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29 de abril de 2019
Conteúdo
1
CONTEÚDO 2
4 O Problema da Integrabilidade 51
4.0.1 Dualidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 52
4.0.2 Integrabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
7 Agregação 89
7.1 Demanda agregada como função dos preços e da renda agregada. 89
7.2 Propriedades da Demanda Agregada . . . . . . . . . . . . . . . . . . 91
7.2.1 Regras de Proporção Fixa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 94
7.2.2 Lei da Demanda Não-Compensada . . . . . . . . . . . . . . . 95
7.2.3 O Modelo de Escolha Coletiva de Browning-Chiappori . . . 99
7.3 Agente Representativo e Análise de Bem-estar. . . . . . . . . . . . . 102
CONTEÚDO 3
IV Incerteza 172
11 A Teoria da Escolha sob Incerteza 173
11.1 Introdução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 173
11.1.1 Utilidade Esperada (informal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . 175
11.2 Formalização . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
11.2.1 Definições e Conceitos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 177
11.2.2 Utilidade Esperada (formal) . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 180
11.3 Preferências sobre Loterias Monetárias . . . . . . . . . . . . . . . . 187
11.3.1 Loterias sobre resultados monetários. . . . . . . . . . . . . . 187
11.3.2 Aversão ao Risco: Definições . . . . . . . . . . . . . . . . . . 188
11.3.3 Medidas de Tolerância ao Risco . . . . . . . . . . . . . . . . 191
11.3.4 Renda e Aversão ao Risco . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 194
11.4 Dominância Estocástica . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 201
11.5 Utilidade Esperada Subjetiva . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 205
11.6 Utilidade Dependente do Estado . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 206
11.6.1 Aplicações . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 207
A Metodologia e o Escopo da
Ciência Econômica
O que é economia?
1
Para polemizar, costumo associar à satisfação do primeiro critério sem a satisfação do
segundo o termo ‘bad economics’.
6
CAPÍTULO 1. A METODOLOGIA E O ESCOPO DA CIÊNCIA ECONÔMICA7
forma aproximada de pensar nos primeiros. Note, porém, que estas ‘formas re-
duzidas’ podem nos levar a adotar métricas equivocadas. Por exemplo, qual a
relevância das desigualdades regionais se os indivı́duos puderem migrar a custo
zero? Em segundo lugar, temos que a idéia de eficiência não envolve qualquer
conceito de eqüidade. Portanto, uma alocação eficiente não é necessariamente
‘desejável.’ Finalmente, veremos que o primeiro teorema de bem-estar nos ga-
rante que dadas determinadas condições todo equilı́brio competitivo é eficiente
no sentido de Pareto. Este resultado nos permite abordar a questão das ine-
ficiências sempre a partir da busca do pressupostos que são violados na prática.
Ou seja, ao definirmos a visão do economista estamos seguindo Lazear
(2000), que considera que esta visão se baseia em três ingredientes: i) otimização,2
ii) equilı́brio e iii) eficiência. Ou seja, Lazear sugere que é o método que define
a ciência econômica, não seu objeto.
Método ou objeto?
Becker (1976)
das preferências. É interessante notar que Becker defende essa última hipótese,
a estabilidade das preferências, afirmando que, até o momento (1976), os eco-
nomistas não têm muitas coisas interessantes a dizer sobre a formação das
preferências. Hoje, Becker é conhecido como um dos pioneiros da modelagem
de preferências (ver, por exemplo, seu artigo de 1988, \A Theory of Rational
Addiction" com Kevin Murphy).
Becker defende a controversa idéia de que o comportamento humano sempre
pode ser considerado racional. Para ele, todo comportamento humano pode ser
analisado como sendo racional, independetemente do contexto:
Ele faz questão de fazer duas ressalvas. Primeiro, ele não diz que as pes-
soas necessariamente são capazes de descrever seus próprios comportamentos e
nem que elas são conscientes de sua própria racionalidade. Segundo, ele não
afirma que a maioria dos economistas seguem o que ele chama de ‘‘abordagem
econômica do comportamento humano’’.
Coase (1977)
Lazear (2000)
Ele mostra vários exemplos onde isso já está acontecendo com algum su-
cesso. Sua lista de tópicos não tradicionalmente econômicos inclui a mode-
lagem de preferências, demografia, discriminação, famı́lia, interações sociais,
religião, recursos humanos, finanças, contabilidade, estratégia, comportamento
organizacional, marketing, direito, polı́tica, saúde, cultura e linguı́stica.
Os três ingredientes básicos que determinam o sucesso da economia (segundo
ele) são as noções de: i) maximização, ii) equilı́brio e iii) eficiência.
Além disso, os economistas usam métodos estatı́sticos de forma muito mais
rigorosa que os demais cientistas sociais.
Ele está consciente de que outras ciências também estão invadindo os espaço
dos economistas e conquistando novos adeptos, sendo a psicologia experimental
o caso mais evidente. Ainda assim, ele acredita que a nova onda de \economia
comportamental" não representa uma séria ameaça à abordagem econômica.
1.1 A Metodologia
1.1.1 Friedman (1953)
Este artigo (o mais citado de Friedman, para seu desagrado) estabeleceu a
metodologia \oficial" da economia.
O primeiro ponto elaborado por Friedman (e que é crucial para a sua análise)
é a distinção entre a economia positiva e a normativa. Segundo ele,
De certa forma as hipóteses de uma teoria não devem ser realistas, já que
é exatamente na abstração de aspectos da realidade que reside a capacidade da
teoria de se provar útil. Para ele, as teorias devem ser aceitas (não-rejeitadas)
na medida em que suas previsões sejam corroboradas por evidências. O realismo
subjetivo das hipóteses não desempenha nenhum papel nessa história.
Ainda que enfatizado pela metodologia oficial de Friedman, este ponto é
muitas vezes esquecido. De fato, uma vasta literatura tem criticado a hipótese
de que os indivı́duos agem de forma racional. Grande parte dos ataques vem da
teoria de \economia comportamental".4 Parte das crı́ticas é mal direcionada ao
criticar a hipótese de que as pessoas agem de forma racional conscientemente:
que tomam a cada momento decisões a partir de cálculos cuidadosos, etc. Note,
porém que ninguém afirmou tal coisa. O que se está dizendo é que podemos
descrever o comportamento humano como se fosse derivado desta maneira.
3
Esta observação bastante perspicaz é devida ao Daniel Ferreira.
4
Aumann ( ) muito perspicazmente rejeita esta denominação. Segundo ele: \...true behavioral
economics does exist; it is called empirical economics."
CAPÍTULO 1. A METODOLOGIA E O ESCOPO DA CIÊNCIA ECONÔMICA12
forma muito precisa. Isto não quer dizer que devamos jogar fora a teoria...ela
continua representando uma aproximação bastante útil do comportamento dos
planetas.
Para a ciência econômica o fato de que qualquer teoria deixa não-explicada
uma enorme variabilidade nos dados leva Sims a sugerir que o grau de confiança
em uma teoria deva ser entendido a partir da idéia de que os agentes fazem uma
revisão Bayesiana sobre o sucesso de uma teoria à medida que novas evidências
vão aparecendo.
Cabe lembrar que o papel da inferência estatı́stica nas ciêncais reflete dois
princı́pios: 1) Inferência não é importante quando a evidência é tão abundante
que permite hierarquisar perfeitamente teorias; 2) quando não há necessidade de
escolher entre teorias alternativas que os dados não conseguem decidir de forma
categórica. Mas quando os dados não permitem uma escolha óbvia e decisões
dependem dessa escolha, então deve-se usar critérios de probabilidade.
A aderência aos dados também não pode ser o critério único. As teorias
podem ser tão complexas que não permitam uma compressão importante dos
dados. Lembremos aqui do conhecido argumento acerca da inutilidade de um
mapa com escala real. Neste sentido, deve-se reconhecer que é mais comum que
teorias divirjam menos na sua capacidade de aderir aos fatos do que na sua
simplicidade.
Finalmente, uma boa teoria não somente deve ser capaz de comprimir os
dados, mas deve fazê-lo de tal maneira que seja convincente e compreensı́vel
para seu público-alvo. A capacidade de persuasão das teorias por sua vez,
depende de quem são os \experts" ou, melhor dizendo, dos tipos de argumentos
que eles estão preparados para ouvir, como salientado por McCloskey. Isto tende
a levar a uma tendência a uma postura de enclausuramento defensivo por parte
dos praticantes.
Conquanto reconheça o papel da retórica em ciência econômica, sua reação é
bastante distinta da reação de McCloskey. Ao contrário de entusiasmo, mostra
preocupação.
Continua ....
Parte I
16
Capı́tulo 2
A primeira parte do curso (de fato a quase totalidade do curso) trata fun-
damentalmente da teoria da escolha individual. Como dissemos, no primeiro
capı́tulo, a unidade tomadora de decisão é o indivı́duo. É apartir da escolha
individual que vamos construir toda a nossa visão de mundo.
Há duas grandes abordagens distintas para a modelagem da escolha indi-
vidual. Em primeiro lugar existe uma teoria que define os gostos ou relações
de preferência como as caracterı́sticas primitivas do indivı́duo. Então axiomas
de racionalidade são impostos e verifica-se as conseqüêncais para as escolhas
observáveis. Uma abordagem alternativa considera a escolha em si como carac-
terı́stica primitiva e impõe restrições diretamente sobre esse comportamento. A
hipótese central dessa abordagem é o axioma fraco da preferência revelada, que
impõe restrições ao tipo de comportamento que se espera observar.
Começaremos com a primeira abordagem, que se tornou mais comum. Na
seção 5.1, discutiremos a abordagem alternativa em mais detalhes. Note também
que estaremos estudando o indivı́duo consumidor. Ou seja, estaremos enfa-
tizando um ambiente especı́fico para a nossa teoria da escolha, mas devemos
ressaltar que a teoria aqui apresentada pode ser ampliada para ambientes ou-
tros.
A abordagem tradicional é formada por quatro elementos básicos: i) o con-
junto de consumo; ii) o conjunto factı́vel (ou conjunto orçamentário), iii) a
relação de preferência e iv) a hipótese comportamental.
17
CAPÍTULO 2. A ABORDAGEM DAS PREFERÊNCIAS 18
B ≡ {x ∈ X|p · x ≤ y}
Restrições Não-lineares
Consideremos os seguintes exemplos de restrições não lineares.
i) Numa economia de escambo, preços de compra e venda podem ser diferentes,
pois há custos em encontrar pessoas que queiram comprar os bens que você quer
vender, ou pessoas que queiram vender os bens que você quer comprar. [existem
custos de transação]
ii) Um motivo para a existência de restrições não-lineares em economias mone-
tizadas é a imposição de tarifas de duas partes. [mercados não são competitivos
e existem custos de transação]
iii) Problemas de escolha entre renda e lazer (i.e., oferta de trabalho) normal-
mente apresentam \quebras" na restrição orçamentária. [idem]
iv) Escolha intertemporal quando o mercado de capitais é imperfeito [existem
custos de transação].
v) Escolha social quando redistribuição afeta a estrutura de incentivos. [merca-
dos não competitivos e custos de transação]
xi = xi (y, p) ,
e X
∂i xk (y, p) pk + xi = 0
k
Essas duas condições também são conhecidas como agregação de Engel e
agregação de Cournot, respectivamente.
A segunda restrição é chamada de \homogeneidade"; as funções de demanda
são homogêneas de grau zero em preços e renda, i.e., para todo escalar λ > 0, e
todo bem, i, temos que
xi (λy, λp) = xi (y, p) .
A propriedade é uma conseqüência imediata do fato de que (λy, λp) e (y, p)
definem o mesmo conjunto, B.
Se a função demanda for diferenciável, homogeneidade implica em
X
∂y xi (y, p) y + ∂k xi (y, p) pk = 0
k
2.1.3 Elasticidades
Seja y = f (x) , então definimos a elasticidade de y com relação a x como
dy/y x
= f0 (x) .
dx/x f (x)
No presente momento estaremos interessados em duas elasiticidades relevan-
tes da função demanda:
Elasticidade-renda
y
ηi ≡ ∂y xi (p, y)
xi
CAPÍTULO 2. A ABORDAGEM DAS PREFERÊNCIAS 21
2.2 Preferências
Preferências são caracterizadas de forma axiomática. Formalizam a idéia de
que os consumidores podem escolher e que essas escolhas são consistentes em
certo sentido.
x1 x2 ⇐⇒ x1 x2 e x2 x1 .
i) x0 ∩ ≺ x0 = ∅; x0 ∩ ∼ x0 = ∅; ≺ x0 ∩ ∼ x0 = ∅; e
ii) x0 ∪ ≺ x0 ∪ ∼ x0 = X
Axioma 3: Continuidade. ∀x ∈ Rn+ , o conjunto das cestas pelo menos tão boas
quanto x , (x) , e o conjunto das cestas que não são melhores que x, (x) ,
são fechados em Rn+ .
Ou seja, uma seqüência de cestas {xn }∞
n=0 tais que x x ∀n e x → x .
n 0 n ∗
Então x∗ x0 .3
Axioma 40 : Não-saciedade local. ∀x0 ∈ Rn+ e todo ε > 0, existe pelo menos um
x ∈ Bε x0 ∩ Rn+ tal que x x0 .
Axioma 4: Monotonicidade estrita.4 ∀x0 , x1 ∈ Rn+ , se x0 ≥ x1 , então x0 x1 , e
se x0 x1 , então x0 x1 .
Note que a hipótese de monotonicidade estrita não é violada quando dois
bens são complementares perfeitos.
Axioma 5’ : Convexidade. Se x1 x0 , então tx1 + (1 − t) x0 x0 , para todo
t ∈ [0, 1]
Uma maneira de pensar em convexidade é imaginar que se uma cesta x1
é (fracamente) melhor do que uma outra cesta x0 , a cesta criada pela mistura
das duas não pode ser pior do que x0 . Naturalmente podemos pensar em vários
exemplos em que este axioma é violado, mas o adotaremos com freqüência pois
que ele no será particularmente útil quando formos estudar equilı́brio geral.
Axioma 5: Convexidade estrita. Se x1 6= x0 e x1 x0 , então tx1 + (1 − t) x0 x0 ,
para todo t ∈ (0, 1)
3
O exemplo clássico de preferências que violam continuidade são as preferências lexi-
cográficas. De fato, ∀n ∈ N, (1/n, 0) (0, 1) , porém,
4
Notação: Para dois vetores x0 e x1 , escrevemos:
x ≥ x1 quando todos os elementos de x0 forem maiores ou iguais aos correspondentes de x1
0
⇔ u x1 ι ∼ x1 x2 ∼ u x2 ι
x1 x2
definição
⇔
u x1 ι u x2 ι
transitividade
⇔
u x1 ≥ u x2
monotonicidade
f u x0 ≥ f u x1 ⇔ u x0 ≥ u x1 ⇔ x0 x1
Racionalidade
Vimos que por racionalidade entendemos simplesmente um processo pelo
qual os indivı́duos escolhem elementos de um conjunto de alternativas, A, de
acordo com os quatro elementos a que nos referimos.
Na maior parte das aplicações de economia, porém, algum tipo de especialização
da idéia de racionalidade é requerida. Consideremos alguns exemplos.
Teoria da Utilidade Esperada: Define-se um conjunto X de prêmios e o con-
junto A é o conjunto de distribuições de probabilidade sobre X. O axioma da
independência impõe a restrição de que as curvas de indiferença em A sejam
retas paralelas.
Utilidade Esperada Subjetiva: Nela, define-se um conjunto de ’estados da
natureza’, S, e um conjunto de resultados, X. Uma função que mapeia ’estados’
em resultados f : S −→ X é um ato. O conjunto A neste caso é o conjunto de
’atos’. Uma relação de preferência no conjunto de atos A tem uma representação
de utilidade esperada subjetiva se houver uma função payoff definida em X e uma
distribuição de probabilidades p em S tal que f g ⇔ Ep [v (f (s))] ≥ Ep [v (g (s))] .
Apesar do compromisso dos economistas com o individualismo metodológico,
não é absolutamente verdade a idéia de que a descrição do indivı́duo seja to-
talmente pré-social (usando a expressão de Blume e Easley, 2007): em alguns
casos não é verdade que os indivı́duos vão ao mercado com crenças e pre-
ferências pré-definidas. De fato, há pelo menos dois tipos de modelos em que a
própria definição do indivı́duo depende do resultado de equilı́brio.
Expectativas Racionais
Jogos não-cooperativos
Capı́tulo 3
O Problema da Escolha do
Consumidor
30
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 31
1. Escreva o Lagrangeano,
y − p · x∗ ≥ 0 e
x∗i ≥ 0 ∀i.
λ∗ [y − p · x∗ ] = 0 e
µ∗i x∗i =0 ∀i.
λ∗ ≥ 0 e
µ∗i ≥0 ∀i.
Durante a maior parte do curso lidaremos com o caso em que não precisamos
nos preocupar com as restrições de não-negatividade. Além disso, suporemos
sempre monotonicidade, o que nos garante que a restrição y ≥ p · x∗ será sempre
ativa.1
Especializando ainda para o caso em que x∗ 0, prodemos trabalhar com o
Lagrangeano,
L (x,λ) = u (x) + λ [y − p · x] .
Vamos mostrar primeiramente que, se encontrarmos (x∗ , λ∗ ) com λ∗ 6= 0 que
resolvem o sistema.
e centro em x∗ , Bε (x∗ ), está contida em B. Mas não-saciedade local garante que ∃ xo ∈ Bε (x∗ )
tal que xo x∗ . Como Bε (x∗ ) ⊂ B, xo ∈ B, contradizendo a hipótese de que x∗ é ótimo.
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 33
1. Contı́nua em Rn++ × R+
Demonstração: Teorema do máximo de Berge2 .
2
O teorema do máximo afirma que se a correspondência que representa a restrição do
problema de maximização é contı́nua e se a função a ser maximizada é contı́nua, então a
correspondência que maximiza o problema é semi-contı́nua superior e a função valor associ-
ada é contı́nua. Teorema do Máximo (Berge (1997), p. 116): Se φ é uma função contı́nua
definida em Y e Γ é um mapa contı́nuo de X em Y tal que, para cada x, Γx 6= ∅, então a
função M definida como M (x) = max {φ (y) ; y ∈ Γx} é contı́nua em x e o mapa Φ definido por
Φx = {y; y ∈ Γx, φ (y) = M (x)} é um mapa semi-contı́nuo superior de X em Y.
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 34
3. Estritamente crescente em y
Demonstração: Para facilitar a demonstração, suporemos que u (·) e a
solução de (3.2) é estritamente positiva e diferenciável. Estas condições nos
permitem ver que a solução do lagrangeano L (x,λ) = u (x) + λ [y − p · x]
ocorre com
∂xi L = ∂xi u (x) − λpi = 0,
o que implica em λ > 0. Finalmente, pelo teorema do envelope aplicado a,
v(p, y) ≡ max
n
L (x,λ)
x∈R+
temos
∂y v(p, y) = λ > 0.
4. Decrescente em p
Demonstração 2: Considere dois vetores de preços p0 e p1 tais que p1 <
p0 , e seja x0 a escolha ótima aos preços p0 . Supondo x0 0, temos
que p1 x0 < p0 x0 . Ou seja, x0 é factı́vel aos preços p1 . Portanto v(p1 , y) ≥
u x0 = v p0 , y .
Demonstração 1: Teorema do envelope
5. Quase-convexa em (p, y)
Demonstração: Considere os conjuntos orçamentários B1 , B2 e Bt defini-
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 35
2. Contı́nua em Rn++ × U.
Demonstração: Continuidade decorre, mais uma vez, do teorema do
máximo de Berge.
4. Não-decrescente em p
Demonstração: Considere dois vetores p0 e p1 tais que p0j ≥ p1j e p0k = p1k
∀k 6= j. Seja, então x0 a escolha ótima aos preços p0 , então, e p0 , u =
p0 · x0 ≥ p1 · x0 ≥ e p1 , u .
5. Homogênea de grau 1 em p
Demonstração: Note que
minx∈Rn+ αp · x α minx∈Rn+ p · x
e(αp, u) ≡ = ≡ αe(p, u)
s.t. u (x) ≥ u s.t. u (x) ≥ u
6. Côncava em p
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 38
Seja pt = tp1 + (1 − t) p2 , e
t arg minx∈Rn+ pt · x
x ≡ .
s.t. u (x) ≥ u
Então p1 · x1 ≤ p1 · xt e p2 · x2 ≤ p2 · xt . Donde,
t p1 · x1 + (1 − t) p2 · x2 ≤ pt · xt .
| {z } | {z } | {z }
e(p1 ,u) e(p2 ,u) e(pt ,u)
0 ≥ ∂i χi (p, u)
Logo,
p1 − p2 · x1 − x2 ≤ 0
Ou, dxdp ≤ 0.
∂j χi (p, u) = ∂i χj (p, u)
χi (tp, u) = χi (p, u)
Demonstração: Trivial.
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 40
problema A problema B
maxx∈Rn+ u (x) e minx∈Rn+ p · x
sujeito à y ≥ p · x sujeito à u (x) ≥ u
Senão vejamos.
Primeiro, suponha que x∗ seja solução do problema A, mas não do problema
B, então existe uma cesta x0 estritamente mais barata do que x∗ que gera uma
utililidade pelo menos tão grande quanto u (x∗ ) neste caso, considere a cesta
x0 + ει, onde ι = (1, ..., 1)0 . Para ε > 0 suficientemente pequeno p (x + ει) < y e
por monotonicidade u (x0 + ει) > u (x∗ ) em contradição com a hipótese de que
x∗ resolve o problema A.
Suponha agora que x∗ resolve o problema B mas não o problema A. Neste
caso, existe uma outra cesta x0 tal que p · x0 ≤ p · x∗ e u (x0 ) > u (x∗ ) . Neste
caso, tome a cesta x0 − ει. Para ε suficientemente pequeno, u (x0 − ει) > u (x∗ ) e
p · (x0 − ει) < p · x∗ o que contradiz a suposição de que x∗ resolve o problema A.
Em palavras, se v(p, y) é a maior utilidade que posso obter aos preços p,
com a renda y. Então y é o mı́nimo que preciso gastar para atingir tal uitlidade
aos preços p. Da mesma forma, se e(p, u) é o mı́nimo que preciso gastar para
atingir a utilidade u. Então a maior utilidade que posso atingir aos preços p
dado que disponho de e(p, u) é u.
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 41
Adding-up 2: X
wk εki = −wi
k
Homogeneidade: X
εki + ηk = 0
i
ou XX X
wk εki = − wk ηk = −1.
k i k
Hicksiana Negatividade
pi
∂i χi (p, u) < 0 ⇒ ∂i χi (p, u) i
≡ ^εii < 0
x
Homogeneidade
X X pj
∂j χi (p, u)pj = 0 ⇒ ∂j χi (p, u)
j j
xi
P
εij
j^ =0
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 43
∂j χi (p, u) = ∂i χj (p, u)
pj pj
∂j χi (p, u) i = ∂i χj (p, u) i
x x
pj pi pj xj
∂j χi (p, u) i = ∂i χj (p, u) j i
| {z x} | {z x} |{z}
x pi
^εij ^εji wj /wi
^εij wi = ^εji wj
o que implica em
pj pj y xj (p, y)pj
∂j xi (p, y) = ∂j χi (p, u∗ ) − ∂y xi (p, y)
| {z x}i | {z x}i | {z x}i | {z y
}
εij ^εij ηi wj
Em elasticidades
εij = ^εij − ηi wj
substitutos ⇔ ^εij ≥ 0
Observação: O conceito de complementar ou substituto bruto pode não estar
bem definido. Isto porque o bem j pode ser complementar bruto do bem i, mas
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 44
εij = ^εij − wj ηi
wj
= ^εji − wj η i
wi
wj
= (^εji − wi ηj ) + w j η j − wj η i
wi
wj
= εji + wj (ηj − ηi )
wi
Se (ηj − ηi ) for muito differente de 0, o sinal de εij pode ser diferente do sinal
de εji .
εij = ^εij − wj ηi .
εij = ^εij − wj ηi
se verificar na prática.
A questão interessante a ser colocada é: qual a importância da separação de
efeito-renda e efeito substituição se podemos supor que a demanda marshalliana
é negativamente inclinada. A primeira resposta está relacionada à possibilidade
de teste da hipótese de racionalidade que é garantida pela simetria e negatividade
semi-definida da matriz de slutsky. A segunda resposta, como veremos mais
adiante, diz respeito a situações em que a renda das pessoas é determinada pela
venda de sua dotação inicial. Finalmente, as medidas exatas de bem-estar, são
baseadas na demanda Hicksiana e não na Marshalliana. Este é nosso próximo
assunto.
3.2 Bem-Estar
O que queremos é saber como varia o bem-estar do agente quando variam os
preços. A própria questão já aponta uma dificuldade fundamental, relacionada à
mensuração do bem-estar. Ou seja, qual a métrica? Devmos atribuir à utilidade
um sentido cardinal? Não estarı́amos regredindo teoricamente?
Procuraremos responder a essas perguntas à medida em que apresentamos
as diferentes medidas de bem-estar (ou de sua variação): (i) Excendente do
Consumidor; (ii) Variação Compensatória, e; (iii) Variação Equivalente
v p1 , y − v p0 , y .
u (n + 1) + y − p (n + 1) ≶ u (n) + y − pn
⇓
u (n + 1) − u (n) ≶ p
O agente deverá comprar uma unidade adicional sempre que a diferença do lado
esquerdo da desigualdade acima for maior do que p. De fato, u (n + 1) − u (n) é
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 47
o máximo que o agente está disposto a pagar pela n + 1-ésima unidade do bem
x.
Suponha que o preço seja p e que o agente esteja comprando n unidades do
bem. A questão é: quanto ele estaria disposto a pagar pelas n unidades que está
consumindo?
Pela primeira, u (1) − u (0)
Pela segunda, u (2) − u (1)
.. ..
. .
Pela n-ésima, u (n) − u (n − 1)
TOTAL u (n) − u (0)
E quanto efetivamente paga? p × n. O excedente do consumidor é
u (n) − u (0) − p × n
v p1 , y + CV = v p0 , y
e p1 , v p0 , y = e p1 , v p1 , y + CV =⇒ CV = e p1 , v p0 , y − y
Também é verdade que y = e p0 , v p0 , y , portanto temos que
CV = e p1 , v0 − e p0 , v0
CV = e p1 , v0 − e p0 , v0
Z p1 Z p1
0 dp
dp
χ p, v0
= ∂p e p, v dt = dt
p0 dt p0 dt
CV = e p1 , v0 − e p0 , v0
Z p1i Z p1i
0
χi p, v0 dpi
= ∂i e p, v dpi =
p0i p0i
Ou seja,
e p0 , v p1 , y = e p0 , v p0 , y − EV =⇒ EV = y − e p0 , v p1 , y .
CAPÍTULO 3. O PROBLEMA DA ESCOLHA DO CONSUMIDOR 49
Analogamente à variação compensatória, sendo v1 ≡ v p1 , y , temos que
EV = e p1 , v1 − e p0 , v1 .
EV = e p1 , v1 − e p0 , v1
Z p1 Z p1
1 dp
dp
χ p, v1
= ∂p e p, v dt = dt
p0 dt p0 dt
EV = e p1 , v1 − e p0 , v1
Z p1i Z p1i
1
χi p, v1 dpi
= ∂i e p, v dpi =
p0i p0i
Já que as duas medidas são medidas exatas, qual a melhor delas? Depende
do uso. Quando consideramos um esquema de compensação ótimo é natural
usarmos a medida de variação compensatória.
No entanto, se quisermos ter simplesmente uma medida de disposição a
pagar (willingness to pay) então a variação equivalente é melhor. Primeiramente
porque o valor do dinheiro aos preços correntes é uma medida mais clara do
que o valor aos preços que vão prevalecer após a reforma. Mas mais importante
é o fato de que se houver mais do que uma alternativa de mudança de regime,
então a única medida apropriada é a variação equivalente. De fato, ao utilizar
os mesmos preços de referência tenho medidas comparáveis de bem-estar.
v p1 , y ≥ v p2 , y ⇐⇒E p0 , v p1 , y ≥ E p0 , v p2 , y
m
y − E p0 , v p1 , y ≤ y − E p0 , v p2 , y
| {z } | {z }
var. equivalente var. equivalente
O Problema da Integrabilidade
51
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 52
4.0.1 Dualidade
O termo dualidade é herdado da matemática. A idéia básica da teoria da
dualidade é que todo conjunto convexo e fechado de Rn pode ser representado
de forma equivalente (ou dual) pela interceção dos semi-espaços que o contêm.
Um semi-espaço é um subconjunto de Rn da seguinte forma {x ∈ Rn ; p · x ≥ c}
para algum p ∈ Rn , p 6= 0 - chamado de vetor normal ao semi-espaço - e algum
c ∈ R. A fronteira do conjunto {x ∈ Rn ; p · x = c} é um hiperplano, ortogonal a
p.
Para entendermos um pouco melhor a essência do argumento, começamos
por citar o teorema do hiperplano separador, que diz o seguinte: Considere
qualquer conjunto A ⊂ Rn , convexo e fechado, e considere um vetor x ∈ / A.
n
Então, existe algum vetor p ∈ R e um escalar c tais que px < c ≤ p · x para
todo x ∈ A.
O hiperplano {x ∈ Rn ; p · x = c} ‘separa’ o ponto x do conjunto A. Como isso
vale para todos os x ∈ / A posso \separar\ todos os pontos que não pertencem a
A dos pontos que efetivamente pertencem a A. Uma vez excluı́dos os pontos que
não pertencem a A só me restará o conjunto A.
Note como isso pode nos ajudar na nossa tarefa de identificar as preferências.
Identificar preferências significa que para toda cesta x consigo construir os con-
juntos do tipo % (x) - i.e., conjunto das cestas preferı́veis a x.1 Só me resta
escolher os c’s de forma conveniente.
Observação: Se o conjunto não for convexo, o procedimento gerará o envoltório
convexo de A, A, que é o menor conunto convexo e fechado que contém A. Isso
será um ponto fundamental para a discussão das conseqüências observacionais
1
Na verdade, somos capazes de identificar também ∼ (x) e ≺ (x) e assim particionar o
conjunto de consumo do agente.
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 53
do axioma da convexidade.
Note que como x = ∇µZ (p) para qualquer x ∈ arg minx∈Z px, ou x é único ou,
se não for único µZ (·) não pode ser diferenciável em p. Portanto, µZ (·) só pode
ser diferenciável em p se o conjunto arg minx∈Z px for unitário. Quando o con-
junto Z não é estritamente convexo, então para algum p o conjunto arg minx∈Z px
não será unitário em cujo caso µZ (·) exibirá uma quina em p. De qualquer
forma, usando o conceito de derivada direcional, o gradiente de µZ (·) neste
ponto ainda poderá ser igualado ao conjunto arg minx∈Z px.
que pela definição anterior é o semi-espaço que contém todas as cestas que
custam pelo menos E p0 , u0 . Perceba também que este é o conjunto de todos
os pontos em Rn+ que estão acima ou sobre o hiperplano p0 x = E p0 , u0 . (note
que para cada p, E p, u0 é a \escolha conveniente" de c a que nos referimos
anteriormente.)
Defina em seguida um novo conjunto A u0 ⊂ Rn+ pela interseção de todos
os conjuntos A p, u0 , onde u0 é fixo e p varia, como
\
A u0 ≡ A p, u0 = x ∈ Rn+ | p · x ≥ E p, u0 ∀p 0 .
(4.1)
p0
Se E (p, u) for de fato uma função despesa, ao fazer variar p vou separando,
para cada nı́vel de preços, todas as cestas mais baratas do que o mı́nimo que
preciso gastar para atingir utilidade u. Pela própria definição de mı́nimo, isso
implica em que essas cestas não gerem a mesma utilidade u.
Porém, ainda preciso mostrar que E (p, u) recupera as preferências e que
E (p, u) é a função despesa por ela gerada.Vejamos então como podemos usar
A (u) para recuperarmos as preferências a partir de E (p, u).
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 55
Suponha que E (p, u) é de fato uma função despesa gerada por uma função
utilidade qualquer u (x) . Tome um vetor de preços arbitrário p 0, e fixe
x > 0, neste caso p · x ≥ E (p, u (x)) (tipicamente haverá igualdade para o
vetor de preços, p, para o qual x é a escolha ótima). De fato, pela definição de
função despesa, o custo da cesta x é pelo menos tão grande quanto o custo de
atingir a utilidade gerada por x, qundo se toma um vetor de preços arbitrário.
Como E (·) é crescente em u, então u (x) é o valor mais alto para o qual vale
p · x ≥ E (p, u (x)) para todo p 0. Ou seja,
O que quer dizer que conseguimos associar a x sua utilidade u. Como tomamos
um vetor x qualquer, isso quer dizer que construimos a função utilidade do
agente.
A formalização dessa idéia será apresentada por meio de dois teoremas. No
primeiro, mostraremos que u (x) definida no parágrafo anterior é uma função
utilidade satisfazendo os axiomas usuais (teorema 1). Depois, mostraremos que
E (·) é de fato a função despesa gerada por u (x) (teorema 2).
Demonstração: Para ver que o probelma realmente tem solução, note que u
é limitado superiormente, já que E (p, u) é crescente em u e ilimitada superior-
mente2 . Mostramos que u tem um supremo (uma menor cota superior), só falta
mostrar que esse cota pertence ao conjunto {u ≥ 0 | x ∈ A (u)} . Mas isso decorre
de A (u) ser um conjunto fechado.
Quanto a ser crescente em x, considere dois vetores (duas cestas) tais que x1 ≥ x2 .
Então, p·x1 ≥ p·x2 ∀p 0. Pela definição de u x2 , p·x2 ≥ E p, u x2 ∀p
2
Como p · x ≥ E (p, u) tem que valer para todo p, fixo um vetor p qualquer e essas duas
caracterı́sticas de E (p, u) impõem uma cota superior a u.
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 56
p · x1 ≥ E p, u x1
∀p 0
p · x2 ≥ E p, u x2
∀p 0
Teorema 5 Seja uma função E (p, u) : Rn++ × R+ → R+ que satisfaz às 7 proprie-
dades das funções gasto e seja u : Rn+ → R+ tal que u (x) ≡ max {u ≥ 0 | x ∈ A (u)},
então
minx p · x
E (p, u) ≡
sujeito à u (x) ≥ x
i.e., E (p, u) é a função gasto gerada pela utilidade u (x)
Por outro lado, concavidade de E p,u0 implicam em
E p,u0 ≤ p − p0 ∂p E p0 ,u0
≤ p∂p E p0 ,u0
∀p
novamente por homogeneidade. Escolho, então x0 = ∂p E p0 ,u0 . Como p · x0 ≥
E p,u0 , pela definição de u (·) , temos u x0 ≥ u0 . Por outro lado,
E p0 ,u0 = p0 ∂p E p0 ,u0 = p0 x0
Perceba que w (x) será crescente e quase-côncava pelo teorema 1 acima, logo
w (x) 6= u (x).
Porém, w (x) contém todas as informações sobre u (x) que são empiricamente
relevantes. Intuitivamente, isso se deve ao fato de que w (x) 6= u (x) apenas nas
regiões não-convexas e/ou não-monotônicas das curvas de indiferença, exata-
mente onde o consumidor não estará consumindo.
Porém, sem convexidade, não podemos invocar o teorema da dualidade. De
fato, sem convexidade a escolha ótima não será única em todos os pontos.
Nesses pontos a função (na realidade a correspondência) gasto não será dife-
renciável: não vale, portanto, o lema de Shephard4 .
Observação 2: A irrelevância observacional da monotonicidade é con-
seqüência do uso de preços positivos, p > 0, na construção de A (u) .
4.0.2 Integrabilidade
Quais são as propriedades das demandas marshallianas? Homogeneidade,
equilı́brio orçamentário (adding-up), simetria e negatividade semi-definida da
matriz de Slutsky.
Na verdade, homogeneidade é uma consequência do equilı́brio orçamentário
e da simetria (ver teorema 2.5, JR), logo só existem 3 propriedades verdadeira-
mente independentes.
Nós sabemos que essas 3 propriedades das demandas marshallianas são ne-
cessárias. A pergunta é: elas são suficientes?
O Teorema da Integrabilidade: Se x (p, y) satisfaz ao equilı́brio orçamentário,
à simetria e à negativadade semi-definida, então existe uma função utilidade u (x)
cuja demanda marshalliana é x (p, y) .
Considere uma função arbitrária x (p, y) que satisfaça às propriedades acima.
E considere uma função despesa arbitrária E (p, u) gerada por alguma função
utilidade u (x) com as propriedades usuais. Suponha ainda que essa função
utilidade gere também a demanda marshalliana xm (p, y) . Por enquanto não
estabelecemos nenhuma relação entre elas.
4
Ver Mas-Colell et al. (1995) p. 66.
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 59
∂i E (p, u) = χi (p, u) = xm
i (p, E (p, u)) ∀ (p, u)
Donde,
Já que para cada p, E (p, u) assume todos os valores positivos à medida em que
variamos u.
Portanto, desde que possamos relacionar x (p, y) a uma função despesa de
acordo com (4.3) teremos que x (p, y) é uma função demanda marshalliana
gerada por alguma função utilidade.
Note porém que se o sistema de equções diferenciais parciais (4.3) tem uma
solução, então
∂2ij E (p, u) = ∂j xi (p, E (p, u)) + ∂y xi (p, E (p, u)) ∂j E (p, u) ∀ (p, y) e ∀i, j
= ∂j xi (p, y) + ∂y xi (p, y) xj (p, y) , ∀ (p, y) e ∀i, j
Por simetria, da derivada cruzada (teorem de Young), o sistema só pode ter
solução se
Ou seja, essa condição é necessária para que o sistema tenha uma solução.
Mais interessante é notar que a condição também é suficiente de acordo com
o teorema de Froebenius.
Note, porém, que o que se está exigindo aqui é que a matriz de Slutsky seja
simétrica.
Todas as propridedades da função gasto podem ser então demonstradas a
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 60
partir das condições impostas a x (p, y) . Em particular vale ressaltar que a ne-
gatividade semi-definida da matriz de Slutsky garante a concavidade de E (p, u)
com relação aos preços.
Como u (x) ≤ v (p, p · x) , basta mostrar que para todo x existe um p tal que
u (x) = v (p, p · x)
Tome um x0 , qualquer, e escolha p0 = ∂x u x0 . Escolhendo λ0 = 1 e y0 = p0 x0 ,
temos
∂x u x0 = λ0 p0
y0 = p0 x0
p∗
p=
p∗ x
CAPÍTULO 4. O PROBLEMA DA INTEGRABILIDADE 61
minimiza ^
v (p) . Ou seja, podemos reescrever o problema inicial como:
minp0 v (p, 1)
u (x) =
s.t. p · x = 1
Capı́tulo 5
p0 x0 ≥ p0 x1 =⇒ p1 x0 > p1 x1
62
CAPÍTULO 5. A TEORIA DAS PREFERÊNCIA REVELADAS 63
x ∗ y ⇔ ∃B ∈ B ; x, y ∈ B e x ∈ C (B) .
Defina x (p, y) como sendo uma função escolha. Note que aqui se trata
simplesmente de uma regra que associa um vetor de preços e um nı́vel de renda
(logo um conjunto orçamentário) a uma escolha.
Axioma 2: Equilı́brio orçamentário (adding-up): p · x (p, y) = y
Se impusermos equilı́brio orçamentário e AFrPR à função escolha x (p, y) ,
quais outras propriedades nós podemos derivar?
p1 · x1 = y1 ⇒ tp0 x1 = ty0 =⇒ p0 x1 = y0 .
p0 x0 = y0 =⇒ tp0 x0 = ty0 =⇒ p1 x0 = y1 .
p1 − p0 x0 > p1 − p0 x p1 , p1 x0 ⇒ p1 − p0 x p1 , p1 x0 − x0 < 0
(5.1)
tz x p0 + tz, p0 + tz x0 − x0 < 0.
f (t) = tz x p0 + tz, p0 + tz x0 − x0
é menor que zero para todo t 6= 0 e é igual a 0 para t = 0. Portanto, atinge seu valor máximo
em 0. Neste caso temos que f0 (0) = 0 e f00 (0) ≤ 0. Pode-se, verificar que estas duas condições
implicam na desigualdade (5.2). [agradeço a Vitor Luz por apontar esta demonstração alterna-
tiva]
CAPÍTULO 5. A TEORIA DAS PREFERÊNCIA REVELADAS 65
o que implica em
0
z ∂p x p0 , y0 + ∂y x p0 , y0 x p0 , y0 z0 ≤ 0.
(5.2)
| {z }
Matriz de Slutsky
Como o vetor z é arbitrário, isso implica em que a matriz de Slutsky seja negativa
semi-definida.
Observação: Note que quando a variação dos preços é discreta, o tipo de
compensação considerado na discussão anterior acarreta em geral um aumento
na utilidade do agente. O argumento é simples: se aos novos preços o agente
é capaz de comprar a cesta consumida anteriormente, sua utilidade será não
inferior à atingida nesses preços e em geral será maior - como explicitado na
equação (4.4).
Portanto, o axioma fraco parece gerar todas as propriedades da nossa teoria
da escolha racional. Na verdade, ainda falta checar simetria da matriz de
Slutsky; A1+A2 implicam simetria?
Como nosso interesse é checar a relação entre as duas abordagens, vamos
adiar a resposta a essa pergunta, e nos concentrar na questão seguinte.
Temos que a função de demanda marshalliana xM (p, y) (colocamos o supers-
crito para diferenciá-la da função de escolha x (p, y)) é uma função de escolha.
Para que simetria garanta a equivalência terı́amos que checar se essa função
escolha, xM (p, y) , tem as propriedades A1 e A2. Já sabemos xM (p, y) satisfaz
A2. Será que ela também satisfaz A1?
Note que essa demonstração (Mas-Colell et al., p.???) gera preferências racio-
nais (completas e transitivas), mas não contı́nuas - basta notar que os conjuntos
% (x) não são fechados. Assim, elas não são representáveis por funções utilida-
des.
Portanto, a abordagem baseada na escolha (utilizando o AFoPR) é exatamente
equivalente à abordagem baseada nas preferências (maximização de utilidade).
Capı́tulo 6
ou seja, o total do que compra não pode custar mais do que o total do que vende.
O que acontece com a demanda de um bem j quando aumenta o preço do
bem i? Primeiro, há o efeito tradicional medido pela demanda marshalliana
∂xj /∂pi . Mas a renda do agente também é afetada de modo independente pelo
aumento de pi .
De fato, seja y ≡ px. Podemos, então escrever o efeito total a partir da
69
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 70
demanda marshalliana:
dxj dy
= ∂i xj (p,y) + ∂y xj (p,y)
dpi dpi
= ∂i xj (p,y) + ∂y xj (p,y) xi
dxj
= (∂i χj (p,u) − ∂y xj (p,y) xi ) + ∂y xj (p,y) xi
dpi
= ∂i χj (p,u) − ∂y xj (p,y) (xi − xi )
Neste caso, saber que um bem é normal não garante que possamos determinar o
efeito de uma aumento no seu preço sobre a demanda. De fato, isso dependerá
de ser o indivı́duo um demandante ou ofertante lı́quido do bem.
Consideremos, então duas aplicações importantes dessa discussão:
6.1.1 Aplicações
Oferta de Trabalho
Seja w o salário (i.e. o preço do lazer). Então, a pessoa tem uma dotação
inicial de L horas (e.g., 168 horas semanais). Ela vende L − l (e.g., 40 horas
semanais) no mercado de trabalho e consome l (168-40=128 horas) de lazer.
Com o salário recebido, o agente consome bens a um preço p. Podemos
escrever o problema do consumidor/trabalhador como
max u (x,l)
n−1
^v (p,w; L) l∈R+ ,x∈R+ .
s.t. w (L − l) ≥ p · x
dl
= ∂w lh (p,w,u) − ∂y lh (p,w,y) (l − L)
dw
O que acontece quando o lazer é normal? Qual a direção do efeito renda??
Escolha Intertemporal
max u (x1 ) + βu (x2 )
^v 1, R−1 ; x1 , x2
x .
s.t. x1 + x2 R−1 ≥ x1 + x2 R−1
A restrição orçamentária do agente deve ser lida como "o valor presente do
consumo não pode ser maior do que o valor presente da renda". O vetor de
preços é p = 1, R−1 , onde R é a taxa de juros bruta: 1 + r.
Há suas coisas a serem compreendidas. 1) O aumento da taxa de juros
é uma ’redução’ em um preço: o preço do consumo futuro. 2) O efeito renda,
mais uma vez depende de o agente ser ofertante (devedor) ou demandante lı́quido
(poupador) de consumo futuro.
Abertura Comercial
depois da abertura.
Note que agora, não basta argumentar que xk ainda é viável, já que o agente
consumia xk e não xk antes da abertura.
e pz (p) = 0
O que se sabe sobre essa função demanda excedente?
3. Quase-convexa em p.
2. Lei de Walras pz = 0 ∀p
1
Ver Chiappori e Ekeland (2004).
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 74
u∂p z (p) u = −u∂2pp V (p) u/λ (p). I.e., a restrição de ∂p z (p) a [z (p)]⊥ ’herda’
as propriedades de ∂2pp V (p) , como simetria, negatividade semi-definida e nega-
tividade definida quando restrita a [Span {z (p) , p}]⊥ .
Note, porém que não posso garantir negatividade, já que V (p) é quase-
convexa, não necessariamente convexa. Mas quase-convexidade implica que
∂2pp V (p) é negativa definida se restrita a ∂p V (p) v =0. Mas ∂p V (p) = −λ (p) z (p)
o que implica em que [Span {z (p) , p}]⊥ = [Span {z (p) , ∂p V (p)}]⊥ .
Observação 1: Se p for tal que z (p) = 0, então, ∂p z (p) é proporcional a
∂2pp V (p) . Em particular, ∂p z (p) é simétrica e negativa semi-definida.
Observação 2: V (p) é quase-convexa, e não pode ser estritamente quase con-
vexa. De fato,
p∂2pp V (p) p=λ (p) z (p) p=0.
dl = [ ∂w l|u − ∂y l (l − L)] dw
U (y, l) s.a. w (L − l) ≥ p · x ,
|{z}
y
Então,
= ∂ l| wdt − ∂y l (wl + ∂t R) dt
| w{z U} | {z }
efeito efeito
substituição renda
dl = [ ∂w l|U − ∂y l (l − L) w] dt.
onde t2 ≥ t1 ≥ 0.
Definição: Seja a renda virtual, I, a renda não relacionada ao trabalho que
faria com que o agente fizesse a mesma escolha de oferta de trabalho, caso
sua restrição orçamentária fosse linear com salário (1 − t) w, onde t é a taxa
marginal relevante para ele.
Ou seja, para o caso que estamos considerando
I0 = B, se Y < Y1 ,
I1 + (1 − t1 ) Y1 = B + (1 − t0 ) Y1 =⇒ I1 = B + (t1 − t0 ) Y1 se Y1 ≤ Y < Y2 ,
e
I2 + (1 − t2 ) Y2 = I1 + (1 − t1 ) Y2 =⇒ I2 = I1 + (t2 − t1 ) Y2 se Y ≥ Y2
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 77
I2 = B + (t1 − t0 ) Y1 + (t2 − t1 ) Y2 se Y ≥ Y2 .
onde
t0 se 0 ≤ Y < Y1
i
t = t se Y1 ≤ Y < Y2
1
t2 se Y > Y2
Definimos, então, a oferta de trabalho como função de 1 − ti w e I i —
L 1 − ti w, Ii .
A análise passa a ter o seguinte formato
6.3 Separabilidade
A teoria que desenvolvemos até agora nos permite abordar diversos temas
como escolha intertemporal, escolha sob incerteza, etc.. Basta incluir nas esco-
lhas das pessoas bens definidos de acordo com o perı́odo, o estado da natureza,
etc.
De um modo geral, tratamos esses problemas de forma isolada, ainda que
saibamos que eles interagem de alguma forma. O que nos legitima a fazer isso?
Vamos discutir a questão da separabilidade nesse contexto, mas começando
com um resultado concernente ao comportamento dos preços dos bens. Isto nos
permite entender um pouco melhor o objetivo da teoria que vamos explorar.
E (p1 , p2 , u) = E p1 , θp02 , u .
Como, p02 é fixo, pode ser considerado um parâmetro de E (·) (não mais um
argumento) de tal forma que podemos definir uma nova função despesa
^ (p1 , θ, u) ≡ E p1 , θp02 , u .
E
Podemos mostrar que E ^ (·) é uma função despesa com todas as propriedades usu-
ais: crescente, côncava e homogênea de grau 1 em (p1 , θ) , crescente e ilimitada
em u. Além disso,
X X
^ (p1 , θ, u) = ∂i E p1 , θp02 , u p0i = χi p1 , θp02 , u p0i
∂θ E
pi ∈p2 pi ∈p2
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 79
xm
de maneira a escrevê-la como:
u (x) ≡ u
^ (υ1 (x1 ) , υ2 (x2 ) , ..., υm (xm ))
A importância desse fato é que dado um valor total para a despesa no grupo, a
decisão de consumo depende somente dos preços dos bens do grupo.
Assim, a demanda marshalliana pode ser escrita como
Isso, como veremos, gera restrições importantes sobre substitutibilidade dos bens.
2) Os efeitos dos preços do próprio grupo sobre os bens pode ser decomposto em
duas partes, um efeito direto e outro indireto:
χi (p,u) = x
^i (pG , ψG (p,u)) ....∀i ∈ G.
∂j χi (p,u) = ∂yG x
^i (pG , ψG (p,u)) ∂j ψG (p,u) ∀j ∈
/ G.
χj (p,u) = x
^j (pH , ψH (p,u))
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 81
∂j χi (p,u) = ∂i χj (p,u) ∀i ∈ G, ∀j ∈ H
⇓
^j (pH , ψH (p,u)) ∂i ψH (p,u) ∀i ∈ G, ∀j ∈ H
^i (pG , ψG (p,u)) ∂j ψG (p,u) = ∂yH x
∂yG x
⇓
^i (pG , ψG (p,u))
∂yG x ^j (pH , ψH (p,u))
∂y x
= H ∀i ∈ G, ∀j ∈ H
∂i ψH (p,u) ∂j ψG (p,u)
⇓
^i (pG , ψG (p,u))
∂yG x 1
= ∀i ∈ G
∂i ψH (p,u) κGH
Esta última passagem se deve ao fato de que de um lado, só aparece i en-
quanto do outro só aparece j, o que indica que a relação tem que ser independete
de ambos. (O motivo de usarmos 1/κGH em vez de κGH ficará claro mais adiante.)
Neste caso,
^i (pG , ψG (p,u)) κGH = ∂i ψH (p,u) .
∂y G x (6.3)
Com isso, temos que
∂j χi (p,u) = ∂yH x
^j (pH , ψH (p,u)) ∂i ψH (p,u)
^j (pH , ψH (p,u)) κGH ∀i ∈ G, ∀j ∈ H (6.4)
^i (pG , ψG (p,u)) ∂yH x
= ∂yG x
por pi e somemos em i.
X X
κGH ^i (pG , ψG (p,u)) pi =
∂y G x ∂i ψH (p,u) pi
i∈G i∈G
X
κGH = ∂i ψH (p,u) pi
i∈G
O que torna difı́cil o estágio mais alto do ’two stage budgeting’ é o fato de que
os ’preços’ dos ’bens’ υG não são constantes. De fato, não consigo determinar
preços relativos sem conhecer as escolhas dos vários υ’s, o que me impede de ver
o problema de maximização (6.5) considerando um ı́ndice de preços e um ı́ndice
de quantidades para cada grupo. Assim, a escolha ótima continua dependendo
de eu conhcer todos os preços de todos os bens e não um ı́ndice que represente
de forma compacta o preço da utilidade de cada grupo.
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 83
EG (pG , υG ) ≡ eG (pG ) υG
Neste caso, eG (pG ) representam os preços dos ’bens’ υG que não dependem
da quantidade consumida. Assim, o problema de maximização pode ser dividido
em dois estágios completamente distintos: no segundo estágio determinam-se os
preços eG (pG ) de forma absolutamente independente, e no primeiro, tomando
os preços como dados, escolhe-se a cesta ótima υ segundo
onde pG = eG (pG ) .
Neste caso,
u (x) ≡ u
^ (υ1 (x1 ) + υ2 (x2 ) + ... + υm (xm ))
A principal conseqüência adicional dessa restrição vem do seguinte fato. Con-
sidere três bens, i, j e k pertencentes aos grupos I, J e K, respectivamente.
Juntemos J e K em um novo grupo (chamemo-lo, L), também separável de I,
pela separabilidade forte. Neste caso, sabemos que
∂j χi (p,u) = ∂yI x
^j pJ , ψJ (p,u) κIJ
^i (pI , ψI (p,u)) ∂yJ x
^j pJ , ψJ (p,u) κ∗IL
^i (pI , ψI (p,u)) ∂yJ x
= ∂y I x
2
Podemos generalizar para EG (pG , υG ) ≡ eG (pG ) θG (υG ) , onde θ (·) é uma função crescente.
Neste caso, basta redefinir o problema do consumidor como
^ θ− 1 −1 −1
maxυ u 1 (υ1 ) , θ2 (υ2 ) , ..., θm (υm )
P
m
s.t., pG υG ≤ y
G=1
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 84
Da mesma forma,
∂j χi (p,u) = ∂yI x
^i (pI , ψI (p,u)) ∂yK x
^j (pK , ψK (p,u)) κ
maxx1 u (x1 , x2 )
s.t. p1 x1 ≤ y
a solução desse problema nos dá uma utilidade indireta condicional v (p1 , y; x2 ) e
a demanda condicional x1 (p1 , y; x2 ) . Essa é uma maneira bastante interessante
de incorporar o fato de que não podemos ’ajustar’ o consumo de alguns bens no
curto prazo.
Como sempre, os resultados mais fortes são aqueles relacionados à de-
manda hicksianda. Consideremos, então, o caso da problema de minimização
de despesas do indivı́duo que não pode ajustar sua demanda do bem j i.e.,
^ p−j , u; pj xj ≡
E
^ p−j , u; pj xj ≥ E (p, u)
E (6.7)
já que a diferença entre a otimização (6.6) e o problema minx px, s.a. u (x) = u
é simplesmente o fato de que o primeiro é mais restrito. Note também que
podemos definir E (p, u) por meio da relação
^ p−j , u; pj xj ,
E (p, u) ≡ min E
xj
De outro,
^ k p−j , u, χj (p, u) ∂j χj (p, u) = ∂j χk (p, u)
∂xj χ
O que nos permite escrever, ∂xj χ ^ k p−j , u, χj (p, u) = ∂j χk (p, u) /∂j χj (p, u) , e,
portanto,
∂j χk (p, u) ∂k χj (p, u)
^ k p−j , u, χj (p, u) = ∂k χk (p, u) −
∂k χ . (6.8)
∂j χj (p, u)
Há duas coisas que devemos ressaltar. Em primeiro lucar, a demanda hick-
siana condicional é uma demanda hicksiana com todas as suas propriedades
usuais, já que produto de um problema de minimização de despesas. Neste caso,
^ k p−j , u, χj < 0.
∂k χ
Porém, note que o último termo do lado direito de (6.8) é positivo pela
CAPÍTULO 6. TÓPICOS EM TEORIA DO CONSUMIDOR 86
∂2yj v (p,y)
dy
∂j φ (p,λ) = = − (6.10)
dpj λ ∂2yy v (p,y)
Donde,
∂2jy v (p,y) = −∂2yy v (p,y) xj (p,y) − ∂y v (p,y)y ∂xj (p,y)
Substituindo em (6.10) temos
∂y v (p,y)
∂j φ (p, λ) = xj (p,y) + ∂y xj (p,y)
∂2yy v (p,y)
Frisch.
Mantendo λ constante,
Agregação
X
J
xj p, yj .
X (p,y) =
j=1
P
A questão é se posso escrever X (p,y) = X (p,y) , onde y = Jj=1 yj .
Note que, para que a representação acima seja possı́vel, é necessário que
qualquer variação das rendas individuais que preserve a renda do grupo deve
89
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 90
X
J X
J
j j j
dyj = 0.
∂yj x p, y dy = 0 sempre que
j=1 j=1
vj p, yj ≡ aj (p) + b (p) yj
∀j.
Portanto,
X
J X
J
∂p b (p) ∂p b (p) X j
J
j j j j
∂yj x p, y dy = dy = dy = 0
j=1 j=1
b (p) b (p) j=1
P
sempre que Jj=1 dyj = 0.
A prova de necessidade é bem mais complicada, e não tentaremos explorá-la
aqui.
A mensagem do resultado de Gorman é um pouco desoladora, no sentido de
que a restrição às preferências parece excessiva para ser de uso prático. Assim,
a idéia de representarmos a demanda agregada como função exclusivamente de
preços e renda agregada implica em aceitarmos uma restrição muito grande nas
preferências.
Talvez tenhamos sido muito ambiciosos ao tentar representar a demanda
agregada usando somente o primeiro momento da distribuição. Ou talvez te-
nhamos deixado de considerar informações que nos permitam ligar a renda
agregada à renda individual.
Explorando a primeira possibilidade, poderı́amos buscar uma forma que per-
mitisse uma representação por meio de outros momentos da distribuição da
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 91
renda, como a variância, etc. Poderı́amos até buscar uma maneira de repre-
sentar preferências por meio da distribuição completa de renda. Isso certamente
nos daria mais flexibilidade. Como exemplo extremo, se toda a distribuição fosse
utilizada poderı́amos garantir a representação somente com a hipótese de que as
preferências são iguais, sem impor qualquer restrição sobre o que seriam essas
preferências além da racionalidade.
Note que, ainda assim, essa (todas as pessoas têm as mesmas preferências) é
uma hipótese bastante restritiva sobre a sociedade que pretendemos representar
em nosso modelo.
Uma alternativa mais promissora parece a idéia de associar a renda agregada
à renda individual por meio de alguma relação funcional pré-definida. Explora-
remos essa idéia na seção seguinte e na seção 7.2.3 onde a idéia de que somente
alocações eficientes são observadas é adicionada ao presente modelo.
X
J X
J
j j
xj p, θj (p,y) = X (p,y) .
X (p,y) = x p, y =
j=1 j=1
θh (p, y) = αh (p) y
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 92
X
J X
J
j
∂i θ (p,y) = 0 ∀i e ∂y θj (p,y) = 1.
j=1 j=1
onde
X
J
xjk p, θj (p,y) .
Xk =
j=1
onde
pwh
αh (p) = P
p h wh
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 93
X
J
∂k xji p, θj (p,y) + ∂y xji p, θj (p,y) ∂k θj (p,y) .
∂k Xi (p,y) =
j=1
Além disso,
X
J
∂y xji p, θj (p,y) ∂y θj (p,y) Xk .
∂y Xi (p,y) Xk (p,y) =
j=1
Portanto
J
X j j
j j j j
∂k x p, θ (p,y) + ∂y xi p, θ (p,y) ∂k θ (p,y) + ∂y θ (p,y) |{z}
Xk ,
i
j=1 dy/dpk
X
J
X
J
∂k xji + ∂y xji j
∂k θ + ∂y θ Xk j
= ∂k xji + ∂y xji xjk
j=1 j=1 | {z }
dda compensada
do indivı́duo j
X
J
+ ∂y xji j j
∂k θ + ∂y θ Xk − xjk
j=1
X
J
∂y xji j j
∂k θ + ∂y θ Xk − xjk .
j=1
∂k θj = 0, ∀j,∀k e ∂y θj = αj , ∀j.
X
J X
J
∂k xji + ∂y xji xjk + ∂y xji αj Xk − xjk .
j=1 | {z } j=1
dda compensada
do indivı́duo j
PJ j j j
O primeiro termo, j=1 (∂k xi + (∂y xi )xk ), é a soma das demandas compensadas
individuais. Define, portanto, uma matriz negativa semi-definida e simétrica
(para esta última propriedade estamos admitindo mais do que o axioma fraco
individualmente). Já o sinal do segundo termo não é tão simples de ser de-
terminado. O que é interessante notar é que esses termos formam uma matriz
2
Na verdade, o axioma fraco implica a negatividade semi-definida. Porém, precisamos de um
pouco mais do que negatividade semi-definida para o axioma fraco. Precisamos de negatividade
definida para todas as direções não-proporcionais ao vetor de preços.
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 95
p1 − p0
i 1
x p , y − xi p0 , y ≤ 0 ∀ p1 , p0 , y.
com desigualdade estrita se xi p1 , y 6= xi p0 , y .
p2 − p0 [x p2 , y0 − x p0 , y0 ] < 0
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 96
Ou seja,
p2 x p2 , y0 −p2 x p0 , y0 − p0 x p2 , y0 + p0 x p0 , y0 < 0.
| {z } | {z }
y0 y0
y0 + p0 x p0 , y0 −p0 x p2 , y0 < p2 x p0 , y0 .
| {z }
y0
| {z }
≥0
Donde, y0 < p2 x p0 , y0 . Finalmente, lembrando que p2 = p1 y0 /y1 , temos que
y1 < p1 x p0 , y0 .
p1 − p0
j 1 j
x p , y − xj p0 , yj ≤ 0
e para pelo menos um xi p1 , yi =6 xi p0 , yi , donde
p1 − p0
i 1 i
x p , y − xi p0 , yi < 0
Portanto, p1 − p0 x p1 , y − x p0 , y =
P j 1 j
p1 − p0 j 0 j
j x p ,y − x p ,y < 0.
A questão passa a ser se essa é uma restrição muito grande sobre preferências.
Anteriormente argumentamos que a existência de bens de giffen é possı́vel, mas
pouco provável. A condição acima é uma generalização da idéia de inexistência
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 97
x0 ∂2xx u (x) x
ψu (x) ≡ − < 4 ∀x (7.2)
x∂x u (x)
então, p1 − p0 x p1 , y − x p0 , y < 0, sempre que p1 6= p0 .
Para entender de onde vem essa condição, note que das condições de primeira
ordem do consumidor, se, para simplificarmos a notação supusermos y = 1,
podemos escrever, p = λ∂x u (x) ⇒ λ = (∂x u (x) x)−1 . Donde, definimos, com
algum abuso de notação,
1
p (x) = ∂x u (x) .
∂x u (x) x
A lei da demanda não-compensada corresponde a dpdx < 0, ou, (dx)> ∂x p (x) dx <
0, i.e., a matriz
1
∂x p (x) ≡ ∂x ∂x u (x)
∂x u (x) x
é negativa definida, o que é garantido quando a condição (7.2) é satisfeita.
Note que essa é uma condição suficiente (e não necessária) aparentemente não
muito restritiva.
Para chegarmos a uma condição necesssária e suficiente, terı́amos que consi-
derar em todos os x a famı́lia de funções utilidade côncavas que representam
as preferências. Neste caso, se definirmos U (%) como o conjunto de funções
3
Ver Quah (2003).
4
O artigo de Milleron jamais foi publicado, enquanto o de Mitjuschin e Polterovich está
escrito em russo.
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 98
então se ψ% (x) < 4 para todo x, vale ULD, caso contrário, haverá alguma
violação local de ULD.
Quah (2003) mostra que, se definirmos
z0 ∂2xx u (x) z
ψzu (x) ≡ − ,
z∂x u (x)
então,
ψ% (x) = ψu (x) − inf ψzu (x) ,
z∈Zu (x)
onde
Zu (x) ≡ z ∈ RL ; z∂x u (x) = x∂x u (x) .
Consideram-se, neste caso, todas as direções para as quais a variação na uti-
lidade é igual (i.e, que têm o mesmo valor quando avaliadas nos preços que
geraram aquela demanda x). Ou seja, em vez de considerarmos a curvatura
absoluta, consideramos a diferença entre a curvatura na direção x e a menor
curvatura em qualquer direção para a qual a variação de utilidade seja igual à
obtida pela variação na direção x.5
xA + xB + xG = x
A restrição orçamentária é p · x = y
Axioma 1 (utilidade): as preferências de i (i = A, B) podem ser representa-
das por uma função utilidade estritamente côncava (e duas vezes diferenciável)
ui xA , xB , xG que é estritamente crescente em xi .
Axioma 2 (barganha): o resultado do processo de decisão familiar é eficiente
no sentido de Pareto; i.e., para qualquer par de preços e renda (p, y) , a cesta de
consumo escolhida pela famı́lia xA , xB , xG é tal que não existe nenhuma outra
cesta factı́vel que seja estritamente preferida pelos dois indivı́duos.
Axioma 3 (demanda): existe uma função µ (p, y) homogênea de grau zero tal
que, para qualquer par de preços e renda (p, y) , a cesta de consumo escolhida
pela famı́lia xA , xB , xG é a solução do seguinte programa:
sujeito à
p xA + xB + xG = y
sujeito à
tal que xA + xB + xG = x
Perceba que essa função utilidade direta depende dos preços e da renda via
µ. Esse é o motivo pelo qual certas propriedades das demandas no caso unitário
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 100
uA xA , xB , xG = uA xA e uB xA , xB , xG = uB xB
Neste caso, poderemos utilizar, sem demonstrar (vocês terão muitas oportuni-
dades de mostrar isso mais adiante), o segundo teorema do bem-estar econômico.
Ele diz, essencialmente, que sob determinadas condições (que suporemos válidas
no nosso problema) toda alocação eficiente pode ser descentralizada em um pro-
cesso de redistribuição das dotações com posterior livre negociação no mercado.
No que nos concerne, isso quer dizer que podemos pensar na escolha da
famı́lia como envolvendo, em um estágio a descentralização da renda da famı́lia
por meio de uma função θj (p,y) , com cada agente livremente fazendo suas
escolhas ótimas em um segundo momento. Podemos, assim, associar o problema
da famı́lia ao modelo da seção 7.2.
Vimos que neste caso, o efeito sobre a demanda do agente j do bem i de uma
variação do preço do bem k, quando a demanda agregada (ou seja a demanda
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 101
do domicı́lio) é compensada é
∂k xji + ∂y xji xjk + ∂y xji ∂k θj + ∂y θj xk − xjk
onde xk = xA B
k + xk . O efeito total sobre a demanda do domicı́lio é,
X
∂k xi + ∂y xi xk = ∂k xji + ∂y xji xjk +∂y xji ∂k θj + ∂y θj xk − xjk
| {z }
i=A,B dda compensada
= ∂k χ A + ∂k χBi + ∂y xA A A A
i i ∂k θ + ∂y θ xk − xk
B
∂k θB + ∂y θB xk − xBk
+ ∂y xi
onde χA
i é a demanda hicksiana de i pelo agente A.
Lembrando que no caso de dois agentes
∂k θA = −∂k θB , ∂y θA = 1 − ∂y θB e xA B
k = xk − xk
∂k χ A B A B A A A A B A A A
i + ∂k χi + ∂y xi − ∂y xi ∂k θ + ∂y xi ∂y θ xk − xk + ∂y xi xk − ∂y θ xk ,
ou
∂k χ A A A B
∂k θ A + ∂y θ A xk − xA
i + ∂k χi + ∂y xi − ∂y xi .
| {z } | {z }| {z k
}
ξik vi uk
uma matriz
ξ11 + v1 u1 ... ξ1n + v1 un
sp (p, y) ≡ .. .. ..
.
. .
ξn1 + vn u1 ... ξnn + vn un
ξ11 ... ξ1n v1 u1 ... v1 un
= ... . . . .. + .. ..
.
..
. . .
ξn1 ... ξnn vn u1 ... vn un
ξ11 ... ξ1n v1
= ... . . . .. + .. (u , ..., u )
. . 1 n
De forma compacta,
sp (p, y) = ξ + vu0
onde ξ é uma matriz simétrica e negativa semi-definida (soma das matrizes de
Slutsky dos dois agentes) e vu0 é uma matriz de posto 1. Note que, a testabilidade
do modelo é preservada já que a matriz sp (p, y) − sp (p, y)0 = vu0 − uv0 tem posto
não superior a um (podemos checar o número de auto-valores estatisticamente
significantes).6
Associada a ela está a função vetorial θ (p,y) = θ1 (p,y) , ..., θJ (p,y) que leva
preços e renda agregada em um vetor de rendas individuais. Ou seja, a função
dada pela solução do problema (7.3),
arg maxy U v1 p,y1 , ..., vH p,yJ
θ (p,y) ≡ PJ j
s.t. j=1 y = y
Neste caso podemos mostrar que W (p,y) é uma função utilidade indireta
com todas as propriedades usuais.
Consideremos, por exemplo a identidade de Roy
XJ
∂i vj + (∂y vj ) ∂i θj
∂i W (p,y) = ∂vj U
j=1
XJ
∂vj U (∂y vj ) ∂yi θj
∂y W (p,y) =
j=1
que implicam em
XJ
∂y W (p,y) = λ ∂y θj = λ
j=1
XJ XJ
∂i θ j
∂i W (p,y) = ∂vj U (∂i vj ) + λ
j=1
| {z }
j=1
=0
XJ
= ∂vj U (∂i vj )
j=1
Donde
∂i W (p,y) XJ
= −λ−1
− ∂vj U (∂i vj )
∂y W (p,y) j=1
XJ
∂vj U (∂i vj )
=−
j=1 ∂v U (∂y vj )
j
XJ
=− (∂i vj ) (∂y vj )−1
j=1
XJ j
xi p, yj = Xi p, yj
=−
j=1
Fixando yj = θj p0 , y0 e xj = xj p0 , yj definimos, então, o conjunto
P j
j j0
A ≡ X = j x ; uj x ≥ uj x ∀j
que é o conjunto de vetores de consumo agregado tais que existe uma redistribuição
dos bens entre os agentes que deixa todos os agentes melhores ou iguais à
situação inicial.7
Para que tenha conteúdo normativo é necessário que A ⊂ B, já que queremos
que toda mudança que aumente o bem estar de todos os indivı́duos aumente
necessariamente o bem-estar do agente representativo. (Figura ... em Mas-
Colell et al.). É possı́vel mostrar que para que isso aconteça é necessário que
P
S (p,y) − j Sj p,yj seja negativa semi-definida.
J P
De fato, considere uma alocação inicial x = xj j=1 tal que j xj = X, onde,
para todo j, xj representa a escolha ótima do agente j dados sua renda e o vetor
de preços p. Por construção, cada xj resolve um problema
e
P
A ≡ X = j xj ; uj xj ≥ uj xj ∀j ,
P
bem como a função f (p) = e (p, u (X)) − j ej p, uj xj , onde e (p, u (X)) ≡
minx p · x s.t. u (x) ≥ u (X).
Note que
X X
ej p,uj xj = min p · x s.t. uj (x) ≥ uj xj .
j j x
j J
Usando, porém, o fato de que cada xj resolve o problema, temos que x j=1
resolve também X
xj s.t. uj xj ≥ uj xj ∀j.
min p (7.5)
{xj }Jj=1 j
P
É fácil ver que o valor da solução de (7.5) não é maior do que j ej p, uj xj .
Suponha, porém que seja estritamente menor. Ou seja, suponha que exista
j J P j P
~
x j=1 tal que uj ~ xj ≥ uj xj ∀j e p j ~ x < p j xj . Então, para algum j, p~
xj <
P
pxj e uj ~ xj ≥ uj xj o que viola (7.4). Donde, j ej p,uj xj = minX∈A p · x.
P
Como, A ⊂ B, minX∈B p · x ≤ minX∈A p · x, i.e., e (p, u (X)) ≤ j ej p, uj xj
P
∀p, com e (p, u (X)) = j ej p, uj xj . Portanto f (p) atinge um máximo em p,
i.e., ∂p f (p) = 0 e ∂2pp f (p) ≤ 0.
Nem sempre é verdade que o agente representativo positivo seja normativo.
P
I.e., é possı́vel gerar contra-exemplos em que a matriz S (p,y) − j Sj p,yj não
é negativa semi-definida e com isso encontrar mudanças que melhorem a vida
de todos os agentes mas que reduza a utilidade do agente representativo (e.g.,
Dow e Werlang, 1988).
d
x (p, y))2 = 2v∂y ~
(v~ x (p, y) ~
x (p, y) v,
dy
CAPÍTULO 7. AGREGAÇÃO 108
onde usamos ~
x (p, 0) = 0.
A derivação das expressões usadas no capı́tulo pode ser feita de forma mais
elegante, usando diretamente os vetores de preços e matrizes de substituição
(Jerison, 1994) de tal forma a explicitar a matriz de covariância. Jerison define
a matriz de covariância CD dos consumidores como sendo a matriz
P
CD (p, y) ≡ j
(p, y) ∂y xj p, θj (p, y)
Dj
x (p, y) − xD (p, y) ,
j ∂y θ
onde
1 P
xDj (p, y) ≡
j
x p, θj (p, y) − ∂p θj (p, y) e xD (p, y) ≡ j xj p, θj (p, y) .
∂y θj (p, y)
P
ou ainda, lembrando que j xj p, yj = xD (p, y) , e definindo xD (p, y) = xD (p, y) /J
temos
P j j D
j
x p, yj − αj xD (p, y) .
j ∂y x p, y − ∂y x (p, y)
Neste caso, o termo ∂y xj p, yj − ∂y xD (p, y) pode ser interpretado como a
diferença entre a propensão marginal do agente j a consumir o vetor x e a
propensão marginal média de consumir x. Já xj p, yj − αj xD (p, y) representa
a diferença entre a propensão média do agente j a consumir x e a propensão
média média de consumir x. Quando as propensões marginal e média covariam
positivamente, os consumos se dispersam e a matriz é negativa semi-definida.
Parte II
Teoria da Produção
110
Capı́tulo 8
Teoria da Produção
111
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 112
Portanto utilizaremos esse modelo simplista da firma como uma caixa preta
e veremos o quão distante esta forma de analisar a organização da produção
poderá nos levá. No final dessa discussão, apresentaremos algumas defesas (e
crı́ticas) para as hipóteses adotadas, além de alguma evidência sobre a aderência
do modelo aos dados.
No free lunch. Y ∩ RL+ ⊆ {0} . (Note que ∅ ⊂ {0}) Em outros termos, não se pode
produzir algo a partir de nada.
Possibilidade de inação, 0 ∈ Y.
Note que a validade dessa hipótese depende fundamentalmente do momento
do tempo a que nos referimos. Quando pensamos em uma firma (uma tecnologia)
que está decidindo se deve se organizar para passar a produzir, a hipótese é
bastante razoável. Mas se algumas decisões de produção já foram tomadas ou
se insumos já foram contratados, talvez a hipótese não seja tão boa. Devemos
pensar, então, em custos fixos e afundados. Podemos pensar em um conjunto de
produção restrito.
Irreversibilidade y ∈ Y ⇒ − y ∈ / Y. Um bom exemplo de tecnologia que exibe
irreversibilidade é aquela que inclui o tempo de disponibilidade em sua descrição,
já que os insumos devem ser usados antes de os produtos existirem.
Retornos de Escala:
Não-crescentes y ∈ Y ⇒ αy ∈ Y ∀α ∈ [0, 1] (a tecnologia é divisı́vel)
Não-decrescentes y ∈ Y ⇒ αy ∈ Y ∀α ≥ 1. (a tecnologia é replicável)
Constantes: é uma tecnologia replicável e divisı́vel.
Aditividade (ou livre entrada): y ∈ Y, y0 ∈ Y ⇒ y + y0 ∈ Y. A idéia aqui
é de que se dois planos são factı́veis, então é possı́vel instalar duas plantas
que não interfiram uma na outra e executar os planos de produção y e y0
independentemente. Também associado à idéia de livre entrada. Neste caso, o
que se procura expressar é a idéia de que se uma firma já instalada produz y e
uma nova firma que produz y0 entra no mercado, a produção total será y + y0 .
O conjunto de produção agregado precisa satisfazer aditividade para que a livre
entrada seja possı́vel.
Convexidade: y ∈ Y, y0 ∈ Y ⇒ λy + (1 − λ) y0 ∈ Y ∀λ ∈ [0, 1]. Note que se a
inação for possı́vel, convexidade implica em retornos não crescentes de escala.
Basta tomar y0 = 0.
O exemplo a seguir aponta uma das razões por que a hipótese de convexidade
é tida como uma hipótese razoável na descrição das tecnologias.
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 114
Exemplo: Considere dois terrenos (ou dois paı́ses) A e B. Suponha que exis-
tam dois bens X (trigo) e Y (arroz). A capacidade produtiva de cada terreno é
representada abaixo:
X Y
terreno A 500 800
terreno B 1000 1000
custo de X custo de Y
terreno A 800/500 = 1, 6Y 500/800 = 0, 625X
terreno B 1000/1000 = 1Y 1000/1000 = 1X
produção o será. Naturalmente isto não quer dizer que essa duplicação possa efe-
tivamente ser possı́vel. Alguns insumos (por exemplo, a capacidade empresarial)
podem existir em quantidade limitada, o que leva algumas pessoas a associa-
rem retornos decrescentes à escassez relativa de algum insumo que deixamos de
explicitar.
Uma maneira de representar o conjunto das alocações factı́veis - que nos
será útil por permitir o uso do cálculo - é obtida por meio de uma função de
transformação F (·) com a propriedade
Y ≡ {y ∈ Rm ; F (y) ≤ 0} (8.1)
o que implica em que G (y) ≤ 1 (onde G (·) ≡ exp (F (·))) represente a mesma
tecnologia que F (y) ≤ 0.2
Supondo F (·) diferenciável, podemos definir a Taxa Marginal de Transformação
do bem l pelo bem k como sendo igual a
∂yl F (y)
MRTlk (y) ≡ ,
∂yk F (y)
que mede em quanto a produção do bem k pode aumentar (ou, reduzir o uso do
insumo k) se for reduzida em uma unidade a produção do bem l (ou, aumentada
a quantidae do insumo l). Note que a MRT é a própria essência do conceito de
custo, como vimos de forma simplificada no exemplo anterior.
2
Como veremos isto não é verdade para a função de produção.
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 116
max py
y∈Y
1) Homogênea de grau 1 em p
Demonstração: Trivial.
2) Quando Y é convexo, Y = {y ∈ Rn ; py ≤ π (p) ∀p 0} .
Demonstração: Y é um sub-conjunto não-vazio e fechado de Rn , para qual-
quer vetor p ∈ Rn definimos a função suporte de −Y, como sendo µ−Y (p) ≡
inf {p (−y) ; y ∈ Y} . Para todo p, o conjunto {y ∈ Rn ; p (−y) ≥ µ−Y (p)} é um
semi-espaço que contém −Y. Além disso, se y ∈ / −Y então −py < µ−Y (p) para
n
algum p ∈ R . Assim a interseção dos semi-espaços gerados por todos os valores
possı́veis de p é exatamente Y, i.e., Y = {y ∈ Rn ; p (−y) ≥ µ−Y (p) para todo p} .
Basta, então notar que π (p) é simplesmente −µ−Y (p) .
3) Convexa em p
Demonstração: Tome três vetores de preços p0 , p1 e pt = tp0 + (1 − t) p1 para
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 117
p0 y0 ≥ p0 yt
p1 y1 ≥ p1 yt
Donde,
t p0 y0 + (1 − t) p1 y1 ≥ tp0 + (1 − y) p1 yt
| {z } |{z} | {z }
π(p0 ) π(p1 ) π(tp0 +(1−y)p1 )
Logo, convexa em p.
4) Lema de Hotelling: Se o conjunto y (p) é unitário, π (p) é diferenciável
e∇π (p) = y (p) .
Demonstração: O teorema da dualidade diz que se −Y é um conjunto convexo
e fechado, e µ−Y (p) é sua função suporte, então existe um único vetor −y ∈ −Y
tal que p (−y) = µ−Y (p) se e só se µ−Y (p) é diferenciável em p e ∇µ−Y (p) =
−y. Definindo que π (p) = −µ−Y (p) como na demonstração da propriedade 2,
temos o resultado.
8.3 Agregação
Consideremos o caso de J firmas especificadas pelos conjuntos de produção
Y1 , ..., YJ . Cada um desses conjuntos é não-vazio, fechado e satisfaz \free dis-
posal\. Defina as funções lucro e as correspondências de \oferta\ individuais
como πj (p) e yj (p) , onde, por oferta denotamos a oferta efetiva e a demanda
por insumo. A função oferta agregada é:
P
P
y (p) ≡ j yj (p) ≡ y ∈ RL ; y = j yj para algum yj ∈ yj (p)
Suponha que yj (p) são funções diferenciáveis aos preços p, então ∂p yj (p) é po-
sitiva semi-definida e simétrica. Como essas duas propriedades são preservadas
P
pela adição temos que ∂p y (p) = j ∂p yj (p) é também positiva semi-definida e
simétrica.
Isso implica, de um lado que a lei da oferta funciona também no agregado:
se um preço de um bem aumenta sua oferta também aumenta e se um preço de
um insumo aumenta sua demanda cai.
Por outro lado a simetria sugere a existência de um produtor representativo.
Para mostrar que é exatamente este o caso, defina
P
P
Y ≡ j Yj ≡ y ∈ RL ; y = j yj para algum yj ∈ Yj , j = 1, ..., J
8.4 Eficiência
Uma das questões mais relevantes em análise de bem estar é a determinar
se uma alocação é eficiente. O conceito de eficiência usado pelos economistas é
o conceito de eficiência de Pareto. No entanto, como estamos enfatizando aqui
somente o lado da produção, utilizaremos um conceito que não faz referência
direta ao bem-estar dos indivı́duos. A relação entre este conceito e a eficiência
de Pareto, ficará mais clara com o estudo de equilı́brio geral.
Definição: Dizemos que um vetor y ∈ Y é eficiente quando não existe nenhum
^ ∈ Y tal que y
outro y ^ > y.
Teorema: Se y ∈ Y é um vetor que maximiza lucros para algum vetor de preços
p 0, então y é eficiente.
Demonstração: Suponha que não, i.e., tome y ∈ y∗ (p) e suponha que existe
^ ∈ Y tal que y
y ^ > y. Como p 0, temos que p^ y − y) > 0, o que
y − py = p (^
∗
contradiz y ∈ y (p) .
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 120
Podemos, porém, fazer a pergunta inversa. Será que toda alocação eficiente
é um vetor de maximização de lucros? A resposta é: nem sempre, mas sob
algumas hipóteses sobre a tecnologia...
Teorema: Suponha que Y é convexo. Então, para todo y eficiente, y é a escolha
maximizadora de lucro para algum vetor de preços p > 0.
Demonstração (Pelo teorema do hiperplano separador): Tome y eficiente, e
defina Py ≡ y ^ ∈ RL ; y
^ y . Como y é eficiente Y ∩ Py = ∅. i) Pelo teorema
do hiperplano separador ∃ p ∈ RL , p 6= 0 tal que p^ y ≥ pyb∀y
b ^ ∈ Py e y
b ∈ Y; Em
b
particular, isto implica em p (^y − y) > 0, ∀^ y y, donde p > 0 (caso constrário
poderı́amos pegar a coordenada negativa de p, por exemplo pl < 0, e encontrar
um vetor y ^ y cuja entrada y ^ l fosse suficientemente maior que yl para violar
a desigualdade p (^ y − y) > 0)
ii) Considere agora y ∈ Y. Neste caso, p^ y ≥ py ∀ y ^ ∈ Py . Como y^ pode ser
escolhido arbitrariamente próximo de y, concluimos que py ≥ py ∀ y ∈ Y.
Note que este resultado também se aplica para planos de produção fracamente
eficientes, i.e., y tais que não exista nenhum y ^ ∈ Y tal que y
^ y (como vimos,
eficiência é definida pela inexistência de plano y
^ > y). Note também que não é
possı́vel garantir que p 0.
Q (y) ≡ {x ≥ 0 | f (x) = y}
2) f é (fortemente) separável se
∂xi f (x)
∂xk = 0, para todo i ∈ Ns , j ∈ Nt e k ∈
/ Ns ∪ Nt .
∂xj f (x)
Y
n
y= xαi i
i=1
Note que vale para todo x1 0 e x2 0. Mas, por continuidade, vale para todo
x1 , x2 ≥ 0. Considere, então dois vetores x1 , x2 ≥ 0. Pela homogeneidade linear
temos que
f (tx1 ) = tf (x1 )
=⇒ f (tx1 + (1 − t) x2 ) ≥ tf (x1 ) + (1 − t) f (x2 )
f ((1 − t) x2 ) = (1 − t) f (x2 ) por (8.4)
xi MPi (x)
µi ≡ ∂xi f (x) ≡
f (x) APi (x)
temos que
c (w, y) = wx (w, y) ,
e x (w, y) é chamada de demanda condicional por fatores (insumos). O termo
demanda condicional aqui tem um significado um pouco diferente do utilizado
na seção 6.4. Como veremos mais adiante, há importantes semelhanças, também.
Se f (·) é estritamente crescente, logo teremos que f (x) = y. As condições de
primeira ordem do problema são, portanto,
Supondo, portanto, solução interior e tendo por hipótese que ∂f (x∗ ) 0, por
Lagrange, temos que
∗ ∂xi f (x∗ ) wi
TMSTij (x ) ≡ ∗
=
∂xj f (x ) wj
max
n
f (x) sujeito a wx ≤ c
x∈R+
Logo
∂i xi (w, y) ≤ 0
4
A analogia com a teoria do consumidor aqui também se perde, ainda que possamos invocar
a propriedade de que c (p, u) = 0 quando u = min {u; u ∈ U} .
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 127
c (w, w, y) = wx (w, w, y; ^
x) + w^
x < wx (w, w, y; x (y)) + wx (y) .
MC ≡ ∂y c (y, w) .
AC ≡ c (y, w) /y.
A primeira pergunta que devemos fazer é, naturalmente, se uma solução para
este problema existe. E a resposta é: nem sempre!
Existência: O lucro máximo nem sempre existe. Por exemplo, considere uma
tecnologia com retornos crescentes de escala; i.e., f (tx) > tf (x) , para todo t > 1,
e admitamos a possibilidade de inação, de tal forma que o lucro é sempre não-
negativo. Nesse caso, seja x0 a solução para o problema de maximização de
lucros. Como f (tx0 ) > tf (x0 ) temos que
pf (tx0 ) − wtx0 > ptf (x0 ) − wtx0 = t [pf (x0 ) − wx0 ] ≥ pf (x0 ) − wx0 ,
1) Contı́nua
Demonstração: Teorema do Máximo de Berge.
2) Crescente em p.
Demonstração: Ver lema de Hotelling.
3) Decrescente em w.
Demonstração: Ver lema de Hotelling.
4) Homogênea de grau 1 em (p, w)
Demonstração: Trivial.
5) Convexa em (p, w)
Demonstração: Tome três vetores p0 , w0 , p1 , w1 e (pt , wt ) = t p0 , w0 +
(1 − t) p1 , w1 para t ∈ (0, 1) . E sejam y0 , −x0 , y1 , −x1 e (yt , −xt ) as res-
pectivas escolhas ótimas. Note que f xi = yi (i = 0, 1, t.) Neste caso, temos
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 131
que
y0 yt
0 0 0 0
p ,w ≥ p ,w
−x0 −xt
1 t
y y
p1 , w 1 1
≥ p1 , w 1
−x −xt
Donde,
y0 y1 yt
0 0 1 1 t t
t p ,w + (1 − t) p , w ≥ p ,w
−x0 −x1 −xt
| {z } | {z } | {z }
π(p0 ,w0 ) π(p1 ,w1 ) π(pt ,wt )
y0 y1
0 0 0 0
p ,w ≥ p ,w
−x0 −x1
1 0
y y
p1 , w1 ≥ p 1
, w 1
−x1 −x0
Donde,
y0 y1 y0 y1
0 0 1 1
p ,w − ≥ p ,w −
−x0 −x1 −x0 −x1
⇓
y0
1
0 0
1 1
y
p ,w − p ,w 0
− ≥ 0.
−x −x1
O que mostra, no caso discreto, como preços e demanda de insumos se movem
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 133
max py − c (w, y) .
y∈R+
e que as receitas são iguais a py. Portanto, o excedente do produtor, nada mais
é do que Zy
ep (y, w) ≡ (p − ∂υ c (υ, w)) dυ.
0
i 2
∂ y x
^
^i > ∂i x
∂i x ^i − 2 = ∂i xi ,
∂yy c (w, y)
lucro’, já que cada indivı́duo pode atribuir um valor diferente a lucros que
ocorram em estados da natureza distintos. Naturalmente, se os mercados forem
completos, mais uma vez o objetivo de maximização de lucro esperado volta a
ser unanimidade.
iii) Em muitos casos os administradores não são os donos das firmas. Neste
caso, pode haver conflito de interesses entre os objetivos dos administradores
e os objetivos dos donos das firmas. Parte imporante dos estudos de finanças
corporativas estão relacionados aos contratos que permitem alinhar os interesses
de administradores e acionistas (o que por si só já constitui evidência de que
esses interesses não estão ’naturalmente alinhados’).
ln y = α + γ ln p + εy1 ln w1 + εy2 ln w2
ln x1 = α + γ1 ln p + ε11 ln w1 + ε12 ln w2
ln x2 = α + γ2 ln p + ε21 ln w1 + ε22 ln w2
zi = fi xi , ti
(8.11)
tempo não é homogêneo ao longo do dia. Por exemplo, horas durante o dia
podem ter um valor diferente das horas durante a noite).
A restrição dos bens é dada por
p · x = v + tw w (8.12)
P
onde x = n1 xi , v é a renda não proveniente do trabalho, tw é o vetor de tempo
utilizado no trabalho e w é o vetor de salários para cada unidade dos diferentes
tipos de tempo
A restrição de horas é dada por
tc = t − tw (8.13)
P
onde tc = n1 ti é o vetor de horas gastas em consumo e t é o vetor de números
máximos de horas disponı́veis de cada tipo.
As restrições (8.11), (8.12) e (8.13) podem ser combinadas em uma só:
normais. Por outro lado, o aumento puro da renda (por exemplo, um aumento
em v) deve aumentar a demanda por filhos, se crianças são bens normais.
Exemplo: Qualidade e Quantidade. Na teoria da produção doméstica, mudanças
na qualidade dos bens alteram a tecnologia (8.14), mas não a função utilidade
(8.10). Continuando com o exemplo da demanda por filhos, suponha agora que
o bem final z1 representa a \satisfação derivada dos filhos", que por sua vez
depende do quantidade de filhos n e da \qualidade" de cada um q. Se n e q são
substitutos próximos na produção de z1 , e se n é intensivo em tempo, enquanto q
é intensivo em dinheiro (por exemplo, maior qualidade implica colocar os filhos
em escolas mais caras), um aumento do salário deve aumentar q e reduzir n,
pois o tempo estará mais caro enquanto o dinheiro estará mais barato. Uma
melhora na educação dos pais também pode reduzir n e aumentar q, uma vez
que q tende a ser mais intensivo em educação do que n.
A teoria da produção doméstica nos fornece uma maneira de pensar sobre
escolhas envolvendo bens que não possuem preços explı́citos (de mercado). Ela
também nos fornece uma forma de compatibilizar a hipótese de estabilidade
nas preferências com o fato de que os indivı́duos mudam suas escolhas com
mudanças no ambiente e com o tempo sem que preços ou renda tenham sido
alterados.
De fato, considere um indivı́duo que se muda de Sobral (no interior do Ceará)
para Novosibirsk (na Sibéria). Suponhamos que por alguma razão os preços
relativos dos vários bens sejam os mesmos nos dois lugares e que sua renda
também seja. O indivı́duo que antes demandava condicionadores de ar passa a
demandar aquecedor. Como o vetor de preços e a renda são os mesmos, como
justificar essa ’mudança de preferências’ do indivı́duo. Na verdade, o indivı́duo
demanda o bem zi , ’qualidade do ambiente’, que envolve uma temperatura do
ambiente amena. As preferências por esse bem zi permanecem o mesmo, mas a
tecnologia mudou fiSobral (x, t) 6= fiNovosibirsk (x, t) .
Este é, naturalmente, um exemplo óbvio, para o qual poucas pessoas teriam
dificuldade em formalizar uma alternativa. No entanto, há outras aplicações
interessantes que envolvem mudanças das escolhas ao longo do ciclo de vida
(associadas a mudanças em atributos fı́sicos7 , lógica de acumulação de capital
7
A idade reprodutiva da mulher, por exemplo, leva a mudanças na demanda por ’filhos’ ao
longo da vida sem correspondente mudança nos vetores de preços ou renda associados.
CAPÍTULO 8. TEORIA DA PRODUÇÃO 143
humano, etc.)
Note, porém, para que essa teoria tenha algum valor empı́rico, é sempre
preciso impor mais estrutura (formas funcionais, hiṕoteses sobre as elasticidades,
etc.) ao problema, como deve ter ficado claro pelos exemplos acima.
8
Lewbel (1991) define o rank de um sistema de demandas como sendo a dimensão do espaço
varrido por suas curvas de Engel. Neste caso um sistema de demanda integrável tem rank m se
e só se a utilidade indireta associada puder se escrita V (p, y) = υ (θ1 (p) , .., θm (p) , y) .
Parte III
Equilı́brio
144
Capı́tulo 9
Equilbrio Parcial
145
CAPÍTULO 9. EQUILBRIO PARCIAL 146
9.1.2 Oferta
A funo oferta de mercado uma funo que mapeia para cada vetor de preos
de insumos e preo dos produtos, um vetor de demanda de insumos e de oferta
do produto por todas as firma da economia. Concentraremo-nos na representao
grfica da funo oferta do produto. Os preos dos insumos sero parmetros deter-
minantes das curvas de oferta, cujas mudanas geraro mudanas nas curvas de
oferta.
Assim focando na curva de oferta de um bem entendida como a funo que
associa a cada preo do produto a quantidade tima de produtos a ser ofertada
pela totalidade das firmas, temos que a oferta de mercado simplesmente a soma
CAPÍTULO 9. EQUILBRIO PARCIAL 147
das ofertas das firmas. No entanto, cabe distinguir a oferta de longo e de curto
prazos.
Curto Prazo
Longo Prazo
Demanda
indivduo h pelo bem j, onde pj o preo do bem j, p−j o vetor de todos os preos
dos outros bens e yh a renda do consumidor h.
A demanda de mercado do bem x , ento
X h
xdj pj , p−j , y ≡ x p, p, yh ,
h∈I
em que y = y1 , ..., yI .
Ns sabemos que as funes de demandas individuais possuem as seguintes
propriedades: homogeneidade de grau zero, equilbrio oramentrio (adding up) e
simetria e negatividade semi-definida da matriz de Slutsky. Quais so as propri-
edades da demanda de mercado? Infelizmente, sabemos, que a conseqncia do
resultado de Sonenschein-Mantel-Debreu de que a agregao destri toda a estru-
tura da demanda, deixando somente a homogeneidade de grau zero em (p, p, y) ,
onde y = y1 , ..., yI .
No caso quase-linear, fcil de ver que a demanda negativamente inclinada
enquanto a oferta positivamente inclinada. Com um pouco mais de hipteses
(por exemplo, separabilidade) podemos ver que a demanda depende somente do
preo do bem. Mais geralmente, porm, no h muito que possamos dizer.
Preferncias quase-lineares
Podemos tornar precisa a anlise de equilbio parcial se adotarmos as seguintes
hipteses:
Preferncias Para todo h, uh mh , xh ≡ mh + φh xh .
Tecnologia Firmas usam m como insumo para produo de x de tal forma que a
tecnologia da firma f
Y f ≡ {(−m, x) ; x ≥ 0 m ≥ cf (x)}
alm de
xf (p) ≡ arg max {px − cf (x)}
x
CAPÍTULO 9. EQUILBRIO PARCIAL 149
onde supusemos que a dotao inicial dos indivduos composta somente de numer-
rio, xh = mh , 0 ’.
O problema do consumidor tem por condio de primeira ordem
φ0h xh = p,
como resduo.
Ou seja, podemos olhar somente para o mercado do bem x enquanto deixamos
o numerrio subjacente.
Neste caso, um equilbrio do mercado do bem x um preo
∗ h ∗
H f ∗ n
p e uma alocao x (p ) h=1 , x (p ) f=1 com
P P
xh (p∗ ) = xf (p∗ ) .
h f
9.1.3 Equilbrio
Doravante, usaremos as simplificaes do modelo quase-linear acima para ca-
racterizao de equilbrio e eficincia.
2 Um
Definição equilbrio de mercado da indstria produtora de x no longo prazo
um trio p x, bJ tal que
b, b
X
bJ
d
x (b
p) = xj (b
p) = b
x
j=1
j
p) = 0, ∀j = 1, ..., bJ
π (b
9.2 Eficincia
Como procuramos deixar claro desde o incio, o nico conceito de eficincia
amplamente aceito pela profisso o conceito de eficincia de Pareto. Uma alocao
dita eficiente de Pareto sempre que for impossvel melhorar um indivduo sem
piorar outrem.
Preferncias quase-lineares so tambm muito teis para a anlise de bem-estar.
Primeiro, como j vimos, para cada consumidor, a variao do excedente do con-
sumidor passa a ser uma medida exata de mudana de bem-estar. Em segundo
lugar, no precisamos especificar uma funo de bem-estar social (ou pesos de
Pareto) especfica.
Uma alocao eficiente sempre resolver
P P
φh xh − cf xf
max
h f
P h P f
s.t. x ≤ x.
h f
φ0h xh = λ ∀h
c0f xf = λ ∀f
P h P f
x = x
h f
cf uma funo convexa. Ento temos uma curva de oferta contnua e positivamente
inclinada e uma curva de demanda contnua e negativamente inclinada.
O equilbrio ocorre em um ponto onde os indivduos maximizam utilidade,
φ0h xh = p ∀h
+ {p (x) x − CV (x)}
Zx
= p (x) dx − CV (x)
0
CAPÍTULO 9. EQUILBRIO PARCIAL 152
Assim, Zx
CS + PS = [p (x) − c0 (x)] dx.
0
∂R (p) xd (p) p
= + xd (p)
∂p ∂p
= xd (p) [1 − ε]
Ou seja,
∂R (p)
<0
∂p
CAPÍTULO 9. EQUILBRIO PARCIAL 153
p = pd (x)
R∗ (x) ≡ pd (x) x
9.3 Monoplio
O que acontece com uma indstria em que somente uma firma opera e em que
a entrada de outras firmas seja proibida? Neste caso, a hiptese de que a firma
tomadora de preos carece de sentido. A firma est consciente de que ao expandir
a quantidade ofertada do bem, o preo vai variar.
A primeira coisa importante a perceber, que, neste caso, a curva de oferta no
est definida. Lembremos. Curva de oferta uma funo que associa a cada preo a
oferta tima de produto da firma. O pressuposto utilizado na definio de tal curva
que a firma, ao fazer a sua escolha, no afeta preo. Ou seja, preo a varivel exgena
do problema da firma. No caso do monoplio, isto no mais verdade, a escolha da
firma afeta o preo.
CAPÍTULO 9. EQUILBRIO PARCIAL 154
1
Isto em contraste com o caso do oligoplio, em que a escolha de preos (concorrncia la
Bertrand) ou quantidades (concorrncia la Cournot) na definio do espao de estratgias altera a
natureza do equilbrio.
Capı́tulo 10
Equilbrio Geral
155
CAPÍTULO 10. EQUILBRIO GERAL 156
1. Um conjunto de consumo Xh ;
4. Um vetor de participaes nos lucros das firmas θh ≡ (θh1 , θh2 , ..., θhm ). Pela
P
definio de participao acionria que usamos, para todo f, h θhf = 1.
^ , {^ h=1 , {^
xh }H yf }m
uma lista p f=1 um equilbrio competitivo se
xh ∈ Xh ∀h.
1. ^
^ f ∈ Yf , ∀f;
2. y
P h
P h
PP h
3. i p
^ i x
^ i ≤ i p
^ i x i + i f θf p ^ fi , ∀h;
^iy
max uh (x)
x
Onde π (p) tem por entradas os lucros das firmas, πf (p), que, por sua vez so
dados por:
2) Problema da Firma
max py.
y∈Yf
Portanto,
p [X (p) − X − Y (p)] = pZ (p) = 0.
P
Ou seja, ni=1 pi Zi (p) = 0. Note que o vetor de preos escolhido um vetor arbi-
trrio. Como conseqncia, s precisamos considerar o equilbrio em n − 1 mercados,
j que
Pn−1
i=1 pi Zi (p) = 0 =⇒ pn Zn (p) = 0
=⇒ Zn (p) = 0.
Em palavras,
10.3 Existncia
A formulao matemtica do modelo de equilbrio geral data de 1874 quando
Leon Walras publicou seu ’Les Elments d’conomie politique pure’. No entanto,
foram necessrios mais 80 anos at que a prova formal de existncia fosse final-
mente alcanada com [?] e [?]. A demonstrao de existncia faz uso do Teorema
de Kakutani de 1941.1
Definindo a economia de tal forma que: os conjuntos de consumo dos agen-
tes, os conjuntos de produo so fechados e convexos, as relaes de preferncias so
racionais convexas e contnuas, existe um nfimo em cada coordenada do con-
junto de consumo, os agentes so no-saciveis e a tecnologia irreversvel (y ∈ Y e
−y ∈ Y =⇒ y = 0) e permite free-disposal possvel aplicar o teorema de Kakutani
s demandas excedentes e provar a existncia de equilbrio.
Vrias destas hipteses podem ser relaxadas: irreversibilidade da produo, free
disposal e mesmo racionalidade das preferncias, no caso de economias com um
nmero finito de agentes. Convexidade das preferncias tambm passvel de ser
relaxada no caso de economias com contnuo de agentes, mas no do conjunto
de consumo agregado. Ns, porm, vamos tomar o caminho inverso e impor mais
estrutura nas preferncias, dotaes e tecnologia de forma a tornar os argumentos
mais simples.
Suponha que o vetor de demanda excedente Z(p) tenha as sequintes propri-
edades:
1. 0 ∈ Yf
2. Yf ∩ Rn+ = {0}
3. Yf fechado e limitado
factvel {~ xh }H
h=1 , {y
~ f }nf=1 tal que ~ xh para todo h com pelo menos um h tal
xh %h ^
que ~xh h ^ xh .
Note que ~ xh %h ^ xh implica em p xh ≥ p
^~ xh j que ^
^^ xh foi escolhida. De fato, se
as preferncias forem no-saciadas, ento p xh > p
^~ xh para aquele indivduo tal que
^^
xh h ^
~ xh .
Somando as desigualdades temos que
X X
^~
p xh > pxh
^^ (10.1)
h h
CAPÍTULO 10. EQUILBRIO GERAL 163
o que implica em p
^y~f > p
^y^f e y
~ f ∈ Yf para pelo menos um f. O que viola
a hiptese de maximizao de lucro subjacente ao conceito de equilbrio. Uma
contradio.
10.5 Exemplos
No que se segue, vamos mostrar alguns exemplos de economias simples em
que os resultados aparecem de forma mais evidente.
A lei de Walras diz que a demanda excedente agregada tem valor 0 para qualquer
vetor de preos positivos. Decorre do fato de que, quando as preferncias so
estritamente monotnicas, a restrio oramentria de todos os agentes pode ser
escrita como uma igualdade.
Neste caso, para todos os agentes,
X
pzj (p) = pi xji (p,pxj ) − xji = 0.
i=1,2
Logo,
X X
pi xji (p,pxj ) − xji = 0
j=1,2 i=1,2
CAPÍTULO 10. EQUILBRIO GERAL 166
Donde,
pz (p) = 0
Uma conseqncia importante da Lei de Walras que
ou seja, se um mercado est com excesso de demanda, zi (p) > 0, ou outro est
com excesso de oferta z−i (p) < 0.
A questo inicial a ser respondida se existe equilbrio nesta economia.
Teoremas de Bem-Estar
xi < x∗ i (i = 1, 2),
x ≤ x, ^
^
xi x∗i para um dos dois.
com ^
CAPÍTULO 10. EQUILBRIO GERAL 167
L = u1 x1 + µ u2 x2 − u
+ γ x1 + x2 − x1 + x2 ,
∂1 u1 x1 = γ1 , ∂2 u1 x1 = γ2
µ∂1 u2 x2 = γ1 , µ∂2 u2 x2 = γ2
u2 x2 = u x1 + x2 ≤ x1 + x2
Logo,
∂1 u1 x1 γ1 ∂1 u2 x2 γ1
1
= , 2
=
∂2 u1 (x ) γ2 ∂2 u2 (x ) γ2
Donde,
∂1 u1 x1 ∂1 u2 x2
=
∂2 u1 (x1 ) ∂2 u2 (x2 )
CAPÍTULO 10. EQUILBRIO GERAL 169
Equilbrio Competitivo
max ui xi s.a. p xi − xi ≤ 0
xi
∂1 ui xi = λi p1 , ∂2 ui xi = λi p2 ,
alm de p xi − xi = 0, o que implica em
∂1 ui xi p1
= i = 1, 2.
∂2 ui (xi ) p2
Donde,
∂1 u1 x1 ∂1 u2 x2
= ,
∂2 u1 (x1 ) ∂2 u2 (x2 )
como no problema de Pareto.
Obviamente, para que isso seja um equilbrio competitivo necessrio que p seja
tal que,
x (p) − x = 0,
isto
x1 + x2 = x1 + x2 .
1 1
i
= λi , i = λi p
x1 x2
Para o agente 1 :
1 1
+ =2
λ1 λ1
Para o agente 2 :
1 1
2
+ 2 = 2p
λ λ
Logo, λ1 = 1, λ2 = 1/p.
Assim,
x11 = 1, x12 = 1/p x21 = 1/p x22 = 1
⇓ e ⇓
z11 = −1, z12 = 1/p z21 = 1/p z22 = −1
Em equilbrio, z = 0, ou seja,
maxx u (x)
s.a. p · x ≤ px + π (p)
CAPÍTULO 10. EQUILBRIO GERAL 171
Incerteza
172
Capı́tulo 11
11.1 Introdução
Muitas das situações em que as pessoas fazem escolhas envolvem algum tipo
de incerteza. Em vários casos, é razoável ignorar esse problema e trabalhar
sob a hipótese de certeza. Em outros casos, porém, a incerteza está na raiz
do problema. Exemplos: seguros, investimentos financeiros, loterias e jogos de
azar. Agentes tomam decisões que afetam as conseqûencias econômicas de sua
incerteza. Queremos então uma teoria que nos permita lidar com essas questões.
Ou seja, queremos de um lado uma forma de representar escolhas nesse ambi-
ente (i.e., determinar o que seja um conjunto de consumo, restrições orçamentárias,
preferências ou adotar uma outra abordagem) e determinar a estrutura que esta
teoria confere ao problema de escolha individual. É necessária uma teoria do
consumidor \especial" para tratamento da incerteza? Não. Uma alternativa
para que seja possı́vel a utilização do instrumental desenvolvido até agora é a
adoção do conceito de estado da natureza. Esta idéia, presente nas formulações
de Savage (1954) e Anscombe e Auman (1963), foi utilizada, a partir da genial
percepção de Debreu (1959), para extender os resultados de equilı́brio geral para
um ambiente com incerteza.
Informalmente, podemos entender o conceito a partir do seguinte exemplo. A
incerteza em relação ao mundo se resume a apenas dois estados da natureza: s1
(chuva) e s2 (sol), e existe apenas um \bem": guarda-chuva (x = 1 se ele tem um
guarda-chuva, x = 0 se ele não tem um guarda-chuva). Defino, porém, dois bens:
173
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 174
u x1 , x2 , ..., xS , π1 , π2 , ..., πS
(11.1)
u x1 , x2 , π1 , π2 = u (P)
P ≡ x1 , x2 , π1 , π2
P0 ≡ x1 , x2 , π01 , π02
Neste caso:
⇔ (π1 − π01 ) U x1 − U x2 ≥ 0.
11.2 Formalização
No que concerne à formalização, há (basicamente) três alternativas que dife-
rem com relação ao caráter subjetivo ou objetivo das probabilidades (ou crenças)
envolvidas. Em um extremo temos a teoria de von-Neumann e Morgenstern
(1944) que toma as probabilidades como algo objetivo. Em um outro extremo
temos a teoria de Savage (1954), que supõe que as probabilidades (crenças) são
subjetivas. No meio do caminho temos a teoria da Anscombe e Aumann (1963),
que admite que algumas probabilidades, como por exemplo a probabilidade de
sair o número 1 em um lançamento de dados, são objetivas, enquanto algu-
mas são essencialmente subjetivas, como a probabilidade de o Brasil ganhar a
próxima Copa do Mundo.
Na maior parte do que se segue estaremos estudando a formulação de von-
Neumann e Morgenstern (1944), a primeira, cronologicamente, e a de formalização
mais simples.
Definção:Uma loteria composta é uma loteria cujos resultados são também lo-
terias. Por exemplo, considere duas loterias L = (π1 , ..., πS ) e L0 = (π01 , ..., π0S ) ,
podemos então definir a loteria composta Lα = αL + (1 − α) L0 , α ∈ [0, 1] .
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 178
Note que a loteria L00 = (απ1 + (1 − α) π01 , ..., απS + (1 − α) π0S ) associa a cada
resultado a mesma probabilidade que a loteria composta Lα . É natural, então.
associar a loteria composta Lα = αL + (1 − α) L0 a essa nova loteria reduzida L00 .
Suporemos, então que o agente tem uma relação de preferências % sobre $,
caracterizada pelos seguintes axiomas.
Axioma 1: (\consequencialismo" ou \axioma da redução"): Indivı́duos possuem
uma ordenação de preferências definida apenas sobre loterias reduzidas, i.e., %
é definida apenas sobre $.
Axioma 2: (racionalidade): A ordenação de preferências % em $ é racional;
i.e., % é completa e transitiva.
Ou seja, o axioma 2 pode ser decomposto em duas partes:
Axioma 2.a: A ordenação de preferências % em $ é completa, i.e., para duas
loterias quaisquer L e L0 , temos L % L0 , ou L0 % L, ou ambos.
Axioma 2.b: A ordenação de preferências % em $ é transitiva, i.e., para
quaisquer três loterias L, L0 e L00 , se L % L0 e L0 % L00 , então L % L00 .
Axioma 3: (continuidade): Para todo L, L0 , L00 ∈ $, os conjuntos
{α ∈ [0, 1] : αL + (1 − α) L0 % L00 }
{α ∈ [0, 1] : αL + (1 − α) L0 - L00 }
No entanto, quase todas as pessoas que conheço (estou excluindo aquelas que
gostam muito de BBB, já que podemos ver isso como uma patologia grave!) não
pensariam duas vezes em sair de casa, aumentando sua probabilidade de morrer
em um assalto para jantar de graça no Cipriani.
Vimos da teoria do consumidor que um ordenamento completo transitivo
e contı́nuo é representável por uma função utilidade, i.e., existe uma função
U : $ → R tal que L % L0 se e somente se U (L) ≥ U (L0 ) .
O que vai tornar a teoria da escolha sob incerteza especial é o próximo
axioma.
Axioma 4: (independência): Para todo L, L0 , L00 ∈ $ e α ∈ (0, 1) , temos que
Note que não existe paralelo deste axioma na teoria da escolha do consumidor
em ambiente de certeza. De fato, considere o seguinte exemplo. Suponha que
uma pessoa prefira uma cesta com 1 bolo e uma garrafa de vinho a uma cesta
com 3 bolos e nenhuma garrafa de vinho. Se um ’axioma da independência’
também valesse nesse contexto, a mesma pessoa teria que prefirir uma cesta
com 2 bolos e 2 vinhos a uma cesta com 3 bolos e uma garrafa e meia de vinho
simplesmente porque
U (L) = u1 π1 + u2 π2 + ... + uN πN
(axioma 4), então nós podemos encontrar uma função utilidade esperada U : $ →
R que representa . Isto é, existem números un para cada resultado n = 1, ..., N
tais que, para quaisquer loterias L = (π1 , ..., πN ) e L0 = (π01 , ..., π0N ) ,
X
n X
n
L L0 ⇐⇒ πn u n ≥ π0n un
n=1 n=1
α−δ
γ≡ ∈ (0 , 1 ]
1−δ
2
Uma cisão de um conjunto X é uma decomposição do conjunto X, X = A∪B, onde A∩B = ∅
e A e B são conjuntos abertos em X. Um conjunto é dito conexo quando só admite a cisão trivial
X=X∪∅ .
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 182
ou seja,
α−δ α−δ
L+ 1− δL + (1 − δ) L δL + (1 − δ) L
1−δ 1−δ
α − δ + δ − δα 1−α
L+ (1 − δ) L δL + (1 − δ) L
1−δ 1−δ
αL + (1 − α) L δL + (1 − δ) L
βU (L)+(1 − β) U (L0 ) . Já que, por indução, posso generalizar para qualquer lote-
ria composta. Mais especificamente vamos mostrar que se U (L) = α e U (L0 ) = α0
3
De fato, para duas loterias quaisquer L e L0 com L L0 , e α ∈ (0, 1) , temos
L = αL + (1 − α) L αL + (1 − α) L0
αL0 + (1 − α) L0 = L0 ,
e Lβ = βL + (1 − β) L0 então U Lβ = βα + (1 − β) α0 ,
Lβ = βL + (1 − β) L0 ∼ β αL + (1 − α) L + (1 − β) L0
∼ β αL + (1 − α) L + (1 − β) α0 L + (1 − α0 ) L
∼ [βα + (1 − β) α0 ] L + [β (1 − α) + (1 − β) (1 − α0 )] L
| {z }
(1−(βα+(1−β)α0 ))
e PK αk Lk = βU PK αk Lk + γ
U k=1 k=1
PK
= β k=1 αk U (Lk ) + γ
P P
= Kk=1 αk (βU (Lk ) + γ) = Kk=1 αk U
e (Lk ) .
~ (L) = U
~ λL L + (1 − λL ) L
U
~ (L) + (1 − λL ) U
~ L =U
~ L + λL U~ (L) − U
~ L .
= λL U
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 184
O Paradoxo de Allais
x1 = 0; x2 = 50; x3 = 250,
Note que posso ‘implementar’ a loteria da seguinte maneira. Coloco 100 bolas
numeradas de 0 a 99 em uma urna e defino os seguintes prêmios
loteria 0 1 − 10 11 − 99
La 50 50 50
b
L 0 250 50
a
M 50 50 0
Mb 0 250 0
A utilidade esperada sobre loterias com payoffs monetários pode ser escrita
como Z
U (F) ≡ u (y) dF (y) ,
R
então pelo fato de u (·) ser crescente ydF (y) ≥ c (F, u) , donde (i) implica
em (iii). Isto mostra a equivalência entre (i) e (ii). Agora, a desigualdade de
R R
Jensen, garante que u ydF (y) ≥ u (y) dF (y) ∀F se e só se u (·) fofrcôncava.
Portanto (ii) e (iii), (e, conseqüentemente, (i)) são equivalentes. Quanto a (iv),
note que Z
P= ydF (y) − c (F, u) ,
1
0 < u (x) − [u (x + ε) + u (x − ε)] = π (x, ε, u) [u (x + ε) − u (x − ε)] .
2
Como u (x + ε) − u (x − ε) > 0, temos que π (x, ε, u) > 0. Donde, (i) implica em
(v). Finalmente, suponha π (x, ε, u) > 0. Defina y0 = x + ε e y00 = x − ε, então
π (x, ε, u) > 0 implica em
1 1 1 0 1 1 0 1 00
u (y0 ) + u (y00 ) < u (y − ε) + (y00 + ε) =u y + y ,
2 2 2 2 2 2
u00 (y)
rA (y, u) = −
u0 (y)
2. Existe uma função côncava ψ (·) tal que u2 (y) = ψ [u1 (y)] para todo y.
Primeiro note que é sempre verdade que u1 = ψ (u2 ) para alguma ψ (·) cres-
cente simplesmente porque a utilidade é suposta crescente na renda para todos
os agentes. Supondo que ambas são duas vezes diferenciáveis,
e
2
u001 (x) = ψ00 (u2 (x)) [u02 (x)] + ψ0 (u2 (x)) u002 (x)
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 192
o que implica em
u001 (x) ψ00 (u2 (x)) 0 u002 (x)
= u (x) +
u01 (x) ψ0 (u2 (x)) 2 u02 (x)
ou
ψ00 (u2 (x)) 0
rA (x, u1 ) = − u (x) + rA (x, u2 ) ,
ψ0 (u2 (x)) 2
donde, rA (x, u1 ) > rA (x, u2 ) ⇐⇒ ψ00 (u2 (x)) < 0.
εu0 (x + k~
E [~ ε)] = −g0 (k) u0 (x − g (k)) . (11.7)
donde, g0 (0) = 0.
Assim, de (11.8) temos,
2 00
ε u (x) = −g00 (0) u0 (x) ,
E ~
ou
u00 (x) 2
− ε = g00 (0) .
E ~
u0 (x)
Usando uma expansão de Taylor em torno de k = 0, podemos, então, reescrever
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 193
g (k) como
1 u00 (x) 2 2
g (k) ' g (0) + g0 (0) k + g00 (0) k2 = − 0 E ~
ε k, (11.9)
2 u (x)
u00 (x) x
rR (x, u) = −
u0 (x)
εu0 (x (1 + k~
E [x~ ε))] = −xg0 (k) u0 (x (1 − g (k))) . (11.11)
ou
u00 (x) x 2
− ε = g00 (0) .
E ~
u0 (x)
Usando uma expansão de Taylor em torno de k = 0, podemos, então, reescrever
g (k) como
1 u00 (x) x 2 2
g (k) ' g (0) + g0 (0) k + g00 (0) k2 = − 0 E ~
ε k, (11.13)
2 u (x)
u00 (xi ) 2 2
gi (k) ' − E ~
ε k.
u0 (xi )
Neste caso, o prêmio de risco será menor para o indivı́duo mais rico, se e só se
O Paradoxo de Rabin
10 0 10 10 0
u0 (w + 32) < u (w + 11) < × u (w − 10) ,
11 11 11
Ou seja, repetindo o procedimento n vezes, temos
n
0 10
u (w − 10 + n × 21) < u0 (w − 10) .
11
Portanto, 00
u (x)
∂x − 0 ≤0
u (x)
se e somente se
u000 (x)
00
u (x)
− 00 − − 0 ≥0
u (x) u (x)
ou
℘ (x, u) ≥ rA (x, u) ,
onde ℘ (x, u) é o coeficiente de prudência.
Note que se um indivı́duo é avesso ao risco, uma condição necessária para
que a aversão ao risco seja decrescente na renda é que as preferências exibam
prudência ℘ (x, u) > 0, o que implica em u000 (x) > 0. Incidentalmente, cabe
lembrar que u000 (x) > 0 é necessário e suficiente para a existência de poupança
precaucionária.
Definição: Dada uma função utilidade u (.) duas vezes diferenciável, temos que
u0 (x)
τ (x, u) = − 00
u (x)
e−αx
u (x) = − .
α
Então
u0 (x) = e−αx e u00 (x) = −αe−αx ,
donde
u00 (x)
− = α.
u0 (x)
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 199
x1−γ
u (x) = para γ 6= 1 e u (x) = log x para γ = 1.
1−γ
De fato,
−γ −γ−1
0 1−γ x 00 1−γ x
u (x) = ζ η+ e u (x) = −ζ η+ ,
γ γ γ γ
donde, −1
x x
rA (x, u) = η + =⇒ τ (x, u) = η + .
γ γ
É interessante notar que a tolerância ao risco está associada à repartição
ótima de risco entre os agentes, assim, funções do tipo HARA definen regras de
repartição ótima de risco relativamente simples.
Tem-se ainda −1
x
rR (x, u) = η + x
γ
Portanto, é possı́vel ver que se η = 0, rR (x, u) = γ. A classe de funções CRRA
está contida na classe HARA. Similarmente, se fizermos γ −→ ∞, rA (x, u) = 1/η,
e a função converge para uma CARA.
Uma questão que pode estar intrigando aqueles mais curiosos diz respeito ao
fato de termos definido preferências sobre dinheiro. Quer dizer, quando defini-
mos as preferências sobre loterias em um espaço de resultados, de certa forma
mantivemos uma ambigüidade com relação ao objeto último das preferências
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 200
dos agentes. Sugerimos, por exemplo, que os reultados poderiam ser cestas
de consumo, o que nos permitiria fazer uma conexão direta com a teoria do
consumidor dos primeiros capı́tulos.
Agora, mudamos completamente a abordagem e supusemos preferências sobre
resultados monetários na definição de aversão ao risco. Uma questão relevante
é, como podemos definir aversão ao risco quando a loteria é sobre cestas de
consumo?
u λx1 + (1 − λ) x2 ≥ λu x1 + (1 − λ) u x2
i.e., o agente prefere uma cesta intermediária a uma loteria sobre cestas.
Mas qual a relação disso com aversão ao risco sobre renda? Fixe um vetor de
preços p, e para dois nı́veis de renda y1 e y2 defina x1 ≡ x p, y1 e x2 ≡ x p, y2 .
Defina também
maxx u (x)
~ (y) = v (p, y) ≡
u
s.t. p · x ≤ y
Tome, então a cesta xλ = λx1 + (1 − λ) x2 e note que
~ yλ ≥ u xλ ≥ λu x1 + (1 − λ) u x2 = λu
~ y1 + (1 − λ) λu
~ y2 ,
u
onde yλ = λy1 + (1 − λ) y2 .
A primeira desigualdade, resulta do fato de λpx1 + (1 − λ) p · x2 ≤ λy1 +
(1 − λ) y2 , o que implica em xλ ser viável aos preços p e renda yλ . A segunda
desigualdade vem da concavidade de u e a última igualdade vem do fato de x1
e x2 serem escolhas maximizadoras de utilidade.
Em geral, a primeira desigualdade será forte o que indica que a volta pode
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 201
1. Se uma loteria F sempre nos dá retornos maiores do que G, então espera-se
que qualquer indivı́duo que prefere mais a menos irá preferir F a G.
2. Se uma loteria F nos dá o mesmo retorno médio que G, mas G é mais
arriscada que F, então espera-se que qualquer indivı́duo avesso ao risco irá
preferir F a G.
Essas duas idéias estão por trás dos conceitos de dominância estocástica
de primeira e segunda ordens. A teoria da dominância estocástica, de fato, é
capaz de lidar com perguntas desse tipo para diferentes propriedades da função
utilidade. Senão, vejamos. Considere duas variáveis aleatórias ~
x1 e ~
x2 . A teoria
da dominância estocástica procura encontrar condições nas distribuições de x1
e x2 tais que
Eu (~x1 ) ≤ Eu (~
x2 )
a desigualdade seja garantida para qualquer u ∈ Υ, onde Υ é o conjunto de
interesse.
Definição: A distribuição F domina estocasticamente em primeira ordem a
distribuição G se para toda função não-decrescente u : R → R tem-se que
Z Z
u (x) dF (x) ≥ u (x) dG (x)
onde usamos integração por partes e o fato de que G (x) = F (x) = 0 e G (x) =
F (x) = 1.
Mostrar que é necessário: Suponha que para algum x ^, G (^ x) . Defina
x) < F (^
u (x) = 0 para x ≤ x^ e u (x) = 1 para x > x
^. Neste caso,
Z Z Zx Zx
u (x) dF (x) − u (x) dG (x) = dF (x) − dG (x)
x
^ x
^
= [F (x) − G (x)]|xx^ = G (^ x) < 0
x) − F (^
Note que AF (x) = AG (x) = 0 e AF (x) = AG (x) = 1. Além disso, AF (x) ≤ AG (x)
∀x e sendo φ0 (x) > 0 podemos usar o resultado da seção anterior para mostrar
que 3 ⇐⇒ 1.
Demonstração (alternativa): Note que,
Zx Zx
G (x) dx = F (x) dx
x x
e Zx
Rx
G (t) dt ≥ x
F (t) dt ∀x
x
(com desigualdade estrita para algum x) então tem que haver um intervalo [x∗ , x]
em que F (x) > G (x) . Vamos considerar o caso em que as funções só cruzam
uma vez.
média.
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 205
Escrevamos, primeiramente,
Zx
u (x) [dF (x) − dG (x)] = u (x) [F (x) − G (x)] −u (x) [F (x) − G (x)]
x | {z } | {z }
0 0
Zx
− u0 (x) [F (x) − G (x)] dx
x
Rx
Se u é côncava, x
u0 (x) [G (x) − F (x)] dx =
Z x∗ Zx
0
u (x) [G (x) − F (x)] dx + u0 (x) [G (x) − F (x)] dx ≥
x x∗
Z x∗ Zx
0 ∗ 0 ∗
u (x ) [G (x) − F (x)] dx + u (x ) [G (x) − F (x)] dx =
x x∗
Zx
u0 (x∗ ) [G (x) − F (x)] dx = 0.
x
S Z
X S Z
X
us (x) dFs (x) ≥ us (x) dF0s (x) ,
s=1 s=1
11.6.1 Aplicações
Seguros
πK = p
donde,
max πu (W − D + α (1 − π) K) + (1 − π) u (W − απK)
α
que tem por condição de primeira ordem
π (1 − π) u0 (W − D + α (1 − π) K) = (1 − π) πu0 (W − απK)
ou
u0 (W − D + α (1 − π) K) = u0 (W − απK)
o que implica em W − D + α (1 − π) K = W − απK, ou αK = D : seguro total.
Utilidade Indireta
Até agora estivemos supondo que as pessoas têm preferências definidas sobre
loterias monetárias. Já vimos, porém, que o que importa é a cesta de bens que a
pessoa consome em cada estado da natureza xs . Suponha, então, que os preços
dos bens variam de um estado da natureza para outro. I.e., suponha que ps 6= psff.
Neste caso, como devemos considerar as preferências dos agentes sobre loterias
monetárias?
Suponha que o estado s foi realizado. Então, o agente tem renda ys e os
preços são ps . O problema do consumidor será, então:
maxx∈Rn+ u (x)
v (ys , ps ) ≡
s.t. ys ≥ ps · x
X
S
πs v (ys , ps )
s=1
PS
Ou seja, podemos escrevê-la como s=1 πs us (ys ) , onde a dependência com
CAPÍTULO 11. A TEORIA DA ESCOLHA SOB INCERTEZA 209
Hedge
Quando se deve ’hedgear’ um bem cujo preço seja estocástico? ’Hedge emo-
cional’. Seja, D uma variável que assume valor 1 se seu time for campeão e 0
se não for. Suponha que sua utilidade indireta seja representada por v (q, y, D) .
Sob que condições você deve apostar contra o seu time?
Capı́tulo 12
Escolha no Tempo
210
CAPÍTULO 12. ESCOLHA NO TEMPO 211
c) se e só se U (cτ ) ≥ U (^
U (c) ≥ U (^ cτ ) .
ct+τ ) ≥ 0 ⇐⇒ ut (ct+τ ) − ut (^
Precisamos, portanto que ut+τ (ct+τ ) − ut+τ (^ ct+τ ) ≥ 0
2
Note que estamos agora em um espaço de dimensão infinita. Em geral, o que precisamos é
que X seja um espaço topológico conexo e separável (ou, possua uma base contável de abertos).
Se definida em X for racional e contı́nua estamos feitos.
CAPÍTULO 12. ESCOLHA NO TEMPO 212
U (c) = u (c0 ) + βU c1
para qualquer fluxo de consumo c = (c0 , c1 , ...) [notando que c1 = (c1 , c2 , ...)].
Note que a taxa marginal de substituição entre utilidade corrente e futura é β.3
Vamos, portanto, considerar preferências sobre fluxos de consumo do tipo
X∞
U (c) = βt u (ct ) (12.4)
t=0
Note que é possı́vel construir dois fluxos c e c^ tais que, sob a perspectiva de
t o indivı́duo prefira c e sob a perspectiva de t + 1 prefira c^.
P
Notando que ∞ t
t=0 β = (1 − β)
−1
reescrevamos (12.4) na forma
X∞
U (c) = (1 − β) πt u (ct ) ,
t=0
c1−σ
u (c) =
1−σ
e log c para σ = 1.
Note que −σ
βu0 (ct+1 )
ct+1
=β
u0 (ct ) ct
Donde
d log (ct+1 /ct ) 1
− 0 0
=
d log (βu (ct+1 )/u (ct )) σ
CAPÍTULO 12. ESCOLHA NO TEMPO 214
Um ‘pouquinho’ de finanças
215
CAPÍTULO 13. UM ‘POUQUINHO’ DE FINANÇAS 216
exemplo,
3
Γk = 4 .
3
Em cada momento no tempo, t, um ativo k possui um preço de mercado qkt .
O pagamento do ativo é realizado em t + 1. Assim, suponhamos que o ativo
descrito em (13.1) tenha preço em t igual a R$3. Neste caso, uma pessoa compra
esse ativo por R$3 em t e recebe, em t + 1, R$3, se chover, e R$4, se não chover.
Qual o retorno desse ativo?
γk (s)
rk (s) ≡ −1
pk
3
r (1) = −1=0
3
4
r (2) = − 1 = 0.33
3
Para descrever o ’retorno’ de um ativo devemos saber quanto ele paga em
cada estado da natureza. Qual o ’retorno esperado’ do ativo? Depende das
probabilidades de ocorrências dos estados da natureza. Usamos a notação
P
E rk ≡ s πs rk (s)
1 1
E rk = × 0 + × 0.33 = 0.167
2 2
De forma similar, podemos calcular a variância
P 2
Var rk = s πs rk (s) − E rk
e o desvio padrão: p
σk ≡ 2
Var (rk )
CAPÍTULO 13. UM ‘POUQUINHO’ DE FINANÇAS 217
No nosso exemplo,
1 1
Var rk = × (0 − 0.167)2 + × (0.33 − 0.167)2 = 0, 0139
2 2
e o desvio padrão: √
2
σk = 0, 0139 = 0, 1179
Ativo sem risco:
γo (s) = 1 ∀s
Então
1
po =
1+r
onde r é a taxa de juros sem risco.
Uma carteira é uma cesta de ativos. Seja, ak a quantidade do ativo k
que compõe a carteira, podemos descrevê-la convenientemente com o vetor a ≡
a1 , ..., aK .
Quanto paga a carteira a no estado s? Usaremos a notação
Observe que ak pode ser negativo. Nesse caso estamos vendendo o ativo k.
No nosso exemplo, suponhamos uma carteira composta de uma unidade do
ativo k e duas unidade do ativo k0 . Essa carteira paga: 1 × 3 + 2 × 2 = 7, se
chover, e 1 × 4 + 2 × 2 = 8, se não chover.
Qual o preço dessa carteira se o ativo 2 tiver o preço de R$1, 8? Qual o
seu retorno em cada estado da natureza? Qual o seu retorno esperado? E sua
variância?
13.0.1 Não-arbitragem
Chamamos de arbitragem sem risco a possibilidade de comprar e vender
ativos de forma a obter ganho certo.
Considere os dois ativos k e k0 . Suponha que o ativo k0 tenha preço de R$1, 5.
Quanto custa uma carteira composta de 2 unidades desse ativo k0 e −1 unidade
CAPÍTULO 13. UM ‘POUQUINHO’ DE FINANÇAS 218
de k?
qa = −1 × 3 + 2 × 1, 5 = 0
Quanto paga em cada estado da natureza?
a −1 × 3 + 2 × 2 1
Γ = =
−1 × 4 + 2 × 2 0
Essa carteira não custa nada, mas paga R$1 se chover. Todos vão querer comprar
essa carteria o que tenderá a pressionar o preço do ativo k0 e reduzir o preço de
k.
Suporemos que essas situações não são possı́veis no mercado. Ou seja usa-
remos a hipótese de não-arbitragem.1
Alternativamente
X X X
max u y − qk a k + β πs u y (s) + ak γk (s)
k k
s
ou
X u0 (c (s))
πs k
1 + r (s) = 1 ∀k,
s
u0 (c0 )
Para o ativo sem risco
X u0 (c (s)) 1
πs = q o
= (13.4)
s
u0 (c0 ) 1+r
Usando uma notação um pouco mais econômica, podemos reescrever (13.3) como
0
u (c (s)) k
E γ (s) = qk ∀k
u0 (c0 )
ou
u0 (c (s))
0
k u (c (s)) k
E E γ (s) + cov , γ (s) = qk ∀k
u0 (c0 ) u0 (c0 )
ou ainda
u0 (c (s))
0
k
u (c (s)) k
E E 1 + r (s) + cov , r (s) = 1 ∀k. (13.5)
u0 (c0 ) u0 (c0 )
u0 (c0 )
0
u (c (s)) k
E rk (s) − r = −
cov , r (s) ∀k. (13.7)
E [u0 (c (s))] u0 (c0 )
0
u (c (s))
E (1 + r) = 1 ∀k,
u0 (c0 )
CAPÍTULO 13. UM ‘POUQUINHO’ DE FINANÇAS 220
Ou seja,
1 P πs u0 (c (s)) k
P γ (s) = qk ∀k
(1 + r) s s πs u0 (c (s))
Ou seja, se definirmos
πs U0 (y (s))
π^s ≡ P s 0 ,
s π U (y (s))
P s
note que π^s ≥ 0 ∀s e ^ = 1. Ou seja, podemos pensar em π^s como pro-
sπ
babilidades - chamamo-las medida neutra ao risco ou medida martingal-
equivalente.
Então
1 P s k
qk = π^ γ (s) ∀k,
(1 + r) s
ou
P s
^ 1 + rk (s) = (1 + r) ∀k.
sπ
Análise de média-variância
2
com A
> y. Então,
~2
~) − AE y
E [U] = E (y
h i
~ )2 − A E y ~ )2
~ 2 − E (y
~) − AE (y
= E (y
= E (y ~)2 − AVar (y
~) − AE (y ~)
CAPÍTULO 13. UM ‘POUQUINHO’ DE FINANÇAS 221
∂ϕ A
~) > 0
= 1 − E (y
~)
∂E (y 2
e
∂ϕ
= −A < 0
~)
∂Var (y
Assim, podemos definir a escolha do agente exclusivamente em termos da
média e da variância da distribuição. Essa especificação é geralmente represen-
tada com o problema de minimização da variância sujeito à restição de que o
retorno esperado seja não inferior a um certo valor.
Se todos os agentes se comportam dessa maneira, os preços de equilı́brio
devem refletir tal comportameno. É isso o que gera o famoso Capital Asset
Pricing Model - CAPM.
Como essa expressão é válida para todo ativo e considerando que toda transformação
linear de uma variável normalmente distribuı́da é também normalmente dis-
tribuı́da, então
M E [u00 (~
c)]
rM .
E ~ r −r =− 0
var ~ (13.10)
E [u (~c)]
CAPÍTULO 13. UM ‘POUQUINHO’ DE FINANÇAS 222