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Cálculo VII - Prof.

Fábio Pacheco Ferreira 1

3 – DERIVADAS PARCIAIS

Veremos neste capítulo como as derivadas parciais aparecem e como calcular estas
derivadas utilizando as regras de derivação de funções de uma única variável.
Para facilitar a compreensão deste novo conteúdo, na maior parte das vezes,
trabalharemos com funções de duas variáveis, pois para outras quantidades de variáveis o
raciocínio será análogo.

3.1 – DERIVADAS PARCIAIS DE UMA FUNÇÃO DE DUAS VARIÁVEIS

Sabemos que o domínio D de uma função de duas variáveis f ( x , y ) é um subconjunto do


plano, ou seja, se P ( a , b ) for algum ponto do domínio de f, então existem infinitas direções ao
longo das quais podemos nos aproximar do ponto P. Sendo assim, fica a seguinte pergunta:

Qual é a taxa de variação de f no ponto P ao longo de alguma dessas direções?

Estudaremos a taxa de variação da função f ( x , y ) em um ponto P ( a , b ) ao longo de


duas direções, isto é, a direção paralela ao eixo x e a direção paralela ao eixo y. Seja x = a , onde
a é uma constante, de forma que f ( a , y ) é uma função da única variável y. Como a equação
z = f ( x , y ) é a equação de uma superfície, a equação z = f ( a , y ) é a equação da curva C na
superfície formada pela interseção da superfície e do plano x = a (Figura 01).

Figura 01: curva C na superfície formada pela interseção da superfície e do plano.

Seja ( x 0 , y 0 ) um ponto no domínio de uma função f ( x , y ) , então o plano vertical y = y 0


cortará a superfície z = f ( x , y ) na curva z = f ( x , y 0 ) .
Enfim, uma derivada parcial de uma função f (ou simplesmente derivada parcial de f em
relação a xi ) definida num subconjunto D do R n é a derivada de f em relação a xi , mantendo
todas as outras variáveis constantes. A representação da derivada parcial de uma função em
∂f ( x1 , K , x n )
relação ao seu argumento xi é representada por f xi ou Di f ou .
∂x i

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A derivada parcial de uma função de n argumentos f ( x1 , K , x n ) pode ser representada


através do limite

∂f f ( x1 , K , xi + h, K , x n ) − f ( x1 , K , x n )
( x1 , K , x n ) = lim , se ele existir.
∂x i h → 0 h

Exemplo 3.1: Se f ( x , y , z ) = 5 x 2 − y 3 + z 2 x , então

f x = 10 x + z 2 ,
f y = −3 y 2 ,
f z = 2 xz

Exemplo 3.2: Se f ( x , y , z , t ) = ln( 2 x + 3 y − z 2 + t 2 ) , então

2
fx = ,
2x + 3y − z2 + t 2
3
fy = ,
2x + 3y − z2 + t 2
− 2z
fz = ,
2x + 3y − z2 + t 2
2t
ft = .
2x + 3y − z2 + t 2

3.2 – DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR

3.2.1 – DERIVADA DE SEGUNDA ORDEM

A derivada de segunda ordem de uma função, ou segunda derivada, representa a derivada


d2 f
da derivada desta função. A derivada de segunda ordem pode ser representada por f ,, ou ,
dx 2
sendo f função de x.

3.2.1.1 – Fórmulas e Cálculos

A derivada de segunda ordem de uma função f(x) (em relação a x) é a derivada da


derivada da função f(x), ambas em relação a x. Ou seja, matematicamente falando, temos:

d 2 f ( x) d  df ( x) 
=  
dx 2 dx  dx 

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Ou ainda,

d 2 f ( x) f ( x + 2∆x) − 2 f ( x + ∆x) + f ( x)
= lim
dx 2 ∆ x → 0 ∆x 2

E mais, por ser a derivada da derivada, a integral da derivada de segunda ordem é

d 2 f ( x) df ( x)
∫ dx 2 dx = dx + C
Analogamente, as derivadas parciais de segunda ordem de uma função de dois
argumentos f ( x, y ) são:

∂ 2 f ( x, y ) ∂  ∂f ( x, y ) 
• =  ;
∂x 2 ∂x  ∂x 

∂ 2 f ( x, y ) ∂  ∂f ( x, y ) 
• =  ;
∂x∂y ∂x  ∂y 

∂ 2 f ( x, y ) ∂  ∂f ( x, y ) 
• =  .
∂y 2 ∂y  ∂y 

3.2.2 – DERIVADAS PARCIAIS DE ORDEM SUPERIOR

Se f for uma função de duas variáveis, então em geral D1 f e D2 f também são funções
de duas variáveis. E, se existirem suas derivadas parciais, elas serão chamadas de derivadas
parciais segundas de f. Neste caso, existem quatro derivadas parciais segundas de uma função de
duas variáveis. Para uma função de duas variáveis, temos as seguintes notações:

∂2 f
D2 ( D1 f ) ; D`12 f ; f12 ; f xy ;
∂y∂x

Obs.: as notações acima representam a derivada segunda de f, obtida com o cálculo da


derivada parcial primeira de f em relação a x e então derivando parcialmente o resultado em
relação a y.

A derivada parcial segunda para o caso acima é definida por

f 1 ( x, y + ∆ y ) − f 1 ( x, y )
f 12 ( x, y ) = lim , se esse limite existir.
∆y → 0 ∆y

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Obs.: Derivadas parciais de ordem superior de uma função de n variáveis têm definições
análogas às definições de derivadas parciais de ordem superior de uma função de duas variáveis

Exemplo 3.3: Dada f ( x, y ) = e x seny + ln xy . Ache:

∂3 f
a) D11 f ( x, y ) ; b) D12 f ( x, y ) ; c) .
∂x∂y 2
1 1
Resolução: Temos que D1 f ( x, y ) = e x seny + ( y ) = e x seny + . Sendo assim:
xy x

1
a) D11 f ( x, y ) = e x seny − .
x2
b) D12 f ( x, y ) = e x cos y .
∂3 f
c) Para encontrar , derivamos parcialmente duas vezes em relação a y e uma vez
∂x∂y 2
em relação a x. Ou seja,

∂f 1 ∂2 f 1 ∂3 f
= e x cos y + ; 2 = −e x seny − 2 ; = −e x seny
∂y y ∂ y y ∂x∂y 2

Exemplo 3.4: Dada f ( x, y, z ) = sen ( xy + 2 z ) . Ache D132 f ( x, y, z ) .

Solução: • D1 f ( x, y, z ) = y cos( xy + 2 z )

• D13 f ( x, y, z ) = −2 ysen( xy + 2 z )

• D132 f ( x, y, z ) = −2 sen( xy + 2 z ) − 2 xy cos( xy + 2 z )

Exemplo 3.5: Dada f ( x, y ) = x 3 y − y cosh xy . Ache:

a) f xy ( x, y ) ; b) f yx ( x, y )

Resolução:

a) f x ( x, y ) = 3 x 2 y − y 2 senh xy ;
⇒ f xy ( x, y) = 3x 2 − 2 ysenh xy − xy 2 cosh xy

b) f y ( x, y ) = x 3 − cosh xy − xysenh xy ;
⇒ f yx ( x, y) = 3x 2 − ysenh xy − ysenh xy − xy 2 cosh xy = 3x 2 − 2 ysenh xy − xy 2 cosh xy

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Exemplo 3.6: Se f (t ) é uma função que representa o movimento retilíneo de um objeto, a


derivada de segunda ordem f ,, (t ) no mesmo instante t representa sua aceleração. Analogamente, se
P (t ) é uma função vetorial que especifica o movimento de um ponto, o vetor aceleração do mesmo será
d 2 P (t )
.
d 2t

Obs.: Em derivadas de segunda ordem de funções vetoriais, a mesma regra se aplica, isto
é, a derivada da derivada da função vetorial.

Exemplo 3.7: (VOLUME DE UM CONE)

Considere-se o volume V de um cone; ele depende da altura do cone h e do seu raio r de


r 2 hπ
acordo com a fórmula V = .
3
∂V 2rhπ
A derivada parcial de V com relação a r é = e descreve a taxa com que o
∂r 3
volume de um cone aumenta à medida que o seu raio também aumenta e a sua altura é mantida
∂V r 2π
constante. A derivada parcial relativamente a h é = e representa a taxa com que o
∂h 3
volume aumenta à medida que a altura aumenta e o raio é mantido constante.

∂2 ∂2
Exemplo 3.8: Verifique que w= w, onde w é a função
∂y∂x ∂x∂y
w = xsen( y) + ysen( x) + xy .

Resolução: A derivada primeira da função em relação à variável x é dada por


w( x, y ) = sen( y ) + y cos( x) + y
∂x

e derivando a função acima em relação à variável y segue-se que

∂2
w( x, y ) = cos( y ) + cos( x) + 1
∂y∂x

Por outro lado, calculando a derivada primeira da função em relação à variável y obtém-
se que


w( x, y ) = x cos( y ) + sen( x) + x
∂y

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Finalmente, calculando a derivada da função acima em relação à variável x segue-se que

∂2
w( x, y ) = cos( y ) + cos( x) + 1
∂x∂y

∂2 ∂2
Portanto, w= w.
∂x∂y ∂y∂x

Exemplo 3.9: Use a definição para calcular as derivadas parciais da função


f ( x, y ) = 4 + 2 x − 3 y − xy 2 no ponto (−2,1) .

Por definição, as derivadas parciais de f ( x, y) em um ponto genérico ( x0 , y0 ) são dadas


por

∂ f ( x0 + ∆x. y 0 ) − f ( x0 , y 0 ) ∂ f ( x0 , y 0 + ∆y ) − f ( x0 , y 0 )
f ( x0 , y 0 ) = lim e f ( x0 , y 0 ) = lim
∂x ∆x → 0
∆x ∂y ∆y → 0
∆y

caso os limites existam. Para calcular esses limites no ponto (−2,1) , observe que

f (−2,1) = −1 e f (−2,1 + ∆y ) = −3 − 3∆y + 2(1 + ∆y ) 2

Desses valores segue-se que

f (−2,1 + ∆y ) − f (−2,1)
= 1 + 2∆y
∆y

Passando o limite com ∆y tendendo a zero, é agora claro que


f (−2,1) = 1
∂y

De maneira inteiramente análoga, obtém-se que:


f (−2,1) = 1
∂x

Assim, as derivadas parciais da função f ( x, y) no ponto (−2,1) são iguais e têm valor 1.
Geometricamente, as derivadas parciais correspondem às inclinações das retas indicadas na
figura abaixo. Além dessas retas, a Figura 02 ilustra o gráfico da função e as curvas coordenadas
f1 ( x ) = f ( x, 1) e f 2 ( y ) = f ( −2, y ) .

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Figura 02: O gráfico da função e as curvas coordenadas

Exemplo 3.10: Mostre que a função f ( x, y) = ln( x 2 + y 2 ) satisfaz a Equação de Laplace


 ∂2   ∂2 
 2 f ( x , y )  +  2 f ( x, y )  = 0 .
 ∂x   ∂y 

Resolução: Para simplificar o cálculo das derivadas, vale observar que


 1
 1
ln( x 2 + y 2 ) = ln  ( x 2 + y 2 )  = ln( x 2 + y 2 ) .
2

  2
Seguindo a sugestão dada para simplificar o cálculo da derivada, vamos considerar a função é
dada por:

1
f ( x, y ) = ln( x 2 + y 2 )
2

Como é uma função composta, vamos utilizar a regra da cadeia. Ou seja,

∂ x ∂ y
f ( x, y ) = 2 e f ( x, y ) = 2
∂x x + y2 ∂y x + y2

E mais, utilizando a regra do quociente, obtemos:

∂2 x2 − y 2 ∂2 x2 − y 2
f ( x, y ) = − 2 e f ( x, y ) = 2
∂x 2 ( x + y 2 )2 ∂y 2 ( x + y 2 )2

E, portanto, é fácil perceber que a função dada satisfaz à equação de Laplace, isto é,

 ∂2   ∂2 
 2 f ( x, y )  +  2 f ( x, y )  = 0
 ∂x   ∂y 

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Exemplo 3.11: Mostre que a função w = cos(2 x + 2ct ) é uma solução da equação da
∂2 2 ∂ 
2
onda unidimensional w = c 
 w  , onde w é a altura da onda, x é a variável distância, t é a
∂t 2
 ∂x 
2

variável tempo e c é a velocidade com a qual a onda se propaga.

Resolução: A figura abaixo ilustra o gráfico da função no caso em que a velocidade é c = 1.

Figura 03: A propagação da onda com velocidade 1.

Usando a regra da cadeia em uma variável na função w(t, x ) = cos(2 x + 2ct ) obtém-se:

∂ ∂2
w(t , x ) = −2csen(2 x + 2ct ) e w(t , x ) = −4c 2 cos(2 x + 2ct )
∂t ∂t 2

Analogamente para a variável x, temos:

∂ ∂2
w(t, x ) = −2sen(2 x + 2ct ) e w(t , x ) = −4 cos(2 x + 2ct )
∂x ∂x 2

E assim, a função é uma solução da equação da onda, pois:

∂2 2 ∂ 
2

∂t 2
w = c 
 ∂x 
2
w ⇒ (− 4c 2
)
cos(2 x + 2ct ) = c 2 (− 4 cos(2 x + 2ct ) )
 

EXERCÍCIOS

1) Sendo f ( x, y, z ) = 3e x cos( xyz ) , verifique que D123 f = D321 f , ou seja, f xz = f zx .

2) Sendo f ( x, y, z ) = x 2 sen( x + y + z ) + xyz , determine D321 .

3) Sendo f ( x, y, z ) = e x sen( xy + 2 z ) , verifique que D13 f = D31 f , ou seja, f xz = f zx .

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4) Sendo f ( x, y, z ) = e x cos( xy + z ) + xyz , determine D321


∂f
5) Utilize a definição de derivada parcial para calcular a derivada parcial da função
∂x
f ( x, y ) = 10 + x + 5 y − x 2 no ponto (−2,1) .

∂f ∂f
6) Encontre as derivadas parciais e da função f ( x, y, z, w) = x 2 e 2 y +3 z sen y + 1000w .
∂x ∂y

7) Se S for a área da superfície em m 2 do corpo de uma pessoa, então a fórmula que dá


um valor aproximado para S será S = 2m 0 , 4 h 0 , 7 , onde m, em kg, e h, em m, são a massa e a altura
da pessoa, respectivamente. Se m = 100 kg e h = 2 m , ache:

∂S
a) Ache a taxa de variação S da superfície por unidade de variação de m, ou seja, .
∂m
∂S
b) Ache a taxa de variação S da superfície por unidade de variação de h, ou seja, .
∂h

∂f ∂f ∂f
8) Encontre as derivadas parciais , e da função
∂x ∂y ∂w
f ( x, y , z , w) = 2 x 3e 2 y +3 z cos y + 4 w .

9) Ache a derivada parcial indicada, mantendo todas as variáveis constantes menos uma,
e aplicando os teoremas para derivação ordinária.

a) ,  = 4 +  −  ;  ,  e  , .


b) ,  = 5  + 2 −  ;  ,  .
2w
 xyz 
c) f ( x, y , z , w) =   ,  ,  e  , .
 2 

10) Encontre as derivadas parciais da função dada em relação a cada variável.

2 2 y +3 z u2 − v2
a) f ( x, y, z , w) = x e cos( 4 w) b) f (u , v, w) = 2
v + w2
x2 + y2
c) f ( x, y, u , v) = d) f ( x, y, z ) = xy + yz + zx
u2 + v2
e) f ( x, y, z ) = 1 + y 2 +2 z 2 f) f ( x, y , z , w) = ln( xyzw)

 
11) Use as equações abaixo para encontrar os valores de e nos pontos dados.
 

a)  −  +  +  − 2 = 0, 1, 1, 1
b)  +  +  +  +  +  = 0, , , 

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