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Introdução a EDO

Profo Marcel Nascimento

Universidade Federal do Amapá.

13 de julho de 2021

Profo Marcel Nascimento Introdução a EDO


Situações-Problema
1) Sistema massa-mola: Consideremos o movimento de um objeto
de massa m na extremidade de uma mola vertical.

Modelando, através da Lei de Hooke: para x(t) deslocamento da


massa pela mola (no tempo), k constante de elasticidade,
Fr = −Felástica ⇒ mx 00 (t) = −kx(t)
pois a(t) = x 00 (t). Portanto, o deslocamento da massa no tempo t
é dado pela equação
k
x 00 (t) + x(t) = 0.
m
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2) Quando estudamos crescimentos populacionais, um dos
modelos, por exemplo para população de bactérias, determina que
uma população cresce a uma taxa proporcional ao seu tamanho.
A modelagem deste problema nos resulta na equação
dP
(t) = kP(t)
dt
onde P(t) é a população o tempo t e k a constante de
proporcionalidade.
3) A famosa Equação do Calor, que descreve a condução do calor
ao longo de uma barra, é dada pela equação

∂u ∂2u
=K 2
∂t ∂x
onde u(x, t) é a temperatura na posição da x da barra e tempo t,
e K constante de condutividade.

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Equações Diferenciais

Equação Diferencial: uma equação que estabelece uma relação


entre as variáveis independentes x1 , x2 , . . . , xn com as funções
incógnitas (variáveis dependentes)
y1 = f1 (x1 , . . . , xn ), y2 = f2 (x1 , . . . , xn ), . . . e algumas de suas
derivadas de quaisquer ordens não nulas.
Exemplos:
k
x 00 (t) + x(t) = 0
m
dP
(t) = kP(t)
dt
∂u ∂2u
= K 2.
∂t ∂x

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Classificações
1) Quanto ao tipo: i) Equações Diferenciais Ordinárias (E.D.O.):
possui apenas uma variável independente x. As derivadas, de
várias ordens, que aparecem são apenas “Derivadas Ordinárias”.
Exemplos: x 00 (t) + m
k
x(t) = 0 dP
dt (t) = kP(t)

dx dy
+ = 5x − y (com duas funções incógnitas.)
dt dt
Em geral representamos: F (x, y , y 0 , y 00 , . . . , y (n) ) = 0.
ii) Equações Diferenciais Parciais (E.D.P.): possui mais de uma
variável independente x1 , x2 , . . . , xn . Contém as chamadas
“Derivadas Parciais”. Exemplos:
∂u ∂2u
= K 2.
∂t ∂x
∂u ∂v
=− (com duas funções incógnitas.)
∂y ∂x
Obs: Nosso estudo vai se concentrar exclusivamente nas EDO.
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2) Quanto à ordem: a ordem de uma Equação Diferencial é a
ordem da derivada de maior ordem que está contida na equação.
Exemplos:
dP
(t) = kP(t) (EDO de 1a Ordem)
dt
k
x 00 (t) + x(t) = 0 (EDO de 2a Ordem)
m
y (4) − y 0 = 0, y = y (x) (EDO de 4a Ordem).
 3
d 2y dy
+5 − 4y = e x . (EDO de 2a ordem.)
dx 2 dx

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3) Quanto à linearidade: uma EDO é dita linear se a função
F (x, y , y 0 , . . . , y (n) ) for linear, y = y (x). Ou seja, tem o seguinte
formato:

an (x)y (n) +an−1 (x)y (n−1) +· · ·+a2 (x)y 00 +a1 (x)y 0 +a0 (x)y = g (x).

Os ai (x) são chamados coeficientes, e g (x) é dito “Termo


Não-Homogêneo”. Uma EDO é Não Linear se não atende a este
formato. Exemplos:

d 3y dy
y 0 − 5x = 0; 2y 00 + 2y 0 − 5 = 0; ex 3
+ 6x 2 = 19,
dx dx
são EDO lineares. Agora, as seguintes EDO são não lineares:

d 2y d 5y
(1 − y )y 0 + 2y = x, + sen y = 0, x + y 3 = x 2.
dx 2 dx 5

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Solução de uma EDO
Para uma EDO F (x, y , y 0 , . . . , y (n) ) = 0, y = y (x), dizemos que
uma função φ : I → IR é uma solução da EDO se φ possuir
n-derivadas contı́nuas em I , intervalo real (intervalo de existência),
e se φ torna a sentença verdadeira ao substituir y na equação. Ou
seja, φ(x) é solução da EDO se
F (x, φ(x), φ0 (x), . . . , φn (x)) = 0
para todo x ∈ I .
Exemplo
2
Verifique que a função φ(x) = x3 + xc , com c constante real
qualquer, é uma solução da equação

xy 0 + y = x 2 ,

Determine o intervalo de existência da solução (depende de c?).

Obs: Repare que φ(x), neste caso, é dado na forma explı́cita.


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Solução Implı́cita
A definição de solução anterior é também chamada de “Solução
Explı́cita”. Uma solução também pode ser dada na forma
implı́cita, isto é, através de uma relação G (x, φ(x)) = 0.

Definição (Solução Implı́cita)


Dizemos que uma relação G (x, y ) = 0 é uma solução implı́cita de
uma EDO, definida em I intervalo real, quando existe pelo menos
uma função φ que satisfaça a relação e a equação diferencial em I .

Exemplo
Mostre que a curva x 2 + y 2 = 25 é uma solução implı́cita da
equação
dy x
=− .
dx y
Obtenha, se possı́vel, soluções φ explı́citas, expondo seus intervalos
de existência.

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Exemplo
Verifique que a curva da forma −x 3 + 3y − y 3 = 1 é uma solução
implı́cita da equação
x2
y0 = .
1 − y2

Curva Integral: é o gráfico de um solução φ da EDO. Pode haver


uma diferença entre o gráfico da função e o gráfico da solução
(esta exige continuidade no intervalo de existência).
Exemplo
Verifique a função y = 1/x é uma solução da equação

xy 0 + y = 0.

Compare o gráfico da função e o gráfico de uma solução.

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Solução Geral
dy x
Observe que, como solução da equação = − , além da
dx y
solução x 2 + y 2 = 25, na verdade, qualquer curva integral
x 2 + y 2 = c, definida no intervalo (−c, c), é uma solução implı́cita
da EDO. (Mostre!)

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Temos o que chamamos de “famı́lia de soluções a parâmetro c”.
Na maioria das vezes, todas as soluções possı́veis para a EDO está
nesta famı́lia, variando apenas o parâmetro. Quando isto ocorre,
esta famı́lia de soluções de uma EDO é chamada de Solução
Geral da EDO.
Em todos os métodos de resolução de EDO, normalmente obtemos
esta famı́lia de soluções, ou seja, a solução geral da EDO.
Obs: Existem algumas EDO, principalmente as não-lineares, que
tem solução fora da famı́lia de soluções a parâmetro. Estas são as
ditas “Soluções Singulares”.
Exemplo: Para a equação y 0 = xy 1/2 , mostraremos futuramente
que a famı́lia de soluções a parâmetro é dada por
1
y (x) = ( x 2 + c)2 , c ∈ IR x ∈ (−∞, +∞). (1)
4
Porém, a função y = 0 é solução também da equação, mas não
1 4
advém de (1). (Repare que y = 16 x é uma solução da famı́lia de
soluções, para c = 0).
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Exercı́cio
Mostre que a famı́lia de dois parâmetros y = c1 e x + c2 xe x é
solução da equação diferencial de 2a ordem

y 00 − 2y 0 + y = 0.

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Solução Particular

É a solução para um parâmetro c0 especı́fico da solução geral (ou


uma solução singular).
Exemplo
dy x
Para a equação = − , se desejarmos a curva integral que
dx y
passe pelo ponto (1,1), então a solução particular fica:

x 2 + y 2 = c ⇒ 12 + 12 = c ⇒ c = 2.

Portanto, a solução (implı́cita)


√ particular: x 2 + y 2 = 2
(circunferência de raio 2).

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Problema de Valor Inicial

Problemas em que se tem, além da EDO, condições iniciais sobre a


função incógnita, é chamado de Problema de Valor Inicial. Para
EDO de 1a ordem, temos a forma geral de um PVI:
 0
y (x) = f (x, y (x))
y (x0 ) = y0 .

Vejamos como obter a solução do P.V.I, e desta forma introduzir a


ideia mais elementar de resolução de uma EDO, através do estudo
de Integral:
Exemplo
( y
y0 = − , x > 0,
x
y (1) = 2.

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Primeiro, vamos ir atrás de soluções da equação diferencial:
y
y 0 = − ⇒ xy 0 + y = 0. (2)
x
Observe x ∈ (0, +∞), conforme foi indicado na questão.
Enxergando o 1o membro da última igualdade como: xy 0 + (x)0 y .
Esta é derivada do produto
d(xy )
(xy )0 = .
dx
Portanto, a igualdade (2) fica:
d(xy )
= 0.
dx
Lembrando que y = y (x) e considerarmos G (x) = x y (x), então
esta é uma primitiva da função nula f (x) = 0 e, assim,
Z
C
G (x) = f (x) =⇒ xy = 0 + C =⇒ y =
x
esta é a solução geral da equação.
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Portanto, dependendo dos valores que escolhemos para C e para o
intervalo de existência da solução, teremos os conjuntos de solução:

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Solução do P.V.I: num Problema de Valor Inicial, chamamos
assim a solução da equação diferencial que atende à condição
inicial. No exemplo, a condição inicial é y (1) = 2. Da solução geral

C
y=
x
concluimos que, para x = 1, y = 2, temos,
C
2= =⇒ C = 2.
1
Portanto, a solução do PVI é
2
y=
x
em (0, +∞).
Obs: Toda solução de um PVI é uma solução particular da
equação (do PVI), mas obviamente a recı́proca não é verdadeira.

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Método Básico de Resolução de EDO de 1a Ordem

Para a EDO Linear de 1a Ordem y 0 = f (x, y (x)), se for possı́vel


manipular a equação de tal forma que ponhamos

dG (x, y (x))
= F (x)
dx
então, pelo Teorema Fundamental do Cálculo, podemos concluir
que Z
G (x, y (x)) = F (x)dx + C

com C constante de integração. Logo, a famı́lia de soluções a


parâmetro estará em G (x, y (x)) (implicita ou explicitamente).

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Exemplo
Resolver a equação dy − xdx = 0 (representação diferencial da
equação)

Solução: Reescrevendo a solução na forma geral:


dy dy
−x =0⇒ =x (F (x) = x, G (x, y ) = y ).
dx dx
Logo, pelo método visto (usando TFC), concluimos que

x2
Z
y= xdx + C ⇒ y (x) = +C
2

é a famı́lia de soluções a um parâmetro (solução geral, neste caso).


Exercı́cio
Encontre a curva integral que atende a y + xy 0 = −x, e passa pelo
ponto (1, 0).

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