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CÁLCULO DIFERENCIAL E INTEGRAL III

AULA 04: DERIVADAS PARCIAIS (TEORIA E EXEMPLOS)


Prof. Ricardo R. de Carvalho

DERIVADAS PARCIAIS

Sejam f : A ⊆ R2 → R e (x0 , y0 ) ∈ A. A derivada parcial de f em relação a variável


∂f
x no ponto (x0 , y0 ) (denotada por (x0 , y0 )) é definida por meio do limite
∂x
∂f f (x, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim , (0.1)
∂x x→x0 x − x0
se o limite existir. A derivada parcial de f em relação a variável y no ponto (x0 , y0 )
∂f
(denotada por (x0 , y0 )) é definida por meio do limite
∂y
∂f f (x0 , y) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim , (0.2)
∂y y→y0 y − y0
se o limite existir.

OBSERVAÇÃO 1: Considerando x − x0 = ∆x e y − y0 = ∆y, podemos reescrever os


limites (0.1) e (0.2) , respectivamente, nas formas
∂f f (x0 + ∆x, y0 ) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim
∂x ∆x→0 ∆x
e
∂f f (x0 , y0 + ∆y) − f (x0 , y0 )
(x0 , y0 ) = lim .
∂y ∆y→0 ∆y

FUNÇÕES DERIVADAS PARCIAIS

Sejam f : A ⊆ R2 → R uma função de duas variáveis e B ⊂ A o conjunto formado por


(x,y)−→z=f (x,y)
∂f
todos os pontos (x, y) ∈ A tais que (x, y) existe. A função
∂x
∂f
: B ⊆ A ⊆ R2 −→ R
∂x (0.3)
∂f f (x + ∆x, y) − f (x, y)
(x, y) −→ (x, y) = lim
∂x ∆x→0 ∆x

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é chamada de função derivada parcial de 1a ordem de f em relação a variável x.
De modo análogo, definimos a função derivada parcial de 1a ordem de f em relação
a variável y por

∂f
: B ⊆ A ⊆ R2 −→ R
∂y (0.4)
∂f f (x, y + ∆y) − f (x, y)
(x, y) −→ (x, y) = lim ,
∂y ∆y→0 ∆y

∂f
onde B ⊆ A é o conjunto formado por todos os pontos (x, y) ∈ A tais que (x, y) existe.
∂y

∂f
OBSERVAÇÃO 2: Na prática, para se calcular (x, y), considera-se y constante
∂x
e deriva z = f (x, y) (considerando f função apenas da variável x) em relação a variável x.
∂f
Da mesma forma, para se calcular (x, y), considera-se x constante e deriva z = f (x, y)
∂y
(considerando f função apenas da variável y) em relação a variável y.

OBSERVAÇÃO 3: Existem várias notações para representar as derivadas parciais.


Algumas delas são:

∂f
(x, y) = Dx f (x, y) = D1 f (x, y) = fx (x, y)
∂x

∂f
(x, y) = Dy f (x, y) = D2 f (x, y) = fy (x, y).
∂y

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EXEMPLOS

EXEMPLO 1: Calcular as derivadas parciais da função f (x, y) = 5xy − x2 utilizando


as definições (0.3) e (0.4) .

SOLUÇÃO: Temos:
∂f f (x + ∆x, y) − f (x, y) 5(x + ∆x)y − (x + ∆x)2 − (5xy − x2 )
(x, y) = lim = lim =
∂x ∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x
5xy + 5y∆x − (x2 + 2x∆x + (∆x)2 ) − 5xy + x2
= lim =
∆x→0 ∆x
5xy + 5y∆x − x2 − 2x∆x − (∆x)2 − 5xy + x2
= lim =
∆x→0 ∆x
5y∆x − 2x∆x − (∆x)2 (5y − 2x − ∆x)∆x
= lim = lim =
∆x→0 ∆x ∆x→0 ∆x

= lim (5y − 2x − ∆x) = 5y − 2x


∆x→0

e
∂f f (x, y + ∆y) − f (x, y) 5x(y + ∆y) − x2 − (5xy − x2 )
(x, y) = lim = lim =
∂y ∆y→0 ∆y ∆y→0 ∆y
5xy + 5x∆y − x2 − 5xy + x2 5x∆y
= lim = lim = lim (5x) = 5x.
∆y→0 ∆y ∆y→0 ∆y ∆y→0

EXEMPLO 2: Calcular as derivadas parciais da função f (x, y) = e3xy sin(x4 − 3xy 2 ).

SOLUÇÃO: Aqui usaremos a observação 2 acima. Sendo assim, e para calcularmos as


∂f ∂f
derivadas parciais (x, y) e (x, y), devemos utilizar a regra de derivação para o produto
∂x ∂y
de funções reais de uma variável real e a regra da cadeia. Vejamos isso:
∂f ∂ 3xy ∂ 3xy ∂
(x, y) = [e sin(x4 − 3xy 2 )] = (e ) · sin(x4 − 3xy 2 ) + e3xy (sin(x4 − 3xy 2 )) =
∂x ∂x ∂x ∂x

= 3ye3xy · sin(x4 − 3xy 2 ) + e3xy · cos(x4 − 3xy 2 ) · (4x3 − 3y 2 )


e
∂f ∂ 3xy ∂ 3xy ∂
(x, y) = [e sin(x4 − 3xy 2 )] = (e ) · sin(x4 − 3xy 2 ) + e3xy (sin(x4 − 3xy 2 )) =
∂y ∂y ∂y ∂y

= 3xe3xy · sin(x4 − 3xy 2 ) + e3xy · cos(x4 − 3xy 2 ) · (−6xy).

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EXEMPLO 3: Seja
 xy
 , (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2
+ y2
0, (x, y) = (0, 0).

∂f ∂f
Calcular (x, y) e (x, y).
∂x ∂y
∂f
SOLUÇÃO: Inicialmente notemos que para calcularmos as derivadas parciais (x, y)
∂x
∂f
e (x, y) precisamos considerar duas etapas. Uma para os pontos (x, y) 6= (0, 0) e a outra
∂y
para o ponto (x, y) = (0, 0). Com isso, temos:
∂f
Derivada parcial (x, y)
∂x
(x, y) 6= (0, 0) (aqui usamos a observação 2 acima)

∂ ∂
∂f (xy) · (x2 + y 2 ) − xy (x2 + y 2 ) y · (x2 + y 2 ) − 2x2 y
(x, y) = ∂x ∂x = .
∂x (x2 + y 2 )2 (x2 + y 2 )2

(x, y) = (0, 0) (aqui usamos a definição (0.1))

∂f f (x, 0) − f (0, 0) 0−0


(0, 0) = lim = lim = lim (0) = 0.
∂x x→0 x−0 x→0 x x→0

Portanto,
y · (x2 + y 2 ) − 2x2 y

, (x, y) 6= (0, 0)

∂f 
(x2 + y 2 )2
(x, y) =
∂x 
 0, (x, y) = (0, 0).

∂f
Derivada parcial (x, y)
∂y
(x, y) 6= (0, 0) (aqui usamos a observação 2 acima)

∂ ∂
(xy) · (x2 + y 2 ) − xy (x2 + y 2 )
∂f ∂y ∂y x · (x2 + y 2 ) − 2xy 2
(x, y) = = .
∂y (x2 + y 2 )2 (x2 + y 2 )2

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(x, y) = (0, 0) (aqui usamos a definição (0.1))

∂f f (0, y) − f (0, 0) 0−0


(0, 0) = lim = lim = lim (0) = 0.
∂y y→0 y−0 y→0 y y→0

Portanto,
x · (x2 + y 2 ) − 2xy 2

, (x, y) 6= (0, 0)

∂f 
(x2 + y 2 )2
(x, y) =
∂y 
 0, (x, y) = (0, 0).

OBSERVAÇÃO 4: O exemplo 3 acima nos mostra uma situação INTERESSANTE


xy
!!! É fácil mostrar que o limite lim f (x, y) = lim NÃO existe. Conse-
(x,y)→(0,0) (x,y)→(0,0) x + y 2
2

quentemente, concluimos que a função definida no exemplo 3 NÃO é contı́nua em (0, 0).
Portanto, acabamos de ver um exemplo em que uma função de duas variáveis admite as
derivadas parciais de primeira ordem em (0, 0), mas não é contı́nua nesse ponto. Logo,
acabamos de aprender que a existêncis das derivadas parciais de uma função
num ponto não garante a continuidade da função nesse ponto. É por esse motivo
que não usamos as derivadas parciais para analisar a ”suavidade” dos gráficos das funções
a duas variáveis. Como veremos nas próximas aulas, será necessário uma outra condição
(envolvendo as derivadas parciais) para garantir a continuidade do gráfico de uma função a
duas variáveis.

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