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Aula teórica: 03 05.08.2018


- Derivada de funções implícita e composta.
- Diferencial total de funções.
- Plano tangencial e normal à superfície.
. .

Objectivos
No fim desta aula, os estudantes devem ser capazes de:
• Interpretar geometricamente as derivadas parciais.
• Determinar as derivadas de funções implícita e composta.
• Aplicar o diferencial total no cálculo aproximado.
• Determinar os planos tangenciais e normais às superfícies.
. .

1.6. Interpretação geométrica de derivadas parciais

Considere a superfície z = f (x, y) e p(x0 , y0 , z0 ) um ponto que pertence a esta superfície.


Fixando y = y0 , restringimos a superfície dada à curva g(x) = f (x, y0 ), que resulta da inter-
secção do plano vertical y = y0 e a superfície z = f (x, y).
De modo análogo, a intersecção do plano vertical x = x0 com a superfície z = f (x, y) é a curva
h(y) = f (x0 , y), no plano vertical x = x0 .
Evidentemente, as inclinações das tangentes às curvas g(x) = f (x, y0 ) e h(y) = f (x0 , y), no
ponto p(x0 , y0 , z0 ), são dadas por

g ′ (x0 ) = fx′ (x0 , y0 ) e h′y (y0 ) = fy′ (x0 , y0 ), respectivamente.


∂z ∂z
Portanto, geometricamente, as dirivadas parciais (x, y) e (x, y) no ponto (x0 , y0 ) podem
∂x ∂y
ser interpretadas como inclinações das rectas tangentes às curvas que resultam da intersecção,
no ponto (x0 , y0 , z0 ), da superfície z = f (x, y) com os planos y = y0 e x = x0 , respectivamente.

Exemplo 14. Determine as derivadas parciais de f (x, y) = 4 − x2 − 2y 2 no ponto (1, 1)


e interprete os resultados obtidos.

Resolução
∂z ∂z ∂z ∂z
(x, y) = −2x =⇒ (1, 1) = −2; (x, y) = −4y =⇒ (1, 1) = −4
∂x ∂x ∂y ∂y
A intersecção da superfície f (x, y) = 4 − x2 − 2y 2 com o plano vertical y = 1 é a pará-
bola g(x) = f (x, 1) = 4 − x2 . A inclinação da recta tangente a esta parábola no ponto (1, 1) é
dada por g ′ (1) = fx′ (1, 1) = −2.

De igual modo, a intersecção de f (x, y) = 4 − x2 − 2y 2 com o plano vertical x = 1 é a


parábola h(y) = f (1, y) = 4 − 2y 2 e, portanto, a inclinação da recta tangente a esta parábola
no ponto (1, 1) é h′ (1) = fy′ (1, 1) = −4 

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Definição 12 (Função diferenciável).


Uma função z = f (x, y) diz-se diferenciável no ponto (x0 , y0 ) se existem as derivadas parciais
∂z ∂z
(x0 , y0 ) e (x0 , y0 ) tais que,
∂x ∂y
∂z ∂z √
∆z = (x0 , y0 )∆x+ (x0 , y0 )∆y+γ(∆x, ∆y), onde lim γ(∆x, ∆y) = 0, ρ = (∆x)2 + (∆y)2
∂x ∂y ρ→0

Definição 13 (Diferencial total duma função).


Seja a função z = f (x, y) diferenciável no ponto (x0 , y0 ), isto é,
∂z ∂z
∆z = (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y + γ(∆x, ∆y), γ(∆x, ∆y) → 0 (1)
∂x ∂y
Chama-se diferencial total da função z = f (x, y) no ponto (x0 , y0 ) à parte linear, em rela-
ção a ∆x e ∆y , da equação (1) e escreve-se:
∂z ∂z ∂z ∂z
dz = (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y ou dz = (x0 , y0 )dx + (x0 , y0 )dy
∂x ∂y ∂x ∂y
∂z ∂z
Aos diferenciais dx z = (x0 , y0 )dx e dy z = (x0 , y0 )dy chamam-se diferenciais parciais
∂x ∂x
da função z = f (x, y) em relação às variáveis x e y , respectivamente.

Exemplo 15. Calcular o diferencial total e o acréscimo total da função z = xy .

Resolução
∆z = z(x + ∆x, y + ∆y) − z(x, y) = (x + ∆x, y + ∆y) − xy = xy + x∆y + y∆x + ∆x∆y − xy ⇔
∆z = x∆y + y∆x + ∆x∆y

Portanto, o acrescimo total é ∆z = x∆y + y∆x + ∆x∆y


O diferencial total de z = xy é dz = x∆y + y∆x ou dz = xdy + ydx.

Observe que o diferencial total também pode ser determinado a partir da seguinte fórmula:
∂z ∂z ∂ ∂z
dz = dx + dy =⇒ dz = (xy)dx + (xy)dy = ydx + xdy
∂x ∂y ∂x ∂y

Teorema 1.1 (Condição necessária e suficiente de diferenciabilidade)


A função z = f (x, y) é diferenciável no ponto (x0 , y0 ) se e somente se tiver derivadas parciais
∂z ∂z
continuas (x, y) e (x, y) na vizinhança do ponto (x0 , y0 ).
∂x ∂y

1.7. Propriedades do diferencial

As propriedades do diferencial de uma função são equivalentes às de derivadas de funções.


Entretanto, considere que u = u(x, y), v = v(x, y) são duas funções diferenciáveis e k uma
constante. Então,

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1) d(ku) = kdu

2) d(u ± v) = du ± dv

3) d(u.v) = udv + vdu


( u ) vdu − udv
4) d =
v v2

1.8. Aplicação do diferencial total no cálculo aproximado

Seja f (x, y) uma função diferenciável, isto é,


∂f ∂f
∆f = (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y + γ(∆x, ∆y), onde γ(∆x, ∆y) → 0.
∂x ∂y
Portanto, tem lugar a seguinte aproximação:
∂f ∂z
∆f ≈ (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y ⇐⇒
∂x ∂y
∂f ∂f
f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) ≈ f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y
∂x ∂y

Exemplo 16. Aplicando o diferencial total, calcule o valor aproximado de (1, 02)3,01

Resolução
A potência (1, 02)3,01 é equivalente à função f (x, y) = xy , onde x = 1, 02 e y = 3, 01.
∂f ∂f ∂f
(x, y) = yxy−1 =⇒ (x0 , y0 ) = (1, 3) = 3 · 13−1 = 3
∂x ∂x ∂x
∂f ∂f ∂f
(x, y) = xy ln x =⇒ (x0 , y0 ) = (1, 3) = 13 · ln 1 = 0.
∂y ∂y ∂y
Agora tomemos x0 = 1, ∆x = 0, 02 e y0 = 3, ∆y = 0, 01.
∂f ∂f
A partir de f (x0 + ∆x, y0 + ∆y) ≈ f (x0 , y0 ) + (x0 , y0 )∆x + (x0 , y0 )∆y , tem-se:
∂x ∂y
(1, 02)3,01 ≈ 13 + 3 · 0, 02 + 0 · 0, 01 = 1, 06 

Teorema 1.2 (Diferenciabilidade de função composta)

Sejam as funções x(t) e y(t) diferenciáveis no ponto t0 tal que x0 = x(t0 ) e y0 = y(t0 ).
Se a função z = f (x, y) é diferenciável no ponto (x0 , y0 ) então a função composta z =
f [x(t), y(t)], definida na vizinhança de t0 , tem derivada em t0 e verifica-se a seguinte igualdade:
dz ∂z dx ∂z dy
= · + ·
dt ∂x dt ∂y dt

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dz x
Exemplo 17. Calcule , onde z = e x = et , y = ln t.
dt y
Resolução
( )
dz ∂z dx ∂z dy dz 1 t x 1 et et et 1
= · + · =⇒ = ·e − 2 · = − = · 1− 
dt ∂x dt ∂y dt dt y y t ln t t · ln2 t ln t t · ln t

Teorema 1.3 (Derivada da função Implícita).


Seja y(x) uma função contínua e definida pela equação implícita F (x, y) = 0. Suponhamos
também que F (x, y), Fx′ (x, y) e Fy′ (x, y) ̸= 0 são funções contínuas, então a derivada da função
y(x) é dada por

Fx′ (x, y)
yx′ = − .
Fy′ (x, y)

Exemplo 18. Determine yx′ sabendo que y(x) é dada na forma implícita x3 + y 3 = 6xy .

Resolução
Seja F (x, y) = x3 + y 3 − 6xy =⇒ Fx′ (x, y) = 3x2 − 6y e Fy′ (x, y) = 3y 2 − 6x.

Fx′ (x, y) 3x2 − 6y 2y − x2


Portanto, yx′ = − = − ⇐⇒ y ′
= 
Fy′ (x, y) 3y 2 − 6x x
y 2 − 2x

Definição 14 (Derivada direccional).


Chama-se derivada de uma função z = f (x, y) no ponto p = (x, y) em uma direcção dada
l=− → à expressão:
pp 1

∂z f (p1 ) − f (p)
(x, y) = lim ,
∂l ρ→0 ρ

onde ρ = (x − x1 )2 + (y − y1 )2 , f (p) e f (p1 ) são os valores da função nos pontos p(x, y) e
p1 (x1 , y1 ), respectivamente.

Se a função f (x, y) é diferenciável no ponto (x0 , y0 ), então existe a derivada direccional


∂z
(x0 , y0 ) e é válida a fórmula:
∂l

∂z ∂z ∂z
(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ) · cos α + (x0 , y0 ) · sin α
∂l ∂x ∂y

Onde α é o ângulo formado pelo vector l com o eixo OX .

A derivada direccional caracteriza a velocidade com que a função z = f (x, y) varia na di-
recção considerada.

Por analogia, a derivada direccional de uma função de três variáveis u = (x, y, z) é dada
por:

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∂u ∂u ∂u ∂u
(x0 , y0 , z0 ) = (x0 , y0 , z0 ) · cos α + (x0 , y0 , z0 ) · cos β + (x0 , y0 , z0 ) · cos γ
∂l ∂x ∂y ∂z

Onde α, β e γ são os ângulos formados pelo vector l com os eixos OX, OY e OZ , respecti-
vamente.

Exemplo 19. Determine a derivada da função z = 5x2 − 3x − y − 1 no ponto p(2, 1) na


direcção da recta que une este ponto ao ponto Q(5, 5).

Resolução
Calculando as derivadas parciais da função dada no ponto p(2, 1), temos:
∂z ∂z ∂z ∂z
(x, y) = 10x − 3 =⇒ (2, 1) = 17; (x, y) = −1 =⇒ (2, 1) = −1
∂x ∂x ∂y ∂y
( )
4 4
O ângulo α formado pelo vector l com o eixo OX é dado por tan α = ⇐⇒ α = arctan
[ ( )] [ ( )] 3 3
∂z 4 4
Portanto, (2, 1) = 17 · cos arctan − sin arctan = 9.4 
∂l 3 3

Definição 15 (Gradiente de uma função).


Chama-se gradiente de uma função diferenciável z = f (x, y) no ponto (x, y) a um vector cu-
jas projecções sobre os eixos das coordenadas são as correspondentes derivadas parciais desta
função, isto é,

∂z −
→ ∂z −

grad z = (x, y) · i + (x, y) · j
∂x ∂y

Analogamente, o gradiente de uma função u = u(x, y, z), de três variáveis, no ponto (x, y, z):

∂u −
→ ∂u −
→ ∂u →

grad u = (x, y, z) · i + (x, y, z) · j + (x, y, z) · k
∂x ∂y ∂z

A derivada direcional de u(x, y, z) no ponto (x, y, z), segundo um vector unitário



−n = (cos α, cos β, cos γ), é igual ao produto escalar do gradiente de u(x, y, z) e o vector −

n,
isto é,

= (grad u, −

∂u ∂u ∂u ∂u

→ n) = (x, y, z) · cos α + (x, y, z) · cos β + (x, y, z) · cos γ
∂n ∂x ∂y ∂z

∂u ∂u
∂y
Onde, cos α = √ (
∂x
)2 , cos β = √ ( )2
( ∂u )2 ∂u
( ∂u )2 ( ∂u )2 ∂u
( ∂u )2
∂x
+ ∂y
+ ∂z ∂x
+ ∂y
+ ∂z

∂u
cos γ = √ ∂z
( )2
( ∂u )2 ∂u
( ∂u )2
∂x
+ ∂y
+ ∂z

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Exemplo 20. Construir o gradiente da função z = x2 y no ponto P (1, 1).

Resolução
Calculando as derivadas parciais da função e seus valores no ponto p(1, 1), obtemos:
∂z ∂z ∂z ∂z
(x, y) = 2xy =⇒ (1, 1) = 2; (x, y) = x2 =⇒ (1, 1) = 1
∂x ∂x ∂y ∂y
∂z −
→ ∂z −
→ →
− −

Portanto, grad z = (1, 1) · i + (1, 1) · j =⇒ grad z = 2 · i + 1 · j 
∂x ∂y

1.9. Plano tangencial e normal à superfície

Definição 16 (Plano tangencial e normal).


Chama-se plano tangencial à uma superfície S no seu ponto M (ponto de contacto) ao plano
no qual estão situadas todas as tangentes às curvas traçadas nesta superfície e que passam pelo
ponto M. À recta perpendicular ao plano tangencial no ponto de contacto M chama-se normal.

Considerando que a superfície S pode ser representada na forma explícita ou implícita, te-
mos os seguintes casos:

1. Se a a equação da superfície S for dada de forma explícita, isto é, z = f (x, y), onde f (x, y)
é uma função diferenciável, então a equação tangencial no ponto M (x0 , y0 , z0 ), z0 = f (x0 , y0 )
à superfície é dada por:

z − z0 = fx′ (x0 , y0 )(x − x0 ) + fy′ (x0 , y0 )(y − y0 )

As equações da normal têm a seguinte forma:


x − x0 y − y0 z − z0
= =

fx (x0 , y0 ) ′
fy (x0 , y0 ) −1

2. Se a a equação da superfície S for dada de forma implícita, isto é, F (x, y, z) = 0, onde


F (x, y, z) é uma função diferenciável e grad F(x0 , y0 , z0 ) ̸= 0, então as equações do plano
tangencial e da normal no ponto M(x0 , y0 , z0 ) à superfície são dadas por:

Fx′ (x0 , y0 , z0 , )(x − x0 ) + Fy′ (x0 , y0 , z0 )(y − y0 ) + Fz′ (x0 , y0 , z0 )(z − z0 ) = 0


x − x0 y − y0 z − z0

= ′
= ′
Fx (x0 , y0 , z0 ) Fy (x0 , y0 , z0 ) Fz (x0 , y0 , z0

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Exemplo 21. Escrever as equações do plano tangencial e da normal à superfície

x2
f (x, y) = − y 2 no seu ponto M(2; −1; 1).
2

Resolução

x2
f (x, y) = − y 2 =⇒ fx′ (x, y) = x =⇒ fx′ (2, −1) = 2; fy′ (x, y) = −2y =⇒ fx′ (2, −1) = 2.
2
Deste modo,

z−z0 = fx′ (x0 , y0 )(x−x0 )+fy′ (x0 , y0 )(y−y0 ) =⇒ z−1 = 2(x−2)+2(y+1) ⇐⇒ 2x+2y−z−1 = 0

As equações da normal são dadas por:


x − x0 y − y0 z − z0 x−2 y+1 z−1
= = ⇐⇒ = = 

fx (x0 , y0 ) ′
fy (x0 , y0 ) −1 2 2 −1

Exemplo 22. Escreva as equações do plano tangencial e da normal à superfície 3xyz − z 3 = 1


no ponto onde x = 0 e y = 1.

Resolução
A partir de 3xyz − z 3 = 1 =⇒ 3 · 0 · 1 · z − z 3 = 1 ⇐⇒ z = −1.

Portanto, o ponto de contacto é (0, 1, −1).

F (x, y, z) = 3xyz − z 3 − 1 =⇒ Fx′ (x, y, z) = 3yz =⇒ Fx′ (0, 1, −1) = −3


Fy′ (x, y, z) = 3xz =⇒ Fy′ (0, 1, −1) = 0
Fz′ (x, y, z) = 3xy − 3z 2 =⇒ Fz′ (0, 1, −1) = −3

Assim, a equação do plano tangencial é dada por:

Fx′ (x0 , y0 , z0 , )(x − x0 ) + Fy′ (x0 , y0 , z0 )(y − y0 ) + Fz′ (x0 , y0 , z0 )(z − z0 ) = 0 =⇒

−3(x − 0) + 0(y − 1) − 3(z + 1) = 0 ⇐⇒ x + z + 1 = 0

As equações da normal têm a forma:


x − x0 y − y0 z − z0 x−0 y−1 z+1
= = =⇒ = = ⇐⇒
Fx′ (x0 , y0 , z0 ) Fy′ (x0 , y0 , z0 ) Fz′ (x0 , y0 , z0 −3 0 −3

x−0 y−1 z+1


= = 
1 0 1

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