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Funções Contínuas

Seja f uma função arbitrária. Não é necessariamente verdade que


lim f ( x ) =f ( x 0 )
x→ x 0

Na verdade, há muitas casos em que a igualdade acima não ocorre. Por exemplo, no caso
em f não for definida em x 0, ou no caso em que a equação não faz sentido, como na figura
abaixo:

Novamente, na figura abaixo, temos que lim ¿x → x f ( x ) ¿ não existe


0

O comportamento das funções como em (a), (b) e (c) podem ser considerados como
anormal. Funções que não existem têm algumas particularidades. Queremos adotar o
termo "contínuo". Intuitivamente, uma função f é contínua se o gráfico não contiver
rupturas, saltos, ou oscilações. Esta descrição permite decidir se uma função é contínua
simplesmente olhando para o seu gráfico. A definição precisa é muito importante.
Uma função f é contínua em x 0 se
lim f ( x ) =f ( x 0 )
x→ x 0

Não teremos dificuldade em encontrar muitos exemplos de funções que são, ou não são,
contínuas em algum ponto x 0. Alguns desses exemplos serão vistos no Capítulo 5.
1
A função f ( x )=sinnão é contínua em 0 , porque nem sequer está definida em 0 , e o mesmo
x
1
acontece com a função g ( x )=x ⋅sin .
x
Por outro lado, se extendermos a definição da segunda função defginindo uma nova função

{ )
1
x ⋅ sin ,se x ≠ 0
G ( x )= x
a , se x=0
fazendo a escolha a=G ( 0 ) pode ser feita de tal forma que G será contínua em 0 , isto é,
definimos G ( 0 )=0, como na figura abaixo:
Este tipo de extensão não é possível para a função f definida por

{ )
1
sin ,se x ≠ 0
F ( x )= x
a , se x=0

visto que F não é contínua em 0 , pois não importa o que a seja, lim ¿x → 0 f ( x ) ¿ não existe.
A função

F ( x )= {0x,,sesexxééirracional
racional
)
não é contínua em a , se a ≠ 0, pois
lim F ( x )
x→ a

não existe. Entretanto,


lim F ( x )=0=F ( 0 )
x →0

assim, F é contínua precisamente em um único ponto, a saber, 0 .


As funções f ( x )=c , g ( x )=x e h ( x )=x 2 são contínuas em todos os pontos x 0, pois
lim f ( x ) =lim c=c =f ( x 0 )
x→ x 0 x → x0

lim g ( x )= lim x=x 0=g ( x 0 )


x→ x 0 x→ x 0

lim h ( x )= lim x 2=x 20=h ( x0 )


x→ x 0 x→ x 0

Finalmente, consideremos a função

{ )
0 ,se x é irracional
f ( x )= 1 p
, se x= com q ≠ 0
q q

No capítulo anterior, mostramos que


lim f ( x ) =0
x→ x 0

para todo x 0. Como 0=f ( x 0 ) somente quando x 0 é irracional, então f é contínua em x 0 se x 0 é


irracional, porém não é contínua se a é irracional.
Veremos mais exemplos de funções contínuas depois que provarmos os dois seguintes
teoremas.
Exercício
Mostre que a função

{ )
1
x
f ( x )= 1+2 , se x ≠ 0
1 ,se x =0

é contínua em todo ponto de seu domínio.


Exercício
Mostre que a função f ( x )=x 3 é contínua em todo ponto de seu domínio.
Teorema 1
Se f e g são funções contínuas em x 0, então

1. f +g é também contínua em x 0;

2. f ⋅ g é também contínua em x 0;

Mais ainda, se g ( a ) ≠ 0, então


1
1. é contínua em x 0.
g
Prova:
Como f e g são funções contínuas em x 0 temos que
lim f ( x ) =f ( x 0 ) e lim g ( x )=g ( x 0 )
x→ x 0 x → x0

pelo teorema 2, do capítulo anterior temos que


lim ( f + g ) ( x ) =lim f ( x ) + lim g ( x )=f ( x 0 ) + g ( x 0 )= ( f + g ) ( x 0 ) ,
x→ x 0 x → x0 x → x0

o que mostra que f +g é contínua em x 0. As provas de 2. e 3. são inteiramente análogas.

Considerando as funções f ( x )=c e f ( x )=x temos que estas funções são contínuas em x 0,
para todo x 0; assim, usando o Teorema 1 podemos concluir que a função
n n− 1
bn x +b n −1 x +⋯+b 1 x +b 0
f ( x )= m m− 1
c m x + c m −1 x + ⋯+ c 1 x +c 0

é contínua em todo ponto de seu domínio.


Estudando a função sin com mais detalhes, será fácil provar que sin é contínua em x 0 para
todo x 0; entretanto, vamos assumir este fato. Também podemos provar que a função

sin2 x+ x2 + x 4 sin x
f ( x )= 27 2 2
sin x +4 x sin x
é contínua em cada ponto de seu domínio.
Entretanto, ainda não somos capazes de provar a continuidade de uma função como
f ( x )=sin ( x ) ;claro que precisamos de um teorema sobre a composição de funções
2

contínuas. Antes de anunciarmos este teorema, vejamos um ponto importante sobre a


definição de continuidade. Se traduzirmos a equação
lim f ( x ) =f ( x 0 )
x→ x 0

em termos da definição de limites, obtemos


Para todo ɛ > 0, existe δ >0 tal que, para todo x ,
se 0 <∣ x − x 0 ∣< δ , então ∣ f ( x ) − f ( x0 ) ∣< ɛ

Mas neste caso, onde o limite é f ( x 0 ) , a frase


0<∣ x − x 0 ∣<δ

pode ser substituída pela condição mais simples


∣ x − x 0 ∣< δ ,

pois se x=a , então é certamente verdade que


∣ f ( x ) − f ( x0 ) ∣< ɛ

Teorema 2
Se g é contínua em a , e f é contínua em g ( a ) , então f ∘ g é contínua em a . (Note que é
requerido que f seja contínua em g ( a ) , não em a ).
Prova
Dado ɛ > 0, queremos encontar δ >0 tal que para todo x ,
Se ∣ x − a ∣<δ , então ∣ ( f ∘ g ) ( x ) − ( f ∘ g ) ( a ) ∣< ɛ , isto é ∣f ( g ( x ) ) − f ( g ( a ) ) ∣< ɛ

Vamos usar a continuidade de f para estimar o quanto g ( x ) está próximo de g ( a ) . Como f é


contínua em g ( a ) , então existe δ ′ >0 tal que para todo y ,
( 1 ) Se∣ y − g ( a ) ∣<δ ′ ,então ∣f ( y ) − f ( g ( a ) ) ∣<ɛ

Em particular, isto significa que


( 2 ) Se∣ g ( x ) − g ( a ) ∣< δ ′ , então∣ f ( g ( x ) ) − f ( g ( a ) ) ∣< ɛ

Agora, vamos usar a continuidade de g para estimar o quanto x está próximo de a de tal
modo que ∣ g ( x ) − g ( a ) ∣<δ ′ seja verdadeira.
O número δ é um número positivo, e logo, podemos tomar δ ′=ɛ na definição da
continuidade de g em a . Assim, concluimos que existe δ >0 tal que, para todo x ,
( 3 ) Se ∣ x − a ∣<δ ,então ∣ g ( x ) − g ( a ) ∣< δ ′
Combinando ( 2 ) e ( 3 ) podemos ver que para todo x ,
Se ∣ x − a ∣<δ , então∣ f ( g ( x ) ) − f ( g ( a ) ) ∣<ɛ

Agora, vamos reconsiderar a função

{ )
1
x sin , se x ≠ 0
f ( x )= x
0 , se x=0

Já temos notado que f é contínua em 0 . Uma pequena aplicação dos Teoremas 1 e 2, junto
com a continuidade de sin , mostra que f é também contínua em a , para todo a ≠ 0. Funções
como

f ( x )=sin ( x + sin ( x+ sin ( x ) ) )


2 2 3

podem ser facilmente analizadas.


Os poucos teoremas deste capítulo estão relacionados com a continuidade de funções a um
único ponto, mas o conceito de continuidade não começa a ser realmente interessante até
concentrarmos a nossa atenção em funções que são contínuas em todos os pontos de
alguns intervalo.
Se f é contínua em x para todo x em ( a , b ), então dizemos que f é contínua em ( a , b ).
Continuidade em intervalos fechados é um pouco diferente; a função f é dita contínua em
[ a , b ) se:
( 1 ) f é contínua em x , para todo x em ( a ,b )
(2) +¿
lim ¿
x → a f ( x ) =f ( a ) e lim f ( x ) =f ( b) ¿

x →b

As funções que são contínuas num intervalo são geralmente consideradas como
especialmente bem comportadas; de facto, a continuidade pode ser especificada como a
primeira condição que uma função "razoável" deve satisfazer.
Uma função contínua é por vezes de escrito, intuitivamente, como aquele cujo gráfico pode
ser desenhado sem levantar o seu lápis do papel. Consideremos a função

{ )
1
x ⋅ sin , se x ≠0
f ( x )= x
0 , se x=0

mostra que esta descrição é um pouco optimista, mas é no entanto verdade que há muitos
resultados importantes que envolvem funções que são contínuas num intervalo. Aí os
teoremas são geralmente muito mais difíceis do que os deste capítulo, mas há um teorema
simples que forma uma ponte entre os dois tipos de resultados. A hipótese deste teorema
requer continuidade apenas a um único ponto, mas o conclusão descreve o comportamento
da função em algum intervalo contendo o ponto. Embora este teorema seja realmente um
lema para argumentos posteriores, ele está incluído aqui como um antevisão do que está
para vir.
Teorema
Suponha que f é contínua em a e f ( a ) >0. Então existe δ >0 tal que f ( x ) >0 para todo x
satisfazendo ∣ x − a ∣< δ . Similarmente, se f ( a ) <0, então existe δ >0 tal que f ( x ) <0 para
todo x satisfazendo ∣ x − a ∣< δ .
Prova:
Vamos considerar o caso f ( a ) >0. Como f é contínua em a , então dado ɛ > 0, existe δ >0 tal
que, para todo x ,
se ∣ x −a ∣< δ , então∣ f ( x ) − f ( a ) ∣< ɛ

Como f ( a ) >0, então podemos tomar f ( a ) comom sendo ɛ ; portanto, existe δ >0 tal que, para
todo x ,
se ∣ x −a ∣< δ , então∣ f ( x ) − f ( a ) ∣< f ( a )

e isto implica que f ( x ) >0 .


O caso f ( a ) <0 pode ser provado de forma análoga, tomando ɛ =− f ( a ) . Ou fazendo o caso
para a função − f .
Dizemos que uma função f é contínua à direita em x 0 se, e somente se,
lim ¿
+¿
x→ x 0 f ( x ) =f ( x 0) ¿

Exercício
Verifique que a função

f ( x )= {x +1x , se,sex<x ≥1 1)
é contínua à direita no ponto x=1.
Exercício
Verifique que a função

{ )
2
x +1 ,se x ≥ 2
f ( x )= 2
x ,se x<2

é contínua à direita no ponto x=2.


Dizemos que uma função f é contínua à esquerda em x 0 se, e somente se,
lim f ( x )=f ( x 0 )

x→ x 0

Exercício
Verifique que a função

{
f ( x )= x +1 ,se x<1
x ,se x ≥ 1 )
é contínua à esquerda no ponto x=1.
Exercício
Verifique que a função

{ )
2
x +1 ,se x <2
f ( x )= 2
x , se x ≥2

é contínua à esquerda no ponto x=2.


Exercício
Mostre que a função f : [ 0 , 2 ) → R de finida por
f ( x )=¿

é contínua à direita em [ 0 , 2 ) e que é descontínua em x=1.


Seja x 0 um ponto interior ao domínio de uma função f . Suponha que f é descontínua em x 0:

Dizemos que x 0 é uma descontinuidade de 1ª espécie se, e somente se, existem os limites
laterais lim ¿x → x f (x ) ¿ ¿ e lim ¿x → x f ( x ) ¿
+¿
0

0

Dizemos que x 0 é uma descontinuidade de 2ª espécie se, e somente se, não existe pelo
menos um dos limites laterais lim ¿x → x f (x ) ¿ ¿ e lim ¿x → x f ( x ) ¿
+¿
0

0

Exercício
Ache as descontinuidades da função f dada abaixo e classifique conforme a definição de
descontinuidades.

{ )
sin x
, se x ≠ 0
1. f ( x )= x
1 , se se x =0

{ )
1
sin , se x ≠ 0
2. f ( x )= x
0 , se se x=0
{ )
1

x
3. f ( x )= e , se x >0
1 , se se x ≤0

x
4. f ( x )= 2.
x −1

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