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Figura 2.

16: P0 e P1 pontos fronteiras

Definição 2.20 Se todos os pontos fronteira de A pertence a A. Dizemos que A é um conjunto


fechado, isto é, F r(A) ⊆ A.

Figura 2.17: conjunto fechado

Limites para funções de duas variáveis

Se os valores de f (x, y) estão arbitrariamente próximos de um número real fixado L para todos
os pontos (x, y) suficientemente próximos de um ponto P0 = (x0 , y0 ), dizemos que f se aproxima
do limite L quando (x, y) se aproxima de (x0 , y0 ). Isso é semelhante à definição informal para o
limite de uma função de uma única variável. Observe, entretanto, que se (x0 , y0 ) está no interior
do domı́nio de f , (x, y) pode se aproximar de (x0 , y0 ) a partir de qualquer direção. No entanto,
podemos colocar uma condição um poco mais geral para o ponto P0 .

Definição 2.21 Um ponto P0 ∈ R2 é ponto de acumulação do conjunto A, se para toda bola de


raio δ e centro P0 contem uma infinidade de pontos de A.

Em particular todo ponto interior é ponto de acumulação e todo ponto isolado não é ponto de
acumulação.
O conjunto de todos os pontos de acumulação de A é denotado por A0 .

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Figura 2.18: ponto de acumulação

Definição 2.22 Dizemos que uma função f (x, y) se aproxima do valor limite L (L ∈ R) a medida
que (x, y) se aproxima de (x0 , y0 ) e escrevemos
lim f (P ) = L ou lim f (x, y) = L
P →P0 (x,y)→(x0 ,y0 )

se, para todo  > 0, existe um número δ > 0 correspondente tal que, para todo (x, y) ∈ D domı́nio
de f , tal que: 0 < |P − P0 | < δ então |f (P ) − L| < 

Exemplo 2.23 Demonstre usando a definição de Limite que


x4 y
lim =0
(x,y)→(0,0) x4 + y 4

Solução: Dado  > 0, queremos provar que existe um δ > 0 tal que: se
p
0 < (x − 0)2 + (y − 0)2 < δ, então
x4 y
<

4
x + y4
p p
Lembre que |y| = y 2 então |y| ≤ x2 + y 2 . Por outro lado,
x4 y x4
= 4 |y| ≤ 1 |y| = |y|

4
x + y4 x + y4
x4 y
É dizer, tomando δ = , podemos concluir que lim = 0.
(x,y)→(0,0) x4 + y 4

Para o limite existir, deve ser ÚNICO , isto é, o mesmo valor limitante deve ser obtido, qualquer
que seja a direção de aproximação tomada. Ilustramos essa questão em diversos exemplos após a
definição.

Essas mesmas definições se estendem para funções de mais variáveis.

Exemplo 2.24 Calcular o limite caso exista


xy
lim
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Solução: O domı́nio de f é R2 − {(0, 0)}, logo (0, 0) é ponto de acumulação veja figura abaixo

Figura 2.19: limite em (0, 0)

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mx2 m
Se fazemos y = mx uma dessas retas temos: f (x, mx) = = , isto é, a função é constante
2x2 2
m
ao longo dessa reta e seu valor é . Então para cada m ∈ R temos um limite diferente, portanto
2
xy
lim não existe.
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Exemplo 2.25 Calcular o limite envolvendo indeterminação


sen(xy)
lim
(x,y)→(0,0) sen x · sen y

Solução: Temos que lim sen(xy) = 0 e lim sen x cos y = 0·1 = 0. Portanto temos
(x,y)→(0,0) (x,y)→(0,0)
uma indeterminação para ser analisada.
sen x
Neste caso, vamos usar o limite fundamental: lim = 1 como segue:
x x→0
h sen xy x y i
lim · · =1 ·1 ·1=1
(x,y)→(0,0) xy sen x sen y

Exemplo 2.26 Usando a definição de limite, mostrar que


lim (3x − y) = 1
(x,y)→(1,2)

Solução: De acordo com a definição 2.22, devemos mostrar que, para todo  > 0, existe um δ > 0,
p
tal que |f (x, y) − 1| <  sempre que 0 < (x − 1)2 + (y − 2)2 < δ. Par descobrir o valor de δ,
vamos começar:

|f (x, y) − 1| = |3x − y − 1|
= |(3x − 3) + (−y + 3 − 1)|
= |3(x − 1) + (−y + 2)|
≤ 3|x − 1| + | − y + 2|
< 3δ + δ
p p
pois, |x − 1| ≤ (x − 1)2 + (y − 2)2 e |y − 2| ≤ (x − 1)2 + (y − 2)2 . Assim podemos tomar

δ= e
4

|f (x, y) − 1| ≤ 3|x − 1| + | − y + 2|
 
< 3δ + δ = 3 + = 
4 4
p
para 0 < (x − 1)2 + (y − 2)2 < δ

Exemplo 2.27 Mostre que o limite existe:


2xy 2
lim
(x,y)→(0,0) x2 + y2

Solução: Sabemos que se o limite existe, então ao longo de qualquer caminho passando pela
origem o limite tem o mesmo valor.
(a) Consideremos retas passando pela origem, isto é, y = kx com k-constante,
2k2 x3 2k2 x
então lim f (x, kx) = lim 2 2
= lim =0
x→0 x→0 x (1 + k ) x→0 1 + k 2

(b) Consideremos parábolas passando pela origem, isto é, y = kx2 com k-
2k2 x5 2k2 x3
constante, então lim f (x, kx2 ) = lim 2 = lim =0
x→0 x→0 x (1 + k 2 x2 ) x→0 1 + k 2 x2

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Então para, confirmar,
p devemos verificar a definição 2.22 . Seja  > 0 debemos encontrar um δ > 0
tal que se 0 < x2 + y 2 < δ
2xy 2
|f (x, y) − 0| =

2
x + y2

|x||y 2 |
= 2 2
x + y2
p
x2 + y 2 · (x2 + y 2 )
≤ 2
x2 + y 2
p
≤ 2 x2 + y 2
< 2δ

Então basta considerar δ = 2

Proposição 2.28 Propriedades dos limites: as regras a seguir são verdadeiras se L, M e K forem
números reais: lim f (x, y) = L e lim g(x, y) = M
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

(a) lim [f (x, y) ± g(x, y)] = L ± M ,


(x,y)→(x0 ,y0 )

(b) lim Kf (x, y) = K L,


(x,y)→(x0 ,y0 )

(c) lim [f (x, y) · g(x, y)] = L · M ,


(x,y)→(x0 ,y0 )

f (x, y) L
(d) lim = se M 6= 0,
(x,y)→(x0 ,y0 ) g(x, y) M
(e) lim [f (x, y)]n = Ln n um inteiro positivo,
(x,y)→(x0 ,y0 )
p
n

n
(f ) lim f (x, y) = L n um inteiro positivo e se n for par L > 0
(x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 2.29 Encontrar o valor dos limites:


3x2 − 2xy + 2y 3(1)2 − 2(1)(0) + 2(0) 3
(a) lim = =
(x,y)→(1,0) x − xy − 3y + x
2 (1)2 − (1)(0) − 3(0) + (1) 2
p p √
(b) lim 2 2 2
x + 2y = (2) + 2(3) = 222
(x,y)→(2,3)

Exemplo 2.30 Encontre


x2 − xy
lim √ √
(x,y)→(0,0) x− y
O domı́nio desta função é:

Figura 2.20: domı́nio

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Considere o caminho dentro do domı́nio como mostra a figura acima y = 2x com x > 0. Então
x2 − x(2x) x2 √ x−→0
√ √ = √ =x x −−−−→ 0
x − 2x x
Se o limite existe, deveria ser zero. Vejamos: racionalizando,

√ √
x2 − xy (x2 − xy)( x + y)
√ √ = √ √ √ √
x− y ( x − y)( x + y)
√ √
x(x − y)( x + y)
=
(x − y)
√ √ (x,y)−→(0,0)
= x( x + y) −−−−−−−−→ 0

Definição 2.31 Uma função f (x, y) é contı́nua no ponto (x0 , y0 ) se


(a) f for definida no ponto (x0 , y0 )
(b) lim f (x, y) existe
(x,y)→(x0 ,y0 )

(c) lim f (x, y) = f (x0 , y0 )


(x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 2.32 Mostre que f é contı́nua em todo ponto exceto na origem


( 2
x
, se (x, y) 6= (0, 0)
f (x, y) = x2 +y2
0, se (x, y) = (0, 0)

A função é contı́nua para qualquer ponto (x, y) 6= (0, 0) ja que o denominador é sempre diferente
de zero. O valor limite é obtido através da substituição dos valores de x e y na expressão funcional.
Em (0, 0) o valor de f é zero, isto é, f (0, 0) = 0. Por outro lado, o limite não existe quando
(x, y) −→ (0, 0) A razão é que diferentes caminhos de aproximação da origem podem levar a
resultados diferentes, conforme veremos a seguir:

x2
f (x, 0) = = 1 caminho y = 0
x2
0
f (0, y) = 2 = 0 caminho x = 0
y
As funções são contantes igual a 1 e zero, assim os limites quando (x, y) −→ (0, 0) são diferentes,
logo o limite não existe. Portanto a função não é contı́nua.

Proposição 2.33 Se f é uma função de uma variável, contı́nua num ponto a, e g(x, y) uma
função tal que lim g(x, y) = a então:
(x,y)→(x0 ,y0 )
 
lim f (g(x, y)) = f lim g(x, y) = f (a)
(x,y)→(x0 ,y0 ) (x,y)→(x0 ,y0 )

Exemplo 2.34 Calcular


lim ln(x3 + xy − 2)
(x,y)→(1,2)

Solução: f (t) = ln t é contı́nua em seu domı́nio, isto é t > 0. Em particular em t = 1


 
ln lim (x3 + xy − 2) = ln 1 = 0
(x,y)→(1,2)

Usando a Limitação

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Proposição 2.35 Se lim f (P ) = 0 e g(P ) é uma função limitada numa bola aberta
P →P0
B(P0 , δ1 ) − {P0 }, isto é, existe uma constantes M > 0 tal que: |g(P )| ≤ M para todo 0 <
|P − P0 | < δ, então
lim f (P )g(P ) = 0
P →P0

 
Demonstração: Dado  > 0, em particular para M , existe um δ2 tal que: |f (P )| < M para todo
0 < |P − P0 | < δ2 , assim, para δ = min{δ1 , δ2 } temos,

|f (P )g(P )| ≤ |f (P )||g(P )| ≤ |f (P )|M



≤ M
M
≤ 

Exemplo 2.36
x2 y
lim =0
(x,y)→(0,0) x2 + y2

Solução: Podemos escrever como um produto

x2 y x2
=y· 2
x2+y 2 x + y2
x2
Vamos considerar f (x, y) = y e g(x, y) = x2 +y 2 , então é claro que lim f (x, y) = 0. Vamos
(x,y)→(0,0)
mostrar agora que g(x, y) é limitada. De fato, x ≤ x + y para todo (x, y) ∈ R2 , se (x, y) 6= (0, 0)
2 2 2

então
x2
|g(x, y)| = 2 ≤1
x + y2
Portanto g(x, y) é limitada. Assim

x2 y
lim =0
(x,y)→(0,0) x2 + y2

Exemplo 2.37 Mostrar que


xy
lim p =0
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

Solução: Podemos escrever como um produto, isto é,

xy x
p =y · p
x2 + y2 x2 + y2
x
Vamos considerar f (x, y) = y e g(x, y) = √ , então é claro que
y = 0. Vamos lim
x2 +y 2 (x,y)→(0,0)

2
p que g(x, y) é limitada. De fato, pela definição de modulo, temos que |x| = x , assim,
mostrar
2 2 2
|x| ≤ x + y para todo (x, y) ∈ R , se (x, y) 6= (0, 0) então

|x|
|g(x, y)| ≤ p ≤1
x2 + y 2

Portanto g(x, y) é limitada. Assim,


xy
lim p =0
(x,y)→(0,0) x2 + y 2

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EXERCÍCIOS de LIMITE e CONTINUIDADE

sen(xy)
1. Mostre que lim p = 0;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
sen(xy)
2. Mostre que a função z = x2 +y 2 não tem limite quando (x, y) → (0, 0). Sugestão use os
caminhos y = kx;
x6
3. Mostre que a função z = (x3 +y 2 )2 não tem limite quando (x, y) → (0, 0);

x2 y 2
4. Mostre que a função z = x2 y 2 +(x−y)2 não tem limite quando (x, y) → (0, 0);

(x−y)2 y
5. Mostre que a função z = (x−1)4 +y 2 não tem limite quando (x, y) → (1, 0);

6. Verifique se os seguintes limites existem:

x3 − y 3
(a) lim ;
(x,y)→(0,0) x2 + y 2
−x2 y
(b) lim ;
(x,y)→(0,0) 2x2 + 2y 2
xy(x − y)
(c) lim ;
x4 + y 4
(x,y)→(0,0)

−x + 5y
(d) lim ;
(x,y)→(0,0) 2x − y

x2 +y 2 −z 2
7. Mostre que a função z = não tem limite quando (x, y, z) → (0, 0, 0);
x2 +y 2 +z 2

1 − cos xy
8. Calcule o limite lim ;
(x,y)→(0,0) sen x · sen y
√3 xy − 1
9. Calcule o limite lim √ ;
(x,y)→(0,0) xy − 1
10. Verifique se as funções dadas são contı́nuas no ponto indicado

x sen( y1 ), se y =

6 0
(a) f (x, y) = P = (0, 0)
0, se y = 0
( sen(x2 +y2 )
√ , se (x, y) 6= (0, 0)
2 2
(b) f (x, y) = 1−cos x +y P = (0, 0)
2, se (x, y = (0, 0))
(
x2 −y 2
x2 +y 2
, se (x, y) 6= (0, 0)
(c) f (x, y) = P = (0, 0)
0, se (x, y) = (0, 0)
(
x2 −xy
x2 −y 2
, se y 6= ±x
(d) f (x, y) = 1
P = (1, 1)
4
(x + y), se y = ±x

11. Calcular o valor de a para que a função seja contı́nua em (0, 0):

(x2 + y 2 ) · sen( xy
1

), se (x, y) 6= (0, 0)
(a) f (x, y) =
a, se (x, y) = (0, 0)
x2 y 2
(
√ , se (x, y) 6= (0, 0)
2
(b) f (x, y) = y +1−1
a − 4, se (x, y = (0, 0))

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