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Equações Diferenciais Ordinárias e

Transformadas de Laplace
Prof. MSc. Frederico Reis Marques de Brito - UNIFEMM
26 de agosto de 2015

1 Equações Diferenciais Ordinárias


1.1 Introdução
Desde o ensino fundamental fomos habituados a lidar com equações. Por
exemplo, numa equação de 2o grau como

x2 − 7x + 10 = 0 ,

estamos interessados em encontrar os números reais (ou complexos, depen-


dendo do contexto) que satisfazem a equação, isto é, que validam a igual-
dade quando substituı́mos a variável x por esse(s) número(s). Note que a
variável, ou incógnita, representa um número. No exemplo que citamos, os
únicos números que satisfazem à igualdade são 2 e 5, que, portanto, são
ditas as soluções da equação. No caso de equações algébricas temos apenas
um número finito de soluções, mas em outras equações, podemos obter uma
infinidade delas. Por exemplo, a equação

cos(x) = 0

tem infinitas soluções, a saber: x = π2 +kπ , uma para cada valor inteiro de k.

E o que vem a ser uma equação diferencial? O adjetivo diferencial


é empregado para ressaltar que neste tipo de equação aparecem derivadas.
Mais que isso, ao contrário das equações algébricas, nas equações diferenciais
a incógnita não representa uma quantidade numérica, mas sim uma função.

1
A equação diferencial é, de fato, uma igualdade que relaciona uma função
desconhecida com algumas de suas derivadas. Para entendermos melhor,
tracemos um exemplo de trás para frente: Considere a função y(t) = et , a
exponencial real. Como sabemos, y ′ (t) = et = y(t) e assim, a exponencial
satisfaz a equação y ′ = y, ou y ′ = y = 0. Esse é um exemplo de equação
diferencial:
y′ − y = 0 .
Resolver essa equação significa encontrar todas as funções diferenciáveis y(t)
tais que suas derivadas coincidam com elas. Obviamente y(t) = et satisfaz
à equação e, portanto, é uma solução, mas à priori poderiam haver outras.
E de fato há. É fácil ver que qualquer função do tipo y(t) = cet , em que
c ∈ R, é uma solução.

Exemplo 1. y ′′ + y = 0 é um exemplo de equação diferencial. Neste caso,


resolver a equação significa encontrar todas as funções reais y(t) que
somadas à sua derivada segunda sejam idênticas a 0. Podemos, por inspeção,
obter algumas soluções dentre as funções conhecidas. É fácil ver que

y1 (t) = sen(t) e y2 (t) = cos(t)

são soluções. Podemos ainda verificar facilmente que

y(t) = c1 sen(t) + c2 cos(t)

também é solução da equação diferencial, quaisquer que sejam as constantes


c1 , c2 ∈ R. Finalmente, é possı́vel provar que essas são todas as soluções
possı́veis, mas não faremos isso aqui.

Exemplo 2. Também são exemplos de equações diferenciais:


(a) y ′′ − 7y ′ + 10y = 0
(b) x3 y ′′′ − xy ′′ + y = ex
2 2
(c) ∂∂xU2 + ∂∂yU2 = 0

Em (a), como no restante do texto e corriqueiramente na literatura sobre


o assunto, y ′ representa a derivada de y (a função incógnita ou variável
dependente) em relação à variável independente, que tanto pode ser t ou
x ou qualquer outra. Já em (b) está implı́cito que y é uma função da
variável independente x (que também aparece na equação!).

2
Nota-se uma grande diferença entre as equações dadas em (a) e (b) e a
dada em (c). De fato, no caso de (c) a função incógnita U depende de duas
variáveis independentes, x e y, e na equação aparecem derivadas parciais de
U . Enquanto que em (a) e (b) y é função de uma só variável independente
e as derivadas que aparecem na equações são derivadas ordinárias. Como os
estudos de um e outro tipo de equação diferencial são bem distintos, faz-se
necessária uma formal distinção.

Definição 3. Equações diferenciais em que não aparecem derivadas parciais


são chamadas de equações diferenciais ordinárias (EDO) e as outras são
chamadas de equações diferenciais parciais (EDP).

Exercı́cio 1. Mostre que y(t) = c1 e2t + c2 e5t , c1 , c2 ∈ R, é uma solução


da equação dada em (a).

Exercı́cio 2. Encontre pelo menos duas soluções para a equação dada em


(c).

Nosso interesse nessa seção é estudar um pouco sobre equações diferenci-


ais ordinárias de 1a ordem. Mas o que vem a ser a ordem de uma EDO?
Simples, a ordem da equação é a ordem máxima de derivação que nela apa-
rece. Por exemplo em (a) temos uma EDO de 2a ordem, enquanto em (b)
temos uma EDO de 3a ordem. A equação y ′ − y = 0 é uma EDO de 1a
ordem, enquanto que y ′′ + y = 0 é uma EDO de 2a ordem.

Voltando ao nosso objetivo principal, uma equação diferencial ordinária


de 1a ordem pode então ser escrita na forma geral:

F (y ′ , y, t) = 0 ,

em que F é uma função de y, sua derivada e da variável independente t,


não-constante com relação a y ′ . Ou alternativamente, podemos dizer que
uma EDO de 1a ordem é uma equação diferencial que possa ser escrita na
forma
y ′ (t) = f (t, y) ,
em que f é uma função de duas variáveis. Por exemplo na equação

t3 y ′ + t4 y = e t ,

3
dividindo, ambos os membros da igualdade, por t3 e isolando y ′ podemos
reescrevê-la na forma equivalente

y ′ = −ty + t−3 et .

Aqui f (t, y) = −ty + t−3 et .


A forma explı́cita geral de uma EDO de 1a ordem é

y ′ = f (x, y) , (1)

em que f (x, y) é uma função real definida num aberto Ω ⊆ R2 .

Voltemos ao nosso exemplo inicial:

y′ − y = 0 .

Como vimos, toda função do tipo y(t) = cet é uma solução para ela. Diga-
mos que, além de satisfazer a equação diferencial, a função y(t) deva ainda
satisfazer à uma condição especı́fica, por exemplo, y(0) = 2. Claramente,
substituindo x = 0 e y = 2 em y = cex obtemos um valor para c:

2 = ce0 = c · 1 ⇒ c = 2 .

Uma condição como y(0) = 2 é chamada de condição inicial e uma EDO


munida de uma condição inicial é chamada simplesmente de Problema de
Valor Inicial ou PVI, abreviadamente. Assim, resolver um PVI significa
encontrar uma solução para a EDO dada satisfazendo à uma certa condição
inicial.
Exemplo 4. Encontre uma solução da equação y ′ = 4x + 6 que satisfaça
à condição inicial y(1) = 7.
Desejamos encontrar uma função y(x) tal que y(1) = 7 e cuja derivada
seja 4x + 6. Ora, se conhecemos a derivada de uma função, a fim de obtê-la,
basta integrar sua derivada.

y = (4x + 3)dx = 2x2 + 6x + c ,

em que c é a constante de integração. Agora, como y(1) deve ser 7 temos,

7 = 2 + 6 + c ⇒ c = −1 .

4
Portanto, uma solução para o PVI é y0 (x) = 2x2 + 6x − 1 .

Um problema importante da teoria das Equações Diferenciais Ordinárias


é o de determinar se uma dada equação tem ou não solução e se dada uma
certa condição inicial a solução do Problema de Valor Inicial é única. Para
as equações de 1a ordem temos um resultado valioso a esse respeito.

Teorema 5. (Existência e Unicidade)


Seja Ω uma região aberta do plano R2 e considere a função f : Ω → R
definida em Ω. Suponhamos que tanto f quanto ∂f ∂y
existam e sejam
contı́nuas em Ω. Dado um ponto (x0 , y0 ) ∈ Ω , a equação diferencial or-
dinária
y ′ = f (x, y) (2)
admite uma única solução y = y(x) definida num intervalo aberto (a, b),
com x0 ∈ (a, b), satisfazendo à condição inicial:

y(x0 ) = y0 .

O teorema acima é também conhecido como Teorema de Picard e sua


demonstração foge aos objetivos deste curso.
As dificuldades na busca de soluções gerais para as EDO’s são de tal ordem
que o que se faz é estudar em separado determinadas classes de equações que
têm certas similaridades. Em realidade, nem para as EDO’s de 1a ordem
temos um método de solução que sirva para todas. Assim, apresentaremos
aqui os métosdos de soluções de algumas classes especiais dessas equações:
as equações lineares e as de variáveis separáveis.

1.2 Equações Lineares


As equações lineares constituem um dos tipos mais importantes de equações
de 1a ordem. Uma EDO de 1a ordem é dita linear quando podemos
escrevê-la na forma
y ′ + p(t)y = g(t) , (3)
(ou seja, a equação é linear em y e y ′ .)

Assumiremos que p(t) e g(t) são funções contı́nuas, a fim de garantir


a integrabilidade. Por exemplo, y ′ + 3ty = et é linear, bem como

5
(t − 2)y ′ = y + 2(t − 2)3 , que pode ser reescrita como
1
y′ − y = 2(t − 2)2 .
t−2
Já y ′ + 5y 2 = cos x e (2ty 5 − y)dt + 2tdy = 0 não são lineares.

Desenvolveremos agora um método geral de solução para as equações li-


neares. Começamos por lembrar a regra do produto para derivação.

Regra do Produto:
Sejam f, g : R → R diferenciáveis então

(f · g)′ = f ′ · g + f · g ′ . (4)

Nossa estratégia será a de reconhecer no primeiro membro de (3) a de-


rivada de um produto. Como em geral isto não ocorre, transformaremos a
equação (3) noutra equivalente, de forma que o primeiro membro seja a deri-
vada de um produto. Para tanto, multiplicaremos por uma função adequada
os dois membros da igualdade em (3). Mas qual é essa função adequada,
se é que existe alguma? Aqui “vamos jogar verde para colher maduro”, isto
é muito comum em Matemática. Vamos supor que uma certa função µ(t)
cumpra a propriedade desejada e depois tentaremos descobrı́-la. Multipli-
cando a equação (3) por µ obtemos:

µy ′ + p(t)µy = g(t)µ (5)

Para que o primeiro membro se torne a derivada de um produto, o mais


razoável é exigir que esse produto seja µy. Mas por (4), (µy)′ = µy ′ + µ′ y.
Comparando com o que temos no primeiro membro em (5), concluı́mos que
µ deve ser tal que
µ′
p(t)µy = yµ′ ⇒ p(t)µ = µ′ ⇒ = p(t) (6)
µ
µ′
Agora, usamos que (ln µ)′ = µ
,
pela regra da cadeia. Obtemos:


(ln µ) = p ⇒ ln µ = p(t)dt (7)

6
e, finalmente, tomando a exponencial dos dois lados, obtemos µ(t):

p(t)dt
µ(t) := e (8)
Agora que encontramos a “função mágica” µ podemos resolver facilmente
(3): ∫

(µy) = µg ⇒ µy = µgdt + c , (9)

(em que c é uma constante de integração) e, portanto, isolando y(t)


(note que µ(t) ̸= 0 ∀t ∈ R):

µ(t)g(t)dt c
y(t) = + . (10)
µ(t) µ(t)
Exemplo 6. Resolva a equação: ty ′ + 2y = 8t2 .
Começamos dividindo a equação toda por t para colocá-la na forma (3):
2
y ′ + y = 8t .
t
2
Então p(t) = t
e g(t) = 8t. Calculano µ(t) obtemos:

= e2 ln |t| = eln(t ) = t2 .
2 2
dt
µ(t) = e t

Multiplicano a equação por µ(t) temos:


t2 y ′ + 2ty = 8t3 ⇒ (t2 y)′ = 8t3 ⇒ t2 y = 2t4 + c
e, finalmente, isolando y obtemos a solução geral
c
y(t) = 2t2 + 2 , c ∈ R .
t
Exemplo 7. Duas curvas são ortogonais quando em todo ponto de interseção,
as retas tangentes a uma e outra curva forem perpendiculares. Determine a
famı́lia de trajetórias ortogonais à famı́lia de curvas x2 + 2y 2 = c.
Resolução:
Inicialmente vamos encontrar as inclinações das retas tangentes às curvas
da famı́lia dada. Como sabemos, todoa curva diferenciável é, localmente, um
dy
gráfico e portanto a inclinação da reta tangente é dada por dx . Derivando
2 2
implicitamente (com relação a x) a equação x + 2y = c obtemos:
x
2x + 4yy ′ = 0 ⇒ y ′ = − .
2y

7
As curvas que estamos procurando devem ser ortogonais a essas, e portanto,
as inclinações de suas retas tangentes devem ser dadas por
2y
y′ = .
x
(Lembre-se de que duas retas são ortogonais se, e só se, o produto de suas
inclinações for −1) Essa é uma equação linear, com p(x) = − x2 e g(x) = 0
. Calculando µ(x):

− x2 dx
µ(x) = e = e−2 ln |x| = x−2

e multiplicando a equação por esse fator integrante resolvemo-la facilmente:

(x−2 y)′ = 0 ⇒ x−2 y = k ⇒ y = kx2 .

Assim, a famı́lia ortogonal às elipses x2 +2y 2 = c é a de parábolas y = kx2 .

1.3 Exercı́cios
1. Encontre uma solução para o PVI y ′ = 2x2 + 4x − 1 , y(3) = 5.
Resposta: y = 23 x3 + 2x2 − x − 28.

2. Sabendo que y = (1 + ce−x )−1 é uma famı́lia de soluções da EDO


y ′ + y 2 = y , encontre uma solução satisfazendo à condição inicial:
(a) y(0) = − 31
(b) y(−1) = 2
Respostas:
(a) c = −4
(b) c = −1 2e

3. Determine qual(is) dentre as equações abaixo é(são) lineares e resolva


as que o forem.
(a) y ′ = xy + 5x
(b) y ′ = 5y 2 + sen(x)
(c) dx
dt
= t2 x
(d) xdy − 2ydx = x3 ex dx
(e) yy ′ − 4xy 2 = x3
(f) xy ′ − x2 e−x = y
(g) t3 y ′ + 4t2 y − e−t = 0

8
Respostas:
x2 t3
(a) y = −5 + Ce 2 (c) x = Ce− 3 (d) y = x2 ex + Cx2
(f) y = xe−x + Cx (g) y = −t−3 e−t − t−4 e−t + Ct−4
4. Encontre a solução de cada Problema de Valor Inicial (PVI):
(a) y ′ + (1 − 2t)y = te−t , y(0) = 2
(b) ty ′ + (t + 1)y = t , y(ln 2) = 1
(c) y 2 dx + (3xy − 1)dy = 0 , x(2) = 1 (note que x é função de y.)
Respostas:
(a) y = − 12 e−t + 25 et −t
2

(b) y = 1 − 1t + te2t
1
(c) x = 2y + y63
5. Encontre a famı́lia de trajetórias ortogonais à:
(a) x + 4y = c
(b) x2 − y 2 = c
(c) y 2 = 2p(x − c) , c é o parâmetro da famı́lia.
Descreva todas as famı́lias de curvas envolvidas.
Respostas:
(a) y = 4x + c - Retas.
(b) y = xc - Hipérboles.
(c) y = Ce−x p - Gráfico de exponencial.

6. Uma partı́cula desloca-se, à partir da origem, sobre o eixo Ox ⃗ com


aceleração proporcional à velocidade. Sabendo-se que a velocidade ini-
cial da partı́cula foi 3m/s e que depois de um segundo a velocidade
era igual a 2m/s, determine a equação horária do movimento, isto é,
uma função que dê a posição da partı́cula no instante t.
3
Resposta: s(t) = ln(2/3) eln(2/3)t − ln(2/3)
3

1.4 Equações de Variáveis Separáveis


Informalmente uma EDO de 1a ordem é de variáveis separáveis quando é
possı́vel separá-la, colocando-a na forma:
G(y)dy = H(x)dx .
Por exemplo, yy ′ (x) + x = 0 pode ser posta nessa forma, basta escrever:
dy
y = −x ⇒ ydy = −xdx
dx
9
e é, portanto, de variáveis separáveis. Para resolvê-la, formalmente, integra-
mos ambos os membros da igualdade anterior, obtendo:
∫ ∫
y2 x2 x2 y 2
ydy = − xdx ⇒ =− +c ⇒ + =c,
2 2 2 2
ou ainda,
x2 + y 2 = C ,
em que C = 2c também é uma constante real. Vemos que essa solução está
dada implicitamente , uma vez que não temos uma expressão (explı́cita)
que dê y em função de x, mas temos uma relação entre y e x, que
não mais depende da derivada de y, o que caracteriza-a como solução. É a
chamada solução implı́cita.

Daremos agora um tratamento mais formal para as equações de variáveis


separáveis. Começamos por observar que qualquer EDO de 1a ordem pode
ser escrita na forma
dy
A(x, y) + B(x, y) =0. (11)
dx
Exercı́cio 3. Escreva a equação linear y ′ + p(x)y = g(x) na forma (11).
Definição 8. Uma EDO de 1a ordem é separável quando na forma dada em
(11) A(x, y) = A(x) e B(x, y) = B(y), isto é, A não depende de y e B
não depende de x.
Podemos perceber facilmente que isto implica que se pode “separar as
variáveis” como dissemos informalmente antes.

Exemplo 9. A equação (1 + x2 )y ′ − xy = 0 é de variáveis separáveis. De


fato, podemos reescrevê-la na forma:
dy 1 dy x x 1 dy
(1 + x2 ) = xy ⇔ = 2
⇔ − 2
+ =0.
dx y dx 1+x 1+x y dx
dy
Consideremos então uma equação A(x) + B(y) dx = 0 em que supomos
A(x) e B(y) funções contı́nuas. Nesse caso, podemos tomar funções pri-
mitivas M (x) e N (y), isto é, M ′ (x) = A(x) e N ′ (y) = B(y). Portanto,
temos:
dy
M ′ (x) + N ′ (y) =0. (12)
dx
10
Por outro lado, pela regra da cadeia:
d dy
(N (y(x)) = N ′ (y) . (13)
dx dx
Substituindo (13) em (12) podemos resolver facilmente a equação:

d
(M (x) + N (y(x)) = 0 ⇔ M (x) + N (y) = C , (14)
dx
∫ ∫
para alguma constante C ∈ R. Note que M (x) = Adx e N (y) = Bdy
e, portanto, esse método é equivalente ao anterior.

Exemplo 10. Resolva a equação (1 + x2 )y ′ − xy = 0 .


Como já vimos trata-se de uma EDO de variáveis separáveis. Fazendo a
separação
1 x
dy = dx .
y 1 + x2
Integrando:
∫ ∫
1 x 1
dy = dx ⇒ ln |y| = ln(1 + x2 ) + c .
y 1 + x2 2

(Para fazer a segunda integral, use a substituição U = 1 + x2 .)

Exemplo 11. Uma equação de variáveis separáveis aparece frequentemente


quando modelamos o decaimento radioativo de determinadas substâncias.
Um modelo razoável é o de que, dada uma certa massa inicial de mate-
rial radioativo (o césio, por exemplo), ele se desintegra ao longo do tempo e
a desintegração não ocorre de forma linear. Estima-se que a taxa de decai-
mento é proporcional à quantidade presente. Assim, em particular, vemos
que o inı́cio da desintegração é mais rápido e ao longo do tempo o mate-
rial radioativo passa a desintegrar-se cada vez mais lentamente, o que explica
porque um acidente radioativo pode ser tão desastroso. Chamanto de y(t) a
quantidade de massa de material radioativo existente no tempo t temos
dy
= −ky , (15)
dt
em que k > 0 é uma constante de proporcionalidade. O sinal negativo
à esquerda de k representa o decaimento (isto é, a taxa de variação da

11
massa com relação ao tempo é negativa.). A equação (15) é separável e
pode ser facilmente resolvida. Se soubermos a quantidade de material inicial
e a quantidade presente depois de transcorrido um certo tempo, podemos
determinar a constante de proporcionalidade k e o problema de valor inicial
associado, obtendo uma única solução. A partir daı́, temos uma fórmula para
determinar a massa de material radiativo existente num instante arbitrário
t.

1.5 Exercı́cios
1. Verifique se cada equação abaixo é de variáveis separáveis, resolvendo
as que forem.
dy
(a) dx = xx+y
2 +1
′ 2
(b) y + y cos x = 0
(c) (xy 2 + y)dx + (x2 y − x)dy = 0
(d) y 2 − 1 = (2y + xy)y ′
(e) (1 + 2y)dx + (4 − x2 )dy = 0
(f) y ′ + y = 1+x 1
2

(g) (x + y + 1)dx + (2x + 2y + 1)dy = 0


Respostas: √ √
(b) y = sen1 (x) + C (d) ln( y + 1) + ln( y − 1) = ln |x + 2| + C

(e) 32 ln |x + 2| − 12 ln |x − 2| = ln( 1 + 2y) + C
2. Considere a equação:
dy
y = 2x(4 − y 2 ) .
dx
(a) Resolva a equação usando o método dado nesta seção.
(b) Verifique diretamente que as funções constantes y1 := 2 e y2 := −2
são soluções da equação, mas que não foram encontradas em (a).
(c) Explique o que aconteceu.
Resposta:
2−y 2
(a) 2+y = Ce4x .
3. Resolva o PVI
dy 3x2
= 2 , y(1) = 0
dx 3y − 4
e determine o intervalo no qual a solução é válida.
Resposta: y 3 − 4y = x3 − 1 , I = (− √23 , √23 .

12
4. Encontre uma equação para a curva no plano xy cuja reta normal em
qualquer ponto da curva passa pela origem. Que tipo de curva é essa?
Resposta: x2 + y 2 = C, com C > 0. Representa circunferência.

5. Determine a curva no plano xy que passa pelo ponto P = (1, 2) e


⃗ em ( x , 0).
cuja reta tangente no ponto (x, y) intercepta o eixo Ox 2
Que tipo de cursa é essa?
Resposta: y = 2x2 . Representa uma parábola.

6. Por volta de 1950, o quı́mico Willard Libby inventou um método de usar


o carbono radioativo como um meio para determinar a idade aproxi-
mada dos fósseis. A teoria da datação por carbono baseia-se no
fato de que o isótopo 14 (C -14) é produzido na atmosfera pela ação
da radiação cósmica sobre o nitrogênio. A razão da quantidade de
C-14 em relação ao carbono comum na atmosfera parece ser uma cons-
tante e, conseqüentemente, a quantidade proporcional de isótopo pre-
sente em todos os organismos vivos é a mesma da atmosfera. Quando
um organismo morre, a absorção de C-14, por meio da respiração ou
da alimentação, é interrompida. Assim, comparando a quantidade de
carbono C-14 presente, digamos, em um fóssil com a razão constante
encontrada na atmosfera, é possı́vel obter uma estimativa razoável da
idade do fóssil. O método baseia-se no conhecimento de que a meia-
vida do radioativo C-14 é de aproximadamente 5.600 anos. Atualmente,
acredita-se que o método der datação por C-14 seja válido para fósseis
de idade até 9 meias-vidas do isótopo. Por seu trabalho, Libby ganhou
o Prêmio Nobel de quı́mica do ano de 1960. O método de Libby tem
sido usado para datar móveis de madeira em túmulos egı́pcios, o te-
cido de linho que envolvia pergaminhos do Mar Morto e o tecido do
enigmático sudário de Turim. Recentemente foi encontrado um fóssil
que continha um milésimo da quantidade original de C-14. Determine
a idade do fóssil. O resultado obtido é confiável? Por que?
Resposta: Aproximadamente 55.811 anos.

7. O sudário de Turim mostra a imagem em negativo do rosto de um ho-


mem crucificado, que muitos acreditam ser Jesus Cristo. Em 1988, o
Vaticano deu a permissão para datar por carbono C-14 o sudário. Três
laboratórios cientı́ficos independentes analisaram o tecido do sudário e
concluı́ram que ele tinha 660 anos, aproximadamente.

13
(a) O que se poderia concluir, supondo verdadeiros os resultados obti-
dos pela datação, sobre o santo sudário?
(b) Usando a idade de 660 anos, determine a porcentagem da quanti-
dade original de C-14 remanescente no tecido em 1988.
Respostas:
(a) Ele seria falso.
(b) Cerca de 50%.

8. Consideremos um modelo para o fenômeno de mudança de temperatura


de um corpo por perda de calor para o ambiente no qual a temperatura
T = T (t) é uniforme ao longo do corpo e depende unicamente do tempo
e a temperatura ambiente Ta é constante ao longo do tempo e uniforme
em todo o ambiente. Além disso, suponhamos que o fluxo de calor
através das paredes do corpo é proporcional à diferença de temperatura
entre o corpo e o ambiente, conforme estabelece a Lei de de Newton do
Resfriamento.
(a) Mostre que T ′ = −c(T − Ta ) e determine a temperatura em um
instante qualquer, assumindo que a temperatura inicial é T (0) = T0 .
(b) O que ocorre com a temperatura do corpo quando t → ∞ ?
Justifique sua resposta.
(c) Um corpo a 100◦ C é posto numa sala onde a temperatura ambiente
se mantém constantemente 25◦ C. Após 5 minutos, a temperatura do
corpo caiu para 90◦ C. Depois de quanto tempo o corpo estará a 50◦ C?

9. Em 1825, o matemático Benjamim Gompertz, após dedicar-se ao es-


tudo de tabelas de mortalidade no Reino Unido, conclui que a taxa de
mortalidade por indivı́duo em uma população é proporcional a −eat .
Determine a quantidade de indivı́duos da população em um instante t
qualquer, sabendo que p(t) = p0 .

2 Transformada de Laplace
2.1 Revisão sobre Integral Imprópria
Uma integral definida é chamada de imprópria quando um dos seus limites
de integração é ±∞ ou um ponto de descontinuidade da função integranda.
Por exemplo, são impróprias as integrais a seguir:

14
∫∞ ∫0 ∫∞ ∫1 ∫3
dx dx dx dx dx
√ .
(x − 1)2 2
x +1 x−1 x 3−x
2 −∞ 5 0 0

Aqui estaremos interessados em integrais contendo ∞ como extremo de


integração.

Definimos
∫∞ ∫M
f (x)dx = lim f (x)dx ,
M →∞
a a

caso esse limite exista.

Dizemos que a integral imprópria converge ou é convergente se o limite


acima existe e é finito. Caso contrário, dizemos que a integral diverge (ou
é divergente).

Exemplo 12.
1)
∫∞ ∫M
dx dx
= lim
(x − 1)2 M →∞ (x − 1)2
2 2

Como
∫ ∫
dx 1
= (x − 1)−2 dx = −(x − 1)−1 = − +C ,
(x − 1)2 x−1
decorre que
∫∞ ( )
dx 1 x=M 1
= lim = lim +1 =1 ,
(x − 1) 2 M →∞ 1 − x x=2 M →∞ 1−M
2

já que 1
1−M
→ 0 quando M → ∞.

Nesse caso, concluı́mos que a integral converge para 1.

15
2)
∫∞ ∫M ( x=M )
dx dx
= lim = lim ln |x − 1| = lim [ln(M −1)] = ∞ .
x − 1 M →∞ x − 1 M →∞ x=2 M →∞
2 2

Portanto essa integral diverge.

3)
∫∞ ∫M
x x
2
dx = lim dx .
x +1 M →∞ 1 + x2
0 0

Para calcular essa integral, usaremos a substituição U = x2 + 1, de forma


que dU = 2xdx. Assim:
∫ ∫
x 1 dU 1 1
2
dx = = ln |U | = ln(1 + x2 ) ,
1+x 2 U 2 2
já que 1 + x2 > 0. Voltando ao limite da integral imprópria:

∫∞ [ x=M ] [ ]
x 1 2 1
dx = lim ln(1 + x ) = lim ln(1 + M ) = ∞ .
2
x2 + 1 M →∞ 2 x=0 M →∞ 2
0

Novamente a integral diverge.

4)
∫∞ ∫M
x− 3 x=M
1
− 43 − 43
= −3 lim (M − 3 − 1) = 3 ,
1
x dx = lim x dx = lim
M →∞ M →∞ − 1
x=1 M →∞
3
1 1

já que lim M − 3 = 0. Nesse caso, a integral converge.


1

M →∞
Esse exemplo é um caso particular do seguinte:
∫∞
xp dx .
a

Supondo inicialmente p ̸= −1:

16
∫∞ ∫M
xp+1 x=M M p+1 − ap+1
p
x = lim p
x dx = lim = lim .
M →∞ M →∞ p + 1 x=a M →∞ p+1
a a

Como p e a são constantes e M → ∞ , o limite acima converge se


p + 1 < 0 e diverge se p + 1 > 0. Assim, a integral converge se p < −1 e
diverge se p > −1.

Vejamos agora o caso p = −1:


∫∞ ∫M x=M
−1
x dx = lim x−1 dx = lim ln |x| = lim (ln |M | − ln |a|) = ∞ .
M →∞ M →∞ x=a M →∞
a a

Concluı́mos assim o seguinte critério:

∫∞
xp dx é convergente se p < −1 e é divergente se p ≥ −1 .
a

Vamos tratar agora de um outro caso muito importante de integral imprópria.

∫∞ ∫M
1 ct t=M 1
ct
e dt = lim ect dt = lim e = lim (ect − 1) .
M →∞ M →∞ c t=0 M →∞ c
0 0
Segue que:
∫∞
Se c < 0 ⇒ 0
ect dt converge para − 1c .
∫∞ ∫∞
Se c = 0 ⇒ 0
ect dt = 0
dt = ∞ diverge.
∫∞ 1 cM
Se c > 0 ⇒ 0
ect dt = lim (e − 1) = ∞ também diverge.
M →∞ c

2.2 Exercı́cios:
1. Calcule a área abaixo do gráfico y = e−x , acima do eixo y = 0 e à
esquerda de x = 1.
Resposta: 1e

17
2. Verifique se a integral é convergente determinando seu valor:
(a)
∫∞
dx
x2 + 1
0

(b)
∫0
dx
x2 + 1
−∞

(c)
∫∞
xe−x dx
0

Respostas:
(a) π2 (b) − π2 (c) 1

2.3 A Transformada de Laplace de Uma Função


A Transformada de Laplace é uma importante ferramenta para a resolução
de certos tipos de Problemas de Valor Inicial e ainda de equações integrais e
ı́ntegro-diferenciais relevantes para a Engenharia Elétrica. Por exemplo, um
circuito em série R-C pode ser estudado por meio da equação diferencial
dq 1
R + q(t) = E(t) ,
dt C
em que R representa a resistência, C a capacitância e E(t) a força ele-
tromotriz. Essa força muitas vezes é dada por uma função descontı́nua, o
que dificulta o uso de técnicas mais elementares de solução. Como veremos o
uso da Transformada de Laplace “gera”uma equação algébrica, de mais fácil
resolução, e a partir da solução da equação algébrica conseguimos encontrar
a solução da equação diferencial.

Definição 13. Dada uma função f (t) tal que


∫∞
e−st f (t)dt
0

18
seja convergente, então essa integral imprópria é definida como a Transfor-
mada de Laplace da função f (t), e é denotada por
∫∞
L(f (t)) = F (s) = e−st f (t)dt .
0

Nessa integral, a variável de integração é t e s deve ser tratada como


uma constante.
Exemplo 14. Vamos determinar a transformada de Laplace da função cons-
tante f (t) = 1. Por definição,

∫∞ ( )
−st e−st t=M 1 e−M s 1
L(1) = e dt = lim = lim − = , s>0.
M →∞ −s t=0 M →∞ s s s
0

Aqui usamos que lim e−M s = 0, se s > 0.


M →∞

Mais um exemplo importante:


Exemplo 15. Vamos determinar a transformada de Laplace da função iden-
tidade f (t) = t. Por definição,
∫∞ ∫∞
L(t) = e−st tdt = lim e−st tdt .
M →∞
0 0

Para integrar, usaremos o método de integração por partes, considerando


u = t e dv = e−st dt:
∫ ∫ ∫ −st
−st e−st e t e−st
e tdt = uv − vdu = t · + dt = − e−st − 2 .
−s s s s
Portanto,
( ) ( )
t −st e−st t=M t −M s e−M s 1 1
L(t) = lim − e − 2 = lim − e − 2 + 2 = 2,
M →∞ s s t=0 M →∞ s s s s
já que os limites das duas primeiras parcelas valem 0. Assim, se s > 0,
1
L(t) = .
s2

19


Para simplificar a notação, muitas vezes utilizaremos f (t) para repre-
0
sentar o resultado do limite lim (f (M ) − f (0)). Assim, por exemplo,
M →∞

−t
e = lim (e−M − e0 ) = −1.
t=0 M →∞

Aproveitando o cálculo de L(t), podemos encontrar L(t2 ):

∫∞ ∫∞
−st 2
L(t ) =
2
e t dt = t2 e|−st
|{z} {zdt}
0 0 u dv
∫∞
e−st t=∞ e−st
= t · 2
−2 tdt
−s t=0 s
0
∫∞
2
= 0+ e−st tdt
s
0
2
= L(t)dt
s
2 1 2
= · 2 = 3 .
s s s
Assim, L(t2 ) = 2
s3
, s > 0.

É importante lembrar que embora a continuidade de uma função f (t)


∫b
garanta a existência da integral definida a f (t)dt, o mesmo
∫ ∞ ct não corre com
as integrais impróprias, como nos mostra o exemplo 0 e dt, que diverge
se c ≥ 0. Portanto, precisamos de condições que garantam a existência
da Transformada de Laplace de uma função. Como veremos, são duas as
condições suficientes para garantir a existência da Transformada. Vejamos a
primeira:

Definição 16. Uma função real f : [a, b] → R é chamada de seccional-


mente contı́nua (ou contı́nua por partes) se existe um número finito de
pontos, de forma que, exceto nesses pontos, nos demais a função é contı́nua
e além disso, em cada um dos pontos de descontinuidade, existam os limites
laterais da função.

20
Dessa forma, para f ser seccionalmente contı́nua num intervalo, é ne-
cessário e suficiente que f seja contı́nua no intervalo ou tenha um número
finito de descontinuidades, de forma que em cada ponto de descontinuidade
existam ambos os limites laterais.
Em particular, toda função contı́nua é seccionalmente contı́nua.

Exemplo 17. A Função Degrau Unitário


Dado um número real c a função degrau unitário em c é definida como
{
0 , se t < c
uc (t) = .
1 , se t ≥ c
O nome dessa função se justifica pelo aspecto de seu gráfico, que ilustramos
logo abaixo.

Figura 1: Gráfico da função degrau unitário

A função degrau unitário é seccionalmente contı́nua. Observe que existe


um único ponto de descontinuidade, exatamente o c, e que nesse ponto e-
xistem os limites laterais:

lim uc (t) = 0 e lim uc (t) = 1 .


t→c− t→c+

Podemos obter outras funções seccionalmente contı́nuas fazendo com-


binações de funções degrau.

21
Exemplo 18. A função f (x) = uπ (x) − u2π (x), x ≥ 0 é dada por

 0 , se x<π
f (x) = 1 , se π ≤ x < 2π .

0 , se x ≥ 2π

Figura 2: Exemplo 18 - Gráfico da função (uπ − u2π )

A função
{ 1
, se x ̸= 1
g : [0, 2] → R ; g(x) = x−1
2 , se x = 1
não é secionalmente contı́nua, pois embora tenha uma única descontinui-
dade x = 1, não existem os limites laterais nesse ponto, pois lim− g(x) =
x→1
1 1
lim− = −∞ e lim+ g(x) = lim+ = +∞.
x→1 x − 1 x→1 x→1 x − 1

A função conhecida como função de Dirichlet


{
1 , se x é racional
χ : [0, 1] → R ;
0 , se x é irracional
é descontı́nua em todos os pontos e, por isso, não é seccionalmente conı́nua.

22
Vamos à segunda condição:
Definição 19. Dizemos que uma função f é de ordem exponencial se
existem números reais k e r tais que
f (x) ≤ k · erx para todo x no domı́nio de f .
Teorema 20. Seja f : [0, ∞) → R uma função seccionalmente contı́nua e
de ordem exponencial (f (x) ≤ k · erx ) para todo t ≥ M > 0. Então, existe
L(f (t)) = F (s) e essa transformada está definida para todo s > r.
Demonstração: Como e−st é contı́nua e f (t) é seccionalmente contı́nua,
seque que e−st f (t) é uma função seccionalmente contı́nua de t. Portanto,
∫M
para todo M > 0, existe a integral definida 0 e−st f (t)dt. A questão
fundamental é garantir que a integral imprópria é convergente, ou seja, que
existe
∫α
lim e−st f (t)dt .
α→∞
0
Podemos dividir a integral imprópria em duas partes, da seguinte forma:
∫∞ ∫M ∫∞
−st −st
e f (t)dt = e f (t)dt + e−st f (t)dt .
0 0 M
∫M
A integral definida 0 e−st f (t)dt é própria e, portanto,∫ certamente um

número real (finito). Assim, a convergência integral 0 e−st f (t)dt de-
∫ ∞da −st
penderá exclusivamente da convergência de M e f (t)dt.

Agora, por hipótese, para todo t ≥ M , |f (t)| ≤ k · ert . Daı́:


|e−st · f (t)| = e−st · |f (t)| ≤ ke−st · ert = k · e(r−s)t .
Se s > r então:
∫∞ ∫α
k·e (r−s)t
dt = lim k · e(r−s)t dt
α→∞
M M
→0
k z(r−s)α
}| {
= lim [e −e(r−s)M ]
α→∞ r − s

ke(r−s)M
= <∞.
s−r

23
∫∞
Segue que M e−st f (t)dt é convergente e, portanto, existe L(f (t)) = F (s),
para todo s > r.
Em outras palavras, para garantir a existência de L(f (t)) é suficiente
que a função f (t) seja seccionalmente contı́nua em qualquer intervalo fe-
chado e limitado de [0, ∞) e que seja “dominada”por uma função do tipo
exponencial k · ert , e, nesse caso,a transformada de Laplace L(f (t)) = F (s)
será uma função contı́nua definida ∀ s > r.

A seguir, vamos determinar as transformadas de Laplace de outras funções


elementares.

Exemplo 21. A função f (t) = ect é contı́nua e, naturalmente, de ordem


exponencial. Assim, para s > c:
∫∞
L(e ) =
ct
e−st · ect dt
0
∫∞
= e(c−s)t dt
0
e(c−s)t ∞
=
c − s t=0
1
= 0−
c−s
1 1
= − = .
c−s s−c
Portanto,
1
L(ect ) = (s > c) .
s−c
Note que quando consideramos c = 0, a função f (t) = 1 e o resultado
que acabamos de obter nos fornece L(1) = 1s , como já havı́amos provado.

Exemplo 22. Vamos determinar a transformada de Laplace de uma função


degrau unitário.

24
∫∞
L(uc (t)) = e−st uc (t)dt
0
∫c =0
z }| { ∫ ∞
z }| {
=1
−st
= e uc (t) dt + e−st uc (t) dt
0 c
∫∞
= e−st dt
(
c
)
e−st ∞
=
−s t=c
( −cs )
e
= 0− −
s
−cs
e
= .
s
Portanto,

e−cs
L(uc (t)) = (s > 0).
s
No próximo exemplo determinaremos as transformadas de Laplace das
potências de expoente natural (t, t2 , t3 , ...).
Exemplo 23. Sendo n ∈ N,
∫∞
L(t ) =
n
e−st tn dt .
0

Aplicando o método de integração por partes, com

e−st
U = tn ⇒ dU = ntn−1 dt dV = e−st dt ⇒ V = ,
−s
obtemos:
∫ ∫ −st ∫
−st n ne n
e t dt = U V − V dU = −t + e−st tn−1 dt .
s s

25
Portanto,

∫M ( −st
) ∫∞
e t=M n
L(tn ) = lim e−st tn dt = lim −tn + · e−st tn−1 dt .
M →∞ M →∞ s t=0 s
0 0

Como, para s > 0,


( −st
) ( )
ne t=M M n −sM
lim −t = lim − e −0 =0 ,
M →∞ s t=0 M →∞ s
segue que:
∫∞
n
L(t ) = ·
n
e−st tn−1 dt ,
s
0

ou seja,
n
L(tn ) =
· L(tn−1 ) .
s
Essa é uma propriedade recursiva das transformadas de Laplace das potências
t e por meio dela podemos encontrar uma expressão geral para L(tn ). Já
n

sabemos que L(t0 ) = L(1) = 1s . Usando a propriedade recursiva, segue que:

1 1 1 1
L(t) = L(t1 ) = · L(t0 ) = · = 2 .
s s s s
De forma análoga, considerando agora n = 2:
2 2 1 2
L(t2 ) = · L(t1 ) = · 2 = 3 .
s s s s
Fazendo assim, sucessivamente, vemos que:

26
1
L(t) =
s2
2 1 2
L(t2 ) = · 2
= 3
s s s
3 2 3·2
L(t3 ) = · 3
= 4
s s s
4 3·2 4·3·2
L(t4 ) = · 4
=
s s s5
5 4·3·2 5·4·3·2
L(t5 ) = · 5
=
s s s6
6 5·4·3·2 6·5·4·3·2
L(t6 ) = · 6
= .
s s s7

Assim, indutivamente,
n!
L(tn ) = (s > 0) .
sn+1
Exemplo 24. Vamos determinar a transformada de Laplace de uma função
da forma f (t) = sen(t), em que a ∈ R é uma constante.
∫∞
L(sen(t)) = e−st sen(t)dt .
0

O processo para determinar as primitivas de e−st sen(t) é aquele de


aplicação sucessiva de duas integrações por partes, trabalhoso, mas sem no-
vidades! Nas duas aplicações do método por partes, consideraremos u = e−st
e o dv a parte restante do integrando.

∫ ∫
−st −st
e sen(t)dt = −e cos(t) · (−s)e−st dt
· cos(t) +

= −e cos(t) − se sen(t) + sen(t)se−st dt
−st −st


−st −st
= −e cos(t) − se sen(t) − s 2
e−st sen(t)dt

27
Podemos concluir, passando a integral do último membro para o primeiro,
que: ∫
(1 + s ) · e−st sen(t)dt = −e−st cos(t) − se−st sen(t) .
2

Daı́:
[ ]
(1 + s2 )L(sen(t)) = lim −e−sM cos(M ) − se−sM sen(M ) + 1 .
M →∞

Se s > 0 [ ]
lim −e−sM cos(M ) − se−sM sen(M ) = 0
M →∞

e, portanto,
1
L(sen(t)) = (s > 0).
1 + s2

2.4 Principais Propriedades Operatórias da Transfor-


mada de Laplace
A seguir apresentaremos alguns resultados que nos auxiliam na determinação
da transformada de Laplace de outras funções.

Linearidade

O operador L é linear, isto é, se a1 e a2 são números reais e f1 e f2


funções para as quais existem as transformadas de Laplace, vale que:

L(a1 f1 + a2 f2 ) = a1 L(f1 ) + a2 L(f2 ) ,

definida para o intervalo comum de definição das transformadas de f1 e f2 .


Isso significa que o operador L se “distribui”ao longo de somas e dife-
renças e mantém as constantes multiplicativas. Assim, por exemplo:
1 3! 2 6
L(2t + t3 ) = 2L(t) + L(t3 ) = 2 · 2
+ 4 = 2+ 4 (s > 0) .
s s s s

É fácil comprovar a linearidade de L. Suponha que f1 tenha transfor-


mada de Laplace F1 (s) definida para s > K1 e f2 tenha transformada

28
F2 definida para s > K2 . Então, sendo K o maior dos números K1 , K2 ,
para s > K:
∫∞
L(a1 f1 + a2 f2 ) = e−st · (a1 f1 (t) + a2 f2 (t))dt
0
∫∞ ∫∞
= a1 e−st f1 (t)dt + a2 e−st f2 (t)dt
0 0
= a1 L(f1 ) + a2 L(f2 ) .
Exemplo 25.
(a)
5 1
L(5t + e4t ) = + (s > 4) .
s2 s−4
(b)
3 e−πs − e−2πs
L(3 + uπ − u2π ) = + (s > 0) .
s s
(c)
3! 4! 6!
L(2t3 + t4 − 5t6 ) = 2 · 4
+ 5 −5· 7 (s > 0) .
s s s
Dilatação

Se a é um número real positivo então:


1 (s)
L(f (at)) = · F .
a a
Assim, por exemplo,
1 1 1 1
L(et ) = e L(e2t ) = s = ,
s−1 2 2 −1 s−2
como já sabı́amos.
Um outro exemplo: Já sabemos que L(sen(t)) = s+1 1
. Usando a relação
de dilatação da variável podemos obter a transformada de Laplace de sen(at):
1 1
L(sen(at)) = · ( )2
a s
+1a
1 1 1
= · s2 +a2
= s2 +a2
a a2 a
a
= .
s2 + a2

29
Vamos demonstrar agora a relação
1 (s)
L(f (at)) = · F .
a a
Usando a definição da Transformada de Laplace:
∫∞
L(f (at)) = e−st f (at)dt .
0

Fazendo agora a substituição at = T , temos dT = adt e:


∫∞
L(f (at)) = e−st f (at)dt
0
∫∞
1
e−s a f (T )dT
T
=
a
0
∫∞
1
e− a T f (T )dT
s
=
a
0
1 (s)
= ·F .
a a
Derivação

Teorema 26. Seja f : [0, +∞) → R uma função diferenciável (e, portanto
contı́nua) , de ordem exponencial e com derivada f ′ seccionalmente contı́nua
no intervalo [0, A], para todo A > 0. Então, se |f (t)| ≤ keat ∀t ≥ t0 ,
existe L(f ′ (t)) para s > a e

L(f ′ (t)) = s · L(f ) − f (0) .

Demonstração: Por definição, temos que


∫∞

L(f ) = e−st f ′ (t)dt .
0

30
Usando a integração por partes:

u = e−st ⇒ du = −sest
dv = f ′ (t)dt ⇒ v = f (t)

obtemos:
∫∞
′ −sM
L(f (t)) = lim [e f (M ) − f (0)] − −se−st f (t)dt
M →∞
0
∫∞
= −f (0) + s · e−st f (t)dt
0
= s · L(f (t)) − f (0) .

Exemplo 27. Como já sabemos L(sen(at)) = a


s2 +a2
. Portanto, usando o
teorema anterior,
a as
L[(sen(at))′ )] = s · − sen(0) = 2 .
s2 +a 2 s + a2
Por outro lado,
(sen(at))′ = a · cos(at)
e como L é linear, podemos afirmar que
as s
a · L(cos(at)) = ⇒ L(cos(at)) = .
s2 + a2 s2 + a2
Deslocamentos

Teorema 28. 1o Teorema do Deslocamento


Considere um número real a, fixo, e suponha L(f ) = F (s), definida para
s > s0 . Então a transformada de Laplace de g(t) = eat · f (t) é

G(s) = F (s − a) definida para s > s0 + a .

31
Demonstração: A demonstração é simples, basta usar a definição:
∫∞ ∫∞
−st
G(s) = L(g(t)) = e · e f (t)dt =
at
e−(s−a)t f (t)dt .
0 0

Considerando S = s − a temos:
∫∞
G(s) = e−St f (t)dt = F (S) = F (s − a) .
0

Como, originalmente, tı́nhamos S > s0 precisamos que s − a > s0 , ou seja,


s > s0 + a.
Ou seja, quando multiplicamos uma função f (t) por eat , a transformada
de Laplace dessa nova função coincide com F (S), com uma translação na
variável: S = s − a.
Exemplo 29.
(a)
n! n!
L(e3t tn ) = com S = s − 3 ⇒ L(e3t tn ) = (s > 3) .
S n+1 (s − 3)n+1

(b)
S
L(e−t cos(2t)) = com S = s − (−1) = s + 1 ⇒
S2 + 4
s+1
L(e−t cos(2t)) = (s > −1) .
(s + 1)2 + 4
Teorema 30. 2o Teorema do Deslocamento
Se c é uma constante real positiva e L(f (t)) = F (s) está definida para
s > s0 ≥ 0 então:

L(uc (t) · f (t − c)) = e−cs · L(f (t)) = e−cs · F (s) , s > s0 .

É importante destacar que a função uc (t) · f (t − c) representa uma


translação, ou um deslocamento de c unidades para a direita no gráfico de
f , pois: {
0 se t < c
uc (t) · f (t − c) = .
f (t − c) se t ≥ c

32
Figura 3: 2o Teorema do Deslocamento

A figura 5 ilustra essa situação.


O 2o Teorema do Deslocamento afirma então que quando deslocamos a
função f (t) em c unidades, obtendo uc (t) · f (t − c), a transformada de
Laplace fica multiplicada por e−cs .

Exemplo 31.
2 2
L(u2 (t) · (t − 2)2 ) = e−2s · L(t2 ) = e−2s · 3
= 3 2s .
s se
A seguir, apresentaremos a demonstração do 2◦ Teorema do Desloca-
mento.

Demonstração: Seja
{
0 se t<c
g(t) = uc (t) · f (t − c) = .
f (t − c) se t≥c

Então:
∫∞ ∫c ∫∞
L(g(t)) = e−st g(t)dt = e−st g(t)dt + e−st g(t)dt
0 0 c
∫∞
= 0+ e−st f (t − c)dt
c
∫∞
= e−st f (t − c)dt .
c

33
Fazendo a mudança de variável T = t − c decorre que dT = dt, t = T + c
e
∫∞
L(g(t)) = e−s(T +c) f (T )dT
0
∫∞
= e−sT · e−cs · f (T )dT
0
∫∞
−cs
= e · e−sT f (T )dT
0
−cs
= e L(f (t)) .

Multiplicação por t Digamos que seja preciso calcular, por exemplo L(t ·
cos(t)). Isso pode ser feito diretamente pela definição ou, de forma geral:
Indicando por
∫∞
F (s) = L(f (t)) = e−st f (t)dt
0

e derivando com relação a s temos que:


∫∞
′ d −st
F (s) = (e f (t)dt)
ds
0
∫∞
= −te−st f (t)dt
0
∫∞
= − e−st (t · f (t))dt
0
= −L(t · f (t)) .

Assim, concluı́mos que:

L(t · f (t)) = −F ′ (s) .

34
Usando essa identidade podemos calcular L(t · cos t), como L(cos(t)) =
s
s2 +1
decorre que:
(
)′
s
L(t · cos t) = − 2
s +1
s + 1 − s · 2s
2
= −
(s2 + 1)2
s2 − 1
= .
(s2 + 1)2

Reaplicando o resultado anterior temos que:

L(t2 f (t)) = L(t · (t · f (t))) = F ′′ (s)

e de forma geral
L(tn f (t)) = (−1)n F (n) (s) .

2.5 Exercı́cios
1. Considerando a ∈ R fixo e usando a definição, determine a transfor-
mada de Laplace de:
at −at
(a) cosh(at) := e +e2
−at
(b) sehn(at) := e −e
at
2

2. Calcule as transformadas de Laplace das seguintes funções:


(a) cos2 (2t)
(b) (t − 1)3
(c) e−kt (cos(at) + sin(bt)) , a, b, k constantes.
(d) e−t u3 (t)(t − 3)5
(e) te−2t cos(3t)
(f) {
−1 se t < 1
f (t) = .
1 se t ≥ 1
(g) et cosh(t)
R:
(a) 1
2s
+ 1
2s2 +32
(b) 6
s4
− s63 + s32 − 1
s
(c) s+k
(s+k)2 +a2
+ b
(s+k)2 +b2
120 s2 +4s−5
(d) (s+1)6 e3(s+1)
(e) (s2 +4s+13)2

35
3. Usando a definição, calcule a transformada de Laplace da função

g(t) = tu2 (t) .

4. Usando as propriedades da Transformada de Laplace, calcule em cada


caso L(f (t)):
4
(a) f (t) = 3t3 − t4 + 7
(b) f (t) = e5t · sen(5t)
(c) f (t) = e2t cos(t) − t2 e4t
(d) f (t) = 4uπ (t) + 5u2π (t)
(e) f (t) = u3 (t) · (t − 3)3
(f) f (t) = u2 (t) · e3t−6
(g) f (t) = e−t cosh(2t)
(h) f (t) = uπ (t) cos(t)

5. Mostre que  t 
∫  F (s)
L f (τ )dτ = .
  s
0

6. Mostre que L(f ′′ ) = s2 F (s) − sf (0) − f ′ (0).

2.6 Transformada de Laplace e Resolução de Proble-


mas de Valor Inicial
Uma das principais aplicações das transformadas de Laplace é na resolução
de Problemas de Valor Inicial. Em última instância, o método se baseia no
diagrama a seguir:
Vamos recordar que existe uma relação entre as transformadas de Laplace
de uma função e a de sua derivada:

L(f ′ (t)) = s · L(f ) − f (0) .

Aplicando essa relação sucessivas vezes, podemos obter expressões para


as transformadas de Laplace das derivadas de ordem superior.

36
Por exemplo, supondo f diferenciável e f ′′ seccionalmente contı́nua em
todo intervalo compacto e, ainda, f, f ′ , f ′′ de ordem exponencial:

L(f ′ (t)) = s · L(f (t)) − f (0) ⇒


L(f ′′ (t)) = L((f ′ )′ ) = s · L(f ′ (t)) − f ′ (0)
= s · [s · L(f (t)) − f (0)] − f ′ (0)
= s2 · L(f (t)) − s · f (0) − f ′ (0) .

De forma geral, por aplicação sucessiva desse resultado, temos:

Teorema 32. Supondo f uma função diferenciável, com derivadas f ′ ,


f ′′ , · · · , f (n−1) contı́nuas, f (n) seccionalmente contı́nua e todas de ordem
exponencial, então:

L(f (n) (t)) = sn · L(f (t)) − sn−1 f (0) − sn−2 f ′ (0) − · · · − sf (n−2) (0) − f (n−1) (0) .

O próximo resultado é a chave para o método da Transformada de Laplace


na resolução de PVI’s:

Teorema 33. Se f e g são funções seccionalmente contı́nuas em todo


intervalo compacto e L(f ) = L(g) então f = g, exceto possivelmente nos
pontos de descontinuidade.

37
Esse teorema nos assegura que o operador L é injetivo e dessa forma,
podemos definir a transformada inversa L−1 . Por exemplo:
Exemplo 34.
( )
−1 1
L = 1
s
( )
1
L−1 = t
s2
( )
−1 n!
L = tn
sn+1
( )
−1 a
L = sen(at)
s2 + a2
( )
−1 s
L = cos(at)
s2 + a2
( −cs )
−1 e
L = uc (t)
s
Como L é linear, decorre automaticamente que L−1 também é linear,
assim:
L−1 (aF (s) + bG(s)) = aL−1 (F (s)) + bL−1 (G(s)) , a, b ∈ R .
Exemplo 35. Determine a transformada de Laplace inversa de
12
F (s) = .
x2 − 7x + 10
Vamos decompor a fração numa soma de frações mais simples, usando a
técnica de Frações Parciais.
Fatorando o denominador
x2 − 7x + 10 = (x − 2)(x − 5) .
Então, vamos buscar valores de A e B tais que:
12 A B
= + ,
x2 − 7x + 10 x−2 x−5
ou seja,
{
A+B = 0
A(x − 5) + B(x − 2) = 12 ⇒ .
−5A − 2B = 12

38
Isolando A na 1a equação e substituindo na 2a , obtemos:

5B − 2B = 12 ⇒ B = 4 .

Assim,
12 −4 4
= + .
x2 − 7x + 10 x−2 x−5
Como L−1 é linear, segue que:

( ) ( ) ( )
−1 12 −1 1 −1 1
L = L −4 +L 4
x − 7x + 10
2 x−2 x−5
( ) ( )
−1 1 −1 1
= −4L + 4L 1
x−2 x−5
= −4e + 4e .
2t 5t

Exemplo 36. Usando o método das transformadas de Laplace podemos re-


solver o PVI seguinte:
 ′′
 y − y ′ − 2y = 0
y(0) = 1 .
 ′
y (0) = 0

Para facilitar a notação, vamos indicar por Y (s) = L(y(t)) então:

L(y ′′ ) − L(y ′ ) − 2L(y) = L(0) ⇒


s2 Y (s) − sy(0) − y ′ (0) − [sY (s) − y(0)] − 2Y (s) = 0 .
Usando agora as condições iniciais, y(0) = 1 e y ′ (0) = 0, obtemos:
s−1
s2 Y (s)−s−sY (s)+1−2Y (s) = 0 ⇒ (s2 −s−2)·Y (s) = s−1 ⇒ Y (s) = .
s2 −s−2
Vamos usar o método de frações parciais:

s2 − s − 2 = 0 ⇒ s1 = 2 e s2 = −1 ⇒ s2 − s − 2 = (s − 2) · (s + 1) .

Daı́:
s−1 s−1 A B
Y (s) = = = + ⇒
s2 −s−2 (s − 2)(s + 1) s−2 s+1

39
{
A+B = 1
(A + B)s + (A − 2B) = s − 1 ⇒ .
A − 2B = −1
Subtraindo a 2a da 1a , encontramos o valor de B:
2 1
3B = 2 ⇒ B = ⇒ A= .
3 3
Logo,
1 2
3 3
Y (s) = + .
s−2 s − (−1)
Aplicando L−1 encontramos a solução do PVI:
( 1 2 ) ( ) ( )
−1 1 −1 1 2 −1 1 1 2
y(t) = L 3
+ 3
= L + L = e2t + e−t .
s − 2 s − (−1) 3 s−2 3 s − (−1) 3 3
Exemplo 37. Vamos resolver o PVI:
 ′′
 y + 9y = 9uπ (t)
y(0) = 0 .
 ′
y (0) = 0
Aplicando o operador L aos dois membros da equação, obtemos:
e−πs
L(y ′′ ) + 9L(y) = 9L(uπ (t)) ⇒ s2 Y (s) − sy(0) − y ′ (0) + 9Y (s) = 9 ,
s
em que Y (s) = L(y(t)). Usando as condições iniciais:
9
Y (s) = · e−πs .
s · (s2 + 9)
Aqui precisamos lembrar que o fator e−πs é um indicador de um desloca-
mento, pois L(uc (t) · f (t − c)) = e−cs L(f (t)). Assim, vamos inicialmente
considerar apenas o fator s·(s29+9) e usaremos o método de frações parciais:

9 A Bs + C
= + ⇒ A(s2 +9)+(Bs+C)s = 9 ⇒ (A+B)s2 +Cs+9A = 9 .
s · (s2 + 9) s s2 + 9
Dessa forma obtemos o sistema

 A+B = 0
C = 0 ,

9A = 9

40
que pode ser facilmente resolvido, obtendo-se A = 1, B = −1 e C = 0.
( ) ( ) ( )
9 1 s −1 9 −1 1 −1 s
= − 2 ⇒ L =L −L = 1−cos(3t) .
s(s2 + 9) s s +9 s(s2 + 9) s s2 + 9
Com isso, e usando o Teorema do Deslocamento, podemos concluir que a
solução do PVI é:
y(t) = uπ (t) · f (t − π) , f (t) = 1 − cos(3t) ⇒
y(t) = uπ (t)·[1−cos(3(t−π))] = uπ (t)−uπ (t)·cos(3t−3π) = uπ (t)−uπ (t)·cos(3t−π) .

2.7 Exercı́cios
1. Calcule [ ]
−1 s2 + 5s + 2
L .
(s2 + 1)(s + 1)
2. Determine a transformada inversa:
(a) 4s−3π
s2 +π 2
(b) s −3ss5 +12
4 2

8
(c) s2 +4s
7
(d) (s−1) 3
15
(e) s2 +4s+29
−2s
(f) e s5
−3s
(g) se
s2 −4
2s+4
(h) (s+2)
( 22 +12 )
(i) ln s +w s2
(j) 5s+4
s2
e−2s
π
(k) s2 (s2 +k2 )

R:
(a) 4 cos(πt) − 3 sin(πt) (b) 1 − 32 t2 + 12 t4 (c) 2 − 2e−4t (d) 27 t2 et
2
(e) 3e−2t sin(5t) (f) u2 (t) (t−2)
24
(g) u3 cosh(2t−6) (h) 2e−2t cos(t)
(i) − wt sin(wt) + 2 (j) u2 (t) · [5 + 4(t − 2)] (k) kπ3 [kt − sin(kt)]
1

3. Resolva o seguinte PVI:



 y” + y = t2 − cosh(4t)
y(0) = −1 .

y ′ (0) = 0

41
4. Resolva os seguintes PVI’s:
(a) y ′′ − y4 = 0 , y(0) = 4, y ′ (0) = 0
(b) y ′ − 6y = 0 , y(2) = 4
(c) y ′′ + 4y ′ + 13y = 145 cos(2t), y(0) = 10, y ′ (0) = 14
(d) y ′′ + 5y ′ + 4y = 2e−2t , y(0) = y ′ (0) = 0
(e) y ′′ + 4y = 5u1 (t) , y(0) = y ′ (0) = 0
(f) y ′′ − 6y ′ + 9y = t2 e3t , y(0) = 2, y ′ (0) = 17
(g) y ′′ + 16y = cos(4t) , y(0) = 0, y ′ (0) = 1

R: ( )
(a) y(t) = 4 cosh 2t (b) y(t) = 4e6(t−2) (c) y(t) = e−2t cos(3t) +
9 cos(2t) + 8 sin(2t)
(d) y(t) = 23 e−t − e−2t + 13 e−4t (e) y(t) = 45 u1 (t)[1 − cos(2t − 2)]
1 4 3t
(f) y(t) = 2e3t +11te3t + 12 te (g) y(t) = 0, 25 sin(4t)+0, 125t sin(4t)

5. Em um circuito em série R-C é válida a equação diferencial


dq 1
R + q(t) = E(t) ,
dt C
em que R representa a resistência, C a capacitância e E(t) a força
eletromotriz. Usando a Transformada de Laplace, determine a carga
no capacitor de um circuito em série R-C com carga inicial nula e
considerando R = 2, 5Ω, C = 0, 08F e sendo a força eletromotriz dada
pelo gráfico seguinte:
Resposta: q(t) = 25 U3 (t)[1 − e−5(t−3) ].

2.8 A Função Gama


Já vimos que para todo número natural fixo n
n!
L(tn ) = .
sn+1
Mas e para calcularmos L(tp ) se p > 0 for um número real fixo, mas não
necessariamente natural? Vejamos:
∫∞
L(t ) =
p
e−st tp dt .
0

42
Figura 4: Gráfico da Força Eletromotriz. Circuito R-C

Fazendo u = tp e dv = e−st e integrando por partes, temos:

−st ∞ ∫∞ −st
e e
L(tp ) = tp · + ptp−1 dt
s t=0 s
0
∫∞
e−st p−1
= 0+ pt dt (s > 0)
s
0
∫∞
e−st p−1
= pt dt .
s
0

Substituindo x = st, teremos dx = sdt e


∫∞
e−x xp−1 dx
L(tp ) = p
s sp−1 s
0
∫∞
p
= · e−x xp−1 dx .
sp+1
0

43
É possı́vel provar que essa integral é convergente para todo p > 0. Dessa
forma, podemos definir a função gama:
∫∞
Γ : [0, ∞) → R ; Γ(p) = e−x xp−1 dx .
0

E, assim,
p p · Γ(p)
L(tp ) = · Γ(p) = .
sp+1 sp+1
É possı́vel simplificar ainda um pouco mais a expressão da função Γ, mas
antes disso vamos apresentar dois exemplos, para fixar a ideia.

Exemplo 38.
(a) Vamos calcular Γ(1):
Por definição, temos que:
∫∞ ∫∞
−x
Γ(1) = e ·x 1−1
dx = e−x dx
0
∞ 0
−x
= −e = −0 + 1 = 1 .
x=0

(b) Agora, Γ(2):

∫∞ ∫∞
Γ(2) = e−x · x2−1 dx = x e|−x
|{z} {zdx}
0 0 u dv

∞ ∫∞

= −xe−x + e−x dx
x=0
∞ 0
−x
= −0 − e
x=0
= 1.

Vamos voltar à função Gama, para simplificarmos a expressão que a de-


fine:

44
∫∞
Γ(p) = e−x xp−1 dx ⇒
0
∫∞
Γ(p + 1) = xp e|−x
|{z} {zdx}
0 u dv

∞ ∫∞

= xp · (−e−x ) + e−x pxp−1 dx
x=0
0
∫∞
= 0+p· e−x xp−1 dx .
0

Portanto,
Γ(p + 1) = p · Γ(p) .
Dessa forma, voltando à transformada de tp :

p · Γ(p) Γ(p + 1)
L(tp ) = = .
sp+1 sp+1
Observação 39. Já tı́nhamos calculado que Γ(1) = 1. Fazendo p = 1 na
identidade Γ(p + 1) = p · Γ(p), obtemos

Γ(2) = 1 · Γ(1) = 1 .

Fazendo p = 2: Γ(3) = 2 · Γ(2) = 2.


Fazendo p = 3: Γ(4) = 3 · Γ(3) = 3 · 2.
Fazendo p = 4: Γ(5) = 4 · Γ(4) = 4 · 3 · 2.

Assim, se p = n é um número natural, Γ(p + 1) = Γ(n + 1) = n! e,


consequentemente,
Γ(n + 1) n!
L(tn ) = n+1
= n+1 ,
s s
como já tı́nhamos demonstrado.

Dessa forma, a função Γ é uma generalização do fatorial.

45
2.9 Exercı́cios

1. É possı́vel provar que Γ( 12 ) = π. Usando esse fato, calcule Γ( 32 ),
Γ( 25 ), Γ( 72 ) e Γ(− 12 ).
2. Calcule ( 1 3
)
L 3t + t2 2 .

2.10 O Delta de Dirac


Alguns fenômenos envolvem forças de grande intensidade aplicadas num
curtı́ssimo intervalo, ou seja, picos concentrados. Podemos considerar, por
exemplo, para r > 0 a função dr : [0, +∞) → R definida por:
{ 1
r
se t ∈ [0, r]
dr (t) = .
0 se t>r
Observe que o gráfico de dr tem o aspecto de um retângulo de base r e
altura 1r e que, consequentemente,
∫+∞ ∫r
1
dr (t)dt = dt = 1 .
r
0 0

Quando consideramos valores de r cada vez mais próximos de 0, diminuı́mos


o intervalo de atividade da função e aumentamos a intensidade, sem alterar
o valor da integral. Quando r → 0+ , 1r → +∞. Vamos definir, de forma
intuitiva,
δ(t) = lim+ dr (t) .
r→0
Por essa definição, segue que:
∫+∞
δ(t) = 0 se t ̸= 0 e δ(t)dt = 1 .
0

A partir disso, podemos definir outras “funções impulso”, transladando a


variável: Se c ∈ R então δ(t − c) tem as seguintes propriedades:
∫+∞
δ(t − c) = 0 se t ̸= c e δ(t − c)dt = 1 .
0

46
Essa “função generalizada”1 recebe o nome de delta de Dirac. Uma proprie-
dade importante do delta de Dirac é:

Teorema 40. Se f : [0, ∞) → R é seccionalmente contı́nua então


∫∞
f (t)δ(t − c)dt = f (c) .
0

Demonstração:
∫∞ ∫∞
f (t)δ(t − c)dt = lim dr (t − c)f (t)dt .
r→0
0 0

Por outro lado,


∫∞ ∫c+r
1 1
dr (t − c)f (t)dt = f (t)dt = · r · f (t0 ) = f (t0 ) ,
r r
0 c

para algum t0 ∈ [c, c + r] (pelo Teorema do Valor Médio para Integrais 2 ).


Quando r → 0, t0 → c. Assim:
∫∞
f (t)δ(t − c)dt = f (c) .
0

Como uma consequência imediata desse fato, vamos a seguir encontrar a


transformada de Laplace do delta de Dirac:
∫∞
L(δ(t − c)) = e−st δ(t − c)dt = e−cs .
0

1
Em realidade isso não é uma função. Matematicamente é impossı́vel que uma função
seja nula em quase todos os pontos e tenha integral não-nula. Formalmente, o delta de
Dirac é um exemplo do que chamamos de distribuição.
∫b
2
Se f ; [a, b] → R é contı́nua então existe um valor de x0 ∈ [a, b] tal que a f (x)dx =
(b − a) · f (x0 ).

47
Em particular
L(δ(t)) = e−0s = 1 .
Uma outra consequência é que se f é contı́nua em [0, ∞) e de ordem
exponencial então
∫∞
L(f (t)δ(t − c)) = e−st f (t)δ(t − c)dt = e−cs f (c) .
0

Exemplo 41.
L(δ(t − 2π) cos(t)) = e−2πs cos(2π) = e−2πs .
Exemplo 42. Resolva o PVI:

 y” + 9y = δ(t − 1)et
y(0) = 0 .

y ′ (0) = 0
Inicialmente, observe que L(δ(t − 1)et ) = e−s · e = e1−s . Aplicando o opera-
dor L aos dois membros da equação diferencial e substituindo as condições
iniciais, temos:
s2 Y (s) − sy(0) − y ′ (0) + 9Y = e1−s ⇒
(s2 + 9)Y (s) = e1−s ⇒
1
Y (s) = e · e−s ·
s2 + 9
e −s 3
= ·e · 2 .
3 s + 32
Observe que o fator e−1s indica um deslocamento (L(uc (t)f (t−c) = e−cs F (s),
2◦ Teorema do Deslocamento). Assim, aplicando o operador inverso L−1 :
e
y(t) = u1 (t)sen(3(t − 1)) .
3

2.11 Exercı́cios
1. Resolva os seguintes PVIs:
(a) y ′ − 3y = δ(t − 2) , y(0) = 0
(b) y ′′ + y = δ(t − 2π), y(0) = 0 e y ′ (0) = 1.
Resp:
(a) y = e3(t−2) u2 (t) (b) y = sin(t) + sin(t)u2π t.

48
2.12 Produto de Convolução
Seria bastante desejável que a transformada de Laplace fosse multiplicativa,
ou seja, que L(f (t) · g(t)) = F (s) · G(s). Entretanto, se considerarmos, por
exemplo, f (t) = t2 e g(t) = t3 veremos que isso não é verdade:

5! 120 2 6 12
L(t2 · t3 ) = L(t5 ) = 6
= 6 L(t2 ) · L(t3 ) = 3
· 4 = 7 .
s s t t s
Entretanto, para um outro tipo de produto, temos uma igualdade similar.

L(f (t) ∗ g(t)) = F (s) · G(s) ,

em que o produto ∗, chamado de produto de convolução, é definido da


seguinte forma:
∫t
f (t) ∗ g(t) = f (x)g(t − x)dx .
0

Exemplo 43.
∫t
e ∗e t 2t
= ex · e2(t−x) dx
0
∫t
= ex+2t−2x dx
0
∫t
= e2t−x dx
0
x=t
2t−x
= −e
x=0
= −et + e2t .

Exemplo 44. Vamos calcular o produto de convolução das funções cos(t) e

49
sen(t).
∫t
cos(t) ∗ sen(t) = cos(x)sen(t − x)dx
0
∫t
= cos(x) · [sen(t) cos(x) − cos(t)sen(x)]dx
0
∫t
= [sen(t) cos2 (x) − cos(t)sen(x) cos(x)]dx
0
∫t ∫t
= sen(t) cos2 (x)dx − cos(t) sen(x) cos(x)dx
0 0
∫t
1 + cos(2x) sen2 (x) t
= sen(t) dx − cos(t) ·
2 2 x=0
0
∫t ( )
sen(t) sen(2x) t sen2 (t)
= x+ − cos(t) ·
2 2 x=0 2
0
t 1 t
= sen(t) + sen(t)sen(2t) − sen2 (t) cos(t) .
2 4 2
A convolução possui as seguintes propriedades:

f ∗g = g∗f
∫t
1 ∗ f (t) = f (x)dx .
0

Deixamos as demonstrações como exercı́cio.


É possı́vel provar que se f, g : [0, ∞) → R são seccionalmente contı́nuas
e de ordem exponencial então

L(f (t) ∗ g(t)) = L(f (t)) · L(g(t)) ,

e, portanto,

L−1 (F (s) · G(s)) = L−1 (F (s)) ∗ L−1 (G(s)) .

50
Observe também que:
( ) ( )
−1 F (s) −1 1
L = L ∗ L−1 (F (s))
s s
= 1 ∗ f (t) = f (t) ∗ 1
∫t
= f (x)dx .
0

E, portanto,  
∫t
F (s)
L f (x)dx = .
s
0

Exemplo 45. Calcule ( )


−1 1
L .
s(s2 + 1)
( ) ( )
−1 1 −1 1 1
L = L ·
s s s2 + 1
( ) ( )
−1 1 −1 1
= L ∗L
s s2 + 1
= 1 ∗ sen(t) = sen(t) ∗ 1 =
∫t t

= sen(x)dx = − cos(x) = 1 − cos(t) .
0
0

Exemplo 46. Calcule ( )


−1 s
L .
(s + 1)2
2

( ) ( )
−1 s −1 s 1
L = L ·
(s2 + 1)2 s2 + 1 s2 + 1
( ) ( )
−1 s −1 1
= L ∗L
s2 + 1 s2 + 1
= cos(t) ∗ sen(t)
t 1 t
= sen(t) + sen(t)sen(2t) − sen2 (t) cos(t) ,
2 4 2
como calculad no exemplo 44.

51
Exemplo 47. Podemos aplicar a técnica de resolução de EDO’s por Trans-
formada de Laplace ao problema de carga de um capacitor com voltagem
inicial 0. Sabemos que V = Ri + v (1a Lei de Ohm) e i = C dvdt
. Portanto:
dv dv 1 1
V = RC +v ⇔ + v= V .
dt dt RC RC
Como R, C e V são constantes, aplicando o operador L aos membros
da equação, obtemos:
( ) ( )
′ 1 1
L(v (t)) + L v = L V
RC RC
1 V 1
sV (s) − v(0) + V (s) = · .
RC RC s
Como v(0) = 0, segue que:
( )
1 V 1 V
·1
s+ V (s) = · ⇒ V (s) = RCs+1 ⇒
RC s
RC RC s RC

V RC
V (s) = ·
RCs RCs
( ) +1
V 1 RC
= · · ( 1
)
RC s RC s + RC
( )
V 1 1
= · · 1 .
RC s s + RC
Aplicando a transformada inversa:
[ ( )] [ ( )]
−1 V 1 −1 1
v(t) = L ∗ L 1 .
RC s s + RC
Portanto,
V
(1 ∗ e− RC t ) .
1
v(t) =
RC
Calculando o produto de convolução:
∫t
− RC
e− RC x dx = −RC(e− RC t − 1) = RC(1 − e− RC t ) .
1 1 1 1
1∗e t
=
0

Portanto:
V
· RC(1 − e− RC t ) = V · (1 − e− RC t ) .
1 1
v(t) =
RC

52
2.13 Exercı́cios
( )
1. Sendo F (s) = L(f (t)), encontre uma expressão para L−1 F (s)
s2 −4
.
Resposta: 12 f (t) ∗ sehn(t).

2. Prove que para funções seccionalmente contı́nuas e de ordem exponen-


cial f e g:

f ∗g = g∗f
∫t
1 ∗ f (t) = f (x)dx .
0

3. Calcule, por integração:


(a) t ∗ t
(b) eat ∗ ebt , a ̸= b
(c) t ∗ sen(t).
( )
4. Encontre L−1 (s−2)(s+2)1
de duas formas: usando convolução e usando
frações parciais.

5. Determine a transformada inversa:


(a) s(s21+4)
(b) s2 (s12 −1)
1
(c) s2 (s−2)
1
(d) s2 ·(s+2) 2

6. Resolva os seguintes PVI’s:


(a) y ′′ + 4y = sin(3t) , y(0) = y ′ (0) = 0
(b) y ′′ + 5y ′ + 4y = 2e−2t , y(0) = y ′ (0) = 0

7. Supondo h(t) contı́nua e de ordem exponencial, resolva o seguinte


Problema de Valor Inicial:
{ ′′
y − 6y ′ + 9y = h(t)
′ .
y(0) = 2 e y (0) = 0

53
8. Resolva as seguintes equações integrais:
(a)
∫t
y(t) − y(t) sin(t − τ )dτ = t
0

(b)
∫t
y(t) − (1 + x)y(t − x)dx = sinh(t)
0

(c)
∫t
y(t) + 2e t
e−τ y(τ )dτ = tet
0

9. Em um circuito LRC de laço único, a segunda Lei de Kirchhoff afirma


que a soma das quedas de tensão no indutor, resistor e capacitor é igual
à tensão imposta E(t).

Figura 5: Circuito LRC

Por outro lado sabe-se que as quedas de tensão no indutor, resistor e

54
capacitor são, respectivamente,
∫t
di 1
L , Ri(t) e i(τ )dτ ,
dt C
0

em que i(t) é a corrente no circuito e L, R e C são constantes.


Determine a corrente em um circuito LRC de laço único, quando
L = 0, 1h, R = 2Ω, C = 0, 1f, i(0) = 0 e a tensão aplicada é
E(t) = 120t − 120tu1 (t).

55
Encerramos esse capı́tulo com uma tabela contendo as prinpais transfor-
madas de Laplace:

f (t) L(f ) = F (s)


1
1 s
tn , n ∈ N s
n!
n+1

tp , p ∈ [0, ∞) Γ(p+1)
xp+1
ct 1
e s−c
e−cs
uc (t) s
a
sen(at) s2 +a2
s
cos(at) s2 +a2
a
sehn(t) s2 −a2
s
cosh(t) s2 −a2
δ(t − c) ecs
−cs
uc (t)f (t − c) e L(f (t))
ect f (t) F (s − c) , F = L(f )

2.14 Exercı́cios Finais


1. Calcule as transformadas de Laplace das seguintes funções:
(a) {
t se 0 ≤ t < 3
h(t) = .
0 se t≥3

(b) u2 (t) · u5 (t)


(d) cos(3t) sinh(8t)
(e) t2 sin(t)
(f) e4t u3 (t) cos(2t − 6)
(g) tu5 (t)(t − 5)4
(h) te−t u2 (t)
(i) u3 (4t)

2. Encontre uma função f (t) tal que L(f (t)) = s−3


(s−3)2 +25
.

3. Mostre que L(f ′′ ) = s2 F (s) − sf (0) − f ′ (0).

4. Calcule L [te2t sin(t)].

56
5. Resolva o PVI a seguir:

y ′′ + 4y = 5u1 (t) , y(0) = y ′ (0) = 0 .

6. Mostre que
∫∞
3
te−2t cos tdt = .
25
0

7. Considere um servomecanismo que modela um piloto automático. Tal


mecanismo aplica um torque ao eixo do controle de direção, de modo
que o avião ou barco seguirá um curso prescrito. Se considerarmos que
y(t) é a direção verdadeira (ângulo) da embarcação no instante t e
que g(t) é a direção desejada no instante t então

e(t) = y(t) − g(t)

indica o erro (ou desvio) entre a direção desejada e a verdadeira.

Figura 6: Gráfico da função f (t).

Suponha que o servomecanismo possa medir o erro e(t) e alimentar de


volta ao eixo de direção um componente do torque que seja proporcional
a e(t), mas oposto em sinal. Decorre da segunda Lei de Newton que
”momento de inércia X aceleração angular = torque total”, ou seja,

Iy ′′ (t) = −ke(t) ,

57
sendo I o momento de inércia do eixo de direção e k uma constante de
proporcionalidade positiva. Determine o erro para o piloto automático
se o eixo de direção estiver em repouso na direção y = 0 e a direção
desejada for dada por g(t) = at, sendo a > 0 uma constante.

8. Determine a transformada de Laplace da função f (t) cujo gráfico é:

Figura 7: Gráfico de f (t).

9. Resolva a equação ı́ntegro-diferencal em y(t):

∫t
y ′ (t) + y(t − v)e−2v dv = 1 , y(0) = 1 .
0

Qual o valor final de y(t) (ou seja, lim y(t))?


t→∞

58

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