Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
Neste trabalho foram estudados alguns tópicos de Equações Diferenciais Ordinárias (EDOs)
não usuais em um curso inicial de Cálculo Diferencial e Integral. Primeiramente, fo-
ram estudadas as EDOs de primeira ordem, em particular, demonstrou-se o teorema da
existência e unicidade para EDOs. Além disso, foi obtida uma solução para o problema da
propagação da podridão em maçãs. Posteriormente, foi abordado o método das séries de
potências para solução de EDO. Especificamente, encontram-se as soluções das equação
de Legendre, polinômios de Legendre e por fim o método de Frobenius.
Keywords: Power Series; Ordinary Differential Equations; Power Series Method; Exis-
tence and Uniqueness.
Sumário
Introdução 1
1 Conceitos Básicos 4
1.1 Sequências e Séries Infinitas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.1 Sequências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 4
1.1.2 Série Infinita . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 5
1.1.3 Série de Potência . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 6
1.1.4 Operações em Séries de Potências . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 9
Conclusão 51
Introdução
Uma equação diferencial (ED) pode ser definida como sendo uma equação na
qual a incógnita é uma função, e possui uma relação com as derivadas desta função. As
equações diferenciais são utilizadas para modelar problemas da Matemática, por exemplo
são fundamentais para encontrar a taxa de variação com o tempo das grandezas que
caracterizam o problema, ou seja, a dinâmica temporal do sistema de interesse.
Com a resolução das equações diferenciais, que caracterizam determinados siste-
mas, consegue-se extrair informações importantes sobre os mesmos, podendo então prever
o seu comportamento. Sendo assim, a modelagem através de equações diferenciais fornece
o comportamento de alguns sistemas. Cabe salientar que a modelagem de um sistema
quase sempre é uma descrição aproximada e simplificada do processo real (Boyce and
DIPRIMA, 2010; Figueiredo, 2007).
Segundo Rooney (2012); Boyce and DIPRIMA (2010), nomes importantes no
estudo e desenvolvimento da teoria das equações diferenciais foram Isaac Newton (1642-
1727) e Gottfried Wilhelm Leibniz (1646-1716). Mais tarde surgiram outros nomes, como
dos irmãos Bernoulli, Jakob (1654-1705) e Johann (1667-1748), que tiveram seus trabalhos
voltados para a formulação de métodos para resolver equações diferenciais.
Historicamente, tem-se que a evolução da Matemática, onde está inserido o estudo
das equações diferenciais, está atrelado com o desenvolvimento da Fı́sica, tornando-as
uma ferramenta de cálculo das equações de movimento da mecânica Newtoniana, do
eletromagnetismo e da fı́sica ondulatória (Figueiredo, 2007).
Os estudos das equações diferenciais se dividem em dois amplos campos de estu-
dos, o das Equações Diferenciais Ordinárias (EDOs) e o das Equações Diferenciais Parciais
1
(EDPs). Neste trabalho, será dada atenção somente às EDOs. As equações diferenciais
ordinárias ocorrem quando a função desconhecida depende de uma única variável inde-
pendente. No dias atuais, as equações diferenciais ordinárias são usadas em diversas áreas
do conhecimento tais como, Engenharia, Saúde e Ciências Sociais Aplicadas. Especifica-
mente, EDO tem sido aplicada com sucesso no estudo da dinâmica populacional, datação
por carbono radioativo, em sistema predador-presa ou propagação de epidemias. Além
disso, as equações diferenciais podem também ser aplicadas na Economia, no Comércio e
em outras áreas (Bassanezi, 2015; Boyce and DIPRIMA, 2010; Figueiredo, 2007).
Diversos problemas nas Ciências e Engenharia são descritos de forma matemática
por EDOs, que representam variações das quantidades fı́sicas que os descrevem. A maioria
desses problemas exige uma solução que satisfaça a uma dada condição inicial, chamados
problemas de valores iniciais (PVI) (Boyce and DIPRIMA, 2010; Figueiredo, 2007).
Existem diversos métodos analı́ticos para encontrar uma solução das EDOs, mas
muito deles são restritos às equações mais simples, o que engloba uma pequena quantidade
de problemas. Este trabalho tem como objetivo principal estudar tópicos de EDOs que
não são vistos em um curso Cálculo Diferencial e Integral. Especificamente, neste trabalho
é estudado o Teorema da Existência e Unicidade para EDOs. Além disso, é abordado um
método para solucionar tais equações. Precisamente, é estudado o método das séries de
potências para soluções de EDOs, visto que é uma alternativa para resolver este tipo de
equações por meio da teoria de séries de funções.
Vale ressaltar que este estudo é significativo devido à existência de uma série de
problemas nas Ciências e na Engenharia, tal como a propagação da podridão em maçãs.
Desta forma, este texto está dividido em três capı́tulos. No primeiro, Capı́tulo 1, foi feito
um breve estudo sobre alguns conceitos básicos fundamentais para o desenvolvimento do
trabalho, tais como definição de sequências, séries numéricas infinitas e séries de potências.
No Capı́tulo 2, foram realizados estudos sobre as equações diferenciais, especificamente
as equações diferenciais ordinárias, onde foi realizada a demonstração do teorema da
existência e unicidade. Além disso, foi resolvido o problema da propagação da podridão
em maçãs. No Capı́tulo 3, foi feito um estudo sobre o método das séries de potencias para
2
solução de EDOs, classificação dos pontos ordinários e singulares, Equação e Polinômio de
Legendre e o Método de Frobenius. Por fim, texto é finalizado com uma breve conclusão.
3
Capı́tulo 1
Conceitos Básicos
Ao longo deste capı́tulo serão apresentados conceitos e notações que servirão para
o desenvolvimento dos próximos capı́tulos. Precisamente, serão abordados os seguintes
tópicos: sequências, séries infinitas e séries de potências. Para um estudo mais detalhado
desses tópicos, são indicados as seguintes literaturas (Boyce and DIPRIMA, 2010; Munem,
1982; Kreyzig, 2009).
1.1.1 Sequências
Para iniciar o estudo sobre séries é de grande importância que seja realizada uma
breve discussão sobre as sequências. Quando fala-se em sequência numérica vem em mente
uma sucessão de números que são postos em uma ordem definida, sendo que cada número
da sequência é denominado de termo da mesma. Uma sequência que possui números
finitos de termos é denominada de sequência finita; já a que possui números infinitos de
termos é, portanto, uma sequência infinita. Para o estudo em questão, serão tratados
somente as sequências infinitas, que possuem diversas aplicações como em problemas que
envolvem progressões aritméticas ou geométricas.
Progressão aritmética (PA) é definida como sendo uma sequência de números onde
cada um de seus termos, a partir do segundo, é igual a soma do anterior por uma constante
4
r, denominada de razão da PA, sendo bastante presente em situações do cotidiano. Já a
progressão geométrica (PG) é uma sequência de números reais em que cada um de seus
termos, a partir do segundo, é igual ao produto do anterior por uma constante q, chamada
razão PG.
Matematicamente uma sequência é uma função f cujo domı́nio é o conjunto dos
números inteiros positivos. Dessa forma, o valor f (n) é denominado o n-ésimo termo da
sequência f . Aqui, a notação (an ) será utilizada como simbologia para as sequências que
possuem an como seu n-ésimo termo.
No estudo de sequências é de suma importância saber se a mesma converge ou
diverge. Dessa forma, escreve-se lim an = L e é dito que a sequência an converge para
n−→+∞
o limite L desde que, para cada número positivo ε exista um inteiro positivo N tal que
5
Em termos matemáticos, a soma parcial da série é dada por
n
X
sn = a1 + a2 + a3 + ... + an = ak .
k=1
P∞
Se a sequência sn das somas parciais da série infinita k=1 ak converge para um
limite S, então a série infinita é converge e sua soma é S, ou seja,
∞
X
S= ak .
k=1
Neste trabalho, a atenção será focada nas séries de potência que serão apresen-
tadas a seguir.
Uma série de potência com variáveis e constantes reais é uma série infinita escrita
na seguinte forma
∞
X
am (x − x0 )m = a0 + a1 (x − x0 ) + a2 (x − x0 )2 + ..., (1.1)
m=0
onde x é uma variável real e a0 , a1 , a2 , ... são constantes denominadas coeficientes da série
e x0 é uma constante denominada de centro da série. Em particular se x0 = 0 obtêm-se
uma série de potência expressa em termos de potências de x
∞
X
am xm = a0 + a1 x + a2 x2 + ... (1.2)
m=0
6
Nas séries de potências (1.1) é possı́vel que sejam convergentes para alguns valores
de x, mas divergentes para outros.
Uma série de potência da forma da Eq. (1.1) é convergente num ponto x quando
o seguinte limite
∞
X
lim am (x − x0 )m
m−→∞
m=0
|am+1 (x − x0 )m+1 |
lim = r < 1,
m−→∞ |am (x − x0 )m |
então a série converge. Por outro lado, se
|am+1 (x − x0 )m+1 |
lim = r > 1,
m−→∞ |am (x − x0 )m |
então a série diverge.
Nos casos no qual r = 1 o critério não é conclusivo, devendo ser realizada uma
nova análise por meio de outro método (Guidorizzi, 2000).
Um conjunto I de todos os números x para os quais uma série de potência converge
é nomeado de intervalo de convergência. Para qualquer série de potência o intervalo de
convergência I sempre tem uma das seguintes formas:
1. A série da Eq. (1.1) sempre converge em x = x0 , pois todos os seus termos
são nulos. Em casos excepcionais, x = x0 pode ser o único x que haja a convergência da
Eq. (1.1).
2. Se existirem outros valores de x para os quais a série converge, esses valores
formam o intervalo de convergência. Se tal intervalo for limitado, ele possui em ponto
central x0 , de modo a ter a forma
|x − x0 | < R (1.3)
7
e a série da Eq. (1.1) converge para todo x tal que |x − x0 | < R e diverge para todo x
tal que |x − x0 | > R. Tem-se que o número R é chamado de raio de convergência da Eq.
(1.1). Além disso, obter-se R por meio de qualquer uma das fórmulas a seguir
am+1
R = 1/ lim | | (1.4)
n−→∞ am
ou
p
m
R = 1/ lim |am | (1.5)
n−→∞
Exemplo 1.2.
8
(ii) Para as séries geométricas, tem-se
∞
1 X
= xm = 1 + x + x2 + ... (|x| < 1).
1 − x m=0
Com efeito, am = 1 para todo m, da Eq. (1.4), obtém-se R = 1, ou seja, a série geométrica
converge e representa 1/(1 − x) quando |x| < 1.
Duas séries de potências podem ser somadas termo a termo, se as séries possuı́rem
raios de convergências positivos. Considere as seguintes séries com raios de convergência
r1 e r2 positivos, respectivamentes para as séries:
∞
X
f (x =) am (x − x0 )m
m=0
e
∞
X
g(x) = bm (x − x0 )m
m=0
então
∞
X
(am + bm )(x − x0 )m (1.6)
m=0
converge. Note que a Eq. (1.6) representa a f (x) + g(x) para cada x situado no interior
do intervalo de convergência de cada uma da séries.
Além da adição, pode ser definida a multiplicação termo a termo entre duas séries
de potências. Precisamente, supõem-se que as séries
∞
X
f (x) = am (x − x0 )m
m=0
9
e
∞
X
g(x) = bm (x − x0 )m
m=0
P∞ P∞
possuem raios de convergências positivos. A série m=0 am (x − x0 )m . m=0 bm (x − x0 )
m
é
obtida multiplicando-se cada termo da primeira por cada termo da segunda e agrupando-
se os termos de mesma potências de x − x0 , ou seja,
∞
X ∞
X ∞
X
m m
am (x − x0 ) bm (x − x0 ) = (a0 bm + a1 bm−1 + ... + am b0 )(x − x0 )m
m=0 m=0 m=0
= a0 b0 + (a0 b1 + a1 b0 )(x − x0 ) + ...
deve convergir para |x − x0 | < R, onde R > 0,e a série obtida por derivação termo a termo
também convergirá para esses valores de x e representa a derivada y 0 de y para esses x,
ou seja,
∞
X
0
y (x) = mam (x − x0 )m−1 (|x − x0 | < R)
m=1
e
∞
X
y 00 (x) = m(m − 1)am (x − x0 )m−2 (|x − x0 | < R).
m=2
Uma função que pode ser representada por uma série de potência de centro x0 e
raio de convergência R é denominada de função analı́tica no ponto x0 .
10
Capı́tulo 2
Neste capı́tulo, serão apresentados conceitos importantes para o estudo das Equações
Diferenciais Ordinárias e para construção deste texto, foram usados as referências (Boyce
and DIPRIMA, 2010; Stewart, 2012; Zill, 2011). No entanto, o estudo feito nesse trabalho
foi direcionado para as Equações Diferencias Ordinárias.
11
Exemplo 2.1. As seguintes equações são exemplos de EDO e EDP, respectivamente.
dy
+ 5y = e5 (2.1)
dx
∂ 2u ∂ 2u
+ 2 =0 (2.2)
∂x2 ∂t
A partir de agora, a atenção deste trabalho será dada às EDOs. As Equações
Diferencias podem ainda ser classificadas quanto à ordem e linearidade. Tais conceitos
são apresentados a seguir.
• Ordem e Linearidade
Pode ser observado que os itens a, b e c são exemplos de EDOs de segunda, primeira e
terceira ordem respectivamente.
d3 y dy
y 00 − 2y 0 + y = 0 e 3
+ x − 5y = ex
dx dx
12
serão respectivamente equações diferenciais ordinárias lineares de segunda e terceira or-
dem.
Observe que as equações a seguir são equações diferencias ordinárias não lineares
de primeira, segunda e quarta ordem, respectivamente.
d2 y d4 y
(1 − y)y 0 + 2y = ex , + sen y = 0 e + y 2 = 0.
dx2 dx4
Uma EDO de ordem n é expressa como segue
dn y
onde F é uma função de valores reais de n+2 variáveis, x, y, y 0 , ..., y (n) , e onde y (n) = .
dxn
A Eq. (2.3) pode ainda ser escrita das seguinte forma
dn y
n
= f (x, y, y 0 , ..., y (n−1) ), (2.4)
dx
onde f é uma função contı́nua de valores reais, a Eq. (2.4). Por exemplo, uma EDO de
primeira ordem é expressa por
dy
= f (x, y). (2.5)
dx
Finalmente, pode-se dizer que uma EDO de ordem n é linear se tiver a seguinte
forma
dy n dy n−1 dy
an (x) n
+ a n−1 (x) n−1
+ · · · + a1 (x) + a0 (x)y = g(x), (2.6)
dx dx dx
onde ai (x), i = 0, 1, . . . , n, g(x) são funções que dependem somente da variável x.
dy
= xy 1/2 , (2.7)
dx
13
a função
1 4
y= x (2.8)
16
1
y 0 = x3 . (2.9)
4
dy 1
= x3 (2.10)
dx 4
1
xy 1/2 = x3 . (2.11)
4
14
Em particular, o P V I para as equações diferenciais de primeira e segunda ordem são
respectivamente dados por
dy = f (x, y),
dx (2.13)
y(x ) = y ,
0 0
2
d y = f (x, y, y 0 ),
dx2 (2.14)
y(x0 ) = y0 , y 0 (x0 ) = y1 .
15
Lema 2.1. Considere a equação
dy = f (x, y)
dx
y(x ) = y .
0 0
16
Assim,
Zx
0
(y(x)) = (y0 + f (s, y(s))ds)0
x0
0
y (x) = f (x, y(x)).
∂f
Lema 2.2. Sejam f : Ω ⊂ R2 −→ R, Ω aberto, uma função contı́nua tal que é,
∂y
também, contı́nua em Ω e (x0 , y0 ) ∈ Ω. Suponha que Ω aberto, e, assim, existem a > 0 e
b > 0 tais que o retângulo
Q = {(x, y) | x0 − a ≤ x ≤ x0 + a, y0 − b ≤ y ≤ y0 + b}
para todo (x, y) em Q. Agora são considerados dois pontos quaisquer (x, y1 ) e (x, y2 ) do
retângulo Q. Segue do Teorema do Valor Médio (Lima, 1976),
∂f
f (x, y1 ) − f (x, y2 ) = (x, s)(y1 − y2 ),
∂y
para algum s entre y1 e y2 . Aplicando o módulo em ambos os lados da igualdade teremos
∂f
| f (x, y1 ) − f (x, y2 ) |= (x, s) | y1 − y2 | .
∂y
Assim,
| f (x, y1 ) − f (x, y2 ) |≤ K | y1 − y2 | .
17
Lema 2.3. Seja f : Ω ⊂ R2 −→ R, Ω aberto, contı́nua e seja (x0 , y0 ) ∈ Ω. Considere
a > 0 e b > 0 tais que o retângulo
Q = {(x, y) | x0 − a ≤ x ≤ x0 + a, y0 − b ≤ y ≤ y0 + b}
| f (x, y) |≤ M, em Q
r≤a e M r ≤ b.
dada por
Zx
yn (x) = y0 + f (s, yn−1 (s))ds.
x0
x
Z
| yn (x) − y0 | = f (s, yn−1 (s))ds
x0
Zx
≤ |f (s, yn−1 (s))| ds. (2.19)
x0
18
Figura 2.1: Gráfico de yn contido no retângulo Q
Assim,
para todo [x0 − r, x0 + r]. Agora, integrando ambos os lados da inequação (2.20) e pela
desigualdade (2.19) encontra-se
x
Z
| yn (x) − y0 |≤ M ds ,
x0
| yn (x) − y0 |≤ M | x − x0 | .
Logo,
| yn (x) − y0 |≤ M r ≤ b.
19
Demonstração. Considere f : Ω ⊂ R2 −→ R, r > 0 e (x0 , y0 ) de acordo com Lema (2.3).
Seja a função constante
A função (2.21) é contı́nua e seu gráfico está contido em Q. Seja agora, a sequência
de funções, tal que (yn (x))n ≥ 0
Zx
y0 (x) = y0 e yn (x) = y0 + f (s, yn−1 (s))ds, n ≥ 1, (2.22)
x0
para todo x ∈ [x0 − r, x0 + r]. Nota-se que para todo n ≥ 1, o gráfico de yn está contido
em Q. A sequência definida em (2.22) é denominada sequência de Picard para o problema
y 0 = f (x, y)
(2.23)
y(x ) = y .
0 0
+∞
X
y0 + [yn (x) − yn−1 (x)]. (2.24)
n=1
Tem-se que, para todo n ≥ 1,
n
X
yn (x) = y0 + [yk (x) − yk−1 (x)].
k=1
20
é uniformemente convergente no intervalo [x0 − r, x0 + r].
De fato, considere M como o valor máximo de
| y1 (x) − y0 (x) |,
em [x0 − r, x0 + r]. Como y1 e y0 são contı́nuas fica garantida a existência desse máximo.
Assim, pode-se dizer que
Tendo
Zx
y3 (x) − y2 (x) = [f (s, y2 (s)) − f (s, y1 (s))]ds,
x0
21
encontra-se,
x
Z
| y3 (x) − y2 (x) |≤ K | y2 (s) − y1 (s) | ds , ∀x ∈ [x0 − r, x0 + r].
x0
De (2.28), x
Z
| y3 (x) − y2 (x) |≤ KM K | s − x0 | ds
x0
x
Z
2
≤ M K | s − x0 | ds .
x0
| x − x0 |2
| y3 (x) − y2 (x) |≤ M K 2 ∀ x ∈ [x0 − r, x0 + r].
2
| x − x0 |n−1
| yn (x) − yn−1 (x) |≤ M K n−1 ∀x0 − r ≤ x ≤ x0 + r.
(n − 1)!
(Kr)n−1
| yn (x) − yn−1 (x) |≤ M ,
(n − 1)!
é convergente, dessa forma pode-se dizer pelo teste de Weierstrass (Lima, 1976), que a
série
+∞
X
[yn (x) − yn−1 (x)],
n=1
22
converge uniformemente em [x0 − r, x0 + r].
Considere y = y(x), com x ∈ [x0 − r, x0 + r], dada por
De (2.29),
Zx
lim yn (x) = y0 + lim f (s, yn−1 (s))ds,
n→∞ n→∞
x0
logo,
Zx
y(x) = y0 + lim f (s, yn−1 (s))ds. (2.31)
n→∞
x0
23
Sabendo que
lim f (s, yn−1 (s)) = f (s, y(s)).
n→∞
Conclui-se
Zx
y(x) = y0 + f (s, y(s))ds ∀x ∈ [x0 − r, x0 + r]. (2.32)
x0
Pelo Lema (2.1) sabe-se que y = y(x) da forma (2.32), com x ∈ [x0 − r, x0 + r], é solução
da equação
y 0 = f (x, y),
Demonstração. Sejam
y1 = y1 (x), x∈I
e
y2 = y2 (x), x∈J
y 0 = f (x, y),
e tais que
y1 (x0 ) = y2 (x0 ) = y0 .
Q = {(x, y) | x0 − a ≤ x ≤ x0 + a, y0 − b ≤ y ≤ y0 + b},
24
da continuidade de y1 e y2 segue que existe d1 > 0, com d1 ≤ a, tal que
d ≤ d1 e Kd < 1. (2.35)
Como y1 = y1 (x) e y2 = y2 (x) são soluções do problema de valor inicial (2.33), então
y1 (x0 ) = y2 (x0 ) = y0 . Além disso, pelo Lema (2.1)
Zx
y1 (x) = y0 + f (s, y1 (s))ds (2.36)
x0
e
Zx
y2 (x) = y0 + f (s, y2 (s))ds, ∀ x ∈ [x0 − d, x0 + d]. (2.37)
x0
25
x
Z
≤ | [f (s, y1 (s)) − f (s, y2 (s))] | ds
∀ x ∈ [x0 − d, x0 + d].
x0
Assim, x
Z
| y1 (x) − y2 (x) |≤ | [f (s, y1 (s)) − f (s, y2 (s))]ds | . (2.40)
x0
Considere agora,
Assim,
| y1 (s) − y2 (s) |≤ M1 ∀s ∈ [x0 − d, x0 + d]. (2.42)
De (2.41) e (2.42),
| y1 (x) − y2 (x) |≤ KM1 | x − x0 |,
e, portanto,
| y1 (x) − y2 (x) |≤ KM1 d ∀x ∈ [x0 − d, x0 + d].
Logo,
M1 ≤ KdM1 ,
neste intervalo.
26
Já para o último questionamento pode-se dizer que determinar uma solução de
uma equação diferencial é algo ”similar”ao cálculo de uma integral e sabe-se que há
integrais que não possuem primitivas, como por exemplo as integrais elı́pticas. Assim,
não é de esperar que todas as equações diferenciais possuam soluções explı́citas.
Vale destacar que este tópico de EDO foi estudado durante o projeto de iniciação
cientı́fica, Métodos Numéricos Aplicados na Engenharia, com a orientação do professor
Jarbas Alves Fernandes.
Na seção 2.6 estudou-se o problema da propagação da podridão em maçãs. Para
este fim, na próxima seção será estudada de forma sucinta a equação logı́stica contı́nua.
dy = ay(k − y)
dx (2.43)
y(0) = y .
0
y 0 = aky − ay 2 . (2.44)
27
Para obter uma solução da EDO de Bernoulli, multiplica-se a Eq. (2.45) por
(1 − n)y −n , o que resulta em
Adotando
v 0 = (1 − n)y −n y 0 . (2.47)
v 0 + akv = a. (2.48)
ou seja, quando x cresce muito então a variável y(x) tende a y = k e, para x = 0, tem-se
a condição inicial y(0) = y0 .
A seguir será apresentado um aplicação de EDOs em situações comuns do coti-
diano. Mais preciso, será abordado o problema da propagação da podridão em maçãs.
Cabe destacar que este problema foi inicialmente proposto no artigo (Bassanezi and Ju-
nior, 2005). Neste trabalho segue-se a formulação e solução apresentada em (Bassanezi
and Junior, 2005).
2
O método do fator integrante para EDO de primeira ordem pode ser encontrado em (Boyce and
DIPRIMA, 2010; Guidorizzi, 2000)
28
2.5.1 Propagação da Podridão em Maçãs
Para realizar o estudo de tal problema serão considerado alguns dados e variáveis
importantes, sendo eles
29
5. Quando a doença se inicia com uma fruta contaminada, então em 12 dias, oitenta
porcento das maçãs do bin estarão podres, isto é, M (12) = 0, 8T .
dM
= M0
dt
que representa a velocidade de propagação.
Como a quantidade total de maçãs T é constante, então tem-se que a população
de frutas sadias S(t) é dada por S(t) = T − M (t). Para modelar o encontro entre frutas
contaminadas e sadias, pode-se usar a seguinte expressão matemática
E = M S = M (T − M ).
Das hipóteses formuladas acima, tem-se o seguinte modelo matemático para pro-
pagação da epidemia da podridão da maçã
dS
= −βSM
dt
dM (2.51)
= βSM
dt
M (0) = 1 e S + M = T,
dM = βM (T − M )
dt (2.52)
M (0) = 1.
Tem-se que o modelo (2.52) descrito é uma equação logı́stica contı́nua cuja solução foi
obtida na seção 2.5. Assim, a quantidade de maçãs contaminadas no instante t é
KT eβT t
M (t) = . (2.53)
1 + KeβT t
30
Agora, levando em consideração a condição inicial M0 = M (0) = 1, pode-se obter o valor
da constante arbitrária K. De fato,
1 1
M (0) = 1 =⇒ 1 + K = KT =⇒ K = ' ' 0, 00033.
T −1 T
eβT t T eβT t T
M (t) = 1 βT t = = . (2.54)
1+ Te T + eβT t T e−βT t + 1
Usando a estimativa que em 12 dias aproximadamente oitenta porcento das maçãs são
contaminadas, isto é, M (12) = 0, 8T , e a taxa de contaminação β. Com efeito, usando
(2.54), tem-se
T
0, 8T = =⇒ 0, 8e−12βT = 0, 2.
T e−12βT +1
Aplicando o logaritmo, obtém-se
1 1 1
−12βT = ln =⇒ β = − ln ' 0, 000261.
4T 12T 4T
3000
M (t) = . (2.55)
3000e−0,783t + 1
Ademais, pode-se ainda obter a previsão do tempo t necessário para cada por-
centagem p de frutas contaminadas. Para isso, deve-se ter t em função de M (t) = pT ,
substituindo este valor na equação de M (t), obtém-se
T 1−p
pT = =⇒ pT e−βT t + p = 1 =⇒ e−βT t = .
T e−βT t + 1 pT
Logo,
1 1 − p
t=− ln .
βT pT
31
1 1
Sabe-se que o valor de β = − 12T ln 4T . Daı́, o tempo t necessário para cada porcentagem
p de frutas contaminadas é dado por
12 1 − p
t= ln com 0 < p < 1. (2.56)
ln1/4T pT
12 1
t= ln = (−1, 277) ∗ (−8, 006) = 10, 224dias.
ln1/4T 0, 5T
32
Capı́tulo 3
Existem diversos métodos analı́ticos para solução de EDO, mas muito deles são
restritos. Muitos acabam falhando ou produzindo uma solução muito complexa para
ser facilmente manipulada. Quando isso acontece, uma alternativa para solucionar o
problema de maneira mais simples pode ser por meio das séries de potência, ao longo
deste capı́tulo será abordado tal método para solução de EDO. Cabe destacar que este
capı́tulo é inspirado nas seguintes referências (Kreyzig, 2009; Oliveira, 2010).
33
3.1.1 A Ideia do Método das Séries de Potências
Agora pela derivação termo a termo da equação (3.3), obtém- se a segunda derivada da
função y que é expressada por
∞
X
y 00 = m(m − 1)am xm−2 = 2a2 + 6a3 x + 12a4 x2 ... (3.4)
m=2
34
Exemplo 3.1. Dada a EDO
y 0 = 2xy. (3.6)
Será usado o método método das séries de potências para encontra uma solução em torno
de x0 = 0. Com efeito, para solucionar este problema, usando primeiramente as Eqs.
(3.2) e (3.3) na EDO definida em (3.6). Assim, tem-se a seguinte igualdade
a1 + 2a2 x + 3a3 x2 + 4a4 x3 + 5a5 x4 + 6a6 x5 + ... = 2a0 x + 2a1 x2 + 2a2 x3 + 2a3 x4 + 2a4 x5 + ...
Note que a igualdade acima é válida se os coeficientes da mesma potência de x são iguais.
Como uma consequência,
a1 = 0, 2a2 = 2a0 , 3a3 = 2a1 , 4a4 = 2a2 , 5a5 = 2a3 , 6a6 = 2a4 , ...
35
3.2.1 Pontos ordinários e singular
Oliveira (2010) afirma que o ponto x0 é um ponto ordinário da Eq. (3.1) se as funções
p(x) e q(x) forem analı́ticas em x0 , ou seja, se é possı́vel as representações
∞
X
p(x) = pm (x − x0 )m , |x − x0 | < R1 , (3.8)
m=0
e
∞
X
q(x) = qm (x − x0 )m , |x − x0 | < R2 , (3.9)
m=0
com R1 e R2 números positivos, caso contrário x0 é dito ponto singular da Eq. (3.1).
O ponto x0 é dito singular regular da Eq. (3.1) quando pelo menos uma das
funções p(x) e q(x) não é analı́tica em x0 , mas são analı́ticas as funções
onde p̃(x) e q̃(x) são funções analı́ticas em x0 . Por outro lado, um ponto singular irregular
é todo o ponto singular da Eq. (3.1) que não é um ponto singular regular.
36
3.2.3 Existência de Soluções das EDOs em Séries de Potências
Uma grande questão é saber se as EDOs podem ter soluções em forma de séries
de potências. Uma resposta simples é que se os coeficientes p e q e a função r do lado
direito da Eq.(3.13) possuı́rem representação em séries de potências, então a Eq. (3.13)
possui soluções em série de potências.
se h̃, p̃, q̃, r̃ possuı́rem representação em séries de potências e h̃(x0 ) 6= 0.Tem-se que na
maioria dos casos os coeficientes das EDOs são polinômios, ou seja, séries de potências
com número finito de termos, de modo que as condições serão satisfeitas, quando r(x)
for também uma série de potência. Caso h̃ 6= 0, então a divisão da Eq. (3.14) por h̃(x)
resulta a Eq. (3.13) com p = p̃/h̃, q = q̃/h̃, r = r̃/h̃. Isto motiva o uso da notação da Eq.
(3.14). O próximo teorema apresenta a resposta do questionamento inicial.
37
e Gauss [1777-1855]. É conhecido pela transformação de Legendre, que é usada para ir da
Lagrangiana à formulação hamiltoniana na mecânica clássica. Ele também é o nominador
dos polinômios de Legendre, as soluções da equação diferencial de Legendre, que ocorrem
com freqüência na fı́sica e em aplicações de engenharia, como por exemplo na eletrostática.
Ele foi educado no Colégio Mazarin, uma das escolas mais avançadas do século XVII, em
Paris, durante cinco anos, de 1775 a 1780, trabalhou junto com Laplace, quando ambos
lecionavam na École Militaire de Paris.
A equação de Legendre é um equação dada por
Daı́,
∞
X ∞
X ∞
X ∞
X
m(m − 1)am xm−2 − m(m − 1)am xm − 2mam xm + kam xm = 0.
m=2 m=2 m=1 m=0
s
Para obter-se a mesma potência x em toda a equação, faz-se m − 2 = s na primeira série
e nas demais simplesmente substitui-se m por s, assim
∞
X ∞
X ∞
X ∞
X
s s s
(s + 2)(s + 1)as+2 x − s(s − 1)as x − 2sas x + kas xs = 0.
s=0 s=2 s=1 s=0
38
Pode ser notado na primeira série que o somatório começa com s = 0. Tem-se
também que essa equação com o lado direito nulo deve ser uma identidade em x se a
Eq. (3.16) for uma solução da Eq. (3.15). Dessa forma, a soma dos coeficientes de cada
potência de x no lado esquerdo deve ser igual a zero, nota-se que x0 ocorre na primeira e
última série, daı́ tem-se
2 · 1a2 + ka0 = 0.
Logo,
Logo,
Resolvendo a Eqs. (3.17) para a2 , (3.18) para a3 e (3.19) para as+2 , obtém-se a
fórmula geral
(n − s)(n + s + 1)
as+2 = − as . (3.20)
(s + 2)(s + 1)
onde s = 0, 1, 2...
A Eq. (3.20) é denominada de relação de recorrência ou fórmula de recursão.
Encontra-se sucessivamente
n(n + 1)
a2 = − a0
2!
(n − 1)(n + 2)
a3 = − a1
3!
39
(n − 2)(n + 3) (n − 2)n(n + 1)(n + 3)
a4 = − a2 = − a0
4.3 4!
Essas séries convergem para |x| < 1. Como a Eq. (3.22) contém apenas potências
pares e a Eq. (3.23) contêm potências impares de x tem-se que a razão de y1 /y2 não é
igual a uma constante, pois y1 e y2 não são proporcionais, sendo soluções linearmente
independentes entre si.
Na maioria das aplicações as soluções das EDOs por série de potências são re-
duzidas a polinômios. Tem-se que para a equação de Legendre isso acontece quando o
parâmetro n é um inteiro não-negativo, pois o lado direito da Eq.(3.20) é nulo para s = n,
dai an+2 = 0, an+4 = 0, an+6 = 0, ... Portanto,se n for par y1 (x) se reduz a um polinômio
de grau n, e se for ı́mpar o mesmo ocorre para y2 (x). O polinômio de Lengendre (Pn (x))
é o nome dado a esses polinômios multiplicados por algumas constantes. Para escolher a
constante escolhe-se o coeficiente an da maior potência xn como
(2n)! 1.3.5...(2n − 1)
an = n 2
= , (3.24)
2 (n!) n!
40
onde n e um inteiro positivo e an = 1 se n = 0.
Então, calcula-se os outros coeficientes a partir da Eq. (3.20), que é resolvida
para as em termos de as+2 , logo
(s + 2)(s + 1)
as = − as+2 , (3.25)
(n − s)(n + s + 1)
onde s 5 n − 2.
A escolha da Eq. (3.24) faz Pn (1) = 1 para todo n, da Eq. (3.25) com s = n − 2
e a Eq. (3.24), obtém-se
Usando (2n)! = 2n(2n − 1)(2n − 2)!, n! = n(n − 1)!, e n! = n(n − 1)(n − 2)!,
obtém-se
(2n − 2)!
an−2 = − .
2n (n − 1)!(n − 2)!
Da mesma forma,
(2n − 2m)!
an−2m = (−1)m . (3.26)
2n m!(n − m)!(n − 2m)!
41
3.4 Método de Frobenius
Ferdinand Georg Frobenius foi Matemático e autor alemão nascido em Charlot-
tenburg, distrito de Berlim, Prússia, hoje Berlim, Alemanha, destaque no desenvolvimento
da teoria dos grupos, seus trabalhos versaram sobre a teoria algébrica dos grupos finitos
e sobre a sistematização da álgebra à luz axiomática e a lógica matemática . De uma
famı́lia de protestantes, era filho do pároco Christian Ferdinand Frobenius e de Christine
Elizabeth Friedrich, foi educado no Joachimsthal Gymnasium (1860-1867) (Escola).
O Teorema 3.2 pode ser visto como uma extensão do método de séries de potências,
chamado de Método de Frobenius. Este método tem sido útil nas soluções de EDOs devido
a sua utilização em programas de computadores.
Teorema 3.2 (Método de Frobenius). Considerando que b(x) e c(x) sejam funções
analı́ticas em x = 0, então tem-se que a EDO
b(x) 0 c(x)
y 00 + y + 2 y=0 (3.28)
x x
possui pelo menos uma solução que pode ser representada na forma
∞
X
r
y(x) = x am xm = xr (a0 + a1 x + a2 x2 + ...) (3.29)
m=0
sendo que r pode ser qualquer número (real ou complexo) escolhido de forma que a0 6= 0.
A EDO (3.28) possui também uma segunda solução similar a Eq. (3.29), sendo
que essas duas soluções são linearmente independentes e a segunda solução possui valores
diferentes para r e para os coeficientes, ou ainda pode conter um termo logarı́tmico.
Na prática, para usar o método de Frobenius, é necessário determinar o ı́ndice r
e os coeficientes am . Estes valores podem ser obtidos como segue. Multiplicado-se a Eq.
(3.28) por x2 , chega-se a forma
b(x) = b0 + b1 x + b2 x2 + ...
42
c(x) = c0 + c1 x + c2 x2 + ...
∞
X
00
y (x) = (m + r)(m + r − 1)am xm+r−2
m=0
r−2
= x [r(r − 1)a0 + (r + 1r)a1 x + ...]. (3.32)
Igualando a soma dos coeficientes de cada potência xr , xr+1 , xr+2 , ... a zero, encontra-se
um sistema de equações que envolvem os coeficientes desconhecidos am da Eq. (3.29).
Tem-se então a equação correspondente à potência xr sendo
Supondo que a0 6= 0, tem-se que a expressão da Eq.(3.35) deve ser igual a zero. O que
resulta em
r(r − 1) + b0 r + c0 = 0, (3.36)
sendo uma equação quadrática importante para a determinação do ı́ndice r da Eq. (3.29).
A Eq. (3.36) é referida como equação indicial da EDO (3.28).
Tem-se então que o método de Frobenius fornece uma base de soluções, no qual
uma das soluções possui a forma da Eq. (3.29), onde r será uma raiz da Eq. (3.36) e a
outra solução possuirá uma forma que é decorrente pela equação indicial. Dessa forma,
exitem três casos distintos, são eles
43
• Caso 1: Raı́zes distintas não se diferindo por números inteiros, isto é, se r1 e r2 são
raı́zes de 3.36, então não existe p inteiro tal que r1 = r2 + p;
Note que o caso 1 inclui raı́zes complexas, isto é, r1 = z1 + iz2 e r2 = z1 − iz2 ,
√
em que z1 , z2 ∈ R e i = −1. Com efeito, r1 − r2 = 2z2 i, logo não existe p inteiro tal que
r1 = r2 + p.
O próximo teorema estabelecerá uma base de soluções para Eq. 3.28, sem um te-
oria geral de convergência, porém em cada caso particular é possı́vel testar a convergência
das séries em questão (Kreyzig, 2009; Ince, 1956).
Teorema 3.3. Base de Soluções Considere que a EDO (3.28) satisfaça as condições
anteriores. As raı́zes da equação indicial (3.36) serão chamadas de r1 e r2 . Então tem-se
os seguintes possı́veis casos:
Caso 1. Raı́zes distintas não diferindo por um número inteiro: Uma base é
dada por
y1 (x) = xr1 (a0 + a1 x + a2 x2 + ...)
e
y2 (x) = xr2 (A0 + A1 x + A2 x2 + ...)
e
y2 (x) = y1 (x)lnx + xr (A1 x + A2 x2 + ...).
44
e
y2 (x) = ky1 (x)lnx + xr2 (A0 + A1 x + A2 x2 + ...),
onde as raı́zes são assim escritas de modo que se obtenha um resultado nulo.
Demonstração. Caso 1. Raı́zes distintas não diferindo por um inteiro Uma pri-
meira solução de (3.28) é da forma
e pode ser determinada como no método das séries de potências. Para uma demonstração
de que, nesse caso, a EDO (3.28) tem uma segunda solução independente, com a forma
pode ser determinado como no Caso 1. Será mostrada uma segunda solução independente
que é dado na forma
Para isto, utilizando o método de redução de ordem 1 , será determinado u(x) de forma
que y2 (x) = u(x)y1 (x) seja uma solução da Eq. (3.28). Inserindo essa expressão e as
derivadas
y20 = u0 y1 + uy10 , y200 = u00 y1 + 2u0 y10 + uy100
45
Segue que,
u(x2 y100 + xby10 + cy1 ) + x2 u00 y1 + 2x2 u0 y10 + xbu0 y1 = 0.
Como y1 é uma solução de (3.30), a soma dos termos envolvendo u vale zero, e essa
equação se reduz a
x2 y1 u00 + 2x2 y10 u0 + xby1 u0 = 0.
Logo,
como r = (1 − b0 )/2, o termo (2r + b0 )/x vale 1/x, e, dividindo por u0 , tem-se então
∞
u00 1 a1 + 2a2 x + ... X
m
=− +2 + bm+1 x .
u0 x a0 + a1 x + a2 x2 + ... m=0
46
Por integração, obtém-se
Z ∞
0 a1 + 2a2 x + ... X
m
lnu = −lnx − 2 + b m+1 x dx. (3.46)
a0 + a1 x + a2 x2 + ... m=0
Então,
u0 = (1/x)e(I) ,
R a1 + 2a2 x + ... P∞ m
onde I = 2 + m=0 b m+1 x dx.
a0 + a1 x + a2 x2 + ...
Expandindo a função exponencial em potências de x e integrando novamente,
nota-se que u é da forma
u = lnx + k1 x + k2 x2 + ...
Inserindo isso em y2 = uy1 , obtém-se para y2 uma representação na forma da Eq. (3.38).
Caso 3. Raı́zes diferindo por um inteiro. Escrevendo r1 = r e r2 = r − p,
onde p é um inteiro positivo. Pode-se determinar uma primeira solução
como nos casos anteriores. Será mostrado que uma segunda solução independente tem a
forma
Dai,
2r + b0 = p + 1.
47
Fazendo a substituição da relação anterior na Eq. (3.49), tem-se
∞
u00 p + 1 a1 + 2a2 x + ... X
m
= − + 2 + b m+1 x ,
u0 x a0 + a1 x + a2 x2 + ... m=0
a1 + 2a2 x + ... P∞ m
onde J = 2 + m=0 bm+1 x . Os passos subsequentes são como no
a0 + a1 x + a2 x2 + ...
caso 2. Integrando, encontra-se
Z
0
lnu = −(p + 1)lnx + Jdx.
Assim,
R
u0 = x−(p+1) e( Jdx)
.
48
Daı́,
∞
X ∞
X
(m + r − 1)2 am xm + r − (m + r)(m + r − 1)am xm + r − 1 = 0.
m=0 m=0
A menor potência é xr−1 , fazendo s = −1 na segunda série que fornece a equação indicial
r(r − 1) = 0.
s2
as+1 = .
(s + 2)(s + 1)as
y2 = y1 u = xu.
y20 = xu0 + u
e
y200 = xu00 + 2u0 .
49
dai,
x3 u00 + 2x2 u0 − x2 u00 − 2xu0 − x2 u0 − xu + xu = 0,
2
Disso, usando frações parciais e integrando, tomando como zero a constante de inte-
gração, obtém-se
u00 x−2 2 1 0
x − 1
=− 2 =− + , lnu = ln 2 .
u 0 x −2 x 1−x x
x−1 1 1 1
u0 = 2
= − 2, u = lnx + , y2 = xu = xlnx + 1,
x x x x
2
O método das frações parciais pode ser encontrado em (Guidorizzi, 2000)
50
Conclusão
51
Referências Bibliográficas
52
A. Rooney. A História da Matemática. São Paulo: M. Books do Brasil Editora Ltda.,
2012.
53