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Universidade de Brasília

Departamento de Matemática
Cálculo 2

Turma J

Professora Gláucia L. Dierings

Módulo 2 - Semana 6

a
1. Equações Diferenciais Ordinárias de 1 ordem

Muitos dos princípios, ou leis, que regem o comportamento do mundo físico são pro-
posições, ou relações, envolvendo a taxa segundo a qual as coisas acontecem. Expressas em
linguagem matemática, as relações são equações e as taxas são derivadas. Equacões contendo
derivadas são equações diferenciais . Uma equação diferencial que descreve algum processo
físico é chamada, muitas vezes, de modelo matemático do processo.
Vamos ver em um exemplo como as equações diferenciais aparecem quando modelamos
um fenômeno físico.

Exemplo 1 Um dos modelos para o crescimento de uma população baseia-se na hipótese de


que uma população cresce a uma taxa proporcional ao seu tamanho.
Seja y = y(t) o número de indivíduos de uma população, em que t é a variável independente
dy
que representa o tempo. Então, a taxa de crescimento da população será a derivada (t). Logo,
dt
como estamos supondo que a taxa de crescimento da população é proporcional ao tamanho da
população, obtemos a equação:

dy
(t) = ky(t), (1)
dt
onde k é a constante de proporcionalidade. Essa equação é um exemplo de uma equação
diferencial, pois contém uma função desconhecida y(t) e sua derivada.
Pensando em uma solução para essa equação, vemos que queremos encontrar uma função
cuja derivada seja uma constante multiplicada por ela própria, e são as funções exponenciais
que têm essa propriedade. De fato, se zermos y(t) = Cekt , onde C é uma constante, obtemos:

dy
(t) = C(kekt ) = k(Cekt ) = ky(t)
dt

Portanto, qualquer função exponencial da forma y(t) = Cekt é uma solução da equação (1).
Veremos mais adiante que não existe outra solução.

1
Porém, essa equação não modela o que acontece de maneira tão real. Muitas populações
começam crescendo exponencialmente, porém o nível da população se estabiliza quando ela se
aproxima da sua população limite L. A equação que incorpora essa ideia é dada pela expressão

dy
(t) = ky(t)[L − y(t)] (2)
dt
Note que L − y(t) se aproxima de 0 quando a população está atingindo seu limite, o que
faz o crescimento se aproximar de 0 também. Essa equação já é mais complicada de resolver e
não iremos resolvê-la agora.

As duas equações vistas no exemplo acima, são exemplos de equações diferenciais

ordinárias , que serão nossos objetos de estudo.


As Equações Diferenciais Ordinárias são as equações que envolvem uma função des-
conhecida de uma variável y = y(t) e apenas derivadas simples. Quando aparecem funções de
várias variáveis, a equação é chamada de Equação Diferencial Parcial e envolve derivadas
parciais. Nosso estudo será apenas de Equações Diferenciais Ordinárias, onde, ao longo do
texto poderão ser referidas como apenas equações diferenciais ou EDOS.
De maneira geral, uma equação diferencial ordinária é uma fórmula que pode envolver
derivadas de diferentes ordens de uma função, a própria função e a variável independente. A
ordem de uma equação diferencial ordinária é a ordem da derivada mais alta que ocorre na
equação. No exemplo anterior, trabalhamos com uma EDO de 1a ordem.
Uma solução de uma equação diferencial ordinária é uma função y = y(t) que torna a
equação verdadeira. A solução geral de uma equação diferencial ordinária é o conjunto de
todas as suas soluções.
Muitas vezes, a obtenção da solução geral de equações diferenciais ordinárias é uma tarefa
bastante difícil. Dessa forma, nos restringiremos a alguns casos relevantes, iniciando com as
EDOS de 1a ordem. Primeiro, estudaremos dois tipos de EDOS de 1a ordem que podemos
resolver com técnicas vistas num primeiro curso de Cálculo: as separáveis e as lineares.

Equações Separáveis

Uma equação separável é uma equação diferencial de primeira ordem na qual a expres-
dy
são para y 0 (x) = pode ser fatorada como uma função de x multiplicada por uma função de
dx
y . Em outras palavras, pode ser escrita na forma

dy
= g(x)f (y)
dx
2
O nome separável vem do fato que conseguimos separar a expressão do lado direito em
uma função de x e uma função de y . Note que se f (y) 6= 0, podemos escrever

dy g(x)
=
dx h(y)

1
onde h(y) = . Para resolver essa equação, a reescrevemos na forma diferencial
f (y)

h(y)dy = g(x)dx

assim, todos os y estão de um lado da equação e todos os x estão do outro lado. Então,
integramos ambos os lados da equação
Z Z
h(y) dy = g(x) dx

Essa equação dene y implicitamente como função de x. Por m, depois de resolver as integrais,
isolamos o y em função de x (quando é possível).

x2
Exemplo 2 Vamos resolver a equação diferencial y (x) = e depois encontrar a solução
0
y2
dessa equação que satisfaz a condição y(0) = 2.
Para resolver essa equação, escrevemos

dy x2
= 2 =⇒ y 2 dy = x2 dx
dx y
Integrando em ambos os lados obtemos:

y3 x3
Z Z
2
y dy = x2 dx =⇒ = +C
3 3

onde C é uma constante qualquer. Isolando o y , obtemos


y 3 = x3 + 3C =⇒ y =
3
x3 + K

onde K = 3C é uma constante qualquer.


Encontrada a solução da EDO, vamos encontrar a solução que satisfaz a condição y(0) = 2.

Fazendo x = 0 na solução geral, obtemos y(0) = 3
K . Agora, fazendo y(0) = 2, temos


3
K = 2 =⇒ K = 8

3
Portanto, a solução do problema de valor inicial é


3
y= x3 + 8

Como visto nos exemplos anteriores, muitas vezes, além de encontrar a solução geral de
uma equação diferencial ordinária, estamos interessados em encontrar uma solução particular
que satisfaça uma condição do tipo y(x0 ) = y0 , isso ocorre principalmente em problemas físicos.
Esta condição é chamada condição inicial , e o problema de achar uma solução da equação
diferencial que satisfaça a condição inicial é denominado problema de valor inicial .
Vamos ver agora um problema de mistura, cuja descrição matemática da situação fre-
quentemente leva a uma equação diferencial de primeira ordem separável.

Exemplo 3 Um tanque contém 20 kg de sal dissolvido em 5000 L de água. Uma água salgada
com 0, 03 kg de sal por litro entra no tanque a uma taxa de 25 L/min. A solução é misturada
completamente e sai do tanque à mesma taxa. Qual a quantidade de sal que permanece no
tanque depois de meia hora?

Seja y(t) a quantidade de sal (em quilogramas) depois de t minutos. Note que foi nos dado
y(0) = 20 e queremos encontrar y(30). Para isso, vamos encontrar uma equação diferencial que
dy
seja satisfeita por y(t). Note que é a variação da quantidade de sal, então
dt

dy
= (taxa de entrada) − (taxa de saída) (3)
dt

onde (taxa de entrada) é a taxa no qual o sal entra no tanque e (taxa de saída) é a taxa na
qual o sal deixa o tanque. Temos
  
kg L kg
taxa de entrada = 0, 03 25 = 0, 75
L min min

Note que o tanque sempre tem 5000 L de líquido, então a concentração de sal no tempo t
y(t)
é (medida em quilogramas por litro). Como a água salgada sai a uma taxa de 25 L/min,
5000
obtemos   
y(t) kg L y(t) kg
taxa de saída = 25 =
5000 L min 200 min
Então, da equação (3), temos

dy y(t) 150 − y(t)


= 0, 75 − =
dt 200 200

4
Resolvendo essa equação diferencial separável, obtemos

150 − y
Z Z
dy dy dt dy dt t
= =⇒ = =⇒ = =⇒ − ln |150 − y| = +C
dt 200 150 − y 200 150 − y 200 200

Uma vez que y(0) = 20, temos − ln 130 = C , logo

t
− ln |150 − y| = − ln 130
200

Portanto,

t t −t
ln |150 − y| = − + ln 130 =⇒ |150 − y| = e− 200 eln 130 =⇒ |150 − y| = 130e 200
200

Como y(t) é contínua, y(0) = 20 e o lado direito nunca é zero, deduzimos que 150 − y(t) é
sempre positiva. Então |150 − y| = 150 − y e, assim,

−t
y(t) = 150 − 130e 200

Dessa forma, a quantidade de sal depois de 30 minutos será

−30
y(30) = 150 − 130e 200 ≈ 38, 1 kg

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