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Equações Diferenciais II
Para falar sobre os objetos de estudo deste texto é interessante falar, antes, sobre funções. A
primeira definição de função foi apresentada em 1718 pelo matemático suíço Johann Bernoulli.
Nos anos seguintes novas definições surgiram e o conceito de função evoluiu até a definição
apresentada por N. Bourbaki em 1939 (veja a referência [12]), que é transcrita aqui:
D EFINIÇÃO [Bourbaki]: Sejam E e F dois conjuntos, distintos ou não. Uma relação entre
uma variável x de E e uma variável y de F é dita relação funcional em y, se, qualquer que
seja x ∈ E, existe um elemento y de F, e apenas um, que está na relação considerada com
x. Dá-se o nome de função à operação que assim associa a todo elemento x ∈ E o elemento
y ∈ F que está na relação dada com x; diz-se que y é o valor da função para o elemento x
e que a função é determinada pela relação funcional considerada. Duas relações funcionais
equivalentes determinam a mesma função.
x3 + x2 + x + 1
f (x) = ·
x2 + 1
O leitor é convidado a imaginar como seria o gráfico da função f . Feito isso, considere agora
a função g : R → R com relação funcional definida por g(x) = x + 1. Note que o gráfico de g é
fácil de ser descrito: trata-se de uma reta crescente passando pelos pontos (−1, 0) e (0, 1). Mas
seriam as funções f e g iguais? Para que a resposta seja afirmativa é preciso partir da relação
funcional que define f e chegar na relação funcional de g e depois partir da relação funcional
que define g e chegar na relação funcional de f , pois é isso que significa dizer que as relações
funcionais são equivalentes. Assume-se a relação funcional de f :
x3 + x2 + x + 1 (x3 + x) + (x2 + 1)
f (x) = =
x2 + 1 x2 + 1
i
ii Apresentação
Como o leitor sabe, essas duas funções são iguais. Para mostrar isso é necessário pensar em
modo que leva as duas sentenças da função modular na única setença da função g(x) e vice-
versa. Antes de dar continuidade aos cálculos recordar-se-á dois conceitos básicos: raiz n-ésima
e potência de expoente racional.
Dando continuidade, demonstrar-se-á que f ⇒ g, analisando-se cada sentença por vez. Para
x ≥ 0, tem-se
Apresentação iii
1 12 √
x = x 2· 2 = x2 = x2 .
Para x < 0: como x é negativo, então existe y > 0 tal que x = −y (ou y = −x). Assim,
1 p q √
1
−x = y = y 2· 2 = y2 2 = y2 = (−x)2 = x2 .
O leitor deve observar que a validade dos cálculos acima está assegurada pela não negativi-
dade das bases usadas. Tais cálculos mostram que√as duas setenças da função modular f (x) = |x|
são levadas na única sentença da função g(x) = x2 .
Agora mostra-se que g ⇒ f . Para x ≥ 0, tem-se que
√ 21 1
x2 = x2 = x 2· 2 = x.
Para x < 0: como x é negativo, então existe y > 0 tal que x = −y (ou y = −x). Assim,
√ 1 1 1 1
x2 = x2 2 = (−y)2 2 = y2 2 = y 2· 2 = y = −x.
Novamente deve ser observado que as bases usadas nos cálculos acima
√ são sempre não nega-
tivas. Mostrou-se, portanto, que a única sentença da função f (x) = x2 é levada nas duas sen-
tenças da função g(x) = |x|. Logo, mostrou-se√g ⇒ f . Como f ⇒ g e g ⇒ f , então, pela definição
de igualdade de função, conclui-se que |x| = x2 .
Essas diferentes maneiras de escrever uma mesma função é chamada de representação: uma
mesma função tem diferentes maneira de ser representada e este é o motivo sobre o que foi
apresentado até este ponto. E o que se ganha em representar uma função de modos distintos?
Ganha-se mais informações sobre a natureza desta função. Por exemplo, considere a função
f : R → R definida pela relação funcional f (x) = x. Com esta representação o que se consegue
falar sobre a função f é que o seu gráfico é uma reta crescente passando pela origem. Mas
também é possível representar f nas duas formas abaixo:
2 0 Z x t
x
g(x) = =x e h(x) = dt = t = x.
2 0 0
Através da representação pela g é possível concluir que a função f (x) = x pode ser olhada
como a função que informa a variação da inclinação da reta tangente ao gráfico da função
x2/2 e na representação h a função f (x) = x pode ser interpretada como uma das primitivas da
função constante e igual a 1. Em suma, encontrar maneiras diferentes de representar uma mesma
função permite que novos “olhares” se lancem sobre esta função, de modo que aparecem novas
compreensões à cerca dessa função.
A Análise Matemática, em sua essência, é uma teoria de funções onde um dos maiores in-
teresses é a busca por modos distintos de representar e de produzir funções. Estudo de de-
senvolvimento em séries de potências, sequências e séries de funções, etc. são maneiras pro-
duzir funções que são assim representadas. Como exemplo, mostrar-se-á o motivo de uma se-
quência de funções convergente pontualmente representar uma função de fato. A definição é a
iv Apresentação
Quanto ao capítulo 3, poder-se-ia escolher um entre os seguintes caminhos: (1) apenas uma
apresentação da transformada de Fourier e a resolução de alguns cálculos. O problema é que as
integrais mais interessantes possuem algum tipo de singularidade, que exigiria conhecimento da
teoria de polos e resíduos, bem como o cálculo de integrais com essas ferramentas. O ponto de
partida, neste texto, é que os estudantes não tenham conhecimento prévio em Variáveis Com-
plexas, de modo que essa abordagem foi desconsiderada. (2) Fazer um estudo da transformada
de Fourier em espaços de Schwartz e com isso ganhar mais informações sobre a verdadeira
natureza desta transformada. A experiência dessa abordagem com estudantes no nível esperado
para este texto não deu bons resultados; exige maior maturidade matemática que o estudante
típico, para o público alvo esperado, em geral não tem. Então essa abordagem também foi de-
sconsiderada. (3) A terceira possibilidade, que foi a escolhida, consiste em dar um tratamento
às transformadas de Fourier de forma semelhante ao que foi feito para as transformadas de
Laplace: apresentar a definição e resultados que permitam resolver exemplos que serão levados
para uma tabela contendo transformadas elementares de Fourier. A justificativa para esta es-
colha, em virtude do público alvo esperado, se deve a dois motivos: (a) é possível apresentar as
propriedades mais conhecidas e que são satisfeitas pela transformada de Fourier e (b) ser dese-
jável que este primeiro contato com este assunto leve em consideração os aspectos operacionais
desta ferramenta (ou seja, cálculo de transformadas a partir da tabela construída).
Finaliza-se esta apresentação tecendo alguns comentários sobre o último capítulo, aplicações
às Equações Diferenciais Parciais (EDP). O objetivo deste texto não é o de ser um curso em
Equações Diferenciais Parciais, mas sim usar a Análise Clássica de Fourier em suas aplicações
naturais, as EDP. Inicia-se apresentando alguns conceitos básicos, mostrando a enorme dificul-
dade em definir uma EDP e a solução para a mesma. Em seguida apresenta-se a ordem de uma
EDP, os tipos de equações desta natureza, bem como as maneiras de classificar as EDP.
Apesar de Fourier ter usado a série que recebe o seu nome para resolver problemas do calor,
a verdade é que essa não é a melhor ferramente para a equação do calor. Como ficará claro
ao longo do texto, o teorema de Fourier exige que uma função representada por uma série de
Fourier tenha que ser periódica. Não é natural esperar que a propagação do calor se dê de forma
periódica. A transformada de Fourier resolve essa questão e funciona muito bem com a equação
do calor, ou seja, é mais natural. Por outro lado, a série de Fourier tem “a cara” da equação de
onda, é natural e intuitivo, uma vez que é possível fazer interpretações físicas nos elementos
que aparecem na série de Fourier e que são coerentes com a propação de onda. Apresenta-
se também a fórmula de d’Alembert e sua interpretação geométrica da propagação de onda.
Encerra-se o capítulo com a equação de Laplace, onde se faz estudos apenas sobre retângulos,
discos e regiões circulares. Espera-se que o leitor consiga perceber a diferença da natureza das
soluções obtidas em regiões com distintas geometrias dos domínios.
Os apêndices aos capítulos têm dois objetivos: deixar o texto autossuficiente e complementar
a parte teórica no corpo de cada capítulo, incorporando assuntos que extrapolam um primeiro
estudo. Os apêndices são para estudo complementar. Os adendos têm como objetivo apontar
alguns caminhos que seguem após um primeiro curso. O primeiro apresenta a demonstração do
teorema de Fourier em sua forma clássica. O segundo estuda as séries de Fourier generalizadas,
Apresentação vii
1 Transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.1 Motivação . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 Uma classe de funções . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.3 Definição da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.4 Sobre a existência da inversa . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 22
1.5 Propriedades básicas da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 37
1.6 Transformadas de funções descontínuas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 53
1.7 Transformadas de Laplace da derivada e da integral . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 60
1.8 Derivada e integral da transformada de Laplace . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 69
1.9 Problemas de valores iniciais . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 76
1.10 Produto de transformadas e convolução . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 92
1.11 Funções impulso . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 104
1.12 Exercícios propostos . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 118
Apêndice 1: regras de Leibniz . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 127
Apêndice 2: funções gama e beta . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 132
Apêndice 3: interpretações físicas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 149
Apêndice 4: núcleos de Dirac . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 159
ix
x Conteúdo
Bibliografia . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 893
1.1 Motivação
Todos os resultados desta seção serão obtidos de maneira formal, de maneira similar ao que
era feito pelos matemáticos do século XVIII. O objetivo é dar um entendimento sobre o surgi-
mento da transformada de Laplace, que é definida a partir de uma integral, com a ideia que
uma integral generaliza o conceito de certa série de funções. Em linhas gerais, o que será feito
aqui é dar um entendimento informal de que séries são somas discretas e integrais são somas
contínuas.
Começa-se com as séries numéricas, que “darão origem” às integrais ordinárias. Algumas
definições são necessárias:
D EFINIÇÃO : Diz-se que a sequência {an } converge para um número a ∈ R, que será denotado
por a = lim an , quando, para todo real ε > 0, existe um n0 ∈ N tal que
n→∞
Para definir a convergência de uma série numérica, a ideia é considerar uma sequência {an }
e a partir dela formar outra sequência, dita somas parciais, que são somas do tipo
s1 = a1, s2 = a1 + a2, . . ., sn = a1 + a2 + · · · + an .
∞
D EFINIÇÃO : Diz-se que a série numérica ∑ an é convergente se existir o limite
n=1
1
2 1 Transformada de Laplace
Além disso, o limite s é chamado de soma da série, que também se escreve na forma
∞
s= ∑ an = a1 + a2 + · · ·an + · · ·
n=1
∞
Caso a sequência das somas parciais não seja convergente, diz-se que a série numérica ∑ an
n=1
é divergente.
Para passar para uma integral, a ideia é substituir o domínio N da sequência de somas parciais
por um intervalo real, que pode ser limitado ou ilimitado, e fazer uma soma contínua neste
intervalo, ou seja, somar os valores de todos os f (x) para a < x < b, onde a e b podem ser
b
finitos ou infinitos. A notação ∑ f (x) não é indicada para representar a soma contínua. A
x=a
Z b
notação que se consagrou é s(x) dx. Assim sendo, é possível interpretar a integral ordinária
a
como uma soma contínua de f (x) quando x varia no intervalo de a até b.
O procedimento para sequências e séries de funções é similar ao que foi feito até aqui. Inicia-
se recordando a definição de sequência de funções e depois séries de funções.
Seguindo a mesma ideia anterior, o que se faz é identificar fn (x) = f (x, n), ou seja, observar
que que cada elemento fn (x) da sequência de funções é uma função, fn : I × N → R, de duas
variáveis, x e n, tomando valores em R.
Para definiir a convergência de uma série de funções, a ideia é considerar uma sequência de
funções { fn (x)} e a partir dela formar outra sequência de funções, ditas somas parciais, que são
somas do tipo
Além disso, o limite pontual s(x) é chamado de soma da série de funções, que também se
escreve na forma
∞
s(x) = ∑ fn (x) = f1 (x) + f2 (x) + · · · + fn (x) + · · ·
n=1
Caso a sequência de somas parciais não seja pontualmente convergente, diz-se que a série de
∞
funções ∑ fn (x) é divergente.
n=1
Como observado anteriormente, o que se faz é identificar fn (x) = f (x, n), onde fn : I × N → R
é uma função com duas variáveis, uma contínua, x, e outra discreta, n, com valores em R. Caso
a variável discreta n ∈ N seja substituída por outra variável, mas agora contínua, y ∈ J, onde
J ⊂ R é outro intervalo, então o que se obtém é uma função fy (x) = f (x, y), onde fy : I × J → R.
Assim, fixado x ∈ I, é possível realizar uma soma contínua na variável y ∈ J, que resultará em
b
uma integral que define uma dada função. Novamente, a notação ∑ fy (x) não é adequada para
x=a
representar a soma contínua. Nesse caso, a melhor notação é escrever
Z b Z b
fy (x) dy = f (x, y) dy,
a a
onde a e b podem ser finitos ou infinito. Sob hipóteses convenientes, é possível demonstrar
que a integral no último membro acima define uma função F(x). O leitor interessado poderá
consultar os estudos apresentados no Adendo A.
As séries de potência,
∞
∑ an (x − x0 )n = a0 + a1(x − x0 ) + · · · + an(x − x0 )n + · · · ,
n=0
podem ser tratadas como casos particulares das séries de funções. Fazendo x0 = 0 na série de
potência acima, obtém-se
∞
∑ an xn = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn + · · ·
n=0
Usando as ideias anteriores de passar de uma soma discreta para uma integral a partir da série
de potências acima, com x ∈ I ⊂ R, olha-se para an = a(n) e troca-se n ∈ N por t ∈ J ⊂ R,
∞
escrevendo at = a(t), onde t ∈ J agora é variável contínua. Mais uma vez, a notação ∑ at xt
t=0
não é adequada para representar uma soma contínua. A notação mais adequada é escrever
Z ∞ Z ∞
at x t dt = a(t) x t dt
0 0
A integral no segundo membro acima foi muito usada no século XVIII para resolver certos
problemas envolvendo equações diferenciais ordinárias. Ora na forma descrita, ora fazendo-se
uma mudança na variável x.
A transformada de Laplace pode ser obtida fazendo-se uma mudança de variáveis, em particu-
lar, escrevendo x = e −s. Assim,
Z ∞ Z ∞ t Z ∞
a(t) x t dt = a(t) e −s dt = a(t) e −st dt,
0 0 0
que é a tranformada de Laplace para a função a(t). A notação usada neste texto será
Z ∞
L[ f (t)] = e −st f (t) dt,
0
onde F(s) = L[ f (t)] será a função transformada de Laplace da função dada f (t).
Pretende-se, neste texto, estudar uma transformação linear particular dada através de um
operador integral, denotado por L, conhecido como a transformada de Laplace.1 Para isso,
deve introduzir o conceito de funções seccionalmente contínuas, que é necessário quando for
descrito o domíno do operador L.
Exemplo 2.1: A função f : R \ {0} → R definida por f (t) = 1/t não é seccionalmente con-
tínua. De fato, a descontinuidade de f em t = 0 é de segunda espécie, pois não existem os
limites laterais lim f (t) e lim f (t).
t→0− t→0+
O objetivo de usar as funções seccionalmente contínuas é o fato de que elas são integráveis
(no sentido de Riemann) em intervalos limitados. De fato, se f é seccionalmente contínua em
[a, b], com descontinuidade nos pontos a1 , a2 . . ., an e, possivelmente, também em a e b (os
extremos do intervalo [a, b]), então a integral
Z b
f (t) dt
a
onde a notação δ → 0+ significa que δ tende a zero somente por valores positivos. É possível
demonstrar que este limite sempre existe.
Esclarece-se a escolha da variável independente t ao invés da usual x: na maioria dos proble-
mas de valor inicial, a variável independente pode ser interpretada como tempo. Além disso,
no caso da transformada de Laplace, normalmente os valores negativos são excluídos, assim
como para o tempo, de modo que a atenção, nestes casos, reduzem-se a observar o semi-eixo
não negativo [0, ∞).
Z ∞
(3.1) L[ f (t)] = F(s) = e −st f (t) dt,
0
Relembre-se que uma integral como a do tipo acima é de natureza imprópria (pois, nesse
caso, o domínio de integração é ilimitado) e é calculada de acordo com a regra
Z ∞ Z T
e −st f (t) dt = lim e −st f (t) dt.
0 T →∞ 0
Diz-se que tal integral é convergente, relativamente, a um valor particular de s se, e somente
se, este limite acima existe.
Observa-se que a afirmação acima não é uma definição, ao menos em sentido estrito do
termo. Uma definição será apresentada oportunamente. Também deve ser notado que aparece
uma expressão contendo a variável s no primeiro membro da igualdade acima. Assim, é preciso
saber quando esta expressão em termos de s representa, de fato, uma função desta variável.
Nas aplicações práticas, normalmente é possível calcular diretamente a transformada de
Laplace de funções f pela definição. Contudo, isto não afasta a necessidade de determinar uma
classe de funções que assegura a existência da transformada de Laplace. Isso se deve ao fato de
querer considerar L como um operador linear definido em um espaço vetorial conveniente.
Ao examinar a integral que aparece em (3.1), é razoável pensar em funções f que devem ser
escolhidas de tal modo que a integral
Z T
(3.2) e −st f (t) dt
0
D EFINIÇÃO : Diz-se que uma função f é admissível (ou de ordem exponencial) em [0, ∞) se
existirem constantes k ∈ R e M > 0 tais que
−kt
(3.3) e f (t) < M ou | f (t)| ≤ M e kt ,
1.3 Definição da transformada de Laplace 7
Intuitivamente, funções de ordem exponencial não podem “crescer” em valor absoluto mais
rapidamente do que a função M e kt quando t cresce. Na prática, entretanto, isso não é uma
restrição, pois M e k podem ser tão grande quanto se queira.
Os exemplos a seguir mostrarão várias funções que aparecem na prática e que são admis-
síveis.
| f (t)| = 1 ≤ M · e kt .
são admissíveis.
S OLUÇÃO : Para valores grandes de t, sabe-se que t n < e t . Isto implica na existência de uma
constante M ≥ 1, tal que para k = 1 vale
| f (t)| = | t n| < e t ≤ M e t .
são admissíveis.
2 Esta desigualdade só precisa ser satisfeita nos pontos do semi-eixo não negativo, isto é, onde f está definida.
8 1 Transformada de Laplace
n kt
t · e · cos(bt) |t n | e kt |cos(bt)| t n · e kt tn
= ≤ = ·
e 2kt e 2kt e 2kt e kt
Agora será mostrado que
tn
lim
= 0, k > 0.
t→∞ e kt
A demonstração dessa parte é um pouco técnica. Num primeiro momento, o leitor poderá
omitir seu estudo. Seja h : R → R uma função dada por h(t) = e kt , com k > 0. Sabe-se que
h é diferenciável e que h0 (t) = k e kt . Fixado t > 0, pelo teorema do valor médio aplicado ao
intervalo [0, t], segue-se que existe t0 ∈ (0, t) tal que
de modo que
e kt = 1 + k e kt0 · t.
Além disso, tem-se que e t0 > 1 para t0 > 0, de modo que k e kt0 > k.Logo,
kt/(n+1) kt kt ,
e > 1+ > para todos k, t > 0.
n+1 n+1
Agora eleva-se ambos os membros da última desigualdade obtida à potência n + 1.. Assim,
h in+1 kt n+1 kn+1 · t n+1
kt/(n+1) kt
e > ⇒ e > ·
n+1 (n + 1)n + 1
Fazendo
1 kn+1 ,
=
C (n + 1)n+1
obtém-se
t n+1
kt e kt t tn C
e > ⇒ n
> ⇒ kt
< ·
C t C e t
Segue-se imediatamente da última desigualdade acima que
tn
lim = 0, k > 0.3
t→∞ e kt
Além disso, em particular, a expressão t n/e kt é menor ou igual a 1. Então, t n · e kt · cos(bt) ≤
e 2kt para valores de t suficientemente grandes. Logo, existe uma constante M > 0 tal que
t n · e kt · cos(bt) ≤ Me 2kt para todo t > 0.
Se k ≤ 0, então e kt ≤ 1 e | cos(bt)| ≤ 1, de modo que
3
Observa-se que é possível aplicar a regra de l’Hospital ao quociente t n/e kt , derivando n vezes o numerador e denomi-
nador para se chegar a mesma conclusão.
1.3 Definição da transformada de Laplace 9
n kt n kt
t · e · cos(bt) = |t | · e · |cos(bt)| ≤ | t n| = t n .
Além disso, a desigualdade t n < et para valores grandes de t implica na existência de uma
constante M > 0 tal que t n · e kt · cos(bt) ≤ Me t para todo t > 0.
De maneira análoga mostra-se que f (t) também é admissível.
2
Exemplo 3.4: A função f : [0, ∞) → R definida por f (t) = e t não é admissível.
para todo t > 0. A primeira desigualdade acima afirma que a função dada dividida pela exponen-
cial e kt deve resultar em uma função limitada. Este exemplo será resolvido mostrando-se que
2
a função e t /e kt tende para ∞ quando t → ∞, de modo que não é limitada e, consequentemente,
2
que f (t) = e t não é admissível.
De fato,
2
e −kt · f (t) = e −kt · e t = e t(t−k).
A expressão no segundo membro acima não tem limite quando t → ∞, de modo que a do
primeiro membro também não tem limite; ou seja,
h i
lim e −kt · f (t) = lim e t(t−k) = ∞
t→∞ t→∞
para todo k.
2
Isso mostra que e t /e kt não é limitada. Consequentemente, f não é admissível.
Proposição 3.1 (existência): Seja f : [0, ∞) → R uma função seccionalmente contínua e ad-
missível. Então, existe um número real k tal que
Z ∞
e −st f (t) dt
0
4
O leitor poderá observar que este teorema é o equivalente ao teste da comparação para séries infinitas, porém aplicado
à integrais impróprias.
10 1 Transformada de Laplace
Por hipótese, f é uma função admissível. Logo, existem constantes M > 0 e k tais que
| f (t)| ≤ M e k t para todo t > 0. Além disso, seja {t1, t2, . . ., tn} o conjunto de pontos onde f (t)
é descontínua no intervalo [0, T ]. Assim,
Z T Z T
−st
e f (t) dt ≤
e −st | f (t)| dt
0 0
Z t1 Z t2 Z tn
−st −st
= e | f (t)| dt + e | f (t)| dt + · · · + e −st | f (t)| dt +
0 t1 tn−1
Z T
+ e −st | f (t)| dt
tn
Z t1 n Z ti+1 Z T
−st −st
= e | f (t)| dt + ∑ e | f (t)| dt + e −st | f (t)| dt
0 i=1 ti tn
Z t1 n Z ti+1 Z T
kt kt
≤ e −st
· M · e dt + ∑ e −st
· M · e dt + e −st · M · e kt dt
0 i=1 ti tn
Z t1 Z
n ti+1
Z T
−(s−k)t −(s−k)t
=M e dt + ∑ M e dt + M e −(s−k)t dt
0 i=1 ti tn
t1 ti+1 " #
n
M −(s−k)t M −(s−k)t
=− ·e +∑ − ·e −
s−k 0 i=1 s−k ti
T
M
−(s−k)t
− ·e
s−k tn
M −(s−k)t1 0 −(s−k)t2 −(s−k)t1
=− e −e + e −e +···
s−k
−(s−k)tn −(s−k)tn−1 −(s−k)T −(s−k)tn
···+ e −e + e −e
M h i
=− −1 + e −(s−k)T
s−k
M h i
= 1 − e −(s−k)T .
s−k
Para s < k, o limite da exponencial acima, quando T → ∞, não existe, pois o expoente fica
positivo.
Para s > k, tem-se que s − k > 0, de modo que o expoente fica negativo (visto que T > 0
sempre). Assim, existe o limite da exponencial para T → ∞ e este vale zero. Portanto,
Z ∞ h i
e −st
f (t) dt ≤ M · lim 1 − e −(s−k) T
0 s − k T →∞
M 1 M ,
= · lim 1 − (s−k)T =
s − k T →∞ e s−k
1.3 Definição da transformada de Laplace 11
Observação 3.1: Anteriormente foi dito que a variável t pode ser intepretada como tempo.
A nova variável s também tem uma interpretação: frequência. Com esta linguagem, pode-se
pensar que o operador L tem como domínio o espaço dos tempos e tem como contradomínio o
espaço das frequências, onde F(s) = L[ f (t)] é interpretada como amplitude do sinal f (t).
O próximo resultado mostra que a função transformada de Laplace tende para zero no infinito.
5
Diz-se que b é uma cota inferior de um conjunto não vazio S de números reais se, e somente se, b ≤ s para todo s ∈ S.
Diz-se que B é um ínfimo de S se, e somente se, B é uma cota inferior de S e B ≥ b para toda cota inferior b ∈ S. Uma
das mais importantes propriedades do sistema de números reais é que todo conjunto não vazio S de números reais tem
um único ínfimo B (desde que se suponha que B assume o valor −∞ quando S não tiver cota inferior finita).
12 1 Transformada de Laplace
lim F(s) = 0.
s→∞
Nos exemplos a seguir, bem como nos exemplos das próximas seções, o leitor poderá veri-
ficar a validade da afirmação da proposição 3.2, bastando para isso tomar s → ∞ nas funções
transformadas de Laplace obtidas.
Exemplo 3.5: Seja f : [0, ∞) → R uma função dada por f (t) = k, onde k é uma constante.
Então a sua transformada de Laplace é dada por
k,
(3.4) F(s) = L[ f (t)] = para s > 0.
s
S OLUÇÃO : A figura 3.1 mostra o gráfico de f (t) com k = 2.
Seguindo a ideia do exemplo 3.1, mostra-se facilmente que a função f (t) = k é uma função
admissível. Então pode-se usar a definição de transformada de Laplace para obter
Z ∞ Z ∞
F(s) = e −st f (t) dt = e −st · k dt
0 0
Z T
= k · lim e −st dt
T →∞ 0
T
k −st
=− lim e
s T →∞ 0
1.3 Definição da transformada de Laplace 13
k
= − · lim e −s T − 1
s T →∞
k
= · lim 1 − e −s T
s T →∞
k,
= para s > 0,
s
pois facilmente se vê que
lim e −s T = 0 para s > 0,
T →∞
observando que T > 0.
Exemplo 3.6: Seja f : [0, ∞) → R uma função dada por f (t) = e k t , onde k é uma constante.
Então sua transformada de Laplace é dada por
1 ,
(3.5) F(s) = para s > k.
s−k
S OLUÇÃO : Pelo exemplo 3.2, f (t) = e k t é uma função admissível. Assim, usando a definição,
obtém-se Z ∞ Z ∞
F(s) = e −st
f (t) dt = e −st ek t dt
0 0
Z T T
−(s−k)t 1 −(s−k)t
= lim e dt = − lim e
T →∞ 0 s − k T →∞ 0
1 h i
=− · lim e −(s−k)T − 1
s − k T →∞
14 1 Transformada de Laplace
1 h i
= · lim 1 − e −(s−k)T
s − k T →∞
1 −(s−k)T
= 1 − lim e
s−k T →∞
1 ,
= para s > k.
s−k
O leitor verificará facilmente que, para s > k, s − k > 0, de modo −(s − k)T < 0 e assim
lim e −(s−k)T = 0.
T →∞
E se s = k, a função F(s) = 1/(s−k) não estará definida (pois surgirá um zero no denominador).
O exemplo 3.6 mostra que a função transformada de Laplace é mais simples do que a função
original. De fato, a função F(s) = 1/(s−k), que é racional, é mais simples do que a função f (t) =
e k t , que é transcendental.
1.3 Definição da transformada de Laplace 15
Exemplo 3.7 (função de Heaviside): Seja uc : [0, ∞) → R uma função definida por
(
0, se 0 ≤ t < c,
u c(t) =
1, se t ≥ c.
e −cs ,
(3.6) L [uc (t)] = para s > 0.
s
S OLUÇÃO : O gráfico da função de Heaviside, com c = 2, é exibido na figura 3.5.
Para verificar que u c(t) é uma função admissível, basta tomar M ≥ 1 e k > 0 para concluir
que
| u c(t)| ≤ 1 ≤ M e kt .
Agora aplica-se a definição de transformada de Laplace diretamente na função uc(t) para
encontrar Z ∞
L [uc (t)] = e −st u c(t) dt
0
Z c Z ∞
−st
= e u c(t) dt + e −st u c (t) dt
0 c
Z c Z ∞
= e −st · 0 dt + e −st · 1 dt
0 c
Z ∞ Z T
= e −st dt = lim e −st dt
c T →∞ c
T
1 −st
=− lim e
s T →∞ c
1
= − · lim e −s T − e −cs
s T →∞
1
= · lim e −cs − e −s T
s T →∞
e −cs ,
= (para s > 0),
s
pois
lim e −s T = 0.
T →∞
O exemplo 3.7 que a função transformada de Laplace é, em geral, mais regular do que a
própria função. Nesse exemplo, a função transformada e −sc/s é contínua (pois a convergência se
dá para s > 0), enquanto que a função original u c(t) é descontínua no ponto x = c.
A integral em (3.8) deve ser calculada através de duas integrações por partes. Para a primeira,
usa-se o seguinte
(
u=e , −st du = −s · e −st ,
⇒
dv = sen (wt), v = − 1 · cos(wt),
w
e para a segunda integração por partes o seguinte
(
u=e −st
, du = −s · e −st ,
⇒
dv = cos(wt), v = 1 · sen (wt),
w
18 1 Transformada de Laplace
Assim,
Z T T Z
−st 1 −st
s T −st
e sen (wt) dt = − e cos(wt) − e cos(wt) dt
0 w 0 w 0
T
1 −st
=− e cos(wt) −
w 0
" T Z T
#
s 1 −st s
− e sen (wt) + e −st sen (wt) dt
w w 0 w 0
T T
1 −st
s −st
=− e cos(wt) − 2 e sen (wt) −
w 0 w 0
Z T
s2
− 2 e −st sen (wt) dt,
w 0
isto é,
Z T Z T T T
−st s2 −st 1 −st
s −st
e sen (wt) dt + 2 e sen (wt) dt = − e cos(wt) − 2 e sen (wt) ,
0 w 0 w 0 w 0
ou ainda,
Z T T
s2 T
−st 1 −st
s −st
1+ 2 e sen (wt) dt = − e cos(wt) − 2 e sen (wt) ,
w 0 w 0 w 0
Z T
L[ f (t)] = lim e −st sen (wt) dt
T →∞ 0
w w
= lim − · e −sT · cos(wT ) + −
T →∞ s2 + w2 s2 + w2
s −sT
− 2 ·e · sen (wT )
s + w2
w −sT w
=− 2 · lim e · cos(wT ) + lim 2 −
s + w2 T →∞ T →∞ s + w2
s −sT
− 2 · lim e · sen (wT )
s + w2 T →∞
w ,
= 2
s + w2
pois, nos limites acima, as funções seno e cosseno são limitadas e lim e −sT = 0. Isso mostra o
T →∞
que foi afirmado.
Z ∞ Z ∞
L[ f (t)] = e −st f (t) dt = e −st cos(wt) dt
0 0
Z T
(3.11) = lim e −st cos(wt) dt.
T →∞ 0
20 1 Transformada de Laplace
A integral em (3.8) deve ser calculada através de duas integrações por partes. Para a primeira,
usa-se o seguinte
(
u = e −st , du = −s · e −st ,
⇒
dv = cos(wt), v = 1 · sen (wt),
w
e para a segunda integração por partes o seguinte
(
u= e −st , du = −s · e −st ,
⇒
dv = sen (wt), v = − 1 · cos(wt),
w
Assim,
Z T T Z
−st 1 −st s T −st
e cos(wt) dt = e sen (wt) + e sen (wt) dt
0 w 0 w 0
T
1 −st
= e sen (wt) +
w 0
" T Z T
#
s 1 −st s
+ − e cos(wt) − e −st cos(wt) dt
w w 0 w 0
T T
1 −st s −st
= e sen (wt) − 2 e cos(wt) −
w 0 w 0
Z T
s2
− 2 e −st cos(wt) dt,
w 0
isto é,
Z T Z T T T
s2 1 s
e −st cos(wt) dt + 2 e −st cos(wt) dt = e −st sen (wt) − 2 e −st cos(wt) ,
0 w 0 w 0 w 0
ou ainda,
1.3 Definição da transformada de Laplace 21
Z T T
s2 T
−st 1 −st s −st
1+ 2 e cos(wt) dt = e sen (wt) − 2 e cos(wt) ,
w 0 w 0 w 0
s ,
=
s2 + w2
pois, nos limites acima, as funções seno e cosseno são limitadas e lim e −sT = 0. Isso mostra o
T →∞
que foi afirmado.
Observação 3.2: Neste texto será usada a seguinte convenção para certas notações:
Em suma, usa-se uma letra minúscula para representar uma função na variável t e usa-se uma
letra maiúscula para representar a função transformada de Laplace na variável s.
Sejam f , g : [0, ∞) → R duas funções seccionalmente contínuas e admissíveis tais que f (t) =
g(t) para todo t ∈ [0, ∞). Então, existe k > 0 tal que F(s) = G(s) para todo s > k, ou seja, se
duas funções são iguais, também são iguais as suas funções transformadas de Laplace. Porém a
recíproca é falsa. Suponha que existe k > 0 tal que F(s) = G(s) para todo s > k. Então,
Z ∞ Z ∞ Z ∞
e −st f (t) dt = e −st g(t) dt ⇒ e −st [ f (t) − g(t)] dt = 0.
0 0 0
Se a recíproca fosse verdadeira, então f (t) − g(t) ≡ 0, mas isso é falso. Por exemplo, con-
sidere as seguintes funções:
( (
0, para 0 ≤ t < 2, 0, para 0 ≤ t ≤ 2,
f (t) = e g(t) =
1, para t ≥ 2, 1, para t > 2.
1 T
−st
= − · lim e
s T →∞ 2
1
= − · lim e −sT − e −2s ,
s T →∞
e −2s ,
=
s
pois lim e −sT = 0.
T →∞
Analogamente calcula-se a transformada de Laplace para a função g. Tem-se:
Z ∞ Z 3 Z ∞
−st −st
G(s) = e g(t) dt = e · 0 dt + e −st · 1 dt
0 0 3
Z T
−st 1 −st T
= lim e dt = lim − · e
T →∞ 2 T →∞ s 2
T
1 1
= − · lim e −st = − · lim e −sT − e −2s ,
s T →∞ 2 s T →∞
e −2s ,
=
s
pois lim e −sT = 0.
T →∞
Portanto, conclui-se que F(s) = G(s) para todo s > 0. Agora, note que a função f (t) − g(t) é
dada por
0,
para 0 ≤ t < 0,
f (t) − g(t) = 1, para t = 2,
0, para t > 2,
ou seja, a função f (t) − g(t) não é a função identicamente nula, pois em t = 2 ela vale 1 e 0 nos
demais pontos do intervalo [0, ∞). Porém, a transformada de Laplace para a funções f (t) − g(t)
é igual a zero. De fato,
Z ∞ Z 2 Z ∞
−st −st
e · [ f (t) − g(t)] dt = e · [ f (t) − g(t)] dt + e −st · [ f (t) − g(t)] dt
0 0 2
Z 2 Z ∞
−st
= e · 0 dt + e −st · 0 dt
0 2
= 0 + 0 = 0.
Esse exemplo mostrou uma função, f (t) − g(t), que difere da função identicamente nula em
[0, ∞) e que tem transformada de Laplace igual a zero, pois as funções f e g são diferentes em
apenas um ponto. Porém, existem funções f e g tais que f (t) − g(t) diferem de zero em um
número grande de pontos e mesmo assim a sua transformada de Laplace também é igual a zero.
Assim, mostrou-se que G(s) = F(s), ou ainda, que duas funções f e g, diferindo apenas em
um ponto têm a mesma transformada de Laplace. O ponto escolhido foi t = 2, mas poderia
24 1 Transformada de Laplace
ser qualquer outro. Assim sendo, existe uma infinidade de funções formadas a partir de f ,
alterando-se o valor da mesma em um único ponto e que implicam em transformadas iguais a
da função f . Pode-se ir além, alterando dois pontos, depois três, etc. E todas as funções assim
construídas a partir de f terão transformadas de Laplace iguais. Sem entrar muito em detalhes,
é possível produzir uma infinidade de novas funções a partir da f e que diferem em um conjunto
de medida nula 6 e todas terão a mesma transformada de f .
Portanto, a inversa de uma função transformada de Laplace não é única. Logo, a transformada
inversa é um assunto delicado e precisa dar sentido a esta transformada inversa. Novamente,
sem entrar muito em detalhes técnicos, a ideia consiste em agrupar em um conjunto todas as
funções obtidas a partir de uma dada função f , mas diferindo de f em um conjunto de medida
nula. Este conjunto assim formado relaciona todas as funções com a função f e este conjunto é
tratado como classe de equivalência. Diz-se que duas funções são iguais quase sempre quando
elas diferem entre si em um conjunto de medida nula. Em suma, trata-se estas funções como
se fossem iguais, mas no sentido dado, de serem iguais quase sempre. Assim, ao inverter uma
função transformada o que se obtém é um representante desta classe de equivalência, que pode
ser qualquer uma das funções dessa classe, uma vez que elas são iguais quase sempre. (Veja a
seção C.8 do adendo C para mais detalhes.)
Dando continuidade, na seção 1.3 procurou-se condições para a existência da transformada
de Laplace e chegou-se a uma definição para a mesma. Nesta seção discutir-se-á a existência
da transformada inversa de Laplace. Para isso será preciso saber o seguinte: se a função trans-
formada de Laplace F(s) existe para uma função f (t), então f (t) será admissível? Em geral, a
resposta é não. O próximo exemplo exibe esta situação.
Exemplo 4.1: A proposição 3.1 deste capítulo apresenta condições suficientes para a existên-
cia da transformada de Laplace, entretanto estas condições não são necessárias: existem funções
que não são admissíveis, mas que possuem transformada de Laplace. 2
2
Um exemplo é considerar a função f : [0, ∞) → R definida por f (t) = 2 t · e t · cos e t . No
2
exemplo 3.4 mostrou-se que a função e t não é admissível. Como esta função é um dos fatores
de f (t), segue-se que f não é admissível. Mas esta função tem transformada de Laplace. De
fato, basta observar, pela regra da cadeia, que
h 2 i0 2
2
sen e t = 2 t · e t · cos e t = f (t),
6 Diz-se que um conjunto X ⊂ R tem medida nula quando, para todo ε > 0, for possível obter uma coleção enumerável
∞
[ ∞
de intervalos abertos I1 , I2 , . . . , In , . . . tais que X ⊂ In e ∑ | In | < ε .
n=1 n=1
1.4 Sobre a existência da inversa 25
u = e −st du = −s · e −st dt,
h i0 e 2
dv = sen e t 2 dt, v = sen e t .
Portanto,
Z ∞ Z ∞ h 2 i0
e −st
f (t) dt = e −st sen e t dt
0 0
Z T h 2 i0
= lim e −st sen e t dt
T →∞ 0
" #
T Z T 2
t2
−st
= lim e · sen e + s e −st · sen e t dt
T →∞ 0 0
2 Z T
−sT T −st t2
= lim e · sen e − sen 1 + s e · sen e dt
T →∞ 0
h Z
i T
−sT T2 −st t2
= lim e · sen e − sen 1 + lim s e · sen e dt
T →∞ T →∞ 0
Z ∞ 2
(4.1) = − sen 1 + s e −st · sen e t dt.
0
Observe que h 2 i
lim e −sT
· sen e T = 0,
T →∞
pois a função seno é limitada e a funções exponencial, por ter expoente negativo, tende para
zero quando T → ∞.
Para demonstrar que a função f (x) dada tem uma transformada de Laplace será preciso fazer
uma estimativa na integral Z ∞ 2
s e −st · sen e t dt
0
que aparece no segundo membro de (4.1). Observando que a função seno é limitada, segue-se
que Z ∞
2 Z ∞ 2
t −st
s
0 e −st
· sen e dt
≤ s e · sen e t dt
0
Z ∞
=s e −st sen e t 2 dt
0
Z ∞
≤s e −st dt
0
Z T
= s · lim e −st dt
T →∞ 0
!
1 −st T
= s · lim − ·e
T →∞ s 0
= lim −e −sT − (−1)
T →∞
26 1 Transformada de Laplace
= lim 1 − e −sT
T →∞
= 1,
−sT
pois lim e = 0 para todo s > 0.
T →∞
Usando esta estimativa e (4.1) conclui-se que
Z
∞ −st
e f (t) dt ≤ 1 − sen 1,
0
mostrando, assim, que a função f (t) dada no exemplo tem uma transformada de Laplace,
mesmo não sendo uma função admissível.
O exemplo 4.1 mostra a seguinte situação: a classe das funções que possuem transformadas
de Laplace é maior do que a classe das funções admissíveis. O quão maior é, é assunto delicado
e não será apresentado aqui.
Voltando à transformada inversa de Laplace, ainda é possível observar o seguinte: se f e g são
funções contínuas por partes e que diferem apenas nos pontos de descontinuidades, então tem-
se que L[ f (t)] = L[g(t)], apesar de f (t) 6= g(t). Dito de outra maneira: funções admissíveis que
diferem em certo conjunto de pontos (precisamente, quando diferem em um conjunto de pontos
de medida nula), têm sempre a mesma transformada de Laplace. Isto será feito no teorema 4.2
(Lerch).
Na demonstração do teorema de Lerch será necessário usar o teorema de aproximação de
Weierstrass E na demonstração do teorema de Weierstrass serão usados os chamados polinômio
de Bernstein.7 Na demonstração do teorema de Weierstrass será mostrado que os polinômios de
Bernstein da função f convergem para a própria função f . O n−ésimo polinômio de Bernstein
é definido por
n k
Bn (t) = t (1 − t)n−k , para k = 0, 1, . . ., n.
k
Existe uma estreita relação dos polinômios Bn (t) com o binômio de Newton. De fato, da
fórmula binomial
n
n n
(α + β ) = ∑ · α k · β n−k ,
k=0
k
tomando α = t e β = 1 − t, segue-se que
1 = [t + (1 − t)]n
n
n
=∑ · t k · (1 − t)n−k
k=0
k
n
(4.2) = ∑ Bn (t).
k=0
7 Sergei Natanovich Bernstein (1880 – 1968) foi um matemático russo.
1.4 Sobre a existência da inversa 27
n
A propriedade obtida acima, que ∑ Bn (t) = 1, é conhecida como partição da unidade.
k=0
Agora divide-se o intervalo fechado [0, 1] em n subintervalos de mesmo comprimento,
[tk , tk+1], com k = 0, 1, . . ., n − 1, de modo que tk = k/n. Seja f : [0, 1] → R uma função con-
tínua. Então, calculando f (tk ) em cada ponto, com estas constantes é possível definir o n−ésimo
polinômio de Bernstein da seguinte maneira:
n n
k
Bn ( f , t) = ∑ f (tk ) · Bn (t) = ∑ f · Bn(t)
k=0 k=0 n
n
k n
=∑f · · t k · (1 − t)n−k .
k=0
n k
Observe que o n−ésimo polinômio depende apenas dos valores da função nos n + 1 pontos
0, 1/n, 2/n, . . ., (n−1)/n, 1, que são os pontos na forma tk = k/n.
Além disso, como
n
∑ Bn (t) = 1,
k=0
pode-se dizer que Bn (t) no ponto x é uma média ponderada dos valores de f nos n + 1 pontos
citados anteriormente, onde os pesos são dados por
n k
t (1 − t)n−k .
k
Além disso, observa-se que o conjunto dos polinômios de Bernstein, {Bn (t)}, Forma uma
base para o espaço vetorial dos polinômios de grau menor ou igual a n. E o polinômio de
Bernstein é uma combinação linear dos elementos desta base. A demonstração dessa afirmação
reside em mostrar que cada elemento da base canônica {1, x, x2, . . ., xn} pode ser escrito como
combinação linear dos Bn (t). Isso não será demonstrado neste texto.
Será necessário usar um lema na demonstração do teorema de Weierstrass; é o próximo re-
sultado.
D EMONSTRAÇÃO : Da definição
n n! ,
=
k k! (n − k)!
segue-se que
n−1 (n − 1)!
=
k−1 (k − 1)![(n − 1) − (k − 1)]!
28 1 Transformada de Laplace
(n − 1)!
=
(k − 1)![(n − k)]!
(n − 1)! k·n
= ·
(k − 1)![(n − k)]! k · n
n · (n − 1)! k
= ·
k · (k − 1)!(n − k)! n
n! k
= ·
k! · (n − k)! n
n k
(4.3) = · ·
k n
Além disso, viu-se a validade de (4.2), que é
n n
n
∑ Bn (t) = ∑ k · t k · (1 − t)n−k = 1.
k=0 k=0
= (por (4.3))
n
n
(4.4) =∑ · k · t k · (1 − t)n−k .
k=0
k
n−1
n−1
(4.5) = ∑ · (k − 1) · t k−1 · (1 − t)n−k .
k=1
k−1
Assim,
= (por (4.5))
1.4 Sobre a existência da inversa 29
n−1
n−1
= nt ∑ · (k − 1) · t k−1 · (1 − t)n−k
k=1
k−1
n−1
n−1
= ∑ · n · (k − 1) · t · t k−1 · (1 − t)n−k
k=1 k−1
n−1
n−1
= ∑ · n · (k − 1) · t k · (1 − t)n−k
k=1 k−1
= (por (4.3))
n
n
=∑ · k · (k − 1) · t k · (1 − t)n−k
k=0
k
n
n
(4.6) =∑ · k2 − k · t k · (1 − t)n−k .
k=0 k
t t2 t t2
= t 2 + − 2t 2 + t 2 − = −
n n n n
1
= t (1 − t),
n
que é o resultado desejado.
Teorema 4.1 (Weierstrass): 8 Seja f : [0, 1] → R uma função contínua definida no intervalo
fechado [0, 1]. Então existe uma sequência {Bn } de funções polinomiais que converge uniforme-
mente para f em [0, 1], isto é, para todo ε > 0 tem-se que
n
k n
f (t) − Bn (t) = f (t) · 1 − ∑ f · · t k · (1 − t)n−k
k=0 n k
n n
n k n−k k n
= f (t) ∑ · t · (1 − t) − ∑ f · · t k · (1 − t)n−k
k=0
k k=0
n k
n n
n k n
= ∑ f (t) · k · t · (1 − t) − ∑ f n · k · t k · (1 − t)n−k
k n−k
k=0 k=0
n
k n
(4.7) = ∑ f (t) − f n · k · t k · (1 − t)n−k
k=0
Para obter uma estimativa para a última expressão (4.7), dividir-se-á o somatório em duas
partes. A primeira parte é para os valores de k tais que k/n esteja “perto” de x; nesse caso,
explora-se a continuidade de f . A segunda parte é para os demais valores de k; nesse caso,
usar-se-á o fato de que a soma dos pesos correspondentes a esses k é pequena.
Por hipótese, f é contínua. Então, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que
Seja M o máximo de f em [0, 1], ou seja, M = max | f (t)|. Seja n0 ∈ N tal que
t∈[0,1]
1 , M2
n0 > max ·
δ 4 ε2
Fixe t ∈ [0, 1]. Agora, para cada n ≥ n0 , divide-se o conjunto K = {0, 1, . . ., n} em duas partes:
a primeira parte, K1 , contém k tais que
t − k < 1
n n1/4
e a segunda parte, K2, contém os demais valores de k.
Desse modo, obtém-se a seguinte estivamativa para (4.7):
n k n
k n−k
| f (t) − Bn (t)| = ∑ f (t) − f · · t · (1 − t)
k=0 n k
n
k n k n−k
≤ ∑ f (t) − f · k · t · |1 − t|
k=0 n
(4.10) = ε · 1 = ε.
Para fazer uma estimativa na segunda parte em (4.9), para k ∈ K2 , observa-se que
32 1 Transformada de Laplace
2
t − ≥ 1 ,
k
n n1/2
ou seja, que
√ k 2,
(4.11) 1≤ n t− k ∈ K2 .
n
Também usar-se-á o seguinte fato:
n
n k n
(4.12) ∑ k t (1 − t) ≤ ∑ k t k (1 − t)n−k = 1,
n−k
k∈L k=0
= (por (4.11))
√ k 2 n
≤ 2M ∑ n t − · · t k · (1 − t)n−k
k∈K n k
2
≤ (por (4.12))
√ n k 2 n
≤ 2M n ∑ t − · · t k · (1 − t)n−k
k=0 n k
√ 1 n
n
= 2M n · · t · (1 − t) ∑ · t k · (1 − t)n−k
n k=0 k
= (por (4.2))
√ 1
= 2M n · · t · (1 − t)
n
2M
= √ · [t(1 − t)]
n
1.4 Sobre a existência da inversa 33
2M 1 M
(4.13) ≤√ · = √ ,
n 4 2 n
pois t(1 − t) ≤ 1/4. De fato, tem-se que t(1 − t) = t − t 2 , que é uma parábola com convexidade
para baixo. Logo, todos os valores de y sobre esta parábola são menores ou iguais ao vértice
da mesma. Como yv = −(b2−4ac/4a, segue-se por substituição direta que yv = 1/4; segue-se daí a
justificativa da afirmação feita.
Para finalizar a demonstração: segue-se de (4.9) que
k n k n−k
| f (t) − Bn (t)| ≤ ∑ f (t) − f
n · k · t · (1 − t) +
k∈K1
k n k n−k
+ ∑ f (t) − f · k · t · (1 − t)
k∈K n
2
Observação 4.1: Seja f : [a, b] → R uma função contínua. A ideia consiste em aplicar o
teorema de Weierstrass a uma função cujo domínio é o intervalo fechado [a, b], ou seja, não
necessariamente o intervalo [0, 1]. Para mostrar isso, basta fazer t = (1 − x)a + bx, de modo que
1
x= · (t − a),
b−a
que implica dizer que t ∈ [a, b] se, e somente se, x ∈ [0, 1]. Nesse caso, considera-se uma função
f : [0, 1] → R definida por
f (x) = f [ (1 − x)a + bx] .
Essa função f passa a ser a função f usada no enunciado do teorema de Weierstrass, de modo
que tudo o que foi feito durante a sua demonstração vale para f e, consequente, para a função
f definida em [a, b]. Os detalhes são deixados como exercício.
A seguir apresenta-se o teorema de Lerch. Este resultado foi apresentado no artigo intitulado
Sur un point de la théorie des fonctions génératrices d’Abel, em 1903. Uma citação completa
sobre o mesmo pode ser encontrada na referência [73] da bibligrafia. A maneira em que se
demonstra este resultado neste texto não segue à risca as ideias originais de M. Lerch.
34 1 Transformada de Laplace
L[h(t)] = 0, para s ≥ s0 .
Z ∞
−nT
= lim e v(T ) − v(0) + n e −nt v(t) dt
T →∞ 0
Z ∞
= −v(0) + n e −nt v(t) dt.
0
Observa-se que realizou-se integração por partes em um dos passos acima e usou-se o fato
que lim e −n T = 0. Portanto,
T →∞ Z ∞
n e −nt v(t) dt = v(0).
0
Mas da definição de v(x) segue-se imediatamente que v(0) = 0. Assim,
9 Matyáš Lerch (1860 – 1922) foi um matemático tcheco. O artigo original encontra-se em [73] da bibliografia.
1.4 Sobre a existência da inversa 35
Z ∞
(4.14) e −nt v(t) dt = 0, para n = 0, 1, 2, . . .
0
Nos pontos onde h é contínua, tem-se que v(t) é derivável e v 0 (t) = e −s0 t h(t). Logo, se for
demonstrado que v(t) = 0, seguir-se-á que h(t) = 0. Com intuito de mostrar que v(x) = 0, será
feita a seguinte mudança de variáveis em (4.14):
−t = ln x ⇒ e −t = e ln x ⇒ x = e −t .
isto é,
Z 1
(4.15) x n u(x) dx = 0, para n = 0, 1, 2, . . .
0
Agora considere a classe P de todas as funções polinomiais com coeficientes reais. Seja
p(x) = a0 + a1 x + a2 x2 + · · · + an xn
Z 1 Z 1 Z 1
= a0 f (x) dx + a1 x f (x) dx + a2 x2 f (x) dx + · · ·
0 0 0
Z 1
· · · + an xn f (x) dx
0
= a1 · 0 + a1 · 0 + a2 · 0 + · · ·+ an · 0 = 0,
por (4.15) e para toda função polinomial p ∈ P.
Então, pelo teorema de aproximação de Weierstrass, segue-se que existe uma sequência
de funções polinomiais pn (x) em P tal que pn(x) → u(x) uniformemente. Agora utiliza-se o
seguinte teorema: Se uma sequência de funções Riemann integráveis fn : [a, b] → R converge
uniformemente para f : [a, b] → R, então f é integrável e vale
Z b Z b
f (x) dx = lim fn (x) dx,
a n→∞ a
desde que a convergência seja uniforme. (Veja as referências [37] e [74], por exemplo, para uma
demonstração deste resultado.)
Dando continuidade, por hipótese, u é contínua em [0, 1]. Além disso, toda função polinomial
é contínua. Como o produto de funções contínuas é contínua„ segue-se daí que pn(x) u(x) é uma
função contínua. Então, por (4.15) e pelo teorema citado, conclui-se que
Z 1
0 = lim pn (x) u(x) dx
n→∞ 0
Z 1
= lim pn(x) u(x) dx
0 n→∞
Z 1 Z 1
= u(x) u(x) dx = [u(x)]2 dx.
0 0
Como [u(x)]2 é uma função contínua (por ser u contínua), por ser não negativa e por satisfazer
Z 1
[u(x)]2 dx = 0,
0
a x0+δ a
= ·x = [ (x0 + δ ) − (x0 − δ )]
2 x0 −δ 2
a
· (2δ ) = a δ > 0.
=
2
Mas isso contradiz o fato de que
Z 1
[u(x)]2 dx = 0,
0
Para o cálculo da transformada inversa de Laplace existe uma fórmula, chamada fórmula
complexa de inversão, que fornece a função admissível f (t) através de uma integral complexa
da transformada F(s). Entretanto, na prática, o cálculo dessa integral é evitado, pois, para os
casos mais comuns, existem métodos mais simples.
ou ainda,
L[α f (t) + β g(t)] = α L[ f (t)] + β L[g(t)]
= α F(s) + β G(s).
D EMONSTRAÇÃO : Usando a definição de transformada de Laplace, obtém-se
38 1 Transformada de Laplace
Z ∞
L[α f (t) + β g(t)] = e −st [ α f (t) + β g(t)] dt
0
Z ∞ Z ∞
−st
= e [α f (t)] dt + e −st [β g(t)] dt
0 0
Z ∞ Z ∞
=α e −st f (t) dt + β e −st g(t) dt
0 0
= α F(s) + β G(s),
onde usou-se a propriedade de linearidade da integral nos passos acima.
Observação 5.1: A partir deste ponto será adotada uma convenção. Expressões do tipo as2 +
bs + c aparecerão quase que rotineiramente nos exemplos e exercícios. Em alguns casos será
necessário fatorar e em outros será necessário aplicar decomposição em frações parciais.
Considere ∆ = b2 − 4ac. A convenção será a seguinte:
(a) Se ∆ = b2 − 4ac < 0, então as raízes serão complexas, logo deve-se usar o procedimento
de completar quadrado. Com isso, evita-se o aparecimento de números complexos, ou seja, uma
maneira de continuar com números reais.
(b) Se ∆ = b2 − 4ac ≥ 0, então as raízes serão reais (iguais ou distintas). Então, neste caso,
determina-se as raízes e fatora o termo polinomial. Isso implica, como será visto, em decom-
posição em frações parciais.
Exemplo: caso se tenha duas raízes distintas α e β , então as2 + bs + c = (s − α )(s − β ). Caso
as raízes sejam iguais, então as2 + bs + c = (s − α )2 .
(
A + B = 1,
−2A − B = 3.
Multiplicando a primeira equação por 2 e somando com a segunda, encontra-se B = 5. Subs-
tituindo este valor em qualquer das equações acima encontra-se que A = −4. Portanto,
s−3 1 1
F(s) = = −4 · +5· ·
s2 − 3s + 2 s−1 s−2
Assim, usando a linearidade da inversa, obtém-se
f (t) = L−1[F(s)]
−1 1 1
=L −4 · +5·
s−1 s−2
−1 1 −1 1
= −4 · L +5·L ·
s−1 s−2
Para determinar as duas inversas no último membro acima, basta usar a fórmula da inversa
do exemplo 3.6, isto é,
1
L −1
= e kt, para s > k,
s−k
tomando k = 1 no primeiro caso e k = 2 no segundo.
Logo,
−1 1 −1 1
f (t) = −4 · L +5·L ·
s−1 s−2
= −4 e t + 5 e 2t ,
que é a resposta procurada.
Proposição 5.2 (1a translação): Suponha que F(s) = L[ f (t)] existe para s > k ≥ 0. Se c é
uma constante, então
(5.1) L e ct f (t) = F(s − c), s > k + c.
tais que
| f (t)| ≤ M e kt .
Porém o enunciado da proposição considera um resultado envolvendo a transformada da
função e ct f (t), ou seja, é preciso mostrar que esta função também é admissível para que a
fórmula indicada faça sentido. Para tal, basta notar que a desigualdade acima implica dizer que
−M e kt ≤ f (t) ≤ M e kt ,
que tendo todos os membros multiplicado por e ct (por ser sempre positiva) resulta em
−M e kt e ct ≤ e ct f (t) ≤ M e ct e kt ,
Isto implica dizer que a função e ct f (t) é admissível e tem uma transformada de Laplace,
desde que a restrição s > k + c seja assumida.
Assim, pode-se aplicar a definição de transformada de Laplace na função e ct f (t) para obter
ct
Z ∞
L e f (t) = e −st e ct f (t) dt
0
Z ∞
= e −(s−c)t f (t) dt
0
Observe que a fórmula da proposição 5.2 é válida para qualquer constante c. Assim, se na
fórmula, trocar-se c por −c (aqui, c > 0), então fica assim:
L e −ct f (t) = F(s + c).
A fórmula acima pode ser chamada de propriedade de amortecimento: se a função f (t) for
“amortecida” pelo fator exponencial e −ct , então a transformada de Laplace será deslocada (para
a esquerda!) em relação à nova variável s.
S OLUÇÃO : Observe que s2 − 4s + 5 tem ∆ = b2 − 4ac < 0, isto é, não tem raízes reais, logo
deve-se completar quadrado com o objetivo de usar alguma fórmula já obtida até este ponto.
Assim,
s2 − 4s + 5 = s2 − 4s + 4 + 1 = (s − 2)2 + 1,
de modo que
1
F(s) = ·
(s − 2)2 + 1
Para determinar a inversa f (t) pode-se usar a fórmula (5.2) da proposição 5.2. Para isso, basta
notar que
1
F(s) = = G(s − 2),
(s − 2)2 + 1
onde
1
G(s) = ·
s2 + 1
A fórmula (3.7) do exemplo 3.8 diz que
w ,
L[ sen(wt)] =
s2 + w2
de modo que sua inversa é dada por
−1 w
L = sen (wt).
s + w2
2
= e 2t g(t) = e 2t sen t,
que é a resposta desejada.
S OLUÇÃO : O exemplo 3.3 mostrou que as funções f e g são admissíveis. Logo faz sentido
encontrar suas transformadas de Laplace.
Viu-se no exemplo 3.6 que
1 ,
L e kt = para s > k.
s−k
Note que é possível substituir k por k + iw na fórmula acima. Assim,
h i 1 1
L e (k+iw)t = =
s − (k + iw) (s − k) − iw
1 (s − k) + iw
= ·
(s − k) − iw (s − k) + iw
(s − k) + iw (s − k) + iw
= =
(s − k)2 − (iw)2 (s − k)2 + w2
s−k w ,
(5.6) = 2 2
+i
(s − k) + w (s − k)2 + w2
onde realizou-se uma multiplicação e divisão pelo conjugado complexo e usou-se o fato que
i 2 = −1.
Por outro lado, segue-se da fórmula de Euler que
Usando (5.7) e a linearidade da transformada de Laplace (veja a proposição 5.1), tem-se que
h i h i
(k+iw)t kt kt
L e = L e cos(wt) + i e sen (wt)
h i h i
(5.8) = L e k t cos(wt) + i L e k t sen (wt) .
44 1 Transformada de Laplace
Observe-se, agora, que o primeiro membro de (5.6) é igual ao primeiro membro de (5.8), de
modo que seus segundos membros também são iguais, isto é,
h i h i s−k w
L e k t cos(wt) + i L e k t sen (wt) = + i ·
(s − k)2 + w2 (s − k)2 + w2
A expressão anterior é uma igualdade entre funções complexas, ou seja, a parte real de uma
deve ser igual a parte real da outra, da mesma forma que as partes imaginárias deverão ser
iguais, ou seja,
h i s−k h i w
kt
L e cos(wt) = e kt
L e sen (wt) = ,
2
(s − k) + w 2 (s − k)2 + w2
onde os dois segundos membros acima são, respectivamente, F(s) e G(s).
Segue-se imediatamente daí que as inversas são dadas por
s−k kt w
L −1
= e cos(wt) e L −1
= e k t sen (wt).
(s − k)2 + w2 (s − k)2 + w2
Isso mostra o que foi afirmado no enunciado do exemplo.
Observação 5.2: A fórmula de Euler que aparece na equação (5.3) será usada em várias
partes deste texto. Uma maneira formal de mostrar a validade da mesma é apresentada a seguir;
ela é baseada no desenvolvimento em série de Maclaurin.10
Inicia-se com o desenvolvimento da série de Maclaurin para a função f : R → R dada por
f (θ ) = cos θ .
Como f (0)(θ ) = f (θ ) = cos θ , tem-se:
f (iv) (0) = cos 0 = 1 f (v) (0) = − sen 0 = 0, f (vi) (0) = − cos 0 = −1,
∞
f (n)(0) n f (n)(0) n f (n)(0) n
cos θ = ∑ θ =∑ θ + ∑ θ
n=0 n! n par n! n ímpar n!
∞ ∞
f (2k)(0) 2k f (2k+1)(0) 2k+1
= ∑ 2k!
θ + ∑ (2k + 1)!
θ
k=0 k=0
∞
(−1)k 2k ∞
0 2k+1
∞
(−1)k 2k
= ∑ 2k!
θ + ∑ (2k + 1)!
θ =∑
2k!
θ
k=0 k=0 k=0
(−1)0 2·0 (−1)1 2·1 (−1)2 2·2 (−1)3 2·3 (−1)4 2·4
= θ + θ + θ + θ + θ +···
(2 · 0)! (2 · 1)! (2 · 2)! (2 · 3)! (2 · 4)!
1 0 1 2 1 4 1 6
= θ − θ + θ − θ +···
0! 2! 4! 6!
θ2 θ4 θ6
(5.9) = 1− + − + · · ·,
2! 4! 6!
que é a representação em série de Maclaurin para f (x) = cos x.
O passo seguinte consiste em desenvolver a série de Maclaurin para a função f : R → R dada
por f (θ ) = sen θ .
Como f (0)(θ ) = f (θ ) = sen θ , tem-se:
∞
0 2k ∞
(−1)k ∞
(−1)k
= ∑ θ + ∑ θ 2k+1 = ∑ θ 2k+1
k=0 2k! k=0 (2k + 1)! k=0 (2k + 1)!
Isso mostra que f tem derivadas de todas as ordens, qualquer que seja θ ∈ R. Portanto é
possível formar a série de Taylor com θ0 = 0 (ou seja, a série de Maclaurin). Observando que,
para θ = 0, f n (0) = i n · e i·0 = i n, obtém-se
∞ 0 n
f (n)(0) n i
e iθ = ∑ θ =∑ θn
n=0 n! n=0 n!
in n in n
= ∑ n!
θ + ∑ θ
n par n ímpar n!
1.5 Propriedades básicas da transformada de Laplace 47
∞
i 2k 2k ∞ i 2k+1
= ∑ θ +∑ θ 2k+1
k=0 2k! k=0 (2k + 1)!
i0 ·θ0 i2 ·θ2 i4 ·θ4 i6 ·θ6
= + + + +··· +
0! 2! 4! 6!
i·θ i3 ·θ3 i5 ·θ5 i7 ·θ7
+ + + + +···
1! 3! 5! 7!
" 2 3 #
1·1 i2 ·θ2 i2 ·θ4 i2 ·θ6
= + + + +··· +
1 2! 4! 6!
" 2 3 #
i·θ i·i2 ·θ3 i· i2 ·θ5 i· i2 ·θ7
+ + + + +···
1! 3! 5! 7!
(−1) · θ 2 (−1)2 · θ 4 (−1)3 · θ 6
= 1+ + + +··· +
2! 4! 6!
i · θ i · (−1) · θ 3 i · (−1)2 · θ 5 i · (−1)3 · θ 7
+ + + + +···
1! 3! 5! 7!
θ2 θ4 θ6
= 1− + − +··· +
2! 4! 6!
θ θ3 θ5 θ7
+ i· −i· +i· −i· +···
1! 3! 5! 7!
θ2 θ4 θ6 θ θ3 θ5 θ7
= 1− + − +··· +i· −· +· −· +···
2! 4! 6! 1! 3! 5! 7!
= cos θ + i · sen θ ,
que é a fórmula de Euler.
Outra fórmula muito útil e que decorre daquelas duas do exemplo 5.3 é dada no exemplo a
seguir.
Exemplo 5.4: Sejam A, B, k, w constantes, com w 6= 0 (as demais constantes podem assumir
qualquer valor). Então,
kt Ak + B As + B ,
(5.11) L e A · cos(wt) + · sen (wt) = w 6= 0,
w (s − k)2 + w2
ou equivalentemente,
48 1 Transformada de Laplace
As + B Ak + B
(5.12) L −1 kt
= e A · cos(wt) + · sen (wt) , w 6= 0.
(s − k)2 + w2 w
S OLUÇÃO : Basta trabalhar com a segunda fórmula acima, pois a mesma é equivalente à
segunda. A ideia consiste em desenvolver o primeiro membro e usar as fórmulas obtidas no
exemplo 5.3, bem como a linearidade da transformada inversa. Tem-se:
−1 As + B −1 A(s − k) + (Ak + B)
L =L
(s − k)2 + w2 (s − k)2 + w2
−1 s−k −1 1
= AL + (Ak + B) L
(s − k)2 + w2 (s − k)2 + w2
−1 s−k Ak + B −1 w
= A·L + ·L
(s − k)2 + w2 w (s − k)2 + w2
h i Ak + B h i
= A · e k t cos(wt) + · e k t sen (wt)
w
Ak + B
kt
= e A · cos(wt) + · sen (wt) ,
w
que é o resultado desejado.
Cabe notar que em um dos passos acima somou-se e subtraiu-se Ak, bem como multiplicou-
se e dividiu-se por w. Neste último caso, para que as operações sejam válidas, faz-se necessário
assumir que w 6= 0.
Observação 5.3: As fórmulas obtidas no exemplo 5.4 podem ser usadas para quaisquer valo-
res de A, B e k, mas fica restrita para valores de w, que podem ser quaisquer, exceto w = 0.
Caso o leitor se depare com um problema em que w = 0, como observado, não poderá usar
as fórmulas do exemplo 5.4, porém poderá utilizar qualquer uma das fórmulas do exemplo 5.3,
que não têm restrição alguma para os valores de w.
Com isto, será possível usar a fórmula (5.12) obtida no exemplo 5.4, ou seja,
1.5 Propriedades básicas da transformada de Laplace 49
−1 As + B kt Ak + B
L = e A cos(wt) + sen (wt) ,
(s − k)2 + w2 w
tomando os seguintes valores
A = 0, B = 1, k = −2 e w = 3.
Note-se que esta fórmula pôde ser usada porque w = 3 6= 0. Assim sendo, tem-se:
−1 1 −1 1
L =L
s2 + 4s + 13 (s + 2)2 + 32
−2t 0 · (−2) + 1
=e 0 · cos(3t) + sen (3t)
3
1 −2t
= e sen (3t),
3
que é o resultado desejado.
Proposição 5.3 (mudança de escala): Seja f : [0, ∞) → R uma função admissível. Então,
1 s,
(5.13) L[ f (ct)] = · F
c c
onde F(s) = L[ f (t)] e c 6= 0.
Reciprocamente, tem-se que
1 t
(5.14) L−1[F(c s)] = ·f ·
c c
D EMONSTRAÇÃO : Usando a definição de transformada de Laplace e a mudança de variáveis
u = ct, de modo que du/c = dt, obtém-se
Z ∞ Z T
−st
L[ f (ct)] = e f (ct) dt = lim e −st f (ct) dt
0 T →∞ 0
Z cT
1 u
= · lim e −s ( /c) f (u) du
c T →∞ 0
Z cT
1 s
= · lim e −( /c)u f (u) du
c T →∞ 0
Z
1 ∞
e −( /c) u f (u) du
s
=
c 0
1 s
= ·F ·
c c
Para a fórmula (5.14), basta fazer c = 1/k na fórmula (5.13). Assim,
50 1 Transformada de Laplace
h t i
L f = k · F (ks) ,
k
que tendo a inversa aplica em ambos os membros, resulta em
t
f = k · L−1[F(ks)],
k
isto é,
1 t ,
L−1[F(ks)] = · f
k k
que é a fórmula (5.14).
Exemplo 5.6: Use a fórmula (5.13) (mudança de escala) para mostrar que
3
L[ sen(3t)] = ·
s2 + 9
Proposição 5.4: Seja f : [0, ∞) → R uma função admissível e periódica de período T , isto é,
f satisfaz f (t + T ) = f (t). Então,
Z T
e −st f (t) dt
0
(5.15) L[ f (t)] = ·
1 − e −sT
D EMONSTRAÇÃO : Tem-se:
11 Veja exemplo 8.4 da seção 1.8 para entender a validade desta fórmula.
52 1 Transformada de Laplace
Z ∞
L[ f (t)] = e −st f (t) dt
0
Z T Z 2T Z 3T
= e −st f (t) dt + e −st f (t) dt + e −st f (t) dt + · · ·
0 T 2T
obtém-se
e −cs −1 e −cs
L[u c(t)] = e L = u c(t),
s s
para s > 0.
O que se pretende fazer agora é escrever uma função degrau através de combinações funções
de Heaviside. Por exemplo, suponha que a função f : [0, ∞) → R seja dada na forma
k1 , se 0 ≤ t < a,
k ,
2 se a ≤ t < b,
f (t) =
k3 , se b ≤ t < c,
k ,
4 se t ≥ c.
O leitor poderá compreender essa ideia observando que u0 (t) − ua(t) representa a função
constante e igual a 1 no intervalo 0 ≤ t < a e igual a 0 para t ≥ a. Analogamente, a expressão
ua (t)− ub(t) é uma função igual a 1 no intervalo a ≤ t < b e 0 caso contrário. E assim por diante.
Portanto, basta multiplicar cada um destes fatores pelo valor da constante em cada intervalo e
somar todas as partes para que f seja reescrita como combinação de funções de Heaviside. Deste
modo, a transformada de Laplace de f é facilmente determinada e sem ter que usar a definição
de transformada. Isso decorre do fato de se trabalhar com a função definida por uma única
sentença e não várias sentenças. Este procedimento será melhor ilustrado através do próximo
exemplo.
= 1 − u2(t) + 4u2 (t) − 4u5 (t) + 2u5(t) − 2u7 (t) + 3u7 (t)
= uc (t) · f (t − c).
O próximo resultado diz qual é a transformada e a inversa para a função g acima.
Proposição 6.1 (2a translação): Suponha que F(s) = L[ f (t)] existe para s > k ≥ 0. Então,
se c é uma constante positiva, tem-se
(6.4) u c (t) · f (t − c) = L−1 e −cs · F(s) .
A proposição 6.1 diz que a translação de f (t) por uma distância c no sentido dos t positivos
corresponde à multiplicação de F(s) por e −c s.
Exemplo 6.2: Seja f : [0, ∞) → R uma função definida por f (t) = 1. Como já foi visto, esta
função é admissível e sua transformada de Laplace já foi calculada no exemplo 3.5, isto é, basta
tomar k = 1 naquele exemplo para obter
1,
L[ f (t)] = s > 0.
s
Agora considere a fórmula (6.3) da proposição 6.1, isto é,
confirmando a fórmula da transformada de Laplace para a função de Heaviside e que foi obtida
no exemplo 3.7.
Então, seguindo as ideias anteriores, o que se busca é reescrever f , definida por várias sen-
tenças, em uma única sentença, como soma de funções de Heaviside convenientes, isto é,
f (t) = u(t) · [u0 (t) − ua (t)] + v(t) · [ua(t) − ub (t)] + w(t) · ub (t).
Encontre L[ f (t)].
S OLUÇÃO : Observe que f pode ser reescrita através de funções de Heaviside da seguinte
forma:
f (t) = 0 · u0 (t) − u2π/3 (t) + cos (t − 2π/3) · u2π/3 (t) = u2π/3(t) · cos (t − 2π/3).
Lembre-se que
s
L(cost) = ·
s2 + 1
Assim, usando a fórmula da segunda translação, obtém-se
L[ f (t)] = L u2π/3(t) · cos (t − 2π/3)
−2π s/3
= e(
−2π/3)s
· L[F(s)] = e · L(cost)
O próximo exemplo ilustra o emprego da fórmula (6.3) de uma maneira menos imediata do
que aquela dos exemplos anteriores.
(
sen t, para 0 ≤ t < π/4,
f (t) =
sen t + cos(t − π/4) , para t ≥ π/4.
onde usou-se a fórmula (5.2) do exercício 5.2 tomando k = 0 e w = 1 para determinar a trans-
formada de Laplace da função cos t.
Portanto, usando (6.5) e (6.6), tem-se a transformada de Laplace de f é dada por
L[ f (t)] = L[g(t) + h(t)] = L[g(t)] + L[h(t)]
1 −π s/4 s
= + e ·
s2 + 1 s2 + 1
1 + s e −π s/4 ,
=
s2 + 1
que é o resultado desejado.
1 − e −2s
F(s) = ·
s2
S OLUÇÃO : O gráfico da função transformada dada encontra-se na figura 6.4.
Usar-se-á a linearidade da transformada inversa para obter
−2s
−1 −1 1 − e
f (t) = L [F(s)] = L
s2
−1 1 −2s 1
=L −e · 2
s2 s
−1 1 −1 −2s 1
(6.7) =L −L e · 2 ·
s2 s
Agora usa-se as fórmulas da linha 2 da tabela (com n = 1); são elas:
60 1 Transformada de Laplace
1 −1 1
L(t) = 2 e L = t.
s s2
Substituindo-as em (6.7) e usando a fórmula da segunda translação, encontra-se
−1 1 −1 −2s 1
f (t) = L −L e · 2
s2 s
= t − L−1 e −2s · L(t)
= t − u2(t) · (t − 2)
Lema 7.1: Seja f : [0, ∞) → R uma função seccionalmente diferenciável e admissível, isto é,
existem constantes M > 0 k > 0 tais que
Teorema 7.1 (transformada da derivada): Seja f : (0, ∞) → R uma função contínua com
f 0 (t)
seccionalmente contínua em qualquer intervalo 0 ≤ t ≤ T . Além disso, suponha que f (t)
e f (t) são funções admissíveis. Então, existe a transformada de Laplace de f 0 (t) e
0
(7.3) L f 0 (t) = s L[ f (t)] − f (0), s > k.
Agora realiza-se integração por partes em cada termo do segundo membro acima, fazendo
( (
u = e −st , du = −s e −st dt,
⇒
dv = f 0 (t) dt, v = f (t).
Tem-se:
" t1 #
Z T Z t1
e −st · f 0 (t) dt = e −st · f (t) + s e −st · f (t) dt +
0 0
0
t2
Z t2
+ e −st · f (t) + s e −st · f (t) dt + · · ·
t1
t1
T
Z T
· · · + e −st · f (t) + s e −st · f (t) dt
tn
tn
t1 t2 T
= e −st · f (t) + e −st · f (t) + · · · + e −st · f (t)
0 t1 tn
Z t1 Z t2 Z T
−st −st −st
+s e · f (t) dt + e · f (t) dt + · · · + e · f (t) dt
0 t1 tn
h
= e −st1 · f (t1 ) − f (0) + e −st2 · f (t2 ) − e −st1 · f (t1 ) + · · ·
i Z T
−sT −stn
···+ e · f (T ) − e · f (tn ) + s e −st · f (t) dt
0
1.7 Transformadas de Laplace da derivada e da integral 63
Z T
−sT
= − f (0) + e · f (T ) + s · e −st · f (t) dt
0
Z T
=s e −st · f (t) dt + e −sT · f (T ) − f (0).
0
Antes de prosseguir, observa-se que os termos e −sti · f (t1 ) se cancelam para todo i = 1, . . ., n,
restando apenas f (0) e e −sT . Já a soma das integrais evidenciadas representam a integral de 0
até T , quando se usa a propriedade de aditividade para integrais.
O próximo passo consiste em tomar limite para T → ∞ na última expressão obtida. Observe
que o limite para T → ∞ na integral do primeiro membro converge para L[ f 0 (t)] = F 0 (s). Assim,
Z T
0 0
F (s) = L[ f (t)] = lim e −st · f 0 (t) dt
T →∞ 0
Z T
−st −sT
= lim s e · f (t) dt + e · f (T ) − f (0)
T →∞ 0
Z T
= s · lim e −st · f (t) dt + lim e −sT · f (T ) − lim f (0)
T →∞ 0 T →∞ T →∞
= s · F(s) − f (0),
pois
Z T
lim e −st f (t) dt = F(s), e lim f (0) = f (0).
T →∞ 0 T →∞
Além disso,
lim e −sT f (T ) = 0,
T →∞
mas é preciso justificar corretamente. É claro que f (T ) é uma constante e que a exponencial
acima tende para zero quando T → ∞. Porém o limite acima é tomado para qualquer T > 0, de
modo que, se f (T ) cresce rapidamente quando T aumenta, o limite poderia não ser igual a zero.
Por outro lado, assumiu-se como hipótese que f é uma função admissível. Isto significa que
existem constantes k, M > 0 tais que
A última expressão tende a zero quando T → ∞, sempre que s > k. Portanto, pela desigual-
dade acima, e −sT · f (T ) → 0 quando T → ∞.
Z t
g(t) = f (x) dx
0
a sua integral.
Então,
Z t
1 F(s)
(7.4) L f (x) dx = L[ f (t)] = ·
0 s s
Reciprocamente,
Zt
−1 F(s)
(7.5) L = f (x) dx.
s 0
D EMONSTRAÇÃO : Como f é admissível, o lema 7.1 mostrou que g também é uma função
admissível. Além disso, segue do teorema fundamental do Cálculo, aplicado à expressão que
define g, que g0 = f . Assim, por ser f uma função admissível e igual a g0 , segue-se que esta
última também é uma função admissível. Logo faz sentido aplicar o teorema 7.1 à função g0 .
Deste modo, tem-se
L[ f (t)] = L g0 (t) = s · L[g(t)] − g (0) = s · L[g(t)],
Logo g é derivável e g0 (t) = f (t) pelo teorema fundamental do Cálculo. Além disso, segue-se
da definição de g que g(0) = 0. Aplicando o teorema 7.1 à função g, encontra-se
Corolário 7.2: Seja f : [0, ∞) → R uma função definida por f (t) = t n e k t . Então,
n!
(7.6) n kt
L t e = , s>k
(s − k)n+1
e
n!
(7.7) L −1
n+1
= tn · e k t.
(s − k)
D EMONSTRAÇÃO : Derivando f , obtém-se
f 0 (t) = n · t n−1 · e k t + k · t n · e k t .
Aplicando a transformada de Laplace em ambos os membros acima e usando a sua linea-
ridade, encontra-se
0
n−1 kt n kt
L f (t) = L n · t ·e +k·t ·e
(7.8) = n · L t n−1 · e k t + k · L t n · e k·t .
Os primeiros membros de (5.6) e (5.7) são iguais, logo serão iguais seus segundos membros.
Assim,
n kt n−1 kt n kt
s·L t ·e = n·L t ·e +k·L t ·e ,
ou ainda,
(s − k) · L t n · e k t = n · L t n−1 · e k t ,
que resulta em
n
L tn · e k t = · L t n−1 · e k t .
s−k
A última expressão obtida é uma fórmula de recorrência e que pode ser aplicada sucessiva-
mente para determinar a fórmula indicada no enunciado deste exemplo. Tem-se:
n
L tn · e k t = · L t n−1 · e k t
s−k
n n−1
= · · L t n−2 · e k t
s−k s−k
n n−1 n−2
n−3 kt
= · · ·L t ·e
s − k s − k (s − k)3
66 1 Transformada de Laplace
n n−1 n−2 2 1
= · · ··· · · L t0 · e k t
s−k s−k s−k s−k s−k
n · (n − 1) · (n − 2) · · ·2 · 1
= · L e kt
(s − k)n
n! 1 n! ,
= · = s>k
(s − k) s − k (s − k)n+1
n
Corolário 7.3 (transformada da derivada segunda): Seja f : (0, ∞) → R uma função duas
vezes derivável com f 00 (t) admissível. Então,
(7.10) L f 00 (t) = s2 · L[ f (t)] − s · f 0+ − f 0 0+ , s > k.
D EMONSTRAÇÃO : Com as hipóteses dadas, basta trocar f 0 por f 00 no teorema 7.1 duas vezes
para obter
L f 00 (t) = L f 0 (t) = s L f 0 (t) − f 0+
= s · s · L[ f (t)] − f 0+ − f 0+
= s2 · L[ f (t)] − s · f 0+ − f 0 0+ ,
que é o resultado desejado.
Corolário 7.4: Seja f : (0, ∞) → R uma função k vezes derivável com f (k) admissível. Então,
h i
L f (k)(t) = s k · L[ f (t)] − s k−1 · f 0+ − s k−1 · f 0 0+ − · · · − s · f (k−2) 0+ − f (k−1) 0+ ,
para s > k.
D EMONSTRAÇÃO : Basta usar os procedimentos adotados na demonstração do corolário 7.3
e usar indução em k.
Z t
2
L sen (2x) dx = ·
0 s (s2 + 4)
S OLUÇÃO : Faça f (t) = sen (2t). Pela fórmula (3.7), com w = 2, do exemplo 3.8, tem-se que
2
L[ f (t)] = L[ sen (2t)] = ·
s2 + 4
Assim, usando a fórmula (7.4) do corolário 7.1, com f (t) = sen (2t), obtém-se
Z t
F(s) 1
L f (x) dx = = · L[ f (t)]
0 s s
1 2
= · 2
s s +4
2 ,
=
s (s2 + 4)
que é o resultado desejado.
= e kt + k · t · e kt
= e k t (kt + 1),
que é o resultado desejado.
Proposição 7.1 (valor inicial): Seja f : [0, ∞) → R uma função diferenciável com f 0 (t) ad-
missível. Se existirem os limites
então
Se f (t) não for contínua em t = 0, o resultado ainda contínua verdadeiro, mas nesse caso
deve-se usar o teorema 7.1 em uma forma mais fraca: Seja f : (0, ∞) → R uma função derivável
com f 0 (t) admissível. Então
L[ f 0 (t)] = s · L[ f (t)] − f 0+ , s > k,
onde a f 0+ = lim f (t).
t→0+
A demonstração não será feita neste texto.
Proposição 7.2 (valor final): Seja f : [0, ∞) → R uma função diferenciável com f 0 (t) admis-
sível. Se existirem os limites
então
1.8 Derivada e integral da transformada de Laplace 69
= lim [ f (T ) − f (0)]
T →∞
Assim,
lim f (t) − f (0) = lim [ s · F(s)] − f (0),
t→∞ s→∞
ou, como requerido,
lim f (t) = lim [ s · F(s)] .
t→∞ s→0
Se f (t) não for contínua, o resultado ainda é verdadeiro, mas deve usar o teorema mencionado
na proposição 7.1 (valor inicial).
Saber como derivar e integrar a função transformada de Laplace, além de importante, é muito
útil na prática. Este assunto será abordado na presente seção.
Proposição 8.1 (multiplicação por t n ): Seja f : [0, ∞) → R uma função admissível. Então,
dn
(8.3) L [t n · f (t)] = (−1)n · F(s) = (−1)n · F (n)(s).
ds n
70 1 Transformada de Laplace
Reciprocamente,
h i n
−1 d
(8.4) L −1
F (n)
(s) = L F(s) = (−1)n · t n · f (t).
ds n
D EMONSTRAÇÃO : Como f é admissível, sua transformada de Laplace está bem definida e é
dada por Z ∞
F(s) = e −st · f (t) dt.
0
Usando a regra de Leibniz (veja a proposição 12.1 no apêndice 1.12) para diferenciação sob
o sinal de integração, obtém-se
Z ∞
0 d d
F (s) = F(s) = e −st · f (t) dt
ds ds 0
Z ∞
∂ −st
= e · f (t) dt
0 ∂s
Z ∞
= −t e −st · f (t) dt
0
Z ∞
=− e −st · [t · f (t)] dt
0
= −L [t · f (t)] .
Mostrou-se que
d
(8.5) L [t f (t)] = − F(s) = −F 0 (s),
ds
isto é, que o resultado é válido para n = 1.
Para o caso geral aplica-se indução matemática. Suponha que a fórmula (8.3) seja verdadeira
para n = k, isto é, assuma que
Z ∞ h i
(8.6) e −st · t ·k f (t) dt = (−1)k · F (k)(s).
0
Então, Z ∞ h i
d
e −st · t k · f (t) dt = (−1)k · F (k+1)(s),
ds 0
ou pela regra de Leibniz,
Z ∞ h i
k+1
− e −st
· t · f (t) dt = (−1)k · F (k+1)(s),
0
isto é,
Z ∞ h i
(8.7) e −st · t k+1 · f (t) dt = (−1)k+1 · F (k+1)(s).
0
Segue-se que, se (8.6) é verdadeiro, isto é, se a fórmula (8.3) se verifica para n = k, então
(8.7) é verdadeiro, ou seja, o resultado se verifica para n = k + 1. Mas por (8.5) a fórmula (8.3)
1.8 Derivada e integral da transformada de Laplace 71
Corolário 8.1 (divisão por t ): Seja f : [0, ∞) → R uma função admissível. Denote F(s) =
L[F(s)]. Então,
Z ∞
f (t)
(8.8) L = F(u) du,
t s
isto é, Z ∞ Z ∞
f (t)
L[G(s)] = F(u) du ⇒ L = F(u) du.
s t s
Observe-se que em (8.10) escolheu-se a “constante de integração” de tal modo que
lim G(s) = 0.
s→∞
2(s + 2)
=− 2
·
(s2 + 4s + 13)
A expressão obtida ainda não é igual à função F(s) dada, porém ela difere por uma cons-
tante. O próximo passo consiste em multiplicar ambos os membros acima por uma constante
conveniente, no caso, multiplicar por −3/2. Tem-se:
3 d 1 3 2(s + 2) 3s + 6
− · = − − · = = F(s).
2 ds s2 + 4s + 13 2 (s2 + 4s + 13)2 (s2 + 4s + 13)2
A próxima etapa consiste em aplicar a fórmula (8.3) (que é a fórmula 25 da tabela) com n = 1,
isto é, h i
L−1 (−1)n F (n)(s) = t n · f (t) ⇒ −F 0 (s) = t · f (t),
3t 1 2t
= · e sen (3t) ,
2 3
t 2t
= · e · sen (3t),
2
que é o resultado desejado.
S OLUÇÃO : Faça
sent
f (t) = e F(s) = L[ f (t)].
t
Pelo exemplo 8.4, tem-se que
sen t
1
F(s) = L = arc tg ·
t s
Além disso, pelo corolário 7.1 da seção anterior, tem-se que
Z t
F(s) ,
L f (x) dx =
0 s
onde F(s) = L[ f (t)]. Assim, usando a fórmula acima do citado corolário, obtém-se
Z t
sen x F(s) 1 1
L dx = = · arc tg ·
0 x s s s
1.8 Derivada e integral da transformada de Laplace 75
No final deste texto foi inserida uma tabela contendo os principais resultados obtidos e que
poderá ser utilizada pelo leitor para resolver problemas práticos. Assim, nesta seção serão apre-
sentados vários exemplos que mostram como resolver P.V.I. (Problemas de Valores Iniciais)
usando a transformada de Laplace.
1 As + B Cs + D
(9.4) = + 2 ·
s2 (s2 + 1) s2 s +1
Assim,
1 (As + B) s2 + 1 + s2 (Cs + D)
=
s2 (s2 + 1) s2 (s2 + 1)
(A + C) s3 + (B + D) s2 + A s + B ,
=
s2 (s2 + 1)
ou ainda,
0.s3 + 0.s2 + 0.s + 1 = (A + C) s3 + (B + D) s2 + A s + B.
Pela igualdade entre dois polinômios, segue-se que
A+C = 0
B+D = 0
A=0
B = 1
1 1 1
(9.5) = − ·
s2 (s2 + 1) s2 s2 + 1
Com a substituição de (9.5) em (9.3), obtém-se
s−2 1
Y (s) = +
s2 + 1 s2 (s2 + 1)
s−2 1 1
= 2
+ 2− 2
s +1 s s +1
1 s−3
= + ·
s2 s2 + 12
Com Y (s) escrito na forma acima, basta aplicar a fórmula 2 da tabela com n = 1 e a fórmula
8 com A = 1, B = −3, k = 0 e w = 1, bem como a linearidade da transformada inversa, para
encontrar
−1 −1 1 s−3
y(t) = L [Y (s)] = L +
s2 s2 + 12
−1 1 −1 s−3
=L +L
s2 s2 + 12
0.t 1.0 − 3
= t +e 1 · cos(1.t) + sen (1.t)
1
= t + cost − 3 sent,
que é a solução do problema proposto.
S OLUÇÃO : O método é o mesmo que foi usado no exemplo anterior: aplicar a transformada
de Laplace em ambos os membros, sua linearidade, as condições iniciais e desenvolver o proble-
ma até obter uma solução para a equação algébrica. Tem-se:
L y00 + 4y0 + 5y = L e −3t cost ,
isto é,
L y00 + 4L y0 + 5L (y) = L e −3t cost .
Em seguida, aplica-se as fórmulas 23 e 24 da tabela no primeiro membro acima, bem como
a fórmula 7 no segundo membro, com k = −3 e w = 1, para escrever
1.9 Problemas de valores iniciais 79
s+3
s2Y (s) − s y(0) − y0 (0) + 4 [ sY (s) − y(0)] + 5Y (s) = ·
(s + 3)2 + 1
Usando as condições iniciais informadas, obtém-se
s+3 ,
s2Y (s) − 2s − 1 + 4 [sY (s) − 2] + 5Y (s) =
(s + 3)2 + 1
ou ainda,
s+3 ,
s2 + 4s + 5 Y (s) = 2s + 9 +
(s + 3)2 + 1
que resolvida implica em
2s + 9 s+3
Y (s) = + ·
s2 + 4s + 5 (s2 + 4s + 5)[(s + 3)2 + 1]
A expressão s2 + 4s + 5, por não possuir raízes reais, deve ser reescrita completando-se o
quadrado. Assim,
(9.6) s2 + 4s + 5 = s2 + 4s + 4 + 1 = (s + 2)2 + 12.
80 1 Transformada de Laplace
Deste modo,
2s + 9 s+3
(9.7) Y (s) = 2 2
+ ·
(s + 2) + 1 [(s + 2) + 12] [(s + 3)2 + 12 ]
2
Já o segundo termo no segundo membro de (9.7) deve ser desenvolvido através do método de
decomposição em frações parciais. Portanto,
s+3 s+3
=
[(s + 2)2 + 12 ] [(s + 3)2 + 12] (s2 + 4s + 5)(s2 + 6s + 10)
de modo que
s+3 As + B Cs + D
= +
(s2 + 4s + 5)(s2 + 6s + 10) s2 + 4s + 5 s2 + 6s + 10
(As + B) s2 + 6s + 10 + (Cs + D) s2 + 4s + 5
= ,
(s2 + 4s + 5) (s2 + 6s + 10)
donde segue que
3 − 10B ,
(9.8) C = −A e D=
5
que substituídas nas segunda e terceira equações, resulta em
3 − 10B
6A + B − 4A + =0
5
10A + 6B − 5A + 12 − 40B = 1,
5
ou ainda, 3
2A − B + = 0 10A − 5B + 3 = 0
5
⇒
5A − 2B + 12 = 1,
25A − 10B + 12 = 5,
5
Multiplicando a primeira equação do último sistema por −2 e somando com a segunda,
encontra-se
1
5A + 6 = 5 ⇒ A=− ·
5
Substituindo o valor de A que foi encontrado na primeira equação do último sistema, obtém-
se
1 1
10 · − − 5B + 3 = 0 ⇒ B= ·
5 5
Agora substitui-se os valores de A e B em (9.8) para encontrar
1 1
C= e D= ·
5 5
Em seguida, aplica-se os valores para A, B, C e D nas frações parciais para escrever
s+3 − 51 s + 15 1 1
5 s+ 5
= +
[(s + 2)2 + 12 ] [(s + 3)2 + 12] s2 + 4s + 5 s2 + 6s + 10
− 15 s + 15 1
5 s+ 5
1
= +
(s + 2)2 + 12 (s + 3)2 + 12
1 s−1 1 s+1
(9.9) =− · + · ·
5 (s + 2)2 + 12 5 (s + 3)2 + 12
O próximo passo consiste em substituir (9.9) em (9.7) para escrever
2s + 9 s+3
Y (s) = +
(s + 2)2 + 12 [(s + 2)2 + 12] [(s + 3)2 + 12]
2s + 9 1 s−1 1 s+1
= 2 2
− · 2 2
+ ·
(s + 2) + 1 5 (s + 2) + 1 5 (s + 3)2 + 12
1 10s + 45 1 s−1 1 s+1
= · 2 2
− · 2 2
+ ·
5 (s + 2) + 1 5 (s + 2) + 1 5 (s + 3)2 + 12
1 9s + 46 1 s+1
(9.10) = · 2 2
+ · ·
5 (s + 2) + 1 5 (s + 3)2 + 12
82 1 Transformada de Laplace
Para finalizar, deve-se aplicar a linearidade da transformada inversa, bem como a fórmula 8
da tabela nos dois quocientes em (9.10), primeiro tomando naquela fórmula
A = 9, B = 46, k = −2 e w = 1,
depois tomando
A = 1, B = 1, k = −3 e w = 1,
ou seja, na ordem em que aparecem os dois quocientes no segundo membro em (9.10).
Portanto,
−1 −1 1 9s + 46 1 s+1
y(t) = L [Y (s)] = L · + ·
5 (s + 2)2 + 12 5 (s + 3)2 + 12
1 −1 9s + 46 1 −1 s+1
= ·L + ·L
5 (s + 2)2 + 12 5 (s + 3)2 + 12
1 −2t 9.(−2) + 46
= ·e 9. cos(1.t) + sen (1.t) +
5 1
1 −3t 1.(−3) + 1
+ ·e 1. cos(1.t) + sen (1.t)
5 1
1 −2t 1
= · e (9 cost + 28 sent) + e −3t (cost − 2 sent) ,
5 5
que é a solução do problema dado.
= u5 (t) − u20(t).
1.9 Problemas de valores iniciais 83
e −5s e −20s
= − ·
s s
Observe-se que a equação pode ser escrita na forma
2y00 + y0 + 2y = f (t).
Agora aplica-se a transformada de Laplace em ambos os membros, bem como todas as suas
propriedades associadas, para obter
L 2y00 + y0 + 2y = L[ f (t)],
ou ainda,
e −5s e −20s
2 s2 Y (s) − s y(0) − y0 (0) + [sY (s) − y(0)] + 2Y(s) = − ·
s s
Em seguida, usa-se as condições iniciais fornecidas no enunciado do problema para obter
84 1 Transformada de Laplace
e −5s e −20s ,
2 s2 Y (s) − s · 0 − 0 + [sY (s) − 0] + 2Y (s) = −
s s
que resulta em
e −5s e −20s ,
2s2 Y (s) + sY (s) + 2Y (s) = −
s s
ou seja
e −5s e −20s
2s2 + s + 2 Y (s) = − ·
s s
Resolvendo a equação algébrica acima, encontra-se
1 1
(9.11) Y (s) = e −5s · − e −20s
· ·
s (2s2 + s + 2) s (2s2 + s + 2)
A próxima etapa é determinar a transformada inversa, mas antes será necessário usar decom-
posição em frações parciais no quociente que aparece em (9.11). Tem-se:
1 A Bs + C
= +
s (2s2 + s + 2) s 2s2 + s + 2
A 2s2 + s + 2 + (Bs + C) s
=
s (2s2 + s + 2)
(2A + B)s2 + (A + C)s + 2A ,
=
s (2s2 + s + 2)
donde segue-se que
1 A Bs + C
= + 2
s (2s2 + s + 2) s 2s + s + 2
1/2 −s − 1/2
= +
s 2s2 + s + 2
1 1 s + 1/2
= · − 2
2 s 2s + s + 2
1.9 Problemas de valores iniciais 85
1 1 s + 1/2
= · − h i
2 s 2 (s + 1/4)2 + √15/42
" #
1 1 s + 1/2 ,
(9.12) = · − √ 2
2 s (s + 1/4)2 + 15/4
onde completou-se o quadrado da seguinte maneira
s
2s2 + s + 2 = 2 s2 + + 1
2
2 s 1 15
=2 s + + +
2 16 16
2 √ !2
1 15
= 2 s+ + ·
4 4
1 −5s 1 1 s + 1/2
= ·e · − · e −5s · √ 2 −
2 s 2 (s + 1/4)2 + 15/4
1 −20s 1 1 −20s s + 1/2
−·e · + ·e · √ 2
2 s 2 (s + 1/4)2 + 15/4
( " √ ! √ !#)
1 −5s 1 −5s t 15 1 15
= ·e · L(1) − · e · L e − /4 cos t + √ sen t −
2 2 4 15 4
( " √ ! √ !#)
1 −20s 1 −20s t 15 1 15
− ·e · L(1) + · e · L e − /4 cos t + √ sen t ·
2 2 4 15 4
onde usou-se a fórmula 8 da tabela em um dos passos acima, tomando A = 1, B = 1/2, k = −1/4
√
e w = 15/4.
Agora deve-se usar a seguinte fórmula para transformada de Laplace para funções des-
contínuas:
L−1 e −cs F(s) = uc (t) · f (t − c).
Assim, tomando a inversa em ambos os membros acima e usando a sua propriedade de linea-
ridade, obtém-se
86 1 Transformada de Laplace
1
y(t) = · u5(t) · 1 −
2
" √ ! √ !#
1 15 1 15
− · u5(t) · e − /4 cos
(t−5)
(t − 5) + √ sen (t − 5) −
2 4 15 4
1
− · u20(t) · 1 +
2
" √ ! √ !#
1 15 1 15
+ · u20(t) · e − /4
(t−20)
cos (t − 20) + √ sen (t − 20) ·
2 4 15 4
Fazendo " √ ! √ √ !#
1 1 t/4 15 15 15
g(t) = − · e cos t + sen t
2 2 4 15 4
a expressão para y(t) pode ser simplificada na seguinte forma
onde uc (t) é a função de Heaviside e F(s) = L[ f (t)]. Mas observe que o segundo termo no
último membro de (9.13) não se encontra em conformidade para o uso da fórmula citada; é
preciso manipular para que a mesma possa ser usada. Assim,
t −5 t −5
f (t) = · u5 (t) − · u10(t) + u10 (t)
5 5
1 1
= · (t − 5) · u5(t) − · (t − 5) · u10(t) + u10 (t)
5 5
1 1
= · (t − 5) · u5(t) − · [(t − 5 − 5) + 5] · u10(t) + u10 (t)
5 5
1 1
= · (t − 5) · u5(t) − · [(t − 10) + 5] · u10(t) + u10 (t)
5 5
1 1
= · (t − 5) · u5(t) − · (t − 10) · u10(t) − u10 (t) + u10(t)
5 5
1 1
= · (t − 5) · u5(t) − · (t − 10) · u10(t),
5 5
onde usou-se a técnica de somar e subtrair o mesmo número (± 5) em um dos passos acima,
bem como a operação distributiva para a função u10(t).
Agora aplica-se a transformada de Laplace em ambos os membros da última expressão
obtida, bem como a fórmula já indicada. Tem-se:
1 1
L[ f (t)] = L · (t − 5) · u5(t) − · (t − 10) · u10(t)
5 5
1 1
= · L [u5 (t) · (t − 5)] − · L [u10(t) · (t − 10)]
5 5
1 h i 1
= · e −5s · L(t) − · e −10s · L(t)
5 5
1 e −5s 1 e −10s e −5s − e −10s ,
(9.14) = · − · 2 =
5 s2 5 s 5 s2
uma vez que L(t) = 1/s2 pela tabela.
Assim, a equação que deve ser resolvida pode ser reescrita na forma
e −5s − e −10s ,
s2Y (s) − sy(0) − y0 (0) + 4Y (s) =
5 s2
de modo que
88 1 Transformada de Laplace
(A + C) s3 + (B + D) s2 + 4As + 4B = 1 = 0 · s3 + 0 · s2 + 0 · s + 1.
e −5s − e −10s 1
Y (s) = · 2 2
5 s (s + 4)
e −5s − e −10s 1 1 1
= · · 2− 2
5 4 s s +4
1 −5s 1 1 −10s 1 1
= · e · 2− 2 −e · 2− 2 ·
20 s s +4 s s +4
Antes de aplicar a transformada inversa na última expressão obtida deve-se usar a tabela
(fórmula 2 com n = 1 e fórmula 4 com w = 2) para concluir que
−1 1 1 −1 1 1 −1 2 1
L 2
− 2 =L 2
− ·L 2
= t − · sen (2t).
s s +4 s 2 s +4 2
Portanto, pode-se reescrever a última expressão para Y (s) do seguinte modo:
1.9 Problemas de valores iniciais 89
1 −5s 1 1 −10s 1
(9.16) Y (s) = ·e · L t − · sen (2t) − · e L t − · sen (2t)
20 2 20 2
Para finalizar, usa-se a fórmula 18 da tabela, que é
L−1 e −cs F(s) = uc (t) f (t − c).
O último sistema acima deve ser resolvido para X(s) e Y (s). Para isto, multiplicar-se-á a
primeira equação por (s − 1) e a segunda por −3. Tem-se:
(
(s − 1)(s − 2)X(s) + 3(s − 1)Y (s) = 8(s − 1)
−6X(s) − 3(s − 1)Y (s) = −9
90 1 Transformada de Laplace
A etapa seguinte consiste em determinar y(t) a partir da expressão já obtida para Y (s). Antes
deve-se aplicar a decomposição em frações parciais em um de seus termos. Tem-se:
16s − 34 A B C
= + +
(s + 1)(s − 1)(s − 4) s + 1 s − 1 s − 4
A(s − 1)(s − 4) + B(s + 1)(s − 4) + C(s + 1)(s − 1)
=
(s + 1)(s − 1)(s − 4)
A(s2 − 5s + 4) + B(s2 − 3s − 4) + C(s2 − 1)
=
(s + 1)(s − 1)(s − 4)
(A + B + C)s2 + (−5A − 3B)s + (4A − 4B − C) ,
=
(s + 1)(s − 1)(s − 4)
donde segue-se que
Este sistema será escalonado. Primeiro multiplica a primeira equação por 5 e que será somada
com a segunda, depois a primeira equação será multiplicada por −4 e o resultado somado com a
última equação. A etapa seguinte consiste em multiplicar a nova segunda equação, obtida após
o passo anterior, por 4 e somar com a nova terceira equação. Deste modo,
A+ B+C = 0 A+ B+C = 0
0 + 2B + 5C = 16 ⇒ 0 + 2B + 5C = 16
0 − 8B − 5C = −34 0 + 0 + 15C = 30
5 2
− = ·
s+1 s−4
Agora aplica-se a transformada inversa em ambos os membros e usa-se a fórmula 3 da tabela
para concluir que
y(t) = L−1[Y (s)] = 5 e −t − 2 e 4t .
Portanto, a solução do sistema de EDO dado é
(
x(t) = 5 e −t + 3 e 4t ,
y(t) = 5 e −t − 2 e 4t .
Exemplo 10.1: O objetivo deste exemplo é mostrar que, em geral, é falso que a transformada
do produto seja igual ao produto das transformadas. Em outras palavras, se f (t) e g(t) são duas
funções admissíveis, então
Faça f (t) = 1 e g(t) = e t . Pelas fórmulas da tabela, 2 com n = 1 e 3 com k = 1, tem-se que
1 1 ,
L(1) = (s > 0) e L et = (s > 1).
s s−1
Note, agora, que
1 ,
(10.3) L [ f (t) · g(t)] = L 1 · e t = L e t = (s > 1).
s−1
Por outro lado, tem-se que
1 1 1
(10.4) L [ f (t)] · L [g(t)] = L(1) · L e t = · = ·
s s − 1 s(s − 1)
Portanto, segue-se de (10.3) e (10.4) que
1 1
L [ f (t) · g(t)) = 6= = L[ f (t)] · L[g(t)].
s − 1 s(s − 1)
1.10 Produto de transformadas e convolução 93
onde
R 2+ = (x, y) ∈ R2 | x > 0 e y > 0
geometricamente R 2+ representa todo o primeiro quadrante do plano cartesiano.
Em seguida, realiza-se uma mudança de variáveis na última integral obtida do seguinte modo:
t = x+y e u = x.
A região de integração R 2+ é transformada em uma nova região e que será denotada por Ω.
Agora busca-se descrever esta região Ω. A partir da definição de R 2+, tem-se que x > 0 e que
y > 0. Logo, u = x > 0. Além disso,
Observa-se que, ao usar a fórmula de mudanças de variáveis na integral dupla, deve-se usar
o valor absoluto do jacobiano, de modo que |J| = 1.
Retornando a expressão (10.6) e dando continuidade ao desenvolvimento, obtém-se
ZZ
L[h(t)] = e −s (x+y) · f (x) · g(y) dx dy,
R 2+
ZZ
= e −st · f (u) · g(t − u) · | J| dt du
Ω
ZZ
= e −st · f (u) · g(t − u) du dt
Ω
Z ∞Z t
= e −st · f (u) · g(t − u) du dt
0 0
Z ∞ Z t
−st
(10.7) = e · f (u) · g(t − u) du dt.
0 0
No caso da transformada de Laplace, as funções estão definidas apenas para valores positivos
de t, de modo que é possível estendê-las iguais a zero para valores negativos de t. Especifi-
camente, se f : [0, ∞) → R, então estenda esta função para todo R da seguinte maneira: seja
f : R → R definida por
1.10 Produto de transformadas e convolução 95
(
0, −∞ < t < 0,
f (t) =
f (t), 0 ≤ t < ∞.
Sem perda de generalidade, mantendo-se a mesma notação para f e g (isto é, o símbolo de
“barra”) para as funções estendidas, pode-se escrever a função h dada em (10.5) da seguinte
maneira Z ∞
h(t) = f (u) · g(t − u) du.
−∞
A integral acima é conhecida como o produto de convolução entre as funções f e g; ele é
denotado da seguinte forma
Z ∞
(10.9) ( f ∗ g)(t) = f (u) · g(t − u) du.
−∞
Portanto, o que mostrou-se, formalmente, nos procedimentos acima que vale a seguinte fór-
mula:
que pode ser lido como “a transformada do produto de convolução entre duas funções é igual
ao produto das transformadas de cada uma delas”.
Naturalmente, vale a fórmula equivalente para a transformada inversa:
Observação 10.1: na obtenção da fórmula (10.10), o ponto mais delicado é passar da integral
dupla para integrais iteradas, isto é, o uso do teorema de Fubini. Essa passagem é garantida pela
convergência absoluta da transformada de Laplace (veja o teorema 3.1 do Adendo A).
L1(R) = { f : R → R | f e | f | R-integráveis} .
O que foi observado acima significa o seguinte: se f , g ∈ L1(R), então, em geral, não é
verdade que o produto f · g pertença ao espaço L1(R). O leitor interessado poderá consultar as
observações 1.2 e 1.3 do Adendo A, onde dois exemplos ilustram essa situação.
96 1 Transformada de Laplace
Como o produto de convolução para o espaço L1 (R) é um assunto delicado, então, para
garantir que ( f ∗ g) ∈ L1(R) é necessário usar hipóteses mais fortes:
Com as hipóteses acima é possível mostrar que f ∗ g é uma função contínua e limitada,
bem como dizer que ( f ∗ g) ∈ L1(R). Esse é um assunto delicado, mas será tratado aqui nesta
observação; seu estudo pode ser omitido em uma primeira leitura.
Sejam f , g ∈ L1(R), onde f é contínua e limitada em R. Então f ∗ g será uma função contínua
e limitada e tal que ( f ∗ g) ∈ L1(R). Além disso, vale a desigualdade:
Z ∞ Z ∞ Z ∞
| ( f ∗ g)(x)| dx ≤ | f (x)| dx |g(y)| dy .
−∞ −∞ −∞
De fato, Z ∞ Z ∞ Z ∞
| ( f ∗ g)(x)| dx = f (x − y) · g(y) dy dx
−∞ −∞
−∞
Z ∞ Z ∞
≤ | f (x − y) · g(y)| dy dx
−∞ −∞
Z ∞ Z ∞
= | f (x − y)| |g(y)| dy dx
−∞ −∞
= (teor. de Fubini)
Z ∞ Z ∞
= |g(y)| | f (x − y)| dx dy
−∞ −∞
Z ∞
Z ∞
= | f (x)| dx |g(y)| dy .
−∞ −∞
Observa-se que em um dos passos acima foi usada a mudança de variáveis z = x − y, de modo
que dz = dx. Assim, Z Z
∞ ∞
| f (x − y)| dx = | f (z)| dz.
−∞ −∞
Como a variável de integração é “muda”, manteve-se x em vez de z, o que não muda o
resultado.
Por fim, observa-se o uso do teorema de Fubini, que é outro assunto delicado quando se trata
de funções integráveis no sentido de Riemann. O leitor interessado poderá consultar o Adendo
A para ver mais detalhes sobre este caso.
Proposição 10.1: Sejam f , g, h : R → R funções de L1 (R), sendo pelo menos uma delas
limi-tada. Então, o produto de convolução satisfaz as seguintes propriedades:
1.10 Produto de transformadas e convolução 97
= (g ∗ f )(t).
O último termo na primeira linha acima deve ser olhado com atenção: na primeira integral,
quem varia de −∞ a +∞ é a variável u. Ao aplicar a mudança de variáveis, a nova variável v
passa variar de +∞ até −∞. Assim, o sinal de menos na segunda integral da primeira linha acima
deve-se ao sinal de “menos” da diferencial du = −dv. A passagem para a primeira integral da
segunda linha se deve a seguinte propriedade das integrais: ao trocar a ordem dos limites de
integração, a integral muda de sinal (de “mais” para “menos” e vice-versa). Já a última integral
acima foi obtida apenas mudando a ordem do produto entre as funções f e g.
Para (b), utilizar-se-á a definição do produto de convolução, uma mudança na ordem de inte-
gração (Fubini), a mudança de variáveis w = u − v (donde dw = du), bem como a parte (a) já
demonstrada. Tem-se:
def. Z ∞
( f ∗ g) ∗ h (t) = [( f ∗ g)(t − u)] h(u) du
−∞
Z ∞
(a)
= h(t − u) · [( f ∗ g)(u)] du
−∞
Z ∞ Z ∞
def.
= h(t − u) · f (u − v) · g(v) dv du
−∞ −∞
Z Z
(a) ∞ ∞
= h(t − u) · g(u − v) · f (v) dv du
−∞ −∞
98 1 Transformada de Laplace
Z ∞Z ∞
= g(u − v) · f (v) · h(t − u) dv du
−∞ −∞
Z ∞Z ∞
Fub.
= g(u − v) · f (v) · h(t − u) du dv
−∞ −∞
Z ∞ Z ∞
= f (v) · h(t − u) · g(u − v) du dv
−∞ −∞
Z ∞ Z ∞
= f (v) · h[t − (w + v)] · g(w) dw dv
−∞ −∞
Z ∞ Z ∞
= f (v) · h[(t − v) − w] · g(w) dw dv
−∞ −∞
Z Z
(a) ∞ ∞
= f (v) · g[(t − v) − w] · h(w) dw dv
−∞ −∞
Z
def. ∞
= f (v) · (g ∗ h)(t − v) dv
−∞
Z
(a) ∞
= f (t − v) · (g ∗ h)(v) dv
−∞
def.
= f ∗ (g ∗ h) (t).
Observa-se que, com as hipóteses fornecidas, o teorema de Fubini pôde ser usado correta-
mente.
A parte (c) decorre da propriedade de linearidade da integral. De fato, tem-se
def. Z ∞
( f + g) ∗ h (t) = [( f + g)(t − u)] · h(u) du
−∞
Z ∞
= f (t − u) + g(t − u) · h(u) du
−∞
Z ∞
= f (t − u) · h(u) + g(t − u) · h(u) du
−∞
Z ∞ Z ∞
= f (t − u) · h(u) du + g(t − u) · h(u) du
−∞ −∞
def.
= ( f ∗ h)(t) + (g ∗ h)(t),
que demonstra a parte (c).
Observação 10.3: Observa-se que a multiplicação usual tem propriedades que o produto de
convolução não tem. Em geral, tem-se que ( f ∗ 1)(t) 6= f (t). De fato, por definição de con-
volução, tem-se
1.10 Produto de transformadas e convolução 99
Z t Z t
( f ∗ 1)(t) = f (t − u) · 1 du = f (t − u) du.
0 0
Agora faça f (t) = cost. Então,
Z t
( f ∗ 1)(t) = cos(t − u) du
0
t
= − sen (t − u) = − sen (t − t) − [− sen (t − 0]
0
Observação 10.4: A observação anterior mostrou que, em geral, ( f ∗ 1)(t) 6= f (t). Agora será
mostrado que o produto de convolução f ∗ f nem sempre resulta em uma função não negativa.
Para ver isto, tomar-se-á a função f (t) = sen t como exemplo. Usando a definição de convolução
e a fórmula sen (a − b) = sen a · cos b − sen b · cosa, obtém-se
Z t Z t
( f ∗ f )(t) = f (t − u) · f (u) du = sen (t − u) · sen u du
0 0
Z t
= [ sen t · cos u − sen u · cost] · sen u du
0
Z t Zt
= sen t · sen u · cos u du − cost · sen 2u du
0 0
Z t Z t
= sen t sen u · cos u du − cost sen 2 u du
0 0
Z t Z t
1 − cos(2u)
= sen t sen u cos u du − cost du
0 0 2
Z t t Z t Z
1 1
= sen t sen u cos u du − · cost du + · cost cos(2u) du
0 2 0 2 0
Z sent t t
cost cost
= sen t x dx − ·u + sen (2u)
sen0=0 2 0 4 0
sent
x2 cost cost
= sen t · − · (t − 0) + [ sen (2t) − sen 0]
2 0 2 4
sen 2t − 02 t cost · sen (2t)
= sen t · − · cost +
2 2 4
sen 3t − t · cost cost · sen (2t)
= + ·
2 4
100 1 Transformada de Laplace
onde se fez a mudança de variáveis x = sen u (logo, dx = cost dt) em um dos passos acima.
Agora faça t = 2π . Tem-se:
( f ∗ f ) (2π ) = ( sen ∗ sen )(2π )
1 a
(10.11) F(s) = · 2 ·
s s + a2
2
= L(t) · L[ sen(at)]
= L [t ∗ sen (at)] .
Por fim, aplica-se a transformada inversa em ambos os membros, ou seja,
que é a solução para o problema proposto. Caso seja de interesse obter uma expressão explícita
para a função f (t), então basta usar a definição de convolução e calcular a integral.
1.10 Produto de transformadas e convolução 101
S OLUÇÃO : A maneira inicial para resolver este P.V.I. é análoga ao que já foi visto, apenas em
etapa posterior aplica-se o método da convolução. Ou seja, inicia-se aplicando a transformada
direta em ambos os membros da equação, usando depois as condições iniciais. Tem-se:
L y00 + 4y = L[ f (t)]
1 1
y(t) = 3 cos(2t) − · sen (2t) + f (t) ∗ · sen (2t)
2 2
é a solução para o P.V.I. dado.
A seguir, resolve-se o mesmo problema apresentado no exemplo 9.2, porém usando o método
do produto de convolução.
Exemplo 10.4: Resolva o seguinte problema de valores iniciais usando o método do produto
de convolução:
00 0 −3t
y + 4y + 5y = e
cost,
y(0) = 2,
y0 (0) = 1.
S OLUÇÃO : Este método inicia-se da mesma maneira que o procedimento anterior: aplicar
a transformada de Laplace em ambos os membros, sua linearidade, as condições de contorno
e desenvolver o problema até obter uma solução para a equação algébrica. Mas a partir desse
ponto há uma mudança nos procedimentos seguintes.
Assim sendo, tem-se:
L y00 + 4y0 + 5y = L e −3t cost ,
isto é,
L y00 + 4L y0 + 5L (y) = L e −3t cost .
Em seguida, aplica-se as fórmulas 23 e 24 da tabela no primeiro membro acima, bem como
a fórmula (7) no segundo membro, com k = −3 e w = 1, para escrever
s+3
s2Y (s) − s y(0) − y0 (0) + 4 [ sY (s) − y(0)] + 5Y (s) = ·
(s + 3)2 + 1
Usando as condições iniciais informadas, obtém-se
s+3 ,
s2Y (s) − 2s − 1 + 4 [sY (s) − 2] + 5Y (s) =
(s + 3)2 + 1
ou ainda, s+3 ,
s2 + 4s + 5 Y (s) = 2s + 9 +
(s + 3)2 + 1
que resolvida implica em
2s + 9 s+3
Y (s) = + ·
s2 + 4s + 5 (s2 + 4s + 5)[(s + 3)2 + 1]
A expressão s2 + 4s + 5, por não possuir raízes reais, deve ser reescrita completando-se o
quadrado. Assim,
s2 + 4s + 5 = s2 + 4s + 4 + 1 = (s + 2)2 + 12.
1.10 Produto de transformadas e convolução 103
Deste modo,
2s + 9 s+3
Y (s) = + ·
(s + 2)2 + 12 [(s + 2)2 + 12] [(s + 3)2 + 12 ]
A partir desse ponto o procedimento para resolver o problema pelo método do produto de
convolução fica diferente. A ideia consiste em modificar sutilmente a expressão para Y (s) obtida
e escrever cada termo como a transformada de Laplace de funções presentes na tabela. Assim,
2s + 9 1 s+3
Y (s) = 2 2
+ · ·
(s + 2) + 1 [(s + 2) + 1 ] [(s + 3)2 + 12 ]
2 2
Em seguida, aplica-se a fórmula do produto das transformadas, escrevendo este como a trans-
formada do produto de convolução parar obter
L[y(t)] = L e −2t (2 cost + 5 sent) + L e −2t sen t ∗ e −3t cost .
Observação 10.5: No exemplo 10.4, a solução y(t) contém um termo em sua expressão que
está escrito na forma do produto de convolução entre duas funções. Como o leitor já deve ter
notado, o produto de convolução entre duas funções descreve uma nova função, isto é, o produto
de convolução é uma maneira de representar funções. Assim, do ponto de vista da matemática,
a solução y(t) obtida no exemplo 10.4 faz sentido e está bem definida enquanto função.
Por outro lado, usando a definição de produto de convolução, pode-se escrever
Z t
−2t −3t
e sen t ∗ e cost = e −2u · sen u · e −3(t−u) · cos(t − u) du.
0
Assim, o leitor poderá desenvolver a integral no segundo membro acima com a intenção de
expressar y(t) em termos de funções elementares. Para efeitos deste texto, a solução y(t) obtida
no exemplo 10.2 é considerada satisfatória.
104 1 Transformada de Laplace
Encerra-se esta seção com um breve comentário sobre o método da convolução para resolver
problemas de valores iniciais. Este método é muito mais simples, principalmente na parte fi-
nal da solução do problema. Porém a resposta sempre será dada através de uma ou mais in-
tegrais. Mas isto não significa problema, ao contrário, tais integrais podem ser facilmente re-
solvidas através de calculadora científica ou através de algum software que calcule integrais.
Mais: mesmo que a função no segundo membro da EDO seja arbitrária (sem ser representada
por funções elementares), ainda assim é possível dar a solução geral do P.V.I. em termos desta
função, o que não é possível quando se usa outros métodos com a transformada de Laplace.
Em artigo de 1927, Dirac 12 (veja a referência [31] da bibliografia) introduziu um novo objeto
matemático da seguinte maneira: δ (t) é definida por
( Z ∞
+ ∞, se t = 0,
δ (t) = e δ (t) dt = 1.
0, se t 6= 0, −∞
Note que nenhuma função pode assumir o valor infinito, pois infinito não é número. Por
outro lado, é possível estender o domínio de δ e olhar para ele como uma função de fato:
δ : R ∪+ ∞ → R. Além disso, a exigência de que sua integral em R seja igual a 1 não faz sentido
Z ∞ Z 0
algum em qualquer teoria de integração conhecida atualmente, pois δ (t) dt = δ (t) dt +
Z ∞ −∞ −∞
δ (t) dt = 0 + 0 = 0.
0
Em seu artigo, Dirac escreve: “Se f (t) é qualquer função regular de t e c é qualquer número,
então Z ∞
f (t) δ (c − t) dt = f (c),
−∞
de modo que a operação de multiplicar por δ (c − t) e integrar em relação a t é equivalente
a operação de substituir t por c” [em f (t)]. Observa-se que a expressão no primeiro membro
acima parece com a fórmula do produto de convolução, mas o valor f (c) no segundo membro
é no mínimo curioso.
Matematicamente falando, o delta de Dirac não é tão simples como ele apresentou. Demorou
vários anos para dar um sentido rigoroso ao delta de Dirac, que foi apresentado pelo matemático
francês Schwartz,13 recebendo o nome de teoria das distribuições. Esta é uma teoria que gene-
raliza o conceito de função. Grosso modo, pode-se falar que toda função é uma distribuição,
mas a recíproca não é verdadeira, sendo o delta de Dirac um exemplo, pois não é função.
Não é objetivo deste texto entrar na teoria das distribuições, que é um assunto muito denso
e sofisticado, mas sim em usar o delta de Dirac em problemas práticos, de modo que será
12 Paul Adrien Maurice Dirac (1902 – 1984) foi um físico inglês.
13 Laurent Schwartz (1915 – 2002) foi um matemático francês.
1.11 Funções impulso 105
necessário saber qual é a sua transformada de Laplace. Mas antes disso, comentar-se-á sobre a
expressão usada por Dirac em seu artigo:
Z ∞
(11.3) f (x) δ (t − x) dx = f (t).
−∞
A condição Z ∞
δ (t) dt = 1
−∞
pode ser “justificada” olhando-se para a propriedade
ou ainda, Z ∞ Z ∞
f (x) δ (t − x) dx = f (t − x) δ (x) dx = f (t),
−∞ −∞
donde seria “natural” fazer f (t) = 1, de modo que a expressão acima implicaria em
Z ∞ Z ∞
δ (t − x) dx = δ (x) dx = 1.
−∞ −∞
Não tem rigor algum no que foi descrito acima, mas possivelmente a conclusão que a integral
em R do delta de Dirac tem valor 1 teve como motivação o produto de convolução entre duas
funções.
Não se pretende, aqui, introduzir o delta de Dirac, mas apenas dar uma ideia sobre com ele
pode ser pensado. Começa-se com uma sequência de funções, em particular, que satisfaz (11.3)
e que se aproxima do δ (t). Considere a sequência de funções definidas por
n 1 1
, se − ≤ t ≤ ,
un(t) = 2 n n
0, caso contrário.
O leitor é convidado a esboçar o gráfico das primeiras funções da sequência un(t); por exem-
plo, atribuindo valores para n = 1, 2, 3, 4. Se n = 1, então a função u1 (t) assume o valor cons-
tante e igual a 1/2 no intervalo fechado [−1, 1], ficando igual a zero fora deste intervalo. Para
n = 2 a função u2 (t) assume o valor constante e igual a 2 no intervalo fechado [−1/2, 1/2] e
restando igual a zero fora dele. E assim por diante.
À medida que o valor de n vai aumentando, os gráficos das funções assumem valores cons-
tantes cada vez maiores, enquanto os comprimentos dos intervalos em que as funções não se
anulam vão ficando cada vez menores. Fazendo n → ∞, tem-se que a sequência un(t) “tende”
para + ∞ e o comprimentos dos intervalos [−1/n, 1/n] “tende” para zero, ou seja, para a origem.
Além disso, também se tem
Z ∞ Z −1/n Z 1/n Z ∞
un (t) dt = un (t) dt + un (t) dt + un (t) dt
−∞ −∞ −1/n 1/n
106 1 Transformada de Laplace
Z Z 1/n Z ∞
−1/n
n
= 0 dt + dt + 0 dt
−∞ 2
−1/n 1/n
Z 1/n 1
n n /n n 1 1
= dt = · x = · − −
2 −1/n 2 −1/2 2 n n
n 2
· = 1,
=
2 n
de modo que o valor da integral de cada função da sequência un(t) é sempre igual a 1.
Observe também que as funções un (t) são pares, isto é, un (−t) = un (t).14 Assim,
un(t − x) = un[−(−t + x)]
= un[−(x − t)]
Agora aplica-se o teorema do valor médio, que diz o seguinte: Se f : [a, b] → R é contínua,
Z b
então existe c ∈ (a, b) tal que f (t) dt = f (c) · (b − a). Assim sendo, com as hipóteses já
a
14 Veja a seção 2.5 e o exemplo 5.5, ambos do capítulo 2, para mais detalhes.
1.11 Funções impulso 107
O que se fez aqui, através de um exemplo, é exibir uma sequência un (t) satisfazendo
(
∞, se t = 0,
lim un (t) =
n→∞ 0, caso contrário.
Observação 11.1: Como foi dito, o que se fez anteriormente não tem rigor. Mas cabe obser-
var que a sequência tomada como exemplo depende apenas de n (e não de n e t). Assim, para
uma sequência arbitrária e dependendo n e t, a ideia de usar o teorema do valor médio também
deve ser ampliada, isto é, será necessário usar o segundo teorema do valor médio para integrais,
que diz: Sejam f , g : [a, b] → R, com f contínua, g integrável, g ≥ 0 e satisfazendo
Z b
g(t) dt > 0.
a
Uma adaptação para o caso geral ficaria assim: Seja f seccionalmente contínua. Seja ϕ :
R → R uma função com suporte compacto (ϕ é nula fora de um intervalo fechado e limitado)
satisfazendo:
Z ∞
c) ϕ (t) dt = 1.
−∞
Agora defina uma sequência {ϕn (t)} a partir de ϕ , fazendo ϕn (t) = n · ϕ (nt). A sequência
{ϕn (t)} tem as seguintes propriedades
É neste ponto que se usa o segundo teorema do valor médio para integrais, que deixa a última
expressão do seguinte jeito: para cada n ∈ N, existem tn ∈ (t − an , t + an) tais que
Z ∞ Z t+an
f (x) ϕn (x − t) dx = f (x) ϕn (x − t) dx
−∞ t−an
Z t+an
= f (tn ) ϕn (x − t) dx
t−an
= f (tn ),
pois o valor da integral de cada ϕn (x − t), no intervalo (t − an, t + an), é igual a 1.
Agora toma-se limite para n → ∞. Tem-se
Z ∞
lim f (x) ϕn (x − t) dx = lim f (tn ) = f (t).
n→∞ −∞ n→∞
Mais uma vez justifica-se que lim f (tn ) = f (t) usando o teorema do sanduíche, ou seja, que
n→∞
Porém é preciso compreender que o limite no primeiro membro acima não pode ser passado
para dentro do sinal de integral. Se o limite for passado para dentro da integral, então acontece
o seguinte: Z h i Z
∞ ∞
f (x) lim ϕn (x − t) dx = f (x) · 0 dx = 0,
−∞ n→∞ −∞
pois a ϕn (t) satisfaz lim ϕn (t) = 0 para t 6= 0, de modo que lim ϕn (x − t) = 0 para x 6= t. Para
n→∞ n→∞
x = t, tem-se que lim ϕn (x) = + ∞; neste caso, a integral não faz sentido.
n→∞
Em resumo:
Z ∞ Z ∞ h i
lim f (x) ϕn (x − t) dx = f (t) e f (x) lim ϕn (x − t) dx = 0,
n→∞ −∞ −∞ n→∞
ou seja, Z ∞ Z ∞ h i
lim f (x) ϕn (x − t) dx 6= f (x) lim ϕn (x − t) dx.
n→∞ −∞ −∞ n→∞
Com isso, conclui-se que o delta de Dirac não é limite de uma sequência de funções. É
importante compreender esse ponto, pois o que se fez foi mostrar como é possível aproximar o
delta de Dirac por sequências de funções.
O leitor interessado em uma justificativa rigorosa para o que foi apresentado aqui poderá
consultar o apêndice 4 deste capítulo.
Agora retorna-se a fórmula (11.3), que será usada para deduzir outras fórmulas para a trans-
formada de Laplace. Tem-se que
Z ∞
f (t) δ (t − c) dt = f (c).
−∞
Como a transformada de Laplace está definida no intervalo (0, ∞), pode-se pensar, sem perda
de generalidade, que a função f da fórmula acima está definida da seguinte forma: vale 0 para
t ∈ (−∞, 0] e vale f (t) para t ∈ (0, ∞). Dessa forma, a integral acima fica assim:
Z ∞
f (t) δ (t − c) dt = f (c).
0
Por outro lado, aplicando a definição de transformada de Laplace no delta de Dirac, tem-se
Z ∞
L[δ (t − c)] = e −st δ (t − c) dt.
0
ou seja,
Outra fórmula útil ocorre quando o delta de Dirac atua sobre outra função, ou seja, quando o
delta de Dirac aparece multiplicando uma função: f (t) δ (t − c). Fazendo g(t) = f (t) δ (t − c) e
usando a definição de transformada de Laplace, obtém-se
Z ∞
L[ f (t) δ (t − c)] = e −st f (t) δ (t − c) dt
0
Z ∞
= g(t) δ (t − c) dt = g(c)
0
= e −st f (t) = e −sc f (c),
t=c
ou seja,
S OLUÇÃO : Pode-se interpretar este problema assim: ele representa um sistema sem excitação
até o instante t = π , neste instante o sistema recebe um impulso de intensidade 2. Agora deseja-
se analisar a influência deste impulso na solução do problema. Para ajudar mais um pouco:
pode-se pensar no problema acima como um sistema massa-mola que no instante t = π recebeu
uma carga externa muito forte, ou em um circuito LRC onde uma tensão inesperada (“pico de
energia”) surge quando t = π .
Como se sabe, a ordem de uma EDO é igual a ordem da derivada de maior ordem presente
na equação. No caso do problema dado, a EDO é de segunda ordem. Sabe-se também que
solução clássica é aquela que tem regularidade igual a ordem da equação. Assim, poder-se-ia
esperar que a solução do problema dado seja de classe C2 , isto é, duas vezes continuamente
diferenciável. Mas aqui não é o caso. Isto não pode ser esperado, uma vez que no segundo
membro aparece o delta de Dirac, que não é função.
Aliás, chama-se atenção do leitor para a natureza das derivadas no primeiro membro: se no
segundo membro aparece uma distribuição e que não é função, então as derivadas e funções que
aparececem no primeiro membro não podem ser entendidas no sentido clássico, não são como
as derivadas que aparecem em Cálculo. Elas precisam ser compreendidas também no sentido
das distribuições; grosso modo, estas derivadas “são diferentes e especiais”. Assim sendo, até
soluções descontínuas podem aparecer.
1.11 Funções impulso 111
s2 + 2s + 2 = (s2 + 2s + 1) + 1 = (s + 1)2 + 1.
A etapa seguinte consiste em aplicar a transformada inversa. Mas antes, observe-se que será
necessário usar a fórmula da segunda translação (fórmula 18 da tabela); a saber
L−1 e −cs F(s) = uc (t) f (t − c),
112 1 Transformada de Laplace
f (t) = e −t sen t,
= 2 · uπ (t) · f (t − π )
h i
= 2 · uπ (t) e −(t−π ) sen (t − π ) ,
ou ainda,
0, se t < π ,
y(t) = h i
2 uπ (t) e −(t−π ) sen (t − π ) , se t ≥ π .
A solução acima pode ser assim interpretada: o sistema está em repouso até t = π , neste
instante o sistema recebeu um impulso de intensidade 2. A influência desse impulso faz com
que y(t) sofra uma oscilação (veja o papel da função seno na solução), mas fazendo com que
instantes depois y(t) volte a se estabilizar. Isso pode ser visto a partir da exponencial que aparece
na solução e que tem potência negativa, logo com decaimento ao longo do tempo. Veja o gráfico
da solução do P.V.I. dado na figura abaixo.
00 0
2y + y + 2y = δ (t − 5),
y(0) = 0,
y0 (0) = 0.
de modo que
114 1 Transformada de Laplace
1 1
= h √ 2 i ·
2s2 + s + 2 2 (s + 1/4)2 + 15/4
Observe-se que a última expressão tem a forma da fórmula 18 da tabela (2a translação), que
diz
L [uc (t) · f (t − c)] = e −cs · F(s) e L−1 e −cs · F(s) = uc(t) · f (t − c),
para s > k e onde F(s) = L[ f (t)].
Para continuar, é necessário determinar a função f (t). Para isto, usa-se a fórmula 8 da tabela,
√
fazendo A = 0, B = 1, k = −1/4 e w = 15/4. Tem-se:
" # √ ! √ !
1 1 15 4 15
L−1
−t/4
t = √ · e /4 · sen
−t
√ 2 = e · √15 · sen t
2
(s + 1/4) + 15/4 /4 4 15 4
Figura 11.4: Gráfico da solução y(t)); note que os eixos estão fora de escala.
00 0
y + 2y + 3y = sen t + δ (t − 3π ),
y(0) = 0,
y0 (0) = 0.
A soma das duas últimas equações implica em A = 1/4, que substituído em uma das equações
acima resulta em D = 1/4. Como C = −A e B = 1 − 3D, segue-se daí que C = −1/4 e B = 1/4.
Portanto,
1 1 s+1 1 s−1
2 2
= · 2 − · 2 ·
(s + 2s + 3)(s + 1) 4 s + 2s + 3 4 s + 1
Além disso,
s2 + 2s + 3 = (s2 + 2s + 1) + 2 = (s + 1)2 + 2.
Desse modo,
1 1 s+1 1 s−1
= · − · ·
(s2 + 2s + 3)(s2 + 1) 4 (s + 1) + 2 4 (s + 0)2 + 1
2
Portanto,
1 s+1 1 s−1 1
Y (s) = · 2
− · 2
+ e −3π s · ·
4 (s + 1) + 2 4 (s + 0) + 1 (s + 1)2 + 2
Para a determinação de y(t) deve-se aplicar a transformada inversa de Laplace em ambos os
membros acima e usar as fórmulas 8 e 18 da tabela. Para o primeiro, toma-se A = 1, B = 1,
√
k = −1 e w = 2. Para o segundo termo acima, toma-se A = 1, B = −1, k = 0 e w = 1. Para o
√
terceiro termo, toma-se A = 0, B = 1, k = −1 e w = 2.
Observe também que
−3π s 1 −3π s 1 −t √
e · =e · L √ e sen ( 2t)
(s + 1)2 + 2 2
√ √
sendo f (t) = (1/ 2) e −t sen ( 2t) a função que se usa na fórmula 18 da tabela e que deve ser
transladada com c = 3π .
Assim,
1 −t √ 1
y(t) = L−1[Y (s)] = · e cos( 2t) − · (cost − sen t) + u3π (t) f (t − 3π )
4 4
1 √ 1
= · e −t cos( 2t) − · (cost − sen t) + u3π (t) f (t − π )
4 4
1 −t √ 1 1 −(t−3π )
√
= · e cos( 2t) − · (cost + − sent) + u3π (t) · √ · e sen [ 2(t − 3π )]
4 4 2
1 1 1 √ 1 h √ i
= · sen t − · cost + · e −t cos( 2t) + √ · u3π (t) e −(t−3π ) sen [ 2(t − 3π )] ,
4 4 4 2
que é a solução do problema dado.
00
y + y = δ (t − 2π ) cost,
y(0) = 0,
y0 (0) = 1.
0,
se t < π ,
f (t) = t − π, se π ≤ t < 2π ,
0, se t ≥ 2π .
(
t/2, se 0 ≤ t < 6,
y00 + y =
3, se t ≥ 6.
y(0) = 0,
0
y (0) = 1.
00
y + y = uπ/2 (t) + 3 δ (t − /2) − u2π (t),
3π
y(0) = 0,
y0 (0) = 0.
1 − e −π s
Exercício 1: F(s) = ·
s
1 − 2 e −s + e −2s
Exercício 2: F(s) = ·
s2
9 3t 6 −2t
Exercício 3: f (t) = e + e .
5 5
1
Exercício 5: y(t) = cost − 2 sent + 4 e t cost − 2 e t sen t .
5
s 1 − e −π s
Exercício 6: Y (s) = + ·
s2 + 4 s(s2 + 4)
1 − 2 e −s + e −2s
Exercício 7: Y (s) = ·
s2 (s2 + 1)
2 e −2s
Exercício 11: F(s) = ·
s3
e −s s2 + 2
Exercício 12: F(s) = ·
s3
e −π s e −2π s
Exercício 13: F(s) = − 2 (1 + π s).
s2 s
1 h i
Exercício 16: y(t) = e −t · sen t + · uπ (t) · 1 + e −(t−π ) · cost + e −(t−π ) · sen t −
h 2 i
1 −(t−2π ) −(t−2π )
− · u2π (t) 1 − e · cost − e · sen t .
2
1 1
Exercício 17: y(t) = · [2 sen t − sen (2t)] − · uπ (t) · [2 sent + sen (2t)] .
6 6
1 1 1
Exercício 19: · sent + · t − · u6(t) · [t − 6 − sen (t − 6)] .
2 2 2
1 1
Exercício 21: y(t) = · uπ (t) · sen [2(t − π )] − · u2π (t) · sen [2(t − 2π )].
2 2
1 1
Exercício 23: y(t) = · cos(2t) + · u4π (t) · sen [2(t − 4π )].
2 2
1 3 1Z t
Exercício 26: f (t) = (t ) ∗ ( sen t) = (t − x)3 sen x dx.
6 6 0
1 −t 1Z t
Exercício 27: f (t) = t e ∗ ( sen (2t)) = (t − x) e −(t−x) sen (2x) dx.
2 2 0
1 1
Exercício 28: y(t) = sen (ω t) + {[ sen (ω t)] ∗ g(t)} =
Z ω ω
1 1 t
= sen (ω t) + sen [ω (t − x)] g(x) dx.
ω ω 0
1.12 Exercícios propostos 125
Exercício 29: y(t) = 2 e −2t + t e −2t + t e −2t ∗ g(t) =
Z t
= 2 e −2t + t e −2t + (t − x) e −2(t−x) g(x) dx.
0
Exercício 30: y(t) = 2 e−t − e −2t + e −t − e −2t ∗ cos(α t) =
Z th i
−t −2t −(t−x) −2(t−x)
= 2e −e + e −e cos(α x) dx.
0
126 1 Transformada de Laplace
Observação 12.1: Quando uma função definida por integral puder ser representada em ter-
mos de funções elementares, ela se transforma em uma simples função dada explicitamente em
termos de uma variável. Um exemplo pode ser visto aqui:
Z π
cos(ts) π cos(π s) cos 0
sen (ts) dt = − =− s − −
0 s 0 s
cos(π s) 1 1 cos(π s) ,
=− + = −
s s s s
para s 6= 0.
Por outro lado, em geral, nem sempre é possível representar uma função definida por integral
através de funções elementares. Um exemplo é a integral elíptica completa dada por
Z π/2
dt
√ ,
0 1 − k2 sen 2t
que é uma função definida por integral, onde se olha k e t como as duas variáveis.
Mesmo em tais casos (não poder ser representada por funções elementares), a função definida
por integrais, sob hipóteses adequadas, continua sendo bem definida. Logo, faz sentido ques-
tionar a diferenciabilidade de funções definidas por integrais. É só isso que trata as regras de
Leibniz.
Z b
∂f
g(s) = (t, s) dt.
a ∂s
Usar-se-á o seguinte teorema (de Fubini):16 Seja R = [x1 , x2 ] × [y1 , y2] e u : R → R uma
função contínua. Então,
Z y2
v(s) = u(x, y) dy, α ≤ x ≤ β,
y1
será uma função contínua na variável x. Além disso, a integral de f sobre R pode ser determinada
através de integrais iteradas, ou seja,
ZZ Z x2 Z y2 Z y2 Z x2
f (x, y) dx dy = f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy.
R x1 y1 y1 x1
Assim, como ∂ f/∂ s é contínua por hipótese, segue do teorema de Fubini que g(s) é uma
função contínua para c ≤ s ≤ d. E como g é contínua em [c, d], então ela é integrável neste
intervalo. Logo,
Z d Z d Z b
∂f
g(s) ds = (t, s) dt ds.
c c a ∂s
Assim, usando novamente o teorema de Fubini, tem-se que é possível inverter a ordem dos
limites de integração. Portanto,
Z d Z d Z b
∂f
g(s) ds = (t, s) dt ds = (teor. de Fubini)
c c a ∂s
Z b Z d
∂f
= (t, s) ds dt
a c ∂s
Z b d
= [ f (t, s)] dt
a c
Z b
= [ f (t, d) − f (t, c)] dt
a
Z b Z b
= f (t, d) dt − f (t, c) dt
a a
= ϕ (d) − ϕ (c),
onde ϕ é definida por
Z b
ϕ (s) = f (t, s) dt.
a
Trocando d por s, de modo que c < s < d, pode-se escrever
Z s
ϕ (t) − ϕ (c) = g(x) dx.
c
16 Guido Fubini (1879 – 1879) foi um matemático italiano. O adendo A tem detalhes sobre este teorema.
1.12 Exercícios propostos 129
Agora é possível derivar ambos os membros em relação a s. Assim, pelo teorema fundamental
do Cálculo, tem-se que
Z b
0 ∂f
ϕ (t) = g(s) = (t, s) dt,
a ∂s
demonstrando, portanto, a regra de Leibniz.
Em algumas situações os limites de integração não são constantes, como aparece na primeira
regra de Leibniz, ou seja, situações nas quais os limites de integração são funções na variável s.
Por exemplo, a função definida por integral dada por
130 1 Transformada de Laplace
Z s3
2
ϕ (s) = e −t s dt.
s2
O próximo resultado, conhecido como segunda regra de Leibniz, é um método que per-
mite calcular a derivada de uma função definida por integral onde os limites de integração
são funções.
Proposição 12.2 (2a regra de Leibniz): Sejam R = [a, b] × [c, d] ⊂ R2 um retângulo fechado
e Ω uma região aberta contendo R. Considere f : Ω → R uma função contínua e que possui uma
derivada ∂ f/∂ s contínua em Ω. Além disso, sejam α , β : [s1 , s2] → R duas funções contínuas na
variável s, tendo derivadas contínuas. Então, para s ∈ (s1 , s2), tem-se que
Z β (s) Z β (s)
d 0 0 ∂f
(12.4) f (t, s) dt = f [β (s), s] · β (s) − f [α (s), s] · α (s) + (t, s) dt.
ds α (s) α (s) ∂s
D EMONSTRAÇÃO : Sejam u = α (s), v = β (s) e w = s. Assim, a integral ϕ (s) pode ser escrita
na forma
Z v
(12.5) ϕ (s) = f (t, w) dt = F(u, v, w),
u
Assim, para o primeiro termo em (12.6), o teorema fundamental do Cálculo permite escrever
Z Zu
∂F ∂ v ∂
= f (t, w) dt = − f (t, w) dt = − f (u, w).
∂u ∂u u ∂u v
Z β (s)
dϕ d ∂f
(12.11) = (t, s) dt.
ds ds α (s) ∂s
Como os primeiros membros em (12.10) e (12.11), segue-se que os respectivos segundos
membros também são iguais, de modo que
Z β (s) Z β (s)
d 0 0 ∂f
f (t, s) dt = f [β (s), s] · β (s) − f [α (s), s] · α (t) + (t, s) dt,
ds α (s) α (s) ∂s
que a expressão dada em (12.4) no enunciado da proposição.
S OLUÇÃO : Observe que α (s) = 1 e β (s) = s, de modo que α 0 (s) = 0 e β 0 (s) = 1. Além
disso, note que f (t, s) = t 2 . Assim sendo, pela segunda regra de Leibniz, segue-se que
Z s
dϕ d
ϕ 0 (s) = (s) = t 2 dt
ds ds 0
Z s
= f (s, s) · 1 − f (1, s) · 0 + 0 dt
1
= f (s, s) = s2 ,
n! ,
L (t n ) = s > 0.
s n+1
Particularizando mais uma vez, tomando s = 1 e usando a definição de transformada de
Laplace, decorre da expressão acima que
Z ∞
n! = e −t t n dt, n > 0.
0
A fórmula acima sugere uma maneira de generalizar o fatorial de um número real arbitrário.
Em geral, denota-se este fatorial generalizado por Γ(n + 1).
Note-se que a função gama é uma função definida por uma integral e que, no caso, é im-
própria. O leitor interessado em saber mais sobre funções definidas por integrais, convergência
e outras propriedades poderá consultar o adendo A. Aqui observa-se que o integrando tem uma
singularidade em t = 0 caso seja x < 1.
O próximo resultado dá uma importante propriedade satisfeita pela função gama.
Γ(x + 1) = x · Γ(x).
Γ(n + 1) = n · Γ(n).
isto é, a função gama é uma generalização natural do fatorial de um inteiro não negativo.
Para exibir outros valores importantes da função gama será necessário calcular o valor de
determinada integral que surgirá nos cálculos feitos a seguir. Isto será feito no próximo exemplo.
2
Lema 12.1: Seja f (−∞, ∞) → R uma função definida por f (x) = e −x . Então
Z ∞
2 √
e−x dx = π.
−∞
então
Z ∞
Z ∞
2 −x2 −y2
I = e dx e dy
−∞ −∞
Z −∞ Z −∞
2 +y2
= e−(x ) dx dy
−∞ −∞
Z aZ a
2 +y2
= lim e−(x ) dx dy
a→∞ −a −a
onde Z aZ a
2 +y2
2
I (a) = e−(x ) dx dy.
−a −a
Sejam R = [−a, a] × [−a, a],
√ 2
D1 = (x, y) ∈ R2 | x2 + y2 ≤ a2 e 2 2 2
D2 = (x, y) ∈ R | x + y ≤ 2a ,
isto é, D1 e D2 são os discos fechados de centro na origem que estão inscritos e circunscritos,
respectivamente, no retângulo R.
Note-se que a área de D1 , A(D1 ) = π a2 , é menor do que a área de R, A(R) = 4a2 . Tem-se
também que R tem área menor a área de D2 , A(D2 ) = 2π a2 . Isto é,
1.12 Exercícios propostos 135
e
ZZ Z √2 a Z 2π
−(x2 +y2 ) 2
I2 = e dx dy = e−r r d θ dr
D2 0 0
√
1 −r2 2a 2
(12.6) = 2π − e = π 1 − e−2a .
2 0
136 1 Transformada de Laplace
2 2
Como o integrando e−(x +y ) é sempre positivo e as áreas de R, D1 e D2 obedecem a de-
sigualdade (12.4), segue-se que
Z aZ a
2 +y2
I1 ≤ e−(x ) dx dy ≤ I ,
2
−a −a
ou ainda,
2 2
π 1 − e−a ≤ I 2(a) ≤ π 1 − e−2a .
Observa-se que existe limite para a → ∞ no primeiro e último membros na desigualdade
acima, de modo que existe limite para a → ∞ no membro do central. Assim,
h 2
i h 2
i
lim π 1 − e−a ≤ lim I 2(a) ≤ lim π 1 − e−2a .
a→∞ a→∞ a→∞
Exemplo 12.3: Um valor importante da função gama é o valor Γ (1/2). Fazendo a mudança
de variá-veis t = u2 , de modo que dt = 2u du, obtém-se
Z ∞ Z ∞
1/2−1 −t 1
Γ (1/2) = t e = e−t t − /2 dt
0 0
Z ∞ −1/2 Z ∞
2 2
=2 u2 u e−u du = 2 u−1 u e −u du
0 0
Z ∞
2
=2 e−u du.
0
Agora usa-se o valor obtido para a integral dada no lema (12.1). Assim,
Z ∞ Z ∞ Z ∞
−u2 1 −u2 2 √
Γ (1/2) = 2 e dx = 2 e du = e−u du = π.
0 2 −∞ −∞
√
Outros valores da função gama podem ser obtidos a partir do valor Γ(1/2) = π . De fato,
segue-se da fórmula Γ(x + 1) = x Γ(x), dada pela proposição 12.3, que
√ √
1 1 π 3 3 3 π
Γ(3/2) = Γ + 1 = Γ(1/2) = e Γ(5/2) = Γ + 1 = Γ(3/2) =
2 2 2 2 2 4
e assim por diante.
1.12 Exercícios propostos 137
Exemplo 12.5: Uma partícula com massa m é atraída para um ponto fixo O com uma força
inversamente proporcional à sua distância instantânea de O. Se a partícula for liberada do re-
pouso, encontre o tempo para que ela alcance O.
d 2x k,
(12.7) m· = −
dt 2 x
onde m é a massa da partícula e k > 0 é uma constante de proporcionalidade.
Seja
dx
v=
dt
a velocidade da partícula. Então,
d 2 x dv dv dx dv
2
= = · = v· ·
dt dt dx dt dx
Assim, (12.7) pode ser escrito na forma
Z Z Z Z
dv k dv dx dx ,
m·v· =− ⇒ m v · dx = −k ⇒ m v dv = −k
dx x dx x x
ou seja,
138 1 Transformada de Laplace
m · v2
(12.8) = −k · ln x + c.
2
Como v = 0 em x = L, segue-se que
m · 02
= −k · ln(L) + c ⇒ c = k · ln(L).
2
Assim,
m · v2 m · v2 L ,
= −k · ln x + k · ln(L) ⇒ = k · ln
2 2 x
ou ainda, s
r
2 2k L 2k L
v = · ln ⇒ v=± · ln ·
m x m x
Escolhe-se o sinal negativo na expressão acima, pois isto significa que x decrescente quando
t cresce, isto é,
r s
2k L
(12.9) v=− · ln ·
m x
L L
x=0 ⇒ u = ln = +∞ e x=L ⇒ u = ln = ln 1 = 0.
0 L
Substituindo-se em (12.10), resulta em
r Z
m L dx
T= p
2k 0 ln (L/x)
r Z
m 0 L · e −u
=− √ du
2k ∞ u
r Z
m ∞ L · e −u
= du
2k 0 u 1/2
r Z
m ∞ −u −1/2
= L· e ·u du
2k 0
r Z
m ∞ −u (1/2 − 1)
= L· e ·u du
2k 0
r
m
= L· · Γ(1/2)
2k
= (pelo resultado do exemplo 12.3)
r
m √
= L· · π
2k
r
mπ
= L· ·
2k
Proposição 12.4: Seja f : [0, ∞) → R uma função definida por f (t) = t k . Então a sua trans-
formada de Laplace é dada por
Γ(k + 1) ,
F(s) = (k > −1, s > 0).
sk+1
D EMONSTRAÇÃO : Por definição,
Z ∞ Z ∞
F(s) = e −st
f (t) dt = e −st · t k dt.
0 0
O passo seguinte consiste em fazer uma mudança de variáveis na última integral acima.
Fazendo u = st (de modo que dt = du/s), obtém-se
Z ∞
F(s) = e −st · t k dt
0
Z ∞ u k 1
= e −u · · du
0 s s
140 1 Transformada de Laplace
Z ∞
uk 1
= e −u · · du
0 sk s
Z ∞
1
= e −u · uk du
sk+1 0
Γ(k + 1)
= ·
sk+1
pois
√
Exemplo 12.6: Seja f : (0, ∞) → R uma função definida por f (t) = 1/ t . Então, apesar de
f não ser admissível, ela tem uma transformada de Laplace F e que pode ser calculada com a
fórmula da proposição 12.4
Calcula-se a transformada de Laplace da função f (t). Pela proposição 12.4 deste apêndice,
tem-se que
Γ(k + 1)
L t k = k+1 , (k > −1, s > 0).
s
√
Fazendo k = −1/2 em g(t) = t k , obtém-se f (t) = t −1/2 = 1/t 1/2 = 1/ t . Logo, a transformada
de Laplace da função f é
Γ (1/2 + 1) Γ (3/2)
1
L[ f (t)] = L t − /2 = = 3/2 ·
s 1/2+1 s
√
No exemplo 12.3 deste apêndice viu-se que Γ (3/2) = 2π . Assim,
√
√ π 1 ,
L[ f (t)] = L ( / t ) =
1 ·
2 s 3/2
√
que é a função transformada para a função f (t) = 1/ t .
Assim, Z 1
B(x, y) = t x−1 · (1 − t) y−1 dt
0
Z 0
=− (1 − u) x−1 · u y−1 du
1
Z 1
= (1 − u) x−1 · u y−1 du
0
Z 1
= u y−1 · (1 − u) x−1 du
0
= B(y, x).
Para a parte (b), faz-se a mudança de variáveis t = sen 2θ , donde segue que dt = 2 sen θ ·
cos θ d θ . Segue-se daí que
√ √
sen θ = t ⇒ θ = arcsen t .
como desejado.
142 1 Transformada de Laplace
Proposição 12.6: A função beta pode ser representada em termos da função gama da seguinte
maneira:
Γ(x) · Γ(y) ,
B(x, y) = (x, y > 0).
Γ(x + y)
D EMONSTRAÇÃO : Por definição, a função gama é dada por
Z ∞
Γ(x) = t x−1 e −t dt.
0
O próximo passo consiste em realizar o produto entre Γ(x) e Γ(y) obtidos, respectivamente,
em (12.11) e (12.12). Assim,
Z∞ Z ∞
2x−1 −u2 2y−1 −v2
Γ(x) · Γ(y) = 2 u ·e du 2 v ·e dv
0 0
Z ∞Z ∞
2x−1 −u 2 2y−1 −v2
=4 u ·e v ·e du dv
0 0
Z ∞Z ∞
2 +v2
=4 u 2x−1 v 2y−1 e −(u ) du dv.
0 0
onde 0 < r < +∞ e 0 < θ < π/2. O jacobiano dessa transformação, em valor absoluto, é dado
por | J| = r.
1.12 Exercícios propostos 143
Assim,
Z ∞ Z π/2
2 +v2
Γ(x) · Γ(y) = 4 u 2x−1 · v 2y−1 · e −(u ) du dv
0 0
Z ∞ Z π/2
2
=4 (r · cos θ ) 2x−1 · (r · sen θ ) 2y−1 · r · e −r d θ dr
0 0
Z ∞ Z π/2
2
=4 r 2x−1 · (cos θ ) 2x−1 · r 2y−1 · ( sen θ ) 2y−1 · r · e −r d θ dr
0 0
Z ∞ Z π/2
2
=4 (cos θ ) 2x−1 · ( sen θ ) 2y−1 · r 2x+2y−1 e −r d θ dr
0 0
Z ∞
Z π/2
−r 2 2x+2y−1 2y−1 2x−1
= 2 e ·r dr · 2 ( sen θ ) · (cos θ ) dθ
0 0
Z ∞
−r 2 2x+2y−2
= 2 e ·r · r dr ·
0
Z π/2
2y−2 2x−2
(12.13) · 2 ( sen θ ) · sen θ · (cos θ ) · cos θ d θ
0
Observe agora que a primeira integral no último membro de (12.13) pode ser escrita na forma
Z ∞ Z ∞
2 2
2 e −r · r 2x+2y−2 · r dr = e −r · r 2[(x+y)−1] · (2r) dr
0 0
Z ∞ (x+y)−1
2
= e −r · r2 · (2r) dr.
0
Fazendo t = r2 , de modo que dt = 2r dr, então os novos limites de integração são dados por
r=0 ⇒ t = 02 = 0 e r=∞ ⇒ t = ∞2 = ∞.
Portanto,
Z ∞ Z ∞ (x+y)−1
−r 2 2x+2y−2 2
2 e ·r · r dr = e −r · r2 · (2r) dr
0 0
Z ∞
(12.14) = e −t · t (x+y)−1 dt = Γ(x + y).
0
Além disso, a segunda integral no último membro de (12.13) pode ser escrita como
Z π/2
2 ( sen θ ) 2y−2 · sen θ · (cos θ ) 2x−2 · cos θ d θ =
0
Z π/2
= ( sen θ ) 2(y−1) · (cos θ ) 2(x−1) · (2 · sen θ cos θ ) d θ
0
Z π/2 y−1 x−1
= sen 2 θ · cos2 θ · (2 · sen θ cos θ ) d θ
0
144 1 Transformada de Laplace
= B(y, x)
Z π/2
1 Γ(x) · Γ(y)
( sen θ )2x−1 · (cos θ )2y−1 d θ = · ·
0 2 Γ(x + y)
Γ(x + 1) = x · Γ(x).
A fórmula acima será usada em recorrência, isto é, será aplicada seguidas vezes. Assim,
parte-se do valor k até que k se torne nulo, ficando-se apenas com Γ (1/2).
Para a parte (a), tem-se
1 1
Γ k+ =Γ k− +1
2 2
fórm. 1 1
= k− ·Γ k−
2 2
1 3
= k− ·Γ k− +1
2 2
fórm. 1 3 3
= k− · k− ·Γ k−
2 2 2
1 3 5
= k− · k− ·Γ k− +1
2 2 2
3 1
Γ k+ =Γ k+ +1
2 2
fórm. 1 1
= k+ ·Γ k+
2 2
1 1
= k+ ·Γ k− +1
2 2
fórm. 1 1 1
= k+ · k− ·Γ k−
2 2 2
1 1 3
= k+ · k− ·Γ k− +1
2 2 2
fórm. 1 1 3 3
= k+ · k− · k− ·Γ k−
2 2 2 2
1 1 3 5
= k+ · k− · k− ·Γ k− +1
2 2 2 2
h i
1 Γ (n+1)
2 · Γ 12
= ·
2 Γ [(n+1)/2 + 1/2]
h i
(n+1) 1
1 Γ 2 · Γ 2
(12.16) = · h i ·
2 Γ
(n+2)
2
(2k − 1)(2k − 3) · · ·1 π
= ·
2k · (2k − 2) · (4k − 4) · · ·2 2
1 · 3 · 5 · · ·(2k − 1) π ,
= ·
2 · 4 · 6 · · ·2k 2
que mostra a primeira parte.
Para a segunda parte, faça n = 2k + 1, isto é, um número ímpar. Substituindo em (12.16),
encontra-se
148 1 Transformada de Laplace
h i
Z π/2 (n+1) 1
1 Γ ·
2 Γ 2
sen n θ d θ = · h i
0 2 Γ 2
(n+2)
h i
(2k+1)+1 1
1 Γ 2 · Γ 2
= · h i
2 Γ
(2k+1)+2
2
1 Γ(k + 1) · Γ 21
= ·
2 Γ k + 23
k · (k − 1) · (k − 2) · · ·1
=
k + 21 · k − 12 · · ·1
1 1 1 1
· (2k) · (2k − 2) · (k − 2) · · · · (2)
= 2 1 2 1 2 1 2
2 · (2k + 1) 2 · ·(2k − 1) · · · 2 · (1)
2k · (2k − 2) · (2k − 4) · · ·2
=
(2k + 1) · (2k − 1) · · ·1
2 · 4 · 6 · · ·2k ,
=
1 · 3 · 5 · · ·(2k + 1)
que mostra a segunda parte.
1.12 Exercícios propostos 149
Resta mostrar que os resultados acima valem para a integral de cosn θ . Fazendo a mudança
de variáveis θ = π/2 − α , segue-se que d θ = −d α , de modo que os novos limites de integração
são dados por
π π
θ =0 ⇒ α= e θ= ⇒ α = 0.
2 2
Portanto,
Z π/2 Z 0
n
sen θ d θ = − [ sen (π/2 − α )]n d α
0 π/2
Z 0
=− [ sen (π/2) · cos α + ( sen α ) · cos (π/2)]n d α
π/2
Z 0
=− [1 · cos α + ( sen α ) · 0]n d α
π/2
Z 0
=− (cos α )n d α
π/2
Z 0
=− cosn α d α ,
π/2
Z π/2
= cosn α d α .
0
Como a variável de integração é “muda”, isto é, não importa a letra usada que o valor da
integral não muda, segue-se que o valor da integral de cosn θ é igual ao valor da integral de
sen nθ . Portanto, mostrou-se que
1 · 3 · 5 · · ·(n − 1) π ,
Z π/2 Z π/2 2 · 4 · 6 · · ·n · 2
se n ∈ N é par,
sen n θ d θ = cosn θ d θ =
0 0
2 · 4 · 6 · · ·(n − 1) ,
se n ∈ N é ímpar.
1 · 3 · 5 · · ·n
Considere uma mola elástica, fixa por um dos extremos e que passa a oscilar na direção
vertical, como está indicado na figura 12.1.
Suponha que um peso de massa m esteja amarrado à mola e que todo o sistema fique em
equilíbrio com o peso no ponto y = 0 localizado a y0 unidades abaixo do comprimento natural
150 1 Transformada de Laplace
Figura 12.1:
da mola. Então, segundo a lei de Hooke, o peso experimenta uma força para cima, de módulo
ky0 , onde k > 0 é a constante elástica da mola.
Como o sistema está em equilíbrio, esta força acha-se neutralizada precisamente pela força
da gravidade que age sobre o peso. Assim, tem-se
Suponha que o sistema massa-mola esteja em equilíbrio e que o peso esteja agora submetido
a uma força vertical adicional f (t) que pode variar com o tempo. Então, no tempo t, com o
peso a uma distância y(t) da posição de equilíbrio e com a direção positiva orientada para
baixo, as forças que atuam sobre o peso são mg, devida à gravidade, −k(y − y0 ), devida à força
restauradora da mola e f (t). Assim, pela segunda lei de Newton, tem-se
m y00 + ky = f (t).
Além disso, como o sistema estava inicialmente em repouso, y(t) deve satisfazer as seguintes
condições iniciais:
y(0) = 0 e y0 (0) = 0.
Assim, obtém-se o movimento do peso (sistema massa-mola) como solução do seguinte
P.V.I.:
00
m y + ky = f (t),
y(0) = 0,
y0 (0) = 0.
p p
1 k/m 1 k/m
Y (s) = p · · F(s) ⇒ Y (s) = √ · p 2 · F(s).
(m2 · k/m) s2 + pk/m 2 km s2 + k/m
Portanto,
1 kt
L[y(t)] = Y (s) = L √ · sen · L[ f (t)]
km m
1 kt
= L √ · sen ∗ f (t) ,
km m
que ao aplicar a transformada inversa resulta em
1 kt
y(t) = √ · sen ∗ f (t).
km m
Deste modo, a equação do movimento para este sistema que se ache sob a ação de uma força
arbitrária f pode ser externa sob a forma integral, assim,
Z t hp i
1
(12.5) y(t) = √ sen k/m (t − x) f (x) dx.
km 0
Nas aplicações, a força f (t) comunicada é, em geral, da forma
Z t h√ i
A
y(t) = √ sen km (t − x) sen (ω x) dx.
km 0
Embora esta integral possa ser calculada por meio de técnicas elementares, é instrutivo re-
começar em (12.4) e resolver o problema diretamente. Assim,
1
Y (s) = · L[ sen(ω t)]
ms2 + k
1 Aω
= ·
ms2 + k s2 + ω 2
Aω
(12.7) = ·
(ms2 + k)(s2 + ω 2)
p
Considera-se agora dois casos, onde ω seja ou não igual a k/m.
p
C ASO 1: suponha que ω 6= k/m. Então,
Aω
(ms2 + k) (s2 + ω 2 )
pode ser desenvolvida em frações parciais. Tem-se:
Aω Bs + C Ds + E
= + 2
(ms2 + k)(s2 + ω 2 ) 2
ms + k s + ω 2
(Bs + C)(s2 + ω 2 ) + (Ds + E)(ms2 + k)
=
(ms2 + k)(s2 + ω 2 )
(B + D)s3 + (C + mE)s2 + (ω 2 B + kD)s + (ω 2C + kE)
= ·
(ms2 + k)(s2 + ω 2 )
Portanto,
Aω Amω
E= ⇒ C=− ·
k − mω 2 k − mω 2
Assim,
Aω
Y (s) =
(ms2 + k) (s2 + ω 2 )
Amω 1 Aω 1
=− · + ·
k − mω 2 ms2 + k k − mω 2 s2 + ω 2
Aω 1 m
= − ·
k − mω 2 s2 + ω 2 ms2 + k
Usando a tabela de transformadas de Laplace e tomando as transformadas inversas, encontra-
se
" r r ! #
Aω 1 m k
(12.8) y(t) = · sen (ω t) − · sen t .
k − mω 2 ω k m
Esta função pode ser interpretada como a superposição de oscilações de duas frequências
diferentes: r
k
2π e 2πω .
m
A primeira delas é denominada frequência natural do sistema, enquanto que a segunda é a
frequência da força aplicada f (t) = A sen (ω t). Na figura 12.2 está esboçado o gráfico de y(t)
quando m = k = 1, A = 3 e ω = 2.
p
C ASO 2: para ω = k/m. Assim, de (12.7), vem que
p
Aω A k/m
Y (s) = = p 2
(ms2 + k)(s2 + ω 2 ) 2 2
(ms + k) s + k/m
p p
A k/m A k/m
= = 2
(ms2 + k) [s2 + (k/m)] 2 ms + k
(ms + k)
m
r
p k √
Am k/m A m2 ·
m A km
= = =
(ms2 + k)2 ms2 + k)2 (ms2 + k)2
√
A km s
= · ·
s (ms2 + k)2
Como
−1 s −1 1 d 1
L =L − ·
(ms2 + k)2 2m ds ms2 + k
1 −1 1
= ·t · L
2m ms2 + k
154 1 Transformada de Laplace
r !
t k
= √ · sen ·t ,
2m km m
pode-se usar a fórmula da convolução para obter
Z r !
A t k
y(t) = x · sen · x dx
2m 0 m
" r ! t Z t r !#
A x k 1 k
= − p · cos ·x + p cos ·x
2m k/m m k/m 0 m
0
" r !
A t k 0
= − p · cos · t + p · cos 0 +
2m k/m m k/m
r ! t #
1 1 k
+ p · p · sen ·x
k/m k/m m
0
" r ! # " r !#
A 1 k A t k
= · · sen · t − sen 0 − p · cos ·t
2m k/m m 2m k/m m
" r ! r r !#
A m k m k ,
= sen ·t − · t · cos ·t
2m k m k m
Logo,
r ! r !
A k A k
(12.9) y(t) = sen · x − √ · t · cos ·x .
2k m 2 km m
Portanto, quando a frequência aplicada é igual à frequência natural, a amplitude das os-
cilações cresce com o tempo e a mola se estende, enfim, além do seu limite elástico (veja a
figura 12.3, esboçada para A = k = m = 1). Este fenômeno é conhecido como ressonância e é
importante em vários problemas de Física.
Situação bastante diferente surge ao se tentar achar a resposta deste sistema quando o peso
recebe um golpe brusco, na direção vertical, no tempo t = a, com a ≥ 0. Para obter a equação
do movimento, neste caso, introduz-se a função f definida por
0,
0 ≤ t ≤ a,
(12.10) f (t) = 1/c, a < t < a + c,
0, a + c ≤ t,
Fisicamente, f representa uma força de módulo 1/c que age sobre o sistema durante um tempo
e, assim, f comunica ao sistema um impulso total de 1.17
Concorda-se agora que a descrição matemática da situação física descrita pelas palavras
“golpe brusco” se obtém aplicando-se uma força que age por intervalo de tempo arbitraria-
mente pequeno, mas comunica um impulso predeterminado, ou uma variação do momento, ao
sistema. Este problema vem a ser, então, o de determinar o comportamento da solução y(t) de
(12.5) quando f é como acima e c → 0.
A substituição de (12.10) em (12.5) resulta em
0, 0 ≤ t ≤ a,
Z
" r !#
1 a+c 1 k
√ sen (t − x) dx, a < t < a + c,
(12.11) f (t) = c a km m
Z " r !#
t
1 1 k
√ sen (t − x) dx, a + c ≤ t.
c a
km m
e, como tal, pode ser interpretada como a resposta de uma mola pesada à qual se aplica um
momento unitário em t = a (isto é, m y0 (a) = 1) e se larga em seguida. Segue-se que, nesta
situação, y0(t) pode ser interpretada como que surgindo de um impulso unitário instantâneo,
comunicado ao sistema em t = a e o problema fica resolvido.
Para melhor compreensão sobre o que foi dito aqui, recomenda-se estudar as seções sobre a
transformada de Laplace do produto de convolução, bem como a seção sobre o delta de Dirac.
17
Diz-se que uma força constante de módulo F agindo sobre um objeto de massa m por t segundos comunica um
impulso I = F · t ao objeto. Como F = (d/dt)(mv), onde v é o módulo da velocidade do objeto (segunda lei de Newton),
segue-se que, quando F é constante, a variação total do momento mv do objeto é igual ao impulso. Neste estudo, admite-
se, por questão de comodidade, que I = 1.
1.12 Exercícios propostos 157
Sistema mecânico
Considere uma massa m suspensa por uma mola que está rigidamente presa em uma de suas
extremidades. A posição de equilíbrio é denotada por y = 0, o deslocamento para baixo é rep-
resentado por y > 0, enquanto o deslocamento para cima é representado por y < 0. Além disso,
sejam:
A segunda lei de Newton afirma que a soma das forças atuando sobre m é igual a my00 (t), ou
seja, que
my00 (t) = −ky(t) − ay0 (t) + f (t),
ou ainda, de forma mais simples,
y0 (ms + a) y0 (ms + a)
Y (s) = = ·
ms2 + as + k 2 a k
m s + ·s+
m m
A última expressão pode ser manipulada, completando-se o quadrado do denominador. As-
sim,
2 a k 2 a a2 k a2
s + ·s+ = s + ·s+ 2 + −
m m m 4m m 4m2
2 a 2 k a2
= s + + − ·
2m m 4m2
Deste modo,
y0
ms + a
Y (s) = · 2 ·
m a 2 k a
s2 + + − 2
2m m 4m
Agora usa-se a fórmula 8 da tabela,
−1 As + B kt Ak + B
L = e A · cos(wt) + · sen (wt) , (w 6= 0),
(s − k)2 + w2 w
com r
a k a2
A = m, B = a, k = − e w= − 2·
2m m 4m
Aqui é preciso ter um cuidado especial: com as hipóteses dadas, não é possível afirmar que
w 6= 0 e, assim, também não se sabe que o radicando que define w é positivo (caso contrário,
não existe a raiz quadrada). Mas observe que, se
a2 k
2
< ,
4m m
então o radicando é positivo, e assim w está bem definido e que será w 6= 0. Assim,
a2 k a2
2
< ⇒ <k ⇒ a2 < 4km.
4m m 4m
Assim, se o amortecimento for pequeno, então b2 < 4km. Além disso, fazendo
k a2
ω2 = − 2 ⇒ w = ω 6= 0,
m 4m
a expressão para Y (s) fica reescrita com
y0 ms + a ,
Y (s) = ·
m 2 a 2
2
s + +ω
2m
e agora a fórmula 8 pode ser usada para concluir que
1.12 Exercícios propostos 159
y0 −(a/2m)·t m · (−a/2m) + a
y(t) = · e m cos(ω t) + · sen (ω t)
m ω
y0 −(a/2m)·t a/2
= ·e m cos(ω t) + · sen (ω t)
m ω
h a i
a
= y0 · e −( /2m)·t cos(ω t) + · sen (ω t) ·
2mω
Este apêndice é baseado nas referências [38] e [40] da bibliografia. Em particular, na referên-
cia [38], segue-se aquilo que está presente na seção 3.8 da mesma.
Como visto na seção 1.11, o delta de Dirac é definido por
(
+ ∞, se t = 0,
δ (t) =
0, se t 6= 0,
e Z ∞
δ (x) dx = 1.
−∞
Viu-se também que o delta de Dirac não pode ser uma função, pois uma função de fato
não pode assumir o valor infinito, pois infinito não é um número. Porém é possível estender o
domínio de δ e olhar para ele como uma função: δ : R ∪ {+ ∞} → R. Além disso, mostrou-se
nessa mesma seção que a integral do delta Dirac ser igual a 1 não faz sentido em qualquer teoria
de integração existente até hoje.
Na mesma seção 1.11 mostrou-se, informalmente, que uma importante propriedade satisfeita
pela delta de Dirac é a seguinte: se f : R → R é uma função contíua que se anula fora de um
intervalo limitado, então
Z ∞
(12.3) δ (t) f (t) dt = f (0).
−∞
Também existe problema com a expressão (12.3), pois o integrando não é uma função, de
modo que não pode ser integrado. Neste apêndice será dada uma justificativa da expressão
(12.3) de forma rigorosa. Não será dado, aqui, um sentido matemático preciso sobre o delta de
Dirac, que é feito na Teoria das Distribuições.
160 1 Transformada de Laplace
(1) un (t) ≥ 0;
Z ∞
(2) un(t) dt = 1;
−∞
Z
(3) Dados ε > 0 e η > 0, existe n0 ∈ N tal que un(t) dt < ε , para todo n ≥ n0.
| t |>η
Como visto na seção 1.11, as funções un (x) podem ser entendidas, mas de modo intuitivo,
como uma aproximação do delta de Dirac. Na mesma seção viu-se que o primeiro membro de
(12.3) pode ser “definido” por
Z ∞ Z ∞
(12.4) δ (t) f (t) dt = lim un (t) f (t) dt.
−∞ n→∞ −∞
A seguir, mostrar-se-á que, com a definição em (12.4), a expressão (12.3) está correta.
Exemplo
Z 12.9: Seja u : R → R uma função seccionalmente contínua, não negativa e tal que
∞
0< u(t) dt < ∞. Em particular, caso a função u(t) seja de suporte compacto, então a integral
−∞
anterior será sempre finita.
Seja Z ∞
k= u(t) dt.
−∞
Então as funções definidas por
n
un (t) = · u(nt)
k
1.12 Exercícios propostos 161
k
= = 1,
k
onde se fez a mudança de variáveis x = nt, dx = n dt, de modo que para t = −∞, x = n · (−∞) =
−∞, e para t = ∞, x = n · (∞) = ∞. Observe que o valor da integral das funções un (x) em R é
igual a 1 porque o valor da integral no penúltimo passo acima é o valor da constante k.
Propriedade (3): sejam ε > 0 e η > 0 números dados. É preciso mostrar que existe n0 ∈ N
tal que Z
un (t) dt < ε , para todo n ≥ n0 .
| t |>η
Assim,
Z Z hn i
un (t) dt = · u(nt) dt
| t |>η | t |>η k
Z
n
= u(nt) dt
k | t |>η
Z
n u(x)
= dx
k |x |>n η n
Z
1
(12.5) = u(x) dx
k |x |>n η
onde se fez a mudança de variáveis x = nt, de modo que dx = n dt. Além disso, a desigualdade
| t | > η é equivalente a escrever que t ∈ [(−∞, −η ) ∪ (η , ∞)]. Então, x = nt ∈ [(−∞, −n η ) ∪
(n η , ∞)], ou seja, que | x | > n η sempre que | t | > η .
162 1 Transformada de Laplace
Z ∞
Por outro lado, a hipótese de que u(x) dx < ∞ implica na existência de um número α > 0
−∞
tal que
Z
(12.6) u(x) dx < k ε .
|x |>α
1
< · (k ε ) = ε ,
k
mostrando que a propriedade (3) é satisfeita.
Teorema 12.1: Sejam {un} uma sequência de núcleos de Dirac e v : R → R uma função
seccionalmente contínua e limitada. Então:
(a) As funções Z ∞
vn (t) = (un ∗ v)(t) = un (t − x) v(x) dx
−∞
estão bem definidas;
(b) Suponha que un (t) seja uma função par, isto é, un(−t) = un (t) para todo t. Então, para
cada t, tem-se que
v(t + 0) + v(t − 0) ,
lim vn (t) =
n→∞ 2
onde v(t + 0) e v(t − 0) denotam, respectivamente, os limites laterais à direita e à esquerda de
cada ponto x ∈ R;
(c) A sequência {vn } converge uniformente para v em todo intervalo fechado em limitado I
que não contenha pontos de descontinuidade de v.
D EMONSTRAÇÃO : Parte (a): as funções vn (t) estão bem definidas. De fato, por hipótese, v é
limitada, ou seja, existe M ≥ 0 tal que | v(t)| ≤ M para todo t ∈ R. Assim,
Z ∞ Z ∞
u n (t − x) v(x) dx≤ | un (t − x) v(x)| dx
−∞
−∞
Z ∞
= | un (t − x)| | v(x)| dx
−∞
Z ∞
≤ | un (t − x)| · M dx
−∞
1.12 Exercícios propostos 163
Z ∞
=M |un(t − x)| dx
−∞
Z ∞
=M un (t − x) dx,
−∞
pois, por hipótese, as funções un (t) são não negativas. Para finalizar, basta usar a hipótese que
as funções un (t) são seccionalmente contínuas, o que garante a existência da última integral
acima, mostrando assim que as funções vn (t) = (un ∗ v)(t) estão bem definidas.
Usando a expressão acima, bem como a propriedade (2) dos núcleos de Dirac, obtém-se
Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0) v(t + 0) + v(t − 0)
vn (t) − = un (x) v(t − x) dx −
2 −∞ 2
= (pela propriedade (2))
Z ∞ Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) dx − un (t) dx
−∞ 2 −∞
Z ∞ Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) dx − un(t) · dx
−∞ −∞ 2
Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) − un(t) · dx
−∞ 2
Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0)
(12.7) = un (x) v(t − x) − dx.
−∞ 2
O próximo passo consiste em dividir a última integral acima em duas e depois fazer uma
estimativa. Para um δ > 0 que será escolhido logo adiante, obtém-se
Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0) v(t + 0) + v(t − 0)
vn (t) − = un (x) v(t − x) − dx
2 −∞ 2
Z
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) − dx +
|x |>δ 2
Z
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) − dx
|x |≤δ 2
(12.8) = I1 + I2,
onde Z
v(t + 0) + v(t − 0)
I1 = un (x) v(t − x) − dx
|x |>δ 2
e
164 1 Transformada de Laplace
Z
v(t + 0) + v(t − 0)
I2 = un (x) v(t − x) − dx.
|x |≤δ 2
Por hipótese, as funções un(t) são pares; então tem-se que
Z
v(t + 0) + v(t − 0)
I2 = un (x) v(t − x) − dx
|x |≤δ 2
Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) − dx
−δ 2
Z 0
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) − dx +
−δ 2
Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) − dx
0 2
Z 0
par. v(t + 0) + v(t − 0)
= un (−x) v(t − x) − dx +
−δ 2
Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) − dx
0 2
Z 0
v(t + 0) + v(t − 0)
= − un(y) v(t + y) − dy +
δ 2
Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) − dx
0 2
Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (y) v(t + y) − dy +
0 2
Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) − dx
0 2
Z δ Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (y) v(t + y) dy − un(y) · dy +
0 0 2
Z δ Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) dx − un (x) · dx
0 0 2
= (como a variável de integração é “muda”, segue-se que)
Z δ Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t + x) dx − un (x) · dx +
0 0 2
Z δ Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
+ un (x) v(t − x) dx − un (x) · dx
0 0 2
Z δ Z δ
= un (x) v(t + x) dx + un (x) v(t − x) dx −
0 0
1.12 Exercícios propostos 165
Z δ Z δ
v(t + 0) + v(t − 0) v(t + 0) + v(t − 0)
− un (x) · dx − un (x) · dx
0 2 0 2
Z δ Z δ
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) [ v(t + x) + v(t − x)] dx − 2 un (x) · dx
0 0 2
Z δ Z δ
= un (x) [ v(t + x) + v(t − x)] dx − un(x) [ v(t + 0) + v(t − 0)] dx
0 0
Z δ Z δ
= un (x) v(t + x) dx + un (x) v(t − x) dx −
0 0
Z δ Z δ
− un (x) v(t + 0) dx − un (x) v(t − 0) dx
0 0
Z δ Z δ
= un (x) [ v(t + x) − v(t + 0)] dx − un (x) [ v(t − x) − v(t − 0)] dx.
0 0
onde se fez a seguinte mudança de variáveis: y = −x e dx = −dy, de modo que, para x = − δ ,
y = δ , e para x = 0, y = 0.
Segue-se daí que
Z δ Z δ
| I2 | = un(x) [ v(t + x) − v(t + 0)] dx − un(x) [ v(t − x) − v(t − 0)] dx
0 0
Z Z
δ δ
≤
un(x) [ v(t + x) − v(t + 0)] dx + un(x) [ v(t − x) − v(t − 0)] dx
0 0
Z δ Z δ
≤ |un (x) [ v(t + x) − v(t + 0)]| dx + |un (x) [ v(t − x) − v(t − 0)]| dx
0 0
Z δ Z δ
= |un (x)| | v(t + x) − v(t + 0)| dx + |un (x)| | v(t − x) − v(t − 0)| dx
0 0
Agora usa-se o fato de que v é, por hipótese, seccionalmente contínua: dado ε > 0, existe um
δ > 0 tal que
Z δ Z δ
=ε un (x) dx + ε un(x) dx
0 0
Z δ
= 2ε un (x) dx
0
Z ∞
≤ε un (x) dx
−∞
= ε · 1 = ε,
pois as funções un (t), que por Zhipótese são núcleos de Dirac, satisfazem a propriedade (2) dos
∞
núcleos de Dirac, ou seja, que un (x) dx = 1.
−∞
O passo seguinte consiste em fazer uma estimativa para a integral I1 usando este mesmo δ
que foi agora determinado. Será usado o fato que v é limitada, isto é, existe M > 0 tal que
| v(t)| ≤ M para todo x ∈ R, em particular, para | x | > δ . Assim sendo, dado ε > 0, existe δ > 0
(o mesmo anterior), tal que
Z
v(t + 0) + v(t − 0)
| I1| = un (x) v(t − x) − dx
|x |>δ 2
Z
v(t + 0) + v(t − 0)
= un (x) v(t − x) dx − un(x) dx
|x |>δ 2
Z Z
v(t + 0) + v(t − 0)
≤ un (x) v(t − x) dx + un (x) dx
|x |>δ |x |>δ 2
Z Z
v(t + 0) + v(t − 0)
≤ | un(x) v(t − x)| dx + un (x) dx
|x |>δ |x |>δ 2
Z Z
v(t + 0) + v(t − 0)
= | un(x)| | v(t − x)| dx + | un(x)| dx
|x |>δ |x |>δ 2
Z Z
≤ | un(x)| · M dx + | un (x)| · M dx
|x |>δ |x |>δ
Z Z
≤M | un (x)| dx + M | un (x)| dx
|x |>δ |x |>δ
Z Z
≤ 2M | un (x)| dx = 2M un(x) dx.
|x |>δ |x |>δ
| I1 | ≤ 2M · ε , para todo n ≥ n0 .
= 2M · ε + ε
= (1 + 2M) · ε ,
para todo n ≥ n0 . Isso demonstra a parte (b).
Parte (c): Seja I = [a, b] que não contenha os pontos de descontinuidade de v. Dado η > 0,
seja J = [a − η , b + η ] um intervalo que também não contenha pontos de descontinuidade de v.
Como v é seccionalmente contínua e não tem descontinuidade em I e J, então ela é uma função
contínua nesses intervalos. E como estes intervalos são fechados e limitados (logo, conjuntos
compactos), então v é uma função uniforme contínua em I e J. Assim, dado ε > 0, existe δ > 0
tal que, se t1, t2 ∈ J e |t1 − t2| < δ , então |v(t1) − v(t2 )| < ε .
Retorna-se, agora, à expressão em (12.7):
Z ∞
v(t + 0) + v(t − 0) v(t + 0) + v(t − 0)
(12.9) vn (t) − = un(x) v(t − x) − dx.
2 −∞ 2
Como v é contínua em J, então os limites laterais v(t + 0) e v(t − 0) são iguais e valem v(t).
Portanto,
v(t + 0) + v(t − 0) ,
v(t) =
2
que modo que a expressão em (12.9) pode ser reescrita na forma
Z ∞
vn (t) − v(t) = un (x) [v(t − x) − v(t)] dx.
−∞
(12.11) = I1 + I2,
onde
Z Z
I1 = un (x) |v(t − x) − v(t)| dx e I2 = un (x) |v(t − x) − v(t)| dx.
|x |>δ |x |≤δ
Na integral do último membro em (12.11) será usado o fato de que v é limitada, ou seja, que
existe M > 0 tal que |v(t)| ≤ M para todo x ∈ R, em particular, para | x | > δ . Assim,
Z
I1 = un (x) |v(t − x) − v(t)| dx
|x |>δ
Z
≤ un (x) [|v(t − x)| + |v(t)|] dx
|x |>δ
Z Z
= un (x) |v(t − x)| dx + |un (x)| |v(t)| dx
|x |>δ |x |>δ
Z Z
≤ un (x) · M dx + |un (x)| · M dx
|x |>δ |x |>δ
Z
= 2M un (x) dx.
|x |>δ
A propriedade
Z (3) dos núcleos de Dirac diz o seguinte: dados ε > 0 e η > 0, existe um n0 ∈ N
tal que un(t) dt < ε , para n ≥ n0. Logo, com esse ε > 0 dado e o correspondente δ > 0,
|t |>η
determina-se n0 ∈ N tal que a integral I1 fique menor do que ε , ou seja, que
Z Z ∞
un(x) dx ≤ un (x) dx < ε , para todo n ≥ n0 .
|x |>δ −∞
(12.12) < 2M · ε .
para todo n ≥ n0
Para a integral I2 não é possível usar a limitação de v em virtude do termo v(t − x), ou seja,
é preciso ter cuidado com t − x em J. Para resolver esta questão, basta tomar δ < η , de modo
que t − x variará em J quando t percorrer I: pela continuidade de v nestes intervalos, tem-se que
|v(t − x) − v(t)| < ε . Logo, a integral I2 terá a seguinte estimativa:
1.12 Exercícios propostos 169
Z
I2 = un(x) |v(t − x) − v(t)| dx
|x |≤δ
Z
< un(x) · ε dx
|x |≤δ
Z
=ε un (x) dx
|x |≤δ
Z ∞
≤ε un (x) dx
−∞
(12.13) = ε · 1 = ε,
= (1 + 2M) ε ,
para todo x ∈ I e todo n ≥ n0 . isso demonstra a convergência uniforme da sequência {vn } em I.
E com isso, encerra-se a demonstração do teorema.
Sejam {un} uma sequência de núcleos de Dirac, onde un são funções pares, e f : R → R uma
função contínua e limitada. Com isso, as hipóteses do teorema 12.1 são satisfeitas. Este teorema
garante, em sua parte (a), que as funções
Z ∞
fn (t) = un(t − x) f (x) dx
−∞
Além disso, a parte (c) do teorema 12.1 diz que a convergência anterior é uniforme em cada
intervalo fechado e limitado I que não contenha pontos de descontinuidade de f . Ora, a função f
é contínua em R, então se tem f (t) = lim fn (t) uniformemente em R. Agora usa-se a definição
n→∞
das fn (t) para concluir que
Z ∞
f (t) = lim un(t − x) f (x) dx.
n→∞ −∞
Mas por hipótese, as funções un (t) são pares, isto é, un (−t) = u(t) para todo t ∈ R. Portanto,
segue-se desta hipótese e da última igualdade acima que
Z ∞
f (0) = lim un(−x) f (x) dx
n→∞ −∞
Z ∞
par.
= lim un (x) f (x) dx.
n→∞ −∞
Como a variável de integração é “muda”, pode-se trocar a variável x por t na última integral
acima, de modo que se tem
Z ∞
(12.14) f (0) = lim un(t) f (t) dt
n→∞ −∞
= lim 1
n→∞
= 1,
pois a propriedade (2) dos núcleos de Dirac diz que
1.12 Exercícios propostos 171
Z ∞
un (t) dt = 1, para todo n ∈ N.
−∞
Z ∞É nesse sentido que se deve entender a integral do delta de Dirac ser igual a 1, ou seja, que
δ (t) dt = 1.
−∞
Capítulo 2
Séries de Fourier
2.1 Introdução
Estas séries surgiram quando Fourier 1 usou o método de separação de variáveis para resolver
a equação do calor. Neste capítulo estuda-se as séries de Fourier por si só. A questão central na
teoria das séries de Fourier é saber quando é possível representar uma dada função por meio de
uma série infinita envolvendo um conjunto prescrito de funções.
Quando se estuda certos problemas de valores de contorno é comum surgir a necessidade de
representar funções por séries. Por exemplo, alguns problemas da da física-matemática indicam
a necessidade de saber se uma função real f : [0, L] → R pode ser representada na forma abaixo:
∞ h nπ x nπ x i
a0
(1.1) f (x) = + ∑ an cos + bn sen ·
2 n=1 L L
A expressão
∞ h nπ x nπ x i
a0
+ ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
é dita série trigonométrica.
A série de Fourier, objeto de estudo deste capítulo, é uma série trigonométrica, onde os coe-
ficientes guardam estreita relação com a função f dada a priori. Por outro lado, existem séries
trigonométricas que não são séries de Fourier. Isto será visto na seção 2.11, onde será apresen-
tada e estudada a identidade de Parseval e que demonstra, como aplicação de tal identidade, o
que foi afirmado.
173
174 2 Séries de Fourier
Exemplo 2.1: As funções f , g : R → R, definidas por f (x) = sen x e g(x) = cos x, são per-
iódicas de período T = 2π .
De fato, tem-se que
f (x + 2π ) = sen (x + 2π ) = sen x · cos 2π + sen 2π · cosx
O leitor poderá verificar que o valor 4π também representa um período para as funções seno
e cosseno. De fato, se uma função é periódica, então ela possui vários períodos. Na verdade, não
há problema algum em funções periódicas possuírem vários períodos. Aliás, esta propriedade
das funções periódicas, além de útil, desempenha importante papel, em particular no estudo das
séries de Fourier.
Neste ponto será introduzido o conceito de período fundamental. Inicialmente, observa-se
que, se T é um período para a função f , então 2T também é um período para a mesma f . De
fato,
f (x + 2T ) = f [(x + T ) + T ] = f (x + T ) = f (x).
Outro caso também merece atenção: se f é periódica de período T , então −T também é
período para f . Com efeito,
= f (x + T ) = f (x),
onde usou-se a hipótese de indução no penúltimo passo acima e a peridiocidade de f no último.
Isso demonstra o que foi afirmado.
2.2 Funções periódicas 175
Exemplo 2.2: Seja f : (0, 2) → R uma função definida por f (x) = x2 . Fazer uma extensão
periódica de f e de período T = 2.
Inicialmente deve-se observar que uma extensão periódica implica dizer que a nova função
f esteja definida para todo x ∈ R. Tais valores de x devem ser divididos em dois grupos: (a)
x = 2k, com k ∈ Z e (b) os demais valores de x, ou seja, x ∈ (2k − 2, 2k), k ∈ Z.
Para os valores x ∈ (2k − 2, 2k) a função deve ser um “espelho” do gráfico de x2 , ou seja,
deve ser a translação desta função, para a esquerda e direita. Melhor dizendo, a função deve ser
(x − 2k)2 para x ∈ (2k − 2, 2k).
176 2 Séries de Fourier
Para os valores de f nos pontos x = 2k, com k ∈ Z, deve-se ter um cuidado adicional: a função
f dada não está definida em x = 0 e x = 2. Assim, antes de se fazer uma extensão direta para a
função f , deve-se fazer uma extensão de f , ainda não periódica, definindo-se um valor em um
dos pontos x = 0 e x = 2. Fixado um destes pontos, por exemplo, x = 0, escolhe-se qualquer
valor para a sua imagem. Aqui será assumido o valor zero, isto é, se fe denota a extensão de f
no ponto x = 0, então e f (0) = 0.
Observa-se que não é possível estender f simultaneamente nos dois valores x = 0 e x = 2,
pois a periodicidade esperada para f implicaria em duas imagens distintas para os pontos da
forma x = 2k e, consequentemente, deixaria de ser função.
Com estas considerações é possível escrever a extensão periódica da seguinte maneira:
(
(x − 2k)2 , se 2k − 2 < x < 2k, k ∈ Z,
f (x) =
0, se x = 2k.
Observação 2.1: Foi comentado acima que não é possível fazer uma extensão inicial de f
definindo valores simultaneamente para x = 0 e x = 2, pois a extensão periódica não seria
função. A maneira mais simples de ver isso é considerar a função g : [0, 2] → R definida por
g(x) = x2 . Com isso, nota-se facilmente que g(0) = 0 e g(2) = 4. Se uma nova extensão, agora
periódica, for feita, então o gráfico será como na figura 2.3.
Agora basta observar que em cada ponto da forma x = 2k, com k ∈ Z, existem duas imagens,
isto é, g(2k) assume os valores 0 e 4. Deste modo, a extensão periódica g não é uma função.
Em suma, não é possível fazer uma extensão periódica para a função g : [0, 2] → R definida por
g(x) = x2 .
2.2 Funções periódicas 177
Exemplo 2.3: Seja f : R → R uma função definida por f (x) = sen (nπ x/L), onde n ∈ N é fixo,
porém arbitrário.
Deseja-se determinar o período fundamental T para a função dada. Assim, para que T seja
período, para todo x ∈ R, deve-se ter
h nπ i nπ x
sen (x + T ) = sen ,
L L
ou seja,
nπ x nπ T nπ T nπ x nπ x
sen · cos + sen · cos = sen ·
L L L L L
A última equação acima é verdadeira para todos os valores de x real. Assim, em particular,
pode-se tomar x = L/2n para obter
π π π
nπ T nπ T ,
sen · cos + cos · sen = sen
2 L 2 L 2
π π
nπ T ,
sen · cos = sen
2 L 2
que implica em
nπ T
(2.1) cos = 1.
L
obtém-se
2 nπ T 2 nπ T 2 nπ T
sen + cos =1 ⇒ sen + 12 = 1,
L L L
178 2 Séries de Fourier
isto é,
nπ T
(2.2) sen = 0.
L
Agora deve-se procurar o menor valor positivo de T que satisfaça as equações (2.1) e (2.2)
simultaneamente. Logo, o argumento (nπ T)/L deve ser igual a 2π . Assim,
nπ T 2L
= 2π ⇒ T= ·
L n
Portanto, o período fundamental de sen (n π x/L) é T = 2L/n.
Exemplo 2.4: Analogamente, mostra-se que o período fundamental de cos (n π x/L) também é
T = 2L/n.
Assim, procura-se pelo menor valor positivo de T que satisfaça as equações (2.3) e (2.4)
simultaneamente. Logo, o argumento (nπ T)/L deve ser igual a 2π , isto é,
nπ T 2L
= 2π ⇒ T= ·
L n
Portanto, o período fundamental de cos(nπ x/L) é T = 2L/n.
O leitor deve ter em conta que o objetivo deste texto é estudar e analisar as séries de Fourier,
de modo que o estudo das funções periódicas que está sendo feito aqui se deve a periodicidade
das funções senos e cossenos que aparecem neste tipo de série e que foi mostrada através dos
exemplos 2.3 e 2.4. Assim, observando, mais uma vez, que se uma função pode ser representada
por sua série de Fourier, então é possível escrever
∞ h nπ x nπ x i
a0
f (x) = + ∑ an cos + bn sen ·
2 n=1 L L
Logo,
( f + g)(x + T ) = f (x + T ) + g(x + T ) = f (x) + g(x) = ( f + g)(x),
o que mostra que f + g é periódica de período T .
Analogamente,
aP = kT, k ∈ Z.
Portanto,
T
P=k ·
a
Considerando entre todos os valores de P aquele que é o menor positivo, tem-se que T/a é um
período para g. De fato,
T T
g x+ = f a x+ = f (ax + T ) = f (ax) = g(x).
a a
Observação 2.2: Na proposição 2.1, é importante notar que o período T assumido é qualquer,
isto é, não é necessariamente o período fundamental. Além disso, deve-se entender que aquelas
propriedades nos itens (a)–(d) são satisfeitas para algum período e não para todos os períodos.
Por exemplo, para o caso da diferença entre funções periódicas f e g, o que se pode dizer é que,
se existir certo período T comum a f e g, então este também será o período de f − g. Isso não
impede que exista outro período P, igualmente comum a f e g, que não seja período para f − g.
Em geral, isso pode acontecer quando se toma como período para f e g o período fundamental.
Os próximos exemplos ilustram esta situação.
Exemplo 2.5: O objetivo deste exemplo é mostrar que a diferença de duas funções periódicas
com o mesmo período fundamental é ainda periódica, porém com um período diferente do
fundamental.
Sejam f , g : R → R funções definidas por
O exemplo 2.1 mostrou que o período de f é igual 2π . Afirma-se que g tem o mesmo período
2π . De fato, basta observar que
Exemplo 2.6: Este exemplo mostra que o produto entre duas funções periódicas com o
mesmo período fundamental é uma função periódica, mas tendo período distinto do funda-
mental.
Sejam f , g : R → R funções definidas por
Exemplo 2.7: Neste exemplo será mostrado que o quociente entre funções com o mesmo
período fundamental é ainda periódica, porém com período diferente do fundamental.
Sejam f , g : R → R funções definidas por
sen (x + π )
h(x + π ) = tg (x + π ) =
cos(x + π )
sen x · cos π + sen π · cos x
=
cos x · cos π − sen x · sen π
184 2 Séries de Fourier
− sen x sen x
= =
− cosx cos x
= tg x = h(x).
Exemplo 2.8: Este exemplo mostra que existem funções periódicas de mesmo período e cuja
soma entre elas não possui um período fundamental.
Sejam f , g : R → R funções definidas por
Antes é preciso determinar o período fundamental para estas duas funções. Afirma-se que as
funções f e g acima têm período T = π .
De fato, se T é um período fundamental para f (x) = sen x, então sen (x + T ) = sen x. Ele-
vando ambos os membros ao quadrado, segue-se que a equação a seguir deve ser satisfeita:
1 − cos 2θ
sen 2 θ = ·
2
Fazendo θ = x + T no primeiro membro e θ = x no segundo membro de (2.5), obtém-se
1 − cos[2(x + T )] 1 − cos(2x)
= ⇒ cos(2x + 2T ) = cos(2x),
2 2
isto é,
cos(2x) · cos(2T ) − sen (2x) · sen (2T ) = cos(2x).
Em particular, tomando x = π , obtém-se
ou seja,
(2.6) cos(2T ) = 1.
Assim, deve-se procurar o menor período positivo T onde as equações (2.6) e (2.7) são satis-
feitas simultaneamente, isto é,
Portanto,
2T = 2π ⇒ T = π.
Isto mostra que a função f (x) = sen 2 x tem período π . Analogamente mostra-se que a função
g(x) = cos2 x tem o mesmo período π .
Deste modo, enquanto as funções f e g têm período igual a π , a função h, que é soma de f e
g, não tem um período fundamental (pois h é constante e igual a 1).
A proposição 2.1 deu uma resposta positiva sobre a periodicidade de somas, diferenças, mul-
tiplicação por escalar, etc. para funções periódicas. E através dos exemplos anteriores viu-se
que se deve tomar cuidado com os resultados afirmados na citada proposição.
Agora, interessa ao estudo das séries de Fourier saber se há exigência de periodicidade para a
função f dada. Para isso, deve-se observar que, na expressão para a série de Fourier, as funções
cossenos e senos que aparecem na mesma têm períodos diferentes, como pode ser comprovado
através dos exemplos 2.3 e 2.4, pois o valor do período T = 2L/n muda para cada valor de
n ∈ N. E na série de Fourier tais funções senos e cossenos aparecem somadas. Assim, é preciso
investigar quando é possível garantir que somas de funções periódicas de períodos distintos
é ainda uma função periódica. Note-se que esta situação é diferente de tudo aquilo que foi
estudado até este ponto.
Exemplo 2.9: Este exemplo mostra que a soma de duas funções periódicas de períodos dife-
rentes pode ser periódica.
Antes de exibir o exemplo propriamente dito, analisar-se-á a seguinte situação: considere
duas funções f , g : R → R definidas por f (x) = sen x e g(x) = cos x. O exemplo 2.1 mostrou que
as funções f e g são periódicas de período T = 2π , isto é, sen (x + 2π ) = sen x e cos(x + 2π ) =
cos x.
Agora defina h : R → R por
Assim,
h(x + 2π ) = sen (x + 2π ) + cos(x + 2π ) = sen x + cos x = h(x),
mostrando que a soma de duas funções periódicas também pode ser periódica. Este caso está,
portanto, em conformidade com o item (a) da prosição 2.1.
Por outro lado, existem casos em que as funções f e g possuem períodos diferentes e que a
sua soma ainda poderá ser periódica.
Para ver isso, considere, como exemplo, as seguintes funções u, v : R → R definidas por
u(x) = sen (π x) e v(x) = sen (2π x). A função u é periódica de período T1 = 2, pois
= sen (π x)
= u(x).
Observa-se também que v é periódica de período T2 = 1, pois
v(x + 1) = sen [2π (x + 1)] = sen (2π x + 2π )
A proposição 2.3 exige que se tenha inteiros m e n tais que mT1 = nT2 para que a soma de
funções periódicas seja periódica. Mas
T1 n
mT1 = nT2 ⇒ = ,
T2 m
isto é, o quociente entre os períodos deve ser racional para que a soma de funções periódicas
também seja periódica.
Isso justifica o motivo de a função h(x) = sen (π x) + cos(2π x) do exemplo 2.9 ser periódica:
as funções f (x) = sen (π x) e g(x) = cos(2π x) são periódicas e cujos períodos são, respectiva-
mente, T1 = 2 e T2 = 1. Assim,
T1 2
= ⇒ 1 · T1 = 2 · T2 ,
T2 1
ou seja, m = 1 e n = 2 são os dois inteiros esperados.
O exemplo 2.9 mostrou que a soma de duas funções periódicas com períodos distintos pode
resultar em uma função ainda periódica. Por outro lado, nem sempre a soma de duas funções
periódicas de períodos diferentes será necessariamente periódica. O próximo exemplo exibe
esta situação.
Exemplo 2.10: O objetivo deste exemplo é mostrar que a soma de duas funções periódicas
de períodos diferentes pode não ser periódica.
De fato, basta considerar duas funções entre aquelas apresentadas no exemplo 2.9: sejam
f , g : R → R duas funções definidas por f (x) = sen x e g(x) = sen (π x). Como já foi visto no
citado exemplo, f (x) = sen x é periódica de período T1 = 2π e g(x) = sen (π x) é periódica de
período T2 = 2.
Agora observe que
T1 2π
= = π 6∈ Q.
T2 2
Definindo h : R → R por h(x) = f (x) + g(x) = sen x + sen (π x), segue-se que h não é perió-
dica, pois a mesma é soma de duas funções periódicas f e g cujo quociente de seus períodos
não é um racional.
A situação do exemplo 2.10 precisa ser melhor esclarecida, uma vez que se está diante de
uma situação embaraçosa: a soma de funções periódicas de períodos distintos pode, ou não, ser
periódica. Neste caso, para as séries de Fourier, cujas funções cossenos e senos não têm neces-
sariamente o mesmo período (veja exemplos 2.3 e 2.4), tal situação não permitiria conclusão
alguma sobre a periodicidade da função f dada a priori.
190 2 Séries de Fourier
O próximo resultado será usado na demonstração da proposição 2.5, dada a seguir, que per-
mitirar explicar o motivo de o exemplo 2.10 ter produzido uma soma não periódica de funções
periódicas (mas de períodos diferentes).
f (x + h) − f (x) = f (α + T + h) − f (α + T )
= f [(α + h) + T ] − f (α + T )
(2.8) = f (α + h) − f (α ),
O próximo resultado usa a proposição 2.4 para dar melhor entendimento sobre o que ocorreu
com a soma de funções periódicas (de períodos distintos) não ser periódica no exemplo 2.10.
Proposição 2.5: A função f : R → R, definida por f (x) = sen (ax) + sen (bx), é periódica se,
e somente se, a/b é racional.
D EMONSTRAÇÃO : Suponha que a/b seja racional. Então a, b ∈ Z. Deve-se mostrar que
f (x) = sen (ax) + sen (bx) é uma função periódica. Afirma-se que T1 = a · 2π é período para a
função sen (ax) e T2 = b · 2π é período para a função sen (bx). De fato,
sen (ax + T1 ) = sen (ax + 2aπ ) = sen (ax) · cos(2aπ ) + sen (2aπ ) · cos(ax) = sen (ax),
sen (bx + T2 ) = sen (bx + 2bπ ) = sen (bx) · cos(2bπ ) + sen (2bπ ) · cos(bx) = sen (bx),
2.2 Funções periódicas 191
pois sen (2aπ ) = sen (2bπ ) = 0 e cos(2aπ ) = cos(2bπ ) = 1 por serem múltiplos inteiros pares
de π . Além disso, tem-se que
T1 a · 2π a
= = ⇒ bT1 = aT2 .
T2 b · 2π b
Faça g(x) = sen (ax) e h(x) = sen (bx). Se a = b, então g(x) e h(x) tem o mesmo período,
de modo que item (a) da proposição 2.1 garante que a soma (g + h)(x) é periódica de mesmo
período. Caso a 6= b, então g(x) e h(x) terão períodos diferentes. Porém a condição bT1 =
aT2 , a, b ∈ Z, obtida acima permite usar a proposição 2.3 para concluir que f (x) = sen (ax) +
sen (bx) é uma função periódica. Isso mostra que a função f é periódica caso a/b seja racional.
Reciprocamente, suponha que a função f (x) = sen (ax) + sen (bx) seja periódica e que seu
período seja T . Agora deve-se demonstrar que a/b é racional.
Observe-se que f é uma função diferenciável (aliás, infinitamente diferenciável). Pela proposi-
ção 2.4, tem-se que
f 00 (x) = −a2 sen (ax) − b2 sen (bx)
também é periódica de mesmo período T .
Além disso,
f (T ) = f (0 + T ) = f (0) = 0 e f 00 (T ) = f 00 (0 + T ) = f 00 (0) = 0.
aT = nπ e bT = mπ , m, n ∈ Z,
de modo que
a nπ/T nπ T n
= = · = ,
b mπ/T T mπ m
192 2 Séries de Fourier
mostrando que a/b é racional (pois é quociente de dois inteiros). Caso b = a 6= 0, então o resul-
tado é imediato, pois a/b = a/a = 1, mostrando que o quociente é racional.
No caso do exemplo 2.10, a função h(x) = sen x + sen (π x) tem a = 1 e b = π , de modo que
a 1
= ∈/ Q,
b π
mostrando que esta a função h não é periódica. Isto mostra que a questão não está relacionada
apenas aos períodos envolvidos, mas também com os argumentos das funções senos.
A partir deste ponto retorna-se às considerações sobre as séries de Fourier, onde será anali-
sada a periodicidade da função f que é dada a priori. A proposição 2.3 diz que a soma de duas
funções periódicas com períodos diferentes é também periódica, desde que o quociente entre os
períodos seja um racional. Sejam
2L 2L
Tn = e Tm = , (m 6= n),
n m
dois períodos distintos (para as funções cosseno e seno acima. Então,
Tn 2L/n 2L m m
= = · = ∈ Q,
Tm 2L/m n 2L n
pois m, n ∈ N.
Isso mostra que faz sentido procurar um período para a função f (x) dada a priori e que dá
origem a sua série de Fourier.
A ideia a ser perseguida consiste em procurar um período que seja comum a todas funções
cossenos e senos que aparecem na série de Fourier e depois analisar se tal período também é
um período para f . Os exemplos 2.3 e 2.4 mostraram que as funções
nπ x nπ x
cos e sen
L L
têm período Tn = 2L/n, ou seja, para cada n ∈ N, estas funções possuem períodos distintos.
2L
= 2L
P = n · Tn = n ·
n
é um período comum para sen (nπ x/L) e para cos (nπ x/L).
Exemplo 2.12: Suponha que f : R → R é uma função que possa ser representada através de
sua série de Fourier, isto é, que se possa escrever
∞ h nπ x nπ x i
a0
f (x) = + ∑ an cos + bn sen ·
2 n=1 L L
De fato, como foi visto nos exemplos 2.3 e 2.4, as funções cos(nπ x/L) e sen (nπ x/L) têm como
período fundamental T = 2L/n para cada n ∈ N. Além disso, viu-se no exemplo 2.11 que P = 2L
é um período comum a todas estas funções. Assim,
∞ n h nπ i h nπ io
a0
f (x + 2L) = + ∑ an cos (x + 2L) + bn sen (x + 2L)
2 n=1 L L
∞ h nπ x nπ x i
a0
= + ∑ an cos + 2nπ + bn sen + 2nπ
2 n=1 L L
∞ nπ x nπ x
a0
= + ∑ an cos · cos(2nπ ) + an sen · sen (2nπ ) +
2 n=1 L L
nπ x nπ x
+ bn sen · cos(2nπ ) + bn sen (2nπ ) · cos
L L
∞ h nπ x nπ x i
a0
= + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
= f (x),
onde usou-se os seguintes fatos
Isto mostra que f (x + 2L) = f (x), ou seja, que toda função que pode ser escrita como sua
série de Fourier é periódica de período 2L.
Na seção 2.3 será apresentada uma maneira de determinar os coeficientes de Fourier. Para
isso, será necessário assumir um tipo de convergência que permita integrar a série termo a
termo, ou seja, passar o sinal de integração para depois do sinal de somatório. Em geral, isso
não é possível, mas se a convergência for uniforme, então sim. Além disso, a integração será
194 2 Séries de Fourier
feita em um intervalo muito particular: [−L, L]. A questão é justificar o motivo para a escolha
deste intervalo.
O próximo resultado mostrará que qualquer intervalo tendo o comprimento do período T da
função periódica f pode ser usado na integração termo a termo da série de Fourier (lembrando
que isto será feito na seção 2.3). Ou mais geralmente: que a integral de uma função periódica
de período T tem o mesmo valor em qualquer intervalo de comprimento T .
Note-se que ϕ está bem definida, pois f é integrável em qualquer intervalo. Assim, pelo
teorema fundamental do cálculo, tem-se que
ϕ 0 (x) = f (x + T ) − f (x) ⇒ ϕ 0 (x) = 0,
Usando a proposição 2.6 com T = 2L, bem como os corolários 2.1 e 2.2, obtém-se, por
transitividade, que
Z a+2L Z 2L Z a+L Z L
f (t) dt = f (t) dt = f (t) dt = f (t) dt,
a 0 a−L −L
isto é, Z a+2L Z L
f (t) dt = f (t) dt.
a −L
A última igualdade acima mostra que a integral de uma função f : R → R periódica de
período T = 2L também pode ser calculada no intervalor simétrico [−L, L] (e que também tem
comprimento 2L). Isto ainda não é suficiente para explicar o motivo da escolha de integrar
termo a termo a série de Fourier no intervalo [−L, L], apenas que uma integração pode feita
neste intervalo sem alterar valores e a convergência. O motivo será apresentado na seção 2.3,
mas será plenamente esclarecido na seção 2.5.
O próximo resultado analisa as relações sobre periodicidade entre a função f e a função ϕ
(que é nomeada de integral indefinida) introduzida na demonstração da proposição 2.6 e que
será útil em capítulos futuros.
Tem-se: Z x+T Z x
ϕ (x + T ) − ϕ (x) = f (t) dt − f (t) dt
0 0
Z 0 Z x+T
= f (t) dt + f (t) dt
x 0
Z x+T
= f (t) dt,
x
para qualquer x ∈ R.
Como f é periódica de período T, pela proposição 2.6, tem-se que
Z x+T Z T
f (t) dt = f (t) dt, ∀ x ∈ R.
x 0
Portanto, Z x+T Z T
ϕ (x + T ) − ϕ (x) = f (t) dt = f (t) dt = 0,
x 0
onde usou a hipótese assumida. Isto mostra que
ϕ (x + T ) − ϕ (x) = 0 ⇒ ϕ (x + T ) = ϕ (x),
ϕ (T ) = ϕ (0 + T ) = ϕ (0),
ou ainda, Z T Z 0
f (t) dt = ϕ (T ) = ϕ (0) = f (t) dt = 0,
0 0
como desejado.
Observação 2.3: Seja f : R → R uma função periódica e integrável. Considere uma função
ϕ : R → R definida por Z x
ϕ (x) = f (t) dt.
0
2.2 Funções periódicas 197
Em geral, mesmo que f seja uma função periódica, nem sempre a função ϕ será periódica.
De fato, basta tomar, por exemplo, a função f definida por f (x) = 1 + cos x. O gráfico de f
encontra-se na figura 2.13.
A função f é periódica de período T = 2π , pois
f (x + 2π ) = 1 + cos(x + 2π )
= 1 + cosx
= f (x),
onde usou-se os fatos de que cos(2π ) = 1 e sen (2π ) = 0.
= x + sen x.
A função ϕ (x) = x + sen x não é periódica, a menos que sua definição seja restrita a um
intervalo específico. Agora observe o motivo para que ϕ não seja periódica:
Z T Z 2π
f (t) dt = (1 + cost) dt
0 0
2π
= (t + sen t)
0
= 2π 6= 0.
Como a integral de f , de 0 até T = 2π , é diferente de zero, então a proposição 2.7 garante
que ϕ não é periódica.
198 2 Séries de Fourier
D EMONSTRAÇÃO : Para que ϕ seja periódica de período T deve-se ter ϕ (x + T ) = ϕ (x), isto
é, Z x+T Z x
f (t) dt − k(x + T ) = f (t) dt − k x,
0 0
ou ainda, Z x+T Z x
f (t) dt − k x − kT = f (t) dt − k x.
0 0
Cancelando o termo comum em ambos os membros e desenvolvendo a integral no primeiro
membro, encontra-se
2.3 Coeficientes de Fourier 199
Z x Z x+T Z x
f (t) dt + f (t) dt − kT = f (t) dt,
0 x 0
ou seja,
Z x+T Z x+T
1
(2.10) f (t) dt − kT = 0 ⇒ k= f (t) dt.
x T x
Inicia-se esta seção com resultados do Cálculo e que serão úteis naquilo que seguirá. Tais
resultados serão apresentados na forma de lema, para que possam ser citados oportunamente
quando necessário. Os quatro lemas dados a seguir são conhecidos como relações de ortogo-
nalidade.
Antes, apresentar-se-á alguns fatos simples de trigonometria que serão usados nos próximos
resultados, além de outros. Como os conceitos de paridade e imparidade de uma função ainda
não foram introduzidos, usar-se-á algebrismo para mostrar dois resultados e que serão usados
neste lema e em outros resultados. Tem-se:
200 2 Séries de Fourier
Com efeito,
cos(−x) = cos(0 − x) = (cos 0) · (cos x) + ( sen 0) · ( sen x) = cos x,
L
= [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
nπ
L
= [ sen (nπ ) + sen (nπ )]
nπ
2L
· sen (nπ ) = 0,
=
nπ
pois seno de múltiplo inteiro de π é sempre igual a zero.
Para a segunda integral, tem-se
Z L nπ x L nπ x L
sen dx = − · cos
−L L n π L
−L
L
=− [ cos(nπ ) − cos(−nπ )]
nπ
L
= − [ cos(nπ ) − cos(nπ )]
nπ
= 0.
Z L nπ x mπ x Z L nπ x nπ x
cos sen dx = cos sen dx
−L L L −L L L
Z nπ
= sen u · cosu du
−nπ
nπ
= sen u = sen (nπ ) − sen (−nπ ) = 0,
−nπ
L
=− {cos[(n − m)π ] − cos[−(n − m)π ]} −
2(n − m)π
L
− {cos[(n + m)π ] − cos[−(n + m)π ]}
2(n + m)π
L
=− {cos[(n − m)π ] − cos[(n − m)π ]} −
2(n − m)π
L
− {cos[(n + m)π ] − cos[(n + m)π ]}
2(n + m)π
L L
=− ·0− · 0 = 0.
2(n − m)π 2(n + m)π
O leitor deve observar que este segundo procedimento de integração não pode ser aplicado
ao caso n = m, pois no segundo método o termo n − m aparece no denominador e que seria
anulado caso m = n.
202 2 Séries de Fourier
1 L
= [L − (−L)] + [ sen (2nπ ) − sen (−2nπ )]
2 nπ
2L
= L+ · sen (2nπ ) = L.
nπ
Para o caso m 6= n, será necessário usar a identidade trigonométrica
cos(α − β ) + cos(α + β ) ,
cos α · cos β =
2
que pode ser determinada adicionando-se as fórmulas do cosseno da soma e do cosseno da
diferença. Tem-se:
Z L nπ x mπ x Z L
1 (n − m)π x (n + m)π x
cos cos dx = cos + cos dx
−L L L 2 −L L L
Z Z
1 L (n − m)π x 1 L (n + m)π x
= cos dx + cos dx
2 −L L 2 −L L
L (n − m)π x L
= sen +
2(n − m)π L −L
2.3 Coeficientes de Fourier 203
L (n + m)π x L
+ sen
2(n + m)π x L −L
L
= { sen [(n − m)π ] − sen [−(n − m)π ]} +
2(n − m)π
L
+ { sen [(n + m)π ] − sen [−(n + m)π ]}
2(n + m)π
L L
= · sen (n − m)π + · sen (n + m)π
(n − m)π (n + m)π
L L
= ·0+ · 0 = 0,
(n − m)π ) (n + m)π
onde usou-se novamente o fato de que seno de múltiplo inteiro de π é igual a zero.
1 L
= [L − (−L)] − [ sen (2nπ ) − sen (−2nπ )]
2 nπ
204 2 Séries de Fourier
2L
= L− · sen (2nπ )
nπ
2L
= L− · 0 = L.
nπ
Para o caso m 6= n será necessário usar a identidade trigonométrica
cos(α − β ) − cos(α + β ) ,
sen α · sen β =
2
que pode ser obtida através da subtração entre as fórmulas do cosseno da soma e do cosseno da
diferença. Assim, para m 6= n, tem-se
Z L nπ x mπ x Z
1 L (n − m)π x (n + m)π x
sen sen dx = cos − cos dx
−L L L 2 −L L L
Z Z
1 L (n − m)π x 1 L (n + m)π x
= cos dx − cos dx
2 −L L 2 −L L
L (n − m)π x L
= sen −
2(n − m)π L −L
L (n + m)π x L
− sen
2(n + m)π x L −L
L
= { sen [(n − m)π ] − sen [−(n − m)π ]} −
2(n − m)π
L
− { sen [(n + m)π ] − sen [−(n + m)π ]}
2(n + m)π
L L
= · sen (n − m)π − · sen (n + m)π
(n − m)π (n + m)π
L L
= ·0− · 0 = 0,
(n − m)π ) (n + m)π
onde usou-se, mais uma vez, o fato de que seno de múltiplo inteiro de π é igual a zero.
Quando o intervalo de integração não é simétrico, então não faz sentido falar, por exemplo,
em funções pares e ímpares. É essa facilidade introduzida pela simetria de funções, que per-
mite interpretações geométricas, que justifica a escolha pelo intervalo simétrico [−L, L] para os
cálculos dos coeficientes de Fourier.
Com auxílio dos lemas enunciados e demonstrados, os coeficientes de Fourier serão deduzi-
dos a partir deste ponto. O procedimento adotado é formal, onde será admitido a convergência
uniforme da série para que os cálculos façam sentido.
Se uma função f (x) pode ser representada na forma
∞ h nπ x nπ x i
a0 ,
(3.5) f (x) = + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
Note-se que, pela proposição acima, a função f deve ser contínua (e, portanto, ela pode ser
integrada) e deve ser periódica de período 2L, pois o período fundamental de cos (π x/L) é 2L e
2L é o período comum para as demais funções seno e cosseno que aparecem na série. Reveja os
exemplos 2.2, 2.3, 2.4 e 2.5 deste capítulo para detalhamentos sobre as afirmações aqui feitas.
∞
Sejam un [a, b] → R funções integráveis. Suponha que a série ∑ un(x) convirja uniformemen-
n=1
te para uma função u(x). Então,
Z
" #
b ∞ ∞ Z b
a
∑ un (x) dx = ∑ un (x) dx.
n=1 n=1 a
Em virtude da continuidade da função f pode-se usar a proposição acima para integrar ambos
os membros de (3.5) de −L até L para obter
Z L Z L Z L
( )
a0 ∞ h nπ x nπ x i
f (x) dx = dx + ∑ an cos + bn sen dx
−L L −L −L n=1 L L
206 2 Séries de Fourier
= (conv. uniforme)
Z ∞ Z L nπ x Z L nπ x
a0 L
(3.6) = dx + ∑ an cos dx + bn sen dx ·
2 −L n=1 −L L −L L
= (conv. uniforme)
Z L mπ x
a0
= cos dx +
L −L L
∞ Z L nπ x mπ x
+ ∑ an cos cos dx +
n=1 −L L L
Z L nπ x mπ x
(3.7) + bn sen cos dx .
−L L L
Pelos lemas 3.1 e 3.2 tem-se, respectivamente, que para todo m, n ≥ 1
Z L mπ x Z L nπ x mπ x
cos dx = 0 e sen cos dx = 0.
−L L −L L L
Já o lema 3.3 garante que
2.3 Coeficientes de Fourier 207
Z L
(
nπ x mπ x L, se n = m ≥ 1,
cos cos dx =
−L L L 0, se n 6= m, n, m ≥ 1.
Tem em vista que m está fixo enquanto n varia sobre todos os naturais, segue das relações de
ortogonalidade (citadas acima) que o único termo não nulo à direita do sinal de igualdade em
(3.7) é o termo onde m = n no primeiro somatório. Assim,
Z L nπ x Z L nπ x
1
f (x) cos dx = an · L ⇒ an = f (x) cos dx.
−L L L −L L
Analogamente, uma expressão semelhante para bn pode ser obtida multiplicando-se (3.5) por
sen (mπ x/L), integrando de −L até L e usando as relações de ortogonalidade apresentadas através
dos lemas 3.1–3.4. Deste modo obtém-se
Z L nπ x
1
bn = f (x) sen dx.
L −L L
Z L
1
a0 = f (x) dx,
L −L
Z L nπ x
1
an = f (x) cos dx,
L −L L
Z L nπ x
1
bn = f (x) sen dx,
L −L L
são definidos como os coeficientes de Fourier da função f .
O leitor não deve confundir o símbolo ∼ que aparece em (4.1) como “aproximadamente”.
Ele apenas indica que a expressão no lado direito em (4.1) representa a série de Fourier para
2.4 Série de Fourier 209
a função f . Dito isso, o leitor poderá questionar sobre a relação entre a função f e sua série
de Fourier. Não há garantias sobre a igualdade entre estes dois objetos, isto é, a função e sua
série de Fourier. Na verdade, a série de Fourier para uma função f pode divergir. Por exemplo,
é possível construir exemplos de funções contínuas cujas séries de Fourier divergem.
Por outro lado, existem funções cujas séries de Fourier convergem exatamente para elas, mas
também existem funções cujas séries de Fourier convergem para funções ligeiramente diferentes
das originalmente dadas (observa-se que “ligeiramente diferentes” significa ser diferente). As-
sim, é necessário dar um significado mais amplo para que dois objetos sejam iguais (para quem
já teve contato com o assunto, aqui se fala em relações de equivalência e classe de equivalência).
A seguir, apresenta-se condições suficientes para que a função f seja igual (em sentido amplo)
à sua série de Fourier.
D EFINIÇÃO : Diz-se que uma função f : R → R é seccionalmente contínua se ela tiver ape-
nas um número finito de descontinuidade (todas de primeira espécie2 ) em qualquer intervalo
limitado.
2 Diz-se que f : I → R tem descontinuidade de primeira espécie no ponto a ∈ I quando f é descontínua no ponto a e,
aém disso, existem os limites laterais lim f (x) e lim f (x). Se a for um ponto de acumulação de I apenas em um dos
x→a− x→a+
lados deste intervalo, exige-se somente que o limite lateral correspondente exista.
Diz que f : I → R tem uma descontinuidade de segunda espécie quando a é um ponto de acumulação à direita de I e
lim f (x) não existe ou quando a é um ponto de acumulação à esquerda de I, mas não existe o limite lateral lim f (x).
x→a+ x→a−
210 2 Séries de Fourier
Note-se, também, que f não é seccionalmente diferenciável, pois para sê-lo f deveria ser
seccionalmente contínua, que não é o caso.
O leitor poderá verificar que a função f é contínua, de modo que ela é seccionalmente con-
tínua. Tem-se também que f 0 (x) é seccionalmente contínua e, assim, f seccionalmente diferen-
ciável. Como exemplo do procedimento, será calculada as derivadas laterais de f e g em x = 0.
Tem-se
f (0 + h) − f (0) −(0 + h) − 0 −h
= = = −1.
h h h
2.4 Série de Fourier 211
Como a expressão (constante e igual a 1) no último membro acima tem limite para h → 0− ,
então existe limite no primeiro membro. Assim,
f (0 + h) − f (0)
f 0 (0− ) = lim = lim (−1) = −1.
h→0− h h→0−
Apesar de f 0 (x) não estar definida para x = 0, ±1, ±2, ±3, . . ., existem os limites laterais
nestes pontos, além de f 0 (x) existe em todos os demais pontos de R. Assim, f 0 pode ser es-
tendida de maneira conveniente nestes pontos. Sem perda de generalidade, pode-se denotar a
extensão ainda por f 0 , de modo que f 0 : R → R é uma função seccionalmente contínua, pois as
descontinuidades serão de primeira espécie e em número finito em todo intervalo limitado. E
isto implica em dizer que f é seccionamente diferenciável.
Facilmente o leitor poderá verificar que a função f tem apenas descontinuidades de primeira
espécie e que aparecem em um número finito em qualquer intervalo limitado. Assim, tem-se
que f é funções seccionalmente contínua.
Por outro lado, como f é descontínua nos pontos x = 0 ± π , ±2π , ±3π , . . ., tem-se que não
existe derivada em cada um destes pontos. Isto significa dizer que a função derivada, f 0 (x), não
está definida nestes pontos. Mas em todos os outros pontos, sim, sendo o valor da derivada igual
a zero, pois f é constante nos intervalos entre estes pontos. Seu gráfico encontra-se abaixo.
O leitor poderá verificar facilmente que f é seccionalmente contínua, pois existem os limites
laterais à esquerda e à direita dos pontos x = −1 e x = 1, bem como em seus múltiplos x =
±3, ±5, . . . Na verdade tem-se que f é contínua em todos estes pontos.
Por outro lado, f não tem derivada nos pontos x = ±1, ±3, ±5, . . . (são cúspides), pois
as derivadas laterais nestes pontos tende para −∞ e +∞. Isto significa dizer que as descon-
tinuidades da função derivada, f 0 (x), são de segunda espécie. Portanto, f 0 (x) não é seccional-
mente contínua e, consequentemente, f não é uma função seccionalmente diferenciável (apesar
de ser seccionalmente contínua).
converge em cada ponto x para a média dos limites laterais, isto é, converge para
f (x + 0) + f (x − 0) ,
2
ou ainda,
∞ h nπ x nπ x i
f (x + 0) + f (x − 0) a0 ,
= + ∑ an cos + bn sen
2 2 n=1 L L
onde
Por que pedir para que a função derivada também seja seccionalmente contínua (isto é, f ser
seccionalmente diferenciável)? Isto será visto na seção 2.9, onde serão feitas estimativas dos
coeficientes de Fourier. Com a integral de Riemann, usada neste texto, isto implica em fazer
integração por partes, de maneira que aparece a função derivada f 0 (x). Nesta mesma seção
também aparece de maneira clara a exigência da função f ser absolutamente integrável.
S OLUÇÃO : O gráfico desta função pode ser visto na figura 4.4. Pelo exemplo 4.2, esta função
é periódica de período T = 2π e é seccionalmente diferenciável. Logo, pelo teorema de Fourier,
esta função admite uma série de Fourier. Inicialmente deve-se determinar os coeficientes da
série de Fourier. Observando que L = T/2 = π , tem-se:
Z L Z π
1 1
a0 = f (x) dx = f (x) dx
L −L π −π
Z 0 Z π
1 1
= f (x) dx + f (x) dx
π −π π 0
Z 0 Z π
1 1
= 0 dx + 1 dx
π −π π 0
x π 1
(4.2) = = (π − 0) = 1.
π 0 π
Para o cálculo de an , com n 6= 0, tem-se
Z L nπ x
1
an = f (x) cos dx
L −L L
Z 0 Z π
1 1
= 0 · cos(nx) dx + 1 · cos(nx) dx
π −π π 0
216 2 Séries de Fourier
Z π π
1 1
= cos(nx) dx = · sen (nx)
π 0 nπ 0
1 1
(4.3) = [ sen (nπ ) − sen 0] = · 0 = 0.
nπ nπ
Para o cálculo de bn , tem-se
Z nπ x Z Z
1 L 1 0 1 π
bn = f (x) sen dx = 0 · sen (nx) dx + 1 · sen (nx) dx
L −L L π −π π 0
Z π
1 π 1 1
= sen (nx) dx = − · cos(nx) = − [cos(nπ ) − cos 0]
π 0 nπ 0 nπ
1 1
= [1 − cos(nπ )] = [1 − (−1)n] ,
nπ nπ
ou ainda,
2
(4.4) b2k = 0 e b2k−1 = , k ∈ N.
(2k − 1)π
Assim, usando os valores para os coeficientes a0 , an e bn obtidos em (4.2), (4.3) e (4.4), a
série de Fourier para a função f é dada por
∞
1 2
f (x) ∼ + ∑ · sen (2k − 1) x.
2 k=1 (2k − 1)π
A figura 4.8 exibe as quatro primeiras somas parciais da série de Fourier para a função f no
intervalo [−π , π ], isto é, o gráfico das funções
1 2
S1 (x) = + sen x,
2 π
2.4 Série de Fourier 217
1 2 2
S2 (x) = + sen x + sen (3x),
2 π 3π
1 2 2 2
S3 (x) = + sen x + sen (3x) + sen (5x),
2 π 3π 5π
1 2 2 2 2
+ sen x +
S4 (x) = sen (3x) + sen (5x) + sen (7x).
2 π 3π 5π 7π
O leitor poderá observar que cada termo adicionado faz com que a série se aproxime mais do
gráfico da função f . Também é interessante notar o que está acontecendo com os gráficos das
somas parciais no ponto (0, 1/2), que é o ponto médio entre os pontos (0, 0) e (0, 1), ou ainda,
que é o ponto obtido como a média dos limites laterais de f na origem.
Exemplo 4.6: A série de Fourier para a função f , que foi obtida no exemplo 4.5, pode ser
usada para obter uma representação para π através de uma série numérica.
De fato, basta tomar x = π/2. Note-se, naquele exemplo, que f (π/2) = 1 e que f é contínua
na vizinhança de x = π/2, de modo que a série de Fourier, ao convergir para a média dos limites
laterais, irá convergir exatamente para o valor de f (π/2) = 1. Assim, a função f pode ser escrita
através de uma igualdade nesta vizinhança, isto é,
1 2 ∞ 1
f (x) = + ∑ · sen (2k − 1) x.
2 π k=1 2k − 1
isto é,
1 2 ∞ 1 h πi
= ∑ · sen (2k − 1) ,
2 π k=1 2k − 1 2
ou ainda,
π ∞
1 h πi
=∑ · sen (2k − 1) ·
4 k=1 2k − 1 2
Portanto,
π 1
π 1 3π 1 5π 1 7π
= · sen + · sen + · sen + · sen +···
4 1 2 3 2 5 2 7 2
1 1 1 ∞
(−1)k−1 ,
= 1− + − +··· = ∑
3 5 7 k=1 2k − 1
que é conhecida como a série de Leibniz.
Deste modo, é possível determinar um valor para π através da soma
218 2 Séries de Fourier
∞
(−1)k−1 4 4 4
π =4∑ = 4 − + − + · · ·,
k=1 2k − 1 3 5 7
S OLUÇÃO : Note-se, primeiro, que f é uma função semelhante àquela apresentada no exem-
plo 4.2. Assim, analogamente aquele caso, mostra-se que f uma função seccionalmente dife-
renciável e periódica de período T = 2. Logo é possível determinar a sua série de Fourier. Para
isso é necessário encontrar os coeficientes de Fourier. Observando que L = 1, para a0 , tem-se
Z 1 Z 0 Z 1
1
a0 = f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx
1 −1 −1 0
Z 0 Z 1
x2 0 x2 1
= (−x) dx + x dx = − +
−1 0 2 −1 2 0
1 2 1
=− 0 − (−1)2 + 12 − 02
2 2
1 1
(4.5) = + = 1.
2 2
Para os coeficientes an , tem-se
Z 1
1
an = f (x) cos(nπ x)dx
1 −1
Z 0 Z 1
= −x · cos(nπ x)dx + x · cos(nπ x)dx
−1 0
" 0 # Z 0
x 1
= − · sen (nπ x) − − sen (nπ x)dx +
nπ −1 nπ −1
" 1 # Z
x
1 1
+ · sen (nπ x) − sen (nπ x)dx
nπ 0 nπ 0
" 0 # " 0 #
x 1
= − · sen (nπ x) − cos(n π x)
+
nπ −1 (nπ )2 −1
2.4 Série de Fourier 219
" 1# " 1 #
x 1
+ · sen (nπ x) − − 2
cos(n π x)
nπ 0 (n π ) 0
0
1 1
= − · x · sen (nπ x) − 2
· cos(nπ x) +
nπ (nπ )
−1
1
1 1
+ · x · sen (nπ x) + 2
· cos(nπ x)
nπ (nπ )
0
1 1
= − · 0 · sen 0 − · cos 0 −
nπ (nπ )2
1 1
− − · (−1) · sen (−nπ ) − cos(−nπ ) +
nπ (nπ )2
1 1
+ · 1 · sen (nπ ) + · cos(nπ ) −
nπ (nπ )2
1 1
− · 0 · sen 0 + · cos0
nπ (nπ )2
1 1 1 1
= − + cos(nπ ) + cos(nπ ) −
(nπ )2 (nπ )2 (nπ )2 (nπ )2
2 2
(4.6) = [cos(n π ) − 1] = [(−1)n − 1] , n ∈ N,
(nπ )2 n2 π 2
onde realizou-se integração por partes nos passos acima da seguinte forma
(
u = −x, −du = dx,
e
dv = cos(nπ x)dx, v = 1 · sen (nπ x),
nπ
(
U = x, dU = dx,
e
dV = cos(nπ x)dx. V = 1 · sen (nπ x).
nπ
A expressão obtida em (4.6) pode ser melhorada, escrevendo-a para n par e n ímpar, isto é,
4 ,
(4.7) a 2k = 0, a 2k−1 = − k ∈ N.
(2k − 1)2π 2
Para o cálculo dos coeficientes bn , obtém-se
Z 1
1
bn = f (x) sen (nπ x)dx
1 −1
Z 0 Z 1
= −x · sen (nπ x)dx + x · sen (nπ x)dx
−1 0
220 2 Séries de Fourier
" 0 # Z 0
x 1
= · cos(nπ x) − cos(nπ x)dx +
nπ −1 nπ −1
" 1# Z
x
1 1
+ − · cos(nπ x) − − cos(nπ x)dx
nπ 0 nπ 0
" 0 # " 0 #
x 1
= · cos(nπ x) − 2
sen (n π x)
+
nπ −1 (n π ) −1
" 1# " 1#
x 1
+ − · cos(nπ x) − − 2
sen (n π x)
nπ 0 (n π ) 0
0
1 1
= · x · cos(nπ x) − 2
· sen (nπ x) +
nπ (nπ )
−1
1
1 1
+ − · x · cos(nπ x) + · sen (nπ x)
nπ (nπ )2
0
1 1
= · 0 · cos0 − · sen 0 −
nπ (nπ )2
1 1
− · (−1) · cos(−nπ ) − sen (−nπ ) +
nπ (nπ )2
1 1
+ − · 1 · cos(nπ ) + · sen (nπ ) −
nπ (nπ )2
1 1
− − · 0 · cos0 + · sen 0
nπ (nπ )2
1 1
= · cos(nπ ) − cos(nπ )
(nπ )2 (nπ )2
(4.8) = 0, n ∈ N,
onde realizou-se integração por partes nos passos acima da seguinte forma
(
u = −x, −du = dx,
e
dv = sen (nπ x)dx, v = − 1 · cos(nπ x),
nπ
(
U = x, dU = dx,
e
dV = sen (nπ x)dx. V = − 1 · cos(nπ x).
nπ
Assim, por (4.5), (4.7) e (4.8), tem-se que os coeficientes de Fourier são dados por
2.4 Série de Fourier 221
4
a0 = 1, ak = − e bk = 0.
(2k − 1)2 π 2
Assim, a série de Fourier para f é dada por
∞
a0
f (x) ∼ + ∑ { ak cos[(2k − 1)π x] + bk sen [(2k − 1)π x]}
2 k=1
∞
1 4
∼ +∑ − cos[(2k − 1)π x] + 0 · sen [(2k − 1)π x]
2 k=1 (2k − 1)2π 2
1 4 ∞ 1
∼ − 2 ∑ cos[(2k − 1)π x].
2 π k=1 (2k − 1)2
Agora observe que a função f dada é contínua em todo x ∈ R, de modo que a média dos
limites laterais em um cada ponto coincide com o valor da função neste ponto. Em outras
palavras: é possível usar a igualdade entre f (x) e sua série de Fourier, isto é,
1 4 ∞ 1
f (x) = − 2 ∑ cos[(2k − 1)π x].
2 π k=1 (2k − 1)2
A figura 4.9 exibe o gráfico de f e das primeiras três somas parciais da série de Fourier, isto
é, das seguintes funções:
1 4
S1 (x) = − 2 · cos(π x),
2 π
1 4 4
S2 (x) = − 2 · cos(π x) − · cos(3π x),
2 π 3π
1 4 4 4
S3 (x) = − 2 · cos(π x) − · cos(3π x) − · cos(5π x).
2 π 3π 5π
Como f é contínua em R, então, em particular, ela está definida na origem. Fazendo x = 0 na
representação de f por sua série de Fourier, obtém-se
222 2 Séries de Fourier
1 4 ∞ 1
|0| = − 2∑ cos 0,
2 π k=1 (2k − 1)2
isto é,
1 4 ∞ 1 ,
= 2 ∑
2 π k=1 (2k − 1)2
ou ainda,
π2 ∞
1 1 1 1
=∑ 2
= 1+ + + +···
8 k=1 (2k − 1) 9 25 49
2L ∞ (−1)n+1 nπ x
f (x) ∼ ∑ n sen ·
π n=1 L
(L)2 (−L)2
(4.9) = − = 0.
2L 2L
Para os coeficientes an , é preciso realizar uma integração por partes fazendo
u = x, du = dx,
nπ x ⇒
dv = cos , v = L · sen nπ x ·
L nπ L
Assim,
Z L nπ x Z nπ x
1 1 L
an = f (x) cos dx = x · cos dx
L −L L L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= · x · sen − sen dx
L nπ L −L nπ −L L
1 1 L2 nπ x L
= [L · sen (nπ ) − (−L) · sen (−nπ )] + · 2 2 · cos
nπ L n π L −L
L L
= [ sen (nπ ) − sen (nπ )] + 2 2 [cos(nπ ) − cos(−nπ )]
nπ n π
L L
= [ sen (nπ ) − sen (nπ )] + 2 2 [cos(nπ ) − cos(nπ )]
nπ n π
(4.10) = 0,
Para os coeficientes bn , também é necessário realizar uma integração por partes fazendo
u = x, du = dx,
nπ x ⇒
dv = sen , v = − L · cos nπ x ·
L nπ L
Tem-se:
Z L nπ x Z nπ x
1 1 L
bn = f (x) sen dx = x · sen dx
L −L L L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= − · x · cos + cos dx
L nπ L −L nπ −L L
1 1 L2 nπ x L
= − [L · cos(nπ ) − (−L) · cos(−nπ )] + · 2 2 · sen
nπ L n π L −L
L L
=− [cos(nπ ) + cos(nπ )] + 2 2 [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
nπ n π
224 2 Séries de Fourier
2L 2L
=− · cos(nπ ) + 2 2 · sen (nπ )
nπ n π
2L 2L
(4.11) = − · (−1)n = · (−1)n+1,
nπ nπ
onde usou-se os fatos
2L ∞ (−1)n+1 nπ x
f (x) = ∑ n · sen , ∀ x ∈ R.
π n=1 L
A figura 4.11 mostra os gráficos de f e das seguintes quatro primeiras somas parciais da série
de Fourier:
2.4 Série de Fourier 225
2L πx
S1 = sen ,
π L
πx L
2L 2π x ,
S2 = sen − sen
π L π L
πx L
2L 2π x 2L 3π x ,
S3 = sen − sen + sen
π L π L 3π L
πx L
2L 2π x 2L 3π x L 4π x
S4 = sen − sen + sen − sen ·
π L π L 3π L 2π L
4 2
= cos(n π ) − [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
n2 π 2 n3 π 3
226 2 Séries de Fourier
4 4
= cos(n π ) − sen (nπ )
n2 π 2 n3 π 3
4
(4.13) = 2 2 (−1)n ,
n π
onde usou-se os fatos que cos(−nπ ) = cos(nπ ) = (−1)n e sen (−nπ ) = − sen (nπ ) = 0. Além
disso, fez-se duas integrações por partes, primeiro fazendo
(
u=x ,2 du = 2xdx,
⇒
dv = cos(nπ x), v = 1 sen (nπ x),
nπ
e depois a seguinte
(
U = x, dU = dx,
⇒
dV = sen (nπ x), v = − 1 cos(nπ x).
nπ
Para os coeficientes bn , obtém-se
Z 1 Z 1
bn = f (x) sen (nπ x) dx = x2 sen (nπ x) dx
−1 −1
1 Z
1 2 2 1
=− x cos(nπ x) + x cos(nπ x) dx
nπ −1 nπ −1
1 2
=− 1 cos(nπ ) − (−1)2 cos(−nπ ) +
nπ
" 1 Z 1
#
2 1
+ x sen (nπ x) − sen (nπ x) dx
nπ −1 nπ −1
1 2
=− [ cos(nπ ) − cos(nπ )] + [1 · sen (nπ ) − (−1) · sen (−nπ )] +
nπ nπ
1
2 1
+ · − · sen (nπ x)
nπ nπ −1
2 2
= [ sen (nπ ) − sen (nπ )] − 2 2 [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
nπ n π
4
=− sen (nπ )
n2 π 2
(4.14) = 0,
onde novamente usou-se os fatos que cos(−nπ ) = cos(nπ ) = (−1)n e sen (−nπ ) = − sen (nπ ) =
0.
Além disso, também se fez duas integrações por partes, primeiro fazendo
2.4 Série de Fourier 227
(
u = x2 , du = 2xdx,
⇒
dv = sen (nπ x), v = − 1 cos(nπ x),
nπ
e depois a seguinte
(
U = x, dU = dx,
⇒
dV = cos(nπ x), v = 1 sen (nπ x).
nπ
Usando as expressões para os coeficientes de Fourier, obtidas em (4.12), (4.13) e (4.14),
pode-se escrever a série de Fourier para a função f . Tem-se:
∞
2/3 4 n
f (x) ∼ + ∑ 2 2 (−1) cos(nπ x) + 0 · sen (nπ x) ,
2 n=1 n π
isto é,
1 4 ∞ (−1)n
f (x) ∼ + 2 ∑ cos(nπ x).
3 π n=1 n2
Como f é contínua, os limites laterais existem, são iguais e coincidem com o valor de f (x)
em todo x ∈ R. Logo, pode-se usar o sinal de igualdade para f e sua série de Fourier, ou seja,
1 4 ∞ (−1)n
f (x) = + 2 ∑ cos(nπ x).
3 π n=1 n2
isto é,
1 4 ∞ (−1)n
1− = 2 ∑ (−1)n ,
3 π n=1 n2
ou ainda,
2 4 ∞ (−1)2n ,
= ∑ n2
3 π 2 n=1
que implica em
π2 ∞
1 1 1 1
= ∑ 2 = 1+ + + +···
6 n=1 n 4 9 16
Os exemplos desta seção mostram que as séries de Fourier permitem calcular da soma de
séries numéricas convergentes. No estudo tradicional de séries numéricas são apresentados
testes de convergência que garantem a convergência ou divergência das séries, mas com aqueles
métodos não é possível apresentar, no caso de séries convergentes, para qual valor ela converge.
228 2 Séries de Fourier
Assim, é possível usar, em conjunto, os testes de convergência para decidir se uma dada série
numérica é convergente e as séries de Fourier para funções apropriadas, que permitem o cálculo
da soma destas séries numéricas.
(a) Gráfico de uma função par (b) Gráfico de uma função ímpar
Note-se que R é um conjunto simétrico (isto é, R = (−∞, +∞)), pois, para qualquer x ∈ R,
tem-se sempre que −x ∈ R. Seja n um número natural par, então n = 2k para k ∈ N. Assim,
Com efeito, já foi visto que R é um intervalo simétrico. Além disso, da trigonometria tem-se
que
cos(−θ ) = cos(0 − θ ) = cos 0 · cos θ + sen 0 · sen θ = cos θ ,
Exemplo 5.3: Seja f : [−1, 2] → R definida por f (x) = x3 + x. Esta função não é par e nem é
ímpar, pois o domínio de f , dom ( f ) = [−1, 2], não é simétrico em relação à origem. A função
g : [−π , π ] → R dada por
(
0, −π ≤ x < 0,
g(x) =
1, 0≤x≤π
não é par e nem é ímpar, mesmo que seu domínio, −π ≤ x ≤ π , seja simétrico. Basta observar
que para x ∈ [0, π ], se tem f (x) = 1, de modo que −x ∈ [−π , 0) e, assim, f (−x) = 0. Isto é, os
valores de f (x) e f (−x) não guardam ligação entre si.
mas também
f (−x) = 0 = −0 = − f (x),
isto é, a função identicamente nula é simultaneamente par e ímpar.
Agora suponha que existe uma função g : X → R que seja simultaneamente par e ímpar.
Então,
g(−x) = g(x) e g(−x) = −g(x),
ou ainda,
g(x) = g(−x) e g(x) = −g(−x).
Somando as duas últimas igualdades membro a membro, obtém-se
Exemplo 5.5: As funções constantes, não identicamente nula, são funções pares.
De fato, sejam X ⊂ R um conjunto simétrico e f : X → R uma função dada por f (x) = c,
onde c ∈ R. Tem-se:
f (−x) = c = f (x),
mas
f (−x) = c 6= −c = − f (x),
isto é, as funções constantes não nulas são pares, mas não ímpares.
(f) Sejam f : X → R uma função par e g : X → R uma função ímpar tal que g(x) 6= 0 para
x ∈ X. Então,
f f (−x) f (x) f (x) f
(−x) = = =− =− (x),
g g(−x) −g(x) g(x) g
demonstrando que o quociente é ímpar.
Sejam f : X → R uma função ímpar e g : X → R uma função par tal que g(x) 6= 0 para x ∈ X.
Tem-se:
f f (−x) − f (x) f (x) f
(−x) = = =− =− (x),
g g(−x) g(x) g(x) g
de modo que isto mostra que f/g é ímpar.
232 2 Séries de Fourier
(g) Seja f : X → R uma função ímpar, isto é, f (−x) = − f (x) para todo x ∈ R. Seja g(x) =
| f (x)|. Tem-se:
O próximo resultado mostra que qualquer função, definida em um conjunto simétrico, pode
ser escrita como soma de uma função par com uma função ímpar.
Em relação a proposição 5.2, a função g é dita componente par (ou parte par) de f e a função
h é dita componente ímpar (ou parte ímpar) de f .
Observação 5.1: Existe outro modo de demonstrar a proposição 5.2. De fato, suponha que f
possa ser escrita como a soma
Assim,
Este sistema pode ser resolvido para determinar u(x) e v(x). Somando as duas expressões,
obtém-se u(x). Já v(x) pode ser obtida subtraindo-se a segunda equação da primeira. Assim,
obtém-se:
Exemplo 5.8: Seja f : (−5, 5) → R uma função definida por f (x) = 2x3 − x2 − 3. Trata-se de
determinar funções g e f , par e ímpar, respectivamente, tais que f = g + h.
234 2 Séries de Fourier
2x3 − 1
f (x) = ·
x
f (x) − f (−x)
h(x) =
2
2.5 Simetria de funções 237
1 2x3 − 1 2(−x)3 − 1
= −
2 x (−x)
1 2x3 − 1 2x3 + 1
= −
2 x x
1 2
= −
2 x
1
=− ·
x
É fácil verificar que g(x) = 2x2 e h(x) = −1/x são, respectivamente, par e ímpar e que f (x) =
g(x) + h(x).
A decomposição em soma de função par e ímpar é única. Assim, outros procedimentos para
a determinação de funções par e ímpar podem ser usados, desde que as operações sejam viáveis
e corretas. Por exemplo,
2x3 − 1 2x3 1 2
1
f (x) = = − = 2x + − = g(x) + h(x).
x x x x
(
−2, −3 < x < 0,
f (x) =
2, 0 < x < 3,
e periódica de período T = 6.
Note-se que o domínio X = (−3, 0)∪(0, 3) é simétrico e que f (−x) = − f (x) para todo x ∈ X.
Portanto f é uma função ímpar.
Exemplo 5.12: Seja f : R → R uma função definida por f (x) = x(10 − x) para 0 < x < 10 e
periódica de período T = 10. Um simples gráfico para f revela que ela é uma função par.
2.5 Simetria de funções 239
(b) Se f for uma função ímpar, então f 0 será uma função par.
D EMONSTRAÇÃO : Para mostrar (a), suponha que f seja par. Então, para qualquer x ∈ X,
tem-se
f (−x + h) − f (−x) = f [−(x − h)] − f (−x) = f (x − h) − f (x).
Segue-se, portanto, que
f (−x + h) − f (−x)
f 0 (−x) = lim
h→0 h
f (x − h) − f (x)
= lim
h→0 h
f (x − h) − f (x)
= − lim ·
h→0 −h
Agora faça h = −∆x. Tem-se:
0 f (x − h) − f (x)
f (−x) = − lim
h→0 −h
240 2 Séries de Fourier
f (x + ∆x) − f (x)
=− lim = − f 0 (x),
−∆x→0 ∆x
donde se conclui que
f 0 (−x) = − f 0 (x),
logo f 0 é uma função ímpar.
Para (b), suponha que f seja uma função ímpar. Assim, para todo x ∈ X, tem-se
Assim,
f (−x + h) − f (−x)
f 0 (−x) = lim
h→0 h
− f (x − h) + f (x)
= lim
h→0 h
f (x − h) − f (x)
= lim ·
h→0 −h
Faça h = −∆x. Tem-se:
f (x − h) − f (x) f (x + ∆x) − f (x)
f 0 (−x) = lim = lim = f 0 (x),
h→0 −h −∆x→0 ∆x
donde se conclui que f 0 (−x) = f 0 (x), isto é, que f 0 é uma função par.
Tem-se:
(a) Se f é uma função par, então ϕ é uma função ímpar.
(b) Se f é uma função ímpar, então ϕ é uma função par.
D EMONSTRAÇÃO : Note-se, primeiro, que
Z −x
ϕ (−x) = f (t) dt.
0
(a) Por hipótese, f é par, isto é, f (−u) = f (u). Usando este fato em (5.3), tem-se
2.5 Simetria de funções 241
Z x
ϕ (−x) = − f (u) du = −ϕ (x),
0
(b) Por hipótese, f é ímpar, isto é, f (−u) = − f (u). Assim, usando este fato em (5.3), obtém-
se Z x Z x Z x
ϕ (−x) = − f (−u) du = − − f (u) du = f (u) du = ϕ (x),
0 0 0
o que mostra que ϕ é uma função par.
Agora usa-se a hipótese de que f é uma função par, isto é, f (x) = f (−x) para todo x ∈ R, na
primeira integral do segundo membro acima. Tem-se:
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = f (−x) dx + f (x) dx.
−L −L 0
Em seguida usa-se a mudança de variáveis y = −x, tal que −dy = dx, na primeira integral do
segundo membro da igualdade acima, mas mantendo a segunda integral. Note-se que os novos
limites de integração passam a ser y1 = −(−L) = L e y2 = −0 = 0, onde usou-se a própria
mudança de variáveis, y = −x, para obtê-los. Assim,
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = − f (y) dy + f (x) dx
−L L 0
Z L Z L
= f (y) dy + f (x) dx
0 0
Z L
=2 f (x) dy,
0
onde inverteu-se o sinal de integração ao trocar a ordem dos limites de integração. Além disso,
somou-se as duas integrais em virtudes das variáveis de integração serem “mudas”.
Z L
f (x) dx = 0.
−L
Em seguida usa-se a hipótese de que f é uma função ímpar, isto é, f (x) = − f (−x) para todo
x ∈ R, na primeira integral do segundo membro acima. Tem-se:
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = − f (−x) dx + f (x) dx.
−L −L 0
Agora usa-se a mudança de variáveis y = −x, tal que −dy = dx, na primeira integral do
segundo membro da igualdade acima, mas mantendo a segunda integral. Os novos limites de
integração passam a ser y1 = −(−L) = L e y2 = −0 = 0, onde usou-se a própria mudança de
variáveis, y = −x, para obtê-los. Assim,
Z L Z 0 Z L
f (x) dx = − − f (y) dy + f (x) dx
−L L 0
Z 0 Z L
= f (y) dy + f (x) dx
L 0
Z L Z L
=− f (y) dy + f (x) dx = 0,
0 0
onde se inverteu o sinal da primeira integral do segundo membro em um dos passos acima ao
realizar a troca da ordem dos limites de integração. Além disso, somou-se as duas integrais em
virtudes das variáveis de integração serem “mudas”.
Os vários resultados obtidos nesta seção são muito úteis para simplificar os cálculos dos
coeficientes de Fourier. Os resultados a seguir são bem simples, porém se mostram úteis na
prática. Os mesmos serão enunciados na forma de proposições apenas para facilitar citações
nas seções seguintes.
Proposição 5.8: Seja f : R → R uma função par, periódica de período 2L, integrável e abso-
lutamente integrável. Então,
Z Z nπ x
2 L 2 L
a0 = f (x) dx, an = f (x) cos dx e bn = 0.
L 0 L 0 L
D EMONSTRAÇÃO : A expressão para o coeficiente a0 segue imediatamente da proposição 5.6,
pois, por hipótese, f é par. Para justificar a afirmação para os coeficientes an , basta observar
inicialmente que a função cos (nπ x/L) é par, como foi mostrado no exemplo 5.2. Além disso,
pelo item (c) da proposição 5.1, o produto entre duas funções pares resulta em uma função par.
2.5 Simetria de funções 243
Assim, o integrando na expressão para an , que é f (x) · cos (nπ x/L), é uma função par. Aplicando
a proposição 5.6, resulta que este coeficiente pode ser calculado multiplicando-se a integral por
2 e integrando no semi-intervalo [0, L]. Para justificar que os coeficientes bn são todos nulos
para uma função f par, basta observar que o exemplo 5.2 mostra que as funções sen (nπ x/L) são
ímpares. E pelo item (e) da proposição 5.1, o produto entre uma função par por outra ímpar
resulta em uma função ímpar. Assim, o integrando na expressão que define bn , que é f (x) ·
sen (nπ x/L), é uma função ímpar. Logo, pela proposição 5.7, a integral de uma função ímpar em
intervalo simétrico é sempre zero. Isto mostra que bn = 0 para todo n ∈ N.
Proposição 5.9: Seja f : R → R uma função ímpar, periódica de período 2L, integrável e
absolutamente integrável. Então,
Z nπ x
2 L
a0 = 0, an = 0 e bn = f (x) sen dx.
L 0 L
D EMONSTRAÇÃO : A expressão para o coeficiente a0 segue imediatamente da proposição
5.7, pois, por hipótese, f é ímpar. Para justificar a afirmação para os coeficientes an , basta
observar inicialmente que a função cos (nπ x/L) é par, como foi mostrado no exemplo 5.2. Além
disso, pelo item (e) da proposição 5.1, o produto entre uma função par por outra ímpar resulta
em uma função ímpar. Assim, o integrando na expressão para an, que é f (x) · cos (nπ x/L), é uma
função ímpar. Logo, pela proposição 5.7, a integral de uma função ímpar em intervalo simétrico
é sempre zero. Isto mostra que an = 0 para todo n ∈ N. Para justificar a expressão dada para os
coeficientes bn , basta observar que o exemplo 5.2 mostra que as funções sen (nπ x/L) são ímpares.
E pelo item (d) da proposição 5.1, o produto entre duas funções ímpares resulta em uma função
par. Assim, o integrando na expressão que define bn , que é f (x) · sen (nπ x/L), é uma função par.
Aplicando a proposição 5.6, resulta que este coeficiente pode ser calculado multiplicando-se a
integral por 2 e integrando no semi-intervalo [0, L].
Observação 5.2: Agora é possível dizer por qual motivo escolheu-se o intervalo [−L, L]
para realizar a integração para a determinação dos coeficientes de Fourier. É verdade, como
já foi dito, que as condições de ortogonalidades para as funções cosseno e seno são sempre ver-
dadeiras em qualquer intervalo de comprimento 2L. Porém as simetrias de paridade e impari-
dade só fazem sentido em intervalos simétricos: em qualquer outro intervalo não simétrico de
comprimento 2L não se pode usar estes conceitos de simetrias. Além disso, é muito útil, na
prática, determinar as séries de Fourier para funções pares, ímpares, ou mesmo as não pares e
nem ímpares, quando se pode usar todos os resultados sobre simetria obtidos nesta seção. Isso
ficará bastante evidente na próxima seção.
244 2 Séries de Fourier
Encerra-se esta seção com outros conceitos de simetria para funções periódicas.
D EFINIÇÃO : Seja f : R → R uma função periódica de período T > 0. Diz-se que f tem
simetria de meia onda quando a mesma satisfaz
T
f (x) = − f x + ·
2
Então, é possível construir uma nova função, subtraindo uma constante a/2 de f , obtendo-se
uma função ímpar.
De fato, a função g : R → R, dada por
2.6 Séries de Fourier de funções pares e ímpares 245
f (x) − a , para 0 ≤ x < T,
g(x) = 2
periódica de período T ,
Até este ponto as funções dadas nos exemplos sempre estavam definidas em intervalos do
tipo [−L, L], ou (−L, L], ou ainda [−L, L). A questão que agora se apresenta é: O que fazer caso
a função f esteja definida em um intervalo do tipo [0, L] e nada for dito sobre o período? Em
princípio, seria possível escolher um período T qualquer, tal que T > L, e estender a função de
maneira conveniente no intervalo (L, T ). Como consequência desta possibilidade, ter-se-ia uma
função f : [0, L] → R que pode ser representada por mais de uma série de Fourier.
Como exemplo, considere a função f : [0, π ] → R definida por f (x) = x. Os próximos exem-
plos mostram que esta função pode ser estendida de várias maneiras, sendo assim representadas
por séries distintas.
Exemplo 6.1: Seja f : [0, π ) → R definida por f (x) = x. Represente esta função como uma
série de senos.
S OLUÇÃO : Para obter uma série de senos é necessário fazer uma extensão da função f de
modo que resulte em uma função ímpar e periódica. Denotar-se-á a extensão por f . Assim,
(
x, se − π ≤ x < π ,
f (x) =
f (x + 2π ) = f (x).
O leitor poderá verificar facilmente que f é uma função ímpar e periódica, isto é, que f (−x) =
− f (x) e que f (x + 2π ) = f (x).
Para os coeficientes a0 e an , tem-se
Z π Z π
1 1
a0 = f (x) dx e an = f (x) cos (nx) dx.
π −π π −π
Como f é ímpar, pela proposição 5.7, tem-se que a0 = 0, pois se trata de uma integral em
intervalo simétrico de uma função ímpar. Para an , tem-se que o integrando é o produto de uma
função ímpar por uma par, isto é, o produto de f que é ímpar por cos(nx), que é uma função
par. Pelo item (e) da proposição 5.1, este integrando é uma função ímpar e pela proposição 5.7 a
246 2 Séries de Fourier
integral em intervalo simétrico de uma função ímpar é sempre igual a zero. Assim, an = 0 para
todo n ∈ N.
Já os coeficientes bn precisam ser determinados pela definição. Porém, por ser f uma função
ímpar e sen (nx) também uma função ímpar, tem-se que o integrando em bn é uma função par.
Assim, pela proposição 5.6, basta multiplicar a integral por 2 e integrar no semi-intervalo [0, L].
Assim, realizando uma integração por partes, obtém-se
Z π Z π
1 2
bn = f (x) sen (nx) dx = x · sen (nx) dx
π −π π 0
2.6 Séries de Fourier de funções pares e ímpares 247
π Z
2 x
1 π
= − · cos(nx) + cos(nx) dx
π n 0 n 0
π
2 x 1
= − · cos(nx) + 2 · sen (nx)
π n n 0
2 π 1
= − · cos(nπ ) + 2 sen (nπ ) −
π n n
2 0 1
− − · cos 0 + 2 sen 0
π n n
2 1
= − cos(nπ ) = −2 · (−1)n
n n
(−1)n+1
= 2· ·
n
A série de Fourier para f é dada por
∞
a0
f (x) ∼ + ∑ [an cos(nx) + bn sen (nx)] ,
2 n=1
que após substituição dos valores dos coeficientes a0, an e bn , obtidos acima, resulta em
∞
(−1)n+1
f (x) ∼ 2 ∑ · sen (nx), ∀ x ∈ R.
n=1 n
Para expressar a função f , dada originalmente, em termos de uma série de senos é necessário
restringir os valores de x para o domínio de f , isto é, para o intervalo 0 ≤ x < π . Assim,
∞
(−1)n+1
f (x) = 2 ∑ · sen (nx), 0 ≤ x < π.
n=1 n
248 2 Séries de Fourier
Neste ponto chama-se atenção para o fato da série de Fourier não ser igual a f (x) = x para
x = π , pois neste ponto a função f é descontínua e, assim sua série de Fourier converge neste
ponto para a média dos limites laterais e que é diferente de f (π ) = π . Por isso tomou-se o
intervalo [0, π ) como domínio de f .
Figura 6.4: Gráfico da função f e das cinco primeiras somas parciais restritas ao intervalo [0, π ).
Exemplo 6.2: Seja f : [0, π ) → R definida por f (x) = x. Represente esta função como uma
série de cossenos.
S OLUÇÃO : Para determinar uma série de cossenos para representar f , é necessário fazer uma
extensão desta função de modo que resulte em uma nova função par e periódica. Denotando a
extensão por f , pode-se escrever
(
| x |, se − π ≤ x < π ,
f (x) =
periódica de período T = 2π .
Facilmente se verifica que f (−x) = f (x) e que f (x + 2π ) = f (x). Como f é par, pela
proposição 5.6, obtém-se
2.6 Séries de Fourier de funções pares e ímpares 249
Z π Z π
1 2
a0 = f (x) dx = x dx
π −π π 0
π
x2
= = π.
π 0
Como f é par, o integrando nos coeficientes an é par, pois se trata do produto entre duas
funções pares (veja proposição 5.1). Além disso, pela proposição 5.6, basta multiplicar a integral
por 2 e integrar no intervalo [0, L]. Assim, fazendo uma integração por partes, obtém-se
Z π Z π
1 2
an = f (x) cos(nx) dx = x · cos(nx) dx
π −π π 0
π Z
2 x
1 π
= sen (nx) − sen (nx) dx
π n 0 n 0
π
2 x 1
= sen (nx) − 2 cos(nx)
π n n 0
2 π 1 2 0 1
= sen (nπ ) − 2 cos(nπ ) − sen 0 − 2 cos 0
π n n π n n
2 2 2
=− 2
cos(nπ ) + 2 = 2 [ (−1)n − 1],
πn πn πn
ou seja,
4 ,
a 2k = 0 e a 2k−1 = − k ∈ N.
(2k − 1)2 π
Para os coeficientes bn , basta notar que f é par e que sen (nx) é ímpar, de modo que o produto
entre estas duas funções, que é o integrando na integral que define bn , é ímpar. Assim, pela
proposição 5.7, tem-se que a integral de uma função ímpar em intervalo simétrico é igual a
zero, de modo que bn = 0 para todo n ∈ N.
O passo seguinte consiste em substituir os coeficientes de Fourier encontrados na série de
Fourier para f , isto é,
∞
a0
f (x) ∼ + ∑ [ak cos(kx) + bn sen (kx)] ,
2 k=1
250 2 Séries de Fourier
ou ainda,
π 4 ∞ 1
f (x) ∼ − ∑ · cos(2k − 1)x, ∀ x ∈ R.
2 π k=1 (2k − 1)2
Por fim, para representar a função f , dada originalmente, através de uma série de cossenos,
é necessário restringir os valores de x na série para f (x) para aqueles x no domínio de f , isto é,
para o intervalo 0 ≤ x < π . Assim,
π 4 ∞ 1
f (x) = − ∑ · cos(2k − 1)x, 0 ≤ x < π.
2 π k=1 (2k − 1)2
Exemplo 6.3: Seja f : [0, π ) → R definida por f (x) = x. Represente esta função como uma
série de senos e cossenos.
S OLUÇÃO : Para que se represente f por uma série envolvendo senos e cossenos é necessário
fazer uma extensão periódica de f , mas de tal modo que resulte em uma função que não seja par
e nem ímpar. A maneira de se estender f para −π < x < 0 não importa, mas desde que não seja
par ou ímpar (ou seja, não seja simétrica em relação ao eixo y e nem seja simétrica em relação
à origem). Assim, é natural escolher uma extensão mais simples, como 0 para π < x < 0, isto é,
0,
−π < x < 0,
f (x) = x, 0 ≤ x ≤ π,
periódica de período T = 2π .
1 1
= cos(n π ) −
n2 π n2 π
1
= [(−1)n − 1] ,
n2 π
ou ainda,
2 ,
a 2k = 0, e a 2k−1 = − k ∈ N.
(2k − 1)2 π
Para os coeficientes bn , onde será feita uma integração por partes, obtém-se
Z π
1
bn = f (x) sen (nx) dx
π −π
Z 0 Z
1 1 π
= 0 · sen (nx) dx + x · sen (nx) dx
π −π π 0
π Z π
1 x 1
= − · cos(nx) + cos(nx) dx
π n 0 n 0
π
1 x 1
= − · cos(nx) + 2 · sen (nx)
π n n 0
1 π 1 1 0 1
= − · cos(nπ ) + 2 · sen (nπ ) − − cos 0 + 2 · sen 0
π n n π n n
1 1
= − · cos(nπ ) = − (−1)n
n n
(−1)n+1
= ·
n
Portanto, determinou-se os seguintes coeficientes de Fourier:
π 2 , (−1)k+1
a0 = , ak = − e bk = ·
2 (2k − 1)2π k
π 2 ∞ 1 ∞
(−1)k+1
∼ − ∑ · cos[(2k − 1)x] + ∑ k · sen (kx),
4 π k=1 (2k − 1)2 k=1
para todo x ∈ R.
Assim, para representar a função f , dada originalmente, basta retringir os valores de x na
série para f (x) para aqueles x no domínio de f , isto é,
2.6 Séries de Fourier de funções pares e ímpares 253
Figura 6.10: Gráfico da função f e das quatros primeiras somas parciais no intervalo [0, π ).
π 2 ∞ 1 ∞
(−1)k+1
f (x) = − ∑ · cos[(2k − 1)x] + ∑ k · sen (kx),
4 π k=1 (2k − 1)2 k=1
Observação 6.1: Nos exemplos anteriores desta seção nada foi comentado sobre a maneira
de estender a função de maneira periódica. Na prática o que se viu foi uma extensão periódica
“dobrando-se” o comprimento do intervalo de definição da função, isto é, adotando-se como
período o menor possível. Não é necessário que seja assim, ou seja, é possível adotar como
período qualquer T > L.
Assim, a função do exemplo 6.1 pode ser estendida de maneira ímpar, mas usando como
período 4π e não necessariamente 2π como foi visto. Deste modo, uma extensão f : R → R
definida por
−2π − x, se − 2π < x < −π ,
x, se − π ≤ x < π ,
f (x) =
2π − x, se π ≤ x ≤ 2π ,
periódica de período T = 4π .
também permite que se represente f : [0, π ) → R, dada por f (x) = x, em uma série de senos.
Como visto anteriormente, por ser f uma função ímpar, segue-se dos resultados da seção 2.5
que os coeficientes a0 = 0 = an para todo n ∈ N. Assim, basta calcular os coeficientes bn.
Lembrando que agora L = 2π e que o integrando em bn será par, por ser produto de f que é
impar por sen (nx/2) que também é ímpar, resultando em uma função par, obtém-se
Z 2π nx Z 2π nx
1 1
bn = f (x) sen dx = f (x) sen dx
2π −2π 2 π 0 2
Z π nx Z 2π nx
1 1
= x · sen dx + (2π − x) sen dx
π 0 2 π π 2
Z π nx Z 2π nx Z 2π nx
1 1
= x · sen dx + 2 sen dx − x · sen dx.
π 0 2 π 2 π π 2
A segunda integral no segundo membro acima pode ser resolvida através de uma substitu-
ição simples. Já a primeira e a última integrais no segundo membro podem ser resolvidas por
integração por partes do seguinte modo:
u = x, du = dx,
nx ⇒
dv = sen dx, v = − 2 cos nx ·
2 n 2
Assim,
Z π nx Z 2π Z
nx nx
1 1 2π
bn = x · sen dx + 2 sen dx − x · sen dx.
π 0 2 π 2 π π 2
" #
1
2x nx π 2 Z π nx 2 nx 2π
= − · cos + cos dx + 2 − · cos −
π n 2 0 n 0 2 n 2 π
" #
1 2x nx 2π 2 Z 2π nx
− − · cos + cos dx
π n 2 π n π 2
2.6 Séries de Fourier de funções pares e ímpares 255
1
2x nx 4 nx π 4 nx 2π
= − · cos + 2 · sen − · cos −
π n 2 n 2 n 2 π
0
nx 4 nx 2π
1 2x
− − · cos + 2 · sen
π n 2 n 2 π
1 2π nπ 4 nπ 1 2.0 4
= − · cos + 2 · sen − − · cos 0 + 2 · sen 0 −
π n 2 n 2 π n n
4h nπ i
− cos(nπ ) − cos −
n 2
nπ 4 nπ
1 4π 4 1 2π
− − · cos(nπ ) + 2 · sen (nπ ) + − · cos + 2 · sen
π n n π n 2 n 2
2 nπ 4 nπ 4 4 nπ
= − · cos + 2 · sen − · cos(nπ ) + · cos +
n 2 n π 2 n n 2
4 2 nπ 4 nπ
+ · cos(nπ ) − · cos + 2 · sen
n n 2 n π 2
8 nπ
= 2 · sen ·
n π 2
Portanto, a série de Fourier para a função f é dada por
8 ∞ 1 nπ nx
f (x) ∼ ∑ n2 · sen · sen , ∀ x ∈ R.
π n=1 2 2
Agora basta restringir os valores de x para a série de Fourier de f para os valores de x no
domínio de f , isto é,
8 ∞ 1 nπ nx
f (x) = ∑ 2 · sen · sen , 0≤x<π
π n=1 n 2 2
e, assim, tem-se uma nova representação por meio de uma série de senos para a função f do
exemplo 6.1.
Note-se que o procedimento usado ao restrigir os valores de x ao domínio de f , isto é, para
0 ≤ x < 1, também poderia ser usado para x = π . Isto se deve ao fato que a extensão f adotada é
contínua em todos os pontos, de maneira que a série de Fourier converge para o valor da função
em cada ponto de seu domínio. De outro modo: a extensão da no exemplo 6.1 não é adequada
caso f esteja definida no intervalo [0, π ], mas a extensão feita nesta observação, sim.
256 2 Séries de Fourier
(Uma demonstração pode ser encontrada nas referências [37], [66] e [74].)
Porém esta proposição exige condições suficientes e não necessárias. Além disso, a derivação
termo a termo de uma série de Fourier também tem aspectos delicados, visto que as derivadas
das funções senos e cossenos que aparecem nesta série contêm a variável n, que em geral
aparece multiplicando tais funções e, com isso, atrapalhando a convergência da série. O teo-
rema dado a seguir possui exigências um pouco menores do que aquelas da proposição acima,
mas também deve ser usado com cuidado, isto é, nem sempre é possível derivar termo a termo
uma série de Fourier.
∞ h nπ x nπ x i
A0
(7.1) f 0 (x) ∼ + ∑ An · cos + B0 · sen ·
2 n=1 L L
1 1
(7.2) = [ f (L) − f (−L)] = · 0 = 0,
L L
onde usou-se o fato de f ser periódica de período T = 2L, isto é, fazendo-se x = −L em
Como f 00 é seccionalmente contínua, tem-se que ela é integrável, de modo que faz sentido
integrar por partes os coeficientes An e Bn . Para An , fazendo
nπ x nπ nπ x
u = cos , du = − sen ,
L ⇒ L L
dv = f 0 (x) dx, v = f (x).
tem-se
Z L nπ x
1 0
An = f (x) · cos dx
L −L L
" #
1 nπ x L n π
Z L nπ x
= f (x) · cos + f (x) · sen dx
L L −L L −L L
1 nπ
= [ f (L) · cos(nπ ) − f (−L) · cos(−nπ )] + · bn
L L
(−1)n nπ
= [ f (L) − f (−L)] + · bn
L L
(−1)n nπ
= ·0+ · bn
L L
nπ
(7.3) = · bn ,
L
onde usou-se que cos(−nπ ) = cos(nπ ) = (−1)n (isto é, a paridade de cosseno), f (L)− f (−L) =
0 (isto é, a periodicidade de f , como foi visto anteriormente), bem como
Z nπ x
1 L
bn = f (x) sen dx.
L −L L
258 2 Séries de Fourier
Para Bn , fazendo
nπ x nπ nπ x
u = sen , du = cos ,
L ⇒ L L
dv = f 0 (x) dx, v = f (x).
tem-se
Z L nπ x
1 0
Bn = f (x) · sen dx
L −L L
" #
1 nπ x L n π
Z L nπ x
= f (x) · sen − f (x) · cos dx
L L −L L −L L
Z L nπ x
1 nπ
= [ f (L) · sen (nπ ) − f (−L) · sen (−nπ )] − f (x) · cos dx
L L −L L
sen (nπ ) nπ
= [ f (L) + f (−L)] − · an
L L
nπ
(7.4) = − · an ,
L
onde usou-se o fato que sen (−nπ ) = sen (nπ ) = (isto é, a imparidade de seno) e que
Z nπ x
1 L
an = f (x) cos dx.
L −L L
Substituindo (7.2), (7.3) e (7.4) em (7.1), obtém-se o resultado desejado, ou seja, substituindo
nπ nπ
A0 = 0, An = · bn e Bn = − · an .
L L
em ∞ h nπ x nπ x i
0 A0
f (x) ∼ + ∑ An · cos + B0 · sen ·
2 n=1 L L
encontra-se h nπ nπ x nπ nπ x i
∞
f 0 (x) ∼ ∑ · bn cos − · an sen ·
n=1 L L L L
será possível derivar, termo a termo, a série de Fourier para f a fim de obter a série de Fourier
para f 0 .
Os dois próximos exemplos ilustram o caso de uma função f cuja derivada f 0 possui uma
série de Fourier, mas que não pode ser obtida derivando termo a termo a série de Fourier para
f.
Mostre que f 0 (x) pode ser representada por uma série de Fourier e determine esta série.
S OLUÇÃO : Note-se, primeiro, que para os valores de x ∈ (−L, L), tem-se que f (x) = x e
isto implica em f 0 (x) = 1. Mas f é descontínua nos pontos x = ± kL, de modo que não existe
derivada neles, ou seja, f 0 (x) não está definida para estes valores de x. Porém, sem perda de
generalidade, é possível definir f 0 (± kL) = 1. Assim,
1,
se − L < x < L,
f 0 (x) = 1, se x = −L e x = L,
periódica de período T = 2L,
1
= · [ sen (nπ ) + sen (nπ )]
nπ
1
= · sen (nπ ) = 0.
nπ
Para os coeficientes Bn , obtém-se
Z L nπ x Z L nπ x
1 1
Bn = f (x) sen dx = sen dx
L −L L L −L L
1
L
nπ x L
= · − · cos
L nπ L −L
1
=− · [cos(nπ ) − cos(−nπ )]
nπ
1
= − · [cos(nπ ) − cos(nπ )] = 0.
nπ
Substituindo os coeficientes A0 , An e Bn na série de Fourier para f 0 , obtém-se
∞ h nπ x nπ x i
A0
f (x) = + ∑ An · cos + Bn · sen
2 n=1 L L
∞ h nπ x nπ x i
2
= + ∑ 0 · cos + 0 · sen = 1,
2 n=1 L L
f 0 (x) = 1, ∀ x ∈ R.
Mostre que a série de Fourier para f 0 não pode ser obtida derivando termo a termo a série de
Fourier para a função f .
S OLUÇÃO : Como foi visto no exemplo 7.1, apesar de existir uma série de Fourier para f 0 (x),
a mesma não pode ser obtida derivando termo a termo a série de Fourier para f , pois tal série
assim obtida é divergente. De fato, foi visto no exemplo 4.7, a série de Fourier para f é dada
por
2L ∞ (−1)n+1 nπ x
f (x) = ∑ n
π n=1
sen
L
·
2.7 Diferenciação de séries de Fourier 261
2L ∞ (−1)n+1 d h nπ i 2L ∞ (−1)n+1 h nπ nπ x i
∑ n · sen = ∑ n · cos
π n=1 dx L π n=1 L L
∞ nπ x
(7.5) = 2 ∑ (−1)n+1 cos ·
n=1 L
= 2 (1 − 1 + 1 − 1 + · · ·).
A série numérica acima oscila entre os valores 2 e 0. Já para x = L em (7.5), obtém-se
∞ nπ x ∞
n+1
2 ∑ (−1) cos
= 2 ∑ (−1)n+1 cos(nπ )
n=1 L x=L n=1
∞
= 2 ∑ (−1)n+1 · (−1)n
n=1
∞
= 2 ∑ (−1)n
n=1
= 2 (−1 + 1 − 1 + · · ·) ,
que oscila entre os valores −2 e 0.
Em geral, a série diverge em qualquer ponto, pois
lim cos(nx) 6= 0, ∀ x ∈ R.
n→∞
Para verificar tal afirmação, suponha por absurdo que lim cos(nx) = 0 para algum x ∈ R. Isto
n→∞
implica que
lim cos2 (nx) = lim [ cos(nx) · cos(nx)]
n→∞ x→∞
h ih i
= lim cos(nx) lim cos(nx)
n→∞ n→∞
= 0 · 0 = 0.
Como a sequência de funções {cos(nx)} é convergente para zero, segue-se que toda subse-
quência sua também é convergente e converge para o mesmo limite. Assim, em particular, a
subsequência {cos(2nx)} de {cos(nx)} converge para zero, isto é, lim cos(2nx) = 0.
n→∞
Por outro lado, considere a seguinte identidade trigonométrica
262 2 Séries de Fourier
1 + cos(2nx)
cos2 (nx) = ·
2
Tomando limite para n → ∞ em ambos os membros da identidade acima, obtém-se
2 1 + cos(2nx)
0 = lim cos (nx) = lim
n→∞ n→∞ 2
lim 1 + lim cos(2nx)
n→∞ n→∞
=
lim 2
n→∞
1 + 0 1,
= =
2 2
ou seja, um absurdo, pois 0 6= 1/2.
Isto mostra que
lim cos(nx) 6= 0, ∀x∈R
n→∞
e, portanto, que a série diverge em todos os pontos.
a qual se supõe convergir uniformemente, então é possível usar a proposição sobre integração
termo a termo para concluir que
Z b Z b ∞ Z b nπ x Z b nπ x
a0
f (x) dx) = dx + ∑ an cos dx + bn sen dx ·
a a 2 n=1 a L a L
(b) A função Z xh
a0 i
ϕ (x) = f (t) −
dt
0 2
é periódica de período 2L, contínua, tem derivada ϕ 0 seccionalmente contínua e é representada
por sua série de Fourier
nπ x a nπ x
L ∞ bn L ∞ bn n
(8.2) ϕ (x) = ∑ + ∑ − · cos + · sen
π n=1 n π n=1 n L n L
e
Z L
L ∞ bn 1
(8.3) ∑
π n=1 n
=
2L −L
ϕ (x) dx.
ϕ (x + 2L) − ϕ (x) = 0,
isto é, que a função ϕ definida em (8.4) é contínua, tem derivada ϕ 0 contínua por partes e é
periódica de período 2L. Com isso, é possível usar o teorema de Fourier (teorema 4.1) para
escrever
∞ h nπ x nπ x i
A
(8.6) ϕ (x) = 0 + ∑ An cos + Bn sen ,
2 n=1 L L
Z L nπ x
1
An = ϕ (x) cos dx
L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= · ϕ (x) · sen − ϕ 0 (x) · sen dx
L nπ L −L nπ −L L
Z nπ x
1 L L L L
= · ϕ (L) · sen (nπ ) − · ϕ (−L) · sen (−nπ ) − f (x) sen dx
L nπ nπ nπ −L L
2.8 Integração de séries de Fourier 265
Z L nπ x
1 L 1
=− · f (x) sen dx = − · (bn · L)
L nπ −L L nπ
L
(8.9) =− · bn , n ≥ 1,
nπ
onde usou o fato que seno é ímpar, isto é, sen (−nπ ) = − sen (nπ ), bem como o fato de ser
sen (nπ ) = 0.
Antes de relacionar os coeficientes Bn com os coeficientes da função f , observe-se primeiro
que, por ser ϕ periódica de período 2L, isto é, ϕ (x + 2L) = ϕ (x), tomando x = −L, tem-se que
Assim, fazendo,
u = ϕ (x), du = ϕ 0 (x) dx
nπ x ⇒
dv = sen dx, v = − L · cos nπ x ,
L nπ L
observando que ϕ 0 (x) = f (x) (em virtude do teorema fundamental do Cálculo), para os coefi-
cientes Bn , obtém-se
Z nπ x
1 L
Bn = ϕ (x) sen dx
L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= − · ϕ (x) · cos + ϕ 0 (x) · cos dx
L nπ L −L nπ −L L
"
1 L L
= − · ϕ (L) · cos(nπ ) − · ϕ (−L) · cos(−nπ ) +
L nπ nπ
Z L
#
L nπ x
+ f (x) cos dx
nπ −L L
Z nπ x
1 L L L
= − cos(nπ ) [ϕ (L) − ϕ (−L)] + f (x) cos dx
L nπ nπ −L L
Z nπ x
1 L L 1
= · f (x) cos dx = (an · L)
L nπ −L L nπ
L
(8.10) = · an , n ≥ 1,
nπ
onde usou-se os fato que cosseno é par, isto é, que cos(−nπ ) = cos(nπ ) e que ϕ (L) = ϕ (−L).
Já para o coeficiente A0 é preciso um tratamento à parte: deve-se fazer x = 0 em (8.6). Além
disso, deve ser observaddo que segue-se da definição de ϕ , dada em (8.4), que ϕ (0) = 0. Assim,
266 2 Séries de Fourier
∞
A0 nπ .0 nπ .0
0 = ϕ (0) = + ∑ An cos + Bn sen
2 n=1 L L
∞
A0
= + ∑ An (que por (8.9) resulta em)
2 n=1
A0 L ∞ 1
= − ∑ · bn ,
2 π n=1 n
donde
A0 L ∞ bn ,
= ∑
2 π n=1 n
ou seja,
2L ∞ bn
(8.11) A0 = ∑ n·
π n=1
Agora usa-se (8.4) para ϕ (x), a expressão para a série de Fourier de ϕ que é dada em (8.6),
bem como as relações dos coeficientes de Fourier obtidas em (8.9), (8.10) e (8.11) para escrever
∞ h nπ x nπ x i
A0 ,
ϕ (x) = + ∑ An cos + Bn sen
2 n=1 L L
ou seja,
Z xh ∞ nπ x
a0 i L ∞ bn L nπ x L
f (t) − dt = ∑ + ∑ − · bn · cos + · an · sen
0 2 π n=1 n n=1 nπ L nπ L
nπ x a nπ x
L ∞ bn L ∞ bn n ,
= ∑ + ∑ − · cos + · sen
π n=1 n π n=1 n L n L
ou ainda,
Z xh nπ x
a0 i L ∞ bn L ∞ bn nπ x a
n ,
(8.12) f (t) dt − dt = ∑ + ∑ − · cos + · sen
0 2 π n=1 n π n=1 n L n L
Z L Z L
1 2L ∞ bn 1 L ∞ bn ,
L −L
ϕ (x) dx = ∑ n
π n=1
⇒
2L −L
ϕ (x) dx = ∑ n
π n=1
Por fim, faz-se x = a e x = b na expressão (8.16) e depois uma subtração entre os resultados
obtidos para chegar ao resultado desejado. Tem-se:
Z Z a ∞ Z a nπ t Z a nπ t
a a0
f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt
0 0 2 0 L 0 L
n=1
Z b Z b ∞ Z b nπ t Z b nπ t
a0
f (t) dt = dt + ∑ an cos dt + bn sen dt
0 0 2 n=1 0 L 0 L
Observação 8.1: Para as aplicações, o teorema 8.1 toma a forma prática seguinte: se
∞ h nπ x nπ x i
a0 ,
f (x) ∼ + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
então, Z xh
a0 i
ϕ (x) = f (t) − dt
0 2
Z L nπ x a nπ x
1 L ∞ bn n
= ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen ·
2L −L π n=1 n L n L
Exemplo 8.1: Seja f : [−L, L] → R uma função definida por f (x) = x. Tem-se que a sua série
de Fourier é dada por
2L ∞ (−1)n+1 nπ x
f (x) ∼ ∑ n · sen ·
π n=1 L
Note-se, primeiro, que
2L (−1)n+1
a0 = 0, an = 0 e bn = · ·
π n
Pela observação 8.1, será necessário determinar ϕ (x) e a sua integral. Tem-se
Z xh Z x
a0 i 0
ϕ (x) = f (t) − dt = t − dt
0 2 0 2
t 2 x x2
= = ·
2 0 2
Além disso,
2.8 Integração de séries de Fourier 269
Z L Z L 2 L
1 1 x 1
3 1 3 L2
ϕ (x) dx = dx = ·x = L − (−L)3 = ·
2L −L 2L −L 2 12L −L 12L 6
Substituindo os resultados obtidos em
Z L nπ x a nπ x
1 L ∞ bn n ,
ϕ (x) = ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen
2L −L π n=1 n L n L
obtém-se
nπ x 0 nπ x
x2 L2 L ∞ 2L (−1)n+1 1
= + ∑ − · · · cos + · sen
2 6 π n=1 π n n L n L
L2 2L2 ∞ (−1)n+2 nπ x
= + 2 ∑ · cos
6 π n=1 n2 L
L2 2L2 ∞ (−1)n nπ x
= + 2 ∑ · cos , −L ≤ x ≤ L,
6 π n=1 n2 L
Exemplo 8.2: Considere a função f : [−L, L] → R dada por f (x) = x2/2. Determine a série de
Fourier para a função ϕ : [−L, L] → R definida por
x3 L2
ϕ (x) = − x.
6 6
S OLUÇÃO : O exemplo 8.1 mostrou que a série de Fourier para a função f dada neste exemplo
é
x2 L2 2L2 ∞ (−1)n nπ x
f (x) = = + 2 ∑ · cos ·
2 6 π n=1 n2 L
A ideia consiste em aplicar novamente o teorema 8.1 a esta série, tomando
L2 , 2L2 (−1)n
a0 = an = · e bn = 0.
3 π2 n2
Agora determina-se ϕ (x). Tem-se:
Z xh Z x 2
a0 i t L2
ϕ (x) = f (t) − dt = − dt
0 2 0 2 6
3
t L2 t x x3 L2
= − = − x.
6 6 0 6 6
Agora determina-se a integral de ϕ (x):
Z L Z L 3
1 1 x L2
ϕ (x) dx = − x dx
2L −L 2L −L 6 6
270 2 Séries de Fourier
1 x4 L2 x2 L
= −
2L 24 12 −L
4 4
1 L L4 L L4
= − − − = 0.
2L 24 12 24 12
Substituindo os resultados obtidos em
Z L nπ x a nπ x
1 L ∞ bn n ,
ϕ (x) = ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen
2L −L π n=1 n L n L
obtém-se
nπ x 2L2 (−1)n 1 nπ x
x3 L2 L ∞ 0
− x = 0 + ∑ − · cos + 2 · · · sen
6 6 π n=1 n L π n2 n L
2L3 ∞ (−1)n nπ x
= ∑ n3 · sen , −L ≤ x ≤ L,
π 3 n=1 L
x3 L2
f (x) = − x.
6 6
Determine a série de Fourier para a função ϕ : [−L, L] → R dada por
x4 L2 2
ϕ (x) = − x
24 12
e, fazendo x = L, mostre que
π4 ∞
1
= ∑ 4·
90 n=1 n
S OLUÇÃO : Pelo exemplo 8.2, a série de Fourier para f é dada por
2L3 ∞ (−1)n nπ x
f (x) = 3 ∑ · sen , −L ≤ x ≤ L,
π n=1 n3 L
Z x 3
t L2
= − t dt
0 6 6
4
t L2 t 2 x
= −
24 12 0
x4 L2 x2
− = ·
24 12
Em seguida, determina-se a integral de ϕ (x):
Z Z
1 L 1 L x4 L2 x2
ϕ (x) dx = − dx
2L −L 2L −L 24 12
5
1 x L2x3 L
= −
2L 120 36 −L
5
1 L L5 L5 L5
= − − − +
2L 120 36 120 36
L4 L4 3L4 − 10L4 7L4
= − = =− ·
120 36 360 360
Substituindo os resultados obtidos em
Z L nπ x a nπ x
1 L ∞ bn n ,
ϕ (x) = ϕ (x) dx + ∑ − · cos + · sen
2L −L π n=1 n L n L
obtém-se
x4 L2 x2
ϕ (x) = −
24 12
nπ x 0 nπ x
7L4 L ∞ 2L3 (−1)n 1
=− + ∑ − 3 · · cos + · sen
360 π n=1 π n3 n L n L
ou seja,
L4 L4 7L4 2L4 ∞ (−1)n+1
−
24 12
=− + ∑ n4 cos(nπ ).
360 π 4 n=1
Assim,
L4 7L4 2L4 ∞ (−1)n+1
−
24
=− + ∑ n4 · (−1)n ,
360 π 4 n=1
que implica em
272 2 Séries de Fourier
Esta seção é dedicada à certas estimativas dos coeficientes de Fourier de uma dada função a
partir de hipóteses sobre a diferenciabilidade da mesma. Através destas estimativas será visto
que a rapidez da convergência da série de Fourier dependerá de seus coeficientes.
Proposição 9.1: Seja f : R → R uma função periódica de período T = 2L, integrável e abso-
lutamente integrável. Então, existe uma constante M ≥ 0 tal que
(9.1) | an | ≤ M e | bn | ≤ M.
D EMONSTRAÇÃO : A demonstração é muito simples, basta usar o fato de que as funções seno
e cosseno são limitadas, isto é,
nπ x nπ x
sen ≤1 e cos ≤ 1.
L L
Para os coeficientes an , tem-se
Z L nπ x
1
| an | = f (x) sen dx
L −L L
Z
1 L nπ x
≤ f (x) sen dx
L −L L
Z nπ x
1 L
= | f (x)| sen dx
L −L L
Z L
1
≤ | f (x)| dx.
L −L
2.9 Velocidade da convergência 273
Observação 9.1: A proposição 9.1 dá uma informação importante: basta a hipótese de in-
tegrabilidade de f e | f | para que os coeficientes de Fourier sejam limitados. Se isto não fosse
verdade, então certamente a série de Fourier seria divergente. Por outro lado, tomando como
hipótese apenas a integrabilidade de f e | f | o máximo que se obtém é limitação dos coefi-
cientes, não garantindo ainda que a série de Fourier será convergente, isto é, com estas hipóteses
a série poderá ser divergente.
A ideia de exigir que f e | f | sejam integráveis é natural: f deve ser integrável para que as
fórmulas que definem os coeficientes de Fourier façam sentido; já a integrabilidade de | f | é
necessária para que a estimativa faça sentido, isto é, ao tomar o valor absoluto dos coeficientes.
Assim, a integral resultante fica dependente de | f (x)| e que também deve fazer sentido, isto é,
ser integrável.
Proposição 9.2: Seja f : R → R uma função periódica de período T = 2L, derivável e tal
que f 0 (x) seja uma função integrável e absolutamente integrável. Então, existe uma constante
M ≥ 0 tal que
M M,
(9.3) | an | ≤ e | bn | ≤
n n
274 2 Séries de Fourier
para todo n ∈ N.
D EMONSTRAÇÃO : A ideia consiste em integrar por partes os coeficientes de Fourier e depois
fazer as estimativas necessárias. Assim, para os coeficientes an , fazendo
u = f (x),
du = f 0 (x) dx,
⇒ nπ x
dv = cos nπ x dx,
v =
L
sen ·
L nπ L
obtém-se
Z L nπ x
1
an = f (x) cos dx
L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= · f (x) · sen − f 0 (x) · sen dx
L nπ L −L nπ −L L
Z L nπ x
1 1
= [ f (L) · sen (nπ ) − f (−L) · sen (−nπ )] − f 0 (x) · sen dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
1 L 0
(9.4) =− f (x) · sen dx,
nπ −L L
onde usou-se o fato de a função seno ser ímpar e sen (nπ ) = 0. Note-se que a hipótese da
integrabilidade de f 0 foi usada para dar sentido aos procedimentos acima.
Agora se faz a estimativa para os coeficientes an tomando-se o valor absoluto da expressão
obtida em (9.4). Tem-se:
nπ x
1 ZL 0
| an | = − f (x) · sen dx
nπ −L L
Z L nπ x
1 0
≤ f (x) · sen dx
nπ −L L
Z
1 L 0 nπ x
= f (x) sen dx
nπ −L L
Z
1 L 0
≤ f (x) dx.
nπ −L
u = f (x),
du = f 0 (x) dx,
⇒ nπ x
dv = sen nπ x dx, L
v = − cos ,
L nπ L
obtém-se
Z L nπ x
1
bn = f (x) sen dx
L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= − · f (x) · cos + f 0 (x) · cos dx
L nπ L −L nπ −L L
Z nπ x
1 1 L 0
= − [ f (L) · cos(nπ ) − f (−L) · cos(−nπ )] + f (x) · cos dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
cos(nπ ) 1 L 0
=− [ f (L) − f (−L)] + f (x) · cos dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
1 L 0
(9.6) = f (x) · cos dx,
nπ −L L
onde usou-se o fato de a função cosseno ser par. Além disso, usou-se a periodicidade de f para
concluir que f (L) − f (−L) = 0, isto é, fazendo x = −L, tem-se
A proposição 9.2, que considera hipóteses adicionais sobre f (isto é, existir f 0 e esta ser inte-
grável e absolutamente integrável) que implicaram na convergência para zero dos coeficientes
de Fourier. Porém isso ainda não assegura que a série de Fourier seja convergente.
Com hipóteses adicionais sobre f 0 e f 00 é possível melhorar ainda mais as estimativas obtidas
na proposição 9.2.
Proposição 9.3: Seja f : R → R uma função periódica de período T = 2L, com derivada
contínua e segunda derivada integrável e absolutamente integrável. Então, existe uma constante
M ≥ 0 tal que
M M,
(9.7) | an | ≤ e | bn | ≤
n2 n2
para todo n ∈ N.
D EMONSTRAÇÃO : Na demonstração da proposição 9.2 viu-se que nas igualdades (9.4) e
(9.6) que
Z nπ x Z nπ x
1 L 0 1 L 0
an = − f (x) · sen dx e bn = f (x) · cos dx.
nπ −L L nπ −L L
Como, por hipótese, f 00 é integrável, então faz sentido integrar por partes, cada uma das
expressões acima, novamente. Assim, para os coeficientes an, fazendo
0
u = f (x),
du = f 00 (x) dx,
⇒ nπ x
dv = sen nπ x dx, L
v = − cos ·
L nπ L
obtém-se
Z L nπ x
1
an = − f 0 (x) · sen dx
nπ −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
=− − · f 0 (x) · cos + f 00 (x) · cos dx
nπ nπ L −L nπ −L L
Z L nπ x
L 0 0
L 00
= f (L) · cos(n π ) − f (−L) cos(−n π ) − f (x) · cos dx
n2 π 2 n2 π 2 −L L
Z L nπ x
L · cos(nπ ) 0 0
L 00
= f (L) − f (−L) − 2 2 f (x) · cos dx
n2 π 2 n π −L L
Z L nπ x
L
(9.8) =− 2 2 f 00 (x) · cos dx,
n π −L L
onde usou-se a paridade das funções cosseno. Além disso, na proposição 2.4, mostrou-se que
se f é uma função periódica de período T , então f 0 também é periódica de mesmo período T .
Isto mostra que f 0 (L) − f 0 (−L) = 0 e que foi usado no desenvolvimento acima, pois fazendo
x = −L obtém-se
2.9 Velocidade da convergência 277
A proposição 9.3 mostra que, sem fazer uso do teorema de Fourier (teorema 4.1), com o uso
∞
1
do teste de comparação, a série de Fourier é convergente, pois a série ∑ 2 é convergente.
n=1 n
Cabe observar que a proposição 9.3 garante a convergência da série de Fourier, porém este
resultado não garante que a convergência da série de Fourier será exatamente para a própria
função f .
e i θ + e −i θ e i θ − e −i θ
cos θ = e sen θ = ·
2 2i
Assim, tomando θ = nπ x/L, tem-se que
nπ x nπ x e inπ x/L + e −inπ x/L e inπ x/L − e −inπ x/L
an · cos + bn · sen = an + bn
L L 2 2i
an bn inπ x an bn inπ x
= + e /L + − e − /L
2 2i 2 2i
an bn inπ x/L an bn inπ x
= −i· e + +i· e − /L .
2 2 2 2
Faça
an bn an bn
cn =
−i· e dn = + i · ·
2 2 2 2
Então, usando as fórmulas dos coeficientes de Fourier,
Z nπ x Z nπ x
1 L 1 L
an = f (x) cos dx e bn = f (x) sen dx,
L −L L L −L L
em cn , obtém-se
an bn
cn = −i·
2 2
Z L nπ x Z nπ x
1 1 L
= f (x) cos dx − i · f (x) sen dx
2L −L L 2L −L L
Z h nπ x nπ x i
1 L
= f (x) cos − i · sen dx,
2L −L L L
que pela fórmula
280 2 Séries de Fourier
nπ x nπ x
e
−inπ x/L
= cos − i · sen ,
L L
que é consequência da fórmula de Euler, permite escrever
Z L
1 −inπ x/L
cn = f (x) e dx, n = 1, 2, 3, . . .
2L −L
onde
a0 , an − ibn , an + ibn ,
(10.3) c0 = cn = c−n = n ∈ N.
2 2 2
Observa-se que o somatório de −∞ a ∞ é entendido como sendo uma soma de duas séries
∞ ∞ ∞
inπ x/L inπ x/L inπ x/L
∑ cn e = ∑ cn e + ∑ c−n e − , n ∈ Z.
n=−∞ n=0 n=1
Se as duas séries no segundo membro acima são convergentes, então o resultado é o mesmo
daquele na série no primeiro membro de (10.2).
2.10 Forma complexa da série de Fourier 281
A forma complexa da série de Fourier, dada em (10.2), apresenta várias vantagens. Por exem-
plo, todos os coeficientes cn podem ser definidos diretamente em termos de f (x):
Z L
1 −inπ x/L
cn = f (x) e dx, n ∈ Z,
2L −L
sempre que a série converge para f (x). A série acima para f é conhecida como série de Fourier
na forma complexa, onde seus coeficientes podem ser encontrados pela fórmula que define os
cn .
Do fato que |z| = | z | para qualquer z ∈ C, conclui-se que | cn | = |cn |. E como c−n = cn , então
| c−n | = | cn | = |cn |, ou seja, |c−n | terá o mesmo valor de |cn| dado acima.
282 2 Séries de Fourier
pois por hipótese f é ímpar e o intervalo de integração, acima, é simétrico, de modo que a
integral se anula.
Usando a expressão para os coeficientes cn , a fórmula de Euler, a paridade das funções
cossenos e a imparidade de f e das funções senos, obtém-se
Z L
1 inπ x/L
cn = f (x) e − dx
2L −L
Z L h nπ x nπ x i
1
= f (x) cos − i sen dx
2L −L L L
Z nπ x Z nπ x
1 L i L
= f (x) cos dx − f (x) sen dx
2L −L L 2L −L L
Z nπ x
i L
(10.6) =− f (x) sen dx,
L 0 L
onde no penúltimo passo acima usou-se a imparidade da função f , a paridade da função cosseno
e a imparidade da função seno, isto é, nesta ordem foram usados: o produto de uma função
ímpar ( f ) por uma função par (cosseno) é ímpar, de modo que a integral de uma função ímpar
em intervalo simétrico é igual a zero; produto de funções ímpares ( f e seno) é par, de modo que
se deve multiplicar a integral por 2 e integrar no semi-período.
Faça
Z nπ x
1 L
rn = − f (x) sen dx.
L 0 L
Por ser f uma função real, tem-se que rn é um número real para cada n 6= 0 inteiro. Segue-se
de (10.6) e de rn dado acima, que cn = i rn . Isto mostra que para funções ímpares, os coeficientes
cn são imaginários puros.
Para a parte (c), basta observar as fórmulas para os coeficientes cn e c−n , isto é,
Z L Z L
1 −inπ x/L 1 inπ x/L
cn = f (x) e dx e c−n = f (x) e dx.
2L −L 2L −L
Z L
1
cn = f (x) e −inπ x/L dx
2L −L
Z h nπ x nπ x i
1 L
= f (x) cos − i sen dx
2L −L L L
Z L nπ x Z L nπ x
1 i
= f (x) cos dx − f (x) sen dx
2L −L L 2L −L L
Z L nπ x Z L nπ x
1 i
= f (x) cos dx + f (x) sen dx
2L 0 L 2L −L L
Z L h nπ x nπ x i
1
= f (x) cos + i sen dx
2L −L L L
Z L
1 inπ x/L
= f (x) e dx
2L −L
= c−n ,
uma vez que as integrais
Z L nπ x Z L nπ x
1 i
f (x) cos dx e f (x) sen dx
2L 0 L 2L −L L
são reais, por ser f uma função real. Caso f não seja real, então a afirmação é falsa, pois cada
uma das integrais acima serão complexa, ou seja, tem parte real e parte imaginária.
Viu-se que a forma complexa da série de Fourier para uma função f (x) é dada por
∞
inπ x/L
f (x) ∼ ∑ cn · e .
n=−∞
O próximo resultado mostra que as funções un (x) = e inπ x/L formam um conjunto ortogonal.
Proposição 10.2: Sejam un : R → C funções definidas por un(x) = e inπ x/L. Então,
Z L
(
0, para n 6= m,
un (x) · um (x) dx =
−L 2L, para n = m.
e iθ = cos θ + i · sen θ ,
segue-se que
e iθ = cos θ + i · sen θ = cos θ − i · sen θ
pois, da paridade do cosseno e da imparidade do seno, tem-se que cos(−θ ) = cos θ e sen (−θ ) =
− sen θ .
−imπ x/L
Portanto, fazendo θ = mπ x/L, conclui-se que e imπ x/L = e .
Desse modo, para m 6= n, obtém-se
Z L Z L Z L
inπ x/L imπ x/L inπ x/L −imπ x/L
un (x) · um (x) dx = e ·e dx = e ·e dx
−L −L −L
Z L Z L
[(inπ x/L)−(imπ x/L)] (inπ x−imπ x)/L
= e dx = e
−L −L
Z L L
i(n−m)π x/L L
i(n−m)π x/L
= e dx = ·e
−L i(n − m)π −L
L h i
i(n−m)π L/L −i(n−m)π L/L
= · e −e
i(n − m)π
L h i
i(n−m)π −i(n−m)π
= · e −e
i(n − m)π
= (fórmula de Euler)
L nh i
= · cos[(n − m)π ] + i · sen [(n − m)π ] −
i(n − m)π
h io
− cos[(n − m)π ] − i · sen [(n − m)π ]
L
= · {i · sen [(n − m)π ] + i · sen [(n − m)π ]}
i(n − m)π
2i · L 2L
= · sen [(n − m)π ] = · 0 = 0,
i(n − m)π (n − m)π
pois sen [(n − m)π ] = 0, uma vez que n 6= m implica em seno de múltiplo inteiro de π , que é
sempre igual a zero.
Para a segunda parte, com m = n, obtém-se
Z L Z L Z L
inπ x/L
un (x) · um (x) dx = un (x) · un (x) dx = e · e inπ x/L dx
−L −L −L
Z L Z L
inπ x/L −inπ x/L (inπ x/L)−(inπ x/L)]
= e ·e dx = e[ dx
−L −L
Z L Z L Z L
e 0 dx
(inπ x−inπ x)/L 0/L
= e dx = e dx =
−L −L −L
Z L L
= dx = x = L − (−L) = 2L,
−L −L
como desejado.
286 2 Séries de Fourier
Os coeficientes c−n podem ser obtidos a partir dos coeficientes cn , substituindo n por −n na
expressão encontrada, ou seja,
i i
c−n = (−1)−n = − (−1)n .
−n n
Por outro lado, o coeficiente c0 não pode ser obtido pela substituição n = 0 em cn , pois n
aparece no denominador; logo deve ser obtido diretamente por sua fórmula. Assim,
Z L Z
1 1 π
c0 = f (x) dx = x dx
2L −L 2π −π
1 x2 π 1 2
= · = π − (−π )2 = 0.
2π 2 −π 4π
2.10 Forma complexa da série de Fourier 287
Com as expressões dadas em (10.2), constitui-se um sistema que deve ser resolvido. Tem-se:
an bn (
− i = cn
2 2 an = cn + c−n
⇒
an + i bn = c−n
bn = i (cn − c−n)
2 2
Assim,
i i
an = cn + c−n = (−1)n − (−1)n = 0
n n
e
bn = i (cn − c−n )
i n i n
= i (−1) + (−1)
n n
2 2
= i 2 · (−1)n = − (−1)n
n n
(−1)n+1
=2 ·
n
Deste modo, foram determinados os seguintes coeficientes reais da série de Fourier:
(−1)n+1
a0 = 0, an = 0 e bn = 2 ·
n
Portanto, a série de Fourier para a função f é dada por
∞
(−1)n+1
f (x) ∼ 2 ∑ sen (nx).
n=1 n
Observação 10.3: O leitor deve estar atento o bastante para não afirmar que a função f , dada
no exemplo 11.1, restrita ao intervalo (−π , π ], é ímpar. Isto se deve ao fato deste intervalo não
ser simétrico. Basta tomar x = π para verificar imediatamente que −x (que é igual a −π ) não
pertence a tal intervalo. Deve ser notado que a função está, na verdade, definida em todo R
através de uma extensão periódica.
Como a função f deste exemplo é uma extensão periódica ao conjunto R, ao se fazer isto, o
número −π passa a fazer parte do domínio da função, de modo que se tem de fato uma função
ímpar. Em suma, o domínio da função f é todo R, que é simétrico, de modo que a função é
ímpar.
Além disso, pela imparidade da função f do exemplo 10.1, já seria esperado que os coefi-
cientes a0 e an de sua série de Fourier fossem zeros. A resolução deste exemplo permitiu tal
confirmação. Mas observa-se que o valor zero para estes coeficientes foi uma decorrência do
método empregado, ou seja, a imparidade de f não foi usada em momento algum.
288 2 Séries de Fourier
Observação 10.4: O leitor também deve estar atento ao fato de que os coeficientes cn e c−n
da série na forma complexa são números complexos. Portanto tais coeficientes podem conter
a unidade imaginária i (com i 2 = −1). Por outro lado, os coeficientes a0 , an e bn da série de
Fourier são sempre números reais, isto é, não podem conter a unidade imaginária. Se a unidade
imaginária aparecer nestes coeficientes, então um erro foi introduzido durante a resolução.
Exemplo 10.2: Use a forma complexa da série de Fourier para determinar os coeficientes
(reais) a0 , an e bn da série (real) de Fourier para a função f : [−π , π ] → R dada por f (x) = | x |,
periódica de período T = 2π .
S OLUÇÃO : Deve-se determinar, inicialmente, os coeficientes da forma complexa e que são
dados por
Z Z
1 L 1 L inπ x
c0 = f (x) dx e cn = f (x) e − /L dx.
2L −L 2L −L
Observando que L = π e realizando integração por partes, com
1 inπ − inπ
1 in π − inπ
1
(10.7) = e + e + e − e − ·
2π n2 2i n π n2
Das fórmulas de Euler
segue-se que
e in π + e −in π = 2 cos(nπ ) = 2(−1)n ,
1 1
cn = [(−1)n − 1] e c−n = [(−1)n − 1] .
π n2 π n2
Assim,
an = cn + c−n
1 1
= 2
[(−1)n − 1] + [(−1)n − 1]
πn π n2
2
= 2 [(−1)n − 1],
πn
que, para n = 2k − 1, resulta em
4 ,
ak = −
π (2k − 1)2
pois, para n par, tem-se que an = a2k = 0.
Para o cálculos dos coeficientes reais bn deve-se usar a seguinte fórmula:
bn = i (cn − c−n ) .
Deste modo,
bn = i (cn − c−n)
1 n 1 n
=i [(−1) − 1] − 2 [(−1) − 1]
π n2 πn
= i · 0 = 0.
Portanto, os coeficientes (reais) da série de Fourier, para a função f (x) dada, são
4
a0 = π , ak = − e bk = 0.
π (2k − 1)2
a0 ∞ h nπ x nπ x i
(11.1) f (x) = + ∑ n a cos + b n sen ,
2 n=1 L L
Como se está supondo convergência uniforme da série, é possível trocar a ordem entre a
integração e o somatório no segundo membro da última expressão. Assim,
Z L Z L
2 a0
(11.2) [ f (x)] dx = f (x) dx +
−L 2 −L
Z∞ L nπ x Z L nπ x
+ ∑ an f (x) cos dx + bn f (x) sen dx .
n=1 −L L −L L
Por outro lado, os coeficientes da série de Fourier são dados por
Z Z nπ x Z nπ x
1 L 1 L 1 L
a0 = f (x) dx, an = f (x) cos dx e bn = f (x) sen dx,
L −L L −L L L −L L
que substituídos em (11.2) resulta em
Z L ∞
2 a0
[ f (x)] dx = · (a0 L) + ∑ [ an · (an L) + bn · (bn L)] ,
−L 2 n=1
ou seja, " #
Z L
a2 ∞
[ f (x)]2 dx = L 0 + ∑ a2n + bn 2
,
−L 2 n=1
ou ainda,
Z L
1 2 a2 ∞
[ f (x)] dx = 0 + ∑ a2n + b2n ,
L −L 2 n=1
que é a identidade de Parseval.
Exemplo 11.1: Seja f : [−L, L] → R uma função definida por f (x) = x3 − L2 x e periódica de
período T = 2L.
S OLUÇÃO : Para a parte (a), determinar-se-á os coeficientes da série de Fourier para a função
dada. Note-se que f é uma função ímpar, pois
f (−x) = (−x)3 − L2(−x) = −x3 + L2x = − x3 − L2x = − f (x).
L L2 nπ x L
= − [L · cos(nπ ) + L · cos(−nπ )] + 2 2 · sen
nπ n π L −L
2L2 L2
=− (−1)n + 2 2 [ sen (nπ ) − sen (−nπ )]
nπ n π
2L2
(11.4) = (−1)n+1 ,
nπ
onde usou-se a paridade da função cosseno, a imparidade da função seno e os fatos cos(nπ ) =
(−1)n e sen (nπ ) = 0.
Para o cálculo da outra integral no segundo membro de (11.3) deve-se integrar três vezes por
partes. Tem-se:
Z L nπ x L 3 nπ x L Z
3L L 2 nπ x
x3 sen dx = − x cos + x cos dx
−L L nπ L −L nπ −L L
L 3 3
3L Z L 2 nπ x
=− L cos(nπ ) + L cos(−nπ ) + x cos dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
L4 n n 3L L 2
=− [(−1) + (−1) ] + x cos dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
2L4 n+1 3L L 2
= (−1) + x cos dx
nπ nπ −L L
2.11 Identidade de Parseval 293
"
2L4 3L L nπ x L
= (−1)n+1 + x2 sen −
nπ nπ nπ L −L
Z
#
2L L nπ x
− x sen dx
nπ −L L
2L4 3L2
= (−1)n+1 + 2 2 L2 sen (nπ ) − L2 sen (−nπ ) −
nπ n π
Z nπ x
6L2 L
− 2 2 x sen dx
n π −L L
Z nπ x
2L4 n+1 3L4 6L2 L
= (−1) + 2 2 [ 2 sen (nπ )] − 2 2 x sen dx
nπ n π n π −L L
Z nπ x
2L4 n+1 6L2 L
= (−1) − 2 2 x sen dx
nπ n π −L L
2L4 6L2 2L2
= (−1)n+1 − 2 2 · (−1)n+1
nπ n π nπ
4
2L 12L4
(11.5) = − (−1)n+1,
nπ n3 π 3
onde usou-se o valor encontrado em (11.4) para a última integral acima.
Agora substitui-se (11.4) e (11.5) em (11.3) para determinar os valores dos coeficientes bn.
Tem-se:
1 2L4 12L4 2L2
bn = − 3 3 (−1)n+1 − L · (−1)n+1
L nπ n π nπ
2n2 π 2 L3 n+1 12L3 n+1 2n2 π 2 L3
= (−1) − (−1) − (−1)n+1
n3 π 3 n3 π 3 n2 π 2
12L3 n+1 12L3
(11.6) =− (−1) = (−1)n .
n3 π 3 n3 π 3
Portanto, os coeficientes da série de Fourier para f são dados por
12L3
a0 = an = 0 e bn = (−1)n .
n3 π 3
(b) Para aplicar a identidade de Parseval deve-se, primeiro, determinar o valor da integral de
| f |2 de −L até L. Tem-se:
Z L Z L 2 Z L
2 3 2
| f (x)| dx = x − L x dx = x6 − 2L2x4 + L4x2 dx
−L −L −L
L
x7 2L2 L4
= − x5 + x3
7 5 3
−L
294 2 Séries de Fourier
7
L7 2L7 L7 L 2L7 L7
= − + − − + −
7 5 3 7 5 3
2L7 4L7 2L7 30L7 − 84L7 + 70L7
= − + =
7 5 3 105
16 7
(11.7) = L .
105
Como a0 = an = 0, basta usar o valor de bn, encontrado na parte (a), bem como o valor
da integral de | f |2 na identidade de Parseval. Assim, usando (11.6) e (11.7) na identidade de
Parseval,
a0 ∞
2 2
1Z L
+ ∑ an + bn = | f (x)|2 dx,
2 n=1 L −L
obtém-se 2
∞
12L3 1 16 7
∑ 3 3
(−1)n = · ·L ,
n=1 n π L 105
isto é,
∞
144L6 16 144 6 ∞ 1 16 6
∑ n6 π 6 (−1)2n = 105 · L6 ⇒ 6
·L ∑ 6 =
105
·L ,
n=1 π n=1 n
ou seja,
∞
1 π6 16 ∞
1 π6
∑ n6 = 144 · 105 ⇒ ∑ n6 = 9 · 105 ,
n=1 n=1
donde se conclui que
∞
1 π6
∑ 6 = 945 ·
n=1 n
S OLUÇÃO : Para a parte (a), inicia-se determinando o coeficiente a0 para a função f dada.
Observe-se que T = 2π , de modo que L = π . Tem-se:
2.11 Identidade de Parseval 295
Z L Z π
1 1
a0 = f (x) dx = f (x) dx
L −L π −π
Z 0 Z π Z π
1 1 1
= f (x) dx + f (x) dx = dx
π π π 0 π 0
1 0 1
= x = (π − 0)
π −π π
(11.8) = 1.
Substituindo os valores dos coeficientes de Fourier para f , obtidos em (11.8), (11.9) e (11.10),
bem como o valor da integral de | f |2 obtido em (11.11), na identidade de Parseval, obtém-se
Z π
a20 ∞ 1
+ ∑ a2n + b2n = | f (x)|2 dx,
2 n=1 π π
isto é, "
∞ 2 #
1 2 2 1
+∑ 0 + = · π,
2 n=1 (2n − 1)π π
ou ainda,
4 ∞ 1 1
2 ∑ 2
= 1− ,
π n=1 (2n − 1) 2
donde segue-se que
4 ∞ 1 1 ∞
1 π2 ,
∑ =
π 2 n=1 (2n − 1)2 2
⇒ ∑ 2
=
n=1 (2n − 1) 8
Neste ponto, o leitor poderá se perguntar se toda série trigonométrica, isto é, séries do tipo
∞ h nπ x nπ x i
a0
+ ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
A resposta é: em geral, não! Como foi visto, a identidade de Parseval mostra uma estreita
relação entre a função dada e os coeficientes da série. Ou seja, é justamente a identidade de
Parseval que dá uma caracterização para que séries trigonométricas sejam séries de Fourier. De
modo geral pode-se dizer que toda série de Fourier é uma série trigonométrica, mas a recíproca
é falsa. O próximo exemplo mostra isso.
onde α > 0.
É possível mostrar que esta série converge para todo x ∈ R; na verdade é possível mostrar que
ela converge uniformemente em todo subintervalo fechado de (0, 2π ). Porém esta série conver-
gente não é absolutamente convergente se α < 1. Assim, o teste M de Weierstrass não pode ser
utilizado, precisando, neste caso, de outros tipos de testes de convergência condicionada, como
os testes de Abel e Dirichlet. A maneira mais conveniente de mostrar a convergência desta série
em particular é usando o teste de Abel:
T ESTE DE A BEL : Sejam {un(x)} e {vn (x)} sequência de funções definidas em um intervalo
I ⊂ R. Suponha que:
(a) A sequência {vn (x)} convirja uniformemente para 0 em I;
∞
(b) A série ∑ |vn+1 (x) − vn (x)| convirja uniformemente;
n=1
n
(c) Exista uma constante K > 0 tal que ∑ uk (x) ≤ K para todo x ∈ I e todo n.
k=1
∞
Então, a série ∑ un (x) vn (x) converge uniformemente.
n=1
Para demonstração deste teorema, bem como outros resultados correlatos, sugere-se o livro
[37] da bibliografia.
∞
sen (nx)
Para mostrar a convergência da série ∑ , basta tomar un(x) = sen (nx) e vn (x) = 1/n α
n=1 n α
no teste de Abel. Assim, para a parte (a) do teste de Abel deve-se mostrar que lim vn (x) =
lim n−α = 0. Portanto, dado ε > 0, existe n0 ∈ N tal que
1 1
n0 > ⇒ < ε.
ε n0
Note que
1 1
n0 < n ⇒ < ·
n n0
Deste modo,
298 2 Séries de Fourier
1
− 0 = 1 < 1 < ε α < ε ,
nα nα para todo n > n0 ,
nα0
observando que ε α < ε por ser α < 1. Isto demonstra que lim vn (x) = lim n−α = 0.
n→∞ n→∞
Agora mostra-se a parte (b) no teste de Abel. Seja f : (0, ∞) uma função definida por f (x) =
1/xα . O teorema do valor médio afirma o seguinte: Seja f : [a, b] → R uma função diferenciável.
Assim,
∞ ∞
1 1 α
∑ (n + 1)α nα ∑ n1+α ·
− ≤
n=1 n=1
Agora é necessário mostrar que a série
∞
α
∑ n1+α
n=1
1 1 1 1 1 1
Sm = 1 + r + r + r + r + r + r +
2 3 4 5 6 7
1 1 1 1 1 1 1 1 1
+ r + r + r + r + r + r + r + r + ···+ n
8 9 10 11 12 13 14 15 (2 − 1)r
1 1 1 1 1 1
= 1+ r + r + r + r + r + r +
2 3 4 5 6 7
1 1 1 1 1 1 1 1
+ r + r + r + r + r + r + r + r +···
8 9 10 11 12 13 14 15
1 1
· · · + n−1 r + · · · + n r
(2 ) (2 − 1)
| {z }
n−1
1 1 1 1 1 1
≤ 1+ r + r + r + r + r + r +
2 2 4 4 4 4
1 1 1 1 1 1 1 1
+ r + r + r + r + r + r + r + r +···
8 8 8 8 8 8 8 8
1 1 1 1
· · · + n−1 r + n−1 r + · · · + n−1 r + n−1 r
(2 ) (2 ) (2 ) (2 )
| {z }
n−1
2 4 8 2n−1
= 1 + r + r + r + · · · + n−1 r
2 4 8 (2 )
20 21 22 23 2n−1
= r + r + r + r + · · · + r
(20 ) (21) (22 ) (23 ) (2n−1)
20 21 22 23 2n−1
= + + + + · · · +
20r 21r 22r 23r 2(n−1)r
0 1 2 3 n−1
2 2 2 2 2
= r
+ r + r + r + ···+ r
2 2 2 2 2
n−1 k
2
= ∑ r
·
k=0 2
∞ n
2
Portanto, a série geométrica ∑ converge para uma soma S. Assim, Sm < S para todo
n=1 2r
∞
1
m = 2n − 1. Segue-se daí que a série ∑ nr é convergente para r > 1. Observa-se, entretanto,
n=1
que esta série é divergente caso r ≤ 1.
Fazendo r = 1 + α > 1 (pois 0 < α < 1) e lembrando que
∞ ∞
∞
1 1 α
∑ n+1
|v (x) − vn (x)| = ∑ (n + 1)α nα ∑ n1+α ,
− ≤
n=1 n=1 n=1
∞
segue-se, por comparação, que ∑ |vn+1 (x) − vn (x)| é convergente, o que demonstra a parte (b)
n=1
do teste de Abel.
Para mostrar a parte (c), basta notar que as funções senos são limitadas. Assim,
n n n n
∑ k ∑
i=1
u (x) =
k=1
sen (kx) ∑
≤
k=1
| sen (kx)| = ∑ 1k
k=1
= 1 + 1 + · · ·+ 1 = n.
| {z }
n vezes
Tomando K = n, conclui-se que a soma parcial das uk (x) é limitada. Isto mostra (c). Observe
que n tenderá para o infinito, mas a parte (c) trata-se de uma soma finita, de modo que o n
também é finito. Por isso se pôde tomar K = n. Caso a soma fosse infinita, tal afirmação seria
falsa.
Como as hipóteses (a), (b) e (c) do teste de Abel são satisfeitas, segue-se daí que a série
∞
sen (nx)
∑ nα é convergente, ou seja, que esta série define uma função f (x).
n=1
Em suma, a série dada define uma função f (x), isto é,
∞
sen (nx)
f (x) = ∑ nα
·
n=1
O interesse neste exemplo é mostrar que esta série trigonométrica não é uma série de Fourier.
Para isso será usada a identidade de Parseval. Primeiro, note-se que a expressão acima pode ser
escrita na forma
∞
sen (nx)
f (x) = ∑
n=1 nα
∞
0 1
= + ∑ 0 · cos(nx) + α · sen (nx) ,
2 n=1 n
isto é, a0 = 0, an = 0, bn = 1/n α e L = π .
Por outro lado, a identidade de Parseval é dada por
Z L
1 a20 ∞
| f (x)|2 dx = + ∑ a2n + b2n ,
L −L 2 n=1
2.11 Identidade de Parseval 301
isto é,
Z π
1 a20 ∞
| f (x)|2 dx = + ∑ a2n + b2n
π −π 2 n=1
" 2 #
02 ∞
1
= + ∑ 02 +
2 n=1 nα
∞
1
(11.12) = ∑ n 2α
·
n=1
1 1 1 1
= 1 + + + + · · ·+ + · · ·,
2 3 4 n
que é a série harmônica, que é divergente.
A divergência da série para α = 1/2 implica na divergência da integral do primeiro membro,
ou seja, diz que f não é uma função quadrado integrável. Logo, a identidade de Parseval não
é satisfeita e isto demonstra que a série trigonométrica dada não é uma série de Fourier (pois
funções representadas por série de Fourier sempre satisfazem a identidade de Parseval).
302 2 Séries de Fourier
Exercício 1: Para as funções dadas abaixo, determine se ela é periódica e se for, encontre o
seu período fundamental.
e periódica de período T = 2. Determine uma fórmula para f (x) no intervalo 1 < x < 2 e no
intervalo 8 < x < 9.
(c) Como f (x) deverá ser definida nos pontos x = 0, ±5 para que a série de Fourier convirja
para f (x) no intervalo −5 ≤ x ≤ 5?
π2 ∞
1 1 1 1 1
= ∑ 2 = 2 + 2 + 2 + 2 ···
6 n=1 n 1 2 3 4
Exercício 6: Faça uma extensão ímpar, periódica de período com o período indicado e deter-
mine a série de senos para as seguintes funções:
x,
0 ≤ x < 1,
(a) f (x) = 1, 1 ≤ x < 2,
periódica com T = 4.
(
1, 0 < x < π,
(b) f (x) =
periódica com T = 2π .
0, 0 < x < π,
1, π < x < 2π ,
(c) f (x) =
2, 2π < x < 3π ,
periódica com T = 6π .
(
−x, −π < x < 0,
(d) f (x) =
periódica com T = 2π .
(
2 − x2 , 0 < x < 2,
(e) f (x) =
periódica com T = 4.
304 2 Séries de Fourier
Exercício 7: Faça uma extensão par, periódica com o período indicado e determine a série de
cossenos para as seguintes funções:
1,
0 < x < 1,
(a) f (x) = 0, 1 < x < 2,
periódica com T = 4.
(
1, 0 ≤ x ≤ π,
(b) f (x) =
periódica com T = 2π .
(
L − x, 0 ≤ x ≤ L,
(c) f (x) =
periódica com T = 2L.
0 < x < π,
x,
(d) f (x) = 0, π < x < 2π ,
periódica com T = 4π .
(
x2 − 2x, 0 < x < 4,
(e) f (x) =
periódica com T = 8.
Exercício 8: Use a forma complexa para obter as séries de Fourier (forma real) para cada
função do exercício 5.
Exercício 9: Se α não for um número inteiro, use a forma complexa para obter as séries de
Fourier para as funções abaixo:
(
cos(α x), se − π ≤ x < π ,
(a) f (x) =
periódica de período T = 2π .
(
sen (α x), se − π ≤ x < π ,
(b) f (x) =
periódica de período T = 2π .
(
e α x, se − π ≤ x < π ,
(c) f (x) =
periódica de período T = 2π .
(a) Se f for par, mostre que todos os seus coeficientes de Fourier complexos são números
reais. Isto é, deve-se mostrar que cn ∈ R e cn = c−n para todo n ∈ Z.
(b) Se f for ímpar, mostre que c0 = 0 e que cn é um imaginário puro. Isto é, deve-se mostrar
que, para n 6= 0, que cn é um número da forma cn = i rn , onde rn é um número real.
2.12 Exercícios propostos 305
(a) Faça uma extensão ímpar e periódica com período T = 4 e mostre que sua série de senos
é dada por
4 ∞ cos(nπ ) nπ x 4 πx 1
2π x
1
3π x
f (x) = − ∑ · sen = sen − sen + sen −···
π n=1 n 2 π 2 2 2 3 2
(b) Mostre que a diferenciação termo a termo na série da parte (a) não é válida.
S UGESTÃO : basta observar que na série derivada termo a termo o n−ésimo termo nesta série
não se aproxima de zero.
Exercício 14: (a) Encontre a série de Fourier para a função f : (0, 2) → R, dada por f (x) = x2 ,
integrando a série obtida na parte (a) do exercício 13.
(b) Use a parte (a) deste exercício para calcular a série numérica
306 2 Séries de Fourier
∞
(−1)n−1
∑ n2 ·
n=1
Exercício 15: Mostre que as séries abaixo não são séries de Fourier de funções dife-
renciáveis:
∞ ∞
cos(nx) sen (nx)
∑ n e ∑ n ·
n=1 n=1
(a) Faça uma expansão par e periódica de período T = 4 e determine uma série de cossenos
para a função f .
(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que
∞
1 1 1 1 π4
∑ 4 = 14 + 24 + 34 + · · · = 90 ·
n=1 n
S UGESTÃO : A parte (a) é análoga à solução do exercício 14. Para a parte (b) é necessário um
pouco mais de atenção. A parte (a) permite escrever uma série numérica formada por termos
ímpares elevados a quarta potência (isto é, uma série como no exercício 14) e que também
convergirá para π 4/96. Mas a série da parte (b) deste exercício envolve todos os n (ou seja,
∞
1
1, 2, 3, . . .). Assim, seja S = ∑ 4 . Agora escreva S como duas somas: uma para n ímpar e
n=1 n
outra para n par. Em seguida basta observar que
1 1 1 1 1
S= 4
+ 4 + 4 + 4 + 5 +···
1 2 3 4 5
1 1 1 1 1 1
= + + +··· + 4 + 4 + 4 +···
14 34 54 2 4 6
1 1 1 1 1 1
= + + +··· + + + +···
14 34 54 (2 · 1)4 (2 · 2)4 (2 · 3)4
2.12 Exercícios propostos 307
1 1 1 1 1 1 1
= + + +··· + 4 + + +···
14 34 54 2 14 24 34
π4 S
= + ·
96 16
(a) Faça uma extensão par e periódica de período T = 2π e mostre que a série de Fourier é
dada por
π2 ∞
cos(2kx)
f (x) ∼ −∑ ·
6 k=1 k2
(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que
∞
1 π4
∑ 4 90 ·
=
n=1 k
Agora basta substituir o valor da soma S encontrada no item (b) do exercício 18.
(a) Faça uma extensão ímpar e periódica de período T = 2π e mostre que a sua série de
Fourier é dada por
308 2 Séries de Fourier
Agora escreva
∞
1
S= ∑ k6 ,
k=1
onde S significa o valor do somatório.
Em seguida, observe que se pode escrever
1 1 1 1 1 1
S= 6
+ 6 + 6 + 6 + 6 + 6 +···
1 2 3 4 5 6
1 1 1 1 1 1
= + + +··· + 6 + 6 + 6 +···
16 36 56 2 4 6
1 1 1 1 1 1
= + + +··· + + + +···
16 36 56 (2 · 1)6 (2 · 2)6 (2 · 3)6
1 1 1 1 1 1 1
= + + +··· + 6 + + +···
16 36 56 2 16 26 36
∞
1 1
= ∑ (2k − 1)6 + 26 · S
k=1
∞
1 S
= ∑ (2k − 1)6 + 64 ·
k=1
Exercício 22: Considere a seguinte função f (x) = sen x, com 0 < x < π .
(a) Faça uma expansão periódica par e determine uma série de cossenos para f .
(b) Use a identidade de Parseval para mostrar que
2.12 Exercícios propostos 309
∞
1 1 1 1 π2 − 8
∑ 2 2
= + +
12 · 32 32 · 52 52 · 72
+ · · · = ·
n=1 (2k − 1) · (2k + 1) 16
8 ∞
4[1 + 2 cos(nπ ) + cos2 (nπ )]
= + ∑
π 2 n=2 (n2 − 1)2 π 2
n o
n n 2
8 ∞ 4 1 + 2(−1) + [(−1) ]
= 2 ∑
π n=2 (n2 − 1)2 π 2
8 ∞
4 [2 + 2(−1)n]
= + ∑ (n2 − 1)2π 2
π 2 n=2
8 ∞
8 [1 + (−1)n]
= + ∑ (n2 − 1)2 π 2 ·
π 2 n=2
Observe que para n ímpar o termo 1 + (−1)n = 0 e que para n par se tem 1 + (−1)n = 2. Faça
isso e continue manipulando algebricamente as contas até obter
a20 ∞
2 2
8 16 1 1 1
+ ∑ an + bn = 2 + 2 + + +··· .
2 n=1 π π 12 · 32 32 · 52 52 · 72
Agora basta substituir o que foi encontrado antes na última igualdade acima, manipular mais
um pouco até chegar no que foi pedido.
Exercício 23: Use a identidade de Parseval para mostrar que, se f : R → R for uma função
periódica de período T = 2L e tal que f 0 é contínua, então a série abaixo é convergente:
∞ q
∑ a2n + b2n,
n=1
3(1 − cos(nπ )
Exercício 3: (a) a0 = 3, an = 0 e bn = ·
nπ
∞
3 3[1 − cos(nπ )] nπ x
(b) + ∑ · sen ·
2 n=1 nπ 5
(c) Nos pontos de descontinuidade −5, 0 e 5, a série converge para (3 + 0)/2 = 3/2. A série
convergirá para f (x) em −5 ≤ x ≤ 5 se f (x) for redefinida por
3/2, se x = −5,
0, se − 5 < x < 0,
3/2, se x = 0,
f (x) =
3, se 0 < x < 5,
3/2, se x = 5,
periódica de período T = 10.
2L ∞ (−1)n nπ x
Exercício 5: (a) ∑ n · sen ·
π n=1 L
(b) sen 2 x = 1/2 − 1/2 · cos(2x). Para obter essa série de Fourier não é preciso se dar ao trabalho
de calcular os coeficientes.
a 2a ∞ 1 (2k + 1)π x
(c) + ∑ 2k + 1 · sen ·
2 π k=0 L
L 4L ∞ 1 (2k − 1)π x
(d) + 2 ∑ · cos ·
2 π k=1 (2k − 1)2 L
∞
1 2 cos(nπ ) 2 − 2 cos(nπ ) + n2 π 2 cos(nπ )
(e) + ∑ · cos(nπ x) − · sen (nπ x) .
6 n=1 n2 π 2 n3 π 3
2.12 Exercícios propostos 311
∞ nπ nπ x
2 2
Exercício 6: (a) ∑ − cos(nπ ) + · sen sen .
n=1 nπ nπ 2 2
(b) f (x) = 1.
L 4L ∞ 1 (2n − 1)π x
(c) + 2 ∑ · cos ·
2 π n=1 (2n − 1)2 L
nπ 4 h nπ i nx
π 1 ∞ 2π
(d) + ∑ · sen + 2 cos − 1 cos ·
4 π n=1 n 2 n 2 2
nπ x
4 16 ∞ 1 + 3 cos(nπ )
(e) + 2 ∑ cos ·
3 π n=1 n2 4
a0 4
(b) É possível determinar a constante k de outro modo, fazendo k = = , que é obtido
2 3
integrando f (x) dada em (a). Agora faça x = 0 na série da parte (a), substitua este valor de k e
conclua que o valor da série numérica da parte (b) é igual a π 2/12.
(−1)n − 1 ,
Exercício 16: (a) a0 = 1, an = 2 · bn = 0.
n2 π 2
4[(−1)n − 1]
Exercício 17: (a) a0 = 2, an = , bn = 0.
n2 π 2
2 2 ∞ 1 + (−1)n
Exercício 22: (a) f (x) ∼ − ∑ · cos(nx).
π π n=2 n2 − 1
2.12 Exercícios propostos 313
Finaliza-se este capítulo com uma seção que pretende apresentar algumas interpretações físi-
cas associadas as séries de Fourier. Os resultados serão apresentados na forma de proposições.
é a série de Fourier para u, então esta série também pode ser escrita na seguinte forma:
∞ nπ x
(12.1) u(x) ∼ A0 + ∑ An cos − θn ,
n=1 L
onde q
a0 bn
A0 = , An = a2n + b2n e θn = arc tg ·
2 an
D EMONSTRAÇÃO : Observe que se pode escrever
" #
nπ x nπ x q a nπ x b nπ x
n n
an cos + bn sen = a2n + b2n p cos +p sen ·
L L 2 2
an + bn L an + b2n
2 L
Fazendo
an bn
(12.2) cos θn = p e sen θn = p ,
a2n + b2n a2n + b2n
a igualdade anterior pode ser escrita do seguinte modo:
(12.3)
nπ x nπ x q h nπ x nπ x i
an cos + bn sen = a2n + b2n cos θn · cos + sen θn · sen ·
L L L L
Agora usa-se a identidade trigonométrica
com
nπ x
a = θn e b= ,
L
que resulta em
nπ x nπ x nπ x
(12.4) cos − θn = cos θn · cos + sen θn · sen ·
L L L
Substituindo (12.4) em (12.3), obtém-se
314 2 Séries de Fourier
nπ x nπ x q nπ x
an cos + bn sen = a2n + b2n cos − θn ·
L L L
Fazendo
q
(12.5) An = a2n + b2n,
pode-se escrever
nπ x nπ x nπ x
(12.6) an cos + bn sen = An cos − θn ·
L L L
Além disso, segue-se de (12.2) que
! p !
bn bn a2n + b2n sen θn
= p = = tg θn .
an a2n + b2n an cos θn
Logo,
bn bn
(12.7) tg θn = ⇒ θn = arc tg ·
an an
Agora faça
a0
(12.8) A0 = ·
2
Por fim, basta substituir (12.6) e (12.8) na série de Fourier para escrever
∞ nπ x
u(x) ∼ A0 + ∑ An cos − θn ,
n=1 L
Naturalmente, existe uma representação similar para u, mas usando-se senos no lugar de
cossenos.
é a série de Fourier para u, então esta série também pode ser escrita na seguinte forma:
2.12 Exercícios propostos 315
∞ nπ x
(12.9) u(x) ∼ A0 + ∑ An sen + θn ,
n=1 L
onde q
an
An = a2n + b2n e θn = arc tg ·
bn
D EMONSTRAÇÃO : Observe que se pode escrever
" #
nπ x nπ x q a nπ x b nπ x
n n
an cos + bn sen = a2n + b2n p cos +p sen ·
L L a2n + b2n L a2n + b2n L
Fazendo
an bn
(12.10) sen θn = p e cos θn = p ,
a2n + b2n a2n + b2n
a igualdade anterior pode ser escrita do seguinte modo:
nπ x nπ x
an cos + bn sen =
L L
q h nπ x nπ x i
(12.11) = a2n + b2n sen θn · cos + cos θn · sen ·
L L
Agora usa-se a identidade trigonométrica
com
nπ x
a = θn e b= ,
L
que resulta em
nπ x nπ x nπ x
(12.12) sen θn + = sen θn · cos + sen · cos θn·
L L L
Substituindo (12.12) em (12.11), obtém-se
nπ x nπ x q nπ x
an cos + bn sen 2 2
= an + bn sen + θn ·
L L L
Agora se faz
q
(12.13) An = a2n + b2n,
! p !
an an a2n + b2n sen θn
= p = = tg θn .
bn a2n + b2n bn cos θn
Logo,
an an
(12.15) tg θn = ⇒ θn = arc tg ·
bn bn
Agora faça
a0
(12.16) A0 = ·
2
Por fim, basta substituir (12.14) e (12.16) na série de Fourier para escrever
∞ nπ x
u(x) ∼ A0 + ∑ An sen + θn ,
n=1 L
Observação 12.1: As expressões (12.1) e de (12.9) são chamadas de forma forma harmônica
da série de Fourier.. Assim, u representa tal função como soma de componentes cossenoidais
(ou senoidais) de frequências distintas.
Viu-se na primeira seção deste capítulo que os números Tn = 2L/n são os períodos para as
funções cossenos e senos da série de Fourier. Mas estes mesmos Tn também são os períodos
para as funções cossenos e senos das proposições 12.1 e 12.2, isto é,
nπ x nπ x
cos − θn e sen + θn .
L L
A frequência f (não confundir com a função, que aqui é denotada por u) é definida como o
inverso do período, ou seja,
1 n
f= ⇒ fn = ·
T 2L
Já a frequência angular é definida pelos números
2nπ , 2nπ nπ
ωn = ou ainda, ωn = = ·
T 2L L
Grosso modo, a frequência angular representa uma taxa de variação de uma grandeza angular,
mas não necessariamente relacionada a uma rotação. Além disso, é possível encontrar uma
relação entre a frequência e a frequência angular:
nπ 2nπ n
ωn = = = 2π = 2π · f , ou seja, ωn = 2π · f .
L 2L 2L
2.12 Exercícios propostos 317
O próximo resultado mostra que o valor médio quadrático de uma função periódica u(x) é
igual à soma dos valores médios quadráticos dos seus harmônicos.
Z L
1 ∞ An 2
(12.17) 2
[ f (x)] dx = A20 + ∑ √ ,
2L −L
2
n=1
onde q
a0
A0 = e An = a2n + b2n.
2
D EMONSTRAÇÃO : Pela proposição 12.1, se
∞ h nπ x nπ x i
a0
u(x) ∼ + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
é a série de Fourier para a função u, então esta série também pode ser escrita na forma
∞ nπ x
u(x) ∼ A0 + ∑ An cos − θn ,
n=1 L
q
onde a0 bn
A0 = , 2
An = an + bn 2 e θ0 = arc tg ·
2 an
√
O valor da raiz da média quadrática 3 é An/ 2. Logo, o valor médio quadrático do n-ésimo
√
harmônico é (An/ 2)2.
Além disso, q
a0
An = a2n + b2n = 2| cn | e A0 = = | c0 |,
2
onde c0 e cn são os coeficientes complexos da série de Fourier.
Segue-se daí que
A2
(12.18) | cn |2 = n e | c0 |2 = A20 .
4
Agora usa-se a identidade de Parseval, isto é,
Z L
1 a20 ∞
[ f (x)] dx = + ∑ a2n + b2n ,
2
L −L 2 n=1
∞
2
2 An
(12.20) = A0 + ∑ √ ·
n=1 2
3.1 Introdução
Nos capítulos anteriores mostrou-se que as séries de Fourier constituem um poderoso ins-
trumento para atacar problemas que envolvem funções periódicas. Por outro lado, em vários
problemas práticos que não envolvem funções periódicas, é desejável que o desenvolvimento
de um método de análise de Fourier inclua as funções não periódicas.
Assim,
= lim f (x)
n→∞
321
322 3 Transformada de Fourier
0, para − ∞ < x < −α ,
= 1, para − α < x < α ,
0, para α < x < ∞,
(
1, se − α < x < α ,
=
0, caso contrário.
Note que, apesar de a função f ser periódica de período T , a função ϕ não é periódica. Dito
de outra maneira: quando se faz o período T tender para infinito, a função resultante pode não
ser periódica.
Na seção 2.10 do capítulo 2 viu-se que a forma complexa da série de Fourier é dada por
∞
(i n π x)/L
f (x) = ∑ cn e ,
n=−∞
onde Z L
1 −(i n π x)/L
cn = f (x) e dx, n ∈ Z.
2L −L
Fazendo h = π/L, obtém-se
∞ Z L
in h x 1
f (x) = ∑ cn e e cn = f (x) e −in h x dx.
n=−∞ 2L −L
Para que a transformada de Fourier esteja bem definida, considerando apenas as funções
Riemann integráveis, é preciso exibir uma classe de funções para as quais a integral que aparece
na transformada esteja bem definida. Tal classe de funções deve contemplar duas exigências:
(1) f : R → R deve ser seccionalmente contínua em cada intervalo [−a, b], com a, b > 0;
Z ∞
(2) | f (x)| dx < ∞.
−∞
Da definição de função seccionalmente contínua, tem-se que a condição (1) implica dizer que
a função e −iω x · f (x) (isto é, o integrando na transformada de Fourier) é limitada e integrável
em [−a, b]. Já a condição (2) exige que o limite em
Z ∞ Z b
−iω x
e · f (x) dx = lim e −iω x · f (x) dx
−∞ a,b→∞ −a
exista.
De fato, dado K > 0, pode-se escrever
3.1 Introdução 325
Assim,
Z Z Z
−iω x
−iω x −iω x
e · f (x) dx = e · f (x) dx + e · f (x) dx
−∞ |x|≤K |x|>K
Z Z
−iω x
−iω x
≤ e · f (x) dx + e · f (x) dx
|x|≤K |x|>K
Z −iω x Z −iω x
≤ e · f (x) dx + e · f (x) dx
|x|≤K |x|>K
Z −iω x Z −iω x
=≤ e | f (x)| dx + e | f (x)| dx
|x|≤K |x|>K
Z Z
= | f (x)| dx + | f (x)| dx,
|x|≤K |x|>K
Como se está admitindo que f é uma função seccionalmente contínua, então a primeira in-
tegral no último membro da estimativa acima existe e é igual a um número real positivo (pois
f tem um número finito de descontinuidades, todas de primeira espécie, no intervalo fechado e
limitado −K ≤ x ≤ K, de modo que | f (x)| também).
Para que exista a integral do primeiro da estimativa, é preciso que a segunda integral do
último membro da mesma tenda para zero no infinito, isto é,
Z
| f (x)| dx → 0, para K suficientemente grande,
|x|>K
Também deve ser observado, pelos passos realizados na estimativa, que a função f , além de
integrável, deve ser absolutamente integral (para que o limite exista).
Denota-se por L1(R) o espaço das funções f : R → R tais que as integrais impróprias de f e
| f | convergem. Isto significa que f e | f | sejam integráveis em cada intervalo [−a, b] e que os
limites abaixo existam:
Z b Z b
lim f (x) dx e lim | f (x) | dx.
a,b→∞ −a a,b→∞ −a
Se f : R → C, isto é, uma função definida em R com valores complexos, então ela pode ser
escrita na forma
f (x) = g(x) + ih(x),
326 3 Transformada de Fourier
onde g(x) e h(x) são funções reais representando suas partes real e imaginária, respectivamente.
Além disso, a integral de f é dada por
Z Z Z
f (x) dx = g(x) dx + i h(x) dx,
R
onde o símbolo denota, aqui, uma integral definida ou imprópria.
Observação 1.1: Na definição dos espaços L1 (R) e L1(R, C) pediu-se a convergência abso-
luta da integral. De fato, esta condição é suficiente. Suponha que a integral de | f | convirja, isto
é, Z ∞
| f (x) | dx < ∞.
−∞
Então, pela definição da transformada de Fourier, obtém-se
1 Z ∞ −iω x
| F(ω )| = √ e f (x) dx
2π −∞
Z ∞
1 e −iω x f (x) dx
≤√
2π −∞
Z ∞
1 e −iω x f (x) dx
=√
2π −∞
Z ∞
1 f (x) dx < ∞,
=√
2π ∞
uma vez que, pela fórmula de Euler,
implica em
−iω x q
e = [cos(ω x)]2 + [− sen(ω x)]2 = 1.
Mostrar que | F(ω )| < ∞ significa dizer que a transformada é finita, ou seja, que ela existe.
Analogamente, para a transformada inversa de Fourier.
3.2 Interpretação física 327
Portanto, a condição de que a função seja absolutamente integrável é apenas suficiente para
garantir que a transformada de Fourier está bem definida. Porém esta condição não é necessária.
Uma consequência disso é a existência de funções Riemann integráveis, que não são abso-
lutamente integráveis, que possuem transformadas de Fourier (mas não necessariamente uma
inversa).
Agora será feita uma breve revisão dos números complexos com intuito de apresentar inter-
pretações físicas para a função transformada de Fourier.
Um número complexo tem a forma z = a + ib, onde a, b ∈ R e i (onde i 2 = −1) é a unidade
imaginária. O número real a é chamado de parte real do número complexo z, enquanto o
número real b chamado de parte imaginária do complexo z. O conjunto de todos os números
complexos é denotado por C.
Sejam z = a+ib e w = c+id números complexos, onde a, b, c, d ∈ R e i (i 2 = −1) é a unidade
imaginária. As propriedades operatórias entre os números complexos são definidas por:
z · z = |z|2 ,
ou ainda,
Assim,
z = x + iy = |z| · cos θ + i · |z| · sen θ = |z| (cos θ + i · sen θ ).
A expressão
z = |z| (cos θ + i · sen θ )
é chamada de forma polar do número complexo z.
Também segue-se de (2.1) que
sen θ y y
tg θ = = ⇒ θ = arc tg ,
cos θ x x
onde θ é chamado de argumento do número complexo z.
Agora considere uma função f : R → C cuja transformada de Fourier é uma função F :
R → C, isto é, F(ω ) = F [ f (x)]. Assim sendo, a função transformada pode ser escrita na forma
F(ω ) = u(ω ) + i · v(ω ), onde
Além disso, o argumento de F(ω ) também será uma função que depende de ω , pois
u(ω )
Argumento[F(ω )] = arc tg = φ (ω ).
v(ω )
3.2 Interpretação física 329
= |F(ω )| · e i·φ (ω ) ,
onde a última expressão é a forma polar para F(ω ).
Na forma polar de F(ω ),
o módulo de F(ω ), q
|F(ω )| = [u(ω )]2 + [v(ω )]2 ,
é chamado de amplitude da transformada de Fourier ou de espectro de amplitudes do sinal f (x).
O argumento de F(ω ),
u(ω ) ,
φ (ω ) = arc tg
v(ω )
é chamado ângulo de fase da transformada de Fourier ou de espectro de fases do sinal f (x).
Sejam f (x) uma função dada e F(ω ) = F [ f (x)] a sua função transformada de Fourier.
Define-se a densidade espectral de energia por
pode ser interpretada como a energia total do sistema físico. Assim, a integral de |F(ω )|2 de a
até b dá a contribuição das frequências ω entre a e b à energia total.
Para tornar isto plausível, inicia-se com um sistema mecânico dando uma frequência única, a
saber, o oscilador harmônico (sistema massa-mola)
my00 + ky = 0.
330 3 Transformada de Fourier
Aqui está se denotando o tempo t por x. Multiplicando a última equação por y0 , obtém-se
my0 y00 + ky0 y = 0. Integrando esta equação em ambos os membros em relação a x, encontra-se
Z Z
0 00 0
my (x) · y (x) + ky(x) · y (x) dx = 0 · dx = c1 .
ou ainda, Z Z
m y0 (x) · y00 (x) dx + k y(x) · y0 (x) dx = c1 ,
Fazendo U = y0 (x) na primeira integral, de modo que dU = y00 (x) dx e fazendo V = y(x) na
segunda integral, que implica em dV = y0 (x) dx, obtém-se
Z Z
U2 V2
m U dU + c2 + k V dV + c3 = c1 ⇒ m· +k· = c1 ,
2 2
mas U = y0 e V = y, de modo que
m 2 k
· y0 + · y2 = C,
2 2
onde se fez C = c1 − c2 − c3 .
Portanto,
m 2 k 2
· v + · y = E0 = constante,
2 2
onde v = y0 é a velocidade.
O primeiro termo é a energia cinética, o segundo é a energia potencial e E0 é a energia total
do sistema. A solução geral é dada por
y(x) = a1 · cos(ω0 x) + b1 · sen (ω0 x)
iω0 x −iω0 x 2 k
= c1 · e + c−1 · e , ω0 = ,
m
onde
a1 − i · b1 a1 + i · b1
c1 = e c−1 = c1 = ·
2 2
Fazendo
A = c1 · e iω0x e B = c−1 · e −iω0x ,
resulta que y = A + B. Por diferenciação, obtém-se
v = y0 = A0 + B0 = iω0 (A − B).
k
E0 = −(A − B)2 + (A + B)2
2
= 2kAB
= 2 · k · c1 · c−1
= 2k · |c1|2.
Portanto, a energia é proporcional ao quadrado da amplitude |c1 |.
Como próximo passo, se um sistema mais complicado conduz à soluções periódicas y = f (x)
que pode ser representada por uma série de Fourier, então ao invés de um termo único de energia
|c1 |2, obtém-se uma série de quadrados |cn |2 dos coeficientes de Fourier cn. Neste caso, tem-se
um “espectro discreto” consistindo de frequências enumeráveis, com o correspondente |cn|2
sendo as contribuições para a energia total.
Finalmente, um sistema cuja solução pode ser representado pela integral da transformada in-
versa de Fourier conduz a integral acima para a energia, como é plausível dos caos já discutidos.
Daqui por diante objetiva-se seguir, grosso modo, os procedimentos adotados para a trans-
formada de Laplace, ou seja, deseja-se deduzir fórmulas para a transformada de Fourier para
algumas funções, assumindo-se que o procedimento inverso produz a transformada inversa de
Fourier. Com isso, será possível construir uma tabela com fórmulas que deverão ser usadas para
resolver vários exercícios.
Proposição 3.1: Seja f : R → R uma função de L1(R). Então, as partes real e imaginária de
F(ω ) são dadas por
Z ∞ Z ∞
1 1
(3.1) u(ω ) = √ f (x) cos(ω x) dx e v(ω ) = − √ f (x) sen (ω x) dx.
2π −∞ 2π −∞
Além disso, as funções u(ω ) e v(ω ) são, respectivamente, funções par e ímpar de ω . Tem-se
também que
F(−ω ) = F(ω ),
onde a barra indica a conjugação complexa.
332 3 Transformada de Fourier
D EMONSTRAÇÃO : Observe-se inicialmente que, por hipótese, a função f é real, isto é, não
tem parte imaginária. Agora aplica-se a identidade de Euler, tem-se
Z ∞
1
F(ω ) = √ f (x) e −iω x dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ f (x) cos(ω x) − i sen (ω x) dx
2π −∞
Z ∞ Z
1 1 ∞
=√ f (x) cos(ω x) dx − i √ f (x) sen (ω x) dx
2π −∞ 2π ∞
Z ∞ Z ∞
1 1
(3.2) =√ f (x) cos(ω x) dx + i − √ f (x) sen (ω x) dx .
2π −∞ 2π ∞
Se F(ω ) = u(ω ) + i v(ω ) e se F(ω ) também é dada por (3.2), então, igualando-se as partes
real e imaginária de cada expressão, obtém-se
Z ∞ Z ∞
1 1
u(ω ) = √ f (x) cos(ω x) dx e v(ω ) = − √ f (x) sen (ω x) dx,
2π −∞ 2π −∞
que é (3.1).
Para mostrar a segunda parte, deve-se observar inicialmente que, por ser f uma função real,
Z ∞ Z ∞
1 1
u(−ω ) = √ f (x) cos(−ω x) dx = √ f (x) cos(ω x) dx = u(ω ),
2π −∞ 2π −∞
Z ∞ Z ∞
1 1
v(−ω ) = − √ f (x) sen (−ω x) dx = √ f (x) sen (ω x) dx = −v(ω ),
2π −∞ 2π −∞
onde usou-se a paridade da função cosseno e a imparidade da função seno nos passos acima.
Isto mostra que u é uma função par e que v é uma função ímpar da variável ω .
Por fim, de F(ω ) = u(ω ) + i v(ω ), da paridade de u e da imparidade de v, segue-se que
F(−ω ) = u(−ω ) + i v(−ω )
= u(ω ) − i v(ω )
= u(ω ) + i v(ω )
= F(ω ),
mostrando que a inversão do sinal de ω sob F equivale a conjugação complexa da função F.
3.3 Propriedades básicas 333
Corolário 3.1: A condição F(−ω ) = F(ω ) é uma condição necessária e suficiente para que
f seja uma função real.
D EMONSTRAÇÃO : Suponha que f (x) é uma função real. Então, mostrou-se na proposição
3.1 que F(−ω ) = F(ω ). Resta, portanto, demonstrar a recíproca, isto é, que a condição
F(−ω ) = F(ω ) implica em ser f uma função real.
Faça
f (x) = g(x) + i h(x) e F(ω ) = u(ω ) + i v(ω ).
Usando a definição da transformada inversa de Fourier para a função f acima, bem como a
fórmula de Euler, obtém-se
Z ∞
1
f (x) = √ F(ω ) e iω x dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ u(ω ) + i v(ω ) cos(ω x) + i sen (ω x) d ω
2π −∞
Z ∞h
1
=√ u(ω ) · cos(ω x) + iu(ω ) · sen (ω x) +
2π −∞
i
+ iv(ω ) · cos(ω x) − v(ω ) · sen (ω x) dx
Z ∞ Z ∞
1 1
=√ u(ω ) · cos(ω x) d ω + i √ u(ω ) · sen (ω x) d ω
2π −∞ 2π −∞
Z ∞ Z
1 1 ∞
+i √ v(ω ) · cos(ω x) d ω − √ v(ω ) · sen (ω x) d ω
2π −∞ 2π −∞
Z ∞
1
=√ u(ω ) · cos(ω x) − v(ω ) · sen (ω x) d ω +
2π −∞
Z ∞
1
(3.3) +i √ u(ω ) · sen (ω x) + v(ω ) · cos(ω x) d ω .
2π −∞
Como as expressões f (x) = g(x) + ih(x) e (3.3) representam a mesma função f (x), segue-se
que seus segundos membros são iguais, de modo que
Z ∞
1
(3.4) g(x) = √ u(ω ) · cos(ω x) − v(ω ) · sen (ω x) d ω
2π −∞
e
Z ∞
1
(3.5) h(x) = √ u(ω ) · sen (ω x) + v(ω ) · cos(ω x) d ω .
2π −∞
Corolário 3.2: Sejam f : R → R uma função de L1(R) e F(ω ) = F [ f (x)] a sua transformada
de Fourier. Então, o espectro de amplitudes | F(ω )| é uma função par de ω e o espectro de fases
φ (ω ) é uma função ímpar de ω .
D EMONSTRAÇÃO : Por hipótese, f é uma função real (isto é, não tem parte imaginária).
Logo, pela proposição 3.1, tem-se que F(−ω ) = F(ω ).
Por (2.2), a função F(ω ) pode ser escrita na forma
F(ω ) = | F(ω )| e i φ (ω )
= | F(ω )| e i φ (ω )
(3.7) = | F(ω )| e −i φ (ω ) .
Como F(−ω ) = F(ω ), então os segundos membros em (3.6) e (3.7) devem-ser iguais, ou
seja,
| F(−ω )| e i φ (−ω ) = | F(ω )| e −i φ (ω ) .
Portanto,
| F(−ω )| = | F(ω )| e φ (−ω ) = −φ (ω ).
Isto mostra que os espectros de amplitudes e de fases são, respectivamente, funções pares e
ímpares de ω .
3.3 Propriedades básicas 335
Z ∞ Z ∞
1 1
u(ω ) = √ f (x) cos(ω x) d ω e v(ω ) = − √ f (x) sen (ω x) dx.
2π −∞ 2π −∞
Parte (a): Suponha que a transformada de Fourier F(ω ) é real. Então, F(ω ) = u(ω ) e v(ω ) =
0. Como v(ω ) = 0, tem-se que o integrando, f (x) sen (ω x), para a integral que define v(ω ) deve
ser uma função ímpar em relação a variável x para que a integral se anule. Como sen (ω x) é uma
função ímpar na variável x, para que o integrando seja ímpar é necessário que f (x) seja uma
função par (“o produto de uma função par por outra ímpar é uma função ímpar”). Isto mostra
que f (x) é par.
Reciprocamente, suponha que f (x) seja uma função par. Por ser sen (ω x) uma função ímpar
na variável x, segue-se que o produto f (x) sen (ω x) é ímpar (na variável x). Logo, a integral
Z ∞
f (x) sen (ω x) dx = 0,
−∞
mostrando que v(ω ) = 0, de modo que F(ω ) = u(ω ), isto é, que F(ω ) é uma função real.
Parte (b): Suponha que a transformada de Fourier F(ω ) é um imaginário puro. Então, F(ω ) =
i v(ω ) e u(ω ) = 0. Como u(ω ) = 0, tem-se que o integrando, f (x) cos(ω x), para a integral que
define u(ω ) deve ser uma função ímpar em relação a variável x para que a integral se anule.
Como cos(ω x) é uma função par na variável x, para que o integrando seja ímpar é necessário
que f (x) seja uma função ímpar (“o produto de uma função ímpar por outra par é uma função
ímpar”). Isto mostra que f (x) é ímpar.
Reciprocamente, suponha que f (x) seja uma função ímpar. Por ser cos(ω x) uma função par
na variável x, segue-se que o produto f (x) cos(ω x) é ímpar (na variável x). Logo, a integral
Z ∞
f (x) cos(ω x) dx = 0,
−∞
mostrando que u(ω ) = 0, de modo que F(ω ) = i v(ω ), isto é, que F(ω ) é um imaginário puro.
Observação 3.1: Segue-se da proposição 3.2 que, se f (x) é uma função real e
então
F [ f p(x)] = u(ω ) e F [ fi (x)] = i v(ω ).
onde f (x) = f p (x) + fi (x), sendo f p (x) e fi (x), respectivamente, as partes par e ímpar de f (x).
Então,
lim F(ω ) = 0.
|ω |→∞
Pelo teorema de Riemann-Lebesgue, as duas integrais no último membro acima têm limite
para |ω | → ∞ e têm limite igual a 0, de modo que, pela igualdade, a integral do primeiro membro
também tem limite para |ω | → ∞. Logo,
Z K Z K Z K
lim e −iω x · f (x) dx = lim f (x) · cos(ω x) dx − i · lim f (x) · sen (ω x) dx = 0.
|x|→∞ −K |ω |→∞ −K |ω |→∞ −K
A expressão obtida, Z K
lim e −iω x · f (x) dx = 0,
|ω |→∞ −K
3.3 Propriedades básicas 337
significa dizer que, dado ε > 0, existe ω0 > 0 tal que, para todo |ω | ≥ ω0 , se tem
Z √
K −iω x
e · f (x) dx < 2π · ε .
−K 2
Porttanto, para |ω | > ω0 , tem-se
1 Z ∞ −iω x
|F(ω )| = √ e · f (x) dx
2π −∞
1 Z K −iω x 1
Z
−iω x
= √ e · f (x) dx + √ e · f (x) dx
2π −K 2π |x|>k
Z
1 K
−iω x
1 Z −iω x
= √ e
· f (x) dx + √ e · f (x) dx
2π −K 2π |x|>k
Z Z
1 K −iω x
1 −iω x
e
dx
≤ √ e · f (x) dx + √ · f (x)
2π −K 2π |x|>K
Z Z
1 K −iω x
1 −iω x
e | f (x)| dx
=√ e · f (x) dx + √
2π −K 2π |x|>K
Z Z
1 K −iω x
1
=√ e · f (x) dx + √ | f (x)| dx
2π −K 2π |x|>K
√ √ !
1 2π 2π ε ε
<√ ·ε + · ε = + = ε.
2π 2 2 2 2
Z α α
1 −iω x 1 −iω x
=√ e dx = − √ e
2π −α i ω 2π −α
1 −iαω
=− √ e − e iαω
i ω 2π
1 iαω
(3.8) = √ e − e −iαω .
i ω 2π
Das fórmulas de Euler,
Z −α Z Z
1 1 α 1 ∞
=√ f (x) dx + √ f (x) dx + √ f (x) dx
2π −∞ 2π −α 2π α
Z α α
1 1 1
=√ dx = √ · x = √ [α − (−α )]
2π −α 2π −α 2π
2α
=√ ·
2π
Portanto, mostrou-se que
"( #
2 sen (αω )
√ 2π ·
, se ω 6= 0,
1, se | x | ≤ α ω
F(ω ) = F =
0, se | x | > α ,
2α
√ ,
se ω = 0.
2π
Esse assunto merece cuidado e atenção, uma vez que a função F(ω ) = sen(αω )/ω , com ω 6= 0,
não é absolutamente integrável, como mostra o apêndice a este capítulo, de modo que F 6∈
L1(R). Por outro lado, já foi dito que a integrabilidade absoluta é uma condição suficiente, mas
não necessária. Ao longo deste capítulo este assunto voltará a aparecer outras vezes.
(
1, para x ≥ c,
uc(x) =
0, caso contrário.
onde α > 0.
Mostre que
1 1
F(ω ) = F e −α x · u0 (x) = √ ·
2π α + i ω
e
1 √
f (x) = F −1
= 2π · e −α x · u0 (x).
α + iω
1 1 h i T
−(α +iω )x
= −√ · · lim e
2π α + i ω T →∞ 0
1 1 h i
−( α +iω )T −( α +iω ).0
= −√ · · lim e −e
2π α + i ω T →∞
1 1
= −√ · · lim e −iω T · e −α T − 1
2π α + iω T →∞
1 1
=√ · ·
2π α + i ω
Observe que usou-se o fato que
lim e −iω T · e −α T = 0.
T →∞
Exemplo 3.3: Sejam α > 0 e χ[0, α ] : R → R a função característica que é definida por
(
1, se 0 < x < α ,
χ[0, α ] (x) =
0, caso contrário.
Mostre que
1 1 − e −iαω ,
√
2π · para ω 6= 0,
iω
F χ[0, α ] (x) =
α
√ ,
para ω = 0,
2π
e
−1 1 − e −iαω √
F = 2π · χ[0, α ] (x), (ω 6= 0).
iω
342 3 Transformada de Fourier
Para calcular a transformada de Fourier para χ[0, α ] deve-se dividir em dois casos: ω 6= 0 e
ω = 0. Para ω 6= 0, tem-se
Z ∞
1
F χ[0, α ] (x) = √ e −iω x χ[0, α ] (x) dx
2π −∞
Z 0 Z α
1 −iω x 1
=√ e χ[0, α ] (x) dx + √ e −iω x χ[0, α ] (x) dx +
2π −∞ 2π 0
Z ∞
1
+√ e −iω x χ[0, α ] (x) dx
2π α
Z α α
1 −iω x 1 1
−iω x
=√ e dx = √ − e
2π 0 2π iω 0
1 1
= −√ · e −iαω − 1
2π i ω
1 1 − e −iαω
=√ · ·
2π iω
Para ω = 0, tem-se que
Z ∞
1
F χ[0, α ] (0) = √ e −i.0.x χ[0, α ] (x) dx
2π −∞
Z 0 Z α Z ∞
1 1 1
=√ χ[0, α ] (x) dx + √ χ[0,a] (x) dx + √ χ[0, α ] (x) dx
2π −∞ 2π 0 2π α
Z α
1 1 α
=√ dx = √ x
2π 0 2π 0
α
=√ ·
2π
Portanto, a transformada de Fourier para χ[0, α ] é dada por
3.3 Propriedades básicas 343
1 1 − e −iαω ,
√ · para ω 6= 0,
2 π iω
F χ[0, α ] (x) =
α
√ ,
para ω = 0,
2π
ou, equivalentemente,
−1 1 − e −iαω √
F = 2π · χ[0, α ] (x), (ω 6= 0).
iω
Observe que está função tem suporte compacto, mas não pertence ao espaço C∞(R) (apesar
de ser contínua em x = 0, nesse ponto não existe derivada).
Agora, calcula-se (formalmente) sua transformada de Fourier. Para ω 6= 0, tem-se:
Z ∞
1
F(ω ) = √ e −i ω x f (x) dx
2π −∞
Z α Z
1 1
=√ e −i ω x f (x) dx + √ e −i ω x f (x) dx
2π −α 2π |x|>α
Z α Z
1 −i ω x |x| 1
=√ e 1− dx + √ e −i ω x . 0 dx
2π −α α 2π |x |>α
Z α
1 |x|
=√ e −i ω x 1 − dx
2π −α α
Z α Z α
1 −i ω x 1 1
=√ e dx − √ · e −i ω x | x | dx
2π −α 2π α −α
344 3 Transformada de Fourier
Z α 0 Z Z
1 −i ω x 1 1 α
=√ e dx − √ e −i ω x (−x)| dx − √ e −i ω x x dx
2π −α α 2π −α α 2π 0
α 0
1 1 −i ω x 1 x −i ω x 1 −i ω x
=√ − e + √ − e + 2e −
2π iω α 2 π iω ω
−α −α
α
1 x 1
− √ − e −i ω x + 2 e −i ω x
α 2π iω ω
0
1 1 iα ω −i α ω
1 1 α iα ω 1 iα ω
=√ · e −e + √ − e − 2e −
2π i ω α 2π ω 2 i ω ω
1 α −i α ω 1 −i α ω 1
− √ − e + 2e − 2
α 2π iω ω ω
1 1 1 1
=√ · e i α ω − e −i α ω − √ · e i α ω − e −i α ω +
2π i ω 2π i ω
1 1 iα ω −i α ω
+ √ · 2 − e − e
2π α ω 2
1 1 iα ω −i α ω
=√ · 2 − e − e ,
2π α ω 2
onde usou-se a técnica de integração por partes em uma das etapas acima.
Mas, como observado anteriormente,
e i α ω + e −i α ω = 2 cos (α ω ).
Assim,
1 1 2 (1 − cos αω )
F(ω ) = √ (2 − 2 cos( α ω )) = √ ·
2π α ω 2 α 2π ω 2
Agora calcula-se a transformada de Fourier para f quando ω = 0. Tem-se:
Z ∞ Z α
1 −i.0.x 1 |x|
F(0) = √ e f (x) dx = √ 1− dx
2π −∞ 2π −α α
Z α Z
1 1 α
=√ dx − | x | dx
2π −α α −α
α Z Z
1
1 0 1 α
=√ x − −x dx − x dx
2π −α α −α α 0
α Z 0 Z α
1 1 1
=√ x + x dx − x dx
2π −α α −α α 0
!
1 x2 0 x2 α 1 α α α
=√ 2α + − = √ 2 α − − =√ ·
2π 2α −α 2α 0 2π 2 2 2π
1 − | x |,
se | x | < α ,
f (x) = α
0, se | x | ≥ α .
ter suporte compacto (o intervalo [−α , α ]), a função transformada de Fourier para f ,
2 1 − cos (α ω ) ,
√ ·
para ω 6= 0,
α 2π ω2
F(ω ) =
α
√ , para ω = 0,
2π
não tem suporte compacto.
∞Z Z ∞
α β
=√ e −iω x f1 (x) dx + √ e −iω x f2 (x) dx
2π −∞ 2π −∞
= α F f1 (x) + β F f2 (x) .
1
ω ,
= − ·F
α α
onde também se fez a mudança de variáveis u = α x nas integrais acima.
Portanto, considerando-se os dois casos, tem-se que
1 ω
F [ f (α x)] = ·F , ∀ ω ∈ R.
| α| α
Corolário 4.1: Seja f ∈ L1 (R, C). Se F [ f (x)] = F(ω ) denota a transformada de Fourier para
f , então
F [ f (−x)] = F(−ω ).
D EMONSTRAÇÃO : Faça α = −1 na proposição 4.2. Assim,
1 ω
F [ f (−x)] = F = F(−ω ).
| − 1| −1
Observa-se que também é possível demonstrar este resultado usando a definição de transfor-
mada de Fourier.
onde α > 0.
Mostre que
"( #
e α x, se x < 0, 1 1 ,
F(ω ) = F =√ ·
0, se x ≥ 0, 2π α − i ω
e (
1 √ e α x, se x < 0,
f (x) = F −1 = 2π ·
α − iω 0, se x ≥ 0,
Note-se que f pode ser escrita na forma f (x) = e α x u0 (−x). Agora defina g : R → R por
g(x) = e −α x u0(x), onde u0 é a função de Heaviside com c = 0. Segue-se daí que f (x) = g(−x).
Pelo corolário 4.1, tem-se que F [g(−x)] = G(−ω ), onde G = F [g]. Além disso, pelo exemplo
3.2, tem-se que
1 1
G(ω ) = √ · ·
2π α + i ω
Portanto,
348 3 Transformada de Fourier
ou, equivalentemente,
(
−1 1 √ e α x, se x < 0,
f (x) = F = 2π ·
α − iω 0, se x ≥ 0,
onde α > 0.
Mostre que
"( #
1 e iαω − 1 ,
√ · para ω 6= 0,
1, se − α < x < 0, 2π iω
F(ω ) = F =
0, caso contrário, α
√ ,
para ω = 0,
2π
e (
e iαω − 1 1, se − α < x < 0,
f (x) = F −1 =
iω 0, caso contrário,
para ω 6= 0 e α > 0.
S OLUÇÃO : Observe que f pode ser reescrita na forma f (x) = χ[−α ,0] . Deste modo, tem-se
Para determinar a transformada de Fourier para f , basta usar o corolário 4.1 e o exemplo 3.3,
que mostram que
3.4 Propriedades mais gerais 349
1 1 − e −iαω ,
√ · para ω 6= 0,
2 π iω
F χ[0, α ] (x) =
α
√ ,
para ω = 0.
2π
Tem-se:
F(ω ) = F f (x) = F χ[−α ,0] (x) = (cor. 4.1)
para ω 6= 0 e α > 0.
onde α > 0.
Mostre que
2 sen (αω ) ,
√ · se ω 6= 0,
2π ω
F χ[−α , α ] (x) =
2α
√ , se ω = 0.
2π
S OLUÇÃO : Observe inicialmente que a função dada pode ser escrita na seguinte forma:
350 3 Transformada de Fourier
Assim, pela linearidade da transformada, basta somar as transformadas de Fourier das duas
funções do primeiro membro e que já foram determinadas nos exemplos 3.3 e 4.2, isto é,
1 1 − e −iαω ,
√
2π · se ω 6= 0,
iω
F χ[0, α ] (x) =
α
√ ,
se ω = 0,
2π
e
1 e iαω − 1 ,
√ · se ω 6= 0,
2 π iω
F χ[−α ,0] (x) =
α
√ ,
se ω = 0.
2π
Além disso, será necessário usar a fórmula de Euler, do seguinte modo
(
e iαω = cos(aω ) + i sen (aω ), e iαω − e −iαω
⇒ sen (αω ) = ·
e −iαω = cos(aω ) − i sen (aω ), 2i
Agora é possível determinar a transformada de Fourier para a função dada. Para ω 6= 0, tem-
se
F χ[−α , α ] (x) = F χ[−α ,0] (x) + χ[0, α ] (x)
= F χ[−α ,0] (x) + F χ[0, α ] (x) = (ex. 3.2 e 4.2)
1 e iαω − 1 1 1 − e −iαω
=√ · +√ ·
2π iω 2π iω
iαω
1 e − e −iαω
=√
2π iω
iαω
1 2 e − e −iαω
=√ ·
2π ω 2i
2 sen (αω )
=√ · ·
2π ω
Agora calcula-se a transformada para ω = 0. Tem-se:
F χ[−α , α ] (x) = F χ[−α ,0] (x) + χ[0, α ] (x)
= F χ[−α ,0] (x) + F χ[0, α ] (x) = (ex. 3.2 e 4.2)
α α 2α
= √ +√ =√ ·
2π 2π 2π
Portanto, a transformada de Fourier para a função dada no enunciado do exemplo é dada por
3.4 Propriedades mais gerais 351
2 sen (αω ) ,
√ · se ω 6= 0,
2π ω
F χ[−α , α ] (x) =
√2α ,
se ω = 0.
2π
Observe que este exemplo está em concordância com a resposta do exemplo 3.1.
Exemplo 4.4: Considere a função f : R → R definida por f (x) = e −α |x | , com α > 0. Mostre
que
2 α
F(ω ) = F e −α |x | = √ · 2
2π ω + α 2
e √
α 2π −α |x |
f (x) = F −1 2 2
= ·e .
ω +α 2
F(ω ) = F f (x) = F e α x · u0(−x) + e −α x · u0 (x)
= F [ e α xu0(−x)] + F e −α x · u0 (x)
1 1 1 1
= √ · + √ ·
2π α − i ω 2π α + i ω
1 1 1
=√ +
2π α − i ω α + i ω
1 (α + iω ) + (α − iω )
=√
2π (α − iω )(α + iω
2 α ,
=√ · 2
2π ω + α 2
(a) F [ f (x − x0 )] = e −i ω x0 F(ω );
(b) F e iω0 x f (x) = F(ω − ω0).
D EMONSTRAÇÃO : Demonstrar-se-á o item (a). Fazendo a mudança de variáveis t = x − x0
em uma das integrais a seguir, obtém-se
Z ∞
1
F [ f (x − x0 ) ] = √ e −i ω x f (x − x0 ) dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ e −i ω (t+x0) f (t) dt
2π −∞
Z ∞
1
=√ e −i ω t e −i ω x0 f (t) dt
2π −∞
3.4 Propriedades mais gerais 353
Z ∞
−i ω x0 1 −i ω t
=e √ e f (t) dt
2π −∞
= e −i ω x0 F(ω ).
Item (b): Tem-se que:
Z ∞
i ω0 x
1
F e f (x) = √ e −iω x e iω0 x f (x) dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ e −i(ω −ω0)x f (x) dx
2π −∞
= F (ω − ω0 ) .
Com isto, completa-se a demonstração da proposição.
Mostre que
1 sen [b(ω − a)] sen [b(ω + a)] ,
√ + se ω 6= ± a,
2π ω −a ω +a
F(ω ) = F f (x) =
1
sen (2ab) ,
√ b+ se ω = ± a.
2π 2a
e iax + e −iax
(4.4) f (x) = [cos(ax)] · χ[−b,b] (x) = · χ[−b,b] (x).
2
Além disso, pelo exemplo 4.4, tem-se que
2 sen (bω ) ,
√ · se ω 6= 0,
2π ω
(4.5) F χ[−b,b] (x) =
2b
√ , se ω = 0.
2π
Faça
χ[−b,b] (x)
g(x) =
2
Então, por (4.5), para ω 6= 0, tem-se que
1 sen (bω )
(4.6) G(ω ) = F [g(x)] = √ · ·
2π ω
Pela propriedade de translação (item (b) da proposição 4.3), tem-se que
(4.7) F e iω0x g(x) = G(ω − ω0 ).
1 sen [b(ω − a)] sen [b(ω + a)] ,
√ + se ω 6= ± a,
2π ω −a ω +a
F(ω ) = F f (x) =
1 sen (2ab) ,
√ b+ se ω = ± a.
2π 2a
F [F(x)] = f (−ω ).
ou ainda, Z ∞
1
√ e −iω x F(x) dx = f (−ω ),
2π −∞
isto é,
F [F(x)] = f (−ω ).
F [F(x)] = f (−ω ).
Assim,
2 sen (α x)
F √ · = f (−ω ).
2π x
Mas f (x) é uma função par, pois é quociente entre duas funções ímpares, de modo que
f (−ω ) = f (ω ). Assim,
2 sen (α x)
F √ · = f (ω ),
2π x
2 sen (α x)
√ ·F = f (ω ),
2π x
√
sen (α x) 2π
F = · f (ω ).
x 2
Portanto, √
sen (α x) 2π
F = · f (ω )
x 2
√ (
2π 1, se |ω | < α ,
= ·
2 0, se |ω | > α ,
√
2π
, se |ω | < α ,
= 2
0, se |ω | > α .
= F [G(x)] = g(−ω )
√
2π −α |ω |
= ·e ,
2α
ou, equivalentemente,
2 α
f (x) = F −1 e −α |ω | = √ · 2 ·
2π x + α 2
(
3A + 2B = 1,
A + B = 0.
(
cos(a + b) = (cos a)(cos b) − ( sen a)( sen b),
cos(a − b) = (cos a)(cos b) + ( sen a)( sen b),
F (ω − ω0 ) + F (ω + ω0 ) ,
=
2
que é o resultado desejado.
F (ω − ω0 ) − F (ω + ω0 )
(4.15) F [ f (x) · sen (ω0 x)] = ·
2i
D EMONSTRAÇÃO : Por definição de transformada de Fourier, tem-se
Z ∞
1
F [ f (x) · sen (ω0 x) = √ e −iω x · f (x) · sen (ω0 x) dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ [cos(ω x) − i sen (ω x)] · f (x) · sen (ω0 x) dx
2π −∞
Z ∞n
1
=√ [cos(ω x) · sen (ω0 x)] · f (x) −
2π −∞
o
(4.16) − i[ sen (ω x) · sen (ω0 x)] · f (x) dx
Z ∞
1 sen [(ω + ω0)x] − sen [(ω − ω0 )x]
F [ f (x) sen (ω0 x)] = √ · f (x) −
2π −∞ 2
cos[(ω − ω0 )x] − cos[(ω + ω0 )x]
− i· · f (x) dx
2
Z ∞
1 − sen [(ω − ω0)x] − i cos[(ω − ω0 )x]
=√ · f (x) +
2π −∞ 2
sen [(ω + ω0)x] + i cos[(ω + ω0 )x]
+ · f (x) dx
2
Z ∞
1 1 −i · sen [(ω − ω0)x − i2 cos[(ω − ω0 )x]
=√ · · f (x) +
2π −∞ i 2
362 3 Transformada de Fourier
1 −i · sen [(ω + ω0 )x] − i2 cos[(ω + ω0 )x]
+ · · f (x) dx
−i 2
Z ∞n h i
1 1
=√ cos[ω − ω0 )x] − i · sen (ω − ω0 )x] · f (x) −
2π −∞ 2i
1h i
− cos[(ω + ω0 )x] − i · sen [(ω + ω0 )x] · f (x) dx
2i
Z ∞ nh i
1
= √ cos[ω − ω0 )x] − i · sen (ω − ω0 )x] · f (x) −
2i 2π −∞
h i
− cos[(ω + ω0)x] − i · sen [(ω + ω0 )x] · f (x) dx
Z ∞h i
1
= √ e −i(ω −ω0)x · f (x) − e −i(ω +ω0)x · f (x) dx
2i 2π −∞
Z ∞ Z ∞
1 1 −i(ω −ω0 )x 1 −i(ω −ω0 )x
= · √ e f (x) dx − · e f (x) dx
2i 2π −∞ 2i −∞
F (ω − ω0 ) − F (ω + ω0 ) ,
=
2i
que é o resultado desejado.
Observação 4.2: Pelo item (b) da proposição 4.3 (translação), tem-se que
F(ω − ω0) = F e iω0 x · f (x) e F(ω + ω0 ) = F e −iω0x · f (x) ,
= F [ f (x) · cos ω0 ] ,
3.5 Derivadas, integrais e transformada de Fourier 363
= F [ f (x) · sen ω0 ] ,
que está em concordância com a fórmula (4.15) da proposição 4.6.
F [ f 0 (x)] = iω · F(ω ).
F [ f 00 (x)] = −ω 2 · F(ω ).
D EMONSTRAÇÃO : Parte (a): como, por hipótese, f 0 (x) é seccionalmente contínua, então para
cada intervalo fechado [a, b] existem n pontos, x1 , x2 , . . ., xn , onde f 0 (x) é descontínua (com
todas as descontinuidade de primeira espécie). Assim, para a, b > 0, tem-se
Z ∞
1
0
F [ f (x)] = √ e −iω x f 0 (x) dx
2π −∞
Z b
1
= √ · lim e −iω x f 0 (x) dx+
2π a,b→∞ −a
364 3 Transformada de Fourier
"Z Z x2
1 x1
−iω x 0
= √ · lim e f (x) dx + e −iω x f 0 (x) dx
2π a,b→∞ −a x1
Z x3 Z b
#
+ e −iω x f 0 (x) dx + · · · + e −iω x f 0 (x) dx
x2 xn
" x1 Z x1
1 −iω x
= √ · lim e · f (x) + iω e −iω x f (x) dx +
2π a,b→∞ −a −a
x2 Z x2
−iω x
+e
· f (x) + iω e −iω x f (x) dx +
x1 x1
x3 Z x3
−iω x
+e
· f (x) + iω e −iω x f (x) dx + · · ·
x2 x2
b Z b
#
· · · + e −iω x · f (x) + iω e −iω x f (x) dx
xn xn
" x1 x2
1 −iω x
−iω x
= √ · lim e · f (x) + e · f (x) +
2π a,b→∞ −a x1
x3 b #
+ e −iω x · f (x) + · · · + e −iω x · f (x) +
x2 xn
"Z Z x2
iω x1
+ √ · lim e −iω x f (x) dx + e −iω x f (x) dx+
2π a,b→∞ −a x1
Z x3 Z b
#
−iω x −iω x
+ e f (x) dx + · · · + e f (x) dx
x2 xn
"
1
= √ · lim e −iω x1 · f (x1 ) − e iaω · f (−a) + e −iω x2 · f (x2 ) − e −iω x1 · f (x1 )+
2π a,b→∞
#
+ e −iω x3 · f (x3 ) − e −iω x2 · f (x2 ) + · · · + e −iω b · f (b) − e −iω xn · f (xn ) +
b Z
iω
+ √ · lim e −iω x f (x) dx
2π a,b→∞ −a
h i Z b
1 −iω b iω a iω
= √ · lim e · f (b) − e · f (−a) + √ · lim e −iω x f (x) dx
2π a,b→∞ 2π a,b→∞ −a
Z ∞
1
= iω · √ e −iω x f (x) dx
2π −∞
= iω · F [ f (x)],
3.5 Derivadas, integrais e transformada de Fourier 365
O leitor deve notar que vários termos do tipo e −iω x · f (x) foram cancelados, pois aparecem
duas vezes com sinais opostos. Observe-se que usou-se estes fatos:
h i
lim e −iω b · f (b) = 0 e lim e iω a · f (a) = 0.
b→∞ a→∞
= 0 + 0 = 0,
pois as funções cos(ω b) e sen (ω b) são limitadas e f (b) → 0 quando b → ∞.
Analogamente,
lim e iω a · f (a) = lim {[ cos(ω b) + i sen (ω b)] · f (b)}
a→∞ b→∞
= 0 + 0 = 0,
pois as funções cos(ω b) e sen (ω b) são limitadas e f (b) → 0 quando b → ∞.
Além disso, deve ser observado que
Z b Z x1 Z x2 Z b
−iω x −iω x −iω x
e f (x) dx = e f (x) dx + e f (x) dx + · · · + e −iω x f (x) dx.
−a −a x1 xn
O procedimento para demonstrar a parte (b) é análogo. Assim, para simplificar as contas,
opta-se pelo caso em que f 00 (x) é contínua. Se assim, não for, isto é, se for seccionalmente
contínua, então adota-se o procedimento de dividir em vários subintervalos, como na parte (a).
Assim, integrando por partes duas vezes, do modo indicado anteriormente, obtém-se
Z ∞
1
F [ f 00 (x)] = √ e −iω x f 00 (x) dx
2π −∞
Z b
1
= √ · lim e −iω x f 00 (x) dx
2π a,b→∞ −a
" b Z b #
1
= √ · lim e −iω x · f 0 (x) + iω e −iω x f 0 (x) dx
2π a,b→∞ −a −a
366 3 Transformada de Fourier
( b " b Z b
#)
1
= √ · lim e −iω x · f 0 (x) + iω e −iω x · f (x) + iω e −iω x f (x) dx
2π a,b→∞ −a −a −a
"
1
= √ · lim e −iω b · f 0 (b) − e iω a · f (−a) + iω · e −iω b · f (b) − iω · e iω a · f (−a) −
2π a,b→∞
Z
#
b
− ω2 e −iω x f (x) dx
−a
Z b
2 1 −iω x
= − ω · lim √ e f (x) dx
a,b→∞ 2π −a
= − ω 2 · F [ f (x)] = −ω 2 · F(ω ).
Justificam-se certos procedimento adotados acima como aqueles que foram feitos na parte
(a).
Observa-se que a proposição 5.1 mostra que a diferenciação no domínio do tempo corres-
ponde à multiplicação da transformada de Fourier por iω . A parte (b) mostra que derivar duas
vezes implica em multiplicar a transformada de Fourier por −ω 2. Em geral, derivar n vezes
significa multiplicar a transformadas por (iω )n .
então
1
· F(ω ),
F [g(x)] = para ω 6= 0.
iω
D EMONSTRAÇÃO : Pelo teorema fundamental do Cálculo, g0 (x) = f (x), donde resulta que
F [ f (x)] = F [g0(x)]. Além disso, com a hipótese adicional de lim |g(x)| = 0, pode-se aplicar
x→± ∞
o proposição 5.1 em g0 (x) para concluir que
então
dF
(ω ) = −i · F x · f (x) .
dω
2
(b) Se a função x · f (x) for absolutamente integrável em R, isto é,
Z ∞
x2 · f (x) dx < ∞,
−∞
então
d 2F 2
(ω ) = − F x · f (x) .
dω2
D EMONSTRAÇÃO : Com as hipóteses de integrabilidade absolutamente para as funções f (x),
x f (x) e x2 f (x), pode-se demonstrar que a derivada pode ser calculada sob o sinal de integração.
Assim, para o item (a), tem-se
Z ∞
dF 1 d
(ω ) = √ e −iω x f (x) dx
dω 2π d ω −∞
Z ∞
1 d −iω x
=√ e f (x) dx
2π −∞ dω
Z ∞
1
=√ −ix · e −iω x f (x) dx
2π −∞
Z ∞
1
= −i · √ e −iω x x · f (x) dx
2π −∞
= −i · F x · f (x) ,
que demonstra (a).
Para a parte (b) usa-se o item (a), já demonstrado, para obter
d2 d dF d
2
(ω ) = (ω ) = −i F x · f (x)
dω dω dω dω
Z ∞
d 1 −iω x
= −i √ e x · f (x) dx
dω 2π −∞
Z ∞
1 d −iω x
= −i √ e · x · f (x) dx
2π −∞ dω
Z ∞
1
= −i √ −i · x · e −iω x · x · f (x) dx
2π −∞
368 3 Transformada de Fourier
Z ∞
1
= (−i)2 √ e −iω x x2 · f (x) dx
2π −∞
Z ∞
1
= −√ e −iω x x2 · f (x) dx
2π −∞
2
= −F x · f (x) ,
que demonstra (b).
onde α > 0.
Como já visto, tem-se que χ[−α ,0] (x) = χ[0, α ] (−x), de modo que
Faça g(x) = x · χ[0,α ] (x). Agora é possível usar o resultado obtido no exemplo 3.3, que diz
1 1 − e iαω ,
F χ[0, α ] (x) = √ · ω 6= 0.
2π iω
e aplicar o teorema para derivada da transformada (proposição 5.2) para obter
F [ g(x)] = F x · χ[0, α ] (x) = (prop. 5.2)
d
=i F χ[0, α ] (x) = (ex. 3.3 para ω 6= 0)
dω
d 1 1 − e −iαω 1 d 1 − e −iαω
=i √ · =√
dω 2π iω 2π d ω ω
0
1 ω 1 − e −iαω − (1 − e −iαω )ω 0
=√
2π ω2
1 ω iα · e −iαω − 1 − e −iαω
=√
2π ω2
3.5 Derivadas, integrais e transformada de Fourier 369
Assim,
F [g(−x)] = F −x · χ[0,α ] (−x) = G(−ω )
= F [g(−x)] + F [g(x)]
= G(−ω ) + G(ω )
= [(5.2) + (5.3)]
Z Z α Z ∞
1 −α
=√ f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx
2π −∞ −α α
Z α
1
=√ | x | dx
2π −α
Z 0 Z α
1
=√ (−x) dx + x dx
2π −α 0
Z0 Z α
1
=√ − x dx + x dx
2π −α 0
2
0 2
α !
1 x x
=√ − +
2π 2 −α 2 0
1 α2 α2
=√ +
2π 2 2
α2
=√ ·
2π
Mostrou-se, portanto, que
2 αω · sen (αω ) + cos(αω ) − 1 ,
√2π ·
se ω 6= 0,
ω2
F [ f (x)] =
α2
√ ,
se ω = 0.
2π
2
Exemplo 5.2: Seja f : R → R uma função definida por f (x) = e −α x , onde α > 0. Mostre
que 2
−ω 2
F e /2 = e /2.
−x
S OLUÇÃO : Graficamente, o exemplo 5.2 pede para mostrar a transformação dada pela figura
5.3 dada abaixo.
Serão usados cinco passos para resolver o problema.
ω
F 0 (ω ) + · F(ω ) = 0.
2α
3.5 Derivadas, integrais e transformada de Fourier 371
Em seguida, aplica-se parte (a) da proposição 5.1 (transformada das derivadas) no primeiro
membro acima e a parte (a) da proposição 5.2 (derivadas da transformada) no segundo termo
do primeiro membro para obter
ω
iω · F(ω ) + 2α i · F 0 (ω ) = 0 ⇒ F 0 (ω ) + · F(ω ) = 0,
2α
como desejado.
PASSO 3: Agora deve-se resolver a EDO de primeira ordem obtida no passo 2 e mostrar que
sua solução é dada por
−ω 2
F(ω ) = F(0) · e /4α .
Para isso, multiplica-se ambos os membros da equação pelo seguinte fator de integração:
R
(ω/2α )d ω ω 2/4α
µ (ω ) = e =e .
Assim,
ω
µ (ω ) · F 0 (ω ) + µ (ω ) · · F(ω ) = 0,
2α
de modo que
ω 2/4α ω 2/4α ω d h ω 2/4α i
e · F 0 (ω ) + e · · F(ω ) = 0 ⇒ e · F(ω ) = 0.
2α dω
Agora basta integrar a última equação em relação a ω para obter
ω 2/4α −ω 2/4α
e · F(ω ) = k ⇒ F(ω ) = k e .
ω 2/4α
(5.4) F(ω ) = F(0) · e ,
como esperado.
PASSO 4: Agora deve-se determinar o valor de F(0). Para isso, será necessário o valor da
seguinte integral: Z ∞
2 √
e −x dx = π ,
−∞
que foi obtido explicitamente no apêndice 1 ao capítulo 1.
Um cálculo similar mostra que
Z ∞ √
−α x2 π
e dx = √ ,
−∞ α
que será o valor necessário para dar continuidade a passo 4.
Agora usa-se a definição de transformada de Fourier e o valor da última integral acima para
obter
Z ∞ Z ∞
1 1 2
F(0) = √ e −i.0.x
f (x) dx = √ e −α x dx
2π −∞ 2π −∞
√ √
1 π 1 π
= √ ·√ = √ √ ·√
2π α 2· π α
1
(5.5) =√ ·
2α
PASSO 5: Nessa última etapa usa-se os passos 3 e 4 para finalizar a resolução. Assim, substi-
tuindo (5.5) em (5.4), obtém-se
1
2 −ω 2
F e −α x = √ · e /4α .
2α
Em particular, fazendo α = /2, obtém-se
1
2
−ω 2
F e /2 = e /2.
−x
Observação 5.1: O exemplo 5.2 mostrou que a transformada de Fourier para a função f (x) =
−x2/2
e é igual a ela mesma (a menos da variável). Essa função é chamada de gaussiana e é muito
importante nos estudos sobre transformadas de Fourier.
Z ∞
sen ω
dω = π.
−∞ ω
√
1
Z ∞
sen (αω ) · cos(ω x) 2π
, se |x| ≤ α ,
√ dω = 2
2π −∞ ω
0, se |x| > α ,
A última proposição desta seção é sobre a transformada de Fourier das derivadas parciais de
uma função de duas variáveis. Esta proposição será muito usada no capítulo 4.
Z b
1 ∂u
−iω x
= √ · lim e · (x, t) dx
2π a,b→∞ −a ∂x
b Z b
1 −iω x −iω x
= √ · lim e · u(x, t) + iω e · u(x, t) dx
2π a,b→∞ −a −a
1 h i
−iω b iaω
= √ · lim e · u(b, t) − e · u(−a, t) +
2π a,b→∞
b Z
1
+ iω · √ · lim e −iω x · u(x, t) dx
2π a,b→∞ −a
Z ∞
1 −iω x
= iω √ e · u(x, t) dx
2π −∞
= iω · F [u(x, t)].
onde se fez integração por partes como
(
v = e −iω x, dv = −iω · e −iω x dx,
⇒
dw = ∂ u (x, t) dx, w = u(x, t)
∂x
No capítulo 2 apresentou-se a justificativa para que
h i
−iω b iaω
lim e · u(b, t) − e · u(−a, t) = 0,
a,b→∞
onde observa-se que as funções exponenciais são limitadas, bem como o uso da hipótese de que
lim u(x, t) = 0.
x→± ∞
∂ u , , ∂ n−1
u, ··· → 0 quando x → ± ∞.
∂x ∂ xn−1
O produto de convolução foi estudado na seção 1.10 do capítulo 1. Aqui será recordada a
definição do produto de convolução entre duas funções. As propriedades comutativa, associativa
e distributiva foram apresentadas e demonstradas através da proposição 10.1 daquele capítulo
e não serão aqui repetidas. Esta seção será dedicada ao estudo do produto de transformadas de
Fourier.
D EFINIÇÃO : Sejam f , g : R → R funções integráveis, sendo pelo menos uma delas limitada.
A convolução entre as funções f e g é definida por
Z ∞
( f ∗ g)(x) = f (x − y) g(y) dy, para x ∈ R.
−∞
= (prop. comutativa)
Z ∞
=F f (y) g(x − y) dy
−∞
Z ∞ Z
1 −iω x
∞
=√ e f (y) g(x − y) dy dx
2π −∞ −∞
= (teor. Fubini)
Z ∞ Z
1 ∞
−iω x
=√ f (y) e g(x − y) dx dy
2π −∞ −∞
Z ∞ Z
1 ∞
−iω (y+z)
=√ f (y) e g(z) dz dy
2π −∞ −∞
Z ∞ Z
1 ∞
−iω y −iω z
=√ f (y) e e g(z) dz dy
2π −∞ −∞
Z ∞ Z
1 −iω y
∞
−iω z
=√ e f (y) e g(z) dz dy
2π −∞ −∞
378 3 Transformada de Fourier
Z ∞ Z ∞
1 −iω y −iω z
=√ e f (y) dy e g(z) dz
2π −∞ −∞
Z ∞ "√ Z ∞ #
1 2 π
= √ e −iω y f (y) dy √ e −iω z g(z) dz
2π −∞ 2π −∞
Z ∞ Z ∞
√ 1 −iω y 1 −iω z
= 2π √ e f (y) dy √ e g(z) dz
2π −∞ 2π −∞
√
= 2π · F(ω ) · G(ω ).
= (prop. comutativa)
Z ∞
−1
=F F(β ) G(ω − β ) d β
−∞
Z ∞ Z
1 iω x
∞
=√ e F(β ) G(ω − β ) d β d ω
2π −∞ −∞
= (teor. Fubini)
Z ∞ Z
1 ∞
iω x
=√ F(β ) e G(ω − β ) d ω d β
2π −∞ −∞
Z ∞ Z
1 ∞
i(α +β )x
=√ F(β ) e G(α ) d α d β
2π −∞ −∞
Z ∞ Z
1 ∞
iα x i β x
=√ F(β ) e e G(α ) d α d β
2π −∞ −∞
3.6 Produto de transformadas e convolução 379
Z ∞ Z
1 iβ x
∞
iα x
=√ e F(β ) e G(α ) d α d β
2π −∞ −∞
Z ∞ Z ∞
1 iβ x iα x
=√ e F(β ) d β e G(α ) d α
2π −∞ −∞
Z ∞ "√ Z ∞ #
1 iβ x 2π iα x
= √ e F(β ) d β √ e G(α ) d α
2π −∞ 2π −∞
Z ∞ Z ∞
√ 1 iβ x 1 iα x
= 2π √ e F(β ) d β √ e G(α ) d α
2π −∞ 2π −∞
√
= 2π · F −1 [F(β )] · F −1 [G(α )]
√
= 2π · f (x) · g(x).
onde se aplicou Fubini e se fez a mudança de variáveis α = ω − β (e d α = d ω ).
√ n√ −x −x o
= 2π · 2π · F e · u0(x) · F e · u0 (x)
√
= 2π · F e −x · u0 (x) ∗ e −x · u0(x) .
Aplicando a transformada inversa em ambos os membros, conclui-se que
√
f (x) 2π e −x · u0(x) ∗ e −x · u0 (x)
Exemplo 6.2: Determine o produto de convolução entre as duas funções dadas abaixo:
(
e −x , para x > 0,
f (x) = e −x · u0(x) =
0, caso contrário.
e (
e −2x, para x > 0,
g(x) = e −2x · u0(x) =
0, caso contrário.
Na última integral acima, se fez a mudança de variáveis z = x − y (de modo que −dz = dy),
sendo a nova integral calculada de x até −∞. Assim,
Z ∞
( f ∗ g)(x) = e −2x e y · u0 (x − y) dy
0
Z −∞
−2x x−z
=e − e · u0(z) dz
x
3.6 Produto de transformadas e convolução 381
Z x
=e −2x
e x−z · u0 (z) dz
−∞
Z 0 Z x
= e −2x e x · e −z · u0(z) dz + e −2x e x · e −z · u0 (z) dz
−∞ 0
x
= e −2x · 0 + e −2x · −e x · e −z
0
−2x −2x x
0
−z
=e ·0+e · e ·e
x
= e −2x · 0 + e −2x · e x · 1 − e x · e −x
= e −2x · 0 + e −2x · (e x − 1)
(
0, se x < 0,
=
e −2x · (e x − 1) se x ≥ 0,
= e −2x · (e x − 1) · u0(x).
Exemplo 6.3: Use o método da convolução para encontrar a função f : R → C cuja transfor-
mada de Fourier é dada por
1
F(ω ) = ·
(2 + iω )(3 + iω )
S OLUÇÃO : Faça
1 1
G(ω ) = e H(ω ) = ·
2 + iω 3 + iω
Logo, F(ω ) = G(ω ) · H(ω ). O teorema da convolução (teorema 6.1) afirma que
√
F [(g ∗ h)(x)] = 2π · G(ω ) · H(ω ).
Z
1 1 ∞
f (x) = √ (g ∗ h)(x) = √ g(y) h(x − y) dy
2π 2π −∞
Z ∞ h√ i h√ i
1 −2y −3(x−y)
= √ 2π · e · u0(y) 2π · e · u0(x − y) dy
2π −∞
Z 0 h√ i h√ i
1
=√ 2π · e −2y · u0(y) 2π · e −3(x−y) · u0(x − y) dy +
2π −∞
Z ∞ h√ i h√ i
1
+ √ 2π · e −2y · u0 (y) 2π · e −3(x−y) · u0(x − y) dy
2π 0
Z 0 h√ ih√ i
1
=√ 2π · e −2y · 0 2π · e −3(x−y) · u0(x − y) dy +
2π −∞
Z ∞ h√ i h√ i
1
+ √ 2π · e −2y · 1(y) 2π · e −3(x−y) · u0 (x − y) dy
2π 0
√ −3x
√ Z ∞ −2y −3x 3y
= 2π · e · 0 + 2π e ·e · e · u0(x − y) dy
0
√ √ Z ∞
= 2π · e −3x
· 0 + 2π · e −3x
e y · u0 (x − y) dy
0
Na última integral acima, se faz a mudança de variáveis z = x − y (de modo que −dz = dy),
sendo a nova integral calculada de x até −∞. Assim,
Z
√ −3x
√ −3x
−∞
x−z
f (x) = 2π · e · 0 + 2π · e − e · u0(z) dz
x
Z
√ −3x
√ −3x
x
x −z
= 2π · e · 0 + 2π · e e ·e · u0(z) dz
−∞
Z
√ √ x
= 2π · e −3x
· 0 + 2π · e −3x
ex e −z
· u0(z) dz
−∞
Z Z x
√ √ 0
= 2π · e −3x
· 0 + 2π · e −3x
ex e −z
· u0(z) dz + e x
e −z
· u0(z) dz
−∞ 0
Z Z x
√ √ 0
= 2π · e −3x
· 0 + 2π · e −3x
ex e −z
· 0 dz + e x
e −z
· 1 dz
−∞ 0
Z x
√ −3x
√ −3x x −z
= 2π · e · 0 + 2π · e e e dz
0
x !
√ √
−3x −3x x −z
= 2π · e · 0 + 2π · e −e · e
0
√ √
= 2π · e −3x · 0 + 2π · e −3x −e x e −x − 1
√ √
= 2π · e −3x · 0 + 2π · e −3x (e x − 1)
3.6 Produto de transformadas e convolução 383
(
√ e x − 1, se x ≥ 0
= 2π · e −3x
0, se x < 0
√
= 2π · e −3x · (e x − 1) · u0(x)
√
= 2π · e −2x − e −3x · u0 (x).
O leitor poderá conferir que a resposta obtida acima está em conformidade com a resposta do
exemplo 4.8 e que foi obtida por outro método.
S OLUÇÃO : Observe que o primeiro membro é o produto de convolução da função f com ela
mesma. Agora aplica-se a transformada de Fourier em ambos os membros da equação:
Z ∞ 2
F f (y) · f (x − y) dy = F e −x .
−∞
4π
1/4
1 −1 −ω 2/(4·2)
= ·F e
4π
ou ainda, Z Z ∞
1 ∞ 1
√ e −iα x [ f (x) g(x)] dx = √ F(ω ) G(α − ω ) d ω .
2π −∞ 2π −∞
Simplificando e tomando α = 1, resulta
Z ∞ Z ∞
f (x) g(x) dx = F(ω ) G(−ω ) d ω .
−∞ −∞
(a) z + w = z + w.
(b) z · w = z · w;
Z b Z b
(c) f (x) dx = f (x) dx;
a a
Z b Z b
(d) [e iω x f (x)] dx = e iω x f (x) dx
a a
D EMONSTRAÇÃO : Para a parte (a), tem-se
= (a + c) − i(b + d) = (a + c) + i(b + d)
386 3 Transformada de Fourier
= (a + ib) + (c + id) = z + w.
Parte (b): observe primeiro que
Z b Z b
= e iω x u(x) dx + i e iω x v(x) dx
a a
Z b
= e iω x [u(x) + iv(x)] dx
a
Z b
= e iω x f (x) dx.
a
Teorema 7.1 (Plancherel): Seja f : R → C uma função pertencente a L1(R, C). Se F(ω ) =
F [ f (x)], então
Z ∞ Z ∞
2
(7.3) | f (x)| dx = |F(ω )|2 d ω .
−∞ −∞
= F(−ω ).
Agora aplica-se o lema 7.1 fazendo f (x) = f (x) e g(x) = f (x), onde f é dada por f (x) =
u(x) + iv(x). Assim,
Z ∞
1
G(−ω ) = √ e −i(−ω )x g(x) dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ e iω x f (x) dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ e iω x [u(x) − iv(x)] dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ e −iω x [u(x) + iv(x)] dx
2π −∞
Z ∞
1
=√ e −iω x f (x) dx
2π −∞
388 3 Transformada de Fourier
Z ∞
1
= √ e −iω x f (x) dx = F(ω ).
2π −∞
Portanto,
Z ∞ Z ∞ Z ∞
(7.4) f (x) · f (x) dx = F(ω ) G(−ω ) d ω = F(ω )F (ω ) d ω .
−∞ −∞ −∞
Mas f (x) · f (x) = | f (x)|2 e F(ω ) · F(ω ) = |F(ω )|2 . Substituindo em (7.4), obtém-se
Z ∞ Z ∞
| f (x)|2 dx = |F(ω )|2 d ω ,
−∞ −∞
Exemplo 7.1: A fórmula de Plancherel permite o cálculo de certas integrais. Por exemplo, se
(
1, se | x | ≤ 1
f (x) =
0, se | x | > 1,
Observe agora que a integral no primeiro membro acima, em virtude da função f , ficará
restrita ao intervalo [−1, 1], pois f é igual a zero fora deste intervalo. Assim, substituindo as
expressões para f e F na fórmula de Plancherel, obtém-se
Z 1 Z ∞
2 sen ω 2
1 dx = √ · dω.
−1 −∞ 2π ω
Assim, 1
Z ∞
4 sen ω 2
d ω = x = 1 − (−1) = 2,
2π −∞ ω −1
ou ainda, Z ∞
2 sen ω 2
d ω = 2,
π −∞ ω
ou seja,
3.7 Teorema de Plancherel 389
Z ∞
sen ω 2
dω = π.
−∞ ω
390 3 Transformada de Fourier
2
Exercício 3.2: Seja f (x) = e ix = cos x2 + i sen x2 .
1
(b) F(ω ) = ;
(1 + i ω )2
iω
(c) F(ω ) = ;
1 + ω2
1
(d) F(ω ) = 2 ;
ω +ω +1
1 , onde a > 0 e b ∈ R;
(e) F(ω ) =
a + ib − iω
1
(f) F(ω ) = ·
4 + 2iω − ω 2
2 a
Exercício 3.1: (a) F(ω ) = √ · 2 ·
2π ω + a2
1 a a
(b) F(ω ) = √ + ·
2π a2 + (α + ω )2 a2 + (α − ω )2
i h −(ω −α )2/4a −(ω +α )2/4a
i
(c) F(ω ) = − √ e −e ·
2 2a
2 e −2iω (1 − cos ω )
(d) F(ω ) = √ · ·
2π ω2
2 2
2
1 ω π 2
1 ω π
(f) F cos ax = √ · cos − e F sen ax = √ · cos + ·
2a 4a 4 2a 4a 4
√
Exercício 3.3: (a) f (x) = 2π e −2x − e −3x u0 (x).
√
(b) f (x) = 2π · x · e−x · u0(x).
√
2π x · e −|x| , d|x| |x|
(c) f (x) = − · pois = para x 6= 0.
2 |x| dx x
√
2π − √3|x|+ix)/2
(d) f (x) = √ · e ( .
3
√
(e) f (x) = 2π · e (a+ib)x · u0 (−x).
√
i 6π h −(1+i√3)x √
−(1−i 3)x
i
(f) f (x) = e −e u0(x).
6
√
Exercício 3.4: (a) f (x) = 2π e −2x − e −3x u0 (x).
√
(b) f (x) = 2π · x · e −x u0 (x).
√
i 6π h −(1+i√3)x √
−(1−i 3)x
i
(c) f (x) = e −e u0 (x).
6
2 1
Exercício 3.5: f (x) = · 2 ·
3π x + 1
Z ∞
1 G(ω )
Exercício 3.6: y(x) = √ e iω x · √ dω.
2π −∞ 1 − 2π · R(ω )
(b − a) · a
Exercício 3.7: y(x) = ·
bπ · [ x2 + (b − a)2]
3.8 Exercícios propostos 393
Z ∞
1
Exercício 3.8: y(x) = − f (y) · e −|x−y| dy.
2 −∞
394 3 Transformada de Fourier
9. f (x − x0 ) e − i ω x0 · F(ω )
10. e i ω0 x · f (x) F (ω − ω0 )
14. x · f (x) i · F 0 (ω )
15. x2 · f (x) −F 00 (ω )
Z x
F(ω )
16. f (t) dt
0 iω
Z ∞ √
17. ( f ∗ g)(x) = f (x − y) g(y) dy 2π [F (ω ) · G (ω )]
−∞
Z
1 ∞
18. f (x) · g(x) √ [(F ∗ G) (ω )] = F(ω − β ) G(β ) d β
2π −∞
O BS .: na fórmula (11) acima, deve-se entender: a expressão F(x) é usada para denotar a
transformada de Fourier, F(ω ), onde se permuta a variável ω em sua fórmula pela variável x. Já
na segunda coluna, a expressão f (−ω ) significa que é a função original, f (x), onde é trocado
de papéis x por − ω . Isto segue-se da fórmula de inversão.
396 3 Transformada de Fourier
Convergência da integral
D EFINIÇÃO : Seja f uma função definida em um intervalo [a, b]. Suponha que f é integrável
em [a, b] para todo c ∈ (a, b) e que f não seja limitada em toda vizinhança de b, ou seja, que
existe uma sequência {xn } de pontos que tende para b e para os quais | f (xn )| → +∞. Diz-se que
o ponto b é uma singularidade da função f .
Z ∞ Z a
sen x sen x
dx = lim dx.
0 x a→∞ 0 x
Como a > 0 é qualquer, então existe um n ∈ N tal que a = nπ + rn, onde 0 ≤ rn ≤ π . Assim,
tem-se que n → ∞ quando a → ∞.
Pode-se escrever:
Z a Z nπ Z a
sen x sen x sen x
dx = dx + dx
0 x 0 x nπ x
Z nπ Z nπ +rn
sen x sen x
= dx + dx
0 x nπ x
= I1 + I2,
onde Z nπ Z nπ +rn
sen x sen x
I1 = dx e I2 = dx.
x 0 nπ x
A NÁLISE DE I 2 : inicialmente, observe que, para a integral I 2, se tem nπ ≤ x ≤ nπ + rn .
Assim, de nπ ≤ x, segue-se que
1 1 ,
≤
x nπ
donde Z nπ +r Z nπ +r Z nπ +rn
n sen x n sen x 1
dx ≤ dx ≤ dx
nπ x nπ x nπ |x|
Z nπ +rn Z nπ +rn
1 1
= dx ≤ dx
nπ x nπ nπ
1 nπ +rn
= x
nπ n π
1
= [(nπ + rn) − nπ ]
nπ
rn π 1
= ≤ = ,
nπ nπ n
pois rn ≤ π .
Segue-se daí que I2 → 0 quando a → ∞. Portanto, é suficiente mostrar que I1 tem um limite
quando a → ∞.
onde Z kπ
sen x
ak = dx.
(k−1)π x
Note que as integrais
Z π Z 3π Z 5π
sen x sen x sen x
dx, dx, dx, . . .
0 x 2π x 4π x
estão definidas para valores de x nos primeiro e segundo quadrantes, de modo que seus valores
são positivos (pois o seno é não negativo nestes quadrantes). Além disso, as integrais
Z 2π Z 4π Z 6π
sen x sen x sen x
dx, dx, dx, . . .
π x 3π x 5π x
estão definidas para valores de x nos terceiro e quarto quadrantes, assim seus valores são nega-
tivos (pois o seno é não positivo nestes quadrantes). Segue-se desta observação que os sinais
dos coeficientes ak se alternam.
As figuras 8.1 e 8.2 exibem o gráfico da função ( senx)/x para 0 < x < ∞.
Faça
3.8 Exercícios propostos 399
Z kπ sen x
bk = dx.
(k−1)π x
Ou seja, ak = (−1)k−1 bk para todo k ∈ N. Assim, fazendo u = x − (k − 1)π , obtém-se
sen x = sen [u + (k − 1)π ]
= (−1)k−1 sen u,
para todo k ∈ N.
Como 0 ≤ u ≤ π , então, para todo k ∈ N, tem-se
1 1
u + (k − 1)π ≤ u + kπ ⇒ ≤ ·
u + kπ u + (k − 1)π
Portanto,
| sen u| | sen u| ,
≤
u + kπ u + (k − 1)π
de modo que Z π Z π
| sen u| | sen u|
bk = du ≥ du = bk+1.
0 u + (k − 1)π 0 u + kπ
Isso mostra que bk ≥ bk+1 para todo k ∈ N, ou seja, tem-se uma sequência decrescente for-
mada por termos positivos. Logo, a sequência dos ak satisfaz
Z kπ
sen x
ak = dx
(k−1)π x
Z kπ sen x
= (−1)k−1 dx
(k−1)π x
Z π
k−1 | sen u|
= (−1) du
0 u + (k − 1)π
= (−1)k−1bk ,
de modo que também tem seus termos decrescendo em valores absolutos, mas alternada em
seus sinais (em relação aos bk ).
Assim,
Z nπ n
sen x
I1 =
0 x
dx = ∑ ak
k=1
400 3 Transformada de Fourier
n Z π
k−1 | sen u|
= ∑ (−1) 0 u + (k − 1)π
du
k=1
Z π Z π Z π Z π
| sen u| | sen u| | sen u| | sen u|
= du − du + du − du + · · ·
0 u 0 u+π 0 u + 2π 0 u + 3π
Z π Z π Z π Z π
sen u sen u sen u sen u
(8.1) = du − du + du − du + · · ·
0 u 0 u+π 0 u + 2π 0 u + 3π
pois sen u é não negativo para 0 < u ≤ π .
Antes de concluir, é interessante analisar a primeira integral em (8.1) acima:
Z π
sen u
du.
0 u
Seu integrando é análogo aquele que aparece na integral I1, mas isto não é um problema, pois
a função ( senu)/u é contínua para 0 < u ≤ π e, além disso,
sen u
lim = 1,
u→0 u
como já foi comentado. Logo esta integral converge.
O importante era compreender o que estava se passando com as demais integrais que for-
maram a série acima. Viu-se que I1 pode ser escrita como uma série alternada de termos decres-
centes e que ak → 0 (pela mesma razão que I2 → 0). Logo tal série é convergente.
Portanto I1 é a soma da integral Z π
sen u
du
0 u
com uma série alternada convergente; portanto I1 converge. Ou seja, demonstrou-se, assim, que
Z ∞ Z a
sen x sen x
dx = lim dx
0 x a→∞ 0 x
converge.
Z a Z a
sen x 1
dx = · d(− cosx)
1 x 1 x
a
Z a
cos x 1
=− + cos x · d
x 1 x
1
Z a
cos a cos x
=− + cos1 − dx.
a 1 x2
Assim,
Z ∞ Z a
sen x sen x
dx = lim dx
1 x a→∞ 1 x
Z a
cos a cos x
= lim − + cos 1 − dx
a→∞ a 1 x2
Z a
cos a cos x
= − lim + lim cos 1 − lim dx
a→∞ a a→∞ a→∞ 1 x2
Z ∞
cos x
(8.2) = cos 1 − dx,
1 x2
pois
cos a
lim
= 0.
a→∞ a
Observa-se que a integração por partes substituiu a integral imprópria original,
Z ∞
sen x
dx,
1 x
por outra integral imprópria: Z ∞
cos x
dx,
x2 1
que aparece em (8.2). Entretanto, esta última integral é absolutamente integrável.
Para ver isto, usa-se o teste da comparação para integrais impróprias. De fato, basta notar que
cos x 1
2 ≤ 2, para x ≥ 1.
x x
Assim,
Z ∞ Z a
dx dx
= lim
1 x2 a→∞ 1 x2
Z a
= lim x−2 dx
a→∞ 1
a
1
= lim −
a→∞ x
1
1
1
= lim
a→∞ x
a
402 3 Transformada de Fourier
1
= 1 − lim
a→∞ a
= 1.
Assim, pelo teste da comparação, tem-se que
Z ∞ Z ∞
cos x dx ,
dx ≤
1 x2 1 x2
mostrando que a integral do primeiro acima convergente, pois a integral do segundo membro é
convergente.
Portanto, o método de integração por partes, usado aqui, mostrou que a integral de senx/x,
com x variando de 1 a ∞, é convergente.
1 kπ +5π/6
= x
2(k + 1)π kπ +π/6
1 5π π
= kπ + − kπ +
2(k + 1)π 6 6
1 2π 1
(8.7) = · = ·
2π (k + 1) 3 3(k + 1)
Observe agora que
Z nπ Z π Z 2π Z nπ sen x
sen x sen x sen x
dx = dx + dx + · · · + dx
0 x 0 x π x (n−1)π x
n−1 Z (k+1)π
sen x
(8.8) = ∑ dx.
k=0 kπ x
1 n−1 1
≥ ∑ k+1
3 k=0
1 n 1
(8.9) = ∑ ·
3 k=1 k
Agora basta observar que, quando n → ∞, a soma no último membro de (8.9) transforma-se
na série
∞
1
∑ k,
k=1
(a menos da constante multiplicativa 1/3) que é a série harmônica e, portanto, divergente.
Além disso, quando se toma n → ∞, a integral no primeiro membro de (8.9) se transforma
em Z ∞
sen x
dx,
0 x
que é divergente, pois é maior ou igual a série harmônica que é divergente.
Z ∞
sen x
dx
0 x
é convergente, mas o seu valor não foi explicitado. Porém isto pode ser feito e será objeto do
exemplo 8.1 que se encontra mais adiante.
A fim de determinar o valor da integral de Dirichlet, serão necessários usar dois outros resul-
tados, que é objeto dos dois primeiros exemplos.
r h i α h i α
−α k −α k
= 2 2
lim e sen (rk) − 2 2
lim e cos(rk) + 2
α + r k→∞ α + r k→∞ α + r2
α ,
= 2
α + r2
pois h i h i
−α k −α k
lim e · sen (rk) = 0 e lim e · cos(rk) = 0,
k→∞ k→∞
por serem produtos de funções, sendo uma limitada e outra tendendo para zero no infinito.
Portanto,
Z ∞
α
(8.10) e −α x cos(rx) dx = ·
0 α 2 + r2
Além disso, pelo teorema de Fubini, tem-se que
406 3 Transformada de Fourier
Z r Z ∞ Z
∞ Z r
−α x −α x
e · cos(tx) dx dt = e · cos(tx) dt dx
0 0 0 0
Z ∞ Z r
−α x
= e cos(rx) dt dx
0 0
Z ∞
−α x sen (tx) r
= e · dx
0 x 0
Z ∞
−α x sen (rx) −α x sen (t.0)
= e · −e · dx
0 x x
Z ∞
sen (rx)
= e −α x · dx.
0 x
Logo,
Z ∞ Z r Z ∞
−α x sen (rx) −α x
(8.11) e · dx = e · cos(tx) dx dt.
0 x 0 0
Mas a integral entre parênteses no segundo membro de (8.11) foi encontrada e seu valor está
na igualdade (8.10). Assim, substituindo-se (8.10) em (8.11) e usando a fórmula
Z u
du 1
= arc tg +c
a2 + u2 a a
obtém-se Z ∞ Z r
−α x sen (rx) α
e · dx = dt
0 x 0 α2 + t2
Z r
1
=α dt
0 α2 + t2
t r
= arc tg
α 0
r
0
= arc tg − arc tg
α α
r
= arc tg ·
α
Assim, Z ∞
sen (rx) r
e −α x ·
dx = arc tg ·
0 x α
Agora integra-se novamente de 0 a r ambos os membros acima.
Z r Z ∞ Z r t
−α x sen (tx)
(8.12) e · dx dt = arc tg dt.
0 0 x 0 α
No primeiro membro usar-se-á novamente o teorema de Fubini para inverter a ordem dos
limites de integração e, em seguida, uma integração por partes. Já a integral no segundo membro
será calculada diretamente, a partir da seguinte fórmula:
3.8 Exercícios propostos 407
Z
1
arc tg u du = u arc tgu − ln 1 + u2 + c.
2
Assim, fazendo u = t/α , encontra-se α du = dt, de modo que
Z r Z ∞ Z r t Z r/α
−α x sen (tx)
e · dx dt = arc tg dt = α arc tg u du
0 0 x 0 α 0
1 2
r/α
= α u arc tgu − ln 1 + u
2
0
r 1
r r2
=α arc tg − ln 1 + 2 −
α α 2 α
1 2
− α 0 · arc tg 0 − ln 1 + 0
2
r 1 α 2 + r2
r
=α arc tg − ln
α α 2 α2
r α α 2 + r2
= r arc tg − ln
α 2 α2
r α α
= r arc tg − ln α 2 + r2 + ln α 2
α 2 2
r α
= r arc tg − ln α 2 + r2 + α ln α
α 2
r α
(8.13) = r arc tg − ln α 2 + r2 .
α 2
Para a integral no primeiro membro de (8.12), segue-se do teorema de Fubini, seguido de
uma integração por partes, que
Z r Z ∞ Z ∞ Z r
−α x sen (tx) −α x sen (tx)
e · dx dt = e · dt dx
0 0 x 0 0 x
Z ∞ −α x Z r
e
= sen (tx) dt dx
0 x 0
Z ∞ −α x
e cos(tx) r
= − dx
0 x x 0
Z ∞ −α x
e 1 cos(rx)
= − dx
0 x x x
Z ∞
−α x 1 − cos(rx)
= e dx,
0 x2
ou seja, mostrou-se que
408 3 Transformada de Fourier
Z ∞ Z r Z ∞
−α x 1 − cos(rx) −α x sen (tx)
(8.14) e · dx = e · dx dt.
0 x2 0 0 x
Comparando (8.13) com (8.14), segue-se que
Z ∞ r α
1 − cos(rx)
e −α x · 2
dx = r arc tg − ln α 2 + r2 .
0 x α 2
Por fim, basta tomar r = 1 na fórmula acima para obter-se o resultado desejado, isto é,
Z ∞
−α x 1 − cosx 1 α
e · 2
dx = arc tg − · ln α 2 + 1 , α > 0.
0 x α 2
S OLUÇÃO : Antes de determinar o valor da integral dada é preciso assegurar que tal integral
é convergente, visto que a mesma é imprópria. Tem-se:
Z ∞ Z π Z ∞
1 − cosx 1 − cosx 1 − cosx
(8.15) dx = dx + dx.
0 x2 0 x2 π x2
Observa-se que a primeira integral no segundo membro acima é convergente. Na verdade
trata-se de um integral própria, pois o seu domínio de integral é limitado e o integrando é
contínuo, como pode ser observado a seguir:
1 − cos x sen x 1 sen x 1
lim 2
= lim = lim = ,
x→0 + x x→0 + 2x 2 x→0 x
+ 2
onde usou-se a regra de l’Hospital no segundo passo acima, bem como o valor 1 para o limite
trigonométrico fundamental.
Agora analisa-se a convergência da segunda integral em (8.15). Para isso, usar-se-á o seguinte
teorema (não demonstrado aqui):
T ESTE M DE W EIERSTRASS : Se for possível encontrar uma função M(x) ≥ 0 tal que
(a) | f (x, α )| ≤ M(x) para α1 ≤ α ≤ α2 e a < x < ∞,
Z ∞
(b) M(x) dx converge, então a integral
a
Z ∞
f (x, α ) dx
a
Z b
1 − cosx a sen x
= + dx
x b a x
Z b
1 − cos a 1 − cos b sen x
= − + dx,
a b a x
isto é, Z b Z b
sen x
1 − cos b 1 − cos a 1 − cosx
dx = − + dx.
a x b a a x2
Tomando limites para a → 0 e para b → ∞, obtém-se
Z ∞ Z ∞
sen x 1 − cos b 1 − cos a 1 − cosx
dx = lim − lim + dx
0 x b→∞ b a→0 a 0 x2
Z ∞
1 − cosx π,
= dx =
0 x2 2
pois os dois limites acima existem e valem zero, além do fato que o valor da última integral é
π/2, como foi demonstrado no exemplo 8.2.
Usando a última fórmula acima com a forma trigonométrica fundamental, cos2 θ + sen 2θ =
1, obtém-se (
cos2 θ + sen 2 θ = 1,
cos2 θ − sen 2 = cos(2θ ),
que conduz, ao ser resolvido, a outras duas fórmulas:
1 + cos(2θ ) 1 − cos(2θ )
cos2 θ = e sen 2 θ = ·
2 2
Fazendo θ = x/2 na última fórmula acima, obtém-se
1 − cos x
= sen 2 (x/2) ⇒ 1 − cos x = 2 sen 2 (x/2) ,
2
de modo que se tem
Z ∞ Z ∞
1 − cosx sen 2 (x/2)
dx = 2 dx.
x20 0 x2
Agora é feita a seguinte mudança de variáveis: u = x/2, que implica em 2du = dx. Logo,
412 3 Transformada de Fourier
Z ∞ Z ∞
1 − cosx sen 2 (x/2)
dx = 2 dx
0 x2 0 x2
Z ∞
sen 2u
=4 du
0 4u2
Z ∞
sen 2 u
= du.
0 u2
Em suma, mostrou-se que
Z ∞ Z ∞
sen 2u 1 − cosx π,
du = dx =
0 u2 0 x2 2
pois este valor π/2 foi encontrado no exemplo 8.2.
Z b Z b
d ∂f
f (x, y) dy = (x, y) dy.
dx a a ∂x
Assim, usando a regra de Leibniz para derivar dentro do sinal de integração, obtém-se
Z ∞ −xy
d e
ϕ 0 (x) = · sen y dy
dx 0 y
Z ∞
∂ e −xy
= · sen y dy
0 ∂x y
Z ∞
=− e −xy · sen y dy
0
Z ∞
(8.18) = e −xy · (− sen y) dy,
0
que é válida para todo x > 0. A integral acima converge uniformemente em cada intervalo da
forma [α , ∞), onde α > 0.
Note que a convergência não é uniforme em [0, ∞), pois, para x = 0, a integral em (8.18)
diverge. Basta observar que
Z ∞ Z ∞
0 0
ϕ (0) = − e · sen y dy = − sen y dy,
0 0
que é divergente.
A integral em (8.18) é a transformada de Laplace da função − sen y. Além disso, usando a
definição de transformada de Laplace é fácil ver que
1 1
L[− seny] = − ⇒ ϕ 0 (x) = − ·
1 + x2 1 + x2
Assim, com uma simples integração conclui-se que
Z ∞
−xy sen y
= e y dy
0
Z ∞
≤ e −xy dy
0
Z b −xy b
e
−xy
= lim e dy = lim −
b→∞ 0 b→∞ x
0
1 e −bx 1
= lim − = , x > 0.
b→∞ x x x
De |ϕ (x)| ≤ 1/x, segue-se que lim ϕ (x) = 0. Substituindo isto em (8.19), obtém-se
x→∞
π π π
lim ϕ (x) = c − ⇒ 0 = c− ⇒ c= ·
x→∞ 2 2 2
Fazendo x = 0 na integral original, isto é, em ϕ (x). Tem-se que
Z ∞ Z ∞
−0.y sen y sen y
ϕ (0) = e · dy = dy,
0 y 0 y
ou seja, Z ∞
sen y
dy = ϕ (0)
0 y
π
= − arc tg 0
2
π
= ,
2
que é o resultado desejado.
Capítulo 4
Aplicações às EDP
α2 · e αx + 2 · e αx = 0
α2 + 2 · e αx = 0
α2 + 2 = 0 ⇒ α 2 = −2.
√ √ √
Segue-se daí que α = ± 2 i, onde i satisfaz i 2 = −1. Logo, e −i 2 x e e i 2 x são soluções
para a equação dada, de modo que a solução geral é dada por
417
418 4 Aplicações às EDP
√ √
2x 2x
(1.1) y(x) = a1 · e i + a2 · e −i .
Substituindo na última expressão para y(x), conclui-se que a solução para o problema de
valores iniciais dado é
√ √ √
y(x) = cos 2 x − cotg 2 π · sen 2x .
Este exemplo mostra um problema com condições de contorno não homogêneas e que tem
uma única solução.
00
y + y = 0,
y(0) = 1,
y(π ) = k.
α2 · e αx + e αx = 0
α2 + 1 · e αx = 0
α2 + 1 = 0 ⇒ α 2 = −1.
Segue-se daí que α = ± i. Assim, tem-se que e −ix e e ix são soluções para a equação dada, de
modo que a solução geral é dada por
y(x) = a1 · e ix + a2 · e −ix .
= c1 · cos x + c2 · sen x,
que é uma solução geral para a equação diferencial dada.
Usando a primeira condição de contorno, y(0) = 1, segue-se que
Agora usa-se a segunda a segunda condição de contorno, y(π ) = 0 para concluir que
y(π ) = c1 cos π + c2 · sen π = k
− c1 + c2 · 0 = k ⇒ k = −c1 .
Assim, fica-se com duas condições sobre c1 : c1 = 1 e c1 = −k. Só que elas são incom-
patíveis se k 6= −1 e, neste caso, o problema não tem solução. Porém, se k = −1, então ambas
as condições são satisfeitas, desde que c1 = 1, independente do valor de c2 . Mas nesta situação
existe uma infinidade de soluções, todas na forma
S OLUÇÃO : Como foi visto no exemplo 1.1, a solução geral deste problema é
√ √
y(x) = c1 · cos 2 x + c2 · sen 2x .
y(π ) = c2 · sen π = 0 ⇒ c2 · 0 = 0,
portanto c2 pode ser qualquer, de modo que a solução do problema dado é y(x) = c2 · sen x.
Em virtude da arbitraridade de c2 , o problema dado tem uma infinidade de soluções. Assim,
este exemplo mostra que problemas com equação homogênea e condições de contorno também
homogêneas pode ter infinitas soluções.
onde L > 0.
S OLUÇÃO : Observe que da forma em que o problema foi dado, é preciso analisar três casos:
λ = 0, λ < 0 e λ > 0.
C ASO 1: λ = 0. Neste caso, a equação fica reescrita como y00 = 0. Integrando uma vez em
relação a x, obtém-se y0 (x) = a; integrando mais uma vez, encontra-se y(x) = ax + b , que é a
solução geral. Agora usa-se as duas condições de contorno para determinar a e b. Tem-se:
y(0) = a · 0 + b = 0 ⇒ b = 0.
y(L) = a · L = 0 ⇒ a = 0.
De a = b = 0, segue-se que y(x) = 0 para todo x, ou seja, tem-se a solução trivial y ≡ 0.
α2 · e αx − µ2 e αx = 0
α2 − µ2 · e αx = 0
α2 − µ2 = 0 ⇒ α 2 = µ 2.
Segue-se daí que α = ± µ , de modo que e −µ x e e µ x são soluções da equação, que tem como
solução geral
y(x) = a1 · e µ x + a2 · e −µ x.
Agora, observe que
y(x) = a1 · e µ x + a2 · e −µ x
422 4 Aplicações às EDP
a a1 − µ x a2 µ x a2 µ x
µx −µ x 1 −µ x
= a1 · e + a2 · e + ·e − ·e + ·e − ·e
2 2 2 2
a a1 a2 − µ x a2 − µ x
1
= · e µx + · e µx + ·e + ·e +
2 2 2 2
a a1 − µ x a2 µ x a2 µ x
1 −µ x
+ ·e − ·e + ·e − ·e
2 2 2 2
µx x
µx x
µx
e +e − µ e −e − µ e + e −µ x
= a1 · + a1 · + a2 · −
2 2 2
µx
e − e −µ x
− a2
2
µx µx
e + e −µ x e − e −µ x
= (a1 + a2) · + (a1 − a2) ·
2 2
µx
e + e −µ x e µ x − e −µ x
= c1 · + c2 ·
2 2
pois pela definição de cosseno e seno hiperbólicos se vê facilmente que cosh 0 = 1 e senh 0 = 0.
Logo, y(x) = c2 · senh (µ x). Usando a segunda condição de contorno, y(L) = 0, resulta
α2 · e αx + µ2 · e αx = 0
α2 + µ2 · e αx = 0
α2 + µ2 = 0 ⇒ α 2 = −µ 2 .
Segue-se daí que α = ± iµ . Logo, a equação geral é
y(x) = a1 · e µ x + a2 · e µ x.
4.1 Problemas de valores de contorno 423
onde L > 0.
S OLUÇÃO : Como no exemplo 1.5, deve-se analisar os casos em que λ = 0, λ < 0 e λ > 0.
C ASO 1: λ = 0. Como a equação fica na forma y00 = 0, basta integrar duas vezes para concluir
que y(x) = ax + b . Observe que para usar as condições de contorno é preciso derivar a solução
geral, ou seja, y0 (x) = a. E neste caso, y0 (0) = y0 (L) = a = 0, de modo que y(x) = b.
C ASO 2: λ < 0. Novamente se faz λ = −µ 2 , de modo que a equação assume a forma y00 −
µ 2 y = 0. Foi mostrado no exemplo 1.5 que esta equação tem solução geral dada por
Lembrando que
d d
[cosh(µ x)] = µ · senh (µ x) e [ senh (µ x)] = µ · cosh(µ x),
dx dx
segue-se que a derivada da solução geral é dada por
pois senh 0 = 0, cosh 0 = 1, µ , L 6= 0, de modo que senh (µ L) 6= 0. Portanto, para λ < 0 tem-se
que y ≡ 0.
C ASO 3: λ > 0. Faça λ = µ 2 . Pelo exemplo 1.5, tem-se que a solução geral para este caso é
dada por
y(x) = c1 · cos(µ x) + c2 · sen (µ x).
Agora deriva-se a solução acima para que seja possível usar as condições de contorno. Tem-
se:
y0 (x) = −(c1 · µ ) · sen (µ x) + (c2 · µ ) · cos(µ x).
Usando a primeira condição de contorno, y0 (0) = 0, encontra-se
Logo, y0 (x) = −(c1 · µ ) sen (µ x). Agora aplica-se a segunda condição de contorno, y0 (L) = 0,
para obter
Como µ > 0, ou seja, diferente de zero, então caso c1 = 0, então y ≡ 0. Mas, se sen (µ L) = 0,
então
nπ n2 π 2
µ L = nπ ⇒ µ= e λ= 2 ·
L L
Observe que, com c2 = 0 e c1 6= 0, além dos valores acima, a solução geral para λ > 0 é
nπ x
yn (x) = c1 · cos .
L
Mas a solução acima não é a solução geral para o problema de valores de contornos que foi
dado. Não se pode esquecer que no caso 1 a solução foi y(x) = b. Assim, a solução geral para o
P.V.C. é a superposição (a soma) das soluções encontradas nos três casos, isto é,
nπ x
yn (x) = b + c1 · cos ·
L
4.2 Conceitos básicos para EDP 425
Observe-se que a constante b acima é arbitrária. Logo, a expressão acima é satisfeita pelo
P.V.C. para qualquer constante real b, de modo que se tem uma infinidade de soluções em
virtude do grau de liberdade da constante b. Isto é uma características de problemas de valores
de contorno do tipo Neumann.
Uma equação diferencial é uma equação envolvendo uma ou mais variáveis independentes,
uma função desconhecida e suas derivadas com respeito a estas variáveis. Se existe apenas uma
variável independente x, diz-se que a equação é uma equação diferencial ordinária (EDO). Se
existe duas ou mais variáveis independentes x1 , x2, . . ., xn , diz-se que a equação é uma equação
diferencial parcial (EDP).
Assim, uma EDO é uma expressão da forma
(2.1) F x, u, u0, . . ., u(k) = 0,
onde u0 , . . ., u(k) denotam as derivadas de u(x) com respeito a x até a ordem k em algum sub-
conjunto aberto de R.
Já uma EDP tem a forma
∂ u , , ∂ u , ∂ 2u , ∂ 2u , , ∂ k u
(2.2) G t, x1 , . . ., xn , u, ··· ··· = 0,
∂ x1 ∂ xn ∂ x21 ∂ x1 ∂ x2 ∂ xkn
onde x = (x1 , . . ., xn ) pertence a algum conjunto aberto Ω ⊂ Rn, F e G são funções dadas, u é a
função a ser determinada e
∂ ju
, j = j1 + j2 + · · · + jn ,
∂ x1j1 ∂ x2j2 · · · ∂ xnjn
denota a j-ésima ordem da derivada parcial de u.
Os conceitos acima são muito gerais, não representam uma definição propriamente dita. Estes
conceitos permitem expressões sem sentido algum. Por exemplo,
0
e u (x) = 0 e e ux+uy = 0,
Se F e G não são constantes, quando consideradas como funções das derivadas de ordem k,
então ambas as equações (2.1) e (2.2) têm ordem k.
Se d = 0, diz-se que a EDP (2.3) é homogênea; caso contrário, é dita não homogênea. A
parte principal de uma EDP é parte da equação que contém as derivadas de maior ordem. No
caso da equação (2.3), a parte principal é a soma dupla no lado esquerdo.
Equações não lineares com parte principal linear são chamadas de semilineares. A EDP semi-
linear de segunda ordem na forma geral é dada por
n
∂ 2u ∂u , , ∂u
∑ a jk (x) ∂ x j ∂ xk = f x, u, . . ., ∂ x1 · · · ∂ xn ·
j,k=1
Uma EDP, quando modela algum sistema físico, usualmente tem infinitas soluções. Para
selecionar uma única função que representa a solução para o problema físico, deve-se impôr
certas condições auxiliares que mais caracterizam o sistema que está sendo modelado. Estas
recaem em duas categorias:
1) C ONDIÇÕES DE CONTORNO : estas são condições que devem ser satisfeitas nos pontos
sobre a fronteira ∂ Ω de uma região Ω na qual a EDP se verifica. Nomes especiais são dados às
três formas de condições de contorno:
(a) Condição de Dirichlet: u = g;
∂u
(b) Condição de Neumann: = g;
∂νν
∂u
(c) Condições de Robin: α u + β = g,
∂νν
∂u
nas quais g, α e β são funções prescritas sobre ∂ Ω. A notação denota a derivada normal,
∂νν
isto é, a derivada direcional na direção do vetor normal ν a ∂ Ω e que aponta para fora de Ω.
Caso a região possa ser escrita na forma Ω = Ω1 ∪ Ω2 , de modo que ∂ Ω = ∂ Ω1 ∪ ∂ Ω2 em ∂ Ω2,
∂u
então as duas condições de fronteira u = g em ∂ Ω1 e = h são conhecidas como condições
∂νν
mistas.
4.2 Conceitos básicos para EDP 427
2) C ONDIÇÕES INICIAIS : estas são condições que devem ser satisfeitas em todo Ω no ins-
tante quando as considerações do sistema físico se inicia. Uma típica condição inicial prescreve
alguma combinação de u e suas derivadas no tempo.
As funções prescritas nas condições inicial e de contorno, juntamente com as funções coefi-
cientes e qualquer termo não homogêneo na EDP, compõem os dados no problema modelado
pela EDP.
D EFINIÇÃO : Diz-se que a solução depende continuamente dos dados se uma pequena mu-
dança nos dados produz uma correspondente mudança pequena na solução.
As condições auxiliares que, junto com uma EDP, formam um problema bem posto, não
devem ser muitas, ou o problema não terá solução. Elas não devem ser poucas também, ou a
solução não será única. Finalmente, as condições auxiliares devem ser do tipo correto, ou a
solução não dependerá continuamente dos dados.
Problema bem posto é importante em Física, Engenharia e outras áreas. Por exemplo, imagine
um experimento realizado em laboratório cujo modelo matemático é uma EDP. Se o problema
não tiver solução, então o experimento não terá uma explicação teórica. Se a EDP tiver mais
de uma solução, então haverá uma ambiguidade ao tentar-se explicar o experimento. E se não
tiver solução que depende continuamente dos dados, então qualquer imprecisão mínima dos
instrumentos poderá acarretar grandes distorções nos resultados.
O conceito de solução de uma EDP é muito vago, basicamente ele diz que é uma função
que satisfaz a equação e suas condições iniciais e/ou de contorno. O caso é análogo a ideia de
definir o que é uma EDP. Primeiro é preciso saber se uma dada equação realmente faz sentido
para que possa ser denominada EDP. Assim, o conceito de solução de uma EDP vai depender
fortemente da natureza da equação e de seus dados. Deste modo, neste texto o conceito de
solução aparecerá para cada tipo de problema a ser estudado, não como um conceito geral.
Um fato importante e que está fortemente relacionado aos estudos sobre EDP é que existem
espaços vetoriais de dimensão infinita. A demonstração geral é delicada, pois usa o conceito de
cardinalidade e não será feita aqui. Um exemplo será apresentado ao leitor.
Exemplo 2.1: Considere o espaço vetorial de todas as funções contínuas definidas no inter-
valo [0, 1], ou seja,
C([0, 1]) = { f : [0, 1] → R | f é contínua}.
Mostre que C ([0, 1]) tem dimensão infinita.
428 4 Aplicações às EDP
S OLUÇÃO : Suponha que o espaço C ([0, 1]) tenha dimensão finita e igual a n, ou seja, que
dim [C ([0, 1])] = n, onde n ∈ N. Agora considere o seguinte conjunto contendo as seguintes
n + 1 funções:
β = 1, x, x2 , . . ., xn .
Cada uma das funções do conjunto β é polinomial, logo cada uma delas é contínua no in-
tervalo [0, 1], portanto pertencem ao espaço C ([0, 1]). Isto mostra que β é um subconjunto de
C ([0, 1]).
O próximo passo consiste em fazer a combinação linear nula destas funções, isto é, escrever
a0 + a1 · x + a2 · x2 + · · · + an · xn = 0,
a0 + a1 · x + a2 · x2 + · · · + an · xn = 0 + 0 · x + 0 · x2 + · · · + 0 · xn.
A identidade acima fica reduzida, deste modo, a uma igualdade entre polinômios. Isso implica
dizer que os coeficientes dos monômios de mesmo grau são iguais, ou seja,
a0 = 0, a1 = 0, a2 = 0, . . ., an = 0.
Isso mostra que o conjunto β é L.I. (Linearmente Independente). Mas sabe-se da Álgebra
Linear que, em um espaço de dimensão finita e igual a n, qualquer conjunto com mais de
n vetores é necessariamente L.D. (Linearmente Dependente). Como o conjunto β tem n + 1
vetores e é L.I., então isto contradiz a hipótese de que o espaço C ([0, 1]) tem dimensão finita
n (se fosse o caso, β teria que L.D.). Logo, C ([0, 1]) não tem dimensão finita. Diz-se que um
espaço tem dimensão infinita quando ele não tem dimensão finita. Portanto o espaço C([0, 1])
tem dimensão infinita.
Uma situação importante sobre as EDP é saber que os espaços onde “moram” as soluções
têm dimensão infinita, diferentemente das EDO cujo espaço solução é de dimensão finita. Isto
será feito apenas na forma de um exemplo. E neste mesmo exemplo será possível constatar que
uma mesma EDP tem solução em vários espaços (logo, vários tipos de solução).
Exemplo 2.2: Considere a seguinte EDO: y00 (x) = 0. Como esta equação de segunda ordem
é muito simples, ela pode ser integrada duas vezes em relação a x para determinar a sua solução
geral. De fato, y(x) = ax + b, onde a e b são constantes. Observe que existem duas soluções
fundamentais, u(x) = x e v(x) = 1, de modo que a solução pode ser reescrita na forma y(x) =
a · u(x) + b · v(x). Então o espaço das soluções da EDO dado é aquele formados pelos pares
ordenados (a, b) (por exemplo, R2 e C2 ). Portanto, um espaço vetorial de dimensão finita.
4.2 Conceitos básicos para EDP 429
Agora considere uma função de duas variáveis u = u(x, y) e a EDP uxx = 0. Esta EDP pode
ser integrada em relação a x e que implica em ux(x, y) = f (y) e que novamente integrada em
relação a x resulta em u(x, y) = f (y) · x + g(y), que é a solução geral da EDP dada. Note que,
por dependerem apenas da variável independente y, as funções f (y) e g(y) se comportam como
“constantes” sob derivação em x. Observe também que a dimensão de um espaço está rela-
cionado com o espaço onde “moram” os coeficientes da solução geral da equação.
Agora considere como soluções fundamentais as funções v(x, y) = x e w(x, y) = 1, de modo
que a solução geral pode ser reescrita na seguinte forma:
Na solução geral acima para a EDP dada, as soluções fundamentais sempre são as mesma,
o que muda são as funções coeficientes na solução geral. Portanto, deve-se olhar para o espaço
onde “residem” estas funções coeficientes para saber a sua dimensão.
O espaço das soluções será aquele formados pelos pares ( f (y), g(y)), mas que são pares de
funções e não de escalares. E o exemplo 2.1 mostrou que espaços de funções tem dimensões
infinitas. Logo, o espaço das soluções de EDP sempre tem dimensão infinita.
Agora será considerado o tipo de solução para a EDP uxx = 0 dada. Como esta equação é
de segunda ordem, seria natural procurar por funções u(x, y) que satisfazem esta equação e que
sejam pertencentes ao espaço C2 . Por outro lado, como a derivação é realizada em x, as funções
f (y) e g(y) não precisam ser de classe C2 , porque elas atuam como “constantes”. Então o espaço
C1 também é um espaço de soluções para uxx.
Além disso, não há problema algum em tomar f , g ∈ C, ou seja, apenas contínuas, pois estas
funções, quando derivadas em relação a x, sempre se anulam e neste espaço a solução geral con-
tinua verdadeira. Na verdade, se as funções f e g tiverem um número finito de descontinuidade,
em nada alterará o fato de u(x, y) dada em (2.4) ser a solução geral de uxx. Pode mais, o espaço
de todas as funções descontínuas em um número infinito de pontos (ou até mesmo descontínua
em todos os pontos) atende as exigências da solução geral. No fundo, basta que f (y) e g(y)
sejam funções para que u(x, y) dada em (2.4) seja solução geral da EDP dada.
O comentário anterior mostra que uma mesma EDP pode ter vários espaços para suas
soluções e, consequentemente, soluções de naturezas diferentes. Mostra também que ao re-
solver uma EDP é necessário informar previamente em qual espaço se busca soluções, bem
como uma justificativa para esta escolha. E, por fim, revela que não existe uma definição de
solução para EDP, uma vez que as várias possibilidades de soluções para uma mesma equação
geram ambiguidades, e uma definição não pode ser ambígua.
430 4 Aplicações às EDP
(3.1) a(x, y) uxx + 2b(x, y) uxy + c(x, y) uyy + d(x, y) ux + e(x, y) uy + f (x, y) u = g(x, y).
As propriedades matemáticas das soluções de (3.1) são em grande parte determinadas pelas
propriedades algébricas do polinômio p(α , β ). O polinômio p(α , β ), e junto com ele, a EDP
(3.1), é classificado de acordo com o sinal de seu discriminante ∆(x, y) = b2 (x, y) − a(x, y) ·
c(x, y):
a) Hiperbólica em (x, y) ∈ Ω : se ∆(x, y) > 0;
b) Parabólica em (x, y) ∈ Ω : se ∆(x, y) = 0;
c) Elítica em (x, y) ∈ Ω : se ∆(x, y) < 0.
Observe que o tipo da equação (3.1) é determinado somente por sua parte principal (veja
a seção 4.2) e que o tipo poderá, em geral, mudar com a posição no plano xy, mesmo que
a(x, y), b(x, y) e c(x, y) sejam constantes.
Exemplo 3.1: (a) A EDP 3uxx + 2uxy + 5uyy + xuy = 0 é elítica. De fato,
∆(x, y) = b2 − ac = 02 − y · 1 = −y.
Assim, a equação de Tricomi é elítica para y > 0, parabólica para y = 0 (ou seja, no eixo x) e
hiperbólica para y < 0. Logo a classificação desta EDP é do tipo misto.
Observa-se que uma propriedade importante sobre o tipo de uma EDP é que ele é invari-
ante sob mudanças de variáveis com certa regularidade, ou seja, o tipo da EDP não muda sob
mudanças de variáveis bem comportadas. A demonstração dessa afirmação não será feita neste
texto, mas o leitor poderá encontrá-la, por exemplo, na referência [62] da bibliografia.
Uma EDP linear de segunda ordem em n variáveis tem a seguinte forma geral
4.3 Tipos de equações de segunda ordem 431
n n
(3.2) ∑ ai j uxi x j + ∑ bi uxi + c u = d.
i, j=1 i=1
Se uxi x j = ux j xi , então a parte principal de (3.2) pode sempre ser rearranjado de modo que
ai j = a ji . Assim, a matriz A = ai j , n × n, pode ser assumida como simétrica.
Em Álgebra Linear mostra-se que cada matriz n × n real e simétrica tem n autovalores reais.
Estes autovalores são (possivelmente repetidos) os zeros de um polinômio de grau n em λ ,
det(A − λ I), onde I é a matriz identidade n × n.
Denote por P o número de autovalores positivos e N o número de autovalores iguais a zero
(isto é, a multiplicidade do autovalor zero) da matriz A. Então a equação (3.2) é:
• Hiperbólica: se N = 0 e P = 1, ou N = 0 e P = n − 1;
• Parabólica: se N > 0 (equivalentemente, se det A = 0);
• Elítica: se N = 0 e P = n, ou N = 0 e P = 0;
• Ultra-hiperbólica: se N = 0 e 1 < P < n − 1.
Se qualquer dos coeficientes ai j não for constante (isto é, se um deles for uma função), então
o tipo da equação (3.2) poderá variar de acordo com a posição.
(3.3) ux 1 x 1 + 3 ux 1 x 2 + 3 ux 2 x 1 + ux 2 x 2 + ux 2 x 3 + ux 3 x 2 + ux 3 x 3 = 0
onde x1 = x, x2 = y e x3 = z.
A matriz correspondendo à parte principal de (3.3) é
1 3 0
A= 3 1 1 .
0 1 1
√
Como det (A − λ I) = (1 − λ )3 − 10(1 − λ ), os autovalores de A são 1 e 1 ± 10. Assim,
N = 0 e P = 3 − 1 = 2, tornando a EDP hiperbólica (em toda parte).
S OLUÇÃO : (a) A equação do calor é de segunda ordem, pois esta é a ordem da derivada
de maior ordem na equação. Para classificar quanto ao tipo é necessário determinar o discrimi-
nante. Como A = 0, B = 0 e C = −a2 , segue-se B2 − AC = 02 − 0 · (−a2) = 0. Portanto a equação
do calor é parabólica.
(b) A equação de ondas é de segunda ordem, pois esta é a ordem da derivada de maior ordem
na equação. Para esta equação, tem-se que A = 1, B = 0 e C = −a2, de modo que B2 − AC =
02 − 1 · (−a2) = a2 > 0. Logo, a equação de ondas é hiperbólica.
(c) A equação de Laplace é de segunda ordem, pois esta é a ordem da derivada de maior ordem
na equação. Para esta equação, tem-se A = 1, B = 0 e C = 1. Logo, B2 −AC = 02 −1·1 = −1 < 0.
Portanto, a equação de Laplace é elítica.
Exemplo 4.1: O problema de condução do calor em uma barra, com extremidades mantidas
a uma temperatura de 0◦ C e com uma distribuição inicial de temperatura dada por uma função
f (x), é modelado da seguinte maneira:
ut − α 2 uxx = 0, 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = 0, t > 0,
(4.1)
u(L, t) = 0, t > 0,
u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.
1
Derivada normal é a derivada direcional na direção do vetor normal exterior, ou seja, o vetor normal apontando para
fora da região.
4.4 Equação do calor 435
X 00 (x) 1 T 0 (t)
(4.3) = 2· ·
X(x) α T (t)
A leitura que se deve fazer sobre a equação acima é que as variáveis estão separadas, uma
vez que o primeiro membro só tem funções na variável x e o segundo membro só tem funções
na variável t. Além disso, deve-se responder a seguinte pergunta: Em qual situação uma função
que depende de x é igual a outra função que depende t? A igualdade só pode existir quando a
equação (4.3) for igual a uma mesma constante. Se assim não fosse, ao manter uma variável
fixa (por exemplo, x) e deixar a outra (no caso, t) variando, um lado permaneceria constante e o
outro estaria variando, mas isto viola a igualdade.
Agora denota-se por −λ esta constante de separação. Este sinal de “menos” é para simpli-
ficar os cálculos, além do mais, nada é dito sobre o sinal de λ , de modo que é preciso com-
preender que não é correto dizer que −λ é uma constante negativa. Assim, a equação (4.3) fica
reescrita na forma
X 00 1 T0
(4.4) = 2 · = −λ ,
X α T
onde omitiu-se as variáveis x e t para simplificar as notações.
A expressão em (4.4) implica em duas EDO:
(4.5) X 00 + λ X = 0 e T 0 + α 2 λ T = 0.
A função u(x, t) = X(x) · T (t), para satisfazer a equação do calor, deve satisfazer as duas
EDO acima. Mas, além disso, também deve satisfazer as duas condições de contorno, isto é,
u(0, t) = u(L, t) = 0. Fazendo x = 0 em u(x, t), obtém-se
isto significa que, ou X(0) = 0 ou T (t) = 0 para todo t > 0. Porém, se T (t) = 0 para todo t > 0,
então u(x, t) seria igual a zero para todo (x, t), ou seja, u ≡ 0. Este escolha implica na solução
trivial e que já foi descartada. Assim, assume-se que X(0) = 0, que é conhecida como condição
de compatibilidade, que, grosso modo, significa que esta escolha torna o problema fisicamente
compatível.
Fazendo o mesmo com a segunda condição de contorno, obtém-se
ou seja, X(L) = 0 ou T (t) = 0 para todo t > 0. Como visto, a opção T (t) = 0 para todo t > 0 con-
duz à solução trivial, que está descartada. Então assume-se outra condição de compatibilidade,
que é X(L) = 0. Tem-se, portanto, que
Segue-se da primeira equação em (4.5) e das duas condições em (4.6) que é necessário re-
solver o seguinte problema de valores de contorno:
436 4 Aplicações às EDP
00
X + λ X = 0,
(4.7) X(0) = 0,
X(L) = 0.
O exemplo 1.5 mostrou que o problema (4.7) exige análise sobre três casos: λ = 0, λ < 0 e
λ > 0.
C ASO 1: para λ = 0. A equação fica reduzida a X 00 = 0, que integrada duas vezes seguidas
resulta em X(x) = ax + b. Agora usa-se as duas condições de compatibilidade. Para x = 0,
tem-se que
X(0) = a · 0 + b = 0 ⇒ b = 0.
Assim, resulta X(x) = ax. Agora se faz x = L, de modo que
X(L) = a · L = 0 ⇒ a = 0 ou L = 0.
Como L > 0 (isto é, é diferente de zero), então a = 0. Com isso X(x) = 0 para todo x. Mas se
X(x) = 0 para todo x, segue-se da separação de variáveis, u(x, t) = X(x) T (t) = 0 para todo x,
ou seja, que u ≡ 0.
C ASO 2: para λ < 0. Para evitar o aparecimento de raízes quadradas, faça λ = −µ 2. Assim,
a equação em (4.7) fica na forma X 00 − µ 2 X = 0. Pelo exemplo 1.5, a solução geral desta EDO
é dada por
X(x) = c1 · cosh(µ x) + c2 · senh (µ x).
Usando a primeira condição de contorno, X(0) = 0, obtém-se
Logo a solução geral fica X(x) = c2 · senh (µ x). Usado a segunda condição de contorno,
X(L) = 0, obtém-se
Como L > 0 e µ 6= 0 (pois λ < 0), então µ L 6= 0, de modo que senh (µ L) 6= 0. Isto implica
que c2 = 0. Logo, X(x) = 0 para todo x e, portanto, u ≡ 0.
C ASO 3: para λ > 0. Fazendo λ = µ 2 , tem-se que a equação em (4.7) fica na forma X 00 +
µ 2 X = 0. Pelo exemplo 1.5, esta última equação tem solução geral
Assim a equação fica na forma X(x) = c2 · sen (µ x). Agora aplica-se a segunda condição de
contorno, X(L) = 0, para concluir que
nπ n2 π 2
µ L = nπ ⇒ µ= e λ= ·
L L2
Assim, nπ x
Xn (x) = c2 · sen ·
L
Sem perda de generalidade, pode-se fazer c2 = 1 (isto ficará claro mais adiante), de modo
que
nπ x
(4.8) Xn (x) = sen ·
L
Agora retorna-se a equação (4.5) em T , isto é, T 0 + α 2 λ T = 0. Observe, primeiro, que os
casos λ = 0 e λ < 0 ficam descartados também para esta equação, pois mesmo que tenha
solução, ela não interessará, uma vez que nestes dois casos sempre se tem u ≡ 0 como foi visto.
Então, resta apenas resolver esta equação para λ > 0. Assim, a equação fica
n2 π 2 α 2
T0 + T = 0.
L2
Mas esta EDO é simples de resolver, de modo que T (t) é proporcional exp (−n2 π 2 α 2 t)/L2 , ou
seja, a solução para a equação acima é
−n2 π 2 α 2 t
Tn(t) = k · e ( )/L2 .
−n2 π 2 α 2 t
(4.9) Tn (t) = e ( )/L2 .
De u(x, t) = X(x) · T (t) segue-se que un(x, t) = Xn (x) · Tn (t). Então, basta multiplicar (4.8) e
(4.9) para obter
nπ x
−n2 π 2 α 2 t )/L2
un (x, t) = e ( · sen , n = 1, 2, 3, . . .
L
Estas funções acima, para todo n ∈ N, satisfazem a EDP dada (4.1), bem como as condições
de contornos. Para confirmar, basta fazer as substituições diretamente; fica como exercício.
Resta apenas verificar se elas satisfazem a condição inicial
u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.
438 4 Aplicações às EDP
Quando se trabalha com EDO e P.V.I., é comum formar combinações lineares de soluções
fundamentais e depois escolher os coeficientes desta combinação que satisfazem as condições
iniciais. O passo a ser adotado para a nossa EDP é similar, uma vez que existe uma infinidade
de soluções para o problema. A combinação linear geral é, na verdade, uma série infinita. O
procedimento de formar estas “combinações lineares infinitas” é chamado de superposição.
Assim, supõe-se que seja possível escrever
∞ ∞
−n2 π 2 α 2 t )/L2 · sen nπ x ,
(4.10) u(x, t) = ∑ cn · un (x, t) = ∑ cn · e ( L
n=1 n=1
É a partir da expressão acima que se escolhe os coeficientes cn de modo que a série de senos
acima convirja para a distribuição inicial de temperatura f (x), com 0 ≤ x ≤ L. Mas observe que
a série nπ x
∞
f (x) = ∑ cn · sen
n=1 L
é exatamente a série de Fourier para uma função ímpar no intervalo −L ≤ x ≤ L. Portanto, se
a função f (x) for estendida de modo ímpar no intervalo [−L, L] e depois estendida de forma
periódica de período T = 2L, nomeando tal extensão por f (x), então a série acima é tal que seus
coeficientes são dados por
Z nπ x Z nπ x
1 L 2 L
cn = f (x) · sen dx = f (x) · sen dx,
L −L L L 0 L
pois o integrando é uma função par (pois o integrando é produto de duas funções, f e seno, que
são ímpares). Além disso, f coincide com f no intervalo [0, L].
Portanto, a solução do problema (4.1) é dada por
∞ nπ x
(−n2 π 2 α 2 t )/L2 ,
u(x, t) = ∑ cn · e · sen
n=1 L
seccionalmente diferenciável. Em todo este capítulo será assumido que as funções que aparecem
nos problemas satisfazem as hipóteses para convergências indicadas.
Apesar de a função f poder ser descontínua (afinal, por hipótese, f é seccionalmente diferen-
ciável), a solução u(x, t) é contínua para valores arbitrariamente pequenos de t > 0, na verdade
é possível mostrar que a solução é de classe C∞ . Isto mostra que a condução do calor é um
processo que suaviza, instantaneamente, quaisquer descontinuidades que possam estar presentes
na distribuição inicial de temperatura f (x).
Por fim, o leitor é convidado a observar atentamente a solução obtida e analisar seu compor-
tamento. Note que a exponencial que aparece no somatório tem potência negativa, isto faz com
que a solução tenda para zero quando t tende para infinito. E isto está coerente com o problema
proposto, uma vez que a barra está mantida a 0◦ nas extremidades, ou seja, quando o tempo
aumenta a temperatura da barra se aproxima de 0◦ .
Observação 4.1: Na resolução do problema (4.1), e nos demais que seguirão, foi usado o
seguinte fato: Se f (x) = g(t) para todos x, t ∈ R, então f (x) = g(t) = λ , onde λ é uma constante
real.
Uma maneira de mostrar essa afirmação é supor que ela é falsa e chegar a uma contradição.
Suponha que f (x) = g(t) para todos x, t ∈ R, mas que f (x) = g(t) 6= λ . Sejam x1 6= x2 e t1 6= t2
números reais tais que f (x1 ) = g(t1 ) = y1 e f (x2 ) = g(t2 ) = y2 . Como se supõe que f e g não
são constantes, então deve-se assumir que y1 6= y2 . Mas, por hipótese, deve-se ter f (x2 ) = g(t1 ),
pois f (x) = g(t) para todos x, t ∈ R. Portanto,
Observação 4.2: Para saber se a solução obtida para o problema (4.1) está correta, é preciso
testar e justificar. Deve-se verificar que a solução satisfaz as condições de contono, bem como
a própria equação do calor. A solução obtida no exemplo anterior é
∞ nπ x
(−n2 π 2 α 2 t )/L2
u(x, t) = ∑ cn · e · sen ·
n=1 L
Apenas dessa vez, neste texto, será mostrado que esta solução satisfaz a EDP dada e as
condições de contorno. Nos demais exemplos a verificação de que é solução será deixada para
o leitor. Inicia-se pelas condições de contorno. Tem-se:
∞ ∞
(−n2 π 2 α 2 t )/L2 nπ 0 −n2π 2 α 2 t )/L2
u(0, t) = ∑ cn · e · sen = ∑ cn · e ( · sen 0 = 0
n=1 L n=1
e
440 4 Aplicações às EDP
∞ ∞
−n2 π 2 α 2 t )/L2 nπ L −n2 π 2 α 2 t )/L2 · sen (nπ ) = 0,
u(L, t) = ∑ cn · e ( · sen = ∑ cn · e (
n=1 L n=1
pois sen 0 = 0 e seno de múltiplo inteiro de π também é zero.
Para mostrar que satisfaz a EDP em (4.1), deve-se derivar (4.10), “formalmente”, uma vez
em relação a t, duas vezes em relação a x e substituir na equação. Assim,
∞
n2 π 2 α 2
ut (x, t) = − ∑ · c · e (−n2π 2 α 2 t )/L2 · sen nπ x
n
n=1 L2 L
e
∞
nπ (−n2π 2 α 2 t )/L2 · cos nπ x ,
ux(x, t) = ∑ · cn · e
n=1 L L
de modo que
n2 π 2
∞
uxx(x, t) = − ∑ · c · e (−n2π 2 α 2 t )/L2 · sen nπ x ·
2 n
n=1 L L
Substituindo as expressões para ut (x, t) e uxx(x, t) na EDP dada em (4.1), obtém-se
n2 π 2 α 2
∞ nπ x
2 (−n2 π 2 α 2 t )/L2
ut − α uxx = − ∑ · cn · e · sen −
n=1 L2 L
∞
n2 π 2
− (−α 2 ) (−n2π 2 α 2 t )/L2 · sen nπ x
∑ 2 · cn · e
n=1 L L
∞
n2 π 2 α 2
(−n2π 2 α 2 t )/L2 · sen nπ x +
=− ∑ L2 · cn · e
L
n=1
∞
n2 π 2 α 2
(−n2π 2 α 2 t )/L2 · sen nπ x
+ ∑ L2 · cn · e
L
n=1
= 0,
o que demonstra o que foi afirmado.
Antes de continuar é preciso fazer uma observação: nos passos anteriores, para realizar as
derivações, passou-se a derivada para dentro do símbolo de somatório. Em geral isso não é
possível, somente é possível se a série assim formada converge uniformemente e nada garante
isso até agora. Sugere-se que o leitor retorne à seção 2.7 do capítulo 2 para ver as hipóteses
necessárias para que as operações acima sejam válidas.
ut − α 2 uxx = 0, 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = T , t > 0,
1
(4.11)
u(L, t) = T2 , t > 0,
u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.
No problema acima, as condições de contorno são não homogêneas: uma das extremidades
da barra é mantida a uma temperatura constante T1 e a outra é mantida com outra temperatura
constante T2 . A ideia para resolver este problema consiste em reduzi-lo a um problema com
condições de contorno homogêneas, que pode ser resolvido como no problema (4.1). Quando
uma EDP modela algum problema físico é comum observar o fenômeno envolvido e usar argu-
mentos físicos para resolver o problema.
No caso do problema (4.11) quando t → ∞ a barra alcançará uma temperatura estacionária
v(x), ou seja, independente do tempo t e das condições iniciais. Note que a derivada de v em
relação a t é nula, pois a função v só depende de x. Assim, ao substituir as derivadas de v(x) na
equação do calor, obtém-se vt = 0 e vxx = v00 . Além disso, usa-se as condições de contorno para
x = 0 e x = L. O problema em v fica assim:
00
v (x) = 0, 0 < x < L,
v(0) = T1 ,
v(L) = T .
2
O problema acima é uma EDO com condições de contorno. A solução geral da EDO é obtida
integrando-se duas vezes seguinda e é dada por v(x) = ax + b. Agora usa-se as duas condições
de contorno para encontrar as duas contantes a e b. Tem-se:
442 4 Aplicações às EDP
(
v(0) = a · 0 + b = T1, T2 − T1
⇒ b = T1 e a = ·
v(L) = a · L + b = T2 L
Portanto,
T2 − T1
(4.12) v(x) = x + T1.
L
O próximo passo consiste em escrever o problema (4.11) como soma de temperatura esta-
cionária v(x) com outra transiente w(x, t), ou seja,
ou seja, w(0, t) = 0 e w(L, t) = 0. Para a condição inicial, tem-se que u(x, 0) = v(x) + w(x, 0) =
f (x), isto é,
T2 − T1
w(x, 0) = f (x) − v(x) ⇒ w(x, 0) = f (x) − x − T1 .
L
Portanto, o problema a ser resolvido para w fica assim resumindo:
wt − α 2 wxx = 0, para 0 < x < L, t > 0,
w(0, t) = 0, para t > 0,
(4.13)
w(L, t) = 0, para t > 0,
w(x, 0) = f (x) − T2 − T1
x − T1, para 0 ≤ x ≤ L.
L
Fazendo
T2 − T1
g(x) = f (x) − · x − T1,
L
o leitor notará que o problema (4.13) é idêntico ao problema (4.1), onde se troca f por g dada
acima e u por w. Como visto anteriormente, a solução do problema (4.1) é dada por
4.4 Equação do calor 443
∞ nπ x
(−n2 π 2 α 2 t )/L2 ,
w(x, t) = ∑ cn · e · sen
n=1 L
onde
Z L nπ x Z L nπ x
2 2 T2 − T1
cn = g(x) · sen dx = f (x) − · x − T1 · sen dx.
L 0 L L 0 L L
Para finalizar, basta lembrar que a solução do problema (4.11) é u(x, t) = v(x) + w(x, t). Por-
tanto, tem-se que
T2 − T1 ∞ nπ x
(−n2 π 2 α 2 t )/L2 ,
u(x, t) = x + T1 + ∑ cn · e · sen
L n=1 L
onde
Z L nπ x
2 T2 − T1
cn = f (x) − x − T1 · sen dx.
L 0 L L
O problema acima modela a temperatura u = u(x, t) em uma barra infinita, onde se conhece
apenas a distribuição inicial de temperatura. A condição de u ser uma função limitada é uma
condição de contorno no infinito e que garante a unicidade da solução do problema dado. Esta
condição também impoê a condição de compatibilidade f limitada.
Emprega-se o método de separação de variáveis, procurando soluções da forma
X 00 + λ X = 0 e T 0 + λ α 2 T = 0.
T (t) = k · e −λ t .
O leitor deve observar que a e b acima não são necessariamente constantes. Na verdade a e b
podem depender (ou seja, ser função) de λ , que não muda a solução geral. Para ver isso, escreva
√ √
−λ x −λ x
X(x) = a(λ ) · e + b(λ ) · e − .
Observe que a intenção é derivar duas vezes a expressão acima e verificar se ela satisfaz a
equação X 00 + λ X = 0. Note também que as funções a(λ ) e b(λ ), quando derivadas em relação
a x, atuam como “constantes”. Assim,
p √ p √
X 0 (x) = −λ · a(λ ) · e −λ x − −λ · b(λ ) · e − −λ x ,
p p √ p p √
X 00 (x) = −λ · −λ · a(λ ) · e −λ x − −λ · − −λ · b(λ ) · e − −λ x,
√ √
−λ x −λ x
X 00 (x) = −λ · a(λ ) · e − λ · b(λ ) · e − ,
Agora o resultado obtido será substituído na EDO para verificar se ela é satisfeita. Tem-se:
h √ √ i
X 00 + λ X = −λ · a(λ ) · e −λ x − λ · b(λ ) · e − −λ x +
h √ √ i
+ λ a(λ ) · e −λ x + b(λ ) · e − −λ x
√ √
−λ x −λ x
= − λ · a(λ ) · e − λ · b(λ ) · e − +
√ √
−λ x −λ x
+ λ · a(λ ) · e + λ · b(λ ) · e −
= 0.
Isto mostra que a(λ ) e b(λ ) não precisam ser constantes para que X(x) satisfaça a EDO
X 00 + λ X
= 0. Isto se deve ao fato de não existir qualquer condição adicional, como as condições
de contorno, que possa garantir que a(λ ) e b(λ ) sejam de fato constantes.
4.4 Equação do calor 445
Continuando, tem-se, portanto, que a solução geral para a equação do calor, u(x, t) = X(x) ·
T (t), é dada por h √ √ i
uλ (x, t) = a(λ ) · e −λ x + b(λ ) · e − −λ x · e −λ t .
√
Como se busca soluções limitadas, então −λ tem que ser um imaginário puro,2 de modo
que λ ∈ R e λ ≥ 0. Fazendo λ = ω 2 , obtém-se
h √ √ i 2
−ω 2 x − −ω 2 x
uω (x, t) = a(ω ) · e + b(ω ) · e · e −ω t .
√ √
Observando que −ω 2 = −1 · ω = iω , a solução geral fica na forma
2
(4.15) uω (x, t) = a(ω ) · e iω x + b(ω ) · e −iω x · e −ω t .
A EDO X 00 − ω 2 X = 0 acrescida da condição de a solução ser limitada faz com que o conjunto
de autovalores dessa equação não seja enumerável, pois se tem um conjunto de números reais
ω . E como não se tem uma família enumerável de autovalores, então não é possível formar
uma série somando todas as soluções de (4.15). Se se interpretar uma série como uma “soma
discreta”, então a ideia de “somar continuamente” deve ser interpretada como uma integral.
Logo, é natural procurar soluções do problema (4.14) integrando as soluções em (4.15). Assim,
Z ∞
u(x, t) = uω (x, t) d ω
0
Z ∞ 2
= a(ω ) · e iω x + b(ω ) · e −iω x · e −ω t d ω
0
Z ∞ Z ∞
iω x −ω 2t 2
= a(ω ) · e ·e dω + b(ω ) · e −iω x · e −ω t d ω
0 0
Z ∞ Z −∞
2 2
= a(ω ) · e iω x · e −ω t d ω − b(−α ) · e iα x · e −(−α ) t d α
0 0
Z ∞ Z 0
2 2
= a(ω ) · e iω x · e −ω t d ω + b(−α ) · e iα x · e −α t d α
0 −∞
Z ∞ Z 0
2 2
= a(ω ) · e iω x · e −ω t d ω + b(−ω ) · e iω x · e −ω t d ω ,
0 −∞
2 Em Variáveis Complexa tem um resultado, cujo nome é teorema de Liouville, cujo enunciado é: “Se uma função
f (z) for inteira e limitada no plano complexo, então f (z) é constante em todo o plano”. Uma função complexa é inteira
quando ela é diferenciável em todos os pontos do plano complexo. Esse é o caso da função f (z) = e z . Mas se essa função
fosse limitada, então pelo teorema ela teria que ser constante. Mas é fácil ver que f (z) = e z não é constante, logo ela é
ilimitada.
446 4 Aplicações às EDP
(
a(ω ), se − ∞ < ω < 0,
g(ω ) =
b(−ω ), se 0 ≤ ω < ∞.
Deste modo, obtém-se
Z ∞ Z 0
iω x −ω 2t 2
u(x, t) = a(ω ) · e ·e dω + b(−ω ) · e iω x · e −ω t d ω
0 −∞
Z ∞ Z 0
2 2
= g(ω ) · e iω x · e −ω t d ω + g(ω ) · e iω x · e −ω t d ω
0 −∞
Z ∞
2
= g(ω ) · e iω x · e −ω t d ω .
−∞
√
Para fazer com que certas fórmulas sejam simétricas, multiplica-se a integral acima por 1/ 2π ,
de modo que uma representação melhor para u(x, t) é
Z ∞
1 2
u(x, t) = √ g(ω ) · e iω x · e −ω t d ω .
2π −∞
Agora observe que a condição inicial dada, u(x, 0) = f (x), quando aplicada na expressão
acima para u(x, t) (isto é, fazendo t = 0 em u(x, t)), implica em
Z
1 ∞
f (x) = √ g(ω ) · e iω x d ω .
2π −∞
A expressão anterior, para f (x), é a transformada inversa de Fourier. O procedimento de
integrar as soluções uω (x, t) dadas em (4.15) sugere, para o problema da barra infinita, a corres-
pondente aplicação da transformada direta de Fourier em ambos os membros da EDP dada.
U 0 + α 2 ω 2 · U = 0.
A última equação acima pode ser resolvida multiplicando-se ambos os membros pelo fator
de integração Z
R 2 2 2 2
µ (t) = exp α ω dt = e (α ω )dt = e (α ω )t .
2 2
Assim,
e (α
2ω 2
)t U 0 + α 2 ω 2 · U = e (α 2ω 2)t · 0
2ω 2
e (α )t · U 0 + α 2 ω 2 · e (α 2 ω 2)t · U = 0
2 2
h 2 2 i0
e (α ω )t · U 0 + e (α ω )t · U = 0
de modo que
2ω 2
U (ω , t) = k(ω ) · e −(α )t .
Antes de continuar, é importante observar que se tem uma função k(ω ) após a integração
feita acima, ou seja, uma função de ômega e não apenas uma constante. O motivo é o fato de
que a derivada que aparece anteriormente em relação a t é parcial e não ordinária. Isso implica
em dizer que tudo aquilo que for derivado parcialmente em relação a t deve ser zero, de modo
que as funções que dependem apenas de ω cumprem essa exigência.
Em resumo, o que se mostrou é que a solução geral da equação em U (ω , t) é dada por
2ω 2
U (ω , t) = k(ω ) · e −(α )t .
Agora, suponha que exista a função transformada de Fourier para a função f (x), isto é, que
se possa escrever F(ω ) = F [ f (x)]. Assim, fazendo t = 0 na expressão acima e lembrando a
448 4 Aplicações às EDP
2/(4α t )
2
ou ainda, h 2 2 i √ 2 2
F e /(4α t ) = α 2t · e −α ω t ,
−x
que implica em
1 −x2/ 4α 2 t
( ) = e −α 2ω 2t .
(4.18) F √ ·e
α 2t
Substituindo (4.18) em (4.17), obtém-se
1 −x2/ 4α 2 t
( ) .
U (ω , t) = F(ω ) · F √ ·e
α 2t
Agora faça
1 ( ). −x2/ 4α 2 t
g(x) = √ ·e
α 2t
Pelo teorema de convolução no tempo (fórmula 17 da tabela do capítulo 3), tem-se que
√ √
F [( f ∗ g)(x)] = 2π · F [ f (x)] · F [g(x)] = 2π · F(ω ) · G(ω ).
Portanto,
1
U (ω , t) = √ · F [ f (x) ∗ g(x)]
2π
1 1 −x2/(4α 2 t )
= √ · F f (x) ∗ √ ·e
2π α 2t
2 2
1 1
= F √ · √ · f (x) ∗ e /(4α t )
−x
2π α 2t
2 2
1
√ · f (x) ∗ e /(4α t )
−x
=F
2α π t
4.5 Equação da onda 449
A última expressão acima é a solução do problema (4.16). Além disso, é possível demonstrar
que, se f é uma função limitada, seccionalmente contínua e absolutamente integrável, então a
solução acima define uma função que satisfaz a equação do calor e lim u(x, t) = f (x), nos
t→0+
pontos em que f é contínua.
Exemplo 5.1: Suponha que uma corda elástica de comprimento L esteja ligeiramente esticada
entre dois pontos colocados horizontalmente, de modo que o eixo x esteja ao logo da corda.
Pense em um elástico preso por dois pregos, ou as cordas de um violão, por exemplo. Suponha
que a corda seja colocada em movimento, oscilando em um plano vertical. Denote por u(x, t)
o deslocamento vertical da corda no ponto x e no instante t. Suponha também que os efeitos
de amortecimento (resistência oferecida pelo meio onde a corda se encontra) são desprezados e
que a amplitude do movimento não é muito grande.
Este primeiro problema envolvendo a equação de onda será resolvido pelo método de sepa-
ração de variáveis. Suponha que a solução seja dada por
Agora deve-se substituir as condições de contorno em (5.2) para obter as condições de com-
patibilidade. Tem-se:
Mas se T (t) = 0 para todo t, então por (5.2) se vê facilmente que u ≡ 0, ou seja, se tem a
solução trivial e que não é de interesse. Fisicamente, a solução trivial significa dizer que você
puxa a corda e ela imediatamente volta para a posição de equilíbrio; isso não faz sentido, já que
a corda é elástica. Segue-se daí, que X(0) = 0.
Com a outra condição de contorno se obtém
Novamente, se T (t) = 0 para todo t, então por (5.2) segue-se que u ≡ 0. Portanto, escolhe-se
a condição X(L) = 0.
A condição inicial ut (x, 0) = 0 também é usada. Derivando (5.2) em relação a t, obtém-se que
ut (x, t) = X(x) · T 0 (t), de modo que
(5.4) T 0 (0) = 0.
Como λ pode ser igual a zero, negativo ou positivo, então é preciso dividir o problema em
três casos.
C ASO 1: para λ = 0 a equação fica reduzida a X 00 = 0, que integrada duas vezes em relação
a x resulta em X(x) = ax + b. Agora deve-se usar as condições de contorno para determinar as
constantes a e b. Tem-se:
452 4 Aplicações às EDP
X(0) = a · 0 + b = 0 ⇒ b = 0.
Resulta daí que X(x) = ax. Usando a segunda condição de contorno, encontra-se
X(L) = a · L = 0 ⇒ a=0 ou L = 0.
Mas L é o comprimento da corda, logo ele não pode ser igual a zero. Segue-se, portanto, que
a = 0, o que implica que X(x) = 0 para todo x. E por (5.2), segue-se que u ≡ 0.
Logo, a equação fica resumida em X(x) = c2 · sen (µ x). Agora aplica-se a segunda condição
de contorno para encontrar
n2 π 2
λ= ·
L2
Portanto, o problema (5.5) tem as seguintes soluções
nπ x
Xn (x) = c2 · sen , n = 1, 2, 3, . . .
L
Sem perda de generalidade, pode-se tomar c2 = 1, como já foi explicado anteriormente (esta
constante será “absorvida” pelas constantes que aparecerão na superposição de soluções). As-
sim,
nπ x
(5.6) Xn (x) = sen , n = 1, 2, 3, . . .
L
Como os casos 1 e 2 levam sempre à solução trivial u ≡ 0, então não importa como será a
solução para a equação T 00 + α 2 µ 2 T = 0 nestes dois casos. Assim, a EDO em T (t) deve ser
analisada apenas na situação do caso 3. E pelo exemplo 1.5 a solução geral para esta equação é
Por (5.4) tem-se que T 0 (0) = 0. Derivado a solução acima e usando esta condição, obtém-se
de modo que
nπ x nπα t
(5.8) un (x, t) = Xn (x) · Tn (t) = sen · cos , n = 1, 2, 3, . . .
L L
satisfazem a EDP e as condições de contorno do problema (5.1), bem como a segunda condição
inicial ut (x, 0) = 0 (deixa-se estas verificações como exercício para o leitor). As funções acima
são soluções fundamentais do problema dado.
A primeira condição inicial em (5.1), u(x, 0) = f (x), com 0 ≤ x ≤ L, será agora usada. Para
satisfazer esta condição inicial, considera-se uma superposição das soluções fundamentais (5.8)
com escolha adequada dos coeficientes. Assim, supõe-se que o candidato à solução tenha a
454 4 Aplicações às EDP
seguinte forma:
∞
u(x, t) = ∑ cn · un(x, t)
n=1
∞ nπ x nπα t
= ∑ cn · sen L
· cos
L
·
n=1
Mas para que este candidato à solução seja de fato solução do problema (5.1) é preciso
informar com precisão quais são estas constantes cn , ou seja, uma maneira de obtê-las concre-
tamente. É neste ponto que se usa a primeira condição inicial, fazendo t = 0 no candidato à
solução. Tem-se:
∞ nπ x
u(x, 0) = ∑ cn · sen · cos0 = f (x),
n=1 L
ou seja, que
∞ nπ x
f (x) = ∑ cn · sen L
·
n=1
Mas a expressão acima é exatamente a série de Fourier para uma função ímpar. Assim,
estende-se a função f dada para uma função definida no intervalo simétrico −L ≤ x ≤ L,
tornando-a periódica de período T = 2L. Com isso, usando a notação f (x) para a extensão
feita, a última série será uma série de senos, onde os coeficientes cn são dados por
Z nπ x Z nπ x
1 L 2 L
cn = f (x) · sen dx = f (x) · sen dx,
L −L L L 0 L
onde, no último passo acima, usou-se o fato de que a extensão f (x) é ímpar e seno é uma função
também ímpar, de modo que o produto entre elas resulta em função par, resultando assim em
uma integral no semi-intervalo [0, L] multiplicada por 2. Além disso, f (x) coincide com f (x)
nesse último intervalo.
Portanto, a solução para o problema (5.1) é dada por
∞ nπ x nπα t
u(x, t) = ∑ cn · sen · cos ,
n=1 L L
utt − α 2 uxx = 0, se 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = 0, para t ≥ 0,
(5.9) u(L, t) = 0, para t ≥ 0,
u(x, 0) = 0, para 0 ≤ x ≤ L,
ut (x, 0) = g(x), para 0 ≤ x ≤ L.
S OLUÇÃO : Este problema estuda a corda elástica, ainda com extremidades fixas, com ve-
locidade inicial não nula. Este problema modela uma situação em que a corda é colocada em
movimento a partir de sua posição de equilíbrio com uma velocidade dada.
Figura 5.3: O problema da corda com extremidades fixas e partindo com velocidade dada.
Deriva-se u(x, t) duas vezes em relação a t e duas vezes em relação a x para obter
A próxima etapa consiste em usar as duas condições de contorno e a primeira condição inicial
com o objetivo de obter as condições de compatibilidade. Assim,
Ora, se T (t) = 0 para todo t, então segue-se imediatamente de u(x, t) = X(x) · T (t) que u ≡ 0.
Então opta-se pela condição de compatibilidade X(0) = 0.
Para a segunda condição de contorno, tem-se
Mas caso seja X(x) = 0 para todo x, então segue de u(x, t) = X(x) · T (t) que u ≡ 0. Assim,
admite-se que T (0) = 0.
Assim, deve-se resolver o seguinte problema de valor de contorno:
00
X + λ X = 0,
(5.10) X(0) = 0,
X(L) = 0.
Como a constante de separabilidade, λ , pode ser igual a zero, positiva ou negativa, o problema
acima deverá ser analisado em três casos.
C ASO 1: para λ = 0. Neste caso, a equação fica na forma X 00 (x) = 0, que integrada duas
vezes em relação a x resulta em X(x) = ax + b. Agora aplica-se as duas condições de contorno
com o intuito de determinar as constantes a e b. Para a primeira condição de contorno, tem-se
X(0) = a · 0 + b = 0 ⇒ b = 0,
X(L) = a · L = 0 ⇒ a=0 ou L = 0.
Mas L > 0, pois L é o comprimento da corda. Logo, a = 0, de modo que X(x) = 0 para todo
x. Porém isto implica em u ≡ 0.
C ASO 2: para λ < 0. Para evitar o aparecimento de raízes se faz λ = −µ 2, de modo que a
EDO assume a forma X 00 − µ 2X = 0. Segundo o exemplo 1.5, a solução geral para uma equação
dessa forma é
X(x) = c1 · cosh(µ x) + c2 · senh (µ x).
Usando a condição de contorno X(0) = 0, obtém-se
C ASO 3: para λ > 0. Neste caso, faça λ = µ 2 , de modo que a EDO assume a forma X 00 +
µ 2 X = 0. Segundo o exemplo 1.5 a solução geral desta equação é
Caso c2 = 0, então X(x) = 0 para todo x e isto resulta, como já visto, em u ≡ 0. Assim,
sen (µ L) = 0 e esta igualdade só faz sentido se o argumento for um múltiplo inteiro de π , isto
é,
nπ ,
µL = 0 ⇒ µ L = nπ ⇒ µ= n = 1, 2, 3, . . .
L
E como λ = µ 2 , segue-se que
n2 π 2 ,
λ= n = 1, 2, 3, . . .
L2
Portanto, obteve-se que
458 4 Aplicações às EDP
nπ x
X(x) = c2 · sen ,
L
que sem perda de generalidade, ao tomar c2 = 1, resulta em
nπ x
(5.11) Xn (x) = sen , n = 1, 2, 3, . . .
L
Agora basta considerar a equação T 00 + α 2 µ 2 T = 0 no terceiro caso, pois nos dois casos
anteriores sempre se é levado a u ≡ 0. E novamente pelo exemplo 1.5, a solução geral para esta
equação é dada por
T (t) = k1 · cos(αµ t) + k2 · sen (αµ t).
Mas seguiu-se da primeira condição inicial que T (0) = 0, de modo que
Agora é preciso apresentar uma maneira de calcular os coeficientes cn na série acima. É neste
ponto que aplica-se a segunda condição inicial ut (x, 0) = g(x). Para isto, deriva-se formalmente
(5.14) para obter
∂ ∞ nπ x nπα t
ut (x, t) = ∑ n
∂ t n=1
c · sen
L
· sen
L
∞
∂ h nπ x nπα t i
= ∑ cn · sen · sen
n=1 ∂t L L
4.5 Equação da onda 459
∞
nπα nπ x nπα t
(5.15) = ∑ · cn · sen · cos ·
n=1 L L L
ou seja,
∞
nπα nπ x
g(x) = ∑ L n · c · sen ,
n=1 L
que ao fazer
nπα
bn = · cn,
L
implica em
∞ nπ x
g(x) = ∑ bn · sen ,
n=1 L
resultando em bn ser os coeficientes da série de Fourier para uma função ímpar. Então, deve-se
estender a função g dada para uma função definida no intervalo simétrico −L ≤ x ≤ L tornando-
a periódica de período T = 2L. Logo, denotando por g(x) a extensão feita, segue-se que a última
série será uma série de senos, onde os coeficientes bn são dados por
Z nπ x Z nπ x
1 L 2 L
bn = g(x) · sen dx = g(x) · sen dx,
L −L L L 0 L
pois o integrando é produto de duas funções ímpares, de modo que ele é par. Logo multiplica-se
a integral por 2 e integra no semi-intervalo indo de 0 até L. Além disso, g(x) coincide com g(x)
no intervalo [0, L].
Porém é preciso dizer quem é cn no candidato à solução do problema (5.9). Para isso, volta-se
com a definição de bn para reescrever a última igualdade na forma
Z nπ x
nπα 2 L
· cn = g(x) · sen dx,
L L 0 L
isto é, que
Z L nπ x
2
cn = g(x) · sen dx, n = 1, 2, 3, . . .
nπα 0 L
Portanto, a solução do problema (5.9) é dada por
∞ nπ x nπα t
u(x, t) = ∑ cn · sen · sen ,
n=1 L L
As justificativas que u(x, t) satisfaz o problema dado serão deixadas como exercício para o
leitor.
O próximo problema estuda o caso geral para a corda elástica com condições de contorno
do tipo Dirichlet e com duas condições iniciais não homogêneas. A função f (x) representa a
posição inicial da corda e a função g(x) representa a velocidade inicial da mesma corda.
Exemplo 5.3: Resolva o seguinte problema geral da corda com extremidades fixas:
2
utt − α uxx = 0,
se 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = 0,
para t ≥ 0,
(5.16) u(L, t) = 0, para t ≥ 0,
u(x, 0) = f (x), para 0 ≤ x ≤ L,
ut (x, 0) = g(x), para 0 ≤ x ≤ L.
S OLUÇÃO : Este problema pode ser resolvido diretamente pelo método de separação de variá-
veis, mas como o leitor deve ter notado, seria mais um enorme trabalho a ser feito. Por outro
lado, o problema (5.16) pode ser visto como a soma dos problemas (5.1) e (5.9) já estudados e
resolvidos. Para deixar isso claro, escreve-se o problema (5.1) usando a função v(x, t) no lugar
de u(x, t) e escreve-se o problema (5.9) usando a função w(x, t) no lugar de u(x, t).
vtt − α 2 vxx = 0, se 0 < x < L, t > 0,
v(0, t) = 0, para t ≥ 0,
(5.17) v(L, t) = 0, para t ≥ 0,
v(x, 0) = f (x), para 0 ≤ x ≤ L,
vt (x, 0) = 0, para 0 ≤ x ≤ L.
e
wtt − α 2 wxx = 0, se 0 < x < L, t > 0,
w(0, t) = 0,
para t ≥ 0,
(5.18) w(L, t) = 0, para t ≥ 0,
w(x, 0) = 0, para 0 ≤ x ≤ L,
wt (x, 0) = g(x), para 0 ≤ x ≤ L.
Agora se faz u(x, t) = v(x, t) + w(x, t), onde u(x, t) é a solução do problema em questão, ou
seja, o problema (5.16). A primeira etapa consiste em testar a EDP dada, isto é, a equação de
onda. O objetivo é mostrar que uma função u escrita desta forma satisfaz a equação de onda
quando as funções v(x, t) e w(x, t) a satisfaz. Tem-se:
= 0 + 0 = 0,
mostrando que u satisfaz a equação de onda.
Agora verifica-se as duas condições de contorno. Tem-se
Por fim, basta verificar a segunda condição de contoro, que também é satisfeita, visto que
O que foi mostrado acima é que u(x, t) é a soma das soluções do problema (5.17) e (5.18).
Portanto, basta resolver estes dois problemas citados e somar as suas soluções para obter ime-
diatamente a solução do problema (5.16) que foi dado, ou seja, somar as soluções para os
problemas (5.1) e (5.9) que já foram resolvido.
462 4 Aplicações às EDP
Este procedimento de somar soluções de problemas nem sempre é possível. Aqui foi possível
porque os problemas são lineares, de maneira que, se um problema é soma de dois outros, então
a sua solução é soma das soluções destes dois problemas. Em problemas não lineares não é
possível usar esta ideia.
S OLUÇÃO : Este problema estuda a corda infinita, ou seja, em toda reta real. A partir de duas
condições iniciais, procura-se soluções limitadas para o problema.
Aplicando a transformada de Fourier em ambos os membros da EDP e usando a sua lineari-
dade, encontra-se
F utt − α 2uxx = F (0) = 0,
ou seja,
F (utt ) − α 2 · F (uxx ) = 0,
Pelas 24 e 22, respectivamente, da tabela do capítulo 3, tem-se que
∂2
F [ utt (x, t)] = F [u(x, t)] e F [ uxx (x, t)] = −ω 2 · F [u(x, t)].
∂ t2
Substituindo na última equação acima, encontra-se
∂2
2
F [u(x, t)] + α 2ω 2 · F [u(x, t)] = 0],
∂t
ou de forma mais simples,
d2
2
F (u) + α 2 ω 2 · F (u) = 0 ⇒ U 00 + α 2 ω 2 · U = 0,
dt
onde U (ω , t) = F [u(x, t)] é uma função das variáveis ω e t.
Fazendo U = e λ t e substituindo na equação, obtém-se
λ 2 · e λ t + α 2ω 2 · e λ t = 0 ⇒ λ 2 + α 2 ω 2 e λ t = 0,
p
λ 2 = −α 2 ω 2 ⇒ λ = ± −α 2 ω 2 ⇒ λ = ± αω i, i 2 = −1 .
Como observado no exemplo 4.3 deste capítulo, aqui deve-se ter a(ω ) e b(ω ) como funções
da variável ω e não apenas como constantes simplesmente.
Fazendo
F [ϕ (x)] = a(ω ) e F [ψ (x)] = b(ω ),
(5.21) = ϕ (x − α t) + ψ (x + α t),
U (ω , 0) = F(ω ) e Ut (ω , 0) = G(ω ),
ou seja,
∂
Ut (ω , t) = U (ω , t)
∂t
∂
= F [ϕ (x)] · e −iαω t + F [ψ (x)] · e iω t
∂t
= −iαω · F [ϕ (x)] · e −iαω t + iαω · F [ψ (x)] · e iω t .
Fazendo t = 0 no último resultado obtido, encontra-se
G(ω ) = Ut (ω , 0)
Multiplicando a primeira equação do sistema por iαω e somando com a segunda, obtém-se
1 G(ω )
2iαω · F [ψ (x)] = iαω · F(ω ) + G(ω ) ⇒ F [ψ (x)] = · F(ω ) + ·
2 iαω
Substituindo na primeira equação do sistema, encontra-se
1 G(ω )
F [ϕ (x)] + · F(ω ) + = F(ω ),
2 iαω
ou seja,
F(ω ) G(ω ) 1 G(ω )
F [ϕ (x)] = F(ω ) − − = · F(ω ) − ·
2 2iαω 2 iαω
Agora substitui-se as expressões encontradas para F [ϕ (x)] e F [ψ (x)] em (5.20). Obtém-se:
Aplicando a transformada inversa em (5.24) e sua linearidade, além das duas fórmulas acima,
obtém-se
u(x, t) = F −1[U (ω , t)]
−1 1 1 iαω t G(ω ) −iαω t G(ω
−iαω t iαω t
=F e · F(ω ) + e · F(ω ) + e · −e ·
2 2α iω iω
1 1
= · F −1 e −iαω t · F(ω ) + · F −1 e iαω t · F(ω ) +
2 2
1 −1 iαω t G(ω ) 1 −1 −iαω t G(ω )
+ ·F e · − ·F e ·
2α iω 2α iω
1 h i 1 h i
−1 −iω (α t) −1 −iω (−α t)
= ·F e · F(ω ) + · F e · F(ω ) +
2 2
1 −1 −iω (−α t) G(ω ) 1 −1 −iω (α t) G(ω )
+ ·F e · − ·F e ·
2α iω 2α iω
Z x+α t Z x−α t
1 1 1 1
= · f (x − α t) + · f (x + α t) + g(y) dy − g(y) dy
2 2 2α 0 2α 0
Z Z
1 1 1 x+α t 1 0
= · f (x − α t) + · f (x + α t) + g(y) dy + g(y) dy
2 2 2α 0 2α x−α t
Z 0 Z x+α t
f (x − α t) + f (x + α t) 1
= + g(y) dy + g(y) dy
2 2α x−α t 0
Z x+α t
f (x − α t) + f (x + α t) 1
= + g(y) dy.
2 2α x−α t
Considere a equação de onda em toda reta real, que é modelado através do problema abaixo:
2
utt = α uxx,
x ∈ R, t ≥ 0,
(6.1) u(x, 0) = f (x), x∈R
u (x, 0) = g(x), x ∈ R.
t
466 4 Aplicações às EDP
Nesta seção será apresentada uma representação para a solução do problema (6.1), que é
conhecida como fórmula de d’Alembert.3 O desenvolvimento será feito através de vários resul-
tados que culminarão na representação desejada. Além disso, mostrar-se-á que há dependência
contínua nos dados iniciais.
Inicia-se com um resultado que permite introduzir uma mudança de variáveis que simplifica
a expressão da equação de onda.
Lema 6.1: Considere a equação de onda utt − α 2 uxx = 0. Suponha que exista uma função
u : R → R de classe C2 (R) que satisfaça a equação de onda. Então, existe uma mudança de
variáveis linear, (x, t) 7→ (ξ , η ) de R2 → R2, que permite que a equação de onda seja reescrita
na forma
∂ 2u
= 0.
∂ξ∂η
D EMONSTRAÇÃO : Seja (x, t) 7→ (ξ , η ) uma aplicação linear de R2 → R2 definida por
(
ξ = ax + bt,
η = cx + dt,
onde ad − bc 6= 0.
Pela regra da cadeia, aplicada a função u(ξ , η ) = u[ξ (x, t), η (x, t)], obtém-se
∂u ∂u ∂ξ ∂u ∂η
(6.2) = · + · ·
∂x ∂ξ ∂x ∂η ∂x
Agora usa-se novamente a regra da cadeia para obter a derivada segunda. Tem-se:
∂ 2u ∂ ∂u ∂ξ ∂u ∂η
= · + ·
∂ x2 ∂ x ∂ ξ ∂ x ∂ η ∂ x
∂ u ∂ 2ξ ∂ ∂u ∂ ξ ∂ u ∂ 2η ∂ ∂u ∂η
(6.3) = · 2+ · + · 2 + · ·
∂ξ ∂x ∂x ∂ξ ∂x ∂η ∂x ∂x ∂η ∂x
Mas
∂ ∂u ∂ 2u ∂ ξ ∂ 2u ∂ η
(6.4) = · + ·
∂x ∂ξ ∂ξ2 ∂x ∂η ∂ξ ∂x
e
∂ ∂u ∂ 2u ∂ ξ ∂ 2 u ∂ η
(6.5) = · + · ·
∂x ∂η ∂ ξ ∂ η ∂ x ∂ η2 ∂ x
Substituindo-se (6.4) e (6.5) em (6.3) e observando que as funções envolvidas aqui são de
classe C2(R), obtém-se
∂ 2 u ∂ u ∂ 2ξ ∂ ∂u ∂ ξ ∂ u ∂ 2η ∂ ∂u ∂η
2
= · 2+ · + · 2 + ·
∂x ∂ξ ∂x ∂x ∂ξ ∂x ∂η ∂x ∂x ∂η ∂x
2
∂ u ∂ 2ξ ∂ u ∂ξ ∂ 2u ∂ η ∂ ξ
= · + · + · · +
∂ ξ ∂ x2 ∂ξ2 ∂x ∂η ∂ξ ∂x ∂x
2
∂ u ∂ 2η ∂ u ∂ ξ ∂ 2u ∂ η ∂ η
+ · + · + · ·
∂ η ∂ x2 ∂ ξ ∂ η ∂ x ∂ η2 ∂ x ∂x
∂ u ∂ 2ξ ∂ 2u ∂ ξ 2 ∂ 2u ∂ η ∂ ξ
= · 2+ 2 + · · +
∂ξ ∂x ∂ξ ∂x ∂η ∂ξ ∂x ∂x
∂ u ∂ 2η ∂ 2u ∂ ξ ∂ η ∂ 2 u ∂ η 2
+ · + · · +
∂ η ∂ x2 ∂ ξ ∂ η ∂ x ∂ x ∂ η 2 ∂ x
∂ u ∂ 2ξ ∂ 2u ∂ ξ 2 ∂ 2 u ∂ ξ ∂ η ∂ 2 u ∂ η 2 ∂ u ∂ 2η ,
(6.6) = · + +2 · · + + ·
∂ ξ ∂ x2 ∂ ξ 2 ∂ x ∂ ξ ∂ η ∂ x ∂ x ∂ η2 ∂ x ∂ η ∂ x2
onde usou-se o fato de as funções serem de classe C2 (R) para afirmar que as derivadas parciais
mistas de segunda ordem são iguais, isto é,
∂ 2u ∂ 2u
= ·
∂ η∂ ξ ∂ξ∂η
Analogamente mostra-se que
2 2
∂ 2 u ∂ u ∂ 2 ξ ∂ 2u ∂ξ ∂ 2u ∂ ξ ∂ η ∂ 2 u ∂η ∂ u ∂ 2η
(6.7) = · + +2 · · + + · ·
∂ t2 ∂ ξ ∂ t2 ∂ ξ 2 ∂t ∂ ξ ∂ η ∂ t ∂ t ∂ η2 ∂t ∂ η ∂ t2
Por outro lado, segue-se das equações que definem a mudança de variáveis, isto é,
(
ξ = ax + bt,
η = cx + dt,
∂ 2ξ ∂ 2ξ ∂ 2 η ∂ 2η
(6.9) = = = 2 = 0.
∂ x2 ∂ t2 ∂ x2 ∂t
Substituindo (6.8) e (6.9) em (6.6) e (6.7), encontra-se
∂ 2u ∂ u ∂ 2u 2 ∂ 2u ∂ 2u 2 ∂ u
= ·0 + · a + 2 · a · c + ·c + ·0
∂ x2 ∂ ξ ∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2 ∂η
468 4 Aplicações às EDP
∂ 2u ∂ 2u 2
2∂ u
(6.10) = a2 + 2ac + c
∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2
e
∂ 2u ∂ u ∂ 2u 2 ∂ 2u ∂ 2u 2 ∂ u
= ·0 + · b + 2 · b · d + ·d + ·0
∂ t2 ∂ξ ∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2 ∂η
∂ 2u ∂ 2u 2
2∂ u
(6.11) = b2 + 2bd + d ·
∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2
Substituindo (6.10) e (6.11) na equação de ondas, segue-se que
2
2 2∂ u ∂ 2u 2
2∂ u 2
2
2∂ u ∂ 2u 2
2∂ u
utt − α uxx = b + 2bd +d −α a + 2ac +c
∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2 ∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2
∂ 2u ∂ 2u 2
2 2 ∂ u
(6.12) = b2 − α 2 a2 + 2 bd − α 2
ac + d 2
− α c ·
∂ξ2 ∂ξ∂η ∂ η2
Observe-se que, se o primeiro e o último coeficientes no segundo membro de (6.12) se anu-
larem, isto é, b2 − α 2 a2 = 0 e d 2 − α 2 c2 = 0, então a equação nas variáveis ξ e η se simplifica
ainda mais, mas desde que bd − α 2 ac 6= 0.
Logo, para anular o primeiro e o último coeficientes, pode-se tomar
b=αa e d = −α c,
0 6= ad − bc = a (−α c) − (α a) c = − α ac − α ac = −2 α ac.
Como −2α ac 6= 0, então isto implica em ac 6= 0, uma vez que α 6= 0. E por ser ac 6= 0, então
−4α 2 ac 6= 0. Isto mostra que 2 bd − α 2 ac = −4α 2 ac 6= 0.
Continuando, usando os fatos que b = α a e d − α c, obtém-se que
( (
ξ = ax + bt, ξ = ax + α at,
⇒
η = cx − dt, η = cx − α at,
Fazendo a = c = 1, segue-se que 2(bd − α 2 ac) = −4α 2 , de modo que (6.12) pode ser escrita
como
∂ 2u
0 = utt − α 2 uxx = −4α 2 ·
∂ξ∂η
Assim, a equação de onda, nas variáveis ξ e η , pode ser escrita na seguinte forma:
∂ 2u ∂ 2u
−4α 2 =0 ⇒ = 0,
∂ξ∂η ∂ξ∂η
que é o resultado desejado.
utt − α 2 uxx = 0.
Suponha que exista uma função u : R → R de classe C2(R) que satisfaça a equação de onda.
Então, existem funções ϕ , ψ : R → R tais que u pode ser escrita na forma
D EMONSTRAÇÃO : Pelo lema 6.1, segue-se que a equação de onda pode ser reescrita na forma
∂ 2u
= 0,
∂ξ∂η
que é o mesmo que
∂ ∂u
= 0.
∂η ∂ξ
Integrando esta última EDP em relação a η , obtém-se que
∂u
= v(ξ ).
∂ξ
Fazendo nova integração na última expressão obtida, mas agora na variável ξ , se encontra
Z ξ
u(ξ , η ) = v(y) dy + w(η ).
0
Escrevendo Z ξ
ϕ (ξ ) = v(y) dy e ψ (η ) = w(η ),
0
segue-se que u pode ser escrita na forma u(ξ , η ) = ϕ (ξ ) + ψ (η ), onde ϕ e ψ são funções de
classe C2(R) arbitrárias.
Para finalizar, basta usar os fatos que ξ = x + α t e que η = x − α t, para reescrever a última
expressão na forma
470 4 Aplicações às EDP
u(x, t) = ϕ (x + α t) + ψ (x − α t),
que é o resultado desejado.
O resultado a seguir é conhecido como fórmula de d’Alembert. Ela apresenta uma solução
geral para a equação de onda em R, o problema (6.1).
conhecida como fórmula de d’Alembert, é uma solução de classe C2(R) para o problema de
onda em R.
D EMONSTRAÇÃO : Pelo lema 6.2, a solução geral para a equação de onda é dada por
u(x, t) = ϕ (x + α t) + ψ (x − α t).
A última equação no sistema anterior pode ser integrada em relação a x para ser reescrita na
forma Z x
0 0 1
ϕ (x) − ψ (x) = · f (x) ⇒ ϕ (x) − ψ (x) = g(y) dy + C.
α 0
Assim, escreve-se (6.15) na forma
ϕ (x) + ψ (x) = f (x),
Z x
ϕ (x) − ψ (x) = 1
g(y) dy + C.
α 0
Z x
1 1 C
ϕ (x) = f (x) + g(y) dy + ,
2 2α 0 2
Z
1 1 x C
ψ (x) = f (x) − g(y) dy − ·
2 2α 0 2
Portanto, fazendo x 7→ x + α t em ϕ e x 7→ x − α t em ψ , obtém-se
Z x+α t
1 1 C
(6.16) ϕ (x + α t) = f (x + α t) + g(y) dy +
2 2α 0 2
e
Z x−α t
1 1 C
ψ (x − α t) = f (x − α t) − g(y) dy −
2 2α 0 2
Z 0
1 1 C
(6.17) = f (x − α t) + g(y) dy − ·
2 2α x−α t 2
Por fim, substitui-se (6.16) e (6.17) em
u(x, t) = ϕ (x + α t) + ψ (x − α t).
para concluir que
u(x, t) = ϕ (x + α t) + ψ (x − α t)
Z x+α t
1 1 C
= f (x + α t) + g(y) dy +
2 2α 0 2
Z 0
1 1 C
+ f (x − α t) + g(y) dy −
2 2α x−α t 2
1
= [ f (x + α t) + f (x − α t)] +
2
Z 0 Z x+α t
1 C C
+ g(y) dy + g(y) dy + −
2α x−α t 0 2 2
Z x+α t
1 1
= [ f (x + α t) + f (x − α t)] + g(y) dy,
2 2α x−α t
Z x+α t
1 1
u(x, t) = [ f (x + α t) + f (x − α t)] + g(y) dy.
2 2α x−α t
Caso exista outra solução v(x, t) obtida com as mesmas condições iniciais f (x) e g(x), então
v(x, t) será igual ao segundo membro da equação (6.14), isto é,
Z
1 1 x+α t
v(x, t) = [ f (x + α t) + f (x − α t)] + g(y) dy.
2 2α x−α t
Portanto, é imediato que v = u. Isto decorre do fato da solução depender apenas das condições
iniciais f e g.
e
2
vtt = α vxx ,
x ∈ R, t ≥ 0,
v(x, 0) = f (x), x ∈ R,
vt (x, 0) = g(x), x ∈ R,
onde f , f ∈ C2 (R) e g, g ∈ C1 (R), de modo que f , f e g, g são dois pares de dados iniciais
correspondendo, respectivamente, as soluções u(x, t) e v(x, t) dos problemas acima.
Da fórmula de d’Alembert, dada por (6.14) no teorema 6.1, segue-se que
1 Z
1 x+α t
|u(x, t) − v(x, t)| = [ f (x + α t) + f (x − α t)] + g(y) dy −
2 2α x−α t
Z
1 1 x+α t
− f (x + α t) + f (x − α t) − g(y) dy
2 2α x−α t
1 1
= f (x + α t) − f (x + α t) + f (x − α t) − f (x − α t) +
2 2
4.6 O método de d’Alembert 473
Z
1 x+α t
+ [g(s) − g(y)] dy
2α x−α t
1 1
≤ f (x + α t) − f (x + α t) + f (x − α t) − f (x − α t) +
2 2
Z
1 x+α t
+ [g(y) − g(y)] dy
2α x−α t
1 1
≤ f (x + α t) − f (x + α t) + f (x − α t) − f (x − α t) +
2 2
Z x+α t
1
+ |g(y) − g(y)| dy.
2α x−α t
Assim, dado ε > 0, tomando-se δ = ε/(1+T ),
f (x, t) − f (x, t) < δ e |g(x, t) − g(x, t)| < δ .
δ
=δ + [(x + α t) − (x − α t)]
2α
δ
=δ + · 2α t = δ + δ t
2α
= δ (1 + t) ≤ δ · (1 + T )
ε
= · (1 + T ) = ε ,
1+T
para todo x ∈ R e 0 ≤ t ≤ T .
Isto mostra que a dependência dos dados iniciais é contínua.
Observação 6.2: Como visto na seção 4.2, diz-se que um problema que tem solução única
e dependência contínua nos dados iniciais (e/ou de contorno) é bem posto. Portanto, o que se
mostrou nesta seção, até este ponto, é que o problema (6.1) é bem posto.
Tomando α = 1, tem-se:
(x + t) + 1,
−1 − t ≤ x < −t,
f (x + t) = 1 − (x + t), −t ≤ x ≤ 1 − t,
0, caso contrário.
e
(x − t) + 1,
−1 + t ≤ x < t,
f (x − t) = 1 − (x − t), t ≤ x ≤ 1 + t,
0, caso contrário.
A figura 6.3 mostra os gráficos das duas funções f (x + 1/2) e f (x − 1/2), isto é, para t = 1/2.
A figura 6.4 a superposição das funções f (x − 1/2) e f (x + 1/2), isto é, a soma das duas
dividido por 2.
A figura 6.5 exibe os gráficos das funções f (x + 1) e f (x − 1) separadamente, porém em um
mesmo sistema de coordenadas.
A figura 6.6 apresenta-se o gráfico da função u(x, 1). Observa-se que não se trata de dois
gráficos exibidos ao mesmo tempo, mas sim da superposição entre f (x − 1) e f (x + 1).
Na figura 6.7 exibe-se os gráficos de duas funções em um mesmo sistema de coordenadas:
f (x + 2) e f (x − 2).
476 4 Aplicações às EDP
Na figura 6.8 é possível observar o distanciamento, em relação ao eixo y, das ondas do pas-
sado e do futuro.
4.6 O método de d’Alembert 477
Observe que u(x0 , t0) depende dos valores de u0 nos dois argumentos x0 + α t0 e x0 − α t0 ,
bem como depende dos valores de g no intervalo (x0 − α t, x0 + α t) – o intervalo de integração.
Ou seja, a fórmula de d’Alembert mostra que o valor da solução u no ponto (x0 , t0) depende
apenas dos valores dos dados iniciais f e g no intervalo [x0 − α t0 , x0 + α t0]. Isto significa que
os dados iniciais podem ser alterados arbitrariamente fora desse intervalo sem mudar o valor
da solução no ponto (x0 , t0). Este intervalo é chamado de intervalo de dependência no ponto
(x0 , t0).
478 4 Aplicações às EDP
Cabe observar que, para cada (x0 , t0), o intervalo de dependência é limitado. Isto faz com
que o problema de valor inicial seja bem posto sem ter que especificar um comportamento no
infinito.
As retas inclinadas na figura 6.9 têm inclinações 1/α e −1/α e são chamadas de retas carac-
terísticas. As retas características são da forma x + α t = ξ0 e x − α t = η0.
Essa região é chamada de cone de influência. Supondo-se que os dados iniciais u0 e u1 tenham
suporte no intervalo [a, b], isto é, que f e g se anulam fora de [a, b], segue-se que a solução u(x, t)
4.6 O método de d’Alembert 479
é necessariamente nula fora da região hachurada na figura 6.11, que é, então, chamada de região
de influência desses dados iniciais.
De outra maneira: dada um intervalo [a, b] ⊂ R, a maior região delimitada pelas retas carac-
terísticas passando pelos extremos do intervalo é a região
R = {(x, t) ∈ R[0, ∞) | a − α t ≤ x ≤ b + α t} ∪
∪ {(x, t) ∈ R(−∞, 0) | a + α t ≤ x ≤ b − α t} .
Este conjunto R é a região de influência do intervalo [a, b]. Note-se que, se (x0 , t0) ∈ R, então
o intervalo de dependência de (x0 , t0) intercepta [a, b]. Portanto, uma pertubação nos dados
iniciais no intervalo [a, b] modifica a solução na região R.
O problema (6.1) pode ser interpretado como a vibração de uma corda infinita provocada
pelo afastamento da posição de repouso através da condição inicial u(x, 0) = u0 (x) e por uma
velocidade inicial na corda dada por ut (x, 0) = u1 (x). Assim, caso as pertubações iniciais este-
jam concentradas em uma parte de [a, b] da corda, elas poderão afetar um ponto x0 > b apenas
depois de transcorrido um tempo t0 = (x0−b)/α . Isto significa dizer que as perturbações viajam
ao longo da corda com velocidade α .
Figura 6.12:
480 4 Aplicações às EDP
Durante a demonstração dos lemas que antecederam a fórmula de d’Alembert, bem cono na
demonstração desta mesma fórmula, usou-se fortemente as hipóteses de que f ∈ C2(R) e que
g ∈ C1 (R) para que u seja uma solução clássica para a equação de onda em R. Também já
foi comentado que há possibilidade de usar soluções não clássicas para este problema. Con-
siderando o que foi exposto até este ponto, questiona-se sobre o que aconteceria se a função
f , por exemplo, fosse descontínua. Para uma resposta, basta consultar novamente a fórmula de
d’Alembert para observar que u será descontínua ao longo das retas x + α t = ξ0 e x − α t = η0.
Ou seja, as descontinuidades se propagam ao longo das retas características. Naturalmente que
u dada pela fórmula de d’Alembert satisfaz a equação de onda fora das retas características que
passam por x0 .
Neste caso, tem-se que α = 1, f (x) = sen x e g(x) = 0. Aplicando a fórmula de d’Alembert,
encontra-se Z
1 1 x+α t
u(x, t) = [ f (x + α t) + f (x − α t)] + g(y) dy.
2 2α x−α t
Z x+t
1 1
= [ sen (x + t) + sen (x − t)] + 0 dy
2 2 x−t
sen (x + t) + sen (x − t)
= ·
2
Da trigonometria, segue-se que
(
sen (a + b) = ( sen a)(cos b) + ( sen b)(cos a),
sen (a − b) = ( sen a)(cos b) − ( sen b)(cos a).
sen (x + t) + sen (x − t)
u(x, t) = = sen x · cost.
2
4.6 O método de d’Alembert 481
A solução u(x, t) = sen x · cos t é uma senóide de amplitude | cost|, de modo que é zero para
t = π/2 + kπ , onde k ∈ Z. Assim, quando 0 < t < π/2, a amplitude decresce de 1 até 0; quando
π/2 < t < π , a amplitude varia de 0 até 1, mas a oscilação é ao contrário da oscilação para
Exemplo 6.3:
utt − uxx = 0, x ∈ R, t ≥ 0,
(
2 − 2| x |, para | x | ≤ 1,
u(x, 0) =
0, caso contrário.
u (x, 0) = 0,
t x ∈ R,
S OLUÇÃO : Observe inicialmente que a função f (x) não é de classe C2 , mas é contínua.
Então a função u(x, t) dada pela fórmula de d’Alembert é contínua, pois f é contínua, mas não
é continuamente diferenciável no plano, uma vez que a derivada de f é descontínua em x = −1,
x = 0 e x = 1. Logo, as derivadas de u devem ser descontínuas ao longo das características no
plano (x, t) que passam pelos pontos (−1, 0), (0, 0) e (1, 0).
Considerando apenas as retas características que passam por (−1, 0) e (1, 0), elas dividem o
plano (x, t) em nove regiões. Faça o gráfico das regiões e encontre u(x, t) em cada caso.
Agora será feito um estudo da equação de ondas não homogênea que está modelado no
problema abaixo:
2 x ∈ R, t ≥ 0,
utt − α uxx = h(x, t),
(6.18) u(x, 0) = f (x), x ∈ R,
ut (x, 0) = g(x), x ∈ R.
Seja (x0 , t0) um ponto fixado, mas arbitrário, no plano xt no qual se deseja calcular a solução
do problema 6.18. Seja Ω o triângulo característico determinado por esse ponto, isto é, o triân-
gulo cujo vértices são os pontos (x0 − α t0, 0), (x0 , t0) e (x0 + α t0 , 0).
482 4 Aplicações às EDP
Faça
Q = α 2 ux e P = ut ,
de modo que o integrando acima (o primeiro membro da equação em si), pode ser reescrito na
forma
∂ ∂ ∂Q ∂P
α 2 uxx − utt = α 2 ux + (ut ) = − ·
∂x ∂t ∂x ∂t
Assim, a equação (6.19) fica escrita na forma
ZZ ZZ
∂Q ∂P
− dx dt = − h(x, t) dx dt.
Ω ∂x ∂t Ω
Agora para o segmento de reta do ponto (x0 + α t0, 0) até o ponto (x0 , t0). Tem-se:
x0 − x0 − α t0
m= = −α .
t0 − 0
Assim,
x − (x0 + α t0 ) = −α (t − 0) ⇒ x + α t = x0 + α t0 , (x0 , x0 + α t0 ).
Para o segmento ligando (x0 − α t0 , 0) até o ponto (x0 + α t0 , 0) fica mais simples, pois não
há variação em t. Logo o mesmo pode ser parametrizado fazendo t = 0 enquanto x varia no
intervalo x0 − α t0 ≤ x ≤ x0 + α t0 .
Para simplificar, nomeia-se estas três parametrizações da seguinte forma:
(σ1 ) : x − α t = x0 − α t0 , x0 − α t0 ≤ x ≤ x0 ,
(σ2 ) : x + α t = x0 + α t0 , x0 ≤ x ≤ x0 + α t0 ,
(σ3 ) : t = 0, x0 − α t0 ≤ x ≤ x0 + α t0.
Z
= ut (x, t) (α dt) + α ux (x, t) (α dt) +
σ1
Z
+ ut (x, t) (−α dt) − α ux(x, t) (−α dt) +
σ2
Z
+ ut (x, t) dx
σ3
Z
= α ut (x, t) dt + α ux (x, t) dx +
σ1
Z
+ −α ut (x, t) dt − α ux (x, t) dx +
σ2
Z
+ ut (x, 0) dx
σ3
Z Z
=α ut (x, t) dt + ux(x, t) dx − α ut (x, t) dt + ux (x, t) dx +
σ1 σ2
Z x0 +α t0
+ ut (x, 0) dx
x0 −α t0
Z Z Z x0 +α t0
=α d[u(x, t)] − α d[u(x, t)] + ut (x, 0) dx
σ1 σ2 x0 −α t0
Z x0 +α t0
= α u(x, t) − α u(x, t) + ut (x, 0) dx
σ1 σ2 x0 −α t0
Os dois primeiros termos no segundo membro acima é a solução de d’Alembert para o proble-
ma homogêneo. O último termo no segundo membro acima,
ZZ
1
v(x, t) = h(x, t) dx dt,
2α Ω
x − α t = x0 − α t0 e x + α t = x0 + α t0,
com 0 ≤ t ≤ t0.
Fazendo x0 = x, x = y, t0 = t e t = s, obtém-se
y − α s = x − α t, 0 ≤ s ≤ t,
y + α s = x + α t, 0 ≤ s ≤ t,
486 4 Aplicações às EDP
ou ainda,
y = α s + x − α t, 0 ≤ s ≤ t,
y = −α s + x + α t, 0 ≤ s ≤ t,
Agora considere duas funções f1 , f2 : [0, t] → R definidas por
f1 (s) = α s + x − α t e f2 (s) = −α s + x + α t.
f1 (s) = s + x − t e f2 (s) = −s + x + t,
para 0 ≤ s ≤ t.
Assim,
Z x+t Z t Z −s+x+t
(x + t)2 + (x − t)2 1 1
u(x, t) = + 1 dy + 1 dyds
2 2 x−t 2 0 s+x−t
Z
x2 + 2xt + t 2 + x2 − 2xt + t 2 y x+t 1 t −s+x+t
= + + y ds
2 2 x−t 2 0 s+x−t
Z t
2x2 + 2t 2 (x + t) − (x − t) 1
= + + [(−s + x + t) − (s + x − t)] dt
2 2 2 0
Z t
1
= x2 + t 2 + t + (−2s + 2t) ds
2 0
t
2 2 s2 t
= x + t + t − + ts
2 0 0
t2
= x2 + t 2 + t − + t2
2
3t 2
= x2 + + t,
2
que é a solução para o problema dado.
utt − α 2 uxx = 0, 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = 0, t > 0,
(6.23) u(L, t) = 0, t > 0,
u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L,
ut (x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ L.
A solução deste problema, pelo método de Fourier, foi apresentada na seção 4.4 e é dada por
∞ nπ x nπα t
u(x, t) = ∑ cn · sen · cos ,
n=1 L L
onde Z nπ x
2 L
cn = f (x) · sen dx.
L 0 L
Mostre que a solução acima pode ser representada na forma
h(x − α t) + h(x + α t)
u(x, t) = ·
2
Fazendo agora
∞ nπ x
h(x) = ∑ cn · sen ,
n=1 L
488 4 Aplicações às EDP
Uma importante equação diferencial parcial é a equação de Laplace, que em dimensão dois
é dada por
∆u = uxx + uyy = 0
e em dimensão três é dada por
Como no mostrado no exemplo 5.3, para equações de ondas, o problema de Dirichlet acima
pode ser resolvido mantendo-se uma condição de contorno não homogênea e as outras três
mantidas homogêneo. Assim, fica-se com quatro problemas e que podem ser resolvidos pelo
método de separação de variáveis. Como o problema dado é linear, então a sua solução pode ser
obtida como soma das soluções de cada um dos quatro problemas.
Suponha que existam funções u1 (x, y), u2 (x, y), u3(x, y) e u4(x, y), onde os números de 1 a 4
representam índices e não potências, que são, respectivamente, soluções para os problemas de
Dirichlet dados a seguir:
1 1
uxx + uyy = 0, 0 < x < a, 0 < y < b,
(7.2) u1(x, 0) = f (x), u1(x, b) = 0, 0 ≤ x ≤ a,
u1(0, y) = 0, u1(a, y) = 0, 0 < y < b.
4.7 Equação de Laplace 489
2 2
uxx + uyy = 0,
0 < x < a, 0 < y < b,
(7.3) u2(x, 0) = 0, u2 (x, b) = g(x), 0 ≤ x ≤ a,
u2(0, y) = 0, u2 (a, y) = 0, 0 < y < b.
3 3
uxx + uyy = 0,
0 < x < a, 0 < y < b,
(7.4) u3(x, 0) = 0, u3(x, b) = 0, 0 ≤ x ≤ a,
u3(0, y) = h(y), u3(a, y) = 0, 0 < y < b.
4 4
uxx + uyy = 0, 0 < x < a, 0 < y < b,
(7.5) u4(x, 0) = 0, u4 (x, b) = 0, 0 ≤ x ≤ a,
u4(0, y) = 0, u4 (a, y) = k(y), 0 < y < b.
Agora se faz
u(x, y) = u1 (x, y) + u2(x, y) + u3 (x, y) + u4 (x, y),
onde u(x, y) é a solução do problema (7.1).
O primeiro passo consiste em mostrar que u(x, y) dada acima satisfaz a equação de Laplace.
Tem-se:
∆u = uxx + uyy
= u1 (x, y) + u2 (x, y) + u3(x, y) + u4 (x, y) xx +
+ u1 (x, y) + u2 (x, y) + u3(x, y) + u4 (x, y) yy
+ u3xx (x, y) + u3yy(x, y) + u4xx (x, y) + u4yy(x, y)
= 0 + 0 + 0 + 0 = 0,
mostrando que u satisfaz a equação de Laplace.
O passo seguinte consiste em verificar cada uma das quatro condições de contorno. Tem-se:
= f (x) + 0 + 0 + 0 = f (x).
= 0 + g(x) + 0 + 0 = g(x).
= 0 + 0 + h(y) + 0 = h(y).
= 0 + 0 + 0 + k(y) = k(y).
O que foi mostrado anteriormente é que u(x, y) é a soma das soluções dos problemas (7.2),
(7.3), (7.4) e (7.5). Portanto, para resolver o problema (7.1), basta resolver cada um dos quatro
problemas citados e somar as suas soluções para obter imediatamente a solução do problema
não homogêneo. Este procedimento é possível porque estes problemas são lineares.
O próximo passo consiste em usar as três condições de contorno homogêneas para determinar
as condições de compatibilidade. Para a primeira condição de contorno, tem-se
Mas se X(x) = 0 para todo x, segue-se de u(x, y) = X(x) · Y (y) que u ≡ 0. Então, fica-se com
Y (0) = 0.
Para a segunda condição de contorno, tem-se
Da mesma forma, u(x, y) = X(x) · Y (y) mostra que, se Y (y) = 0 para todo y, então u ≡ 0.
Então opta-se por X(0) = 0.
Portanto, deve-se resolver os seguintes problemas de valores de contorno:
00
Y + λ Y = 0,
(
X 00 − λ X = 0,
⇒ Y (0) = 0,
X(0) = 0,
Y (b) = 0.
Observe que o primeiro problema só tem uma condição de contorno, enquanto o segundo
tem duas condições. Por isso inicia-se o estudo pelo segundo problema. É neste ponto que a
escolha da constante de separabilidade −λ daria problema na resolução. Se a escolha fosse
−λ o segundo problema teria como solução geral uma combinação linear de seno e cosseno
hiperbólico, como mostra o exemplo 1.5.
Divide-se o segundo problema acima em três casos: λ = 0, λ < 0 e λ > 0.
Y (0) = c1 · 0 + c2 = 0 ⇒ c2 = 0,
Y (b) = c1 · b = 0 ⇒ c1 = 0 ou b = 0.
Mas b é medida de um dos lados do retângulo, logo ele não pode ser zero. Assim, c1 = 0, de
modo que Y (y) = 0 para todo y. Mas isto implica em u ≡ 0.
C ASO 2: para λ < 0. Faça λ = −µ 2, isto evita o aparecimento de raízes. Dessa forma, a
equação se escreve na forma Y 00 − µ 2Y = 0. O exemplo 1.5 mostra que a solução geral para esta
equação é da forma
Y (y) = d1 · cosh(µ y) + d2 · senh (µ y).
Aplicando a primeira condição de contorno, encontra-se
C ASO 3: para λ > 0, faça λ = µ 2 (para evitar aparecimento de raízes). Assim, a equação em
Y fica na forma Y 00 + µ 2Y = 0. Pelo exemplo 1.5, a solução geral desta equação é dada por
Caso fosse e2 = 0, então Y (y) = 0 para todo y e isto implicaria, como já explicado antes,
em u ≡ 0. Logo deve-se optar por sen (µ b) = 0. Isto faz com que o argumento seja igual a um
múltiplo inteiro de π , isto é,
nπ n2 π 2
µ b = nπ ⇒ µ= ⇒ λ= ·
b b2
Assim, a solução é dada por nπ y
Y (y) = e2 · sen,
b
que sem perda de generalidade, fazendo e2 = 1, resulta em
nπ y
(7.7) Yn(y) = sen , n = 1, 2, 3, . . .
b
Agora retorna-se ao problema
(
X 00 − λ X = 0,
X(0) = 0.
Não é necessário estudar este problema em relação aos casos 1 e 2, pois já foi mostrado que
estes dois casos, para o problema de Laplace que se estuda, conduzem semper a solução trivial
u ≡ 0. Logo, o problema acima deve ser analisado apenas no terceiro caso, isto é, para λ = µ 2.
Assim, segundo o exemplo 1.5 a solução geral para a equação X 00 − µ 2X = 0 é dada por
Agora se faz nπ a
bn = cn · senh ,
b
de modo que
∞ nπ y
k(y) = ∑ bn · sen b
·
n=1
A expressão acima é a série de Fourier de uma função ímpar e periódica de período T = 2b.
Assim, chamando de k a extensão da função k no intervalo −b ≤ y ≤ b e periódica de período
T = 2b, tem-se que os coeficientes são dados por
Z nπ y
1 b
bn = k(y) · sen dy
b −b b
Z nπ y
2 b
= k(y) · sen dy,
b 0 b
pois o integrando é par (pois é produto de duas funções ímpares), de modo que se dobra o valor
da integral que é calculada no semi-intervalo [0, b] e onde k coincide com k.
Mas nπ a
bn = cn · senh ,
b
então nπ a 2 Z b nπ y
cn · senh = k(y) · sen dy,
b b 0 b
4.7 Equação de Laplace 495
que resulta em
Z b nπ y
2
cn = k(y) · sen dy.
b · senh (nπ a/b) 0 b
Portanto, a solução do problema (7.1) é dada por
∞ nπ x nπ y
u(x, y) = ∑ cn · senh · sen ,
n=1 b b
onde
Z b nπ y
2
cn = k(y) · sen dy.
b · senh (nπ a/b) 0 b
também é solução geral para a EDO Y 00 − µ 2Y = 0. Para isso, basta derivar a solução Y (y) duas
vezes e substituir na EDO. Tem-se:
Y 0 (y) = d1 · (−µ ) · senh [ µ (b − y)] + d2 · (−µ ) · cosh[ µ (b − y)]
= 0,
mostrando, assim, o que foi afirmado.
Exemplo 7.2: Resolva o seguinte problema de Laplace no retângulo R = (0, a) × (0, b) com
condições de contorno do tipo Dirichlet:
∆ u = uxx + uyy = 0,
0 < x < a, 0 < y < b,
u(x, 0) = f (x), u(x, b) = 0, 0 < x < a,
u(0, y) = 0, u(a, y) = 0, 0 ≤ y ≤ b.
Figura 7.3: Problema de Dirichlet com outra condição de contorno não homogênea.
ou ainda,
X 00 (x) Y 00 (y)
=− = −λ ,
X(x) Y (y)
onde −λ é a constante de separabilidade. Assim, tem-se
X 00 + λ X = 0 e Y 00 − λ Y = 0.
Caso seja X(x) = 0 para todo x, então encontra-se a solução trivial u ≡ 0. Nesse caso, adota-se
Y (b) = 0.
Além disso,
u(0, y) = X(0) · Y (y) = 0 ⇒ X(0) = 0 ou Y (y) = 0, para todo y,
X(a) = c1 · a = 0 ⇒ c1 = 0,
C ASO 2: para λ < 0. Pode-se escrever λ = −µ 2 , pois assim evita-se o surgimento de raízes
negativas. Pelo exemplo 1.5 do capítulo 4 tem-se que a equação X 00 − λ µ 2 X = 0 tem como
solução geral
X(x) = d1 · cosh(µ x) + d2 · senh (µ x).
Usando a primeira condição de contorno, X(0) = 0, encontra-se
Mas µ a 6= 0, pois −µ 2 = λ < 0 e a é um dos lados do retângulo. Assim, por definição, tem-
se que senh (µ a) 6= 0 (na verdade o seno hiperbólico só se anula na origem). e isto implica em
d2 = 0. Assim, tem-se, para λ < 0, que X(x) = 0 para todo x, de modo que se encontra a solução
trivial u ≡ 0.
geral seria a solução trivial u ≡ 0, que é indesejável. Por outro lado, há alguns valores de µ para
os quais se tem sen (µ a) = 0: o argumento deve satisfazer µ a = nπ , de modo que
nπ n2 π 2 ,
µ a = nπ ⇒ µ= e λ= n ∈ N.
a a2
Portanto, nπ x
Xn (x) = sen , n = 1, 2, 3, . . .,
a
onde, sem perda de generalidade, tomou-se e2 = 1.
A equação em Y (y) deve ser analisada apenas no caso 3, uma vez que nos demais casos
sempre se chega a u ≡ 0, não importando qual seja a solução em y. A equação Y 00 − λ Y =
Y 00 − µ 2Y = 0, pela exemplo 1.5 do capítulo 4, tem solução geral
Entretanto, a solução geral acima deve satisfazer a condição de contorno Y (b) = 0 e a forma
acima não é vantajosa, pois com a expressão acima não é possível anular uma das constantes f1
e f2 . Nesse caso, é melhor usar a solução geral apresentada na observação 7.3:
k1 · cosh 0 + k2 · senh 0 = 0 ⇒ k1 = 0,
pois cosh 0 = 1 e senh 0 = 0. Portanto, Y (y) = k2 · senh [µ (b − y)].
Sem perda de generalidade, toma-se k2 = 1, o que permite concluir que
nπ (b − y)
Yn(y) = cosh[µ (b − y)] = senh .
a
Segue-se das expressões obtidas para Xn (x) e Yn(y) que
nπ x
nπ (b − y) ,
un (x, y) = Xn (x) · Yn(y) = sen · senh
a a
de modo que supõe-se que a solução u(x, y) para o problema proposto possa ser representado
como superposição das funções un (x, y), isto é,
∞
u(x, y) = ∑ cn · un(x, y)
n=1
∞ nπ x
nπ (b − y)
= ∑ cn · sen a
· senh
a
·
n=1
∞ nπ x
nπ b
u(x, 0) = ∑ cn · sen · senh = f (x).
n=1 a a
Agora se faz
nπ b ,
an = cn · senh
a
de modo que
∞ nπ x
f (x) = ∑ an · sen a
·
n=1
A expressão acima é a série de Fourier para uma função ímpar e periódica de período T = 2a.
Assim, chamando de f a extensão ímpar da função f no intervalo −a ≤ x ≤ a e periódica de
período T = 2a, tem-se que os coeficientes são dados por
Z nπ x
1 a
an = f (x) · sen dx
a −a a
Z nπ x
2 a
= f (x) · sen dx,
a 0 a
pois o integrando é par (por ser produto entre duas funções ímpares), de modo que se dobra o
valor da integral que é calculada no semi-intervalo [0, a] e onde f coincide com f .
Mas
nπ b ,
an = cn · senh
a
então Z a nπ x
nπ b 2
cn · senh = f (x) · sen dx,
a a 0 a
que resulta em Z a
2 nπ x
cn = f (x) · sen dx.
a · senh (nπ b/a) 0 a
Portanto, a solução do problema proposto é dada por
∞ nπ x
nπ (b − y) ,
u(x, y) = ∑ cn · sen a
· senh
a
n=1
onde Z a
2 nπ x
cn = f (x) · sen dx.
a · senh (nπ b/a) 0 a
uxx + uyy = 0,
0 < x < a, 0 < y < b,
uy (x, 0) = 0, uy(x, b) = 0, 0 ≤ x ≤ a,
ux (0, y) = 0, ux (a, y) = k(y), 0 < y < b.
Caso Y (y) = 0 para todo y, então ter-se-ia u ≡ 0. Logo, assume-se que X 0 (0) = 0.
Para a condição de contorno uy (x, 0) = 0, obtém-se
502 4 Aplicações às EDP
Caso X(x) = 0 para todo x, obter-se-ia u(x, y) ≡ 0. Então adota-se a condição de compatibili-
dade Y 0 (b) = 0.
Agora trata-se de resolver os seguintes problemas de valor de contorno:
( (
X 00 − λ X = 0, Y 00 + λ Y = 0,
e
X 0 (0) = 0, Y 0 (0) = 0 = Y 0 (b).
O primeiro problema acima só tem uma condição de contorno. Já o segundo problema, que
tem duas condições de contorno e que será estudado inicialmente, deve ser analisado em três
casos: λ = 0, λ < 0 e λ > 0.
C ASO 1: para λ = 0. Tem-se Y 00 = 0, que por duas integrações diretas tem como solução
Y (y) = c1 y+c2 . Derivando a última expressão uma vez e usando a condição de contorno Y 0 (0) =
0, encontra-se
Y 0 (y) = c1 ⇒ Y 0 (0) = c1 = 0 ⇒ c1 = 0,
C ASO 2: para λ < 0. Neste caso, para evitar expressões contendo raízes opta-se por escrever
λ = −µ 2 . Assim, o exemplo 1.5 mostra que a solução geral para Y 00 − µ 2Y = 0 é dada por
Mas µ 6= 0 e b > 0, de modo que µ b 6= 0. Além disso, senh (µ b) 6= 0, pois o seno hiper-
bólico de número diferente de zero é não nulo. De fato, basta observar a sua definição:
ex − e−x
senh x = . Segue-se daí que d1 = 0 (pois µ 6= 0). E isto implica que Y (y) = 0 para
2
todo y, de modo que u ≡ 0.
C ASO 3: para λ > 0. Neste caso, escreve-se λ = µ 2 . Pelo exemplo 1.5 a solução geral de
Y 00 + µ 2Y = 0 é dada por
Derivando a última expressão uma vez e usando a condição de contorno Y 0 (0) = 0 na solução
acima, obtém-se
Y 0 (y) = −e1 · µ · sen (µ y) + e2 · µ · cos(µ y)
sen (µ b) = 0 ⇒ µ b = nπ ,
que implica em
nπ n2 π 2
µ= e λ=
·
b b2
Portanto, nπ y
Y (y) = e1 cos ·
b
Sem perda de generalidade é possível tomar e1 = 1, de modo que se encontra
nπ y
Yn(y) = cos ,
b
para todo n ∈ N.
Para a outra equação diferencial, isto é, para X 00 − λ X = 0, com λ = n2π 2/b2, obtém-se como
solução geral a expressão
nπ x nπ x
X(x) = k1 · cosh + k2 · senh ·
b b
A condição de contorno X 0 (0) = 0 implica em
nπ nπ x nπ nπ x
X 0 (x) = k1 · · senh + k2 · · cosh
b b b b
504 4 Aplicações às EDP
0 nπ nπ · 0 nπ nπ · 0
X (0) = k1 · · senh + k2 · · cosh =0
b b b b
nπ nπ
k1 · · senh 0 + k2 · · cosh 0 = 0,
b b
nπ nπ
k1 · · 0 + k2 · · 1 = 0,
b b
e isto implica em k2 = 0 (pois cosh 0 = 1, senh 0 = 0 e nπ/b 6= 0).
Logo, nπ x
Xn (x) = cosh ,
b
onde, sem perda de generalidade, tomou-se k1 = 1.
Portanto, fazendo un (x, y) = Xn (x) · Yn(y), obtém-se
nπ x nπ y
un (x, y) = cosh cos , n ∈ N.
b b
Assim, o candidato à solução do problema de Laplace é dado por
∞
u(x, y) = c + ∑ cn un (x, y)
n=1
∞ nπ x nπ y
(7.9) = c + ∑ cn cosh cos ·
n=1 b b
Para encerrar a solução deste problema é necessário informar como são dados os coeficientes
da série (acima) que representa a solução. Para isso, usa-se a condição de contorno ux (a, y) =
k(y) dada no problema, mas antes é preciso derivar uma vez o candidato à solução do problema
de Laplace. Tem-se:
∞
nπ nπ x nπ y
ux (x, y) = ∑ cn senh cos ,
n=1 b b b
∞
nπ nπ a nπ y
k(y) = ux(a, y) = ∑ cn senh cos ·
n=1 b b b
Fazendo nπ a
nπ ,
an = cn · · senh
b b
obtém-se nπ y
∞
k(y) = ∑ an cos b
·
n=1
Mas a última expressão acima representa a série de Fourier para funções pares (uma série de
cossenos). Assim, fazendo uma extensão par de k no intervalo (−b, b] e periódica de período
T = 2b, denotando tal extensão por k, segue-se que os coeficientes an são dados por
Z b nπ y Z b nπ y
1 2
an = k(y) · cos dy = k(y) · cos dy,
b −b b b 0 b
4.7 Equação de Laplace 505
pois o integrando é par, por ser produto de duas funções pares, e por k coincidir com k no
intervalo [0, b].
Portanto, os coeficientes cn são dados por
Z b nπ y
2
cn = k(y) cos dy.
nπ · senh (nπ a/b) 0 b
Portanto, segue-se de (7.9) que a solução do problema é dada por
∞ nπ x nπ y
u(x, y) = c + ∑ cn · cosh · cos ,
n=1 b b
Agora é importante observar que o termo constante c que aparece na solução u(x, y) não pode
ser determinado, isto é, não existe nenhuma condição dada que permita determinar o valor de c.
Com isso problemas deste tipo não tem solução única. Como foi dito, isso é uma característica
de problemas de Neumann.
Por fim, observa-se que o problema dado só terá solução se a0 = 0, ou seja, se
Z b
k(y) dy = 0.
0
ou seja, uma série de cossenos em que o termo constante não aparece. Isto significa que a0 = 0
nesta série, ou ainda, que
Z b Z b Z b
2 2
a0 = k(y) · cos(0) dy k(y) dy = 0 ⇒ k(y) dy = 0.
b 0 b 0 0
S OLUÇÃO : Observe, primeiro, que não é possível aplicar diretamente o método de separação
de variáveis. Isso se deve a fato de que este método só se aplica a regiões retangulares e o
domínio dado, Ω, é um disco, ou região circular. Assim, este problema deve ser reescrito em
coordenadas polares para que a aplicação do método de separação de variáveis seja possível.
Usando coordenadas polares, isto é,
x = r cos θ e y = r sen θ ,
∂ D = {(r, θ ) | r = a e 0 ≤ θ < 2π } .
pois em ∂ D se tem r = a.
A equação de Laplace e a condição de contorno são dadas por:
u + 1 · u + 1 · u = 0, em D,
rr r θθ
(7.11) r r2
u(a, θ ) = f (θ ), em ∂ D.
Para que u(r, θ ) esteja bem definida, acrescenta-se a hipótese de que u seja periódica de
período T = 2π na variável θ . Além disso, exige-se que a função u(r, θ ) seja limitada para
r ≤ a.
Usar-se-á o método de separação de variáveis para resolver este problema. Suponha que
Derivando u, obtém-se
Esse problema não tem condições de contorno homogêneas. Por outro lado, as soluções têm
que ser limitadas na variável r e periódicas de período T = 2π na variável θ . Considere a
equação Θ 00 (θ ) + λΘ (θ ) = 0. Olhando λ como autovalor dessa equação, então a função Θ
pode ser complexa. Assim, tomando o produto entre Θ e seu conjugado Θ (θ ), integrando de 0
a 2π e usando a EDO anterior, obtém-se
Z 2π Z 2π
2
λ | Θ (θ )| d θ = λ Θ (θ ) · Θ (θ ) d θ
0 0
Z 2π
= [λΘ (θ )] · Θ (θ ) d θ
0
Z 2π
eq.
=− Θ 00(θ ) · Θ (θ ) d θ
0
508 4 Aplicações às EDP
2π Z 2π
0
= −Θ (θ ) · Θ (θ ) + Θ 0 (θ ) · [Θ 0 (θ )] d θ
0 0
Z 2π
= −Θ 0(2π ) · Θ (2π ) + Θ 0(0) · Θ (0) + Θ 0 (θ )2 d θ
0
Z 2π
0
= −Θ (0 + 2π ) · Θ (0 + 2π ) + Θ (0) · Θ (0) +0 Θ 0 (θ )2 d θ
0
Z 2π
= −Θ 0(0) · Θ (0) + Θ 0 (0) · Θ (0) + Θ 0(θ )2 d θ
0
Z 2π
(7.14) = Θ 0 (θ )2 d θ .
0
onde usou-se a periodicidade de Θ em um passo acima. Também se fez uma integração por
partes, fazendo
( h i
u = Θ (θ ), du = Θ (θ ) 0 = [Θ 0 (θ )],
⇒
dv = Θ 00 (θ ) d θ , v = Θ 0(θ ).
Observe que a integral no primeiro e no último membros são positivas, pois os integrandos
são funções positivas (estão elevados ao quadrado). Isso faz com que λ ≥ 0, isto é, λ é um
número real não negativo. Então serão considerados dois casos: λ = 0 e λ > 0.
r2 · R00 + r · R0 = 0.
R(r) = k1 ln r + k2 .4
C ASO 2: para λ > 0, onde se faz λ = µ 2 , em que basta considerar µ > 0. Assim, as equações
em (7.8) ficam na forma
(
r2 · R00 + r · R0 − µ 2R = 0,
Θ 00 + µ 2Θ = 0.
Pelo exemplo 1.5 a solução geral da equação Θ 00 + µ 2Θ = 0 é dada por
Como a igualdade acima vale para todo θ , então basta tomar, em particular, θ = π/2µ . Assim,
π π π ,
cos µ · · cos(2πµ ) − sen µ · · sen (2πµ ) = cos µ ·
2µ 2µ 2µ
ou seja, π π π
cos · cos(2πµ ) − sen · sen (2πµ ) = cos ,
2 2 2
ou ainda,
0 · cos(2πµ ) − sen (2πµ ) = 0 ⇒ sen (2πµ ) = 0.
Isto significa que o argumento 2πµ tem que ser múltiplo inteiro (positivo, pois basta tomar
µ > 0) de 2π . Logo, 2πµ = 2nπ , implica em µ = n, onde n = 0, 1, 2, 3, . . .
Analogamente, desenvolve-se a identidade sen (µθ + 2πµ ) = sen (µθ ). Tem-se:
Como a equação anterior vale para qualquer θ , então basta tomar, em particular, θ = π/2µ
para obter
π π π ,
sen µ · · cos(2πµ ) + sen (2πµ ) · cos µ · = sen µ ·
2µ 2µ 2µ
ou seja, π π π
sen cos(2πµ ) + sen (2πµ ) cos = sen ,
2 2 2
ou ainda,
Mas, para que seja cos(2πµ ) = 1, o argumento 2πµ deve ser múltiplo inteiro (positivo) de
2π . Assim, 2πµ = 2nπ , de modo que µ = n. Assim, nos dois casos obte-se que µ = n. Portanto,
mostrou-se que, para que θ seja periódica de período 2π , é necessário que µ seja um inteiro
positivo n.
A primeira equação, r2 · R00 + r · R0 − µ 2 R = 0, é uma equação de Euler, que tem solução geral
R(r) = c1 · r µ + c2 r −µ . 5
Como µ = n, a solução r −µ que aparece na solução R(r) acima tem que ser descartada, pois
ela se torna ilimitada quando r → 0 (lembre-se que µ > 0). Portanto, segue-se que c2 = 0. Logo,
(7.16) R(r) = c1 · r n .
Agora, suponha que u pode ser representada pela superposição das soluções fundamentais,
isto é,
∞
u(r, θ ) = ∑ cn · un (r, θ )
n=1
∞
c0
= + ∑ r n [cn · cos(nθ ) + dn · sen (nθ )] .
2 n=1
Agora aplica-se a condição de contorno, u(a, θ ) = f (θ ), tomando r = a na última expressão
acima. Note que o termo c0/2 atua aqui como o múltiplo da solução u0 (r, θ ) = 1. Tem-se:
∞
c0
f (θ ) = u(a, θ ) = + ∑ a n [cn · cos(nθ ) + dn · sen (nθ )]
2 n=1
∞
c0
= + ∑ [(a n cn ) · cos(nθ ) + (an dn ) · sen (nθ )]
2 n=1
∞
A0
(7.17) = + ∑ [An · cos(nθ ) + Bn · sen (nθ )] , (0 < θ < 2π ),
2 n=1
onde se fez
c0 = A0 , An = an cn e Bn = an dn .
que uma função qualquer é soma de uma função par com outra ímpar. Consequentemente, a
série de Fourier precisa ser completa, em vez da série só em senos ou só em cossenos.
Assim, a solução final pode ser reescrita da seguinte forma:
∞
c0 rn rn
u(r, θ ) = + ∑ cn · n · cos(nθ ) + dn · n · sen (nθ )
2 n=1 a a
∞ n
c0 r
= +∑ · [cn · cos(nθ ) + dn · sen (nθ )] ,
2 n=1 a
para n = 1, 2, 3, . . .
d 2y dy
(7.18) x2 · 2
+ ax · + by = 0,
dx dx
onde a e b são constantes, é chamada de equação de Euler.
Será feita a mudança de variáveis x = e t para transformar a equação acima em uma EDO com
coeficientes constantes, que permitirá ser resolvida com técnicas conhecidas. Antes, observe que
agora y(t) = y[x(t)] = y (e t ), de modo que
dy dy dx dy
= · = et ·
dt dx dt dx
e 2
d 2y d 2y dx dy d 2x 2
t 2 d y
dy
2
= 2
· + · 2
= e · 2
+ et · ·
dt dx dt dx dt dx dx
Assim,
d 2y dy
x2 · 2
+ ax · + by = 0,
dx dx
2 d 2 y dy
et · 2 + a · e t · + by = 0,
dx dx
2
t 2d y t dy t dy
e +e · + (a − 1) e · + by = 0,
dx2 dx dx
4.7 Equação de Laplace 513
d 2y dy
(7.19) 2
+ (a − 1) · + by = 0.
dt dt
Mas para resolver a equação (7.19) é preciso conhecer explicitamente os coeficientes a e b e,
assim, só dá para resolver caso a caso. Porém existe uma maneira de obter uma solução geral
para a equação de Euler dada em (7.18): procurar por solução da forma y(x) = x λ , para cada λ
possível. Assim, observando que
dy d 2y
= λ · x λ −1 e = λ (λ − 1) · x λ −2,
dx dx2
obtém-se
d 2y dy h i
x2 · 2
+ ax · + by = 0 ⇒ x2 λ (λ − 1) · x λ −2 + ax λ · x λ −1 + b · x λ = 0,
dx dx
λ (λ − 1) · x λ + aλ · x λ + b · x λ = 0 ⇒ x λ [ λ (λ − 1) + aλ + b] = 0.
Como se busca soluções L.I. (Linearmente Independentes), então deve-se ter
λ (λ − 1) + aλ + b = 0 ⇒ λ 2 + (a − 1)λ + b = 0.
Como está equação é do segundo grau, então existem três possibilidades: duas raízes reais e
diferentes, duas raízes reais e iguais e duas raízes complexas conjugadas.
C ASO 1: duas raízes reais e diferentes. Neste caso, tem-se y1 (x) = x α e y2 (x) = x β , de modo
que a solução geral será
y(x) = a1 · x α + a2 · x β .
C ASO 2: duas raízes reais e iguais. Neste caso, tem-se que y1 (x) = x α e y2 (x) = x α · ln x, de
modo que a solução geral será
y(x) = b1 · x α + b2 · x α · ln x.
Observação 7.4: Agora usa-se as informações passadas na observação 7.3 para justificar as
soluções gerais de duas equações de Euler que apareceram na resolução do exemplo 7.4. A
primeira equação foi
r2 · R00 + r · R = 0.
Fazendo R(r) = r λ e substituindo na equação acima e observando que
R0 = λ · r λ −1 e R00 = λ (λ − 1) · r λ −2,
obtém-se h i
2 λ −2 λ −1
r · λ (λ − 1) · r +r· λ ·r = 0,
λ (λ − 1) · r λ + λ · r λ = 0,
r λ λ 2 − λ + λ = 0,
rλ = 0 ou λ 2 = 0.
Se r λ = 0, então R ≡ 0. Logo, tem-se que λ 2 = 0, que implica em λ = 0. Pela observação
7.3 tem-se duas raízes reais e iguais e a solução geral é da forma
R(r) = b1 · r λ + b2 · r λ · ln r ⇒ R(r) = b1 + b2 · ln r,
r2 · R00 + r · R − µ 2R = 0.
λ (λ − 1) · r λ + λ · r λ − µ 2 · r λ = 0,
r λ · λ 2 − λ + λ − µ 2 = 0,
rλ = 0 ou λ 2 − µ 2 = 0.
∆u = uxx + uyy = 0,
x ∈ R e y > 0,
(7.20) u(x, 0) = f (x), x ∈ R,
|u(x, y)| < M.
S OLUÇÃO : Suponha que exista a transformada de Fourier da solução u(x, y), bem como as
transformadas de Fourier de suas derivadas parciais primeiras e segundas e que a função f (x)
seja absolutamente integrável. Suponha também que
− ω 2 · U (ω , y) + U 00(ω , y) = 0 ⇒ U 00 (ω , y) − ω 2 · U (ω , y) = 0.
Observe que a última equação é uma EDO, mas não é do tipo estudado no exemplo 1.5. A
solução geral da equação U 00 − ω 2 · U = 0 é
U (ω , y) = a(ω ) · e −ω y + b(ω ) · e ω y.
Deve-se analisar os três casos: ω > 0, ω = 0 e ω < 0. Para o caso ω = 0 a equação se reduz a
U 00 = 0, de modo que sua solução é dada por U (ω , y) = a(ω )+ b(ω )· y, após integrar duas vezes
em relação a y. Mas aqui ω = 0, de modo que esta solução fica na forma U (0, y) = a(0)+b(0)·y.
Assim,
−ω y + b(ω ) · e ω y , se ω > 0,
a(ω ) · e
U (ω , y) = a(0) + b(0) · y, se ω = 0,
a(ω ) · e ω y + b(ω ) · e −ω y, se ω < 0
Agora usa-se o seguinte teorema sobre transformadas de Fourier: Seja f : R → R uma função
seccionamente diferenciável e absolutamente integrável (ou seja, f ∈ L1), então lim F(ω ) =
ω →± ∞
0. Este teorema diz que a função transformada de Fourier tende para zero no infinito. Assim,
lim U (ω , y) = lim a(ω ) · e −ω y + b(ω ) · e ω y = 0,
ω →∞ ω →∞
lim U (ω , y) = lim a(ω ) · e ω y + b(ω ) · e −ω y = 0.
ω →−∞ ω →−∞
b(ω ) = 0, pois na situação acima as exponenciais tenderiam para +∞ e, portanto, não existiria
a função transformada U (ω , y).
Deste modo, tem-se
−ω y , se ω > 0,
a(ω ) · e
U (ω , y) = a(0) + b(0) · y, se ω = 0,
a(ω ) · e ω y , se ω < 0,
√
y 2π −α |ω | −|ω |y 2 y
F = ·e ⇒ e =F √ · 2 ·
x + y2
2 2 2π x + y2
Agora, a expressão em (7.22) pode ser escrita na forma
2 y
U (ω , y) = F [ f (x)] · F √ · 2 ·
2π x + y2
Agora aplica-se o teorema da convolução para transformada de Fourier (fórmula 17 da
tabela), que é
√ 1
2π [ F(ω ) · G(ω )] = F [( f ∗ g)(x)] ⇒ F −1 [F(ω ) · G(ω )] = √ · ( f ∗ g)(x).
2π
Aplicando a transformada inversa em ambos os membro acima, obtém-se
u(x, y) = F −1 [U (ω , y)]
−1 2 y
=F F [ f (x)] · F √ · 2 2
2π x + y
1 2 y
=√ f (x) ∗ √ · 2
2π 2π x + y2
1 2 y
= √ ·√ f (x) ∗ 2
2π 2π x + y2
Z ∞
1 y
= · f (t) · dt
π −∞ (x − t)2 + y2
Z
y ∞ f (t)
= dt.
π −∞ (x − t)2 + y2
A última expressão obtida acima é a solução do problema (7.20).
p(x, y)
u(x, y) = y +
γ
na lei de Darcy, resulta que
V = − grad u = ∇u,
logo u é um potencial de velocidade.
Agora considera-se a equação da continuidade, que é dada por
dρ
V = 0.
+ ρ divV
dt
Matematicamente, afirmar que um movimento é estacionário equivale a escrever que d ρ/dt =
V = 0,
0 na equação da continuidade. Com isto, a equação da continuidade fica reduzida a divV
ou seja, o fluido é incompressível (pois o divergente do campo é igual a zero).
Aplicando o divergente em ambos os membros da equação de Darcy e considerando que
V = 0, obtém-se
divV
0 = divV V = − div (∇u) = ∆u,
ou seja, ∆u = 0, de modo que esta equação modela o problema de escoamento de um fluido
estacionário em meio pororo. Observe também que, por definição, sempre se tem ∆u = div (∇u)
(a demonstração desta afirmação é deixada como exercício).
Como já comentado, a partir da equação de Darcy é possível mostrar que a solução do proble-
ma de fluxo em meio poroso satisfaz a equação de Laplace, isto é, a equação ∆u = 0 representa
o escoamento. Já as condições de contorno uy(x, 0) = 0, uy (x, b) = 0 e ux(0, y) = 0 diz que não
pode existir fluxo de água em três lados do retângulo R, isto é, não entra e nem sai água nestes
lados.
Observa-se que u representa a pressão do fluído e as derivadas ux e uy no bordo ∂ R de R
representam o fluxo. Estas derivadas, na verdade, são derivadas normais, isto é, derivadas dire-
cionais na direção do vetor normal (a cada lado do retângulo R) apontando para fora da região.
No lado 0 ≤ x ≤ a e y = 0 (isto é, a “base” de R) o vetor normal apontando para fora de R é
paralelo ao eixo y e, como ele aponta “para baixo” de R, pode ser tomado como ν = (0, −1).
Assim, neste caso, a derivada normal é dada por
∂u
= ∇u · ν = (ux (x, 0), uy (x, 0) · (0, −1) = −uy(x, 0).
∂νν
Pedir que não tenha fluxo na “base” de R significa que −uy(x, 0) = 0, isto é, uy(x, 0) para 0 ≤
x ≤ a. Esta é uma das condições de contorno para o problema (7.23). As outras duas condições
de contorno homogêneas podem ser obtidas com este mesmo procedimento. Já a condição de
contorno não homogênea, u(x, y) = α x + b, para 0 ≤ x ≤ a, informa a pressão do fluido “parte
superior” do retângulo R.
ou ainda,
X 00 (x) Y 00 (y)
=− = −λ ,
X(x) Y (y)
onde λ é a constante de separação. Tem-se, portanto, que
X 00 + λ X = 0 e Y 00 − λ Y = 0.
Novamente, se Y (y) = 0 para todo y, então resulta u ≡ 0. Então, tem-se que X 0 (a) = 0.
E por fim, para uy (x, 0) = 0, encontra-se
Caso fosse X(x) = 0 para todo x, então obter-se-ia u ≡ 0. Logo, escolhe-se Y 0 (0) = 0.
Portanto, trata-se de resolver os seguintes problemas de Neumann:
00
X + λ X = 0,
(
Y 00 − λ Y = 0,
(7.24) 0
X (0) = 0, e
Y 0 (0) = 0.
X 0 (a) = 0,
Para resolver o primeiro problema em (7.19), deve-se considerar três casos: λ = 0, λ < 0 e
λ > 0.
C ASO 1: para λ = 0 a equação fica reduzida a X 00 = 0, que integrada duas vezes em relação
a x implica em X(x) = c1 · x + c2 . Para usar a primeira condição de contorno, deve-se, antes,
derivar X(x). Assim, X 0 (x) = c1 e, desse modo, tem-se que
X(0) = c1 = 0 ⇒ c1 = 0,
X 0 (a) = c1 = 0 ⇒ c1 = 0,
C ASO 2: para λ < 0. Faz-se λ = −µ 2 para evitar o aparecimento de raízes. Assim, a equação
fica na forma X 00 − µ 2X = 0 e que, pelo exemplo 1.5, tem como solução geral
Para aplicar as condições de contorno é preciso, antes, derivar a solução acima. Tem-se:
Como µ 6= 0 (pois λ < 0), então d2 = 0, de modo que X(x) = d1 · cosh(µ x). Para aplicar a
condição X 0 (a) = 0, deriva-se X(x) para encontrar X 0 (x) = d1 µ senh (µ x). Assim,
4.7 Equação de Laplace 521
C ASO 3: para λ > 0. Fazendo λ = µ 2 , para evitar aparecimento de raízes, conclui-se que a
equação ficará na forma X + µ 2X = 0. Pelo exemplo 1.5 a solução geral desta EDO é dada por
de modo que X(x) = e1 · cos(µ x). Derivando em relação a x, obtém-se X 0 (x) = −e1 · µ cos(µ x).
Agora aplica-se a segunda condição de contorno para encontrar
Caso fosse e1 · µ = 0, então e1 = 0 (uma vez que µ 6= 0), que implicaria em X(x) = 0 para
todo x e, consequentemente, em u ≡ 0. Logo, sen (µ a) = 0. Então o argumento deve ser múltiplo
inteiro de π , isto é,
nπ n2 π 2
µ a = nπ ⇒ µ= ⇒ λ= ·
a a2
Portanto, a solução para o primeiro problema em (7.24) é
nπ x
(7.25) Xn (x) = cos , n = 1, 2, 3, . . .,
a
onde se fez e1 = 1, sem perda de generalidade.
Agora retorna-se ao segundo problema em (7.24), que deve ser tratado apenas no caso 3.
Assim, a EDO fica na forma Y 00 − µ 2Y = 0. O exemplo 1.5 mostra que a solução geral para esta
equação é
Y (y) = k1 · cosh(µ y) + k2 · senh (µ y),
isto é, nπ y nπ y
Y (y) = k1 · cosh + k2 · sen
·
a a
Agora deriva-se a expressão acima em relação a y,
nπ nπ y nπ nπ y
0
Y (y) = k1 · · senh + k2 · · cosh ,
a a a a
522 4 Aplicações às EDP
Ao fazer
a0 nπ b ,
=c e an = cn · cosh
2 a
a série acima ganha a seguinte forma:
a0 ∞ nπ x
α x + b = + ∑ an cos ·
2 n=1 a
A última expressão acima é a série de cossenos, portanto a série de Fourier de uma função par
e periódica de período T = 2a. Assim, basta estender a função g(x) = α x + b para o intervalo
(−a, a], que será denotada por g(x), e torná-la periódica de período T = 2a para escrever
Z a Z a
a0 1 1
= g(x) dx = g(x) dx
2 2a −a a 0
4.7 Equação de Laplace 523
Z a a
1 1 x2
= (α x + b) dx = α · + bx
a 0 a 2 0
1 a2
= α · + ab − (α · 0 + b · 0)
a 2
a·α
(7.28) = b+ ·
2
Além disso,
Z a nπ x Z nπ x
1 2 a
an = g(x) · cos dx = g(x) · cos dx
a −1 a a 0 a
Z nπ x
2 a
= (α x + b) · cos dx
a 0 a
Z nπ x Z nπ x
2α a 2b a
= x · cos dx + cos dx
a 0 a a 0 a
2α ax nπ x a a a
Z nπ x
= · sen − sen dx +
a nπ a 0 nπ 0 a
2b a nπ x a
+ · · sen
a nπ a 0
Z nπ x
2α a2 a·0 2aα a
= · sen (nπ ) + · sen 0 − sen dx +
a nπ nπ anπ 0 a
2b
[ sen (nπ ) − sen 0]
+
nπ
2α a nπ x a
=− · − · cos
nπ nπ a 0
2aα 2aα
= 2 2
[cos(nπ ) − cos 0] = 2 2 [(−1)n − 1]
n π n π
− 4aα , para n ímpar,
= (2k − 1)2π 2
0, para n par.
4aα ,
(7.29) =− k = 1, 2, 3, . . .
(2k − 1)2 π 2
onde se usou sen (nπ ) = 0 e sen 0 = 0.
Também se fez, em um dos passos acima, uma integração por partes tomando
U = x, dU = dx,
nπ x ⇒ a nπ x
dV = cos , V = · sen ·
a nπ a
Como
524 4 Aplicações às EDP
nπ b ,
an = cn · cosh
a
segue-se de (7.29) que
1
cn = nπ b
· an
cosh a
1 4aα
= h i· −
cosh
(2k−1)π b (2k − 1)2 π 2
a
4a · α
(7.30) =− h i·
πb
π 2 · (2k − 1)2 · cosh (2k−1)
a
a·α
= b+ −
2
4a · α ∞ 1 (2k − 1)π x (2k − 1)π y
− ∑
π 2 n=1 2
h
(2k−1)π b
i · cos
a
· cosh
a
(2k − 1) · cosh a
h i h i
(2k−1)π x (2k−1)π y
a · α 4a · α ∞ cos · cosh
a a
,
= b+ − 2 ∑ h i
2 π n=1 (2k − 1)2 · cosh (2k−1)π b
a
Exercício 3: Resolva o problema do calor em uma barra com extremidades isoladas termica-
mente:
ut − α 2 uxx = 0, 0 < x < L, t > 0,
u (0, t) = 0, t > 0,
x
ux(L, t) = 0, t > 0,
u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.
ut − α 2 uxx = 0, 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = 0, t > 0,
ux(L, t) = 0, t > 0,
u(x, 0) = f (x), 0 ≤ x ≤ L.
O BSERVAÇÃO : este problema é resolvido pelo método de separação de variáveis. Porém cabe
resaltar que a extensão da função inicial f para o intervalo [−L, L] e periódica de período T = 2L
é ligeiramente diferente das extensões consideradas nos exemplos. Basta ficar atento para isso.
Faça u(x, t) = v(x) + w(x, t), onde v e w são as partes estacionária e transiente, respectiva-
mente, da solução u.
(a) Mostre que v(x) é solução do seguinte problema de valores de contorno:
2 00
α v = −h(x),
v(0) = T1 ,
v(L) = T .
2
(b) Mostre que w(x, t) satisfaz ao seguinte problema de valores de contorno homogêneo:
wt − α 2 wxx = 0, 0 < x < L, t > 0
w(0, t) = 0, t > 0,
w(L, t) = 0, t > 0,
w(x, 0) = f (x) − v(x), 0 ≤ x ≤ L.
Exercício 9: Resolva o seguinte problema da corda elástica com uma extremidade solta e
com deslocamente inicial nulo:
utt − α 2 uxx = 0, 0 < x < L, t > 0,
u(0, t) = 0,
t > 0,
ux(L, t) = 0, t > 0,
u(x, 0) = 0, 0 ≤ x ≤ L,
ut (x, 0) = g(x), 0 ≤ x ≤ L.
Exercício 10: Use o método da transformada de Fourier para obter a solução geral da equação
de ondas em domínio ilimitado:
onde k > 0.
(a) Use a solução de d’Alembert para encontrar a solução do problema acima quando f (x) =
e −xe g(x) = 0;
(b) Faça o mesmo, porém, agora, com f (x) = A · sen (ω x) e g(x) = B · cos(µ x), onde A e B
são constantes.
Exercício 12: Considere o problema do exercício 9 onde a EDP é dada por utt − α 2 uxx =
F(x, t), mas mantendo-se as condições iniciais. Use a fórmula de d’Alembert para a equação
não homogênea e determine a solução do problema com as seguintes condições iniciais:
(a) f (x) = sen (ω x), g(x) = 0 e F(x, t) = 1;
(b) f (x) = 0, g(x) = cosh(bx) e F(x, t) = 4x + t.
Exercício 14: Resolva o seguinte problema de Laplace no retângulo R = (0, a) × (0, b) com
condições de contorno do tipo Neumann:
∆u = uxx + uyy = 0, 0 < x < a, 0 < y < b,
uy (x, 0) = 0, uy (x, b) = 0, 0 ≤ x ≤ a,
u (0, y) = h(y), ux (a, y) = 0, 0 < y < b.
x
Exercício 15: Resolva o seguinte problema de Laplace no retângulo R = (0, a) × (0, b) com
condições de contorno do tipo misto:
∆u = uxx + uyy = 0,
0 < x < a, 0 < y < b,
uy (x, 0) = 0, u(x, b) = g(x), 0 ≤ x ≤ a,
u(0, y) = 0, u(a, y) = 0, 0 < y < b.
Exercício 16: (a) Encontre a solução u(r, θ ) da equação de Laplace na região semicircular
0 < r < a e 0 < θ < π satisfazendo o seguinte problema de contorno:
1 1
urr + · ur + 2 · uθθ = 0, 0 < r < a e 0 < θ < π,
r r
u(r, 0) = 0, 0 < r < a,
u(r, π ) = 0, 0 < r < a,
u(a, θ ) = f (θ ), 0 < θ < π.
Exercício 17: Use o método da transformada de Fourier para determinar a solução da equação
de Laplace no semiplano:
(
∆u = uxx + uyy = 0, x ∈ R, y > 0
u(x, 0) = f (x), x ∈ R.
Exercício 1: (a) hiperbólica em R2; (b) parabólica em R2; (c) elítica em R2; (d) hiperbólica
em R2 ; (e) parabólica em R2; (f) elítica em R2 .
Exercício 2: (a) hiperbólica; (b) parabólica; (c) hiperbólica; (d) parabólica; (e) hiperbólica;
(f) parabólica; (g) elítica; (h) hiperbólica para |x| > 1, parabólica para |x| = 1 e elítica para |x| <
530 4 Aplicações às EDP
1; (i) hiperbólica para y < e −x, parabólica para y = e −x e elítica para y > e −x; (j) hiperbólica
para x < 0, parabólica para x = 0 e elítica para x > 0; (k) hiperbólica para xy(xy + 1) > 0,
parabólica para xy(xy + 1) = 0 e elítica para xy(xy + 1) < 0; (l) hiperbólica para xy(xy − 1) > 0,
parabólica para xy(xy − 1) = 0 e elítica para xy(xy − 1) < 0.
∞
Exercício 3: u(x, t) = k + ∑ cn · e −(
n2 π 2 α 2 t )/L2 · cos nπ x , onde
n=1 L
Z L nπ x
2
cn = f (x) · cos dx, n = 0, 1, 2, 3, . . .
L 0 L
∞
−[(2n+1)2 π 2 α 2 t ]/4L2 (2n + 1)π x ,
Exercício 4: u(x, t) = ∑ c 2n+1 · e · sen onde
n=0 2L
Z L
4 (2n + 1)π x
c 2n+1 = f (x) · sen dx.
2L 0 2L
2 2
Exercício 5: Parte (e): un (x, t) = e −µn α t · sen (µn x).
Z 2t
1
Exercício 7: u(x, t) = f (x − 2t) + (k ∗ h)(x, t) = f (x − 2t) + h(x − y) dy, onde k(x, t) =
√ 2 0
2π
· χ [0,2t] (x).
2
Para f (x) = cos x e h(x) = 0: apesar de não ser possível aplicar a transformada de Fourier
diretamente neste problema, pois não existe a transforma de Fourier para a função cos x, ela
satisfaz a equação do calor dada (encontre as derivadas e as substitua na EDP do calor). Assim,
pela solução anterior, basta concluir que u(x, t) = cos(x − 2t).
∞
(2n + 1)π x (2n + 1)πα t ,
Exercício 8: u(x, t) = ∑ c 2n+1 · sen · cos onde
n=0 2L 2L
Z
2 L (2n + 1)π x
c 2n+1 = f (x) · sen dx, n = 0, 1, 2, 3, . . .
L 0 2L
∞
(2n + 1)π x (2n + 1)πα t ,
Exercício 9: u(x, t) = ∑ c 2n+1 · sen · sen onde
n=0 2L 2L
Z L
4 (2n + 1)π x
c 2n+1 = g(x) · sen dx.
(2n + 1)πα 0 2L
B
Parte (b): u(x, t) = A · [ sen (ω x)] · [cos(ω α t)] + · [ sen (µ α t)] · [cos(µ x)]
µα
t2
Exercício 12: (a) u(x, t) = sen (ω x) · cos(ωα t) − ·
2α
cosh (bx) + senh (bα t) 2 t3
(b) u(x, t) = + 2 xt + ·
bα 6
∞ nπ x nπ y
Exercício 13: u(x, y) = ∑ cn sen · senh , onde
n=1 a a
Z a nπ x
2 1
cn = · g(x) sen dx, n = 1, 2, 3, . . .
a senh (nπ b/a) 0 a
∞ nπ y
nπ (x − a) ,
Exercício 14: u(x, y) = k + ∑ cn · cos · cosh onde
n=1 b b
Z b nπ y
2
cn = nπ a k(y) · cos dy, n = 1, 2, 3, . . .
nπ · senh 0 b
b
∞ nπ x nπ y
Exercício 15: u(x, y) = ∑ cn · sen · cosh , onde
n=1 a a
Z a nπ x
2
cn = g(x) · sen dx.
nπ b 0 a
a · cosh
a
∞ Z π
n 2
Exercício 16: (a) u(r, θ ) = ∑ cn · r · sen (nθ ), onde cn = n f (θ ) · sen (nθ ) d θ .
n=1 πa 0
4 1 − cos(nπ )
(b) cn = · ·
π an n3
Z ∞
1 y f (t)
Exercício 17: u(x, y) = √ ( f ∗ k)(x, y) = 2 2
dt, onde
2π π −∞ (x − t) + y
2 y
k(x, y) = √ · 2 ·
2π x + y2
532 4 Aplicações às EDP
Enunciar-se-á, mas sem demonstrar, o teorema do valor médio para funções de uma variável
e que será usado na demonstração do próximo resultado. A demonstração deste teorema pode
ser encontrada em livros de Cálculo ou de Análise.
Teorema 8.1 (do valor médio): Seja f : [a, b] → R uma função contínua e derivável no
intervalo aberto (a, b). Então, existe c ∈ (a, b) tal que
f (b) − f (a)
f 0 (c) = ·
b−a
O próximo passo consiste em aplicar o teorema do valor médio (veja o teorema 8.1), sepa-
radamente, em cada parte entre colchetes no segundo membro de (8.0). Assim, fazendo a = x0
e b = x0 + h, existe θ ∈ (0, 1) tal que
∂f
f (x0 + t, y0 + t) − f (x0 , y0 + t) = (x0 + θ t, y0 + t) [(x0 + t) − x0]
∂x
∂f
(8.1) = (x0 + θ t, y0 + t) · t
∂x
e
∂f
f (x0 + t, y0 ) − f (x0 , y0) = (x0 + θ t, y0 )[(x0 + t) − x0 , ]
∂x
∂f
(8.2) = (x0 + θ t, y0 ) · t.
∂x
Substituindo (8.1) e (8.2) em (8.0), obtém-se
4.8 Exercícios propostos 533
∂f ∂f
ϕ (t) = (x0 + θ t, y0 + t) · t − (x0 + θ t, y0 ) · t
∂x ∂x
∂f ∂f
(8.3) = (x0 + θ t, y0 + t) − (x0 + θ t, y0 ) · t.
∂x ∂x
Observe-se, agora, que a derivada parcial de f em relação a x que aparece no segundo membro
de (8.3) é diferenciável (pois f ∈ C2(Ω), por hipótese) e que a primeira coordenada é constante,
mas com a segunda variando de y0 até y0 + t. Isto permite usar novamente o teorema do valor
médio, porém agora na segunda coordenada. Fazendo a = y0 e b = y0 + t no teorema do valor
médio, tem-se que existe θ ∈ (0, 1) tal que
∂f ∂f ∂2 f
(x0 + θ t, y0 + t) − (x0 + θ t, y0 ) = (x0 + θ t, y0 + θ t) [(y0 + t) − y0]
∂x ∂x ∂y∂x
2
∂ f
(8.4) = (x0 + θ t, y0 + θ t) · t.
∂y∂x
Substituindo (8.4) em (8.3), obtém-se
2
∂ f
ϕ (t) = (x0 + θ t, y0 + θ t) · t 2 ,
∂y∂x
donde segue-se que
ϕ (t) ∂2 f
= (x0 + θ t, y0 + θ t).
t2 ∂y∂x
Como f é de classe C2 (Ω), então a derivada parcial de segunda ordem e mista que aparece
acima é contínua em (x0 , y0 ). Logo, existe limite para t → 0 no segundo membro e, pela igual-
dade, também existe limite para t → 0 no primeiro membro. Portanto,
2
ϕ (t) ∂ f
lim = lim (x0 + θ t, y0 + θ t)
t→0 t 2 t→0 ∂ y ∂ x
∂2 f
(8.5) = (x0 , y0 ) .
∂y∂x
A ideia inicial da demonstração foi definir uma função ϕ , reescrevê-la em uma forma con-
veniente para aplicar o teorema do valor médio (veja a expressão (8.0) dada anteriormente)
e chegar a expressão em (8.5). Para mostrar a igualdade entre as duas derivadas parciais de
segunda ordem e mistas, é preciso reescrever em outra forma, igualmente conveniente, para
chegar-se a outra derivada parcial segunda mista. Todo o procedimento a seguir é análogo ao
anterior.
Assim, deve-se reescrever ϕ do seguinte modo:
A próxima etapa consiste em aplicar o teorema do valor médio (veja o teorema 8.1), sepa-
radamente, em cada parte entre colchetes no segundo membro de (8.6). Assim, fazendo a = y0
e b = y0 + h naquele teorema, tem-se que existe θ ∈ (0, 1) tal que
∂f
f (x0 + t, y0 + t) − f (x0 + t, y0 ) = (x0 + t, y0 + θ t)[(y0 + t) − y0]
∂y
∂f
(8.7) = (x0 + t, y0 + θ t) · t
∂y
e
∂f
f (x0 , y0 + t) − f (x0 , y0 ) = (x0 , y0 + θ t)[(y0 + t) − y0]
∂y
∂f
(8.8) = (x0 , y0 + θ t) · t.
∂y
Substituindo (8.7) e (8.8) em (8.6), obtém-se
∂f ∂f
ϕ (t) = (x0 + t, y0 + θ t) · t − (x0t, y0 + θ t) · t
∂y ∂y
∂f ∂f
(8.9) = (x0 + t, y0 + θ t) − (x0 , y0 + θ t) · t.
∂y ∂y
Observe-se, agora, que a derivada parcial de f em relação a y que aparece no segundo membro
de (8.9) é diferenciável (pois f ∈ C2 (Ω), por hipótese) e que a segunda coordenada é constante,
mas com a primeira variando de x0 até x0 + t. Isto permite usar novamente o teorema do valor
médio, porém agora na segunda coordenada. Fazendo a = x0 e b = x0 + t no teorema do valor
médio, tem-se que existe θ ∈ (0, 1) tal que
∂f ∂f ∂2 f
(x0 + t, y0 + θ t) − (x0 , y0 + θ t) = (x0 + θ t, y0 + θ t)[(x0 + t) − x0]
∂y ∂y ∂x∂y
2
∂ f
(8.10) = (x0 + θ t, y0 + θ t) · t.
∂x∂y
Substituindo (8.10) em (8.9), obtém-se
2
∂ f
ϕ (t) = (x0 + θ t, y0 + θ t) · t 2 ,
∂x∂y
donde segue-se que
ϕ (t) ∂2 f
= (x0 + θ t, y0 + θ t).
t2 ∂x∂y
Como f é de classe C2 (Ω), então a derivada parcial de segunda ordem e mista que aparece
acima é contínua em (x0 , y0 ). Logo, existe limite para t → 0 no segundo membro e, pela igual-
dade, também existe limite para t → 0 no primeiro membro. Portanto,
4.8 Exercícios propostos 535
2
ϕ (t) ∂ f
lim = lim (x0 + θ t, y0 + θ t)
t→0 t 2 t→0 ∂ x ∂ y
∂2 f
(8.11) = (x0 , y0 ) .
∂x∂y
Para finalizar, basta notar que os primeiros membros nas expressões obtidas em (8.5) e (8.11)
são iguais, de modo que devem ser iguais os respectivos segundos membros, isto é,
∂2 f ∂2 f
(x0 , y0 ) = (x0 , y0 ),
∂y∂x ∂x∂y
o que demonstra este teorema.
É importante ressaltar a hipótese de a função ser de classe C2 para poder afirmar que as duas
derivadas parciais mistas são iguais. Caso isto não seja observado, a igualdade poderá deixar de
existir. O próximo exemplo ilustra esta situação.
É fácil constatar que nos pontos de R2 \ {(0, 0)}, f possui derivadas parciais de todas as
ordens. O problema que pode surgir reside na origem. Para determinar as derivadas parciais
segundas será necessário encontrar as derivadas parciais primeiras.
Para a derivada parcial de f em relação a x em (0, y), com y 6= 0, tem-se
f (0 + h, y) − f (0, y) 1 hy3 0.y3
= −
h h h2 + y2 02 + y2
hy3 y3
= = ·
h (h2 + y2) h2 + y2
O último membro acima tem limite para h → 0, de modo que existe limite para h → 0 no
primeiro membro. Assim,
∂f f (0 + h, y) − f (0, y)
(0, y) = lim
∂x h→0 h
y3
= lim
h→0 h2 + y2
y3 y3
= = = y.
h2 + y2 y2
536 4 Aplicações às EDP
(8.12) = lim 1 = 1.
k→0
Segue-se de (8.12) e (8.13) que as derivadas parciais segundas mistas, na origem, são diferen-
tes, isto é,
4.8 Exercícios propostos 537
∂2 f ∂2 f
(0, 0) = 1 6= 0 = (0, 0).
∂y∂x ∂x∂y
Como a função é de classe C2 , então as derivadas parciais mistas que aparecem em (8.19)
serão iguais. Com isso, obtém-se a seguinte regra, também dita da cadeia:
2
d 2z ∂ z d 2x ∂ 2z dx ∂ 2 z dx dy ∂ z d 2y ∂ 2 z dy 2
(8.20) = · + · +2 · · + · + · ·
dt 2 ∂ x dt 2 ∂ x2 dt ∂ x ∂ y dt dt ∂ y dt 2 ∂ y2 dt
Com isso, encerra-se a demonstração da proposição.
∂ ∂z ∂y ∂z ∂ ∂y
+ · + ·
∂u ∂y ∂u ∂y ∂u ∂u
∂ ∂z ∂ x ∂ z ∂ 2x ∂ ∂z ∂ y ∂ z ∂ 2y
(8.23) = · + · 2+ · + · ·
∂u ∂x ∂u ∂x ∂u ∂u ∂y ∂ u ∂ y ∂ u2
A etapa seguinte consiste em determinar expressões para as seguintes derivadas:
∂ ∂z ∂ ∂z
e ·
∂u ∂x ∂u ∂y
Para isso é importante observar que
∂ ∂z ∂ ∂z ∂ ∂z ∂ ∂z
= (x(u, v), y(u, v)) e = (x(u, v), y(u, v)) ,
∂u ∂x ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂y
isto é, que as derivadas parciais são funções compostas.
Assim, tem-se
∂ ∂z ∂ ∂z ∂x ∂ ∂z ∂y
= · + ·
∂u ∂x ∂x ∂x ∂u ∂y ∂x ∂u
∂ 2z ∂ x ∂ 2z ∂ y
(8.24) = · + · ·
∂ x2 ∂ u ∂ y ∂ x ∂ u
e
∂ ∂z ∂ ∂z ∂x ∂ ∂z ∂y
= · + ·
∂u ∂y ∂x ∂y ∂u ∂y ∂y ∂u
∂ 2z ∂ x ∂ 2z ∂ y
(8.25) = · + · ·
∂ x ∂ y ∂ u ∂ y2 ∂ u
Substituindo (8.24) e (8.25) em (8.23), encontra-se
∂ 2z ∂ ∂z ∂ x ∂ z ∂ 2x ∂ ∂z ∂ y ∂ z ∂ 2y
= · + · + · + ·
∂ u2 ∂u ∂x ∂ u ∂ x ∂ u2 ∂u ∂y ∂ u ∂ y ∂ u2
2
∂ z ∂x ∂ 2 z ∂ y ∂ x ∂ z ∂ 2x
= · + · · + · +
∂ x2 ∂ u ∂ y ∂ x ∂ u ∂ u ∂ x ∂ u2
2
∂ z ∂ x ∂ 2 z ∂ y ∂ y ∂ z ∂ 2y
+ · + · · + ·
∂ x ∂ y ∂ u ∂ y2 ∂ u ∂ u ∂ y ∂ u2
∂ 2z ∂ x ∂ x ∂ 2z ∂ y ∂ x ∂ z ∂ 2 x
= · · + · · + · +
∂ x2 ∂ u ∂ u ∂ y ∂ x ∂ u ∂ u ∂ x ∂ u2
∂ 2z ∂ x ∂ y ∂ 2 z ∂ y ∂ y ∂ z ∂ 2 y
+ · · + · · + ·
∂ x ∂ y ∂ u ∂ u ∂ y2 ∂ u ∂ u ∂ y ∂ u2
2
∂ 2z ∂x ∂ z ∂ 2x ∂ 2z ∂ y ∂ x
= 2· + · 2+ · · +
∂x ∂u ∂x ∂u ∂y∂x ∂u ∂u
4.8 Exercícios propostos 541
2
∂ 2 z ∂ x ∂ y ∂ 2z ∂y ∂ z ∂ 2y
(8.26) + · · + · + · ·
∂ x ∂ y ∂ u ∂ u ∂ y2 ∂u ∂ y ∂ u2
Considerando funções de classe C2, então as derivadas parciais mixtas serão iguais, isto é,
∂ 2z ∂ 2z
= ·
∂x∂y ∂y∂x
Portanto, usando este fato em (8.26), obtém-se
2 2
∂ 2 z ∂ 2z ∂x ∂ z ∂ 2x ∂ 2z ∂ x ∂ y ∂ 2z ∂y ∂ z ∂ 2y ,
= · + · + 2 · · + · + ·
∂ u2 ∂ x2 ∂u ∂ x ∂ u2 ∂ x ∂ y ∂ u ∂ u ∂ y2 ∂u ∂ y ∂ u2
que é a expressão indicada em (8.21).
Para obter a derivada parcial segunda de z em relação a v, dada em (8.22), o procedimento é
análogo. Inicia-se determinando a derivada parcial de z em relação a v:
∂z ∂z ∂x ∂z ∂y
= · + · ·
∂v ∂x ∂v ∂y ∂v
Em seguida, deriva-se a expressão anterior usando a regra do produto para determinar a
derivada segunda de z em relação a v:
∂ 2z ∂ ∂z ∂x ∂z ∂y
= · + ·
∂ v2 ∂ v ∂ x ∂ v ∂ y ∂ v
∂ ∂z ∂x ∂z ∂ ∂x
= · + · +
∂v ∂x ∂v ∂x ∂v ∂v
∂ ∂z ∂y ∂z ∂ ∂y
+ · + ·
∂v ∂y ∂v ∂y ∂v ∂v
∂ ∂z ∂ x ∂ z ∂ 2x ∂ ∂z ∂ y ∂ z ∂ 2y
(8.27) = · + · 2+ · + · ·
∂v ∂x ∂v ∂x ∂v ∂v ∂y ∂ v ∂ y ∂ v2
O próximo passo consiste em determinar expressões para as derivadas
∂ ∂z ∂ ∂z ,
e
∂v ∂x ∂v ∂y
não se esquecendo que em tais derivadas x e y dependem de u e v.
Deste modo,
∂ ∂z ∂ ∂z ∂x ∂ ∂z ∂y
= · + ·
∂v ∂x ∂x ∂x ∂v ∂y ∂x ∂v
∂ 2z ∂ x ∂ 2z ∂ y
(8.28) = · + ·
∂ x2 ∂ v ∂ y ∂ x ∂ v
e
542 4 Aplicações às EDP
∂ ∂z ∂ ∂z ∂x ∂ ∂z ∂y
= · + ·
∂v ∂y ∂x ∂y ∂v ∂y ∂y ∂v
∂ 2z ∂ x ∂ 2z ∂ y
(8.29) = · + · ·
∂ x ∂ y ∂ v ∂ y2 ∂ v
Substituindo (8.28) e (8.29) em (8.27), encontra-se
∂ 2z ∂ ∂z ∂ x ∂ z ∂ 2x ∂ ∂z ∂ y ∂ z ∂ 2y
= · + · + · + ·
∂ v2 ∂v ∂x ∂ v ∂ x ∂ v2 ∂v ∂y ∂ v ∂ y ∂ v2
2
∂ z ∂x ∂ 2z ∂ y ∂ x ∂ z ∂ 2 x
= · + · · + · +
∂ x2 ∂ v ∂ y ∂ x ∂ v ∂ v ∂ x ∂ v2
2
∂ z ∂ x ∂ 2 z ∂ y ∂ y ∂ z ∂ 2y
+ · + · · + ·
∂ x ∂ y ∂ v ∂ y2 ∂ v ∂ v ∂ y ∂ v2
∂ 2z ∂ x ∂ x ∂ 2 z ∂ y ∂ x ∂ z ∂ 2x
= · · + · · + · +
∂ x2 ∂ v ∂ v ∂ y ∂ x ∂ v ∂ v ∂ x ∂ v2
∂ 2 z ∂ x ∂ y ∂ 2z ∂ y ∂ y ∂ z ∂ 2y
+ · · + · · + ·
∂ x ∂ y ∂ v ∂ v ∂ y2 ∂ v ∂ v ∂ y ∂ v2
∂ 2z ∂ x 2 ∂ z ∂ 2x ∂ 2z ∂ y ∂ x
= 2· + · 2+ · · +
∂x ∂v ∂x ∂v ∂y∂x ∂v ∂v
∂ 2 z ∂ x ∂ y ∂ 2z ∂ y 2 ∂ z ∂ 2 y
(8.30) + · · + · + · ·
∂ x ∂ y ∂ v ∂ v ∂ y2 ∂v ∂ y ∂ v2
Considerando funções de classe C2, então as derivadas parciais mixtas serão iguais, isto é,
∂ 2z ∂ 2z
= ·
∂x∂y ∂y∂x
Portanto, usando este fato em (8.30), obtém-se
∂ 2 z ∂ 2z ∂ x 2 ∂ z ∂ 2x ∂ 2z ∂ x ∂ y ∂ 2z ∂ y 2 ∂ z ∂ 2y ,
= · + · +2 · · + · + ·
∂ v2 ∂ x2 ∂v ∂ x ∂ v2 ∂ x ∂ y ∂ v ∂ v ∂ y2 ∂v ∂ y ∂ v2
que é a expressão dada em (8.22).
Observação 8.1: O leitor poderá revisitar a expressão obtida em (8.5) (regra de derivação
para uma variável) e observar que ela é um caso particular das expressões determinadas em
(8.21) e (8.22): basta tratar v como constante nestas duas últimas fórmulas para encontrar a
primeira.
4.8 Exercícios propostos 543
∂ 2u ∂ 2u
∆u = + ·
∂ x2 ∂ y2
A proposição abaixo exibe o laplaciano em coordenadas polares.
∂ 2u 1 ∂ 2u 1 ∂u
(8.0) ∆u = + · + · ·
∂ r2 r2 ∂ θ 2 r ∂r
D EMONSTRAÇÃO : Considere um sistema de coordenadas polares dado pelas seguintes equações:
x = r cos θ e y = r sen θ .
x = r cos θ e y = r sen θ ,
isto é
(
dx = cos θ dr − r sen θ d θ ,
(8.3)
dy = sen θ dr + r cos θ d θ .
Multiplicando a primeira equação em (8.3) por cos θ e multiplicando a segunda equação por
sen θ , obtém-se
544 4 Aplicações às EDP
(
cos θ dx = cos2 θ dr − r sen θ cos θ d θ ,
sen θ dy = sen 2 θ dr + r sen θ cos θ d θ ,
que somadas as equações resulta em
Agora multiplica-se a primeira equação em (8.3) por − sen θ e a segunda equação por cos θ ,
obtém-se (
− sen θ dx = − sen θ cos θ dr + r sen 2 θ d θ ,
cos θ dy = sen θ cos θ dr + r sen 2 θ d θ ,
que somadas as equações resulta em
sen θ cos θ
r d θ = − sen θ dx + cos θ dy ⇒ dθ = − dx + dy.
r r
Logo, tem-se um sistema em termos de dx e dy:
dr = cos θ dx + sen θ dy,
(8.4)
d θ = − sen θ dx + cos θ dy.
r r
Por outro lado, tem-se que
∂r ∂r
dr = dx + dy,
∂x ∂y
(8.5)
∂θ ∂θ
dθ = dx + dy.
∂x ∂y
Comparando os sistemas (8.4) e (8.5), conclui-se que
∂r ∂r ∂θ sen θ , ∂θ cos θ
(8.6) = cos θ , = sen θ , =− = ·
∂x ∂y ∂x r ∂y r
Substituindo (8.6) nas equações (8.1) e (8.2), obtém-se
∂u ∂u sen θ ∂ u ,
(8.7) = cos θ · − ·
∂x ∂r r ∂θ
∂u ∂u cos θ ∂ u
(8.8) = sen θ · + · ·
∂y ∂r r ∂θ
Com isso, consegue-se estabelecer expressões para as derivadas parciais primeiras para u e
que permitirão regras gerais para representar as derivadas parciais segundas em termos de r e θ .
Assim, para determinar uma regra geral para a derivada parcial de segunda ordem para u duas
vezes em relação a x, basta usar a equação (8.7), a regra do produto e observar que
4.8 Exercícios propostos 545
∂ 2u ∂ ∂u
2
=
∂x ∂x ∂x
(8.7) ∂ ∂u sen θ ∂ ∂ u
= cos θ −
∂r ∂x r ∂θ ∂x
(8.7) ∂ ∂ u sen θ ∂ u
= cos θ cos θ · − · −
∂r ∂r r ∂θ
sen θ ∂ ∂ u sen θ ∂ u
− cos θ · − ·
r ∂θ ∂r r ∂θ
∂ ∂u ∂ sen θ ∂ u
= cos θ cos θ · − · −
∂r ∂r ∂r r ∂θ
sen θ ∂u ∂ ∂u ∂ sen θ ∂ u
− − sen θ · + cos θ · − ·
r ∂r ∂θ ∂r ∂θ r ∂θ
d.p. ∂ 2 u sen θ ∂ u sen θ ∂ 2 u
= cos θ cos θ · 2 + 2 · − · −
∂r r ∂θ r ∂ r∂ θ
sen θ ∂u ∂ 2u cos θ ∂ u sen θ ∂ 2 u
− − sen θ · + cos θ · − · − ·
r ∂r ∂θ∂r r ∂θ r ∂θ2
∂ 2u sen θ · cos θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2 u
= cos2 θ · + · − · +
∂ r2 r2 ∂θ r ∂ r∂ θ
sen 2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2 u sen θ · cos θ ∂ u sen 2 θ ∂ 2u
+ · − · + · + ·
r ∂r r ∂θ∂r r2 ∂θ r2 ∂θ2
∂ 2u sen θ · cos θ ∂ 2u sen 2θ ∂ 2 u
= cos2 θ · − 2 + · +
∂ r2 r ∂ r∂ θ r2 ∂θ2
sen 2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ u
(8.9) + · +2 · ·
r r r2 ∂θ
onde usou (8.7) mais de uma vez e, em seguida, a regra de derivação do produto (d.p.). Além
disso, por hipótese u ∈ C2 , de modo que
∂ 2u ∂ 2u
= ·
∂ θ ∂ r ∂ r∂ θ
Agora determina-se a derivada parcial de segunda ordem em relação a y da função u(x, y). O
procedimento é análogo. Tem-se:
∂ 2u ∂ ∂u
2
=
∂y ∂y ∂y
(8.8) ∂ ∂u cos θ ∂ ∂ u
= sen θ +
∂r ∂y r ∂θ ∂y
546 4 Aplicações às EDP
(8.8) ∂ ∂ u cos θ ∂ u
= sen θ sen θ · + · +
∂r ∂r r ∂θ
cos θ ∂ ∂ u cos θ ∂ u
+ sen θ · + ·
r ∂θ ∂r r ∂θ
∂ ∂u ∂ cos θ ∂ u
= sen θ sen θ · + · +
∂r ∂r ∂r r ∂θ
cos θ ∂u ∂ ∂u ∂ cos θ ∂ u
+ cos θ · + sen θ · + ·
r ∂r ∂θ ∂r ∂θ r ∂θ
d.p. ∂ 2 u cos θ ∂ u cos θ ∂ 2 u
= sen θ sen θ · 2 − 2 · + · +
∂r r ∂θ r ∂ r∂ θ
cos θ ∂u ∂ 2u sen θ ∂ u cos θ ∂ 2 u
+ cos θ · + sen θ · − · + ·
r ∂r ∂θ∂r r ∂θ r ∂θ2
∂ 2u sen θ · cos θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2u
= sen 2 θ · − · + · +
∂ r2 r2 ∂θ r ∂ r∂ θ
cos2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2u sen θ · cos θ ∂ u cos2 θ ∂ 2u
+ · + · − · + 2 · 2
r ∂r r ∂θ∂r r2 ∂θ r ∂θ
∂ 2u
2 sen θ cos θ ∂ 2 u cos2 θ ∂ 2 u
= sen θ · 2 + 2 · + 2 · +
∂r r ∂ r∂ θ r ∂θ2
cos2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ u ,
(8.10) + · −2 ·
r ∂r r2 ∂θ
onde as passagens acima se justificam como antes.
Agora soma-se (8.9) e (8.10) para encontrar o laplaciano em coordenadas polares. Assim,
∂ 2u ∂ 2u
∆u = +
∂ x2 ∂ y2
∂ 2u 1 ∂ u 1 ∂u
= 2
+ 2· 2
+ · ,
∂r r ∂θ r ∂r
como desejado.
∂ 2u 1 ∂ 2u 1 ∂u ∂ 2u
(8.11) ∆u = 2 + 2 · + · + ·
∂r r ∂θ2 r ∂r ∂ z2
D EMONSTRAÇÃO : Seja u = u(x, y, z), onde (x, y, z) ∈ Ω ⊂ R3 . Considere um sistema de co-
ordenadas polares dado pelas seguintes equações:
x = r cos θ , y = r sen θ e z = z.
∂u ∂u ∂r ∂u ∂θ ,
(8.12) = · + ·
∂x ∂r ∂x ∂θ ∂x
∂u ∂u ∂r ∂u ∂θ ,
(8.13) = · + ·
∂y ∂r ∂y ∂θ ∂y
∂u ∂u
(8.14) = ·
∂z ∂z
Agora é preciso determinar as seguintes derivadas parciais:
∂r , ∂θ , ∂r ∂θ
e ·
∂x ∂x ∂y ∂y
548 4 Aplicações às EDP
Note que não é preciso calcular a derivada parcial de u em relação a z, pois ela é imediata.
Para isso, usa-se as diferenciais de
x = r cos θ e y = r sen θ ,
isto é
(
dx = cos θ dr − r sen θ d θ ,
(8.15)
dy = sen θ dr + r cos θ d θ .
Multiplicando a primeira equação em (8.15) por cos θ e multiplicando a segunda equação por
sen θ , obtém-se (
cos θ dx = cos2 θ dr − r sen θ cos θ d θ ,
sen θ dy = sen 2 θ dr + r sen θ cos θ d θ ,
que somadas as equações resulta em
Agora multiplica-se a primeira equação em (8.15) por − sen θ e a segunda equação por cos θ ,
obtém-se (
− sen θ dx = − sen θ cos θ dr + r sen 2 θ d θ ,
cos θ dy = sen θ cos θ dr + r sen 2 θ d θ ,
que somadas as equações resulta em
sen θ cos θ
r d θ = − sen θ dx + cos θ dy ⇒ dθ = − dx + dy.
r r
Logo, tem-se um sistema em termos de dx e dy:
dr = cos θ dx + sen θ dy,
(8.16)
d θ = − sen θ dx + cos θ dy.
r r
Por outro lado, tem-se que
∂r ∂r
dr = ∂ x dx + ∂ y dy,
(8.17)
∂θ ∂θ
dθ = dx + dy.
∂x ∂y
Comparando os sistemas (8.16) e (8.17), conclui-se que
∂r ∂r ∂θ sen θ , ∂θ cos θ
(8.18) = cos θ , = sen θ , =− = ·
∂x ∂y ∂x r ∂y r
Substituindo (8.18) nas equações (8.12) e (8.13), obtém-se
4.8 Exercícios propostos 549
∂u ∂u sen θ ∂ u ,
(8.19) = cos θ · − ·
∂x ∂r r ∂θ
∂u ∂u cos θ ∂ u
(8.20) = sen θ · + · ·
∂y ∂r r ∂θ
Com isso, consegue-se estabelecer expressões para as derivadas parciais primeiras para u e
que permitirão regras gerais para representar as derivadas parciais segundas em termos de r e θ .
Assim, para determinar uma regra geral para a derivada parcial de segunda ordem para u duas
vezes em relação a x, basta usar a equação (8.19), a regra do produto e observar que
∂ 2u ∂ ∂u
=
∂ x2 ∂ x ∂ x
(8.19) ∂ ∂u sen θ ∂ ∂ u
= cos θ −
∂r ∂x r ∂θ ∂x
(8.19) ∂ ∂ u sen θ ∂ u
= cos θ cos θ · − · −
∂r ∂r r ∂θ
sen θ ∂ ∂ u sen θ ∂ u
− cos θ · − ·
r ∂θ ∂r r ∂θ
∂ ∂u ∂ sen θ ∂ u
= cos θ cos θ · − · −
∂r ∂r ∂r r ∂θ
sen θ ∂u ∂ ∂u ∂ sen θ ∂ u
− − sen θ · + cos θ · − ·
r ∂r ∂θ ∂r ∂θ r ∂θ
d.p. ∂ 2 u sen θ ∂ u sen θ ∂ 2 u
= cos θ cos θ · 2 + 2 · − · −
∂r r ∂θ r ∂ r∂ θ
sen θ ∂u ∂ 2u cos θ ∂ u sen θ ∂ 2 u
− − sen θ · + cos θ · − · − ·
r ∂r ∂θ∂r r ∂θ r ∂θ2
∂ 2u sen θ · cos θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2 u
= cos2 θ · + · − · +
∂ r2 r2 ∂θ r ∂ r∂ θ
sen 2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2 u sen θ · cos θ ∂ u sen 2 θ ∂ 2u
+ · − · + · + ·
r ∂r r ∂θ∂r r2 ∂θ r2 ∂θ2
∂ 2u sen θ · cos θ ∂ 2u sen 2θ ∂ 2 u
= cos2 θ · − 2 + · +
∂ r2 r ∂ r∂ θ r2 ∂θ2
sen 2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ u
(8.21) + · +2 · ·
r r r2 ∂θ
onde usou (8.19) mais de uma vez e, em seguida, a regra de derivação do produto (d.p.). Além
disso, por hipótese u ∈ C2 , de modo que
∂ 2u ∂ 2u
= ·
∂ θ ∂ r ∂ r∂ θ
550 4 Aplicações às EDP
Agora determina-se a derivada parcial de segunda ordem em relação a y da função u(x, y). O
procedimento é análogo. Tem-se:
∂ 2u ∂ ∂u
=
∂ y2 ∂ y ∂ y
(8.20) ∂ ∂u cos θ ∂ ∂ u
= sen θ +
∂r ∂y r ∂θ ∂y
(8.20) ∂ ∂ u cos θ ∂ u
= sen θ sen θ · + · +
∂r ∂r r ∂θ
cos θ ∂ ∂ u cos θ ∂ u
+ sen θ · + ·
r ∂θ ∂r r ∂θ
∂ ∂u ∂ cos θ ∂ u
= sen θ sen θ · + · +
∂r ∂r ∂r r ∂θ
cos θ ∂u ∂ ∂u ∂ cos θ ∂ u
+ cos θ · + sen θ · + ·
r ∂r ∂θ ∂r ∂θ r ∂θ
d.p. ∂ 2 u cos θ ∂ u cos θ ∂ 2 u
= sen θ sen θ · 2 − 2 · + · +
∂r r ∂θ r ∂ r∂ θ
cos θ ∂u ∂ 2u sen θ ∂ u cos θ ∂ 2 u
+ cos θ · + sen θ · − · + ·
r ∂r ∂θ∂r r ∂θ r ∂θ2
∂ 2 u sen θ · cos θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2u
= sen 2 θ · − · + · +
∂ r2 r2 ∂θ r ∂ r∂ θ
cos2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ 2 u sen θ · cos θ ∂ u cos2 θ ∂ 2 u
+ · + · − · + 2 ·
r ∂r r ∂θ∂r r2 ∂θ r ∂θ2
∂ 2u sen θ cos θ ∂ 2u cos2 θ ∂ 2u
= sen 2 θ · + 2 · + · +
∂ r2 r ∂ r∂ θ r2 ∂θ2
cos2 θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ u
(8.22) + · −2 · ·
r ∂r r2 ∂θ
onde as passagens acima se justificam como antes.
Além disso, segue imediatamente de (8.14) que
∂ 2u ∂ 2u
(8.23) = 2·
∂ z2 ∂z
Agora soma-se (8.21), (8.22) e (8.23) para encontrar o laplaciano em coordenadas cilíndricas.
Assim,
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
∆u = 2 + 2 + 2
∂x ∂y ∂z
4.8 Exercícios propostos 551
∂ 2u
2 sen θ · cos θ ∂ 2 u sen 2 θ ∂ 2u
= cos θ · 2 − 2 + · 2+
∂r r ∂ r∂ θ r2 ∂θ
!
sen 2θ ∂ u sen θ · cos θ ∂ u
+ · +2 · +
r r r2 ∂θ
podem ser interpretadas como uma associação entre pontos do espaço xyz e do espaço uvw.
Neste caso, as curvas u = constante, v = constante e w = constante determinam um sistema de
coordenadas curvilíneas no espaço xyz.
Agora se escreve (8.24) da seguinte forma:
x(u, v, w) − x = 0,
y(u, v, w) − y = 0,
z(u, v, w) − z = 0.
∂x ∂x ∂x
du + dv + dw = 0,
∂u
∂v ∂w
∂y ∂y ∂y
du + dv + dw = 0,
∂u ∂v ∂w
∂ z du + ∂ z dv + ∂ z dw = 0.
∂u ∂v ∂w
Se o jacobiano J da transformação é dado por
∂x ∂x ∂ x
∂u ∂v ∂ w
∂ (x, y, z) ∂ y ∂y ∂y ,
J= =
∂ (u, v, w) ∂ u ∂v ∂ w
∂z ∂z ∂ z
∂u ∂v ∂w
então é possível mostrar (veja, por exemplo, a referência [65] na bibliografia) que
∂ (y, z) ∂ (z, x) ∂ (x, y)
∂u ∂ (v, w) , ∂u ∂ (v, w) , ∂ u ∂ (v, w) ,
= = =
∂x J ∂y J ∂z J
∂ (y, z) ∂ (z, x) ∂ (x, y)
(8.25) ∂v ∂ (w, u) , ∂v ∂ (w, u) , ∂ v ∂ (w, u) ,
= = =
∂ x J ∂ y J ∂ z J
∂ (y, z) ∂ (z, x) ∂ (x, y)
∂ w = ∂ (u, v) , ∂w ∂ (u, v) , ∂ w ∂ (u, v)
= = ·
∂x J ∂y J ∂z J
∂ 2u 1 ∂ 2u 1 ∂ 2u 2 ∂u cotg ϕ ∂ u
(8.26) ∆u = 2
+ 2· 2
+ 2 2
· 2 + · + · ·
∂ρ ρ ∂ϕ ρ sen ϕ ∂ θ ρ ∂ρ ρ2 ∂ϕ
D EMONSTRAÇÃO : Para facilitar a demonstração, deduzir-se-á as expressões para coorde-
nadas esféricas e outros resultados auxiliares. Na figura 8.1, segue-se do triângulo retângulo
OxQ que
x y
cos θ = e sen θ = ,
r r
de modo que
de modo que
y = ρ sen ϕ sen θ ,
z = ρ cos ϕ .
segue-se que
554 4 Aplicações às EDP
∂x ∂y ∂z
= sen ϕ cos θ , = sen ϕ sen θ , = cos ϕ ,
∂ ρ ∂ρ ∂ρ
∂x ∂y ∂z
(8.32) = ρ cos ϕ cos θ , = ρ cos ϕ sen θ , = −ρ sen ϕ ,
∂ ϕ ∂ϕ ∂ϕ
∂x ∂y ∂z
= −ρ sen ϕ sen θ , = ρ sen ϕ cos θ , = 0.
∂θ ∂θ ∂θ
Com as relações em (8.32), é possível determinar o jacobiano da transformação. Tem-se:
∂x ∂x ∂x
∂ρ ∂ϕ ∂θ
∂y ∂y ∂y
J =
∂ρ ∂ϕ ∂θ
∂z ∂z ∂θ
∂ρ ∂ϕ ∂w
sen ϕ cos θ ρ cos ϕ cos θ −ρ sen ϕ sen θ
= sen ϕ sen θ ρ cos ϕ sen θ ρ sen ϕ cos θ
cos ϕ −ρ sen ϕ 0
= ρ 2 sen ϕ .
∂y ∂ y
∂ρ ∂ ϕ
sen ϕ sen θ ρ cos ϕ sen θ
∂ (y, z) ∂z ∂ z
∂θ ∂ (ρ , ϕ ) ∂ρ ∂ϕ cos ϕ −ρ sen ϕ
= = =
∂x J J ρ 2 sen ϕ
−ρ sen 2 ϕ sen θ − ρ cos2 ϕ sen θ −ρ sen θ sen 2ϕ + cos2 ϕ
= =
ρ 2 sen ϕ ρ 2 sen ϕ
sen θ
(8.35) =− ·
ρ sen ϕ
∂z ∂z
∂ϕ ∂θ
−ρ sen ϕ 0
∂ (z, x) ∂x ∂ x
∂ρ ∂ (ϕ , θ ) ∂ϕ ∂θ ρ cos ϕ cos θ −ρ sen ϕ sen θ
= = =
∂y J J ρ 2 sen ϕ
556 4 Aplicações às EDP
ρ 2 sen 2 ϕ sen θ
=
ρ 2 sen ϕ
(8.36) = sen ϕ sen θ .
∂z ∂z
∂θ ∂ρ
0 cos ϕ
∂ (z, x) ∂x ∂ x
∂ϕ ∂ (θ , ρ ) ∂θ ∂ρ −ρ sen ϕ sen θ sen ϕ cos θ
= = =
∂y J J ρ 2 sen ϕ
ρ sen ϕ cos ϕ sen θ
=
ρ 2 sen ϕ
cos ϕ sen θ
(8.37) = ·
ρ
∂z ∂ z
∂ρ ∂ ϕ
cos ϕ −ρ sen ϕ
∂ (z, x) ∂x ∂ x
∂θ ∂ (ρ , ϕ ) ∂ρ ∂ϕ sen ϕ cos θ ρ cos ϕ cos θ
= = =
∂y J J ρ 2 sen ϕ
ρ cos2 ϕ cos θ + ρ sen 2ϕ cos θ ρ cos θ cos2 ϕ + sen 2 ϕ
= =
ρ 2 sen ϕ ρ 2 sen ϕ
cos θ
(8.38) = ·
ρ sen ϕ
∂x ∂x
∂ϕ ∂θ
ρ cos ϕ cos θ −ρ sen ϕ sen θ
∂ (x, y) ∂y ∂ y
∂ρ ∂ (ϕ , θ ) ∂ϕ ∂θ ρ cos ϕ sen θ ρ sen ϕ cos θ
= = =
∂z J J ρ 2 sen ϕ
ρ 2 sen ϕ cos ϕ cos2 θ + ρ 2 sen ϕ cos ϕ sen 2 θ
=
ρ 2 sen ϕ
ρ 2 sen ϕ cos ϕ cos2 θ + sen 2θ
=
ρ 2 sen ϕ
(8.39) = cos ϕ .
4.8 Exercícios propostos 557
∂x ∂ x
∂θ ∂ ρ
−ρ sen ϕ sen θ sen ϕ cos θ
∂ (x, y) ∂y ∂ y
∂ϕ ∂ (θ , ρ ) ∂θ ∂ρ ρ sen ϕ cos θ sen ϕ sen θ
= = =
∂z J J ρ 2 sen ϕ
−ρ sen 2 ϕ sen 2 θ − ρ sen 2 ϕ cos2 θ −ρ sen 2ϕ sen 2 ϕ + cos2 ϕ
= =
ρ 2 sen ϕ ρ 2 sen ϕ
sen ϕ
(8.40) =− ·
ρ
∂x ∂ x
∂ρ ∂ ϕ
sen ϕ cos θ ρ cos ϕ cos θ
∂ (x, y) ∂y ∂ y
∂θ ∂ (ρ , ϕ ) ∂ρ ∂ϕ sen ϕ sen θ ρ cos ϕ sen θ
= = =
∂z J J ρ 2 sen ϕ
ρ sen ϕ cos ϕ sen θ cos θ − ρ sen ϕ cos ϕ sen θ cos θ
=
ρ 2 sen ϕ
0
(8.41) = = 0.
ρ 2 sen ϕ
O resumo dos cálculos encontrados em (8.33)-(8.41) está apresentado no quadro abaixo:
∂ρ ∂ρ ∂ρ
= sen ϕ cos θ , = sen ϕ sen θ , = cos ϕ ,
∂x ∂y ∂z
∂ϕ cos ϕ cos θ , ∂ ϕ cos ϕ sen θ , ∂ϕ sen ϕ ,
(8.42) = = =−
∂x ρ ∂y ρ ∂z ρ
∂θ sen θ , ∂θ cos θ , ∂θ
=− = = 0.
∂x ρ sen ϕ ∂y ρ sen ϕ ∂z
determinar uma regra geral para a derivada parcial de segunda ordem para u duas vezes em
relação a x, basta usar a primeira equação em (8.43), a regra do produto e observar que
∂ 2u ∂ ∂u
=
∂ x2 ∂ x ∂x
(8.43) ∂ ∂u cos ϕ cos θ ∂ ∂u
= sen ϕ cos θ + −
∂ρ ∂x ρ ∂ϕ ∂x
sen θ ∂ ∂u
−
ρ sen ϕ ∂ θ ∂ x
(8.43) ∂ ∂ u cos ϕ cos θ ∂ u sen θ ∂ u
= sen ϕ cos θ sen ϕ cos θ · + · − · +
∂ρ ∂ρ ρ ∂ ϕ ρ sen ϕ ∂ θ
cos ϕ cos θ ∂ ∂ u cos ϕ cos θ ∂ u sen θ ∂ u
+ sen ϕ cos θ · + · − · −
ρ ∂ϕ ∂ρ ρ ∂ ϕ ρ sen ϕ ∂ θ
sen θ ∂ ∂ u cos ϕ cos θ ∂ u sen θ ∂ u
− sen ϕ cos θ · + · − ·
ρ sen ϕ ∂ θ ∂ρ ρ ∂ ϕ ρ sen ϕ ∂ θ
d.p. ∂ 2 u sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ u
= sen 2ϕ cos2 θ · − · +
∂ ρ2 ρ2 ∂ϕ
sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ 2 u sen θ cos θ ∂ u sen θ cos θ ∂ 2 u
+ · + · − · +
ρ ∂ ρ∂ ϕ ρ2 ∂θ ρ ∂ ρ∂ θ
cos2 ϕ cos2 θ ∂ u sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ 2 u sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ u
+ · + · − · +
ρ ∂ρ ρ ∂ ϕ∂ ρ ρ2 ∂ϕ
cos2 ϕ cos2 θ ∂ 2u cos2 ϕ sen θ cos θ ∂ u cos ϕ sen θ cos θ ∂ 2u
+ · + · − · +
ρ2 ∂ ϕ2 ρ 2 sen 2 ϕ ∂θ ρ 2 sen ϕ ∂ ϕ∂ θ
sen 2 θ ∂ u sen θ cos θ ∂ 2 u cos ϕ sen 2 θ ∂ u
+ · − · + · −
ρ ∂ρ ρ ∂θ∂ρ ρ 2 sen ϕ ∂ϕ
cos ϕ sen θ cos θ ∂ 2 u sen θ cos θ ∂ u sen 2 θ ∂ 2 u
− · + · + ·
ρ 2 sen ϕ ∂θ∂ϕ ρ 2 sen 2 ϕ ∂ θ ρ 2 sen 2 ϕ ∂ θ 2
∂ 2 u cos2 ϕ cos2 θ ∂ 2u sen 2 θ ∂ 2u
= sen 2ϕ cos2 θ · + · + · +
∂ ρ2 ρ2 ∂ ϕ 2 ρ 2 sen 2 ϕ ∂ θ 2
2
cos ϕ cos2 θ sen 2 θ ∂u
+ + ·
ρ ρ ∂ρ
sen ϕ cos ϕ cos2 θ sen ϕ cos ϕ cos2 θ cos ϕ sen 2 θ ∂ u
+ − − + +
ρ2 ρ2 ρ 2 sen ϕ ∂ϕ
sen θ cos θ cos2 ϕ sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
+ + + 2 +
ρ2 ρ 2 sen 2 ϕ ρ sen 2 ϕ ∂ θ
4.8 Exercícios propostos 559
2
sen ϕ cos ϕ cos2 θ sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ u
+ + −
ρ ρ ∂ ρ∂ ϕ
2
sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
− + −
ρ ρ ∂ ρ∂ θ
2
cos ϕ sen θ cos θ cos ϕ sen θ cos θ ∂ u
− 2
+ 2
ρ sen ϕ ρ sen ϕ ∂ ϕ∂ θ
∂ 2 u cos2 ϕ cos2 θ ∂ 2 sen 2 θ ∂ 2u
= sen 2 ϕ cos2 θ · 2 + · + · +
∂ρ ρ2 ∂ ϕ 2 ρ 2 sen 2ϕ ∂ θ 2
2
cos ϕ cos2 θ sen 2θ ∂u
+ + ·
ρ ρ ∂ρ
cos ϕ sen 2 θ sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ u
+ −2 +
ρ 2 sen ϕ ρ2 ∂ϕ
sen θ cos θ cos2 ϕ sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
+ + + 2 +
ρ2 ρ 2 sen 2ϕ ρ sen 2 ϕ ∂ θ
sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ 2 u sen θ cos θ ∂ 2 u
+2 · −2 · −
ρ ∂ ρ∂ ϕ ρ ∂ ρ∂ θ
cos ϕ sen θ cos θ ∂ 2u
(8.44) −2 · ·
ρ 2 sen ϕ ∂ ϕ∂ θ
onde usou-se a primeira equação em (8.43) mais de uma vez e a regra de derivação do produto.
Além disso, por hipótese, u ∈ C2, de modo que as derivadas parciais mistas são iguais.
Usa-se o mesmo procedimento para encontrar a derivada parcial segunda de u em relação a
y. Tem-se:
∂ 2u ∂ ∂u
=
∂ y2 ∂ y ∂y
(8.43) ∂ ∂u cos ϕ sen θ ∂ ∂u
= sen ϕ sen θ · + · +
∂ρ ∂y ρ ∂ϕ ∂y
cos θ ∂ ∂u
+ ·
ρ sen ϕ ∂ θ ∂ y
(8.43) ∂ ∂ u cos ϕ sen θ ∂ u cos θ ∂ u
= sen ϕ sen θ · sen ϕ sen θ · + · + · +
∂ρ ∂ρ ρ ∂ ϕ ρ sen ϕ ∂ θ
cos ϕ sen θ ∂ ∂ u cos ϕ sen θ ∂ u cos θ ∂ u
+ · sen ϕ sen θ · + · + · +
ρ ∂ϕ ∂ρ ρ ∂ ϕ ρ sen ϕ ∂ θ
cos θ ∂ ∂ u cos ϕ sen θ ∂ u cos θ ∂ u
+ · sen ϕ sen θ · + · + ·
ρ sen ϕ ∂ θ ∂ρ ρ ∂ ϕ ρ sen ϕ ∂ θ
560 4 Aplicações às EDP
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
∆u = + +
∂ x2 ∂ y2 ∂ z2
∂ 2u cos2 ϕ cos2 θ ∂ 2 sen 2θ ∂ 2 u
= sen 2 ϕ cos2 θ · 2 + · + · +
∂ρ ρ2 ∂ ϕ 2 ρ 2 sen 2 ϕ ∂ θ 2
2
cos ϕ cos2 θ sen 2 θ ∂u
+ + ·
ρ ρ ∂ρ
562 4 Aplicações às EDP
cos ϕ sen 2 θ sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ u
+ −2 +
ρ 2 sen ϕ ρ2 ∂ϕ
sen θ cos θ cos2 ϕ sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
+ + + 2 +
ρ2 ρ 2 sen 2ϕ ρ sen 2 ϕ ∂ θ
sen ϕ cos ϕ cos2 θ ∂ 2 u sen θ cos θ ∂ 2 u
+2 · −2 · −
ρ ∂ ρ∂ ϕ ρ ∂ ρ∂ θ
cos ϕ sen θ cos θ ∂ 2 u
−2 · +
ρ 2 sen ϕ ∂ ϕ∂ θ
∂ 2u cos2 ϕ sen 2 θ ∂ 2u cos2 θ ∂ 2u
+ sen 2 ϕ sen 2 θ · 2 + · + · +
∂ρ ρ2 ∂ ϕ 2 ρ 2 sen 2 ϕ ∂ θ 2
2
cos ϕ sen 2 θ cos2 θ ∂ u
+ + +
ρ ρ ∂ρ
cos ϕ cos2 θ sen ϕ cos ϕ sen 2 θ ∂ u
+ −2 −
ρ 2 sen ϕ ρ2 ∂ϕ
sen θ cos θ cos2 ϕ sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
− + + 2 +
ρ2 ρ 2 sen 2ϕ ρ sen 2 ϕ ∂ θ
sen ϕ cos ϕ sen 2θ ∂ 2 u sen θ cos θ ∂ 2 u
+2 · +2 · +
ρ ∂ ρ∂ ϕ ρ ∂ ρ∂ θ
cos ϕ sen θ cos θ ∂ 2 u
+2 · +
ρ 2 sen ϕ ∂ ϕ∂ θ
∂ 2 u sen 2 ϕ ∂ 2 u sen 2 ϕ ∂ u
+ cos2 ϕ 2 + · + · +
∂ρ ρ2 ∂ ϕ2 ρ ∂ρ
sen ϕ cos ϕ ∂ u sen ϕ cos ϕ ∂ 2u
+2 · −2 ·
ρ2 ∂ϕ ρ ∂ ρ∂ ϕ
∂ 2u
= sen 2 ϕ cos2 θ + sen 2 ϕ sen 2θ + cos2 ϕ +
∂ ρ2
2
cos ϕ cos2 θ cos2 ϕ sen 2 θ sen 2 ϕ ∂ 2 u
+ + + +
ρ2 ρ2 ρ2 ∂ ϕ2
2
sen 2θ cos2 θ ∂ u
+ + 2 +
ρ sen ϕ ρ sen ϕ ∂ θ 2
2 2 2
2
cos ϕ cos2 θ sen 2 θ cos2 ϕ sen 2 θ cos2 θ sen 2 ϕ ∂ u
+ + + + + +
ρ ρ ρ ρ ρ ∂ρ
cos ϕ sen 2 θ sen ϕ cos ϕ cos2 θ cos ϕ cos2 θ sen ϕ cos ϕ sen 2 θ
+ − 2 + − 2 +
ρ 2 sen ϕ ρ2 ρ 2 sen ϕ ρ2
4.8 Exercícios propostos 563
sen ϕ cos ϕ ∂u sen θ cos θ cos2 ϕ sen θ cos θ sen θ cos θ
+2 + + + 2 −
ρ2 ∂ϕ ρ2 ρ 2 sen 2 ϕ ρ sen 2 ϕ
sen θ cos θ cos2 ϕ sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
− − − 2 +
ρ2 ρ 2 sen 2 ϕ ρ sen 2 ϕ ∂ θ
2
sen ϕ cos ϕ cos2 θ sen ϕ cos ϕ sen 2 θ sen ϕ cos ϕ ∂ u
+ 2 +2 −2 +
ρ ρ ρ ∂ ρ∂ ϕ
2
sen θ cos θ sen θ cos θ ∂ u
+ −2 +2 +
ρ ρ ∂ ρ∂ θ
2
cos ϕ sen θ cos θ cos ϕ sen θ cos θ ∂ u
+ −2 + 2
ρ 2 sen ϕ ρ 2 sen ϕ ∂ ϕ∂ θ
∂ 2u
= sen 2 ϕ cos2 θ + sen 2 θ + cos2 ϕ +
∂ ρ2
2
cos ϕ 2 2
sen 2 ϕ ∂ 2u
+ · cos θ + sen θ + +
ρ2 ρ2 ∂ ϕ2
sen 2 θ + cos2 θ ∂ 2 u
+ +
ρ 2 sen 2ϕ ∂θ2
2
cos ϕ 2 2
sen 2 θ + cos2 θ sen 2ϕ ∂ u
+ · cos θ + sen θ + + +
ρ ρ ρ ∂ρ
cos ϕ 2 2
sen ϕ cos ϕ 2 2
sen ϕ cos ϕ ∂ u
+ 2 sen θ + cos θ − 2 cos θ + sen θ + 2 +
ρ sen ϕ ρ2 ρ2 ∂ϕ
∂u sen ϕ cos ϕ 2 2
sen ϕ cos ϕ ∂ 2u
+0· + 2 cos θ + sen θ − 2 +
∂θ ρ ρ ∂ ρ∂ ϕ
∂ 2u ∂ 2u
+0· +0·
∂ ρ∂ θ ∂ ϕ∂ θ
∂ 2u 1 ∂ 2u 1 ∂ 2u 2 ∂ u cos ϕ ∂u
= 2
+ 2
· 2
+ 2 2
· 2
+ · + 2 ·
∂ρ ρ ∂ϕ ρ sen ϕ ∂ θ ρ ∂ ρ ρ sen ϕ ∂ ϕ
∂ 2u 1 ∂ 2u 1 ∂ 2u 2 ∂ u cotg ϕ ∂ u ,
= + · + · + · + ·
∂ ρ 2 ρ 2 ∂ ϕ 2 ρ 2 sen 2 ϕ ∂ θ 2 ρ ∂ ρ ρ2 ∂ϕ
que é a expressão em (8.26).
564 4 Aplicações às EDP
Considere uma barra uniforme isolada termicamente nas laterais, de modo que a condução
do calor só se dê na direção do eixo, porém admite-se transferência de calor nas extremidades
da barra. Sejam L o comprimento dessa barra e A a área de sua seção transversal.
κ A |T2 − T1|
Q(x0 , t) = lim
d→0 d
u(x0 + d, t) − u(x0, t)
= κ A · lim
d→0 d
= κ A ux (x0 , t).
4.8 Exercícios propostos 565
Observa-se que o módulo foi retirado intencionalmente: o sinal da última expressão pode
variar, neste caso. O importante é dar um sentido físico para −κ A ux (x, t) e para κ A u(x, t).
Define-se o fluxo de calor na direção positiva do eixo x por
Z t0 +∆t
q= κ A [ux (x0 + ∆x, t) − ux (x0 , t)] dt
t0
Z t0 +∆t Z x0 +∆x
= κA uxx(x, t) dx dt
t0 x0
Z t0 +∆t Z x0 +∆x
(8.4) = κ A uxx(x, t) dx dt.
t0 x0
Como os primeiros membros em (8.3) e (8.4) são iguais, então seus segundos membros tam-
bém serão iguais. Assim,
Z t0 +∆t Z x0 +∆x Z t0 +∆t Z x0 +∆x
κ A uxx(x, t) dx dt = c ρ A ut (x, t) dx dt,
t0 x0 t0 x0
Z t0 +∆t Z x0 +∆x Z t0 +∆t Z x0 +∆x
κ uxx(x, t) dx dt = c ρ ut (x, t) dx dt,
t0 x0 t0 x0
Z t0 +∆t Z x0 +∆x Z t0 +∆t Z x0 +∆x
κ uxx(x, t) dx dt − c ρ ut (x, t) dx dt = 0,
t0 x0 t0 x0
Z t0 +∆t Z x0 +∆x
(8.5) [κ uxx (x, t) − c ρ ut (x, t)] dx dt = 0.
t0 x0
A expressão em (8.5) é válida para todo t0 > 0, todo 0 < x0 < L e todos ∆t > 0 e ∆x > 0.
Segue-se daí que
ou seja,
κ
ut (x, t) − uxx(x, t) = 0 ⇒ ut − α 2 uxx = 0,
cρ
onde α 2 = κ/cρ é a difusividade térmica, que depende apenas do material de que é feita a barra.
A última equação é chamada de equação do calor e que representa a variação da temperatura
u(x, t) em uma barra uniforme com superfície lateral isolada termicamente.
A temperatura u(x, t) da barra satisfaz a equação do calor, mas, por outro lado, esta equação
tem várias soluções. Por exemplo, se a função u(x, t) for constante ou u(x, t) = cx, onde c é
constante, então u satisfaz a equação do calor. Assim, deve-se impor outras condições. Uma
condição inicial é essencial para determinar a solução u(x, t). Assim, escrever u(x, 0) = f (x),
com f : [0, L] → R dada, significa dizer que f descreve a temperatura nos vários pontos da barra
quando t = 0.
Além disso, é importante informar se as extremidades da barra estão isoladas termicamente,
se entra ou não calor, etc. Estas informações nas extremidades da barra são chamadas de
condições de fronteira e podem ser de vários tipos.
Por exemplo, se
u(0, t) = T1 e u(0, t) = T2 ,
4.8 Exercícios propostos 567
então isto significa que as extremidades da barra estão sendo mantidas a temperaturas contantes,
mas com temperatura diferente em cada extremidade.
Caso seja
u(0, t) = T1(t) e u(L, t) = T2 (t),
então as condições de fronteiras descrevem a variação da temperatura nas extremidades da barra.
Outra possilidade é analisar o fluxo de calor nas extremidades. Neste caso, o fluxo de calor
é dado pelas derivadas normais, ou seja, derivadas direcionais na direção do vetor normal ν e
que aponta para fora das extremidades da barra. Para a extremidade esquerda e direita da barra,
tem-se, respectivamente que
∂u ∂u
(0, t) e (L, t)·
∂νν 1 ∂νν 2
Como estas derivadas normais são paralelas ao eixo x, então pode-se tomar como vetores
normais ν 1 = (−1, 0) e ν 2 = (1, 0), respectivamente, nas derivadas acima. Assim, em dimensão
1, tem-se que
∂u
(0, t) = ∇u(0, t) · ν1 = (ux (0, t), ut (0, t)) · (−1, 0) = −ux(0, t),
∂νν 1
∂u
(0, t) = ∇u(L, t) · ν2 = (ux (L, t), ut (L, t)) · (1, 0) = ux (L, t).
∂νν 2
Caso seja
ux(0, t) = ux (L, t) = 0,
então está se afirmando que o fluxo de calor nas extremidades é zero, ou seja, que não entra e
nem sai calor nas extremidades da barra. Isto é o mesmo que dizer que as extremidades estão
isoladas termicamente.
Também é possivel ter condições de fronteira que informam a temperatura em uma extremi-
dade e o fluxo de calor na outra. Por exemplo,
u(0, t) = 0 e ux (L, t) = 0.
Existem outras possibilidades, mas essas são suficientes para os objetivos deste texto.
equilíbrio ao longo do eixo x. Além disso, supõe-se que os pontos sobre a corda se desloquem
apenas na direção do eixo u, ou seja, considera-se as vibrações transversais. Além disso, supõe-
se que a corda tem comprimento L e tem as extremidades fixas em x = 0 e x = L, mas com uma
tensão τ constante ao longo da corda. Essa situação inicial é chamada de posição de equilíbrio
da corda.
Suponha que a corda seja perturbada de sua posição de equilíbrio e que comece a vibrar
livremente no plano xOu, onde cada ponto sobre a corda se desloque perpendicularmente ao
eixo x. Aqui é necessário supor que a amplitude da corda seja muito pequena, a fim de que
a inclinação relativa ao eixo x seja pequena em comparação com a posição de equilíbrio. Isto
significa dizer que um segmento dx da corda em posição de equilíbrio deforma-se em um arco
de curva ds no instante t, de modo que ds ≈ dx (ou seja, ds é aproximadamente igual a dx). Isto
não seria verdade caso a amplitude fosse grande.
A função u(x, t) representará o deslocamento transversal de um ponto x da posição inicial
no instante t. Com ux(x, t) representa-se a inclinação da corda no ponto x e no instante t. Já a
derivada ut (x, t) representa a velocidade com que o ponto x se desloca verticamente.
Observa-se que as grandezas envolvidas na lei de Newton são vetoriais, de modo que se deve
ter cuidado com a direção e a orientação de forças, velocidades, acelerações, etc.
Sejam x = a e x = b dois pontos arbitrários da corda, de modo estes dois pontos determinando
uma parte da corda. Seja ρ (x, t) a densidade da corda, ou seja, o quociente da massa pelo
comprimento. Como foi comentado anteriormente, supõe-se que os pontos sobre a corda se
deslocam verticalmente em relação a x. Assim sendo, a densidade ρ não vai depender de t, mas
apenas de x; ela será denotada por ρ (x).
A quantidade de movimento é definida como o produto entre a massa de um corpo e a veloci-
dade instantânea. Por definição de densidade, segue-se que dm = ρ (x) dx representa a massa
infinitesimal de uma pequena porção da corda. Além disso, como já comentado, ut (x, t) repre-
senta a velocidade no movimento. Assim, dM = ρ ut (x, t) dx representa a quantidade de movi-
mento infinitesimal, de uma pequena porção da corda, de modo que a sua integral representa
a quantidade de movimento entre dois pontos. Portanto, a quantidade de movimento da corda
entre os pontos x = a e x = b é dada por
Z b
(8.1) M(t) = ρ (x) ut (x, t) dx.
a
A lei de Newton dada anteriormente é equivalente a seguinte versão: “A força externa to-
tal, devido à tensão nas extremidades do elemento, é igual ao produto da massa da porção
considerada pela aceleração de seu centro de massa”. Como não há aceleração horizontal, as
componentes horizontais devem satisfazer
Analisa-se agora a resultante das tensões verticais. Observando que tg θ = ux (x, t) e usando
o teorema fundamental do Cálculo, obtém-se
cos θb cos θa
T (b, t) · sen θb − T (a, t) · sen θa = T (b, t) · · sen θb − T (a, t) · · sen θa
cos θb cos θa
= [ T (b, t) · cos θb ] · tg θb − [T (a, t) · cos θa ] · tg θa
= τ (t) · tg θb − τ (t) · tg θa
= τ (t) · [ tg θb − tg θa]
ou seja, que a resultante vertical das tensões, Tres. , atuando sobre a porção da corda entre x = a
e x = b é dada por
Z b
(8.2) Tres. = τ (t) · tg (θb ) − τ (t) · tg (θa) = τ (t) · uxx(x, t) dx.
a
Além das forças de tensão, o sistema pode estar sujeito à ação de forças externas, como
gravidade, resistência ao movimento oposta pelo meio onde está a corda, ou forças tendentes
a restaurar a posição de equilíbrio da corda. Seja h(x, t, u) a densidade linear dessas forças ao
longo da corda. Então, a sua integral representa o conjunto de forças externas, Fext , atuando no
sistema, ou seja, tem-se que
Z b
(8.3) Fext = h(x, t, u) dx
a
Z b
dM d
(t) = ρ (x) ut (x, t) dx
dt dt a
= (Regra de Leibniz)
Z b
∂
= [ ρ (x) ut (x, t)] dx
a ∂t
Z b
(8.4) = ρ (x) utt (x, t) dx
a
Assim, Z b Z b Z b
ρ (x) · utt (x, t) dx = τ (t) · uxx (x, t) dx + h(x, t, u) dx,
a a a
Z b Z b
ρ (x) · utt (x, t) dx = [τ (t) · uxx (x, t) + h(x, t, u)]dx,
a a
Z b Z b
ρ (x) · utt (x, t) dx − [τ (t) · uxx(x, t) + h(x, t, u)] dx = 0,
a a
Z b
[ρ (x) · utt (x, t) − τ (t) · uxx(x, t) − h(x, t, u)] dx = 0,
a
Segue-se daí que ρ (x) · utt (x, t) − τ (t) · uxx (x, t) − h(x, t, u) = 0, ou que
onde se fez
τ (t) h(x, t, u)
α 2 = [α (x, t)]2 =e f (x, t, u) = ·
ρ (x) ρ (x)
A expressão em (8.6) é chamada de equação de onda, que é o modelo matemático para
pequenas vibrações da corda elástica.
572 4 Aplicações às EDP
L L2 1 L L
=
2
+ 2
· = 2+ 2
T T L T T
L
= 2 2·
T
Como o valor 2 não altera a dimensionalidade, segue-se, portanto, que
L
dim[ f (x, t, u)] = ·
T2
E como h(x, t, u) = ρ (x) · f (x, t, u), segue-se daí que
M L M
dim[h(x, t, u)] = dim[ρ (x)] · dim[ f (x, t, u)] = · 2 = 2·
L T T
4.8 Exercícios propostos 573
Uma EDP semi-linear de segunda ordem com duas variáveis independentes é uma equação
da forma
O leitor deve observar que a EDP (8.1) pode mudar de tipo no domínio de definição de seus
coeficientes. Quando isso ocorre, diz-se que a EDP (8.1) é uma equação de tipo misto.
y uxx + uyy = 0,
Logo, no semi-plano y > 0 a equação de Tricomi será elítica, no semi-plano y < 0 ela será
hiperbólica e será parabólica no eixo x.
Proposição 8.6: Sejam Ω ⊂ R2 e T (x, y) = (ξ (x, y), η (x, y)) uma mudança de variáveis de
classe C2(Ω). Suponha também que o jacobiano
574 4 Aplicações às EDP
∂ (ξ , η ) ξx (x0 , y0) ξy(x0 , y0)
J(x0, y0 ) = = 6= 0
∂ (x, y)
ηx (x0 , y0 ) ηy (x0 , y0)
em um ponto (x0 , y0) ∈ Ω. Então, a EDP semi-linear dada em (8.1) é invariante sob esta mudança
de variáveis.
uy = vξ · ξy + vη · ηy,
h i
a uxx + 2b uxy + c uyy = a · vξ ξ · ξx2 + 2vξ η · ξx · ηx + vηη · ηx2 + vξ · ξxx + vη · ηxx +
h
+ 2b · vξ ξ · ξx · ξy + vξ η (ξx · ηy + ξy · ηx ) +
i
+ vηη · ηx · ηy + vξ · ξxy + vη · ηxy +
h i
2 2
+ c · vξ ξ · ξy + 2vξ η · ξy · ηy + vηη ηy + vξ · ξyy + vη · ηyy
= a · ξx2 + 2b · ξx · ξy + c · ξy2 · vξ ξ +
= a · ξx2 + 2b · ξx · ξy + c · ξy2 · vξ ξ +
+ 2 [a · ξx · ηx + b · (ξx · ηy + ξy · ηx ) + c · ξy · ηy ] · vξ η +
+ a · ηx2 + 2b · ηx · ηy + c · ηy2 · vηη +
n o
(8.4) + [a · ξxx + 2b · ξxy + c · ξyy] · vξ + [a · ηxx + 2b · ηxy + c · ηyy] · vη .
Fazendo em (8.4)
(8.5) a(x, y) uxx + 2b(x, y) uxy + c(x, y) uyy = A(ξ , η ) vξ ξ + 2B(ξ , η ) vξ η + C(ξ , η ) vηη + R.
O leitor deve observar que a expressão para R envolvem derivadas parciais de primeira ordem
apenas, ou seja, R = R(ξ , η , v, vξ , vη ). Por outro lado, a parte principal no segundo membro de
(8.5) tem os coeficientes A, B e C multiplicando derivadas parciais de segunda ordem. Portanto,
se u(x, y) uma solução clássica da equação
Para continuar, em um cálculo que realizado a seguir usará a fórmula do quadrado da soma
entre três termos, que é dada por
segue-se que
+ 2 [a · b · ξx · ηx (ξx · ηy + ξy · ηx )] + 2 [a · c · ξx · ξy · ηx · ηy ] +
+ 2 [b · c · ξy · ηy · (ξx · ηy + ξy · ηx )] −
Como, por hipótese, o jacobiano não se anula em uma vizinhança do ponto (x0 , y0), então o
sinal de ∆(ξ , η ) será sempre igual ao sinal de δ (x0 , y0). Isso mostra que a classificação de uma
EDP semi-linear é invariante sob mudança de variáveis.
Adendo A
Funções representadas por integrais
Este adendo é dedicado ao estudo de funções representadas por integrais. Serão discutidas as
propriedades de continuidade, diferenciabilidade e integrabilidade de funções ϕ representadas
por integrais dos seguintes tipos:
Z b Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy, ϕ (x) = f (x, y) dy,
a a
Z b Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy, ϕ (x) = f (x, y) dy,
−∞ −∞
são reduzidas a um único caso, pois fazendo a mudança de variáveis z = −y (de modo que
−dz = dy), permite-se escrever
Z b Z −b Z ∞ Z ∞
f (x, y) dy = − f (x, −z) dz = f (x, −z) dz = f (x, −z) dz,
−∞ ∞ −b a
579
580 A Funções representadas por integrais
Lema 1.1: Sejam f : I × [a, b] → R uma função contínua x0 ∈ I um ponto fixado. Então, para
todo ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
Teorema 1.1 (teorema valor médio para integrais): Parte (a): Sejam f : [a, b] → R uma
Z b
função contínua e g : [a, b] → R uma função não negativa e integrável tal que g(x) dx > 0.
a
Então, existe c ∈ [a, b] tal que
Z b Z b
f (x) · g(x) dx = f (c) g(x) dx.
a a
A.1 Primeiro caso 581
D EMONSTRAÇÃO : Como f é contínua em [a, b], então m ≤ f (x) ≤ M, onde m = min f (x) e
M = max f (x) em [a, b]. Suponha que g(x) ≥ 0. Então,
Como f é contínua, então pelo teorema do valor intermediário, existe algum c ∈ [a, b] tal que
f (c) = d. Portanto,
Z b Z b
f (x) · g(x) dx = f (c) g(x) dx.
a a
Z b
Observa-se que o teorema 1.1 continua verdadeiro para funções g(x) ≤ 0 tais que g(x) dx <
a
0. Neste caso, basta aplicar o teorema com − f e −g.
O exemplo a seguir mostra que é preciso ter certos cuidados ao trabalhar com funções
definidas por integrais.
y2 y y2 1 t ,
t= ⇒ = · =
x2 x2 x2 y y
obtém-se
582 A Funções representadas por integrais
y
−y2/x2 y 1
lim f (x, y) = lim ·e = lim · 2
x→0+ x→0+ x2 x→0+ x2 e y /x2
t 1 t
= lim · = lim = (por l’Hospital)
t→∞ y e t t→∞ y · e t
1
= lim = 0.
t→∞ y · e t
e, consequentemente, que
Z 1 Z 1
ψ (y) dy = 0 dy = 0.
0 0
Além disso, a função f (x, y) é contínua em y ∈ [0, 1]. Portanto, ela é Riemann integrável na
variável y. Assim, para qualquer x ∈ (0, 1], obtém-se
Z 1 Z 1 Z
y −y2/x2 1 1 −2y −y2/x2
f (x, y) dy = ·e dy = − ·e dy
0 0 x2 2 0 x2
1 −1 2 1
−1 2
= − · e /x − e 0 = · −e /x + 1
2 2
1
−1 2
= · 1 − e /x .
2
Por outro lado,
Z 1
1 −1/x2
lim f (x, y) dy = lim · 1−e
x→0+ 0 x→0+ 2
1 1
−1 2
= lim − · lim e /x
x→0+ 2 2 x→0+
1 1 1
= lim − · lim
x→0+ 2 2 x→0+ e 1/x2
Z 1 Z 1
1
ψ (y) dy = 0 6= = lim f (x, y) dy.
0 2 x→0 0
Por fim, observa-se que a convergência não é uniforme em [0, 1]: escolhendo yx = x ∈ [0, 1]
para todo x ∈ (0, 1], obtém-se
x
−x2 2
| f (x, yx ) − ψ (yx )| = | f (x, x) − ψ (x)| = 2 · e /x − 0
x
1
= · e −1 → +∞, quando x → 0+ .
x
Proposição 1.1 (continuidade): Seja f : I × [a, b] → R uma função contínua. Então, a função
ϕ : I → R definida por
Z b
ϕ (x) = f (x, y) dy
a
é uma função contínua.
D EMONSTRAÇÃO : Seja x0 ∈ I. Então,
Z Z b
b
|ϕ (x) − ϕ (x0 )| = f (x, y) dy − f (x0 , y) dy
a a
Z
b
= [ f (x, y) − f (x0 , y)] dy
a
Z b
(1.2) ≤ | f (x, y) − f (x0 , y)| dy.
a
Como f é contínua, por hipótese, então é possível usar o lema 1.1 para concluir que, dado
ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
ε ,
|x − x0| < δ ⇒ | f (x, y) − f (x0 , y)| <
b−a
qualquer que seja y ∈ [a, b].
Retornando a (1.2), encontra-se
Z b
|ϕ (x) − ϕ (x0 )| ≤ | f (x, y) − f (x0 , y)| dy
a
Z b b Z
ε ε
< dy = dy
a b−a b−a a
ε b ε
= ·y = · (b − a) = ε .
b−a a b−a
Mostrou-se, portanto, que, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
584 A Funções representadas por integrais
Observação 1.1: A proposição 1.1 mostrou que a função representada por integral,
Z b
ϕ (x) = f (x, y) dy,
a
Como f também é contínua em x0 ∈ I, ou seja, que lim f (x, y) = f (x0 , y), então a última
x→x0
expressão é equivalente
Z b Z b
lim f (x, y) dy = lim f (x, y) dy,
x→x0 a a x→x0
O exemplo dado a seguir ilustra o fato de uma função f (x, y) descontínua em um único ponto
que faz com que a função ϕ (x) definida na proposição 1.1 seja também descontínua.
Z 1
ϕ (x) = f (x, y) dy
0
é determinada da seguinte maneira: para x = 0, então
Z 1
ϕ (0) = 0 dy = 0.
0
Para x 6= 0, tem-se
Z 1 Z 1 2 Z 1 2
x y2 + 1 y +1 x + y2 + 1 − x2
ϕ (x) = dy = x dy = x dy
0 x2 + y2 0 x2 + y2 0 x2 + y2
Z
1 x2 + y2
2
Z 1 dy
= x· dy + 1 − x
0 x2 + y2 0 x + y2
2
1
1 y 1
= x + 1 − x · arc tg 1 ·
2 2
= x · y + x · 1 − x · · arc tg
x x 0 x
0
Assim,
2
1
lim ϕ (x) = lim x + 1 − x · arc tg
x→0 x→0 x
2
1
= lim x + lim 1 − x · lim arc tg
x→0 x→0 x→0 x
π
6= 0 = ϕ (0),
=
2
donde segue-se que ϕ (x) não é contínua em x = 0.
O próximo exemplo mostra que se uma função f (x, y) é contínua na variável x para qualquer
y fixado e também é contínua em y para qualquer x fixado, então a função ϕ (x) da proposição
1.1, em geral, é descontínua.
Fixado y0 6= 0, tem-se que a função f (x, y0 ) é contínua, pois, para qualquer x0 ∈ R, se tem
2
x −x2/y2 x20 −x20/y2
lim · e 0 = ·e 0·
x→x0 y3 y 3
0 0
Além disso, para y0 = 0 a função f (x, y) = f (x, 0) = 0 para qualquer que seja x ∈ R, de modo
que f é uma função contínua. Analogamente, para x = 0, a função
586 A Funções representadas por integrais
02 −02/y2
f (x, y) = f (0, y) = ·e = 0 · e 0 = 0,
y3
que é contínua.
Por fim, para x0 6= 0, a função f (x0 , y) é contínua em cada y 6= 0. De fato,
2
x0 −x20/y2
lim f (x0 , y) = lim 3 · e = (fazendo y = 1/t )
y→0 y→0 y
( )
x20 −x2 3
0/[( /t ) ]
1 −x20 x20/(1/t 3)
= lim ·e = lim ·e
t→∞ (1/t )3 t→∞ (1/t 3 )
3
2 t
3
−x20 · t1 2 3
= lim x0 · · e = lim x20 · t 3 · e −x0·t
t→∞ 1 t→∞
2 3
x0 · t
= lim = (por l’Hospital)
t→∞ e x20 ·t 2
!
3x20 · t 2 3 t2
= lim = · lim
t→∞ 2x2 · t · e x20·t 2 2 t→∞ t · e x20·t 2
0
de modo que
1
lim f [σ (t)] = lim = +∞.
t→0 t→0 t · e
Isso faz com que a função ϕ (x) seja descontínua em x = 0. De fato, para x = 0, tem-se que
Z 1 Z 1
ϕ (0) = f (0, y) dy = 0 dy = 0.
0 0
7/3
x ·y ,
para x2 + y2 6= 0,
4 4
f (x, y) = x + y
0, para x2 + y2 = 0.
A função f (x, y) é ilimitada em x = 0. De fato, considerando o caminho dado por σ (t) = (t, t),
obtém-se
t · t 7/3 t 10/3 1 1
f [σ (t)] = f [(t, t)] = 4 4 = 4 = 4 −10/3 = 2/3 ·
t +t 2t 2t ·t 2t
Logo,
1
lim f [σ (t)] = lim = +∞,
t→0 t→0 2 t 2/3
Z 1 Z 1
x7/3 2y dy x7/3 (y2 )0 dy
= 2 2
= 2 2
2 (x2 ) + (y2 )
0 0 (x2 ) + (y2 ) 2
2 1
x7/3 1 y
= · 2 · arc tg 2
2 x x 0
x7/3 1 0
= 2 · arc tg 2 − arc tg 2
2x x x
x7/3 · x−2 1 x1/3 1
= · arc tg 2 − 0 = · arc tg 2 ·
2 x 2 x
Afirma-se que ϕ (x) é contínua em x 6= 0. De fato,
" #
x1/3 1
lim ϕ (x) = lim · arc tg 2 = 0 = ϕ (0),
x→0 x→0 2 x
√
pois a função arco tangente é limitada e a função x1/3 = 3
x tende para zero quando x → 0.
N OTAÇÃO : será denotado por L1 ([a, b]) o espaço das funções integráveis e absolutamente
integráveis no sentido de Riemann, isto é,
Para mais detalhes sobre o espaço L1([a, b]), veja a seção B.1 do adendo B.
A.1 Primeiro caso 589
Na proposição 1.1, a continuidade exigida para f pode ser enfraquecida. Esse é o objetivo do
próximo resultado.
Como g é contínua, por hipótese, então é possível usar o lema 1.1 para concluir que, dado
ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
ε ,
|x − x0| < δ ⇒ |g(x, y) − g(x0 , y)| < Z b
|h(y)| dy
a
qualquer que seja y ∈ [a, b]. Isso é sempre verdade, pois, por hipótese, a função h ∈ L1([a, b]),
ou seja, por ser deste espaço segue-se que |h(y)| é integrável e o valor resultante dessa integral
acima é um número finito.
Retornando a (1.3), encontra-se
Z b
|ϕ (x) − ϕ (x0 )| ≤ | g(x, y) − g(x0 , y)| |h(y)| dy
a
Z b
ε
< Z b |h(y)| dy
a
|h(y)| dy
a
Z b
ε
=Z b
|h(y)| dy = ε .
a
|h(y)| dy
a
590 A Funções representadas por integrais
Mostrou-se, portanto, que, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
O próximo resultado garante a diferenciabilidade de ϕ . Ele mostra que pode-se derivar sob o
sinal de integral, desde que o integrando resultante seja uma função contínua.
Assim,
Z b
ϕ (x0 + k) − ϕ (x0 ) Z b ∂ f f (x0 + k, y) − f (x0 , y)
Z b
∂ f
− (x0 , y) dy = dy − (x0 , y) dy .
k a ∂x a k a ∂x
Será necessário usar o teorema do valor médio que diz o seguinte: com as hipóteses para f
no enunciado da proposição, segue-se que existe θ ∈ (0, 1) tal que
∂f
f (x0 + k, y) − f (x0 , y) = (x0 + θ k, y) · k.
∂x
Assim sendo, obtém-se
Z
ϕ (x0 + k) − ϕ (x0 ) Z b ∂ f b f (x0 + k, y) − f (x0 , y) Z b
∂ f
− (x0 , y) dy = dy − (x0 , y) dy
k a ∂x a k a ∂x
Será necessário usar o teorema do valor médio que diz o seguinte: com as hipóteses para g
no enunciado da proposição, segue-se que existe θ ∈ (0, 1) tal que
A.1 Primeiro caso 593
∂g
g(x0 + k, y) − g(x0, y) = (x0 + θ k, y) · k.
∂x
Assim sendo, obtém-se
Z b
ϕ (x0 + k) − ϕ (x0 ) Z b ∂ g g(x0 + k, y) − g(x0, y)
− (x0 , y) h(y) dy = h(y) dy −
k a ∂x
a k
Z b
∂g
− (x0 , y) h(y) dy
a ∂x
Z b ∂ g (x + θ k, y) · k
0
= ∂x h(y) dy −
a k
Z b
∂g
− (x0 , y) h(y) dy
a ∂x
Z b
∂g
= (x0 + θ k, y) h(y) dy −
a ∂x
Z b
∂g
− (x0 , y) h(y) dy
a ∂x
Z b
∂ g ∂ g
= (x0 + θ k, y) − (x0 , y) h(y) dy
a ∂x ∂x
Z b
∂ g ∂ g
≤ (x0 + θ k, y) − (x0 , y) h(y) dy
a
∂x ∂x
Z b
∂g ∂g | h(y)| dy
= (x 0 + θ k, y) − (x0 , y)
a ∂x ∂x
= (por (1.5))
Z b
ε
< Z b |h(y)| dy
a
|h(y)| dy
a
Z b
ε
=Z b
|h(y)| dy = ε .
a
|h(y)| dy
a
mostrando que não existe limite quando x → 0 (o limite lateral à esquerda de 0 tende para −∞
e o limite lateral à direita de 0 tende para +∞.
Para calcular a integral de f (x, y), observe primeiro que
∂ −x2
∂ h −x2·y−1 i 2 −1
x3
−x2
x · e /y = x· e = x · x2 · y−2 · e −x ·y = 2 · e /y.
∂y ∂y y
Assim,
Z 1 Z 1 3
x −x2/y
ϕ (x) = lim f (x, y) dy = lim ·e dy
a→∞ a a→∞ a y2
Z 1
∂ 1
−x2/y −x2/y
= lim x·e dy = lim x · e
a→∞ a ∂y a→∞
a
x
2 −x2 2
= lim x · e −x − x · e /a
= x · e −x − lim
a→∞ a→∞ e x2/a
2 2
= x · e −x − 0 = x · e −x ,
para qualquer x ∈ R (incluindo x = 0).
Portanto, segue-se daí que
0
−x2 2 2 2
0
ϕ (x) = x · e = e −x + x · e −x · (−2x) = e −x 1 − 2x2 ,
∂f ∂ x3 −x2/y
(x, y) = ·e
∂x ∂x y2
3
∂ x3 −x2/y x ∂ −x2/y
= · e + 2 · e
∂ x y2 y ∂x
3x2 −x2/y x3 2x −x2/y
= 2 ·e + 2 · − ·e
y y y
2
−x2/y 3x 2x4
=e − 3 ·
y2 y
Observe que
2 2
∂ x −x2/y ∂ x −x2/y x2 ∂ −x2/y
− ·e =− ·e − · e
∂y y ∂y y y ∂y
∂ 2 −1 −x2/y x2 ∂ −x2 ·y−1
=− x ·y ·e − · e
∂y y ∂y
2 2
x −x2/y x2 x −x2/y
= − − 2 ·e − · 2 ·e
y y y
x2 −x2/y x4 −x2/y
= ·e − 3 ·e .
y2 y
2
−x2/y x x4
=e · 2− 3 ·
y y
Assim sendo, para x 6= 0, tem-se
Z 1 Z 1
∂f −x2/y 3x2 2x4
(x, y) dy = e − 3 dy
0 ∂x 0 y2 y
Z 1 2 Z 1 4
x −x2/y x −x2/y
=3 ·e dy − 2 ·e dy
0 y2 0 y3
Z 1 2 Z 1 2 Z 1 4
x −x2/y x −x2/y x −x2
= ·e dy + 2
·e dy − 2 · e /y dy
0 y2 0 y
2
0 y
3
Z 1 2 Z 1 2
x −x2/y x −x2/y x4 −x2/y
= 2
·e dy + 2 ·e − 3 ·e dy
0 y 0 y2 y
Z 1 2 Z 1 2
x −x2/y −x2/y 3x 2x4
= 2
·e dy + 2 e − 3 dy
0 y 0 y2 y
Z 1 Z 1 2
∂ −x2/y ∂ x −x2/y
= e dy + 2 − ·e dy
0 ∂y 0 ∂y y
Z 1 Z 1 2
∂ −x2/y ∂ x −x2/y
= lim e dy + 2 · lim − ·e dy
a→0 a ∂y a→0 a ∂y y
596 A Funções representadas por integrais
1 2
x
1
−x2/y + 2 · lim − · e −x 2
/y
= lim e
a→0 a a→0 y a
−x2 1 2 −x2 x2 1
= lim e − 2 + 2 · lim −x · e + · 2
a→0 e x /a a→0 a e x /a
2 2 2
= e −x − 2x2 · e −x = e −x 1 − 2x2 .
Fazendo b = 1/a, obtém-se que b → ∞ quando a → 0. Assim, pela regra de l’Hospital, obtém-
se
x2 1 b · x2
lim · = lim = (por l’Hospital)
a→0 a e x2/a b→∞ e b·x
2
x2
= lim 2 =0
b→∞ x2 · e b·x
Por outro lado, para x = 0, tem-se que f (0, y) = 0, de modo que a sua integral resulta em
Z 1 Z 1
f (0, y) dy = 0 dy = 0.
0 0
2
Assim, segue-se do fato de que ϕ 0 (x) = e −x 1 − 2x2 que ϕ 0 (0) = 1. Portanto,
Z 1
0
ϕ (0) = 1 6= f (0, y) dy = 0.
0
Proposição 1.5 (mudança na ordem de integração): Seja f : [a, b] × [c, d] → R uma função
contínua. Então tem-se que
Z b Z d Z d Z b
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy.
a c c a
Tem-se que
Z d Z b
(1.6) ϕ (a) = 0 e ϕ (b) = f (x, y) dx dy.
c a
Z d Z x Z d
∂f
(1.7) = (t, y) dt dy = f (x, y) dy,
c a ∂t c
ou seja, que
Z d Z b
f (x, y) dx dy = ϕ (b)
c a
= (por (1.6))
Z b
= ϕ (a) + ϕ 0 (x) dx
a
= (pelo T.F.C.)
Z b Z d
= 0+ f (x, y) dy dx
a c
Como g é contínua, a proposição 1.1 garante que G também é contínua. Pelo teorema fun-
∂G ∂G
damental do cálculo, tem-se que (x, y) = g(x, y); e como g é contínua, então também é
∂x ∂x
contínua.
Assim, pela proposição 1.4, tem-se que ϕ é diferenciável e, além disso,
Z b Z b
∂G
ϕ 0 (x) = (x, y) h(y) dy = g(x, y) h(y) dy.
a ∂x a
Mas
Z b Z b
ϕ (d) − ϕ (c) = G(d, y) h(y) dy − G(c, y) h(y) dy
a a
Z b
= [G(d, y) − G(c, y)]h(y) dy
a
Z b Z d Z c
= g(x, y) dx − g(x, y) dx dy
a c c
Z bZ d
(1.9) = g(x, y) h(y) dx dy.
a c
Por outro lado, calculando cada uma das integrais, fazendo a mudança de variáveis u = x + y,
obtém-se:
Z 1Z 1 Z 1Z 1
x−y
f (x, y) dx dy = dx dy
0 0 0 0 (x + y)3
Z 1 Z 1+y Z 1 1+y
u − 2y 1 y
= du dy = − + 2 dy
0 y u3 0 u u
y
Z 1 1+y Z 1
y − u 1
= dy = − dy
0 u2 0 (1 + y)2
y
Z 2
1 1 2
=− dv =
1 v2 v 1
1 1
(1.10) = −1 = − ,
2 2
onde v = 1 + y.
Agora calcula-se a integral com a ordem inversa:
Z 1Z 1 Z 1Z 1
x−y
f (x, y) dy dx = dy dx
0 0 0 0 (x + y)3
Z 1 Z 1+x Z 1 1+x
2x − u 1 x
= du dx = − 2 dx
0 x u3 0 u u
x
Z 1 1+x Z 1
u − x 1
= 2 dx = 2
dx
0 u 0 (1 + x)
x
Z 2
1 1 2
= 2
dx = −
1 v v 1
1 1
(1.11) =− −1 = ,
2 2
onde v = 1 + x.
Segue-se de (1.10) e (1.11), para a função dada, que
Z 1Z 1 Z 1Z 1
f (x, y) dx dy 6= f (x, y) dy dx.
0 0 0 0
x2 − y2
f (x, y) = ·
(x2 + y2 )2
600 A Funções representadas por integrais
= f (x, y).
Assim,
Z 1Z 1 Z 1 Z 1 2
x − y2
f (x, y) dy dx = dy dx
0 0 0 (x2 + y2)2
0
Z 1 Z 1
∂ y
= 2 2
dy dx
0 0 ∂y x +y
Z 1 1
y
= dx
2
0 x +y 0
2
Z 1
1
= dx
0 x2 + 1
1 π
(1.12) = arc tg x = ·
0 4
Por outro lado, fazendo
x ,
h(x, y) = −
x2 + y2
obtém-se
∂h (x2 + y2) · (−1) + x · (2x)
(x, y) =
∂x (x2 + y2 )2
−x2 − y2 + 2x2 x2 − y2
= =
(x2 + y2 )2 (x2 + y2)2
= f (x, y).
Assim,
Z 1Z 1 Z 1 Z 1 2
x − y2
f (x, y) dx dy = dx dy
0 0 0 (x2 + y2)2
0
Z 1 Z 1
∂ x
= − 2 dx dy
0 0 ∂x x + y2
Z 1 1
x
= − 2 dy
0 x + y2
0
A.1 Primeiro caso 601
Z 1
1
=− 2
dy
0 1+y
1 π
(1.13) = − arc tg y = − ·
0 4
Os resultados obtidos em (1.12) e (1.13) mostram que
Z 1Z 1 Z 1Z 1
f (x, y) dy dx 6= f (x, y) dx dy.
0 0 0 0
Mostra mais: pelo teorema de Fubini (o autêntico, para integrais de Lebesgue) a função
f (x, y) não é integrável no sentido de Lebesgue no quadrado (0, 1) × (0, 1). Quando as duas
integrais (iteradas) existem, mas são diferentes, ocorre que uma delas não é absolutamente inte-
grável. Esta afirmação será argumentada apenas através da função dada neste exemplo. Tem-se:
Z x Z x 2
x − y2
f (x, t) dt = dt
0 0(x2 + y2)2
Z x
∂ t
= 2 2
dt
0 ∂t x +t
x
t x
= 2 2 = 2
x + t 0 x + x2
1
= ·
2x
Segue-se daí que
Z 1 Z x Z x
1,
| f (x, y)| dy ≥ | f (x, y)| dy ≥ f (x, y) dy =
0 0 0 2x
uma vez que
Portanto, fazendo
Z 1 Z 1 Z 1 Z 1
1 1 dx
| f (x, y)| dy dx ≥ dx =
0 0 0 2x 2 0 x
1
= · ln |x| = ∞,
2
pois o logarítmo diverge quando |x| → 0.
Outra coisa que o leitor pode observar é fato de que f (y, x) = − f (x, y). Realmente,
y2 − x2 −(x2 − y2 ) x2 − y2
f (y, x) = = = − = − f (x, y).
(y2 + x2)2 (x2 + y2 )2 (x2 + y2)2
602 A Funções representadas por integrais
Esse exemplo mostra que a existência das integrais iteradas não assegura a existência da
integral. Além disso, mesmo que as duas integrais iteradas sejam iguais o problema ainda pode
persistir; este é caso do próximo exemplo.
Exemplo 1.7: Seja f : [(−1, 1) × (−1, 1)] \ (0, 0) → R uma função definida por
xy
f (x, y) = ·
(x2 + y2 )2
Considere a função g : [(−1, 1) × (−1, 1)] \ (0, 0) → R dada por
1 x
g(x, y) = − · 2 ·
2 x + y2
Então,
∂g 1 (x2 + y2 ) · 0 − x · (2y)
(x, y) = − ·
∂y 2 (x2 + y2 )2
xy
= 2 = f (x, y).
(x + y2 )2
Assim,
Z 1Z 1 Z 1 Z 1
xy
f (x, y) dy dx = 2 2 2
dy dx
−1 −1 −1 −1 (x + y )
Z 1 Z 1
∂ 1 x
= − · 2 dy dx
−1 −1 ∂ y 2 x + y2
Z
1 1 x 1
=− dx
2 −1 x2 + y2 −1
Z
1 1 x x
=− − dx
2 −1 x2 + 12 x2 + (−1)2
Z
1 1 x x 1
(1.14) =− 2
− 2 dx = − · 0 = 0.
2 −1 x + 1 x + 1 2
Por outro lado, ao considerar a função a função h : [(−1, 1) × (−1, 1)] \ (0, 0) → R dada por
1 y
h(x, y) = − · 2 ·
2 x + y2
obtém-se
∂h 1 (x2 + y2 ) · 0 − y · (2x)
(x, y) = − ·
∂x 2 (x2 + y2 )2
xy
= 2 = h(x, y).
(x + y2 )2
Assim,
A.1 Primeiro caso 603
Z 1Z 1 Z 1 Z 1
xy
f (x, y) dx dy = 2 2 2
dx dy
−1 −1 −1 −1 (x + y )
Z 1 Z 1
∂ 1 y
= − · 2 dx dy
−1 −1 ∂ x 2 x + y2
Z 1
1 1 y
dy
=−
2 −1 x2 + y2 −1
Z
1 1 y y
=− − dy
2 −1 12 + y2 (−1)2 + y2
Z
1 1 y y 1
(1.15) =− − dy = − · 0 = 0.
2 −1 1 + y2 1 + y2 2
De (1.14) e (1.15) que
Z 1Z 1 Z 1Z 1
f (x, y) dy dx = 0 = f (x, y) dx dy,
−1 −1 −1 −1
Porém a função f (x, y) não é integrável no subquadrado (0, 1) × (0, 1). Para ver isso, usa-se
coordenadas polares fazendo
x = r · cos θ e y = r · sen θ ,
com 0 < r ≤ 1 e 0 ≤ θ ≤ 2π .
Assim, com o módulo do jacobiano sendo |J| = r, obtém-se
Z 1Z 1 Z 1 Z 1
xy
f (x, y) dx dy = 2 2 2
dx dy
0 0 0 0 (x + y )
Z 1 Z 2π
(r · cos θ )(r · sen θ )
= · |J| d θ dr
0 0 [(r · cos θ )2 + (r · sen θ )2 ]2
"
Z 1 Z 2π
#
r3 · cos θ · sen θ
= 2
d θ dr
0 0 [r2 · (cos2 θ + sen 2 θ )]
Z 1 Z 2π 3
r · cos θ · sen θ
= d θ dr
0 0 r4
Z 1 Z 2π
cos θ · sen θ
= d θ dr.
0 0 r
Porém a integral
604 A Funções representadas por integrais
Z 1 Z 2π
cos θ · sen θ
d θ dr
0 0 r
é divergente. De fato, isso pode ser visto através da seguinte estimativa:
Z 1 Z 2π Z 1 Z 2π
cos θ · sen θ
cos θ · sen θ
d θ dr
0 0 d θ dr ≤
r 0 0 r
Z 1 Z 2π
| cos θ · sen θ |
= d θ dr
0 0 |r|
Z 1 Z 2π
| cos θ | · | sen θ |
= dθ
0 0 r
Z 2π Z 1 Z 2π
1·1 1
≤ d θ dr = d θ dr
r
0 0 0 r
Z 1 2π Z 1
θ dr
= dr = 2π
0 r 0 0 r
1
= 2π · ln |r| = ∞,
0
pois ln |r| → ∞ quando |r| → 0. Isso mostra que a integral da função f (x, y) é divergente.
Observe que f deve ser limitada em I × (a + δ , b], para 0 < δ < b − a, pois, caso contrário,
a integral divergiria. Para este caso, tem-se a seguinte definição de convergência uniforme:
D EFINIÇÃO : Seja f : I × (a, b] → R uma função ilimitada em x = a. Diz-se que a integral
Z b
f (x, y) dy converge uniformemente para ϕ : I → R se, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > 0 tal
a
que Z b
a+δ f (x, y) dy − ϕ (x) < ε ,
quando 0 < δ ≤ B.
Assim, por hipótese, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > 0 tal que
Z b Z b
| ϕn (x) − ϕm (x)| = f (x, y) dy − f (x, y) dy
a+1/n a+1/m
Z Z a+1/m
b
= f (x, y) dy + f (x, y) dy
a+1/n b
Z a+1/m
ε
= f (x, y) dy < ,
a+1/n 2
para 0 < 1/n < 1/m ≤ B.
Mas uma sequência de funções ϕn : I → R é uniformemente convergente se, e somente se,
é uma sequência de Cauchy. Assim, tem-se que existe uma função ϕ : I → R tal que ϕn (x) →
ϕ (x). Assim, dado ε > 0, escolha B de modo que
ε, 1
| ϕn(x) − ϕ (x)| < quando 0 < a + ≤ B.
2 n
Agora escolha n0 ∈ N tal que a + 1/n < B, isto é, que 1/n0 < B − a. Então, se b > a + 1/n0,
tem-se que
Z b Z a+1/m Z b
f (x, y) dy − ϕ (x) = f (x, y) dy + f (x, y) dy − ϕ (x)
a+1/n
a+1/n a+1/m
Z Z a+1/m
b
= f (x, y) dy − ϕ (x) + f (x, y) dy
a+1/m a+1/n
Z a+1/m
ε ε
≤ | ϕn (x) − ϕ (x)| + f (x, y) dy < + = ε ·
a+1/n 2 2
Segue-se daí que
Z b
lim f (x, y) dy = ϕ (x).
n→∞ a+1/n
A.1 Primeiro caso 607
Z b
D EFINIÇÃO : Diz que a integral f (x, y) dy é absolutamente convergente quando
a
Z b
| f (x, y)| dy
a
diverge.
Dada uma função f : I × (a, b] → R, define-se a sua parte positiva e a sua parte negativa,
fazendo, para x ∈ (a, b], por
(
f (x, y), se f (x, y) ≥ 0,
f + (x, y) =
0, se f (x, y) < 0,
e (
0, se f (x, y) ≥ 0,
f − (x, y) =
− f (x, y), se f (x, y) < 0.
D EMONSTRAÇÃO : Observe que segue-se das definições de partes positiva e negativa de uma
função que
| f (x, y)| + f (x, y) | f (x, y)| − f (x, y) ,
f + (x, y) = e f − (x, y) =
2 2
de modo que f + e f − são contínuas. Além disso, tem-se também que f + (x, y) ≥ 0 e f − (x, y) ≥
0. Tem-se também que
| f (x, y)| + f (x, y) | f (x, y)| − f (x, y)
f + (x, y) − f − (x, y) = −
2 2
| f (x, y)| f (x, y) | f (x, y)| f (x, y)
= + − +
2 2 2 2
(1.16) = f (x, y)
e
| f (x, y)| + f (x, y) | f (x, y)| − f (x, y)
f + (x, y) + f − (x, y) = +
2 2
| f (x, y)| f (x, y) | f (x, y)| f (x, y)
= + + −
2 2 2 2
(1.17) = | f (x, y)|.
Assim,
+ +
| f (x, y)| + f (x)
f (x, y) = | f (x, y)| =
2
| | f (x, y)| + f (x)| | f (x, y)| + | f (x, y)|
(1.18) ≤ = = | f (x, y)|
|2| 2
e
− −
| f (x, y)| − f (x)
f (x, y) = | f (x, y)| =
2
Z b Z b
+
= f (x, y) dy − f − (x, y) dy,
a a
é convergente.
Observação 1.3: Em geral, a recíproca da proposição 1.8 é falsa. De fato, considere a função
f : I × (0, 1] → R definida por
1 1
f (x, y) = (−1)n · n, para x ∈ I e <y≤ ,
n+1 n
para n ∈ N.
Assim, Z 1
∞
1 n 1
f (x, y) dy = ∑ (−1) · n · −
0 n=1 n n+1
∞
n+1−n
= ∑ (−1)n · n · n(n + 1)
n=1
∞
1 ∞
(−1)n
= ∑ (−1)n · n · n(n + 1) = ∑
n=1 n=1 n + 1
1 1 1
= − + − + · · ·,
2 3 4
que é uma série alternada cujo termo geral, em módulo, converge para zero quando n → ∞.
Logo, essa série é convergente, de modo que a integral também é convergente.
Por outro lado, Z 1
∞
n 1 1
| f (x, y)| dy = ∑ |(−1) · n| · −
0 n=1 n n+1
∞
n+1−n
= ∑ n · n(n + 1)
n=1
∞ ∞
1 1
= ∑ n· =∑
n(n + 1) n=1 n + 1
n=1
1 1 1
+ + + · · ·,
=
2 3 4
que é uma série harmônica, que sabidamente é divergente. Isso mostra que a integral não é
absolutamente convergente.
Teorema 1.3 (Dirichlet): Sejam f , g : [a, b]×[c, d] → R duas funções satisfazendo as seguintes
hipóteses:
610 A Funções representadas por integrais
Então a integral
Z d
f (x, y) · g(x, y) dy
c
converge em a ≤ x ≤ b
D EMONSTRAÇÃO : Observa-se inicialmente que, com as hipóteses de continuidade das fun-
ções f e g, a função produto f (x, y) · g(x, y) também é contínua, de modo que é integrável no
intervalo limitado [c, d]. Logo, faz sentido falar sobre a integral imprópria desse produto.
Seja Z y
F(x, y) = f (x, t) dt
c
a primitiva da função f (x, y), isto é, (∂ F/∂ x) (x, y) = f (x, y) para todo (x, y) ∈ [a, b] × [c, d].
Observe que é imediato concluir que F(x, c) = 0.
Integrando por partes sobre o intervalo [c, y0] para y0 ≤ d, obtém-se
Z y0 Z y0
∂F
f (x, y) · g(x, y) dy = (x, y) · g(x, y) dy
c c ∂y
y0 Z y0
∂g
= F(x, y) · g(x, y) − F(x, y) · (x, y) dy
c c ∂y
Z y0
0 0 ∂g
= F(x, y ) · g(x, y ) − F(x, c) · g(x, c) − F(x, y) · (x, y) dy
c ∂y
Z y0
∂g
= F(x, y0 ) · g(x, y0 ) − F(x, y) · (x, y) dy
c ∂y
pois F(x, c) = 0.
Por hipótese, a primitiva F é limitada na variável y. Logo, existe M = sup |F(x, y)| > 0 tal
que |F(x, y)| ≤ M para todo y ∈ [c, d], de modo que
Também, por hipótese, tem-se que a função g é decrescente, de modo que (∂ g/∂ y) (x, y) ≤ 0
para c ≤ y ≤ d. Portanto,
A.1 Primeiro caso 611
Z y0
Z y0
∂g
Z y0
F(x, y) · ∂ g (x, y) dy = |F(x, y)| (x, y) dy ≤ M ∂g
(x, y) dy
c
∂y c
∂y c
∂y
≤ M · g(x, c),
pois g(x, y0 ) ≤ g(x, c) (uma vez que g é decrescente na variável y). Além disso, as hipóteses (2)
e (3) permitem concluir que g(x, y) ≥ 0 e que, em particular, g(x, y0 ) ≥ 0. De fato, como g é
decrescente e tende para zero quando y → d, então ela não pode ficar negativa.
Assim, dizer que
Z y0
∂ g
F(x, y) · (x, y) dy ≤ M · g(x, c)
c
∂y
significa afirmar que as integrais acima estão limitadas no conjunto para todos os y0 > c. Por-
tanto, a integral
Z y0
F(x) · ∂ g (x, y) dy
c
∂y
converge absolutamente. Pela proposição 1.8, segue-se que a integral
Z y0
∂g
F(x, y) · (x, y) dy
c ∂y
converge pontualmente, ou seja, existe e é finito o limite
Z y0
∂g
lim F(x, y) · (x, y) dy.
0
y →d c ∂y
Para finalizar, basta observar que, em
Z y0 Z y0
0 0 ∂g
f (x, y) · g(x, y) dx = F(x, y ) · g(x, y ) − F(x, y) · (x, y) dy,
c c ∂y
o primeiro membro tem limite para y0 → d, pois, como mostrado, cada termo no segundo mem-
bro tem limite para y0 → d, uma vez que estes limites são finitos. Isso significa dizer que a
integral
Z d
f (x, y) · g(x, y) dy
c
é convergente.
612 A Funções representadas por integrais
onde Z n
ϕn (x) = f (x, y) dy,
0
ou seja, olhar para a função ϕ como limite de uma sequência de funções {ϕn }, onde cada função
é definida por integral. Mas deve ser observado que nem sempre é possível representar ϕ como
limite de uma sequência (de fato). Caso n ∈ N seja substituído por b ∈ R, então não se tem uma
sequência (que é uma função definida em N). Logo, é preciso ter mais cuidado e olhar esta ideia
como uma espécie de motivação.
D EFINIÇÃO : Seja f : I × [a, ∞) → R uma função integrável em cada intervalo [a, b] ⊂ [a, ∞).
Suponha que, para cada x ∈ I fixado, a integral imprópria
Z ∞
f (x, y) dy
a
diz-se que a integral converge pontualmente (ou diz que converge simplesmente) para ϕ : J → R,
com J ⊂ I.
Exemplo 2.1: Seja f : [0, ∞) × (0, ∞) → R uma função definida por f (x, y) = x · e −xy.
Mostre que a integral
A.2 Segundo caso 613
Z ∞ Z ∞
f (x, y) dy = x · e −xy dy
0 0
converge pontualmente para uma função ϕ : [0, ∞) → R. Mostre também que a função ϕ não é
contínua.
A
−xy
0
−xy
= lim −e = lim e
A→∞ 0 A→∞ A
= lim 1 − e −Ax = lim 1 − lim e −Ax = 1,
A→∞ A→∞ A→∞
é convergente. Em virtude da arbitrariedade de x ∈ [0, ∞), tem-se que cada integral imprópria é
convergente. Pela definição, segue-se daí que
Z ∞ Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy = x · e −xy dy
0 0
Agora basta observar que lim ϕ (x) 6= ϕ (0). Isso mostra que ϕ não é contínua em x = 0, de
x→0+
modo que ela é descontínua.
2
Exemplo 2.2: Seja f : R × [0, ∞) → R uma função definida por f (x, y) = sen 2x · e −y·sen x.
Mostre que a integral imprópria
Z ∞ Z ∞
2
f (x, y) dy = sen 2 x · e −y·sen x dy
0 0
614 A Funções representadas por integrais
converge pontualmente para uma função ϕ : R → R. Mostre também que a função ϕ não é
contínua.
2
S OLUÇÃO : Antes, note que f (nπ , y) = sen 2(nπ ) · e −y·sen (nπ ) = 0, com n ∈ Z, pois seno de
múltiplo inteiro de π é igual a zero. Porém, para os demais pontos x > 0 e tais que x 6= nπ , a
função f (x, y) é diferente de zero. Então tem-se duas situações: o valor ϕ (nπ ) = 0 e o valor de
ϕ (x) para x 6= nπ .
Agora observe que 2x 0 2
−e −y·sen = sen 2 x · e −y·sen x ,
Assim, para x 6= nπ , com n ∈ Z, obtém-se
Z ∞ Z ∞
2
f (x, y) dy = sen 2x · e −y·sen x dy
0 0
Z ∞ 0 Z A 0
2x 2x
= −e −y·sen dy = lim −e −y·sen dy
0 A→∞ 0
A 0
−y·sen 2 x −y·sen 2 x
= lim −e = lim e
A→∞ 0 A→∞ A
2
= lim e 0 − e −A·sen x = 1,
A→∞
pois a exponencial tem expoente negativo, pois A > 0 e sen 2x é uma função limitada.
Para x = nπ , com n ∈ Z, tem-se que
Z ∞ Z ∞
2 (nπ )
f (nπ , y) dy = sen 2 (nπ ) · e −y·sen dy = 0,
0 0
pois sen 2 (nπ ) = [ sen (nπ )]2 = 0, pois sen (nπ ) = 0 para todo n ∈ Z.
Assim, fixado x ∈ R, mostrou-se que a integral imprópria,
Z ∞
2
sen 2 x · e −y·sen x dy,
0
A expressão para ϕ também mostra que ela não é uma função contínua, pois os limites laterais
em x = nπ , com n ∈ Z, existe e são iguais a 1, mas diferem do valor da função nestes pontos,
que é igual a 0.
de modo que a continuidade da função ϕ (x) estaria garantida se ϕ (x) = lim ϕn (x) uniforme-
n→∞
mente. Então, para seguir esta “lógica”, será preciso restringir um pouco mais as funções f (x, y)
e introduzir o conceito de convergência uniforme para integrais.
D EFINIÇÃO : Seja f : I × [a, ∞) → R limitada e integrável em cada intervalo [a, b]. Diz-se que
a integral Z ∞
f (x, y) dy
a
converge uniformemente para ϕ : J → R, onde J ⊂ I, se, dado ε > 0, existir B = B(ε ) > a tal
que, para todo x ∈ J, se tenha
Z b
f (x, y) dy − ϕ (x) < ε , para b > B.
a
Note que, na definição de convergência pontual para integrais, é exigido que a convergência
para cada x ∈ I fixado, mas na convergência uniforme para integrais é para todo x ∈ I.
O teorema a seguir dá uma condição necessária e suficiente para que as integrais do tipos
estudados nesta seção convirjam uniformemente.
Teorema 2.1 (Cauchy): Uma condição necessária e suficiente para que a integral
Z ∞
f (x, y) dy
a
convirja uniformemente em um intervalo J ⊂ I é que, dado ε > 0, exista B = B(ε ) > a tal que,
para todo x ∈ J, se tenha
Z b
2
f (x, y) dy < ε , para todos b2 > b1 ≥ B.
b1
616 A Funções representadas por integrais
D EMONSTRAÇÃO : Suponha que a integral convirja uniformemente. Então, dado ε > 0, existe
B = B(ε ) > a tal que, para todo x ∈ J,
Z b
ε
f (x, y) dy − ϕ (x)< , para b > B.
a 2
ε,
| ϕn (x) − ϕ (x)| < ∀ n ≥ n0 ,
2
isto é Z n
ε
,
a f (x, y) dy − ϕ (x) < 2 ∀ n ≥ n0 .
Z ∞
D EFINIÇÃO : Diz que a integral f (x, y) dy é absolutamente convergente quando
a
Z ∞
| f (x, y)| dy
a
diverge.
Dada uma função f : I × [a, ∞) → R, define-se a sua parte positiva e a sua parte negativa,
fazendo, para x ∈ [a, ∞), por
(
f (x, y), se f (x, y) ≥ 0,
f + (x, y) =
0, se f (x, y) < 0,
e (
0, se f (x, y) ≥ 0,
f − (x, y) =
− f (x, y), se f (x, y) < 0.
Assim, das definições de partes positiva e negativa de uma função, segue-se que
+ +
| f (x, y)| + f (x)
f (x, y) = | f (x, y)| =
2
| | f (x, y)| + f (x)| | f (x, y)| + | f (x, y)|
≤ =
|2| 2
Por hipótese, f é absolutamente convergente, então das desigualdades (2.4) e (2.5) segue-se
que as partes positiva e negativa de f também são convergentes, isto é,
Z ∞ Z ∞
+
f (x, y) dy < +∞ e f − (x, y) dy.
a a
Z ∞ Z ∞
+
= f (x, y) dy − f − (x, y) dy,
a a
é convergente.
Teorema 2.2 (teste M de Weierstrass): Suponha que, para cada x fixado, a função y 7→
f (x, y) pertença ao espaço L1 ([a, ∞)). Suponha também que exista uma função M : [a, ∞) → R
não negativa e integrável tal que
Então, a integral Z ∞
f (x, y) dy
a
converge absoluta e uniformente em J, isto é, as integrais
Z ∞ Z ∞
f (x, y) dy e | f (x, y)| dy
a a
é convergente.
Assim, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > a tal que b1 > B, para todo x ∈ J,
620 A Funções representadas por integrais
Z Z ∞
b1 ε
(2.7) M(y) dy − M(y) dy< ·
a a
2
para todo y ∈ J.
Assim, o critério de Cauchy (teorema 2.1) é atendido e, portanto, a integral
Z ∞
f (x, y) dy
a
converge uniformemente em J.
Observe que
−xy
e · sen y ≤ e −xy ,
pois | sen y| ≤ 1.
Além disso, tem-se que
e −xy ≤ e −by para b ≤ x.
Fazendo M(x) = e −by, obtém-se
A.2 Segundo caso 621
Z ∞ Z ∞ Z A
−by
M(y) dy = e dy = lim e −by dy
0 0 A→∞ 0
−by 0
1 −by A e
= lim − · e = lim
A→∞ b 0 A→∞ b A
1 e −Ab 1
= lim − = ·
A→∞ b b b
Assim, pelo teste M de Weierstrass, a integral
Z ∞
e −xy · sen y dy
0
converge uniformemente, mas apenas no caso em que a integral de | f (x, y)| também convirja
uniformemente. Há casos em que a integral acima converge, mas a integral imprópria do valor
absoluto diverge. Por exemplo, Z ∞
sen (xy)
dy.
0 y
O caso acima será estudado nos exemplos seguintes. Nessas situações, diz-se que há convergên-
cia condicional e há critérios para cuidar desses casos. Dois critérios importantes para testar a
convergência condição são os de Abel e de Dirichlet. Neste texto, estudar-se-á apenas o critério
de Dirichlet.
Teorema 2.3 (2o teorema do valor médio para integrais): Sejam f : [a, b] → R uma função
decrescente, positiva, com derivada integrável e g : [a, b] → R uma função contínua. Então,
existe c ∈ [a, b] tal que. Então, existe c ∈ [a, b] tal que
Z b Z c Z b
f (x) · g(x) dx = f (a) g(x) dx + f (b) g(x) dx.
a a c
Z b Z b Z b
f (x) · g(x) dx = f (x) · g(x) dx = f (x) · G0 (x) dx
a a a
b Z b
= f (x) · G(x) − f 0 (x) · G(x) dx
a a
Z b
= f (b) · G(b) − f (a) · G(a) − f 0 (x) · G(x) dx
a
Portanto,
Z b
f (x) · g(x) dx = f (a) · G(c) + f (b) [ G(b) − G(c)] .
a
Z c Z b Z c
= f (a) g(x) dx + f (b) g(x) dx − g(x) dx
a a a
Z c Z b Z a
= f (a) g(x) dx + f (b) g(x) dx + g(x) dx
a a c
Z c Z a Z b
= f (a) g(x) dx + f (b) g(x) dx + g(x) dx
a c a
Z c Z b
= f (a) g(x) dx + f (b) g(x) dx,
a c
demonstrando assim o teorema.
Teorema 2.4 (Dirichlet): Sejam f : I × [a, ∞) → R e g : [a, ∞) → R duas funções que satis-
fazem as seguintes hipóteses:
∂f
(1) A função f tem derivada parcial contínua na variável y, monótona na variável y (isto
∂y
é, f (x, y) ≤ f (x, y0 ) para y0 < y, com x fixado) e tal que f (x, y) → 0 uniformemente quando
y → ∞.
A.2 Segundo caso 623
Z b
(2) A função g é contínua na variável y e é tal que a integral g(y) dy é limitada para todo
a
intervalo [a, b] ⊂ [a, ∞).
Então a integral Z ∞
f (x, y) · g(y) dy
a
converge uniformente em J.
D EMONSTRAÇÃO : Pelo segundo teorema do valor médio para integrais, para quaisquer b2 >
b1 ≥ B > a, na existência de um b ∈ [b1, b2] tal que
Z b2 Z b Z b2
(2.9) f (x, y) · g(y) dy = f (x, b1 ) g(y) dy + f (x, b2 ) g(y) dy.
b1 b1 b
Z y
Como, por hipótese, g(t) dt é limitada, então existe M > 0 tal que
a
Z
y
g(y) dy ≤ M.
a
Assim,
Z b Z b Z b1
g(y) dy = g(y) dy − g(y) dy
b a a
1
Z b Z b
1
≤ g(y) dy + g(y) dy
a a
(2.10) ≤ M + M = 2M.
(2.11) ≤ M + M = 2M.
Como f (x, y) → 0 uniformemente quando y → ∞, então, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > a,
quaisquer que sejam y > B e x ∈ I, se tem
ε
(2.12) | f (x, y)| < ·
4M
Aplicando as desigualdades obtidas em (2.10), (2.11) e (2.12) em (2.9), obtém-se
Z b Z b Z b2
2
f (x, y) · g(y) dy = f (x, b 1 ) g(y) dy + f (x, b 2 ) g(y) dy
b b b
1 1
624 A Funções representadas por integrais
Z b Z b2
≤ f (x, b1 ) g(y) dy + f (x, b2 ) g(y) dy
b1 b
Z Z
b b2
= | f (x, b1 )| g(y) dy + | f (x, b2 )| g(y) dy
b1 b
ε ε
< · (2M) + · (2M)
4M 4M
ε ε
= + = ε.
2 2
Mostrou-se, portanto, que Z
b2
b f (x, y) · g(y) dy < ε ,
1
ou seja, que o critério de Cauchy foi atendido. Segue-se do teorema 1.1 que
Z ∞
f (x, y) · g(y) dy
a
converge uniformemente.
Z ∞
Observação 2.2: A integral f (x, y)· g(y) dy poderia ser estimada sem recorrer ao segundo
a
teorema do valor médio, procedendo-se de maneira análoga à usada na demonstração do critério
de Dirichlet feito na proposição 1.3, ou seja, integrando por partes. Isso, no entanto, tornaria a
demonstração mais complicada sem essencialmente evitar raciocínios repetidos, próprios da
demonstração do segundo teorema do valor médio.
O fato de a função f (x, y) ter uma derivada contínua em relação a x não é essencial e se deve
apenas ao segundo teorema do valor médio (teorema 2.3) que foi demonstrado sob as condições
de tal hipótese. Basta observar que não apareceu essa derivada na demonstração.
pois x ≥ 0 e y > 0.
A segunda hipótese do teste de Dirichlet também é satisfeita, pois sen y é contínua na variável
ye Z b Z b
Z b
g(b) db ≤ | sen y| dt ≤ dy = b − a.
a a a
Isso mostra que as hipóteses do teorema 2.4 (Dirichlet) são satisfeitas, de modo que a integral
Z ∞
sen y
e −xy · dy
0 y
converge uniformemente.
Z y
sen (xt) dt
1
é limitada para cada b ≥ 1.
Assim, pelo critério de Dirichlet, a integral
Z ∞
sen (xy)
dy
1 y
é convergente.
Portanto, a integral Z ∞
sen (xy)
dy,
y 0
que é soma de duas integrais impróprias convergentes, é convergente
(n − 1)π ≤ (n − 1)π + t ≤ nπ ⇒ 0 ≤ t ≤ π.
Assim,
| sen u| = | sen [(n − 1)π + t]|
pois seno de múltiplo de π é igual a zero e cos[(n − 1)π ] = (−1)n−1 . E como 0 ≤ t ≤ π , então
sen t ≥ 0 e por isso pôde ser retirado do módulo.
Além disso, para y = (n − 1)π , tem-se t = 0; para y = nπ , tem-se t = π . Então,
Z nπ Z π
| sen u| sen t
du = dt.
(n−1)π u 0 (n − 1)π + t
Como t ≥ 0 e nπ ≥ (n − 1)π , então
1 1
nπ + t ≥ (n − 1)π + t ⇒ ≥ ·
(n − 1)π + t nπ + t
Observe também que
1 1 ,
nπ + t ≥ nπ ⇒ ≥
nπ nπ + t
pois t ≥ 0.
Portanto,
Z nπ Z π
| sen u| sen t
du = dt
(n−1)π u 0 (n − 1)π + t
Z π Z π
sen t sen t
≥ dt ≥ dt
0 nπ + t 0 nπ
π
1 1
= · (− cost) = · (− cos π + cos 0)
nπ 0 nπ
2
(2.14) = ·
nπ
Substituindo (2.14) em (2.13), obtém-se
Z kπ k Z nπ k
| sen u| | sen u| 2
(2.15) du = ∑ du ≥ ∑ ·
0 u n=1 (n−1)π u n=1 kπ
Como Z ∞ Z kπ
| sen u| | sen u|
du = lim du,
0 u k→∞ 0 u
segue-se de (2.15) que
Z ∞ ∞
| sen u| 2 2 ∞ 1
u
du ≥ ∑ = ∑n
0 n=1 nπ π n=1
2 1 1 1
= 1+ + + +··· ,
π 2 3 4
onde a soma entre parênteses é a série harmônica, que sabidamente é diverge.
Como a integral no primeiro membro é maior do que uma quantidade divergente, então, por
comparação, a integral do primeiro membro é divergente.
628 A Funções representadas por integrais
Os exemplos 2.1 e 2.2 mostraram que a continuidade de f (x, y) não garante a continuidade da
função ϕ (x). Então foi preciso restringir a função f para que os resultados fossem alcançados,
quando se usou o conceito de convergência uniforme como visto anteriormente.
O próximo resultado trata da continuidade da função ϕ .
Z Z Z
b ∞ ∞
(2.16)
≤ [ f (x, y) − f (x0 , y)] dy +
f (x, y) dy + f (x0 , y) dy .
a b b
Por hipótese, f é contínua. Então, pelo lema 1.1, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I,
se tem
ε ,
|x − x0| < δ ⇒ | f (x, y) − f (x0 , y)| <
3(b − a)
qualquer que seja y ∈ [a, b].
Portanto, a primeira integral no último membro de (2.16) pode ser estimada da seguinte
maneira: para x ∈ [x0 − δ , x0 + δ ],
Z Z
b b
[ f (x, y) − f (x0 , y)] dy ≤ | f (x, y) − f (x0 , y)| dy
a
a
Z b b Z
ε ε
< dy = dy
a 3(b − a) 3(b − a) a
b
ε ε ε
(2.17) = · y = · (b − a) = ·
3(b − a) a 3(b − a) 3
Por hipótese, a integral Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy
a
converge uniformemente, diga-se, em um intervalo J ⊂ I. Então, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > a
tal que, para todo x ∈ J, se tem
Z
b ε
f (x, y) dy − ϕ (x)< , para b > B.
a 3
de modo que
Z Z Z
b ∞ ∞
a f (x, y) dy − ϕ (x) = − b f (x, y) dy = b f (x, y) dy .
para b > B.
Substituindo (2.17) e (2.18) em (2.16), encontra-se
630 A Funções representadas por integrais
Z Z Z
b ∞ ∞
| ϕ (x) − ϕ (x0 )| ≤ [ f (x, y) − f (x0 , y)] dy + f (x, y) dy + f (x0 , y) dy
a b b
ε ε ε
< + + = ε,
3 3 3
mostrando, assim, a continuidade da função ϕ .
Por hipótese, g é contínua. Então, pelo lema 1.1, dado ε > 0 existe δ > 0 tal que, para x ∈ I,
se tem
ε ,
|x − x0| < δ ⇒ |g(x, y) − g(x0, y)| < Z ∞
3 |h(y)| dy
a
qualquer que seja y ∈ [a, b]. Observe que a integral no último denominador faz sentido, pois,
por hipótese, h ∈ L1([a, ∞)).
Portanto, a primeira integral no último membro de (2.19) pode ser estimada da seguinte
maneira: para x ∈ [x0 − δ , x0 + δ ],
Z b Z b
[g(x, y) − g(x0, y)] h(y) dy ≤ |[g(x, y) − g(x0, y)] h(y)| dy
a
a
Z b
= | g(x, y) − g(x0 , y)| | h(y)| dy
a
Z b
ε
< Z ∞ | h(y)| dy
a 3 | h(y)| dy
a
Z b
ε
= Z ∞ | h(y)| dy
3 | h(y)| dy a
a
Z ∞
ε
≤ Z ∞ | h(y)| dy
3 | h(y)| dy a
a
ε
(2.20) = ·
3
Além disso, por hipótese, tem-se que |g(x, y)| ≤ K(y), para x fixado, e h ∈ L1 ([a, ∞)). Então
é possível fazer a seguinte estimativa:
Z ∞ Z ∞
g(x, y) h(y) dy ≤ | g(x, y) h(y)| dy
a a
Z ∞
= | g(x, y)| | h(y)| dy
a
Z ∞
≤ K(y) |h(y)| dy = M(y),
a
onde se fez Z ∞
M(y) = K(y) | h(y)| dy,
a
uma vez que a integral acima é constante e finita por ser h ∈ L1([a, ∞)).
Com isso, é possível usar o teste M de Weierstrass para concluir que a integral
Z ∞
g(x, y) h(y) dy
a
632 A Funções representadas por integrais
de modo que
Z Z Z
b ∞ ∞
g(x, y) h(y) dy − ϕ (x) = −
a b g(x, y) h(y) dy = b g(x, y) h(y) dy .
Nas demonstrações feitas nas proposições 2.2 e 2.3 mostrou-se a continuidade da função ϕ
em um ponto x0 supondo a convergência uniforme da integral em uma vizinhança de x0 . Isso é
importante, pois no caso de um intervalo I ilimitado a integral pode convergir uniformemente
na vizinhança de cada ponto, mas divergir em todo I. Isso se deve ao fato de que a continuidade
(bem como a diferenciabilidade) é um conceito local.
Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy
a
Z
b f (x0 + k, y) − f (x0 , y) ∂f
= dy − (x0 , y) dy +
a k ∂x
Z ∞ Z ∞
f (x0 + k, y) − f (x0, y) ∂f
+ dy − (x0 , y)
b k b ∂x
∂f
Z ∞ (x0 + θ k, y) · k Z ∞
∂ f
+ ∂x dy −
(x0 , y) dy
b k b ∂ x
Z b ∂ f ∂f
Z ∞
∂f
Z ∞
∂f
= (x0 + θ k, y) − (x0 , y) dy + (x0 + θ k, y) dy − (x0 , y)dy
a ∂x ∂x b ∂x b ∂x
Z ∞
Z b ∂ f ∂f ∂f
≤ (x0 + θ k, y) − (x0 , y) dy + (x0 + θ k, y) dy +
a ∂x ∂x b ∂x
Z ∞ ∂ f
(2.22) + (x0 , y)dy.
b ∂x
Por hipótese ∂ f/∂ x é contínua. Então, é possível usar o lema 1.1 para concluir que, para todo
ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
∂ f ∂ f ε
|x − x0 | < δ ⇒ (x, y) − (x0 , y)< ,
∂x ∂x 3(b − a)
qualquer que seja y ∈ [a, ∞).
Em particular, o resultado acima é verdadeiro para x = x0 + θ k, para |k| < δ e θ ∈ (0, 1) (pois
I é um intervalo aberto). Assim,
∂ f ∂ f ε
(2.23) |x − x0 | < δ ⇒ (x0 + θ k, y) − (x0 , y)< ·
∂x ∂x 3(b − a)
Também por hipótese, a integral
Z ∞
∂f
ψ (x) = (x, y) dy
a ∂x
converge uniformemente, diga-se, em um intervalo J ⊂ I. Então, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > a
tal que, para todo x ∈ J, se tem
Z b
∂f ε
, para todo b > B.
a ∂ x (x, y) dy − ψ (x) < 3
A.2 Segundo caso 635
Z ∞
[g(x0 + k, y) − g(x0, y)] · h(y)
+ dy −
b k
Z b Z ∞
∂g ∂g
− (x0 , y) · h(y) dy − (x0 , y) · h(y) dy
a ∂x b ∂x
Z Z b
b [g(x0 + k, y) − g(x0, y)] · h(y) ∂g
= dy − (x0 , y) · h(y) dy +
a k a ∂x
Z ∞ Z ∞
[g(x0 + k, y) − g(x0, y)] · h(y) ∂g
+ dy − (x0 , y) · h(y) dy
b k b ∂x
Z
b g(x0 + k, y) − g(x0, y) ∂ g
= − (x0 , y) · h(y) dy +
a k ∂x
Z ∞ Z ∞
[g(x0 + k, y) − g(x0, y)] · h(y) ∂g
+ dy − (x0 , y) · h(y) dy
b k b ∂x
= (pelo teorema do valor médio para integrais)
∂g
Z b (x + θ k, y) · k ∂ g
∂x 0
= − (x0 , y) · h(y) dy +
a k ∂x
∂g
Z ∞ (x0 + θ k, y) · k Z ∞
∂ g
+ ∂x · h(y) dy −
(x0 , y) · h(y) dy
b k b ∂ x
Z
b ∂g ∂g
= (x + θ k, y) − (x0 , y) · h(y) dy +
a ∂x 0 ∂x
Z ∞ Z ∞
∂g ∂g
+ (x0 + θ k, y) · h(y) dy − (x0 , y) · h(y) dy
b ∂x b ∂x
Z b ∂ g ∂ g
≤ (x0 + θ k, y) − (x0 , y) · h(y) dy +
a ∂x ∂x
Z Z
∞ ∂g ∞ ∂g
(2.25) + (x0 + θ k, y) · h(y) dy + (x0 , y) · h(y) dy.
b ∂x b ∂x
Por hipótese, ∂ g/∂ x é contínua. Então é possível usar o lema 1.1 para concluir que, para todo
ε > 0, existe δ > 0 tal que, para x ∈ I, se tem
∂g g
|x − x0 | < δ ⇒ (x, y) − (x0 , y) < Z ε
∂ ,
∂x ∂x b
3 |h(y)| dy
a
638 A Funções representadas por integrais
qualquer que seja y ∈ [a, b]. Isso é sempre verdade, pois, por hipótese, a função h ∈ L1([a, b]),
ou seja, por ser deste espaço, segue-se que |h(y)| é integrável e o valor resultante desta integral
acima é um número finito.
Em particular, o resultado acima é verdadeiro para x = x0 + θ k, para |k| < δ e θ ∈ (0, 1) (pois
I é um intervalo aberto. Assim,
∂ g ∂g
|x − x0| < δ ⇒ (x0 + θ k, y) − (x0 , y)< Z ∞ ε ,
∂x ∂x
3 |h(y)| dy
a
Portanto, a primeira integral no último membro de (2.25) pode ser estimada da seguinte
maneira:para x ∈ [x0 − δ , x0 + δ ], tem-se
Z b ∂ g ∂ g
Z b ∂ g ∂ g
(x0 + θ k, y) −
(x0 + θ k, y) − (x0 , y) · h(y) dy ≤ (x0 , y) · h(y) dy
a ∂x ∂x a ∂x ∂x
Z b
∂g ∂g |h(y)| dy
= (x0 + θ k, y) − (x 0 , y)
a ∂x ∂x
Z b
ε
< Zb |h(y)| dy
a
3 |h(y)| dy
a
Z ∞
ε
< Z ∞ |h(y)| dy
3 |h(y)| dy a
a
ε
(2.26) < ·
3
Além disso, por hipótese, tem-se que |∂ g/∂ x(x, y)| ≤ K(y), para x fixado, e h ∈ L1 ([a, ∞)).
Então, Z Z
∞ ∂g ∞ ∂g
a ∂ x (x, y) · h(y) dy ≤ a ∂ x (x, y) · h(y) dy
Z ∞
∂g · |h(y)| dy
= ∂x (x, y)
a
Z ∞
≤ K(y) |h(y)| dy = M(y),
a
onde se fez Z ∞
M(y) = K(y) |h(y)| dy,
a
uma vez que a integral acima é constante e finita por ser h ∈ L1([a, ∞)).
Com isso, é possível usar o teste M de Weierstrass para concluir que a integral
Z ∞
∂g
(x, y) · h(y) dy
a ∂x
converge uniformemente, por exemplo, em um intervalo J ⊂ I.
A.2 Segundo caso 639
Fazendo Z ∞
∂g
ψ (x) = (x, y) · h(y) dy
∂x a
então pela convergência uniforme da integral acima, tem-se que, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > a
tal que, para todo x ∈ J,
Z
b ∂g ε
(x, y) · h(y) dy − ψ (x)< , para todo b > B.
a ∂x 3
ε ε ε
< + + = ε,
3 3 3
o que demonstra o resultado desejado.
converge uniformemente. Então, para qualquer intervalo limitado [x1, x2] ⊂ I, vale que
Z x2 Z ∞ Z ∞ Z x2
(2.28) f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy.
x1 a a x1
D EMONSTRAÇÃO : Como f é contínua, então, pela proposição 2.2, a função ϕ também será
contínua. Assim, a integral no primeiro membro,
Z x2 Z ∞ Z x2
f (x, y) dy dx = ϕ (x) dx,
x1 a x1
ou ainda, Z b Z x2 Z x2
lim f (x, y) dx dy = ϕ (x) dx
b→∞ a x1 x1
Como a integral dupla no primeiro membro acima é dada em dois intervalos limitados e o
integrando f (x, y) é uma função contínua, então pode-se usar a proposição 1.6 que trata sobre a
mudança na ordem de integração para integrais deste tipo. Assim, segue-se daí que
Z x2 Z b Z x2
lim f (x, y) dy dx = ϕ (x) dx.
b→∞ x1 a x1
Z x2 Z b Z x2 Z ∞ Z x2 Z ∞
(2.29) f (x, y) dy dx = f (x, y) dy dx − f (x, y) dy dx.
x1 a x1 a x1 b
Z x2 Z ∞
(2.30) lim f (x, y) dy dx = 0.
b→∞ x1 b
Observa-se que não é possível passar o limite acima para dentro da primeira integral, pois não
é possível saber se issso implicará em mudança do resultado. Assim, a ideia consiste em usar a
hipótese da convergência uniforme da integral de ϕ (x). De fato, dado ε > 0, existe B = B(ε ) > a,
tal que Z
∞
f (x, y) dy< ε ·
b x2 − x1
Segue-se daí e de (2.30) que
Z x Z ∞ Z
x2 Z ∞
2
f (x, y) dy dx≤ f (x, y) dy dx
x1 b
x1
b
Z x2 x2
ε ε
< dx = · x
x2 − x1 x1 x2 − x1 x1
ε
= · (x2 − x1 ) = ε ,
x2 − x1
mostrando que Z x2 Z ∞
lim f (x, y) dy dx = 0.
b→∞ x1 b
Por (2.29) e (2.30), segue-se que
Z x2 Z ∞ Z x2 Z b
f (x, y) dy dx = lim f (x, y) dy dx
x1 a b→∞ x1 a
Z x2 Z ∞ Z x2 Z ∞
= lim f (x, y) dy dx − lim f (x, y) dy dx
b→∞ x1 a b→∞ x1 b
Z x2 Z ∞
= f (x, y) dy dx.
x1 a
Portanto, Z x2 Z ∞ Z ∞ Z x2
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy,
x1 a a x1
ficando demonstrada a proposição.
Na proposição 2.6, a substituição do intervalo limitado [x1 , x2] pelo intervalo ilimitado (a, ∞)
é um assunto bem delicado e complicado. A convergência uniforme da integral
Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy
a
não é suficiente para a mudança na ordem de integração. Assim sendo, dois exemplos nessa
direção serão apresentados a seguir, mostrando a dificuldade desse caso específico.
642 A Funções representadas por integrais
Exemplo 2.7: Este exemplo mostrará que a mudança na ordem de integração também pode
ter problemas com as integrais em domínios ilimitados. De fato, considere a função f : (1, ∞) ×
(1, ∞) → R definida por
x−y
f (x, y) = ·
(x + y)3
Agora considere a função g : (1, ∞) × (1, ∞) → R definida por
x
g(x, y) = − ·
(x + y)2
Observe que
∂g ∂ x (x + y)2 · (−1) + x · [2(x + y)]
(x, y) = − =
∂x ∂x (x + y)2 (x + y)4
−x2 − 2xy − y2 + 2x2 + 2xy x2 − y2
= =
(x + y)4 (x + y)4
(x + y)(x − y) x−y
= 4
= = f (x, y).
(x + y) (x + y)3
Assim,
Z ∞ Z b Z b
x−y x∂
f (x, y) dx = lim dx = lim − dx
1 b→∞ 1 (x + y)3 b→∞ 0 ∂ x (x + y)2
b 1
x x
= lim − = lim
b→∞ (x + y)2 1 b→∞ (x + y)2 b
1 b
= lim −
b→∞ (1 + y)2 (b + y)2
1 b
= lim 2
− lim 2
b→∞ (1 + y) b→∞ b + 2by + y2
1 1
= 2
−0 = ·
(1 + y) (1 + y)2
Portanto,
Z ∞Z ∞ Z ∞ Z b
1 1
f (x, y) dx dy = dy = lim dy
1 1 1 (1 + y)2 1 (1 + y)
b→∞ 2
Z 1+b 1+b
1 1
= lim du = lim −
b→∞ 2 u 2 b→∞ u 2
2
1 1 1
= lim = lim −
b→∞ u 1+b b→∞ 2 1+b
1 1
= lim − lim
b→∞ 2 b→∞ 1 + b
A.2 Segundo caso 643
1 1
(2.31) = −0 = ·
2 2
onde se fez a seguinte mudança de variáveis: u = 1 + y (de modo que du = dy).
Similarmente, define-se uma função h : (1, ∞) × (1, ∞) → R por
y
h(x, y) = ·
(x + y)2
Agora observe que
∂h ∂ y (x + y)2 · 1 − y · [2(x + y)]
(x, y) = =
∂y ∂ y (x + y)2 (x + y)4
x2 + 2xy + y2 − 2xy − 2y2 x2 − y2
= =
(x + y)4 (x + y)4
(x + y)(x − y) x−y
= 4
= = f (x, y).
(x + y) (x + y)3
Assim, Z ∞ Z b
x−y ∂ y
f (x, y) dy = lim dy = lim dy
1 b→∞ (x + y)3 b→∞ 0 ∂ y (x + y)2
b
y b 1
= lim = lim −
b→∞ (x + y)2 1 b→∞ (x + b)2 (x + 1)2
b 1
= lim − lim
b→∞ x2 + 2bx + b2 b→∞ (x + 1)2
1 1
= 0− 2
=− ·
(x + 1) (x + 1)2
Portanto,
Z ∞Z ∞ Z ∞ Z b
1 1
f (x, y) dy dx = − dx = − lim dx
1 1 1 (x + 1)2 1 (x + 1)
b→∞ 2
Z b+1 b+1
1 1
= − lim dx = − lim −
b→∞ 2 u 2 b→∞ u 2
b+1
1 1 1
= lim = lim −
b→∞ u 2 b→∞ b + 1 2
1 1
= lim − lim
b→∞ b + 1 b→∞ 2
1 1
(2.32) = 0− =− ·
2 2
onde se fez a seguinte mudança de variáveis: u = x + 1 (de modo que du = dy).
Segue-se de (2.31) e (2.32) que
644 A Funções representadas por integrais
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
f (x, y) dx dy 6= f (x, y) dy dx.
1 1 1 1
|x + y| x+y 1 1,
≤ = = ≤
(x + y)3 (x + y)3 (x + y)2 y2
onde usou-se a desigualdade anterior.
Considere agora a função M : (1, ∞) → R dada por
1
M(y) = ·
y2
Observe que M é uma função não negativa. Agora mostra-se que M é integrável. Basta cal-
cular diretamente a sua integral em seu domínio de definição. Tem-se:
Z ∞ Z b b
1 1 1
dy = lim dy = lim −
1 y
2 b→∞ 1 y2 b→∞ y 1
1
1 1
= lim = lim 1 −
b→∞ y b b→∞ b
1
= lim 1 − lim = 1.
b→∞ b→∞ b
Como M é uma função não negativa e integrável, então é possível aplicar o teste M de Weier-
strass para concluir que a integral
Z ∞ Z ∞
x−y
f (x, y) dy = dy
1 1 (x + y)3
A.2 Segundo caso 645
converge uniformemente. Mas a convergência não é absoluta, pois a função f (x, y) não pertence
ao espaço L1((1, ∞)). Essa afirmação equivale a dizer que a função f (x, y) não é absolutamente
integrável.
De fato, observe que
∂ y ∂
2
= y(x + y)−2
∂ y (x + y) ∂y
= (x + y)−2 + (−2) · y · (1)(x + y)−3
1 2y x+y 2y
= 2
− 3
= 3
−
(x + y) (x + y) (x + y) (x + y)3
x + y − 2y x−y
(2.33) = 3
=
(x + y) (x + y)3
e que
∂ y ∂
− 2
= −y(x + y)−2
∂y (x + y) ∂y
x b
y y
= − lim
(x + y)2 1 b→∞ (x + y)2 x
x 1 b x
= 2
− 2
− lim 2
+ lim
(2x) (x + 1) b→∞ (x + b) b→∞ (2x)2
1 1 1
= − 2
−0+
4x (x + 1) 4x
1 1
(2.35) = − ·
2x (x + 1)2
Portanto, por (2.35), encontra-se
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
|x − y|
| f (x, y)| dy dx = dy dx
1 1 1 1 (x + y)3
Z ∞
1 1
= − dx
1 2x (x + 1)2
Z ∞ Z ∞
1 1
= dx − dx.
1 2x 1 (x + 1)2
A segunda integral no último membro acima converge, mas a primeira integral não converge,
pois um cálculo simples mostra que aparecerá o termo ln x que diverge quando x → ∞. Isso im-
plica na divergência de toda a integral no primeiro membro, mostrando, portanto, que a função
f (x, y) não é absolutamente integrável.
Para calcular a outra integral, com ordem de integração invertida em relação a integral calcu-
lada, observe primeiro que
∂ x ∂ −2
= x(x + y)
∂ x (x + y)2 ∂x
= (x + y)−2 + (−2) · x · (1)(x + y)−3
1 2x x+y 2x
= 2
− 3
= 3
−
(x + y) (x + y) (x + y) (x + y)3
x + y − 2x y−x
(2.36) = 3
=
(x + y) (x + y)3
e que
∂ x ∂ −2
− = −y(x + y)
∂x (x + y)2 ∂y
= −(x + y)−2 − (−2) · x · (1)(x + y)−3
1 2x x+y 2x
=− 2
+ 3
=− 3
+
(x + y) (x + y) (x + y) (x + y)3
A.2 Segundo caso 647
−x − y + 2x x−y
(2.37) = = ·
(x + y)3 (x + y)3
Observe também que
(
x − y, para x − y ≥ 0,
|x − y| =
−(x − y), para x − y < 0,
(
x − y, para x ≥ y,
=
y − x, para x < y.
y 1 b y
= − + lim − +
(2y)2 (y + 1)2 b→∞ (y + b)2 (2y)2
1 1 b 1
= − 2
− lim 2
+ lim
4y (y + 1) b→∞ (y + b) b→∞ 4y
1 1 1
= − 2
−0+
4y (y + 1) 4y
1 1
(2.38) = − ·
2y (y + 1)2
Portanto, por (2.38), encontra-se
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
|x − y|
| f (x, y)| dx dy = dx dy
1 1 1 1 (x + y)3
Z ∞
1 1
= − dy
1 2y (y + 1)2
Z ∞ Z ∞
1 1
= dy − dy.
1 2y 1 (y + 1)2
648 A Funções representadas por integrais
A segunda integral no último membro acima converge, mas a primeira integral não converge,
pois um cálculo simples mostra que aparecerá o termo ln y que diverge quando x → ∞. Isso im-
plica na divergência de toda a integral no primeiro membro, mostrando, portanto, que a função
f (x, y) não é absolutamente integrável.
O exemplo 2.7 mostrou que uma situação em que a troca da ordem de integração não resul-
tou em integrais duplas iguais. O exemplo 2.8 mostrou o motivo do problema apresentado no
exemplo 2.7: que a hipótese convergência uniforme não é o bastante para que se possa mudar a
ordem de integração quando se trata de domínio de integração ilimitado, pois as duas integrais
duplas não eram absolutamente convergentes.
O próximo resultado não é exatamente o clássico teorema de Fubini, mas sim uma versão
bastante particularizada para o mesmo. Porém, por outro lado, neste texto o teorema de Fubini
foi citado diversas vezes e em diversos lugares. A versão a seguir foi usada, por exemplo, na
demonstração do teorema da convolução para transformada de Laplace. Assim sendo, esclarece-
se que o teorema de Fubini citado em partes deste texto tem como uma de suas versões o sentido
do teorema a seguir.
Teorema 2.5 (Fubini): Seja f : R2 → R uma função contínua tal que as integrais iteradas
abaixo convirjam
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
| f (x, y)| dy dx e | f (x, y)| dx dy.
a b b a
Isso mostra que basta demonstrar a proposição para o caso em que f (x, y) ≥ 0. Seja
Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy,
b
onde Z d
ϕ (x) = lim f (x, y) dy,
d→∞ b
qualquer que seja d > b. Note que ϕ (x) ≥ 0, pois f (x, y) ≥ 0.
Portanto, para qualquer d > b, tem-se que
Z ∞ Z d
ϕ (x) = f (x, y) dy ≥ f (x, y) dy,
b b
pois assume-se que f ≥ 0, de modo que o valor da integral aumenta quando se aumenta o
comprimento do intervalo.
Seja c > a quaisquer. Como, por hipótese, f é contínua, então pela proposição 2.2, tem-se que
ϕ também é contínua. Com isso, tem-se que ϕ (x) é integrável em qualquer intervalo limitado
[a, c]. Assim,
Z c Z c Z d
ϕ (x) dx ≥ f (x, y) dy dx
a a b
Z cZ d
= f (x, y) dy dx
a b
Z ∞ Z c Z dZ c
(2.39) ϕ (x) dx ≥ ϕ (x) dx ≥ f (x, y) dx dy,
a a b a
Como se está supondo que f (x, y) ≥ 0, então segue-se de (2.39) e da última expressão que
Z ∞ Z dZ ∞
ϕ (x) dx ≥ f (x, y) dx dy.
a b a
Faça Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
I1 = f (x, y) dy dx e I2 = f (x, y) dx dy.
a b b a
A desigualdade obtida em (2.40) significa dizer que I1 ≥ I2 .
O próximo passo é mostrar que I2 ≤ I1 . Novamente, basta demonstrar para o caso em que
f (x, y) ≥ 0. Seja Z ∞
ψ (y) = f (x, y) dx,
a
onde Z c
ψ (y) = lim f (x, y) dx.
c→∞ a
pois assume-se que f ≥ 0, de modo que o valor da integral aumenta quando se aumenta o
comprimento do intervalo.
Sejam d > b quaisquer. Como, por hipótese, f é contínua, então pela proposição 2.2, tem-
se que ψ também é contínua. Com isso, tem-se que ψ (y) é integrável em qualquer intervalo
limitado [a, c]. Assim,
Z d Z d Z c
ψ (y) dy ≥ f (x, y) dx dy
b b a
Z dZ c
= f (x, y) dx dy
b a
Como se está supondo que f (x, y) ≥ 0, então segue-se de (2.41) e da última expressão que
Z ∞ Z cZ ∞
ψ (y) dy ≥ f (x, y) dy dx.
b a b
então a desigualdade obtida em (2.42) significa dizer que I2 ≥ I1 . Como já foi demonstrado que
I1 ≥ I2 , então conclui-se que I1 = I2 , ou seja, que
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy,
a b b a
mostrando, portanto, que a integral do primeiro membroa acima também é uma integral do tipo
Z ∞
u(x, y) dy.
a
Assim sendo, a função ϕ (x) pode ser escrita como soma de duas integrais do tipo acima.
Portanto, a teoria de funções representadas por integrais de −∞ até ∞ fica resumida ao estudo
das integrais da seção A.2). Mas antes é preciso dar significado ao conceito de convergência
uniforme para integrais do tipo estudado nesta seção.
Como Z Z Z
∞ 0 ∞
f (x, y) dy = f (x, y) dy + f (x, y) dy,
−∞ −∞ 0
então se diz que a integral converge uniformemente se, dado ε > 0, existir um B = B(ε ) > 0 tal
que
Z B Z ∞
(3.1) f (x, y) dy + f (x, y) dy < ε .
−∞ B
O que será mostrado a seguir será usado nas demonstrações das proposições que estão logo
adiante. Afirmação: as integrais no segundo membro de (3.1) também convergem uniforme-
mente.
De fato, Z B Z B Z ∞
−∞ f (x, y) dy ≤ −∞ f (x, y) dy + B f (x, y) dy < ε
e Z ∞ Z B Z ∞
f (x, y) dy≤ f (x, y) dy + f (x, y) dy < ε.
B −∞ B
As duas desigualdades acima mostram que as integrais
Z 0 Z ∞
f (x, y) dy e f (x, y) dy
−∞ 0
também convergem uniformemente, com o mesmo ε > 0 e o mesmo B = B(ε ) > 0. Este fato
será usado nas demonstrações das proposições a seguir, mas não serão novamente mostrado.
é contínua.
Z ∞
D EMONSTRAÇÃO : Por hipótese, a integral f (x, y) dy converge uniformente. Então, como
−∞
demonstrado anteriormente, tem-se que as integrais
Z 0 Z ∞
f (x, y) dy e f (x, y) dy
−∞ 0
é contínua.
D EMONSTRAÇÃO : A hipótese de convergência uniforme para a integral do enunciado não
está presente, mas ela decorre das demais hipóteses. Com isso, será necessário concluir a con-
vergência uniforme antes de avançar. Tem-se:
Z ∞
ϕ (x) = g(x, y) · h(y) dy
−∞
Z 0 Z ∞
(3.2) = g(x, y) · h(y) dy + g(x, y) · h(y) dy.
−∞ 0
Por hipótese, tem-se que |g(x, y)| ≤ K(y), para x fixado, e h ∈ L1(R). Então é possível fazer
a seguinte estimativa:
Z Z
∞ ∞
g(x, y) · h(y) dy≤ | g(x, y) · h(y)| dy
−∞
−∞
654 A Funções representadas por integrais
Z ∞
= | g(x, y)) · |h(y)| dy
−∞
Z ∞
≤ K(y) |h(y)| dy = M(y),
−∞
Z ∞
onde se fez M(y) = K(y) |h(y)| dy, uma vez que a integral acima é constante e finita por ser
−∞
h ∈ L1 (R).
Com isso, é possível usar o teste M de Weierstrass para concluir que a integral
Z ∞
g(x, y) · h(y) dy
−∞
Além disso,
Z B Z B Z ∞
g(x, y) · h(y) dy ≤ g(x, y) · h(y) dy + g(x, y) · h(y) dy<ε
−∞ −∞ B
e Z Z Z ∞
∞ B
g(x, y) · h(y) dy≤ g(x, y) · h(y) dy + g(x, y) · h(y) dy < ε.
B −∞ B
As duas desigualdades acima mostram que as integrais
Z 0 Z ∞
g(x, y) · h(y) dy e g(x, y) · h(y) dy
−∞ 0
Como claramente se tem ϕ (x) = ϕ1 (x) + ϕ2 (x), sendo ϕ1 (x) e ϕ2 (x) contínuas, em virtude
da proposição 2.3, segue-se daí que ϕ também é contínua, pois se escreve como soma de duas
funções contínuas.
Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy.
−∞
Analogamente, tem-se
Z ∞ Z 0 Z ∞
∂f ∂f ∂f
(3.3) (x, y) dy = (x, y) dy + (x, y) dy.
−∞ ∂x −∞ ∂x 0 ∂x
Como, por hipótese, a integral do primeiro membro acima converge uniformemente, então,
por definição, dado ε > 0, existe um B = B(ε ) > 0 tal que
Z B Z ∞
∂f ∂f
(x, y) dy + (x, y) dy < ε.
−∞ ∂ x B ∂x
Além disso,
Z B Z B Z ∞
∂f ∂f ∂f
−∞ ∂ x (x, y) dy ≤ −∞ ∂ x (x, y) dy + B ∂ x (x, y) dy < ε
e Z ∞ Z B Z ∞
∂ f ∂ f ∂ f
(x, y) dy≤ (x, y) dy + (x, y) dy < ε.
B ∂x −∞ ∂ x B ∂x
As duas desigualdades acima mostram que as integrais
Z 0 Z ∞
∂f ∂f
(x, y) dy e (x, y) dy
−∞ ∂x 0 ∂x
também convergem uniformemente.
Portanto, como f é contínua e cada uma das integrais acima converge uniformemente, então
é possível usar a proposição 2.4 para concluir que cada integral no último membro de (3.3)
representa uma função diferenciável, isto é, existem duas funções diferenciáveis ϕ1 (x) e ϕ2 (x)
tais que
Z 0 Z ∞
∂f ∂f
ϕ10 (x) = (x, y) dy e = ϕ20 (x)
(x, y) dy.
∂x −∞ 0 ∂x
Fazendo ϕ (x) = ϕ1 (x) + ϕ2 (x), segue-se que ϕ é uma função diferenciável, por ser soma de
duas funções diferenciáveis. Além disso, segue-se que
656 A Funções representadas por integrais
Analogamente,
Z ∞ Z 0 Z ∞
∂g ∂g ∂g
(3.4) (x, y) · h(y) dy = (x, y) · h(y) dy + (x, y) · h(y) dy.
−∞ ∂x −∞ ∂x 0 ∂x
Por hipótese, tem-se que |∂ f/∂ x| ≤ K(y), para x fixado, e h ∈ L1(R). Então é possível fazer a
seguinte estimativa:
Z ∞ Z ∞
∂g ∂ g
−∞ ∂ x (x, y) · h(y) dy ≤ −∞ ∂ x (x, y) · h(y) , dy
Z ∞
∂ g
(x, y) · |h(y)| dy
=
−∞ ∂ x
Z ∞
≤ K(y) |h(y)| dy = M(y),
−∞
onde se fez Z ∞
M(y) = K(y) |h(y)| dy,
−∞
uma vez que a integral acima é constante e finita por ser h ∈ L1(R).
Com isso, é possível usar o teste M de Weierstrass para concluir que a integral
A.3 Terceiro caso 657
Z ∞
∂g
(x, y) · |h(y)| dy
−∞ ∂x
converge uniformemente, por exemplo, em um intervalo J ⊂ I.
Então, por definição, dado ε > 0, existe um B = B(ε ) > 0 tal que
Z Z ∞
B ∂g ∂ g
(x, y) · h(y) dy + (x, y) · h(y) dy < ε.
−∞ ∂ x B ∂x
Além disso,
Z Z Z ∞
B ∂g B ∂g ∂g
(x, y) · h(y) dy ≤ (x, y) · h(y) dy + (x, y) · h(y) dy<ε
−∞ ∂ x −∞ ∂ x B ∂x
e Z ∞ Z ∞ Z ∞
∂ g ∂ g ∂ g
(x, y) · h(y) dy≤ (x, y) · h(y) dy + (x, y) · h(y) dy < ε.
B ∂x −∞ ∂ x B ∂x
As duas desigualdades acima mostram que as integrais
Z 0 Z ∞
∂g ∂g
(x, y) · h(y) dy e (x, y) · h(y) dy
−∞ ∂x 0 ∂x
também convergem uniformemente.
Assim sendo, é possível usar a proposição 2.5 para concluir que cada integral no último mem-
bro de (3.4) representa uma função diferenciável, isto é, existem duas funções diferenciáveis
ϕ1 (x) e ϕ2 (x) tais que
Z 0 Z ∞
∂g ∂g
ϕ10 (x) = (x, y) · h(y) dy e ϕ20 (x) = (x, y) · h(y) dy.
−∞ ∂x 0 ∂x
Fazendo ϕ (x) = ϕ1 (x) + ϕ2 (x), segue-se que ϕ é uma função diferenciável, por ser soma de
duas funções diferenciáveis. Além disso, segue-se que
ϕ 0 (x) = ϕ10 (x) + ϕ20 (x)
Z 0 Z ∞
∂g ∂g
= (x, y) · h(y) dy + (x, y) · h(y) dy
−∞ ∂x 0 ∂x
Z ∞
∂g
= (x, y) · h(y) dy,
−∞ ∂x
como desejado.
Z x2 Z ∞ Z ∞ Z x2
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy.
x1 −∞ −∞ x1
Cada integral no último membro de (3.5) é do tipo da integral da proposição 2.6 e que pode
ser usada neste ponto. Assim,
Z x2 Z ∞ Z x2 Z 0 Z x2 Z ∞
f (x, y) dy dx = f (x, y) dy dx + f (x, y) dy dx
x1 −∞ x1 −∞ x1 0
Na proposição 3.4, a substituição do intervalo limitado [x1 , x2] pelo intervalo ilimitado
(−∞, ∞) é um assunto bem delicado e complicado. A convergência uniforme da integral
Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy
−∞
A.3 Terceiro caso 659
não é suficiente para a mudança na ordem de integração. O mesmo caso se aplica em integrais
duplas, ambas com limites de integração de a até ∞. Ocorre aqui a mesma situação descrita na
seção A.2, onde os exemplos 2.7 e 2.8 podem ser usados como referências.
O próximo resultado não é exatamente o clássico teorema de Fubini, mas sim uma versão
bastante particularizada para o mesmo. Porém, por outro lado, neste texto o teorema de Fubini
foi citado diversas vezes e em diversos lugares. A versão a seguir foi usada, por exemplo, na
demonstração do teorema da convolução para transformada de Fourier. Assim sendo, esclarece-
se que o teorema de Fubini citado em partes deste texto tem como uma de suas versões o sentido
do teorema a seguir.
Teorema 3.1 (Fubini): Seja f : R2 → R uma função contínua tal que as integrais iteradas
abaixo convirjam
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
| f (x, y)| dx dy e | f (x, y)| dy dx.
−∞ −∞ −∞ −∞
Isso mostra que basta demonstrar a proposição para o caso em que f (x, y) ≥ 0. Seja
Z ∞
ϕ (x) = f (x, y) dy,
−∞
onde Z d
ϕ (x) = lim f (x, y) dy,
c,d→∞ −c
quaisquer que sejam c, d > 0. Note que ϕ (x) ≥ 0, pois f (x, y) ≥ 0.
Portanto, para quaisquer c, d > 0, tem-se que
Z ∞ Z d
ϕ (x) = f (x, y) dy ≥ f (x, y) dy,
−∞ −c
pois assume-se que f ≥ 0, de modo que o valor da integral aumenta quando se aumenta o
comprimento do intervalo.
Sejam a, b > 0 quaisquer. Como, por hipótese, f é contínua, então pela proposição 3.1, tem-
se que ϕ também é contínua. Com isso, tem-se que ϕ (x) é integrável em qualquer intervalo
limitado [−a, b]. Assim,
Z b Z b Z d
ϕ (x) dx ≥ f (x, y) dy dx
−a −a −c
Z bZ d
= f (x, y) dy dx
−a −c
Como se está supondo que f (x, y) ≥ 0, então segue-se de (3.6) e da última expressão que
Z ∞ Z dZ ∞
ϕ (x) dx ≥ f (x, y) dx dy.
−∞ −c −∞
A.3 Terceiro caso 661
Faça Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
I1 = f (x, y) dy dx e I2 = f (x, y) dx dy.
−∞ −∞ −∞ −∞
A desigualdade obtida em (3.7) significa dizer que I1 ≥ I2 .
O próximo passo é mostrar que I2 ≤ I1 . Novamente, basta demonstrar para o caso em que
f (x, y) ≥ 0. Seja Z ∞
ψ (y) = f (x, y) dx,
−∞
onde Z b
ψ (y) = lim f (x, y) dx
a,b→∞ −a
pois assume-se que f ≥ 0, de modo que o valor da integral aumenta quando se aumenta o
comprimento do intervalo.
Sejam c, d > 0 quaisquer. Como, por hipótese, f é contínua, então pela proposição 3.1, tem-
se que ψ também é contínua. Com isso, tem-se que ψ (y) é integrável em qualquer intervalo
limitado [−c, d]. Assim,
Z d Z d Z b
ψ (y) dy ≥ f (x, y) dx dy
−c −c −a
Z dZ b
= f (x, y) dx dy
−c −a
Como se está supondo que f (x, y) ≥ 0, então segue-se de (3.8) e da última expressão que
Z ∞ Z bZ ∞
ψ (y) dy ≥ f (x, y) dy dx.
−∞ −a −∞
então a desigualdade obtida em (3.9) significa dizer que I2 ≥ I1 . Como já foi demonstrado que
I1 ≥ I2 , então conclui-se que I1 = I2 , ou seja, que
Z ∞Z ∞ Z ∞Z ∞
f (x, y) dy dx = f (x, y) dx dy,
−∞ −∞ −∞ −∞
O objetivo deste adendo é enunciar o teorema de Fourier. As ideias aqui apresentadas foram
baseadas na referência [38] da bibliografia. Uma demonstração diferente dessa aqui adotada
pode ser encontrada na referência [62] também da bibliografia.
B.1 O espaço L1
Neste texto a integral adotada será a de Riemann. As funções f : [a, b] → R, com domínio
limitado, que são Riemann integrável podem ser limitadas ou ilimitadas. Assim, em relação
a integrabilidade de f , quando f for limitada diz-se que a integral é própria e quando f for
ilimitada diz-se que a integral é imprópria. Quando o domínio de f é ilimitado, seja a função
limitada ou ilimitada, também se diz que a integral é imprópria.
Para funções f : [a, b] → R, com domínio limitado, tem-se o seguinte:
(i) Se f for limitada, então ela é integrável (propriamente) se o supremo das somas inferiores
for igual ao ínfimo das somas superiores.
(ii) Se f for ilimitada, então ela é integrável (impropriamente) se o intervlo [a, b] puder ser
decomposto em um número finito de intervalos I1, . . ., In, com Ii = [ai , bi ], tais que, para todos
δ1 > 0 e δ2 > 0, a função f é limitada e integrável [ai + δ1, bi − δ2] e os limites abaixo existirem
Z bi Z bi −δ2
f (x) dx = lim f (x) dx.
ai δ1 →0 ai +δ1
δ2 →0
D EFINIÇÃO : Diz-se que f é absolutamente integrável se o valor absoluto | f (x)| for integrável
no sentido (i) ou (ii) acima.
663
664 B O teorema de Fourier
Uma das principais restrições da integral de Riemann (própria ou imprópria) é essa, de não
ser um reticulado vetorial. Os problemas são vários. Escrever-se-á “R-integrável” para dizer que
uma função é Riemann integrável.
Esta função não é R-integrável, o que pode ser verificado observando-se que a soma inferior
dá −1 e a soma superior dá 1. Por outro lado, f é absolutamente R-integrável, pois | f (x)| = 1
para 0 ≤ x ≤ 1, tendo a integral o valor 1.
Exemplo 1.2: Considere a função (definida por várias sentenças) f : (0, 1] → R dada por
1 1
f (x) = (−1)n n, se <x≤ ·
n+1 n
Esta função é R-integrável. De fato, tem-se que
Z ∞ ∞ ∞
n 1 1 1
f (x) dx = ∑ (−1) n − = ∑ (−1)n n
−∞ n=1 n n+1 n=1 n(n + 1)
∞
(−1)n 1 1 1
= ∑ n + 1 = − 2 + 3 − 4 + · · ·,
n=1
que é uma série alternada com termo geral tendendo para zero e que, portanto, é convergente.
Isto mostra que a integral de f existe.
Por outro lado, a função dada não é absolutamente integrável. De fato, tem-se que
| f (x)| = |(−1)n n| = n,
∞
1
= ∑ n · n(n + 1)
n=1
∞
1 1 1 1
= ∑ n + 1 = 2 + 3 + 4 + · · ·,
n=1
que é uma série harmônica e, portanto, divergente. Isto mostra que | f | não é R-integrável.
y
4
1
x
1
−1
−2
−3
−4
C ONCLUSÃO : há funções f que são Riemann integráveis, mas tais que | f | não é R-integrável,
bem como há funções f não integráveis a Riemann tais que | f | é R-integrável. Aqui considera-
se integrais próprias e impróprias (isto é, no caso, funções ilimitadas).
Feita estas observações iniciais, introduz-se agora uma classe de funções que permitem
definir a transformada de Fourier.
N OTAÇÃO : Escrever-se-á L1 ([a, b]) para representar a classe de funções f : [a, b] → R tais
que f e | f | são R-integráveis, isto é,
L1 (R) = { f : R → R | f e | f | R-integráveis} .
existem.
Note que, se f for seccionalmente contínua em cada intervalo [−a, b] e se o segundo limite
em (1.1) existir, então f ∈ L1 (R).
A seguir serão feitas várias observações sobre certos cuidados que se deve ter sobre as funções
pertencentes ao espaço L1(R).
intervalo [0, 1], segue-se que |g(x)| = 2 também é R-integrável. Porém a soma | f + g| não é
integrável. Veja:
(
3, se x ∈ [0, 1] for racional,
f (x) + g(x) =
1, se x ∈ [0, 1] for irracional,
de modo que seu valor absoluto fica igual, isto é,
(
3, se x ∈ [0, 1] for racional,
| f (x) + g(x)| =
1, se x ∈ [0, 1] for irracional.
A função |( f + g)(x)| = | f (x) + g(x)| é descontínua em todos os pontos do intervalo [0, 1],
portanto ela não é integrável no sentido de Riemann.
Observação 1.2: Existem funções de L1(R) tais que o produto destas função por elas mes-
mas (ou seja, seu quadrado) não pertencem a L1(R).
Seja f : R → R uma função dada por
1
√ ,
0 < x < 1,
f (x) = x
0, caso contrário.
x
1
Z ∞ Z 0 Z 1 Z ∞
f (x) dx = f (x) dx + f (x) dx + f (x) dx
−∞ −∞ 0 1
Z 1 Z 1 Z 1
dx −1/2 1
= √ = x dx = lim x− /2 dx
0 x 0 a→0+ a
√ 1 √ √
= 2 lim x = 2 lim 1− a
a→0 + a + a→0
√ √
=2 1 − 0 = 2,
x
1
−1
−2
−3
−4
Isto mostra que a integral de f 2 é divergente, isto é, que f 2 não é integrável em R. Portanto,
tem-se que f é uma função de L1(R), mas que o produto dela consigo mesma, f 2 , não pertence
a L1(R).
Observação 1.3: Também é preciso tomar cuidado com o produto de funções R-integráveis,
que poderá não resultar em uma função R-integrável se uma delas não for limitada. Para ver
isto, considere as duas funções f , g : (0, 1] → R dadas abaixo:
1 1
f (x) = (−1)n n, <x≤ ,
n+1 n
1 1
g(x) = (−1)n , <x≤ ·
n+1 n
−1
Observe-se que f é uma função não limitada em (0, 1], mas que g é limitada neste mesmo
intervalo (pois seu valor apenas alterna entre −1 e 1). O gráfico da função f (x) está exibido na
figura 1.1, já o gráfico da função g(x) é mostrado na figura 1.5 a seguir.
Mostrou-se anteriormente que a função f é R-integrável. Tem-se também que g é R-integrável
no intervalo (0, 1]. De fato,
Z 1 ∞ ∞
n 1 1 1
g(x) dx = ∑ (−1) − = ∑ (−1)n · ·
0 n=1 n n+1 n=1 n(n + 1)
Agora faça
670 B O teorema de Fourier
1
an = ·
n(n + 1)
Tem-se que
Z 1 ∞
0
g(x) dx = ∑ (−1)n an .
n=1
Note-se que an > 0 para todo n ∈ N. Tem-se também que an+1 < an . De fato,
A demonstração pode ser encontrada em livros de Cálculo, como, por exemplo, o livro [72]
citado na bibliografia.
Usando este teorema, segue-se que g é R-integrável em (0, 1], pois a sua integral pode ser
escrita como uma série que, como visto acima, é convergente.
Agora se faz o produto de f e g. Tem-se:
( f · g)(x) = f (x) · g(x) = [ (−1)n n ] · (−1)n
= (−1)n+n n = (−1)2n n = n.
De modo análogo ao que se fez anteriormente nesta seção, tem-se que a integral de f + g é
dada pela seguinte soma:
Z 1 Z 1
( f · g)(x) dx = [ f (x) · g(x)] dx
0 0
Z 1 ∞
1 1
= n dx = ∑ n −
0 n=1 n n+1
∞ ∞
1 1
= ∑ n· =∑
n(n + 1) n=1 n + 1
n=1
1 1 1
= + + + · · ·,
2 3 4
que é uma série do tipo harmônica e, portanto, divergente. Isto mostra que o produto f g não é
R-integrável.
B.1 O espaço L1 671
Teorema 1.1: Seja f : [a, b] → R uma função de L1([a, b]). Então, dado ε > 0, existe uma
função contínua ϕ : [a, b] → R tal que
Z b
| f (x) − ϕ (x)| dx < ε e ϕ (a) = 0 = ϕ (b).
a
C ASO 1: Suponha, inicialmente, que f seja limitada e integrável. Isto significa que, dado
ε > 0, existe uma partição do intervalo [a, b], isto é,
tal que
Z b k
ε
(1.2) f (x) dx − ∑ mi (xi − xi−1 ) < ,
a i=1 2
onde
mi = inf { f (x) | xi−1 ≤ x ≤ xi } .
Agora denote por χ (x) a função característica que é definida por
Observe que
Z b k
χ (x) dx = ∑ mi (xi − xi−1 ) ,
a i=1
de modo que (1.2) pode ser reescrito como
Z b Z b Z b
ε
(1.4) [ f (x) − χ (x)] dx = f (x) dx − χ (x) dx < ·
a a a 2
A figura 1.7 dará uma ideia sobre os procedimentos adotados a seguir na demonstração do
teorema. Suponha que a partição tenha quatro pontos e o gráfico de χ (x) seja como na figura
1.7. Suponha também que, para cada n, a função ϕn é obtida por substituição dos “retângulos”
da figura 1.7 por trapézios, cujos lados inclinados têm inclinação igual a n (veja a figura 1.8).
O próximo passo consiste em escrever as funções ϕn(x). Para isso, considerando os casos das
Z b
figuras 1.7 e 1.8, observe que o valor da integral [χ (x) − ϕ (x)] dx coincide com a soma da
a
área de certos retângulos que aparecem em virtude da diferença entre as duas funções. Veja a
figura 1.9.
A mencionada integral será igual a soma de triângulos do tipo acima. Lembrando que a
inclinação é igual a n, então este é o ângulo entre os lados de medidas a e b. Então,
b
cos n = ⇒ b = a · cosn,
a
mi mi
sen n = ⇒ a= ·
a sen n
Assim, a área A do triângulo da figura 1.10 será dada por:
b · mi a · cosn · m1
A= =
2 2
674 B O teorema de Fourier
1 mi
= · · cos n · m1
2 sen n
1 cos n
= · mi · = m2i · cotg n
2 sen n
1 m2i
·= ·
2 tg n
Mas para cada trapézio deve-se contar o mesmo triângulo duas vezes, pois tem um de cada
lado do mesmo. E por fim, deve-se somar a área de todos os triângulos. Mas para o que vem a
seguir, o que interessa é a integral de |χ (x) − ϕn (x)|: na prática os triângulos abaixo do eixo x,
ao tomar o módulo, passam para a parte de cima, deixando a integral não negativa.
Usando esta ideia para uma função χ (x) qualquer, como a definida em (1.4), tem-se
Z b k
m2i
(1.5) | χ (x) − ϕn (x)| dx = ∑ ·
a i=1 tg n
Por hipótese, f é limitada: seja M > 0 tal que | f (x)| ≤ M, para todo x ∈ [a, b]. Além disso,
tem-se que mi = inf { f (x) | xi−1 ≤ x ≤ xi }. Logo, mi ≤ M para cada i = 1, 2, . . ., k. Segue-se
daí que
k
m2i m21 m22 m2k
∑ = + + · · · +
i=1 tg n tg n tgn tg n
M2 M2 M2
≤ + + ···+
tg n tgn tg n
| {z }
k vezes
k · M2
· =
tg n
Logo, da observação acima e de (1.5), segue-se que
Z b
k · M2
(1.6) |χ (x) − ϕn (x)| dx ≤ ·
a tg n
Portanto, como k está fixado, existe n, tal que
Z b
ε
(1.7) |χ (x) − ϕn (x)| dx < ·
a 2
De (1.4) e (1.7) obtém-se que, dado ε > 0, existe uma função contínua ϕn : [a, b] → R, com
ϕn (a) = 0 = ϕn (b) tal que
Z b Z b
| f (x) − ϕn (x)| dx = |[ f (x) − χ (x)] + [χ (x) − ϕn (x)]| dx
a a
Z b Z b
≤ | f (x) − χ (x)| dx + |χ (x) − ϕn (x)| dx
a a
B.1 O espaço L1 675
ε ε
< +
2 2
= ε.
Essa função ϕn é a função ϕ anunciada no teorema.
C ASO 2: Suponha, agora, que f não seja limitada, mas seja integrável e absolutamente in-
tegrável no sentido das integrais impróprias. Para facilitar, suponha que f se torne ilimitada
apenas nas vizinhanças de a e b. Portanto, dado ε > 0, existe δ > 0 tal que
Z b Z b−δ
ε
(1.8) | f (x)| dx − | f (x)| dx< ·
a a+δ
2
Tem-se:
Z b Z a+δ Z b−δ
| f (x) − ϕ (x)| dx = | f (x) − ϕ (x)| dx + | f (x) − ϕ (x)| dx +
a a a+δ
Z b
+ | f (x) − ϕ (x)| dx
b−δ
Z a+δ Z b−δ Z b
= | f (x)| dx + | f (x) − ϕ (x)| dx + | f (x)| dx.
a a+δ b−δ
Figura 1.11:
Portanto,
676 B O teorema de Fourier
Z a+δ Z b Z b Z b−δ
| f (x)| dx + | f (x)| dx = | f (x)| dx − | f (x)| dx.
a b−δ a a+δ
Observação 1.4: O teorema 1.1 afirma que, dada f : [a, b] → R pertencente a L1([a, b]),
existe uma sequência de funções contínuas ϕn : [a, b] → R, com ϕn(a) = 0 = ϕn (b), tal que
Z b
lim | f (x) − ϕn (x)| dx = 0.
n→∞ a
Observação 1.5: Suponha que f : R → R seja uma função periódica de período T = 2L e tal
que f ∈ L1 ([−L, L]). Então, existe uma sequência de funções contínuas ϕn : R → R, periódicas
de período T = 2L tal que
Z L
lim | f (x) − ϕn (x)| dx = 0.
n→∞ −L
Observação 1.6: Dada uma sequência de funções contínuas ϕn : [a, b] → R, diz-se que ela
converge no sentido do L1 se
Z b
lim |ϕn (x) − ϕm (x)| dx = 0.
n→∞ a
Pode, nesse caso, existir uma função f : [a, b] → R integrável e absolutamente integrável, no
sentido aqui estudado, tal que
B.2 O teorema de Riemann-Lebesgue 677
Z b
(1.10) lim | f (x) − ϕn (x)| dx = 0.
n→∞ a
e
Z b
(2.2) lim f (x) · cos(tx) dx = 0.
t→∞ a
Escreva
Z b n−1 Z xi+1
a
f (x) · sen (tx) dx = ∑ f (x) · sen (tx) dx
i=0 xi
n−1 Z xi+1
= ∑ f (xi ) + [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=0 xi
n−1 Z xi+1
= ∑ f (xi ) · sen (tx) dx +
i=0 xi
n−1 Z xi+1
+ ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=0 xi
n−1 Z xi+1
= ∑ f (xi ) sen (tx) dx +
i=0 xi
n−1 Z xi+1
(2.3) + ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx.
i=0 xi
Como f é contínua no intervalo fechado e limitado [a, b], tem-se que o seu máximo é atingido.
Seja M = max{ f (x) | x ∈ [a, b]}. Então, usando este fato e (2.3), obtém-se a seguinte estimativa:
Z b n−1 Z xi+1
a f (x) · sen (tx) dx = ∑ f (xi ) x sen (tx) dx +
i=0 i
n−1 Z xi+1
+ ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=0 xi
B.2 O teorema de Riemann-Lebesgue 679
n−1 Z xi+1
≤ ∑ f (xi ) sen (tx) dx +
i=0 xi
n−1 Z xi+1
+ ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=0 xi
n−1 Z xi+1
≤ ∑ f (xi ) sen (tx) dx +
i=0 x i
n−1 Z xi+1
+ ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=0 xi
n−1
Z x
i+1
= ∑
| f (xi )| sen (tx) dx +
i=0 x i
n−1 Z xi+1
+ ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
x
i=0 i
n−1
Z x
i+1
≤ ∑ | f (xi )| sen (tx) dx +
i=0 x i
n−1 Z xi+1
+ ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx)dx
i=0 xi
n−1
Z
xi+1
= ∑ | f (xi )| sen (tx) dx +
i=0 x i
n−1 Z xi+1
+ ∑ f (x) − f (xi ) · sen (tx) dx
i=0 xi
n−1
Z x n−1 Z x
i+1 i+1
(2.4)
≤ ∑ | f (xi )| sen (tx) dx + ∑ f (x) − f (xi )dx,
i=0 x i x i=0 i
1 2
= cos(t xi+1 ) − cos(t xi ) ≤ ·
t t
Portanto, usando a última desigualdade encontrada, obtém-se a seguinte estimativa para a
primeira soma no último membro de (2.4):
n−1
Z x
i+1 2 n−1
∑ | f (xi )| sen (tx) dx ≤ ∑ | f (xi )|
x t
i=0 i i=0
2
≤ ( M + M + ···+ M )
t | {z }
n vezes
2nM
(2.5) = ·
t
Da mesma forma, busca-se uma estimativa para a segunda soma em (2.4). Para isso, sejam
obtém-se
n−1 Z xi+1 n−1 Z xi+1 n−1
xi+1
∑ | f (x) − f (xi )| dx ≤ ∑ (Mi − mi) dx = ∑ (Mi − mi ) x
i=0 xi i=0 xi i=0 xi
n−1
= ∑ (Mi − mi) (xi+1 − xi)
i=0
n−1 n−1
(2.6) = ∑ Mi (xi+1 − xi) + ∑ mi (xi+1 − xi ).
i=0 i=0
A desigualdade (2.6) afirma que o primeiro membro fica menor ou igual do que a diferença
entre a soma superior e a soma inferior (de Riemann) na partição [ a = x0 , x1, x2, . . ., xn−1, xn = b].
Assim, como f é integrável (pois assumiu-se que f é contínua em [a, b]), tanto a soma supe-
rior quanto a soma inferior convergem para o valor da integral de f em [a, b] quando se refina
a partição do intervalo (isto é, quando se toma partições do intervalo [a, b] com subintervalos
de comprimento cada vez menor, que é conseguido ao aumentar no número n de pontos da
partição).
Deste modo, dado ε > 0 arbitrariamente, pode-se sempre encontrar n suficientemente grande
tal que
n−1 Z xi+1
ε
(2.7) ∑ | f (x) − f (xi )| dx ≤ ·
i=0 xi 2
2nM ε
(2.8) < ·
t0 2
Usando (2.7) e (2.8) em (2.4), obtém-se
Z n−1 Z n−1 Z
b xi+1 xi+1
f (x) · sen (tx) dx ≤ ∑ | f (xi )| sen (tx) dx+ ∑ | f (x) − f (xi )| dx
a x x
i=0 i i=0 i
ε ε
< + = ε,
2 2
completando a demonstração.
Para o caso mais geral, onde assume-se uma função f R-integrável e absolutamente R-
integrável, tem-se o seguinte resultado:
C ASO 1: Suponha, inicialmente, que f seja limitada, isto é, que exista M > 0 tal que | f (x)| ≤
M para todo x ∈ [a, b]. Recorde-se o significado de uma função limitada f ser integrável: dado
ε > 0, existe uma partição P do intervalo [a, b],
tal que
S( f , P) − s( f , P) < ε ,
onde
n
S( f , P) = ∑ Mi (xi − xi−1 ) , Mi = sup { f (x) | xi−1 ≤ x ≤ xi } ,
i=1
e
n
s( f , P) = ∑ mi (xi − xi−1 ) , mi = inf { f (x) | xi−1 ≤ x ≤ xi } ,
i=1
são as somas superior e inferior (no sentido de Darboux) associadas à partição P.
Demonstrar-se-á a validade de (2.9). Considere a partição do intervalo [a, b] determinada
pelos pontos
682 B O teorema de Fourier
i ,
xi = a + para i = 0, 1, . . ., n.
n(b − a)
Então,
Z b n Z xi n Z xi
(2.11) f (x) · sen (tx) dx = ∑ f (xi ) sen (tx) dx + ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx.
a i=1 xi−1 i=1 xi−1
Z b n Z xi n Z xi
a f (x) · sen (tx) dx = ∑ f (xi ) x sen (tx) dx + ∑ x [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=1 i−1 i=1 i−1
n Z xi n Z xi
≤ ∑ f (xi ) sen (tx) dx + ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=1 xi−1 i=1 xi−1
n Z xi n Z
xi
≤ ∑ f (xi ) sen (tx) dx + ∑ [ f (x) − f (xi )] sen (tx) dx
i=1 xi−1 i=1 xi−1
n
Z x n Zx
i i
≤ ∑ | f (xi )| sen (tx) dx + ∑ |[ f (x) − f (xi )] sen (tx)| dx
i=1 x i−1 x i=1 i−1
n
Z x n Zx
i i
= ∑ | f (xi )| sen (tx) dx + ∑ | f (x) − f (xi )| | sen (tx)| dx
i=1 x i−1 x i=1 i−1
n
Z n Z
xi xi
= ∑ | f (xi )| sen (tx) dx + ∑ | f (x) − f (xi )| dx
i=1 xi−1 x i=1 i−1
B.2 O teorema de Riemann-Lebesgue 683
Z xi
2 n n
≤ ∑ [| f (x1 )| + | f (x2)| + · · · + | f (xn )|] + ∑ (Mi − mi ) dx
t i=1 i=1 xi−1
n Z xi
2
≤ ( M + M + · · · + M ) + ∑ (Mi − mi ) dx
t | {z }
i=1 xi−1
n vezes
n
2nM
(2.14) = + ∑ (Mi − mi ) (xi − xi−1 ).
t i=1
Agora observe-se que o somatório em (2.14) é a diferença S( f , P)−s( f , P). Logo, dado ε > 0,
tome n tal que essa diferença seja menor do que ε/2. Em seguida, com este n fixado, tome t0 tal
que
2nM ε
< ·
t0 2
Portanto, dado ε > 0, tem-se
Z b n
2nM
f (x) · sen (tx) dx≤ + ∑ (Mi − mi)(xi − xi−1 )
a t i=1
2nM
= + [S( f , π ) − s( f , π )]
t
ε ε
= + = ε, ∀ t ≥ t0 .
2 2
Isto completa a demonstração de (2.9). A demonstração de (2.10) é análoga e será deixada
para o leitor.
C ASO 2: Suponha agora que f seja uma função qualquer de L1([a, b]). Dado ε > 0, tome
uma função contínua ϕ : [a, b] → R tal que
Z b
ε
(2.15) | f (x) − ϕ (x)| dx < ,
a 2
que é possível em virtude do teorema 1.1.
Como toda função contínua em um intervalo fechado e limitado é limitada e integrável, então
pode-se aplicar o resultado obtido no CASO 1 da demonstração e concluir que existe t0 tal que,
para t > t0, se tem
Z b
ε
(2.16) ϕ (x) · sen (tx) dx< ·
a 2
Para a soma envolvendo senos e cossenos no somatório no segundo membro de (3.1), usa-se
as fórmulas para os coeficientes de Fourier
Z Z
1 L kπ y 1 L kπ y
ak = f (y) cos dy e bk = f (y) sen dy,
L −L L L −L L
bem como a identidade trigonométrica
kπ x kπ y ,
cos(a − b) = cos a · cos b + sen a · sen b, com a = e b=
L L
para obter
Z L
kπ x kπ x 1 kπ y kπ x
ak · cos + bk · sen = f (y) cos dy cos +
L L L −L L L
ZL
1 kπ y kπ x
+ f (y) sen dy sen
L −L L L
Z L
1 kπ x kπ y
= f (y) cos · cos +
L −L L L
kπ x kπ y
+ sen · sen dy
L L
Z
1 L kπ x kπ y
= f (y) cos − dy
L −L L L
Z
1 L kπ (x − y)
= f (y) cos dy.
L −L L
Portanto,
n
a0 kπ x kπ x
Sn(x) = + ∑ an · cos + bn · sen
2 k=1 L L
686 B O teorema de Fourier
Z L Z L
1 1 n kπ (x − y)
= f (y) dy + ∑ f (y) cos du
2L −L L k=1 −L L
Z L
( " #)
n
1 1 kπ (x − y)
= f (y) + ∑ cos dy,
−L L 2 k=1 L
que é (3.2), o resultado desejado.
Observação 3.1: O lema 3.1 permitiu uma nova representação para Sn(x), que é dada através
da expressão (3.2), isto é,
Z L
( " #)
n
1 1 kπ (x − y)
Sn (x) = f (y) + ∑ cos dy.
−L L 2 k=1 L
O próximo lema é, na verdade, uma identidade trigonométrica e que será usada durante a
demonstração da próxima proposição e que trata sobre as propriedades do núcleo de Dirichlet.
1 h πx i 1 πx
= · sen (n + 1/2) − · sen
2 L 2 2L
π x
π x
sen (n + 1/2) L − sen 2L
(3.6) = ·
2
Assim, a expressão (3.6) pode ser escrita como
πx n
kπ x sen (n + 1/2) πLx − sen πx
sen ∑ cos L = 2L ,
2L k=1 2
ou ainda,
πx n
kπ x h πx i πx
2 sen ∑ cos = sen (n + 1/2) − sen ·
2L k=1 L L 2L
Agora divide-se ambos os membros acima por 2 sen (π x/2L) para obter
n
kπ x sen (n + 1/2) πLx 1
∑ cos L = 2 sen π x − 2 ,
k=1 2L
h πx i
1 sen (n + 1/2)
Dn (x) = · πx L ·
2L sen
2L
D EMONSTRAÇÃO : Para a parte (a), tem-se que
" #
n
1 1 kπ (−x)
Dn(−x) = + ∑ cos
L 2 k=1 L
" #
n
1 1 kπ x
= + ∑ cos −
L 2 k=1 L
" #
n
1 1 kπ x
= + ∑ cos = Dn (x),
L 2 k=1 L
com
kπ x
a= e b = 2kπ
L
nos passos a seguir, obtém-se
690 B O teorema de Fourier
" #
n
1 1 kπ (x + 2L)
Dn (x + 2L) = + ∑ cos
L 2 k=1 L
" #
n
1 1 kπ x
= + ∑ cos + 2kπ
L 2 k=1 L
( )
n
1 1 kπ kπ x
= + ∑ cos · cos (2kπ ) − sen · sen (2kπ )
L 2 k=1 L L
( )
n
1 1 kπ kπ x
= + ∑ cos · 1 − sen ·0
L 2 k=1 L L
" #
n
1 1 kπ
= + ∑ cos
L 2 k=1 L
= Dn (x),
mostrando que Dn é periódica de período 2L.
(e) Fazendo x = 0 na expressão que define Dn(x), encontra-se
" #
n
1 1
Dn (0) = + ∑ cos 0
L 2 k=1
1 1
= + ( 1 + 1 + · · ·+ 1 )
2L L | {z }
n vezes
1 n (n + 1/2) ,
= + =
2L L L
como afirmado.
(f) Por definição, tem-se
" #
n
1 1 kπ x
Dn (x) = + ∑ cos ·
L 2 k=1 L
h πx i
1 sen (n + 1/2)
= π x L
L 2 sen
2L
h πx i
1 sen (n + 1/2)
= · πx L ,
2L sen
2L
como desejado.
Lema 3.3: Seja f : [−L, L] → R uma função seccionalmente contínua e periódica de período
T = 2L. Considere a soma parcial
n
a0 kπ x kπ x
Sn(x) = + ∑ ak · cos + bk · sen ·
2 k=1 L L
D EMONSTRAÇÃO : O lema 3.1 mostrou que Sn (x) pode ser reescrita em uma nova expressão,
que é dada por ( "
Z L n #)
1 1 kπ (x − y)
Sn (x) = f (y) + ∑ cos dy,
−L L 2 k=1 L
onde " #
n
1 1 kπ (x − y)
Dn (x − y) = + ∑ cos
L 2 k=1 L
é o núcleo de Dirichlet.
Portanto, Sn(x) pode ser reescrita na forma
Z L
Sn (x) = f (y) · Dn (x − y) dy.
−L
Z L
(3.10) = Dn (t) · [ f (x + t) + f (x − t)] dt,
0
onde usou-se a paridade das funções Dn(x) vista item (a) da proposição 3.1, se fez a mudança
de variáveis u = −t e, por fim, inverteu-se a ordem dos limites de integração.
Pelo item (b) da proposição 3.1, tem-se que
Z L
Dn (t) dt = 1.
−L
Pelo item (a) da proposição 3.1, Dn (t) é par. Então, pela proposição 5.6 do capítulo 2, tem-se
que
Z L Z L
1= Dn (t) dt = 2 Dn (t) dt,
−L 0
de modo que
Z L
1
Dn(t) dt = ·
0 2
O próximo passo consiste em mostrar uma nova representação para as funções En (x). Antes,
observe-se que estas funções estão bem definidas, pois f é seccionalmente contínuas, de modo
que os limites laterais f (x + 0) e f (x − 0) existem, para cada x, fazendo sentido a expressão
f (x + 0) + f (x − 0)
En (x) = Sn(x) − ·
2
Portanto, usando (3.10) na expressão que define En (x) e o último fato acima, obtém-se
f (x + 0) + f (x − 0)
En (x) = Sn (x) −
2
Z L
f (x + 0) + f (x − 0)
= Dn (t) · [ f (x + t) + f (x − t)] dt −
0 2
Z L
1 1
= Dn (t) · [ f (x + t) + f (x − t)] dt − · f (x + 0) − · f (x − 0)
0 2 2
Z L
= Dn (t) · [ f (x + t) + f (x − t)] dt −
0
Z L
Z L
− f (x + 0) Dn (t) dt − f (x − 0) Dn (t) dt
0 0
Z L
= Dn (t) · [ f (x + t) + f (x − t)] dt −
0
Z L Z L
− Dn (t) · f (x + 0) dt − Dn (t) · f (x − 0) dt
0 0
Z L Z L
= Dn (t) · [ f (x + t) + f (x − t)] dt − Dn(t) · [ f (x + 0) + f (x − 0)] dt
0 0
Z L
= Dn (t) · [ f (x + t) − f (x + 0)] + [ f (x − t) − f (x − 0)] dt,
0
694 B O teorema de Fourier
que é 3.9.
Fixado x ∈ [−L, L], suponha que f (x + 0) e f (x − 0) existam e que exista η > 0 tal que
Z η
g(x, t)
(3.11) t dt < ∞.
0
Então,
lim En (x) = 0,
n→∞
ou seja,
f (x + 0) + f (x − 0)
lim Sn(x) = ·
n→∞ 2
D EMONSTRAÇÃO : Como f ∈ L1([a, b]) e existem os limites laterais f (x + 0) + f (x − 0),
então as funções dadas por
f (x + 0) + f (x − 0)
En (x) = Sn(x) −
2
estão bem definidas.
Pelo lema 3.4, as funções En (x) pode ser reescritas na forma
Z L
En (x) = Dn (t) · [ f (x + t) − f (x + 0)] + [ f (x − t) − f (x − 0)] dt,
0
ou ainda,
Z L
(3.12) En (x) = Dn(t) · g(x, t) dt,
0
onde
g(x, t) = [ f (x + t) − f (x + 0)] + [ f (x − t) − f (x − 0)] .
O passo seguinte consiste em reescrever En (x) em duas partes, usando resultados já enuncia-
dos e demonstrados anteriormente. Assim, pelo item (f) da proposição 3.1, tem-se que
h πt i
1 sen (n + 1/2)
(3.13) Dn (t) = · πt L ·
2L sen
2L
Substituindo (3.13) em (3.12), obtém-se
B.3 Convergência pontual da série de Fourier 695
Z L
En (x) = Dn (t) · g(x, t) dt
0
Z δ Z L
= Dn (t) · g(x, t) dt + Dn (t) · g(x, t) dt
0 δ
h πt i
Z δ sen (n + /2)
Z L 1
g(x, t) 1
= t · Dn (t) dt + · π t L · g(x, t) dt
0 t δ 2L sen
2L
Z δ Z L
g(x, t) 1 π t g(x, t)
(3.14) = t · Dn (t) dt + sen n + · π t dt.
0 t δ 2 L 2L sen
2L
A primeira integral em (3.14) será feita pequena tomando-se δ convenientemente pequeno e
usando a hipótese (3.11). Já na segunda integral em (3.14) será usado o teorema de Riemann-
Lebesgue (veja a proposição 2.1 ou o teorema 2.1).
Assim, segue-se de (3.13) que
h
πt i
1 sen (n + 1/2)
|t · Dn(t)| = t · · πt L
2L sen
2L
t h π t i
= · sen (n + 1/2)
2L sen π t L
2L
t |t |
≤ πt =
2L sen sen π t
2L
2L 2L
t
(3.15) = πt ,
2L sen
2L
onde foi possível retirar o módulo em virtude de 0 < t ≤ L e de a função seno variar de 0 até 1
neste intervalo (isto é, com argumento variando de 0 até π/2, onde seno é positivo).
Observe-se que a função no segundo membro de (3.15),
t
h(t) = πt ,
2L · sen
2L
é contínua e crescente em [0, L].
Logo, o máximo de h ocorrerá quando t = L, isto é,
696 B O teorema de Fourier
L 1 1
h(L) = = π = ·
πL 2 sen 2
2L sen 2
2L
Isto faz com que h(t) ≤ 1/2 para todo t ∈ [0, L). Assim, usando este fato em (3.15), obtém-se
a seguinte estimativa
1
|t · Dn(t)| ≤ h(t) ≤ , para t ∈ [0, L].
2
Portanto, dado ε > 0, tome δ < min{L, η }, tal que
Z δ Z δ
g(x, t) g(x, t)
t · Dn(t) dt ≤ t · Dn (t) · dt
0 t 0
t
Z δ
g(x, t)
= |t · Dn (t)| dt
0 t
Z δ Z
1 g(x, t) 1 δ g(x, t)
≤
0 2
t dt = 2 0 t dt
ε
(3.16) < ,
2
em virtude da hipótese (3.11).
A próxima etapa consiste em manter o δ obtido acima fixado e aplicar o teorema de Riemann-
Lebesgue à segunda integral em (3.14), isto é,
Z L
1 π t g(x, t)
sen n + · π t dt.
δ 2 L 2L sen
2L
Para usar o teorema de Riemann-Lebesgue, basta verificar que a função
g(x, t)
ϕ (t) = πt , δ ≤ t ≤ L,
2L sen
2L
é integrável. Mas isso é imediato, visto que o denominador nunca se anula no intervalo [δ , L] e
que g, por hipótese, é integrável.
Logo, para n suficientemente grande, tem-se que
Z L 1 π t g(x, t) ε
(3.17) sen n+ · π t dt < ·
δ 2 L 2L sen 2
2L
Assim, segue-se de (3.14) e de (3.16) e (3.17) que
Z δ g(x, t)
Z L
1 π t g(x, t)
| En (t)| = t · Dn(t) dt + sen n + · π t dt
0 t δ 2 L 2L sen
2L
B.3 Convergência pontual da série de Fourier 697
Z δ Z L
g(x, t) 1 π t g(x, t)
≤ t · Dn (t) dt + sen n+ · π t dt
0 t δ 2 L 2L sen
2L
ε ε
< + = ε,
2 2
o que demonstra o teste de Dini.
O teste de Dini pode ser utilizado para obter condições suficientes para a convergência da
série de Fourier, condições que sejam mais facilmente verificáveis.
f (x + 0) = f (x − 0) = f (x).
Usando este fato, bem como (3.18), é possível fazer a seguinte estimativa:
|g(x, t)| = |[ f (x + t) − f (x + 0)] + [ f (x − t) − f (x − 0)]|
≤ | f (x + t) − f (x + 0)| + | f (x − t) − f (x − 0)|
= | f (x + t) − f (x)| + | f (x − t) − f (x)|
= K t α + K t α = 2K t α .
Logo,
Z δ Z δ Z δ
g(x, t)
dt = | g(x, t)| 2K t α
dt ≤ dt
0 t 0 |t | 0 t
Z δ Z a
α −1
= 2K t dt = 2K · lim t α −1 dt
0 a→δ 0
t a
a 0
= 2K · lim = 2K · lim −
a→δ α 0 a→δ α α
698 B O teorema de Fourier
2K δ
(3.19) = < ∞.
α
Portanto, a condição (3.11) no teste de Dini (proposição 3.2) é verificada e o mesmo pode ser
aplicado para concluir que
lim En (x) = 0.
n→∞
converge em cada ponto x para a média dos limites laterais, isto é, converge para
f (x + 0) + f (x − 0) ,
2
ou ainda,
∞ h nπ x nπ x i
f (x + 0) + f (x − 0) a0 ,
= + ∑ an cos + bn sen
2 2 n=1 L L
onde
f (x + 0) = lim f (t) e f (x − 0) = lim f (t).
t→x+ t→x−
D EMONSTRAÇÃO : Como f é, por hipótese, seccionalmente diferenciável, então ela é, por
definição, seccionalmente contínua. Deseja-se que as razões incrementais
f (x + t) − f (x + 0) f (x − t) − f (x − 0)
e
t t
sejam limitadas para t > 0 suficientemente pequeno.
Em particular, isso é verdade se as derivadas laterais em x existem, isto é, se existem
f (x + t) − f (x + 0) ,
f+0 (x) = lim
t→0+ t
f (x − t) − f (x − 0) ,
f−0 (x) = lim
t→0+ t
e isto é verdade, pois f é seccionalmente diferenciável (visto que suas descontinuidades são
todas de primeira espécie).
Assim, existem constantes K1, K2 > 0 tais que
f (x + t) − f (x + 0) f (x − t) − f (x − 0)
≤ K1 e ≤ K2 .
t t
Então,
g(x, t) f (x + t) − f (x + 0) f (x − t) − f (x − 0)
= + ·
t t t
Portanto, tomando K = max{K1 , K2 }, obtém-se
g(x, t) f (x + t) − f (x + 0) f (x − t) − f (x − 0)
= +
t t t
700 B O teorema de Fourier
f (x + t) − f (x + 0) f (x − t) − f (x − 0)
≤
t + t
(3.20) ≤ K1 + K2 ≤ 2K.
Assim, Z η Z η
g(x, t) η
dt ≤ 2K
dt = 2K · t = 2K η < ∞.
0 t 0 0
lim En (x) = 0.
n→∞
Este adendo tem como objetivo mostrar que a série de Fourier tem características algébricas
que podem ser generalizadas através da Álgebra Linear. Inicia-se revisando as definições de
dependência e independência linear, bem como a definição de base.
D EFINIÇÃO : Uma base em um espaço vetorial V é um conjunto de vetores β L.I. tal que
cada vetor em V é uma combinação de elementos de β . Um espaço vetorial de dimensão finita
tem uma base finita.
701
702 C Série de Fourier generalizada
a0 + a1 · t + a2 · t 2 + · · · + an · t n = 0.
Como P é um espaço vetorial, o vetor nulo no segundo membro acima é o polinômio iden-
ticamente nulo. Assim,
a0 + a1 · t + a2 · t 2 + · · · + an · t n = 0 + 0 · t + 0 · t 2 + · · · + 0 · t n ,
a0 = 0, a1 = 0, a2 = 0, . . ., an = 0.
Isto mostra que o subconjunto α de β é L.I. Como α é arbitrário, segue-se que todo subcon-
junto finito de β é L.I. Portanto, por definição, tem-se que β é L.I.
Além disso, todo polinômio é, por definição, uma combinação linear de um número finito de
monômios t n , isto é, se p ∈ P, então p(t) = a0 + a1 t + a2 t 2 + · · · + an t n .
Mostrou-se que β é um conjunto L.I., bem como, que cada vetor de P pode ser escrito como
combinação linear de elementos de β . Logo, por definição, tem-se que β é uma base para P.
Por outro lado, P não tem uma base finita. De fato, dado qualquer conjunto finito de
polinômios, é possível encontrar um polinômio de grau maior do que qualquer polinômio deste
conjunto. Este último polinômio, obviamente, não é uma combinação linear dos anteriores.
A partir deste ponto passa-se a tratar dos espaços vetoriais com produto interno, bem como
de resultados importantes que decorrem desta característica em particular de espaços vetoriais.
D EFINIÇÃO : Sejam K o corpo dos números reais ou o corpo dos números complexos e V
um espaço vetorial sobre K. Um produto interno sobre V é uma função que associa a cada par
ordenado de vetores u, v ∈ V um escalar (u, v) em K da seguinte maneira:
D EFINIÇÃO : Um espaço com produto interno é um espaço vetorial real ou complexo, munido
de um produto especificado sobre aquele espaço.
onde Re (u, v) e Im (u, v) são as partes real e imaginária do número complexo (u, v).
C.1 Espaço com produto interno 703
Observação 1.1: O número i é definido por i 2 = −1. Alguns autores definem a unidade
√
imaginária por i = −1, mas não é adequado entrar na polêmica de “raiz quadrada de números
negativos”. A questão relacionada ao “valor” de i encontra algum problema pelo fato de C não
ter uma relação de ordem. Caso i tenha algum valor, então ele deveria ser negativo, nulo ou
positivo. E isso não faz sentido.
que é um absurdo
Se i < 0, então −i > 0, de modo que é possível multiplicar a última desigualdade por −i sem
alterar o sinal. Assim,
Im (z) = Re (−iz).
Assim, o produto interno é completamente determinado por sua parte real, isto é
Às vezes é muito útil saber que um produto interno sobre um espaço vetorial, real ou com-
plexo, é determinado por outra função, a chamada forma quadrática determinada pelo produto
interno. Para defini-la, indica-se a raiz quadrada positiva de (u, u) pelo símbolo kuk, que é de-
nominada a norma de u em relação ao produto interno. A forma quadrática determinada pelo
produto interno é a função que associa a cada vetor u o escalar kuk2.
Lema 1.1: Seja V um espaço com produto interno, real ou complexo. Então, para quaisquer
u, v ∈ V , tem-se
Agora usa-se a observação acima para determinar o quadrado da norma da soma e da difer-
ença entre vetores. Para o quadrado da norma da soma, tem-se
ku + vk2 = (u + v, u + v) = (u + v, u) + (u + v, v)
= (u, u) + (v, u) + (u, v) + (v, v)
= (u, u) + (u, v) + (u, v) + (v, v)
= kuk2 + 2 Re(u, v) + kvk2.
Para o quadrado da norma da diferença, tem-se
ku − vk2 = (u − v, u − v) = (u − v, u) + (u − v, −v)
= (u, u) − (v, u) − (u, v) + (v, v)
= (u, u) − (u, v) − (u, v) + (v, v)
= kuk2 − 2 Re(u, v) + kvk2.
Portanto, em qualquer situação, a expressão para o quadrado da norma da soma e da diferença
pode ser escrita na forma
Lema 1.2: Seja V um espaço com produto interno sobre os complexos. Então, para quaisquer
u, v ∈ V , tem-se
h i
= (u, v) + i (u, v) − (u, v) + (v, v)
Proposição 1.1: Seja V um espaço com produto interno sobre os reais. Então, para quaisquer
u, v ∈ V , tem-se
1 1
(1.5) (u, v) = ku + vk2 − ku − vk2.
4 4
D EMONSTRAÇÃO : Pelo lema 1.2, tem-se que
Esta expressão, para o caso real, pode ser simplificada e escrita na forma
706 C Série de Fourier generalizada
ou ainda, 1 1
(u, v) = ku + vk2 − ku − vk2.
4 4
Proposição 1.2: Seja V um espaço com produto interno sobre os complexos. Então, para
quaisquer u, v ∈ V , tem-se
1 1 i i
(1.6) (u, v) = ku + vk2 − ku − vk2 + ku + ivk2 − ku − ivk2.
4 4 4 4
D EMONSTRAÇÃO : Pelos lemas 1.1 e 1.2, tem-se as seguintes identidades:
Proposição 1.3: Seja V um espaço vetorial, real ou complexo, com produto interno. Então,
para quaisquer u, v ∈ V , tem-se
u + v
2
u − v
2 1
(1.7)
+
= kuk2 + kvk2 ,
2
2
2
para todo u, v ∈ V .
D EMONSTRAÇÃO : Pelo lema 1.1, tem-se que
(
ku + vk2 = kuk2 + 2 Re(u, v) + kvk2,
ku − vk2 = kuk2 − 2 Re(u, v) + kvk2.
ku + vk2 ku − vk2 1
+ = kuk2 + kvk2 ,
4 4 2
ou ainda,
u + v
u − v
1 2 2
+
2
2
= 2 kuk + kvk ,
que é o resultado desejado.
u+v
v
u-v
Este adendo aborda espaços com produto interno, mas observou-se que existem normas que
não provêm de produto interno algum. Assim, é necessário definir norma de maneira geral, isto
é, apresentar uma definição que seja independente do produto interno. Tem-se:
D EFINIÇÃO : Seja V um espaço vetorial, real ou complexo. Uma norma é uma função k · k :
V → R que satisfaz as seguintes propriedades:
Exemplo 1.2: Considere o espaço l 1, onde cada elemento deste espaço é uma sequência de
números x = {xn } = {x1, x2 , . . .} tal que |x1 | + |x2| + · · · converge. Defina
∞
kxk1 = ∑ |xn | < ∞.
n=1
Mostra-se que k · k1 define uma norma em l 1, porém não será feito neste momento. Apenas
será demonstrado que k · k1 é uma norma que não provém de produto interno. Considere duas
sequências em l 1:
Tem-se:
kxk1 = k{1, 1, 0, 0, . . .}k1 = |1| + |1| + |0| + |0| + · · · = 2,
kyk1 = k{1, −1, 0, 0, . . .}k1 = |1| + | − 1| + |0| + |0| + · · · = 2,
kx + yk1 = k{2, 0, 0, 0, . . .}k1 = |2| + |0| + |0| + |0| + · · · = 2,
C.1 Espaço com produto interno 709
isto é, a identidade do paralelogramo não é satisfeita. Isto mostra que a norma k · k1 de l 1 não
provém de um produto interno.
Teorema 1.1: Seja V um espaço com produto interno. Então, para quaisquer u, v ∈ V e todo
escalar k, tem-se:
Assim,
kkuk2 = (ku, ku) = k · k (u, u) = |k|2(u, u) = |k|2 kuk2 ,
ou seja,
kkuk2 = |k|2 kuk2 ⇒ kkuk = |k| kuk.
(b) Seja u 6= 0. Então,
kuk2 = (u, u) > 0,
pelo item (d) na definição de produto interno. Portanto, segue-se daí que kuk > 0.
710 C Série de Fourier generalizada
onde usou-se o fato que (u, v)(u, v) = (u, v)(u, v) = |(u, v)|2, que pode ser verificado como no
início da demonstração da parte (a), como foi feito para o complexo k.
Portanto,
|(u, v)|2 kuk2 kvk2 − |(u, v)|2
0 ≤ kvk2 − ⇒ 0≤ ⇒ 0 ≤ kuk2 kvk2 − |(u, v)|2,
kuk2 kuk2
C.1 Espaço com produto interno 711
(u, v) = Re (u, v) + i · Re (u, iv) ⇒ | Re (u, v)| ≤ | Re (u, v) + i · Re (u, iv)| = |(u, v)|.
Assim,
ku + vk2 = (lema 1.1) = kuk2 + 2 Re(u, v) + kvk2
≤ kuk2 + 2 | Re (u, v)| + kvk2
≤ kuk2 + 2|(u, v)| + kvk2 ≤ (Cauchy-Schwarz)
≤ kuk2 + 2 (kuk kvk) + kvk2
= (kuk + kvk)2 .
Portanto, segue-se daí que
ku + vk ≤ kuk + kvk,
que é a desigualdade triangular (ou de Minkowski).
Naturalmente, o teorema 1.1 possui mais propriedades do que as necessárias para justificar
p
que kuk = (u, u) é uma norma. É o caso da desigualdade de Cauchy-Schwarz, porém a mesma
foi usada para demonstrar a desigualdade triangular.
Um conceito básico em toda esta teoria que aqui está sendo desenvolvida é o de ortogonali-
dade. Da Geometria Analítica, sabe-se que, se o produto escalar entre dois vetores em R3 é
zero, então os vetores são ortogonais, isto é, eles são perpendiculares ou pelo menos um deles é
o vetor nulo. Isto sugere e motiva a próxima definição.
Teorema 1.2: Seja β = {u1, u2, . . ., un} um conjunto ortogonal de vetores não nulos em um
espaço com produto interno V . Então β é um conjunto L.I.
712 C Série de Fourier generalizada
u = a1 u1 + a2 u2 + · · · + an un .
a1u1 + a2u2 + · · · + ak uk = 0,
que é a combinação linear nula. E como observado, todos os coeficientes desta combinação são
nulos. Isto mostra que o conjunto β é L.I.
Corolário 1.1: Sejam β = {u1 , u2, . . ., un} um conjunto ortogonal de vetores não nulos e u
um vetor que é combinação destes vetores, isto é,
u = a1 u1 + a2 u2 + · · · + an un .
Observação 1.3: As ideias desenvolvidas aqui são generalizações sobre aquilo que é estu-
dado em geometria analítica: projeção ortogonal de vetores. Sejam u e v dois vetores não nulos
e θ o ângulo entre eles. Deseja-se decompor u da seguinte forma:
u = u1 + u2 , onde u1 // v e u2 ⊥ v.
ou ainda,
(u, v) (u, v)
a= = ·
(v, v) kvk2
Como proj v (u) = u1 e u1 = av, segue-se, portanto, que
(u, v)
proj v(u) = v.
kvk2
Agora deseja-se dar uma interpretação geométrica para o módulo do produto interno. Para
isso será necessário supor que v seja unitário, isto é, kvk = 1. Então,
(u, v)
proj v (u) = v = (u, v) v.
kvk2
Logo,
k proj v(u)k = k(u, v) vk = |(u, v)| kvk = |(u, v)|,
onde usou-se o fato, mais uma vez, que o vetor v é unitário.
Portanto, a última igualdade diz que, sendo v um vetor unitário, então o módulo do produto
interno (u, v) é igual ao comprimento do vetor projeção proj v (u).
714 C Série de Fourier generalizada
Assim,
!
n n
(u, u k ) (u, u k )
0 ≤ kvk2 = (v, v) = u − ∑ 2 k
u , u− ∑ 2 k
u
k=1
ku k k k=1
ku k k
! !
n n
(u, uk ) (u, uk )
= (u, u) − u, ∑ 2 k
u − ∑ 2 k
u ,u +
k=1 kuk k k=1 kuk k
!
n n
(u, uk) (u, uk )
+ ∑ 2 k ∑ ku k2 k
u, u
k=1 kuk k k=1 k
(u, u1) (u, un) (u, u1) (u, un)
= (u, u) − u, u1 + · · · + un − u1 + · · · + un , u +
ku1 k2 kunk2 ku1 k2 kunk2
(u, u1 ) (u, un) (u, u1) (u, un)
+ u1 + · · · + un , u1 + · · · + un
ku1 k2 kun k2 ku1 k2 kun k2
" #
(u, u1) (u, un)
= (u, u) − (u, u1) + · · · (u, un) −
ku1k2 kun k2
(u, u1) (u, un)
− (u1 , u) + · · ·+ (un , u) +
ku1 k2 kunk2
" #
(u, u1) (u, u1 ) (u, u1) (u, un)
+ (u1 , u1) + · · · + (u1 , un) + · · ·
ku1 k2 ku1 k2 ku1k2 kun k2
" #
(u, un) (u, u1 ) (u, un) (u, un)
···+ (un , u1) + · · · + (un , un)
kun k2 ku1 k2 kunk2 kun k2
C.2 A desigualdade de Bessel 715
" #
(u, u1 )(u, u1) (u, un)(u, un)
= (u, u) − 2
+ ···+ −
ku1k kun k2
" #
(u, u1)(u, u1) (u, un)(u, un )
− + ···+ +
ku1 k2 kunk2
" #
(u, u1)(u, u1) (u, un)(u, un)
+ (u1 , u1) + · · · + (un , un)
ku1 k4 kun k4
|(u, u1)|2 |(u, un)|2 |(u, u1)|2 |(u, un)|2
= (u, u) − + ···+ − + ···+ +
ku1k2 kun k2 ku1 k2 kunk2
|(u, u1)|2 2 |(u, un)|2 2
+ ku1k + · · · + kun k
ku1 k4 kunk4
n n n
|(u, uk )|2 |(u, uk )|2 (u, uk )|2
= (u, u) − ∑ 2
− ∑ kuk k2 ∑ kuk k2
+
i=1 kuk k k=1 k=1
n
|(u, uk )|2 ,
= kuk2 − ∑
k=1
kuk k2
ou seja, segue daí que
n
|(u, uk )|2
∑ 2
≤ kuk2.
k=1 ku k k
Observa-se que, nos passos acima, usou-se o fato que (ui , u j ) = 0, para i 6= j, pois o conjunto
é ortogonal. Além disso, também usou-se o seguinte fato
(u, uk )(u, uk ) = (u, uk )(u, uk ) = |(u, uk )|2 ,
Ao longo daquela demonstração, a única desigualdade usada foi que 0 ≤ kvk2 . Assim, a
igualdade só ocorrerá quando 0 = kvk2 , isto é, a igualdade só é verificada se, e somente se,
v = 0. Logo, n n
(u, uk ) (u, uk)
0 = u− ∑ 2
uk ⇒ u= ∑ u.
2 k
k=1 kuk k k=1 kuk k
Portanto, tem-se que
n n
2 |(u, uk )|2 (u, uk )
kuk = ∑ se, e somente se, u= ∑ uk .
k=1
kuk k2 k=1
kuk k2
716 C Série de Fourier generalizada
D EMONSTRAÇÃO : Como, por hipótese, β é um conjunto ortonormal, seus vetores são or-
togonais e unitários. Assim, kuk k = 1, para todo k = 1, . . ., k. Usando este fato na desigualdade
(2.1) no teorema 2.1
n
|(u, uk )|2
∑ kuk k2 ≤ kuk2,
k=1
segue-se que n
∑ |(u, uk )|2 ≤ kuk2,
k=1
que é o resultado desejado.
Corolário 2.2: Sejam V um espaço com produto interno e β = {u1, . . ., un} um conjunto
ortogonal de vetores de V . Então, para qualquer vetor u ∈ V , tem-se que o vetor
n
(u, uk )
v = u− ∑ uk
k=1
kuk k2
D EFINIÇÃO : Diz-se que um conjunto ortonormal é completo se ele não estiver contido em
nenhum conjunto ortonormal maior.
Teorema 3.1 (completude): Seja β qualquer conjunto finito ortonormal em um espaço com
produto interno V . As seguintes condições sobre β são equivalentes.
(f) Se u ∈ V , então
n
kuk2 = ∑ |(u, uk)|2 .
k=1
D EMONSTRAÇÃO : A demonstração será feita através das implicações
(a) ⇒ (b): suponha que (u, uk ) = 0, para todo k = 1, . . ., n, e que u 6= 0. Então, o vetor v = u/kuk
é unitário e ortogonal a cada um dos vetores uk de β . Portanto, o conjunto
é um ortonormal tal que β ⊂ α . Mas isto contradiz a hipótese (a) de ser β um conjunto completo
(pois ele não seria o maior conjunto ortonormal de V ). Logo, tem-se que u = 0.
(b) ⇒ (c): suponha que o subespaço gerado por β não seja igual a V . Então, existe um vetor
u ∈ V que não pode ser escrito como combinação linear dos vetores uk de β . Pelo corolário 2.2,
o vetor dado por
n
v = u − ∑ (u, uk )uk
k=1
é ortonormal a cada um dos vetores uk ∈ β e tal que v 6= 0. Isto é, (v, uk ) = 0 para todo k = 1, . . ., n
e v = 0. Mas isto contradiz a hipótese (b), onde afirma que vetor v que satisfaz a condição
(v, uk ) = 0 para todo k = 1, . . ., n deve ser o vetor nulo, ou seja, v = 0. Portanto, o subespaço
gerado por β deve ser todo V .
718 C Série de Fourier generalizada
(c) ⇒ (d): tomando (c) como hipótese, então cada vetor u ∈ V pode ser escrito como combi-
nação linear dos vetores de β , isto é,
n
u = a1 u1 + · · · + an un = ∑ ak uk .
k=1
Para finalizar, basta mostrar que ak = (u, uk ) para todo k = 1, . . ., n. Com efeito,
(u, uk ) = (a1 u1 + · · · + anun , uk )
= a1 (u1 , uk ) + · · · + an(un , uk )
= ak (uk , uk )
= ak ,
onde-se usou-se, acima, os fatos de que (ui , u j ) = 0 para i 6= j (pois são ortogonais) e que
(uk , uk) = kuk k2 = 1 (pois uk são vetores unitários).
Portanto, tem-se que
n
u = (u, u1 )u1 + · · · + (u, un)un = ∑ (u, uk )uk .
k=1
(d) ⇒ (e): Sejam u, v ∈ V vetores quaisquer. Então, por (d), tem-se que
n n
u= ∑ (u, uk)uk e v= ∑ (v, uk )uk .
k=1 k=1
Então, !
n n
(u, v) = ∑ (u, uk )uk , ∑ (v, uk )uk
k=1 k=1
onde usou-se os fatos que (ui , u j ) = 0 para i 6= j, kuk k = 1 para todo k = 1, . . ., n e que (v, uk ) =
(uk , v).
(e) ⇒ (f): basta tomar v = u em (e). De fato,
C.4 O espaço l 2 719
n
kuk2 = (u, u) = ∑ (u, uk )(uk , u)
k=1
onde usou-se o fato que (uk , u) = (u, uk ) e que (u, uk)(u, uk ) = |(u, uk)|2 para todo k = 1, . . ., n.
(f) ⇒ (a): suponha que β não seja completo. Isto significa dizer que existe um conjunto
ortonormal α que é maior do que β , isto é, β ⊂ α . Seja v ∈ α tal que v 6∈ β . Então, v deverá
ser ortogonal a cada uk , ou seja, (v, uk ) = 0 para todo k = 1, . . ., n. Pelo item (f), tem-se que v
satisfaz
n
2
kvk = ∑ |(v, uk )|2 = 0.
k=1
Como kvk2 = 0, segue-se que v = 0. Isto mostra que qualquer vetor do conjunto α , diferente
dos uk , k = 1, . . ., n, é o vetor nulo. Logo α não é maior do que β . Portanto, β é completo.
C.4 O espaço l 2
Lema 4.1: Sejam x = {x1 , x2, . . ., xn, . . .} e y = {y1 , y2, . . ., yn , . . .} duas sequências em l 2.
Então,
∞
(x, y) = ∑ xn · yn
n=1
é um produto interno em l 2.
720 C Série de Fourier generalizada
D EMONSTRAÇÃO : Veja a definição de produto interno no início da seção C.1 deste adendo.
Axioma (a): sejam x = {x1 , x2, . . ., xn , . . .}, y = {y1 , y2, . . ., yn , . . .} e z = {z1 , z2, . . ., zn, . . .} três
sequências em l 2. Então,
∞
(x + y, z) = ∑ (xn + yn ) · zn
n=1
= (k · x1 ) · y1 + (k · x2) · y2 + · · · + (k · xn) · yn + · · ·
= k · (x1 · y1) + k · (x2 · y2 ) + · · · + k · (xn · yn ) + · · ·
= k · (x1 · y1 + x2 · y2 + · · · + xn · yn + · · ·)
∞
= k · ∑ xn · yn = k · (x, y).
n=1
= y1 · x1 + y2 · x2 + · · · + yn · · ·xn + · · ·
∞
= ∑ yn · xn = (y, x).
n=1
= x1 · x1 + x2 · x2 + · · · + xn · · ·xn + · · ·
= x21 + x22 + · · ·x2n + · · · ≥ 0,
pois soma de números não negativos é não negativo.
Agora suponha que x = 0, ou seja, x = (0, 0, . . ., 0, . . .). Então,
C.4 O espaço l 2 721
∞
(x, x) = ∑ xn · xn
n=1
= x1 · x1 + x2 · x2 + · · ·xn · xn + · · ·
= 0 · 0 + 0 · 0 + · · ·+ 0 · · ·0 + · · ·
= 0 + 0 + · · ·0 + · · · = 0.
Reciprocamente, suponha que (x, x) = 0. Então,
∞
0 = (x, x) = ∑ xn · xn
n=1
= x1 · x1 + x2 · x2 + · · ·xn · xn + · · ·
= x21 + x22 + · · ·x2n + · · ·
∞
= ∑ x2n .
n=1
Em virtude da potência par, a soma ∑ x2n só pode ser igual a zero se cada um dos termos for
n=1
zero, isto é, se xn = 0 para todo n ∈ N. Mas se xn = 0 para todo n ∈ N, então x = (0, 0, . . ., 0 . . .),
ou seja, x = 0.
x = {xn} e y = {yn }
α2 β 2 ,
(4.2) α ·β ≤ +
2 2
pois
(α − β )2 ≥ 0 ⇒ α 2 − 2α β + β 2 ≥ 0 ⇒ α 2 + β ≥ 2α β .
| xn |2 | yn|2
(4.4) | xn yn | ≤ + ·
2 2
Tomando a soma com n = 1 a ∞ na desigualdade acima e usando (4.3), obtém-se
!
∞ ∞
| xn|2 | yn |2 1 1
(4.5) ∑ | xn yn | ≤ ∑ 2 + 2 ≤ 2 + 2 = 1.
n=1 n=1
Note-se que as condições (4.3) são satisfeitas. Logo, é possível aplicar a desigualdade obtida
em (4.5). Assim, substituindo (4.6) em (4.5), obtém-se
∞ ∞
| xn yn| xn yn
∑ ∞ !1/2
∞
!1/2 ∑
=
∞
!1/2 ·
∞
!1/2
n=1 n=1
∑ | xn |2 ∑ | yn|2 ∑ | xn |2
∑ | yn|2
n=1 n=1 n=1 n=1
∞
= ∑ | xn yn| ≤ 1,
n=1
ou seja,
∞
| xn yn |
∑ !1/2 !1/2 ≤ 1,
n=1 ∞ ∞
∑ | xn |2 ∑ | yn|2
n=1 n=1
que após multiplicar ambos os membros da desigualdade acima pelos fatores presentes no de-
nominador, obtém-se
!1/2 !1/2
∞ ∞ ∞
2
∑ | xn yn| ≤ ∑ | xn | ∑ | yn |2 ,
n=1 n=1 n=1
Sn = |x1 y1 | + · · ·+ |xn yn |
Uma consequência imediata do corolário 4.1 é que este produto interno define uma norma
em l 2 : se x = {x1, x2 , . . .} é uma sequência em l 2, então
∞
kxk22 = (x, x) = x1 · x1 + x2 · x2 + · · · = ∑ |xn |2 ,
n=1
ou ainda, que
!1/2
∞
kxk2 = ∑ |xn|2
n=1
é uma norma em l 2.
x = {xn} e y = {yn }
D EMONSTRAÇÃO : Observe-se, primeiro, que para números reais vale a desigualdade trian-
gular. Assim, tem-se que
| xn + yn| ≤ | xn | + | yn | , ∀ n ∈ N.
724 C Série de Fourier generalizada
Agora aplica-se a desigualdade de Cauchy-Schwarz em cada uma das somas no último mem-
bro de (4.8) para obter, respectivamente,
!1/2 !1/2
k k k
2 2
(4.9) ∑ | xn | · | xn + yn | ≤ ∑ | xn | ∑ | xn + yn |
n=1 n=1 n=1
e
!1/2 !1/2
k k k
2 2
(4.10) ∑ | yn | · | xn + yn | ≤ ∑ | yn | ∑ | xn + yn| .
n=1 n=1 n=1
para obter
C.4 O espaço l 2 725
ou seja,
!1/2 !1/2 !1/2
k k k
2 2 2
∑ | xn + yn| ≤ ∑ | xn | + ∑ | yn | .
n=1 n=1 n=1
A última desigualdade obtida é a desigualdade de Minkowski no caso de somas finitas. Para
o caso infinito, basta observar que é possível tomar limite para k → ∞ para cada um dos termos,
pois {xn } e {yn} são, por hipóteses, sequências de l 2 (R), logo convergentes. Logo, existe limite
para k → ∞ para o fator do primeiro membro. Isto permite tomar limite para k → ∞ em ambos
os membros para obter
!1/2 !1/2 !1/2
∞ ∞ ∞
∑ | xn + yn|2 ≤ ∑ | xn |2 + ∑ | yn |2 ,
n=1 n=1 n=1
Lema 4.2: Seja x = (x1 , x2, . . ., xn, . . .) uma sequência em l 2. Então, a função k · k2 : l 2 → R
definida por s
∞
kxk2 = ∑ |xn |2
n=1
2
é uma norma em l .
D EMONSTRAÇÃO : Sejam x = (x1 , x2, . . ., xn, . . .) e y = (y1 , y2, . . ., yn , . . .) em l 2 e k ∈ R.
pois o somatório de números não negativos resulta e um número não negativo. Além disso, a
raiz quadrada de números não negativos é também um número não negativo.
∞
Em virtude da potência par (os termos ficam positivos), o somatório ∑ |xn |2 só pode ser
n=1
igual a zero se cada um dos termos xn for igual a zero, ou seja, se xn = 0 para todo n ∈ N. Mas
isso significa que x = (0, 0, . . ., 0, . . .), isto é, que x = 0.
Como o primeiro e último membro são não negativos, então é possível extrair a raiz quadrada
em ambos os membros, obtendo-se
s
∞ ∞
kk · xk22 = |k|2 · ∑ |xn|2 ⇒ kkxk2 = |k| · ∑ |xn |2,
n=1 n=1
Axioma (d): sejam x, y ∈ l 2. Então, pode-se aplicar a desigualdade de Minkowski, que diz
!1/2 !1/2 !1/2
∞ ∞ ∞
∑ | xn + yn|2 ≤ ∑ | xn |2 + ∑ | yn |2 ,
n=1 n=1 n=1
Sejam x = (x1 , x2 , . . ., xn, . . .) e y = (y1 , y1, . . ., yn, . . .) duas sequências em l 2. Então, a de-
sigualdade de Cauchy-Schwarz, em termos de norma, pode ser escrita na forma
Em geral, nem toda norma provém de um produto interno, mas a norma do l 2 sim, ela provém
de um produto interno. A maneira de verificar isso é usar a identidade do paralelogramo, que
foi vista na proposição 1.3 da seção C.1. Ela diz o seguinte: Seja V um espaço vetorial com
produto interno. Então, para quaisquer u, v ∈ V , tem-se
u + v
2
u − v
2 1
+
= kuk2 + kvk2 .
2
2
2
Lema 4.3: Sejam x = (x1 , x2, . . ., xn, . . .) e y = (y1 , y2 , . . ., yn, . . .) duas sequências em l 2. En-
tão a norma s
∞
kxk2 = ∑ |xn |2
n=1
satisfaz a identidade do paralelogramo.
D EMONSTRAÇÃO : Observe, primeiro, que
x + y (x1 + y1 , x2 + y2, . . ., xn + yn, . . .) x1 + y1 , x2 + y2 , xn + yn ,
= = ··· ···
2 2 2 2 2
e
x − y (x1 − y1 , x2 − y2 , . . ., xn − yn, . . .) x1 − y1 , x2 − y2 , xn − yn ,
= = ··· ··· ·
2 2 2 2 2
Desse modo, tem-se que
x + y
2
x − y
2 ∞ xn + yn 2 ∞ xn − yn 2
∑ 2 + ∑ 2
2
+
2
=
1 2 n=1 n=1
∞ 2
|xn | |xn | · |yn| |yn |2
= ∑ + + 2 +
n=1 22 2 2
∞
|xn|2 |xn | · |yn| |yn |2
+ ∑ − + 2
n=1 22 2 2
∞
|xn |2 ∞
|yn|2
= ∑ 2· 22
+ ∑ 2 ·
22
n=1 n=1
|xn|2
∞ ∞
|yn |2
= ∑ +∑
n=1 2 n=1 2
!
∞ ∞
=2 ∑ |xn |2 + ∑ |yn|2
n=1 n=1
= 2 kxk22 + kyk22
Em um espaço normado X, diz-se que uma sequência é de Cauchy se para todo ε > 0 existe
um n0 ∈ N tal que kxn − xmk < ε para todos m, n > n0 .
Diz-se que um espaço métrico X é completo se toda sequência de Cauchy de pontos de X é
convergente em X.
s
∞
(4.14) kxn − xk2 = ∑ | xin − xi|2 ≤ ε .
i=1
A última desigualdade mostra que xn − x = xin − xi ∈ l 2. Por hipótese, xn ∈ l 2. É preciso
mostrar que x ∈ l 2. Faça agora x = xn + (x − xn ). Assim sendo, segue-se da desigualdade de
Minkowski (proposição 4.2 desta seção) que
C.5 O espaço L2
e
L2 (R) = { f : R → R | f e | f |2 são R-integráveis}.
Note que dizer que f ∈ L2 ([a, b]) é o mesmo que afirmar que | f |2 ∈ L1([a, b]). Um estudo mais
detalhado dos espaços L1 ([a, b]) e L1 (R) pode ser feito através da primeira seção do adendo B.
Proposição 5.1: Seja f : [a, b] → R uma função limitada tal que f ∈ L1 ([a, b]). Então f ∈
L2([a, b]).
730 C Série de Fourier generalizada
D EMONSTRAÇÃO : De fato, se f é limitada, então existe uma constante M > 0 tal que
| f (x)| ≤ M para todo x ∈ [a, b]. E como f é R-integrável, então
Z b Z b
2
| f (x)| dx = | f (x)| · | f (x)| dx
a a
Z b Z b
≤ M · M dx = M 2 dx
a a
2
= M ( b − a) < ∞,
onde M = sup {| f (x)| | x ∈ [a, b]}.
= 2(1 − 0) = 2.
Isto mostra que f ∈ L1(0, 1). Para ver que f 6∈ L2(0, 1), basta tomar seu quadrado e integrar
de 0 até 1. Tem-se:
Z 1 Z 1 Z 1
2 dx dx
| f (x)| dx = = lim
0 0 x a→0+ a x
1
= lim ln x = lim (ln 1 − ln a)
a→0+ a→0+
a
onde usou-se o fato de que ln 1 = 0 e que não existe limite para a → 0+ de ln a, pois este diverge
para −∞. Isto mostra que f 6∈ L2(0, 1).
Para mostrar a primeira parte, tome α ∈ R e f ∈ L2([a, b]). Por definição de L2 ([a, b]), as
funções f e | f |2 são R-integráveis. Como f é R-integrável, segue-se da definição da integral de
Riemann que α · f também é R-integrável para qualquer escalar α ∈ R. Ainda resta demonstrar
que |α · f |2 = α 2 · | f |2 é R-integrável. Da definição de multiplicação de função por escalar,
(α · f )(x) = α · f (x), segue-se que
Assim,
|( f + g)(x)|2 = | f (x) + g(x)|2 ≤ 2 | f (x)|2 + | g(x)|2 .
Por serem f , g ∈ L2([a, b]), segue-se que f , g, | f |2 e | g|2 são R-integráveis. Deste modo,
a expressão no segundo membro da última desigualdade acima é R-integrável (pois soma de
funções integráveis é integrável e multiplicação de função integrável por escalar também é inte-
grável). Portanto, o primeiro membro da última desigualdade, por ser menor ou igual, também
é uma função R-integrável, isto é, | f + g|2 é R-integrável, ou ainda, que ( f + g) ∈ L2([a, b]).
Z b Z b
(5.2) f (x)2 dx = 1 e | g(x)|2 dx = 1.
a a
Observe que é sempre verdade que (a − b)2 ≥ 0 para todos a, b ∈ R. Segue-se daí que a2 −
2a · b + b2 ≥ 0, de modo que 2a · b ≤ a2 + b2. Portanto é verdadeira a desigualdade
a2 b2
a·b ≤ + ·
2 2
Fazendo a = f (x) e b = | g(x)| e substituindo na última desigualdade, obtém-se
f (x)2 | g(x)|2
(5.3) f (x) · g(x) = f (x) · | g(x)| ≤ + ·
2 2
2
Como f , g ∈ L2 ([a, b]), então, por definição, tem-se que f (x) e | g(x)|2 são R-integráveis.
Como o segundo membro de (5.3) é soma de funções R-integráveis, segue-se, portanto, que
o primeiro membro, f (x) · g(x) é R-integrável. Logo, pode-se fazer a integração de a até b.
Assim,
Z b Z b 2 Z b
f (x) · g(x) dx ≤ f (x) | g(x)|2
dx + dx
a a 2 a 2
Z Z
1 b 2 1 b
=
f (x) dx + | g(x)|2 dx
2 a 2 a
1 1
(5.4) ≤ + = 1,
2 2
pois, por (5.2), cada integral tem valor igual a 1.
Agora, tome duas funções f , g ∈ L2 ([a, b]) e defina
f (x) g(x)
(5.5) f (x) = Z 1/2 e g(x) = Z 1/2 ·
b b
2
| f (x)| dx | g(x)|2 dx
a a
Z b
= f (x) · g(x) dx ≤ 1,
a
ou seja,
Z b
1
Z b 1/2 Z b 1/2 | f (x) · g(x)| dx ≤ 1.
a
2 2
| f (x)| dx | g(x)| dx
a a
Multiplicando ambos os membros da desigualdade acima pelos fatores presentes no denomi-
nador no primeiro membro, obtém-se
Z b Z b 1/2 Z b 1/2
2 2
| f (x) · g(x)| dx ≤ | f (x)| dx | g(x)| dx ,
a a a
Corolário 5.1: Seja f : [a, b] → R uma função de L2([a, b]). Então f ∈ L1 ([a, b]).
D EMONSTRAÇÃO : Sejam f , g ∈ L2([a, b]), então pode usar a desigualdade de Cauchy-
Schwarz, isto é,
Z b Z b 1/2 Z b 1/2
2 2
| f (x) · g(x)| dx ≤ | f (x)| dx | g(x)| dx .
a a a
Agora faça g(x) ≡ 1 (que obviamente é uma função de L2([a, b])) na desigualdade acima
para escrever
Z b Z b 1/2 Z b 1/2
2 2
| f (x)| dx ≤ | f (x)| dx |1| dx
a a a
Z b
1/2 Z b 1/2
2
= dx | f (x)| dx
a a
1/2 Z b 1/2
b 2
= x | f (x)| dx
a a
Z b
1/2
1/2 2
= (b − a) | f (x)| dx .
a
Como f ∈ L2([a, b]), então, por definição, f é R-integrável e, além disso, a integral no se-
gundo membro acima existe (isto é, a integral é convergente). Logo existe a integral no primeiro
membro, portanto | f | também é R-integrável. Isto mostra que que f e | f | são simultaneamente
R-integráveis, que é o mesmo que afirmar que f ∈ L1([a, b]).
C.5 O espaço L2 735
Afirma-se: f ∈ L2(R), mas f 6∈ L1 (R). Para ver que f ∈ L2 (R), basta elevar f ao quadrado
e integrar. Tem-se:
Z ∞ Z 1 Z ∞
2 2
| f (x)| dx = | f (x)| dx + | f (x)|2 dx
−∞ −∞ 1
Z 1 Z ∞ Z a
1 1
= 0 dx + 2
dx = lim dx
−∞ 1 x a→∞ 1 x2
1 a 1
= − lim = lim 1 − 2
a→∞ x a→∞ a
1
= 1 − 0 = 1.
Isso mostra que f ∈ L2(R). Para ver que f 6∈ L1 (R), basta integrar a função ou seu módulo
(pois f é positiva). Tem-se:
Z ∞ Z 1 Z ∞
| f (x)| dx = | f (x)| dx + | f (x)| dx
−∞ −∞ 1
Z 1 Z ∞ Z a
1 1
= 0 dx + dx = lim dx
−∞ 1 x a→∞ 1 x
a
= lim ln x = lim ( ln 1 − ln a)
a→∞ 1 a→∞
onde usou-se fatos que ln 1 = 0 e que lim ln a = −∞. Isto mostra que a integral diverge e que,
a→∞
consequetemente, f 6∈ L1(R).
Z b
1/2 Z b 1/2 Z b 1/2
2 2 2
(5.7) | f (x) + g(x)| dx ≤ | f (x)| dx + | g(x)| dx .
a a a
736 C Série de Fourier generalizada
D EMONSTRAÇÃO : Por hipótese, f , g ∈ L2([a, b]). Isto significa que f e g são R-integráveis e
que | f |2 e |g|2 também são R-integráveis. Pela proposição 5.2, tem-se que L2 ([a, b]) é um espaço
vetorial e que, portanto, ( f + g) ∈ L2 ([a, b]), isto é, que f + g e | f + g|2 são R-integráveis.
Por outro lado,
| f (x) + g(x)| 2 = [ f (x) + g(x)] 2
= [ f (x)]2 + 2 f (x) · g(x) + [g(x)]2
= | f (x)|2 + 2 f (x) · g(x) + | g(x)|2 .
Segue-se daí, bem como da desigualdade de Cauchy-Schwarz, que
Z b Z bh i
| f (x) + g(x)| 2 dx = | f (x)|2 + 2 f (x) · g(x) + | g(x)|2 dx
a a
Z b Z b Z b
2 2
= | f (x)| dx + | g(x)| dx + 2 f (x) · g(x) dx
a a a
Z b Z b Z b
≤ | f (x)| 2 dx + | g(x)|2 dx + 2 f (x) · g(x) dx ±
a a a
Z b
1/2 Z b 1/2
2 2
±2 | f (x)| dx | g(x)| dx
a a
(Z 1/2 Z b 1/2 )2
b
= | f (x)|2 dx + | g(x)|2 dx +
a a
Z b Z b
1/2 Z b 1/2
2 2
+2 f (x) · g(x) dx − 2 | f (x)| dx | g(x)| dx
a a a
≤ (por Cauchy-Schwarz)
(Z 1/2 Z b 1/2 )2
b
≤ | f (x)|2 dx + | g(x)|2 dx +
a a
Z b
Z b
2 2
+2 | f (x)| dx | g(x)| dx
a a
Z b
1/2 Z b 1/2
2 2
−2 | f (x)| dx | g(x)| dx
a a
(Z 1/2 Z b 1/2 )2
b
= | f (x)|2 dx + | g(x)|2 dx ·
a a
Z b
1/2 Z b 1/2 Z b 1/2
2 2 2
| f (x) + g(x)| dx ≤ | f (x)| dx + | g(x)| dx ,
a a a
define um produto interno em L2([a, b]). Deixa-se a verificação da validade das propriedades
de produto interno como exercício para o leitor.
Neste ponto, deseja-se definir a função k · k2 : L2 → R por
Z b
1/2
2
k f k2 = | f (x)| dx
a
= | α | k f k2 .
Para verificar o axioma (c) usa-se a desigualdade de Minkowski. Sejam f , g ∈ L2([a, b]).
Tem-se: Z b 1/2
2
k f + gk2 = | f (x) + g(x)| dx
a
≤ (desigualdade de Minkowski)
Z b 1/2 Z b 1/2
2 2
≤ | f (x)| dx + | g(x)| dx
a a
= k f k2 + k gk2.
Apesar de k f k2 não ser uma norma de fato e, consequentemente, o L2 ([a, b]) não ser efe-
tivamente um espaço normado, ainda assim é possível falar de distância entre duas funções
f , g ∈ L2([a, b]), escrevendo k f − gk2.
Observação 5.1: Sejam f , g ∈ L2([a, b]). Então d( f , g) = k f − gk2 define uma métrica neste
espaço.
Axioma (a): tem-se que
Z b 1/2
d( f , f ) = k f − f k2 = [ f (x) − f (x)] dx
a
Z b
1/2
= 0 dx = 0.
a
C.6 Generalizando a série de Fourier 739
pois a condição f 6= g garante que o integrando nunca será nulo, além de não ser negativo, em
virtude do expoente do mesmo ser par.
= d(g, f ),
onde justifica-se a troca de ordem da subtração entre as funções pelo fato de o integrando está
elevado ao quadrado.
d( f , g) = k f − gk2 = k( f − g) ± hk
= k( f − h) + (h − g)k2
≤ (desigualdade de Minkowski)
≤ k f − hk2 + kh − gk2
= d( f , h) + d(h, g).
Seja {un (x)} um conjunto ortogonal. Define-se a série de Fourier generalizada para uma
função u(x) por
∞
(u, un)
u(x) ∼ ∑ cn un (x), onde cn = ·
n=1 kun k22
Caso o conjunto {un(x)} seja ortonormal, então os coeficientes da série acima são dados por
cn = (u, un).
740 C Série de Fourier generalizada
Observe que a soma acima é infinita, logo é uma série, de modo que podem surgir complica-
ções devido a questões de convergência.
Proposição 6.1: Seja {un (x)} um conjunto ortogonal de funções contínuas no intervalo [a, b].
∞
Se a série ∑ cn un(x) converge uniformemente para u(x) em [a, b], então
n=1
(u, un ) ,
cn =
kun k22
de modo que a série dada é série de Fourier generalizada para u(x) com relação a {un(x)}. Em
particular, se o conjunto {un (x)} é ortonormal, então cn = (u, un).
D EMONSTRAÇÃO : Como cada un (x) é contínua e a convergência da série é, por hipótese,
uniforme, então segue-se daí que u(x) é uma função contínua. Assim,
(u, un ) = (c1 u1 + · · · + cn un + · · · , um )
= c1 (u1 , um) + · · · + cn (un , um) + · · ·
= cm (um , um )
= cm kumk22 ,
uma vez que (ui , u j ) = 0 para i 6= j, (ui , ui ) = kui k22 e kui k2 = 1, pois o conjunto é ortogonal.
Assim,
(u, um)
(u, um ) = cm kum k22 ⇒ cm = ·
kum k22
Isto mostra que a expressão obtida para cn é verdadeira. Além disso, as operações com a
série são justificadas pela convergência uniforme. Caso seja {un (x)} um conjunto ortonormal,
decorre imediatamente que cn = (u, un), uma vez que o denominador vale um.
Corolário 6.1: Seja {un(x)} um conjunto ortogonal de funções contínuas no intervalo [a, b].
Suponha que as séries
∞ ∞
∑ cn un(x) e ∑ dn un (x)
n=1 n=1
convirjam uniformemente em [a, b] para uma mesma função u(x). Se
∞ ∞
∑ cn un(x) ≡ ∑ dn un (x)
n=1 n=1
seja uma aproximação para u(x), onde an , para n ∈ N, são constantes desconhecidas.
O erro médio quadrático dessa aproximação é definido por
Z b
1
Ek = [ u(x) − Sk (x)]2 dx
b−a a
e a raiz do erro médio quadrático é dado pela raiz quadrada da expressão anterior, isto é,
Z b 1/2
1 2
E RMS = [ u(x) − Sk (x)] dx ,
b−a a
onde o subscrito RMS é uma sigla em inglês que significa “Root Mean Square”, ou a raiz da
média quadrática.
Observa-se que é comum, na literatura, dizer que Sk (x) com coeficientes cn é uma aproxi-
mação para u(x) no sentido dos mínimos quadrados ou aproximação dos mínimos quadrados
para u(x).
A ideia consiste em determinar as constantes an que farão com que a raiz do erro médio
quadrático tenha valor mínimo. Isso será feito na proposição 6.2 a seguir; antes, alguns lemas.
Lema 6.1: Sejam {un(x)} um conjunto ortonormal em funções de L2 ([a, b]), u : [a, b] → R
uma função de L2([a, b]) e
k
Sk (x) = ∑ an un (x)
n=1
o erro médio quadrático.
Então,
Z b Z b k k
[u(x) − Sk (x)]2 dx = [u(x)]2 dx − 2 ∑ an cn + ∑ a2n ,
a a n=1 n=1
onde Z b
cn = u(x) · un (x) dx
a
são os coeficientes generalizados de Fourier correspondentes a u(x).
742 C Série de Fourier generalizada
D EMONSTRAÇÃO : Tem-se:
k
u(x) − Sk (x) = u(x) − ∑ an un(x).
n=1
Portanto,
Z b Z b
" #
k k k
[u(x) − Sk (x)]2 dx = [u(x)]2 − 2 ∑ an u(x) · un (x) + ∑ ∑ ai a j ui (x) · u j (x) dx
a a n=1 i=1 j=1
Z b k Z b
2
= [u(x)] dx − 2 ∑ an u(x) · un (x) dx+
a n=1 a
k k Z b
+∑ ∑ ai a j ui (x) · u j (x) dx
i=1 j=1 a
Z b k k
= [u(x)]2 dx − 2 ∑ an cn + ∑ a2n,
a n=1 n=1
C.6 Generalizando a série de Fourier 743
Lema 6.2: Sejam {un(x)} um conjunto ortonormal em funções de L2 ([a, b]), u : [a, b] → R
uma função de L2([a, b]) e
k
Sk (x) = ∑ an un (x).
n=1
Então,
Z b Z b k k
[u(x) − Sk (x)]2 dx = [u(x)]2 dx + ∑ (an − cn)2 − ∑ c2n ,
a a n=1 n=1
onde Z b
cn = u(x) · un (x) dx.
a
D EMONSTRAÇÃO : Pelo lema 6.1, segue-se que
Z b Z b k k
2
[u(x) − Sk (x)] dx = [u(x)]2 dx − 2 ∑ an cn + ∑ a2n
a a n=1 n=1
Z b k
= [u(x)]2 dx + ∑ a2n − 2an cn
a n=1
Z b k
= [u(x)]2 dx + ∑ a2n − 2an cn + c2n − c2n
a n=1
Z b k
= [u(x)]2 dx + ∑ (an − cn )]2 − c2n
a n=1
Z b k k
= [u(x)]2 dx + ∑ (an − cn )2 − ∑ c2n .
a n=1 n=1
Proposição 6.2: Sejam {un (x)} um conjunto ortonormal em L2 ([a, b]), u ∈ L2 ([a, b]) e
k
Sk (x) = ∑ an un (x).
n=1
Então, a raiz do erro médio quadrático é mínima quando os coeficientes an da soma Sk (x)
forem iguais aos coeficientes generalizados de Fourier, isto é, quando an = cn .
D EMONSTRAÇÃO : Pelo lema 6.2, tem-se
744 C Série de Fourier generalizada
Z b Z b k k
[u(x) − Sk (x)]2 dx = [u(x)]2 dx + ∑ (an − cn)2 − ∑ c2n .
a a n=1 n=1
Observe que a raiz erro médio quadrático terá um mínimo quando a expressão acima tiver
um mínimo. Entretanto, é claro que o membro direito tem um mínimo quando
k
∑ (an − cn )2 = 0,
n=1
D EMONSTRAÇÃO : Com as hipóteses dada é possível aplicar a proposição 6.2. Tem-se que
"Z #1/2
b k
1
E RMS = √ [u(x)]2 − ∑ c2n .
b−a a n=1
Como a raiz do erro médio quadrático deve ser não negativo, segue-se que
C.6 Generalizando a série de Fourier 745
Z b k
0≤ [u(x)]2 − ∑ c2n,
a n=1
que resulta em
k Z b
(6.1) ∑ c2n ≤ a
|u(x)|2 dx.
n=1
Observe que o membro direito acima não depende de k. Logo, é possível tomar limite para
k → ∞, de modo que
∞ Z b
(6.2) ∑ c2n ≤ |u(x)|2 dx.
n=1 a
Como consequência, vê-se que, se o membro direito de (6.2) existe, então a série no membro
esquerdo deve convergir. No caso especial onde a igualdade se verifica em (6.2) é obtida a
identidade de Parseval.
Como a função u(x) pertence a L1([a, b]), então a integral no segundo membro existe, de
∞
modo que a desigualdade de Bessel mostra que a série numérica ∑ c2n é convergente. Logo,
n=1
o n-ésimo termo c2n deve tender para zero quando n → ∞.. Mas, se lim c2n = 0, então tem-se
n→∞
também que lim cn = 0. Portanto,
n→∞
746 C Série de Fourier generalizada
Z b
lim u(x) · un (x) dx = lim cn = 0.
n→∞ a n→∞
Uma importante questão reside em saber se é possível afirmar que Ek converge para zero
quando k → ∞. Isso é equivalente a questionar se a função u(x) pode ser aproximada, no sentido
do erro médio quadrático, tanto quanto se queira, por uma combinação linear finita de funções
un (x). Como visto no teorema 3.1 da seção C.3, se ocorrer essa situação, então o conjunto
{un (x)} deve ser completo.
Proposição 6.3 (Parseval): Seja {un (x)} um conjunto completo em L2 ([a, b]) e u ∈ L2 ([a, b]).
Então,
∞
ku(x)k22 = ∑ c2n , onde cn = (u, un ).
n=1
k
D EMONSTRAÇÃO : Foi demonstrado na proposição 6.2 que, para Sk (x) = ∑ an un (x), vale
n=1
Z b Z b k
2
|u(x) − Sk (x)| dx = |u(x)|2 dx − ∑ c2n .
a a n=1
Então,
∞
kuk22 − ∑ c2n = 0,
n=1
de modo que
!
k
lim Ek = lim kuk22 − ∑ c2n
k→∞ k→∞ n=1
∞
(6.3) = kuk22 − ∑ c2n = 0,
n=1
k
Ek = k u(x) − Sk (x)k22 = kuk22 − ∑ c2n .
n=1
Portanto, !
k ∞
0 = lim Ek = lim kuk22 − ∑ c2n = kuk22 − ∑ c2n ,
k→∞ k→∞ n=1 n=1
ou seja,
∞ ∞
kuk22 − ∑ c2n = 0 ⇒ kuk22 = ∑ c2n,
n=1 n=1
que é a identidade de Parseval.
Alguns autores definem um conjunto completo da seguinte maneira: Um conjunto {un (x)}
em L2([a, b]) é completo se, para uma função u ∈ L2([a, b]) ser tal que cn = (u, un ), para todo
n ∈ N, implicar em u = 0. Na verdade, essa definição é equivalente a anterior. Isso é o que
mostra a próxima proposição.
748 C Série de Fourier generalizada
Proposição 6.5: Sejam {un (x)} um conjunto ortonormal de funções de L2([a, b]). São equi-
valentes:
então u = 0.
D EMONSTRAÇÃO : A demonstração será feita através das implicações: (a) ⇒ (b) ⇒ (c)
⇒ (a).
(a) ⇒ (b): Suponha que {un(x)} seja um conjunto completo. Seja u : [a, b] → R uma função
de L2([a, b]). Por definição, um conjunto é completo se lim Ek = 0. Pela proposição 6.2, o
n→∞
valor mínimo do erro médio quadrático é dado por
k
Ek = k u(x) − Sk (x)k22 = kuk22 − ∑ c2n .
n=1
Portanto, !
k ∞
0 = lim Ek = lim kuk22 − ∑ c2n = kuk22 − ∑ c2n ,
k→∞ k→∞ n=1 n=1
ou seja,
∞ ∞
kuk22 − ∑ c2n = 0 ⇒ kuk22 = ∑ c2n,
n=1 n=1
que é a identidade de Parseval.
A hipótese em (c) diz que u ∈ L2 ([a, b]) uma função tal que cn = (u, un) = 0 para todo n ∈ N.
Agora deve-se mostrar que u = 0. Substituindo cn = 0 na identidade de Parseval, conclui-se que
kuk22 = 0. Mas isto implica que u = 0.
De fato, suponha que não se tenha u = 0. Então, se x0 for um ponto de continuidade de u tal
que u(x0 ) 6= 0, então existirá um intervalo I = [x0 − δ , x0 + δ ] onde u(x) 6= 0. Logo,
Z Z b
2
0< |u(x)| dx ≤ |u(x)|2 dx = 0,
I a
C.7 Convergência em média quadrática 749
que é um absurdo.
(c) ⇒ (a): Suponha que u ∈ L2([a, b]) satisfaça cn = (u, un ) = 0, para todo n ∈ N e que isto
implique em u = 0. Pela proposição 6.2, tem-se que
k
Ek = kuk22 − ∑ c2n .
n=1
Portanto, !
k ∞
lim Ek = lim kuk22 − ∑ = kuk22 − ∑ c2n .
k→∞ k→∞ n=1 n=1
Mas por hipótese, a função u ∈ L2 ([a, b]) tal que cn = 0, para todo n ∈ N, implica em u = 0.
Substituindo na expressão acima, obtém-se que
∞
lim Ek = kuk22 − ∑ c2n = k0k22 + ∑ 02 = 0.
k→∞ n=1 n→∞
D EFINIÇÃO : Diz-se que uma sequência de funções {un(x)} pertencentes a L2 ([a, b]) con-
verge em média quadrática para uma função u ∈ L2([a, b]) se
Z b
lim | u(x) − un (x)|2 dx = 0.
n→∞ a
Teorema 7.1: Seja u : [a, b] → R uma função pertencente a L2([a, b]). Então, existe uma
sequência de funções contínuas ϕn : [a, b] → R, com ϕn (a) = 0 = ϕn (b), tal que
Z b
lim | u(x) − ϕn (x)|2 dx = 0.
n→∞ a
C ASO 1: Suponha que u seja limitada. Como u ∈ L2 ([a, b]), segue-se do corolário 5.1 da
seção C.5 que u ∈ L1([a, b]). Logo é possível aplicar o teorema 1.1 do adendo B, que diz o
seguinte: Seja u : [a, b] → R uma função de L1([a, b]). Então, dado ε > 0, existe uma função
contínua ϕ : [a, b] → R tal que
Z b
|u(x) − ϕ (x)| dx < ε e ϕ (a) = 0 = ϕ (b).
a
Portanto, dado ε > 0, existe uma função contínua ϕ : [a, b] → R, com ϕ (a) = 0 = ϕ (b), tal
que
Z b
| u(x) − ϕ (x)| dx < ε .
a
Tem-se que |ϕ (x)| ≤ M, onde M > 0 é uma constante tal que | u(x)| ≤ M, para todo x ∈ [a, b].
Para se convencer disso, o leitor poderá voltar à demonstração do teorema 1.1 (adendo B).
Lá será visto que a função ϕ é uma poligonal em forma de trapézios formados a partir das
funções características dos subintervalos da partição. As funções características são definidas
por χ (x) = mi , para x ∈ [xi−1 , xi ], onde mi = inf{u(x) | xi−1 ≤ x ≤ xi }. Ora, como ϕ (x) está
entre o menor e o maior dos números mi , para algum i = 0, 1, . . ., k e mi ≤ M (a limitação de u),
então |ϕ (x)| ≤ M.
Com estas majorações de ϕ e f , obtém-se
Z b Z b
2
| u(x) − ϕ (x)| dx = | u(x) − ϕ (x)| · | u(x) − ϕ (x)| dx
a a
Z b
= | u(x) + [−ϕ (x)] | · | u(x) − ϕ (x)| dx
a
Z b
≤ [ | u(x)| + | ϕ (x)| ] · | u(x) − ϕ (x)| dx
a
Z b
≤ [ M + M ] · | u(x) − ϕ (x)| dx
a
Z b
= 2M | u(x) − ϕ (x)| dx < 2M ε .
a
Z b−δ
ε
| u(x) − ϕ (x)| 2 dx < ·
a+δ 3
Portanto, definindo ϕ : [a, b] → R por
0,
se a ≤ x ≤ a + δ ,
ϕ (x) = ϕ (x), se a + δ ≤ x ≤ b − δ ,
0, se b − δ ≤ x ≤ b,
obtém-se
Z b Z a+δ Z b−δ
2 2
| u(x) − ϕ (x)| dx = | u(x) − ϕ (x)| dx + | u(x) − ϕ (x)|2 dx +
a a a+δ
Z b
+ | u(x) − ϕ (x)|2 dx
b−δ
ε ε ε
< + + = ε,
3 3 3
concluindo a demonstração do teorema.
Como visto anteriormente, se o conjunto {un(x)} é completo (veja a seção C.6), então o erro
médio quadrático Ek converge para zero quando k → ∞, mas isso não implica na convergência da
752 C Série de Fourier generalizada
∞
série de Fourier ∑ cn un (x) para u(x). Porém a sequência das somas parciais se aproximam de
n=1
u(x) no sentido do erro médio quadrático. Essa situação é descrita dizendo que a série converge
em média para u(x) e denota-se por
" #
k
l.i.m.
k→∞
∑ cn un (x) = u(x),
n=1
onde a expressão “l.i.m.”, em inglês, significa “limit in (the) mean” (limite em média).
Sejam X ⊂ R e função u : X → R uma função de L2(X). Define-se a norma da média
quadrática por
Z b 1/2
2
kuk2 = [u(x)] dx .
a
Em geral, se o conjunto de funções {un (x)} e a função u(x) pertencem ao espaço L2([a, b]),
então escreve-se
l.i.m. un (x) = u(x)
n→∞
se
lim kun(x) − u(x)k2 = 0,
n→∞
ou seja, se
Z b
lim [un(x) − u(x)]2 dx = 0.
n→∞ a
Considere agora X ⊂ R um conjunto e u : X → R. Define-se a norma uniforme por
Se X for um conjunto fechado e limitado e f for uma função contínua, então kukX =
max |u(x)| para todo x ∈ X. Além disso, se ku − vkX < ε , então |u(x) − v(x)| < ε para todo
x ∈ X, de modo que u se aproxima de v uniformemente em X.
Uma sequência de funções {un} é converge uniformemente para uma função u em um con-
junto X se, se somente se, lim kun − ukX = 0.
n→∞
de modo que x = 0 e x = 2/3 são pontos críticos. Tem-se que w(0) = 0 (no extremo x = 1 tem-se
que w(1) = 0). Além disso,
2 3
2 2 4 8 4
w(2/3) = − = − = ,
3 3 9 27 27
que mostra que w(2/3) é o valor máximo de w(x) em [0, 1], que resulta em
4
ku − vkX = max |u(x) − v(x)| = max |w(x)| = |w(2/3)| = ·
27
Por outro lado, para a média quadrática, tem-se
Z 1 1/2
2
ku − vk2 = [u(x) − v(x)] dx
0
Z 1
1/2
2
3 2
= x −x dx
0
Z 1 1/2
4 5 6
= x − 2x + x dx
0
" #1/2
x5 x6 x7 1
= − +
5 3 7 0
1 1
1 1 1 /2 21 − 35 + 15 /2
= − + =
5 3 7 105
1/2
1 1
= =√ ·
105 105
Isso mostra que a norma uniforme e a norma da média quadrática são diferentes. Apesar
disso, existe uma desigualdade entre essas duas normas que é sempre verdadeira, como mostra
o próximo resultado.
Proposição 7.1: Sejam u, v : [a, b] → R duas funções pertencentes ao espaço L2([a, b]). En-
tão,
√
ku − vk2 ≤ b − a · ku − vk[a,b].
D EMONSTRAÇÃO : Com as hipóteses dadas, tem-se:
Z b
ku − vk22 = |u(x) − v(x)|2 dx
a
Z b
≤ [sup |u(x) − v(x)|]2 dx
a
754 C Série de Fourier generalizada
Z b
2
= [sup |u(x) − v(x)] dx
a
b
= [sup |u(x) − v(x)|]2 · x
a
Corolário 7.1: Sejam un : [a, b] → R e u ∈ L2 ([a, b]). Se a sequência de funções un(x) con-
verge uniformemente para u(x), então un(x) também converge em média para u(x).
D EMONSTRAÇÃO : Por hipótese, tem-se que lim un(x) = u(x) uniformemente. Isso é equiva-
n→∞
lente a lim kun (x) − u(x)k[a,b] = 0. Pela proposição 7.1, obtém que
n→∞
√
lim kun − uk2 ≤ b − a · lim kun(x) − u(x)k[a,b] = 0,
n→∞ n→∞
que mostra que lim kun − uk2 = 0, ou seja, que a sequência {un(x)} converge em média
n→∞
quadrática para u(x).
Em geral, a recíproca da proposição 7.1 é falsa. O exemplo 7.1 mostra que, se un (x) converge
em média quadrática para u(x), então un(x) pode não convergir uniformemente para u(x).
n √ 2
o
Exemplo 7.1: A sequência n x · e −n x converge em média para 0 em [0, 1], mas não con-
verge uniformemente.
√ 2
S OLUÇÃO : Faça un(x) = n x · e −n x e u(x) = 0 para x ∈ [0, 1]. Assim,
Z 1
kun(x) − u(x)k22 = kun (x)k22 = [un(x)]2 dx
0
Z 1 2
√ −n2x
= n x·e dx
0
C.7 Convergência em média quadrática 755
Z 1
2
= n2 · x · e −2n x dx
0
Z n2
1
= 2 v · e −2v dv
n 0
2 Z 2
!
1 v · e −2v n 1 n −2v
= 2 − + e dv
n 2 0 2 0
" 2
! n2 #
1 n2 · e −2n 0·e0 1 −2v
= − + − ·e
n2 2 2 4 0
" #
1 −2n2
2
1 n2 · e −2n 0
= − − e −e
n2 2 4
2
!
1 n2 · e −2n 1 1 −2n2
= − + − ·e
n2 2 4 4
1 2 −2n2 −2n2
= 1 − 2n · e − e
4n2
2 2
1 e −2n e −2n
= 2− −
4n 2 4n2
1 1 1
= 2 − 2n2 − 2 2n2 ,
4n 2e 4n · e
onde foi feita, primeiro, uma mudança de variáveis v = n2 x, com dv/n2 = dx, com os novos
limites de integração indo de v = 0 até v = 2n2. Em seguida, usou-se integração por parte
fazendo por w = v e dz = e −2v dv (dw = dv e z = −e −2v/2).
Segue-se daí que
2 1 1 1
lim kun (x) − u(x)k2 = lim − 2 −
n→∞ n→∞ 4n2 2 e 2n 4n2 · e 2n
2
1 1 1
= lim 2
− lim 2 − lim
n→∞ 4n n→∞ 2 e 2n n→∞ 4n · e 2n2
2
= 0 − 0 − 0 = 0,
donde segue-se que lim kun(x) − u(x)k2 = 0, mostrando, assim, que un(x) converge em média
n→∞
quadrática para u(x).
Por outro lado, {un (x)} não converge uniformemente para u(x). De fato, observe primeiro
√ 2
que, de un (x) = n x · e −n x , usando a regra do produto, obtém-se
n 2 √ 2
u0n(x) = √ · e −n x − n3 x · e −n x,
2 x
cujos pontos críticos são obtidos fazendo
n 2 √ 2 n 2 √ 2
√ · e −n x − n3 x · e −n x = 0 ⇒ √ · e −n x = n3 x · e −n x ,
2 x 2 x
756 C Série de Fourier generalizada
1 √ 1 1 ,
√ = n2 x ⇒ = 2n2 ⇒ x=
2 x x 2n2
que são os pontos críticos para as funções un (x).
Lembrando que as funções são contínuas e o intervalo é fechado e limitado, obtém-se
kun (x) − u(x)k[0,1] = kun (x) − 0k[0,1]
= kun (x)k[0,1] = max |un (x)|
1
= un
2n2
r
1 2 1
−n · 2
= n · e 2n
2n2
1
= √ · e /2
−1
2
1 1
= √ ·√
2 e
1
=√ ,
2e
para todo n ∈ N. Os extremos do intervalo, x = 0 e x = 1, também devem ser testados. Para
2
x = 0, tem-se que un(0) = 0 e un (1) = n · e −n . Como isso, kun(0) − u(0)k[0,1] = 0 e kun(1) −
2
u(1)k[0,1] = n · e −n .
Portanto, em quaisquer casos tem-se que o limite uniforme
ou seja, un(x) não tende para 0, quando n → ∞, para todo x ∈ [0, 1].
O próximo exemplo mostra que uma sequência pode convergir pontualmente em um intervalo
[a, b], mas sem convergir em média quadrática e nem uniformemente.
n√ √ √ o
−nx2/2
Exemplo 7.2: Considere a seguinte sequência: 2· n· x·e para x ∈ [0, 1]. Ela
converge pontualmente para a função u ≡ 0, mas não converge em média quadrática e nem
uniformemente.
√ √ √ 2
S OLUÇÃO : Faça un(x) = 2 · n · x · e −nx /2 e u(x) = 0 para x ∈ [0, 1].
Para ver que ela converge pontualmente, basta tomar limite para n → ∞, fixando-se x. Tem-se:
h√ √ √ i
−nx2
lim un(x) = lim 2 · n · x · e /2
n→∞ n→∞
√
√ √ n
= 2 · x · lim nx2
n→∞ e /2
C.7 Convergência em média quadrática 757
= (l’Hospital em n)
√ √ 1/(2√n)
= 2 · x · lim 2
n→∞ x2/2 · e nx /2
√ √ 2 1
= 2 · x · 2 · lim √
x n→∞ 2 n · e nx2/2
√
2 1 ,
= √ · lim √
3 n→∞ nx2/2
x n·e
onde é claro que o último limite acima tende para 0. Isso mostra a convergência pontual da
sequência kun(x)}.
Agora mostra-se que a sequência não converge em média para a função u ≡ 0. Tem-se:
Z 1
kun (x) − u(x)k22 = kun(x)k22 = [un (x)]2 dx
0
Z 1 √ 2
√ √ −nx2/2
= 2· n· x·e dx
0
Z 1
2
= 2 · n · x · e −nx dx
0
Z 1 0
−nx2
= −e dx
0
1
nx2
= −e = −e −n + e 0
0
−n
= 1−e .
Segue-se daí que
lim kun (x) − u(x)k22 = lim 1 − e−n
n→∞ n→∞
= lim 1 − lim e −n
n→∞ n→∞
1
= 1 − lim = 1−0
n→∞ e nx
= 1,
donde se conclui lim kun (x) − u(x)k2 = 0, mostrando, assim, que un (x) não converge em média
n→∞
quadrática para u(x).
Agora demonstra-se que a sequência {un (x)} também não converge uniformemente. Como
√ √ √ 2
un (x) = 2 · n · x · e −nx /2, então, derivando pela regra do produto em relação a x, obtém-se
0
√ √ 1 −nx2/2
√ √ √ 2nx −nx2
u (x) = 2 · n · √ · e + 2· n· x· − · e /2
2 x 2
√
2 √ 1 −nx2
√ √ √ −nx2
= · n · √ · e /2 − 2 · n n · x x · e /2,
2 x
758 C Série de Fourier generalizada
1 2 e −1/2 √
= 2n · √ · e /2 = √ · n
−1
2n 2
2 √
= √ · n.
2e
Claramente se vê que lim kun (x) − u(x)k2[0,1] = +∞. Consequentemente, tem-se também que
n→∞
lim kun (x) − u(x)k[0,1] = +∞. Nos extremos do intervalo, x = 0 e x = 1, tem-se, respectiva-
n→∞
mente:
√ √
un(1) − u(1) = 2 · n · e /2,
−n
un (0) − u(0) = 0 − 0 = 0 e
que não são pontos de máximo. Com isso, mostra-se que a convergência não é uniforme.
Então,
Z 1 Z 1/n
kux (x)k22 = 2
|un (x)| dx = dx
0 0
1/n 1
(7.4) =x = ·
0 n
C.8 Propriedade da unicidade 759
Afirma-se que esta sequência converge pontualmente para zero, mas não converge em média
quadrática. De fato, vn (0) = 0 para todo n. Para qualquer x > 0 tem-se que vn (x) = 0 para
n > |x|−1, pois, para x > 1/n, tem-se que
1 1
x> ⇒ n> = |x|−1.
n x
Por outro lado,
Z 1 Z 1/n
kvn (x)k22 = 2
|vn (x)| dx = n2 dx
0 0
1/n 1
(7.5) = n2 x = n2 · = n,
0 n
de modo que
lim kvn (x) − 0k22 = lim n = +∞,
n→∞ n→∞
mostrando que a sequência {vn(x)} não converge em média quadrática.
Suponha que {un (x)} é um conjunto ortonormal arbitrário, não necessariamente um conjunto
completo. Deseja-se estudar a relação entre a função u(x) e sua série de Fourier generalizada.
Alguns questionamentos devem ser feitos. Se cn são os coeficientes de Fourier para uma função
u(x), questiona-se se a sequência {cn}, formada pelos coeficientes de Fourier para u(x), carac-
teriza de maneira única a função u(x) entre todas as funções do espaço. Questiona-se também
sobre quais propriedades de u(x) estão refletidas em {cn}.
760 C Série de Fourier generalizada
Se u e v têm a mesma sequência de Fourier, então (u, un) = (v, un ) para todo n. Se w = u − v,
então (w, un ) = 0 para todo n. Como u = v se, e somente se, w = 0, então questiona-se se 0
é a única função que é ortogonal a todas as funções un . Assim, a questão da unicidade para
um dado conjunto ortonormal {un(x)} é, portanto, o mesmo que perguntar se o conjunto é
completo, no sentido de que nenhuma função adicional pode ser encontrada no espaço e que
seja orthogonal a todas as funções un(x) já escolhidas e que não seja identicamente nula. Se
um conjunto ortonormal {un (x)} é completo, então cada função u é caracterizada de maneira
única pelos coeficientes de Fourier. Observa-se que um conjunto pode ser completo em um dado
espaço, mas poderá deixar de ser completo em um espaço de funções maior.
Assim, uma vez em que se determina os coeficientes de Fourier {cn} para u(x), pode-se
∞
formar a série de Fourier generalizada ∑ cn un (x). Mesmo assim resta saber como a série de
n=1
Fourier generalizada para u(x) converge para u(x). Por exemplo, se a convergência se dá em
média, ou pontualmente, ou uniformemente.
D EFINIÇÃO : Diz-se que um conjunto ortogonal {un (x)}, com x ∈ [a, b], tem a propriedade da
unicidade se toda função u ∈ L1([a, b]) está determinada de maneira única por seus coeficientes
de Fourier em relação a {un (x)}.
De modo equivalente, a definição acima diz que, se duas funções u e v, definidas em [a, b],
são tais que (u, un ) = (v, un ) para todo n, então u(x) − v(x) = 0∗. Ou ainda, que w(x) = 0∗ é a
única função em L1([a, b]) que é ortogonal a todas as funções un (x). Uma consequência é que
um conjunto de funções ortogonais não pode ser ampliado. Observa-se que a função 0∗ não é a
função identicamente nula, mas sim uma função que é igual a 0, exceto em um número finito
de pontos. Para o caso em número infinito de pontos, veja a próxima observação.
O comentário do último parágrafo é delicado: é preciso dar um entendimento preciso sobre o
significado da expressão “determinada de maneira única”. A explicação técnica sobre este fato
será apresentada na próxima observação. Esse assunto contido na observação a seguir pode ser
omitido em uma primeira leitura.
x0 = {x ∈ X | x R x0 }.
X/ R = {x | x ∈ X}.
D EFINIÇÃO : Diz-se que um conjunto X ⊂ R tem medida nula, que será denotado por µ (X) =
0, quando, para todo ε > 0, for possível obter uma coleção enumerável de intervalos abertos
I1, I2 , . . ., In , . . . tais que
∞
X ⊂ I1 ∪ I2 ∪ · · · ∪ In ∪ · · · e ∑ | In | < ε .
n=1
D EFINIÇÃO : Diz que duas funções u, v : X → R são iguais “quase sempre”, e denota-se por
u(x) = v(x) q.s. em X, quando elas diferem entre si em um conjunto de medida nula.
• Seja X um espaço normado com norma k · k. Escreve-se ku − vk = 0 para dizer que u(x) =
v(x) q.s. Então, uma relação dada dessa forma também é uma relação de equivalência.
Seja u Rv a relação dada por: ku − vk = 0 se, e somente se, u(x) = v(x) q.s. A relação R é
reflexiva: tem-se que ku − uk = 0 se, e somente se, u(x) = u(x) q.s. Como o conjunto de pontos
em que u(x) difere dela mesma é vazio, tem-se que a relação é sempre verdadeira, pois este
conjunto tem medida nula. Assim, u Ru. Além disso, R é simétrica: se u Rv, então ku − vk = 0
se, e somente se, u(x) = v(x) q.s. Mas isto é o mesmo que escrever v(x) = u(x) q.s., que implica
em kv − uk = 0, ou seja, que v Ru. A relação é transitiva: se u R v e v R w, então ku − vk = 0 e
kv − wk = 0 se, e somente se, u(x) = v(x) q.s. e v(x) = w(x) q.s. Segue-se daí que u(x) = w(x)
q.s. Mas isto é o mesmo que escrever ku − wk = 0, ou seja, que u Rw.
u = {v ∈ X | ku − vk = 0}
u = { f ∈ X | ku − f k = 0} e v = {g ∈ X | kv − gk = 0}.
Por hipótese tem-se que ku − vk = 0. Isto significa que v é um elemento de u, isto é, v ∈ u. Isto
mostra que v ⊂ u. Além disso, como a relação ku − vk = 0 é simétrica, então tem-se também
que kv − uk = 0. Isto significa que u ∈ v, que mostra que u ⊂ v. Assim, das inclusões v ⊂ u e
u ⊂ v, conclui-se que u = v, como afirmado.
ku − vk = ku − vk = k(u − v) ± f ± gk
= k(u − f ) + ( f − g) + (g − v)k (desig. triang.)
≤ ku − f k + k f − gk + kg − vk
= ku − f k + k f − gk + kg − vk
(8.1) = k f − gk,
k f − gk = k f − gk = k( f − g) ± u ± vk
= k( f − u) + (u − v) + (v − g)k
≤ (desig. triang.)
≤ k f − uk + ku − vk + kv − gk
= k f − uk + ku − vk + kv − gk
(8.2) = ku − vk,
d (u, v) = ku − vk = ku − vk = kv − uk = kv − uk = d (v, u) .
Por fim, resta mostrar que vale a desigualdade triangular, isto é, que
= ku − vk + kv − wk,
= d (u, v) + d (v, w) ,
como desejado.
É no contexto da observação 8.1 que se deve entender significado de que, “se (u, un) = (v, un ),
para todo n, então u(x) − v(x) = 0”. Aqui este 0 não é necessariamente a função identicamente
nula, mas sim funções que diferenciam da função identicamente nula em um conjunto de medida
nula. Assim, a unicidade é obtida ao escolher o representante da classe de equivalência, que
pode ser qualquer elemento desta classe. Porém é preciso considerar a integral de Lebesgue que
funciona bem com a igualdade quase sempre, uma vez que a integral de Riemann falha com a
igualdade quase sempre entre funções.
Teorema 8.1: Um conjunto completo {un (x)}, com x ∈ [a, b], tem a propriedade da unicidade.
D EMONSTRAÇÃO : Sejam u(x) e v(x) duas funções definidas em [a, b] e seccionalmente con-
tínuas que satisfazem
(u(x), un (x)) = (v(x), un (x)).
Então,
(u(x), un (x)) − (v(x), un (x)) = 0 ⇒ (u(x) − v(x), un (x)) = 0.
Faça w(x) = u(x) − v(x). Desse modo, (w(x), un (x)) = 0 para todo n ∈ N. Seja
∞
w(x) = ∑ cn un (x),
n=1
a série de Fourier generalizada para a função w(x), onde cn são os coeficientes de Fourier.
Por ser {un(x)} um conjunto ortogonal de funções seccionalmente contínuas no intervalo
[a, b], a proposição 6.1 diz que os coeficientes de Fourier são dados por
(w, un )
(8.3) cn = ·
kunk2
Pela proposição 6.3, a completude de um conjunto é equivalente a validade da identidade de
Parseval. A identidade de Parseval para w é dada por
∞
(8.4) kwk2 = ∑ c2n .
n=1
∞ 2
0
= ∑ kunk2
n=1
= 0.
Isto mostra que kwk2 = 0, de modo que também se tem que kwk = 0. Segue-se daí que w(x) =
0, ou seja, que u(x) − v(x) = 0. Portanto, o conjunto completo {un (x)} satisfaz a propriedade da
unicidade.
Observa-se que a recíproca do teorema 8.1 é conhecida como teorema de Riesz-Fischer, que é
verdadeira quando se considera o espaço L2 ([a, b]) das funções quadrado integráveis no sentido
de Lebesgue. Porém, a recíproca do teorema 8.1 não é verdadeira no espaço L2 ([a, b]), pois
este espaço não é completo (veja o exemplo 8.1) – não confundir com o conceito de conjunto
completo. Para conseguir condições suficientes para a completude é preciso exigir hipóteses
fortes; para isso, veja o teorema 9.1 da próxima seção.
Assim,
Z 1 2 Z 1/n
kum (x) − un (x)k22 =
−1/4 −1/2
x dx = x dx
0 1/m
1/n
1/2
= 2 · x = 2 n /2 − m /2
−1 −1
1/m
1 1
=2 √ −√ ,
n m
que permite concluir que
1 1
lim kum (x) − un (x)k22 = lim 2 √ − √ = 0,
m,n→∞ m,n→∞ n m
mostrando que a sequência {un(x)} é de Cauchy.
Por outro lado, o limite pontual (ou em média quadrática) é claramente a função
766 C Série de Fourier generalizada
(
x −1/4, para 0 < x ≤ 1,
u(x) =
0, para x = 0,
porém esta função não pertence ao espaço L2([0, 1]), pois ela se torna ilimitada quando x → 0+ :
de fato,
1
lim u(x) = lim x /4 = lim 1/4
−1
Teorema 8.2: Seja {un (x)} um conjunto ortogonal de funções contínuas no intervalo [a, b].
Suponha que o conjunto {un (x)} tem a propriedade da unicidade. Seja u : [a, b] → R uma função
contínua. Suponha que a série de Fourier generalizada para u(x) em relação a {un (x)} convirja
uniformemente para x ∈ [a, b]. Então a série de Fourier generalizada converge para u(x).
D EMONSTRAÇÃO : Denote por v(x) a soma da série de Fourier generalizada para a função
u(x), isto é,
∞
v(x) = ∑ cn un (x).
n=1
Como, por hipótese, as funções un (x) são contínuas e a convergência é uniforme, segue daí
que v(x) é contínua em [a, b] e que cn são os coeficientes generalizados de Fourier. Mas a série
foi dada como a série de Fourier generalizada para u(x). Logo, u(x) e v(x) têm os mesmos
coeficientes generalizados de Fourier. Portanto, tem-se que u(x) = v(x). Isto mostra que a série
de Fourier generalizada para u(x) converge para u(x).
O próximo resultado apresenta as condições suficientes para que um conjunto seja completo.
Teorema 9.1: Seja {un(x)} um conjunto ortogonal de funções contínuas definidas no inter-
valo [a, b]. Suponha que as duas propriedades a seguir são satisfeitas:
(a) O conjunto {un(x)} tem a propriedade da unicidade;
C.9 Condições suficientes para completude 767
(b) Para algum k ∈ N, a série de Fourier generalizada para v(x) em relação a {un(x)} é
uniformemente converge para toda v(x) de classe Ck em [a, b] e tal que
PASSO 1: Será determinada uma função contínua U (x) tal que kU − uk < ε/4 e U (x) = 0 se
x ∈ [a, a + δ ] ou x ∈ [b − δ , b] com uma escolha conveniente de δ . O gráfico da figura 9.3 dá
uma ideia sobre o que está sendo feito.
Figura 9.3: Aproximação da função u(x) seccionalmente contínua por uma função contínua
U (x) e uma função V (x) de classe C1 .
Agora, serão traçados segmentos formando pontes sobre os saltos de u1 (x). Em cada salto, o
segmento une o ponto [x0 − δ , u1(x0 − δ )] com o ponto [x + 0 + δ , u1(x0 + δ )]. A função U (x)
coincide com u1 (x), exceto entre x0 − δ e x0 + δ , onde o seu gráfico é um segmento. Então,
U (x) é contínua e kU − uk2 é soma de um número finito K de integrais da forma
Z x0 +δ
[U (x) − u(x)]2 dx
x0 −δ
Z x0 +δ Z a+δ Z b
2 2 2
kU − uk = K [U (x) − u(x)] dx + [u(x)] dx + [u(x)]2 dx.
x0 −δ a b−δ
Como u(x) é seccionalmente contínua, então ela é limitada, ou seja, existe M > 0 tal que
|u(x)| ≤ M. Pela maneira em que U (x) foi construída, tem-se também que |U (x)| ≤ M. Portanto,
segue-se da desigualdade triangular que
= 4M · (2δ ) = 8M 2 · δ .
2
Lembrando que
Z x0 +δ Z a+δ Z b
2 2 2
kU − uk = K [U (x) − u(x)] dx + [u(x)] dx + [u(x)]2 dx,
x0 −δ a b−δ
obtém-se Z a+δ Z b
kU − uk2 ≤ K · (8M 2 · δ ) + [u(x)]2 dx + [u(x)]2 dx
a b−δ
Z a+δ Z b
≤ 8KM 2 · δ + M 2 dx + M 2 dx
a b−δ
Z a+δ Z b
2 2 2
≤ 8KM · δ + M dx + M dx
a b−δ
A constante h será fixada mais adiante. A função V (x) está definida, portanto, para todo x e
V (x) ≡ 0 para x ∈ [a, a + δ/2] ∪ [b − δ/2, b] como desejado. Assim, pelo teorema fundamental
do Cálculo, segue-se que
C.9 Condições suficientes para completude 769
x1 +h
0 1 1
V (x1 ) = · U (x) = [U (x1 + h) − U (x1 − h)] .
2h x1 −h 2h
Portanto, segue-se daí que V (x) tem uma derivada contínua para todo x. Além disso, tem-se
que
Z x1 +h
1
V (x1 ) − U (x1) = U (x) dx − U (x1)
2h x1 −h
Z x1 +h
1 1
= U (x) dx − · U (x1) · (2h)
2h x1 −h 2h
Z
1 x1+h 1
= U (x) dx − · U (x1) · [(x1 + h) − (x1 − h)]
2h x1 −h 2h
Z Z x1 +h
1 x1+h 1
= U (x) dx − · U (x1) dx
2h x1 −h 2h x1 −h
Z x1 +h Z x1 +h
1 1
= U (x) dx − U (x1 ) dx
2h x1 −h 2h x1 −h
Z x1 +h
1
(9.1) = [U (x) − U (x1)] dx.
2h x1 −h
na integral do último membro em (9.2). Assim, fazendo f (x) = U (x)−U (x1) e g(x) = 1, obtém-
se
Z x1 +h
2
2 1
[V (x1 ) − U (x1)] = 2 [U (x) − U (x1)] dx
4h x1 −h
Z x1 +h
2
1
= 2 [U (x) − U (x1)] · 1 dx
4h x1 −h
Z x1 +h
Z x1 +h
1 2 2
≤ 2 [U (x) − U (x1)] dx 1 dx
4h x1 −h x1 −h
Z x1 +h
x1+h
1 2
= [U (x) − U (x1)] dx · x
4h2 x1 −h x1 −h
770 C Série de Fourier generalizada
Z x1 +h
1 2
= 2 [U (x) − U (x1)] dx · [(x1 + h) − (x1 − h)]
4h x1 −h
Z
2h x1+h
= [U (x) − U (x1)]2 dx
4h2 x1 −h
Z
1 x1+h
= [U (x) − U (x1)]2 dx.
2h x1 −h
Portanto,
Z b
2
kV − U k = [V (x1 ) − U (x1 )]2 dx1
a
Z b Z x1 +h
1 2
≤ [U (x) − U (x1)] dx dx1
a 2h x1−h
Z b Z x1 +h
1
(9.3) = [U (x) − U (x1)]2 dx dx1.
2h a x1 −h
Portanto, segue-se de (9.3) e o teorema da mudança de variáveis para integrais duplas que
Z b Z x1 +h
1
kV − U k ≤ 2
[U (x) − U (x1)]2 dx dx1
2h a x1 −h
Z hZ b
1
= [U (α − β ) − U (α )]2 · | J | d α d β
2h −h a
Z hZ b
1
= [U (α − β ) − U (α )]2 d α d β .
2h −h a
C.9 Condições suficientes para completude 771
Agora faça
Z b
H(β ) = [U (α − β ) − U (α )]2 d α .
a
Observe que
Z b
H(0) = [U (α − 0) − U (α )]2 d α
a
Z b
= 0 d α = 0.
a
Além disso, H(β ) é uma função contínua, pois a função U é contínua. O teorema do valor
médio para integrais afirma que: Se f : [c, d] → R é contínua, então existe x∗ ∈ (c, d) tal que
Z d
f (x) dx = f (x∗ ) · (d − c). Usando este teorema, conclui-se que
c
Z h Z b
1
2 2
kV − U k ≤ [U (α − β ) − U (α )] d α d β
2h −h a
Z h
1
= H(β ) d β
2h −h
média para u(x). Portanto, as somas parciais dessa série de Fourier também converge em média
para v(x). Assim, uma soma parcial Sn(x) = w(x) pode ser escolhida de modo que kv− wk < ε/4.
A função w(x) é precisamente a combinação linear procurada, pois, pela desigualdade trian-
gular (k f + gk ≤ k f k + kgk), conclui-se que
ku − wk = k(u − U ) + (U − V ) + (V − v) + (v − w)k
≤ ku − U k + kU − V k + kV − vk + kv − wk
ε ε ε ε
< + + + = ε.
4 4 4 4
Observa-se que a demonstração do teorema 9.1 mostra que a hipótese (a) pode ser omitida se
na hipótese (b) for substituída a expressão “uniformemente convergente” por “convergente em
média para v(x)”.
onde cn e c0n são os coeficientes de Fourier para as funções u(x) e v(x), respectivamente, em
relação ao conjunto {un(x)}.
D EMONSTRAÇÃO : Suponha que
Z b ∞
(u, v) =
a
u(x) · v(x) dx = ∑ cn · c0n kun k2,
n=1
seja verdadeiro.
Fazendo v(x) = u(x), obtém-se
∞
kuk2 = (u, u) = ∑ cn · cn kunk2
n=1
∞
= ∑ c2n kunk2 ,
n=1
que é a identidade de Parseval para u(x). Pela proposição 6.3, a validade da identidade de
Parseval é equivalente à completude. Isso mostra que o conjunto {un (x)} é completo.
C.10 Integração e diferenciação 773
1 1
(u, v) = ku + vk2 − ku − vk2
4 4
Z b Z b
1 1
= [u(x) + v(x)]2 dx − [u(x) − v(x)] dx.
4 a 4 a
Como, por hipótese, o conjunto {un(x)} é completo, segue-se da proposição 6.3 que vale a
identidade de Parseval. Assim, aplica-se a identidade de Parseval para as funções u(x) + v(x) e
u(x) − v(x) na última expressão obtida acima. Tem-se:
Z b Z b
1 1
2
(u, v) = [u(x) + v(x)] dx − [u(x) − v(x)] dx
4 a 4 a
∞ ∞
1 2 1 2
=
4 ∑ cn + c0n kun k2 − 4 ∑ cn − c0n kun k2
n=1 n=1
∞
1
= ∑ c2n + 2cn · c0n + (c0n )2 kunk2 −
4 n=1
∞
1 2
− ∑ cn − 2cn · c0n + (c0n )2 kun k2
4 n=1
∞
1
=
4 ∑ 4cn · c0n kun k2
n=1
∞
= ∑ cn · c0n kunk2 ,
n=1
(a, b) = a1 · b1 + a2 · b2 + · + an · · ·bn
Teorema 10.2: Seja {un(x)} um conjunto ortonormal completo, com x ∈ [a, b]. Sejam u :
[a, b] → R uma função seccionalmente contínua e v : [x1, x2 ] → R uma função seccionalmente
∞
contínua, onde a ≤ x1 < x2 ≤ b. Seja ∑ cn · un(x) a série de Fourier generalizada de u(x) em
n=1
relação ao conjunto {un(x)}. Então,
Z x2 ∞ Z x2
x1
u(x) · v(x) dx = ∑ cn x1
v(x) · un (x) dx.
n=1
D EMONSTRAÇÃO : Inicia-se fazendo uma extensão da função v(x) a todo o intervalo [a, b].
Seja v : [a, b] → R a extensão de v, que é definida por
(
v(x), para x ∈ (x1 , x2),
v(x) =
0, para x ∈ [a, x1] ∪ [x2, b].
Deste modo é possível aplicar o resultado do teorema 10.2, que é a segunda forma da identi-
dade de Parseval, isto é,
∞ Z b
∑ cn · c0n kunk2 = u(x) · v(x) dx
n=1 a
Z x1 Z x2 Z b
= u(x) · v(x) dx + u(x) · v(x) dx + u(x) · v(x) dx
a x1 x2
Z x2
(10.4) = u(x) · v(x) dx.
x1
Por outro lado, como o conjunto {un (x)} é ortonormal, tem-se que os coeficientes c0n são
dados por
(v, un) ,
c0n =
kunk2
de modo que
(v, un)
c0n kun k2 = · kunk2 = (v, un)
kun k2
Z b
= v(x) · un (x) dx
a
Z x1 Z x2 Z b
= v(x) · un (x) dx + v(x) · un (x) dx + v(x) · un (x) dx
a x1 x2
Z x2
(10.5) = v(x) · un (x) dx.
x1
Z x2 ∞
x1
u(x) · v(x) dx = ∑ cn · c0n kunk2
n=1
∞ Z x2
= ∑ cn x1
v(x) · un (x) dx ,
n=1
O teorema 10.2 afirma que a integral no primeiro membro pode ser calculada por integração
∞
termo a termo na série ∑ cn · v(x) · un (x). Isto é surpreendente, uma vez que não há hipótese
n=1
alguma sobre convergência da série antes da integração. Muito menos é exigido que se tenha
convergência uniforme, que é uma noção de convergência muito forte e restritiva.
Corolário 10.1: Seja {un (x)} um conjunto ortonormal completo, com x ∈ [a, b]. Sejam u :
[a, b] → R uma função seccionalmente contínua e v : [x1, x2 ] → R uma função seccionalmente
∞
contínua, onde a ≤ x1 < x2 ≤ b. Seja ∑ cn · un(x) a série de Fourier generalizada de u(x) em
n=1
relação ao conjunto {un(x)}. Então,
Z x2 ∞ Z x2
x1
u(x) dx = ∑ cn x1
un(x) dx,
n=1
ou seja, é permitido integrar termo a termo toda a série de Fourier generalizada em relação a um
sistema ortogonal completo {un (x)}.
D EMONSTRAÇÃO : O teorema 10.2 assegura que
Z x2 ∞ Z x2
x1
u(x) · v(x) dx = ∑ cn x1
v(x) · un (x) dx.
n=1
x1
u(x) dx = ∑ cn x1
un(x) dx,
n=1
Observa-se que a derivação termo a termo na série de Fourier exige muita atenção e cuidado,
nem sempre ela pode ser aplicada. Como exemplo, considere a série dada por
∞
sen (nx) sen (2x) sen (nx)
∑ = sen x + + ···+ +···
n=1 n 2 n
1
a0 = 0, an = 0 e bn = ·
n
Pela identidade de Parseval,
a20 ∞ ∞ ∞
1
+ ∑ a2n + b2n = ∑ b2n = ∑ 2
2 n=1 n=1 n=1 n
1 1 1
= 1 + + + ···+ 2 + ···
4 9 n
que é uma série convergente.
Como a série dos quadrados dos coeficientes é convergente, então esta série é de Fourier.
Porém, observe o que ocorre ao derivar a série termo a termo:
d ∞ sen (nx) ∞
d sen (nx)
∑ n = ∑ dx
dx n=1 n
n=1
∞ ∞
cos(nx)
= ∑ n· = ∑ cos(nx)
n=1 n n=1
a0 = 0, an = 1 e bn = 0.
a20 ∞ ∞
+ ∑ a2n + b2n = ∑ a2n
2 n=1 n=1
No adendo B foi apresentado o teorema de Fourier, que trata da convergência pontual da série
de Fourier. Com as ferramentas apresentadas neste adendo C é possível apresentar condições
suficientes sobre uma função f , periódica de período T = 2L, que garantam a convergência
uniforme de sua série de Fourier. A ideia consiste em aplicar o teste M de Weierstrass.
Como nπ x nπ x
an cos = |an | cos ≤ |an|
L L
e nπ x nπ x
bn sen = |bn| sen ≤ |bn |,
L L
então deve-se ver em quais condições a série numérica
∞
(11.1) ∑ (|an | + |bn|)
n=1
converge.
A proposição 9.3 do capítulo 2 diz o seguinte: Se f é uma função periódica de período T = 2L
com derivada primeira contínua e derivada segunda integrável e absolutamente integrável, então
existe uma constante M ≥ 0 tal que
M M
|an| ≤ e |bn| ≤ ·
n2 n2
Aplicando este resultado em (11.1), obtém-se
∞ ∞ ∞
M M 1
∑ (|a n | + |b n |) ≤ ∑ n2 n2
+ = 2M ∑ n2 ,
n=1 n=1 n=1
cuja última série é convergente (veja o exemplo a seguir). Portanto, por comparação, a série
numérica em (11.1) também é convergente.
Porém é possível mostrar que a série em (11.1) ainda converge quando se adota condições
menos restritivas em f .
é convergente.
A série acima é conhecida como série p, para p = 2. Todos os termos desta série são positivos,
de modo que os termos podem ser agrupados sem compromenter a convergência da mesma.
Assim,
∞
1 1 1 1
∑ n2 = 1 + 22 + 32 + · · · + n2 + · · ·
n=1
778 C Série de Fourier generalizada
1 1 1 1 1 1 1
= 2+ 2+ 2 + 2+ 2+ 2+ 2 +
1 2 3 4 5 6 7
1 1 1
+ + + · · · + +···
82 92 152
1 1 1 1 1 1 1
< 2+ 2+ 2 + 2+ 2+ 2+ 2 +
1 2 2 4 4 4 4
1 1 1
+ 2
+ 2 + ···+ 2 + ···
8 8 8
2 4 8 2n−1
= 1+ + + + · · · + +···
22 42 82 (2n−1)
2
1 1 1 1
= 1 + + + + · · · + n−1 + · · ·
2 4 8 2
∞
1
= ∑ n−1 ·
n=1 2
A última série acima é uma série geométrica cuja razão é 1/2. Portanto, a última série é
∞ ∞
1 1
convergente. Como ∑ 2 < ∑ n−1 , onde a última série é convergente, então pelo teste da
n=1 n n=1 2
∞
1
comparação segue-se que a ∑ 2 é convergente.
n=1 n
Teorema 11.1 (convergência uniforme 1): Seja f : R → R uma função periódica de período
T = 2L contínua tal que f 0 ∈ L2(R). Então, a série de Fourier de f converge uniformemente
para f .
D EMONSTRAÇÃO : O passo inicial é análogo aquele adotado no início da demonstração da
proposição 9.2 do capítulo 2: integrar por partes os coeficientes de Fourier. Assim, fazendo
u = f (x), du = f 0 (x) dx,
nπ x ⇒
dv = cos , v = L sen nπ x ,
L nπ L
obtém-se
Z L nπ x
1
an = f (x) cos dx,
L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
= · f (x) · sen − f 0 (x) · sen dx
L nπ L −L nπ −L L
Z nπ x
1 1 L 0
= [ f (L) · sen (nπ ) − f (−L) · sen (−nπ )] − f (x) · sen dx
nπ nπ −L L
Z nπ x Z nπ x
1 L 0 L 1 L 0
=− f (x) · sen dx = − f (x) · sen dx
nπ −L L nπ L −L L
C.11 Convergência uniforme da série de Fourier 779
L 0
(11.2) =− b ,
nπ n
onde usou-se o fato de a função seno ser ímpar e sen (nπ ) = 0.
Analogamente, faz-se o mesmo para os coeficientes bn . Fazendo
u = f (x), du = f 0 (x) dx,
nπ x ⇒
dv = sen , v = − L cos nπ x ,
L nπ L
obtém-se
Z L nπ x
1
bn = f (x) sen dx,
L −L L
" #
1 L nπ x L L
Z L nπ x
+ 0
= − · f (x) · cos f (x) · cos dx
L nπ L −L nπ −L L
Z nπ x
1 1 L 0
= − [ f (L) · cos(nπ ) − f (−L) · cos(−nπ )] + f (x) · cos dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
cos(nπ ) 1 L 0
= [ f (L) − f (−L)] + f (x) · cos dx
nπ nπ −L L
Z nπ x
L 1 L 0
= f (x) · cos dx
nπ L −L L
L
(11.3) = − a0n ,
nπ
onde usou-se o fato de a função cosseno ser par. Além disso, usou-se a periodicidade de f para
concluir que f (L) − f (−L) = 0, isto é, fazendo x = −L, tem-se
n
L 1 0 L 1
= ∑ · · |bk | + · · |a0n|
k=1 π k π k
L n 1 0
(11.5) = ∑ |ak | + |b0k| .
π k=1 k
Como a desigualdade obtida em (11.9) é válida para todo n ∈ N, segue-se daí que
√ !1/2 " #1/2
∞ ∞ ∞
2L 1
(11.10) ∑ (|an| + |bn|) ≤ ∑ n2 ∑ |a0n|2 + |b0n| 2
.
n=1 π n=1 n=1
é convergente.
Portanto, a série no primeiro membro de (11.10),
∞
∑ (|an| + |bn|) ,
n=1
Escrevendo nπ x nπ x
un (x) = an cos + bn sen ,
L L
obtém-se nπ x nπ x
|un(x)| = an cos + bn sen
L L
nπ x nπ x
≤ an cos + bn sen
L L
nπ x nπ x
= |an| cos + |bn| sen
L L
= |an| + |bn| = Mn ,
onde Mn = |an | + |bn|.
782 C Série de Fourier generalizada
Isso mostra |un (x)| ≤ Mn para todo n ∈ N. Além disso, Mn ≥ 0 para todo n ∈ N. A de-
∞
sigualdade em (11.10) mostra que a série ∑ α n é convergente. Portanto, tem-se que a série de
n=1
∞
funções ∑ un (x) converge normalmente.1
n=1
O passo seguinte consiste em aplicar o teste M de Weierstrass. Ele diz o seguinte: Seja
∞
∑ un (x) uma série de funções un : I → R definidas em um subconjunto I ⊂ R que converge
n=1
∞
normalmente. Então, a série de funções ∑ un(x) converge uniforme e absolutamente em I.
n=1
∞
Pelo teste M de Weierstrass, a série de funções ∑ un (x) converge uniformemente. Então a
n=1
série de Fourier, pelo o que foi exposto acima, também converge uniformente. Isto demonstra o
teorema.
Observação 11.1: Note que o teorema 11.1 toma como hipótese uma função f contínua em
R, mas permitindo que a função derivada primeira, f 0 (x), possa ser descontínua, mesmo que se
torne ilimitada nas vizinhanças de alguns pontos isolados. Se f for descontínua em um ponto
x0 , então a série de Fourier não poderá convergir uniformemente para f em nenhum intervalo
que contenha x0 . Isto se deve ao seguinte fato: o limite uniforme de uma sequência de funções
contínuas é uma função contínua. E aqui se fala sobre a sequência de somas parciais {Sn (x)}.
Portanto, para que se tenha a convergência uniforme da série de Fourier em todo R, a função f
deve ser necessariamente contínua.
Se f for contínua em um intervalo fechado e limitado [a, b], a série de Fourier da função f
convergiria uniformemente para f neste intervalo? A resposta é sim e está presente no próximo
teorema. Antes, serão apresentado alguns lemas, que serão usados em sua demonstração.
O lema a seguir mostra que uma determinada função, descontínua em vários pontos, converge
uniformemente em certos intervalos. Na verdade este lema é um caso particular do próximo
teorema.
∞
1 Sejam un : I → R funções definidas em um subconjunto I ⊂ R. Diz-se que a série de funções un (x) converge
∑
n=1
∞
normalmente se existir uma sequência de constantes a0 ≥ 0 tais que a série numérica ∑ an converge e |un (x)| ≤ an para
n=1
todo n ∈ N e todo x ∈ I.
C.11 Convergência uniforme da série de Fourier 783
1 x ,
− 1+ −L ≤ x < 0,
2
L
(11.11) ϕ (x) = 0, para x = 0,
1 1− x ,
0 < x ≤ L.
2 L
Então, a série de Fourier para ϕ é
1 ∞ nπ x
ϕ (x) ∼ ∑ sen ·
π n=1 L
D EMONSTRAÇÃO : Inicia-se observando que esta série nunca convergirá uniformente em R,
pois sua soma é uma função descontínua ϕ (x). Por outro lado, mostrar-se-á que a série de
Fourier para ϕ converge uniformemente em todo intervalo (−a, a) tal que 0 < a < L.
Em seguida, determinar-se-á a série de Fourier para a função ϕ . Observando que ϕ é uma
função ímpar, então os coeficientes a0 = an = 0, de modo que basta calcular os coeficintes bn.
Assim, fazendo
u = x, du = dx,
nπ x ⇒
dv = sen dx, v = − L cos nπ x ,
L nπ L
obtém-se Z nπ x Z nπ x
1 L 2 L
bn = ϕ (x) sen dx = ϕ (x) sen dx
L −L L L 0 L
Z
2 L1 x nπ x
= 1− · sen dx
L 0 2 L L
Z nπ x Z nπ x
1 L 1 L
= sen dx − 2 x · sen dx
L 0 L L 0 L
1 nπ x L
=− cos −
nπ L 0
" #
1 L nπ x L L Z L nπ x
− 2 − · x · cos + cos dx
L nπ L 0 nπ 0 L
1 1
=− [cos(nπ ) − cos 0] + [L · cos(nπ ) − 0 · cos 0] −
nπ nπ L
1 L L nπ x L
− 2· · · sen
L nπ nπ L 0
1 1 1
=− [(−1)n − 1] + (−1)n − 2 2 [ sen (nπ ) − sen 0]
nπ nπ n π
1 1 1 1 ,
= − (−1)n + + (−1)n =
nπ nπ nπ nπ
n
onde usou-se os fatos que cos(nπ ) = (−1) e sen (nπ ) = sen 0 = 0.
Portanto, a série de Fourier para ϕ é
784 C Série de Fourier generalizada
1 ∞ 1 nπ x
ϕ (x) ∼ ∑ sen ·
π n=1 n L
O próximo lema é conhecido como fórmula de Abel de adição por partes, uma vez que ela
corresponde a fórmula para integração por partes.
n
Lema 11.2 (Abel): Sejam {an } e {bn} duas sequências e Bn = ∑ bk a soma parcial. Se
k=1
n > m, então,
n n−1
(11.12) ∑ ak bk = (an Bn − am+1Bm ) + ∑ (ak − ak+1)Bk .
k=m+1 k=m+1
para k = 1, 2, . . .
Então, o primeiro membro de (11.12) pode ser escrito na seguinte forma:
n n
(11.13) ∑ ak bk = ∑ ak (Bk − Bk−1).
k=m+1 k=m+1
Agora escreva
n
∑ ak (Bk − Bk−1) = am+1(Bm+1 − Bm ) + am+2 (Bm+2 − Bm+1 ) +
k=m+1
Como o segundo membro de (11.13) é igual ao primeiro membro de (11.14), segue-se que
n n−1
∑ ak (Bk − Bk−1) = (an Bn − am+1 Bm ) + ∑ (ak − ak+1)Bk ,
k=m+1 k=m+1
C.11 Convergência uniforme da série de Fourier 785
converge uniformemente em cada intervalo que não contenha pontos da forma x = 2nL, com
n ∈ Z.
D EMONSTRAÇÃO : Considere a seguinte série de funções complexas:
∞
e inθ ,
(11.16) ∑
n=1 n
onde θ = π x/L.
Usando a fórmula de Euler, e inθ = cos(nθ ) + i sen (nθ ), com θ = π x/L, obtém-se
e inθ 1 nπ x 1 nπ x
= cos + i sen ,
n n L n L
donde
∞
e inθ ∞
1 nπ x ∞
1 nπ x
∑ = ∑ cos + i ∑ sen ·
n=1 n n=1 n L n=1 n L
Assim, se for demonstrado que a série complexa em (11.12) converge, então estará demon-
strado que as séries que representam suas partes real e imaginária, isto é,
∞
1 nπ x ∞
1 nπ x
∑ cos e ∑n sen ,
n=1 n L n=1 L
Deste modo, o lema estará demonstrado se for mostrado que, para qualquer δ > 0, a série em
(11.12) converge uniformente para 0 < δ ≤ | x | ≤ L. Para isso, será demonstrado que a série
∞
e inθ ,
∑
n=1 n
ik θ iθ 2iθ i(k−1)θ ik θ iθ 2iθ i(k−1)θ
e = e +e + ···+ e +e − e +e + ···+ e
k k−1
= ∑ e i jθ − ∑ e i jθ = Ek (θ ) − Ek−1(θ ),
j=1 j=1
Fazendo
1
ak = e Bk = Ek (θ ),
k
segue-se que
n n
e ikθ 1
∑ = ∑ [Ek (θ ) − Ek−1(θ )]
k=m+1 k k=m+1 k
= (lema 11.2)
n−1
En (θ ) Em (θ ) 1 1
(11.18) = − + ∑ − Ek (θ ).
n m+1 k=m+1 k k + 1
isto é,
e iθ − e i(n+1)θ
(11.19) En (θ ) = ·
1 − e iθ
Além disso, da fórmula de Euler e da identidade trigonométrica, respectivamente,
iθ 2 θ 1 − cos θ ,
e = cos θ + i sen θ e sen =
2 2
segue-se que
iθ
1 − e = |1 − (cos θ + i sen θ )| = |(1 − cos θ ) + i sen θ |
C.11 Convergência uniforme da série de Fourier 787
q
= (1 − cos θ )2 + ( sen θ )2
p
= 1 − 2 cos θ + cos2 θ + sen 2 θ
p q
= 2(1 − cos θ ) = 2 · 2 sen 2 (θ/2)
q
= 4 · sen 2 (θ/2) = 2 | sen (θ/2)| .
Porém, como 0 < θ < 2π , tem-se que 0 < θ/2 < π , de modo que o valor do seno no último
membro acima é sempre não negativo, ou seja, o seu valor absoluto é igual a ele mesmo. Logo,
(11.20) 1 − e iθ = 2 sen (θ/2) .
Usando (11.20) e o fato e i(n+1)θ = 1 em (11.19), obtém-se a seguinte estimativa:
i(n+1)θ i(n+1)θ
1 − e i(n+1)θ 1 − e 1 + e
≤
|En (θ )| = i =
1−e θ 1 − e iθ 1 − e iθ
2 (11.19) 2
= =
1 − e iθ 2 sen (θ/2)
1
(11.21) = ·
sen (θ/2)
Assim, aplicando (11.21) em (11.18), obtém-se
n e ikθ n−1 1 1
En (θ ) Em (θ )
∑ = ∑ − Ek (θ ) + −
k=m+1 k k=m+1 k k + 1 n m+1
n−1 1 1
E (θ ) E (θ )
n + m
= ∑ − Ek (θ ) +
k=m+1 k k + 1 n m+1
n−1
1 1
|Ek (θ )| + |En (θ )| + |Em (θ )|
≤ ∑ −
k=m+1
k k+1 n m+1
(11.21) n−1 1 1 1 1 1 1 1
≤ ∑ k − k + 1 sen (θ/2) + sen (θ/2) · n + sen (θ/2) · m + 1
k=m+1
" #
n−1
1 1 1 1 1
= ∑ k − k+1 + n + m+1
sen (θ/2) k=m+1
"
1 1 1 1 1
= − + − +···
sen (θ/2) m+1 m+2 m+2 m+3
#
1 1 1 1 1 1
···+ − + − + +
n−2 n−1 n−1 n n m+1
788 C Série de Fourier generalizada
1 1 1 1 1
= − + +
sen (θ/2) m + 1 n n m + 1
2
(11.22) = ·
(m + 1) sen (θ/2)
Logo, para 0 < ε ≤ θ ≤ π , segue-se que
n e ikθ 2
∑ ≤ ·
k=m+1 k (m + 1) sen (ε/2)
Teorema 11.2 (convergência uniforme 2): Seja f : R → R uma função periódica de período
T = 2L, seccionalmente contínua e tal que f 0 ∈ L2(R). Então, a série de Fourier de f con-
verge uniformemente para f em todo intervalo fechado e limitado que não contenha pontos de
descontinuidade de f .
D EMONSTRAÇÃO : Sejam x1 , . . ., xk os pontos do intervalo [−L, L) onde f é descontínua e
sejam ω1 , . . ., ωk os saltos da função f nestes pontos de descontinuidade, isto é,
Observação 11.2: Será comentado aqui as ideias usadas nas demonstrações dos lemas ante-
riores. Na verdade, os três lemas poderiam ser unificado em um único resultado: que a função
ϕ (do lema 11.1) tem uma série de Fourier (lema 11.3) que converge uniformemente nos in-
tervalos que não contém seus pontos de descontinuidade. Ou seja, é um caso particular e um
resultado mais geral e que será objeto do próximo teorema.
Seja u : R → R uma função periódica de período T = 2L definida por
L x x2
− − ,
−L ≤ x ≤ 0,
(11.23) u(x) = 2 2 4L
2
L+x− x ,
0 < x < L.
2 2 4L
A função u é contínua. Os pontos que merecem atenção especial são x = ±L e x = 0, pois
nos demais pontos do intervalo [−L, L) a função é polinomial e, portanto, contínua. Tem-se:
L x x2 L L L 3L
lim u(x) = lim − − = + − = ,
x→−L+ x→−L+ 2 2 4L 2 2 4 4
L x x2 L L L 3L
lim u(x) = lim + − = + − = ,
x→L− x→L− 2 2 4L 2 2 4 4
L x x2 L
lim u(x) = lim − − = ,
x→0 − x→0 − 2 2 4L 2
L x x2 L
lim u(x) = lim + − = ·
x→0 + x→0 + 2 2 4L 2
Isto mostra que u é contínua no intervalo [−L, L). Mas como u é periódica de período T = 2L,
segue-se que u é contínua em todos os pontos de R.
Tem-se também que u0 ∈ L2(R). Novamente, basta considerar os pontos x = ±L e x = 0
calcular as derivadas laterais. Para x = −L, tem-se
u(−L + h) − u(−L)
u0+ (−L) = lim
h→0+ h
790 C Série de Fourier generalizada
1 L −L + h (−L + h)2 L −L (−L)2
= lim − − − + +
h→0+ h 2 2 4L 2 2 4L
1 h h h2 h
(11.24) = lim − + + = lim = 0.
h→0+ h 2 2 4L h→0+ 4L
Para x = L, tem-se
u(L + h) − u(L)
u0− (L) = lim
h→0− h
1 L L + h (L + h)2 L L (L)2
= lim + − − − +
h→0− h 2 2 4L 2 2 4L
1 h h h2
= lim − −
h→0− h 2 2 4L
h
(11.25) = lim − = 0.
h→0− 4L
Para x = 0 deve-se calcular as duas derivadas laterais: u0− (0) e u0− (0). Tem-se:
u(0 + h) − u(0)
u0− (0) = lim
h→0− h
1 L h h2 L 0 02
= lim − − − + +
h→0− h 2 2 4L 2 2 4L
1 h h2 1 h 1
(11.26) = lim − − lim − − =− ·
h→0− h 2 4L h→0− 2 4L 2
e
u(0 + h) − u(0)
u0+ (0) = lim
h→0+ h
1 L h h2 L 0 02
= lim + − − − +
h→0+ h 2 2 4L 2 2 4L
1 h h2 1 h 1
(11.27) = lim − lim − = ·
h→0 h 2
+ 4L h→0 2 4L
+ 2
Nos demais pontos do intervalo [−L, L) a derivada pode ser calculada diretamente. Assim,
para x ∈ (−L, 0), tem-se
1 x 1 x ,
(11.28) u0 (x) = − − = − 1+
2 2L 2 2
e para x ∈ (0, L)
0 1 x 1 x
(11.29) u (x) = − − = 1− .
2 2L 2 2
Reunindo os resultados obtidos nas equações de (11.24)–(11.29) pode-se escrever uma rep-
resentação para u0 (x):
C.11 Convergência uniforme da série de Fourier 791
1 x,
− 1 + −L ≤ x < 0,
2
2
u0 (x) = 0, x = 0,
1 1− x ,
0<x<L
2 2
onde se definiu a derivada de u em x = 0 como sendo u0 (0) = 0, uma vez que u0 (x) é descontínua
neste ponto.
Fazendo uma extensão periódica de período T = 2L na função u0 (x), segue-se que a mesma
será exatamente a função ϕ (x) do lema 11.1 e que também foi usada na demonstração do teo-
rema 11.2.
Como u é contínua, então ela é integrável no intervalo [−L, L). Além disso, é fácil calcular
a integral de |u(x)|2 . Isto mostra que u ∈ L2([−L, L)). E, consequentemente, a sua extensão
periódica de período T = 2L também.
Agora avança-se mais um pouco e determina-se a série de Fourier para a função u definida
em 11.23) e que é periódica de período T = 2L. Usando a própria definição da função u, é fácil
verificar que a mesma é uma função par, de modo que basta calcular os coeficientes a0 e an,
uma vez que todos os bn serão nulos. Tem-se:
Z Z
2 L 2 L L x x2
a0 = u(x) dx = + − dx
L 0 L 0 2 2 4L
2 Lx x2 x3 L
= + −
L 2 4 12L 0
2 L2 L2 L3 2 6L2 3L2 L2
= + − = + −
L 2 4 12L L 12 12 12
4L
(11.30) = ·
3
Em seguida calcula-se os coeficienets an , onde será necessário fazer integração por partes.
Tem-se:
Z L nπ x Z L nπ x
2 2 L x x2
an = u(x) cos dx = + − cos dx
L 0 L L
0 2 2 4L L
Z L nπ x Z nπ x Z L nπ x
1 L 1
= cos dx + x · cos dx − 2 x2 · cos dx
0 L L 0 L 2L 0 L
" #
L nπ x L 1 L nπ x L L Z L nπ x
= · sen + · x · sen − sen dx −
nπ L 0 L nπ L 0 nπ 0 L
" #
1 L 2 nπ x L 2L Z L nπ x
− · x · sen − x · sen dx
2L2 nπ L 0 nπ 0 L
L 1 L nπ x L
= [ sen (nπ ) − sen 0] + [L · sen (nπ ) − 0 · sen 0] + 2 2 cos −
nπ nπ n π L 0
792 C Série de Fourier generalizada
Z L nπ x
1 2 2
1
− L · sen (nπ ) − 0 · sen 0 + x · sen dx
2nπ L nπ L 0 L
" #
L 1 L nπ x L L Z L nπ x
= 2 2 [cos(nπ ) − cos 0] + − · x · cos + cos dx
n π nπ L nπ L 0 nπ 0 L
L 1 L nπ x L
n
= 2 2 [(−1) − 1] − 2 2 [L · cos(nπ ) − 0 · cos 0] + 3 3 sen
n π n π n π L 0
L L L L
= (−1)n − − (−1)n + [ sen (nπ ) − sen 0]
n2 π 2 n2 π 2 n2 π 2 n3 π 3
L
(11.31) =− ·
n2 π 2
Usando (11.30) e (11.31), segue-se que a série de Fourier para u,
∞ h nπ x nπ x i
a0 ,
u(x) ∼ + ∑ an cos + bn sen
2 n=1 L L
é dada por
2L L ∞ cos nπL x
(11.32) u(x) ∼ − 2 ∑ ·
3 π n=1 n2
Assim, esta proposição responde afirmativa à questão posta, caso x esteja em um intervalo
em que a série das derivadas converge uniformemente. Deste modo, passa-se a derivação termo
a termo da série em (11.32), mas derivando em intervalos que não contenha os pontos na forma
x = ±2Ln, n = 0, 1, 2, . . . Tem-se:
" #
d 2L L ∞ cos nπL x L ∞ 1 d nπ x
− 2 ∑ = − 2 ∑ 2 · cos
dx 3 π n=1 n2 π n=1 n dx L
L ∞ 1 nπ nπ x
= 2 ∑ 2· − sen
π n=1 n L L
1 ∞ sen nπL x
= ∑ ·
π n=1 n
Observe-se que a série acima, obtida por derivação termo a termo da série de Fourier para a
função u(x), é examente a série de Fourier para a função ϕ (x) que foi obtida no lema 11.1.
Também deve ser notado que em pontos da forma x = ±2Ln, n = 0, 1, 2, . . ., a série acima
não converge uniformemente, como já comentado anteriormente. Por outro lado, nestes pontos
a série, que passa a ser numérica, converge para zero, pois os senos se anulam. E, neste caso,
é notável que, mesmo tendo ϕ (x) = u0 (x) um salto de −1/2 até 1/2 nestes pontos, ainda assim a
série converge para a média destes limites laterais, no caso para o valor zero. Como exemplo,
observe tal salto em x = 0, a periodicidade de ϕ = u0 justifica os saltos nos demais pontos.
Adendo D
Equação de Laplace: estudo mais geral
Lema 1.1: Seja Ω ⊂ R2 uma região do tipo 1, isto é, uma região fechada e limitada que é
descrita simultaneamente nas seguintes formas:
(1.1) Ω = (x, y) ∈ R2 | a ≤ x ≤ b, e f1 (x) ≤ y ≤ f2 (x) ,
e
(1.2) Ω = (x, y) ∈ R2 | c ≤ x ≤ d, e g1 (y) ≤ y ≤ g2 (y) ,
onde f1 (x) e f2 (x) são funções de classe C1 no intervalo [a, b] que satisfazem f1 (x) ≤ f2 (x) e
onde g1(y) e g2(y) são funções de classe C1 no intervalo [c, d] que satisfazem g1(y) ≤ g2 (y). A
fronteira ∂ Ω de Ω está orientada positivamente (no caso, no sentido anti-horário) e é percorrida
apenas uma vez.
Se F (x, y) = (F1 (x, y), F2 (x, y)) é um campo vetorial de classe C1 em um subconjunto aberto
que contém Ω, então
Z ZZ
∂ F2 ∂ F1
F1 (x, y) dx + F2(x, y)dy = − dx, dy.
∂Ω Ω ∂x ∂y
D EMONSTRAÇÃO : Um exemplo de região simples pode ser vista através da figura 1.1. A
fronteira ∂ Ω de Ω formada por dois caminhos que são gráficos de duas funções.
Para a região dada em (1.1), a fronteira ∂ Ω de onda pode ser descrita pela união de duas
curvas que podem ser parametrizadas por
795
796 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Assim, a integral de linha de F1 (x, y) sobre ∂ Ω, fronteira de Ω dado em (1.1), é dada por
Z Z Z Z
F1 (x, y) dx = F1 (x, y) dx = F1 (x, y) dx + F1 (x, y) dx
∂Ω C1 ∪C2 C1 C2
Z b Z a
= (F1 [σ 1 (x)], 0) · σ 01 (x) dx + (F1 [σ 2(y)], 0) · σ 02 (y) dy
a b
Z b Z b
= (F1 [σ 1 (x)], 0) · σ 01 (x) dx − (F1 [σ 2(y)], 0) · σ 02 (y) dy +
a a
Z b
= (F1 (x, f1 (x)), 0) · (1, f10 (x)) dx −
a
Z b
− (F1 (x, f2 (x)), 0) · (1, f20 (x)) dx
a
Z b Z b
= F1 (x, f1 (x)) dx − F1 (x, f2 (x)) dx
a a
Z b
(1.3) =− [F1 (x, f2 (x)) − F1 (x, f1 (x))] dx.
a
Para a região dada em (1.2), a fronteira ∂ Ω de onda pode ser descrita pela união de quatro
curvas que podem ser parametrizadas por
Assim, a integral de linha de F2 (x, y) sobre ∂ Ω, fronteira de Ω dado em (1.2), é dada por
Z Z
F2 (x, y) dx = F2 (x, y) dy
∂Ω C1 ∪C2
Z Z
= F2 (x, y) dy + F2 (x, y) dy
C1 C2
D.1 Revisão dos teorema de Green e Gauss 797
Z c Z d
= (F2 [σ 1 (x)], 0) · σ 01 (y) dy + (F2 [σ 2 (x)], 0) · σ 02 (x) dx
d c
Z d Z d
=− (0, F2 [σ 1 (y)]) · σ 01 (y) dy + (F2 [σ 2(x)], 0) · σ 02 (x) dx +
c c
Z d
=− (0, F2 (g1 (y), y)) · (g01(y), 1) dy +
c
Z d
+ (0, F2(g2 (y), y)) · (g02(y), 1) dy −
c
Z d Z d
=− F2 (g1 (y), y) dy + F2 (g2 (y), y) dy
c c
Z d
(1.4) = [F2 (g2 (y), y) − F2 (g1 (y), y)] dy.
c
Por outro lado, observe agora que a integral dupla pode ser escrita na seguinte forma:
ZZ ZZ ZZ
∂ F2 ∂ F1 ∂ F2 ∂ F1
− dx dy = dx dy + − dx dy.
Ω ∂x ∂y Ω ∂x Ω ∂y
Agora é possível calcular cada integral do segundo membro acima separadamente. Usando
Ω descrito em (1.1), obtém-se
ZZ Z b Z f2 (x)
∂ F1 ∂ F1
− (x, y) dx dy = (x, y) dy dx
−
Ω ∂y a f1 (x) ∂y
Z b f2 (x)
TFC
= −F1 (x, y) dx
a f1 (x)
Z b
= − [F1 (x, f2 (x)) − F1 (x, f1 (x))] dx
a
Z b
=− [F1 (x, f2 (x)) − F1 (x, f1 (x))] dx
a
Z
(1.3)
(1.5) = F1 (x, y) dx.
∂Ω
Teorema 1.1 (Green): Sejam Ω ⊂ R2 uma região fechada e limitada, cuja fronteira ∂ Ω é
uma curva fechada simples (isto é, sem auto-interseção), orientada positivamente e parametri-
zada por uma função de classe C1 por partes, de modo que ∂ Ω seja percorrida apenas uma vez.
Se F (x, y) = (F1 (x, y), F2 (x, y)) é um campo vetorial de classe C1 1 em um subconjunto aberto
que contém Ω, então
Z Z ZZ
∂ F2 ∂ F1
F · drr = F1 dx + F2 dy = − dx dy.
∂Ω ∂Ω Ω ∂x ∂y
Demonstração: Para regiões mais gerais a ideia consiste em decompor tais regiões como
união de regiões simples e aplicar o resultado particular obtido no lema 1.1. Suponha que Ω
seja uma região não simples e que possa ser descrita na forma Ω = Ω1 ∪ Ω2 ∪ · · · ∪ Ωn , onde
cada região Ωk , com k = 1, 2, . . ., n, é do tipo simples e que tem fronteira ∂ Ωk C1 por partes.
Deste modo, é possível aplicar o teorema de Green para regiões simples em cada Ωk , permitindo
escrever ZZ Z
∂ F2 ∂ F1
− dx dy = F1 dx + F2 dy, k = 1, 2, . . ., n.
Ωk ∂x ∂y ∂ Ωk
Portanto,
ZZ ZZ
∂ F2 ∂ F1 ∂ F2 ∂ F1
− dx dy = − dx dy
Ω ∂x ∂y Ω1 ∪Ω2 ∪···∪Ωn ∂x ∂y
ZZ
∂ F2 ∂ F1
= − dx dy +
Ω1 ∂x ∂y
ZZ
∂ F2 ∂ F1
+ − dx dy + · · ·
Ω2 ∂x ∂y
1
Seja X ⊂ R2 aberto. Diz-se que F : X → R2 é um campo vetorial de classe C1 (X) quando todas as derivadas parciais
∂ Fi
das funções coordenadas de F são contínuas em X.
∂xj
D.1 Revisão dos teorema de Green e Gauss 799
ZZ
∂ F2 ∂ F1
···+ − dx dy
Ωn ∂x ∂y
Z
= F1 dx + F2 dy +
∂ Ω1
Z
+ F1 dx + F2 dy + · · ·
∂ Ω2
Z
···+ Fn dx + F2 dy
∂ Ω1
ZZ
= F1 dx + F2 dy,
∂Ω
que é a versão do teorema de Green para regiões mais gerais.
pontos de Ω0 são triplas ordenadas (x, y, 0). Assim sendo, a rigor, as duas regiões não são iguais,
mas a identificação permite que elas sejam observadas como se fosse uma só. Deste modo, por
abuso de notação, continuar-se-á usando a notação Ω no lugar de Ω0 .
Agora defina
σ 0 (t) × k ,
(1.7) n (t) =
|σ 0 (t) × k |
Figura 1.3: n (t) é normal exterior unitário no ponto σ (t), mas pertencente ao plano xy.
Faça σ (t) = (x(t), y(t)), de modo que σ 0 (t) = (x0 (t), y0 (t)). Calculando explicitamente o pro-
duto vetorial em (1.7), obtém-se
i j k
0 0 0
σ (t) × k = x (t) y (t) 0 = y (t), −x (t), 0 .
0 0
0 0 1
A identificação (x, y) 7→ (x, y, 0) tem como inversa a aplicação (x, y, 0) 7→ (x, y) que permite
escrever o vetor n (t) em R2 a partir da fórmula (1.7), ou seja, em R2 tem-se que n (t) é escrito
na forma
1
n (t) = p y0 (t), −x0 (t)
[x0 (t)]2 + [y0 (t)]2
!
y0 (t) −x0 (t)
(1.8) = p , p ·
[x0 (t)]2 + [y0 (t)]2 [x0 (t)]2 + [y0 (t)]2
D.1 Revisão dos teorema de Green e Gauss 801
Convenciona-se, neste texto, que falar em normal exterior se refere ao vetor n definido pela
fórmula (1.8) acima.
Uma curva suave pode ser sempre parametrizada pelo comprimento de arco, pois
ds 0
= σ (t) > 0.
dt
Sejam Ω ⊂ R3, f : Ω → R uma função contínua por partes e C uma curva parametrizada por
σ : [a, b] → Ω de classe C1 . Então a integral de f ao longo de σ em relação ao comprimento de
arco é Z Z b Z L
0
f (x, y)dx =
f [σ (t)] σ (t) dt = f [γ (s)] ds,
C a 0
onde L é o comprimento de σ e γ : [0, L] → Ω dada por γ (s) = σ [t(s)] é a representação de σ
pelo comprimento de arco.
A versão do teorema de Gauss (teorema da divergência) para R2 é dada no resultado abaixo.
Teorema 1.2 (Gauss): Sejam Ω ⊂ R2 uma região fechada e limitada, cuja fronteira ∂ Ω é uma
curva fechada simples (isto é, sem auto-interseção), orientada positivamente e parametrizada
por uma função de classe C1 por partes, de modo que ∂ Ω seja percorrida apenas uma vez. Seja
F : Ω → R2 um campo vetorial dado por F(x, y) = (F1 (x, y), F2 (x, y)) e de classe C1 em um
subconjunto aberto que contém Ω. Então,
Z ZZ
(1.9) F · n ds = F dx dy,
divF
∂Ω Ω
n Z bi
=∑ (F1 (xi (t), yi (t)) , F2 (xi (t), yi (t))) · y0i (t), −x0i (t) dt
i=1 ai
n Z bi
=∑ (F1 [σ i (t)] , F2 [σ i (t)]) · σ 0i (t) dt
i=1 ai
!
n Z bi
1 0
=∑ (F1 [σ i (t)] , F2 [σ i (t)]) · σ 0i (t)
σ 0 (t) σ i (t) dt
i=1 a i i
" #
n Z bi
σ 0 (t)
=∑ (F1 [σ i (t)] , F2 [σ i (t)]) · i0 σ 0i (t) dt
i=1 ai σ i (t)
n Z bi
=∑ [(F1 [σ i (t)] , F2 [σ i (t)]) · ni (t)] σ 0i (t) dt
i=1 ai
n Z L(σ i ) Z
=∑ F · n i ds = F · n ds,
i=1 0 ∂Ω
Teorema 1.3 (Gauss): Seja Ω uma região fechada e limitada em R3, cuja fronteira ∂ Ω é uma
superfície orientada positivamente. Se F = (F1 , F2 , F3) é um campo vetorial de classe C1 em um
subconjunto aberto de R3 que contém Ω, então
ZZ ZZZ
(1.10) F · dSS = F dx dy dz.
divF
∂Ω Ω
D EMONSTRAÇÃO : Suponha que Ω seja uma região simples, ou seja, Ω é uma região dos
tipos 1, 2 e 3 simultaneamente em R3 . Assim sendo, a integral tripla no segundo membro de
(1.10) pode ser escrito na forma
ZZZ ZZZ
∂ F1 ∂ F2 ∂ F3
F dx dy dz =
divF + + dx dy dz
Ω Ω ∂x ∂y ∂z
ZZZ ZZZ ZZZ
∂ F1 ∂ F2 ∂ F3
(1.11) = dx dy dz + dx dy dz + dx dy dz.
Ω ∂x Ω ∂y Ω ∂z
Por outro lado, a integral de superfície no primeiro membro de (1.10) é dada por
ZZ ZZ ZZ
F · dSS = F · n ) ds =
(F [(F1 , F2 , F3) · n ] ds
∂Ω ∂Ω ∂Ω
ZZ
= {[(F1 , 0, 0) + (0, F2, 0) + (0, 0, F3)] · n } ds
∂Ω
ZZ
= [(F1 , 0, 0) · n + (0, F2 , 0) · n + (0, 0, F3) · n] ds
∂Ω
D.1 Revisão dos teorema de Green e Gauss 803
ZZ ZZ ZZ
(1.12) = [(F1 , 0, 0) · n] ds + [(0, F2 , 0) · n] ds + [(0, 0, F3) · n ] ds.
∂Ω ∂Ω ∂Ω
Segue-se de (1.11) e (1.12) que a demonstração estará concluída se for demonstrado a vali-
dade das seguintes identidades:
ZZZ ZZ
∂ F1
(1.13) dx dy dz = [(F1 , 0, 0) · n] ds,
Ω ∂x ∂Ω
ZZZ ZZ
∂ F2
(1.14) dx dy dz = [(0, F2 , 0) · n] ds,
Ω ∂y ∂Ω
ZZZ ZZ
∂ F3
(1.15) dx dy dz = [(0, 0, F3) · n ] ds,
Ω ∂z ∂Ω
Inicia-se demonstrando a identidade (1.15). Para isso, a região Ω será descrita como uma
região do tipo 1, ou seja,
Ω = (x, y, z) ∈ R3 | f1 (x, y) ≤ z ≤ f2 (x, y), (x, y) ∈ D ,
Figura 1.4: Região simples, isto é, uma região dos tipos 1, 2 e 3 simultaneamente.
ZZ
(1.18) [(0, 0, F3) · n 3 ] ds = 0.
S3
A superfície S2 é o gráfico da função z = f2 (x, y), com (x, y) ∈ D, de modo que a mesma pode
ser paramentrizada por
ZZ ZZ
∂ f2 ∂ f2
[(0, 0, F3) · n 2 ] ds = (0, 0, f2(x, y)) · − ,− ,1 dx dy
S2 D ∂x ∂y
ZZ
(1.19) = F3 (x, y, f2 (x, y) dx dy.
D
A superfície S1 é o gráfico da função z = f1 (x, y), com (x, y) ∈ D, de modo que a mesma pode
ser paramentrizada por
As igualdades obtidas em (1.16) e (1.21) têm seus segundos membros expressões iguais, de
modo que seus primeiros membros devem também ser iguais, ou seja, que
ZZZ ZZ
∂ F3
dx dy dz = [(0, 0, F3)] ds,
Ω ∂z ∂Ω
o que mostra a identidade (1.15). As demonstrações das identidades (1.13) e (1.14) são feitas
de maneira análoga. Não será feita aqui para evitar que a demonstração fique muito longa; fica
como exercício para o leitor.
Quando Ω não é uma região simples, então pode-se decompô-la como uma unição finita
de regiões simples, isto é, Ω = Ω1 ∪ Ω2 ∪ · · · ∪ Ωn , de maneira análoga ao que foi feito na
demonstração do teorema de Green. Sejam ∂ Ωk , com k = 1, 2, . . ., n, as fronteiras das regiões
simples Ωk . Então, tem-se que a fronteira de Ω é dada por ∂ Ω = ∂ Ω1 ∪ ∂ Ω2 ∪ · · · ∪ Ωn .
Usando a fórmula (1.10) do teorema de Gauss em cada região simples, obtém-se:
ZZZ ZZZ ZZZ
F dx dy dz =
divF F dx dy dz +
divF F dx dy dz + · · ·
divF
Ω Ω1 Ω2
ZZZ
···+ F dx dy dz
divF
Ωn
ZZ ZZ ZZ
= F · dSS + F · dSS + · · · + F · dSS
∂ Ω1 ∂ Ω2 ∂ Ωn
ZZ
= F · dSS
∂ Ω1 ∪Ω2 ∪···∪Ωn
ZZ
= F · dSS,
∂Ω
Lema 2.1: Sejam Ω ⊂ R3 uma região aberta, u : Ω → R uma função de classe C2 (Ω) e
F : Ω → R3 um campo vetorial de classe C1 (Ω). Então,
F + F · ∇u.
div ( f F ) = u divF
D.2 Identidades de Green 807
Proposição 2.1 (identidades de Green): Seja Ω ⊂ R3 uma região aberta cuja fronteira ∂ Ω é
de classe C1 por partes. Sejam u, v : Ω 2 → R funções de classe C2 Ω . Então valem as seguintes
identidades:
ZZZ ZZ
∂u
(2.1) (v∆u + ∇v · ∇u)dxdy = v ds;
Ω ∂Ω ∂n
ZZZ ZZ
∂u ∂v
(2.2) (v∆u − u∆v) dx dy = v −u ds,
Ω ∂Ω ∂n ∂n
∂
onde denota a derivada exterior, isto é, é a derivada direcional na direção do vetor normal
∂n
n que aponta para o exterior de Ω. As integrais dos primeiros membros são triplas e as dos
segundos membros são integrais de superfície.
D EMONSTRAÇÃO : Para mostrar (2.1), faça F = v∇u. Como u, v ∈ C2 Ω , então F é um
campo vetorial de classe C1 Ω . Assim, pelo lema 2.1, segue-se que
ZZZ ZZZ
(v ∆u − u ∆v)dx dy dz = [(∇v · ∇u + v ∆u)− (∇u · ∇v + u ∆v)] dx dy dz
Ω Ω
ZZZ
= (v ∆u + ∇v · ∇u)dx dy dz −
Ω
ZZZ
− (u ∆v + ∇u · ∇v)dx dy dz
Ω
ZZ ZZ
(2.1) ∂u ∂v
= v ds − u ds
∂Ω ∂n ∂Ω ∂n
D.2 Identidades de Green 809
ZZ
∂u ∂v
= v −u ds,
∂Ω ∂n ∂n
que demonstra a segunda identidade de Green.
Observação 2.1: A versão para R2 das identidades de Green pode assim ser enunciada: Seja
Ω ⊂ R2 uma região aberta cuja fronteira ∂ Ω é de classe C1 por partes. Sejam u, v : Ω → R
funções de classe C2 Ω . Então valem as seguintes identidades:
ZZ Z
∂u
(v∆u + ∇v · ∇u)dxdy = v ds
Ω ∂Ω ∂n
e ZZ Z
∂u ∂v
(v∆u − u∆v) dx dy = v −u ds,
Ω ∂Ω ∂n ∂n
∂
onde denota a derivada exterior, isto é, é a derivada direcional na direção do vetor normal n
∂n
que aponta para o exterior de Ω. Observa-se que as integrais nos primeiros membros são duplas
e as dos segundo membros são integrais de linha.
A demonstração no caso R2 é semelhante àquela feita na demonstração da proposição 2.1,
porém deve-se usar o teorema 1.2, ou seja, o teorema de Gauss na versão R2.
Corolário 2.1: Sejam Ω, subconjunto de R3 uma região aberta cuja fronteira ∂ Ω é de classe
C1 por partes e u : Ω → R uma função de classe C2 Ω tal que ∆u = 0 em Ω. Então valem as
seguintes identidades:
ZZZ ZZ
2 ∂u
(2.3) |∇u| dx dy = u ds
Ω ∂Ω ∂n
e
ZZ
∂u
(2.4) ds = 0.
∂Ω ∂n
D EMONSTRAÇÃO : Para mostrar (2.3), basta tomar u = v em (2.1). De fato, tem-se que
ZZZ ZZZ
| ∇u|2 dx dy = ∇u · ∇u dx dy
Ω Ω
ZZ ZZZ
(2.1) ∂u
= u ds − u ∆u dx dy dz
∂Ω ∂n Ω
ZZ
∂u
= u ds,
∂Ω ∂n
Para mostrar (2.4), basta tomar v ≡ 1 em (2.2). Segue-se daí que ∂ v/∂ n = 0 e ∆v = 0. Assim,
de ZZZ ZZ
(2.2) ∂u ∂v
(v ∆u − u ∆v) dx dy dz = v −u ds,
Ω ∂Ω ∂n ∂n
segue-se que
ZZZ ZZ
∂u
(1.∆u − u.0)dx, dy dz = 1· − u.0 ds,
Ω ∂Ω ∂n
ou ainda, que ZZZ ZZ
∂u
∆u dx dy dz = ds.
Ω ∂Ω ∂n
Mas, por hipótese, tem-se que ∆u = 0. Portanto,
ZZ
∂u
ds = 0.
∂Ω ∂n
Corolário 2.2: Sejam Ω, subconjunto de R3 (ou de R2), uma região aberta cuja fronteira ∂ Ω
é de classe C1 por partes, f ∈ C(∂ Ω) e g ∈ C2 (∂ Ω). Então o problema
2
u ∈ C Ω ,
(2.5) ∆u = f , em Ω,
u = g, em ∂ Ω,
∆w = ∆(u − v) = ∆u − ∆v = f − f = 0, em Ω,
ZZ Z Z
2 ∂w
|∇w| dx dy = w ds = w.0 ds = 0,
Ω ∂Ω ∂n ∂Ω
pois, como w ≡ 0 em ∂ Ω, segue-se que a sua derivada exterior, ∂ u/∂ n , é nula em toda a fronteira.
Como w ∈ C2 Ω , segue-se que ∇w ≡ 0 em Ω, pois o integrando |∇w|2, acima, é uma função
contínua e não negativa. Logo, w é constante em Ω, pois Ω é conexo. Portanto, w ≡ 0, pois w = 0
em ∂ Ω. Segue-se daí que u − v = 0, isto é, u = v em Ω, mostrando que a solução do problema
(2.5), se existir, é única.
onde f ∈ C(Ω) e g ∈ C (∂ Ω) são funções dadas. Mostrar que este problema tem solução única
será feito mais adiante.
O objetivo desta seção é determinar uma expressão geral para a área da esfera S n−1, que será
usada nas próximas seções.
A função gama, é definida por
Z ∞
Γ(x) = e−t t x−1 dt.
0
Note-se que a função gama é uma função definida por uma integral e que, no caso, é im-
própria. Não adentrar-se-á, neste texto, no mérito de que a Γ está bem definida e nem sobre os
critérios de convergência de integrais impróprias.
O primeiro resultado dá uma importante propriedade satisfeita pela função gama.
Γ(x + 1) = x · Γ(x).
Z ∞
Γ(x + 1) = e−t t [(x+1)−1] dt
0
Z ∞ Z a
−t x
= e t dt = lim e−t t x dt
0 a→∞ 0
a Z a
x −t
= lim −t e − lim x ex−1(−1)e−t dt
a→∞ 0 a→∞ 0
Z a
x 0 x −a
= lim 0 e − a e + x lim e−t t x−1 dt
a→∞ a→∞ 0
Z ∞
=x e−t t x−1 dt = x · Γ(x),
0
como desejado.
= 1.
Faça x = n, para n ∈ N, na fórmula Γ(x + 1) = x · Γ(x). Então,
Γ(n + 1) = n · Γ(n).
Para exibir outros valores importantes da função gama será necessário calcular o valor de
determinada integral que surgirá nos cálculos feitos a seguir. Isto será feito no próximo exemplo.
Z ∞ √
2
e−x dx = π.
−∞
De fato, escrevendo Z ∞
2
I= e−x dx,
−∞
então
Z ∞
Z ∞
2 −x2 −y2
I = e dx e dy
−∞ −∞
Z −∞ Z −∞
2 +y2
= e−(x ) dx dy
−∞ −∞
Z aZ a
2 +y2
(3.1) = lim e−(x ) dx dy = lim I 2(a),
a→∞ −a −a a→∞
onde Z aZ a
2 +y2
2
I (a) = e−(x ) dx dy.
−a −a
Sejam R = [−a, a] × [−a, a],
n √ o
D1 = (x, y) ∈ R2 x2 + y2 ≤ a e D2 = (x, y) ∈ R2 | x2 + y2 ≤ 2 a ,
isto é, D1 e D2 são os discos fechados de centro na origem que estão inscritos e circunscritos,
respectivamente, no retângulo R.
Note-se que a área de D1 , A(D1 ) = π a2 , é menor do que a área de R, A(R) = 4a2 . Tem-se
também que R tem área menor a área de D2 , A(D2 ) = 2π a2 . Isto é,
e
814 D Equação de Laplace: estudo mais geral
ZZ Z √2 a Z 2π
−(x2 +y2 ) 2
I2 = e dx dy = e−r r d θ dr
D2 0 0
√
1 −r2 2a
−2a2
(3.4) = 2π − e = π 1−e .
2 0
2 2
Como o integrando e−(x +y ) é sempre positivo e as áreas de R, D1 e D2 obedecem a de-
sigualdade (3.2), segue-se que
Z aZ a
2 +y2
I1 ≤ e−(x ) dx dy ≤ I ,
2
−a −a
ou ainda,
2 2
π 1 − e−a ≤ I 2(a) ≤ π 1 − e−2a .
Observe-se que existe limite para a → ∞ no primeiro e último membros na desigualdade
acima, de modo que existe limite para a → ∞ no membro do central. Assim,
h 2
i h 2
i
lim π 1 − e−a ≤ lim I 2(a) ≤ lim π 1 − e−2a .
a→∞ a→∞ a→∞
Exemplo 3.2: Um valor importante da função gama é Γ (1/2). O mesmo pode ser encontrado
fazendo a mudança de variáveis t = u2 :
Z ∞ Z ∞ −1/2 Z ∞
2 2
e−x x2
1
(3.5) Γ (1/2) = e−t t − /2 dt = 2 x dx = 2 e−x dx.
0 0 0
Agora usa-se o valor obtido para a integral dada no exemplo 3.1. Assim,
Z ∞ Z ∞ Z ∞
−x2 1 −x2 2 √
Γ (1/2) = 2 e dx = 2 e dx = e−x dx = π.
0 2 −∞ −∞
√
Outros valores da função gama podem ser obtidos a partir do valor Γ(1/2) = π . De fato,
segue-se da fórmula Γ(x + 1) = x Γ(x), dada pela proposição 3.1, que
√ √
1 1 π 3 3 3 π,
Γ(3/2) = Γ + 1 = Γ(1/2) = e Γ(5/2) = Γ + 1 = Γ(3/2) =
2 2 2 2 2 4
D.3 A área da esfera Sn−1 815
S n (r) = {x ∈ Rn | kxk ≤ r}
q
n 2 2
= (x1 , . . ., xn) ∈ R | x1 + · · · + xn ≤ r
π n/2
(3.6) Vn(r) = rn ,
Γ (n/2 + 1)
onde Γ é a função gama.
D EMONSTRAÇÃO : Observe-se inicialmente que, para n = 1, o exemplo 3.1 mostrou que
√
Γ (3/2) = 1/2 π , de modo que a fórmula (3.6) dá
√
π 1/2 1 π
V1(r) = r = √ r = 2r,
3
Γ( /2) π/2
que é o comprimento do intervalo [−r, r].
Da observação 3.1 segue-se que
π1 2 π 2
V2 (r) = r = r = π r2 ,
Γ(2) 1
que é a área do círculo de raio r.
Assim, demonstrar-se-á a fórmula (3.6) para o caso n ≥ 3. Mostra-se inicialmente que, para
todo r > 0, se tem
isto é, o volume da esfera de raio r é igual a r n multiplicado pelo volume da esfera de raio 1.
Para mostrar (3.7), se faz a seguinte mudança de variáveis linear: considera-se ϕ : Sn (1) →
Sn (r) definida por ϕ (u) = x = r u, isto é,
816 D Equação de Laplace: estudo mais geral
= (r u1 , . . ., r un),
ou ainda,
x1 = x1 (u1 , . . ., un ) = r u1 ,
x = x (u , . . ., u ) = r u ,
2 2 1 n 2
.
.. .
.. .
..
x = x (u , . . ., u ) = r u ,
n n 1 n n
= r n Vn(1),
o que mostra (3.7).
Consequentemente, para demonstrar a validade da fórmula (3.6), basta mostrar que
π n/2
(3.8) Vn(1) = ·
Γ (n/2 + 1)
Isto permite escrever a integral múltipla que dá o valor de Vn(1) como a iteração de uma
integral (n − 2)-múltipla com uma integral dupla. De fato,
D.3 A área da esfera Sn−1 817
Z Z
Vn(1) = dx1 . . . dxn = dx1 . . . dxn
Sn (1) x21 +···+x2n ≤1
ZZ Z
!
(3.9) = dx1 . . . dxn−2 dxn−1 dxn.
x2n−1+ x2n ≤1 x21 +···+x2n−2 ≤1−x2n−1−x2n
= (fazendo u = 1 − r2 )
Z 0
n/2−1
= −π u
1
2π n/21 2π
= u = ·
n 0 n
Assim, substituindo este último valor encontrado em (3.11), obtém-se
Z 2π Z 1 n/2−1 2π
Vn(1) = Vn−2(1) 1 − r2 r dr d θ = Vn−2(1) ·
0 0 n
818 D Equação de Laplace: estudo mais geral
π n/2 ,
f (n) =
Γ (n/2 + 1)
satisfaz a mesma fórmula de recorrência devido a fórmula Γ(x + 1) = x Γ(x). De fato,
Vn(r) = r n · Vn(1),
que implica em
d
Vn (r) = n · r n−1 · Vn(1).
dr
Agora, note-se que Z r
Vn(r) = ωn (r) dr.
0
Segue-se do teorema fundamental do Cálculo que
d
(3.12) ωn (r) = Vn(r) = n · r n−1 · Vn(1).
dr
Também foi demonstrado na proposição 3.1 a validade da equação (3.8), isto é,
π n/2 ,
(3.13) Vn(1) =
Γ (n/2 + 1)
D.4 Solução fundamental 819
π n/2
(3.14) ωn (r) = n · r n−1 · Vn(1) = n · r n−1 · ·
Γ (n/2 + 1)
Mas a função gama satisfaz
n n n
(3.15) Γ +1 = ·Γ ·
2 2 2
Substituindo (3.15) em (3.14), obtém-se
2 π n/2
ωn (1) = ,
Γ (n/2)
Sejam Ω ⊂ Rn e x0 = x01 , . . ., x0n um vetor fixo em Ω. Objetiva-se determinar as soluções de
∆u = 0 que dependam somente de r = kx − x0 k, distância de x = (x1 , . . ., xn ) ao ponto x0 (isto
é, procura-se soluções radiais).
A norma usada é a euclidiana, isto é, fazendo x = (x1 , . . ., xn) e x0 = x01 , . . ., x01 , escreve-se
q
2 2
kx − x0 k = x1 − x01 + · · · + (xn − x0n ) .
d 2v 1 dv
(4.1) + = 0,
dr2 r dr
cuja solução geral é dada por
segunda:
∂ 2 u ∂ 2 v d 2v ∂ r x − x0 dv ∂ x − x0
= 2= 2· · + ·
∂ x2 ∂x dr ∂ x r dr ∂ x r
!
d 2v x − x0 x − x0 dv ∂ x − x0
= 2· · + · p
dr r r dr ∂ x (x − x0 )2 + (y − y0 )2 + (z − z0 )2
(x − x0 )2 d 2v dv 1.r − (x − x0 ).(1/2).2(x − x0 ).r−1
= · 2+ ·
r2 dr dr r2
(x − x0 )2 d 2v 1 dv (x − x0 )2 dv ,
= · 2+ − ·
r2 dr r dr r3 dr
para x ∈ Ω\{x0 }.
Procedendo de maneira análoga para a derivada parcial segunda em relação a y, pode-se
escrever
∂ 2 u ∂ 2 v (x − x0 )2 d 2v 1 dv (x − x0 )2 dv ,
= = · 2+ − ·
∂ x2 ∂ x2 r2 dr r dr r3 dr
∂ 2 u ∂ 2 v (y − y0 )2 d 2 v 1 dv (y − y0 )2 dv
= = · 2+ − · ·
∂ y2 ∂ y2 r2 dr r dr r3 dr
Somando as três expressões acima, a equação ∆u = 0 se transforma em
∂ 2u ∂ 2u
∆u = +
∂ x2 ∂ y2
(x − x0 )2 + (y − y0)2 d 2v 2 dv (x − x0 )2 + (y − y0)2 dv
= + −
r2 dr2 r dr r3 dr
r2 d 2 v 2 dv r2 dv d 2v 2 dv 1 dv
= + − = + −
r2 dr2 r dr r3 dx dr2 r dr r dr
d 2v 1 dv
= + = 0.
dr2 r dr
Agora deve-se resolver a equação diferencial ordinária.
d 2v 1 dv
+ = 0.
dr2 r dr
Isto será feito por redução de ordem, fazendo-se
dv d 2v d p
=p e = ·
dr dr2 dr
Assim, a equação (4.1) pode ser reescrita através do seguinte sistema:
dp 1
+ p = 0,
dr r
(4.3)
dv = p.
dr
822 D Equação de Laplace: estudo mais geral
A primeira equação em (4.3) é de primeira ordem e linear, cuja solução geral é dada por
Z Z Z
−1 −1
p = exp − r dr 0 · exp r dr dr + c
Z
= c · exp − r dr = c0 · exp (− ln |r|)
0 −1
−1
= c0 · e − ln |r| = c0 · e ln r = c0 · r−1 .
Portanto,
dv
= p = c0 · r−1 ,
dr
que após integração resulta em
Z
v(r) = c0 r−1 dr + k = c0 ln |r| + k = k1 ln r + k2 ,
v(r) = k1 ln r + k2 = k1 ln kx − x0 k + k2,
como desejado.
d 2v n − 1 dv
(4.4) + = 0,
dr2 r dr
cuja solução geral é dada por
Como Ω é aberto, mostra-se facilmente que f (Ω) é aberto em [0, ∞). Assim, a função v, sob
as hipóteses dadas, está definida em f (Ω), e a validade da equação diferencial ordinária em
(4.1) ocorre em f (Ω)\{x0 }. Além disso, como u ∈ C2 (Ω), é possível mostrar facilmente que v
é de classe C2 ( f (Ω)\{x 0}). Portanto a equação (4.4) tem sentido.
Para evitar notação “carregada”, optar-se-á pelo abuso habitual de notação e não se fará a
demonstração usando-se a função composta. Os cálculos serão feitos formalmente.
Sendo r = kx − x0 k =6 0, tem-se
∂r 1 1
= q 2 2 x1 − x01
∂ x1 2 2
x1 − x01 + · · · + (xn − x0n)
x1 − x01 x1 − x01
= = ·
kx − x0 k r
De maneira similar, conclui-se que
2 2
∂ 2u ∂ 2 v x1 − x01 d 2v 1 dv x1 − x01 dv ,
= = · 2+ − ·
∂ x21 ∂ x21 r2 dr r dr r3 dr
2 2
∂ 2u ∂ 2 v x2 − x02 d 2v 1 dv x2 − x02 dv ,
= = · 2+ − ·
∂ x22 ∂ x22 r2 dr r dr r3 dr
..
.
2 2
∂ 2 u ∂ 2v xn − x0n d 2 v 1 dv xn − x0n dv
= = · 2+ − · ·
∂ x2n ∂ x2n r2 dr r dr r3 dr
Somando as três expressões acima, a equação ∆u = 0 se transforma em
∂ 2u ∂ 2u
∆u = + · · · +
∂ x21 ∂ x2n
" 2 2 #
x1 − x01 + · · · + x1 − x01 d 2v n dv
= + −
r2 dr2 r dr
" 2 2 #
x1 − x01 + · · · + xn − x0n dv
− 3
r dr
r2 d 2 v n dv r2 dv d 2v n dv 1 dv
= + − = + −
r2 dr2 r dr r3 dx dr2 r dr r dr
d 2v n − 1 dv
= 2+ = 0.
dr r dr
Agora deve-se resolver a equação diferencial ordinária
d 2v n − 1 dv
+ = 0.
dr2 r dr
O procedimento também será por redução de ordem, fazendo-se
dv d 2v d p
=p e = ·
dr dr2 dr
Assim, a equação (4.4) pode ser reescrita através do seguinte sistema:
dp n−1
+ p = 0,
dr r
(4.6)
dv = p.
dr
A primeira equação em (4.6) é de primeira ordem e linear, cuja solução geral é dada por
Z Z Z
−1 −1
p = exp − (n − 1)r dr · 0 · exp (n − 1)r dr dr + c
Z
= c · exp − (n − 1)r dr = c0 · exp −(n − 1) r−1
0 −1
D.4 Solução fundamental 825
−(n−1)
= c0 · e −(n−1) ln|r| = c0 · e ln[ r ] = c0 · r 1−n.
Portanto,
dv
= p = c0 · r 1−n,
dr
que após integração resulta em
Z
1−n c0
v(r) = c0
r dr + k = · r 2−n + k = c1 · r 2−n + c2,
2−n
onde c1 e c2 são constantes.
Assim, a solução geral de (4.4), para o caso em que n ≥ 3, é
como desejado.
S n−1 = {x ∈ Rn | kx − x0k = 1} ,
isto é, onde
Z ∞
2 π n/2
ωn = e Γ(x) = e−t t x−1 dt.
Γ (n/2) 0
Proposição 4.3: A função s, para cada x0 ∈ Ω ⊂ R2 fixo tal que x 6= x0, é infinitamente
diferenciável e satisfaz ∆s = 0.
826 D Equação de Laplace: estudo mais geral
∂ 2 sx0 ∂ 2sx0
∆sx0 = +
∂ x2 ∂ y2
1 (y − y0 )2 − (x − x0)2 1 (x − x0 )2 − (y − y0)2
= · + ·
2π kx − x0k4 2π kx − x0k4
1 (x − x0 )2 − (y − y0)2 1 (x − x0 )2 − (y − y0)2
=− · + · = 0,
2π kx − x0 k4 2π kx − x0 k4
mostrando que sx0 é harmônica para x 6= x0 .
∂ sx0 1 ∂ 2−n
= · kx − x0 k
∂ x1 (2 − n)ωn ∂ x1
D.4 Solução fundamental 827
q 2−n
1 ∂ 2 2
= · x1 − x01 + · · · + (xn − x0n )
(2 − n)ωn ∂ x1
1 ∂ h
0 2
i1/2 2−n
0 2
= · x1 − x1 + · · · + xn − xn
(2 − n)ωn ∂ x1
1 ∂ h
0 2
i1−n/2
0 2
= · x1 − x1 + · · · + xn − xn
(2 − n)ωn ∂ x1
1 h n i h 2 2 i−n/2
= · 2 1− x1 − x01 x1 − x01 + · · · + xn − x0n
(2 − n)ωn 2
(2 − n) x1 − x01 x1 − x01
= −n
· kx − x0 k = · kx − x0 k−n .
(2 − n)ωn ωn
Já a derivada parcial segunda em relação a x1 fica assim:
∂ 2 sx0 1 ∂
2
= · x1 − x01 kx − x0 k−n
∂ x1 ωn ∂ x1
( q −n )
1 ∂ 2 2
= · x1 − x01 x1 − x01 + · · · + (xn − x0n )
ωn ∂ x1
1 ∂ 0
h
0 2
i−n/2
0 2
= · x1 − x1 x1 − x1 + · · · + xn − xn
ωn ∂ x1
1 ∂ h 2 2 i−n/2
= · x1 − x1 · x1 − x01 + · · · + xn − x0n
0
+
ωn ∂ x1
0
∂ h
0 2
i−n/2
0 2
+ x1 − x1 x1 − x1 + · · · + xn − xn
∂ x1
1 h
0 2
i−n/2
0 2
= · x1 − x1 + · · · + xn − xn −
ωn
n h 2 i h 2 2 i(−n−2)/2
− · n x1 − x01 x1 − x01 + · · · + xn − x0n
ωn
1 n 2
= · kx − x0 k−n − x1 − x01 kx − x0 k−n−2 .
ωn ωn
Analogamente, mostra-se que, para todo i = 1, . . ., n, vale
∂ sx0 xi − x0i
= kx − x0 k−n
∂ xi ωn
e
∂ 2 sx0 1 n 2
2
= kx − x0 k−n − xi − x0i kx − x0 k−n−2 .
∂ xi ωn ωn
Portanto,
∂ 2 sx0 ∂ 2sx0
∆sx0 = + · · · +
∂ x21 ∂ x2n
828 D Equação de Laplace: estudo mais geral
1 −n n
0 2 −n−2
= kx − x0 k − x1 − x1 kx − x0 k +···
ωn ωn
1 −n n
0 2 −n−2
···+ kx − x0 k − xn − xn kx − x0 k
ωn ωn
1 −n 1 −n
= kx − x0 k + · · · + kx − x0 k −
ωn ωn
n
0 2 −n−2 n
0 2 −n−2
− x1 − x1 kx − x0 k + ···+ xn − xn kx − x0 k
ωn ωn
n n
= kx − x0 k−n − kx − x0 k2 kx − x0 k−n−2
ωn ωn
n n
= kx − x0 k−n − kx − x0 k−n = 0,
ωn ωn
confirmando que sx0 é harmônica para x 6= x0 .
A solução fundamental possui domínio Ωx0 = Ω\ {x0 }, sendo Ω ⊂ Rn, e do mesmo modo
que a função s, possui uma singularidade em Ω no ponto x = x0 . Assim,
1
2π ln kx − x0 k + ϕ (x),
se n = 2
(4.8) Fx0 (x) =
1
kx − x0 k2−n + ϕ (x), se n > 2,
(2 − n) ωn
onde
2π n/2 ,
ωn = ωn (1) =
Γ (n/2)
que representa a área da esfera unitária S n−1(1).
D.5 Terceira identidade de Green 829
Com as definições e resultados obtidos até aqui, pode-se agora enunciar e demonstrar o
principal resultado que se busca: o da representação integral para uma função real de classe
C1 Ω ∩ C2 (Ω), sendo Ω um conjunto aberto, conexo e limitado em Rn. Este resultado é con-
hecido como terceira identidade de Green.
A terceira identidade de Green exige demonstração diferenciada para o caso n = 2 e n ≥ 3,
apesar de a representação integral ser a mesma. Assim, opta-se por enunciar e demonstrar dois
teoremas, um no caso n = 2 e outro no caso n ≥ 3.
Antes de enunciar e demonstrar a terceira identidade de Green para n = 2, enunciar-se-á um
lema de análise com resultado clássico e que será usado na demonstração do próximo teorema.
Como 1
1
log x /2 = log x,
2
pode-se elevar ao quadrado a última desigualdade para obter
2
1 1
2 (log x)2
0< log x < x /2 ⇒ 0< < x.
2 4
Assim,
830 D Equação de Laplace: estudo mais geral
log x log x 4 ,
0 < log x · <x ⇒ 0< <
4 x log x
para todo x > 1.
Observando que lim (1/log x) = 0, tem-se que
x→+∞
log x 1 log x
lim 0 < lim <4 lim ⇒ lim = 0,
x→+∞ x→+∞ x x→+∞ log x x→+∞ x
como desejado.
Teorema 5.1 (3a identidade de Green – caso n = 2): Sejam Ω ⊂ R2 um conjunto aberto,
conexo e limitado e u ∈ C1 Ω ∩ C2(Ω) uma solução para a equação ∆u = f em Ω, onde
f ∈ C Ω . Então, para todo x0 ∈ Ω, tem-se
Z ZZ
∂ Fx0 ∂u
(5.1) u(x0 ) = u(x) (x) − Fx0 (x) (x) dS + Fx0 (x) f (x) dx,
∂Ω ∂n ∂n Ω
possível a substituição direta. A ideia básica consiste em retirar uma vizinhança do ponto de
singularidade x = x0 de Fx0 , em relação a todo Ω original, de modo que no novo domínio,
assim construído, seja possível usar a segunda identidade de Green.
Feitas estas observações, considere-se um ponto arbitrário x0 ∈ Ω e um número real ε > 0
tais que o disco aberto Bε (x0 ), de raio ε e centro em x0 , esteja contido em Ω. Como Ω é aberto,
por hipótese, então é sempre possível encontrar um ε > 0 para que isto ocorra.
Agora escreva Ωε = Ω\Bε (x0 ). Note-se que a solução fundamental Fx0 (x), dada por (4.7)
e (4.8) para n = 2, está definida em todo ponto x ∈ Ωε (veja-se figura 5.5).
Figura 5.5:
Nessas condições pode-se aplicar a segunda identidade de Green (equação (2.2) da proposição
2.1), isto é, ZZ Z
∂u ∂v
(v∆u − u∆v) dx dy = v −u ds.
Ω ∂Ω ∂n ∂n
A fronteira do novo domínio Ωε é dada por
ZZ Z
∂ Fx0 ∂u
(u ∆Fx0 − Fx0 ∆u) dx dy = u − Fx0 ds
Ωε ∂ Ω ∪ ∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Z
∂ Fx0 ∂u
= u − Fx0 ds −
∂Ω ∂n ∂n
Z
∂ Fx0 ∂u
(5.2) − u − Fx0 ds.
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
832 D Equação de Laplace: estudo mais geral
onde o sinal negativo na segunda integral do segundo membro de (5.2) se deve a inversão do
sinal da normal exterior na bola (isto é, em virtude da orientação positiva da normal à bola).
Note-se que a primeira integral do segundo membro de (5.2) não depende de ε , isto é, do raio
da bola Bε (x0 ).
O procedimento de demonstração será realizado em várias etapas.
Assim, lembrando-se que Fx0 = sx0 + ϕ , o integrando da segunda integral no segundo membro
de (5.2) pode ser escrito na seguinte forma:
∂ Fx0 ∂u ∂ sx0 ∂ ϕ ∂u
u − Fx0 =u + − (sx0 + ϕ )
∂n ∂n ∂n ∂n ∂n
∂ sx0 ∂u ∂ϕ ∂u ,
= u − sx0 + u −ϕ
∂n ∂n ∂n ∂n
resultando, para a última integral do segundo membro de (5.2), a expressão
Z Z
∂ Fx0 ∂u ∂ Fx0 ∂u
u − Fx0 ds = u − Fx0 ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n kx−x0 k=ε ∂n ∂n
Z
∂ sx0 ∂u
= u − sx0 ds +
kx−x0 k=ε ∂n ∂n
Z
∂ϕ ∂u
(5.3) + u −ϕ ds.
kx−x0 k=ε ∂n ∂n
Substituindo (5.3) em (5.2), obtém-se
ZZ Z
∂ Fx0 ∂u
(u∆Fx0 − Fx0 ∆u) dxdy = u − Fx0 ds−
Ωε ∂Ω ∂n ∂n
Z Z
∂ sx0 ∂u ∂ϕ ∂u
− u − sx0 ds + u −ϕ ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Z Z
∂ Fx0 ∂u ∂ sx0
= u − Fx0 ds − u ds +
∂Ω ∂n ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂ n
Z Z
∂u ∂ϕ ∂u
(5.4) + sx0 ds − u −ϕ ds.
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Agora faça
Z Z
∂ sx0 ∂u
I1 (ε ) = u ds, I2 (ε ) = sx0 ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂n
e Z
∂ϕ ∂u
I3 (ε ) = u −ϕ ds.
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
ZZ Z
∂ Fx0 ∂u
(5.5) (u∆Fx0 − Fx0 ∆u) dxdy = u − Fx0 ds − I1(ε ) + I2 (ε ) − I3(ε ).
Ωε ∂Ω ∂n ∂n
Com esta notação, mostrar-se-á que
pois a última integral acima é uma integral de linha de uma função identicamente igual a 1 sobre
p
a circunferência (x − x0 )2 + (y − y0 )2 = ε , que dá o comprimento da mesma, que no caso é
igual a 2π ε .
Esta última desigualdade implica que lim I3(ε ) = 0.
ε →0
∂ u ∂u
, ≤N
∂x ∂y
em Ω e, portanto, em Bε (x0), ε 0 ≤ ε .
∂u
Fazendo n = (η1 , η2), daí resulta a seguinte estimativa para:
∂n
∂ u ∂u ∂ u ∂ u ∂ u
= |∇u · n| = η1 + η2
≤ + ,
∂n ∂x ∂y ∂x ∂y
donde
∂ u
≤ 2N = N1 .
∂n
Além disso, se x ∈ ∂ Bε (x0), isto é, kx − x0 k = ε , então a função sx0 (x) é dada por
1 1
sx0 (x) = ln kx − x0 k = ln ε .
2π 2π
e x pode ser escrito na forma
x = x0 + ε n ,
onde n é, agora, a normal unitária exterior a Bε (x0 ).
Dessas considerações segue-se que
Z
∂u
I2(ε ) = sx0 (x) (x) dsε =
kx−x0 k=ε ∂n
Z
∂u
= sx0 (x0 + ε n )
(x0 + ε n ) dsε
kx−x0 k=ε ∂n
Z
1 ∂u
= · ln ε · (x0 + ε n).ε ds1
kx−x0 k=1 2π ∂n
Z
ε ln ε ∂u
= (x0 + ε n ) ds1 ,
2π kx−x0k=1 ∂ n
sendo dsε e ds1 , respectivamente, os elementos de comprimento de arco dos círculos r = ε e
r = 1.
Portanto, tem-se Z
ε |ln ε | ∂ u
| I2(ε )| ≤ (x0 + ε n ) ds1
2π
kx−x0 k=1 ∂ n
Z
N1 ε | ln ε |
≤ ds1 = N1 ε | ln ε | ,
2π kx−x0 k=1
pois a última integral dá o comprimento do círculo de raio 1, ou seja, 2π .
Mostrar-se-á agora que lim ε | ln ε | = 0.
ε →0
O procedimento é o mesmo usado na parte (b) da demonstração do lema 5.1. Fazendo ε = 1/t ,
para t > 1, obtém-se
D.5 Terceira identidade de Green 835
| ln (1/t )| | ln 1 − ln t| | 0 − ln t| | ln t|
ε | ln ε | = = = = ·
t t t t
Note-se que, para t > 1, tem-se que | ln t| = ln t, isto é,
ln t ,
ε | ln ε | =
t
para todo t > 1.
Assim, pode-se usar a parte (a) do lema 5.1. Além disso, observa-se que existe limite para
t → +∞ no segundo membro acima e que este limite é igual a zero pela parte (a) do lema 5.1.
E como ε = 1/t , então quando t → +∞ tem-se que ε → 0. Portanto, pode-se tomar limite na
expressão acima e escrever
ln t
lim (ε | ln ε |) = lim = 0,
ε →0 t→+∞ t
q
∂ ∂ ∂
(ln ε ) = (ln kx − x0 k) = ln (x − x0 )2 + (y − y0)2
∂x ∂x ∂x
x − x0 1
=p ·p
(x − x0 )2 + (y − y0)2 (x − x0 )2 + (y − y0)2
x − x0 x − x0
= 2
= ·
kx − x0 k ε2
Similarmente encontra-se a derivada parcial em relação a y, de modo que se tem a seguinte
expressão para o gradiente:
x − x0 , y − y0 x − x0
∇ (ln ε ) = = ·
ε2 ε2 ε2
Assim,
∂ ∂
∇ (ln ε ) · n = (ln ε ) · η1 + (ln ε ) · η2
∂x ∂y
x − x0 x − x0 y − y0 y − y0
= · + 2 ·
ε2 ε ε ε
2
(x − x0 ) + (y − y0 ) 2 ε 2 1
= 3
= 3= ·
ε ε ε
sx0
Portanto, tem-se, para (x), quando x é um ponto de ∂ Bε (x0 ), a expressão
∂n
sx0 sx 1 1 1,
(x) = 0 (x0 + ε n ) = [∇ (ε ) · n ] = ·
∂n kx−x0 k=ε ∂n 4π 2π ε
Para mostrar que I1(ε ) converge para o valor u no ponto x0 , mostrar-se-á que, dado um
número real positivo qualquer δ > 0, pode-se sempre encontrar outro real τ > 0 tal que
onde 0 < ρ ≤ ε , o que equivale, evidentemente, a afirmar que lim I1(ρ ) = u(x0 ).
ρ →0
Pode-se escrever a seguinte expressão para u(x0 ):
Z
2πρ u(x0 ) 1
u(x0 ) = = u(x0 ) ds.
2πρ 2πρ kx−x0 k=ρ
Então,
Z Z
1 1
I1(ρ ) − u(x0 ) = u(x0 + ρ n ) ds − u(x0 ) ds
2πρ kx−x0 k=ρ 2πρ kx−x0 k=ρ
D.5 Terceira identidade de Green 837
Z
1
= [u(x0 + ρ n ) − u(x0 )] ds.
2πρ kx−x0 k=ρ
Como u é contínua em Ω, fixado qualquer x0 ∈ Ω e dado δ > 0, existe τ > 0 tal que
E TAPA 4: Agora é preciso dar um sentido a integral em Ω que aparece no segundo membro
de (5.1). Observe, inicialmente, que ∆Fx0 = 0 em Ωε = Ω\Bε (x0), de modo que se pode escrever
ZZ ZZ
(u ∆Fx0 − Fx0 ∆u) dx dy = − Fx0 ∆u dx dy.
Ωε Ωε
Agora faça ZZ
I4(ε ) = Fx0 ∆u dx dy.
Bε (x0 )
Lembrando que Fx0 = sx0 + ϕ , segue-se que
ZZ
I4(ε ) = Fx0 ∆u dx dy
Bε (x0 )
ZZ
= (sx0 + ϕ )∆u dx dy
Bε (x0 )
ZZ ZZ
= sx0 ∆u dx dy + ϕ ∆u dx dy.
Bε (x0 ) Bε (x0 )
Como u, ϕ ∈ C1 Ω ∩C2 (Ω), então ϕ e ∆u são funções contínuas em Bε (x0 ), logo limitadas
no fecho da bola. Portanto, existem constantes M1 , M2 > 0 tais que
838 D Equação de Laplace: estudo mais geral
|ϕ | ≤ M1 e |∆u| ≤ M2 .
com 0 < r0 < r < ε e 0 ≤ t ≤ 2π . Deve ser lembrado também que o jacobiano para este sistema
de coordenadas é dado por J = r.
Assim,
ZZ
M2
| I4 (ε )| ≤ |ln kx − x0 k| dx dy + M1 M2 π ε 2
2π Bε (x0 )
Z Z 2π
M2 ε
= r | ln r | dt dr + M1 M2 π ε 2
2π r0 0
Z ε
2
(5.8) = M1 M2 π ε + M2 r | ln r | dr.
r0
Por outro lado, pela parte (b) do lema 5.1 tem-se que lim (r ln r) = 0. Logo, a função r 7→
r→0
r ln r é limitada perto da origem, isto é, existe M3 > 0 tal que
Z ε
| I4(ε )| ≤ M1 M2 π ε 2 + M2 M3 dr
r0
= M1 M2 π ε 2 + M2 M3 ε − r 0 .
| I4 (ε )| ≤ M1 M2 π ε 2 + M2 M3 ε .
≤ M1 M2 π ε 2 + M2 M3 ε .
Isto mostra que o primeiro membro acima converge para zero quando ε → 0. Portanto,
interpreta-se a integral imprópria em (5.1) como sendo
ZZ ZZ
(5.9) Fx0 ∆u dx dy = lim Fx0 ∆u dx dy.
Ω ε →0 Ωε
isto é, ZZ Z
∂ Fx0 ∂u
− Fx0 ∆u dx dy = u − Fx0 ds − u(x0 ),
Ω ∂Ω ∂n ∂n
donde Z ZZ
∂ Fx0 ∂u
u(x0 ) = u − Fx0 ds + Fx0 ∆u dx dy,
∂Ω ∂n ∂n Ω
que é o resultado desejado.
Teorema 5.2 (3a identidade de Green – caso n ≥ 3): Sejam Ω ⊂ Rn um conjunto aberto,
conexo e limitado e u ∈ C1 Ω ∩ C2(Ω) uma solução para a equação ∆u = f em Ω, onde
f ∈ C Ω . Então, para todo x0 ∈ Ω, tem-se
Z Z
∂ Fx0 ∂u
(5.10) u(x0 ) = u(x) (x) − Fx0 (x) (x) dS + Fx0 (x) f (x) dx,
∂Ω ∂n ∂n Ω
Usando-se a segunda identidade de Green com estas novas condições, substituindo u por Fx0
e v por u, obtém-se a expressão
Z Z
∂ Fx0 ∂u
(u∆Fx0 − Fx0 ∆u) dx = u − Fx0 ds
Ωε ∂ Ω ∪ ∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Z Z
∂ Fx0 ∂u ∂ Fx0 ∂u
(5.11) = u − Fx0 ds − u − Fx0 ds,
∂Ω ∂n ∂u ∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
onde o sinal negativo na segunda integral do segundo membro deve-se a inversão do sinal da
normal exterior na bola.
D.5 Terceira identidade de Green 841
Do mesmo modo que no caso n = 2, a primeira integral do segundo membro não depende do
raio ε da bola de centro x0 .
Assim, lembrando-se que Fx0 = sx0 + ϕ , o integrando da segunda integral no segundo membro
pode ser escrito na seguinte forma:
∂ Fx0 ∂u ∂ sx0 ∂ ϕ ∂u
u − Fx0 =u + − (sx0 + ϕ )
∂n ∂n ∂n ∂n ∂n
∂ sx0 ∂u ∂ϕ ∂u ,
= u − sx0 + u −ϕ
∂n ∂n ∂n ∂n
resultando, para a última integral do segundo membro, a expressão
Z Z
∂ Fx0 ∂u ∂ Fx0 ∂u
u − Fx0 ds = u − Fx0 ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n ∂ Bε (x0) ∂n ∂n
Z
∂ sx0 ∂u
= u − sx0 ds +
∂ Bε x0 ) ∂n ∂n
Z
∂ϕ ∂u
(5.12) + u −ϕ ds.
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Substituindo (5.12) em (5.11), obtém-se
Z Z
∂ Fx0 ∂u
(u ∆Fx0 − Fx0 ∆u) dx = u − Fx0 ds−
Ωε ∂Ω ∂n ∂n
"Z
∂ sx0 ∂u
− u − sx0 ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Z #
∂ϕ ∂u
+ u −ϕ ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Z Z
∂ Fx0 ∂u ∂ sx0
= u − Fx0 ds − u ds +
∂Ω ∂n ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂ n
Z Z
∂u ∂ϕ ∂u
(5.13) + sx0 ds − u −ϕ ds.
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Agora faça
Z Z
∂ sx0 ∂u
I1 (ε ) = u ds, I2 (ε ) = sx0 ds
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂ Bε (x0 ) ∂n
e Z
∂ϕ ∂u
I3 (ε ) = u −ϕ ds.
∂ Bε (x0 ) ∂n ∂n
Note que (5.13) agora se escreve como
Z Z
∂ Fx0 ∂u
(5.14) (u ∆Fx0 − Fx0 ∆u) dx = u − Fx0 ds − I1 (ε ) + I2 (ε ) − I3(ε ).
Ωε ∂Ω ∂n ∂n
842 D Equação de Laplace: estudo mais geral
= M · ωn (ε ) = M · ωn(1) · ε n−1 ,
onde a última igualdade foi obtida a partir do corolário 3.1. De fato, o lema assegura que
2π n/2 n−1
ωn (ε ) = ·ε ,
Γ(n/2)
de modo que (fazendo ε = 1 na fórmula acima) se obtém
2π n/2
ωn (1) = ⇒ ωn (ε ) = ωn(1) · ε n−1 .
Γ(n/2)
Como M e a área da esfera unitária ωn (1) são constantes, tem-se que a desigualdade acima
implica que lim I3 (ε ) = 0.
ε →0
De fato, sendo u ∈ C1 Ω ∩C2(Ω), por hipótese, segue-se que as derivadas parciais primeiras
de u são funções contínuas em Ω, portanto limitadas, isto é, existe N > 0 tal que
∂u
, . . ., ∂ u ≤ N
∂x ∂ xn
1
em Ω e, portanto, em Bε (x0), ε 0 ≤ ε .
∂u
Fazendo n = (η1 , . . ., ηn), daí resulta a seguinte estimativa para :
∂n
∂ u ∂ u ∂ u ∂u ∂u
= ,
∂ n ∂ x η1 + · · · + ∂ xn η3 ≤ ∂ x + · · · + ∂ xn
1 1
donde
∂ u
≤ n N.
∂n
Além disso, se x ∈ ∂ Bε (x0), isto é, kx − x0 k = ε , então a função sx0 (x) é dada por
1 1
sx0 (x) = kx − x0 k2−n = ε 2−n.
(2 − n)ωn (2 − n)ωn
Tem-se que x pode ser escrito na forma
x = x0 + ε n,
n·N
N0 = ·
(n − 2)
Daí segue-se que lim I2(ε ) = 0.
ε →0
x1 − x01 , xn − x0n
η1 = · · · , ηn = ·
ε ε
Antes, note que
∂ 2−n
∂ 2−n
ε = kx − x0 k
∂ x1 ∂ x1
∂ h 2 2 i(2−n)/2
= x1 − x01 + · · · + xn − x0n
∂ x1
(2 − n) x1 − x01
=h in
2 2 /2
x1 − x01 + · · · + (xn − x0n)
(2 − n) x1 − x01
= ·
εn
D.5 Terceira identidade de Green 845
Assim,
2−n
∂ 2−n
∂ 2−n
∇ ε ·n = ε η1 + · · · + ε ηn
∂ x1 ∂ xn
(2 − n) x1 − x01 x1 − x01 (2 − n) xn − x0n xn − x0n
= + ··· +
εn ε εn ε
2 2
x1 − x01 + · · · + xn − x0n
= (2 − n)
ε n+1
ε2 2−n
= (2 − n) n+1 = n−1 ·
ε ε
sx
Portanto, tem-se, para 0 (x), quando x é um ponto de ∂ Bε (x0 ), a expressão
∂n
sx0
(x) = sx0 (x0 + ε n )
∂n kx−x0 k=ε
1
= ∇ ε 2−n · n
(2 − n) ωn
1 (2 − n) 1
= n−1
= ·
(2 − n) ωn ε ωn ε n−1
que substituída na integral I1(ε ) resulta em
Z
∂ sx0
I1 (ε ) = u(x) (x) ds
kx−x0 k=ε ∂n
Z
1 1
= u(x0 + ε n ) ds
ωn kx−x0 k=ε ε n−1
Z
1
= u(x0 + ε n ) ds.
ωn ε n−1 kx−x0 k=ε
Para demonstrar que I1(ε ) converge para o valor u(x0), mostrar-se-á que, dado um número
real positivo qualquer δ > 0, pode-se sempre encontrar outro real τ > 0 tal que
onde 0 < ρ ≤ ε , o que equivale, evidentemente, a afirmar que lim I1(ρ ) = u(x0 ).
ρ →0
Pode-se escrever a seguinte expressão para u(x0 ):
ωn ρ n−1
u(x0) = u(x0 )
ωn ρ n−1
846 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Z
u(x0 )
= ds
ωn ρ n−1 kx−x0 k=ρ
Z
1
= u(x0 ) ds.
ωn ρ n−1 kx−x0 k=ρ
Então,
Z Z
1 1
I1 (ρ ) − u(x0) = u(x0 + ρ n ) ds − u(x0 ) ds
ωn ρ n−1 kx−x0 k=ρ ωn ρ n−1 kx−x0 k=ρ
Z
1
= [u(x0 + ρ n ) − u(x0)] ds.
ωnρ n−1 kx−x0 k=ρ
Como u é contínua em Ω, fixado qualquer x0 ∈ Ω e dado δ > 0, existe τ > 0 tal que
= δ,
se ρ < τ .
Concluindo, se 0 < ρ ≤ ε e é dado δ > 0, então existe τ > 0 de modo que
E TAPA 4: Agora é preciso dar um sentido a integral sobre Ω que aparece no segundo mem-
bro de (5.10). Observe, inicialmente, que ∆Fx0 = 0 em Ωε = Ω\Bε (x0 ), de modo que se pode
escrever Z Z
(u ∆Fx0 − Fx0 ∆u) dx = − Fx0 ∆u dx.
Ωε Ωε
Além disso, como Ω\Ωε = Bε (x0), tem-se que
Z Z Z
(5.15) Fx0 ∆u dx − Fx0 ∆u dx = Fx0 ∆u dx.
Ω Ωε Bε (x0 )
Agora faça Z
I4 (ε ) = Fx0 ∆u dx.
Bε (x0 )
Lembrando que Fx0 = sx0 + ϕ , segue-se que
D.5 Terceira identidade de Green 847
Z Z
I4 (ε ) = Fx0 ∆u dx = (sx0 + ϕ )∆u dx
Bε (x0 ) Bε (x0 )
Z Z
= sx0 ∆u dx + ϕ ∆u dx.
Bε (x0 ) Bε (x0 )
Como u, ϕ ∈ C1 Ω ∩C2 (Ω), então ϕ e ∆u são funções contínuas em Bε (x0 ), logo limitadas
no fecho da bola. Portanto, existem constantes M1 , M2 > 0 tais que
|ϕ | ≤ M1 e |∆u| ≤ M2 .
Fazendo M = max {M10 , M20 } e observando que para n ≥ 3 e ε > 0 suficientemente pequeno,
tem-se que ε n < ε 2, é possível melhorar a estimativa anterior e obter | I4 (ε )| < M ε 2 ; insiste-se,
para ε suficientemente pequeno.
Usando este fato e (5.15), obtém-se
Z Z Z
Fx ∆u dx − F ∆u dx = − F ∆u dx
Ω 0 Ωε
x 0 B (x ) 0 x
ε 0
= | I4 (ε )| ≤ M ε 2 .
Isto mostra que o primeiro membro acima converge para zero quando ε → 0. Portanto,
interpreta-se a integral imprópria em (5.10) como sendo
Z Z
(5.17) Fx0 ∆u dx = lim Fx0 ∆u dx.
Ω ε →0 Ωε
ZZ Z
∂ Fx0 ∂u
− Fx0 ∆u dx dy = u − Fx0 ds − u(x0 ),
Ω ∂Ω ∂n ∂n
donde Z ZZ
∂ Fx0 ∂u
u(x0 ) = u − Fx0 ds + Fx0 ∆u dx dy,
∂Ω ∂n ∂n Ω
que é o resultado desejado.
Pode-se concluir, recordando-se as hipóteses do teorema 5.1 - 5.2, que, se existe uma solução
u do problema ∆u = f em Ω, com f ∈ C Ω , então u, em cada ponto x0 ∈ Ω, é dada pela
expressão
Z Z
∂ Fx0 ∂u
(5.19) u(x0 ) = u(x) (x) − Fx0 (x) (x) ds + Fx0 (x) f (x) dx.
∂Ω ∂n ∂n Ω
Observa-se não ser razoável dar informações sobre a função u e sua derivada exterior, si-
multaneamente, em cada ponto da fronteira de Ω. A ideia, aqui, consiste em obter uma função,
conhecida como função de Green, que permita determinar uma representação integral para a
equação de Poisson sem que precise conhecer a função u e sua derivada exterior ao mesmo
tempo. Em seguida será apresentado um estudo que considera uma representação integral da
∂ u
solução u, mas sem que seja preciso conhecer a função (x) = b(x).
∂n x∈∂ Ω
850 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Substituindo Fx0 (x) obtida da maneira acima na terceira identidade de Green, obtém-se
Z
∂ 1 2−n 1 2−n ∂ u
u(x0) = u(x) r − r ds +
∂Ω ∂ n (2 − n)ωn (2 − n)ωn ∂n
Z
1
+ r2−n f (x) dx
Ω (2 − n) ωn
Z Z
1 ∂ 2−n 2−n ∂ u 1
(6.1) = u(x) r −r ds + f (x) r2−n dx.
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂n ∂n (2 − n) ωn Ω
Suponha agora que seja conhecida uma função Hx0 (x) satisfazendo o seguinte problema:
(
∆Hx0 = 0 em Ω,
Hx0 (x) = −r2−n, se x ∈ ∂ Ω.
Z Z
∂ Hx0 ∂u
[u.0 − Hx0 (x) f (x)] dx = u − Hx0 ds,
Ω ∂Ω ∂n ∂n
ou seja,
Z Z
∂ Hx0 ∂u
− Hx0 f (x) dx = u − Hx0 ds.
Ω ∂Ω ∂n ∂n
Dividindo ambos os membros acima por (2 − n) ωn , obtém-se
Z Z
1 1 ∂ Hx0 ∂u
(6.2) − Hx (x) f (x) dx = u(x) − Hx0 (x) ds.
(2 − n) ωn Ω 0 (2 − n) ωn ∂ Ω ∂n ∂n
Somando-se membro a membro (6.1) e (6.2), resulta que
Z Z
1 1 ∂ 2−n 2−n ∂ u
u(x0 ) − Hx (x) f (x) dx = u(x) r −r ds +
(2 − n) ωn Ω 0 (2 − n) ωn ∂ Ω ∂n ∂n
Z
1
+ f (x) r2−n dx +
(2 − n) ωn Ω
Z
1 ∂ Hx0 ∂u
+ u(x) − Hx0 (x) ds,
(2 − n) ωn ∂Ω ∂n ∂n
donde segue-se que
Z Z
1 1
u(x0 ) = Hx0 (x) f (x) dx + f (x) r2−n dx +
(2 − n) ωn Ω (2 − n) ωn Ω
Z
1 ∂ Hx0 ∂u
+ u(x) − Hx0 (x) ds,
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂n ∂n
Z
1 ∂ 2−n 2−n ∂ u
+ u(x) r −r ds
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂n ∂n
Z
1
= Hx0 (x) + r2−n f (x) dx +
(2 − n) ωn Ω
Z
1 ∂ Hx0 ∂ 2−n
+ + r u(x) ds −
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂ n ∂n
Z
1 ∂u
− Hx0 (x) + r2−n ds
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂n
Z
1
= Hx0 (x) + r2−n f (x) dx +
(2 − n) ωn Ω
Z
1 ∂ 2−n
+ Hx0 + r u(x) ds −
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂ n
Z
1 ∂u
− Hx0 (x) + r2−n ds.
(2 − n) ωn ∂ Ω ∂n
Mas, por hipótese, tem-se que Hx0 ∂ Ω = −r2−n , de modo que a parte entre colchetes do
integrando na última integral acima se anula, anulando também toda esta última integral. Assim,
852 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Z
1
u(x0 ) = Hx0 (x) + r2−n f (x) dx +
(2 − n) ωn Ω
Z
1 ∂ 2−n
+ Hx0 + r u(x) ds,
(2 − n) ωn ∂Ω ∂n
ou ainda,
Z
Hx0 (x) r2−n
u(x0 ) = + f (x) dx +
Ω (2 − n) ωn (2 − n) ωn
Z
∂ Hx0 r2−n
+ + u(x) ds,
∂ Ω ∂ n (2 − n) ωn (2 − n) ωn
Fazendo
Hx0 (x) r2−n ,
Gx0 (x) = +
(2 − n) ωn (2 − n) ωn
a expressão acima fica escrita como
Z Z
∂ Gx 0
(6.3) u(x0 ) = Gx0 (x) f (x) dx + (x) u(x) ds.
Ω ∂Ω ∂n
Portanto, se as funções Gx0 (x) e u(x) ∂ Ω = a(x) são conhecidas, a solução do problema de
Dirichlet (
∆u = f , em Ω,
u = a(x) ∂Ω
será dada, em cada ponto x0 ∈ Ω, pela expressão (6.3).
r2−n
·
(2 − n) ωn
Além disso, Gx0 (x) satisfaz as seguintes condições:
Hx0 (x) 1 r2−n
∆ =0 e Hx0 (x) = = sx0 (x).
(2 − n) ωn (2 − n) ωn ∂Ω (2 − n) ωn
D.6 Função de Green 853
D EFINIÇÃO : Diz-se que uma região Ω ⊂ Rn tem uma função de Green G(x, x0) se, para cada
x0 ∈ Ω, o problema de Dirichlet
∆H(x, x0) = 0, em Ω,
1
H(x, x0) = − kx − x0 k2−n , x ∈ ∂Ω
(2 − n) ωn
tem solução H(x, x0 ). Neste caso, a função de Green é dada por
kx − x0k2−n
G(x, x0 ) = + H(x, x0 ) n ≥ 3.
(2 − n) ωn
Para o caso n = 2, o procedimento feito anteriormente é análogo e será deixado como exer-
cício. Nesse caso, a função de Green é dada por
ln kx − x0 k
G(x, x0) = + H(x, x0 ).
2π
Lema 6.1: n
Sejam Bε (x) ⊂ R uma bola de centro x e raio ε e u : Bε (x) → R uma função de
classe C1 Bε (x) ∩ C2 (Bε (x)). Faça
1
Γ(z, x) = kz − xk2−n, z ∈ ∂ Bε (x).
(2 − n)ωn
Então,
∂Γ 1 zi − xi 1 zi − xi ,
(a) (z, x) = =
∂ zi ωn kz − xkn ωn ε n
∂Γ 1 1 1 1 ,
(b) (z, x) = [∇ Γ(z, x)] · n = n−1
=
∂n ωn kz − xk ωn ε n−1
Z
∂Γ
(c) lim u(z) (z, x) dz S = u(x).
ε →0 ∂ Bε (x) ∂n
D EMONSTRAÇÃO : Sejam
∂Γ 1 ∂
(z, x) = · kz − xk2−n
∂ zi (2 − n)ωn ∂ zi
1 ∂ h 2 2
i(2−n)/2
= · (z1 − x1 ) + · · · + (zn − xn)
(2 − n)ωn ∂ zi
h i−n/2
1 (2 − n) 2 2
= · · [2(zi − xi )] (z1 − x1) + · · · + (zn − xn )
(2 − n)ωn 2
854 D Equação de Laplace: estudo mais geral
1 h i−n/2
2 2
= · (zi − xi ) (z1 − x1) + · · · + (zn − xn )
ωn
1 zi − xi
= ·
ωn [(z1 − x1)2 + · · · + (zn − xn )2 ]n/2
1 zi − xi 1 zi − xi ,
= n
=
ωn kz − xk ωn ε n
demonstrando a parte (a).
Agora demonstra-se o item (b). Pela primeira parte, já demonstrada, segue-se que
1 z1 − x1 , , 1 zn − xn
∇ Γ(z, x) = ···
ωn kz − xkn ωn kz − xkn
1 z1 − x1 , , zn − xn
= ··· ·
ωn kz − xkn kz − xkn
Portanto,
∂Γ
(z, x) = [∇ Γ(z, x)] · n
∂n
1 z1 − x1 , , zn − xn z−x
= ··· ·
ωn kz − xkn kz − xkn kz − xk
!
1 z1 − x1 , , zn − xn z1 − x1 , , zn − xn
= ··· · ···
ωn kz − xkn kz − xkn kz − xk kz − xk
1 (z1 − x1 )2 (zn − xn)2
= + ···+
ωn kz − xkn+1 kz − xkn+1
1 kz − xk2
=
ωn kz − xkn+1
1 1 1 1 ,
= n−1
=
ωn kz − xk ωn ε n−1
como foi afirmado.
Por fim, mostra-se a parte (c), isto é, será demonstrado que
Z
∂Γ
lim u(z) (z, x) dzS = u(x).
ε →0 ∂ Bε (x) ∂n
Tem-se: Z Z
∂Γ ∂Γ
u(z) (z, x) dz S = u(z) (z, x) dz S
∂ Bε (x) ∂n kz−xk=ε ∂n
= (pela parte (b))
Z
1 1
= u(x + ε n ) dz S
kz−xk=ε ωn ε n−1
Z
1
= u(x + ε n) dzS.
ωn ε n−1 kz−xk=ε
D.6 Função de Green 855
Para mostrar que a integral converge para o valor u(x), mostrar-se-á que, dado um real δ > 0,
pode-se sempre encontrar outro real τ > 0 tal que
Z
∂ Γ
u(z) (z, x) d z S − u(x) < δ, sempre que ρ < τ ,
∂ B (x) ∂n
ε
ωn ρ n−1
u(x) = u(x)
ωn ρ n−1
Z
u(x)
= dz S
ωn ρ n−1 kz−xk=ρ
Z
1
= u(x) dzS
ωn ρ n−1 kz−xk=ρ
Assim,
Z Z
∂Γ 1
u(z) (z, x) dz S − u(x) = u(x + ε n ) dzS −
∂ Bρ (x) ∂n ωn ε n−1 kz−xk=ρ
Z
1
− u(x) dzS
ωn ρ n−1 kz−xk=ρ
Z
1
= [u(x + ρ n ) − u(x)] dzS.
ωn ρ n−1 kz−xk=ρ
Z
∂Γ
u(z) (z, x) dzS − u(x) < δ .
∂B ∂n
ρ (x)
Proposição 6.1: Seja Ω ⊂ Rn uma região que tem uma função de Green G. Então, a função
de Green é simétrica, isto é, G(x, y) = G(y, x) para todos x, y ∈ Ω, com x 6= y.
D EMONSTRAÇÃO : Fixe x, y ∈ Ω. Sejam u, v : W → R duas funções dadas, respectivamente,
por u(z) = G(z, x) e v(z) = G(z, y). Por construção, a função de Green,
kx − yk2−n
G(x, y) = + H(x, y),
(2 − n) ωn
satisfaz ∆x G(x, y) = 0, ou seja, a função de Green satisfaz a equação de Laplace na primeira
variável (o laplaciano deve ser tomando em relação a x). Segue-se daí que
∆u(z) = ∆z G(z, x) = 0, z 6= x,
∆v(z) = ∆z G(z, y) = 0, z 6= y.
Além disso, para todos x, z ∈ ∂ W, tem-se
kz − xk2−n
u(z) = G(z, x) = + H(z, x)
(2 − n) ωn
kz − xk2−n 1
= − kz − xk2−n
(2 − n) ωn (2 − n) ωn
= 0.
Analogamente mostra-se que v(z) = 0 para todos y, z ∈ ∂ W .
Mostrar-se-á que u(z) = v(z) aplicando a segunda identidade de Green na região W = Ω \
[Bε (x) ∪ Bε (y)], onde ε > 0 é suficientemente pequeno. Assim,
Z Z
∂v ∂u
u −v dzS = (u ∆v − v ∆u) dz Ω = 0,
∂W ∂n ∂n W
pois em W tem-se que ∆u = ∆v = 0. Observa-se que a notação dzS diz que a integral de super-
fície é feita z e que dz Ω denota uma integração em Ω, mas na variável z.
Portanto, Z
∂v ∂u
0= u −v dz S
∂W ∂n ∂n
Z
∂v ∂u
= u −v dz S
∂ (Ω\[Bε (x)∪Bε (y)]) ∂n ∂n
D.6 Função de Green 857
Z Z
∂v ∂u ∂v ∂u
= u −v dz S + u −v dz S
∂Ω ∂n ∂n ∂ [Bε (x)∪Bε (y)] ∂n ∂n
Z Z
∂v ∂u ∂v ∂u
= u −v dz S + u −v dz S +
∂Ω ∂n ∂n ∂ Bε (x) ∂n ∂n
Z
∂v ∂u
+ u −v dzS.
∂ Bε (y) ∂n ∂n
Deve-se observar que a integral sobre ∂ Ω o vetor normal n aponta para fora de Ω, enquanto
as integrais sobre ∂ Bε (x) e ∂ Bε (y) o vetor normal n aponta para o interior de cada uma dessas
bolas.
Além disso, tem-se que u = v = 0 em ∂ Ω, anulando a primeira integral no último membro
acima. Deste modo, obtém-se
Z Z
∂v ∂u ∂v ∂u
u −v dz S + u −v dzS = 0,
∂ Bε (x) ∂n ∂n ∂ Bε ( y ) ∂n ∂n
ou ainda, que
Z Z
∂v ∂u ∂u ∂v
u −v dz S = v −u dzS,
∂ Bε (x) ∂n ∂n ∂ Bε ( y ) ∂n ∂n
lembrando mais uma vez que o vetor normal n aponta para o interior de Bε (x) ∪ Bε (y).
Agora será analisada as integrais em cada membro. A demonstração será dividida em três
passos: as duas integrais no primeiro membro, as duas integrais no segundo membro e, por fim,
a demonstração final da afirmação da proposição.
PASSO 1: Serão analisadas as duas integrais do primeiro membro. Será demonstrado que
Z Z
∂v ∂u
lim u dz S = 0 e lim v dz S = v(x).
ε →0 ∂ Bε (x) ∂ n ε →0 ∂ Bε (x) ∂n
∂v
Como u é contínua na vizinhança de x, então ela é limitada. Logo, existe M > 0 tal que
∂n
∂v
u ≤ M,
∂n
Z
∂v
lim u dzS = 0.
ε →0 ∂ Bε (x) ∂n
Para mostrar a segunda parte, serão usados o item (c) do lema 6.1, que diz
Z
∂Γ
lim v(z) (z, x) dz S = v(x),
ρ →0 ∂ Bε (x) ∂n
e o fato que Z
∂H
lim v (z, x) dzS = 0.
ε →0 ∂ Bε (x) ∂n
Para mostrar a última afirmação acima, basta observar que v é contínua e ∂ H/∂ n é de classe
C2 , de modo que são limitadas no fecho da bola, ou seja, que |v.(∂ H/∂ n)| < M para alguma
constante M > 0. Deste modo,
Z Z Z
∂ H ∂H
v (z, x) d S
z ≤ v (z, x) d S < M dz S
∂ B (x) ∂ n ∂ Bε (x)
∂n z ∂ Bε (x)
ε
PASSO 2: Serão analisadas as duas integrais do segundo membro. Será demonstrado que
Z Z
∂u ∂v
lim v dz S = 0 e lim u dzS = u(y).
ε →0 ∂ Bε (y) ∂n ε →0 ∂ Bε (y) ∂n
D.6 Função de Green 859
∂v
Como v é contínua na vizinhança de y, então ela é limitada. Logo, existe M > 0 tal que
∂n
∂u
v ≤ M,
∂n
Para mostrar a segunda parte, será usado o item (c) do lema 6.1, que diz
Z
∂Γ
lim u(z) (z, y) dz S = u(y),
ρ →0 ∂ Bε (y) ∂n
e o fato que Z
∂H
lim u (z, y) dz S = 0.
ε →0 ∂ Bε (y) ∂n
Para mostrar a última afirmação acima, basta observar que u é contínua e ∂ H/∂ n é de classe
2
C , de modo que são limitadas no fecho da bola, ou seja, que |u.(∂ H/∂ n )| < M para alguma
constante M > 0. Deste modo,
Z Z Z
∂H ∂H
∂ B (y) u ∂ n (z, x) dzS ≤ ∂ B (y) u ∂ n (z, x) dzS < M ∂ B (y) dzS
ε ε ε
Z Z
∂Γ ∂H
lim u(z) (z, y) dzS = u(y) e lim u(z) (z, y) dzS = 0.
ρ →0 ∂ Bε (y) ∂n ε →0 ∂ Bε (y) ∂n
Portanto,
Z Z Z
∂u ∂Γ ∂H
lim u dz S = lim u dz S + lim u (z, y) dz S
ε →0 ∂ Bε (y) ∂ n ε →0 ∂ Bε ( y ) ∂ n ε →0 ∂ Bε ( y ) ∂n
= u(y) + 0 = u(y),
que demonstra a afirmação feita anteriormente.
onde, na primeira integral, por dSy, está-se indicando que a integração é em relação a y.
Dados Ω ⊂ Rn e dadas as funções f e u0 , se existirem a função de Green relativamente a Ω
e a solução u do problema de Dirichlet, então ela será dada por (6.4).
D.6 Função de Green 861
Os cálculos realizados acima foram feitos formalmente, sem rigor. Observa-se que é impor-
∂G
tante garantir que a derivada normal existe e, portanto, que faça sentido a integral em que a
∂n
mesma aparece. Este é um problema delicado e não será feito neste texto. O leitor interessado
poderá consultar o capítulo 21 do livro Partial Differential Equations of Mathematical Physics
de S. L. Sobolev. Em linhas gerais, deve-se interpretar tal derivada normal como certo limite
uniforme, isto é,
∂G
(x, y) = lim ∇G (x, y + t n y ) · n y ,
∂n t→0
existe uniformemente em y, onde o gradiente é calculado em relação à segunda variável.
Para finalizar esta seção, chamar-se-á a atenção do leitor para algumas propriedades impor-
tantes da função de Green que não são demonstradas devido ao caráter elementar deste texto.
Inicialmente, observar-se-á que, dado Ω ⊂ R3 , se existir a função de Green, relativamente a
Ω, será a função G definida no conjunto Ω × Ω \D, onde D = {(x, y) ∈ Ω × Ω | x = y} é a
diagonal de Ω × Ω,
G : Ω × Ω \D → R.
Além disso, a função de Green, como foi definida anteriormente, possui as seguintes pro-
priedades:
Observação 6.1: Até este ponto tem-se usado as expressões “se existir a função de Green”
e “se existir a solução do problema de Dirichlet” porque não foi demonstrado ainda nenhum
resultado sobre existência. Além disso, é possível perceber que a construção da função de Green
G depende do domínio Ω, além do fato de a solução do problema de Dirichlet depender da
função f dada. Em seção futura volta-se a estes temas.
Para concluir esta parte, observa-se que decorre das definições de G e F que
G(x, y) = 0 se y ∈ ∂ Ω.
Assim, conhecida a função singular s(x, y), para se determinar a função de Green G basta
resolver o problema
(
∆ϕ (x, y) = 0, se y ∈ Ω,
(6.5)
ϕ (x, y) = −s(x, y), se y ∈ ∂ Ω.
862 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Exemplo 6.1: Neste exemplo determinar-se-á a função de Green na bola BR (0) ⊂ R3. Neste
caso,
1 1
s(x, y) =
4π kx − yk
e deve-se determinar ϕ (x, y) tal que
(6.6a) ∆ϕ (x, y) = 0,
se kyk ≤ R,
1 1 ,
(6.6b)
ϕ (x, y) = − se kyk = R.
4π kx − yk
Seja
k 1 ,
ϕ (x, y) = −
4π kλ x − yk
com λ x 6= y, onde k e λ são números a serem determinados de modo que ϕ satisfaça as
condições impostas.
Evidentemente, tem-se que ∆ϕ = 0 em BR (0). Verificar-se-á a condição de fronteira. Suponha-
se y ∈ ∂ BR (0), isto é, que se tenha kyk = R. Então,
k 1 1 1 ,
− =−
4π kλ x − yk 4π kx − yk
donde
k2 kx − yk2 = kλ x − yk2 ,
que equivale a
k2 hx − y, x − yi = hλ x − y, λ x − yi.
Desenvolvendo-se os produtos escalres, segue-se que
k2 − 1 kyk2 = λ 2 − k2 kxk2 + 2 k2 − λ hx, yi.
donde λ x = x = y.
Escolha-se, então, λ 6= 1. Como kyk = R, obtém-se
R2
(λ − 1) R2 = λ (λ − 1) kxk2 ou λ= = k2 .
kxk
Tomando-se k = R/kxk e substituindo-se na expressão de ϕ , resulta que
1 R 1
ϕ (x, y) = −
2
·
4π kxk
R
x − y
kxk2
1
1 R 1
G(x, y) = −
·
4π kx − yk kxk
R 2
kxk2 x − y
Na seção anterior viu-se que, se existe a função de Green, relativamente a Ω ⊂ R3, a solução
do problema
∆u = f em Ω
será representada pela equação (6.3),
Z Z
∂G
u(x) = (x, y) dSy − G(x, y) f (y) dy,
∂Ω ∂n Ω
devendo ser dada, também, a função u(y) y∈∂ Ω .
Mas para se usar a fórmula acima, é preciso conhecer, para cada x fixo em Ω, o valor de
∂G
(x, y) para todo y ∈ Ω.
∂n
Far-se-á, a seguir, esse cálculo para o caso em que Ω = BR (0) ⊂ R3 , ficando o caso do disco
Ω = BR (0) ⊂ R2 como exercício.
Seja então Ω = BR (0) = y ∈ R3 | kyk ≤ R . Sejam x, y ∈ Ω, sendo
Como
∂G
(x, y) = h∇G(x, y), n i,
∂n
deve-se, inicialmente, calcular ∇G(x, y), sendo as derivadas em relação à variável y. Calcula-se
a primeira componente do ∇G, sendo as outras duas calculadas de modo análogo. A função de
Green para a bola BR (0), calculada na seção anterior, é
1
1 R 1
G(x, y) = −
2
, R = kx − yk.
4π kx − yk kxk
R
kxk2 x − y
donde
D.7 Fórmula e teorema de Poisson 865
"
1 (x1 − y1)
(∇G)y1 = kx − yk−2 −
4π kx − yk
R2
2
−2 x − y1 #
R
R
kxk 2 1
(7.1) −
2
x − y
2
,
kxk kxk
R
kxk2 x − y
pois
∂ x1 − y1
(kx − y) = − .
∂ y1 kx − yk
Considere-se, agora, y ∈ ∂ BR (0), isto é, kyk = R. Neste caso, viu-se que G(x, y) = 0. Logo,
da expressão de G ressulta que
1
1 R 1
,
0 = G(x − y) = −
y ∈ ∂ BR (0),
4π kx − yk kxk
R2
kxk2 x − y
ou
2
kxk
R
,
(7.2) kx − yk =
x − y
R kxk2
para todo y ∈ ∂ BR (0).
Substituindo-se a equação (7.2) na equação (7.1), obter-se-á o seguinte resultado:
R2
x − y1
2 1
∂G 1 R 3 kxk
= 3 (x1 − y1 ) − kx − yk
3
∂ y1 4π kx − yk kxk
R 2
kxk2 x − y
R2
kxk2 x1 − y1
2
3
1 R kxk3
R
= 3 (x1 − y1 ) − 3
2
x − y
2
3
4π kx − yk kxk R kxk
R
x − y
kxk2
2
1 kxk2 R
= (x1 − y1) − 2 x1 − y1
4π kx − yk3 R kxk2
1 kxk2
= − 1 y1
4π kx − yk3 R2
1 kxk2 − R2
= y1
4π kx − yk3 R2
1 1 2 2 y1
= kxk − R ·
4π kx − yk3 R2
866 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Teorema 7.1 (Poisson): Seja u0 ∈ C (∂ BR (0)). Então, a função u(x), definida como
2 Z
R − kxk2 u0(y)
3
dSy, se kxk < R,
u(x) = 4 π R k yk=R kx − yk
u (x), se kxk = R,
0
pertence a classe C BR (0) ∩ C2 (BR (0)) e é solução do problema
(
∆u = 0, em BR (0),
u(x) = u0 (x), em ∂ BR (0).
isto é,
kxk < R ⇒ kx − yk > 0.
Logo, a função
R2 − kxk2
H(x) =
kx − yk3
está definida para todo x ∈ BR (0) e é aí infinitamente diferenciável.
Como a integração é em relação a y, pode-se derivar sob o sinal de integral. Assim,
Z 2
1 R − kxk2
∆u(x) = u0 (y) ∆ dSy.
4π R kyk=R x − yk3
Sendo
∂2 ∂2 ∂2
x = (x1 , x2, x3) e ∆= + + ,
∂ x21 ∂ x22 ∂ x23
para se calcular o laplaciano em questão, faça-se
Assim, obter-se-á
∂H ∂ ∂α ∂β
(x) = [α (x) β (x)] = β (x) (x) + α (x) (x)
∂ x1 ∂ x1 ∂ x1 ∂ x1
e
∂ 2H ∂ 2α ∂ 2β ∂α ∂β
2
(x) = β (x) 2
(x) + α (x) 2
(x) + 2 (x) (x).
∂ x1 ∂ x1 ∂ x1 ∂ x1 ∂ x1
Do mesmo modo se obtém
∂ 2H ∂ 2α ∂ 2β ∂α ∂β
2
(x) = β (x) 2
(x) + α (x) 2
(x) + 2 (x) (x),
∂ x2 ∂ x2 ∂ x2 ∂ x2 ∂ x2
e
∂ 2H ∂ 2α ∂ 2β ∂α ∂β
2
(x) = β (x) 2
(x) + α (x) 2
(x) + 2 (x) (x),
∂ x3 ∂ x3 ∂ x3 ∂ x3 ∂ x3
donde
∂α ∂β ∂α ∂β ∂α ∂β
∆H = β (x) ∆α + α (x) ∆β + 2 + + ·
∂ x1 ∂ x1 ∂ x1 ∂ x2 ∂ x3 ∂ x3
Calculando-se as derivadas de α e β , vem
868 D Equação de Laplace: estudo mais geral
∂α ∂α ∂α
= −2 x1, = −2 x2 e = −2 x3,
∂ x1 ∂ x2 ∂ x3
o que implica em ∆α = −6.
∂β x1 − y1 , ∂β x2 − y2 ∂β x3 − y3 ,
= −3 = −3 e = −3
∂ x1 kx − yk5 ∂ x2 kx − yk5 ∂ x3 kx − yk5
que implica em
6
∆β = ·
kx − yk5
Substituindo-se essas expressões em ∆H e também α e β por suas expressões, segue-se que
6
∆H = − 6kx − yk−3 + R2 − kxk2 +
kx − yk5
6
+ [x1(x1 − y1) + x2 (x2 − y2) + x3 (x3 − y3 )]
kx − yk5
6 2 2
2 2
= R − kxk − kx − yk + 2kxk − 2hx, yi .
kx − yk5
Efetuando-se os cálculos na expressão entre os colchetes, encontra-se
R2 − kxk2 − kx − yk2 + 2kxk2 − 2hx, yi = R2 − kxk2 − kxk2 − kyk2 +
+ 2hx, yi + 2kxk2 − 2hx, yi
= R2 − kyk2 = R2 − R2 = 0,
o que implica ser ∆H = 0. Logo, se kxk < R e kyk = R, tem-se ∆u = 0, que é o que se desejava
mostrar.
Já se havia observado que a função u, como foi definida, é infinitamente diferenciável em
BR (0) = x ∈ R3 | kxk < R . Logo, satisfaz a condição de ser u ∈ C2 (BR (0)). Para se mostrar
que u ∈ C BR (0) , mostre-se que a função u pode ser estendida continuamente a ∂ BR (0) tal
que u ≡ u0 se x ∈ ∂ BR (0).
Na demonstração, usar-se-ão dois resultados, um deles decorrendo diretamente das hipóteses
do teorema, que são os seguintes:
(2) A função u0 (x) é contínua em ∂ BR (0), logo, se y, x0 ∈ ∂ BR (0) e dado ε > 0, é possível
encontrar δ > 0 tal que
Além disso, u0 , sendo contínua em um compacto, é limitada. Existe, portanto, M > 0 tal que
Figura 7.6:
Z Z
u(x) − u0 (x0 ) = [u(x) − u0 (x0 )] h(x, y) dSy + [u(x) − u0(x0)] h(x, y) dSy.
SR −σ σ
onde se fez
R2 − kxk2
h(x, y) = ·
4π Rkx − yk3
Considere-se a última integral em primeiro lugar. Como y ∈ σ = Bδ (x0 )∩ ∂ BR (0), então vale
a desigualdade |u0 (y) − u0(x0)| < ε/2, como já foi visto.
Logo, a última integral satisfaz a seguinte desigualdade:
Z Z
[u0 (y) − u0(x0)] h(x, y) dSy ≤ |u0(y) − u0 ((x0)| h(x, y) dSy
σ σ
Z
ε
< h(x, y) dSy
σ 2
Z
ε
= h(x, y) dSy
2 σ
ε
= ·
2
Decorre daí que
Z
ε
(7.4) u(x) − u0(x0 ) < + [u0 (y − u0(x0 )] h(x, y) dSy.
2 SR −σ
Sendo u0 limitada sobre ∂ BR (0), tem-se que |u0 (y − u0(x0 )| ≤ 2M, como foi visto.
Pode-se supor agora que o ponto x seja um ponto de BR (0)∩ Bδ/2 (x0 ). Todas as desigualdades
anteriores continuam válidas, pois tem-se que Bδ/2(x0 ) ⊂ Bδ (x0 ). O ponto x assim escolhido é
tal que
δ
kx − x0 k <
2
e essa relação implica a seguinte:
δ
ky − xk = k(y − x0 ) + (x0 − x)k ≥ ky − x0 k − kx − x0 k > δ − = δ1 ,
2
donde
1 1
< ·
kx − yk3 δ13
Mas, então, h(x, y) satisfaz a relação
ε 4M (R − kxk)
< + 3
· 4π R2
2 4πδ1
ε 4MR2 (R − kxk)
= + ·
2 δ13
Seja agora ρ1 um número real positivo suficientemente pequeno tal que se tenha
4MR2 ρ1 ε
< ·
δ13 2
O teorema de Poisson, que se acabou de demonstrar, diz que a solução do problema de Dirich-
let homogêneo para a bola BR (0) existe. Que é um problema bem posto, isto é, que a solução é
única e depende continuamente dos dados será visto na próxima seção, ao se estudar o chamado
“princípio do máximo” para funções harmônicas.
Como se disse no final da última seção, ver-se-ão, agora, algumas propriedades de um sub-
conjunto do conjunto das soluções da equação de Laplace, chamadas funções harmônicas. Essas
propriedades permitirão mostrar que o problema de Dirichlet é bem posto. Comerçar-se-á com
uma definição.
Z
1
(8.1) u(x) = u(y) ds,
4π r 2 ky−xk=r
e
Z
1
(8.4) u(x) = 2 u(y) dy,
πr ky−xk=≤r
Como o nome está indicando, a equação (8.1) diz que o valor de u no ponto x é dado pela
média dos valores de u sobre a superfície da bola de centro x.
Na demonstração da proposição dada a seguir, usar-se-á um resultado de Cálculo que será
enunciado e demonstrado na forma de lema.
Então, tem-se
Z Z R Z R Z
u(x, y, z) dx dy dz = I(ρ ) d ρ = u(x, y, z) ds d ρ .
BR (0) 0 0 ∂ Bρ (0)
ZZ
∂ ϕ ∂ ϕ
=
u[ϕ (u, v)]
×
du dv
D ∂u ∂v
Z π Z 2π
(8.5) = u(ρ · sen u · cosv, ρ · sen u · sen v, ρ · cos v) · ρ 2 sen u du dv.
0 0
Z R Z π Z 2π
(8.6) = u(ρ · sen u · cos v, ρ · sen u · sen v, ρ · cos u) · ρ 2 · sen u d ρ du dv.
0 0 0
donde Z
3
u(x) = u(y) dy.
4π r 3 ky−xk≤r
(2) A segunda propriedade implica a primeira.
Se vale a equação (8.2), então
876 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Z Z r Z
r3 u(x) 1 1
= u(y) dy = u(y) ds d ρ .
3 4π ky−xk≤r 4π 0 ky−xk=ρ
Fazendo-se Z
ϕ (ρ ) = u(y) dy,
ky−xk=ρ
que é contínua em 0 ≤ ρ ≤ r e Z r
ψ (r) = ϕ (ρ ) d ρ ,
0
com 0 ≤ r ≤ k, tal que Br (x) ⊂ Ω, segue-se que
Z
dψ
= ϕ (r) = u(y) ds.
dr ky−xk=r
Notando que
r3 u(x) 1
= ψ (r),
3 4π
resulta que Z
1
u(x) = u(y) ds.
4π ky−xk=r
Pode-se agora demonstrar o resultado central desta seção afirmando-se que, se u satisfaz a
propriedade da média em Ω, então os pontos de máximo e mínimo de u são pontos da fronteira
de Ω. Mais precisamente, tem-se o segunte:
A = {x ∈ Ω | u(x) = M} .
Nessas condições, A 6= ∅, pois x0 ∈ A e A ⊂ Ω, sendo Ω um conjunto conexo por hipótese.
Resta mostrar que A é fechdo e aberto em Ω.
(1) A é fechado em Ω.
(2) A é aberto em Ω.
Ter-se-á de mostrar agora que, se x0 ∈ A e ρ > 0 é tal que Bρ (x0 ) ⊂ Ω, então Bρ (x0 ) ⊂ A, isto
é, u(x) = M para todo ponto x ∈ Bρ (x0 ).
Suponha-se que isso não fosse verdade. Então existiria x1 Bρ (x0 ) tal que u(x1 ) < M. Sendo u
contínua em Ω, existe Bδ (x1 ) ⊂ Bρ (x0 ) com u(x) < M para todo x ∈ Bδ (x1 ). Veja-se figura 8.7.
Figura 8.7:
Z Z
3 3
M= u(x) dx = u(x) dx +
4πρ 3 Bρ (x0 ) 4πρ 3 Bρ (x0 )\B(δ (x1 )
Z Z Z
3 3 3
+ u(x) dx < u(x) dx + M dx
4πρ 3 Bδ (x1 ) 4πρ 3 Bρ (x1 )\Bδ (x1 ) 4πρ 3 Bδ (x1 )
878 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Z
3 3M 4π 3
= u(x) dx + · ·δ
4πρ 3Bρ (x0 )\Bδ (x1 ) 4πρ 3 3
3
3M 4 3 4 3 δ
= 3
πρ − πδ + M
4πρ 3 3 ρ
3 3
δ δ
=M− M+ M = M,
ρ ρ
isto é,
M = u(x0 ) < M,
o que é uma contradição.
Logo, não pode existir x1 ∈ Bρ (x0 ) com u(x1 ) < M. Daí, u(x) = M para todo x ∈ Bρ (x0 ) e
Bρ (x0 ) ⊂ A. Isto mostra que A é aberto em Ω, do que resulta A = Ω. Portanto, u = M em Ω, o
que contraria a hipótese de ser u não constante em Ω. Essa contradição é consequência de se
haver suposto o ponto de máximo como um ponto interior.
Exemplo 8.2: u(ξ , η ) = ξ 2 − η 2 é harmônica em Ω = (ξ , η ) ∈ R2 | ξ 2 + η 2 < r2 , r > 0 .
Teorema 8.2: Uma função u : Ω → R é harmônica em Ω se, e somente se, u possui a pro-
priedade da média em Ω.
D EMONSTRAÇÃO : (⇒) Suponha que u é harmônica; mostrar-se-á que u possui a propriedade
da média.
De fato, seja u harmônica em Ω. Logo, ∆u = 0 em Ω e u ∈ C(Ω) ∩ C 2 (Ω). Seja x um ponto
qualquer em Ω e r > 0 tal que Br (x) ⊂ Ω. Pelo teorema 5.1 (ou pelo teorema 5.2), u no ponto x
é dada por
Z
∂u ∂F
u(x) = F(x − y) (y) − u(y) (x − y) dSy,
ky−xk=r ∂n ∂n
onde lembramos que F(x − y) = s(x, y) + ϕ (x, y), sendo ∆ϕ = 0 em relação a y. Decorre daí,
usando-se a segunda identidade de Green, que
Z
∂u ∂s ∂ϕ
u(x) = (s + ϕ ) −u + dSy
ky−xk=r ∂n ∂n ∂n
Z Z
∂u ∂s ∂u ∂ϕ
= s −u dSy + ϕ −u dSy
ky−xk=r ∂n ∂n ky−xk=r ∂n ∂n
Z Z
∂u ∂s
= s −u dSy + (ϕ ∆u − u ∆ϕ ) dy
ky−xk=r ∂n ∂n ky−xk=r
Z
∂u ∂s
= s −u dSy,
ky−xk=r ∂n ∂n
pois ∆u = 0 em Ω e u é harmônica e ∆ϕ = 0 em relação a y.
Sendo
1
s(x, y) = kx − yk−1 ,
4π
obtém-se, para ky − xk = r, que
∂s 1 1
= − · 2,
∂n 4π r
como já foi visto. Logo,
Z
1 1 ∂u 1 1
u(x) = · · +u· · dSy
ky−xk=r 4π r ∂ n 4π r 2
Z Z
1 ∂u 1
= (y) dSy + u(y) dSy
4π r ky−xk=r ∂ n 4π r 2 ky−xk=r
Z
1
= u(y) dSy.
4π r 2 ky−xk=r
Então u ∈ C Ω e
Z
1
u(x) = u(y) dSy,
4π r 2 kx−yk=r
onde x é um ponto qualquer em Ω.
Portanto, u possui a propriedade da média em Ω.
880 D Equação de Laplace: estudo mais geral
(⇐) Suponha agora que u possui a propriedade da média; mostrar-se-á que u é harmônica. Se
u possui a propriedade da média em Ω, então u ∈ C Ω . Seja x ∈ Ω e Br (x) ⊂ Ω. O problema
(
∆v = −0, em Br (x),
v = u, em ∂ Br (x),
possui solução,
que
é dada pelo teorema de Poisson, como já foi demonstrado anteriormente,
com v ∈ C Br (x) ∩ C2 (Br (x)), o que implica ser v uma função harmônica em Br (x).
Mas se v é harmônica em Br (x), segue-se que v possui a propriedade da média em Br (x) e
o mesmo ocorre com a função w = u − v. Se w possui a propriedade da média em Br (x), pelo
teorema 8.1, o máximo e o mínimo de w ocorrerm em pontos de ∂ Br (x). Mas w = 0 em ∂ Br (x),
o que implica ser w ≡ 0 em Br (x), ou seja, v ≡ u em Br (x).
Resulta daí que u é uma função harmônica em Br (x) ⊂ Ω. Como x ∈ Ω foi um ponto esco-
lhido arbitrariamente, conclui-se que u é harmônica em Ω, o que demonstra o teorema.
Assim, o teorema 8.2 se aplica igualmente às funções harmônicas; poder-se-ia ter enunciado
em primeiro lugar o seguinte teorema: “Se u é harmônica em Ω, então o máximo e o mínimo
de u ocorrem em pontos de ∂ Ω”.
Pode-se agora mostrar que o problema de Dirichlet para Ω = Br (0) é bem posto, isto é, a
solução existe, é única e depende continuamente das condições de contorno.
Convém lembrar que o problema de Dirichlet consiste em, dados um aberto limitado e conexo
Ω ⊂ R3 e uma função u0 : ∂ Ω → R contínua, determinar uma u ∈ C Ω ∩C2(Ω) tal que ∆u = 0
em Ω e a restrição de u a ∂ Ω seja igual a u0.
Em outras palavras: o problema de Dirichlet consiste em encontrar uma solução para a
equação de Laplace satisfazendo uma condição de fronteira dada.
A existência da solução do problema de Dirichlet quando Ω = Br (0) é garantida pelo teorema
de Poisson. A unicidade e dependência contínua são consequências do princípio do máximo e
mínimo expresso no teorema 8.1.
De fato, sejam u1 e u2 duas soluções distintas do problema
(
∆u = 0, em Ω = Br (0),
u = u0 , em ∂ Ω = ∂ Br (0).
D.9 Problema de Dirichlet e o teorema de Harnack 881
Então, u1 , u2 ∈ C Br (0) ∩ C2 (Br (0)) e a função w = u1 − u2 é solução do problema
(
∆w = 0, em Ω = Br (0),
w = 0, em ∂ Ω = ∂ Br (0).
Essa desigualdade quer dizer que pequenas modificações nas condições de contorno provo-
cam pequenas modificações na solução. Assim, mostra-se que o problema de Dirichlet é bem
posto para Ω = Br (0). Mostra-se analogamente que, dado Ω ⊂ R3, se existir a solução do prob-
lema de Dirichlet, ela será única e dependerá continuamente da condição de fronteira.
O aberto Ω, nessas condições, chama-se aberto de Dirichlet. A bola Br (0) é um exemplo
simples de tal aberto.
Pode-se formular para a equação de Poisson ∆u = f uma problema análogo ao problema de
Diricchlet. Dados um aberto limitado e conexo Ω ⊂ R3 e funções u0 : ∂ Ω → R e f : Ω → R
com u0 contínua, determinar u ∈ C Ω ∩ C2 (Ω) tal que
(
∆u = f , em Ω,
u = u0 , em ∂ Ω.
O estudo deste problema de Dirichlet é bem mais delicado que o feito quando f = 0 e Ω =
Br (0). Todavia, o leitor pode obter alguma indicação livro de G. Hellwig, Partial Differential
Equations.
Finalizando esta seção, demonstrar-se-á um resultado sobre convergência de funções harmôni-
cas, conhecido como teorema de harnack. Sabe-se que, devido à linearidade do operador de
Laplace, uma combinação linear qualquer de funções harmônicas será uma função harmônica.
A pergunta que ocorreria é se uma série convergente de funções harmônicas define uma função
harmônica. Esta questão é respondida pelo
D EMONSTRAÇÃO : Poe definição, se un é harmônica em Ω, para n ∈ N, então un ∈ C Ω e
satisfaz a propriedade da média. Além disso, os valores máximos e mínimos de un, para cada
n ∈ N, ocorrem em ∂ Ω.
Por hipótese, {ϕn} converge uniformemente para uma ϕ em ∂ Ω. Logo, dado ε > 0, existe
n0 ∈ N tal que
|ϕn (x) − ϕm (x)| < ε , para todo m, n, ≥ n0
e qualquer que seja x ∈ ∂ Ω.
O princípio do máximo e mínimo permite escrever que, para todo m, n ∈≥ n0 ,
o que implica ser {un } unaiformemente convergente em Ω. Então existe u : Ω → R tal que
u∈C Ω e u Ω = ϕ .
Obtiveram-se, nas seções D.5 e D.6, a função de Green e a fórmula de Poisson para Ω =
Br (0) ⊂ R3, ficando a determinação no caso Ω = Br (0) ⊂ R2, usando-se o método ali estudado,
como exercício. Resolver-se-á, agora, o problema de Dirichlet para o círculo utilizando-se o
método de separação de variáveis.
Como os aspectos essenciais do método, tais como convergência de séries de Fourier, cál-
culo de coeficientes dos termos da série, etc., espera-se conhecidos. Limitar-se-á aqui a dar os
resultados principais, utilizando-se, evidentemente, os fatos já conhecidos.
Devido à simetria circular do problema, é conveniente usar coordenadas polares.
Sejam, então, x e y as coordenadas cartesianas de um ponto do plano e r e θ as coordenadas
polares do mesmo ponto. Tem-se
( ∂x ∂x
= cos θ , = −r sen θ ,
x = r cos θ , ∂r ∂θ
⇒
y = r sen θ , ∂ y = sen θ ,
∂y
= r cos θ .
∂r ∂θ
Escrevendo-se
u = u(x, y) = u(r cos θ , r sen θ ),
usando a regra da cadeia, obtém-se as relações
∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂u
(10.1) = + = cos θ + sen θ
∂r ∂x ∂r ∂y ∂r ∂x ∂y
∂u ∂u ∂x ∂u ∂y ∂u ∂u
(10.2) = + = −r sen θ + r cos θ ·
∂θ ∂x ∂θ ∂y ∂r ∂x ∂y
Agora determina-se as derivadas segundas em relação a r e θ . Tem-se:
∂ 2u ∂ ∂u ∂ ∂u
= cos θ + sen θ
∂ r2 ∂r ∂x ∂r ∂y
∂ ∂u ∂x ∂ ∂u ∂y
= cos θ + +
∂x ∂x ∂r ∂y ∂x ∂r
∂ ∂u ∂x ∂ ∂u ∂y
+ sen θ +
∂x ∂y ∂r ∂y ∂y ∂r
2 2
∂ u ∂ 2u ∂ u ∂ 2u
= cos θ cos θ + sen θ + sen θ cos θ + 2 sen θ
∂ x2 ∂ y∂ x ∂ x∂ y ∂y
∂ 2u 2 ∂ u
2 ∂ 2u ,
(10.3) = cos2 θ + sen θ + 2 cos θ sen θ
∂ x2 ∂ y2 ∂ x∂ y
onde usou-se o fato de u ∈ C2 para considerar a igualdade das derivadas parciais mistas.
884 D Equação de Laplace: estudo mais geral
Divide-se, agora, ambos os membros de (10.4) por r2 e em seguida use (10.1) na mesma
expressão para obter
1 ∂ 2u 1 ∂u 2 ∂ u
2
2 ∂ u
2 ∂ 2u
(10.5) = − + sen θ + cos θ − 2 cos θ sen θ ·
r2 ∂ θ 2 r ∂r ∂ x2 ∂ y2 ∂ x∂ y
∂ 2u 1 ∂ 2 u 2 ∂ u
2
2 ∂ u
2 ∂ 2u
+ = cos θ + sen θ + 2 cos θ sen θ −
∂ r2 r2 ∂ θ 2 ∂ x2 ∂ y2 ∂ x∂ y
1 ∂u ∂ 2u ∂ 2u ∂ 2u
− + sen 2 θ 2 + cos2 θ 2 − 2 cos θ sen θ
r ∂r ∂x ∂y ∂ x∂ y
1 ∂u ∂ 2u ∂ 2u
=− + cos2 θ + sen 2 θ + sen 2
θ + cos2
θ
r ∂r ∂ x2 ∂ y2
1 ∂ u ∂ 2u ∂ 2u
(10.6) − + + ·
r ∂ r ∂ x2 ∂ y2
Segue-se de (10.6) que
∂ 2u ∂ 2u ∂ 2 u 1 ∂ u 1 ∂ 2u ,
∆u = + = 2+ +
∂ x2 ∂ y2 ∂r r ∂ r r2 ∂ θ 2
que é o laplaciano em coordenadas polares.
A equação de Laplace ∆u = 0 em coordenadas polares planas se escreve, então, como
D.10 Problema de Dirichlet e fórmula de Poisson para o círculo 885
∂ 2u 1 ∂ u 1 ∂ 2u
+ + = 0.
∂ r2 r ∂ r r2 ∂ θ 2
Suponha, agora, que a solução u possa ser representada na forma
u(r, θ ) = R(r) T (θ ).
Se λ = 0, têm-se as soluções
R(r) = c0 log r + d0 ,
T (θ ) = a + b θ .
0 0
T (θ ) = a1 cos(λ θ ) + b1 sen (λ θ ).
Resumindo:
886 D Equação de Laplace: estudo mais geral
R(r) = c0 log r + d0 ,
λ =0:
T (θ ) = a + b θ .
0 0
R(r) = c1 r λ + d1 r−λ ,
λ 6= 0 :
T (θ ) = a cos(λ θ ) + b sen (λ θ ).
1 1
ficando as constantes a0 , b0 , c0, a1, b1, c1 e d1 para serem determinadas com as condições dadas
em cada problema.
Passa-se, então, à resolução do problema de Dirichlet para o círculo.
Sejam R > 0 e Ω o círculo de centro na origem e raio igual a R:
Ω = (ξ , η ) ∈ R2 | ξ 2 + η 2 < R2 ,
∂ Ω = (ξ , η ) ∈ R2 | ξ 2 + η 2 = R2 .
O problema de Dirichlet consiste, neste caso, em achar uma função u, definida no disco, que
seja contínua na união do disco com sua circunferência, Ω ∪ ∂ Ω, duas vezes continuamente
diferenciável em Ω e cuja restrição à circunferência ∂ Ω seja uma função dada u0 As condições
sobre u0 serão impostas durante a solução do problema. Resumindo:
(
∆u = 0, em Ω, u ∈ C Ω ∩ C2 (Ω) ,
u = u0 , em ∂ Ω, u0 : ∂ Ω → R.
Em coordenadas polares:
2 2
∂ u 1 ∂u 1 ∂ u
+ + = 0, 0 < r < R, −∞ < θ < ∞,
∂ r2 r ∂ r r2 ∂ θ
u = u0 , r = R.
T (θ + 2π ) = T (θ ) ⇒ T (π ) = T (−π ),
T 0 (θ + 2π ) = T 0 (θ ) ⇒ T 0 (π ) = T 0 (−π ).
com 0 ≤ θ ≤ 2π .
Se u0 (θ ) for uma função periódica de período 2π , contínua com derivada primeira contínua
por partes em (−π , π ) e u0(−π ) = u0(π ), então a série de Fourier de u0 , (10.9), convergirá
uniformemente para u0 em R, considerando-se agora sua extensão periódica. Então, tem-se que
de
∞
u0(θ ) = ∑ (Rn an cosnθ + Rn bn sen nθ )
n=0
decorre que
Z 2π
n 1
An = R an = u0 (θ ) cosnθ d θ ,
π 0
Z 2π
n 1
Bn = R bn = u0 (θ ) sen nθ d θ ,
π 0
para n = 0, 1, 2, . . .
Substituindo-se os valores de an e bn na série para u, segue-se que
888 D Equação de Laplace: estudo mais geral
∞
a0 n An n Bn
u(r, θ ) = + ∑ r n cos nθ + r n sen nθ
2 n=1 R R
∞ n
a0 r
= +∑ (An cos nθ + Bn sen nθ ) .
2 n=1 R
Faça uma pequena pausa para uma análise rápida dos resultados que foram conseguidos:
(a) Obteve-se uma sequência de funções {u(r, θ )}, onde un (r, θ ) é harmônica em Ω para cada
n ∈ N. A verificação desse fato fica como exercício. Logo, {vn (r, θ )}, com
∞ n
a0 r
vn (r, θ ) = + ∑ (An cos nθ + Bn cos nθ ),
2 n=1 R
= lim vn (r, θ ).
n→∞
onde Z Z
1 2π 1 2π
An = u0 (θ ) cosnπ d θ e Bn = u0 (θ ) sen nπ d θ ,
π 0 π 0
para n = 0, 1, 2, . . . é a solução do problema de Dirichlet para o círculo de raio R e centro na
origem.
D.10 Problema de Dirichlet e fórmula de Poisson para o círculo 889
Z
#
2π
+ u0 (ϕ ) sen nϕ sen nθ d ϕ
0
Z 2π
"Z
1 1 ∞ r n 2π
= u0 (ϕ ) d ϕ + ∑ u0 (ϕ ) cos nϕ cos nθ +
2π 0 π n=1 R 0
#
+ u0 (ϕ ) sen nϕ sen nθ d ϕ d ϕ
Z 2π Z
1 1 ∞ r n ∞
= u0 (ϕ ) d ϕ + ∑ u0(ϕ ) cos n (ϕ − θ ) d ϕ .
2π 0 π n=1 R 0
h r in
= [cos (ϕ − θ ) + i sen (ϕ − θ )] ,
R
sendo r r
z= [cos(ϕ − θ ) + i sen(ϕ − θ )] = e i(ϕ −θ ) ,
R R
donde r r
|z| = e i(ϕ −θ ) = < 1,
R R
pois 0 ≤ r < R.
Pode-se, pois, escrever que
!
∞ r n ∞ r
n
1+2 ∑ cos n(ϕ − θ ) = Re 1+2 ∑ z , onde z = e i(ϕ −θ ) .
n=1 R n=1 R
R2 − r2
= ·
R2 − 2rR cos(ϕ − θ ) + r2
A fórmula de Poisson, que dá a representação integral da solução do problema de Dirichlet
para o círculo, é, então,
D.10 Problema de Dirichlet e fórmula de Poisson para o círculo 891
Z 2π
R2 − r2 1
u(r, θ ) = u0 (ϕ ) d ϕ .
2π 0 R2 − 2rR cos(ϕ − θ ) + r2
Embora se tenha resolvido, explicitamente, o problema de Dirichlet apenas para o círculo
de raio R e centro na origem, a solução existe para uma grande classe de domínios no plano,
denominados domínios simplesmente conexos. Para se ter uma ideia do que seja um domínio
simplesmente conexo, dir-se-á o seguinte: imagine-se um conjunto aberto e limitdo Ω ⊂ R2 e Γ
uma curva simples, fechada, inteiramente contida em Ω. Podem existir duas situações: ou todos
os pontos interiores a Γ são pontos de Ω ou existe um ou mais pontos interiores à curva que não
são pontos de Ω. Assim, Ω será simplesmenete conexo se todos os pontos interiores a Γ forem
pontos de Ω, qualquer que seja a curva Γ simples e fechada contida em Ω.
Se Ω ⊂ R2 é simplesmente conexo, então o teorema de representação de Riemann afirma que
existe uma transformação conforme de Ω em um círculo de raio R e centro na origem. O leitor
interessado poderá consultar o livro de S. Lang, Complex Analysis.
O teorema de Riemann transforma o problema de Dirichlet para um Ω simplesmente conexo
no problema de Dirichlet para o círculo, com centro na origem, o qual se sabe resolver. Não se
deterá aqui nesse tipo de problema.
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Índice Remissivo
899
900 ÍNDICE REMISSIVO