π 
x = f (u) , y = g(u) cos + v , z = g(u) sen + v , a ≤ u ≤ b , 0 ≤ v ≤ 2π
2 2
Veja figura 3.16.

Figura 3.16
W.Bianchini 87

3.1.1 Planos Tangentes à Superfícies Parametrizadas


Nosso objetivo é definir plano tangente a uma superfície parametrizada e como determinar sua
equação. Para isso, suponha que a superfície S seja o gráfico da função vetorial
r(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)) , (u, v) ∈ D ⊂ R2
Agora, considere o ponto P0 = r(u0 , v0 ) ∈ S. Se fixarmos v = v0 e variarmos apenas a variável u
em D, teremos em S uma curvavo
r(u, v0 ) = (x(u, v0 ), y(u, v0 ), z(u, v0 ))
cujo vetor tangente a esta curva em P0 é o vetor dado pela derivada parcial
∂r r(u0 + ∆u, v0 ) − r(u0 , v0 )
ru (u0 , v0 ) =(u0 , v0 ) = lim
∂u ∆u→0 ∆u
com interpretação geométrica mostrada na figura 3.17. Analogamente, ao fixarmos a variável u = u0
e variarmos apenas a variável v em D teremos em S uma curvauo
r(u0 , v) = (x(u0 , v), y(u0 , v), z(u0 , v))
cujo vetor tangente em P0 é o vetor (figura 3.17)
∂r r(u0 , v0 + ∆v) − r(u0 , v0 )
rv (u0 , v0 ) = (u0 , v0 ) = lim
∂v ∆v→0 ∆v

Figura 3.17: Plano tangente

Mostra-se facilmente, pelas definições acima que as derivadas parciais de funções vetoriais de duas
variáveis são obtidas tomando as derivadas parciais de suas componentes, então,
 
∂r ∂x ∂y ∂z
ru = = , ,
∂u ∂u ∂u ∂u
 
∂r ∂x ∂y ∂z
rv = = , ,
∂v ∂v ∂v ∂v
Lembremos que o produto vetorial ru × rv é um vetor ortogonal (ou normal) a esses dois vetores

i j k



∂r ∂r ∂x ∂y ∂z
n = ru × rv = × =
∂u ∂v ∂u ∂u ∂u


∂x ∂y ∂z

∂v ∂v ∂v

88 Cap. 3. Integrais de Superfície

Seja (u, v) ∈ D um ponto no qual as derivadas parciais ru e rv são contínuas. Se o vetor n é não
nulo, então o ponto imagem P = r(u, v) é chamado um ponto regular de r. Pontos nos quais ru ou rv
não são contínuas ou o vetor n = 0 são chamados pontos singulares de r. Uma superfície S = r(D)
é chamada suave se todos os seus pontos são regulares. Como uma superfície pode ter mais do que
uma representação paramétrica, podemos ter pontos que são regulares para uma representação e
singulares para outra, como veremos em exemplos posteriores.
Nos pontos regulares os vetores ru e rv formam um plano determinado pelo vetor normal n. Se
prova em livros de cálculo avançado1 que o vetor n é normal à superfície S, o que significa que é
normal a toda curva suave de S. Por esta razão é que definimos o plano tangente à superfície S:

Definição 3.1 Seja S uma superfície parametrizada por r : D ⊂ R2 → R3 e P0 = (x0 , y0 , z0 ) =


r(u0 , v0 ) um ponto regular de r. Definimos o plano tangente à S em P0 como sendo o plano gerado
pelos vetores ru (u0 , v0 ) e rv (u0 , v0 ), tendo como vetor normal nesse ponto,

n(u0 , v0 ) = ru (u0 , v0 ) × rv (u0 , v0 )

cuja equação cartesiana é dada por

n(u0 , v0 ) · (x − x0 , y − y0 , z − z0 ) = 0

e a equação vetorial

T (s, t) = r(u0 , v0 ) + s ru (u0 , v0 ) + t rv (u0 , v0 ) , s,t ∈ R

ou, equações paramétricas


∂x ∂x
x = x0 + s (u0 , v0 ) + t (u0 , v0 )
∂u ∂v
∂y ∂y
y = y0 + s (u0 , v0 ) + t (u0 , v0 )
∂u ∂v
∂z ∂z
z = z0 + s (u0 , v0 ) + t (u0 , v0 )
∂u ∂v

A continuidade de ru e rv implicam na continuidade do vetor normal n. Isso significa que o plano


tangente varia continuamente sobre uma superfície suave. Intuitivamente uma supefície suave não
tem quinas ou bicos. Para uma interpretação dinâmica e interativa, veja .
p
Exemplo 3.5 Dada a semi-esfera z = 1 − x2 − y 2 , primeiramente, vamos considerar a parame-
trização natural √
r(u, v) = (u, v, 1 − u2 − v 2 )
para (u, v) ∈ D = {(u, v) ; u2 + v 2 ≤ 1}. Então,
   
−u −v
ru = 1, 0, √ e rv = 0, 1, √
1 − u2 − v 2 1 − u2 − v 2
Essas derivadas existem e são contínuas em todo o interior do disco D, mas não existem na
fronteira, ou seja, os pontos que estão sobre a circunferência u2 + v 2 = 1 são os pontos singulares de
1
Buck. R.C., Advanced Calculus, McGraw-Hill Book Company, 1956;
Apoststol, Tom M.,Calculus, Vol.II, John Wiley & Sons,1969
W.Bianchini 89

D. Para calcular a equação do plano tangente, vamos calcular o vetor normal



i j k


−u  
1

0 √
u v
n = ru × rv = 1 − u2 − v 2 = √ ,√ ,1

1 − u 2 − v2 1 − u 2 − v2

−v
0 1 √
2
1−u −v 2

Logo, a equação cartesiana do plano tangente em um ponto qualquer é dada por



  
u v 
√ , √ 2 2
, 1 · x − u, y − v, z − 1 − u − v = 0
1 − u2 − v 2 1 − u2 − v 2
Agora, vamos considerar a parametrização da semi-esfera

r(u, v) = (cos u cos v, sen u cos v, sen v)

onde D = [0, 2π] × [0, π/2]. Os vetores

ru = (− sen u cos v, cos u cos v, 0)


rv = (cos u sen v, sen u sen v, cos v)

Facilmente se verifica que


n = ru × rv = cos v r(u, v)
e, portanto, n = 0 quando v = π/2, ou seja, o único ponto singular é o ponto (0, 0, 1) = r(u, π/2).
Para uma interpretação dinâmica e interativa, veja .

3.2 Área de Superfícies


Iremos considerar desta seção em diante somente superfícies suaves que sejam parametrizadas por
uma função vetorial
r(u, v) = x(u, v)i + y(u, v)j + z(u, v)k
onde (u, v) ∈ D ⊂ R2 , injetora, exceto, possivelmente na fronteira de D, onde, também, o vetor
normal n = ru × rv , pode, possivelmente, ser zero.
Nosso objetivo é obter uma fórmula para calcular a área de tais superfícies. Para isso, a idéia é a
mesma utilizada para se calcular a área de figuras planas, que foi a de dividir em retângulos. Nesse
caso iremos dividí-la em “quadriláteros curvos” e aproximar a área desses “quadriláteros curvos” por
quadriláteros planos tangentes à S.
Vamos considerar por simplicidade que D é um retângulo e dividí-lo em m × n sub-retângulos Dij
por linhas paralelas aos eixos u e v e com área ∆Dij = ∆ui ∆vj . Tome um ponto (u∗i , vj∗ ) no canto
inferior esquerdo de Dij . Seja Sij = r(Dij ) e Pij = r(u∗i , vj∗ ) um de seus cantos (figura 3.18).
Agora, se fixarmos v = vi∗ e variarmos apenas a variável u em D, teremos em S uma curvavi∗ com
parâmetro u
r(u, vi∗ ) = (x(u, vi∗ ), y(u, vi∗ ), z(u, vi∗ ))
Do mesmo modo, se fixarmos u = u∗i , teremos em S uma curvau∗i com parâmetro v

r(u∗i , v) = (x(u∗i , v), y(u∗i , v), z(u∗i , v))


90 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.18

cujos vetores tangentes são, respectivamente,

ru∗ = ru (u∗i , vi∗ ) , rv∗ = rv (u∗i , vi∗ )

Quando se fixa u = u∗i , pense no parâmetro v como sendo o tempo. Então, para uma mudança
de tempo ∆vj , um objeto em Pij se move ao longo da curvau∗i uma distância k r∗v k∆vj , desde que
k r∗v k representa a velocidade ao longo dessa curva. Anàlogamente, para v = vj∗ fixo, uma variação
de ∆ui na variável u, um objeto se move a uma distância k r∗u k∆ui . Assim, o retângulo ∆Dij ⊂ D
de lados ∆ui e ∆vj é levado através de r a um quadrilátero curvilíneo Sij = r(∆Dij ) em S o qual
pode ser aproximado pelo paralelogramo formado pelos vetores ru∗ ∆ui e rv∗ ∆vj , conforme figura 3.18,
que está contido no plano tangente à superfície S em Pij gerado pelos vetores ru∗ e rv∗ . A área desse
paralelogramo é dada pelo produto vetorial

kru∗ ∆ui × rv∗ ∆vj k = kru∗ × rv∗ k ∆ui ∆vj = k n∗ k∆ui ∆vj

Observe que o módulo do vetor normal n funciona como um fator de escala entre as dimensões
dos dois quadriláteros. Nos possíveis pontos singulares de r para os quais n = 0 o paralelogramo
colapsa para uma curva ou um ponto ocorrendo uma degeneração, mas isso só acontece na fronteira
de D onde r pode deixar de ser injetora e certamente não impactará no cálculo da área. Logo, uma

Figura 3.19
W.Bianchini 91

aproximação da área de S é dada por (figura 3.19)


m X
X n
A(S) ≈ kru∗ × rv∗ k ∆ui ∆vj
i=1 j=1

A soma acima é uma soma de Riemann para a função f (u, v) = kru (u, j) × rv (u, v)k = k n(u, j) k.
Portanto, a área de S é dada por
¨
A(S) = kru × rv k dA (3.2)
D

Para uma versão dinâmica e interativa clique aqui


Observação 3.1 Observamos que se D não for um retângulo, basta descartar todos os elementos
não retangulares que contém a fronteira de D, pois no limite os sub-retângulos ∆Dij preencherão
todo D (figura 3.20).

Figura 3.20

Área de Superfícies de Gráficos de Função


No caso em que S é o gráfico de uma função z = f (x, y), para (x, y) ⊂ D, tomamos x e y como
parâmetros. As equações paramétricas de S ficam
x = x, y = y, z = f (x, y)
Assim,
∂z ∂z
rx = i + k, ry = j + k
∂x ∂y

i j k


∂z
∂z ∂z
rx × ry = 1 0 ∂x = − i− j+k
∂x ∂y
∂z

0 1 ∂y
s  2  2
∂z ∂z
krx × ry k = 1+ +
∂x ∂y
Então, a fórmula do cálculo de área da superfície fica

¨
s  2  2
∂z ∂z
A= 1+ + dA (3.3)
∂x ∂y
D
92 Cap. 3. Integrais de Superfície

Exemplo 3.6 Determine a área da esfera de raio a


Solução: (a) Uma representação paramétrica da esfera é dada por

r(φ, θ) = (a sen φ cos θ, a sen φ sen θ, a cos φ)

onde o domínio D = {(φ, θ) ; 0 ≤ φ ≤ π , 0 ≤ θ ≤ 2π}.



i j k
i j k



∂x ∂y ∂z

∂r ∂r
rφ × rθ = × = ∂φ = a cos φ cos θ a cos φ sen θ −a sen φ

∂φ ∂φ

∂φ ∂θ


∂x ∂y ∂z −a sen φ sen θ a sen φ cos θ 0



∂θ ∂θ ∂θ
= a2 sen2 φ cos θ i + a2 sen2 φ sen θ j + a2 sen φ cos φ k

Assim,
p
krφ × rθ k = a4 sen4 φ cos2 θ + a4 sen4 φ sen2 θ + a4 sen2 φ cos2 φ
p p
= a4 sen4 φ + a4 sen2 φ cos2 φ = a2 sen2 φ
= a2 sen φ

pois sen φ ≥ 0 para 0 ≤ φ ≤ π. Observe que o vetor normal n = ru × rv só é igual a zero quando
φ = 0, ou seja, a superfície S tem um ponto singular apenas em (0, 0, a), os demais são regulares.
Portanto, pela fórmula 3.2, a área da esfera é
¨ ˆ 2π ˆ π ˆ 2π
2 2
A= kru × rv k dA = a sen φ dφ dθ = a 2 dθ = 4πa2
0 0 0
D

(b) Outro modo de calcular a áreapda esfera é calculara a área do hemisfério superior S da esfera
visto como o gráfico da função z = a2 − x2 − y 2 sobre D = {(x, y) ; x2 + y 2 ≤ a2 } e multiplicar
por dois. Só que neste caso, observem que suas derivadas parciais deixam de ser limitadas em todo
o bordo ∂S = {(x, y) ; x2 + y 2 = a2 }. Portanto, não se pode aplicar diretamente a fórmula 3.3, do
cálculo da área, pois a integral
¨
a
A(S) = p dx dy
a2 − x 2 − y 2
D

passa a ser uma integral imprópria. Do ponto de vista geométrico, essa integral certamente será
convergente e dará o valor da área de S pois a fronteira ∂S de S, tem área zero. Essa integral pode
ser facilmente calculada usando coordenadas polares sobre um disco Ds = {(x, y) ; x2 + y 2 ≤ s2 },
com s < a. Assim, a área Ss correspondendo à área de S sobre Ds é dada por
¨ ˆ 2π ˆ s √
a r
A(Ss ) = p dx dy = a √ dr dθ = 2aπ(a − a2 − s2 )
a2 − x 2 − y 2 0 0 a2 − r 2
Ds

Quando s → a ⇒ A(Ss ) → A(S), isto é, A(S) = 2πa2 .


W.Bianchini 93

Figura 3.21

Exemplo 3.7 Calcule a área lateral de um cone de altura a e raio de base a


Solução: (a) Considere um cone como na figura 3.21 . Utilizando coordenadas esféricas, uma
parametrização seria
√ √ √
2 2 2
x= ρ cos θ , y = ρ sen θ , z = ρ
2 2 2

para 0 ≤ ρ ≤ a 2 e 0 ≤ θ ≤ 2π.

i j k i j k

√ √ √

∂x ∂y ∂z

2 2 2 1 1 1
rρ × rθ = ∂ρ

=
cos θ sen θ = − ρ cos θ i − ρ sen θ j + ρk
∂ρ ∂ρ 2 2 2
2 2 2
√ √
∂x ∂y ∂z 2 2



ρ sen θ ρ cos θ 0
∂θ ∂θ ∂θ 2 2
Logo,
r √
ρ2 2 2
ρ2 2
krρ × rθ k = (cos θ + sen θ) + = ρ
4 4 2
Observe que o único ponto singular é o vértice do cone, assim, pela fórmula 3.2, a área lateral do
cone é dada por
¨ ˆ a√2 ˆ 2π √ √ ˆ a√2 √
2 2
A= krρ × rθ k dA = ρ dθ dρ = 2π ρ dρ = 2 πa2
0 0 2 2 0
D
√ √
ou seja, A = 2 πa2 = πa a 2 = π raio comprimento da geratriz
(b) Outra solução seria considerar o cone como uma superfície de revolução gerada pelo segmento de
reta z = x, 0 ≤ x ≤ a, no plano xz. As equações paramétricas desse segmento são
x = u, z = u, 0≤u≤a
94 Cap. 3. Integrais de Superfície

Logo, uma parametrização do cone é dada por

x = u cos v , y = u sen v , z = u , 0 ≤ u ≤ a , 0 ≤ v ≤ 2π

i j k
i j k



∂r ∂r ∂x ∂y ∂z

ru × rv = × = ∂u ∂u ∂u = cos v sen v 1 = −u cos v i − u sen v j + u k
∂u ∂v

∂x ∂y ∂z −u sen v u cos v 0


∂v ∂v ∂v

Logo, √ √
kru × rv k = u2 cos2 v + u2 sen2 v + u2 = u 2
Assim, ¨ ˆ ˆ
a 2π √ √
A= kru × rv k dA = u 2 dv du = 2 πa2
0 0
D

(c) Uma terceira solução possível é considerar o cone como gráfico da função z = x2 + y 2 , para
p

x2 + y 2 ≤ a2 . Neste caso, as derivadas parciais


∂z x ∂z y
=p e =p
∂x x2 + y 2 ∂y x2 + y 2
não existem no ponto (0, 0) e, portanto, a integral do cálculo de área dada pela fórmula 3.3
¨ s
x2 y2
A= 1+ 2 + dx dy
x + y 2 x2 + y 2
D

se torna uma integral imprópria, que é resolvida facilmente utilizando-se coordenadas polares e
isolando a origem
ˆ a ˆ 2π √ √ ˆ a √ √
A = lim 2 r dθ dr = lim 2π 2 r dr = lim π 2(a2 − s2 ) = 2 π a2
s→0 s 0 s→0 s s→0

3.2.1 Integral de Superfície de Função Escalar


Em seções anteriores vimos vários tipos de integrais. Integral dupla, integral de linha de uma função
f definida sobre uma região plana ou sobre uma curva que quando f = 1 a integral nos dá o valor
da área dessa região ou do comprimento da curva. Nesta seção veremos integrais de funções sobre
superfícies que quando f = 1 nos dará a área da superfície. Tais integrais ocorrem em problemas
envolvendo massa, centro de gravidade, magnetismo, fluido e condutividade térmica dentre outros.
Para motivar a definição vamos considerar o problema de encontrar a massa de uma "lâmina
curva” cuja função densidade (massa por unidade de área) é conhecida. Vamos considerar uma
"lâmina curva” fina o suficiente para ser vista como uma superfície suave S dada pela função vetorial

r(u, v) = x(u, v)i + y(u, v)j + z(u, v)k

onde (u, v) ∈ D ⊂ R2 . Vamos supor que a densidade da lâmina S varia em cada ponto e é dada pela
função densidade δ : S → R. O procedimento para encontrar a massa de S é o mesmo que foi feito
em 1.3.4:
W.Bianchini 95

Figura 3.22

- Dividimos S em pequenos quadriláteros curvilíneos Sij com área ∆Sij . Para fazer isso, vamos
simplificar admitindo que D é um retângulo (veja observação 3.1) e dividí-lo em m × n sub-
retângulos ∆Dij de dimensões ∆ui e ∆vj . Veja a figura 3.22.

- Tome um ponto Pij∗ = r(u∗i , vj∗ ) em Sij . Se os valores de ∆ui e ∆vj forem muito pequenos o valor
da densidade δ no quadrilátero curvilíneo Sij não varia muito e podemos aproximá-lo pelo valor
de δ(Pij∗ ). Segue, então, que o valor da massa ∆Mij de Sij pode ser aproximado por

∆Mij = δ(Pij∗ ) ∆Sij

- A massa M da lâmina inteira S pode então ser aproximada pela soma de Riemann
m X
X n m X
X n
M= ∆Mij ≈ δ(Pij∗ )∆Sij
i=1 j=1 i=1 j=1

- Fazendo m, n → ∞ o valor de M será dado por


m X
X n ¨
M = lim δ(Pij∗ )∆Sij = δ(P ) dS
m,n→∞
i=1 j=1 S

- Para se calcular a integral acima, repetimos o processo da seção 3.2 de Área de Superfícies. Como
para valores de ∆ui e ∆vj muito pequenos, o valor da densidade é praticamente constante em
Sij , vamos tomá-lo em um canto desse quadrilátero curvilíneo. Em particular considere o ponto
(u∗i , vj∗ ) no canto inferior esquerdo de Dij . Agora, cada quadrilátero curvilíneo Sij = r(∆Dij )
é aproximado pelo paralelogramo formado pelos vetores ru∗ ∆ui e rv∗ ∆vj , conforme figura 3.23,
que está contido no plano tangente à superfície S em Pij gerado pelos vetores ru∗ e rv∗ .
A área desse paralelogramo é dada pelo produto vetorial

kru∗ ∆ui × rv∗ ∆vj k = kru∗ × rv∗ k ∆ui ∆vj

ou seja,
∆Sij ≈ kru∗ × rv∗ k ∆ui ∆vj ⇒ δ(Pij )∆Sij ≈ δ(Pij ) kru∗ × rv∗ k ∆ui ∆vj
e, portanto,
¨ m X
X n ¨
M= δ(P ) dS = lim δ(Pij ) kru∗ × rv∗ k ∆ui ∆vj = δ(r(u, v))k ru × rv k du dv
m,n→∞
S i=1 j=1 D
96 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.23

ou ¨ ¨
M= δ(P ) dS = δ(r(u, v))k ru × rv k dA
S D

Assim, definimos:

Definição 3.2 Sejam S uma superfície suave parametrizada por r(u, v), (u, v) ∈ D e f : S → R
contínua. Definimos a integral de superfície de f sobre S como sendo
¨ ¨ ¨
f dS = f (r(u, v)) k ru × rv k du dv = f (r(u, v)) k ru × rv k dA (3.4)
S D D

Quando S é definida explicitamente por z = g(x, y),(x, y) ∈ D a fórmula 3.4 fica

¨ ¨
s  2  2
∂z ∂z
f dS = f (x, y, g(x, y)) 1 + + dx dy (3.5)
∂x ∂y
S D

Se f (x, y, z) = 1 sobre S, a equação 3.4 nos dá a área de S:


¨ ¨ ¨
f dS = k ru × rv k du dv = k ru × rv k dA (3.6)
S D D

Mostra-se em livros de cálculo avançado que a definição acima independe da parametrização da


superfície 2 .

Exemplo 3.8 Calcule a massa da esfera x2 + y 2 + z 2 = a2 , sabendo-se que sua densidade em cada
ponto é dada por ρ(x, y, z) = x2 + y 2 + z 2
Solução: Uma parametrização da esfera r(φ, θ) é dada por

x = a sen φ cos θ , y = a sen φ sen θ , z = a cos θ , 0 ≤ φ ≤ π , 0 ≤ θ ≤ 2π

Então,
ρ(x, y, z) = a2 sen2 φ cos2 θ + a2 sen2 φ sen2 θ + a2 cos2 θ = a2
2
Apostol, Tom M., Calculus - vol II, second edition,Wiley & Sons, 1969.
W.Bianchini 97

Como
k rφ × rθ k = a2 sen φ
A fórmula 3.4 fica
¨ ˆ 2π ˆ π ˆ 2π
4 4
ρ dS = a sen φ dφ dθ = 2a dθ = 4πa4
0 0 0
S
¨
Exemplo 3.9 Calcule (x2 + y 2 ) dS, onde S é a superfície do parabolóide z = 2 − x2 − y 2 acima
S
do plano xy.
Solução: Como a superfície é gráfico de uma função cujo domínio D = {(x, y); x2 + y 2 ≤ 2},
utilizamos a fórmula 3.5
¨ ¨ p
2 2
(x + y ) dS = (x2 + y 2 ) 1 + 4x2 + 4y 2 dx dy
S D

Como o domínio é um disco de raio 2, iremos resolver essa integral dupla utilizando uma mudança
de coordenadas polares. Assim,
¨ p ˆ √2 ˆ 2π √ ˆ √2 √
(x2 + y 2 ) 1 + 4x2 + 4y 2 dx dy = r2 1 + 4r2 r dθ dr = 2π r2 1 + 4r2 r dr (∗)
0 0 0
D

Fazendo a substituição de variável u = 1 + 4r2 ⇒ du = 8r dr


ˆ
π 9 π  5/2 9 149π
(∗) = (u − 1)u1/2 du = 3u − 5u3/2 1 =
16 1 120 30

3.3 Integral de Superfície de Função Vetorial


Nesta seção iremos definir integral de superfície de função vetorial. Tais integrais estão associadas
com escoamento de fluido e forças eletrostáticas dentre outras.
Para definir integrais de superfícies de campos vetoriais, precisamos definir o que são superfícies
orientadas ou superfícies que tenham dois lados. A grande maioria das superfícies com que traba-
lhamos tem dois lados. Por exemplo, a esfera tem um lado chamado de exterior e outro chamado
de interior. Um plano horizontal tem um lado de cima e o lado de baixo. Entretanto, existem su-
perfícies que tem apenas um lado. O primeiro exemplo conhecido de uma superfície desse tipo foi a
chamada f aixa de Möbius (figuras 3.24 e 3.25) Este nome foi dado em homenagem ao matemático
A. F. Möbius que juntamente com o matemático J.B. Listing, a descobriu em 1858.

Figura 3.24: Formigas andando na faixa Figura 3.25: Quando n2 retorna ao


de Möbius (1963 - M.C.Escher) ponto inicial, ele coincide com n1 = −n2
98 Cap. 3. Integrais de Superfície

Definição 3.3 Seja S uma supefície suave parametrizada por r(u, v) = (x(u, v), y(u, v), z(u, v)) , (u, v) ∈
D ⊂ R2 . Então, o vetor unitário
ru × rv
n = n(u, v) = (3.7)
k ru × rv k
e seu oposto −n são funções vetoriais contínuas de u e v. Assim, esses vetores, que são normais à
S no ponto P = r(u, v), definem uma orientação para a superfície. Dizemos que:
n aponta na direção positiva de S e que a direção determinada por −n
é chamada de direção negativa de S.
A esfera com equações paramétricas x = sen φ cos θ, y = sen φ sen θ e z = cos φ tem uma orienta-
ção positiva com n apontando para fora da esfera (figura 3.26).
x2 y2
O parabolóide z = 4 − − tem direção positiva dada pelo vetor n mostrado na figura 3.27
16 16

Figura 3.27
Figura 3.26

Observação 3.2 Quando S é uma superfície fechada, como no caso da esfera, tomamos n positivo,
como sendo o vetor unitário que aponta para fora.
Definição 3.4 Seja F um campo vetorial contínuo definido sobre uma superfície suave orientada S
com vetor normal unitário n. Definimos a integral de superfície de F em S por
¨ ¨
F · dS = F · n dS
S S

Esta definição diz que a integral de superfície de uma campo vetorial sobre S é igual à integral
de superfície da função escalar F · n que é a componente do campo vetorial F na direção de n.
Se a superfície S é uma superfície parametrizada por r(u, v) , (u, v) ∈ D, então,
¨ ¨ ¨ ¨  
ru × rv ru × rv
F · dS = F · n dS = F· dS = F· k ru × rv k dA
k ru × rv k k ru × rv k
S
¨
S S D

= F · (ru × rv ) dA (3.8)
D

Se S é o gráfico da função z = f (x, y), (x, y) ∈ D,


 
∂z ∂z
− ∂x , − ∂y ,1
n= r  2
∂z 2 ∂z

∂x
+ ∂y +1
W.Bianchini 99

e, portanto,
ˆ ¨ ¨  
∂z ∂z
F · dS = F · n dS = F (x, y, f (x, y)) · − , − , 1 dx dy (3.9)
S ∂x ∂y
S D

Exemplo 3.10 Seja S o hemisfério x2 + y 2 + z 2 = 1, z ≥ 0 ¨ com orientação do vetor normal


apontando para fora (figura 3.28) e F (x, y, z) = (x, y, z). Calcule F · dS.
S

Figura 3.28

Solução: Usando a representação paramétrica de S, r(u, v) = (sen u cos v, sen u sen v, cos u),
(u, v) ∈ D = {(u, v) ; 0 ≤ u ≤ 2π, 0 ≤ v ≤ π2 }, como já vimos no exemplo 3.6,

ru × rv = (sen2 u cos v, sen2 u sen v, cos u sen u)

Assim,
F · (ru × rv ) = (x, y, z) · (sen2 u cos v, sen2 u sen v, cos u sen u) = sen u
Então, pela fórmula 3.8,
¨ ˆ 2π ˆ π/2 ˆ 2π
F · dS = sen u du dv = dv = 2π
0 0 0
S

¨
Exemplo 3.11 Calcular F · dS, onde F (x, y, z) = (xy, −x2 , x + z) e S é a porção do plano
S
2x + 2y + z = 6 tomado no primeiro octante com orientação positiva sendo n o vetor normal unitário
a S que aponta para o lado contrário à origem.
Solução: O vetor normal unitário ao plano que aponta para o lado contrário à origem é
1
n = √ (2, 2, 1)
5
100 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.29

Assim, como D = {(x, y) ; 0 ≤ x ≤ 3 , 0 ≤ y ≤ 3 − x} (figura 3.29), por 3.9,


¨ ¨
F · dS = (xy, −x2 , x + (6 − 2x − 2y)) · (2, 2, 1) dx dy
S D
ˆ 3 ˆ 3−x
= (2xy − 2x2 − x − 2y + 6) dx dy
0 0
27
=
4

3.3.1 Interpretação Geométrica e Física da Integral de Superfície


O significado geométrico e físico da integral de superfície de campos vetoriais pode ser melhor en-
tendido se expressarmos esta integral como limite de uma soma de Riemann. O processo é o mesmo
já visto para áreas de superfície ou para a integral de superfície de funções escalares, posto que, o
produto F · n é uma função escalar. Sem perda de generalidade, vamos supor S tenha uma parame-
trização r(u, v), (u, v) ∈ D que preserva a orientação e que D, por simplicidade, seja um retângulo.
Dividindo D em m × n sub-retângulos ∆Dij de dimensões ∆ui e ∆vj isso provoca uma divisão em
S de quadriláteros curvilíneos Sij = r(∆Dij ) com área ∆Sij (veja figura 3.22). Esse quadrilátero
∆Sij pode ser aproximado pelo paralelogramo ∆Tij , formado pelos vetores ru ∆ui e rv ∆vj , que está
no plano tangente à S no ponto Pij = r(ui , vj ) tomado em um dos cantos de Sij (figura 3.23).
Agora, vamos considerar que o campo vetorial F sobre S faça um angulo 0 ≤ α ≤ π/2 com o
ru × rv
vetor normal unitário n = . No ponto Pij , vamos considerar o vetor Fij = F (Pij ) e o vetor
k ru × rv k
normal unitário nij = n(Pij ), como mostra a figura 3.30.
Então, a altura do paralelepípedo oblíquo formado pelos vetores Fij , ru ∆ui e rv ∆vj é dado por

k projn Fij k = k Fij k cos α = k Fij kk nij k cos α = Fij · nij

Assim, o volume deste paralelepípedo é igual à área da base k ru ∆ui × rv ∆vj k pela altura Fij · nij ,
ou seja,
(Fij · nij ) ∆Sij ≈ (Fij · nij )k ru ∆ui × rv ∆vj k = (Fij · nij )k ru × rv k∆ui ∆vj (3.10)
Assim,
m X
X n m X
X n m X
X n
(Fij · nij ) ∆Sij ≈ (Fij · nij )k ru ∆ui × rv ∆vj k = (Fij · nij )k ru × rv k∆ui ∆vj
i=1 j=1 i=1 j=1 i=1 j=1
(3.11)
W.Bianchini 101

Figura 3.30

Tomando o limite quando m, n → ∞ tem-se,


¨ ¨ ¨
F · n dS = (F · n)k ru × rv k du dv = F · (ru × rv ) dA
S D D

Esta integral terá sinal negativo se F fizer um ângulo α > π/2 com n, isto é, o campo vetorial
apontar na direção negativa de S.
Se pensarmos que F é a velocidade de um fluido, pela figura 3.30, o vetor Fij = F (Pij ) aponta a
direção na qual o fluido está atravessando a superfície S próximo do ponto Pij no seu sentido positivo.
Além disso, o número (Fij · nij )k ru ∆ui × rv ∆vj k mede a quantidade de fluido que passa através do
paralelogramo tangente ∆Tij por unidade de tempo. Portanto, a equação 3.10 nos diz que o volume
que atravessa o quadrilátero curvilíneo Sij por unidade de tempo que é igual a (Fij · nij ) ∆Sij pode
ser aproximado por (Fij · nij )k ru ∆ui × rv ∆vj k.
A equação 3.11 nos diz que o volume de fluido que atravessa a superfície por unidade de tempo
pode ser aproximado por
X m X n
(Fij · nij )k ru × rv k∆ui ∆vj
i=1 j=1
¨
Portanto, a integral F · dS, mede o fluxo ou taxa de escoamento de um fluido por unidade de
S
tempo através da superfície S. Por isso, essa integral também é chamada integral de fluxo de F em
S.
Se o fluxo é positivo, significa que em uma unidade de tempo, o volume de fluido que atravessa S
na direção positiva é maior do que na direção negativa. Um fluxo negativo significa que um volume
maior atravessa S na direção negativa do que na positiva e um fluxo zero significa que o mesmo
volume passa através da superfície em ambas as direções.
Se F = δ v, onde δ e v, são a densidade e velocidade de um fluido em cada ponto da superfície S,
respectivamente, então,
δ v · n ∆S ≈ a massa do fluido que atravessa o elemento de área ∆S por unidade de tempo,
e, portanto,
¨
δv · n dS = massa total de fluido que atravessa S por unidade de tempo
S
102 Cap. 3. Integrais de Superfície

Veja para uma visão geométrica interativa.


 Superfícies suaves por partes
Se S1 , S2 , . . . , Sm são superfícies suaves, S = S1 ∪ S2 ∪ · · · ∪ Sm é chamada de uma superfície
suave por partes. Para definir a integral de superfície sobre S precisamos definir sua orientação.

Definição 3.5 Seja S uma superfície orientada, limitada por uma curva ∂S parametrizada fechada
simples, chamada de bordo ou fronteira. A orientação positiva de S dada pelo vetor unitário n induz
uma orientação positiva em ∂S, se uma pessoa que caminha no bordo de S do lado de n visualizar a
superfície S sempre à sua esquerda. Veja figura 3.31

Figura 3.31 Figura 3.32

Definição 3.6 Dizemos que S = S1 ∪ S2 ∪ · · · ∪ Sn está orientada se for possível orientar cada Si ,
de forma que nos bordos comuns às superfícies, as orientações sejam opostas. Veja, por exemplo, a
figura 3.32
Com esses conceitos de orientação acima, se n1 , n2 . . . nm são os vetores normais unitários que
definem uma orientação para S1 , S2 , . . . , Sn , respectivamente, então,
¨ ¨ ¨ ¨
F · dS = F · n1 dS + F · n2 dS + · · · + F · nm dS (3.12)
S S1 S2 Sm
2 2
Exemplo 3.12 Calcule o fluxo do campo vetorial F = (x , y , z) através da superfície S com orien-
tação de n apontando para fora, quando:
(a) S é a superfície lateral do cone x2 + y 2 ≤ z 2 , com 0 ≤ z ≤ 3.
(b) S é a superfície total do cone dado em (a).
Solução: (a) Vamos considerar a seguinte parametrização de S,
√ √ √
2 2 2 √
r(ρ, θ) = ( ρ cos θ, ρ sen θ, ρ) , (ρ, θ) ∈ [0, 3 2] × [0, 2π]
2 2 2
Então

i j k

√ √



− 2 2 1 1 1
n = rθ × rρ = ρ sen θ ρ cos θ 0 = ρ cos θ i + ρ sen θ j − ρ k

2 2 2 2 2
√ √ √
2 2 2



cos θ sen θ
2 2 2
W.Bianchini 103

Figura 3.33

aponta para fora do cone. Na figura 3.33, S = S1 e n = n1 . A figura 3.34 mostra a superfície S1 com
o campo vetorial F em vermelho e o campo normal n em amarelo. Então,
¨ ¨ √ !  
1 2 2 1 2 2 2 1 1 −1
F · dS = ρ cos θ, ρ sen θ, ρ · ρ cos θ, ρ sen θ, ρ dρ dθ
2 2 2 2 2 2
S D
ˆ 3√2 ˆ 2π √ !
1 3 1 2 2
= ρ cos3 θ + ρ3 sen3 θ − ρ dθ dρ
0 0 4 4 4

Agora, ˆ ˆ
2π 2π
cos θ dθ = 0 e
3
sen3 θ dθ = 0
0 0
Assim,
¨ √ ˆ 3√2
2
F · dS = − π ρ2 d dρ = −18π
2 0
S

Figura 3.34: S1 Figura 3.35: S2

(b) Nesse caso S = S1 ∪ S2 , onde S1 é a superfície lateral do cone calculado em (a) e S2 é a tampa
superior z = 3 com D = {(x, y); x2 + y 2 ≤ 9}. Veja figura 3.33, com n2 = (0, 0, 1) apontando para
fora do cone e a figura 3.35 onde o campo F está em vermelho e o campo normal n em amarelo.
Logo, ¨ ¨
2 2
(x , y , z)(0, 0, 1) dx dy = 3 dx dy = 27π
S2 D
104 Cap. 3. Integrais de Superfície

Assim, ¨ ¨ ¨
F · dS = F · dS + F · dS = −18π + 27π = 9π
S S1 S2

3.4 Teorema de Stokes


Nesta seção veremos uma generalização do teorema de Green para o caso tridimendional. O teorema
de Green relaciona uma integral dupla sobre uma região D do plano com uma integral de linha ao
longo da fronteira de D com orientação positiva. Para estender esse teorema precisamos definir o
que é um rotacional.

Definição 3.7 Seja F (x, y, z) = (P (x, y, z), Q(x, y, z), R(x, y, z)) um campo vetorial. Definimos o
rotacional de F , indicado por rot F como o campo vetorial
 
∂R ∂Q ∂P ∂R ∂Q ∂P
rot F = − , − , −
∂y ∂z ∂z ∂x ∂x ∂y
Como memorizar essa fórmula não é uma tarefa das mais fáceis, vamos introduzir um operador
diferencial vetorial chamado “nabla”:
 
∂ ∂ ∂
∇= , ,
∂x ∂y ∂z
Quando ele opera sobre uma função escalar f , temos o gradiente de f:
   
∂ ∂ ∂ ∂f ∂f ∂f
∇f = , , f= , ,
∂x ∂y ∂z ∂x ∂y ∂z
E o produto vetorial de ∇ pelo campo vetorial F , temos o rotacional de F :

i j k


 
∂ ∂ ∂ ∂R ∂Q ∂P ∂R ∂Q ∂P
∇×F =
= ∂y − ∂z , ∂z − ∂x , ∂x − ∂y = rot F
∂x ∂y ∂z


P Q Q

Assim, o rotacional pode ser calculado através do determinante da matriz acima e memorizado por:

rot F = ∇ × F (3.13)

Exemplo 3.13 Dado F (x, y, z) = (x2 y, z, xyz), encontre o rot F .


Solução: Usando 3.14, temos

i j k



∂ ∂ ∂
rot F = ∇ × F = = (xz − 1)i − yzj − x2 k = (xz − 1, −yz, −x2 )
∂x ∂y ∂z



2
x y z xyz
W.Bianchini 105

Teorema 3.1 Teorema de Stokes: Seja S uma superfície orientada, suave por partes, cuja fronteira,
∂S, é uma curva fechada, simples, suave por partes, com orientação positiva. Seja F = (P, Q, R),
um campo vetorial de classe C 1 sobre S. Então,
˛ ¨
F · dr = rot F · dS
∂S
S

Exemplo 3.14 Verificar o teorema de Stokes para

(a) F = (y+z, z+x, x+y), onde S é o círculo no plano z = 3 com domínio D = {(x, y) ; x2 +y 2 ≤ 4}.

(b) F = (2x − y, −yz 2 , −y 2 z), onde S é a metade superior da esfera x2 + y 2 + z 2 = 1 e ∂S é sua


curva limítrofe.

Solução: (a)
i j k



∂ ∂ ∂
rot F = ∇ × F = = (0, 0, 0)
∂x ∂y ∂z



y+z z+x x+y

Vamos considerar a orientação de S e sua fronteira ∂S como na figura 3.36.

Figura 3.36

Neste caso n = k=(0,0,1), então,


‰ ¨ ¨
?
(y + z) dx + (z + x) dy + (x + y) dz = rot F · n dS = (0, 0, 0) · n dS = 0
∂S
S S

Parametrizando ∂S:

x = 2 cos θ ⇒ dx = −2 sen θ dθ
y = 2 sen θ ⇒ dy = 2 cos θ dθ
z = 3 ⇒ dz = 0
106 Cap. 3. Integrais de Superfície

Assim,
‰ ˆ 2π
F · dr = (2 sen θ + 3)(−2 sen θ) dθ + (3 + 2 cos θ)2 cos θ dθ + (2 cos θ + 2 sen θ)0 dθ
∂S 0
ˆ 2π ˆ 2π 2π
2 2
= −4(cos θ − sen θ) dθ = −4 cos 2θ dθ = −2 sen 2θ

0 0 0

=0

(b) Vamos considerar a orientação de S com o vetor normal apontando para fora e portanto a
fronteira tem o sentido antihorário quando vista de cima, como mostra a figura 3.37.

Figura 3.37

Parametrizando ∂S:

x = cos θ ⇒ dx = − sen θ dθ
y = sen θ ⇒ dx = cos θ dθ
z = 0 ⇒ dz = 0

Assim,
‰ ˆ 2π
F · dr = (2 cos θ − sen θ)(− sen θ) dθ = π
∂S 0

Agora,

i j k



∂ ∂ ∂
rot F = ∇ × F = = k = (0, 0, 1)
∂x ∂y ∂z


2x − y −yz 2 −y 2 z


Usando a representação paramétrica de S,
π
r(u, v) = (sen u cos v, sen u sen v, cos u), (u, v) ∈ D = {(u, v) ; 0 ≤ u ≤ 2π, 0 ≤ v ≤ }
2
tem-se que (exemplo 3.6),

ru × rv = (sen2 u cos v, sen2 u sen v, cos u sen u)


W.Bianchini 107

Assim,
¨ ¨ ¨ ˆ π/2 ˆ 2π
rot F · dS = rot F · n dS = cos u sen u dv du = cos u sen u dv du
0 0
S S D
ˆ π/2
= 2π cos u sen u du = π
0

˛
Exemplo 3.15 Calcule F · dr, onde F = (−y 3 , x3 , −z 3 ) e C é a interseção do cilindro x2 + y 2 = 1
C
com o plano x + y + z = 1 cuja orientação é antihorária quando projetada no plano xy (figura 3.38).

Figura 3.38

Solução: Para utilizar o teorema de Stokes, veja que a curva C é a fronteira da superfície S definida
por z = 1 − x − y restrita ao domínio
 D = {(x,  y) ; x2 + y 2 ≤ 1}. Um vetor normal à S que tenha
orientação positiva é dado por n = − ∂x
∂z ∂z
, − ∂y , 1 = (1, 1, 1).

i j k



3 3 3
∂ ∂ ∂
rot(−y , x , −z ) = = (0, 0, 3x2 + 3y 2 )
∂x ∂y ∂z



−y 3 x3 −z 3

Assim, ˛ ¨ ¨
F · dr = rot F · n dS = (3x2 + 3y 2 ) dx dy
C
S D

Usando coordenadas polares,


¨ ˆ 1 ˆ 2π
1
4
r 3π
(3x2 + 3y 2 ) dx dy = 3 r3 dθ dr = 6π =
0 0 4 2
D 0

Portanto, ˛

F · dr =
C 2
108 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.39


Exemplo 3.16 Calcule y 2 dx + z 2 dy + x2 dz, onde D é o contorno do triângulo A = (1, 0, 0),
C
B = (0, 1, 0), C = (0, 0, 1) (figura 3.39).
Soluçao: Como a curva C é a união de 3 segmentos de reta, ao invés de calcular 3 integrais de
linha, vamos utilizar o teorema de Stokes e calcular
¨
rot(y 2 , z 2 , x2 ) · dS
S

onde S é o plano definido pelos pontos A, B e C. cuja equação é x + y + z = 1 restrita ao triângulo


O, A, B. Como a orientação da curva C é no sentido antihorário, quando visto de cima, a orientação
de S é dada pelo vetor n = (1, 1, 1)

i j k



∂ ∂ ∂
rot(y 2 , z 2 , x2 ) = = (−2z, −2x, −2y)
∂x ∂y ∂z


2 2 2

y z x
Assim,
¨ ¨ ¨
2 2 2
rot(y , z , x ) · dS = (−2z, −2x, −2y) · (1, 1, 1) dS = (−2z − 2x − 2y) dx dy
S
¨
S D
¨
= (−2(1 − x − y) − 2x − 2y) dx dy = (−2) dx dy
D
¨ D
1
= −2 dx dy = −2 = −1
2
D

Exemplo 3.17 Dado F = (3z + x2 − 2y, y 2 z, 2x2 y + 3xz 2 ), calcule


¨
rot F · dS
S
W.Bianchini 109

Figura 3.40: S1 Figura 3.41: S2

onde S é a superfície dada por x2 + y 2 + z 2 = 4 para z ≤ 1 com orientação positiva, isto é, o vetor
normal aponta para fora da esfera.
Solução:


i j k



∂ ∂ ∂
= (2x2 − y 2 , −4xy − 3z 2 + 3, 2)
rot F =
∂x ∂y ∂z


3z + x2 − 2y y 2 z 2x2 y + 3xz 2


Para aplicar o teorema de Stokes, temos que parametrizar a fronteira ∂S de S, no sentido horário
quando visto de cima como mostra a figura 3.40. A fronteira ∂S é a interseção da esfera com o plano
z = 1. Assim, uma parametrização de ∂S é

x(t) = 3 cos t

y(t) = 3 sen t
z(t) = 1
para t ∈ [0, 2π]. Então, pelo teorema de Stokes,
¨ ˆ ˆ 2π
rot F · dS = F · dr = F (r(t)) · r0 (t) dt
∂S 0
S
ˆ 2π √ √ √ √ √
= (3 + (3 cos2 t) + 2 3 sen t, 3 sen2 t, 6 cos2 t 3 sen t + 3 3 cos t) · (− 3 sen t, 3 cos t, 0) dt
0

Portanto, nos defrontamos com uma √ integral um tanto quanto trabalhosa. Agora, observe a figura
3.40 e veja que o disco S1 de raio 3 que está no plano z = 1 tem a mesma fronteira que S. Assim,
para calcular a integral de linha sobre ∂S, iremos aplicar o teorema de Stokes sobre S1 . Para termos
uma orientação de S1 positiva, isto é, de acordo com a orientação de sua fronteira, o vetor normal é
o vetor −k = (0, 0, −1). Então, aplicando o teorema de Stokes a S1 e sua fronteira, teremos
ˆ ¨ ¨ ¨
2 2 2
F · dr = rot F · dS = (2x − y , −4xy − 3z + 3, 2) · (0, 0, −1) dS1 = −2 dx dy
∂S
S1 S1 D

onde D é a projeção de S1 no plano xy. Portanto, esta última integral é a área de um disco de raio

3. Assim, ˆ ¨
F · dr = −2 dx dy = −6π
∂S
D
110 Cap. 3. Integrais de Superfície

Observação 3.3 Este exemplo nos mostra que, se duas superfícies S1 e S2 tem a mesma fronteira
com orientação positiva, então,
¨ ¨
rot F · dS = rot F · dS
S1 S2

Interpretação Física do Rotacional


O Teorema de Stokes nos mostra como interpretar o rotacional de um campo vetorial v, o qual
representa a velocidade de um fluido em movimento. Considere a integral de linha
ˆ ˆ ˆ ˆ
0 r0 (t)
v · dr = v · r (t) dt = z, v · 0 k r0 (t) k dt = v · T ds
C C C k r (t) k C

r0 (t)
onde T = é o vetor tangente unitário à curva C. Se v é a velocidade de um fluido em
k r0 (t) k
movimento, então, v · T é o valor escalar da componente tangencial da velocidade.

Figura 3.42: β < π/2


Figura 3.43: β > π/2

A figura 3.42 mostra o vetor v apontando na direção de T , ou seja, o ângulo entre os dois vetores
β < π2 e, portanto,
ˆ
v·T >0⇒ v · T ds > 0
C

Isto significa que as partículas sobre C tendem a girar no sentido do vetor T . No caso da figura 3.42,
no sentido anti-horário.
Na figura 3.43 o vetor v aponta na direção contrária à direção de T , isto é, β > π/2 e, portanto,
ˆ
v·T <0⇒ v · T ds < 0
C

o que significa que as partículas sobre C tendem a girar no sentido contrário ao vetor T , na figura
3.43 no sentido horário.
Se o ângulo β = π2 , então
ˆ
v·T =0⇒ v · T ds = 0
C
ˆ
o que significa que as partículas sobre C não giram. Assim, a v · T ds é uma medida do grau
C
do movimento do fluido ao longo de C e essa integral é chamada de circulação de v em torno de C.
W.Bianchini 111

Considere agora um disco Sa de raio a e centrado em algum


ponto P0 do fluido e C sua fronteira (figura 3.44). Seja n o
vetor normal unitário à Sa em P0 . Se o raio a é suficiente-
mente pequeno o rot v(P ) ≈ rot v(P0 ), para qualquer ponto
P em Sa , pois o rot v é contínuo. Então, pelo teorema de
Stokes, temos a seguinte aproximação do fluxo em torno de
Sa :
˛ ¨ ¨
Figura 3.44
v · dr = rot v · dS = rot v · n dS
C
S Sa
¨a
≈ rot v(P0 ) · n(P0 ) dS = rot v(P0 ) · n(P0 ) πa2
Sa

Esta aproximação se torna cada vez melhor à medida que a tende a zero. Assim,

ˆ
1
rot v(P0 ) · n(P0 ) = lim 2 v · dr (3.14)
a→0 πa C

Logo, rot v · n representa o efeito de rotação de um fluido em torno do eixo n. Mais precisamente,
a fórmula 3.14 estabelece que rot v · n é a circulação de v por unidade de área sobre uma superfície
perpendicular a n. Observe que rot v · n atinge o seu valor máximo quando o rot v estiver na mesma
direção e sentido de n. Se o rot v = 0 em cada ponto da região, então v é dito ser irrotacional,
desde que nenhuma circulação ocorre em torno de qualquer ponto da região do fluido.

Observação 3.4 O Teorema de Stokes estende o Teorema de Green


Considere D uma região simplesmente conexa no plano
xy cuja fronteira ∂D é uma curva fechada simples suave por
partes orientada positivamente (figura 3.45). Isso significa
que a região D que é uma superfície plana tem como vetor
normal o vetor k = (0, 0, 1). Seja F = (P, Q, R) um campo
vetorial de classe C 1 . Então, o teorema de Stokes diz que,
‰ ¨ ¨
F · dr = rot F · dS = rot F · n dS
∂D
D D
¨ ¨  
∂Q ∂P
= rot F · (0, 0, 1) dS = − dx dy
∂x ∂y
D D
Figura 3.45
Como ∂D é uma curva no plano xy, isto significa que sua
parametrização é dada por r(t) = (x(t), y(t), 0). Assim,
‰ ˛ ¨  
∂Q ∂P
F · dr = P dx + Q dy = − dx dy
∂D ∂D ∂x ∂y
D

que é a fórmula do Teorema de Green.


112 Cap. 3. Integrais de Superfície

3.4.1 Extensão do Teorema de Stokes


O teorema de Stokes pode ser estendido para superfícies suaves mais gerais cuja fronteira é formada
por mais de uma curva fechada simples suave por partes. Se S é uma superfície que é imagem de uma
região multiplamente conexa D do plano, através de uma parametrização injetora r, então S = r(D)
conterá os mesmos buracos que D.
Por exemplo, considere S uma superfície com um buraco como mostra a figura 3.46, cuja fron-
teira é formada por duas curvas, ∂S = C1 ∪ C2 , tendo orientações contrárias de tal modo a serem
compatíveis com a orientação de S definida pelo seu vetor normal, conforme definição 3.5. Podemos
decompor S em uma união de duas superfícies suaves simples, S = S1 ∪ S2 , como mostra a figura
3.47.

Figura 3.46
Figura 3.47

A fronteira de S1 ,
∂S1 = δ1 ∪ δ2 ∪ δ3 ∪ δ4
e a fronteira de S2 ,
∂S2 = δ5 ∪ δ4− ∪ δ6 ∪ δ2−
com a orientação dessas curvas como mostradas na figura 3.47. Observem que as curvas δ2 e δ2− , δ4
e δ4− tem orientações contrárias e, portanto, suas integrais de linha tem o mesmo valor com sinais
contrários. Assim, se F é um campo vetorial de classe C 1 sobre S, aplicando o teorema de Stokes a
S1 e S2 , onde C1 = δ1 ∪ δ5 e C2 = δ3 ∪ δ6 tem-se,

¨ ¨ ¨ ˛ ˛
rot F · dS = rot F · dS + rot F · dS = F · dr + F · dr
S S S2 ∂S1 ∂S2
˛1 ˛ ˛ ˛
= F · dr + F · dr + F · dr + F · dr
δ1 δ3 δ5 δ6
‰ 
= F · dr + F · dr
C1 C2

Esse raciocíneo pode ser repetido para um número qualquer de buracos. Portanto, se S é uma
superfície que é imagem de uma região multiplamente conexa D do plano com m buracos, através
de uma parametrização injetora r, o teorema de Stokes toma a seguinte forma:
W.Bianchini 113

¨ ‰  
rot F · dS = F · dr + F · dr + · · · + F · dr
S C1 C2 Cm

onde C1 é a curva limitante da superfície S ”contendo” as demais curvas C2 , . . . , Cm e estas tendo


direções contrárias de C1 , de acordo com o sentido dado pelo vetor normal n.
O teorema de Stokes ainda pode ser aplicado para superfícies orientadas fechadas. Por exemplo,
veja a esfera da figura .

Figura 3.48

Ela pode ser vista como a união de duas superfícies orientadas S1 e S2 , o hemisfério superior e
inferior, respectivamente, onde a curva limitante C, tem sentidos opostos de acordo com a orientação
dos vetores n1 e n2 . Assim, aplicando o teorema de Stokes sobre S = S1 ∪ S2 , tem-se,
¨ ¨ ¨ ‰ 
rot F · dS = rot F · dS + rot F · dS = F · dr + F · dr = 0
S S1 S2 C C−

‰  
−y x
Exemplo 3.18 Use o teorema de Stokes para calcular F ·dr, onde F (x, y, z) = , ,z
C x2 + y 2 x 2 + y 2
x2 y 2
e C é a interseção do paraboloide + com o plano z = 1 com sentido anti-horário quando visto
4 9
de cima (figura 3.49).
Solução: Olhando para a figura 3.49, vemos que a curva C é o bordo tanto do disco eliptico S1 que
está no plano z = 1 quanto da parte do paraboloide S2 que está abaixo do plano z = 1.
Observe que a função F não está definida em nenhum ponto do eixo z. Então, para usar o
teorema de Stokes sobre o disco S1 ou a parte do paraboloide S2 , temos que isolar os pontos (0, 0, 1)
ou (0, 0, 0). Como a parametrização do disco é bem mais simples do que a do paraboloide, iremos
utilizar, então o disco S1 . Para isso isolamos o ponto (0, 0, 1) com um disco D1 de raio 1 e tomamos,
então, nossa superfície S como sendo a parte do disco eliptico entre as curvas C e D1 (figura 3.49).
Como a orientação de C é anti-horária, para aplicarmos o teorema de Stokes temos que tomar a
114 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.49 Figura 3.50

orientação de S com o seu vetor normal n apontando para cima, ou seja, n = (0, 0, 1) e a orientação
de D1 no sentido horário, conforme mostra a figura 3.49, Assim,
‰  ¨
F · dr + F · dr = rot F · dS
C D1 S

Agora,
i j k



∂ ∂ ∂
rot F = = (0, 0, 0)
∂x ∂y ∂z

−y x
x2 +y2 x2 +y 2
z
Logo, ‰  ‰
F · dr = − F · dr = F · dr
C D1 D1

A parametrização de D1 com orientação anti-horária é dada por:

x = cos θ , y = sen θ , z = 1, θ ∈ [0, 2π]

Assim,
‰ ˆ 2π ˆ 2π
F · dr = (− cos θ, sen θ, 1) · (− sen θ, cos θ, 0) dθ = (cos2 θ + sen2 θ) dθ = 2π
0 0
D1

x2 y2
Exemplo 3.19 Seja C a curva de interseção do cilindro elíptico + = 1 com a semi-sesfera
4 2
x2 + y 2 + z 2‰= 4, z ≥ 0, orientada no sentido horário quando visto de cima.
Calcule F · dr, onde
C
 
4z
F (x, y, z) = 2xy, x, xy + 2 + z ln(4 + z 4 )
x + 2y 2

Veja para uma visão dinâmica e interativa da figura 3.51.


W.Bianchini 115

Figura 3.52
Figura 3.51

Solução: Vejam que o cálculo da integral de linha de F sobre C será um tanto quanto trabalhosa,
portanto, iremos utilizar o teorema de Stokes. Como F não está definida no ponto (0, 0, 1) não
podemos escolher a superfície como sendo a parte da esfera que está dentro do cilindro. Temos duas
outras opções. Podemos tomar a parte da esfera que está fora do cilindro ou a parte do cilindro que
está abaixo da esfera. Como a parametrização da parte do cilindro que está abaixo da esfera é bem
mais simples, iremos utilizá-la como a superfície S, cuja parametrização
√ √
r(u, v) = (2 cos u, 2 sen u, v), (u, v) ∈ D = {(u, v) ; 0 ≤ u ≤ 2π, 0 ≤ v ≤ 2 | sen u|}

tem orientação compatível com a orientação de C (figura 3.52), pois o vetor normal ao cilindro
√ √
n = ru × rv = (−2 sen u, 2 cos u, 0) × (0, 0, 1) = ( 2 cos u, 2 sen u, 0)

Como a superfície S tem como fronteira duas curvas fechadas, C e C0 , utilizando a extensão do
teorema de Stokes com as orientações de C e C0 compatíveis com o vetor n, que aponta para fora
do cilindro, conforme figura 3.52,
 ‰ ¨
F · dr + F · dr = rot F · dS
C C0 S

ou seja,
 ‰ ¨
F · dr = − F · dr + rot F · dS
C C0 S

A parametrização de C0 com orientação anti-horária compatível com a orientação de n é dada por



x = √
 2 cos θ
C0 : y = 2 sen θ (3.15)

z = 0, θ ∈ [0, 2π]

116 Cap. 3. Integrais de Superfície

Logo,
‰ ˆ 2π √ √ ˆ 2π √
F · dr = (0, 2 cos θ, 2 cos θ 2 sen θ) · (−2 sen θ, 2 cos θ, 0) dθ = 2 2 cos2 θ dθ
0 0
C0
√ ˆ 2π
1 √
=2 2 (1 + cos 2θ) dθ = 2 2 π
0 2
Agora,

i j k


 
∂ ∂ ∂ = x − 16yz , y + 8xz

rot F = , 1 − 2z
∂x ∂y ∂z (x2 + y 2 )2 (x2 + y 2 )2




2xy x xy + 4z 4

x2 +2y 2
+ z ln(4 + z )

Assim,
√ √ √ √
rot F · n = (2 cos u − v 2 sen u, 2 sen u + v cos u, 1 − 2v) · ( 2 cos u, 2 sen u, 0) = 2 2

Logo,
¨ ˆ 2π ˆ √
2| sen v| √ ˆ 2π ˆ π
rot F · dS = 2 du dv = 4 |senu| du = 8 sen u du = 16
0 0 0 0
S

Portanto,  √
F · dr = 16 − 2 2 π
C

O teorema 2.33 mostrou que uma condição necessária para que F = (P, Q, R) de classe C 1 , num
aberto de R3 seja um campo conservativo é que o rot F = 0. O próximo teorema mostra que essa
condição também é suficiente.

Teorema 3.2 Seja F = (P, Q, R) um campo vetorial de classe C 1 num aberto conexo D ⊂ R3 . Se o
rot F = 0 sobre D, então, F é um campo conservativo em D.
Dem: Seja C ⊂ D, uma curva fechada simples. Seja S uma superfície orientada cujo bordo é C e
cuja orientação é compatível com a orientação de C. Pelo teorema de Stokes,
˛ ¨ ¨
F · dr = rot F · dS = 0 · dS = 0
C D D

Portanto, pelo teorema 3.3, F é um campo conservativo.


Podemos resumir os teoremas 2.33, 3.3 e 3.2 no seguinte teorema para campos conservativos de
R.
3

Teorema 3.3 Seja F um campo vetorial contínuo sobre um conjunto conexo aberto D ⊂ R3 . Então,
são equivalentes:
(a) F é um campo vetorial conservativo em D.
˛
(b) F · dr = 0 para toda curva fechada suave por partes em D.
C
W.Bianchini 117

ˆ
(c) F · dr é independente do caminho para qualquer curva suave por partes em D.
C

(d) rot F = 0 sobre D

Exemplo 3.20 Seja F = (3z + x2 − 2y, y 2 z, 2x2 y + 3xz 2 ). Existe uma função f : R3 → R, tal que
F = ∇ f?
Solução: Já vimos no exemplo 3.17 que o rot F = (2x2 − y 2 , −4xy − 3z 2 + 3, 2) 6= (0, 0, 0) = 0. Pelo
teorema 3.2 F não é um campo vetorial conservativo e, portanto, F não é o gradiente de qualquer
função escalar.

3.5 Teorema de Gauss


Iremos ver nesta seção o Teorema de Gauss, também chamado Teorema da Divergência, assim cha-
mado porque ele expressa que o fluxo de um fluido através de certas superfícies pode ser calculado
através da divergência do campo vetorial e este resultado é utilizado para interpretar o conceito de
divergência.
Vimos na seção anterior que o teorema de Stokes relaciona a integral de superfície com a integral
de linha sobre a fronteira dessa superfície. O teorema de Gauss relaciona a integral tripla sobre um
sólido com a integral de superfície sobre a superfície que limita o tal sólido, ou seja, sua fronteira.
Para uma superfície suave por partes ∂V que limita um sólido V , usaremos a convenção introdu-
zida na observação 3.2, de que a orientação positiva de ∂V é aquela em que o vetor normal aponta
para fora de V .
Para enunciar o teorema de Gauss precisamos definir primeiro o que seja o divergente de um
campo vetorial.

Definição 3.8 Seja F (x, y, z) = (P (x, y, z), Q(x, y, z), R(x, y, z) um campo vetorial sobre R3 . O
divergente de F, denotado por div F , é definido por
∂P ∂Q ∂R
div F (x, y, z) = (x, y, z) + (x, y, z) + (x, y, z)
∂x ∂y ∂z
ou ainda, em termos do operador nabla, simplesmente,
∂P ∂Q ∂R
div F = ∇ · F = + +
∂x ∂y ∂z
Teorema 3.4 (Teorema de Gauss) Seja V um sólido cuja superfície ∂V tem orientação positiva,
sendo n seu vetor normal unitário positivo. Se F é um campo vetorial de classe C 1 definido sobre
V , então ¨ ˚
F · n dS = div F dV (3.16)
∂V V

Dem: Vamos demonstrar o teorema apenas para os sólidos que são regiões do tipo I, II e III,
simultaneamente (figuras 3.53 e 3.54), as quais chamaremos de simples, que vimos na seção 1.4
quando calculamos integral tripla, ou, ainda, para sólidos que se decompõem em regiões simples.
Se F = (P, Q, R), a fórmula 3.16 pode ser escrita como
¨ ˚  
∂P ∂Q ∂R
[(P, 0, 0) + (0, Q, 0) + (0, 0, R)] · n dS = + + dV
∂x ∂y ∂z
∂V V
118 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.53 Figura 3.54

Assim é suficiente provar as três igualdades


¨ ˚
∂P
(P, 0, 0) · n dS = dV (3.17)
∂x
∂V V
¨ ˚
∂Q
(0, Q, 0) · n dS = dV (3.18)
∂y
∂V V
¨ ˚
∂R
(0, 0, R) · n dS = dV (3.19)
∂z
∂V V

Desde que os três casos acima são similares, provaremos apenas o último. Para isso, vamos usar o
fato de que V é uma região do tipo I:

V = {(x, y, z) ; (x, y) ∈ D, f1 (x, y) ≤ z ≤ f2 (x, y)}

onde D é a projeção de V sobre o plano xy. Assim,


˚ ¨ "ˆ f2 (x,y) # ¨  f2 (x,y)
∂R ∂R
dV = dz dA = R(x, y, z) dA
∂z f1 (x,y) ∂z f1 (x,y)
V
¨
D D

= [R(x, y, f2 (x, y)) − R(x, y, f1 (x, y))] (3.20)


D

A fronteira ∂V é constituida de no máximo 3 tipos de superfícies (figura 3.53):

S1 : z = f1 (x, y) superfície inferior


S2 : z = f2 (x, y) superfície superior
S3 : superfície lateral, vertical ao plano xy

A superfície S3 pode não existir, se as duas superfícies S1 e S2 se encontrarem, como mostra a figura
3.54. Observe que se existir a superfície S3 , seu vetor normal n é horizontal, então, (0, 0, R) · n = 0,
pois (0, 0, R) = R(0, 0, 1) = Rk é perpendicular ao vetor n. Assim,
¨ ¨
(0, 0, R) · n dS = 0 dS
S3 S3
W.Bianchini 119

Logo, independentemente da existencia de uma superfície lateral vertical, tem-se


¨ ¨ ¨
(0, 0, R) · n dS = (0, 0, R) · n dS + (0, 0, R) · n dS (3.21)
∂V S1 S2
 
Sobre a superfície S2 o vetor normal aponta para cima, ou seja, n = − ∂x , − ∂y , 1 e, portanto,
∂f2 ∂f2

da equação 3.9, temos ¨ ¨


(0, 0, R) · n dS = R(x, y, f2 (x, y)) dA
S2 D
 
Agora, sobre S1 , o vetor n = ∂f 2 ∂f2
,
∂x ∂y
, −1 , pois aponta para baixo, então,
¨ ¨
(0, 0, R) · n dS = − R(x, y, f1 (x, y)) dA
S2 D

Assim, a equação 3.21 fica


¨ ¨
(0, 0, R) · n dS = [R(x, y, f2 (x, y)) − R(x, y, f1 (x, y))] (3.22)
∂V D

Comparando as equações 3.20 e 3.22, temos que


¨ ˚
∂R
(0, 0, R) · n dS = dV
∂z
∂V V

Como já mencionado, as equações 3.17 e 3.18 são demonstradas de forma análoga, supondo que V é
uma região do tipo II ou do tipo 3. Vale dizer que regiões (sólidos) do R3 , tais como, esfera, elipsoide
e caixa retangular são simultaneamente tipo I, II e III, bem como conjuntos convexos.
Quando V não é uma região simples,e ela puder ser decomposta em uma união finita de regiões
simples, isto é, V = V1 ∪ · · · ∪ Vm . Aplicando a fórmula 3.16 para cada região simples Vi , tem-se
¨ ˚
F · n dS = div F dV
∂V1 V1
..
.
¨ ˚
F · n dS = div F dV
∂Vm Vm

Portanto,
˚ ˚ ˚ ¨ ¨
div F dV = div F dV + · · · + div F dV = F · n dS + · · · + F · n dS (3.23)
V V1 Vm ∂V1 ∂Vm

Agora, observando que os vetores normais à fronteira comum de duas regiões simples são opostos,
tem-se que as integrais de superfície correspondentes são simétricas e, portanto, se cancelam, Assim,
¨ ¨ ¨
F · n dS + · · · + F · n dS = F · n dS (3.24)
∂V1 ∂Vm ∂V
120 Cap. 3. Integrais de Superfície

Portanto, de 3.23 e 3.24 tem-se,


˚ ¨
div F dV = F · n dS
V ∂V

o que demonstra o teorema.


Para ilustrar, suponha que o sólido V seja um toro. Obviamente o toro não é uma região simples,
porém, ele pode ser decomposto em 4 sólidos, V1 , V2 , V3 e V4 como mostra a figura 3.56, os quais são
regiões simples. Veja na figura 3.57 que cada sólido Vi tem fronteira ∂Vi

Figura 3.55 Figura 3.56

Figura 3.57

∂V1 = S1 ∪ SL1 ∪ SL2


∂V2 = S2 ∪ SL3 ∪ SL4
∂V3 = S3 ∪ SL5 ∪ SL6
∂V3 = S3 ∪ SL7 ∪ SL8
W.Bianchini 121

Veja que as superfícies SL2 = SL3 são fronteira comum de V1 e V2 mas com orientações contrárias
dadas pelos vetores n2 e n3 , bem como, SL4 = SL5 , SL6 = SL7 e SL8 = SL1 . Assim, suas integrais
de superfície se anulam.

Interpretação Física do Divergente


Seja Vr uma região esférica de raio r e centro em P0 e ∂Vr sua superfície com orientação positiva.
Considere F um campo vetorial definida sobre Vr . Se o div F é contínuo sobre Vr e r é muito pequeno,
o valor do div F nos pontos de Vr não varia muito do valor no seu centro e podemos aproximá-lo
pelo valor constante e igual a div F (P0 ), isto é,

div F (P ) ≈ div F (P0 ), ∀P ∈ Vr

Se denotarmos por vol(Vr ) o volume de Vr e por Φ(Vr ) o fluxo de F através de ∂Vr , então, pelo
Teorema de Gauss, o fluxo Φ(Vr ) de F através de ∂Vr será aproximado por
¨ ˚ ˚
Φ(Vr ) = F · n dS = div F dV ≈ div F (P ) dV = div F (P0 ) vol(Vr )
∂Vr Vr Vr

ou seja,
Φ(Vr )
div F (P0 ) ≈
vol(Vr )
A expressão do lado direito que é igual ao fluxo de F pelo volume é chamada de densidade do fluxo
de F para fora através de Vr .
Fazendo r → 0, o erro na aproximação tenderá a zero e teremos

Φ(Vr )
div F (P0 ) = lim
r→0 vol(Vr )
ou, ¨
1
div F (P0 ) = lim F · n dS
r→0 vol(Vr )
∂Vr

Em resumo, a divergência é igual ao fluxo por unidade de volume. Se div F (P ) > 0 o fluxo é pra
fora, próximo de P e P é chamado fonte. Se div F (P ) < 0, o fluxo é para dentro, próximo de P e P
é chamado de sorvedouro.

¨
Exemplo 3.21 Use o teorema de Gauss para calcular a F · dS, com S tendo orientação positiva
S
e onde

(a) F = (2x − z, x2 y, xz 2 ) e S é o cubo de lados x = 0, x = 1, y = 0, y = 1, z = 0, z = 1.

(b) F = (2x, y 2 , z 2 ) e S é a esfera de raio 1

Solução: (a)
¨ ˚ ˚ ˆ 1 ˆ 1 ˆ 1
2 17
F · n dS = div F dV = (2 + x + 2xz) dx dy dz = (2 + x2 + 2xz) dx dy dz =
0 0 0 6
S V V
122 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.58

(b)
¨ ˚ ˚
F · n dS = div F dV = (2 + 2y + 2z) dx dy dz
S V
˚ V
˚ ˚
=2 dx dy dz + 2 y dx dy dz + 2 z dx dy dz
V V V

Agora, ˚
4π 8π
2 dx dy dz = 2 =
3 3
V

Utilizando coordenadas esféricas para calcular as outras duas integrais,


˚ ˆ 2π ˆ π ˆ 1 ˆ 2π
2 y dx dy dz = (sen θ sen φ)(−ρ2 sen φ) dρ dφ dθ = 0, pois sen θ dθ = 0
0 0 0 0
V

˚ ˆ 1 ˆ 2π ˆ π
z dx dy dz = ρ cos φρ2 sen φ dφ dθ dρ = 0
0 0 0
V

Portanto, ¨

F · n dS =
3
S

Exemplo 3.22 Considere o sólido V limitado pelas esferas concêntricas S1 : x2 + y 2 + z 2 = a2 e


S2 : x2 +y 2 +z 2 = b2 , com a < b e orientação positiva, i.é, os vetores normais n1 e n2 ,respectivamente,
apontando para fora do sólido. Calcule o fluxo de

(x, y, z)
F =
x2 + y2 + z2
através de S = S1 ∪ S2 .
W.Bianchini 123

Figura 3.59

Solução: Observe que o sólido V não é uma região simples, mas ela pode ser decomposta em
8 regiões simples, uma parte em cada octante. Além disso, como V não inclui a origem, o campo
vetorial F é de classe C1 sobre V . Assim, podemos utilizar o teorema de Gauss,
¨ ¨ ¨ ˚
F · n1 dS + F · n2 dS = F · dS = div F dx dy dz
S1 S2 S V

Agora,
∂P x2 + y 2 + z 2 − 2x2 −x2 + y 2 + z 2
= =
∂x (x2 + y 2 + z 2 )2 (x2 + y 2 + z 2 )2
∂Q x2 + y 2 + z 2 − 2y 2 x2 − y 2 + z 2
= =
∂y (x2 + y 2 + z 2 )2 (x2 + y 2 + z 2 )2
e
∂R x2 + y 2 − z 2
= 2
∂z (x + y 2 + z 2 )2
Logo,
1
div F =
x2 + y2 + z2
Assim,
˚ ˆ bˆ 2π ˆ π
1 ρ2 sen φ
dx dy dz = dφ dθ dρ = 2.2π.(b − a) = 4π(b − a)
x + y2 + z2
2
a 0 0 ρ2
V

3.6 Exercícios
¨
1. Calcule f dS, onde:
S

(a) f (x, y, z) = x2 e S é a superfície do sólido limitado pelo cone z 2 + x2 + y 2 e pelos planos


z = 1 e z = 2.
(b) f (x, y, z) = x2 + y 2 − 2z 2 e S é a superfície da esfera x2 + y 2 + z 2 = 9.
(c) f (x, y, z) = x + y e S é a parte do plano z = 6 − 2x − 3y no primeiro octante.
124 Cap. 3. Integrais de Superfície

¨
2. Calcule F · dS, onde:
S

(a) F (x, y, z) = (x2 , −y 2 , z 2 ) e S é a semi-esfera z = a2 − x2 − y 2 e o vetor normal é exterior


p
4
a S. Resp: πa2
(b) F (x, y, z) = (x, y, −2z) e S é a parte lateral do cilindro x2 + y 2 = 2x, limitada pelo cone
z 2 = x2 + y 2 . Resp: 0
(c) F (x, y, z) = (x, y, 2z) e S é a união do plano y − z = 0, 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ z ≤ 1 e o plano
y + z = 0, 0 ≤ x ≤ 1, 0 ≤ z ≤ 1. Resp: 0
(d) F (x, y, z) = (2xy + z, y 2 , −x − 3y) e S é a pirâmide formada por 2x + 2y + z = 6, x = 0,
y = 0 e z = 0. Resp: 81
4
(e) F = (x3 − y, y 3 + yz, z 3 + y) e S é a superfície do sólido interior ao cone z 2 = x2√+ y 2 ,
z ≥ 0 e limitado por uma esfera de raio a. Resp: 3(2−5 2) πa5
(f) F (x, y, z) = (x3 , y 3 , z) e S é a superfície fechada obtida pela união das superfícies z =
x2 + y 2 e z = 1, para x2 + y 2 ≤ 1. Resp: π
¨
3. Calcule rot F · dS, onde:
S

(a) F (x, y, z) = (y, −x, zx3 y 2 ) e S é a superfície x2 + y 2 + 3z 2 = 1, com z ≤ 0. Resp: 2π


(b) F (x, y, z) = (zx + z 2 y + x, z 3 yx + y, z 4 x2 ), e S = S1 ∪ S2 , onde S1 é o cilindro x2 + y 2 = 1,
0 ≤ z ≤ 1 e S2 é a semi-esfera x2 + y 2 + (z − 1)2 = 1, z ≥ 1. Resp: 0
(c) F (x, y, z) = (y, 2, 0) e S é a superfície no primeiro octante composta pelo plano
2x + 3y + 4z = 12 e os triângulos nos planos xz e yz limitados por este plano e o plano
xy. Resp: -12
˚
4. Calcule div F dV , onde F (x, y, z) = (x(x2 + y 2 + z 2 ), y(x2 + y 2 + z 2 ), z(x2 + y 2 + z 2 )) e V
V
é a esfera de raio 5. Resp: 20π252
(x, y, z)
5. Calcule o fluxo de F (x, y, z) = através de uma esfera de raio 2 com orientação
(x2 + y 2 + z 2 )3/2
positiva.

6. (Lei de Gauss de campos de quadrado inverso) Seja S uma superfície fechada em R3 e V a


(x, y, z)
região limitada por S. Considere o campo vetorial F (x, y, z) = 2 . Então,
(x + y 2 + z 2 )3/2
¨ (
4π , se (0, 0, 0) ∈ V
F · dS =
0, se (0, 0, 0) ∈
/V
S

7. Seja W o sólido da figura 3.60, cuja fronteira ∂W é constituída pelas superfícies S1 e S2 ,


orientadas com normal exterior. Sabendo-se que o volume de W é igual a 5, que¨ S2 é uma
parte do plano z = 2 com área igual a 2 e que F (x, y, z) = (ey , cos z, 2z), calcule
2 +z 2
F · dS.
S1

Resp: 2
W.Bianchini 125

Figura 3.60
Figura 3.61

˛
8. Calcule (−4y 2 − 1) dx − 2z 2 dy + (2 − 2x2 ) dz, onde C é o contorno do triângulo obtido pela
C
interseção do plano z = 2 − 2x − y com o planos coordenados. A orientação de C é no sentido
anti-horário quando visto de cima. Resp: 12

9. Uma lata cilíndrica vazia cujo fundo é o disco D = {(x, y) ; x2 + y 2 ≤ 1} foi cortada de modo
que sua fronteira é a curva C, conforme mostra a figura 3.61. Calcule
˛
−xz dx + (yz + 2x) dy + y 2 dz
C

Resp: 2π
¨
10. Calcule F ·dS, onde F (x, y, z) = (x3 , y 3 , z) e S é a superfície do sólido obtido pela interseção
S
do paraboloide z = x2 + y 2 e do plano z = 1. Considere a normal exterior a S. Resp: π
ˆ
11. Calcule (−4y 2 − 1) dx − 2z 2 dy + (2 − 2x2 ) dz onde C é o contorno do trângulo obtido pela
C
interseção do plano z = 2−2x−y com os planos y = 0, x = 0 e z = 0. Especifique a orientação.
Resp: 12

12. Determine o fluxo do campo de vetores

F (x, y, z) = (x3 + sen(z 2 + 1), ex cos z − 3yx2 , 3)

através da superfície S = S1 ∪ S2p , onde S1 é a parte do cilindro x2 + y 2 = 1, com 0 ≤ z ≤ 4


e S2 é a parte do cone z = −1 + x2 + y 2 , com −1 ≤ z ≤ 0. A orientação de S é dada pela
normal apontando para o seu interior. Resp: 3π)
˛
13. Calcule y dx + z dy + x dz, onde C1 é a curva fechada situada sobre o plano 2x + 2y + z = 1,
C1 ˛
orientada no sentido indicado na figura 3.62, sabendo-se que y dx + z dy + x dz = 20, onde
C2
C2 está orientada como indicado na figura 3.62 e que a área da superfície S é igual a 30, sendo
S a porção do plano limitada pelas curvas C1 e C2 . Resp: −130

14. Calcule F · dr, onde
C
126 Cap. 3. Integrais de Superfície

Figura 3.62

(a) F (x, y, z) = (−2y, −yz, z 12 + x) e C é a curva obtida pela interseção das superfícies
S1 : z = 2 − y e S2 : x2 + (y − 1)2 = 1. A orientação de C é anti-horária quando visto de
cima. Resp: π
(b) F (x, y, z) = (z 8 , 4x + z 11 , 11yz 10 − 64 cos5 x) e C é a curva interseção das superfícies
z = 1 − x2 e x2 + y 2 = 1/4. A orientação de C é anti-horária quando visto de cima.
Resp: π

15. (a) Determine o valor da constante a para que o campo

F (x, y, z) = (axy − x2 , (a − 2)x2 , (4 − a)xz 2 + 3)

seja conservativo. Resp: a = 4


ˆ
(b) Calcule Calcule F ·dr, onde C é a curva obtida pela interseção das superfícies S1 : z = 4
C
x2 z2
e S2 : + y2 + = 1, y ≥ 0. Especifique a orientação utilizada. Resp: 18
25 25
Capítulo 4

Exercícios de Revisão

ˆ 1 ˆ α
1. Dada a integral x sen(y 3 ) dy dx, com α = (π/2)1/3 , mude a ordem de integração e calcule
0 x
a integral.
¨
2. Calcule f (x, y) dxdy, onde:
D

(a) f (x, y) = (x + y)3 e D é a região do plano xy limitada pelas curvas x + y = 1, x + y = 4,


y y
x − = 1, e x − = 2. Faça um esboço das regiões de integração.
4 4
(b) f (x, y) = (x − y)ex+y
e D = {(x, y, z) ; 1 ≤ (x − y)2 + (x + y)2 ≤ 4 e x + y ≥ 0}.
(c) f (x, y) = (2x + y) sen(x − 2y) e D = {(x, y) ; x2 + y 2 ≤ 1}.
y + 2x
(d) f (x, y) = √ e D é a região do plano limitada pelas retas y −2x = 12 , y −2x = 4,
y − 2x + 1
y + 2x = 21 e y + 2x = 4.
(e) f (x, y) = (x − y)2 sen2 (x + y) e D é o paralelogramo com vértices (π, 0), (2π, π), (π, 2π) e
(0, π).
˚
3. Calcule f (x, y, z) dxdydz, onde:
W

1
(a) f (x, y, z) = p e
x + y2 + z2
2

W = {(x, y, z) ; x2 + y 2 + z 2 ≤ 4, x2 + y 2 + z 2 ≥ 4z e z ≥ − x2 + y 2 }
p

4. Encontre a massa do sólido limitado pelas superfícies x2 + y 2 = 1, z = (y − 1)2 + x2 e z = −2,


sabendo-se que sua densidade em cada ponto é dada por g(x, y) = x2 + y 2 .

5. Calcule o volume dos sólidos limitado pelas superfícies:

(a) S1 : z = 0, S2 : x2 + y 2 = 2y e S3 : z = x2 + y 2
p
r
x2 + y 2
(b) S1 : z = 4 − x2 − y 2 , S2 : x2 + y 2 + z 2 = 2y , com z ≥ 0, e S3 : z =
p
3
1
(c) S1 : x2 + y 2 + z 2 = 2y , com z ≥ 0, S2 : z = −1 + 2 x2 + y 2 , e S3 : z = − x2 − y 2
p
4
(d) S1 : z = 9 − x − y , S2 : z = 3 − x − y , com z ≥ 0.
p
2 2 2 2

a
(e) S1 : x2 + y 2 + z 2 = a2 e S2 : z = , situado abaixo de S2 .
2
127
128 Cap. 4. Exercícios de Revisão

6. Determine o volume do sólido, cuja base é a região D situada no primeiro quadrante do plano
xy limitada pelas curvas

x2 + y 2 = 1 , x2 + y 2 = 4 , (x − 2)2 + y 2 = 1 e (x − 2)2 + y 2 = 4

e limitado superiormente pelo plano z = y. (Sugestão: use a mudança u = x2 + y 2 e v =


(x − 2)2 + y 2 )
ˆ
7. Calcule (x + y) ds e C é a curva interseção do paraboloide z = x2 + y 2 (z ≤ 2), com o
C
semiplano x = y (y ≥ 0).

8. Calcule o trabalho realizado pela força F = (x2 − 2xy, x − y 2 ) ao deslocar uma partícula ao
longo do triângulo de vértices A = (0, 0), B = (1, 0) e C = (1, 1).

9. Calcule o trabalho realizado pelo campo de forças f (x, y, z) = (z 2 +y cos xy, x cos xy, 2xz), para
deslocar uma partícula do ponto A = (0, π, 1) ao ponto B = (1, 0, −1).

2
10. Calcule (ex + y) dx + (3x + ln(1 + y 2 )) dy, onde C é a fronteira da região limitada pelas
C √
curvas y = 9 − x2 , y − x = −3, e y + x = −3.
ˆ
x dx + y dy
11. Calcule o valor da integral de linha ao longo de C, onde:
C x2 + y 2
(a) C é qualquer curva fechada que não passa pela origem e que não a contém no seu interior.
(b) C é qualquer curva fechada que contém a origem em seu interior.
(c) C é qualquer curva que liga o ponto A = (1, 0) ao ponto B = (2, 2) e que não passa pela
origem.

12. Considere as integrais


ˆ
(a) (2xy 5 + 1) dx + (5x2 y 4 + 2y + 2) dy , C : y = x3 + 2x2 − 2x + 1, 0 ≤ x ≤ 1.
C
ˆ
(b) (2xy 5 + 1) dx + (x + 5x2 y 4 + 2y + 2) dy , C : x2 + y 2 = 1.
C
Para cada uma delas:
i. Verifique se independe da trajetória.
ii. Verifique se o teorema de Green é aplicável.
iii. Determine o seu valor.
3
13. Considere a superfície de revolução S obtida girando-se em torno do eixo z a curva z = 1 + x3 ,
0 ≤ x ≤ 1.

(a) Obtenha uma parametrização para S.


¨
(b) Calcule (x2 + y 2 ) ds
S

14. Considere a superfície S = S1 ∪ S2 , onde S1 é obtida pela rotação do segmento de reta x = 1,


0 ≤ z ≤ 2, em torno do eixo z e S2 é obtida pela rotação da curva z = 1 + x2 , 1 ≤ x ≤ 2, em
torno do eixo z.
W.Bianchini 129

(a) Parametrize S1 e S2 .
(b) Calcule a área de S.

15. Considere a curva C obtida pela interseção das superfícies


p
S1 : z = 6 − x2 + y 2 e S2 : z = 4 + x2 + y 2
ˆ
Calcule F · dr, onde F (x, y, z) = (x2 + z 2 , y 2 z 3 + 3x, y 3 z 2 + 2xz). Indique a orientação
C
escolhida.

16. Considere o cilindro (x + 1)2 + (y − 4)2 = a2 . Determine o valor de a para que o fluxo do campo
F (x, y, z) = (zy 5 + 4x, z 2 − 2y, 1) através da superfície latral do cilindro, entre os planos z = 2
e z = −1, orientada com normal exterior, seja 24π.
ˆ
17. Calcule F · dr, onde:
C
 
−y x
(a) F (x, y, z) = , 2 , 3z e C é dada por r(t) = (cos t, sen t, 0), 0 ≤ t ≤ 2π.
x + y x + y2
2 2

(b) F (x, y, z) = (2x − 4y, 2x + 3y, ez ) e C é curva definida pela interseção das superfícies
2

x2
S1 : z = 1 − − y2 e S2 : z = x2 + (y − 1)2
4

(c) F = −2y, −yz, z 12 + x e C é curva definida pela interseção das superfícies S1 : z = 2 − y




e S2 : x2 + (y − 1)2 = 1. Especifique a orientação escolhida.


(d) F = (z 8 , 4x + z 11 , 11yz 10 − 64 cos5 x) e C é curva definida pela interseção das superfícies
S1 : z = 1 − x2 e S2 : x2 + y 2 = 14 . Especifique a orientação escolhida.
 
−y x
18. Considere o campo G(x, y, z) = , ,z 4
x2 + y 2 x2 + y 2
(a) Mostre que rot G = 0.
ˆ
x2 y2
(b) Calcule G · dr, onde γ é a elipse + = 1, no plano z = 1 percorrida no sentido
γ 4 9
horário quando visto de cima.

19. (a) Caso exista, encontre uma função potencial para F (x, y) = (2xy, x2 − y 2 ).
ˆ
(b) Calcule 2xy dx + (x2 − y 2 ) dy, onde C é o menor arco da circunferência x2 + y 2 = 8 que
C √
vai do ponto A = (− 8, 0) ao ponto B = (2, 2).
‰  
−y x
20. Calcule 2 2
dx + 3x + 2 dy , onde C é o trângulo formado pelas retas x = 2,
C x +y x + y2
y = 2 e x + y = 2.

21. Considere ˚ ˆ ˆ ˆ √
2 x 3y
f (x, y, z) dxdydz = f (x, y, z) dz dy dx
1 0 0
R

Esboce o domínio de integração R e expresse a mesma integral numa outra ordem de integração.
130 Cap. 4. Exercícios de Revisão

ˆ
22. Calcule (1 − 2x sen y + 3y 2 x2 ) dx + (2yx3 − x2 cos y) dy, onde C é a parábola 2y = πx2 de
C
(0, 0) a (1, π/2).

23. Considere a superfície S dada por

x = 2 cos u sen v , y = 2 sen u sen v , z = 2 cos v

com 0 ≤ u ≤ 2π e π3 ≤ v ≤ π. Determine o fluxo do campo F (x, y, z) = (y + zey , sen x2 +


4y, −2z) através de S. Indique a orientação utilizada.

24. Seja F = (P, Q) um campo vetorial de classe C 1 em R2 , exceto no ponto (2, 0), tal que,
∂Q ∂P
= + 3, ∀ (x, y) 6= (2, 0)
∂x ∂y

y2
Sabendo-se que P dx + Q dy = 4π, onde C1 é a curva (x − 2)2 + 4
= 1, encontre:
C1

(a) P dx + Q dy, onde C2 é a curva x2 + y 2 = 1.
C2

(b) P dx + Q dy, onde C3 é a curva x2 + y 2 = 16.
C3

y−1 x ∂F2 ∂F1


25. Sabendo-se que F1 (x, y) = 2 2
− 3y, F2 (x, y) = − 2 2
e = + 3,
 x + (y − 1) x + (y − 1) ∂x ∂y
calcule F1 dx+F2 dy, onde C é a fronteira da região D do plano limitada pelas retas y−2x = 12 ,
C
y − 2x = 4, y + 2x = 1
2
e y + 2x = 4, percorrida no sentido anti-horário.

26. Calcule
p a área da superfície do cilindro x + y = 2x, limitado pelo plano x = 0 e o cone
2 2

z = x2 + y 2 .
¨
27. Calcule rotF ·dS, onde F (x, y, z) = (y +x2 , y 3 −x, xyz) e S é a superfície 4x2 +y 2 +3z 2 = 1,
S
com z ≤ 0. Indique a orientação utilizada.
¨
28. Calcule F · dS, onde F (x, y, z) = (2xy + z, y 2 , −x − 3y) e S é a superfície do sólido limitado
S
pelos planos x = 0, y = 0, z = 0 e 2x + 2y + z = 6.

29. Calcule o fluxo do campo


p vetorial F (x, y, z) = (x, y, z), através da superfície S do sólido W ,
interseção do cone z = x2 + y 2 e da esfera x2 + y 2 + z 2 = 9, com normal exterior a S.
(x, y, z) 1
30. Encontre o fluxo do campo F (x, y, z) = + (x, y, z) sobre a superfície S do
2
+y +z )(x2 2 3/2 3
x2 y2
sólido limitado pelo cilindro 4 + 9 = 1 e pelos planos z = −2 e z = 2, sabendo-se que divF = 1
para qualquer (x, y, z) 6= (0, 0, 0). Considere o campo de vetores normais exterior a S.

31. Encontre o fluxo do campo F (x, y, z) = (16x+y 8 z 7 , 32y+x4 cos5 z, 16z +4) através da superfície
S = S1 ∪ S2 , onde S1 é a porção da superfície z = 1 − x2 , interior ao cilindro x2 + y 2 = 41 e S2
é a porção do cilindro x2 + y 2 = 14 compreendida entre o plano z = 0 e a superfície z = 1 − x2 .
Considere o campo de vetores normais exterior a S.
W.Bianchini 131

¨
32. Calcule rotF · dS, onde F = (x, y, 2z) e S é a superfície fechada obtida pela união do cone
p S
z= x2 + y 2 com o cilindro x2 + y 2 = 1 e com o plano z = 0.

33. Seja F = (P, Q) um campo vetorial contínuo com derivadas parciais contínuas no plano R2 ,
exceto em (0, 0), tal que ∂Q (x, y) − ∂P (x, y) = 4, para todo (x, y) 6= (0, 0). Sabendo-se que
 ∂x ∂y

P dx+Q dy = 6π, onde γ é a circunferência x2 +y 2 = 1, orientada no sentido horário, calcule


‰γ
x2 y 2
P dx + Q dy, onde C é a elípse + = 1, orientada no sentido anti-horário.
C 4 25
34. (a) Determine o valor da constante a para que o campo F = (axy−x2 , (a−2)x2 , (4−a)xz 2 +3)
seja conservativo.
ˆ
(b) Calcule F · dr , onde C é a curva obtida pela interseção das superfpicies S1 : z = 4 e
C
x2 z2
S2 : + y2 + = 1, y ≥ 0. Especifique a orientação escolhida.
25 25
35. 
Considere o campo vetorial F = (y 2 x + z 2 , x2 y + z 4 , xy + ez ). Usando Stokes, mostre que
F · dr = 0, qualquer que seja a curva C fechada situada num plano horizontal.
C

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