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Universidade de Brasília

Departamento de Matemática

Cálculo 2

Turma J

Professora Gláucia L. Dierings

Módulo 2 - Semana 7

a
1. Equações Diferenciais Ordinárias de 1 ordem

Equações Lineares

Uma equação diferencial ordinária linear de 1a ordem é aquela que pode ser escrita
na forma
y 0 (x) + p(x)y = q(x) (1)

onde p e q são funções contínuas em um dado intervalo.


Um exemplo de uma equação linear é xy 0 + y = 2x, pois, para x 6= 0, podemos escrever a
equação na forma
1
y0 + y = 2 (2)
x
Observe que essa equação diferencial não é separável, pois é impossível fatorar a expressão
para y 0 como uma função de x vezes uma função de y . Mas, ainda podemos resolver a equação
observando que, pela Regra do Produto,

xy 0 + y = (xy)0

e assim podemos escrever a equação como

(xy)0 = 2x

Se integrarmos ambos os lados dessa equação obtemos

C
xy = x2 + C =⇒ y = x +
x

Note que se nos tivesse sido dada a equação diferencial na forma da Equação (2), teríamos de
fazer uma etapa preliminar multiplicando cada lado da equação por x.

1
De maneira geral, toda equação diferencial linear de primeira ordem pode ser resolvida
de uma maneira similar pela multiplicação de ambos os lados da Equação (1) por uma função
adequada µ(x), chamada de fator integrante .
Vamos encontrar esse fator integrante. Para isso, vamos tentar encontrar µ(x) de modo
que o lado esquerdo da equação
y 0 (x) + p(x)y = q(x)

quando multiplicado por µ(x) torne-se a derivada do produto µ(x)y :

µ(x)(y 0 + p(x)y) = (µ(x)y)0 (3)

Se pudermos encontrar tal função µ, a equação inicial cará

(µ(x)y)0 = µ(x)q(x)

Integrando ambos os lados, teremos


Z
µ(x)y = µ(x)q(x) dx + C

de modo que a solução será


Z 
1
y(x) = µ(x)q(x) dx + C (4)
µ(x)

Para encontrarmos esse µ, expandimos a equação (3) e cancelamos termos:

µ(x)y 0 + µ(x)p(x)y = (µ(x)y)0 =⇒ µ(x)y 0 + µ(x)p(x)y = µ0 (x)y + µ(x)y 0

=⇒ µ(x)p(x) = µ0 (x)

Note que essa última equação é uma equação separável para µ, que resolveremos a seguir:

dµ dµ
µ0 = µp(x) =⇒ = µp(x) =⇒ = p(x) dx
dx µ

Integrando de ambos os lados, obtemos


Z Z Z
dµ R
p(x) dx
= p(x) dx =⇒ ln |µ| = p(x) dx =⇒ µ = Ae
µ

2
onde A = ±eC . Como estamos procurando por um fator de integração particular, não o mais
geral, tomamos A = 1 e usamos
(5)
R
p(x) dx
µ(x) = e

Dessa forma, utilizando (4) a solução geral da equação diferencial linear será
Z 
1
(6)
R
p(x) dx
y(x) = R
p(x) dx
(e q(x)) dx + C
e

Essa fórmula pode ser memorizada, ou, basta lembrar a forma do fator integrante e seguir
os passos:

Para resolver a equação diferencial linear y 0 + p(x)y = q(x), multiplique ambos os lados
pelo , depois integre ambos os lados e isole o y .
R
p(x) dx
fator integrante µ(x) = e

dy
Exemplo 1 Resolva a equação diferencial + 3x2 y = 6x2 .
dx
Primeiro perceba que essa equação é linear, pois ela tem a forma da Equação (1) com
p(x) = 3x2 e q(x) = 6x2 . O fator integrante será

3x2 dx 3
R
µ(x) = e = ex

Multiplicando ambos os lados da equação diferencial por ex , obtemos


3

3 dy 3 3
ex + 3x2 ex y = 6x2 ex
dx

Note que o lado esquerdo é a derivado do produto de ex y , então


3

d x3 3
(e y) = 6x2 ex
dx

Integrando ambos os lados teremos


Z Z
d x3 3 3 3
(e y) = 6x2 ex dx =⇒ ex y = 2ex + C
dx

Logo,
3
y = 2 + Ce−x

3
Podemos resolver uma equação diferencial linear utilizando a fórmula (6), como veremos
no exemplo a seguir.

Exemplo 2 Encontre a solução para o problema de valor inicial

x2 y 0 + xy = 1, x 6= 0, y(1) = 2

Primeiro colocamos a equação diferencial linear na forma padrão, dividindo ambos os


lados por x2 :
1 1
y0 + y = 2
x x
1 1
Observando que nesse caso, p(x) = e q(x) = 2 , dada a fórmula da solução geral
x x
Z 
1 R
p(x) dx
y(x) = R
p(x) dx
(e q(x)) dx + C
e

obtemos Z   
1 1 R 1
dx
y(x) = R 1 dx e dx + C
x

e x x2
Z   
1 ln |x| 1
y(x) = ln |x| e dx + C
e x2
Z   
1 1
y(x) = |x| 2 dx + C
|x| x
Podemos eliminar o módulo sem alterar o sinal, pois se x < 0 os sinais se cancelam, logo
Z   
1 1
y(x) = x 2 dx + C
x x

ln |x| + C
y(x) =
x
Se y(1) = 2, temos
ln 1 + C
2= =⇒ C = 2
1
Portanto, a solução para o problema do valor inicial é

ln |x| + 2
y(x) =
x

As equações diferenciais lineares tem diversas aplicações em vários ramos da ciência.


Vamos ver no exemplo abaixo uma modelagem para a teoria chamada Curva de Aprendizagem.

4
Exemplo 3 Seja P (t) o nível de desempenho de uma pessoa aprendendo uma habilidade como
uma função do tempo de treinamento t. O gráco de P é chamado de curva de aprendizagem.
A variável M indicará o melhor desempenho possível para essa pessoa. A modelagem para essa
situação é dada pela equação diferencial linear abaixo:

dP (t)
= k(M − P (t)),
dt

onde k é uma constante positiva. Para resolver essa equação, a reescrevemos na forma padrão

P 0 (t) + kP (t) = kM

O fator integrante neste caso será

R
k dt
µ(t) = e =⇒ µ(t) = ekt

Multiplicando ambos os lados da equação pelo fator integrante, obtemos

d kt
ekt P 0 (t) + kekt P (t) = kM ekt =⇒ (e P (t)) = kM ekt
dt

Integrando ambos os lados, segue que


Z Z
d kt
(e P (t)) = kM ekt dt =⇒ ekt P (t) = M ekt + C
dt

Logo,
P (t) = M + Ce−kt

Note que é razoável supor que P (0) = 0, assim 0 = M + Ce0 =⇒ C = −M . Dessa forma,
encontramos a solução
P (t) = M − M e−kt

Na aula passada, analisamos problemas de misturas nos quais o volume de um uido


permanecia constante e vimos estes fornecem equações diferenciais separáveis. Quando as
taxas de entrada e de saída do sistema forem diferentes, então o volume não é constante e a
equação diferencial resultante é linear. Vamos ver um exemplo.

5
Exemplo 4 Um tanque contém 100 L de água. Uma solução com uma concentração salina
de 0, 4 kg/L é adicionanda à taxa de 5 L/min. A solução é mantida misturada e é retirada
do tanque na taxa de 3 L/min. Encontre a quantidade de sal y(t) (em quilogramas) após t
minutos. Calcule a quantidade de sal após 20 minutos.
Observe primeiro que se y(t) é a quantidade de sal na água após t minutos, então y(0) = 0.
dy
Note que é a variação da quantidade de sal, temos
dt

dy
= (taxa de entrada) − (taxa de saída) (7)
dt

onde (taxa de entrada) é a taxa no qual o sal entra no tanque e (taxa de saída) é a taxa na
qual o sal deixa o tanque. Temos
  
kg L kg
taxa de entrada = 0, 4 5 =2
L min min

Como a solução sai do tanque a uma taxa de 3 L/min, mas a solução de sal entra a uma taxa
de 5 L/min, o tanque, que inicialmente tinha 100 L de água, contém (100 + 2t) litros de líquido
depois de t minutos. Então, a concentração de sal no tempo t é

y(t) kg
C(t) =
100 + 2t L

Como a solução sai a uma taxa de 3 L/min, obtemos


  
y(t) kg L 3y(t) kg
taxa de saída = 3 =
100 + 2t L min 100 + 2t min

Então, da equação (7), temos


dy 3y(t)
=2−
dt 100 + 2t
 
dy 3
Reescrevendo essa equação como + y = 2, vemos que ela é linear. O fator
dt 100 + 2t
integrante neste caso será

3 3
R
dt
µ(t) = e 100+2t = e 2 ln(100+2t) =⇒ µ(t) = (100 + 2t)3/2

Multiplicando ambos os lados da equação pelo fator integrante, obtemos

dy d
(100 + 2t)3/2 + 3(100 + 2t)1/2 y = 2(100 + 2t)3/2 =⇒ ((100 + 2t)3/2 y) = 2(100 + 2t)3/2
dt dt

6
Integrando ambos os lados, segue que
Z Z
d 2
((100 + 2t)3/2 y) = 2(100 + 2t)3/2 dt =⇒ (100 + 2t)3/2 y = (100 + 2t)5/2 + C
dt 5

Logo,
2
y = (100 + 2t) + C(100 + 2t)−3/2
5
Como y(0) = 0, segue que

2 1
0 = (100) + C(100)−3/2 = 40 + C =⇒ C = −40000
5 1000

Portanto,  
2
y(t) = (100 + 2t) − 40000(100 + 2t)−3/2 kg
5
A quantidade de sal após 20 minutos será:

2
y(20) = (100 + 40) − 40000(100 + 40)−3/2 ≈ 31, 85 kg
5

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