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A Equação de Laplace
ut = K∆u
ut = K∆u + q(x),
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então
u = u1 + u2 + u3 + u4 .
Para obter a solução geral do problema de Dirichlet, basta portanto resolver cada um dos quatro problemas
acima. À tı́tulo de exemplo, vamos resolver o segundo explicitamente:
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = 0, u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
Escrevendo
u(x, y) = F (x)G(y),
segue que F 00 (x)G(y) + F (x)G00 (y) = 0 e portanto
As condições de fronteira implicam as seguintes condições sobre as equações diferenciais ordinárias acima:
Logo, ½
F 00 (x) − σF (x) = 0,
F (0) = F (a) = 0,
e ½
G00 (y) + σG(y) = 0,
G(0) = 0.
As autofunções do primeiro problema são
nπx n2 π 2
Fn (x) = sen para σn = .
a a2
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A solução geral do segundo problema (de valor inicial) é conveniente escrever na forma
nπy nπy
G(y) = c1 cosh + c2 senh
a a
porque a condição G(0) = 0 implica que c1 = 0. Assim, as soluções obtidas através de separação de variáveis
são os produtos
nπx nπy
sen senh .
a a
A solução u2 do segundo problema será a função
∞
X nπx nπy
u2 (x, y) = bn sen senh ,
n=1
a a
onde Z a
2 nπx
bn = f2 (x) sen dx,
nπb 0 a
a senh
a
pois
X∞ µ ¶
nπb nπx
f2 (x) = u2 (x, b) = bn senh sen .
n=1
a a
nπb
É mais conveniente, para efeitos de memorização, incorporar a constante senh na solução, escrevendo-a
a
na forma
nπy
nπx senh a
X∞
u2 (x, y) = bn sen (5.6)
a nπb
n=1 senh
a
de modo que Z
2 a nπx
bn = f2 (x) sen dx (5.7)
a 0 a
tem a forma padrão dos coeficientes da série de Fourier.
De maneira análoga, obtemos as soluções para os outros problemas:
nπ(b − y) Z
nπx senh
∞
X a
a 2 nπx
u1 (x, y) = an sen , an = f1 (x) sen dx, (5.8)
a nπb a 0 a
n=1 senh
a
nπ(a − x) Z
X∞ senh nπy 2 b
nπy
u3 (x, y) = cn b sen , cn = g1 (y) sen dy, (5.9)
nπa b b b
n=1 senh 0
b
nπx Z
X∞ senh nπy 2 b
nπy
u4 (x, y) = dn b
nπa sen b , dn = b
g2 (y) sen
b
dy. (5.10)
n=1 senh 0
b
Portanto, a solução do problema de Dirichlet (5.5) é
nπ(b − y) nπy
nπx senh senh
∞
X X∞
a nπx a
u(x, y) = an sen + bn sen (5.11)
a nπb a nπb
n=1 senh n=1 senh
a a
nπ(a − x) nπx
nπy senh nπy senh b
X∞ X∞
+ cn sen b + d sen ,
b nπa n
b senh nπa
n=1 senh n=1
b b
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5.1.1 Exercı́cios
Exercı́cio 5.1. Resolva o problema de Neumann
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
uy (x, 0) = f (x), uy (x, b) = 0 se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = ux (a, y) = 0 se 0 6 y 6 b.
Por que é necessário assumir Z a
f (x) dx = 0
0
para que este problema tenha solução? Além disso, observe que a solução só está determinada a menos
de uma constante (leia o enunciado da Proposição 5.4).
Exercı́cio 5.2. Resolva os seguintes problemas de fronteira para a equação de Laplace no retângulo. Veri-
fique que condições os dados de fronteira devem satisfazer para existir solução e se a solução que você
obteve é única ou única a menos de uma constante.
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
(a) u y (x, 0) = f 1 (x), u y (x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
(b) u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
(c) uy (x, 0) = f1 (x), uy (x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = g1 (y), ux (a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
Exercı́cio 5.3. Encontre as soluções de estado estacionário, se existirem, para os seguintes problemas de
condução do calor no retângulo:
√
ut = π (uxx + uyy ) se 0 < x < a e 0 < y < b,
(a) u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
ux (0, y) = g1 (y), ux (a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
√
ut = e log π (uxx + uyy ) se 0 < x < a e 0 < y < b,
(b) u (x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
y
u(0, y) = g1 (y), ux (a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
Exercı́cio 5.4. Encontre as curvas de nı́vel de temperatura (chamadas isotermas) para a solução de estado
estacionário para o seguinte problema de condução do calor no retângulo:
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = 1, u(x, b) = 1 se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = 1, u(a, y) = 1 se 0 6 y 6 b.
Exercı́cio 5.5. Use o computador para encontrar as isotermas para a solução de estado estacionário, se
existir, para o seguinte problema de condução do calor no retângulo:
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < 1 e 0 < y < 1,
u(x, 0) = 0, u(x, 1) = 0 se 0 6 x 6 1,
u(0, y) = 0, u(1, y) = 100 se 0 6 y 6 1.
Você consegue obter uma expressão analı́tica para estas curvas de nı́vel?
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Exercı́cio 5.6. Use o computador para encontrar as isotermas para as soluções de estado estacionário, se
existirem, dos seguintes problemas de condução do calor no retângulo:
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < π e 0 < y < π,
(a) u(x, 0) = 100, u(x, π) = 100 se 0 6 x 6 π,
ux (0, y) = 0, ux (π, y) = 0 se 0 6 y 6 π.
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < π e 0 < y < π,
(b) u(x, 0) = 0, u(x, π) = 100 se 0 6 x 6 π,
ux (0, y) = 0, ux (π, y) = 0 se 0 6 y 6 π.
ut = K (uxx + uyy ) se 0 < x < 1 e 0 < y < 2,
(c) u(x, 0) = 100, uy (x, 2) = 0 se 0 6 x 6 1,
ux (0, y) = 0, ux (1, y) = 0 se 0 6 y 6 2.
Exercı́cio 5.7. Resolva o seguinte problema de valor de fronteira para a equação de Laplace para a faixa
semi-infinita:
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e y > 0,
u(x, 0) = f (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = u(a, y) = 0 se y > 0,
lim u (x, y) = 0.
y→∞
Exercı́cio 5.8. Prove que se as condições de fronteira satisfazem hipóteses adequadas, a solução (5.11) para
o problema de Dirichlet da equação de Laplace é de classe C 2 no interior do retângulo e contı́nua até
a fronteira do retângulo.
Prova: Sejam
M = max u e m = max u
Ω ∂Ω
e suponha por absurdo que m < M . Então existe um ponto (x0 , y0 ) ∈ Ω\∂Ω tal que u(x0 , y0 ) = M . Defina
a função
M −m
v(x, y) = u(x, y) + [(x − x0 )2 + (y − y0 )2 ],
4d2
onde d = diam Ω. Se (x, y) ∈ ∂Ω, temos
M −m 2 3 M
v(x, y) 6 m + 2
d = m+ < M,
4d 4 4
e como u(x0 , y0 ) = v(x0 , y0 ) = M , segue que o máximo de v também é assumido em um ponto de Ω − ∂Ω,
digamos em (x, y). Mas, como (x, y) é um ponto de máximo para v, devemos ter
∆v(x, y) 6 0,
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enquanto que, pela definição de v e pelo fato de u satisfazer a equação de Laplace, para todo (x, y) temos
M −m M −m
∆v(x, y) = ∆u(x, y) + = > 0,
4d2 4d2
uma contradição. Isso mostra que u atinge o seu máximo em ∂Ω. Para provar que o mı́nimo de u também é
atingido em ∂Ω, basta observar que −u também satisfaz a equação de Laplace e que min u = − max(−u). ¥
Prova: Se u1 e u2 são duas soluções para o problema de Poisson acima, então u = u1 − u2 é uma solução
para o problema de Laplace com condição de fronteira homogênea
½
∆u = 0 se (x, y) ∈ Ω,
u(x, y) = 0 se (x, y) ∈ ∂Ω.
max u = max u = 0,
Ω ∂Ω
min u = min u = 0,
Ω ∂Ω
onde F : (0, a)×(0, b) → R é uma função de classe C 1 que possui uma série de Fourier dupla convergindo para
F (veja o capı́tulo anterior). Usando a linearidade do operador laplaciano, podemos dividir este problema
em dois: ½
uxx + uyy = F (x, y) se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = u(x, b) = u(0, y) = u(a, y) = 0 se 0 6 x 6 a e 0 6 y 6 b.
e
uxx + uyy = 0 se 0 < x < a e 0 < y < b,
u(x, 0) = f1 (x), u(x, b) = f2 (x) se 0 6 x 6 a,
u(0, y) = g1 (y), u(a, y) = g2 (y) se 0 6 y 6 b.
O segundo problema é o problema de Dirichlet para a equação de Laplace no retângulo, que já resolvemos
no inı́cio deste capı́tulo. O primeiro é a equação de Poisson com condição de Dirichlet homogênea. Para
resolvê-lo, observamos que a função
nπx mπy
unm (x, y) = sen sen
a b
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5.3.1 Exercı́cios
Exercı́cio 5.9. Resolva o problema de Dirichlet homogêneo
½
uxx + uyy = F (x, y) se 0 < x < 1 e 0 < y < 1,
u(x, 0) = u(x, 1) = u(0, y) = u(1, y) = 0 se 0 6 x 6 1 e 0 6 y 6 1.
e (p
r = x2 + y 2 ,
y (5.15)
θ = arctan .
x
Para obter a expressão para o Laplaciano em coordenadas polares, usamos estas relações e a regra da
cadeia. Como
ux = ur rx + uθ θx ,
segue que
∂ ∂ ∂
uxx = [ur rx + uθ θx ] = (ur ) rx + ur rxx + (uθ ) θx + uθ θxx
∂x ∂x ∂x
= urr rx2 + urθ θx rx + ur rxx + urθ rx θx + uθθ θx2 + uθ θxx ,
donde
uxx = urr rx2 + uθθ θx2 + 2urθ rx θx + ur rxx + uθ θxx . (5.16)
Trocando x por y, obtemos também
Similarmente,
y x2
ry = e ryy = .
r r3
y
Por outro lado, diferenciando θ = arctan com relação a x, obtemos
x
1 ³ y ´ y y
θx = ³ y ´2 − 2 = − 2 = − 2,
x x + y2 r
1+
x
e com relação a y obtemos µ ¶
1 1 x x
θy = ³ y ´2 = 2 = 2.
x x + y2 r
1+
x
Diferenciando estas expressões uma segunda vez com relação a x e y, respectivamente, encontramos
y (2rrx ) 2xy
θxx = = 4
r4 r
e
−x (2rrx ) 2xy
θyy = =− 4 .
r4 r
Em particular, valem as seguintes identidades:
θxx + θyy = 0 e rx θx + ry θy = 0.
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onde f é uma função contı́nua que satisfaz f (0) = f (2π). Resolver este problema nestas coordenadas significa
encontrar uma função u(r, θ) contı́nua em D e de classe C 2 em (0, R) × (0, 2π) tal que u(r, 0) = u(r, 2π) para
todo 0 < r < R.
Escrevendo
u(r, θ) = F (r)G(θ),
obtemos
1 1
F 00 (r)G(θ) + F 0 (r)G(θ) + 2 F (r)G00 (θ) = 0,
r r
donde
F 00 (r) F 0 (r) G00 (θ)
r2 +r =− = σ.
F (r) F (r) G(θ)
Do fato de G(θ) satisfazer a equação diferencial ordinária
G00 (θ) + σG(θ) = 0
e ser uma função periódica de perı́odo 2π, concluı́mos que
σ = n2
para algum n > 0, e
Gn (θ) = an cos nθ + bn sen nθ. (5.19)
Em particular, F satisfaz a equação diferencial ordinária
r2 F 00 (r) + rF 0 (r) − n2 F (r) = 0.
Esta é a equação de Euler, cuja solução geral é
½
c1 + c2 log r se n = 0,
F (r) =
c1 rn + c2 r−n se n > 1.
Como a solução u é contı́nua, devemos ter F (r) limitada próximo a r = 0, o que implica que c2 = 0. Portanto,
as soluções de F admissı́veis para este problema são
Fn (r) = rn para n > 0.
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Observação. A solução obtida acima pode ser escrita em forma fechada com o auxı́lio da seguinte identidade
∞
X sen nθ r sen θ
rn = arctan . (5.22)
n=1
n 1 − r cos θ
De fato, usando a identidade cos nπ sen nθ = sen n(θ − π) e reescrevendo a solução anterior, obtemos
∞
100 X 1 − cos nπ n
u(r, θ) = 50 + r sen nθ
π n=1 n
∞ ∞
100 X n sen nθ 100 X n sen n(θ − π)
= 50 + r − r
π n=1 n π n=1 n
100 r sen θ 100 r sen(θ − π)
= 50 + arctan − arctan
π 1 − r cos θ π 1 − r cos(θ − π)
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de modo que µ ¶
100 r sen θ r sen θ
u(r, θ) = 50 + arctan + arctan . (5.23)
π 1 − r cos θ 1 + r cos θ
Esta solução é prontamente escrita em coordenadas cartesianas:
µ ¶
100 y y
u(x, y) = 50 + arctan + arctan . (5.24)
π 1−x 1+x
Em particular torna-se fácil determinar as isotermas (isto é, curvas de temperatura constante) desta
solução. Igualando o lado direito a um valor T , temos
y y π(T − 50)
arctan + arctan = .
1−x 1+x 100
Aplicando tan a ambos os lados desta equação e usando a identidade trigonométrica
tan a + tan b
tan(a + b) = ,
1 − tan a tan b
obtemos y y µ ¶
1−x + 1+x πT π πT
³ ´³ ´ = tan − = − cot ,
1− y y 100 2 100
1−x 1+x
donde
2y πT
2 2
= − cot ,
1−x −y 100
ou
x2 + y 2 − 1 πT
= tan .
2y 100
Portanto, a isoterma correspondente à temperatura T é o cı́rculo
µ ¶2
πT πT πT
x2 + y − tan = 1 + tan2 = sec2 ,
100 100 100
µ ¶
πT πT
centrado em 0, tan e de raio sec . Em particular, os centros destes arcos isotermais estão
100 100
centrados no eixo y. Por exemplo, T = 100 corresponde ao semicı́rculo superior, T = 50 corresponde
ao segmento do eixo x e T = 0 corresponde ao semicı́rculo inferior; os outros arcos isotermais ocupam
posições intermediárias, deformando-se continuamente de uma destas posições para a outra.
5.4.3 Exercı́cios
Exercı́cio 5.12. Encontre a solução limitada para a equação de Laplace na região fora do cı́rculo r = a que
satisfaz as condições de contorno:
Exercı́cio 5.13. Encontre a solução para a equação de Laplace na região semicircular r < a, 0 < θ < π,
que satisfaz as condições de contorno:
Exercı́cio 5.14. Encontre a solução para a equação de Laplace na região anular a < r < b, 0 6 θ 6 2π, que
satisfaz as condições de contorno:
u(a, θ) = A se 0 6 θ 6 2π,
u(b, θ) = B se 0 6 θ 6 2π,
onde A, B ∈ R.
Exercı́cio 5.15. Encontre uma solução para o problema de Neumann no disco:
(
1 1
urr + ur + 2 uθθ = 0 se 0 < r < R e 0 < θ < 2π,
r r
ur (R, θ) = g(θ) se 0 6 θ 6 2π.