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Instituto Superior Técnico

Departamento de Matemática
Unidade de Ensino de Álgebra e
Análise

Cálculo Diferencial e Integral I


Cursos de LEBiol, LEBiom
Exame de 1.a Época - 10 de fevereiro de 2022, 13h-15h, VERSÃO B.1
Duração: 2 horas

Apresente e justifique todos os cálculos

(1,0 val.) 1. Considere o seguinte conjunto:

A = x ∈ R : |2x + 1| ≥ x2 , x ≤ 0 .


Indique, se existirem, o supremo, máximo, mínimo e ínfimo do conjunto A \ Q.

|2x + 1| ≥ x2 ⇔ 2x + 1 ≥ x2 ∨ 2x + 1 ≤ −x2 ⇔ x2 − 2x − 1 ≤ 0 ∨ x2 + 2x + 1 ≤ 0
√ √
⇔ 1 − 2 ≤ x ≤ 1 + 2 ∨ x = −1
√ √
uma vez que x2 − 2x − 1 = 0 ⇔ x = 2±2 8 = 1 ± 2 e x2 + 2x + 1 = (x + 1)2 = 0 ⇔
√ √  √
x = −1. Temos A = [1 − 2, 1 + 2] ∪ {−1} ∩ ] − ∞, 0] = [1 − 2, 0] ∪ {−1} logo

A \ Q = [1 − 2, 0] \ Q e

sup A \ Q = 0 ∈
/ A \ Q, não existe max A \ Q

sup A \ Q = 1 − 2 = min A \ Q.

(6,0 val.) 2. Seja f : R → R uma função contínua tal que


(
x2 sin x2 ,

x>0
f (x) = 2
arctan(x ) + b, x ≤ 0

(a) Prove que b = 0.

Por um lado, temos f (0) = b. Por outro lado,


 
2
lim f (x) = lim x2 sin = 0. (por enquadramento)
x→0+ x→0+ x

Mas, como f é contínua em 0 temos que f (0) = limx→0+ f (x) o que equivale a
b = 0.

(b) Calcule f 0 (x) para x 6= 0.


2x sin x2 − 2 cos 2
 
x , x>0
f 0 (x) =
 2x , x<0
1 + x4
(c) Estude f quanto à diferenciabilidade em x = 0.

A função f é diferenciável em x = 0 se e só se as derivadas laterais esquerda e


direita, fe0 (0) e fd0 (0) respectivamente, existirem em R e forem iguais. Por um lado,

f (x) − f (0) arctan(x2 ) RC 2x


fe0 (0) = lim = lim = lim = 0,
x→0− x−0 x→0− x x→0− 1 + x4

onde usámos a regra de Cauchy para levantar a indeterminação 00 . Por outro lado,
 
0 f (x) − f (0) 2
fd (0) = lim = lim x sin = 0.
x→0 + x−0 x→0 + x

Conclusão: f é diferenciável em x = 0 com derivada f 0 (0) = 0.


[Observação importante: A igualdade fd0 (0) = limx→0+ f 0 (x) é falsa neste caso!
Veja porquê e em que casos ela é verdadeira.]

(d) Justifique que para qualquer k ∈]0, π2 [, a equação f (x) = k tem uma solução única
em R− .

Seja h : ] − ∞, 0] → R dada por h(x) = f (x) − k. Como h é contínua e


π
h(0) = f (0) − k = −k < 0, e lim h(x) = lim f (x) − k = − k > 0,
x→−∞ x→−∞ 2
temos do teorema do valor intermédio (ou de Bolzano) que h tem pelo menos um
zero em R− . Por outro lado, para x ∈ R− , h0 (x) = f 0 (x) = 1+x
2x
4 6= 0, como corolário

do teorema de Rolle podemos concluir que h não tem mais do que um zero em R− .
Ou seja, h tem exactamente um zero em R− o que equivale a dizer que a equação
f (x) = k tem exactamente uma solução em R− .
π
[Alternativamente, uma vez que f (0) = 0 e limx→−∞ f (x) = , e f é contínua, do
2
teorema de Bolzano, f assume todos os valores entre 0 e π/2, ou seja a equação
f (x) = k tem solução para qualquer k ∈]0, π2 [. Como f é estritamente decrescente
2x
em R− , já que f 0 (x) = < 0, para x < 0, temos que essa solução é única.]
1 + x4

(e) Seja g : R → R uma função diferenciável tal que g(2) = −1 e g 0 (2) = −4. Calcule
(f ◦ g)0 (2).

2 · (−1)
(f ◦ g)0 (2) = f 0 (g(2))g 0 (2) = f 0 (−1)g 0 (2) = · (−4) = 4.
1 + (−1)4

(1,5 val.) 3. Seja h : R → R uma função duas vezes diferenciável em R. Prove que se alguma recta
tangente ao gráfico de h tem mais de um ponto em comum com o gráfico de h então a
equação h00 (x) = 0 tem pelo menos uma solução. (Sugestão: use o teorema de Lagrange.)
Considere-se dois pontos a, b ∈ R, b 6= a, tais que a recta tangente ao gráfico de h em
(a, h(a)), de equação y = h(a) + h0 (a)(x − a), intersecta o gráfico de h no ponto (b, h(b)),
isto é,
h(b) = h(a) + h0 (a)(b − a).
Então, como h é diferenciável, de acordo com o teorema de Lagrange, existe c entre a e
b tal que
h(b) − h(a)
h0 (c) = = h0 (a).
b−a
Mas como, por sua vez, h0 também é diferenciável e temos h0 (a) = h0 (c), concluímos,
pelo teorema de Rolle aplicado à função h0 , que existe um ponto d entre a e c tal que
h00 (d) = 0.

(2,5 val.) 4. Determine uma primitiva de cada uma das seguintes funções:
p 3e−x
(a) sinh(3x − 1) cosh(3x − 1), (b) .
3 + ex

Z p 1 2 2
(a) sinh(3x − 1) cosh(3x − 1)dx = · (cosh(3x − 1))3/2 = (cosh(3x − 1))3/2 .
3 3 9
dx
(b) Fazendo a substituição t = ex ⇔ x = ln t, t > 0, temos dt = 1t , logo

3e−x 3t−1 1
Z Z Z
3
dx = · dt = dt.
3 + ex 3+t t t2 (3 + t)

Decomposição em fracções simples:


3 A B C
= 2+ + ⇒ 3 = A(3 + t) + Bt(3 + t) + Ct2 ,
t2 (3 + t) t t 3+t

logo t = −3 ⇒ C = 1/3, t = 0 ⇒ A = 1 e do coeficiente de t2 vem 0 = B + C logo


B = −1/3. Assim,

3e−x
Z Z
1 1/3 1/3 1 1 1
dx = − + dt = − − ln |t| + ln |3 + t|
3 + ex t2 t 3+t t 3 3
1 1
= −e−x − x + ln(3 + ex )
3 3

(2,0 val.) 5. Esboce e calcule a área da região plana limitada pelas seguintes curvas:

y = − ln x, y = x2 − 1, y = −1.
Temos
Z 1 Z e Z 1 Z e
2 2
A= (x − 1 − (−1))dx + (− ln x − (−1))dx = x dx + (1 − ln x)dx
0 1 0 1
1 e
x3
 Z
1 1 5
= +e−1− [x ln x]e1 + x· dx = + e − 1 − e + e − 1 = e −
3 0 1 x 3 3

(2,0 val.) 6. Calcule, justificando, o limite


Z x2 √
sin( t)dt
0
lim .
x→0+ e x2 − x 2 − 1


Resulta numa indeterminação 00 . Uma vez que pelo TFC, já que t 7→ sin( t) é contínua,
e pela derivada da composta, temos
Z x2 !0

sin( t)dt = 2x sin |x|
0

temos, usando a Regra de Cauchy,


Z x2 √
sin( t)dt
0 RC 2x sin |x| sin x RC cos x 1
lim = lim = lim x2 = lim 2 = = +∞
x→0+ e x2 − x2 −1 x→0+ x 2
2xe − 2x x→0 e − 1
+ x→0 2xe
+ x 0+

(2,0 val.) 7. (a) Mostre, usando o método de indução matemática, que, para qualquer n ∈ N,
n
X (1 − k)k! 1 (n + 1)!
= − .
2k+1 2 2n+1
k=1

1 2!
Para n = 1: 0 = 2 − 22
⇔ 0 = 0 - proposição verdadeira.
n
X (1 − k)k! 1 (n + 1)!
Hipótese de indução: = − , para dado n.
2k+1 2 2n+1
k=1
n+1
X (1 − k)k! 1 (n + 2)!
A provar: k+1
= − .
2 2 2n+2
k=1
Temos
n+1 n
X (1 − k)k! X (1 − k)k! (1 − n − 1)(n + 1)!
= +
2k+1 2k+1 2n+2
k=1 k=1
1 (n + 1)! n(n + 1)!
H.I.
= − −
2 2n+1 2n+2
1 2(n + 1)! + n(n + 1)! 1 (n + 2)!
= − n+2
= − ,
2 2 2 2n+2
como queríamos mostrar.


X (1 − k)k!
(b) Indique, justificando, se a série é convergente ou divergente.
2k+1
k=1

Usando (a), temos que a sucessão de somas parciais é


n
X (1 − k)k! 1 (n + 1)!
sn = = − −→ −∞,
2k+1 2 2n+1
k=1

já que pela escala de sucessões lim (n+1)!


2n+1
= +∞. Logo a série é divergente.
[Nota: a série é de termos negativos, o critério de d’Alembert não é directamente
aplicável!]

(3,0 val.) 8. (a) Estude a natureza das seguintes séries, indicando se são divergentes, absolutamente
convergentes ou simplesmente convergentes.
∞ +∞
X (−1)n X (n + 1)!
(i) √ (ii)
n2 + 4 nn
n=1 n=1

(i) É uma série alternada. A série dos módulos é



X 1

n=1
n2 +4
P 1 P 1
Vamos comparar com a série n, que é divergente por ser de Dirichlet np , com
p = 1 (série harmónica).

√ 1
n2 +4 n 1
lim 1 = lim √ = lim p = 1 6= 0, ∞
n n2 +4 1 + 4/n2

Do critério de Comparação, conclui-se que as séries têm a mesma natureza, logo a


série dos módulos diverge.
Aplicando o critério de Leibniz, com bn = √n12 +4 → 0 e é decrescente, uma vez

que n2 + 4 é crescente e positiva, logo a série alternada (−1)n bn é convergente.
P
Como a série dos módulos diverge, a convergência é simples.
(ii) É uma STNN. Vamos aplicar o critério de d’Alembert:
n
nn

an+1 (n + 2)! n+2 n
lim = lim · = lim ·
an (n + 1)n+1 (n + 1)! n+1 n+1
!n
1 + 2/n 1 1
= lim · 1 = < 1,
1 + 1/n 1+ n e

logo a série é convergente. Como é STNN, é absolutamente convergente.

(b) Determine para que valores de x ∈ R a seguinte série de potências é simplesmente


convergente, absolutamente convergente e divergente.

X (2x − 1)n

n=0
n2 + 4

Sendo f a função dada pela série acima no seu domínio de convergência, indique
f (n) (1/2), n ∈ N.

Escrevendo y = 2x − 1 temos uma série de potências centrada em y = 0, com raio


de convergência:

√ 1
s
(1 + n1 )2 + n42
r
2 (n + 1) 2+4
n +4
R = lim = lim = lim = 1.
√ 1 2 n2 + 4 1 + n42
(n+1) +4

Logo a série converge absolutamente se |y| < 1 ⇔ P−1 < 2x − 1 < 1 ⇔ 0 < x < 1, e
diverge se x < 0 ou x > 1. Se x = 1 temos a série ∞ √ 1
n=1 n2 +4 que é divergente de
(−1)n
8.(a)(i) e se x = 0 temos ∞
P
n=1 n2 +4 , que é simplesmente convergente de 8.(a)(i)

.
Temos

X 2n
f (x) = √ (x − 1/2)n
n=0
n2 + 4
que é a série de Taylor de f em torno de 1/2. Logo

f (n) (1/2) 2n 2n n!
=√ ⇔ f (n) (1/2) = √ .
n! n2 + 4 n2 + 4

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