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Equações diferenciais ordinárias generalizadas e

aplicações às equações diferenciais clássicas

Eduard Toon
SERVIÇO DE PÓS-GRADUAÇÃO DO ICMC-USP

Data de Depósito:

Assinatura:________________________

Equações diferenciais ordinárias generalizadas e


aplicações às equações diferenciais clássicas

Eduard Toon

Orientadora: Profa. Dra. Márcia Cristina A. B. Federson

Tese apresentada ao Instituto de Ciências Matemáticas


e de Computação - ICMC-USP, como parte dos
requisitos para obtenção do título de Doutor em
Ciências - Matemática . VERSÃO REVISADA

USP – São Carlos


Outubro de 2012
Ficha catalográfica elaborada pela Biblioteca Prof. Achille Bassi
e Seção Técnica de Informática, ICMC/USP,
com os dados fornecidos pelo(a) autor(a)

Toon, Eduard
TT668e Equações diferenciais ordinárias generalizadas e
e aplicações às equações diferenciais clássicas / Eduard
Toon; orientadora Márcia Cristina Anderson Braz
Federson. -- São Carlos, 2012.
89 p.

Tese (Doutorado - Programa de Pós-Graduação em


Matemática) -- Instituto de Ciências Matemáticas e
de Computação, Universidade de São Paulo, 2012.

1. equações diferenciais ordinárias generalizadas.


2. equações diferenciais funcionais em medida. 3.
estabilidade. 4. comportamento assintótico de
soluções. 5. equações diferenciais ordinárias. I.
Federson, Márcia Cristina Anderson Braz, orient. II.
Título.
À minha famı́lia, as pessoas
mais importantes na minha
vida.
Agradecimentos

Agradeço, primeiramente, a minha famı́lia e familiares pelo apoio nas horas cer-
tas, palavras de incentivo, carinho, conselhos e compreensão com meus momentos de
ausência.
Aos meus amigos e colegas pelo apoio, ajuda, discussões, risadas e companheirismo.
Agradeço à minha orientadora, professora Márcia Federson por seu trabalho de
orientação, dedicação, paciência, pela contribuição em minha formação profissional,
pelas palavras de incentivo e, também, pelas broncas, quando se fizeram necessárias.
Agradeço, também, pela amizade que pudemos construir neste perı́odo.
Agradeço aos professores do ICMC-USP que contribuı́ram com minha formação.
Agradeço aos funcionários do ICMC-USP por proporcionarem um local adequado
para o desenvolvimento deste trabalho.
E, por fim, agradeço a FAPESP pelo suporte financeiro durante a execução deste
trabalho.
Resumo

O objetivo deste trabalho é estudar algumas propriedades de


soluções de equações diferenciais ordinárias generalizadas e aplicar
tais resultados a algumas equações diferenciais clássicas (equações
diferenciais ordinárias abstratas e equações diferenciais funcionais
em medida).
Os principais resultados tratam de existência-unicidade de so-
luções para uma classe de equações diferenciais ordinárias generali-
zadas, dependência contı́nua de soluções com respeito às condições
iniciais e bacia de atração. Estes resultados são transferidos para
uma classe de equações diferencias ordinárias abstratas. Tam-
bém obtemos resultados sobre estabilidade da solução trivial de
equações diferenciais ordinárias generalizadas e transferimos estes
resultados para uma classe de equações diferenciais funcionais em
medida.
Abstract

The purpose of this work is to study some properties of so-


lutions of generalized ordinary differential equations and apply
these results to some classical differential equations (abstract or-
dinary differential equations and measure functional differential
equations).
The main results concern existence-uniqueness of a solution
for a class of generalized ordinary differential equations, continu-
ous dependence of solutions with respect to initial conditions and
basin of attraction. These results are transfered to a class of ab-
stract ordinary differential equations. We also obtain some results
on the stability of the trivial solution of generalized ordinary differ-
ential equations and we transfer these results to a class of measure
functional differential equations.
Sumário

Introdução xi

1 Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas 1


1.1 Teoria fundamental de EDOGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 1
1.2 EDOGs autônomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 8
1.3 Bacia de atração para EDOGs autônomas . . . . . . . . . . . . . . . . 12

2 Aplicações às EDOs autônomas 19


2.1 EDOGs autônomas x EDOs autônomas . . . . . . . . . . . . . . . . . . 19
2.2 Dependência contı́nua de soluções com respeito às condições iniciais . . 23
2.3 Bacia de atração para EDOs autônomas . . . . . . . . . . . . . . . . . 25

3 Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs 29


3.1 Integração de Kurzweil-Henstock-Stieltjes . . . . . . . . . . . . . . . . . 30
3.2 Novos conceitos de estabilidade para EDFs em medida . . . . . . . . . 32
3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 35
3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para
EDOGs e EDFs em medida . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 46

4 Estabilidade de Lyapunov 57
4.1 Estabilidade de Lyapunov para EDOGs . . . . . . . . . . . . . . . . . . 58
4.2 Estabilidade de Lyapunov para EDFs em medida via EDOGs . . . . . 63

ix
x SUMÁRIO

4.3 Outros resultados de estabilidade . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 71

Índice Remissivo 84

Referências Bibliográficas 87
Introdução

A teoria de equações diferenciais ordinárias generalizadas (EDOGs) teve seu inı́cio


em 1957, com o matemático tcheco Jaroslav Kurzweil. Sua ideia inicial era generalizar
alguns resultados sobre dependência contı́nua, com relação a condições iniciais, de
soluções de EDOs. Em seu trabalho pioneiro [22], Kurzweil definiu EDOGs para funções
tomando valores em espaços euclidianos e de Banach.
A teoria de EDOGs está amplamente descrita em [25].
Uma das vantagens da teoria de EDOGs sobre a teoria clássica de equações dife-
renciais ordinárias pode ser vista no artigo [7] de Zvi Artstein. Ali foi mostrado que se
considerarmos certas condições do tipo Carathéodory e Lipschitz sobre o lado direito
das equações, ou seja, sobre as funções envolvidas, nem sempre obteremos resultados
que pressupõem, por exemplo, a completude do “espaço das equações diferenciais”,
ou, equivalentemente, do espaço de funções que são lados direitos destas equações
(identificando-se ẋ = f (x, t) com f ). De fato, considere a seguinte EDO
 
dx
ẋ = f (x, t) , ẋ =
dt

e suponha que f : Ω × R → Rn , com Ω ⊂ Rn aberto, seja mensurável em t e contı́nua


em x. Considere a topologia caracterizada pela convergência
Z t Z t
fk → f0 , se fk (x, s)ds → f0 (x, s)ds, (x, t) ∈ Ω × R
0 0

e as condições de Carathéodory e Lipschitz da seguinte forma

xi
xii Introdução

(*) Para cada compacto A ⊂ Ω, existe uma função Lebesgue integrável MA (t) tal
que, para qualquer x ∈ A vale

|f (x, s)| ≤ MA (s) ,

(**) Para cada compacto A ⊂ Ω, existe uma função Lebesgue integrável LA (t) tal
que, para quaisquer x1 , x2 ∈ A vale

|f (x1 , s) − f (x2 , s)| ≤ LA (s) |x1 − x2 |.

Artstein mostrou que o espaço de EDOs cujas funções do lado direito das equações
satifazem as condições (*) e (**) não contém todas as suas equações limites. De fato,
seja F0 uma função contı́nua que não é diferenciável em nenhum ponto e seja Fj ,
j = 1, 2, . . ., uma sequência em C 1 , que converge uniformemente para F0 . Se fj for a
Rt
derivada de Fj , então para todo (x, t), 0 fj (x, s)ds convergirá. Entretanto, o limite
Z t
F0 (x, t) = lim fj (x, s)ds
0

Rt
não possui uma representação integral F0 (x, t) = 0
f (x, s)ds. Para cada j = 1, 2, . . .,
consideremos a equação
ẋ = fj (x, t)

cuja solução é, a menos de uma constante, a primitiva Fj de fj . Note que, a “solução”
limite F0 não é solução de uma EDO.
O tipo de problema que acabamos de descrever não ocorre quando utilizamos a
teoria de EDOGs. Veja [5] e [7].
Outra vantagem no estudo da teoria de EDOGs é que podemos obter a correspon-
dência destas equações com outros tipos de equações diferenciais, tais como equações
diferenciais ordinárias e equações diferenciais funcionais com retardamento (escrevemos
EDFRs), onde reside nosso interesse e onde estão situados vários trabalhos.
A correspondência entre EDFRs e EDOGs foi investigada primeiramente em 1966
por Carlos Imaz e Z. Vorel e por F. Oliva e Z. Vorel sob certas hipóteses bastante
técnicas (veja [21] e [24]). Em 2003, M. Federson e P. Z. Táboas mostraram, em [14],
a mesma correspondência em um cenário mais próximo ao de [25]. Em tal trabalho,
a teoria de EDOGs foi importante no estudo da dinâmica topológica de EDFRs. Em
2006, M. Federson e Š. Schwabik mostraram, em [12], que é possı́vel relacionar EDFRs
sob a ação de impulsos em tempos pré fixados e EDOGs. Recentemente, em 2011, S. M.
Introdução xiii

Afonso estabeleceu, em [1], uma correspondência entre EDFRs sob a ação de impulsos
em tempos variáveis e EDOGs. Veja também [2]. Todos estes trabalhos mostram que
é possı́vel obter resultados para EDFRs, com ou sem impulsos, que são mais gerais do
que os resultados que já eram conhecidos na teoria clássica de EDFRs ou resultados
inéditos, como os de [13] e [14], via teoria de EDOGs.
Como sabemos, o interesse no estudo de EDFRs está no fato de que estas equações
descrevem muitos fenômenos fı́sicos, biológicos e de engenharia, que envolvem um lapso
de tempo entre causa e efeito. Já a teoria de equações diferenciais impulsivas descreve
modelos em que ocorrem variações do estado em tempos tão pequenos que podem ser
considerados instantâneos para efeitos de modelagem. Assim, uma teoria que possibilita
a melhora de resultados sobre esses dois tipos de equação (que é o caso de EDOGs) é,
de fato, muito interessante.
Este trabalho é dividido em duas partes: a primeira compreende os capı́tulos 1 e
2 e a segunda compreende os capı́tulos 3 e 4. A divisão foi feita desta maneira pois
o Capı́tulo 2 trata de aplicações dos resultados do Capı́tulo 1. Já os capı́tulos 3 e 4
tratam, principalmente, de estabilidade de soluções de EDOGs e de EDFs em medida.
O Capı́tulo 1 é dividido em três seções. A primeira delas traz alguns resultados
básicos sobre a teoria de EDOGs e a definição de uma nova classe de funções para
EDOGs. Mostramos que podemos obter um teorema de existência e unicidade de
solução para EDOGs, desde que a função envolvida na equação pertença a esta classe.
Também mostramos que esta classe inclui uma classe para a qual já sabı́amos haver
um teorema de existência e unicidade de solução. Na segunda seção, definimos um
conceito de EDOG autônoma que não existia na literatura. Enunciamos um teorema de
existência e unicidade de solução para tais equações. Além disso, demonstramos alguns
resultados sobre dependência contı́nua de soluções de EDOGs autônomas com relação
às condições iniciais. Na última seção, descrevemos a noção de bacia de atração para
EDOGs autônomas e mostramos que ela tem propriedades muito boas. Demonstramos
resultados sobre estabilidade para pontos de equilı́brio via funcionais de Lyapunov
e o resultado mais importante desta seção que garante a existência de um conjunto
compacto contido na bacia de atração.
O Capı́tulo 2 está dividido em três seções. Na primeira seção, fazemos uma des-
crição de uma classe de problemas de EDOs autônomas tomando valores em espaços
de Banach. Mostramos um resultado de existência e unicidade de solução para esta
classe de problemas via EDOGs. Na segunda seção, obtemos resultados de dependência
contı́nua de soluções de EDOs autônomas com relação às condições iniciais utilizando
a relação obtida na primeira seção deste capı́tulo. Na última seção, apresentamos um
xiv Introdução

conceito de bacia de atração para EDOs autônomas abstratas. Obtemos resultados


similares aos que foram obtidos para a bacia de atração de EDOGs autônomas, uti-
lizando a relação entre estas equações apresentada na primeira seção deste capı́tulo.
Notamos que a importância do estudo de EDOs abstratas recai no fato de que algumas
EDPs podem ser escritas como EDOs abstratas. Este não é o foco de nosso trabalho e
o leitor interessado em tal fato pode consultar [6].
O terceiro capı́tulo é dividido em quatro seções. Na primeira seção, fazemos uma
breve revisão sobre a integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes. Também apresentamos
alguns resultados importantes sobre esta integral. Na segunda seção, descrevemos
uma classe de problemas de equações diferenciais funcionais em medida. Além disso,
apresentamos novos conceitos de estabilidade para tais equações. Na terceira seção,
estabelemos uma relação biunı́voca entre a classe de EDFs em medida apresentada na
segunda seção deste capı́tulo e uma classe de EDOGs. Também demonstramos um
resultado de existência e unicidade de solução para esta classe de EDFs em medida.
Na última seção, definimos novos conceitos de estabilidade para EDOGs, a saber, es-
tabilidade regular. Fazemos uma relação entre os novos conceitos de estabilidade para
EDFs em medida, apresentados na segunda seção deste capı́tulo, e os novos conceitos
de estabilidade para EDOGs. O estudo de EDFs em medida é interessante pois es-
tas incluem equações impulsivas e também temos uma relação entre estas equações e
equações em escalas temporais. O leitor interessado na relação entre EDFs em medida
e equações em escalas temporais e também em mais fatos sobre equações em escalas
temporais, pode consultar [9] e [10].
O Capı́tulo 4 é dividido em três partes. Na primeira seção, definimos o conceito de
estabilidade de Lyapunov para EDOGs. Observamos que todos os conceitos de estabi-
lidade para EDOGs conhecidos anteriormente ou mesmo os conceitos que definimos no
Capı́tulo 3, levam em conta a variação ou o supremo das soluções. O conceito de esta-
bilidade de Lyapunov apresentado aqui é diferente, pois não leva em conta a variação
ou o supremo das soluções e, portanto, é um conceito mais simples de ser trabalhado
e se aproxima mais das definições clássicas de estabilidade. Também demonstramos
alguns resultados de estabilidade para EDOGs através de funcionais de Lyapunov. Na
segunda seção, demonstramos resultados de estabilidade para EDFs em medida uti-
lizando a relação entre estas equações e EDOGs e os resultados de estabilidade obtidos
na primeira seção deste capı́tulo. Na última seção, apresentamos alguns resultados
de estabilidade através de funcionais de Lyapunov para EDOGs e EDFs em medida.
Estes resultados estão relacionados com os conceitos de estabilidade apresentados no
Capı́tulo 3.
Introdução xv

X
Capı́tulo

1
Equações Diferenciais Ordinárias
Generalizadas Autônomas

Neste capı́tulo, apresentamos alguns resultados básicos na teoria de equações dife-


renciais ordinárias generalizadas (EDOGs). Introduzimos uma nova classe de funções
que podem ser lados direitos de EDOGs para as quais conseguiremos obter um resultado
de existência-unicidade. Demonstramos, também, que esta classe inclui uma classe já
conhecida na literatura para a qual tem-se um resultado de existência-unicidade.
Também introduzimos um conceito de EDOG autônoma que, até então, não era
definido. Além disso, apresentamos resultados sobre dependência contı́nua de soluções
com relação às condições iniciais e alguns resultados sobre o comportamento assintótico
de soluções destas equações autônomas, como o conceito de bacia de atração para
EDOGs autônomas.

1.1 Teoria fundamental de EDOGs


Nesta seção, relembramos conceitos básicos sobre EDOGs e apresentamos um teo-
rema inédito sobre existência local e unicidade de solução para nossa nova classe de
funções que são lado direito de EDOGs.

1
2 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Começamos esta seção lembrando o leitor da definição original da integral de Kurzweil


apresentada em [22] e [23]. Veja, também, [25].
Uma divisão marcada de um intervalo compacto [a, b] ⊂ R é uma coleção finita de
pares ponto-intervalo

d = {(τi , [si−1 , si ]) : i = 1, 2, . . . , k(d)} ,

onde a = s0 ≤ s1 ≤ . . . ≤ sk(d) = b é uma divisão de [a, b] e τi ∈ [si−1 , si ], i =


1, 2, . . . , k(d). Os pontos τi , i = 1, 2, . . . , k(d), são chamados de marcas da divisão d.
Um calibre em [a, b] é qualquer função δ : [a, b] → (0, +∞). Dado um calibre δ em
[a, b], uma divisão marcada d = (τi , [si−1 , si ]) de [a, b] será dita δ-fina se, para quaisquer
i = 1, 2, . . . , k(d), tivermos

[si−1 , si ] ⊂ {t ∈ [a, b] : |t − τi | < δ (τi )} .

No que segue, X será um espaço de Banach com norma k · k.


Uma função U : [a, b] × [a, b] → X será dita Kurzweil integrável sobre o intervalo
[a, b], se existir um I ∈ X tal que, dado ε > 0, existe um calibre δ em [a, b] tal que

Xk(d)


[U (τi , αi ) − U (τ i , αi−1 )] − I <ε

i=1

para toda divisão marcada δ-fina d = (τi , [αi−1 , αi ]) de [a, b].


Vale a pena mencionar aqui que a integral de Kurzweil é linear, aditiva com res-
peito a intervalos adjacentes e vale a integrabilidade nos subintervalos de [a, b]. Quando
U (τ, t) = f (τ )t, obtemos a integral de Perron usual e, mais geralmente, quando
U (τ, t) = f (τ )g(t), obtemos a integral de Perron-Stieltjes. Veja [27].
Com a definição da integral de Kurzweil em mente, apresentamos o conceito,
definido pelo matemático tcheco Jaroslav Kurzweil em [22] e [23], de uma equação
conhecida como equação diferencial ordinária generalizada, a qual nos referiremos sim-
plesmente como EDOGs.
Algumas referências para a teoria de EDOGs são [2], [3], [10], [12], [13], [14], [22],
[23] e, principalmente, [25].

Definição 1.1. Sejam O ⊂ X um aberto, −∞ ≤ a < b ≤ ∞, [α, β] ⊂ (a, b) um


intervalo fechado e Ω = O × [α, β]. Uma função x : [α, β] → X será dita uma solução
1.1 Teoria fundamental de EDOGs 3

da equação diferencial ordinária generalizada

dx
= DG(x, t) (1.1)

no intervalo [α, β] ⊂ (a, b), se tivermos (x(t), t) ∈ Ω para t ∈ [α, β] e se valer a


igualdade Z v
x(v) − x(γ) = DG(x(τ ), s), γ, v ∈ [α, β]. (1.2)
γ

Observe que a notação em (1.1) é apenas simbólica. A letra D indica que (1.1) é
uma equação definida através das soluções da sua forma integral dada por (1.2).
Apresentamos, agora, uma classe de funções G : Ω → X para as quais podemos
obter algumas informações sobre as soluções de (1.1), em particular, existência e uni-
cidade de soluções. Tal classe de funções também está descrita em [25].

Definição 1.2. Dada uma função não decrescente h : [α, β] → R, diremos que uma
função G : Ω → X pertence à classe F(Ω, h), se valerem as desigualdades

kG(x, s2 ) − G(x, s1 )k ≤ |h(s2 ) − h(s1 )| (1.3)

para quaisquer (x, s2 ), (x, s1 ) ∈ Ω e

kG(x, s2 ) − G(x, s1 ) − G(y, s2 ) + G(y, s1 )k ≤ kx − yk|h(s2 ) − h(s1 )| (1.4)

para quaisquer (x, s2 ), (x, s1 ), (y, s2 ), (y, s1 ) ∈ Ω.

Não é difı́cil demonstrar que, se G : Ω → X satisfizer (1.3) e x : [α, β] → X for uma


solução de (1.1), então teremos

kx(s2 ) − x(s1 )k ≤ |h(s2 ) − h(s1 )| (1.5)

para quaisquer s1 , s2 ∈ [α, β]. Para uma demonstração deste fato, veja o Lema 3.10 em
[25]. Em particular, qualquer ponto em [α, β] no qual a função h é contı́nua também
será um ponto de continuidade da solução x : [α, β] → X.
Se denotarmos por varβα (x) a variação em [α, β] de uma função x : [α, β] → X e
assumirmos que G : Ω → X satisfaz (1.3) e x : [α, β] → X é uma solução de (1.1),
então (1.5) implicará que x é de variação limitada em [α, β] com

varβα x ≤ h(β) − h(α) < +∞.


4 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Para mais detalhes, veja o Corolário 3.11 em [25].


Uma demonstração da proposição a seguir pode ser encontrada em [25], Lema 3.9.

Proposição 1.3. Suponha que G : Ω → X satisfaça a condição (1.3). Se [α, β] ⊂


(a, b) e x : [α, β] → X for tal que (x(t), t) ∈ Ω para todo t ∈ [α, β] e se a integral

α
DG(x(τ ), t) existir, então para quaisquer s1 , s2 ∈ [α, β], teremos

s2
Z

≤ |h(s2 ) − h(s1 )|.
DG(x(τ ), t) (1.6)


s1

O resultado a seguir nos dá condições sob as quais a integral envolvida na definição
de solução da EDOG (1.1) existe. Para uma demonstração de tal resultado, veja [25],
Teorema 3.14.

Teorema 1.4. Seja G ∈ F(Ω, h). Se x : [α, β] → X, com [α, β] ⊂ (a, b), for o
limite uniforme de uma sequência (xk )k∈N de funções escada xk : [α, β] → X tais que
(x(s), s)) ∈ Ω e (xk (s), s) ∈ Ω, para todo k ∈ N e para todo s ∈ [α, β], então a integral

α
DG(x(τ ), t) existirá e teremos
Z β Z β
DG(x(τ ), t) = lim DG(xk (τ ), t).
α k→∞ α

Lembrando que X denota um espaço de Banach com norma k · k, seja I ⊂ R um


intervalo qualquer da reta. Denotamos por G(I, X) o espaço das funções regradas
f : I → X, ou seja, G(I, X) é o espaço vetorial de todas as funções f : I → X tais
que, para todo intervalo compacto [a, b] ⊂ I, os limites laterais

f (t−) = lim f (s) e f (t+) = lim f (s)


s→t− s→t+

existem para todo t ∈ [a, b], com

f (a−) = f (a) e f (b+) = f (b).

Em G(I, X), consideramos a topologia da convergência uniforme. Em particular, o


espaço G([a, b], X) é um espaço de Banach, quando dotado da norma usual do supremo,
a qual denotamos por k · k∞ .
Sabemos que funções localmente de variação limitada são regradas. Também é
verdade que qualquer função em G([a, b], X) pode ser escrita como o limite uniforme
de funções escada. Veja [19], Teorema I.3.1 para uma demonstração deste fato.
1.1 Teoria fundamental de EDOGs 5

Restringindo o Teorema 1.4 a funções regradas x : [α, β] → X, obtemos a proposição


seguinte.

Proposição 1.5. Sejam G ∈ F(Ω, h), x : [α, β] → X regrada (em particular, uma
função de variação limitada) e (x(s), s) ∈ Ω para todo s ∈ [α, β]. Então a integral
Rβ Rs
α
DG(x(τ ), t) existe e a função s →
7 α
DG(x(τ ), t) ∈ X é de variação limitada em
[α, β] (e, portanto, também regrada).

O próximo teorema é um resultado fundamental na teoria de EDOGs. Ele garante


a existência local e unicidade de uma solução da equação (1.1), sempre que G : Ω →
X pertencer à classe F(Ω, h), com h não decrescente e contı́nua à esquerda. Uma
demonstração deste resultado pode ser encontrada em [12], Teorema 2.15.

Teorema 1.6. Suponha que G : Ω → X pertença à classe F(Ω, h), onde a função
h é não decrescente e contı́nua à esquerda. Se dado (e x, t0 ) ∈ Ω tal que para x
e+ =
x
e + G(e x, t0 +) − G(e x+ , t0 ) ∈ Ω, então existirão ∆ > 0 e uma única
x, t0 ), tivermos (e
solução x : [t0 , t0 + ∆] → X da equação diferencial ordinária generalizada (1.1) para a
qual x(t0 ) = x e.

Fazendo uma pequena modificação na Definição 1.2, obtemos uma classe maior de
funções G : Ω → X para a qual ainda conseguimos garantir existência local e unicidade
de uma solução da EDOG (1.1). Introduzimos, então, esta classe a seguir.
Vamos usar a notação x ∈ G([α, β], O) para uma função x ∈ G([α, β], X) tal que
x(s) ∈ O, para todo s ∈ [α, β], onde O é um aberto de X.

Definição 1.7. Dada uma função não decrescente h : [α, β] → R, diremos que uma

função G : Ω → X pertence à classe F(Ω,
e h), se a integral α DG(x(τ ), s) existir para
qualquer x ∈ G([α, β], O), e se tivermos
s2
Z

≤ |h(s2 ) − h(s1 )|
DG(z(τ ), s) (1.7)


s1

e Z s2



D[G(z(τ ), s) − G(w(τ ), s)]
≤ kz − wk∞ |h(s2 ) − h(s1 )| (1.8)
s1

para quaisquer z, w ∈ G([α, β], O) e s1 , s2 ∈ [α, β].

Note que, pela Proposição 1.5, se (1.3) for verificada, então a existência das integrais
em (1.7) e (1.8) estará garantida.
O resultado a seguir garante que F(Ω, h) ⊂ F(Ω,
e h).
6 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Proposição 1.8. Suponha que G ∈ F(Ω, h). Então para quaisquer z, w ∈ G([α, β], O)
e quaisquer s1 , s2 ∈ [α, β], valem (1.7) e (1.8), ou seja, G ∈ Fe(Ω, h).

Demonstração: Suponha que G ∈ F(Ω, h).


Sejam z, w ∈ G([α, β], O) funções dadas e s1 , s2 ∈ [α, β] com s1 < s2 . Pela
Rβ Rβ
Proposição 1.5, as integrais α DG(z(τ ), s) e α DG(w(τ ), s) existem e, pela Proposição
1.3 obtemos (1.7). Assim, resta mostrar que (1.8) também vale.
Pela propriedade de integrabilidade em subintervalos, dado  > 0, existe um calibre
δ em [s1 , s2 ] tal que, para toda divisão marcada δ-fina d = (τi , [ti−1 , ti ]) de [s1 , s2 ], valem
as desigualdades

Z s2 k(d)
X

DG(z(τ ), t) − [G(z(τ i ), ti ) − G(z(τ i ), ti−1 )] <

s1 i=1

e
Z s2 k(d)
X

DG(w(τ ), t) − [G(w(τi ), ti ) − G(w(τi ), ti−1 )]
< .
s1 i=1

Assim,
Z s2


[DG(z(τ ), t) − DG(w(τ ), t)]

s1
Z s2 k(d)
X

DG(z(τ ), t) − [G(z(τi ), ti ) − G(z(τi ), ti−1 )]
s1 i=1

Z s2 k(d)
X
+
DG(w(τ ), t) − [G(w(τ i ), ti ) − G(w(τ i ), ti−1 )]

s
1 i=1
k(d)
X
+ kG(z(τi ), ti ) − G(z(τi ), ti−1 ) − G(w(τi ), ti ) + G(w(τi ), ti−1 )k
i=1
k(d)
X
< 2 + kz(τi ) − w(τi )k[h(ti ) − h(ti−1 )] ≤ 2 + kz − wk∞ [h(s2 ) − h(s1 )].
i=1

Daı́, pela arbitrariedade de  > 0, obtemos


s2
Z


[DG(z(τ ), t) − DG(w(τ ), t)]
≤ kz − wk∞ [h(s2 ) − h(s1 )]
s1

o que completa a demonstração. 


1.1 Teoria fundamental de EDOGs 7

O resultado a seguir garante a existência local e unicidade de uma solução da


equação (1.1) para G na classe F(Ω,
e h), com h não decrescente e contı́nua à esquerda.

Teorema 1.9. Suponha que G : Ω → X satisfaça (1.3) e pertença à classe F(Ω, e h),
onde a função h é não decrescente e contı́nua à esquerda. Se dado (e x, t0 ) ∈ Ω tal que
para xe+ = xe + G(e x, t0 +) − G(e x+ , t0 ) ∈ Ω, então existirão ∆ > 0 e
x, t0 ), tivermos (e
uma única solução x : [t0 , t0 + ∆] → X da equação diferencial ordinária generalizada
(1.1) tal que x(t0 ) = xe.

Demonstração: Esta demonstração faz uso das principais ideias da demonstração


do Teorema 2.15 de [12].
Primeiramente, consideramos t0 como um ponto de continuidade da função h, ou
seja, h(t0 +) = h(t0 ). Suponha que ∆ > 0 seja tal que [t0 , t0 + ∆] ⊂ [α, β] e h(t0 + ∆) −
h(t0 ) < 12 e também que kx − x
ek ≤ h(t0 + ∆) − h(t0 ) implique x ∈ O.
Seja Q o conjunto das funções z : [t0 , t0 + ∆] → X tais que z ∈ G([t0 , t0 + ∆], X) e
kz(t) − xek ≤ h(t) − h(t0 ) para t ∈ [t0 , t0 + ∆]. Então o conjunto Q ⊂ G([t0 , t0 + ∆], X)
é fechado.
Para cada z ∈ Q, definimos
Z s
T z(s) = x
e+ DG(z(τ ), t), s ∈ [t0 , t0 + ∆].
t0

R t +∆
Como G pertence à classe Fe(Ω, h) e, portanto, a integral t00 DG(x(τ ), t) existe
para todo x ∈ G([t0 , t0 + ∆], X) o operador T está bem definido. Note que, o fato de
G ∈ F(Ω,
e h), implica que
Z s

kT z(s) − x
ek =
DG(z(τ ), t) ≤ h(s) − h(t0 ),
s ∈ [t0 , t0 + ∆]
t0

Logo T aplica elementos de Q em Q.


Sejam z, w ∈ Q dados. Então, usando (1.8), para todo s ∈ [t0 , t0 + ∆], temos
Z s

kT z(s) − T w(s)]k =
D[G(z(τ ), t) − G(w(τ ), t)]
≤ kz − wk∞ [h(s) − h(t0 )].
t0

Portanto
1
kT z − T wk∞ ≤ kz − wk∞ [h(t0 + ∆) − h(t0 )] < kz − wk∞
2
e, assim, T é uma contração. O resultado segue, então, pelo Teorema do Ponto Fixo
de Banach.
8 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Consideremos, agora, o caso em que t0 não é um ponto de continuidade de h.


Defina eh(t) = h(t) para t ≤ t0 e e h(t) = h(t) − h(t0 +) para t > t0 . Então a função
h é contı́nua em t0 e não decrescente. Definindo G(x,
e e t) = G(x, t) para t ≤ t0 e
e t) = G(x, t) − [G(e
G(x, x, t0 +) − G(e e ∈ F(Ω,
x, t0 )] para t > t0 , é fácil ver que G e h)
e
dz
e, como no caso anterior, existe uma solução z de dτ = DG(z, e t) com z(t0 ) = x
e+ .
Finalmente, definindo x(t0 ) = x e e x(t) = z(t) para t > t0 , temos uma solução de (1.1)
tal que x(t0 ) = x
e e a demonstração está completa. 

1.2 EDOGs autônomas


Introduziremos, nesta seção, o conceito de EDOGs autônomas e apresentaremos
alguns resultados básicos.

Definição 1.10. Uma equação diferencial ordinária generalizada autônoma é uma e-


quação da forma
dx
= D[G(x, t)], (1.9)

onde G : Ω → X, Ω = O × [α, β], é dada por

G(x, t) = F (x)t

com F : O → X e t ∈ [α, β], onde O ⊂ X é um aberto.

Neste momento, o leitor pode achar estranho o nome “autônoma” para uma equação
do tipo
dx
= D[F (x)t], (1.10)

com este t “aparecendo” no lado direito da equação. Entretanto, lembramos o leitor
que uma solução de (1.10) é qualquer função x : [α, β] → X tal que x(t) ∈ O para todo
t ∈ [α, β] e vale
Z v Z v
x(v) − x(γ) = D[F (x(τ ))t] = F (x(t))dt (1.11)
γ γ

para quaisquer γ, v ∈ [α, β], onde a última integral é exatamente a integral de Perron
de F : O → X. Assim, a forma integral
Z t
x(t) = x(α) + F (x(s))ds, t ∈ [α, β], (1.12)
α
1.2 EDOGs autônomas 9

correspondente a (1.10) torna claro porque o nome “autônoma” de fato faz sentido.
É importante observar que o processo definido pela solução da equação (1.10) será
um processo autônomo, ou semigrupo e, portanto, o nome autônoma faz sentido para
a equação (1.10). Este fato será mostrado na Seção 1.3.
Note que, se G ∈ F(Ω,
e h), com G(x, t) = F (x)t, então valem as seguintes condições
Z β
(i) Para qualquer x ∈ G([α, β], O), a integral de Perron F (x(s))ds existe;
α

(ii) Para quaisquer z ∈ G([α, β], O) e s1 , s2 ∈ [α, β],


s2
Z

< |h(s2 ) − h(s1 )|;
F (z(s))ds


s1

(iii) Para quaisquer z, w ∈ G([α, β], O) e s1 , s2 ∈ [α, β],


s2
Z


< kz − wk|h(s2 ) − h(s1 )|.
[F (z(s)) − F (w(s))]ds
s1

O teorema que segue é um caso particular do Teorema 1.9 sobre existência-unicidade,


agora particularizando para EDOGs autônomas.

x, t0 ) ∈ Ω, existem ∆ > 0
Teorema 1.11. Nas condições (i), (ii) e (iii) acima, dado (e
e uma única solução x : [t0 , t0 + ∆] → X da EDOG autônoma (1.10) tal que x(t0 ) = x
e.

Ainda sob as condições (i), (ii) e (iii), podemos demonstrar alguns resultados sobre
dependência contı́nua de soluções de EDOGs autônomas, com respeito a parâmetros.
Os três resultados a seguir são adaptações de resultados de [5] para o contexto de
EDOGs autônomas.
Lembramos o leitor que O denota um aberto do espaço de Banach X.
Diremos que uma sequência de funções Fk : O → X converge para uma função
F0 : O → X em F(Ω,
e h), quando tivermos

β
Z
k→+∞

[Fk (x(s)) − F0 (x(s))]ds
−→ 0,
α

para cada x ∈ G([α, β], O).

Lema 1.12. Suponha que, para cada k = 0, 1, . . ., a função Fk : O → X satisfaça


k→∞
as condições (i), (ii) e (iii). Suponha, também, que Fk −→ F0 , e que, para cada
10 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

k = 1, 2, . . ., ψk ∈ G([α, β], O). Suponha, ainda, que ψ0 : [α, β] → X seja tal que
ψ0 (s) ∈ O, para todo s ∈ [α, β], com

k→+∞
kψk − ψ0 k∞ −→ 0.

Então
β
Z
k→+∞

[Fk (ψk (s)) − F0 (ψ0 (s))]ds
−→ 0. (1.13)
α

Demonstração: Seguiremos, aqui, a ideia da demonstração do Lema A.1 de [5].


Note que ψ0 ∈ G([α, β], X), pois ψ0 é, por hipótese, o limite uniforme de funções

regradas em [α, β]. Então, pela condição (ii), as integrais α Fk (ψk (s))ds, k = 0, 1, 2, . . . ,
existem.
Seja ε > 0 dado. Então a função regrada ψ0 ∈ G([α, β], X) pode ser uniformemente
aproximada por uma função escada (veja [19], Teorema I.3.1), isto é, existe uma função
escada y : [α, β] → X, tal que

ky − ψ0 k∞ = sup ky(t) − ψ0 (t)k < ε.


α≤t≤β

k→+∞
Como kψk − ψ0 k∞ −→ 0, existe um inteiro positivo N0 tal que

kψk − ψ0 k∞ < ε,

para todo k > N0 .


Também vale
Z β Z β



[F k (ψ k (s)) − F 0 (ψ0 (s))]ds ≤
[Fk (ψk (s)) − Fk (ψ0 (s))]ds

α α

β
Z Z β

+
[Fk (ψ0 (s)) − Fk (y(s))]ds +
[Fk (y(s)) − F0 (y(s))]ds
+
α α
Z β

+ [F0 (y(s)) − F0 (ψ0 (s))]ds
. (1.14)
α

Considerando k > N0 e usando a condição (iii) na primeira integral ao lado direito


da desigualdade (1.14), obtemos

β
Z


[Fk (ψk (s)) − Fk (ψ0 (s))]ds
≤ kψk − ψ0 k∞ [h(β) − h(α)] ≤ ε[h(β) − h(α)].
α
1.2 EDOGs autônomas 11

Analogamente, tomando k > N0 e considerando o segundo e quarto termos ao lado


direito de (1.14), temos as desigualdades

β
Z


[Fk (ψ0 (s)) − Fk (y(s))]ds
< ε[h(β) − h(α)]
α

e
β
Z


[F0 (y(s)) − F0 (ψ0 (s))]ds
< ε[h(β) − h(α)].
α

Assim, para k > N0 , obtemos


β
Z


[Fk (ψk (s)) − F0 (ψ0 (s))]ds
<
α

β
Z

< 3ε[h(β) − h(α)] +
[Fk (y(s)) − F0 (y(s))]ds
.
α
Z β
Consideremos, então, a integral [Fk (y(s)) − F0 (y(s))]ds.
α
Como y : [α, β] → X é uma função escada, então y é regrada. Por hipótese,
k→∞
Fk −→ F0 . Logo, Z β
k→∞

[Fk (y(s)) − F 0 (y(s))]ds −→ 0,

α

o que conclui a demonstração. 

A seguir usaremos BV ([α, β], O) para denotar o subconjunto de BV ([α, β], X) das
funções de variação limitada de [α, β] em X que assumem valores em O ⊂ X, onde O
é um aberto de X.

Corolário 1.13. Suponha que, para cada k = 0, 1, . . ., a função Fk : O → X satisfaça


k→+∞
as condições (i), (ii) e (iii) e Fk −→ F0 . Para cada k = 1, 2, . . ., sejam ψk ∈
BV ([α, β], O). Suponha, também, que ψ0 : [α, β] → X seja tal que ψ0 (s) ∈ O para
k→+∞
todo s ∈ [α, β] e que kψk − ψ0 kBV −→ 0. Então

β
Z
k→+∞

−→ 0.
[Fk (ψk (s)) − F0 (ψ0 (s))]ds
α

Demonstração: Esta demonstração segue as ideias da demonstração do Corolário


A.2 de [5].
Sabe-se que BV ([α, β], O) ⊂ G([α, β], O) e que BV ([α, β], X) munido da norma da
variação é completo (veja [19]).
12 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Além disso, para todo t ∈ [α, β], temos

kψk (t) − ψ0 (t)k ≤ kψk (α) − ψ0 (α)k + kψk (t) − ψ0 (t) − (ψk (α) − ψ0 (α))k
≤ kψk (α) − ψ0 (α)k + varαt (ψk − ψ0 )
≤ kψk (α) − ψ0 (α)k + varαβ (ψk − ψ0 ) = kψk − ψ0 kBV ,

onde varαt f denota a variação de uma função f no intervalo [α, t]. Assim kψk −
k→+∞
ψ0 k∞ −→ 0 e o resultado segue pelo Lema 1.12. 

Por fim, enunciamos um resultado sobre dependência contı́nua de soluções de EDOGs


autônomas com relação às condições iniciais. Sua demonstração será omitida, pois é
similar à demonstração da Proposição A.3 de [5].
Proposição 1.14. Suponha que, para cada k = 0, 1, . . ., a função Fk : O → X satisfaça
k→∞
as condições (i), (ii), (iii) e Fk −→ F0 . Para cada k = 1, 2, . . ., seja xk : [α, β] → O
uma solução da EDOG autônoma

dx
= D[Fk (x)t],

em [α, β] e suponha que

lim xk (s) = x0 (s), s ∈ [α, β], (1.15)


k→+∞

e x0 (s) ∈ O, para todo s ∈ [α, β]. Então x0 : [α, β] → O satisfaz:

• kx0 (s2 ) − x0 (s1 )k ≤ |h(s2 ) − h(s1 )|, para quaisquer s1 , s2 ∈ [α, β];

• lim xk (s) = x0 (s) uniformemente em [α, β];


k→+∞

dx
• x0 é uma solução da EDOG autônoma = D[F0 (x)t] em [α, β].

1.3 Bacia de atração para EDOGs autônomas


Nesta seção, apresentaremos um conceito de bacia de atração para EDOGs autôno-
mas. Demonstraremos alguns resultados interessantes para estas equações, tais como
o fato da bacia de atração ser não vazia e aberta e também mostraremos um resultado
sobre estabilidade de pontos de equilı́brio através de funcionais de Lyapunov.
Sejam X um espaço de Banach, O ⊂ X um conjunto aberto arbitrário e F : O → X
uma aplicação qualquer.
1.3 Bacia de atração para EDOGs autônomas 13

Considere a EDOG autônoma

dx
= D[F (x)t], t ∈ [α, β]. (1.16)

Então, como visto na Seção 1.1, uma solução de (1.16) é qualquer função x : [α, β] → O
tal que Z v Z v
x(v) − x(γ) = D[F (x(τ ))t] = F (x(t))dt (1.17)
γ γ

para quaisquer γ, v ∈ [α, β], onde a última integral deve ser entendida no sentido da
integral de Perron.
A partir daqui, vamos lidar com uma classe de problemas de valor inicial para
EDOGs autônomas da forma

 dx = D[F (x)t]

dτ (1.18)
x(α) = x̃,

que admitem uma única solução x : [α, β] → O, com F : O → X. De fato, como visto
na Seção 1.3, temos a existência local e unicidade de uma solução sob determinadas
condições, a saber, as condições (i), (ii) e (iii).
Denotamos por I(x̃) o intervalo maximal de existência de solução do problema
(1.18). Diremos que a solução definida neste intervalo maximal de existência é a solução
maximal do problema (1.18) e, de agora em diante, diremos que esta é a trajetória de
F através de x̃.
Dado x̃ ∈ O, seja t ∈ I(x̃) arbitrário. Diremos que o fluxo no tempo t associado a
F : O → X em O é a aplicação φt : O → X que, a cada x̃ ∈ O, associa φt (x̃) = x(t),
onde x : I(x̃) → O é a trajetória de F através de x(t) = x̃. Isto quer dizer que,
para cada t variando em I(x̃), o fluxo determina a posição da solução com respeito à
condição inicial x̃ no tempo t.
Para cada par (t, x̃) tal que t ∈ I(x̃) e x̃ ∈ O, definimos φ(t, x̃) = x(t), onde
x : I(x̃) → O é a trajetória de F através de x̃ e, então, obtemos uma aplicação

φ : Ω → X,

chamado fluxo de F em O. Aqui, o domı́nio Ω do fluxo é o conjunto de todos os pares


(t, x̃) ∈ I(x̃) × O.
A partir de agora, vamos considerar que o intervalo maximal de solução do problema
(1.18) seja I(x̃) = [0, +∞).
14 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Uma função x̃ ∈ O será dita um ponto de equilı́brio ou singularidade de F : O → X,


se
F (x̃) = 0.

Note que um ponto de equilı́brio x̃ de F é tal que φ(t, x̃) = x̃, para cada t ∈ I(x̃), ou
seja, um ponto de equilı́brio de F é um ponto fixo de seu fluxo associado.
Seja x̃ um ponto de equilı́brio de uma aplicação F : O → X, com O ⊂ X sendo um
aberto. Diremos que x̃ é um ponto de equilı́brio estável de F , se para toda vizinhança
(não necessariamente aberta) U ⊂ X de x̃, existir uma vizinhança (não necessariamente
aberta) W ⊂ X de x̃ tal que W ⊂ O ∩ U e

φt (y) ∈ U,

para todo y ∈ W e t > 0.


A definição acima implica que um ponto de equilı́brio x̃ de F é estável, se para todo
 > 0, pudermos encontrar um δ > 0 tal que kφt (y) − x̃k ≤  para cada t > 0 e cada
y ∈ O ⊂ X, com ky − x̃k ≤ δ. Um ponto de equilı́brio de F será dito instável, se não
for estável.
Um ponto de equilı́brio x̃ de F : O → X será dito assintoticamente estável, se for
estável e tivermos
lim φt (y) = x̃,
t→+∞

para qualquer y ∈ W , onde W ⊂ X é a vizinhança da definição de ponto de equilı́brio


estável.
Dado um ponto de equilı́brio assintoticamente estável x̃ de F , diremos que o con-
junto B(x̃) = BF (x̃) dos pontos de O tais que as trajetórias por estes pontos tendem
ao ponto de equilı́brio é a bacia de atração de x̃. Em outras palavras, y ∈ O pertencerá
à bacia de atração B(x̃) de x̃ se, e somente se, tivermos

lim φt (y) = x̃.


t→+∞

Seja F : O → X uma aplicação. Diremos que um conjunto C ⊂ O é positivamente


invariante com respeito ao fluxo φ de F , se φt (C) ⊂ C, para qualquer t ≥ 0.

Proposição 1.15. Seja x̃ um ponto de equilı́brio assintoticamente estável de F . Então


a bacia de atração B(x̃) definida acima é não vazia, aberta e positivamente invariante
com respeito ao fluxo φ de F .
1.3 Bacia de atração para EDOGs autônomas 15

Demonstração: Como x̃ é um ponto de equilı́brio assintoticamente estável de F ,


então x̃ é um ponto fixo do fluxo φ de F . Assim φt (x̃) = x̃ para qualquer t ∈ [0, +∞)
e, então,
lim φt (x̃) = x̃.
t→+∞

Logo x̃ ∈ B(x̃), o que garante que a bacia de atração B(x̃) é não vazia.
Para facilitar nosso entendimento, vamos denotar por x(t, x̃), a solução x no ponto
t, com condição inicial x̃. Assim x(0, x̃) denota a solução x no ponto 0, com condição
inicial x̃, que é precisamente x̃.
Observemos que, como x é solução do problema (1.18), então x(t + s, x̃) é solução
de (1.16), com condição inicial x(0) = x̃. Além disso, x(t, x(s, x̃)) é solução de (1.16),
com condição inicial x(0) = x(s, x̃). Pela existência e unicidade de soluções e do fato
que, em t = 0, temos

x(0 + s, x̃) = x(s, x̃) = x(0, x(s, x̃)),

então
x(t + s, x̃) = x(t, x(s, x̃))

para quaisquer t, s ∈ [0, +∞). Esta propriedade é conhecida como a propriedade de


grupo da solução. Assim,
φt+s (x) = φt (φs (x)),

para quaisquer t, s ∈ [0, +∞) e qualquer x ∈ O, e então

φt+s = φt ◦ φs .

Agora, vamos usar a propriedade de grupo para mostrar a invariância da bacia de


atração B(x̃). Seja y ∈ B(x̃). Então, por definição, limt→+∞ φt (y) = x̃. Queremos
mostrar que, dado t ∈ [0, +∞), temos

φt (y) ∈ B(x̃).

Mas note que


lim φs (φt (y)) = lim φs+t (y) = x̃,
s→+∞ s→+∞

onde a primeira igualdade vale pela propriedade de grupo e a última igualdade vale
já que t ∈ [0, +∞) é dado e, então, t + s → +∞, quando s → +∞. Isto mostra a
invariância positiva da bacia de atração sob a ação do fluxo.
16 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

Finalmente, vamos mostrar que B(x̃) é um conjunto aberto. Note que as soluções
do problema (1.18) são contı́nuas já que a solução da EDOG autônoma deve ser vista
como solução da equação integral (1.17), e como pode ser visto em [25], Teoremas
1.14 e 1.16, temos a continuidade da integral em (1.17), e portanto, a continuidade da
solução. Assim, o fluxo φ e o fluxo no tempo φt também são contı́nuos.
Considere z ∈ B(x̃). Afirmamos que existe uma vizinhança de z tal que todo ponto
nesta vizinhança também tende a x̃. De fato, seja uma vizinhança W0 de x̃ tal que
lims→+∞ φs (y) = x̃, para cada y ∈ W0 . Note que a existência da vizinhança W0 está
assegurada, pois x̃ é um ponto de equilı́brio assintoticamente estável. Como z ∈ B(x̃),
então y = φt0 (z) ∈ W0 para algum t0 suficientemente grande e, como φt0 (z) é contı́nuo
em z, existe uma vizinhança W de z tal que φt0 (W ) ⊂ W0 .
Então, dado w ∈ W , temos

lim φt (w) = lim φs (φt0 (w)) = x̃,


t→+∞ s→+∞

pois φt0 (w) ∈ W0 e s = t − t0 → +∞, quando t → +∞. Isto significa que todo w
na vizinhança W de z tende a x̃ em tempo infinito e, assim, a bacia de atração é um
conjunto aberto. 

A seguir, definimos um conceito de funcional de Lyapunov para EDOGs autônomas.

Definição 1.16. Seja x um ponto de equilı́brio de F : O → X. Diremos que uma


função contı́nua V : W → R, com W ⊂ X uma vizinhança de x ∈ O, é um funcional
de Lyapunov em x com respeito a EDOG (1.16), se as seguintes condições forem sa-
tisfeitas:

• V (x) = 0 e existe uma função b : R+ → R+ , contı́nua e crescente, tal que


V (y) ≥ b(kyk), para todo y ∈ W \ {x};

• Para cada solução x : [γ, ν] → X de (1.16), onde [γ, ν] ⊂ [0, +∞), vale

V (x(t + η)) − V (x(t))


V̇ (x(t)) = lim sup ≤ 0,
η→0+ η

o que significa que a derivada à direita de V ao longo de qualquer solução de


(1.16) é não positiva.

O próximo teorema afirma que, se pudermos encontrar um funcional de Lyapunov


em relação à equação (1.16) para um ponto de equilı́brio de F , então este ponto será
um ponto de equilı́brio estável de F .
1.3 Bacia de atração para EDOGs autônomas 17

Teorema 1.17. (Teorema de Lyapunov para EDOGs autônomas) Seja x um


ponto de equilı́brio de F : O → X. Se existir um funcional de Lyapunov com relação
à equação (1.16), então x será um ponto de equilı́brio estável de F .

Demonstração: Seja V : W → R um funcional de Lyapunov em um ponto de


equilı́brio x de F , onde W ⊂ X é uma vizinhança de x ∈ O. Seja U uma vizinhança
qualquer de x em X. Queremos mostrar que existe uma vizinhança W0 de x tal que
W0 ⊂ U e φt (y) ∈ U , para quaisquer y ∈ W0 e t > 0. De fato, escolhemos δ > 0 tal
que B(x, δ) ⊂ U ∩ W , onde B(v, r) = {u ∈ O; ku − vk < δ}.
Note que
α= inf V (y) > 0,
ky−xk=δ

já que δ > 0 está fixado e V (y) > 0, para qualquer y ∈ W \ {x}.
Como o funcional V é contı́nuo, então o conjunto W0 = {y ∈ B(x, δ); V (y) < α} é
aberto e, como V (x) = 0, W0 é uma vizinhança de x e W0 ⊂ B(x, δ) ⊂ U ∩ W . Assim
só nos resta mostrar que φt (y) ∈ U , quaisquer que sejam y ∈ W0 e t > 0.
Dado y ∈ W0 , suponha que φt (y) ∈ / U , para algum t > 0. Então φt (y) ∈
/ B(x, δ) e,
como y ∈ W0 ⊂ B(x, δ) ⊂ U ∩ W , em algum tempo 0 < t∗ ≤ t, a trajetória através de
y encontra B(x, δ), ou seja, kφt∗ − xk = δ. Logo

V (φ0 (y)) = V (y) < α ≤ V (φt∗ (y)),

o que contradiz a hipótese de que V não cresce ao longo das trajetórias de F . Isto
mostra que φt (y) ∈ U , para quaisquer y ∈ W0 e t > 0, o que implica que x é um ponto
de equilı́brio estável. 

O próximo teorema é o mais importante desta seção, já que ele relaciona funcionais
de Lyapunov com o conceito de bacia de atração, mostrando, sob certas condições,
que um ponto de equilı́brio x de F será assintoticamente estável e que um conjunto
compacto e positivamente invariante pelo fluxo de F : O → X estará contido na bacia
de atração de x.

Teorema 1.18. Seja x ∈ O um ponto de equilı́brio de F : O → X no conjunto aberto


O ⊂ X e seja C ⊂ O um conjunto compacto que é positivamente invariante pelo fluxo
de F . Seja V : W → R um funcional de Lyapunov em relação à equação (1.16), onde
W vem da definição de funcional de Lyapunov, tal que C ⊂ W e, para cada y 6= x
em C, existe um t > 0 tal que V (φt (y)) < V (y), o que significa que não existe uma
18 Capı́tulo 1 — Equações Diferenciais Ordinárias Generalizadas Autônomas

semi órbita regular positiva de F na qual V é constante. Então x será assintoticamente


estável e teremos C ⊂ B(x).

Demonstração: Pelo Teorema 1.17, x é um ponto de equilı́brio estável de F . Então


é suficiente mostrarmos que φt (y) → x para cada y ∈ C.
Suponha que limt→+∞ φt (y) 6= x para algum y ∈ C, isto é, existem y ∈ C,  > 0
e uma sequência de tempos tn → +∞ tais que kφtn (y) − xk ≥ , para cada n ∈ N.
Como C é positivamente invariante, φtn (y) ∈ C, para todo n. Como C é compacto e
como toda sequência em um compacto possui uma subsequência convergente, podemos
supor, sem perda de generalidade, que φtn (y) → a, para algum a ∈ C \ {x}.
Por hipótese, V não é constante ao longo da trajetória positiva φt (a). Assim, existe
t > 0 tal que V (φt (a)) < V (a). Tomemos α ∈ R tal que V (φt (a)) < α < V (a). Como
o fluxo φt (z) é contı́nuo como função de z, com t fixo, e pela continuidade de V , existe
uma vizinhança Wa de a em W tal que

V (φt (z)) < α < V (z),

para qualquer z ∈ Wa . Em particular, nenhum ponto de Wa pode retornar para Wa


pelo fluxo de F , pois, uma vez deixado Wa e, após um tempo t, o valor de V nesta
trajetória é sempre menor do que α.
Como φtn (y) → a, existe tn0 tal que φtn0 (y) ∈ Wa . Mas mostramos que φtn (y) não
pode retornar para Wa com tn > tn0 + t, o que contradiz o fato que φtn (y) → a quando
n → +∞. 
Capı́tulo

2
Aplicações às EDOs autônomas

Neste capı́tulo, aplicamos os resultados obtidos no Capı́tulo 1 a uma classe de EDOs


autônomas. Antes disso, faremos algumas observações sobre a relação entre EDOGs
autônomas e EDOs autônomas.

2.1 EDOGs autônomas x EDOs autônomas


Nesta seção, vamos mostrar uma nova abordagem para EDOs autônomas via EDOGs
autônomas.
Relembramos ao leitor como uma EDOG se relaciona de maneira simples com uma
EDO. Sabe-se que a EDO

dx
= f (x, t) , t ∈ [t0 , T ] (2.1)
dt

tem forma integral dada por


Z t
x(t) = x(t0 ) + f (x(τ ), τ )dτ, t ∈ [t0 , T ], (2.2)
t0

19
20 Capı́tulo 2 — Aplicações às EDOs autônomas

quando a integral existir em algum sentido. Sabe-se, também, que quando a integral
em (2.2) existir no sentido de Riemann, Lebesgue (=McShane) ou Henstock-Kurzweil,
então ela poderá ser aproximada por uma soma riemanniana da forma
m
X
f (x(τi ), τi )[si − si−1 ].
i=1

Rs
Alternativamente, se definirmos F (z, s) = s0
f (z, σ)dσ, então a integral em (2.2)
poderá ser aproximada por
m Z
X si m
X
f (x(τi ), σ)dσ = [F (x(τi ), si ) − F (x(τi ), si−1 )] , (2.3)
i=1 si−1 i=1

onde t0 = s0 ≤ s1 ≤ . . . ≤ sm = t é uma partição finita do intervalo [t0 , t] e, para cada


i, τi está suficientemente “próximo” de [si−1 , si ]. Neste caso, o lado direito de (2.3)
aproxima a integral de Kurzweil que, por sua vez, origina uma “equação diferencial”
em um sentido mais amplo quando substituı́do em (2.2). Tal equação é conhecida como
equação diferencial ordinária generalizada, a qual estamos nos referindo simplesmente
como EDOG. Assim, uma relação biunı́voca entre EDOs e EDOGs pode ser obtida.
A partir de agora, vamos descrever o contexto em que podemos relacionar uma
EDO autônoma e uma EDOG autônoma.
Escreveremos x ∈ G− ([a, b], X), sempre que x ∈ G([a, b], X) e x for uma função con-
tı́nua à esquerda. Relembramos ao leitor que G([a, b], X) denota o espaço das funções
de [a, b] em X que são regradas. Este espaço, munido com a norma usual do supremo,
é um espaço de Banach.
Sejam t0 , σ ∈ R com σ > 0. Considere o seguinte problema de valor inicial para
uma EDO autônoma
 dy = f (y), t ≥ t ,

0
dt (2.4)
y(t0 ) = y0 ,

onde y0 ∈ O, y : [t0 , t0 + σ] → O e f : O → X, onde O ⊂ X é um aberto.


A forma integral correspondente a (2.4) é dada por
Z t
y(t) = y0 + f (y(s))ds, t ∈ [t0 , t0 + σ], (2.5)
t0

onde vamos assumir integração no sentido de Perron. Então y ∈ C([t0 , t0 + σ], X),
onde C([t0 , t0 + σ], X) denota o espaço de Banach das funções contı́nuas de [t0 , t0 + σ]
2.1 EDOGs autônomas x EDOs autônomas 21

em X com a norma do supremo. Denotaremos por C([t0 , t0 + σ], O) o subconjunto


de C([t0 , t0 + σ], X) das funções contı́nuas que assumem valores em O ⊂ X, com O
aberto.
A seguir, definimos solução do problema (2.4).

Definição 2.1. Considere o problema (2.4), onde f : O → X, e para todo y ∈


C([t0 , t0 + σ], O), a aplicação t 7→ f (y(t)) é Perron integrável em [t0 , t0 + σ]. Se
existir uma função y ∈ C([t0 , t0 + σ], O) tal que valem as seguintes condições

• ẏ (t) = f (y(t)), para quase todo t ∈ [t0 , t0 + σ];

• y(t0 ) = y0 ,

então diremos que y é uma solução de (2.4) em [t0 , t0 +σ], com condição inicial (y0 , t0 ).

Consideremos o problema (2.4), onde y0 ∈ O, f aplica O em X e, para todo


y ∈ C([t0 , t0 + σ], O), a aplicação t 7→ f (y(t)) é uma função Perron integrável em
[t0 , t0 + σ]. Suponha que as seguintes condições estejam satisfeitas:

(M) Existe uma função Lebesgue integrável M : [t0 , t0 +σ] → R tal que, para qualquer
z ∈ C([t0 , t0 + σ], O) e quaisquer s1 , s2 ∈ [t0 , t0 + σ],
s2 s2
Z Z


f (z(s))ds M (s) ds;


s1 s1

(L) Existe uma função Lebesgue integrável L : [t0 , t0 +σ] → R tal que, para quaisquer
z, w ∈ C([t0 , t0 + σ], O) e quaisquer s1 , s2 ∈ [t0 , t0 + σ],

s2 s2
Z Z


[f (z(s)) − f (w(s))] ds
≤ kz − wk∞ L (s) ds.
s1 s1

Agora, para cada z ∈ O e cada t ∈ [t0 , t0 + σ], seja G : O × [t0 , t0 + σ] → Rn definida


por
G(z, t) = f (z)t. (2.6)

Seja F : O → X definida por F (z) = f (z), ou seja, F = f . Então G(z, t) = F (z)t.


Considere o problema de valor inicial para a EDOG autônoma

 dx = DG (x, t) = D[F (x)t],



dτ (2.7)
x(t0 ) = y0 ,

22 Capı́tulo 2 — Aplicações às EDOs autônomas

onde F = f . Então uma função x definida no intervalo [t0 , t0 + σ] e tomando valores


em O será uma solução do problema (2.7) no intervalo [t0 , t0 + σ], se
Z t
x(t) = y0 + F (x(s))ds, t ∈ [t0 , t0 + σ]. (2.8)
t0

Note que as equações (2.5) e (2.8) coincidem, ou seja, uma solução y da EDO
autônoma (2.4) pode ser escrita como uma solução x da EDOG autônoma (2.7), isto
é, y ≡ x em [t0 , t0 + σ].
Note, também, que nas condições (M) e (L) consideradas há pouco, temos G ∈
F(Ω,
e h) com Ω = O × [t0 , t0 + σ] e h : [t0 , t0 + σ] → R dada por
Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]ds, t ∈ [t0 , t0 + σ]. (2.9)
t0

De fato, pois nas condições (M) e (L) temos


s2 s2
Z Z


F (z(s))ds M (s)ds ≤ |h(s2 ) − h(s1 )|


s1 s1

e
s2 s2
Z Z


[F (z(s)) − F (w(s))]ds ≤ kz − wk∞
L(s)ds ≤ kz − wk∞ |h(s2 ) − h(s1 )|
s1 s1

para quaisquer s1 , s2 ∈ [t0 , t0 + σ] e quaisquer z, w ∈ C([t0 , t0 + σ], O).


Assim, a partir do teorema de existência-unicidade para EDOGs autônomas (Teo-
rema 1.11), fica evidente o teorema seguinte.

Teorema 2.2. Considere a EDO autônoma (2.4) e suponha que as condições (M) e
(L) estejam satisfeitas. Então o problema (2.4) admite uma única solução (local).

Demonstração: Pelo que fizemos acima e pelo Teorema 1.11, temos a existência de
uma única solução para a EDOG autônoma (2.7) e, portanto, o mesmo se aplica para
o sistema (2.4), sob as condições (M) e (L). 
2.2 Dependência contı́nua de soluções com respeito às condições iniciais 23

2.2 Dependência contı́nua de soluções com respeito às


condições iniciais
Nesta seção, mostraremos um teorema sobre dependência contı́nua de soluções com
respeito às condições iniciais para EDOs autônomas. Esta é uma aplicação dos resul-
tados obtidos no capı́tulo anterior e pode ser encontrada em [15].
Sejam t0 , σ ∈ R, com σ > 0. Vamos considerar a seguinte sequência de problemas
de valor inicial para EDOs autônomas

 dy = f (y) ,

p t ∈ [t0 , t0 + σ],
dt (2.10)
y(t0 ) = y0p ,

onde, para cada p = 0, 1, 2, . . ., y0p ∈ O e fp aplica O em X.


Sabe-se que, para todo p = 0, 1, 2, . . ., o sistema (2.10) tem forma integral dada por
Z t
y(t) = y0p + fp (y(s)) ds, t ∈ [t0 , t0 + σ]. (2.11)
t0

Vamos assumir que, para cada p = 0, 1, . . ., a aplicação t 7→ fp (y(t)) seja Perron


integrável em [t0 , t0 + σ] para todo y ∈ C([t0 , t0 + σ], O) e que as funções fp satisfaçam
as condições (M) e (L) da seção anterior com as mesmas funções M e L, independente
de p.
Definimos, para cada p = 0, 1, . . . e para x ∈ O, as funções Fp (x) = fp (x). Pela
seção anterior, as funções Gp : O × [t0 , t0 + σ] → X, p = 0, 1, . . ., dadas por

Gp (x, t) = Fp (x)t (2.12)

pertencem à mesma classe F(Ω,


e h), onde Ω = O × [t0 , t0 + σ] e h : [t0 , t0 + σ] → R é
dada por Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]ds, t ∈ [t0 , t0 + σ].
t0

Então o problema (2.10) pode ser reescrito como uma EDOG autônoma

 dx = D[F (x)t],
p
dτ (2.13)
 x (t ) = y p .
p 0 0
24 Capı́tulo 2 — Aplicações às EDOs autônomas

Daı́, utilizando a Proposição 1.14, é fácil enunciar e demonstrar um teorema so-


bre dependência contı́nua de soluções, com respeito às condições iniciais, para EDOs
autônomas do tipo (2.10), como corolário do Teorema 4.1 de [12].

Teorema 2.3. Suponha que, para cada p = 0, 1, . . . , tenhamos y0p ∈ O e que, para
cada y ∈ C([t0 , t0 + σ], O), t 7→ fp (y(t)) seja Perron integrável em [t0 , t0 + σ]. Suponha,
também, que as funções fp satisfaçam as condições (M) e (L) da seção anterior para
as mesmas funções M e L para p = 0, 1, . . .. Suponha, ainda, que
Z ϑ

lim sup [fp (y(s)) − f0 (y(s))]ds = 0, y ∈ C([t0 , t0 + σ], X), (2.14)
p→∞ ϑ∈[t ,t +σ]
t0

0 0

e que, para cada p = 1, 2, . . . , yp : [t0 , t0 + σ] → O seja uma solução do problema (2.10)


em [t0 , t0 + σ], com
lim yp (s) = y(s) em [t0 , t0 + σ], (2.15)
p→∞

e y(s) ∈ O, para todo s ∈ [t0 , t0 + σ]. Então y : [t0 , t0 + σ] → O será uma solução do
problema 
 dy = f (y) , t ∈ [t , t + σ],
0 0 0
dt (2.16)
 y(t ) = y .
0 0

Demonstração: Por hipótese, para cada p = 1, 2, . . ., yp é uma solução em [t0 , t0 + σ]


de (2.10) que é equivalente a (2.13). Segue da Proposição 1.14 o fato de que

lim yp (s) = y(s), uniformemente em [t0 , t0 + σ], (2.17)


p→∞

e que y : [t0 , t0 + σ] → O é uma solução do problema

 dx = D[F (x)t],

0 t ∈ [t0 , t0 + σ],
dτ (2.18)
x(t0 ) = y0 ,

ou seja, a função y : [t0 , t0 + σ] → O é o limite uniforme das funções yp e y é uma


solução do problema (2.16), o que conclui a demonstração. 

Uma aplicação imediata do Teorema 2.3 é similar a que foi descrita na Introdução.
Seja g0 : [α, β] → Rn , uma função contı́nua que não é diferenciável em qualquer ponto
de seu domı́nio. Seja gk : [α, β] → Rn , k = 1, 2, . . ., uma sequência de funções em
C 1 ([α, β], Rn ), onde C 1 ([α, β], Rn ) denota o subconjunto de C([α, β], Rn ) das funções
que são continuamente diferenciáveis em todo ponto de [α, β]. Suponhamos que as
2.3 Bacia de atração para EDOs autônomas 25

funções gk satisfaçam as condições (M) e (L) da Seção 2.1, com as mesmas funções M
e L, para todo k = 1, 2, . . .. Assim gk ∈ F(Ω,
e h), k = 1, 2, . . ., com Ω = Rn × [α, β] e
h : [α, β] → R dada por
Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]ds, t ∈ [α, β].
α

Consideramos em F(Ω,
e h) a topologia métrica caracterizada pela convergência
Z β Z β
gk → g0 se gk (s)ds → g0 (s)ds, (2.19)
α α

Se gk0 for a derivada de gk para k = 1, 2, . . ., então a sequência {gk0 } é de Cauchy,


mas não possui um limite sendo o lado direito de uma EDO. A solução da equação
associada à gk0 é, a menos de uma constante, sua primitiva, gk , e assim a solução limite
g0 não é uma solução de uma EDO. Este problema não ocorre quando tratamos tais
equações vistas como EDOGs, já que, no caso de EDOGs, a equação é definida em
termos da forma integral via integral de Kurzweil.

2.3 Bacia de atração para EDOs autônomas


Considere o seguinte problema de valor inicial para uma EDO autônoma
(
ẏ (t) = f (y) , t ∈ [t0 , +∞)
(2.20)
y(t0 ) = y0 ,

onde y0 ∈ O, y : [t0 , +∞) → O e f aplica O em X.


Como visto na Seção 2.1, relacionamos EDOGs autônomas com EDOs autônomas
renomeando F = f . Assim, podemos definir todos os conceitos de bacia de atração
para EDOs da mesma forma que definimos tais conceitos para EDOGs. Os resultados
podem ser transferidos imediatamente para EDOs.

Proposição 2.4. Seja y um ponto de equilı́brio assintoticamente estável de f . A bacia


de atração, B(y), é não-vazia, aberta em O ⊂ X e invariante com respeito ao fluxo no
tempo φt de f .

Claramente, se x ∈ O ⊂ X for um ponto de equilı́brio estável para a EDOG (1.18),


com F = f , então x será ponto de equilı́brio estável para a EDO autônoma (2.20).
26 Capı́tulo 2 — Aplicações às EDOs autônomas

Considere também a EDO autônoma

dy
= f (y(t)), (2.21)
dt

onde f aplica O em X.

Definição 2.5. Seja y um ponto de equilı́brio de f . Diremos que uma função contı́nua
V : W → R, com W ⊂ X uma vizinhança de y, é um funcional de Lyapunov (com
respeito à EDO (2.21)) em y, se as seguintes condições forem satisfeitas:

• V (y) = 0, e existe uma função b : R+ → R+ , contı́nua e crescente, tal que


V (z) ≥ b(kzk), para cada z ∈ W \ {y}

• Para cada solução y : [t0 , +∞) → X de (2.21),

V (y(t + η)) − V (y(t))


V̇ (y) = lim sup ≤ 0,
η→0+ η

ou seja, a derivada à direita de V é não-positiva ao longo de toda solução de


(2.21).

Claramente, se V : W → R for um funcional de Lyapunov para o ponto de equilı́brio


y ∈ X, então V também será um funcional de Lyapunov para y, solução da EDOG

dx
= D[F (x)t].

A recı́proca também é verdadeira e imediata e vale o resultado seguinte.

Teorema 2.6. (Teorema de Lyapunov para EDOs autônomas) Seja y um


ponto de equilı́brio de f : M1 → X, onde M1 ⊂ X é um conjunto aberto. Se existir um
funcional de Lyapunov para f em y, então y será um ponto de equilı́brio estável de f .

Demonstração: Dado um funcional de Lyapunov para a EDO autônoma (2.21),


obtemos um funcional de Lyapunov para EDOG autônoma com F = f . Pelo Teorema
1.17 para o caso de uma EDOG autônoma, o ponto de equilı́brio x de F é estável e
pelas observações feitas acima, x é um ponto de equilı́brio estável de f . 

Também temos o resultado abaixo.

Teorema 2.7. Seja y ∈ M1 um ponto de equilı́brio de f no conjunto aberto M1 ⊂ X


e seja C ⊂ M1 um conjunto compacto que é positivamente invariante pelo fluxo de f .
2.3 Bacia de atração para EDOs autônomas 27

Seja V : W → R um funcional de Lyapunov em relação à equação (2.21), onde W


vem da definição de funcional de Lyapunov, tal que C ⊂ W e, para cada z 6= y em C,
existe t > 0 tal que V (φt (z)) < V (z), ou seja, não existe uma semi-órbita positiva de
f na qual V é constante. Então y será assintoticamente estável e C ⊂ B(y).

Demonstração: A demonstração deste teorema é simples, se observarmos novamente


que, dado um funcional de Lyapunov para a EDO autônoma (2.21), obtemos um fun-
cional de Lyapunov para EDOG autônoma com F = f e, portanto, a demonstração
segue como na demonstração do Teorema 1.18. 
Capı́tulo

3
Comportamento assintótico de EDFs
em medida via EDOGs

Neste capı́tulo, faremos uma breve apresentação de como é feita a relação entre
EDOGs e equações diferenciais funcionais em medida e apresentaremos novos resultados
de estabilidade para tais equações via EDOGs. Vamos definir equações diferenciais
funcionais em medida e apresentar alguns novos conceitos de estabilidade para tais
equações.
Em [10], os autores introduzem o conceito de equações diferenciais chamadas equa-
ções diferenciais funcionais em medida (escrevemos EDFs em medida) que podem ser
descritas pela seguinte equação:

Dx = f (xt , t)Dg, (3.1)

onde xt é dado pela fórmula xt (θ) = x(t+θ), θ ∈ [−r, 0], com r > 0, f : G([−r, 0], Rn )×
[t0 , +∞) → Rn , com t0 ≥ 0, Dx e Dg são as derivadas distribuicionais, com respeito a
x e g, no sentido das distribuições de L. Schwartz (veja [8]).
No caso em que g(t) = t, a equação (3.1) se reduz a uma equação diferencial
funcional com retardamento no sentido usual.

29
30 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

A forma integral equivalente a (3.1) é dada por


Z t
x(t) = x(t0 ) + f (xs , s) dg(s), t ∈ [t0 , +∞),
t0

onde vamos considerar a integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes tomada com respeito


à função g : [t0 , +∞) → R que consideraremos não decrescente.
Como estamos interessados em estabelecer uma teoria de estabilidade para a solução
trivial de (3.1), consideramos, daqui para frente, que f (0, t) = 0 para todo t ∈ [t0 , ∞)
o que garante que y ≡ 0 é uma solução de (3.1) em [t0 − r, ∞).
Antes de apresentarmos os novos e os já conhecidos conceitos de estabilidade para
a solução trivial de (3.1), vamos expor alguns fundamentos da teoria de integração de
Kurzweil-Henstock-Stieltjes.

3.1 Integração de Kurzweil-Henstock-Stieltjes


Vamos introduzir algumas propriedades básicas da integral de Kurzweil-Henstock-
Stieltjes. Lembramos que a definição desta integral foi mencionada no inı́cio do Capı́tulo

1, como caso particular da integral de Kurzweil α DU (τ, t), quando U : [a, b] × [a, b] →
X é dado por U (τ, t) = f (τ )g(t). Neste caso, temos a integral de Perron-Stieltjes,
também conhecida como integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes sobre [α, β] que deno-
Rb
taremos simplesmente por a f (t)dg(t).
A seguir, vamos enunciar dois resultados que tratam da existência da integral de
Rb
Kurzweil-Henstock-Stieltjes a f (t)dg(t).
Uma demonstração do próximo resultado pode ser encontrada em [25], Corolário
1.34; a desigualdade segue diretamente da definição da integral de Kurzweil-Henstock-
Stieltjes.
Denotaremos por | · | qualquer norma de Rn .
Teorema 3.1. Se f : [a, b] → Rn for uma função regrada e g : [a, b] → R for uma
Rb
função não decrescente, então a integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes a f (t) dg(t)
existirá. Além disso, se |f (s)| ≤ C para todo s ∈ [a, b], então
Z b


f (s) dg(s) ≤ C[g(b) − g(a)].
a

Lembramos que, quando consideramos g uma função não decrescente, então g pode
conter infinitos pontos de descontinuidade.
3.1 Integração de Kurzweil-Henstock-Stieltjes 31

O resultado a seguir, que descreve as propriedades da integral indefinida de Kurzweil-


Henstock-Stieltjes, é um caso especial do Teorema 1.16 de [25].

Teorema 3.2. Sejam f : [a, b] → Rn e g : [a, b] → R um par de funções tais que g é


Rb
regrada e a integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes a f (t) dg(t) existe. Então a função
Z t
h(t) = f (s) dg(s), t ∈ [a, b],
a

é regrada e satisfaz

h(t+) = h(t) + f (t)∆+ g(t), t ∈ [a, b),


e
h(t−) = h(t) − f (t)∆− g(t), t ∈ (a, b],

onde ∆+ g(t) = g(t+) − g(t) e ∆− g(t) = g(t) − g(t−).

Em várias partes deste trabalho, vamos precisar da extensão da integral de Kurzweil-


Henstock-Stieltjes sobre intervalos ilimitados da reta R.
Para podermos estender a definição da integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes para
intervalos não limitados (−∞, c] ou [c, +∞), é necessário definir δ-vizinhanças de −∞
e de +∞. Para isto, toma-se δ(−∞) e δ(∞) positivos e arbitrários e considera-se as
vizinhanças    
1 1
−∞, − e ,∞ .
δ(−∞) δ(∞)
Desta forma, −∞ e ∞ são necessariamente as marcas em relação a qualquer calibre
definido na reta estendida R.
R +∞
Quando queremos definir −∞ f (t)dg(t), tomamos f (−∞) = f (∞) = 0 e assim
dada uma divisão marcada δ-fina da reta estendida, na soma de Riemann

k(d)
X
f (τi )[g(ti ) − g(ti−1 )]
i=1

o primeiro e o último termos da soma são nulos, pois τ1 = t0 = −∞ e τk(d) = +∞.


Aqui convencionamos que 0.∞ = 0. Para mais detalhes sobre a extensão da integral
de Kurzweil a R, o leitor pode consultar a Seção 7 de [20].
32 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

3.2 Novos conceitos de estabilidade para EDFs em me-


dida
Vamos dizer que um conjunto O ⊂ G ([t0 − r, +∞), Rn ) tem a propriedade do
prolongamento, se para todo y ∈ O e todo t̄ ∈ [t0 − r, +∞), a função ȳ dada por

y(t), t − r ≤ t ≤ t̄,
0
ȳ(t) =
y(t̄), t̄ < t < ∞

também for um elemento de O.


Seja S = {yt ; y ∈ O, t ∈ [t0 , ∞)}. Então S ⊂ G([−r, 0], Rn ).
Seja g : [t0 , +∞) → R não decrescente e considere as seguintes condições sobre a
função f : S × [t0 , +∞) → Rn :
Rt
(H1 ) A integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes t0
f (ys , s)dg(s) existe para quaisquer
y ∈ O e t ∈ [t0 , ∞).

(H2 ) Existe uma função M : [t0 , ∞) → R localmente Lebesgue-Stieltjes integrável com


respeito a g tal que a desigualdade
v v
Z Z


f (ys , s)dg(s) ≤ M (s)dg(s)
u u

vale para quaisquer y ∈ O e u, v ∈ [t0 , ∞).

(H3 ) Existe uma função L : [t0 , ∞) → R localmente Lebesgue-Stieltjes integrável com


respeito a g tal que a desigualdade
Z v Z v

[f (ys , s) − f (zs , s)]dg(s) ≤ L(s)kys − zs k∞ dg(s)

u u

vale para quaisquer y, z ∈ O e u, v ∈ [t0 , ∞).

Lembramos ao leitor que consideramos f (0, t) = 0 para todo t ∈ [t0 , ∞) e portanto


y ≡ 0 é uma solução de (3.1) em [t0 − r, ∞).
Introduzimos, primeiramente, algumas noções básicas de estabilidade para a solução
y ≡ 0 de (3.1). As seguintes três definições são o que chamarı́amos de “definições clássi-
cas” de estabilidade de Lyapunov, estabilidade (de Lyapunov) uniforme e estabilidade
uniforme assintótica da solução trivial da EDF em medida (3.1). Estas definições po-
3.2 Novos conceitos de estabilidade para EDFs em medida 33

dem ser encontradas em [17], por exemplo, para o caso de EDFs com retardamento que
são um caso particular de EDFs em medida.
Definição 3.3. A solução trivial da equação (3.1) será dita estável no sentido de
Lyapunov, se para todo ε > 0 e todo γ ∈ R, γ ≥ t0 , existir δ = δ(ε, γ) > 0 tal que, se
φ ∈ S e y : [γ, v] → Rn , com [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), for uma solução de (3.1) tal que y γ = φ
e
kφk∞ < δ,

então
ky t (γ, φ)k∞ < ε, t ∈ [γ, v].
Definição 3.4. A solução trivial do sistema (3.1) será dita uniformemente estável, se
o número δ na Definição 3.3 for independente de γ.
Definição 3.5. A solução y ≡ 0 de (3.1) será dita uniformemente assintoticamente
estável, se existir um δ0 > 0 e para todo ε > 0, existir um T = T (ε, δ0 ) ≥ 0 tal que se
φ ∈ S, e y : [γ, v] → Rn , com [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), for solução de (3.1) tal que y γ = φ e

kφk∞ < δ0 ,

então
ky t (γ, φ)k∞ < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞).

Considere a seguinte EDF em medida com perturbação

Dy = f (yt , t) Dg + p(t)Du. (3.2)

Vamos considerar que as funções g, u : [t0 , +∞) → R sejam não decrescentes e,


portanto, podem conter infinitos pontos de descontinuidade.
A forma integral de (3.2) é dada por
Z t Z t
y (t) = y(t0 ) + f (ys , s) dg(s) + p(s)du(s), t ∈ [t0 , ∞), (3.3)
t0 t0

onde as integrais são consideradas no sentido de Kurzweil-Henstock-Stieltjes. Uma


solução de (3.2), quando existir, será regrada (veja [10]).
Assumimos as condições (H1 ), (H2 ) e (H3 ) sobre f : S × [t0 , +∞) → Rn e também
as seguintes condições sobre a função p : [t0 , ∞) → Rn :
Rt
(H4 ) A integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes t0 p(s)du(s) existe para qualquer t ∈
[t0 , ∞);
34 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

(H5 ) Existe uma função K : [t0 , ∞) → R localmente Lebesgue-Stieltjes integrável com


respeito a u tal que para quaisquer w, v ∈ [t0 , ∞), temos
v v
Z Z


p(s)du(s) ≤ K(s)du(s).
w w

Lembremos ao leitor da definição de solução do problema (3.2) com condição inicial


yt0 = φ.

Definição 3.6. Considere o problema (3.2) e suponha que valham as condições (H1 )
e (H4 ). Se uma função y ∈ G− ([t0 − r, +∞), Rn ) for tal que
Z t Z t
• y (t) = y(t0 ) + f (ys , s) dg(s) + p(s)du(s), para quase todo t ∈ [t0 , +∞);
t0 t0

• yt0 = φ,

então y será dita uma solução de (3.2) em [t0 − r, +∞) com condição inicial yt0 = φ.

Os seguintes conceitos de estabilidade da solução trivial da equação (3.1) gene-


ralizam o conceito de A. Halanay de estabilidade integral. Veja [16]. Começamos
introduzindo um conceito de estabilidade da solução trivial de (3.1) que será essencial
para nossos propósitos.

Definição 3.7. A solução y ≡ 0 de (3.1) será integralmente estável, se para todo ε > 0
existir um δ = δ(ε) > 0 tal que, se φ ∈ S e p : [γ, v] → Rn forem tais que kφk∞ < δ e
Z t

sup p(s)du(s) < δ,
t∈[γ,v] γ

então
|ȳ(t; γ, φ)| < ε, para todo t ∈ [γ, v],

onde ȳ(t; γ, φ) é uma solução da equação perturbada (3.2) tal que ȳγ = φ.

Definição 3.8. A solução y ≡ 0 de (3.1) será integralmente atratora, se existir um


δe > 0 e para todo ε > 0, existirem um T = T (ε) ≥ 0 e um ρ = ρ(ε) > 0 tais que, se
φ ∈ S e p : [γ, v] → Rn forem tais que
Z t

kφk∞ < δe e sup p(s)du(s) < ρ
t∈[γ,v] γ

então
|ȳ(t; γ, φ)| < ε, para todo t ≥ γ + T, t ∈ [γ, v],
3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs 35

onde ȳ(t; γ, φ) é uma solução da equação (3.2) com ȳγ = φ.

Definição 3.9. A solução y ≡ 0 de (3.1) será dita integralmente assintoticamente


estável, se ela for integralmente estável e integralmente atratora.

Note que, se a solução nula y ≡ 0 da equação não perturbada (3.1) for integralmente
estável, então y ≡ 0 será uniformemente estável no sentido usual de Lyapunov.

3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs


Nesta seção, estabelecemos uma relação entre EDFs em medida e EDOGs. Tal
relação pode ser encontrada em [11].
Lembremos que S = {yt ; y ∈ O, t ∈ [t0 , ∞)}, onde O ⊂ G([t0 − r, +∞), Rn ) tem a
propriedade do prolongamento.
Suponha que f : S × [t0 , ∞) → Rn satisfaça as condições (H1 ), (H2 ) e (H3 ) e
p : [t0 , ∞) → Rn satisfaça as condições (H4 ) e (H5 ). Mais ainda, suponha que as
funções g, u : [t0 , ∞) → R sejam não decrescentes.
Para y ∈ O e t ∈ [t0 , +∞), defina



 0, t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,

 ϑ

 Z
F (y, t)(ϑ) = f (ys , s)dg(s), t0 ≤ ϑ ≤ t < +∞, (3.4)
 t0
 Z t




 f (ys , s)dg(s), t ≤ ϑ < +∞
t0

e 


 0, t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,

 ϑ

 Z
P (t) (ϑ) = p(s)du(s), t0 ≤ ϑ ≤ t < +∞, (3.5)
 t0
 Z t




 p(s)du(s), t ≤ ϑ < +∞.
t0

Então,
G (y, t) = F (y, t) + P (t) (3.6)

define um elemento G (y, t) de G ([t0 − r, +∞), Rn ) e G (y, t) (ϑ) ∈ Rn é o valor de


G (y, t) no ponto ϑ ∈ [t0 − r, +∞), ou seja,

G : O × [t0 , +∞) → G([t0 − r, +∞), Rn ).


36 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Considere a seguinte EDOG

dx
= DG(x, t), (3.7)

onde a função G é dada por (3.6).


Seja h : [t0 , +∞) → R definida por
Z t Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]dg(s) + K(s)du(s), t ∈ [t0 , +∞). (3.8)
t0 t0

Então a função h é não decrescente.


Nas condições acima, é fácil mostrar que G, dada por (3.6), pertence à classe
F(Ω, h), onde Ω = O × [t0 , +∞). Veja [11] para os detalhes da demonstração deste
fato.
Nos resultados a seguir, consideraremos que as funções envolvidas estão definidas no
intervalo [t0 , t0 +σ], com σ > 0, e não mais em [t0 , +∞) para facilitar as demonstrações.
Uma demonstração do próximo resultado pode ser encontrada em [11], Lema 4.1.

Lema 3.10. Seja O ⊂ G([t0 − r, t0 + σ], Rn ) com a propriedade do prolongamento e


S = {yt ; y ∈ O, t ∈ [t0 , t0 + σ]}. Suponha que φ ∈ S e que g, u : [t0 , t0 + σ] → R
sejam funções não decrescentes. Sejam f : S × [t0 , t0 + σ] → Rn tal que a integral
R t0 +σ
f (yt , t)dg(t) exista para todo y ∈ O e p : [t0 , t0 + σ] → Rn tal que a integral
Rtt00 +σ
t0
p(t)du(t) exista. Considere G dada por (3.6) e suponha que x : [t0 , t0 + σ] → O
seja uma solução de
dx
= DG(x, t),

com condição inicial
(
x(t0 )(ϑ) = φ(ϑ − t0 ), ϑ ∈ [t0 − r, t0 ]
x(t0 )(ϑ) = x(t0 )(t0 ), ϑ ∈ [t0 , t0 + σ].

Se ν ∈ [t0 , t0 + σ] e ϑ ∈ [t0 − r, t0 + σ], então

x(ν)(ϑ) = x(ν)(ν), ϑ ≥ ν, (3.9)

e
x(ν)(ϑ) = x(ϑ)(ϑ), ν ≥ ϑ. (3.10)
3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs 37

O resultado a seguir apresenta uma correspondência entre EDOGs e EDFs em


medida. Tal resultado é uma generalização dos Teoremas 3.8 e 3.9 de [10] e pode ser
encontrado em [11], Teorema 4.2.

Teorema 3.11. Sejam O ⊂ G([t0 −r, t0 +σ], Rn ) com a propriedade do prolongamento,


S = {xt ; x ∈ O, t ∈ [t0 , t0 + σ]} e φ ∈ S. Suponha que g : [t0 , t0 + σ] → R e
u : [t0 , t0 + σ] → R sejam funções não decrescentes, f : S × [t0 , t0 + σ] → Rn satisfaça
as condições (H1 ), (H2 ), (H3 ) e p : [t0 , t0 + σ] → Rn satisfaça as condições (H4 ) e
(H5 ).

(i) Seja y : [t0 − r, t0 + σ] → Rn uma solução da equação diferencial funcional em


medida com perturbações
(
Dy = f (yt , t)Dg + p(t)Du, t ∈ [t0 , t0 + σ],
(3.11)
yt0 = φ.

Para todo t ∈ [t0 − r, t0 + σ], seja



y(ϑ), ϑ ∈ [t0 − r, t],
x(t)(ϑ) =
y(t), ϑ ∈ [t, t0 + σ].

Então a função x : [t0 , t0 +σ] → G([t0 −r, t0 +σ], Rn ) será uma solução da EDOG

dx
= DG (x, t)

com G dada por (3.6), com


(
φ(ϑ − t0 ), t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,
x(t0 )(ϑ) =
φ(0), t0 ≤ ϑ < t0 + σ.

(ii) Reciprocamente, seja G dada por (3.6). Suponha que x : [t0 , t0 + σ] → O seja
uma solução da EDOG
dx
= DG (x, t) ,

com a seguinte condição inicial
(
φ(ϑ − t0 ), t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,
x(t0 )(ϑ) =
φ(0), t0 ≤ ϑ < t0 + σ.
38 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Então a função y : [t0 , t0 + σ] → Rn definida por


(
x (t0 ) (ϑ) , t0 − r ≤ ϑ ≤ t0
y (ϑ) =
x (ϑ) (ϑ) , t0 ≤ ϑ < t0 + σ

será uma solução da equação diferencial funcional em medida com perturbações


(
Dy = f (yt , t)Dg + p(t)Du, t ∈ [t0 , t0 + σ],
(3.12)
yt0 = φ.

Demonstração: Para mostrarmos (i), basta provarmos que, para qualquer v ∈


Rv
[t0 , t0 + σ], a integral t0 DG(x(τ ), t) existe e vale
Z v
x(v) − x(t0 ) = DG(x(τ ), t).
t0

Seja ε > 0 dado. Defina a função h : [t0 , t0 + σ] → R por


Z t Z t
h(t) = [L(s) + M (s)]dg(s) + K(s)du(s),
t0 t0

onde M, L e K foram dadas nas condições (H2 ), (H3 ) e (H5 ) respectivamente. Como
as funções g e u são não decrescentes, elas podem ter apenas um número finito de
pontos t ∈ [t0 , v] tais que ∆+ g(t) ≥ ε e ∆+ u(t) ≥ ε. O mesmo vale para a função h,
ou seja, h pode ter apenas um número finito de pontos t ∈ [t0 , v] tais que ∆+ h(t) ≥ ε.
Note que os pontos que satisfazem esta última desigualdade são a união dos pontos que
satisfazem a desigualdade para as funções g e u, pela definição da função h. Denotemos
estes pontos por t1 , . . . , tm .
Considere um calibre δ : [t0 , t0 + σ] → R+ tal que
 
tk − tk−1
δ(τ ) < min , k = 2, . . . , m , τ ∈ [t0 , t0 + σ]
2

δ(τ ) < min {|τ − tk |, |τ − tk−1 |; τ ∈ (tk−1 , tk ), k = 2, . . . , m} , τ ∈ [t0 , t0 + σ].

Estas condições asseguram que, se um par ponto-intervalo (τ, [c, d]) for δ-fino, então
o intervalo [c, d] conterá no máximo um dos pontos t1 , . . . , tm , e, mais ainda, teremos
τ = tk sempre que tk ∈ [c, d].
3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs 39

Como ytk = x(tk )tk , segue do Teorema 3.2 o fato que


Z s
lim L(s)kys − x(tk )s k∞ dg(s) = L(tk )kytk − x(tk )tk k∞ ∆+ g(tk ) = 0
s→tk + tk

para qualquer k ∈ {1, . . . , m}. Assim, o calibre δ pode ser escolhido de modo que
Z tk +δ(tk )
ε
L(s)kys − x(tk )s k∞ dg(s) < , k ∈ {1, . . . , m}.
tk 2m + 1

Utilizando novamente o Teorema 3.2, obtemos


τ +t τ +t
Z Z

|y(τ + t) − y(τ )| = f (ys , s)dg(s) + p(s)du(s) ≤
τ τ

Z τ +t Z τ +t
≤ M (s)dg(s) + K(s)du(s) ≤ h(τ + t) − h(τ ),
τ τ

e, portanto,

|y(τ +) − y(τ )| ≤ ∆+ h(τ ) < ε, τ ∈ [t0 , t0 + σ]\{t1 , . . . , tm }.

Assim, podemos assumir que o calibre δ é tal que

|y(ρ) − y(τ )| ≤ ε

para quaisquer τ ∈ [t0 , t0 + σ]\{t1 , . . . , tm } e ρ ∈ [τ, τ + δ(τ )).


Suponha, agora, que {(τi , [si−1 , si ]), i = 1, . . . , l} seja uma partição marcada δ-fina
do intervalo [t0 , v]. Utilizando a definição de x, podemos mostrar facilmente que



 0, ϑ ∈ [t0 − r, si−1 ],

 ϑ ϑ

 Z Z
[x(si ) − x(si−1 )](ϑ) = f (ys , s) dg(s) + p(s)du(s), ϑ ∈ [si−1 , si , ]
 si−1 si−1

 Z si Z si

f (ys , s) dg(s) + p(s)du(s), ϑ ∈ [si , t0 + σ].



si−1 si−1

De forma análoga, segue da definição de G que

[G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](ϑ) =


40 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs




 0, ϑ ∈ [t0 − r, si−1 ],

 ϑ ϑ

 Z Z
= f (x(τi )s , s) dg(s) + p(s)du(s), ϑ ∈ [si−1 , si ],
 si−1 si−1
 Z s Z si
 i



 f (x(τi )s , s) dg(s) + p(s)du(s), ϑ ∈ [si , t0 + σ].
si−1 si−1

Daı́, combinando as igualdades anteriores, obtemos

[x(si ) − x(si−1 )](ϑ) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](ϑ) =





 0, ϑ ∈ [t0 − r, si−1 ],

 ϑ

 Z
= [f (ys , s) − f (x(τi )s , s)] dg(s), ϑ ∈ [si−1 , si ],
 si−1

 Z si

[f (ys , s) − f (x(τi )s , s)] dg(s), ϑ ∈ [si , t0 + σ].



si−1

Assim,
kx(si ) − x(si−1 ) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )]k∞ =

= sup |[x(si ) − x(si−1 )](ϑ) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](ϑ)| =


ϑ∈[t0 −r,t0 +σ]

ϑ
Z

= sup
[f (ys , s) − f (x(τi )s , s)] dg(s) .
ϑ∈[si−1 ,si ] si−1

Pela definição de x, x(τi )s = ys sempre que s ≤ τi . Logo



Z ϑ 0,
 ϑ ∈ [si−1 , τi ],
[f (ys , s) − f (x(τi )s , s)] dg(s) = Z ϑ
si−1 
 f (ys , s) − f (x(τi )s , s)] dg(s), ϑ ∈ [τi , si ].
τi

Então a condição (H3 ) implica


Z ϑ Z ϑ

[f (ys , s) − f (x(τi )s , s)] dg(s) ≤ L(s)kys − x(τi )s k∞ dg(s)

τi τi
Z si
≤ L(s)kys − x(τi )s k∞ dg(s).
τi

Dado um par ponto-intervalo particular (τi , [si−1 , si ]), existem duas possibilidades:

(a) A interseção de [si−1 , si ] e {t1 , . . . , tm } contém um único ponto tk = τi .

(b) A interseção de [si−1 , si ] e {t1 , . . . , tm } é vazia.


3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs 41

Caso (a) ocorra, segue da definição do calibre δ que


Z si
ε
L(s)kys − x(τi )s k∞ dg(s) ≤ ,
τi 2m + 1

ou seja,
ε
kx(si ) − x(si−1 ) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )]k∞ ≤ .
2m + 1
Caso (b) ocorra, temos

kys − x(τi )s k∞ = sup |y(ρ) − y(τi )| ≤ ε, s ∈ [τi , si ]


ρ∈[τi ,s]

pela definição do calibre δ. Assim


Z si
kx(si ) − x(si−1 ) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )]k∞ ≤ ε L(s) dg(s).
τi

Combinando os casos (a) e (b) e utilizando o fato de que (a) ocorre no máximo 2m
vezes, obtemos

l Z t0 +σ
X 2mε
x(v) − x(t0 ) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )] ≤ε L(s) dg(s) + .


i=1
t0 2m + 1

Como ε é arbitrário, temos


Z v
x(v) − x(t0 ) = DG(x(τ ), t), ϑ ∈ [t0 , t0 + σ],
t0

como querı́amos.
Agora vamos mostrar (ii). A igualdade yt0 = φ segue facilmente das definições de y
e x(t0 ). Resta mostrarmos que vale
Z v Z v
y(v) − y(t0 ) = f (ys , s) dg(s) + p(s)du(s), v ∈ [t0 , t0 + σ].
t0 t0

Seja v ∈ [t0 , t0 + σ]. Utilizando o Lema 3.10, obtemos


Z v 
y(v) − y(t0 ) = x(v)(v) − x(t0 )(t0 ) = x(v)(v) − x(t0 )(v) = DG(x(τ ), t) (v).
t0
42 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Assim Z v Z v
y(v) − y(t0 ) − f (ys , s) dg(s) + p(s)du(s) =
t0 t0
Z v  Z v Z v
= DG(x(τ ), t) (v) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s). (3.13)
t0 t0 t0

Defina a função h : [t0 , t0 + σ] → R por


Z t Z t
h(t) = (L(s) + M (s))dg(s) + K(s)du(s).
t0 t0

Seja ε > 0 arbitrário. Como g e u são funções não decrescentes, elas podem ter
no máximo um número finito de pontos t ∈ [t0 , v] tais que ∆+ g(t) ≥ ε e ∆+ u(t) ≥ ε.
Analogamente, temos o mesmo para a função h. Denotamos a união dos pontos de
descontinuidade das funções g e u por t1 , . . . , tm . (Lembrando que estes pontos são os
mesmos para a função h).
Considere um calibre δ : [t0 , t0 + σ] → (0, +∞) tal que
 
tk − tk−1
δ(τ ) < min , k = 2, . . . , m , τ ∈ [t0 , t0 + σ]
2

e
δ(τ ) < min {|τ − tk |; k = 1, . . . , m} , τ ∈ [t0 , t0 + σ].

Estas condições asseguram que, se um par ponto-intervalo (τ, [c, d]) for δ-fino, então
[c, d] conterá no máximo um dos pontos t1 , . . . , tm , e, ainda mais, τ = tk sempre que
tk ∈ [c, d].
Novamente, o calibre δ pode ser escolhido de forma que
Z tk +δ(tk )
ε
L(s)kys − x(tk )s k∞ dg(s) < , k ∈ {1, . . . , m}.
tk 2m + 1

Como descrito anteriormente, a função G dada por (3.4) pertence à classe F(O ×
[t0 , t0 + σ], h). Como

|h(τ +) − h(τ )| ≤ ε, τ ∈ [t0 , t0 + σ]\{t1 , . . . , tm },

podemos assumir que o calibre δ satisfaz

|h(ρ) − h(τ )| ≤ ε para qualquer ρ ∈ [τ, τ + δ(τ )).


3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs 43

Finalmente, o calibre δ deve ser tal que


Z
v l
X
DG(x(τ ), t) − [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )] <ε (3.14)


t0
i=1 ∞

para toda partição δ-fina {(τi , [si−1 , si ]), i = 1, . . . , l} de [t0 , v]. A existência de tal
calibre segue da definição da integral de Kurzweil. Escolhemos uma partição δ-fina
particular {(τi , [si−1 , si ]), i = 1, . . . , l} de [t0 , v]. Daı́, por (3.13) e (3.14), temos
v v
Z Z

y(v) − y(t0 ) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) =

t0 t0

v v v
 Z  Z Z

= DG(x(τ ), t) (v) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) <
t0 t0 t0

Xl Z v Z v
< ε + [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) ≤


i=1 t0 t0
l
X Z si Z si


≤ε+ [G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) −
f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) .
i=1 si−1 si−1

A definição de G nos leva a


Z si Z si
[G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) = f (x(τi )s , s) dg(s) + p(s)du(s),
si−1 si−1

o que implica
si si
Z Z

[G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) =

si−1 si−1

si
Z

= [f (x(τi )s , s) − f (ys , s)] dg(s) .
si−1

Pelo Lema 3.10, para qualquer i ∈ {1, . . . , l}, temos x(τi )s = x(s)s = ys para
s ∈ [si−1 , τi ] e ys = x(s)s = x(si )s para s ∈ [τi , si ]. Portanto
si si
Z Z


[f (x(τi )s , s) − f (ys , s)] dg(s) = [f (x(τi )s , s) − f (ys , s)] dg(s) =
si−1 τi

si si
Z Z

= [f (x(τi )s , s) − f (x(si )s , s)] dg(s) ≤ L(s)kx(τi )s − x(si )s k∞ dg(s),
τi τi

onde a última desigualdade segue da condição (H3 ).


44 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Novamente, separamos em dois casos:

(a) A interseção de [si−1 , si ] e {t1 , . . . , tm } contém um único ponto tk = τi .

(b) A interseção de [si−1 , si ] e {t1 , . . . , tm } é vazia.

Caso (a) ocorra, segue da definiçaõ do calibre δ que


Z si
ε
L(s)kys − x(τi )s k∞ dg(s) ≤ ,
τi 2m + 1

ou seja,
si si
Z Z

[G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) −
ε
f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) ≤ .

si−1 si−1 2m + 1

Caso (b) ocorra, como toda solução da EDOG é regrada, obtemos a seguinte esti-
mativa
kx(si )s − x(τi )s k∞ ≤ kx(si ) − x(τi )k∞ ≤ h(si ) − h(τi ) ≤ ε

para qualquer s ∈ [τi , si ], e assim


si si
Z Z

[G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) ≤

si−1 si−1

Z si
≤ε L(s) dg(s).
τi

Combinando os casos (a) e (b) e utilizando o fato de que o caso (a) ocorre no
máximo 2m vezes, obtemos

l
X Z si Z si


[G(x(τi ), si ) − G(x(τi ), si−1 )](v) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) ≤

i=1 si−1 si−1

Z t0 +σ  Z t0 +σ 
2mε
≤ε L(s) dg(s) + <ε 1+ L(s) dg(s) .
t0 2m + 1 t0

Consequentemente,
v si t0 +σ
Z Z  Z 

y(v) − y(t0 ) − f (ys , s) dg(s) − p(s)du(s) < ε 2 +
L(s) dg(s) ,

t0 si−1 t0

o que completa a demonstração. 


3.3 EDFs em medida vistas como EDOGs 45

Agora usaremos o Teorema 1.6 e o Teorema 3.11 para obter um teorema de exis-
tência local e unicidade de soluções para EDFs em medida. Tal resultado pode ser
encontrado em [10], Teorema 5.3.

Teorema 3.12. Suponha que O ⊂ G([t0 − r, t0 + σ], Rn ) tenha a propriedade do pro-


longamento, S = {xt ; x ∈ O, t ∈ [t0 , t0 + σ]}, g : [t0 , t0 + σ] → R seja contı́nua à
esquerda e não decrescente, f : S × [t0 , t0 + σ] → Rn satisfaça as condições (H1 ), (H2 ),
(H3 ). Se φ ∈ S for tal que a função

φ(t − t ), t ∈ [t0 − r, t0 ],
0
z(t) =
φ(0) + f (φ, t )∆+ g(t ), t ∈ (t , t + σ]
0 0 0 0

pertence à O, então existirá ∆ > 0 e uma função y : [t0 − r, t0 + ∆] → Rn que é a única


solução da equação diferencial funcional em medida
(
Dy = f (yt , t)Dg,
(3.15)
yt0 = φ.

Demonstração: Esta demonstração segue as ideias da demonstração do Teorema


5.3 de [10].
Como visto anteriormente, a função F dada por (3.4) pertence à classe F(O ×
[t0 , t0 + σ], h) com
Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]dg(s), t ∈ [t0 , t0 + σ].
t0

Seja (
φ(ϑ − t0 ), t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,
x(t0 )(ϑ) =
φ(0), t0 ≤ ϑ < t0 + σ.
Então x(t0 ) ∈ O. Vamos mostrar que x(t0 ) + F (x(t0 ), t0 +) − F (x(t0 ), t0 ) ∈ O. De fato,
note que F (x(t0 ), t0 ) = 0. O limite F (x(t0 ), t0 +) é tomado com respeito a norma do
supremo e ele existe, já que F é regrada. Assim é suficiente calcular o limite pontual
F (x(t0 ), t0 +)(ϑ) para qualquer ϑ ∈ [t0 − r, t0 + σ].
Pelo Teorema 3.2, obtemos

0, t ∈ [t0 − r, t0 ],
F (x(t0 ), t0 +)(ϑ) =
f (φ, t )∆+ g(t ), t ∈ (t , t + σ].
0 0 0 0
46 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

e, portanto, x(t0 ) + F (x(t0 ), t0 +) − F (x(t0 ), t0 ) ∈ O.


Logo, todas as hipóteses do Teorema 1.6 estão satisfeitas e portanto existem ∆ > 0
e uma única solução x : [t0 , t0 + ∆] → X da EDOG

dx
= DF (x, t), x(t0 ) = x0 . (3.16)

Pelo Teorema 3.11, a função y : [t0 , t0 + ∆] → Rn dada por


(
x (t0 ) (ϑ) , t0 − r ≤ ϑ ≤ t0
y (ϑ) =
x (ϑ) (ϑ) , t0 ≤ ϑ < t0 + ∆

é solução da EDF em medida


(
Dy = f (yt , t)Dg,
yt0 = φ.

Esta solução é única pois, caso contrário, o Teorema 3.11 implicaria que x não é a
única solução da EDOG (3.16), o que seria um absurdo. 

3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para


EDOGs e EDFs em medida
Nesta seção, vamos apresentar alguns conceitos novos de estabilidade para EDOGs
e também vamos relacionar estes conceitos com os novos conceitos de estabilidade para
EDFs em medida apresentados na primeira seção deste capı́tulo.
Sejam X um espaço de Banach e Bc = {y ∈ X; kyk < c} com c > 0. Defina
Ω = Bc × [t0 , ∞), onde r > 0 e c > 0. Suponha que F : Ω → X pertença à classe
Rt
F(Ω, h1 ), com h1 (t) = t0 [M (s) + L(s)]dg(s) para t ∈ [t0 , ∞), e F (0, t) − F (0, s) = 0,
para t, s ∈ [t0 , +∞). Então, para todo [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), temos
Z v
DF (0, t) = F (0, v) − F (0, γ) = 0
γ

o que implica que x ≡ 0 é uma solução, em [t0 , +∞), da EDOG

dx
= DF (x, t). (3.17)

3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para EDOGs e EDFs em medida 47

As definições seguintes de estabilidade regular, atratividade regular e estabilidade


assintótica regular são novas na teoria de EDOGs.

Definição 3.13. A solução x ≡ 0 de (3.17) será dita regularmente estável, se para


todo ε > 0, existir δ = δ(ε) > 0 tal que se x : [γ, v] → Bc , t0 − r ≤ γ < v < +∞, for
uma função regrada que satisfaz
Z s

kx(γ)k < δ e sup
x(s) − x(γ) − DF (x(τ ), t)
< δ,
s∈[γ,v] γ ∞

então
kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v].

Definição 3.14. A solução x ≡ 0 de (3.17) será dita regularmente atratora, se existir


um δ0 > 0 e para todo ε > 0, existirem um T = T (ε) ≥ 0 e um ρ = ρ(ε) > 0 tal que,
se x : [γ, v] → Bc , t0 − r ≤ γ < v < +∞, for uma função satisfazendo
Z s

kx(γ)k < δ0 e sup
x(s) − x(γ) − DF (x(τ ), t)
< ρ,
s∈[γ,v] γ ∞

então
kx(t)k < ε, para t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞) e γ ≥ t0 .

Definição 3.15. A solução x ≡ 0 de (3.17) será dita regularmente assintoticamente


estável, se for regularmente estável e regularmente atratora.

Além da EDOG (3.17), também consideraremos a EDOG perturbada

dx
= D[F (x, t) + P (t)], (3.18)

onde F : O × [t0 , ∞) → G([t0 − r, ∞), Rn ) e P : [t0 , ∞) → G([t0 − r, ∞), Rn ) são


dadas por (3.4) e (3.5) respectivamente. Não é difı́cil mostrar que a função G(x, t) =
F (x, t) + P (t) pertence à classe F(Ω, h), onde a função h : [t0 , ∞) → R é dada por
(3.8). Mais ainda, pelo Teorema 1.6 temos garantida a existência local e unicidade de
solução para (3.18).
Antes das próximas definições, cabe observarmos que, pela definição da integral de
Kurzweil, para qualquer [γ, v] ⊂ [t0 , ∞) temos
Z v Z v
DP (t) = dP (t) = P (v) − P (γ),
γ γ

onde a segunda integral é no sentido de Perron (ou Kurzweil-Henstock).


48 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Considere, agora, as definições seguintes.

Definição 3.16. A solução x ≡ 0 de (3.17) será dita estável com respeito a pertur-
bações, se para todo ε > 0, existir δ = δ(ε) > 0 tal que se kx0 k < δ e P ∈ G− ([γ, v], X)
com sups∈[γ,v] kP (s) − P (γ)k < δ, então

kx̄(t, γ, x0 )k < ε, para todo t ∈ [γ, v]

onde x̄(t, γ, x0 ) é uma solução da equação diferencial generalizada perturbada (3.18),


com x̄(γ, γ, x0 ) = x0 e [γ, v] ⊂ [t0 , +∞).

Definição 3.17. A solução x ≡ 0 de (3.17) será dita atratora com respeito a per-
turbações, se existir um δe > 0 e para todo ε > 0, existirem um T = T (ε) ≥ 0 e um
ρ = ρ(ε) > 0 tal que se

kx0 k < δe e sup kP (s) − P (γ)k < ρ


s∈[γ,v]

com P ∈ G− ([γ, v], X), então

kx̄(t, γ, x0 )k < ε para todo t ≥ γ + T, t ∈ [γ, v]

onde x̄(t, γ, x0 ) é uma solução da equação diferencial generalizada perturbada (3.18),


com x̄(γ, γ, x0 ) = x0 e [γ, v] ⊂ [t0 , +∞).

Definição 3.18. A solução x ≡ 0 de (3.17) será dita assintoticamente estável com


respeito a perturbações, se for estável e atratora com respeito a perturbações.

O resultado seguinte mostra algumas equivalências entre as definições que acabamos


de introduzir.

Proposição 3.19. As afirmações seguintes são válidas.

(i) A solução x ≡ 0 de (3.17) será regularmente estável se, e somente se, for estável
com respeito a perturbações.

(ii) A solução x ≡ 0 de (3.17) será regularmente atratora se, e somente se, for
atratora com respeito a perturbações.

(iii) A solução x ≡ 0 de (3.17) será regularmente assintoticamente estável se, e so-


mente se, for assintoticamente estável com respeito a perturbações.
3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para EDOGs e EDFs em medida 49

Demonstração: Mostremos (i). Suponha que a solução x ≡ 0 de (3.17) seja regu-


larmente estável. Sejam ε > 0 e a quantidade δ = δ(ε) > 0 dada de acordo com a
Definição 3.13. Seja x(t) = x(t, γ, x0 ) uma solução da EDOG perturbada (3.18) em
[γ, v]. Então, pela definição de solução da equação (3.18), obtemos
Z s
x(s) − x(γ) = DF (x(τ ), t) + P (s) − P (γ), s ∈ [γ, v] (3.19)
γ

Também, suponha que kx(γ)k = kx(γ, γ, x0 )k < δ e sups∈[γ,v] kP (s) − P (γ)k < δ.
Então (3.19) implica que
Z s
x(s) − x(γ) − DF (x(τ ), t) = P (s) − P (γ), s ∈ [γ, v]
γ

e portanto,
Z s

sup
x(s) − x(γ) − DF (x(τ ), t)
= sup kP (s) − P (γ)k. (3.20)
s∈[γ,v] γ ∞ s∈[γ,v]

Logo,
Z s

sup
x(s) − DF (x(τ ), t)
≤ kx(γ)k + sup kP (s) − P (γ)k < 2δ.
s∈[γ,v] γ ∞ s∈[γ,v]

Assim, a estabilidade regular implica que

kx(t)k = kx(t, γ, x0 )k < ε for t ∈ [γ, v]

e, portanto, a solução trivial de (3.17) é estável com respeito a perturbações.


Reciprocamente, suponha que a solução x ≡ 0 de (3.17) seja estável com respeito
a perturbações. Seja x : [γ, v] → Bc , t0 ≤ γ < v < +∞, contı́nua à esquerda e regrada
em [γ, v] tal que kx(γ)k < δ e
Z s

x(s) −
sup DF (x(τ ), t)
< δ,
s∈[γ,v] γ ∞

onde δ > 0 corresponde a algum ε > 0 da Definição 3.16.


50 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Rs
Para s ∈ [γ, v], seja P (s) = P (γ) + x(s) − x(γ) − γ
DF (x(τ ), t). Então, para
s1 , s2 ∈ [γ, v], temos
Z s2
x(s2 ) − x(s1 ) − DF (x(τ ), t) = P (s2 ) − P (s1 ),
s1

o que implica que x é uma solução de (3.18) em [γ, v]. Mais ainda, temos
Z s

sup kP (s) − P (γ)k = sup
x(s) − x(γ) − DF (x(τ ), t)

s∈[γ,v] s∈[γ,v] γ ∞

Z s

≤ sup
x(s) − + kx(γ)k∞ < 2δ.
DF (x(τ ), t)
s∈[γ,v] γ ∞

Também, segue diretamente da definição da função P que P ∈ G− ([γ, v], X). Assim,
a estabilidade com respeito a perturbações implica kx(t)k = kx(t, γ, x0 )k < ε, para todo
t ∈ [γ, v], o que implica que a solução x ≡ 0 de (3.17) é regularmente estável.
Agora, vamos mostrar o item (ii). Suponha, primeiramente, que a solução x ≡ 0 de
(3.17) seja regularmente atratora. Então existe um δe > 0 e para todo ε > 0, existem
um T = T (ε) ≥ 0 e um ρ = ρ(ε) > 0 tais que, se x : [γ, v] → Bc , t0 ≤ γ < v < +∞, for
uma função regrada e contı́nua à esquerda em [γ, v] tal que kx(γ)k < δe e
Z s

sup
x(s) − DF (x(τ ), t)
< ρ,
s∈[γ,v] γ ∞

então
kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞), γ ≥ t0 .

Denotamos a solução da equação diferencial ordinária generalizada perturbada


(3.18) satisfazendo x(γ, γ, x0 ) = x0 por x(t) = x(t, γ, x0 ). Suponha que P ∈ G− ([γ, v], X).
Mais ainda, suponha que exista um δe > 0 e, para todo ε > 0, exista um ρ = ρ(ε) > 0
tal que kx0 k < δe e
sup kP (s) − P (γ)k < ρ.
s∈[γ,v]

Então kx0 k = kx(γ)k < δe e pela definição de solução da equação (3.18), temos
Z s

sup
x(s) − x(γ) − DF (x(τ ), t)
= sup kP (s) − P (γ)k.
s∈[γ,v] γ ∞ s∈[γ,v]
3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para EDOGs e EDFs em medida 51

Portanto,
Z s

sup x(s) −

− kx(γ)k∞ ≤ sup kP (s) − P (γ)k,
DF (x(τ ), t)
s∈[γ,v] γ ∞ s∈[γ,v]

o que implica que


Z s

x(s) −
sup DF (x(τ ), t) ≤ sup kP (s) − P (γ)k + kx(γ)k∞ < ρ + δ.
e

s∈[γ,v] γ ∞ s∈[γ,v]

Assim, segue imediatamente do fato que x é regularmente atratora, que

kx(t, γ, x0 )k = kx(t)k < ε, para todo t ≥ γ + T, t ∈ [γ, v],

ou seja, a solução x ≡ 0 de (3.17) é atratora com respeito a perturbações.


Reciprocamente, suponha que a solução x ≡ 0 de (3.17) seja atratora com respeito
a perturbações e seja x : [γ, v] → Bc , t0 ≤ γ < v < +∞, uma função regrada e contı́nua
à esquerda em [γ, v] satisfazendo
Z s

kx(γ)k < δe e sup x(s) −
DF (x(τ ), t)
< ρ. (3.21)
s∈[γ,v] γ ∞

Rs
Novamente, para s ∈ [γ, v], seja P (s)−P (γ) = x(s)−x(γ)− γ DF (x(τ ), t). Então x(t)
é uma solução de (3.18) em [γ, v]. Também temos P ∈ G− ([γ, v], X) e, da definição de
solução e pela equação (3.21), vale

sup kP (s) − P (γ)k < ρ + δ.


e
s∈[γ,v]

Portanto, a Definição 3.17 nos leva a

kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞), γ ≥ t0 .

o que implica a atratividade regular da solução trivial de (3.17).


O item (iii) segue combinando os itens (i) e (ii) e encerramos a demonstração. 

Com as definições dadas anteriormente, agora somos capazes de demonstrar um


resultado que estabelece uma relação entre as definições de estabilidade para EDOGs
e as definições correspondentes para EDFs em medida. Para obter tais resultados,
utilizamos a correspondência entre estas equações que foi descrita no Teorema 3.11.
52 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

Relembramos que estamos considerando uma EDF em medida dada por

Dx = f (xt , t)Dg, (3.22)

onde f : S × [t0 , +∞) → Rn satisfaz as condições (H1 ), (H2 ) e (H3 ) e g : [t0 , +∞) → R
é uma função não decrescente. Mais ainda, estamos assumindo f (0, t) = 0 para todo
t ∈ [t0 , +∞), o que implica que y ≡ 0 é uma solução (3.22).
Também, considere a função

F : O × [t0 , +∞) → G([t0 − r, +∞), Rn )

definida por (3.4), para todo y ∈ O e t ∈ [t0 , +∞). Como estamos assumindo f (0, t) =
0, para todo t ∈ [t0 , ∞), então, por (3.4), F (0, t) = 0, para todo t ∈ [t0 , +∞), o que
implica que x ≡ 0 é uma solução da EDOG

dx
= DF (x, t). (3.23)

Vimos, na seção anterior, que existe uma correspondência biunı́voca entre as so-
luções de (3.22) com condição inicial yt0 = φ e as soluções de (3.23) com condição
inicial (
φ(ϑ − t0 ), t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,
x(t0 )(ϑ) = (3.24)
φ(0), t0 ≤ ϑ < ∞.

Também estamos considerando a equação perturbada

Dy = f (yt , t)Dg + p(t)Du, (3.25)

com f : S × [t0 , ∞) → Rn satisfazendo as mesmas condições de antes, a saber, (H1 ),


(H2 ) e (H3 ), e p : [t0 , ∞) → Rn satisfazendo as condições (H4 ) e (H5 ). Pelo Teorema
3.11, a EDOG correspondente à equação (3.25) com condição inicial yt0 = φ é dada
por
dx
= D[F (x, t) + P (t)], (3.26)

satisfazendo a condição inicial (3.24), onde F : O × [t0 , +∞) → G([t0 , +∞), Rn ) e
P : [t0 , +∞) → G([t0 − r, +∞), Rn ) são dadas por (3.4) e (3.5) respectivamente.
O teorema a seguir relaciona as definições de estabilidade e atratividade da solução
trivial da EDF em medida (3.22) e da solução trivial de sua EDOG correspondente
(3.23). Para demonstrá-lo, vamos precisar das equações perturbadas (3.25) e (3.26).
3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para EDOGs e EDFs em medida 53

Teorema 3.20. As seguintes afirmações são válidas.

(i) A solução y ≡ 0 de (3.22) será integralmente estável se, e somente se, a solução
x ≡ 0 de (3.23) for regularmente estável.

(ii) Se a solução x ≡ 0 de (3.23) for regularmente atratora, então a solução y ≡ 0 de


(3.22) será integralmente atratora.

(iii) Se a solução x ≡ 0 de (3.23) for regularmente assintoticamente estável, então a


solução y ≡ 0 de (3.22) será integralmente assintoticamente estável.

Demonstração: Começamos mostrando (i). Suponha que a solução trivial de (3.22)


em [γ, v] ⊂ [t0 , +∞) seja integralmente estável. Então, dado ε > 0, existe δ = δ(ε) > 0
tal que se φ ∈ S e p : [γ, v] → Rn forem tais que
Z t

kφk∞ < δ e sup p(s)du(s) < δ,
t∈[γ,v] γ

então
ε
|ȳ(t; γ, φ)| < , t ∈ [γ, v],
2
onde ȳ(t; γ, φ) é uma solução de (3.25) tal que ȳγ = φ.
Vamos mostrar que a solução trivial da EDOG (3.23), com F dada por (3.4), é
estável com respeito a perturbações e, então, o resultado seguirá pela Proposição 3.19.
Seja x uma solução da EDOG perturbada (3.26) com condição inicial x(t0 ) = x0
dada por (3.24), onde F e P são dadas por (3.4) e (3.5) respectivamente. Seja ε > 0 e
suponha que exista um δ = δ(ε) > 0 tal que δ < ε/2 e, mais ainda, suponha que

δ
kx0 k∞ < δ e sup kP (s) − P (γ)k < ,
s∈[γ,v] 2

onde x0 ∈ G− ([t0 − r, ∞), Rn ) e P ∈ G− ([γ, v], Rn ).


Como kx(t0 )k∞ = kx0 k∞ < δ, então supθ∈[t0 −r,+∞) |x(t0 )(θ)| < δ e, portanto,
supθ∈[t0 −r,t0 ] |φ(θ − t0 )| < δ. Assim,

kφk∞ < δ.

Como x é uma solução da EDOG perturbada, temos


Z u
x(u) − x(w) = DF (x(τ ), t) + P (u) − P (w),
w
54 Capı́tulo 3 — Comportamento assintótico de EDFs em medida via EDOGs

para u, w ∈ [γ, v]. Logo


Z s

sup x(s) − x(γ) −

= sup kP (s) − P (γ)k∞ < δ/2.
DF (x(τ ), t)
s∈[γ,v] γ s∈[γ,v]

Pela definição de P , obtemos

kP (s) − P (γ)k∞ = sup |P (s)(ϑ) − P (γ)(ϑ)|


ϑ∈[t0 −r,s]

≥ sup |P (s)(ϑ) − P (γ)(ϑ)|


ϑ∈[γ,s]
Z ϑ

= sup p(w)du(w)
ϑ∈[γ,s] γ
Z s


p(w)du(w) (3.27)
γ

Assim, por (3.27) e do fato de que sups∈[γ,v] kP (s) − P (γ)k∞ < δ/2, obtemos
Z s

sup p(v)du(v) < δ/2.
s∈[γ,v] γ

Então, pela estabilidade integral da solução trivial de (3.22), |y(t)| < ε/2, para todo
t ∈ [γ, v].
Finalmente, temos

kx(t)k∞ = sup |x(t)(θ)| = sup |y(θ)|


θ∈[t0 −r,+∞) θ∈[t0 −r,t]
ε
≤ kφk∞ + sup |y(θ)| ≤ δ + <ε
θ∈[t0 ,t] 2

e segue a suficiência do item (i).


Agora, utilizando (i) da Proposição 3.19, suponhamos que a solução trivial de (3.23)
seja estável com respeito a perturbações. Assim, dado ε > 0, seja δ = δ(ε) > 0 da
Definição 3.16.
Seja y uma solução da EDF em medida perturbada (3.25) com yγ = φ. Suponha
R s
que φ ∈ S, kφk∞ < δ com sups∈[γ,v] γ p(v)du(v) < δ/2. Queremos mostrar que y ≡ 0

é integralmente estável, ou seja, |y(t)| < ε, t ∈ [γ, v].


Seja x uma solução da EDOG perturbada (3.26) com F dada por (3.4) e P dada
por (3.5), ou seja, x é a solução correspondente a y obtida de acordo com o Teorema
3.11.
3.4 Relações entre conceitos de estabilidade para EDOGs e EDFs em medida 55

R
s
Pela definição da função P e do fato de que sups∈[γ,v] γ p(w)du(w) < δ/2, obtemos

sup kP (s) − P (γ)k∞ < δ/2.


s∈[γ,v]

Assim, da estabilidade com respeito a perturbações da solução trivial de (3.26), obtemos


kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v], o que implica que, para cada t ∈ [γ, v],

sup |x(t)(θ)| < ε.


θ∈[γ−r,v]

Portanto, a relação dada no Teorema 3.11 implica

sup |y(θ)| < ε, t ∈ [γ, v].


θ∈[γ−r,t]

Em particular,
sup |y(θ)| ≤ sup |y(θ)| < ε.
θ∈[γ,v] θ∈[γ−r,v]

Agora, vamos mostrar (ii). Suponha, então, que a solução trivial da EDOG (3.23)
seja atratora com respeito a perturbações. Então, existe δe > 0 e dado ε > 0 sejam
T = T (ε) ≥ 0 e ρ = ρ(ε) > 0 da Definição 3.17.
Seja y(t; γ, φ) uma solução da EDF
em medida perturbada (3.25). Suponha que
Rs
kφk∞ < δe e sups∈[γ,v] γ p(w)du(w) < ρ. Então,

sup kP (s) − P (γ)k∞ < ρ.


s∈[γ,v]

Pelo Teorema 3.11, kx0 k∞ = kφk∞ < δ. e Portanto, pela atratividade com respeito
a perturbações da solução trivial de (3.23), temos

kx(t)k∞ = kx(t; γ, x0 )k∞ < ε, t ≥ γ + T, t ∈ [[γ, v].

Logo, para t ≥ γ + T , t ∈ [γ, v], temos pelo Teorema 3.11,

|y(t)| = |x(t)(t)| ≤ kx(t)k∞ < ε.

A afirmação (iii) segue combinando (i), (ii) e a Proposição 3.19. 


Capı́tulo

4
Estabilidade de Lyapunov

Neste capı́tulo, vamos definir o conceito de estabilidade de Lyapunov para EDOGs


e relacioná-lo com a estabilidade no sentido de Lyapunov para EDFs em medida.
Ressaltamos que tal definição para EDOGs não existia na literatura.
Os conceitos de estabilidade para EDOGs conhecidos até hoje eram os que envolvem
o fato da solução ser de variação limitada, ou no caso de EDOGs relacionadas com EDFs
em medida, o fato da solução ser regrada, uma vez que funções de variação limitada são
regradas. As noções de estabilidade correspondentes para EDFs, levam a ideias mais
especı́ficas do que a noção clássica de estabilidade no sentido de Lyapunov, estabilidade
uniforme e estabilidade assintótica.
Pediremos menos hipóteses para os funcionais de Lyapunov do que o que foi assumi-
do no artigo recente [4] e obteremos resultados similares. Além disso, apresentaremos os
mesmos resultados (com as mesmas hipóteses) de [4], porém para equações em medida,
o que é uma generalização de tais resultados, já que em [4] temos apenas as aplicações
para equações diferenciais funcionais retardadas (EDFRs).

57
58 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

4.1 Estabilidade de Lyapunov para EDOGs


Nesta seção, definiremos os conceitos de estabilidade de Lyapunov para EDOGs e
mostraremos em quais condições podemos obter esta estabilidade, através de funcionais
de Lyapunov.
Lembramos que X denota um espaço de Banach com norma k · k. Sejam O ⊂ X
um aberto e F : O × [t0 , +∞) → X. Consideraremos a EDOG

dx
= DF (x(τ ), t) (4.1)

onde vamos supor que F (0, t) − F (0, s) = 0 para t, s ≥ t0 . Então, para todo intervalo
[γ, v] ⊂ [t0 , +∞), temos
Z v
DF (0, t) = F (0, v) − F (0, γ) = 0
γ

e, portanto, x ≡ 0 é uma solução de (4.1) em [t0 , +∞).


A seguir, apresentaremos novos conceitos de estabilidade da solução trivial de uma
EDOG.

Definição 4.1. A solução trivial x ≡ 0 de (4.1) será dita

(i) Estável (no sentido de Lyapunov), se para quaisquer γ ≥ t0 e ε > 0, existir


δ = δ(ε, γ) > 0 tal que se x̃ ∈ O e x̄ : [γ, v] → O for uma solução de (4.1) em
[γ, v] ⊂ [t0 , +∞) satisfazendo a condição inicial x̄(γ) = x̃ e

kx̃k < δ,

então
kx̄(t)k < ε, t ∈ [γ, v].

(ii) Uniformemente estável, se o número δ no item (i) for independente de γ.

(iii) Uniformemente assintoticamente estável, se existir δ0 > 0 e para todo ε > 0,


existir T = T (ε) ≥ 0, tal que x̃ ∈ O e x̄ : [γ, v] → O for uma solução de (4.1) em
[γ, v] satisfazendo a condição inicial x̄(γ) = x̃ e

kx̃k < δ0 ,
4.1 Estabilidade de Lyapunov para EDOGs 59

então
kx̄(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞).

A seguir, enunciaremos uma ferramenta importante para a demonstração de nosso


primeiro resultado. Uma demonstração desta proposição pode ser encontrada em [25],
Proposição 10.11.

Proposição 4.2. Suponha que −∞ < a < b < +∞ e que f, g : [a, b] → R sejam
funções contı́nuas à esquerda em (a, b]. Se para todo σ ∈ [a, b], existir δ(σ) > 0 tal que
para todo η ∈ (0, δ(σ)) a desigualdade

f (σ + η) − f (σ) ≤ g(σ + η) − g(σ)

vale, então teremos


f (s) − f (a) ≤ g(s) − g(a)

para todo s ∈ [a, b].

O lema a seguir será essencial na demonstração dos teoremas de estabilidade para


EDOGs. Ele é uma adaptação de [3], Lema 5.2 e do Lema 10.12 de [25].

Lema 4.3. Suponha que V : [t0 , +∞) × X → R seja tal que V (·, x) : [t0 , +∞) → R
é contı́nua à esquerda em (t0 , +∞) para x ∈ X e que exista uma função φ : X → R
tal que para toda função x : [γ, v] → X, com [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), contı́nua à esquerda e
regrada, temos

V (t + η, x(t + η)) − V (t, x(t))


V̇ (t, x(t)) = lim sup ≤ φ(x(t)), t ∈ [γ, v]. (4.2)
η→0+ η

Então,
V (v, x(v)) − V (γ, x(γ)) ≤ M (v − γ), (4.3)

onde M = sup φ(x(t)).


t∈[γ,v]

Demonstração: Seja σ ∈ [γ, v] qualquer. Pela condição (4.2), existe δ(σ) > 0
suficientemente pequeno tal que, para todo ρ ∈ (0, δ(σ)) vale que

V (σ + ρ, x(σ + ρ)) − V (σ, x(σ)) ≤ ρφ((x(σ))) ≤ M ρ,

onde M = sup φ(x(t)).


t∈[γ,v]
60 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Definindo f (t) = M t, obtemos

V (σ + ρ, x(σ + ρ)) − V (σ, x(σ)) ≤ f (σ + ρ) − f (σ).

Estamos, então, nas hipóteses do Proposição 4.2 e, portanto,

V (v, x(v)) − V (γ, x(γ)) ≤ f (v) − f (γ) = M (v − γ),

o que conclui a demonstração. 

A seguir, definiremos funcional de Lyapunov para EDOGs. Esta definição foi dada
em [4] e é mais geral do que a definição dada em [25].

Definição 4.4. Diremos que V : [t0 , +∞) × X → R é um funcional de Lyapunov (com


respeito à EDOG (4.1)), se as seguintes condições forem satisfeitas:

(i) V (·, x) : [t0 , +∞) → R é contı́nua à esquerda em (t0 , +∞), para todo x ∈ X;

(ii) Existe uma função b : R+ → R+ , contı́nua, estritamente crescente, com b(0) = 0


(diremos que tal função é de classe Hahn), tal que

V (t, x) ≥ b(kxk),

para quaisquer t ∈ [t0 , +∞) e x ∈ X;

(iii) Para toda x̄ : [γ, v] → X solução de (4.1), com [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), temos

V (t + η, x̄(t + η)) − V (t, x̄(t))


V̇ (t, x̄(t)) = lim sup ≤ 0, t ∈ [γ, v],
η→0+ η

ou seja, a derivada de V é não positiva ao longo de soluções de (4.1).

O teorema a seguir nos garante a estabilidade uniforme da solução trivial de (4.1).

Teorema 4.5. Suponha que V : [t0 , +∞) × B̄ρ → R seja um funcional de Lyapunov
para a EDOG (4.1), onde B̄ρ = {x ∈ X ; kxk ≤ ρ}. Suponha, ainda, que V satisfaça
a seguinte condição:

• Existe uma constante K > 0 tal que

|V (γ, x̄(γ))| ≤ Kkx̄(γ)k,

para toda solução x̄ : [γ, v] → X de (4.1) em [γ, v] ⊂ [t0 , +∞).


4.1 Estabilidade de Lyapunov para EDOGs 61

Então a solução trivial x ≡ 0 da EDOG (4.1) será uniformemente estável.

Demonstração: Seja x̄ : [γ, v] → X uma solução da EDOG (4.1) em [γ, v] ⊂


[t0 , +∞). Pela condição (iii) da Definição 4.4 e pelo Lema 4.3,

V (t, x̄(t)) ≤ V (γ, x̄(γ)), t ∈ [γ, v].

Como V é um funcional de Lyapunov, existe uma função b : R+ → R+ de classe


Hahn tal que V (t, x) ≥ b(kxk), para qualquer par (t, x) ∈ [t0 , +∞) × B̄ρ .
Dado ε > 0, temos b(ε) > 0. Seja δ(ε) > 0 tal que Kδ(ε) < b(ε). Se kx̄(γ)k < δ(ε),
obtemos

V (t, x̄(t)) ≤ V (γ, x̄(γ)) ≤ |V (γ, x̄(γ))|


≤ Kkx̄(γ)k < Kδ(ε) < b(ε), t ∈ [γ, v]. (4.4)

Por outro lado, suponha que exista u ∈ [γ, v] tal que kx̄(u)k ≥ ε. Então

V (u, x̄(u)) ≥ b(kx̄(u)k) ≥ b(ε),

o que contradiz (4.4). Portanto kx̄(t)k < ε, para todo t ∈ [γ, v] necessariamente e a
demonstração está completa. 

Teorema 4.6. Seja V : [t0 , +∞) × B̄ρ → R um funcional de Lyapunov, onde B̄ρ =
{x ∈ X ; kxk ≤ ρ}. Suponha que V satisfaça a condição (i) do Teorema 4.5. Suponha,
ainda, que exista uma função contı́nua φ : X → R, com φ(0) = 0 e φ(x) > 0 para
x 6= 0, tal que para toda solução x̄ : [γ, v] → B̄ρ da equação (4.1), com [γ, v] ⊂ [t0 , +∞),
vale
V̇ (t, x̄(t)) ≤ −φ(x̄(t)), t ∈ [γ, v]. (4.5)

Então a solução trivial x ≡ 0 da EDOG (4.1) será uniformemente assintoticamente


estável.

Demonstração: Como todas as condições do Teorema 4.5 estão satisfeitas, a solução


x ≡ 0 é uniformemente estável. Sabemos, então, que:

(I) Existe δ̃ ∈ (0, ρ) tal que se x̄ : [γ, v] → X for uma solução de (4.1) em [γ, v] ⊂
[t0 , +∞) com
kx̄(γ)k < δ̃,
62 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

então
kx̄(t)k < ρ, t ∈ [γ, v].

(II) Para todo ε > 0, existe δ = δ(ε) > 0, com δ < ε, tal que se x̄ : [γ̄, v̄] → Bc for
uma solução de (4.1) em [γ̄, v̄] ⊂ [t0 , +∞) com

kx̄(γ̄)k < δ,

então
kx̄(t)k < ε, t ∈ [γ̄, v̄].

Seja

N = sup{−φ(y); δ(ε) ≤ kyk < ε}


= − inf{φ(y); δ(ε) ≤ kyk < ε} < 0

e definimos ( )
δ̃
T (ε) := min v − γ, −K > 0,
N

onde K vem de (i) do Teorema 4.5.


Suponha que x̄ : [γ, v] → Bc seja uma solução da EDOG (4.1) em [γ, v] ⊂ [t0 , +∞)
tal que
kx̄(γ)k < δ̃. (4.6)

Queremos mostrar que

kx̄(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T (ε), +∞), γ ≥ 0.

Afirmamos que existe t∗ ∈ [γ, γ + T (ε)] tal que kx̄(t∗ )k < δ(ε). De fato, suponha
o contrário, ou seja, kx̄(s)k ≥ δ(ε), para todo s ∈ [γ, γ + T (ε)]. Pelo Lema 4.3, pela
condição (i) do Teorema 4.5 e por (4.6), temos

V (γ + T (ε), x̄(γ + T (ε))) ≤ V (γ, x̄(γ)) + N.T (ε)


!
δ̃
≤ Kkx̄(γ)k + N −K
N
< K δ̃ − K δ̃ = 0.
4.2 Estabilidade de Lyapunov para EDFs em medida via EDOGs 63

Por outro lado, como V é um funcional de Lyapunov, existe uma função b : R+ →


R+ de classe Hahn tal que

V (t, x) ≥ b(kxk), (t, x) ∈ [t0 , +∞) × X.

Assim,
V (γ + T (ε), x̄(γ + T (ε))) ≥ b(kx̄(γ + T (ε))k) ≥ b(δ(ε)) > 0,

o que é uma contradição. Logo, kx̄(t)k < ε para t ∈ [t∗ , v], uma vez que (II) vale para
γ̄ = t∗ e v̄ = v. Além disso, kx̄(t)k < ε para t > γ + T (ε), já que t∗ ∈ [γ, γ + T (ε)], o
que conclui o resultado. 

4.2 Estabilidade de Lyapunov para EDFs em medida


via EDOGs
Nesta seção, vamos considerar a EDF em medida

Dy = f (yt , t)Dg, (4.7)

com f : S × [t0 , +∞) → Rn , onde S = {xt ; x ∈ O, t ∈ [t0 , +∞)} e O ⊂ G([t0 −


r, +∞), Rn ) tem a propriedade do prolongamento definida no Capı́tulo 3.
Também vamos considerar g : [t0 , +∞) → R não decrescente e f (0, t) = 0 para
todo t ∈ [t0 , +∞). Assim y ≡ 0 é uma solução de (4.7).
Suponhamos que f satisfaça as condições (H1 ) até (H3 ) do Capı́tulo 3, ou seja,

Rt
(H1 ) A integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes t0
f (ys , s)dg(s) existe para quaisquer
y ∈ O e t ∈ [t0 , ∞).

(H2 ) Existe uma função M : [t0 , ∞) → R localmente Lebesgue-Stieltjes integrável,


com respeito a g tal que a desigualdade
v v
Z Z


f (ys , s)dg(s) ≤ M (s)dg(s)
u u

vale para quaisquer y ∈ O e u, v ∈ [t0 , ∞).


64 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

(H3 ) Existe uma função L : [t0 , ∞) → R localmente Lebesgue-Stieltjes integrável com


respeito a g tal que a desigualdade
Z v Z v

[f (ys , s) − f (zs , s)]dg(s) ≤ L(s)kys − zs k∞ dg(s)

u u

vale para quaisquer y, z ∈ O e u, v ∈ [t0 , ∞).

Além disso, assumimos que F da equação (4.1) é dada pela relação descrita na
equação (3.4), ou seja, para y ∈ O e t ∈ [t0 , +∞), temos



 0, t0 − r ≤ ϑ ≤ t0 ,

 ϑ

 Z
F (y, t)(ϑ) = f (ys , s)dg(s), t0 ≤ ϑ ≤ t < +∞,
 t0

 Z t



 f (ys , s)dg(s), t ≤ ϑ < +∞.
t0

Neste caso, F : O × [t0 , +∞) → G([t0 − r, +∞), Rn ) e pelo Teorema 3.11, temos uma
relação entre problemas de valor inicial para as equações (4.1) e (4.7).
Dados t ≥ t0 e uma função ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ), consideramos a EDF em medida
(4.7) com condição inicial yt = ψ. Consideramos, também, que a EDOG (4.1) sujeita
à condição inicial x(t) = x e(τ ) = ψ(τ − t), t − r ≤ τ ≤ t, e x
e, onde x e(τ ) = ψ(0), τ ≥ t.
n
Pelo Teorema 3.12, existe uma única solução y : [t−r, v] → R da EDF em medida (4.7)
que satisfaz yt = ψ. E, pelo Teorema 3.11, podemos encontrar uma solução x : [t, v] →
G− ([t, v], Rn ) da EDOG (4.1), com condição inicial x(t) = x
e. Então x(t)(t+θ) = y(t+θ)
para todo θ ∈ [−r, 0] e, portanto, (x(t))t = yt . Neste caso, escrevemos yt+η = yt+η (t, ψ)
para todo η ≥ 0. Então, para U : [t0 , +∞) × G− ([−r, 0], Rn ) → R, definimos

U (t + η, yt+η (t, ψ)) − U (t, yt (t, ψ))


D+ U (t, ψ) = lim sup , t ≥ t0 .
η→0+ η

Por outro lado, dado t ≥ t0 , se xe ∈ G− ([t − r, +∞), Rn ) for tal que x e(τ ) = ψ(τ − t),
t−r ≤ τ ≤ t, e x e(τ ) = ψ(0), τ ≥ t, então existirá, pelo Teorema 1.6, uma única solução
x : [t, v] → G− ([t, v], Rn ) da EDOG (4.1) tal que x(t) = x e, com [t, v] ⊂ [t0 , +∞). Pelo
Teorema 3.11, podemos encontrar uma solução y : [t − r, v] → Rn de (4.7) que satisfaz
yt = ψ e é descrita em termos de x. Neste caso, escrevemos xψ (t) em lugar de x(t)
e temos yt (t, ψ) = (xψ (t))t = ψ. Consequentemente, (t, xψ (t)) 7→ (t, yt (t, ψ)) é uma
aplicação biunı́voca e podemos definir uma função V : [t0 , +∞) × O → R por

V (t, xψ (t)) = U (t, yt (t, ψ)). (4.8)


4.2 Estabilidade de Lyapunov para EDFs em medida via EDOGs 65

Portanto

V (t + η, xψ (t + η)) − V (t, xψ (t))


D+ U (t, ψ) = lim sup , t ≥ t0 . (4.9)
η→0+ η

Assim, dado t ≥ t0 , temos kyt (t, ψ)k = kxψ (t)k, pois

kyt (t, ψ)k = kyt k = sup |y(t + θ)| = sup |y(τ )| = sup |xψ (t)(τ )|
−r≤θ≤0 t−r≤τ ≤t t−r≤τ ≤t

= sup |xψ (t)(τ )| = kxψ (t)k,


t−r≤τ <+∞

onde a quarta igualdade segue do Teorema 3.11


A seguir, definimos um funcional de Lyapunov U : [t0 , +∞) × G− ([−r, 0], Rn ) → R
com respeito à EDF em medida (4.7).

Definição 4.7. Diremos que U : [t0 , +∞) × G− ([−r, 0], Rn ) → R é um funcional de


Lyapunov (com respeito a EDF em medida (4.7)), se as seguintes condições forem
satisfeitas:

(i) U (·, ψ) : [t0 , +∞) → R é contı́nua à esquerda em (t0 , +∞), para qualquer ψ ∈
G− ([−r, 0], Rn );

(ii) Existe uma função b : R+ → R+ de classe Hahn tal que

U (t, ψ) ≥ b(kψk),

para cada t ≥ t0 e para cada ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn );

(iii) A desigualdade
D+ U (t, ψ) ≤ 0

vale para cada t ≥ t0 e para cada ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ).

Note que, se U : [t0 , +∞) × G− ([−r, 0], Rn ) → R for um funcional de Lyapunov,


então o funcional V : [t0 , +∞) × O → R dado pela relação (4.8) satisfará as condições
(i), (ii) e (iii) da Definição 4.4, ou seja, V também será um funcional de Lyapunov. Por
(4.8) e (4.9), é fácil ver que V satisfaz as condições (i) e (iii) da Definição 4.4. Portanto,
basta verificarmos que V satisfaz (ii). De fato, se t ≥ t0 e z ∈ O, então existirão uma
solução x da EDOG (4.1) e uma função ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ) tais que z = xψ (t),
(xψ (t))t = yt (t, ψ), onde y é a solução da EDF em medida (4.7) correspondente a x.
Mas
kψk = kyt (t, ψ)k = kxψ (t)k = kzk.
66 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Como U é um funcional de Lyapunov, pela condição (ii) da Definição 4.4, obtemos

V (t, z) = V (t, xψ (t)) = U (t, yt (t, ψ)) = U (t, ψ) ≥ b(kψk) = b(kzk),

o que mostra (ii).


Para o que vem a seguir, consideremos os conjuntos

E ρ = {y ∈ G− ([−r, 0], Rn ); kyk ≤ ρ}

e
B ρ = {x ∈ O; kxk ≤ ρ},
Teorema 4.8. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Suponha
que U : [t0 , +∞) × E ρ → R seja um funcional de Lyapunov para a equação (4.7).
Suponha, ainda, que para cada ψ ∈ E ρ ,

|U (t, ψ)| ≤ Kkψk. (4.10)

Então a solução y ≡ 0 de (4.7) será uniformemente estável.

Demonstração: Como f satisfaz as condições (H1 ) até (H3 ) do Capı́tulo 3, a


função F na equação (4.1) pertence à classe F(Ω, h), onde Ω = O × [t0 , +∞) com
h : [t0 , +∞) → R dada por
Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]dg(s), t ∈ [t0 , +∞).
t0

Seja V : [t0 , +∞)×B ρ → R dado por (4.8). Como visto acima, V é um funcional de
Lyapunov para a EDOG (4.1). Note que a condição (4.10) implica que a condição (i)
do Teorema 4.5 é válida. De fato, se denotarmos y(t) = y(t; γ, φ) uma solução qualquer
de (4.7) e definirmos
(
y (τ ) , γ − r ≤ τ ≤ t,
x (t) (τ ) = (4.11)
y (t) , τ ≥ t,

então, pelo Teorema 3.11, x(t) será uma solução da EDOG (4.1), satisfazendo a
condição inicial x(γ) = x
e, com
(
φ (τ − γ) , γ − r ≤ τ ≤ γ,
x
e (τ ) = (4.12)
φ(0), τ ≥ γ.
4.2 Estabilidade de Lyapunov para EDFs em medida via EDOGs 67

Logo,

V (γ, xφ (γ)) = U (γ, y γ (t, φ)) = U (γ, φ)


≤ Kkφk = K sup |e
x(τ )| = Kkx(γ)k∞ .
γ−r≤τ <+∞

Assim, as hipóteses do Teorema 4.5 estão satisfeitas e a solução x ≡ 0 da EDOG


(4.1) é uniformemente estável.
Dado ε > 0, queremos mostrar que existe δ(ε) > 0 tal que, se φ ∈ E ρ e y : [γ, v] →
Rn for uma solução de (4.7) tal que y γ = φ, com t0 ≤ γ < v < ∞ e

kφk < δ (4.13)

então
ky t (γ, φ)k < ε, t ∈ [γ, v]. (4.14)

Como
kx(γ)k = sup |e
x(τ )| = kφk < δ (4.15)
γ−r≤τ <+∞

e x ≡ 0 é uniformemente estável, então kx(t)k < ε, para todo t ∈ [γ, v]. Logo (4.11)
implica que, para qualquer t ∈ [γ, v],

ky t (γ, φ)k = ky t k = sup |y(t + θ)| ≤ sup |y(τ )|


−r≤θ≤0 γ−r≤τ ≤v

= sup |x(v)(τ )| = sup |x(v)(τ )| (4.16)


γ−r≤τ ≤v γ−r≤τ <+∞

= kx(v)k < ε.

Portanto temos (4.14), o que completa a demonstração. 

Teorema 4.9. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Suponha


que U : [t0 , +∞) × Eρ → R seja um funcional de Lyapunov e que satisfaça a condição
(4.10) do Teorema 4.8. Além disso, suponha que exista uma função contı́nua Λ :
R+ → R+ tal que Λ(0) = 0 e Λ(x) > 0 se x 6= 0, de forma que, para qualquer ψ ∈ E ρ ,
tenhamos
D+ U (t, ψ) ≤ −Λ(kψk), t ≥ t0 . (4.17)

Então a solução trivial y ≡ 0 de (4.7) será uniformemente assintoticamente estável.

Demonstração: Seja V : [t0 , +∞) × B ρ → R dado por (4.8). Então as hipóteses do


Teorema 4.5 estão satisfeitas (já que V também satisfaz a condição (4.10)).
68 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Definimos Φ : B ρ → R por Φ(z) = Λ(kzk), para z ∈ B ρ . Então Φ é contı́nua,


Φ(0) = 0 e Φ(z) > 0 sempre que z 6= 0.
Se x : [t, +∞) → B ρ for uma solução de (4.1) tal que (x(t))t = ψ, onde t ∈ [t0 , +∞)
e ψ ∈ E ρ , consideramos y : [t − r, +∞) → Rn a solução de (4.7), dada pelo Teorema
3.11, que satisfaz yt = ψ. Por (4.17), temos

V (t + η, xψ (t + η)) − V (t, xψ (t))


lim sup = D+ U (t, yt (t, ψ)) =
η→0+ η

= D+ U (t, ψ) ≤ −Λ(kψk) = −Λ(kyt k).

Como,
kyt k = kxψ (t)k,

obtemos

V (t + η, xψ (t + η)) − V (t, xψ (t))


lim sup ≤ −Λ(kyt k) = −Λ(kxψ (t)k) = −Φ(xψ (t))
η→0+ η

e as hipóteses do Teorema 4.6 estão satisfeitas. Então x ≡ 0 é uniformemente assin-


toticamente estável e, assim, existe δ0 > 0 e para todo ε > 0, existe T = T (ε) ≥ 0 tal
que, se x : [γ, v] → Bc , t0 ≤ γ < v < +∞, for uma solução de (4.1) em [γ, v] tal que

kx(γ)k < δ0 , (4.18)

então
kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞), γ ≥ t0 . (4.19)

Dado ε > 0, sejam δ0 > 0 e T = T (ε) como acima. Seja φ ∈ Ec e consideramos


y : [γ − r, +∞) → Rn , a solução de (4.7) tal que y γ = φ e

kφk < δ0 . (4.20)

Queremos mostrar que

ky t (γ, φ)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞), γ ≥ t0 . (4.21)

Mas este fato segue como na demonstração do Teorema 4.8. Por (4.20), é possı́vel obter
(4.18), como feito no Teorema 4.8. Assim, (4.21) segue, já que temos (4.16), como no
Teorema 4.8 e (4.19). 
4.2 Estabilidade de Lyapunov para EDFs em medida via EDOGs 69

Nos teoremas a seguir, consideraremos funções U : [t0 − r, +∞) × Rn → R. Tais


resultados são mais gerais dos que aqueles apresentados em [4], pois aqui não pedimos a
hipótese de que o funcional U satisfaça uma condição de Lipschitz na segunda variável,
além, é claro, de aqui tratarmos de EDFs em medida e em [4] ser tratado o caso de
uma EDFR usual. Entretanto, as demonstrações são análogas às demonstrações feitas
nos Teoremas 4.8 e 4.9 de [4] e, portanto, as demonstrações serão omitidas aqui. A
ideia em ambos os teoremas é utilizar o Teorema 4.9. Estes resultados são teoremas do
tipo Razumikhin e também são generalizações dos Teoremas 5.4.1 e 5.4.2 de [17].
A derivada de U ao longo das soluções de (4.7) é dada por

U (t + η, y(t + η, t, ψ)) − U (t, y(t, t, ψ))


D+ U (t, y(t)) = lim sup , t ≥ t0 ,
η→0+ η

onde y(s, t, ψ) é a solução de (4.7) que satisfaz yt = ψ, ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ). Podemos


escrever D+ U (t, ψ(0)) no lugar de D+ U (t, y(t)), já que dados t ≥ t0 e uma função
inicial ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ), existe uma única solução de (4.7) que satisfaz yt = ψ e,
assim, y(t) = ψ(0). Vamos, então, aos teoremas.
Teorema 4.10. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Suponha
que U : [t0 − r, +∞) × Rn → R seja contı́nua à esquerda em (t0 − r, +∞) e que os
limites
U (t−, y(t−)) = lim− U (s, y(s)), t ∈ (t0 − r, +∞)
s→t

e
U (t+, y(t+)) = lim+ U (s, y(s)), t ∈ [t0 − r, +∞),
s→t

existam, com a igualdade U (t−, y(t−)) = U (t, y(t)) satisfeita, para y ∈ G− ([t0 −
r, +∞), Rn ). Além disso, suponha que U satisfaça as seguintes condições:

(i) Existe uma função b : R+ → R+ de classe Hahn tal que

U (t, y(t)) ≥ b(kyt k)

para quaisquer y ∈ G− ([t0 − r, +∞), Rn ) e t ∈ [t0 , +∞);

(ii) Existe uma função Λ : R+ → R+ tal que

D+ U (t, ψ(0)) ≤ −Λ(|ψ(0)|), sempre que U (t + θ, ψ(θ)) ≤ U (t, ψ(0)),

para quaisquer t ∈ [t0 , +∞), θ ∈ [−r, 0] e ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ).

Então a solução trivial y ≡ 0 de (4.7) será uniformemente estável.


70 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

A ideia da demonstração do Teorema 4.10 é definir

U (s, ξ) = sup U (s + θ, ξ(θ))


θ∈[−r,0]

para s ≥ t0 e ξ ∈ E ρ e mostrar que este funcional satisfaz as condições do Teorema 4.8.


Como dito anteriormente, o restante da demonstração será omitida por ser análoga à
demonstração do Teorema 4.8 de [4].
Antes de enunciarmos o último resultado, vamos definir o conceito de atrator global
como feito em [17]. Antes disso, precisamos definir o conceito de processo como em
[17]. A definição a seguir é a Definição 4.1.1 de [17].

Definição 4.11. Seja X um espaço de Banach, R+ = [0, +∞), u : R × X × R+ → X


uma aplicação dada e defina U (σ, t) : X → X para σ ∈ R, t ∈ R+ por U (σ, t)x =
u(σ, x, t). Um processo em X é uma aplicação u : R × X × R+ → X satisfazendo as
seguintes propriedades:

(i) u é contı́nua;

(ii) U (σ, 0) = I, a identidade;

(iii) U (σ + s, t) = U (σ, s + t).

Um processo será dito autônomo, ou semigrupo, se U (σ, t) independer de σ, ou seja,


temos T (t) = U (0, t). Note que o fluxo, definido no Capı́tulo 1 é um semigrupo. Con-
siderando a equação (4.7) com condição inicial yt = φ e supondo que esta admita uma
única solução contı́nua x(σ, φ)(t), podemos definir um processo da seguinte maneira:
u(σ, φ, τ ) = xσ+τ (σ, φ).
Vamos, agora, definir o conceito de atração e atrator global para um processo. Esta
é a Definição 4.6.1 de [17].

Definição 4.12. Dados um processo u em X e σ ∈ R, diremos que um conjunto M ⊂


R × X atrai um conjunto H ⊂ X em σ se, para todo ε > 0, existir um t0 = t0 (ε, H, σ)
tal que (σ + t, U (σ, t)H) ⊂ B(M, ε) para t ≥ t0 (ε, H, σ), onde B(M, ε) denota a ε-
vizinhança do conjunto M . Diremos que M atrai conjuntos limitados, se M atrair
cada conjunto limitado de X. Por fim, diremos que M é um atrator global, se M for
invariante pelo processo e atrair conjuntos limitados de X.

Teorema 4.13. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Seja


U : [t0 − r, +∞) × Rn → R uma função contı́nua à esquerda em (t0 − r, +∞). Suponha
4.3 Outros resultados de estabilidade 71

que os limites

U (t−, y(t−)) = lim− U (s, y(s)), t ∈ (t0 − r, +∞),


s→t

e
U (t+, y(t+)) = lim+ U (s, y(s)), t ∈ [t0 − r, +∞),
s→t

existam, com U (t−, y(t−)) = U (t, y(t)), para y ∈ G− ([t0 − r, +∞), Rn ). Suponha que
as condições (i) e (ii) do Teorema 4.10 estejam satisfeitas e que exista uma função
d : R+ → R+ de classe Hahn tal que para toda solução y de (4.7), tenhamos

sup U (s + θ, y(s + θ)) ≤ d(|y(s)|), (4.22)


θ∈ [−r,0]

onde s ≥ t0 , com d(t) ≥ b(t), para todo t ≥ 0. Suponha, ainda, que exista uma função
Λ : R+ → R+ que satisfaça Λ(0) = 0 e Λ(x) > 0, se x 6= 0, e que exista uma função
contı́nua e não decrescente p(s) > s para s > 0 tal que

D+ U (t, ψ(0)) ≤ −Λ(|ψ(0)|) se U (t + θ, ψ(θ)) < p(U (t, ψ(0)), (4.23)

para θ ∈ [−r, 0], t ∈ [t0 , +∞) e ψ ∈ G− ([−r, 0], Rn ). Então a solução trivial y ≡ 0
de (4.7) será uniformemente assintoticamente estável. Se, além disso, a função b do
teorema anterior satisfizer b(s) → ∞ quando s → ∞, então a solução x = 0 será um
atrator global para a equação diferencial funcional em medida (4.7).

A demonstração deste teorema é análoga àquela feita em [4], Teorema 4.9. Esta de-
monstração segue algumas ideias da demonstração feita em [17], Teorema 5.4.2. Nesta
demonstração podemos observar que o fato de b(s) → ∞ quando s → ∞ implica
que podemos fixar um δ arbitrário e determinar um H tal que d(δ) = b(H) e, como
demonstrado no Teorema 5.4.2 de [17], este fato e a estabilidade assintótica uniforme
da solução nula, implicam que x = 0 é um atrator global.

4.3 Outros resultados de estabilidade


Nesta seção, apresentaremos mais alguns resultados de estabilidade para EDFs em
medida. Tais resultados são análogos aos resultados de [4], porém aqui tais resultados
valem para o caso de EDFs em medida e em [4] valem apenas para EDFRs.
72 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Consideramos que as hipóteses sobre a equação (4.1) são as mesmas que foram
descritas no inı́cio deste capı́tulo e que as hipóteses sobre a equação (4.7) são as mesmas
da Seção 2 deste capı́tulo.
Apresentaremos primeiramente os resultados de estabilidade para EDOGs e, uti-
lizando o Teorema 3.11, obteremos os resultados de estabilidade para equações em
medida.
Todas as definições que serão utilizadas nesta seção, tais como estabilidade regular,
atratividade regular, estabilidade assintótica regular e funcionais de Lyapunov, foram
apresentadas anteriormente no Capı́tulo 3 e nas Seções 1 e 2 do Capı́tulo 4.
Antes do primeiro lema desta seção, precisamos de dois resultados auxiliares que
serão enunciados aqui. O primeiro deles é o conhecido Lema de Saks-Henstock. Uma
demonstração dele pode ser encontrada em [25], Lema 1.13, para X = Rn . A demons-
tração para X sendo um espaço de Banach arbitrário é análoga.

Lema 4.14. Seja U : [a, b] × [a, b] → X Kurzweil integrável sobre [a, b]. Dado ε > 0,
seja δ um calibre em [a, b] tal que

Xk Z b
[U (τj , sj ) − U (τj , sj−1 )] − DU (τ, t) < ε (4.24)


j=1 a

para toda divisão marcada δ-fina d = {(τj , [sj−1 , sj ]), j = 1, 2, . . . , k} de [a, b]. Se

a ≤ β1 ≤ ξ1 ≤ γ1 ≤ β2 ≤ ξ2 ≤ γ2 ≤ . . . ≤ βm ≤ ξm ≤ γm ≤ b

representar uma divisão parcial marcada δ-fina {(ξj , [βj , γj ]), j = 1, 2, . . . , m} de [a, b],
isto é,
ξj ∈ [βj , γj ] ⊂ (ξj − δ(ξj ), ξj + δ(ξj )), j = 1, 2, . . . , m,

então teremos
" #
Xm Z γj
U (ξj , βj ) − U (ξj , γj ) − DU (τ, t) < ε. (4.25)



j=1 βj

Como consequência do Lema de Saks-Henstock, temos o seguinte resultado.

Corolário 4.15. Seja U : [a, b] × [a, b] → X Kurzweil integrável sobre [a, b]. Dado
ε > 0, seja δ um calibre em [a, b]. Seja [γ, v] um subintervalo fechado de [a, b]. Então,
4.3 Outros resultados de estabilidade 73

(i) (v − γ) < δ (γ) implica


v
Z

U (γ, v) − U (γ, γ) − DU (τ, t)
< ε;
γ

(ii) (v − γ) < δ (v) implica


v
Z

U (v, v) − U (v, γ) − DU (τ, t)
< ε.
γ

Agora somos capazes de demonstrar nossos resultados. O lema a seguir é uma


generalização do Lema 10.12 de [25].

Lema 4.16. Seja G ∈ F(Ω, h). Suponha que V : [t0 , +∞) × X → R seja tal que
V (·, x) : [t0 , +∞) → R é contı́nua à esquerda em (t0 , +∞) para x ∈ X e satisfaça

|V (t, z) − V (t, y)| ≤ Kkz − yk, z, y ∈ X, t ∈ [t0 , +∞), (4.26)

onde K é uma constante positiva. Além disso, suponha que exista uma função Φ :
X → R tal que para toda solução x : [a, b] → X, [a, b] ⊂ [t0 , +∞), de (4.1), tenhamos

V (t + η, x(t + η)) − V (t, x(t))


V̇ (t, x(t)) = lim sup ≤ Φ(x(t)), t ∈ [a, b]. (4.27)
η→0+ η

Se x : [γ, v] → X, t0 ≤ γ < v < +∞, for contı́nua à esquerda em (γ, v] e de variação


limitada em [γ, v], então
 Z s 

V (v, x(v)) − V (γ, x(γ)) ≤ K sup x(s) − x(γ) −

k + M (v − γ),
DG(x(τ ), t)
s∈[γ,v] γ
(4.28)
onde M = sup Φ(x(t)).
t∈ [γ,v]

Demonstração: Seja x : [γ, v] → X uma função contı́nua à esquerda em (γ, v] e


Rv
regrada em [γ, v] ⊂ [t0 , +∞). Pela Proposição 1.5, a integral γ DG(x(τ ), t) existe.
Tomemos σ ∈ [γ, v]. Pelo Teorema 1.6, a equação (4.1) admite uma solução local,
digamos, x : [σ, σ + η1 (σ)] → X em [σ, σ + η1 (σ)], satisfazendo a condição inicial
R σ+η (σ)
x(σ) = x(σ). É claro que a integral σ 1 DG(x(τ ), t) existe.
Seja η2 > 0 suficientemente pequeno tal que η2 ≤ η1 (σ) e σ + η2 ≤ v. Então a
R σ+η R σ+η
integral σ 2 DG(x(τ ), t) existe e a integral σ 2 D[G(x(τ ), t) − G(x(τ ), t)] também
existe pela propriedade da integral de Kurzweil de integrabilidade em subintervalos.
74 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Portanto, dado ε > 0, existe um calibre δ de [σ, σ + η2 ] correspondente a ε na definição


da última integral. Podemos supor, sem perda de generalidade, que η2 < δ(σ). Por
(4.27), podemos tomar 0 < η ≤ η2 de forma que a desigualdade

V (σ + η, x(σ + η)) − V (σ, x(σ)) ≤ ηΦ(x(σ)) (4.29)

seja válida, e podemos supor, pelo Corolário 4.15(i), que


σ+η
Z

G(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) −
η
DG(x(τ ), t) <
2K (4.30)
σ

e Z σ+η


G(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) −
η
< 2K .
DG(x(τ ), t) (4.31)
σ

Note que
σ+η
Z


D[G(x(τ ), t) − G(x(τ ), t)]

σ

− kG(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) − G(x(σ), σ + η) + G(x(σ), σ)k


Z σ+η

≤ D[G(x(τ ), t) − G(x(τ ), t)]
σ

−(G(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) − G(x(σ), σ + η) + G(x(σ), σ))k


Z σ+η

≤ G(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) − DG(x(τ ), t)
σ
Z σ+η

+ G(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) −
DG(x(τ ), t)
.
σ

Como

kG(x(σ), σ + η) − G(x(σ), σ) − G(x(σ), σ + η) + G(x(σ), σ)k

≤ kx(σ) − x(σ)k|h(σ + η) − h(σ)| = 0,

uma vez que x(σ) = x(σ) e vale (1.4), segue por (4.30) e (4.31) que
σ+η
Z
η

D[G(x(τ ), t) − G(x(τ ), t)]
≤ K. (4.32)
σ

Além disso, (4.26) implica

V (σ + η, x(σ + η)) − V (σ + η, x(σ + η)) ≤


4.3 Outros resultados de estabilidade 75

≤ Kkx(σ + η) − x(σ + η)k = Kkx(σ + η) − x(σ) + x(σ) − x(σ + η)k


Z σ+η

=K x(σ + η) − x(σ) − DG(x(τ ), t) .
(4.33)
σ

Então (4.33), (4.29) e (4.32) implicam

V (σ + η, x(σ + η)) − V (σ, x(σ))

= V (σ + η, x(σ + η)) − V (σ + η, x(σ + η)) + V (σ + η, x(σ + η)) − V (σ, x(σ))


Z σ+η

≤K x(σ + η) − x(σ) − DG(x(τ ), t) + ηΦ(x(σ))

σ
σ+η
Z

≤K
x(σ + η) − x(σ) − DG(x(τ ), t)
+ ηM
σ
Z σ+η

≤ K x(σ + η) − x(σ) −
DG(x(τ ), t)

σ
Z σ+η

+K D[G(x(τ ), t) − G(x(τ ), t)]
+ ηM
σ
Z σ+η

≤ K x(σ + η) − x(σ) −
DG(x(τ ), t) + ηε + ηM. (4.34)
σ

Dado s ∈ [γ, v], definimos


Z s
P (s) = x(s) − DG(x(τ ), t).
γ

Como x é regrada em [γ, v], segue da Proposição 1.5 que P também é regrada em [γ, v].
Então, temos
Z σ+η Z σ
P (σ + η) − P (σ) = x(σ + η) − x(σ) − DG(x(τ ), t) + DG(x(τ ), t)
γ γ
Z σ+η
= x(σ + η) − x(σ) − DG(x(τ ), t).
σ

Agora, definimos
f (t) = KkP (t) − P (σ)k + εt + M t.
76 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Note que

V (σ + η, x(σ + η)) − V (σ, x(σ)) ≤ KkP (σ + η) − P (σ)k + ηε + ηM


= K(kP (σ + η) − P (σ)k − kP (σ) − P (σ)k)
+ ηε + ηM = f (σ + η) − f (σ). (4.35)

Por (4.35) e pela Proposição 4.2, obtemos

V (v, x(v)) − V (γ, x(γ)) ≤ f (v) − f (γ)


= K(kP (v) − P (σ)k − kP (γ) − P (σ)k) + ε(v − γ)
+ M (v − γ) ≤ KkP (v) − P (σ) − [P (γ) − P (σ)]k
+ ε(v − γ) + M (v − γ) = KkP (v) − P (γ)k + ε(v − γ)
 Z v 

+ M (v − γ) ≤ K x(v) −
DG(x(τ ), t) − x(γ)

γ
+ ε(v − γ) + M (v − γ)
Z v

≤ K x(v) − x(γ) − DG(x(τ ), t)

γ
+ ε(v − γ) + M (v − γ).

Como ε > 0 é arbitrário, segue o resultado. 

O próximo resultado nos dá condições sob as quais a solução nula de (4.1) é regu-
larmente estável.

Teorema 4.17. Seja V : [t0 , +∞) × Bρ → R um funcional de Lyapunov, onde Bρ =


{y ∈ X : kyk ≤ ρ}, 0 < ρ < c. Suponha que V satisfaça as seguintes condições
adicionais:

(i) V (t, 0) = 0, t ∈ [t0 , +∞);

(ii) Existe uma constante K > 0 tal que

|V (t, z) − V (t, y)| ≤ Kkz − yk, t ∈ [t0 , +∞), z, y ∈ Bρ .

Então a solução trivial x ≡ 0 de (4.1) será regularmente estável.


4.3 Outros resultados de estabilidade 77

Demonstração: Seja x : [γ, v] → X uma função regrada em [γ, v] ⊂ [t0 , +∞). Pela
condição (iii) da Definição 4.4 e pelo Lema 4.16, temos
Z s

V (t, x(t)) ≤ V (γ, x(γ)) + K sup
x(s) − x(γ) − DG(x(τ ), t) ,
(4.36)
s∈[γ,t] γ

para todo t ∈ [γ, v].


Como V é um funcional de Lyapunov, existe uma função b : R+ → R+ de classe
Hahn tal que
V (t, x) ≥ b(kxk), (t, x) ∈ [γ, v] × B ρ . (4.37)

Sejam ε > 0 e b(ε) > 0. Seja δ(ε) > 0 tal que 2Kδ(ε) < b(ε). Se
Z s

sup
x(s) − x(γ) − DG(x(τ ), t) < δ(ε),

s∈[γ,t] γ

então
Z s

V (t, x(t)) ≤ V (γ, x(γ)) + +K sup x(s) − x(γ) −
DG(x(τ ), t)

s∈[γ,t] γ
δ(ε) δ(ε)
≤ |V (γ, x(γ))| + K +K
2 2
≤ Kkx(γ)k + Kδ(ε) ≤ 2Kδ(ε) < b(ε), t ∈ [γ, v]. (4.38)

Por outro lado, suponha que exista u ∈ [γ, v] tal que kx(u)k ≥ ε. Então, por (4.37),
temos
V (u, x(u)) ≥ b(kx(u)k) ≥ b(ε),

o que contradiz (4.38). Logo kx(t)k < ε para t ∈ [γ, v] e o resultado segue. 

O próximo teorema mostra que, com uma condição a mais sob o funcional de
Lyapunov, a solução nula da EDOG (4.1) é regularmente assintoticamente estável.
Teorema 4.18. Seja V : [t0 , +∞) × Bρ → R um funcional de Lyapunov, onde Bρ =
{y ∈ X : kyk ≤ ρ}, 0 < ρ < c. Suponha que V satisfaça a condições (i) e (ii) do
Teorema 4.17. Além disso, suponha que exista uma função contı́nua Φ : X → R,
satisfazendo Φ(0) = 0 e Φ(x) > 0 para x 6= 0, tal que para toda solução x : [γ, v] → Bρ
de (4.1), com [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), tenhamos

V̇ (t, x(t)) ≤ −Φ(x(t)), t ∈ [γ, v]. (4.39)

Então a solução trivial x ≡ 0 de (4.1) será regularmente assintoticamente estável.


78 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Demonstração: Como todas as hipóteses do Teorema 4.17 estão satisfeitas, a solução


trivial x ≡ 0 de (4.1) é regularmente estável. Resta mostrarmos que a solução x ≡ 0
de (4.1) é regularmente atratora.
Como a solução x ≡ 0 de (4.1) é regularmente estável, temos

(I) Existe δe ∈ (0, ρ) tal que se x : [γ, v] → Bc , [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), é uma função
regrada em [γ, v], tal que
δe
kx(γ)k <
2
e Z s

sup x(s) − x(γ) −
DG(x(τ ), t)
< δ,
e
s∈[γ,v] γ

então
kx(t)k < ρ, t ∈ [γ, v].

(II) Para todo ε > 0, existe δ = δ(ε) > 0, δ < ε tal que, se x : [γ, v] → Bc ,
[γ, v] ⊂ [t0 , +∞), é uma função regrada em [γ, v], tal que

kx(γ)k < δ

e Z s

sup x(s) − x(γ) −
DG(x(τ ), t)
< δ,
s∈[γ,v] γ

então
kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v].

Seja

N = sup{−Φ(y) : δ(ε) ≤ kyk ≤ ε} = − inf{Φ(y) : δ(ε) ≤ kyk ≤ ε} < 0.

Defina  
δ0 + δ(ε)
T (ε) := min v − γ, −K > 0. (4.40)
N
Suponha que x : [γ, v] → Bc , [γ, v] ⊂ [t0 , +∞), seja uma função regrada em [γ, v], tal
que
δe
kx(γ)k < (4.41)
2
e Z s

x(s) − x(γ) −
sup DG(x(τ ), t)
< δ(ε). (4.42)
s∈[γ,v] γ
4.3 Outros resultados de estabilidade 79

Queremos mostrar que

kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T (ε), +∞), γ ≥ t0 .

Afirmamos que existe t∗ ∈ [γ, γ +T (ε)] tal que kx(t∗ )k < δ(ε). Suponha o contrário,
ou seja, kx(s)k ≥ λ(ε), para qualquer s ∈ [γ, γ +T (ε)]. Pelo Lema 4.16, pelas condições
(i) e (ii) do Teorema 4.17, (4.42), (4.40) e (4.41), obtemos
Z s

V (γ + T (ε), x(γ + T (ε))) ≤ V (γ, x(γ)) + K sup x(s) − x(γ) −
DG(x(τ ), t)

s∈[γ,γ+T (ε)] γ
!
δe δe + δ(ε)
+ N T (ε) < K δ(ε) + K + N −K
2 N
!
δe δe + δ(ε)
≤ Kkx(γ)k + Kδ(ε) + K + N −K2
2 N
δe
= K − K δe < K δe − K δe = 0.
2

Por outro lado, como V é um funcional de Lyapunov, existe uma função b : R+ →


R+ de classe Hahn tal que

V (t, x) ≥ b(kxk), para (t, x) ∈ [t0 , +∞) × Bρ .

Assim,
V (γ + T (ε), x(γ + T (ε))) ≥ b (kx(γ + T (ε))k) ≥ b(λ(ε)) > 0.

o que contradiz (4.3). Então segue nossa afirmação. Portanto, kx(t)k < ε para t ∈
[t∗ , v], já que (II) vale para γ = t∗ e v = v. Também, kx(t)k < ε para t > γ + T (ε),
já que t∗ ∈ [γ, γ + T (ε)] e, portanto, a solução x ≡ 0 da equação (4.1) é regularmente
atratora e o resultado segue. 

Os teoremas que virão a seguir são similares aos Teoremas 4.8 e 4.9. Porém, note
que aqui precisamos de mais hipóteses, especificamente, a hipótese de que o funcional
de Lyapunov satisfaça uma condição do tipo lipschitz na segunda variável. Faremos
as demonstrações destes teoremas já que eles são generalizações para o caso de uma
EDF em medida dos Teoremas 4.6 e 4.7 de [4]. Antes de demonstrar tais teoremas
precisamos de um lema.

Lema 4.19. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Suponha que
a função U : [t0 , +∞) × E ρ → R satisfaça as seguintes condições:
80 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

(i) U (t, 0) = 0, t ∈ [t0 , +∞);

(ii) Existe uma constante K > 0 tal que

|U (t, ψ) − U (t, ψ)| ≤ Kkψ − ψk, t ∈ [t0 , +∞), ψ, ψ ∈ E ρ .

Então a função V : [t0 , +∞) × B ρ → R definida por (4.8) satisfaz V (t, 0) = 0 para
todo t ∈ [t0 , +∞), e
|V (t, z) − V (t, z)| ≤ Kkz − zk,

para t ≥ t0 e z, z ∈ B ρ .

Uma demonstração deste lema para o caso de uma EDFR pode ser encontrado em
[4], Lema 4.4. A demonstração para o caso de uma EDF em medida é análoga.

Teorema 4.20. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Suponha


que U : [t0 , +∞)×E ρ → R seja um funcional de Lyapunov e que as seguintes condições
sejam válidas:

(i) U (t, 0) = 0, t ∈ [t0 , +∞);

(ii) Existe uma constante K > 0 tal que

|U (t, ψ) − U (t, ψ)| ≤ Kkψ − ψk, t ∈ [t0 , +∞), ψ, ψ ∈ E ρ .

Então a solução trivial y ≡ 0 de (4.7) será uniformemente estável.

Demonstração: Esta demonstração segue as ideias da demonstração do Teorema


4.6 de [4].
Como f satisfaz as condições (H1 ) até (H3 ) do Capı́tulo 3, a função F na equação
(4.1) pertence à classe F(Ω, h), com Ω = O × [t0 , +∞) com h : [t0 , +∞) → R dada por
Z t
h(t) = [M (s) + L(s)]dg(s), t ∈ [t0 , +∞).
t0

Seja V : [t0 , +∞) × B ρ → R dada por (4.8). Pelo Lema 4.19,

V (t, 0) = 0, t ∈ [t0 , +∞)

e
|V (t, z) − V (t, z̄) ≤ Kkz − z̄k, t ∈ [t0 , +∞), z, z̄ ∈ B ρ .
4.3 Outros resultados de estabilidade 81

Como visto anteriormente, V é um funcional de Lyapunov e as hipóteses do Teorema


4.17 estão satisfeitas. Então a solução x ≡ 0 de (4.1) é regularmente estável.
Logo para todo ε > 0, existe δ = δ(ε) > 0 tal que se x : [γ, v] → Bρ , t0 ≤ γ < v <
+∞ for uma função regrada que satisfaz
Z s

kx(γ)k < δ e sup x(s) − x(γ) −
DG(x(τ ), t)
< δ,
s∈[γ,v] γ

então
kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v]. (4.43)

Sejam φ ∈ E ρ e y : [t0 − r, +∞) → Rn uma solução de (4.7) tal que y t0 = φ e


suponhamos que
kφk < δ. (4.44)

Queremos mostrar que


ky t (t0 , φ)k < ε, t ∈ [t0 , +∞). (4.45)

Denotamos y t = ȳt (t0 , φ) e definimos


(
y (τ ) , t0 − r ≤ τ ≤ t,
x (t) (τ ) = (4.46)
y (t) , τ ≥ t.

Pelo Teorema 3.11, x é uma solução em [t0 , +∞) da EDOG (4.1) satisfazendo a
condição inicial x(t0 ) = x
e, com
(
φ (τ − t0 ) , t0 − r ≤ τ ≤ t0 ,
x
e (τ ) = (4.47)
φ(0), τ ≥ t0 .

Além disso, x é regrada. Por (4.44) e (4.47),

kx(t0 )k = sup |e
x(τ )| = kφk < δ. (4.48)
t0 −r≤τ <+∞

Também, para todo v ∈ (t0 , +∞),


Z s

sup x(s) − x(γ) −

= sup kx(t0 )k < δ.
DG(x(τ ), t) (4.49)
s∈[t0 ,v] t0 s∈[t0 ,v]
82 Capı́tulo 4 — Estabilidade de Lyapunov

Portanto, (4.43) vale, ou seja, kx(t)k < ε para todo t ∈ [t0 , v]. Logo (4.46) implica
que, para qualquer t ∈ [t0 , v],

ky t (t0 , φ)k = ky t k = sup |y(t + θ)| ≤ sup |y(τ )|


−r≤θ≤0 t0 −r≤τ ≤v

= sup |x(v)(τ )| = sup |x(v)(τ )| (4.50)


t0 −r≤τ ≤v t0 −r≤τ <+∞

= kx(v)k < ε.

Como v é arbitrário, (4.45) segue, o que completa a demonstração. 

Teorema 4.21. Considere a equação diferencial funcional em medida (4.7). Suponha


que U : [t0 , +∞) × Eρ → R seja um funcional de Lyapunov e que satisfaça as condições
(i) e (ii) do Teorema 4.20. Além disso, suponha que exista uma função contı́nua
Λ : R+ → R+ tal que Λ(0) = 0 e Λ(x) > 0 se x 6= 0, de forma que, para qualquer
ψ ∈ E ρ , tenhamos
D+ U (t, ψ) ≤ −Λ(kψk), t ≥ t0 . (4.51)

Então a solução trivial y ≡ 0 de (4.7) será uniformemente assintoticamente estável.

Demonstração: Esta demonstração segue as ideias da demonstração do Teorema


4.7 de [4]. Seja V : [t0 , +∞) × B ρ → R dado por (4.8). Então as hipóteses do Teorema
4.17 estão satisfeitas.
Definimos Φ : B ρ → R por Φ(z) = Λ(kzk). Então Φ é contı́nua, Φ(0) = 0 e
Φ(z) > 0, z 6= 0.
Suponhamos que x : [t0 , +∞) → B ρ seja uma solução de (4.1) tal que (x(t))t = ψ,
t ∈ [t0 , +∞) e ψ ∈ E ρ e consideramos y : [t0 − r, +∞) → Rn a solução de (4.7), dada
pelo Teorema 3.11, que satisfaz yt = ψ. Por (4.51),

V (t + η, xψ (t + η)) − V (t, xψ (t))


lim sup = D+ U (t, yt (t, ψ)) =
η→0+ η

= D+ U (t, ψ) ≤ −Λ(kψk) = −Λ(kyt k).

Também temos
kyt k = kxψ (t)k.

Portanto,

V (t + η, xψ (t + η)) − V (t, xψ (t))


lim sup ≤ −Λ(kyt k) = −Λ(kxψ (t)k) = −Φ(xψ (t))
η→0+ η
4.3 Outros resultados de estabilidade 83

e as hipóteses do Teorema 4.18 estão satisfeitas. Então a solução x ≡ 0 de (4.1) é


regularmente assintoticamente estável, isto é, existe δ0 > 0 e para todo ε > 0, existem
T = T (ε) ≥ 0 e ρ = ρ(ε) > 0 tal que se x : [γ, v] → Bc , t0 ≤ γ < v < +∞ for uma
função regrada tal que
kx(γ)k < δ0 (4.52)

e Z s

sup
x(s) − x(γ) − DG(x(τ ), t) < ρ,
(4.53)
s∈[γ,v] γ

então
kx(t)k < ε, t ∈ [γ, v] ∩ [γ + T, +∞), γ ≥ t0 . (4.54)

Dado ε > 0, sejam δ0 , ρ > 0 e T = T (ε) como acima. Seja φ ∈ Ec e consideramos


y : [t0 − r, +∞) → Rn solução de (4.7) tal que y t0 = φ e

kφk < δ0 . (4.55)

Queremos mostrar que

ky t (t0 , φ)k < ε, t ∈ [t0 + T, +∞). (4.56)

Mas isto segue como na demonstração do Teorema 4.20. Por (4.55), obtemos (4.52)
como em (4.48). Também, como no Teorema 4.20, temos (4.49) e, portanto, segue
(4.53). Finalmente segue (4.56), já que temos (4.50), como no Teorema 4.20 e (4.54).

Índice Remissivo

atratividade com respeito a perturbações, estabilidade com respeito a perturbações,


48 48
atratividade integral, 34 estabilidade de Lyapunov, 33, 58
atratividade regular, 47 estabilidade integral, 34
estabilidade integral assintótica, 35
Bacia de atração EDOGs, 14 estabilidade regular, 47
Bacia de atração EDOs, 25 estabilidade regular assintótica, 47
estabilidade uniforme, 33, 58
calibre, 2 estabilidade uniforme assintótica, 33
Classe F(Ω, h), 3 Existência-unicidade EDFs em medida,
Classe F(Ω,
e h), 5 45
Existência-unicidade soluções EDOGs, 7
Dependência contı́nua de soluções EDOG,
Existência-unicidade soluções EDOs, 22
12
Dependência contı́nua EDOs, 24 fluxo, 13
divisão marcada, 2 fluxo no tempo, 13
divisão marcada δ-fina, 2 funcional de Lyapunov EDOGs autôno-
mas, 16
EDF em medida perturbada, 33 funcional de Lyapunov EDOs autôno-
EDOG autônoma, 8 mas, 26
equação diferencial funcional em medida,
integral de Kurzweil, 2
29
Integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes,
equação diferencial ordinária generalizada
30
(EDOG), 2
integral de Kurzweil-Henstock-Stieltjes
estabilidade assintótica com respeito a
estendida, 31
perturbações, 48
estabilidade assintótica uniforme, 59 ponto de equilı́brio, 13
ÍNDICE REMISSIVO 85

ponto de equilı́brio assintoticamente es-


tável, 14
ponto de equilı́brio estável, 14
ponto de equilı́brio instável, 14
propriedade do prolongamento, 32

solução EDF em medida, 34


solução EDO autônoma, 21
Referências Bibliográficas

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87
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