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Aula teórica: 02 29.07.2019


- Limites e continuidade de funções de duas variaveis.
- Derivadas parciais de função de várias variáveis.
. .

Objectivos
No fim desta aula, os estudantes devem ser capazes de:
• Averiguar a existencia de limites através do cálculo de limites direccionais;
• Determinar, caso existam, os limites de funções de duas variáveis;
• Estudar a continuidade de funções de duas variáveis;
• Determinar as derivadas parciais de funções de várias variáveis.
. .

1.3. Limite de função de duas variáveis

Definição 6 (limite de função de duas variáveis)


Diz-se que o número a é limite da função z = f (x, y), quando o ponto P (x, y) tende ao ponto
P0 (x0 , y0 ), se√para qualquer número ε > 0, existe um δ > 0, para qualquer P (x, y) ∈ E ⊆ R2 ,
tal que, se (x − x0 )2 + (y − y0 )2 < δ , então se verifica a desigualdade |f (x, y) − a| < ε e
representa-se por

lim f (x, y) = a ou
x→x0
lim f (x, y) = a.
y→y0 (x,y)→(x0 ,y0 )

Simbolicamente se escreve:

lim f (x, y) = a ⇔ ∀ε > 0, ∃δ > 0, ∀P (x, y) ∈ E ⊆ R2 :
x→x
(x − x0 )2 + (y − y0 )2 < δ =⇒
0
y→y0

|f (x, y) − a| < ε.

x2 y
Exemplo 8. Usando a definição, mostre que x→x
lim =0
0
y→y0 x2 + y 2
Resolução
Avaliemos a desigualdade |f (x, y) − a| < ε , isto é,
2
xy √
− 0 < ε sempre que (x − 0)2 + (y − 0)2 < δ
x2 + y 2
2
xy √
Ora bem, 2 2
< ε sempre que x2 + y 2 < δ .

x +y
Observe que x2 ≤ x2 + y 2 e y 2 ≤ x2 + y 2 . Então,
2 2
x y (x + y 2 )y √
≤ = |y| ≤ x2 + y 2 < ε = δ 
x2 + y 2 x2 + y 2

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1.3.1. limite direccional ou limite segundo uma trajectória

No estudo de limites de funções


( de uma)variável foi referido que se (
os limites laterais,
) ou

seja, limite à esquerda de x0 lim f (x) e o limite à direita de x0 lim f (x) são dife-
x→x−
0 x→x+
0

rentes, então o limite lim f (x) não existe. A situação análaga para funções de duas variáveis
x→x0
é mais complicada porque no plano (R2 ) há uma infinidade de trajectórias ao longo das quais
o ponto (x, y) pode aproximar-se ao ponto fixo (x0 , y0 ). Portanto, se o limite da definição 6
existe, então f (x, y) tende para a, independentemente da trajectória escolhida.

Assim, em certas ocasiões, quando não consigamos calcular um limite, resulta útil tentarmos
demonstrar, se possível, que esse limite não existe. A demonstração pode realizar-se mediante
o cálculo de limites direccionais ou através da determinação de limites reiterados.

Definição 7. (limite direccional)


Suponhamos que pelo ponto P0 (x0 , y0 ) ∈ E ⊆ R2 passa uma curva l e seja ∪(P ˙ 0 ) uma vizi-
nhança reduzida do ponto P0 .
Chama-se limite direccional de função f (x, y) quando P (x, y) tende para P0 (x0 , y0 ), o limite
ao longo da curva l e, concretamente, na intersecção l ∩ ∪(P
˙ 0 ).

Frequentemente, no cálculo de limites direccionais, se consideram trajectórias rectilíneas y =


y0 + m(x − x0 ) ou parabólicas do tipo y = y0 + m(x − x0 )2 ou x = x0 + m(y − y0 )2 , m ∈ R,
para provar a inexistência de limites. Neste caso, se supõe que z = f (x, y) está definida em
l ∩ ∪(P
˙ 0 ), onde P0 = (x0 , y0 ) e a curva l pode representar-se pelas seguintes formas analíticas:
x = x0 , y = y0 + m(x − x0 ), y = y0 + m(x − x0 )2 ou x = x0 + m(y − y0 )2 , m ∈ R. Portanto,
se existe o limite x→x
lim f (x, y) = a, então:
0
y→y0

(i) os limites na direccão de l são iguais a a, isto é,

lim f = x=x
x→x0
lim f (x, y) = lim
x→x0
f (x, y) = lim
x→x0
f (x, y) = lim f (x, y) = a
0 x=x0 +m(y−y0 )2
y→y0 y→y0 y=y0 +m(x−x0 ) y=y0 +m(x−x0 )2 y→y0

(ii) se existem os limites lim f (x, y) = g(x) e lim f (x, y) = h(y), então os limites reiterados
y→y0 x→x0
são iguais a a, isto é,
( ) ( )
lim f (x, y) = lim lim f (x, y) = lim lim f (x, y) = a
x→x0 x→x0 y→y0 y→y0 x→x0
y→y0

Observação: Anote que as condições (i) e (ii) são somente necessárias, isto é, o seu cum-
primento não garante a existência do limite x→x
lim f (x, y).
0
y→y0

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Exemplo 9. Investigue a existência dos seguintes limites:

2xy xy 2 xy 3
a) lim 2 b) lim 2 c) lim 2
x→0 x + y 2 x→0 x + y 4 x→0 x + y 6
y→0 y→0 y→0

Resolução

a) Considerando a orientação y = mx, m ∈ R, pois trata-se de um conjunto de rectas que


passam pelo ponto P0 (x0 , y0 ) = (0, 0), temos:

2xy 2mx2 2m
lim 2 2
= lim 2 2 2
= .
x→0 x + y
y→0
x→0 x + m x 1 + m2
2xy
Atendendo que o resultado do limite depende de m, concluímos que a função f (x, y) =
x2 + y2
não tem limite quando (x, y) → (0, 0).

b) Ao considerar a orientação y = mx, m ∈ R, obtemos:

xy 2 m2 x3 m2 x
lim = lim = lim = 0, ∀m ∈ R
x→0 x2 + y 4 x→0 x2 + m4 x4 x→0 1 + m4 x2
y→0

Ao tomarmos a direcção curvilínea y = mx2 , m ∈ R, temos:

xy 2 m2 x3 m2 x
lim = lim = lim = 0.
x→0 x2 + y 4 x→0 x2 + m4 x4 x→0 1 + m4 x2
y→0

Agora bem, tomando a trajectória curvilínea x = my 2 , m ∈ R, logramos demonstrar que o


limite dado não existe, pois

xy 2 my 4 m
lim 2 4
= lim 2 4 4
= 2 
x→0 x + y y→0 m y + y m + 1
y→0

c) Observe que as condições necessárias (i) e (ii) são satisfeitas. Porém, ao considerar a direcção
x = my 3 , m ∈ R, obtem-se:

xy 3 my 6 m
lim = lim = 2 .
x→0 x2 + y 6 x→0 m2 y 6 + y 6 m +1
y→0
xy 2
Deste modo, o limite lim não existe 
x→0 x2 + y 4
y→0

1.4. Propriedades de limites

As propriedades de limites de funções de uma veriável podem ser estendidas para os limites de
várias variáveis. Entretanto, se podem evidenciar as seguintes propriedades:

1) Sejam f : R2 → R e g : R2 → R tal que f (x, y) = ax + b e g(x, y) = ay + b, onde a e b


são quaisquer números reais. Então,

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lim f (x, y) = ax0 + b e x→x


x→x0
lim g(x, y) = ay0 + b
0
y→y0 y→y0

2) Se x→x
lim f (x, y) = 0 e g(x, y) é uma função limitada numa bola aberta de centro em
0
y→y0
lim f (x, y) · g(x, y) = 0
(x0 , y0 ), então x→x
0
y→y0

3) Se f é uma função de uma variável e continua num ponto a e g(x, y) é uma função tal
lim g(x, y) = a, então
que x→x
0
y→y0
( )
lim (f og)(x, y) = f
x→x0
lim g(x, y)
x→x0
= f (a)
y→y0 y→y0

Exemplo 10. Caso existam, calcule os limites:

3x2 y
a) lim ln(x2 + xy − 1) b) lim
x→1 x→0 x2 + y 2
y→2 y→0

Resolução ( ) ( )
a) lim ln(x2 +xy−1) = ln lim x2 + xy − 1 = ln lim x · lim x + lim x · lim y − lim 1 = ln 2
x→1 x→1 x→0 x→0 x→1 x→1 x→0
y→2 y→2 y→0 y→0 y→2 y→2 y→0

xy
b) Sejam f (x, y) = 3x e g(x, y) = . Então, lim f (x, y) = lim 3x = 0
x2 + y2 x→0
y→0
x→0
y→0

xy 1 x2 + y 2 1
g(x, y) é limitada pois g(x, y) = 2 2
≤ · 2 2
= , ∀(x, y) ∈ R2 .
x +y 2 x +y 2
3x2 y
Portanto, lim =0
x→0 x2 + y 2
y→0

1.5. Continuidade de funções de duas variáveis

Definição 8 (Continuidade pontual)


A função f (x, y) definida no conjunto E ⊆ R2 diz-se contínua no ponto P0 (x0 , y0 ) ∈ E se o
limite x→x
lim f (x, y) existe e verifica-se que
0
y→y0

lim f (x, y) = f (x0 , y0 ).


x→x0
y→y0

Definição 9 (Continuidade num conjunto)


Uma função f (x, y) é contínua num conjunto E ⊆ R2 se ela for contínua em todos os pontos
de E .

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Exemplo 11. Estude a continuidade da função


{
3x2 y
x2 +y 2
, se x2 + y 2 ̸= 0
f (x, y) =
0, se x2 + y 2 = 0
Resolução
Observe que x2 + y 2 = 0 ⇐⇒ x = y = 0. Portanto, o único ponto do plano R2 que suscita
3x2 y
dúvidas é (0, 0). Porém, f (0, 0) = 0 e já foi mostrado no exemplo 10 que lim 2 = 0.
x→0 x + y 2
y→0
Deste modo, f (x, y) é continua em R2 

Definição 10 (Crescimentos parcial e total de função)


Considere a função u = u(x, y, z) e o seu ponto (x0 , y0 , z0 ).
Sejam △x, △y e △z acréscimos dos argumentos x, y e z , respectivamente. Tomando,
x = x0 + △x, y = y0 + △y , z = z0 + △z , temos o acréscimo total da função u(x, y, z) a
partir do ponto (x0 , y0 , z0 ), isto é,

△u = u(x0 + △x, y0 + △y, z0 + △z) − u(x0 , y0 , z0 ).

Fixando y = y0 , z = z0 e x = x0 + △x na função u(x, y, z), obtemos


△ux = u(x0 + △x, y0 , z0 ) − u(x0 , y0 , z0 ), denominado acréscimo parcial da função u(x, y, z) em
relação ao argumento x.

Tomando x = x0 , z = z0 e y = y0 + △y na função u(x, y, z), se obtém


△uy = u(x0 , y0 + △y, z0 ) − u(x0 , y0 , z0 ), chamado acréscimo parcial da função u(x, y, z) em
relação ao argumento y .

Ao considerar x = x0 , z = z0 e z = z0 + △z na função u(x, y, z), obtemos:


△uz = u(x0 , y0 , z0 + △z) − u(x0 , y0 , z0 ), denominado acréscimo parcial da função u(x, y, z) em
relação ao argumento z .

Definição 11 (Derivada parcial)


Chama-se derivada parcial de função u = u(x, y, z), em relação a x, ao limite do quociente de
acréscimo parcial △ux e do acréscimo do argumento x, quando △x tende para zero e designa-
se por uma das notações u′x , u′x (x, y, z) ou ∂u
∂x
, isto é,

∂u u(x + △x, y, z) − u(x, y, z) △ux


= lim = lim
∂x △x→0 △x △x→0 △x

De modo análogo definem-se as derivadas parciais da função u = u(x, y, z) em relação as


variáveis y e z , respectivamente:

∂u u(x, y + △y, z) − u(x, y, z) △uy


= lim = lim
∂y △y→0 △y △x→0 △y

∂u u(x, y, z + △z) − u(x, y, z) △uz


= lim = lim
∂z △y→0 △z △x→0 △z

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Exemplo 12. Usando a definição, calcule as derivadas parciais das fuções:

a) f (x, y) = x + y b) f (x, y) = exy

Resolução

a) Seja f (x, y) = x + y

∂f f (x + △x, y) − f (x, y) x + △x + y − (x + y) △x
= lim = lim = lim =1
∂x △x→0 △x △x→0 △x △x→0 △x

∂f f (x, y + △y) − f (x, y) x + y + △y − (x + y) △y


= lim = lim = lim =1
∂y △y→0 △y △x→0 △y △y→0 △y

b) Seja f (x, y) = exy

∂f f (x + △x, y) − f (x, y) ey(x+△x) − exy ey△x − 1


= lim = lim = exy · lim = yexy
∂x △x→0 △x △x→0 △x △x→0 △x

∂f f (x, y + △y) − f (x, y) ex(y+△y) − exy ex△y − 1


= lim = lim = exy · lim = xexy
∂y △y→0 △y △y→0 △y △y→0 △y

Exemplo 13. Usando o cáculo directo, ache as derivadas parciais das funções.

a) f (x, y) = x2 sin(y) b) u(x, y, z) = x3 y 2 z + 2x − 3y + z + 5 c) z = xy , (x > 0).

Resolução

a) A partir de f (x, y) = x2 sin(y), tem-se:


∂f ∂f
= 2x sin y ; = x2 cos y
∂x ∂y

b) Seja u(x, y, z) = x3 y 2 z + 2x − 3y + z + 5, então obtem-se:


∂u ∂u ∂u
= 3x2 y 2 z + 2; = 2x3 yz − 3; = x3 y 2 + 1
∂x ∂y ∂z

c) Sendo z = xy , (x > 0), as derivadas parciais são dadas por:


∂f ∂f
= yxy−1 ; = xy ln x
∂x ∂y

Nabote A. Magaia

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